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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE EDUCAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO PPGED JÉSSICA LIRA DA SILVA ALFABETIZAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE PROFESSORES DA EJA NATAL/RN 2020

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE EDUCAÇÃO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO – PPGED

JÉSSICA LIRA DA SILVA

ALFABETIZAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE

PROFESSORES DA EJA

NATAL/RN

2020

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JÉSSICA LIRA DA SILVA

ALFABETIZAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE

PROFESSORES DA EJA

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

Graduação em Educação, do Centro de

Educação da Universidade Federal do Rio

Grande do Norte, como requisito para obtenção

do título de Mestre em Educação.

Orientadora: Profª. Drª. Erika dos Reis Gusmão

Andrade

NATAL/RN

2020

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Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

Sistema de Bibliotecas - SISBI

Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial Moacyr de Góes - CE

Silva, Jessica Lira da.

Alfabetização de jovens e adultos: representações sociais de professores da EJA / Jessica Lira da Silva. - Natal, 2020.

128 f.: il.

Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal do Rio Grande do

Norte, Centro de Educação, Programa de pós-graduação em Educação.

Orientadora: Profª. Drª. Erika dos Reis Gusmão Andrade.

1. Alfabetização - Dissertação. 2. Educação de jovens e adultos

- Dissertação. 3. Representações sociais - Dissertação. I.

Andrade, Erika dos Reis Gusmão. II. Título.

RN/UF/BS - Centro de Educação CDU 374.7

Elaborado por Rita de Cássia Pereira de Araújo - CRB-15/804

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JÉSSICA LIRA DA SILVA

ALFABETIZAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE

PROFESSORES DA EJA

Dissertação examinada e aprovada pelo Programa de

Pós-Graduação em Educação do Centro de Educação,

da Universidade Federal do Rio Grande do Norte,

como requisito para a obtenção do título de Mestre

em Educação.

Aprovada em 20 de fevereiro de 2020.

BANCA EXAMINADORA

________________________________________________________

Profa. Drª. Erika dos Reis Gusmão Andrade

Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN

(Orientadora)

___________________________________________________________

Profª. Drª. Rosa Aparecida Pinheiro

Universidade Federal de São Carlos – UFSCar

(Examinadora Externa)

___________________________________________________________

Prof. Dr. Alessandro Augusto de Azevedo

Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN

(Examinador Interno)

___________________________________________________________

Prof. Dr. André Augusto Diniz Lira

Universidade Federal de Campina Grande – UFCG

(Suplente Externo)

___________________________________________________________

Profª. Drª. Denise Maria de Carvalho Lopes

Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN

(Suplente Interna)

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À Cristo, por sua capacidade de enxergar na

fragilidade humana o terreno fértil do potencial

ainda desconhecido por nós. Por sua conduta

inspiradora de trazer profundidade nas coisas

simples, e, principalmente por ter sido exemplo

de luta contra a condição de oprimidos de

homens e mulheres.

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AGRADECIMENTOS

À Deus pela companhia diária; pelo amor incondicional; pela força dada a mim.

Gratidão, Deus!

À minha orientadora, Erika Andrade, pela parceria, compreensão e exemplo de docente

comprometida com a militância política e pedagógica.

Aos meus colegas pela parceria, apoio, risadas e choros conjuntos nos descabelamentos

diários da rotina de ser pós-graduandos. Gratidão, queridos!

À minha vó, Francisca Silva, por todos os cuidados comigo, por ter me ensinado desde

cedo a resiliência. Gratidão, vozinha!

Aos meus pais, Jean Mary e Gracilda Lira, pelo apoio, mesmo sem entenderem essa

vida de pós-graduação, estão sempre no primeiro lugar da torcida por meu sucesso.

Ao meu esposo, Daniel Gurgel, pelo carinho, compreensão e apoio durante toda a minha

trajetória de mestranda. Gratidão, meu amor!

À minha querida amiga, Monalysa Themistocles. Iniciamos juntas desde a graduação,

construímos laços fortes de amizade e seu apoio foi fundamental na minha trajetória. Gratidão,

amiga!

Gratidão a todas as participantes do estudo, sem as quais essa pesquisa não seria

possível.

A todos que direta ou indiretamente atravessaram meu caminho contribuindo de alguma

maneira, ainda que somente com um sorriso nos momentos de angustias. Gratidão!

Page 7: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE ......Pós-Graduação em Educação do Centro de Educação, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito para a obtenção

“É algo importante perceber que a realidade social é transformável; que

feita pelos homens, pelos homens pode ser mudada”.

Paulo Freire

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RESUMO

A presente pesquisa teve como objetivo investigar as representações sociais sobre alfabetização

de professores da Educação de Jovens e Adultos (EJA) e suas repercussões nas práticas de

alfabetizar. Foi realizada com docentes que atuam no 1º segmento da Educação de Jovens e

Adultos, em duas instituições de ensino do município de Natal/RN. As bases teóricas utilizadas

fixam-se nos estudos sobre a alfabetização e letramento; Educação de Jovens e Adultos e a

Teoria das Representações Sociais (MOSCOVICI, 1961). O percurso teórico-metodológico do

estudo está pautado na Teoria das Representações Sociais por presta-se a compreender os

processos de elaboração das representações sobre alfabetização de adultos e o reverberar dessas

representações nas condutas pedagógicas. Portanto, a pesquisa é caracterizada como um estudo

exploratório de caráter qualitativo. A construção dos dados deu-se através da aplicação dos

instrumentos de pesquisa: as entrevistas semiestruturadas; observações do tipo não participativa

e questionário aplicado às docentes. As análises e a discussão dos dados estão baseadas na

abordagem teórica assumida, pautada nos pressupostos da análise de conteúdo de Bardin (2011)

e no eixo interpretativo de Arruda (2005). Os resultados, frutos da análise da triangulação dos

dados, emitidos pelas participantes mostram que não há uma representação social comum

partilhada. Há variações e contrastes entre os grupos e dentro deles. No primeiro grupo há maior

familiarização com o objeto da representação e maior aproximação com as práticas de

alfabetizar jovens e adultos. No segundo grupo há uma representação hibrida, fundamentada

tanto nos aspectos do universo reificado quanto do senso comum e consequentemente maior

distanciamento das práticas de alfabetização de adultos. As representações apreendidas

apresentam-se ancoradas em elementos diversos, sendo o principal deles a formação inicial e o

tempo de atuação na Educação de Jovens e Adultos. A objetivação também se traduz de

maneiras distintas nos comportamentos de cada participante do estudo. A pertinência desta

pesquisa centra-se na relevância social do tema, uma vez que trará contribuições para as

instituições formadoras repensar seus currículos no que diz respeito a formação dos docentes

que atuarão na EJA, haja vista que a pesquisa apontou como principal elemento constituinte da

representação social sobre alfabetização a formação inicial nos cursos de graduação.

Palavras-chave: Alfabetização. Educação de Jovens e Adultos. Representações Sociais.

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ABSTRACT

This research aims to investigate the social representations about literacy of YAE (Youth and

Adult Education) teachers and their repercussions on literacy practices. It was carried out with

teachers who work with the first segment of Youth and Adult Education, in two educational

institutions in the city of Natal / RN. The theoretical bases used are centered on studies on

literacy; Youth and Adult Education and Theory of Social Representations (Moscovici, 1961).

The theoretical-methodological path of the study is based on the Theory of Social

Representations because it offers understanding of the processes of elaborating representations

about adult literacy and the reverberation of these representations in pedagogical behaviors.

Therefore, the research is characterized as a qualitative exploratory study. The construction of

the data took place through the application of the research instruments: semi-structured

interviews; non-participatory observations and a questionnaire applied to teachers. The analysis

and discussion of the data are based on the assumed theoretical approach, based on the

assumptions of the content analysis of Bardin (2011) and on the interpretive axis of Arruda

(2005). The results, outcomes of the analysis of the triangulation of the data, issued by the

participants show that there is no shared common social representation. There are variations

and contrasts between and within groups. In the first group, there is greater familiarity with the

object of representation and a greater approximation with the practices of literacy for young

people and adults. In the second group there is a hybrid representation, based both on aspects

of the reified universe and common sense and, consequently, greater distance from adult

literacy practices. The representations apprehended are anchored in different elements, the main

one being the initial training and the length of experience in Youth and Adult Education.

Objectification also translates in different ways in the behavior of each study participant. The

relevance of this research is centered on the social relevance of the topic, since it will bring

contributions to the training institutions to rethink their curricula with regard to the training of

teachers who will work with YAE, given that the research pointed out as the main constituent

element of representation literacy training initial training in undergraduate courses.

Keywords: Literacy. Youth and Adult Education. Social Representations.

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Universos das Representações Sociais.......................................................... 39

Quadro 2 – Categorias de trabalhos apresentados na ANPEd no campo da EJA............ 50

Quadro 3 – ANAIS dos trabalhos apresentados na JIRS 2017........................................ 51

Quadro 4 – Levantamento dos estudos realizados na EJA no repositório da UFRN....... 52

Quadro 5 – Levantamento dos estudos realizados na EJA no banco de teses e

dissertações da CAPES................................................................................. 56

Quadro 6 – Caracterização das participantes da pesquisa................................................ 61

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Descrição das observações realizadas na turma de nível I da EJA (docente

Esperança).................................................................................... 98

Tabela 2 – Descrição das observações realizadas na turma de nível II da EJA

(docente Transformação)............................................................................ 99

Tabela 3 – Descrição das observações realizadas na turma de nível II da EJA

(docente Libertação)................................................................................... 101

Tabela 4 – Descrição das observações realizadas na turma de nível I da EJA (docente

Dialógica) .................................................................................... 104

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LISTA DE SIGLAS

ANPEd – Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação

CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior

CEB – Câmara de Educação Básica

CEFAMs – Centros Específicos de Formação e Aperfeiçoamento do Magistério

CF – Constituição Federal

CNE – Conselho Nacional de Educação

CONAE – Conferência Nacional de Educação

CONFITEA – Conferências Internacionais de Educação de Adultos

EJA – Educação de Jovens e Adultos

ENADE – Exame Nacional de Desempenho de Estudantes

ENEM – Exame Nacional do Ensino Médio

JIRS – Jornada Internacional de Representações Sociais

LDB – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional

MOBRAL – Movimento Brasileiro de Alfabetização

ONU – Organização das Nações Unidas

PIBID – Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência

PNE – Plano Nacional de Educação

RN – Rio Grande do Norte

SAEB – Sistema de Avaliação da Educação Básica

SEA – Sistema de Escrita Alfabética

TCC – Trabalho de Conclusão de Curso

TRS – Teoria das Representações Sociais

UERN – Universidade Estadual do Rio Grande do Norte

UFRN – Universidade Federal do Rio Grande do Norte

UNP – Universidade Potiguar

UVA – Universidade do Vale do Acaraú

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 12

2 EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS ................................................................. 15

2.1 Implicações históricas e representações partilhadas ................................................ 15

2.2 O (não) lugar do docente da EJA ............................................................................... 20

2.3 Desafios na formação docente em EJA: a busca por uma identidade .................... 23

2.4 EJA: uma modalidade singular .................................................................................. 29

2.5 Alfabetização, letramento e especificidades da alfabetização de jovens e adultos 30

3 A TEORIA DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS: O PERCURSO

...........CONSTITUTIVO DA PESQUISA ............................................................................ 35

3.1 A epistemologia das Representações Sociais ............................................................. 35

3.2 Conceito, processos de elaboração das Representações Sociais e suas funções ..... 39

3.3 O delineamento da pesquisa ....................................................................................... 46

3.3.1 Sujeitos e lócus da pesquisa........................................................................................... 59

3.3.2 Os instrumentos de acesso ao objeto da representação ................................................. 62

3.3.3 O percurso interpretativo da representação social ......................................................... 65

4 ALFABETIZAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: REPRESENTAÇÕES

...........SOCIAIS DOCENTE .................................................................................................. 67

4.1 O desvelamento do universo simbólico das representações sociais de

...........alfabetização: primeira categoria............................................................................... 67

4.1.1 Alfabetização na Educação de Jovens e Adultos: Segunda categoria ........................... 82

4.2 Educação de Jovens e Adultos: terceira categoria ................................................... 93

4.3 A face figurativa da representação social sobre alfabetização ................................ 96

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................... 111

REFERÊNCIAS ........................................................................................................ 115

APÊNDICES .............................................................................................................. 119

Apêndice A – Questões Norteadoras da Entrevista com as Docentes ......................... 120

Apêndice B – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido ..................................... 121

Apêndice C – Questionário Aplicado às Participantes do Estudo ............................... 124

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1 INTRODUÇÃO

O sonho é que leva a gente para a frente. Se a gente for seguir a razão, fica aquietado,

acomodado. (SUASSUNA, 1950, p. 56[?], grifo nosso).1

Sem dúvidas, as inquietações que surgiram durante a trajetória acadêmica, no curso de

Pedagogia, foram responsáveis por impulsionar a busca pelo aprofundamento do estudo em

tela. As vivências da graduação despertaram um olhar sensível para a modalidade da Educação

de Jovens e Adultos (EJA) que começaram por meio das experiências vivenciadas no Programa

Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID).

Com ingresso em 2011.1 – ainda no início da graduação – experienciávamos, por meio

do PIBID, práticas pedagógicas de alfabetização para jovens e adultos, nos contextos escolares.

Tais práticas evidenciavam uma descaracterização da modalidade EJA, pois não levavam em

consideração as suas especificidades e de seus sujeitos; constatávamos uma não valorização

dos saberes dos educandos que se reverberava na imposição de atividades desvinculadas do que

os estudantes traziam como necessidade de aprendizagem. Necessidade essa ligada a utilização

dos conhecimentos da linguagem escrita frente às demandas de uso social dessa aprendizagem,

como por exemplo, elaborar uma lista de supermercado, ler um rótulo, escrever um bilhete,

enviar uma mensagem escrita pelas redes sociais e aplicativos de mensagens, dentre outras.

Constatávamos ainda a reprodução de outros currículos na modalidade, currículos esses

infantilizados e desprovidos de sentido para os jovens e adultos, uma vez que seus anseios

escolares estavam muito mais ligados a demandas de uso real da língua do que a memorização

mecânica de letras e sílabas, esvaziadas de sentido. Também a desvinculação da alfabetização

com as práticas de uso real da língua, tornava-se impeditivo aos jovens e adultos de exercerem,

com autonomia, o uso das habilidades de leitura e escrita, já que as atividades desenvolvidas

não os levavam a reflexão da língua, nem tampouco a utilização dela nas demandas sociais. A

partir disso, realizamos como Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), uma investigação das

concepções sobre alfabetização de professores da EJA. Evidenciou-se nas análises que os

professores não apresentavam conhecimentos específicos para alfabetizar na EJA, embora

houvesse uma vaga preocupação em articular a alfabetização com as práticas de letramento,

(SILVA, 2014).

Trilhando uma trajetória na alfabetização de adultos, nutrimos uma paixão que se

estendeu à pós-graduação e nos levou a novas inquietações. Partindo da seguinte problemática:

1 Autoria do professor, escritor e dramaturgo Ariano Suassuna (1927-2014).

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as práticas desenvolvidas pelos professores não apresentam um conhecimento específico para

alfabetizar na EJA. Essas práticas desconsideram o diálogo, os usos e reflexões sobre a língua

e sobretudo minam a inserção mais autônoma dos sujeitos nas práticas sociais que envolvem os

conhecimentos da leitura e da escrita.

Nossa questão de partida é: Quais as representações de alfabetização têm norteado as

práticas de alfabetizar dos professores da EJA? Como pressuposto, inferimos que: as

representações que os professores possuem a respeito da alfabetização repercutem positiva ou

negativamente nas práticas que desenvolvem; implicam diretamente em sua conduta e orientam

o seu fazer pedagógico. No entanto, não se baseiam em conhecimentos sistematizados sobre o

ensino para o adulto.

Assim, delineamos o nosso objeto de estudo: As representações sociais de professores

da EJA sobre alfabetização. Temos por objetivo: Investigar as representações sociais sobre

alfabetização de professores da EJA e suas repercussões nas práticas de alfabetizar. Embora a

observação das práticas de alfabetizar requeiram maior tempo e aprofundamento nas análises,

nosso intuito é trazê-las como potencializadoras das nossas análises, somadas às entrevistas e

questionários.

O estudo que propomos se desenvolveu através da Teoria das Representações Sociais

(TRS), visto que essa teoria nos fornece elementos teóricos-metodológicos suficientes para

abordar a temática em questão. A TRS engloba tanto o fenômeno de representação quanto o

conceito e a teoria construída para explica-lo, (SÁ, 1993). Ela nos permite compreender como

os sujeitos constroem as representações que guiam suas ações no cotidiano comum. Como disse

Moscovici (2015), em sua obra “Representações sociais: investigações em psicologia social”:

a representação é essencialmente um sistema que nos permite classificar e dar sentido às coisas.

Por isso, a nossa investigação está fundada na necessidade de conhecer como os docentes dessa

pesquisa constroem sentidos para a alfabetização, em quais aspectos estão ancoradas suas

representações e como tais representações repercutem em seus fazeres pedagógicos.

A pesquisa caracteriza-se como estudo exploratório, de caráter qualitativo. Os

sujeitos participantes dessa pesquisa são docentes da rede básica de ensino da cidade de

Natal/RN. Participaram do estudo quatro (04) docentes as quais lecionavam em turmas de

alfabetização de jovens e adultos, na modalidade EJA, 1º segmento. As quatro docentes são de

duas escolas da rede municipal de ensino. A primeira instituição da pesquisa se situa na zona

norte de Natal e a segunda instituição, na zona sul dessa cidade.

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O presente estudo encontra-se estruturado em 5 seções, a saber: a Introdução que traz

uma exposição geral do trabalho, destacando o delineamento do estudo realizado no que tange

a problemática, questão de partida, pressuposto, objeto e objetivo do estudo, bem como o tipo

de estudo e de pesquisa, além da caracterização dos participantes.

No primeiro capítulo, “Educação de Jovens e Adultos”, abordamos as implicações

históricas que originaram a representação acerca dos sujeitos não alfabetizados no curso da

educação no Brasil, bem como os desdobramentos para a formação docente no contexto da

Educação de Jovens e adultos. Trazemos também o referencial teórico a partir do qual

compreendemos e discutimos a modalidade EJA, a alfabetização, o letramento e as

especificidades da alfabetização na EJA.

No segundo capítulo, intitulado “A Teoria das Representações Sociais: o percurso

constitutivo da pesquisa”, apresentamos a TRS em seus aspectos epistemológicos, bem como

os seus aspectos fundantes. Trazemos a abordagem metodológica da pesquisa, a caracterização

do campo e das participantes desse estudo, além de um levantamento bibliográfico acerca dos

estudos empreendidos na área da alfabetização na Educação de Jovens e Adultos.

No terceiro capítulo “Alfabetização de Jovens e Adultos: representações sociais

docente” trazemos as falas das docentes acerca do objeto de estudo, bem como as observações

realizadas em suas salas de aula. As análises empreendidas desse objeto da representação social:

a Alfabetização que se conduzirá através da explanação das três Categorias Temáticas

emergidas das entrevistas com as docentes, a saber: a Categoria da Alfabetização cujas

dimensões incluem os conceitos de: Alfabetização, Letramento e articulação entre ambos. Na

segunda Categoria: Alfabetização na EJA, as dimensões são: competências/conhecimentos

para alfabetizar na EJA; Dificuldades para alfabetizar na EJA. E a terceira Categoria:

Educação de Jovens e Adultos, da qual decorre a dimensão do conceito da EJA. Na descrição

das análises, promovemos um diálogo entre os achados da pesquisa e os estudos que tratam

dessa temática.

Por fim, apresentamos algumas conclusões acerca do trabalho, denominada

Considerações finais, em que retomamos toda a discussão empreendida durante o trabalho,

tecendo reflexões sobre as análises e apontando possíveis contribuições desse estudo para a área

da educação, mas especificamente para os cursos de formação de professores os quais irão atuar

na modalidade da Educação de Jovens e Adultos.

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15

2 EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

Ninguém é analfabeto por eleição, mas como consequência das condições objetivas

em que se encontra. (FREIRE, 2015, p. 25, grifo nosso).2

Abordaremos nesse primeiro capítulo as implicações históricas que originaram a

representação acerca dos sujeitos analfabetos no curso da educação no Brasil, bem como os

desdobramentos para a formação docente no contexto da Educação de Jovens e adultos.

Trazemos também o referencial teórico a partir do qual compreendemos e discutimos a

modalidade EJA, a alfabetização, o letramento e as especificidades da alfabetização na EJA.

2.1 Implicações históricas e representações partilhadas

Começaremos a nossa discussão em torno da representação social construída e

partilhada ao longo da história no Brasil acerca dos sujeitos analfabetos3, bem como os

desdobramentos para a formação docente.

Debruçamo-nos na obra “Preconceito contra o analfabeto” de Ana Maria de Oliveira

Galvão e Maria Clara Di Pierro (2012), a fim de analisarmos a construção histórica do

preconceito contra os sujeitos que não sabem ler e escrever, bem como as implicações dessa

visão no cenário educacional brasileiro.

Todo preconceito é gerado e situado historicamente. Assim, a representação que se tem

do indivíduo não alfabetizado foi gestada e difundida socialmente no Brasil em contextos

históricos específicos. Conforme as autoras, ser alfabetizado nem sempre foi prioridade no

nosso país e o estigma contra o analfabeto foi sendo constituído em tempos determinados. “O

preconceito não é, portanto, nem natural nem universal.” (GALVÃO; DI PIERRO, 2012, p.

31).

Ambas as autoras trazem uma síntese dos períodos em que se pode notar os primeiros

indícios do estigma contra o analfabeto. Começam por situar algumas ocasiões nas quais ter os

conhecimentos da leitura e da escrita não era relevante ou foi negado aos adultos o direito dessa

aprendizagem. Galvão e Di Pierro (2012) situam a partir do século XVII, período da ocupação

holandesa em parte do Brasil. Eles se preocuparam em transmitir os ensinamentos religiosos às

crianças, já que consideravam os adultos “estúpidos” e “desinteressados”.

2 Autoria do educador e filósofo Paulo Freire (1921-1997). 3 O termo analfabeto utilizado neste trabalho retrata a construção da visão preconceituosa construída acerca dos

indivíduos que não sabem ler e escrever no Brasil. Não sendo, portanto, a visão que compartilhamos sobre os

sujeitos não alfabetizados.

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Na primeira metade do século XIX o que prevalecia eram as condições econômicas.

Dessa forma, até mesmo os fazendeiros analfabetos, porém donos de grandes propriedades,

exerciam grande influência nas regiões em que tinham bens materiais. “O analfabetismo, assim,

estava presente, embora de maneira diferente, em todas as camadas e grupos sociais: entre

homens e mulheres brancos, proprietários de terras, homens e mulheres escravos e libertos.”

(GALVÃO; DI PIERO, 2012, p.34).

Na segunda metade do século XIX, os alunos maiores de 15 anos passaram a ter

instrução para aprender a ler e escrever. Eram ensinados por professores que não recebiam nada

pelos serviços prestados e a Constituição do Império e o Código Criminal eram as bases para o

ensino da leitura e da escrita, (GALVÃO; DI PIERO, 2012). Ainda nesse século, foi instituída

a Lei Saraiva que retirou do analfabeto o poder do voto.

Já no século XX, observando que o analfabetismo era percebido como vergonha

nacional, os intelectuais brasileiros discutiam em várias instâncias as possibilidades de

resolução da questão.

Diante desse quadro, as primeiras décadas do século XX foram marcadas por intensas

mobilizações, em diversas esferas da sociedade, em torno da alfabetização de adultos.

Foram muitas as campanhas pela alfabetização no período. Ao lado de associações

que congregavam intelectuais, vários estados, muitos dos quais administrados na área

educacional pelos intelectuais vinculados ao movimento da Escola Nova, tomaram

iniciativas diversas em relação à questão. (GALVÃO; DI PIERRO, 2012, p. 40).

Assim, dentro do movimento da Escola Nova havia interesses vários e distintos. A

maioria dos intelectuais acreditavam que as “elites esclarecidas” deveriam desempenhar o papel

de regeneração da nação, por meio da educação.

Contrário a esse pensamento de que a educação seria uma doação, uma forma de

“regenerar” uma nação não escolarizada, Paulo Freire defendia uma cultura popular, na qual os

sujeitos fossem vistos como seres potenciais, dotados de conhecimentos. Dessa forma, pautados

nos pressupostos Freireanos, diversas campanhas foram realizadas, principalmente no

Nordeste, com o intuito de alfabetizar jovens e adultos. Os ideais da educação popular

propunham um ensino baseado nos próprios contextos de vida dos sujeitos, o que teria como

eixo o diálogo como balizador da construção de pessoas conscientes de suas realidades e

capazes de transformá-las.

Todavia, com o Golpe do Regime Civil Militar, os movimentos de educação popular

foram reprimidos, seus líderes perseguidos e seus ideais censurados (HADDAD; PIERRO,

2000). Houve ainda uma tentativa do Estado de minimizar os “danos” causados, fundando o

Movimento Brasileiro de Alfabetização (MOBRAL), em 1967 – que tentava, conforme as suas

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propostas, conciliar os interesses educativos de uma grande massa de adultos com os interesses

hegemônicos do modelo socioeconômico implementado pelo regime militar.

Embora o MOBRAL tentasse reproduzir o modelo da educação popular, assemelhava-

se somente quanto ao método e material didático, entretanto, diferia quanto aos ideais e

intenções pedagógicas, já que as premissas da educação popular era promover a consciência

crítica, tendo por base a valorização dos sujeitos e de seus saberes. Já o MOBRAL pretendia

manter a ordem e promover o desenvolvimento econômico do país, levando os sujeitos ao

entendimento de que o esforço individual os levaria ao progresso. (GALVÃO; DI PIERRO,

2012).

Entende-se que só após a Constituição Federal (CF) de 1988 é que os jovens e adultos

passam a ser respaldados em seus direitos, efetivamente, garantidos pela responsabilização do

Estado na oferta do ensino básico, seguindo os artigos 6º e 205 da CF (BRASIL, 1988). Um

período de redemocratização que traz marcas do passado no que diz respeito a representação

social do analfabeto.

Assim, compreendemos que

Quando a cultura escrita não ocupava o lugar de cultura legítima e central na sociedade

brasileira, não se podia falar da existência de um preconceito contra o analfabeto. [...]

o estigma contra o analfabeto não é universal, mas relativo ao poder da cultura escrita

em tempos, grupos sociais e sociedades historicamente determinadas. (GALVÃO, DI

PIERRO, 2012, p. 53).

Conforme a cultura escrita ganhou centralidade nos meios de comunicação social, bem

como foi sendo associada às classes econômicas mais favorecidas, originou-se uma

representação de “pobres”, “marginalizados”, “sem cultura” sobre todos àqueles sujeitos que

não eram alfabetizados. Essa representação repercutiu tão fortemente que até mesmo os

analfabetos incorporavam e legitimavam o preconceito contra si mesmos, acreditando que suas

condições eram frutos de suas realidades vivenciais.

Em contrapartida, há também os sujeitos analfabetos que não se sentem inferiorizados

por não saberem ler e escrever, pois desenvolveram habilidades outras para atuarem em meio a

uma sociedade marcada tão fortemente pela presença da escrita. É admirável como os sujeitos

produzem táticas para participar da vida social, sem ter os conhecimentos exigidos pela

sociedade contemporânea, dominam estratégias exitosas de sobrevivência em meio a uma

sociedade de práticas letradas, desenvolvem capacidades relacionadas ao cálculo mental, a

observação, a oralidade, a memorização de escritos, dentre tantas outras.

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Contudo, as representações partilhadas ao longo da história tendem a legitimar o

preconceito contra o analfabeto, gerando uma visão equivocada desses sujeitos, como se não

possuíssem nenhum conhecimento, como se fossem desvalidos e incapacitados de participar da

vida social. Essa representação não foi construída no vazio, possui suas origens no seio de uma

sociedade injusta e desigual. Sociedade esta que trata o que hoje se constitui em direito, como

se fosse uma doação, um benefício ofertado àqueles que não estudaram na idade mais

apropriada.

É imprescindível que a compreensão acerca das necessidades educacionais dos jovens

e adultos vá além da dimensão da alfabetização, pois as premissas da modalidade EJA estão

pautadas no entendimento de uma educação ao longo da vida. No entanto, ressaltamos a

importância da alfabetização, haja vista a necessidade prática desse conhecimento em nossa

sociedade. Como vimos, a importância da leitura e da escrita é relativa aos contextos históricos

e sociais. Todavia, em nossa sociedade, ter os conhecimentos da leitura e da escrita ampliam as

possibilidades de participação na vida nacional; oportunizam que os sujeitos conheçam e

defendam mais fortemente os seus direitos. Assim, minimiza as consequências históricas do

analfabetismo no Brasil.

Neste sentido, os direcionamentos que hoje se fazem em torno da alfabetização, estão

ligados a democratização da cultura, na qual os sujeitos possam experienciar o mundo por meio

das diversas possibilidades que são oferecidas por uma autêntica e transformadora

alfabetização, em especial no seio da Educação de Jovens e Adultos.

Ainda que sem um aparato consolidado no que diz respeito às práticas pedagógicas que

se destinam ao público da Educação de Jovens e Adultos, o esforço empreendido é na direção

de superar a condição marginalizada ocupada por este segmento da educação. Não só em

relação a alfabetização, mas no avanço do entendimento da educação ao longo da vida, como

postulado na V Conferência Internacional sobre Educação de Adultos (V CONFINTEA), em

julho de 1997, em Hamburgo, Alemanha:

[...] a educação de adultos, dentro desse contexto, torna-se mais que um direito: é a

chave para o século XXI; é tanto consequência do exercício da cidadania como

condição para uma plena participação na sociedade. Além do mais, é um poderoso

argumento em favor do desenvolvimento ecológico sustentável, da democracia, da

justiça da igualdade entre os sexos, do desenvolvimento socioeconômico e científico,

além de ser um requisito fundamental para a construção de um mundo onde a violência

cede lugar ao diálogo e à cultura de paz baseada na justiça. A educação de adultos

pode modelar a identidade do cidadão e dar um significado à sua vida. A educação ao

longo da vida implica repensar o conteúdo que reflita certos fatores, como idade,

igualdade entre os sexos, necessidades especiais, idioma, cultura e disparidades

econômicas. (UNESCO, 1999 apud EVANGELISTA; SEKI, 2017, p. 174).

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É notório que a EJA começa a se delinear por outro ângulo de compreensão que não

aquele do senso comum – o da naturalização da omissão do direito ou até mesmo do

conformismo com a condição de não saber. Esse documento, assim como outros (Constituição

Federal e a Lei Diretrizes e Bases da Educação) asseguram a inclusão da Educação de Jovens

e Adultos no plano político, ou seja, essa modalidade tem prerrogativa legal, está prevista dentro

do sistema de ensino nacional e deve ser tratada com atenção.

É numa conjuntura atravessada pelas mudanças políticas, sociais e econômicas que se

desenham as modificações no tratamento da educação de jovens e adultos. Mudanças estas que

incluem um novo plano político, no qual a responsabilidade da educação é do Estado e essa

torna-se direito de todos os cidadãos a partir da Constituição Federal de 1988. Também o

entendimento econômico do país, de que quanto menos acesso ao conhecimento, menos

desenvolvimento na economia, pois as novas exigências trazidas pela industrialização

requeriam pessoas mais “qualificadas” para atuarem na produção de bens e serviços, fez com

que as políticas de acesso à educação se ampliassem. Além das demandas sociais que se

tornavam cada vez mais complexas, uma vez que se diversificavam através dos usos da

linguagem escrita, da sofisticação dos meios de comunicação, entre outros fatores.

Todos esses aspectos engendraram no país uma rachadura na representação generalizada

de que a escola não é espaço para pessoas adultas. De que não existe cultura de saber entre as

pessoas não escolarizadas, ou ainda que são incapazes de aprender por não terem tido acesso à

educação na idade mais apropriada.

As gradativas mudanças do contexto nacional reabrem espaço para se discutir a questão

da educação de pessoas jovens e adultas, mesmo num espaço de tensões políticas e econômicas,

no qual vivenciamos constantes embates na efetivação do direito a educação para todos,

podemos perceber algumas aberturas na maneira de conceber o sujeito jovem e adulto, as quais

foram ocasionadas por elementos que se constituíram ao longo da história da educação no

Brasil.

No entanto, as lentas aberturas na história da educação de jovens e adultos não significa

já a mudança radical na compreensão e na prática pedagógica para com esse público. As

“rachaduras” deram espaço para um repensar deste segmento, mas muito ainda precisa ser feito

para se consolidar o direito a educação de jovens, adultos e idosos. Superamos um período

nebuloso em que as pessoas adultas não alfabetizadas ou que não puderam continuar os estudos

eram invisibilizadas e excluídas das políticas de acesso à educação. Entretanto, as formas de

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promover a educação dessas pessoas é que precisam ser discutidas e incorporadas a uma prática

que possibilite a libertação histórica da negação, da exclusão do direito educacional.

Veremos no próximo item as implicações para a formação de educadores no campo da

EJA, dada a complexidade histórica de constituição dessa modalidade e os desafios ainda

emergentes.

2.2 O (não) lugar do docente da EJA

Atualmente vive-se um paradoxo no campo educacional, se, por um lado tem-se maior

acesso ao conhecimento, diversos avanços científicos e tecnológicos, reconhecidamente maior

papel social e político atrelado à função da escola e da educação, por outro lado, acumulam-se

problemas relacionados à identidade docente em diferentes níveis e modalidades de ensino,

ações pedagógicas que frequentemente estão dissociadas dos problemas do cotidiano escolar e

do contexto do educando, assim como propostas no campo político que ensejam verdadeiros

retrocessos nessa área.

Desse modo, discutir sobre educação não é uma tarefa fácil. E refletir sobre formação e

trabalho docente segue o mesmo viés, principalmente, porque para compreender as implicações

do contexto atual vivenciado no país para o trabalho e a formação docente se faz necessário

entender à conjuntura dessa profissão no país, seus meandros, avanços e desafios historicamente

constituídos.

O trabalho docente não se esgota no horário escolar, exige compromisso contínuo, é

intensificado em sua jornada e frequentemente acarreta adoecimentos, portanto, como ressalta

Novoa (1992), a profissão docente não pode ser pensada sem articulação das dimensões: pessoal

(que envolve história de vida e trajetórias individuais dos professores), profissional (por

favorecer o acolhimento da docência como profissão) e organizacional (uma vez que a escola

precisa ser pensada como organização global do trabalho pedagógico). Desse modo, a

caracterização do trabalho docente “como um trabalho diferenciado de outros na medida em

que envolve alto grau de subjetividade e, em relação a ele, não se tem uma medida absoluta

daquilo em que se resulta” defendida por Ferreira e Hypólito (2010) se faz pertinente e essencial

para a discussão a que se propõe.

O trabalho docente exerce um papel fundamental na economia, política e cultura de um

país, sendo sua identidade profissional um processo evolutivo de interpretação e reinterpretação

de experiência. No que tange à escolarização no Brasil, ela não só nasceu, como permaneceu

por muito tempo atrelada à elite, contudo, à busca por uma política educacional inclusiva da

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população que resultasse na superação dos problemas comumente conhecidos pela sociedade,

como oferta reduzida e sucateamento de escolas públicas, elevados índices de

analfabetismo/semianalfabetismo e analfabetismo funcional, baixa representatividade dos

estudantes no ensino médio e superior, reduzida participação efetiva na vida cidadã e no mundo

do trabalho. Estas características refletem o quanto o Brasil, não só chegou tarde ao mundo da

educação, como conjunturalmente organizou-se nessa área de forma excludente e precarizada

no tocante a todos os sujeitos do processo ensino-aprendizagem.

No tocante aos marcos legais dos cursos de formação docente no Brasil, a formação de

professores em cursos específicos ocorreu de forma escassa no final do séc. XIX, com as

Escolas Normais; o início do séc. XX foi marcado por preocupações com a formação de

professores para o secundário, em cursos regulares e específicos, onde de um lado tínhamos o

trabalho sendo exercido por profissionais liberais e autodidatas e de outro a criação das

universidades, seguido por um processo constante de industrialização do país, o que demandou

progressivamente mais escolarização (GATTI; SÁ, 2009).

Refletir sobre formação e trabalho docente no Brasil envolve compreender as estruturas

formativas de professores antes e depois da Lei de Diretrizes e Bases (LDB) da Educação

Brasileira (Lei nº 9.394/96). A estrutura curricular dos cursos de formação de professores no

país antes da LDB, foi regida pelas Leis n° 4.024/61; 5.540/68; 5.692/71; 7.044/82 e

normatizações federais e estaduais, nas quais se observou a consolidação da formação de

professores para o primário e secundário desde as primeiras décadas do séc. XX. (BRASIL,

1996).

As discussões em torno do currículo disperso, da reforma da educação básica no país,

da extinção das escolas normais, criação do magistério4, e sua posterior descaracterização,

perda de algumas especificidades na formação, instauração de cursos de licenciatura curta em

nível superior, introdução de opções formativas para docentes dos anos iniciais e finais do

Ensino Fundamental e formação de professores com integração de áreas. Além disso, como

aponta Silva et al (1991, p.135), “a formação de professores no período de 1950 a 1986 foi

caracterizada por imprecisão quanto ao perfil docente; currículos enciclopédicos, elitistas e

idealistas; reformas dos currículos só diluíam a formação geral e tornavam a específica

superficial.”

De acordo com Gatti e Sá (2009), esse contexto é caracterizado por uma formação estanque

e identidade problemática do licenciando, pelo novo conceito de profissionalização dos

4 Com a criação de Centros Específicos de Formação e Aperfeiçoamento do Magistério – CEFAMs.

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professores baseado na proposta de continuum de formação, diversas necessidades formativas,

inclusive no que tange à problemática de articular e relacionar a formação em disciplina

específica, a formação educacional geral e a formação didática específica. Ao considerar os

níveis de ensino, foi criada a Lei 9.394/96, através da qual foram preconizadas iniciativas

diferenciadas voltadas para a formação e a titulação de professores, entendidas enquanto

demanda de órgãos públicos responsáveis pela gestão de sistemas educacionais, com o intuito

de graduar seus docentes; realizar alterações nas instituições formadoras e nos cursos de

formação de professores; apresentar novas perspectivas para a formação docente do ponto de

vista estrutural e de articulação formativa dos currículos. Estes pressupostos foram pautados na

preocupação com a qualificação dos formadores, apesar da persistente desagregação entre a

formação docente e a fragmentação curricular. (BRASIL, 1996).

A Lei 9.394/96 regulamenta a valorização dos profissionais da educação pelos sistemas

de ensino assegurando-lhes em seu Art. 67, ingresso exclusivamente por concurso público de

provas e títulos; aperfeiçoamento profissional continuado, inclusive com licenciamento

periódico remunerado para esse fim; piso salarial profissional; progressão funcional baseada na

titulação ou habilitação, como também na avaliação do desempenho; período reservado a

estudos, planejamento e avaliação, incluído na carga de trabalho; condições adequadas de

trabalho, o que infelizmente em diversas regiões do país e contextos educacionais ainda enfrenta

entraves para propiciar uma prática em sala de aula e na gestão da escola saudável para os

profissionais da educação. (BRASIL, 1996).

É possível perceber que tanto a função social da escola, como a formação e trabalho

docentes sofrem interferências das políticas de currículo e do progressivo modelo gerencialista

na educação do país, no qual se acentuam as preocupações com eficiência e eficácia das escolas

no manejo das políticas de currículo e com o rendimento dos alunos nos estabelecimentos de

ensino, refletidas não só através das ações do Ministério da Educação e nas redes estadual e

municipal, como da introdução das avaliações de sistema (como Saeb, ENEM e ENADE) e do

processo contínuo de centralização das políticas de currículo.

A educação, portanto, enquanto direito humano e direito às diferenças com qualidade

social, é um desafio não só no chão de sala de aula, mas, nas políticas locais e globais que nela

interferem. No contexto em que a escola em que está inserida e no perfil do educando e do

educador. As políticas e regulamentações da formação docente no país estão imbrincadas com

a precarização desse trabalho que envolve dupla jornada, contradições entre o tecnicismo e os

aspectos didático, pedagógicos e humanos da formação, a carência de condições físicas,

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psicológicas, humanas, financeiras, estruturais e conjunturais para o exercício digno da

profissão, sem falar nas dificuldades de reconhecimento e valorização sociais.

Nesse víeis, se agravam os tensionamentos quando colocados frente às demandas de

formação dos docentes em EJA, uma vez que há uma tendência a uma formação generalista,

contrapondo-se então a necessidade do olhar singular para as especificidades da formação de

educadores da EJA.

2.3 Desafios na formação docente em EJA: a busca por uma identidade

Se nos chamados níveis regulares de ensino, a constituição de uma identidade (ou

identidades docentes) é um desafio, na Educação de Jovens e Adultos o sentimento de pertença

e a definição de uma identidade característica de quem atua nessa modalidade de ensino é ainda

mais desafiadora.

O esforço que se faz pela definição de uma identidade própria no campo da educação

de jovens e adultos é historicamente marcado por fragilidades e potencialidades e tem sido

realizado por instituições e agentes diversos.

As fragilidades na busca pela identidade docente em EJA estão relacionadas as

condições pelas quais os professores chegam nessa modalidade. Geralmente as razões pessoais

levam os docentes a atuarem na Educação de Jovens e Adultos; conveniência de horário,

proximidade do local de residência, entre outros fatores. Como consequência da não formação

específica para EJA, os professores tendem a reproduzir os modelos dos quais estão

acostumados a lidar, do ensino regular que em nada se assemelha com a EJA (VARGAS;

FANTINATO, 2011).

Deparando-se com a realidade da Educação de Jovens e Adultos, percebem que muitas

são as especificidades, a começar pelo próprio público que é o primeiro diferencial nessa

modalidade. Público este permeado por condições de intermitências, recomeço, começo e

finalizações; gerações distintas em busca de interesses comuns se cruzam nos espaços escolares,

gerando grandes desafios aos docentes.

As potencialidades na busca pela identidade em EJA também se valem das fragilidades:

ao mesmo tempo em que as especificidades dessa modalidade desafiam o fazer docente, podem

tornar-se também a fonte de elaboração de um currículo específico para este público,

considerando o contexto social e as demandas de aprendizagem que os sujeitos jovens e adultos

apontam como necessários.

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Nos contextos de educação de adultos, os docentes defrontam-se com diversas histórias

de vida que interromperam, negaram e fizeram voltar à escola os sujeitos jovens e adultos. As

condições de vida dos educandos, suas necessidades de trabalho, sobrevivência e realização

pessoal são o pontapé para a reflexão docente no sentido de repensar o seu papel que,

fundamentalmente consiste em reverter processos severos de exclusão e marginalização dos

sujeitos que tiveram processos de aprendizagens descontínuos, ou até mesmo o direito a

educação negado, bem como são marcados pelo “carma” do fracasso escolar, reforçado pelos

sistemas de reprovações e marginalização dos seus saberes.

Esse processo de tornar-se docente da Educação de Jovens e Adultos, requer

primordialmente uma aproximação e identificação com a modalidade. Essa aproximação é

motivada, dentre outros fatores, pela proximidade de faixa etária, o que permite aos docentes

abordar assuntos cujas matrizes estão diretamente ligadas a vida social, com os aspectos do

trabalho, da cultura, da política, da economia, os quais perpassam e interferem a vida dos

educandos.

Outro fator que gera proximidade é a origem social destes docentes e dos educandos.

Comumente os docentes são oriundos das camadas populares, assim como tradicionalmente a

EJA é caracterizada pela presença das classes populares. As histórias de vida se entrecruzam,

aquelas ligadas às dificuldades de inserção na educação, a não escolarização dos pais e os

esforços empreendidos na luta pelo acesso aos conhecimentos socialmente privilegiados,

marcam as trajetórias de um número significativo de docentes, não só na EJA, pois na

constituição da formação docente no Brasil, a docência foi sendo historicamente ocupada por

pessoas advindas de classes sociais menos abastardas, o que reforça os estereótipos da

profissão, como o baixo prestígio social, escassas remunerações e baixos investimentos no

campo da educação, embora muitos docentes não se reconheçam nessa categoria. Mas, se não

se reconhecem enquanto tal, haverá um preconceito dos docentes em torno da própria

modalidade a qual lecionam? esses estereótipos reforçam a visão negativa acerca dos sujeitos

da EJA? São questionamentos que nos levam a refletir os perfis dos docentes da EJA e, talvez,

os preconceitos envoltos da modalidade que se originou historicamente e ainda traz marcas ao

presente.

Essas trajetórias ligadas as subjetividades dos sujeitos envolvidos nos espaços de

aprendizagem, fazem com que os docentes enxerguem nisso as possibilidades de efetivação de

direitos, essencialmente à educação que tem desdobramentos na vida como um todo.

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No entanto, a falta de uma formação especifica também se torna um agravante nessa

constituição de identidade. Nos cursos de licenciaturas nada ou pouco se fala em Educação de

Jovens e Adultos. A ausência de reflexões nas licenciaturas sobre as características de uma

educação que privilegie a diversidade, a autonomia e o diálogo geram entraves para a adoção

de uma postura que leve em conta os saberes e processos de construção de conhecimentos dos

sujeitos jovens e adultos.

Essas premissas de consideração da diversidade, exercício da autonomia e diálogo são

imprescindíveis na modalidade EJA, quando não realizadas dificultam o trabalho pedagógico

com o seu público, gerando desmotivações e desistências, pois quando não reconhecidos no seu

processo de aprendizagem o indivíduo se vê desmobilizado na vontade de prosseguir os estudos.

Além de constituir-se em entrave na construção da identidade do professor, uma vez que não

sabendo administrar os princípios basilares de seu trabalho, os docentes se veem não

pertencentes a essa modalidade, e, consequentemente, reproduzem o que sua zona de conforto

lhes permitem (os métodos e concepções do ensino regular). Ao fazer isso recebem a devolutiva

negativa dos educandos – ainda que num ato não consciente – pois esses sujeitos são fortemente

marcados pelas necessidades emergentes de suas trajetórias de vida, que só uma prática

dialógica permite conhecer e utilizar como fonte de sistematização de aprendizagens.

Os desafios concernentes à Educação são diversos. Desde antes da garantia jurídica do

direito a educação para todos, até sua efetivação, por meio da Constituição Federal de 1988,

não tivemos ainda um histórico de consolidação desse direito, principalmente nas modalidades

de menor prestigio como a Educação de Jovens e Adultos.

Se no ensino regular, no qual temos um leque de documentos que regem e orientam esse

sistema (Diretrizes Curriculares Nacionais, Parâmetros Curriculares Nacionais, Diretrizes

Curriculares Nacionais para Educação Infantil, Referenciais Curriculares Nacionais para

Educação Infantil, etc) ainda assim a busca pela identidade docente nesses níveis de ensino é

uma constante. Na Educação de Jovens e Adultos não é diferente e os desafios são ainda

maiores.

Apesar de haver Diretrizes específicas para a Educação de Jovens e Adultos (Resolução

CNE/CEB, nº 1, de 5 de julho de 2000), os docentes consideram inconsistentes para orientar o

trabalho com jovens e adultos, conforme relatam informalmente em diálogos nos espaços

escolares. Talvez essa compreensão esteja pautada na visão “amadorista” do trabalho com

adultos, uma vez que, culturalmente não se tem efetivamente políticas de formação para

educadores da EJA.

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Pela conjuntura histórica que se delineou no país, temos pelo menos dois grupos de

estudantes da modalidade EJA: os que não tiveram acesso à escola e os deixaram a escola por

diversas razões.

Em uma perspectiva atual, temos um outro grupo de educandos da EJA, que são aqueles

que tiveram uma trajetória escolar de fracassos (marcados pelas reprovações, não identificação

com o espaço escolar e suas práticas, dentre outros motivos). Esses alunos são levados à

modalidade sem que saibam onde estão “pisando”, pois estão em um momento de transição de

um grupo para outro, caracterizando assim, a juvenilização da modalidade, fenômeno recorrente

devido aos diversos desdobramentos do ensino regular que não tem assegurado, eficazmente, o

ensino para os adolescentes.

Essa heterogeneidade dos grupos que compõem a modalidade EJA se constitui como

um enorme desafio aos docentes, uma vez que eles lidam com gerações distintas, trajetórias de

vida diversas e interesses de aprendizagem que ora se cruzam, ora se distanciam.

Se cruzam quando os adultos advindos, muitas das vezes, de experiências anteriores

com o ensino escolar, reconhecem na escola a possibilidade de “melhorar” sua condição de ser

e estar no mundo.

Se distanciam quando uma geração juvenil adentra os espaços escolares de EJA

forçados pelo sistema que, sob o rótulo de fracasso, são levados a estarem nessa modalidade

sem que se identifiquem com as propostas de ensino, que muitas vezes não condiz com seus

interesses e necessidades de aprendizagem.

Essa diversidade que é característica da EJA torna-se desafiadora aos docentes, pois

pensar numa educação que leve em consideração as diferentes faixas etárias, interesses de

aprendizagens e trajetos de vida não se constitui tarefa simples.

Não se constitui tarefa simples, pois pensar numa educação para esse público implica

romper com os paradigmas do ensino tradicional reforçados pelos conteúdos das disciplinas

consagradas no âmbito educacional como sendo as únicas relevantes para formação dos

sujeitos. Pensar numa cultura específica para o ensino de jovens e adultos é pensar num

currículo apropriado à essa modalidade que, primeiramente reconheça que o principal

diferencial dessa modalidade é seu público e que o cerne da educação não está no conteúdo a

ser ministrado, mas na compreensão dos aspectos das realidades dos sujeitos (culturais, sociais,

relacionais) que poderá ser operacionalizado nas práticas pedagógicas, servindo de referentes

para as práticas de escrita e leitura nas quais os educandos sejam de fato agentes.

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E que aspectos são esses? As vivências, o trabalho, as histórias, as estruturas familiares,

as heranças culturais, seus anseios e perspectivas dentro dos espaços escolares. Todos esses

aspectos compõem o que denominamos de currículo específico da EJA. Investigar e

sistematizar tais conhecimentos é papel do docente e de todos os segmentos participantes da

EJA que, ao trabalhar com esses indivíduos terão de ampliar seus conhecimentos estabelecendo

intima relação entre os saberes científicos e os saberes comuns aos educandos da EJA.

Nesse sentido, do ponto de vista pedagógico, temos os desafios referentes a construção

de um currículo específico para EJA, pois embora haja alguns parâmetros oficiais para o ensino

de jovens e adultos que podem ser utilizados pelos docentes, ainda há grandes entraves quanto

a efetivação dessa proposta, pois múltiplas são as realidades da educação de adultos no Brasil,

o que gera encaminhamentos diversos e até mesmo a dispersão de práticas que poderiam ser

sistematizas e adaptadas para cada contexto vivencial nos quais há jovens e adultos compondo

os sistemas escolares.

Para esta tarefa, o docente é a pessoa mais indicada para elaborar, junto aos sujeitos da

EJA, um currículo que atenda às necessidades de aprendizagens desse público, pois são estes

os protagonistas desse processo, os quais trazem em seus trajetos de vida os elementos que

poderão compor os seus processos formativos.

É necessário que se leve em consideração a elaboração de um currículo que se baseie

não apenas nos conteúdos escolares, referentes as disciplinas consagradas como as mais

relevantes, mas que se estabeleça uma relação de aproximação entre aquilo que os educandos

trazem como conhecimentos consolidados ao longo de suas experiências e os conteúdos

sistematizados no âmbito escolar.

Os princípios que regem essa elaboração de um currículo específico para Educação de

Jovens e Adultos trazem como eixo basilar o diálogo, bem como uma postura crítica e

comprometida dos docentes. Somente por meio das bases do diálogo com os jovens e adultos é

que se pode pensar na sua formação, pois é justamente essa condição que levará os docentes a

descobrirem nas profundezas das trajetórias interrompidas, não alcançadas ou “fracassadas” as

portas de acesso para os novos conhecimentos.

Por outro lado, os desafios da formação do docente em EJA estão ligados aos aspectos

mais amplos das políticas voltadas a esta modalidade. Ainda há grande escassez nos cursos de

licenciaturas de formação específica para se atuar nesse segmento. E o caso é ainda mais grave

nas licenciaturas de disciplinas específicas. A pouca ou não formação referente ao ensino de

jovens e adultos, contribui significativamente para a reprodução de modelos de ensino que não

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são próprios da modalidade, o que consequentemente também contribui para não definição de

uma identidade docente no segmento da EJA.

Conforme aponta Soares (2011, p.285):

Segundo dados do INEP, em 2003, dos 1.306 cursos de pedagogia existentes no País,

apenas 16 ofereciam habilitação em educação de jovens e adultos. Nove destes cursos

eram mantidos por instituições privadas de ensino superior, e sete, por universidades

públicas – duas federais e cinco estaduais. Dessa forma, uma questão recorrente diz

respeito à necessidade de se ter uma formação específica para o educador de jovens e

adultos.

Entre os vários desafios colocados para a EJA, certamente a formação docente para essa

modalidade é crucial e está para além da formação de alfabetizadores. Precisa ser pensada de

maneira mais ampla, a fim de desmistificar a noção de que para atuar nessa modalidade vale o

amadorismo, ou nas palavras de Arroyo como se a EJA fosse um “terreno sem dono”, onde

tudo é permissível e qualquer um põe a mão.

Assim, contribuiu para as visões discriminatórias e estigmatizadas referentes a essa

modalidade de ensino, o tratamento político marginalizado oferecido a EJA nas políticas de

educação. Di Pierro (2005) diz que a falta de formação específica dos professores que atuam na

Educação de Jovens e Adultos, as limitações curriculares e as escassas políticas para esse campo

corroboram a indefinição da identidade ou das identidades da EJA.

A pouca atenção na formação inicial e a escassa formação durante o exercício da

profissão (falta de formação continuada para os docentes em EJA) acarreta em dificuldades no

desenvolvimento do trabalho pedagógico com esse público estudantil, levando a uma conduta

que descaracteriza os processos construídos socialmente pelos sujeitos da EJA, uma vez que

não são considerados em seus processos formativos.

Pensamos ser essencial que se assegure a formação inicial e se promova a formação

continuada dos docentes em EJA, na tentativa de reduzir o descompasso entre a formação inicial

e a prática docente na modalidade, tendo em vista uma proposta curricular alternativa para esse

campo da educação.

Proposta esta que pense em políticas plurais para EJA, no sentido de promover unidades

de princípios dessa modalidade e não de propostas, haja vista as especificidades inerentes a

cada realidade vivida pelos jovens e adultos nas diferentes regiões do país, pois a EJA tem como

uma de suas características se apresentar como um espaço de aprendizagens diversas e em

diferentes espaços, inclusive os espaços não formais.

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2.4 EJA: uma modalidade singular

É sabido que a Educação de Jovens e Adultos é uma modalidade singular, que tem

especificidades próprias, nesse aspecto, conhecer a realidade de vida dos educandos e tomá-la

como ponto de partida no âmbito das aprendizagens escolares, é fundamental.

Tamarozzi (2009) corrobora essa noção destacando algumas especificidades

características da EJA: Os sujeitos da Educação de Jovens e Adultos têm desejo fervescente de

aprender; aprendem somente aquilo que tem necessidade de aprender; aprendem melhor na

prática; têm o aprendizado encentrado em situações reais; aprende melhor em diálogos

informais, nos quais se sintam à vontade para mostrar suas ideias, vivências, duvidas e anseios;

possuem experiências de vida que afetam o aprendizado; demonstram melhor aproveitamento

quando utilizados vários métodos, recursos e procedimentos de ensino e, sobretudo, querem

oportunidades para descobrir e construir conhecimentos com autonomia, principalmente

quando se refere ao acesso aos bens culturais e à valorização social resultantes do domínio da

leitura e da escrita.

Nesse aspecto, as salas de aula de EJA tornam-se espaços de múltiplas aprendizagens,

onde professor e aluno se envolvem em situações para além dos “muros escolares”. O olhar

sensível do professor para as experiências e vivências que os indivíduos trazem ao longo de

seus trajetos de vida é o diferencial de ensino-aprendizagem nessa modalidade de ensino.

Também a escuta sensível do professor faz com que o aluno se sinta envolvido afetivamente

pela aprendizagem, tornando o ensino bem mais significativo para os sujeitos que por algum

motivo não puderam seguir seus estudos ou tiveram negados os seus direitos à educação.

Segundo Arroyo (2011) uma característica marcante da EJA é a tentativa de configurá-

la quanto à sua especificidade. Essa especificidade da modalidade está diretamente ligada aos

seus sujeitos, às suas diversidades de tempos de ser jovem ou adulto. A compreensão desses

tempos e o avanço no estudo deles fará com que se avance também na formulação das

especificidades da EJA.

A Educação de Jovens e Adultos tem de partir, para sua configuração como um campo

específico, da especificidade desses tempos da vida – juventude e vida adulta – e da

especificidade dos sujeitos concretos históricos que vivenciam esses tempos. Tem de

partir das formas concretas de viver seu direito à educação, ao conhecimento, à

cultura, à memória, à identidade, à formação e ao desenvolvimento pleno (LDB, n.

9394/96, Art. 1º e 2º). (ARROYO, 2011, p. 22).

O ponto de partida é questionar-se: quem são esses sujeitos que hoje compõem a

modalidade? Entendendo-os como sujeitos de direitos, com histórias de vidas marcadas pela

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exclusão, pelo preconceito que culminaram na visão da EJA como um remédio para “curar” as

carências dos sujeitos, “seja de alfabetização, de escolarização, seja de fome e exclusão e agora

da violência e deterioração moral.” (ARROYO, 2011, p. 26).

Para reconfigurar o direito à educação de jovens e adultos, e, especialmente configurar

sua especificidade, o caminho é avançar na visão positiva dos jovens e adultos enquanto sujeitos

potenciais, dotados de saberes; reconhecê-los como sujeitos de direitos e não olhá-los como

coitadinhos, marginalizados, os quais o Estado presta um benefício ao dispor escolarização à

eles.

Esse olhar em torno do sujeito portador de direitos, fará prosseguir também nas

políticas de formação de educadores da educação de adultos, uma vez que é a partir do

reconhecimento do direito particular e social do jovem e adulto que se conduzirá a um

tratamento mais afinco das políticas de formação docente em EJA, levando em consideração a

premissa de aprendizagem ao longo da vida, direito ainda em elaboração dos jovens e adultos.

2.5 Alfabetização, letramento e especificidades da alfabetização de jovens e adultos

O conceito de alfabetização está estritamente ligado ao conceito de linguagem. Por

muito tempo a linguagem foi concebida como meio de comunicação e como expressão do

pensamento. Ambas as abordagens concebiam a linguagem desvinculada de seus usos e de seus

contextos de produção. Assim, a língua constituía-se em mero código de comunicação entre

emissor e receptor, sendo a língua considerada inata ao homem. Nessa perspectiva, os estudos

da alfabetização estavam fundamentados numa concepção mecanicista na qual a leitura e a

escrita eram entendidas como o desenvolvimento de habilidades mecânicas de treino e

decifração de códigos escritos.

Em contrapartida, surgem os estudos sociointeracionistas da linguagem que passam a

considerá-la sob o fenômeno da interação social (VYGOTSKY, 1988). Vygotsky postula que

a linguagem não é só meio de comunicação e de expressão de pensamento. Mais do que isso, a

linguagem é o trabalho humano de constituição de sentidos nos contextos de interação em que

ela se faz presente. A linguagem é ação efetiva subjacente aos fenômenos sociais e culturais.

Portanto, não é inato ao indivíduo, mas construída na e para as interações sociais.

Nessa perspectiva, os estudos da alfabetização reconfiguram-se no cenário

educacional brasileiro, mas especificamente com as contribuições de Ferreiro e Teberosky

(1985) através dos estudos da Psicogênese da língua escrita que ocasionaram significativas

mudanças no âmbito da alfabetização. Tais estudos apontam que o aprendizado do Sistema de

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Notação Alfabética não é mecânico, ou como disse Vygotsky (1988), “escrever não é apenas

ato de mãos e dedos”. É uma atividade cognitiva que envolve a construção de conceitos, a saber:

1) o que é a escrita 2) o que a escrita representa/nota 3) como representa/nota. Estes estudos

também redirecionam o olhar docente para a necessidade de se conceber o sujeito aprendiz

como potencial construtor do conhecimento. Esse por sua vez, não apenas recebe influências

da língua – como enfatizado na abordagem mecanicista da alfabetização – mas também a

significa, construindo hipóteses e buscando regularidades no sistema de escrita. Dessa forma,

os estudos de Ferreiro e Teberosky não consistem na apresentação de um novo método de

alfabetização, mas sim na reconfiguração conceitual e prática do termo, uma vez que o foco

passa do como ensinar a quem se ensina – o alfabetizando como sujeito ativo no processo de

ensino-aprendizagem.

Nesse sentido, houve um redirecionamento da definição da alfabetização no Brasil. A

alfabetização passa a ser entendida como o processo específico de apropriação do sistema de

escrita que envolve duas dimensões indissociáveis: a apropriação do sistema de notação

alfabética – a compreensão pelo aprendiz do funcionamento da língua. E o desenvolvimento de

habilidades de produção de escrita e compreensão dos diversos gêneros discursivos (VIEIRA,

2010).

Concomitante às novas ideias de alfabetização, surgem os estudos sobre Letramento.

O termo Letramento traduzido da palavra inglesa “literacy” que vem do latim “litera” (letra),

aparece pela primeira vez no Brasil em 1987 na obra de Mary Kato (No mundo da escrita) e a

partir da década de 1990 se vincula ao termo da alfabetização. O letramento designa a condição

do sujeito que se apropria do sistema de escrita, isto é, o letramento torna-se imprescindível à

alfabetização, uma vez que se refere aos usos da linguagem escrita em diferentes contextos

sociais (SOARES, 2017).

O letramento é a inserção dos indivíduos nas práticas sociais de leitura e de escrita.

Por se tratar de um elemento social, esse não pode ser estudado como universal. Conforme

Vieira (2010):

O conceito de letramento não pode ser estudado como um fenômeno universal,

indeterminado social e culturalmente, e sim, como um conjunto de práticas sociais de

leitura e de escrita, em contextos específicos, para objetivos específicos. Desse modo,

o letramento é um fenômeno social que é definido e reelaborado em cada cultura, em

cada grupo e, por contraste e diferenciação, entre vários grupos (VIEIRA, 2010,

p.115).

Sendo assim, o letramento deve ser compreendido dentro de um determinado contexto

social, de uma determinada cultura produzida pelos seus sujeitos constituintes. Desse modo,

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entendemos que não basta adquirir as habilidades da leitura e da escrita. É preciso saber utilizar

esses conhecimentos nas situações sociais que exigem de nós as competências do saber ler e

escrever, pois a escrita existe para atender as demandas sociais de interação entre os indivíduos.

Dessa forma, um sujeito é considerado letrado quando é capaz de utilizar a linguagem

escrita em resposta às exigências do contexto social que demandam de nós tais competências e

quando utiliza à escrita e a leitura como forma de mediar sua ação com o mundo; para o dizer,

interpretar, significar e transformar.

Não obstante a alfabetização e o letramento possuem especificidades, visto que a

alfabetização se refere à apropriação do Sistema de Escrita Alfabética (SEA) e o letramento diz

respeito aos usos efetivos da leitura e da escrita em diferentes contextos, esses dois conceitos

são indissociáveis, simultâneos e interdependentes, uma vez que a alfabetização só se torna

eficaz quando ocorre no contexto das práticas reais dos usos da linguagem escrita. Adquirir as

tecnologias do ler e escrever não é suficiente para atender as demandas de uma sociedade

grafocêntrica que tem como fio condutor da interação entre os indivíduos a linguagem, seja ela

escrita ou falada.

A partir dessa compreensão do que é a alfabetização e o letramento, ressaltamos a

necessidade da prática pedagógica de alfabetizar na perspectiva do letramento, tendo em vista

as implicações políticas e sociais inerentes a alfabetização.

Mas, em que consiste a prática pedagógica de alfabetizar letrando? A alfabetização foi

por muito tempo privilégio de poucos. Ela determinava quem participava ou não das decisões

políticas da nossa nação. Por isso, muitos jovens e adultos tiveram seus direitos negados por

conta de suas condições de não alfabetizados. Hoje, ainda há marcas desse passado nebuloso

que excluiu da esfera de participação social muitos indivíduos.

Freire (2011) diz que a alfabetização é um projeto político, no qual homens e mulheres

reconstituem suas relações com a sociedade mais ampla. Nesse sentido, pensar a alfabetização

de jovens e adultos requer o reconhecimento de que mais do que adquirir competências técnicas

de leitura e de escrita, é preciso conceber a alfabetização ante a sua história política e cultural

para então entendermos a necessidade de um público que busca por meio da linguagem escrita

resgatar um direito que lhe foi negado por longos anos – o direito de inserção nas práticas

sociais; seja por necessidade de trabalho e/ou por realização pessoal.

A respeito da alfabetização como projeto político, Freire (2011, p. 49) afirma que:

No sentido político mais amplo, compreende-se melhor a alfabetização como uma

infinidade de formas discursivas e competências culturais que constroem e tornam

disponíveis as diversas relações e experiências que existem entre os educandos e o

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mundo. Em sentido mais especifico, a alfabetização crítica é tanto uma narrativa para

a ação, quanto um referente para a crítica.

O referido autor traz em suas ideias de alfabetização a perspectiva do letramento,

corroborando a noção que temos hoje da prática de alfabetizar letrando. Essa compreensão está

ancorada no fato de que é a alfabetização está para além do domínio de códigos escritos. Ela é

também e principalmente uma construção histórica imbricada de valores sociais e culturais que

precisam ser ensinados aos sujeitos participantes direta ou indiretamente da cultura escrita.

A alfabetização, nesse aspecto, pode constituir-se para os educandos tanto um terreno

de possibilidades – por meio da apropriação do SEA eles se tornam capazes de interagir nas

diversas instâncias sociais que estão associadas aos usos da leitura e da escrita – quanto um

terreno de dominação (através da negação do direito à alfabetização, em seu real sentido, o

aprendiz fica impossibilitado de penetrar as práticas sociais ficando à mercê daqueles que detêm

tais conhecimentos).

Em nossa sociedade as práticas que envolvem a leitura e a escrita estão mais vastas e

complexas. A diversidade de gêneros textuais (discursivos) exige dos sujeitos as competências

para o uso de cada um deles em contextos específicos. Estamos imersos na cultura escrita quer

queira, quer não. Desde que nascemos adentramos o mundo da escrita antes mesmo de adquirir

as habilidades dessa linguagem. A escrita se manifesta e permeia as várias esferas sociais: nas

ruas, nos outdoors, nos rótulos de embalagens de produtos, nos transportes públicos, no trânsito

etc. em toda conjuntura social existem marcas gráficas (algo sendo dito). Mas, a presença

cotidiana da escrita na vida dos indivíduos não garante o aprendizado do Sistema de Escrita

Alfabética, nem tampouco garante autonomia aos cidadãos de participarem das práticas sociais

da linguagem escrita.

O ensino da linguagem escrita é indiscutivelmente atribuído à escola, pois essa é a

instituição socialmente privilegiada de aprendizagens. A escola é o espaço no qual a prática de

alfabetizar deve ser desenvolvida articulada ao letramento, isto é, o educando precisa ser

assegurado por uma prática que lhe proporcione a apropriação do Sistema de Escrita Alfabética,

bem como lhe proporcione autonomia nas práticas de produção da linguagem escrita; nas

interações sociais em que circulam os gêneros textuais.

Nesse, víeis realçamos a necessidade de se adotar práticas em que seja possível

alfabetizar letrando. A esse respeito Vieira (2010) destaca que alfabetizar letrando consiste no:

“Ensino sistemático da base alfabética da língua escrita aliado à vivência cotidiana de práticas

letradas que permitam ao aluno se apropriar das características fonológicas, finalidades e

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composição dos gêneros textuais (orais e escritos) que circulam na sociedade.” (VIEIRA, 2010,

p.113).

A prática de alfabetizar letrando está pautada no ensino do Sistema de Notação

Alfabética, atrelado aos usos da língua em práticas sociais de leitura e escrita; a alfabetização

na perspectiva do letramento é atribuir sentido ao ler e escrever, é fazer uso das habilidades da

escrita e da leitura para fins específicos nas diversas situações sociais.

Na Educação de Jovens e Adultos a prática pedagógica de alfabetizar letrando torna-

se imprescindível, haja vista a necessidade urgente dos aprendizes dessa modalidade de ensino

em aprender a ler e escrever. Esses sujeitos ao ingressarem/retornarem à escola já possuem

amplas experiências com eventos de leitura e escrita. Em alguns casos, muitos alfabetizandos

chegam à escola com algum conceito chave do processo de alfabetização construído– que é a

compreensão do que é a escrita. O que eles precisam é saber o que a escrita representa e como

a escrita representa se apropriando do SEA e utilizando os conhecimentos desse objeto cultural

– a escrita – em seu dia a dia, nas situações de interação em que a leitura e a escrita se faz

necessária.

Conforme Kleiman (2013) o papel da escola, nesse sentido, é promover a apropriação

de práticas “dominantes” e consideradas poderosas para e pelos sujeitos da EJA, ampliando

seus repertórios e ressignificando aqueles conhecidos e elaborados por eles.

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3 A TEORIA DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS: O PERCURSO CONSTITUTIVO

DA PESQUISA

Ninguém caminha sem aprender a caminhar, sem aprender a fazer o caminho

caminhando, refazendo e retocando o sonho pelo qual se pôs a caminhar. (FREIRE,

2015, p. 33, grifo nosso).5

Nesse capítulo apresentamos a Teoria das Representações Sociais, em seus aspectos

epistemológicos, bem como os seus aspectos fundantes; trazemos a abordagem metodológica

da pesquisa, a caracterização do campo e dos participantes desse estudo, além de um

levantamento bibliográfico acerca dos estudos empreendidos na área da Educação de Jovens e

Adultos.

3.1 A epistemologia das Representações Sociais

A Teoria das Representações Sociais é uma vertente da Psicologia Social, cujas matrizes

são sociológica e psicológica. Ela se originou do intento de Moscovici em compreender os

modos de elaboração de saberes na conjuntura social, tendo desenvolvido na França um estudo

sobre a representação social da psicanálise, na década de 50. As investigações dos estudos do

autor buscavam compreender a construção e a partilha de saberes no cotidiano das pessoas

comuns. A representação social de Moscovici centra-se no momento em que a sociedade

começa a pensar a partir do pensamento científico. Bem na época em que o conhecimento da

ciência se difundia e a psicanálise era um objeto de conhecimento em ascensão na França,

Moscovici atentou-se para construir uma teoria que desse conta de compreender a dinâmica da

realidade social moderna. Nesse sentido, o psicólogo social apoia-se na teoria das

representações coletivas de Émile Durkheim (2008)6 para, a partir das lacunas dessa teoria, criar

um aporte teórico que desse conta de compreender e explicar a realidade social.

Na perspectiva do sociólogo francês, Durkheim (2008) a existência de uma sociedade

se dá por meio da coesão social que assegura sua continuidade e só se torna possível quando os

indivíduos se adaptam ao processo de socialização, isto é, quando são capazes de internalizar

costumes, hábitos, valores que são a maneira de ser e de agir do grupo social a qual pertencem.

Neste aspecto, a consciência coletiva, como denominou Durkheim (1968 apud

MOSCOVICI, 2001), reside nas mentes individuais e serve para nortear a conduta dos

5 Autoria do educador e filósofo Paulo Freire (1921-1997). 6 Para maior aprofundamento, ver obra: As formas elementares da vida religiosa: o sistema totêmico na

Austrália. 3. ed., São Paulo: Paulus, 2008.

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indivíduos. No entanto, a consciência coletiva está acima dos indivíduos e é externa a eles. Com

base neste pressuposto teórico, o autor chama atenção para o fato de que os fenômenos

individuais devem ser explicados a partir da coletividade e não o inverso:

Se é comum a todos é porque é obra da comunidade. Já que não traz a marca de

nenhuma inteligência particular, é porque é elaborado por uma inteligência única,

onde todas as outras se reúnem e vêm, de certa forma, alimentar-se. Se ele tem mais

estabilidade que as sensações ou as imagens é porque as representações coletivas são

mais estáveis que as individuais, pois, enquanto o indivíduo é sensível até mesmo a

pequenas mudanças que se produzem em seu meio interno ou externo, só eventos

suficientemente graves conseguem afetar o equilíbrio mental da sociedade.

(DURKHEIM, 1968, p.325 apud MOSCOVICI, 2001, p. 48).

A consciência coletiva é a força exercida sobre o indivíduo, acarretando que ele viva em

conformidade com as normas sociais. Ela exerce força coercitiva sobre a coletividade desde o

nascimento; controla o indivíduo pela pressão moral, psicológica, ditando sua conduta.

A coerção social em Durkheim tem a função de sobrepor limites para estruturar a vida

humana e suas ações, levando o indivíduo a “agir de certo modo”, por meio dos fatos sociais.

Os fatos sociais têm efeito na vida do indivíduo e independe das individualidades. Esses,

denominados o objeto da sociologia pelo autor, diz respeito à consciência coletiva da sociedade;

aos sentimentos, maneiras de agir, pensar, exteriores ao indivíduo, dotados de um poder

coercitivo que lhe impõem. Assim, compreendemos junto a (NOBREGA, 2001, p. 57) que:

[...] a noção durkheimiana das representações coletivas é uma espécie de guarda-

chuva que reúne uma larga gama de diferentes formas de pensamento e de saberes

partilhados coletivamente (crenças, mitos, ciência, religiões, opiniões), cuja

característica consiste em revelar o que há de irredutível à experiência individual e

que se estende no tempo e no espaço social.

Essa noção de coletividade em Durkheim adquiriu um caráter estático e homogêneo,

uma vez que a concepção do indivíduo e do social são antagônicas. O social para Durkheim

independe do indivíduo, e, este último é considerado produto das ações coletivas, não havendo

consenso entre ambos. Para ele, as relações sociais empreendidas principalmente pelas formas

elementares da vida, como as religiões, é que ditam as condutas individuais, criando um clima

harmônico e gerando uma conduta social homogênea.

Em Durkheim tem-se uma interpretação dicotômica entre o indivíduo e o social; o

indivíduo é concebido como mero receptor das informações de sua cultura e seu papel é

adequar-se as regras sociais. O social, na concepção durkheimiana, é estático e impermeável; é

um núcleo duro, impenetrável, no qual há pouca ou nenhuma condição de mudança. Assim, nas

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representações coletivas, o social é partilhado igualmente para todos de uma realidade comum

e os indivíduos são produtos de suas determinações.

Compreendendo a condição histórica na qual Durkheim produziu sua teoria, em um

contexto de uma sociedade pouco diversificada e com relações mais “harmônicas”, Moscovici

retoma os conceitos sociológicos do referido autor e parte das lacunas existentes na teoria das

representações coletivas para pensar uma sociedade mais dinâmica, com relações conflituosas

geradas pela divisão do trabalho e pelo advento da modernidade (NOBREGA, 2001). É nesse

viés que Moscovici introduz na década de 50 um estudo sobre a apropriação, pelo público

francês, da psicanálise.

O campo de estudo se tornou fecundo às investigações do autor, visto que a psicanálise

era, na época de sua pesquisa, um objeto de conhecimento que representava a difusão do

conhecimento científico. Dessa forma, Moscovici engenhosamente observou como os

diferentes grupos construíam e partilhavam os conhecimentos novos referentes à psicanálise de

Freud, na sociedade francesa. O fruto desse trabalho culminou na obra “A Psicanálise, sua

imagem e seu público” publicada em 1961.

A partir de então, Moscovici rompe com a visão positivista da ciência e de uma

sociedade estática, na qual as relações são lineares e homogêneas. Para ele, o primeiro ponto

questionável da teoria das representações coletivas é a cisão do indivíduo e do social. Moscovici

considera que não pode haver divisão entre o indivíduo e o seu meio; eles estão intimamente

entrelaçados e as relações sociais são estabelecidas justamente na interseção do individual e do

social. As relações sociais são frutos de uma elaboração do sujeito a partir de um objeto e estes

se entrecruzam, num movimento contínuo, gerando representações e criando comportamentos.

Nesse sentido, há uma mudança de terminologia no que diz respeito ao conceito de

representação coletiva. Emerge então, o termo representações sociais por denotar a perspectiva

de um social que se modifica, por meio da própria dinâmica da vida social. Diferentemente da

teoria durkheimiana em que o social é a soma dos indivíduos, nas representações sociais esse

coletivo só existe na interdependência dos sujeitos com os sistemas os quais integram. É nessa

conjuntura que Moscovici desenvolve sua teoria, evidenciando que toda representação

construída e partilhada nasce na fronteira da dimensão cognitiva e da dimensão social. Sendo

assim, as representações sociais não se encontram somente no âmbito da Sociologia – como em

Durkheim – mas no limiar da sociologia e da psicologia, captando assim um novo campo, a

psicossociologia.

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Na psicologia social, a definição de indivíduo é engendrada a partir da noção do outro,

isto é, nos tornamos nós mesmos por meio das relações com os grupos sociais que fazemos

parte (LANE, 2006). Somos seres singulares, pois somos constituídos por características

particulares que nos caracterizam como pessoas. No entanto, essa identidade social é

estruturada pelo conjunto de papéis que desempenhamos socialmente e, são “[...] as condições

sociais decorrentes da produção da vida material que determinam os papéis e a nossa identidade

social” (LANE, 2006, p. 22). Essa conceituação de indivíduo não o reduz a um mero produto

das relações sociais, uma vez que essa relação do individual com o social não é linear, nem

acrítica. Ela se efetiva na dinâmica do conjunto das relações no seio social. Assim,

[...] se questionarmos o quanto a nossa história de vida é determinada pelas condições

históricas do nosso grupo social, ou seja, como estes papéis que aprendemos a

desempenhar foram sendo definidos pela nossa sociedade [...] constataremos que

nossos papéis e a nossa identidade reproduzem, no nível ideológico (do que é

idealizado, valorizado) e no da ação, as relações de dominação, como maneiras

“naturais e universais” de ser social, relações de dominação necessárias para a

reprodução das condições materiais de vida e manutenção da sociedade de classes

onde uns poucos dominam e muitos são dominados através da exploração da força de

trabalho” (LANE, 2006, p. 23).

Entretanto, quando adquirimos consciência de si, através dos tensionamentos

provocados nos grupos, questionando o porquê agimos de tal maneira e nos damos conta dos

processos históricos que moldam nosso agir dentro de tais grupos, é que o grupo o qual o

indivíduo é constituinte poderá se tornar agente de intervenção social, sendo coparticipante dos

processos de mudanças sociais e não apenas produto de determinações sociais. Contudo, esse

processo não é simples, “pois os grupos e os papéis sociais que os definem são cristalizados e

mantidos por instituições [...] bem aparelhadas para anular ou amenizar os questionamentos e

ações de grupos [...]” (LANE, 2006, p. 24).

É essa natureza complexa que interessa à representação social; compreender os

processos simbólicos que constituem as representações sociais dos indivíduos e como estes são

moldados por estas representações

porque toda “cognição”, toda “motivação”, e todo “comportamento” somente existem

e tem repercussões uma vez que eles signifiquem algo e significar implica, por

definição, que pelo menos duas pessoas compartilhem uma linguagem comum,

valores comuns e memórias comuns. É isto que distingue o social do individual, o

cultural do físico e o histórico do estático. Ao dizer que as representações são sociais

nós estamos dizendo principalmente que elas são simbólicas e possuem tantos

elementos perceptuais quanto os assim chamados cognitivos. (MOSCOVICI, 2015, p.

105).

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Portanto, a Teoria das Representações Sociais, sendo, pois, um ramo da psicologia

social busca compreender a produção representações/significações gestadas na

interdependência do social e do individual. Dessa forma, os comportamentos são fenômenos

observáveis em todos os contextos da vida cotidiana que têm influência social.

3.2 Conceito, processos de elaboração das Representações Sociais e suas funções

A representação social designa, sobretudo, as formas de conhecimento socialmente

elaboradas; compreendem tanto um conjunto de fenômenos, quanto o conceito que os englobam

e a teoria que os explicam (SÁ, 1993). O conhecimento estudado via este campo de construção

social do conhecimento, é sempre um conhecimento prático; uma forma consensual de

interpretar a realidade. Expressa atividade simbólica dos sujeitos que se processa na dinâmica

das relações sociais, na interface do indivíduo e do seu meio externo. As representações sociais

são construções do sujeito enquanto ser social, caracterizando sua natureza pensante e criativa,

opondo-se então, à visão de sujeito apenas como produto de determinações sociais. Para

Moscovici (2012, p. 39), “as representações sociais são entidades quase tangíveis; circulam, se

cruzam e se cristalizam continuamente através da fala, do gesto, do encontro no universo

cotidiano.”. As representações sociais são entidades quase tangíveis porque se concretizam nas

condutas a partir da representação simbólica que o sujeito faz do objeto de conhecimento. São

produzidas na esfera comum de participação na vida cotidiana e se distinguem em dois

universos de pensamento social, o universo reificado e o universo consensual, conforme

explícito no Quadro 1:

Quadro 1 – Universos das Representações Sociais

Universo reificado Universo consensual

- Só fala os especialistas;

- A especialidade determina quem fala e em

nome de que;

- Há um comportamento adequado para

cada circunstância e um estilo para cada

afirmação e;

- Informações adequadas para cada

contexto.

- Não há fronteiras, todos podem falar

sobre tudo;

- Os sujeitos são “sábios amadores”,

capazes de opinar sobre qualquer

assunto;

- Há respostas para todos os problemas;

- Todo lugar é permissível à elaboração

de representação.

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- O lugar social que o sujeito ocupa

determina suas representações.

Fonte: Elaborado pela autora (2018). Adaptado de Moscovici (2015, p. 50-51).

A premissa da postulação de Moscovici é que os sujeitos produzem saberes nas

diferentes esferas da vida social, seja como um especialista de determinado assunto, seja como

“amador”. Onde há indivíduo compondo grupos sociais, há representações sendo partilhadas,

pois nos movemos e ditamos o mundo por meio das representações que elaboramos.

O campo de investigação da TRS é o senso comum que Moscovici (2015, p. 202)

denominou “como todo conhecimento partilhado pela sociedade como um todo, entrelaçado

com nossa linguagem, constitutivo de nossas relações e de nossas habilidades.”. O caráter

autêntico conferido aos conhecimentos produzidos na esfera do senso comum, denota uma

posição crítica do autor, haja vista a compreensão historicamente produzida nas ciências

humanas acerca do senso comum, compreensão essa que denota uma visão preconceituosa

arrolando a esse campo de saber um estilo arcaico, desprovido de validade e funcionalidade. É,

pois, os saberes que se processam na atividade da vida comum que interessam às representações

sociais e como esses saberes são incorporados a novos conhecimentos, advindos quase sempre

da esfera científica, gerando novas representações e guiando condutas. Contudo, as

representações sociais não se apresentam em contraposição ao saber científico, elas diferem nos

modos de produção e nas funções a que se presta; “a questão reside, portanto, numa diferença

entre saberes historicamente construídos para fins específicos, e não numa hierarquia entre os

mesmos.”. (NOBREGA, 2001, p. 65).

Moscovici (2015) diz que a representação é essencialmente “um sistema” que nos

permite classificar e dar sentido às coisas. Assim, categorizamos e damos nomes aos fenômenos

da vida cotidiana para nos situarmos no nosso tempo e espaço; nos grupos que compomos. Essa

atividade de criar sentidos para as coisas e ao mesmo tempo sermos guiados por estes sentidos

em nossas ações vivenciais, é um atributo inerentemente humano, como seres que, não apenas

estando no mundo, mas com o mundo, somos capazes de comunicar as nossas representações

nas diversas maneiras de ser e estar no/com o mundo. Freire (2015, p. 107) diz que, “somente

homens e mulheres [...], são capazes de realizar a complexa operação de, simultaneamente,

transformando o mundo através de sua ação, captar a realidade e expressá-la por meio de sua

linguagem criadora”. Nesse aspecto, a representação social consiste na produção de

conhecimento como um ato relacional e não na hierarquia socialmente atribuída aos

conhecimentos produzidos na esfera científica e os conhecimentos processados no cotidiano

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das pessoas em espaços comuns da vivência humana, sendo ao primeiro atribuído um valor de

maior prestígio, mais legitimado e ao segundo menos prestígio e menos legitimação social.

A compreensão das representações sociais, portanto, consiste no caráter criador humano

de reconstruir as representações do mundo para nele se situar e atuar. Corroborando com essa

noção, (JODELET, 2001, p. 17) diz que “as representações sociais – enquanto esquemas de

interpretação que regem nossa relação com o mundo e com os outros – orientam e organizam

as condutas e as comunicações sociais.”.

Dessa forma, as representações sociais são caracterizadas como produto e processo da

atividade psíquica humana e representar

[...] corresponde a um ato de pensamento pelo qual um sujeito se reporta a um objeto.

Este pode ser tanto uma pessoa, quanto uma coisa, um acontecimento material,

psíquico ou social, um fenômeno natural, uma ideia, uma teoria etc.; pode ser tanto

real quanto imaginário ou mítico, mas é sempre necessário. Não há representação sem

objeto. Quanto ao ato de pensamento pelo qual se estabelece a relação entre sujeito e

objeto [...] traz a marca do sujeito e de sua atividade. Este último aspecto remete às

características de construção, criatividade e autonomia da representação, que

comportam uma parte de reconstrução, de interpretação do objeto e de expressão do

sujeito. (JODELET, 2001, p. 22-23).

Assim, representar implica a relação tripé entre: sujeito, objeto e o social, na qual os

conhecimentos se processam, se cristalizam e se repercutem nas práticas comuns da vida social.

Em conformidade com o exposto acerca das representações sociais, apresentamos uma

síntese das principais características dessa teoria, em concordância com (JODELET, 2001):

• A representação social é uma forma de conhecimento socialmente elaborada e

partilhada;

• Contribui para a construção de uma realidade comum a um conjunto social;

• A representação social articula elementos afetivos e mentais;

• A representação social é sempre representação de alguma coisa (objeto) e de

alguém (sujeito);

• A representação social tem com o seu objeto uma relação de simbolização,

interpretação, significação.

A representação social é um conceito abrangente que comporta outros conceitos. Pela

sua natureza complexa, ativada na vida social é que, sua constituição envolve os elementos

“informativos, cognitivos, ideológicos, normativos, crenças, valores, atitudes, opiniões,

imagens etc.” (JODELET, 2001, p. 21). Essa totalidade de elementos devem ser observadas em

cada contexto de produção da representação a que se pretende investigar, buscando

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compreender como se engendram as significações e como contribuem para a orientação de

condutas. Outro elemento primordial da representação é o fator tempo.

Para Moscovici (2015, p. 108) “as representações sociais são históricas na sua essência

e influenciam o desenvolvimento do indivíduo [...]”. Somos seres sociais e históricos, pois

desde o nascimento adentramos um espaço no qual já há representações sendo partilhadas,

consequentemente há uma historicidade envolta; uma explicação para cada fato vivido que

demarca o lugar e as motivações que gestaram tais representações. Por isso, percorrer no tempo

histórico a constituição das representações, é entender seu contexto de produção e desvelar as

razões de ser desta ou doutra maneira.

Outrossim, a representação social, dentro da abordagem da sócio-gênese, possui três

campos de domínio, cujas bases estão na definição de representação social “como um conteúdo

mental estruturado... afetivo e simbólico – sobre um fenômeno social relevante...”

(WOLFGANG,1998, p.4). Estes campos de domínios são os seguintes:

1) Ciência popularizada – o conhecimento cientifico incorporado no cotidiano,

possibilitando aos sujeitos justificar/explicar/referenciar os objetos de cunho cientifico

a partir de seus sistemas pré-existentes de conhecimento;

2) Imaginação Cultural – “a imaginação cultural dá realidade às coisas que habitam o

mundo social”, elas delimitam o pensamento e o comportamento nos grupos por meio

de elementos culturais fortemente enraizados. Já a representação social compreende um

conhecimento mais contemporâneo;

3) Estruturas Sociais e eventos específicos – diz respeito às representações criadas ante

eventos/objetos, ainda que com caráter instável. São frutos das avaliações evocadas por

objetos presentes no ambiente social.

Ainda conforme (WOLFGANG, 1998) O denominador comum das representações

sociais é que são socialmente elaboradas e partilhadas. A representação social é produto e

processo, pois, “por um lado é concebida como processo de comunicação [...] por outro lado,

como resultado desse processo” (WOLFGANG, 1998, p. 9) não se pode, contudo, separar a

representação de seu contexto de formação/elaboração. E, para que ocorra a elaboração de uma

representação é preciso que: a) haja convergência e divergência de discursos sociais; b) haja

pertencimento aos grupos sociais; c) haja validação da representação entre os grupos.

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Quanto aos critérios que balizam a definição das representações sociais na perspectiva

da sócio-gênese, corroboramos com o colaborador da TRS, Wolfgang (1998) que define alguns

critérios para conjugação de uma representação:

• Critério funcional – o grupo como uma unidade social reflexiva e organizada;

• Critério de relevância – o objeto da representação deve ter relevância social e

geralmente provoca mudanças de comportamento frente a ele;

• Critério de prática – a representação envolve pensamento e ação, sendo esta a

segunda parte da representação e não sua consequência;

• Critério de holomorfose – as representações que fazem parte das identidades

sociais terão informações de seus referentes grupais, isto é, o indivíduo comporta

representações do grupo o qual é integrante, mesmo quando representa

individualmente, evidencia o grupo por meio da partilha de seus referentes

grupais os quais também o constitui.

• Critério de afiliação – permite a delimitação do grupo cujas representações são

analisadas e é o lado objetivo do critério holomórfico.

Os critérios devem ser selecionados e analisados conforme a natureza do objeto de

representação, pois sua definição implica em observar a função que cumpre cada critério para

cada grupo social.

Os modos pelos quais se processam as representações sociais, partem do seguinte

questionamento: por que criamos representações? Para Mosocovici, criamos representações

para nos comunicarmos, nos familiarizarmos com aquilo que nos é estranho e perturba nossa

ordem simbólica e perceptiva. Dito de outro modo, as representações sociais “devem ser vistas

como uma maneira específica de compreender e comunicar o que nós já sabemos”

(MOSCOVICI, 2015, p. 46). Para ele, a representação possui duas faces que são

interdependentes, como uma moeda cujas faces revelam duas facetas: uma da imagem e outra

do significado. A representação, então, cumpre um papel simultâneo e interdependente de

criação de uma imagem para cada conceito e, a cada conceito, uma imagem. “A representação

iguala toda imagem a uma ideia e toda ideia a uma imagem”. Nesse processo de elaboração das

representações sociais, dois mecanismos são fundamentais e mantêm relação de

interdependência, embora se distingam em seus mecanismos de processamento: a ancoragem

e a objetivação.

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A ancoragem é o processo psíquico e social pelo qual trazemos ao nosso sistema de

categorias simbólicas àquilo que não nos é familiar; uma ideia, um conceito, uma imagem. Algo

desconhecido que está fora do alcance de nomeação/significação. “É um processo que

transforma algo estranho e perturbador, que nos intriga, em nosso sistema particular de

categorias e o compara com um paradigma de uma categoria que nós pensamos ser apropriada.”

(MOSCOVICI, 2015, p. 61).

Ancorar implica em atribuir significado aquilo que não nos é conhecível. É a inserção

do novo na hierarquia de valores do indivíduo (MOSCOVICI, 2012). Na constituição do novo

em nosso psiquismo, recorremos ao nosso universo familiar de conhecimento, comparando o

objeto da representação (o novo) com aquilo que já conhecemos. Esse mecanismo é ativado

toda vez que algo estranho se apresenta a nós; buscamos relacionar o novo a algo que já faz

parte do nosso cotidiano, de nossas categorias de conhecimento, aos quadros de referência por

nós conhecidos. Por isso, ao processar uma representação de um objeto novo, acionamos os

conhecimentos já existentes em nós.

Esses conhecimentos, por sua vez, estão ligados às formas de vida cotidiana e perpassam

os elementos constitutivos das representações: as informações, crenças, valores, ideias. Como

verificado no estudo de Moscovici ao constatar que, o público francês se apropriava da

psicanálise a partir de seus referentes sociais e históricos. Dessa forma, os franceses associavam

a psicanálise às práticas confessionais das igrejas, pois seus referentes para compreender tal

objeto – a psicanálise – estavam embotados dessa prática. As vivências e os conhecimentos de

alguns grupos sociais na França estavam ligados as práticas religiosas. Isso explica as

representações desse grupo social, pois “a atitude em relação ao objeto social depende também

do contexto no qual o objeto é apreendido” (MOSCOVICI, 2012, p. 168).

A objetivação envolve a descoberta da “[...] qualidade icônica de uma ideia, ou ser

impreciso; é reproduzir um conceito em uma imagem” (MOSCOVICI, 2015, p. 71-72).

Objetivar é concretizar as significações, dá forma de uma imagem, transpondo do campo da

ideia para uma imagem. Nesse aspecto, o estranho já não perturba mais, pois esse mecanismo

torna-lhe algo compreensível, com objetos já conhecidos e nomináveis. Assim, quando se torna

um sistema de interpretação

[...] a representação social serve como mediadora entre os membros de um mesmo

grupo. Não se trata de uma interiorização vaga e precária, mas de uma ordenação de

condutas e de percepções. As informações adquiridas penetram na vida cotidiana e

engendram os comportamentos adequados, colocando num contexto diferente as

relações entre pessoas e a maneira como são vivenciadas. O mesmo movimento que

torna uma teoria “subjetiva” estabelece uma concordância com o que pode ter de

objetivo e, além disso, de exterior. Ao imprimir sua marca no microcosmo, uma

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representação se torna efetivamente social e só poderemos concebê-la claramente

quando apreendermos seu papel na existência cotidiana. (MOSCOVICI, 2012, p.

166).

Portanto, a objetivação consiste em reverberar como os elementos de uma ciência se

agregam a uma determinada realidade social. É tornar o imaterial, concreto.

No ato representacional a subjetividade do indivíduo permeia todo o processo de

constituição da representação, pois ela

[...] está presente em suas atitudes e em suas relações no meio social. E mais, é nessa

relação entre externo e interno, compreendidos como instâncias de um mesmo

processo, indissociáveis, que ocorre a construção de sentidos que as diversas situações

vividas terão para o sujeito. Desta forma, a subjetividade termina por expressar-se no

nível social, aparecendo aí a subjetividade social, diferenciando-se da primeira devido

a seu contexto de construção [...] um processo constante de trocas simbólicas que

constitui a característica histórica da subjetividade, na qual o sujeito se constrói e

constrói o meio simultaneamente. (ANDRADE, 2003, p. 63-64).

São as diversas marcas da subjetividade individual e social que compõem as

representações sociais, uma vez que toda representação implica a presença de um sujeito e um

objeto sobre o qual molda sua representação. Toda representação é demarcada pelos sentidos

que os sujeitos lhes atribuem, assim, um mesmo objeto de representação poderá ter diferentes

significados, uma vez que os seus sentidos são atribuídos por indivíduos diferentes, que falam

de um determinado lugar social e a partir de suas referências identitárias (ANDRADE, 2003).

Contudo, as representações sociais são “óculos” que influenciam na maneira como vemos as

coisas e essa maneira de conceber não é só individual, mas também social.

No que tange as funções das representações, elas cumprem essencialmente quatro

funções: função de saber; função identitária; função de orientação e função justificadora

(ABRIC, 1998).

A função de saber, essa é a função basilar da representação, pois permite ao sujeito

integrar o conhecimento do senso comum aos seus sistemas de conhecimentos, de acordo com

seus referentes cognitivos, permitem compreender e explicar a realidade (ABRIC, 1998, p. 29).

A função identitária permite situar um indivíduo num grupo social, salvaguardando sua

imagem em relação ao grupo. Dessa forma, a “representação de seu próprio grupo é sempre

marcada por uma super avaliação de algumas de suas características ou de suas produções [...]”

(MANN, BASS, 1965, LEMONINE, 1966 apud ABRIC, 1998, p. 29). O objetivo é assegurar

uma imagem positiva do grupo social e suas particularidades.

Já a função de orientação, guia os comportamentos. Esse processo resulta de três fatores

essenciais: a) a representação intervém na finalidade da situação, definindo as situações e

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estratégias a serem adotadas para uma determinada conduta; b) ela produz um sistema de

antecipações expectativas, pois conforme Mocovici (2012, p. 46): “a representação social é a

preparação para ação, não só porque guia os comportamentos, mas sobretudo porque remodela

e reconstitui os elementos do ambiente no qual o comportamento deve acontecer.”.

E por fim, c) a representação reflete sua natureza social, cujos sistemas de relações

envolvem regras sociais que definem o que é “lícito, tolerável, inaceitável em um dado contexto

social” (ABRIC, 1998, p. 30), modelando assim as condutas sociais frente aos objetos de

representação.

Se a priori, as representações guiam os comportamentos, a posteriori, elas justificam as

condutas sociais dos indivíduos frente ao objeto social de representação, bem como as suas

escolhas e modos de ser e agir, sendo essa a função justificadora da representação social.

3.3 O delineamento da pesquisa

A pesquisa constitui-se como uma maneira da ciência que permite indagar e construir a

realidade. Portanto, embora seja uma prática teórica, “a pesquisa vincula pensamento e ação”

(MINAYO, 2009, p. 16). Ela é iniciada a partir de um questionamento sobre determinado

aspecto da realidade, quase sempre ligado às experiências sociais e subjetivas de quem se

propõe a investigar determinado tema.

Assim, no ato da pesquisa social, o percurso trilhado para desenvolver o estudo, ou, a

metodologia empregada comporta simultaneamente: a teoria da abordagem (o método); os

instrumentos de operacionalização (as técnicas) e, a criatividade do pesquisador no curso

interpretativo do estudo realizado (MINAYO, 2009, p 14).

Nesse sentido, delineamos a abordagem teórica desta pesquisa, a qual foi tecida através

da compreensão da necessidade em estudar o humano em sua natureza social, portanto, seres

diversos e mutáveis que, em seus contextos de produção de sentidos sociais, perpassam também

suas subjetividades, condição essa inerente a humanidade.

Dessa forma, vimos a necessidade de se empreender um trajeto metodológico que não

nos engessasse na compreensão do nosso objeto de estudo, mas que nos permitisse conferir

sentido ao que foi apreendido no estudo, sem, contudo, eliminar a validade e o rigor de uma

abordagem cientifica.

Comecemos, pois por situar nossa escolha pela Teoria das Representações Sociais como

nosso aporte teórico-metodológico. A sua natureza multifacetada nos permitiu compreender

tanto os sentidos atribuídos ao fenômeno da alfabetização, quanto situá-lo em seus aspectos

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conceituais que os explica. Conforme salientado por Sá (1993, p. 19) “O termo Representações

Sociais designa tanto um conjunto de fenômenos, quanto o conceito que os engloba e a teoria

construída para explicá-los [...]”. É, contudo, o fenômeno da alfabetização como objeto de

representação social e o conjunto teórico da TRS para explica-lo que nos interessa nesse estudo.

Nosso estudo caracteriza-se como pesquisa exploratória, cujas características envolvem

“maior familiaridade com o problema, com vistas a torná-lo mais explícito ou a constituir

hipóteses.” (GIL, 2009, p. 41). A flexibilidade nos modos de realização é marca desse tipo de

pesquisa e, em sua maioria, envolvem: “[...] a) levantamento bibliográfico; b) entrevistas com

pessoas que tiveram experiências práticas com o problema pesquisado; e c) análise de exemplos

que “estimulem a compreensão.” (SELLTIZ et al., 1967, p. 63 apud GIL, 2009, p. 41).

Embora haja flexibilidade nos modos de execução, isso não implica em falta de rigor,

uma vez que o pesquisador atento irá elaborar, conforme os padrões de pesquisa existentes, o

seu percurso de estudo.

Essa pesquisa possui caráter qualitativo por se prestar a compreender os dados da

pesquisa sob os vieses sociais e históricos, não apenas descrevendo-os, mas sobretudo

empreendendo interpretação acerca destes. A pesquisa qualitativa se difere de outros tipos de

pesquisa por “exigir a coleta de dados narrativos. Seu objetivo é coletar dados suficientemente

ricos para que seu estudo aprecie plenamente e compreenda melhor o contexto para os eventos

que você está estudando.” (YIN, 2016, p. 256). Nesse aspecto, destacamos cinco características

da pesquisa qualitativa que melhor elucida nossa compreensão: 1) Estuda o significado da vida

das pessoas, nas condições da vida real; 2) representa opiniões e perspectivas das pessoas

participantes de um estudo; 3) abrange as condições contextuais em que as pessoas vivem; 4)

contribui com revelações sobre conceitos existentes ou emergentes que podem ajudar a explicar

o comportamento social humano e 5) esforça-se por usar múltiplas fontes de evidência. (YIN,

2016).

A escolha do aporte teórico-metodológico implica também o seu viés fenomenológico

que, conforme Husserl (1929 apud GIL, 2008, p. 14) consiste em “avançar para as próprias

coisas”. Essa abordagem fenomenológica requer o abandono de julgamentos e pressupostos

formulados acerca de uma realidade. Ela se volta essencialmente a compreensão das coisas em

seus contextos de produção, sem os impositivos de uma ciência positivista que determina a

maneira de ver e ser da realidade social. Assim, “[...] a pesquisa desenvolvida sob o enfoque

fenomenológico procura resgatar os significados atribuídos pelos sujeitos ao objeto que está

sendo estudado.” (GIL, 2008, p. 15). Neste caso, o exercício fenomenológico é de se esvaziar

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de nossas crenças, opiniões e juízos de valores sobre os objetos sociais. É colocar-se num

esforço contínuo de “suspensão” do eu para compreender o outro – a realidade social e os seus

sentidos para os sujeitos. Embora seja esta tarefa complexa, pois o sujeito que pesquisa também

possui subjetividades que interferem nos modos como vê e observa a realidade social estudada.

No entanto, a tarefa é ponderar essas subjetividades que tendem a se atenuar na abordagem

fenomenológica para assim apreender com mais fidedignidade possível os sentidos da realidade

social atribuídos pelos sujeitos os quais buscamos investigar.

Traçando, então, o nosso objeto – as representações sociais sobre alfabetização de

professores da EJA – empreendemos uma pesquisa bibliográfica que segundo (GIL, 2008) nos

permite uma visão global dos estudos realizados sobre a temática que almejamos pesquisar. As

suas fontes são principalmente livros e artigos, podendo também ter fontes diversas.

Visto isso, realizamos um levantamento das discussões referentes ao campo da

Educação de Jovens e Adultos em 02 (duas) bases de dados com mais notoriedade nacional no

âmbito da pesquisa: periódicos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível

Superior (CAPES) e Repositório institucional da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

Além dessas fontes, elaboramos um quadro com algumas categorias de trabalhos discutidos na

Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (ANPEd), num período que

compreende uma década. Apreciamos também os trabalhos apresentados na X Jornada

Internacional sobre Representações Sociais e VIII Conferência Brasileira sobre Representações

Sociais realizada no ano de 2017, através dos Anais do referido evento.

Em ambas as bases de pesquisa – CAPES e no repositório da UFRN – foram utilizados

como palavras e expressões de busca: “Educação de Jovens e Adultos”, “Alfabetização de

jovens e adultos”, “Representações Sociais”. Os trabalhos que apareceram em duplicidade

durante a pesquisa foram contabilizados uma única vez. A partir do levantamento bibliográfico,

elaboramos quadros apresentando os trabalhos cujas temáticas são de maior relevância no

campo da Educação de Jovens e Adultos.

As contribuições dos trabalhos que estão ligados ao nosso objeto de estudo: as

representações sociais sobre alfabetização dos professores da EJA serão evidenciadas no

decorrer do trabalho.

De acordo com a investigação foi possível constatar um crescente interesse pelos

estudos na Educação de Jovens e Adultos, nos mais variados aspectos, resultando em

publicações de assuntos diversos. No entanto, a crescente nos estudos em EJA é um fenômeno

novo, uma vez que por muito tempo esse campo da educação foi invisibilizado não só em

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relação ao direito das pessoas jovens e adultas de se escolarizarem, como também nas pesquisas

nas universidades do país.

Em um estudo publicado em 2002, Sérgio Haddad (2002)7 verificou que, após a

reafirmação do direito a educação de jovens e adultos, assegurados pela Lei Diretrizes e Bases

em 1986, até 1998 (12 anos depois), menos de 3% dos trabalhos de pós-graduação destinavam-

se ao estudo da EJA. Com a pressões dos setores sociais que discutiam a educação de pessoas

jovens e adultas, bem como o processo de mobilização pela nova Constituição de 1988, além

dos debates posteriores para a elaboração da LDB de 1996, colocaram em pauta o tema da EJA.

Dessa forma, as universidades foram

[...] instadas a olhar para dentro de si [...] perceberam que em suas unidades de

educação o número de professores e pesquisadores voltados a essa temática era muito

pequeno. Posteriormente, quando as universidades foram chamadas a avaliar e a

assumir a formação e supervisão do programa federal Alfabetização Solidária, a

mesma situação veio à tona. Tais fatos concorreram para aumentar a atenção das

universidades para essa área, não só convocando novos pesquisadores e professores,

como também valorizando seus profissionais que tinham a temática como centro das

suas preocupações. (HADDAD, 2011 p. 10).

Assim, após uma sucessiva luta pelo espaço da Educação de Jovens e Adultos é que esse

setor vem ganhando relevância, apesar de ainda ser jovem no âmbito da pesquisa acadêmica

nacional. O espaço hoje ocupado pela EJA nas pesquisas das diversas instituições do país,

reflete o comprometimento dos estudiosos da área na luta social pela efetivação do direito a

educação dos sujeitos dessa modalidade.

Nesse interim, buscamos apresentar os trabalhos expostos na ANPEd, conforme

Soares (2011) nos possibilitou conhecer em sua publicação no livro “Educação de Jovens e

Adultos: o que revelam as pesquisas”. O quadro a seguir é uma ilustração das produções do

Grupo de Trabalho 18 da ANPEd, no qual estão compiladas sete categorias de trabalhos no

campo da Educação de Jovens e Adultos, dos anos de 1998 a 20088.

Quadro 2 – Categorias de trabalhos apresentados na ANPEd no campo da EJA

Categorias Temáticas Eixos discutidos

Sujeitos da EJA Os autores sublinham a necessidade de se

apurar o olhar para questões das

especificidades desses sujeitos para além

da ligação com o trabalho.

Políticas públicas para EJA As pesquisas apontam a importância da

mobilização da sociedade civil e das

7 HADDAD, Sérgio (Coord.). Educação de Jovens e Adultos no Brasil (1986-1998). Brasília: MEV/Inep/Comped,

2002, p. 144. 8 Os trabalhos referentes a década seguinte (2009 -2018) não estava disponível para pesquisa pública.

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iniciativas de poder local na busca de se

escrever uma história diferente de EJA.

Alfabetização na EJA Os autores discutem o entendimento da

alfabetização no cenário nacional e a

necessidade de situá-la às políticas, aos

planos e às campanhas governamentais,

dos quais é possível perceber os conceitos

e os princípios que os orientam.

Escolarização da EJA Discutem a escolarização como afirmação

de um direito básico de todas as pessoas na

modalidade EJA, constituindo-se como

opositora aos processos de exclusão e às

desigualdades sociais.

Currículos e práticas pedagógicas na

EJA

A discussão gira em torno do lugar dos

estudantes de EJA na elaboração dos

currículos destinados a eles.

EJA e o Mundo do Trabalho Discussão sobre os aspectos formais e não

formais da formação do jovem e adultos

(quesitos a serem considerados nas

propostas de currículo para jovens e

adultos trabalhadores).

Formação do educador em EJA As autoras entendem a necessidade de se

compreender a formação do educador em

EJA dentro do quadro geral da formação de

professores, entendendo assim que dois

momentos são cruciais: o da formação

inicial e o da formação continuada. Fonte: Elaborado pela autora (2017). Adaptado de Soares (2011, p.20).

As categorias descritas no quadro 2 demonstram as áreas de interesse de produções

realizadas por diferentes estudiosos num período que compreende uma década (de 1998 a

2008). Esses temas estão ligados às questões pertinentes da modalidade EJA, além de esses

estudos contribuir para a qualificação e consolidação da pesquisa na EJA no país.

Na X Jornada Internacional sobre Representações Sociais e VIII Conferência

Brasileira sobre Representações Sociais realizada no ano de 2017, foram publicados quatro

trabalhos conforme descritos no quadro a seguir:

Quadro 3 – ANAIS dos trabalhos apresentados na JIRS 2017

Título Tipo do trabalho/ano Objetivo

Representações Sociais

dos Saberes da

Experiência por

Professores da EJA: O

Bilinguismo na Fronteira

Anais da JIRS (2017) Esta pesquisa teve por objetivo

analisar as representações sociais

de professores da Educação de

Jovens e Adultos (EJA) sobre

saberes da experiência em

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do Amapá com a Guiana

Francesa

contexto de bilinguismo na cidade

de Oiapoque, localizada no

extremo norte da Amazônia/Brasil.

Diálogos Ameríndios:

Representações Sociais

do Trabalho Docente por

Professores Indígenas na

Diversidade Linguística

de Macapá

Anais da JIRS (2017) A presente pesquisa busca os

saberes que os professores da EJA

da região tiveram que desenvolver

para dar conta da situação

específica do local.

Representação social de

participantes do

PRONATEC: a formação

profissional para o

mundo do trabalho

Anais da JIRS (2017) Buscamos, neste trabalho,

explicitar a representação social de

professores e estudantes do

PRONATEC acerca desse

programa).

Formação da Identidade

Docente: Representações

do ser professor da EJA

no campo na Amazônia

Paraense

Anais da JIRS (2017) Tem como finalidade identificar as

representações dos discentes de

licenciatura em Pedagogia da

Universidade Federal do Pará –

Campus de Bragança, sobre à

Identidade docente,

especificamente sobre o sentido e

significado do ser professor da

Educação de Jovens e Adultos que

atua na realidade do campo na

Amazônia Paraense. Fonte: Elaborado pela autora (2017). Adaptado de X Jornada Internacional sobre Representações Sociais

JIRS(2017).

Não houve nesses anais, publicações de trabalhos que se relacionassem ao nosso objeto

de estudo – representações sociais sobre alfabetização de professores da EJA. Os trabalhos

estavam direcionados às especificidades de suas regiões. Desse modo, os trabalhos indicados

acima compõem o leque geral de produções em EJA.

No repositório da UFRN, selecionamos 16 trabalhos cujas temáticas envolvem a EJA;

políticas de acesso; questões de currículo; programas de alfabetização; formação da identidade

docente na EJA, etc. Do total de trabalhos, 6 tratam da alfabetização em algum aspecto de

interesse do pesquisador. Apenas 1 trabalho está mais diretamente ligado ao nosso objeto de

estudo. Do conjunto geral, estão inseridos na Teoria das Representações Sociais somente 2

trabalhos. Os demais compõem as principais temáticas de discussões na EJA.

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Quadro 4 – Levantamento dos estudos realizados na EJA no repositório da UFRN

Título Tipo de trabalho/ano Objetivo

Sertaniando a Educação

Básica: um estudo das

políticas de acesso a EJA,

construídas ou executadas

na SUEJA/RN

Dissertação (2018) Objetivamos construir uma análise

histórica e crítica das políticas

articuladas na SUEJA, tendo como

foco as políticas para o acesso à EJA

no RN

Educação de jovens e

adultos na cidade do Natal:

uma reflexão sobre sucesso e

insucesso

Dissertação (2012) O presente trabalho teve como

objetivo pesquisar o insucesso e o

sucesso na Educação de Jovens e

Adultos (EJA), com base nos

índices de aprovação, reprovação e

evasão das escolas do Município de

Natal/RN.

Vozes não silenciadas de

alfabetizandos jovens e

adultos e suas repercussões

na formação docente

Tese (2013) Este trabalho de Doutorado tem

como finalidade discutir a

problemática que assim se

configura: que concepções

apresentam alfabetizandos jovens e

adultos sobre si mesmos, sobre seu

direito à educação, sobre a escola e

seu processo de alfabetização? - Que

contribuições - de vozes não-

silenciadas de alfabetizandos da

EJA - podem ser oferecidas num

processo de formação continuada de

seus professores?

Entre saberes e práticas: a

alfabetização de jovens e

adultos no MOVA Belém

Dissertação (2006) Este estudo analisa a experiência do

Movimento de Alfabetização de

Jovens e Adultos Prof. Paulo Freire

(MOVA Belém) no período de

2001-2004. Pretende desvelar quais

saberes/fazeres constituem as

práticas pedagógicas cotidianas de

alfabetizadores e alfabetizadoras

populares e contribuir com o

registro da história da alfabetização

de jovens e adultos em Belém, sem

qualquer pretensão de tornar

generalizantes os aspectos

analisados.

A Livre expressão na

alfabetização de jovens e

adultos: vivências em salas

de aula

Dissertação (2015) Este estudo foi desenvolvido a partir

de uma experiência de alfabetização

de jovens e adultos em duas turmas

do Projeto Redução do

Page 55: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE ......Pós-Graduação em Educação do Centro de Educação, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito para a obtenção

53

Analfabetismo, uma parceria entre a

Universidade Federal do Rio

Grande do Norte, a Secretaria

Municipal de Educação e a

Prefeitura Municipal de Natal-RN.

A inserção na educação de

jovens e adultos e a

formação da identidade

profissional docente: um

estudo de caso

Dissertação (2016) Objetivamos por meio desta

pesquisa, compreender a

repercussão da imersão dos

professores na modalidade de EJA,

na formação de sua identidade

profissional, fundamentado nos

conceitos de identidade (GIDDENS,

2002; HALL, 2011; 2014;

CASTELLS, 2008; BAUMAN,

2013) e profissão docente

(TARDIF; LESSARD, 2012;

ARROYO, 2000, 2006;

PERRENOUD, 1997).

Uma escola e muitos

sentidos: um estudo com os

sujeitos jovens da EJA na

Escola Estadual 15 de

Outubro

Dissertação (2015) Objetiva compreender os sentidos

atribuídos aos saberes escolares

pelos jovens educandos da EJA da

Escola Estadual 15 de Outubro,

localizada na Zona Norte de Natal.

O currículo da EJA em uma

escola de assentamento:

diálogos, saberes e vivências

Tese (2016) A presente tese trata do Currículo a

partir das Práticas Pedagógicas da

Educação de Jovens e Adultos -

EJA, a partir da investigação de

como nestas se articulam os saberes

e vivências dos professores

assentados - que atuam em uma

escola pública municipal, a partir de

sua formação política/educacional

no MST.

Programa alfabetização

solidária: um estudo sobre a

experiência no município de

Lagoa de Pedras/RN (1997 -

2003)

Dissertação (2008) Compreendemos, no âmbito da

descentralização das políticas

educacionais da década de 1990,

como se configurou a agenda

destinada à redução do

analfabetismo, pelo Programa

Alfabetização Solidária - PAS, cuja

proposta descentralizadora se pauta

na gestão em parcerias para a

operacionalização das ações e dos

recursos em face da efetivação de

seus objetivos formais, no período

de 1997 a 2003.

O currículo e as práticas

pedagógicas na EJA:

concepções e crenças dos

Dissertação (2012) Busca-se analisar a relação entre o

Currículo e as Práticas Educativas

da Educação de Jovens e Adultos-

Page 56: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE ......Pós-Graduação em Educação do Centro de Educação, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito para a obtenção

54

professores da escola

municipal Francisca

Leonísia Cruz

EJA e as concepções/crenças desses

professores.

Alfabetização de Jovens e

Adultos: desvendando

práticas, construindo

possibilidades

Dissertação (2005) O compromisso dessa pesquisa

volta-se para a compreensão das

práticas pedagógicas desenvolvidas

na alfabetização de jovens e adultos,

bem como se propõe a construir

caminhos na busca de práticas que

levem em conta as especificidades

dos alunos dessa modalidade de

ensino.

EJA: saberes na articulação

curricular da Escola

Municipal Professor

Amadeu Araújo

Dissertação (2014) Este trabalho tem como objeto de

estudo as possibilidades de inserção

de saberes presentes no entorno da

escola no currículo da EJA a partir

do olhar discente sobre sua

formação escolar

Tramas do impedimento: os

sentidos da desistência entre

Alfabetizandos da EJA

Dissertação (2007) Configuramos nosso objeto de

estudo como os sentidos da

desistência entre alfabetizandos da

Eja, cuja compreensão é nosso

objetivo.

Formação de educadores de

jovens e adultos no

Programa Geração Cidadã:

relação entre saberes na

proposição curricular

Tese (2007) A presente investigação se reporta

aos elementos prioritários de uma

proposta curricular para formação

de alfabetizadores de jovens e

adultos, no que concerne à relação

entre os saberes acadêmicos e os

saberes da experiência docente

Da representação social do

ser professor da EJA à

descoberta de seu aluno

como referente

Dissertação (2010) Evidenciando como objeto de

estudo a representação social que os

docentes atuantes na Educação de

Jovens e Adultos possuem a respeito

do; ser professor; nesta modalidade

de ensino, objetivamos, por meio

desta pesquisa, compreender a

existência desta representação em

meio aos professores atuantes nos

períodos iniciais da EJA, tendo

como fundamentação a Teoria das

Representações Sociais

(MOSCOVICI, 1978, 2003;

JODELET, 2001; ABRIC, 1998

Page 57: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE ......Pós-Graduação em Educação do Centro de Educação, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito para a obtenção

55

Fonte: Elaborado pela autora (2017).

O trabalho de dissertação intitulado “Alfabetização de Jovens e Adultos: desvendando

práticas, construindo possibilidades”, trouxe contribuições ao nosso objeto de estudo ao discutir

as práticas de alfabetização de uma docente da EJA. O estudo citado é uma pesquisa etnográfica

que permitiu a pesquisadora construir, junto a participante da pesquisa, um caminho alternativo

para a alfabetização dos jovens e adultos, após essa ter percebido uma “[...] contradição no seu

fazer pedagógico e em suas falas.” (SILVA, 2005, p. 101).

Na entrevista e na análise das observações realizadas pela pesquisadora, evidenciou-se

as lacunas entre o que a participante da pesquisa conceituava como sendo a alfabetização e suas

práticas reais. Essas lacunas derivaram-se da formação inicial que não abordou a questão da

alfabetização de adultos, conforme Silva (2005).

O referido estudo elucidou as necessidades formativas em relação a alfabetização de

jovens e adultos, apontando que a não compreensão do conceito de alfabetização traz

implicações negativas à prática pedagógica, pois conduz a um tratamento descaracterizante do

que é alfabetizar na modalidade EJA. A alfabetização na EJA implica na formulação de uma

proposta que atenda às necessidades dos jovens e adultos, com textos próprios do universo

deles, partindo disso rumo a ampliação dos seus repertórios com a escrita e a leitura, garantindo

autonomia a esses sujeitos nas práticas de uso da língua.

Assim, a autora do estudo considera que

Como consequência de nossas reflexões conjuntas [...] notamos [...] um maior cuidado

na escolha e contextualização dos textos a serem trabalhados. As atividades

anteriormente retiradas de livros didáticos passaram a ser planejadas de acordo com

as necessidades observadas pela própria professora em sala de aula. (SILVA, 2005, p.

135).

Conforme pôde-se constatar no estudo, a prática de alfabetização da docente ganha

outras alternativas a partir da intervenção da pesquisadora. A partir de ações conjuntas de

estudos e reflexões no espaço escolar, a participante da pesquisa começa a repensar seu fazer.

Talvez esse momento tenha dado início a transição da antiga concepção de alfabetização à

Os currículos praticados no

cotidiano da EJA:

regulações e emancipações

na Escola Centro

Educacional Dr. Pedro

Amorim

Dissertação (2012) Este trabalho de investigação tem

como objeto de estudo os currículos

praticados no cotidiano da Educação

de Jovens e Adultos e considera em

seu bojo de discussão as concepções

do conhecimento de regulação e

emancipação.

Page 58: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE ......Pós-Graduação em Educação do Centro de Educação, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito para a obtenção

56

elaboração de uma nova compreensão que, consequentemente guiará uma nova conduta na

alfabetização de jovens e adultos.

O estudo apresentado contribui para reflexão acerca do nosso objeto de estudo, pois

evidencia como os processos formativos interferem marcadamente nas elaborações das

representações sociais dos objetos e, por conseguinte nas condutas pedagógicas.

No banco de teses e dissertações da CAPES, selecionamos 15 trabalhos os quais

abordam a Educação de Jovens e Adultos em suas principais temáticas, a saber: alfabetização

de jovens e adultos, documentos e políticas para educação de jovens e adultos, EJA e

Representações Sociais, dentre outras temáticas, conforme exemplificadas no Quadro 5. Dos

achados, 8 trabalhos se referem a alfabetização dando ênfase a algum aspecto, seja na formação

do alfabetizador seja nas políticas públicas de alfabetização e educação de jovens e adultos. Do

total de trabalhos selecionados 2 enfocam a TRS e apenas 1 têm relação mais direta com nosso

objeto de estudo.

Quadro 5 – Levantamento dos estudos realizados na EJA no banco de teses e dissertações da CAPES

Título Tipo de trabalho/ano Objetivo

Alfabetização e letramento

na educação de jovens e

adultos

Dissertação (2011) Descrever e analisar as práticas

pedagógicas de uma professora

atuante na Educação de Jovens e

Adultos (EJA) e verificar seus

impactos nas práticas de letramento

dos seus alunos.

Movimento pela educação

de jovens e adultos nas

CONFITEAS e seus

desafios para a política

educacional.

Tese (2012)

Analisa de forma mais geral o

movimento pela EJA, considerando

os desafios postos por suas agendas

à política elaborada e implementada

nesse campo. Mais especificamente,

discute sobre os avanços das

recomendações para a educação de

adultos existentes nas

CONFINTEAS; reflete sobre os

diferentes movimentos pela EJA

atuantes no processo CONFINTEA

VI; analisa os desafios colocados

pelas agendas produzidas pelos

diferentes movimentos pela EJA.

O acesso as práticas de

letramento digital na

educação de jovens e

adultos.

Tese (2011) Esta pesquisa busca investigar como

o letramento digital é abordado na

Educação de Jovens e Adultos

(EJA).

Page 59: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE ......Pós-Graduação em Educação do Centro de Educação, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito para a obtenção

57

Representações sociais de

professores da educação

de jovens e adultos: EJA

sobre sua formação

docente e afetividade no

processo de ensino-

aprendizagem.

Tese (2015)

Analisar as representações sociais

dos professores da EJA sobre sua

formação docente e a afetividade no

processo de ensino-aprendizagem.

ONGs com mandato para

elaborar políticas

públicas?: a participação

de ONGs nas políticas de

alfabetização e educação

de jovens e adultos no

Brasil (1990-2010).

Tese (2016) Visa a compreender os processos

que levaram ao protagonismo das

ONGs na formulação, execução e

avaliação das políticas públicas de

alfabetização e educação de jovens e

adultos.

Brasil alfabetizado e

mision Robinson: um

estudo comparativo acerca

das políticas de

alfabetização no Brasil e

na Venezuela – 2003-2013

Tese (2015) A análise destas políticas nos dois

países em relação ao momento

particular do capitalismo é objetivo

principal, e em específico, buscou-

se conhecer como se formam os

alfabetizadores. O tema aborda a

questão do

alfabetismo/analfabetismo como um

dos problemas sociais que mais

atingem a América Latina.

Memórias e

representações sociais de

jovens e adultos :

lembranças

ressignificadas da escola

da infância e expectativas

no retorno à escola

Tese (2012) Investigar e analisar as memórias

dos estudantes da modalidade

Educação de Jovens e Adultos

(EJA) em nível fundamental, e as

representações sociais produzidas

por esses sujeitos sobre a escola da

infância, relacionando-as com as

vivências escolares atuais.

O direito educação

à básica para jovens e

adultos da modalidade

EJA no Brasil : um resgate

histórico e legal

Tese (2013) Esta pesquisa faz uma reconstrução

do percurso histórico do direito ao

acesso e da terminalidade da

educação básica nas políticas

públicas de atendimento à educação

para jovens e adultos, buscando

compreender as raízes do

analfabetismo e o surgimento da

demanda por educação para a

modalidade EJA.

Livros didáticos de

alfabetização de jovens e

adultos: um estudo sobre

as estruturas

multiplicativas

Tese (2010)

No presente estudo foram

analisados, segundo pressupostos

teóricos da Teoria dos Campos

Conceituais (Vergnaud, 1982), os

livros didáticos de alfabetização de

jovens e adultos aprovados no Plano

Nacional do Livro de Alfabetização

Page 60: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE ......Pós-Graduação em Educação do Centro de Educação, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito para a obtenção

58

Fonte: Elaborado pela autora (2017).

A dissertação “Alfabetização e letramento na Educação de Jovens e Adultos” analisa as

práticas de alfabetização de uma docente participante da pesquisa e os desdobramentos nas

práticas de letramento de seus alunos. A partir disso, evidencia-se que o trabalho da docente

com as práticas reais de uso da linguagem escrita faz a diferença na vida dos estudantes, uma

vez que os torna mais capacitados para utilizar os conhecimentos da leitura e da escrita no

cotidiano.

Conforme aponta Barros (2011):

Observa-se uma grande preocupação da professora em ensinar os conteúdos de forma

contextualizada, baseando-se em textos e materiais reais (fábulas, histórias, músicas,

poesias, receitas culinárias, textos jornalísticos, etc.) com os quais os alunos já

mantêm contato em seu cotidiano e, por isso, têm facilidade em estabelecer relação

entre o conteúdo que é ensinado em sala de aula e o que observam e utilizam na

realidade de seu cotidiano. Ao explorar a diversidade textual, a professora aproxima

o aluno das situações originais de produção dos textos não escolares. Essa

aproximação proporciona condições para que ele compreenda o funcionamento dos

gêneros textuais, apropriando-se, a partir disso, de suas peculiaridades, o que facilita

o domínio que deverá ter sobre eles [...]. (BARROS, 2011, p. 59).

(PNLA) 2008, no que se refere à

abordagem nas situações-problema

das estruturas multiplicativas.

Jovens e adultos em

processos de

escolarização:

contribuições para a

formação do professor

alfabetizador

Dissertação (2000) (Trabalho anterior a plataforma

Sucupira, não sendo possível o

acesso ao trabalho completo).

A alfabetização de adultos

e idosos: novos horizontes

Dissertação (2006) (Trabalho anterior a plataforma

Sucupira, não sendo possível o

acesso ao trabalho completo).

O Processo Formativo dos

Professores-

Alfabetizadores na Prática

Educativa do MEB/

Mossoró - RN: um estudo

de caso

Dissertação (2000) (Trabalho anterior a plataforma

Sucupira, não sendo possível o

acesso ao trabalho completo).

Alfabetizar: O Segredo é a

Inteligência da Prática

Dissertação (2006) (Trabalho anterior a plataforma

Sucupira, não sendo possível o

acesso ao trabalho completo).

Parceria é o caminho?

Alguns sentidos da

alfabetização de jovens e

adultos nos programas

brasileiros

Dissertação (2004) (Trabalho anterior a plataforma

Sucupira, não sendo possível o

acesso ao trabalho completo).

Page 61: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE ......Pós-Graduação em Educação do Centro de Educação, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito para a obtenção

59

A autora mostra em seu trabalho de dissertação que os estudantes demostram bastante

interesse quando são trabalhados gêneros textuais próximos aos que utilizam nas práticas

sociais, como por exemplo, os jornais, as receitas, dentre outros. A prática desenvolvida pela

participante do estudo aponta para uma condição pedagógica possível de realizar, uma vez que

envolve o olhar atento do docente para as demandas reais de aprendizagem dos sujeitos jovens

e adultos.

Trata-se de conhecer os sujeitos da modalidade, bem como mapear o que eles sabem e

o que precisam saber para se inserirem de forma autônoma nas práticas de uso da língua

materna.

Assim, ainda que o estudo se mostre positivo, tendo em vista que traz uma experiência

exitosa de alfabetização e letramento com jovens e adultos, ainda é uma dentre uma multidão

de práticas que não consideram as necessidades reais de uso da linguagem escrita.

Por meio do levantamento bibliográfico nas bases de dados mencionadas, constatamos

a necessidade de aprofundar estudos sobre a formação dos professores alfabetizadores da

Educação de Jovens e Adultos, uma vez que os estudos nessa área se demonstraram

insuficientes para repensar os processos formativos docente. Também foi notório a escassez de

trabalhos relacionados à EJA sob o aporte teórico-metodológico da Teoria das Representações

Sociais, o que justifica nossa escolha pelo estudo das representações sociais sobre alfabetização

dos professores da EJA, haja vista a natureza da teoria que, nos permite conhecer os processos

que compõem as elaborações das representações sociais e as condutas nas práticas sociais

guiadas por essas representações. O que trará contribuições às instituições formadoras no que

diz respeito as reflexões tecidas na formação de docentes que atuarão na alfabetização de jovens

e adultos.

3.3.1 Sujeitos e lócus da pesquisa

Os sujeitos participantes dessa pesquisa são docentes da rede básica de ensino da cidade

de Natal/RN. Foram selecionadas quatro (04) docentes que lecionavam em turmas de

alfabetização de jovens e adultos, na modalidade EJA, 1º segmento. As quatro docentes são de

duas escolas da rede municipal de ensino. A primeira instituição da pesquisa se situa na zona

norte de Natal e a segunda instituição, na zona sul desta cidade.

Como critério de seleção das participantes da pesquisa, elencamos os seguintes:

• Docentes no exercício de suas atividades, lotados nas instituições de ensino da

rede básica de Natal, estado do Rio Grande do Norte;

Page 62: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE ......Pós-Graduação em Educação do Centro de Educação, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito para a obtenção

60

• Docentes que estejam exercendo suas funções em turmas da Educação de Jovens

e Adultos, do 1º segmento desta modalidade;

• Docentes que estejam desenvolvendo práticas de alfabetização de jovens e

adultos.

Como critérios para escolha das instituições foram considerados os seguintes:

• Instituições que oferecessem a modalidade EJA (1º segmento);

• Instituições que apresentassem realidades distintas em termos de localização e

público alvo da EJA;

• Instituições que se disponibilizassem a contribuir para a pesquisa.

Conforme os critérios mencionados, selecionamos duas instituições de diferentes zonas

da cidade para promover um contraponto quanto as condições de elaboração da representação

social sobre alfabetização. Dessa forma, a primeira instituição da pesquisa situa-se na zona

norte de Natal, no maior bairro desta cidade – Nossa Senhora da Apresentação. Atende um

público bem variado do 1º ao 2º segmento da EJA. No entanto, no 1º segmento, o qual

desenvolvemos esse estudo, comporta faixa etárias variadas dos estudantes, atendendo sujeitos

de 15 a 70 anos (idades dos estudantes no momento da pesquisa). Nessa instituição haviam três

turmas do 1º segmento da EJA. Como nosso critério seria realizar o estudo com todos os

professores alfabetizadores, decidimos selecionar as três docentes. Porém, no ano da pesquisa

houveram vários contratempos, como greve, pedido de exoneração docente que não

possibilitaram o estudo com todas as docentes. Sendo assim, realizamos a pesquisa com duas

docentes dessa escola, visto que uma saiu da instituição e a sua substituição demorou bastante,

o que ocasionou a junção de turmas para que os estudantes não ficassem sem aula.

A segunda instituição colaboradora da pesquisa situa-se na zona sul de Natal, no bairro

Nova Descoberta. Atende também o 1º e 2º segmento da modalidade EJA. Nessa instituição

haviam duas turmas do 1º segmento, as quais correspondiam a alfabetização de jovens e adultos.

O público dessa escola é caracterizado por sujeitos mais adultos e idosos. Realizamos o estudo

com as duas docentes alfabetizadoras dessa instituição.

Por questões éticas e, atendendo aos pedidos das participantes da pesquisa, não

revelaremos os nomes das docentes nem das instituições nas quais desenvolvemos o estudo.

Apenas as zonas as quais se situam as escolas e os nomes dos bairros foram revelados, a fim de

melhor caracterizar o campo, sem perder de vista suas características, mas resguardando as

identidades de seus sujeitos. Assim, utilizaremos nomes fictícios para caracterizar as

Page 63: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE ......Pós-Graduação em Educação do Centro de Educação, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito para a obtenção

61

participantes. Para nomear as participantes escolhemos os nomes de conceitos desenvolvidos

por Paulo Freire, como: Esperança, Transformação, Libertação e Dialógica. Termos estes que

compreendem o processo de alfabetização de jovens e adultos.

Portanto, definimos por escola as participantes do estudo; na escola 1 estão as docentes

da instituição localizada na zona norte de Natal e são nomeadas pelos seguintes codinomes:

Esperança e Transformação. Na escola 2, estão as docentes da instituição situada na zona sul

e são nomeadas respectivamente de: Libertação e Dialógica.

A seguir, apresentamos um quadro com o perfil desses sujeitos que foi possível construir

por meio de um questionário aplicado com questões de ordem pessoal e de caracterização das

participantes.

Quadro 6 – Caracterização das participantes da pesquisa

Esperança Transformação Libertação Dialógica

Idade 37 anos 29 anos 49 anos 47 anos

Gênero Feminino Feminino Feminino Feminino

Curso de

formação

Pedagogia Pedagogia Magistério e

Letras

Pedagogia

Formação

acadêmica

Instituição

pública

estadual

Instituição

pública federal

Instituição

privada

Instituição

privada

Instituição

que se formou

UERN UFRN Universidade

potiguar

Universidade

Estadual do

Vale do

Acaraú (UVA)

Ano de

conclusão do

curso

2002 2011 2000 __________

Nível de

formação

Especialização Mestre

(cursando

doutorado)

Especialização __________

Participação

em formação

continuada

Sim Não Não Sim

Se sim, em

que curso?

Internet

intermediária

__________ __________ Alfabetização

e Letramento

Tempo de

atuação nos

anos iniciais

10 anos 5 anos 15 anos 15 anos

Tempo de

profissão

10 anos 10 anos 33 anos 20 anos

Tempo de

atuação na

EJA

9 anos 5 anos 7 meses 4 anos

Page 64: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE ......Pós-Graduação em Educação do Centro de Educação, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito para a obtenção

62

Tempo de

atuação na

escola atual

7 anos 1 ano 27 anos 6 anos

Fonte: Elaborado pela autora (2017).

Conforme o quadro apresentado foi possível caracterizar o perfil das docentes que

atuam na modalidade EJA, 1º segmento, em turmas de alfabetização. As docentes têm idade

entre 29 a 49 anos; três são pedagogas e uma possui magistério e formação em letras; duas delas

se formaram em instituições públicas (UFRN e UERN) e duas em instituições privadas (UVA

e UNP); duas das participantes possuem especialização, uma possui mestrado e cursa o

doutorado e somente uma não possui pós-graduação.

Duas participavam (no momento da pesquisa) de formação continuada, uma em curso

de informática e outra num curso de alfabetização e letramento. Duas das participantes não

estavam envolvidas com nenhuma atividade de formação continuada no momento da pesquisa.

O tempo de atuação das docentes nos Anos Iniciais é de 5 a 15 anos; o tempo de atuação na

profissão como um todo varia de 10 a 33 anos; o tempo de atuação na EJA está entre 7 meses

a 9 anos. E o tempo de atuação nas escolas da pesquisa está entre 1 a 27 anos.

Assim, o perfil caracterizado das participantes da pesquisa nos possibilita compreender

seus contextos formativos e suas experiências enquanto docentes, o que contribui para nossa

análise e interpretações do contexto de produção da representação social sobre a alfabetização

que serão discutidos no decorrer do trabalho.

3.3.2 Os instrumentos de acesso ao objeto da representação

Para apreendemos o objeto da representação social sobre alfabetização, utilizamos como

técnicas de recolha dos dados a entrevista semiestruturada; o questionário com perguntas de

cunho informativo acerca dos sujeitos e observação do tipo não participativa.

A entrevista é uma forma de interação social. De forma mais específica “[...] é uma

forma de diálogo assimétrico, em que uma das partes busca coletar dados e a outra se apresenta

como fonte de informação.” (GIL, 2008, p. 109). A entrevista semiestruturada “combina

perguntas fechadas e abertas, em que o entrevistado tem a possibilidade de discorrer sobre o

tema em questão sem se prender à indagação formulada”. (MINAYO, 2009, p. 64).

Essa técnica apresenta como vantagens: a) possibilitar a obtenção de dados referentes

aos mais diversos aspectos da vida social, e b) eficiência para a obtenção de dados em

profundidade acerca do comportamento humano. (GIL, 2008).

Page 65: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE ......Pós-Graduação em Educação do Centro de Educação, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito para a obtenção

63

Embora a relação nessa técnica seja assimétrica, o pesquisador precisa manter uma

relação horizontal com o seu entrevistado, atentando para alguns requisitos antes do início da

pesquisa, no intuito de diminuir as desigualdades na relação entre pesquisador e pesquisado.

Nesse sentido, estabelecer uma conversa inicial para “criar o clima” para entrevista se faz

imprescindível.

Nesse ínterim, com o roteiro da entrevista previamente definido (Apêndice A),

buscamos estabelecer um contato inicial com as docentes para situarmos a pesquisa e fazer as

devidas apresentações. Alguns pontos foram levados em consideração nesse contato inicial,

conforme as orientações de Minayo (2009) sobre a entrevista:

• Apresentação da pesquisadora às instituições de realização da pesquisa;

• Menção do interesse da pesquisa;

• Apresentação de credencial institucional;

• Explicação dos motivos de realização da pesquisa (TCLE -Apêndice B);

• Justificativa da escolha das entrevistadas e;

• Garantia do sigilo e anonimato sobre os dados.

Feito isso, nosso contato se tornou mais eficaz, pois as entrevistadas se sentiram mais à

vontade para participarem do estudo e falar sobre o objeto de suas representações. Percebemos

que, apesar de as entrevistadas demostrar estarem cientes que a relação entre entrevistadora e

entrevistadas não é simétrica, elas não apresentaram barreiras de interação, uma vez que o

envolvimento da pesquisadora nos contextos da pesquisa possibilitou livrar-se de possíveis

pedantismos que costumam circundar as relações em pesquisa científica.

Dessa forma, foi possível estabelecer um “clima” propício para a realização da

entrevista. As entrevistas foram feitas por meio de gravação de voz, individualmente, após

autorização das entrevistadas. Durante a realização das entrevistas, a pesquisadora deixou o

gravador à disposição das entrevistadas para que pudessem pausar e reiniciar de acordo com

suas necessidades. Sendo assim, a medida em que se sentiam seguras para falar as mesmas

davam um sinal para que ligasse o gravador ou elas mesmas o ligava.

Esse procedimento nos permitiu apreender os elementos que ancoram as representações

sociais das docentes sobre a alfabetização.

Outro instrumento utilizado foi a observação do tipo simples (ou não participativa),

que conforme (GIL, 2008) consiste em mais que uma técnica, pois torna-se a maneira de

perceber os fatos da realidade social, configurando-se, então como um método. A observação

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64

refere-se aos usos de sentidos na apreensão de uma realidade, sua principal vantagem consiste

na apreensão dos “fatos [...] percebidos diretamente sem qualquer intermediação.” (GIL, 2008,

p. 100).

Optamos pela utilização desse instrumento, por este se configurar como uma fonte

segura de perceber uma realidade social, pois lá, nos contextos das relações sociais, os fatos são

percebidos em sua essência, embora possam estar atravessados pelas subjetividades do

pesquisador, esse risco tende a diminuir, uma vez que os fenômenos se mostram em sua

natureza comum. Mesmo que a presença do pesquisador possa contribuir para alterar a conduta

dos observados, até mesmo isso torna-se elemento de análise da representação. Contudo, a

observação “[...] permite uma aproximação com seus interlocutores... que longe de ser um

inconveniente, é uma virtude e uma necessidade.” (MINAYO, 2009, p. 75).

Essa técnica tem como instrumento o diário de campo que consiste em um caderno de

anotações sobre os elementos que se reverberam na conduta dos pesquisados sobre o objeto de

estudo (MINAYO, 2009).

Visto isso, nossas observações ocorreram em ambas as instituições da pesquisa,

conforme os dias combinados com as docentes. Nossa inserção no campo de pesquisa se deu

no segundo semestre do ano de 2016. Firmamos um contato inicial para familiarização com os

participantes – docentes e estudantes – e estabelecemos os dias de observação em cada turma.

Assim, a primeira instituição com turmas observadas foi a da zona norte e a segunda

respectivamente a escola da zona sul.

Foi combinado entre pesquisadora e pesquisadas que as observações se fariam ao longo

de uma semana em cada turma – pois nosso objeto principal são as representações sociais sobre

alfabetização o que somente as entrevistas dariam conta, no entanto, as observações nos

subsidiará nas análises das condutas em que essas representações se reverberam, implicando

assim nas práticas de alfabetizar.

Portanto, consideramos, para nossa análise, quatro (04) dias das observações feitas nas

salas de aulas de turmas de alfabetização da EJA, tendo em vista que um dia da semana é

destinado ao planejamento dos professores da rede municipal de ensino de Natal. Embora a

pesquisadora tenha passado mais tempo nas instituições do que o considerado para análise nessa

pesquisa. Nossa delimitação se faz por causa do nosso foco que consiste em investigar as

representações sociais sobre alfabetização, consideramos as observações como elemento

acrescido para potencializar nossas interpretações dos contextos representacionais das

docentes.

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Todavia, as observações, além de nos evidenciar a face figurativa das representações,

isto é, sua objetivação, incorporação nas condutas, promoveram o contato direto com o

contexto de produção/repercussão das representações sociais, o que causou grande satisfação a

pesquisadora por estar inserida no espaço de vivências de aprendizagens escolar dos jovens e

adultos, captando a riqueza dessas relações, bem como os seus anseios. Anseios estes que se

propagavam no desejo de adquirir os conhecimentos da alfabetização para melhor se

relacionarem com o mundo, ou como na voz de uma estudante “pra viver melhor as coisas da

vida, ter capacidade de fazer as coisas por si só”. Esse processo nos fez sentir a alegria da busca,

pois como nas palavras de Paulo Freire “a alegria não chega apenas no encontro do achado,

mas faz parte do processo da busca [...]”.

Por fim, nossa última técnica de recolha de dados foi o questionário (Apêndice C).

Segundo (GIL, 2008, p. 121) o questionário pode ser definido

[...] como a técnica de investigação composta por um conjunto de questões que são

submetidas a pessoas com o propósito de obter informações sobre conhecimentos,

crenças, sentimentos, valores, interesses, expectativas, aspirações, temores,

comportamento presente ou passado etc.

Nesse viés, aplicamos um questionário com questões fechadas de cunho informativo

pessoal, no intuito de levantar informações que pudessem compor um perfil das entrevistadas.

Ademais, buscamos a triangulação das técnicas utilizadas para melhor apreender o

objeto da representação em tela, buscando em cada um, elementos que nos possibilite

compreender o conjunto da realidade social da alfabetização para as nossas participantes da

pesquisa, enquanto seres sociais e históricos que atribuem sentidos às coisas.

3.3.3 O percurso interpretativo da representação social

Nos propomos a analisar e interpretar os constructos simbólicos das representações

sociais de professores acerca da alfabetização. Mais do que descrever falas e observações

empreendidas sobre este objeto de representação, buscamos construir uma interpretação desta

que nos permita compreender seus processos elaborativos e suas implicações nas condutas

pedagógicas de alfabetizar, para então tecermos reflexões que ajudem a repensar a formação de

professores alfabetizadores da EJA nas instituições formadoras.

Nesse sentido, Arruda (2005) apresenta a importância e o lugar da interpretação na TRS.

Ela afirma que interpretar requer rigor e experiência ligada a sensibilidade. A interpretação não

se reduz na descrição dos dados levantados na pesquisa, embora seja essa etapa fundamental.

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Interpretar na TRS é alcançar a representação que é criação do sujeito na interface do

psicológico e do social. No percurso interpretativo, o pesquisador põe em xeque sua bagagem

de experiências que envolvem uma consciência teórica, revisão bibliográfica e uma

interpretação minuciosa pautada em referentes da cultura, da história e das circunstâncias em

que foram produzidas as representações. Por isso, “quanto maior o interesse pelo caráter

simbólico da representação social, maior será o peso da interpretação” (ARRUDA 2005).

Seguimos, portanto, os passos da Análise de Conteúdo, proposto por Bardin (2011).

Conforme a autora, a análise de conteúdo diz respeito a um “conjunto de instrumentos

metodológicos [...] que se aplicam a discursos (conteúdos e continentes) extremamente

diversificados.” (BARDIN, 2011, p. 3). Nesse aspecto, três são as fases de organização da

análise nessa abordagem: 1) A Pré-Análise que envolve: a) leitura flutuante (primeiras

impressões sobre o objeto a partir do contato com documentos); b) a escolha dos documentos

(determinado pela natureza do objeto em estudo; c) a formulação das hipóteses e dos objetivos

(uma afirmação provisória da realidade a que se estuda e definição dos objetivos a seguir na

sua descoberta; d) referenciação dos índices e elaboração dos indicadores (menção explícita de

um tema numa mensagem) e; e) preparação do material (aqui as entrevistas são transcritas, os

dados do questionário tabulados e os diários de campo sistematizados, a fim de empreender a

interpretação). 2. Exploração do material que consiste efetivamente no levantamento das

categorias temáticas que, conforme (BARDIN, 2011, p. 147) “é uma operação de classificação

de elementos constitutivos de um conjunto por diferenciação, e, em seguida por

reagrupamento...”. a categorização pode ser semântica, sintática e expressiva.

Desses passos descritos, retiramos o item “c” por entendermos que a formulação de uma

proposição acerca do objeto de estudo não condiz com nossa abordagem de viés

fenomenológico da pesquisa, que se propõe a desvencilhar-se dos julgamentos e hipóteses para

compreender uma realidade socialmente construída pelos sujeitos.

Assim, após os procedimentos descritos, realizamos a categorização semântica

(temática) de acordo com as situações emergidas nas entrevistas. Dessa forma obtivemos três

categorias de análise: 1. A alfabetização 2. Alfabetização na EJA e 3. Educação de Jovens e

Adultos, cujas dimensões estão explícitas no curso do trabalho.

Sob o aporte teórico da Teoria das Representações Sociais buscamos compreender o

fenômeno da alfabetização para professores da EJA, dialogando com os autores que

fundamentam e discutem a alfabetização e a alfabetização na EJA.

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4 ALFABETIZAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: REPRESENTAÇÕES SOCIAIS

DOCENTE

Representar uma coisa, um estado, não é só desdobrá-lo, repeti-lo ou reproduzi-lo, é

reconstituí-lo, retoca-lo, modificar-lhe o texto. (MOSCOVICI, 2012, p.54, grifo

nosso).9

Trazemos nesse capítulo as falas das colaboradoras dessa pesquisa, que por meio de

suas vozes e da concessão da permissão de nossa presença em suas salas de aula, nos deram os

elementos necessários para analisar e compreender o objeto da Alfabetização e do Letramento

na Educação de Jovens e Adultos. A partir dos instrumentos de nossa pesquisa, nos propomos

aqui a discutir as análises empreendidas desse objeto da representação social: a Alfabetização

de adultos que se conduzirá através da explanação das três Categorias Temáticas emergidas das

entrevistas com as docentes, a saber: a Categoria da Alfabetização cujas dimensões incluem

os conceitos de: Alfabetização, Letramento e articulação entre ambos. Na segunda Categoria:

Alfabetização na EJA, as dimensões são: competências/conhecimentos para alfabetizar na

EJA; Dificuldades para alfabetizar na EJA. E a terceira Categoria: Educação de Jovens e

Adultos, da qual decorre a dimensão do conceito da EJA. Na descrição das análises,

promovemos um diálogo entre os achados da pesquisa e os estudos que tratam dessa temática.

4.1 O desvelamento do universo simbólico das representações sociais de alfabetização:

primeira categoria

Em relação a primeira Categoria: Alfabetização e Letramento, da qual decorrem as

seguintes dimensões: 1) conceito de alfabetização e conceito de letramento; 2) articulação entre

alfabetização e letramento, obtivemos as seguintes respostas das participantes da escola 1,

composta pelas docentes Esperança e Transformação.

Dimensão 1: Para você o que é a alfabetização e o que é o letramento?

Alfabetização é essa inserção no mundo letrado, mesmo sem você decodificar,

decifrar as palavras, mas você já tem uma visão de mundo... por exemplo, uma pessoa

por mais que não tenha esse conhecimento de leitura, eles sabem que ônibus pegar...

ver um determinado produto pelo rótulo... eu acredito que isso já é o letramento e o

alfabetizar... quando ele traz esse conhecimento e faz essa junção dos conhecimentos

com o próprio mundo da palavra. Então eu acredito que os dois precisam caminhar

9 Autoria do professor e psicólogo Serge Moscovici (1928-2014).

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juntos; a alfabetização e o letramento porque a partir do letrar você vai se

alfabetizando... (ESPERANÇA, 2016, grifo nosso).10

Em resposta a essa mesma dimensão, a segunda professora nos disse:

Eu acho que a alfabetização é esse processo mesmo de apropriação do código, né?

De leitura, da nossa língua... no caso a língua portuguesa... seriam os códigos, a

gente saber codificar e decodificar nesse sistema, nesse sistema alfabético da língua

portuguesa... Só que, por exemplo, a gente vê que não é fácil... porque se a gente fosse

só pela questão técnica do que seria alfabetizar...alfabetizar seria codificar e

decodificar; eu saber esses símbolos pra ler e escrever, mas aí já vem a questão do

letramento porque a gente começa a aprender que alfabetizar na perspectiva do

letramento não é só isso... é preciso ter uma leitura que não seja só de código e sim

uma leitura textual, uma leitura de mundo, uma interpretação daquele mundo que tá

expresso num texto, que tá expresso numa palavra... os sentidos atribuídos aquela

palavra, quais os sentidos tem pra aquela pessoa que tá aprendendo, que tá se

alfabetizando numa perspectiva do letramento, de que aquele mundo das letras ele

habita também o mundo do ser que tá nesse processo... e que, por exemplo quando a

gente tinha uma perspectiva tradicional de alfabetização que tinha aqueles textos, né:

“Ivo viu a uva”, é... coisas que tinham aquelas palavras ligadas àqueles sons, aquelas

letras... e não tinha um sentido... um sentido assim pra quem tava aprendendo, era

muito abstrato , alguns desses textos eram bem abstratos... então, se a gente pensar

nos jovens e adultos ... ou se a gente pegar um texto nessa linha de pensamento vai se

tornar algo tão abstrato que vai gerar muito mais dificuldade porque já não é um

processo fácil, não acho que seja um processo fácil... precisa de acompanhamento ,

precisa de vários fatores e motivos pra você conseguir realmente. Mas, se a gente

pensar na perspectiva do letramento, de que crianças, jovens e adultos eles estão

implicados já num mundo do letramento e a gente trazer isso pra o processo de

alfabetização, mesmo que ele não consiga ainda decodificar, palavras esses

símbolos...mas ele tem uma leitura de mundo, seja de imagens, sejam de coisas que

remetam à ele uma interpretação da própria vida mesmo, do que ele vive... aí eu acho

que isso seria a alfabetização e letramento nessa perspectiva. (TRANSFORMAÇÃO,

2016, grifo nosso).11

Analisando as falas acima, constatamos na fala da docente Esperança uma

inseparabilidade conceitual do termo alfabetização e do termo letramento. Em relação ao

primeiro conceito, a docente diz “a alfabetização é a inserção no mundo letrado, mesmo sem

você decodificar, decifrar as palavras...” e em relação ao conceito de letramento, ela diz ser a

“visão de mundo...”

Compreendemos que a alfabetização não se desvincula do letramento em sentido

prático, nas práticas pedagógicas em que se alfabetiza. No entanto, conceitualmente os termos

designam condições e processos distintos que devem ser observados. Não é possível participar

das práticas de letramento, com autonomia, sem a apropriação do Sistema de Escrita Alfabética.

Esse sistema, por sua vez, se caracteriza pela compreensão do alfabetizando sobre o

10 Informação coletada em entrevista fornecida a autora no segundo semestre de 2016. 11 Informação coletada em entrevista fornecida a autora no segundo semestre de 2016.

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funcionamento do sistema de escrita alfabética, bem como pelo desenvolvimento das

habilidades de produção e compreensão textual, sejam os textos falados, escritos ou imagéticos.

A alfabetização, nesse sentido, envolve mais do que a técnica de codificar e decodificar,

“é o domínio dessas técnicas, em termos conscientes. É entender o que se lê e escrever o que se

entende. É comunicar-se graficamente. É uma incorporação”. (FREIRE, 2007, p. 119).

A alfabetização envolve também a técnica que diz respeito aos aspectos gráficos, as

regularidades e irregularidades do nosso sistema de escrita. Todavia, essa técnica precisa estar

aliada às vivências cotidianas em que se utiliza a linguagem escrita. Essa aprendizagem só faz

sentido quando realizada nos contextos em que circulam textos escritos em que os

alfabetizandos são coparticipantes.

Em relação ao letramento, a docente diz ser “a visão de mundo”. Entretanto, o

letramento designa muito mais do que uma visão de mundo. Ele corresponde, essencialmente,

aos usos e funções da língua escrita. Nesse sentido, não basta ser espectador das práticas de

letramento, isto é, participar de forma “terceirizada” das práticas sociais de escrita; ler somente

por memorização de imagens e escrever somente por meio de outros sujeitos que dominam o

sistema de escrita.

Desse modo, o letramento é a inserção autônoma dos indivíduos nas práticas sociais

de leitura e de escrita. Por se tratar de um elemento social, esse não pode ser estudado como

universal. Conforme Vieira (2010, p. 115):

O conceito de letramento não pode ser estudado como um fenômeno universal,

indeterminado social e culturalmente, e sim, como um conjunto de práticas sociais de

leitura e de escrita, em contextos específicos, para objetivos específicos. Desse modo,

o letramento é um fenômeno social que é definido e reelaborado em cada cultura, em

cada grupo e, por contraste e diferenciação, entre vários grupos.

Sob essa compreensão de que o letramento diz respeito aos usos reais da língua escrita

é que realçamos a necessidade de se trabalhar, na prática pedagógica, as capacidades específicas

da alfabetização que se referem a apropriação do Sistema de Escrita Alfabética aliadas às

práticas de letramento que são diversas e que se realizam não só através de textos escritos, mas

também por meio das mídias, das práticas orais, das diferentes formas de comunicação que

circulam socialmente.

Debruçando-se na fala da professora Transformação, observamos que ela classifica os

conceitos de alfabetização e de letramento de forma separada. Ao perguntarmos o que para ela

é alfabetização, a mesma diz “é esse processo mesmo de apropriação do código, né? De leitura,

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da nossa língua... seriam os códigos, a gente saber codificar e decodificar nesse sistema, nesse

sistema alfabético da língua portuguesa...”.

Como dito pela docente, a alfabetização, em sentido estrito, corresponde ao domínio das

técnicas de leitura e escrita, que envolvem a compreensão do sistema de escrita e a produção e

compreensão de textos orais e escritos.

Em relação ao letramento, a docente diz “na perspectiva do letramento, de que... jovens

e adultos eles estão implicados já num mundo do letramento... mesmo que ele não consiga ainda

decodificar, palavras esses símbolos..., mas ele tem uma leitura de mundo...”

Essa fala nos leva a compreensão da natureza do letramento, uma vez que “estar

implicado num mundo de letramento” é uma das dimensões do letramento. Estar implicado

num mundo de letramento, envolve, como diz a docente, habitar uma sociedade na qual as

práticas de leitura e escrita são constantes e medeiam as relações sociais. Estar implicado com

o letramento significa estar inserido, mas não incluído nas práticas de letramento, pois para se

ter participação efetiva é necessário que os jovens e adultos dominem também as técnicas do

ler e escrever.

Observar tais dimensões do letramento: estar inserido em práticas de uso da língua e ser

agente de intervenção por meio da participação e dos usos dessa língua, é fundamental, ora vista

a história na qual a alfabetização se efetivou no nosso país, que por longos anos era considerada

um capital cultural de poucos, dos grupos hegemônicos, dominantes que ao dominarem os

conhecimentos da língua escrita, subordinavam, marginalizavam e excluíam da esfera de

participação da vida nacional os grupos que não detinham esses conhecimentos, e, não tinham,

não pela falta de capacidade, mas sim pela negação/violação de um direito que tardiamente se

constituiu na nossa sociedade: o direito à educação.

A linguagem, como define Freire (2011, p. 45) “tem um papel ativo na construção da

experiência e na organização e legitimação das práticas sociais disponíveis aos vários grupos

da sociedade”. Esse papel da linguagem se traduz nas formas dinâmicas pelas quais se

organizam as sociedades e permeia as diferentes formas de comunicação. Por organizar a vida

social e mediar preponderantemente as relações sociais, nas quais predominam as marcas

gráficas, é que muitos jovens e adultos tiveram lugar restrito nesse mundo social, no qual

somente os “poderosos” ditavam as regras e legitimavam seu poder através da exclusão destes.

Essa exclusão se reverberou não só pela negação do direito do voto ao analfabeto no Brasil

(pela negação de um direito político), mas principalmente pela violação simbólica vivida pelos

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grupos das classes populares que se repercutia em suas vidas pela vergonha e humilhação do

não saber; do não saber ler e escrever (CARDOSO, 2007).

É por estas causas que se alfabetizar, no Brasil, consiste em ir além da técnica de

codificação e decodificação do sistema de escrita, é exercer essas técnicas dentro das condições

históricas, culturais e políticas nas quais se constituiu a alfabetização. É ampliar o rol de

possibilidades de inserção e participação na vida nacional por meio desse objeto de

conhecimento – a alfabetização.

É desenvolver a alfabetização como parte de um projeto político que torna disponível

as diversas relações com o mundo. É escrever pela palavra esse mundo, que subalternamente

foi vivido pelos jovens e adultos (FREIRE, 2011).

Nesse sentido, desenvolver uma alfabetização na perspectiva do letramento, ou como

nomeada por Paulo Freire, uma alfabetização crítica é:

Desenvolver práticas pedagógicas nas quais, na luta por compreender a vida de cada

um, reafirme e aprofunde a necessidade de os professores e os alunos recuperarem

suas próprias vozes, de modo que possam tornar a contar suas próprias histórias e, ao

fazê-lo, conferir e criticar a história que lhes contam em comparação com a que

viveram. (FREIRE, 2011, p. 57).

Por isso, como disse a docente Transformação, os jovens e adultos possuem “uma

leitura de mundo”. Essa leitura de mundo a qual se refere a docente diz respeito as experiências

vividas pelos sujeitos, as relações existenciais de suas trajetórias, que demandou deles outras

competências, que não a leitura e escrita, para conviver socialmente. A riqueza da diversidade

de formas pelas quais as pessoas não alfabetizadas se valeram para habitar uma sociedade

grafocêntrica12 se constituem elementos potencializadores no ensino institucionalizado.

Portanto, essas vivências dos educandos são o ponto de partida para as aprendizagens

relativas aos conhecimentos da alfabetização. Ampliar o rol de participação na vida social é

promover o letramento, de forma efetiva, dos alfabetizandos. É assegurar que para além do

domínio técnico dos códigos escritos, o alfabetizando os utilize para alargar suas possibilidades

de relação com o mundo; para o dizer pela palavra, significa-lo e transformá-lo.

As participantes da escola 2, em relação a essa mesma dimensão: do que é a

alfabetização e o letramento, disseram-nos as seguintes proposições:

Alfabetização, seria... você construir com seu aluno uma ... vivência de leitura de

tentar ajudar ele na formação de palavras, né? Seria mais ou menos isso, assim...

12 Grafocêntrica é o termo utilizado para designar a condição de sociedades que são marcadas prioritariamente

pela escrita como forma de comunicação.

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inicialmente eles vão ficar naquelas coisinhas, naquelas silabazinhas pequenininhas

e de acordo com as atividades eles vão construindo mais coisas e vão chegar naquelas

fases de pré-silábica, nam nam nam... aqueles negócios todos! E é isso... eu não sei

dizer: é porque teórico fulano de tal diz não sei o quê... e assim... alfabetização é você

tentar construir a sua vida de leitor também... (LIBERTAÇÃO, 2016, grifo nosso).13

A docente menciona a alfabetização como sendo a construção de uma vida leitora, diz

que alfabetização é ajudar os alunos na formação de palavras e que de “acordo com as atividades

eles vão construindo mais coisas e vão chegar naquelas fases de pré-silábica...”

A partir da fala da docente, temos dois pontos a refletir: a conceituação da alfabetização

e a menção da Psicogênese da língua escrita. Ao conceituar a alfabetização, a docente refere-se

ao processo de formação leitora e diz ser preciso ajudar os alunos na formação de palavras. Essa

conceituação nos remete a ideia de alfabetização em termos técnicos, de desenvolvimento das

habilidades de ler e escrever. Já a psicogênese é citada como fase pela qual os alfabetizandos

passam no processo de alfabetização.

Em relação ao termo alfabetização, explanado pela docente, vemos que há uma

classificação restrita do que é alfabetizar; “é tentar ajudar... na formação de palavras...”. Essa

postulação minimiza o sentido real da alfabetização, restringe-a a uma técnica, que também é

importante, mas que, quando realizada fora da dimensão crítica da alfabetização traz, aos

alfabetizandos, grandes impedimentos de participação autônoma na vida social.

Ainda em referência a esse termo, a docente cita as hipóteses de escrita as quais os

educandos constroem em seu processo de alfabetização: “vão chegar naquelas fases de pré-

silábica...”. Ainda que não fique claro em sua fala, como os educandos constroem essas

hipóteses, que ela chamou de fase, nem tampouco em que consistem essas hipóteses, vemos

que ela considera que os adultos passam pelas mesmas fases que outros alfabetizandos, como

as crianças e adolescentes, em seu processo de alfabetização.

Nesse sentido, adentremos na Psicogênese da língua escrita, contribuição trazida à

educação pelas autoras argentinas, Emília Ferreiro e Ana Teberosky (1985). As autoras

desenvolveram os estudos da psicogênese com crianças, de classes sociais menos favorecidas,

em processo de alfabetização na Argentina. Ao observarem que os educandos construíam

hipóteses sobre a escrita, as autoras realizaram os estudos com essas e caracterizaram as

hipóteses.

Assim, as hipóteses de escrita desenvolvidas por Ferreiro e Teberosky (1985) são

“etapas” as quais os educandos passam no processo de alfabetização, na construção dos

13 Informação coletada em entrevista fornecida a autora no segundo semestre de 2016.

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conceitos chave desse processo. A hipótese pré-silábica caracteriza-se pela diferenciação

icônica e não icônica, com diferenciação intra-figural – variação das letras dentro de uma

mesma palavra, (Escrita do 1º nível). E a escrita do 2º nível com diferenciação inter-figural

(variação das letras dentro de uma mesma palavra e de uma palavra para outra). A escrita do 3º

nível (fonetização da escrita) envolve as hipóteses silábicas, silábica-alfabética e alfabética de

escrita. A hipótese silábica é caracterizada quando o aprendiz utiliza uma letra para grafar cada

som (sílaba) das palavras, podendo ter estas valor sonoro convencional ou não. Já na hipótese

silábico-alfabética há um salto qualitativo; os alfabetizandos começam a fonetizar a escrita, ou

seja, grafam as palavras variando de uma letra para uma sílaba ou a sílaba completa com valor

sonoro convencional. Na hipótese alfabética de escrita há um domínio e maior compreensão da

pauta sonora da língua. Os aprendizes escrevem as palavras segundo os seus fonemas

constituintes, podendo ser essa hipótese ortográfica e não ortográfica.

Apesar de os estudos terem sido desenvolvidos com crianças, foi constatado por

professores alfabetizadores que os jovens e adultos também passam pelo mesmo processo em

sua alfabetização. E passam porque essas hipóteses que os educandos constroem estão ligadas

ao desenvolvimento da tecnologia do ler e escrever; a compreensão do funcionamento da língua

– que é regida pela pauta sonora – que possui regularidades e irregularidades, que é necessário

dominar um sistema de regras para se apropriar do sistema alfabético.

Por isso, a teoria da Psicogênese traz contribuições à prática pedagógica por

desmistificar o olhar docente em relação aos saberes que os sujeitos constroem em seu processo

formativo; o que antes era visto como erro, passa a ser visto como elemento potencial de

aprendizagem, pois indica que, ao construir hipóteses sobre a escrita, os alfabetizandos estão

pensando sobre esse objeto de conhecimento, buscando regularidades e se valendo de suas

elaborações para consolidar aprendizagens.

Assim sendo, o que poderia ser considerado um erro de escrita, como por exemplo: se

pedíssemos para que um alfabetizando da EJA escrevesse a palavra “Trabalho” e este

escrevesse da seguinte maneira: “ABO” não consideraríamos a palavra errada, se de posse da

teoria, compreendemos que essa hipótese faz parte da elaboração do sujeito sobre a escrita. O

que ocorre na escrita dessa palavra, pelo educando, é que sua hipótese nesse momento da escrita

é silábica (com valor sonoro), ou seja, ele compreende neste momento em que escreve que,

cada sílaba da palavra “Trabalho” precisa ser grafada com uma letra diferente e que tem

correspondência com o som da palavra. Dessa forma, escreve “A” para sílaba “Tra” e “B” para

a sílaba “ba” e “O” para sílaba “lho”. Embora ele não tenha grafado todas as letras e poucas

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consoantes da palavra, essa escrita aponta que o sujeito está pensando sobre a escrita e buscando

regularidades nesse sistema de escrita alfabética, o que nos leva a compreender sua escrita sob

sua lógica de construção.

A segunda docente da escola 2, nos forneceu a seguinte conceituação acerca da

alfabetização:

É... pra mim é o processo de aprendizagem onde são desenvolvidas as habilidades da

leitura e da escrita de forma a utilizá-la como código de comunicação com o seu

meio. (DIALÓGICA, 2016, grifo nosso).14

A docente diz ser a alfabetização a aprendizagem que desenvolve as habilidades de

leitura e escrita e que isso serve como “código de comunicação com o meio”. Essa

representação de alfabetização reverbera uma noção de alfabetização restrita que a coloca num

plano no qual suas dimensões não são consideradas, como o desenvolvimento das habilidades

de compreensão dos códigos escritos, e, essencialmente seus usos, no que se refere ao

desenvolvimento das competências de escrita dos diversos gêneros textuais.

Em relação a dimensão do Letramento, temos as seguintes falas de ambas as docentes,

respectivamente, Libertação e Dialógica:

O letramento é a parte que você já consegue ler, mas que você tem que entender o

que você tá lendo, né? A alfabetização você lê aqui, mas não sabe o que é... então o

letramento já vai ajudar você a entender aquela parte que você já foi alfabetizado.

Então, o letramento pra mim é isso! (LIBERTAÇÃO, 2016, grifo nosso).15

Nessa conceituação a docente diz que o letramento é “a parte que você já consegue ler,

mas que... tem que entender o que tá lendo”. A partir dessa compreensão vemos que o

letramento é denominado como extensão da alfabetização, isto é, primeiro se alfabetiza para

depois ocorrer o letramento.

Essa postulação de letramento nos leva a refletir a sua real função, pois na prática

pedagógica de alfabetização não se pode desvincular a alfabetização do letramento. É arriscado

pensarmos que a condição básica para o letramento é o domínio isolado da tecnologia do ler e

escrever; que primeiro se faz uma coisa depois a outra.

Nesse aspecto, Soares (2005) nos diz:

[...] a alfabetização não se limita pura e simplesmente à posse individual de

habilidades e conhecimentos; implica também, e talvez principalmente, em um

conjunto de práticas sociais associadas com a leitura e a escrita, efetivamente

exercidas pelas pessoas em um contexto social especifico (SOARES, 2005, p. 33).

14 Informação coletada em entrevista fornecida a autora no segundo semestre de 2016. 15 Informação coletada em entrevista fornecida a autora no segundo semestre de 2016.

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Dessa forma, a alfabetização é o processo de aquisição e desenvolvimento da escrita que

tem como ponto de partida e de chegada a produção dos gêneros textuais. Mesmo que o

educando não domine o sistema de notação alfabética, a escrita deve ser apresentada através de

seus usos e funções, ou seja, através das práticas de letramento que dizem respeito aos usos da

língua.

Portanto, o letramento vai além do ato de compreender a leitura e a escrita. O letramento

é uma das condições basilares do exercício da cidadania, pois de posse desses conhecimentos

os cidadãos adquirem mais condições de reivindicar os seus direitos, participar da vida nacional

nas decisões políticas, sociais, econômicas e na produção da cultura a qual pertencem.

Já a docente Dialógica nos disse acerca do letramento:

Eu acho que o letramento é saber fazer uso das habilidades da leitura e da escrita

para as exigências impostas pela sociedade no dia a dia. (DIALÓGICA, 2016, grifo

nosso).16

A definição da docente acerca do letramento corresponde, de certa maneira, ao que é

postulado no plano teórico da educação sobre o conceito de letramento. Este diz respeito aos

usos da língua frente as demandas sociais que exigem os usos das habilidades da leitura e da

escrita.

Veremos, pois, como as docentes das duas escolas fazem menção em seus discursos da

articulação entre alfabetização e o letramento.

Em relação a segunda dimensão dessa primeira categoria, a dimensão da articulação

entre alfabetização e letramento da escola 1 temos as seguintes postulações:

[...] no início do ano, assim... eu aproveito muito assim... esses rótulos... o próprio

nome deles, dos colegas, que são coisas mais próximas deles... e que a partir daí já

dá pra inserir mais nesse mundo da escrita... (ESPERANÇA, 2016, grifo nosso).17

Nesse trecho da fala da docente temos descrita a maneira como ela articula a

alfabetização e o letramento, que segundo ela essa prática é feita a partir do aproveitamento das

“coisas mais próximas deles...” como o nome, os rótulos de embalagens...

Conforme Leal, Albuquerque e Amorim (2010):

Na escola é preciso propiciar muitas situações de escrita que se assemelhem às

situações vivenciadas fora da escola, com prioridade àquelas em que os alunos de fato

sejam agentes de intervenção social, ou seja, possam interagir para além dos muros

16 Informação coletada em entrevista fornecida a autora no segundo semestre de 2016. 17 Informação coletada em entrevista fornecida a autora no segundo semestre de 2016.

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da escola, defendendo seus direitos, consolidando suas identidades, lutando pelas

transformações nas quais acredita. (LEAL; ALBUQUERQUE; AMORIM, 2010,

p.81).

Nesse sentido, utilizar os gêneros textuais presentes no cotidiano dos jovens e adultos é

imprescindível no processo de alfabetização, pois a escrita ganha sentido quando realizada nos

contextos de seus usos reais. Utilizar o nome do aluno, como mencionado pela docente, é

propiciar a ele o reconhecimento de sua identidade a partir da escrita. Já a utilização de rótulos,

gênero comum ao universo do jovem e do adulto, uma vez que enquanto consumidores estão

em contato permanente com esse gênero, o qual possui informações relevantes ao consumidor,

como: data de validade, composição nutricional, descrição do produto etc., informações estas

que interessam saber aos jovens e adultos e que demanda uma leitura especifica desse gênero

textual.

Respectivamente, temos a fala da segunda docente dessa mesma escola em relação a

essa dimensão:

Eu acredito que nessa conjuntura que a gente vive não tem como separar. Eu não sei

se é porque eu aprendi já na graduação de que era de uma forma conjunta... E eu

acho que articulando a alfabetização e letramento na perspectiva de trazer aquilo

que é do contexto dos estudantes, no caso da EJA, trazer textos que sejam...

independente se eles consigam ou não fazer algum tipo de leitura, de decodificação,

mas que eles possam se apropriar daquilo que o texto remete. Experiências que eles

já vivenciaram enquanto adultos ou experiências que eles estão vivenciando no

processo de escolarização que eles estão tentando continuar, mas que remetam à

vivência deles, algo que seja já propicio do mundo do adulto... alfabetizar nessa

perspectiva do letramento também é você conhecer... conhecer primeiro o público,

saber se essa turma ela tem mais idosos, se ela tem mais adultos, se tem jovens e disso

aí você partir, que textos você vai trazer pra alfabetizar nessa perspectiva; que

conversas você vai ter pra atrair e motivar e pra que eles se sintam realmente

acolhidos... Então, assim.. eu gosto muito... eles até dizem que eu sou muito falante e

depois eles mesmos dizem que é importante a aula do jeito que eu faço; que a conversa

ajuda, a explicação é oral... nem sempre é escrita, nem sempre eu preciso escrever

pra ter uma aula com eles, mas que haja interação e que nessa interação a gente vá

descobrindo as perspectivas de letramento que eles têm, né? De leitura de mundo...

em que momento eles usam esse sistema de leitura e de escrita na vida deles... Então,

eu acho que é algo que precisa ser bem articulado assim... a gente conhecer a

realidade e falar a língua deles... que as vezes a gente precisa chegar no contexto de

vida deles, no mundo que eles estão vivendo e nem sempre é fácil pra gente se abrir

a isso. As vezes a gente chega com determinadas resistências, com determinadas

coisas que a gente também não facilita. Claro que, a gente também não vai ter um

objetivo a seguir, não vai ser só o que ele vai trazer. Não! A gente também tem esses

objetivos, mas é preciso é... trazer o que o aluno tem também pra articular junto com

a nossa proposta. (TRANSFORMAÇÃO, 2016, grifo nosso).18

Na fala da docente temos muitos elementos para refletir essa articulação entre

alfabetização e letramento. Ela nos diz que “nessa conjuntura que a gente vive não tem como

18 Informação coletada em entrevista fornecida a autora no segundo semestre de 2016.

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separar” a alfabetização do letramento e que articular esses dois conceitos, é “trazer aquilo que

é do contexto dos estudantes”. Nesses dois pontos, temos um discurso que sustenta a articulação

da alfabetização e letramento que está amparado na ideia de que é o contexto de vida dos

estudantes que dá base para conhecer os textos que serão trabalhados em sala de aula.

No tocante a forma como articula na prática esses conceitos, ela nos diz que “a conversa

ajuda, a explicação é oral... nem sempre é escrita, nem sempre eu preciso escrever pra ter uma

aula com eles, mas que haja interação...”, e diz também que é nessa interação que é possível

descobrir os universos de letramentos dos jovens e adultos, os contextos em que eles utilizam

a escrita em seus cotidianos e ainda que, é preciso trazer esses conhecimentos dos estudantes

para aliar com sua prática.

Embora a docente elenque vários elementos em seu discurso sobre a articulação entre

alfabetização e letramento, ela não nos dá indícios suficientes – nesse discurso – para apreender

como se efetiva de fato essa articulação; que textos o diálogo com os estudantes possibilita

conhecer e como são utilizados, nem quais são os gêneros mais recorrentes nesse universo de

alfabetização de seus jovens e adultos.

Neste aspecto, Albuquerque, Morais e Ferreira (2010) dizem:

[...] não basta ler e produzir textos variados, nas salas de EJA. É importante que, ao

fazê-lo, ampliemos o rol de estratégias de leitura e conhecimentos letrados de nossos

alunos, seu domínio das propriedades dos gêneros textuais com os quais se

familiarizam, no dia a dia da sala de aula, de modo a poder também produzi-los por

escrito (ALBUQUERQUE; MORAIS; FERREIRA, 2010, p.28).

Entendemos assim que, no processo de alfabetização se faz necessária a inserção dos

indivíduos em eventos de letramento, não apenas oportunizando o acesso a diversos gêneros

textuais, mas também propiciando a compreensão e produção de textos escritos e orais,

principalmente aqueles que têm maior funcionalidade na vida dos sujeitos, ampliando, dessa

forma, as suas experiências com a escrita e conferindo-lhes maior autonomia no exercício dela.

No que diz respeito às postulações da escola 2, temos as seguintes respostas:

[...] é exatamente isso que eu tava falando pra você... eles não conseguem ler um texto

e dizer o que tem naquele texto e responder as perguntas que estão naquele texto...

tipo: qual o nome do autor? Eles não conseguem ir lá e dizer o autor é esse! É... a

menina fez o que? Ela regou uma planta... eles não associam aquilo... que a menina

regou uma planta, sabe? Então assim, eu tô tentando fazer uma alfabetização porque

muitos deles não tem a alfabetização, acho que tem uns dois ou três que tem

dificuldades... alguns já sabem ler bastante...mas o letramento que é essa parte de

entender e interpretar textos, essas coisas, eles já são mais travados... eu tô tentando

fazer esse tipo de coisa... (LIBERTAÇÃO, 2016, grifo nosso).19

19 Informação coletada em entrevista fornecida a autora no segundo semestre de 2016.

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Ao exemplificar como articula a alfabetização e o letramento em sua prática pedagógica,

a docente diz “eu tô tentando fazer uma alfabetização porque muitos deles não tem a

alfabetização...”. Essa fala da docente remete a sua compreensão de letramento que está ligada

a interpretação do que se lê. Para ela, o letramento é interpretar o que se lê, nesse caso a

articulação entre alfabetização e letramento se dá quando os jovens e adultos, tanto conseguem

ler quanto interpretam o que leem.

Vemos que há uma confusão conceitual em relação aos termos da alfabetização e do

letramento, visto que a dimensão do compreender o que se lê está relacionada a alfabetização,

faz parte do desenvolvimento da habilidade de produção e compreensão textual. Já o letramento

se refere aos usos dessas habilidades; é escrever o que se entende dos textos utilizados no

cotidiano em que os jovens e adultos necessitam desses conhecimentos para participar das

práticas sociais.

Essa confusão conceitual, por sua vez, implica no obscurecimento da prática pedagógica

de alfabetizar letrando os jovens e adultos, posto que as especificidades de cada um são

invertidas e consequentemente descaracterizadas na prática de alfabetizar. É que ao dizer que o

letramento diz respeito a interpretação do que se lê, implica dizer que primeiro se alfabetiza,

apreende os códigos escritos (decodifica), para só depois compreender esses códigos.

Na verdade, o que se depreende da alfabetização na perspectiva do letramento é inserção

dos indivíduos nas práticas de usos reais da língua escrita. A partir dos gêneros textuais do

universo vivencial dos jovens e adultos.

Assim, a prática pedagógica de alfabetizar letrando, consiste no

ensino sistemático da base alfabética da língua escrita aliado à vivência cotidiana de

práticas letradas que permitam ao aluno se apropriar das características fonológicas,

finalidades e composição dos gêneros textuais (orais e escritos) que circulam na

sociedade (VIEIRA, 2010, p.113).

A prática de alfabetizar letrando está pautada no ensino do sistema de notação

alfabética, atrelado aos usos da língua em práticas sociais de leitura e escrita; a alfabetização na

perspectiva do letramento é atribuir sentido ao ler e escrever, é fazer uso das habilidades da

escrita e da leitura para fins específicos nas diversas situações sociais.

Em relação à articulação entre alfabetização e letramento, a segunda docente nos

remeteu a seguinte afirmação:

Sim, articulo a alfabetização e o letramento. A relação entre alfabetização e

letramento é que mais do que apresentar para os alunos as letras, os sons, as

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palavras, apresento-lhes um trabalho diversificado, como os vários gêneros textuais

para que aprendam a diferenciá-los, percebendo a funcionalidade e a finalidade da

leitura e da escrita. (DIALÓGICA, 2016, grifo nosso).20

Temos na fala da docente uma clara definição da articulação alfabetização e

letramento. Para ela, a articulação entre ambos os conceitos, consiste em apresentar os gêneros

diversos, suas funções e finalidades para que os alunos saibam diferenciá-los. No entanto, a

alfabetização na perspectiva do letramento consiste em um processo de promover autonomia

do educando para que, de posse do domínio da tecnologia do ler e escrever, utilize em seu

cotidiano frente as demandas sociais de usos reais da língua. Portanto, não basta apenas

conhecer as funções e finalidades dos gêneros textuais, mas deles ser autor, utilizando aqueles

com maior funcionalidade nos contextos de vida dos estudantes.

Reportando-nos ao universo simbólico das representações das docentes acerca da

alfabetização, desvelamos, pois, através de suas falas os elementos que ancoram tais

representações. Vimos que o objeto da representação – a alfabetização – não é desconhecido ao

universo de sentidos das participantes desta pesquisa. Isto é, elas conhecem esse objeto, pois o

abrigaram em seus sistemas de categorias de conhecimentos já existentes, sendo esse o trabalho

da ancoragem; trazer o novo e intrigante objeto ao nosso universo familiar, onde nos sentimos

seguros para classifica-lo e atribuir-lhe sentido.

Assim, nesse processo de incorporação do novo, os sujeitos buscam associar aquilo

que é novo aos seus sistemas de referências, as redes de significações (NOBREGA, 2001). Essa

rede de significações está ligada as experiências subjetivas, as ideias, crenças, valores e

informações veiculados socialmente que se enraízam no sistema de pensamento, contribuindo

para a formação de novos conceitos.

Nesse aspecto, as representações construídas por sujeitos de um mesmo grupo acerca

de um objeto podem variar de significação, uma vez que a elaboração da representação depende

da relação que o sujeito estabelece com o objeto, na interface do individual e social,

prevalecendo quase sempre as marcas subjetivas socialmente incorporadas pelo sujeito.

Portanto, os elementos que ancoram as representações da escola 1 em relação ao objeto

da alfabetização estão relacionados aos aspectos da formação inicial, aos discursos que circulam

socialmente na esfera reificada (no âmbito acadêmico) sobre este objeto. Ao conceituarem a

alfabetização fica perceptível nos discursos das participantes os elementos discursivos da

compreensão da alfabetização, discurso este que circula no universo científico. Ao dizerem que

20 Informação coletada em entrevista fornecida a autora no segundo semestre de 2016.

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a alfabetização “é apropriação do código de nossa língua...” estão evidenciando que suas

significações perpassam esse universo. Embora não tragam em suas falas uma cópia fiel sobre

o conceito de alfabetização, cujo sentido é veiculado socialmente nos contextos de formação de

professores alfabetizadores, elas denotam um sentido a este que permeia também essa esfera. E

não seria possível uma cópia fiel dessa realidade já que a representação é uma elaboração do

sujeito que se estabelece na interface social e subjetiva deste.

Já em relação ao conceito de letramento, percebemos que não há uma definição precisa

deste. As docentes parecem não se sentirem seguras o suficiente para classificar este conceito.

Ora ele é apresentado como “uma visão de mundo”, ora como “atribuição de sentido ao que é

lido”. O conceito de letramento é sobreposto ao de alfabetização, o que causa confusão

conceitual.

Buscando os elementos que ancoram as significações acerca da alfabetização,

verificamos quem em ambas as escolas, os elementos âncoras são os mesmos, diferindo,

portanto, nos contextos os quais se situam. Elencamos, pois estes elementos que compõem a

representação social de alfabetização, de acordo com o quadro (quadro 6) de caracterização

dos sujeitos da pesquisa, apresentado no capítulo 2, que ora lançamos luz para contribuir com

nossas análises:

▪ Formação inicial nos cursos de licenciaturas;

▪ Tipos de instituições formadoras;

▪ Ano de conclusão dos cursos de licenciaturas;

▪ Tempo de atuação na EJA.

Percebemos maior familiaridade com o objeto da representação por parte das

participantes da escola 1, a qual suas integrantes são oriundas de cursos de licenciatura em

pedagogia, de instituições públicas, com términos entre os anos 2000 e 2011, bem como com

maior tempo de atuação na EJA. O conjunto desses elementos nos ajudam a compreender a

representação por este grupo, uma vez que suas falas estão atravessadas por estes contextos que

contribuíram para o processamento das representações, ora reveladas. Assim, depreendemos

desses elementos que, esses contextos possibilitaram maior aproximação e, portanto, maior

familiarização com o objeto da alfabetização, tendo em vista que são nos cursos de licenciatura

em pedagogia onde ocorre a formação dos professores alfabetizadores. Também contribui o

fato de esse grupo possuir formação em instituições públicas e tendo concluídas após os anos

2000. Esse fator torna-se relevante, uma vez que as discussões reconfiguradas sobre os

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conceitos de alfabetização e letramento chegam ao Brasil na década de 80, o que implica dizer

que nos anos 2000 as instituições formadoras de docentes já haviam incorporado aos seus

currículos tais discussões, o que gerou as primeiras aproximações com os novos conceitos

científicos. Outro fator que contribui para o processamento da representação é a experiência

vivenciada no campo da alfabetização com jovens e adultos, pois gera maior proximidade com

o objeto da representação. Tendo em vista o conjunto de elementos que compõem a

representação social por este grupo, é notório que as representações sobre alfabetização estão

situadas no universo reificado, no qual todos esses elementos contribuíram para engendra-las.

Nesse sentido, as representações nesse grupo tendem a uma unidade consensual, pois os

elementos que a compõe transitam os mesmos universos de conhecimento, sendo contrastadas

pelos elementos de ordem subjetiva que interfere significativamente no processo de elaboração

da representação, pois ajusta as identidades dos sujeitos ao plano social, interferindo assim, nos

modos de compreensão e nas condutas.

Tendo como ponto de partida alguns referentes semelhantes para as participantes da

escola 2, destacamos as nuances nas representações sociais por este grupo, uma vez que, embora

sejam os mesmos elementos contribuindo para o processamento da representação social de um

mesmo objeto, estes – os elementos – se diferem quanto aos contextos nos quais se situam. Para

elas, os elementos da formação inicial se deram também em cursos de graduação, diferindo no

tipo de licenciatura, pois são referidos pelas docentes os cursos de pedagogia e de letras, sendo

que essa última licenciatura não habilita o docente para alfabetizar. Também difere quanto as

instituições formadoras, as quais estão no âmbito privado, o que nos faz inferir que essas

instituições tradicionalmente se voltam a uma formação de seus docentes, de cunho mais

técnico, incorporando de forma mais frágil as discussões críticas sobre a alfabetização. Também

opera para o processamento da representação o tempo de atuação na EJA, sendo menor o tempo

de atuação nesse segmento por parte dessas participantes da pesquisa, em relação as

participantes da escola 1. Esse último elemento, o tempo de atuação na EJA, nos permite atribuir

um peso significativo na elaboração da representação, posto que é na vivência com o objeto da

representação que sua familiarização se torna mais eficaz. Portanto, quanto maior a

aproximação com a alfabetização de jovens e adultos, maior será a sua apropriação.

Assim, as representações sociais desse grupo, embora também estejam situadas a partir

dos referentes do universo reificado, ou seja, do universo de conhecimento da academia em

relação aos conceitos de alfabetização, apresentam discrepâncias, tendendo a não unificação da

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compreensão pelo grupo, pois varia quanto ao entendimento do objeto; o objeto é o mesmo para

o grupo, no entanto, a representação desse possui nuances.

Dessa forma, destacamos o campo o qual se situa a representação social em tela, que

conforme Wolffgan (1998) compreende o campo da ciência popularizada, cujos conhecimentos

tem origem na esfera reificada, sendo incorporados ao cotidiano, possibilitando a comunicação

entre os indivíduos.

4.1.1 Alfabetização na Educação de Jovens e Adultos: Segunda categoria

Nessa categoria há duas dimensões:1) competências/conhecimentos para alfabetizar na

EJA; 2) Dificuldades para alfabetizar na EJA.

Na dimensão 1: conhecimentos/competências para alfabetizar na EJA, obtivemos

as seguintes proposições das docentes da escola 1:

Eu acho que o professor deve estar sempre procurando conhecer a realidade do

aluno... se aproximar deles assim... porque quando você cria esse vínculo com eles,

quando adquire uma confiança maior... isso facilita o processo de alfabetização... e

tem que tá sempre pesquisando, o professor tem que tá sempre estudando... até porque

você precisa tá sempre vendo alguma coisa que venha interessar a esses alunos.

Então a pesquisa tem que ser constante mesmo... e tirar essa barreira professor

versus aluno... porque eu acho bem interessante, no início do ano quando você recebe

a turma, eles vêm tipo receosos... quando eles vão conhecendo o professor vão

adquirindo aquela confiança, a gente percebe que o interesse deles aumenta...

(ESPERANÇA, 2016, grifo nosso).21

Na fala da docente há três pontos que se destacam no que tange aos conhecimentos e

competências para alfabetizar na Educação de Jovens e Adultos: conhecer a realidade dos

alunos, aproximar-se deles e pesquisar constantemente.

Conhecer a realidade vivencial dos sujeitos da EJA, saber quem são e o que almejam é

mais do que uma premissa dessa modalidade, ou uma simples característica. Ela tem sentido

real, pois é a fonte geradora de aprendizagens. Somente compreendendo as trajetórias vividas

pelos jovens e adultos é que se pode resgatar nelas o sentido da alfabetização para eles que,

quase sempre estão ancorados nas suas necessidades sociais e até subjetivas de adquirirem esse

conhecimento. Conhecer essas realidades e trabalhar com elas é minimizar as injustiças que

esses indivíduos sofreram, quando impedidos pelo não saber, eram submetidos a práticas

excludentes, pelas quais operavam as imposições e violações de direitos dessas pessoas não

21 Informação coletada em entrevista fornecida a autora no segundo semestre de 2016.

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alfabetizadas. Violação do direito a educação, do direito de participação da vida política,

violação do direito a participação nas práticas culturais de acesso aos espaços, aos bens culturais

e aos conhecimentos socialmente privilegiados.

Já em relação ao que postula a docente em referência a competência de aproximar-se

dos sujeitos jovens e adultos e romper com a barreira professor versus aluno, Freire (2007) bem

nos ensina ao dizer que é preciso estabelecer uma relação horizontal com os educandos, na qual

o diálogo seja a base.

Em sala de aula é preciso que os professores se permitam dialogar e aprender com os

sujeitos discentes, ao invés de estabelecer uma relação de poder ativo/passivo daqueles com

estes. O diálogo contribui para a reflexão sobre o contexto social e cultural nos quais nos

inserimos e suas circunstâncias no mundo real.

Essa relação dialogal nutre-se de afinidade, humildade, esperança, fé e compreensão do

outro o que move a busca da criticidade (FREIRE, 2007). O diálogo é a força motriz da

aprendizagem por ser a via pela qual os educandos se reconhecerão como parte de uma cultura

e criador/recriador dela mesma. Essa relação pode potencializar novas concepções curriculares

no cotidiano entre docentes e estudantes diante de novas exigências sociais e novas demandas

de grupos que, historicamente, tiveram direitos negados.

O outro ponto mencionado pela docente é a necessidade permanente de estar

pesquisando, buscando conhecimentos para se trabalhar com esses sujeitos. Essa condição

torna-se crucial na prática daqueles que se propõem a alfabetizar, não só jovens e adultos, haja

vista a complexidade desse objeto de conhecimento, a alfabetização, que envolve uma

infinidade de formas discursivas, que quanto mais social, mais complexa e vasta se torna

exigindo daqueles que ensinam uma postura de busca incessante pelo domínio dessas

competências, e dos que submetidos a práticas de alfabetização, dominem e utilizem o mais

vastamente possível tais competências nos diferentes contextos em que circulam a escrita e a

leitura.

A segunda docente dessa escola nos remeteu a seguinte resposta à essa dimensão:

Eu acho que os conhecimentos e competências, além da formação inicial, né? De ser

um pedagogo para alfabetizar na EJA, que eu acho que essa formação inicial da

pedagogia também nos proporciona competências pra chegar aqui, com uma base do

que é alfabetizar, numa perspectiva de letramento; do que é uma educação

progressista, do que é pensar a educação com esses alunos... não partir daquilo de

que o professor é detentor do conhecimento, mas não... esses alunos possuem várias

experiências, vários conhecimentos que a gente mesmo enquanto ser humano não

conhece ainda... que a gente não viveu... e essa competência de saber ter humildade

também de ser aprendente, de o professor ser aprendente... e eu lembro que quando

eu fui trabalhar com adulto pela primeira vez, eu tinha muito medo... de eles

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questionarem coisas da vida que eu não sabia, que eu não tinha resposta. E até hoje

eles gostam de desafiar, os alunos adultos eles gostam de desafiar... eles olham

quando a gente está em dúvida de alguma coisa e eles questionam a fundo... porque

eles gostam de desafiar a gente! E eles ficam muito satisfeito quando me desafiam,

por que? Porque ali, ele se autopromove naquele desafio, que ele mostra que tem um

conhecimento prévio e faz gerar um desafio no professor. que ele não é só passivo,

ele não tá só como um receptor. Não! Ele questiona, problematiza, e aí qual a

competência que eu vou usar naquele momento, que conhecimento eu vou acessar em

mim mesma como professora pra saber utilizar naquele momento... e na verdade se

não for assim, vai se tornado monótona, desmotivante... então que esse professor seja

aberto, aberto as diferenças que a gente encontra muitas diferenças na EJA;

problemas de dificuldade de aprendizagem, de deficiências, de coisas que não foram

diagnosticadas ao longo da vida e de traumas que esses adultos também trazem... e

se a gente for um professor resistente, a gente pode até trazer uma boa formação

acadêmica e quando chegar aqui no chão da escola, talvez a academia não nos

prepara. Eu acho que... a gente deveria recorrer a nossa teoria, a nossa bagagem

acadêmica; as nossas experiências práticas e as nossas experiências cotidianas...

aquelas do dia a dia, que fazem a gente repensar a vida... aquelas que fazem a gente

problematizar a vida... eu acho que a união desses três eixos: a teoria, a prática e as

experiências é que vai fazer com que a gente consiga atender as demandas que

surgem... que mesmo assim, a gente não consegue cem por cento... eu acho que é

preciso ter clareza que a gente nunca vai conseguir atingir cem por cento... mas, o

que a gente puder fazer de melhor, né? A gente deve estar buscando fazer o melhor...é

ter clareza de qual é minha função, que é de alfabetizar... tenho uma função social...

(TRANSFORMAÇÃO, 2016, grifo nosso).22

A docente ao relatar quais os conhecimentos e competências são necessários para

alfabetizar jovens e adultos, elucida pelo menos cinco elementos: a formação inicial como ponto

de partida para se ter conhecimento do que é alfabetizar na EJA; ter clareza de que o professor

não é detentor do conhecimento; ter humildade, ter a competência de ser aprendente; ser aberto

as diferenças na modalidade; e saber aliar os três eixos básicos da formação: a teoria, a prática

e as experiências vivenciais docente.

Ao explanar os elementos acima mencionados, a docente diz que a formação inicial em

pedagogia “proporciona competências pra chegar aqui, com uma base do que é alfabetizar,

numa perspectiva de letramento; do que é uma educação progressista, do que é pensar a

educação com esses alunos...”. Vemos que os cursos de licenciaturas têm um papel primordial

no contato inicial dos docentes com a modalidade EJA, pois é nos cursos de formação onde,

primeiramente, devem ser discutidas as suas especificidades, onde se deve promover os

princípios de ensino para esse público. Quando não realizada inicialmente nas licenciaturas, os

docentes ficam à mercê das concepções e dos métodos do ensino regular que difere totalmente

das características da educação de jovens e adultos.

Segundo a docente Transformação, o professor precisa se reconhecer como aprendente

nesse processo de ensino de jovens e adultos e saber que ele não é detentor do conhecimento,

22 Informação coletada em entrevista fornecida a autora no segundo semestre de 2016.

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que os “alunos possuem várias experiências, vários conhecimentos que a gente mesmo

enquanto ser humano não conhece ainda...”. Essa competência em se reconhecer enquanto

aprendente é fundamental nos processos de ensino-aprendizagem de jovens e adultos, pois esses

sujeitos possuem também conhecimentos que, conforme dito pela docente, as vezes nem mesmo

o professor domina. Estes conhecimentos estão ligados as experiências de vida dos educandos

e são variados, uma vez que a modalidade comporta uma diversidade de sujeitos, de tempos e

espaços. Esses trajetos distintos dos estudantes promove um encontro de diferentes saberes nos

espaços escolares. Assim, cabe ao docente resgatar esses saberes e aliá-los à prática educativa,

estabelecendo uma relação de parceria com os estudantes, na qual haja troca e ampliação dos

saberes construídos por meio de uma prática dialógica “aquela em que os sujeitos do ato de

conhecer (educador-educando) [...] se encontram mediatizados pelo objeto a ser conhecido.”

(FREIRE, 2015, p.78).

A docente também nos diz que é preciso ser aberto as diferenças, pois os estudantes da

EJA têm “problemas de dificuldade de aprendizagem, de deficiências, de coisas que não foram

diagnosticadas ao longo da vida e de traumas que esses adultos também trazem...”. Essa é uma

competência que é desafiadora ao docente dessa modalidade, posto que não é comum na

literatura da educação tratar das dificuldades de aprendizagem de jovens e adultos.

Tradicionalmente toda dificuldade desse público é vinculada a sua falta de interesse pelos

estudos. Não se reflete as trajetórias de vida desses sujeitos para perceber que eles também

podem ter necessidades educacionais que demandam um olhar diferenciado. Seus contextos de

vida atravessados por interrupções e marcas de “fracasso” acarretam em dificuldades de

aprendizagem quando retornam à escola, pois seus modelos de referência são outros, suas

vivências são mais emergentes do que os métodos escolares. Dessa maneira, o olhar sensível

do professor poderá interferir positivamente na reconstituição das aprendizagens dos jovens e

adultos, por meio da compreensão de suas realidades e do ajustamento às necessidades de

aprendizagem desse público.

Por fim, a docente diz ser necessário recorrer a “a união desses três eixos: a teoria, a

prática e as experiências...”, pois segundo ela, somente assim poderá dar conta das demandas

que surgem. Essa união da teoria, da prática e das experiências é o ponto basilar da conduta

pedagógica, pois no trajeto formativo as experiências subjetivas docentes contribuem para

pensar a prática pedagógica. Em se tratando da educação de adultos, essa condição torna-se

ainda mais essencial, haja vista a necessidade de aproximação desse público com os docentes,

o que se torna exequível a partir do reconhecimento das trajetórias de vida dos sujeitos

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envolvidos no processo educacional. Ainda mais, é necessário que identifiquem nas trajetórias

construídas pelos sujeitos as marcas da cultura, da economia e da política que tecem e

interferem as experiências de vida dos sujeitos, tomando-as como o cerne de compreensão de

suas trajetórias e as “pegadas” para as possíveis mudanças.

Ainda sobre esta dimensão, dos conhecimentos/competências para alfabetizar na EJA,

temos as proposições das participantes da escola 2:

Conhecimento... conhecimento de mundo principalmente porque assim, eles já vêm

com uma bagagem muito grande de conhecimento de mundo e é bom você usar as

coisas que eles gostam, que eles conhecessem pra puder passar pra eles, né? E não

ficar só naquela coisa de livro, sabe? Porque eu acho que eles ficam muito assim...

só no livro, no livro... então você tem que variar botar outras coisas que eles

conheçam... até novela mesmo, a gente já conversa, já fala, sabe? E competência...

primeiro tem que ter muita paciência, né? Tem que ter muita paciência porque você

ensina uma coisa agora, com cinco minutos eles já não lembram de nada! Eu

perguntei: qual foi a letra que a gente estudou semana passada? Eles não sabiam de

nada. Só um aluno que disse... eles esquecem assim, numa rapidez! Então, você tem

que ter dinâmica... esse tipo de coisa assim... (LIBERTAÇÃO, 2016, grifo nosso).23

Como conhecimento necessário para alfabetizar jovens e adultos, a docente diz que é

preciso ter conhecimento de mundo “principalmente porque assim, eles já vêm com uma

bagagem muito grande de conhecimento de mundo e é bom você usar as coisas que eles

gostam...”. Esse conhecimento que a docente diz ser necessário é fundante na educação desse

público, pois conhecer nos trajetos de vida dos sujeitos o que eles buscam aprender se constitui

ponto chave na educação dessas pessoas; reconhecer que suas necessidades educacionais estão

para além dos conteúdos institucionalizados; que o que medeia a relação destes com a escola

são as situações reais de conhecimentos que exigem deles competências para além das exigidas

pelos conteúdos pragmáticos.

Como competência, a docente diz ser necessário ter paciência, pois “você ensina uma

coisa agora, com cinco minutos eles já não lembram de nada!”. Essa fala da docente remete a

uma dificuldade dos adultos em processo de alfabetização que, talvez possam ser explicadas

pelo viés de natureza psicológica desses sujeitos. A memorização a qual se refere a docente é

parte do processo de aprendizagem. No entanto, a memorização de informações não

significantes se torna mais dificultosa para os adultos, uma vez que seus condicionamentos

cognitivos se voltam para aprendizagens mais práticas, mais usuais em seu cotidiano. Nesse

caso, se os adultos não encontram significância nesse aprendizado da leitura e da escrita por

meio das letras isoladas, somente encontrarão se reconhecerem em seus cotidianos a

23 Informação coletada em entrevista fornecida a autora no segundo semestre de 2016.

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importância de se saber tal letra; para quê usá-la, em que contexto a usar e principalmente o que

ela diz.

Se a alfabetização é: “esvaziada de seu caráter de signo linguístico, constitutivo do

pensamento-linguagem dos seres humanos, a palavra é transformada em mero ‘depósito

vocabular’ – o ‘pão de espírito’, que os alfabetizandos devem comer e digerir”. (FREIRE, 2015,

p.71).

Contrariamente a essa conduta de fornecer o “pão de espírito” aos alfabetizandos, a

alfabetização é o trabalho de nomear o mundo, que se faz em relação dialética a partir da

conduta do sujeito cognoscente (sujeito que conhece) e do docente também cognoscente,

(FREIRE, 2015).

Ainda em relação as competências que se deve ter para alfabetizar na EJA, a docente

diz que “tem que ter dinâmica...”, para lidar com um público diversificado no quesito

aprendizagem. A dinâmica se traduz na promoção de atividades diversificadas que atendam a

essas características dos sujeitos. Todavia, essa dinamicidade não pode restringir-se aos

métodos de memorização, mas, sobretudo, nos processos de ressignificação de conteúdos e

aprendizagens para e pelos sujeitos da Educação de Jovens e Adultos.

A docente Dialógica da escola dois, nos disse:

Percebo que os alunos integrantes da EJA retornam à escola não só em busca de um

certificado ou diploma... eles pretendem continuar os estudos e utilizá-los para sua

formação crítica e social... Veem a escola como espaço acolhedor e provedor de

oportunidade para um futuro melhor...então, o professor é visto como mediador de

conhecimento, aquele que promove a formação de cidadãos críticos, reflexivos e

autônomos... utilizando métodos adequados, possibilitando aos alunos cada vez mais

um nível de conhecimento que satisfaça suas necessidades como indivíduo em uma

sociedade. (DIALÓGICA, 2016, grifo nosso).24

A fala da docente não nos remeteu especificamente as competências e conhecimentos

para se alfabetizar jovens e adultos. Apenas alguns indícios do que para ela são essas

competências são possíveis de ser captados. Em sua fala, verificamos que há um entendimento

de qual seria o papel do professor, mas poucas são as pistas das competências desse. Mesmo

sendo questionada sobre quais seriam essas competências e conhecimentos, a docente insistia

em mencionar que “o professor é visto como mediador de conhecimento...”. Inferimos, pois

que, esses conhecimentos estão relacionados a como promover a aprendizagem dos alunos os

tornando críticos e reflexivos. Já as competências estão ligadas aos métodos de como executar

essa prática.

24 Informação coletada em entrevista fornecida a autora no segundo semestre de 2016.

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Na segunda dimensão: dificuldades para alfabetizar na EJA, as docentes da escola

1 nos deram as proposições a seguir:

Essa questão... a turma é heterogênea; questão de faixa etária, de conhecimento...

tem deles que chegam sem conhecer as letras do alfabeto. Tem outros que já leem

umas palavrinhas... aí a dificuldade de buscar atividades que sejam, tanto do

interesse de todo o grupo, como também articular esses conhecimentos pra quem tem

mais dificuldade... por exemplo, esses que não reconhecem as letras, eu levo o

alfabeto móvel... embora eu procure atender a todas as necessidades... eu procuro

dar atenção maior a esses que estão no processo inicial... e eu acho interessante na

EJA assim, que aqueles que estão mais na frente, que já tem um conhecimento maior,

eles procuram sempre estar se ajudando, mesmo diante das dificuldades deles, eles

procuram ajudar uns aos outros... outra coisa que eu acho que dificulta... a maioria

tem uma carga horária de trabalho bem longa, muitos deles vem do trabalho direto

pra escola.. o rendimento muitas vezes deixa a desejar... (ESPERANÇA, 2016, grifo

nosso).25

A docente coloca que a heterogeneidade de faixa etária e de níveis de aprendizagens são

as maiores dificuldades da EJA, pois conciliar os interesses e as atividades para grupos distintos

se torna um desafio. Desafio que coloca o docente numa posição de permanente busca, pois

para dar conta de uma diversidade de sujeitos e de necessidades de aprendizagem é necessário

que se compreenda essas diferenças; o que demanda cada grupo ali presente e como possibilitar

a aprendizagem desses sujeitos.

Outro fator apresentado pela docente é a carga horária de trabalho dos estudantes que

afeta diretamente em seu rendimento escolar. Esses estudantes, em sua maioria, estão inseridos

no mundo do trabalho, o que consome grande parte de seu tempo e de seus esforços,

comprometendo assim o seu desempenho e até mesmo a frequência na escola. O trabalho é uma

necessidade existencial dos jovens e adultos, pois é o meio pelo qual produzem as condições de

suas sobrevivências. Estudar acaba tornando-se a segunda opção quando conciliar os dois:

trabalho e estudo ficam quase inviáveis. Dessa forma, os que conseguem conciliar o trabalho

com os estudos, têm prejuízos em algum desses que consequentemente é na educação, haja vista

o turno que é ofertado e as condições que chegam até lá; geralmente após uma carga horária

intensa de trabalho, de jornadas exaustivas que dificultam a pontualidade e assiduidade nas

aulas, bem como o rendimento escolar. Todavia, esse público que supera as dificuldades

cotidianas para estar na escola, cria táticas para se manterem nos espaços escolares, criando

laços de solidariedade entre os colegas, partilhando os saberes e ajudando-se nas maiores

dificuldades encontradas por eles.

Já a docente Transformação nos diz o seguinte:

25 Informação coletada em entrevista fornecida a autora no segundo semestre de 2016.

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Eu acho que uma das maiores dificuldades é a heterogeneidade mesmo da turma

porque a gente tem uma perspectiva muito homogênea de que a gente vai chegar

numa turma todos eles vão estar no mesmo nível, seja de alfabetização, seja de

sistematização de conteúdo, mas que a gente vai encontrar alunos no mesmo nível de

aprendizagem... e isso é irreal. Isso aí é algo que a gente criou na nossa cabeça

enquanto... seja professor enquanto professor de formação, seja enquanto ser

humano mesmo...no que enquadraram a gente em salas, a gente começou a pensar

que tinha o mesmo nível... e a gente sabe que não... enquanto ser humano cada um

corresponde de uma forma. E quando a gente pega uma turma de EJA no processo

de alfabetização, a gente tem pessoas que é a primeira vez que tá entrando na escola;

tem pessoas que nunca frequentaram a escola, tem pessoas que frequentaram quatro

anos, cinco anos e interromperam e tão voltando depois de dez anos, vinte anos. Já

tem pessoas que... tem adolescentes que ainda estão no processo de saída do turno

diurno pra o noturno, estão na transição. Então, a gente tem uma heterogeneidade

não só de níveis de aprendizagem, mas também de níveis de vida, né? Que a gente

trabalha numa faixa etária que por exemplo: atende dos 14 até 100 anos, se tiver

alguém que queira estudar... Então como você conversa da mesma forma com um

adolescente e você conversa com um idoso? Na verdade a gente tá sempre nesse

desafio de tentar relacionar, de tentar aproximá-los. As vezes até uma resistência de

fazer uma dupla de um aluno jovem com um aluno mais idoso... de que haja uma

compreensão do mundo do outro porque o idoso ele também não aceita as

brincadeiras dos mais jovens, dos adolescentes... e aquilo faz parte deles. Então, um

dos desafios é esse também, é trabalhar com essas faixas etárias diferentes e depois

nos níveis de aprendizagem diferente... e a gente não tem uma condição enquanto

professor de fazer um acompanhamento individual... nosso acompanhamento

individual ele é muito frágil... porque esse acompanhamento individual é no momento

que... a maior parte estão conseguindo fazer sozinhos e a gente vai e se debruça

naquele que tá tendo mais dificuldade... o ideal é que esse acompanhamento fosse

com todos, mas a gente não consegue porque a gente tem uma turma com trinta

alunos... e com uma gama de diversidade de fatores, com a redução de tempo escolar

também... você não trabalha com atividades de casa porque eles não têm condições

de fazer... porque quando chegam em casa, além do trabalho, eles tem a família, filho

adoece, a esposa adoece, o marido adoece... então eles tem que conciliar tudo isso...

e aí quando eles começam a vivenciar esses desafios, eles começam a se evadirem...

e aí como ele não consegue aquela implicação por que que ele tá aqui, que vai ajudar

na vida dele diretamente... se ele trabalha na construção civil, como pedreiro... e o

que eu trabalho aqui na sala de aula não contribui diretamente pra esse trabalho

dele, quando começar essas dificuldades, a primeira coisa vai bater o cansaço e ele

vai desistir... Então é sempre fazer com que haja um sentido pra eles estarem aqui e

que a gente fique sempre conversando sobre esses sentidos; o que é que eles querem

com essa escola? Pra gente também ir avaliando se estamos atingindo esses objetivos.

(TRANSFORMAÇÃO, 2016, grifo nosso).26

Assim como mencionou a primeira docente, a heterogeneidade de faixa etária e de

aprendizagens são as principais dificuldades na EJA, como aponta também a docente

Transformação. Gerenciar distintos interesses de aprendizagens e as diferenças geracionais

constituem um desafio emergente nas escolas de jovens e adultos, pois esse encontro de uma

geração muito jovem com adultos mais maduros gera conflitos que deverão ser trabalhados

pelos docentes. Assim, as multiplicidades de questões referentes a EJA desafiam o fazer

docente, no que diz respeito a compreensão de cada realidade demandada pelos sujeitos;

questões de dificuldades de aprendizagem que exigem do docente um acompanhamento mais

26 Informação coletada em entrevista fornecida a autora no segundo semestre de 2016.

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próximo, individualizado, assim como as dificuldades ligadas as próprias vidas dos sujeitos que

muitas das vezes os fazem deixar a escola. Dificuldades ligadas aos cuidados da família, do

trabalho, condições que enfraquecem a permanência na escola, principalmente quando lá não

encontram sentido para permanecerem, não encontram relação com suas vidas. Outro fator

mencionado pela docente é a redução do tempo escolar, visto que também compromete o

trabalho pedagógico. As escolas de EJA, em sua maioria, funcionam no turno noturno e com

carga horária reduzida devido as próprias necessidades dos educandos que, ao passarem o dia

numa jornada intensa de trabalho, vão à escola cansados e preocupados com o dia seguinte em

acordar cedo para iniciar uma nova jornada de trabalho.

Todas essas situações que acarretam dificuldades, relatadas pela docente são comuns a

essa modalidade de educação, haja vista o seu público que possui características especificas

ligadas ao mundo do trabalho, aos cuidados familiares, e no caso dos jovens que não trabalham,

a adaptação a uma nova realidade educacional que não é mais a vivenciada por eles no ensino

regular. Uma vez estudante da EJA, os jovens se veem em transição de turnos de estudos e de

adaptação ao novo perfil encontrado na modalidade: o de adultos e idosos estudantes. Assim

como também é desafiador para um adulto estar na mesma condição de um adolescente em sala

de aula, tendo em vista que, esse adulto possui experiências distintas desses jovens, modelos de

educação diferentes do que comumente os adolescentes estão acostumados a lidar.

Contudo, conforme dito pela docente, é constante o “desafio de tentar relacionar, de

tentar aproximá-los”, de produzir sentido na escola para aqueles sujeitos múltiplos e diversos

que estão nesse espaço, promovendo uma aproximação de interesses educacionais para

gerações tão distintas.

À essa mesma dimensão, tivemos as seguintes reflexões da escola 2:

As dificuldades que eu encontro na EJA ... é exatamente essa coisa da memória deles,

que a gente explica uma coisa agora, fala e esmiunça tudo... quando é na outra aula

eles esquecem! Aí a gente tem que retomar tudo de novo, pegar aquele gancho pra

poder continuar... E também essa parte de material, as vezes a internet falha; a gente

quer botar algum negócio, aí não tem som... quando a gente prepara um negócio, aí

quando chega na hora tá tudo errado... aí essas coisas assim que dá uma travada na

pessoa, entendeu? A frequência também... as vezes só vem dois alunos, aí você se

desestimula... dá aula pra dois alunos? É muito chato! Tem dias que vem todos aí

você fica mais animada, aí tem dias que vem dois, um... aí eu pelo menos não tenho

vontade de dar aula... porque você prepara um material todinho aí vem um aluno, aí

eu não vou gastar esse material todinho com um aluno... vou esperar vim mais alunos

pra poder passar pra todo mundo. Aí pego outra coisa, invento outra coisa e passo

pra o que veio sozinho, né? Tento fazer alguma atividadezinha, assim de caça

palavras ... as vezes eu faço muito caça palavras pra ver se eles estimula a memória

deles... outra dificuldade é a secretaria que quer fechar a EJA... eles vem olhar a

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quantidade de alunos porque se tiver pouco, eles querem fechar... (LIBERTAÇÃO,

2016, grifo nosso o).27

As dificuldades elencadas pela docente Libertação dizem respeito à “memória” dos

alunos, a falta de material ou não manutenção de materiais, a frequência dos estudantes que é

irregular e o fechamento de turmas de EJA pela Secretaria Municipal de Educação da cidade

do Natal. A “memória” a qual se refere a docente está relacionada à capacidade de assimilação

pelos estudantes, que quando não consolidam as aprendizagens, esquecem rapidamente o que

foi estudado. Conforme a docente, o trabalho com esse público tende a ser repetitivo, pois a

maior dificuldade é fazer com que os educandos acomodem os conteúdos. Também contribuem

para as dificuldades na modalidade a escassez de material ou o mau funcionamento destes,

como os aparelhos de mídia. Além também da frequência irregular dos estudantes que afetam

suas aprendizagens. Outro fator que desafia a modalidade é a insistente tentativa da secretaria

de educação em fechar as turmas de EJA, sob a justificativa de que não existe demanda

suficiente de matrículas para manter a modalidade em algumas escolas.

As dificuldades apresentadas pela docente tramitam entre os eixos pedagógicos e

estruturais dessa modalidade, pois existem os desafios que são concernentes aos espaços

escolares como a frequência irregular dos estudantes e suas dificuldades de aprendizagem, mas

também existem dificuldades além dos muros escolares que dizem respeito a uma estrutura

macro que vê a modalidade não como um direito que deva se efetivar, mas como um “gasto

desnecessário” ao sistema de educação. Como dito, essa questão tem se agravado na EJA: a

intenção sistemática dos órgãos responsáveis pela oferta da educação em fechar as turmas de

EJA das escolas da rede municipal de Natal, tendo como justificativa a demanda insuficiente

de alunos. O que eles chamam de “enxugamento das turmas” seria na verdade uma ação que

poria fim a modalidade. É o retrocesso do direito conquistado e até mesmo a omissão do direito

a educação para as pessoas que não tiveram acesso ou tiveram trajetórias interrompidas.

Visto isso, é necessário que se realize ações de mobilização, tanto dos estudantes, quanto

dos professores e todos envolvidos no ambiente escolar para garantir o direito à Educação de

Jovens e Adultos. É preciso promover a consciência de que o jovem, adulto e o idoso são

assegurados por um direito constitucional que, a duras penas foi conquistado ao longo da

história da educação no nosso país. Eles não são sujeitos “beneficiados” por uma caridade do

estado. São sujeitos de direitos! Devem e necessitam ter espaços, escolares ou não escolares

que garantam os seus direitos de promoção aos conhecimentos socialmente privilegiados para

27 Informação coletada em entrevista fornecida a autora no segundo semestre de 2016.

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que melhor participem da vida nacional, o que consequentemente também os possibilita uma

melhor condição pessoal, ampliando as suas condições de realização intra e interpessoal.

As dificuldades inerentes as aprendizagens dos estudantes, se assimilam ou não o

conteúdo é do seio pedagógico e merece atenção especial por denunciar uma maneira frágil de

ensinar jovens e adultos. Maneira esta que não traz significância naquilo que é ensinado, não

aproxima à necessidade real dos estudantes em aprender a linguagem escrita para fazer uso dela

e sim para reproduzir mecanicamente os códigos escritos. Já em relação a frequência irregular

citada pela docente, vemos que o modelo que hoje é ofertada a educação de adultos não condiz

com as especificidades dessa modalidade, pois a EJA difere em termos estruturais e

pedagógicos de outros níveis de ensino, não podendo ser pensada sob a lógica desses. Assim,

oferta-la com os parâmetros do ensino regular acarreta em dificuldades para os seus sujeitos,

haja vista a necessidade de flexibilização na carga horária dessa modalidade que deveria ser

pensada a partir das premissas inerentes a esse campo da educação. A EJA não pode ser vista

apenas como a modalidade de sujeitos trabalhadores do noturno, visto que a dinâmica do mundo

do trabalho tem se diversificado, não só em termos de instrumentos de operacionalização, mas

também em sua estrutura de funções e horários, o que leva a considerar que, não temos somente

jovens e adultos trabalhadores do diurno, o que consequentemente conduz a repensar a estrutura

na qual a EJA está sendo ofertada para contemplar, em seus direitos à educação, todos os jovens

e adultos.

A segunda docente da escola 2 nos elencou a seguinte resposta para a questão acerca

das dificuldades para alfabetizar na EJA:

Para mim a maior dificuldade é a frequência... é a maior dificuldade que eu encontro

na EJA é a frequência porque quando se inicia um trabalho, aí no dia seguinte ele já

não vem... essa é a dificuldade... a frequência porque se inicia um trabalho e não

consegue concluir (DIALÓGICA, 2016, grifo nosso).28

Vemos na fala da docente que para ela a maior dificuldade é a frequência dos alunos

“porque se inicia um trabalho e não consegue concluir”. Questionamos se haviam outras

dificuldades de outra ordem e a docente nos disse – sem citar quais seriam outras dificuldades

– que “as outras dificuldades dão pra contornar, mas a frequência...”

Essa questão está ligada diretamente ao estilo de vida dos sujeitos dessa modalidade de

ensino que geralmente são pessoas já inseridas no mercado de trabalho e/ou comprometidas

com os afazeres domésticos, o que influencia no desenvolvimento do processo de

alfabetização, uma vez que a não participação diária dos educandos nas aulas compromete sua

28 Informação coletada em entrevista fornecida a autora no segundo semestre de 2016.

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aprendizagem, pois é na escola que esses indivíduos participam – de forma sistemática – de

atividades relativas à aquisição e desenvolvimento da leitura e da escrita.

Contudo, é preciso pensar as intermitências dos sujeitos da EJA, os motivos pelos quais

estas ocorrem para que, como já mencionamos em nossa discussão, possa-se repensar a

estrutura na qual a EJA é ofertada hoje. Será que assim como funciona, nos moldes do ensino

regular pode-se garantir o acesso e permanência dos sujeitos dessa modalidade aos espaços

escolares? o currículo e a forma como se desenvolve corresponde às necessidades reais desses

sujeitos? Esses são questionamentos que balizam nossas reflexões no campo da EJA, na

tentativa de ampliarmos as propostas de efetivação do direito à EJA.

4.2 Educação de Jovens e Adultos: terceira categoria

Em relação a terceira Categoria, da Educação de Jovens e Adultos, cuja dimensão

envolve a representação da EJA, temos as seguintes proposições da escola 1:

Para mim, a EJA é uma modalidade de ensino destinada aos que não deram

continuidade aos seus estudos e para aqueles que não tiveram acesso ao ensino na

idade apropriada. São pessoas que tiveram problemas passados no sistema escolar,

com história de vida, com conhecimento próprio e que tem pressa para aprender. Na

grande maioria são trabalhadores que tem uma rotina diária corrida, mas que

desejam aprender. (ESPERANÇA, 2016, grifo nosso).29

Assim, na fala dessa docente destacamos alguns elementos que compõem sua

compreensão da EJA: a) A EJA é uma modalidade de ensino b) se destina aos que tiveram

problemas no sistema escolar c) esses sujeitos têm pressa para aprender e d) a maioria deles são

trabalhadores com vida corrida, mas com vontade de aprender. Esses elementos da fala da

docente nos indicam que sua compreensão acerca da modalidade envolve tanto o entendimento

desta como um nível de ensino – que faz parte do sistema educacional – como também a

compreensão do que seriam as características de seu público. Assim, todos esses elementos que

perpassam a visão de EJA coadunam com a noção da função reparadora desta modalidade,

conforme explicita o Parecer CNE/CEB nº 11/2000 (MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, 2000,

p. 9) “função reparadora da EJA se articula com o pleito postulado por inúmeras pessoas que

não tiveram uma adequada correlação idade/ano escolar em seu itinerário educacional e nem a

possibilidade de prosseguimento de estudos [...]”.

29 Informação coletada em entrevista fornecida a autora no segundo semestre de 2016.

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Dessa forma, a representação do que é essa modalidade de ensino reflete uma

compreensão na qual a EJA é vista como uma maneira de “reparar” um ensino que outrora os

sujeitos não tiveram acesso ou interromperam seus trajetos.

Já a segunda docente dessa escola nos disse:

EJA para mim é uma modalidade da educação básica que busca garantir o direito à

educação para jovens e adultos que não tiveram condições de realizar seu processo

de escolarização na idade melhor destinada para esse fim... A EJA possibilita

múltiplas aprendizagens, partindo de saberes de vida e retornando para própria vida

dos educandos. É uma das formas de nos encontrarmos com o mundo, mediante nosso

encontro com pessoas, suas singularidades e coletividades. Faz parte de uma

construção humana, de reconhecimento do humano enquanto sujeito de direitos e de

experiências no mundo da vida. (TRANSFORMAÇÃO, 2016, grifo nosso).30

A compreensão da docente em relação ao que é a EJA traz indícios do reconhecimento

desta enquanto modalidade asseguradora do direito ao jovem e adulto à escolarização, bem

como reporta a um espaço de múltiplas aprendizagens, no qual há o “reconhecimento do

humano enquanto sujeito de direitos...”. Essa compreensão abarca a noção de uma EJA que

não só repara, mas que também promove o encontro de singularidades, ao mesmo tempo em

que cria laços comuns na coletividade; o encontro de experiências diversas que geram ricas e

diversas aprendizagens no espaço escolar.

Na escola 2, temos as seguintes afirmações para essa mesma dimensão:

A EJA pra mim é uma chance que eu tenho de oportunizar esses alunos a terem uma

vida mais tranquila na hora que eles aprendem a ler e saber pegar um ônibus [sic]

não erram o ônibus que vão pegar ...e... vão no supermercado e sabem comprar

direitinho as coisas sem estarem perguntando a ninguém: ei que preço é esse?!

...fazer uma conta direitinho sem errar o troco... quando alguém for dá um troco

errado, saber contar direitinho... então assim, facilitar a vida deles... de alguma

forma até chagar numa universidade, se possível, como é o sonho de alguns...

(LIBERTAÇÃO, 2016, grifo nosso).31

Conforme a fala acima, podemos notar que a compreensão do que é a EJA para docente

envolve uma noção de “doação de saber”, pois sua função nessa modalidade seria “facilitar a

vida deles...”, dos estudantes. Caracteriza a modalidade também como uma “chance” do

professor em oportunizar a aprendizagem da leitura e da escrita.

Essa visão reducionista da EJA – ainda bem presente no contexto educacional do Brasil

– não considera que os jovens e adultos são sujeitos com potencial saber e que, ao contrário do

que está implícito nessa concepção de EJA compensatória, são dotados de conhecimentos e

30 Informação coletada em entrevista fornecida a autora no segundo semestre de 2016. 31 Informação coletada em entrevista fornecida a autora no segundo semestre de 2016.

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experiências que lhes permitem maior apropriação dos conteúdos escolares, quando estes

ganham sentido na vida cotidiana dos estudantes.

Sendo assim, a EJA não é apenas um espaço de doação de saber, no qual o docente é

quem detém os conhecimentos e como num ato de generosidade “dá” ao estudante os

conhecimentos necessários para se relacionar com o mundo. Pelo contrário, a EJA é um campo

em potencial de construção e reconstrução de saberes, pois é neste espaço onde se encontram

sujeitos com experiências e conhecimentos múltiplos que, ao se encontrarem, potencializam

suas aprendizagens e experiências relacionais.

A segunda docente da escola 2 nos disse:

Para mim é uma educação ao longo prazo regada de obstáculos que depende muito

mais de nós educadores do que dos próprios alunos. (DIALÓGICA, 2016, grifo

nosso).32

Reportando-se a fala acima, constamos que a docente considera a EJA como uma

educação que se faz “a longo prazo”. O seu entendimento da modalidade EJA perpassa a ideia

de uma educação ao longo da vida, mas com obstáculos a serem enfrentados pelos educadores.

Embora curta a definição da EJA, a docente nos forneceu, em momentos de diálogos informais,

elementos que nos dão base para compreender o seu entendimento acerca da EJA. Ela nos

remeteu aos obstáculos que disse depender mais dos educadores do que dos alunos; disse que

estes se referem as “dificuldades de relacionar as vivências dos alunos com o que eles precisam

aprender”. Que isso é papel do docente: “articular as vivências deles com os conhecimentos

escolar pra que tenha finalidade na vida do estudante, para que ele saiba onde e como utilizar

os conhecimentos que aprendeu...”

Essa premissa de Educação permanente também está prevista nas Diretrizes que

orientam o funcionamento da EJA, conforme indica o Parecer CNE/CEB nº 11/2000

(MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, 2000). A função permanente ou qualificadora da EJA é mais

que uma função, “[...] é o próprio sentido da EJA”

Assim, essa educação ao longo da vida implica em atualização das representações

sociais acerca da modalidade, pois o entendimento que ainda predomina é o de uma modalidade

que compensa ou repara uma perda do passado escolar dos jovens, adultos e idosos.

Entender a EJA como um espaço de permanente aprendizagem, implica também em

reconhecer que seus sujeitos constroem e partilham conhecimentos não só no âmbito escolar,

mas nos diversos espaços de interação da vida social e, mais ainda, que estes saberes perpassam

32 Informação coletada em entrevista fornecida a autora no segundo semestre de 2016

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suas trajetórias escolares e precisam ser considerados na reconstrução dos saberes gestados por

eles e na ampliação destes.

4.3 A face figurativa da representação social sobre alfabetização

A “[...] a representação social é a preparação para a ação, não só porque guia os

comportamentos, mas sobretudo porque remodela e reconstitui os elementos do ambiente no

qual o comportamento deve acontecer.” (MOSCOVICI, 2012, p. 46). É nessa direção que

caminha nossas análises das representações de professores da EJA sobre alfabetização. Tendo

em vista que, as representações tanto guiam quanto explicam as condutas, nos debruçamos nos

estudos dessas representações, a fim de compreender os seus universos, os quais possuem

elementos constituintes e se processam na dinâmica da vida social, se manifestando nas

condutas, no caso do nosso objeto, nas práticas pedagógicas de alfabetizar.

Para tanto, tomamos como elemento da objetivação da representação social de

alfabetização, as observações realizadas nas salas de aula da Educação de Jovens e Adultos,

como meio potencializador de nossas análises, aliadas às entrevistas feitas com as docentes

participantes desse estudo, que ao revelar suas conceituações acerca deste objeto, nos

possibilitaram conhecer suas representações sociais destes. Buscamos, pois compreender os

contextos das condutas pedagógicas de alfabetização, decorrentes da representação social desta.

Sendo o conceito e a imagem, faces de uma mesma moeda para a representação social.

Sendo assim, descreveremos as observações realizadas nas salas de aula das docentes

de cada escola. Na escola 1, temos descritas as atividades desenvolvidas no decorrer de quatro

dias consecutivos:

Tabela 1 – Descrição das observações realizadas na turma de nível I da EJA (docente Esperança)

1ºdia 2ºdia 3ºdia 4ºdia

Trabalho com o

gênero textual rótulo;

Encartes de

supermercados, lista

de compras e uso de

instrumentos de

cálculo;

Resolução de

questões de adição e

escrita do nome

próprio;

Escrita de nomes de

objetos que iniciam

com as letras do

alfabeto.

Fonte: Elaborada pela autora (2017).

Na aula sobre o gênero textual rótulo, a docente já havia solicitado previamente que os

jovens e adultos trouxessem os rótulos de casa. Em sala, de posse dos rótulos trazidos pelos

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próprios estudantes, a docente pediu para a turma observar as características e informações

contidas nas embalagens e foi perguntando para a turma quais eram as informações contidas...

posteriormente, leu um texto do livro didático que tratava das características do gênero textual

estudado.

A docente orientou a organização de grupos para melhor analisar os rótulos. Os grupos

conversavam sobre as características do gênero, bem como comentavam sobre as mudanças na

produção de embalagens de alimentos... diziam que em suas épocas era tudo diferente, as

marcas dos produtos, as composições e assim trocavam informações uns com os outros sobre

como tinham ocorrido mudanças na indústria de alimentos...

Por fim, a docente pediu para que os grupos organizassem os rótulos por categoria:

alimentos, higiene, cosméticos, etc., e solicitou que os estudantes trouxessem no dia seguinte

encartes de supermercado e calculadoras.

Na segunda aula, da observação, a docente trabalhou com os encartes de supermercado

trazidos pelos estudantes.

A docente pediu que a turma elaborasse uma lista de compras consultando os encartes

para ver os produtos e preços. No momento da escrita, Esperança fez algumas intervenções

individuais com os estudantes que estavam com mais dificuldades de escrever; a mesma

orientava os alunos a observarem os sons das palavras; como se constituía cada silaba e como

se formava a palavra.

Após elaborarem as listas de compras, a professora sugeriu que os estudantes fizessem

comparações de preço a partir dos encartes. Os preços deveriam ser registrados ao lado do nome

de cada produto das listas. Em seguida, os estudantes teriam de fazer os cálculos – utilizando a

calculadora – para saber o quanto gastariam em suas compras. Os estudantes que não tinham

muita habilidade com o instrumento, eram ajudados pelos colegas e pela docente.

Na terceira aula, a docente realizou duas atividades: uma envolvendo o nome próprio e

a outra a resolução de questões de adição. Na primeira atividade os estudantes foram

convidados a assinarem uma lista com seus nomes; na segunda atividade os estudantes tinham

que resolver uma situação problema envolvendo a operação de adição. Durante a resolução da

questão, a docente abordou a estrutura das contas de adição, explorando os números e sinais.

Retomando a atividade com a escrita do nome próprio, a docente pergunta se todo mundo

conseguiu assinar a lista. Alguns adultos diziam não ter conseguido sós, mas com a ajuda de

colegas. Uma aluna fala da dificuldade e da vergonha de não saber escrever o próprio nome e

a docente pega o “gancho da fala” para discutir a importância social do nome. Instala-se na sala

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uma conversa sobre o assunto, na qual cada estudante trouxe relatos de alguma situação de

constrangimento por não saber assinar o nome...

Na quarta observação, a docente realizou uma atividade de escrita de nomes de objetos

que iniciavam com cada letra do alfabeto. Posteriormente a docente fez a correção no quadro

da escrita das palavras, questionado aos estudantes como se escrevia cada palavra mencionada

por ela. Os alfabetizandos olhavam atentamente para ver se tinham escrito corretamente a grafia

das palavras.

Na semana seguinte de observações, foram registradas as seguintes atividades da turma

de nível II da EJA, docente Transformação:

Tabela 2 – Descrição das observações realizadas na turma de nível II da EJA (docente

Transformação)

1ºdia 2ºdia 3ºdia 4ºdia

Atividade do livro

didático sobre

pontuação;

Leitura de um poema;

discussão sobre os

movimentos sociais da

cidade e atividade do

livro de matemática.

Escrita de um cartão de

aniversário para os

aniversariantes do

trimestre;

Produção textual.

Fonte: Elaborada pela autora (2017).

Na primeira aula observada, a docente realizou uma atividade no livro didático de

português sobre sinais de pontuação. No quadro fez uns exemplos de contextos de escrita em

que se usam os sinais de pontuação. No livro explorou o gênero textual bilhete, destacando suas

características e composição. Em seguida, realizou a leitura de um bilhete no qual não havia

nenhum sinal de pontuação. E pediu para que a turma o reescrevesse fazendo as devidas

pontuações. A docente os auxiliou fazendo as correções no quadro. Em continuidade a atividade

do livro, ela pediu aos estudantes que lessem um texto que falava do uso da virgula. Os

estudantes leram empolgados e acharam engraçado a colocação das virgulas no texto que

mudava o sentido do contexto.

Nesse dia também realizaram uma lista de comidas para a festa de aniversariantes que

ocorreu nessa mesma semana.

Na segunda aula observada a docente fez a leitura de um poema e em seguida perguntou

aos estudantes o que entenderam do texto. Os mesmos disseram não ter compreendido o poema.

A docente abordou as características desse gênero textual e retomou a pergunta. A turma

arriscou-se em responder e logo começaram a estabelecer relação com suas trajetórias de vida,

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sobre recomeço (tema do poema); a docente perguntou se eles já haviam produzido um poema

antes e os alunos responderam que não escreviam porque não sabiam, mas que pediam a outras

pessoas para escrever para suas paqueras. E começaram a relatar que achavam perigoso pedir

para outra pessoa escrever algo para eles, pois “se não for alguém de confiança pode até fazer

uma maldade” (fala de uma estudante). Nesse víeis, a docente discutiu a importância de saber

ler e escrever e ressaltou que, apesar de alguns não saber ler, eles possuem muitos outros

conhecimentos...

Posterirormente, um estudante suscitou uma discussão sobre os movimentos de

protestos que ocorriam na cidade de Natal contra a reforma trabalhista e previdenciária. Os

estudantes questionavam se era válido participar desses movimentos, se tinham resultados e

perguntou se a professora participava. A mesma disse que participava e seguiu numa conversa

instigante com a turma sobre os movimentos de protestos33, destacando os pontos das ditas

reformas, o que implicaria na vida deles, quais seriam as perdas de direito, etc.

Por fim, a docente realizou uma atividade do livro de matemática sobre sistema de

numeração decimal.

Na terceira aula observada, a docente juntamente aos estudantes organizou a sala para a

comemoração dos aniversários do trimestre. Antes da comemoração, a docente solicitou que os

estudantes elaborassem um cartão de felicitação para algum dos aniversariantes. Eles

realizaram os cartões e entregaram aos seus respectivos colegas.

Na quarta observação os estudantes realizaram uma avaliação que a docente solicitou.

Ela pediu que eles formassem duplas e conversassem sobre questões de suas vidas; com um

roteiro previamente estabelecido, os alfabetizandos o seguiam e conversavam uns com os outros

perguntando sobre os motivos que os fizera desistir e retornar à escola. Eles escreveram

pequenos textos sobre suas questões pessoais – cada colega registrava as informações do outro

e compunha o texto. Em seguida, a docente pediu que eles identificassem no texto os

substantivos próprios e comuns (assunto já estudado por eles, segundo a docente).

Em relação as observações realizadas nas turmas das docentes da escola 2,

descreveremos as atividades realizadas durante a semana de observação. Entenda-se aqui o

termo usado “Atividade” como toda ação pedagógica desenvolvida com os estudantes da EJA.

33 Os protestos se deram em decorrência das reformas do governo Temer que promoveu o golpe político no ano

de 2016, deflagrando o “Impeachment” da presidente Dilma Rousseff. As reformas desse governo previam a

diminuição dos direitos trabalhistas e previdenciários sob a justificativa de uma reforma na economia do país.

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Tabela 3 – Descrição das observações realizadas na turma de nível II da EJA (docente Libertação)

1ºdia 2ºdia 3ºdia 4ºdia

Atividade sobre a

diferença dos usos

das consoantes N e

M nas palavras;

Continuidade da

atividade com os

usos da letra N;

separação e

classificação de

sílabas;

Continuidade da

atividade com a

consoante N; introdução

das consoantes: M e L e

ditado de frases;

Leitura e

interpretação

textual.

Fonte: Elaborada pela autora (2017).

No primeiro dia de aula observado, a docente realizou uma atividade com os usos da

consoante “N”. Ela iniciou a aula comentando com os alunos acerca da diferença dos usos das

consoantes “N” e “M”. A mesma explicou que por terem sons semelhantes as pessoas

confundem os usos dessas letras. Em seguida, a docente entregou uma atividade impressa aos

alunos e orientou como seria sua realização.

A atividade consistia em completar um quadro de palavras com a letra “N”. Após

concluírem essa primeira parte da atividade, os alunos deveriam escolher duas palavras do

quadro de palavras com a consoante “N” e escrever uma frase... individualmente cada estudante

concentrou-se em sua atividade e realizou uma leitura em tons de sussurro para então registrar

as respostas da atividade.

Depois dos primeiros 20 minutos de realização da atividade, a docente passou de mesa

em mesa observando quem conseguiu realizar a atividade e auxiliou os alunos com mais

dificuldade de registrar a escrita. Nesse momento, uma aluna solicitou ajuda da professora para

escrever a frase a qual tinha sido solicitada. A docente incitou a aluna a escrever e chamou sua

atenção para a escrita dos verbos no infinitivo, como na frase que a aluna havia escrito: “o meu

amigo gosta de liga (ligar) para negocia (negociar) com o governo o aniversário da cidade”. A

professora, então reescreveu com a aluna colocado os verbos no infinitivo.

Posteriormente, a docente foi ao quadro e escreveu algumas palavras da lista de palavras

com a consoante “N”, questionando aos alunos qual a palavra que ela escrevia no quadro (pedia

para que lessem as palavras).

No tempo livre, após a realização da atividade, a docente solicitou que os alunos

colorissem os desenhos da atividade (ilustrações de objetos iniciados com a consoante N).

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No segundo dia de observação, a professora retomou com os alunos a aula anterior e

explicou que iriam continuar estudando a letra “N”. Em seguida, entregou a atividade aos

alunos, a qual tinha os seguintes comandos:

1. Forme palavras utilizando a linha numérica; para cada número há uma sílaba com a

letra “N”, seja no início ou final da palavra.

Exemplo: 0 (NA) ... 11 (VE); dessa forma, 0 + 11= NAVE.

Os estudantes realizaram a atividade individualmente e a docente observou como os

alunos organizaram as palavras de acordo com os comandos. Em seguida, pediu para que eles

lessem as palavras formadas. A professora iniciou a leitura apontando no quadro a escrita das

palavras e os alunos acompanhavam, um de cada vez leu uma palavra que havia formado.

Quando concluíram essa atividade, a docente entregou uma outra atividade que consistia

em separar e classificar as sílabas das palavras iniciadas com a letra “N”. Depois de entregar as

atividades, a docente explicou como se classificavam as sílabas... e disse: “quando eu digo que

a palavra é dissílaba, quer dizer que ela tem quantas sílabas?” os alunos foram respondendo e

assim ela prosseguiu explicando a classificação das palavras por sílaba...

Durante a realização da atividade, alguns alunos chamam a professora em particular e

dizem não saber classificar todas as palavras. A docente então foi ao quadro e retomou a

explicação e fez junto aos alunos a classificação das palavras, explicando porque são dissílabas,

trissílabas, monossílaba, polissílaba...

No terceiro dia de observação, a docente ressaltou que iria continuar trabalhando com a

letra “N”, destacando agora os sentidos das palavras quando muda a colocação da letra. Dessa

forma, distribuiu uma atividade na qual a referida consoante deveria vir no meio das palavras,

como por exemplo na palavra “VETO” acrescentando a letra N no meio dessa palavra, muda-

se também seu significado, passando então a ser “VENTO”.

Seguidamente, a consoante que acrescentaria às palavras seria a letra “M”. Por exemplo:

BOBA, acrescentando a referida letra, muda-se para “BOMBA”. Por fim, a consoante

trabalhada foi a letra “L” seguindo a mesma lógica da atividade anterior.

Os alunos desenvolveram a atividade com desenvoltura, no entanto, alguns

demostraram dúvidas quanto a constituição de algumas palavras. A docente foi solicitada a ir

de mesa e mesa auxiliar os alunos na elaboração desta atividade. Ela então foi e ajudou cada

aluno que estava com dúvida.

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Posteriormente, a docente fez um ditado de frases. Chamou a atenção da turma e disse

que iria ditar algumas frases para eles escreverem. Assim, seguiu a atividade, na qual alguns

alunos demostraram dificuldades na escrita de algumas palavras com sílabas mais complexas,

como na frase ditada pela docente: “eu quero três reais de pães”. Na escrita das sílabas “QUE”

da palavra quero e “PÔ de pães. A docente incitou os alunos a pronunciar as palavras e a grafar

segundo a pauta sonora. Depois disso, a professora reescreveu as frases no quadro e pediu para

que os estudantes corrigissem.

No último dia de aula observada, a professora iniciou dizendo que iriam ler um texto e

fazer algumas questões interpretativas. Assim, ela disse para a turma: “vamos ler para saber o

que está lendo...”. Entregou um texto para cada estudante e pediu que lessem silenciosamente.

Após a leitura silenciosa dos alunos, a professora foi a frente e realizou a leitura em voz alta.

Em seguida, leu algumas questões de interpretação do texto e solicitou que os alunos

respondessem.

Durante a realização da atividade alguns alunos – com ar de constrangimento –

chegaram até a professora e disseram que não haviam compreendido o texto e não sabiam

responder as questões. A professora retomou a leitura, dando ênfase para os trechos que

respondiam as questões solicitadas.

Descreveremos a seguir as observações da turma da segunda docente da escola 2:

Tabela 4 – Descrição das observações realizadas na turma de nível I da EJA (docente Dialógica)

1ºdia 2ºdia 3ºdia 4ºdia

Trabalho com o

gênero textual

acróstico e explicação

da realização de um

concurso de poesias;

Produção do gênero

textual poesia;

Estruturas silábicas

(CRA, CRE, CRI,

CRO, CRU) e (TRA,

TRE, TRI, TRO,

TRU) e trava língua;

Trabalho com a

consoante G.

Fonte: Elaborada pela autora (2017).

Na primeira aula observada, a docente iniciou a aula falando sobre o dia em homenagem

as mães. Conversou com os alunos sobre a importância da mãe na sociedade. Em seguida,

escreveu no quadro a palavra “mamãe” e pediu para a turma ler. Os alunos num esforço silábico

leram a palavra e a professora seguiu perguntando aos alunos os nomes de suas mães e os

escreveu no quadro em forma de acróstico.

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A docente explicou a estrutura do texto, disse que esse tipo de texto é escrito na vertical

e geralmente serve para caracterizar alguém ou alguma coisa. Em seguida, pediu para que cada

aluno atribuísse características às suas mães, de acordo com as letras iniciais dos nomes das

mesmas. Assim, os alunos fizeram, como no exemplo abaixo34:

Linda

Uma grande mulher

Inteligente

Zen

Amiga

Dessa forma, os alunos iam ditando as características para cada nome de suas mães e a

professora assumia o papel de escriba, incitando os alunos a pensar como escrevia cada palavra

que eles diziam. Ela fazia questionamentos do tipo: “como escreve a palavra inteligente?...”; os

alunos davam seus palpites de escrita e a professora foi elaborando junto a eles a escrita de cada

palavra.

Ao término dessa primeira parte, a professora abordou a questão de um evento que

ocorreria na escola: um concurso de poesia em homenagem as mães. Explicou o regulamento

do concurso, explicitando que cada aluno poderia escrever três poesias para concorrer. Cada

turma da escola iria ter um aluno premiado, os quais ganhariam premiações diversas. Também

explicou as características de uma poesia e sua estrutura. Os alunos ficaram entusiasmados com

a ideia, no entanto, demostraram receio de escrever as poesias já que não dominam ainda o

sistema de escrita. A professora os tranquilizou ressaltando que os ajudaria, mas que eles

deveriam criar as poesias e ela ajudaria na elaboração da escrita dos mesmos.

No segundo dia de aula observada, a docente falou aos alunos que eles deveriam iniciar

suas produções das poesias, tendo por tema a homenagem as mães. Assim, os alunos foram

direcionados à biblioteca onde escreveram suas poesias com auxílio da professora e se

escreveram no concurso (a bibliotecária estava realizando as inscrições dos alunos por turma).

Durante o processo de escrita, alguns alunos repetiram a estrutura do texto anterior: o

acróstico. E outros disseram não querer se inscrever, pois iriam entregar suas poesias às suas

mães. A professora explicou que eles poderiam tirar cópias para entregarem as suas mães, mas

estes não aceitaram. A docente, então seguiu orientando os alunos na escrita das poesias;

34 Exemplo do gênero textual acróstico.

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chamando a atenção para composição das palavras, da pauta sonora da língua. Ao concluírem

depositaram na caixa na qual estavam sendo armazenadas as poesias para concorrer ao

concurso.

Na terceira aula observada, a docente conversou com a turma sobre as estruturas

silábicas: CRA, CRE, CRI, CRO, CRU. Indicou algumas palavras que se iniciam com essas

sílabas, dando por exemplo as palavras: cravo, creme, crivo... em seguida, escreveu um

enunciado no quadro, o qual solicitava que os alunos completassem as palavras com as

seguintes estruturas silábicas: TRA, TRE, TRI, TRO TRU...

Os alunos começaram a realizar a tarefa; alguns tiravam dúvidas com a professora em

relação a escrita de algumas palavras. Após a realização da atividade pelos alunos, a professora

foi até o quadro realizou correções. Ela foi perguntando aos alunos como eles realizaram a

atividade e foi registrando no quadro.

Posteriormente, a professora escreveu um trava-língua no quadro e algumas questões

relacionadas ao texto. As questões consistiam em dizer a quantidade de palavras do trava-

língua; quantas vezes as palavras se repetiam dentro dele... os alunos demostraram dificuldades

em encontrar as palavras no trava-língua. Então, a docente foi até o quadro e realizou a leitura

do mesmo e foi questionando a turma sobre as respostas da atividade que havia solicitado. Com

a ajuda dela os alunos realizaram a atividade.

Na última aula observada, a docente iniciou explicando que iriam realizar uma atividade

sobre o uso da consoante “G” em nomes de pessoas, animais e objetos. Assim, distribuiu uma

atividade na qual os alunos deveriam categorizar num quadro de palavras iniciadas com a letra

“G” de acordo com as três categorias apresentadas pela docente: animais, objetos e pessoas. Os

alunos tentaram ler as palavras para então categorizá-las. No entanto, sentiram dificuldades e a

docente insistiu que tentassem ler sozinhos.

Após a tentativa dos alunos, a professora foi a frente e escreveu no quadro as palavras

para cada categoria, questionando a turma sobre qual palavra cabia em cada categoria. Os

alunos, ainda com dificuldades em ler as palavras para dizer a qual categoria pertencia, tentaram

e responderam. A professora os elogiou pela tentativa de leitura e ressaltou a importância de

eles construírem autonomia e segurança no processo de leitura.

Ao analisarmos a conduta pedagógica das docentes da escola 1 com suas respectivas

falas sobre os conceitos de alfabetização e letramento, vemos que em termos práticos, suas

condutas se aproximam do que é alfabetizar na perspectiva do letramento, isto é, desenvolver a

alfabetização a partir das práticas em que os alfabetizandos sejam de fato agentes de intervenção

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por meio da escrita. No entanto, em termos conceituais, observamos que esses conceitos se

misturam e se confundem. Vejamos a fala da docente Esperança: “Alfabetização é essa inserção

no mundo letrado, mesmo sem você decodificar, decifrar as palavras, mas você já tem uma

visão de mundo...”. Ora, o conceito de alfabetização não só está associado, como também

justaposto ao conceito de letramento para essa docente.

Em relação a segunda docente vemos em sua fala sobre o conceito de alfabetização: “Eu

acho que a alfabetização é esse processo mesmo de apropriação do código, né?... seriam os

códigos, a gente saber codificar e decodificar nesse sistema, nesse sistema alfabético da língua

portuguesa...” e em relação ao conceito de letramento ela nos diz: “[...]alfabetizar na perspectiva

do letramento não é só isso... é preciso ter uma leitura que não seja só de código e sim uma

leitura textual, uma leitura de mundo, uma interpretação daquele mundo que tá expresso num

texto...”

Observamos que em termos conceituais, a segunda docente desse grupo realiza uma

distinção dos conceitos, ao menos em termos de definição. No entanto, sua compreensão do

letramento se faz em torno do ato de compreensão do que se lê, isto é, para ela o letramento se

refere a interpretação textual, “do mundo que tá expresso num texto”. E sabemos que, na

definição dos autores acadêmicos que tratam do letramento, esse se refere aos usos reais da

língua. Letrar é habilitar para práticas sociais de uso da escrita e da leitura.

Na escola 2, temos algumas nuances quanto a compreensão da alfabetização. Dentro do

mesmo grupo duas representações distintas acerca do mesmo objeto. Para a docente Libertação,

a alfabetização refere-se ao desenvolvimento “da vida leitora...” e o letramento “é a parte que

você já consegue ler”. Para a segunda docente, a alfabetização é o desenvolvimento “[...] das

habilidades da leitura e da escrita”. E o letramento diz respeito “aos usos dessas habilidades”.

As falas que conceituam o objeto da representação, aliada as observações feitas das

práticas de alfabetização desses grupos, nos leva a compreensão das distintas representações

sociais elaboradas por estes grupos e consequentemente as diferentes condutas adotadas diante

do objeto – a alfabetização.

Nessa conjuntura, adentremos no processo do ato representacional do grupo, elencando

as constituintes de suas representações sociais sobre o objeto da alfabetização. Como toda

representação social está inscrita num contexto histórico e social, e conforme salienta Melo

(2014, p. 271):

a representação social é elaborada pela atividade simbólica e psicossocial do indivíduo

enquanto ser social que, assim, apreende seu ambiente. Portanto, só pode ser

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compreendida se também for compreendido o contexto histórico no qual é produzida.

É processo e produto da relação entre a atividade mental e a práxis social.

Desvelemos, portanto, em que contexto histórico o objeto da representação aqui tratado

foi sendo constituindo e como os sujeitos se apropriaram dele.

Do ponto de vista histórico, a alfabetização teve dois momentos: um de vulgarização do

saber, no qual sua compreensão estava disseminada no entendimento social de que ela consistia

basicamente na divisão entre pessoas alfabetizadas e pessoas analfabetas. E ainda que, para

alfabetizar bastava ser alfabetizado, ou seja, saber ler e escrever. A alfabetização cumpria então,

uma função mecânica de domínio dos códigos escritos. O outro momento da alfabetização é o

de sua inserção no mundo acadêmico; agora esse objeto de conhecimento está inscrito num

universo em que nem todos são autorizados a conceitua-lo. É necessário ter os conhecimentos

científicos em relação a ele para então denominá-lo.

De um lado, temos uma compreensão da alfabetização que a reduz a uma técnica de

saber codificar e decodificar; que não precisa de formação para exercer o ensino dessa

aprendizagem e que esse é um conhecimento restrito a uma classe social, que excluía os pobres

e ainda, estava inscrito no universo consensual, isto é, todos eram autorizados a falar sobre esse

objeto de conhecimento. Por outro lado, temos uma reformulação desse conceito de

alfabetização; no momento em que ele se insere no universo reificado, no mundo cientifico,

exige dos sujeitos um outro entendimento. Agora a alfabetização envolve um conceito

complexo e demanda formação específica em seu ato de ensino.

Por estar imersa numa história e por ter sua própria historicidade, a alfabetização,

enquanto prática e conceito foi sendo ao longo das décadas constituída pelos elementos da

cultura, da política, da economia e do social. Na sociedade brasileira, esses elementos

interferiram de forma significativa na constituição desse objeto. Em sentido político, a

alfabetização foi tratada como forma de manutenção de uma ordem social; a sociedade era

dividida entre analfabetos – pobres – e alfabetizados (letrados) – ricos e poderosos. Os

analfabetos eram impedidos de participar da vida política, nas decisões eleitorais somente os

que detinham os conhecimentos da leitura e da escrita eram considerados aptos a decidirem os

rumos políticos do país. O que acarretava um ato profundo de injustiça contra as classes

populares. Em sentido cultural, criou-se uma “bolha” que separava os que detinham os

conhecimentos da alfabetização e os que não detinham. A cultura que se diversificava, também,

por meio da escrita, dizia o lugar de cada um, pois em muitos espaços de produção de bens

culturais, como os teatros, as academias, não eram habitados pelos sujeitos não alfabetizados.

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Uma imposição sutil da “cultura letrada” que cooptava para as classes dominantes o poder

unívoco de participar e produzir os bens culturais socialmente privilegiados. No aspecto da

economia, os grupos sociais não alfabetizados – que era a maioria em número – eram

submetidos aos trabalhos subalternos e exploratórios, no intuito de manter uma ordem

econômica de base agrária. No plano econômico, os conhecimentos da alfabetização não eram

necessários a essa grande parcela da população, os quais eram mantenedores do sistema

econômico desigual do país, por meio de sua força de trabalho. Assim no plano social, ter e não

ter os conhecimentos da alfabetização implicava em saber o lugar social dos sujeitos: lugar de

ocupação na cultura e nas práticas sociais e não lugar nessa cultura de participação da vida

nacional como um todo.

Após serem encarados como a “mazela” econômica do país, por ser a causa, e não a

consequência, do atraso econômico, a alfabetização passa a ser prioridade política no Brasil. E

começa-se a pensar na alfabetização das classes populares. Entretanto, as bases do país ainda

eram elitistas e não se tinha uma cultura de educação dessas classes, o que ocasionou em

processos interrompidos no âmbito da alfabetização de adultos. Com a efetivação do direito a

educação para todos, previsto na Constituição Federal do país (1988) é que novos

redirecionamentos são pensados, tanto nacional quanto internacionalmente. Isso implicou em

pensar a alfabetização em sentido político, como forma de resgate de um direito. Dessa forma,

a alfabetização engloba um novo conceito, pois está sendo reformulada na esfera acadêmica,

por estudiosos que se dedicaram a conceitua-la e reconfigurá-la. Os novos estudos da

alfabetização que começou a se instalar no cenário educacional brasileiro na década de 80, traz

profundos impactos na maneira de se pensar a alfabetização, bem como de realizá-la.

No Brasil, a inauguração do novo conceito de alfabetização provoca instabilidades nas

maneiras dos docentes conceber e desenvolver a alfabetização, pois suas representações e

práticas sobre este objeto estavam, predominantemente, ancoradas em suas trajetórias de

alfabetização, já que não se havia uma preocupação específica com a formação de

alfabetizadores. E essas trajetórias de alfabetização eram exercidas sob as premissas de um

domínio mecânico de leitura e escrita.

Portanto, a transição do conceito de alfabetização do universo reificado para o universo

consensual provoca desequilíbrio nas categorias de simbolização dos sujeitos, pois conceituar

a alfabetização a partir das premissas do conhecimento comum, do saber popular não é mais

aceito, posto que esse objeto de conhecimento possui uma nova elaboração, feita no âmbito

científico. Dessa forma, o processo de elaboração da representação social é constituído pelas

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crenças, pelas ideias, informações, opiniões, pelos valores da cultura, da política, da afetividade

e da vida social como um todo (JODELET, 2001). Esses aspectos se cruzam e se misturam o

tempo todo, contribuindo para a construção da representação social.

Assim, no processo de elaboração da representação social sobre alfabetização deste

grupo, os elementos que ancoram suas representações transitam entre os universos consensuais

e reificados, e, estão imbricados com os aspectos das experiências subjetivas, das informações

do campo acadêmico (formação inicial docente), das experiências com os jovens e adultos no

campo educacional, bem como pelos aspectos da conjuntura social como um todo. Esse

processamento da representação social não se encontra totalmente elaborado, haja vista a

natureza do objeto da representação que “[...] está inscrito num contexto ativo, movediço, pois

é parcialmente concebido pela pessoa ou pela coletividade como prolongamento de seu

comportamento e, para eles, só existe como função dos meios e dos métodos que permitem

conhece-lo”. (MOSCOVICI, 2012, p.45).

A definição da representação depende da relação do autor dessa elaboração com esse

objeto de conhecimento, que nem é só produto dessa elaboração, nem produtor independente.

Sujeito e objeto de representação social encontram-se intimamente relacionados, pois a

representação social é sempre representação de alguma coisa (objeto) e de alguém (sujeito),

sendo estes indissociáveis. (JODELET, 2001).

Como o processo de elaboração da representação não se finda em si mesmo, as

representações sociais encontram-se em forma de uma imagem turva, o que é perceptível nas

condutas em que se manifestam essas representações. Nesse sentido, o novo pode ainda não

está totalmente acomodado, o que gera contrastes nas representações, tanto em suas

significações, quanto em seus desdobramentos nas condutas. É trabalho do ato representacional

“[...]atenuar essas estranhezas... introduzi-las no espaço comum, provocando o encontro de

visões, de expressões separadas e díspares que, num sentido, se procuram” (MOSCOVICI,

2012, p.56).

Assim, o comportamento será moldado a partir das relações que tecem essa

representação, que estão tensionados pelas relações sociais. Se por um lado, há exigências do

novo modelo de alfabetização nos contextos educacionais, de que se assumam posturas críticas

frente a prática de alfabetizar na Educação de Jovens e Adultos, por outro lado, não há

familiarização suficiente com o objeto para que permita uma postura condizente com a real

compreensão dessa prática.

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Destarte, o sujeito que tece essa representação coloca-se numa ambivalência entre os

seus conhecimentos subjetivos dessa prática de alfabetizar jovens e adultos, que estão ligados

às suas trajetórias pessoais e sociais com esse objeto, e, os conhecimentos do universo

acadêmico que postula uma maneira, não semelhante às trajetórias dos docentes, de alfabetizar

jovens e adultos.

O novo – a representação do objeto de alfabetização e do letramento – é ainda marcado

por contradições que se manifestam nas condutas, no interior delas, naquilo que não se diz, mas

que se é possível observar. Nesse aspecto, a representação social enquanto modalidade de

conhecimento socialmente elaborada e partilhada, só será consolidada quando os sujeitos da

representação alargarem suas experiências com o objeto da alfabetização que, realizada nos

contextos educacionais será partilhada e nesse mesmo contexto forjada a se configurar nos

sistemas simbólicos das alfabetizadoras, uma vez que todo conhecimento se efetiva de forma

relacional, nas interações sociais.

Portanto, as representações sociais sobre alfabetização cumprem, para cada grupo,

funções distintas e conduzem diferentemente os comportamentos. Não há, contudo, uma

representação comum entre os grupos sendo partilhada.

Para o grupo 1, as representações sociais cumprem as funções de: 1. Saber, ao

possibilitar a integração do objeto da representação aos sistemas de conhecimentos dos sujeitos,

tornando-o familiar; 2. Função de Orientação, pois norteiam o direcionamento da conduta

pedagógica, embora a face figurativa da representação não se reverbere em sua essência, ela

tende a unidade de comportamento desse grupo e; 3. Função de Justificação das condutas

adotadas a partir da representação social do objeto. A face figurativa do sentido da

alfabetização, isto é, a imagem, a concretude do que é representado – a alfabetização – enquanto

conceito, não se encontra claramente definida. É como uma imagem turva, ou como se esse

comportamento – as práticas de alfabetização na perspectiva do letramento – estivessem em

elaboração, em transição de um universo ao outro. Sendo possível nesse grupo captar com mais

nitidez essas condutas, pois ele está mais fortemente enraizado nos elementos comuns que

compõem a sua representação, o fortalecendo enquanto grupo social e gerando unidade de

sentidos e comportamentos.

No segundo grupo, as representações sociais cumprem, parcialmente, as funções de 1.

Saber, tendo em vista que o objeto da representação já faz parte do quadro de referências de

uma participante, tornando possível sua compreensão e explicação. E 2. Função Justificadora,

uma vez que permite justificar as condutas adotadas frente ao objeto da representação social.

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Uma outra função aparece na conduta pedagógica de uma participante do estudo; é a função de

Orientação, cujos elementos foram perceptíveis durante as observações das práticas de

alfabetização, que tendiam a incorporação da real compreensão do que é alfabetizar no sentido

crítico, de proporcionar vivências reais com a leitura e a escrita. Contudo, essa é uma função

em transição, por ora se aproximar da compreensão do objeto da alfabetização, ora se distanciar

nas práticas em que se alfabetiza.

Notadamente, o objeto de representação social – a alfabetização – foi parcialmente

concebido pelos grupos, pois ainda não se objetiva efetivamente nas condutas alfabetizadoras.

Há variações e contrastes entre os grupos e dentro de cada grupo, caracterizando assim, a

natureza complexa da representação social que, ao inscrever o objeto da representação no

social, ativa sua dinâmica nas relações sociais, evidenciando a complexidade que se estabelece

no humano, na sua interface social e individual. Assim, o indivíduo que representa, não

representa sozinho, pois traz as marcas de seu grupo, mas ao mesmo tempo demostra suas

subjetividades no ato representacional, conforme visto nos contrastes das representações dos

grupos desta pesquisa.

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Chegamos às reflexões finais, não no sentido do caráter conclusivo do estudo, mas como

uma possibilidade de encaminhamentos sobre as interpretações dadas, as questões não

respondidas e as possíveis contribuições acadêmicas e sociais desse trabalho. Assim, nossa

tarefa encerra-se por arrematar os elementos que ora constituíram a nossa pesquisa.

Em face do nosso objeto de estudo: as representações sociais sobre alfabetização de

professores da EJA, a TRS possibilitou apreendermos o conteúdo da representação não somente

por meio daquilo que as participantes do estudo expressaram com palavras, mas também por

meio de todas as formas de linguagens as quais recorriam para expressar suas representações.

Constatamos distintas representações entre os grupos e dentro deles mesmos. Essas

diferenças no ato representacional, estão ligadas a todos os fatores que constituem a elaboração

das representações sociais e que se distinguem de grupo para grupo. Compreender a natureza

da teoria a qual nos propomos a estudar foi essencial para analisarmos as diferentes

representações acerca do nosso objeto de estudo.

A natureza da Teoria da Representação Social nos levou a compreender que toda

elaboração representacional é realizada por sujeitos que não são só produtos de determinações

sociais, nem produtores independentes. São elaboradores de conhecimento a partir de seus

referentes, os quais se encontram na interface psíquica e social, isto é, tem caráter social e

individual simultaneamente.

Dessa forma, compreendemos nesse estudo que as representações as quais nossas

participantes apresentaram, não são estáticas, nem tampouco encerram-se suas significações

com a conclusão dessa pesquisa. Aqui apreendemos representações que foram construídas com

base nos referentes de nossos sujeitos em um dado momento social e histórico. Tais

representações estão inseridas em contexto movediço e dinâmico, o qual forjará suas

ressignificações conforme a familiarização com o objeto em questão: a alfabetização de jovens

e adultos.

Como apresentado no curso do trabalho, as participantes da pesquisa apresentaram

diferentes significações acerca da alfabetização de jovens e adultos. Na escola 1, as

participantes tenderam a uma unificação da representação sobre o objeto. Já as participantes da

escola 2 distinguiram-se entre si em suas significações. Essas nuances são características da

representação social, uma vez que toda elaboração é permeada pelas marcas subjetivas dos

indivíduos. Embora o grupo tenha os mesmos referentes para a construção da representação,

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112

podem significar de maneiras distintas, pois processam e materializam os objetos de

conhecimento distintamente.

Analisamos os referentes para a elaboração da representação para os dois grupos e

verificamos que quando mudavam alguns referentes também mudavam as significações

atribuídas ao fenômeno da alfabetização. Portanto, as docentes com formação inicial nos cursos

de pedagogia, em instituições públicas de ensino, bem como com maior tempo de atuação na

Educação de Jovens e Adultos, representaram mais fortemente a alfabetização no universo

reificado, ou seja, aproximavam-se mais do que é proposto nas discussões acadêmicas sobre

alfabetização de jovens e adultos.

Em relação as participantes da escola 2, houve maior discrepância nas representações.

Quando verificados os referentes das docentes da segunda escola, vimos que as formações

iniciais, as instituições nas quais se formaram e o tempo de atuação na educação de adultos,

contribuíram significativamente para tais diferenças e consequentemente para a não unificação

desse grupo. A representação apresentada pelas docentes da escola 2 mostra-se hibrida por

apresentar elementos do universo reificado e ao mesmo tempo elementos do universo

consensual, como vimos nas observações feitas de uma das docentes da segunda instituição da

pesquisa. Caracterizamos assim, a representação como hibrida, por essa trazer marcas do

discurso que circula socialmente sobre o fenômeno da alfabetização, e em contrapartida, a

discussão sobre alfabetização inscrita no universo acadêmico.

Para a composição da representação também contribui o contexto social e histórico que

envolve o fenômeno da alfabetização de adultos. Como toda representação social tem uma

historicidade, conforme afirmou o próprio Moscovici, o fenômeno que estudamos também pode

ser explicado a partir da sua história. História essa atravessada pela secundarização do direito à

educação aos jovens e adultos, bem como pela não politica de formação de educadores da EJA.

Uma história marcada pelo reconhecimento tardio de um direito e, ainda, pela não cultura do

direito à educação de adultos. Todas essas implicações delineiam o entendimento atual da

alfabetização para o público da modalidade EJA.

Contudo, todos estes elementos constitutivos das representações sociais nos levam a

crer que seu caráter não estático pode ser transformável, partindo da compreensão de que toda

representação é construída e partilhada socialmente, caberá às instituições formadoras de

docentes que atuarão na educação de jovens e adultos, repensar seus currículos para atender as

demandas formativas dos educadores que terão repercussões nas vidas dos jovens e adultos.

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113

Assim, consideramos como implicação social da pesquisa os apontamentos que fazemos

para que as instituições formadoras repensem o modelo que tem ofertado, principalmente no

que diz respeito a formação de professores que atuarão na modalidade EJA. É preciso encarar

como prioridade a formação desses docentes e dar a devida atenção para a dimensão da

alfabetização de jovens e adultos, haja vista as demandas específicas dessa modalidade,

conforme já discutido no trabalho.

Em relação a formação inicial, os cursos de pedagogia necessitam estar atentos para o

currículo adotado; se levam em consideração as discussões sobre a EJA e quais dimensões

incluem; se abordam a dimensão da alfabetização para jovens e adultos e idosos e em quais

perspectivas. Se estas perspectivas incluem os estudos acerca dos processos de aprendizagem

do público da EJA, bem como se estão dando a importância devida a essa modalidade,

colocando-a não só como componente curricular obrigatório, mas também como exigência do

curso o cumprimento desse componente no estágio supervisionado.

No que diz respeito a formação continuada, como é caso das participantes desse estudo,

cabe aos órgãos de ensino básico da rede pública, buscar parcerias com as universidades no

intuito de promover essa formação. Tal formação pode ser pensada no sentido teórico e prático,

aliando a atualização/reconfiguração das representações sobre alfabetização com as práticas

efetivadas pelos docentes em turmas de alfabetização.

A continuação da formação de professores alfabetizadores da EJA precisa levar em

conta os conhecimentos que estes possuem acerca dessa prática e levá-los a refletir sobre ela,

com o objetivo de potencializá-la.

Considerando a realidade atual da conjuntura da alfabetização na EJA, que tem sido

quase que exclusivamente promovida pelas redes municipais de ensino básico, sugerimos à

Secretaria de Educação do Natal que organize propostas de formação continuada para aqueles

que atuam na alfabetização de adultos, uma vez que a presente pesquisa constatou essa

necessidade de formação, para assim promover e assegurar efetivamente a aprendizagem dos

estudantes dessa rede de ensino.

Como implicação teórica, destacamos a contribuição da Teoria das Representações

Sociais por nos permitir desvelar o processo de elaboração das significações construídas em

torno dos objetos e por ser social é igualmente passível de mudança, o que nos leva a repensar

os currículos que tem sido ministrados nas instituições formadoras, sendo essas capazes de

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reconfigurar as representações em tela, haja vista a relevância social que elas possuem no seio

social, no que se refere a constituição dos perfis docentes.

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APÊNDICES

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Apêndice A – Questões Norteadoras da Entrevista com as Docentes

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE EDUCAÇÃO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO – PPGED

QUESTÕES PARA ENTREVISTA COM OS PROFESSORES

1 Para você o que é alfabetização?

2 Para você o que é letramento?

3 Você articula alfabetização e letramento? De que forma?

4 Quais as dificuldades que você encontra para alfabetizar na EJA?

5 Quais conhecimentos/competências você considera que um professor da EJA deve ter para

alfabetizar jovens e adultos?

6 Para você, o que é a EJA?

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Apêndice B – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE EDUCAÇÃO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO – PPGED

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO DA PESQUISA:

ALFABETIZAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE

PROFESSORES DA EJA

Este é um convite para você participar da pesquisa intitulada: Alfabetização de Jovens e

Adultos: representações sociais de professores da EJA que tem como pesquisadora responsável

a mestranda Jéssica Lira da Silva, vinculada ao Programa de Pós-Graduação em Educação da

Universidade Federal do Rio Grande do Norte, orientada pela professora Drª. Erika dos Reis

Gusmão Andrade. Esta pesquisa pretende conhecer/analisar as representações dos professores

da EJA acerca da alfabetização.

A finalidade deste estudo é aprofundar conhecimento na área de formação de

professores que atuam na modalidade de ensino da Educação de Jovens e Adultos, em turmas

de alfabetização, bem como contribuir para o campo de estudos acadêmicos e de relevância

social a partir dos resultados apresentados.

Caso você decida participar, serão aplicados os seguintes instrumentos de construção de

dados: a) entrevista semi-estruturada b) questionário c) observação não participativa. O

questionário objetiva levantar o perfil dos docentes que atuam na EJA, contendo perguntas de

resposta pessoal. O tempo estimado para sua aplicação é de 20 minutos. A entrevista será

registrada por gravação de voz, após sua autorização. As informações prestadas serão transcritas

e você terá acesso às mesmas. As observações em sala de aula, do tipo não participativa, serão

realizadas em dias e horários combinados previamente entre pesquisadora e pesquisado.

Durante a aplicação dos instrumentos da pesquisa: questionário, entrevista semi-

estruturada e observação, a previsão de riscos é mínima. Caso o participante sinta-se afetado

haverá ressarcimento das informações prestadas e a possibilidade de não autorização de utilizar

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122

os dados coletados. Ao participar desta pesquisa você contribuirá para o avanço das ciências

humanas possibilitando às instituições acadêmicas reavaliar o currículo da formação de

professores, bem como contribuirá para a reflexão acerca das representações que guiam as

práticas de alfabetizar dos professores que atuam na modalidade EJA.

Em caso de algum problema que você possa ter relacionado com a pesquisa, você terá

direito a assistência gratuita que será prestada da maneira que lhe for conveniente, sob a

responsabilidade da pesquisadora (Jéssica Lira da Silva).

Durante todo o período da pesquisa você poderá tirar suas dúvidas ligando para: Jéssica

Lira da Silva, telefone: XXXXXXXXXXX, e-mail: XXXXXXXXXXXXXXXXX.

Você tem o direito de se recusar a participar ou retirar seu consentimento, em qualquer

fase da pesquisa, sem nenhum prejuízo para você.

Os dados que você irá nos fornecer serão confidenciais e serão divulgados apenas em

congressos ou publicações científicas, não havendo divulgação de nenhum dado que possa lhe

identificar.

Esses dados serão guardados pelo pesquisador responsável por essa pesquisa em local

seguro e por um período de 5 anos.

______________________________ (rubrica doParticipante)

________________________(rubrica do Pesquisador)

Se você tiver algum gasto pela sua participação nessa pesquisa, ele será assumido pelo

pesquisador e reembolsado para você.

Se você sofrer algum dano comprovadamente decorrente desta pesquisa, você será

indenizado.

Qualquer dúvida sobre a ética dessa pesquisa você deverá ligar para o Comitê de Ética

em Pesquisa da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, telefone 3215-3135.

Observação: Este documento foi impresso em duas vias. Uma ficará com você e a outra com

a pesquisadora responsável (Jéssica Lira da Silva).

Consentimento Livre e Esclarecido

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123

Impressão datiloscópica do

participante

Após ter sido esclarecido sobre os objetivos, importância e o modo como os dados

serão coletados nessa pesquisa, além de conhecer os riscos, desconfortos e benefícios que ela

trará para mim e ter ficado ciente de todos os meus direitos, concordo em participar da

pesquisa ALFABETIZAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: REPRESENTAÇÕES

SOCIAIS DE PROFESSORES DA EJA

e autorizo a divulgação das informações por mim fornecidas em congressos e/ou publicações

científicas desde que nenhum dado possa me identificar.

Natal, __________________________________________________

Assinatura do participante da pesquisa

Declaração do pesquisador responsável

Como pesquisador responsável pelo estudo intitulado ALFABETIZAÇÃO DE JOVENS E

ADULTOS: REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE PROFESSORES DA EJA

declaro que assumo a inteira responsabilidade de cumprir fielmente os procedimentos

metodologicamente e direitos que foram esclarecidos e assegurados ao participante desse

estudo, assim como manter sigilo e confidencialidade sobre a identidade do mesmo.

Declaro ainda estar ciente que na inobservância do compromisso ora assumido estarei

infringindo as normas e diretrizes propostas pela Resolução 466/12 do Conselho Nacional de

Saúde – CNS, que regulamenta as pesquisas envolvendo o ser humano.

Natal, ______________________________________

Assinatura do pesquisador responsável

Assinatura da orientadora responsável pela pesquisa

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Apêndice C – Questionário Aplicado às Participantes do Estudo

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE EDUCAÇÃO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO – PPGED

Prezado (a) Professor (a),

Para sistematização da pesquisa de mestrado, intitulada: Alfabetização de Jovens e

Adultos: representações sociais de professores da EJA, precisamos de sua colaboração,

respondendo o presente questionário.

Sua participação será de grande importância, pois nos dará os subsídios necessários para

a realização dessa pesquisa. Informamos que serão preservados os nomes dos entrevistados,

sendo usado pseudônimos. Sua contribuição fará a ciência avançar nessa área de conhecimento,

desde já agradecemos.

QUESTIONÁRIO PARA PROFESSORES:

1-Nome Completo: _____________________________________________________

1.1 Idade: _________________

1.2 Gênero:

( ) Feminino ( ) Masculino ( ) Outro

2 - Sua Formação Acadêmica foi em:

( ) Instituição Privada

( ) Instituição Pública Federal

( ) Instituição Pública Estadual

2.1-Nome da instituição em que se formou: _________________________________

3 - Nível de formação/área:

( ) Graduação __________________________________________________________

( ) Especialização _______________________________________________________

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( ) Mestrado ___________________________________________________________

( ) Doutorado__________________________________________________________

4 - Ano de conclusão do curso: ____________________________

5–Participa/participou de algum curso de formação continuada?

( ) Sim ( ) Não

5.1 - Se sim, que Curso?__________________________________________________

6 - Há quanto tempo leciona nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental?

( ) De 1 a 5 anos

( ) De 5 a 10 anos

( ) De 10 a 15 anos

( ) De 15 a 20 anos

7 – Quanto tempo tem de profissão? E na Educação de Jovens e Adultos?

__________________ / NA EJA _________________

8- Quantos anos faz que leciona na escola atual? ___________________