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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO SERIDÓ DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA CURSO DE BACHARELADO EM GEOGRAFIA ROBENILDO JOSÉ DA COSTA MOURA OS USOS DO TERRITÓRIO PELOS AGENTES DOS CIRCUITOS DA ECONOMIA URBANA EM ACARI (RN) NA ATUALIDADE CAICÓ-RN 2016

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Page 1: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · Por mais que a vida tenha nos distanciado, ... Se Deus é por nós, quem será contra nós? ... o qual está à direita de Deus,

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO SERIDÓ

DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA

CURSO DE BACHARELADO EM GEOGRAFIA

ROBENILDO JOSÉ DA COSTA MOURA

OS USOS DO TERRITÓRIO PELOS AGENTES DOS CIRCUITOS

DA ECONOMIA URBANA EM ACARI (RN) NA ATUALIDADE

CAICÓ-RN

2016

Page 2: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · Por mais que a vida tenha nos distanciado, ... Se Deus é por nós, quem será contra nós? ... o qual está à direita de Deus,

ROBENILDO JOSÉ DA COSTA MOURA

OS USOS DO TERRITÓRIO PELOS AGENTES DOS CIRCUITOS

DA ECONOMIA URBANA EM ACARI (RN) NA ATUALIDADE

Monografia apresentada ao Curso de

Bacharelado em Geografia do CERES,

como requisito para a obtenção do título de

Bacharel em Geografia.

Orientador: Prof. Dr. Diego Salomão

Candido de Oliveira Salvador.

CAICÓ-RN

2016

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Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

Sistema de Bibliotecas - SISBI

Catalogação de Publicação na Fonte.

UFRN - Biblioteca Setorial do Centro de Ensino Superior do Seridó - CERES Caicó

Moura, Robenildo José da Costa.

Os usos do território pelos agentes dos circuitos da

economia urbana em Acari (RN) na atualidade / Robenildo José

da Costa Moura. - Caicó: UFRN, 2016.

139f.: il.

Orientador: Dr. Diego Salomão Candido de Oliveira

Salvador.

Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

Centro de Ensino Superior do Seridó - Campus Caicó.

Departamento de Geografia.

Monografia - Bacharelado em Geografia.

1. Circuitos da economia urbana. 2. Usos do território. 3.

Acari. I. Salvador, Diego Salomão Candido de Oliveira. II.

Título.

RN/UF/BS-CAICÓ CDU 911.374.1(813.2)

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO SERIDÓ

DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA

CURSO DE BACHARELADO EM GEOGRAFIA

Autor: Robenildo José da Costa Moura

OS USOS DO TERRITÓRIO PELOS AGENTES DOS CIRCUITOS

DA ECONOMIA URBANA EM ACARI (RN) NA ATUALIDADE

Orientador: Prof. Dr. Diego Salomão Candido de Oliveira Salvador

Aprovada em 14/12/2016

EXAMINADORES:

Prof. Dr. Diego Salomão C. O. Salvador – Orientador __________________________

Prof. Dr. João Manoel de Vasconcelos Filho – UFRN __________________________

Profa. Ms. Isabel Cristina dos Santos – UFRN __________________________

Caicó (RN), 14 de dezembro de 2016.

Page 5: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · Por mais que a vida tenha nos distanciado, ... Se Deus é por nós, quem será contra nós? ... o qual está à direita de Deus,

Dedico este trabalho a meu avô paterno, José Lopes de Moura (Duca) (in memoriam) por

ter me ajudado nas horas que mais precisei.

A meu irmão materno, Jonathan Santana (in memoriam) que partiu repentinamente.

À minha avó paterna, Joaquina Gomes, por ter me educado bem durante minha infância.

Ao meu pai, Roberto José de Moura, por ter me proporcionado chegar até aqui.

E à minha esposa, Itamara Dayane de S. Silva, pelo companheirismo, amor, carinho, afeto,

ajuda, entre outros, por em todos os momentos de nossas vidas, bons ou ruins, estamos

sempre firmes e fortes.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, responsável pela minha confiança no futuro e por

tudo de positivo e grandioso que tenho sido capaz de realizar nessa existência: pela saúde,

pela força, proteção, inteligências e por não ter me deixado desaminar, mesmo estando

cansado. Obrigado meu Deus!

Agradeço ao meu pai, Roberto José de Moura, pelo acesso à educação e pela ética

em que tento pautar meus sentimentos de respeito e consciência da igualdade entre os

homens, independentemente de cor, raça ou credo.

À minha mãe, Dalcina Maria da C. Moura, responsável por eu existir. Por mais que

a vida tenha nos distanciado, eu sou grato a ti!

À minha avó paterna, Joaquina Gomes, pelas orações, pela educação que me deste

durante a minha infância.

Aos demais familiares, tios, tias, primos, primas, irmão e irmã que, de alguma

forma, contribuíram para eu chegar até aqui.

Ao meu avô paterno, José Lopes de Moura (Duca) (in memorian), que me ajudou

nos momentos mais difíceis da minha vida, sendo o “suporte” para eu atingir várias

conquistas na vida!

Ao meu irmão, Jonathan Santana, (in memorian), que Deus lhe conforte por toda a

eternidade.

À minha esposa, Itamara Dayane de S. Silva, pela paciência em compreender a

minha ausência durante essa longa caminhada, além de estar sempre ao meu lado, em todos

os momentos dessa trajetória acadêmica, assim como na vida. Essa conquista é nossa!

Para alcançar este objetivo, muitos amigos contribuíram e não teria como citá-los

literalmente. Todavia, destaco George, Alisson e Lucivan, amigos de seminários e de

trabalhos acadêmicos que me apoiaram sempre que precisei.

Aos meus amigos e companheiros da Policia Militar do Estado do Rio Grande do

Norte, em especial, aos do Destacamento de São José do Seridó (RN) – aos que lá estão

atualmente e a outros que estão lotados em outras cidades – homens honrados. Com eles

passei e passo por momentos bons e ruins no exercício da profissão. Com paciência, eles se

dispuseram durante toda a graduação a permutar serviço comigo, para que eu pudesse

cumprir com as atividades acadêmicas. Obrigado a todos. Força e Honra!

Page 7: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · Por mais que a vida tenha nos distanciado, ... Se Deus é por nós, quem será contra nós? ... o qual está à direita de Deus,

A todos os professores que me deram os subsídios necessários para eu chegar até

este momento, que não foram poucos, os quais me possibilitaram crescer pessoal e

intelectualmente.

Aos meus colegas de turma, com os quais tive a oportunidade de dividir momentos

bons e também momentos difíceis, que serão sempre lembrados.

Ao meu orientador, Professor Dr. Diego Salomão C. O. Salvador, por ser paciente,

pela atenção e pela ajuda dada quando precisei, assim como pelos conhecimentos e dicas

repassadas, os quais contribuíram para que eu pudesse realizar com sucesso este trabalho

de pesquisa.

À banca examinadora do trabalho, Professora Ms. Isabel Cristina dos Santos e o

Professor Dr. João Manoel de Vasconcelos Filho, pela contribuição ao trabalho.

Aos acarienses, que me auxiliaram direta ou indiretamente para a concretização

deste sonho.

À Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), pelo incentivo aos

estudos e, principalmente, por minha formação como profissional.

A todos aqueles que direta ou indiretamente contribuíram para este momento.

Meu eterno agradecimento!

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“Que diremos, pois, a estas coisas? Se Deus é por nós, quem será contra nós?

Aquele que nem mesmo a seu próprio Filho poupou, antes o entregou por todos

nós, como nos não dará também com ele todas as coisas? Quem intentará

acusação contra os escolhidos de Deus? É Deus quem os justifica. Quem é

que condena? Pois é Cristo quem morreu, ou antes quem ressuscitou

dentre os mortos, o qual está à direita de Deus, e também intercede por nós”.

(Romanos 8:31-34)

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OS USOS DO TERRITÓRIO PELOS AGENTES DOS CIRCUITOS

DA ECONOMIA URBANA EM ACARI (RN) NA ATUALIDADE

RESUMO

Estudamos a atual dinâmica da economia urbana de Acari (RN), cidade pequena do

Seridó Potiguar, que, no que se refere a sua funcionalidade, apresenta características de

centro local, por atender as necessidades básicas de sua população. Nas nossas análises,

consideramos a totalidade do território, lançando mão, para isso, da compreensão dos

diferentes e desiguais usos do território. Em Acari, sublinhamos o Bairro Centro, atentando

para a sua atual dinâmica socioeconômica, por meio da análise de dados quantitativos e

qualitativos. Destacamos o centro de Acari devido ao fato desse bairro concentrar a maior

densidade de fluxos de pessoas, mercadorias e capitais na cidade em questão, localizando,

assim, a maior complexidade das relações entre os circuitos da economia urbana. As

atividades desses circuitos se diferenciam, sobretudo, pelos seus níveis de capital,

organização e tecnologia, sendo que as atividades do circuito superior são caracterizadas

por altos níveis de capital e de tecnologia e por organização burocrática, ao contrário das

atividades do circuito inferior, cuja necessidade de capital e tecnologia em altos níveis não

é premente e a organização é mais criativa e pessoal do que burocrática. Em Acari, a

maioria das atividades econômicas urbanas tem características do circuito inferior,

atendendo, sobretudo, as demandas imediatas por consumo da população local. Desse

modo, considerando a interdependência dos circuitos da economia urbana, nos detemos

profundamente a análise das características relacionais e absolutas do circuito inferior da

economia urbana de Acari, refletindo, assim, sobre a situação de vida e de trabalho da

maioria dos trabalhadores da cidade como uma situação de pobreza estrutural. Concluímos

o trabalho considerando que a urbanização de Acari vem sendo fundamentada na expansão

da pobreza e na precarização do trabalho, tendo em vista a proeminência do circuito

inferior na economia urbana acariense.

PALAVRAS-CHAVE: Circuitos da economia urbana. Usos do território. Acari.

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LOS USOS DEL TERRITORIO POR LOS AGENTES DE LOS CIRCUITOS

DE LA ECONOMÍA URBANA EN ACARI (RN) EN LA ACTUALIDAD

RESUMEN

Se estudió la dinámica actual de la economía urbana de Acari (RN), pequeña ciudad

de Seridó Potiguar, que con respecto a su funcionalidad presenta características del centro

local por satisfacer las necesidades básicas de su población. En nuestro análisis,

consideramos a todo el territorio, con la comprensión del uso diferente y desigual del

territorio. En Acari, haciendo hincapié en el centro del barrio, se presta atención a su

dinámica socio-económica actual a través del análisis de datos cuantitativos y cualitativos.

Destacamos el centro de Acari porque en este barrio se concentra la mayor densidad de los

flujos de personas, mercancías y capital en la ciudad en cuestión, encontrando la mayor

complejidad de la relación entre circuitos económicos urbanos. Las actividades de estos

circuitos se diferencian principalmente por sus niveles de capital, organización y

tecnología y actividades de circuito superior se caracterizan por altos niveles de capital y

tecnología y de organización burocrática, a diferencia del circuito inferior, cuya necesidad

de capital y la tecnología en los niveles no es urgente y la organización es más creativo y

personal que la burocracia. En Acari, la mayoría de las actividades económicas urbanas

tienen características del circuito inferior, teniendo en cuenta, en particular, la demanda

inmediata de consumo de la población local. Así, teniendo en cuenta la interdependencia

de los circuitos de la economía urbana, consideramos las características relacionales y

absolutas del circuito de la economía urbana de Acari, reflejando sobre la vida y la

situación de trabajo de la mayoría de los empleados de la ciudad como una pobreza

estructural. Concluimos el trabajo mientras que la urbanización de Acari se basa en la

expansión de la pobreza y la precariedad laboral, habida cuenta de la importancia del

circuito bajo en la economía urbana de Acari.

PALABRAS CLAVE: Circuitos de la economía urbana. Usos del territorio. Acari.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................. 18

2 REFLEXÕES SOBRE A TEORIA DOS CIRCUITOS DA ECONOMIA URBANA DOS

PAÍSES SUBDESENVOLVIDOS E SOBRE OS USOS DO TERRITÓRIO POR AGENTES

SOCIAIS HEGEMÔNICOS E POR NÃO HEGEMÔNICOS .............................................. 27 2.1 A TEORIA DOS CIRCUITOS DA ECONOMIA URBANA DOS PAÍSES

SUBDESENVOLVIDOS ....................................................................................................... 27

2.2 USOS DO TERRITÓRIO URBANO ................................................................................. 35

2.3 USOS DO TERRITÓRIO URBANO POR AGENTES HEGEMÔNICOS E POR AGENTES

NÃO HEGEMÔNICOS .......................................................................................................... 39

3 ACARI: FORMAÇÃO TERRITORIAL E DINÂMICA DA ECONOMIA URBANA

ATUALMENTE ................................................................................................................... 46

3.1 FORMAÇÃO TERRITORIAL DO MUNICÍPIO E DA CIDADE DE ACARI ..................... 46

3.2 REESTRUTURAÇÃO DA ECONOMIA E URBANIZAÇÃO DE ACARI A PARTIR DA

SEGUNDA METADE DO SÉCULO XX ................................................................................ 60

3.3 ATUAL DINÂMICA SOCIOECONÔMICA DA CIDADE DE ACARI .............................. 74

3.4 ATUAL DINÂMICA ECONÔMICA DA CIDADE DE ACARI CONFORME AS

RELAÇÕES DOS CIRCUITOS DA ECONOMIA ................................................................... 85

4 A IMPORTÂNCIA DO CIRCUITO INFERIOR DA ECONOMIA URBANA PARA

ACARI, ESPECIFICAMENTE, PARA A DINÂMICA DO CENTRO DA CIDADE ........... 99 4.1 RECORTE DA ÁREA DE ESTUDO E ASPECTOS PARA SE COMPREENDER A

IMPORTÂNCIA DO CIRCUITO INFERIOR DA ECONOMIA URBANA .............................. 99

4.2 A IMPORTÂNCIA DO CIRCUITO INFERIOR PARA A OCUPAÇÃO DE

TRABALHADORES, PARA O CONSUMO DE OBJETOS MODERNOS E PARA A

REVELAÇÃO DA POBREZA ............................................................................................. 104

4.3 A IMPORTÂNCIA DO CIRCUITO INFERIOR PARA A REPRODUÇÃO AMPLIADA DO

SISTEMA ECONÔMICO VIGENTE, PARA A DINÂMICA TERRITORIAL URBANA DE

ACARI E PARA O TERRITÓRIO USADO COMO FATOR DE DESIGUALDADES,

ALTERNATIVAS E RESISTÊNCIAS .................................................................................. 111

5 CONCLUSÃO ................................................................................................................. 115

REFERÊNCIAS ................................................................................................................. 118

APÊNDICES ...................................................................................................................... 124

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Apêndice A: Material de pesquisa utilizado para inventariar os circuitos da economia urbana em

Acari (RN) ........................................................................................................................... 124

Apêndice B: Roteiros para entrevistar autoridades políticas de Acari. ...................................... 126

Apêndice C: Questionário aplicado com agentes do circuito inferior da cidade de Acari (RN) para

apreender as relações entre os circuitos da economia urbana e as características absolutas do

circuito inferior. ................................................................................................................... 131

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LISTA DE FOTOGRAFIAS

Fotografia 01: Acari – Igreja do Rosário, construída em 1840 ............................................. 50

Fotografia 02: Acari – Museu do Sertanejo .......................................................................... 52

Fotografia 03: Acari – Usina SANBRA ................................................................................ 53

Fotografia 04: Acari – Usina Nóbrega e Dantas .................................................................... 54

Fotografia 05: Acari – Construção do Açude Marechal Dutra, em 1958 .............................. 57

Fotografia 06: Acari – Vista aérea do centro da cidade, em 1961 ......................................... 59

Fotografia 07: Acari – Praça dos taxistas. Do lado direito está o Açougue Público e do lado

esquerdo o Mercado Público, em 1969 .................................................................................. 59

Fotografia 08: Acari – Área central da cidade com a Igreja do Rosário ao fundo, em 1950 .. 66

Fotografia 09: Acari – Visão panorâmica do centro da cidade, em 1972 ............................... 66

Fotografia 10: Acari – Feira livre ao lado do Mercado Público, em 1951 .............................. 67

Fotografia 11: Acari – Procissão de Nossa Senhora da Guia, na década de 1960 .................. 69

Fotografia 12: Acari – Procissão de Nossa Senhora da Guia, em 2015 .................................. 69

Fotografia 13: Acari – Rua Tomaz de Araújo, na década de 1970 ........................................ 70

Fotografia 14: Acari - Feira livre coberta, localizada na rua Dr. José Gonçalves de Medeiros,

Bairro Centro, em 2013 ........................................................................................................ 72

Fotografia 15: Acari – Unidade produtiva de vestimentas, em 2016 ..................................... 90

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LISTA DE MAPAS

Mapa 01: Acari – Localização do município no Rio Grande do Norte, Brasil ....................... 21

Mapa 02: Acari – Localização da zona urbana do município ................................................ 50

Mapa 03: Rio Grande do Norte – Áreas especiais de interesse turístico ................................ 84

Mapa 04: Acari – Recorte espacial do perímetro urbano, em 2016 ..................................... 100

Mapa 05: Acari – Recorte espacial do território urbano por bairros, em 2016 ................... 101

Mapa 06: Acari – Recorte espacial do Bairro Centro, em 2016........................................... 102

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LISTA DE QUADROS

Quadro 01: Variáveis que diferenciam os dois circuitos da economia urbana dos países

subdesenvolvidos .................................................................................................................. 31

Quadro 02: Acari – Atividades do circuito inferior com organização modernizada ............. 87

Quadro 03: Acari – Atividades da economia não hegemônica mais recorrentes no espaço

urbano, em 2016 ................................................................................................................... 94

Quadro 04: Acari – Atividades do circuito superior da economia urbana ............................ 95

Quadro 05: Acari – Atividades da economia hegemônica, afiliadas a redes comerciais ........ 96

Quadro 06: Acari - Número de atividades comerciais e de prestação de serviços, por circuitos

da economia urbana e por bairros, em 2016 ......................................................................... 97

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LISTA DE TABELAS

Tabela 01: Região do Seridó Potiguar – Número de beneficiadores de algodão existentes nos

municípios, em 1910 ............................................................................................................. 55

Tabela 02: Brasil – Municípios brasileiros por classes de tamanho da população, em 2010 .. 63

Tabela 03: Brasil – Municípios brasileiros por subclasses de tamanho da população, em 2010

............................................................................................................................................. 63

Tabela 04: Acari – Evolução da população urbana de 1950 a 2010 ....................................... 64

Tabela 05: Acari - Domicílios particulares ocupados e média demoradores em domicílios

particulares ocupados, entre 1991-2010 ................................................................................ 75

Tabela 06: Acari - Famílias residentes em domicílios particulares (unidades), por situação de

domicilio e classes de rendimento nominal mensal, em 2000 ................................................. 76

Tabela 07: Acari - Classes de rendimento nominal mensal domiciliar per capita dos domicílios

particulares permanentes, por situação de domicílio, em 2010 ............................................. 76

Tabela 08: Acari – Atividades econômicas formais segundo o ano de fundação, número de

empresas e as faixas de pessoal empregado, entre 2007-2010 ................................................ 82

Tabela 09: Acari – Pessoal ocupado total e assalariado, salário médio mensal e número de

empresas atuantes, em 2008 e 2013 ....................................................................................... 83

Tabela 10: Acari - Unidades locais, pessoal ocupado total e assalariado, salário médio mensal

e empresas atuantes, entre 2006 e 2014 ................................................................................. 86

Tabela 11: Acari – Composição do Produto Interno Bruto por setores econômicos, em 2013

............................................................................................................................................. 92

Tabela 12: Acari – Desemprego formal em julho de 2016 ................................................... 106

Tabela 13: Acari – Número de empresas criadas, entre 2009 e 2014 ................................... 109

Tabela 14: Acari – Número de Microempreendedores Individuais, de 2010 a 2015 ............ 109

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 01: Acari - Chefes de família por sexo da pessoa, em 2007 ....................................... 77

Gráfico 02: Acari – Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) entre 1991 e 2010 ............... 80

Gráfico 03: Rio Grande do Norte – Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) entre 1991 e

2010, especificados os índices pelas variáveis renda, saúde (longevidade) e educação ........... 80

Gráfico 04: Acari – Pessoas ocupadas por setores econômicos, entre 2007 e 2013 ................. 89

Gráfico 05: Acari – Produto Interno Bruto por setores econômicos. Valor adicionado em 2013

............................................................................................................................................. 92

Gráfico 06: Acari – Quantidade de atividades da economia não hegemônica por bairros, em

2016 ...................................................................................................................................... 93

Gráfico 07: Brasil – Evolução mensal do emprego formal no ramo do comércio varejista, de

julho de 2011 a julho de 2016.............................................................................................. 105

Gráfico 08: Rio Grande do Norte – Evolução do emprego formal, de 2015 a 2016 .............. 105

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LISTA DE SIGLAS

CAGED – Cadastro Geral de Empregados e Desempregados

CAPES - Coordenação de Aperfeiçoamento do Pessoal do Ensino Superior

CDL – Câmara de Dirigentes Lojistas de Acari

CERES – Centro Regional de Ensino Superior do Seridó

CNPJ – Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica

CNAE – Classificação Nacional de Atividades Econômicas

COSERN - Serviços Elétricos do Rio Grande do Norte

CRAS - Centro de Referência da Assistência Social

CTN - Código Tributário Nacional

DNOCS - Departamento Nacional de Obras Contra as Secas

FGTS – Fundo de Garantia do Tempo de Serviço

FMI – Fundo Monetário Internacional

FPM - Fundo de Participação dos Municípios

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IDEMA - Instituto de Desenvolvimento Econômico e Meio Ambiente do Rio Grande do

Norte

IDH - Índice de Desenvolvimento Humano

IFRN – Instituto Federal do Rio Grande do Norte 15

IOCS - Inspetoria de Obras Contra a Seca

MEI – Microempreendedor Individual

MTE – Ministério do Trabalho e Emprego

NIS - Número de Identificação Social

PIB – Produto Interno Bruto

POF - Pesquisa de Orçamentos Familiares

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RGB - Revista Brasileira de Geografia

RN – Rio Grande do Norte

SANBRA - Sociedade Algodoeira do Nordeste Brasileiro

SEBRAE – Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas

SIDRA – Sistema IBGE de Recuperação Automática

SENAC – Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial

SENAI – Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial

SIG – Sistema de Informações Geográficas

SIRGAS 2000 – Sistema de Referência Geocêntrico para as Américas

UFRN – Universidade Federal do Rio Grande do Norte

UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas

USP - Universidade de São Paulo

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18

1 INTRODUÇÃO

A urbanização do território brasileiro se adensa com o fim da Segunda Guerra

Mundial (1939-1945), período em que começou a ser implementada a modernização

econômica e tecnológica do território de acordo com as variáveis-chave do estágio atual da

internacionalização do capital, o qual pode ser denominado de Globalização. Nesse

contexto, nos países subdesenvolvidos, a referida modernização é a gênese de dois

circuitos da economia urbana: o circuito superior, caracterizado por atividades econômicas

com altos níveis de capital e de tecnologia e com organização burocrática; e o circuito

inferior, constituído por atividades que podem ser desenvolvidas sem a necessidade de

altos níveis de capital e de tecnologia e com organização mais criativa do que burocrática.

Tais circuitos formam a segmentada economia urbana dos países subdesenvolvidos, a qual

é determinada e comandada pelos agentes hegemônicos do circuito superior.

A teoria dos circuitos da economia urbana dos países subdesenvolvidos foi

desenvolvida e publicada por Milton Santos na década de 1970, apresentando-se como um

arcabouço teórico-metodológico que alicerça o estudo da segmentada, porém, não dual,

economia das cidades dos referidos países. De acordo com essa teoria, as cidades dos

países subdesenvolvidos têm a sua economia dinamizada por dois subsistemas, que são

desiguais, mas interdependentes. O circuito superior determina as variáveis-chave do

período atual (técnica, ciência, informação, consumo, finanças) e, assim, comanda a

economia urbana, subordinando o circuito inferior, que existe como um efeito indesejado

da modernização e serve, sobretudo, para a sobrevivência de trabalhadores pobres e para a

reprodução ampliada do sistema econômico vigente. Sendo assim, a economia urbana

subdesenvolvida é segmentada, pela subordinação de um subsistema ao outro, mas não

dual, tendo em vista a relação de complementaridade que marca a coexistência dos

circuitos. Por isso, Santos ([1978] 2008) propugna que não se deve estudar um circuito

econômico isoladamente, mas sim as relações existentes entre os circuitos da economia em

determinadas cidades ou economias regionais, levando em consideração as diferenças e as

desigualdades quantitativas e qualitativas no que se refere a consumo e a trabalho.

Assim sendo, no presente estudo monográfico, estudamos os circuitos da economia

urbana em Acari (RN), cidade pequena e centro local do Seridó Potiguar. Realizamos a

pesquisa, especificamente, no Bairro Centro, devido ao fato deste ser o lugar da cidade que

apresenta a maior dinâmica econômica, com densidade de fluxos de pessoas, mercadorias e

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19

capitais. Refletimos sobre os usos do território pelos agentes da economia urbana no centro

de Acari, a partir da segunda metade do século XX, designadamente, da década de 1980,

quando o processo de urbanização se intensifica na cidade e, destarte, as relações entre os

circuitos da economia urbana se amplificam e complexificam.

Vale salientar que a Região Nordeste do Brasil é, grosso modo, caracterizada, por

dinamismo econômico inferior à Região Concentrada Nacional e por intensas

desigualdades socioeconômicas e territoriais, sendo que a modernização econômica e

tecnológica ocorre na Região – segundo os preceitos de agentes hegemônicos do mercado

–, de modo extremamente seletivo, privilegiando determinados subespaços. Além disso, as

políticas estatais para o Nordeste, comumente, são paliativas e não estruturais, sendo

insuficientes quanto aos problemas socioeconômicos enfrentados pela maioria da

população e ineficazes quanto ao aumento das desigualdades territoriais existentes no

contexto da Região.

Na segunda metade do século XX, transformações foram implementadas no

território regional, por meio de ações da Superintendência para o Desenvolvimento do

Nordeste (SUDENE). Foram desenvolvidas ações que motivaram a instalação de novas

atividades produtivas, comerciais e de serviços no Nordeste, objetivando reduzir as

disparidades entre o Nordeste e o Sudeste. Contudo, as ações desencadeadas pela

SUDENE promoveram crescimento econômico de maneira seletiva e desigual, não

abrangendo a totalidade da dinâmica regional. Outrossim, foram calcadas na maior

subordinação da economia do Nordeste à do Sudeste Nacional, o que não alterou

estruturalmente as características socioeconômicas marcantes da Região Nordeste, como a

desigualdade na distribuição de renda e a deficiência no acesso à oferta de serviços básicos

por boa parte da população (LACERDA et al., 2013).

Desde a década de 1990, a economia nordestina vem sendo reestruturada, pela

difusão do meio técnico-científico-informacional. Tal difusão ocorre também de maneira

seletiva e desigual (SANTOS, 1994), com a disseminação de novas atividades produtivas,

comerciais e de prestação de serviços que privilegiam determinados subespaços e

segmentos sociais, subordinando todo o restante. Sendo assim, a Região Nordeste continua

a ser caracteriza pelo frágil dinamismo econômico e pelas veementes desigualdades sociais

e territoriais.

Com esse entendimento da economia macrorregional referente ao nosso recorte

empírico, sublinhamos que nosso objetivo é compreender a existência dos circuitos da

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economia urbana em Acari (RN), especificamente, no Bairro Centro, considerando os usos

do território da cidade pelos agentes da sua economia.

Acari é uma cidade do Nordeste brasileiro, particularmente, do estado do Rio

Grande do Norte. Conforme dados do último censo demográfico, em 2010, o município

possuía 11.035 habitantes, sendo que desses 8.902 residiam na cidade (IBGE, 2016a). De

acordo com a Lei municipal nº 955/2011, a cidade possui um perímetro urbano de

32.782,34 m; já dados do IBGE (2016a) indicam uma área de 608,466 Km2. O município

de Acari (mapa 1) está localizado na Microrregião do Seridó Oriental e na Mesorregião

Central Potiguar. Com relação aos seus limites territoriais, ao Norte faz fronteira com São

Vicente e Currais Novos; ao Sul com Carnaúba dos Dantas e Jardim do Seridó; a Leste

com Currais Novos, Carnaúba dos Dantas e Picuí (PB); e a Oeste com Cruzeta e São José

do Seridó. A sua distância para a capital do estado – Natal – é de 201 km.

Entendemos que para compreender o uso atual do território acariense se faz

necessário estudar o seu uso pretérito. Isso devido ao fato de “o território, visto como

unidade e diversidade, [ser] uma questão central da história humana […] e constituir o

pano de fundo do estudo das […] diversas etapas e do momento atual” (SANTOS;

SILVEIRA, 2001, p. 20). Assim, iniciamos nossa análise refletindo sobre a formação

territorial do município de Acari. Após, compreendemos as transformações que vêm sendo

realizadas nesse município, sobretudo, a partir da segunda metade do século XX, com a

falência das economias tradicionais, a reestruturação da economia e a intensificação da

urbanização. Com isso, apreendemos a atual dinâmica de Acari considerando a totalidade

das atividades econômicas e dos usos do território que formam a segmentada economia da

urbe acariense.

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Mapa 01

Acari – Localização do município no Rio Grande do Norte, Brasil

Fonte: Elaboração do autor, 2016.

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Dizemos que a economia urbana de Acari é segmentada tendo em vista as divisões

territoriais do trabalho que alicerçam a produção desse espaço. Os agentes hegemônicos do

mercado, desencadeadores das atividades do circuito superior, usam o território como um

recurso, visando, prioritariamente, o lucro pela exploração do trabalho e do território. Já os

agentes não hegemônicos, desempregados pelo circuito superior, buscam a sua

sobrevivência pelo circuito inferior, mirando, sobretudo, a obtenção de renda para a

realização de consumo. Para esses agentes o território é um abrigo, sendo importante para a

obtenção da sua sobrevivência. Tais agentes coexistem no território, configurando uma

dinâmica marcada pela justaposição de divisões territoriais do trabalho (SILVEIRA, 2010).

Conforme o objetivo geral da pesquisa, asseveramos que os conceitos norteadores

do trabalho são: território e usos do território, circuitos da economia urbana, pequena

cidade e cidade local, pobreza estrutural.

Destarte, definimos o conceito de território coadunando com as palavras de

Salvador (2010, p. 168), que, ao estudar os circuitos da economia urbana em Caicó (RN),

alicerçado nas concepções de Milton Santos, afirmou que o território pode ser

compreendido como

[...] sinônimo de espaço habitado, construído; isto é, como um produto das

relações históricas dos homens entre si e com o meio circundante. É por

intermédio dessas relações que os diversos agentes sociais (hegemônicos ou não)

usam o território, de acordo com suas necessidades e seus anseios. Assim esse

uso não é homogêneo ou igualitário, mas, sim, heterogêneo, diverso, desigual,

contraditório e combinado.

A efetivação da produção do território ocorre pelos seus usos, que decorrem de

relações de produção e de poder entre diferentes e desiguais agentes sociais. Como já

dissemos, os agentes hegemônicos utilizam o território para a obtenção da mais valia,

explorando os seus recursos. Em contrapartida, os agentes não hegemônicos utilizam o

território como um abrigo, querendo, a priori, a sobrevivência. Assim, se evidencia o uso

desigual, contraditório, mas combinado, do território.

Nessa perspectiva teórico-metodológica, Santos ([1978] 2008) propõe o estudo das

cidades dos países subdesenvolvidos por meio da teoria dos circuitos da economia urbana,

propugnando que a economia dessas cidades, apesar de ser extremamente desigual e,

portanto, segmentada, não é dual. Isso por que os circuitos da economia urbana não

existem isoladamente; ao contrário, coexistem, por relações de complementaridade,

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concorrência e subordinação do circuito inferior ao circuito superior. Além disso, ambos os

circuitos decorrem do mesmo processo: a modernização econômica e tecnológica do

território. O circuito superior determina e comanda esse processo, sendo um efeito direto

dele. O circuito inferior se apresenta como uma consequência indesejada das desigualdades

e das contradições do processo, sendo, assim, um efeito indireto ou indesejado. Com esse

entendimento, a teoria dos circuitos da economia urbana rompe com a perspectiva dual de

análise das cidades dos países subdesenvolvidos, possibilitando que estas sejam analisadas

considerando a totalidade contraditória e combinada das suas dinâmicas.

No que se refere à pequena cidade e cidade local, asseveramos que o primeiro

conceito é calcado no quantitativo demográfico da urbe, enquanto que o segundo é

fundamentado no qualitativo funcional do centro urbano. No Brasil, cidade pequena é uma

definição oficial, feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que

considera o tamanho da demografia da aglomeração e a delimitação de seu perímetro

urbano. Assim, no país, define-se “cidade pequena” como o centro urbano constituído por

até 20.000 habitantes. Já cidade local é um conceito acadêmico, proposto considerando as

funções socioeconômicas e territoriais da urbe, as quais são direcionadas, sobretudo, ao

atendimento das demandas por consumo mínimo de sua população, tendo em vista a baixa

complexidade de seu mercado, quanto à oferta de atividades produtivas, comerciais e de

prestação de serviços (JURADO DA SILVA, 2009, 2011).

Entendemos a pobreza estrutural como uma situação de vida e de trabalho calcada

em precarizações e em subordinações de agentes não hegemônicos à agentes hegemônicos.

Em outras palavras, uma situação de dependência da economia popular à economia

hegemônica. Por isso, Silveira (2009, p. 67) revela que o crescimento do circuito inferior

conecta-se “a existência de uma pobreza estrutural, [...] que advém da crescente

racionalização da sociedade e do território”.

Com esse arcabouço teórico-metodológico, desenvolvemos este trabalho

monográfico por meio dos seguintes procedimentos metodológicos:

Para refletir teoricamente sobre os circuitos da economia urbana e os usos do

território em Acari, realizamos pesquisa bibliográfica. Consultamos, presencialmente, o

acervo da Biblioteca Setorial do Centro de Ensino Superior do Seridó (CERES), situada

em Caicó e pertencente à Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Além

disso, acessamos o acervo digital de bibliotecas de universidades brasileiras, como a

Universidade de São Paulo (USP) e a Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP),

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bem como, o sítio virtual de periódicos científicos nacionais, como o da Revista Brasileira

de Geografia (RGB). Também consultamos a base virtual de teses e dissertações da

Coordenação de Aperfeiçoamento do Pessoal do Ensino Superior (CAPES). Dessa forma,

selecionamos artigos científicos, monografias, dissertações, teses e livros que nos ajudaram

a realizar nossas reflexões teóricas. Os trabalhos selecionados foram lidos, suas ideias

fundamentais destacadas e discutidas no desenvolvimento do trabalho.

Para apreender a existência dos circuitos da economia urbana em Acari

relacionamos as reflexões teóricas sobre os circuitos da economia urbana com os dados

primários da pesquisa de campo realizada na referida cidade. Essa pesquisa foi realizada no

segundo semestre do presente ano e consistiu das seguintes técnicas de pesquisa:

observações, entrevistas, conversas e registros fotográficos. Fizemos um inventário das

diversas atividades que compreendem os circuitos da economia urbana, atentando para os

usos do território desencadeados pelos agentes desses circuitos. Com esse inventário

conhecemos as principais atividades desenvolvidas na cidade assim como a proeminência

do Bairro Centro no que se refere à densidade do mercado local. Além disso, realizamos

visitas a atividades econômicas do circuito inferior, para conversar e/ou entrevistar seus

agentes responsáveis, sendo que as identidades desses agentes foram preservadas, visando

que, com isso, maiores informações nos fossem disponibilizadas. Nessas visitas atentamos

para as características organizacionais das atividades pesquisadas, com a realização,

inclusive, de registros fotográficos de aspectos interessantes de algumas atividades

econômicas, mediante autorização do seu agente responsável. Outrossim, realizamos

entrevistas com autoridades políticas do município de Acari e com a Presidenta da Câmara

de Dirigentes Lojistas de Acari (RN), para termos informações sobre a dinâmica

econômica da urbe acariense.

Com a realização dessa pesquisa de campo foram gerados dados quantitativos e

qualitativos, os quais nos possibilitaram a elaboração de tabelas, gráficos e a realização de

reflexões sobre a atual dinâmica socioeconômica da cidade de Acari.

No tocante aos dados estatísticos, consultamos os bancos de dados do Instituto

Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE); do Instituto de Desenvolvimento Econômico

e Meio Ambiente do Rio Grande do Norte (IDEMA); do Ministério do Trabalho e

Emprego (MTE); do Serviço Brasileiro de Apoio à Micro e Pequena Empresa (SEBRAE);

de Secretarias Municipais de Acari, como a Secretaria de Desenvolvimento Econômico,

Turismo, Desporto e Lazer; a Secretaria de Administração, Tributação e Finanças; a

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Secretaria de Educação e Cultura; a Secretaria de Transportes, Obras e Serviços Urbanos; e

a Secretaria de Assistência Social e Desenvolvimento Comunitário. Tais consultas tiveram

por finalidade obter dados oficiais sobre a população e a economia da cidade. Esses dados

foram tabulados e tratados, sendo feita a relação deles com as reflexões teóricas que

fizemos sobre o nosso objeto de estudo.

Para a construção da base cartográfica foram utilizados as malhas digitais do IBGE

(perímetro urbano, limites municipais e divisas estaduais), o Sistema de Informações

Geográficas (SIG), o Software ArcGis 10.2 (versão acadêmica) e o DATUM SIRGAS

2000.

Outrossim, realizamos pesquisa documental no acervo da Prefeitura Municipal de

Acari, tendo como finalidade obter documentos – atos administrativos, leis, decretos – com

informações referentes à dinâmica socioeconômica analisada.

O trabalho monográfico segue estruturado em três capítulos, além da introdução e

da conclusão. No primeiro – “Reflexões sobre a teoria dos circuitos da economia

urbana dos países subdesenvolvidos e sobre os usos do território por agentes sociais

hegemônicos e por não hegemônicos” – refletimos sobre a teoria dos circuitos da

economia urbana dos países subdesenvolvidos e sobre os usos do território da cidade por

agentes sociais hegemônicos e por agentes sociais não hegemônicos. Tal reflexão

subsidiou teórico-metodologicamente as análises que fazemos dos circuitos da economia

urbana de Acari, nos próximos capítulos.

No segundo capítulo – “Acari: formação territorial e dinâmica da economia

urbana atualmente”, apreendemos os processos de formação territorial do Rio Grande do

Norte e, particularmente, de Acari, sublinhando as atividades econômicas tradicionais

(pecuária e cotonicultura) à formação do território que contribuíram para seu

desenvolvimento e para sua afirmação como cidade, a falência dessas atividades, a

reestruturação da economia de Acari com essa falência, a urbanização desse espaço como

processo decorrente da referida reestruturação e a atual dinâmica da economia urbana

acariense, conforme a teoria dos circuitos da economia urbana dos países

subdesenvolvidos.

No terceiro e último capítulo – “A importância do circuito inferior da economia

urbana para a cidade de Acari” – compreendemos a importância social, econômica e

territorial das atividades do circuito inferior da economia para a atual dinâmica urbana de

Acari, destacando a importância de atividades da economia não hegemônica para a geração

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de trabalho e renda para muitas famílias acarienses, bem como para atrair pessoas que

residem próximas da cidade de Acari para consumirem no mercado local.

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2 REFLEXÕES SOBRE A TEORIA DOS CIRCUITOS DA ECONOMIA URBANA

DOS PAÍSES SUBDESENVOLVIDOS E SOBRE OS USOS DO TERRITÓRIO POR

AGENTES SOCIAIS HEGEMÔNICOS E POR NÃO HEGEMÔNICOS

Neste capítulo refletimos sobre a teoria dos circuitos da economia urbana dos países

subdesenvolvidos e sobre os usos do território da cidade, por agentes sociais hegemônicos

e por agentes sociais não hegemônicos. Tal reflexão fundamentará as meditações e análises

que faremos, nos próximos capítulos, sobre os circuitos da economia urbana em Acari,

atualmente.

2.1 A TEORIA DOS CIRCUITOS DA ECONOMIA URBANA DOS PAÍSES

SUBDESENVOLVIDOS

A referida teoria foi elaborada e publicizada por Milton Santos no decorrer da

década de 1970, sendo um arcabouço teórico que alicerça o estudo da segmentação da

economia urbana dos países subdesenvolvidos. Tal segmentação é estudada por meio de

dois subsistemas – circuito superior e circuito inferior – que esses coexistem e devem ser

analisados de maneira interdependente, pelo fato de a economia urbana não ser dual, mas

segmentada (ARROYO, 2008; MONTENEGRO, 2006, 2011; MIYATA, 2010;

OLIVEIRA, 2009; SALVADOR, 2012a, 2012b; SANTOS, 2008; SILVEIRA, 2009, 2010,

2011, 2015). Os circuitos da economia urbana são interdependentes pelo fato de

decorrerem do mesmo processo, o de modernização econômica do território (SANTOS,

2008; SILVA, 2012; SILVEIRA, 2010), fato que leva Dantas e Tavares (2012, p.58)

afirmarem que “eles têm a mesma origem, ainda que resultem direta ou indiretamente de

vários processos de modernização que atingem seletivamente e descontinuamente as

poções do território”.

A teoria dos circuitos da economia urbana nos possibilita utilizar técnicas de

pesquisa para investigar múltiplas variáveis socioeconômicas para, assim, compreender as

características absolutas e relacionais dos circuitos da economia urbana bem como o

funcionamento e o relacionamento de cidades. Nesse sentido, sublinhamos o pensamento

de Arroyo (2008, p. 2), quando afirma que a teoria em questão é importante para “(...) nos

aproximarmos da totalidade que a cidade representa, (...) por meio da análise dos dois

circuitos da economia urbana, que envolvem atividades e agentes com diferentes níveis de

capital, trabalho, organização e tecnologia”.

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Assim, afirmamos que a economia urbana dos países subdesenvolvidos é

constituída por dois subsistemas que são diferentes, porém, interdependentes. São

diferentes pelo fato de serem formados por um conjunto de atividades desenvolvidas com

diferentes graus de capital, tecnologia e organização; e são interdependentes por

resultarem, direta ou indiretamente, da modernização econômica do território e da

desigualdade social, econômica e territorial que marca as cidades dos referidos países

(ARROYO, 2008; MONTENEGRO, 2006, 2011, 2013; SALVADOR, 2012a, 2012b;

SANTOS, 2008; SILVEIRA, 2009, 2010, 2011, 2015).

A formação do circuito superior advém diretamente da modernização econômica,

sendo que suas atividades são fundamentadas no denso uso de tecnologia moderna, na

necessidade de capital para o desenvolvimento do negócio, na organização burocrática das

ações colocadas em baila e na macro escala de atuação, com atividades relacionadas às

escalas estadual, macrorregional, nacional e/ou mundial (SILVA, 2012). Assim, esse

subsistema econômico é composto por bancos, pelo comércio moderno (grandes lojas,

redes de comércio, supermercados, hipermercados), pela indústria de exportação, pela

indústria moderna, pelos serviços modernos, por atacadistas e transportadores (SANTOS,

2008).

No circuito superior, existem atividades que têm “características não puras”, isto é,

que usam tecnologia nas suas ações em menor nível; que necessitam de certo grau de

capital, porém, também em menor nível do que as atividades superiores puras; que

mesclam organização burocrática com contato pessoal com clientes; e que têm escala de

atuação local ou, no máximo, microrregional. Tais atividades, segundo Santos (2008, p.

103), são negócios que constituem “marginalmente” ou “não puramente” o circuito

superior, sendo que, em cidades locais e em centros regionais do interior do Nordeste

brasileiro, geralmente, as atividades do circuito superior existentes têm características da

economia hegemônica impura ou marginal.

O circuito inferior decorre indiretamente da modernização econômica, sendo, na

verdade, um efeito indesejado desta, conforme a perspectiva dos agentes hegemônicos do

mercado. Esse subsistema é constituído por atividades que usam tecnologia moderna com

pouca densidade, podem não necessitar de capital para o seu desenvolvimento ou, se

necessitam, são desenvolvidas com baixo nível de capital, têm organização mais criativa e

calcada no contato pessoal com clientes do que na burocracia e com escala de atuação

bastante conectada ao âmbito do lugar em que são desencadeadas. Assim, o circuito

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inferior é “constituído por atividades de fabricação, comércio e serviços cujo grau de

capitalização, tecnologia e organização é relativamente baixo” (SILVEIRA, 2009, p. 65),

bem como por pequenas atividades econômicas e de prestação de serviços criadas e

adaptadas localmente, com vinculações de intercâmbio que raramente ultrapassam a região

(SANTOS, 2008).

Com essas características, o circuito inferior serve “principalmente à população

pobre, ofertando um número elevado de oportunidades de trabalho com um volume

mínimo de capital” (SILVA, 2012, p. 12). Destarte, para Santos (2008, p. 202), “o circuito

inferior constitui também uma estrutura de abrigo para os citadinos, antigos ou novos,

desprovidos de capital e de qualificação profissional”. Por isso, sublinhamos que a

existência desse circuito é uma consequência do estágio contemporâneo do modo de

produção capitalista, que tem como fundamento a desigualdade social, econômica e

territorial e o desemprego estrutural da maioria dos trabalhadores (SANTOS, 2008). Nesse

contexto, à medida que ocorre o progresso econômico, há a expansão do desemprego e da

pobreza, isto é, do circuito inferior da economia urbana, que marca, cada vez mais, o

território das cidades dos países subdesenvolvidos (SALVADOR, 2012a).

Vale salientar que os circuitos da economia urbana dos países subdesenvolvidos

têm sua gênese ligada à “modernização econômica e tecnológica do território”

implementada, de modo veemente, em escala mundial, com o fim da Segunda Guerra

Mundial (1939-1945), de acordo com preceitos de agentes hegemônicos do mercado. Tal

implementação traz à tona um novo período histórico, denominado por Santos (1994) de

técnico-científico-informacional. Ambos os circuitos decorrem da modernização: o circuito

superior é resultado direto do progresso econômico e tecnológico e o circuito inferior é um

efeito indireto e, geralmente, indesejado, dessa modernização (SANTOS, 1994).

Com esse entendimento, a teoria dos circuitos da economia urbana possibilita a

análise das atividades econômicas não de forma dual, nem mesmo por setores, mas sim

atentando para as relações existentes entre o circuito superior e o circuito inferior

(SALVADOR, 2012a; SANTOS, 2008). Ao contrário, a abordagem setorial da economia

urbana, adotada por órgãos e discursos oficiais, bem como por pesquisadores, permite que

se façam análises da dinâmica econômica dualizada em setores (formal e informal),

negligenciando-se as relações existentes entre os agentes que desencadeiam essa dinâmica

(SANTOS, 2008). Em suma, a teoria da economia urbana dos países subdesenvolvidos

proposta no contexto da Geografia Nova apresenta-se como um método para não

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dualizarmos a dinâmica socioeconômica em setores, pois, ao nosso ver, ao fazer isso, se

inviabiliza a compreensão da totalidade do espaço urbano (SALVADOR, 2012a;

SANTOS, 2008).

Um aspecto importante dos circuitos da economia urbana é a dependência do

circuito inferior em relação ao circuito superior, evidenciando uma pobreza estrutural. Os

elementos que diferenciam os circuitos superior e inferior, considerados como variáveis-

chave da teoria da economia urbana dos países subdesenvolvidos, são: tecnologia, capital e

organização. O circuito superior caracteriza-se por abranger atividades com altos níveis de

tecnologia e de capital e por serem desenvolvidas com organização burocrática. Em

contrapartida, o circuito inferior é constituído por atividades desencadeadas com baixos

níveis de tecnologia e de capital e com organização mais criativa do que burocrática, sendo

que nas atividades desse circuito pode até inexistir a necessidade de tecnologia moderna e

de capital para o seu desenvolvimento.

No momento de formulação da teoria, Santos ([1978] 2008, p.43) escreveu que

“não se pode caracterizar os dois circuitos da economia urbana através de variáveis

isoladas [...]. [Afirmou que] a diferença fundamental [...] está baseada nas diferenças de

tecnologia e de organização”, apesar de diferenciar os circuitos da economia urbana por

meio de múltiplas variáveis, conforme evidenciamos no quadro 01.

Na atualidade, as características absolutas de cada circuito da economia urbana bem

como as características relacionais desses vêm sendo alteradas por variáveis-chave do

período atual, que são: a técnica, a informação, as finanças e o consumo (SALVADOR,

2012a). Assim, é importante atentarmos para os usos dessas variáveis por agentes

hegemônicos e não hegemônicos da economia urbana, para compreender a caracterização

de cada circuito e as suas relações de complementaridade, concorrência e subordinação nos

dias de hoje.

Na perspectiva de definir as atividades dos circuitos da economia urbana pelos usos

de variáveis-chave do período atual, destacamos que as atividades do circuito superior

caracterizam-se pelo uso intenso de tecnologia, de capital e por serem desencadeadas com

organização burocrática. Já as atividades do circuito inferior caracterizam-se pelo uso

intenso de trabalho e pelo menor uso de tecnologia e de capital, podendo, inclusive, serem

desenvolvidas sem esses dois elementos. Por isso, são atividades cuja organização é mais

criativa do que burocrática (SANTOS, 2008; SALVADOR, 2012a, 2012b).

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Quadro 01

Variáveis que diferenciam os dois circuitos da economia urbana dos países subdesenvolvidos

Variáveis Circuito Superior Circuito inferior

Tecnologia Capital intensivo Trabalho intensivo

Organização Burocrática Primitiva

Capitais Importantes Reduzidos

Emprego Reduzido Volumoso

Assalariamento Dominante Não obrigatório

Estoques Grande quantidade e/ou alta qualidade Pequena quantidade e/ou qualidade

inferior

Preços Fixos (em geral) Submetidos a discussão entre

comprador e vendedor

Crédito Bancário institucional Pessoal não institucional

Margem de lucro

Reduzida por unidade, mas importante pelo

volume de negócios, com exceção de produtos

de luxo

Elevada por unidade, mas pequena

em relação ao volume de negócios

Relações com a

clientela Impessoais e/ou com papéis Diretas, personalizadas

Custos fixos Importantes Desprezíveis

Publicidade Necessária Nula

Reutilização dos

bens Nula Frequente

Overhead capital Indispensável Dispensável

Ajuda

governamental Importante Nula ou quase nula

Dependência direta

do exterior Grande, atividade voltada para o exterior Reduzida ou nula

Fonte: Santos ([1978] 2008, p. 44).

Assim, compreendemos que “a cidade é a relação dialética e indissociável entre o

circuito superior e o circuito inferior, cujas localizações e tarefas se diferenciam pelos

graus de capital, tecnologia e organização” (SILVEIRA, 2007 apud SILVEIRA, 2010, p.

02). Além disso, “os circuitos superior [puro e marginal] e inferior interagem e participam

do movimento que se desenvolve dentro da mesma cidade: trata-se de um único meio

construído, embora desigual e fragmentado, e de um único mercado, embora fortemente

segmentado” (ARROYO, 2008, p. 02).

Mesmo vivendo e trabalhando precariamente, a maioria dos agentes sociais busca

suprir suas necessidades vitais e participar do consumo moderno por meio do

desenvolvimento de atividades do circuito inferior, fato que faz com que, a produção não

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hegemônica se fortaleça, ou seja, o circuito inferior e o circuito superior marginal ganhem

maior desenvolvimento nos dias de hoje (MONTENEGRO, 2013).

Na atualidade, o circuito inferior, por meio da incorporação de objetos técnicos

modernos, vem “ampliando a gama de instrumentos com os quais trabalha e o leque de

serviços e produtos oferecidos” (MONTENEGRO, 2011, p. 35). Configura-se, desse

modo, uma nova dinâmica nesse circuito, pois, existem atividades desenvolvidas que

envolvem certo grau de modernidade, o que no passado era exclusividade apenas das

atividades do circuito superior. Nesse sentido, constatamos que,

do mesmo modo, mas não com a mesma densidade [do circuito superior], [o

circuito inferior] também é perpassado por instrumentos e/ou equipamentos

modernos, os quais caracterizam variados serviços e/ou produções, como:

computador conectado à internet, máquina para recarga de celular e venda no

cartão de crédito, máquina copiadora, [...] projetor de multimídia conectado à

antena captadora do sinal de canais de televisão fechados. Esses instrumentos

mostram que [esse circuito] é dinâmico, acompanhando os avanços tecnológicos,

logicamente de acordo com as condições financeiras dos responsáveis por suas

atividades (SALVADOR, 2012b, p. 180).

Ainda segundo Salvador (2012a, p. 54),

a (re)utilização de técnicas modernas faz com que no momento atual [...]

algumas atividades do circuito inferior sejam desencadeadas com a importante

presença de computadores com acesso à internet, o que permite a prestação de

determinados serviços e a realização de publicidade da atividade desempenhada

na rede mundial de computadores; de carros e/ou motos que servem para realizar

o transporte e a entrega de mercadorias bem como para fazer publicidade da

atividade na cidade em que ela é desenvolvida, ou mesmo em cidades próximas;

e de máquinas interligadas ao sistema financeiro nacional, as quais possibilitam

aos clientes o pagamento, parcelado ou não, de suas compras com cartão de

crédito.

Outrossim, Montenegro (2006, 2013) afirma que esses novos elementos reveladores

da dinâmica do circuito inferior dizem respeito aos gastos com a publicidade que passam a

permear progressivamente esse circuito, realizados por meio da Internet e de redes sociais

(Facebook, What’s app, Instagran), de cartões de visita, faixas, banners, entre outros.

Além disso, a variedade de formas de pagamento burocráticas oferecidas aos clientes,

através da banalização do acesso a cheques, cartões de débito e crédito, transforma a

relação de atividades do circuito inferior com a variável finanças, fazendo do uso dessa

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variável por atividades não hegemônicas uma característica marcante do nexo dessas

atividades com o atual período da Globalização.

Desse modo, coadunamos com Salvador (2012b, p. 180) quando afirma que “não

devemos acreditar que [o] circuito [inferior] seja sinônimo de arcaísmo, nem mesmo que

seja tradicional ou inerte; a realidade nos mostra o inverso”.

Contudo, observamos que o circuito inferior é expressão de desigualdades

socioeconômicas e de usos não hegemônicos do território, fato que levou Santos (2008) a

associar tal circuito à pobreza. Nossa observação é compreendida quando se tem a

consciência que “o processo de crescimento econômico e modernização tecnológica,

seletivo e concentrador, não consegue atender de igual forma todos os habitantes da

cidade, [favorecendo os agentes hegemônicos do mercado]” (ARROYO, 2008, p. 02).

No período atual, a premissa teórica de que o circuito inferior é sinônimo de

pobreza ainda é válida, contudo, devemos destacar que a pobreza da qual estamos tratando

é hoje uma "pobreza estrutural", isto é, uma situação de vida e de trabalho calcada em

precarizações e em subordinações de agentes não hegemônicos à agentes hegemônicos. Em

outras palavras, uma situação de dependência da economia popular à economia

hegemônica. Por isso, Silveira (2009, p. 67) revela que o crescimento do circuito inferior

conecta-se “a existência de uma pobreza estrutural, [...] que advém da crescente

racionalização da sociedade e do território”.

Nos países subdesenvolvidos, hoje, a maioria dos trabalhadores encontra-se

desempregada pelas atividades econômicas hegemônicas, vivendo uma situação bastante

precária, sem renda garantida e sem boas condições de habitação, de alimentação, de

vestimentas, de educação, saúde e lazer. Vivendo dessa maneira, esses trabalhadores

procuram sua sobrevivência por meio do desenvolvimento de atividades que não lhes

exigem altos níveis de qualificação profissional e de capital, atividades que podem ser

desencadeadas criativamente e com muito trabalho e pouco ou nenhum nível de tecnologia

e de capital. Assim sendo, a pobreza estrutural atrela-se ao circuito inferior, pois esse

[...] nasce e se desenvolve em função tanto da insatisfação das demandas criadas

pela economia hegemônica como do desemprego estrutural. Em outras palavras,

as pequenas atividades permitem sobreviver por meio da criação de

oportunidades de trabalho e, ao mesmo tempo, consumir bens e serviços de

menor valor agregado (SILVEIRA, 2010, p. 04).

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34

Nessa estrutura, as ações do Estado, na maioria das vezes, fortalecem a economia

hegemônica, reservando para os agentes do circuito inferior apenas ações paliativas,

assistencialistas ou até mesmo de perseguição. Essa postura estatal vem servindo para

amplificar as desigualdades sociais, econômicas e territoriais que marcam a dinâmica da

economia urbana, assim como para perpetuar a situação de pobreza da maioria dos

trabalhadores. Por isso, também, a pobreza hoje é "estrutural".

Na atual dinâmica da sociedade, atrelam-se soluções para conflitos entre os agentes

sociais a partir do crescimento da economia, com base nos reclamos do sistema financeiro

(SANTOS, 2003). É preciso que tal crescimento seja transformado em desenvolvimento

social para todos os segmentos da população, com a ampliação da participação política dos

cidadãos, do equilíbrio distributivo da renda e das oportunidades para todos os

trabalhadores (SANTOS, 2008).

Para Santos (2003, p. 78)

[...] os esforços para restabelecer o emprego dirigem-se, sobretudo, quando não

exclusivamente, ao circuito superior da economia. Mas esse não é o único

caminho e outros remédios podem ser buscados, segundo a orientação político-

ideológico dos responsáveis, levando em conta uma divisão do trabalho vinda

“de baixo” [circuito inferior], fenômeno típico dos países subdesenvolvidos [...].

Portanto, entendemos que a teoria dos circuitos da economia urbana dos países

subdesenvolvidos nos traz à luz a

[...] possibilidade de enriquecimento de uma perspectiva que trabalha o conteúdo

existencial da Geografia. Uma vez que focamos nossa reflexão nas formas de

trabalho e em suas relações com o meio construído, atentarmos, por conseguinte,

às existências que compõem o espaço, ou seja, à vida que nele se desenrola,

assim como as técnicas presentes naquele lugar que, por sua vez, indicam como

o território é usado (MONTENEGRO, 2006, p. 51).

Partindo desse aporte teórico, nos capítulos seguintes analisaremos a existência dos

circuitos da economia urbana em Acari, cidade do sertão potiguar.

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2.2 USOS DO TERRITÓRIO URBANO

Para realizarmos análise dos usos do território urbano, consideramos, a priori, as

definições da Constituição Federal de 1988 acerca das questões pertinentes à cidade. No

seu artigo 21, inciso XX, consta a responsabilidade da União na instituição de diretrizes

gerais para o desenvolvimento urbano; já os artigos 182 e 183 dispõem sobre a Política de

Desenvolvimento Urbano a ser executada pelo poder público municipal, sendo essa

política de suma importância, pois, pode proporcionar uma melhor qualidade de vida para

a sociedade civil que vive na cidade (BRASIL, 1988; WOLFF, 2003). Além disso, a

regulamentação dos dois últimos artigos, trouxe à tona a Lei nº 10.257 ou Estatuto da

Cidade, que foi sancionada em 2001, representando uma possibilidade de mudança da

caótica realidade urbana brasileira, em termos sociais, econômicos, ambientais e

territoriais.

O Estatuto da Cidade propõe análise de princípios originais, objetivos

determinados, diretrizes inovadoras e instrumentos singulares, tratando do parcelamento,

da edificação ou da utilização compulsórios; do imposto progressivo no tempo sobre a

propriedade predial e territorial urbana; da desapropriação com pagamento em títulos; do

usucapião especial de imóvel urbano; do direito de superfície; do direito de preempção; da

outorga onerosa do direito de construir; das operações urbanas consorciadas; da

transferência do direito de construir; do estudo de impacto de vizinhança; além de instituir

a obrigatoriedade do plano diretor da política de desenvolvimento urbano para cidades com

mais de 20 mil habitantes e, assim, dispor sobre a gestão democrática da cidade (BRASIL,

2001; WOLFF, 2003).

Os dispositivos do Estatuto da Cidade são importantes para o planejamento urbano,

auxiliando no trabalho de gestores no processo de ordenamento territorial. Destacamos que

o ordenamento territorial, além de uma perspectiva científico-técnica, tem uma perspectiva

política. Por isso a necessidade de se compreender tal instrumento como caracterizado por

conflitos de ideias, de argumentos, de interesses e de ações.

Isso se evidencia na medida em que

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[...] as técnicas cada vez mais se dão como normas e a vida se desenrola no

interior de [inúmeras] técnicas, acabamos por viver uma politização

generalizada. A rapidez dos processos conduz a uma rapidez nas mudanças e,

por conseguinte, aprofunda a necessidade de produção de novos entes

organizadores. Isso se dá nos diversos níveis da vida social. Nada de relevante é

feito sem normas. Neste fim do século XX, tudo é política. E, graças às técnicas

utilizadas no período contemporâneo e ao papel centralizador dos agentes

hegemônicos, [...], torna-se ubíqua a presença de processos distorcidos e

exigentes de reordenamento [através de usos do território]. Por isso a política

aparece como um dado indispensável e onipresente, abrangendo praticamente a

totalidade das ações (SANTOS, 2003, p.78).

No tocante à política que trata sobre os usos do território, tem-se o plano diretor

como um dos principais instrumentos de regulação da produção do espaço pelo poder

público municipal, pois, cabe ao município criar leis específicas para os diferentes usos do

território urbano. Contudo, vale frisar que o plano diretor é obrigatório apenas para as

cidades com mais de 20 mil habitantes.

O Estado atua diretamente nas decisões voltadas sobre os usos do território.

Sabemos que “os atores hegemônicos assumem papel privilegiado em face das estratégias

de uso do território possibilitadas por certos segmentos econômicos”, com total apoio do

Estado (RAFFESTIN, 1993 apud PESSOA, 2015, p. 60).

Acerca do conceito de “território” por nós utilizado nessa pesquisa, coadunamos

com as palavras de Salvador (2012a, p. 168), que, alicerçado nas concepções de Milton

Santos para estudar os circuitos da economia urbana em Caicó (RN), afirmou que o

território pode ser compreendido como

[...] sinônimo de espaço habitado, construído; isto é, como um produto das

relações históricas dos homens entre si e com o meio circundante. É por

intermédio dessas relações que os diversos agentes sociais (hegemônicos ou não)

usam o território, de acordo com suas necessidades e seus anseios. Assim esse

uso não é homogêneo ou igualitário, mas, sim, heterogêneo, diverso, desigual,

contraditório e combinado.

Em outras palavras, o território é a dimensão concreta de análise do espaço

geográfico que é historicamente usada por meio de relações sociais que expressam o

exercício de desiguais poderes e o desenvolvimento de ações humanas com diferentes

intencionalidades, fato que contribui diretamente com a (re)produção do espaço urbano. Os

usos do território ocorrem pelos diversos e desiguais agentes sociais, cujas necessidades e

anseios são assimétricas, conformando, assim, diferentes e desiguais usos do território

(SANTOS, 1996).

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Para compreendermos o uso atual do território faz-se necessário o estudo do seu

uso pretérito. Isso por que “o território, visto como unidade e diversidade, é uma questão

central da história humana e de cada país e constitui o pano de fundo do estudo das suas

diversas etapas e do momento atual” (SANTOS; SILVEIRA, 2001, p. 20).

Vejamos, de forma sucinta, como eram realizados os usos do território brasileiro no

período colonial, entre os séculos XV e XVI. Observa-se que

[...] os processos de ocupação e usos do território foram se manifestando, a partir

do encontro/confronto dos nativos e seus modos de produção. De um lado, os

nativos, as técnicas do acaso e do artesão e um modo de viver e usar o território,

caracterizado pela vida comunitária e primitiva [...] de coletores, caçadores e

agricultores [...]. Por outro lado, os colonizadores com técnicas já mais

‘avançadas’ e um modo de produção baseado na moeda, na divisão de classes e

na exploração de territórios e de pessoas e, em especial na divisão das terras em

sesmarias e datas (FARIA, 2011, p. 82).

Com o passar dos anos, ocorre uma “sobreposição de um modo de produção sobre

o outro vai aos poucos se perfazendo e as mudanças nas divisões territorial e social do

trabalho, vão também se configurando, isso tudo como resultado de novos usos e (ab)usos

do território” (FARIA, 2011, p. 83).

Nos dias atuais, o território já usado pela sociedade, continua a ser produzido e

reproduzido, adquirindo novas feições e novas funcionalidades, decorrentes dos usos atuais

que são feitos dele, de maneira segmentada e superposta (SANTOS; SILVEIRA, 2001).

Sendo assim, a cidade é revelada como um espaço de fragmentações e de

contradições, tendo em vista que a sua (re)produção ocorre pelas demandas e pelos

interesses de agentes sociais que procuram realizar, sobretudo, suas necessidades

individuais. Destarte, muitas vezes os usos do território urbano geram conflitos entre

agentes sociais, justamente por que a produção do espaço é alicerçada em ações que

privilegiam determinados interesses e, por isso, ocasionam limites de escolhas e de

condições de vida dignas para a coletividade.

Assim, reconhecendo as coexistências e as contradições que marcam a dinâmica da

cidade, consideramos que as ações desenvolvidas pelos diferentes agentes sociais se

estabelecem por meio de divisões territoriais do trabalho que segmentam a economia da

cidade, mas não a dualizam, tendo em vista que as diversas atividades aí desencadeadas

existem por meio de relações de complementaridade, concorrência e subordinação das

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atividades do circuito inferior às atividades do circuito superior, caracterizando a dinâmica

da cidade pelas superpostas divisões territoriais do trabalho (SANTOS; SILVEIRA, 2001).

Desse modo, os agentes do circuito superior fazem usos do território desenvolvendo

suas atividades em estabelecimentos comerciais com infraestruturas e equipamentos que

apresentam padrões de modernidade. São bancos, lojas de vestuário, supermercados, etc. Já

os agentes do circuito inferior fazem usos do território desencadeando atividades em

espaço público ou não, por meio de estruturas desmontáveis (barracas) ou em

estabelecimentos próprios ou alugados (residências, prédios comerciais, etc.). São, por

exemplo, vendedores ambulantes, proprietários de mercadinhos, prestadores de serviços,

dentre outros (SALVADOR, 2012b).

Nesse sentido, compreendemos que

[...] a análise dos usos do território brasileiro, por meio das finanças e da difusão

das técnicas atrelada aos sistemas normativos, revela as relações de

complementaridade entre os circuitos da economia urbana e, por conseguinte,

uma complexificação da divisão social e territorial do trabalho (MEDEIROS,

2013, p. 206).

Outro aspecto importante é aquele que diz respeito às transformações que ocorrem

no espaço urbano por forças de leis que são criadas visando à ampliação desse meio

geográfico. Destacamos que “as cidades têm sofrido em todo o mundo reformulações de

toda ordem. Uma delas é a expansão do perímetro urbano que se dá em ritmos distintos nos

diferentes países e em contextos também distintos” (FARIA, 2011, p. 14).

Desse modo, o valor e/ou a forma-conteúdo de uso do território adquire

características distintas de acordo com as sociedades, as épocas e as formações

socioespaciais. Nesse sentido, não se pode falar de um uso indistinto do território sem

especificar as épocas e suas respectivas formações, responsáveis pelas transformações do

espaço urbano (SANTOS; SILVEIRA, 2001).

Os usos do território urbano ocorrem por meio de diferentes intencionalidades,

pois, a cidade não é uma estrutura homogênea, mas sim heterogênea, ou seja, um sistema

urbano segmentado em subsistemas, caracterizados por diversas atividades

socioeconômicas.

A atual dinâmica das cidades, comandada pela lógica do capital e pelos usos

hegemônicos do território, geram desiguais estruturas intraurbanas, com bairros que se

diferem uns dos outros no que tange ao poder socioeconômico de seus moradores e às suas

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infraestruturas. Tal desigualdade decorre do fato da transformação da urbe ocorrer para

atender as necessidades de agentes hegemônicos do capital (OLIVEIRA, 2014).

Nesse sentido, geralmente, é no perímetro central das cidades onde o valor do

metro quadrado do território é maior, por essa área ser supervalorizada no que se refere a

infraestruturas e circulações, atraindo uma maior especulação imobiliária. É no centro de

cidades que se concentram a maioria dos fixos1 e dos fluxos

2 que imprimem à cidade uma

diversidade e uma dinâmica visível do movimento de pedestres e de veículos (FARIA,

2011). Contudo, pode ocorrer também a valorização de áreas periféricas ou outrora não

valorizadas na cidade, devido ao fato dessas áreas apresentarem boa localização e certa

infraestrutura para investimentos, motivando, assim, a ação de agentes do capital

imobiliário (OLIVEIRA, 2009).

Em suma, ao analisar os diversos usos do território, podemos considerar que o

espaço urbano é dinâmico, sendo caracterizado pela coexistência de agentes hegemônicos e

de agentes não hegemônicos, que desenvolvem atividades do circuito superior e atividades

do circuito inferior. Grosso modo, a maioria dos usos do território se faz para fins

residenciais, todavia, evidencia-se também que há usos para atividades econômicas,

principalmente, as atividades de comércio e de prestação de serviços. Sublinhamos que

“esses usos do território se realizam de forma dialética, envolvem relações de

complementaridade e concorrência, conformando o espaço banal3” (MONTENEGRO,

2006, p. 50).

2.3 USOS DO TERRITÓRIO URBANO POR AGENTES HEGEMÔNICOS E POR

AGENTES NÃO HEGEMÔNICOS

Para analisarmos os usos do território por agentes hegemônicos e por agentes não

hegemônicos devemos considerar a totalidade da dinâmica territorial da cidade. Os agentes

1 De acordo com Santos (1997, p. 77) “os fixos são os próprios instrumentos de trabalho e as forças

produtivas em geral, incluindo a massa dos homens. Não é por outra razão que os diversos lugares, criados

para exercitar o trabalho, não são idênticos e o [seu] rendimento [será de acordo] com a adequação dos

objetos ao processo imediato de trabalho”. 2 “Os fluxos são os movimentos, a circulação e assim eles nos dão, também, a explicação dos fenômenos da

distribuição e do consumo” (SANTOS, 1997, p. 77). 3 De acordo com Santos (1994, p.26), “o todo constitui o espaço banal, isto é, o espaço de todos os homens,

de todas as firmas, [instituições], de todas as organizações, de todas as ações — numa palavra, o espaço

geográfico”. Do mesmo modo, Santos (2009, p. 4) frisa que “[...] o espaço do geógrafo e as cidades se

tornaram hoje espaço banal por excelência, porque nenhum outro subespaço mistura tanto os homens, as

empresas, as instituições, que se criam, às vezes, à revelia das instituições hegemônicas”.

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hegemônicos que usam o território urbano compreendem autoridades estatais, instituições

bancárias e financeiras, grandes empresários, grandes redes de comércio, dentre outros. Os

agentes não hegemônicos são os responsáveis por pequenas atividades produtivas,

comerciais e/ou de prestação de serviços.

De acordo com Silveira (2011, p. 4):

Esses agentes hegemônicos são usuários e produtores das variáveis modernas do

período ou, em outras palavras, sua posição dominante advém da modernização e

se reforça promovendo novas modernizações. A incorporação de tais variáveis

por parte do circuito superior revela, frequentemente, um uso privilegiado dos

bens públicos e um uso hierárquico dos bens privados, de modo a redefinir o

valor dos capitais (incluída a localização), das tecnologias e das organizações

daqueles que não podem acompanhar o passo.

Igualmente, compreendemos que os espaços

[...] são produzidos por agentes sociais e, nesse processo de produção, alguns

segmentos obtêm vantagens locacionais enquanto outros, não, resultando daí a

diferenciação social e espacial. [...] o uso é submetido às trocas relacionadas ao

mundo da mercadoria, materializando-se, assim, a dissolução das relações

sociais (ROMA, 2008, p.36).

No contexto das cidades brasileiras, “os agentes [hegemônicos] que produzem

espaço urbano [são] os industriais, os proprietários fundiários, os promotores imobiliários,

o Estado, e os grupos sociais excluídos [agentes não hegemônicos]” (CORRÊA, 1989 apud

FRESCA, 2015. p. 57), a partir das mais variadas intencionalidades que expressam

diferentes usos do território.

Na contemporaneidade, cada vez mais, tem aumentado as interdependências entre

os agentes hegemônicos e os não hegemônicos, tendo em vista a crescente incorporação de

variáveis-chave do período atual por atividades do circuito inferior, fato que gera o

desenvolvimento de novas atividades na economia popular e possibilita a comercialização

de novas mercadorias em atividades dessa economia. Nesse sentido, pode-se constatar uma

nova dinâmica urbana, com a “articulação entre uma propaganda onipresente e a expansão

do crédito à população pobre” (não hegemônica), por parte de agentes do circuito superior

(MONTENEGRO, 2013, p. 38), bem como pelo uso de técnicas modernas em atividades

desenvolvidas por agentes do circuito inferior, como celulares, computadores, câmeras,

instrumentos de áudio, muitas das quais adquiridas junto ao circuito superior

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(SALVADOR, 2012a). Contudo, a facilitação do crédito para agentes não hegemônicos

desencadeia também um processo de endividamento desses agentes (MONTENEGRO,

2013), pois, conforme Silveira (2011, p. 20), “aumentam também as subordinações, pois o

crescimento do consumo no circuito superior significa a diminuição das oportunidades de

produzir e vender no circuito inferior e, como corolário, advém o endividamento, a

insolvência e a inadimplência”.

Isso ocorre por que as variáveis-chave do período atual (técnica, informação,

consumo e finanças) são determinadas e comandadas por agentes hegemônicos do

mercado, sendo, portanto, fundamentadas pela lógica dominante do capital, fato que faz

com que os usos de tais variáveis se tornem

[...] mecanismos intensificadores das desigualdades sociais, de forma que, suas

bases foram ampliadas por novas formas de reestruturação do modus operandi

do capital que conseguiu atrair as camadas populares para novas formas de

consumo de insumos materiais e imateriais, gerando um ciclo cada vez mais

dependente da política dos agentes hegemônicos (MEDEIROS, 2013, p. 235).

Visando manter a determinação e o controle das variáveis-chave do período atual e

da macroestrutura da economia urbana, os agentes hegemônicos do mercado

constantemente reorganizam suas estratégias visando a obtenção de maiores percentuais de

lucratividade, o que gera também novos usos do território (OLIVEIRA, 2014). Tais

agentes implantam novos fixos em determinados subespaços e constroem

empreendimentos que redefinem o valor de alguns territórios, colocando em baila, dessa

maneira, um uso extremamente exploratório do território, que é considerado como um

recurso. Assim, Rochefort (2008, p. 80 apud FARIA, 2011, p.122), afirma que “a

expropriação pelos ricos dos solos urbanizáveis e o cortejo dos especuladores fundiários

que dela resultam são mecanismos bastante frequentes na produção do solo urbano”.

Os agentes hegemônicos usam o território como recurso, objetivando elevados

lucros, gerando ou perpetuando, assim, desigualdades socioeconômicas e territoriais. Ao

contrário, os agentes não hegemônicos usam o território como abrigo, visando a sua

sobrevivência, pois, enfrentam cotidianamente precárias situações de trabalho e de vida.

Desse modo, fica evidente que o território urbano não é usado apenas pelos agentes

hegemônicos. Não obstante estes determinarem e comandarem a macroestrutura social e

econômica do território, há também o uso não hegemônico do território, que é subordinado

ao uso hegemônico, por não ter oportunidade de determinar e/ou comandar variáveis e

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estruturas, mas apenas de incorporar, de maneira inferior, variáveis em suas estruturas, o

que torna a pobreza estrutural e ajuda a perpetuar o sistema socioeconômico vigente.

Todavia, o que nos chama bastante atenção é o fato de o território ser banal, isto é,

caracterizado pela coexistência de diferentes e desiguais agentes sociais, vivendo e

trabalhando em constantes relações de complementaridades, de concorrências e de

subordinações.

Todavia, além de banal, o território urbano é desigual, pois, segundo Silveira

(2011), com a finalidade de tornar o território mais equipado e fluido, o Estado constrói

infraestruturas e realiza diversas ações políticas para modernizar seletivamente o território,

o que na cidade é revelado por um processo que pode ser chamado de urbanização

corporativa. Destarte,

[...] a partir de um equipamento seletivo do território, dá-se uma urbanização

corporativa rapidamente crescente e despontam metrópoles e cidades

corporativas, onde, de um lado, a modernização do meio ambiente construído

favorece as grandes empresas e, de outro, o êxito das reivindicações dos grupos

sociais vai depender de pressões corporativas. Nessas condições, parcela

importante dos recursos públicos se dirige a um equipamento urbano seletivo, de

interesse da economia hegemônica e das camadas sociais hegemônicas

(SANTOS, 1994, p. 143 apud SILVEIRA, 2011, p.3).

A complexidade das ações dos agentes hegemônicos e dos não hegemônicos

incluem práticas que levam a um constante processo de reorganização espacial que se faz

via incorporação de novas áreas no espaço urbano. Esses novos usos do território

promovem deterioração de certas áreas, renovação urbana, relocação diferenciada da

infraestrutura e mudanças, coercitivas ou não, do conteúdo social e econômico de

determinadas áreas da cidade (CORRÊA, 2000).

Os novos usos do território urbano vêm sendo feitos pelo desenvolvimento de

atividades ou de serviços na economia popular antes não existentes, em decorrência da

incorporação de variáveis-chave do período atual no circuito inferior da economia. Assim

sendo, os novos usos ocorrem também pela expansão do poder exercido por agentes do

circuito superior, que banalizam, cada vez mais, suas intencionalidades na quase totalidade

do território e da sociedade, o que amplifica os lucros obtidos pelos agentes hegemônicos

da economia dominante. Com isso, em sua essência, “[...] sob a lógica do lucro, a cidade

vem sendo produzida para gerar lucratividade” (OLIVEIRA, 2014, p. 54).

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Outra forma de se usar o território é pela construção de moradias, muitas delas

construídas em loteamentos4. Vale salientar que se faz necessário obedecer a legislação

que regula tal ação – Lei nº 6.766, de dezembro de 1979, que dispõe sobre o Parcelamento

do Solo Urbano e outras Providências (BRASIL, 1979). Todavia, muitos loteamentos são

feitos sem fiscalização e controle pelos Órgãos Públicos competentes, ou podem até

mesmo serem feitos sem o conhecimento da legislação específica por parte do

empreendedor ou dos construtores (MOURA; COSTA, 2016). Desse modo, criam-se

loteamentos em diversas áreas do território urbano, principalmente, em bairros periféricos.

Acerca desses loteamentos, Rochefort (2008, p. 81 apud FARIA, 2011, p. 126) afirma que

[...] loteamentos ilegais, frequentemente chamados “clandestinos”, que na

maioria das vezes são tolerados pelo poder público, constituem um mercado não

regulamentado, mas muito importante para o alojamento das populações

modestas e estão na origem das vastas zonas de pequenas casas ou de imóveis

médios, intermediários entre a modernidade dos bairros ricos ou densamente

técnicos e o abandono das favelas ou os subespaços de rarefação técnica.

Há também loteamentos que são criados de acordo com as exigências da lei. Esses

empreendimentos são feitos com o apoio e a chancela do Estado, que implanta no território

infraestruturas que possibilitam condições dignas de vida e a efetivação de fluxos

(SANTOS, 1994). Fazendo isso, o Estado atender às necessidades de agentes imobiliários,

os quais, por meio da especulação, usam o território como uma forma de se obter grande

lucratividade (OLIVEIRA, 2014; SALVADOR, 2012a).

No contexto da dinâmica do espaço urbano, existem nexos com o processo de

Globalização, os quais são denominados por Santos (2006) de horizontalidades e

verticalidades. Esses nexos são simultâneos e complementares, constituindo o espaço

urbano por meio das relações entre agentes e atividades hegemônicas e não hegemônicas.

As horizontalidades são “extensões formadas de pontos que se agregam sem

descontinuidade, como na definição tradicional de região” (SANTOS, 2006, p.191).

Assim, “[...] se conformam através de relações econômicas, políticas, sociais e culturais

que se estabelecem nas escalas locais e regionais, nas quais é possível convergir

solidariedades locais” (PESSOA, 2015, p. 62). Isto é, “são tanto o lugar da finalidade

4 De acordo com a Lei nº 6.766/1979, em seu Art. 2º no § 1º, considera-se loteamento a subdivisão de gleba

em lotes destinados a edificação, com abertura de novas vias de circulação, de logradouros públicos ou

prolongamento, modificação ou ampliação das vias existentes (BRASIL, 1979).

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imposta de fora, de longe e de cima, quanto o da contrafinalidade, localmente gerada”,

muitas vezes por agentes não hegemônicos (SANTOS, 2006, p. 193).

As verticalidades são “pontos no espaço que, separados uns dos outros, asseguram

o funcionamento global da sociedade e da economia” (SANTOS, 2006, p. 191). Nesse

sentido, estão “conformadas por relações que hierarquizam os espaços, nas quais imperam

as racionalidades de origem distante, portadoras de ordens estranhas ao lugar, produzindo

um efeito desintegrador das solidariedades locais e uma perda relativa da capacidade de

gestão da vida local” (PESSOA, 2015, p. 62). Portanto, “são vetores de uma racionalidade

superior e do discurso pragmático dos setores hegemônicos, criando um cotidiano

obediente e disciplinado” (SANTOS, 2006, p. 193).

Com o meio técnico-científico-informacional, atividades hegemônicas podem se

instalar nos mais variados lugares, desconcentrando circuitos espaciais produtivos para, por

meio da circulação e da exploração do trabalho, obter maiores vantagens locacionais e,

consequentemente, lucros. Destarte, a Globalização é constituída por espaços (leia-se

lugares) funcionais ao seu desenvolvimento (SANTOS, 1994), sendo um processo seletivo

e, portanto, gerador e/ou intensificador de desigualdades sociais, econômicas e territoriais.

Assim, no que se refere ao conteúdo técnico, científico e informacional dos

territórios, existem “áreas de densidade [denominadas] luminosas, e áreas praticamente

vazias [denominadas] opacas e uma infinidade de situações intermediárias estando cada

combinação à altura de suportar as diferentes modalidades do funcionamento das

sociedades em questão” (SANTOS, 1994, p. 25). O uso dos lugares luminosos é,

predominantemente, feito por agentes hegemônicos, enquanto que os lugares opacos são

bastante usados pelos agentes não hegemônicos. Nos lugares luminosos os objetos técnicos

são os vetores da modernidade econômica, sendo espaços constituídos ao sabor da

hegemonia, justapondo, superpondo e contrapondo riqueza e pobreza, atividades da

economia dominantes e atividades da economia popular. Já nos lugares opacos o destaque

é para a aproximação, a criatividade e a solidariedade orgânica, com a predominância de

existencialismos territoriais cujo fundamento é a sobrevivência (SANTOS, 2006).

Em suma, compreendemos que, pela teoria dos circuitos da economia urbana e pela

perspectiva do uso do território, podemos apreender a totalidade da cidade, que nos

revelam diversos acontecimentos geográficos, diferentes usos do território, “na

interferência de fatores externos, na permanência ou resistência do lugar, na interação das

formas com as funções e nas estruturas que surgem em áreas em expansão”, como também,

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na “fragmentação e coexistência”, conforme as necessidades de seus agentes sociais

(hegemônicos e não hegemônicos), ou seja, das “diferentes populações”. Sendo assim, as

intencionalidades humanas e sociais se revelam tanto nos lugares luminosos quanto nos

opacos, sendo, portanto, o território urbano um espaço banal, que é explorado por agentes

hegemônicos ou se apresenta como abrigo de agentes não hegemônicos. Um espaço de

todos os homens e de todas as atividades, sem exceção (FARIA, 2011; SANTOS, 2006).

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3 ACARI: FORMAÇÃO TERRITORIAL E DINÂMICA DA ECONOMIA

URBANA ATUALMENTE

Os processos de formação territorial do Rio Grande do Norte e de Acari ocorreram

a partir de atividades econômicas tradicionais, sobretudo, da pecuária da cotonicultura.

Grosso modo, tais atividades alicerçaram a produção do espaço até a primeira metade do

século XX, quando, devido a conjunturas nacionais e internacionais, entraram em crise e

perderam destaque na dinâmica econômica do estado. Assim, na segunda metade do século

XX, tem início um processo de reestruturação da economia e do uso do território potiguar e

acariense, com a expansão da urbanização alicerçada em relações dos circuitos da

economia urbana, principalmente, de atividades comerciais e de prestação de serviços.

Destarte, neste capítulo, analisamos a formação territorial e a reestruturação da economia

de Acari, sublinhando os circuitos da economia urbana na atual dinâmica do espaço.

3.1 FORMAÇÃO TERRITORIAL DO MUNICÍPIO E DA CIDADE DE ACARI

O processo de formação do território potiguar decorre da exploração do território

colonial brasileiro, que, a partir do século XVI, fora submetido ao projeto de expansão

capitalista internacional, especificamente, português.

A ocupação do território potiguar ocorreu, inicialmente, no litoral leste5, por meio

de pequenos núcleos populacionais, não sendo considerado “um povoamento propriamente

dito” (GOMES, 1998, p. 24), mas uma tímida ocupação com o objetivo de defender e de

proteger o território recém “descoberto”. Em 1598 houve a oficialização do processo de

ocupação do território norte-rio-grandense, com a construção de um forte6. Em 1599, foi

fundada a primeira cidade do território, Natal. Contudo, “apenas a partir do século XVIII

teve início a divisão político-administrativa [...], quando foram criadas sete unidades

5 Segundo Lopes (2003, p. 29 apud TRINDADE, 2010, p. 40), há poucas informações sobre os potiguares

nesse período de conquista devido “ao quase abandono da região pelos portugueses” e ao “privilegiamento da

exploração das áreas mais propícias à rentabilidade econômica imediata (Pernambuco, Bahia e Rio de

Janeiro)”. Mesmo “os franceses que aportavam na costa do Rio Grande à procura de pau-brasil também não

deixaram relatos sobre esse período inicial, principalmente porque aqui estavam como corsários, flibusteiros

autorizados pela Coroa Francesa, mas não legais do ponto de vista das relações políticas europeias”. 6 Para assegurar o espaço conquistado, os portugueses iniciaram, a 06 de janeiro de 1598, a construção da

Fortaleza dos Santos Reis, “[...], erguido a setecentos e cinquenta metros da barra do Potengi, ilhado nas

marés altas” (TRINDADE, 2010, p. 41, destaque do autor).

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administrativas” (MEDEIROS, 2015, p. 91). Nesse sentido, “em 18177, a Coroa

portuguesa resolveu conceder autonomia à capitania do Rio Grande do Norte, afastando-a

da influência política e administrativa de Pernambuco” (TRINDADE, 2010, p.102).

O Rio Grande do Norte passou a contar com a produção do “processo canavieiro,

voltado para a fabricação de açúcar8”. Mesmo essa produção sendo pouca significativa, se

comparada a outros estados do período colonial, teve a sua importância econômica, além

de contribuir com “o processo de construção do território” potiguar e ter feito “surgir

vários outros centros urbanos localizados no litoral leste, sendo estes: Vila Flor, Arêz, São

José do Mipibu e Ceará Mirim” (GOMES, 1998, p. 24). Por conseguinte, foram

desenvolvidas também a pecuária, o cultivo do algodão e a agricultura de subsistência,

atividades que fundamentaram a ocupação do interior do território potiguar. Conforme

afirma Gomes (1998, p. 24),

[...] a ocupação e construção do território tem sua base no desenvolvimento de

atividades agrícolas como a cana-de-açúcar, a pecuária e o algodão que

utilizavam técnicas tradicionais. Paralelo a essas atividades também se

desenvolvia a economia de subsistência com uma produção voltada para culturas

alimentares, sendo praticada por pequenos produtores rurais.

Assim, cada uma dessas atividades teve a sua importância no processo de formação

do território potiguar. A cana-de-açúcar se apresentou como o ponto de partida, sendo a

responsável pelos primeiros centros urbanos; a pecuária foi importante para a expansão do

homem para o interior do estado; e o algodão para a fixação do homem no interior e,

assim, para a redefinição do território (GOMES, 1998).

Com o declínio da atividade canavieira, devido a maior competitividade do açúcar

produzido nas Antilhas, a pecuária passou a ter papel relevante na economia norte-rio-

grandense. O gado bovino não podia conviver com a atividade canavieira, para não

pisotear a plantação de cana. Além disso, se adequa às características fisiográficas do

sertão. Por esses motivos, foi levado para o interior e aí criado (GOMES, 1998). Destarte,

o processo de ocupação e povoamento do interior do Rio Grande do Norte deu-se a partir

7 Neste período a província potiguar, “contava com oito municípios [:] Natal, Estremoz, Arêz, Portalegre, São

José, Vila Flor, Vila do Príncipe (Caicó), Vila Nova da Princesa (Açu); [o estado] tinha aproximadamente 71

mil habitantes, dos quais 800 moravam em Natal” (CASCUDO, 1973 apud TRINDADE, 2010, p. 106). 8 A atividade açucareira concentrou-se inicialmente nos vales úmidos por serem áreas mais propicias para o

seu desenvolvimento e para o escoamento da produção. Mesmo sendo uma atividade capitalista, “se realizava

partir de relações não capitalistas, [como a utilização de] força de trabalho escrava” (GOMES, 1998, p. 24).

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do desenvolvimento da pecuária, no período compreendido entre os séculos XVII e XVIII

(MEDEIROS, 2015).

No que se refere ao povoamento do Seridó9, acreditamos que esse ocorreu “[...]

proveniente do São Francisco, atingindo o Seridó através da Borborema” (CASCUDO,

1968 apud GOMES, 1998, p. 27). Houve grande resistência por parte dos nativos, fato que

resultou em muitos conflitos, como a Guerra dos Bárbaros (1683-1704). Após essa guerra,

o povoamento pelos colonizadores começou a ter êxito, nas ribeiras dos rios Apodi-

Mossoró, Piranhas-Açú e Seridó (GOMES, 1998; MEDEIROS, 2015).

Por meio da pecuária, o sertão potiguar foi integrado a outras áreas, pelas oficinas

de carne seca conhecidas também como charqueadas10

(GOMES, 1998).

Especificamente na Região Seridó, o curso dos rios Acauã e Seridó era percurso

dos criadores de gado em busca dos melhores locais para instalar suas fazendas. Assim,

surgiram várias vilas e, posteriormente, cidades, como Caicó, Acari e Currais Novos.

Nesse contexto, o território acariense servia como um ponto de apoio para os viajantes com

suas boiadas fazerem pousadas, sobretudo, às margens do Rio Acauã. Os aspectos naturais

de Acari eram favoráveis para o descanso e para o pasto dos bois, tornando-se, assim,

parada obrigatória para os homens que tangiam boiadas do interior para o litoral do estado.

Nessas paradas, alguns tangerinos se fixavam em Acari, ajudando a dar origem à

comunidade local (GALVÃO, 2005, 2012; SANTA ROSA, 1974 apud MEDEIROS,

2015).

Os novos povoadores – antes já haviam indígenas – chegaram em Acari na primeira

metade do século XVIII, por volta de 1718, e inauguraram as primeiras fazendas nas

ribeiras do Rio Acauã (GALVÃO, 2012). Segundo afirma Medeiros (2015, p. 88), no Rio

Grande do Norte, “o fato de a pecuária não requerer muita mão de obra fez com que o

povoamento [...] ocorresse de forma lenta [...]. [...] a atividade complementar consistia na

agricultura de subsistência, [a qual] não incentivava a sustentação de um mercado local”.

9 Para Gomes (1998, p. 27) “existe uma indicação histórica que o grande colonizador do Sertão [potiguar] foi

o posseiro [componente de entradas e bandeiras, na busca de índios] que, [...], ia se apossando da terra

efetuando plantações e criando condições necessárias para os intensos conflitos de terras. Foi ele que fundou

os primeiros currais de gado, as [...] casas, fez os [...] cercados, os [...] engenhos de açúcar, fabricou as [...]

rapaduras e destilou a aguardente nos velhos alambiques de barros”. 10

Estas oficinas eram uma técnica cearense e se desenvolveram especialmente na área de maior influência do

Ceará, como em Mossoró e Açu, em virtude da disponibilidade abundante de sal, tendo em vista que nas

charqueadas colocava-se sal nas carnes para conservá-las por um maior tempo. Com esse processo eram

abastecidos mercados potiguares, especialmente na área canavieira (GOMES, 1998).

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No processo de ocupação do espaço acariense, a Igreja teve um importante papel,

pois, a partir da construção de capelas, determinou a centralidade territorial da povoação,

com a edificação, em seu entorno, das primeiras ruas e o estabelecimento do comércio.

Além disso, a Igreja sempre foi um lugar de encontro, para as celebrações religiosas

(MEDEIROS, 2015).

Sendo assim, o Sargento-Mor Manoel Esteves de Andrade é o fundador do povoado

onde hoje existe a cidade de Acari11

. Por meio de sua iniciativa foi erguida, em 1738, a

primeira capela dedicada à Nossa Senhora da Guia, hoje a atual Igreja do Rosário

(fotografia 01) (ACARI, 1972). Outra pessoa também importante na história do

povoamento acariense é Tomaz de Araújo Pereira (1735-1847), que, com o seu poder

econômico, construiu residências e, desse modo, ajudou a expandir a vila para transformá-

la em cidade (ACARI, 1972). Assim, Acari, segundo Medeiros Filho (2002 apud

GALVÃO, 2005, p. 44) “foi criado em 11 de abril de 1833”, data da emancipação política

do município, passando a ser município de fato e de direito em 18 de março de 1835 e

recebendo o título de cidade em 15 de agosto de 1898 (ACARI, 1972). É a segunda cidade

mais antiga do Seridó Potiguar; a primeira é Caicó (GALVÃO, 2005, 2012).

Hoje, Acari possui um perímetro urbano de 32.782,34 m (Mapa 02), de acordo com

a Lei municipal nº 955/2011, com uma área de 608,466 Km2. O município está localizado

na Microrregião do Seridó Oriental e na Mesorregião Central Potiguar. Limita-se ao Norte

com São Vicente e Currais Novos; ao Sul com Carnaúba dos Dantas e Jardim do Seridó; ao

Leste com Currais Novos, Carnaúba dos Dantas e Picuí (PB); e a Oeste com Cruzeta e São

José do Seridó. A sua distância com relação à capital do estado – Natal – é de 201 Km.

11

O nome da cidade é originário de uma espécie de peixe conhecida popularmente como Acari (Hypostomus

affinis), comum no Rio Acauã, manancial onde os tangedores de bois e os nativos pescavam (GALVÃO,

2012).

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Fotografia 01

Acari – Igreja do Rosário, construída em 1840

Fonte: Arquivo do Autor, 2016.

Mapa 02

Acari – Localização da zona urbana do município

Fonte: Elaborado por Anderson A. Silva, 2016.

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A ocupação do território potiguar integra um processo continuo vinculado aos

contextos nacional e internacional, decorrente da expansão do capital na busca de novos

territórios, matérias prima e mercadorias. Nessa lógica, com a crise da pecuária, outra

atividade econômica interessante ao capital externo alicerçou a produção do espaço

acariense: o algodão.

O algodão tornou-se o principal produto da economia potiguar no final do século

XIX. Na Região Seridó, a cultura algodoeira passou a ocupar áreas antes de predomínio da

pecuária, estabelecendo, assim, uma nova forma de ocupação do espaço (MEDEIROS,

2015). A produção do algodão do Seridó era destinada ao mercado externo, se constituindo

em matéria-prima para a indústria têxtil inglesa. No processo de produção e exportação do

algodão houve momentos de avanços e retrocessos, ocasionados, sobretudo, por fatores da

conjuntura externa. Por exemplo, durante a Revolução Industrial Inglesa (século XVIII) e a

Guerra de Secessão (1861-1869), nos Estados Unidos da América, foram períodos em a

cotonicultura potiguar teve grande impulso e destaque (GALVÃO, 2005, 2012; GOMES,

1998; MEDEIROS, 2015). Sendo assim, o cultivo do algodão mocó foi uma atividade

econômica importante para o desenvolvimento do Rio Grande do Norte, principalmente,

para a Região Seridó. Segundo Galvão (2012, p. 92), essa região “teve grande impulso na

produção de algodão, pois passou a exportar para a Inglaterra, e [...] despontou como

produtora de algodão de fibra longa, denominado mocó, que pela historiografia se diz o

melhor do mundo” (destaque da autora).

Com a cotonicultura, o processo de construção do território norte-rio-grandense foi

fortalecido, com a intensificação da ocupação de núcleos já existentes. No Seridó ocorreu a

expansão da economia e, consequentemente, a estruturação de cidades, pois, as máquinas

de beneficiar o algodão eram instaladas tanto nas fazendas como nos núcleos urbanos.

Dessa maneira, essa atividade proporcionou uma reorganização do espaço urbano

de Acari, conforme afirma Galvão (2012, p. 92): “Seu beneficiamento industrial,

especialmente do tipo mocó, nas usinas de Acari, elevou o município à condição de

produtor e exportador”. Fato também asseverado por Santa Rosa (1974 apud GALVÃO,

2005, p. 56): “Reforçava-se deste modo a economia do Acari. [...]. Passou-se a plantar a

malvácea para atender à exportação”. Ainda segundo Galvão (2005, p. 56-57)

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esse período foi de grande prosperidade para o município, que passou a ter, como

principal fonte de renda, o capital comercial, oriundo das exportações do

algodão. Tal prosperidade possibilitou a construção das melhores casas,

estabelecimentos comerciais e, até, a conclusão das obras [em 1867] da igreja

matriz de Nossa Senhora da Guia.

Entre o final do século XIX e o início do século XX, com o aumento da demanda

internacional pelo algodão, o seu processo produtivo foi modernizado no Rio Grande do

Norte, sendo que o beneficiamento da matéria-prima passou a ser feito por máquinas,

chamadas de bolandeiras e locomóveis. Assim, aumentou a produtividade do trabalho e a

rentabilidade da produção (GALVÃO, 2005, 2012). Nesse período, foi construída a Casa

de Câmara e Cadeia (1878-1887), hoje Museu do Sertanejo (Fotografia 02), sendo um

símbolo da prosperidade que o ciclo algodoeiro propiciou para a cidade (GALVÃO, 2005).

Fotografia 02

Acari – Museu do Sertanejo

Fonte: Google Imagens, 2016.

Em 1940, segundo narra o acariense Galvão (2015, p. 33), a economia do

município

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[...] era baseada na pecuária extensiva de corte e de leite e, principalmente, na

cultura do algodão mocó ou Seridó, [...]. Dentro dessas condições favoráveis da

economia do Seridó, o Seu Chico Seráfico, com grande visão empreendedora e

aguçado senso de oportunidade, desenvolveu a sua empresa Nóbrega & Dantas,

inicialmente para beneficiamento do algodão e, posteriormente, para

industrialização do óleo do caroço do algodão, com unidades industriais em

Acari e em Macaíba e representações comerciais no Nordeste e no Centro-Sul do

país.

Dentre as usinas de beneficiamento de algodão então existentes no interior do Rio

Grande do Norte, duas eram situadas em Acari, uma pertencente à Sociedade Algodoeira

do Nordeste Brasileiro (SANBRA) (fotografia 03) e outra pertencente ao grupo Nóbrega e

Dantas S/A (fotografia 04).

Fotografia 03

Acari – Usina SANBRA

Fonte: Arquivo do Autor, 2016.

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Fotografia 04

Acari – Usina Nóbrega e Dantas

Fonte: Google Imagens, 2016.

Assim, no início do século XX, Acari era um município de destaque regional na

produção e no beneficiamento do algodão (tabela 01), fato que tornava sua economia forte,

no contexto do Seridó Potiguar, e gerava trabalho, emprego e renda para várias famílias

(GALVÃO 2005, 2012). A força da economia se revelava na feira local, que era realizada

semanalmente, no Mercado Público, com a comercialização de diversos produtos e

serviços e a atração de muitas pessoas que residiam em localidades próximas (SILVA,

2015). Além disso, o crescimento econômico gerava crescimento da cidade, possibilitando

o desenvolvimento de várias atividades de prestação de serviços demandados pela

população local, como serviços de pedreiro, de sapateiro, de ferreiro, de mecânico de

máquinas beneficiadoras de algodão, de carpinteiro, de barbeiro, entre outros; além disso,

serviços públicos eram demandados e a viabilização dos mesmos também contribuía para a

geração de trabalho e renda, como a construção de escolas e de postos de saúde.

Outrossim, crescia o pequeno comércio, que vendia alimentos, bebidas, produtos de

limpeza e de higiene, roupas e utensílios para o lar. Em suma, os efeitos do progresso

econômico gerado pela cotonicultura causavam expansão do espaço urbano de Acari.

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Tabela 01

Região do Seridó Potiguar – Número de beneficiadores de algodão existentes nos municípios, em 1910

MUNICÍPIOS BENEFICIADORES

BOLANDEIRAS LOCOMÓVEIS

Acari 27 09

Caicó 22 09

Currais Novos 25 06

Flores 10 09

Jardim do Seridó 28 09

Serra Negra 12 06

Total 124 47

Fonte: Adaptado de Galvão (2012, p. 93).

O desenvolvimento da cotonicultura em Acari ampliou a divisão do trabalho na

cidade. Segundo Galvão (2012, p. 93-94), “[...] essa nova dinâmica influenciou a

ampliação do espaço urbano e sua organização socioespacial, redefinindo sua cartografia”.

Nessa conjuntura, houveram algumas benfeitorias em Acari, como a geração de novos

trabalhos e empregos, além de serviços, a saber: o desenvolvimento de serviços públicos e

particulares de educação, saúde e segurança, bem como a instalação de banco e de

escritórios de empresas de energia, água e telefonia na cidade (MEDEIROS, 2015).

Outrossim, a prosperidade da economia algodoeira proporcionou a construção de melhores

casas e de estabelecimentos comerciais em Acari. Contudo, vale salientar que, em 1940,

poucas casas possuíam saneamento básico bem como energia elétrica. O acariense

Ivanaldo B. de A. Galvão, autor do livro “Acari anos 40”, ao relatar suas vivências deste

período, descreve que:

A cidade só dispunha de energia elétrica à noite, não tinha água encanada [...],

não tinha estradas pavimentadas, e só contava com dois ou três automóveis que

faziam corridas a frete [...]. O motor da luz, movido a óleo diesel, era ligado pela

prefeitura, entre as cinco e meia e seis horas da tarde, [...] e desligado às dez e

meia da noite. Cerca de quinze minutos antes de desligar davam o sinal da luz,

baixando a voltagem rapidamente para que todos se preparassem para dormir ou

ascendessem os seus candeeiros e faróis a querosene. [...] em duas ou três casas

de Acari, [...] haviam pequenos cata-ventos que geravam energia acumulada em

baterias durante o dia e à noite dava para ascender algumas lâmpadas em casa.

Ter luz já era um grande avanço de modernidade [...] (GALVÃO, 2015, p. 19,

destaque do autor).

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Na década de 1970, a cotonicultura desenvolvida no Nordeste brasileiro foi

estagnada. Especificamente na Região Seridó, segundo Medeiros (2015) e Galvão (2005,

2012), ocorreu uma enorme crise para as indústrias algodoeiras, assolando toda a economia

regional, em decorrência, de um lado, da praga do bicudo e, de outro lado, das alterações

na demanda atrelada aos avanços tecnológicos e empresariais da indústria têxtil. A crise da

economia algodoeira afetou bastante a dinâmica acariense, pois, o processo de mudanças

econômicas e tecnológicas

[...] ocasionou crises na agroindústria do Nordeste e, em particular, falência da

economia industrial de Acari com o fechamento das indústrias algodoeiras. O

declínio da economia acariense produziu também mudança na rede urbana

regional, quanto à sua posição frente às economias do seu entorno. Dependente,

sobretudo, dos dois polos regionais do Seridó, Currais Novos e Caicó, Acari

perdeu a condição de centro de produção industrial e se transformou em cidade

de passagem obrigatória para todos os viajantes que buscam seus vizinhos

(GALVÃO, 2012, p. 93).

Do auge (final do século XIX) ao declínio (segunda metade do século XX) do

desenvolvimento da cotonicultura no Rio Grande do Norte, Acari está marcada pelos

efeitos dessa atividade econômica, como uma das principais da sua histórica dinâmica

territorial. Vale destacar que, concomitantemente às transformações ocasionadas pelo

beneficiamento do algodão no espaço urbano de Acari, com o desenvolvimento de novas

atividades econômicas, empreendeu-se a construção do Açude Marechal Dutra,

popularmente conhecido como Gargalheiras. O projeto inicial de construção decorre do

início do século XX, no governo do Presidente da República Nilo Peçanha, quando foi

criado o órgão de Inspetoria de Obras Contra a Seca (IOCS), cuja “proposta de trabalho se

referia a estudos para minimizar a problemática dos sertanejos com a seca e promover a

qualidade de vida nas localidades” (VITAL, 2015, p. 54). Durante o período das obras,

teve a visita de dois Presidentes da República – Washington Luiz e Café Filho (GALVÃO,

2015).

A construção do Açude Gargalheiras foi iniciada em 1909. Em 1922, já no governo

do Presidente Epitácio Pessoa, visando maior rapidez da obra, foi determinado que a

construção fosse entregue à responsabilidade da firma inglesa Wagner Walker (VITAL,

2015). Contudo, tal empresa só construiu as instalações que serviram de apoio logístico

para os servidores, interrompendo, logo após, os serviços de construção. De 1930 a 1940,

as obras ficaram paralisadas. Em 1945, foi criado o Departamento Nacional de Obras

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Contra as Secas (DNOCS), mas, somente em 29 de outubro de 1956, no governo do

Presidente Juscelino Kubitschek, é que foi reiniciada a construção da parede do Açude

Gargalheiras (fotografia 05), sendo finalizada e inaugurada a totalidade da obra em 27 de

abril de 1959 (VITAL, 2015). A capacidade total do Gargalheiras é de 40 milhões de m³ de

água (IDEMA, 2008).

Fotografia 05

Acari – Construção do Açude Marechal Dutra, em 1958

Fonte: Jesus de Miúdo.

Durante esta última fase da construção, destaca-se o contingente de operários que

foram empregados nas obras – cerca de quatro mil –, dentre os quais estavam os advindos

do 1º Batalhão de Engenharia e Construção, cuja sede era em João Pessoa-PB, e foram

designados para concluir a obra, que era de responsabilidade do DNOCS. Também foram

contratados citadinos, dos quais, ao final da obra, alguns foram efetivados como

funcionários do DNOCS. Contudo, o tão sonhado desenvolvimento para os cidadãos

acarienses e para a cidade não ocorreu de imediato, mas sim de forma lenta.

A vinda de operários para Acari a fim de trabalhar na construção do Gargalheiras

deu-se em virtude da seca de 1958, que assolava a Região Seridó, especificamente, o

município, havendo, portanto, a necessidade de terminar o mais rápido possível a obra para

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assim canalizar água para Acari, e em virtude do desejo local de se amplificar a população

do município e, destarte, sua dinâmica econômica. Porém, no final das obras, muitos

operários foram embora para outras cidades, como também remanejados para trabalhar em

obras de outros lugares. Entretanto, em conversas realizadas com pessoas que vivenciaram

tal período, fala-se que houve certo crescimento demográfico e econômico da cidade

(fotografia 06), devido ao fato de terem ocorrido várias construções de prédios privados

destinados para moradias e atividades comerciais e de serviços bem como construções

públicas (fotografia 07). O Gargalheiras contribui para o desenvolvimento de diversas

atividades econômicas na cidade; em épocas de cheias e/ou transbordamentos, apresenta

potencial de atrativo turístico (GOMES, 2015).

Antes das obras do Açude Gargalheiras, ainda haviam muitas famílias que viviam

exclusivamente da agricultura de subsistência, mesmo durante o apogeu da cotonicultura,

e, para atender a demanda por mão de obra, vários citadinos tiveram a chance de trabalhar

pela primeira vez de forma remunerada. Os reflexos disso na economia da cidade

ocorreram por uma significativa injeção de capital, proporcionando um certo

desenvolvimento urbano, no qual novas atividades econômicas e serviços públicos foram

sendo incrementados ou desenvolvidos na cidade, alguns se firmando, principalmente, pós-

crise do algodão.

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Fotografia 06

Acari – Vista aérea do centro da cidade, em 1961

Fonte: Google Imagens, 2016.

Fotografia 07

Acari – Praça dos taxistas. Do lado direito está o Açougue

Público e do lado esquerdo o Mercado Público, em 1969

Fonte: Jesus de Miúdo.

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3.2 REESTRUTURAÇÃO DA ECONOMIA E URBANIZAÇÃO DE ACARI A PARTIR

DA SEGUNDA METADE DO SÉCULO XX

Com o fim da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), em escala mundial, houve a

banalização da modernização econômica e tecnológica dos territórios nacionais. Nos países

subdesenvolvidos, tal modernização foi alicerçada na expansão veemente das atividades

dos circuitos da economia urbana, sobretudo, das atividades comerciais e de prestação de

serviços. Essa expansão é comandada por agentes hegemônicos do mercado e confunde-se

com o atual estágio da internacionalização do capital, denominado por Santos (1994) de

“período técnico-científico-informacional”.

Esse período, que também pode ser chamado de Globalização12

, tem como

principais características: a maior interligação econômica entre as nações mundiais; a

ampliação dos problemas geopolíticos transnacionais e transfronteiriços; as maiores

desigualdades sociais, econômicas e territoriais; e a expansão das formas de gestão

internacional, como é o caso da Organização da Nações Unidas (ONU) e da Organização

Mundial do Comércio (OMC) (ALBANO, 2013). Além disso, tal período é marcado por

duas fases:

[...] a primeira, [...] modernização, [na qual] o Estado desenvolvimentista

promovia as multinacionais como motores principais da difusão do capitalismo

global; a segunda, logo após a crise do petróleo, que endividou vários Estados-

Nação, é a chamada a Fase Neoliberal, em que o poder do Estado é desafiado

pelas instituições supranacionais [Fundo Monetário Internacional e Banco

Mundial] que visam maior penetração do capitalismo (MURRAY, 2006 apud

ALBANO, 2013, p. 159-160, destaque do autor).

Para Santos (2001, p. 15) a Globalização tem uma face perversa, “fundada na

tirania da informação e do dinheiro, na competitividade, na confusão dos espíritos e na

violência estrutural, acarretando o desfalecimento da política do Estado e a imposição de

uma política comandada pelas empresas”. Nesse sentido, é a extensão totalitária da lógica

12

Segundo o Dicionário Aurélio (2001, p, 348) Globalização é o “processo de integração entre economias e

sociedades dos vários países, especialmente no que se refere à produção de mercadorias e serviços, aos

mercados financeiros, e à difusão de informações”. Há autores que defendem que esse processo se dá através

de dois períodos, “chamados de Ondas: a primeira – começa através das Grandes Navegações, século XVI,

no início dos Impérios Português e Espanhol. [...]. Esse período é dividido em duas fases: a mercantilista

(1500-1800), [com] o predomínio do comércio em um sistema chamado Pacto Colonial [...]; e a fase

industrial (1800-1945), quando ocorre a consolidação do capitalismo e a multiplicação da mais-valia, através

da utilização das máquinas. A segunda Onda – começa depois da Grande Depressão e com o fim da Segunda

Guerra Mundial, com a crise dos sistemas coloniais [...] e a descolonização” (MURRAY, 2006 apud

ALBANO, 2013, p. 358, destaques do autor)

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dos mercados financeiros – agentes hegemônicos – para todos os aspectos da vida

(BAUMAN, 1999 apud ALBANO, 2013). No entanto, Santos (2001) admite que o

processo e as formas atuais da Globalização são reversíveis, na medida em que os usos de

sistemas técnicos, combinando a informática e a eletrônica, permitem aos agentes não

hegemônicos a possibilidade de superação do imperativo da tecnologia hegemônica e

paralelamente admitem a multiplicação de novos arranjos, com a retomada da criatividade.

Na atualidade, objetos modernos são utilizados, inclusive, em atividades da economia não

hegemônica, como computadores conectados à Internet e máquinas de cartão de crédito.

Nesse sentido

[...] a produção do novo e o uso e a difusão do novo deixam de ser

monopolizados por um capital cada vez mais concentrado para pertencer ao

domínio do maior número, possibilitando afinal a emergência de um verdadeiro

mundo da inteligência. [...] permitindo que essa relação seja fundada nas

virtualidades do entorno geográfico e social, de modo a assegurar a restauração

do homem em sua essência (SANTOS, 2001, p. 163-165).

No que se refere ao cenário político vivido no Brasil, pós-Segunda Guerra Mundial,

nota-se que, em 1947,

o governo Dutra adotou um modelo liberal na economia, procurando limitar a

intervenção estatal na economia, buscando satisfazer os interesses econômicos

dos Estados Unidos e do empresariado brasileiro que tinha vínculos com o

capital estrangeiro. Vale ressaltar, entretanto, que o modelo liberal, em sua forma

clássica, estava esgotado. A capacidade produtiva no Brasil era reduzida, houve

uma abertura ao capital estrangeiro, que reduziu substancialmente as nossas

divisas, gastas na importação de supérfluos. O projeto nacionalista elaborado

durante a Era Vargas foi paulatinamente abandonado para atender aos interesses

dos países hegemônicos no cenário econômico internacional. Não obstante a

proposta de não intervir na economia, o governo elaborou um plano econômico e

social em áreas fundamentais, como saúde, alimentação, transporte e energia

(Plano Salte), a primeira grande experiência de planejamento no Brasil. Pelo

menos o primeiro de certa consistência. No entanto, teve poucos efeitos práticos

(IGLESIAS, 1993, p. 262 apud TRINDADE, 2010, p. 234, destaques do autor).

Ainda no que se refere ao contexto político do Brasil, em 1950, o Presidente

Getúlio Vargas

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[...] procurou retomar a sua política econômica nacionalista, incentivando o

desenvolvimento da indústria de base. Procurou restringir as importações, limitar

a remessa de lucros para o exterior e os investimentos estrangeiros. Como o

Brasil não era autossuficiente em petróleo, aprovou em 1953 a lei que criava a

Petrobrás, após intensa mobilização popular. A empresa estatal (Petrobrás), que

detinha o monopólio de exploração e refino do petróleo, foi criada em 1954.

Além da Petrobrás, Vargas criou o Banco Nacional de Desenvolvimento

Econômico e Social – BNDE (atual BNDES), a Eletrobrás, reorganizou a

Companhia Vale do Rio Doce, etc. [Contudo], estas medidas econômicas

nacionalistas e estatizantes, no entanto, irritavam profundamente o capital

internacional (TRINDADE, 2010, p. 235).

Em 1955, ocorreu acentuado crescimento econômico no Brasil, decorrente do Plano

de Metas desenvolvimentistas, do governo do então Presidente da República Juscelino

Kubitschek de Oliveira. Com esse plano houve

[...] um ponto de inflexão no processo de industrialização do Brasil, garantindo

um desenvolvimento econômico e as liberdades democráticas. Com o seu Plano

de Metas, baseado em emissões de moeda e na abertura ao capital estrangeiro,

orientou uma radical transformação da estrutura econômica do país, através de

investimentos nos setores elétrico, industrial, educacional, de transportes e

alimentação. [Desse modo] possibilitou um crescimento econômico acentuado,

através da implantação de multinacionais. Os setores mais beneficiados seriam

os de bens de consumo duráveis e de bens intermediários (TRINDADE, 2010, p.

238-239).

Nessa conjuntura política e socioeconômica, ocorreu uma nova configuração do

território brasileiro, caracterizada pela reestruturação de economias e pela urbanização do

território nacional. Tais características foram desenvolvidas em todo o Brasil, entretanto,

de maneira heterogênea, conforme as particularidades socioeconômicas e políticas das

diversas regiões e dos diferentes lugares.

Nesse sentido, após a década de 1950, os nexos econômicos impulsionaram a

urbanização do país, havendo uma contínua e elevada taxa de urbanização em todo o país,

com raras exceções. Segundo dados do Censo de 2010, a população urbana brasileira é de

160.925.804 milhões, o que corresponde a (84,36%) (IBGE, 2016b). Ainda de acordo com

dados desse Censo, o Brasil tem 5.565 municípios cujo total de habitantes é de

190.755.799 milhões. Da totalidade dos municípios brasileiros, 3.914 têm menos de 20 mil

habitantes, e 1.043 municípios possuem de 20 mil a 50 mil habitantes; essas duas classes

de municípios correspondem a 4.957 municípios, somando um total de 64.004.918 milhões

de habitantes, o que corresponde a (29,8%) do total da população nacional (Tabela 02).

Assim, após fazermos a diferença entre esses e as demais cidades cuja população está

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acima de 50 mil, chegamos à seguinte conclusão: há uma concentração de 126.75.881

milhões habitantes distribuídos em um número reduzido de centros urbanos,

correspondente a 608 municípios (Tabela 03).

Tabela 02

Brasil – Municípios brasileiros por classes de tamanho da população, em 2010

Fonte: IBGE (2016b).

Tabela 03

Brasil – Municípios brasileiros por subclasses de tamanho da população, em 2010

Fonte: IBGE (2016b).

Sublinhamos que Acari é uma pequena cidade do interior potiguar, levando em

consideração o tamanho demográfico da cidade. Todavia, Acari é também um centro local

do Seridó Potiguar, por atender patamares mínimos de usos do território e de

funcionalidades socioeconômicas na rede urbana norte-rio-grandense. Tais patamares são

esclarecidos com a compreensão da formação socioespacial da cidade, das divisões

territoriais do trabalho que a caracterizam e das relações entre os circuitos da economia

urbana que estão localizados em seu território ou que influenciam no movimento de sua

economia.

Habitantes Número de municípios Total da População

Até 20.000 3.914 32.660.247

De 20.001 até 50.000 1.043 31.344.671

Total 4.957 64.004.918

Habitantes Número de municípios Total da População

De 50.001 até 100.000 325 22.314.204

De 100.001 até 500.000 245 48.565.171

Mais de 500.000 38 55.871.506

Total 608 126.75.881

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Com esse entendimento, passamos a compreender os processos de reestruturação

econômica e urbanização de Acari, a partir da segunda metade do século XX, pós-declínio

das atividades tradicionais à formação do território.

Não obstante a fragmentação territorial do município de Acari, em 1953, com a

emancipação dos municípios de Carnaúba dos Dantas e de Cruzeta, que foram

desmembrados de Acari, houve evolução da demografia da cidade entre 1960 e 2010

(tabela 04) (IBGE, 2016b). Do mesmo modo que no Brasil, nesse interstício de tempo,

aumentou a população urbana e diminuiu a rural em Acari. Entretanto, no espaço estudado,

isso não ocorreu em decorrência de incremento tecnológico em processos produtivos

agrícolas, mas sim pela decadência das atividades tradicionais à formação do território

municipal (MEDEIROS, 2015).

Tabela 04

Acari – Evolução da população urbana de 1950 a 2010

Fonte: Adaptado de Medeiros (2015) e IBGE - Censo Demográfico, SIDRA, 2016b.

* Em 1950, Carnaúba dos Dantas e Cruzeta ainda eram territórios subordinados à Acari. Por isso, os dados

referentes ao censo desse ano apresentam um valor maior do que nas demais décadas.

A tabela 04 mostra que o processo de urbanização acariense tornasse veemente

apenas na década de 1980, quando a população urbana supera a rural. No contexto

nacional, essa superação ocorre já na década de 1950, quando o estado desenvolvimentista

promoveu a abertura do mercado brasileiro para o mercado internacional. Dessa forma,

com a franca entrada de multinacionais no território brasileiro veio a reboque não só o

capital, mas também incremento tecnológico para diversos segmentos econômicos e

adensamento da dinâmica urbana. Isso por que “à medida que a economia global se

Razão de dependência, por situação de domicílio (Urbana/Rural)

Ano Rural Urbana Total

1950* 12.570 3.748 16.318

1960 5.106 2.878 7.984

1970 5.616 5.282 10.898

1980 4.491 6.522 11.013

1990 3.176 7.807 10.983

2000 2.344 8.838 11.182

2010 2.133 8.902 11.035

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expande e incorpora novos mercados, também organiza a produção dos serviços avançados

necessários para o gerenciamento de novas unidades que aderem ao sistema e das

condições de suas conexões em mudança continua” (CASTELLS, 1999, p. 470).

Assim, em Acari o desenvolvimento do espaço urbano (fotografias 08 e 09) deu-se

de forma lenta e fundamentado na economia não hegemônica, pois “o enfraquecimento

econômico e as dificuldades de modernizações da economia acariense propiciam a

concentração, na cidade, de atividades do circuito inferior” (GALVÃO, 2005, p. 42).

Até a década de 1970, a economia da cidade ainda era dinamizada pela

cotonicultura e, de certo modo, pela pecuária, cujos produtos caracterizam os

estabelecimentos do pequeno comércio e dos pequenos prestadores de serviços. Esses

agentes não hegemônicos eram artesões que confeccionavam calçados e vestimentas

utilizando como matéria-prima o couro de animais, bem como produziam peças de

cerâmica com barro cozido, de madeira para uso diário, cestas e vassouras com palha da

carnaúba (Copernicia prunifera), rendas com fios de algodão, colchas de retalho e

brinquedos, além de alimentos. Boa parte das atividades econômicas era desenvolvida na

feira livre (fotografia 10) que era realizada semanalmente, aos sábados, localizada na parte

central da cidade, onde era comercializado de tudo um pouco – cereais, carnes,

hortifrutigranjeiros, especiarias, fumo, peças de vestuário, utensílios para o lar feitos

artesanalmente com couro, madeira, cerâmica ou palha, animais vivos (suínos, aves,

caprinos, bovinos), entre outros. Vale salientar que não eram apenas os acarienses que

vendiam seus produtos na feira livre, mas também pessoas advindas de outras cidades. No

Mercado Público havia a comercialização, comumente, de alimentos e de carnes.

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Fotografia 08

Acari – Área central da cidade com a Igreja do Rosário ao fundo, em 1950

Fonte: Jesus de Miúdo.

Fotografia 09

Acari – Visão panorâmica do centro da cidade, em 1972

Fonte: Acari apud Galvão (2005, p, 43).

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Fotografia 10

Acari – Feira livre ao lado do Mercado Público, em 1951

Fonte: Jesus de Miúdo.

Nesse período, muitas das atividades existentes na cidade eram desenvolvidas de

maneira precária, isto é, sem infraestrutura adequada e sem nível de capital para sustentar

os custos decorrentes do funcionamento da atividade; destacamos, inclusive, que poucas

atividades eram desencadeadas em estabelecimentos comerciais construídos com alvenaria.

Outra forma de comercialização de produtos era vender de “porta em porta” alimentos,

peixes, vassouras, sendo essa prática realizada, muitas vezes, por crianças e adolescentes,

no sentido de obterem renda para ajudar no sustento da família. Uma prática comum

outrora, que pode ser compreendida com o conhecimento da taxa de fecundidade no

Nordeste brasileiro que, em 1960, era de 7,39 filhos por casal; em 1991 essa taxa caiu para

3,75 filhos, e, em 2010, para 2,06 (IBGE, 2016a).

Vale salientar que a economia urbana acariense foi beneficiada pela construção do

Açude Gargalheiras, a partir da década de 1950, quando se empregou na cidade cerca de

quatro mil trabalhadores (VITAL, 2015), fato que gerou demandas por mercadorias e

serviços, muitas das quais foram atendidas pelo pequeno comércio local e pelos

prestadores de serviços. Com o término dessa construção, sobretudo, em períodos de

“cheia” do Açude, este atrai turistas para a cidade, continuando a contribuir com a

dinâmica da economia.

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Após 1970, com declínio da cotonicultura, aumenta o desemprego e diminui a

remuneração do trabalho em Acari, havendo também uma diminuição ou estagnação por

parte do Estado nos investimentos no bem-estar social, fatos que resultam no aumento da

pobreza da população. Conforme afirma Galvão (2012, p. 94), com a “desaceleração da

economia acariense, dependente da agroindústria algodoeira, posterior à falência da

atividade em pauta, gerou desemprego, limitou o comércio e potencializou as migrações e

deixou a cidade na penumbra”. Na década de 1980, em decorrência de dificuldades

socioeconômicas ocasionadas pela seca, o Estado colocou em baila frentes de emergência

como forma gerar trabalho e renda para a população pobre. De modo geral, segundo Silva

(2003, p. 369),

[...] as ações governamentais de intervenção nessa realidade foram sendo

construídas com base nas seguintes características: a) o caráter emergencial,

fragmentado e descontínuo dos programas desenvolvidos em momentos de

calamidade pública; b) as ações emergenciais que alimentam a indústria da seca;

e, c) a solução hidráulica, com a construção de obras hídricas, quase sempre

favorecendo empreiteiras e a grande propriedade rural. Em todas essas

características reproduz-se o uso político do discurso da miséria e do

subdesenvolvimento como decorrência direta das secas (destaque do autor).

Em 1963, foi inaugurado o Clube Municipal de Acari, um espaço construído pelo

poder público com a finalidade promover eventos culturais e atividades recreativas para a

sociedade. Desde então, nos dias de eventos, vendedores ambulantes montam suas barracas

e/ou levam seus carrinhos com doces e alimentos para comercializar nas proximidades do

clube. Hoje, além dos vendedores ambulantes, há também estabelecimentos comerciais

construídos ou fixados próximos do clube, se aproveitando dos fluxos gerados por esse

espaço em momentos festivos.

No que se refere aos eventos religiosos, destacamos a festa da padroeira municipal

– Nossa Senhora da Guia – que ocorre durante o mês de agosto, entre os dias 5 e 15. Esse

evento é de grande importância cultural para os acarienses, além de contribuir com a

economia da cidade. Por ser um evento religioso que envolve toda uma tradição cultural de

décadas, a festa atrai centenas de devotos (fotografia 11), muitos dos quais provenientes de

outras cidades, que vêm à Acari fazer turismo religioso. Além disso, a cidade recebe o

retorno de acarienses que foram morar em outros centros urbanos, que ficam em Acari no

período da festa e, assim, também contribuem com o fortalecimento da economia local.

Nos últimos anos, essa festa religiosa vem apresentando melhorias qualitativas, com

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maiores e melhores atrações, o que gera também um aumento na quantidade de pessoas

atraídas para participarem do evento (fotografia 12). Assim, a festividade vem

proporcionando amplificação das vendas, principalmente, de bebidas e de peças de

vestuário.

Fotografia 11

Acari – Procissão de Nossa Senhora da Guia, na década de 1960

Fonte: Google Imagens, 2016.

Fotografia 12

Acari – Procissão de Nossa Senhora da Guia, em 2015

Fonte: Nelder Medeiros, 2015.

Em 1960, já havia uma preocupação do poder municipal em organizar

modernamente o espaço urbano, a partir da elaboração de leis que tinham por finalidade

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proibir a construção de casas de taipas em determinadas áreas da cidade. De acordo com a

Lei nº 192, de 08 de novembro de 1960, que dispõe sobre proibição de construção de casas

de taipa:

Art. 1º. – Fica proibido a construção de casas de taipa a margem das estradas que

se destinam a Currais Novos, Jardim do Seridó, Parelhas, Cruzeta e Gargalheira.

Art. 2º. – A proibição de que trata o art. anterior incidirá sobre uma distância de

aproximadamente um (1) Quilômetro a partir da linha divisória da zona urbana

desta cidade.

Art. 3º. – A presente lei entrará em vigor na data da sua publicação, revogadas as

disposições em contrário (ACARI, 1960).

Com essa lei, a organização do espaço urbano ganhou certa modernidade, pois, a

maioria das construções passou a ser de alvenaria (fotografia 13). Contudo, a organização

do espaço promovida pela lei também foi seletiva, tendo em vista que as pessoas que não

tinham condições de construir casas em alvenaria não podiam ter residência própria no

espaço delimitado pela lei. Destarte, a referida legislação privilegiou a saída da população

mais pobre do espaço zoneado, deixando-lhe, preferencialmente, as áreas mais afastadas do

centro da cidade, ou seja, a periferia desta.

Fotografia 13

Acari – Rua Tomaz de Araújo, na década de 1970

Fonte: Google Imagens, 2016.

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Além da referida lei, outras legislações foram elaboradas pelo poder público

acariense13

, no sentido de promover e/ou manter a organização da cidade sob uma

determinada estética.

Nessa perspectiva, na década de 1980, o poder público preparou um novo lugar

para a realização da Feira Livre (fotografia 14). Esta passou a ser desenvolvida com

infraestruturas fixas, com cobertura, piso e eletricidade. Isso proporcionou uma nova

dinâmica da economia urbana, pois, fez com que agentes da economia não hegemônica

pudessem desenvolver suas atividades em melhores condições, com a possibilidade, assim,

de melhorarem o serviço ofertado e expandirem a sua clientela. O melhoramento do espaço

destinado à feira também ocasionou expansão do número e da variedade de atividades

desenvolvidas, sendo que, já na referida década, a Feira de Acari contava com a

comercialização de frutas, verduras, vestimentas, artesanato, plásticos, calçados, utensílios

domésticos; além dos prestadores de serviços, que realizavam reparos em objetos de uso

doméstico ou pessoal.

Nos últimos anos, observamos que o mix de atividades da feira municipal vem

diminuindo. Isto vem ocorrendo, segundo feirantes, devido ao fato que muitos de seus

produtos, vendidos apenas aos sábados, serem encontrados diariamente no comércio local.

Assim, muitos clientes preferem comprar tais produtos no decorrer da semana e não na

feira. Por isso, muitos feirantes vêm preferindo distribuir produtos para mercadinhos,

quitandas e/ou supermercados ou vender mercadorias em estabelecimentos comerciais

alugados, ao invés de se fixarem apenas em uma banca da feira, que está com as vendas

cada vez mais fracas.

13

A estética sempre foi uma preocupação das autoridades municipais. O alinhamento de uma rua em

construção e sua continuação deveriam ser respeitados. Essa regularidade das construções garantia o

aformoseamento da estética e forma urbana. “O artigo adicionado às leis de Acari em 16 de junho de 1849,

ilustra preocupações estéticas [...] a forma urbana. Art. 15 - Os proprietários que vivem nesta vila e

povoações do município são obrigados a manterem caiadas (limpas) e pintar as fachadas de suas casas, e

caiar (limpar) 5 m de extensão de largura na parte frontal e lateral [...] dentro dos próximos 11 meses a partir

da data que esta lei for aprovada. Devem mantê-los em bom estado. Os transgressores irão pagar uma multa

[...], e no caso de não ter dinheiro será preso [...]” (ACARI, 1835 apud SILVA, p. 33-34).

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Fotografia 14

Acari - Feira livre coberta, localizada na rua

Dr. José Gonçalves de Medeiros, Bairro Centro, em 2013

Fonte: Nelder Medeiros, 2013.

Em 1995, o Jornal do Comércio, de Recife (PE), publicou uma matéria sobre a

cidade de Acari, na qual o jornalista Clóvis Cavalcante escreveu:

É de se ver e admirar o exemplo por ela oferecido a todo o país. [...]. Em Acari

não é só infraestrutura pública que chama a atenção por sua qualidade. Também

o aspecto das construções, arquitetura em geral da localidade, a conservação dos

imóveis etc. mostram um cuidado realmente excepcional. Tudo é limpo, bem

cuidado, sem o ar de abandono que agride e preocupa. [...] É bom que se

registre, a propósito, que, bem próximo à cidade de Acari, existe um belo açude,

de grande porte, o Gargalheiras, com águas [...], em meio à paisagem adusta e

rochosa do sertão. [...]. Pois bem: nada há de extraordinário que justifique a

ótima aparência urbana de Acari, a não ser, como se pode presumir, uma

consciência das administrações locais secundada pelo empenho dos cidadãos

dali, para zelar de forma exemplar pelo patrimônio comum da cidade. [...]. [...]

tudo é muito asseado, correto, harmonioso (ruas sem buracos, muros sem

pichações, fachadas integras e recém-pintadas, ausência de lixo nas vias

públicas, etc.) [...]. Dessa forma, não há outra coisa a fazer, a não ser divulgar o

caso de Acari como exemplo a ser seguido.

Em 1983, o poder público acariense sancionou a Lei nº 503/83, que dispõe sobre o

zoneamento de área e institui o uso do solo do município. O Art. 12 dessa lei estabelece as

zonas residenciais da cidade: I – Zona Residencial de Baixa Densidade (ZR1), II – Zona

Residencial de Média Densidade (ZR2); III – Zona Residencial de Alta Densidade (ZR3);

e IV – Zona Residencial de Reciclagem (ZRR). O Art. 22 define a ZRR como área de

baixa renda. E o Art. 23 define que deverá ser feita a recuperação da área urbanizada de

baixo nível econômico, com a substituição de casas de taipa por construções de alvenaria

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simples, com instalações adequadas (ACARI, 1983). Destarte, a cidade de Acari não é

mais caracterizada por casas de taipa, estando totalmente organizada conforme a referida

lei. Mesmo nos bairros em que residem, sobretudo, pobres, todas as habitações são hoje

construídas em alvenaria, por vezes, com ajuda do poder público. Assim, o poder público

local organiza a urbe no sentido de que haja condições dignas mínimas de habitação,

inclusive, para os mais pobres.

Assim, nas últimas três décadas, principalmente, a partir de 1990, as ações do poder

público, em parceria com ações particulares, vêm promovendo a expansão do espaço

urbano de Acari. Conjuntos habitacionais populares vêm sendo construídos e as casas

entregues para trabalhadores pobres selecionados por critérios socioeconômicos definidos.

Além disso, também há conjuntos habitacionais construídos por agentes imobiliários e

vendidos para os segmentos sociais mais abastados, geralmente, por meio de

financiamento imobiliário bancário. Assim, vários bairros de Acari são hoje caracterizados

por esses conjuntos, fato que, aliado às construções individuais particulares, contribui com

a expansão do espaço urbano.

A expansão do espaço urbano de Acari vem sendo acompanhada pela atualização

da legislação pertinente. O perímetro urbano instituído pela Lei nº 541/1989 foi revogado

pela Lei nº 913/2009, atualizando a extensão da cidade para 15.138,20 m. Anos depois,

essa lei foi revogada pela Lei nº 955/2011, que define a zona urbana de Acari e dá outras

providências. Com essa última lei, o perímetro urbano mais que dobrou de tamanho,

passando a medir 32.783,34 m. Assim, para o caso de Acari, são pertinentes as palavras de

Farias (2011, p.14): “as cidades têm sofrido em todo o mundo reformulações de toda

ordem. Uma delas é a expansão do perímetro urbano”.

No que se refere à dinâmica socioeconômica, vale salientar que essa expansão,

organizada legalmente pelo poder público municipal, vem ocorrendo por meio de relações

entre os circuitos da economia urbana, com a proeminência quantitativa e qualitativa das

atividades da economia não hegemônicas, mas, em contrapartida, com o comando da

estrutura econômica pelas atividades do circuito superior. Sendo assim, a cidade se

constitui pela “[...] relação dialética e indissociável entre o circuito superior e o circuito

inferior, cujas localizações e tarefas se diferenciam pelos graus de capital, tecnologia e

organização” (SILVEIRA, 2010, p. 02).

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74

3.3 ATUAL DINÂMICA SOCIOECONÔMICA DA CIDADE DE ACARI

A atual dinâmica socioeconômica de Acari, no sentido da sua urbanização, se

evidenciou a partir da década de 1980 (MEDEIROS, 2015), ganhando amplitude a partir

do final da década de 1990, impulsionada pela política governamental no Brasil de

transferência de renda (GALVÃO, 2005).

Tal política consiste na transferência de renda pelo Estado para a população que

necessita de proteção social, servindo somente para “aliviar”, de forma emergencial e

imediata, a situação de pobreza, mas não para superar a pobreza estrutural (GALVÃO,

2005). Por isso, Whitaker (2012), compactuando com o pensamento de Celso Furtado,

afirma que o crescimento econômico do país é baseado no descaso com o bem-estar social,

principalmente, com o bem-estar das classes baixas. Do mesmo modo, Roma (2008, p. 32)

sublinha que a realidade brasileira é marcada por “conflitos entre capital x trabalho x

estruturação do espaço urbano, evidenciando cada vez mais a divisão social do espaço, isto

é, a diferenciação social, a expansão da pobreza e a segregação socioespacial”.

A reestrutura da economia e a urbanização acariense não geram qualidade de vida

para toda a população. Ao contrário, o que observamos é o reforço das desigualdades,

evidenciado pela expansão da pobreza. Em outras palavras, asseveramos que o crescimento

econômico não foi acompanhado pelo desenvolvimento social, e, isso, revela um espaço

urbano com várias famílias vivendo em situação de vulnerabilidade. Destarte, é importante

que o crescimento econômico seja transformado em desenvolvimento para a totalidade da

população, com a ampliação da participação política dos cidadãos, do equilíbrio da renda e

das oportunidades de trabalho para todos os agentes sociais.

Visando atenuar, mas perpetuar, essa situação de pobreza estrutural, entre o final da

década de 1990 e o início do ano 2000, foram implementados em Acari o Programa Bolsa

Família14

e a Ação Assistencialista Centro de Referência da Assistência Social15

(CRAS),

14

“O Programa Bolsa Família foi instituído pelo Governo Federal, pela Lei nº 10.836, de 9 de janeiro de

2004, regulamentado pelo Decreto nº 5.209, de 17 de setembro de 2004, alterado pelo Decreto nº 6.157 de16

de julho de 2007. O programa é gerenciado pelo Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome

(MDS) e beneficia famílias pobres (com renda mensal por pessoa de R$ 60,01 a R$ 120,00) e extremamente

pobres (com renda mensal por pessoal de até R$ 60,00)” (CONTROLADORIA-GERAL DA UNIÃO.

GESTÃO DE RECURSOS FEDERAIS – MANUAL PARA AGENTES PÚBLICOS, 2016). 15

“O Centro de Referência da Assistência Social (CRAS) é uma unidade pública estatal localizada em áreas

com maiores índices de vulnerabilidade e risco social, destinada ao atendimento socioassistencial de famílias.

Esse é o principal equipamento de desenvolvimento dos serviços socioassistenciais da Proteção Social

Básica. Constitui espaço de concretização dos direitos socioassistenciais nos territórios, materializando a

política de assistência social. O CRAS é o lugar que possibilita, em geral, o primeiro acesso das famílias aos

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para possibilitar um mínimo de recursos e de qualidade de vida para famílias pobres. Tal

implementação levou em consideração a incidência da pobreza em Acari, que mede cerca

de 61,62%, conforme o mapa de pobreza e desigualdade dos municípios brasileiros em

2003, o Censo demográfico de 2000, e a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) de

2002 a 2003 (IBGE, 2016a).

Segundo dados do Censo 2010, o número de domicílios em Acari era de 3.298, com

uma média de 3,34 moradores por domicílios. Entre 1991 e 2010, o número de domicílios

aumentou, enquanto que o de moradores por domicilio diminuiu (tabela 05) (IBGE,

2016a). Outro aspecto também relevante para se analisar é o rendimento familiar médio

mensal dos domicílios urbanos em Acari (tabela 06). Consultando o banco de dados do

IBGE (2016b), referente ao ano 2000, que tem como fundamento para o cálculo o salário

mínimo vigente na época, que era de R$ 151,00, constatamos que na maioria dos

domicílios a renda mensal era de mais de 1 a 2 salários mínimos. Também haviam

domicílios sem rendimento, que são os beneficiados diretamente por programas sociais.

Em 2010, tendo como fundamento o salário mínimo vigente na época, que era de R$

510,00, a renda per capta média mensal da maioria dos domicílios urbanos em Acari era

de mais de 1/2 a 1 salário mínimo, ou de mais de 1/4 a 1/2 salário mínimo (tabela 07).

Esses dados evidenciam a precária renda obtida pela maioria dos trabalhadores de Acari,

fato que remete para a importância do circuito inferior da economia urbana.

Tabela 05

Acari - Domicílios particulares ocupados e média de

moradores em domicílios particulares ocupados, entre 1991-2010

Variável Ano

1991 2000 2010

Domicílios particulares ocupados (Unidades) 2.436 2.795 3.298

Média de moradores em domicílios particulares ocupados (Pessoas) 4,50 3,99 3,34

Fonte: IBGE - Censo Demográfico, 2016a.

direitos socioassistenciais e, portanto, à proteção social. Estrutura-se, assim, como porta de entrada dos

usuários da política de assistência social para a rede de Proteção Básica e referência para encaminhamentos à

Proteção Especial. Desempenha papel central no território onde se localiza ao constituir a principal estrutura

local para o trabalho social com famílias que vivem no seu território de abrangência, contando com equipe

profissional de referência” (Disponível em: <http://www.datacras.com/sobre-nos2/>. Acesso em: 26 de nov.

de 2016.).

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Tabela 06

Acari - Famílias residentes em domicílios particulares (unidades),

por situação de domicilio e classes de rendimento nominal mensal, em 2000

Variável Situação do

domicílio

Classes de rendimento nominal mensal familiar

Total Até

1/4

Mais de

1/4 a 1/2

Mais de

1/2 a 1

Mais

de 1 a

2

Mais

de 2 a

3

Mais

de 3 a

5

Mais

de 5 a

10

Sem

rendimento

Famílias

residentes

Total 3.193 25 77 542 810 533 555 314 186

Urbana 2.611 17 69 447 641 412 467 266 140

Fonte: IBGE (2016b).

Tabela 07

Acari - Classes de rendimento nominal mensal domiciliar per capita dos

domicílios particulares permanentes, por situação de domicílio, em 2010

Classes de rendimento nominal mensal domiciliar per capita Situação do domicílio

Total Urbana

Até 1/8 de salários mínimos 130 73

Mais de 1/8 a 1/4 de salários mínimos 284 213

Mais de 1/4 a 1/2 salário mínimo 928 739

Mais de 1/2 a 1 salário mínimo 1.143 955

Mais de 1 a 2 salários mínimos 536 472

Mais de 2 a 3 salários mínimos 118 115

Mais de 3 a 5 salários mínimos 56 56

Sem rendimento 50 50

Fonte: IBGE – SIDRA (2016b).

Tais dados evidenciam uma situação de “pobreza estrutural”, na qual há

precarização da vida e do trabalho bem como subordinação da economia não hegemônica à

economia hegemônica. Compreendendo que “a existência da pobreza estrutural, [...] que

advém da crescente racionalização da sociedade e do território” (SILVEIRA, 2009, p. 67),

evidencia importância socioeconômica e territorial do circuito inferior da economia

urbana, atrelamos a pobreza estrutural existente em Acari com a proeminência quantitativa

e qualidade das atividades não hegemônicas na economia urbana.

Dados do Censo 2010 mostram que na cidade de Acari haviam 3.169 famílias,

sendo que, em 2007, haviam 3.018 chefes de família na cidade, dos quais 2.091 eram

homens e 927 mulheres (gráfico 01) (IBGE, 2016a). Assim, fica explicitado que o mercado

de trabalho acariense é constituído majoritariamente por homens, que trabalham de forma

autônoma ou empregada.

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Gráfico 01

Acari - Chefes de família por sexo da pessoa, em 2007

Fonte: IBGE - Contagem da População, 2016a.

De acordo com a Secretária de Assistência Social e Desenvolvimento Comunitário

de Acari, atualmente estão inseridas no Cadastro Único – Programa Bolsa Família, 1.718

famílias, o que corresponde a mais de 50% do total das famílias acarienses. O perfil

socioeconômico das famílias assistidas corresponde a uma renda per capta de até três

salários mínimos, as quais possuem o Número de Identificação Social (NIS).

No que se refere, aos programas e projetos que vem sendo desenvolvidos pela

referida secretaria para enfrentar a vulnerabilidade e a exclusão social em Acari,

sublinhamos que

[...] atende seus usuários através dos serviços de Proteção Social Básica (PAIF),

ofertado através do Centro de Referência da Assistência Social (CRAS), dos

serviços de Convivência e Fortalecimento de Vínculos para Crianças,

Adolescentes e Idosos, antigos PETI, PROJOVEM e CONVIVER, e o Serviço

de Proteção e Atendimento Especializado à Famílias e Indivíduos (PAEFI),

através do Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS).

Os Programas ofertados por esta Secretaria são o Cadastro Único - Programa

Bolsa Família; o Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego

(PRONATEC); O Programa Municipal Socioeducativo (PNAS). Em relação aos

projetos desenvolvidos, temos o Projeto Salto para a Vida (PSV), que atende

crianças e adolescentes com idade entre 06 (seis) e 18 (dezoito) anos, em

situação de vulnerabilidade e risco social no município de Acari/RN,

participantes dos Programas e Projetos Sociais, Serviço de Convivência e

Fortalecimento de Vínculo (SCFV) ou encaminhamentos do Conselho Tutelar,

CRAS, CREAS e demais órgãos e instituições do Sistema de Garantia dos

Direitos de Crianças e Adolescentes da cidade de Acari/RN. Além disso, há

adolescentes que cometeram ato infracional e que estão cumprindo medida

socioeducatica, encaminhados pelo Poder Judiciário da Comarca.

O objetivo principal é criar para o público-alvo oportunidades para prática de

esportes, propiciar momentos de cultura e lazer e, principalmente, ofertar

31%

69%

Mulheres

Homens

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atividades de cunho socioeducativo que priorizem questões como religião, moral,

cidadania, ética, comportamento, disciplina, entre outros.

Temos ainda o Projeto Forró na Praça, que acontece mensalmente no Coreto da

Praça Cipriano Pereira, trazendo lazer e entretenimento para os idosos do SCFV.

O Projeto ECOVIDA, onde são produzidas e comercializadas vassouras, a partir

de materiais recicláveis como garrafa PET. E o Projeto de Apadrinhamento

Carinhoso, desenvolvido no Abrigo dos Idosos de Acari, através da equipe do

CREAS, que consiste no fortalecimento dos vínculos sociais e comunitários dos

idosos que se encontram acolhidos na referida instituição, através do

apadrinhamento feito por um cidadão a um idoso , a quem lhe é confiada a

missão de visitá-lo e oferecer carinho e atenção (SECRETÁRIA DE

ASSISTÊNCIA SOCIAL E DESENVOLVIMENTO COMUNITÁRIO, 2016).

Assim, vemos os planos, as ações e os benefícios que vem sendo desenvolvidos

pelo poder público municipal para enfrentar a vulnerabilidade e a exclusão social em

Acari. Ainda de acordo com a Secretária de Assistência Social, a secretaria sob sua

responsabilidade atua

junto ao Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente. Foram

aprovados o Plano de Esporte e o Plano Municipal de Assistência Social. Estão

sendo desenvolvidos o espetáculo anual do Auto de Natal, em parceria com as

Secretarias de Administração e de Obras; a Campanha de Enfrentamento e

Combate às Drogas, no dia 14 de março; a Campanha Nacional de

Enfrentamento e Combate ao Abuso e Exploração Sexual de Crianças e do

Adolescentes, no dia 18 de maio; a Campanha Nacional de Enfrentamento e

Combate ao Trabalho Infantil, no dia 12 de Junho; a Semana da Consciência

Negra e a Campanha por uma Infância sem Racismo; a Campanha Fora da

Escola não Pode, em parceria com a Comissão Pró-Selo da UNICEF; a emissão

de centenas de carteira do idoso, garantindo aos mesmos acesso gratuito aos

meios de transporte; o apoio a Associação dos Catadores de Materiais

Reutilizáveis e Recicláveis de Acari (ACRA), por meio da doação mensal de

cestas básicas aos associados; as orientações e os acompanhamentos aos grupos

de Convivência do CRAS e CREAS; e o atendimento a centenas de usuários, em

situação de vulnerabilidade e risco social, por meio de benefícios eventuais como

cestas básicas, auxílio-funeral, auxílio-natalidade, auxílio-transporte e auxílio-

documento (SECRETÁRIA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL E

DESENVOLVIMENTO COMUNITÁRIO, 2016).

Acreditamos que as informações evidenciadas sublinham que a situação de pobreza

estrutural da maioria da sociedade acariense torna premente uma maior relação entre poder

público e agentes não hegemônicos, no sentido de estes serem ajudados por aquele, por

meio de programas de cunho federal e/ou de iniciativas locais. Assim, as palavras de

Soares e Melo (2010 apud MOREIRA JUNIOR, 2014, p. 151) são pertinentes à realidade

por nós estudada, quando afirmam que “as relações entre a população e os agentes

políticos são marcadas por dependência, assistencialismo, demandas e atenção pessoais”.

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Não obstante a situação de pobreza estrutural da maioria de sua sociedade, Acari se

destaca, no contexto do Rio Grande do Norte, com o seu Índice de Desenvolvimento

Humano16

(IDH). Esse índice – que leva em consideração as variáveis saúde, educação e

renda – teve evolução em Acari, entre 1991 e 2010 (gráfico 02). Em 1991, Acari

apresentou um IDH de 0,430, ficando com o décimo melhor índice entre todos os

municípios potiguares; em 2000, o IDH registrado foi de 0,557, o qual fez com que o

referido município permanecesse na mesma posição no âmbito do território potiguar; mas,

em 2010, com um IDH de 0,679, Acari passou a ocupar a oitava colocação entre os

municípios do Rio Grande do Norte (IBGE, 2016a). Assim, vê-se que a pobreza estrutural

parece ser banal no território norte-rio-grandense, sendo que, segundo dados do IDH, essa

pobreza é mais intensa na maioria dos municípios potiguares do que em Acari.

No que se refere ao IDH do Rio Grande do Norte (gráfico 03), em 2010, esse foi de

0,684, o qual fez o estado ocupar a 16ª posição entre as 27 unidades federativas brasileiras.

Essa mensuração de IDH situa o Rio Grande do Norte na faixa de Desenvolvimento

Humano Médio (IDHM entre 0,600 e 0,699). A variável que mais contribui para o IDH do

Rio Grande do Norte é a longevidade, com índice de 0,792, seguida da renda, com índice

de 0,678, e da educação, com índice de (0,597).

16

De acordo com o Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil (2014), o Índice de Desenvolvimento

Humano (IDH) é um dado estatístico criado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento

(PNUD), para contrapor os dados puramente econômicos utilizados para medir a riqueza dos países e analisar

o desenvolvimento a partir da inclusão de outros fatores. O cálculo considera três variáveis principais: a

saúde, a educação e a renda da população. Na variável saúde, para o cálculo do IDH considera-se a

expectativa de vida, no sentido de que esse fator observa a quão longa e saudável é a vida das populações. Já

na educação, é avaliado o índice de alfabetização de adultos e também os níveis de escolarização da

população em geral. Na renda, o foco é no padrão de vida, que é medido pelo Produto Interno Bruto (PIB)

per capita, além da Paridade do Poder de Compra (PPC), que é medido por cálculos que excluem as

diferenças entre a valorização das moedas dos países.

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Gráfico 02

Acari – Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) entre 1991 e 2010

Fonte: Atlas do Desenvolvimento Humano nas Regiões Metropolitanas Brasileiras (2014).

Gráfico 03

Rio Grande do Norte – Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) entre 1991 e 2010,

especificados os índices pelas variáveis renda, saúde (longevidade) e educação

Fonte: Atlas do Desenvolvimento Humano nas Regiões Metropolitanas Brasileiras (2014).

A receita da maioria dos municípios brasileiros, advém, sobretudo, da transferência

de recursos da União, por meio do Fundo de Participação dos Municípios (FPM). Em

Acari isso é realidade, sendo que é via FPM que se supre as demandas da população. Vale

frisar que, em âmbito nacional, a regulamentação do FPM veio com o Código Tributário

Nacional (CTN – Lei 5.172, de 25 de outubro de 1966), no seu artigo 91, e o início de sua

distribuição ocorreu em 1967. O critério para a sua distribuição era então baseado

unicamente no tamanho da população dos municípios (MINISTÉRIO DA FAZENDA -

SECRETARIA DO TESOURO NACIONAL – STN, 2016).

0,430

0,557

0,679

-

0,100

0,200

0,300

0,400

0,500

0,600

0,700

0,800

1991 2000 2010

IDH

0,547 0,608 0,678

0,5910,7

0,792

0,242 0,396 0,597

0%

20%

40%

60%

80%

100%

1991 (IDH = 0,428) 2000 (IDH = 0,552) 2010 (IDH = 0,684)

Renda Longevidade Educação

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Desse modo, a nova dinâmica econômica acariense, intensificada a partir da década

de 1980 (MEDEIROS, 2015), é caracterizada pela urbanização e pelo desenvolvimento

destacado de atividades comerciais e de serviços, sobretudo, atividades da economia não

hegemônica. Outrossim, sublinhamos o importante papel do poder público municipal nos

investimentos públicos em educação, saúde, saneamento básico, pavimentação e drenagem

de ruas, lazer e cultura, com recursos provenientes do FPM e da pequena arrecadação

direta de impostos no contexto municipal. Tais investimentos implantam fixos no espaço

urbano que melhoram a situação de vida de várias pessoas bem como ofertam serviços que

tornam a cidade cada vez mais atraente à residência da maioria dos acarienses. Além disso,

a economia local é dinamizada pela renda dos aposentados e dos funcionários públicos

locais, que, com os seus salários, consomem no mercado local e, assim, geram trabalho e

renda para os negociantes de Acari. Sendo assim, para o caso de Acari, são, de certo modo,

pertinentes as palavras de Clementino (1995 apud MEDEIROS, 2005, p. 88), sobre a

realidade econômica das pequenas cidades do Rio Grande do Norte:

são dependentes dos recursos das aposentadorias e pensões Funfural, ou das

transferências das receitas governamentais constitucionais, basicamente o FPM,

sendo que este último ganha importância pela massa de salários que faz circular

mensalmente em decorrência do pagamento do funcionalismo público.

Para além dos aspectos sublinhados pela autora, é importante darmos luz à

importância das relações entre os circuitos da economia urbana para a dinâmica acariense,

sobretudo, à proeminência da economia não hegemônica. Contudo, é certo que as receitas

destacadas pela autora impulsionam as vendas das atividades comerciais e/ou prestadoras

de serviços, sendo, desse modo, também bastante importantes para a economia local.

Destarte, de modo geral, asseveramos que a economia da cidade de Acari é dinamizada

pelas receitas públicas e pelas relações entre os circuitos da economia, principalmente, pelo

realce do circuito inferior.

Dados do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) mostram o ano de fundação de

empresas formais, o número de empresas existentes e as faixas de pessoal empregado,

entre 2007 e 2010 (tabela 08). Na série histórica, as empresas que mais empregavam em

Acari eram as micro (até quatro empregados) e as pequenas (de cinco à nove empregados)

empresas, com destaque para as primeiras. Além disso, no período em ênfase, a atividade

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econômica que mais empregou em Acari foi a comercial, especificamente, a de reparação

de veículos automotores e motocicletas.

Tabela 08

Acari – Atividades econômicas formais segundo o ano de fundação, número

de empresas e as faixas de pessoal empregado, entre 2007-2010

Classificação Nacional

de Atividades

Econômicas (CNAE

2.0)

Ano de

fundação

Número de atividades, faixas

de pessoal empregado e anos Total de

empresas

por ano de

fundação

0 a 4 5 a 9 10 a 19

07 08 09 10 07 08 09 10 07 08 09 10

Comércio; reparação de

veículos automotores e

motocicletas

1971 a

1980 4 5 5 4 1 0 0 1 0 0 0 0 20

Comércio; reparação de

veículos automotores e

motocicletas

1981 a

1990 13 7 4 7 0 0 0 0 0 0 0 0 31

Comércio; reparação de

veículos automotores e

motocicletas

1996 a

2000 27 20 15 18 5 2 2 1 0 2 2 3 97

Comércio; reparação de

veículos automotores e

motocicletas

2001 a

2003 5 5 3 2 2 1 2 1 0 2 1 1 25

Alojamento e

alimentação

1971 a

1980 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0

Alojamento e

alimentação

1981 a

1990 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1

Alojamento e

alimentação

1996 a

2000 4 2 2 1 0 0 0 0 0 0 0 0 9

Alojamento e

alimentação

2001 a

2003 2 2 0 1 1 1 1 1 0 0 0 0 9

Outras atividades de

serviços

1971 a

1980 1 1 1 1 0 0 2 1 1 1 0 0 9

Outras atividades de

serviços

1981 a

1990 3 3 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 7

Outras atividades de

serviços

1996 a

2000 5 3 4 4 0 0 0 0 0 0 0 0 16

Outras atividades de

serviços

2001 a

2003 2 4 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 6

Fonte: MTE – CNAE 2.0, 2016.

Já de acordo com dados do IBGE (2016b), o número de empresas existentes em

Acari diminuiu em quase 20%, entre os anos de 2008 e 2013. Entretanto, nesse intervalo de

tempo, houve aumento tanto no pessoal ocupado total, quanto no pessoal ocupado

assalariado, ocorrendo, em contrapartida, diminuição do salário médio mensal dos

trabalhadores (tabela 09), o que indica precarização do trabalho.

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Tabela 09

Acari – Pessoal ocupado total e assalariado, salário médio

mensal e número de empresas atuantes, em 2008 e 2013

Variável Ano

2008 2013

Pessoal ocupado total (Pessoas) 1091 1331

Pessoal ocupado assalariado (Pessoas) 899 1158

Salário médio mensal (Salários mínimos) 1,6 1,5

Número de empresas atuantes (Unidades) 252 204

Fonte: IBGE (2016a).

Tais dados nos fazem pensar na importância do circuito inferior da economia

urbana para a dinâmica econômica de Acari, tendo em vista que indicam diminuição do

número de empresas registradas junto ao poder público assim como do ganho mensal dos

trabalhadores, havendo, em contrapartida, elevação das pessoas ocupadas. Pensamos isso

por que sabemos que, dentre as características absolutas da economia não hegemônica,

destacam-se a organização não burocrática da maioria de suas atividades, os ganhos

irrisórios obtidos pelos responsáveis por suas atividades e a elevação constante do número

de trabalhadores que buscam essa economia como forma de sobrevivência.

O turismo é uma atividade relevante para a economia da cidade. Segundo

informações do IDEMA (2012), o Rio Grande do Norte apresenta um grande potencial

turístico, com atrativos naturais que revelam enfaticamente o turismo de sol e mar no

litoral. Todavia, há outros segmentos turísticos no estado, como o cultural, o de aventura, o

religioso e o ecoturismo.

Analisando o mapa dos municípios integrantes das áreas especiais de interesse

turístico no Rio Grande do Norte (mapa 03), observamos que Acari constitui o Polo

Turístico do Seridó, juntamente com Caicó, Carnaúba dos Dantas, Cerro Corá, Currais

Novos, Equador, Florânia, Jardim do Seridó, Jucurutu, Lagoa Nova, Ouro Branco,

Parelhas, Santana do Seridó, São João do Sabugi, São José do Seridó, Serra Negra do

Norte, Tenente Laurentino Cruz e Timbaúba dos Batistas (SECRETARIA DE ESTADO

DO PLANEJAMENTO E DAS FINANÇAS - SEPLAN, 2014).

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Mapa 03

Rio Grande do Norte – Áreas especiais de interesse turístico

Fonte: Plano de Desenvolvimento Integrado do Turismo Sustentável –

PDITS, 2011 / IDEMA – Perfil do Rio Grande do Norte, 2012.

No que se refere ao desenvolvimento do turismo em Acari na atualidade,

entrevistamos Romeu Fernandes Dantas de Sales, Secretário de Desenvolvimento

Econômico, Turismo, Desporto e Lazer. Ao perguntamos sobre quais projetos e ações

estão sendo desenvolvidas visando o fortalecimento e o desenvolvimento do turismo na

cidade, ele respondeu:

Temos procurado articular ações em parceria com os demais municípios do

Seridó por acreditarmos que juntos somos mais fortes e competitivos. Para isso,

temos assento no Conselho de Turismo do Polo Seridó e estamos atuantes. A

concretização do Geoparque Seridó merece destaque a partir dessa união de

forças. O Plano de Marketing Turístico do nosso Polo, infelizmente, em

decorrência da seca, o nosso principal potencial turístico, o Açude Gargalheiras,

foi afetado. Isso fez com que eventos como o Festival do Pescado do Seridó,

Torneio Leiteiro e Moto Fest não pudessem ser realizados. Mas, ao mesmo

tempo, procuramos incentivar o turismo de aventura17

, turismo gastronômico e o

17

Essa modalidade de turismo está ganhando mais adeptos nos últimos anos, tendo como principal atrativo as

belezas naturais dos mais variados ambientes do município. Desse modo, Acari foi destaque no programa

Resenhas do RN, da Inter TV Cabugi – afiliada da Rede Globo. A produção do programa mostrou um pouco

das particularidades que a “Terra das Cordilheiras” tem, como as belezas naturais, a cultura e o

empreendedorismo. Mostrou que projetos pioneiros no estado, como o "Lixo Zero" e o "Adote um Leitor",

ultrapassaram fronteiras, assim como o trabalho realizado pela Polícia Mirim. O futebol de mesa praticado no

município, que já levou dois jovens à conquista de premiações nacionais, também foi destaque. Na economia,

o ramo da produção de vestimentas foi evidenciado como gerador de empregos para os acarienses.

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85

turismo religioso com a tradicionalíssima Festa de Nossa Senhora da Guia

(SECRETARIA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO, TURISMO,

DESPORTO E LAZER, 2016).

Diante do exposto, compreendemos que o Açude Gargalheiras – escolhido, em

2007, a terceira maravilha do Rio Grande do Norte18

– caracteriza-se como um importante

atrativo turístico de Acari. Esse atrativo, em momentos de transbordamento, proporciona a

realização de eventos culturais, que geram trabalho e renda, aquecendo, sobretudo, a

economia não hegemônica, que, nesses eventos, oferta serviços de táxi, de moto táxi, de

beleza pessoal, de alojamento, como também a comercialização de vestimentas, bebidas,

alimentos. Outrossim, nesses contextos, ganham força “os mercados de rua” (SILVEIRA,

2011), com as atividades dos vendedores ambulantes.

Em suma, no que tange aos circuitos da economia urbana de Acari, destacamos que

esta é uma cidade pequena que apresenta características funcionais de centro local, tendo

em vista que seu mercado está direcionado, sobretudo, ao consumo mínimo de sua

população. Esse mercado é constituído, proeminentemente, por atividades da economia

não hegemônica que oferecem, majoritariamente, bens e serviços de uso básico e/ou

pessoal, os quais atendem as demandas de uma população que não tem condições de se

deslocar, frequentemente, para outras cidades que tenham um mercado mais complexo.

3.4 ATUAL DINÂMICA ECONÔMICA DA CIDADE DE ACARI CONFORME AS

RELAÇÕES DOS CIRCUITOS DA ECONOMIA

Conforme já destacamos, a partir da década de 1980, a dinâmica econômica de

Acari é reestruturada, devido ao fato de as atividades tradicionais para a formação do

território terem declinado. Nessa reestruturação, ganham ênfase as atividades comerciais e

de prestação de serviços, principalmente da economia não hegemônica, o que torna a

18

Os jornais Diário de Natal e O Poti fizeram uma enquete sobre as preferências dos eleitores de paisagens

do Rio Grande do Norte. Tais preferências foram computadas por meio de e-mails enviados ao Diário de

Natal durante o período de quase dois meses, entre 15 de julho e 6 de setembro 2007. Dentre as 133

paisagens indicadas, fez-se uma votação para serem escolhidas sete. A votação final ocorreu pela Internet e

por cupom encartado na capa de cada edição do Diário de Natal e do Poti. A diplomação das Sete Maravilhas

do Rio Grande do Norte foi em 22 de novembro de 2007, numa solenidade promovida pelos jornais. O

resultado foi o seguinte: Serra da Barriguda, em Alexandria, com 16.224 votos; Morro do Careca, em Natal,

com 13.409 votos; Açude Gargalheiras, em Acari, com 10.674 votos; Fortaleza dos Reis Magos, em Natal,

com 10.272 votos; Estádio Maria Lamas Farache (Frasqueirão), em Natal, com 8.404 votos; Santuário do

Lima, em Patu, com 7.735 votos; e Os Apertados, em Currais Novos, com 7.252 votos.

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cidade cada vez mais atrativa para a moradia da maioria das pessoas e, assim, adensa a

urbanização de Acari.

A produção do espaço urbano é a ação das diferentes formas de trabalho,

desenvolvidas por diversos e desiguais agentes sociais, em um processo histórico. Na

cidade de Acari, a necessidade de se desencadear novas atividades para suprir o "vazio"

deixado pelo declínio, principalmente, da cotonicultura, trouxe à tona novas atividades

econômicas que vêm atribuindo dinâmica à economia da cidade. Tal dinâmica evidencia

diferentes usos do território que decorrem de relações de produção e de poder entre

diferentes e desiguais agentes sociais do espaço urbano. Dentre as atuais atividades

econômicas que configuram a cidade de Acari, destacamos: as atividades comerciais, as de

prestação de serviços, as produtivas de vestimentas e de artesanatos e as da administração

pública.

Na tabela 10, de acordo com dados do IBGE (2016b), correspondentes aos anos de

2006, 2008, 2010, 2012 e 2014, evidenciamos o número de unidades locais, a quantidade

de empresas atuantes em Acari, o pessoal ocupado total e o pessoal ocupado assalariado,

como também o salário médio mensal dos trabalhadores.

Tabela 10

Acari - Unidades locais, pessoal ocupado total e assalariado,

salário médio mensal e empresas atuantes, entre 2006 e 2014

Variável Ano

2006 2008 2010 2012 2014

Número de unidades locais (Unidades) 253 263 304 209 202

Pessoal ocupado total (Pessoas) 934 1.091 1.245 1.258 1.386

Pessoal ocupado assalariado (Pessoas) 814 899 1.018 1.083 1.207

Salário médio mensal (Salários mínimos) 1,5 1,6 1,5 1,6 1,5

Número de empresas atuantes (Unidades) - 252 293 205 198

Fonte: IBGE - Cadastro Central de Empresas, 2016b.

Entre 2006, 2008 e 2010, houve crescimento das unidades locais, enquanto que, em

2012 e 2014, foi registrada uma queda acentuada destas. Já no que se refere ao número de

empresas atuantes, segue a mesma variação das unidades locais, contudo, com um número

menor de empresas. O número do pessoal ocupado total cresceu progressivamente no

interstício de tempo analisado, sendo que, em 2006, haviam 934 pessoas ocupadas em

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Acari, quantidade que, em 2014, foi ampliada para 1.386. O número do pessoal ocupado

assalariado também cresceu durante toda a série histórica, com quantidades menores do

que a do pessoal ocupado total.

Desse modo, as estatísticas mostram que a atual dinâmica econômica da urbe

acariense tem como fundamento as relações entre a economia hegemônica e a economia

não hegemônica, com destaque para as atividades do circuito inferior da economia urbana.

Tais atividades vêm, na contemporaneidade, por meio do uso de variáveis-chave do

período atual (técnica, ciência, informação, finanças, consumo), modernizando a sua

organização e, desse modo, ofertando novas atividades (quadro 02). Outrossim, a

economia não hegemônica mantém a sua característica tradicional de ser absorvedora de

mão-de-obra, fatos que fazem o circuito inferior da economia urbana estar em constante

expansão (SILVEIRA, 2009; SALVADOR, 2012), inclusive, em Acari.

Quadro 02

Acari – Atividades do circuito inferior com organização modernizada

Fonte: Pesquisa de campo, 2016.

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Com sua dinâmica absoluta e suas características relacionais com o circuito

superior, o subsistema inferior da economia urbana se constitui em uma estrutura de abrigo

para os citadinos desempregados ou nunca empregados pela economia hegemônica, ou

que, mesmo empregados, necessitam complementar sua renda. A economia não

hegemônica é uma alternativa viável para a sobrevivência da maioria dos trabalhadores da

cidade, tendo em vista que não é condicionada por altos níveis de capital e de tecnologia,

nem exige alta qualificação profissional. Nesse sentido, Tavares e Dantas (2012, p. 63)

esclarecem que é

[...] cada vez maior o número de pessoas que buscam abrigo no circuito inferior

[...]. Tal realidade tanto vale para aquelas pessoas que perderam os seus

empregos e que nunca mais conseguiram recuperá-lo, quanto para aquelas

inúmeras pessoas que nunca tiveram a oportunidade de conseguir outra forma de

emprego; em ambos os casos, o circuito inferior aparece como alternativa devido

sua flexibilidade que permite que, com um pequeno volume de capital, se abra

um negócio qualquer, e às vezes não é sequer necessário ter capital, como

ocorre, por exemplo, com os vendedores ambulantes das mais variadas naturezas

que trabalham no regime de concessão de mercadorias, no qual eles recebem

uma quantidade determinada e ao final de um período estabelecido, eles prestam

conta do que foi vendido (destaque do autor).

Atualmente, a maioria dos trabalhadores de Acari está trabalhando em atividades

prestadoras de serviços, produtivas e/ou comerciais. As atividades agrícolas, em

contrapartida, são menos expressivas (IBGE, 2016b) (gráfico 04). Em 2013, o total de

pessoal ocupado em todos os setores da economia correspondia a 1.170. Entre 2007 e

2013, as atividades que mais absorveram trabalhadores foram as de prestação de serviços,

as quais, em 2013, ocupavam 538 pessoas. O comércio, em 2007, ocupava apenas 120

pessoas; em 2013, já contava com um total de 244 pessoas ocupadas, ou seja, entre 2007 e

2013, cresceu mais de 100% no número de pessoal ocupado. Tendo como fundamento

observações empíricas, asseveramos que a maioria dessas atividades (prestadoras de

serviços e comerciais) são desenvolvidas com baixos níveis de capital e tecnologia, assim

como com organização mais criativa do que burocrática, sendo, portanto, atividades da

economia não hegemônica.

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Gráfico 04

Acari – Pessoas ocupadas por setores econômicos, entre 2007 e 2013

Fonte: IBGE - Cadastro Central de Empresas, 2016b.

Em Acari, as atividades produtivas têm importante destaque na dinâmica

econômica. A maioria dessas atividades estão localizadas na cidade, sendo pequenas

unidades produtivas de vestimentas, terceirizadas por grandes empresas do ramo têxtil,

cujas escalas de atuação são o território nacional ou mesmo o mundo. A compreensão da

existência dessas pequenas unidades produtivas em Acari envolve o entendimento do

contexto da economia global, a qual, segundo Castells (1999, p. 469),

é organizada em torno de centros de controle e comandos capazes de coordenar,

inovar e gerenciar as atividades interligadas das redes empresas. Serviços

avançados, inclusive finanças, bens imobiliários, consultorias, serviços de

assessoria jurídica, propaganda, projetos, marketing, relações públicas,

segurança, coleta de informações e gerenciamento sistemas de informação, bem

como P&D e inovação científica, estão no cerne de todos os processos

econômicos, seja na indústria, na agricultura, energia, seja em serviços de

diferentes tipos. Todos podem ser reduzidos à geração de conhecimentos e a

fluxos da informação.

A internacionalização da economia mundial, sob redes geográficas, possibilita que

pequenas unidades produtivas sejam terceirizadas por grandes empresas, com vistas a

explorar mão-de-obra barata e, assim, elevar seus lucros. Ademais, uma grande empresa

que pretende terceirizar unidades produtivas em uma cidade pequena e local, como é

Acari, geralmente, recebe todos os incentivos do poder público local, que considera o

argumento e o discurso de que o mais importante é a geração de trabalho e renda e não a

garantia de direitos trabalhistas e o bem-estar da sociedade local. Destarte, a própria

42 30 19 23 35 28 36

120143 140 156

181245

244220224

250 264311

273

352

504 524558

529550

580538

0

100

200

300

400

500

600

700

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013

Agricultura

Comércio

Indústria

Serviços

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sociedade local defende com veemência a existência das unidades produtivas de

vestimentas, alegando serem estas opções de trabalho no escasso mercado local,

independentemente da exploração da sociedade e do território.

Nos dias atuais, na cidade de Acari, existem sete unidades produtivas de

vestimentas (fotografia 15), as quais geram cerca de 188 empregos ou ocupações, sendo

unidades terceirizadas pela Guararapes Confecções, do Grupo Riachuelo, e pela Hering.

Fotografia 15

Acari – Unidade produtiva de vestimentas, em 2016

Fonte: Acervo do autor, 2016.

Em algumas cidades brasileiras, várias violações dos direitos trabalhistas foram

encontradas em unidades produtivas de vestimentas, como jornadas excessivas de labor,

trabalho sem carteira assinada e pagamentos irrisórios por altas produtividades. Tais

violações são comuns em pequenas fábricas e/ou em oficinas clandestinas, que se utilizam

do trabalho de imigrantes em condição irregular. Nessa situação, as jornadas de trabalho

chegam a 16 horas diárias, em seis dias da semana (NÓBREGA, 2009). Todavia, a

necessidade de dinheiro para sobreviver e a falta de outras oportunidades de trabalho, leva

muitos trabalhadores a se submeterem a tais condições de labor e mesmo a defenderem a

continuidade das relações de trabalho às quais estão subordinados. Uma situação de

pobreza estrutural, que mantém a precarização do trabalho e é fundamentada nesta.

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Além das atividades produtivas, as atividades comerciais e as de prestação de

serviços tem uma importante contribuição para a economia acariense. A expansão das

atividades econômicas existentes na cidade, sobretudo, as do circuito inferior, torna o

espaço urbano mais dinâmico, multiplicando as suas áreas de especialização e de

diversidade. Nesse sentido, Silveira (2011, p. 19) afirma que

[...] o crescimento do mercado externo é hoje concomitante ao florescimento do

mercado interno, ambos revelando alta concentração de capitais e alta dispersão

territorial, as cidades veem multiplicar suas áreas de especialização e suas áreas

de diversidade, graças à profusão de pequenos estabelecimentos de fabricação,

de comércio e serviços que encontram nessas economias de aglomeração a razão

de sua sobrevivência. Trata-se, por exemplo, de pequenos comércios, estúdios de

gravação musical e de produção audiovisual, mototaxis e de táxis, conserto de

computadores e eletrodomésticos, chaveiros, encanadores, pintores, eletricistas,

fabricantes de carimbos, costureiras, entre tantos outros.

De acordo com dados do IBGE (2016a), em 2013, a composição do PIB de Acari

destacava as atividades de prestação de serviços, que representam 25,97% do PIB (gráfico

05), ficando atrás apenas da Administração e dos Serviços Públicos, que somavam 43,12%

do PIB (tabela 11). Conforme já destacamos, em pesquisa de campo constatamos que as

atividades de prestação de serviços e as do comércio são desencadeadas, majoritariamente,

por agentes da economia não hegemônica, localizadas na totalidade do território urbano,

porém, com maior concentração no Bairro Centro.

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Gráfico 05

Acari – Produto Interno Bruto por setores econômicos. Valor adicionado em 2013

Fonte: IBGE, em parceria com os Órgãos Estaduais de Estatística, Secretarias Estaduais de Governo e

Superintendência da Zona Franca de Manaus – SUFRAMA, 2016a.

Nota: Os dados do Produto Interno Bruto dos Municípios para o período de 2010 a 2013 (série revisada) têm

como referência o ano de 2010, seguindo, portanto, a nova referência das Contas Nacionais.

Tabela 11

Acari – Composição do Produto Interno Bruto por setores econômicos, em 2013

Setores Econômicos Valores em (%)

Agropecuária 11,97

Indústria 9,47

Serviços* 25,97

Administração e Serviços Públicos 43,12

Impostos 9,47

Fonte: IBGE em parceria com os Órgãos Estaduais de Estatística, Secretarias Estaduais de Governo e

Superintendência da Zona Franca de Manaus - SUFRAMA, 2016a.

Nota: (*) Excluída Administração e Serviços Públicos.

Conforme a pesquisa de campo que fizemos, o Bairro Centro é o que concentra o

maior número de atividades da econômica não hegemônica em Acari, sendo seguido pelo

Bairro Luiz Gonzaga de Bezerra, o Bairro Major Ary de Pinho, o Bairro Petrópolis, o

Bairro Vereador Tarcisio Bezerra Galvão, o Bairro Pe. José Dantas Cortez e o Bairro

Senador Dinarte Mariz (gráfico 06).

11.857

9.384

25.724

0

5.000

10.000

15.000

20.000

25.000

30.000

Agropecuária Indústria Serviços

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Gráfico 06

Acari – Quantidade de atividades da economia não hegemônica por bairros, em 2016

Fonte: Pesquisa de campo, 2016.

Levando em consideração a Classificação Nacional de Atividades Econômicas

(CNAE 2.0), inventariamos as atividades da economia não hegemônica existentes na

cidade de Acari, sendo que as atividades mais recorrentes são destacadas no quadro 03.

Na classe alimentação, existem as seguintes atividades: restaurantes e outros

serviços de alimentação e bebidas, lanchonetes, bares e outros estabelecimentos

especializados em servir bebidas, serviços ambulantes de alimentação, quiosques, trailers e

alimentação em barracas. Nessa classe foram contadas 99 atividades. Na classe de

comércio varejista de artigos do vestuário e acessórios, inventariamos o comércio de

confecção masculina, feminina, infantil, roupas intimas, loja de roupas em geral, incluindo

calçados e artigos de viagem. Nessa classe detectamos 45 atividades. Na classe de

transporte rodoviário de táxi, existiam serviços de táxi, moto táxi, serviço de transporte de

passageiros, veículos rodoviários de passageiros com motorista, locação de automóveis

com motorista. Inventariamos 81 prestadores de serviços nessa classe. E, por último, na

classe do comércio varejista de produtos alimentícios, bebidas e fumo, observamos a

existência do comércio varejista de produtos alimentícios em geral e do comércio varejista

de mercadorias em lojas de conveniência. Nessa classe, somamos 51 atividades.

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Quadro 03

Acari – Atividades da economia não hegemônica mais recorrentes no espaço urbano, em 2016

Fonte: Pesquisa de campo, 2016.

No que se refere às atividades da economia hegemônica, a cidade de Acari é

caracterizada pelas instituições da administração pública, por instituições financeiras, por

correspondentes bancários, por lotéricas e bancos (quadro 04). Tais atividades são

desenvolvidas com altos níveis de capital e tecnologia e com organização burocrática,

tendo como principal escopo a obtenção de lucro, por meio da exploração do trabalho e do

território.

As atividades hegemônicas de complementam com as atividades do circuito

inferior. Devido ao fato de aquelas atividades comandarem e determinarem a dinâmica

econômica, a complementaridade que elas mantêm com o circuito inferior é também

subordinante, na medida em que parte dos lucros obtidos nesse subsistema são drenados

para a economia hegemônica, via sistemas bancário, financeiro e tributário. Vale frisar que

a subordinação do circuito inferior ao circuito superior gera, perpetua e explica a situação

de pobreza estrutural que é vivida pela maioria dos trabalhadores.

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Quadro 04

Acari – Atividades do circuito superior da economia urbana

Fonte: Pesquisa de campo, 2016.

Ainda no que se refere aos agentes hegemônicos da economia urbana, a partir da

década de 1990, bancos e instituições financeiras passaram a marcar significativamente a

cidade de Acari, sendo, desde então, estabelecimentos comerciais interessantes para os

agentes sociais que querem e podem contratar crédito para realizar investimentos. Na

primeira década do século XXI, com a banalização da variável finanças, inclusive, entre os

trabalhadores pobres (SILVEIRA, 2003), muitos agentes do circuito inferior procuraram

tais atividades para tomar empréstimos, fato que expandiu qualitativa e quantitativamente a

economia não hegemônico em Acari, mas, em contrapartida, amplificou a subordinação do

circuito inferior ao circuito superior.

Como uma estratégia para diminuir custos e elevar lucros, agentes hegemônicos da

economia urbana, do ramo comercial, vêm se associando em redes e, assim, desenvolvendo

grandes atividades comerciais com organização burocrática, nível de capital e de

tecnologia consideráveis e escala de atuação regional. Destarte, na cidade de Acari têm-se

hoje atividades de redes de supermercados (Rede Seridó, Unicompre e Valor Real), de

lojas de materiais de construção (Rede Fácil Construir), de serviços funerários (Sempre e

Uniplan), de lojas de eletrodomésticos (Maré Mansa, Unilar e Casas Potiguar), de óticas

(Rede F5, Óticas Mirna, Óticas Rio) e de lojas de vestuário, cama, mesa e banho (Vintz)

(quadro 05). É importante compreender que a formação de redes comerciais visa

fortalecimento e autonomia de mercado (CASTELLS, 1999). Contudo, tal formação

contribuiu com a falência de várias atividades da economia não hegemônica, que não

suportam a forte concorrência das atividades afiliadas a redes comerciais.

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Quadro 05

Acari – Atividades da economia hegemônica, afiliadas a redes comerciais

Fonte: Pesquisa de campo, 2016.

No que tange às ações do poder público municipal para ordenar o território da urbe

acariense, destacamos a elaboração de leis para criar e delimitar ruas e bairros. Assim,

A Lei Municipal nº 914/2009, em seu Artigo 1º, estabelece que o perímetro

urbano da cidade é constituído dos seguintes bairros: Central, Petrópolis,

Vereador Tarcísio Bezerra Galvão, Major Ary de Pinho, Padre José Dantas

Cortez, Luiz Gonzaga e Senador Dinarte Mariz (ACARI, 2009).

Cada bairro apresenta características próprias, cuja delimitação leva em

consideração aspectos históricos, demográficos, econômicos, culturais e sociais

(MEDEIROS, 2015). Sendo assim, o espaço urbano de Acari apresenta diversas atividades

econômicas comerciais e de prestação de serviços localizadas, sobretudo, nos Bairros

Centro, Luiz Gonzaga Bezerra e Major Ary de Pinho e nos Bairros Petrópolis, Vereador

Tarcísio Bezerra Galvão, Padre José Dantas Cortez e Senador Dinarte Mariz (quadro 06).

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97

Quadro 06

Acari - Número de atividades comerciais e de prestação de serviços,

por circuitos da economia urbana e por bairros, em 2016

Bairros

Nº de

atividades

do circuito

inferior

Nº de

atividades

do circuito

superior

marginal

Nº de

atividades

do circuito

superior

puro

Principais

atividades

desenvolvidas no

circuito inferior

Principais

atividades

desenvolvidas no

circuito superior

marginal

Principais

atividades

desenvolvidas no

circuito superior

puro

Centro 233 25 10

Lojas de

vestuários e

calçados; bares e

lanchonetes;

supermercados e

açougues; serviços

de táxi e moto táxi

Lojas de vestuários

e calçados;

supermercados;

lojas de materiais

de construção

Banco,

correspondentes

bancários,

Correios, lotérica e

atividades

financeiras

Luiz

Gonzaga

Bezerra

94 6 2

Lojas de

vestuários e

acessórios; bares e

lanchonetes;

mercadinhos;

serviços de moto

táxi

Atividades de

tratamento de

beleza; Assistência

técnica de TV por

assinatura

Atividade de

advocacia e

contabilidade

Major

Ary de

Pinho

61 8 8

Bares e

restaurantes;

serviços de

alojamento;

atividades

recreativas; moto

táxi

Unidade de

confecção de peças

do vestuário;

Redes de

comércio;

comércio de

máquinas de

costura industrial

Atividades de

advocacia,

engenharia e

contabilidade;

clínica médica e

odontológica;

Cartório

Petrópolis 47 1 0

Estabelecimentos

de serviços de

alimentação e

bebidas;

mercadinhos

Comércio de

máquinas e peças

para as indústrias

ceramistas

...

Vereador

Tarcisio

Bezerra

Galvão

24 2 0

Comércio de

bebidas em geral;

mercadinhos;

fabricação de

móveis e

estofados;

Unidades de

confecção de peças

do vestuário;

representante

autorizado de

venda dos pacotes

de TV por

assinatura

...

Senador

Dinarte

Mariz

19 2 0

Manutenção e

reparação de

veículos

automotores;

estabelecimentos

de serviços de

alimentação e

bebidas

Fabricação de

artefatos de

cerâmica e barro

cozido para uso na

construção

...

Pe. José

Dantas

Cortez

18 0 1

Restaurantes,

bares; serviços de

alojamento;

manutenção e

reparação de

veículos

...

Comércio varejista

de combustíveis

para veículos

automotores

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98

automotores

Total 496 44 21 ... ... ...

Fonte: Pesquisa de campo, 2016.

De acordo com a pesquisa de campo que realizamos, as principais atividades

comerciais e de prestação de serviços da economia não hegemônica, distribuídas por

bairro, são as seguintes: no Bairro Centro – 33 lojas de vestuários e calçados, 42 atividades

que comercializam alimentos e/ou bebidas, 17 mercadinhos ou açougues, 60 atividades que

ofertam serviços de táxi, moto táxi ou frete; no Bairro Luiz Gonzaga Bezerra – 9 lojas de

vestuários e acessórios, 11 atividades de comercialização de alimentos e/ou bebidas, 9

mercadinhos ou comércio de água mineral, 12 prestadores de serviços de moto táxi e/ou

frete, 9 cabeleireiros ou atividades de tratamento de beleza; no Bairro Major Ary de Pinho

– 21 comércios de alimentos e/ou bebidas, 4 serviços de alojamento, 6 atividades

recreativas, 5 mercadinhos, açougues, quitandas ou comércios de água mineral, 6 moto

taxistas; no Bairro Petrópolis – 14 comércios de alimentos e/ou bebidas, 14 mercadinhos,

açougues ou pequenos depósitos de bebidas, 3 atividades de manutenção ou reparação de

veículos automotores; no Bairro Tarcísio Bezerra Galvão – 5 pequenos depósitos de

bebidas ou mercadinhos, 3 veículos automotivos de frete, 3 atividades recreativas, 2

atividades para fabricação de móveis e estofados, 1 panificadora; no Bairro Senador

Dinarte Mariz – 4 atividades de manutenção ou reparação de veículos automotores, 7

estabelecimentos de comercialização de alimentos e/ou bebidas, 2 comércios de água

mineral, 1 açougue; e no Bairro Padre José Dantas Cortez – 4 restaurantes ou

conveniências, 2 serviços de alojamento, 5 atividades de manutenção ou reparação de

veículos automotores.

Constata-se que o Bairro Centro é o que localiza o maior número de atividades

econômicas, bem como aquele que tem o mercado mais complexo. Destarte, tendo em

vista a importância desse bairro como o principal centro econômico da urbe, analisamos,

pormenorizadamente, no próximo capítulo do trabalho, a economia que mais se destaca em

Acari no principal bairro econômico da cidade.

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4 A IMPORTÂNCIA DO CIRCUITO INFERIOR DA ECONOMIA URBANA

PARA ACARI, ESPECIFICAMENTE, PARA A DINÂMICA DO CENTRO DA

CIDADE

Neste capítulo analisamos os usos do território de Acari pelos agentes dos circuitos

da economia urbana. Fazemos isso tendo como recorte empírico o centro da cidade de

Acari, tendo em vista a maior complexidade do mercado desse bairro. Além disso,

atentamos, sobretudo, para a economia não hegemônica, devido ao fato de a urbanização

acariense ocorrer do mesmo modo que a potiguar, isto é, calcada “na expansão da pobreza

e na precarização do trabalho” (SALVADOR, 2016, p. 289).

O Bairro Centro é o que localiza o maior número de atividades econômicas e a

maior complexidade do mercado existente em Acari. A economia que se destaca é a não

hegemônica, evidenciando a pobreza que caracteriza a maioria da sociedade acariense e os

usos das variáveis-chave do período atual pelos agentes não hegemônicos, que, assim,

ofertam mais e novas atividades econômicas, satisfazendo várias das necessidades

contemporâneas por consumo. Destarte, a pobreza existente hoje em Acari é a pobreza

estrutural, conforme nos ensinam Montenegro (2006, 2011), Salvador (2012a, 2012b,

2016), Santos (2008), e Silva (2012). Assim, analisamos a importância social, econômica e

territorial das atividades desenvolvidas pelos agentes não hegemônicos da economia

urbana de Acari.

4.1 RECORTE DA ÁREA DE ESTUDO E ASPECTOS PARA SE COMPREENDER A

IMPORTÂNCIA DO CIRCUITO INFERIOR DA ECONOMIA URBANA

Em termos demográficos, Acari é uma cidade pequena, pois, de acordo com a

estimativa populacional para 2016, tem 8.902 habitantes (IBGE, 2016a). Além disso,

apresenta características funcionais de um centro local, por atender as necessidades básicas

por consumo de sua população.

O poder público municipal, por meio da Lei nº 914/2009 (ACARI, 2009),

estabelece oficialmente o recorte do território urbano (mapa 04), inclusive, por bairros

(mapa 05). A cidade possui sete bairros, cada um com as suas especificidades geográficas e

históricas, destacando-se, no que se refere à dinâmica econômica, o Bairro Centro. Já no

que tange ao tamanho da população, destacam-se, respectivamente, o Bairro Luiz

Gonzaga, com 1.931 habitantes; o Bairro Centro, com 1.833 habitantes; o Bairro Major

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Ary de Pinho, com 1.800 habitantes; o Bairro Petrópolis, com 1.560 habitantes; o Bairro

Vereador Tarcisio Bezerra Galvão, com 903 habitantes; o Bairro Senador Dinarte Mariz,

com 608 habitantes; e o Bairro Padre José Dantas Cortez, com 267 habitantes.

Mapa 04

Acari – Recorte espacial do perímetro urbano, em 2016

Organização: Robenildo J. C. Moura, 2016.

Cartografia: Anderson A. da Silva, 2016.

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Mapa 05

Acari – Recorte espacial do território urbano por bairros, em 2016

Organização: Robenildo J. C. Moura, 2016.

Cartografia: Anderson A. da Silva, 2016.

Assim, nota-se que o destaque do Bairro Centro (mapa 06) é econômico, pela

complexidade do seu mercado no contexto local, e social, pela quantidade de população da

cidade que abriga, sendo o segundo bairro mais populoso da cidade. Do ponto de vista

histórico, o centro de Acari é o lugar onde teve início o povoamento e as primeiras

construções. No que se refere às instâncias social e cultural, esse foi e é palco de várias

manifestações sociais, religiosas e/ou políticas que vêm sendo desenvolvidas na história

acariense.

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102

Mapa 06

Acari – Recorte espacial do Bairro Centro, em 2016

Organização: Robenildo J. C. Moura, 2016.

Cartografia: Anderson A. da Silva, 2016.

Nesse bairro é onde coexistem o maior número de atividades dos circuitos da

economia urbana. Dados da pesquisa de campo que realizamos indicam que existem nesse

bairro 238 atividades da economia não hegemônica, o que corresponde a 46% do total das

atividades existentes na cidade. Há também 35 atividades do circuito superior, o que

corresponde a 54% do total das atividades da economia hegemônica existentes na cidade

de Acari. Tais atividades coexistem devido ao fato de se inter-relacionarem

frequentemente, por meio de relações de complementaridade, concorrência e subordinação

do circuito inferior ao circuito superior.

A proeminência quantitativa da economia não hegemônica, nos leva a compreender

especificamente a importância do circuito inferior da economia urbana, levando em

consideração o fato de o território não ser usado de maneira não homogênea, o que

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propicia diferentes possibilidades e intencionalidades, segundo “as leis do

desenvolvimento desigual e combinado” (TAVARES, 2014, p. 88).

A economia hegemônica é caracterizada pelo uso intenso de tecnologia e de capital,

com organização burocrática e escala de atuação, geralmente, ampla. As atividades dessa

economia são produções, comercializações e prestações de serviços veementemente

modernas, padronizadas e fundamentadas na exploração do trabalho e no lucro. A

economia não hegemônica é caracterizada pela necessidade intensa de trabalho e pelo uso

inferior de tecnologia e de capital, sendo este, por vezes, desnecessário. A organização das

suas atividades é mais criativa do que burocrática e a sua escala de atuação é bastante

concatenada ao âmbito local. As atividades dessa economia são pequenas produções,

comercialização e prestações de serviços, que usam variáveis-chave do período atual, mas

que têm como principal obtenção a sobrevivência e não o lucro demasiado (SANTOS,

2008; SALVADOR, 2012a, 2016).

A pobreza estrutural e a precarização do trabalho existentes em Acari são marcas

das relações entre os circuitos da economia urbana, pois, os agentes hegemônicos do

mercado comandam a economia e determinam a divisão social e territorial do trabalho.

Fazem isso produzindo

oferta de força de trabalho ao expropriarem os trabalhadores dos meios de

produção e desempregá-los, mas não produzem, na mesma medida, demanda de

empregados em número suficiente ao de trabalhadores expropriados, fato que

contribui para precarizar o mercado de trabalho (SALVADOR, 2016, p. 289).

Nesse sentido, Antunes (2005 apud TAVARES, 2014, p. 89) destaca que a nova

“morfologia do trabalho” pode ser caracterizada pelo desemprego estrutural, pela

subcontratação de trabalhadores, pela terceirização do trabalho, pela flexibilização das leis

trabalhistas e, portanto, pela precarização das relações e do mercado de trabalho.

A economia hegemônica mais desemprega do que emprega, tendo em vista que um

dos seus fundamentos é a intensidade de capital e de tecnologia e não de trabalho. Destarte,

a oferta de empregos é bem menor do que a demanda, fato que leva a maioria dos

trabalhadores – que vivem uma situação de desemprego estrutural – a desenvolver alguma

atividade do circuito inferior da economia urbana para buscar o seu sustento e o de sua

família. Outrossim, os poucos empregos existentes são extremamente seletivos, sendo

destinados, principalmente, para os trabalhadores que tenham alta e adequada qualificação

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profissional. Assim, para os trabalhadores que não têm essa qualificação, resta a economia

não hegemônica (MONTENGRO, 2006, 2011; SALVADOR, 2012a, 2012b, 2016;

SANTOS, 2008; SILVA, 2012). Tal contexto, causa a expansão do circuito inferior da

economia urbana que é sinônima da elevação da pobreza, bem como evidencia a

importância socioeconômica da economia não hegemônica para a massa de trabalhadores.

4.2 A IMPORTÂNCIA DO CIRCUITO INFERIOR PARA A OCUPAÇÃO DE

TRABALHADORES, PARA O CONSUMO DE OBJETOS MODERNOS E PARA A

REVELAÇÃO DA POBREZA

Não obstante a ocupação no circuito inferior ser instável, devido ao fato de muitos

estabelecimentos comerciais fecharem as portas antes do segundo ano de existência

(SEBRAE, 2011), suas atividades gerarem baixos rendimentos, e as relações de trabalho

serem acordadas, geralmente, no contrato pessoal entre o responsável pela atividade e o

agente social ocupado, esse subsistema é, na contemporaneidade, o grande ocupador de

trabalhadores pobres, sem muita qualificação ou até mesmo sem qualificação, excluídos da

economia hegemônica. Por meio da economia não hegemônica, tais trabalhadores usam o

território como abrigo para a sua sobrevivência (MONTENGRO, 2006, 2011;

SALVADOR, 2012a, 2016; SANTOS, 2008; SILVA, 2012).

No centro da cidade de Acari, a maioria das atividades do circuito inferior é

desenvolvida por meio de trabalho familiar e/ou autônomo. A maioria é de trabalhadores

pobres e/ou sem muita qualificação profissional, porém, criativos, batalhadores. Do mesmo

modo, esse subsistema ocupa poucas pessoas por unidade econômica, entretanto, no total, a

ocupação de trabalhadores é considerável, devido ao grande número de atividades da

economia não hegemônica.

Os rendimentos obtidos com o desenvolvimento de atividades da economia não

hegemônica são baixos em decorrência dos elevados custos necessários para manter o

negócio. Outrossim, a concorrência enfrentada pelas atividades é forte, o que torna as

vendas cada vez mais fracas e contribui também para os irrisórios lucros obtidos.

A importância socioeconômica da economia não hegemônica está sendo

intensificada atualmente, tendo em vista o agravamento da crise política e econômica que

abala todo o país, a qual agrava a situação do desemprego e da pobreza. Dados do

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Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) evidenciam que o desemprego vem aumentando

no Brasil (gráfico 07), no Rio Grande do Norte (gráfico 08) e em Acari (tabela 12).

Gráfico 07

Brasil – Evolução mensal do emprego formal no ramo

do comércio varejista, de julho de 2011 a julho de 2016

Fonte: MTE/SPPE/DES/CGET - CAGED Lei 4.923/65 (2016).

Gráfico 08

Rio Grande do Norte – Evolução do emprego formal, de 2015 a 2016

Fonte: MTE/SPPE/DES/CGET - CAGED Lei 4.923/65, 2016.

21.35617.270

-589 -519

-29.847

-15.227

-40.000

-30.000

-20.000

-10.000

0

10.000

20.000

30.000

Anos

2011 2012 2013 2014 2015 2016

Julho Jan./Jul. 2016Ago. 2015 /Jul.

2016

Admissões 11.725 81.215 147.425

Demissões 11.723 96.894 166.140

Saldos 2 -15.679 -18.715

-50.000

0

50.000

100.000

150.000

200.000

de

em

pre

gos

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106

Tabela 12

Acari – Desemprego formal em julho de 2016

Atividades econômicas Variável

Demissões e Admissões

Indústria de transformação -24

Construção Civil -33

Comércio -20

Serviços -14

Administração Pública 4

Total -87

Fonte: MTE/SPPE/DES/CGET - CAGED Lei 4.923/65 (2016).

Tendo em vista o fato de a economia não hegemônica ser a abrigadora da maioria

dos trabalhadores desempregados pelo circuito superior, acreditamos que tais dados

indicam a expansão e a importância do circuito inferior da economia urbana na atualidade,

especificamente, em Acari.

No centro da cidade Acari, o faturamento médio mensal bruto da maioria (58,3%)

das atividades não hegemônicas era de mais de 6 salários-mínimos. Descontados os gastos

correntes com o desenvolvimento do negócio (contas de água, luz, telefone, compra de

mercadorias, pagamento de trabalhador, tributos para registro da atividade junto ao poder

público, aluguel), o lucro obtido pela maioria (50%) dos agentes do circuito inferior

correspondia, geralmente, a 100% de sua renda mensal familiar, sendo que 46,7% desses

agentes afirmaram que sua renda mensal familiar era de 1 a 2 salários-mínimos, enquanto

que 33,3% informaram ser de 2 a 3 salários-mínimos. Também existiam agentes (20%) que

desencadeiam atividade da economia não hegemônica como um complemento de renda,

para os quais o rendimento obtido nessa economia correspondia a menos de 50% de sua

renda mensal familiar.

A baixa lucratividade das atividades do circuito inferior faz com que no centro da

cidade a maioria (76,7%) dos agentes desse circuito utilize o lucro obtido com o

desenvolvimento da atividade para realizar investimentos na própria atividade, como a

compra de mercadorias, assim como para o consumo familiar (63,3%). Metade das

atividades pesquisadas ofertava fiado para os clientes, fato que faz com que seus

responsáveis destinem também parte dos seus lucros para uma pequena reserva monetária

que garanta a sobrevivência da própria atividade, caso as vendas feitas à prazo não sejam

quitadas no tempo esperado e/ou combinado. Ainda existiam agentes da economia não

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hegemônica (20%) que disseram conseguir fazer uma poupança pessoal com os

rendimentos obtidos.

A maioria (43,3%) das atividades não hegemônicas existentes no centro de Acari

eram desenvolvidas apenas pelo seu responsável. Em 26,7% das atividades pesquisadas,

trabalhava o responsável e mais uma pessoa e em 13,3% trabalhavam o responsável e mais

duas pessoas. Assim, revelamos que o circuito inferior da economia urbana, apesar da sua

baixa lucratividade por atividade, tem na ocupação de trabalhadores um dos seus principais

fundamentos, garantindo, destarte, trabalho e renda para muitas pessoas. Sendo assim, a

economia não hegemônica se apresenta como sendo fundamental para a dinâmica

socioeconômica da urbe acariense, pois, garante a sobrevivência da maioria dos

trabalhadores pobres, desempregados ou nunca empregados pelo circuito superior e sem

qualificação profissional.

No centro de Acari, 10% dos agentes do circuito inferior inquiridos afirmaram ter

iniciado sua atividade econômica sem nenhuma quantia em dinheiro, pois, já possuíam os

instrumentos de trabalho necessários, como, por exemplo, os moto taxistas e os artesões.

Todavia, a maioria (90%) dos agentes da economia não hegemônica declarou que investiu

alguma quantia para iniciar a sua atividade econômica, a qual variou de acordo com a

situação vivenciada por cada agente social. Para aqueles que não ganharam ou herdaram

nenhum objeto ou dinheiro de amigos ou familiares, grosso modo, iniciaram a atividade

econômica com R$ 700,00; já para aqueles que haviam sido empregados e foram

demitidos, bem como pediram dispensa do antigo emprego, tendo acesso ao Fundo de

Garantia por Tempo de Serviço (FGTS), ou que ganharam o imóvel de parentes, chegou-se

a investir no desenvolvimento inicial do seu próprio negócio até R$ 20.000,00.

No que se refere à qualificação profissional e a escolaridade dos agentes do circuito

inferior, em sua maioria, não têm alta qualificação profissional, apesar de terem estudado.

A falta de emprego nas atividades hegemônicas, atraía jovens recém-formados em nível

superior (6,7%) para desenvolver atividades comerciais no circuito inferior enquanto não

conseguiam uma boa oportunidade de emprego, como um emprego público obtido por

meio de aprovação em concurso. A maioria (66,7%) dos agentes do circuito inferior havia

completado o Ensino Médio, em escola pública. Não obstante, a maioria (60%) desses

trabalhadores também não tinha especialização para o trabalho que realizava. No entanto,

muitos agentes do circuito inferior (40%) tinham feito algum curso que os ajudava a

desenvolver seu negócio, como o curso de vendas, o de gestão empresarial, o de culinária

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e/ou o de manipulação de alimentos, todos ministrados pelo Serviço Brasileiro de Apoio às

Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE), em parceria com a Câmara de Dirigentes Lojistas

(CDL) de Acari. Também foram citados os cursos de cabeleireiro, manicure e pedicure

ministrados pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (SENAC), o de

refrigeração comercial e residencial, ofertado pelo Serviço Nacional de Aprendizagem

Industrial (SENAI), o de eletrotécnica, ministrado pelo Instituto Federal de Educação

Tecnológica do Rio Grande do Norte (IFRN), e os cursos técnicos de informática

possibilitados pela empresa MICROLINS.

As ocupações geradas pelo circuito inferior são precárias, mas não necessariamente

informais (MONTENEGRO, 2006, 2011; SALVADOR, 2016). Há trabalhadores

registrados na economia não hegemônica, o que não lhes garante acesso a todos os direitos

trabalhistas previstos em lei. Isso por que o empregador não hegemônico, geralmente, faz

acordos pessoais com o empregado, a fim de flexibilizar o pagamento de direitos

trabalhistas, como férias e 13º salário (SALVADOR, 2016).

O registro em carteira de trabalho de trabalhadores em atividades do circuito

inferior vem ocorrendo, na maioria dos casos, conforme a implementação da política do

Microempreendedor Individual (MEI). Em Acari vem crescendo consideravelmente o

número de microempreendedores individuais, segundo dados mostrados nas tabelas 13 e

14. Desse modo, no centro de Acari, a maioria (63,3%) dos responsáveis por atividades do

circuito inferior possuía CNPJ, sendo que 53,3% destes eram registrados como MEI.

Outrossim, 83,3% dos estabelecimentos possuíam Alvará de Funcionamento, pagando uma

taxa anual ao poder público municipal. Com isso, 26,7% das pessoas que estavam

ocupadas no circuito inferior tinha carteira de trabalho assinada, sendo que muitos destes

(10%) tinham grau de parentesco com o responsável pela atividade, como filho, pai,

esposa, irmão, cunhado.

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Tabela 13

Acari – Número de empresas criadas, entre 2009 e 2014

Porte 2009 2010 2011 2012 2013 2014

Porte não informado 0 0 0 0 0 21

Microempresa 110 124 100 110 103 93

Microempreendedor individual 0 39 80 137 200 260

Empresa de pequeno porte 19 27 39 26 29 29

Empresa de médio porte 1 2 2 2 2 2

Total 130 192 221 275 334 405

Fonte: Celio Vieira – Escritório Regional do Seridó Oriental - Portal DATA SEBRAE, 2016.

Tabela 14

Acari – Número de Microempreendedores Individuais, de 2010 a 2015

Ano Quantidade total

2010 39

2011 83

2012 143

2013 208

2014 260

2015 306

Fonte: Celio Vieira – Escritório Regional do Seridó Oriental - Portal DATA SEBRAE, 2016.

No centro da urbe acariense, a maioria das pessoas contratadas por atividade da

economia não hegemônica desempenhavam suas funções de segunda-feira à sábado, com

jornada de trabalho que duravam de 08 a 11 horas diárias. Esse horário de trabalho para o

proprietário da atividade é bastante flexível, durando, geralmente, por jornadas mais

longas. Dados que indicam que o trabalho no circuito inferior é intenso, no que se refere à

jornada de trabalho diária.

Os contratos de trabalho no circuito inferior são, na sua maioria, calcados no

contato pessoal. Além disso, há várias atividades que só contratam trabalhadores em

períodos determinados, quando aumentam a clientela. No caso de Acari, isso ocorre com a

realização da Festa de Nossa Senhora da Guia, quando, lanchonetes, restaurantes, bares,

lojas de vestimentas e calçados aumentam suas vendas e, assim, contratam trabalhadores.

Além disso, há atividades que trabalham com encomendas, como serigrafias, as quais

ocupam trabalhadores nos momentos em que as demandas aumentam.

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Há trabalhadores que estão ocupados no circuito inferior por falta de opção. É o

caso de 46,7% dos trabalhadores da economia não hegemônica do centro de Acari, os quais

nunca estiveram empregados e, assim, nunca trabalharam com acesso a direitos

trabalhistas. Todavia, havia trabalhadores (53,3%) que já tinham sido empregados, mas,

devido aos baixos salários que recebiam, preferiram desenvolver o seu próprio negócio,

com o qual têm rendimentos maiores e possibilidade de flexibilizar a sua própria jornada

de trabalho, o que lhes possibilita momentos com a família antes impossíveis de serem

vivenciados. Destarte, há trabalhadores que estão na economia não hegemônica por opção.

No que se refere ao consumo de objetos modernos pelos agentes não hegemônicos,

temos, atualmente, aumento exponencial das práticas de consumo moderno. Salvador

(2016, p. 296) afirma que “a ideia de escassez é dinâmica e ligada à noção de pobreza. Não

devemos considerar tal ideia e tal noção como estáticas, nem mesmo como homogêneas

em todas as formações sociais ou em todos os subespaços de dado território nacional”.

Assim sendo, essa escassez relaciona-se à “falta de mercadorias ou objetos essenciais à

vida individual e coletiva, como alimentos, vestimentas e moradia; e a resultante da força

da propaganda e do crédito, cuja falta é de bens modernos essenciais à vida alicerçada no

consumismo, como eletroeletrônicos” (SALVADOR, p. 296). Ou seja, atualmente, a

expansão das variáveis finanças e consumo exerce papel estruturador na vida individual e

social (SILVEIRA, 2015).

No centro de Acari, os agentes não hegemônicos da economia urbana vêm usando

parte de sua renda com o consumo de objetos modernos, muitos dos quais servem também

para o desenvolvimento de seus negócios. A maioria dos agentes do circuito inferior

residia em casa própria (73,3%), constituindo família com 3 ou com 4 pessoas (36,7% e

23,3%, respectivamente). Todos os agentes inquiridos possuíam televisão, geladeira,

celular e aparelho de som; quase todos (96,6%) tinham acesso à Internet; 86,6% possuíam

micro-ondas, parabólica e máquina de lavar roupas; 76,6% possuíam DVD; 63,3% tinham

computador; 60%, ar condicionado; e 50% dispunham de TV por assinatura. Muitos

também possuíam veículo ou motocicleta, sendo que 66,6% tinham motocicleta com ano

de 2002 a 2016) e 50% possuíam automóvel, com ano de 1979 a 2016.

Acerca da contribuição com o sistema previdenciário, os dados da pesquisa

realizada no centro de Acari indicam a precarização do trabalho, especificamente, no

circuito inferior da economia urbana. Nesse sentido, as palavras de Salvador (2016, p. 298)

são pertinentes:

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[...] o circuito inferior faz perdurar a pobreza pela precariedade das ocupações

que gera. Afora baixos rendimentos, longas jornadas de trabalho, falta de acesso

a direitos trabalhistas e difíceis condições de labor, grande parte dos agentes da

economia não hegemônica desenvolve atividades sem nenhuma perspectiva de

descanso ou de acesso a algum direito social no futuro. Isso devido a não terem

condições de contribuir para a previdência nacional e, desse modo, não saberem

se haverá alguma possibilidade de aposentadoria e repouso após muitos anos de

trabalho.

No centro de Acari, 40% dos agentes inquiridos não recolhia taxas de INSS para a

sua aposentadoria. Todavia, a política do Microempreendedor Individual (MEI19

) contribui

para que 53,3% dos agentes da economia não hegemônica realizassem tal recolhimento,

devido a cumprirem seus deveres tributários de microempreendedores. Tal política é

apoiada pelo poder público municipal, pois, sendo microempreendedores os agentes do

circuito inferior da economia urbana geram tributos para o poder público e têm a

possibilidade de concorrer em licitações e prestar serviços ao poder municipal

(SERETARIA DE DESENVOLVIEMENTO ECONÔMICO, TURISMO, DESPORTO E

LAZER, 2016). Não obstante, segundo Salvador (2016, p. 298 - 299), “nos dias atuais, os

impactos da política do MEI ainda precisam ser ampliados e melhorados, tendo-se em vista

que a maioria dos trabalhadores pobres responsáveis por micro e pequenas atividades

econômicas continua sem ter acesso a garantias sociais trabalhistas”.

4.3 A IMPORTÂNCIA DO CIRCUITO INFERIOR PARA A REPRODUÇÃO

AMPLIADA DO SISTEMA ECONÔMICO VIGENTE, PARA A DINÂMICA

TERRITORIAL URBANA DE ACARI E PARA O TERRITÓRIO USADO COMO

FATOR DE DESIGUALDADES, ALTERNATIVAS E RESISTÊNCIAS

A produtividade dos agentes da economia não hegemônica é importante para a

reprodução ampliada do estágio atual do capitalismo (SALVADOR, 2016). Tal

19

Atualmente o Microempreendedor Individual (MEI) pode ter até um funcionário. Muitos negócios

apresentam bastante limitação em razão disso, pois, a mão de obra limitada muitas vezes impossibilita o

crescimento do empreendimento. Como regra geral, pode ser MEI quem tem rendimento anual máximo de

R$ 60.000,00, não podendo ter participação em outra empresa como sócio ou titular e possuir, no máximo,

um empregado com salário limitado ao mínimo vigente ou ao piso da categoria. Contudo, mesmo se

enquadrando na regra geral, não é qualquer profissional autônomo que pode ser MEI: existe uma lista das

atividades permitidas. Portanto, em razão da natureza jurídica do MEI, o mesmo não tem contrato social ou

mesmo sócio. Cadastrando-se como MEI, o agente passa a ser um empresário individual, ou seja, o agente é

sua própria empresa, não havendo, portanto, necessidade de contrato social. (Disponível em:

<http://www.portalmei.org/category/portal-mei/microempreendedor/>. Acesso em 07 de dez. de 2016).

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produtividade decorre da intensidade de trabalho que é um dos fundamentos do circuito

inferior da economia urbana. Essa intensidade deve-se ao fato de o trabalho no circuito

inferior ser alicerçado em contratos pessoais, em longas jornadas e em baixos rendimentos.

Destarte, os trabalhadores desse subsistema não conseguem, geralmente, acumular capital,

tendo que trabalhar cada vez mais.

Os baixos rendimentos gerados pelas atividades da economia não hegemônica

também decorrem dos gastos correntes com o desenvolvimento dessas atividades, que são

consideráveis para o baixo nível de capital do circuito inferior. Assim, o que sobra para os

agentes desse circuito serve, na maioria dos casos, apenas para manter a atividade

funcionando e para sustentar a família. Por isso, Salvador (2016) destaca que a não

acumulação de capital pelos agentes do circuito inferior da economia urbana é um fato que

faz com que esse subsistema econômico seja mantenedor da pobreza, hoje, estrutural.

Geralmente, quando há reserva de dinheiro em atividade do circuito inferior,

decorre da realização de empréstimo. No centro de Acari, a maioria (70%) dos agentes não

hegemônicos da economia urbana declarou que tinha ou já havia tido alguma reserva de

dinheiro, conseguida com o desenvolvimento da atividade e/ou com a realização de

empréstimo bancário. Do mesmo modo, a maioria (60%) dos agentes informou que

utilizou essa reserva para investir na atividade desenvolvida, comprando mercadorias,

instrumentos ou equipamentos de trabalho, realizando a manutenção destes, construindo ou

reformando o estabelecimento comercial e/ou adquirindo automóvel ou motocicleta para

realizar serviços da atividade.

As atividades não hegemônicas da economia urbana também fazem publicidade

atualmente. Em Acari, a maioria (83,3%) das atividades pesquisadas faz divulgação

utilizando, geralmente, redes sociais da Internet, como Facebook, What’s App e Instagran.

Também há atividades que fazem publicidade por meio de carros ou motos de som, da

rádio comunitária local, de cartões de visita ou de telões instalados em locais da cidade

durante a realização de eventos. Vale frisar que, hoje, há atividades não hegemônicas que

comercializam publicidade, como os carros e as motos de som, o que faz da publicidade

uma variável-chave do período atual que fundamenta o circuito inferior da economia

urbana.

Além de ser importante do ponto de vista socioeconômico, o circuito inferior

também exerce importância territorial, sobretudo, em cidades pequenas que se

caracterizam também como centros locais, pela pouca complexidade de seu mercado.

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Nesse contexto, as atividades não hegemônicas são proeminentes e atraem consumidores

que residem próximos do centro local e necessitam de algum serviço aí ofertado e ausente

nos seus lugares de origem, o que torna a dinâmica econômica do centro local importante

em determinado contexto territorial.

A importância do circuito inferior para o mercado e a dinâmica territorial de centros

locais pode ser evidenciada pelos seguintes dados: em Acari, a maioria (30%) dos agentes

da economia urbana inquiridos trabalha na economia não hegemônica de 10 a 15 anos;

26,6% trabalham há mais de 20 anos; e 16,7%, de 5 a 10 anos. Esses dados mostram o

perdurar do trabalho na economia dos pobres, fato que remete para a proeminência

qualitativa e quantitativa das atividades dessa economia no mercado de cidades como

Acari.

Outrossim, a economia não hegemônica, relacionada ao circuito superior da

economia urbana, contribui também para a (re)produção do espaço urbano. Sobre isso, as

palavras de Salvador (2016, p. 303) esclarecem que

[...] esse circuito contribui para a expansão do território usado urbano, com a

acentuação de moradores, de atividades econômicas e de trabalhadores ocupados

na cidade; a diversificação do mercado, com o desenvolvimento crescente de

novas atividades produtivas, comerciais e de serviços; a integração do mercado,

com o abastecimento de mercadorias da economia não hegemônica pelo circuito

superior e com a rede de solidariedade orgânica mantida entre agentes do

circuito inferior; a banalização de variáveis-chave do período atual, determinadas

e dominadas pela economia hegemônica.

Além disso, asseveramos que o circuito inferior evidencia a importância do

território usado como fator de desigualdades e viabilizador de alternativas e resistências.

Isso por que cada agente social, hegemônico ou não hegemônico, usa o território de

diferentes maneiras, com forças diferentes, constituindo uma dinâmica territorial calcada

nas desigualdades, nas contradições e nas combinações, mas também nas resistências e na

busca de alternativas de sobrevivência.

Sendo assim, compreendemos a cidade de Acari como um espaço banal, isto é, que

é constituído por divisões superpostas do trabalho. Nesse espaço é proeminente a economia

não hegemônica, fato que evidencia a situação de pobreza estrutural na qual vive a maioria

dos acarienses, mas também clarifica a busca da sobrevivência por meio do

desenvolvimento de negócios precários – em termos de rendimentos e de relações de

trabalho –, mas criativos e acolhedores da massa de trabalhadores desempregados. Por

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isso, entendemos que o circuito inferior possa ser mais do que um subsistema perpetuador

da pobreza, mas também uma alternativa de contestação e de mudança do sistema

socioeconômico hoje vigente. Em outras palavras, acreditamos que a economia que, hoje,

faz subsistir a pobreza possa ser, amanhã, um caminho que transforme os fundamentos

desiguais e contraditórios da economia territorial.

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5 CONCLUSÃO

Com o desenvolvimento do estudo monográfico, conseguimos responder a

problemática da pesquisa, expressa na seguinte questão: Como os agentes dos circuitos da

economia urbana vêm usando o território de Acari na atualidade? Para desvendar essa

questão realizamos reflexões teóricas sobre os usos do território, pesquisa de campo em

Acari atentando para a dinâmica socioeconômica e territorial da urbe, e pesquisa de dados

estatísticos sobre a população, a economia e as relações de trabalho em Acari. Destarte,

compreendemos as relações entre os circuitos da economia urbana, especificamente, no

Bairro Centro, que é o principal da cidade de Acari, em termos de complexidade

socioeconômica.

Com o lastro de apreender o território pelos seus usos, partimos da compreensão da

formação territorial de Acari, que ocorreu pelas economias tradicionais ao uso pretérito do

território municipal, quais sejam: a pecuária, que impulsionou a formação do território e a

cotonicultura que dinamizou os usos do território acariense, inclusive, a produção do

espaço urbano. Tais atividades fundamentaram a dinâmica territorial de Acari até meados

do século XX, quando entraram em decadência, por motivos econômicos de ordem

conjuntural e estrutural, referentes às escalas local, nacional e mundial. Com isso, a

economia acariense foi reestruturada, no sentido da Globalização e do destaque das

atividades comerciais e de prestação de serviços, sobretudo, as da economia não

hegemônica.

No Brasil, a modernização econômica e tecnológica do território é implementada,

de modo veemente, com o fim da Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Nesse período de

intensificação das consequências da Globalização no território nacional, se adensa a

segmentação da economia política da urbanização, a qual pode ser estudada, no contexto

das cidades, pela teoria dos circuitos da economia urbana dos países subdesenvolvidos. Tal

teoria propugna que a economia política da cidade é constituída por dois subsistemas

(circuito superior e circuito inferior) que segmentam a economia urbana dos países

subdesenvolvidos, mas não a dualizam, tendo em vista que tanto a economia hegemônica

quanto a economia não hegemônica decorrem do processo de modernização do território,

além de coexistirem por meio de relações de complementaridade, concorrência e

subordinação.

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No território acariense a reestruturação da economia se amplifica a partir da década

de 1980, quando ganham destaque, na dinâmica econômica, as pequenas atividades

comerciais e de serviços e a população urbana supera a população rural, fatores que

adensam o processo de urbanização do território. Para compreendermos essa dinâmica

lançamos mão da teoria dos circuitos da economia urbana, a qual nos possibilitou entender

a cidade de Acari como um espaço banal, isto é, um espaço que é produzido por meio de

divisões superpostas do trabalho, sendo que os agentes hegemônicos da economia usam o

território como um recurso a ser explorado, buscando lucratividade, enquanto que os

agentes não hegemônicos usam o território como um abrigo, batalhando a sobrevivência.

Analisamos a atual dinâmica urbana de Acari recortando para pesquisa o Bairro

Centro, devido ao fato desse bairro ser o que localiza a maior complexidade de atividades

econômicas da cidade e um dos principais no que se refere à quantidade de pessoas

residentes. Outrossim, o Bairro Centro tem importância no processo de formação territorial

de Acari, tendo em vista que foi nele que se construíram as primeiras residências da

cidade, por sua proximidade com o Rio Acauã. Assim, a importância histórica e

socioeconômica atual desse bairro são fatores que nos levaram a analisar os usos do

território da cidade de Acari, especificamente, pelo seu centro.

Assim, refletimos sobre as relações entre os circuitos da economia urbana no centro

de Acari. Em termos quantitativos, a economia não hegemônica é proeminente na cidade

de Acari, apresentando o maior número de atividades, ocupando a massa de trabalhadores

e atendendo a maioria dos consumidores. Já, em termos qualitativos, os circuitos da

economia urbana coexistem com a subordinação do circuito inferior ao circuito superior,

tendo em vista a determinação das variáveis-chave do período atual pela economia

hegemônica e a drenagem de lucros obtidos na economia não hegemônica para o circuito

superior da economia urbana via sistema financeiro. Assim, a realidade de Acari ratifica

que, à medida que os nexos da Globalização caracterizam as atividades do circuito inferior,

aumenta a dependência desse subsistema da economia hegemônica, fato que torna a

pobreza cada vez mais estrutural.

Vale frisar o papel acolhedor de trabalhadores que o circuito inferior exerce hoje.

Especificamente, em cidades pequenas e locais, cujo mercado é pouco denso, grande parte

dos trabalhadores sequer teve a oportunidade de trabalhar na economia hegemônica ou

com registro em carteira de trabalho. Esses trabalhadores já ingressam no mercado de

trabalho via circuito inferior da economia urbana, trabalhando, assim, sem acesso a direitos

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trabalhistas, por longas jornadas e sem perspectiva futura de aposentadoria. Desse modo, a

economia não hegemônica garante renda e possibilidade de consumo para a maioria dos

trabalhadores acarienses, mas também contribui para perpetuar a pobreza estrutural.

Além disso, a economia não hegemônica é importante para a dinâmica territorial de

Acari, pois, a sua proeminência qualitativa e quantitativa no mercado local contribuem

para atrair consumidores para a cidade de Acari, em busca de mercadorias e/ou de serviços

que não são ofertados nos seus locais de moradia. Do mesmo modo, o deslocamento desses

consumidores para Acari é realizado por meio de atividades da economia não hegemônica,

como agentes que fazem lotação de seus automóveis, cobrando passagens por isso, ou por

agentes do circuito inferior que trabalham transportando pessoas e/ou mercadorias em

veículos de porte médio.

Portanto, a economia não hegemônica é importante social, econômica e

territorialmente para a atual dinâmica de Acari, contribuindo, de modo considerável, para o

processo de produção desse espaço, que ocorre, em sua totalidade, pelas relações entre os

circuitos da economia urbana. Hoje, o circuito inferior é uma estratégia de sobrevivência

para a maioria dos trabalhadores pobres e desempregados. Contudo, acreditamos que esse

subsistema possa ser mais do que isso, se apresentando, no futuro, como uma alternativa

para transformar o mercado em socialmente necessário, isto é, calcado em

complementaridades e em solidariedades e não em desigualdades e em contradições, como

ocorre atualmente. Em suma, ansiamos que a economia não hegemônica possa ser um

caminho para a transformação do presente rumo a um futuro melhor, que tenha o bem-estar

social como o pilar fundamental.

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TRINDADE, S. L. B. História do Rio Grande do Norte. Natal: Editora do IFRN, 2010.

VITAL, A. O. Gargalheiras: perspectiva de desenvolvimento na vida do sertanejo. In:

SOUZA, J. I. (Org.) Acari: um diálogo com a Geografia, a História e a linguagem. Acari:

SEMEC, 2015, p. 53-85.

WOLFF, S. Estatuto da Cidade: A Construção da Sustentabilidade. Revista Jurídica

Virtual. Brasília, vol. 4, n. 45, fev. 2003.

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APÊNDICES

Apêndice A: Material de pesquisa utilizado para inventariar os circuitos da economia

urbana em Acari (RN)

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO SERIDÓ

DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA

PESQUISA DE CAMPO – OBSERVAÇÃO DE ATIVIDADES

EXISTENTES NA CIDADE DE ACARI (RN)

Bairro:

Data:

Circuito da economia urbana:

Atividade: produção ou distribuição de Quantidade:

Peças do vestuário (incluem os ateliês)

Produtos de panificação e confeitaria

Doces, balas, bombons e semelhantes

Móveis, estofados

Artefatos de cerâmica e barro cozido para uso na construção

Esquadrias, portões

Artesanato (esculturas)

Outro(s):

Atividade: comercialização de Quantidade:

Bicicletas, peças (incluem de motocicletas e de automóveis)

Boteco (Produtos alimentícios, bebidas e fumo)

Bares (Produtos alimentícios, bebidas e fumo)

Artigos de vestuário, calçados e tecidos

Perfumaria e armarinho

Material de construção

Produtos farmacêuticos, cosméticos

Eletrodomésticos e móveis

Bijuteria, relógios, joias, óculos

Comércio varejista de combustíveis para veículos automotores

Celulares e acessórios

Supermercados (incluem os que possuem rede)

Mercearias

Açougues, hortifrutigranjeiros, quitandas

Ambulantes (alimentação)

Ambulantes (acessórios, eletrônicos, produtos não perecíveis)

Outro(s):

Atividade: prestação de serviço de Quantidade:

Instalação e manutenção elétrica

Instalação e manutenção de sistemas centrais de ar-condicionado, ventilação e refrigeração

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Obras de alvenaria

Serviços de pintura

Instalações hidráulicas

Serviços de alojamento

Alimentação

Atividades culturais, recreativas e esportivas (casa de shows, parque de vaquejada)

Informática

Ensino continuado, autoescola

Representação comercial

Investigação, vigilância, segurança e transporte de valores

Transporte rodoviário de táxi, mototáxi, escolar, ônibus coletivo

Intermediação na compra, venda e aluguel de imóveis

Manutenção e reparação de veículos automotores

Manutenção e reparação de equipamentos de informática e comunicação

Manutenção e reparação de objetos pessoais e domésticos

Bancos, Lotéricas, Atividades financeiras, de seguros e serviços relacionados

Cabeleireiros, barbeiros, salões de beleza e outras atividades de tratamento de beleza

Atividades funerárias e serviços relacionados

Atividades de advocacia, contabilidade, auditoria

Instalação, reparação e manutenção de som automotivo

Veterinário

Clinica Odontológica

Academia de práticas de atividades esportivas (artes marciais, musculação)

Outro(s):

TOTAL

Observações:

Elaboração: Robenildo José da Costa Moura, 2016.

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Apêndice B: Roteiros para entrevistar autoridades políticas de Acari.

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO SERIDÓ

DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA

CURSO DE BACHARELADO EM GEOGRAFIA

Roteiro para entrevistas com autoridades políticas do município de Acari (RN)

Dados do entrevistador: Robenildo José da Costa Moura, aluno do 8º período de Geografia

bacharelado - UFRN - CERES - Caicó.

Email: [email protected]

Nota do entrevistador: Os dados primários obtidos por meio desta entrevista subsidiarão a

pesquisa de monografia que está sendo desenvolvida, sobre “os circuitos da economia

urbana em Acari no período atual”.

Entrevista:

Assinatura da autoridade autorizando a utilização das informações prestadas para fins de

pesquisa monográfica. Nome: ______________________________________________.

Data: ____/____/______.

Secretaria de Assistência Social e Desenvolvimento Comunitário – Secretária: Albertina

da Guia Lopes de Araújo

I – Quais os programas, projetos, planos, ações e os benefícios que vêm sendo

desenvolvidos pela Secretaria para enfrentar a vulnerabilidade e a exclusão social?

II - Quais os principais resultados obtidos a partir destes?

III – Quantas famílias estão sendo assistidas pela Secretaria atualmente?

IV – Qual o perfil socioeconômico dessas famílias?

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127

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO SERIDÓ

DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA

CURSO DE BACHARELADO EM GEOGRAFIA

Roteiro para entrevistas com autoridades políticas do município de Acari (RN)

Dados do entrevistador: Robenildo José da Costa Moura, aluno do 8º período de Geografia

bacharelado - UFRN - CERES - Caicó.

Email: [email protected]

Nota do entrevistador: Os dados primários obtidos por meio desta entrevista subsidiarão a

pesquisa de monografia que está sendo desenvolvida, sobre “os circuitos da economia

urbana em Acari no período atual”.

Entrevista:

Assinatura da autoridade autorizando a utilização das informações prestadas para fins de

pesquisa monográfica. Nome: ______________________________________________.

Data: ____/____/______.

Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Turismo, Desporto e Lazer – Secretário:

Romeu Fernandes Dantas de Sales

I – Quais os projetos e as ações estão sendo desenvolvidos pela Secretaria visando o

fortalecimento e o desenvolvimento da economia, do turismo e do lazer na cidade?

II – Quais os principais resultados obtidos?

III – No que compete a Secretaria, o que tem sido feito para promover o desenvolvimento

das atividades comerciais e de prestação de serviços? Visam contemplar todos os bairros?

IV – Qual a importância das atividades comerciais e de prestação de serviços para a

economia da cidade? Se tiver também números, informar.

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO SERIDÓ

DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA

CURSO DE BACHARELADO EM GEOGRAFIA

Roteiro para entrevistas com autoridades políticas do município de Acari (RN)

Dados do entrevistador: Robenildo José da Costa Moura, aluno do 8º período de Geografia

bacharelado - UFRN - CERES - Caicó.

Email: [email protected]

Nota do entrevistador: Os dados primários obtidos por meio desta entrevista subsidiarão a

pesquisa de monografia que está sendo desenvolvida, sobre “os circuitos da economia

urbana em Acari no período atual”.

Entrevista:

Assinatura da autoridade autorizando a utilização das informações prestadas para fins de

pesquisa monográfica. Nome: ______________________________________________.

Data: ____/____/______.

Secretaria de Transportes, Obras e Serviços Urbanos – Secretário: Rudyson Ric da Silva

Santos

I – Quais os projetos e as ações estão sendo desenvolvidos pela Secretaria visando o

fortalecimento e o desenvolvimento dos transportes, das obras e dos serviços urbanos em

Acari?

II - De que forma a Secretaria têm contribuído para o desenvolvimento das atividades

econômicas? Quais os principais ramos econômicos da cidade?

III – Qual(is) bairro(s) da cidade necessita(m) de mais atenção, referente ao que compete a

Secretaria? Há algum estímulo para as atividades comerciais e de prestadores de serviços

existentes no bairro?

VI – Sobre os resultados obtidos através das ações já realizadas, de que forma essas têm

contribuído para a prática das diversas atividades econômicas da cidade?

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO SERIDÓ

DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA

CURSO DE BACHARELADO EM GEOGRAFIA

Roteiro para entrevistas com autoridades políticas do município de Acari (RN)

Dados do entrevistador: Robenildo José da Costa Moura, aluno do 8º período de Geografia

bacharelado - UFRN - CERES - Caicó.

Email: [email protected]

Nota do entrevistador: Os dados primários obtidos por meio desta entrevista subsidiarão a

pesquisa de monografia que está sendo desenvolvida, sobre “os circuitos da economia

urbana em Acari no período atual”.

Assinatura da autoridade autorizando a utilização das informações prestadas para fins de

pesquisa monográfica. Nome: ______________________________________________.

Data: ____/____/______.

Secretaria de Educação e Cultura - Secretária: Celúsia Maria da Silva Pereira

I – Na parte urbana da cidade, quais as ações que vêm sendo desenvolvidas pela Secretaria

no âmbito cultural? De que forma essas ações contribuem com o desenvolvimento das

atividades econômicas?

II – A Secretaria realiza parceria público-privada? Se realiza, com quais atividades

econômicas são mais comuns? Essa parceria visa estimular as vendas do comércio local?

III – Qual a importância dos eventos culturais para a economia da cidade?

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO SERIDÓ

DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA

CURSO DE BACHARELADO EM GEOGRAFIA

Roteiro para entrevistar o(a) presidente ou representante legal da Câmara de

Dirigentes Lojistas de Acari (RN)

Dados do entrevistador: Robenildo José da Costa Moura, aluno do 8º período de Geografia

bacharelado - UFRN - CERES - Caicó.

Email: [email protected]

Nota do entrevistador: Os dados primários obtidos por meio desta entrevista subsidiarão a

pesquisa de monografia que está sendo desenvolvida, sobre “os circuitos da economia

urbana em Acari no período atual”.

Câmara de Dirigentes Lojistas de Acari

Assinatura do(a) presidente ou representante legal da Câmara de Dirigentes Lojistas de

Acari (RN) autorizando a utilização das informações prestadas para fins de pesquisa

monográfica. Nome: ______________________________________________.

Data: ____/____/______.

I – Quem pode se tornar um associado da CDL?

II - Quais são as vantagens para quem é um associado?

III - Quantas são as atividades econômicas associadas?

IV – Quais são os principais ramos econômicos desenvolvidos pelos associados

(especificar em números, se possível)?

V – A CDL contribui com o desenvolvimento econômico da cidade? Se sim, de que

forma?

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Apêndice C: Questionário aplicado com agentes do circuito inferior da cidade de Acari

(RN) para apreender as relações entre os circuitos da economia urbana e as características

absolutas do circuito inferior.

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO SERIDÓ

DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA

ENTREVISTA COM RESPONSÁVEL (PROPRIETÁRIO OU FUNCIONÁRIO)

POR ATIVIDADE DO CIRCUITO INFERIOR

Nº da entrevista: Data:

Bairro:

Identificação e características da residência

Sexo:

( )Masculino ( )Feminino

Qual a sua idade?

_____________________________________________

Qual é o seu estado civil?

( )Casado ( )Solteiro ( )Outro:_____________________________________________

Você nasceu em qual lugar?

_____________________________________________

Há quanto tempo você reside nesse município?

( )Menos de 01 ano ( )De 01 a 02 anos ( )De 02 a 03 anos ( )De 03 a 04 anos

( )De 04 a 05 anos ( )De 05 a 10 anos ( )De 10 a 15 anos ( )De 15 a 20 anos

( )Mais de 20 anos ( )Sempre morou no município

Você reside em:

( )Casa própria ( )Alugada ( )Com os pais ou parentes ( )Outro:________________

Quantas pessoas moram com você?

( )1 ( )2 ( )3 ( )4 ( )5 ( )6 ( )7 ( )8 ( )9 ( )10 ( )Mais de 10

( )Nenhuma

Você possui em sua residência: (Marcar mais de uma opção.)

( ) Televisão ( )DVD ( )Geladeira ( )Microondas ( )Aparelho de som

( )Máquina de lavar roupas ( )Ar condicionado ( )Computador

( )Impressora ( )Acesso a Internet ( ) Telefone fixo ( )Celular

( )Antena parabólica ( )TV por assinatura

( )Automóvel – Ano __________ ( ) Motocicleta – Ano __________

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Qual a sua escolaridade?

( ) Nunca estudou

( ) Ensino Fundamental Nível I (do 1° ao 5° ano)

( ) Ensino Fundamental Nível II (do 6° ao 9° ano)

( ) Ensino Médio incompleto ( ) Ensino Médio completo

( ) Ensino Superior incompleto – Curso __________________________________________

( ) Ensino Superior completo – Curso ____________________________________________

( ) Pós-Graduação – Curso ____________________________________________________

Você estudou em:

( )Escola pública ( )Escola particular ( )Em escola pública e em particular

Você está estudando atualmente?

Se sim:

( ) Ensino Fundamental

( ) Ensino Médio

( ) Ensino Superior

( ) Outro:_____________________

Você tem alguma especialização para seu trabalho?

( ) Sim

( ) Não

Se sim, qual? _____________________________________________

Como você se desloca para o trabalho? (Pode marcar mais de uma opção.)

( )Automóvel particular ( )Motocicleta particular ( )A pé

( )Bicicleta ( )Outro: ____________________________

Características do trabalho desenvolvido

Você é o proprietário da atividade?

( )Sim ( )Não

Você recolhe taxas do INSS para aposentadoria?

( )Sim ( )Não

Além de você, quantas pessoas trabalham na atividade?

( )1 ( )2 ( )3 ( )4 ( )5 ( )6 ( )7 ( )8 ( )9 ( )10 ( )Mais de 10

( )Nenhuma

Essas pessoas têm registro em carteira de trabalho?

( )Sim ( )Não ( )Algumas

Sim – qual(is)? ( )Parentes ( )Não parentes

Há parentesco entre você e as pessoas ocupadas? Se sim, qual o grau de parentesco?

_______________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________

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Há quanto tempo você trabalha nessa atividade?

( )Menos de 01 ano ( )De 01 a 02 anos ( )De 02 a 03 anos ( )De 03 a 04 anos

( )De 04 a 05 anos ( )De 05 a 10 anos ( )De 10 a 15 anos ( )De 15 a 20 anos

( )Mais de 20 anos

Por que você trabalha nessa atividade?

_______________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________

Você já exerceu outras atividades antes da que exerce hoje? Se sim, quais?

_______________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________

Você já trabalhou com registro em carteira de trabalho?

( )Sim ( )Não

Se sim, por qual motivo não trabalha mais?

_______________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________

Você desenvolve alguma outra atividade?

( )Sim ( )Não

Se sim, qual?________________________________________________

Você trabalha quantas horas por dia?

____________________________________________________________________________________

Você trabalha quantos dias por semana?

____________________________________________________________________________________

Qual o horário de trabalho das pessoas que trabalham na sua atividade? (Fazer pergunta somente para

proprietário).

_______________________________________________________________________________________

_________________________________________________________________________________

Elas trabalham quantos dias por semana? (Fazer pergunta somente para proprietário)

_______________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________

Qual é aproximadamente a sua renda mensal?

( )Menos de 1 salário ( )De 1 a 2 salários ( )De 2 a 3 salários

( )De 3 a 4 salários ( )De 4 a 5 salários ( )Mais de 5 salários

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Características do estabelecimento em que a atividade é desenvolvida

Qual o tamanho do estabelecimento? (Em m2, aproximada ou exatamente)

____________________________________________________________________________________

Esse estabelecimento é seu? (Fazer pergunta somente para proprietário)

( )Sim ( )Não

Se sim, quando o adquiriu?

_____________________________________________

Como o adquiriu?

( )Com empréstimo bancário ( )Com empréstimo de amigo ou parente

( )Com economias ( )Ganhou de parente

( )Outra maneira: _______________________________________________

Você paga aluguel para usar o estabelecimento? (Fazer pergunta somente para proprietário)

( )Sim ( )Não

Se sim, qual o valor do aluguel? _________________________________________________

A localização do estabelecimento é satisfatória ao desenvolvimento da atividade? Por quê?

_______________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________

A atividade sempre funciona nesse estabelecimento?

_______________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________

Características da atividade

Quais produtos e/ou serviços são oferecidos aos clientes?

_______________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________

Como você decide as mercadorias e/ou serviços que são oferecidas em sua atividade? (Fazer pergunta

somente para proprietário)

( )Pela procura dos clientes ( )Pela sugestão de fornecedores

( )Por propagandas que vejo ou escuto

( )Outra maneira:

_______________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________

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A maioria dos clientes é? (Marcar uma opção em cada linha)

( )Homens ( )Mulheres

( )Jovens ( )Adultos ( )Idosos

( )Pessoas de baixa renda ( )De média renda ( )De alta renda

A atividade é procurada por clientes que moram em outros municípios?

( )Sim ( )Não

Se sim, quais?

____________________________________________________________________________________

A maioria dos clientes é?

( )De moradores locais ( )De moradores de outros municípios

Você realiza controle dos gastos e do lucro da atividade?

( )Sim ( )Não

Se sim, como? (Pode marcar mais de uma opção)

( )Por computador ( )Por anotações em caderno ( )Pela memória

( )Outras maneiras_______________________________________________

As vendas vêm aumentando ultimamente na atividade? Por quê?

_______________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________

Quais os períodos do ano em que as vendas melhoram?

_______________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________

Qual é, em média, o faturamento diário com o desencadeamento da atividade? (Fazer pergunta somente

para proprietário)

_______________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________

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Quanto da sua renda mensal advém desse faturamento? (Fazer pergunta somente para proprietário.)

( )100% ( )90% ( )80% ( )70% ( )60% ( )50% ( )Menos de 50%

O que você faz com o lucro obtido na atividade? (Pode marcar mais de uma opção.) (Fazer pergunta

somente para proprietário.)

( )Utiliza no consumo familiar ( )Investe na atividade ( )Deposita em poupança

( )Investe em aplicações ( )Outra ____________________________________________

Com quais instrumentos de trabalho você começou a desenvolver sua atividade? (Fazer pergunta somente

para proprietário.)

_______________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________

Quais instrumentos de trabalho você utiliza hoje na atividade?

_______________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________

Como você obteve esses instrumentos de trabalho? (Pode marcar mais de uma opção.) (Fazer pergunta

somente para proprietário.)

( )Comprou novo ( )Comprou usado ( )Construiu ou adaptou

( )Recebeu de doação ( )Outras maneiras ________________________________

Onde são compradas as mercadorias comercializadas na atividade? (Pode marcar mais de uma

opção.)

( )No próprio município em que realiza a atividade

( )Em outros municípios – Quais?

____________________________________________________________________________________

( )Compra de atacadistas (fornecedores) – Quais?

____________________________________________________________________________________

Como você paga as mercadorias compradas? (Pode marcar mais de uma opção.) (Fazer pergunta

somente para proprietário.)

( )Cheque a vista ( )Cheque pré-datado ( )Dinheiro ( )Cartão de crédito

( )Cartão de débito ( )Boleto bancário

( )Outras maneiras ___________________________________________

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As mercadorias compradas são buscadas ou os fornecedores as entregam no local da

atividade? (Pode marcar mais de uma opção.)

( )Todas são buscadas ( )Algumas são buscadas

( )Todas são entregues ( )Algumas são entregues

Além da venda de mercadorias, os fornecedores:

( )Melhoram o aspecto visual da loja?

( )Sugerem os melhores produtos a serem comercializados?

( )Fazem sugestões na gestão da atividade, em relação aos funcionários e as finanças?

( )Sugerem técnicas de divulgação da atividade?

( )Oferecem crédito financeiro (empréstimo)?

( )Outro serviço:

_______________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________

Na atividade se trabalha com estoque de mercadorias?

( )Sim ( )Não

Se sim, com qual frequência o estoque é renovado?

( )Diariamente ( )Semanalmente ( )Quinzenalmente ( )Mensalmente

( )Outra frequência?

_______________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________

Há controle da qualidade das mercadorias estocadas?

( )Sim ( )Não

Se sim, como?

( )Por observações da validade dos produtos

( )Mantendo a higiene do ambiente onde estão estocadas as mercadorias

( )Por anotações em caderno

( )Por computador

( )Outra maneira: ___________________________________________________________

O preço das mercadorias vendidas é fixo ou se aceita negociação com os clientes?

____________________________________________________________________________________

Quais as formas de pagamento que são oferecidas aos clientes? (Pode marcar mais de uma

opção.)

( )Dinheiro ( )Cheque ( )Cartão de crédito ( )Cartão de débito

( )Fiado ( )Ticket de alimentação

( )Outras _________________________________________________________________

Qual a forma de pagamento mais utilizada pelos clientes?

( )Dinheiro ( )Cheque ( )Cartão de crédito ( )Cartão de débito

( )Fiado ( )Ticket de alimentação

( )Outras _________________________________________________________________

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É oferecido aos clientes serviço de entrega de mercadorias?

( )Sim ( )Não

Se sim, como é feita a entrega? (Pode marcar mais de uma opção.)

( )Automóvel próprio ( )Motocicleta própria ( )Bicicleta ( )Ônibus

( )Moto taxista ( )Taxista

( )Outras maneiras: _________________________________________________________

Você faz propaganda de sua atividade? (Fazer pergunta somente para proprietário.)

( )Sim ( )Não

Se faz, que mecanismos você utiliza para fazer propaganda?

_______________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________

Você possui? (Pode marcar mais de uma opção.)

( )Conta corrente ( )Conta poupança ( )Cheque ( )Cartão de crédito

( )Cartão de débito ( )Outros: _________________________________________

A qual banco ou instituição financeira estão vinculados os serviços financeiros ou bancários utilizados por

você?

_______________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________

Você já teve acesso a empréstimo financeiro ou bancário?

( )Sim ( )Não

Se teve, para que você requereu tal crédito?

_______________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________

Você tem alguma dívida que compromete parte de sua renda mensal?

( )Sim ( )Não

Se sim, quanto essa dívida compromete de sua renda mensal?

( )10% ( )20% ( )30% ( )40% ( )50% ( )Mais de 50%

Ações governamentais em relação à atividade

Você tem ou já teve algum apoio governamental para fortalecer sua atividade? (Fazer pergunta somente

para proprietário.)

( )Sim ( )Não

Se sim, que apoio foi esse? (Pode marcar mais de uma opção.) (Fazer pergunta somente para

proprietário.)

( )Financiamento ( )Isenção de impostos ( )Disponibilização de estabelecimento

( )Outros: _________________________________________________________________

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Você é beneficiado por algum programa governamental? (Pode marcar mais de uma opção.)

( )Bolsa Família ( )Programa do Leite ( )Outro: ______________________________

( )Não é beneficiado

Se sim, utiliza esse benefício no desenvolvimento da atividade? (Fazer pergunta somente para

proprietário.)

( ) Sim – Como? ___________________________________________________________

( ) Não

Sua atividade possui registro junto ao poder público? (Pode marcar mais de uma opção.)

(Fazer pergunta somente para proprietário.)

( )CNPJ ( )Alvará de funcionamento ( )Outro: _______________________________

( )Não possui registro

A atividade é fiscalizada?

( )Sim ( )Não

Se sim, quais órgãos a fiscalizam e para o que cada órgão atenta?

_______________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________

Excedente de capital

Você tem ou já teve alguma reserva de dinheiro? (Fazer pergunta somente para proprietário.)

( )Sim ( )Não

Se teve, utilizou essa reserva para fortalecer sua atividade? (Fazer pergunta somente para proprietário.)

( )Sim ( )Não

Se sim, como?

_______________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________

Você investiu alguma quantia em dinheiro para iniciar sua atividade? (Fazer pergunta somente para

proprietário.)

( )Sim ( )Não

Se sim, quanto?

_______________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________

Observações e/ou informações complementares:

_______________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________