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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE ESCOLA DE MÚSICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MÚSICA JOSÉ SIMIÃO SEVERO CARACTERÍSTICAS DO CHORO E DO JAZZ EM TRÊS OBRAS DE ANÍBAL AUGUSTO SARDINHA, O GAROTO NATAL-RN 2017

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

ESCOLA DE MÚSICA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MÚSICA

JOSÉ SIMIÃO SEVERO

CARACTERÍSTICAS DO CHORO E DO JAZZ EM TRÊS OBRAS DE ANÍBAL

AUGUSTO SARDINHA, O GAROTO

NATAL-RN

2017

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JOSÉ SIMIÃO SEVERO

CARACTERÍSTICAS DO CHORO E DO JAZZ EM TRÊS OBRAS DE ANÍBAL

AUGUSTO SARDINHA, O GAROTO

Artigo expandido apresentado ao Programa de

Pós-Graduação em Música (PPGMUS) da

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

(UFRN) como requisito parcial para a

obtenção do título de Mestre em Música.

Área de concentração: Processos e Dimensões

da Produção Artística.

Orientador: Prof. Dr. Ezequias Oliveira Lira.

NATAL-RN

2017

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JOSÉ SIMIÃO SEVERO

CARACTERÍSTICAS DO CHORO E DO JAZZ EM TRÊS OBRAS DE ANÍBAL

AUGUSTO SARDINHA, O GAROTO

Artigo expandido apresentado ao Programa de

Pós-Graduação em Música (PPGMUS) da

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

(UFRN) como requisito parcial para a

obtenção do título de Mestre em Música.

Área de concentração: Processos e Dimensões

da Produção Artística.

Aprovado em: ___/___/___

BANCA EXAMINADORA:

_________________________________________________________

PROF. DR. EZEQUIAS OLIVEIRA LIRA

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE (UFRN)

ORIENTADOR

_________________________________________________________

PROF. DR. AGOSTINHO JORGE DE LIMA

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE (UFRN)

MEMBRO DA BANCA

_________________________________________________________

PROF. DR. LUCIANO CHAGAS LIMA

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PARANÁ (UNESPAR)

MEMBRO DA BANCA

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AGRADECIMENTOS

Ao Deus do universo.

Aos meus pais, que sempre demonstraram como se luta para alcançar os objetivos

almejados.

A minha esposa, Joyce, e a meu filho, Josué, de 6 anos, pela força e compreensão de

sempre.

Ao meu orientador, Prof1. Dr

2. Ezequias Oliveira Lira, por acolher minhas ideias e

pelas maravilhosas contribuições para este Trabalho.

Ao Prof. Dr. Agostinho Jorge de Lima, pela generosa atenção e contribuição como

membro da banca da defesa final.

Ao Prof. Dr. Cleber Campos, pelas relevantes contribuições como membro da banca

de qualificação.

Ao Prof. Dr. Luciano Chagas Lima, por aceitar fazer parte da defesa final.

Ao maestro Joca Costa, por ter me direcionado e apresentado à música através da

guitarra elétrica.

Ao inesquecível Manoca Barreto (in memoriam), por, desde muito tempo, torcer e ter

dado muita força para que eu seguisse nessa carreira.

A Heliana Pinheiro (minha estimável Profª3. de Inglês), pelas conversas iniciais para o

desenvolvimento do projeto deste Trabalho.

1Professor (Prof.).

2Doutor (Dr.).

3Professora (Profª.).

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RESUMO

O presente Trabalho discorre sobre as características do choro e do jazz nas obras

Lamentos do Morro, Duas Contas e Benny Goodman no Choro, do compositor Aníbal

Augusto Sardinha, o Garoto (1915-1955). O objetivo principal foi buscar características dos

aspectos rítmicos, harmônicos, de articulação e interpretativos das obras citadas. Apresenta

também uma síntese sobre Garoto e o violão brasileiro bem como ressalta as influências

deixadas por ele a partir de sua particularidade interpretativa e composicional no contexto do

violão instrumental brasileiro. O aporte teórico baseia-se em entrevistas, estudos das Obras e

referenciais teóricos, tais como: Antônio; Pereira (1982), Delneri (2009), Junqueira (2010),

Mello (2012), Albanese (2013) e Mello; Gomide; Teixeira (2017). Os resultados confirmam a

aproximação da obra de Garoto com o choro e o jazz, destacando-se a influência dos aspectos

rítmicos e harmônicos. Conclui-se que as informações apresentadas corroboram o

entendimento da obra do compositor bem como para sua interpretação.

Palavras-chave: Garoto. Violão brasileiro. Choro. Jazz.

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ABSTRACT

The present work deals with the characteristis of choro and jazz in the works

Lamentos do Morro, Duas Contas and Benny Goodman no Choro by Aníbal Augusto

Sardinha, Garoto (The Boy 1915-1955). The main objective was to search the rhythmic,

harmonic, accentuation and interpretative characteristics of these works. We also present a

brief discussion about Garoto and the Brazilian guitar, as well as the influences left from his

interpretive and compositional particularity in the context of the Brazilian guitar. The

theoretical contribution is based on interviews, studies of the works, as well as theoretical

references such as: Antônio; Pereira (1982), Delneri (2009), Junqueira (2010), Mello (2012),

Albanese (2013) and Mello; Gomide; Teixeira (2017). The results confirm the approximation

of the work of Garoto with choro and jazz styles, specially the influence of the rhythmic and

harmonic aspects. We conclude that the information presented corroborates the understanding

of the composer's work and its interpretation.

Keywords: Garoto. Brazilian Guitar. Choro. Jazz.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Violão percussivo.............................................................................................. 19

Figura 2 – Compassos 1-3 da obra Lamentos do Morro de Garoto................................. 20

Figura 3 – Compassos 12-14 da obra Lamentos do Morro de Garoto............................. 20

Figura 4 – Melodia cifrada de Aquarela do Brasil, compassos iniciais........................... 21

Figura 5 – Compassos 35-41 da obra Lamentos do Morro de Garoto............................. 21

Figura 6 – Antecipação no samba...................................................................................... 21

Figura 7 – Compassos 41-44 da obra Lamentos do Morro de Garoto............................. 22

Figura 8 – Compassos 18-20 da obra Lamentos do Morro de Garoto............................. 22

Figura 9 – Compassos 7-8 da obra Brejeiro de João Pernambucano................................ 23

Figura 10 – Compassos 7-8 da obra Eronel de Thelonious Monk.................................... 23

Figura 11 – Compasso 12 da obra Lamentos do Morro de Garoto.................................. 23

Figura 12 – Compassos 55-57 da obra Lamentos do Morro de Garoto........................... 24

Figura 13 – Acentuação na obra Lamentos do Morro de Garoto..................................... 25

Figura 14 – Compassos 1-9 da introdução da obra Lamentos do Morro de Garoto........ 25

Figura 15 – Compassos 30-32 da obra Lamentos do Morro de Garoto........................... 26

Figura 16 – Seção A, compassos 1-8 da obra Slipped Disc de Benny Goodman.............. 27

Figura 17 – Seção A, compassos 1-10 da obra Benny Goodman no Choro de Garoto... 28

Figura 18 – Seção B, compassos 10-27 da obra Slipped Disc de Benny Goodman........... 28

Figura 19 – Seção B, compassos 11-27 da obra Benny Goodman no Choro de Garoto. 29

Figura 20 – Seção C, compassos 28-43 da obra Slipped Disc de Benny Goodman.......... 29

Figura 21 – Seção C, compassos 30-37 da obra Benny Goodman no Choro de Garoto. 30

Figura 22 – Compasso 29 da obra Duas Contas de Garoto............................................... 31

Figura 23 – Compasso 39 da obra Duas Contas de Garoto............................................... 31

Figura 24 – Compasso 2 da obra Duas Contas de Garoto (empréstimo modal)............... 32

Figura 25 – Compasso 37 da obra Duas Contas de Garoto (empréstimo modal)............. 32

Figura 26 – Compasso 37 da obra Duas Contas de Garoto (dominante substituto)......... 32

Figura 27 – Condução clássica do choro (células rítmicas)............................................... 33

Figura 28 – Condução do baixo violão de 7 cordas no choro............................................ 33

Figura 29 – Compassos 1-3 da introdução da obra Duas Contas de Garoto..................... 33

Figura 30 – Padrão básico ritmo choro............................................................................... 34

Figura 31 – Compasso 7 da obra Duas Contas de Garoto................................................. 34

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Figura 32 – Acentuação no compasso 7 da obra Duas Contas de Garoto......................... 34

Figura 33 – Compasso 56 da obra Duas Contas de Garoto............................................... 35

Figura 34 – Compassos 1-12 da obra O Barquinho de Roberto Menescal e Ronaldo

Bôscoli............................................................................................................

38

Figura 35 – Compassos 5-8 da obra Duas Contas de Garoto............................................ 38

Figura 36 – Letra da obra Duas Contas de Garoto............................................................ 39

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

CD – Compact Disc

Dim. Dom. – Diminuto Dominante

Dr. – Doutor

EMUFRN – Escola de Música da Universidade Federal do Rio Grande do Norte

EUA – Estados Unidos da América

MPB – Música Popular Brasileira

NED – Holanda

PB – Paraíba

PPGMUS – Programa de Pós-Graduação em Música

Prof. – Professor

RJ – Rio de Janeiro

UFRN – Universidade Federal do Rio Grande do Norte

UNESPAR – Universidade Estadual do Paraná

USP – Universidade de São Paulo

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO........................................................................................................... 10

2 REVISÃO DE LITERATURA.................................................................................. 12

3 GAROTO, O CHORO E O JAZZ............................................................................ 15

4 CARACTERÍSTICAS INTERPRETATIVAS......................................................... 17

4.1 Lamentos do Morro.................................................................................................... 17

4.2 Benny Goodman no Choro........................................................................................ 26

4.3 Duas Contas................................................................................................................. 30

5 LEGADO DE GAROTO PARA O VIOLÃO BRASILEIRO................................. 35

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS..................................................................................... 40

REFERÊNCIAS.......................................................................................................... 42

APÊNDICE A – LAMENTOS DO MORRO DE GAROTO (TRANSCRIÇÃO

DE PARTITURA).......................................................................................................

46

APÊNDICE B – DUAS CONTAS DE GAROTO (TRANSCRIÇÃO DE

PARTITURA)..............................................................................................................

48

ANEXO A – PARTITURA DA OBRA BENNY GOODMAN NO CHORO DE

GAROTO.....................................................................................................................

50

ANEXO B – PARTITURA DA OBRA DUAS CONTAS DE GAROTO................ 52

ANEXO C – PARTITURA DA OBRA LAMENTOS DO MORRO DE

GAROTO.....................................................................................................................

54

ANEXO D – PARTITURA DA OBRA BREJEIRO DE JOÃO

PERNAMBUCANO....................................................................................................

58

ANEXO E – PARTITURA DA OBRA SLIPPED DISC DE BENNY

GOODMAN.................................................................................................................

60

ANEXO F – PARTITURA DA OBRA O BARQUINHO DE ROBERTO

MENESCAL E RONALDO BÔSCOLI....................................................................

62

ANEXO G – ENTREVISTA COM JORGE MELLO (VIA E-MAIL)................... 63

ANEXO H – ENTREVISTA COM CARLOS LYRA (VIA E-MAIL).................... 65

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1 INTRODUÇÃO

Na atualidade, existe uma grande diversidade de compositores e arranjadores

violonistas que demonstram, em suas obras, aspectos voltados para a música brasileira. Essas

composições, oriundas da tradição do compositor violonista, conferem ao violão uma nova

proporção em seu desenvolvimento idiomático, mais focado em aspectos técnico-

interpretativos e estilísticos, como, por exemplo, as obras de Marco Pereira (1950-) e Paulo

Bellinati (1950-). Nesse sentido, a interpretação está vinculada ao entendimento dos aspectos

pertinentes às origens das raízes de uma determinada vertente musical. Mediante esse fato, o

presente trabalho teve como ponto inicial a busca do entendimento e envolvimento de Aníbal

Augusto Sardinha, o Garoto (1915-1955), com os gêneros Choro e o Jazz norte-americano.

O interesse por essa pesquisa surgiu da vivência e identificação do autor deste

Trabalho com a música popular brasileira, em especial para violão solo, no que tange a

aspectos rítmicos, harmônicos e interpretativos. A influência do choro e do jazz em 3 obras

para violão de Garoto remete a uma interpretação direcionada aos aspectos pertinentes a esses

gêneros. A obra de Garoto confere, ao violão solo brasileiro, aspectos peculiares, abrangendo

releituras no que se refere a arranjos e improvisação e, ainda, remetendo à abertura no sentido

de interpretação vinculada aos critérios relacionados aos gêneros os quais foram compostas.

Contudo, para uma consolidação precisa, faz-se necessário buscar respostas para algumas

indagações que surgiram ao longo desta Pesquisa, tais como:

a) Quais aspectos relacionados ao choro e ao jazz poderiam ter exercido influência em

suas composições? E qual sua relação com a interpretação de sua obra?

b) Como definir, então, suas composições atreladas a essas influências? Ou seja,

seriam obras com características populares ou concerto?

c) Sabendo que o compositor inovou em aspectos relacionados às práticas

interpretativas do violão de sua época, quais inovações deixou para o violão solo brasileiro

através da mediação entre o choro e o jazz?

Nessa perspectiva, todos esses questionamentos direcionaram esta Pesquisa para a

busca de possíveis respostas que tratassem do caráter inovador das suas composições e,

consequentemente, recorressem a uma interpretação direcionada aos aspectos peculiares no

que tange à música brasileira para violão solo de concerto. Assim, sendo a obra de Garoto

uma influência para os instrumentistas e compositores brasileiros até os dias de hoje, sentiu-se

a necessidade de pesquisar e refletir sobre suas principais influências e contribuições para o

violão brasileiro.

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Dessa forma, através da pesquisa do repertório do compositor para violão solo, partiu-

se para a escolha das obras. Delimitou-se, então, o objeto de estudo em 3 composições, quais

sejam: Lamentos do Morro (GAROTO, c1991b) (ANEXO C), Duas Contas (GAROTO,

c1991a) (ANEXO B) e Benny Goodman no Choro (GAROTO, 2017a) (ANEXO A). A

escolha das 3 obras aconteceu, inicialmente, pela busca em todas as composições de

elementos comuns entre o choro e o jazz, referentes a parâmetros de ritmo, harmonia,

articulação e improvisação, objetivando selecionar uma significativa amostragem de obras

que se caracterizassem como importantes para o cenário do violão e da música brasileira.

Foram realizadas, ainda, comparações entre as obras do compositor e outras de

compositores importantes da época. Essas comparações foram relevantes para o

desdobramento deste Trabalho bem como a pesquisa dos gêneros musicais aqui relacionados

também fez parte do desenvolvimento inicial.

Nesse ínterim, para uma melhor compreensão, o referido trabalho está dividido em 6

capítulos os quais iniciam-se com uma Introdução, seguido de uma Revisão de literatura; na

sequência, tem-se o capítulo 3 que aborda Garoto, o choro e o jazz através de uma breve

discussão, contextualizando o compositor nos referidos gêneros e discorrendo sobre as

influências que ele obteve em sua composição através do diálogo cultural musical, no qual,

naturalmente, o compositor transitou.

O quarto capítulo trata das características interpretativas nas obras Duas Contas

(GAROTO, c1991a) (ANEXO B), Lamentos do Morro (GAROTO, c1991b) (ANEXO C) e

Benny Goodman no Choro (GAROTO, 2017a) (ANEXO A), por meio de comparações

rítmicas e harmônicas que demonstram relação entre si bem como discussões breves

concernentes a contribuições que as composições trouxeram para o violão e a música

brasileira. Discorre, ainda, sobre a interpretação feita pelo compositor das Obras

mencionadas, como também, informações referentes a aspectos da articulação, staccato e

improvisação os quais norteiam uma interpretação calcada nas bases do violão brasileiro.

O quinto capítulo tece considerações acerca do legado deixado pelo compositor

através das influências que as mediações do choro e do jazz desencadearam para o violão e a

música brasileira.

Por fim, no sexto e último capítulo, encontra-se as considerações finais deste Trabalho

as quais discorrem sobre o entendimento e interpretação das Obras de Garoto bem como a

importância da pesquisa para a performance do violão brasileiro.

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2 REVISÃO DA LITERATURA

No que diz respeito ao material bibliográfico, foram realizados um levantamento e um

estudo de textos que atendessem a questões relacionadas ao compositor e violonista Garoto. A

partir dessa pesquisa, destacaram-se os seguintes trabalhos: Antônio; Pereira (1982), Delneri

(2009), Junqueira (2010), Mello (2012), Albanese (2013) e Mello; Gomide; Teixeira (2017).

Antônio; Pereira (1982), com o livro intitulado Garoto: sinal dos tempos, são 2 dos

mais importantes autores na literatura sobre o compositor, discorrendo, em seus textos, acerca

de detalhes que vão desde o seu nascimento até a sua morte, o que engloba toda a sua

trajetória na vida e na música e inclui o seu percurso nos vários instrumentos, como violão,

tenor, bandolim, dentre outros, a gravação de seu primeiro disco assim como a sua discografia

e musicografia. Os autores relatam, ainda, experiências do compositor nos Estados Unidos da

América (EUA) como músico acompanhante de Carmen Miranda (1909-1955), marcadas por

vivências com músicos de jazz bem como sua participação no advento da Bossa Nova e sua

relação com compositores brasileiros, como, por exemplo, Radamés Gnattali (1906-1988).

Antônio; Pereira (1982, p. 16) relatam que: “Garoto inicia sua carreira artística no ano de

1927, e que nesta mesma época [...] começam a surgir nomes que promovem modificações

expressivas em nossa música popular, inaugurando sua fase de ouro”. Com essas afirmações,

Antônio; Pereira (1982) direcionam o seu foco para as contribuições do compositor nas

transformações da música brasileira popular. O período que passou nos EUA marcou a sua

carreira e “Garoto voltou de malas cheias. Junto com seu inseparável violão, [...] algumas

canções americanas e muitas histórias” (ANTÔNIO; PEREIRA, 1982, p. 35). Nesse contexto,

acredita-se que a música norte-americana, no que se refere ao jazz, foi uma influência

considerável no desdobramento de sua particularidade musical. Por sua vez, “pertencera à

geração de inovadores geniais, que prepararam o caminho com suas bossas novas, para o salto

maior, que a geração seguinte se incumbiu de consolidar na Bossa-Nova” (ANTÔNIO;

PEREIRA, 1982, p. 49). Acredita-se que a obra de Antônio; Pereira (1982) seja uma das mais

completas sobre o compositor visto que destaca, desde o início, suas vivências e

aprendizados.

Já o livro Gente humilde: vida e música de Garoto, de Mello (2012), apresenta a

biografia contada pelo próprio Garoto, comprovada a partir de fatos registrados em seu diário

pessoal. Mello (2012) aborda, de forma temática e menos cronológica, assuntos pessoais e

profissionais, discorrendo a respeito de apresentações solo e da sua experiência como

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instrumentista de Carmen Miranda e do Bando da Lua4. Dessa maneira, a convivência do

compositor com músicos da vertente popular direciona a sua obra para uma tendência

específica. Mello (2012) também aborda a experiência de Garoto na rádio da época, suas

buscas e renovação, seus últimos trabalhos realizados e sua musicografia e discografia, que

explicitam detalhes, como, por exemplo, álbuns, manuscritos e partituras com suas

respectivas parcerias e gravadoras de sua obra.

O livro intítulado Garoto: o gênio das cordas, de Albanese (2013), é composto por

depoimentos contados por amigos músicos de Garoto, os quais mencionam as vivências do

compositor com amigos e músicos. O livro dispõe também de partituras e uma gravação em

Compact Disc (CD) com obras do compositor. Para Albanese (2013, p. 15), Garoto nasce em

um momento em que “[...] músicos cultivavam o gênero popular das serestas ao chorinho,

sambas e marchinhas carnavalescas [...]”. Some-se a isto, Mello; Gomide; Teixeira (2017, p.

13) ao afirmarem que: “Garoto integrou os conjuntos Jazz Band Universal (do seu irmão

Batista) [...]”. Desse modo, corrobora-se com Antônio; Pereira (1982), Mello (2012) e

Albanese (2013) no sentido que o compositor esteve imerso aos gêneros Choro e Jazz e que,

de fato, é demostrado em sua composição.

Mello; Gomide; Teixeira (2017) com o livro Choros de Garoto, apresentam breves

depoimentos dos quais se encontra a fala do violonista Paulo Bellinati sobre Garoto, trata

também de assuntos pertinentes a carreira profissional do compositor. No livro, Mello (2017a)

dedica um breve capítulo intitulado Garoto no choro. Também se encontra 67 composições

em partituras cifradas com muitas inéditas, comentários sobre cada uma delas e ainda a

musicografia completa do compositor.

Junqueira (2010), em sua dissertação de Mestrado intitulada A obra de Garoto para

violão: o resultado de um processo de mediação cultural tem como foco principal

demonstrar resultados de um processo de mediação cultural através de diferentes atividades

musicais exercidas por Garoto em sua vida profissional e em sua trajetória artística em

universos culturais distintos. São também abordadas as interpretações e significações

conferidas à música popular na cultura brasileira e a importância do compositor para a Bossa

Nova sobre aspectos da harmonia e melodia. Nesse sentido, “[...] Garoto também esteve

fortemente ligado à efervescência cultural que deu início à Bossa Nova no Rio de Janeiro5,

fazendo parte do núcleo de artistas que de fato deram origem ao movimento” (JUNQUEIRA,

4Grupo criado em 1931 considerado o pioneiro em arranjos vocais homofônicos de melodias populares (SILVA;

BORÉM, 2005). 5Rio de Janeiro (RJ).

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2010, p. 130), podendo-se mencionar, por exemplo, a amizade concreta com compositores

como Radamés Gnattali.

Segundo Junqueira (2010, p. 20), “[...] constata-se um estreitamento das diferenças

entre popular e erudito”. Quanto às composições, é citada a Sonatina (Concertino) for guitar

and piano (GNATTALI, 1952) que Radamés Gnattali fez para Garoto, identificando, nela,

trechos que fazem referência a trechos melódicos das obras de Garoto. Junqueira (2010) faz

detalhamento da obra O relógio da vovó (GAROTO; CHIQUINHO; LEMOS, 2017), a qual é

considerada uma influência para a Bossa Nova, devido a um trecho da melodia idêntico a

outro da obra Desafinado (Tom Jobim) (JOBIM; MENDONÇA, 1990, v. 1). Assim, apresenta

uma discussão referente à semelhança entre as duas obras para comprovar a existência de

motivos melódicos que antecederam o gênero mencionado.

Para Junqueira (2010, p. 49), “O intérprete de Garoto é, antes de tudo, um ouvinte de

suas gravações e, por isso, só conhece o original daquela obra como um exemplar carregado

de intenções interpretativas trazidos pela execução (também original) do autor”. Nessa

perspectiva, a escrita da partitura e a gravação como meio de registro e como forma de ouvir a

interpretação original do compositor podem ser um obstáculo no sentido de o intérprete se

limitar e se fechar para outras interpretações. “Assim, o músico que se propõe a decodificar e

re-interpretar uma obra representada por uma gravação, pode interferir na obra em uma

medida maior ou menor como intérprete, dependendo da postura que adotar em relação à sua

referência” (JUNQUEIRA, 2010, p. 51). Por esse viés, a interpretação pode ser pessoal, de

acordo com a receptividade da obra e com o envolvimento prático cultural do intérprete.

Sendo assim, o próprio Junqueira (2010, p. 71) concorda que: “[...] a identificação da origem

dessas peças, os contextos aos quais estão vinculadas, colabora para uma interpretação

consciente e autônoma da obra de Garoto para violão”.

Delneri (2009), em seu trabalho de dissertação de Mestrado intitulado O violão de

Garoto: a escrita e o estilo violonístico de Aníbal Augusto Sardinha evidencia uma análise

de sua obra para o violão solo direcionada principalmente aos tipos de choro, tais como: choro

moderno, choros enigmáticos e choros típicos. Menciona também valsas e canções, samba e

prelúdio, ressaltando a importância da música de Garoto para o violão brasileiro e para a

música popular, mediante o estudo dos processos composicionais seguidos pelo compositor.

Nessa direção, Delneri (2009, p. 22) aponta que: “Garoto, na sua inquietude de músico em

busca do novo, sempre soube mesclar com naturalidade o conhecimento musical culto,

erudito, com a prática espontânea da música popular”. O trabalho expõe análises de

progressões harmônicas, explicitando aspectos que o compositor adota no contexto de sua

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obra. Delneri (2009) faz um levantamento de elementos a fim de definir uma linguagem de

procedimentos estabelecidos na obra do compositor.

Vale-se, também, da literatura que, de alguma forma, apresenta relação com o violão e

o choro, por exemplo, o livro intitulado Violão e identidade nacional, de Taborda (2011), o

qual menciona a história do violão no Brasil com foco no RJ assim como seus pioneiros. O

trabalho também discorre sobre a tradição europeia, os primeiros concertistas, os mestres de

violão do RJ, o violão no choro, o universo das culturas como também violonistas e

compositores diversos que exercem influência até os dias de hoje, tais como: Villa-Lobos

(1887-1959), Fernado Sor (1778-1839), Dilermando Reis (1916-1977) e João Pernambuco

(1883-1947). Taborda (2011) menciona ainda a importância dada por violonistas às

composições de Garoto, afirmando que sua obra é parte do repertório do violão brasileiro.

Diniz (2003), em seu livro Almanaque do choro: a história do chorinho, o que

ouvir, o que ler, onde curtir, além de discorrer sobre as origens do choro e compositores

importantes do gênero, como, por exemplo, o pioneiro Joaquim Callado (1848-1880),

Pixinguinha (1897- 1973), Chiquinha Gonzaga (1847-1935), Ernesto Nazareth (1863-1934) e

Jacob do Bandolim (1918 -1969), refere-se a Garoto como uma das figuras fundamentais para

a nova geração de músicos violonistas e preconização do estilo brasileiro. Também traz

importantes considerações acerca da influência do lundu e da polca no choro assim como seu

trajeto inicial.

3 GAROTO, O CHORO E O JAZZ

Aníbal Augusto Sardinha, o Garoto (1915-1955), foi um múltiplo instrumentista de

cordas dedilhadas que, desde cedo, iniciou o domínio destes instrumentos: bandolim, guitarra

havaiana, violão tenor e violão de 6 cordas. Passou a se dedicar cada vez mais, principalmente

após conhecer o maestro Radamés Gnattali, compositor com quem trabalhou o qual lhes

dedicou arranjos e obras, dentre elas, a Sonatina (Concertino) for guitar and piano

(GNATTALI, 1952).

Naturalmente, ao tratar da obra para violão solo de Garoto, em grande ou pequena

proporção, estamos também mergulhando, mesmo que em partes, em aspectos do violão

brasileiro. Desse modo, a característica empregada em sua obra direciona para vivências que o

compositor obteve no choro e jazz norte-americano.

No choro, a maioria dos instrumentistas não lia partitura, conforme afirma Diniz

(2003). Geralmente, o único que o fazia era o flautista, com seu papel importante de

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incentivar o gosto pelo choro dos músicos que o acompanhavam de ouvido (DINIZ, 2003).

Nessa perspectiva, a improvisação também é uma característica do gênero, no qual Garoto

demonstra domínio. Sobre a improvisação no choro, Bastos; Piedade (2006, p. 933)

discorrem:

[...] no choro o solista improvisador toca a melodia com liberdade para

interpretá-la, floreá-la, variá-la, mantendo seus traços temáticos sempre

claros. Pode-se dizer que o solista, assim como o acompanhamento de base,

especialmente as linhas de baixo, estão improvisando (variando) durante a

música inteira. Atualmente, temos notado choros com improvisos em seções

do tipo chorus, ou seja, o foco no improviso de um músico solista sobre a

base harmônico-polifônica do tema. Este tipo de improviso com chorus é

provavelmente uma influência do jazz no choro.

Diante do exposto, a característica empregada nas obras de Garoto, mencionadas neste

Trabalho, se encaixam efetivamente nesse contexto, expressando, em seus aspectos,

resultados de experiências vivenciadas pelo compositor. Segundo Antônio; Pereira (1982, p.

71, grifo do autor), na obra de Garoto, “Mistura-se o popular brasileiro, o choro, com

elementos „estranhos‟, o jazz, os acordes „modernos‟, a música erudita”. Sendo assim, não

existe o moderno sem o passado, uma vez que violonistas e compositores pertencentes ao

início do processo histórico do violão solo brasileiro estudaram ou tiveram influências de

métodos do violão de conservatório, a exemplo de Marco Pereira e Raphael Rabello (1962-

1995).

A característica empregada nas obras de Garoto tem relação com o gênero Choro, as

quais expressam através dos aspectos da rítmica, acentuação e da interpretação, experiências

vivenciadas pelo compositor. A vivência com músicos jazzísticos também foi uma escola para

Garoto. Nessa direção, Antônio; Pereira (1982) ponderam que, possivelmente, tenha se

encontrado e tocado com Charlie Christian e outros músicos como Kenny Clarke, Thelonious

Monk, Dizzy Gillespie, todos eles com a concepção jazzística e que se encontravam,

informalmente, nas madrugadas para simplesmente tocar. Desse modo, a ousadia de empregar

notas de tensão aos acordes foi um marco de Garoto, que, na época, surgiu como uma nova

sonoridade no violão brasileiro.

Segundo Melo (2010, p. 1), “O jazz, sem dúvida, tornou-se, no decorrer dos anos de

sua evolução, um movimento musical, assim por se dizer, dos mais importantes na história da

música ocidental no século XX. Sua influência é notória na cultura musical de muitos países,

inclusive no Brasil”. Eis, então, uma das justificativas de mencionar o gênero como uma fonte

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na qual Garoto esteve imerso. Diante desse contexto, faz-se necessário enfatizar que

demonstrar influência não significa o abandono de suas próprias raízes (PIEDADE, 2005).

Efetivamente, acredita-se que a liberdade de adicionar as tensões aos acordes, por

exemplo, 9ª (9), 9ª menor (b9), 13ª (13), 13ª menor (b13), dentre outras, é, corriqueiramente,

utilizada no jazz norte-americano. Neste sentido, o contato de Garoto com músicos do gênero

mencionado assim como sua convivencia com Radamés Gnattali pode ter exercido essa

influência. Quanto ao choro, a relação rítmica e as resoluções de acordes diminutos se fazem

presentes no gênero. A improvisação também faz parte dos gêneros mencionados, mesmo

tendo, cada um, suas concepções.

4 CARACTERÍSTICAS INTERPRETATIVAS

Este capítulo abordará as características interpretativas que Garoto emprega nas obras

Duas Contas (GAROTO, c1991a) (ANEXO B), Lamentos do Morro (GAROTO, c1991b)

(ANEXO C) e Benny Goodman no Choro (GAROTO, 2017a) (ANEXO A)

contextualizando aspectos como ritmo, harmonia, articulação e improvisação, relacionando-os

ao choro e ao jazz.

Para Cazes (1998, p. 50), “Do pioneirismo de Sátiro e Quincas ao virtuosismo

exacerbado de Raphael Rabello, Marco Pereira e, mais recentemente, Yamandú Costa, muita

água rolou debaixo dessa ponte”. Nesse contexto, Garoto faz parte dessa vertente e, com uma

característica própria, enfatiza, fortemente, aspectos que podemos encontrar no choro e no

jazz.

Tendo observado a gravação original do Garoto, sua obra contempla uma forma

peculiar em sua interpretação, estando, dessa maneira, relacionada a aspectos da articulação e

staccato demonstrados pelo próprio compositor, sendo assim um direcionamento para o

intérprete do repertório do violão brasileiro. Desse modo, tendo em vista a relação da obra de

Garoto com aspectos do choro e do jazz, preconiza-se também a mediação que o intérprete

pode exercer a partir de sua própria vivência musical com aspectos pertinentes à vertente do

compositor, assim, sugestões interpretativas do autor deste Trabalho também serão abordadas.

4.1 Lamentos do Morro

Trata-se de uma das obras de Garoto mais tocadas por intérpretes do violão brasileiro,

cada instrumentista com sua maneira particular. A obra demanda um domínio técnico e

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expressivo para sua interpretação. Na introdução da obra Lamentos do Morro (GAROTO,

c1991b) (ANEXO C), Garoto faz reverência a grupos de percussão de samba, o autêntico

samba de carnaval oriundo das favelas do morro do RJ. Sobre a relevância da obra, Borges

(2008, p. 65) discorre:

„Lamentos no [sic] Morro‟é uma peça inovadora dentro da música

instrumental popular brasileira, principalmente pelas inovações de ordem

técnica violonística e harmônica. A peça inicia-se com a utilização tenaz da

nota Ré (quarta corda solta do violão), através do polegar da mão direita que

toca em sentido para baixo, sem alternância, tal como Garoto tocava. Esse

toque característico gera um baixo pedal, no qual o tema inicial se

desenvolve com pequenos acordes [...], guarnecendo uma sensação de

instabilidade harmônica.

As origens musicais de Garoto assim como sua intenção na obra Lamentos do Morro

(GAROTO, c1991b) (ANEXO C), dão-nos abertura para consolidar um caminho

interpretativo voltado para a ênfase percussiva na referida composição. A respeito desse

aspecto, destaca-se a rítmica e o arranjo, os quais considera-se ter relação com sua obra.

Dessa maneira, enfatiza-se aqui, a ligação entre a intenção do compositor em relação a ênfase

ao samba de carnaval autêntico da favela do morro do RJ, o qual faz menção na introdução da

obra em questão. Portanto, o ato de transformar e executar através de seu próprio

entendimento e vivência está relacionado aos aspectos empíricos do instrumentista. Nesse

sentido, considera-se a música popular aquela que tem seus aspectos oriundos das

transformações musicais culturais, conforme discorrem Alves; Garcia (2016, p. 37):

A música popular envolve um conjunto de diálogos de diferentes territórios.

Essas diferenças geram fenômenos que podem ser interpretados sob várias

perspectivas, como a sociológica, a filosófica, a cultural, a religiosa, a

política, dentre outras. Essa música de caráter popular vem se transformando

a cada performance, dando origem a novos movimentos musicais.

Seguindo esses norteamentos e levando em consideração a abertura que a vertente

composicional direciona, evidencia-se, neste texto, a versão da obra sugerida pelo autor deste

Trabalho. Neste sentido, Mello (2017b)6 afirma que: “para os que pretendem tocar essa

música, é fundamental reproduzir os efeitos percussivos da introdução” (ANEXO G). Nessa

direção, o exemplo seguinte demonstra a divisão básica do ritmo do samba de carnaval,

extraída pelo autor deste Trabalho mediante escuta da percussão de escola de samba (samba

6Informação fornecida por Jorge Mello, prof. pesquisador de Garoto, através de entrevista via e-mail ao autor

deste Trabalho, em 14 de julho de 2017.

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carnavalesco), ritmo executado durante o carnaval:

Figura 1 – Violão percussivo7

Fonte: O autor (2017).

O ritmo mencionado acima8 é executado na 12ª casa do violão, com a corda 5 do

violão sobre a 6 e a 3 sobre a 4. Pode-se observar acentuação na 2ª figura (colcheia), na 10ª

(semicolcheia), na 13ª (colcheia) e na 16ª (colcheia), algo comun na interpretação de Garoto.

O ritmo foi colocado como arranjo pelo autor deste Trabalho em substituição da introdução

original da Obra. Logo, a ideia não é retratar uma cópia fiel do samba de carnaval, mas

relacionar, basicamente, com a intenção que o compositor teve em relação a introdução da

referida Obra. A Foto 1 mostra a imagem do resultado visual para a execução referenciando a

escola de samba de carnaval no violão.

Foto 1 – Preparo das cordas para enfatizar escola de samba no violão

Fonte: O autor (2017).

Em relação ao uso do polegar direito, na Figura 2, podemos constatar 3 compassos

iniciais da introdução, os quais são tocados apenas com o referido dedo.

7Cf. Simião (2018).

8Baseado na execução do violonista João do Pinho (ESCOLA..., 2012).

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Figura 2 – Compassos 1-3 da obra Lamentos do Morro de Garoto

Fonte: Garoto (c1991b, v. 1, p. 18).

Contextualizando, Garoto inicia seus estudos musicais em 1933 com o professor Atílio

Bernadini, o qual afirma, mais tarde, que: “Garoto era aluno rebelde, seguia os conselhos que

entendia, usava o polegar como palheta, mas transbordava talento e força criadora”

(BERNARDINI, 1967 apud ANTÔNIO; PEREIRA, 1982, p. 70). Mediante esse fato,

certamente, Garoto emprega essa técnica em Lamentos do Morro (GAROTO, c1991b)

(ANEXO C), na qual enfatiza o polegar no referido trecho executando continuamente para

baixo, embora, tenha sido comparada a técnica de palhetada, faz-se necessário mencionar

que a comparação de ambas está, literalmente, relacionada ao resultado sonoro, e não a

maneira de alternância das mesmas, algo que confirma, ainda mais, a peculiaridade de Garoto.

Desse modo, o compositor empregou uma técnica que, até então, não era comum entre os

violonistas brasileiros. Na atualidade, alguns intérpretes utilizam, na execução do referido

trecho da Obra, os dedos polegar e indicador, mas o violonista e compositor Paulo Bellinati

usa apenas o polegar de forma continua somente para baixo, seguindo a mesma maneira que

Garoto. Desse modo, há exigência maior quanto ao relaxamento da mão direita para que se

alcance a exatidão da referida execução, especialmente, quando executado em andamento

rápido. Certamente, esta última, evita as pequenas pausas e mudanças de timbre, embora,

dependendo do andamento a ser executado, essa percepção se torne quase imperceptível para

alguns. Esse aspecto aparece em outros trechos da Obra, por exemplo, pode-se observar na

Figura 3, a nota Ré como nota pedal.

Figura 3 – Compassos 12-14 da obra Lamentos do Morro de Garoto

Fonte: Garoto (c1991b, v. 1, p. 18).

Sendo a obra Lamentos do Morro (GAROTO, c1991b) (ANEXO C) uma

homenagem a Ary Barroso (1903-1964), pode-se observar, a partir do compasso 36, algumas

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notas da melodia que relacionam com a composição Aquarela do Brasil (BANDO DA LUA

BOYS, 2006). Desse modo, podemos constatar uma variação do tema de Ary Barroso, o qual

Garoto evidencia, inicialmente, através das notas Ré e Mi, as quais identificam a palavra

Brasil... em anacruse do compasso 36 da Figura 5.

Figura 4 – Melodia cifrada de Aquarela do Brasil, compassos iniciais9

Fonte: O autor (2017).

Figura 5 – Compassos 35-41 da obra Lamentos do Morro de Garoto

Fonte: Garoto (c1991b, v. 1, p. 19).

Garoto também demostra, na referida Obra, o aspecto da antecipação, sendo esta uma

característica do jazz assim como no samba tradicional.

Figura 6 – Antecipação no samba

Fonte: O autor (2017).

9Melodia extraída de BANDO DA LUA BOYS (2006).

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Figura 7 – Compassos 41-44 da obra Lamentos do Morro de Garoto

Fonte: Garoto (c1991b, v. 1, p. 19-20).

Sobre o aspecto harmônico, nota-se o uso de acordes diminutos como substituto de

dominantes, como uma característica do choro que transparece em trechos de Lamentos do

Morro (GAROTO, c1991b) (ANEXO C). Na Figura 8, verifica-se o acorde Ré diminuto (D°)

resolvendo em Dó menor com 7ª (Cm7)10

.

Figura 8 – Compassos 18-20 da obra Lamentos do Morro de Garoto

Fonte: Garoto (c1991b, v. 1, p. 18-19).

Dentre as inúmeras obras observadas de compositores do choro com essa característica

de diminutos, por exemplo, obras de Pixinguinha (1897-1973) e de João Pernambuco (1883-

1947), encontra-se a mesma resolução na composição Brejeiro (PERNAMBUCO, c1978)

(ANEXO D), choro de João Pernambuco, na qual pode-se notar o acorde de Sol diminuto

(G°) com resolução em Ré menor (Dm)11

caracterizando Diminuto Dominante (Dim. Dom.),

o que significa que a resolução mencionada é algo corriqueiro no choro e que Garoto utiliza

também em sua Obra.

10

Tipo de encadeamento caracterizado na harmonia funcional como Dim. Dom., levando em consideração que as

notas do acorde de Ré diminuto (D°) são as mesmas do acorde de Si diminuto (B°) ou ainda pode ser visto

como sétimo (VII°) da escala menor harmônica. 11

Resolução Dim. Dom., considerando que as notas do acorde Sol Diminuto (G°) são as mesmas do Dó sustenido

diminuto (C#°).

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Figura 9 – Compassos 7-8 da obra Brejeiro

de João Pernambuco

Fonte: Pernambuco (c1978, p. 1).

Para exemplificar o aspecto da harmonia na composição de Garoto, toma-se, como

exemplo, a obra Eronel (MONK, 1992), do compositor jazzista Thelonious Monk (1917-

1982), na qual é exposto o mesmo tipo de acorde utilizado por Garoto. Assim, no 2º acorde da

referida Obra, pode-se observar o acorde Ré maior com 7ª menor e 13ª menor (D7(b13)) com

a nota Si bemol como nota de tensão.

Figura 10 – Compassos 7-8 da obra Eronel de Thelonious Monk

Fonte: Monk (1992, p. 24).

Esse tipo de acorde é bastante utilizado por Garoto, por exemplo, no compasso 12 da

obra Lamentos do Morro (GAROTO, c1991b) (ANEXO C), demonstrado na Figura 11:

Figura 11 – Compasso 12 da obra Lamentos

do Morro de Garoto

Fonte: Garoto (c1991b, v. 1, p. 18).

Por outro lado, Garoto usa em Lamentos do Morro (GAROTO, c1991b) (ANEXO C)

empréstimos dos quintos graus dos tons próximos (Dominantes secundários) assim como

acordes dominantes que substitui outros dominantes (Dominante substituto – Sub V). No

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trecho abaixo, precisamente nos compassos 55 e 57 da composição, levando em consideração

a tonalidade da Obra (Sol maior), identifica-se o acorde de Fá com 7ª (F7 = SubV/VI) =

Dominante substituto de Si com 7ª (B7 = V7/VI), no compasso 56 temos Lá com 7ª e 9ª

(A7(9)) = 5 do 5 (V/V).

Figura 12 – Compassos 55-57 da obra Lamentos do

Morro de Garoto

Fonte: Garoto (c1991b, v. 1, p. 20).

Acredita-se, portanto, que esse tipo de acorde deixa uma gama de abertura para

possibilidades de rearmonização e, consequentemente, de arranjo. Pode-se substituir tais

dominantes por outros de outros tons, gerando assim, possibilidades de novas escalas e

resultando em uma interpretação voltada para a mediação do intérprete, desprendendo de uma

padronização e transversalizando com a liberdade do choro e do jazz. A obra de Garoto é

tocada por violonistas de vertentes erudita e popular, assim como faz parte de programas de

cursos de violão popular, a exemplo da Escola de Música da Universidade do Rio Grande do

Norte (EMUFRN). Desse modo, é imprescindível que sua interpretação não se torne

desvinculada de suas origens.

Na obra Lamentos do Morro12

(GAROTO, c1991b) (ANEXO C), o compositor

utiliza dinâmica forte e fraco em vários momentos. A acentuação também faz parte da

interpretação, sendo evidente no tempo fraco em alguns momentos da Obra. Na coda final,

pode-se observar esse aspecto na transcrição de Paulo Bellinati, cabendo enfatizar que, com

exceção deste e do final da introdução (compassos 10-11), em toda a referida transcrição, não

há ênfase de articulação ou qualquer outro sinal de dinâmica.

12

Cf. Garoto (2012).

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25

Figura 13 – Acentuação na obra Lamentos do Morro de Garoto

Fonte: Garoto (c1991b, v. 1, p. 21).

A acentuação que o compositor emprega em sua composição evidencia característica

do choro como também de composições na verte popular. Na Figura 14 pode-se constatar o

tal aspecto na transcrição feita pelo autor deste Trabalho, é oportuno lembrar que foi feito

adequação na tonalidade por motivos da gravação original estar em rotação fora dos padrões

da atualidade, pois, o compositor utiliza corda solta em Lamentos do Morro (GAROTO,

2017b) (APÊNDICE A). Neste sentido, alinha-se o tom de todas as transcrições, aqui

mencionadas, aos tons existentes transcritos por Paulo Bellinati.

Figura 14 – Compassos 1- 9 da introdução da obra Lamentos do Morro13

de Garoto

Fonte: Garoto (2017b, p. 1)14

.

Um outro ponto a ser considerado na composição Lamentos do Morro (GAROTO,

13

Cf. Garoto (2012). 14

Partitura composta por Garoto, contudo, editada pelo autor deste Trabalho.

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26

2017b) (APÊNDICE A) é o staccato, como mostra a Figura 15:

Figura 15 – Compassos 30-32 da obra Lamentos do Morro de Garoto

Fonte: Garoto (2017b, p. 2)15

.

4.2 Benny Goodman no Choro

Em boa parte da obra de Garoto, é possível identificar elementos harmônicos e

rítmicos oriundos do choro e do jazz. A obra Benny Goodman no Choro16

(GAROTO,

2017a) (ANEXO A), composta com base no tema de Slipped Disc17

(GOODMAN, [19--?], v.

II) (ANEXO E) do compositor e clarinetista norte-americano Benny Goodmann18

(1909-

1986), é um exemplo da influência que o compositor teve do jazz e tem sua estrutura baseada

em um tema fixo de 8 compassos, seguido de partes improvisatórias. Embora em tonalidade

diferente, Garoto, por sua vez, repete o tema principal. O emprego de instrumentos de sopros

na composição de Garoto demonstrados na gravação remete aos aspectos jazzísticos no que se

refere ao acompanhamento dos instrumentos de sopro (metais) e improvisação.

De acordo com Henrique Gomide19

, a transcrição da obra em questão foi feita a partir

da gravação original de Garoto. Nessa perspectiva, em relação à forma que ambas são

tocadas, temos, na versão do Benny Goodman:

Seção A (tema);

Seção B com improviso;

Seção A (tema);

Secão C com improviso;

15

Partitura composta por Garoto, contudo, editada pelo autor deste Trabalho. 16

Cf. Garoto (1952). 17

Cf. Goodman ([1971?]). 18

Um dos grandes jazzistas da era do swing. 19

“[...] pianista, compositor, arranjador, com Graduação em música pela [Universidade de São Paulo] (USP) e

Mestrado no Real Conservatório de Haia, Holanda [NED] [...]” (MELLO, 2017a, p. 27).

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Seção A (tema);

Seção C com improvisos e diversos choros seguidos de Coda.

Na versão de Garoto, a forma segue o mesmo padrão, conforme pode-se observar:

Seção A (tema);

Seção B com melodia a qual Garoto executa criando, de forma consciente, soando

mais como segunda parte do choro do que como um improviso;

Seção A (tema);

Seção C com improvisos;

Seção A (tema) seguido de Coda inspirada na original.

Na Figura 16 é possível observar o tema original da Seção A do compositor Benny

Goodman:

Figura 16 – Seção A, compassos 1-8 da obra Slipped Disc de Benny Goodman

Fonte: Goodman ([19--?], v. II, p. 326).

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Figura 17 – Seção A, compassos 1-10 da obra Benny Goodman no Choro de Garoto

Fonte: Garoto (2017a, p. 1).

Figura 18 – Seção B, compassos 10-27 da obra Slipped Disc de Benny Goodman

Fonte: Goodman ([19--?], v. II, p. 326).

A partir do compasso 18 da Figura 18, o compositor retorna a Seção A com

modificações em alguns acordes e na melodia ao final da Seção. Em Benny Goodman no

Choro (GAROTO, 2017a) (ANEXO A), Garoto também retorna para a Seção A modificando

seu final, como se fosse improviso, conforme a Figura 19.

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29

Figura 19 – Seção B, compassos 11-27 da obra Benny Goodman no Choro de Garoto

Fonte: Garoto (2017a, p. 1).

Pode-se perceber que o compositor utiliza notas do arpejo dos acordes com algumas

notas de tensão, por exemplo, o compasso 11 (primeiro do exemplo), com a nota Fá sustenido

caracterizando uma 9ª, o compasso 13 Mi bemol enarmônico de Ré sustenido que,

sonoramente, é uma 7ª maior.

Figura 20 – Seção C, compassos 28-43 da obra Slipped Disc de Benny Goodman

Fonte: Goodman ([19--?], v. II, p. 327).

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30

Figura 21 – Seção C, compassos 30-37 da obra Benny Goodman no Choro de Garoto

Fonte: Garoto (2017a, p. 1).

Em relação à transcrição do trecho acima, trata-se de algo aproximado da gravação

original. Pode-se comprovar que, nas duas obras, acontece a maioria dos improvisos na Seção

C. Mediante esse fato, acredita-se que a referida Obra de Garoto sofreu forte influência do

jazz norte-americano.

Para Delneri (2009, p. 18), “A prática do improviso e o conhecimento teórico e técnico

da música clássica puderam determinar os recursos composicionais utilizados por Garoto

[...]”. Contudo, não significa, necessariamente, as concepções de ideias e frases musicais do

jazz norte-americano, embora este tenha exercido influência em sua obra. Portanto, a

interpretação na obra Benny Goodman no Choro (GAROTO, 2017a) (ANEXO A) direciona

para os aspectos da improvisação, algo típico no choro. Garoto viveu em uma época na qual o

jazz foi vivido com intensidade, influenciando muitos, que, de certo modo, se abriam para tal

inovação rítmica, harmônica e melódica.

4.3 Duas Contas

Na composição Duas Contas (GAROTO, c1991a) (ANEXO B) pode-se comprovar a

predominância das tensões na obra inteira, sendo, por vezes, utilizados acordes com 7ª, 9ª e

11ª aumentada e, em alguns trechos, apenas a 7ª menor adicionada ao acorde.

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31

Figura 22 – Compasso 29 da obra

Duas Contas de Garoto

Fonte: Garoto (c1991a, v. 1, p. 10).

A obra Duas Contas (GAROTO, c1991a) (ANEXO B) é tida como um dos marcos

para a Bossa Nova tendo sido gravada por inúmeros intérpretes. Nessa direção, Junqueira

(2010, p. 39) corrobora:

[...] gravada e lançada em 1953 no memorável disco do Trio Surdina, sendo

a única canção deste disco. A partir de então, a canção é gravada não

somente por artistas de destaque no cenário da [Música Popular Brasileira]

(MPB) ou ligados ao movimento da Bossa Nova, mas também por aqueles

oriundos de outras tradições e práticas musicais.

Não é a intenção, aqui, adentrar no assunto da Bossa Nova por completo, mas

mencionar a relevância da Obra no cenário brasileiro contextualizando de acordo com o

propósito deste Trabalho. Por esse viés, sendo a harmonia da referida Obra um dos marcos

para o gênero citado, entende-se as notas dos acordes composta por Garoto como um

movimento de vozes que vai se ajustando até chegar onde o compositor deseja. Na

composição Duas Contas (GAROTO, c1991a) (ANEXO B) não é diferente; na Figura 23, há,

no segundo tempo, o acorde de Si sus (Bsus), no qual a nota Dó sustenido se descola para o

Dó dobrado sustenido, em seguida para Ré sustenido, culminando na nota Sol sustenido. Eis,

portanto, um ponto característico do compositor em sua obra para violão solo, o qual se repete

em vários momentos na composição.

Figura 23 – Compasso 39 da obra Duas

Contas de Garoto

Fonte: Garoto (c1991a, v. 1, p. 10).

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32

Garoto agrega, em suas composições, a melodia junto ao acorde, o que pode, em

alguns aspectos, se assemelhar ao que se chama de chord melody. De acordo com Mongiovi

(2013, p. 37), é oportuno afirmar que:

[...] esta prática não se restringe apenas aos guitarristas, mas a todos os

músicos de jazz que utilizam instrumentos musicais com possibilidades

harmônicas. [...] esta técnica não só é utilizada por músicos de jazz, mas em

geral por compositores e arranjadores de diversos gêneros de música

popular.

Some-se a isto, o uso de empréstimo modal bem como dominante substituto fica

evidente na referida Obra, como se pode observar nas Figuras 24, 25 e 26:

Figura 24 – Compasso 2 da obra Duas

Contas de Garoto (empréstimo modal)

Fonte: Garoto (c1991a, v. 1, p. 9).

Figura 25 – Compasso 37 da obra

Duas Contas de Garoto (empréstimo

modal)

Fonte: Garoto (c1991a, v. 1, p. 10).

Figura 26 – Compasso 37 da obra Duas

Contas de Garoto (dominante substituto)

Fonte: Garoto (c1991a, v. 1, p. 10).

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33

Por outro lado, nota-se na referida Obra característica do rítmo que transcorre também

no gênero Choro. Nas Figuras 27 e 28, direciona-se a comparação da rítmica extraída de um

clássico do choro – Carinhoso (AMARAL, 2011), de Pixinguinha (1897-1973), em que a

condução básica mencionada tem sua rítmica executada pelo pandeiro.

Figura 27 – Condução clássica do choro

(células rítmicas)

Fonte: O autor (2017).

Por vezes, o violão de 7 cordas executa a seguinte rítmica juntamente com o grave do

pandeiro:

Figura 28 – Condução do baixo

violão de 7 cordas no choro

Fonte: O autor (2017).

Nessa direção, observa-se os 3 primeiros compassos da obra Duas Contas (GAROTO,

c1991a) (ANEXO B), a qual demonstra a mesma rítmica no baixo, deixando transparecer, na

voz superior, a mesma divisão denominada de choro-canção.

Figura 29 – Compassos 1-3 da introdução da obra Duas Contas de Garoto

Fonte: Garoto (c1991a, v. 1, p. 9).

Embora Duas Contas (GAROTO, c1991a) (ANEXO B) seja uma obra em ritmo

samba-canção, as células rítmicas do choro se encontram, intrinsecamente, em seu contexto,

como evidenciam as Figuras 30 e 31 comparadas a seguir:

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34

Figura 30 – Padrão básico ritmo choro

Fonte: Faria (2012, p. 86).

Figura 31 – Compasso 7 da obra Duas

Contas de Garoto

Fonte: Garoto (c1991a, v. 1, p. 9).

A acentuação é um outro ponto a ser destacado na interpretação de Garoto. Ao se

observar a gravação original das 3 Obras do compositor, constata-se que a articulação é

demonstrada como um recurso interpretativo e que é, corriqueiramente, interpretada no choro

e no jazz. Na obra Duas Contas20

(GAROTO, 2017c) (APÊNDICE B), o compositor acentua

o acorde, que aparece no primeiro tempo em colcheia pontuada, esse aspecto aparece em

vários momentos da Obra.

Figura 32 – Acentuação no compasso

7 da obra Duas Contas de Garoto

Fonte: Garoto (2017c, p. 1)21

.

Ainda se pode observar, na gravação original do compositor, o abafamento de notas.

Nesse sentido, os aspectos interpretativos do compositor determinam uma característica

própria vinculada aos gêneros mencionados.

20

Cf. Garoto (2014). 21

Partitura composta por Garoto, contudo, editada pelo autor deste Trabalho.

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35

Figura 33 – Compasso 56 da obra

Duas Contas de Garoto

Fonte: Garoto (2017c, p. 2)22

.

5 LEGADO DE GAROTO PARA O VIOLÃO BRASILEIRO

De acordo com Taborda (2011), através de transcrições e edições feitas,

primeiramente, por Geraldo Ribeiro (1939) e, posteriormente, pelo violonista Paulo Bellinati,

a obra do Garoto “[...] definitivamente passa a integrar o repertório de quase todo violonista

brasileiro” (TABORDA, 2011, p. 138). Dessa forma, com estilo peculiar, deu uma

contribuição fundamental para o enriquecimento e desenvolvimento do repertório brasileiro

para violão solo (TABORDA, 2011), uma vez que sua obra está inserida no contexto popular

e preconiza peculiarmente uma característica própria que direciona a uma maneira específica

na execução do violão tido como brasileiro. Para Mello (2017a, p. 25) “Garoto é considerado,

com muita justiça, um modernizador da música brasileira. Um precursor de novas e modernas

harmonias, um renovador da música instrumental”. Garoto, sobretudo, demonstra através de

suas composições e interpretação técnica, o início de uma vertente do violão solo brasileiro.

Desse modo, este último está relacionado aos aspectos próprios que surgem entre culturas

diversas as quais o compositor fez parte, resultando na formação do novo e na concepção de

um segmento de repertório a ser executado, de forma coerente, através da técnica específica

do instrumento. Mediante este fato, considera-se a técnica associada aos métodos europeus de

tradição do violão de conservatório.

Violonistas como Marco Pereira, Paulo Bellinati e Carlos Lyra (1939-) são violonistas

compositores e arranjadores que impregnaram, em suas obras, elementos referentes ao estilo

brasileiro, o que, de acordo com a Pesquisa em questão, obteve, inicialmente, um

desdobramento considerável com Garoto. Sobre o termo estilo, Sève (2016)23

esclarece:

Um estilo musical, para definir-se como tal, parece obedecer a um conjunto

22

Partitura composta por Garoto, contudo, editada pelo autor deste Trabalho. 23

Documento online não paginado.

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36

de regras que o caracteriza, porém o compositor ou instrumentista pode

manipular diferentemente tais regras a partir de seu gosto, sua escolha,

criando, assim, seu próprio estilo. [...] Existem, por exemplo, os estilos

musicais de Mozart, de Beethoven, de Haydn, pertencentes ao chamado

estilo clássico. Para identificarmos o estilo de uma obra, devemos nela

identificar padrões (melódicos, harmônicos, formais) que nela se repetem. E,

então, relacioná-los dentro de um determinado universo estilístico, que pode

pertencer a uma região geográfica, uma época, um determinado grupo de

compositores etc.

Lyra (2017)24

, ex-aluno de Garoto, em entrevista via e-mail, comenta sobre a

importância do músico da seguinte maneira: “Eu tive toda a influência dele, na maneira de

tocar e, através de mim, ele acabou influenciando” (ANEXO H). No que tange à influência de

Garoto para a Bossa Nova, Lyra (2017, grifos do autor) 25 ressalta:

Reloginho da vovó [Garoto; Chiquinho; Lemos (2017)] era a música que eu

e Menescal tocávamos o tempo todo. Duas Contas [Garoto (c1991a)

(ANEXO B)] a que ensinava na academia. Essas músicas influenciaram na

minha forma de compor e a minha forma de compor é bem distinta dos

outros compositores da Bossa Nova. Eu diria mais próxima da do Tom

[Antônio Carlos Jobim]. Talvez, em nossas composições a influência do

Garoto tenha sido forte (ANEXO H).

Portanto, ao relacionar os seguimentos dos violonistas citados, evidentemente,

direciona-se para os aspectos harmônicos empregados em suas composições, arranjos e

interpretações. A esse respeito, Diniz (2003, p. 38) explicita que: “Garoto desenvolveu uma

sonoridade brasileiríssima, influenciando com suas harmonizações as gerações subsequentes

[...]”. Nesse contexto, evidências comprovam a relevância da contribuição de Garoto para o

violão solo e, de certo modo, para a música brasileira assim como autonomia em uma

execução voltada para aspectos interpretativos convincentes e perpetuados como uma escola

do violão brasileiro. Sobre este último conceito, Mello (2012, p. 13) afirma que: "Tamanha é a

excelência de nossos violonistas que o termo virou a denominação de uma escola. E não é

exagero dizer que nessa história Garoto foi um dos marcos fundamentais". Portanto, o termo

aqui se refere a uma escola não oficial o qual direciona a uma linhagem de violonistas

compositores.

Pode-se ressaltar a relevância da contribuição que Garoto deixou para o violão

brasileiro em vários aspectos, por exemplo, o emprego de uma técnica rebuscada e elementos

24

Informação fornecida por Carlos Lyra, cantor e compositor brasileiro, através de entrevista via e-mail ao autor

deste Trabalho, em 14 de junho de 2017. 25

Informação fornecida por Carlos Lyra, cantor e compositor brasileiro, através de entrevista via e-mail ao autor

deste Trabalho, em 14 de junho de 2017.

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harmônicos inovadores. Lamentos do Morro (samba) (GAROTO, c1991b) (ANEXO C)

evidencia, ao menos para a época, inovação em relação à execução com o polegar da mão

direita. Nessa direção, Antônio; Pereira (1982, p. 67) afirmam que: “[...] o erudito foi uma

lição que Garoto jamais esqueceu, combinando-o de diversas maneiras na composição do

nosso popular”. Tais combinações estão, efetivamente, interligadas ao emprego técnico

interpretativo que o compositor expõe na execução ao violão.

Sobre o gênero Bossa Nova, acredita-se na contribuição de Garoto através de sua

influência, tendo em vista que antecipa, através da obra Duas Contas (GAROTO, c1991a)

(ANEXO B), aspectos harmonicos encontrados no gênero, embora, concorde-se com

Albanese (2013, p. 11) quando afirma que: "[...] mais do que precursor da bossa nova, Garoto

foi fundador de uma linhagem que tem sua marca inconfundível". Contudo, compreende-se

que, tais afirmações ainda precisam abranger um tanto quanto músicos e o público, uma vez

que, músicos, intérpretes e pesquisadores o apontam como quem abriu os caminhos para o

gênero mencionado. As pesquisas bibliográficas bem como as entrevistas, de fato, mostram

que a participação de Garoto, como um dos precursores da Bossa Nova, se deu, efetivamente,

também através da harmonia empregada no violão na obra Duas Contas (GAROTO, c1991a)

(ANEXO B). Segundo Mello (2017b)26

, a referida composição “[...] foi gravada e tocada por

muitos bossanovistas, como Sílvia Telles, Luiz Eça, Johnny Alf, entre outros. Sua harmonia

sofisticada e os versos brancos remetem ao clima intimista, típico daquele movimento”

(ANEXO G). Tais acordes são encontrados, facilmente, em composições bossanovistas, por

exemplo, na composição O Barquinho (MENESCAL; BÔSCOLI, 1990, v. 1) (ANEXO F)

dos compositores Roberto Menescal (1937-) e Ronaldo Bôscoli (1928-1994), constata-se o

mesmo padrão de progressão harmônica. Tem-se, portanto, II V/III (dois cinco do três), II

V/II (dois cinco do dois) e II V (dois cinco) do tom da composição, sendo constatado o uso de

dominantes secundários e substituição de dominantes. Cabe enfatizar que a progressão II V

(dois cinco) é típica também no jazz.

26

Informação fornecida por Jorge Mello, prof. pesquisador de Garoto, através de entrevista via e-mail ao autor

deste Trabalho, em 14 de julho de 2017.

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Figura 34 – Compassos 1-12 da obra O Barquinho de Roberto Menescal e

Ronaldo Bôscoli

Fonte: Menescal; Bôscoli (1990, v. 1, p. 108).

Figura 35 – Compassos 5-8 da obra Duas Contas de Garoto

Fonte: Garoto (c1991a, v. 1, p. 9).

Sobre os versos brancos que Mello (2017b)27

menciona, trata-se dos versos que não

apresentam rimas os quais também podem ser chamados de versos soltos (ANEXO G). A

seguir, pode-se observar a letra da obra Duas Contas (GAROTO, [19--?]) composta por

Garoto.

27

Informação fornecida por Jorge Mello, prof. pesquisador de Garoto, através de entrevista via e-mail ao autor

deste Trabalho, em 14 de julho de 2017.

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Figura 36 – Letra da obra Duas Contas de Garoto

Teus olhos

São duas contas pequeninas

Qual duas pedras preciosas

Que brilham mais que o luar

São eles

Guias do meu caminho escuro

Cheio de desilusão

E dor

Quisera que eles soubessem

O que representam pra mim

Fazendo

Que eu prossiga feliz

Ai, amor

A luz dos teus olhos

Fonte: Garoto ([19--?])28

.

Para Mello (2012), Garoto foi um dos pilares relevantes do gênero. Assim, pode-se

considerar a obra Duas Contas (GAROTO, c1991a) (ANEXO B) como uma contribuição

para a música brasileira no que se refere ao gênero Bossa Nova. Nessa direção, Mello

(2017b)29 aponta:

É que a música „Duas Contas‟ [Garoto (c1991a) (ANEXO B)] já trazia a

modernidade que era muito prezada por aquele movimento [...].

Modernidade nos versos que não rimavam (versos brancos) e modernidade

na harmonia. Em sua versão original, a tonalidade é em Mi maior, mas a

melodia tem início no 3º grau de seu campo harmônico (G#m7(9)), o que era

uma grande novidade naquela época! [(ANEXO G)].

28

Documento online não paginado. 29

Informação fornecida por Jorge Mello, prof. pesquisador de Garoto, através de entrevista via e-mail ao autor

deste Trabalho, em 14 de julho de 2017.

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Nesse sentido, Duas Contas (GAROTO, c1991a) (ANEXO B) demonstra sofisticação

e ousadia harmônica para a época, sendo ainda, nos dias atuais, considerada um marco do

compositor que se perpetua dentre a música brasileira.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O violão brasileiro, no que se refere à obra de Garoto, é parte do repertório de muitos

violonistas, tais como: Paulo Bellinati, Yamandú Costa, Marco Pereira, dentre outros, seja na

vertente erudita, seja na popular. Nessa perspectiva, é relevante que sua interpretação esteja

vinculada a norteamentos pertinentes às suas origens, no sentido de envolver os aspectos

mencionados neste Trabalho. Os caminhos percorridos foram decisivos para se chegar às

devidas conclusões. Esta Pesquisa remete à reflexão que direciona para a realidade do

violonista de concerto brasileiro, de modo a buscar entendimentos para uma interpretação

relacionada as características do violão brasileiro.

Através de suas composições e interpretações, Garoto revela o início de uma nova

vertente do violão solo brasileiro, na qual também fazem parte João Pernambuco (1883-

1947), Dilermando Reis (1916-1977), Francisco Soares de Araújo, o Canhoto da Paraíba (PB)

(1926-2008), dentre outros. Com base nesse entendimento, pode-se considerar Garoto um

violonista de participação relevante no cenário. Suas obras, em especial as mencionadas neste

Trabalho, apresentam-se de forma a dar margens para mediações que cada intérprete

disponibiliza em face de sua vivência particular com o choro e o jazz.

Procurou-se delinear o tema deste Trabalho com questões que oferecessem suporte

para o fim prático do intérprete. Nesse contexto, norteou-se propostas para a interpretação do

performer. As devidas comparações e leitura de partitura das obras bem como a escuta de

gravações originais do compositor, foram fatores primordiais para se chegar a uma conclusão

referente aos seus aspectos interpretativos, inovação e contribuição.

Acredita-se que a nova proposta de música, em forma de jazz moderno, foi uma das

vertentes nas composições de Garoto, as quais evidenciam progressões harmônicas e

adicionamento de tensões aos acordes, encontrados, facilmente, no gênero mencionado.

Garoto intensificou o uso dessas harmonias em sua época. Nessa perspectiva, compreendeu-se

que o estilo musical denominado, atualmente, de violão brasileiro teve a mistura da música de

concerto regional no que se refere ao choro e do jazz norte-americano. Desse modo,

relacionou-se aos aspectos próprios que surgem das transformações, resultando na formação

do novo e na concepção de um segmento de repertório a ser executado de maneira coerente,

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por meio da técnica peculiar do violão.

Conforme pôde-se verificar, independentemente de sua obra ter sido composta em

gênero Choro, está relacionada, a este, através de aspectos rítmicos, articulação, forma,

melodia e harmonia (resoluções de acordes diminutos). Sobre o jazz, constatou-se que o

compositor deu sua contribuição para o violão brasileiro no que diz respeito ao adicionamento

de tensões aos acordes, nesse sentido, soma-se à particularidade de Garoto a competência de

introduzir recursos inovadores, evidenciando-os de forma idiomática e musical. Tais aspectos

estão relacionados à obra do compositor, influenciando em sua maneira peculiar de interpretá-

las.

Assim, pôde-se definir sua composição como uma obra, efetivamente, brasileira,

levando em consideração que tudo é transformado. A inovação que ele trouxe pode ser

verificada, principalmente, através da elaboração do ritmo e da harmonia, sendo, esta última,

um dos pontos mais relevantes.

Apesar de as partituras observadas não serem, originalmente, feitas por Garoto, pôde-

se perceber que algumas características remetem a aspectos (estilo) do choro e ao jazz, em

face da maneira como o compositor as interpreta, tendo em vista que ele teve contato com

manifestações jazzísticas e também do choro, gêneros esses que estão vinculados em seus

aspectos harmônicos, melódicos, rítmicos e interpretativos na vertente popular. Sob esse

enfoque, acredita-se que a presente Pesquisa está em consonância com princípios relevantes

no que concerne ao estudo da performance além de estar alicerçada na contribuição do

compositor para o violão e a música brasileira.

Conpreendeu-se, portanto, que seu envolvimento com o choro e o jazz contribuiu para

a consolidação de sua obra, resultando, de certo modo, em uma maneira de interpretar

vinculada aos aspectos pertinentes aos 2 gêneros citados. Nessa perspectiva, pretendeu-se, por

meio deste Trabalho, contribuir no âmbito acadêmico para o intérprete do violão de concerto

brasileiro, como também para a pesquisa da música instrumental em um sentido mais amplo.

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APÊNDICE A – LAMENTOS DO MORRO DE GAROTO (TRANSCRIÇÃO DE

PARTITURA)

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Fonte: Garoto (2017b, p. 1-2).

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APÊNDICE B – DUAS CONTAS DE GAROTO (TRANSCRIÇÃO DE PARTITURA)

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Fonte: Garoto (2017c, p. 1-2).

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ANEXO A – PARTITURA DA OBRA BENNY GOODMAN NO CHORO DE GAROTO

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Fonte: Garoto (2017a, p. 1-2).

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ANEXO B – PARTITURA DA OBRA DUAS CONTAS DE GAROTO

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Fonte: Garoto (c1991a, p. 9-10).

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ANEXO C – PARTITURA DA OBRA LAMENTOS DO MORRO DE GAROTO

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Fonte: Garoto (c1991b, p. 18-21).

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ANEXO D – PARTITURA DA OBRA BREJEIRO DE JOÃO PERNAMBUCO

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Fonte: Pernambuco (c1978, p. 1-2).

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ANEXO E – PARTITURA DA OBRA SLIPPED DISC DE BENNY GOODMAN

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Fonte: Goodman ([19--?], v. II, p. 326-327).

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ANEXO F – PARTITURA DA OBRA O BARQUINHO DE ROBERTO MENESCAL E

RONALDO BÔSCOLI

Fonte: Menescal; Bôscoli (1990, v. 1, p. 108).

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ANEXO G – ENTREVISTA COM JORGE MELLO (VIA E-MAIL)

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ANEXO H – ENTREVISTA COM CARLOS LYRA (VIA E-MAIL)

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