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Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Escola de Música Licenciatura em Música
NAYARA FREIRE DE SOUSA SILVA
O PASSO COMO FACILITADOR DA APRENDIZAGEM NA PRÁTICA DO CANTO CORAL: relato de uma experiência.
NATAL/RN Nov/2015
NAYARA FREIRE DE SOUSA SILVA
O PASSO COMO FACILITADOR DA APRENDIZAGEM NA PRÁTICA DO CANTO CORAL: relato de uma experiência.
Monografia apresentada ao Curso de Graduação em Música – Licenciatura da Universidade Federal do Rio Grande do Norte UFRN – como requisito parcial para obtenção do título de licenciada em Música. Orientadora: Profª. Dra. Amélia Martins Dias Santa Rosa
NATAL/RN Nov/2015
NAYARA FREIRE DE SOUSA SILVA
O PASSO COMO FACILITADOR DA APRENDIZAGEM NA PRÁTICA DO CANTO CORAL: relato de uma experiência.
Monografia apresentada ao Curso de Graduação em Música – Licenciatura da Universidade Federal do Rio Grande do Norte UFRN – como requisito parcial para obtenção do título de licenciada em Música. Orientadora: Profª. Dra. Amélia Martins Dias Santa Rosa
Aprovada em _____ / ______ / _____
BANCA EXAMINADORA
_____________________________________________________ PROFª. DRA. AMÉLIA MARTINS DIAS SANTA ROSA
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE (Orientadora)
_____________________________________________________ PROF. DR. JEAN JOUBERT DE FREITAS MENDES
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE (1º Avaliador)
_____________________________________________________ PROFª. ESP. MARIA HELENA GUERRA MARANHÃO BARRETO DE MEDEIROS
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE (2ª Avaliadora)
AGRADECIMENTOS
Quero agradecer primeiramente a Deus por ser meu refúgio e minha fortaleza,
por Suas misericórdias se renovarem a cada manhã e por me mostrar todos os dias
que Seu amor é incondicional.
Agradeço a minha orientadora Amélia Martins Dias Santa Rosa que é bem
mais que uma orientadora, é uma mãe, em todos os sentidos que essa palavra
abranger. Obrigada por estar presente desde o início da minha carreira acadêmica,
por entender as minhas limitações e sempre me incentivar a ir além. Te agradeço não
só por essa monografia, mas, por ter me acolhido como uma filha desde a minha
chegada a Natal. Mel, obrigada por não me deixar desistir! Quando eu crescer quero
ser igual a você.
Ao professor e amigo Lucas Ciavatta por compartilhar comigo sua sabedoria
e por acreditar em mim para espalhar a semente d’O Passo. Muito obrigada por me
encorajar quando as dúvidas e os medos quase me fizeram acreditar que eu estava
seguindo o caminho errado. Seus conselhos foram vitais para a conclusão deste
trabalho e eu espero que essa parceria continue por mais tempo. Caminhamos juntos!
À minha mãe Ivone que foi a primeira pessoa a me encorajar a ir em busca
do meu sonho. Mãe, o seu aval me deu forças para ir adiante e desbravar esse mundo
adulto. Obrigada por me deixar voar mesmo querendo me proteger embaixo das suas
asas. Sei que tudo que consegui até agora não teria acontecido se você não estivesse
comigo torcendo por mim e me apoiando em todas as decisões. Eu te devo a minha
vida. Amo você.
Ao meu irmão Wenzell Freire e ao meu pai Nilson Freire, minha torcida
organizada. Obrigada por darem um jeito de vir me ver sempre quando os afazeres
aqui me impedem de ir para casa. Obrigada por trazerem ânimo, abraços cheios de
carinho e, principalmente, por trazerem as comidas de “mainha”. Também amo vocês.
À Anna Cristina Leandro, meu porto seguro. Obrigada por segurar mais essa
barra junto comigo, por me colocar pra cima e por aguentar os dias de choro enquanto
eu achava que não ia dar certo. Agradeço por se dispor a ouvir pela milésima vez que
meu texto estava ruim e mesmo assim manter a calma e me ajudar a seguir em frente.
Muito desse trabalho não teria dado certo sem a sua ajuda, essa conquista também é
sua. Obrigada por se desdobrar em muitas para que eu chegasse ao final sem adoecer
do estômago ou da cabeça. São infinitos os motivos para te agradecer, mas o principal
deles é por continuar por perto. Nanna, de coração, MUITO OBRIGADA.
A Hiago Albuquerque por muitas vezes abrir mão de ficarmos juntos para me
ajudar a escrever as partituras do trabalho comigo, por aguentar a minha ausência
durante vários feriados e fins de semana, por trazer chocolate sempre que percebia
que eu estava nervosa, por cuidar de mim todos os dias e por entender quando, na
correria do final do trabalho, eu esqueci o aniversário do nosso namoro. Você tem sido
bem mais do que eu pedi a Deus, então, muito obrigada, meu amor. Somos do mesmo
time e sabe o que acontece com o nosso time? A gente sempre ganha!
Ao meu amigo Gleison Costa por dividir a pressão de escrever monografia.
Foi muito significativo pra mim passar por todos os desafios sabendo que você
compartilhava comigo o mesmo sentimento. A nossa parceria começou desde o
primeiro semestre do curso e sei que não acaba aqui. Que venha o mestrado! “Já deu
certo”.
À Letícia Nascimento pelas orações, pelos abraços, pelos conselhos e
principalmente por trazer um sorriso radiante que faz esquecer de qualquer
dificuldade. Minha amiga, sua alegria de viver é contagiante e foi essencial para o
sucesso deste trabalho. Obrigada.
A Maurício Eslabão por estar sempre pronto a oferecer uma palavra de
carinho e ânimo. Muito obrigada por todos os dias tentar ajudar de alguma forma, seja
ouvindo as minhas preocupações ou contando uma piada infame para me fazer rir um
pouco. Obrigada, meu amigo.
Aos amigos Jaque Moraes e Paulo Henrique por se disporem a ouvir as
minhas ideias sobre as atividades e gastarem um pouco do seu tempo me ajudando
a organizá-las. Vocês também têm parte nesse sucesso!
À Catarina Aracelle por me dispensar das aulas no FLOCA para que eu
pudesse escrever (risos) e por sempre se preocupar com o andamento do trabalho.
Aos amigos Denis Nascimento, Fábia Sayonara, Whipslon Júnior, Genildo
Anderson, Ágata Menezes, Pâmela Araújo, Rubson Pinto, Allyson Pablo, Kelissa
Camacho e Natally Mousinho que me dedicaram palavras de incentivo e força. Vocês
também foram essenciais.
Ao pastor Ramon Pinto e sua esposa Amanda Braga por me acolherem no
ministério e serem exemplos de líderes.
À Christina Bogiages por toda ajuda na parte de tradução do resumo e por
sempre desejar boas vibrações para o desenvolvimento deste trabalho.
Aos amigos que acompanham de longe: Camanducaia Oliveira, Priscila
Araújo, Kartne Rodrigo, Ramon Vitor, Luna Bianca, Bruna Lima, Johnatan Cruz,
Vanessa de Oliviêr, Amanda Thaíse e Giordano Bruno, obrigada por estarem
presentes em mais uma conquista.
Aos meus colegas de turma: Hemmerson Andrade, Anderson Kroefe, Carlos
Freitas, Carlos Félix, Daniel Ferreira, André Lobato, Renato Ortiz. Agradeço pela
parceria desses últimos três anos. Sem dúvida, somos a melhor turma!
À professora Ângela Maria por acreditar no meu trabalho e disponibilizar a
turma de Canto Coral para que fizéssemos essa experiência.
À Turma de Canto Coral por confiar e fazer parte dessa experiência marcante
para a minha formação enquanto “regente-professora”.
Enfim, a todos que de alguma forma contribuíram para o meu sucesso, muito
obrigada, sozinha eu não teria conseguido.
RESUMO
Este trabalho é um relato de experiência sobre a utilização do método “O Passo” como facilitador na aprendizagem do Canto Coral. A experiência aconteceu numa turma de Canto Coral do curso técnico da Escola de Música da UFRN – EMUFRN-, e consistiu na elaboração e aplicação de oito atividades baseadas no método O Passo com objetivos voltados para o desenvolvimento do Canto Coral. As contribuições teóricas que embasaram este estudo trataram sobre a prática e regência do Canto Coral (Fucci Amato, 2008; Bündchen, 2005; Mathias, 1986; Dias, 2008;) e sobre o método O Passo (Ciavatta, 2009). Diante das avaliações feitas por mim, pelos professores da turma e pelos alunos, concluímos que o método O Passo é uma ferramenta eficiente no trabalho do regente, pois pode envolver, ao mesmo, conteúdo musicais, trabalhar a consciência corporal e promover uma integração dos envolvidos no processo de aprendizagem por meio do Canto Coral. Palavras-chave: Canto Coral; O Passo; Regência Coral;
ABSTRACT
This work is an experience report about the utilization of the “O Passo” method as a tool in choral singing learning situations. The experiment took place within a technical course Choral Singing class at the Music School of the UFRN – EMUFRN -, and consisted of the preparation and application of eight activities based on the O Passo method, with goals focused on the development of Choral Singing. The theoretical contributions that this study is based on are about Choral Singing practice and conducting (Fucci Amato, 2008; Bündchen, 2005; Mathias, 1986; Dias, 2008;), and about the O Passo method (Ciavatta, 2009). Based on the evaluations done by myself, by the class’s professors, and by the students, we concluded that the O Passo method is an efficient tool in the conductor’s work, as he or she can involve musical content, work on body awareness, and promote an integration of those involved in the learning process through Choral Singing, simultaneously. Keywords: Choral Singing; O Passo; Choral Conducting
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Representação do modelo de compasso quaternário ........................ 20
Figura 2 – Representação do modelo de compasso binário ............................... 20
Figura 3 – Representação do modelo de compasso ternário .............................. 21
Figura 4 – Folha dos números ............................................................................. 21
Figura 5 – Folha do “e” ....................................................................................... 22
Figura 6 – Folha do “i” ........................................................................................ 22
Figura 7 – Desafios da Folha do “e” .................................................................... 23
Figura 8 – Voz principal da canção “Mulher Rendeira” ........................................ 26
Figura 9 – Primeiro grupo (palma tradicional) ..................................................... 26
Figura 10 – Segundo grupo (palma no peito) ..................................................... 27
Figura 11 – Segunda voz da canção “Mulher Rendeira” .................................... 27
Figura 12 – Terceira voz da canção “Mulher Rendeira” ..................................... 28
Figura 13 – Quarta voz da canção “Mulher Rendeira” ........................................ 29
Figura 14 – Compassos alternados .................................................................... 30
Figura 15 – Partitura da canção “Doce Canto” .................................................... 32
Figura 16 – Graus descendentes e tônica ........................................................... 34
Figura 17 – Graus descendentes e dominante ................................................... 34
Figura 18 – Cantando graus conjuntos a partir da tônica .................................... 35
Figura 19 – Cantando graus conjuntos a partir da mediante ............................... 35
Figura 20 – Cantando graus conjuntos a duas vozes .......................................... 35
Figura 21 – Partitura de graus d’O Passo ........................................................... 36
Figura 22 – Partitura em graus da canção “Ao Cair de Uma Tarde Linda” ......... 37
Figura 23 – Trecho com a introdução do arranjo vocal da canção “Ana Júlia” ... 39
SUMÁRIO
1 - INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 13
2 – CONTRIBUIÇÕES TEÓRICAS ........................................................................... 15
2.1. O Canto Coral. ............................................................................................... 15
2.2 O Método O Passo. ........................................................................................ 17
2.3. A prática Coral e O Passo. ........................................................................... 23
3 – APLICAÇÃO DO MÉTODO O PASSO NO CANTO CORAL ............................. 24
3.1. Conhecendo O Passo. .................................................................................. 24
3.1.1. A Atividade. .............................................................................................. 24
3.1.2. A aplicação da Atividade. ......................................................................... 25
3.2. Inserindo O Passo na Canção ..................................................................... 25
3.2.1. A Atividade. .............................................................................................. 25
3.2.2. A aplicação da Atividade. ......................................................................... 28
3.3. Outros Compassos. ...................................................................................... 29
3.3.1. A Atividade. .............................................................................................. 29
3.3.2. A Aplicação da Atividade. ......................................................................... 30
3.4. Praticando compassos alternados.............................................................. 30
3.4.1. A Atividade. .............................................................................................. 30
3.4.2. A Aplicação da Atividade. ......................................................................... 31
3.5. Canção com compassos alternados. .......................................................... 32
3.5.1. A Atividade. .............................................................................................. 32
3.5.2. A Aplicação da Atividade. ......................................................................... 33
3.6. Coro a duas mãos. ........................................................................................ 33
3.6.1. A Atividade. .............................................................................................. 33
3.6.2. A Aplicação da Atividade. ......................................................................... 35
3.7. Conhecendo a partitura de graus d’O Passo. ............................................ 36
3.7.1. A Atividade. .............................................................................................. 36
3.7.2. A Aplicação da Atividade. ......................................................................... 37
3.8. Desafiando os Alunos. ................................................................................. 38
3.8.1. A Atividade. .............................................................................................. 38
3.8.2. A aplicação da Atividade. ......................................................................... 39
3.9. Ensaio geral e Apresentação Final.............................................................. 40
4 - IMPRESSÕES FINAIS SOBRE A EXPERIÊNCIA ............................................. 41
4.1. A minha avaliação......................................................................................... 41
4.2. A avaliação da professora supervisora. ..................................................... 42
4.3. A resposta dos alunos. ................................................................................ 43
5 – CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................ 45
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 47
APÊNDICE A ............................................................................................................ 49
13
1 - INTRODUÇÃO
Esse trabalho relata uma experiência de ensino do Canto Coral, que visa
envolver o método “O Passo” como facilitador da aprendizagem musical nesta prática.
A escolha desse tema se deu devido às minhas experiências com Canto Coral desde
criança e consequente interesse em regência Coral. Além disso, muitas dificuldades
que eu tinha estavam sendo solucionadas após vivenciar a metodologia d’O Passo
durante as aulas na Licenciatura em Música. Paralelamente a essa vivência, eu atuei
como regente de um Coral de Igreja e durante os ensaios percebi que algumas
dificuldades dos cantores como afinação e consciência de posicionamento dentro do
grupo também poderiam ser solucionadas através dessa metodologia, pois, pelo fato
de suas atividades serem inclusivas, fizeram com que todos conseguissem realizar o
que se era pedido.
A partir dessa experiência não planejada do uso d’O Passo no Canto Coral,
surgiram algumas inquietações que nortearam o questionamento que conduz ao
objetivo geral desse trabalho: Como é possível utilizar o método O Passo como
facilitador da aprendizagem na prática do Canto Coral?
Para realizar essa experiência escolhi uma turma de Canto Coral do Curso
Técnico da Escola de Música da UFRN-EMUFRN, por estar cursando Estágio
Supervisionado II que tem como contexto de ensino a Escola Especializada, assim,
consegui unir o meu estágio à minha pesquisa de monografia. Diante disso, criei
atividades baseadas no método O Passo para serem aplicadas neste grupo e, aula a
aula, fui avaliando seus resultados. A turma era formada por 26 alunos e as atividades
foram realizadas durante dez aulas no período de 14 de agosto a 13 de novembro de
2015. Cada aula durou em média 1h e 30min em que eram realizadas atividades de
aquecimento e preparação com as atividades d’O Passo conduzidas por mim e o
ensaio convencional do repertório, realizado pelo meu parceiro de estágio com base
nas atividades realizadas anteriormente. Por fim, partindo das minhas impressões
enquanto professora, dos depoimentos de alguns alunos e da professora supervisora
e baseada na bibliografia estudada, avaliei e refleti sobre o resultado final de todo o
trabalho.
Como não foi encontrado nenhum trabalho científico que unisse essas duas
temáticas, entende-se essa pesquisa como uma experiência com o Canto Coral e o
método O Passo, que pode servir como inspiração a regentes que procuram novos
14
desafios e soluções para as dificuldades dos seus cantores. Além disso, estimula a
inclusão do método O Passo como temática para os trabalhos científicos, pois apesar
de ser um método bastante eficaz, pouco tem sido abordado no meio acadêmico.
Esse trabalho está dividido em três capítulos: o primeiro traz uma breve
discussão teórica sobre O Passo e a importância do uso do movimento corporal no
Canto Coral, o segundo capítulo contém a descrição e avaliação das atividades
aplicadas e, por fim, o terceiro capítulo traz uma avaliação sobre os possíveis
resultados alcançados a partir desta experiência, utilizando para isso, as minhas
próprias impressões enquanto condutora do processo, dos demais professores da
turma e depoimentos de alguns alunos que participaram da experiência.
15
2 – CONTRIBUIÇÕES TEÓRICAS
Neste capítulo irei trazer as contribuições teóricas que embasaram este
estudo. Num primeiro momento falarei sobre a prática e regência coral, em seguida
trarei a fundamentação sobre O Passo e, por fim, um apanhado geral sobre o porquê
de unir tal prática ao método.
2.1. O Canto Coral.
O Canto Coral é uma das mais antigas práticas musicais realizadas no mundo.
Ela é uma ferramenta musicalizadora que requer poucos recursos e com ela é possível
trabalhar, além da música, quesitos como socialização e integração pois, possibilita
aos envolvidos um trabalho em conjunto onde o resultado final depende de que cada
indivíduo realize a sua função. (JUNKER, 1999; MATHIAS, 1986; DIAS, 2011; SOUZA
et. Al., 2009). Fucci Amato (2008), reforça que o Canto Coral se caracteriza em uma
relevante manifestação educativo-musical e em uma significativa ferramenta de ação
social. A partir dessa perspectiva, entendemos essa prática como um eficiente
instrumento de trabalho para o Educador Musical.
Existem inúmeras possibilidades de se trabalhar o Canto Coral. Segundo
Mathias (1986), cada regente deve estudar o contexto que está inserido e procurar a
melhor forma de desenvolver as habilidades dos seus coralistas no que diz respeito
ao fazer musical e às suas experiências em trabalhar em conjunto. Ele afirma que:
Cada maestro deve sentir as necessidades de seus cantores e propiciar-lhes momentos de descoberta, fazendo com que cada um se perceba uma peça importantíssima dentro da engrenagem social (MATHIAS, 1986, p. 19).
Sendo assim, o regente precisa conhecer o seu grupo e estar em constante
busca de alternativas para motivá-los e promover um crescimento no que tange à
socialização, à integração e ao fazer musical de seus cantores. Ainda segundo
Mathias (1986), o Maestro é aquele que valoriza o esforço de cada elemento através
de inter-relações pessoais, buscando uma unidade dentro do grupo. Diante desses
conceitos, percebemos que a regência coral vai muito além dos conhecimentos
musicais, o regente de coral deve ser, ao mesmo tempo, professor, pesquisador, líder,
motivador, estrategista e desafiador. Em concordância a essa premissa, Fucci Amato
(2008) nos diz:
16
Dessa forma, a competência da regência coral se funda no conhecimento musical, pedagógico e de outras áreas, e em diversas habilidades, tais como saber aprender com os coralistas, saber estabelecer metas e levar os coralistas a cumpri-las (habilidade de liderança) e saber motivá-los (FUCCI AMATO, 2008, p. 18).
Ainda pensando o regente como professor, entendemos que em sua atuação
é necessário um pensamento crítico sobre suas ações e sobre as respostas da turma,
fazendo uma avaliação dos resultados obtidos para que se possa pensar nos desafios
a propor durante as aulas. O maestro tem a função de provocar a participação ativa
da turma, colocando-os numa postura mais presente e não só como “máquinas” que
apenas reproduzem o que se foi mandado, ele é responsável pela vida do coral e pelo
ambiente humano (ZANDER, 2003). Sobre essa afirmação, Bündchen (2005), destaca
que:
Conferindo ao regente o papel de professor, concebemos fundamental a constante avaliação sobre o seu papel diante de um grupo de canto coral no sentido de ser um transmissor de conteúdos musicais a serem reproduzidos, ou talvez um condutor de possibilidades musicais que permitam também a ação ativa dos alunos-cantores (BÜNDCHEN, 2005, p.76).
Atualmente, com o surgimento de novos coros, com os diversos objetivos que
eles trazem e como campo para novas pesquisas da área de educação musical, se
faz necessário ampliar o olhar da prática coral (DIAS, 2008). É preciso que essa
prática se torne significativa para o regente, e, principalmente, para os componentes
do Coral, garantindo melhores resultados na performance musical, na interação dos
componentes e na autoafirmação do aluno enquanto participante deste grupo. Por
isso, Bündchen afirma que:
[...] o professor-regente deveria proporcionar desafios que vão além da execução da música a fim de possibilitar a reflexão e a criação, pois em cada nível de compreensão novas possibilidades são criadas, novos esquemas são construídos e reestruturados, gerando desequilíbrios e reequilibrações (BÜNDCHEN, 2005, p.85).
Pensando nesses desafios, percebemos a necessidade de envolver os alunos
na aula, não só com as suas vozes, como também, explorando as capacidades
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corporais que podem ser trabalhadas juntamente ao canto. Como a voz é um
instrumento fundamental no Canto Coral, os cantores parecem se preocupar apenas
com ela, deixando o corpo em segundo plano, seu desenvolvimento é imprescindível,
mas não prioritário e único no processo (BÜNDCHEN, 2005). Apesar da voz ser o
instrumento principal do cantor, é na sua performance que entendemos o sentimento
exposto na canção. Por isso, é necessário trabalhar todo o corpo dos coralistas para
que se obtenha essa consciência. De acordo com Bündchen:
Ter consciência corporal é estar aberto para o mundo, é poder expressar-se com liberdade, sentir efetivamente, construir-se plenamente diante de novos desafios. [...] E estar consciente do próprio corpo é fundamental para o desenvolvimento da performance, possibilitando um desempenho mais seguro quanto à expressão musical (BÜNDCHEN, 2005, p. 89).
A partir desses conceitos, Bündchen afirma ainda que existem duas maneiras
de movimento: a primeira é o movimento mecânico, a repetição pela repetição; e a
segunda, um movimento com sentido, a consciência a partir da inter-relação no
processo de construção de conceitos musicais e de consciência corporal
(BÜNDCHEN, 2005).
Além do explanado, alguns autores que falam sobre regência e sobre
educação musical estão buscando novas visões para uma prática coral que não esteja
só voltada para o desenvolvimento musical e vocal, mas também, para o
desenvolvimento social e humano presentes nas dinâmicas de coro (Souza et. al.
2009).
Diante do exposto, percebemos a necessidade de uma metodologia que
possibilite ao regente envolver conteúdos musicais, que trabalhe a consciência
corporal e promova uma integração dos envolvidos no processo. Desse modo,
encontramos na metodologia d’O Passo o nosso suporte para atingir os objetivos
citados.
2.2 O Método O Passo.
“O Passo” é um método de educação musical que foi criado pelo professor
Lucas Ciavatta em 1996 e foi resultado da sua dissertação de mestrado em 2003 pela
Universidade Federal Fluminense no Rio de Janeiro. Ele foi desenvolvido a partir das
inquietações educacionais do professor, no qual o mesmo percebeu que tratava das
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suas próprias dúvidas enquanto aluno de música. O método surge como uma base
para o fazer e o desenvolver musical de quem o utiliza. Segundo Ciavatta,
O Passo não trabalha visando este ou aquele tipo de realização. Ele trabalha com a construção de uma base, algo que traz inúmeras possibilidades e abre uma porta, não apenas para os ritmos e os sons, mas para a rítmica como um todo e para uma real aproximação com o universo sonoro (CIAVATTA, 2009. p. 15).
O Passo tem como base os métodos ativos de educação musical devido à
formação de seu criador, porém, a inspiração principal do método é a riqueza do “fazer
musical brasileiro”, principalmente na relação corpo e música no processo de
aquisição de suingue (CIAVATTA, 2009). Sua base é o corpo e seus desafios são
destinados à realização de práticas através do canto e da percussão. Assim, O Passo
nos leva a superar as nossas dificuldades musicais com todo o nosso corpo e a partir
disso passar essa superação para o instrumento.
Segundo o autor, O Passo é um método de alfabetização musical e sua
proposta é que através dele, todas as pessoas possam aprender a ler música. Por
esse motivo, O Passo é orientado por dois princípios: Inclusão e Autonomia. Inclusão
por proporcionar a habilidade de fazer música para qualquer um que esteja disposto
à fazê-la, e Autonomia porque, mesmo trabalhando em conjunto, o indivíduo será
capaz de saber exatamente o quê e como está fazendo. Através desse ponto de vista,
O Passo consegue trabalhar ao mesmo tempo ritmo, percepção de intervalos,
integração, socialização (CIAVATTA, 2009).
A partir dessa necessidade de fazer com que as pessoas entendam e
internalizem o que estão fazendo, O Passo se preocupa em explicar onde se encaixa
exatamente cada detalhe musical. Sendo assim, o método serve como uma referência
para quem está fazendo música por fazer com que o aluno consiga transmitir através
do seu corpo os conhecimentos adquiridos na teoria. Para Ciavatta:
Baseado num andar específico e orientado por quatro pilares (corpo, representação, grupo e cultura), O Passo introduziu no ensino-aprendizagem de ritmo e som novos conceitos, como posição e espaço musical, e novas ferramentas, como o andar que dá nome ao método, notações orais e corporais e a Partitura d’O Passo (CIAVATTA, 2003, p. 15).
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Para que se possa entender O Passo é necessário falar sobre os quatro
pilares que sustentam a sua proposta:
Corpo: é o instrumento que sustenta todo o fazer musical. Sem corpo não
há música;
Representação: a maneira a qual se exibe o que é tocado através do
movimento corporal e de uma partitura própria;
Grupo: existem duas visões, a primeira que é a de incluir todas as pessoas
que estão fazendo a música, e a segunda, de que mesmo tocando sozinho,
há um trabalho em grupo através da junção corpo, música e instrumento.
Cultura: a sua bagagem musical vai influir diretamente na maneira como
você toca, no qual cada lugar insere na sua interpretação as suas
características musicais (CIAVATTA, 2009).
Como o próprio nome sugere, esse método parte do andar natural do ser
humano, e propõe um novo modelo de regência. Ele consiste numa junção de
movimentos que, de acordo com a fórmula de compasso a se tocar, determinam a
posição e/ou a localização dos elementos musicais ali presentes. Além desse andar,
O Passo também traz um movimento para determinar a posição dos contratempos e
das figuras posicionadas entre tempo e contratempo.
Sendo assim, O Passo serve como uma partitura corporal a qual todos que
realizam são capazes de entender e demonstrar todo o movimento musical proposto
e ficarem seguros sobre o posicionamento das figuras, notas e afins. O Passo é,
então, um modelo de regência que torna cada indivíduo o seu próprio maestro por
fazer com que todos entendam e demonstrem o que estão executando.
Para desenvolver essa segurança em realizar o movimento corporal e
cantar/tocar é necessário trabalhar a consciência de posicionamento dos elementos
musicais. Tal posicionamento consiste em determinar uma localização para esses
elementos na partitura específica e no movimento corporal. Para tanto, o autor explica:
É fundamental ter em mente que o conceito de posição pressupõe uma tomada de consciência, pressupõe necessariamente a utilização de uma forma de notação que possibilite dar um nome à localização de um determinado evento num espaço musical. Neste sentido, ser capaz de realizar um ritmo e andar simultaneamente é um passo importante, mas dar um nome a este evento, nota-lo corporal e oralmente, conhecer sua posição, é o passo seguinte e fundamental (CIAVATTA, 2009, p.53).
20
Para isso, O Passo trabalha três habilidades específicas: Precisão, a
preocupação em identificar e executar o posicionamento de cada elemento; Fluência,
o processo de tornar natural a execução musical; e Intenção, a qual a cultura
determina a maneira como se deve tocar as músicas (CIAVATTA, 2009).
Partindo para a compreensão da prática d’O Passo, como já exposto, o
método caracteriza-se por um andar específico baseado no andar natural que pré-
estabelece o distanciamento e a duração de cada passo. Primeiramente, ensinamos
o movimento quaternário que consiste na representação de um compasso de quatro
tempos. Essa representação se dá no andar de dois passos para frente e dois passos
para trás partindo da perna dominante.
Figura 1 – Representação do modelo de compasso quaternário.
Fonte: do autor (2015)
A partir desse movimento, partimos para a representação do movimento
binário – compasso formado por dois tempos - que pode ser realizado com um passo
à frente ou atrás, ou com passos laterais no mesmo lugar.
Figura 2 – Representação do modelo de compasso binário.
Fonte: do autor (2015).
21
Seguindo, ensinamos a representação do compasso ternário através do
movimento que assemelhasse a um triângulo feito com o andar, no qual damos um
passo à frente com a perna dominante, um atrás com a outra perna e outro passo
paralelo com a perna dominante, em seguida recomeçamos o processo com a outra
perna.
Figura 3 – Representação do modelo de compasso ternário.
Fonte: do autor (2015).
Esses movimentos são chamados de “números” que são trabalhados em uma
folha de exercícios chamada “folha dos números” e a sugestão é de que se trabalhe-
as para melhor assimilação do seu conceito. Cada tempo do compasso é
representado por um número e os exercícios consistem em executá-los com voz e
palmas, onde o resultado final é o aluno conseguir identificar o posicionamento de
cada tempo. Como mostra a figura a seguir:
Figura 4 – Folha dos números.
Fonte: Ciavatta (2009, p. 101).
22
Após o contato com a folha dos números em suas diferentes fórmulas de
compasso, a próxima etapa do método consiste no movimento do contratempo
chamado “movimento do e” e seus exercícios chamados de “folha do e”. Esse
movimento se dá pela flexão dos joelhos entre um passo e outro, e é ela quem
caracteriza o posicionamento do contratempo. Ainda nesse movimento podemos
encontrar o posicionamento de tempos localizados entre o tempo e contratempo e
contratempo e o próximo tempo, e esse movimento junto a localização chamamos de
“movimento do i” e “folha do i”. Como representado nas figuras:
Figura 5 – Folha do “e”.
Fonte: Ciavatta (2009, p.103).
Figura 6 – Folha do “i”.
Fonte: Ciavatta (2009, p.107).
Desde os primeiros contatos com O Passo os alunos são levados a resolver
desafios musicais propostos pelo próprio método. Esses desafios são idealizados a
partir da percepção do entendimento do aluno ao exercício inicial, por exemplo,
quando os alunos aprendem a falar e a tocar com palmas a “folha do e” ele é
automaticamente desafiado a executar cantando e tocando alguns exemplos
simultaneamente. Isso se torna importante pois, segundo Becker (2001), o aluno só
23
aprenderá alguma coisa se ele agir e problematizar a sua ação. A figura a seguir
representa alguns desafios propostos na “folha do e”:
Figura 7 – Desafios da Folha do “e”.
Fonte: Ciavatta (2009, p.103).
2.3. A prática Coral e O Passo.
Após uma pequena revisão da literatura sobre o uso do método O Passo na
educação musical, percebemos que alguns autores tratam de questões sobre a
utilização do método no processo de musicalização de crianças e jovens (FREIRE;
RIBEIRO, 2012; BARBOSA, 2015; LEANDRO, 2014). Partindo da perspectiva da
utilização do método para trabalhar a voz, encontramos a dissertação de mestrado de
Machado (2015), onde o mesmo trata sobre O Passo e a afinação a partir de um
trabalho realizado em sala de aula.
Sendo assim, percebemos que essa pesquisa de monografia é importante
para continuar a discussão sobre o método O Passo e suas possíveis aplicações
educacionais.
Retomando a ideia de que para se trabalhar o Canto Coral o regente precisa
envolver conteúdos musicais, trabalhar a consciência corporal e promover uma
integração dos envolvidos no processo, percebemos que o método O Passo pode
combinar a interação desses três elementos considerados fundamentais para se obter
resultados positivos com a prática do Canto Coral.
Portanto, entendemos que a aplicação do método O Passo na metodologia de
ensino do Canto Coral vem como um agente facilitador no processo de desafiar,
envolver, motivar e trabalhar conteúdos musicais nos alunos-cantores.
24
3 – APLICAÇÃO DO MÉTODO O PASSO NO CANTO CORAL
Neste capítulo irei descrever as atividades d’O Passo realizadas na turma de
Canto Coral, buscando especificar o objetivo geral com o qual elas foram aplicadas e
avaliar o resultado de sua aplicação.
3.1. Conhecendo O Passo.
3.1.1. A Atividade.
O principal objetivo desta atividade é promover o primeiro contato dos alunos
com os movimentos d’O Passo e seus exercícios.
Para iniciar a atividade, o professor pede que a turma fique de pé e ensina os
princípios d’O Passo começando pelo movimento quaternário, para isso, solicita que
os alunos deem dois passos para frente e dois passos para trás, explica que cada
passo representa um tempo do compasso e pede para que os alunos falem o número
de cada tempo junto ao movimento.
Ao perceber que a turma entendeu a localização de cada número dentro do
movimento, o professor acrescenta algumas palmas ao exercício. Primeiramente,
todos batem uma palma apenas no número 1, em seguida apenas no número 3,
depois apenas no número 2 e, por fim, no número 4. Para uma melhor avaliação da
compreensão da turma, o professor pede que os alunos executem palmas nos tempos
1 e 3, em seguida nos tempos 2 e 4.
Posteriormente, o professor começa a ensinar o movimento do “e” que
consiste na execução dos contratempos com o dobrar dos joelhos em cada passo. Da
mesma maneira que trabalhado anteriormente, após a turma executar o movimento
com segurança falando os números e os “e’s”, o professor acrescenta palmas no
primeiro tempo e contratempo, seguido pelo terceiro tempo e contratempos, e por
último, o segundo e quarto tempos e contratempos.
Por fim, para explorar as potencialidades da turma na execução dos
contratempos, o professor divide a turma em dois grupos e pede que um grupo bata
palma nos tempos “1 e” e “3 e” e o outro grupo bata os tempos “2 e” e “4 e”. A execução
das palmas em diferentes tempos pode ser alternada entre os grupos.
25
3.1.2. A aplicação da Atividade.
Por ser o primeiro contato com o método os alunos apresentaram um
desconforto em levantar de suas cadeiras e movimentar o corpo para realizar os
movimentos. Nessa turma, a maioria dos alunos eram instrumentistas e alguns deles
estão habituados a ficarem sentados e manterem uma determinada postura para
tocar. Além disso, o movimento do “e” exige um pouco mais de coordenação motora,
por isso, a turma demonstrou mais dificuldade em fazê-lo e foi necessário repeti-lo
mais vezes até conseguirmos chegar a um bom movimento. Alguns alunos não
conseguiram realizar o movimento juntamente com as palmas, e então foi necessário
que eu me aproximasse deles para mostrar onde cada palma se encaixava junto ao
movimento que realizávamos. Apesar da minha demonstração, alguns alunos
continuaram apresentando dificuldade em realizar o movimento juntamente com as
palmas. Então, diminuí o andamento do exercício e assim todos conseguiram realizá-
lo.
Mesmo com as dificuldades citadas, ao fim da atividade, a turma já estava
conseguindo realizar os exercícios o que me pareceu que entenderam a localização
dos tempos e contratempos junto ao movimento e as palmas.
Com o desenvolver da atividade a turma foi ganhando mais confiança e a cada
etapa que avançávamos percebi que eles pareciam mais a vontades com os
movimentos.
3.2. Inserindo O Passo na Canção.
3.2.1. A Atividade.
Essa atividade tem como objetivo, inserir o movimento d’O Passo na execução
de uma canção, buscando não só ajudá-los a aprimorarem o movimento, como
também gerar maior independência vocal e motora ao executarem ao mesmo tempo,
o movimento corporal e a canção.
A atividade consiste em: com todos fazendo o passo quaternário, o professor
ensina a primeira voz da canção “Mulher Rendeira” de Domínio Público, exemplificada
na partitura a seguir:
26
Figura 8 – Voz principal da canção “Mulher Rendeira”.
Fonte: do autor (2015).
Feito isso, o professor pede para que os alunos batam palmas agudas (palmas
tradicionais) em todos os contratempos. Juntamente com esse exercício, o professor
começa a cantar a música “Mulher Rendeira” e pede que os alunos acompanhem.
Após todos conseguirem realizar a tarefa, o professor pede que os alunos
batam palmas graves (mãos no peito) nos tempos “2 e” e “4 e” e cantem novamente
“Mulher Rendeira”. Em seguida, o professor divide a turma em dois grupos. Um deles
fica responsável por tocar as palmas agudas e o outro as palmas graves e assim,
todos juntos, cantam e tocam a canção, ao mesmo tempo que executam o movimento
d’O Passo, como podemos observar na partitura a seguir:
Figura 9 – Primeiro grupo (palma tradicional).
Fonte: do autor (2015).
27
Figura 10 – Segundo grupo (palma no peito).
Fonte: do autor (2015).
Seguindo a passagem da canção, o professor ensina aos alunos a segunda
voz do arranjo juntamente ao movimento quaternário como mostra a partitura a seguir:
Figura 11 – Segunda voz da canção “Mulher Rendeira”.
Fonte: do autor (2015).
Com a turma toda cantando essa voz, o professor pede que os grupos se
dividam novamente e realizem o mesmo exercício de cantar e tocar junto ao
movimento quaternário d’O Passo.
Para finalizar a aula, o professor mais uma vez divide os grupos, sendo que,
o primeiro grupo canta a primeira voz e executa as palmas graves e o segundo grupo
canta a segunda voz e executa as palmas agudas.
28
3.2.2. A aplicação da Atividade.
Inicialmente, nenhum dos alunos conseguiu cantar e tocar ao mesmo tempo,
uns optaram por primeiro praticar as palmas e depois acrescentar o canto, outros só
cantaram tentando ouvir onde as palmas se encaixavam. Diante disso, pedi para que
todos continuassem cantando e fui acrescentando as palmas junto com eles.
Seguindo as orientações do método, fui pedindo que os alunos realizassem o
exercício gradativamente, tempo por tempo, até todos conseguirem executar todas as
partes da atividade. Porém, a medida que o exercício avançava, a dificuldade em
realizar a canção junto ao movimento e às palmas aparecia novamente. Para
solucionar essa dificuldade optei pela repetição do exercício diversas vezes e, como
sugere o método, fui acrescentando compasso por compasso até que a turma inteira
conseguisse alcançar um resultado sonoro satisfatório.
No decorrer da aula percebi que alguns alunos acabaram realizando a
atividade por imitação ao observá-los executando o movimento de maneira incorreta.
Foi necessário pedir algumas vezes que os alunos ajustassem o movimento com o
meu para que pudessem se situar à proposta da atividade.
A princípio, planejamos executar a atividade somente até a 2ª voz, mas, como
a turma se mostrou bastante empolgada com o resultado, eu e meu colega decidimos
ensinar todo o arranjo da canção. Inicialmente, pedimos para a turma executar apenas
o movimento d’O Passo quaternário sem a percussão corporal e ensinamos as outras
duas vozes da canção conforme as partituras:
Figura 12 – Terceira voz da canção “Mulher Rendeira”.
Fonte: do autor (2015).
29
Figura 13 – Quarta voz da canção “Mulher Rendeira”.
Fonte: do autor(2015).
Pedi que a turma cantasse a melodia principal enquanto fazia o movimento
quaternário e fui dando as indicações de qual voz seria cantada e por quem seria
cantada. Essa divisão dos momentos onde cada voz é cantada e a repetição da
melodia principal foi sugerida pela turma e foi necessário repetirmos duas vezes para
que o resultado sonoro fosse satisfatório. O fato de estarmos fazendo o movimento
d’O Passo ajudou bastante na hora de cantar e cada pessoa saber onde começaria e
terminaria a sua voz.
3.3. Outros Compassos.
3.3.1. A Atividade.
Ainda com o objetivo de proporcionar uma vivência do método para que os
alunos se familiarizem com os movimentos d’O Passo, o professor ensina os
movimentos ternário e binário do método.
Com os alunos de pé, o professor primeiramente ensina o movimento binário
d’O Passo e pede que os alunos repitam falando os números correspondentes aos
tempos do compasso e, em seguida, acrescenta palmas no primeiro tempo de cada
compasso. O mesmo procedimento é feito para ensinar o movimento do compasso
ternário.
Após perceber que os alunos estão realizando os dois movimentos com
segurança, o professor pede que a turma alterne esses movimentos realizando-os na
seguinte sequência: dois compassos binários, dois compassos ternários e dois
compassos quaternários. Após perceber que os alunos conseguem executar o
movimento, o professor acrescenta palmas nos primeiros tempos de cada compasso
da seguinte forma:
30
Figura 14 – Compassos alternados.
Fonte: do autor (2015).
3.3.2. A Aplicação da Atividade.
Alguns alunos mostraram dificuldade em assimilar o movimento do compasso
ternário pois, o mesmo parece com uma dança e alguns por vergonha e outros por
não estarem acostumados a dançar, demoraram mais tempo para assimilar o
movimento. Por isso, foi preciso dedicar alguns minutos da aula para que todos
conseguissem fazer o movimento com segurança.
Foi possível perceber que essa atividade proporcionou uma interação entre
os alunos, visto que, durante a execução dos movimentos, se algum dos colegas
errava a direção ou a ordem dos passos, os outros alunos se prontificavam a chamar
atenção para o seu movimento, buscando unir o movimento do colega ao seu. Muitos
deles paravam de executar a atividade para ajudar o colega a retomar o movimento,
não sendo necessária a minha intervenção naquele momento. Sendo assim, além de
atingir o objetivo da vivência do método, conseguimos também promover uma relação
de companheirismo entre a turma.
3.4. Praticando compassos alternados.
3.4.1. A Atividade.
Com o intuito de trabalhar ritmo, mudança de compasso, afinação e
independência das vozes, desenvolvi essa atividade baseada no exercício de
“Progressões alternadas” da página 169 do livro d’O Passo.
Primeiramente, o professor relembra o movimento do Passo ternário e binário.
Feito isso, escreve no quadro uma sequência de números representando os
compassos e explica que ao final a soma dos tempos resulta em 12, por exemplo: 4 3
3 2. Cada número representa o movimento do Passo a ser realizado sendo que, os
alunos devem bater uma palma grave para começar e uma palma aguda no primeiro
tempo dos compassos seguintes.
Quando toda a turma conseguir realizar esse exercício, o professor propõe
uma nova sequência, como: 3 2 3 4, e novamente todos realizam o movimento
31
batendo uma palma grave para começar e uma palma aguda no primeiro tempo de
cada compasso.
Ao perceber que a turma está executando bem o exercício, o professor divide
a turma em dois grupos e cada grupo realiza simultaneamente uma das sequências,
sempre se encontrando no início de cada sequência, todos fazendo a palma grave.
Para desafiar ainda mais a turma, pode-se propor uma nova sequência de
compassos ou então propor que cada grupo elabore uma sequência e os dois
realizem-nas em conjunto.
Continuando a atividade, o professor novamente propõe uma sequência de
compassos cuja soma resulte em 12, por exemplo: 4 2 3 3, e a cada compasso ele
adiciona um grau a ser cantado, como por exemplo: 1 3 5 1. Cada nota deve ser
entoada de acordo com a duração do seu compasso. Assim como feito anteriormente,
o professor propõe duas sequências diferentes e acrescenta notas diferentes,
trabalhando a harmonia de arpejos e, de acordo com o desenvolvimento da turma,
realiza outras combinações de intervalos da tonalidade que está sendo trabalhada.
3.4.2. A Aplicação da Atividade.
A turma demonstrou dificuldade em alternar os compassos principalmente no
segundo compasso ternário onde o primeiro tempo começava com a perna esquerda.
Visto isso, pedi que diminuíssem o andamento da atividade e todos falassem os
números durante a execução para que pudessem entender onde se encaixava a
palma junto ao movimento e onde eles deveriam mudar o movimento. Após várias
repetições, todos os alunos conseguiram executar o exercício.
Apesar das dificuldades em acertar o movimento ternário e de unir os
movimentos ao canto, os alunos se mostraram empolgados em resolver esse
exercício. Então, entendemos que essa atividade foi motivadora e desafiante, fazendo
com que a turma se unisse para conseguir alcançar um resultado positivo, pois, após
as execuções, os próprios alunos pediam para que repetíssemos alegando que
podiam melhorar. E, ao final das repetições, conseguimos atingir o objetivo proposto
para essa atividade que consistia em trabalhar nos alunos o cantar a duas vozes
enquanto executavam movimentos alternados com o corpo a partir dos movimentos
d’O Passo.
32
3.5. Canção com compassos alternados.
3.5.1. A Atividade.
Desenvolvi essa atividade baseada num exercício de compassos alternados
realizado por Ciavatta no curso “30h com O Passo” e seu objetivo é trabalhar a
mudança de compasso, concentração e independência motora e vocal. A atividade
consiste em cantar uma canção modificando sua fórmula de compasso – no curso a
canção utilizada foi “O Cravo brigou com a Rosa” do Folclore Brasileiro. Para a
execução dessa atividade utilizei a música “Doce Canto” por já apresentar as
mudanças de compasso.
Figura 15 – Partitura da canção “Doce Canto”.
Fonte: do autor (2015).
Para começar, o professor pede que os alunos cantem a primeira estrofe e
sua repetição fazendo o movimento binário d’O Passo e batam uma palma no primeiro
tempo. Em seguida, pede que os alunos cantem as duas próximas frases - onde o
33
compasso é quaternário – fazendo o movimento quaternário e batendo uma palma no
primeiro tempo. Dessa forma, ao perceber que a turma está conseguindo executar os
movimentos e as palmas junto à canção, o professor vai acrescentando os próximos
versos da canção onde o compasso alterna para ternário e binário até que os alunos
estejam executando toda a canção de forma segura.
Para desafiar a turma ainda mais, o professor pode sugerir que mudem o
andamento da canção
3.5.2. A Aplicação da Atividade.
Por terem praticado bastante o exercício de compassos alternados na aula
passada, os alunos não mostraram dificuldade em alternar os movimentos dos
compassos. Bastaram poucas repetições para que eu conseguisse alcançar um
resultado sonoro satisfatório em cada etapa da atividade. Todos os alunos
conseguiram realizar essa atividade com clareza no movimento e na voz.
Ao perceber que nós havíamos atingido o objetivo da atividade antes do
previsto, propus aos alunos que acelerássemos um pouco o andamento do exercício.
Nesse momento, os ânimos se afloraram e as palmas acabaram soando mais forte do
que a voz. Visto isso, pedi que eles moderassem nas palmas e colocassem mais força
na voz, então, cantamos toda a canção e o objetivo final dessa atividade foi atingido.
Devido os alunos estarem familiarizados com o modelo de regência d’O Passo
junto ao canto, esse exercício foi executado rapidamente por todos eles sem precisar
que eu interferisse para corrigir movimento ou afinação. Foi possível perceber que
eles estavam mais seguros em realizar as trocas de movimento e muitos, que antes
apresentavam vergonha em se movimentar e impostar a voz, nessa aula estavam
mais desinibidos e ativos.
3.6. Coro a duas mãos.
3.6.1. A Atividade.
Essa atividade está na página 165 do livro d’O Passo e decidi utilizá-la a partir
das dificuldades da turma com afinação ao trabalhar com vozes diferentes e também
para trabalhar duração das notas e respiração.
Com a turma em semicírculo fazendo o passo quaternário, o professor junto
aos alunos começa cantando uma escala previamente determinada em ordem
34
descendente indo do 5º ao 1º grau. Esse exercício pode ser feito com cada nota
durando quatro tempos, dois tempos, um tempo, ou serem realizadas no tempo e
contratempo e também somente no contratempo de acordo com o desenvolvimento
da turma.
Quando a turma conseguir realizar todos os modelos por completo, o
professor divide a turma em dois grupos e propõe que o primeiro grupo cante os 5
graus descendentes enquanto o segundo grupo canta apenas o primeiro grau,
invertendo logo em seguida com o primeiro grupo cantando apenas o primeiro grau e
o segundo cantando os cinco graus em ordem descendente, como demonstrado na
partitura a seguir:
Figura 16 – Graus descendentes e tônica.
Fonte: do autor (2015).
Em seguida, enquanto o primeiro grupo canta os cinco graus descendentes,
o segundo grupo passa a entoar o quinto grau da escala e o processo de inversão das
vozes é repetido, da seguinte forma:
Figura 17 – Graus descendentes e dominante.
Fonte: do autor (2015).
Após isso, o professor posiciona-se no centro da roda e indica com os dedos
das mãos quais graus os alunos deverão cantar. Assim, a cada tempo forte é proposto
uma nova nota, começando pelo 1º grau da escala, todos formando um só grupo,
como podemos observar na partitura a seguir:
35
Figura 18 – Cantando graus conjuntos a partir da tônica.
Fonte: do autor (2015).
O mesmo exercício é feito a seguir, começando com o terceiro grau da escala,
explorando também a ordem descendente. Por exemplo:
Figura 19 – Cantando graus conjuntos a partir da mediante.
Fonte: do autor (2015).
Para explorar ainda mais a capacidade dos alunos, o professor pode propor
que os grupos executem as mesmas melodias, em duas vozes simultaneamente.
Caso preferir, pode estabelecer as notas antes e escrevê-las no quadro.
Figura 20 – Cantando graus conjuntos a duas vozes.
Fonte: do autor (2015).
3.6.2. A Aplicação da Atividade.
Nessa atividade comecei cantando os graus da escala de Dó Maior, porém,
por sentir que a turma tinha um certo domínio com essa tonalidade, decidi alterar o
tom para Ré Maior com o intuito de abranger as potencialidades da turma e, assim,
realizamos todo o exercício nessa tonalidade.
Inicialmente, esse exercício foi pensado para ser feito com cada nota durando quatro
tempos, dois tempos, um tempo, meio tempo, sendo realizadas no tempo e
contratempo e também somente no contratempo de acordo com o desenvolvimento
da turma. Porém, como haviam alguns alunos que ainda não tinham presenciado as
aulas sobre O Passo, resolvi realizar o exercício com as notas durando apenas quatro
e três tempos.
Devido à experiência anterior a turma conseguiu assimilar bem o exercício.
Essa atividade serve como uma preparação para a prática de cantar em graus e nela
36
os alunos também desenvolvem a percepção da harmonia das outras vozes que estão
sendo cantadas simultaneamente.
3.7. Conhecendo a partitura de graus d’O Passo.
3.7.1. A Atividade.
A base dessa atividade está no modelo de partitura da página 164 do livro d’O
Passo e seu objetivo é propor aos coralistas a prática de cantar em graus e com isso
desenvolver sua percepção de intervalos através da melodia trabalhada, além disso,
proporciona a experiência de cantar a duas vozes, bem como trabalhar a afinação e
o posicionamento em coro dos participantes. Esse modelo de partitura está
representado a seguir:
Figura 21 – Partitura de graus d’O Passo.
Fonte: Ciavatta (2009, p. 164).
O professor divide os alunos em dois grupos e ensina as vozes dos grupos
separadamente. Ao perceber que cada grupo está conseguindo cantar sua voz com
segurança, o professor propõe a junção das duas vozes.
37
Essa canção inteira é executada com os alunos cantando apenas os seus
graus. E, para melhor compreensão da turma, o professor pode alterar o tom da
canção e desafiar a turma a executá-la a partir da partitura dos graus.
3.7.2. A Aplicação da Atividade.
Muitos alunos estranharam ao ver a partitura de graus, porém, como já
conheciam os movimentos d’O Passo, conseguiram cantá-la sem muita dificuldade.
Para esta atividade propus a canção “Ao cair da tarde” a qual escrevi na
partitura de graus d’O Passo, como podemos ver a seguir:
Figura 22 – Partitura em graus da canção “Ao Cair de Uma Tarde Linda”.
Fonte: do autor (2015).
38
Nesse exercício ensinei os graus das duas vozes a todos os alunos para
melhor entendimento da função de cada voz na canção. Por esse motivo, os alunos
se mostraram mais seguros na afinação.
Mesmo conseguindo alcançar rapidamente o objetivo dessa atividade, os
alunos se mostraram desconfortáveis com o modelo de partitura de graus d’O Passo
por já possuírem um conhecimento sobre a partitura tradicional. Alguns deles
alegaram preferir a partitura tradicional e falaram que não viam a necessidade da
aplicação da partitura d’O Passo naquele contexto.
Apesar de se mostrarem aversos à partitura dos graus, durante a execução
da atividade pude perceber que algumas dificuldades de afinação foram solucionadas
a partir do cantar em graus. Como os alunos já possuíam um conhecimento sobre
intervalos musicais, saber qual intervalo deveria ser cantado fez com que os alunos
cantassem com mais segurança.
3.8. Desafiando os Alunos.
3.8.1. A Atividade.
Como última atividade proposta e pensando em provocar na turma o desejo
de utilizar O Passo como solucionador para desafios musicais, eu e meu colega de
estágio escrevemos um arranjo para a canção “Ana Júlia” no qual a turma enfrentaria
um nível de dificuldade um pouco mais avançado. O objetivo nesse arranjo foi desafiar
a turma para que eles sentissem a necessidade de utilizar o movimento d’O Passo
para conseguir executar o que estávamos pedindo. Alguns desses desafios estão
representados na partitura a seguir:
39
Figura 23 – Trecho com a introdução do arranjo vocal da canção “Ana Júlia”.
Fonte: do autor (2015).
No trecho representado anteriormente, podemos ver as diferentes
localizações das vozes, onde a dificuldade estava em acertar precisamente o
posicionamento de cada nota, bem como sua afinação.
3.8.2. A aplicação da Atividade.
A princípio, os alunos tentaram resolver apenas lendo da maneira tradicional
com que aprenderam, contudo, não obtiveram sucesso. Foi preciso que repetíssemos
muitas vezes e, ainda assim, os próprios alunos não se sentiam satisfeitos com a
execução, alguns comentaram que sentiam a música muito “robótica”. Como a
proposta nessa atividade era que os próprios alunos buscassem respostas no método,
eu e meu colega apenas repetimos as partes que a turma apresentava dificuldade e
sem que nós indicássemos, os alunos começaram a utilizar o movimento d’O Passo
enquanto o meu colega regia a canção da maneira tradicional. A partir desse
momento, os alunos começaram a executar a canção de maneira mais segura. Foi
necessário repetir apenas mais uma vez para que todo o grupo se mostrasse satisfeito
com o resultado.
Foi interessante perceber a maneira como os alunos foram conseguindo
executar a canção a partir do momento em que se dispuseram a movimentar-se em
busca da solução para suas dificuldades. Ao realizar o movimento, toda a turma
40
conseguiu executar a canção de forma precisa e afinada. Então, questionei aos alunos
se essa execução tinha se dado através d’O Passo e a resposta positiva foi unânime.
Todos os alunos concordaram que a canção estava num nível alto de dificuldade e
que só haviam conseguido cantá-la a partir do movimento d’O Passo.
Sendo assim, percebemos que O Passo é, além de um método para
alfabetização musical, um solucionador de desafios, sejam eles de níveis básicos ou
níveis mais complexos.
3.9. Ensaio geral e Apresentação Final.
As duas últimas aulas foram dedicadas apenas para a passagem das canções
do recital e para o recital de conclusão da disciplina, sendo assim, não propomos
novas atividades e utilizamos o método O Passo somente para regência de algumas
das canções.
Durante o ensaio geral organizamos como seria a apresentação e passamos
todas as canções que seriam cantadas. Para a apresentação escolhemos cinco
músicas das quais, em três delas, utilizamos o modelo de regência d’O Passo. Os
alunos estavam seguros em suas vozes e, em duas das canções, eu pude me colocar
ao lado deles e executá-la como coralista sem precisar me posicionar à frente deles
para realizar a regência tradicional. Foi possível perceber que não houve erros na
execução das canções e meu papel durante o ensaio e apresentação foi apenas de
mediadora.
Os alunos estavam confiantes, empolgados, determinados, concentrados e
alegres em realizar esse trabalho. Sendo assim, percebemos esses dois últimos
momentos como resultado final de todas as aulas ministradas, onde o sucesso foi
consequência de cada atividade pensada e cada desafio solucionado, tornando essa
experiência significativa para cada pessoa ali envolvida.
41
4 - IMPRESSÕES FINAIS SOBRE A EXPERIÊNCIA
Muitas são as impressões que se pode obter de cada experiência docente.
Desde o primeiro momento o qual nos apresentamos aos alunos até a conclusão da
disciplina podemos avaliar e discutir sobre diferentes aspectos referentes à formação
dos coralistas, à formação do Regente de Coral enquanto professor, bem como a
aplicação do método O Passo nesse contexto.
4.1. A minha avaliação.
A ideia de unir o método O Passo ao Canto Coral de início pareceu mais
simples do que realmente foi. Muitos foram os desafios que surgiram durante toda a
caminhada de construção das aulas, sendo necessário recorrer inúmeras vezes à
bibliografia e refletir sobre como eu poderia solucionar os problemas encontrados
apenas utilizando o método. Além disso, foi um processo de autoconhecimento, onde
eu precisei descobrir e entender as minhas limitações enquanto professora-regente e
usá-las como fator motivador para a busca de novos caminhos para o ensino do Canto
Coral.
Ao perceber que estava na metade do trabalho e que dali em diante eu
precisava tomar as decisões certas para que o resultado final do meu trabalho fosse
positivo, começaram a surgir muitas dúvidas sobre a aplicação do método e se eu
estava trilhando o caminho certo para alcançar os objetivos pensados no início desta
pesquisa. Durante as aulas eu senti os alunos desinteressados e fazendo as
atividades de maneira dispersa, muitos pareciam apenas reproduzir o que se era
pedido então, percebi que precisava motivar a turma. Porém, não sabia de que
maneira poderia fazer isso.
Enquanto me deparava com todos esses questionamentos, tive a
oportunidade de conversar com o professor Lucas Ciavatta – criador do método - e
contar a ele sobre as aulas, sobre os alunos e sobre minhas impressões e dificuldades
em unir o método à prática do Canto Coral. Diante disso, pensamos juntos algumas
possibilidades de resolver esses dilemas que cercavam o desenvolvimento do meu
trabalho. A ideia principal que norteou todo o desencadeamento de soluções para as
aulas posteriores foi o de provocar na turma a necessidade de utilizar O Passo em
uma atividade comum. O professor então sugeriu que eu elaborasse um desafio para
que eles sentissem a necessidade de utilizar o método e entendessem que ali estava
42
o facilitador da prática Coral. Essa conversa com o professor Ciavatta foi fundamental
para a continuidade da pesquisa e das aulas.
A partir desses questionamentos e da experiência docente percebi que o
papel do regente vai muito além de “passar o arranjo”. Sendo assim, precisei avaliar
o meu desempenho juntamente às reações da turma aula a aula, entendendo como
os alunos se comportavam e se os objetivos foram atendidos a partir das atividades
propostas. Nessa perspectiva, estar à frente de um grupo como regente é ser também
um professor, motivando, avaliando, pesquisando e entendendo o que acontece com
a turma em relação à atividade proposta, às interações entre os alunos e o
desenvolvimento da aula como um todo.
4.2. A avaliação da professora supervisora.
Em conversa com a professora supervisora do estágio ao final de todo o
processo de regência, discutimos e avaliamos as contribuições do método no decorrer
das aulas. Entendemos que o método é um bom recurso didático para estimular o
Canto Coral pois, desenvolve uma consciência corporal, musical e interpessoal. Ao
mesmo tempo, o método auxilia de forma dinâmica porque, desperta a atenção e
concentração do aluno na sua voz, no ritmo, na melodia e no texto da canção, além
de promover e estimular a autoestima e a capacidade de superação.
Percebemos que O Passo é um método que requer entusiasmo e boa
disposição, as atividades exigem atenção, desinibição, envolvimento e
comprometimento de todos os participantes e levam os alunos a sempre trabalhar em
conjunto.
Sobre pontos negativos, destacamos que, inicialmente, os movimentos
prejudicam a afinação, pois, durante a execução dos mesmos junto à voz os alunos
deixavam enfraquecer o apoio respiratório, o que influía diretamente na altura e
projeção dos sons. Porém, essas dificuldades de afinação foram resolvidas com as
repetições das atividades no decorrer das aulas.
Por fim, avaliamos todo o processo como satisfatório pois, os alunos foram
integrados, conhecimentos musicais foram absorvidos e a prática de Coral foi
finalizada com sucesso num recital de encerramento.
43
4.3. A resposta dos alunos.
Inicialmente, os alunos pareceram dispostos em conhecer a metodologia d’O
Passo e se mostraram animados em realizar as atividades, porém, durante as aulas,
alguns deles demonstraram desconforto em levantar de suas cadeiras para a
realização das atividades. Ao mesmo tempo, percebi a dificuldade de alguns alunos
em unir o movimento do corpo junto ao canto, a maioria deles está acostumada a
manter uma postura estática durante a sua performance e os movimentos d’O Passo,
a princípio, pareceram difíceis de juntar com a voz.
Outro desafio encontrado foi a inserção da partitura de voz do método, onde
alguns alunos questionaram o porquê de trocar a partitura convencional pela d’O
Passo. Mesmo com as devidas explicações dos propósitos nessa troca, os alunos se
mostraram contrários a usar esse novo modelo de partitura pois afirmaram preferir a
partitura tradicional.
Apesar das dificuldades, foi interessante ver que, durante algumas atividades
que não estavam relacionadas ao uso do método, os alunos pediram para utilizarmos
os movimentos do método em busca de solucionar algumas dificuldades que
apareceram. Os alunos sentiram a necessidade de levantar de suas cadeiras e se
movimentarem para compreender e conseguir executar alguns dos arranjos que
pareceram mais complicados. Muitas dessas dificuldades foram resolvidas por eles
mesmos através dos movimentos, não sendo necessária a minha intervenção durante
a regência da canção.
Além disso, foi possível perceber que as atividades d’O Passo proporcionaram
uma maior integração entre os alunos, levando em consideração que essas atividades
eram realizadas em grupo e muitas vezes os próprios alunos acabavam se ajudando
sem precisar que eu corrigisse cada um deles. Por estarem todos realizando o mesmo
movimento era fácil que cada um notasse se o vizinho estava executando de forma
incorreta o que estava sendo pedido e eles, prontamente, mostravam uns aos outros
o que deveria ser feito.
Notei também que o método trouxe um nível interessante de autonomia para
a turma. Através das atividades de ritmo, dos movimentos e das atividades de graus,
os alunos entenderam onde e como as vozes se encaixavam, fazendo com que eles
mesmos percebessem se estavam atrasados ou adiantados em relação a todo o
grupo, bem como se estavam afinados ou não. Essa autonomia tornou mais fácil a
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passagem das canções do repertório, pois muitas vezes os alunos estavam tão
seguros que não foi necessário que eu e meu colega fôssemos à frente do grupo para
fazer a regência tradicional. Sendo assim, nós cantamos muitas das canções com eles
e isso proporcionou uma maior integração nossa com toda a turma já que nos
colocamos também no papel de coralistas.
Por fim, os alunos se mostraram tão empolgados com a regência através dos
movimentos d’O Passo que nos pediram para colocá-la nas canções do repertório e
assim apresentássemos no recital de conclusão da disciplina.
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5 – CONSIDERAÇÕES FINAIS
Estar à frente de uma turma de Canto Coral foi uma experiência muito positiva,
porém desafiadora. Ao me preparar para realizá-la já imaginava que não seria fácil e
que seus desafios seriam constantes.
Para iniciar este trabalho, trouxemos algumas contribuições teóricas sobre a
prática do Canto Coral, o papel do regente frente ao grupo e os conceitos gerais sobre
o método O Passo, seus princípios e sua aplicação nas aulas de música e em
específico, nas aulas de Canto Coral.
No segundo capítulo estão descritas cada atividade elaborada, como se deu
a sua aplicação, a reação dos alunos e a minha avaliação sobre cada uma delas.
Através do planejamento e execução destas atividades, foi possível elaborar uma
proposta interessante de aplicação do método O Passo para o Canto Coral e refletir
sobre as práticas que mais funcionaram e as que não deram tão certo dentro do
contexto trabalhado.
Já no terceiro capítulo fizemos um apanhado geral de todo o trabalho em sala
de aula, trazendo uma avaliação pessoal sobre o meu papel enquanto regente,
refletindo sobre os desafios dessa experiência, sobre a opinião dos demais
professores e sobre a resposta dos alunos à proposta apresentada.
Essa experiência trouxe resultados positivos e motivadores para a
continuação da minha carreira como regente de Coral. Ao utilizar o método O Passo
nas aulas percebemos que poderia unir de maneira significativa o movimento e a voz,
fazendo com que os alunos entendessem o seu papel no grupo e cantassem com
segurança, sabendo onde cada voz deveria entrar e sabendo exatamente o que
deveriam fazer. Esse movimento, que também é um modelo de regência, serviu para
que cada aluno conseguisse se localizar dentro da canção e tivesse uma autonomia
maior para realizá-la. Além disso, também fortaleceu os conhecimentos musicais que
os alunos, nesse contexto, já possuíam.
O que podemos destacar de mais significativo para esta pesquisa foram as
experiências de trabalho em conjunto, desde o cantar até a resolução de desafios
musicais que surgiram no decorrer das atividades. Os alunos estavam em conexão
com eles mesmos, com a música e com os professores/regentes da disciplina. Foi
interessante perceber que essa metodologia também desmistificou o papel do regente
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como “aquele que sabe tudo” o que deverá acontecer durante a execução da canção,
muitas vezes nos colocando apenas como mediadores dos ensaios.
Nesse contexto de escola especializada, como os alunos já possuíam
conhecimentos básicos sobre os conceitos musicais, algumas das atividades
acabaram parecendo monótonas pois, levamos conceitos já conhecidos por eles.
Esses conceitos eram necessários para a inserção do método O Passo, dessa forma,
o nosso desafio estava em falar de algo que eles já conheciam, mas de uma maneira
que não parecesse repetitiva.
Refletindo sobre a dimensão dos resultados alcançados nessa experiência,
percebemos que ela seria mais expressiva se aplicada a uma turma de não-músicos.
Como O Passo é um método de alfabetização musical, poderíamos usá-lo junto ao
Canto Coral como uma ferramenta musicalizadora e alcançar resultados ainda mais
significativos.
No entanto, essa experiência se torna importante para as futuras pesquisas
sobre Canto Coral, sobre as aplicações do método O Passo e sobre o papel do
regente frente ao seu grupo, pois, ela nos mostra que é possível ao regente envolver,
através do método O Passo, conteúdos musicais, trabalhar a consciência corporal e
promover uma integração dos envolvidos no processo.
Além disso, esse estudo mostrou que o professor-regente precisa viver em
constante formação para estar preparado para todos os desafios que aparecerem em
sala de aula. Essa formação não se limita apenas a conhecimentos musicais, é preciso
que o maestro também domine habilidades como saber motivar, saber entender seus
alunos e estar disposto a buscar as melhores soluções para os problemas
encontrados em suas aulas, sejam eles musicais ou não.
Analisando as reações da turma e as nossas enquanto professores e alunos,
percebemos que O Passo proporciona uma maior interação entre o músico e a
música. A partir do momento que saímos do nosso conforto e nos movimentamos para
realizar a canção acabamos vivenciando a música com todo o corpo, a música passa
a ocupar cada membro e a execução resulta numa extensão do que se está sentindo
naquele momento.
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REFERÊNCIAS
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