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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE TECNOLOGIA DEPARTAMENTO DE ARQUITETURA CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO KARINE DA SILVA LUCENA NATAL/RN 2014

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE TECNOLOGIA

DEPARTAMENTO DE ARQUITETURA

CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO

KARINE DA SILVA LUCENA

NATAL/RN

2014

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KARINE DA SILVA LUCENA

Trabalho Final de Graduação

apresentado como requisito para a

conclusão do curso de Arquitetura e

Urbanismo da Universidade Federal

do Rio Grande do Norte.

Orientadora: Profª. Drª. Bianca Carla

Dantas de Araújo

NATAL/RN

2014

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Catalogação da Publicação na Fonte. Universidade Federal do Rio

Grande do Norte / Biblioteca Setorial de Arquitetura.

Lucena, Karine da Silva. Cine 84: complexo de cinema/ Karine da Silva Lucena. – Natal, RN, 2014. 89f. : il. Orientadora: Bianca Carla Dantas de Araújo. Monografia (Graduação) – Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de Tecnologia. Departamento de Arquitetura. 1. Cinema – Monografia. 2. Entretenimento – Monografia. 3. Multiplex – Monografia. 4. Cineclube – Monografia. 5. Exibição cinematográfica – Monografia. I. Araújo, Bianca Carla Dantas de. II. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. III. Título. RN/UF/BSE15 CDU 725.824

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO

KARINE DA SILVA LUCENA

Aprovado em: _____/ _____/ 2014.

BANCA EXAMINADORA

______________________________________________

Profª. Drª. Bianca Carla Dantas de Araújo

ORIENTADORA

______________________________________________

Prof. MSc. Fabrício de Paula Leitão

MEMBRO INTERNO

______________________________________________

Giuliano Bezerra Caldas

ARQUITETO E URBANISTA CONVIDADO

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AGRADECIMENTOS

Agradeço, primeiramente, a Deus, por ter possibilitado e me acompanhado na

realização de mais um sonho. Por ter me dado forças nos momentos mais difíceis e

de incertezas durante essa jornada, me guiando sempre pelos melhores caminhos.

Aos meus pais, Inêz e Francisco, por sua total dedicação à família, buscando

sempre o melhor para cada um de nós. Por serem meu porto seguro e maiores

exemplos de superação, persistência, coragem e amor. Por me ensinarem desde

cedo que todo sonho é possível desde que se lute por ele. À minha mãe, que

sonhou junto, comemorou cada vitória, e lutou para que chegar aqui hoje fosse

possível. Ao meu pai, por sua dedicação incondicional à família, e, sobretudo, pelas

inúmeras vezes que abdicou de seu sono por minha causa. Essa conquista também

é de vocês.

Aos meus irmãos, Cleber, Robson e Kledson, por todo o incentivo, confiança

e apoio incondicional dado a mim durante essa caminhada. Em especial, a Kledson

por sua contribuição e dedicação para que este trabalho se apresentasse da melhor

maneira.

A todos os familiares, pelo incentivo, apoio e confiança.

Ao meu trio e irmãos que a Arquitetura me deu, Luciana e André, por

caminharem junto comigo desde o início e compartilharem todos os momentos ao

longo desses cinco anos de graduação. Por serem minha base nos momentos de

stress e desesperos, estando eles relacionados ao curso ou não. Sem vocês tenho a

certeza que teria sido tudo muito mais difícil. A André, por sua enorme paciência,

dedicação, competência e esforço por tentar sempre melhorar as coisas. A Luciana,

por ser meu exemplo de irmã mais velha, por sua dedicação e competência em tudo

que faz. Por ser a melhor dupla de projeto que eu poderia ter e, sobretudo, por

compartilhar sua família, sua casa e seus amigos comigo e André.

A Família Alves, por ter me acolhido com tanto carinho em seu lar que, por

inúmeras vezes, foi mais meu lar do que minha própria casa.

Ao meu “G8”, em especial a Viviane e Ewerton, pelo apoio dado durante esse

período e por se fazerem presentes sempre que os compromissos permitiam.

A minha orientadora, professora Bianca Dantas, por embarcar nessa

caminhada junto comigo e me guiar sempre para as melhores soluções.

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A toda equipe CRD Arquitetura por todo aprendizado ao longo desse período,

contribuindo ainda mais para o meu crescimento profissional. Em especial, ao Sr.

Carlos, Igor e Wênya, pelo amor e dedicação à profissão, demonstrados a cada

projeto desenvolvido.

A “Família Coxinha” por todos os momentos de descontração compartilhados.

Em especial a Renato Medeiros, por todos os ensinamentos e por sua grande

contribuição na minha formação profissional e pessoal.

Ao “MeninAUs+Théo e André”, pelo melhor grupo de “pelo menos oito

pessoas”. Por todos os conselhos, ajudas, compartilhamento de desesperos e

conquistas . Em especial, à Lorena Petrovich por ser a “pequena” sempre com as

palavras certas nos momentos certos.

A “GalerAU” por todos os momentos compartilhados aos longo desses cinco

anos.

A Maria Helena, Janyffer e Rebeca por cada palavra, todo o apoio e

motivação que recebi.

Ao corpo docente do curso de Arquitetura e Urbanismo por todo o

conhecimento compartilhado, bem como, as instituições responsáveis por minha

formação acadêmica, em especial, a UFRN e ao IFRN.

Aos companheiros de curso por cada palavra de motivação, conversa ou

sorrisos, me deram mais ânimo para chegar até aqui.

A todos que, direta ou indiretamente, contribuíram para a chegada até aqui.

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RESUMO

Desde as primeiras exibições, o cinema se configura como uma atividade

relacionada ao lazer e entretenimento da população. Ao longo do tempo, a atividade

passou por diversas fases que foram do auge ao declínio em algumas décadas e,

posteriormente, se estabelecendo definitivamente na contemporaneidade. Com os

avanços tecnológicos, o cinema passou por modificações nos seus modos de

exibição, se destacando, hoje, os multiplex e os cineclubes. O modo de exibição

multiplex visa a tender ao público do cinema comercial e de grandes produções

cinematográficas, enquanto o cineclube busca a linha do cinema como arte e

cultura. A atividade vem, ao longo dos anos, perdendo seu espaço como

equipamento inserido na cidade, passando a se estabelecer em grandes centros

comerciais, como shopping centers. É nesse contexto que surge esta proposta, com

objetivo de desenvolver o anteprojeto de um complexo de cinema, voltado aos mais

diversos públicos, com foco no conforto acústico das salas de exibição. A intenção é

desenvolver um projeto que mostre um conceito do cinema até então inexistente na

capital potiguar.

Palavras-chave: Cinema; Entretenimento; Multiplex; Cineclube; Exibição

cinematográfica.

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ABSTRACT

From the earliest screenings, the film takes shape as a related leisure and

entertainment activity of the population. Over time, the activity has gone through

several phases of the peak were to decline in some decades, and subsequently

settling permanently in contemporary times. With technological advances, the movie

underwent changes in their views, is today highlighting the multiplex and cineclubs.

The multiplex mode display to the public attends the commercial and the large film

productions, while the cineclub aims line of cinema as art and culture. The activity

has, over the years, losing its place as the city entered equipment, starting to settle in

large commercial centers like shopping centers. It is in this context that the proposal,

in order to develop the first draft of a movie complex, aimed at more diverse

spectators, focusing on the acoustic comfort of screening rooms. The intention is to

develop a project that shows a concept of the movie until then unknown in Natal.

Key words: Cinema; Entertainment; Multiplex; Cineclub; Cinematographic exhibition.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Reserva Cultural no Prédio da Gazeta ...................................................... 34 Figura 2 - Planta baixa Reserva Cultural ................................................................... 35 Figura 3 - Hall principal da Reserva Cultural ............................................................. 36 Figura 4 - Sala de exibição no modelo stadium ......................................................... 37

Figura 5 - Café Reserva Cultural ............................................................................... 37 Figura 6 - Bistro em nível elevado com vista para Av. Paulista ................................. 38 Figura 7 - Plataforma elevatória para acesso à edificação ........................................ 38 Figura 8 - Espaço Itaú na Rua Augusta .................................................................... 39

Figura 9 - Foyer do cinema ....................................................................................... 40 Figura 10 - Planta baixa térreo .................................................................................. 41

Figura 11 - Bombonnière ........................................................................................... 42 Figura 12 - Wi-fi zone no hall..................................................................................... 42

Figura 13 - Sala de exibição ...................................................................................... 43 Figura 14 - Livraria vista do hall ................................................................................ 43 Figura 15 - Cinemark Midway Mall ............................................................................ 44

Figura 16 - Croqui esquemático ................................................................................ 45 Figura 17 - Hall de exibição ....................................................................................... 46

Figura 18 - Vista do foyer externo da Cinemateca .................................................... 47 Figura 19 - Vista a partir do foyer .............................................................................. 47

Figura 20 - Entorno da Cinemateca .......................................................................... 48 Figura 21 - Convivência interna ................................................................................. 49

Figura 22 - Foyer e praça pública .............................................................................. 49 Figura 23 - Planta baixa térreo .................................................................................. 50

Figura 24 - Área de exibição externa ........................................................................ 50 Figura 25 - Sala de exibição com balcão na plateia .................................................. 51 Figura 26 - Sala de exibição com plateia simples ..................................................... 51

Figura 27 - Localização do terreno ............................................................................ 52 Figura 28 - Terreno para proposta ............................................................................ 53

Figura 29 - Uso de solo nas imediações do terreno .................................................. 53 Figura 30 - Gabarito nas imediações do lote ............................................................. 54

Figura 31 - Terreno para intervenção ........................................................................ 55 Figura 32 - Terreno para proposta com APP de lagoa de captação ......................... 55 Figura 33 - Topografia do terreno para intervenção .................................................. 56

Figura 34 - Perfil do terreno de intervenção .............................................................. 56 Figura 35 - Esquema de insolação no terreno........................................................... 57

Figura 36 - Incidência de ventos no terreno .............................................................. 58 Figura 37 - Mapeamento acústico para os anos de 2012 e 2017.............................. 59 Figura 38 - Exemplo de largura de rampas ............................................................... 64 Figura 39 - Espaço de circulação compartilhado por duas vagas ............................. 65 Figura 40 - Área de instalação de poltronas .............................................................. 67

Figura 41 - Visuais dos espectadores ....................................................................... 67

Figura 42 - Disposição de poltronas em salas de exibição ....................................... 68

Figura 43 - Espaçamento entre poltronas ................................................................. 68 Figura 44 - Fluxograma de relações entre os ambientes .......................................... 72 Figura 45 - Esquema de definição de partido ............................................................ 73 Figura 46 - Esquema de permeabilidade da ventilação e proteção solar .................. 73

Figura 47 - Níveis de ruído incidente ......................................................................... 74 Figura 48 - Indicação de ventilação predominante .................................................... 74

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Figura 49 - Zoneamento por setores ......................................................................... 74

Figura 50 - Planta baixa zoneada da proposta 01 ..................................................... 76 Figura 51 - Estudo volumétrico zoneado 01 .............................................................. 77 Figura 52 - Planta baixa zoneada da proposta 02 ..................................................... 77 Figura 53 - Estudo volumétrico zoneado 02 .............................................................. 78 Figura 54 - Planta baixa zoneada da proposta 03 ..................................................... 79

Figura 55 - Aberturas zenitais na área do foyer ........................................................ 80 Figura 56 - Estudo volumétrico zoneado 03 .............................................................. 80 Figura 57 - Estudo volumétrico zoneado final ........................................................... 81 Figura 58 - Esquema de fluxo ................................................................................... 83

Figura 59 - Relatório do Reverb ................................................................................ 86

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Evolução do Multiplex no Brasil .............................................................. 23 Quadro 2 - Recuos exigidos pelo Plano Diretor de Natal .......................................... 60

Quadro 3 - Vagas reservadas para portadores de necessidades especiais ............. 65 Quadro 4 - Quantidade de assentos destinados a pessoas em cadeira de rodas .... 66 Quadro 5 - Programa de necessidades e pré-dimensionamento .............................. 70

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SUMÁRIO INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 14

1. EVOLUÇÃO DA INDÚSTRIA CINEMATOGRÁFICA ......................................... 19

2. MODOS DE EXIBIÇÃO ...................................................................................... 21

2.1. MULTIPLEX ................................................................................................. 21

2.2. CINECLUBES .............................................................................................. 24

3. CARACTERÍSTICAS ACÚSTICAS .................................................................... 27

3.1. ISOLAMENTO ACÚSTICO .......................................................................... 27

3.2. CONDICIONAMENTO ACÚSTICO .............................................................. 28

3.3. ELETROACÚSTICA ..................................................................................... 29

3.3.1. Sistema Vitaphone ................................................................................. 29

3.3.2. Sistema Ótico ........................................................................................ 29

3.3.3. Sistema Magnético ................................................................................ 30

3.3.4. Sistema Digital ....................................................................................... 31

4. REFERÊNCIAS PROJETUAIS .......................................................................... 33

4.1. ESTUDOS DIRETOS ................................................................................... 33

4.1.1. Reserva Cultural .................................................................................... 33

4.1.2. Espaço Itaú de Cinemas ........................................................................ 39

4.1.3. Cinemark Midway Mall ........................................................................... 44

4.1.4. Considerações Acerca dos Estudos Diretos .......................................... 46

4.2. ESTUDO INDIRETO .................................................................................... 47

4.2.1. Cinemateca Nacional do Século XXI ..................................................... 47

4.2.2. Considerações Acerca do Estudo Indireto ............................................. 51

5. UNIVERSO DE ESTUDO ................................................................................... 52

5.1. LOCALIZAÇÃO E ENTORNO ...................................................................... 52

5.2. ASPECTOS FÍSICOS .................................................................................. 54

5.3. ASPECTOS BIOCLIMÁTICOS E DE CONFORTO AMBIENTAL ................. 56

6. CONDICIONANTES LEGAIS ............................................................................. 60

6.1. PLANO DIRETOR DE NATAL (2007) .......................................................... 60

6.2. CÓDIGO DE OBRAS DE NATAL (2004) ..................................................... 61

6.3. CÓDIGO DE SEGURANÇA E PREVENÇÃO CONTRA INCÊNDIO E PÂNICO DO ESTADO DO RN (CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO RN) ...... 62

6.4. NBR 9050 - ACESSIBILIDADE A EDIFICAÇÕES, MOBILIÁRIO, ESPAÇOS E EQUIPAMENTOS URBANOS ............................................................................ 63

6.5. NBR 12237 (NB 1186) - PROJETOS E INSTALAÇÕES DE SALAS DE PROJEÇÃO CINEMATOGRÁFICA ....................................................................... 66

7. DESENVOLVIMENTO DA PROPOSTA ARQUITETÔNICA .............................. 69

7.1. METODOLOGIA PROJETUAL .................................................................... 69

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7.2. PROGRAMA DE NECESSIDADES E PRÉ-DIMENSIONAMENTO ............. 70

7.3. DEFINIÇÃO DE PARTIDO ARQUITETÔNICO ............................................ 72

7.4. ZONEAMENTO ............................................................................................ 74

7.5. EVOLUÇÃO DA PROPOSTA ...................................................................... 75

8. MEMORIAL DESCRITIVO E JUSTIFICATIVO .................................................. 82

8.1. SETOR PÚBLICO ........................................................................................ 83

8.2. SETOR DE EXIBIÇÃO ................................................................................. 84

8.3. SETOR DE SERVIÇO .................................................................................. 84

8.4. SETOR ADMINISTRATIVO ......................................................................... 85

8.5. ESTACIONAMENTO .................................................................................... 85

8.6. CONFORTO ACÚSTICO DAS SALAS DE EXIBIÇÃO................................. 85

Simulação com o Reverb ................................................................................... 86

CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 87

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................... 88

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INTRODUÇÃO

Com o desenvolvimento industrial do século XIX, o mundo passou por um

período de diversas transformações tecnológicas, que ocasionaram uma mudança

nos hábitos de entretenimento da população. O cinema se configurava como uma

resposta ao modo de produção industrial no campo da manifestação artística. As

primeiras exibições ocorreram em espaços não adequados para tal fim, mas aos

poucos a arte cinematográfica ganhou forças e buscou sua identidade própria,

necessitando de um espaço mais apropriado para suas exibições.

A primeira exibição pública de cinema ocorreu em dezembro de 1895, no

Salão Indien du Grand Café, em Paris, e foi promovida pelos irmãos Lumière. As

primeiras exibições cinematográficas foram marcadas pelo improviso e por

ambientes modestos com uma tela de tecido, uma centena de cadeiras e um

aparelho de projeção colocado sobre um banco, como destaca Emary (1995). Deste

modo, o cinema se popularizou rapidamente, surgindo a necessidade de novos

locais para a exibição desta arte. Foi nesse contexto em que antigos teatros foram

adaptados para receber este tipo de exibição, bem como, começou-se a projetar

edifícios voltados exclusivamente para a arte da exibição cinematográfica. Mas é

apenas no século XX que o cinema se consolida como uma das mais importantes

formas de comunicação.

No Brasil, a primeira exibição ocorreu em dezembro de 1896, com um

equipamento vindo de Lisboa. Apesar da novidade, o espetáculo não impressionou o

bastante, dados os problemas de eletricidades ocorridos no teatro. Já em março do

mesmo ano, alugou-se uma sala na Rua Ouvidor – rua preferida pelos empresários

para a exibição de entretenimentos, devido ao seu movimento e sua localização

central – e lá se instalou um cinematógrafo (ARAÚJO, 1976, p. 81). Segundo Paula

Freire Santoro (2005), as primeiras exibições em São Paulo funcionavam em bases

precárias, pequenos negócios familiares, realidade que muda com a chegada da

energia elétrica e mudança da elite cafeeira para a cidade. Junto aos grandes cafés

e teatros, surgem as salas de cinema fixas, que ainda não possuíam desenhos

arquitetônicos específicos, e que permitiam outros tipos de usos.

Em Natal, as exibições se tornaram mais frequentes devido à Segunda

Guerra Mundial e consequente instalação da base militar americana na cidade de

Parnamirim. Em 1949 chegou à cidade o Cine Rio Grande, e em 1958 o Cine

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Nordeste, estes dois exemplares representaram durante vários anos, uma das

melhores formas de entretenimento existente na Cidade do Natal.

Contudo, no decorrer dos anos, o cinema enfrentou momentos de perda de

público que questionaram sua sobrevivência. Isto pode ser associado ao surgimento

da televisão e, posteriormente, ao vídeo cassete e diversos outros equipamentos de

mídia que dava liberdade de se assistir filmes no conforto de seu lar. Existe ainda o

fator associado à localização do cinema e sua relação com o conjunto urbano. Para

Santoro (2005), uma série de alterações no modo de vida urbana cooperou para a

dificuldade de manutenção do perfil elitista tanto na área central, como no habito de

ir ao cinema. Os equipamentos voltados à arte cinematográfica perderam aos

poucos seu prestígio que coincidiu com a degradação do centro – coração histórico

da cidade.

Deste modo, o cinema foi perdendo sua força como equipamento de lazer

coletivo, passando por um intenso processo de adaptação. As salas tradicionais

foram cedendo lugar a novos usos e novos modos de inserção na cidade. A partir de

1997, de acordo com a Associação Brasileira das Empresas Exibidoras

Cinematográficas Operadoras Multiplex – ABRAPLEX -, ocorre a disseminação do

sistema de exibição Multiplex, que é caracterizado pela existência de 5 à 18 salas de

exibições unidas por um foyer, que conta com tecnologia de ponta e maior

diversidade e flexibilidade na programação.

Na cidade de Natal/RN, alguns dos cinemas de rua existentes tentaram

continuar suas exibições após algumas reformas, como é o caso do Cine Rio

Grande, ou mesmo modificando seu tipo de exibição, se voltando à exibição de

filmes adultos, como foi o caso do Cine Nordeste. Estas adaptações não obtiveram

êxito e esses cinemas acabaram por encerrar suas exibições por completo. Ao longo

dos anos, seus edifícios foram cedendo lugar a novos usos. Assim, com o fim das

exibições nestes cinemas, extingue-se também a existência dos cinemas de rua na

cidade.

Nos dias de hoje há uma tendência de implantação de cinemas em shoppings

centers e galerias. Esta forma de implantação visa garantir uma opção de

entretenimento completo aos usuários, possibilitando a utilização dos mais variados

serviços em um único lugar. Outra facilidade, esta para os empresários da indústria

de exibição cinematográfica, é a diminuição dos custos de implantação destes

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equipamentos, uma vez que os shoppings fornecem a infraestrutura básica, como

ar-condicionado, estacionamento, boa localização, dentre outros, não tendo os

empresários que arcar com estes custos.

Atualmente, a cidade conta com quatro cinemas, todos no sistema Multiplex e

implantados dentro dos principais shoppings centers da cidade. O mais antigo é o

Moviecom, localizado no Praia Shopping, que conta com 7 salas de exibições. Em

seguida se instalou na cidade o Cinemark, localizado no Midway Mall, contando com

10 salas de exibições. E a cidade conta ainda com dois cinemas da Rede Cinépolis,

um localizado no Natal Shopping, outro no Natal Norte Shopping, totalizando 12

salas de exibições.

A produção e o consumo cinematográfico no mundo contemporâneo vêm aos

poucos extinguindo o cinema como arte e cultura de uma sociedade, bastante

representada nos, quase inexistentes, cineclubes. Os cineclubes são definidos como

associações em que amadores de cinema se reúnem para ver filmes e estudar

sobre a arte cinematográfica em todos os seus aspectos. No Brasil, o primeiro

cineclube foi fundado em 1928, por Plínio Sussekind Rocha, Otávio de Faria, Almir

Castro e Cláudio Mello, no Rio de Janeiro, e se chamava Chaplin Club. Outra

iniciativa só ocorreu em 1940, com o Clube de Cinema de São Paulo, que teve suas

atividades suspensas pelo Departamento Estadual de Imprensa e Publicidade, logo

após sua inauguração. Funcionando com exibições clandestinas, só foi oficializado

após a Segunda Guerra Mundial, em 1946, quando se uniu ao Museu de Arte

Moderna (MAM) e se transformou na filmoteca do museu, se tornando no embrião

da Cinemateca Brasileira.

Os cineclubes comparecem como organizações atuantes, que foram

fundamentais para a formação de núcleos de discussão intelectual sobre cinema em

diversas partes do mundo. No final dos anos 50 e início dos anos 60, o cineclubismo

brasileiro organizou-se em torno de entidades federativas. Surgiram, ainda,

cineclubes que promoviam suas atividades em escolas secundaristas, faculdades e

em museus. O cineclubismo foi uma das principais marcas do movimento cultural

dos anos 50 e 60.

Os cineclubes são constituídos levando em consideração três preceitos

básicos: deve ser uma instituição sem fins lucrativos; sua estrutura deve ser

democrática; e deve haver compromisso cultural ou ético para com a sociedade.

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Nos anos 80, com o advento da Nova República, muitos cineclubes que

haviam se estruturado, perderam o sentido de continuidade. Somente em novembro

de 2003, o movimento cineclubista se reencontra dispostos a iniciar uma

rearticulação do movimento, mas ainda assim, bastante defasados.

Como se pode observar, as mudanças no equipamento do cinema vêm aos

poucos excluindo a edificação deste equipamento do contexto urbano, bem como,

perdendo sua identidade tipológica. Outro agravante são as limitações impostas aos

usuários pelos shoppings centers, sejam pelos horários ou pelos custos mais

elevados. Entretanto, ainda é possível perceber o apoio e incentivo ao cinema como

forma de lazer aliada à cultura por parte da iniciativa privada, normalmente bancos.

No que diz respeito à arte do cinema, criam-se espaços multiuso, objetivando a

divulgação e exibição de produções de qualidade, permitindo também o acesso da

população de baixa renda a este tipo de cultura e entretenimento.

Considerando as atuais condições do mercado e buscando o resgate do

cinema como forma de arte e cultura para a sociedade, procura-se trazer um

conceito diferente do existente na cidade. Desta forma, o objetivo deste trabalho é

desenvolver um anteprojeto de um cinema que supra a necessidade dos usuários do

Multiplex, assim como os apreciadores da sétima arte que procuram algo a mais

neste tipo de equipamento como, por exemplo, os cineclubes.

Assim, o objetivo geral desse estudo é a concepção de anteprojeto de um

complexo de cinema, voltado aos mais diversos públicos, com foco no conforto acústico

das salas de exibição. Para isto, foram considerados os seguintes objetivos específicos:

Estudar a evolução do cinema e seus modos de exibição;

Estudar a arquitetura de cinemas, identificando as variações tipológicas e

aspectos funcionais pertinentes;

Compreender e estudar as soluções acústicas que contribuem para o processo

projetual do cinema.

Para alcançar os objetivos propostos neste trabalho, fez-se necessário

entender o processo de evolução da indústria cinematográfica. A pesquisa foi

realizada através de consultas bibliográficas eletrônicas, livros e trabalhos

acadêmicos acerca do tema. Assim, o primeiro capítulo do presente trabalho trata da

evolução da atividade no tocante ao processo de exibição.

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No segundo capítulo foram abordados os dois modos de exibição relevante

para o desenvolvimento da proposta. Neste capítulo foi tratado o processo de

evolução de cada um dos modos, com suas características e peculiaridades.

Em seguida, foram tratadas as características acústicas das salas de

exibição, de modo a compreender os aspectos necessários para o desenvolvimento

de uma sala de cinema acusticamente eficiente.

O quarto capítulo apresenta os principais estudos de referência relevantes

para o desenvolvimento da proposta, compreendendo as relações existentes nesse

tipo de equipamento.

O quinto capítulo trata do universo de estudo, onde foram realizados estudos

do terreno através de coleta de dados e análise dos condicionantes físico-ambientais

e legais.

A partir dos resultados obtidos nas fases anteriores do processo, foi

elaborada a proposta de um anteprojeto de um complexo de cinema, apresentada

no sétimo capítulo do presente trabalho, sendo seguida pelo memorial descritivo e

justificativo da proposta.

Este trabalho é composto por duas partes, sendo a primeira parte o presente

memorial e, a segunda parte, composta pelas pranchas da proposta arquitetônica.

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1. EVOLUÇÃO DA INDÚSTRIA CINEMATOGRÁFICA

As primeiras exibições de cinema, que datam do final do século XIX, se

configuravam como uma alternativa ao entretenimento da população. Inicialmente,

as exibições necessitavam apenas de um projetor, uma tela e uma plateia, podendo

acontecer nos mais variados locais. Costa (2006) relata que os primeiros filmes

tinham herdado a característica de serem atrações autônomas, que se encaixavam

facilmente nas mais diferentes programações dos teatros de variedades. Porém, a

associação das exibições cinematográficas com outras formas de entretenimento,

como por exemplo, cafés e bares, ocasionou a elitização da atividade. Aos poucos, o

cinema se transformou em um símbolo de diversão atrelado ao status, uma vez que,

com o desenvolvimento das máquinas de exibição, a burguesia detinha o capital e o

monopólio da execução dessa atividade. Os realizadores da atividade buscaram no

romance e no teatro a construção de uma nova linguagem, conferindo legitimidade

ao cinema. A partir disto, se incorporou a narrativa e a linearidade às exibições.

Deste modo, o cinema passou a ser tratado como arte, aumentando seu público,

necessitando de novos locais para as exibições. Ainda no início do século XX, os

grandes cinemas estavam localizados nos grandes centros urbanos, já que lá se

concentravam o controle social e econômico da cidade como explicita Jean-Claude

Bernardet em “O que é cinema”: “As salas de bairro tendem a desaparecer, os

cinemas concentram-se em pontos de poder aquisitivo mais elevado.”

(BERNARDET, 1991, p.48)

Aos poucos essa atividade foi perdendo seu público, os cinemas de rua

começaram a encerrar suas atividades, diminuindo, por consequência, a quantidade

de salas de exibições e os espectadores. O início dessa decadência coincidiu com o

processo de fragmentação dos centros urbanos, transformando um único centro

urbano em vários centros.

Atualmente, os “cinemas de rua” existentes que conseguem se manter ativos,

resistindo à diminuição de público, têm seu foco voltado exclusivamente para a

exibição de filmes de arte ou aos filmes adultos. De acordo com o relatório anual da

Agência Nacional do Cinema (2011):

Na esteira das mudanças ocorridas no setor da exibição, fatores como a entrada de empresas de capital estrangeiro e a implantação de um novo modelo de organização das salas, a mudança nos hábitos de consumo de cinema e a crescente modernização do parque tecnológico aumentaram a distância entre os grandes empreendedores da exibição (empresas

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multinacionais e alguns exibidores de capital nacional) e os pequenos exibidores, que invariavelmente mantêm cinemas ‘de rua’ por tradição familiar e tiveram que disputar o mercado em áreas menos atrativas.

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2. MODOS DE EXIBIÇÃO

Os modos de exibição se adaptaram às inovações tecnológicas e

necessidades das sociedades ao longo do tempo. O multiplex apresenta a vertente

mais contemporânea da atividade, sendo responsável pelo grande faturamento da

indústria. Por sua vez, os cineclubes são instituições sem fins lucrativos e buscam,

basicamente, a utilização do cinema como ferramenta de fomento a arte e a cultura.

2.1. MULTIPLEX

Vários fatores ocasionaram a decadência do cinema de rua e, de acordo com

Ferraz (2009), o encerramento das atividades de vários cinemas espalhados pelo

país não ocorreu de forma repentina, ao contrário do que fazem pensar diversos

autores. Ainda segundo a autora, nos anos de 1970 os proprietários dos locais de

exibição buscaram alternativas de incentivo como reformas de salas existentes, com

intuito de atrair o público novamente. Contudo, as medidas não foram suficientes

para reestabelecer a dinâmica desta atividade. Por volta da década de 1990, o

cinema brasileiro passa definitivamente por perdas constantes de público e

fechamento de salas.

Com as constantes modificações dos centros urbanos e descentralizações

destes, o cinema passa a enfrentar problemas, perdendo o prestígio adquirido desde

as primeiras décadas do século. Outro fator que comprometeu a estabilidade da

atividade, segundo Stefani (2009), foi a popularização da televisão que, pouco

tempo depois, se tornou a maior forma de entretenimento da população. Além disso,

Santos (2000) afirma que as estruturas mantidas pelos cinemas tradicionais

deixaram de ser viáveis, por não mais corresponderem às expectativas do público.

Deste modo, o Sistema Multiplex foi a saída encontrada pela indústria

cinematográfica para amenizar os efeitos da crise.

O conceito multiplex surgiu há cerca de 25 anos nos Estados Unidos,

tomando destaque por se tratar de um complexo de salas de exibição com

excelentes recursos cinematográficos, com destaque, principalmente, para o

conforto dos usuários, a qualidade e as inovações tecnológicas. O conceito chega

ao Brasil no ano de 1997, com a inserção de exibidores estrangeiros no mercado

nacional, como o Cinemark e a UCI.

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Com as salas de cinema comuns deixando de proporcionar inovações aos

espectadores, os multiplex se configuram como alternativas às exibições

cinematográficas. O conceito do multiplex vai muito além de apenas salas de

exibição. O sistema tem por objetivo oferecer uma maior variedade de filmes,

diversos serviços e opções de entretenimento, condicionando assim os usuários ao

máximo proveito do cinema. Dentre as opções ofertadas pelos multiplex, destacam-

se jogos, fast-foods, bares, áreas de shows, exposições e até pistas de dança.

Santos (2000) afirma que a disposição das salas em um mesmo local otimiza

espaço, gerando economia na operação, manutenção e administração, de forma a

facilitar a informatização, climatização e utilização de sistemas avançados de

acústica.

Geralmente, este sistema é implantado em locais como shopping centers,

aumentando as possibilidades de faturamento, uma vez que os usuários podem ir

aos shoppings com intuito apenas de fazer compras e, sem planejamento prévio,

assistir um filme. Além disto, os cinemas podem contar com a segurança e o

estacionamento disponíveis dos shoppings.

Diversos complexos exibidores neste modelo de cinema contemporâneo

foram estabelecidos no país e se configuram como revolucionários no mercado

exibidor no tocante à qualidade de som e imagem que oferecem. Diversos foram os

fatores que atraíram cada vez mais o público: grande salas no modelo stadium, telas

enormes – modelo “Wall to Wall” – e sistemas de projeção com equipamentos de

ultima geração. Aos poucos, esses complexos foram influenciando os gostos e

hábitos dos espectadores.

De acordo com Saab e Ribeiro (2000), as maiores redes internacionais de

exibição, como Cinemark, a United Cinemas International (UCI) e a Hoyts Cinemas,

investiram significativamente no Brasil nos últimos anos, movimentando o cenário

das salas de exibição no país, como mostram dados da ABRAPLEX – Associação

Brasileira das Empresas Exibidoras Cinematográficas de Multiplex (Quadro 1):

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Quadro 1 - Evolução do Multiplex no Brasil

Fonte: <http://www.abraplex.com.br/mercado.html>. Acesso em: 10 ago. 2014.

O Quadro 1 apresenta a evolução do multiplex no Brasil, relacionando a

quantidade de complexos e salas de exibição das maiores redes internacionais

atuantes no país ao longo dos anos. É possível observar que as duas maiores

redes, em sete anos, aumentou cerca de dez vezes a quantidade de complexos e,

por consequência, salas de exibições.

Com relação a grupos nacionais, o Severiano Ribeiro se destaca com

expressividade no mercado brasileiro, ficando atrás apenas da rede Cinemark. Foi o

grande exibidor no Brasil antes da chegada das multinacionais e manteve a

soberania na quantidade de salas no país durante oitenta anos. Os proprietários da

rede afirmam ser muito difícil, atualmente, montar salas no formato antigo, uma vez

que o formato multiplex possui custo operacional bem inferior e uma maior

rotatividade, deste modo, gerando maior renda.

Em seu estudo, Eduardo Baider Stefani (2009) cita o caráter “hollywoodiano”

da programação no sistema multiplex, que busca exibir apenas grandes produções

mundiais ou filmes populares nacionais, visando, basicamente, o lucro em suas

sessões. A busca dos espectadores por diferenciais nos complexos, como salas

VIPs, exibições em 3D, e diversos outros atrativos nos cinemas, tem incentivado o

investimento continuo e a modernização cada vez maior das novas salas de

exibição.

O desenvolvimento das salas de exibição é de grande valia, tanto pelas

funções relacionadas ao lazer e entretenimento, quanto pela educação e cultura que

elas podem proporcionar à população. Hoje é possível identificar algumas poucas

iniciativas dos cinemas de lazer em promover o cinema como cultura. Em algumas

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redes, como a Cinemark, existe a oferta de “filmes de arte” a preços mais baixos e

que contam com a mesma comodidade das grandes produções do cinema.

2.2. CINECLUBES

De acordo com a Instrução Normativa nº 63, de 2 de outubro de 2007, da

Agência Nacional de Cinema (ANCINE), cineclube pode ser definido como sendo

espaços de exibição não comercial de obras audiovisuais nacionais e estrangeiras

diversificadas, que podem realizar atividades correlatas, tais como palestras e

debates acerca da linguagem audiovisual. Estes espaços são instituídos de forma

democrática e visam, basicamente, a multiplicação de público e formadores de

opinião para o setor audiovisual, bem como, a promoção da cultura audiovisual

brasileira e da diversidade cultural. Para atingir os objetivos propostos pelos

cineclubes, são realizadas exibições de obras audiovisuais, conferências, cursos e

atividades correlatas.

O primeiro cineclube que se tem notícia na história surgiu a partir do jornal

Ciné-Club, fundado em 1920 por Charles de Vesme, Louis Delluc, entre outros

colaboradores. Contudo, a primeira sessão oficial de um cineclube reconhecido se

deu apenas em 1925, quando Charles Léger fundou o Tribune Libre du Cinema.

Porém, como afirma Gusmão (2008), a atividade de cineclube não perdura por muito

tempo, assim como o cineclubismo francês que só se restabelece após a Segunda

Guerra Mundial, sob a presidência de Germaine Dullac.

Aos poucos a atividade cineclubista foi se disseminando pela Europa,

chegando no Brasil em 1928. O primeiro cineclube foi fundado por Plínio Sussekind

Rocha, Otávio de Faria, Almir Castro e Cláudio Mello, no Rio de Janeiro, e se

chamava Chaplin Club, realizando sua primeira exibição em 1931. Outra iniciativa de

fundação de um cineclube só voltou a ocorrer em 1940. Na Faculdade de Filosofia

da Universidade de São Paulo, foi instaurado o Clube de Cinema de São Paulo, por

Paulo Emílio Salles Gomes, Francisco Luís de Almeida Salles, Décio de Almeida

Prado, Antônio Cândido, dentre outros. Contudo, o cineclube foi interditado pelo

Departamento Estadual de Imprensa e Propaganda. Apesar disto, a partir de 1941

passou a funcionar com exibições clandestinas, sendo oficializado apenas em 1946,

quando se uniu ao Museu de Arte Moderna (MAM), se convertendo na filmoteca do

museu e que mais tarde se transformaria na Cinemateca Brasileira. O Clube de

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Cinema de São Paulo serviu de parâmetro para o estabelecimento de outros

cineclubes fundados pelo país ao final da década de 40.

A primeira fase do cineclubismo no país, mesmo que restrita a um seleto

grupo de intelectuais, ocasionou um novo formato de exibição, que se difundiu pelo

Brasil na década de 50, época em que surgiram vários cineclubes pelo país.

Segundo Gusmão (2008), um fator que contribuiu para o crescimento dessa

atividade no Brasil, embora seja pouco tratado pela historiografia do cinema

brasileiro, foi o forte movimento de orientação católica que estimulava a cultura

cinematográfica e a fundação de cineclubes. A Igreja Católica investiu recursos e

pessoal para implementar uma política cineclubista, promovendo cursos e formando

equipes para difundir seu modo de organização.

Por volta da década de 60, o cineclubismo brasileiro passou a se organizar

em unidades federativas e acabaram por criar um congresso nacional de cineclubes

– evento que se tornou uma tradição e contou com 22 edições, ocorrendo sempre

em diferentes cidades do país.

Hoje em Natal, essa vertente da exibição cinematográfica é representada pelo

Cineclube Natal (CCN), sendo o cineclube mais atuante e expressivo da capital

potiguar desde maio de 2005, quando foi fundado. Além de atuar fortemente na

capital, o Cineclube Natal realizou algumas oficinas de cineclubismo e apreciação

cinematográfica no interior do estado. Como não possui edificação própria, as

sessões são realizada em diversos locais, mas existem dois pontos principais de

exibições periódicas: o Cine Café, realizado no Nalva Melo Café Salão e o Cine

Vanguarda que acontece no Teatro de Cultura Popular.

A atividade vem sendo amparada por leis de incentivo à cultura, como a lei

municipal Djalma Maranhão, a estadual, Lei Câmara Cascudo e ainda, um programa

do Ministério da Cultura, o Cine Mais Cultura. O programa oferece subsídios para

obtenção de equipamento de exibição, obras brasileiras e ainda, a capacitação

cineclubista, fomentando cada vez mais o pensamento crítico dos espectadores.

Como o cineclube é uma instituição sem fins lucrativos, os incentivos por

parte do poder público possibilita a integração do trabalho desenvolvido com a

educação, levando a atividade a algumas escolas e bairros mais carentes da cidade.

Além de levar essa cultura às escolas, o cineclube participa ativamente do cenário

cultural de Natal, realizando exibições especiais, cursos e oficinas em mostras e

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festivais. Graças a estas iniciativas, a atividade do cineclube vem ganhando, ao

poucos, seu devido reconhecimento na capital potiguar.

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3. CARACTERÍSTICAS ACÚSTICAS

Em salas de exibição cinematográficas, assim como a qualidade da imagem,

a qualidade do som é fundamental para garantir uma adequada projeção da película.

Por se tratar de uma obra audiovisual, o som, seja através de diálogos, ruídos ou

músicas, tão importante quanto a imagem na projeção cinematográfica.

Assim como as cenas, os sons de um filme são totalmente planejados e

criados segundo uma concepção estética, que varia de acordo com a intensão do

diretor.

Assim, as salas de exibição devem assegurar que os sons externos não

adentrem o ambiente e prejudiquem o som da produção, bem como, garantir que o

som reproduzir no ambiente seja ouvido com qualidade por todos os espectadores.

Portanto, durante a exibição dos filmes não se ouve apenas o som

proveniente das caixas acústicas, mas sim, o resultado da interação deste som com

as características acústicas do ambiente. Estas características são determinadas por

dois importantes aspectos: o isolamento e condicionamento acústico.

3.1. ISOLAMENTO ACÚSTICO

Bistafa (2006) conceitua som como sendo vibrações das partículas do ar que

se propagam a partir de estruturas vibrantes. O som é a sensação produzida no

sistema auditivo. Ainda segundo o autor, o ruído é um som indesejável, em geral de

conotação negativa.

Segundo Lopes (2010) o isolamento acústico objetiva garantir que ruídos

aéreos gerados em um ambiente não sejam transmitidos para outro adjacente,

sendo este um espaço fechado ou externo a edificação.

Em salas de exibição este aspecto é fundamental ser atendido, caso

contrário, a compreensão do filme pode ser parcial ou totalmente prejudicada por

sons indesejáveis.

De acordo com a NBR 12237 (1988) os níveis de ruídos ambientais em salas

de projeção cinematográfica devem ficar abaixo de 40 dB (A), garantindo que todos

os espectadores possam ouvir o mais sutil dos sons reproduzido pela película

cinematográfica.

O isolamento de um ambiente é obtido, basicamente, pelo seu isolamento

físico em relação aos ambientes adjacentes. Desse modo, a primeira precaução que

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se deve tomar é garantir a eliminação de aberturas entre o ambiente ruidoso e o que

se deseja isolar acusticamente. No entanto, alguns pontos de abertura são bastante

delicados, como é o caso de portas e janelas, haja vista a necessidade destes

elementos, seja para acesso ou para iluminação e ventilação. Assim, algumas

medidas devem ser tomadas para que estes elementos não prejudiquem o

isolamento de ambientes como salas de exibição.

Os acessos devem ser vedados com portas isoladas acusticamente que

impeçam a entrada de ruídos. Antecâmaras devem ser instaladas entre o acesso e o

exterior das salas para reforçar a função das portas. Deste modo, o isolamento é

mantido durante as exibições, mesmo que a porta seja aberta para entrada de

usuários.

Deve-se ainda tomar precauções para que seja evitado e isolado o ruído de

impacto, proveniente da vibração causada na estrutura da edificação por elementos

como compressores de ar condicionado, bombas d’água ou qualquer outro

equipamento que possa produzir vibração. Devem ser utilizados amortecedores nas

bases desses equipamentos.

3.2. CONDICIONAMENTO ACÚSTICO

O condicionamento acústico em salas de exibição busca garantir que o som

produzido seja transmitido aos espectadores com boa qualidade. Ele é assegurado,

principalmente, pelo nível sonoro gerado pelo filme, a correta distribuição das caixas

sonoras e a obtenção de um tempo de reverberação adequado.

O tempo de reverberação é definido como o tempo que a energia de um

campo sonoro reverberante leva para decair 60dB logo tenha cessado o som da

fonte sonora (MORFEY, 2001, apud, LOPES, 2010). Ou seja, o tempo de

reverberação é o tempo em que o som permanece no ambiente após se emitido pela

fonte sonora. Para cada tipo de atividade existe um tempo de reverberação que lhe

é mais adequado.

O tempo de reverberação de um ambiente é determinado, principalmente,

pelo tipo e distribuição dos materiais de revestimento utilizados, considerando a

geometria do ambiente. O tempo de reverberação de salas de cinema normalmente

são baixos, entre 0,3 e 0,8 segundos.

Outro ponto importante para o condicionamento acústico das salas de

exibição é a distribuição correta das diferentes caixas sonoras. O posicionamento

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deve considerar o tipo de som a ser reproduzido, as dimensões, volume e a

geometria da sala.

3.3. ELETROACÚSTICA

O cinema, da maneira que se conhece atualmente, passou por um longo

caminho até o desenvolvimento de soluções técnicas e mercadológicas para seu

total estabelecimento. A primeira solução encontrada foi a gravação em discos que

logo cedeu lugar à gravação ótica, sendo esta substituída pela gravação magnética

e, posteriormente, pela digital.

3.3.1. Sistema Vitaphone

Em 1910, surgiu o som em disco, que podia ser copiado e fabricado em série.

O sistema mais conhecido e que teve maior reconhecimento comercial foi o

Vitaphone. O sistema acompanhava o filme e um disco de 16 polegadas. Contudo,

este sistema não era de todo eficaz, uma vez que sua reprodução se dava por meio

de vitrola. Caso algo danificasse o disco de alguma maneira, por mínimo que fosse o

dano, a reprodução seria prejudicada. Além da fragilidade do disco, o alto custo de

fabricação, por vezes, inviabilizava a produção deste material.

O sincronismo do som com a imagem do filme era obtido mecanicamente,

tendo em vista que um motor acionava tanto o projetor quanto prato do disco. A

operação não se complicava bastante sempre que havia o rompimento do filme, o

que era comum de ocorrer. Assim, se tornava necessário voltar o filme ao início e

dispor a agulha da vitrola em um local aproximado, prejudicando a sincronização

planejada entre som e imagem.

Embora primitivo, este sistema permitiu os primeiros filmes sonoros. A maioria

dos discos só registravam músicas, assim, a falta de sincronismo, gerada pelo

rompimento dos filmes, não se tornava um empecilho a exibição das películas.

Apesar disto, os problemas enfrentado nas exibições com discos levaram a ideia de

atribuir som à própria película.

3.3.2. Sistema Ótico

O sistema ótico se torna viável comercialmente em 1927, com os filmes “The

Jazz Singer” e “Don Juan”, sendo estes, marcos no início deste sistema. Pode-se

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atribuir o sucesso ao funcionamento do sistema, à facilidade e menor custo de

comercialização, e a sua praticidade.

A partir de 1927, o cinema passou por uma gradativa transição do sistema

Vitaphone para o sistema ótico, tendo suas salas que se equipar para receber os

dois sistemas. Durante dez anos, de 1927 a 1937, aconteceu o verdadeiro “boom”

no número de salas de projeção. Só nos Estados Unidos, a quantidade varia entre

15.000 e 18.000 salas.

Por outro lado, o rápido crescimento da atividade cinematográfica, gerou a

necessidade de padronização das instalações e da forma de se produzir os filmes.

Assim, a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas começa a se formalizar e

organizar todo o sistema: a maneira em que o som ótico será registrado no filme, a

forma de equalização, bem como, as características das caixas sonoras das salas.

Os primeiros sistemas de registro ótico utilizavam o sistema simples, ou seja,

em uma única câmera, eram registradas as imagens e o som da película. Este

sistema gerava inúmeros problemas no momento da edição dos filmes.

Deste modo, foi idealizado o sistema duplo: durante as filmagens, além da

câmera, outro operador gravava o sim em um sistema ótico com microfone. Assim,

tornava-se possível a edição, cortando os negativos do som e de imagem de formas

independentes que, posteriormente, eram unidos e copiados.

3.3.3. Sistema Magnético

Nos anos 50, o sistema magnético tornou-se popular. O som magnético

atribuído ao filme possuía várias vantagens sobre o ótico. O novo sistema se

destacava pela melhoria na qualidade do som, sendo este estéreo e com até seis

canais (surround), enquanto o ótico era um sistema mono.

A criação do novo sistema se deu graças à perda de público do cinema para a

televisão. A indústria cinematográfica se viu obrigada em oferecer um diferencial

para atrair novamente os espectadores. Assim, telas maiores com imagens coloridas

foram idealizadas. Contudo, o sistema de som com um único canal não atenderia a

esta inovação. Somente com o sistema magnético foi possível aumentar a

quantidade de canais e melhorar a qualidade do som.

Ainda assim, o sistema magnético possuía desvantagem com relação ao

ótico. Os filmes eram bastante delicados e estragavam facilmente, sendo sua

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durabilidade inferior a do ótico. Além disso, o novo sistema exigia um investimento

bastante elevado na produção.

Algumas experiências com faixas óticas estéreo foram realizadas, porém os

resultados foram insatisfatórios, dada a quantidade de ruídos. Em 1965, quando a

Dolby Laboratories apresentou o “Dolby A” – um método de redução de ruídos

originalmente desenvolvido para gravações profissionais – a indústria

cinematográfica encontrou um caminho para reinventar e aprimorar as trilhas óticas.

O sistema Dolby magnético foi se aprimorando, sempre com intuito de reduzir

o ruído, aumentar a resposta de frequência, diminuir a distorção e introduzir o som

multicanal. Foi então neste contexto que surgiu o Dolby Digital. Por sua contribuição

à indústria cinematográfica, em 1989 a Dolby Laboratories recebeu um premio da

Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, se tornando, pouco tempo depois,

uma das maiores empresas de desenvolvimento de sistemas sonoros do mundo.

3.3.4. Sistema Digital

No ano de 1992, a Dolby Laboratories lança o Dolby Digital, e em 1995 o

sistema é adotado como padrão nas salas de exibição por todo o mundo.

O sistema foi utilizado pela primeira vez em 1992, no filme “Batman Returns”.

O sistema faz uso de seis canais de áudio independentes, sendo cinco de

frequências normais e uma para o subwoofer (o chamado 5.1). Com isso, é possível

ao espectador ouvir sons inaudíveis nas versões anteriores do sistema.

A configuração das caixas de som considerada ideal para o sistema digital é

ter três na frente, por trás da tela de exibição, e duas na parte de trás do ambiente,

todas a dispostas de forma equidistantes entre si e na mesma altura.

Uma das principais vantagens do Dolby Digital é o fato deste poder ser

gravado no próprio rolo do filme, no espaço entre os orifícios destinados ao encaixe

dos dentes responsáveis pela rolagem do filme na máquina.

A compressão do áudio acaba ocasionando perda de informações. Ainda

assim, o resultado final é um som de boa qualidade que requer equipamentos

simples para sua reprodução.

Ao longo dos anos, e o graças aos desenvolvimento tecnológico, a Dolby

Laboratories aperfeiçoou os sistemas existentes além de desenvolver novos

sistemas, como é o caso do Dolby Digital EX,Dolby TrueHD, Dolby Pro LogicII e a

mais recente aposta da empresa: o Dolby Atmos.

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Atualmente, apesar de existirem outros sistemas digitais, como por exemplo,

o DTS (Digital Theater System), os sistemas da Dolby são os que se destacam no

cenário de exibição mundial.

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4. REFERÊNCIAS PROJETUAIS

A fim de embasar a elaboração da proposta arquitetônica de um Complexo

Cultural de Cinema para os apreciadores da sétima arte, foram realizados estudos

de referência. Estes estudos se configuram como análises de equipamentos com

propostas semelhantes à que se pretende desenvolver.

Foram analisados projetos cujos aspectos tipológicos, construtivos e até

estéticos que pudessem contribuir para o desenvolvimento da proposta. Esses

estudos foram realizados de maneira direta e indireta. Os estudos diretos resultaram

de visitas in loco, com possibilidade de avaliação do ambiente construído. Já os

estudos indiretos surgiram como fruto de pesquisas em fontes bibliográficas e na

internet.

4.1. ESTUDOS DIRETOS

Estudos diretos foram realizados a partir da análise de ambientes construídos,

através da análise de aspectos que possam servir para o aperfeiçoamento da

presente proposta arquitetônica, quanto ao programa de necessidades, disposição

dos ambientes, implantação, relações com os usuários e funcionalidade.

Observaram-se os seguintes itens: caracterização do estabelecimento,

localização, proposta projetual e principais ambientes.

Foram selecionados três estabelecimentos, estando dois localizados na

cidade de São Paulo (SP) e um na cidade de Natal (RN). A Reserva Cultura e o

Espaço Itaú de Cinemas, ambos em São Paulo, são espaços voltados para a

exibição cinematográfica e se destacam pelo caráter cultural que empregam à

atividade. O estudo direto realizado na cidade de Natal foi Cinemak Midway Mall,

sendo este voltado para a exibição de filmes comerciais, nos moldes do sistema

Multiplex.

4.1.1. Reserva Cultural

Caracterização do estabelecimento

Localizado na Avenida Paulista, centro de São Paulo, a Reserva Cultural vem

se consagrando, no decorrer dos anos, como um dos complexos mais inovadores da

capital paulista. O estabelecimento situa-se no térreo do prédio da Fundação Cásper

Líbero, ocupando o lugar do antigo Cine Gazetinha. O destaque obtido pela Reserva

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Cultural se dá tanto pela exibição de filmes nacionais e internacionais, quanto pela

ideia de reunir diversas atrações em um mesmo ambiente.

Figura 1 - Reserva Cultural no Prédio da Gazeta

Fonte: <http://www.reservacultural.com.br/conceito.asp?id=14>. Acesso em: 20 ago. 2014

Em junho de 2005 a Reserva Cultural inicia suas atividades. Desde o início o

cineasta francês Jean-Thomas Bernardini, dono e idealizador da proposta, buscou

um espaço que, além das exibições cinematográficas, pudesse oferecer outras

formas de entretenimento aos usuários. Bernardini, também proprietário da

distribuidora Imovision – especializada em títulos segmentados –, decidiu investir na

exibição devido ao desinteresse das grandes redes de exibição pelo cinema

independente. De acordo com o cineasta, a proposta é de criar programações

paralelas, como minicursos de cinema, sessões cineclubes, exibições de filmes

inéditos e em horários alternativos, para investir na disseminação do cinema como

arte.

Jean-Thomas idealizou a criação de um espaço voltado para um público de

cinema específico, mas que atendesse a todos os outros, com uma variedade de

atrativos. Dessa forma, além de quatro salas de exibição, existem espaços como o

Café Pain de France, o Reserva Bistrô, a Livraria Lima Barreto e, ainda, um lobby

multimídia, destinado a exibições e exposições diversas (ver Figura 2).

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Figura 2 - Planta baixa Reserva Cultural

Fonte: Elaboração da autora (2014)

Localização

Como mencionado anteriormente, o Reserva Cultural está localizado no

térreo do prédio da Fundação Cásper Líbero. Neste mesmo edifício se encontra, por

exemplo, o Teatro Gazeta, a TV Gazeta, a Gazeta FM e a Faculdade Cásper Líbero.

Por situar-se em um prédio com diversos usos e estar localizado na Avenida

Paulista, o Reserva atende àqueles que trabalham e estudam na região ou estão

apenas de passagem. A localização privilegiada favorece tanto o acesso quanto à

visibilidade do estabelecimento, aumentando assim, seu público.

Proposta projetual e principais ambientes

Atendendo aos anseios do proprietário, Naasson Ferreira Rosa, arquiteto

responsável pelo projeto, buscou desenvolver um ambiente atrativo não apenas para

os usuários amantes do cinema de arte. Deste modo, uma das soluções adotadas

para o projeto buscou a criação de uma fachada transparente voltada para a

Avenida Paulista. Esta solução proporcionou melhoria na qualidade do ambiente

interno e favoreceu o contato com ambiente externo.

O arquiteto trouxe ainda o conceito de um cinema de rua quando dispôs os

ambientes ao longo de um corredor.

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O acesso principal é realizado pela Avenida Paulista, através de uma

escadaria que leva o usuário ao nível em que se localiza a bilheteria. Para os

portadores de necessidades especiais, existe uma plataforma elevatória que conduz

o cadeirante para o nível de acesso à bilheteria. A partir da bilheteria, é necessário

descer uma rampa para ter acesso às instalações da Reserva Cultural, chegando ao

hall principal.

Como ambiente-chave pode-se destacar o hall principal (ver Figura 3). É

através dele que se dá o acesso aos diversos ambientes da Reserva. Além de um

ambiente de conexão, o hall tem importante papel de receber as exposições que

ocorrem frequentemente. TVs exibindo entrevistas, trailers de filmes e making of de

filmes, dão certo dinamismo ao local. O hall abriga também uma bombonière,

voltada para os espectadores e, portanto, limitando seu funcionamento aos mesmos

horários das salas de cinema. Os ambientes, mesmo que interligados, possuem

funcionamento independente.

Figura 3 - Hall principal da Reserva Cultural

Fonte: <http://www.reservacultural.com.br/conceito.asp?id=14>. Acesso em: 20 ago. 2014

O cinema da Reserva tem capacidade para 580 pessoas, distribuídas em

quatro salas stadium: sala 1 (190 pessoas), sala 2 (160 pessoas), sala 3 (120

pessoas) e sala 4 (110 pessoas), além dos assentos destinados aos portadores de

necessidades especiais. Apenas as duas primeiras e maiores salas possuem acesso

direto pelo hall principal. A entrada às salas de exibição se dá sempre pelo fundo da

sala (face oposta à tela) e no nível mais alto, onde se localizam os assentos

reservados aos portadores de necessidades especiais (ver Figura 4).

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Figura 4 - Sala de exibição no modelo stadium

Fonte: <http://www.reservacultural.com.br/conceito.asp?id=14>. Acesso em: 20 ago. 2014

O café, localizado ao lado da rampa de acesso, possui capacidade para

aproximadamente 50 pessoas e se encontra no mesmo nível do hall principal. Como

o café não se restringe ao público do cinema, seu horário de funcionamento

independe deste (ver Figura 5).

Figura 5 - Café Reserva Cultural

Fonte: <http://www.reservacultural.com.br/conceito.asp?id=14>. Acesso em: 20 ago. 2014

O bistrô oferece opções de refeições para almoço e jantar e cumpre sua

função de atrair o público para o cinema. O bistrô está elevado do nível do hall

principal, com o objetivo de ser visível aos transeuntes da Avenida Paulista, se

configurando como um incentivo para novos usuários adentrarem ao espaço (ver

Figura 6). Para que esta visibilidade fosse possível, foi necessário abrir mão da

acessibilidade neste ambiente, uma vez que o acesso só pode ser feito através de

uma escada. Assim como o café, o bistrô também possui capacidade para cerca de

50 pessoas.

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Figura 6 - Bistro em nível elevado com vista para Av. Paulista

Fonte: <http://www.reservacultural.com.br/conceito.asp?id=14>. Acesso em: 20 ago. 2014

Em 2006, foi inaugurada a Livraria Lima Barreto, com foco em produções

relacionadas ao cinema, mas que conta com obras dos mais diversos assuntos em

seu acervo. O espaço é pequeno e separado do hall por divisórias de vidro.

Aspectos complementares

Quanto à prevenção contra incêndios, é possível identificar a existência de

extintores em pontos estratégicos. Já com relação à acessibilidade, percebe-se a

preocupação em adaptar os espaços sempre que necessário. Mesmo que o bistrô

não seja acessível a portadores de necessidades especiais por falta de espaço para

implantação de rampas, existe a preocupação do acesso ao prédio por meio de

plataformas (ver Figura 7), além de assentos reservados para cadeirantes.

Figura 7 - Plataforma elevatória para acesso à edificação

Fonte: <http://www.reservacultural.com.br/conceito.asp?id=14>. Acesso em: 20 ago. 2014

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4.1.2. Espaço Itaú de Cinemas

Caracterização do estabelecimento

Localizado na Rua Augusta, uma das principais vias arteriais da cidade de

São Paulo, o Espaço Itaú de Cinema se destaca por ser uma das últimas

representações de cinema de rua da capital (ver Figura 8).

Figura 8 - Espaço Itaú na Rua Augusta

Fonte: <http://www.metroo.com.br/projects/view/64/5>. Acesso em: 20 ago. 2014

O estabelecimento situa-se no prédio do antigo Cine Majestic, que

posteriormente se transformou em Espaço Unibanco de Cinemas. Após a fusão do

Unibanco com o Banco Itaú, os espaços antes pertencentes ao Unibanco foram

reformados, modernizados e mudaram toda sua identidade visual, se transformando

nos Espaços Itaú de Cinema.

Antes da reforma, tanto o prédio como a Rua Augusta estavam decadentes.

Coube a Adhemar de Oliveira inovar na programação, investindo na exibição de

filmes brasileiros e de muitos outros países. Assim, o espaço se tornou um dos

preferidos pelos amantes do cinema arte, além de contribuir para reestruturação da

vida cultural da região.

Em 2012 o Espaço Itaú de Cinema da Rua Augusta inaugura totalmente

inovado. Os arquitetos Gustavo Cedroni e Martin Corullon, do Metro Arquitetos

Associados, foram os responsáveis pelas modificações realizadas na edificação. Os

arquitetos buscaram transmitir aos usuários o universo do cinema de forma

contemporânea. Os arquitetos buscaram usar a tecnologia em prol de uma

comunicação limpa e moderna. Foi idealizado um espaço voltado para o público

específico do cinema, mas que não deixa de nenhuma maneira atender o público do

cinema entretenimento. Para atrair outros usuários, o espaço conta não apenas com

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salas de exibição, mas também com bombonière, cafeteria e livraria, além de um

espaço de convivência. Existe ainda um anexo, localizado no outro lado da rua, que

conta com mais duas salas de exibição e um café.

Figura 9 - Foyer do cinema

Fonte: <http://www.metroo.com.br/projects/view/64/5>. Acesso em: 20 ago. 2014

Localização

Como dito anteriormente, o Espaço Itaú de Cinema está localizado na Rua

Augusta, uma das principais vias da cidade, ligando o bairro dos Jardins ao Centro

de São Paulo. A Rua Augusta faz parte da vida noturna da cidade de São Paulo,

atraindo, principalmente, o público jovem, como observado no local. Na região é

possível encontrar diversas casas noturnas, bares, restaurantes, entre outros. A boa

localização favorece o acesso e a publicidade do local, atraindo cada vez mais o

público que frequenta a Rua Augusta para outros fins.

Proposta projetual e principais ambientes

Os arquitetos desenvolveram a proposta com o objetivo de tratar o cinema

como espaço público e garantir fluxos claros e desimpedidos. Esse objetivo é

evidenciado, no edifício principal, pela grande abertura de entrada, permitindo o

acesso de qualquer pessoa ao espaço, podendo esta, fazer uso dos espaços de

convivência gratuitamente (ver Figura 10).

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Figura 10 - Planta baixa térreo

Fonte: <http://www.metroo.com.br/projects/view/64/5>. Acesso em: 20 ago. 2014

Outro ponto fortemente perceptível na proposta é a utilização de um layout

altamente contemporâneo, fazendo uso de tecnologia e de materiais mais “limpos”

visualmente.

O espaço possui acesso exclusivamente pela Rua Augusta. O acesso de

portadores de necessidades especiais à edificação é realizado por meio de uma

pequena rampa, localizada em uma das aberturas de entrada. Com relação aos

níveis, todos possuem a mesma cota, com exceção de duas salas de exibição.

O hall se destaca como ambiente-chave no estabelecimento. Todas as

atividades são realizadas a partir dele. O hall tem o papel fundamental de integrar os

demais ambientes do espaço. É no hall que se localizam a bombonière e um café

com espaço de convivência onde os usuários podem interagir entre si, ou apenas

desfrutar das comodidades do local (ver Figura 11 e Figura 12).

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Figura 11 - Bombonnière

Fonte: Karine Lucena (2014)

Figura 12 - Wi-fi zone no hall

Fonte: Karine Lucena (2014)

As salas de exibição do prédio principal tem capacidade total de 563

espectadores, distribuídos em três salas: sala 1 (185 pessoas), sala 2 (208 pessoas)

e sala 3 (170 pessoas). Já o anexo possui capacidade para 116 pessoas,

distribuídas em duas salas: sala 4 (85 pessoas) e sala 5 (31 pessoas). O acesso se

dá sempre pelo fundo da sala (face oposta à tela) e no nível mais alto, onde se

localizam os assentos reservados aos portadores de necessidades especiais.

Abaixo das telas de projeção encontram-se pequenos palcos que podem ser

utilizados para a realização de palestras ou outros eventos, transformando as salas

em auditórios, como se verifica na Figura 13.

O café é um espaço limitado, basicamente, por um balcão, onde os clientes

fazem seus pedidos e se dirigem a uma grande mesa logo à frente. Como apenas

cafés e lanches são servidos, não existem outras mesas no local, o que reforça a

intenção de integração entre os usuários.

A bilheteria está situada imediatamente após a entrada, o que se torna um

ponto desfavorável em dias de maiores públicos, já que a existência de filas pode

atrapalhar o fluxo de acesso ao estabelecimento.

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Figura 13 - Sala de exibição

Fonte: <http://www.metroo.com.br/projects/view/64/5>. Acesso em: 20 ago. 2014

A livraria se localiza ao lado da bilheteria. O espaço possui fechamento em

vidro e conta com obras dos mais variados temas.

Figura 14 - Livraria vista do hall

Fonte: <http://www.metroo.com.br/projects/view/64/5>. Acesso em: 20 ago. 2014

Aspectos complementares

Quanto à prevenção contra incêndios, não foi possível identificar a existência

de extintores ou outros tipos de equipamentos.

Com relação à ambientação e layout do local, observou-se que a utilização de

uma linguagem bastante simplificada e contemporânea. Os cartazes, comuns em

cinemas, foram substituídos por telas que além de mostrar os filmes em cartaz,

exibe seus trailers.

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No local, pôde-se observar a existência de apenas dois bancos e uma grande

mesa com dez lugares, ficando grande parte do público, que aguarda sua sessão,

em pé.

4.1.3. Cinemark Midway Mall

Caracterização do Estabelecimento

A Cinemark é, atualmente, a maior rede de cinemas multiplex do país e do

mundo. Em Natal o complexo de salas de cinema da rede está localizado no

Shopping Midway Mall. O Cinemark possui sete salas de exibição equipadas com

alta tecnologia, atendendo aos requisitos estabelecidos pelo sistema multiplex (ver

Figura 15).

Figura 15 - Cinemark Midway Mall

Fonte: <http://www.midwaymall.com.br/2012/cinemark/>. 21 Ago.2014

Localização

O cinema, como dito anteriormente, situa-se dentro do Shopping Midway Mall,

localizado no bairro de Lagoa Nova, Zona Sul da cidade de Natal. O shopping está

situado no cruzamento das Avenidas Salgado Filho/ Hermes da Fonseca e Bernardo

Vieira, sendo este um dos principais eixos de ligação entre as zonas Sul e Norte da

capital potiguar. Essa localização privilegiada possibilitou o aumento do público,

tendo em vista a facilidade de acesso por usuários de todas as zonas da cidade.

Proposta projetual e principais ambientes

Por se tratar de um cinema dentro de um shopping center, algumas restrições

foram encontradas dadas algumas limitações de espaço. Uma das adaptações

realizadas é a bilheteria afastada do foyer, possibilitando a aglomeração de pessoas

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nas filas sem ocupar áreas destinadas à fila de acesso às salas e da lanchonete. A

bilheteria, por sua vez, é interligada à contagem, ambiente destinado ao

gerenciamento da arrecadação da bilheteria (ver Figura 16).

Figura 16 - Croqui esquemático

Fonte: Elaboração da autora (2014)

O foyer é destinado a receber as filas de acesso à lanchonete e às salas de

exibição. Quando a entrada do usuário é permitida, ele tem acesso ao hall das salas

de exibição, tendo assim, acesso às salas, à lanchonete e aos banheiros.

A saída das salas de exibição é realizada, geralmente, pelas saídas de

emergência das salas, localizadas abaixo das telas de projeção. Estas saídas levam

o usuário diretamente ao estacionamento. Outra opção, menos utilizada, é a saída

pelo próprio hall das salas, sendo guiados por funcionários do cinema.

No hall de acesso às salas existem ainda salas de apoio à manutenção às

salas de exibição. A partir do deste hall também que é feito o acesso às áreas de

serviço como banheiros dos funcionários, vestiários e administração (ver Figura 17).

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Figura 17 - Hall de exibição

Fonte: <http://www.midwaymall.com.br/2012/cinemark/>. 21 Ago.2014

Nos corredores de projeção existem as cabines de projeção que são de uso

restrito aos funcionários e se localizam no segundo e terceiro pavimento.

4.1.4. Considerações Acerca dos Estudos Diretos

A proposta da Reserva Cultural foi importante por se assemelhar ao tema

estudado. Ao oferecer diversas atividades que complementam as exibições

cinematográficas e que funcionam independentes destas o estabelecimento

consegue abranger um público bastante diversificado de modo que, em vários

casos, o usuário se identifica com a proposta e passa a frequentar o local, se

tornando, inclusive, apreciador dos filmes independentes. Os usos oferecidos pela

Reserva se configuram como referências para alguns usos que pretendia implantar

em minha proposta, como café, restaurante, livraria e espaço para exposições.

Tanto a Reserva quanto o Espaço Itaú apostam em um público-alvo para o

cinema, exclusivamente voltado para o “cinema arte”, ou seja, tem seu foco na

exibição de produções cinematográficas independentes. Em minha proposta esse

conceito será aplicado, contudo, além das produções independentes, as produções

do cinema mundial também terão seu espaço.

O Espaço Itaú de Cinema tem a proposta um pouco menor, mas se destaca,

sobretudo, por sua relação direta com a rua, incentivando o acesso do público.

Assim como a Reserva, o Espaço Itaú também possui usos semelhantes aos

pretendidos para minha proposta. Outro ponto a ser rebatido na minha proposta, é a

linguagem limpa e contemporânea do ambiente.

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O Cinemark Midway Mall com sua proposta diferenciada das outras duas

apresentadas, deve ser rebatido no projeto, principalmente, na configuração das

salas de exibição e na relação da lanchonete que atende espectadores tanto no

foyer quanto no hall de exibição. Outro fator de destaque identificado no cinema é a

delimitação de um fluxo bastante definido de entrada e saída para as salas de

exibição.

4.2. ESTUDO INDIRETO

O estudo indireto foi realizado através de informações colhidas em revistas e

sites, sendo analisado, principalmente, os aspectos funcionais e estéticos da

referência projetual.

4.2.1. Cinemateca Nacional do Século XXI

Caracterização do estabelecimento

Localizada ao sul da Cidade do México, a Cinemateca Nacional do Século

XXI é o lar do maior patrimônio cinematográfico da América Latina. O edifício da

Cinemateca faz parte de um projeto maior que inclui o Museu do Cinema e uma

Videoteca Digital. O projeto é assinado pelo escritório mexicano Rojkind Arquitectos

e está em fase de execução, com previsão de conclusão das obras para o final de

2014.

Figura 18 - Vista do foyer externo da Cinemateca

Fonte: <http://architizer.com/projects/cineteca-nacional-siglo-xxi/>. Acesso em: 19 ago. 2014

Figura 19 - Vista a partir do foyer

Fonte: <http://architizer.com/projects/cineteca-nacional-siglo-xxi/>. Acesso em: 19 ago. 2014

De acordo com os arquitetos, para intervir e expandir a Cinemateca Nacional

foi necessária a compreensão das mudanças ocorridas no cinema. Os cinemas

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deixaram de ser um espaço de encontro de massas para estar em qualquer lugar

onde haja espectadores.

Localização

A Cinemateca está inserida dentro de um terreno antes subutilizado e de

dimensões consideráveis no bairro de Xoco, na capital mexicana. O bairro histórico,

antes circundado por terras de cultivo, passa agora por um processo de

espraiamento urbano, tornando áreas como o sítio em que se localiza a Cinemateca

um local bastante privilegiado e cobiçado pelos empreendedores e autoridades

locais.

O bairro onde está localizada possui uma diversidade de usos que permite um

fluxo contínuo de pessoas nas imediações da Cinemateca, contribuindo para

dinâmica do local e visibilidade do estabelecimento. A Cinemateca atende aos que

trabalham e estudam nas proximidades ou estão apenas de passagem.

Figura 20 - Entorno da Cinemateca

Fonte: <http://architizer.com/projects/cineteca-nacional-siglo-xxi/>. Acesso em: 19 ago. 2014

Proposta projetual e principais ambientes

A proposta do projeto é que o edifício não seja só um local onde se encontre

filmes, mas também um ambiente com espaços de entretenimento que desfrutem da

mais alta tecnologia. Em parte, a ideia é mudar o ambiente tradicional de exibição,

fazendo com que parques, cafés e praças, além de suas próprias funções, cumpram

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também o papel de local para a atividade do cinema. Assim, a Cinemateca Nacional

se torna um espaço de conexões físicas e virtuais entre a mídia e seus usuários.

Figura 21 - Convivência interna

Fonte: <http://architizer.com/projects/cineteca-nacional-siglo-xxi/>. Acesso em: 19 ago. 2014

Figura 22 - Foyer e praça pública

Fonte: <http://architizer.com/projects/cineteca-nacional-siglo-xxi/>. Acesso em: 19 ago. 2014

Em resposta à condição urbana atual, parte do terreno foi recuperado e

transformado em espaço público. Inicialmente, o estacionamento foi concebido em

seis pavimentos, liberando cerca de 40% do terreno, que seria ligada à entrada

posterior – de pedestres –, criando um eixo de ligação através da Cinemateca.

Neste eixo, foi idealizada uma praça pública de 80m x 40m, abrigada das

intempéries por uma grande cobertura, sendo esta um elemento de ligação entre o

complexo preexistente e as novas salas de projeção. O novo foyer pode comportar

atividades adicionais, como por exemplo, concertos, teatros, exposições, etc..

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Figura 23 - Planta baixa térreo

Fonte: <http://architizer.com/projects/cineteca-nacional-siglo-xxi/>. Acesso em: 19 ago. 2014

Um anfiteatro destinado a exibições externas e diversos espaços comerciais

foram incorporado ao programa original, aumentando as possibilidades de

interações e trocas culturais e sociais (ver Figura 24). Além disso, um cuidadoso

tratamento paisagístico foi realizado, buscando incorporar a ambiência de um

parque.

Figura 24 - Área de exibição externa

Fonte: <http://architizer.com/projects/cineteca-nacional-siglo-xxi/>. Acesso em: 19 ago. 2014

O programa conta com quatro novas salas de projeção que acomodam 180

espectadores cada e a reformulação das salas existentes. Nas salas internas o

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complexo passa a comportar 2.495 espectadores. O anfiteatro externo possui

capacidade para 750 pessoas.

Figura 25 - Sala de exibição com balcão na plateia

Fonte: <http://architizer.com/projects/cineteca-nacional-siglo-xxi/>. Acesso em: 19 ago. 2014

Figura 26 - Sala de exibição com plateia simples

Fonte: <http://architizer.com/projects/cineteca-nacional-siglo-xxi/>. Acesso em: 19 ago. 2014

Além de um cinema, os frequentadores das imediações da Cinemateca

ganharam um espaço público livre e acolhedor. As novas instalações transformaram

o local em um espaço de encontro não apenas para os espectadores, mas também

para os habitantes de Xoco, trabalhadores e estudantes das imediações que agora

contam com um espaço apropriado de lazer e entretenimento.

4.2.2. Considerações Acerca do Estudo Indireto

A proposta da Cinemateca me atraiu, principalmente, pela forma de tratar a

grande área coberta e suas adjacências como espaço público. Usuários que

frequentam o local pela boa qualidade ambiental ali encontrada. Isto é um ponto

chave a ser rebatido na proposta a desenvolvida.

A exibição externa também é outro ponto que deverá ser tratado na proposta

arquitetônica, uma vez que aumenta a relação dos usuários com o espaço de livre

acesso.

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5. UNIVERSO DE ESTUDO

5.1. LOCALIZAÇÃO E ENTORNO

Para que seja viável a implantação do projeto, tendo em vista a importância

de integração com o entorno e um fácil acesso, o terreno deve ser dotado de

algumas características básicas e suas dimensões devem comportar a instalação de

um equipamento de maior porte. Assim, buscou-se um terreno com facilidade de

acesso pelos mais diversos meios de transporte, abrangendo todos os públicos. A

localização deveria ser a mais central possível para usuários advindos qualquer uma

das quatro zonas da cidade. Além disso, o terreno idealizado deve ainda contar com

uma boa visibilidade, com o intuito de atrair a maior quantidade de público possível,

despertando o interesse dos transeuntes.

Tendo em vista as necessidades supracitadas para a implantação do projeto,

tem-se como proposta um terreno situado às margens da BR-101, nas proximidades

do Centro Administrativo, no bairro de Lagoa Nova- Natal/RN, como mostra a Figura

27.

Figura 27 - Localização do terreno

Fonte: Elaboração da autora (2014)

O terreno é de propriedade da empresa EIT Engenharia S/A e encontra-se

atualmente desocupado. O terreno conta apenas com a instalação de outdoors

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publicitários e, esporadicamente, ocorre a instalação de equipamentos de

entretenimento, como circos e parques de diversões (ver Figura 28).

Figura 28 - Terreno para proposta

Fonte: www.maps.google.com.br (2014)

O acesso pode ser feito apenas através da Av. Gov. Mário Covas (BR-101),

via arterial e um dos principais eixos da cidade.

O uso do solo nas imediações da área de intervenção se configura como

sendo, em sua maioria, residencial, como se pode observar na Figura 29. Ao longo

da BR-101 é possível se observar uma grande presença de estabelecimentos de

serviço.

Figura 29 - Uso de solo nas imediações do terreno

Fonte: PINTO (2013). Adaptado pela autora (2014)

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Nas proximidades do terreno há outros estabelecimentos que podem afetar o

funcionamento do projeto que se pretende implantar. Situado a poucos metros do

terreno, o Departamento de Artes da UFRN poderá afetar seu funcionamento por

comportar uma aparcela do público-alvo: jovens interessados na arte e cultura do

cinema. Em momentos ociosos, como após a aula, espera-se que muitos deles se

dirijam ao complexo para usufruir do cinema e dos demais espaços de convivência.

Com relação ao gabarito do entorno do lote, há predominância de edificações

térreas, com dois ou três pavimentos (ver Figura 30). Ao lado da área há apenas um

edifício com quinze pavimentos que se destaca do entorno, devido ao grande vazio

gerado pelo terreno do Governo do Estado e ao baixo gabarito das edificações

próximas.

Figura 30 - Gabarito nas imediações do lote

Fonte: PINTO (2013). Adaptado pela autora (2014)

5.2. ASPECTOS FÍSICOS

De grandes dimensões, como indicado na Figura 31, o terreno destinado à

intervenção totaliza uma área de 13.276,02 m².

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Figura 31 - Terreno para intervenção

Fonte: Elaboração da autora (2014)

Contudo, a implantação de uma lagoa de captação no terreno pertencente ao

Governo do Estado, localizado imediatamente atrás do terreno de intervenção, exige

a criação de uma Área de Preservação Permanente. De acordo com a Resolução

CONAMA nº 369, de 28 de março de 2006, que dispõe sobre as APP’s urbanas, se

torna necessário uma faixa de 30 m a partir da margem da lagoa, reduzindo cerca

de 25 metros do terreno de intervenção. Desta forma, a área disponível para

intervenção será reduzida de 13.276,02 m² para 10.006,12 m², como ilustra a Figura

32 a seguir.

Figura 32 - Terreno para proposta com APP de lagoa de captação

Fonte: Elaboração da autora (2014)

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De acordo com a análise topográfica do terreno, pode-se observar a

existência de uma diferença de nível de até quatro metros na maior parte do lote,

que visivelmente é bastante sutil, dadas suas grandes dimensões. Na Figura 33 e

Figura 34 ficam evidenciados esses desníveis, com o limite posterior do terreno -

voltado para o centro administrativo -, e parte da testada sul, apresentando a menor

cota de nível.

Figura 33 - Topografia do terreno para intervenção

Fonte: Elaboração da autora (2014)

Figura 34 - Perfil do terreno de intervenção

Fonte: Elaboração da autora (2014)

5.3. ASPECTOS BIOCLIMÁTICOS E DE CONFORTO

AMBIENTAL

Segundo Souza (2007), a Arquitetura Bioclimática é o estudo que busca a

harmonização das construções ao clima e características locais. Manipula o

desenho e elementos arquitetônicos a fim de otimizar as relações entre homem e

natureza, tanto no que diz respeito à redução de impactos ambientais quanto à

melhoria das condições de vida humana, conforto e racionalização do consumo

energético.

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Quando a orientação da edificação toma o máximo proveito da incidência

solar e da ventilação predominante, diversos benefícios para a eficiência energética

e, principalmente, para o conforto e saúde de seus usuários podem ser observados.

Na Figura 35 pode-se observar a incidência solar nas faces do terreno ao

longo do ano, através das cartas solares.

Figura 35 - Esquema de insolação no terreno

Fonte: Elaboração da autora (2014)

Quanto à insolação, para clima quente e úmido, o indicado é que as menores

fachadas estejam voltadas nas direções leste e oeste. Caso isso não seja possível,

é indicado a utilização de elementos que amenizem a incidência solar nestas

fachadas.

Com relação à ventilação predominante na cidade, tem-se os ventos

provenientes vindos da direção sudeste, como pode-se observar na Figura 36.

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Figura 36 - Incidência de ventos no terreno

Fonte: Elaboração da autora (2014)

Para obtenção de maior conforto para os usuários, é indicado que os

ambientes de grande permanência estejam livres da incidência solar e dos ruídos de

tráfego e aproveitem da melhor maneira a ventilação natural.

De acordo com estudos sobre acústica urbana, realizados na área de

intervenção, pode-se notar que o terreno é atingindo um nível de ruído que varia de

81dB(A) a 66dB(A). Este ruído é proveniente do intenso tráfego de veículos na BR-

101 e possui tendência ao agravamento, como mostra a Figura 37.

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Figura 37 - Mapeamento acústico para os anos de 2012 e 2017

Fonte: PINTO (2013). Adaptado pela autora (2014)

O ruído é proveniente do tráfego é altamente prejudicial ao usuário quando

exposto por um longo período. Além disso, é totalmente indesejado para

equipamentos como cinemas. Tendo em vista isso, já é possível perceber que

haverá necessidade de soluções projetuais que minimizem a ruído proveniente das

vias.

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6. CONDICIONANTES LEGAIS

6.1. PLANO DIRETOR DE NATAL (2007)

O terreno escolhido para a intervenção localiza-se no bairro de Lagoa Nova,

sendo tratado pelo Plano Diretor de Natal como Zona Adensável. O Plano Diretor da

Cidade do Natal define Zona Adensável como sendo aquela onde as condições do

meio físico, a disponibilidade de infraestrutura e a necessidade de diversificação de

uso, possibilitem um adensamento maior do que aquele correspondente aos

parâmetros básicos de coeficiente de aproveitamento. Sendo assim, tem-se para o

bairro de Lagoa Nova um coeficiente máximo de aproveitamento de 3,0.

O Plano Diretor define, ainda, taxa de impermeabilização como sendo o

índice que se obtém, dividindo a área que não permite a infiltração de água pluvial

pela área total do lote, não podendo esta, exceder o valor de 80%. Através da

divisão entre a área correspondente à projeção horizontal da construção e a área

total do lote, se obtém a taxa de ocupação máxima permitida, não podendo este

valor ultrapassar 80%.

Os recuos para as Zonas Adensáveis devem obedecer os valores

estabelecidos na lei, de acordo com o Quadro 2 abaixo.

Quadro 2 - Recuos exigidos pelo Plano Diretor de Natal

Fonte: Plano Diretor de Natal (2007)

Tendo exposto isso, é possível aplicar as prescrições urbanísticas no terreno

da intervenção.

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A área total do terreno é de 13.276,02 m², contudo, aplicando-se a margem

de trinta metros a partir da margem da lagoa de captação, decorrente da APP, resta

uma área de intervenção com o total de 10.006,12 m². A partir disso, tem-se:

O coeficiente de aproveitamento de 3,0 permite a construção de 30.018,36 m² no

lote;

A taxa de impermeabilização máxima de 80% permite contar com uma área

impermeável de 8.004,90 m²;

Os recuos estarão condicionados à altura da edificação e seguirão os parâmetros

supracitados.

6.2. CÓDIGO DE OBRAS DE NATAL (2004)

No Título III (Normas Específicas das Edificações) do Código de Obras e

Edificações do Município de Natal são instituídas as diretrizes gerais para a

construção de edificações no município de Natal.

Todo projeto deve prever áreas destinadas ao estacionamento ou à guarda de

veículos e, nos casos de edificações destinadas ao uso comercial ou industrial, além

de áreas de estacionamento devem destinar áreas para carga e descarga. A entrada

e saída de veículos devem ser projetadas para não criar ou agravar problema de

tráfego na via de acesso. De acordo com o Art. 113 desta Lei, nos estacionamentos

em níveis rebaixados, destinados a veículos de passeio e utilitários de pequeno

porte, as rampas de acesso devem possuir inclinação máxima de 20% e altura

mínima entre o piso e qualquer obstáculo de 2,20 metros. A quantidade de vagas,

necessária para cada empreendimento, é variável em função da hierarquização das

vias e natureza do uso, estabelecidas nos Anexos I e III desta Lei. Nos locais de uso

coletivo, sejam estes públicos ou privados, devem ser reservadas vagas para

Portadores de Necessidades Especiais (PNE), conforme estabelecido pela NBR

específica, com sinalização, rebaixamento de guias e localização adequada.

Toda calçada deve possuir faixa de, no mínimo, um metro e vinte centímetros

(1,20m) de largura, para circulação de pedestres, com piso contínuo sem ressaltes

ou depressões, antiderrapante, tátil, indicando limites e barreiras físicas.

Toda edificação deve ser projetada de acordo com a orientação dos pontos

cardeais, atendendo, sempre que possível, aos critérios mais favoráveis de

ventilação, iluminação e insolação.

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Todos os logradouros públicos e edificações públicas ou privadas de uso

coletivo devem garantir o acesso, circulação e utilização por pessoas portadoras de

necessidades especiais ou com mobilidade reduzida, atendendo as conformidades

da NBR específica. Em locais destinados a reuniões ou aglomerações deve-se

reservar assentos para portadores de necessidades especiais, conforme

recomendado pela ABNT.

De acordo com o Anexo I – Sistema Viário Principal, a BR – 101 se classifica

como sendo uma via Estrutural – Arterial I de penetração.

6.3. CÓDIGO DE SEGURANÇA E PREVENÇÃO CONTRA

INCÊNDIO E PÂNICO DO ESTADO DO RN (CORPO DE

BOMBEIROS MILITAR DO RN)

O Código de Segurança e Prevenção Contra Incêndio e Pânico do Estado do

RN estabelece critérios básicos indispensáveis à segurança contra incêndio em

edificações em todo o estado. O código busca garantir os meios necessários ao

combate a incêndio, de modo a evitar ou minimizar a propagação do fogo, facilitar

ações de socorro e garantir a evacuação segura dos ocupantes das edificações.

As exigências do Corpo de Bombeiros Militar do RN variam de acordo com o

uso da edificação. A presente proposta de projeto se enquadra na classificação de

“Reunião Pública”, definida na norma como sendo edificações destinadas a

exposição, teatros, cinemas, auditórios, colégios, centros de cursos diversos, salas

de reunião, “boites”, salões de festa, bailes, casas noturnas e similares.

As edificações classificadas como ocupação de “Reunião Pública” devem

atender às seguintes exigências:

Os espetáculos deverão ter a presença de pessoal habilitado nas técnicas de

prevenção e combate a incêndio e controle de pânico, devidamente reconhecido

pelo Corpo de Bombeiros Militar;

Deverá dispor de sistema de iluminação de emergência;

As portas de saída de emergência deverão ter abertura no sentido da saída e

destravamento por barra anti-pânico;

Ambientes com mais de 100 lugares, além das aberturas normais de entrada,

deverão dispor de saídas de emergência com largura mínima de dois metros e

vinte centímetros (2,20m), acrescendo-se uma unidade de passagem (cinquenta

e cinco centímetros) para excedente de 100 pessoas;

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Nos cinemas, auditórios e demais locais onde as cadeiras estejam dispostas em

fileiras e colunas, os assentos obedecerão aos seguintes requisitos:

a) Distância mínima de 90 cm de encosto a encosto;

b) Número máximo de 15 assentos por fila e de 20 assentos por coluna;

c) Distância mínima de 1,20 m entre séries de assentos.

É obrigatória a utilização de guarda-corpo nas sacadas, rampas e escadas, em

material resistente, evitando-se quedas acidentais.

6.4. NBR 9050 - ACESSIBILIDADE A EDIFICAÇÕES,

MOBILIÁRIO, ESPAÇOS E EQUIPAMENTOS URBANOS

Esta norma estabelece critérios e parâmetros técnicos a serem observados

quando do projeto, construção, instalação e adaptação de edificações, mobiliário,

espaços e equipamentos urbanos às condições de acessibilidade.

De acordo com a norma, a sinalização tátil de alerta deve ser instalada

perpendicularmente ao sentido de deslocamento nas seguintes situações:

obstáculos suspensos (entre 0,60 m e 2,10 m de altura), nos rebaixamentos de

calçadas, no início e término de escadas fixas, escadas rolantes, rampas, junto às

portas dos elevadores e junto a desníveis como plataformas de embarques e palcos.

A sinalização tátil direcional deve ter textura com seção trapezoidal, ser

instalada no sentido do deslocamento, ter largura entre 20 cm e 60 cm e ser

cromodiferenciada em relação ao piso adjacente. Quando o piso adjacente possuir

textura, recomenda-se que a sinalização tátil direcional seja lisa.

A inclinação das rampas deve ser calculada segundo a seguinte equação:

𝑖 =ℎ 𝑥 100

c

Onde:

i é a inclinação, em porcentagem;

h é a altura do desnível;

c é o comprimento da projeção horizontal.

As rampas devem ter inclinação máxima de 8,33%. Para inclinação entre

6,25% e 8,33% devem ser previstas áreas de descanso nos patamares, a cada 50 m

de percurso.

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A largura das rampas (L) deve ser estabelecida em decorrência do fluxo de

pessoas. A largura livre mínima recomendável para as rampas em rotas acessíveis é

de 1,50 m, sendo o mínimo admissível 1,20 m, como ilustra a Figura 38.

Figura 38 - Exemplo de largura de rampas

Fonte: NBR 9050 (2004)

Os corrimãos devem ser instalados em ambos os lados dos degraus isolados,

das escadas fixas e das rampas, possuindo largura mínima entre 3,0 cm e 4,5 cm,

sem arestas vivas. Além disso, deve ser deixado espaço livre de no mínimo 4,0 cm

entre a parede e o corrimão, de modo a permitir boa empunhadura e deslizamento.

Os corredores de uso público devem ter largura mínima de 1,50 m. Em locais

onde exista grande fluxo de pessoas, a largura do corredor deverá ser maior que

1,50 m.

As portas, inclusive de elevadores, devem ter um vão livre mínimo de 0,80 m

e altura mínima de 2,10 m. Em portas de duas folhas ou mais, pelo menos uma

delas deve ter o vão livre de 0,80 m. As portas de sanitários, vestiários e quartos

acessíveis em locais de hospedagem e de saúde devem ter um puxador horizontal

associado à maçaneta.

As janelas devem considerar os limites de alcance visual que, para usuários

em cadeiras de rodas, variam de 1,10 m a 1,20 m, excetuando-se locais onde

prevaleça a segurança e privacidade.

As calçadas, passeios e vias exclusivas para pedestres devem incorporar

faixa livre com largura mínima recomendável de 1,50 m, sendo o mínimo admissível

de 1,20 m, com altura livre mínima de 2,10 m. As calçadas devem ser rebaixadas

junto às travessias de pedestres sinalizadas com ou sem faixa.

As vagas para estacionamento de veículos que conduzam ou sejam

conduzidos por pessoas portadoras de necessidades especiais devem:

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Ter sinalização horizontal;

Contar com um espaço adicional de circulação com no mínimo 1,20m de largura,

podendo ser compartilhado por duas vagas, conforme Figura 39;

Figura 39 - Espaço de circulação compartilhado por duas vagas

Fonte: NBR 9050 (2004)

Quando afastadas da faixa de travessia de pedestres, conter espaço adicional

para circulação de cadeira de rodas e estar associadas à rampa de acesso à

calçada;

Estar vinculada a rota acessível que a interligue aos polos de atração;

Estar localizada de forma a evitar a circulação entre veículos.

O número de vagas de estacionamento destinadas aos veículos que

conduzam ou sejam conduzidos por portadores de necessidades especiais deve

estar de acordo com o Quadro 3.

Quadro 3 - Vagas reservadas para portadores de necessidades especiais

Fonte: NBR 9050 (2004)

Os sanitários e vestiários acessíveis devem localizar-se em rotas acessíveis,

próximos à circulação principal e, preferencialmente, próximos ou integrados às

demais instalações sanitárias. De acordo com a norma deve haver área de

transferência adequada para acesso às bacias sanitárias e chuveiros, com auxílio de

barras de apoio. Para o lavatório, deve ser prevista uma área de aproximação

adequada.

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Em locais de reunião, como é o caso de cinemas, os assentos destinados às

pessoas portadoras de necessidades especiais devem estar localizados em uma

rota acessível vinculada a uma rota de fuga, além de garantir a segurança, o

conforto e boa visibilidade. Segundo a norma, a quantidade de assentos deve estar

de acordo com o Quadro 4.

Quadro 4 - Quantidade de assentos destinados a pessoas em cadeira de rodas

Fonte: NBR 9050 (2004)

6.5. NBR 12237 (NB 1186) - PROJETOS E INSTALAÇÕES DE

SALAS DE PROJEÇÃO CINEMATOGRÁFICA

Esta norma estabelece padrões técnicos para a execução de cálculos,

projetos e instalações para o funcionamento de sala de projeção cinematográfica e

seus equipamentos, visando atingir um nível de qualidade de projeção de imagem,

reprodução de som e conforto para o espectador.

A face anterior do encosto da poltrona mais próxima à tela (ver Figura 40)

deve se localizar a uma distância mínima (Dmín) igual a 60% da largura (L) da tela

(Dmín = 0,6xL), sendo que o ângulo de visão do espectador mais próximo à tela (ver

Figura 41) não deve ser superior a:

α = 40º em relação a um plano horizontal que passe pela borda superior da tela;

β = 30º em relação a um plano horizontal que passe pelo centro da tela.

A face anterior do encosto da poltrona mais afastada da tela deve estar

localizada a uma distância máxima (Dmáx) igual a 2,9 vezes a largura (L) da tela, ou

seja, Dmáx = 2,9L (ver Figura 40).

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Figura 40 - Área de instalação de poltronas

Fonte: NBR 12237 (1988)

Figura 41 - Visuais dos espectadores

Fonte: NBR 12237 (1988)

Para garantir a boa visibilidade, deve-se ainda, dispor as poltronas em

quincunce, ou seja, quando um grupo de cinco poltronas quatro formam um

retângulo, ficando uma no centro, como mostra a Figura 42.

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Figura 42 - Disposição de poltronas em salas de exibição

Fonte: NBR 12237 (1988)

O espaçamento entre as poltronas, medido da face anterior de um

determinado encosto até a face anterior do encosto imediatamente à frente (ou

atrás), não deve ser inferior a 1,00 m (ver Figura 43).

Figura 43 - Espaçamento entre poltronas

Fonte: NBR 12237 (1988)

A borda do feixe de projeção deve se situar a uma altura mínima de 1,90 m

acima do plano de implantação das poltronas e de circulação do público.

Nas salas de projeção os níveis de ruídos ambientais devem ser abaixo de

40dB (A), NC 30. O nível sonoro deve ser garantido de 80 dB a 85 dB SPL (C).

Para auditórios, teatros, cinemas, etc., devem ser examinadas as plantas e

cortes do recinto e, levando-se em consideração os materiais a serem empregados,

é realizado o estudo geométrico-acústico, considerando-se uma ou mais fontes

sonoras, previamente localizadas.

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7. DESENVOLVIMENTO DA PROPOSTA ARQUITETÔNICA

7.1. METODOLOGIA PROJETUAL

O desenvolvimento de um projeto de arquitetura se dá em etapas, passando

desde a compreensão do problema até o desenvolvimento de soluções adequadas.

Assim sendo, a presente proposta foi desenvolvida de acordo com a metodologia

projetual proposta por Elvan Silva (2006).

Em seu livro Uma introdução ao projeto arquitetônico, Elvan Silva (2006)

afirma que o processo projetual consiste em uma progressão, ou seja, parte de um

contexto considerado problemático e evolui em direção a uma proposta considerada

como solução. Este processo varia de pessoa para pessoa, uma vez que é um

fenômeno de natureza nitidamente psicológica.

Segundo o autor, a elaboração de um projeto de arquitetura passa pela

elaboração de um programa de necessidades, sendo este interpretado através de

fluxogramas de relações entre os ambientes do programa. Para ele, a definição do

partido arquitetônico é parte imprescindível na elaboração de uma projeto de

arquitetura, sendo conceituado como o resultado formal da manipulação inicial do

programa e dos condicionantes de identificação imediata.

No que concerne ao conteúdo, de acordo com o autor, o anteprojeto deverá

conter informações que abrangem os seguintes aspetos:

Definição volumétrica;

Zoneamento;

Dimensionamento;

Configuração das aberturas;

Solução plástica;

Relação com o entorno;

Acessos

Perspectivas e/ou maquetes;

Memorial descritivo e justificativo.

A partir da metodologia de Elvan Silva foi desenvolvido o anteprojeto do

complexo de cinema seguindo os principais aspectos abordados na metodologia

como mostram os tópicos a seguir.

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7.2. PROGRAMA DE NECESSIDADES E PRÉ-

DIMENSIONAMENTO

A elaboração do programa de necessidades foi realizada a partir dos dados

obtidos com os estudos de referência e leituras complementares. Buscou-se atender

os interesses de um público diversificado, de maneira harmônica e funcional.

Inicialmente as atividades foram agrupadas em setores. Assim, as atividades

foram distribuídas em quatro setores: público, exibição, serviços e administrativo. Os

setores de serviço e administração se fazem necessários em equipamentos deste

porte, sendo estes os responsáveis, respectivamente, pela manutenção e gestão da

edificação.

O setor público busca oferecer opções aos usuários do cinema que buscam

algo mais que uma produção cinematográfica. Neste setor algumas atividades

realizadas seriam inteiramente gratuitas, como é o caso da exibição de filmes na

área externa, a área de exposição, etc.. Este setor tem o enfoque no cinema como

cultura, favorecendo ao público do cinema arte e cineclubes. As salas multiuso

buscam atender as atividades realizadas por cineclubes, como exibições e reuniões.

O setor de exibição se comporta de forma um pouco mais restritiva, sendo o

acesso permitido somente mediante aquisição de bilhete para uma exibição. O foco

deste setor é a exibição de produções cinematográficas comerciais, podendo

ocasionalmente, serem exibidas películas com enfoques mais culturais.

No Quadro 5 se encontram os ambientes, separados por setores, com as

áreas previstas no pré-dimensionamento e as áreas definitivas que constam na

proposta arquitetônica. O dimensionamento foi realizado com base nos estudos de

referência realizados e em pesquisas bibliográficas.

Quadro 5 - Programa de necessidades e pré-dimensionamento

SETOR AMBIENTE QUANTIDADE ÁREA PREVISTA

(m²) ÁREA FINAL

(m²)

USO PÚBLICO

ÁREA DE EXPOSIÇÃO 1 100 446,13

EXIBIÇÃO EXTERNA 1 500 403,18

BILHETERIA 1 25 17,89

CAFÉ 1 100 101,76

LIVRARIA 1 40 41,21

DEPÓSITO 2 50 70,4

FILMOTECA 1 40 40,62

SALAS MULTIUSO 2 60 78

WC'S 2 40 52,07

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ÁREA SETOR 955 1251,26

EXIBIÇÃO

SALAS DE EXIBIÇÃO 5 800 1.010,52

BOMBONNIÈRE 1 30 31,64

FOYER 1 150 254,8

WC'S 2 40 41,1

ÁREA SETOR 1020 1.338,06

SERVIÇO

CABINES DE PROJEÇÃO 5 100 130,4

DEPÓSITOS EQUIPAMENTOS 1 10 13

DESCANSO FUNCIONÁRIOS 1 12 17,89

ARMAZENAGEM 1 7 9,76

DEPÓSITO 1 8 10,67

VESTIÁRIOS FUNC. 2 40 43

REFEITÓRIO 1 30 41,88

COZINHA 1 30 41,86

HALL SERVIÇO 1 50 63,84

ÁREA SETOR 287 372,3

ADMINISTRATIVO

GERÊNCIA 1 15 18,54

ADMINISTRAÇÃO 1 15 18,54

CONTAGEM 1 12 16,52

ÁREA SETOR 42 53,6

ÁREA TOTAL 2304 3.015,22

Fonte: Elaboração da autora (2014)

Na Figura 44 estão esquematizadas as relações entre os ambientes que

compõe o complexo de cinema, forma a melhorar a compreensão e facilitar a

espacialização da proposta.

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Figura 44 - Fluxograma de relações entre os ambientes

Fonte: Elaboração da autora (2014)

7.3. DEFINIÇÃO DE PARTIDO ARQUITETÔNICO

Desde o início, o partido arquitetônico foi condicionado ao conforto dos

usuários. A ideia central da proposta sempre buscou tomar partido da ventilação e

iluminação natural, de modo a reduzir ao máximo o uso de condicionadores de ar.

Deste modo, a partir dos estudos da ventilação e insolação incidentes no

terreno, optou-se por duas grandes empenas, sendo uma delas o mais vazada

possível e a outra, uma empena totalmente cega (ver Figura 45). As duas empenas

possuem uma angulação entre si que geram uma abertura direcionada à via, com

intuito de induzir o transeunte a adentrar na edificação.

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Figura 45 - Esquema de definição de partido

Fonte: Elaboração da autora (2014)

A empena vazada está disposta perpendicularmente à maior faixa de

incidência de ventilação, de modo que, ao longo de toda desta, seja possível a

permeabilidade da ventilação e iluminação natural. Já a empena cega tem como

papel minimizar a incidência solar na área de convivência da edificação (ver Figura

46).

Figura 46 - Esquema de permeabilidade da ventilação e proteção solar

Fonte: Elaboração da autora (2014)

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7.4. ZONEAMENTO

O zoneamento da edificação foi norteado pelos estudos de ventilação,

insolação e ruídos incidentes no terreno da proposta.

Como se pode observar na Figura 47, a testada do terreno é área mais

prejudicada pelo ruído de tráfego, contudo, é a mais beneficiada com tocante à

ventilação natural, como ilustra a Figura 48.

Figura 47 - Níveis de ruído incidente

Fonte: Elaboração da autora (2014)

Figura 48 - Indicação de ventilação predominante

Fonte: Elaboração da autora (2014)

A partir desses condicionantes foi possível chegar ao zoneamento ilustrado

na Figura 49.

Figura 49 - Zoneamento por setores

Fonte: Elaboração da autora (2014)

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A edificação foi posicionada na porção mais a sudoeste do terreno, uma vez

que nesta área há uma menor incidência do ruído de tráfego, tendo como limitante a

APP da lagoa de captação. Além disso, é o ponto com melhor visibilidade para a

edificação a partir da BR-101, no sentido Centro-Zona Sul, por onde se dá o acesso

ao equipamento. A área que recebe maior ruído foi destinada ao estacionamento,

uma vez que não se trata de uma área de permanência.

O setor público foi localizado mais a sudeste, tendo em vista que este setor

concentra atividades de convivência e que podem ser beneficiadas pela ventilação e

iluminação natural.

Os setores de serviço e de exibição foram posicionados de modo a se

tornarem barreiras à incidência solar na área de convivência, sem grandes prejuízos

para estes setores, uma vez que no setor de serviço não são realizadas atividades

de grande permanência. Já o setor de exibição não deverá ter aberturas e deve

fazer uso de condicionamento de ar, além de receber protetores na fachada onde

ocorre maior incidência solar.

Ao longo de toda a parte posterior do terreno existe uma APP com cerca de

30m de largura, decorrente da criação de uma lagoa de captação no terreno

adjacente ao da proposta. Como não existia possibilidade de implantação de algum

equipamento fixo, esta área foi destinada à criação de uma barreira acústica

composta por vegetação densa.

7.5. EVOLUÇÃO DA PROPOSTA

Ao longo do desenvolvimento da proposta, buscou-se ao máximo manter a

zoneamento realizado previamente.

Como dito anteriormente, a ideia central da proposta buscou tomar partido da

ventilação e iluminação natural, de modo a proporcionar aos usuários maior conforto

ambiental. Deste modo, a primeira proposta tem como destaque, a criação de

empenas vazadas – com uso de cobogós – na fachada sudeste, promovendo a

penetração de ventilação e iluminação na edificação. Uma empena maior foi

disposta na fachada noroeste, sendo esta totalmente cega, com função de minimizar

a incidência solar no interior da edificação.

Inicialmente, se pensou em um setor de exibição com cinco salas de exibição,

sendo duas delas menores que as demais, que seriam destinadas à atender as

atividades de cineclubes (ver Figura 50).

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Figura 50 - Planta baixa zoneada da proposta 01

Fonte: Elaboração da autora (2014)

Nesta proposta átrios descobertos foram idealizados para permitir a

ventilação cruzada.

Inicialmente, a bilheteria foi locada na área de exposição, entrada da

edificação e local de grande fluxo.

Esta primeira proposta possui a setorização bem definida e um jogo de

volumes simplificado, como se pode observar na Figura 51.

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Figura 51 - Estudo volumétrico zoneado 01

Fonte: Elaboração da autora (2014)

LEGENDA SETORES

PÚBLICO

SERVIÇO

ADMINISTRATIVO

EXIBIÇÃO

A primeira alteração realizada na segunda proposta foi o alinhamento da

empena voltada para noroeste com o volume das salas de exibição (ver Figura 53).

Este alinhamento buscou maximizar a proteção solar.

Figura 52 - Planta baixa zoneada da proposta 02

Fonte: Elaboração da autora (2014)

Foram eliminados os átrios internos à edificação, tendo em vista o clima

quente e úmido da cidade de Natal/RN, onde há necessidade de espaços de

convivência que possuam o máximo de sombreamento. Além da questão de

conforto, a eliminação destes átrios buscou promover uma melhor integração dos

setores.

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Nesta proposta, a bilheteria foi relocada para o limite oposto à entrada da

edificação, criando um local reservado para e sem impedimento de fluxo por

possíveis filas. Além disso, esta localização foi pensada para que o usuário das

salas de exibição obrigatoriamente adentrasse à edificação, aumentando as chances

de utilização de outros espaços.

A proposta 02 apresenta cinco salas de exibição, todas com o mesmo

tamanho e as salas destinadas a atividades cineclubistas, são alocadas próximo à

entrada da edificação.

Outra alteração nesse estudo é a mudança de local do setor administrativo,

se tornando um setor de intermédio entre o setor de serviço e os demais.

Os banheiros foram trazidos para as proximidades da área de exposição, de

modo que pudesse atender os usuários do setor de serviço.

Para dar um “arremate” nas empenas, foi criado um volume na parte posterior

da edificação, abrigando o setor de serviços. Este volume possui linhas ortogonais,

contrapondo as linhas inclinadas das empenas (ver Figura 53).

Figura 53 - Estudo volumétrico zoneado 02

Fonte: Elaboração da autora (2014)

LEGENDA SETORES

PÚBLICO

SERVIÇO

ADMINISTRATIVO

EXIBIÇÃO

A terceira proposta apresenta a conformação final da planta baixa.

A proposta passa a apresentar quatro grandes salas de exibição, conectadas

por um grande hall. O norteador da disposição dos ambientes nesta proposta foi a

criação de um fluxo definido e exclusivo para os usuários das salas de exibição, uma

vez que este entra na edificação pela área de exposição, se dirige até a bilheteria,

em seguida tem acesso às salas e após o término da sessão, é direcionado à saída

através da área de exposição.

O setor de serviço apresenta um hall central, no qual estão dispostas todas as

atividades deste setor (ver Figura 54).

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79

Figura 54 - Planta baixa zoneada da proposta 03

.

Fonte: Elaboração da autora (2014)

Na terceira proposta ocorrem mudanças mais significativas, principalmente no

que se refere à volumetria. A menor e mais externa empena é eliminada e o

elemento vazado é incorporado ao bloco. Este bloco saca da empena vazada, com

linhas ortogonais, fazendo a transição entre a empena inclinada e os volumes

adicionados. Neste bloco menor estão situados ambientes como o café, a livraria e a

filmoteca. Outro volume é incorporado à edificação. Desta vez, acima do bloco

menor para criar um jogo de volumes e fazer o arremate das empenas. Além disso,

esse volume permite a ventilação cruzada, uma vez que possui aberturas zenitais na

área do foyer, como ilustra a Figura 55.

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Figura 55 - Aberturas zenitais na área do foyer

Fonte: Elaboração da autora (2014)

O elemento desta proposta deixa de ser o cobogó e passa a ser uma

estrutura vazada modular metálica combinada com uma tela de aço inoxidável, se

comportando como uma segunda pele. Deste modo, por ser independente da

estrutura, pode ser aplicada em toda a face da empena, permitindo uma

uniformidade na fachada (ver Figura 56).

Figura 56 - Estudo volumétrico zoneado 03

Fonte: Elaboração da autora (2014)

LEGENDA SETORES

PÚBLICO

SERVIÇO

ADMINISTRATIVO

EXIBIÇÃO

A proposta final é bastante próxima à proposta anterior, possuindo apenas

alguns acréscimos. Um letreiro com o nome do complexo em concreto armado foi

posicionado acima do bloco menor. Outra modificação foi a incorporação de um

jardim vertical na fachada nordeste, criando um ponto de integração com a barreira

acústica inserida na APP.

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Figura 57 - Estudo volumétrico zoneado final

Fonte: Elaboração da autora (2014)

LEGENDA SETORES

PÚBLICO

SERVIÇO

ADMINISTRATIVO

EXIBIÇÃO

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8. MEMORIAL DESCRITIVO E JUSTIFICATIVO

O Cine 84: Complexo de Cinema está localizado no bairro de Lagoa Nova,

Zona Adensável, de acordo com o Plano Diretor de Natal. Nas imediações do

terreno há predomínio de uso residencial e de serviços. O terreno para o

desenvolvimento da proposta foi selecionado por sua privilegiada localização na

cidade, favorecendo a visibilidade do equipamento, e seu fácil acesso por qualquer

meio de transporte. O complexo se configura como um espaço para os amantes da

sétima arte, seja por cultura, lazer ou entretenimento. O local conta, além das salas

de exibição, com café, livraria, área de exposição, filmoteca, salas multiuso e, ainda,

área de exibição externa.

O terreno onde se situa o prédio possui 13.276,02m² e seu único acesso se

dá através da BR-101. O projeto conta com área construída de 3.313,84m². A taxa

de ocupação é 25%, o coeficiente de aproveitamento é de 0,33 e a taxa de

permeabilidade é de 49,8%.

O complexo é formado por uma única edificação com diferentes níveis de

piso, estando o acesso elevado em relação ao nível da calçada 90cm. Assim, o

acesso à edificação e aos demais níveis é realizado por meio de escadas ou rampas

acessíveis.

Nas fachadas existem duas empenas inclinadas, uma vazada e outra cega,

que quebram a ortogonalidade do volume total da edificação. A fachada sudeste

busca ser totalmente permeável, sendo sua vedação feita por elemento vazado

metálico, favorecendo a permeabilidade da ventilação. Já na fachada nordeste,

existe um jardim vertical com tecnologia Green Wall, com intuito de integrar mais a

edificação à área vegetada da barreira acústica criada na APP, na parte posterior do

lote. Na fachada noroeste, como há maior incidência solar durante o período da

tarde, foi criada uma segunda pela com uma tela metálica em aço inoxidável.

A edificação possui três estacionamentos, sendo um destinado aos usuários

na área externa da edificação, que conta com 77 vagas, sendo 02 delas destinadas

a portadores de necessidades especiais. O outro estacionamento para os usuários

está localizado no subsolo e conta com 86 vagas de veículos e 10 para motocicletas.

O terceiro e último estacionamento é destinado aos funcionários e para carga e

descarga, contando com 16 vagas.

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O acesso à edificação é realizado através da área de exposição e a existência

de um fluxo bem definido faz o usuário que, inicialmente, iria apenas assistir um

filme, percorrer toda a edificação, passando por outros ambientes. Assim, as

chances do usuário realizar outra atividade além de assistir filmes aumentam

consideravelmente, como ilustra a Figura 58. O acesso do subsolo à edificação é

realizado por uma circulação vertical que também chega à área de exposição.

Figura 58 - Esquema de fluxo

Fonte: Elaboração da autora (2014)

8.1. SETOR PÚBLICO

Este setor comporta a maior variação de atividades do programa, todas elas

com livre acesso. Neste setor estão espaços como livraria, filmoteca, área de

exibição externa, área de exposição, café, salas multiuso e o foyer.

As salas multifuncionais têm finalidade de atender o público adepto do

cineclubismo, seja com exibições cinematográfica, discussões ou simples reuniões.

São duas salas separadas por um painel retrátil, com possibilidade de integração

entre as duas e ampliação do espaço, quando necessário.

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A área de exibição externa é destinada a todos os públicos e seu

funcionamento depende das condições meteorológicas e seu uso se restringe a

exibições noturnas.

O café, livraria, filmoteca e salas multiuso possuem funcionamento

independente das salas de exibição, permitindo a utilização destes espaços durante

todo o dia.

8.2. SETOR DE EXIBIÇÃO

O setor de exibição é composto por 4 salas de exibição, foyer, bombonnière e

banheiros.

O foyer é um grande espaço de integração entre os setores. A partir dele é

possível chegar aos outros três setores facilmente.

As salas de exibição nos moldes dos cinemas multiplex, ou seja, com uso de

tecnologia digital de som e imagem. A tela possui dimensão de 12x5m, com a

proporção 2,35:1. Cada uma das salas possui capacidade para 170 espectadores,

totalizando 680 espectadores. O acesso à plateia se dá de forma ascendente,

estando os assentos destinados aos portadores de necessidades especiais na

primeira fileira. Todas as salas possuem tratamento acústico para melhorar a

experiência da exibição.

A bombonnière está localizada de modo a atender usuários desde o foyer até

os que já se encontram no hall de exibição.

8.3. SETOR DE SERVIÇO

O setor de serviço tem seu acesso na parte posterior da edificação, pelo

acesso de funcionários. Neste setor está concentrada toda a área de manutenção do

complexo e o hall de serviço faz a conexão entre os ambientes e dá acesso ao hall

de projeção no 2º pavimento. Depósitos, vestiários, refeitório, descanso de

funcionários, hall de projeção e cabines de projeção, fazem parte do setor.

Os depósitos e vestiários, por se tratarem de ambientes de pouca

permanência, foram dispostos na fachada sudeste, sendo esta uma das mais

prejudicadas pela insolação no período da tarde. De modo a amenizar a falta de

ventilação direta para os ambientes como descanso de funcionários, cozinha,

administração, contagem e gerência, foi criado um shed na cobertura do hall de

serviço, permitindo a renovação do ar nestes ambientes.

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As cabines de projeção estão localizadas no 2º pavimento e o acesso ao hall

de projeção se dá através de escada ou plataforma elevatória. Por recomendações

técnicas, cada cabine de projeção possui um banheiro em seu interior.

8.4. SETOR ADMINISTRATIVO

O setor administrativo é composto pela administração, gerência e contagem.

Esse é o setor responsável pela gestão do equipamento. Os ambientes estão

dispostos entre o setor de serviço e o público, podendo ter acesso facilmente a

qualquer setor.

8.5. ESTACIONAMENTO

O cálculo da quantidade de vagas necessárias para o estacionamento foi

realizado de acordo com as diretrizes estabelecidas no Código de Obras do

Município de Natal. A lei determina que para equipamentos com uso de cinema,

implantados em vias arteriais, a quantidade de vagas de estacionamento deve ser

de 1 vaga a cada 30m² de área construída. Assim, como a edificação possui área

construída de 3.313,84m², seriam necessárias para atender a norma 111 vagas. No

total, foram estabelecidas 179 vagas para veículos, sendo duas destas adaptadas

aos portadores de necessidades especiais, e 10 vagas para motocicletas.

8.6. CONFORTO ACÚSTICO DAS SALAS DE EXIBIÇÃO

O tratamento acústico das salas de exibição é uma característica

imprescindível para um melhor desempenho nas exibições cinematográficas. Deste

modo, foi feita simulação da sala de exibição com o software Reverb, analisando a

influencia dos materiais para o condicionamento acústico do ambiente.

Para melhor desempenho, as salas devem prever projeto de isolamento e

condicionamento acústico. Como dito em capítulos anteriores, o isolamento impede

que ruídos externos ao ambiente adentrem ao espaço e prejudiquem as atividades

ali realizadas. Na presente proposta, as paredes que limitam as salas de exibição

devem ser construídas com tijolo convencional deitado, gerando uma parede com

espessura mínima de 20 cm.

Com relação ao condicionamento acústico, através do software Reverb pôde-

se simular o tempo de reverberação na sala de exibição. O programa é um

facilitador neste quesito, uma vez que com a inserção de apenas alguns dados

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sobre o ambiente é possível verificar o comportamento acústico dos materiais

empregados.

Simulação com o Reverb

A simulação utilizando o programa conta com quatro etapas: escolha do

método de cálculo do tempo de reverberação, caracterização do ambiente, das

superfícies e dos elementos isolados.

De início foram retiradas as áreas de cada material aplicado no ambiente e

seu volume total. Em seguida foram atribuídos os materiais de superfície e os

elementos constantes no ambiente.

Nas paredes fez-se uso de uma placa de fibra mineral com véu acústico e lã

mineral, no forro utilizou-se gesso acartonado perfurado e para o piso, optou-se por

um piso vinílico. A tela de projeção foi desconsiderada do cálculo, uma vez que é

através dela que passam os sons das caixas instaladas imediatamente atrás dela.

Figura 59 - Relatório do Reverb

Fonte: Elaboração da autora (2014)

A escolha de materiais para as salas de exibição resultou em tempos de

reverberação próximos ao recomendado e, de forma geral, se manteve constante.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Inicialmente foi realizada uma abordagem sobre o que é o cinema, seu

surgimento e o processo de consolidação da atividade. Apresentou-se a evolução da

atividade, seguido dos dois principais modos de exibição da atualidade a serem

incorporados à proposta projetual. Além disso, foram evidenciadas as características

acústicas referentes às salas de projeção cinematográficas.

O embasamento para a elaboração da proposta foi obtido através,

principalmente, da realização dos estudos de referência em equipamentos de

mesmo uso proposto. Foram identificados pontos positivos e negativos, de forma,

deste modo, tentou-se aplicar da melhor maneira na proposta alguns pontos

positivos identificados nas referências.

Os estudos dos condicionantes físicos e ambientais do terreno permitiram o

desenvolvimento do partido arquitetônico e zoneamento da proposta. Como citado, a

edificação buscou favorecer conforto aos usuários, além da criação de espaços de

livre acesso. Ao longo do desenvolvimento da proposta algumas alterações foram

realizadas para melhor atender às condições de conforto propostas.

No memorial descritivo e justificativo foram apresentadas todas as decisões

tomadas e suas justificativas para a elaboração do projeto.

A elaboração desse trabalho contribui para a obtenção de novos

conhecimentos, principalmente por se tratar de um projeto com algumas

especificidades e restrições impostas por normas.

Por fim, ressalto a satisfação na realização deste trabalho, por se tratar de um

tema de meu interesse, tanto por identificação pessoal, quanto pela oportunidade de

desenvolver um projeto de um equipamento que teria um uso diferenciado na

cidade.

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