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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA TERRA
DEPARTAMENTO DE GEOLOGIA – CURSO DE GEOLOGIA
RELATÓRIO DE GRADUAÇÃO
PETROGRAFIA DA SEQUÊNCIA SEDIMENTAR DA ILHA SUDESTE DO
ARQUIPÉLAGO DE SÃO PEDRO E SÃO PAULO, ATLÂNTICO EQUATORIAL
MATHEUS MICHAEL KANN
NATAL – RN
2019
MATHEUS MICHAEL KANN
PETROGRAFIA DA SEQUÊNCIA SEDIMENTAR DA ILHA SUDESTE DO
ARQUIPÉLAGO DE SÃO PEDRO E SÃO PAULO, ATLÂNTICO EQUATORIAL
Relatório de Graduação
apresentado em 13 de dezembro de
2019 como parte dos requisitos para
obtenção do grau de geólogo pela
Universidade Federal do Rio Grande do
Norte
ORIENTADOR:
PROF. DR. THOMAS FERREIRA DA COSTA CAMPOS – (DG-CCET/UFRN)
NATAL – RN
2019
TERMO DE APROVAÇÃO
MATHEUS MICHAEL KANN
PETROGRAFIA DA SEQUÊNCIA SEDIMENTAR DA ILHA SUDESTE DO
ARQUÍPELAGO DE SÃO PEDRO E SÃO PAULO, ATLÂNTICO EQUATORIAL
BANCA EXAMINADORA
1º Examinador (a): Prof. Dr. Thomas Ferreira da Costa Campos (DG-CCET/UFRN)
ORIENTADOR
2º Examinador (a): Prof. Dr. Heitor Neves Maia (DG-CCET/UFRN)
CONVIDADO INTERNO
3º Examinador (a): Pós-Dr. André Giskard Aquino da Silva (PPGG/UFRN)
CONVIDADO EXTERNO
Natal, 13 de dezembro de 2019.
À todos privados de sentir a felicidade de realização semelhante.
À minha mãe por estar realizando um sonho também dela.
i
AGRADECIMENTO
A gratidão nos faz seres melhores, nos eleva. Encontrar dentro de si motivos pra ser grato não
deve nunca ser um exercício difícil, pelo contrário deve ser natural. Por isso, sou muito grato a
tudo e todos que participam de minha vida, na certeza de que nada acontece em vão e que direta
ou indiretamente contribuíram para este momento.
Ao ser divino pela privilegio da vida.
À toda a minha família pela força e torcida, especialmente a minha mãe Marise e minha tia-avó
Mércia. Sei que vocês estão no grupo de maiores realizados e são tão agradecidas quanto eu.
De maneira particular, vocês foram incentivo para que isso acontecesse.
À todos os meus amigos, especialmente os amigos-irmãos do G7, um presente da vida e que
são fonte de muita inspiração.
À meu baby Marcella Samyla por tornar a reta final dessa produção menos desgastante, por não
poupar esforços para me dar forças em momentos de desânimos e por compartilhar comigo
momentos especiais.
Aos amigos e colegas da Yamana Gold que tanto me incentivaram a encarar essa nova
empreitada em conclusão, especialmente Tupã, Tiago Elói, Marciliano, Kaká, Marcola, todas
as ‘mães’ que ganhei pelos projetos de exploração por onde passei.
À turma de Geologia de 2013 (Geoconhecedores) que com sua heterogeneidade tanto ensinou
sobre lidar com diferenças. Especialmente para Kaio pela parceria de ter me suportado e
compartilhado todos os trabalhos em grupo possíveis. Mega e Cícero completam essa lista que
tem agradecimento especial. Um grande destaque para as minhas irmãs Carla Giga e Marceonila
por toda brodagem que proporcionou aprendizados e amadurecimentos.
Ao meu orientado professor Thomas Campos pelos conselhos, liberdade para o aprendizado e
disposição em encarar um desafio de tema fora da zona de conforto; e principalmente por abrir
caminho para realização de um sonho: conhecer o arquipélago de São Pedro e São Paulo.
À Secretaria da Comissão Interministerial para os Recursos do Mar – SECRIM, especialmente
a Dona Gui, e a tripulação do Transmar III e Transmar II pelo apoio logístico. As colegas de
expedição que compartilharam da realização de conhecer o ASPSP: Debora, Camila.
ii
Aos professores do Departamento de Geologia, especialmente Marcela e Narendra pelo último
apoio durante o desenvolvimento dessa monografia. Fred que inspira a partir de ações e que
mesmo nunca tempo o prazer de tê-lo como professor na sala de aula, sempre esteve disponível.
Galindo por apresentar um lado humano de professor. Marcos por ser um incentivador.
Aos funcionários do Departamento de Geologia, especialmente Nilda, por tanta disposição para
ajudar.
Ao Laboratório de Geoprocessamento – GEOPRO pelo convívio e aprendizado, além das
amizades e oportunidade.
Ao Centro Acadêmico de Geologia – CAGERN pela oportunidade de exercitar uma
representatividade em prol do bem coletivo e todos os amigos e colegas que esse início de
jornada geológica me deu.
À todos os Geólogos e Geólogas da irmandade que foram inspiração para a semente do desejo
pela GEOLOGIA fosse germinada.
À Terra que nos intriga a querer entendê-la cada vez mais, nos levando a conhecer as suas
belezas mais singelas e também as mais grandiosas.
À Luiz Inácio Lula da Silva por toda a sua luta por igualdade de oportunidade para todos os
brasileiros, especialmente na Educação, que abriu portas para que muitos sonhos como esse
meu se realizassem. Gratidão especial! Nada é por acaso.
iii
RESUMO
O arquipélago de São Pedro e São Paulo é caracterizado como um conjunto de ilhas e rochedos
situados no Oceano Atlântico Equatorial, representando o topo de uma elevação morfológica
submarina de 90 km de comprimento, 25 km de largura e 3.800 m de altura, composta de rochas
peridotíticas de origem mantélica, denominada Cadeia Peridotítica de São Pedro e São Paulo
ou Cordilheira Atobá. Sobre o embasamento de composição peridotítica existe uma cobertura
sedimentar pouco expressiva, com espessura relativamente delgada e sem continuidade. É
possível a individualização de três grupos de rochas principais depositado em condições
particulares, são eles: preenchimentos carbonáticos em fraturas, conglomerados preenchendo
marmitas e uma sequência sedimentar formando uma bancada, limitada a Ilha Sudeste, com
espessura que chega até 6 metros. A presente pesquisa teve como alvo o estudo diagenético
dessa sequência sedimentar aflorante na Ilha Sudeste que são formadas essencialmente por
sedimentos clásticos proveniente do substrato rochoso e fósseis, com características de
beachrocks. Foram confeccionadas 11 lâminas delgadas representativas do perfil aflorante,
dando subsídios para a reafirmação da existência de duas unidades: Atobá e Viuvinha. A
unidade basal é a Atobá: tem um arcabouço composto essencialmente por sedimentos
litoclásticas, conglomerático, mal selecionamento e baixa porosidade e granodecrescência
ascendente, apresentando seixos mais arredondados na base e aumentando em angulosidade
para o topo. A unidade Viuvinha é formada por rochas de composição híbrida litoclástico-
carbonálico em uma mistura composicional e de estrato. São individualizadas duas litofácies
principais na composição da unidade, uma essencialmente carbonática, mal selecionada e com
elevada porosidade e uma outra litofácies de granulometria areia média e moderado
selecionamento, apresentando contribuição de material carbonático na composição do
arcabouço. Podem ocorrer também blocos do embasamento em todas as litofácies, resultado da
atividade sísmica ativa na região que provoca a erosão nas escarpas da ilha. A cimentação é
formada exclusivamente por calcita magnesiana e argonita, nas morfologias principais
microcristalina, franja, botroidal e cutícula cripto-cristalina e preenchem quase todos os espaços
porosos da rocha com uma cimentação característica da zona marinha freática ativa. O estudo
constatou que embora as rochas estudadas apresentem características presentes também em
beachrocks, elas não podem ser descritas como” verdadeiros beachrocks”.
Palavras-chave: Arquipélago de São Pedro e São Paulo; rocha sedimentar híbrida; beachrock;
diagênese marinha; cimento carbonático.
iv
ABSTRACT
The St. Peter and St. Paul archipelago is characterized as a set of islands and islets situated in
the Equatorial Atlantic Ocean, representing the top of a ridge, with 90 km long, 25 km wide
and 3,800 m high, composed of peridotitic rocks of mantle origin, called the Peridotitic Ridge
of St. Peter and St. Paul or Atobá Ridge. Over the basement of peridotitic composition there is
a sedimentary cover of a low expressivity, relatively thin and without continuity. It is possible
to individualize three groups of main rocks deposited under particular conditions: carbonate
fillings in fractures, conglomerates filling Plunge pool and a sedimentary sequence forming a
bench, limited to the Southeast Island, with a thickness that reaches up to 6 meters. The present
research aimed at the diagenetic study of this outcropping sedimentary sequence in the
Southeast Island, which is essentially formed by clastic sediments from the rocky substrate and
fossils, with beachrocks characteristics. Eleven thin section were made, representing the
outcrop profile, providing support for the reaffirmation of the existence of two sedimentary
units: Atobá and Viuvinhas. The basal unit is called Atobá: it has a framework composed
essentially of lithoclastic, conglomeratic sediments, showed poor selection and low porosity
and ascending granodescence, with more rounded pebbles at the base and increasing in
angularity to the top. The Viuvinhas unit is formed by rocks of lithoclastic-carbonic hybrid
composition in a composite and stratum mixture. Two main lithofacies in the composition of
the unit are individualized, one essentially carbonate, poorly selected and with high porosity,
and another lithofacies of medium and moderate granulometry selection, presenting
contribution of carbonate material in the composition of the framework. Basement blocks may
also occur in all lithofacies, resulting from the active seismic activity in the region that causes
erosion in the cliffs of the islet. The cementation is formed exclusively by magnesian calcite
and aragonite, in the main morphologies microcrystalline, fringe, botroidal and crypto-
crystalline cuticle and fill almost all porous spaces of the rock with a characteristic cementation
of the active phreatic marine zone. The study found that although the rocks studied have
characteristics also present in beachrocks, they cannot be described as "true beachrocks".
Keywords: St. Peter and St. Paul archipelago, sediments hybrid siliciclastic-carbonate;
beachrock; marine diagenesis, carbonate cement
v
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Mapa de localização do ASPSP, Atlântico Equatorial. Modificado a partir de Ridge Multibeam
Synthesis (http://ocean-ridge.ldeo.columbia.edu/ acessado em 25/04/2019). ____________________________ 13
Figura 2 – Destaque para a zona de fatura São Paulo e localização do ASPSP. Modificado a partir de Ridge
Multibeam Synthesis (http://ocean-ridge.ldeo.columbia.edu/ acessado em 25/04/2019). __________________ 13
Figura 3 – Mapa do ASPSP com detalhes das ilhas e rochedos que o compõe. A: Ilha Belmonte e Ilha Sudeste;
B:Ilha Nordeste, Ilha Cabral e Rochedo Beagle; C: Ilha Sul, Rochedo Coutinho e Rochedo Erebus. Imagens das
figuras A, B e C são de Drones (em 2018) e imagem principal: imagem de satélite QuickBird de 2003 (compilação
de Campos et al., submetido). _________________________________________________________________ 14
Figura 4 – Modelo utilizado para sintetizar as descrições petrográficas das seções delgadas, abordando aspectos
composicionais, texturais e classificatório. ______________________________________________________ 17
Figura 5 – Principais ambientes diagenéticos descritos por Longman (1980). __________________________ 26
Figura 6 – Processos e produtos das zonas freática marinha, vadosa meteórica e freática meteórica (Longman,
1980). ____________________________________________________________________________________ 28
Figura 7 – Distribuição das principais ocorrências de beachroks no mundo. As áreas vermelhas correspondem
aos locais com estudos dedicados a essas rochas. Fonte: Vousdoukas et al. (2007). ______________________ 31
Figura 8 – Escala de mistura litoclástica-carbonática. (A) Mistura composicional em escala pontual. Esse tipo de
mistura ocorre quando frações litocláticas e carbonáticas são acumuladas contemporaneamente: em espaço e
tempo. (B) Mistura de estratos em escala de litofacies. (C) Mistura de estratos em escala estratigráfica. Mistura
de estratos ocorre quando duas frações heterolíticas são organizadas em diferentes camadas Chiarella at al.,
(2017). ___________________________________________________________________________________ 34
Figura 9 – Modelo conceitual dos diferentes tipos de processos de misturas de sedimentos híbridos (Mount, 1984).
Mistura pontual resulta em mistura de estratos; mistura de fáceis pode resultar tanto em mistura em camada de
mistura composicional ou mistura composicional estratigráfica. Mistura in situ resulta em mistura composicional
(escala pontual) Chiarella at al., (2017). ________________________________________________________ 37
Figura 10 – Visualização da morfologia abissal em torno do ASPSP, confeccionada com base na batimetria
predita (UCSD-SIO, 2009). A escala vertical é exagerada em 12 vezes da escala horizontal. ______________ 38
Figura 11 – Perfil com compilação de mergulhos profundos pelo submersível Nautile, segundo Hekinian et al.39
Figura 12 - Mapa geológico da região emersa do ASPSP (Campos et al., 2010). ________________________ 39
Figura 13 – Evolução tectônica de uma zona de espalhamento amagmático com a exumação do manto e formação
de megamullion. Modificado de Tucholke et al. (1998). ____________________________________________ 41
Figura 14 – Ilustração esquemática para a gênese tectônica de cadeia de transpressão (pressure-ridge) e bacia
de distensão (pull-apart basin). ________________________________________________________________ 42
Figura 15 – Mapa geológico da sequência sedimentar da Ilha Sudeste, ASPSP. A- Unidade Atobá; B: Unidade
Viuvinha. (CAMPOS et al., 2002; 2003). ________________________________________________________ 44
Figura 16 - Perfil AA’ (A) e BB’ (B) da sequência sedimentar da Ilha Sudeste, arquipélago São Pedro e São Paulo
identificado no mapa geológico da Figura 15 (CAMPOS et al., 2002, 2003). ___________________________ 45
vi
Figura 17 - A) Perfil principal da sequência sedimentar da Ilha Sudeste do ASPSP. B) Detalhe da base da Unidade
Atobá (A1) com seixos arredondados e angulosos, discordância sobre o embasamento. C) Estratificação cruzada
na unidade A2 e discordância angular com a Unidade Viuvinha, marcada por paleonível. ________________ 47
Figura 18 – A) Topo do perfil da Unidade Viuvinha. B) Detalhe da fácies carbonática (V1) com macrofósseis
bivalves e litoclástos. C) Detalhe do arenito avermelhado e bem selecionado da fácies V2. D) Aspecto de
composição mista siliciclástica-carbonática com mistura composicional e de fácies na Unidade Viuvinha. E)
Blocos do embasamento compondo o perfil sedimentar da Unidade Viuvinha. __________________________ 48
Figura 19 – Fotomicrografias da Unidade Atobá representativas do arcabouço das rochas. A, B, C e D)
Variedades granulométricas na composição do arcabouço das rochas. E, F G) Bioclastos não identificados
compondo arcabouço juntamente com litoclástos. H) Detalhe de litoclásto fraturado e preenchido por
microbrecha. ______________________________________________________________________________ 51
Figura 20 – Fotomicrografias da Unidade Atobá representando as morfologias do cimento (A-E) e porosidades
(F-H). A) Seta vermelha indicando cristais fibrosos de calcita magnesiana na parede de litoclásto; seta preta
indica cutícula cripto-cristalina ao redor de grão. B) Seta vermelha indicando preenchimento de espaço vazio
intergranular por cimento microcristalino. C) Seta vermelha indicando grão completamente micritizado; seta
preta indicando grandes cristais fibrosos sobre cristais aciculares. D) Seta vermelha indicando cristais bem
desenvolvidos de cimento botroidais com franjas formando contato poligonal. E) Seta vermelha indicando cimento
microcristalino. F e H) Seta vermelha indicando presença de porosidade intregranular em grão de milonito,
especialmente na alterada. G) Seta vermelha indicando porosidade intercristalina bem desenvolvida. _______ 52
Figura 21 – A) Fotomicrografias de aspecto geral da unidade Viuvinha representando um arcabouço composto
por litoclástos e bioclasto. B) Seta vermelha indicando fragmento de alga vermelha; L - litoclásto. C) b – bivalve
e L – litoclásto arredondado e esférico. D) Seta vermelha indicando foraminífero (gênero textularina); L -
litoclásto. E, F) L – litoclastos moderadamente arredondados. G) b – fragmento de brachiopoda. H) Fragmento
de fóssil com bordas micritizadas (polarizadores cruzados). ________________________________________ 55
Figura 22 – Fotomicrografias de aspectos da porosidade que compõe a Unidade Viuvinha. A, B) Seta vermelha
indicando porosidade intercristalina. C) Seta vermelha indicando porosidade móldica. D) Seta vermelha
indicando porosidade intergranular. ___________________________________________________________ 56
Figura 23 – Fotomicrografias representativas das morfologias de cimento que compõe a Unidade Viuvinha. A –
D: fácies V1 e E – H: fácies V2. A) Colônia de briozoários com porosidade intraclásto e crescimento de cimento
em franja dentro dos poros. B) Seta vermelha indicando desenvolvimento de cimento em franja em direção ao
interior dos poros sobre formas microcristalinas que cobrem fragmento de alga vermelha. C) Seta vermelha
indicando micrita infiltrante preenchendo espaço intragranular de bioclasto englobando microclástos. D) Seta
Vermelha indicando franja prismática bem desenvolvida contornando litoclásto e preservando porosidade
intercristalina. E) Foraminífero planctônico (gênero miliolina) com desenvolvimento de cristais de cimento
fibrosos. F, G) Seta vermelha indicando preenchimento de espaço intergranular com cimento microcristalinho.
H) Seta vermelha indicando cimento microcristalino e agulhas no interior de bioclasto. __________________ 57
Figura 24 – Quadro resumo dos processos diagenéticos atuantes na formação das rochas da sequência sedimentar
da Ilha Sudeste do ASPSP. ___________________________________________________________________ 60
vii
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – Referencias utilizadas como base das descrições micropetrográficas. ............................................... 16
Tabela 2 – Análise quantitativa das microfácies da sequência sedimentar da Ilha Sudeste do ASPSP. Valores em
%. .......................................................................................................................................................................... 49
viii
SUMÁRIO
AGRADECIMENTO ________________________________________________________________ i
RESUMO ________________________________________________________________________ iii
ABSTRACT ______________________________________________________________________ iv
LISTA DE FIGURAS ______________________________________________________________ v
LISTA DE TABELAS _____________________________________________________________ vii
SUMÁRIO ______________________________________________________________________ viii
1. INTRODUÇÃO _____________________________________________________________ 10
1.1. Apresentação ____________________________________________________________ 10
1.2. Justificativa _____________________________________________________________ 11
1.3. Objetivos _______________________________________________________________ 11
1.4. Localização _____________________________________________________________ 12
2. MATERIAIS E MÉTODOS ___________________________________________________ 14
2.1. Consulta bibliográfica _____________________________________________________ 14
2.2. Trabalho de Campo _______________________________________________________ 15
2.3. Petrografia ______________________________________________________________ 15
2.3.1. Descrição Microscópica ________________________________________________ 16
3. REFERENCIAL TEÓRICO ___________________________________________________ 24
3.1. Diagênese de rochas sedimentares em ambiente marinho __________________________ 24
3.2. Precipitação e química dos carbonatos _________________________________________ 28
3.3. Beachrock _______________________________________________________________ 30
3.3.1. Características Gerais _____________________________________________________ 31
3.4. Rochas Híbridas __________________________________________________________ 32
3.4.1. Definição ______________________________________________________________ 32
3.4.2. Classificação____________________________________________________________ 33
3.4.3. Processos de mistura _____________________________________________________ 36
4. CONTEXTO GEOLÓGICO DO ARQUIPÉLAGO DE SÃO PEDRO E SÃO PAULO __ 37
4.1. Geologia Regional ________________________________________________________ 37
4.2. Megamullion ____________________________________________________________ 40
4.3. Formação São Pedro e São Paulo _____________________________________________ 42
5. RESULTADO E DISCUSSÃO _________________________________________________ 46
5.1. Aspectos de Campo _______________________________________________________ 46
5.2. Descrição micropetrográficas ________________________________________________ 49
5.3. Diagênese _______________________________________________________________ 58
ix
6. CONCLUSÃO ______________________________________________________________ 61
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS _______________________________________________ 63
10 Petrografia da sequência sedimentar da Ilha Sudeste do arquipélago São Pedro e São Paulo,
Atlântico Equatorial – KANN, M. M (2019)
1. INTRODUÇÃO
1.1. Apresentação
Este relatório representa a síntese da pesquisa da disciplina Trabalho de Conclusão de
Curso (GEO0421) realizada em uma sequência de rochas sedimentares aflorantes no
Arquipélago de São Pedro e São Paulo (ASPSP), Atlântico Equatorial Norte (0o55'02"N,
29o20'42"W), próximo à dorsal Meso-Atlâtica, situada a cerca de 100 km ao Norte do Equador
terrestre e é constituída por um pacote de rochas sedimentares clásticas e carbonática, cimentada
por carbonato de cálcio, cujos sedimentos são originários do leito rochoso e da atividade
biogênica. Além disso, observa-se a ocorrência de fácies extremamente fossilífera, com
conteúdo fóssil representado por uma variedade de algas calcárias e invertebrados fósseis,
moluscos diversos representantes de crustáceos, foraminíferos planctônicos, radiolários,
nanofósseis calcários e briozoários. Nesse contexto, foram estudados aspectos digenéticos da
sequência sedimentar sugerida por Campos et al. (2002, 2003, 2009) e Virgens Neto (2006)
como sendo a Formação São Pedro e São Paulo, uma unidade de idade Pleistocênica, de acordo
com datações 14C em fósseis do topo da sequência (VIRGENS NETO, 2006).
O ASPSP consiste em um conjunto rochoso com área de aproximadamente 17.000 m²,
composto por seis pequenas ilhas e quatro pontais rochosos, distribuídos ao longo da região de
estudo e abrangendo a porção emersa de uma estrutura submarina, designada de “Cordilheira
Atoba” por Maia et al. (2016). Litologicamente, Campos et al. (2002, 2003, 2005) descrevem
peridotítos serpentinizados ou não e milonitos kaesurtíticos como rochas predominantes. Além
destas, Joaquim Neto (2006) e Campos et al. (2009) descrevem a existência de uma cobertura
de rochas sedimentares com pouca expressividade e continuidade que foram formadas a partir
de sedimentos preenchendo fraturas, cavidades e depressões, que incluem as rochas atribuídas
a sequência sedimentar da Ilha Sudeste do ASPSP.
O trabalho contou com a orientação dos professores Thomas Ferreira da Costa Campos
e colaboração dos professores Narendra Kumar Srivastava e Marcela Marques Vieira, bem
como o apoio financeiro do Departamento de Geologia (DGeo/UFRN) e logístico da Marinha
do Brasil a partir do Programa Arquipélago de São Pedro e São Paulo (PRO-ARQUIPÉLAGO),
sob coordenação da Secretaria da Comissão Interministerial para os Recursos do Mar
(SECIRM) e do Programa Arquipélago e Ilhas Oceânicas do CNPq.
11 Petrografia da sequência sedimentar da Ilha Sudeste do arquipélago São Pedro e São Paulo,
Atlântico Equatorial – KANN, M. M (2019)
1.2. Justificativa
Devido as condições inóspitas em que as ilhas do ASPSP estão inseridas e por estar a
uma distância aproximadamente 1010 km do Cabo do Calcanhar/RN, os estudos brasileiros
somente tiveram início a partir de junho de 1998 com a criação do Programa Arquipélago de
São Pedro e São Paulo (PROARQUIPÉLAGO), sob a coordenação da Secretaria da Comissão
Interministerial para os Recursos do Mar (SECIRM, 2009).
A grande maioria dos trabalhos científicos desenvolvidos no ASPSP envolvendo temas
da geologia tiveram como alvo as rochas peridotíticas e a geotectônica envolvida com a
colocação do corpo e das condições geológicas atuantes, ficando as rochas sedimentastes em
situação secundária. Devido a isso, o presente trabalho se propõe a suprir a lacuna de
conhecimento referente à sequência sedimentar designada pela primeira vez por Campos (2002)
como Formação São Pedro e São Paulo no XLI Congresso Brasileiro de Geologia (João Pessoa,
2002), com ênfase nos aspectos petrográfico e diagenéticos.
Embora as rochas sedimentares representem apenas aproximadamente 5% do volume
da Terra, elas cobrem cerca de75% da superfície terrestre e 90% do leito marinho. Essas rochas
guardam importantes registros sobre a história da humanidade e da Terra, como fósseis e
marcadores de variações climáticas. Dessa forma, o estudo da formação de produtos digenéticos
marinhos rasos/praial é relevante pois possibilita o entendimento da geração das rochas
sedimentares detríticas/carbonática, além de reconhecer o comportamento da variação do nível
do mar durante a formação da rocha, permitindo a gênese destas feições.
1.3. Objetivos
O objetivo principal deste trabalho foi a reinterpretação da sequência sedimentar
aflorante na Ilha Sudeste do ASPSP proposta por Campos et al. (2002, 2003, 2009) como sendo
a Formação São Pedro e São Paulo, descrevendo a sequência de acordo com as características
petrográficas e petrogenêticas, relacionando com ambiente e condição de formação.
Os objetivos específicos foram: i) Descrição diferenciada das litofácies (unidades); ii)
Caracterização das texturas sedimentares; iii) Caracterização da morfologia do cimento; iv)
Definição dos eventos diagenéticos e sua correlação com os fatores paleoambientais e
estratigráficos.
12 Petrografia da sequência sedimentar da Ilha Sudeste do arquipélago São Pedro e São Paulo,
Atlântico Equatorial – KANN, M. M (2019)
1.4. Localização
O ASPSP localiza-se a aproximadamente 1100 km ao nordeste da cidade do Natal, Rio
Grande do Norte, compreendendo as coordenadas: 0°55'02''N e 29°20'42''W (Figura 1 e Figura
2), situando-se a aproximadamente 100 km a norte do Equador, representando o ponto mais
avançado do território brasileiro no Oceano Atlântico e o único território oceânico brasileiro
localizado no Hemisfério Norte.
O ASPSP é formado por um pequeno conjunto de seis ilhas rochosas e quatro rochedos
menores que juntos possuem área superficial de 17.000 m² (Figura 3). As ilhotas apresentam
contornos sinuosos irregulares e reentrantes, suas encostas possuem forte declive (>80o). As
quatro maiores ilhas (Belmonte, Sudeste, Nordeste e Cabral) estão separadas entre si por
estreitos canais que formam uma enseada com forma de ferradura, com dimensões médias de
100 m de comprimento por 50 m de largura, de 6 a 25 m de profundidade. A zona de falha no
entorno do arquipélago possui cerca de 120 km de largura, e suas profundidades podem atingir
3.600 m; além de seus limites norte e sul, são observadas profundidades abissais superiores a
4.000 m (HEKINIAN et al., 2000). A falha transformante de São Paulo apresenta-se com um
rejeito horizontal de cerca de 600 km, que separa a dorsal equatorial Atlântica em dois
segmentos. O ASPSP encontra-se localizado próximo ao limite setentrional da zona de falha
transformante de São Paulo e de sua intersecção com o ramo norte da dorsal. A área desta cadeia
submarina Atoba é tectonicamente ativa, o que sugere que sua formação foi controlada pela
movimentação da falha e de seu conjunto de fraturas (Figura 2) (HEKINIAN et al., 2000, MAIA
et al., 2016).
A configuração hidrológica e climatológica do ASPSP é similar às condições das ilhas
tropicais próximas como Fernando de Noronha. O ASPSP está sob a influência da Zona de
Convergência Intertropical, que confere cerca de 1200 mm de precipitação anual, um dos
maiores volumes para o Oceano Atlântico (CAMPOS et al., 2005). O ASPSP também está sob
a influência da corrente da superfície do Equador do Sul, que flui E-W, e da corrente do Equador
submersa que flui na direção oposta, a profundidades de 60 a 100 m. A temperatura média anual
é de cerca de 25 ºC (CAMPOS et al., 2005). O ASPSP possui um regime meso maré, semiduro,
com amplitude máxima de 2,4m (Marinha do Brasil, 2009).
13 Petrografia da sequência sedimentar da Ilha Sudeste do arquipélago São Pedro e São Paulo,
Atlântico Equatorial – KANN, M. M (2019)
Figura 1 – Mapa de localização do ASPSP, Atlântico Equatorial. Modificado a partir de Ridge Multibeam
Synthesis (http://ocean-ridge.ldeo.columbia.edu/ acessado em 25/04/2019).
Figura 2 – Destaque para a zona de fatura São Paulo e localização do ASPSP. Modificado a partir de Ridge
Multibeam Synthesis (http://ocean-ridge.ldeo.columbia.edu/ acessado em 25/04/2019).
14 Petrografia da sequência sedimentar da Ilha Sudeste do arquipélago São Pedro e São Paulo,
Atlântico Equatorial – KANN, M. M (2019)
Figura 3 – Mapa do ASPSP com detalhes das ilhas e rochedos que o compõe. A: Ilha Belmonte e Ilha Sudeste;
B:Ilha Nordeste, Ilha Cabral e Rochedo Beagle; C: Ilha Sul, Rochedo Coutinho e Rochedo Erebus. Imagens das
figuras A, B e C são de Drones (em 2018) e imagem principal: imagem de satélite QuickBird de 2003 (compilação
de Campos et al., submetido).
2. MATERIAIS E MÉTODOS
2.1. Consulta bibliográfica
A pesquisa bibliográfica foi a etapa inicial e perdurou até o final deste trabalho,
consistindo na consulta de livros, dissertações, teses e artigos sobre a temática do trabalho e
técnicas laboratoriais. O principal acervo bibliográfico consultado foi realizado pelo Portal
15 Petrografia da sequência sedimentar da Ilha Sudeste do arquipélago São Pedro e São Paulo,
Atlântico Equatorial – KANN, M. M (2019)
Periódicos CAPES, ScienceDirect, Brazilian Journal of Geology, revistas Sedimentology e
Sedimentary Petrology and Marine Geology.
2.2. Trabalho de Campo
As atividades de campo foram realizadas em duas etapas (Expedição 468 – outubro de
2017 e Expedição 486 - fevereiro de 2018). Devido às condições de mar durante a primeira
etapa não foi possível acessar a Ilha Sudeste, ficando as coletas de rochas da sequência
sedimentar da Ilha Sudeste restritas a segunda expedição. Foram coletadas 11 amostras no perfil
sedimentar aflorante na Ilha Sudeste a fim de caracterizar as fácies sedimentares do perfil. A
coleta de amostras foi realizada com controle estratigráfico e faciológico, seguindo os
procedimentos descritos por Tucker (1993). A referência para a coleta de amostras foi a
descrição da bancada sedimentar aflorante sustentado pelo perfil estratigráficos de Virgens
Neto (2006), nos quais acompanham dados de espessura de camadas, estruturas sedimentares e
fáceis. A escolha das amostras foi dada a partir dos pacotes mais representativos do perfil
estudado, levando em consideração textura, estrutura e espessura das camadas, e também pelo
grau de alteração superficial, priorizando amostras mais preservadas de alteração. As amostras
estão referenciadas como ASPSP-XX, na qual XX representa o número do ponto coletado,
listadas em planilhas com indicação de localização relativa a pontos de maiores expressividade
e descrição macroscópica.
2.3. Petrografia
As amostras coletadas durante a etapa de campo foram, previamente, descritas em
termos de cor, seleção, granulometria e, quando possível, estruturas deposicionais. Em seguida,
as mesmas amostras foram impregnadas utilizando-se uma mistura de resina epóxi,
endurecedor, solvente (álcool etílico) e corante azul (alizarina azul) para ressaltar a presença de
porosidade. Após este procedimento, as lâminas delgadas foram produzidas sem utilização de
lamínulas, possibilitando a aplicação de técnica de tingimento; como, por exemplo, técnica para
identificação de carbonatos, tais como utilizadas por Vieira (2005). A etapa de confecção das
lâminas delgadas foi realizada integralmente no Laboratório de Laminação do Departamento
de Geologia da UFRN, sob responsabilidade dos técnicos do laboratório.
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A análise petrográfica foi realizada em microscópio petrográfico de luz transmitida
Olympus BX 4 no Laboratório de Microscopia do Departamento de Geologia da UFRN.
A descrição e quantificação dos constituintes volumétricos do arcabouço foi realizada
segundo os critérios de Dickinson (1985), com análises modais qualitativas. Os grãos do
arcabouço foram identificados quanto à composição (líticos ou bioclastos) e descritos em
termos texturais (granulometria, seleção, arredondamento e esfericidade). Os contatos entre
grãos e os tipos foram descritos conforme Pettijohn (1973) e a porosidade caracterizada com
base nos critérios de Schmidt (1977).
2.3.1. Descrição Microscópica
A descrição microscópica teve como objetivo identificar e descrever os constituintes da
rocha, bem como descrever a textura, fábrica e os processos diagenéticos, em especial o
cimento. Os parâmetros utilizados estão sintetizados na Tabela 1. Para agrupar e sistematizar
os resultados das análises micropetrográficas, foi utilizado um modelo tabelado para
preenchimento com dados referentes aos aspectos descritos, conforme proposta deste trabalho
(Figura 4).
Tabela 1 – Referencias utilizadas como base das descrições micropetrográficas.
PARÂMETRO REFERÊNCIA
COMPOSIÇÃO Cimento Vieira & De Ros (2006)
Porosidade Schmidt (1977)
TEXTURA
Granulometria Wentworth (1922)
Grau de Seleção Pettijohn (1973)
Arredondamento e esfericidade Powers (1953)
Empacotamento Kahn (1956)
Maturidade Textural Folk (1974)
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Figura 4 – Modelo utilizado para sintetizar as descrições petrográficas das seções delgadas, abordando aspectos
composicionais, texturais e classificatório.
1 – Descrição Textural
A descrição textural teve o objetivo de caracterizar os aspectos geométricos dos grãos
do arcabouço, incluindo tamanho, forma e arranjo. A textura das rochas foi caracterizada por
base nos parâmetros de granulometria, selecionamento, esfericidade, arredondamento, contato
entre grãos, empacotamento e maturidade textural.
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Análise Granulométrica
A análise granulométrica visou estabelecer o tamanho médio dos grãos através de
medidas relativas. Três grandes classes de grãos são aceitas em rochas detríticas: cascalho
(maior que 2 mm), areia (entre 2mm e 62 micra) e pelitos (menor que 2 micra), subdivididas
conforme Wentworth (1922).
A análise dos tamanhos dos grãos é utilizada para caracterizar o sedimento ou a rocha e
contribui para o entendimento do mecanismo de transporte e ambiente deposicional. Porém é
de fundamental importância considerar uma análise mais ampla que inclua, por exemplo,
estudos de estruturas sedimentares, para melhor entendimento e análise dos processos de
deposição e de fácies (TUCKER, 2001).
A possibilidade de uma rocha ser composta por uma diversidade de modas
granulométricas motivou que fossem propostos diversos métodos para análise dos grãos,
sobretudo utilizando-se lâminas delgadas. Um método comumente utilizado para determinação
da granulometria em lâminas delgadas consiste em medir o maior número de grãos e enquadrá-
los numa tabela de classificação de grãos, por exemplo a escala de Wentworth (1922), escala
amplamente utilizada nos estudos de petrografia sedimentar.
A granulometria das partículas aloquímicas, não tem uma relação direta com a energia
do ambiente deposicional, como acontece com os depósitos clásticos. A energia do ambiente é
indicada pela presença ou ausência de micrita, que só é depositada em situações de baixa
energia.
Grau de seleção
O grau de seleção é dado pela predominância de uma ou mais classes granulométricas.
Um sedimento bem selecionado apresenta predominância de uma classe granulométrica e
sedimento mal selecionado é composto por duas ou mais classes granulométricas. Um
sedimento que é composto por seixos, areia grossa e areia fina é muito mal selecionado (FOLK,
1968).
A seleção é o resultado de um processo dinâmico pelo qual partículas sedimentares,
tendo algumas características particulares (tamanho, forma ou densidade) são naturalmente
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separadas das demais pelo agente transportador. O resultado da seleção está no grau de
similaridade das partículas de um sedimento, refletindo a eficiência com que o meio
deposicional segrega grãos com tamanhos diferentes, de modo que um meio é muito pouco
eficiente se ele agrupar grãos com tamanhos muito variados. Ambientes muito dinâmico
apresentam um selecionamento insipiente.
Na execução desse trabalho a descrição foi feita a partir de comparação visual entre as
frações granulométricas presentes, de modo a determinar a medida do desvio padrão, ou seja,
da variação do tamanho dos grãos em relação ao tamanho médio observado. A medida de
selecionamento seguiu a proposta de Pettijohn et al. (1972), segundo a qual foi realizada a
comparação visual e enquadramento nas classes de seleção representativa.
Esfericidade e arredondamento
A análise do formato do grão é um dado importante para a interpretação petrográfica
das rochas detríticas. A morfologia do grão depende de uma série de fatores como: mineralogia,
área fonte, grau de alteração, grau de abrasão (durante o transporte) e dissolução durante a
diagênese. Os parâmetros esfericidade e arredondamento são voltados à análise do quão
esférico e quão arredondado é o grão, podendo variar de baixa a alta (esfericidade) e de muito
anguloso a bem arredondado (arredondamento), cuja as medidas foram feitas através da
comparação visual com o quadro comparativo proposta por Powers (1953). O arredondamento
refere-se à curvatura dos cantos dos grãos (FOLK, 1968) e está relacionado ao processo de
transporte atuante imposto ao sedimento até ele ser litificado, de forma que, idealmente, quanto
maior for o espaço de tempo de transporte/mobilização maior será o desgaste físico sofrido pelo
grão.
Contato entre grãos
O parâmetro de contato entre os grãos refere-se à interação grão-a-grão no arcabouço
da rocha que, de acordo com Pettijohn (1973), podem ser de cinco tipos: flutuante, pontual, reto
(ou longo), côncavo-convexo ou suturado. A determinação desse parâmetro foi feita através da
observação visual dos contatos em toda a seção delgada, e a partir daí determinado os três
contatos mais importantes, sendo eles citados em ordem decrescente com as seguintes letras
entre parênteses: “P” para indicar o contato predominante, “C” para contato comum e “R” para
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contato raro. Os tipos de contatos apresentados na rocha serão reflexos do grau de compactação
que a mesma foi submetida, de forma que, quanto maior esse grau, maior será a superfície de
contato entre os grãos.
Empacotamento
Empacotamento é o parâmetro que mede o arranjo/disposição dos grãos na rocha, os
quais podem dispor desde muito próximo e configurarem um padrão denso, a muito afastados
e configurarem um padrão aberto (espaçado). O contato entre os grãos reflete o grau de
compactação sofrida pela rocha, de modo que quanto maior a compactação, mais fechado será
o empacotamento da rocha, ou seja, menor será o espaço entre os grãos.
A medida do empacotamento é realizada através de métodos, dos quais os mais
utilizados são o “Índice de Kahn” (KAHN, 1956) e a “Densidade de Empacotamento”. A
primeira tem por base essencialmente o número de contatos grão a grão e o número de contatos
observados em uma travessia sob o microscópio óptico. Já a segunda é resultado de uma
equação que considera a soma dos comprimentos dos grãos interceptados em uma travessia e o
comprimento total da travessia.
Embora existam esses dois métodos mais utilizados na determinação do empacotamento
da rocha, convencionou-se adotar o índice de Kahn (1956) para o presente trabalho, aonde
quatro travessias foram estabelecidas de maneira aleatória para cada seção delgada. E, em cada
travessia, foram quantificados os contatos grão-a-grão e totais observados, a fim de calcular o
índice de Kanh (P), propriamente dito, e posteriormente enquadrar a rocha numa das três classes
de empacotamento propostas por este autor, sendo frouxo, normal ou fechado.
Maturidade textural
A maturidade textural é o parâmetro que avalia o quão matura é uma rocha a nível
textural. A medida foi feita através do diagrama proposto por Folk (1974), que se baseia em
três critérios apresentados pela rocha: percentual de matriz deposicional, graus de
selecionamento e arredondamento. Essa medida reflete, principalmente, os processos
deposicionais presentes no sítio deposicional, de modo a indicar o tipo de processo atuante
durante a deposição dos sedimentos de acordo com o grau de maturidade textural.
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O diagrama proposto por Folk (1974) foi empregado para identificação da maturidade
textural das amostras analisadas para o presente trabalho, aonde os critérios de matriz
deposicional (inexistente), selecionamento e arredondamento são indispensáveis na concepção
dessa classificação.
2 – Descrição Composicional
As rochas são produtos consolidados resultantes da união natural de minerais,
fragmentos de rochas e de substâncias não cristalinas. Elas podem ser heterogêneas
(pluriminerálicas) ou homogêneas (monominerálicas) (TEIXEIRA et al., 2009). Assim, é
necessário descrever não apenas os minerais constituintes do arcabouço mas também
estabelecer a proporção de cada um dos elementos.
O parâmetro composição destina-se à identificação e quantificação absoluta (quando a
análise for quantitativa) ou relativa (quando a análise for qualitativa) dos principais
constituintes da rocha, e estes, por sua vez, são compostos por quatro itens essenciais: grãos do
arcabouço, matriz, cimento e poros. Esse trabalho utilizou a metodologia de descrição
qualitativa para os componentes composicionais.
a. Grãos do arcabouço
São todas as partículas de origem detrítica compreendendo a fração principal (que dá
nome à rocha). De modo mais geral são constituídas por quartzo, feldspatos e fragmentos de
rochas, embora fragmentos de bioclastos também estejam presentes, de forma significativa, em
algumas delas.
Para as rochas siliciclásticas, a quantidade de bioclastos, de modo geral é rara. No
entanto, quando considerado o ambiente deposicional marinho raso/costeiro (ambiente
deposicional do estudo), a presença de bioclastos passa a ser um aspecto relevante e de maior
frequência e os bioclastos presentes serão de acordo com a disponibilidade do ambiente,
podendo ser destacado como principais bioclastos os dos filos: Mollusca (classes bivalvia e
gastrópoda), Brachiopoda, Echinodermata (classes crinóidea e equinóidea), Arthropoda,
Anellida, e da ordem dos foraminíferos (subordens textulariína, milioliína e rotaliína).
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b. Matriz
Dá-se o nome matriz às partículas, também de origem detrítica, com tamanho inferior
ao tamanho dos grãos do arcabouço da rocha. Nas rochas siliciclásticas, essa fração é
geralmente formada por argilominerais (ilita, clorita, vermiculita, esmectita, etc.) e podem ser
classificadas, quanto a sua origem, em dois tipos: primária (ou ‘deposicional’) e secundária (ou
‘de infiltração’). O termo ‘matriz primária’, como o próprio nome já diz, é designado àquelas
partículas depositadas junto aos grãos do arcabouço, anteriormente ao soterramento da rocha.
Por outro lado, o termo ‘matriz secundária’ é atribuído àquelas partículas depositadas após
soterramento, durante a diagênese e, em geral, pode ser gerada por dissolução/precipitação de
minerais autigênicos e/ou infiltração de material nos espaços intergrãos. A identificação e
quantificação do tipo de matriz são importantes para caracterizar a rocha, principalmente,
quanto à eficiência de classificação do meio deposicional, ambiente deposicional e maturidade
textural da rocha.
Para as amostras analisadas, devido à ausência de fonte de sedimentos formadores de
matriz e ao ambiente de alta energia, não existe o componente matriz na formação da rocha.
c. Cimento
É definido como sendo o mineral precipitado quimicamente durante a diagênese a partir
de fluidos intersticiais. Esse constituinte é o principal responsável pela coesão entre as
partículas, e nas rochas clásticas podem assumir mineralogias diversas, onde os principais são:
calcita, sílica, hematita, argilominerais, anidrita, dolomita, feldspatos, zeólitas, entre outros. O
cimento também é responsável pela diminuição da porosidade da rocha. Dependendo do tipo
mineralógico e do ambiente diagenético, os cimentos podem assumir morfologias bastante
variadas, como, por exemplo, as formas microcristalina, criptocristalina, em franja, etc.,
assumidas para o cimento de calcita. O principal aspecto na análise de cimentos é a
caracterização do ambiente diagenético ao qual a rocha foi submetida. Para o presente trabalho,
a classificação dos tipos de cimentos proposta por Vieira e De Ros (2006) foi utilizada, em
virtude, principalmente, do estudo ter sido conduzido em depósitos semelhantes aos aqui
analisados. Tal classificação tem por base a morfologia apresentada pelo cimento, e diferencia
o mesmo em sete tipos distintos: (1) cutículas criptocristalinas, (2) franjas prismáticas isópacas,
(3) espato equante, (4) preenchimento de poros criptocristalino ou micrítico, (5) agregados
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pseudo-peloidais, (6) agregados radiais e (7) agregados isolados e desorientados de cristais
escalenoédricos.
d. Porosidade
É definida como a porcentagem do total da rocha ocupada pelos espaços vazios e, assim
como a matriz, pode ser classificada em dois tipos quanto à gênese: porosidades primária e
secundária. O primeiro tipo é designado àquela porosidade gerada no momento da deposição
dos sedimentos e, nas rochas siliciclásticas, pode ser subdividida em três principais categorias
(SCHMIDT, 1977), sendo elas: interpartícula, intrapartícula e intercristal. A porosidade
secundária é aquela gerada após a deposição (ou durante a diagênese) e, dentre outros, podem
ser citados os tipos interpartícula, intrapartícula, de fratura, de contração, intracristal,
intercristal e agigantada. Para sua identificação são usados alguns critérios básicos, tais como:
dissolução de grãos detritais, dissolução de cimentos autigênicos, dissolução de minerais
autigênicos, encolhimento e faturamento. Para as fácies carbonáticas, a porosidade foi
determinada de acordo com o proposto por Choquette & Pray (1970), o qual é dividida em
fábrica seletivo: intepartícula, intrapartícula, intercristalina, móldica, e estrutura de
crescimento; e fabrica não seletivo: fratura, canal e vesícula.
3 – Classificação
A classificação da rocha sedimentar é um dos principais objetivos da analise
petrógrafica. Existem várias classificações empregadas para dar nomes às rochas sedimentares,
que, por sua vez, utilizam diferentes parâmetros e métodos. O objetivo essencial de um esquema
de classificação é extrair a informação mais importante da rocha de maneira prática e concisa.
Entre as rochas siliciclásticas, o principal parâmetro usado nos métodos de classificação
é a composição que, por sua vez, é avaliada quanto ao percentual de cada tipo de constituinte
presente. Dentre as várias classificações existentes, as propostas por Pettijohn (1949), Folk
(1954), McBride (1963), Dott (1964) e Folk (1968) têm grande destaque, sendo as mais
empregadas para esse tipo de rocha. Todas elas se baseiam na quantidade dos constituintes
essenciais numa rocha siliciclástica, distribuídos ao longo de um diagrama ternário, exceto a de
Dott (1964) que inclui um quarto eixo. Dois desses constituintes são comuns a praticamente
todos os esquemas de classificações; são eles quartzo e feldspatos que compõem dois vértices
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do diagrama, enquanto que o constituinte do terceiro varia de autor para autor, porém, em geral,
é empregada a quantidades de fragmentos de rochas ou argila para compor esse vértice.
Já para rochas carbonáticas são classificadas principalmente em função da composição
ou em função das características texturais. Existem diversas classificações de rochas
carbonáticas, sendo algumas com critérios mais gerais e outras mais específicos. Para as rochas
carbonáticas dentríticas as classificações mais utilizadas são Folk (1959, 1962) e Dunham
(1962).
Além da nomenclatura atribuída à rocha através de um esquema de classificação
baseado apenas na composição mineral, é bastante comum usar uma descrição simples de
parâmetros texturais para incrementar o nome dado, dessa forma pode-se extrair muito mais
informação da rocha através de seu nome.
3. REFERENCIAL TEÓRICO
3.1. Diagênese de rochas sedimentares em ambiente marinho
Diagênese é o conjunto de processos físicos, químicos e biológicos pós deposicionais
onde os sedimentos originais e as águas de poros intersticiais em rochas sedimentares reagem
até alcançar o equilíbrio textural e geoquímico com o meio ambiente (WORDEN; BURLEY,
2003).
Esses processos ocorrem à medida que o ambiente evolui em termos de temperatura,
pressão e química durante o ciclo de deposição, soterramento e elevação da bacia sedimentar.
A diagênese normalmente reduz a porosidade e a permeabilidade originais, redistribuindo os
espaços porosos e alterando as características capilares. Como tal, a diagênese engloba
modificações pós deposicionais que variam desde intemperismo em ambientes subaéreos,
oxidação na coluna d’água, compactação e litificação de sedimentos até chegar ao
metamorfismo de baixa temperatura (WORDEN; BURLEY, 2003).
Flügel (2010) sistematizou a proposta de Choquette & Pray (1970) que relaciona os
processos diagenéticos com a profundidade e condições que eles ocorrem, sendo proposto três
estágios principais:
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• Eogenético: São os processos diagenéticos iniciais, que ocorrem próximos a superfície,
entre a deposição dos sedimentos e o soterramento, onde a química das águas
intersticiais é controlada principalmente pelo ambiente deposicional. Neste estágio, os
sedimentos são instáveis e a sua porosidade é modificada por dissolução, cimentação e
dolomitização.
• Mesogenético: Processos que ocorrem durante o soterramento, longe da influência
direta dos processos relacionados à superfície. São caracterizados por modificações
lentas de porosidade, sendo algumas vezes intensos devido à compactação ou a
processos relacionados. Em outras palavras, a zona mesogenética corresponde ao
ambiente diagenético de soterramento profundo.
• Telogenético: O termo refere-se ao estágio em que as rochas mineralogicamente
estáveis da zona mesogenética são expostas. Essas exposições podem ocorrer devido à
elevação tectônica ou a oscilações no nível do mar, sendo posteriormente afetadas por
processos meteóricos superficiais.
Produtos sedimentares formados em condições marinhas raso são submetidos a
processos que ocorrem na eodiagênese (como os beachrocks), onde os processos diagenéticos
superficiais influenciam diretamente a formação da rocha. Longman (1980) subdividiu o
ambiente eogenético de Choquette & Pray (1970) meios (freático marinho, vadoso
meteórico, freático meteórico e de mistura meteórico/marinho), propondo uma nova abordagem
para ambiente marinho raso com o intuito de estudar os efeitos deste ambiente nas rochas
carbonáticas. Esses meios foram separados pois cada um apresenta particularidades com
respeito à composição química do fluido, resultando na formação de produtos diagenéticos
distintos (Figura 5).
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Atlântico Equatorial – KANN, M. M (2019)
Figura 5 – Principais ambientes diagenéticos descritos por Longman (1980).
• Freático marinho: Meio onde todos os poros estão preenchidos por água do mar,
podendo ser dividido entre zona ativa e estagnada. A zona ativa (1) apresenta grande
circulação da água do mar entre os poros, principalmente na interface água/sedimentos,
resultando em intensa cimentação e preenchimento por calcita altamente magnesiana na
forma micrítica e por aragonita na forma fibrosa/acicular. Já a zona estagnada (2),
mesmo estando saturada em água do mar a circulação é menor, resultando em formação
de produtos diagenéticos incipientes, sendo os principais a micritização do arcabouço e
a cimentação intraparticula (Figura 6 A).
(1) Zona Ativa: os cimentos precipitados são, geralmente, de calcita magnesiana e
aragonita. O cimento de Mg-calcita ocorre comumente na forma microcristalina
micrítica ou criptocristalina (ALEXANDERSSON, 1972), na forma de franjas isópacas
ou na forma de cimento pseudo-peletoidal. O cimento de aragonita está tipicamente
presente como cristais fibrosos em uma variedade de texturas. Comumente, os cristais
formam franjas fibrosas isópacas. Em alguns lugares, podem se formar agulhas de
aragonita desorientadas, já em recifes ocorre comumente aragonita botrioidal. Limites
poligonais entre franjas, interestratificação entre cimentos e sedimentos, perfurações em
cimentos e grande quantidade de cimento ocorrendo na zona de arrebentação de ondas
são outros produtos típicos dessa zona.
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(2) Zona Estagnante: pode ocorrer cimentação intrapartícula por Mg-calcita ou aragonita
nos bioclastos. A micritização por algas, bactérias e fungos é um importante processo
nessa zona, embora também ocorra na zona freática marinha ativa.
• Vadoso meteórico: Também conhecido como meio vadoso, está situado acima do nível
freático, onde tanto o ar quanto a água doce meteórica podem estar no espaço entre os
poros. Neste meio, a água tende a ser aprisionada entre os grãos por capilaridade ou
abaixo destes como pêndulos. É dividido entre meio de solução e precipitação. O meio
de solução é o topo do meio vadoso, mas pode se estender por vários metros dependendo
da profundidade do nível freático; seu principal produto diagenético é a dissolução do
CaCO3 causada pelo fluido subsaturado em carbonato de cálcio, formando vazios (vugs)
e moldes. Enquanto o meio de precipitação fica mais próximo do freático, logo abaixo
do meio de solução, pode ocorrer precipitação a partir da evaporação ou
desgaseificação, onde a água da chuva, anteriormente subsaturada, percola pelo meio
de solução se tornando saturada em calcita, formando assim calcita equigranular
(equant), cimentos pendulares e menisco (Figura 6 B).
• Freático meteórico: Entre o meio vadoso e o de mistura, é a região em que todo o
espaço poroso é preenchido com água meteórica, que apresenta quantidades variáveis
de CaCO3. Pode ser dividido entre três: de dissolução, saturado ativo e saturado
estagnado. O primeiro meio possui processos e produtos semelhantes aos descritos no
meio vadoso meteórico, ou seja, é uma região de intensa dissolução gerando porosidade
vulgular e/ou móldica, em decorrência da subsaturação da água. O meio saturado ativo
é caracterizado pela circulação ativa de água doce saturada entre os poros, podendo
ocorrer a cimentação de calcita na forma de lâminas (bladed) e equigranular. No meio
saturado estagnado, a água supersaturada em CaCO3 praticamente não percola entre os
poros, portanto há pouca cimentação e neomorfismo principalmente de aragonita
(Figura 6 C).
• Meio de mistura: Transição entre os meios freático marinho e freático meteórico.
Caracterizado pela presença de água salobra, devido a mistura de água doce e marinha
(Figura 6) Um dos processos descritos para essa região é a formação de dolomita em
condições de salinidade menor e, a depender da salidadade, calcita bladed a micrítica,
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neomorfismo de aragonita para calcita, e neomorfismo de calcita rica em magnésio para
calcita pobre em magnésio
Figura 6 – Processos e produtos das zonas freática marinha, vadosa meteórica e freática meteórica (Longman,
1980).
3.2. Precipitação e química dos carbonatos
Os oceanos contêm mais de 70 elementos dissolvidos, dos quais nove são considerados
elementos maiores (concentrações acima de 10 μmol.kg-1): sódio (Na), magnésio (Mg), cálcio
(Ca), potássio (K), estrôncio (Sr), cloro (Cl), enxofre (S) (predominantemente como sulfato
(SO42-), bromo (Br) e carbono (C) (principalmente como bicarbonato (HCO3
-) e carbonato
(CO32-)). Estes elementos constituem mais de 90% do total de sais dissolvidos nos oceanos
(MILLIMAN, 1974).
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A precipitação carbonática a partir da água do mar tem início quando o dióxido de
carbono (CO2) atmosférico é dissolvido nos oceanos a partir da bomba de solubilidade, sendo
ela física (causada por turbulências principalmente em águas frias) ou biológica (causada em
sua maioria por processos fotossintéticos) (EMERSON; HEDGES, 2008). O CO2 dissolvido,
forma então o ácido carbônico (H2CO3), que se dissocia em íons de bicarbonato (HCO3-) e
carbonato (CO32-) (Reação 1) (GISCHLER, 2007). Essa dissociação é fortemente dependente
do pH, onde águas mais ácidas tendem a diminuir a estabilidade dos carbonatos, favorecendo a
dissolução (EMERSON; HEDGES, 2008).
Reação 1: CO2 + H2O ↔ H2CO3 ↔ HCO3-+ H+ ↔ 2H+ + CO3
2-
A alcalinidade da água do mar é definida pela concentração de CO32-, HCO3
- e de ácido
bórico (HBO32-), ou seja, pelo domínio da eficácia das bases sobre a eficácia dos ácidos,
consequentemente a alcalinidade dos carbonatos também dependerá da presença de CO32- e
HCO3-. Em condições comuns, o HCO3
- será o íon carbonático mais abundante na água do mar,
com concentrações de cerca de 140 mg.L-1, sendo o cálcio o terceiro cátion mais abundante,
onde o sódio e magnésio se encontram em primeira e segunda posição respectivamente
(MILLIMAN, 1974).
O cálcio pode reagir com íons bicarbonato para formar carbonato de cálcio (Reação 2),
como a aragonita (CaCO3), a calcita altamente magnesiana ou a calcita magnesiana (10 – 20
mol% MgCO3), que são importantes precipitados marinhos, sendo que a aragonita e calcita
magnesiana com 12mol% MgCO3 são hemodinamicamente equivalentes. Nesta reação, a
remoção de CO2, através da fotossíntese para produção de matéria orgânica por exemplo,
induziria a precipitação carbonática.
Reação 2: Ca2+ + 2HCO3
- ↔ CaCO3 + H2O + CO2
Da mesma forma, a reação reversa da respiração ou decaimento da matéria orgânica
(por simplicidade expressa em CH2O) resultará na dissolução do carbonato de cálcio (Reação
3) (GISCHLER, 2007).
30 Petrografia da sequência sedimentar da Ilha Sudeste do arquipélago São Pedro e São Paulo,
Atlântico Equatorial – KANN, M. M (2019)
Reação 3: CO2 + H2O ↔ CH2O + O2
Variações de temperatura, pH e salinidade resultam em aumento ou diminuição da
solubilidade dos carbonatos na água. Aumentos na temperatura, pH e salinidade deslocam o
equilíbrio da reação, resultando em precipitação do carbonato de cálcio, enquanto o aumento
da pressão resultaria no aumento da solubilidade, levando a sua dissolução. Dessa forma, como
consequência do gradiente latitudinal de temperatura, a saturação do carbonato de cálcio na
água do mar aumenta em direção ao Equador (GISCHLER, 2007; EMERSON; HEDGES,
2008), o que influencia diretamente a distribuição de beachrocks.
Para ambientes de água doce, a quantidade de íons dissolvidos na água é muito mais
baixa se comparada com a água do mar, fazendo com que a diagênese em ambiente meteórico
seja mais lenta que em ambiente marinho, favorecendo os processos de dissolução devido a
subsaturação em carbonatos (GISCHLER, 2007).
3.3. Beachrock
Beachrocks são depósitos sedimentares rapidamente cimentados principalmente pela
precipitação de cimentos carbonáticos, tipicamente calcita, calcita pouco magnesiana (low-
magnesium calcite), calcita muito magnesiana (high-magnesium calcite ou rich-mg calcite) e
aragonita, entre outros polimorfos de carbonato de cálcio (TURNER, 2005; VOUSDOUKAS
et al. 2007).
A formação e os mecanismos de precipitação dos cimentos que formam os beachrocks
ainda são bastante discutidos, contudo, todas as definições convergem para um ponto em
comum e, em geral, as definem como sendo, em seu sentido restrito, uma “rocha sedimentar,
friável a bem cimentada, formada em zona litorânea (especialmente em região de intermarés)
pela cimentação de sedimentos praiais por carbonato de cálcio (calcita magnesiana e/ou
aragonita)” (HOPLEY, 1986).
Com relação a sua distribuição, Danjo & Kawasaki (2014) e Vousdoukas et al. (2007),
analisando diversos estudos, constataram que as principais regiões de ocorrência dessas rochas
são os mares do Caribe e do Mediterrâneo, as costas tropicais a subtropicais do Atlântico, e os
31 Petrografia da sequência sedimentar da Ilha Sudeste do arquipélago São Pedro e São Paulo,
Atlântico Equatorial – KANN, M. M (2019)
atóis dos oceanos Índico e Pacífico, ou seja, associados a locais com águas mais quentes (Figura
7).
Figura 7 – Distribuição das principais ocorrências de beachroks no mundo. As áreas vermelhas
correspondem aos locais com estudos dedicados a essas rochas. Fonte: Vousdoukas et al.
(2007).
3.3.1. Características Gerais
No que tange às suas formas, os beachrocks tendem a apresentar corpos rochosos
paralelos a costa e com ângulo de mergulho/inclinação (entre 5 a 15°) em sua estratificação
interna semelhante à da linha de costa onde foram formados. Dessa maneira, são comumente
encontrados em regiões de dinâmica costeira intensa como afloramentos pequenos e
descontínuos, devido à exposição a agentes intempéricos (ventos, ondas e marés), e em recifes
de centenas de metros, com cerca de 5 a 20 m de largura e 100 a 200 m de comprimento
(GISCHLER, 2007; VOUSDOUKAS et al., 2007; MCLEAN, 2011).
Ao longo do seu perfil vertical, os beachrocks apresentam estratos de espessura fina,
com poucos decímetros, preservando a estratificação original da praia onde a rocha foi formada
e tendendo a ser maior em áreas com maiores flutuações do nível do mar (VOUSDOUKAS et
al., 2007).
O tamanho e a natureza dos grãos que compõem o arcabouço dos beachrocks são
bastante diversificados, variando de cascalhos a areias, de origem clástica ou biogênica,
dependendo, portanto, dos sedimentos depositados no local onde foram formados. Em alguns
32 Petrografia da sequência sedimentar da Ilha Sudeste do arquipélago São Pedro e São Paulo,
Atlântico Equatorial – KANN, M. M (2019)
casos, são descritos materiais considerados “erráticos”, como fragmentos de artefatos humanos
e lixo, refletindo essencialmente a composição sedimentar de onde foi formada no momento da
sua cimentação (VOUSDOUKAS et al., 2007; MCLEAN, 2011).
A matriz sedimentar de um beachrock também reflete o ambiente em que foi formado
e, em menor escala, o ambiente no qual se encontra exposto (VOUSDOUKAS et al., 2007). O
tempo de litificação dos sedimentos praiais que dão origem aos beachrocks é bastante curto se
comparado a outras rochas sedimentares. A litificação completa pode ocorrer em meses até
poucas dezenas de anos, e sua formação envolve diferentes processos e ambientes sedimentares
(VOUSDOUKAS et al., 2007). A rápida litificação favorece a preservação de grande parte das
estruturas sedimentares presentes nos beachrocks e, até mesmo, pela preservação dos artefatos
e materiais “erráticos”.
3.4. Rochas Híbridas
3.4.1. Definição
Rochas híbridas são constituidas por componentes extrabaciais (por exemplo,
terrigenos) e intrabacias (autóctones a parautóctones) (ZUFFA, 1980; 1985). Como na maioria
dos casos a mistura compreende grãos siliciclásticos/litoclásticos como fração extrabacial e
grãos carbonato (principalmente bioclástico) como fração intrabacial, a definição mais utilizada
para esses materiais híbridos são "sedimentos siliciclásticos e carbonatos mistos" (MOUNT,
1985). A mistura desses dois componentes derivam principalmente da interação de diferentes
processos (influxo de fragmentos de rochas para dentro de bacia de sedimentação marinha) e
consiste na mistura de grãos litoclásticos e carbonatos, bem como na alternância de lâminas de
litoclástico e carbonato e conjuntos de lâminas e/ou conjuntos de estratos (CHIARELLA E
LONGHITANO, 2012). Como consequência, a mistura entre os dois componentes heterolíticos
pode ocorrer com diferentes proporções e escalas de acordo com diferentes processos
deposicionais, mudanças relativas no nível do mar e/ou variações climáticas, fornecendo
registros mais sensíveis e padrão complexo de sedimentação do que sistemas siliciclásticos ou
carbonatos puros.
Os sistemas híbridos exibirem padrões complexos de sedimentação que dependem de
processos sedimentares ativos em sistemas terrestres e/ou carbonatos interagindo nos mesmos
ambientes sedimentares (DOLAN, 1989). Consequentemente, o estudo de sistemas mistos
33 Petrografia da sequência sedimentar da Ilha Sudeste do arquipélago São Pedro e São Paulo,
Atlântico Equatorial – KANN, M. M (2019)
geralmente requer uma abordagem multidisciplinar, mesmo que, muitas vezes sejam as rochas
litoclásticas ou carbonáticas abordadas separadamente, com menos atenção ao espectro de
sedimentos "mistos", que fica entre os membros finais litoclásticos e carbonatos.
3.4.2. Classificação
O esquema de classificação mais aceito e empregado para a descrição sistemática de
rochas sedimentares se concentram em sedimentos siliciclásticos ou carbonatos puros (por
exemplo, PETTIJOHN, 1954; FOLK, 1962; DUNHAM, 1962), embora, em 1957, Pettijohn
tenha usado pela primeira vez o termo “orto-quartzito calcarenáceo” para arenito constituído
por uma proporção igual carbonato detrítico e quartzo. Sucessivamente, várias outras propostas
foram apresentadas como Pettijohn (1975), que propos o termo “areia calcarenácea” para
definir arenito contendo uma quantidade consideravel de partículas carbonáceas detríticas.
Zuffa (1980) introduziu a definição de "arenito híbrido” como sendo uma rocha composta por
um componente intrabacial tipicamente representado por fragmentos de organismos
esqueléticos de carbonato e frações clásticas extrabaciais derivadas de entrada de rio ou erosão
submarina de rochas de substrato anteriores. Finalmente, Chiarella e Longhitano (2012)
introduziram a 'relação bioclástica/litoclástica', que permite avaliar quantitativamente as
porcentagens de partículas antitéticas em depósitos não consolidados ou consolidados,
sugerindo que os sedimentos são considerados mistos se contêm mais de 10% de seus
componentes antitéticos.
Segundo Budd e Harris (1990), sucessões mistas exibem dois tipos diferentes de mistura
sedimentar: (i) 'variabilidade espacial', quando sedimentos siliciclásticos e carbonatos ocorrem
adjacentemente, ocupando ambientes contemporâneos e contíguos lateralmente e (ii)
'variabilidade temporal', quando sedimentos carbonáticos e siliciclásticos alternam-se
temporalmente ao longo da mesma sucessão. Contudo, em alguns casos particulares, sucessões
mistas podem ser caracterizadas por uma a variabilidade espacial de curto prazo que alterna a
variabilidade temporal de longo prazo.
No entando, a proposta Budd e Harris (1990) não contempla a diferente escala de
organizacao interna que caracteriza o deposito. Devido a essa limitação, Chiarella at al., (2017)
propõem uma caracterização que leve em consideração as diferentes escalas de organização
interna. Em particular, com base em seu arranjo deposicional, os depósitos mistos podem ser
34 Petrografia da sequência sedimentar da Ilha Sudeste do arquipélago São Pedro e São Paulo,
Atlântico Equatorial – KANN, M. M (2019)
classificados como derivado de mistura de composição ou mistura de estratos (Figura 8). A
mistura composicional refere-se a depósitos nos quais as duas frações heterolíticas se acumulam
contemporaneamente no tempo e o espaço resultante em camadas de milimetros a metros com
uma composição carbonática e litoclástico. A mistura de estratos refere-se a depósitos onde as
duas frações heterolíticas são organizados em camadas litoclástica e carbonática, podendo ter
escala de metro a decâmetro. A mistura composicional e de estratos ocorre em três escalas
principais de observacao - camada, litofácies e escala estratigráfica (Figura 8).
Figura 8 – Escala de mistura litoclástica-carbonática. (A) Mistura composicional em escala pontual. Esse tipo de
mistura ocorre quando frações litocláticas e carbonáticas são acumuladas contemporaneamente: em espaço e
tempo. (B) Mistura de estratos em escala de litofacies. (C) Mistura de estratos em escala estratigráfica. Mistura de
estratos ocorre quando duas frações heterolíticas são organizadas em diferentes camadas Chiarella at al., (2017).
35 Petrografia da sequência sedimentar da Ilha Sudeste do arquipélago São Pedro e São Paulo,
Atlântico Equatorial – KANN, M. M (2019)
Mistura composicional
A mistura de composição ocorre em pequena escala e geralmente está relacionada a
processos deposicionais ativos durante a sedimentação. Partículas litoclásticas e carbonáticas
são misturados durante o acúmulo de sedimentos (Figura 8 A). Na mistura composicional é
importante destacar que, sob os mesmos processos hidrodinâmicos (por exemplo, ondas,
correntes, marés), cada componente heterolítico pode oferecer uma resposta física diferente
(CHIARELLA at al., 2017). Por exemplo, devido a sua densidade mais baixa e, muitas vezes,
forma irregular, grãos esqueléticos, ainda maiores que o tamanho da areia, requerem menor
tensão de cisalhamento para iniciar o transporte, se comparado aos grãos litoclásticos. Por esse
motivo, sedimentos heterolíticos fornecem uma resposta física diferente se arrastados por um
fluido em movimento, gerando uma organização interna específica de partículas bioclásticas e
litoclásticas (CHIARELLA E LONGHITANO, 2012). Esta diversidade significativa pode
afetar as taxas de transporte, causar arrastamento diferencial de sedimentos e levar a a formação
de variedades texturais específicas em depósitos mistos.
Mistura de estratos
A mistura de estratos pode estar relacionada a fatores autocíclicos ou alocíclicos. Neste
tipo de mistura, é possível reconhecer a mistura que ocorre da (a) escala de litofácies e (b) escala
estratigráfica (Figura 8 B e C)
(a) A mistura em escala de litofacies consiste em camadas litoclásticas e carbonadas
bandadas (Figura 8 B). Essa mistura pode ser interpretado como resultado de: i) mudanças de
curto prazo no nível do mar; ii) mudanças climáticas de curto prazo; iii) extrema condições
climáticas (por exemplo, tempestades) ativas durante a sedimentação; ou (iv) segregação
heterolítica relacionada a processos deposicionais conduzidos pela gravidade.
(b) A mistura de escala estratigráfica (Figura 8 C) pode estar relacionada à ação
contemporânea de fatores alocíclicos e autocíclicos. Como por exemplo, mistura estratigrafica
devido a deslocamento progradacional ou retrogradacional de meio marinho carbonático sobre
ambiente aluvial siliciclático, resultando em um perfil estratigrafico interdigitado.
36 Petrografia da sequência sedimentar da Ilha Sudeste do arquipélago São Pedro e São Paulo,
Atlântico Equatorial – KANN, M. M (2019)
3.4.3. Processos de mistura
Chiarella at al. (2017) citam três processos principais de mistura que geram carbonato e
litoclástico (Figura 9), sendo eles:
(i) Mistura pontuada, que se refere a coexistências ocasionais e isoladas de carbonatos com
litoclásticos e que ocorre devido a catástrofes, eventos de alta intensidade ou está
relacionado a mudanças climáticas de curto prazo. Esse tipo de processo de mistura
produz uma mistura em escala de litofácies (mistura de estratos).
(ii) A mistura de fácies representa a mistura que ocorre ao longo das fronteiras entre
ambientes contrastantes, litoclásticos e dominados por carbonatos. Exemplos: flancos
complexos carbonatícos que abrigam lagoas litoclásticas; planos de marés litoclásticos
adjacentes a carbonatos submarés; dunas costeiras e marés que recebem contribuições
eólias de um composição dos sedimentos de fundo; praias bioclásticas situadas nos
flancos de ilhas vulcânicas, que recebem sedimentos vulcanoclásticos erodidos das áreas
vizinhas; e estreitos de maré, onde dunas litoclásticas são frequentemente povoadas por
organismos vivos com partes esqueléticas calcárias. Esse tipo de mistura pode resultar
em um mistura em escala de leito (mistura composicional) e/ou mistura em escala
estratigráfica (mistura de estratos).
(iii) Mistura situ refere-se a misturas de sedimentos relacionadas à disponibilidade
contemporânea no espaço e tempo de frações litoclásticas e carbonato. Esse tipo de
processo de mistura resulta em uma mistura em escala de camada (mistura
composicional). Aqui, sedimentos litoclásticos se combinam com carbonato derivado
de assembléias de fauna autóctones ou parautóctones.
37 Petrografia da sequência sedimentar da Ilha Sudeste do arquipélago São Pedro e São Paulo,
Atlântico Equatorial – KANN, M. M (2019)
Figura 9 – Modelo conceitual dos diferentes tipos de processos de misturas de sedimentos híbridos (Mount, 1984).
Mistura pontual resulta em mistura de estratos; mistura de fáceis pode resultar tanto em mistura em camada de
mistura composicional ou mistura composicional estratigráfica. Mistura in situ resulta em mistura composicional
(escala pontual) Chiarella at al., (2017).
4. CONTEXTO GEOLÓGICO DO ARQUIPÉLAGO DE SÃO PEDRO
E SÃO PAULO
4.1. Geologia Regional
A área de estudo está contemplada na porção emersa da Cordilheira Atobá (MAIA et
al., 2016), composta por 6 ilhotas e 4 rochedos de contornos irregulares, chamadas de
Arquipélago de São Pedro e São Paulo (ASPSP). Essa Cordilheira se apresenta encaixada no
limite norte do ativo Sistema da Falha Transformante São Paulo, oriunda da quebra do
continente Pangeia e consequente abertura do Oceano Atlântico (MAIA et al., 1998).
38 Petrografia da sequência sedimentar da Ilha Sudeste do arquipélago São Pedro e São Paulo,
Atlântico Equatorial – KANN, M. M (2019)
A Zona da Falha Transformante de São Paulo, na qual o ASPSP encontra-se
geologicamente inserido, apresenta direção E-W e movimento transcorrente dextral ao longo
de 630 km (MOTOKI et al. 2009; CAMPOS et al., 2010; MAIA et al., 2016).
A morfologia da estrutura submarina onde o Arquipélago ocorre apresenta 90 km de
extensão, 20 km de largura e 3800 metros de altura, sendo chamada de Cadeia Peridotítica São
Pedro e São Paulo por Motoki et al. (2009) (Figura 10).
Figura 10 – Visualização da morfologia abissal em torno do ASPSP, confeccionada com base na batimetria predita
(UCSD-SIO, 2009). A escala vertical é exagerada em 12 vezes da escala horizontal.
Hekinian (2000) e Sichel et al. (2011) dividem esta cadeia em duas elevações: a elevação
sul é composta por peridotitos granulares não deformados e fortemente serpentinizados e a
elevação norte, onde afloram as rochas em superfície, abrangendo o ASPSP (Figura 11) é
composta principalmente de rochas plutônicas alcalinas ricas em lherzolita e kaesurtita
extensivamente milonitizada e pouco serpentinizada, sendo intrudidos por gabros e basaltos,
considerando a amostragem por submersível de Hekinian et al., (2000). Sichel et al. (2008)
apontam para os enriquecimentos em U, Th, Ba, terras raras leves e gases nobres,
especialmente, indicando que estes enriquecimentos se relacionam aos processos de
milonitização de um manto previamente afetado por metassomatismo na elevação norte. Sobre
39 Petrografia da sequência sedimentar da Ilha Sudeste do arquipélago São Pedro e São Paulo,
Atlântico Equatorial – KANN, M. M (2019)
o peridotito milonitizado ocorre uma cobertura sedimentar de deposição marinha raso de idade
neogênica (CAMPOS et al., 2003; CAMPOS et al., 2010) (Figura 12).
Figura 11 – Perfil com compilação de mergulhos profundos pelo submersível Nautile, segundo Hekinian et al.
(2000). A escala vertical é exagerada em 2 vezes da horizontal.
Figura 12 - Mapa geológico da região emersa do ASPSP (Campos et al., 2010).
40 Petrografia da sequência sedimentar da Ilha Sudeste do arquipélago São Pedro e São Paulo,
Atlântico Equatorial – KANN, M. M (2019)
Motoki et al. (2015) também denominam esta cadeia de Brachiosaurus, em referência a
sua forma tridimensional e semelhança ao Godzila Megamullion do Oceano Pacifico. Estes
mesmos autores descrevem a Cadeia de Brachiosaurus como constituída por rochas
ultramáficas do manto abissal, situado na interseção da falha transformante de São Paulo com
a cordilheira meso-oceânica.
4.2. Megamullion
Exposições do manto abissal no fundo oceânico são raramente encontradas e quando
ocorrem estão condicionadas ao longo de falhas transformantes, assim como em segmentos de
cadeia meso-oceânica e em megamullions. Os megamullions, sinônimo para oceanic core
complex (OCC), foram definidos por Hekinian et al. (2000), como saliências lineares em forma
de estrias, que ocorrem perpendicularmente às cadeias meso-oceânicas adjacentes, possuem
altura relativa de 100 m a 200 m, são compostas geralmente de rochas gabróicas e peridotíticas
indicando processos amagmáticos, e que foram associadas a área de estudo.
Motoki et al. (2013) afirmam que as condições para a ocorrência de um megamullion
são satisfatórias na área de estudo, entretanto quando comparado à morfologia submarina
encontrada no Atlântico Norte, estas seriam distintas das características encontradas no
arquipélago, pois as rochas do ASPSP não apresentam gabros na sua constituição. Desta forma,
a origem e o mecanismo de exumação das rochas mantélicas da Cadeia Peridotítica
Brachiosaurus pode ser diferentes de megamullion descritos, além de inferir que a grande altura,
a morfologia altamente acidentada, a elevada declividade dos flancos e alta velocidade de
soerguimento são incompatíveis com o modelo. Entretanto, Hekinian et al. (2000), para o flanco
norte, descrevem rochas fortemente tectonizadas, essencialmente milonito peridotítico
serpentinizado, milonito peridotítico bandado e serpentinizado, raras intrusões gabróicas e
derrames basálticos, onde haveria a inserção de gabros no ASPSP, contrapondo uma das
condições apresentadas por Motoki (2013).
Motoki et al. (2015) listam as condições tectônicas para a exumação de manto por
espalhamento amagamático no ASPSP, sendo estes: a) tectonismo de distensão no contato
divergente de placas de espalhamento amagamático; e b) tectonismo de compressão na cadeia
de transpressão ao longo da falha transformante (MAIA et al., 2016).
41 Petrografia da sequência sedimentar da Ilha Sudeste do arquipélago São Pedro e São Paulo,
Atlântico Equatorial – KANN, M. M (2019)
No primeiro caso, o tectonismo de distensão no contato divergente de placas de
espalhamento amagamático seria o gerador de magmas basálticos, com fusão parcial por
descompressão quase que adiabática devido a taxa de espalhamento ser alta e não haver tempo
para o resfriamento do manto em ascensão. Quando a taxa de espalhamento é baixa, há tempo
para o resfriamento e então não há magma suficiente para formar a crosta oceânica, sendo assim,
se observa o fenômeno de exumação de manto (Figura 13). No contato divergente de placas
deste tipo, ao invés de graben de rifte, ocorre a falha normal de baixo ângulo denominada falha
de descolamento (detachment fault como descrito por BRUN et al., 1994; CANALES et al.,
2004; ESCARTÍN et al., 2008). Tal espalhamento é denominado espalhamento amagmático ou
espalhamento tectônico (DICK et al., 2003, CANNAT et al., 2006).
Figura 13 – Evolução tectônica de uma zona de espalhamento amagmático com a exumação do manto e formação
de megamullion. Modificado de Tucholke et al. (1998).
A segunda condição tectônica para exumação consiste no tectonismo de compressão na
cadeia de transpressão ao longo da falha transformante, sendo este o mecanismo responsável
pela exumação do manto, característico de zonas com movimento transcorrente, neste caso,
dextral, observado no limítrofe noroeste da zona de falha transformante de São Paulo.
A distensão e o esforço de compressão ocorre ao longo de uma falha transcorrente em
trechos em que as direções da falha transformante e do movimento relativo das placas não são
paralelas (MAIA et al., 2016). Em uma falha de deslocamento dextral com direção leste-oeste,
quando o trecho da falha tem direção local nordeste-sudoeste, gera-se a compressão
perpendicular à falha consequentemente (MAIA et al., 2016). A compressão forma uma
saliência morfológica linear paralela ao trecho da falha, denominada cadeia de transpressão
42 Petrografia da sequência sedimentar da Ilha Sudeste do arquipélago São Pedro e São Paulo,
Atlântico Equatorial – KANN, M. M (2019)
(pressure-ridge). Porém, se o trecho tem direção local noroeste-sudeste, uma distensão é
gerada, formando uma bacia de distensão (pull-apart basin; Figura 14).
Figura 14 – Ilustração esquemática para a gênese tectônica de cadeia de transpressão (pressure-ridge) e bacia de
distensão (pull-apart basin).
A zona de falha transcorrente de São Paulo é constituída, pelo menos, por quatro falhas
transformantes e três segmentos inter-transformantes de cadeia, ou seja, centros de
espalhamento de placas oceânicas (MAIA et al., 2016). Na maioria das partes, o contato entre
as placa Sul-Americana e Africana é evidenciada claramente pela morfologia submarina.
(MAIA et al., 2016; Motoki et al., 2015).
4.3. Formação São Pedro e São Paulo
A sequência sedimentar existente na Ilha Sudeste do ASPSP foi proposta por Campos
et al. (2002, 2003, 2009) e Virgens Neto (2006) como Formação São Pedro e São Paulo, sendo
uma unidade de idade Pleistocênica, de acordo com datações 14C em fósseis do topo da
sequência (VIRGENS NETO, 2006). Consiste em uma sequência sedimentar biolitoclástica
cimentada por carbonato de cálcio de precipitação marinha, repousante em contato discordante
sobre o embasamento peridotitico milonitizado. Esta unidade é representada por uma bancada
sedimentar de aproximadamente 6 metros de espessura e originou-se a partir da deposição dos
sedimentos marinhos em águas rasas de uma paleo-bacia em épocas de nível relativo do mar
mais elevado.
43 Petrografia da sequência sedimentar da Ilha Sudeste do arquipélago São Pedro e São Paulo,
Atlântico Equatorial – KANN, M. M (2019)
Campos et al., 2003 e Campos et al., 2009 sugerem que a Formação São Pedro e São
Paulo é composta por duas unidades principais: Atobás (A) e Viuvinhas (V), ambas constituídas
por duas subunidades (Figura 15 e Figura 16):
Unidade A (Unidade Atobá): A unidade repousa discordantemente sobre o
embasamento e é formada por duas sub-unidades, A1 e A2. A sub-unidade A1 e constituída por
seixos litoclásticos arredondados a sub arredondados, apresenta granodecrescencia normal, com
granulometria variando da base para o topo entre 5 e 1 cm com cimentação carbonática e
coloração avermelhada a amarronzada. Os seixos das camadas mais inferiores são mais
arredondados que os das camadas superiores. A sub-unidade A2, consiste em um arenito
carbonático grosso cimentado, de coloração escura em tom avermelhado a marrom, contendo
ainda seixos litoclásticos angulosos isolados. A Unidade Atobás encontra-se basculada em 10°
mergulhando para 160° de Az.
Unidade V (Unidade Viuvinha): unidade depositada discordantemente sobre a
Unidade Atobás. A Unidade Viuvinhas também é composta por duas sub-unidades: V1 e V2.
A sub-unidade V1 e constituída por matacões angulosos, métricos a decimétricos, misturados
em uma matriz arenítica fossilífera, com cimentação carbonática de coloração cinza. A sub-
unidade V2 é constituída por um arenito grosso, avermelhado, fossilífero, com seixos sub-
arredondados a sub-angulosos de dimensão centimétrica. A unidade Viuvinhas está basculada
35° para 300° Az.
No processo de formação da unidade pelo menos dois grandes episódios
sismotectônicos atingiram as rochas. O primeiro evento gerou uma discordância entre as duas
sequências de deposição e o segundo basculou todo o pacote. A atual espessura da sequência
não representa a espessura máxima devido ao intenso processo erosivo imposto pelo
intemperismo e tectônicos. Essa condição fica evidente uma vez que a morfologia da unidade
apresenta sinais de erosão marinha e erosão provocada por atividades sísmicas.
44 Petrografia da sequência sedimentar da Ilha Sudeste do arquipélago São Pedro e São Paulo,
Atlântico Equatorial – KANN, M. M (2019)
Figura 15 – Mapa geológico da sequência sedimentar da Ilha Sudeste do ASPSP. A- Unidade Atobá; B: Unidade
Viuvinha. (CAMPOS et al., 2002; 2003).
45 Petrografia da sequência sedimentar da Ilha Sudeste do arquipélago São Pedro e São Paulo,
Atlântico Equatorial – KANN, M. M (2019)
Figura 16 - Perfil AA’ (A) e BB’ (B) da sequência sedimentar da Ilha Sudeste do ASPSP identificado no mapa
geológico da Figura 15 (CAMPOS et al., 2002, 2003).
46 Petrografia da sequência sedimentar da Ilha Sudeste do arquipélago São Pedro e São Paulo,
Atlântico Equatorial – KANN, M. M (2019)
5. RESULTADO E DISCUSSÃO
5.1. Aspectos de Campo
As rochas da sequência sedimentar do arquipélago São Pedro e São Paulo ocorrem na
Ilha Sudeste em desconformidade erosional sobre as rochas do embasamento peridotítico
milonitizado e serpentinizado. As rochas apresentam coloração cinza, avermelhada até
esbranquiçada e estão basculadas aproximadamente 10° ora para 280 ora para 170 de Az.
Atualmente estão posicionadas a aproximadamente 1 metro acima do nível do mar, sendo
representadas por um pacote com espessura aproximada de 6 metros. Consistem em rochas com
componentes litoclásticos e bioclásticos cimentados por cimento carbonático, por vezes com
estratificação cruzada e mais frequentemente estratificação gradual. A granulometria das rochas
varia desde areia até conglomerados/brechas e são essencialmente mal selecionados, embora
existam níveis pouco espessos com melhores selecionamentos. A presença de seixos e matacões
é comum em todos os níveis, sendo desde angulosos até arredondados, devido a região ter
atividade sísmicas, o que provoca a queda de sedimentos angulosos no seio dos sedimentos
trabalhados. Os bioclásticos encontrados são principalmente fragmentos de corais, barnacles e
bivalves. Discordâncias e marcadores de paleoníveis indicam oscilações do nível do mar e
algumas direções de faturamento indicam a atuação tectônica sobre o pacote sedimentar. A
sequência sedimentar é representada por duas Unidades: Atobá (Figura 17) e Viuvinha (Figura
18).
47 Petrografia da sequência sedimentar da Ilha Sudeste do arquipélago São Pedro e São Paulo,
Atlântico Equatorial – KANN, M. M (2019)
Figura 17 - A) Perfil principal da sequência sedimentar da Ilha Sudeste do ASPSP. B) Detalhe da base da Unidade
Atobá (A1) com seixos arredondados e angulosos, discordância sobre o embasamento. C) Estratificação cruzada
na unidade A2 e discordância angular com a Unidade Viuvinha, marcada por paleonível.
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Atlântico Equatorial – KANN, M. M (2019)
Figura 18 – A) Topo do perfil da Unidade Viuvinha. B) Detalhe da fácies carbonática (V1) com macrofósseis
bivalves e litoclástos. C) Detalhe do arenito avermelhado e bem selecionado da fácies V2. D) Aspecto de
composição mista siliciclástica-carbonática com mistura composicional e de fácies na Unidade Viuvinha. E)
Blocos do embasamento compondo o perfil sedimentar da Unidade Viuvinha.
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Atlântico Equatorial – KANN, M. M (2019)
5.2. Descrição micropetrográficas
As análises petrográficas de campo e em seções delgadas auxiliaram na avaliação
textural, composição do arcabouço, caracterização das porosidades, eventos diagenétiscos e na
classificação da rocha nas duas fácies propostas para o perfil sedimentar híbrido (siliciclástico-
carbonático da Ilha Sudeste: Unidade Atobá, essencialmente litoclástica e Unidade Viuvinha,
essencialmente híbrida. As amostras coletadas foram descritas e sintetizadas na Tabela 2.
As rochas litoclásticas são formadas por texturas variadas de sedimentos gerados a partir
da erosão da rocha peridotítica do embasamento e pontualmente produtos sedimentares
retrabalhados. O principal evento diagenético é a cimentação carbonática que preenche quase
que todos os espações vazios entre os constituintes dentríticos. O cimento é de aragonita e
calcita magnesiana na forma de aragonita acicular e fibrosa e na forma de calcita muito
magnesiana microcristalina, fibrosa ou na forma rômbica (Figura 20 A-E).
As rochas híbridas são formadas por componentes aloquimicos, intraclástos e
extraclástos, angular a sub-angular e com texturas variadas. Assim como para as rochas
essencialmente litoclásticas da unidade inferior, para as híbridas, o principal evento diagenético
é a preenchimento dos espaços porosos por cimentação. Os principais tipos de cimentos das
rochas híbridas são calcita muito magnesiana microcristalina e cripto-cristalina e franja
prismática (Figura 23). As rochas híbridas apresentam as maiores porosidade da sequência e
são dos tipos intercristalina, intragranular e moldica (Figura 22 e Figura 23 A, B, D e F).
Tabela 2 – Análise quantitativa das microfácies da sequência sedimentar da Ilha Sudeste do ASPSP. Valores em
%.
Amostra
Composição do
Arcabouço Cimento Porosidade
Litoclástos Bioclastos
Fm
. A
tob
á
ASPSP 22 80 0 18 2
ASPSP 22 B 79 2 16 3
ASPSP 23 73 3 19 5
ASPSP 36 75 2 19 4
ASPSP 37 79 3 15 3
Fm
. V
iuv
inha
ASPSP 24 13 53 23 11
ASPSP 24 B 42 21 25 12
ASPSP 12 14 52 20 14
ASPSP 12 B 15 55 20 10
ASPSP 39 30 47 14 9
SE 01A 19 45 23 13
50 Petrografia da sequência sedimentar da Ilha Sudeste do arquipélago São Pedro e São Paulo,
Atlântico Equatorial – KANN, M. M (2019)
Unidade Atobá
Analises petrográficas revelam que a unidade Atobá é composta principalmente por
duas fácies sedimentares com granulometrias dominantes nas frações seixo e areia, segundo a
classificação de Wentworth (1922), embora ambas as fácies apresentem outras granulometrias
dispersas erraticamente, incluindo blocos. A grande dispersão na moda granulométrica tem
influência na atividade sísmica atuante na região, além da resposta ao intemperismo e período
de erosão imposto aos sedimentos, o que provoca um elevado valor do desvio padrão (ϕ), em
média 2, de acordo com a classificação de Pettijohn (1972), sendo classificada como muito
pobremente selecionando.
Seguindo a proposta de Power (1953), a esfericidade apresenta padrão ora tendendo a
muito baixa ora com porções com tendências a moderada, enquanto que o grau de
arredondamento é predominantemente anguloso. Os grãos que compõe as fácies estão
essencialmente flutuantes, refletindo no empacotamento frouxo, de acordo com o Índice de
Kahn (KAHN, 1956). Devido ao grau de selecionamento e arredondamento descrito para as
amostras analisadas, as litofácies da unidade Atobá representa a classe submadura de Folk
(1974), quando considerada a maturidade textural.
Em relação a aspectos de composição do arcabouço, os litotipos da unidade Atobá tem
na composição essencialmente grãos litoclásticos do embasamento e subordinadamente
fragmentos de rocha sedimentar e fósseis (Tabela 2) (Figura 19).
O cimento carbonático corresponde em média a 18% da composição total das rochas,
sendo representado por calcita magnesiana e aragonita. As principais morfologias são calcita
microcristalina, franja prismática isópaca e cristais criptocristalinos (Figura 20). O cimento
microcristalino ocorre circulando grãos e poros e preenchendo os espaços intergranulares. Essa
fase pode ser interpretada como fase posterior a franja isópaca de cristais fibrosos e aciculares,
que ocorre ao redor dos grãos, podendo projetar-se de forma desordenada, com algumas formas
de leque, para o interior de poros. A franja prismática isópaca é a principal morfologia do
cimento, com franjas de variados tamanhos e que envolvem todos os componentes do arcabouço
e chegam a formar contatos poligonais.
As rochas apresentam baixa porosidade, estando os espaços intergranulares preenchidos
por cimento, resultado do mal selecionamento dos grãos e ambiente de diagênese, no qual os
espaços vazios eram saturados em água. A porosidade representa em média 4 % da composição
das rochas da unidade, sendo representada majoritariamente por porosidade secundária dos
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tipos propostos por Schmidt (1977): poros agigantados e grãos flutuantes, poros alongados e
móldica, reflexo do contato entre os grãos serem essencialmente flutuantes, diminuindo a
possibilidade da ocorrência de porosidades primárias, embora essa possa existir pontualmente
(Figura 20).
Figura 19 – Fotomicrografias da Unidade Atobá representativas do arcabouço das rochas. A, B, C e D) Variedades
granulométricas na composição do arcabouço das rochas. E, F G) Bioclastos não identificados compondo
arcabouço juntamente com litoclástos. H) Detalhe de litoclásto fraturado e preenchido por microbrecha.
52 Petrografia da sequência sedimentar da Ilha Sudeste do arquipélago São Pedro e São Paulo,
Atlântico Equatorial – KANN, M. M (2019)
Figura 20 – Fotomicrografias da Unidade Atobá representando as morfologias do cimento (A-E) e porosidades (F-
H). A) Seta vermelha indicando cristais fibrosos de calcita magnesiana na parede de litoclásto; seta preta indica
cutícula cripto-cristalina ao redor de grão. B) Seta vermelha indicando preenchimento de espaço vazio
intergranular por cimento microcristalino. C) Seta vermelha indicando grão completamente micritizado; seta preta
indicando grandes cristais fibrosos sobre cristais aciculares. D) Seta vermelha indicando cristais bem
desenvolvidos de cimento botroidais com franjas formando contato poligonal. E) Seta vermelha indicando cimento
microcristalino. F e H) Seta vermelha indicando presença de porosidade intregranular em grão de milonito,
especialmente na alterada. G) Seta vermelha indicando porosidade intercristalina bem desenvolvida.
53 Petrografia da sequência sedimentar da Ilha Sudeste do arquipélago São Pedro e São Paulo,
Atlântico Equatorial – KANN, M. M (2019)
A partir da descrição dos parâmetros texturais, foi possível concluir a existência de uma
moda granulométrica muito dispersa entre as litofácies da unidade Atobá, mesmo quando
considerado uma mesma fácies, o que sugere uma baixa eficiência no selecionamento, podendo
a fácies A2 ser ligeiramente melhor selecionada que a fácies A1, embora ambas apresentem
fragmentos e blocos do embasamento. A fácies A1 apresenta maior quantidade de fragmentos
e seixos do embasamento, muitas vezes com característica de brecha. Como o ASPSP se situa
numa zona sísmica, essa distribuição de sedimentos angulosos e arredondados em diferentes
níveis da Formação São Pedro e São Paulo sugere que a elevação do ASPSP devido a
compressão tectônica é episódica, concomitantemente com os abalos sísmicos (CAMPOS et
al., 2010)
Embora a proveniência dos componentes do arcabouço seja extrabacial a fonte está
muito próxima a bacia depocicional. No entanto, o alto trabalhamento por ondas e correntes
(erosão e abrasão) resultaram em componentes com esfericidade até alta e arredondamento
intermediária e por vezes bem arredondado, juntamente a esses grãos existem fragmentos
angulosos das escarpas do arquipélago, resultado de erosão e atividades sísmicas, como já foi
dito. O contato entre os grãos predominantemente flutuante e empacotamento frouxo indicam
que a rocha não foi submetida a elevadas compactações, tendo passado por processos
diagenéticos precoces, em condição de superfície, ou eodiagenêtico.
Unidade Viuvinha
A unidade Viuvinha é representada por duas fácies principais, uma litoclástica e uma
mista litoclástica-carbonática.
A granulometria é constituída por grãos com tamanhos variados podendo apresentar
frações desde areia até cascalho, sendo as maiores frações representadas por bioclastos e
frequentemente podendo ocorrer a presença de blocos do embasamento, devido a erosão de
escarpas. A grande variedade granulométrica é produto do ambiente deposicional ativo de
sedimentação, que resulta em uma mistura litoclástica-carbonática, com elevado desvio padrão,
apresentando média de 2,0 ϕ e, consequentemente, resultando em um grão de selecionamento
muito baixo: pobremente a moderadamente selecionado. Em relação a esfericidade e
arredondamento, é possível a distinção entre os grãos litoclásticos e bioclásticos, sendo os
primeiros com esfericidade intermediária a média e subarredondados, enquanto que os
bioclastos são essencialmente com baixa esfericidade.
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Os grãos do arcabouço estão arranjados de maneira que o contato predominante entre
eles é o flutuante, resultando em um empacotamento frouxo, muito embora possam existir
contatos pontuais localmente. Texturalmente essa unidade é considerada submatura, resultado
do alto valor de desvio padrão, em média maior que 0,5 ϕ.
Composicionalmente, a unidade Viuvinha é formada por grãos litoclásticos e bioclastos,
sendo o elemento bioclasto o principal na fácies V2, chegando a representar 30% do arcabouço
da rocha. Os bioclastos são formados essencialmente por bivalves (muollusca e brachiopada),
gastrópode, briozoário, algas calcárias e equinoderma (
Figura 21). A maior parte dos bioclastos encontra-se bem preservada, com uma pequena
quantidade sofrendo processo de dissolução e/ou recristalização.
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Figura 21 – A) Fotomicrografias de aspecto geral da unidade Viuvinha representando um arcabouço composto por
litoclástos e bioclasto. B) Seta vermelha indicando fragmento de alga vermelha; L - litoclásto. C) b – bivalve e L
– litoclásto arredondado e esférico. D) Seta vermelha indicando foraminífero (gênero textularina); L - litoclásto.
E, F) L – litoclastos moderadamente arredondados. G) b – fragmento de brachiopoda. H) Fragmento de fóssil com
bordas micritizadas (polarizadores cruzados).
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O cimento representa em média 17% na composição da rocha da fácies V1 e 24% na
fácies V2. Ocorre principalmente na forma de franja prismática isópaca e microcristalina e para
a subunidade V1 a cimentação micrítica ocorre preenchendo espaços vazios intragranulares,
especialmente para os bioclastos (Figura 23).
A porosidade total é maior na fácies V1, para a qual a média pode chegar a 14%, sendo
representada quase que integralmente por porosidade secundária dos tipos intrapartícula,
interarticular, intercristalina e móldica e, subordinadamente, podendo ocorrer porosidade em
janela (Figura 22 e Figura 23). Já para a subunidade V2, a porosidade intercristalina e moldica
são as principais e representam em média 6% da composição da rocha.
Figura 22 – Fotomicrografias de aspectos da porosidade que compõe a Unidade Viuvinha. A, B) Seta vermelha
indicando porosidade intercristalina. C) Seta vermelha indicando porosidade móldica. D) Seta vermelha indicando
porosidade intergranular.
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Figura 23 – Fotomicrografias representativas das morfologias de cimento que compõe a Unidade Viuvinha. A –
D: fácies V1 e E – H: fácies V2. A) Colônia de briozoários com porosidade intraclásto e crescimento de cimento
em franja dentro dos poros. B) Seta vermelha indicando desenvolvimento de cimento em franja em direção ao
interior dos poros sobre formas microcristalinas que cobrem fragmento de alga vermelha. C) Seta vermelha
indicando micrita infiltrante preenchendo espaço intragranular de bioclasto englobando microclástos. D) Seta
Vermelha indicando franja prismática bem desenvolvida contornando litoclásto e preservando porosidade
intercristalina. E) Foraminífero planctônico (gênero miliolina) com desenvolvimento de cristais de cimento
fibrosos. F, G) Seta vermelha indicando preenchimento de espaço intergranular com cimento microcristalinho. H)
Seta vermelha indicando cimento microcristalino e agulhas no interior de bioclasto.
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5.3. Diagênese
A evolução diagenética para todas as litofácies da sequência sedimentar da Ilha Sudeste
do ASPSP seguiu eventos semelhantes, podendo um ou outro evento ser restrito a uma fáceis
particular. Inicialmente, durante os primeiros metros de soterramento, os sedimentos que deram
origem as rochas estudadas foram submetidos a um rearranjo textural, resultante das condições
de pressão atuantes no ambiente de eodiagênese. Tais condições de pressão são influenciadas
pela sobrecarga de sedimentos e pela pressão dos fluidos intersticiais. O rearranjo dos
sedimentos caracteriza o processo de compactação física que atuou como primeiro estágio
diagenético e se manteve atuante até o total preenchimento dos poros por fases cimentantes
subsequentes, a micritização pode ocorrer concomitantemente ao processo de compactação ou
logo em seguida. A cimentação é responsável pela redução da porosidade primária do depósito.
Independentemente da fáceis analisada, os grãos flutuantes, e consequente empacotamento do
tipo frouxo, observados sugerem que os sedimentos da sequência sedimentar da Ilha Sudeste
do ASPSP sofreram pouca compactação física. Este fato indica que antes mesmo que os efeitos
da compactação física se mostrassem muito pronunciados, deram-se início de forma precoce os
eventos de cimentação.
O processo de cimentação ocorre como o segundo evento diagenético de maior
expressão e também no ambiente de eodiagênese. Dentre as sete morfologias de cimentos
carbonáticos reconhecidos por Vieira & De Ros (2006) para beachrocks costeiros, apenas três
não foram observadas nas litofácies da sequência sedimentar da Ilha Sudeste do ASPSP, sendo
elas: (1) agregados radiais, (2) agregados isolados e desorientados de cristais escalenoédricos e
(3) equant. As demais cinco morfologias foram identificadas e são apresentadas a seguir de
acordo com sua ordem proposta de evolução acrescentado da micrita infiltrante que ocorrem na
fácies carbonática (subunidade V1).
A composição mineralógica e a morfologia de cada tipo de cimento presente em
produtos de litificação marinhas podem refletir os diferentes estágios diagenéticos aos quais
essas rochas foram submetidas. Isso implica que quanto melhor cimentado for a rocha,
possivelmente mais fases de cimentação participaram dos eventos diagenéticos.
De acordo com Folk (1973) a mineralogia e a forma dos cimentos carbonáticos são
controladas principalmente pela taxa de cristalização e razão Mg/Ca e Na presentes no fluido a
partir do qual precipitam, sendo importantes indicadores de seu ambiente de formação. O
magnésio seletivamente contamina o crescimento lateral da calcita, assim, em ambientes ricos
59 Petrografia da sequência sedimentar da Ilha Sudeste do arquipélago São Pedro e São Paulo,
Atlântico Equatorial – KANN, M. M (2019)
em magnésio, tal qual ambientes marinhos rasos, o carbonato de cálcio precipita
preferencialmente como cimentos de aragonita e calcita magnesiana na forma de aragonita
acicular e fibrosa e na forma de calcita muito magnesiana microcristalina, fibrosa ou na forma
rômbica a romboédrica
A cimentação é iniciada pela precipitação de cutículas critptocristalinas, que geralmente
apresenta coloração marrom escura e crescem na superfície dos grãos e, em alguns casos,
adentram para o interior dos poros, possuindo dimensões homogênea e predominantemente
contínua. Em geral, o cimento criptocristalino é coberto por franja isópaca.
A franja prismática isópaca é um dos principais cimentos marinhos. Meyers (1987)
sugere que a cimentação por franja prismática isópaca desenvolva-se somente depois que a
permeabilidade foi reduzida. Longman (1980) interpretou diferentes texturas de cimentos
carbonáticos e indicou a franja isópaca como gerada em zona freática marinha. A franja isópaca
é a segunda morfologia do cimento precipitado e mais comum nas amostras analisadas,
independente das fácies, sendo a subunidade V1 exceção pela quase ausência dessa morfologia
na cimentação. Esse cimento, geralmente, ocorre diretamente na superfície dos grãos litoclástos
e bioclastos, em torno de poros ou sobre o cimento criptocristalino precipitado anteriormente.
Porém, ora pode apresentar-se como uma franja espessa e bem desenvolvida e ora como uma
franja delgada e incipiente (Figura 20 C e D; Figura 23 D). Em alguns casos essa franja pode
precipitar dentro de bioclastos, preenchendo as cavidades internas dos mesmos (Figura 23 A e
H).
Posteriormente às franjas prismáticas isópacas, pode ocorrer a precipitação de
morfologias botrioidais ou agregados fibro-radiais como descrito por Vieira & De Ros (2006),
sendo considerados um produto de nucleação limitada, a qual favoreceria a disposição radial,
ocorrendo preferencialmente nos grãos litoclásticos. O cimento fibro-radial foi identificado,
dispostos radialmente a partir do núcleo, em geral isolados ou associados aos cimentos
pseudopeloidais e muitas vezes formando contatos poligonais (Figura 20 D).
O cimento microcristalino é um dos principais cimentos marinhos e um dos mais
abundantes encontrados nas rochas da sequência sedimentar da Ilha Sudeste da Formação São
Pedro e São Paulo e constantemente está associado às franjas prismáticas isópocas,
precipitando-se sobre elas. É caracterizado pela precipitação de pequenos cristais de calcita,
predominantemente, nos espaços intergranulares, aonde, em geral, preenche todo o espaço
poroso e, por vezes ocupa espaços intergranulares, sobretudo nos bioclastos (Figura 20 B e
60 Petrografia da sequência sedimentar da Ilha Sudeste do arquipélago São Pedro e São Paulo,
Atlântico Equatorial – KANN, M. M (2019)
Figura 23 G). Longman (1980) indica este tipo de cimento como de origem na zona freática e
Vieira & De Ros (2006) o interpretam como uma precipitação interna microcristalina. Essa
morfologia do cimento é interpretada como a terceira fase de cimentação das rochas estudadas,
sendo posterior a cutículas cripto-cristalinas e franjas prismáticas isópacas.
Após o desenvolvimento do cimento de calcita microcristalina, a rocha foi submetida a
condições físico-químicas que propiciaram o surgimento da porosidade secundária, gerada pela
dissolução de cimentos precipitados precocemente e de grãos instáveis (principalmente
serpentina do milonito e bioclastos). Posteriormente à geração de porosidade secundária,
ocorreu uma nova sequência de precipitação onde foram gerados os cimentos de agregados
pseudo-peloidais. Os agregados pseudo-peloidais são represados por massas, normalmente de
coloração amarronzada, formados por partículas esféricas e elipsoidais de pequeno diâmetro.
Seu arranjo é bastante espaçado, podendo ocorrer em porções isoladas ou preencher totalmente
a porosidade da amostra. É um tipo de morfologia pouco comum nas rochas da sequência
sedimentar da Ilha Sudeste do ASPSP, tendo representação coadjuvante na cimentação,
principalmente na fácies carbonática (V1).
Por fim, como último estágio evolutivo ao qual as rochas da sequência sedimentar da
Ilha Sudeste do ASPSP foram submetidas, observa-se a oxidação parcial de pequenas porções
nos cimentos previamente gerados, fato este atribuído a condições de alta quantidade de
oxigênio experimentada pela rocha (Figura 23 G). A Figura 24 ilustra a ordem de ocorrência
dos eventos diagenéticos.
Figura 24 – Quadro resumo dos processos diagenéticos atuantes na formação das rochas da sequência sedimentar
da Ilha Sudeste do ASPSP.
61 Petrografia da sequência sedimentar da Ilha Sudeste do arquipélago São Pedro e São Paulo,
Atlântico Equatorial – KANN, M. M (2019)
6. CONCLUSÃO
O reconhecimento dos principais constituintes de uma rocha é muito importante no
momento de estabelecer uma classificação petrológica. Nesse contexto, as rochas
representativas da sequência sedimentar da Ilha Sudeste do ASPSP são formadas por
sedimentos siliciclásticos e híbridos (silicicástico-carbonático), sugerindo a necessidade de ser
classificada como tal.
O estudo de depósitos sedimentares mistos deve ser diferente se comparado com as
abordagens analíticas usualmente utilizadas para os sedimentos siliciclásticos ou carbonatícos
sendo necessário a aplicação de metodologias oriundas de ambos depósitos. Assim, foram
adotadas descrições específicas para a classificação das rochas, bem como considerações a seus
respectivos ambientes de formação.
Foram individualizadas duas unidades em uma sequência sedimentar que inclui fácies
essencialmente siliciclásticas e fácies de mistura. A unidade basal da sequência é a Atobá que
está em desconformidade erosional sobre o embasamento e encontra-se basculada em 10°
mergulhando para 160° de Az. É composta por duas litofácies principais: A1 e A2, sendo a A1
constituída por seixos litoclásticos arredondados a sub arredondados e angulosos, apresenta
granodecrescencia normal, com granulometria variando da base para o topo e coloração
avermelhada a amarronzada. Os seixos das camadas mais inferiores são mais arredondados que
os das camadas superiores. A litofácies A2, é formada por um arenito grosso, de coloração
escura em tom avermelhado a marrom, contendo seixos litoclásticos angulosos isolados. A
unidade superior é a Viuvinha e foi depositada discordantemente sobre a Unidade Atobá. A
unidade Viuvinha está basculhada para 35° para 300° Az e também é composta por duas
litofácies: V1 e V2. A litofácies V1 é constituída por uma grande quantidade de bioclastos e
litoclástos angulosos, misturados em uma matriz arenítica fossilífera com coloração cinza. A
litofácies V2 é constituída por um arenito médio a grosso moderadamente a bem selecionado,
avermelhado, fossilífero, com seixos sub-arredondados a sub-angulosos de dimensão
centimétrica.
A granulometria dos constituintes do arcabouço das rochas das 4 litofácies
individualizadas são desde fração areia a seixos e blocos, com selecionamento essencialmente
pobre, sendo a fácies V2 exceção por apresentar arredondamento variando desde muito angular
a arredondado e esfericidade de muito anguloso a sub-arredondado. A grande variedade textural
62 Petrografia da sequência sedimentar da Ilha Sudeste do arquipélago São Pedro e São Paulo,
Atlântico Equatorial – KANN, M. M (2019)
apresentada pelas rochas estudadas tem influência direta da atividade sísmica atuante sobre a
região, que controla a grande mistura de sedimentos diversos na composição.
A cimentação carbonática é essencialmente formada por calcita magnesiana e aragonita,
nas morfologias criptocristalina, franja e microcristalina, principalmente. A cimentação
representa em média entre 16 e 25% dos constituintes das rochas, sendo mais expressiva na
unidade Viuvinha, com o máximo de 25% para litofácies V2 e apresentado entre 16 e 19% para
a unidade Atobá.
Ambientes marinhos rasos são especialmente susceptíveis a destruição de porosidade
por cimentação por seus típicos altos níveis de supersaturação de águas marinhas relacionada
às fases minerais de carbonato metaestável. Isso justifica a baixa porosidade das rochas
analisadas, representando entre 3 e 12% a composição da rocha. No entanto, valores entre 10 e
12% são restritos a fácies V1, enquanto que a unidade Atobá apresenta médias de porosidade
entre 3 e 5%.
No processo de formação da unidade pelo menos dois grandes episódios
sismotectônicos atingiram as rochas. O primeiro evento gerou uma discordância entre as duas
sequências de deposição e o segundo basculou todo o pacote. A atual espessura da sequência
não representa a espessura máxima devido ao intenso processo intempérico e erosivo e
tectônicos, comum na região. Essa condição fica evidente uma vez que a morfologia da unidade
apresenta sinais de erosão marinha e erosão provocada por atividades sísmicas.
Apesar da dificuldade de realizar pesquisas científicas em ambientes remotos como nas
ilhas oceânicas, é sugerido um aprofundamento do estudo da sequência sedimentar da Ilha
Sudeste do ASPSP, com campanha de amostragens e datação do conteúdo bioclástico e cimento
de forma sistemática e individualizado por litofácies, a fim de melhorar o entendimento sobre
a condição de deposição daqueles sedimentos e a gênese envolvida na formação das rochas e
como forma de embasar a proposta de justificar a condição de Fm. São Pedro e São Paulo.
63 Petrografia da sequência sedimentar da Ilha Sudeste do arquipélago São Pedro e São Paulo,
Atlântico Equatorial – KANN, M. M (2019)
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