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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE DEPARTAMENTO DE ENFERMAGEM PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM DALVA CEZAR DA SILVA SUPORTE FAMILIAR E QUALIDADE DE VIDA EM IDOSOS COM ÚLCERA VENOSA NO CONTEXTO DA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE NATAL 2017

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  • UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

    CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE

    DEPARTAMENTO DE ENFERMAGEM

    PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM

    DALVA CEZAR DA SILVA

    SUPORTE FAMILIAR E QUALIDADE DE VIDA EM IDOSOS COM ÚLCERA VENOSA

    NO CONTEXTO DA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE

    NATAL

    2017

  • DALVA CEZAR DA SILVA

    SUPORTE FAMILIAR E QUALIDADE DE VIDA EM IDOSOS COM ÚLCERA VENOSA

    NO CONTEXTO DA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE

    Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em

    Enfermagem da Universidade Federal do Rio Grande do Norte

    como requisito para obtenção do título de Doutor em

    Enfermagem.

    Área de Concentração: Enfermagem na atenção à saúde.

    Linha de Pesquisa: Desenvolvimento tecnológico em saúde e

    enfermagem.

    Grupo de Pesquisa: Incubadora de Procedimentos de

    Enfermagem

    Orientador: Gilson de Vasconcelos Torres

    NATAL

    2017

  • SUPORTE FAMILIAR E QUALIDADE DE VIDA EM IDOSOS COM ÚLCERA VENOSA

    NO CONTEXTO DA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE

    Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Enfermagem do Centro de Ciências da Saúde,

    da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito parcial para obtenção do Título de

    Doutor.

    Aprovada em: 13 de dezembro de 2017, pela banca examinadora.

    PRESIDENTE DA BANCA:

    Professor Dr. Gilson de Vasconcelos Torres

    (Departamento de Enfermagem/UFRN)

    BANCA EXAMINADORA:

    _________________________________________________

    Professor Dr. Gilson de Vasconcelos Torres - Orientador

    (Universidade Federal do Rio Grande do Norte/UFRN)

    __________________________________________________

    Professora Dra. Daniele Vieira Dantas

    (Universidade Federal do Rio Grande do Norte/UFRN)

    __________________________________________________

    Professora Dra. Ana Elza Oliveira de Mendonça

    (Universidade Federal do Rio Grande do Norte/UFRN)

    __________________________________________________

    Professora Dra. Maria Denise Schimith

    (Universidade Federal de Santa Maria/UFSM)

    __________________________________________________

    Professora Dra. Aline Maino Pergola Marconato

    (Centro Universitário Hermínio Ometto/UNIARARAS)

  • AGRADECIMENTOS

    A Deus por me abençoar e amparar, na superação das adversidades, em todos os caminhos na

    busca de transformar sonhos em realidade.

    Ao meu querido vovô, José Garcez da Silva (in memorian), por toda a sua dedicação, proteção e

    carinho.

    Aos meus pais, Inácio Cezar da Silva e Leni Cezar da Silva, bem como meus seis irmãos, por terem

    me ensinado os valores da vida e pela atenção demonstrada. Ao meu amado sobrinho, Luís Otávio

    Cezar, que mesmo muito pequeno, com a sua chegada durante o processo de doutoramento,

    promoveu mudanças e ressignificações em nossa família e que está sendo a melhor terapia de amor

    aos meus pais. Obrigada por trazer muitas alegrias e carinho ao vovó Inácio, em momentos de

    muita dificuldade e sei como a sua presença nesses quase dois anos de vida foram importantes

    para a recuperação da nossa saúde familiar.

    Ao meu desafiador, professor Dr. Edson Luiz Foletto, pela sua compreensão, seu carinho,

    cumplicidade, incentivo, por sempre acreditar em mim, e me fazer ir mais além.

    Aos idosos com úlcera venosa, em especial as que fizeram parte deste estudo, pelo carinho e

    confiança no trabalho, por terem permitido conhecer um pouco de sua vida e aprender com suas

    experiências vividas e com suas relações familiares.

    Em especial ao Professor Dr. Gilson de Vasconcelos Torres do Departamento de Enfermagem da

    Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), meu orientador, pela confiança,

    disponibilidade e atenção de sempre. Agradeço pela oportunidade da orientação e pela

    participação no grupo de pesquisa, principalmente, por acreditar e apostar em meu potencial, e

    que, brilhantemente ofereceu os pilares sustentadores na construção desta trajetória acadêmica.

    Além de me possibilitar conhecer vários outros pesquisadores de diferentes cenários nacionais e

    internacionais, elaboração de projetos para captação de recurso e a oportunidade de acessar o

    sistema de diferentes revistas. Obrigada pelo respeito e maneira que acompanhou a busca e a

    expansão de meu conhecimento!

    Minha amada e iluminada professora Dra. Maria Denise Schimith, exemplo de dedicação e

    afetuosidade, por acreditar na possibilidade de construção desta pesquisa e ter sido o meu suporte

    em Santa Maria. Agradeço pela oportunidade de orientações desde a graduação em Enfermagem

    na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Além de não existirem palavras que possam

    expressar a gratidão pelo seu exemplo de profissional e pessoal!

    À minha querida professora Dra. Maria de Lourdes Denardin Budó, serenidade em pessoa, e que,

    sempre brilhantemente ofereceu palavras de orientações para a vida. Agradeço a possibilidade ter

    compartilhado momentos profissionais, acadêmicos e pessoais!

    Às Professoras Dras. Daniele Vieira Dantas, Ana Elza Oliveira de Mendonça e Simone Camargo

    de Oliveira Rossignolo, pelas orientações e contribuições sugeridas durante o processo de

    qualificação.

    À professora Dra. Aline Maino Pergola Marconato pela disponibilidade de participar da banca de

    defesa, sempre se demonstrou atenciosa e dedicada, mesmo com todas as suas atividades durante o

    Pós-doutorado na UFRN.

    Gostaria de expressar a minha gratidão aos membros da banca de defesa pela disponibilidade de

    participação e por compartilhar suas experiências.

    Às minhas amigas de graduação, Betina Rodrigues da Silva e Daiana Araújo, também o meu

    colega e pesquisador, Professor Dr. José Luís Guedes dos Santos, com quais compartilhei

    momentos de alegria e aprendizado que jamais serão esquecidos. Agradeço ao companheirismo,

    amizade e pela possibilidade de ser colega da Daiana, novamente, agora com enfermeira na

    UFSM. Muito feliz e grata pela trajetória do meu amigo José, docente no Departamento de

    Enfermagem na Universidade Federal de Santa Catarina, exemplo de dedicação e

    comprometimento!

    Às minhas amigas, Elizabete Rodrigues e Vânia Durgante, por todo o apoio e atenção que sempre

    me dedicam, muito obrigada! Em especial à Vânia, obrigada pela colaboração, amizade, força,

  • carinho e incentivo para o desenvolvimento desta pesquisa. Além de ser um exemplo de

    profissional, que não mede esforços em assistir com qualidade todas as pessoas que são

    acompanhadas no Hospital Universitário de Santa Maria (HUSM).

    À enfermeira estomaterapeuta Maria Elizete Nunes da Silva, da Comissão de Curativos de

    Cobertura, da Secretaria de Município da Saúde de Santa Maria, com quem tive maior

    proximidade nessa etapa do doutorado, tenho o seu comprometimento e determinação como

    exemplo. Obrigada pela atenção e compromisso comigo!

    À Elisandra Santos, pelo apoio estatístico, por sua disponibilidade e atenção.

    A todos os meus colegas, companheiros de doutorado, pela amizade construída e conhecimentos

    compartilhados. Em especial a amiga, professora Dra. Késsya Dantas Diniz, sempre atenciosa,

    verdadeira, prestativa e muito companheira. A Todos os colegas que de uma forma ou de outra

    estiveram presentes e foram muito receptivos em Natal, levarei no coração, em especial, Cícera

    Maria Braz da Silva, Maria Cleia de Oliveira Viana, Manuela Pinto Tibúrcio, Ana Beatriz de Almeida Medeiros, Jéssica Dantas de Sá, Caroline Evelin Nascimento Kluczynik Vieira, João Evangelista da Costa e Ana Michele de Farias Cabral.

    Aos docentes do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da UFRN, pelo empenho,

    compromisso, incentivo e contribuição científica.

    Não posso deixar de agradecer, à professora Dra. Silviamar, por toda a sua compreensão e apoio

    nessa etapa do doutorado, com certeza a sua atenção e respeito como chefe do Departamento de

    Enfermagem da UFSM, durante o período que fiquei em afastamento e com redução de carga

    horária das atividades profissionais, foi muito importante! Assim como as minhas amadas colegas

    e amigas Rhea Silvia Soares e Francine Cassol Prestes que brilhantemente sempre comprometidas

    e dedicadas, foram exemplos e estimulo nessa caminhada. Sou muito grata por ter tido a

    oportunidade de aprender com vocês, como sinto saudades dos nossos momentos juntas, mas cada

    uma merece desfrutar de suas conquistas!

    Aos colegas do Departamento de Enfermagem da UFSM, exemplos de comprometimento e

    trabalho. Agradeço pelas palavras de incentivo e atenção em especial, as professoras Dras.

    Carmem Colomé Beck, Teresinha Heck Weiller, Margrid Beuter, Nara Marilene Oliveira Girardon

    Perlini e Rosângela Marion da Silva. Muito grata aos vários momentos terapêuticos com as minhas

    colegas enfermeiras, amizade além do trabalho!

    Enfim, agradeço a todos os que, de determinada maneira, se fizeram presença e colaboraram nesta

    fase de doutoramento, todo o apoio, sem o qual, não seria possível a realização desse trabalho,

    meu muito obrigada!

  • As feridas do corpo, são curadas com tratamento local e sistêmico, de acordo com a evidência

    científica. “As feridas da “alma”, são curadas com atenção, carinho e paz.”(Machado de Assis)

    "A vontade de Deus nunca irá levá-lo aonde a

    Graça de Deus não irá protegê-lo."

    Chico Xavier

  • RESUMO

    A pesquisa teve como objetivo avaliar a percepção do suporte familiar e qualidade de vida de idosos

    com úlcera venosa atendidos na Atenção Primária à Saúde. Estudo analítico com abordagem

    quantitativa, realizado em Santa Maria, Rio Grande do Sul, Brasil. Participaram 40 idosos

    atendidos nas unidades de saúde, no período de agosto a dezembro de 2016. Na coleta de dados

    utilizaram-se os instrumentos: formulário para caracterização sociodemográfica, de saúde, clínica e

    assistencial; o Charing Cross Venous Ulcer Questionnaire (CCVUQ) e o Inventário da Percepção

    de Suporte Familiar (IPSF). Utilizou-se da estatística descritiva e inferencial, testes Qui-Quadrado,

    Exato de Fischer, Mann-Whitney e correlação de Spearmann, considerando nível de significância

    estatística de ρ-valor ≤ 0,05. O projeto de pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa

    da Universidade proponente, (Processo número 1.670.636 e Certificado de Apresentação para

    Apreciação Ética 58255016.0.0000.5346). Houve predomínio do sexo feminino, faixa etária dos 70

    anos ou mais, sem companheiro, aposentados, com doenças crônicas associadas, sono maior de seis

    horas/dia e presença de dor. Referiam como local predominante para a realização do curativo o

    serviço de saúde (n=34, 85,0%), não faziam uso de terapia compressiva (n=24, 60,0%), os que

    faziam utilizavam bota de Unna (n=16, 40,0%). O Escore Total do CCVUQ apresentou mediana

    43,9, para a avaliação da qualidade de vida geral dos participantes; e nos domínios Interação Social

    (27,9), Atividades Domésticas (29,9), Estética (44,7) e Estado Emocional (57,4). Quanto à

    percepção do Suporte familiar, os idosos classificaram como Alto Suporte. Afetivo-Consistente foi

    67,5%, com média de 33,40(±11,29); Adaptação familiar, o percentual de alto foi de 45,0%, com

    média de 20,97(±6,42) e Autonomia foi de 70,0%, com média de 14,65(±2,36). As variáveis

    sociodemográficas e de saúde não apresentam associações significativas com os domínios do CCVUQ e

    IPSF. Sobre a qualidade de vida constatou-se diferença significativa da variável clínica dor em relação

    aos domínios Atividades Domésticas (p=0,048), Estado Emocional (p=0,034) e Escore Total (p=0,022).

    Apresentaram diferença significativa as variáveis assistenciais: quem realiza o curativo com Estado

    Emocional (p=0,045); uso de terapia compressiva com Atividades Domésticas (p=0,031); e número de

    consultas com os domínios Interação Social (p=0,033), Atividades Domésticas (p=0,033), Estado

    Emocional (p=0,025) e Escore total (p=0,030). Quanto ao Suporte familiar, encontraram-se associações

    significativas entre as variáveis clínicas: recidiva com o Suporte Total (p=0,031); tempo da úlcera

    venosa atual em anos com os domínios Afetivo-Consistente (p=0,003) e Total (p=0,022), dor com o

    domínio Autonomia (p=0,041), sinais de infecção com Suporte Total (p=0,044). Entre as variáveis

    assistenciais: Tempo de tratamento em anos com o domínio Afetivo-Consistente (p=0,021). Uso de

    terapia compressiva com os domínios Afetivo-Consistente (p=0,002) e Total do Suporte (p=0,002).

    Verificaram-se correlações negativas e significativas do suporte familiar na qualidade de vida em idosos

    com úlcera venosa, entre Afetivo-Consistente e o escore total do CCVUQ (r=-0,323; p=0,042), o

    domínio Atividades Domésticas (r=-0,350; p=0,027) e Estado Emocional (r=-0,424; p=0,006). Entre

    Adaptação Familiar e Estado Emocional (r=-0,443; p=0,004). Da mesma maneira, entre Autonomia e o

    escore total do CCVUQ (r=-0,514; p=0,001), o domínio Interação Social (r=-0,362; p=0,022),

    Atividades Domésticas (r=-0,513; p=0,001), Estética (r=-0,478; p=0,003) e Estado Emocional (r=-

    0,478; p=0,002). A qualidade de vida do idoso com úlcera venosa foi mais comprometidas nos

    domínios Estado emocional e Estética. Aceita-se a hipótese alternativa que o suporte familiar se

    correlaciona com a qualidade de vida em idosos com úlcera venosa atendidos na Atenção Primária à

    Saúde. Necessitam-se ações de promoção e reabilitação da saúde do idoso, com enfoque na dinâmica

    familiar, a fim de promover a autonomia e o convívio social para melhora da qualidade de vida.

    Descritores: Saúde do Idoso. Úlcera varicosa. Qualidade de vida. Família. Atenção Primária à

    Saúde. Enfermagem.

  • ABSTRACT

    FAMILY SUPPORT AND QUALITY OF LIFE IN ELDERLY PEOPLE WITH VENOUS

    ULCERS IN THE CONTEXT OF PRIMARY HEALTH CARE

    This research aimed to evaluate the perception of family support and quality of life of elderly

    patients with venous ulcers treated at the primary health care. Analytical study with a quantitative

    approach held in Santa Maria, Rio Grande do Sul, Brazil. The study included 40 elderly attended in

    health units in the period from August to December, 2016. Data collection used

    these instruments: Form for the sociodemographic characterization, heath, clinical and care;

    Charing Cross Venous Ulcer Questionnaire (CCVUQ) and the Family Support Perception

    Inventory (IPSF). It was used descriptive and inferential statistics, used the chi-

    square test, Fisher's exact test, Mann-Whitney, and was Spearman correlation, considering a level of

    significance of ρ-value ≤ 0.05. The research project has approved by the Ethics

    Committee Proponent University Research, (Case number 1670636 and Presentation Certificate for

    Ethics Assessment 58255016.0.0000.5346). Women predominated, age 70 years or more,

    without a partner, retired, with chronic diseases associated, greater sleep of six hours/day

    and the presence of pain. They referred as the predominant place for the accomplishment of the

    curative the health service (n=34, 85.0%), did not use compression therapy (n=24, 60.0%), those

    who used Unna boot (n=16, 40.0%). The Score Total CCVUQ presented a median 43.9, to evaluate

    the overall quality of life of participants; and in the fields Social Interaction (27.9), Household

    Activities (29.9), Esthetics (44.7) and Emotional State (57.4). Regarding the perception of Family

    Support, the elderly classified as High Support. In the evaluated domains was found that

    in the affective consistent was 67.5%, with a mean of 3.40 (±11.29), in family adaptation, high

    percentage was 45.0% with a mean of 20.97 (±6.42) and autonomy was 70.0% with a mean of

    14.65 (±2.36). Sociodemographic and health variables do not have significant associations with areas

    of CCVUQ and IPSF. Regarding quality of life, there was a significant difference in the clinical

    variable: pain in relation to domains Domestic Activities (p= 0.048), Emotional State (p= 0.034) and

    Total Score (p= 0.022). There were significant differences in the care variables: who performed the

    dressing with Emotional State (p= 0.045), use of compressive therapy with Domestic Activities (p=

    0.031) and number of consultations with the Social Interaction domains (p = 0.033), Domestic Activities

    (p= 0.033), emotional state (p= 0.025), and total score (p= 0.030). As for family support, significant

    associations were found between the clinical variables: relapse with Total Support (p = 0.031); time of

    current venous ulcer in years with Affective-Consistent (p= 0.003) and Total (p=0.022), pain with

    Autonomy domain (p= 0.041), signs of infection with Total Support (p= 0.044). Between healthcare

    variables: treatment time in years with the domain affective-consistent (p= 0.021). Use of compressive

    therapy with the Affective-Consistent (p= 0.002) and Total Support (p= 0.002) domains. There were

    negative and significant correlations of family support in quality of life in elderly patients with venous

    ulcer, between Affective-Consistent and the total CCVUQ score (r = -0.323, p= 0.042), the Domestic

    Activities domain (r = -0.350, p = 0.027) and Emotional Status (r = -0.424, p= 0.006). Between Family

    Adaptation and Emotional State (r = -0.443, p = 0.004). Similarly, between Autonomy and total

    CCVUQ score (r = -0.514, p= 0.001), the Social Interaction domain (r = -0.362, p= 0.022), Domestic

    Activities (r = -0.513, p= 0.001), Esthetics (r = -0.478, p= 0.003) and emotional state (r = -0.478, p=

    0.002). The quality of life of elderly patients with venous ulcers was more committed in the domains

    Emotional state and Esthetics. It is necessary actions to promote and rehabilitate the health of the

    elderly, focusing on family dynamics, in order to promote autonomy and social interaction to improve

    the quality of life. The alternative hypothesis is accepted that the family support is correlated in the

    quality of life in elderly patients with venous ulcer attended in the Primary Health Care.

    Descriptors: Health of the Elderly. Varicose Ulcer. Quality of Life. Family. Primary Health Care.

    Nursing.

  • LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

    APS Atenção Primária à Saúde

    CCVUQ Charing Cross Venous Ulcer Questionnaire

    CRS Coordenadoria Regional de Saúde

    DS Distritos Sanitários

    DP Desvio Padrão

    ESF Estratégia Saúde da Família

    HUSM Hospital Universitário de Santa Maria

    IVC Insuficiência Venosa Crônica

    MMII Membros inferiores

    OMS Organização Mundial de Saúde

    PA Pronto Atendimento

    PNAB Política Nacional de Atenção Básica

    PSF Programa Saúde da Família

    QV Qualidade de vida

    QVRS Qualidade de Vida Relacionada à Saúde

    RAS Rede de Atenção à Saúde

    RN Rio Grande do Norte

    RS Rio Grande do Sul

    SMS Secretaria Municipal de Saúde

    SUS Sistema Único de Saúde

    TC Termo de Confidencialidade

    TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

    UFRN Universidade Federal do Rio Grande do Norte

    UFSM Universidade Federal de Santa Maria

    USF Unidade de Saúde da Família

    UPA Unidade de Pronto Atendimento

    UV Úlcera Venosa

  • LISTA DE QUADROS

    Quadro 1. Caracterização das unidades de saúde da APS, segundo regiões

    administrativas. Santa Maria/RS, 2017..................................................... 31

    Quadro 2 Variáveis de caracterização sociodemográfica, de saúde e clínicas dos

    idosos com UV atendidas na APS, segundo escores/categorias de

    verificação. Santa Maria/RS, 2017................................................. 33

    Quadro 3. Variáveis de caracterização da assistência à saúde/SUS prestada às

    pessoas com UV atendidas na APS, segundo escores/categorias de

    verificação. Santa Maria/RS, 2017............................................................ 34

    Quadro 4. Caracterização dos domínios que compõe o CCVUQ, segundo itens e

    questões correspondentes. Santa Maria/RS, 2017.................................... 35

    Quadro 5. Classificação e pontuação do Inventário de Percepção do suporte

    familiar. Santa Maria/RS, 2017................................................................. 36

    Quadro 6. Descrição e estatísticas das hipóteses do estudo. Santa Maria/RS,

    2017.............................................................................................................. 38

    Quadro 7. Síntese dos três artigos que compõem os resultados e discussões por

    título, objetivo e Qualis que serão submetidos......................................... 40

    Quadro 1. Descrição do IPSF e seus domínios. Santa Maria – RS,

    2017........................................................................................................ 77

    Quadro 2. Resumo das associações estatisticamente significantes das variáveis

    clínicas e assistenciais com os domínios do CCVUQ e IPSF...................... 78

  • LISTA DE TABELAS E FIGURAS

    Figura 1. Demonstração dos tópicos que fundamentam teoricamente o estudo. Santa

    Maria/RS, 2017........................................................................................... 18

    Figura 1. Níveis de contextos e aspectos interativos que permeiam a assistência ao

    idoso com úlcera venosa. Natal/RN,

    2016................................................................................................................

    25

    Figura 2. Modelo de correlação das variáveis dependentes, moderadoras e

    independente. Santa Maria/RS, 2017............................................................. 38

    Tabela 1. Caracterização sociodemográfica e de saúde dos idosos com úlcera venosa

    (n=40) em relação ao sexo. Santa Maria, RS, Brasil, 2017........................... 46

    Figura 1. Avaliação descritiva dos domínios do questionário de qualidade de vida

    CCVUQ. Santa Maria, RS, Brasil, 2017......................................... .......... 47

    Tabela 2. Avaliação da comparação dos domínios do CCVUQ em relação as

    variáveis sociodemográficas e de saúde dos idosos com úlcera venosa

    (n=40). Santa Maria, RS, Brasil, 2017........................................................... 47

    Tabela 3. Comparação dos domínios do CCVUQ em relação características clínicas

    dos idosos com úlcera venosa (n=40). Santa Maria, RS, Brasil, 2016.......... 48

    Tabela 4. Comparação dos domínios da qualidade de vida em relação as variáveis

    assistenciais dos idosos com úlcera venosa (n=40). Santa Maria, RS,

    Brasil, 2016.................................................................................................... 49

    Tabela 1. Identificação dos domínios do IPSF idosos com úlcera venosa (n=40).

    Santa Maria, RS, Brasil, 2017........................................................................ 63

    Tabela 2. Associações das variáveis sociodemográficas e de saúde com a Percepção

    de Suporte Familiar. Santa Maria, RS, Brasil,

    2017......................................................................................................... 64

    Tabela 3. Associação das variáveis clínicas com a Percepção de Suporte Familiar.

    Santa Maria, RS, Brasil, 2017..................................................................... 65

    Tabela 4. Avaliação das associações das variáveis assistenciais com a Percepção de

    Suporte Familiar. Santa Maria, RS, Brasil,

    2017.......................................................................................................... 66

    Tabela 1. Correlação entre os domínios do IPSF e escore total e domínios do

    CCVUQ. Santa Maria/RS, 2017.................................................................... 79

  • SUMÁRIO

    1 INTRODUÇÃO............................................................................................................ 14

    2 OBJETIVOS................................................................................................................ 17

    3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA.............................................................................. 18

    3.1 IDOSO COM ÚLCERA VENOSA NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À

    SAÚDE.......................................................................................................................... 18

    3.2 SUPORTE FAMILIAR................................................................................................. 20

    3.3 QUALIDADE DE VIDA.............................................................................................. 21

    3.4 ASPECTOS CONTEXTUAIS DA ASSISTENCIA AO IDOSO COM ÚLCERA

    VENOSA....................................................................................................................... 23 4 MÉTODO..................................................................................................................... 31

    4.1 DESENHO E LOCAL DE ESTUDO............................................................................ 31

    4.2 POPULAÇÃO E AMOSTRA DO ESTUDO................................................................ 32

    4.3 COLETA DE DADOS, INSTRUMENTOS E PADRONIZAÇÃO DAS

    VARIÁVEIS.................................................................................................................. 33

    4.3.1 Formulário de caracterização sociodemográfica, de saúde, clínica e

    assistencial..................................................................................................................... 33

    4.3.2 Charing Cross Venous Ulcer Questionnaire –

    CCVUQ……………………………………...……………………………..………… 34

    4.3.3 Inventário de Percepção de Suporte Familiar –

    IPSF...............................................................................................................................

    35

    4.4 ANÁLISE DOS DADOS............................................................................................. 37

    4.5 ASPÉCTOS ÉTICOS.................................................................................................... 38

    5 RESULTADOS E DISCUSSÃO................................................................................ 40

    5.1 ARTIGO 1 - QUALIDADE DE VIDA DE IDOSOS COM ÚLCERA VENOSA:

    ASSOCIAÇÃO DAS CARACTERÍSTICAS SOCIODEMOGRÁFICAS, DE

    SAÚDE, CLÍNICAS E

    ASSISTENCIAIS.......................................................................................................... 41

    5.2 ARTIGO 2 - PERCEPÇÃO DO SUPORTE FAMILIAR EM IDOSOS COM

    ÚLCERA VENOSA E CARACTERÍSTICAS

    ASSOCIADAS.............................................................................................................. 59

    5.3 ARTIGO 3 - CORRELAÇÃO ENTRE QUALIDADE DE VIDA E O SUPORTE

    FAMILIAR EM IDOSOS COM ÚLCERA VENOSA.................................................

    74

    6 LIMITAÇÕES DO ESTUDO..................................................................................... 84

    7 CONCLUSÃO.............................................................................................................. 86

    REFERÊNCIAS........................................................................................................... 87

    APÊNDICE ................................................................................................................. 92

    ANEXO......................................................................................................................... 95

  • 14

    1 INTRODUÇÃO

    O envelhecimento populacional confere uma situação nova de cuidados para o paciente e

    sua família, bem como para os serviços de saúde. Nos idosos, há alterações fisiológicas que limitam

    sua reserva funcional e também é comum a existência de condições crônicas preexistentes que

    demandam cuidados, ocasionam complicações, dentre as quais a úlcera venosa (AGUIAR et al.,

    2016; SILVA et al., 2016).

    A úlcera venosa, varicosa ou de estase venosa corresponde a, aproximadamente, 90% dos

    casos de ulceração de membros inferiores, cuja principal causa é a insuficiência venosa crônica

    (IVC). Nos idosos a frequência é superior a 4%, e estima-se que no Brasil 3% da população

    apresente a lesão (ABBADE, 2014). É um agravo crônico importante, recorrente e com impacto

    biopsicossocial. (SANT’ANA et al., 2012)

    A ocorrência da úlcera venosa promove mudanças nos hábitos de vida, frequentes consultas

    nos serviços de saúde, realização de curativos e adaptação ao tratamento (COSTA et al., 2011).

    Diferentes aspectos da vida do idoso podem ser comprometidos, incluindo: mobilidade diminuída,

    perdas nas relações sociais e problemas financeiros (CAMACHO et al., 2015). A qualidade de vida

    é afetada negativamente, especialmente relacionada à dor, funcionamento físico e mobilidade; e

    ainda, na dimensão de reações emocionais negativas e isolamento social (GONZÁLEZ-

    CONSUEGRA; VERDÚ, 2011; DIAS et al., 2013).

    A qualidade de vida é definida como “a percepção do indivíduo sobre a sua posição na

    vida, no contexto da cultura e dos sistemas de valores nos quais ele vive, e em relação a seus

    objetivos, expectativas, padrões e preocupações” (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 1995, p.

    1405). Em pesquisas sobre a qualidade de vida de pessoas com úlcera venosa encontrou-se que

    essa é determinada pelos seguintes aspectos: socioeconômico, assistência de saúde, características

    da lesão e da evolução clínica dos pacientes, sendo a esse tipo de úlcera uma condição crônica que

    ultrapassa a dimensão física (TORRES et al., 2014; TORRES et al., 2013; DIAS et al., 2013;

    ANGÉLICO et al., 2012). Assim, múltiplas questões são influenciadas pela sua presença, e que

    reforçam a relevância da assistência de qualidade, com planejamento contínuo e multiprofissional.

    Dentro da equipe multiprofissional, o enfermeiro necessita conhecer e considerar as

    características sociodemográficas, assistências e clínicas desses pacientes, em prol do planejamento

    para o gerenciamento do cuidado (EBERHARDT et al., 2016). A partir deste conhecimento, espera-

    se possibilitar ações e formas de cuidados singulares para a população assistida, que considere a

    peculiaridade da faixa etária e a participação do paciente e sua família no tratamento.

    A realidade enfrentada pelos idosos com úlcera venosa para realizarem o tratamento pode

    ser agravada pela inexistência de auxílio familiar ou profissional. A menor capacidade funcional

  • 15

    causa impacto negativo no processo de autocuidado e a necessidade de auxílio para as atividades de

    vida diária, especialmente nos idosos. Assim, reforça-se a importância da participação dos membros

    da família no processo de cuidado (CAMACHO et al., 2015).

    No contexto domiciliar, a família se envolve e influencia intensamente, além de representar a

    principal fonte de ajuda da rede social e se responsabilizar pelos cuidados diretos e indiretos, como

    realizar os curativos, promover momentos para repouso ou buscar por assistência do profissional de

    saúde. A continuidade da assistência no serviço de saúde é incentivada pelo apoio emocional positivo

    dos familiares (SILVA et al., 2014; SILVA et al., 2015). Nesse trabalho, entende-se o apoio recebido

    da família como suporte familiar e que pode ter a função de proteção, além de, diminuir a ação de

    diversos estressores na vida dos indivíduos (BAPTISTA, 2005).

    Frente a isso, aponta-se a relevância do enfermeiro, ao assistir o idoso com úlcera venosa,

    considerar a família como atuante no cuidado com vistas à promoção da saúde. Todavia, ainda se

    identifica a necessidade de esquemas assistenciais efetivos e dinâmicos capazes de assistir os idosos e

    suas demandas crescentes, assim como de suas famílias (REIS et al., 2011).

    Ao investigar o itinerário terapêutico de pessoas com úlcera venosa acompanhados em um

    ambulatorial de angiologia, encontrou-se que a maioria eram de idosos, demandavam cuidados em

    saúde diversificados e que procuravam auxílio na família e na Atenção Primária à Saúde (APS), por

    vezes, com pouca resolutividade e, consequente, necessidade de acompanhamento em serviço

    especializado de assistência à saúde (SILVA, 2013).

    Dessa maneira, justifica-se o interesse em pesquisar sobre o idoso com úlcera venosa no

    contexto da APS, incluindo fatores socais, econômicos e familiares para vislumbrar a efetividade e

    resolutividade na atenção a esta população. Portanto, espera-se sensibilizar para a importância do

    cuidado de enfermagem voltado as suas especificidades, bem como, estimular e fortalecer

    discussões sobre o envelhecimento ativo e a promoção da saúde, conforme preconiza a política

    nacional de saúde do idoso (BRASIL, 2006). E também contribuir para o suporte aos idosos com

    úlcera venosa e sua família, por meio de uma atenção integral e contínua, a fim de que sejam

    minimizadas possíveis complicações de saúde e com enfoque na melhora da qualidade de vida.

    Além disso, aponta-se que no cenário nacional, há pesquisas que trabalharam a avaliação e

    caracterização de pessoas com úlcera venosa (ANGÉLICO et al., 2013; BRITO et al., 2013; BUDÓ

    et al., 2013; EBERHARDT et al., 2016; MALAQUIAS et al., 2012; SANT’ANA et al., 2012), a dor

    (SALVETTI et al., 2014), os fatores de risco (MEDEIROS et al., 2014), a capacidade funcional

    (CAMACHO et al., 2015), formas de tratamento (ABREU; OLIVEIRA, 2015; AZOUBEL et al.,

    2010; LUZ et al., 2013; RIBEIRO et al., 2015; SELLMER et al., 2013), elaboração de protocolo

    assistencial (DANTAS et al., 2013); a qualidade de vida utilizando instrumentos de avaliação

    genérico (DIAS et al., 2013; TORRES et al., 2013; TORRES et al., 2014), e específico (ARAÚJO

  • 16

    et al., 2016), atuação do enfermeiro no cuidado a esta população, com ênfase na relevância de

    capacitação para atualização do conhecimento específico, uso de protocolo de tratamento, melhores

    condições de trabalho e necessidade da visão integral do cuidado (QUEIROZ et al., 2012; SILVA et

    al., 2014), e sobre a experiência de pessoas que convivem com a úlcera venosa (ALVES et al.,

    2015; COSTA et al., 2011; SILVA et al., 2013).

    No entanto, identifica-se uma lacuna no conhecimento sobre as relações entre as variáveis

    sociodemográficas, de saúde, clínicas e assistenciais e qualidade de vida, com o enfoque na

    população idosa, para investigação da correlação de tais variáveis com a percepção de suporte

    familiar. Nesse sentido, destaca-se a relevância da realização do estudo, em prol da assistência

    direcionada à promoção da saúde, bem como ampliar o conhecimento de enfermagem com impacto

    na pesquisa e ensino. Em relação à produção do conhecimento é esperado promover a reflexão

    sobre a assistência ao idoso com úlcera venosa e sua família, principalmente, na prática de

    enfermagem sobre as condições que interferem no bem-estar e na qualidade de vida de idosos.

    Contribuir com pesquisas sobre a promoção do envelhecimento saudável e na construção de

    conhecimento das demandas da população que envelhece e sua família.

    No ensino de enfermagem, ao considerar que o envelhecimento se configura como

    problemática de relevância atual faz-se necessário abordar, na formação acadêmica de enfermagem,

    temas que levem os alunos a refletirem sobre o idoso, a família e a saúde no seu contexto mais

    amplo, considerando os aspectos social, psicológico, econômico, político, além do biológico.

    Nesse sentido, questionou-se: como são as características sociodemográficas, de saúde,

    clínicas e assistenciais em idosos com úlcera venosa atendidos na Atenção Primária à Saúde? Como

    se caracterizam o suporte familiar e a qualidade de vida dos idosos com úlcera venosa na Atenção

    Primária à Saúde? Existe a associação entre as características sociodemográficas, saúde, clínicas e

    assistenciais com o suporte familiar e a qualidade de vida dos idosos? Qual a correlação entre

    suporte familiar e qualidade de vida dos idosos com úlcera venosa na Atenção Primária à Saúde?

  • 17

    2 OBJETIVOS

    OBJETIVO GERAL

    Avaliar a percepção do suporte familiar e qualidade de vida de idosos com úlcera venosa

    atendidos na Atenção Primária à Saúde.

    OBJETIVOS ESPECÍFICOS

    • Avaliar a associação das características sociodemográficas, de saúde, clínicas e assistenciais

    com a qualidade de vida de idosos com úlcera venosa.

    • Identificar a associação da percepção do suporte familiar em idosos com úlcera venosa com as

    características sociodemográficas, de saúde, clínicas e assistenciais.

    • Analisar a correlação do suporte familiar na qualidade de vida em idosos com úlcera venosa.

  • 18

    3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

    Na fundamentação teórica foram abordados: idoso com úlcera venosa na Atenção Primária à

    Saúde, Suporte Familiar e Qualidade de Vida.

    Além desses tópicos, apresentam-se os Aspectos contextuais da assistência ao idoso com

    úlcera venosa, artigo elaborado na Disciplina Bases Filosóficas e Teóricas de Enfermagem na

    Atenção à Saúde, Programa de Pós-Graduação em Enfermagem, da Universidade Federal do Rio

    Grande do Norte, em 2014. Encontra-se no formato em que foi publicado em 2016, na Revista de

    Enfermagem da Universidade Federal de Santa Maria, Qualis B2.

    Figura 1 – Demonstração dos tópicos que fundamentam teoricamente o estudo. Santa Maria/RS,

    2017.

    3.1 IDOSO COM ÚLCERA VENOSA NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE

    A úlcera venosa como condição crônica manifesta sintomas periódicos ou contínuos e a

    possibilidade de sua ocorrência aumenta com o passar dos anos. As alterações fisiológicas como

    diminuição dos processos metabólicos e na resposta inflamatória fazem com que a cicatrização seja

    mais lenta nos idosos, fato também favorecido pelo ressecamento e diminuição na elasticidade da

  • 19

    pele, devido à redução de colágeno e da vascularização deficiente (ABBADE, 2014; OLIVEIRA;

    SOARES; PIRES, 2015).

    O tratamento ao idoso com úlcera venosa, no contexto da APS, deverá priorizar o

    fortalecimento da autonomia, o esclarecimento sobre a situação crônica, por meio de ações para a

    prevenção e promoção, aspectos potencializados pela proximidade com o contexto sociocultural,

    quando o usuário busca o serviço de saúde ou em visitas domiciliares. Necessita-se também,

    vislumbrar o fortalecimento da APS para atender e possibilitar a continuidade do cuidado, propiciar

    articulações entre os serviços especializados de atendimento. A atenção a essa população, no

    Sistema Único de Saúde (SUS) precisa proporcionar a redução do tempo de cicatrização, o

    desconforto/dor e promover a qualidade de vida (TORRES et al., 2009).

    Na região Sudeste do Brasil, identificou-se que a APS mesmo com dificuldade para

    acompanhar os pacientes com úlcera venosa, absorvia as demandas da população que tinham

    procurado por atendimento em outros níveis de atenção, apresentava ausência de uma equipe

    multiprofissional e continuidade do tratamento (REIS et al., 2013).

    Como proposta para a reorganização da APS no Brasil a Estratégia Saúde da Família (ESF)

    foi estabelecida, assim como possibilidade para promover a universalização, equidade e

    integralidade da assistência ao usuário e ter a família como unidade de cuidados (OLIVEIRA;

    PEREIRA, 2013). No entanto, uma das barreiras para a efetivação é a dificuldade de fortalecimento

    de vínculo com as comunidades, devido a rotatividade dos trabalhadores (SCHIMITH et al., 2017).

    A APS tem como principal função a coordenação dos cuidados à população com o apoio dos

    serviços de atenção secundária e terciária da rede. A coordenação da atenção primária deve atuar

    sobre os determinantes sociais da saúde e sobre os fatores de riscos biopsicológicos. Além disso,

    necessita ser compreendida como estratégia de organização do sistema de atenção em saúde e cabe

    a esta apropriar e organizar todos os recursos do sistema (MENDES, 2011).

    Destaca-se que esse nível de atenção é considerado a área de maior complexidade de

    cuidado e, deveria ser o local de porta de entrada do indivíduo no sistema de saúde frente a agravos,

    bem como, de cuidados contínuos de saúde, mesmo com sua baixa densidade tecnológica. Espera-se

    que se apresente como eixo ordenador do sistema de saúde e responsável pela saúde de uma

    população em determinado território (BRASIL, 2011).

    A APS apresenta como eixos estruturantes ou atributos essenciais: atenção ao primeiro

    contato, longitudinalidade, integralidade e coordenação; e como atributos derivados: orientação

    familiar e comunitária e competência cultural (STARFIELD, 2002). Os atributos seguidos em sua

    totalidade poderão conferir qualidade ao atendimento de saúde em todos os níveis de atenção

    (MENDES, 2011).

    Estes atributos consistem em: atenção ao primeiro contato sugere a acessibilidade e o uso

  • 20

    de serviços para cada novo problema de saúde; a longitudinalidade implica na existência do aporte

    regular de cuidados pela equipe de saúde e seu uso consistente ao longo do tempo, em uma

    atmosfera de reciprocidade, confiança e humanidade entre equipe de saúde, indivíduos e famílias. A

    integralidade corresponde a prestação, pela equipe de saúde, de um conjunto de serviços que

    atendam às demandas da população na perspectiva da promoção, da prevenção, da cura, do cuidado

    e da reabilitação, a responsabilização pela oferta de serviços em outros pontos de atenção à saúde e

    o reconhecimento adequado dos problemas biológicos, psicológicos e sociais que causam as

    doenças. A coordenação consiste na capacidade de garantir a continuidade da atenção, por meio da

    equipe de saúde, com o reconhecimento das necessidades que solicitam um prosseguimento e se

    articula com a função de centro de comunicação da Rede de Atenção à Saúde (RAS) (STARFIELD,

    2002; MENDES, 2011).

    Ainda sobre a orientação familiar e comunitária, a APS deve focalizar atenção na família

    e considerar esta como o sujeito por meio da interação da equipe de saúde com e o conhecimento

    integral de seus problemas de saúde. A orientação comunitária significa o reconhecimento das

    necessidades das famílias em função do contexto físico, econômico, social e cultural em que

    habitam o que demanda uma análise de cada situação familiar em uma perspectiva populacional e a

    sua integração em programas de enfrentamento dos determinantes sociais da saúde. Por fim, os

    atributos da APS englobam também a competência cultural que consiste numa relação horizontal

    entre a equipe de saúde e a população que respeite as singularidades culturais e as preferências das

    pessoas e das famílias (STARFIELD, 2002; MENDES, 2011).

    Portanto, diante do cenário atual da atenção em saúde é necessário mudanças para melhorar

    o atendimento da população. Assim, a APS poderá ser o ponto chave para que esta mudança seja

    possível por meio da assistência continuada centrada na pessoa, de forma a satisfazer suas

    necessidades de saúde (STARFIELD, 2002).

    O tratamento na APS é um desafio e necessita de investimento coletivo dos profissionais,

    gestores e instituições de saúde, juntamente com o paciente com úlcera venosa. A assistência a essa

    população carece de uma política de saúde, que vise a congruência entre serviço e equipe, por meio

    de profissionais qualificados e integrados; serviços organizados e com infraestrutura adequada

    (ALVES; SOUSA; SOARES, 2015; SALOMÉ; FERREIRA, 2012).

    3.2 SUPORTE FAMILIAR

    A existência da úlcera venosa pode causar dependência para realizar as atividades rotineiras

    e interferir negativamente na qualidade de vida, assim questões de domínio biopsicossocial

    precisam ser valorizadas no tratamento. Entre essas questões, constatou-se o apoio da família como

  • 21

    favorável para o equilíbrio emocional, sendo os filhos citados como cuidadores (NOTTINGHAM et

    al., 2012). Contudo, a discriminação da família e a ausência do seu apoio no tratamento podem

    contribuir para a cronicidade da lesão (COSTA et al., 2011). A interação entre profissionais,

    pacientes e familiares favorece a adesão ao tratamento, bem como as mudanças de comportamento

    e as condutas da equipe de saúde podem otimizar o cuidado (AZOUBEL et al., 2010).

    Assim, faz-se relevante conhecer o modo como a família cuida de si e de seus membros,

    dos arranjos em sua rotina para o gerenciamento em situação de doença. Os familiares costumam

    prestar auxílio às necessidades do idoso na realização das atividades de vida diária, as quais podem

    ser dificultadas pela idade e condição da ferida. Por outro lado, as demandas de cuidados devido a

    existência da ferida, seu tratamento e materiais para o curativo, resulta em aumento de despesas, o

    que repercute em desestabilização financeira e familiar, especialmente, em situações econômicas

    deficitárias (DIAS et al., 2013). As diversas alterações resultantes da existência desse agravo podem

    causar mudança na relação familiar e participação no convívio social (SALOMÉ; FERREIRA,

    2012).

    Nesse sentido, destaca-se a participação da família como relevante para a efetividade de

    práticas de cuidado em saúde, em que se entende o apoio recebido da família como Suporte

    Familiar e que pode ter a função de proteção, além de, diminuir a ação de diversos estressores na

    vida dos indivíduos (BAPTISTA, 2005; BAPTISTA, 2009). Também adota-se ao conceito de

    família, como centro do cuidado e proteção, eixo na organização da vida social, que considera

    laços: de consanguinidade, matrimônio ou adoção e, também, pode ser aqueles de consideração

    (WRIGHT; LEAHEY, 2012).

    A família deveria exerce o suporte essencial ao idoso e assume o papel de principal

    instituição responsável pelo cuidado do mesmo, e somente quando ocorrem falhas é que o Estado

    deverá os assistir. Para o idoso a relação de cuidado desenvolvida no ambiente familiar é um

    importante elo de bem-estar e equilíbrio, pois o vínculo emocional é determinante na construção de

    afeto e intimidade. No entanto, as famílias ao longo dos últimos anos têm passado por

    transformações, em especialmente, quanto aos papeis de seus membros, o que de certa forma

    provocada uma vulnerabilidade das relações e consequentemente do cuidado aos idosos

    (PERSEGUINO; HORTA; RIBEIRO, 2017).

    3.3 QUALIDADE DE VIDA

    A qualidade de vida (QV) é um conceito abstrato, subjetivo e complexo, que segundo a

    definição adotada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) demonstra facetas positivas e

    negativas, além da multidimensionalidade do conceito ao lidar com a inter-relação entre ambiente e

  • 22

    aspectos físiopsicológicos do indivíduo, nível de independência, relações sociais e crenças pessoais.

    Na abordagem sobre a QV estão implícitas a subjetividade e a multidimensionalidade, além

    dos fatores biológicos, que necessitam ser considerados ao planejar a assistência à saúde em todos

    os seus níveis de complexidade. Envolvem aspectos pessoais, éticos, culturais e religiosos que

    influenciam a forma como é percebida e as suas consequências. Compreende a manutenção da

    saúde nas dimensões física, social, psíquica e espiritual (VITORINO; PASKULIN; VIANNA,

    2013).

    O termo “qualidade de vida relacionada à saúde” (QVRS) é bastante utilizado com objetivos

    semelhantes à conceituação mais geral de qualidade de vida. Porém, qualidade de vida possui uma

    definição mais ampla, influenciada por estudos sociológicos, sem aludir a doenças e agravos,

    enquanto que QVRS parece fazer referência aos aspectos mais diretamente relacionados às doenças

    ou às intervenções em saúde (SEILD; ZANNON, 2004).

    No campo da saúde, a QVRS é definida como a percepção do indivíduo sobre a influência

    da doença na sua vida e, portanto mensura a percepção das pessoas que convivem com a doença,

    através da capacidade funcional, saúde ocupacional, percepção geral do estado de saúde, bem como

    o funcionamento psicológico e social no contexto em que estão inseridas. É um indicador utilizado

    para nortear práticas assistenciais e auxiliar na definição de políticas públicas, no âmbito de

    promoção da saúde e prevenção de agravos. Portanto, considera também aspectos relativos às

    enfermidades, às disfunções e às necessárias intervenções terapêuticas em saúde, identificando o

    impacto destes na QV. Envolve conceito que vão além do controle dos sistemas, diminuição da

    mortalidade e crescente aumento da expectativa de vida. Por ser um termo amplamente popular e

    utilizado em pesquisas, este constructo atrai a atenção de profissionais de diversas áreas, em

    especial a da saúde (FARIA et al., 2011).

    Diferentes instrumentos são utilizados para sua avaliação, sejam eles genéricos, como o

    Medical Outcomes Study 36-Item Short-Form Health Survey (SF-36) ou específicos. Como

    instrumento específico para medir o impacto da úlcera venosa na qualidade de vida das pessoas com

    esse tipo de úlcera cita-se o Charing Cross Venous Leg Ulcer Questionnaire (CCVUQ) (COUTO;

    LEAL; PITTA, 2016). A aplicação desse instrumento pode subsidiar avaliações e medidas de

    tratamento, em prol da promoção de saúde (ARAÚJO et al., 2016).

  • 23

    3.4 ASPECTOS CONTEXTUAIS DA ASSISTÊNCIA AO IDOSO COM ÚLCERA VENOSA

  • 24

  • 25

  • 26

  • 27

  • 28

  • 29

  • 30

  • 31

    4 MÉTODO

    4.1 DESENHO E LOCAL DE ESTUDO

    Estudo transversal, analítico e quantitativo de tratamento e análise de dados, o qual se

    realizou nos serviços da APS em Santa Maria, Rio Grande do Sul (RS), Brasil.

    Santa Maria localiza-se na região central do estado do RS, apresenta uma área de 1.781,757

    Km², com população de 261.031 habitantes em 2010 e em 2015 estimadas 276.108 pessoas

    (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2015). Em 2010, a proporção de

    idosos aumentou para 13,8%, sendo de 3,1% a mais do que 2000, observou-se a tendência ao

    envelhecimento e a predominância da população feminina (PLANO MUNICIPAL DE SAÚDE

    2013-2016). Em 2010, apresentava 35.936 idosos, os quais 19.366 de 60 a 69 anos e 16.570 com 70

    anos ou mais (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2015).

    O munícipio é a sede da 4ª Coordenadoria Regional de Saúde – 4ªCRS, e os serviços de

    saúde da Atenção Primária à Saúde são apresentados no Quadro 1, conforme regiões

    administrativas e população (SANTA MARIA, 2015).

    Regiões

    administrativas

    Unidades Básicas de

    Saúde (UBS)

    Unidades de Saúde da

    Família (USF)

    População (segundo

    censo 2010)

    Oeste Floriano Rocha

    Ruben Noal

    Roberto Binato

    Vitor Hoffman

    Parque Pinheiro Machado

    Alto da Boa Vista

    São João

    55.133

    Centro-oeste Centro Social Urbano

    Vila Lídia 22.299

    Norte Joy Betts

    Kennedy

    Bela União 27.805

    Leste Wilson Paulo Noal

    Walter Aita

    21.822

    Centro Dom Antônio Reis

    José Erasmo Crossetti

    59.800

    Nordeste Itararé

    João Luiz Pozzobon

    Waldir Mozzaquatro

    28.819

  • 32

    Sul Oneyde de Carvalho Santos

    Urlândia

    18.611

    Centro-Leste São José

    Maringá

    12.176

    Unidades

    Distritais

    São Valentim

    Arroio Grande

    Palma

    Boca Do Monte

    Santa Flora

    Arroio do Só

    Santo Antão

    Pains

    14.566

    Quadro 1 – Caracterização das unidades de saúde da APS, segundo regiões administrativas e

    população. Santa Maria/RS, 2017.

    4.2 POPULAÇÃO E AMOSTRA DO ESTUDO

    Em Santa Maria, o atendimento pelo SUS às pessoas com úlcera venosa ocorre no

    ambulatório Ala A do Hospital Universitário de Santa Maria (HUSM), setor em que se situa o

    serviço de angiologia que atende consultas pré-agendadas e demandas espontâneas oriundas do

    município e das cidades da região de abrangência da 4ª e 10ª CRS. Além disso, o município conta

    com as USF e UBS, com destaque para a UBS José Erasmo Crossetti, que possui uma enfermeira

    estomaterapeuta e um médico angiologista.

    Após contato com a Secretaria de Município da Saúde, foram identificados e selecionados

    os serviços que atendiam idosos acometidos por úlceras venosas em tratamento e acompanhamento

    nas UBS e nas USF do município. Os idosos cadastrados foram indicados pelas equipes dos

    serviços, sendo incluídos pacientes com idade igual ou superior a 60 anos, com no mínimo uma

    úlcera venosa e em atendimento no serviço de saúde. Excluíram-se aqueles sem condições de ser

    entrevistado, por não apresentar condições de comunicação verbal, com limitações cognitivas de

    fala ou escuta que interferisse nas respostas aos instrumentos do estudo.

    Os 40 idosos que atenderam os critérios de elegibilidade no período estabelecido foram

    incluídos na pesquisa, não se realizou definição do número amostral previamente, sendo a

    amostragem por conveniência. A abordagem dos pacientes aconteceu no momento em que

    aguardavam a consulta ou a troca de curativos e, a entrevista ocorreu no próprio serviço de saúde,

    em sala reservada, conforme disponibilidade pré-acordada com a equipe ou no domicílio do

    participante, de acordo com agendamento prévio.

  • 33

    4.3 COLETA DE DADOS, INSTRUMENTOS E PADRONIZAÇÃO DAS VARIÁVEIS

    A coleta de dados foi realizada no período de agosto a dezembro de 2016, por meio do

    protocolo de pesquisa composto por: Formulário de caracterização sociodemográfica, de saúde,

    clínica e assistencial (Anexo A); o Charing Cross Venous Ulcer Questionnaire - CCVUQ (Anexo

    B); e Inventário de Percepção de Suporte Familiar - IPSF (Anexo C).

    4.3.1 Formulário de caracterização sociodemográfica, de saúde, clínica e assistencial

    O Formulário de caracterização sociodemográfica, de saúde, clínica e assistencial foi

    utilizado para o levantamento dos dados de caracterização e corresponde ao protocolo assistencial

    específico para pessoas com úlcera venosa, desenvolvido e validado por Costa (2013), do qual

    foram utilizados 27 questões, distribuídas em quatro componentes, a saber:

    • Sociodemográficas (Sexo; Faixa Etária; Estado civil; Escolaridade; Ocupação/Profissão e

    Renda per capita (família));

    ➢ Saúde (Doenças crônicas associadas; Etilismo/tabagismo; Sono),

    ➢ Clínicas (Recidivas de úlcera venosa (UV); Tempo de UV atual e presença de dor);

    ➢ Assistencial (Adequação dos produtos/materiais usados no curativo; Realização do curativo

    fora do serviço de saúde; Uso de Terapia compressiva - meia/faixa elástica, bota de Unna;

    Tempo de tratamento da UV; Local de tratamento nos últimos 30 dias; Orientação para o

    uso de terapias compressivas/elevação de membros inferiores (MMII)/ exercícios regulares;

    Exames laboratoriais e específicos; Número de consultas com o Angiologista no último ano;

    Referência e Contrarreferência; e Documentação dos achados clínicos).

    O referido protocolo foi validado por meio da Técnica Delphi, apresentando índice Kappa ≥

    0,81 e Índice de Validade de Conteúdo (IVC) > 0,80, o que fornece respectivamente evidências de

    confiabilidade e validade de conteúdo ao instrumento. A padronização das variáveis do instrumento

    de caracterização sociodemográfica, de saúde, clínicas e assistenciais estão operacionalizadas nos

    Quadros 2 e 3.

    Variáveis de caracterização

    Sociodemográfica, de saúde e

    clínicas dos idosos com UV

    Escores/ categorias de verificação

    Sexo Feminino (0); masculino (1)

    Faixa Etária 60 a 69 anos (0); 70 anos ou mais (1)

    Estado civil Solteiro/viúvo/divorciado (0); casado/união estável

    (1)

    Escolaridade Não alfabetizado/alfabetizado/ensino

  • 34

    Fundamental (0); Médio/Superior (1)

    Ocupação/Profissão Presente (0); Ausente (1) Qual?

    Renda per capita (família) ≥ 1 Salário Mínimo1 (0); até 1 Salário Mínimo (1)

    Sono < 6 horas (0); ≥6 horas (1)

    Doenças crônicas associadas Presente (0); Ausente (1)

    Etilismo/tabagismo Presente (0); Ausente (1)

    Recidivas de UV ≥ 1 recidiva (0); Nenhuma (1)

    Tempo de UV atual ≥1 ano (0); Até 1 ano (1)

    Presença de dor Presente (0); Ausente (1)

    Sinais de infecção Presente (0); Ausente (1)

    Quadro 2 – Variáveis de caracterização sociodemográfica, de saúde e clínicas dos idosos com UV

    atendidas na APS, segundo escores/categorias de verificação. Santa Maria/RS, 2017.

    Variáveis caracterizadoras da assistência

    prestada às pessoas com UV Escores/ categorias de verificação

    Adequação dos produtos/materiais usados

    no curativo

    Indisponibilidade de produtos para limpeza,

    epitelizante e desbridante (0);

    Disponibilidade de produtos adequados para

    limpeza, epitelizante e desbridante (1)

    Realização do curativo fora do serviço de

    saúde

    Profissional/cuidador sem treinamento (0);

    Profissional/cuidador treinado (1)

    Terapia compressiva (meia/faixa elástica,

    bota de Unna) Ausente (0); presente (1) - Qual?

    Tempo de tratamento da UV Tempo em meses?

    ≤ 1 ano(0); >1 ano (1)

    Local de tratamento nos últimos 30 dias Domicílio (0); UBS/USF/hospital (1)

    Orientação para o uso de terapias

    compressivas/elevação de MMII/

    exercícios regulares

    Ausente (0); presente (1)

    Exames laboratoriais e específicos

    Exames laboratoriais de sangue e/ou urina

    (0); Exames laboratoriais de sangue e/ou

    urina + Doppler (1)

    Número de consultas com o Angiologista

    no último ano

    ≤3/ano (0)

    >3/ano (1)

    Referência e Contrarreferência Ausente (0); Presente (1)

    Documentação dos achados clínicos Sem registro no prontuário (0) / Com

    registro no prontuário (1)

    Quadro 3 – Variáveis de caracterização da assistência à saúde/SUS prestada às pessoas com UV

    atendidas na APS, segundo escores/categorias de verificação. Santa Maria/RS, 2017.

    4.3.2 Charing Cross Venous Ulcer Questionnaire - CCVUQ

    O Charing Cross Venous Leg Ulcer Questionnaire (CCVUQ) foi o instrumento específico

    para medir o impacto da úlcera venosa na qualidade de vida das pessoas com esse tipo de úlcera

    (GONZÁLEZ-CONSUEGRA; VERDÚ, 2011). Esse instrumento foi criado e validado em Londres

  • 35

    por Smith et al. (2000), teve sua tradução para a língua portuguesa e adaptação cultural para uso na

    população brasileira por Couto et al. (2012), sendo recente a publicação de validação do questionário

    qualidade de vida na úlcera venosa em língua portuguesa (COUTO; LEAL; PITTA, 2016).

    O CCVUQ-Brasil, possui 21 itens organizados em quatro domínios: Interação social; Atividades

    domésticas; Estética; Estado emocional (COUTO; LEAL; PITTA, 2016). Os itens estão apresentados

    em escala Likert de quatro pontos para as questões 1, 4, 6, e 8; e de cinco pontos para as demais. A

    pontuação do questionário varia de zero a 100, sendo que quanto menor a pontuação, melhor a

    qualidade de vida apresentada pelo indivíduo (SMITH et al, 2000).

    Neste estudo a variável de caracterização da QV dos idosos com úlceras venosas está

    relacionada com os domínios do CCVUQ, conforme descrição do Quadro 4 abaixo:

    Domínios do CCVUQ Itens Questões correspondentes

    Interação Social

    2A, 2B, 2C,

    2D, 3A, 8

    Avalia o quanto a presença da úlcera impede a pessoa

    de se reunir com amigos, viajar de férias, realizar

    passatempos, usar transporte público, o quanto o faz

    realizar as atividades de forma mais lenta e se causa

    dificuldade de andar.

    Atividades Domésticas

    3A, 5A, 5B,

    5C, 5D

    Avalia se a presença da úlcera limita a realização das

    tarefas de casa: cozinhar, limpar, fazer comprar,

    cuidar do jardim e o quanto faz com que a pessoa

    realize as atividades de forma mais lenta

    Estética

    3C, 3E, 4, 7A,

    7B, 7C

    Avalia o quanto a secreção da úlcera é considerada

    um problema, o quanto a pessoa fica preocupada que

    a úlcera nunca cure e o quanto a pessoa se sente triste

    por causa da aparência das pernas devido a úlcera

    e/ou curativos. Com relação aos curativos, avalia o

    quanto o volume, a aparência e a influência nas

    roupas que usa é considerado um problema.

    Estado Emocional

    3F, 3B, 6, 3E,

    3D

    Avalia o quanto a úlcera deixa a pessoa preocupada

    com seus relacionamentos pessoais, deprimida,

    preocupada que a úlcera nunca cure, cansada de

    gastar muito tempo tratando da úlcera e se passa

    muito tempo pensando na úlcera.

    Pontuação total Todos

    Quadro 4 – Caracterização dos domínios que compõe o CCVUQ, segundo itens e questões

    correspondentes. Santa Maria/RS, 2017.

    4.3.3 Inventário de Percepção de Suporte Familiar – IPSF

    O Inventário de Percepção do Suporte Familiar (IPSF) foi o instrumento utilizado com o

    objetivo de avaliar o suporte familiar, ou seja, a forma como as pessoas percebem suas relações

  • 36

    familiares, no que concerne à afetividade, autonomia e adaptação entre os membros da família,

    tanto da nuclear como da família constituída (BAPTISTA, 2009).

    O IPSF foi desenvolvido por Baptista (2005) e utilizado com 346 universitários em São

    Paulo, posteriormente, foi aplicado em outras populações, incluindo idosos (INOUYE et al., 2010;

    REIS et al., 2011, 2014). Apresenta 42 itens e três domínios (BAPTISTA, 2007; 2009):

    - Afetivo-Consistente possui 21 itens – versam sobre a expressão de afetividade entre os

    membros familiares seja verbal e não verbal, interesse, proximidade, acolhimento, comunicação,

    interação, respeito, empatia, clareza nas regras intrafamiliares, consistência de comportamentos e

    verbalizações e habilidades na resolução de problemas.

    - Adaptação Familiar composto por 13 itens - referem a sentimentos e comportamentos

    negativos em relação à família, tais como raiva, isolamento, incompreensão, exclusão, não

    pertencimento, vergonha, irritação, relações agressivas (brigas e gritos), além de percepção de que

    os familiares competem entre si, são interesseiros e se culpam nos conflitos, que apontam a

    ausência de adaptação no grupo, ao invés de tentarem inter-relações proativas.

    - Autonomia composto por oito itens - que podem assinalar relações de confiança,

    liberdade e privacidade entre os membros.

    O suporte familiar segundo classificação, dimensões, itens, e as respectivas pontuações, de

    acordo com o sexo e independente do sexo estão no Quadro 5.

    IPSF

    Classificação

    Afetivo-Consistente Adaptação familiar Autonomia

    familiar

    Total

    Masculino Feminino Masculino Feminino

    Baixo 0-21 0-21 0-22 0-18 0-18 0-18 0-9 0-53

    Médio-baixo 22-28 22-27 23-28 19-21 19-22 19-21 10-12 54-63

    Médio-alto 29-33 28-33 29-33 22-23 23-24 22-23 13-14 64-70

    Alto 34-42 34-42 34-42 24-26 25-26 24-26 15-16 71-84

    Pontos 0-42 0-26 0-16

    Itens 2, 3, 4, 5, 9, 11, 15, 17, 22,

    23, 24, 25, 26, 28, 29, 30,

    31, 35, 37, 41 e 42

    1, 6, 7, 8, 13, 16, 20, 21, 27,

    32, 33, 36 e 39

    10, 12, 14, 18,19,

    34, 38 e 40

    Total 0-84 pontos

    Quadro 5 – Classificação e pontuação do Inventário de Percepção do suporte familiar. Santa

    Maria/RS, 2017.

    Fonte: Adaptado de Baptista. 2009.

    O IPSF é respondido por intermédio de uma escala Likert de três pontos, pontuando-se 2

    para respostas “Quase Sempre ou sempre”; 1 para “às vezes” e 0 para “Quase Nunca ou nunca”. Os

    itens de Adaptação Familiar são avaliados invertidos, atribuindo-se 0 para respostas “Quase Sempre

  • 37

    ou sempre”; 1 para “às vezes” e 2 para “Quase Nunca ou nunca”. As pontuações gerais variam de 0

    a 84, sendo que quanto maior a pontuação maior será o suporte familiar percebido (BAPTISTA,

    2007; 2009).

    Nos domínios Afetividade-Consistente e Autonomia quanto maior a pontuação obtida, pior é

    a percepção do suporte familiar. No domínio Adaptação-familiar, quanto maior a pontuação obtida,

    melhor é o suporte familiar percebido.

    4.4 ANÁLISE DOS DADOS

    Para a análise dos dados, realizou-se codificação e dupla digitação independente em

    planilhas eletrônicas. Após a verificação de erros e inconsistências na digitação, os dados foram

    exportados para tratamento e análise no Statistical Package for Social Science (SPSS), versão 18.0.

    Foram realizadas análises descritivas visando caracterizar a população do estudo, por meio

    de distribuições de frequências e medidas descritivas (médias e desvio padrão). As variáveis

    qualitativas foram apresentadas em frequências absolutas (n) e relativas (%) e, para as quantitativas,

    calcularam-se média, desvio-padrão, mediana, mínimo e máximo. E na análise inferencial nos

    cruzamentos das variáveis, com o nível de significância de 5% (α=0,05; p ≤0,05), e na aplicação

    dos testes:

    ➢ Teste de Shapiro-Wilk, na verificação da distribuição da normalidade dos dados.

    ➢ Mann-Whitney, utilizado para verificação de diferença significante entre os escores

    medianos dos domínios de qualidade de vida do CCVUQ e as variáveis

    sociodemográficas, de saúde, clínicas e assistenciais.

    ➢ Qui-quadrado ou exato de Fisher (para tabelas com frequências esperadas inferiores a

    5), testando a associação entre o Suporte Familiar e as variáveis sociodemográficas,

    de saúde, clínicas e assistenciais.

    ➢ Correlação de Spearmann, na avaliação da correlação entre os domínios do IPSF e do

    CCVUQ. Para análise das forças de correlação foram adotados os seguintes critérios:

    r = < 0,40 (fraco); r = 0,40 a 0,49 (moderado); r = ≥ 0,50 a 1 (forte) (HULLEY,

    2003).

    ➢ Alfa de Cronbach, utilizado para avaliar a confiabilidade das escalas, por meio da sua

    análise consistência interna, sendo considerado satisfatório Alfa >0,70.

    Após este processo, os dados foram codificados, tabulados e apresentados na forma de

    tabelas, quadros e figuras, com suas respectivas distribuições percentuais e resultados dos testes

    estatísticos.

  • 38

    Figura 2 – Modelo de correlação das variáveis dependentes, moderadoras e independente. Santa

    Maria/RS, 2017

    Nesse sentido, elegeu-se as seguintes hipóteses de pesquisa expressas no Quadro 6.

    DEFINIÇÃO DE HIPÓTESES

    TIPOS TEÓRICA ESTATÍSTICA

    Hipótese nula (H0)

    O suporte familiar não se correlaciona com a

    qualidade de vida de idosos com úlcera

    venosa atendidos na Atenção Primária à

    Saúde.

    H0= escore QV x SF r=0 ou

    r≠0 com p-valor > 0,05)

    Hipótese

    alternativa (H1)

    O suporte familiar se correlaciona com a

    qualidade de vida de idosos com úlcera

    venosa atendidos na Atenção Primária à

    Saúde.

    H1= escore QV x SF r≠0

    negativa com p-valor ≤ 0,05)

    Obs.: Em que, H0 = Hipótese nula; H1 = Hipótese alternativa; SF = Suporte Familiar

    QV = qualidade de vida

    Quadro 6 – Descrição e estatísticas das hipóteses do estudo. Santa Maria/RS, 2017

    4.5 ASPÉCTOS ÉTICOS

    O estudo está de acordo com a Resolução Nº 466/2012, do Conselho Nacional de Saúde,

    que regem as pesquisas envolvendo seres humanos (BRASIL, 2012).

    A autorização institucional para a realização da pesquisa ocorreu junto ao Núcleo de

    Educação Permanente (NEPES) da Secretaria Municipal de Saúde de Santa Maria (SMSSM)

    (ANEXO D). O projeto foi apreciado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de

    Santa Maria (CEP/UFSM), no qual recebeu o parecer favorável, em 10 de agosto de 2016, sob

    número 1.670.636 e Certificado de Apresentação para Apreciação Ética (CAAE)

    58255016.0.0000.5346 (ANEXO E). Após a entrega do parecer do CEP no NEPES/SMSSM foi

    disponibilizada a autorização para iniciar a coleta de dados (ANEXO F).

    Variável Independente

    Suporte Familiar

    Variáveis Moderadoras

    Características sociodemográficas, de

    saúde, clínicas e assistenciais dos

    idosos

    Variáveis Dependentes

    Qualidade de vida dos idosos

  • 39

    Providenciou-se, previamente ao início da coleta dos dados, aos participantes da pesquisa, o

    conhecimento e a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) (APÊNDICE

    A). No Termo de Confidencialidade (APÊNDICE B), está garantido a confidencialidade e o

    anonimato das participantes, os quais têm sua privacidade assegurada pelos pesquisadores em todas

    as etapas da pesquisa. As informações são de uso exclusivo para compor o banco de dados deste

    estudo e utilizadas somente para fins científicos para a área da saúde e da enfermagem. Ressalta-se

    que um dos objetivos e compromisso ético dos pesquisadores implica em retornar os resultados aos

    idosos com úlcera venosa atendidos nos serviços de saúde pesquisados e para a SMSSM.

  • 40

    5 RESULTADOS E DISCUSSÃO

    Os resultados e discussão estão apresentados em forma de artigos a serem submetidos em

    periódicos qualificados na área de Enfermagem, conforme exposto no Quadro 7.

    ARTIGO TÍTULO OBJETIVO QUALIS EM

    ENFERMAGEM

    1

    Qualidade de vida de

    idosos com úlcera venosa:

    associação das

    características

    sociodemográficas, de

    saúde, clínicas e

    assistenciais

    Avaliar a associação das

    características sociodemográficas, de

    saúde, clínicas e assistenciais com a

    qualidade de vida de idosos com

    úlcera venosa.

    A1

    2

    Percepção do suporte

    familiar em idosos com

    úlcera venosa e

    características associadas

    Identificar a associação da percepção

    do suporte familiar em idosos com

    úlcera venosa com as características

    sociodemográficas, de saúde, clínicas

    e assistenciais.

    B1

    3

    Correlação entre

    qualidade de vida e o

    suporte familiar em idosos

    com úlcera venosa

    Analisar a correlação do suporte

    familiar na qualidade de vida em

    idosos com úlcera venosa.

    A1

    Quadro 7 – Síntese dos três artigos que compõem os resultados e discussões por título, objetivo e

    Qualis que serão submetidos. Santa Maria/RS, 2017

  • 41

    5.1 ARTIGO 1

    QUALIDADE DE VIDA DE IDOSOS COM ÚLCERA VENOSA: ASSOCIAÇÃO DAS

    CARACTERÍSTICAS SOCIODEMOGRÁFICAS, DE SAÚDE, CLÍNICAS E

    ASSISTENCIAIS

    Resumo

    Objetivo: avaliar a associação das características sociodemográficas, de saúde, clínicas e

    assistenciais com a qualidade de vida de idosos com úlcera venosa. Método: estudo transversal,

    realizado nos serviços da Atenção Primária à Saúde no sul do Brasil. Utilizou-se um formulário de

    caracterização e para avaliação da qualidade de vida o Charing Cross Venous Ulcer Questionnaire

    (CCVUQ). Resultados: o escore Total do CCVUQ apresentou mediana 43,9, nos domínios

    Interação Social (27,9), Atividades Domésticas (29,9), Estética (44,7) e Estado Emocional (57,4).

    Constatou-se associação significativa da variável clínica dor em relação aos domínios Atividades

    Domésticas (p=0,048), Estado Emocional (p=0,034) e Escore Total (p=0,022). Associações

    significativas das variáveis assistenciais: quem realiza o curativo com Estado Emocional (p=0,045);

    uso de terapia compressiva com Atividades Domésticas (p=0,031); e, número de consultas com os

    domínios Interação Social (p=0,033), Atividades Domésticas (p=0,033), Estado Emocional

    (p=0,025) e Escore total (p=0,030). Conclusão: a qualidade de vida do idoso com úlcera venosa foi

    pior nos domínios Estética e Estado Emocional. Os idosos que apresentaram melhor qualidade de

    vida não tinham dor, realizam seu curativo, estavam em tratamento com terapia compressiva e

    tinham três ou mais consultas no ano. Necessitam-se cuidados continuados, ações de promoção e

    reabilitação da saúde dessa população.

    Descritores: Saúde do Idoso; Úlcera Varicosa; Qualidade de Vida; Enfermagem; Idoso; Atenção

    Primária a Saúde.

    Descriptors: Health of the Elderly; Varicose Ulcer; Quality of Life; Aged; Nursing; Primary Health

    Care.

  • 42

    Descriptores: Salud del Anciano; Úlcera Varicosa; Calidad de Vida; Enfermería; Anciano; Atención

    Primaria de Salud.

    Introdução

    A úlcera venosa corresponde a aproximadamente 75,0% dos casos de úlceras em membros

    inferiores, constitui um problema de saúde pública mundial, e sua ocorrência aumenta com o

    envelhecimento populacional(1-2). Acomete ambos os sexos, com predominância para o feminino e,

    é uma complicação da insuficiência venosa crônica (IVC)(1).

    Para os idosos sua ocorrência pode causar repercussões biopsicossociais, incluindo

    mudanças nos hábitos de vida pela necessidade de autocuidado e de assistência em saúde,

    mobilidade diminuída, perdas nas relações sociais e problemas financeiros(3-5).

    Dessa forma, esse tipo de ferida impacta negativamente na qualidade de vida em diversos

    aspectos, especialmente relacionada à dor, funcionamento físico e mobilidade, reações emocionais

    negativas e isolamento social(2,6-7). A qualidade de vida é definida como “a percepção do indivíduo

    sobre a sua posição na vida, no contexto da cultura e dos sistemas de valores nos quais ele vive, e

    em relação a seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações” (8).

    No Brasil, estudos avaliaram a qualidade de vida de pessoas com úlcera venosa por meio de

    instrumentos genéricos, dentre eles o Medical Outcomes Study 36-Item Short-Form Health Survey

    (SF-36)(7,9-10). Contudo, há escassez de publicações de pesquisas que utilizaram o Charing Cross

    Venous Ulcer Questionnaire (CCVUQ) instrumento específico para essa avaliação(11), recentemente

    validado para a realidade brasileira(12), e que foi aplicado junto a pacientes atendidos em serviços da

    Atenção Primária à Saúde (APS), na região nordeste brasileira(11).

    Embora existam serviços especializados, muitos pacientes são assistidos no ambiente da

    APS e estudos realizados com enfermeiras, na região Sudeste, apontaram fragilidades na assistência

    à pessoa com úlcera, devido a precária infraestrutura e local para realização do curativo, materiais e

    padronização do tratamento. Há carência nas condições de trabalho interdisciplinar, profissionais

  • 43

    em número suficiente e com conhecimento técnico-científico atualizado, além de serviços

    especializados de referência como suporte para continuidade do tratamento(13-14).

    Dessa forma, aponta-se a relevância de avaliar a qualidade de vida dos idosos com úlcera

    venosa assistidos no contexto da APS. As investigações sobre esse constructo são importantes no

    contexto do envelhecimento populacional, pois a assistência em saúde necessita prezar pela sua

    manutenção, mesmo ao considerar situações de adoecimento, como a úlcera venosa. Acredita-se

    que a avaliação por meio da aplicação de instrumento específico recentemente validado no Brasil,

    pode ser considerada uma iniciativa inovadora. Este estudo se justifica uma vez que a identificação

    das características sociodemográficas, de saúde, clínicas e assitenciais que influenciam na qualidade

    de vida, podem possibilitar o desenvolvimento de intervenções de Enfermagem em prol do cuidado

    integral ao idoso com úlcera venosa.

    A partir dessas considerações apresentam-se os seguintes questionamentos: quais as

    características sociodemográficas, de saúde, clínicas e assistenciais estão associadas a qualidade de

    vida do idoso com úlcera venosa? Frente ao exposto, este estudo teve como objetivo avaliar a

    associação das características sociodemográficas, de saúde, clínicas e assistenciais com a qualidade

    de vida de idosos com úlcera venosa.

    Método

    Estudo transversal, desenvolvido nos serviços de APS de um município do interior do Rio

    Grande do Sul, Brasil.

    Para seleção dos participantes utilizou-se a técnica de amostragem por conveniência.

    Realizou-se o levantamento dos cadastros de pessoas com feridas registradas nos serviços, quando

    se tinha esse controle, e por busca ativa daquelas que compareciam para consultas de rotina ou troca

    dos curativos.

    Foram incluídos todos os pacientes com idade de 60 anos ou mais, que estivessem com pelo

    menos uma úlcera venosa ativa e em acompanhamento no serviço de saúde. Como critérios de

  • 44

    exclusão tiveram-se: quem não tivesse condições de comunicação verbal, com limitações cognitivas

    de fala ou escuta que interferisse nas respostas aos instrumentos do estudo. Após a seleção, foi

    realizado agendamento de data e horário para entrevista dos participantes no referido serviço ou no

    domicílio, de acordo com a preferência e disponibilidade.

    A coleta de dados ocorreu de agosto a dezembro de 2016, em ambiente privativo e foi

    realizada pela própria pesquisadora, utilizando um formulário validado e já aplicado em estudo

    prévio(11) para coleta dos dados sociodemográficos, de saúde, clínicos e assistenciais, e para análise

    da qualidade de vida, e o Charing Cross Venous Ulcer Questionnaire (CCVUQ)(12).

    As variáveis independentes avaliadas foram: Sociodemográficas (Sexo; Faixa Etária; Estado

    civil; Com quem mora, Escolaridade; Renda per capita (família); e Aposentado -

    Ocupação/Profissão); Saúde (Doenças crônicas associadas - Diabetes Mellitus, Hipertensão Arterial

    Sistêmica, Cardiopatia; Sono; Etilismo/tabagismo); Clínicas (Recidiva; Tempo de úlcera venosa

    atual; Dor e Sinais de infecção); e Assistenciais (Local de tratamento nos últimos 30 dias; Quem

    realiza o curativo fora do serviço de saúde; Tempo de tratamento da úlcera venosa; Faz uso de

    terapia compressiva - meia/faixa elástica, bota de Unna - nos últimos 30 dias; Orientações para o

    uso de terapias compressivas/elevação de membros inferiores/ exercícios regulares; Número de

    consultas com o Angiologista no último ano; Referência e Contrarreferência; e Documentação dos

    achados clínicos).

    A variável dependente qualidade de vida foi coletada por meio do CCVUQ, instrumento

    criado e validado em Londres, cuja versão foi traduzida e validada para a cultura brasileira(12). Este

    formulário contém 21 itens organizados em quatro domínios, a saber: Interação Social (itens 2A, 2B,

    2C, 2D, 3A, 8), Atividades Domésticas (itens 3A, 5A, 5B, 5C, 5D), Estética (itens 3C, 3E, 4, 7A, 7B,

    7C ) e Estado Emocional (itens 3F, 3B, 6, 3E, 3D). Esses itens estão apresentados em escala Likert de

    quatro pontos para as questões 1, 4, 6, e 8; e de cinco pontos para as demais. A pontuação do

    questionário varia de 0 a 100, quanto menor a pontuação, melhor a qualidade de vida(12).

  • 45

    Os dados foram codificados e digitados duplamente em planilhas do programa Excel. Após a

    verificação de erros e inconsistências na digitação, a análise foi realizada no software Statistical

    Package for the Social Science (SPSS) versão 18.0, para tratamento e análise dos resultados.

    Utilizou-se da estatística descritiva e inferencial. Para as variáveis categóricas foram calculadas as

    frequências absoluta e relativa e, para as quantitativas, calcularam-se média, desvio padrão quando

    apresentaram distribuição normal, e mediana, intervalo interquartílico, mínimo e máximo quando

    não apresentaram distribuição normal. Na verificação da distribuição da normalidade dos dados

    realizou-se o Teste de Shapiro-Wilk.

    Inicialmente, usou-se análise bivariada, para verificar quais variáveis de caracterização

    estavam associadas ao sexo dos pacientes, neste caso foram feitos testes de associação pelo Qui-

    quadrado e quando este não teve seus pressupostos de validade atendidos, foi utilizado o teste Exato

    de Fischer. Por fim, para verificação de diferenças entre os escores medianos das dimensões de

    qualidade de vida do CCVUQ e demais variáveis, adotou-se o Teste U de Mann-Whitney, com o

    nível de significância de 5% (p ≤0,05) e a confiabilidade avaliada por meio do coeficiente alfa de

    Cronbach, sendo considerado satisfatório Alfa >0,70.

    Este estudo esta em consonância com as recomendações éticas para a realização de pesquisa

    envolvendo seres humanos, o projeto recebeu parecer favorável do Comitê de Ética em Pesquisa,

    com protocolo número 1.670.636 e Certificado de Apresentação para Apreciação Ética

    58255016.0.0000.5346, em 10 de agosto de 2016. Todos os participantes receberam de forma

    verbal e por escrito as informações sobre o estudo e assinaram o Termo de Consentimento Livre e

    Esclarecido.

    Resultados

    Participaram da pesquisa 40 idosos com úlcera venosa, em sua maioria mulheres (Tabela 1),

    com a média de idade geral de 71,90 (±8,40) anos, mínimo 60 anos e máximo de 87 anos. Dentre as

  • 46

    participantes do sexo feminino, a média de idade foi de 73,26 (±8,01) e do sexo masculino de 70,06

    (±8,81).

    Tabela 1 – Caracterização sociodemográfica e de saúde dos idosos com úlcera venosa (n=40) em

    relação ao sexo. Santa Maria, RS, Brasil, 2017.

    Variáveis

    Sexo

    Total

    n (%)

    Teste

    exato de

    Fischer

    p-valor

    Feminino

    n (%)

    Masculino

    n (%)

    Faixa etária 60 a 69 anos 9(22,5) 10(25,0) 19(47,5)

    0,218* ≥ 70 anos 14(35,0) 7(17,5) 21(52,5)

    Estado civil Solteiro 20(50,0) 5(12,5) 25(62,5)

    6 horas 16(40,0) 14(35,5) 30(75,0)

    Etilismo/tabagismo Presente 0(0,0) 1(2,5) 1(2,5)

    0,425 Ausente 23(57,5) 16(40,0) 39(97,5)

    *Teste Qui-quadrado de Pearson.

    Em relação as características sociodemográficas e de saúde, verificou-se que os idosos eram,

    em sua maioria, da faixa etária maior ou igual a 70 anos, sem companheiro (solteiro, viúvo ou

    divorciado), sendo prevalente a escolaridade definida como ensino fundamental (n=25; 62,5%),

    com renda de até um salário mínimo (n=36; 90,0%), a renda média familiar encontrada na amostra

    foi de R$ 1.450,00 (±1320,63).

    Ao avaliar a associação das variáveis sociodemográficas e de saúde dos pacientes em

    relação ao sexo (Tabela 1) verificou-se a associação significativa das variáveis estado civil e

    cardiopatia. Observou-se que os sem companheiro estão associadas ao sexo feminino, enquanto que

  • 47

    os casados/com união estável estão associados ao sexo masculino. Para a v