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Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Centro de Ciências da Saúde
Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento
e Inovação Tecnológica em Medicamentos
DAYANNE LOPES PORTO
DESENVOLVIMENTO DE METODOLOGIA PARA A AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DA
STIGMURINA, UM PEPTÍDEO DO ESCORPIÃO Tityus stigmurus
NATAL – RN
2019
DAYANNE LOPES PORTO
DESENVOLVIMENTO DE METODOLOGIA PARA A AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DA
STIGMURINA, UM PEPTÍDEO DO ESCORPIÃO Tityus stigmurus
Tese de Doutorado apresentada ao Programa de
Pós-Graduação em Desenvolvimento e Inovação
Tecnológica em Medicamentos da Universidade
Federal do Rio Grande do Norte (PPgDITM/UFRN),
como requisito para obtenção do título de Doutor em
Desenvolvimento e Inovação Tecnológica em
Medicamentos
Orientador: Prof. Dr. Cícero Flávio Soares Aragão
Co-Orientador: Prof. Dr. Matheus de Freitas Fernandes Pedrosa
NATAL – RN
2019
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Sistema de Bibliotecas - SISBI
Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial do Centro Ciências da Saúde - CCS
Elaborado por ANA CRISTINA DA SILVA LOPES - CRB-15/263
CDU 615.281 RN/UF/BS-CCS
1. Stigmurina - Tese. 2. Peptídeo Sintético - Tese. 3.
Degradação Forçada - Tese. 4. Degradação Térmica - Tese. I.
Aragão, Cícero Flávio Soares de. II. Pedrosa, Matheus de Freitas
Fernandes. III. Título.
Porto, Dayanne Lopes.
Desenvolvimento de metodologia para a avaliação da qualidade
da stigmurina, um peptídeo do escorpião Tityus stigmurus /
Dayanne Lopes Porto. - 2019.
177f.: il.
Tese (Doutorado) - Universidade Federal do Rio Grande do
Norte, Centro de Ciências da Saúde, Programa de Pós-Graduação em
Desenvolvimento e Inovação Tecnológica em Medicamentos. Natal,
RN, 2019.
Orientador: Cícero Flávio Soares de Aragão.
Coorientador: Matheus de Freitas Fernandes Pedrosa.
Tinha uma pedra no meio do caminho,
No meio do caminho tinha uma pedra,
Tinha uma pedra,
Um muro,
Uma montanha,
Problemas de saúde
Pessoas,
Cansaço....
E lutei, e lutarei para sempre conjugar o verbo no passado.
Dedico esta tese aos meus filhos, João
Pedro e Luíze. Eles me ensinaram que um
filho carrega, mas que o pão debaixo do
braço, traz a tese, o artigo e tudo aquilo que
não sabemos que podemos ser.
AGRADECIMENTOS
A Deus pela benção da vida, por estar ao meu lado em todos os momentos, pela força
e coragem em mim depositada durante os dias mais difíceis, sem Ele eu nada seria.
A minha família, especialmente a minha mãe, Janilza Lopes de Brito, pela presença
constante, me apoiando e aconselhando, pelo exemplo de vida, dedicação e incentivo
aos estudos.
A minhas irmãs Deyse Cristine e Daíse Lopes Porto pela presença, carinho e
cumplicidade em tantos momentos. Somos diferentes, mas diferentemente nos
completamos.
Aos meus sobrinhos João Lucas, David e Clara Victoria, por me proporcionarem
momentos de alegria incondicionais e serem o alívio nos momentos de cansaço.
Ao meu esposo Cleber Vieira da Silva, pelo companheirismo, amadurecimento,
compreensão nas ausências, muitas vezes necessárias e pelo apoio nos momentos
difíceis.
Aos meus filhos João Pedro e Luíze por serem motivos de revolução em meu ser, por
me inspirarem a desejar ser, e fazer, o melhor sempre.
Ao professor, Cícero Flávio Soares Aragão por acreditar em mim, por todo apoio, pelos
seus ensinamentos, pela tranquilidade repassada em todos os momentos e inspiração
na pesquisa.
Ao professor, Matheus de Freitas Fernandes Pedrosa pela confiança depositada, por
todo apoio, pelos ensinamentos e inspiração na pesquisa.
A professora, Ana Paula Gomes pelos ensinamentos em análise térmica, por todo
apoio, pela disponibilidade de sempre ouvir e inspiração na pesquisa.
Ao professor, Leandro de Santis Ferreira pelos ensinamentos em espetroscopia de
massas, por todo apoio e inspiração na pesquisa.
A professora, Renata Mendonça pela parceria, disponibilidade, ensinamentos em
espetroscopia de massas e análises infravermelho, por todo apoio e inspiração na
pesquisa.
A colega, Alessandra pela parceira, disponibilidade e apoio para realização dos
ensaios in vitro de atividade biológica, entusiasta no estudo da stigmurina.
As colegas de trabalho Regina, Thereza Mylene, Nilma e Nayanna Luíza pela ajuda
incondicional, pelos momentos de partilha e convivência fraterna.
A todos da família LCQMed, em especial aos alunos de iniciação científica Fernando,
Rodrigo, Edson, George, Tayenne e Breno por serem minhas mãos e pés nos
momentos de dificuldades e sempre dispostos a ajudar.
Às colegas de vida e profissão, Fátima Duarte, inspiração como doutoranda,
profissional e mãe, e Luciana Nobre, pelos aconselhamentos, pela parceria, pelo
exemplo de vida e disponibilidade em todos os momentos. Como foi bom ter, e fazer
amigos nessa trajetória.
Ao Departamento de Farmácia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte
(UFRN) pela oportunidade de realizar este doutorado e todo auxílio e compreensão
na liberação para afastamento parcial das atividades desempenhadas no mesmo.
À Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) pela oportunidade de realizar
este doutorado.
Ao Instituto de Química da Universidade de São Carlos nas pessoas de Carla e prof.
Éder Cavalheiro pela total abertura, ensinamentos e disponibilidade para realização
de experimentos de ciclo aquecimento-resfriamento em DSC
Ao Laboratório de Controle de Qualidade de Produtos Farmacêuticos (LCQPF) da
Universidade Federal da Paraíba (UFPB) pelas análises do DSC-Fotovisual.
Ao Laboratório de Caracterização Estrutural dos Materiais da UFRN nas pessoas de
Carla Laíze dos Santos Cruz Costa e Ígor Zumba Damasceno pelas análises MEV,
DRX e FRX, bem como simpatia e ensinamentos repassados.
Ao Laboratório de Análise Térmica do Instituto de Química da UFRN na pessoa de
Joadir pelas análises TG-FTIR, bem como simpatia e ensinamentos repassados.
Ao NUPRAR na pessoa de professora Renata Araújo, pela abertura e disponibilidade
para realização das análises de pirólise.
Ao Laboratório de Controle de Qualidade do Núcleo de Pesquisa em Alimentos e
Medicamentos (NUPLAM) pela doação de alguns materiais de laboratório necessários
a execução deste trabalho.
À todos que contribuíram na minha formação profissional em especial a Farmacêutica
Jovita, ao Farmacêutico Severino Júnior Granjeiro e todos do LAFEPE, a Prof.(a)
Darízy Flávia Silva, a Prof.(a) Aldeídia, ao Prof. Isac Almeida de Medeiros, aos colegas
contemporâneos do LTF (Thiago, Maria do Carmo, Fabíola, Angélica, George,
Couras, Thaís) .
A grande amiga Narayanna Martins Dantas, companheira de faculdade, de vida e de
profissão. Iniciamos a jornada na Farmácia juntas, caminhamos juntas no início, e
depois, seguimos cada uma sua jornada na vida e profissão. Amiga você é inspiração
e certeza de que um amigo verdadeiro, mesmo longe, se faz sempre presente.
Aos familiares e amigos que me ajudaram e comemoram comigo a conclusão deste
trabalho.
Por fim, não poderia deixar de agradecer àqueles que não acreditaram em mim, pois
o desafio de superar os descrentes é, e foi, um incentivo enorme para a realização
deste trabalho.
SUMÁRIO
LISTA DE FIGURAS
LISTA DE TABELAS
LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E SÍMBOLOS
RESUMO
ABSTRACT
1 INTRODUÇÃO............................................................................... 24
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA..................................................... 26
2.1 O ESCORPIÃO Tityus stigmurus................................................... 26
2.2 O PEPTÍDEO STIGMURINA.......................................................... 30
2.3 PERFIL DE IMPUREZAS EM PEPTÍDEOS................................... 32
2.4 ESTABILIDADE DE PEPTÍDEOS E PROTEÍNAS......................... 35
2.5 ANÁLISE TÉRMICA E SUAS APLICAÇÕES NO ESTUDO DE
PEPTÍDEOS E PROTEÍNAS......................................................... 36
2.6 CROMATOGRAFIA APLICADA A ANÁLISE DE
PEPTÍDEOS.................................................................................. 41
2.6.1 Cromatografia líquida de alta eficiência – CLAE.......................... 42
2.6.2 Cromatografia líquida de ultra eficiência – CLUE......................... 46
2.7 DESENVOLVIMENTO DE MÉTODOS CROMATOGRÁFICOS
PARA ANÁLISE DE PEPTÍDEOS E PROTEÍNAS.......................... 47
2.7.1 Avaliações prévias a validação...................................................... 55
2.7.1.1 Estabilidade de soluções............................................................... 55
2.7.1.2 Teste de adequabilidade/verificação do sistema........................... 55
2.8 ESTUDOS DE DEGRADAÇÃO FORÇADA............ ...................... 58
2.9 VALIDAÇÃO DE METODOLOGIAS ANALÍTICAS......................... 60
3 OBJETIVOS.................................................................................. 63
3.1 OBJETIVO GERAL........................................................................ 63
3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS.......................................................... 63
4 MATERIAL E MÉTODOS.............................................................. 65
4.1 MATERIAL..................................................................................... 65
4.1.1 Stigmurina...................................................................................... 65
4.1.2 Reagentes...................................................................................... 65
4.1.3 Material de laboratório.................................................................... 66
4.2 MÉTODOS..................................................................................... 67
4.2.1 Calorimetria exploratória diferencial (DSC).................................... 67
4.2.2 Calorimetria exploratória diferencial acoplada em sistema
fotovisual (DSC-FOTOVISUAL)..................................................... 67
4.2.3 Difratometria de raios-X (DRX)....................................................... 68
4.2.4 Fluorescência de raios-X (FRX)..................................................... 68
4.2.5 Análise termogravimétrica acoplada à análise por infravermelho
com transformada de fourier de produtos gasosos liberados (TG-
FTIR).............................................................................................. 68
4.2.6 Pirólise rápida acoplada a cromatografia gasosa com analisador
de espectrometria de massas – (PYR-GC/MS).............................. 69
4.2.7 Análise termogravimétrica (TG/DTG)............................................. 70
4.2.7.1 Obtenção dos resíduos sólidos após aquecimento térmico........... 70
4.2.8 Microscopia eletrônica de varredura por emissão de campo
(MEV-FEG).................................................................................... 70
4.2.9 Espectrofotômetro de infravermelho (FTIR-ATR)......................... 71
4.2.10 Cromatógrafo líquido acoplado a espectrômetro de massas com
analisador do tipo Time-Of-Flight (LC-MS)................................... 71
4.2.11 Determinação da atividade antiparasitária frente forma
epimastigota do Trypanosoma cruzi (cepa Y)............................... 72
4.2.11.1 Método da Rezarsurina.................................................................. 73
4.2.12 Desenvolvimento de método cromatográfico................................. 74
4.2.12.1 Preparo das fases móveis.............................................................. 74
4.2.12.2 Preparo da solução estoque e solução de trabalho...................... 74
4.2.12.3 Estratégia de desenvolvimento de método cromatográfico.......... 74
4.2.13 Estudo de degradação forçada....................................................... 77
4.2.13.1 Preparo das soluções degradantes.............................................. 77
4.2.13.2 Preparo da solução estoque (SES), soluções de degradação (SD)
e soluções de leitura (SL)............................................................... 77
4.2.13.3 Análises cromatográficas das amostras submetidas a
degradação forçada....................................................................... 79
4.2.14 Validação do método analítico........................................................ 80
4.2.14.1 Seletividade................................................................................... 80
4.2.14.2 Linearidade.................................................................................... 80
4.2.14.3 Limite de detecção (LD).................................................................. 81
4.2.14.4 Limite de quantificação (LQ)........................................................... 81
4.2.14.5 Exatidão......................................................................................... 81
4.2.14.6 Repetibilidade................................................................................ 82
4.2.14.7 Precisão intermediária.................................................................... 82
4.2.14.8 Robustez........................................................................................ 82
4.2.14.9 Adequabilidade do sistema............................................................ 83
4.2.14.10 Estabilidade das soluções............................................................. 83
5.0 RESULTADOS E DISCUSSÃO..................................................... 84
5.1 CARACTERIZAÇÃO DA STIGMURINA......................................... 84
5.1.1 Caracterização dos grupos químicos e morfologia do pó da
Stigmurina...................................................................................... 84
5.1.2 Perfil de impurezas de síntese para Stigmurina............................. 86
5.1.3 Caracterização térmica................................................................. 88
5.2 CARACTERIZAÇÃO DOS VOLÁTEIS LIBERADOS PELA
STIGMURINA DURANTE DECOMPOSIÇÃO EM ATMOSFERA
DE NITROGÊNIO E AR SINTÉTICO.............................................. 92
5.2.1 Análises TG-FTIR........................................................................... 92
5.2.2 Pirólise catalítica rápida.................................................................. 100
5.3 CARACTERIZAÇÃO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS DE
DECOMPOSIÇÃO TÉRMICA DA STIGMURINA.......................... 103
5.3.1 Quantificação das amostras........................................................... 104
5.3.2 Avaliação da morfologia e espectros FTIR entre Stigmurina e
amostras aquecidas....................................................................... 105
5.3.3 Identificação dos produtos sólidos de decomposição térmica para
Stigmurina...................................................................................... 109
5.3.4 Avaliação da atividade antitripanossoma frente forma
epimastigota do T. cruzi (Y) após aquecimento da stigmurina a
diferentes temperaturas................................................................ 119
5.4 DESENVOLVIMENTO DE MÉTODO DE DOSEAMENTO PARA
STIGMURINA POR CLAE-UV/DAD............................................... 121
5.5 ESTUDO DE DEGRADAÇÃO FORÇADA EM SOLUÇÃO PARA
STIGMURINA................................................................................ 132
5.6 VALIDAÇÃO DO MÉTODO ANALÍTICO........................................ 140
6.0 CONCLUSÃO....................................... ........................................ 155
REFERÊNCIAS............................................................................. 157
ANEXO A...................................................................................... 175
ANEXO B....................................................................................... 176
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Classificação taxonômica do escorpião Tityus stigmurus............... 26
Figura 2 - Escorpião Tityus stigmurus............................................................ 27
Figura 3 - Número de publicações disponíveis até 17.09.2019 para 4 tipos
de escorpião do gênero Tityus encontrados no Brasil.................... 28
Figura 4 - Estrutura química linear aberta da stigmurina (A), sequência de
aminoácidos, fórmula química e massa molecular (MM) (B)........... 31
Figura 5 - Diferentes formas de classificação das técnicas
cromatográficas............................................................................. 42
Figura 6 - Diferenças estruturais entre o desenvolvimento de métodos
analíticos utilizando abordagem tradicional e a abordagem
científica........................................................................................ 48
Figura 7 - Características intrínsecas e físico-químicas dos analitos
importantes para o desenvolvimento de métodos cromatográficos 50
Figura 8 - Espectro FTIR (A) e imagem MEV (B) para stigmurina em estado
sólido.............................................................................................. 84
Figura 9 - Cromatograma de íons Totais (TIC) para stigmurina evidenciando
impurezas (A) e espectro de massas para tR = 17,84 (B), tR =
17,66 (C) e tR = 17,351 (D).............................................................. 86
Figura 10 - Proposta de estrutura química para impurezas 2........................... 88
Figura 11 - Sobreposição de curvas DSC e TG para stigmurina em atmosfera
de N2 (A) e imagens DSC-fotovisual a 30°C, 100°C, 140°C,
160°C, 190°C, 230°C e 360°C (B).................................................. 89
Figura 12 - Curvas DSC para ciclo aquecimento-resfriamento em atmosfera
de nitrogênio (A) e curva DRX para stigmurina (B)......................... 90
Figura 13 - Curvas TG, DTG e Gram-Schmidt para stigmurina em atmosfera
de N2 (A) e ar sintético (B)............................................................... 93
Figura 14 - Gráfico de superfície 3D para espectro FTIR dos gases liberados
produzidos pela pirólise da stigmurina: em atmosfera de N2 (A) e
ar sintético (B), e os respectivos espectros extraídos em (C) e (D)
96
Figura 15 - Espectros de absorbância em função da temperatura dos voláteis
liberados durante decomposição térmica da stigmurina em N2, (A)
e ar sintético (B).............................................................................. 99
Figura 16 - Pirograma da Stigmurina................................................................ 101
Figura 17 - Sobreposição de cromatogramas para stigmurina e amostras
aquecidas (A), linearidade (B) e teor residual de stigmurina em
função da temperatura de aquecimento (C)................................... 105
Figura 18 - Sobreposição de espectros FTIR para stigmurina e amostras
aquecidas em diferentes temperaturas.......................................... 107
Figura 19 - Imagens MEV, em diferentes ampliações, para amostras de
stigmurina a temperatura ambiente e aquecidas a diferentes
temperaturas: 50°C, 94°C e105°C a 5,0KX, 140°C e 160°C a
1,5KX e, 190°C e 230°C a 1,0KX.................................................... 108
Figura 20 - Sobreposição de cromatogramas de íons totais (TIC) para
amostras de stigmurina aquecidas evidenciando tR........................ 109
Figura 21 - Cromatograma de íons totais (TIC) para amostra aquecida até
190°C evidenciando produtos identificados................................... 110
Figura 22 - Espectro MS a 14,53 min na faixa de 600 – 1600 m/z.................... 111
Figura 23 - Espectro MS a 15,63 min na faixa de 600 – 1600 m/z..................... 111
Figura 24 - Espectro MS a 17,29 min na faixa de 800 – 1750 m/z..................... 112
Figura 25 Espectro MS a 17,61 min na faixa de 840 – 1760 m/z..................... 112
Figura 26 - Espectro MS a 18,03 min na faixa de 800 – 1800 m/z..................... 113
Figura 27 - Espectro MS a 18,59 min na faixa de 700 – 1600 m/z.................. 113
Figura 28 - Espectro MS a 18,82 min na faixa de 750 – 1650 m/z.................. 114
Figura 29 - Espectro MS a 22,0 min na faixa de 900 – 2000 m/z.................... 114
Figura 30 - Espectro MS a 22,98 min na faixa de 800 – 1800 m/z..................... 115
Figura 31 - Cromatograma de íons totais (TIC) para amostra aquecida até
230°C evidenciando produtos identificados ................................... 116
Figura 32 - Espectro MS a 8,24 min na faixa de 200 – 650 m/z......................... 117
Figura 33 - Espectro MS a 8,91 min na faixa de 300 – 800 m/z......................... 117
Figura 34 - Espectro MS a 16,55 min na faixa de 100 – 3000 m/z.................. 118
Figura 35 - Espectro MS a 16,85 min na faixa de 100 – 3000 m/z..................... 118
Figura 36 - Atividade antiparasitária da Stigmurina submetida a diferentes
condições de aquecimento sobre a forma epimastigote do T. cruzi
Y..................................................................................................... 120
Figura 37 - Propriedades calculadas para stigmurina...................................... 122
Figura 38 - Sobreposição de cromatogramas evidenciando pico para
stigmurina e diferentes colunas avaliadas...................................... 125
Figura 39 - Sobreposição dos cromatogramas obtidos para as condições
estudadas durante avaliação da proporção de solvente orgânico
no gradiente de eluição................................................................. 127
Figura 40 - Sobreposição dos cromatogramas obtidos para as condições
estudadas durante avaliação da temperatura de eluição e
determinação da proporção de FMB.............................................. 128
Figura 41 - Sobreposição dos cromatogramas obtidos para as condições
estudadas durante avaliação da influência do fluxo de fase móvel
sobre o perfil de eluição no modo isocrático................................... 129
Figura 42 - Sobreposição dos cromatogramas obtidos para as condições
estudadas durante avaliação da influência do volume de injeção... 131
Figura 43 - Percentagem remanescente de stigmurina, utilizando método
desenvolvido, em 24h de degradação em HCl 0,1M, 1M e 5M (A),
NaOH 0,1M, 1M e 2M (B), H2O2 0,1%, 1% e 10% (C), térmica e
fotolítica (D).................................................................................... 132
Figura 44 - Mecanismo geral de hidrólise ácida para amidas........................... 133
Figura 45 - Mecanismo geral de hidrólise básica para amidas......................... 134
Figura 46 - Sobreposição de cromatogramas em 24h de degradação e
respectivos brancos em H2O2 0,1%, 1% e 10% (A), térmica e
fotolítica (B).................................................................................... 137
Figura 47 - Sobreposição de cromatogramas em 24h de degradação e
respectivos brancos em H 2O2 0,1%, 1% e 10% (A) térmica (B),
fotolítica (C).................................................................................... 138
Figura 48 - Sobreposição dos cromatogramas de stigmurina e amostras
aquecidas para verificação da seletividade do método................... 141
Figura 49 - Curva de calibração para verificação da linearidade do método..... 142
Figura 50 - Gráfico dos resíduos gerados pela regressão................................ 144
Figura 51 - Sobreposição de cromatogramas para amostras de LD e LQ
cujas concentrações foram estimadas a partir da linearidade........ 150
Figura 52 - Gráfico para avaliação da estabilidade da solução nos tempos
estudados (0h, 6h, 12h, 18h, 24h e 72h). Valores expressos como
média ± DPR%............................................................................... 153
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Classificação quanto a origem das impurezas provenientes da
síntese química de peptídeos........................................................ 34
Tabela 2 - Processos envolvidos na instabilidade química e física de
peptídeos e proteínas......................................... .......................... 36
Tabela 3 - Algumas técnicas termoanalíticas utilizadas na caracterização de fármacos........................................................................................
37
Tabela 4 - Algumas técnicas não-térmicas utilizadas na caracterização de
fármacos........................................................................................ 39
Tabela 5 - Detectores comumente utilizados em análises por CLAE.............. 45
Tabela 6 - Parâmetros cromatográficos obtidos durante uma corrida
analítica.......................................................................................... 57
Tabela 7 - Figuras de mérito a serem considerados na validação analítica a
depender do objetivo do método.................................................... 62
Tabela 8 - Diferentes colunas cromatográficas avaliadas durante
desenvolvimento de método.......................................................... 75
Tabela 9 - Preparo das soluções de degradação (SD) e solução de
degradação para leitura nos diferentes tempos de
análise............................................................................................ 78
Tabela 10 - Condições cromatográfica para análise das soluções de leitura de
stigmurina submetida a diferentes condições de degradação........ 79
Tabela 11 - Produtos de decomposição identificados a 190°C.......................... 115
Tabela 12 - Produtos de decomposição identificados a 230°C.......................... 119
Tabela 13 - Valores de pKa e Cut off de alguns reagentes utilizados na
análise cromatográfica de peptídeos e proteínas........................... 123
Tabela 14 - Parâmetros cromatográficos obtidos para as diferentes colunas
avaliadas........................................................................................ 126
Tabela 15 - Parâmetros cromatográficos calculados para avaliação da
proporção de solvente orgânico no gradiente de eluição................ 127
Tabela 16 - Parâmetros cromatográficos calculados para durante avaliação
da temperatura de eluição e determinação da proporção de
FMB............................................................................................... 128
Tabela 17 - Parâmetros cromatográficos calculados para durante avaliação
da influência do fluxo de fase móvel sobre o perfil de eluição no
modo isocrático.............................................................................. 130
Tabela 18 - Parâmetros cromatográficos calculados para durante avaliação
da influência do volume de injeção sobre o perfil de eluição no
modo isocrático.............................................................................. 131
Tabela 19 - Valores de resolução (R), fator de cauda (Tf) e pureza de pico
para amostras analisadas durante avaliação da seletividade do
método cromatográfico desenvolvido............................................. 141
Tabela 20 - Análise estatística da regressão e ANOVA para verificação da
linearidade do método cromatográfico desenvolvido...................... 142
Tabela 21 - Avaliação de DPR% para verificação da repetibilidade.................. 144
Tabela 22 - Avaliação dos parâmetros de adequabilidade do sistema para
dados de repetibilidade................................................................. 145
Tabela 23 - Avaliação de DPR% das análises para verificação da precisão
intermediária.................................................................................. 146
Tabela 24 - Teste de t de Student para verificação da precisão intermediária 147
Tabela 25 - Verificação da Exatidão................................................................ 147
Tabela 26 - Avaliação de DPR% para verificação da robustez entre as
variações com base nos valores de área obtidos para
combinação da condição nominal com variação............................ 148
Tabela 27 - Avaliação de parâmetros médios de adequabilidade do sistema
para variações realizadas na robustez........................................... 149
Tabela 28 - Avaliação de DPR% das análises para determinação da
repetibilidade para o LQ estimado................................................. 151
Tabela 29 - Avaliação de DPR% das análises para determinação da precisão
intermediária do LQ estimado........................................................ 151
Tabela 30 - Teste de t de Student para verificação da precisão intermediária
para o LQ estimado........................................................................ 152
Tabela 31 - Avaliação da exatidão para LQ estimado....................................... 152
Tabela 32 - Resumo de testes para validação do método analítico de teor de
stigmurina em Matéria-prima.......................................................... 154
LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E SÍMBOLOS
Ala – Alanina
AQbD – do inglês, Analytical Quality by Design
Asp (D) – Ácido Aspártico
ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária
ATP – do inglês, Analytical Target Profile
BPC – Boas Práticas Clínicas
BPF – Boas Práticas de Fabricação
CEATOX-PE – Centro de Assistência Toxicológica de Pernambuco
CLAE – Cromatografia Líquida de Alta Eficiência
CLUE – Cromatografia Líquida de Ultra Eficiência
CMD – Concentração Média determinada
CQA – do inglês, Control quality Analytical
CMA – do inglês, Critical Method Attribute
Cys (C) – Cisteína
DAD – do inglês, Diode Array Detector
DOE – do inglês, Design of Experiments
DP – Desvio Padrão
DPR – Desvio Padrão Relativo
DKP – do inglês, Diketopiperazine
DRX – do inglês, Diffraction ray-X
DTA – do inglês, Differential Thermo Analysis
DTG – do inglês, Differential Thermogravimetric
DSC – do inglês, Differential Scanning Calorimetry
E – Energia
EDQM – do inglês, European Directorate for the Quality of Medicines
EGA – do inglês, Evolved Gases Analytical
EGD – do inglês, Evolved Gases Detector
FE – Fase Estacionária
FM – Fase Móvel
FTIR – do inglês, Fourier-Transform Infrared Spectroscopy
Gly (G) – Glicina
Glu (E) – Ácido Glutâmico
HETP – do inglês, High Equivalent Theoretical Plates
ICH – do inglês, International Conference Harmonization
ICTAC – do inglês, International Confederation of Thermal Analysis and Calorimetry
Ile (I) – Isoleucina
INMETRO – Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia
IUPAC – do inglês, International Union of Pure and Applied Chemistry
K – Fator de retenção
LC – do inglês, Liquid Chromatography
Leu (L) - Leucina
DLS – do inglês, Detector Light Scattering
Lys (K) - Lisina
Met (M) - metionina
MRSA – do inglês, Methicillin-Resistant Staphylococcus aureus
MS – do inglês, Mass Spectrometry
N – Número de Pratos Teóricos
OFAT – do inglês, On factor at Time
PAM – do inglês, Peptide Antimicrobial
Phe (F) - Fenilalanina
Pro (P) - Proline
QbD – do inglês, Quality by Design
RDC – Resolução de Diretoria Colegiada
Res – Resolução Cromatográfica
RMN – Ressonância Magnética Nuclear
SD – Solução de Degradação
SES – Solução Estoque
Ser (S) - Serina
SL – Solução de Leitura
t - Tempo
T - Temperatura
Tf – do inglês, Tailing Factor
TFA – do inglês, Trifluoracetic acid
TFE – 2,2,2-trifluoretanol
TGA – do inglês, Thermogravimetric Analysis
Trp - Triptofano
USP – do inglês, United States Pharmacopeia
UV – Ultravioleta
Val (V) - Valina
W – do inglês, Width
WHO – do inglês, World Health Organization
RESUMO
Stigmurina é um peptídeo contendo 17 aminoácidos (FFSLIPSLVGGLISAFK-NH2)
sendo identificado no transcriptoma do escorpião Tityus stigmurus e sintetizado com
extremidade N-terminal amidada. Apresenta ação antimicrobiana frente a batérias
Gram-positivas e Gram-negativas, algumas cepas de bactérias resistentes a
meticilina, e no controle da sepse, atividade antiparasitária frente forma epimastigota
do T. cruzi e baixa atividade anti-hemolítica. Esta tese de doutorado aborda o
desenvolvimento de metodologias analíticas para a avaliação da qualidade do
peptídeo sintético stigmurina, identificado na peçonha do escorpião Tityus stigmurus.
Das técnicas utilizadas destacam-se técnicas termoanalíticas (DSC, TG, TG-FTIR),
cromatográficas (CLAE, LC-MS e Pirólise-GC-MS) e técnicas complementares (MEV,
FTIR e DRX). Stigmurina sintética em estado sólido apresentou-se na forma amorfa,
temperatura de transição vítrea de 149°C (midpoint), e início de temperatura de
decomposição térmica diferindo entre atmosfera de nitrogênio (183°C) e ar sintético
(180°C). A decomposição térmica produz principalmente voláteis derivados de
resíduos de fenilalanina, prolina, serina e leucina, sugerindo decomposição iniciando
na extremidade N-terminal. Foram detectadas impurezas de sínteses decorrentes de
erros de acoplamento, deleção de serina e isoleucina/leucina, além de ausência de
amidação na extremidade N-terminal. Durante a decomposição térmica foram
detectados fragmentos da série y, tais como: y14 (m/z = 1.413,8776 Da), y15 (m/z =
1.500,9121 Da), fragmentos decorrentes de perdas neutras de amônio e água (m/z =
1.778,0184 Da e 1.760,0041 Da) e fragmentos da série b, possivelmente derivados
de fragmentos b6 e b2 (m/z = 566,4267, m/z = 679,5107, m/z = 274,2737 e m/z =
290,2686 Da). As amostras obtidas após aquecimento de stigmurina até temperaturas
de 190°C e 230°C, com teor residual de stigmurina de 60% e 0%, respectivamente,
apresentaram atividade antitripanossoma possivelmente relacionada aos produtos de
decomposição formados e/ou ao aprisionamento de gases tóxicos durante a
decomposição térmica. Esta tese fornece subsídios para elaboração de estratégias
tecnológicas visando manutenção da qualidade, segurança e eficácia durante o
desenvolvimento de futuros produtos farmacêuticos.
Palavras-chave: Stigmurina, peptídeo sintético, degradação térmica, degradação
forçada.
ABSTRACT
Stigmurin is a peptide containing 17 amino acids (FFSLIPSLVGGLISAFK-NH2)
identified in the transcriptome of the scorpion Tityus stigmurus, synthetized with
amidated C-terminal end. It has shown antimicrobial action against Gram-positive and
Gram negative bacterial, some methicillin resistant bacterial, efficient in controlling
sepsis, antiparasitic action for epimastigote forms T. cruzi Y strain and low
antihemolytic activity. This doctoral thesis deals the development of analytical
methodologies for the quality assessment of the synthetic peptide stigmurin, identified
in the Tityus stigmurus scorpion venom. The techniques used were analytical
techniques (DSC, TG, TG-FTIR), chromatography (HPLC, LC-MS, GC-MS pyrolysis)
and complementary techniques (SEM, FTIR and XRD). Synthetic solid-state Stigmurin
present amorphous form, with a glass transition temperature of 149 °C (midpoint) and
the initial temperature differing between nitrogen atmosphere (183 °C) and synthetic
air (180 °C). Thermal decomposition produces mainly volatiles derived from
phenylalanine, proline, serine and leucine residues, which seems to start in its N-
terminus. Synthesis impurities were detected due to coupling errors, serine and
isoleucine / leucine deletion, and lack of amidation at the N-terminal end. During
thermal decomposition were detected y fragments, such as: y14 (m/z = 1.413,8776 Da),
y15 (m/z = 1.500,9121 Da), fragments resulting from neutral losses of ammonium and
water (m/z = 1.778,0184 Da e 1.760,0041 Da) and series b fragments, possibly derived
from fragments b6 and b2 (m/z = 566,4267, m/z = 679,5107, m/z = 274,2737 and m/z
= 290.2686 Da). Samples obtained after heating stigmurine to temperatures of 190 °C
and 230 °C, with residual stigmurine content of 60% and 0%, respectively, showed
antiparasitic activity possibly related to the decomposition products formed and / or the
trapping of toxic gases during thermal decomposition. This thesis provides support for
the elaboration of technological strategies aimed at maintaining quality, safety and
efficacy during the development of future pharmaceutical products.
Key words: Stigmurin, synthetic peptide, thermal degradation, forced degradation.
24
1 INTRODUÇÃO
Na busca por alternativas terapêuticas o homem tem se apropriado da
natureza como fonte de substâncias úteis a cura dos males de saúde (OGA;
CAMARGO; BATISTUZZO, 2008). Fármacos podem ser descobertos de fontes
vegetais e animais, bem como servirem de arcabouço ao desenvolvimento de
fármacos semissintéticos.
No reino animal, espécies de diferentes filos (poríferos até cordatas),
produtores de peçonha ou veneno, tem se destacado como fonte de peptídeos
bioativos (GHOSH et al., 2018). Atualmente, é crescente o número de medicamentos
à base de peptídeos disponíveis para o tratamento de diversas doenças, tais como:
infecções virais, bacterianas, doenças imunes, doenças neurológicas, doenças
cardiovasculares e câncer (PENNINGTON; CZERWINSKI; NORTON, 2018; UHLIG et
al., 2014; VLIEGHE et al., 2010).
O desenvolvimento de medicamentos contendo fármacos peptídicos esteve
atrelado ao desenvolvimento das técnicas “omicas”: genômica, transcriptômica e
proteômica, desenvolvimento de técnicas de análise e técnicas de purificação. Trata-
se de um mercado bilionário, de projeção crescente, cujos avanços nos processos de
produção de peptídeos aumentam ainda mais o desenvolvimento da terapêutica (LAU;
DUNN, 2018)
Escorpiões do gênero Tityus são bem distribuídos no Brasil e, algumas
espécies vêm sendo estudadas por grupos de pesquisas na área de Toxicologia. No
nordeste brasileiro o grupo de pesquisa de Biotecnologia da UFRN, através de análise
transcriptômica das glândulas de veneno do escorpião Tityus stigmurus, identificou
um repertório distinto de peptídeos com potencial biotecnológico e/ou farmacológico.
Dentre esses, destaca-se a Stigmurina, classificado por homologia como peptídeo
antimicrobiano (PAM) (ALMEIDA et al., 2012).
Embora os peptídeos demonstrem uma alta atividade biológica em
combinação com baixa toxicidade e alta especificidade em comparação com
pequenas moléculas, eles por vezes possuem baixa estabilidade, baixa
biodisponibilidade oral e dificuldades de liberação (MASON, 2010; RAMANATHAN et
al., 2011; SATO et al., 2006). Durante os passos de obtenção de um peptídeo
impurezas podem ser adicionadas ao produto acabado, mediante utilização de
25
reagentes, aditivos para proteção ou acoplamento. Estas impurezas podem ser ativas
biologicamente ou ainda alterar a atividade do peptídeo (VAN DORPE et al., 2011).
Logo, é importante o desenvolvimento de metodologias para análise da pureza do
peptídeo por técnicas sensíveis para poder garantir conclusões científicas frente à
atividade biológica, bem como, determinar parâmetros de qualidade para um ativo
promissor. Embora, passos de purificação sejam geralmente incluídos após a síntese,
deve-se garantir o perfil de impurezas do produto, sendo, portanto, crucial investigar
e relatar as impurezas totais e o perfil de degradação de um fármaco peptídico.
Nesta tese foram utilizadas várias abordagens para caracterização da
matéria-prima sintética de stigmurina, caracterização da forma cristalina, perfil térmico
e cinética de decomposição, desenvolvimento de método cromatográfico de
quantificação e avaliação dos produtos de degradação.
26
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1 O ESCORPIÃO Tityus stigmurus
Os escorpiões do gênero Tityus, pertencente à família Buthidae, são bem
distribuídos na América do Sul, destacando-se o Brasil. Entre seus representantes
temos as espécies Tityus obscurus, Tityus fasciolatus Tityus bahiensis, Tityus
serrulatus e Tityus stigmurus.
A taxonomia do escorpião Tityus stigmurus é apresentada na Figura 1. Este
animal pertence a ordem Scorpiones (escorpiões) e filo Arthropoda que apresenta
aproximadamente 1500 espécies distribuídas em 163 gêneros e 18 famílias
(BROWNELL; POLIS, 2001). Os escorpiões são animais quelicerados e estima-se que
surgiram há 450 milhões de anos, no período siluriano, inicialmente no ambiente
marinho (FET et al., 2000). São animais vivíparos e em algumas espécies a
reprodução se dá por partenogênese (PRENDINI; WHEELER, 2005).
Figura 1 - Classificação taxonômica do escorpião Tityus stigmurus
Fonte: Autoria Própria, 2019
A espécie Tityus stigmurus (Figura 2) é endêmica do Brasil, e a que mais
causa acidentes no Nordeste, podendo ser localizado nos estados de Pernambuco,
Bahia, Ceará, Piauí, Paraíba, Alagoas, Rio Grande do Norte e Sergipe (BRASIL,
2009).
27
Figura 2 - Escorpião Tityus stigmurus
Foto: Diego Dantas Almeida, 2015
O escorpionismo é um problema de saúde pública no Brasil devido à elevada
incidência em várias regiões do País. Em 2016 foram registrados 54.847 casos de
escorpionismo no Nordeste (BRASIL, 2016). No período de 1982 – 1995 o estado da
Bahia apresentou 237 casos de escorpionismo por Tityus stigmurus sendo que todos
evoluíram para cura, não havendo letalidade (LIRA-DA-SILVA; AMORIM; BRAZIL,
2000). No estado de Pernambuco, entre o período de 2006 a 2010, o escorpionismo
foi a principal causa de envenenamento, segundo dados do CEATOX-PE, havendo 3
casos de morte de crianças confirmados relacionados a picada por Tityus stigmurus
(DE ALBUQUERQUE et al., 2013). No Rio grande do Norte, entre o período de 2007
a 2011, foram registrados 10.251 acidentes, sendo 90% dos casos considerados de
grau leve (não há relatos ad espécie) e a maior incidência é encontrada nos municípios
da região metropolitana da capital do estado (BARBOSA, 2014).
Os venenos e peçonhas animais apresentam uma mistura complexa de
toxinas que foram desenvolvidas evolutivamente como estratégia de defesa e/ou
captura de presas, causando modificações fisiológicas nas presas (LEWIS; GARCIA,
2003). A peçonha de escorpião é formada de muco, mucopolissacarídeos,
oligopeptídeos, nucleotídeos, inibidores de protease, liberadores de histamina,
aminoácidos, enzimas (hialuronidades e metaloproteases) e lipídeos. Várias proteínas
básicas de baixa massa molecular (neurotoxinas) e aminas bioativas (serotonina e
histamina) também estão presentes em venenos de escorpião, incluindo o veneno de
Tityus, e atuam em canais iônicos em membranas biológicas (GWEE et al., 2002;
28
POSSANI et al., 1999; VASCONCELOS et al., 2005). A composição dos venenos
varia conforme a espécie e influencia os sintomas clínicos observados (SUNAGAR et
al., 2013)
Os aspectos clínicos das picadas de Tityus stigmurus podem variar de leve
(com edema local e dor como os principais sintomas clínicos), moderados (com
náuseas, vômitos, suor, salivação, agitação, taquicardia e taquipnéia) e em casos
graves (com vômitos profusos, sudação e salivação, prostração, convulsões, edema
pulmonar e choque) (BRASIL, 2001). Após uma picada, a peçonha de escorpião
Tityus stigmurus se distribui rapidamente para os órgãos, atingindo os rins
rapidamente, induzindo um aumento transiente da pressão de perfusão com lesão
tubular, ambos os quais conduzem a uma excreção elevada de eletrólitos (SILVA et
al., 2016).
A Figura 3 retrata as publicações disponíveis na plataforma Scopus, para os
escorpiões do gênero Tityus, peçonha e substâncias identificadas, quando utilizado o
nome científico das espécies, até janeiro de 2018. O escorpião Tityus serrulatus é o
mais estudado com 77% das publicações (441 documentos) e o escorpião Tityus
stigmurus, é o segundo menos estudado, (9% das publicações, 52 documentos).
Dentre as publicações (575 documentos) a totalidade dos estudos envolvem
caracterização bioquímica, avaliação da atividade farmacológica/toxicológica,
purificação e questões ambientais.
Figura 3 - Número de publicações disponíveis até 17.09.2019 para 4 tipos de escorpião do gênero Tityus encontrados no Brasil
Fonte: Autoria própria - Pesquisa no site Scopus em 17.09.2019
9%
77%
12%2%
Publicações até setembro/2019
Tityus stigmurus
Tityus serrulatus
Tityus bahienses
Tityus fasciolatus
29
O veneno do escorpião Tityus stigmurus já foi estudado através de análise de
proteômica (BATISTA et al., 2007) e a glândula do veneno através de análise de
transcriptômica (ALMEIDA et al., 2012) foi estudada. Em sua peçonha, através da
biblioteca de transcritos seis tipos conhecidos de proteínas são relatados: canais de
potássio (subfamílias α e β), canais de sódio (subfamílias α e β), hipotensinas e
peptídeos antimicrobianos, além de cinco tipos atípicos de peptídeos e proteínas em
veneno, tais como: lecitinas, peptídeos aniônicos, metaloproteínas, peptídeos
hipotéticos secretados e peptídeos ricos em cisteína. Peptídeos antimicrobianos e
aniônicos são as moléculas mais representativas no banco de transcritos, e
diferentemente dos demais escorpiões da família Buthidade seu transcriptoma
apresenta baixa expressão de toxinas de canais para sódio, especialmente para
subfamília α, relacionado com a gravidade do envenenamento (ALMEIDA et al., 2012).
Algumas moléculas promissoras para o Tityus stigmurus já foram sintetizadas
e suas atividades biológicas avaliadas: a hipotensina TistH, um peptídeo com ação
hipotensora (MACHADO et al., 2015) e antimicrobiana (MACHADO et al., 2016); que
foi incorporado a nanopartículas biodegradáveis de quitosana reticulada melhorando
sua atividade anti-Candida e anti-biofilme (TORRES-RÊGO et al., 2019) ; os peptídeos
antimicrobianos Stigmurina e TsAP-2, (DANIELE-SILVA et al., 2016a; DE MELO et
al., 2015a) e o peptídeo aniônico TanP que apresenta uma possível atividade
imunomoduladora (MELO et al., 2017).
2.2 O PEPTÍDEO STIGMURINA
Os peptídeos podem ser considerados como uma categoria de fármacos
distinta, situada entre as moléculas orgânicas pequenas clássicas e proteínas. Dado
o seu tamanho, isto é, geralmente definido como resíduos de até 50 aminoácidos (AA),
os peptídeos são capazes de penetrar mais profundamente no tecido alvo do que as
proteínas. Além disso, os peptídeos terapêuticos são geralmente menos
imunogênicos e são mais eficientes em termos de custo de fabricação, de acordo com
os parâmetros de qualidade exigidos, do que proteínas e anticorpos recombinantes
(LADNER et al., 2004; LAU; DUNN, 2018; MCGREGOR, 2008; VLIEGHE et al., 2010).
Pesquisas com peptídeos isolados de peçonhas de animais vêm se
destacando por constituírem modelos moleculares interessantes para as indústrias
farmacêuticas, no desenvolvimento de estratégias terapêuticas (KLINT et al., 2013) e
30
para a prospecção de novas alternativas de grande interesse biotecnológico
(DUFOURC et al., 2012). Por consistirem em sequências de aminoácidos individuais,
os peptídeos oferecem possibilidades para a descoberta de fármacos através de
bibliotecas combinatórias (BIONDA et al., 2016; FALCIANI et al., 2005).
Na atualidade os peptídeos podem ser obtidos de diversas maneiras: por
extração de fontes naturais, produção por DNA recombinante (KUMAR; DASU;
PAKSHIRAJAN, 2011), síntese em animais ou plantas transgênicas, síntese química
e síntese enzimática (MASON, 2010).
A síntese química é a forma de obtenção preferível para a produção de
peptídeos com até 50 resíduos de aminoácidos. Embora a síntese tenha sido
originalmente realizada em solução, com a introdução do modo de síntese em fase
sólida por Merrifield, este método ganhou mais interesse (GUZMÁN; BARBERIS;
ILLANES, 2007; MERRIFIELD, 1963a; RASMUSSEN, 2018). Os peptídeos sintéticos
são provas inequívocas das identidades químicas e dos papéis biológicos dos
peptídeos naturais, sendo utilizados na construção de curvas padrões (concentração
versus absorção ou emissão de luz ou desenvolvimento de coloração) que permitam
quantificar os peptídeos correspondentes contidos em extratos brutos ou em frações
obtidas durante os seus isolamentos.
A Stigmurina (Figura 4) é um peptídeo contendo 17 resíduos de aminoácidos
e extremidade C-terminal amidada, identificado como transcrito mais abundante na
peçonha do escorpião Tityus stigmurus (ALMEIDA et al., 2012; DE MELO et al.,
2015b), sendo classificado por homologia como um peptídeo antimicrobiano.
A stigmurina, apresenta efetividade frente a bactérias Gram-positivas,
incluindo microorganismos resistentes a meticilina (MRSA) e fungos (Candida
albicans). Revela-se uma molécula promissora para propostas terapêuticas tendo em
vista que apresenta atividade antimicrobiana in vitro, baixa atividade hemolítica e
atividade citotóxica, indicando uma possível toxicidade frente células cancerígenas
(DE MELO et. al., 2015), além de apresentar-se efetivo na redução de carga
microbiana e inflamação em sepsis (DANIELE-SILVA et al., 2016b).
31
Figura 4 - Estrutura química linear aberta da stigmurina (A), sequência de aminoácidos, fórmula química e massa molecular média (MM) (B)
A)
B)
F-F-S-L-I-P-S-L-V-G-G-L-I-S-A-F-K-NH2
(Phe-Phe-Ser-Leu-Ile-Pro-Ser-Leu-Val-Gly-Gly-Leu-Ile-Ser-Ala-Phe-Lys- NH2)
Fórmula química: C89H139N19O20 MM = 1795,18 Da
Fonte: Autoria própria através do site http://pepdraw.com/ em 08.06.2018
Recentemente a stigmurina foi utilizada como protótipo para o
desenvolvimento de peptídeos otimizados (análogos ou mutantes) apresentando
atividade antiparasitária frente formas epimastigota e tripomastigota do T. Cruzi Y para
stigmurina e 4 peptídeos análogos demonstrando seu potencial como fármaco para o
tratamento da doença de Chagas (AMORIM-CARMO et al., 2019; PARENTE et al.,
2018).
Quanto a sua caracterização estrutural a Stigmurina apresenta diferentes
conformações em água, 2,2,2-trifluoretanol (TFE) 70% e dodecil sulfato de sódio
(SDS), sugerindo uma conformação dependente do ambiente, com uma
predominância de α-hélices, carga líquida positiva (+2) (DE MELO et al., 2015b),
estável em diferentes pH e com variação de temperatura em ambiente de SDS,
característica comum a vários PAM (DANIELE-SILVA et al., 2016b).
Apesar das atividades biológicas relatadas e potencial farmacêutico para
stigmurina são escassos os estudos de caracterização estrutural, metodologias de
análise e quantificação para este peptídeo.
2.3 PERFIL DE IMPUREZAS EM PEPTÍDEOS
Peptídeos devido ao seu sistema de construção em blocos, massa molecular
elevada e características físico-químicas, exigem formas específicas de síntese e
32
cuidados na formulação. Essa complexidade pode resultar em subprodutos
relacionados, que provavelmente são biologicamente ativos. Uma vez que a
segurança de um medicamento depende não apenas das propriedades toxicológicas
do fármaco, mas também das propriedades toxicológicas de suas impurezas, há uma
preocupação crescente com as impurezas presentes nos insumos farmacêuticos
ativos (IFA) e produtos farmacêutico terminados (SPIEGELEER et al., 2008;
VERGOTE et al., 2009).
As impurezas podem ser relacionadas ao processo ou ao produto, originadas
durante a síntese, fabricação e armazenamento, devendo ser, portanto,
caracterizadas na medida necessária. Durante etapas de avaliação biológica a
presença de impurezas pode levar a obtenção de resultados falsos positivos ou
negativos relacionado a sua presença, uma vez que as impurezas podem ser mais
ativas em comparação ao fármaco/substância ou até alterar sua atividade.
(ANTONIOLI et al., 2007; BEUKELAAR et al., 2007; CURRIER et al., 2008; DORPE
et al., 2012; VERBEKEN et al., 2012).
Durante o controle de qualidade dos peptídeos, a identidade é verificada e a
presença de impurezas é avaliada a fim de quantificar e qualificar a pureza do
peptídeo. Para ensaios de ligação ao ligante, estudos in vitro e bioensaios in vitro,
recomenda-se que a quantidade total de impurezas peptídicas seja inferior a 5%
(D’HONDT et al., 2014a; SPIEGELEER et al., 2008).
O perfil de impurezas (isto é, a identidade, bem como a quantidade de
impurezas no fármaco) tem ganhado atenção das autoridades reguladoras, a fim de
assegurar e controlar a qualidade. É possível encontrar monografias específicas para
medicamentos peptídicos em diferentes Farmacopeias, como por exemplo, a
Farmacopeia Europeia, Farmacopeia dos Estados Unidos da América (USP),
Farmacopeia Internacional e Farmacopeia Indiana.
As diretrizes práticas sobre impurezas relacionadas a peptídeos sintéticos
foram publicadas na Farmacopeia Europeia deste sua 6° edição como um
complemento à diretriz Q3A da ICH (ICH, 2006), com base nas conclusões do
simpósio EDQM "Novo controle de impurezas: definindo especificações para
antibióticos e peptídeos sintéticos" (EMA, 2012).
As regulamentações internacionais consideram peptídeos obtidos através de
síntese química como medicamentos sintéticos, não sendo considerados produtos
biológicos/biotecnológicos (PLAN, 1946). No Brasil medicamentos peptídicos podem
33
ser considerados produtos biotecnológicos e seguir legislação específica conforme o
método de obtenção (BRASIL, 2010a).
Como as reações de síntese química são comumente incompletas, não
produzindo 100% de produtos, durante a síntese, diferentes grupos de proteção de
cadeia lateral, grupos ativadores funcionais ou sequestrantes podem ser adicionados
para evitar reações indesejadas da cadeia lateral, ou parte deles podem permanecer
presentes ou ligados ao peptídeo, levando a presença de impurezas peptídicas
relacionadas (VAN DORPE et al., 2011). Estas impurezas decorrentes do processo
de síntese são, portanto, classificadas conforme Tabela 1. As impurezas decorrentes
de degradação durante armazenamento, são denominados produtos de degradação
e abordadas no item Estabilidade de proteínas e peptídeos.
Além da presença de impurezas de síntese, fármacos peptídicos ou
medicamentos podem ser quimicamente instáveis. Produtos de degradação são
produzidos já durante a síntese, purificação ou fabricação, mas principalmente
durante o armazenamento (VAN DORPE et al., 2011).
34
Tabela 1 - Classificação quanto a origem das impurezas provenientes da síntese química de peptídeos
Impureza Definição
Deleção de aminoácido • Em virtude da remoção incompleta de grupos
protetores levando a formação de cadeia
peptídicas que não possuem um ou mais resíduos
de aminoácidos desejados.
Inserção de aminoácido • Decorrente do excesso de aminoácidos
protegidos por Fmoc que pode resultar na
inserção de um aminoácido adicional a sequência
peptídica desejada.
Remoção incompleta de
grupos protetores
• A remoção incompleta de grupos protetores
permanentes durante a síntese leva a impurezas
peptídicas com aumento de massa relativo de
+56Da para àquelas sequências que
permaneceram ligadas a tBu.
Oxidação/Redução • Oxidação/redução de aminoácidos durante o
processo de síntese, tais como metionina e
cisteína.
Diastereisomerização • Racemização de resíduos de aminoácidos
Dímeros • Decorrentes de mecanismos de auto-associação
ou agregação levando a formação de impurezas
peptídicas de alto peso molecular. Os dímeros
podem ser decorrentes de interações covalentes
(químicos) ou não-covalentes (físicos).
Impurezas de cadeia
lateral e final
• Decorrentes da reatividade das cadeias laterais e
finais, tais como aminações na cadeia lateral da
arginina, reações na cadeia lateral da histidina e
acetilação de resíduos de serina.
Contaminação
estruturalmente
indesejada
• Contaminação por sequencias totalmente
diferentes durante síntese, contaminação
cruzada.
Fonte: Adaptado de (D’HONDT et al., 2014a).
35
2.4 ESTABILIDADE DE PEPTÍDEOS E PROTEÍNAS
Nos últimos anos, ampliou-se o uso de peptídeos como agentes terapêuticos
e espera-se que esta tendência continue. O desenvolvimento de fármacos peptídicos
para uso na terapêutica é um processo desafiador (KALIYAPERUMAL et al., 2014),
principalmente no que tange a manutenção da estabilidade (MANNING et al., 2010;
MANNING; PATEL; BORCHARDT, 1989; STALMANS et al., 2014).
A estabilidade em solução, durante o armazenamento a longo prazo, muitas
vezes é limitante e, portanto, formas farmacêuticas em estado sólido são preferidas.
Comumente o sólido é obtido por uma técnica de secagem tal como liofilização ou
secagem por pulverização (CHANG; PIKAL, 2009). Formulações em estado sólido são
uma alternativa para prolongar a vida útil de peptídeos e proteínas (CARPENTER et
al., 1997; PIKAL et al., 1991), no entanto reações de degradação química ainda podem
ocorrer (CARPENTER et al., 1997; CHANDRASEKHAR; TOPP, 2015; PIKAL et al.,
1991). Em alguns casos, a estabilidade da proteína no estado sólido é menor ou
comparável àquela em solução (STRICKLEY et al., 1989).
A instabilidade de proteínas no estado sólido pode ser química e física. A
instabilidade química envolve modificação covalente de uma proteína ou resíduo de
aminoácido para produzir uma nova molécula através de quebra de ligação, formação
de ligação, rearranjo ou substituição. A instabilidade física refere-se a mudanças na
integridade conformacional tridimensional da proteína e não envolve alteração na
composição química, mas na sua conformação estrutural. Esses processos físicos
incluem desnaturação, agregação, precipitação e adsorção a superfícies (MANNING
et al., 2010; MANNING; PATEL; BORCHARDT, 1989).
As reações químicas que contribuem para instabilidade de proteínas e
peptídeos no estado sólido são: desaminação, quebra de ligação peptídica, oxidação,
reações de Maillard, β-eliminação e dimerização (HOUCHIN; TOPP, 2008; LAI; TOPP,
1999). A Tabela 2 apresenta uma descrição dos processos envolvidos na instabilidade
física e química de peptídeos e proteínas.
36
Tabela 2 - Processos envolvidos na instabilidade química e física de peptídeos e proteínas
INSTABILIDADE QUÍMICA INSTABILIDADE FÍSICA
Desaminação Desnaturação
Isomerização de Asp • Térmica
Hidrólise de Asp • Fria
Hidrólise da região de dobra • Química
Hidrólise de Trp • Induzida por pressão
Racemização de β-eliminação • Em estado sólido
Formação de DKP Proteínas desnaturadas intrinsicamente
Formação de pGlu Agregação
Glicação de proteínas Formação de partículas/Precipitação
Fotoxidação Adsorção a superfície
Oxidação (Met/Trp/Cys) • Interface água-ar
Oxidação catalisada por metal • Efeito de sal e agitação
Troca de dissulfeto • Interface gelo-água
Fonte: Adaptado de (MANNING et al., 2010).
Vários fatores influenciam a estabilidade de peptídeos e proteínas no estado
sólido, promovendo a ocorrência das reações químicas descritas na Tabela 1, tais
como: temperatura, umidade, atividade de hidrogênio, estado físico do sólido
(cristalino ou amorfo) e presença de excipientes (BELL, 1997; HANCOCK;
SHAMBLIN; ZOGRAFI, 1995; HANCOCK; SAHL, 2006; PIKAL; RIGSBEE, 1997;
SPERLING, 2006; ZAPADKA et al., 2017). Avaliar o comportamento do peptídeo
frente a estes fatores é fundamental para o desenvolvimento do medicamento.
2.5 ANÁLISE TÉRMICA E SUAS APLICAÇÕES NO ESTUDO DE PEPTÍDEOS
A União Internacional de Química Aplicada (IUPAC) e a Confederação
Internacional para Análise Térmica e Calorimetria (ICTAC) publicaram, no ano de
2014, a mais recente definição sobre Análise Térmica:
“Análise térmica é o estudo da relação entre uma propriedade da
amostra e sua temperatura quando a amostra é aquecida ou resfriada
de uma maneira controlada (LEVER et al., 2014).”
37
Para cada propriedade ou quantidade física que é medida frente a
temperatura existe uma técnica. A Tabela 3 apresenta algumas técnicas
termoanalíticas, suas definições e propriedades medidas.
Tabela 3 - Algumas técnicas termoanalíticas utilizadas na caracterização de fármacos
TÉCNICA PROPRIEDADE
MEDIDA
DEFINIÇÃO
Calorimetria
Exploratória
Diferencial (DSC)
Diferença na taxa de
fluxo de calor
DSC por fluxo de calor: Técnica em
que a diferença entre as taxas de
fluxo de calor em uma amostra e um
material de referência é medida.
DSC por compensação de
potência: Técnica em que a
diferença entre o sinal elétrico em
uma amostra e um material de
referência é medida.
Análise Térmica
Diferencial (DTA)
Diferença de
temperatura
Técnica em que a diferença de
temperatura em uma amostra e um
material de referência é medida.
Análise
termogravimétrica
(TGA)
Massa
Técnica em que a massa da amostra
é medida, também conhecida como
termogravimetria.
Análise de gases
liberados (EGA) Fluxo de gás
Família de técnicas onde a natureza
e/ou a quantidade de gás ou vapor
liberado é determinada. O termo
detecção de gás liberado (EGD)
também é usado quando a natureza
do gás não é determinada.
Fonte: Adaptado de (LEVER et al., 2014)
38
Recentemente Armstrong e Kailas (2017) definiram o uso dos termos
complementar, híbrido e hifenado em análises térmicas:
“Análise complementar é a aplicação de duas ou mais técnicas analíticas
a mesma amostra separadamente. Os dados obtidos de cada técnica
são combinados e interpretados em conjunto para explicar os resultados
obtidos em cada um deles.
Análise hifenada refere-se a duas ou mais técnicas analíticas
combinadas em um único experimento, onde cada técnica pode ser
aplicada à amostra analisada sequencialmente ou simultaneamente.
Técnica híbrida refere-se ao projeto de um único instrumento, como
SEM-EDX, no qual duas ou mais técnicas analíticas foram integradas.”
As técnicas térmicas podem ser utilizadas isoladamente ou, mais
recentemente em conjunto/acopladas com outras técnicas térmicas e não térmicas,
sejam elas off-line (complementar) ou on-line (hifenada), na elucidação dos eventos
térmicos apresentados pelas substâncias. A Tabela 4 apresenta algumas técnicas
não-térmicas utilizadas em estudos de caracterização térmica.
As técnicas termoanalíticas têm sido amplamente aplicadas no campo
farmacêutico para muitas propostas incluindo determinação de pureza de fármacos,
análise de composição de medicamentos e matérias-primas, determinação de ponto
de fusão, mudanças de estados e formação de cristal, estabilidade térmica de
medicamentos, avaliação de validade cinética de decomposição térmica, identificação
de fármacos e processos de otimização de fármacos (FULIAS et al., 2013; GIRON,
2002; GOMES; FREIRE; ARAGÃO, 2012; MENDONÇA et al., 2014; MOURA et al.,
2017; PEREIRA et al., 2016).
39
Tabela 4 - Algumas técnicas não-térmicas utilizadas na caracterização de fármacos
TÉCNICA APLICAÇÃO
IR – FTIR
On-line Análise de gases liberados (FULIAS et al., 2013)
Análise de resíduos sólidos (LIN; WANG, 2012)
Off-line Análise de resíduos sólidos
GC-MS On-line Análise de gases liberados (ZHU et al., 2016)
Off-line Análise de resíduos sólidos (PINTO; FERREIRA; CAVALHEIRO,
2017; SMITH; ALI; SOLDATOV, 2014)
LC-MS Off-line Análise de resíduos sólidos
DRX Off-line Análise de resíduos sólidos (BERBENNI et al., 2001)
Fonte: Autoria Própria, 2019
Estas aplicações podem ser resumidas e inseridas em duas categorias
principais: a) medição de alterações físicas relacionadas com transições de fase,
pontos de fusão, mudanças nos estados cristalinos líquidos, diagramas de fases,
estudo de polímeros, transições vítreas e capacidade calorífica; b) medição de
variações químicas em reações como oxidações e decomposições (GIRON, 2002).
No campo biotecnológico as técnicas térmicas são aliadas na avaliação da
estabilidade térmica de peptídeos e proteínas, interações e dobramentos proteicos
(MAZURENKO et al., 2017), estudos de compatibilidade proteína-excipiente (LU et al.,
2007), degradação térmica (CUCOS; BUDRUGEAC, 2014a), interação fármaco-
proteína através de calorimetria isotérmica (TIC) (INDURTHI; LECLERC; VETTER,
2014) e interações entre peptídeos e modelos de membrana utilizando DSC
(ANDRUSHCHENKO; VOGEL; PRENNER, 2007), estudos cinéticos de
decomposição ou desnaturação térmica (VYAZOVKIN; VINCENT; SBIRRAZZUOLI,
2007). A aplicabilidade das análises térmicas é decorrente da suscetibilidade de
peptídeos e proteínas a variações de temperatura, seja aquecimento ou resfriamento.
Dentre as técnicas térmicas utilizadas o DSC foi inicialmente o método
calorimétrico desenvolvido para amostras biológicas. Adicionalmente outras técnicas
foram desenvolvidas, tais como a calorimetria de titulação isotérmica que mede
40
interações pela mistura de componentes a uma temperatura fixada. Em contraste,
estudos de DSC de transições ou processos que são induzidos por variações na
temperatura, no qual o aumento da temperatura pode promover a fusão térmica.
Muitas moléculas biológicas de interesse sofrem tais transições de fase e logo podem
ser estudadas usando DSC (JOHNSON, 2013).
Análises de DSC para avaliação da estabilidade de proteínas, foram
realizadas para proteínas de diferentes famílias estruturais onde conclui-se que a
técnica é capaz de detectar pelo menos 10% de proteína desnaturada, sendo apta na
análise de caracterização proteica na avaliação da estabilidade conformacional (WEN
et al., 2012).
A cinética de desnaturação térmica do colágeno também foi estudada através
de técnicas DSC utilizando método isoconvercional (VYAZOVKIN; VINCENT;
SBIRRAZZUOLI, 2007)
Os estudos envolvendo análises termogravimétricas envolvem normalmente
determinações de conteúdo de água, compatibilidade fármaco-excipiente,
estabilidade e cinética de decomposição. As análises termogravimétricas podem ser
realizadas isoladamente, como no estudo de avaliação da estabilidade e formação de
nano tubos peptídicos (ADLER-ABRAMOVICH et al., 2006), avaliação da estabilidade
de um peptídeo dendrimérico após intercalação entre as lamelas da argila
montmorilonita (KEDZIERSKI; JANISZEWSKA; MOSZUMANSKA, 2016), bem como
acoplada a técnicas não térmicas, tais como FTIR ou MS, como no estudo da
degradação térmica da proteína ovalbumina em atmosfera inerte (ORSINI; DUCE;
BONADUCE, 2018).
Espectroscopia FTIR combinada com análise termogravimétrica provê
informações sobre mudanças de perda de massa na amostra e permite identificação
qualitativa de gases liberados durante a degradação térmica. Características dos
produtos liberados no processo de pirólise são determinadas pela composição da
matéria-prima (reações primárias) e pelas reações sofridas pelos voláteis primários
(reações secundárias). A extensão destas reações secundárias depende do
equipamento experimental bem como das condições de operação. No caso de
equipamentos como a termobalança (TGA), no qual a taxa de aquecimento é
relativamente baixa e o craqueamento de produtos primários não é monitorado,
apenas a perda de massa da amostra é registrada. Portanto, nenhuma informação
pode ser obtida nem sobre os produtos liberados, nem obviamente, sobre as possíveis
41
reações secundárias. Por outro lado, a análise de TGA acoplada a outras técnicas,
como FTIR, GC ou MS, permite o monitoramento direto dos perfis de evolução de
produtos primários como função da temperatura. Neste caso, as condições de
operação (isto é, quantidade de amostra, taxa de aquecimento, atmosfera, etc..)
devem ser cuidadosamente selecionadas para assegurar a operação adequada do
equipamento conectado on-line (TUDORACHI; CHIRIAC, 2011).
Comumente os estudos térmicos realizados mediante aplicação de técnicas
térmicas envolvendo análise de peptídeos e proteínas são mais frequentes para
aqueles em solução (DANDURAND et al., 2014) e poucos estudos envolvem amostras
em estado sólido (OLIVA et al., 2010) Esta condição deve-se ao fato do
armazenamento de produtos biofarmacêuticos como uma formulação aquosa líquida
ser preferido pelos clínicos, uma vez que a formulação está pronta a ser usada e não
requer rehidratação, em contraste com os produtos liofilizados (BYE; PLATTS;
FALCONER, 2014). Quando uma formulação aquosa não é viável devido a problemas
de estabilidade, as formulações sólidas liofilizadas são frequentemente desenvolvidas
(LI et al., 2005). Logo para um adequado estudo do fármaco em questão e posterior
desenvolvimento de formulação terapêutica é imprescindível a caracterização térmica
em ambos os estados, sólido e líquido.
2.6 CROMATOGRAFIA APLICADA A ANÁLISE DE PEPTÍDEOS
Concomitante à análise térmica, a cromatografia é uma das técnicas analíticas
mais utilizadas na análise de fármacos. Consiste em um método físico de separação
no qual os componentes a serem separados são distribuídos entre duas fases, uma
das quais é estacionária (fase estacionária - FE) enquanto outra move-se em uma
direção definida (fase móvel- FM) (IUPAC, 1993).
Desta forma pode-se identificar três componentes que compõem as técnicas
cromatográficas: a fase móvel, a fase estacionária e os componentes/moléculas a
serem separados. A fase estacionária é sempre composta por uma fase “sólida” ou
“uma camada de um líquido adsorvido à superfície por um suporte sólido”, por
conseguinte a fase móvel é sempre composta por “líquido” ou “componente gasoso”
e, por fim, as moléculas a serem separadas tratam-se das mais variadas substâncias
químicas presentes em uma mistura separadas conforme propriedades físicas ou
físico-químicas (COSKUM, 2016).
42
As técnicas cromatográficas admitem várias classificações (LANÇAS, 2008),
tais como quanto ao mecanismo de separação (Adsorção, Partição, Exclusão por
tamanho, Troca iônica); quanto à técnica empregada (Planar, Coluna), em relação ao
tipo de fase móvel utilizada (Gasosa, Líquida, Fluido supercrítico) dentre outras
(BRAITHWAITE; SMITH, 1999; PALLAVI; PATIL, 2017). A Figura 5 apresenta um
resumo da classificação das técnicas cromatográficas.
Figura 5 - Diferentes formas de classificação das técnicas cromatográficas
Fonte: Adaptado de (BRAITHWAITE; SMITH, 1999; PALLAVI; PATIL, 2017).
As técnicas cromatográficas podem ser utilizadas separadamente ou
acoplada com outras técnicas dependendo dos componentes a serem separados ou
identificados. A cromatografia líquida (LC) é reconhecida como uma ferramenta
indispensável na pesquisa de proteínas e peptídeos, devido à sua alta velocidade, alta
resolução, alta sensibilidade e reprodutibilidade e sua compatibilidade com outras
técnicas. Outra característica atraente da LC é a ampla seleção de fases estacionárias
e móveis. Durante os últimos anos, várias técnicas de LC surgiram na literatura, nas
43
quais vários modos foram usados isoladamente e em combinação (OLIVA; FARINA;
LLABRES, 2007; SIDDIQUI; ALOTHMAN; RAHMAN, 2017). Dentre as quais, a
cromatografia líquida de alta eficiência (CLAE) que tem sido largamente utilizada no
desenvolvimento de métodos para análise de fármacos, medicamentos, matérias-
primas (GUMUSTAS et al., 2013) e nas mais diversas áreas.
2.6.1 Cromatografia Líquida de Alta Eficiência - CLAE
Desde as fases de desenvolvimento do fármaco até o marketing e pós-
comercialização, as técnicas analíticas desempenham um grande papel, seja na
compreensão da estabilidade física e química sobre o impacto na seleção e
delineamento da forma farmacêutica para o fármaco, avaliação da estabilidade,
quantificação e identificação das impurezas que estão acima do limiar estabelecido,
essencial para avaliar os perfis de toxicidade dessas impurezas para distingui-las
daquelas do IFA, quando aplicável, e avaliar o conteúdo de fármaco nos produtos
comercializados. A análise do fármaco e do seu metabólito, que pode ser quantitativa
ou qualitativa, é amplamente aplicada nos estudos farmacocinéticos (SIDDIQUI;
ALOTHMAN; RAHMAN, 2017).
A determinação da pureza é considerada de grande importância no controle
de qualidade de produtos, mesmo durante etapas de desenvolvimento. Neste contexto
é necessário uma técnica sensível e reprodutível pode ser utilizada para determinar a
pureza de um peptídeo (DE SPIEGELEER et. al., 2008; VERBEKEN et. al., 2011).
Atualmente, há grande interesse no desenvolvimento de métodos analíticos
rápidos e que forneçam parâmetros apropriados para análises quantitativas de
fármacos. Dentre as técnicas utilizadas temos a cromatografia a líquido de alta
eficiência (CLAE) que é uma técnica de separação fundamentada na distribuição dos
componentes de uma mistura entre duas fases imiscíveis, a fase móvel, líquida, e a
fase estacionária sólida, contida em uma coluna cilíndrica (BRASIL, 2010b).
A CLAE é uma técnica avançada de cromatografia líquida em coluna, onde o
solvente flui sob pressão através de uma coluna para que a amostra possa ser
separada em diferentes constituintes de acordo com a diferença de suas afinidades
relativas. Os equipamentos são constituídos de reservatório de fase móvel,
degaseificador, bombas de pressão, injetor, forno, detector e interface (THAMMANA,
2016).
44
• Reservatório de Fase Móvel: Recipiente de vidro que contém a fase móvel, que
é uma mistura de componentes líquidos polares e não polares. Dependendo
da composição da amostra, os solventes polares e não polares serão variados.
• Bomba: Aspira a fase móvel do reservatório de solvente e força-a para a coluna
e depois passa para o detector. 42000 KPa é a pressão de operação da bomba.
Esta pressão de operação depende das dimensões da coluna, tamanho da
partícula, vazão e composição da fase móvel.
• Injetor de Amostra: O injetor pode ser manual ou automático e deve fornecer
infusão da amostra dentro da faixa de 0,1 a 100 mL de volume com alta
reprodutibilidade e sob alta pressão (até 4000 psi).
• Colunas: São tipicamente feitas de aço inoxidável limpo, em torno de 50 mm e
300 mm de comprimento e têm uma distância interna de cerca de 2 e 5 mm.
Geralmente são carregados com uma fase estacionária com um tamanho de
molécula de 3 μm a 10 μm. Colunas com diâmetros internos <2 mm são
regularmente mencionadas como segmentos microbore. De preferência, a
temperatura da fase móvel e da coluna deve ser mantida constante.
• Detector: Estão situados na extremidade da coluna, distingue os analitos à
medida que eles são eluídos da coluna cromatográfica. Detectores utilizados
regularmente são espectroscopia de UV, fluorescência, espectrometria de
massa e identificadores eletroquímicos, cujas características estão
apresentadas na Tabela 5.
• Dispositivos de Coleta de Dados ou Integrador: Os sinais do detector podem
ser reunidos em gravadores gráficos ou integradores eletrônicos que flutuam
em qualidade multifacetada e em sua capacidade de processar, armazenar e
reprocessar informações cromatográficas.
45
Tabela 5 - Detectores comumente utilizados em análises por CLAE
DETECTORES QUANTIDADE
MÍNIMA DETECTÁVEL
PROPRIEDADE MEDIDA APLICAÇÕES
Detector de
Fluorescência pg
Emissão de luz óptica após
excitação em comprimento
de onda de maior energia
Substâncias
fluorescentes, ou
fluorescentes por
derivatização
Detector
UV/Vis/PDA ng
Absorção da Luz UV em
determinado comprimento
de onda
Substâncias que
apresentam cromóforos
Detector de
Espalhamento
de Luz – DLS
Maior que ng
Nebulização da fase móvel e
medição da luz espalhada
pelas partículas resultantes
Substância com restrita
ou nenhuma absorção
UV
Detector de
Índice de
Refração
µg
Diferença no índice de
refração ótica entre a fase
móvel e a amostra
Substância com restrita
ou nenhuma absorção
UV (Álcoois, açúcares
carboidratos, ácidos
graxos e polímeros)
Detector
eletroquímico fg – pg
Variações na corrente
elétrica
Substâncias oxidáveis
ou redutíveis
Fonte: Adaptado de (SWARTZ, 2010).
A CLAE tornou-se uma ferramenta amplamente utilizada e bem estabelecida
para a análise e purificação de biomoléculas. A justificativa para o papel central que
tem desempenhado atualmente na análise e purificação de proteínas/peptídeos é a
resolução, pois é capaz de separar polipeptídios de sequências quase idênticas, não
apenas para pequenos peptídeos como aqueles obtidos através de digestão com
tripsina, mas também para proteínas muito maiores (KALIYAPERUMAL et al., 2014).
Outra vantagem especial da CLAE, quando comparado a outras técnicas é a sua
especificidade química (RAMANATHAN et al., 2011).
46
Diversas são as aplicações da CLAE na análise de proteínas e peptídeos. A
cromatografia líquida de fase reversa com detector ultravioleta (RP-CLAE-UV) tem
sido aplicada na avaliação de pureza de peptídeos devida sua seletividade, baixo
limite de detecção e quantificação, robustez e alta sensibilidade (BICHSEL et al.,
1996), no desenvolvimento de métodos capaz de quantificar anticorpos, tais como o
anticorpo monoclonal intacto, rituximab (NAVAS et al., 2013) e peptídeos anticâncer
(KALIYAPERUMAL et al., 2014), na avaliação das propriedades antioxidantes de
proteínas hidrolisadas do Salmão (Salmon solar) e frações isoladas de peptídeos
(GIRGIH et al., 2013), na determinação de distribuição de partículas de um potencial
carcinogênico humano, a 3-nitrobenzatrona, transportadas pelo ar (HASEI et al.,
2012), bem como na caracterização da insulina e seus produtos de degradação,
através da cromatografia líquida por exclusão de tamanho e por fase reversa,
acopladas a um detector de espalhamento de luz (OLIVA; FARIÑA; LLABRÉS, 2000).
2.6.2 Cromatografia Líquida de Ultra Eficiência - CLUE
A necessidade de rapidez e eficiência analítica exigida atualmente contribui
para que outra técnica cromatográfica venha se firmando como uma técnica bastante
aplicável quando se deseja obter análises rápidas, reprodutibilidade melhorada e
detecção de amostras complexas, tornando-se um instrumento valioso para o controle
de qualidade de medicamentos (LIANG et al., 2010). A cromatografia líquida de ultra
eficiência (CLUE) é uma técnica que vem ganhando espaço e está sendo utilizada em
análises de rotina em diversas áreas. Os princípios de CLUE são os mesmos da
CLAE, a diferença básica está no tamanho de partícula do material da coluna. A rápida
difusão que está relacionada principalmente à disponibilidade da instrumentação
totalmente desenvolvida e adequada para as necessidades do emprego de partículas
< 2 μm, a altas pressões (KAWANO et al., 2008).
O uso destas partículas juntamente com a alta velocidade linear da fase móvel
aumenta a resolução, a detecção e diminuem o tempo das análises (WU et al., 2008).
Os ajustes nos sistemas envolvem uma bomba binária de alta fluidez, a qual é capaz
de trabalhar com pressões acima de 100 MPa (15.000 psi ou 400 kgf) (NOVÁKOVÁ;
MATYSOVÁ; SOLICH, 2006; PIETERS; DEJAEGHER; HEYDEN, 2010). As
vantagens do CLUE incluem melhorias significativas em velocidade, sensibilidade
(melhoramento da razão sinal/ruído) e resolução, em comparação com a
47
cromatografia líquida de alta eficiência convencional (HPLC)(EL MUBARAK et al.,
2016).
O CLUE é decorrente da teoria da eficiência do processo de separação, que
reflete o desempenho da coluna, e baseia-se no conceito de altura equivalente de um
prato teórico (HETP) e na expressão (equação de Van Deemter – Equação 17) que
foi derivada da adsorção em fase gasosa envolvendo uma isotérma linear e cinética
de transferência de massa rápida (UNGER; LIAPIS, 2012). O entendimento desta
teoria é fundamental para determinação dos parâmetros a serem otimizados durante
o desenvolvimento de método cromatográfico.
𝐻 = 𝐴 + 𝐵
𝑢+ 𝐶𝑢 (17)
Onde H é a altura dos pratos teóricos, o termo A corresponde a difusão de
Eddy, o termo B, a difusão longitudinal, o termo C a resistência a transferência de
massa e u é a velocidade linear da fase móvel.
De acordo com este modelo que descreve a relação entre HETP e a
velocidade linear, um dos termos, o termo C, é dependente do diâmetro da partícula
do material de empacotamento da coluna. Logo redução no tamanho das partículas
levam a significativa redução de HETP que resulta em aumento da eficiência
(NOVÁKOVÁ; MATYSOVÁ; SOLICH, 2006).
O CLUE tem sido amplamente utilizado para análise de pequenas moléculas.
Em se tratando de peptídeos e proteínas ele tem sido aplicado a métodos de
determinação e métodos de quantificação direcionados, que normalmente usam
gradientes lentos e rápidos, respectivamente (HOWARD et al., 2012).
Em virtude de suas vantagens as aplicações da CLUE na análise de peptídeos
e proteínas são diversas: envolvem o desenvolvimento de métodos de detecção e
quantificação de peptídeos em matrizes complexas (EL MUBARAK et al., 2016),
métodos para avaliação de estabilidade e degradação forçada de peptídeos utilizando
CLUE/DAD e CLUE/MS-MS (D’HONDT et al., 2014b) para avaliação de
farmacocinética (LEE et al., 2017), farmacodinâmica bem como identificação de
moléculas utilizando matrizes complexas e por muitas vezes acoplados a outras
técnicas como espectroscopia de massas (KLAPOETKE; ZHANG; BECHT, 2011; LI
et al., 2018).
48
2.7 DESENVOLVIMENTO DE MÉTODOS CROMATOGRÁFICOS PARA
ANÁLISE DE PEPTÍDEOS E PROTEÍNAS
A literatura é diversa em publicações acerca de desenvolvimento de métodos
cromatográficos, no entanto a grande maioria não deixa claro os passos e etapas
seguidos para determinação das condições do método cromatográfico em questão.
Podemos distinguir duas abordagens para o desenvolvimento de métodos
cromatográficos: àquela chamada abordagem tradicional ou clássica e, a abordagem
científica, que remete ao conceito de Analytical Quality by Design (AQbD). De forma
geral podemos elencar as etapas e diferenças nas abordagens tradicional e científica
conforme apresentado na Figura 6.
Figura 6 - Diferenças estruturais entre o desenvolvimento de métodos analíticos utilizando abordagem tradicional e a abordagem científica
Fonte: Adaptado de (RAMAN; MALLU; BAPATU, 2015)
Os métodos analíticos implementados utilizando abordagens tradicionais
foram baseados em um desenvolvimento de método denominado um fator por vez
(one factor at time - OFAT), no qual um único parâmetro é otimizado para a resposta
49
esperada, enquanto outros permanecem constantes. Essa prática sempre conduziu a
um comportamento robusto e restrito do método para variáveis instrumentais
utilizadas na fase de desenvolvimento do método. Portanto, a presente estratégia tem
alto risco de falha do método e sempre requer um protocolo de revalidação ou
transferência de método ou desenvolvimento de método alternativo, aumentando o
custo do método (PERAMAN; BHADRAYA; REDDY, 2015).
Além disso a abordagem tradicional é não sistemática e, portanto, as decisões
são tomadas com base em resultados de eventos sequenciais de experimentos. A
desvantagem dessa abordagem é que, se alguma etapa não for adequadamente
projetada, o esforço de desenvolvimento do método frequentemente se desvia,
levando a métodos não otimizados. Quando os resultados experimentais não são
significativos, investigações adicionais serão realizadas, resultando na multiplicação
do trabalho de laboratório e no longo tempo de desenvolvimento. Pelo contrário, o
tempo inicial e o esforço que é colocado no design de desenvolvimento do método
AQbD é muito mais do que a maneira tradicional. É preciso ter uma quantidade
significativa de conhecimento sobre o medicamento e a tecnologia analítica para
projetar o processo de desenvolvimento do método corretamente.
Abordagem AQbD deriva da aplicação dos princípios de Quality by Design
(QbD) no desenvolvimento de métodos analíticos. QbD é uma abordagem sistemática
do desenvolvimento que começa com objetivos pré-definidos e enfatiza a
compreensão do produto e do processo e o controle do processo, com base em sólida
ciência e gerenciamento de risco de qualidade (ICH, 2009). O conceito QbD foi
resumido por um especialista em qualidade bem conhecido, Joseph Moses Juran.
Este acreditava que a qualidade poderia ser planejada e que a maioria dos problemas
associados à qualidade tem sua origem na forma como a qualidade foi a princípio
planejada. Os princípios do QbD (desenvolvimento baseado em ciência e risco,
avaliação de risco, avaliação de ciclo de vida e projeto de método) foram usados para
promover a qualidade do produto e do processo em vários setores e áreas industriais
(SANGSHETTI et al., 2017). Na atualidade estes princípios foram incorporados a
indústria farmacêutica, que busca o desenvolvimento de produtos de qualidade e com
consistência no processo de fabricação para alcançar o desempenho pretendido, e
sua aplicação vem sendo estimulada pela Conferência Internacional de Harmonização
(ICH) através dos documentos: ICHQ8 Pharmaceutical Development, ICHQ9 Quality
Risk Management, e ICH Q10 Pharmaceutical Quality System.
50
A abordagem tradicional não usa DOE e avaliação de risco, enquanto a
abordagem AQbD utiliza ferramentas científicas tais como ATP, CQA, DOE, avaliação
de risco, estratégias de controle e avaliação de risco, validação de método e
monitoramento contínuo de métodos (RAMAN; MALLU; BAPATU, 2015).
Em ambas as abordagens o conhecimento sobre rota de síntese e
características físico-químicas do fármaco (Figura 7) são imprescindíveis ao início do
desenvolvimento do método (PALLAVI; PATIL, 2017). Para o desenvolvimento do
método, é necessário estudar as propriedades físicas tais como massa molar,
solubilidade, polaridade, pKa e pH da molécula, ponto isoelétrico (PI), índice de
GRAVY, absortividade, dentre outros. São aos propriedades físico-químicas da
molécula que irão ditar a técnica cromatográfica bem como detector mais apropriado
a sua análise.
Figura 7 - Características intrínsecas e físico-químicas dos analitos importantes para o desenvolvimento de métodos cromatográficos
Fonte: Autoria Própria, 2019
As características fundamentais de peptídeos e proteínas são sua massa
molecular e sequência primária (ARNOTT; SHABANOWITZ; HUNT, 1993). A massa
molecular é parâmetro de escolha na avaliação do tamanho de poro de colunas
cromatográficas em LC. A polaridade e solubilidade do analito irá influenciar a escolha
do solvente diluente e composição da fase móvel. O analito deve ser solúvel nos
diluentes e não deve se degradar com nenhum dos componentes do diluente.
51
O índice de GRAVY mede o grau de hidrofopatia médio de peptídeos e
proteínas ao longo da sua sequência de aminoácidos e cadeias laterais
correspondentes, levando-se em conta sua hidrofilicidade e hidrofobicidade (KYTE;
DOOLITTLE, 1982). Em análise de proteínas e peptídeos a determinação do índice
de GRAVY é importante como um dos parâmetros de escolha de colunas
cromatográficas, visto que substitui o coeficiente de partição (Log P). A
hidrofobicidade é também importante para escolha da coluna em cromatografia
líquida. Em geral colunas C18 são usadas para proteínas hidrofílicas e pequenos
peptídeos, e C4 ou C5 é usada para proteínas hidrofóbicas e grandes peptídeos.
O pH e o pKa desempenham um papel importante no desenvolvimento de
métodos cromatográficos. O valor do pH é definido como o logaritmo negativo na base
10 da concentração do íon hidrogênio. A acidez ou basicidade de uma substância é
definida mais tipicamente pelo valor do pH. A seleção de um pH adequado para
analitos ionizáveis geralmente leva a picos simétricos e nítidos em cromatografia.
Picos agudos e simétricos são necessários na análise quantitativa para atingir baixos
limites de detecção. Se o analito alvo for ionizável, o pKa do analito deve ser
determinado ou obtido. Pacotes de software como o ACD (Advanced Chemistry
Development) podem ser usados para obter um valor estimado de pKa para as
funcionalidades ionizáveis na molécula. Se o analito alvo for neutro, o pH da fase
móvel não afetará sua retenção. O pH ótimo para iniciar o desenvolvimento de um
método é o pH, na mistura hidro orgânica empregada, que seja 1-2 unidades do pKa
do analito (KAUSHAL K.; SRIVASTAVA, 2010).
Em se tratando de peptídeos e proteínas o ponto isoelétrico (pI) é uma
propriedade intrínseca definido como o valor de pH na qual uma proteína/peptídeo
apresenta uma carga líquida nula. Assim, determina o sinal da carga líquida para
diferentes faixas de pH (PIHLASALO et al., 2012). A um pH acima do pI, uma proteína
terá uma carga líquida negativa, enquanto um pH abaixo do pI levará a uma carga
positiva líquida. Assim, o pH do solvente pode ser ajustado para facilitar ou para
promover a eluição de uma proteína ligada.
No que diz respeito a absortividade no ultravioleta, proteínas e peptídeos
possuem grupos cromóforos sejam das ligações peptídicas que unem os resíduos de
aminoácidos, seja da presença de aminoácidos aromáticos (tirosina, fenilalanina e
triptofano) ou ligações dissulfeto (ANTHIS; CLORE, 2013). Com isso, sequências de
peptídeos contendo aminoácidos aromáticos podem ser detectados a 280 nm,
52
possuindo uma sensibilidade 8 vezes maior que a 190 nm, característica de ligações
peptídicas (UCHIHO et al., 2015). A ligação peptídica exibe uma absorção ampla e
banda moderadamente intensa com absorção máxima em cerca de 185 nm. Na região
facilmente acessível de cerca de 200 a 240 nm, a absorção é consideravelmente maior
que a dos aminoácidos constituintes. Logo, a absortividade em 205 nm também pode
ser utilizada na quantificação de aminoácidos. Na atualidade o comprimento de onda
de 215 nm vem sendo utilizado para detecção de peptídeos e proteínas em técnicas
LC-DAD (EBERLEIN, 1995).
Uma vez determinada as características do analito é necessário a
determinação do perfil do método analítico alvo (ATP), ou seja definir qual técnica
analítica que será utilizada com base no objetivo desejado, seja quantificar fármaco,
impurezas, determinar uniformidade ou dissolução, dentre outros, bem como os
atributos críticos do método (preparo de amostra, especificidade, adequabilidade do
sistema, precisão etc..) que devem ser seguidos para que o método seja considerado
apto. Esta etapa é por vezes desconsiderada no método tradicional o que leva a
relatório de validação inconsistentes bem como escolha de técnicas não ideais ao
objetivo pretendido. A determinação dos atributos críticos do método (CMA) ou
atributos críticos da qualidade (CQA) e parâmetros é acompanhada de uma avaliação
de risco de cada etapa que envolve a utilização de ferramentas estatísticas tais como
diagrama de espinha de peixe, onde com base na criticidade, impacto e
detectabilidade o risco pode ser determinado fornecendo ao analista uma boa
compreensão do significado de cada etapa e esforço necessário para as investigações
laboratoriais subsequentes (KOCHLING et al., 2016).
A avaliação de risco é procedimento inexistente durante o desenvolvimento
de métodos tradicionais e sua grande riqueza é a possibilidade de detectar
dificuldades e situações a serem evitadas nas etapas seguintes. Esta oferece ao
analista um olhar esmiuçado acerca do método a ser desenvolvido e um porque
científico as ferramentas analíticas utilizadas.
Uma vez definida a técnica cromatográfica com base em suas peculiaridades
as condições de análise devem ser elencadas. Cada técnica apresenta uma série de
cuidados que devem ser seguidos com base em sua finalidade e característica do
analito. Em se tratando de análise por cromatografia líquida de peptídeos e proteínas
a escolha da fase móvel (componente aquoso e orgânico), da coluna, temperatura e
detectores são críticos ao sucesso do método (FIELD et al., 2019).
53
Alguns pareadores iônicos são utilizados para otimizar resolução e retenção,
como por exemplo, o pareador aniônico PFA ou ácido pentafluorpropriônico que se
complexa com resíduos carregados positivamente, e o pareador catiônico acetato de
trietilamina que interage com grupos carregados negativamente (KAZAKEVICH,
LOBRUTTO, 2007).
Quando se deseja realizar análise com sistemas de detecção MS o ácido
fórmico é preferido como modificador ácido. Entretanto, para peptídeos catiônicos,
sabe-se que ocorrem interações prejudiciais com os silanóis superficiais de colunas
de fase reversa, resultando em pico caudado e baixa eficiência. A carga peptídica
positiva, presente na fase móvel acidificada, causa também uma baixa retenção e
baixa resolução. Portanto, o ácido trifluoroacético (TFA), um agente de
emparelhamento de íons forte e altamente ácido, é preferido para ajustar a retenção
e a eficiência da análise de peptídeo catiônico (STALMANS et al., 2016).
A concentração de tampões e pareadores devem ser adequadamente
estabelecidas, pois a concentração inadequada destes pode ocasionar sobreposição
de bandas e perfis de peptídeos (GRITTI, GUIOCHON, 2009).
O tamanho de poro apropriado é uma das primeiras considerações a ser
levantadas sobre a coluna a ser selecionada, e dependerá da massa molar do
peptídeo ou proteína a ser analisado. Além da maior massa molecular de proteínas e
peptídeos, seu maior volume também afeta sua cromatografia. Um tamanho de poro
muito pequeno restringe a difusão da molécula para dentro e para fora dos poros,
enquanto um tamanho muito grande reduz a área de superfície total e a eficiência de
baixa intensidade.
Outro parâmetro a ser considerado na escolha da coluna é o princípio de
separação a ser utilizado no método podendo ser hidrofóbico, partição, afinidade ou
exclusão por tamanho. Para cada método de separação diferentes empacotamentos
de colunas podem ser utilizados.
Por fim, um aumento no fluxo e diminuição da taxa de gradiente aumenta a
resolução, embora diminua a sensibilidade. Altas temperaturas aumentam a
eficiência, forma do pico e resolução, contudo, diminuem a atividade biológica da
molécula nos casos em que se deseja a recuperação do analito (KAZAKEVICH,
LOBRUTTO, 2007).
Ao contrário de pequenas moléculas orgânicas cujo comportamento
cromatográfico é descrito por um equilíbrio finito de partição entre a fase estacionária
54
e a fase móvel, os peptídeos tipicamente não exibem tal efeito. Em vez disso, eles
exibem um fenômeno de adsorção no qual o polipeptídio é adsorvido na fase
estacionária e elui apenas quando a força do solvente da fase móvel é suficiente para
competir com as forças hidrofóbicas que o mantêm nela. A sensibilidade da retenção
do peptídeo a mudanças sutis na concentração da fase orgânica dificulta a eluição
isocrática porque a concentração da fase orgânica deve ser mantida com muita
precisão (AGUILAR, 2004; SHYAMALA; PRIYA P; ANJALI, 2013). Além disso,
pequenos peptídeos parecem eluir por um híbrido de mecanismos de partição e
adsorção e tornam o processo cromatográfico mais complexo. Por estas razões, a
eluição no modo gradiente de pequenos peptídeos, é preferida, uma vez que resulta
em picos muito mais nítidos quando comparado ao modo isocrático de eluição. A
eluição isocrática é raramente utilizada para separações de peptídeos (VERGOTE et
al., 2009).
Definido as condições do método de análise cuidado especial deve ser dado
ao tratamento da amostra com base em suas propriedades físico-químicas e nas
características do método de análise elencado, visando manutenção da estabilidade
do fármaco durante a análise e recuperação da amostra na etapa de preparo de
amostra (PALLAVI; PATIL, 2017).
Uma vez desenvolvido o método, uma estratégia de controle deve ser
planejada para assegurar a relação entre a finalidade do método e seu desempenho.
Esta estratégia é derivada de dados obtidos durante a fase de desenvolvimento e
verificação do método e incluem monitoramento de parâmetros que influenciam sua
variabilidade.
Em geral a validação de um método analítico é sempre feita de acordo com
as diretrizes nacionais e internacionais sob condições operacionais normais ou a
chamada condição otimizada compreendendo um conjunto de variáveis em um ponto.
No entanto além desta validação, conforme orientação regulamentadora a verificação
do método pode também ser realizada por meio de uma avaliação conjunta da
exatidão e precisão em diferentes pontos dos fatores do método dentro do espaço de
separação cromatográfica (MODR). Esta verificação em múltiplos pontos
provavelmente representa a maior probabilidade da capacidade do método de atender
ao requisito do ATP e deve ser feita além dos limites robustos de testes regulares em
mais dois pontos com ambos os desvios (PERAMAN; BHADRAYA; REDDY, 2015).
55
Desta forma não apenas uma condição operacional será validada, e sim, uma faixa
operacional de trabalho.
Com o estabelecimento do método analítico, testes de desempenho do
método devem ser estabelecidos através do monitoramento do desempenho do
método ao longo do tempo para monitorar sua conformidade com os critérios
previamente definidos. Na indústria isto pode ser realizado pelo uso de gráficos de
controle e ferramentas de rastreio de dados de adequação do sistema e investigações
relacionadas ao método. Este monitoramento contínuo permite que um analista
detecte, identifique e resolva qualquer desempenho anormal ou fora de tendência do
método analítico (PERAMAN; BHADRAYA; REDDY, 2015).
2.7.1 Avaliações Prévias a Validação
2.7.1.1 Estabilidade de Soluções
Apesar de não se enquadrar em nenhuma das resoluções e regulamentações
nacionais e internacionais como um parâmetro de validação, a estabilidade de
soluções é muitas vezes tratada como um tópico dentro da validação em virtude de
alguns analitos em solução poderem se decompor previamente às análises
cromatográficas, por exemplo, durante a preparação das soluções da amostra,
extração, limpeza ou armazenamento nos frascos (em refrigeradores ou em um
amostrador automático).
No entanto, a estabilidade de soluções e da fase móvel devem ser entendidas
como uma etapa prévia a validação, visando a geração de resultados reprodutíveis e
confiáveis, a estabilidade do (s) analito (s).
Em muitos casos, as amostras são analisadas durante a noite (overnight)
usando sistemas cromatográficos equipado com o amostrador automático. Para o
método de teor de fármaco a granel ou o método de traços de impureza (impurezas e
contaminantes), o (s) analito (s) nas soluções amostra e solução padrão devem
permanecer estáveis por 48 horas sob condições de armazenamento definidas. As
fases móveis devem ser estáveis por pelo menos 48 horas. O critério de estabilidade
aceitável para o método de teor não é mais do que 2,0% de variação nas áreas de
pico obtidas a partir das soluções armazenadas, em relação às das soluções
recentemente preparadas. Quanto ao método de impureza, o critério de estabilidade
56
aceitável não é mais do que 10% de variação determinada da mesma maneira para o
método de teor. Se o (s) analito (s) nas soluções não forem estáveis à temperatura
ambiente, a diminuição da temperatura de armazenamento para 2−8° C pode
melhorar a estabilidade das soluções. A fase móvel é considerada estável se a fase
móvel armazenada produzir o cromatograma equivalente ao obtido com a fase móvel
preparada recentemente. A avaliação deve ser realizada com base no fator de
capacidade, resolução e fator de cauda (KAZUSAKI et al., 2012).
2.7.1.2 Teste de Adequabilidade/Verificação do sistema
A verificação do sistema é o procedimento a ser realizado previamente a uma
corrida analítica para demonstrar que o sistema está apto para o uso pretendido,
sendo que os parâmetros desse procedimento devem ser definidos durante o
desenvolvimento e validação do método (BRASIL, 2017).
Logo os testes de adequabilidade do sistema são parte integrante do método
cromatográfico desenvolvido. Estes são aplicados com a finalidade de verificar se a
resolução e reprodutibilidade do sistema cromatográfico estão adequadas para as
análises a serem realizadas.
Durante uma corrida cromatográfica vários parâmetros podem ser obtidos e
são úteis para o desenvolvimento do método cromatográfico e definição dos testes de
adequabilidade do sistema. A Tabela 6 apresenta os parâmetros que podem ser
obtidos a partir de uma corrida cromatográfica, suas definições e equações.
57
Tabela 6 - Parâmetros cromatográficos obtidos durante uma corrida analítica
PARÂMETRO CROMATOGRÁFICO
DEFINIÇÃO EQUAÇÃO
Tempo de retenção (t) É característico da substância analisada,
entretanto não é exclusivo Não se aplica
Tempo de retenção
relativo (tr)
Trata-se do tempo de relação de uma
substância com base em uma substância
principal cujo trr é considerado 1.
𝑡𝑟 = 𝑡1
𝑡2
Fator de retenção /Fator
de capacidade (K)
É a razão entre a quantidade da
substância com afinidade pela fase
estacionária e a quantidade com
afinidade pela fase móvel.
𝑘 = 𝑡 − 𝑡0
𝑡0
Número de pratos
teóricos (N) É indicativo da eficiência da coluna 𝑁 = 16 (
𝑡
𝑊)
2
Resolução (Res) Medida quantitativa do grau de separação
de dois picos adjacentes 𝑅 =
2(𝑡2 − 𝑡1)
𝑊1 + 𝑊2
Fator de cauda (Tf)
Indica a simetria do pico, apresenta valor
igual a 1 quando o pico é perfeitamente
simétrico
𝑇𝑓 = 𝑊0,05
2𝑓
Fonte: Adaptado de (BRASIL, 2010b)
Onde, t0 é o tempo morto; t é o tempo de retenção da substância analisada;
W é a largura do pico; t2 e t1 são tempo de retenção de dois picos adjacentes; W1 e
W2 são a largura dos respectivos picos na linha de base pelo método de triangulação
e W0,05 é largura do pico a 5% da altura e f é o valor da porção anterior do pico, em
relação a largura a 5% da altura.
Não há critérios definidos para todos os parâmetros de adequabilidade, exceto
para o DPR%, fator de cauda e pureza de pico. Os critérios devem ser definidos
conforme desenvolvimento do método visando a garantia da confiabilidade dos
resultados
58
2.8 ESTUDOS DE DEGRADAÇÃO FORÇADA
A maioria dos fármacos sofre degradação físico-química no armazenamento,
logo é essencial caracterizar os produtos de degradação no processo de descoberta
e desenvolvimento de fármacos (RAJU et al., 2011).
Estudos de degradação forçada são também conhecidos como testes de
estresse, estudos de estresse, estudos de decomposição de estresse, estudos de
decomposição forçada etc. O conhecimento da estabilidade da molécula ajuda a
selecionar a formulação e embalagens adequadas, além de proporcionar condições
adequadas de armazenamento e prazo de validade. A degradação forçada é um
processo que envolve a degradação de medicamentos e substâncias em condições
mais severas do que as aceleradas e, portanto, gera produtos de degradação que
podem ser estudados para determinar a estabilidade da molécula (BLESSY et al.,
2014), fornecem dados para apoiar a identificação de possíveis degradantes; vias de
degradação e estabilidade intrínseca da molécula do fármaco e validação de
procedimentos analíticos indicadores de estabilidade (JAIN; BASNIWAL, 2013).
Embora os estudos de degradação forçada sejam um requisito regulatório e uma
necessidade científica durante o desenvolvimento de medicamentos, ele não é
considerado um requisito para o programa de estabilidade formal.
Um processo sistemático de fabricação de medicamentos de qualidade que
atendam às metas pré-definidas para os atributos críticos de qualidade (CQA) requer
o uso do conhecimento obtido em estudos de degradação forçada.
Um estudo de degradação forçada bem projetado é indispensável para o
desenvolvimento de métodos analíticos em um paradigma de QbD. Ele ajuda a
estabelecer a especificidade de um método indicativo de estabilidade e a predizer os
potenciais produtos de degradação que poderiam se formar durante os estudos
formais de estabilidade. Incorporar todas as impurezas potenciais no método analítico
e estabelecer pureza dos picos de interesse ajuda a evitar a necessidade de novo
desenvolvimento e revalidação desnecessários do método.
O conhecimento do comportamento químico das substâncias sob diversas
condições de stress também pode proporcionar informação sobre a seleção dos
excipientes para o desenvolvimento da formulação. A compatibilidade de excipientes
é parte integrante do entendimento de possíveis interações de formulação durante o
desenvolvimento do produto e é uma parte fundamental do entendimento do produto.
59
Produtos de degradação devido à interação fármaco-excipiente ou interação fármaco-
fármaco em produtos combinados podem ser examinados estressando amostras de
fármaco, medicamento e placebo separadamente e comparando os perfis de
impureza. As informações obtidas sobre os picos relacionados ao medicamento e os
picos não relacionados ao medicamento podem ser utilizadas na seleção e no
desenvolvimento de formulações mais estáveis. Por exemplo, se uma substância
medicamentosa é instável à oxidação, a adição de um antioxidante pode ser
considerada na formulação contendo substâncias medicamentosas que são instáveis
em ácido ou sofrem conversão estéreo-química em meio ácido. O teste de hidrólise
ácida/básico também pode fornecer informações úteis na formulação de
medicamentos que são líquidos ou suspensões (RAWAT; PANDEY, 2015).
O conhecimento adquirido em estudos de degradação forçada pode facilitar
melhorias no processo de fabricação. Se um estudo de fotoestabilidade mostrar que
uma substância é foto instável, deve-se tomar cuidado durante o processo de
fabricação do medicamento. Informações relativas ao desenvolvimento do processo
(por exemplo, processamento úmido versus seco, seleção da temperatura) podem ser
obtidas a partir do teste de stress térmico da substância e produto farmacêutico
(MAHESWARAN, 2012).
Após a identidade e a quantidade de um produto de degradação serem
confirmadas positivamente, o perfil de segurança deste composto de degradação
pode ser totalmente avaliado. Químicos sintéticos podem até desenvolver um novo
composto com uma estrutura semelhante, mas com uma estabilidade química
intrínseca melhorada (PAN; LIU; MOTTO, 2011).
Em se tratando de peptídeos e proteínas a fotodegradação representa uma
importante via de degradação, que pode ocorrer em vários pontos durante a
fermentação, purificação, formulação e armazenamento (KERWIN; JR., 2007) e cujas
consequências potenciais envolvem aumento da heterogeneidade, descoloração,
perda de potência (QI et al., 2009; WEI et al., 2007), mudanças conformacionais (KIM
et al., 2007), e a formação de agregados (LORENZ et al., 2009; QI et al., 2009). De
todos os aminoácidos, o triptofano é aquele que apresenta a maior absorbância da luz
ultravioleta e é, portanto, um ator fundamental nos processos de fotodegradação
(STEINMANN et al., 2013).
No Brasil a RDC N° 53/2015 apresenta as diretrizes para realização dos
estudos de degradação forçada, indicando condições de degradação: calor, umidade,
60
degradação ácida e básica e exposição fotolítica, bem como a percentagem de
degradação, que deve ser superior a 10% (BRASIL, 2015a). Posteriormente a
publicação da RDC supracitada a ANVISA publicou um guia para obtenção do perfil
de degradação e identificação de produtos de degradação em medicamentos que
ampliou a visão acerca de quais reagentes e condições utilizar uma degradação ácida
(HCl), degradação básica (NaOH), oxidativa (H2O2) (BRASIL, 2015b), no entanto
detalhes sobre como essas degradações devem ser realizadas não são ofertados e,
muitas condições diferentes podem ser encontradas na literatura .
2.9 VALIDAÇÃO DE METODOLOGIAS ANALÍTICAS
A qualidade analítica é um fator importante na indústria farmacêutica,
nomeadamente nos processos de desenvolvimento, produção e controle de qualidade
de medicamentos. Os métodos analíticos são o instrumento pelo qual avalia-se a
conformidade dos resultados de identificação e quantificação dos analitos com as
especificações definidas para um determinado processo ou produto. Para tanto é
imprescindível o desenvolvimento e validação de métodos analíticos cujo êxito
depende da colaboração entre os departamentos de pesquisa, desenvolvimento
controle e garantia da qualidade (BHARTI MITTU; CHAUHAN, 2015).
A demonstração da qualidade de medições químicas, através de sua
comparabilidade, rastreabilidade e confiabilidade, está sendo cada vez mais
reconhecida e exigida. Dados analíticos não confiáveis podem comprometer
conclusões de estudos e conduzir a decisões desastrosas e a prejuízos financeiros
irreparáveis. Para garantir que um novo método analítico gere informações confiáveis
e interpretáveis sobre a amostra, ele deve sofrer uma avaliação denominada validação
(MARY ÂNGELA FÁVARO PEREZ, 2010).
O termo validação é amplo, foi implementando ainda neste século, podendo
ser definido como: ação de provar e documentar que qualquer processo,
procedimento ou método leva a resultados esperados e consistentes (WHO, 2016),
bem como confirmação por experimentos e fornecimento de evidência objetiva de que
os requisitos específicos para um uso específico pretendido podem ser
consistentemente cumpridos (FDA, 2017).
A validação é uma parte essencial das boas práticas, incluindo boas práticas
de fabricação (BPF) e boas práticas clínicas (BPC). É, portanto, um elemento do
61
sistema de qualidade farmacêutica. A validação, como conceito, incorpora a
qualificação e deve ser aplicada ao longo do ciclo de vida do produto, processo,
sistema, equipamento ou utilidade aplicável (WHO, 2016).
Por se tratar de um termo amplo, e visando alcançar a harmonização para
aplicações farmacêuticas, foi organizada a Conferência Internacional sobre
Harmonização (ICH), e representantes da indústria farmacêutica e agências
reguladoras dos Estados Unidos, Europa e Japão definiram características de
validação, requisitos e metodologia para métodos de validação analítica. Para
análises farmacêuticas, uma diretriz ICH (Q2 (R1): Texto sobre validação de
procedimentos analíticos e metodologia (ICH, 2005), foi publicada para realização de
estudos de validação. No Brasil, a ANVISA e INMETRO são agências que apresentam
documentos acerca da validação de métodos analíticos.
Segundo RDC N° 166/2017, validação de métodos analíticos é uma avaliação
sistemática de um método por meio de ensaios experimentais de modo a confirmar e
fornecer evidências objetivas de que os requisitos específicos para seu uso pretendido
são atendidos (BRASIL, 2017). Desta forma a validação de métodos analíticos deve
demonstrar que o método analítico produz resultados confiáveis e é adequado à
finalidade a que se destina, de forma documentada e mediante critérios objetivos.
Na Tabela 7 encontram-se enumerados todos os parâmetros de validação que
um método analítico, a depender de sua finalidade, deve apresentar.
Ao observar a Tabela 7, é possível perceber que o parâmetro analítico
Robustez não é contemplado, para RDC 166/2017, àquele é considerado um
parâmetro típico da etapa de desenvolvimento de método e, caso seja considerado
relevante para o resultado do método analítico deve ser avaliado adicionalmente.
Na indústria farmacêutica, o processo de validação torna-se complexo, pois
todos os procedimentos analíticos de um medicamento, desde o seu desenvolvimento
até ao seu controle de qualidade, devem ser validados. A validação de todos os
processos de um produto farmacêutico tem que satisfazer determinados requisitos
impostos legalmente pelas autoridades reguladoras e diretivas vigentes.
62
Tabela 7 - Figuras de mérito a serem consideradas na validação analítica a depender do objetivo do método
PARÂMETRO
AVALIADO
OBJETIVO DO MÉTODO
IDENTIFICAÇÃO
TESTE DE IMPUREZAS DOSEAMENTO
- DISSOLUÇÃO
(QUANTIFICAÇÃO)
- UNIFORMIDADE
DE CONTEÚDO
- POTÊNCIA
QUANTITATIVO QUALITATIVO
Exatidão NÃO SIM NÃO SIM
Precisão
repetibilidade NÃO SIM NÃO SIM
Precisão
Intermediária NÃO SIM NÃO SIM
Seletividade SIM SIM SIM SIM
Limite de
detecção (LD) NÃO NÃO SIM NÃO
Limite de
quantificação
(LQ)
NÃO SIM NÃO NÃO
Linearidade NÃO SIM NÃO SIM
Intervalo NÃO SIM NÃO SIM
Fonte: Adaptado de (BRASIL, 2017)
63
3 OBJETIVOS
3.1 OBJETIVO GERAL
A presente tese tem como objetivo geral o desenvolvimento de metodologias
analíticas para avaliação da qualidade, produtos de degradação e identificação de
impurezas, em estado sólido, do peptídeo sintético stigmurina identificado na peçonha
do escorpião Tityus stigmurus.
3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS
• Caracterizar o peptídeo, em estado sólido
• Avaliar os voláteis produzidos durante decomposição térmica
• Avaliar os produtos de decomposição térmica
• Desenvolver um método de doseamento de Stigmurina por CLAE-UV/DAD
• Avaliar o perfil de degradação forçada em solução para stigmurina
• Validar o método analítico de quantificação desenvolvido
64
FLUXOGRAMA EVIDENCIANDO OBJETIVOS ESPECÍFICOS E METODOLOGIAS
UTILIZADAS
65
4 MATERIAL E MÉTODOS
4.1 MATERIAL
4.1.1 Stigmurina
O peptídeo maduro (sem ambos, o peptídeo sinal e pro-peptídeo), aqui
chamado Stigmurina, foi sintetizado quimicamente, na sua forma amidada pela
Aminotech®, Brasil, utilizando a tecnologia em fase sólida FMOC (CARPINO; HAN,
1970; MERRIFIELD, 1963b). Amidação C-terminal foi selecionada com base na
presença, na sequência traduzida completa, de um sinal altamente conservado pós-
translacional de processamento (Gly-Arg-Arg-Lys), de que a clivagem proteolítica
tipicamente precede a amidação do resíduo adjacente o peptídeo maduro, como
descrito anteriormente para vários peptídeos escorpiões similares (DAI et al., 2008;
GUO et al., 2013; ZENG; CORZO; HAHIN, 2005; ZHAO et al., 2009). O peptídeo
sintético foi purificado por HPLC de fase reversa (> 98% de pureza) e sua massa
molecular foi confirmada por espectrometria de massa realizada pelo fornecedor
(ANEXO A).
Autorização Sisgen (Sistema Nacional de gestão do Patrimônio Genético),
número do Cadastro: AAF17D9 de 24/04/2018.
4.1.2 Reagentes
Os regentes utilizados que apresentaram grau LC-MS foram: ácido
trifluoroacético (TFA), fabricante Merck Millipore®, lote S5761162641 e acetonitrila,
fabricante J. T. Baker®, lote P14C58. Os reagentes utilizados que apresentaram grau
reagente foram: Hidróxido de Sódio (NaOH), lote: 08/0468, fabricante: Proquímios®,
ácido clorídrico (HCl), lote:1000832, fabricante: Vetec® e peróxido de hidrogênio
(H2O2), lote: 112275, fabricante: Synth®
A água purificada foi obtida por sistema de purificação por osmose reversa
Milli-Q Advantage, Merck®. Para realização das análises LC-MS foram utilizadas
adicionalmente solução de calibração de massas e solução de Tunning, ambas do
fabricante Agilent®.
66
4.1.3 Material de laboratório
• Balança Analítica, modelo: AUY 220, n° de série: D610020115, fabricante:
Shimadzu®
• Ultra-som, modelo: 1400, fabricante: Unique
• Câmara de Fotoestabilidade, modelo: Farma 424CF, fabricante: Ethik
technology®
• Pipeta volumétrica automática para dispensação de volumes entre 100 -
1000µL, n° de série: Neo_P1000N, fabricante: GILSON
• Pipeta volumétrica automática para dispensação de volumes entre 20 - 200µL,
n° de série: Neo_P200N, fabricante: GILSON
• Pipeta calibrada de vidro de 2 mL, fabricante: Pyrex®
• Pipeta calibrada de vidro de 5 mL, fabricante: Pyrex®
• Ponteira volumétrica para dispensação de volumes entre 50 - 1000µL,
fabricante: Eppendorf
• Ponteira volumétrica para dispensação de volumes entre 2 - 200µL,
fabricante: Eppendorf
• Proveta de 500 mL, fabricante: Pyrex®
• Proveta de 100 mL, fabricante: Pyrex®
• Proveta de 25 mL, fabricante: Pyrex®
• Balão volumétrico de 50 mL, fabricante: Pyrex®
• Balão volumétrico de 100 mL, fabricante: Pyrex®
• Béquer de plástico de 150 mL, fabricante: Brand®
• Membrana de filtração em Nylon, 47 mm de diâmetro e 0,22 µm de tamanho
de poro, lote: 120323004, fabricante: Allcrom.
• Membrana de filtração em Nylon, 47 mm de diâmetro e 0,45 µm de tamanho
de poro, lote: 522013, fabricante: FilterPro
• Vial rosqueável transparente, capacidade de 1,5 mL, com tampa e septo,
fabricante: Shimadzu®
• Coluna Zorbax Extend300 C18, dimensões: 100 x 2,1 mm; 3,5µm - 300Å, carga
de carbono: 4%, área de superfície: 45m2/g, faixa de pH de 2,0 – 11,5, duplo
endcapped, n° de série: USZT001182, fabricante Agilent®
67
4.2 MÉTODOS
4.2.1 Calorimetria Exploratória Diferencial (DSC)
As curvas DSC foram obtidas em um Módulo Calorimétrico Diferencial Q10,
controlado pelo software Thermal Advantage Series® (v. 2.5.0.256), TA Instruments,
usando massas de amostra de 2,0 mg (± 0,1 mg) em cadinho de amostra de alumínio
selado com tampa contendo um orifício no centro de 0,7 mm, usando razão de
aquecimento de 10 °C.min-1. Todas as medidas foram realizadas sob atmosfera
dinâmica de nitrogênio a 50 mL.min-1, com ciclo de aquecimento-resfriamento-
aquecimento entre -50 °C e 180 °C. O DSC foi calibrado para temperatura e entalpia
utilizando metal índio (Tfusão = 156,6 °C; ∆Hfus = 28,7 J.g-1) com 99,999% de pureza,
de acordo com as instruções do fabricante. As temperaturas máximas (Tpico), o início
da temperatura (Tonset), temperatura de transição vítrea (Tg) e o calor envolvido no
evento (ΔH) para cada amostra foram medidos a partir das curvas DSC.
Estas análises foram realizadas no Laboratório do Análise Térmica, do
Instituto de Química na Universidade de Federal do Rio Grande do Norte – USP/São
Carlos.
4.2.2 Calorimetria Exploratória Diferencial acoplada em Sistema Fotovisual (DSC-
fotovisual)
Os dados de DSC acoplados ao sistema fotovisual foram obtidos no
calorímetro exploratório diferencial Shimadzu®, modelo DSC-50, constituído por
microscópio Olympus® conectado a câmera de alta resolução, modelo VCC-D520,
Sanyo® e software de captura de imagens. Utilizaram-se as mesmas condições que a
análise DSC, exceto para o intervalo de temperatura que ocorreu entre a temperatura
ambiente a 400 °C.
Estas análises foram realizadas no Laboratório Unificado de Desenvolvimento
e Ensaios de Medicamentos (UDEM) na Universidade Federal da Paraíba - UFPB.
68
4.2.3 Difratometria de raios-X (DRX)
A difratometria de raios-X das amostras foi obtida em um Difratômetro de
Raios-X Shimadzu, modelo Maxima_X XRD-7000, com tubo de raios X selado com
radiação Cu kα. A varredura angular (2θ) variou de 5 ° a 80 °, e o passo de 0,02° em
uma velocidade de varredura de 5°/min. O equipamento foi operado em 40,0 kV, 30,0
mA. A presença de características cristalinas foi identificada através de comparação
dos picos obtidos com os dados fornecidos pelas fichas de referência JCPDS (Joint
Commitee on Powder Diffraction Standards) contidas na base de dados do ICDD
(International Center for Diffaction Data) através do Software XRD700 versão 5.21. Os
dados foram plotados por meio do software Origin® (v.8.0). As análises foram
realizadas no DRX à temperatura ambiente.
Estas análises foram realizadas no Laboratório de Caracterização Estrutural
de Materiais do Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Materiais na
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN.
4.2.4 Fluorescência de raios X (FRX)
A fluorescência de raios X por dispersão de energia da amostra foi realizada
para investigar a presença de átomo de Sílicio (Si) em um equipamento Shimadzu,
modelo EDX-720/800HS, Software EDX, em atmosfera de vácuo e utilizando energia
dispersiva.
Estas análises foram realizadas no Laboratório de Caracterização Estrutural
de Materiais do Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Materiais na
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN.
4.2.5 Análise termogravimétrica acoplada à análise por Infravermelho com
transformada de Fourier de produtos gasosos liberados (TG-FTIR)
As curvas TG/DTG foram obtidas em equipamento TG-FTIR, com analisador
térmico Netzsch® TG 209 F1, acoplado a um espectrômetro FTIR, Bruker®, ALPHA,
equipado com uma célula de gás TGIR, utilizando massas de amostra de 5,0 mg (±
0,1 mg) em um porta amostra de alumina, razão de aquecimento de 10 °C.min-1,
atmosfera de nitrogênio ou ar sintético em um fluxo de 20 mL.min-1, pureza de 98,0%
69
para ambos, no modo aquecimento entre temperatura ambiente a 900 °C. A entrada
do adaptador, a linha de transferência e a célula TG-IR foram mantidas a 200 °C para
evitar a condensação dos gases envolvidos. Os espectros de FTIR foram coletados
continuamente durante medições no intervalo de 4.000 - 650 cm-1 com uma resolução
de 4 cm-1. A caracterização dos produtos gasosos desenvolvidos durante a
decomposição foi realizada utilizando o software Opus® (V. 7.2).
Estas análises foram realizadas no Laboratório de Análise Térmica do Instituto
de Química na Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN.
4.2.6 Pirólise rápida acoplada a cromatografia gasosa com analisador de
espectrometria de massas – (Pyr-GC/MS)
A catálise rápida foi realizada utilizando um pirolisador Pyroprobe Py-5200
HP-R (CDS Analytical) acoplado a cromatógrafo gasoso (GC) VARIAN 3800 e
espectrômetro de massas (MS) VARIAN 3900. Os experimentos de pirólise foram
realizados a 400°C com uma razão de aquecimento de 10°C.ms-1, utilizando
aproximadamente 1 mg de amostra colocada entre a lã de quartzo superior e inferior
entre um tubo de quartzo (25,38 mm x 1,75 mm). Os vapores da pirólise foram
conduzidos por N2 (50 mL.min-1) a armadilha Tenax para dessorção a 300°C,
transferidos através da linha de transferência aquecida a 300°C e injetada no GC no
modo split (1:30). Para análise cromatográfica utilizou-se uma coluna VF-5ms (30m x
0,25mm x 0,1µm), He (99,9999%) a 1 mL.min-1 como gás carreador, com a seguinte
programação de aquecimento: em temperatura constante de 40°C por 2 min, 40 –
280°C a taxa de aquecimento de 10°C.min-1, 280°C constante por 14,5 min. A
detecção no MS foi avaliada sob impacto de elétrons (EI) em condições de ionização
de varredura total de m/z 40-500. Os voláteis foram identificados através de banco de
dados da biblioteca de espectro de massas NIST (National Institute of Standards of
Technology) do software acoplado ao sistema de análise GC/MS, considerado
identificado quando em um nível de similaridade acima de 95%.
Estas análises foram realizadas na Central Analítica do Núcleo de
Processamento Primário e Reuso de Água Produzida e Resíduo (NUPRRAR) na
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN.
70
4.2.7 Análise Termogravimétrica (TG/DTG)
As curvas TG/DTA dinâmicas foram obtidas em uma termobalança da marca
Shimadzu®, modelo DTG-60AH, com fluxo de nitrogênio 50 mL.min-1, variando as
razões de aquecimento de acordo com a metodologia utilizada. Antes do início dos
experimentos, foi realizada a limpeza do equipamento, a obtenção do branco e a
verificação da normalidade da balança procedendo à corrida prévia do padrão de
oxalato de cálcio monohidratado. Apresentando-se a termobalança em condições de
operação, deu-se início às corridas com as amostras. Para cada corrida utilizou-se
cadinho de α-alumina, contendo 5,0 mg ± 0,01 de amostra.
Estas análises foram realizadas no Laboratório de Desenvolvimento
Farmacêutico na Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN.
4.2.7.1 Obtenção dos resíduos sólidos após aquecimento térmico
Para os estudos de caracterização dos resíduos sólidos foram realizadas três
corridas dinâmicas na razão de aquecimento de 10°C.min-1, de temperatura ambiente
até para cada uma das seguintes temperaturas finais (50°C – 94°C – 105°C – 140°C
– 160°C – 190°C e 230°C). As amostras obtidas foram submetidas às análises FTIR,
MEV, CLAE, LC-MS e avaliação da atividade antiparasitária.
4.2.8 Microscopia eletrônica de varredura por emissão de campo (MEV-FEG)
Uma vez mantidas em dessecador por 48h as amostras foram submetidas a
metalização com ouro e depois montadas em stubs de alumínio usando fita de dupla
face. Posteriormente foram analisadas por microscopia eletrônica de varredura de alta
resolução (MEV-FEG), modelo Auriga, ZEISS®. As imagens eletrônicas secundárias
foram realizadas com uma tensão de aceleração de 3 kV.
Estas análises foram realizadas no Laboratório de Caracterização Estrutural
de Materiais do Programa de Pós-Graduação em Engenharia de materiais na
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN.
71
4.2.9 Espectrofotômetro de Infravermelho (FTIR-ATR)
Os espectros na região da absorção do infravermelho para os resíduos nas
diferentes temperaturas de aquecimento foram obtidos a partir de um
espectrofotômetro de absorção na região do infravermelho com transformada de
Fourier (FTIR) modelo IRPrestige-21 (Shimadzu®, Tóquio, Japão) através da técnica
de reflectância total atenuada (ATR). Os espectros foram obtidos no comprimento de
onda de 4.000 a 700 cm-1, com resolução de 4 cm-1 e baseados em 20 varreduras.
Uma análise IR correlacional foi realizada para evidenciar diferenças entre a
stigmurina não aquecida e as amostras que foram submetidas a aquecimento. A
região espectral de 1.500 a 600 cm-1 (região de impressão digital) foi considerada
nesta abordagem. Foi calculada a correlação de Pearson (r) entre os espectros de IR.
Valores de correlação de Pearson próximo a unidade (r = 1) indicam que as variáveis
comparadas são semelhantes, sendo interpretado como indicação de degradação da
stigmurina. Quando o valor de r estiver entre 0,80 e 1,00, indicando alta correlação,
enquanto entre 0,5 e 0,80 mostra correlação moderada e menos que 0,50 indica uma
baixa correlação entre as variáveis comparadas (LAVOR et al., 2014; LIMA et al.,
2015).
Estas análises foram realizadas no Laboratório Escola de Farmácia Industrial
(LEFI) na Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN.
4.2.10 Cromatógrafo líquido acoplado a espectrômetro de massas com analisador do
tipo Time-of-flight (LC-MS)
Para a caracterização dos resíduos sólidos nas diferentes temperaturas de
aquecimento, bem como para stigmurina padrão e caracterização dos produtos de
degradação gerados apenas na condição de degradação e tempo que tenha
apresentado degradação superior a 10% e inferior a completa decomposição da
stigmurina, as amostras foram diluídas em TFA 0,1% em água a concentração de 1
mg.mL-1 e analisados em UHPLC (Agilent® 1260 Infinity) acoplado a analisador de
massas e fonte de ionização do tipo eletrospray e tempo de voo, respectivamente,
(ESI-TOF) (Agilent® 6230). Coluna Zorbax 300Extend C18 (100 mm x 2,1 mm; 3,5 μm)
foi utilizada. O volume de injeção de 1 μL e fluxo 0,3 mL.min-1. A fase móvel usada foi
TFA 0,1% em água (A) e TFA 0,1% em ACN (B) em um gradiente de eluição: iniciando
72
em 5% de A, seguido por 5 min, então alcançando 100% de B em 30 min. Nitrogênio
foi utilizado como gás nebulizante a pressão de 40 psig e o fluxo foi ajustado para 10
L.min-1. A temperatura do capilar e voltagem foram mantidas a 325 °C e 3.5 kV. A
varredura total das massas cobriu a faixa de m/z 100 a m/z 3000Da. As análises foram
conduzidas em modo positivo de ionização. Os dados foram processados pelo
software MassHunter Workstation versão B.06.11.
O padrão de fragmentação para stigmurina foi definido com base em sua
sequência primária para fragmentos das séries b e y (Apêndice C).
Estas análises foram realizadas no Laboratório de Controle de Qualidade de
Medicamentos (LCQMed) na Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN.
4.2.11 Determinação da atividade antiparasitária frente a forma epimastigota do
Trypanosoma cruzi (cepa Y)
A atividade antiparasitária da Stigmurina submetida a diferentes condições de
temperatura foi avaliada sobre as formas epimastigotas da cepa Y do Trypanossoma
cruzi cultivada em meio LIT (Liver Infusion Triptose). Os parasitas foram incubados a
27 ± 2 °C em meio LIT por 11 dias até a fase estacionária para o teste de viabilidade
celular.
Os peptídeos foram solubilizados em água destilada, sendo observada
partículas em suspensão de coloração amarelada na amostra aquecida a 230 ºC. O
ensaio foi realizado com a Stigmurina armazenada em geladeira e amostras
aquecidas nas temperaturas de estudo (50°C – 94°C – 105°C – 140°C – 160°C –
190°C e 230°C) na concentração de 17,95 µg.mL-1. A concentração selecionada teve
como base o estudo de Parente e colaboradores (2018), no qual observou a inibição
de 75% da viabilidade das formas epimastigota (crescimento de 25%) nesta
concentração, utilizando a metodologia do MTT (MUELAS-SERRANO; NOGAL-RUIZ;
GÓMEZ-BARRIO, 2000).
4.2.11.1 Método da resazurina
A atividade antiparasitária da Stigmurina submetida a diferentes condições de
temperatura foi avaliada sobre a forma epimastigota do Trypanosoma cruzi (cepa Y)
pelo método da resazurina, seguindo a metodologia descrita por Rolón e
73
colaboradores (2006) com modificações (ROLÓN et al., 2006). Em uma placa de 96
poços, as formas epimastigota (1x107 parasitas/mL) em meio LIT foram incubadas a
27 °C ± 2 com Stimgurina (10 µM) nas diferentes condições de aquecimento por 24h.
Sequencialmente, 20 µL da solução de resazurina (3 mM) foi adicionado a mistura e
incubado a 27 °C ± 2 por 24h. A absorbância foi mensurada a 570 nm e 600 nm em
um leitor de microplacas (Epoch Biotek, Winooski, EUA). Os poços contendo as
formas epimastigotas em meio LIT na ausência do peptídeo foram utilizados como
controle positivo de viabilidade (100% de viabilidade). A capacidade de redução da
resazurina (RR) possui relação diretamente proporcional a viabilidade do parasita,
sendo calculada a partir da seguinte equação:
𝑅𝑅 = [𝐴570t – (𝐴600𝑝𝑡 𝑥 𝑅0)]/ [𝐴570c – (𝐴600𝑐 𝑥 𝑅0)] (19)
Onde, A570 e A600 correspondem à absorbância da resazurina em 570 nm e
600 nm respectivamente, dos poços tratados (pt) com a Stigmurina e absorbância no
mesmo comprimento de onda, dos poços controle positivo de crescimento (c). O R0
corresponde ao fator de correção do ensaio obtido a partir da seguinte equação:
𝑅0 = 𝐶𝑚𝑒𝑖𝑜570𝑛𝑚 / 𝐶𝑚𝑒𝑖𝑜600𝑛𝑚 (20)
Onde, Cmeio570nm e Cmeio600nm correspondem a absorbância da resazurina a
570nm e 600nm no meio de cultura LIT na ausência de parasitas. A análise estatística
foi realizada utilizado o ANOVA one way, seguido do teste de Tukey para
comparações múltiplas, utilizando o software GraphPad Prism versão 7.0 (San Diego,
EUA). Os valores foram considerados significativos quando p <0,05.
Estas análises foram realizadas no Laboratório de Imunoparasitologia na
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN.
4.2.12 Desenvolvimento de método cromatográfico
4.2.12.1 Preparo de fases móveis
A fase móvel A consistiu em uma solução aquosa de ácido trifluoroacético,
utilizando água purificada e concentração final de 0,1% de TFA.
74
A fase móvel B consistiu em uma solução orgânica de ácido trifluoroacético,
em acetonitrila, na concentração de 0,1% de TFA.
Todo conteúdo foi filtrado em membrana de nylon com 0,22 µm de diâmetro
de poro e degaseificada previamente por sonicação (10min) antes de circular no
sistema cromatográfico. Preparo diário.
4.2.12.2 Preparo da solução estoque e solução de trabalho
Pesou-se a stigmurina em balança analítica previamente calibrada e em
seguida o volume foi completado com diluente para concentração final de 5,0 mg.mL-
1. A solução diluente consistiu na fase móvel A.
A solução de trabalho foi obtida de diluições da solução estoque até a
concentração final de 1,0 mg.mL-1.
4.2.12.3 Estratégia de desenvolvimento de método cromatográfico
Para avaliação da coluna cromatográfica escolhida durante o
desenvolvimento do método foram avaliadas diferentes colunas, conforme Tabela 8.
Os parâmetros N, HETP, tR, k e Tf foram determinados para comparação da eficiência
de separação das diferentes colunas. Foram realizadas corridas no modo gradiente
iniciando em 30% de FMB e alcançando 100% de FMB em 30 min. A cada análise a
coluna foi equilibrada em 30% de FMB por aproximadamente 15 min. A temperatura
de análise padronizada foi de 25°C (temperatura ambiente), utilizou-se solução padrão
nominal a 1,0 mg.mL-1 (100%) de stigmurina.
75
Tabela 8 - Diferentes colunas cromatográficas avaliadas durante o desenvolvimento de método
COLUNA C
(mm) D
(mm) PARTÍCULA
(µM) PORO
(Å) Vc
(mL)
V. inj
(µL)
Fluxo (mL.min-1)
ZORBAX
EXTEND300 100 2,1 3,5 300 ≈ 0,35 1 0,3
ADVANCEDBIO
PEPTIDE MAP 100 2,1 2,7 120 ≈ 0,35 1 0,3
SHIMPACK XR-
ODS C18 50 3,0 2,2 120 ≈ 0,35 1 0,3
POROSHELL
120 EC-C18 50 4,6 2,7 120 ≈ 0,83 ≈ 2 0,72
KINETEX 50 2,1 1,3 95 ≈ 0,17 0,50 0,15
Fonte: Autoria Própria, 2019
O volume de injeção e fluxo da coluna foram ajustados a partir das equações
de escalonamento geométrico com base no volume da coluna (Equação 21 – volume
da coluna, Equação 22 - ajuste de fluxo e Equação 23 - ajuste de volume de injeção)
utilizando a condição para coluna ZORBAX EXTEND 300 como condição padrão
(Volume 1 µL e Fluxo de 0,3 mL.min-1). O preparo da amostra foi equivalente a solução
padrão de linearidade a 100%.
Vc = πr2L (21)
Fluxo 2 = Fluxo1x dc2
2
dc12 (22)
Vinj 2 = Vinj 1x Vc2
Vc1 (23)
Para avaliação do comportamento inicial de eluição os parâmetros N, HETP,
tR, k, W, pureza de pico, número de picos detectados e Tf foram calculados. Realizou-
se corridas em dois modos gradiente, sendo que o primeiro iniciava em 30% de FMB
76
e alcançando 100% de FMB em 30 min, sendo a coluna inicialmente equilibrada em
30% de FMB por aproximadamente 15 min, enquanto que o segundo iniciava em 40%
de FMB e alcançando 100% de FMB em 30 min, sendo a coluna inicialmente
equilibrada em 40% de FMB. A temperatura de análise padronizada foi de 25°C
(temperatura ambiente), utilizou-se solução padrão nominal a 1,0 mg.mL-1 (100%) de
stigmurina injetada num volume de 1 µL. O preparo da amostra foi equivalente a
solução padrão de linearidade a 100%.
Para avaliação da proporção de eluição de solvente orgânico em uma
temperatura ótima de análise realizou-se análise no modo gradiente variando-se de
40% de FMB a 50% de FMB em 15 min, mantendo-se fixo o volume de injeção em 1
µL e alterando a temperatura da coluna em três situações distintas a 30°C, 40°C e
50°C. Nesta etapa o parâmetro Tf e Res foi determinante para escolha da temperatura
de análise. Além disso com base numa variação de fase móvel mais estreita (∆% =
10%) foi determinado a concentração de solvente orgânico para eluição de stigmurina
(proporção FMB), conforme equação (25) em cada temperatura, com base na taxa de
mudança de gradiente (Txg), calculada equação (24):
Taxa de mudança = Concentração final de FMB(%)− Concentração inicial de FMB(%)
tempo de gradiente (min) (24)
Proporção FMB = Cinicial FMB (%) + t inicial de saída de pico × Taxa de mudança (25)
Para avaliação do fluxo de fase móvel realizou-se análise no modo isocrático
com 42% de FMA e 58% de FMB, a temperatura de 40°C, volume de injeção de 1 µL,
e alterando-se o fluxo em análises distintas para 0,1 mL.min-1, 0,2 mL.min-1 e 0,3
mL.min-1. Nesta etapa o parâmetro Tf, R e tR foram determinantes para escolha do
fluxo de análise, bem como o DPR% da replicata das leituras.
Por fim, avaliou-se a influência do volume de injeção sobre o método analítico
e análises foram realizadas no modo isocrático com 42% de FMA e 58% de FMB, a
temperatura de 40°C, fluxo de 0,3 mL.min-1, alterando-se o volume de injeção de 0,1
µL, 0,5 µL e 1,0 µL em análises distintas. Nesta etapa todos os parâmetros foram
avaliados para determinação do comportamento de eluição com diferentes volumes
de injeção.
77
Estas análises foram realizadas no Laboratório de Controle de Qualidade de
Medicamentos (LCQMed) na Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN.
4.2.13 Estudo de Degradação Forçada
4.2.13.1 Preparação das soluções degradantes
Solução de ácido clorídrico 1M (HCl M) foi preparado a partir de uma solução
de ácido clorídrico 5N diluída em água purificada e armazenada em frasco de vidro.
Solução de Hidróxido de sódio 1M (NaOH 1M) foi preparado a partir de uma
solução de hidróxido de sódio 2M diluída em água purificada e armazenada em frasco
plástico.
Solução de peróxido de hidrogênio 20,0% foi preparada a partir de uma
solução de peróxido de hidrogênio 29% diluída em água purificada e armazenada em
frasco de vidro.
4.2.13.2 Preparo da solução estoque (SES), soluções de degradação (SD) e soluções
de leitura (SL)
Pesou-se a stigmurina em balança analítica previamente calibrada e em
seguida o volume foi completado com diluente para concentração final de 5,0 mg.mL-
1. A solução diluente consistiu na fase móvel A. Esta solução foi denominada solução
estoque (SES).
As soluções de degradação de stigmurina (SD), em cada tempo de análise
(T0, 12h, 24h e 36h) e para as condições de degradação ácida, básica e oxidativa,
foram preparadas por diluição da solução estoque para obtenção de solução final
leitura (SL) na concentração de 1,0 mg.mL-1, conforme Tabela 9.
78
Tabela 9 - Preparo das soluções de degradação e solução de degradação para leitura nos diferentes tempos de análise
SOLUÇÕES SOLUÇÃO DE
DEGRADAÇÃO (SD)
SOLUÇÃO DE LEITURA
(SL)
Preparo da solução
1mL de SES
+
1mL de uma das Soluções
degradantes: HCl 1N,
NaOH 1N, H2O2 20,0%
250 mL de SD
+
375 µL de FMA
Concentração final 2,5 mg.mL-1 1,0 mg.mL-1
Fonte: Autoria Própria, 2019
Em se tratando da solução submetida à fotodegradação, adicionou-se 1 mL
da solução estoque (SES) em balão volumétrico de 5 mL completando o volume com
diluente (FMA) – concentração final: 1 mg.mL-1. Esta solução foi submetida a
exposição em câmara de fotoestabilidade, com controle de temperatura, (radiação UV,
lâmpada fluorescente e, iluminação > 1,2 milhões de lux.hora, em concordância com
diretrizes ICH Q1B) e, nos tempos de leitura 0, 12, 24 e 36h uma alíquota de 625 µL
foi retirada para análise. Uma solução contendo apenas diluente (FMA) foi mantida
conjuntamente por todo período de exposição com a amostra durante foto degradação
e analisada no tempo T0 e T36h.
Para a hidrólise térmica, em 1 mL da solução estoque (SES) adicionou-se 1
mL de água, esta solução foi mantida em banho maria sob aquecimento a 70°C. Nos
tempos de análise a amostra foi coletada e diluída conforme preparo da solução de
leitura na Tabela 9.
Foram preparadas soluções brancas para cada uma das condições de
degradação, excluindo-se a solução degradante e adicionando igual volume de
solução diluente (FMA) em seu lugar, que foram posteriormente analisadas no tempo
T0.
4.2.13.3 Análises Cromatográficas de amostras submetidas a degradação forçada
As análises cromatográficas foram realizadas em cromatógrafo líquido de ultra
eficiência, modelo Proeminence UFLC-XR, fabricante Shimadzu®, composto de
79
bomba binária (modelo: LC-20AD), degaseificador de fase móvel on-line (modelo:
DGU-20A3), auto-injetor (modelo: SIL-20AHT), detector de arranjo de fotodiodos
(modelo: SPD-20A), forno para coluna (modelo:CTO-20A), módulo de comunicação
(modelo: CBM-20A) e sistema de aquisição de dados software LC-Solution. A Tabela
10 apresenta as condições analíticas do método utilizado para avaliação da
degradação de stigmurina nas soluções de leitura.
Tabela 10 - Condições cromatográfica para análise das soluções de leitura de stigmurina submetida a diferentes condições de degradação
PARÂMETRO ESPECIFICAÇÃO
Coluna
Zorbax extend 300 Å
(100 mm x 2,1 mm; 3,5µm)
Fluxo de fase móvel 0,3 mL.min-1
Temperatura do forno 40°C
Comprimento de onda 215 nm e 280 nm
Volume de injeção 1µL
Modo de eluição Isocrático
FMA TFA 0,1% em água purificada
FMB TFA 0,1% em acetonitrila
PROPORÇÃO FMA: FMB 58%:42%
TEMPO DE ANÁLISE 10 min
Fonte: Autoria Própria, 2019
A taxa de degradação foi determinada considerando-se 100% a solução de
leitura no tempo zero e fazendo sua correlação linear para os demais tempos de
análise. Para verificação de conformidade de preparo as áreas obtidas no tempo zero
para cada uma das soluções de degradação no tempo zero foi comparada a uma
solução padrão na concentração nominal de 1,0 mg.mL-1.
Estas análises foram realizadas no Laboratório de Controle de Qualidade de
Medicamentos (LCQMed) na Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN.
80
4.2.14 Validação do método
O método proposto foi validado de acordo com a Conferência Internacional
sobre Harmonização dos Requisitos Técnicos para o Registro de produtos
Farmacêuticos para Uso Humano (ICH) orientações Q2 (R1) (ICH, 2005) e Agência
Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) conforme resolução de diretoria colegiada
RDC n° 166/2017 (BRASIL, 2017).
4.2.14.1 Seletividade
A seletividade do método foi checada na solução diluente, na amostra
contendo stigmurina, nas soluções de stigmurina que passaram por degradação
térmica, fotólise, hidrólise ácida (HCl) e hidrólise básica (NaOH), no tempo de
degradação e concentração de degradação otimizadas, durante o estudo de
degradação forçada. O espectro UV para identificação de stigmurina e o grau de
pureza do pico cromatográfico foram determinados. Varreduras espectrais foram
obtidas de 200 a 400 nm pelo detector de arranjo de fotodiodos, operando no modo
de varredura total e, em seguida, selecionou-se o comprimento de onda de 215 nm
para o estudo.
4.2.14.2 Linearidade
A curva de calibração foi realizada em triplicata pela preparação de solução
padrão de stigmurina em diferentes concentrações, preparadas de maneira
independente, a fim de se obter as concentrações finais de 0,8, 0,9, 1,0 1,1 e 1,2
mg.mL-1. A curva de calibração foi obtida pela obtenção do gráfico da razão da área
do pico de stigmurina versus a concentração.
Para avaliação da linearidade, foi obtida uma curva de calibração através da
representação gráfica das respostas (ÁREA DO PICO DA STIGMURINA) em função
da concentração do analito, o gráfico de dispersão dos resíduos, acompanhado de
sua avaliação estatística, e a equação da reta de regressão de y em x, estimada pelo
método dos mínimos quadrados, uma avaliação da associação linear entre as
variáveis por meio do coeficientes de correlação (r) e de determinação (r²) e uma
avaliação da significância do coeficiente angular.
81
A homocedasticidade dos dados foi ser investigada para a utilização do
modelo adequado, em um nível de significância de 5% (cinco por cento), o coeficiente
de correlação > 0,99, e o coeficiente angular deve ser significativamente diferente de
zero.
4.2.14.3 Limite de detecção (LD)
A determinação do limite de detecção foi realizada por estimativa a partir dos
dados da curva analítica de calibração (desvio padrão residual da linha de regressão)
e confirmada pela preparação e leitura de uma solução a 0,04 mg.mL-1, a partir da
diluição da solução padrão nominal a 1,0 mg.mL-1 (100%).
4.2.14.4 Limite de quantificação (LQ)
A determinação do limite de quantificação foi realizada por estimativa a partir
dos dados da curva analítica de calibração (desvio padrão residual da linha de
regressão) e confirmada pela preparação e leitura de uma solução a 0,14 mg.mL-1, a
partir da diluição da solução padrão nominal a 1,0 mg.mL-1 (100%), cuja precisão e
exatidão foram determinadas, devendo o limite de recuperação encontrar-se na faixa
de 80% - 110% e o DPR% das análises variar no máximo 5%.
4.2.14.5 Exatidão
A Exatidão é determinada por meio do grau de concordância entre os
resultados individuais do método em estudo em relação a um valor aceito como
verdadeiro.
Para determinação da exatidão foram utilizadas triplicatas de soluções
amostra, preparadas de maneira independente, nas concentrações baixa (0,8 mg.mL-
1 – 80%), média (1,0 mg.mL-1 – 100%) e alta (1,2 mg.mL-1 – 120%) e os resultados
foram expressos em recuperação média.
A exatidão foi expressa pela relação percentual de recuperação do analito de
concentração conhecida adicionado à amostra ou pela relação entre a concentração
82
média, determinada experimentalmente, e a concentração teórica correspondente,
dada pela equação seguinte:
Recuperação = Concentração média experimental
Concentração teórica × 100
4.2.14.6 Repetibilidade
Para determinação da repetibilidade a solução de trabalho foi preparada, 6
réplicas, na concentração nominal de 1,0 mg.mL-1 (100%), individualmente
preparadas, sob as mesmas condições de operação, mesmo analista e mesma
instrumentação, em uma única corrida analítica. Os resultados foram expressos em
DPR%.
4.2.14.7 Precisão Intermediária
Para determinação da precisão Intermediária a solução de trabalho foi
preparada em sextuplicata, na concentração nominal de 1,0 mg.mL-1 (100%), em dois
dias diferentes, por dois analistas distintos, denominados analista A e B. Os valores
foram expressos em DPR% e análise estatística de teste T de Student em par para
médias foi realizada.
4.2.14.8 Robustez
Para determinação da robustez do método foram preparadas soluções de
trabalho na concentração nominal de 1,0 mg.mL-1 (100%) e realizadas pequenas
mudanças deliberadas em três fatores da condição cromatográfica padronizada, a
saber: temperatura do forno (39°C e 41°C), proporção de fase móvel (41%:59% –
FMA:FMB e 43%:57% – FMA:FMB) e fluxo de fase móvel (0,29 mL.min-1 e 0,31
mL.min-1). Os resultados foram expressos em DPR%.
83
4.2.14.9 Adequabilidade do sistema
Para determinação da adequabilidade do sistema avaliou-se as condições de
operação do equipamento, método e coluna cromatográfica com base no pico
cromatográfico para stigmurina. Os dados de adequabilidade do sistema foram
obtidos para as análises de repetibilidade e expressos em DPR%. Os valores de área,
N, HETP, K, Tf, Res, Pureza de pico e tR foram calculados através do software LC
Solution, Shimadzu®.
4.2.14.10 Estabilidade das soluções
Para avaliação da estabilidade preparou-se uma solução de trabalho na
concentração nominal de 100% (1,0 mg.mL-1) e procedeu-se sua injeção, três vezes
nos tempos 0, 12, 18 e 24h. A presença de picos adicionais àqueles presente no
tempo zero, bem como a diminuição das áreas dos picos foram avaliadas.
Estas análises foram realizadas no Laboratório de Controle de Qualidade de
Medicamentos (LCQMed) na Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN.
84
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO
5.1 CARACTERIZAÇÃO DA STIGMURINA
5.1.1 Caracterização dos grupos químicos e morfologia do pó de stigmurina
O espectro FTIR da stigmurina no estado sólido é apresentado na Figura 8(A).
O espectro. de peptídeos e proteínas, apresenta algumas regiões de vibração bem
características, são elas: Amida A, Amida I, Amida II e Amida III. Sendo a região da
Amida I a mais sensível às alterações conformacionais estando sua frequência
correlacionada com a estrutura secundária e sendo, portanto, bastante utilizada na
caracterização de estrutura secundária de peptídeos e proteínas (BAL RAM, 1999;
SPEED; KING; WANG, 1997).
Figura 8 - Espectro FTIR (A) e imagem MEV (B) para stigmurina em estado sólido
Fonte: Autoria própria, 2019.
Duas características são proeminentes no espectro da stigmurina: uma banda
larga de absorção em 3290 cm-1, conhecida como Amida A, e uma banda de absorção
em 1649 cm-1. A atribuição deste último é bem conhecida: a faixa a 1620-1700 cm-1
refere-se à amida I (principalmente modo de estiramento do grupo C=O de carbonila);
a banda a 1539 cm-1 (amida II) também está bem estabelecida: refere-se ao modo de
deformação no plano do grupo NH. As bandas de modo deformacional dos grupos
amina de cadeia lateral carregada NH3+ também estão no intervalo em 1500 cm−1,
85
como por exemplo, para zwitterion de alanina no estado sólido (ROZENBERG et al.,
2003).
Evidências qualitativas extensivas correlacionam frequências de absorção de
amida características com a presença de α-hélices (1650 cm-1), folhas-β (1620 cm-1 e
1680 cm-1) e estruturas randômicas (1640-1650 cm-1) (SUSI; TIMASHEFF; STEVENS,
1967). No estado sólido os dados FTIR sugerem que stigmurina se estabilize entre α-
hélices e/ou estruturas randômicas visto não serem observadas vibrações
características para folhas-β.
A banda em 3068 cm-1 é atribuída a vibração dos grupos NH3+ da cadeia lateral.
A atribuição desta banda ao modo NH3+ também é suportada pela presença de uma
banda a 3000 - 3100 cm-1 em espectros de cristal de peptídeos simples e aminoácidos
(ROZENBERG et al., 2005), que formam zwitterions com o grupo NH3+ no estado
sólido. As bandas estreitas em 2964 cm-1, 2927 cm-1 e 2870 cm-1 são atribuídos aos
modos de estiramento CH2.
Adicionalmente a imagem MEV, Figura 8(B), de stigmurina pó apresenta
morfologia pouco definida e bastante heterogênea, com presença de estruturas
esféricas e bastões, organizados em forma de teia, e partículas desagregadas de
superfície lisa.
5.1.2 Perfil de impurezas de síntese para stigmurina
Inicialmente foram caracterizadas as impurezas na amostra de stigmurina
estudada, uma vez que esta foi sintetizada com 98% de pureza. Em virtude de
proteínas e peptídeos normalmente sofrerem protonação as análises LC-TOF/MS
foram realizadas no modo positivo.
A Figura 9 apresenta o cromatograma de íons totais (TIC) e os espectros de
massas para cada uma das substâncias observadas na análise do padrão de
stigmurina. Foram detectados três picos com tempos de retenção (tR) de 17,35 min;
17,66 min e 17,84 min (Figura 9A).
86
Figura 9 - Cromatograma de íons totais (TIC) para stigmurina evidenciando impurezas (A) e
espectro de massas para tR = 17,84 (B), tR = 17,66 (C) e tR = 17,35 (D)
(A)
(B)
(C)
(D)
Fonte: Autoria própria, 2019.
[M+H]+
[M+2H]2+
[M+3H]3+
[M+H]+[M+3H]+
[M+3H]3+
[M+2H]2+
[M+H]+
[M+H]+
[M+Na]+
[M+K]+
[M+Na]+ [M+2H]2+
[M+Na]+
[M+H]+
[M+2H]2+ [M+3H]3+
87
Em 17,84 min (Figura 9B) encontra-se os íons com m/z de 599,3566, 898,5328
e 1.796,0556 que correspondem à stigmurina triplamente protonada, duplamente
protonada e protonada, respectivamente. Também encontramos uma m/z de
2.394,4007 correspondente a ligação entre a forma protonada e triplamente protonada
da stigmurina. Este peptídeo apresenta massa molecular monoisotópica de
1.795,1713 Da, erro 0,62 ppm (C89H139N19O20).
Em 17,66 min (Figura 9C) encontra-se os íons com m/z de 855,0142;
1.709,0192; 1.731,0005 e 1.745,9704, que correspondem à impureza 1 duplamente
protonada, protonada, formando aduto com íon sódio e com íon potássio,
respectivamente, o que indicaria que a massa molecular média da impureza 1 seria
1.708,011375 Da (C84H129N17O19), erro 0,49 ppm. A diferença entre os valores de m/z
para as formas protonada da stigmurina e impureza 1 de aproximadamente 87 Da
sugere deleção de um resíduo de serina. Na estrutura linear da stigmurina o resíduo
de serina está em 3 diferentes posições e, portanto, a impureza 1 pode ser uma das
seguintes sequências: FFLIPSLVGGLISAFK-NH2; FFSLIPLVGGLISAFK-NH2 ou
FFSLIPSLVGGLIAFK-NH2.
Ainda em 17,66 min também se encontra íons com m/z de 599,6836;
899,0228; 1.797,0339 e 1.819,0131, que correspondem à impureza 2 triplamente
protonada, duplamente protonada, protonada e formando aduto com sódio,
respectivamente, o que indicaria que a massa molecular da impureza 2 seria
1.796,0260 (C89H138N18O21), erro 0,31 ppm. A proximidade de massa molecular com
a stigmurina divergindo em 0,98402 sugere que a impureza 2 trata-se da forma não-
amidada da stigmurina (Figura 10), também presente na amostra e co-eluindo com a
impureza 1.
88
Figura 10 - Proposta de estrutura química para impurezas 2
Impureza de síntese 2: FFSLIPSLVGGLISAFK - m/z: 1797,0339 +H
OHNH NH NH NH N NH NH NH NH NH NH NH NH NH NHNH2
O O O
OH
O
CH3
CH3
O
CH3
CH3
O O
OH
O
CH3
CH3
O
CH3CH3
O O O
CH3
CH3
O
CH3
CH3
O
OH
O
CH3
O
NH
O
NH2
Fonte: Autoria própria, 2019.
Em 17,35 min (Figura 9D) encontra-se íons com m/z de 561,6624; 841,9868;
1.682,9652 e1.703,9438, que correspondem à impureza 3 triplamente protonada,
duplamente protonada, protonada e formando aduto com íon sódio, respectivamente,
o que indicaria que a massa molecular média da impureza 3 seria 1.682,0136 Da
(C85H129N17O20), erro 4 ppm. A diferença entre os valores de m/z para as formas
protonada da stigmurina e impureza 3 de aproximadamente 113 Da sugere deleção
de um resíduo de isoleucina ou leucina, que são isômeros. Na estrutura linear da
stigmurina os resíduos de leucina se encontram em 3 diferentes posições enquanto
os de isoleucina se encontram em 2 diferentes posições.
5.1.3 Caracterização térmica
O entendimento das alterações pós aquecimento que a stigmurina sofre e que
podem levar a alterações de suas propriedades é crucial para o desenvolvimento de
suas aplicações. Inicialmente foram obtidas curvas DSC e TG em atmosfera de N2
para stigmurina, conforme apresentado na Figura 11.
89
Figura 11 – Sobreposição de curvas DSC e TG para stigmurina em atmosfera de N2 (A) e imagens DSC-fotovisual a 30°C, 100°C, 140°C, 160°C, 190°C, 230°C e 360°C (B). (A)
(B)
Fonte: Autoria própria, 2019.
A stigmurina apresentou quatro etapas de perda de massa, na curva TG, na
faixa de 30°C – 900°C e apenas eventos endotérmicos, totalizando quatro eventos,
na faixa de 30°C – 450°C, relacionados as etapas de perda de massa. As duas perdas
de massa que se iniciam à temperatura ambiente e finalizam a 170°C estão
possivelmente relacionadas com perda de água e solventes ainda presentes na
amostra. Estas etapas de perda de massa envolvem a presença de dois eventos
endotérmicos. O primeiro evento (Tonset = 25°C e ∆Hevap = 40,5 J.g-1) e o segundo
evento (Tonset = 135°C) pouco definido envolvendo possível desvio da linha de base.
As etapas de perda de massa superiores a 180°C trata-se de decomposição
propriamente dita da stigmurina (Ti = 184°C; 1° etapa e, Ti = 257°C; 2° etapa) e
envolve processos endotérmicos (Figura 11A).
90
As imagens DSC-Fotovisual (Figura 11B) não evidenciam alteração visual da
amostra até 160°C, no entanto na imagem a 190°C pode-se observar presença de
amostra em estado líquido possivelmente devido a formação de produtos de
decomposição. A 232°C observa-se que a coloração da amostra se encontra
levemente amarelada e, a 360°C evidencia-se escurecimento da amostra e formação
de material com contornos alaranjado.
Uma vez evidenciado alteração da linha de base durante a curva DSC,
sabendo-se que a presença de solventes de síntese poderiam estar interferindo na
visualização deste evento e, sendo determinada a temperatura de início da
decomposição procedeu-se obtenção de curvas DSC em ciclos no modo de
aquecimento-resfriamento-aquecimento entre temperatura ambiente e 180°C
(primeiro e segundo ciclo) e -50 a 180°C (resfriamento), como apresentado na Figura
12.
Figura 12 – Curvas DSC para ciclo aquecimento-resfriamento em atmosfera de nitrogênio (A) e curva DRX para stigmurina (B)
Fonte: Autoria própria, 2019
Na Figura 12(A), o primeiro aquecimento da stigmurina (iniciando em
temperatura ambiente revelou um evento endotérmico relacionado a perda de água a
Tonset = 34,08 °C e ∆Hevap = 55,93 J.g-1 e um segundo evento endotérmico não bem
definido a Tonset = 137 °C. Após resfriamento da amostra um segundo aquecimento foi
realizado onde se observou um desvio da linha de base com Tg = 149°C (ponto médio)
típico de material amorfo confirmando que a amostra não cristaliza na etapa de
91
resfriamento. De fato, nenhum pico de recristalização foi encontrado durante o
resfriamento, conforme Figura 12(A).
Finalmente padrão de dados DRX foram usados para confirmar que a amostra
sendo analisada seria amorfa. Materiais amorfos não apresentam uma estrutura
ordenada como materiais cristalinos e, portanto, o padrão de difração resultante não
possui série típica de picos associados a materiais cristalinos. O padrão de difração
de materiais amorfos associados com materiais apresenta um amplo "halo" com
poucos ou um único máximo, conforme visualizado na Figura 12(B) para stigmurina
obtida por síntese química na faixa de 2 θ – 40 θ. Embora este halo padrão não
identifique unicamente o material em estudo ele confirma que o material é amorfo,
sendo fundamental a sua caracterização. Três sinais fortes característicos de fase
silício-carbono estão presentes, após 40θ (44θ, 64θ e 77θ). Estes picos coincidem
com a fase carbeto de silício (SiC), conforme identificado por comparação com a carta
padrão #JPCDS 49-1623. Adicionalmente, uma análise FRX foi realizada e verificado
presença de átomo de Silício na amostra.
Após a etapa final de síntese química dos peptídeos, seja em solução ou em
fase sólida, o peptídeo bruto deve ser purificado por técnicas cromatográficas, como:
troca iônica, exclusão, afinidade e / ou reversa (MACHADO et al., 2004; MANT et al.,
2018; XU et al., 2018). A cromatografia líquida de fase reversa é baseada na adsorção
dos peptídeos sintéticos a uma matriz estacionária hidrofóbica (derivada de sílica pela
introdução de cadeias alquílicas tais como n-butil (C4), n-octil (C8), n-octadecil (C18),
fenil, ciclo-hexil e outros) (FIELD et al., 2019). Portanto, é possível detectar o carbeto
de silício (SiC), oriundo de etapa de síntese ou purificação, juntamente com o padrão
de Stigmurina em análises de DRX acima de 40θ.
A presença de uma transição vítrea evidencia o fato do peptídeo stigmurina
apresentar região amorfa, com uma falta de ordem, semelhante ao da proteína
elastina (SAMOUILLAN et al., 2002). A determinação da temperatura de transição
vítrea é importante para o desenvolvimento da formulação de stigmurina no futuro,
pois, em geral, a estabilidade de longo prazo de uma formulação contendo
proteínas/peptídeos requer que a temperatura de armazenamento esteja bem abaixo
da temperatura de transição vítrea, além da possibilidade do uso da temperatura de
transição vítrea na realização de estudos de compatibilidade fármaco-excipiente (LU
et al., 2007). Stigmurina pode ser, portanto, considerado um peptídeo com alto valor
de temperatura de transição vítrea (Tg > 100) (FABIO et al., 2015).
92
5.2 CARACTERIZAÇÃO DOS VOLÁTEIS LIBERADOS PELA STIGMURINA
DURANTE DECOMPOSIÇÃO EM ATMOSFERA DE NITROGÊNIO E AR SINTÉTICO
5.2.1 Análises TG-FTIR
A Figura 13 (A) apresenta a perda de massa (TG), associada a curva derivada
DTG e perfil de absorbância total no infravermelho (Curva Gram-Schmidt) da
stigmurina como uma função da temperatura para atmosfera de N2.
Em atmosfera de nitrogênio, Figura 13(A), a curva TG apresenta 4 etapas
distintas de perda de massa. A primeira etapa ocorre da temperatura ambiente a cerca
de 93°C com pico de baixa intensidade e pequena perda de massa de 2,8%. A
segunda etapa ocorre entre 93°C – 184°C com perda de massa de 4,1%. A terceira
etapa ocorre entre 184°C – 254°C com perda de massa de 12%. A quarta etapa ocorre
entre 254°C – 497°C com perda de massa de 70,3%. Depois desta stigmurina
mantém-se perdendo massa lentamente de maneira constante, com eliminação de
material carbonáceo, ao final de 900°C a perda de massa é de 99,1%, com 0,9% de
resíduo.
A perda de massa de vários α-aminoácidos alifáticos (metionina, treonina, e
alanina) ocorre praticamente em uma única etapa com quase 100% de perda de
massa (RODANTE; MARROSU, 1990; RODANTE; MARROSU; CATALANI, 1992),
para leucina a perda de massa está relacionada a sublimação do aminoácido que
posteriormente decompõem-se no estado gasoso (LI et al., 2006), a glicina é um α-
aminoácido que apresenta múltiplos passos de decomposição (LI et al., 2007), para
aminoácidos aromáticos tais como tirosina e fenilalanina essa perda de massa ocorre
em duas etapas (JIE; YUWEN; JINGYAN, 2008). Devido à complexidade da estrutura
de peptídeos e a presença de aminoácidos aromáticos (no caso a fenilalanina) a
decomposição em múltiplos passos foi observada para stigmurina.
93
Figura 13 – Curvas TG, DTG e Gram-Schmidt para stigmurina em atmosfera de N2 (A) e ar sintético (B)
(A)
(B)
Fonte: Autoria própria, 2019
94
A comparação da curva Gram-Schmidt com a curva DTG indica que a
temperatura dos picos de absorbância no IR corroboram com aquelas dos picos de
DTG apenas para a terceira etapa de perda de massa. A curva Gram-Schmidt
apresenta 5 picos a 212 °C, 229 °C, 241 °C, 250 °C e 357°C, e a curva DTG apresenta
3 picos a 132,7 °C, 230,2 °C e 310,1 °C. A terceira etapa de perda de massa na curva
DTG envolve três picos máximos da curva Gram-Schmidt. Provavelmente indicando
três perfis de voláteis liberados durante esta etapa.
Em atmosfera de ar sintético, Figura 13(B), a curva DTG mostra 5 etapas de
perda de massa. A primeira etapa ocorre entre a temperatura ambiente a 83°C com
pico amplo de baixa intensidade e pequena perda de massa de 1,8%. A segunda
etapa ocorre entre 83°C – 180°C com perda de massa de 4,2%. A terceira etapa
ocorre entre 180°C – 254°C com perda de massa de 11,2%. A quarta etapa ocorre na
faixa de 254°C - 467°C com perda de massa de 60,8%. Em temperaturas elevadas,
acima de 467°C, a quinta etapa de perda de massa ocorre (467°C – 900°C) com perda
de massa contínua de 20,3% e, na curva Gram-Schmidt, um pico adicional é
observado, sugerindo que produtos gasosos continuam a ser liberados devido a
decomposição e oxidação de resíduos. Ao final temos uma massa residual de 1,6%.
Apenas os valores de temperatura de pico para a terceira etapa de perda de
massa entre a curva Gram-Schmidt (225°C) e curva DTG (229,6°C) apresentaram
similaridade quando comparamos a decomposição da stigmurina em N2 e ar sintético.
Em ar sintético, a curva Gram-Schmidt apresenta picos as temperaturas de
215°C, 225°C, 247°C, 340°C e 597°C, enquanto a curva DTG apresenta apenas três
picos referentes a perda de massa as temperaturas de 45°C, 162°C, 227°C, 311°C e
585°C. Provavelmente, independente da atmosfera, devido à pequena quantidade de
voláteis liberados nos estágios iniciais de perda de massa, o sinal DTG não foi
observado na curva Gram-Schmidt. Sugerimos que a perda de massa observada na
primeira e segunda etapa, em ambas atmosferas, se deva à umidade e solventes
decorrentes do processo de síntese em quantidade pouco significativa para curva
Gram-Schmidt. Além disso, na terceira etapa de perda de massa, a temperatura de
pico na Gram-Schimdt envolve um pico principal e picos secundários que sugerem
diferentes perfis de voláteis liberados na mesma etapa de decomposição.
O comportamento térmico de aminoácidos tem sido estudado e suposições
acerca dos gases liberados durante a decomposição foram feitas (RODANTE;
MARROSU; CATALANI, 1990; RODANTE; MARROSU, 1992; RODANTE; 1992). Em
95
se tratando de estudos TG-FTIR, existem dados para glicina, fenilalanina e tirosina
para os quais o mecanismo de degradação foi elucidado, bem como para alguns
dipeptídeos da glicina (JIE; YUWEN; JINGYAN, 2008; LI et al., 2007). Existem muitos
aminoácidos cujos mecanismos de decomposição ainda não foram estudados e isto
dificulta a compreensão do mecanismo de decomposição para os peptídeos e
proteínas que os apresentam. Logo, como o número de resíduos de aminoácidos em
peptídeos e proteínas variam, a complexidade das reações que estão ocorrendo
durante o processo de decomposição aumenta, tornando a determinação exata do
mecanismo de decomposição pouco provável. Apesar disso é possível encontrar
estudos sobre decomposição térmica de peptídeos e proteínas (CUCOS;
BUDRUGEAC, 2014b; FONTANARI et al., 2012; TUDORACHI; CHIRIAC, 2011), mas
a rota de degradação não é determinada.
O peptídeo deve adquirir instabilidade para que qualquer reação de
decomposição ocorra. Quando a estabilidade de homopeptídeos de glicina contendo
até 5 resíduos deste aminoácido foi avaliada, constatou-se que o aumento da cadeia
peptídica estava relacionado com o aumento da estabilidade térmica (SMITH; ALI;
SOLDATOV, 2014), sendo, portanto, peptídeos do aminoácido em questão menos
estáveis que seus di-, tri- ou tetra- peptídeos correspondentes.
A Figura 14 apresenta o gráfico de superfície 3D para os gases liberados em
ambas as atmosferas produzidos a diferentes temperaturas. Os três eixos
representam o número de onda, unidade de absorbância e temperatura do processo,
respectivamente. A partir destes foram coletados espectros FTIR com base nas
temperaturas das curvas Gram-Schmidt e DTG nas temperaturas de 45 °C, 132 °C,
230 °C, 318 °C e 632°C, para atmosfera de N2, como apresentado na Figura 14(C) e
ar sintético 14(D).
96
Figura 14 – Gráfico de superfície 3D para espectro FTIR dos gases liberados produzidos pela pirólise da stigmurina: em atmosfera de N2 (A) e ar sintético (B), e os respectivos espectros extraídos em (C) e (D)
Fonte: Autoria própria, 2019.
Para ambas as atmosferas, de 50°C a 135°C algumas bandas de absorção
entre 1396 - 1799 cm-1 e 3566 – 3925 cm-1 são registradas em decorrência de
frequências de vibração-rotação da água na fase de vapor que estava adsorvida. A
presença de água em temperaturas superiores pode ser produzida por um caso
especial de dimerização por ciclização externa na reação de formação de
dicetopiperazinas, que rende 1 mol H2O/mol AA e envolve a junção de N- e C-terminal
em uma reação de desidratação, bem como também pode ser considerada a
existência de ciclização interna, entre a extremidade final da cadeia lateral que se
97
conecta à extremidade C-terminal do peptídeo. Explicando assim, portanto a formação
contínua de água para estas condições (SHARMA et al., 2004; WEISS et al., 2018).
O gás carbônico está presente durante todo processo de perda de massa
apresentando uma banda de reduzida intensidade a 669 cm-1 e duas bandas agudas
de alta intensidade a 2353 - 2359 cm-1 e 2373 cm-1. É descrito que o dióxido de
carbono pode estar presente na linha de transferência e, portanto, sua detecção
(CAVALHEIRO; PINTO; FERREIRA, 2017). Entretanto sua alta detecção também
indica liberação durante o processo de pirólise, como observado desde 212°C e
215°C, para ambas as atmosferas, desde a terceira etapa de perda de massa (Figura
14C e Figura 14D). A razão do alto valor de absorbância, nestas regiões sugere que
reações conhecidas como descarboxilação (formação de CO2) estão envolvidas na
etapa principal de decomposição. A intensa formação de gás carbônico a 597°C
evidencia a oxidação de resíduo carbonáceo em atmosfera de ar sintético.
Uma forte banda a 1151cm-1, está presente desde o início do terceiro evento,
a 212°C (atmosfera de nitrogênio) e 215°C (ar sintético), sendo atribuídas a vibrações
de deformação axial simétricas para grupo álcool (C-OH) indicando formação de
substâncias contendo estes grupos.
Uma vibração fraca atribuída a grupos metileno (C-H) foi detectada a 1376
cm-1. Metano também foi formado no terceiro estágio pela presença de banda a
3034cm-1, provavelmente ele pode ser formado a partir de reações de condensação
envolvendo grupos –CH3 e –CH2–.
Amônia também é detectada na terceira etapa de perda de massa em ambas
as atmosferas, apresentando bandas a 3334 cm-1, 965 cm-1 e 930 cm-1. A formação
de amônia pode ser explicada por reações de desaminação envolvendo grupos –NH2
livres de resíduo de lisina N-terminal ou grupos –NH–.
Vibrações decorrentes de espécies aromáticas derivadas de benzeno
monosubstituídos foram detectadas a 755 cm-1 e 702 cm-1 e as vibrações
características de seu esqueleto aromático na faixa de 1603 a 1408 cm-1 (Car=Car),
provavelmente formados a partir da perda de cadeias laterais dos resíduos de
fenilalanina ou decorrentes de processos de ciclização molecular.
Os principais produtos de decomposição detectados em ambas as atmosferas
foram gás carbônico, água, metano, amônia, substâncias contendo grupos éter,
substâncias aromáticas, e substâncias contendo grupos carbonila, em ambas as
atmosferas. Em ambas as atmosferas o perfil de voláteis liberados durante a
98
decomposição é semelhante até quarta etapa de perda de massa quando monóxido
de carbono é liberado na atmosfera de ar sintético.
Estudos de termodinâmica e cinética dos processos de decomposição para α-
aminoácidos e alguns de seus dipeptídeos no estado sólido, mostram que para o
dipeptídeo serina-alanina e serina-glicina, o primeiro estágio de decomposição implica
na perda da cadeia lateral CH2-OH. Adicionalmente, a mesma situação ocorreu para
o dipeptídeo valina-serina, indicando desestabilização da serina pela valina e
tendência para perda da cadeia lateral da serina (RODANTE, 1992). Também é
relatado que a presença da cadeia lateral contendo grupo fenil para fenilalanina a
torna menos estável que a leucina, sendo desfavorável a desaminação, a
descarboxilação e a decomposição deste aminoácido, cuja degradação inicia-se com
a perda da cadeia lateral (RODANTE; MARROSU, 1990).
Stigmurina apresenta em sua estrutura resíduos de aminoácido fenilalanina,
leucina, serina, entre outros. Baseados nos resultados do perfil de gases liberados
durante a decomposição térmica deste peptídeo, propomos que o passo inicial de
decomposição envolve a perda das cadeias laterais de resíduos de fenilalanina e
serina. A presença de dois resíduos de fenilalanina na extremidade N-terminal do
peptídeo e uma serina vizinha aos dois, durante o aquecimento, leva a ruptura das
cadeias laterais ligadas aos resíduos de aminoácidos com formação de compostos
aromáticos, tais como tolueno e etilbenzeno, metano, e espécies contendo grupos
éter. Durante este processo rearranjo molecular e condensação intramolecular levam
a formação de dicetopiperazinas e liberação de água além de descarboxilação com
liberação de CO2.
Para as próximas etapas de decomposição a identificação dos voláteis foi
dificultada devido a sobreposição e deformação das bandas de vibração e, em virtude
da existência de reações rápidas de degradação onde espécies produzidas são
rapidamente convertidas em produtos gasosos de baixo peso molecular.
Na quarta etapa de perda de massa um grande volume de gases é liberado a
357°C, em atmosfera de N2. O perfil muda completamente da etapa anterior e várias
substâncias gasosas são formadas. Sugere-se que uma das principais reações de
pirólise para oligopeptídeos, polipeptídeos e proteínas é a formação de DKP. DKPs
são dipeptídeos cíclicos formados a partir de resíduos de aminoácidos de matéria
orgânica contendo aminoácidos, peptídeos ou proteínas durante a pirólise. Eles são
voláteis e permanecem no cadinho aquecido até que seja alcançado 400°C. A pirólise
99
de DKP tem sugerido produzir iminas seguidas da decomposição a cianeto e gás
hidrogênio, mas também podem reagir com aminas primárias formando amônia e,
amidas podem produzir iminas pela perda de monóxido de carbono (FABBRI et al.,
2012; HANSSON et al., 2003).
Estas premissas podem explicar o pico agudo a 1716 cm-1 e 1683 cm-1, com
uma banda de absorção de alta intensidade para substâncias contendo grupos
carbonílicos (C=O, de cetonas) e significantes bandas para amidas (C=O, de amidas),
respectivamente. Vibrações de alongamento de grupos CH2- para substâncias
alifáticas (2951 - 2935 cm-1) e CH- (2869 cm-1) foram identificadas além de e vibrações
de ligações CH do anel benzeno a 3058 – 3029 cm-1.
O espectro para atmosfera de nitrogênio a 357°C assemelha-se com aquela
em ar sintético a 340°C. Contudo em ar sintético foi detectado vibrações
características de gás carbônico indicando oxidação.
Em ar sintético no último estágio, a 597°C, a oxidação foi predominante do
resíduo carbonáceo com formação de CO (2104 cm-1 e 2182 cm-1) e CO2 (2356 cm-1
e 2323 cm-1; 669 cm-1). Espécies contendo grupos carbonílicos (C=O) foram
detectados a (1720 cm-1),bem como amônia (970 – 923 cm-1), espécies aromáticas a
1561 - 146 0cm-1 (Car=Car) e, 718 cm-1 e 689 cm-1.
A Figura 15 apresenta a evolução dos gases identificados (CH4, CO2, NHCO,
CO, C=O de amida, C-O-C, NH3, C=O de cetona) com o aumento da temperatura
durante perda de massa para stigmurina em atmosfera de nitrogênio e ar sintético.
Figura 15 – Espectros de absorbância FTIR em função temperatura dos voláteis liberados durante decomposição térmica da stigmurina em N2, (A) e ar sintético (B)
Fonte: Autoria própria, 2019.
100
Ácido ciânico (HCN), NH3 e ácido isociânico (HNCO) foram liberados em
ambas as atmosferas a partir da segunda etapa de decomposição (Figura 12). Estes
são os principais gases de pirólise relacionados a proteínas em altas temperaturas,
formados principalmente pelo craqueamento de amidas cíclicas, e seus rendimentos
dependem da temperatura e da composição de aminoácidos da proteína (HANSSON
et al., 2003), mas em nosso caso não foram os principais gases de pirólise.
Na terceira etapa de perda de massa, relacionada à decomposição, gás
carbônico e substâncias contendo grupos éter foram os principais liberados. A taxa
máxima de liberação destes gases é alcançada a 229°C e 225°C para atmosfera de
ar sintético e nitrogênio, respectivamente, e contribuem para aparência do primeiro
pico da curva Gram-Schmidt. A formação de substâncias contendo grupos amidas e
cetonas estão presentes na quarta etapa de perda de massa, relacionada a segunda
etapa de decomposição com temperatura de pico a 357°C e 340°C, para atmosfera
de nitrogênio e ar sintético, respectivamente, e contribuem para aparência do segundo
pico da curva Gram-Schmidt.
5.2.2 Pirólise rápida catalítica
A Figura 16 apresenta o pirograma da Stigmurina indicando as principais
substâncias identificadas. Claramente apenas uma pequena fração do espectro de
massas associado com os picos cromatográficos pode ser determinada: o pirograma
obtido é extremamente complexo, com grande número de picos parcialmente
resolvidos e de baixa intensidade.
O pirograma é dominado por substâncias aromáticas, algumas das quais
contendo nitrogênio (N) e oxigênio (O): etil benzeno, 2-metilpropilbenzeno, tolueno,
estireno, piperazina, Bibenzil, benzeno propanonitrila, propil benzeno, 2,3-
dihidrofurano, 4-metil pentanitrila, além de álcoois e éteres, tais como butanol e 1-
propeno-3-(1,1-dimetiletoxi) e outras substâncias aromáticas contendo N, cuja
estrutura molecular não pode ser identificada, mas que apresenta uma porção do
espectro de massas em comum com DKP.
101
Figura 16 – Pirograma da Stigmurina
Fonte: Autoria própria, 2019.
A presença de grande número de substâncias aromáticas sugere que a
degradação ocorre a partir de resíduos de fenilalanina cujos radicais contém anéis
benzeno, possivelmente a partir da extremidade N-terminal, em virtude da existência
de dois resíduos de fenilalanina consecutivos. A degradação térmica da fenilalanina e
tirosina foram estudadas por TG-FTIR, sendo identificados como produtos da
decomposição da fenilalanina o tolueno e a benzeno etamina. Esta última está
relacionada com a primeira etapa de decomposição da fenilalanina envolvendo a
descarboxilação direta do aminoácido, enquanto que a formação do tolueno estaria
relacionada a uma segunda etapa de decomposição envolvendo a ruptura da cadeia
carbônica lateral (JIE; YUWEN; JINGYAN, 2008). Assim sendo na pirólise da
stigmurina a presença de tolueno e seus derivados indica que a ruptura da cadeia
lateral é predominante frente a descarboxilação.
A presença de nitrilas tais como a 4-metil pentanitrila, benzeno propanonitrila
e 3-fenil,2-propanonitrila foram possivelmente formadas como um resultado da
decomposição das correspondentes aminas sofrendo reações de desidrogenação
102
sendo já demonstrado para os resíduos de aminoácidos de leucina, isoleucina e em
menor quantidade para fenilalamina (CHIAVARI; GALLETTI, 1992). Benzeno,
estireno, tolueno, bifenil, 2-propanonitrila e derivado do furano já foram identificados
na pirólise de diferentes tecidos de mamíferos (WEBER; SPLEISS, 1997).
A pirólise da serina tem sido já investigada, sendo os derivados da pirazina,
pirrol e aminas os principais produtos de decomposição identificados: pirazina, metil
pirazina, etil pirazina, 2-metil-6-etil-pirazina, 2,6-dietil-pirazina, 2,6-dietil-3-metil-
pirazina, pirrol, 2-metil-pirrol e 3-metil-4-etil-pirrol, etilamina, amônia e etanolamina
(KATO et al., 1970). Para glicina seus produtos de decomposição térmica revelados
foram 1,3-diazetina-2,4-diona, 1,2-diazetina-3,4-diona e 2-aziridinona (WEISS et al.,
2018). A Alanina foi estudada para seus produtos menos voláteis sendo identificados
o ácido propiônico, DKP da alanina e 3-etil-5metilhidantoina (BASIUK; NAVARRO-
GONZALEZ; BASIUK, 1998).
Além disso, a detecção de butanol e 1-propeno, 3-(1,1-dimetiletoxi), que nos
dados de MS apresentaram baixo sinal, mas nos resultados de TG-FTIR
apresentaram absorbância proeminente, possivelmente foram formados a partir das
reações entre cadeias laterais dos resíduos de serina e lisina, que são adjacentes aos
resíduos consecutivos de fenilalanina na extremidade N-terminal da stigmurina.
Quando foi estudada a formação de heterocíclicos de baixo peso molecular e
compostos aromáticos policíclicos (PACs) na pirólise de prolina a 300°C, a mesma foi
completamente convertida em produtos voláteis e foi detectada formação após
descarboxilação de pirrolidina, desidrogenação com formação em pirrolina e
finalmente pirrol (SHARMA et al., 2003). A estrutura N-cíclica da prolina produziu
consideravelmente mais resíduos sólidos contendo nitrogênio do que a leucina,
enquanto a estrutura amino simples da leucina produziu mais amônia do que a prolina
(LIU et al., 2016). No pirograma da stigmurina, identificamos três produtos voláteis
possivelmente originados da decomposição do resíduo de prolina e não mencionados
em estudos anteriores: 1-pirrolidinilacetonitrila (C6H10N2, ácido 5-isoxazolcarboxílico
(C7H11NO3) e L-prolina, 1-metil, 5-oxo, éster metílico (C7H11NO3).
A pirólise de leucina e valina foi investigada para produtos menos voláteis e
seus produtos de decomposição foram: ácido isobutírico, ácido 3-metilbutírico, 3,5-
diisopropilpiridina, várias amidas e DKP leucina para o aminoácido leucina e, ácido
isobutírico, N-isobutilformamida, 2-metilpentano-3-ona e amidinas bicíclicas para
valina (BASIUK, 1998). No entanto, apesar da existência destes resíduos de
103
aminoácidos na molécula de stigmurina, nenhum dos seus produtos de pirólise
descritos foi detectado. Possivelmente, a presença de substâncias alifáticas (isômeros
de metil noneno) identificadas foi originada da presença de resíduos não polares,
como valina, leucina e isoleucina. Entretanto, quando avaliada a pirólise da poli-L-
valina, esta apresentou um perfil volátil diferente do resíduo de aminoácido, com
detecção de isocianato de etila, benzenonitrila, pentanonitrila, 4-metil piridina,
isômeros de dimetil-benzeno, ácido 3,5-heptanóico, isômeros de dimetil piridina,
pentanamida, DKP valina, N-etil-3-metilbenzenamina e 3-isobutil-5-isopropil-
hidantoína (BASIUK; DOUDA, 2001), alguns dos quais foram detectados para a
pirólise de stigmurina.
Como a pirólise foi realizada a 400°C e, como as dicetopiperazinas são
conhecidas por serem produtos menos voláteis formados a partir de 400°C, elas foram
detectadas no pirograma em pequenas quantidades e seu aminoácido derivado não
foi identificado. Portanto, conclui-se que, a partir do conhecimento sobre os voláteis
produzidos para os aminoácidos que compõem um peptídeo e proteína, bem como
para alguns dipeptídeos, a natureza dos voláteis depende não apenas da temperatura
em que a pirólise é realizada, mas também do conjunto de aminoácidos vizinhos da
estrutura peptídica que torna único o perfil e mecanismo de decomposição para cada
peptídeo ou proteína.
5.3 CARACTERIZAÇÃO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS DE DECOMPOSIÇÃO
TÉRMICA DA STIGMURINA
Durante caracterização térmica do peptídeo stigmurina observou-se a
existência de eventos relacionados a perda de água e solventes orgânicos, transição
vítrea e decomposição da stigmurina.
Em etapas anteriores deste trabalho de tese caracterizamos a stigmurina e os
voláteis liberados no processo de decomposição através das técnicas termoanalíticas,
nesta etapa os esforços são voltados para a identificação dos produtos de
decomposição (resíduo sólido) da stigmurina visando determinar os pontos de
instabilidade térmica do peptídeo, bem como avaliar se alguma alteração física
poderia promover alteração da atividade biológica do peptídeo.
104
Para tanto amostras aquecidas de stigmurina da temperatura ambiente até
diferentes temperaturas selecionadas (50°C, 94°C, 105°C, 140°C, 160°C, 190°C e
230°C) foram quantificadas por HPLC para o teor residual de stigmurina, bem como
comparada com stigmurina não aquecida utilizando diferentes técnicas: FTIR-ATR,
MEV, LC-MS/TOF, e atividade antitripanossoma frente a forma epimastigota do
Tripanossoma cruzi Y.
5.3.1 Quantificação das amostras
As amostras aquecidas até a temperatura de eventos envolvendo perda de
água (50, 94, 105 °C), antes e depois do evento de transição vítrea (140 e 160 °C), no
início de degradação térmica (190 °C) e no final do primeiro evento de degradação
térmica (230 °C) foram quantificadas quanto ao teor residual de stigmurina (Figura 17)
utilizando método desenvolvido em tópico posterior desta tese com extensão da faixa
de trabalho para 0,1 mg - 1,0 mg.mL-1.
O cromatograma, obtido para amostras de degradação por calor seco, padrão
stigmurina, é apresentado na Figura 17(A), indicando a seletividade do método CLAE.
O método para quantificação apresentou R2 de 0,9998, com dispersão aleatória dos
dados e uma relação linear Figura 17(B). A injeção de uma amostra de 1,0 mg.mL-1
de stigmurina não resultou em picos na solução em branco injetada posteriormente,
indicando que não havia transferência. A quantificação do conteúdo residual de
stigmurina é mostrada na Figura 17(C). Após o aquecimento, as amostras mostram
conteúdo semelhante de stigmurina até 160 °C. Em 190 °C, a temperatura relacionada
ao início da decomposição apresentou aproximadamente 60% de stigmurina e, a 230
°C o peptídeo não foi detectado. Stigmurina é estável em aquecimento dinâmico de
até 160 °C, e os eventos de perda de água e transição vítrea não parecem alterar seu
conteúdo.
105
Figura 17 – Sobreposição de cromatogramas para stigmurina e amostras aquecidas (A), linearidade (B) e teor residual de stigmurina em função da temperatura de aquecimento (C)
(A) (B)
(C)
Fonte: Autoria própria, 2019.
5.3.2 Avaliação da Morfologia e espectros FTIR entre Stigmurina e amostras
aquecidas
É relatado que as estruturas secundárias da hélice α, da folha β ou da
estrutura randômica podem alterar-se conforme o pH da solução aquosa (SUSI;
TIMASHEFF; STEVENS, 1967). Alternativamente, essas transições podem ser
alcançadas por aquecimento (DAVIDSON; FASMAN, 1967; JACKSON; HARIS;
CHAPMAN, 1989), manipulando o nível de hidratação (WOLKERS; VAN KILSDONK;
106
HOEKSTRA, 1998) ou através do processo de liofilização (PRESTRELSKI et al.,
1993).
No intuito de verificar alterações vibracionais para stigmurina que pudessem
refletir em alterações de sua estrutura secundária, bem como estrutura primária, as
amostras que sofreram aquecimento foram analisadas inicialmente por FTIR, cuja
sobreposição dos espectros encontram-se na Figura 18. Estes espectros também
foram comparados com àquele para stigmurina não aquecida através do método
quantitativo de correlação de Pearson.
O método de correlação de Pearson vem sendo utilizado em estudos de
compatibilidade Fármaco-Excipiente e Fármaco-Fármaco para verificação de
alterações em espectros FTIR para misturas binárias, cujos valores são indicativos de
compatibilidade ou incompatibilidade entre os constituintes das misturas (PEREIRA et
al., 2016).
Entre as diferentes temperaturas de aquecimentos puderam ser identificadas
as regiões características das ligações peptídicas: amida A, amida I, amida II e amida
III. As vibrações em 3290 cm-1, 1649 cm-1 e 1539 cm-1 foram mantidas com a mesma
forma até 190°C. A partir de 190°C nota-se deslocamento na vibração para Amida I
que em temperaturas inferiores encontrou-se entre1649 ± 10 cm-1, alcançando 1631
cm-1 e 1633 cm-1, para amostras aquecidas até 190°C e 230°C respectivamente. A
amostra aquecida até 230°C não apresentou vibrações em 833 cm-1, 798 cm-1 e 719
cm-1, característicos de vibrações para anéis aromáticos, sugerindo perda de cadeias
laterais contendo estes grupos, possivelmente dos resíduos de fenilalanina da
estrutura da stigmurina, tendo em vista ser o aminoácido aromático presente no
peptídeo. Vibrações em 1178 cm-1, 1128 cm-1 e 1041 cm-1, relacionada com a
presença de grupos C-O em aminoácidos contendo grupos OH de álcoois também se
fizeram ausentes, evidenciando a perda das cadeias laterais dos aminoácidos e
decomposição da stigmurina.
107
Figura 18 - Sobreposição de espectros FTIR para stigmurina e amostras aquecidas a diferentes temperaturas
Fonte: Autoria própria, 2019.
Para o aquecimento da amostra a 50 ° C (r = 0,96), 94 ° C (r = 0,98), 105 ° C
(r = 0,95), 140 ° C (r = 0,96) e 160 ° C (r = 0,96) o valor de correlação de Pearson foi
acima de 0,95, indicando alta correlação. A partir do aquecimento da amostra a 190 °
C (r = 0,92), o valor de r começa a se afastar de 1 e a 230 ° C (r = 0,66) a correlação
é fraca, indicando alterações no padrão vibracional de grupos químicos presentes
amostra.
Quando quantificadas as amostras a 190°C e 230°C apresentaram teor
residual de stigmurina de 60% e 0%, respectivamente, indicando degradação da
stigmurina, mesmo que a 190°C não tenha sido identificado alterações no perfil
vibracional e, o valor de correlação de Pearson seja de 0,92 indicando degradação da
molécula e necessidade de alteração dos limites de correlação de Pearson quando se
deseja avaliar estabilidade química. Sugere-se que alta correlação seja considerada
108
numa faixa mais restrita de 1 a 0,95. Valores fora desta faixa já são considerados
indicativos de degradação da amostra conforme visualizado para stigmurina.
Em se tratando de imagens MEV, a Figura 19 apresenta imagens de
stigmurina não aquecida em três ampliações 1,0KX, 1,5KX e 5,0KX com as diferentes
amostras de stigmurina sob aquecimento. Stigmurina não apresenta morfologia bem
definida, apresentando estruturas arredondadas variando entre bastões e esferas
organizadas em teias, apresentando-se no estado amorfo. Quando comparada
stigmurina a temperatura ambiente com as amostras aquecidas a 50°C, 94°C e 105°C
observa-se que estas presentam morfologias equivalentes, indicando que a perda de
umidade não altera a estrutura morfológica da partícula. Com o aumento da
temperatura verifica-se agregação de partículas a 140°C, mas ainda há manutenção
da estrutura morfológica. Aglutinação é evidenciada a 160°C,com posterior formação
de canais, decomposição com formação de material sinterizado e partículas de
superfície rugosa entre 190°C a 230°C.
Figura 19 - Imagens MEV, em diferentes ampliações, para amostras de stigmurina a temperatura ambiente e aquecidas a diferentes temperaturas: 50°C, 94°C e105°C a 5,0KX, 140°C e 160°C a 1,5KX e, 190°C e 230°C a 1,0KX
Fonte: Autoria própria, 2019.
109
5.3.3 Identificação dos produtos sólidos de decomposição térmica para stigmurina
Uma vez caracterizadas as impurezas de síntese presentes na stigmurina,
procedeu-se ao estudo das amostras pós condições de aquecimento. A Figura 20
apresenta o TIC para stigmurina e amostras pós aquecimento nas temperaturas
estudadas.
Até a temperatura de 160°C não foram verificadas diferenças entre os
cromatogramas de íons totais entre stigmurina não aquecida e amostras aquecidas.
Qualquer sinal adicional encontrado também foi detectado na amostra branco.
Ao analisar o tempo de retenção da stigmurina na sobreposição dos TIC,
Figura 20, evidencia-se que após o aquecimento na temperatura de 230°C não há
mais o sinal cromatográfico referente ao peptídeo. Tendo em vista durante a etapa de
quantificação as amostras aquecidas as temperaturas de 190°C e 230°C
apresentarem redução do teor de stigmurina os espectros de massas nessas
temperaturas foram avaliados com o objetivo de investigar a presença de produtos de
decomposição.
Figura 20 – Sobreposição de cromatogramas de íons totais TIC para amostras de stigmurina aquecidas evidenciando tR
Fonte: Autoria própria, 2019.
110
A Figura 21 contém o cromatograma e espectro de massas para as
substâncias detectadas nas amostras que foram aquecidas a 190°C.
Figura 21 - Cromatograma de íons Totais (TIC) para amostra aquecida até 190°C evidenciando produtos identificados
Fonte: Autoria própria, 2019.
Foram detectados no TIC para amostra aquecida de stigmurina até 190°C
nove picos diferentes daquele para stigmurina (tR = 17,84 min) com tempos de
retenção (tR) de 14,53 min, 15,63 min, 17,29 min, 17,65, 18,03 min, 18,59 min, 18,82
min, 22,00 min e 22,98 min (Figura 21).
Em 14,53 min (Figura 22) encontra-se íons com m/z de 707,4447, 1413,8776,
1435,8602, 1451,8323 e 1571,8365, que correspondem a forma duplamente
protonada, protonada, formando aduto com sódio, aduto com potássio e aduto com
NaCF3CO2, respectivamente. Sua massa molecular monoisotópica obtida foi de
1412,8755 Da (C68H116N16O16), 3,07 ppm (erro), denominado produto de
decomposição 1 e, caracterizado como fragmento y14.
111
Figura 22 – Espectro MS a 14,53min na faixa de 600 – 1600 m/z
Fonte: Autoria própria, 2019.
Em 15,63 min (Figura 23) encontram-se íons com m/z de 750,9587,
1.500,9121 e 1.523,8970 que foram identificados como forma duplamente protonada,
protonada e formando aduto com sódio, respectivamente. Sua massa molecular
monoisotópica obtida foi de 1.499,9043 Da, erro de 2,2 ppm (C71H121N17O18),
denominado produto de decomposição 2 e, caracterizado como fragmento y15.
Figura 23 – Espectro MS a 15,63 min na faixa de 600 – 1600 m/z
Fonte: Autoria própria, 2019.
Em 17,29 min (Figura 24) encontram-se íons com m/z de 841,4859 e
1.682,9718, que correspondem as formas duplamente protonada e protonada,
respectivamente. Estes sinais foram previamente caracterizados na stigmurina como
impureza 3 e, que ainda está presente na amostra a 190°C.
112
Figura 24 – Espectro MS a 17,29 min na faixa de 800 – 1750 m/z
Fonte: Autoria própria, 2019.
Em 17,61 min (Figura 25) encontram-se íons com m/z de 855,01353 e
1.709,0192; 1.731,0005 e 1.745,9704, que correspondem à impureza 1 duplamente
protonada, protonada, formando aduto com íon sódio e com íon potássio,
respectivamente. Estes sinais foram previamente caracterizados na stigmurina como
impureza 1 e, que ainda está presente na amostra a 190°C.
Figura 25 – Espectro MS a 17,61 min na faixa de 840 – 1760 m/z
Fonte: Autoria própria, 2019.
Em 18,03 min (Figura 26) encontram-se íons com m/z de 890,0166 e
1.778,0184, que correspondem as formas duplamente protonada e protonada,
respectivamente. Sua massa molecular monoisotópica obtida foi de 1.777,0178 Da,
erro de 3,74 ppm (C89H136N18O20), denominado produto de decomposição 3 e,
caracterizado como fragmento y-H2O. Também evidenciamos perfil de ionização
característico para impureza 2 ainda presente a 190°C.
113
Figura 26 – Espectro MS a 18,03 min na faixa de 800 – 1800 m/z
Fonte: Autoria própria, 2019.
Em 18,59 min (Figura 27) encontram-se íons com m/z de 742,4472,
1.483,8867, 1.505,8641 e 1.521,9562, que correspondem as formas duplamente
protonada, protonada, formando aduto com sódio e potássio, respectivamente. Sua
massa molecular monoisotópica obtida foi de 1.482,8810 Da, erro de 1,08 ppm
(C71H118N16O18), denominado produto de decomposição 4 e, caracterizado como
fragmento y15-NH3.
Figura 27 – Espectro MS a 18,59 min na faixa de 700 – 1600 m/z
Fonte: Autoria própria, 2019.
Em 18,82 min (Figura 28) encontram-se íons com m/z de 798,9509 e
1.596,9011, que correspondem as formas duplamente protonada e protonada,
respectivamente. Sua massa molecular monoisotópica obtida foi de 1.595,8898 Da,
erro 2,48 ppm (C73H120F3N17O19),denominado produto de decomposição 6 e,
caracterizado como y15+F3CCO.
114
Figura 28 – Espectro MS a 18,82 min na faixa de 750 – 1650 m/z
Fonte: Autoria própria, 2019.
Em 22,00 min (Figura 29) encontra-se íons com m/z de 946,1126, 1.892,0326,
1.914,0147 e 1.929,9887, que correspondem as formas duplamente protonada,
protonada, formando aduto com sódio e potássio respectivamente. Sua massa
molecular monoisotópica obtida foi de 1.890,0266 Da, erro 2,78 ppm
(C91H138F3N19O21), denominado produto de decomposição 7 e, caracterizado como
y+F3CCO.
Figura 29 – Espectro MS a 22,0 min na faixa de 900 – 2000 m/z
Fonte: Autoria própria, 2019.
Em 22,98 min (Figura 30) encontram-se íons com m/z de 880,50935 e
1.760,0041, que correspondem as formas duplamente protonada e protonada,
respectivamente. Sua massa molecular monoisotópica obtida foi de 1.759,0073 Da,
erro de 5,93 ppm (C71H118N16O18), denominado produto de decomposição 5 e,
caracterizado como fragmento y-NH3-H2O.
115
Figura 30 – Espectro MS a 22,98 min na faixa de 800 – 1800 m/z
Fonte: Autoria própria, 2019.
A Tabela 11 sumariza todos os produtos identificados a 190°C, com valores
encontrados de massa, erro, fórmula molecular e atribuições.
Tabela 11 – Produtos de decomposição identificados a 190°C
Pico Tr
(min)
Fórmula
molecular
Massa
Monoisotópica
(Da)
[M+H]+ - erro
(m/Z / ppm) Atribuição
1 14,5 C68H116N16O16 1.412,8755 1.413,8776/ 3,07 y14
2 15,6 C71H121N17O18 1.499,9043 1.500,9121/ 2,2 y15
3 17,3 C85H129N17O20 1.682,9652 1.682,0136/ 4,0 Impureza 3
4 17,6 C84H129N17O19 1.708,0113 1.709,0192/ 0,49 Impureza 1
5 17,8 C89H139N19O20 1.795,1713 1.796,0556 / 0,62 Stigmurina
6 18,0 C89H136N18O20 1.777,0178 1.778,0184/ 3,74 y-H2O
7 18,6 C71H118N16O18 1.482,8810 1.483,8867/ 1,08 y15-NH3
8 18,8 C73H120F3N17O19 1.595,8898 1.596,9011/ 2,48 y15+F3CCO
9 22,0 C91H138F3N19O21 1.890,0266 1.892,0326/2,78 y+F3CCO
10 22,9 C89H134N18O19 1.759,0073 1.760,0041/ 5,93 y-NH3-H2O
Fonte: Autoria própria, 2019.
Desta forma as estruturas detectadas para temperatura de 190°C sugerem
que o aquecimento de stigmurina promove fragmentação do peptídeo com formação
de íons das séries b e y. Foram detectados fragmentos y (y14 e y15), bem como
fragmentos decorrentes de perdas neutras para amônia e/ou água (y15-NH3 / y-H2O / y-
NH3-H2O). A formação de fragmentos y14 e y15 sugerem instabilidade da vizinhança para
116
resíduo de serina na extremidade N-terminal, vizinho a resíduos de aminoácidos da
fenilalanina. Estes achados corroboram com dados TG-FTIR e pirólise anteriormente
realizados.
Foram detectados no TIC para amostra aquecida de stigmurina até 230°C
quatro picos diferentes daquele para stigmurina com tempos de retenção (tR) de 8,24
min, 8,91 min, 16,55 min e 16,85 (Figura 31), cujas fórmulas moleculares foram
identificadas. Stigmurina não foi detectada a 230°C.
Figura 31 - Cromatograma de íons Totais (TIC) para amostra aquecida até 230°C evidenciando o tR dos produtos identificados
Fonte: Autoria própria, 2019.
Em 8,24 min (Figura 32) encontram-se íons com m/z de 283,7171, 566,42679
e 588,40865, que correspondem as formas duplamente protonada, protonada e
formando aduto com sódio, respectivamente. Sua massa molecular monoisotópica
obtida foi de 565,4203 Da, erro de 1,56 ppm (C30H55N5O8).
117
Figura 32 – Espectro MS a 8,24 min na faixa de 200 – 650 m/z
Fonte: Autoria própria, 2019.
Em 8,91 min (Figura 33) encontram-se íons com m/z de 340,25915, 679,5107
e 701,4925, que corresponde a forma duplamente protonada, protonada e formando
aduto com sódio, respectivamente. Sua massa molecular monoisotópica obtida foi de
678,50438 Da, erro de 0,94 ppm (C36H66N6O6).
Figura 33 – Espectro MS a 8,91 min na faixa de 300 – 800 m/z
Fonte: Autoria própria, 2019.
Em 16,55 min (Figura 34) encontra-se íons com m/z de 274,27377, que
corresponde a forma protonada. Sua massa molecular monoisotópica obtida foi de
273,26678 Da, erro de 1,25 ppm (C16H35NO2).
118
Figura 34 – Espectro MS a 16,55 min na faixa de 100 – 3000 m/z
Fonte: Autoria própria, 2019.
Em 16,85 min (Figura 35) encontra-se íons com m/z de 290,26869, que
corresponde a forma protonada. Sua massa molecular monoisotópica obtida foi de
289,26169 Da, erro de 1,16 ppm (C16H35NO3).
Figura 35 – Espectro MS a 16,85 min na faixa de 100 – 3000 m/z
Fonte: Autoria própria, 2019.
A Tabela 12 sumariza todos os produtos identificados a 230°C, com valores
encontrados de massa, erro, fórmula molecular e atribuições.
O processo de degradação térmica envolve o fornecimento de energia ao
peptídeo podendo levar a fragmentação da cadeia peptídica. A fragmentação de
peptídeos pode ocorrer por quebra ao longo da cadeia peptídica bem como por quebra
da cadeia lateral dos aminoácidos que o compõe, através de perdas neutras de
moléculas de baixo peso molecular, como já identificado durante armazenamento de
formulações neutras de insulina humana (HJORTH et al., 2015). A 230°C stigmurina
não foi detectada. Os produtos de decomposição identificados não correspondem a
fragmentos propriamente ditos, porém correspondem principalmente a compostos
119
derivados de fragmentos b6 e b2 provenientes de etapas de quebra de suas cadeias
laterais.
Tabela 12 – Produtos de decomposição identificados a 230°C
Pico Tr
(min)
Fórmula
molecular
Massa
Monoisotópica
(Da)
[M+H]+ - erro
(m/Z / ppm) Atribuição
1 8,2 C30H55N5O5 565,4203 566,42679/1,56 Derivado do
resíduo b6
2 8,9 C36H66N6O6 678,5043 679,5107/ 0,94 Derivado do
resíduo b6
3 16,5 C16H35NO2 273,2667 274,27377/ 1,25 Derivado do
resíduo b2
4 16,9 C16H35NO3 289,2616 290,26869/ 1,16 Derivado do
resíduo b2
Fonte: Autoria própria, 2019.
Os fragmentos b2 e b6 correspondem respectivamente as sequências: FF (MM
= 295,1441Da) e FFSLIP (MM = 705,3970Da). Os derivados de cada fragmento são
formados a partir de redução das ligações nos anéis aromáticos ou abertura dos anéis
das cadeias laterais para os resíduos de fenilalanina, redução de carbonilas, perda de
cadeia lateral para resíduo de serina, desaminação na extremidade N-terminal e/ou
descarboxilação da extremidade C-terminal.
5.3.4 Avaliação da atividade antitripanossoma frente forma epimastigota do T. cruzi Y
após aquecimento da stigmurina a diferentes temperaturas
Com o intuito de verificar se durante os aquecimentos os eventos térmicos
decorrentes, tais como perda de água e transição vítrea, afetavam a atividade
antitripanossoma da stigmurina não aquecida e amostras aquecidas, foram avaliadas
frente forma epimastigota do T. Cruzi Y.
A Figura 36 apresenta o efeito anti-T. cruzi (cepa Y) sobre as formas
epimastigota do parasita avaliada após 24 h de incubação. Parasitas incubados com
120
meio LIT na ausência do peptídeo foi utilizado como controle positivo de viabilidade
(Controle). A análise estatística foi obtida pelo ANOVA seguido do teste de Tukey.
Stigmurina submetida as diferentes condições de aquecimento demonstrou
elevada atividade antiparasitária sobre a forma epimastigota do T. cruzi Y. Amostras
de Stigmurina não aquecida (25 oC) e aquecidas a 50°C, 94°C, 105°C, 140°C e 160
oC foram capaz de inibir acima de 80% a viabilidade do parasita após 24 h de
incubação. Nessa faixa de temperatura eventos térmicos relacionados a perda de
água, bem como a transição vítrea parecem, portanto, não afetar a atividade biológica
da stigmurina.
Figura 36 - Atividade antiparasitária da Stigmurina submetida a diferentes condições de aquecimento sobre a forma epimastigote do T. cruzi Y. Média ± DP (n = 4)
a - p ≤ 0,001 comparado com o grupo controle;
b - p ≤ 0,05 comparado com Stigmurina 190 ºC;
c - p ≤ 0,01 comparado com Stigmurina 190 ºC;
d - p ≤ 0,001 comparado com Stigmurina 190 ºC
e - p ≤ 0,001 comparado com Stigmurina 230 ºC;
Fonte: Autoria própria, 2019.
Contudo, as amostras de stigmurina aquecidas a 190oC e 230oC
apresentaram menor efeito antitripanossoma sobre a forma epimastigota, quando
comparado com o peptídeo a 25oC - 160oC, inibindo a redução da resazurina em
66,3% + 12,2 e 53,6% + 6,7 quando comparado com o grupo controle. Estes
aquecimentos correspondem a etapas de decomposição térmica do peptídeo e,
portanto, em virtude de apresentarem teor reduzido de stigmurina esperava-se não
apresentarem atividade biológica. Duas hipóteses são levantadas para a existência
de atividade biológica ainda apresentada nas amostras aquecidas a 190°C e 230°C.
A primeira diz respeito a existência de atividade decorrente da presença de resíduos
+
121
de decomposição e, a segunda diz respeito a existência de atividade decorrente do
aprisionamento de gases pelo material sólido, produzidos durante decomposição
térmica, que em sua maioria se tratava de gases tóxicos.
5.4 DESENVOLVIMENTO DE MÉTODO DE DOSEAMENTO DA STIGMURINA
POR CLAE-UV/DAD
Para o pleno desenvolvimento de um método cromatográfico é imprescindível
o conhecimento das propriedades físico-químicas das substâncias a serem
analisadas, tendo em vista que são essas propriedades que nortearão a escolha das
fases móvel e do método de separação, em decorrência das interações entre
substâncias, fase móvel e fase estacionária. Em se tratando de peptídeos e proteínas
o conhecimento da sequência de aminoácidos, bem como modificações terminais são
cruciais na determinação das propriedades físico-químicas bem como atividade
biológica. Para peptídeos contendo até 20 resíduos de aminoácidos a retenção é
primariamente devido aos processos de partição que envolvem todos os resíduos
(MEEK, 1980). Para determinações in silico das propriedades físico químicas de
peptídeos e proteínas vários softwares são disponíveis (Pepdraw®, Expasy
Protoparam toll®, PepCalc®, Peptide Property Calculator®). Com base nessas
premissas o primeiro passo ao desenvolvimento do método foi o cálculo de MM, pI e
análise de hidrofilicidade para stigmurina, com base em sua sequência de
aminoácidos, utilizando o software livre Peptide Property Calculator®, cujos dados
estão apresentados na Figura 37.
122
Figura 37 - Propriedades calculadas para Stigmurina
Análise hidrofílica
MM = 1795,18 g.moL-1 pI = 8,86 Coeficiente de Extinção = 0 M-1.cm-1
Fonte: https://www.genscript.com/tools/peptide-property-calculator, acesso em 29-07-2015.
A partir da Figura 37 observa-se que por se tratar de substância zwiteriônica,
a carga líquida da stigmurina varia conforme seu pH, essa propriedade está
relacionada diretamente com sua solubilidade. A redução do pH da stigmurina pode
levar a um aumento na solubilidade em soluções aquosas, tendo em vista ser
classificado como um peptídeo básico. Em se tratando de absorção UV, apesar de
apresentar resíduos aromáticos como a fenilalanina seu coeficiente de extinção molar
a 280 nm é zero e, portanto, determinações utilizando 215 nm, relacionadas a
absorção das ligações peptídicas, são preferidas em análises espectroscópicas, a 280
nm, relacionada a absorção de resíduos aromáticos.
Em virtude da baixa solubilidade em água de peptídeos básicos o uso de
diluentes ácidos ou a redução do pH da água é uma estratégia utilizada para
solubilização das amostras. Ácido fórmico (AF), ácido acético (AC) e ácido
trifluoroacético (TFA) são bastante utilizados no preparo de fases móveis para análise
de peptídeos e proteínas, cada um dos quais apresenta suas vantagens e
desvantagens (WANG; CARR, 2007), a Tabela 13 lista as características úteis destes
reagentes no desenvolvimento de análises cromatográficas.
123
Tabela 13 – Valores de pKa e Cut off de alguns reagentes utilizados na análise cromatográfica de peptídeos e proteínas
ÁCIDO ACÉTICO ÁCIDO FÓRMICO ÁCIDO
TRIFLUOROACÉTICO
pKa 4,75 3,77 0,23
Cut off (nm) 230 210 210
Fonte: Adaptado de www.kromasil.com, acesso em 29.07.2018
Os diferentes valores de pKa dos reagentes proporcionam a utilização dos
mesmos em diferentes proporções e, a redução do pH da água está diretamente
relacionado a estes valores. Ácido acético é bastante utilizado em proporções que
variam de 0,5 a 5%, ácido fórmico é comum na proporção de 0,1 a 3% e, ácido
trifluoroacético na proporção de 0,01 a 2,5% (HEYRMAN; HENRY, 1999). No entanto
o alto valor de Cut off para o ácido acético exclui sua utilização, em virtude da
necessidade de análise da stigmurina em detector DAD ser a 215 nm. Métodos
cromatográficos utilizando ácido fórmico e trifluoroacético são compatíveis em
análises LC-MS e LC-DAD. Entretanto, para peptídeos catiônicos, sabe-se que ácido
fórmico promove a ocorrência de interações prejudiciais com os silanóis superficiais
de colunas de fase reversa, resultando em pico caudados e baixa eficiência de
separação. A carga peptídica positiva, presente na fase móvel acidificada, causa
também uma baixa retenção e baixa resolução (HOUBART et al., 2013). O TFA
apresenta a propriedade adicional de funcionar como pareador iônico forte altamente
ácido, além de ser altamente volátil, apresenta baixo Cutt off e é preferido para ajuste
de retenção e eficiência de análise para peptídeos catiônicos. Vale ressaltar que para
análises LC-MS o TFA pode funcionar como agente de supressão iônica e dificultar a
detecção de peptídeos e proteínas, porém existem vários estudos onde mesmo
apresentando esta propriedade a detecção de peptídeos foi satisfatória (GILAR; XIE;
JAWORSKI, 2010).
Quando solubilizado em TFA 0,1%, cujo pH é aproximadamente 2,0
stigmurina apresentou boa solubilidade, sem necessidade de adição de solvente
orgânico. Desta forma preteriu-se a utilização de TFA 0,1% em água purificada como
fase móvel de escolha para desenvolvimento do método analítico. Ressalta-se que,
conforme a análise de hidrofilicidade na Figura 37, a carga líquida da stigmurina altera-
124
se com o pH e, portanto, em pH 2.0 sua carga líquida é +2, sendo um peptídeo
catiônico.
Em se tratando de solventes orgânicos a escolha de solventes que
apresentem altos coeficiente eluotrópicos (ɛ°) é comum para reduzir as interações
com a coluna. Fases móveis para caracterização de proteínas e peptídeos contêm
acetonitrila, que possui um valor eluotrópico de C18 relativamente baixo de 3,1
(KARCH et al., 1976). Em contraste, os álcoois n-propílico e isopropílico têm valores
eluotrópicos de C18 muito elevados de 10,1 e 8,3, respectivamente. No entanto
álcoois apresentam alta viscosidade levando ao aumento da pressão do sistema, bem
como valores elevados de cut off e sua utilização é muitas vezes combinada com
acetonitrila para melhorar a resolução da separação cromatográfica (DILLON et al.,
2006).
Em virtude das propriedades físico-químicas da acetonitrila, esta foi escolhida
como solvente orgânico para composição da fase móvel B. A acetonitrila apresenta
baixo cut off, baixa viscosidade e, adequado poder de eluição. Desta forma, para
desenvolvimento de métodos que utilizem valores de comprimento de onda, para
obtenção dos cromatogramas, entre 210 – 230 nm suas propriedades são adequadas
a obtenção de um método robusto.
Findado a escolha do diluente, da fase móvel orgânica e aquosa e
determinação do comprimento de onda para monitoramento de stigmurina, passamos
a avaliação das colunas cromatográficas.
A seleção das colunas cromatográficas baseou-se na literatura que relata a
utilização de colunas de fase reversa, C18, C8 e C4 para análise de peptídeos e
proteínas. As colunas avaliadas tratavam-se todas de colunas C18, apresentando
diferentes dimensões, tamanhos de partícula, tamanhos de poro e fabricantes,
conforme Tabela 8. Para um mesmo fabricante, tamanho de partícula e poro também
houve avaliação do comportamento de eluição em função das dimensões.
Para todas as colunas estudadas o pico cromatográfico para stigmurina foi
detectado, conforme Figura 38. As colunas apresentavam diferentes dimensões e
tamanhos de poro de 300 Å, 120 Å e 95 Å, conforme Tabela 8 na seção metodologia.
125
Figura 38 - Sobreposição de cromatogramas evidenciando pico para stigmurina e diferentes colunas avaliadas
Fonte: Autoria própria, 2019
Recomenda-se que proteínas maiores que 10 kDa sejam analisadas em
colunas com tamanho de poro acima de 300 Å, com intuito de reduzir restrição de
proteínas na fase estacionária, pobre recuperação e diminuição na eficiência,
enquanto que polipeptídeos menores que 10kDa podem ser efetivamente separados
utilizando coluna de poros pequenos (< 150Å) (AGUILAR, 2004). O baixo peso
molecular da stigmurina (≈ 1,7KDa) permitiu que o mesmo fosse capaz de ser
analisado em todas as faixas de tamanho de poro avaliadas, não sendo, portanto,
uma restrição ao desenvolvimento do método, conforme valores de área apresentados
na Tabela 14.
Em virtude das diferentes características dimensionais entre as diferentes
colunas estudadas a comparação de suas eficiências de eluição através apenas de
avaliação dos valores de N e HETP é pouco significativo. Podemos inferir que todas
as colunas apresentaram valores de N > 2000, para o pico de stigmurina e, portanto,
são capazes de realizar sua detecção cromatográfica. Em relação ao HETP todas as
colunas apresentaram baixos valores variando de 0,9 a 3,0, demostrando eficiência
de separação equivalentes. Os picos para stigmurina apresentaram-se finos, com
largura por volta de 0,2 min, porém ainda assim foram visualizadas co-eluições,
apesar dos valores de resolução terem sido superiores a 1,5. Os valores de fator de
126
cauda foi o parâmetro que melhor refletiu a baixa separação cromatográfica, sendo
que todas as colunas apresentaram cauda a direita (Tf < 0,99).
Tabela 14 - Parâmetros cromatográficos obtidos para as diferentes colunas avaliadas
COLUNA Vc
(mL) tR
(min) W N HETP R Tf K'
ZORBAX
EXTEND300 ≈ 0,35 9,196 0,20 33665248 2,97 3,118 0,833 10,286
ADVANCEDBIO
PEPTIDE MAP ≈ 0,35 10,333 0,19 47211945 2,118 1,887 0,816 7,266
SHIMPACK XR-
ODS C18 ≈ 0,35 10,359 0,24 30308711 1,650 2,93 0,855 7,287
POROSHELL
120 EC-C18 ≈ 0,83 10,084 0,22 34143523 1,464 1,871 1,008 7,067
KINETEX ≈ 0,17 9,432 0,17 50997931 0,980 2,07 0,770 6,546
Fonte: Autoria própria, 2019
Em termos de tempo de análise a coluna Zorbax Extend300 apesar de possuir
uma das maiores dimensões entre as colunas analisadas apresentou o menor tempo
de retenção para stigmurina. Logo podemos concluir que stigmurina é versátil na
análise em diferentes colunas, no entanto em virtude do menor tempo de retenção
para o método de seleção de colunas utilizados, elegemos a coluna Zorbax Extend300
para desenvolvimento de método cromatográfico de stigmurina matéria-prima.
Uma vez definido a coluna, é necessário a otimização do método, visando
redução do fator de capacidade (k), separação dos picos co-eluídos com obtenção de
valores de R > 1,5 e Tf entre 0,99 e 2,0. Além de determinação da melhor composição
de fase móvel para obtenção de um método de quantificação isocrático.
O procedimento de otimização do método envolveu a realização de
experimentos em 4 etapas: avaliação da proporção do solvente orgânico para o
gradiente, avaliação de diferentes temperaturas de eluição, avaliação do fluxo de fase
móvel e avaliação do comportamento cromatográfico frente variações no volume de
injeção. Sabe-se que uma diminuição da taxa de gradiente aumenta a resolução,
embora diminua a sensibilidade e altas temperaturas aumentam a eficiência, forma do
127
pico e resolução, contudo, diminuem a atividade biológica da molécula
(KAZAKEVICH, LOBRUTTO, 2007), no entanto em métodos analíticos não há
preocupações com atividade biológica visto que não há preocupações com
recuperação da amostra.
Inicialmente foi verificado o comportamento de eluição do peptídeo em duas
proporções de gradiente de fase móvel: 30% a 100% e 40% a 100%, conforme Figura
39 e Tabela 15.
Figura 39 – Sobreposição dos cromatogramas obtidos para as condições estudadas durante avaliação da proporção de solvente orgânico no gradiente de eluição
Fonte: Autoria própria, 2019
Tabela 15 – Parâmetros cromatográficos calculados para avaliação da proporção de solvente orgânico no gradiente de eluição
ANÁLISE tr ÁREA W N HETP Res Tf Pureza de
pico K
Varredura 1
(30 - 100%) 9,38 2484591 0,26 21602 4,62 2,62 0,88 0,999 6,51
Varredura 2
(40 - 100%) 5,44 2504510 0,28 6209 16,100 2,67 0,87 0,999 3,35
Fonte: Autoria própria, 2019
128
A partir da avaliação de resultados da Figura 39 e Tabela 15, podemos inferir
que não havia substâncias eluídas em concentrações superiores a 50% de FMB
possibilitando a realização de novas análises com proporção de gradiente reduzido
para de 40 – 50%. Nesta nova condição variou-se os valores de temperatura (30°C,
40°C ou 50°C) utilizados no intuito de determinar a temperatura que proporcionasse
valores otimizados de fator de cauda.
A Figura 40 apresenta a sobreposição dos cromatogramas obtidos durante
avaliação da influência da temperatura e, a Tabela 16 os parâmetros cromatográficos
calculados com base no pico da stigmurina.
Figura 40 - Sobreposição dos cromatogramas obtidos para as condições estudadas durante avaliação da temperatura de eluição e determinação da proporção de FMB
Fonte: Autoria própria, 2019
Tabela 16 – Parâmetros cromatográficos calculados durante avaliação da temperatura de eluição e determinação da proporção de FMB
ANÁLISE tr W N HETP Res Tf Pureza de pico
30°C 10,05 0,646 3872 25 1,88 1,13 0,999
40°C 9,349 0,556 4521 22 1,65 1,56 0,999
50°C 8,17 0,481 4608 21 1,10 1,94 0,999
Fonte: Autoria própria, 2019
129
Podemos observar, conforme Tabela 16, que o aumento da temperatura leva
a redução do tempo de retenção e fator de capacidade, indicando a possibilidade de
obtenção de corridas analíticas mais curtas e picos mais finos. Aumento na eficiência
de separação também é evidenciado com o aumento progressivo do número de pratos
teóricos e redução de HETP, indicando um maior número de equilíbrios químicos entre
fase móvel, fase estacionária e analito que proporcionem a separação da stigmurina.
No entanto o aumento da temperatura leva a redução da resolução, bem como
aumento do fator de cauda. Estes resultados nos sugerem que os extremos 30°C e
50°C devem ser evitados e, portanto, a temperatura de 40°C foi escolhida como
adequada visto que é intermediária e apresenta moderadas alterações de vantagens
e desvantagens na separação da stigmurina como supracitado.
Além do mais, com a redução da taxa de mudança de gradiente ao longo
desta corrida analítica, uma determinação mais exata da proporção de fase móvel foi
calculada e chegamos ao valor de 42% de FMB e 58% de FMA para eluição isocrática
de stigmurina.
Neste momento uma avaliação do tempo de retenção para obtenção de um
método isocrático curto a temperatura de 40°C foi realizada a partir da variação do
fluxo em 0,1 mL.min-1, 0,2 mL.min-1 ou mL.min-1, conforme dados apresentados na
Figura 41.
Figura 41 - Sobreposição dos cromatogramas obtidos para as condições estudadas durante avaliação da influência do fluxo de fase móvel sobre o perfil de eluição no modo isocrático
Fonte: Autoria própria, 2019
130
Tabela 17 – Parâmetros cromatográficos calculados durante avaliação da influência do fluxo de fase móvel sobre o perfil de eluição no modo isocrático
ANÁLISE tr W N HETP Res Tf Pureza de pico K
Fl 0,1mL.min-1 20,65 1,58 2741 36 1,76 2,03 1,000 15,52
Fl 0,2mL.min-1 10,57 0,86 2394 42 1,63 1,73 1,000 7,46
Fl 0,3mL.min-1 7,29 0,62 2191 45 1,55 1,56 1,000 4,83
Fonte: Autoria própria, 2019
Conforme valores de tempo de retenção apresentados na Tabela 17
verificamos que a redução no fluxo de 0,3 mL.min-1 para 0,1 mL.min-1 levou ao
aumento do tempo de retenção da stigmurina em aproximadamente três vezes. Fluxo
reduzido também proporcionaram maiores valores de área que foram acompanhados
de alargamento do pico apesar do leve aumento na eficiência de separação
evidenciado pelo aumento de N e redução de HETP. Em termos de resolução e fator
de cauda os valores para fluxo de 0,2 mL.min-1 e 0,3 mL.min-1 foram satisfatórios,
sabe-se que um método está otimizado quando o fator de retenção dos analitos está
compreendido na faixa de 2 - 8, o que ocorre para ambos os fluxos, apresentando-se
muito próximo do limite superior a corrida para fluxo de 0,2 mL.min-1, além disso o
fluxo de 0,3 mL.min-1 leva a tempo de corrida analítica reduzido e, portanto, foi
escolhido como adequado.
Por fim, foi realizado a avaliação final dos parâmetros cromatográficos do
método frente a redução do volume de injeção, conforme Figura 42 e Tabela 18.
131
Figura 42 - Sobreposição dos cromatogramas obtidos para as condições estudadas durante avaliação da influência do volume de injeção
Fonte: Autoria própria, 2019
Tabela 18 – Parâmetros cromatográficos calculados durante avaliação da influência do volume de injeção sobre o perfil de eluição no modo isocrático
ANÁLISE tr W N HETP Res Tf Pureza de pico K
Volume de
injeção 0,1 µL 7,53 0,56 2875 34 2,12 1,07 0,995 5,02
Volume de
injeção 0,5 µL 7,38 0,58 2571 38 1,75 1,29 0,999 4,91
Volume de
injeção 1,0 µL 7,26 0,63 2108 47 1,54 1,56 1,000 4,81
Fonte: Autoria própria, 2019
Existe uma relação linear entre a redução do fluxo e as alturas e
consequentemente áreas dos picos eluídos. A redução do fluxo pode melhorar os
valores de resolução e fator de cauda. E, por fim, o método otimizado apresenta
pureza de pico adequada e valores de K dentro dos limites de otimização, podendo
então passarmos a validação do método analítico.
132
5.5 ESTUDO DE DEGRADAÇÃO FORÇADA EM SOLUÇÃO PARA STIGMURINA
Em virtude da inexistência de estudos de degradação para stigmurina, uma
vez avaliado seu comportamento térmico, em estado sólido, buscou-se investigar seu
comportamento em diferentes condições de degradação em solução.
A heterogeneidade das moléculas inviabiliza uma condição única para
realização de estudos de degradação forçada. A susceptibilidade a degradação para
uma mesma condição pode variar em termos de concentração do agente degradante,
bem como tempo de exposição. Desta forma para as degradações em meio ácido,
alcalino e oxidativo a estabilidade da stigmurina foi avaliada em 3 diferentes
concentrações de degradantes e, para todas as condições, avaliadas no tempo 0, 12
e 24h. A Figura 43 apresenta os gráficos de percentagem remanescente de
stigmurina nas diferentes condições de degradação estudadas.
Figura 43 – Percentagem remanescente de stigmurina, utilizando método desenvolvido, em 24h de degradação para HCl 0,1M, 1M e 5M (A), NaOH 0,1M, 1M e 2M (B), H2O2 0,1%, 1% e 10% (C), térmica e fotolítica (D)
Fonte: Autoria própria, 2019
133
Stigmurina não apresentou degradação significativa em 24h para HCl 0,1M e
HCl 1M quando comparado com o controle, Figura 43(A). Para os degradantes com
HCl 1M e 5M foi verificado a formação de um precipitado durante as análises o que
explica os grandes desvios observados. A amostra degradada com HCl 5M em 12h
apresentou degradação média de 50% (superior a 10%), sendo significativamente
diferente do controle (**p<0,05) mostrando-se uma condição bastante drástica para
este tipo de estudo. Enquanto HCl 1M não ultrapassou 10% de degradação.
A degradação de um peptídeo está intimamente relacionada à quebra de
ligações peptídicas, formação de novas ligações e reatividade dos radicais dos
aminoácidos presentes no peptídeo. Durante os estudos de degradação forçada em
meio ácido, a hidrólise de ligações peptídicas é dependente da reatividade dos grupos
carbonilas destas ligações (GRANT; HAY, 1965). Esta reatividade é quase ausente
em peptídeos, devido à ressonância, entre o par de elétrons da carbonila e átomo de
nitrogênio, pois ocorre apenas a deslocalização do par de elétrons não-ligantes do
átomo de nitrogênio. No caso de peptídeos que apresentem extremidade C-terminal
amidada, esta hidrólise pode ser possível através do ataque do ácido sobre a carbonila
protonada levando a formação de um íon amônio e um peptídeo com extremidade
carboxílica (Figura 44) (CAREY; SUNDBERG, 2007; SOLOMONS; FRYHLE, 2009).
Figura 44 – Mecanismo geral de hidrólise ácida para amidas
Fonte: Adaptado de Solomons; Fryle, 2009.
A reação apresentada na Figura 44 é reversível, sendo que da mesma
maneira que se forma um peptídeo com extremidade carboxílica, a reação inverte
formando novamente a amida na extremidade C-terminal. O produto gerado na
134
hidrólise ácida é mais polar, sendo assim, interage menos com a coluna, saindo com
um tempo de retenção menor que a Stigmurina.
Em condições alcalinas, a hidrólise ocorre mais facilmente pelo ataque do íon
hidróxido, um agente fortemente nucleofílico, sobre a própria amida, resultando na
formação de um grupo carboxila e amônia (Figura 45) (CAREY; SUNDBERG, 2007;
SOLOMONS; FRYHLE, 2009).
Figura 45 - Mecanismo de hidrólise básica de amidas
Fonte: Adaptado de Solomons; Fryle, 2009.
A hidrólise em meio alcalino diferentemente da ácida é uma reação
irreversível, o que pode justificar as degradações observadas para Stigmurina em
meio básico (NaOH) com degradação superior a 30% para NaOH 1M e superior a
70% para NaOH 2M, Figura 43(B). Apenas a condição NaOH 2M apresentou-se
diferente do controle (***p<0,05). Semelhante a condição ácida (HCl 1M e 5M) foi
observado formação de precipitado para degradação alcalina (NaOH 1M e NaOH 2M).
Esse precipitado era facilmente solubilizado por agitação da amostra.
A hidrólise de peptídeos e proteínas envolve quebra de grupos amida que
podem ou não fazerem parte de ligações peptídicas pela adição de uma molécula de
água, resultando em desamidação, formação de fragmentos de peptídeos ou
ciclização de resíduos de aminoácidos adjacentes levando a produção de
dicetopiperazinas (MOZZICONACCI; SCHÖNEICH, 2015). Resíduos de prolina,
glicina e aminoácidos N-metil são mais susceptíveis a aminólise intramolecular,
resultando na formação de dicetopiperazina (DKP) (PEDROSO et al., 1986) devido ao
ataque nucleofílico do nitrogênio N-terminal no meio da carbonila entre o segundo e
terceiro aminoácido, em condição ácida, básica e térmica combinada a temperaturas
elevadas. Além disso resíduos de serina são susceptíveis à desidratação e formação
de intermediários de imidas cíclicas que podem resultar na clivagem hidrolítica de
ligações peptídicas. A hidrólise destes intermediários pode ser catalisada sob
condições ácidas ou básicas (OLIYAI et al., 1993; TAMIZI; JOUYBAN, 2016).
135
Possivelmente a hidrólise de resíduos de serina, presente na stigmurina, ou formação
de DKP pode estar levando a formação de produtos de degradação menos solúveis
em HCL 1M ou NaOH 1M que explicaria a formação de precipitado nestas condições.
Para degradação oxidativa - H2O2 (Figura 43 C), nenhuma das concentrações
utilizadas apresentou-se significativamente diferente do controle, no entanto as
concentrações a 1% e 10% promoveram degradação de Stigmurina superior a 10%
em 24h. A presença de resíduos de metionina e cisteína na estrutura primária de
peptídeos e proteínas está intimamente relacionada a susceptibilidade à oxidação, em
decorrência da presença de átomos de enxofre reativos em sua estrutura (CHU et al.,
2004), bem como a presença de anéis aromáticos para os aminoácidos de histidina,
tirosina e triptofano (TAMIZI; JOUYBAN, 2016), somando-se a estas condições a
flexibilidade da cadeia peptídica torna-lhe mais susceptível a oxidação (MANNING et
al., 2010). A ausência destes resíduos para Stigmurina explicaria sua relativa
estabilidade frente a oxidação por H2O2, no entanto em virtude da presença do
aminoácido fenilalanina na estrutura linear da Stigmurina que apresenta anel
aromático, é importante verificar prolongando-se o tempo de degradação e os valores
de decomposição para degradação na condição extrema, H2O2 a 10%, sejam
significantes e a oxidação seja induzida ou não.
Stigmurina apresentou-se pouco susceptível a degradação térmica (Figura 43
D), não se apresentando significativamente diferente do controle. Reações de
hidrólise já mencionadas podem ocorrer em meio ácido e básico. A hidrólise de
ligações peptídicas é pouco favorecida à temperatura ambiente (KAHNE; STILL,
1988). A água purificada apresenta pH neutro ou levemente ácida (5 – 7) não sendo
o ideal para o favorecimento de reações de hidrólise, porém o aumento de temperatura
pode favorecer este tipo de reação (CAREY; SUNDBERG, 2007; SOLOMONS;
FRYHLE, 2009). Apesar de apresentar-se estável na hidrólise térmica é necessário
ampliar o tempo de exposição para confirmar sua estabilidade.
A degradação fotolítica (Figura 43D) foi superior a 20% em 24h. A exposição
de proteínas à luz e a consequente degradação química e física foram estudadas
extensivamente por muitos anos (KERWIN; JR., 2007). A presença de resíduos de
triptofano, tirosina, fenilalanina e cisteína, estão relacionadas a foto oxidação primária
em proteínas e peptídeos (MOZZICONACCI et al., 2012). Embora a foto oxidação
tenha sido reconhecida como um dos principais contribuintes para a degradação
proteica, os efeitos da foto induzida pelo dano não têm sido amplamente estudados
136
para produtos biofarmacêuticos. Isso é particularmente importante, já que a
fotodegradação pode levar a alterações nas estruturas primárias, secundárias e
terciárias de proteínas, e essas mudanças, embora não estabelecidas definitivamente,
podem levar a diferenças na estabilidade, bioatividade ou imunogenicidade em longo
prazo (KERWIN; JR., 2007).
Uma vez analisadas as amostras frente a percentagem remanescente de
stigmurina também foram avaliados os cromatogramas frente a presença de co-
eluições e detecção de picos. A Figura 46 e 47 apresentam a sobreposição de
cromatogramas para as diferentes condições de degradação.
137
Figura 46 – Sobreposição de cromatogramas em 24h de degradação e respectivos brancos em HCl 0,1M, 1M e 5M (A) e NaOH 0,1M, 1M e 2M (B)
(A)
(B)
Fonte: Autoria própria, 2019
138
Figura 47 – Sobreposição de cromatogramas em 24h de degradação e respectivos brancos em H2O2 0,1%, 1% e 10% (A), térmica e fotolítica (B)
(A)
(B)
Fonte: Autoria própria, 2019
Não foram detectados picos interferentes nos brancos para nenhuma das
condições avaliadas (Figuras 46 e 47). A corrida padrão trata-se da análise de um
padrão da Stigmurina, não degradada, utilizada nos estudos de degradação forçada
(Figura 46). Stigmurina foi detectada em aproximadamente 7,15 min, e, suas
impurezas de síntese em aproximadamente 6,20 min e 4,86 min, nos cromatogramas
de todas as degradações.
Para hidrólise ácida não (Figura 46 A) foi observado surgimento de picos
cromatográficos para as condições HCl 0,1M e HCl 1M, no entanto para a condição
HCl 5M observou-se um significativo aumento da impureza em 6 min, indicando que
a mesma além de ser impureza de síntese pode ser um produto de decomposição
decorrente de hidrólise ácida.
139
Para corridas de degradações alcalinas (Figura 46 B), não foram encontrados
interferentes em nenhum dos brancos de degradação. Apesar da condição NaOH 2M
ter sido a única a apresentar teor de Stigmurina significativamente diferente do
controle, observamos o surgimento de picos em 2,86 min e 3,73 min, além de um
aumento significativo dos picos para a impureza de síntese em 6,15 min em todas as
condições de degradação. Sendo que a condição NaOH 2M em 24h apresentou um
pico em 6,15 min relacionado a impureza de síntese superior ao pico da Stigmurina.
A forte degradação em NaOH 2M por 24h inviabiliza seu uso nos estudos de
degradação por se tratar de uma condição muito drástica. Entretanto o NaOH 1M
apresentou uma degradação mais branda em relação ao 2N, assim como também a
presença de produtos de degradação que justifica sua utilização em estudos
posteriores de degradação forçada para Stigmurina.
Para as corridas cromatográficas em meio oxidativo (Figura 47A) não foi
observado nenhum pico adicional em nenhuma das condições oxidantes de
degradação em 24h. Sugere-se prolongar o tempo de exposição para a condição de
H2O2 10% e observar se Stigmurina continua estável.
A Figura 47(B) apresenta a sobreposição das corridas de degradação térmica
(Água 70°C) e fotolítica de 24h. Observa-se a presença de picos co-eluidos no volume
morto para degradação térmica (0,94 min e 1,30 min) e fotodegradação (0,94 min),
além de aumento de intensidade de sinal para o pico em 6,15 min em ambas as
degradações, esses picos não foram observados nos cromatogramas dos respectivos
brancos de degradação. A fotólise da fenilalanina resulta em clivagem fotolítica para
formar os radicais benzil e glicil ou formação do cátion radical fenil e produção de um
elétron. A fotólise é fortemente dependente da temperatura, resultando em uma
dependência de temperatura para os subprodutos de radical e elétron (BENT;
HAYON, 1975; DAVIES; TRUSCOTT, 2001; KERWIN; JR., 2007). Portanto, a
suscetibilidade a fotodegradação da Stigmurina pode ser explicada pela presença de
resíduos de fenilalanina na Stigmurina.
Stigmurina apresentou-se estável nas condições oxidativas, HCl 0,1 e 1 M.
Susceptível a hidrólise ácida, básica, fotodegradação. O surgimento de picos para as
condições de fotodegradação, degradação térmica, NaOH 1M, NaOH 2M sugere
degradação nessas condições. Em virtude do não surgimento de picos e baixo
percentual de degradação para condição oxidativa e ácido (HCl 1M) sugere-se que
para essas condições o tempo de exposição seja prolongado por pelo menos mais
140
12h. Define-se que as condições a serem usadas para identificação de produtos de
degradação e desenvolvimento de método indicativo de estabilidade para Stigmurina
sejam: HCL 1M, H2O2 10% e hidrólise térmica a 70°C com prorrogação do tempo de
exposição superior a 24h e, para NaOH 1M e fotodegradação por 24h. A estabilidade
química do peptídeo influencia diretamente a escolha de aditivos durante o
desenvolvimento de uma formulação.
5.6 VALIDAÇÃO DO MÉTODO ANALÍTICO
O método analítico desenvolvido para quantificação de Stigmurina matéria-
prima foi validado com base na norma regulamentadora RDC n° 166/2017 da ANVISA,
bem como diretrizes do ICH Q2 (R1). Por se tratar de método de doseamento a
validação envolveu avaliação da seletividade, linearidade, precisão, exatidão e
robustez. Adicionalmente os limites de detecção e quantificação também foram
determinados.
A seletividade foi estudada levando em conta os produtos de degradação
formados após diferentes condições de degradação (ácida, básica neutra, oxidação e
fotólise), bem como possível interferência do diluente. Para garantia da seletividade
avaliou-se a presença de co-eluições a partir da verificação do fator de cauda, bem
como resolução, além da verificação da pureza de pico cromatográfica. A Figura 48
apresenta curvas cromatográficas para as diferentes condições avaliadas bem como
Tabela 19, contendo valores de R, Tf e Pureza de pico para cada condição.
141
Figura 48 – Sobreposição de cromatogramas de stigmurina e amostras degradadas para avaliação da seletividade.
Fonte: Autoria própria, 2019
Tabela 19 – Valores de Resolução (R), fator de cauda (Tf) e pureza de pico para amostras analisadas durante avaliação da seletividade do método cromatográfico desenvolvido
AMOSTRAS R Tf PUREZA DE PICO
Padrão Stigmurina Não degradado 1,52 1,53 0,999
Degradação Básica - NaOH 1M 1,81 1,49 0,999
Degradação Ácida - HCl 1M 1,81 1,28 0,999
Degradação Oxidativa - H2O2 10% 1,69 1,08 0,997
Degradação Térmica 70°C 1,80 1,10 0,999
Fotodegradação 1,89 1,14 0,998
Fonte: Autoria própria, 2019
Na Tabela 19 observa-se que os valores de fator de cauda, resolução e pureza
de pico encontraram-se dentro dos valores especificados (Tf < 2,0; R ≥ 1,5 e pureza
de pico ≥ 0,99). O método é seletivo para os produtos de degradação forçada
formados nas condições estudadas.
142
A linearidade foi estudada, tendo em conta a subsequente aplicação do
método, isto é, doseamento da matéria-prima. Cinco níveis de concentração com três
réplicas independentes para cada um foram usados para determinar a curva de
calibração, conforme descrito acima na seção “Materiais e métodos”. A Figura 49
apresenta a curva de calibração obtida, com representação dos pontos, equação da
reta e coeficiente de determinação (R2), para determinação da linearidade.
Figura 49 - Curva de calibração para avaliação da linearidade
Fonte: Autoria própria, 2019
Tabela 20 - Análise estatística da regressão e ANOVA para avaliação da linearidade
Fonte: Autoria própria, 2019
143
Observa-se que a reta obtida a partir dos 5 níveis de concentração estudado
é visualmente linear. A análise de correlação linear é uma das formas de verificar a
linearidade da curva de calibração. O coeficiente de correlação (R) estabelece a
interdependência entre sequências de dados entre o sinal medido e a concentração
do padrão correspondente, enquanto o coeficiente de determinação (R2) traduz a
adequabilidade do modelo linear aos valores experimentais, ou seja, a variabilidade
explicada pelo modelo. Com intuito de verificar linearidade da curva e o ajuste da reta
foi realizado regressão linear e estudo ANOVA, cujos resultados estão apresentados
na Tabela 20.
O valor do coeficiente de correlação pode tomar valores entre (-1; +1), ou seja,
-1 ≤ R ≤ 1. Quando R = -1, trata-se de uma correlação negativa (reta de declive
negativo). Quando R = 1, trata-se de uma correlação positiva (reta de declive positivo).
Ambas as situações refletem correlações perfeitas. Contudo, se for obtido um bom
valor do coeficiente de correlação (≅ 1), não significa que a correlação linear seja a
que melhor se ajusta. É por isso que este parâmetro deve implicar a visualização da
curva de calibração, recorrendo à elaboração de um gráfico do sinal obtido em função
da concentração dos padrões, para que sejam detectadas tendências não lineares
dos resultados. A análise de regressão da linearidade/curva de calibração para
stigmurina mostrou resultados bastante satisfatórios, uma vez que apresentou
coeficiente de correlação (R) de 0,9955 e coeficiente de determinação (R²) de 0,9911,
demostrando capacidade do método de gerar resultados linearmente proporcionais a
concentração do analito, além disso foi realizado o teste ANOVA para verificar a
necessidade de ajuste da reta e, o mesmo demonstrou que não será necessário
realizar ajustes, uma vez que o F obtido (1449) é maior que o F-crítico (4,65).
A qualidade do ajuste da curva de calibração e a sua linearidade também foi
demonstrada a partir da inspeção visual do gráfico de resíduos gerados pela
regressão, conforme apresentado na Figura 50.
144
Figura 50 - Gráfico dos resíduos gerados pela regressão
Fonte: Autoria própria, 2019
Verifica-se que os pontos no gráfico de resíduos estão aleatoriamente
distribuídos ao redor do eixo x, não apresentando nenhum comportamento ou
tendência funcional.
Garantida a linearidade do método na faixa de trabalho estudada (0,8 mg.mL-
1 – 1,2 mg.mL-1), passamos a avaliação da precisão nos níveis de repetibilidade e
reprodutibilidade. A tabela 21 apresentada os dados brutos para avaliação da
repetibilidade.
Tabela 21 - Avaliação de DPR% das análises para determinação da repetibilidade
Amostras Concentração
(mg.mL-1) Área Fator de Correlação
1 1,0 2500944 2500944
2 1,0 2502592 2502592
3 1,0 2509892 2509892
4 1,0 2495365 2495365
5 1,0 2516026 2516026
6 1,0 2482091 2482091
Critério de Aceitação Resultado Obtido
Média das Área - 2501152 DPR% < 2,0% 0,47
Fonte: Autoria própria, 2019
145
No nível de repetibilidade considerou-se satisfatório o resultado desde que o
desvio padrão relativo de sextuplicata das amostras fosse inferior a 2,0%. Para a
concentração de 1,0 mg.mL-1, o coeficiente de variação (DPR%) foi 0,472,
demonstrando, portanto, repetibilidade aceitável para o método.
Adicionalmente avaliou-se a variação dos parâmetros cromatográficos
durante a análise dos dados de repetibilidade, conforme apresentado para Tabela 22.
Tabela 22 - Avaliação dos parâmetros de adequabilidade do sistema para dados de repetibilidade
Amostras tr W N Res Tf Pureza de
Pico K
1 7,25 0,64 2073 1,58 1,55 0,999 4,80
2 7,23 0,63 2117 1,52 1,55 0,999 4,79
3 7,30 0,62 2206 1,55 1,54 0,999 4,84
4 7,29 0,62 2206 1,55 1,56 0,999 4,83
5 7,29 0,62 2186 1,55 1,57 0,999 4,83
6 7,28 0,62 2181 1,53 1,54 0,999 4,82
MÉDIA 7,27 0,63 2162 1,546 1,55 0,999961 4,82
DESVPAD 0,0261 0,0061 54,5980 0,0204 0,0115 8,066E-06 0,0212
DPR% 0,36 0,97 2,53 1,32 0,74 0,0008 0,44
Fonte: Autoria própria, 2019
Os parâmetros largura de pico (W), número de pratos teóricos (N), resolução
(Res), fator de cauda (Tf), pureza de pico e k (coeficiente de capacidade)
apresentaram baixa variação com DPR% < 3,0%. Além disso, o DPR% para tempo
de retenção (tr) foi inferior a 1%, os valores de Tf < 2,0%, N > 2000, a pureza de pico
≥ 0,99 e R ≥ 1,5, todos os valores encontravam-se conforme dados de
desenvolvimento de método (Tabela 22).
A precisão intermediária foi avaliada a partir do DPR% das análises inter-dia
e intra-dias, conforme Tabela 23, bem como análises estatística t de Student,
conforme Tabela 24.
146
Tabela 23 - Avaliação de DPR% das análises para determinação da precisão intermediária
ANALISTAS/DIAS Analista A Analista B
Dia 01 Dia 02
Amostras Concentração (%) Concentração (%)
1 100,26 100,77
2 100,06 103,54
3 99,23 100,12
4 98,18 100,30
5 100,64 100,30
6 101,18 99,62
Média 99,93 100,78
Desvpad 1,07 1,41
DPR% 1,07 1,39
Variância 1,15 1,98
MÉDIA ENTRE ANALISTAS 100,35
DESVPAD ENTRE ANALISTAS 1,27
DPR% ENTRE ANALISTAS 1,26
Fonte: Autoria própria, 2019
Tabela 24 - Teste de t de Student para verificação da precisão intermediária
100,2647411 100,7702371
Média 99,85717733 100,7771893
Variância 1,407117726 2,469542925
Observações 5 5
Correlação de Pearson -0,020049817
Hipótese da diferença de média 0
Gl 4
Stat t ou T cal -1,034909453
P(T<=t) uni-caudal 0,179586903
t crítico uni-caudal 2,131846786
P(T<=t) bi-caudal 0,359173805
t crítico bi-caudal 2,776445105
Critério de Aceitação T cal T crítico
T cal < T crítico -1,034909453 2,776445105
Fonte: Autoria própria, 2019
147
Os valores de DPR% para variação inter-dia (1,07 – Analista A e 1,39 –
Analista B), bem como para variação intra-dias (1,26) demonstra precisão
intermediária aceitável, tendo em vista que para nenhum dos resultados o DPR% foi
superior a 2,0% (Tabela 23).
Adicionalmente, a precisão intermediária também foi satisfatória quando os
dados foram avaliados a partir do teste t de Student em par para médias tendo em
vista que os valores da estatística T calculados (Tcal) foram inferiores ao T crítico,
indicando não haver diferenças entre os valores encontrados para as variações inter-
dia e entre-analistas (Tabela 24).
A exatidão foi avaliada em nível de % de recuperação, para as concentrações
de 0,8mg.mL-1 (80%), 1,0 mg.mL-1 (100%) e 1,2 mg.mL-1 (120%) cujos dados estão
dispostos na Tabela 25.
Tabela 25 - Avaliação da Exatidão
Conc.
Conc.
Recup.
(%)
Conc.
Recup.
(mg.mL-1)
DP
entre
leituras
DPR
entre
leituras
Exatidão
Recuperação
(%)
Intervalo
de
Confiança
( ± )
80%
80,06 0,80
1,38 1,73 99,88 1,10
79,77 0,79 80,03 0,80 80,31 0,80 77,03 0,77 77,85 0,78
100%
99,11 0,99
0,26 0,26 99,53 0,21
99,52 0,99 99,14 0,99 99,76 0,99 99,61 0,99 99,54 0,99
120%
118,61 1,19
0,73 0,61 99,78 0,59
120,29 1,20 119,91 1,19 118,56 1,19 119,96 1,19 119,57 1,19
Fonte: Autoria própria, 2019
148
Tendo em vista a concentração do analito na amostra, considera-se aceitável
a exatidão desde que a recuperação para os níveis de concentração analisados se
encontre entre 98% - 102%, sendo assim, o método satisfez aos critérios de exatidão
(Tabela 25).
A robustez foi avaliada com relação a pequenas variações nas condições
cromatográficas de fluxo, temperatura e proporção de fase móvel, cujos dados estão
apresentados na Tabela 26, comparando-se o DPR% de cada variação individual com
a condição nominal, sendo aquela padronizada para o método (fluxo de 0,3 mL.min-1,
temperatura de 40°C e proporção de fase móvel FMA:FMB – 58%:42%).
Tabela 26 - Avaliação de DPR% para determinação da robustez entre as variações com base nos valores de área obtidos para combinação da condição nominal com variação
CONDIÇÕES MÉDIA DESVPAD DPR %
Nominal +39°C 2468225 43106,97 1,75
Nominal +41°C 2478401 33398,53 1,35
Nominal + 0,29mL.min-1 2512812 24082,81 0,96
Nominal + 0,31mL.min-1 2430013 30385,31 1,25
Nominal + 41%:59% 2471080 46390,29 1,88
Nominal + 43%:57% 2451739 31478,42 1,28
Critério de Aceitação DPR% < 2,0%
Fonte: Autoria própria, 2019
Quanto à robustez, após variação dos parâmetros em estudo observou-se que
o método não apresentava alterações significativas quanto aos valores de área entre
a condição nominal e cada variação individualmente. No entanto quando avaliado os
parâmetros de adequabilidade do sistema, variações foram encontradas conforme
apresentado na Tabela 27.
Quando avaliado as variações em se tratando de parâmetros de
adequabilidade verifica-se que para nenhuma das variações de proporção de fase
móvel (± 1% de FMB), foram alcançados os critérios de aceitação, os valores estão
evidenciados em cinza. Além da alteração de fluxo para valores superiores
(0,31mL.min-1), não ter alcançado coeficiente de variação aceitável ( DPR% ≤ 1,0%).
149
Tabela 27 - Avaliação de parâmetros médios de adequabilidade do sistema para variações realizadas na robustez
PARÂMETRO K R tR Tf N
CONDIÇÃO MÉDIA MÉDIA DPR (%) MÉDIA MÉDIA
Normal 4,84 1,55 0,51 1,54 2117
39°C 4,76 1,56 0,25 1,55 2051
41°C 4,55 1,50 0,48 1,65 2182
0,29mL.min-1 5,04 1,55 0,16 1,62 2157
0,31mL.min-1 4,74 1,55 3,19 1,60 2106
59%: 41% 6,78 1,74 0,14 1,71 2330
57%: 43% 3,54 1,41 1,93 1,49 2003
Fonte: Autoria própria, 2019
As variações observadas, em termos de proporção de fase móvel, podem ser
explicadas em virtude da força modificadora orgânica. Para separações de pequenas
moléculas, a retenção muda lentamente com a força modificadora orgânica, enquanto
para separações de proteína e peptídeos os analitos permanecem ligados à superfície
até que uma concentração específica de solvente orgânico seja alcançada e então
abruptamente eluam com apenas pequenas interações resultando em picos nítidos.
É devido a essa eluição abrupta, para separações de proteínas ou de peptídeos, que
pequenas diferenças na preparação da fase móvel levam a tempos de retenção
irreproduzíveis, devendo, portanto, em modos de separação isocrático manterem-se
constantes e sob controle a proporção da fase móvel utilizada.
Adicionalmente as figuras de mérito preconizadas para validação de método
de doseamento, a partir da curva de calibração para linearidade, estimou-se os limites
de detecção e quantificação de 0,04 mg.mL-1 e 0,14 mg.mL-1, respectivamente, cujos
gráficos são apresentados na Figura 51.
150
Figura 51 – Sobreposição de cromatogramas para amostras de LD e LQ cujas concentrações foram estimadas a partir da linearidade
Fonte: Autoria própria, 2019
Foi avaliada os valores de precisão em nível de repetibilidade (Tabela 28) e
precisão intermediária (Tabela 29 e Tabela 30) ambos a 0,14 mg.mL-1, para o LQ, bem
como a exatidão em 3 níveis (0,112 mg.mL-1, 0,14 mg.mL-1 e 0,168 mg.mL-1; 80%,
100% e 120%, respectivamente) conforme apresentado na Tabela 28.
A repetibilidade foi satisfatória e o DPR < 2,0% (Tabela 28) e a precisão
intermediária para o LQ estimado foi aceitável em termos de DPR%, bem como para
o teste t de Student (Tabela 29 e 30). A exatidão para o LQ estimado também foi
encontrada ficando entre 80% - 120% e DPR% < 2% (Tabela 31).
0 2 4 6 8 10
-20000
-15000
-10000
-5000
0
5000
10000
15000
20000
LD = 0,04 mg.mL-1
LQ = 0,14 mg.mL-1
Inte
nsid
ad
e (
mA
U)
Tempo (min)
151
Tabela 28 - Avaliação de DPR% das análises para determinação da repetibilidade para o LQ estimado
Amostras Concentração
(mg.mL-1) Área
Fator de
Correlação
1 0,14 322480 2303429
2 0,14 323025 2307321
3 0,14 330052 2357514
4 0,14 325655 2326107
5 0,14 329767 2212621
6 0,14 335435 2355479
Critério de Aceitação Resultado Obtido
Média das Área - 322736 DPR% < 2,0% 1,51
Fonte: Autoria própria, 2019
Tabela 29 - Avaliação de DPR% para determinação da precisão intermediária do LQ estimado
ANALISTAS/DIAS Analista A Analista B
Dia 01 Dia 02
Amostras Concentração (%) Concentração (%)
1 13,37 13,68
2 13,19 13,55
3 13,59 13,88
4 13,14 13,79
5 13,22 13,83
6 13,79 13,34
Média 13,38 13,68 Desvpad 0,26 0,20
DPR% 1,92 1,49
Variância 0,066 0,061
MÉDIA ENTRE ANALISTAS 13,95 DESVPAD ENTRE ANALISTAS 0,637
DPR% ENTRE ANALISTAS 4,569 Fonte: Autoria própria, 2019
152
Tabela 30 - Teste de t de Student para verificação da precisão intermediária para o LQ estimado
Analista 1 Dia 1 Analista 2 Dia 2
Média 13,38345262 13,6760374
Variância 0,066169271 0,041387502
Observações 6 6
Correlação de Pearson -0,469323428
Hipótese da diferença de
média
0
gl 5
Stat t -1,810606168
P(T<=t) uni-caudal 0,064985477
t crítico uni-caudal 2,015048373
P(T<=t) bi-caudal 0,129970954
t crítico bi-caudal 2,570581836
Critério de Aceitação T cal T crítico
T cal < T crítico -1,810606168 2,570581836
Fonte: Autoria própria, 2019
Tabela 31 - Avaliação da Exatidão para o LQ estimado
Conc. Conc. Recup.
(%)
Conc. Recup.
(mg.mL-1)
DPR
entre
leituras
Exatidão
Recuperação
(%)
Intervalo
de
Confiança
( ± )
80% 98,59 0,11042
1,080
98,59
0,85
97,98 0,10974 100,05 0,11206
100% 80,73 0,11302
1,203
80,29
0,77
78,88 0,11043 80,29 0,11240
120% 103,35 0,17363
1,096 103,35 0,91 105,18 0,17670 103,11 0,17322
Fonte: Autoria própria, 2019
153
Adicionalmente a validação a estabilidade da amostra em 72h (Figura 52), foi
avaliada. O gráfico para avaliação da estabilidade da solução expressa a percentagem
encontrada de stigmurina em função do tempo para uma mesma amostra (% ± DP / n
= 3). Os resultados alcançados para 72h de análise apresentaram DPR < 2%, sendo,
portanto, a solução de stigmurina em TFA 0,1% em água estável durante período de
72h.e não apresentou amostra retida pela unidade filtrante utilizada durante o estudo.
Figura 52 - Gráfico para avaliação da estabilidade da amostra
Fonte: Autoria própria, 2019
A Tabela 32 sumariza as figuras de mérito avaliadas durante a validação do
método de quantificação de stigmurina matéria-prima indicativo de estabilidade
química, a partir do qual podemos concluir que o método se encontra validado e apto
a utilização para avaliação da síntese do peptídeo.
154
Tabela 32 - Resumo de testes para validação do método analítico de teor de stigmurina em Matéria-prima
FIGURAS DE MÉRITO CRITÉRIO DE ACEITAÇÃO RESULTADOS
SELETIVIDADE Completa separação das
impurezas e nenhum pico
interferente – DPR% tR < 1% e
Res ≥ 1,5
Atendeu aos critérios
LINEARIDADE Resíduos com distribuição
randômica
Coeficiente angular ≠ 0
r e r² ≤ 0,99
Atendeu aos critérios
Coeficiente angular =
2509231
r = 0,9911 e r² = 0,9904
LD= 0,4mg.mL-1
LQ=0,14 mg.mL-1
EXATIDÃO Média da recuperação entre
98% a 102%
99,53 – 99,88 %
REPETIBILIDADE DPR% ≤ 2,0% DPR% = 0,472
PRECISÃO
INTERMEDIÁRIA
Desvio padrão relativo inferior a
2% inter-analista e intra-analista
e Tcal < Tcrit
Analista 1 = 1,07%
Analista 2 = 1,39%
inter-analista = 1,26%
T cal(-1,035) < Tcrit(2,778)
ROBUSTEZ DPR% inter-variação e entre-
variações ≤ 2%
K = 2-6 / Res ≥ 1,5 / tR DPR% <
1% / N > 2000/ Tf < 2,00
DPR% ≤ 2% para todas as
variações, no entanto os
parâmetros de
adequabilidade (K, Res e tR)
são susceptíveis as variações
de proporção de fase móvel e
fluxo
Fonte: Autoria própria, 2019
155
6 CONCLUSÃO
• Neste estudo, pela primeira vez, um peptídeo, do escorpião Tityus Stigmurus,
obtido por síntese química foi caracterizado em estado sólido;
• Stigmurina apresentou-se no estado amorfo;
• O uso da correlação de Pearson para avaliação de estabilidade a partir de
espectros infravermelho deve considerar baixa correlação quando r < 0,95
• Foram detectadas 3 impurezas de síntese, sendo que uma delas tratar-se da sua
forma não-amidada, e as demais decorrentes de deleção dos aminoácidos serina
e leucina/isoleucina durante etapas de acoplamento dos resíduos de aminoácidos;
• O peptídeo apresenta evento de transição vítrea durante aquecimento, com
temperatura de 149°C (midpoint);
• A decomposição da stigmurina é um processo endotérmico onde o produto de
decomposição é originado no estado líquido, de acordo com as imagens de DSC-
fotovisual. Acima de 500°C é observado evento exotérmico decorrente de material
carbonáceo.
• É estável em atmosfera de nitrogênio até 183°C e ar sintético a 180°C.
• Sugere-se que os voláteis de decomposição térmica sejam produzidos em
decorrência de quebra homolítica das cadeias laterais dos resíduos de aminoácidos
iniciando-se pela extremidade N-terminal, com formação de compostos aromáticos,
aminas, nitrilas, álcoois, éteres, entre outros, seguidos por reações de
desfragmentação (principalmente descarboxilação e desaminação) e reações de
condensação intramoleculares gerando compostos similares à 2,5-dicetopiperazina
ou DKP com liberação de água e produtos de baixo peso molecular (CO2, NH3, CO,
HCNO);
156
• A degradação térmica de stigmurina leva principalmente a formação de fragmentos
y14 e y15, bem como fragmentos decorrentes de perdas neutras.
• Após aquecimento a atividade antitripanossoma da stigmurina é mantida até
160°C. Em 190°C e 230°C a atividade biológica resultante é decorrente dos
produtos de decomposição ou de gazes tóxicos aprisionados nos sólidos e
formados durante a decomposição térmica.
• O estudo de degradação forçada para stigmurina mostrou que este peptídeo é
estável por 36h em degradação oxidativa (H2O2 a 10%), susceptível a
fotodegradação, degradação alcalina (NaOH 1M), degradação ácida (HCl 1M) e
térmica.
• Parâmetros físico-químicos para stigmurina foram determinados in silico para
nortear o desenvolvimento do método cromatográfico.
• O screening analítico para detecção stigmurina e avaliação de colunas
cromatográficas revelou que o sistema de fase móvel constituinte de ácido
trifluoroacético e acetonitrila foram capazes de identificar e quantificar o peptídeo,
bem como todas as colunas capazes de detectar o peptídeo stigmurina.
• Após a obtenção do sistema de fase móvel (fase móvel A: TFA 0,1% v/v em água
e fase móvel B: TFA 0,1% em ACN), o método analítico foi otimizado e
desenvolvido com base no método clássico one-factor-at-time, para resolução,
fator de cauda e fator de capacidade sendo posteriormente validado.
• A validação foi realizada com a determinação da especificidade/seletividade,
linearidade, precisão (repetibilidade e precisão intermediária), exatidão e robustez.
Adicionalmente foram estimados os limites de detecção e quantificação. O método
apresentou-se adequado para determinação da stigmurina frente seus produtos
de degradação em solução, onde nenhum mostrou interferência nos demais. O
método encontra-se apto para utilização na quantificação de stigmurina obtida por
síntese química, bem como avaliação da presença de produtos de degradação.
157
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175
ANEXO A
LAUDO DE STIGMURINA SINTÉTICA
176
ANEXO B
Padrão de Fragmentação para stigmurina no modo positive, series b e y.
S Res. Mass # (N) b b - 17 b - 18 y y - 17 y - 18 # (C)
F 147,068414008 1 148,075690468091 131,049141340091 130,065125748091 1795,05165597209 1778,02510684409 1777,04109125209 17
F 147,068414008 2 295,144104476091 278,117555348091 277,133539756091 1647,98324196409 1630,95669283609 1629,97267724409 16
S 87,032028488 3 382,176132964091 365,149583836091 364,165568244091 1500,91482795609 1483,88827882809 1482,90426323609 15
L 113,084064088 4 495,260197052091 478,233647924091 477,249632332091 1413,88279946809 1396,85625034009 1395,87223474809 14
I 113,084064088 5 608,344261140091 591,317712012091 590,333696420091 1300,79873538009 1283,77218625209 1282,78817066009 13
P 97,052763928 6 705,397025068091 688,370475940091 687,386460348091 1187,71467129209 1170,68812216409 1169,70410657209 12
S 87,032028488 7 792,429053556091 775,402504428091 774,418488836091 1090,66190736409 1073,63535823609 1072,65134264409 11
L 113,084064088 8 905,513117644091 888,486568516091 887,502552924091 1003,62987887609 986,603329748091 985,619314156091 10
V 99,068414008 9 1004,58153165209 987,554982524091 986,570966932091 890,545814788091 873,519265660091 872,535250068091 9
G 57,021463768 10 1061,60299542009 1044,57644629209 1043,59243070009 791,477400780091 774,450851652091 773,466836060091 8
G 57,021463768 11 1118,62445918809 1101,59791006009 1100,61389446809 734,455937012091 717,429387884091 716,445372292091 7
L 113,084064088 12 1231,70852327609 1214,68197414809 1213,69795855609 677,434473244091 660,407924116091 659,423908524091 6
I 113,084064088 13 1344,79258736409 1327,76603823609 1326,78202264409 564,350409156091 547,323860028091 546,339844436091 5
S 87,032028488 14 1431,82461585209 1414,79806672409 1413,81405113209 451,266345068091 434,239795940091 433,255780348091 4
A 71,037113848 15 1502,86172970009 1485,83518057209 1484,85116498009 364,234316580091 347,207767452091 346,223751860091 3
F 147,068414008 16 1649,93014370809 1632,90359458009 1631,91957898809 293,197202732091 276,170653604091 275,186638012091 2
K 128,094963136 17 1777,04109125209 1760,01454212409 1759,03052653209 146,128788724091 129,102239596091 128,118224004091 1