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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE ESCOLA DE MÚSICA CURSO DE LICENCIATURA RONE SÉRGIO CRUZ DOS SANTOS VIVÊNCIA MUSICAL COM IDOSOS: relato de umaexperiência musical no Instituto Juvino Barreto NATAL/RN 2014

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

ESCOLA DE MÚSICA

CURSO DE LICENCIATURA

RONE SÉRGIO CRUZ DOS SANTOS

VIVÊNCIA MUSICAL COM IDOSOS: relato de umaexperiência musical no

Instituto Juvino Barreto

NATAL/RN

2014

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RONE SÉRGIO CRUZ DOS SANTOS

VIVÊNCIA MUSICAL COM IDOSOS: relato de uma experiência musical no Instituto

Juvino Barreto

Monografia apresentada ao curso de

Licenciatura em Música da Universidade

Federal do Rio Grande do Norte, como

requisito parcial à obtenção do título de

Licenciado em Música.

Orientadora: Profª. Dra. Valéria Carvalho.

NATAL/RN

2014

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VIVÊNCIA MUSICAL COM IDOSOS: relato de uma experiência musical no Instituto

Juvino Barreto

S 237v

SANTOS, Rone Sérgio Cruz dos.

VIVÊNCIA MUSICAL COM IDOSOS:relato de uma experiência musical

no Instituto Juvino Barreto/ Rone Sérgio Cruz dos Santos. – Natal: UFRN,

2014.

Orientadora: Valéria Carvalho

Monografia (Licenciatura) – Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

Escola de Música. Curso de Música.

1. Vivência Musicais – Monografia. 2.Bem -estar – Monografia. 3. Idosos –

Monografia. I Carvalho, Valéria. II. Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

III.VIVÊNCIA MUSICAL COM IDOSOS: relato de uma experiência musical com

idosos do instituto do Juvino Barreto.

RN/ UF/ DEBIB CDU027.4

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RONE SÉRGIO CRUZ DOS SANTOS

VIVÊNCIA MUSICAL COM IDOSOS: relato de uma experiência musical no Instituto

Juvino Barreto

Monografia apresentada ao curso de

Licenciatura em Música da Universidade

Federal do Rio Grande do Norte, como

requisito à obtenção do título de Licenciado

em Música.

Aprovada em: ____/____/____

COMISSÃO EXAMINADORA

_________________________________________________________________________

Profa. Dra. Valéria Carvalho- Orientadora- Universidade Federal do Rio Grande do Norte

_________________________________________________________________________

Profa. Dra. Maria Clara Gonzaga- Membro- Universidade Federal do Rio Grande do

Norte

_________________________________________________________________________

Profa. Ms. Catarina Shin- Membro- Universidade Federal do Rio Grande do Norte

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A Deusque tanto me deu força e sabedoria nas

horas mais difíceis.

À minha querida mãe que tem me amado

incondicionalmente desde pequeno.

A todos os professores que passaram por

minha vida e que de alguma forma

contribuíram para minha formação.

Aos verdadeiros amigos que sempre estiveram

comigo, sobretudo nos momentos de maior

necessidade.

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AGRADECIMENTOS

Sou muito grato a Deus por ter me dado a vida (duas vezes), a saúde, a sabedoria, e

a alegria de viver, por me rodear de amigos maravilhosos. Grato, também, à minha mãe

que tanto tem me ajudado nessa longa jornada e à minha ex-esposa, Joseli Maria França da

Silva,que hoje não está ao meu lado, mas muito me ajudou nos momentos mais difíceis.

Tambémpresto uma singela homenagem à minha orientadora, Valéria de Carvalho por

ajudar-me com indicações de leituras e conselhos preciosíssimos para o meu proceder

neste trabalho. Outras pessoas que também contribuíram nessa caminhada; todos os

professores que passaram por minha vida e deixaram sua marca indelével, muitos dos quais

me fizeram perceber o mundo de outra forma, ensinando-me não só sobre português,

história, geografia, mas, também, sobre a vida, sobre como ser um ser humano,um amigo,

parceiro, a ser humilde, manso, carinhoso, obediente, sincero, generoso. Enfim, obrigado

de coração a todos vocês.

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RESUMO

Este trabalho versa sobre um relato de experiência musical com alguns idosos que

vivem no Instituto Juvino Barreto em Natal/RN. O mesmo busca refletir a influência que a

Música pode provocar em pessoas que se encontram vivendo em um asilo. Também,

descreve toda a prática docente no processo de ensino-aprendizagem durante as vivências

musicais. A metodologia utilizada para o desenvolvimento do trabalho foi de abordagem

qualitativa, a pesquisa- ação. Utilizou-se como percurso metodológico a pesquisa

bibliográfica, a entrevista semi estruturada e intervenções musicais.

Palavras-chaves:Vivências Musicais.Bem-estar.Idosos.

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ABSTRACT

This work deals with an account of musical experience with some older people

living in Juvino Barreto Institute in Natal / RN. The same attempt to reflect the influence

that music can cause in people who are living in an asylum. Also describes the whole

teaching practice in the teaching-learning process during musical experiences. The

methodology used to develop the study was a qualitative approach and action research.

Was used as a methodological approach to bibliographic research, semi-structured

interviews and musical performances.

Keywords: Musical Experiences. Welfare. Seniors.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Imagem 01: Espaço destinado a atividades de fisioterapia e exercícios físicos .......... 35 Imagem 02:Espaço destinado a atividades de fisioterapia e exercícios físicos ........... 35 Imagem 03: Pavilhão .................................................................................................. 36 Imagem 04:Corredor de acesso Pavilhão .................................................................... 36 Imagem 05: Fotos da entrada da casa das Freiras ....................................................... 37 Imagem 06: Fotos da entrada da casa das Freiras ....................................................... 37 Imagem 07: Frente do Salão de Beleza ....................................................................... 38 Imagem 08: Refeitório onde são feitas todas as refeições .......................................... 39 Imagem 09:Onde estão as Nutricionistas .................................................................... 39 Imagem 10: Parte do Refeitório .................................................................................. 40 Imagem 11:II Parte do Refeitório ................................................................................ 40 Imagem 12: Vila Irmã Lindalva .................................................................................. 41 Imagem 13: A senhora que gentilmente deixou tirar essa foto ................................... 41 Imagem 14: Enfermaria .............................................................................................. 42 Imagem 15: Parte interna ............................................................................................ 42 Imagem 16:A Capela ................................................................................................... 43 Imagem 17:A Capela ................................................................................................... 43 Imagem 18: Enfermaria São Vicente de Paulo I ......................................................... 44 Imagem 19: Funcionamento da Enfermaria ................................................................ 44 Imagem 20: Sala de doações ....................................................................................... 45 Imagem 21: Sala do Médico ....................................................................................... 45 Imagem 22: Voluntárias .............................................................................................. 47 Imagem 23: Voluntárias .............................................................................................. 47 Imagem 24: As Idosas ................................................................................................. 60 Imagem 25: Eu e as Idosas .......................................................................................... 61

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

COBAP - Confederação Brasileira de Aposentados e Pensionistas

IBGE- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 13

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ................................................................................. 16

3 METODOLOGIA ........................................................................................................... 21

3.1 ASPECTOS TEÓRICOS E PRÁTICOS DURANTE AS INTERVENÇÕES .............. 22

3.1.1 O Canto ................................................................................................................................... 23

3.2 EXPLORAÇÃO DE SONS EM INSTRUMENTOS DE BANDINHA RÍTMICA ...... 24

3.2.1 Apreciação .............................................................................................................................. 24

4 OBJETIVOS .................................................................................................................... 25

4.1 OBJETIVOS GERAIS ................................................................................................... 25

4.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ......................................................................................... 25

5 JUSTIFICATIVA ............................................................................................................ 26

6 O ESTATUTO DO IDOSO ............................................................................................ 27

6.1 O ESTATUTO PREVÊ AINDA PUNIÇÃO PARA QUEM ........................................ 28

6.2 O IDOSO NO BRASIL .................................................................................................. 29

6.3 A MUSICALIZAÇÃO PARA O IDOSO ...................................................................... 30

7 BREVE HISTÓRIA DE JUVINO BARRETO ............................................................ 32

7.1 PRIMEIROS CONTATOS COM O INSTITUTO ........................................................ 34

8 DAS INTERVENÇÕES .................................................................................................. 36

8.1 PRIMEIRA INTERVENÇÃO- A INSTITUIÇÃO E SUA ESTRUTURA ................... 36

8.1.1 Pavilhão São José ................................................................................................................... 37

8.1.2 Casa das Freiras ........................................................................................................ 38

8.1.3 Salão de Beleza ....................................................................................................................... 39

8.1.4 Refeitório ................................................................................................................................ 40

8.1.5 Vila Irmã Lindalva ................................................................................................................ 42

8.1.6 Enfermaria Santa Catarina .................................................................................................. 43

8.1.7 A Capela ................................................................................................................................. 44

8.1.8 Enfermaria São Vicente de Paulo I ...................................................................................... 45

8.1.9 Posto de Saúde ....................................................................................................................... 47

8.1.10 Setor de Serviço Social ........................................................................................................ 48

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8.1.11 Sala das voluntárias ............................................................................................................. 48

8.2 INTERVENÇÃO 2 ........................................................................................................ 50

8.3 INTERVENÇÃO 3 ........................................................................................................ 52

8.4 INTERVENÇÃO 4 ........................................................................................................ 54

8.5 INTERVENÇÃO 5 ........................................................................................................ 56

8.6 INTERVENÇÃO 6 ........................................................................................................ 57

8.7 INTERVENÇÃO 7 ........................................................................................................ 58

8.8 INTERVENÇÃO 8 ........................................................................................................ 59

8.9 ESTREVISTA SEMIESTRUTURADA ........................................................................ 64

CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................ 66

REFERÊNCIAS ................................................................................................................. 69

ANEXOS ............................................................................................................................. 72

ANEXO A- Música Amor Perfeito ...................................................................................... 73

ANEXO B: Música Canteiros.............................................................................................. 74

ANEXO C: Como é Grande o Meu Amor Por Você ................................................................. 75

ANEXO E: Deslizes ................................................................................................................ 76

ANEXO F: Em Nome do Pai ................................................................................................... 78

ANEXO G: Hino da Campanha da Fraternidade 2014 ............................................................. 79

ANEXO H: Tudo É do Pai ...................................................................................................... 80

ANEXO I: Como é Grande o Meu Amor Por Você ................................................................ 81

ANEXO J: Que nem Jiló ................................................................................................... 82

ANEXO L: Asa Branca ..................................................................................................... 83

ANEXO M: Vida de Viajante ........................................................................................... 84

ANEXO N: Asa Branca (partitura) .................................................................................. 85

ANEXO O: Ode à Alegria ................................................................................................. 86

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1 INTRODUÇÃO

Sobre a música, sabe-se que ela está presente em todos os lugares e que é

divulgada ou se faz conhecer por meio de ritos, orações, cantos, por meio da rádio, da

TV, dos cantos folclóricos e outros; além disso, a mesma exerce grande influência nas

pessoas. Há canções que remetem a acontecimentos passados, músicas que nos fazem

relaxar, chorar, dançar, sorrir, festejar, etc. Sobre esses efeitos e benefícios causados pela

música, Willems (1970, p. 11) fala que:

[A música] [...] enriquece o ser humano pelo poder do som e do ritmo,

pelas virtudes próprias da melodia e da harmonia; eleva o nível cultural

pela nobre beleza que emana das obras-primas; dá consolação e alegria

ao ouvinte, ao executante e ao compositor. A música favorece o

impulso da vida interior e apela para as principais faculdades humanas:

vontade, sensibilidade, amor, inteligência e imaginação criadora. Por

isso a música é encarada quase unanimemente como um fator cultural

indispensável.

A música causa diversos sentimentos nas pessoas e isso é algo que já vem sendo

observado há muito tempo. Os gregos podem ser considerados como um dos primeiros a

perceber a influência dela sobre as pessoas na história. Os mesmos tinham uma ligação

muito íntima com ela. Segundo conta Nasser (1997, p. 241):

Na antiga Grécia, a música era uma atividade vinculada a todas as

manifestações sociais, culturais e religiosas. Dentre todas as artes, era a

mais relevante. Para os gregos a música era tão importante e universal

como o próprio idioma. Como forma de expressão, tinha o poder de

influenciar e modificar a natureza moral do homem e do estado. Seu

grau de importância pode ser comparado aos princípios da ética e da

política.

Diante dessa perspectiva, Aristóteles (384. a. C.) discorria sobre como a música

num tratamento medicinal pode ajudar o doente,e Platão, seu discípulo, receitava música

para a cura de doenças psíquicas. Este dizia que a música é “o remédio da alma” e que

virtudes mágicas da música eram passadas aos instrumentos musicais, pois boas melodias

produziam efeitos terapêuticos nos pacientes.

Outro dado histórico sobre o poder da música pode ser encontrado na Bíblia

(especificamente no livro de I Samuel, VT, cap. 16, vers. 23), quando é relatada a história

do rei Davi que com sua harpa tocava para Saul quando este estava dominado pelo

espírito maligno, enviado por Deus.

Do ponto de vista neurológico é comprovado, por meio de estudos, que ouvir

música traz benefícios ao cérebro. Segundo estudos publicados em revistas de

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neurociência, a música tem o poder de liberar endorfinas – substâncias que provocam

sensação de prazer. Freitas (2013) informa que:

[...] a música libera um hormônio chamado endorfina, que é responsável

pelo bem estar e prazer, o que reduz nossa percepção de estresse e dor.

Para isso acontecer o cérebro recebe as ondas sonoras através do ouvido

que passa pelo tímpano e são processadas pelo lobo temporal chegando

até a hipófise, glândula responsável pela liberação deste hormônio. Essa

substância entra na corrente sanguínea embebendo o corpo com

sensação de prazer.(FREITAS, 2013).

A música, além de beneficiar o ser humano do ponto de vista social e comportamental,

também provoca sensação de prazer naqueles que a apreciam e praticam-na.

O presente trabalho tem como principal tema a vivência musical com idosos de

65 a 75 anos de idade que vivem num asilo em Natal/RN. Sabe-se que a população de

idosos no Brasil tem crescido muito e poucos programas sociais têm sido criados para

atender a esse público.

Há mitos e estigmas difundidos por uma sociedade mal informada que classifica

os idosos como incapazes, lentos, dependentes, chatos e improdutivos. Isso implica

diretamente na autoestima e autoconfiança dos mesmos, fazendo com que se isolem e se

sintam cada vez mais abandonados, o que provoca um sofrimento vivido por cada um

deles que, na sua maioria, não conseguem verbalizar suas angústias. Por isso, após a

aposentadoria, muitos idosos vão viver em asilos. Nesses lugares, passam boa parte do

tempo sem ter o que fazer. Problemas de ordem comportamental, social e psicopatológica

são algumas das consequências deste “mito”. Nesse sentido, Moragas (1997, p. 24)

declara que:

O mito da velhice como etapa negativa se baseia em pressupostos

incertos. A maioria dos idosos não tem limitações, nem suas vidas são

negativas e dependentes (...). A velhice se constitui uma etapa vital que

pode ter elementos de desenvolvimento pessoal, embora este

desenvolvimento vá em direção contrária aos valores predominantes na

sociedade atual: força, trabalho, poder econômico e político.

A concepção de que os idosos não sabem, não aprendem e que são incapazes de

executar tarefas ou desenvolver sua própria capacidade cognitiva está equivocada, não

condiz com a realidade atual. Hoje, mais do que nunca, são vistos idosos muito ativos

participando de vários esportes (natação, futebol, tênis e outros), eventos (viagens, festas

etc.) entre outras atividades, que, até então, estavam ligadas à juventude. Porém, nem

todos os idosos têm condições financeiras para custear sua participação em tais eventos e,

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por não se sentirem bem vivendo no meio familiar, vão para asilos levar uma vida sem

muitas perspectivas, aprendizados e novas experiências.

Com base no que foi exposto, pretende-se, com o uso do violão, alguns

instrumentos pequenos de percussão, o canto e a música de uma forma geral levar um

pouco de bem estar, integração, socialização e entretenimento a fim de fazer com que

idosos venham a desfrutar de um momento diferente daqueles que vivem diariamente.

Por meio de atividades musicais, proporciona-se a eles oportunidades para se

expressarem e desenvolverem suas habilidades. Nessa perspectiva, Suzigan (1986, p.3)

diz que “a atividade musical apresenta um infinito conjunto complexo de faculdades

humanas, desde as mais abstratas até as mais concretas. A memória musical, por si só,

vem demonstrar como é rico e diversificado esse universo humano”. Ou seja, usando a

música como instrumento é possível levar um pouco de educação, lazer e ampliar suas

experiências.

Esse projeto de Vivência Musical com Idosos surge a partir da experimentação,

da observação e da reflexão nesse estudo. As músicas tonais com melodias executadas

num andamento lentoe cantadas nas visitas feitas às pessoas internadas, por motivo de

acidentes, por exemplo, fazem com que elas desfrutem uma espécie de êxtase – um

esquecimento prolongado das dores e até o desaparecimento delas. Segundo os

depoimentos, mais a frente detalhados, esses momentos eram “os mais especiais”.

Algumas questões interessantes surgem, como por exemplo:

a) Será que atividades musicais podem levar um pouco de bem-estar aos idosos que

vivem em asilos?

b) Quais atividades musicais são apropriadas para esse público?

c) Devemos proporcionar uma experiência ativa, na qual os idosos

tocarãoinstrumentos e cantarão ou só apreciarão a música de longe?

d) A música pode mesmo ajudar na autoestima ou autoconhecimento dos idosos?

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2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

A música é algo que se pode encontrar em todos os lugares, pois acompanha a

evolução da humanidade em vários aspectos desde a antiguidade.Além disso, éutilizada

como instrumento para passar mensagem e influenciar as pessoas. Também está presente

em milhares de culturas ao redor do mundo e exerce certo poder sobre as pessoas por

permitir o desenvolvimento de habilidades e competências.

O referencial curricular de Educação no Ensino Infantil (BRASIL, 1998, p. 47)

enfatiza a linguagem musical como excelente meio para o desenvolvimento da expressão,

do equilíbrio, da autoestima e do autoconhecimento, além de ser um poderoso meio de

integração social. Em outras palavras, a música é um grande instrumento que pode

integrar as pessoas – fazendo delas parte do todo e, não mais, parte isolada – por trabalhar

a expressividade e, consequentemente, a espontaneidade daqueles quea utilizam. Por

influenciar também na autoestima daqueles que se encontram vivendo em asilos,

hospitais e em casas de passagem comprova seu imensurável valor.

A música estimula o autoconhecimento numa aprendizagem sobre si mesmo,

permitindo, através disso, o contato com as lembranças que construíram sua

essência.Tourinho (2006), ao falar sobre a ação da música em benefício da reminiscência,

advoga que “a música pode favorecer a memória, evocando lembranças do passado”. A

autora acrescenta: “a utilização de música com prazer, como uma linguagem, contribui

para uma maior compreensão do mundo e de nós mesmos”. Também atesta que “estudos

comprovam que a atividade muscular, a respiração, a pressão sanguínea, a pulsação

cardíaca, o humor e o metabolismo são afetados pela música e pelo som”. Souza; Leão

(2006) afirma que “O Corpo é um instrumento, configurando-se também como uma caixa

de ressonância e, a voz, caracterizando o som de cada indivíduo”.

Esse trabalho de vivência musical é direcionado ao público de idosos e, para de

fato fazer com que todas as etapas da pesquisa venham trazer bons resultados, faz-se

necessário conhecer um pouco sobre o idoso, sobretudo como lidar com ele. Segundo o

geriatra Marcio Borges (2008), quando falando sobre idosos diz que; a primeira coisa a

ser feita durante as visitas ou contatos, é estabelecer uma boa comunicação; conversas

que se faz necessária paciência, maleabilidade, criatividade. Além disso, o doutor diz que

deve se usar termos apropriados e em bom tom quando nos dirigirmos a eles. A esse

respeito se expressa o médico:

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Sempre tratar o idoso com respeito e chamando-lhe pelo nome. Evitar as

expressões como “vovô”, “minha criança”, coitadinho, “paciente do leito x”,

“aquele que tem Alzheimer”, etc. Lembrar que o nome é seu maior patrimônio,

é a sua marca registrada num mundo cheio de Josés e Marias. Nada é mais

importante que o seu próprio nome. Quando alguém fala o seu nome, isto

significa músicas para o seu ouvido! Mantenha sempre a tranquilidade, mostre-

se calmo. Seja flexível, não exija aquilo que o idoso não pode dar. Não tenha

pressa para falar e não fique com pressa de ouvir o que o idoso quer falar.

Procure guiar a conversa, ajudar o idoso a se comunicar. Não controle a

conversa, não deixe o idoso falar só o que você quer! Não é só a palavra que

sai da sua boca que tem importância ao se ouvir. Seus gestos, a carga emotiva

da voz, o conteúdo do que se fala e a representação do que se diz, por quem

está falando (verdade/mentira). (BORGES, 2008).

Pois bem, o professor de música que deseja trabalhar com idosos deve ter muitos

cuidados durante as vivências musicais, afinal, estará lidando com pessoas de épocas

diferentes, pessoas que trarão consigo histórias, problemas de diversas ordens, além

disso, costumes, crenças, trejeitos que por vezes coloca alguns empecilhos nas atividades,

ou seja, esse trabalho exige muita paciência, criatividade, sensibilidade, dinamismo;

também cuidado quando usar de algum esforço físico durante as atividades, pois, é sabido

que os senhores já não desfrutam da mesma força e energia de 30 anos atrás. Sobre as

dificuldades que podem ser observadas nos idosos quanto à prática musical Gainza

(1998) salienta que alguma dificuldade rítmica, provavelmente, decorrente de um

desequilíbrio emocional, relacionado a uma patologia.

Neste tipo de trabalho vemos algumas dificuldades. É possível dizer que, o

estigma e o mito relacionado à velhice é infelizmente algo que em nada ajuda os idosos e,

sobretudo atingem diretamente de modo negativo o desenvolvimento de algumas

competências fazendo com que o idoso se sinta cada vez mais incapaz implicando

negativamente na aquisição de novos conhecimentos. Sobre a velhice, Freitas; Queiroz;

Souza (2009, p. 408) advogam que:

A velhice deve ser compreendida em sua totalidade porque é,

simultaneamente, um fenômeno biológico com consequências

psicológicas, considerando que certos comportamentos são apontados

como características da velhice. Como todas as situações humanas, a

velhice tem uma dimensão existencial, que modifica a relação da pessoa

com o tempo, gerando mudanças em suas relações com o mundo e com

sua própria história. Assim, a velhice não poderia ser compreendida

senão em sua totalidade; também como um fato cultural.

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Ainda segundo os mesmos autores:

[...]deve ser compreendida em sua totalidade, e em suas múltiplas

dimensões, visto que se constitui em um momento de processo

biológico, mas não deixa de ser um fato social e cultural. Deve, ainda,

ser entendida como uma etapa do curso da vida na qual, em decorrência

da avançada idade cronológica, ocorrem modificações de ordem

biopsicossial que afetam as relações de individuo com seu contexto

social. (FREITAS; QUEIROZ; SOUZA, 2009, p. 408).

Sobre o mesmo raciocínio, Zanini diz que “a velhice deve ser entendida como

uma etapa da vida, da mesma forma que temos a infância, a adolescência e a maturidade.

São fases, etapas da vida, nas quais acontecem modificações que afetam a relação do

indivíduo com o meio, com o outro e com ele mesmo”. (ZANINI, 2003, p. 25).

Vimos que as dificuldades existem, porém, muitos são os benefícios, tanto para

os idosos quanto para os professores. Por exemplo, o educador musical que porventura

queira fazer um trabalho com esse público terá que desenvolver muitas outras habilidades

e buscar metodologias que lhe auxiliem nas aulas, isto é, novos conhecimentos, novas

habilidades e benefícios. Quanto aos senhores, as atividades musicais trará de volta a

vontade de se expressar, de falar, de viver, de comunicar-se, também facilitará a

convivência entre eles, bem como afetará no humor e na produtividade das atividades

diárias. É uma experiência que pode resultar em muitos momentos de lazer,

entretenimento e satisfação para eles e para o educador musical. Nesse sentido a

Constituição Federal (BRASIL, 2004, p. 130) fala que: “A família, a sociedade e o

Estado têm o dever de amparar as pessoas idosas, assegurando sua participação na

comunidade, defendendo sua dignidade e bem-estar e garantindo-lhes o direito à vida”.

A constituição diz que o idoso é um cidadão que está sob os cuidados e

responsabilidades da sociedade como um todo. O mesmo goza de todos os direitos e deve

ser amparado pela comunidade em geral, além disso, a sua dignidade, bem-estar, direito à

saúde e à vida não devem nunca ser violados. Uma vez que o idoso sofra de algum abuso

por parte de quem quer que seja, esse ou essa deve ser denunciado e deverá responder em

juízo pelos atos inflacionários cometidos contra o idoso.

Atualmente no Brasil háuma grande população de indivíduos acima dos 60 anos,

esse número vem crescendo de maneira bastante significativa. Isso se dá devido a

evolução da medicina preventiva, remédios e tratamentos mais acessíveis, programas

governamentais que tratam da importância da alimentação saudável, igualmente dos

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incentivos ao exercício físico, programas de saneamento básico que têm chegado às

periferias, dentre outros.

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE tem por meio de

pesquisas revelado que a população de idosos no Brasil é de aproximadamente 8,6 %.

Isso significa que, em 2020 haverá um idoso para cada 13 habitantes. E em menos de 25

anos ocorrerá um aumento considerável, isto é, a população idosa chegará a marca de

15% da população brasileira.

A população de idosos cresceu e tornou-se alvo de discussão entre educadores,

médicos, assistentes sociais, bem como, psicólogos e profissionais de diversas áreas que

têm se mostrado bastante preocupados com a reintegração dessas pessoas à sociedade a

fim de diminuir sua exclusão e aumentar a sua participação em atividades diversas. Para

tal, busca-se o aumento da participação desses idosos nas atividades normais do dia-a-dia

para assim fazer com que eles se sintam mais ativos na comunidade como um todo.

Muitos idosos no Brasil depois de se aposentarem ficam sem ter muito que fazer e por

isso acabam sofrendo de diversos males, sobretudo, o isolamento e consequentemente de

carência afetiva. Nesse sentido, Azambuja (1995, p. 97) acrescenta que:

[...] a essas condições somam-se o declínio de suas características

físicas tais como rugas, cabelos brancos, diminuição da memória e dos

sentidos e muitas outras, que unidas à sua marginalização determinam

alterações psíquicas como a perda da confiança, da angústia e da

depressão. (AZAMBUJA, 1995, p. 97).

Ainda falando sobre os problemas de saúde que ocorrem com os idosos no

processo de envelhecimento, Matsudo (2001, p.19) fala que:

[...]o envelhecimento está associado a uma variedade de limitações

físicas e psicológicas. Frequentemente, isso torna difícil para os

indivíduos desempenhar certas ações. Dependendo de sua motivação,

circunstâncias ambientais e reações à incapacidade, aqueles que são

assim afetados podem também ficar inválidos (incapazes de

desempenhar as atividades desejadas). A consequência de tal invalidez é

uma deterioração na qualidade de vida. MATSUDO (2001, p.19)

Proporcionar a esse público alguma atividade de lazer, entretenimento ou

qualquer outra, julga-se muito importante. É possível desenvolver habilidades diversas,

estimular a criatividade, autoestima, reabilitar capacidades e socializa-los por meio de

diferentes atividades musicais, bem como trabalhar a autovalorização deles.

Através de artigo, livros, notícias e várias outras fontes de estudo que tratam

desse público, constata-se alta capacidade de produzir, de aprender, de criar e se envolver

nas atividades que lhes são propostas. Trabalhando com a música (sobretudo, popular ou

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erudita) todo esse potencial pode ser explorado e desenvolvido. Nesse sentido, Azambuja

(1995, p. 105) justifica sua metodologia de ensino musical com os idosos dizendo que,

“(...) usamos sempre a música, popular ou erudita, porque favorece a expressividade, a

coordenação, o ritmo e a emoção”.

Falando do quão benéfico é o ensino de música para o ser humano em geral,

Willems (1970, p. 11) diz que:

A música favorece o impulso da vida interior e apela para as principais

faculdades humanas: vontade, sensibilidade, amor inteligência e

imaginação criadora. Por isso a música é encarada quase unanimemente

como um fator cultural indispensável.(WILLEMS, 1970, p. 11)

Como se vê, o ensino de música traz muitos benefícios para os idosos. Melhora a

convivência social implicando numa boa comunicação entre eles e o mundo que os

cercam, diminui os estresses do dia-a-dia, aumenta a autoestima, bem como a confiança

em si mesmo, desenvolve a criatividade, age sobre a memória, estimula a ação dos dois

lados do cérebro, trabalhando a área motora e retardando o processo de envelhecimento,

provoca melhorias do bem-estar e qualidade de vida.

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3METODOLOGIA

Esta pesquisa se configura como sendo de caráter qualitativo cujos dados foram

coletados a partir de observações durante as intervenções. Os resultados quanto ao nível

de satisfação dos idosos ao participarem das vivências musicais, bem como a constatação

do bem-estar, o entreter e lazer foram aferidos durante e depois das intervenções. O

trabalho se deu com um encontro semanal, inicialmente, nas terças feiras depois nas

segundas-feiras. As intervenções duravam em torno de 50 minutos, ao todo foram 8

durante 2 meses. Foi realizada no Instituto Juvino Barreto (asilo) na cidade de Natal/RN.

Os procedimentos metodológicos aconteceram nessa ordem:

Visita à instituição com intuito de conhecê-la no quesito histórico e estrutural.

Experiência com instrumentos pequenos de percussão na qual os idosos

aprenderam o nome de cada, a manuseá-los e explorar as possibilidades de sons.

Atividade de canto sem muita exigência de afinação. A ideia é, estimular a voz,

desinibição, memória e integração entre eles.

Apreciação de músicas do repertório popular e religioso que fizeram sucesso em

épocas diferentes.

Aplicação de duas perguntas sobre o quanto a música pode influenciar o ser.

Todos os conhecimentos musicais adquiridos pelos idosos foram passados por

meio da oralidade uma vez que alguns não liam e outros apresentavam uma má visão.

Para que o desenvolvimento das atividades ocorresse da melhor forma, fez-se uso

constante da conversa informal e ludicidade. Tudo era feito tendo a fala como único

instrumento no processo de ensino-aprendizagem.

O estudo fez uso de entrevista semiestruturada, pesquisa bibliográfica e a

pesquisa-ação.

Na entrevista semiestruturada buscou-se responder duas perguntas: Será

queatividades musicais podem ajudar os idosos a se sentirem mais felizes e produtivos

implicando na melhora da sua qualidade de vida? É possível levar um pouco de

entretenimento, lazer e bem-estar para idosos tendo como instrumento a música? A

resposta para essas indagações foram construídas durante as intervenções por meio da

entrevista, conversas informais e observações nas Vivências Musicais com os idosos.

Buscou-se com pesquisa bibliográfica conhecer os principais autores no assunto.

A leitura aconteceu antes e durantea construção dessa monografia por meio de artigos

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científicos, não científicos, livros, blogs, sites, notícias em jornais eletrônicos na internet

(os mais atuais). Segundo Neves, Jankoski e Schnaider (2013, p. 2)“a pesquisa

bibliográfica consiste no levantamento de um determinado tema, processado em bases de

dados nacionais e internacionais que contêm artigos de revisas, livros, teses e outros

documentos e como resultado obtém-se uma lista com as referências e resumos dos

documentos que foram localizados nas bases de dados”.

Procura-se com a pesquisa-ação uma participação mais próxima dos

pesquisados,também a observação das ações, melhorias advindas das intervenções.Essa

modalidade de investigação serve como um instrumento que ajudará na análise dessa

problemática. Além disso, a pesquisa-ação atuará com intuito de mobilizar os

participantes para a participação nas atividades e construção de novos saberes. É por

meio da pesquisa-ação, que temos condição de conhecer, observar, intervir e refletir sobre

nosso proceder como educadores. É uma modalidade de pesquisa que possibilita ao

pesquisador levantar os dados vivendo no meio do contexto, com os pesquisados.

Quando concebida e realizada em estreita associação com uma ação ou

com a resolução de um problema coletivo. Os pesquisadores e

participantes representativos da situação ou do problema estão

envolvidos de modo cooperativo ou participativo. Participante se

desenvolve a partir da interação entre pesquisadores e membros das

situações investigadas. (MINAYO, 2007; LAKATOS, et al,1986).

3.1 ASPECTOS TEÓRICOS E PRÁTICOS DURANTE AS INTERVENÇÕES

As intervenções são parte desse trabalho. Talvez a mais importante uma vez que

nela se origina a maioria dos resultados encontrados. Por meio das intervenções

ocorreram contatos diretos com os idosos nos quaisse inclui a experiência de tocar,

cantar, observar, conversar, aprender, bem como o levantamento dos dados.

A proposta de Vivência Musical com idosos abrange experiências com

instrumentos pequenos de percussão, práticas de canto que se dá de modo natural (sem

muita exigência de afinação) apreciação de canções do repertório popular brasileiro com

ênfase na música católica, pois os idosos têm uma ligação muito forte com a religião e

conversas informais.

A vivência musical é uma experiência nova para todos envolvidos, por isso, foi

necessário ir à busca por conceitos teóricos e metodologias que atendessem às

necessidades desse trabalho.

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É importante ressaltar que se buscou cultivar em todas as intervenções uma boa

relação com os idosos.Procurou-se respeitar suas dificuldades e ouvi-los dando

oportunidade para se expressarem. Procurou-se também evitar condutas paternalistas.

Objetivou-se de fato estimular suas capacidades de aprender e produzir.

Quanto à proposta da Vivência Musical, o trabalho foi construído baseado nos

trabalhos de Gainza (1998); Dalcroze (1916); Fonterrada(2008); Murray Schafer (1991).

Ao pensar sobre o público foco da pesquisa, buscou-se vivenciar com eles uma

modalidade de educação informal e flexível, sem muitas exigências do ponto de vista

educacional. Uma experiência musical com programa de atividades específico para esse

público e que visou o bem-estar, entretenimento e lazer respeitando-o de forma

individual.

De modo imperceptível, estimulou-se neles vários aspectos da música que de

alguma forma contribuíram para o desenvolvimento da fala, do tocar e o ouvir. Os

seguintes aspectos foram:

a) O canto.

b) Exploração de sons em instrumentos de bandinha rítmica.

c) Apreciação.

3.1.1 O Canto

A voz é a respiração sonora, a manifestação harmoniosa da vida, é o

reflexo da mais profunda diferença entre os homens: Diferença de

sexos, diferença de idades, espelho de todas as particularidades

individuais dentro do mesmo sexo: A personalidade. Desse modo, a voz

que canta a projeção da manifestação humana, na esfera do som, é a

esfera de sua visibilidade corporal numa invisibilidade sonora.(BLOCH,

1979)

Durante quase todas as intervenções buscou-se por meio de vivências musicais o

desenvolvimento do canto acompanhado pelo violão. Geralmente, os idosos sentavam em

cadeiras próximo uns dos outros. Era escolhida uma canção de conhecimento deles e,

inicialmente, tocado no violão por uma pessoa que ao mesmo tempo cantava e

encorajava-os, pois inicialmente a maioria não cantava (se mostravam tímidos), porém

aos poucos iam se animando e cantando juntos.

Nessa experiência, objetivou-se desenvolver nos idosos não só o canto, mas,

também a Percussão Corporal através de palmas, isto é, vez por outra, parava-se de tocar

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o violão e só cantavam e batiam palmas. Buscou-se uma espécie de estimulo ao

acompanhamento e, sobretudo, ao movimento mais do que costumeiramente fazem.

3.2 EXPLORAÇÃO DE SONS EM INSTRUMENTOS DE BANDINHA RÍTMICA

Na exploração de sons em instrumentos de bandinha rítmica, objetivou-se a

descoberta de sons nesses instrumentos, o aprendizado do manuseio deles e possíveis

formas de exploração de sons rítmicos no próprio corpo.

3.2.1 Apreciação

Na apreciação buscou-se apresentar novas canções, relembrar antigas, bem como

estimular sensações diversas nos idosos ao ouvir algumas músicas que, de alguma forma,

exerceu grande influência em suas vidas. Também, intercaladas entre as canções

objetivou-se ouvir relatos, histórias em geral sobre experiências vividas, igualmente,

constatar a grande integração entre eles ao ouvir algo antigo, da sua época.

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4 OBJETIVOS

4.1 OBJETIVOS GERAIS

Esta pesquisa tem por objetivo usar a músicacomo instrumento educativo, e, ao

mesmo tempo, levar um pouco de bem-estar, lazer e satisfação para senhores que vivem

em asilos. Igualmente, apresentar propostas eficientes, metodológicas para educadores

musicais que têm interesse em trabalhar com a educação musicalvoltada para o público

de idosos.Em seguida, relatar as experiências musicais realizadas no Instituto Juvino

Barreto e os resultados obtidos.

4.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

a) Descrever as práticas utilizadas durante as intervenções com os senhores, bem

como avaliar o nível de satisfação dos mesmos ao participarem das Vivências Musicais.

b) Preparar um material didático (repertório de músicas que serão tocadas e cantadas

para os idosos) que seja apropriado para as intervenções, levando em consideração as

dificuldades patológicas que a maioria dos idososenfrenta com a chegada da velhice

(diminuição das funções desempenhadas pelos cincos sentidos: tato, olfato, paladar,

audição e visão).

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5 JUSTIFICATIVA

Proporcionar uma experiência musical paraos idosos a fim de fazê-los se

sentirem mais integrados, mostrá-los que ainda são capazes de aprender, produzir algo

que venha a ajudar na sua autoestima, ajudá-los a desempenhar um papel mais efetivo no

meio social do qual fazem parte e onde geralmente são postos à margem, socializá-los

também entre eles, no intuito de que possam reativar algumas habilidades já

existentes.Este é o estilo de docência de música almejado.

A reintegração social supracitada pode ser obtida através das vivências musicais

nas quais muitas competências serão adquiridas e estimuladas. O estímulo à memória por

meio de músicas tocadas hoje, mas que foram ouvidas há muitos anos pode ser

considerado um exemplo disso. Trabalhar a comunicação entre eles, estimulá-los a se

movimentar mais do que o costume através da percussão corporal (palmas e pés),

desenvolver a reflexão analítica de assuntos que serão apresentados durante as conversas

informais. Aumentar a comunicação entre eles e o mundo por meio da fala, do ouvir, do

olhar, do gesto, entre outros. Buscar metodologias que venham a colaborar com as

atividades propostas para esse público, levando em consideração as dificuldades que lhes

são naturais devido à idade.

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6 O ESTATUTO DO IDOSO

A partir de uma organização e mobilização de pensionistas, idosos e aposentados

ligados à Confederação Brasileira de Aposentados e Pensionistas (COBAP). O Estatuto

do Idoso é criado. Isto foi uma grande conquista para a população de senhores iguais ou

acima de 60 anos e para a comunidade em geral. O projeto de lei nº 3.561 é de 1997 e foi

inicialmente criado pelo deputado federal Paulo Paim.

No ano de 2000, foi instituída, na Câmara Federal, uma comissão muito bem

organizada a fim de tratar de assuntos relacionados ao Estatuto do Idoso. Na época, a

comissão tinha como principal objetivo regular os direitos desse público que até então

sofria com a falta de leis que viessem a favor deles. As discussões relacionadasaos idosos

aconteciam levando em consideração a idade cronológica dos mesmos - para ser

considerado idoso o cidadão teria que ter 60 anos ou mais. Na comissão foi-se discutido

sobre direitos fundamentais dos idosos, sua cidadania e assistência jurídica. Além disso, a

comissão se mostrou bastante preocupada com o cumprimento e execução dos direitos

adquiridos por esse público.

Esse projeto de lei que vem em defesa dos idosos chega em boa hora, pois

muitos idosos, depois de haver trabalhado a vida inteira pelo país, se viam em condições

precárias e muitos dos seus direitos conquistados como cidadãos adultos, quando velhos,

eram negados; isto é, antes de ser criado o Estatuto dos Idosos, os senhores, já em idade

avançada,tinham que se virar por si sós, não tinham muito apoio do poder público, não

existiam muitas leis que lhes favorecessem. Há pouco tempo atrásera muito difícil ser

idoso no Brasil. Hoje existem leis e órgãos que fiscalizam e fazem valer os direitos dos

idosos, ou seja,as coisas parecem ter melhorado. O Estatuto do Idoso é um

importantíssimo instrumento para a efetivação e realização da cidadania dos mesmos.

O documento é constituído por 118 artigos e traz consigo as leis que asseguram

todos os direitos dos idosos com idade igual ou acima de 60 anos. Vejamos os principais

pontos desse documento:

a) Atendimento preferencial, imediato e individualizado junto aos órgãospúblicos e

privados prestadores de serviços à população;

b) Fornecimento gratuito de medicamentos pelo Poder Público, especialmente os de

uso contínuo, assim como próteses, órteses e outros recursos relativos ao tratamento,

habilitação ou reabilitação;

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c) Proibição de discriminação do idoso nos planos de saúde pela cobrança de valores

diferenciados em razão da idade;

d) Criação de cursos especiais para idosos, com inclusão de conteúdo relativo às

técnicas de comunicação, computação e demais avanços tecnológicos, para sua

integração à vida moderna;

e) Descontos de 50% em atividades culturais, de lazer e esporte;

f) Proibição de discriminação do idoso em qualquer trabalho ou emprego, por meio

de fixação de limite de idade, inclusive para concursos, ressalvados os casos específicos

devido à natureza do cargo;

g) Fixação da idade mais elevada como primeiro critério de desempate em concurso

público;

h) Estímulo à contratação de idosos por empresas privadas;

i) Reajuste dos benefícios da aposentadoria na mesma data do reajuste do salário

mínimo;

j) Concessão de um salário mínimo mensal para os idosos acima de 65 anos que não

possuam meios para prover sua subsistência, nem de tê-la provida por sua família;

k) Prioridade na aquisição de imóvel para moradia própria, em programas

habitacionais públicos ou subsidiados com recursos públicos;

l) Gratuidade nos transportes coletivos públicos aos maiores de 65 anos, com

reserva de 10% dos assentos para os idosos;

m) Reserva de duas vagas no sistema de transporte coletivo interestadual para idosos

com renda mensal de até dois salários mínimos, com desconto de 50%, no mínimo, no

valor das passagens, para os idosos que excederem as vagas gratuitas;

n) Reserva de 5% das vagas nos estacionamentos públicos e privados.

6.1 O ESTATUTO PREVÊ AINDA PUNIÇÃO PARA QUEM

a) Discriminar pessoa idosa, impedindo ou dificultando seu acesso a operações

bancárias ou aos meios de transporte, por motivo de idade;

b) Deixar de prestar assistência ao idoso, ou recusar, retardar ou dificultar que outros

o façam;

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c) Abandonar idosos em hospitais, casas de saúde, entidades de longa permanência

ou congêneres;

d) Expor em perigo a integridade e a saúde, física ou psíquica, do idoso,

submetendo-o a condições desumanas ou degradantes, privando-o de alimentos e

cuidados indispensáveis, quando obrigado a fazê-lo, ou sujeitando-o a trabalho excessivo

e inadequado;

e) Apropriar-se ou desviar bens, proventos, pensão ou qualquer outro tipo de

rendimento do idoso;

f) Induzir pessoa idosa sem discernimento de seus atos a outorgar procuração para

fins de administração de bens ou deles dispor livremente;

g) Coagir, de qualquer modo, o idoso a doar, contratar, testar ou outorgar

procuração.

6.2 O IDOSO NO BRASIL

Segundo pesquisas do IBGE a população de idosos no país têm crescido muito e

com esse crescimento muitos desafios têm surgido para os idosos que já não trabalham e

que se encontram acometidos de alguma doença. Ter mais de 65 anos e estar aposentado

não é tão fácil quanto parece. Muitos indivíduos que chegam a essa idadenão trabalham e

encontram-se vivendo em asilos, pastorais, casas de idosos e etc.

Estar nesses lugares não é ruim, o problema é como acontece esse

desligamentodo contato entre família e idoso. Para alguém que trabalhou a vida inteira,

criou seus filhos, construiu toda uma história,se verde repente “abandonado”, “vivendo”

num lugar com muitas pessoas estranhas é um golpe duro, uma realidade difícil de aceitar

e/ou lidar. É um grande desafio para quem já não se encontra tão disposto a aprender, a se

adaptar, cujas forças físicas já não são as mesmas; a falta de paciência, a dificuldade com

alimentação, a saudade da vida antiga, dos amigos, da família, das práticas de tempos

atrás, das conversas atraentes com os amigos e etc. O pior de tudo é o ócio. Muitos desses

lugares não têm muito o que fazer, não existem muitas leis que assegurem educação,

lazer e bem-estar para esse público. Ao visitar alguns asilos pode ser constatado tudo o

que foi falado no texto.

A educação e a maioria dos programas de inclusão do governo são voltadas para

o público juvenil e adulto. Aquele que já não trabalha (o idoso) não é incluído na maioria

dos programas sociais. Faz-se necessário a inclusão deles não só nos programas

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educacionais, mas em todo e qualquer programa que possa lhes trazer algum benefício.

Nesse sentido Goldstein (1995) diz que:“A oportunidade de começar ou dar continuidade

ao estudo na terceira idade não é uma característica apenas eminentemente educacional,

decorrente do aumento das instituições com fulcro de proporcionar o ensino à terceira

idade; mas deve resultar também, de uma consciência sociológica a respeito”. Deps

(2003) acrescenta dizendo que: “[...] o ócio é motivo de descontentamento em grande

parcela de indivíduos”. Isto é, os senhores da terceira idade não querem ficar sem ter o

que fazer: querem programas de cunho social que possam incluí-los em programas e

atividades culturais, esportivas, dentre outras.

A música pode ser um grande instrumento de inclusão social desse público.

Além disso, a mesma traz consigo muitos benefícios para os senhores. Com a música é

possível melhorar a qualidade de vida, igualmente desenvolver a criatividade e a

expressividade. Com música é possível, também, exercitar a memória dos idosos.

Tourinho (2006) advoga que a música ajuda à memória, atraindo lembranças e

experiências do passado.

É muito provável que por meio de atividades musicais os idosos venham a se

sentirem melhores, mais produtivos, mais incluídos, que sua autoestima seja estimulada

juntamente com sua criatividade e espontaneidade. Além disso, a comunicação, e,

possivelmente, muitas práticas/costumes que lhes são arrancadas na sua chegada ao asilo

podem ser melhor superados. Além disso, a brusca mudança nos costumes, onde se

incluem as diversas práticas relativa a comunicação pode ser melhorada.

6.3 A MUSICALIZAÇÃO PARA O IDOSO

Historicamente, a educação seja de qual área for tem sido feita de modo

sistemático para jovens e adultos. A educação musical caminha nessa mesma direção há

muito tempo. Isto é, a maioria dos musico-educadores mais conhecidos (Edgar Willems,

Jaques Dalcroze, Carl Orff, entre outros) têm investido toda a sua prática educativa e

conhecimentos de ensino musical a crianças e jovens. Na verdade, quando ocorre algum

programa de ensino ou atividade qualquer envolvendo música e idoso, isso se dá em

ONGs e igrejas, ou seja, no modelo de ensino informal.

O idoso, sobretudo no Brasil, não goza de muitas opções para continuar seu

aprendizado – desenvolvimento cognitivo/intelectual -. Segundo a Lei nº. 10.741, de

2003, cap. V do Estatuto do Idoso, todo idoso tem direito à cultura, à educação, ao

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esporte e ao lazer (ROCHA, 2003). Portanto, deve-se buscar de alguma forma criar

possibilidades de inseri-los nos programas de ensino de música e musicalização dentro

das escolas e academias, pois assim terão oportunidades de continuar seu crescimento

cultural, intelectual e cognitivo. Vale salientar que, além dos conhecimentos que podem

ser adquiridos nesses cursos, os idosos continuarão em contato com pessoas de diversas

idades, socializando-se, interagindo e vivendo no meio social.

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7 BREVE HISTÓRIA DE JUVINO BARRETO

Jovino Cézar Paes Barreto nasceu na cidade de Aliança, Pernambuco, em 2 de

fevereiro de 1847. Filho de Leandro César Paes Barreto e Umbelina de Medeiros César.

Jovino tinha dois irmãos: Sifrônio e Júlio. A era em que viveu a família Barreto foi uma

época de grandes problemas de ordens sociais e conflitos. Seu pai, que tinha um

comportamento revolucionário, esteve envolvido num grande conflito: a Revolução

Praieira, que acontece em fevereiro de 1848, na província de Pernambuco. Deflagrada

pelo Partido da Praia, a revolta armada em Pernambuco, tinha como objetivo “a

nacionalização do comércio”.

O movimento era constituído por moradores da classe média e coronéis da

política, que sentiam-se muito insatisfeitos com o jogo de nomeações entre facções locais

de conservadores, moderados e liberais para os gabinetes ministeriais do Rio de Janeiro.

Nos combates contra as tropas imperiais, que ocorreram nas ruas do Recife/PE,

morreram 502 rebeldes e 1.188 desses ficaram feridos. Após serem vencidos e presos,

eles foram levados para a Ilha de Fernando de Noronha onde foram forçados a cumprir

pena de trabalhos forçados. Entre os prisioneiros estava o pai de Juvino Barreto, Leandro

Cézar, que comandara um batalhão de rebeldes.

Pouco tempo, com a anistia, Leandro Cezár Paes Barreto volta a viver em Recife

e passa a trabalhar como um pequeno comerciante. Em 1856, uma grande epidemia de

cólera ocorre no Recife e ele se engaja no trabalho de transportar e cuidar das vítimas.

Pouco tempo depois contrai a doença e vem a óbito, deixando a família em estado de

extrema pobreza.

Juvino, aos dez anos, se encontrava órfão e foi morar com familiares em Nazaré

da Mata, Pernambuco. Com amigos do seu pai conseguiu um emprego de caixeiro.

Trabalhava muito: durante o dia, na loja, e, à noite, em uma pequena oficina de

encadernação e recuperação de livros que tinha em casa.

Em 1859, Juvino torna-se sócio de seu irmão, Júlio, na firma Júlio & Irmão

Ltda. No mercado potiguar, começa atuar como mascate. Jovino comprava nos Guarapes

gêneros para subsistência e utensílios para a sobrevivência. Lá conhece e se casa com

Inês Augusta de Albuquerque Maranhão.

Juvino Barreto foi um grande empreendedor, no estado do Rio Grande Norte,

muito interessado em mecanizar o aproveitamento do algodão produzido. Em 24 de maio

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de 1886, lançou a pedra fundamental da fábrica - que com muito esforço ergueu. Viajou

para a Inglaterra, onde adquiriu o maquinário e acertou a vinda de técnicos, hipotecando

bens e os rendimentos futuros. Em 21 de julho de 1888, inaugurou a Fábrica de Fiação e

Tecidos Natal. Antônio Francisco, que era o presidente da província, fez um discurso

cujas palavras foram de agradecimento ao empresário pela inauguração da Fábrica.

Juvino muito feliz disse; “o meu prazer não é ter conseguido montar esta pequena fábrica.

O que me alegra, e o que, com toda certeza, vos merecerá maior atenção, é ver o grande e

sublime quadro de funcionários que está à vossa volta. São oitenta operários, filhos desta

província, abrigados no trabalho. Contemplai-vos! Eles podem dizer: temos certo ganhar

dignamente para toda a nossa vida, o pão para nós e para nossos filhos”.

A fábrica não durou muitos anos uma vez que já existiam muitas no Brasil, mais

modernas,e disputar mercado com elas era bem complicado para o empresário. Além

disso, em 1923, uma grande greve, inicialmente feita pelos estivadores do Porto de Natal

é aderida pelos padeiros, trabalhadores de transportes de cargas e funcionários da fábrica,

ocasionando no fechamento da fábrica de Jovino, em 1925,cuja gerência havia sido

passada a Sérgio Barreto (Juvino já tinha falecido 24 anos antes). Logo após o

fechamento da fábrica, o então gerente opta por transferi-la para o Rio de Janeiro. Esse

interesse em mudar a fábrica de lugar se dá pela força que o mercado no sul representava,

pois a região sudeste tinha um crescimento enorme do ponto de vista industrial e

mercadológico.

Juvino Barreto deixa muitos natalenses de luto após sua morte, no dia 9 de abril

de 1901, aos 68 anos. Teve 14 filhos, mas só 12 estavam vivos. O enterro aconteceu no

cemitério do Alecrim com a presença de 3.000 pessoas. Jovino foi um homem querido e

que muitos gostavam. O empresário trouxe desenvolvimento para a cidade, bem como

para todos os moradores. Além de empreendedor, o empresário foi um grande filantropo.

Suas obras filantrópicas tiveram vida longa, isto é, sobreviveram bem mais que sua

empresa. Em seu testamento, o empresário deixou em torno de dez mil contos de réis para

a construção de um colégio para meninos, outro para meninas. Também deixou parte

dessa herança para a construção de um hospital. Com efeito, parte desse recurso foi para

construir o Colégio Santo Antônio, que foi administrado pelos irmãos Maristas, e o

colégio da Conceição, cuja administração ficou a cargo das irmãs Dorothéias. A outra

parte que seria destinada à construção do hospital, o governador Alberto Maranhão,

casado com uma filha de Juvino Barreto, fez aquisição de uma mansão para o Estado, que

na época pertencia à família, a casa estava situada no “Monte”, em Petrópolis. Depois de

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reformado o Hospital de Caridade foi transferido para lá, lugar onde hoje se encontra a

Casa do Estudante. Em 12 de setembro de 1909, o hospital foi inaugurado. O hospital, em

homenagem a Juvino Barreto, ganha o nome do empresário. Em 1928, é arrendado para a

Sociedade Brasileira de Assistência Hospitalar, entidade que ao assumir a direção muda o

nome do hospital para “Hospital Miguel Couto” (hoje, Hospital Universitário Onofre

Lopes).

Em 1944, é fundado o abrigo para idosos pela Legião Brasileira de Assistência.

A instituição homenageia o grande filantropo colocando o seu nome no abrigo. Essa

homenagem se dá pela grande importância do empresário no desenvolvimento da cidade,

bem como sua participação relevante dentro das obras filantrópicas.

7.1 PRIMEIROS CONTATOS COM O INSTITUTO

O contato com Instituto Juvino Barreto acontece primeiramente pela TV, por

meio de notícias que vez por outra tratam das dificuldades que o instituto enfrenta para

continuar funcionando. Depois de passar diversas vezes no endereço, um dia, resolvisaber

um pouco mais sobre o tão citado asilo e perguntei a um amigo se conhecia a instituição.

Ele me falou vagamente coisas que já sabia ou tinha ouvido de outras pessoas. Tentei

conhecer um pouco mais pela internet, mas não obtive muitas informações, logo, me veio

a necessidade de ir e conhecer o lugar de fato.

Dia 10 de fevereiro de 2014, às 14hs30, fui pela primeira vez à instituição.

Recebeu-me um senhor que ali trabalhava como porteiro. Este me encaminhou à recepção

e lá fui direcionado à sala das assistentes sociais. Até chegar a sala, fui caminhando

devagar e contemplando toda arquitetura do asilo. Vi muitos senhores sentados, outros

conversando, uns em cadeiras de rodas... Também conheci a capela, que se encontra bem

no meio do terreno. A sala de lazer, que, em minha opinião, não tinha nada que

proporcionasse algum tipo de lazer para os idosos; na verdade, possuía apenas uma TV e

ali havia um senhor que estava em frente assistindo. Alguns minutos transcorreram até

que por fim cheguei ao meu destino final - a sala das assistentes.

Bati na porta e uma delas me convidou para entrar. Estavam ocupadas digitando

algum documento. Passados alguns minutos, uma delas veio ter comigo e pergunta “em

que posso ajudar?”. Entreguei-lhe a carta de apresentação da professora Valéria, minha

orientadora. A assistente leu, em seguida, comentou com a colega. Logo, a mesma disse

que o diretor não se encontrava na casa. Aconselharam-me a deixar a carta e esperar um

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possível contato no dia seguinte. Em meio a nossa conversa, chegou uma senhora que se

apresentou como psicóloga, na verdade, ela trabalhou na instituição e já conhecia as

assistentes sociais, Deixei-as conversarem, mas fiquei esperando a oportunidade para

falar um pouco sobre os meus propósitos no asilo. Quando a ocasião se fez oportuna,

comecei a discorrer sobre os meus objetivos.

Falei que estava escrevendo uma monografia e que gostaria de trabalhar com

alguns idosos, pois o trabalho tratavade um Relato de Experiência de Vivência Musical

com o público da terceira idade. Contei tudo bem explicado, de maneira que assistentes

sociais ficaram encantadas com a minha pesquisa. Durante a minha fala, uma ou outra

sugeria algumas coisas para serem feitas durante as intervenções. Eu escutava tudo. Na

verdade, foi uma apresentação do meu trabalho que aconteceu de modo bastante

interativo, isto é, falava e ao mesmo tempo ouvia sugestões.

Depois de apresentar os meus objetivos, agradeci a atenção, a boa receptividade

das assistentes socias e despedi-me. Na caminhada até chegar ao carro, fui mais uma vez

olhando todo espaço, vi muitos senhores sentados em várias partes do asilo, uns

conversavam, outros nem tanto... Foi um bom começo, pensei. Na verdade, uma

experiência valiosa e uma grande oportunidade de conhecer o asilo, mesmo que, de modo

ainda vago.

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8 DAS INTERVENÇÕES

8.1 PRIMEIRA INTERVENÇÃO- A INSTITUIÇÃO E SUA ESTRUTURA

Conheci um pouco mais da instituição, do ponto de vista estrutural, quero dizer,

com um passeio por todas as salas e espaços, acompanhado de um senhor. Estive em

todas as salas. O Zé, um idoso de aproximadamente 80 anos e que ali estava há seis anos,

esteve encarregado de me levar aos quatros cantos do instituto. Começamos pela sala de

terapia ocupacional ou fisioterapia; lá, conheci a fisioterapeuta e dois idosos que estavam

fazendo exercícios físicos na esteira. A sala de terapia, como é denominada, é um espaço

bem iluminado, com algumas máquinas de exercício como esteira, alteres, bicicleta

ergométrica e uma cama para os trabalhos de ordens fisioterápicas. Como disse, o espaço

carece de muitas coisas, ou seja, não tem muitas máquinas, mas, as profissionais da saúde

que lá atuam fazem um bom trabalho e os idosos vão lá com frequência.Segue duas fotos

do espaço:

Imagem 01: Espaço destinado a atividades de fisioterapia e exercícios físicos.

Fonte: Autoria Própria

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Imagem 02:Espaço destinado a atividades de fisioterapia e exercícios físicos.

Fonte: Autoria Própria

8.1.1 Pavilhão São José

O pavilhão se encontra nos fundos da instituição. É um complexo de

salas/quartos que já não funcionam, não tem quase ninguém lá morando, apenas um

senhor que, ao me ver junto do Zé, foi bastante hostil, proferindo muitos nomes feios ao

senhor que me acompanhava. Não passei muito tempo, passei pela frente, tirei duais fotos

e, assim que cheguei próximo do quarto do senhor em questão senti desejo de retirar-me.

Imagem 03: Pavilhão

Fonte: Autoria Própria

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Imagem 04:Corredor de acesso ao Pavilhão

Fonte: Autoria Própria

8.1.2 Casa das Freiras

A residência das freiras se encontra bem no meio do terreno. Passei pela frente,

mas, como não fui autorizado a entrar, fiquei na porta e tirei poucas fotos. Na ocasião,

uma freira me recebeu e pediu explicação sobre o meu trabalho. Falei de modo claro e

sucinto sobre os meus objetivos e, após a explicação, a mesma me agradeceu e foi ter

com senhores num outro espaço do instituto.

Imagem 05: Fotos da entrada da casa das Freiras.

Fonte: Autoria Própria

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Imagem 06: Fotos da entrada da casa das Freiras.

Fonte: Autoria Própria

8.1.3 Salão de Beleza

A instituição conta com um salão de beleza onde os senhores e senhoras vão e

recebem serviços de corte de cabelos, fazem a barba e as senhoras fazem as unhas,

cortam e pintam os cabelos. Não pude entrar pois estava fechado.

Imagem 07: Frente do Salão de Beleza

Fonte: Autoria Própria

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8.1.4 Refeitório

Umas das partes que mais gostei de visitar foi o refeitório. Lugar bastante limpo,

iluminado, com muitas cadeiras e mesas, TV e bebedouro. No espaço tive a sorte de falar

com a nutricionista que me recebeu e colaborou bastante com informações de grande

valia para o trabalho. Ela falou da alimentação que é balanceada, também que os senhores

fazem, a cada 3 horas, uma refeição, isto é, os moradores do instituto têm direito a: café

da manhã, que é servido às 07hs00; lanche às 09hs00; almoço, que começa ser servido a

partir das 11hs30. À tarde, tem o lanche, das 14hs30 até às 15hs30; mais à noite, por volta

das 18hs00, é servido o jantar e, antes dos idosos se recolherem para dormir, é feita a

ceia, com mingaus, vitaminas, chás ou café com leite. Aqueles que apresentam problemas

de ambulação recebem suas refeições em seus quartos. Todas essas coisas acontecem

com muita organização e harmonia.

Imagem 08: Refeitório onde são feitas todas as refeições

Fonte: Autoria Própria

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Imagem 09: Onde ficam Nutricionistas

Fonte: Autoria Própria

Imagem 10: Parte do Refeitório

Fonte: Autoria Própria

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Imagem 11:II parte do Refeitório

Fonte: Autoria Própria

8.1.5 Vila Irmã Lindalva

Nessa vila, tive a minha primeira impressão quanto ao estilo de vida de um idoso

que vive em um asilo. Elaestá situada um pouco próximo à recepção. É uma vila de

quartos onde é possível encontrar muitos senhores. Durante o passeio nessa parte do

instituto, presenciei uma senhora que batia na porta como alguém que pedia por socorro

ou que sofria de alguma grande mágoa. O Zé me revelou que a idosa sofria de algum tipo

de demência.

Mais adiante, conheci uma senhora que se encontrava sentada numa cadeira,

sozinha. Quando me viu, começou a sorrir. Perguntei-lhe se poderia tirar uma foto e ela

respondeu com um “sim”bastante animado. Busquei um melhor ângulo, tirei uma foto,

agradeci a gentileza e me despedi.

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Imagem 12: Vila Irmã Lindalva

Fonte: Autoria Própria

Imagem 13: A senhora que gentilmente deixou tirar essa foto.

Fonte: Autoria Própria

8.1.6 Enfermaria Santa Catarina

Bom, esse é talvez o lugar mais difícil de entrar, pois lá estão os senhores

dependentes de algum cuidado especial. Isto significa que nessa parte do instituto ficam

os idosos que sofrem de demência e têm problemas de ambulação. Além disso, a maioria

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deles é totalmente dependente dos cuidadores; para tomarem banho, se alimentarem,

tomar os remédios e outros cuidados. Atualmente, são dois cuidadores para tomar conta

de 25 senhores.

Imagem 14: Enfermaria

Fonte: Autoria Própria

Imagem 15: Parte interna

Fonte: Autoria Própria

8.1.7 A Capela

A Capela se encontra bem no meio do instituto. É um lugar muito limpo, bem

iluminado e com muitos ornamentos e imagens de santos. É onde acontecem as missas. A

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celebração eucarística ocorre todosos dias, por volta das 16hs00, e muitos dos asilados

vão para rezar e ouvir ao padre.

Imagem 16: A Capela

Fonte: Autoria Própria

Imagem 17: A Capela

Fonte: Autoria Própria

8.1.8 Enfermaria São Vicente de Paulo I

A enfermaria se encontra do lado direito, dentro do prédio. Lá, todos os

medicamentos são repassados para os idosos conforme prescrição médica. Nesse lugar

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ficam os remédios e duas enfermeiras trabalhando. Os doentes também são tratados e

recebem suas medicações diárias. Não tive acesso ao espaço, mas consegui tirar algumas

fotos que mostram um pouco do local.

Imagem 18: Enfermaria São Vicente de Paulo I

Fonte: Autoria Própria

Imagem 19: Funcionamento da Enfermaria

Fonte: Autoria Própria

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8.1.9 Posto de Saúde

O posto de saúde fica próximo da enfermaria. Lá também ficamguardados

alguns medicamentos e local onde as enfermeiras ficam trabalhando. Ao lado, fica o

consultório médico, mas, como não tive acesso a este local, não posso emitir nenhuma

informação a respeito. Aliás, conversando com uma das enfermeiras, soube que a

instituição está sem médico e isso é muito ruim, uma vez que os idosos precisam de

atendimento diariamente. Numa urgência, o motorista leva o idoso às pressas para o

hospital mais próximo.

Imagem 20: Sala de doações

Fonte: Autoria Própria

Imagem 21: Sala do Médico

Fonte: Autoria Própria

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Ao lado da instituição fica a sala com doações. Encontramos roupas em geral

para homens e mulheres, sapatos e sandálias. Segundo informação de uma senhora que

trabalha no local, após receberem as doações, separa-se o que de fato serve para os

idosos, e tudo o que sobra é enviado ao bazar para ser vendido e/ou destinado a outras

atividades dentro da instituição.

8.1.10 Setor de Serviço Social

A sala de Serviço Social se encontra próximo à recepção, para ser mais exato, do

lado esquerdo do complexo, próximo à entrada principal. Lá, as assistentes, por meio de

entrevistas com familiares ou com os próprios senhores, preenchem os requisitos

necessários para abrigá-los no asilo. Além disso, encaminham os idosos para a triagem

onde os mesmos fazem exames a fim de saber como eles estão de saúde, o que podem

comer, o que não podem, dentre outras informações particulares, e igualmente

importantes, de cada novo membro da instituição.

8.1.11 Sala das voluntárias

Conheci a sala das voluntárias enquanto tocava e cantava para o Zé. Estávamos

numa conversa muito boa a respeito da instituição, debaixo de uma árvore. Na ocasião, o

senhor falava de sua vida pregressa, quando, de repente, observei um grupo de senhoras

bem vestidas, sorridentes, caminhando em nossa direção. Elas pareciam conhecer as

pessoas dali, pois cumprimentavam a todos que passavam naquele curto trajeto. E

chegaram até nós com a mesma simpatia. Como já se conheciam, Zé e as voluntárias (o

próprio Zé assim as identificou para mim) se cumprimentaram e em seguida perguntaram

quem eu era e o que fazia ali. Apresentei-me e de modo sucinto falei um pouco do meu

trabalho. As voluntárias adoraram a ideia de levar um pouco de lazer e bem estar para os

senhores por meio da música. Gostaram tanto do que ouviram que me convidaram para

conhecer a sala onde ficavam as demais senhoras que compunham o grupo. Dei alguns

passos e logo estava lá, na porta da sala. Todas, sem exceção alguma, me receberam com

muito carinho.

Depois que fui apresentado, me acomodei numa cadeira e perguntei;o que

senhoras tão distintas faziam ali e fazem desde quando? Esse momento foi uma festa,

pareciam crianças querendo falar todos de uma só vez. Uma das voluntárias chamou

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atenção das demais e disse: “vamos falar, mas que seja uma de cada vez”. E assim

sucedeu. Uma por vez se apresentou e começou a falar sobre há quanto tempo trabalhava

como voluntária e o quão bom era fazê-lo de graça para aqueles idosos do instituto.

Falaram de várias coisas, dentre elas, as dificuldades enfrentadas durante todos esses

anos. Uma coisa que me deixou bastante pensativo foi quando uma delas revelou estar

trabalhando ali desde 1994. Nossa! Eu ouvia aquilo e me perguntava o que levaria uma

pessoa a passar 20 anos numa instituição trabalhando sem receber nenhum tipo de

remuneração? Depois que todas falaram, agradeci e uma das senhoras pegou meu contato

para uma possível ajuda em algum futuro evento na instituição. Despedi-me e sai dali

muito pensativo com tudo que aprendi em poucos instantes, perto daquelas pessoas em

cujos corações habita o desejo de ajudar, de servir o próximo sem retorno algum.

Confesso que tive uma tarde maravilhosa com as voluntárias.

Imagem 22: Voluntárias

Fonte: Autoria Própria

Imagem 23: Voluntárias

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8.2 INTERVENÇÃO 2

Na segunda intervenção, no dia 24/02, cheguei ao instituto às 13hs00. Fui

diretamente para a sala do serviço social. Ali chegando, constatei que as assistentes

sociais estavam muito ocupadas. Elas me pediram para esperar um pouco do lado de fora

da sala. Logo encontrei com o Zé e ele me convidou para passar um tempo na praça que

fica próxima a entrada do instituto. Lá, revelou-me muitas coisas sobre a instituição.

Disse que, na atual conjuntura, a casa de idosos passava por algumas

dificuldades...Escutei atentamente suas queixas sobre o asilo e assim que tive uma

oportunidade, peguei o violão e comecei fazer um dedilhado em cima de dois acordes

maiores (tônica e quinta dominante). O idoso continuava a falar, porém, quando mudei o

toque, começando a fazer a introdução da música de Luiz Gonzaga (Vida de Viajante) o

senhor mudou o assunto, começou a falar de sua juventude, disse que ouviu muito as

canções do velho Lua (apelido de Luiz Gonzaga), revelou ter dançado muito ao som do

mesmo, que conheceu muitas moças bonitas nas festas, disse ainda, que, quando novo,

era um grande dançarino e por isso conhecia muitas meninas. “A inserção do idoso em

contextos sociais carregados de atividades significativas move-o a pensar e querer, o que

intensifica a atividade diencefálica”. (LEÃO; FLUSSER, 2008).

Passados alguns instantes voltou a falar dos problemas do instituto,sobretudo, no

corpo de profissionais que em época de crise financeira recebem seus vencimentos

atrasados e que isso implica diretamente na funcionalidade do asilo, uma vez que sem

receber o pagamento alguns começam a faltar no trabalho, sobrecarregando os demais.

O instituto têm muitas pessoas que trabalham como voluntário, mas também

existem profissionais empregados na casa, isto é, aqueles que possuem um vínculo

empregatício com a instituição. Lá encontram-se profissionais de diversas áreas como

fisioterapeutas, enfermeiras, cozinheiras, nutricionistas, cuidadoras, pessoas que

trabalham na limpeza, motorista para levar os idosos para hospitais ou outros lugares,

caso necessário, porteiro, recepcionistas; havia também dois médicos que

voluntariamente faziam visitas uma vez por semana à instituição a fim de consultar os

idosos.

O Zé revelou também que a administração anterior tinha sido muito melhor que

a atual. Dizia ele que nagestão anterior eram feitos muitos eventos, que a instituição

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estava sempre bem cuidada, com todos os funcionários recebendo seus salários em dia. O

idoso disse ainda que a instituição recebia muitas doações de várias pessoas e também de

outras instituições. Além disso, existia uma parceria firmada de determinado valor com a

prefeitura. Nesse acordo, o poder executivo depositava um valor x todo mês na conta do

instituto. O senhor finalizou o comentário dizendo que, mesmo diante dos muitos

problemas e desafios enfrentados diariamente, estava muito feliz vivendo lá e que nunca

faltava comida e roupa. E sorrindo, disse mais:“todos comem muito por aqui, ninguém

pode reclamar da alimentação!”. Naentidade, os idosos comem a cada 3 horas.

Alguns instantes depois passaram por nós as senhoras voluntárias que iam para o

encontro semanal que acontece em sua sala. Era sempre uma alegria encontrá-las.

Cumprimentei-as e fui diretamente à sala das assistentes. Ao chegar na sala, uma delas

me recebeu e me encaminhou até a vila das idosas com as quais iria trabalhar. Lá tive a

enorme satisfação de conhecer algumas senhoras idosas que vivem no instituto e que se

mostraram bastantes interessadas em participar das experiências musicais após eu ter

explanado sobre o projeto. Foi uma tarde maravilhosa! As senhoras me receberam com

muita educação e simpatia. Quase todas estavam sentadas em cadeiras estrategicamente

posicionadas diante dos quartos onde moram; outras, a assistente foi chamar. O eletricista

que se encontrava no local pegou uma cadeira para eu sentar. Acomodei-me e logo

comecei falar sobre a monografia (Vivência Musical). As senhoras escutavam com muita

atenção. Assim que terminei quase todas concordaram em participar do projeto. O tempo

passou muito rápido, quando dei por mim já eram quase três horas da tarde e uma freira

apareceu convidando as idosas para irem rezar o terço. Já não havia tempo para fazer

muita coisa, então apenas peguei o nome, a idade e a data em que cada uma delas havia

chegado ao instituto. São elas:*Yone, de 81 anos, que chegou em novembro de 2013, e

me disse ter estudado piano na sua juventude; Ana,72 anos, que chegou em 2005 e

revelou gostar muito de música pois quase todos em sua casa cantavam ou tocavam

algum instrumento; Cisa, 69 anos, estava no instituto desde 2013; Sonia, 76 anos, que

chegou em agosto de 2013. Conheci também o Zé, que acompanhava as simpáticas

idosas1. Ele tem 83 e chegou em 2008 ao Juvino Barreto.Revelou não tocar nenhum

instrumento, mas gostar muito de dançar.

1*Visando não expor em nenhum momento a imagem das pessoas envolvidas na pesquisa de

campo em questão, os nomes aqui utilizados são todos fictícios.

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Após ter pego os nomes de todos não pude fazer mais nada, a freira convidava-

os para irem rezar. Despedi-me bem rápido, agradeci por terem me dado atenção e desejei

que tivesse um bom momento de oração e que no dia 10 de março estaria de volta para

iniciar nossas experiências musicais. As senhoras sorriram e cumprimentaram com um

“tchau” bem simpático.

Nessa intervenção, não tive muitas atividades musicais com a participação dos

idosos, porém, tive sim, muitos bons diálogos.(...) “Paulo Freire afirmava que as relações

entre professores e alunos precisam ser educativas e dialógicas” (ALVES, 2013). Isto é,

esse contato que ocorreu com os idosos, regado a risos e muita conversa,norteou a

maneira como eu iria desenvolver meu trabalho e também me mostrou qual caminho que

deveria seguir nas próximas intervenções.

8.3 INTERVENÇÃO 3

No contato com os idosos, no dia 10/03, cheguei um pouco atrasado, mas ainda

assim tive a oportunidade de estar com eles. Foi um momento bacana, levei alguns

pequenos instrumentos de percussão (pandeiro, tamborim, agogô, reco-reco, pauzinhos,

algumas baquetas e um triângulo). Mas não lhes mostrei logo que cheguei. Cumprimentei

a todos os presentes. Nessa ocasião, conheci a Dona Dira, 86 anos de idade, que já se

encontrava morando no instituto desde 1994.

A idosa estava costurando uma peça parecida com um tapete, vi que

demonstrava muita habilidade nesse trabalho. Curioso, perguntei-lhe em qual profissão

trabalhou grande parte de sua vida. Dona Dira, muito entusiasmada, começou a discorrer

sobre sua vida antes de viver no Juvino Barreto. Falou que trabalhou a vida inteira como

costureira, também revelou ter ganhado muito dinheiro nessa época e viajado muito por

vários estados brasileiros. Por fim, disse que ainda gostava muito de costurar e que iria

fazer aquilo até o dia em que “não respirar mais”.

De modo imperceptível fui mudando o assunto da conversa. Comecei a falar de

música, perguntei se eles já haviam tido alguma experiência com música. Dona Dira, por

sua vez, disse que nunca tocou nenhum instrumento e que não gostava muito, pois o que

mais gostava era costurar e que via sua antiga profissão (costureira) como algo muito

divertido e prazeroso, e que nunca se interessou por outras coisas. Porém, fazia das suas

horas de trabalho um momento divertido, pois costurava escutando música no

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rádio.Intervi nesse momento dizendo-lhe que essa também pode ser considerada uma

experiência com música. Costurar escutando rádio seria sim uma vivencia musical. A

idosa ficou surpresa ao ouvir minhas palavras. E disse: “se é assim, então já tive muitas

experiências com música”. Aproveitando a oportunidade, falei que iríamos viver essas

experiências de novo nas vivências musicais.

Passados alguns instantes, abri a bolsa com os instrumentos e constatei um

interesse repentino pelo que havia ali. Na verdade, vi que as idosas demostravam forte

interesse nos instrumentos ali contidos.E eu os mostrei um a um. Duas idosas e

Zépediram-me para ver. Fui pegando os instrumentos, mostrando como manuseá-los e

passando de mão em mão. Nesse momento, constatei uma grande satisfação nos idosos,

eles se divertiam batendo de diversas formas nos instrumentos. A dona Ana, de 72 anos,

de modo bem espontâneo começou a entoar uma canção (confesso que nunca ouvira tal

música), o Zé e os demais presentes (todos idosos) começaram a cantar acompanhando-a;

foi um momento de grande alegria, satisfação, lazer e descontração. Foram poucos

segundos, mas instantes de muitojúbilo entre eles.

Próximo das 15hs00 chegou um voluntário que sempre vai ao instituto para

conversar com os idosos. Ele é musico e ao perceber que os idosos estavam se divertindo

com os instrumentos e a cantoria, pegou um instrumento e começou a tocar. Tudo

aconteceu de modo muito natural. Mas já era hora de eles irem à Capela rezar o terço, e

uma freira se aproximou para convidá-los a isso. As idosas são muito religiosas, elas

rapidamente foram entregando os instrumentos e se despedindo dizendo que tinham se

divertido muito e que tinham adorado aquela experiência. Fiquei muito feliz com o pouco

tempo que tive com eles, pois o objetivo de levar os instrumentos para fazer com que se

familiarizassem com eles, conhecendo, tocando-os, além de proporcionar um momento

de lazer com música, foi alcançado.

Guardei os instrumentos rapidamente a fim de despedir-me dos idosos, no

entanto, já era tarde, quase todos já se encontravam na capela rezando. Não quis

incomodar e parti. Mas sai dali muito feliz com os primeiros resultados da Vivencia

Musical.

Durante toda a intervenção as idosas falavam muitos entre elas, conversavam

coisas da juventude, do cotidiano, da experiência musical que viviam. Enfim, eram

muitos assuntos, e tudo acontecia embalado pelo som dos instrumentos que eu e outros

tocávamos. Ou seja, incentivado pela música eles se comunicavam bastantepor meio de

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olhares, por meio da fala e usando o som dos próprios instrumentos.Nesse sentido

Bruscia (2000) diz:

A música pode fornecer meios de comunicação não-verbais ou pode

servir de ponte para conectar canais de comunicação verbais e não

verbais. Quando utilizada como forma não-verbal, ela pode substituir a

necessidade de palavras e desse modo fornecer uma forma segura e

aceitável de expressão de conflitos e sentimentos que seriam difíceis de

expressar de outro modo. Quando os canais verbais e não-verbais são

utilizados, ela serve para intensificar, elaborar ou estimular a

comunicação verbal, enquanto que a comunicação verbal serve para

definir, consolidar e clarificá-la [a experiência musical] (BRUSCIA

1987, apud BRUSCIA, 2000, p.71).

Como se percebe, a música têm muitos benefícios, um deles é o estímulo à

comunicação, seja por meio da fala, de gestos, de olhares ou do próprio som produzido

pelo idoso. Além da veemente comunicação ocorrida na intervenção, pude constatar nos

idosos uma grande interação entre eles, divertindo-se na descoberta dos sons nos

instrumentos manuseados. “A música ajuda a superar diferenças e possíveis obstáculos ao

relacionamento” (LEÃO; FLUSSER, 2008).

8.4 INTERVENÇÃO 4

Nessa quarta intervenção,17/03/2014, levei o violão e, inicialmente, conversei

sobre experiências musicais. Perguntei as idosas sobre as experiências musicais que elas

teriam vivido em sua juventude. Confesso que não saiu muita coisa, a maioria estava

sonolenta e quase não falava. Na verdade, nos primeiros 10 minutos só quem falou fui eu.

Decidi empunhar o violão e comeceia tocar e cantaras músicas “Deslizes” e “Canteiros”,

do cantor e compositor Fagner (em anexo E). Durante a execução, tocava, cantava e

observava a reação das idosas.

Não tive muitas surpresas até entoar duas músicas de cunho religioso. A canção

“Em Nome do Pai, Em Nome do Filho”, popularmente executada na Igreja Católica, no

início das celebrações eucarísticas, e a canção “Tudo é Do Pai” que o Padre Fábio de

Melo canta. Nesse momento uma senhora me chamou a atenção. Constatei que a idosa se

encontrava muito emocionada, sentadaem sua cadeira como uma criança, ela parecia estar

em um momento de profunda comoção em seu silêncio.

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55

Quando terminei de cantar, perguntei o porquê de ela estar emocionada. A

senhora indagou-me se conhecia a história do “Filho Pródigo". Disse que sim e que

achava ser aquela uma das mais bonitas da Bíblia. A senhora falou que conhecia e que

tinha visto o filme e que aquela canção que eu acabara de cantar ilustrava de modo

simples e bonito essa história.

Foi um momento de grande emoção, e por que não dizer de alegria? Vi ali que o

meu objetivo de proporcionar bem-estar, bem como entretenimento e lazer tinham sido

alcançados. Continuei tocando outras músicas, entre elas “Eu Só Quero um Xodo” de

Dominguinhos. Aproximou-se do nosso pequeno grupo uma outra senhora que veio ter

com as demais. Logo percebi que ela chorava, mas, continuei executando a

música,esperando o momento oportuno para perguntar-lhe sobre sua comoção ao ouvir

aquela música. A idosa revelou estar muito triste porque a filha tinha vindo visitá-la e não

trouxe o neto. Ela me dizia sentir muita saudade do neto o qual não via fazia muito

tempo. A fim de amenizar a sua tristeza naquele momento, perguntei se gostava de

cantar ou se gostaria de ouvir alguma música em especial. A idosa mudou seu humor, e

olhando-me com uma cara mais animada, me pediu que eu tocasse a música “Esperando

na Janela” de Targino Gondim, música que ficou muito famosa na voz de Gilberto Gil.

Toquei, cantei e aquela mulher que se sentia tão triste começou a sorrir, apreciando a

canção.

Como vimos acima, a execução de duas canções provocou sentimentos diversos

nas idosas. Vejamos o que Almeida (2011) fala:

Arrepios de pele, frequência cardíaca, respiração e temperatura foram as

principais respostas dos voluntários enquanto escutavam as músicas. A

neurocientista e líder da equipe de investigadores, Valorie Salimpoor,

explica que estes efeitos são de total responsabilidade da dopamina, um

neurotransmissor presente no cérebro e determinante na alimentação, no

sexo e nas dependências.

Essa intervenção foi uma das melhores. Muita coisa aconteceu, a cada música

tocada e cantada uma nova experiência. Além da questão emocional, durante a

experiência musical emergiram novas vivências. Enquanto eu tocava e cantava, os idosos

participavam com palmas, por vezes cantando juntos em um coro jovial e animado. Nesse

encontro, também apresentei-lhes as canções “Amor Perfeito” de Roberto Carlos, e “Eu

sei que vou te amar”, de Vinicius de Morais. As idosas se divertiram cantando e batendo

palmas juntas. Também, vez por outra, falavam entre elas algumas coisas que

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aconteceram no passado, ou seja, a música, durante essa intervenção especificamente,

atuou como uma forte ferramenta de socialização. Nesse prisma, Bueno, afirma:

[...] a música...importante mediadora no processo de integração do

idoso com a sociedade, com os outros indivíduos e com ele mesmo. Ela

pode ser um agente que interfere positivamente na socialização,

criatividade, autoestima e, consequentemente, um agente propiciador de

melhoria em sua qualidade de vida. (BUENO, 2008).

A música age de diversas formas, como vimos, e está sempre a favor da

socialização, interação e reintegração. No encontro descrito, tivemos muito boas

experiências musicais. O tempo novamente passou sem que eu percebesse... E já era hora

de elas se retirarem para rezar o terço na capela do instituto. Despedi-me das idosas.

Muitas delas revelando-me, enquanto se despediam, que haviam tido uma tarde

maravilhosa. Guardei o violão e saí do instituto com a sensação de missão cumprida.

8.5 INTERVENÇÃO 5

No dia 24 de março estive no asilo para mais um dia de vivência musical com os

idosos. Foi um dia muito produtivo com muita música e histórias. Com o auxílio do

violão e um folheto com letras de músicas religiosas, ficou comprovado, mais uma vez, o

quanto a música pode contribuir de maneira magistral, de forma positiva, na vida do

idoso.Com apenas quatro músicas tocadas e cantadas os idosos apresentaram efeitos

diversos no decorrer dessa experiência. Toquei e cantei, com ajuda deles, as

canções:“Como é grande o meu amor por você” (Roberto Carlos);“Tudo é do pai” (Padre

Fábio de Melo);“Em nome do pai” (autor desconhecido); e “Onde reina o amor”, (autor

desconhecido).Impressionante como essas músicas estimularam os idosos de várias

maneiras, sobretudo a reavivar sua memória. Ao término de cada canção eles faziam

comentários e contavam histórias. Uma das idosas contou uma história muito bonita,

quando finalizei a canção de Roberto Carlos. Sintetizando sua história, ela me disse que,

quando casada, todos os anos, na data do seu aniversário, o marido cantava canções de

Roberto Carlos, e que na maioria das vezes a canção entoada era Como é grande o meu

amor por você. Outra idosa disse que na sua tenra idade frequentava as missas dominicais

e que a música mais cantada durante o evento era Em Nome do Pai.

Quanto ao estímulo da memória Tourinho (2006) diz que “a música favorece a

memória evocando lembranças do passado”. Essa afirmação se confirmou durante a

intervenção mencionada. Todos os idosos acompanhavam a execução das músicas dando

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sempre uma atenção mais que especial à melodia e suas letras. Na verdade, eles adoram

histórias, não perdem a oportunidade de contar ou ouvir uma.

Na intervenção se faziam presentes apenas quatro idosas, porém, mesmo

havendo um público tão pequeno, a vivência ocorreu efoi uma experiênciamusical muito

boa para os que ali estavam.Durante a execução das músicas eu observava o que os

idosos faziam. Uns escutavam com muita atenção e cantavam vez por outra, outros

sorriam e batiam palmas. Igualmente, uma das idosas comentava com outra colega o que

achava da música. As idosas interagiam muito entre elas durante a execução. Uma

chegou a me revelar que, por causa das experiências com músicas voltou a falar com uma

colega com a qual já não conversava.

Como se percebe, a vivência com música ajuda na socialização, estimula a

comunicação, e também pode servir comoinstrumento apaziguador, pois, nessa situação

em específico, ajudou a solucionar conflitos existentes no convívio social. Aquelas idosas

que vivenciavam a atividade voltaram a se falar e a conviver harmoniosamente no mesmo

ambiente.

8.6 INTERVENÇÃO 6

No sexto dia de intervenção (31/03), cheguei ao instituto uma hora mais cedo

porque tinha um compromisso no mesmo horário que acontece as vivências musicais.

Confesso que encontrei muitos dos idosos com “cara de sono” - costumeiramente eles

dormem depois do almoço. Expliquei que vinha mais cedo porque tinha um compromisso

e não queria perder a oportunidade de estar com eles.

Nessa tarde, encontravam-se 5 idosos. Após cumprimentar todos, peguei meu

banquinho e comecei a entoar uma música. A canção em questão falava sobre liberdade,

na verdade, era o hino da Campanha da Fraternidade de 2014 (letra em anexo). Muitos

não sabiam sobre o tema da campanha. Depois de cantar, falei um pouco do que a canção

tratava - jovens que são convidados a viver e a trabalhar em outros países, e lá chegando

se prostituem, pois, muitas vezes, são obrigados a trabalhar e viver em condições não

muito boas, sofrendo abusos de toda sorte. As idosas, por sua vez, começaram a tecer

comentáriosa respeito. Uma falou que,em sua juventude, perdeu contato com algumas

colegas que foram viver em outros países e não voltaram mais. Anos mais tarde lhe foi

revelado que suas amigas viviam em condições precárias na Europa e que trabalhavam

em condições de escravidão. Outra idosa falou de um parente que sonhava em ser jogador

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de futebol, disse que foi convidado para jogar em outro país e passados alguns anos se

encontrava trabalhando como ajudante de pedreiro.

Nesse momento surgiram muitas histórias, todavia, registrei aqui o que acreditei

ser mais importante. Depois de muitas histórias, toquei e cantei junto com as idosas a

música Palavra de Salvação (em anexo), música muito cantada nas missas. As senhoras

adoraram e, mais uma vez, muitas histórias emergiram de suas memórias. Uma disse que

era muito linda essa canção e que sempre a escutava nas missas as quais frequentava, e

que muitos se emocionavam ao ouvi-la. Outra falou sobre uma irmã que a acompanhava

quando jovem nas missas de domingo, e que, em certa ocasião, revelou gostar muito da

música pois lembrava suas experiências quando orava e falava com Deus.

Bom, como disse, os idosos nessa intervenção estavam muito sonolentos e não

participaram como das outras vezes, todavia, mais uma vez, participaram cada um dentro

do seu ritmo e tivemos sim uma vivencia musical.

8.7 INTERVENÇÃO 7

A intervenção do dia 07/04 foi uma das melhores. Os idosos estavam muito

dispostos e animados. Assim que cheguei o Seu Zé falou de um parente que não tinha

notícias há muito tempo e que foi visitá-lo no instituto. Disse-me que este era músico e

que tocou algumas músicas na ocasião dessa visita, acontecimento também presenciado

por outros idosos que participam das vivencias musicais, e que todos se agradaram com a

visita do seu parente. Uma das idosas tomou a palavra e começou a discorrer sobre o

ocorrido. Falou que por meio da música o parente de Seu Zé provocou muitos bons

sentimentos nos idosos e fez com que eles se mexessem mais do que o normal, isto é,

cada um a seu modo e dentro das suas possibilidades deram alguns passos e dançaram um

pouco. Foi muito bom ouvir essa história. Comprovei mais uma vez o bem que a música

faz ao oportunizar aos idosos um momento de lazer, bem estar e entretenimento.

Depois de ouvir um pouco de cada um dos idosos, sentei no meu banquinho,

tirei o violão da capa e comecei a cantar uma música religiosa, “Onde reina o amor”

(autor desconhecido). Os idosos acompanharam ouvindo atentamente a letra na primeira

vez em que cantei. Na segunda, eles já acompanhavam com palmas e cantando algumas

partes da letra. Executei a canção ainda uma terceira veze, então, eles já a reproduziam

toda a música (cantavam a melodia juntamente com a letra). Isso me faz acreditar que

independentemente da idade eles podem sim aprender ou continuar aprendendo o que

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quiserem. Bee (1997) salienta que, dos 65 anos aos 75 anos, algumas das mudanças

cognitivas são sutis ou até inexistentes, como é o caso do conhecimento de vocabulário,

entretanto, ocorrem declínios importantes nas medidas que envolvem velocidade ou

habilidades não exercitadas.

Como se vê, os idosos podem sim aprender. Não com a mesma capacidade

cognitiva que um jovem, uma vez que do ponto de vista da gerontologia, os

idososperdem um pouco de qualidade dos sentidos com a chegada da velhice. Creio que

cabe ao educador buscar uma metodologia que venha a suprir essas necessidades

específicas no processo de ensino-aprendizagem do público idoso.

A intervenção seguiu comigo tocando e cantandooutra canção. Obtive o mesmo

grau de interesse por parte dos idosos, que seguiam ouvindo atentamente. Ao término da

música fizeram outros comentários com os colegas que se encontravam mais próximos.

Achei impressionante como eles conversavam, sobretudo quando finalizava a canção.

Eles sempre se lembravam de alguma coisa após serem estimulados com a melodia, e,

claro, com letra da música.

Ratifico aqui a importância da música como meio de comunicação, e/ou

estímulo de interação entre pessoas que figuram em um mesmo ambiente. Não obstante,

também atua no fortalecimento das conexões cerebrais estimulando à memória, trazendo

à tona lembranças do passado dos idosos.

Como sempre ocorre, próximo das 15hs a freira veio convocar as idosas para

rezar o terço. Despedi-me agradecendo e a desejando que tivessem uma boa experiência

na reza.

8.8 INTERVENÇÃO 8

Na tarde de 14 de abril estive pela última vez no Instituto Juvino Barreto para a

intervenção musical. Cheguei no horário de sempre (14hs00) e, mais uma vez, fui

agraciado pelas idosas que receberam-me com muita simpatia, alegria e um sorriso que

demonstrava muita vontade de participar da vivência.

Ao chegar e cumprimentá-las iniciei uma conversa informal na qual perguntava

sobre os planos delas para a Semana Santa. Foi um momento um pouco triste, pois ao

perguntar o que iriam fazer ou se iriam visitar suas famílias,as idosas revelaram não ter

mais ninguém, ou seja, falaram que não tinham mais irmãos, pais, mães, etc. Senti-me

bastante comovido, mas continuei conversando e buscando uma oportunidade para falar

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de música e ela veio através de uma idosa que pediu-me para tocar e cantar a música

“onde reina o amor”. As idosas rapidamente começaram a cantar e bater palmas. Essa

música elas sabiam toda a letra e a melodia, o que ajudou bastante e fez com que a

participação delas nessa intervenção acontecesse de modo intenso, pois cantavam com

bastante empolgação e alegria.

Foi uma intervenção na qual cantei e toquei muito para elas, e, apesar de eu estar

outra vez no “horário de cochilo”, estas estavam bastante animadas e participavam de

cada momento da vivencia musical, umas cantando, outras batendo palmas e, quase todas

ao termino de cada canção contando histórias.

Outra canção que fez sucesso na intervenção foi “Que Nem Jiló” de Luiz

Gonzaga. Mais uma vez, toquei e cantei com a participação de todas. Ao terminar uma

das idosas revelou ter dançado muito quando mais moça essa e outras músicas do “Lua”.

Como disse, as idosas estavam muito inspiradas naquela tarde, participavam de tudo com

muita vontade e animação. Assim que terminei a canção iniciei a entrevista

semiestruturada (pag. 64). Após a entrevista, chegaram umas estudantes de psicologia

acompanhadas de uma estagiária. Estavam apenas conhecendo o instituto. Elas me

perguntaram o que fazia ali. Falei brevemente do trabalho, as estudantes ouviram

atentamente, em seguida pediram para tirar uma foto das idosas, mas uma delas não

permitiam alegando que, aquele era o primeiro contato delas com o Instituto e as idosas e

que, talvez, numa próxima oportunidade poderiam. Após a idosa falar as estudantes se

despediram e voltamos a nossa intervenção (quase em todas as intervenções pessoas

apareciam e, de certa forma, atrapalhavam nas intervenções; tive que ter muito “jogo de

cintura” para administrar o pouco tempo que tinha com as idosas).

A próxima canção tocada foi “Em nome do pai”. Através de um pedido de uma

das idosas toquei e cantei juntamente com elas está linda canção. Enquanto cantava, as

senhoras olhavam o céu contemplando a natureza. Uma delas então disse: “Tudo que

Deus fez é lindo, tudo que ele criou é maravilhoso e a música é uma das coisas mais belas

que Ele criou”. Enquanto falava as outras corroboravam dizendo “É verdade, é verdade”.

Achei muito bonito da parte dela fazer tal comentário. Aos poucos aquela euforia que me

foi apresentada no começo da intervenção foi se acalmando de maneira que em certos

momentos só se ouvia o toque do violão. Depois de trinta minutos de intervenção as

idosas já apresentavam um pouco de cansaço, porém, continuavam a participar tanto na

hora do canto quanto na hora de falar, ainda que com um pouco menos de energia.

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Eram todas muito gentis, faziam questão de conversar entre uma música e outra

e assim que finalizei a execuçãodessa última não foi diferente. Voltaram a dizer que essa

era umas das músicas mais bonitas que já ouviram nas missas, em sua juventude, e que

gostavam muito quando voltavam a ouvi-la. Mais uma vez, assim que terminaram o

comentário iniciei outra canção. Aliás, antes de cantar mais uma, comecei a falar sobre

Luiz Gonzaga. Esta foi a deixa para que elas começassem a contar várias histórias sobre

experiências vividas quando jovens, dançando e cantando em bailes, casamentos e

eventos ao som do “Lua”.

Como de costume, deixei que as idosas falassem o quanto quisessem e, após

terminarem, comecei a entoar “Asa Branca”. Toquei bem lentamente a canção e ao

finalizá-la vi que uma das idosas estava chorando. Perguntei rapidamente o que havia

acontecido e a senhora revelou ter lembrado muito do interior em que nasceu e o quanto a

canção falava das dificuldades enfrentadas pelo sertanejo de modo geral. A idosa também

disse que ouvia muita essa canção após ter chegado à capital (Natal) para trabalhar e não

mais voltar a sua terra. Foi um momento de grande comoção entre as idosas, todavia

tentei rapidamente contornar a situação com outra música. Comecei a cantar a música de

Roberto Carlos “Como é Grande o Meu Amor Por Você”, executei-a com a participação

de todas elas, entre vozes e palmas (com uma força não costumeira). Foi bom ver que

mais uma vez a música me ajudou amudar o ânimo delas. A arte do sons como

ferramenta de trabalho, tem-se mostrado bastante eficaz, pois afeta o idoso

emocionalmente e o ajuda-o de várias maneiras.

Nessa intervenção levei a minha flauta doce, isto porque, no dia que antecedeu à

visita ao instituto, lembrei-me de uma idosaque revelou certa vez ter muita vontade de

ouvir alguém tocando flauta para ela. Assim que terminei a canção de Roberto Carlos

olhei na direção da idosa mencionada e falei que tinha uma surpresa e que gostaria de

mostrá-la. Peguei a flauta e toquei a música “Odeà Alegria” de Beethoven e “Asa

Branca” de Luiz Gonzaga. A idosa sorriu muito e mostrou muita satisfação quando

terminei. A mesma chegou a beijar minha mão em gesto agradecido. Assim que terminei

as músicas, falei que aquele era o último dia que estaria com elas, continuei dizendo que

estava muito feliz por tê-las conhecido e que gostaria de tirar uma foto. Elas rapidamente

se levantaram, umas ajeitando os cabelos, outras o vestido. Foi um “reboliço” entre elas

para se ajeitarem e saírem bonitas na fotografia. Por fim, organizaram-se e as esperadas

fotos foram tiradas. Uma só com elas e outras comigo.

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Após terminar a sessão de fotos, de modo bem carinhoso fui aos poucos

despedindo-me delas. Disse que tinha tido uma experiência muito bacana naquele local,

desde as primeiras visitas até o momento das intervenções propriamente ditas. Elas, por

sua vez e usando de uma gentileza grandiosa, falavam que também tinham experienciado

vários momentos mágicos com a música e comigo. Confesso que estava receoso com essa

despedida, mas ela não poderia ter acontecido de outra forma melhor. Cheia de alegria,

satisfação, gratidão. Enfim... Foram lindas e muito gratificantes todas as coisas que

aconteceram nesses entrecortados momentos musicais, junto a pessoas que têm muito

para oferecer e partilhar com os demais.

Imagem 24: Idosas

Fonte:Autoria Própria

Imagem25: Eu e as idosas

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Fonte: Autoria Própria

Bom, estas foram as minhas companheiras nas intervenções musicais. Foram

dois meses de grandes experiências e muito aprendizado. Houveram choros, sorrisos,

músicas, bater de palmas, contação de histórias e muitas outras coisas. E aqui quero

ressaltar a alegria de viver que encontrei nestas idosas. Com elasnão só toquei e cantei,

mas também aprendi a ver o mundo de outra forma, aprendi a valorizar mais os amigos, a

família, o que tenho, aprendi que não vale a pena brigar por tão pouco, também aprendi

que para ser feliz não preciso de muito. Na verdade, apenas o necessário, o pouco com

qualidade, pouco com Deus, pouco com honestidade, o pouco conquistado com muita

garra, coragem, com ousadia. Com elas aprendi e comprovei que realmente a música é

uma arte belíssima, que por meio dela podemos levar alegria, prazer, satisfação, amor,

carinho, que podemos transformar as pessoas, que podemos ser melhores seres humanos,

cidadãos, pais, filhos, irmãos, trabalhadores, professores, etc. Enfim, estar com essas

idosas foi um dos melhores presentes que me dei. Foi como estar perto de Deus.

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8.9 ESTREVISTA SEMIESTRUTURADA

Com objetivo de aferir o quanto as vivências musicais contribuíram na vida das

idosas, dentro do instituto, foi feita uma entrevista na qual apenas três participaram

respondendo duas perguntas. A entrevista foi de caráter semiestruturado, de natureza

subjetiva e foi feita no último dia de intervenção.

Questão 1: Quais benefícios a música lhe proporciona?

Resposta do idoso A:Ela me faz sentir bem, tranquila... A música me acalma.

Sinto muita paz em meu coração quando ouço uma linda melodia.

Resposta do idoso B:Quando vivencio alguma experiência com música sinto algo

bom dentro de mim, alguma coisa me eleva...vou lá pro centro do céu, me sinto perto de

Deus, penso sempre em coisas boas, afinal, a vida é bela e com música muito mais.

Resposta do Idoso C:Sinto-me muito feliz quando escuto música. Quando toca

alguma canção que gosto no rádio, corro lá e aumento o volume. Às vezes, canto junto,

me sinto outra pessoa, me animo. Quanto estou triste, assim, „pra baixo‟, ligo o rádio e

meu ânimo muda de repente. Graças a Deus a música existe e ela pode nos ajudar a

superar as tristezas do dia-a-dia.

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Questão 2: O que vocês sentiam durante as vivências musicais?

Resposta do idoso A: Me sentia feliz, alegre, lembrava de experiências que vivi,

também de algumas pessoas importantes que passaram por minha vida, do meu marido,

de uma grande amiga que esteve comigo por mais de 20 anos (estudamos juntas por

quase 15), nós formamos e trabalhamos também por um tempo. É isso, a música mexe

muito com minhas lembranças.

Resposta do idoso B:Emocionalmente feliz, sinto muita paz interior, lembro de

coisas boas do passado, coisas boas que aconteceram e as tristes a música nos ajuda a

esquecer.

Resposta do Idoso C: Eu me sinto muito feliz escutando música. Ai como eu

gosto...Gosto muito de música, lembro da minha juventude quando dançava em bailes.

Dançava e ninguém podia botar defeito. Nessa época tinha dois professores de dança que

iam aos bailes, ficavam olhando eu dançar e me elogiavam muito. É isso, nas

intervenções sentia-me como uma jovem menina vivendo todas as coisas da juventude

outra vez.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

O idoso que vive em asilo é um ser humano como qualquer outro e mais do que

nunca precisa ser respeitado, amado e deve continuar tendocomo principal suporte a

visita constante da família. Afinal, não há nada melhor do que receber visitasdaqueles que

lhe estimam e lhe amam. Além do mais, depois que se aposentam, os idosos podem sim

continuar provando de novas experiências e aprendendo e tendo como suporte seus

parentes (Filhos, filhas, netos, etc).

No estudo foi comprovado que os idosos têm sim um potencial enorme no que

concerne ao processo cognitivo, isto é, a capacidade de aprender. Durante as intervenções

estes apresentaram muito interesse em aprender e fazer coisas novas (se mostravam muito

curiosos o tempo todo). Além disso, conseguiam fazer tudo que lhes era proposto.

Os idosos precisam ser vistos com “outros olhos”. Para tal, faz-se necessário o

incentivo a interação entre eles, jovens e adultos, afinal, todos querem ser ouvidos e fazer

parte dos eventos sociais.

Quanto ao papeldo educador que tem interesse em trabalhar com esse

público,este deverá buscar metodologias específicas para atender àsnecessidades dos

idosos. Além disso, ter muita paciência, ser criativo, dinâmico e, sobretudo, sensível no

processo de ensino-aprendizagem com o público da terceira idade.

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Os resultados foram muito bons. Muito do que foi lido em artigos e outras fontes

de pesquisa científica pôde ser comprovado na prática. Quero dizer que, a vivência com

os idosos com a música esteve em total harmonia com o que foi lido.

A música foi de fato o instrumento que influenciou e provocoumuitos benefícios

nos idosos;proporcionou lazer, entretenimento, estimulou à memória, desenvolveu

capacidades diversas, também novas habilidades, integrou, socializou, bem como

influenciou no comportamento, na interação, na fala, na coordenação motora,melhorou o

humor e quebrou certos preconceitos.

A cada intervenção era constatado a satisfação e a vontade dos idosos em

participar e aprender.

Além de todos os benefícios que os idosos receberam durante as intervenções,

através da música, a experiência provocou muitos benefícios em mim quando na

condição de educador.Cada intervenção era vista como um novo desafio e oportunidade

de aprender. Durante os dias que antecediam a visita ao instituto, passava boa parte do

tempo pensando, pesquisando e refletindo sobre quaisseriam os melhores procedimentos

a serem utilizados na próxima intervenção. Foi um exercício do pensar diário. Trabalhar

com idosos requer muita sensibilidade, paciência e estudo. Era preciso buscar novas

formas a cada nova intervenção. Isso me fez crescer como pesquisador, pois, tinha que

buscar diariamente em diversas fontes formas de como lidar com eles.

[...] ensinar exige pesquisa, exige criticidade, exige rigorosidade

metódica, exige respeito aos saberes dos educandos, exige estética e

ética, exige corporeificação das palavras pelo exemplo, exige risco,

aceitação do novo e rejeição a qualquer forma de discriminação, exige

comprometimento, exige reflexão crítica sobre a prática em si mesma,

independente da opção política do educador (Freire, 1999).

Para lidar com eles era preciso um jeito especial a cada intervenção. Às vezes,

chegava e encontrava uma ou duas idosas tristes e chorando, sentindo falta dos filhos que

prometiam ir vê-las e não apareciam, nem ao menos ligavam para avisar. Isso motivava a

necessidade de conversar bastante antes de iniciar os trabalhos;era necessário tentar

mudar o ânimo delas. Além disso, as idosas não se mexiam muito, passavam a maior

parte do tempo sentados, sem nem levantar os braços.

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Mesmo com todas essas dificuldades que surgiama cada visita,sempre busquei

de alguma forma driblar os desafios e proporcionar um momento de júbilo as minhas

caríssimas amigas idosas. Fui a todas as intervenções desejoso de possibilitar um

momento único, com muita música, vivacidade e expressividade.

A pessoa idosadeve ser incentivada a continuar a fazer suas atividades normais

do dia-a-dia, trabalho, lazer, estudo, viagens, conversas, etc. Todas essas experiências

precisam continuar fazendo parte das suas vidas,igualmente, a sociedade, sobretudo a

família, precisa usar de grande sensibilidade ao lidar com o idoso. Hoje já não cabe mais

usar de comportamentos preconceituosos e discriminatórios no que diz respeito à velhice.

A Vivência Musical com idoso que, vive em asilo, deve continuar, pois essa

experiência provou que a música pode ajudá-los em vários aspectos, sobretudo, nos

quesitos socialização, comportamento, integração, comunicação e na memória.

Faz-se necessário deixarmos de lado também os mitos e estigmas que dizem que

os idosos precisam de descanso, que não aguentam fazer mais nada, que não sabem das

coisas, que já não podem ouvir bem, falar bem, ver, sentir, que não são capazes, que não

têm força, etc. Com a chegada da velhice ocorrem as patologias que estão intimamente

ligadas ao processo de envelhecimento (diminuição da qualidade dos sentidos), todavia,

não significa que o idoso não pode fazer mais nada. O idoso pode sim continuar a praticar

esportes, conversar, caminhar, correr, viver em sociedade como qualquer outra pessoa. O

mesmo pode também ouvir músicas, aprender quantos instrumentos quiser, ir à concertos,

shows, vivenciar várias experiências musicais.

Por fim, vale salientar que o idoso éparte integrante da sociedade e não podemos

de maneira alguma deixá-lo à margem,tê-los entre nós é um grande privilégio, é também

uma boa forma de contribuir para a construção de uma sociedade mais justa, digna e

próspera. Eles têm muito o que acrescentar, o que dizer, muito a ensinar e aprender

ainda.Viva aos idosos de todo Brasil!

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ANEXOS

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ANEXO A- Música Amor Perfeito

Roberto Carlos

Fecho os olhos pra não ver passar o tempo

Sinto falta de você

Anjo bom, amor perfeito no meu peito

Sem você não sei viver

Vem, que eu conto os dias

Conto as horas pra te ver

Eu não consigo te esquecer

Cada minuto é muito tempo sem você

Sem você

Os segundos vão passando lentamente

Não tem hora pra chegar

Até quando te querendo, te amando

Coração quer te encontrar

Vem, que nos seus braços esse amor é uma canção

E eu não consigo te esquecer

Cada minuto é muito tempo sem você

Sem você

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Eu não vou saber me acostumar

Sem sua mão pra me acalmar

Sem seu olhar pra me entender

Sem seu carinho, amor, sem você

Vem me tirar da solidão

Fazer feliz meu coração

Já não importa quem errou

o que passou, passou então vem

Vem, vem, vem

ANEXO B: Música Canteiros

Fagner

Quando penso em você

Fecho os olhos de saudade

Tenho tido muita coisa

Menos a felicidade

Correm os meus dedos longos

Em versos tristes que invento

Nem aquilo a que me entrego

Já me dá contentamento

Pode ser até manhã

Sendo claro, feito o dia

Mas nada do que me dizem

Me faz sentir alegria

Eu só queria ter do mato

Um gosto de framboesa

Pra correr entre os canteiros

E esconder minha tristeza

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E eu ainda sou bem moço pra tanta tristeza

E deixemos de coisa, cuidemos da vida

Pois senão chega a morte

Ou coisa parecida

E nos arrasta moço

Sem ter visto a vida

Eu só queria ter do mato

Um gosto de framboesa

Pra correr entre os canteiros

E esconder minha tristeza

E eu ainda sou bem moço pra tanta tristeza

E deixemos de coisa, cuidemos da vida

Pois senão chega a morte

Ou coisa parecida

E nos arrasta moço

Sem ter visto a vida

É pau, é pedra, é o fim do caminho

É um resto de toco, é um pouco sozinho

É um caco de vidro, é a vida, é o sol

É a noite, é a morte, é um laço, é o anzol

São as águas de março fechando o verão

É promessa de vida em nosso coração

ANEXO C:Como é Grande o Meu Amor Por Você

Roberto Carlos

Eu tenho tanto pra lhe falar

Mas com palavras não sei dizer

Como é grande o meu amor por você

E não há nada pra comparar

Para poder lhe explicar

Como é grande o meu amor por você

Nem mesmo o céu nem as estrelas

Nem mesmo o mar e o infinito

Nada é maior que o meu amor

Nem mais bonito

Me desespero a procurar

Alguma forma de lhe falar

Como é grande o meu amor por você

Nunca se esqueça, nem um segundo

Que eu tenho o amor maior do mundo

Como é grande o meu amor por você

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Nunca se esqueça, nem um segundo

Que eu tenho o amor maior do mundo

Como é grande o meu amor por você

Mas como é grande o meu amor por você

ANEXO E:Deslizes

Fagner

Não sei por que

Insisto tanto em te querer

Se você sempre faz de mim

O que bem quer

Se ao teu lado

Sei tão pouco de você

É pelos outros que eu sei

Quem você é

Eu sei de tudo

Com quem andas, aonde vais

Mas eu disfarço o meu ciúme

Mesmo assim

Pois aprendi

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Que o meu silêncio vale mais

E desse jeito eu vou trazer

Você pra mim

E como prêmio

Eu recebo o teu abraço

Subornando o meu desejo

Tão antigo

E fecho os olhos

Para todos os teus passos

Me enganando

Só assim somos amigos

Por quantas vezes

Me dá raiva de querer

Em concordar com tudo

Que você me faz

Já fiz de tudo

Pra tentar te esquecer

Falta coragem pra dizer

Que nunca mais

Nós somos cúmplices

Nós dois somos culpados

No mesmo instante

Em que teu corpo toca o meu

Já não existe

Nem o certo, nem errado

Só o amor que por encanto

Aconteceu

E é só assim

Que eu perdoo

Os teus deslizes

E é assim o nosso

Jeito de viver

E em outros braços

Tu resolves tuas crises

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Em outras bocas

Não consigo te esquecer

Te esquecer

ANEXO F: Em Nome do Pai

Padre Marcelo Rossi

Em nome do pai

Em nome do filho

Em nome do espirito santo

Estamos aqui

Em nome do pai

Em nome do filho

Em nome do espirito santo

Estamos aqui

Para louvar e agradecer

Bem dizer e adorar

Estamos aqui, Senhor,

A teu dispor.

Para louvar e agradecer

Bem dizer e adorar

Te aclamar

Deus trino de amor.

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ANEXO G:Hino da Campanha da Fraternidade 2014

Campanha da Fraternidade

É para a liberdade que Cristo nos libertou,

Jesus libertador!

É para a liberdade que Cristo nos libertou! (Gl 5,1)

1. Deus não quer ver seus filhos sendo escravizados,

À semelhança e à sua imagem, os criou. (Cf. Gn 1,27)

Na cruz de Cristo, foram todos resgatados

Pra liberdade é que Jesus nos libertou! (Gl 5,1)

2. Há tanta gente que, ao buscar nova alvorada,

Sai pela estrada a procurar libertação;

Mas como é triste ver, ao fim da caminhada,

Que foi levada a trabalhar na escravidão!

3. E quantos chegam a perder a dignidade,

Sua cidade, a família, o seu valor.

Falta justiça, falta mais fraternidade

Pra libertá-los para a vida e para o amor!

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4. Que abracemos a certeza da esperança, (Cf. Hb 6,11)

Que já nos lança, nessa marcha em comunhão.

Pra novo céu e nova terra da aliança, (Cf. Ap 21,1)

De liberdade e vida plena para o irmão (Cf. Jo 10,10)

ANEXO H: Tudo É do Pai

Pe. Fábio de Melo

Eu pensei que podia viver, por mim mesmo

Eu pensei que as coisas do mundo

Não iriam me derrubar

O orgulho tomou conta do meu ser

E o pecado devastou o meu viver

Fui embora, disse ao Pai, dá-me o que é meu!

Dá-me a parte que me cabe da herança

Fui pro mundo

Gastei tudo

Me restou só o pecado

Hoje eu sei que nada é meu

Tudo é do Pai

(refrão)

Tudo é do Pai

Toda honra e toda glória

É dele a vitória

Alcançada em minha vida

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Tudo é do Pai

Se sou fraco e pecador

Bem mais forte é o meu Senhor

Que me cura por amor. (bis)

ANEXO I:Como é Grande o Meu Amor Por Você

Roberto Carlos

Eu tenho tanto pra lhe falar

Mas com palavras não sei dizer

Como é grande o meu amor por você

E não há nada pra comparar

Para poder lhe explicar

Como é grande o meu amor por você

Nem mesmo o céu nem as estrelas

Nem mesmo o mar e o infinito

Nada é maior que o meu amor

Nem mais bonito

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Me desespero a procurar

Alguma forma de lhe falar

Como é grande o meu amor por você

Nunca se esqueça, nem um segundo

Que eu tenho o amor maior do mundo

Como é grande o meu amor por você

Nunca se esqueça, nem um segundo

Que eu tenho o amor maior do mundo

Como é grande o meu amor por você

Mas como é grande o meu amor por você

ANEXO J:Que nem Jiló

Luiz Gonzaga

Se a gente lembra só por lembrar

O amor que a gente um dia perdeu

Saudade inté que assim é bom

Pro cabra se convencer

Que é feliz sem saber

Pois não sofreu

Porém se a gente vive a sonhar

Com alguém que se deseja rever

Saudade, entonce, aí é ruim

Eu tiro isso por mim

Que vivo doido a sofrer

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Ai quem me dera voltar

Pros braços do meu xodó

Saudade assim faz roer

E amarga qui nem jiló

Mas ninguém pode dizer

Que me viu triste a chorar

Saudade, o meu remédio é cantar

ANEXO L:Asa Branca

Luiz Gonzaga

Quando olhei a terra ardendo

Qual a fogueira de São João

Eu perguntei a Deus do céu, ai

Por que tamanha judiação

Eu perguntei a Deus do céu, ai

Por que tamanha judiação

Que braseiro, que fornalha

Nem um pé de prantação

Por falta d'água perdi meu gado

Morreu de sede meu alazão

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Por farta d'água perdi meu gado

Morreu de sede meu alazão

Inté mesmo a asa branca

Bateu asas do sertão

Então eu disse, adeus Rosinha

Guarda contigo meu coração

Então eu disse, adeus Rosinha

Guarda contigo meu coração

Hoje longe, muitas léguas

Numa triste solidão

Espero a chuva cair de novo

Pra mim voltar pro meu sertão

Espero a chuva cair de novo

Pra mim voltar pro meu sertão

Quando o verde dos teus olhos

Se espalhar na prantação

Eu te asseguro não chore não, viu

Que eu voltarei, viu

Meu coração

Eu te asseguro não chore não, viu

Que eu voltarei, viu

Meu coração

ANEXO M:Vida de Viajante

Luiz Gonzaga

Minha vida é andar

Por esse país

Pra ver se um dia

Descanso feliz

Guardando as recordações

Das terras por onde passei

Andando pelos sertões

E dos amigos que lá deixei.

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Chuva e sol

Poeira e carvão

Longe de casa

Sigo o roteiro

Mais uma estação

E a alegria no coração

Minha vida é andar

Mar e terra

Inverno e verão

Mostre o sorriso

Mostre a alegria

Mas eu mesmo não

E a saudade no coração

Minha vida é andar...

ANEXO N:Asa Branca (partitura)

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ANEXO O:Ode à Alegria

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Fonte:Disponível em: http://seisoitavascp2.blogspot.com.br/2012_03_01_archive.html.