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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO ESCOLA POLITÉCNICA CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM ENGENHARIA URBANA LARISSA MARIA BARAN RECICLAGEM DOS RESÍDUOS DA CONSTRUÇÃO CIVIL E SUA APLICABILIDADE NAS OBRAS DE INFRAESTRUTURA Rio de Janeiro 2015

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

ESCOLA POLITÉCNICA

CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM ENGENHARIA URBANA

LARISSA MARIA BARAN

RECICLAGEM DOS RESÍDUOS DA CONSTRUÇÃO CIVIL E SUA

APLICABILIDADE NAS OBRAS DE INFRAESTRUTURA

Rio de Janeiro

2015

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LARISSA MARIA BARAN

RECICLAGEM DOS RESÍDUOS DA CONSTRUÇÃO CIVIL E SUA

APLICABILIDADE NAS OBRAS DE INFRAESTRUTURA

Trabalho de Conclusão apresentado ao CURSO DE

ESPECIALIZAÇÃO EM ENGENHARIA URBANA, como parte

dos requisitos necessários à obtenção do título de Especialista

em Engenharia Urbana.

Rio de Janeiro

2015

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Ficha Catalográfica

Universidade Federal do Rio de Janeiro. Escola Politécnica.

Curso de Especialização em Engenharia Urbana

Reciclagem dos Resíduos da Construção Civil e sua Aplicabilidade nas obras

de Infraestrutura. Cidade do Rio de Janeiro

por Larissa Maria Baran – Rio de Janeiro, 2015.

33 p. Trabalho de Conclusão – 2015

1. Construção Civil. 2. Resíduos da construção civil. 3. Reciclagem

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LARISSA MARIA BARAN

RECICLAGEM DOS RESÍDUOS DA CONSTRUÇÃO CIVIL E SUA

APLICABILIDADE NAS OBRAS DE INFRAESTRUTURA

Rio de Janeiro

2015

_______________________________________________

Orientador, Prof. Maria Cristina Moreira Alves, D. Sc. PEU/UFRJ

_________________________________________________

Coordenador, Profa. Rosane Martins Alves, D. Sc. PEU/UFRJ

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LISTA DE FIGURAS

Figura 01 – Resíduos de concreto, telhas, tijolos e demais materiais cerâmicos que

resultam no agregado reciclado.................................................................................15

Figura 02 – Fluxograma representativo do processo industrial que transforma a

sucata em ferro...........................................................................................................17

Figura 03 – Resíduos de madeira..............................................................................18

Figura 04 – Resíduos de Gesso.................................................................................19

Figura 05 - Esquema da usina de reciclagem............................................................21

Figura 06 – Agregados reciclados..............................................................................22

Figura 07 – Canteiro de obras com a disposição dos materiais.................................24

Figura 08 – Início dos trabalhos de rompimento do concreto....................................26

Figura 09 – Coleta do resíduo proveniente da demolição..........................................26

Figura 10 – Processo de trituração do material proveniente da demolição...............27

Figura 11 – Aplicação da base com agregado reciclado...........................................27

Figura 12 – Conclusão da calçada.............................................................................28

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SUMÁRIO

1.INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 7

1.1 OBJETIVO ............................................................................................................. 7

1.1.1 OBJETIVOS ESPECÍFICOS .............................................................................. 7

1.2 JUSTIFICATIVA .................................................................................................... 7

1.3 METODOLOGIA DE PESQUISA .......................................................................... 8

2. RESÍDUOS SÓLIDOS, RESÍDUOS DE CONSTRUÇÃO E DEMOLIÇÃO (RCD) E

ASPECTOS LEGAIS ................................................................................................. 10

3. RECICLAGEM DE RESÍDUOS ............................................................................. 14

4. RECICLAGEM DE RESÍDUOS DA CONSTRUÇÃO CIVIL ................................... 20

4.1 USINAS DE RECICLAGEM ................................................................................ 20

5. UTILIZAÇÃO DO AGREGADO RECICLADO EM OBRAS DE INFRAESTRUTURA

.................................................................................................................................. 23

5.1 PROCESSO DE RECICLAGEM NA OBRA – VISITA TÉCNICA ........................ 24

6. CONCLUSÃO ........................................................................................................ 30

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................... 31

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1.INTRODUÇÃO

A aceleração no ritmo de crescimento urbano, com consequente aumento do

número de edificações, tornam oportunos estudos referentes tanto a formas de

minimização da quantidade de resíduos gerados, quanto à práticas de reciclagem e

reutilização destes resíduos.

Dentro deste contexto, a aplicabilidade do agregado reciclado, que é um

material granular proveniente do beneficiamento de resíduos da construção civil,

apresenta uma forma de evitar a sua disposição em locais impróprios, de promover

reduções no desperdício de recursos naturais e de contribuir para a minimização dos

impactos ambientais, além de gerar ganho econômico e empregos e renda para a

população.

Neste trabalho pretende-se apresentar as diferentes aplicações do agregado

reciclado na construção civil, principalmente como material de base para

pavimentação de ruas e execução de calçadas.

1.1 OBJETIVO

Apresentar as diversas vantagens do uso do agregado reciclado em obras de

infraestrutura urbana.

1.1.1 Objetivos Específicos

- Apresentar as formas de reciclagem dos resíduos;

- Apresentar o processo utilizado para obtenção do agregado reciclado;

- Identificar quais as principais aplicações do uso primário do agregado

reciclado nas obras;

- Visitar uma obra que utilize o agregado reciclado para ter conhecimento das

técnicas utilizadas.

1.2 JUSTIFICATIVA

As atividades da construção civil são grandes responsáveis pela geração dos

resíduos sólidos produzidos nas cidades, por meio de diversos agentes como

empresas construtoras, incorporadores imobiliários, empresa de pequeno, médio e

grande porte, órgãos públicos e empreiteiros de obra. (MARQUES NETO, 2005).

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O segmento da construção civil representa uma atividade econômica de peso na

economia do Brasil: de acordo com dados da pesquisa de 2015 da CBIC (Câmara

Brasileira da Indústria da Construção), ela representa uma atividade econômica de

cerca de 6,5% do PIB (Produto Interno Bruto). Da mesma forma é uma atividade

representativa no alto consumo de recursos naturais como madeira, minerais, água

e energia. (CBIC, 2015).

Há necessidade de planejamento do uso destes recursos nas obras e estudos de

projetos que promovam o reaproveitamento de materiais, de forma que o

desperdício seja minimizado. Segundo Colombo e Bazzo (2015), o desperdício na

construção civil brasileira possui um dos índices mais altos do mundo.

Dos resíduos da construção civil, tais como concreto, argamassa, telhas tijolos e

demais materiais cerâmicos, quando triturados e processados obtém-se o agregado

reciclado. Este material pode ser aplicado novamente em obras de pavimentação,

argamassas, blocos de concreto, meio-fios e outros elementos pré-moldados,

apresentando vantagens econômicas e ambientais. (MARIANO, 2008).

Apesar do agregado reciclado apresentar boa empregabilidade, principalmente

em substituição ao material virgem (brita, bica corrida, etc), percebe-se ainda uma

falta de conhecimento sobre a sua aplicabilidade nas obras, impedindo o seu

aproveitamento integral.

1.3 METODOLOGIA DE PESQUISA

Neste trabalho, serão mostradas formas de reciclagem dos resíduos sólidos,

conforme sua classificação, dando ênfase aos resíduos provenientes da construção

e demolição (RCD).

Através de pesquisa bibliográfica, será apresentado o processo de obtenção do

agregado reciclado, que ocorre nas usinas de reciclagem, e o uso e reciclagem do

RCD numa obra de requalificação urbana em um bairro do Rio de Janeiro.

Na ocasião da visita à obra, foram feitas uma série de perguntas ao engenheiro

responsável, a respeito das etapas do processo de reciclagem e a utilização do

material proveniente deste processo.

Pode-se observar que a reciclagem utilizada nesta obra é realizada de maneira

simples, somente com as etapas de triagem e a trituração do material demolido,

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tendo em vista que o agregado produzido é utilizado como material base para a

execução de calçadas.

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2. RESÍDUOS SÓLIDOS, RESÍDUOS DE CONSTRUÇÃO E DEMOLIÇÃO (RCD) E ASPECTOS LEGAIS

De acordo com a definição da NBR 10.004 (ABNT, 2004) são resíduos

sólidos: “resíduos no estado sólido e semi-sólido, que resultam de atividades de

origem industrial, doméstica, hospitalar, comercial, agrícola, de serviços e de

varrição”.

Entre as classificações dos resíduos sólidos, o „entulho‟ é uma designação

dada aos resíduos cuja origem é da construção civil quer seja de construções novas,

reformas, reparos, restaurações e obras de infra-estrutura ou aqueles resultantes de

demolições. Essas duas denominações constituem o RCD (Resíduos de Construção

e Demolição) (IPT, 2000).

Até o ano de 2002, não existia nenhuma lei ou resolução específica sobre

resíduos da construção civil no Brasil, porém, devido ao avanço do setor e a

consequente geração de grandes volumes de entulhos, dispostos geralmente em

locais inadequados, foi criada pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente –

CONAMA a Resolução nº 307/2002 que estabelece critérios e procedimentos para a

gestão de resíduos da construção civil, definindo-os como:

“resíduos provenientes de construções, reformas, reparos e

demolições de obras da construção civil e os resultantes da

preparação e da escavação de terrenos, tais como, tijolos,

blocos cerâmicos, concreto, solo, rocha, madeira, forros,

argamassa, gesso, telhas, pavimento asfáltico, vidros,

plásticos, tubulações, fiação elétrica, etc., comumente

chamados de entulhos de obras, caliça ou metralha”.

Ainda segundo a Resolução nº 307/2002 do CONAMA, os resíduos da

construção civil devem ser classificados da seguinte forma:

I - Classe A: são os resíduos reutilizáveis ou recicláveis como agregados, tais como:

a) de construção, demolição, reformas e reparos de pavimentação e de outras obras

de infra-estrutura, inclusive solos provenientes de terraplanagem;

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b) de construção, demolição, reformas e reparos de edificações: componentes

cerâmicos (tijolos, blocos, telhas placas de revestimento, etc.) argamassa e

concreto;

c) de processo de fabricação e/ou demolição de peças pré-moldadas em concreto

(blocos, tubos, meios-fios etc.) produzidos nos canteiros de obras;

II - Classe B: são os resíduos recicláveis para outras destinações, tais como:

plásticos, papel/papelão, metais, vidros, madeiras e outros;

III - Classe C: são os resíduos para os quais não foram desenvolvidas tecnologias

ou aplicações economicamente viáveis que permitam a sua reciclagem/recuperação,

tais como os produtos oriundos do gesso;

IV - Classe D: são os resíduos perigosos oriundos do processo de construção, tais

como: tintas, solventes, óleos e outros, ou aqueles contaminados oriundos de

demolições, reformas e reparos de clínicas radiológicas, instalações industriais e

outros.

As atividades da construção civil geram parcelas predominantes dos resíduos

sólidos produzidos nas cidades, por meio de diversos agentes como empresas

construtoras, incorporadores imobiliários, empresa de pequeno, médio e grande

porte, órgãos públicos e empreiteiros de obra (SALSA, 2009).

Para se ter uma ideia da geração de entulho nos estados brasileiros: Em

Salvador, Bahia, a quantidade de entulhos recolhida em obras e reformas chega

perto de 60% do total de lixo da cidade. Em Goiânia (GO) e Porto Alegre (RS) esse

índice chega a 55%. Já em Belo Horizonte, o volume de resíduos gerados nas obras

representa 45% do lixo recolhido pela prefeitura. Dados da prefeitura de São Paulo

de 2007 apontam o recolhimento de mais de 15 mil toneladas de entulho por dia.

(SALSA, 2009). Estima-se que em média os RCD‟s representam 40 a 60% do

resíduo urbano gerado nas grandes cidades brasileiras e que muitas vezes são

destinados de forma inadequada, depositados em terrenos baldios, vias públicas ou

em áreas de preservação ambiental, causando grandes impactos para o meio

ambiente e qualidade de vida da população. (SALSA, 2009).

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Uma das formas de diminuir a geração do entulho é a reciclagem de resíduos.

Na construção civil, ela é mais interessante devido a grande quantidade de entulho

gerado, potencial de reciclagem e uso excessivo dos recursos naturais, cerca de

75%. (PENSAMENTO VERDE, 2015)

Neste contexto, em 2010 foi aprovada a Lei nº 12.305 que institui a Política

Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS). Ela contém diretrizes relativas à gestão

integrada e ao gerenciamento dos resíduos sólidos e reúne as ações adotadas pelo

Governo Federal, isoladamente ou em regime de cooperação com Estados, Distrito

Federal, Municípios ou particulares neste sentido (PNRS, 2010). Constam no

capítulo III, da citada Lei, alguns princípios de incentivo à reciclagem e uso de

produtos reciclados e a disposição adequada dos resíduos:

“Artigo 6º - São princípios da Política Nacional e

Resíduos Sólidos:.....

VIII – o reconhecimento do resíduo sólido

reutilizável e reciclável como um bem econômico e

de valor social, gerador de trabalho e renda e

promotor da cidadania

Artigo 7º - São objetivos da Política Nacional dos

Resíduos Sólidos:.....

II – não geração, redução, reutilização, reciclagem

e tratamento dos resíduos sólidos, bem como

disposição final ambientalmente adequada dos

rejeitos;

IV – incentivo à indústria da reciclagem, tendo em

vista fomentar o uso de matérias primas e insumos

derivados de materiais recicláveis e reciclados.

XI – prioridade, nas aquisições e contratações

governamentais, para: a) produtos reciclados e

recicláveis;”

Há também um tema importante citado na PNRS, que diz respeito à

estruturação da Logística Reversa, na qual sugere que o fluxo logístico de produção,

comercialização e o consumo de produtos sejam realizados da forma inversa, ou

seja, o produto após consumido, que gerou ou resultou em resíduo sólido, retorne ao

seu fabricante com o objetivo de ser reutilizado ou reciclado, sendo utilizado como

matéria prima em novos produtos ou processos produtivos (FIEP, 2014).

Desta forma, o processo original apontado abaixo:

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FORNECEDORESINDÚSTRIADISTRIBUIDORESCOMERCIANTESCONSUMIDO

RES

Passa a seguir o caminho inverso, abaixo, a partir dos resíduos do produto no

pós-consumo até a sua origem, o que caracteriza a logística reversa:

FORNECEDORESINDÚSTRIADISTRIBUIDORESCOMERCIANTESCONSUMIDO

RES

O principal objetivo da Logística Reversa é prolongar o Ciclo de Vida do

produto, ou seja, utilizar novamente o material de um produto após o seu consumo.

Assim, o que antes iria diretamente para o aterro sanitário, retorna ao processo

produtivo e se transforma em um novo produto, até que seu reaproveitamento se

esgote. (FIEP, 2014)

Com a Logística Reversa, o ciclo de vida do produto pode ser estendido ao

máximo, conforme as características físicas, químicas e biológicas do resíduo

gerado, atentando para os impactos ambientais, para as possibilidades de

desenvolvimento de atividades econômicas e pelo comprometimento para com a

sociedade (FIEP, 2014).

Dentro desse contexto torna-se interessante a reciclagem dos resíduos de

construção para a produção de agregado e posterior aplicação desse produto

novamente nas obras.

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3. RECICLAGEM DE RESÍDUOS

A Resolução nº 307 do CONAMA define o termo reciclagem com sendo “o

processo de reaproveitamento de um resíduo após este ter sido submetido à

transformação”, e pode ainda ser classificado, segundo Vazquez (2001) como:

• Reciclagem primária: É aquela em que o produto original é utilizado

diretamente na mesma construção. Como exemplo, tem-se a fresagem, reciclagem e

aplicação de concreto asfáltico em revestimentos;

• Reciclagem secundária: É aquela que consiste na introdução dos materiais

em um ciclo com o propósito de utilização distinto do original. Um exemplo disso

seria a utilização de um pavimento de concreto reciclado como sub-base para outro

pavimento;

• Reciclagem terciária: É a decomposição de um material para obtenção de

outro material. Como exemplo, tem-se a despolimerização de um plástico para

obtenção de outro tipo de plástico;

• Reciclagem quaternária: É a conversão de materiais usados em energia,

que não é exatamente uma reciclagem.

Os Resíduos de Construção e Demolição (RCD) se forem selecionados,

classificados e adequadamente limpos, transformam-se em agregados secundários

definidos no artigo 2º da Resolução nº 307 do CONAMA como:

“Agregado reciclado - é um material granular proveniente do

beneficiamento de resíduos de construção que apresentem

características técnicas para a aplicação em obra de

edificação, de infra-estrutura, em aterros sanitários ou outras

obras de engenharia”.

Dentro desse contexto, a aplicabilidade do agregado reciclado, bem como de

outros resíduos, quando reciclados ou reaproveitados, pode ser feita das seguintes

formas:

a) Classe A

A reciclagem de resíduos gerados do concreto e da argamassa, assim como

resíduos de telhas, tijolos e demais materiais cerâmicos, representados na Fig. 01, e

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obtidos principalmente em obras de alvenaria e pavimentação compõem o agregado

reciclado, que é obtido através de um processo composto de segregação, triagem,

britagem e peneiramento do resíduo triturado. Este agregado reciclado pode ser

aplicado novamente em obras de pavimentação, argamassas, blocos de concreto,

meio-fios e outros elementos pré-moldados (MARIANO, 2008).

Através do peneiramento de resíduos de concreto e argamassa, que devem

ser separados e analisados, substituindo as frações de agregado graúdo (pedra

brita) e do agregado miúdo (areia) e de testes de análise granulométrica, de

caracterização da resistência do concreto gerado e dos agregados utilizados, entre

outros, pode-se também obter um concreto cuja finalidade seja estrutural, porém o

custo em relação ao concreto produzido com agregados convencionais é mais

elevado, permitindo desta forma que a viabilidade desta aplicação destaque-se

apenas pelas vantagens ambientais (MARIANO, 2008).

Figura 01 – Resíduos de concreto, telhas, tijolos e demais materiais cerâmicos que resultam no agregado reciclado.

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b) Classe B

São os resíduos recicláveis para outras destinações, tais como: plásticos,

papel/papelão, metais, vidros, madeiras e outros.

O setor siderúrgico é considerado uma atividade com grande potencial de

reciclagem. A sucata representa cerca de 40% do total de aço consumido no Brasil,

podendo ser reciclada mesmo quando enferrujada. A sucata nos chamados “ferros-

velhos” é agregada através de uma caçamba hidráulica para posteriormente serem

devidamente prensadas, carregadas e transportadas às indústrias transformadoras.

Os processos de reciclagem destes resíduos podem ser realizados seguindo as

classificações definidas anteriormente como primárias e secundárias (DUDAS,

2001).

No processo primário, a fase de custo mais elevado é a extração do minério e

sua redução ao estado metálico, usando redutores como o carvão, pois envolve

altas temperaturas e elevado consumo de energia. Já no processo secundário o

metal é obtido a partir da fusão da sucata (metal já usado), com consumo de energia

menor (DUDAS, 2001).

O processo industrial, cujo fluxograma é representado na Fig. 02, é uma

operação conduzida em um forno especial, conhecido como alto forno, que consiste

num enorme recipiente cilíndrico, que é carregado por uma entrada superior, com

sucessivas camadas de coque (carvão mineral) e minério de ferro. Além disso, são

acondicionados certos compostos para separar as impurezas, conhecidos como

fundentes, como por exemplo, o calcário. O coque no alto forno exerce a função de

fornecer calor através de sua queima, fazendo com que ocorra a transformação do

minério em ferro bruto (DUDAS, 2001)

São três os produtos resultantes do alto forno: gases residuais, escória

(impurezas) e ferro bruto fundido ou ferro gusa que é muito quebradiço por ter

elevado teor de carbono em sua composição. A refinação consiste na

descarbonização do ferro gusa, isto é, diminuição do teor de carbono, dando ao

produto certas características como a flexibilidade e a dureza. Este produto

resultante liga de ferro com baixo teor de carbono, é conhecido como aço (DUDAS,

2001).

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ALTO-FORNO

(temperatura elevada)

ESCÓRIA

(Impurezas)

FERRO GUSA GASES RESIDUAIS

REFINAÇÃO

AÇO Flexível e duro

(temperatura elevada)

Figura 02 – Fluxograma representativo do processo industrial que transforma

a sucata em ferro.

A reciclagem da sucata permitiu economizar em 1997 no Brasil cerca de 6

milhões de toneladas de minério de ferro, evitando assim a geração de cerca de 2,3

milhões de toneladas de resíduos e de cerca de 11 milhões de toneladas de CO2 ,

liberada no processo industrial (ANGULO et al., 2002).

Outro material, proveniente de obras de edificações e que gera uma

quantidade considerável de resíduos é o vidro, sendo que a matéria prima

empregada na sua fabricação é de baixo custo, porém são recursos naturais não

renováveis, cuja extração causa possíveis danos ao meio ambiente (DUDAS, 2001).

Quando se trata de vidro cuja origem é domiciliar, por exemplo, provenientes

de embalagens, garrafas, frascos e potes para produtos alimentícios, sua reciclagem

é considerada de 100%, porém para as lâmpadas fluorescentes e cacos de vidros

planos, estes utilizados em janelas e espelhos, a melhor alternativa é a reutilização

como matéria prima na composição de outros produtos (DUDAS, 2001).

Segundo a Associação Técnica Brasileira das Indústrias Automáticas de Vidro

– ABIVIDRO (2015) as lâmpadas fluorescentes, quando moídas, podem compor até

20% da massa usada na fabricação de pisos cerâmicos, assim como, podem ser

utilizadas na composição do esmalte. Já a reutilização de cacos de vidros planos se

dá na fabricação de vidro plano novo, de vidro estampado com desenho (impressos)

e em cerâmicas para dar brilho aos azulejos;

Também seguindo o conceito de reutilização, as peças de madeira de lei

(Fig.03), geralmente encontradas em meio aos resíduos, podem ser usadas para

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construir coberturas, marcadores de obras, escoramentos, etc. A queima em

pequenas peças pode ser utilizada em fornos, caldeiras, olarias, padarias, saunas,

etc, porém é necessário tomar cuidado para não queimar madeiras que contenham

contaminantes (ANGULO et al., 2002).

Figura 03 – Resíduos de madeira

c) Classe C

São os resíduos para os quais ainda não foram desenvolvidas tecnologias ou

aplicações economicamente viáveis que permitam a sua reciclagem/recuperação,

tais como os produtos oriundos do gesso.

Apesar de caracterizar-se por ser um produto de difícil reciclagem, um novo

processo de produção do gesso, oriundo principalmente do revestimento de paredes

e tetos, permite que ele possa ser reutilizado tanto como sua própria matéria-prima

como comercializado para outras indústrias (PORTAL FATOR BRASIL, 2008).

Esse processo da utilização dos resíduos de gesso ocorre devido ao maior

controle de temperatura (entre 160ºC e 170ºC) e pressão, em torno de 0,6

atmosferas manométricas, no processo de produção do gesso, que permite a

obtenção de uma estrutura molecular entrelaçada, ou seja, formada de cristais

longos, unidos e resistentes, que são necessárias para a obtenção do gesso. Este

procedimento, além de reduzir os resíduos de gesso (Fig 04), poupa as reservas de

gipsita (mineral que o origina) (PORTAL FATOR BRASIL, 2008).

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Figura 04 – Resíduos de Gesso

d) Classe D

São resíduos perigosos oriundos do processo de construção, tais como tintas,

solventes, óleos e outros ou aqueles contaminados ou prejudiciais à saúde oriundos

de demolições, reformas e reparos de clínicas radiológicas, instalações industriais e

outros, bem como telhas e demais objetos e materiais que contenham amianto ou

outros produtos nocivos à saúde.

Tendo-se em vista que esses materiais apresentam inviabilidade de

reciclagem, pois são tóxicos, o desperdício é um dos aspectos que mais deve ser

evitado para minimizar os impactos causados. No caso das tintas e solventes pode

se proceder adquirindo apenas o volume necessário para a obra, ou quando houver

sobras, armazená-las em recipientes bem fechados para evitar a evaporação. O

destino final destes resíduos acaba sendo realizado através do processo de

incineração, realizado por empresas especializadas (ABRAFATI, 2015).

Pode se observar que a reciclagem constitui uma prática que apresenta

inúmeras vantagens de ordem ambiental e econômica. Dentre as destacadas acima,

pode-se citar também a redução da poluição, reduzindo a emissão de gás carbônico

e a redução de áreas necessárias para aterro através da minimização de volume de

resíduos provenientes da reciclagem (JOHN, 2000).

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4. RECICLAGEM DE RESÍDUOS DA CONSTRUÇÃO CIVIL

Segundo Schenini et. al. (2014), a disponibilização de locais e instalações

para a recepção, triagem e processamento dos resíduos da construção civil,

proporciona às cidades e suas comunidades benefícios ambientais, econômicos e

sociais. Eliminam, em grande parte, os despejos clandestinos, melhoram a

paisagem urbana e possibilitam uma melhor qualidade de vida a seus habitantes.

Além disso, reduz os custos operacionais da administração com a remoção, que é

estimada em US$10 por metro cúbico de entulho clandestinamente depositado.

4.1 USINAS DE RECICLAGEM

A reciclagem é geralmente realizada em locais que contam com máquinas e

funcionários que separam os materiais recicláveis da massa principal de resíduos,

denominadas usinas de reciclagem. O processo típico nessas usinas, cujo

fluxograma é representado na Fig.05, usualmente inicia-se com o recebimento dos

RCD, triagem e separação dos resíduos (PIOVEZAN JÚNIOR, 2007).

O recebimento consiste na aceitação da caçamba na usina, que é trazida

pelos caminhões tipo brook pertencentes geralmente às empresas transportadoras.

A inspeção da caçamba é realizada verificando a viabilidade de reciclagem, ou seja,

analisando se o material é composto de material previamente homogêneo. Em caso

positivo, o RCD é despejado no local e encaminhado para a triagem ou, do contrário,

quando se tratar de um material misturado, tornando difícil a separação, a caçamba

é devolvida ao transportador (PIOVEZAN JÚNIOR, 2007).

A triagem, por sua vez, consiste na separação manual do material nas

diferentes classes de resíduos, além de permitir que os resíduos pertencentes à

Classe A sejam dispostos também em grupos diferentes (PIOVEZAN JÚNIOR,

2007).

Este procedimento é necessário porque as frações compostas

predominantemente de concretos estruturais e de rochas naturais podem ser

recicladas como agregados para a produção de concretos estruturais (RCD cinza)

enquanto que a presença de fases mais porosas e de menor resistência mecânica,

como argamassas e produtos de cerâmica vermelha e de revestimento tem sua

aplicação limitada a concretos de menor resistência (RCD misto), pois provoca um

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aumento na absorção de água. Exemplos da aplicação do RCD misto são: blocos de

concreto, contra-pisos, camadas drenantes, sub-base e base para pavimentação

(GAEDE, 2008).

Figura 05 - Esquema da usina de reciclagem

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Depois da separação, os materiais cerâmicos e cimentícios passam,

separadamente, por um triturador, obtendo desta forma, peças de menores

dimensões que constituem o agregado reciclado. Logo em seguida, quando da

passagem do material pela esteira, é realizada, através de um imã, a retirada de

componentes inerentes ao agregado, como por exemplo, o aço presente no concreto

armado. Da esteira, o agregado, passa por peneiras sendo separado conforme sua

granulometria em: areia, pedrisco, brita e rachão e a bica corrida, material misto que

pode ser utilizado na recuperação de vias urbanas, que são comercializados pela

própria empresa (Fig. 06).

.

Figura 06 – Agregados reciclados

O papel, madeira, metal e plástico são geralmente vendidos ou doados para

outras empresas de reciclagem. Os RCD de classe D são encaminhados para

empresas especializadas que oferecem soluções para tratamento e destinação final

destes resíduos através de tecnologias avançadas.

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5. UTILIZAÇÃO DO AGREGADO RECICLADO EM OBRAS DE INFRAESTRUTURA

Segundo a ABRECON (Associação Brasileira para Reciclagem de Resíduos

da Construção Civil e Demolição), “a implantação de britadores, móveis ou fixos, e

de outros equipamentos para formar as usinas de reciclagem de resíduos de

construção (RCD), cresceu mais de 20% nos últimos anos. Mesmo assim, mais da

metade, das 5,5 mil cidades brasileiras, ainda destina esses materiais a lixões ou

locais impróprios”, (ABRECON, 2015).

Pode-se constatar que a reciclagem do resíduo de demolição e construção

exige investimentos, porém geram inúmeros benefícios tanto ambientais quanto

econômicos em longo prazo, pois minimizam a extração de recursos naturais e

promovem a redução de custos numa obra.

Ainda segundo da ABRECON, há várias aplicabilidades do agregado

reciclado numa obra, dentre elas:

a) Utilização em pavimentação:

A forma mais simples de reciclagem do RCD é a sua utilização em

pavimentação (base, sub-base ou revestimento primário) na forma de brita corrida

ou ainda em misturas do agregado reciclado com solo.

Algumas vantagens desse uso seria justamente o fato da reciclagem exigir

uma menor utilização de tecnologia e permitir a utilização de todos os componentes

minerais, sem necessidade de separação.

b) Utilização como agregado para o concreto:

O entulho processado pelas usinas de reciclagem pode ser utilizado como

agregado para concreto não estrutural, a partir da substituição dos agregados

convencionais (areia e brita). Apresentam praticamente as mesmas vantagens

descritas acima.

c) Utilização como agregado para a confecção de argamassas

Após ser processado por equipamentos denominados "argamasseiras", que

moem o entulho, na própria obra, em granulometrias semelhantes as da areia, ele

pode ser utilizado como agregado para argamassas de assentamento e

revestimento.

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Outros usos seriam:

Utilização de concreto reciclado como agregado;

Cascalhamento de estradas;

Preenchimento de vazios em construções;

Preenchimento de valas de instalações;

Reforço de aterros (taludes).

5.1 PROCESSO DE RECICLAGEM NA OBRA – VISITA TÉCNICA

Na visita a obra de Requalificação Urbana realizada no bairro do Rio de

Janeiro verificou-se que há muitos benefícios no uso do agregado reciclado como

base para a concepção do novo projeto, inclusive ele é sugerido e presente na

planilha de custos do cliente da obra, no caso a Prefeitura do Rio de Janeiro-RJ.

A empresa responsável pela obra dispõe de um canteiro onde armazena o

entulho proveniente da demolição das calçadas e pavimentos de concreto, assim

como outros materiais, conforme mostra a Fig. 07.

Figura 07 – Canteiro de obras com a disposição dos materiais

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A vantagem da reciclagem nessa obra é considerada maior devido ao fato

dela contemplar a reforma das calçadas, meio-fio e pavimentação do bairro. Sendo

assim, a demolição é inevitável, o que sugere o aproveitamento do material. Se a

obra não contasse com o material reciclado, a elaboração das seguintes tarefas

seria necessária:

- Demolição da calçada e pavimento de concreto existente;

- Retirada do concreto proveniente da demolição;

- Transporte e descarte do concreto demolido até o local de disposição final;

- Compra de material virgem para base das calçadas e pavimentação;

- Execução da base das calçadas e pavimentação com material virgem.

Pode-se observar que a empresa responsável pela obra realiza a reciclagem

do concreto demolido de maneira bem simples. Ela conta com um equipamento

triturador acoplado ao braço de uma escavadeira hidráulica que capta e realiza a

quebra dos resíduos em pedaços menores.

Este material proveniente da trituração é armazenado em outro silo para

então ser utilizado na obra. Segundo o engenheiro responsável, o seu uso é

basicamente como base para execução de calçadas, em substituição à brita corrida

ou saibro, ou ainda para preenchimento de valas de instalações e reforço de aterros.

Além disso: “o uso do agregado reciclado em substituição ao material virgem

representa uma grande diminuição no valor da obra, tendo-se em vista que o

transporte para descarte da demolição já não é necessário quando do

reaproveitamento do mesmo”, completa o engenheiro.

Desta forma as etapas da execução das atividades são mostradas nas Fig.

08, a 11.

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Figura 08 – Início dos trabalhos de rompimento do concreto

Figura 09 – Coleta do resíduo proveniente da demolição

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Figura 10 – Processo de trituração do material proveniente da demolição

Figura 11 – Aplicação da base com agregado reciclado

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Figura 12 – Conclusão da calçada

Uma iniciativa para que a utilização do agregado reciclado se torne comum foi

a criação do Decreto Municipal nº 33971/11 que dispõe sobre a obrigatoriedade da

utilização de agregados reciclados, oriundos de resíduos da construção civil - RCC

em obras e serviços de engenharia realizados pelo Município do Rio de Janeiro (RIO

DE JANEIRO,2011).

Entre as considerações para a criação do decreto mencionado acima, é

interessante citar:

- “os resíduos da construção civil representam um significativo percentual dos

resíduos produzidos no Município, gerando inúmeras disposições finais irregulares

no meio ambiente.

- o expressivo volume de produtos e subprodutos de mineração demandados

pelas obras e serviços de engenharia da municipalidade.

- os benefícios que a utilização de agregados reciclados de resíduos da

construção civil proporcionará ao meio ambiente, gerando economia de matéria

prima virgem não-renovável e evitando as destinações irregulares.”

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Portanto, na obra visitada, a reciclagem dos resíduos é obrigatória, pois se

trata de obra pública, desta forma a fiscalização é realizada pela Prefeitura do Rio de

Janeiro.

A criação de leis e decretos no Brasil vão ao encontro de políticas públicas

vigentes em outros países, onde a reciclagem de resíduos de construção encontra-

se em estágio avançado. Nos Estados Unidos há cerca de 3,5 mil unidades de

reciclagem de RCD (cerca de 25% do entulho é reciclado. Na Europa, a média de

reciclagem de entulho é de 28% e na Holanda essa taxa chega a 90% (PINIWEB,

2007).

A reciclagem de uma parcela significativa do RCD no Brasil depende também

do desenvolvimento de novos mercados e melhorias de processamento a fim de

estender o uso do agregado de diversas outras formas. É fundamental também que

as empresas brasileiras tornem a reciclagem como algo comum em suas obras

(PINIWEB, 2007).

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6. CONCLUSÃO

Este trabalho procurou apresentar as formas de reciclagem e a aplicabilidade

dos resíduos da construção e demolição (RCD) em obras de infraestrutura e, através

da visita a obra, constatar que esse é um processo que já vem sendo utilizado para

o aproveitamento do material.

É importante analisar se a obra vai contar com demolições, qual será o

emprego do agregado reciclado e se haverá uma compensação entre oferta e

demanda. O custo para a obtenção de equipamentos para triturar o concreto

demolido pode ser um investimento alto, mas que, a longo prazo proporcionará

grandes vantagens.

Também é do interesse da prefeitura manter a cidade limpa, incentivar a

economia, gerar empregos e liberar espaços nos aterros, por isso seria interessante

uma parceria público/privada para a construção de usinas de reciclagem e um

incentivo às construtoras de obras para o uso do agregado reciclado.

Ainda há certa resistência por parte das construtoras para o uso do agregado

reciclado, por uma questão de cultura. A sociedade mundial está apenas começando

a preocupar-se com a ideia de proteger o meio ambiente e fazer o reaproveitamento

dos materiais algo rotineiro.

As soluções dos problemas ambientais da construção civil devem fazer parte

da rotina das empresas, adotando uma gestão do gerenciamento de resíduos de

forma a minimizar os impactos provocados pela sua geração, combatendo o

desperdício, utilizando formas alternativas de reciclagem, e principalmente

investindo em inovações que venham a propiciar uma melhor qualidade de vida não

só para a geração atual, mas também, para as gerações futuras.

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