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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO COPPEAD DE ADMINISTRAÇÃO THIAGO ROBERTO DIAS COSTA ESTUDOS COMPARATIVOS ENTRE PLANOS CONSERVADORES DE PREVIDÊNCIA PRIVADA ABERTA E INVESTIMENTOS EM FUNDOS TRADICIONAIS DE RENDA FIXA Rio de Janeiro 2015

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

INSTITUTO COPPEAD DE ADMINISTRAÇÃO

THIAGO ROBERTO DIAS COSTA

ESTUDOS COMPARATIVOS ENTRE PLANOS CONSERVADORES DE

PREVIDÊNCIA PRIVADA ABERTA E INVESTIMENTOS EM FUNDOS

TRADICIONAIS DE RENDA FIXA

Rio de Janeiro

2015

THIAGO ROBERTO DIAS COSTA

ESTUDOS COMPARATIVOS ENTRE PLANOS CONSERVADORES DE

PREVIDÊNCIA PRIVADA ABERTA E INVESTIMENTOS EM FUNDOS

TRADICIONAIS DE RENDA FIXA

Dissertação de Mestrado apresentada ao Instituto

COPPEAD de Administração, da Universidade

Federal do Rio de Janeiro, como parte dos

requisitos necessários à obtenção do título de

Mestre em Administração.

ORIENTADOR: Carlos Heitor Campani, Ph.D.

Rio de Janeiro

2015

Ficha catalográfica

C837e Costa, Thiago Roberto Dias.

Estudo da previdência privada no Brasil / Thiago Roberto Dias Costa. --

Rio de Janeiro, 2015. 138 f. Orientador: Carlos Heitor Campani. Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal do Rio de Janeiro,

Instituto COPPEAD de Administração, Programa de Pós-Graduação em Administração, 2015.

1. Previdência privada - Brasil. I. Campani, Carlos Heitor , orient.

II. Título.

THIAGO ROBERTO DIAS COSTA

ESTUDOS COMPARATIVOS ENTRE PLANOS CONSERVADORES DE

PREVIDÊNCIA PRIVADA ABERTA E INVESTIMENTOS EM FUNDOS

TRADICIONAIS DE RENDA FIXA

Dissertação de Mestrado apresentada ao Instituto

COPPEAD de Administração, da Universidade

Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos

necessários à obtenção do título de Mestre em

Administração.

Aprovada por:

__________________________________________

Carlos Heitor Campani, Ph.D.

(COPPEAD/UFRJ)

__________________________________________

Vicente Antônio de Castro Ferreira, D. Sc.

(COPPEAD/UFRJ)

__________________________________________

Marcelo Cabús Klötzle, Ph.D.

(IAG/PUC-RJ)

RESUMO

Costa, Thiago Roberto Dias. ESTUDOS COMPARATIVOS ENTRE PLANOS

CONSERVADORES DE PREVIDÊNCIA PRIVADA ABERTA E

INVESTIMENTOS EM FUNDOS TRADICIONAIS DE RENDA FIXA.

Dissertação (Mestrado em Administração) - Instituto COPPEAD de

Administração, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2015.

O presente trabalho teve por objetivo analisar os planos de previdência privada

no Brasil, com um estudo aprofundado sobre o mercado, em especial os planos

conservadores do tipo PGBL e VGBL. Inicialmente, buscou-se trazer a

evolução histórica e legal do segmento, bem como informações técnicas sobre

o sistema previdenciário e seus diversos produtos. Em seguida, foram

realizadas pesquisas sobre as condições atuais impostas pelo mercado para a

contratação desses planos; estudo dos potenciais ganhos financeiros com os

benefícios fiscais desses planos; e a viabilidade de reverter provisões nas

modalidades renda temporária, renda vitalícia e renda vitalícia com prazo

mínimo garantido. Quanto às condições de contratação, os resultados apontam

que as taxas de carregamento (na entrada e na saída) já não são mais

cobradas em muitos planos novos, mas as taxas de administração dos fundos

previdenciários ainda são elevadas para aportes iniciais baixos, mesmo tendo

elas diminuído com o passar dos anos. Entretanto, verificou-se que é

negociável contratar planos vinculados a fundos com taxas de administração

significativamente menores. Para a fase de recebimento da renda, na maioria

dos planos, não são oferecidos um percentual de reversão de resultados

financeiros ou uma taxa mínima garantida de retorno, o que torna inviável a

reversão da provisão nas rendas mencionadas acima. Devido aos benefícios

que o governo assegura aos planos previdenciários (postergação da cobrança

de IR e tabela regressiva), os planos conservadores de previdência privada se

configuram numa alternativa de investimento de longo prazo e de baixo risco

cada vez mais atrativa, se comparada a investimentos em fundos tradicionais

(não-previdenciários) de renda fixa. Por outro lado, as condições atuais para a

reversão das provisões em renda não estimulam os participantes ou segurados

a realizá-la, favorecendo a prática de resgates parciais como forma de renda

na aposentadoria.

Palavras-chave: PGBL; VGBL; Previdência Privada Aberta; Previdência

Complementar

ABSTRACT

Costa, Thiago Roberto Dias. ESTUDOS COMPARATIVOS ENTRE PLANOS

CONSERVADORES DE PREVIDÊNCIA PRIVADA ABERTA E

INVESTIMENTOS EM FUNDOS TRADICIONAIS DE RENDA FIXA.

Dissertação (Mestrado em Administração) - Instituto COPPEAD de

Administração, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2015.

The object of this study is to analyze retirement plans in Brazil, and to develop

an in-depth study about this market and fixed income PGBL and VGBL plans.

First, this study presents the historical and legal evolution of this market, as well

as technical information about the Brazilian pension system and products within

this segment. Next, studies were conducted: to evaluate the current market

conditions for buying retirement plans; to analyze potential financial gains from

tax-deferred retirement plans; and to analyze the viability to convert the total

amount into fixed time benefits, lifetime benefits and guaranteed benefits. In

reference to contract clauses, results show that load fees are no longer charged

in several new retirement plans. Nevertheless, the management fees Pension

Provision Funds-Fixed Income Strategy (PPF-FIS) are still high for small initial

payments, even though these fees have been decreasing over the last several

years. However, it is possible to negotiate for lower fees. This study also shows

that it is not viable to convert the total amount of PGBL and VGBL plans into

benefits, because the majority of plans do not offer a percentage of gains from

the investment or a guaranteed rate of return. Because the government

guarantees tax benefits, the fixed income retirement plans have become

attractive alternatives to traditional long term fixed income investment funds.

However, under current conditions, converting the total amounts into benefits is

not viable. Therefore, periodic withdrawals are preferable.

Key-words: PGBL; VGBL; Retirement Plans

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Evolução dos Investimentos Concentrados em EAPCs e

Seguradoras até Junho/2014 .................................................................................. 17

Figura 2 - Concentração do sistema de previdência privada aberta .................. 33

Figura 3 - Regimes Previdenciários Nacionais ..................................................... 43

Figura 4 - Sistemas de Previdência Complementar Fechada e Aberta.............. 44

Figura 5 - Fluxo de Caixa de Contribuições Mensais Durante um Período de

Diferimento de 36 Meses......................................................................................... 74

Figura 6 – Ranking das Seguradoras por Receita Acumulada em PGBL de

Janeiro a Outubro de 2014...................................................................................... 83

Figura 7 - Ranking das Seguradoras por Receita Acumulada em VGBL de

Janeiro a Outubro de 2014...................................................................................... 84

Figura 8 - Distribuição das Taxas de Administração dos FIEs Analisados ........ 94

Figura 9 - Análise de Sensibilidade PGBL/VGBL - Taxa de Carregamento .... 100

Figura 10 - Análise de Sensibilidade PGBL – Taxa de Administração do FIE 100

Figura 11 - Análise de Sensibilidade VGBL – Taxa de Administração do FIE 101

Figura 12 - Análise de Sensibilidade PGBL – Rendimento Real Bruto Anual . 101

Figura 13 - Análise de Sensibilidade VGBL – Rendimento Real Bruto Anual . 102

Figura 14 - Período de Acumulação via PGBL, VGBL e Autoprevidência ....... 102

Figura 15 - Período de Acumulação via PGBL, VGBL e Autoprevidência – Caso

Alternativo ............................................................................................................... 106

Figura 16 - Rendimento Real Líquido dos Fundos de Renda Fixa - Equiparação

Resgates Mensais Via Autoprevidência e Via PGBL/VGBL (Período de

Recebimento de Renda Igual à Expectativa de Vida de uma Mulher de 60

Anos) ....................................................................................................................... 110

Figura 17 - Rendimento Real Líquido dos Fundos de Renda Fixa - Equiparação

Resgates Mensais Via Autoprevidência e Via PGBL/VGBL (Período de

Recebimento de Renda Igual à Expectativa de Vida de um Homem de 60 Anos)

................................................................................................................................. 111

Figura 18 - Rendimento Real Líquido dos Fundos de Renda Fixa - Equiparação

Resgates Mensais Via Autoprevidência e Via PGBL/VGBL (Período de

Recebimento de Renda Igual à Expectativa de Vida de uma Mulher de 60

Anos) – Caso Alternativo ....................................................................................... 112

Figura 19 - Rendimento Real Líquido dos Fundos de Renda Fixa - Equiparação

Resgates Mensais Via Autoprevidência e Via PGBL/VGBL (Período de

Recebimento de Renda Igual à Expectativa de Vida de um Homem de 60 Anos)

– Caso Alternativo .................................................................................................. 113

Figura 20 – Rendimento Real Líquido do FIE – Equiparação entre Renda

Temporária e Resgates Mensais (PGBL/VGBL)................................................. 116

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Tabela Regressiva de Alíquotas do Imposto de Renda para Planos

de Benefícios de Caráter Previdenciário .......................................................... 65

Tabela 2 - Tabela Progressiva de Alíquotas do Imposto de Renda da Pessoa

Física – Base de Cálculo Mensal (Ano-Calendário 2015) ................................ 69

Tabela 3 - Tabela Regressiva de Imposto sobre os Rendimentos de Fundos de

Investimento de Longo Prazo ........................................................................... 77

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Variáveis do Simulador de Previdência Privada – Etapa de

Acumulação ...................................................................................................... 72

Quadro 2 - Variáveis do Simulador de Autoprevidência ................................... 76

Quadro 3 - Variáveis do Simulador Previdência Privada – Etapa Recebimento

de Renda .......................................................................................................... 77

Quadro 4 - Método de Cálculo da Renda Líquida de IR - Modalidade Renda por

Prazo Certo ...................................................................................................... 80

Quadro 5 - Método de Cálculo da Renda Líquida de IR - Modalidades Renda

Temporária e Renda Vitalícia ........................................................................... 81

Quadro 6 - Método de Cálculo da Renda Líquida de IR - Modalidade Renda

Vitalícia com Prazo Mínimo Garantido ............................................................. 82

Quadro 7 - Ranking das Seguradoras por Receitas Consolidadas (PGBL +

VGBL) Acumuladas de Janeiro a Outubro de 2014 ......................................... 84

Quadro 8 - Total de Regulamentos de Planos Conservadores dos tipos PGBL e

VGBL Consultados ........................................................................................... 85

Quadro 9 - Informações Coletadas nos Regulamentos dos Planos ................. 85

Quadro 10 - Taxa de Carregamento (Tipo 1) - Brasilprev Seguros e Previdência

......................................................................................................................... 89

Quadro 11 - Taxa de Carregamento (Tipo 2) - Brasilprev Seguros e Previdência

......................................................................................................................... 89

Quadro 12 - Taxa de Carregamento (Tipo 1) - Bradesco Vida e Previdência .. 89

Quadro 13 - Taxa de Carregamento (Tipo 2) - Bradesco Vida e Previdência .. 90

Quadro 14 - Taxa de Carregamento (Tipo 3) - Bradesco Vida e Previdência .. 90

Quadro 15 - Taxa de Carregamento (Tipo 1) - Itaú Vida e Previdência ........... 90

Quadro 16 - Taxa de Carregamento (Tipo 2) - Itaú Vida e Previdência ........... 90

Quadro 17 - Taxa de Carregamento (Tipo Único) - Zurich Santander Brasil

Seguros e Previdência ..................................................................................... 91

Quadro 18 - Taxas de Administração dos FIEs - Brasilprev Seguros e

Previdência ....................................................................................................... 92

Quadro 19 - Taxas de Administração dos FIEs - Bradesco Vida e Previdência92

Quadro 20 - Taxas de Administração dos FIEs (Migração Automática de

PMBaC) - Bradesco Vida e Previdência ........................................................... 93

Quadro 21 - Taxas de Administração dos FIEs - Itaú Vida e Previdência ........ 93

Quadro 22 - Taxas de Administração dos FIEs - Zurich Santander Brasil

Seguros e Previdência ..................................................................................... 94

Quadro 23 - Idade Mínima de Saída, Tempo Máximo de Renda Garantida,

Modalidades de Renda, Percentual de Reversão de Excedentes Financeiros 95

Quadro 24 - Taxas de Administração e Taxas de Carregamento - Pesquisa de

Campo .............................................................................................................. 97

Quadro 25 - Taxas de Juros Mínimas Garantidas - Pesquisa de Campo......... 98

Quadro 26 – Valores Acumulados Brutos e Líquidos de IR ao Final do Período

de Acumulação ............................................................................................... 103

Quadro 27 - Valor das Variáveis na Equiparação entre Montante

Autoprevidência e PMBaCs – Caso-base ...................................................... 104

Quadro 28 - Valor das Variáveis na Equiparação entre Valor do Resgate Total

(autoprevidência) e Rendas Únicas (PGBL/VGBL) – Caso-base ................... 106

Quadro 29 - Valor das Variáveis na Equiparação entre Valor do Resgate Total

(autoprevidência) e Rendas Únicas (PGBL/VGBL) – Caso Alternativo .......... 107

Quadro 30 - Duração do Fluxo de Resgates Mensais Equiparados às Rendas

Mensais na Modalidade Vitalícia PGBL/VGBL ............................................... 117

Quadro 31 - Duração do Fluxo de Resgates Mensais Equiparados às Rendas

Mensais na Modalidade Vitalícia com Prazo Mínimo Garantido PGBL/VGBL 120

Sumário

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................. 15

1.1 CONTEXTO HISTÓRICO ........................................................................ 15

1.2 PROBLEMA ............................................................................................. 18

1.3 OBJETIVO ............................................................................................... 20

1.4 RELEVÂNCIA .......................................................................................... 21

1.5 DELIMITAÇÃO ......................................................................................... 21

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ......................................................................... 23

2.1 PESQUISAS ACADÊMICAS SOBRE PREVIDÊNCIA COMPLEMENTAR NO

BRASIL .......................................................................................................... 23

2.1.1 IMPACTOS DOS AJUSTES LEGAIS NO REGIME DE PREVIDÊNCIA

COMPLEMENTAR ....................................................................................... 23

2.1.2 ANÁLISE DO SETOR DE PREVIDÊNCIA PRIVADA .......................... 31

2.1.3 ANÁLISE DE DESEMPENHO DE FUNDOS PREVIDENCIÁRIOS ..... 38

2.2 PREVIDÊNCIA COMPLEMENTAR ......................................................... 42

2.2.1 REGIMES PREVIDENCIÁRIOS BRASILEIROS ................................. 42

2.2.2 SISTEMAS DE PREVIDÊNCIA COMPLEMENTAR DO SETOR PRIVADO

44

2.2.3 ETAPAS DOS PLANOS PREVIDENCIÁRIOS E SUAS MODALIDADES46

2.2.4 PGBL, VGBL E OUTROS PRODUTOS DE COBERTURA POR

SOBREVIVÊNCIA ........................................................................................ 52

2.2.5 RESGATE, PORTABILIDADE E VESTING ......................................... 60

2.2.6 REGIMES DE TRIBUTAÇÃO PARA PLANOS PREVIDENCIÁRIOS .. 63

3 MÉTODO DE PESQUISA ............................................................................ 72

3.1 FASE DE ACUMULAÇÃO ....................................................................... 72

3.2 FASE DE RECEBIMENTO DAS RENDAS .............................................. 77

3.3 COLETA DE DADOS E PESQUISA DE CAMPO .................................... 83

3.4 LIMITAÇÕES DO MÉTODO .................................................................... 87

4 RESULTADOS ............................................................................................. 88

4.1 INFORMAÇÕES OBTIDAS NOS REGULAMENTOS DOS PLANOS E DOS

FIES ............................................................................................................... 88

4.2 PESQUISA DE CAMPO........................................................................... 96

4.3 FASE DE ACUMULAÇÃO ....................................................................... 99

4.3.1 CASO-BASE ........................................................................................ 99

4.3.2 ANÁLISE DE SENSIBILIDADE DOS PLANOS PGBL E VGBL ........... 99

4.3.3 PGBL, VGBL E AUTOPREVIDÊNCIA ............................................... 102

4.4 FASE DE RECEBIMENTO DAS RENDAS ............................................ 107

4.4.1 RENDAS MENSAIS POR PRAZO CERTO E RESGATES MENSAIS107

4.4.2 RENDA MENSAL TEMPORÁRIA E RESGATES MENSAIS ............. 114

4.4.3 RENDA MENSAL VITALÍCIA E RESGATES MENSAIS .................... 116

4.4.4 RENDA MENSAL VITALÍCIA COM PRAZO MÍNIMO GARANTIDO E

RESGATES MENSAIS............................................................................... 119

5 CONCLUSÃO ............................................................................................ 121

APÊNDICE A .................................................................................................. 129

APÊNDICE B .................................................................................................. 132

ANEXO A ......................................................................................................... 15

15

1 INTRODUÇÃO

1.1 CONTEXTO HISTÓRICO

No Brasil, é notória a demanda atual por conhecimento acerca das opções de

investimento com a finalidade de assegurar uma renda complementar aos indivíduos

no período de aposentadoria. Dentre tais opções, a que ganha cada vez mais

destaque é a previdência privada, haja vista a robustez desse mercado no país, que,

em 2013, acumulou um volume de ativos administrados equivalente a cerca de

20,9% do Produto Interno Bruto (PIB)1, além de estar entre os dez maiores

mercados do mundo (Relatório CVM, 2013).

Apesar da difusão e popularidade relativamente recente da previdência privada

no cenário nacional, esse mercado já existe há algumas décadas no país. Paixão

(2007) destaca três grandes fases dessa indústria, separadas basicamente por

mudanças no âmbito legal. A fase inicial foi marcada pelo surgimento das primeiras

entidades que ofereciam serviços que hoje seriam tipicamente de previdência

complementar. Elas nasceram antes mesmo da criação da primeira lei sobre o tema.

Alguns exemplos são a PREVI2, a PETROS e a Fundação CESP, fundadas,

respectivamente, em 1904, 1970 e 1974. Nesse momento, a previdência

complementar foi um fenômeno tipicamente associado às grandes empresas,

principalmente às estatais.

A fase seguinte tem como marco inicial a criação da lei n.° 6.435/77 que

dispunha sobre as entidades de previdência privada. Essa lei foi fortemente calcada

no Employment Retirement Security Act (Erisa), aprovado em 1974 como

instrumento das atividades de previdência privada nos EUA. A regulação instituída

em 1977 almejava racionalizar o setor, concedendo maior segurança aos

contribuintes, após a experiência negativa de muitos montepios3. Além disso, a lei

visava indiretamente estimular o crescimento das entidades de previdência

1 Em 2013, o total consolidado da carteira de investimentos dos fundos de pensão e das entidades

abertas de previdência complementar foi de R$ 1.013,56 bilhões, segundo dados da Associação Brasileira Das Entidades Fechadas De Previdência Complementar (ABRAPP) e da Federação Nacional de Previdência Privada e Vida (FenaPrevi), e o PIB, em valores absolutos, foi de R$ 4.844,815 bilhões, segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). 2 Quando fundada, chamava-se Caixa Montepio dos Funcionários do Banco do Brasil, cujo objetivo

era garantir a pensão dos herdeiros dos 52 associados à entidade na época. Só em 1967, a instituição veio a se tornar PREVI. 3 Instituição em que cada sócio, pagando mensalmente uma quantia, adquire direitos como o de

subsídio em caso de doença e o de deixar pensão após a morte para sua família.

16

complementar, enquanto captadores de poupança popular, a fim de canalizar os

recursos administrados no mercado de capitais nacional. Tal esforço se confirma

com a reforma na legislação sobre sociedades anônimas que aconteceu nesse

mesmo período.

Apesar de a lei n.° 6.435/77 ter representado um avanço significativo na

racionalização do setor, ela não acompanhou a evolução do mercado de previdência

privada ao longo dos anos. Tal dinâmica exigiu uma modernização e readequação

das leis à nova realidade do setor. Diante disso, a terceira e última fase abordada

pelo autor está relacionada a essa reformulação do aparato legal que cercava o

sistema previdenciário privado. Além da alteração de um artigo da Constituição

Federal, por meio da emenda constitucional n.° 20 de 1998, tornando sua redação

exclusivamente dedicada à previdência complementar, criou-se a lei complementar

n.° 109/20014, que veio substituir a lei n.° 6.435/77, trazendo atualizações, a partir

da sua sanção, ao regime de Previdência Complementar5.

Desde então, houve poucas mudanças nas leis que sustentam o sistema

previdenciário privado. Dentre as que valem destacar, tem-se a lei n.° 11.053/2004

que dispõe sobre a tributação dos planos de benefícios de caráter previdenciário e a

lei n.° 12.154/2009 que cria a PREVIC (Superintendência Nacional de Previdência

Complementar), atual órgão fiscalizador das entidades fechadas de previdência

complementar.

O mercado de previdência privada é dividido por entidades fechadas de

previdência complementar (EFPCs) e entidades abertas de previdência

complementar (EAPCs). Essa segmentação se dá também no âmbito regulatório, ou

seja, os órgãos reguladores e supervisores são distintos para cada um desses

modelos de entidade. Os dois sistemas serão discriminados mais detalhadamente

no capítulo 2.

Em relação ao mercado das EAPCs, pode-se observar, na evolução da carteira

de investimentos (Figura 1), que ele cresceu significativamente nos últimos vinte

anos, com uma taxa de crescimento anual composta (CAGR – Compound Annual

Growth Rate) de 27,7%. Tal crescimento dessa indústria, bem como sua

4 Dispõe sobre o Regime de Previdência Complementar Privado, tanto para entidades fechadas,

quanto para abertas. Revogou a lei n.° 6.435/77. 5 O sistema previdenciário brasileiro é composto por três pilares: Regime Geral de Previdência Social,

Regime Próprio de Previdência e Regime de Previdência Complementar. O terceiro, que abrange os planos de previdência privada objetos de estudo desse trabalho, se diferencia dos demais por ser, simultaneamente, de caráter privado e de filiação facultativa.

17

representatividade atual no Sistema Financeiro Nacional e importância no campo

das políticas sociais de renda justificam o presente estudo sobre os planos de

previdência privada ofertados por esse tipo de entidade.

Na evolução da carteira de investimentos por produto (Figura 1), verifica-se

que os planos de previdência privada passaram a se concentrar no Plano Gerador

de Benefício Livre (PGBL) e no Vida Gerador de Benefício Livre (VGBL), que são

planos de cobertura por sobrevivência. Na prática, os planos enquadrados na

categoria “Tradicionais (Sobrevivência) + Risco”6, cujo enfoque também é a

cobertura por sobrevivência, são antigos e poucos ainda são ofertados no mercado.

Além disso, os outros planos com esse tipo de cobertura (serão detalhados no

capítulo 2) não apresentaram evolução significativa, sendo responsáveis por menos

de 0,5% dos investimentos advindos do mercado de previdência complementar

aberta. Portanto, espera-se que o PGBL e o VGBL se tornem ainda mais

representativos nesse mercado ao longo dos anos.

6 Essa categoria abrange os Planos Tradicionais de cobertura por sobrevivência, que não são mais comercializados, e os planos previdenciários de cobertura de risco. Tais tipos de planos, bem como os tipos de cobertura, serão detalhados mais à frente.

Figura 1 - Evolução dos Investimentos Concentrados em EAPCs e Seguradoras até Junho/2014

Fonte: Federação Nacional de Previdência Privada e Vida (FenaPrevi), 2014.

*Outros planos de cobertura por sobrevivência < 0,5%

18

A alternativa à previdência privada é o investimento autônomo. Muito se é

discutido nos principais veículos de comunicação de economia e finanças sobre a

performance dos fundos previdenciários e dos fundos de investimento tradicionais,

principalmente daqueles de caráter conservador, uma vez que são passíveis de

comparação com alternativas de investimento igualmente com baixo risco, tais como

fundos de renda fixa.

Nesse embate, há muitos que defendem a chamada “autoprevidência”. Tal

argumento se baseia, principalmente, no fato de os custos de administração e

demais taxas serem maiores nos fundos previdenciários. Além disso, segundo essa

vertente, tal alternativa é menos complexa do que planos de previdência privada, do

ponto de vista tributário. Entretanto, os planos de previdência oferecem diversas

vantagens que devem ser levadas em consideração. Tais benefícios serão tratados

com mais detalhes no decorrer deste trabalho, que visa realizar tal comparação de

forma minuciosa.

1.2 PROBLEMA

Segundo dados do Relatório de Tendências Demográficas e Econômicas da

CVM (2013), as projeções para até 2023 mostram tendências de aumento da

expectativa de vida, continuidade do processo progressivo de envelhecimento

populacional que vem acontecendo nos últimos anos, crescimento da

representatividade da população em idade ativa na pirâmide populacional brasileira

e o aumento da renda média.

As duas primeiras tendências impactam diretamente o equilíbrio dos sistemas

previdenciários, especialmente o Regime Geral de Previdência Social, que, segundo

as projeções para os próximos dez anos, não oferecerá ganhos reais significativos

para benefícios superiores a um salário mínimo. Logo, segundo esses dados,

haverá, pelo menos para o período mencionado acima, uma diminuição do papel da

previdência social para as pessoas que recebem acima de um salário mínimo.

Além disso, em consonância com tendências já citadas, tais como crescimento

da representatividade da população em idade ativa e aumento da renda média, o

número de potenciais ofertantes de recursos (novos poupadores) aponta para uma

trajetória ascendente.

Esses fatores, somados ao aumento da expectativa de vida, contribuem para a

elevação da taxa de poupança na economia. Tal fenômeno é explicado por

19

Modigliani e Brumberg (1954). Os autores argumentam que uma das principais

motivações dos indivíduos para a acumulação de ativos financeiros consiste no

interesse em manter um padrão de consumo estável durante o ciclo de vida. Para

atingir esse objetivo, as pessoas buscam acumular mais poupança quando estão no

mercado de trabalho, à medida que a expectativa de vida aumenta. Além disso, é

natural que a taxa de poupança aumente à medida que a renda aumente.

Diante de um cenário em que o os benefícios advindos do INSS tendem a

representar cada vez menos o poder de compra dos brasileiros aliado a uma

tendência de aumento da taxa de poupança desses indivíduos, é natural que eles

busquem por alternativas que gerem renda complementar no período de

aposentadoria.

Dadas as alternativas, inevitavelmente surge a dúvida sobre qual é o melhor

caminho: previdência privada ou “autoprevidência”? No ambiente acadêmico,

existem dois estudos recentes que comparam o desempenho de fundos

previdenciários conservadores contra os fundos tradicionais de renda fixa.

Um deles é o estudo realizado por Yang et al. (2010) que compararam fundos

previdenciários de renda fixa contra não previdenciários de renda fixa e fundos

previdenciários referenciados DI contra não previdenciários referenciados DI. Para

cada uma das quatro categorias mencionadas, os autores selecionaram vários

fundos e criaram carteiras ponderadas pelo tamanho do patrimônio Líquido (PL) de

cada fundo. Para essa pesquisa, foram coletados retornos diários compreendidos

entre janeiro de 2000 e janeiro de 2010.

A comparação das carteiras “fundos previdenciários de renda fixa” e “fundos

não previdenciários de renda fixa” concluiu que a segunda obteve um desempenho

melhor que a primeira. Tal confronto de desempenho se deu pelos coeficientes

angulares das regressões das duas carteiras, cuja variável dependente era o

excesso de retorno das carteiras frente ao DI e a independente era o excesso do

IRF-M7 também em relação do DI. Diante dos resultados, concluiu-se que os fundos

não previdenciários são melhores, pois a carteira que os representava obteve um

7 “O IRF-M mede a evolução, a preços de mercado, de uma carteira de Letras do Tesouro Nacional

(LTN), de valor inicial R$ 1.000,00, em que os montantes aplicados em cada vencimento guardam a mesma proporção com o estoque destes papéis em poder do público. A carteira teórica de LTN é atualizada a preços apurados diariamente junto a uma amostra de instituições financeiras, os quais não se baseiam nas negociações efetivas dos títulos. Assim, para que seja estimado um preço mais próximo ao de mercado, busca-se captar o preço efetivo no qual as instituições negociariam as LTN.” (VILELLA et al., 2008).

20

beta mais próximo de 1 e, portanto, mais aderente à variável independente. Já a

análise de desempenho das carteiras “fundos previdenciários referenciados DI” e

“fundos não previdenciários referenciados DI” foi favorável à primeira carteira. A

comparação, neste caso, se fundamentou na observação dos coeficientes lineares

das regressões de cada uma das carteiras, cuja variável dependente era o retorno e

a independente era o DI.

Uma parte do estudo realizado por Amaral (2013) também analisou o

desempenho de fundos de renda fixa previdenciários (52 sobreviventes) e não

previdenciários (102 sobreviventes), cujos dados foram retornos mensais

compreendidos entre janeiro de 2005 e dezembro de 2011. Diferentemente da

pesquisa anterior, não foram considerados os referenciados DI. Além de verificar se

as médias dos retornos de cada tipo de fundo eram estatisticamente distintas entre

si, a comparação também se deu pela análise dos índices de Sharpe (IS) e de

Modigliani (M²).

Os resultados apontam uma diferença estatisticamente significativa entre os

retornos médios de cada tipo de fundo, com resultados favoráveis aos fundos de

renda fixa tradicionais, ou seja, o retorno médio desses fundos se mostrou maior que

o dos fundos previdenciários de renda fixa. Além disso, quando o IS e o M² foram

observados, dez fundos de renda fixa obtiveram esses dois índices simultaneamente

positivos contra apenas um dos fundos previdenciários de renda fixa.

Os dois trabalhos, apesar da preocupação legítima em informar aos potenciais

poupadores uma análise de desempenho entre fundos previdenciários e não

previdenciários, apresentam limitações importantes. A primeira delas é que ambas

as pesquisas se baseiam em análises longitudinais. Dessa forma, as conclusões

alcançadas nesses estudos podem não refletir a realidade desses fundos no futuro.

Outra limitação é a questão tributária: em nenhum dos dois trabalhos foram

considerados os mecanismos de recolhimento de IR inerentes aos planos de

previdência privada. Além disso, ambas as pesquisas não consideraram a taxa de

carregamento.

1.3 OBJETIVO

O presente trabalho tem por objetivo municiar pessoas que pretendem investir

a longo prazo a fim de garantir uma renda complementar na aposentadoria com um

estudo aprofundado sobre o mercado de previdência privada aberta e os planos

21

conservadores do tipo PGBL e VGBL. Inicialmente, foi feita uma revisão sobre a

evolução histórica e legal do segmento, bem como um detalhamento de informações

técnicas sobre seus diversos produtos.

A segunda etapa consistiu em averiguar as condições impostas pelo mercado

para a contratação desses planos; e realizar simulações no intuito de verificar os

potenciais ganhos financeiros com os benefícios fiscais desses planos quando

comparados com investimentos em fundos de renda fixa, e de analisar a viabilidade

de reversão das provisões de três modalidades estruturadas sob regime atuarial, a

saber: renda temporária, renda vitalícia e renda vitalícia com prazo mínimo

garantido.

1.4 RELEVÂNCIA

Tendo em vista as tendências de aumento da taxa de poupança da economia e

do aumento da expectativa de vida dos indivíduos, é importante que exista um

esforço das pesquisas acadêmicas em prol de informar aos indivíduos as diferenças

entre optar por planos de previdência privada ou por acumulação de recursos por

conta própria. Nesse sentido, o presente trabalho visa orientar os cidadãos que

estudam a possibilidade de realizar investimentos em planos conservadores de

caráter previdenciário.

As pesquisas realizadas até hoje, que atingem tanto o segmento fechado

quanto o aberto, se concentram em três vertentes: impactos dos ajustes legais no

regime privado de previdência, análise do setor de previdência privada e análise de

desempenho de fundos previdenciários. Diante disso, a proposta é inovadora no

âmbito acadêmico, à medida que traz para a análise de viabilidade dos planos de

caráter previdenciário aspectos tributários e outras variáveis encontradas nos

regulamentos dos planos.

1.5 DELIMITAÇÃO

Na parte da coleta de dados dos regulamentos e do pesquisa de campo, o

presente trabalho concentrou a pesquisa nas quatro seguradoras com maior

participação no mercado dos planos PGBL e VGBL. Quanto aos regulamentos,

foram somente considerados aqueles vinculados a fundos previdenciários de renda

fixa e que tenham como tábua biométrica a BR-EMS (Experiência do Mercado

22

Segurador Brasileiro). Na parte das simulações dos resgates mensais via

autoprevidência e via planos de caráter previdenciário, assumiu-se que tanto o fundo

tradicional de renda fixa, quanto o fundo previdenciário teriam o mesmo retorno real

bruto. Portanto, a diferenciação da rentabilidade entre eles se deu pela taxa de

administração. Vale ressaltar que o presente trabalho não buscou avaliar o

desempenho das carteiras dos dois tipos de fundos mencionados.

23

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

A revisão de literatura foi dividida em dois tópicos. Inicialmente serão

apresentadas as pesquisas acadêmicas já realizadas no campo da previdência

complementar. Esses estudos foram categorizados em três vertentes: impactos dos

ajustes legais no regime de previdência complementar, análise do setor de

previdência privada e análise de desempenho de fundos previdenciários. Nesse

tópico, buscou-se demonstrar os avanços de cada vertente proporcionados por

esses trabalhos.

Na segunda parte, foi realizada uma pesquisa minuciosa sobre a indústria

nacional de Previdência Complementar, com destaque para o mercado das EAPCs.

Tal estudo buscou explicar: os regimes de previdência; a estrutura do mercado de

Previdência Complementar (tanto no âmbito regulatório, quanto no mercadológico);

tipos de planos de previdência e respectivos regimes financeiros; formas de

contribuição; peculiaridades tributárias; encargos; classificação dos fundos

previdenciários; e a portabilidade, resgate e vesting dos planos de previdência

privada.

2.1 PESQUISAS ACADÊMICAS SOBRE PREVIDÊNCIA COMPLEMENTAR NO

BRASIL

2.1.1 IMPACTOS DOS AJUSTES LEGAIS NO REGIME DE PREVIDÊNCIA

COMPLEMENTAR

Dentre as pesquisas acadêmicas sobre previdência complementar realizadas

até hoje, algumas visaram apresentar a trajetória dessa indústria, principalmente,

sob o ponto de vista regulatório. Tais trabalhos se tornam relevantes, uma vez que

não se limitaram, apenas, em explicar o conteúdo de cada lei que regulamenta o

sistema previdenciário nacional, mas também se propuseram a trazer, para o leitor,

o contexto em que essas leis surgiram e o que cada uma delas buscou corrigir.

Diante disso, o presente tópico se propõe, amparado por essas pesquisas, a expor a

trajetória da regulamentação do sistema previdenciário brasileiro, com destaque

para o regime privado de previdência.

Conforme já foi mencionado, a história da previdência privada é relativamente

antiga, antecedendo, inclusive, à institucionalização da previdência social. O início

se dá em 1904, quando foi fundada a Caixa Montepio dos Funcionários do Banco do

24

Brasil, antecessora da Previ. Inicialmente, o intuito era proporcionar aos herdeiros

dos associados, uma pensão, quando estes falecessem. Vale ressaltar que, nessa

época, a entidade ainda não tinha o propósito de garantir uma aposentadoria para

os associados (AFONSO, 1996).

Quase duas décadas depois da criação dessa entidade, surgiu, então, a

primeira iniciativa em institucionalizar a previdência social, com a promulgação da lei

Elóy Chaves (Lei 4.682, de 24 de janeiro de 1923). Essa lei determinou a criação

das Caixas de Aposentadorias e Pensões (CAP) para a classe ferroviária. Em 1926,

um decreto determinou que esse modelo fosse estendido aos portuários e marítimos

(CHAN et al., 2010).

Afonso (1996) destaca o segundo grande momento da previdência social, que

foi a criação, em 1930, do Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio, cujo objetivo

era regulamentá-la e supervisioná-la. Nessa fase, as categorias profissionais

começaram a se organizar para criar os Institutos de Aposentadorias e Pensões

(IAPs). Apesar da evolução da previdência social, Beltrão et al. (2004) afirmam que

tal movimento não chegou a inibir a evolução da previdência privada. Isso porque a

previdência social ainda não abarcava todas as categorias profissionais, além de

não alcançar também os autônomos, profissionais liberais, empregadores e

trabalhadores rurais. Diante disso, esse público passou a se organizar em

sociedades mutuárias que lhes dessem cobertura, proliferando, assim, as Caixas de

Pecúlio e as Sociedades de Mútuo Socorro. Vale salientar que, até 1946, ainda não

era oferecido o serviço de aposentadoria complementar pelas instituições de

previdência. A partir de 1947, esse serviço passou a ser oferecido pioneiramente

pelo Banco do Brasil. Segundo a União Nacional dos Acionistas Minoritários do

Banco do Brasil (UNAMIBB), o Banco do Brasil, além de arcar com essa

complementação, garantia, também, os mesmos reajustes salariais dos funcionários

da ativa.

A partir de 1960, inicia-se um novo momento no sistema previdenciário

brasileiro. Com o surgimento da Lei Orgânica da Previdência Social (LOPS), que

consolidou as normas existentes da Previdência Social, uniformizou-as quanto ao

custeio e acabou por estender o direito à previdência social aos profissionais

liberais, autônomos e empregadores, e a unificação dos IAPs, surgindo o Instituto

Nacional de Previdência Social (INPS), houve um avanço expressivo do acesso à

previdência social. Entretanto, a aposentadoria oferecida pelo INPS não era capaz

25

de proporcionar, à maior parte dos seus beneficiados, uma renda compatível com a

obtida no período laboral (BELTRÃO et al., 2004).

Para preencher essa lacuna, surgem, segundo os autores, diversas instituições

privadas, tais como as companhias de seguros e as instituições genericamente

conhecidas sob a denominação de montepios. As já existentes, mas restritas a uma

classe, abriram-se à participação geral. Afonso (1996) afirma que essas instituições

(abertas e fechadas) se comprometiam a pagar uma renda vitalícia ao seu

associado. No entanto, os pagamentos das aposentadorias eram fixos em termos

nominais e a inflação corroía o valor real dos benefícios. Tal fato anulava, em parte,

a finalidade desses planos de previdência complementar. Além disso, devido à falta

de regulação, havia algumas companhias que ofereciam planos de benefícios

financeiramente inviáveis e, portanto, enganosos. Diante desse cenário, o governo

iniciou, em 1964, alguns estudos que auxiliassem a regulamentação da previdência

complementar. Entretanto, somente 13 anos depois surgiria a primeira lei sobre o

tema (MONTORO FILHO E PORTO, 1982 apud AFONSO, 1996).

Na década de 70, junto com o milagre econômico, proliferaram-se os fundos de

pensão de empresas estatais, tais como a Petrobrás, Embratel, Vasp, BNDE

(atualmente BNDES), Portobrás e Nuclebrás e de empresas privadas, como Caemi,

Brahma e Promon. Nesta mesma década, ocorreu uma série de fraudes em

montepios, cujas aplicações estavam, em grande parte, atreladas a títulos de

solvência duvidosa ou empreendimentos economicamente inviáveis. Essas

ocorrências denegriram a imagem do mercado de aposentadoria complementar, o

que forçou o governo a acelerar a intervenção nesse mercado, por meio de

regulação específica (MATIJASCIC, 1993).

Paixão (2007) ressalta ainda que os esforços governamentais da época para

desenvolver o mercado de capitais também podem ser considerados como fatores

adicionais que motivaram a regulação do setor de previdência complementar. Isso

porque, com a regulação, as entidades de previdência complementar passariam a

ter a aplicação de suas reservas regida por normas oficiais, de forma que, uma

parcela desses recursos seria destinada ao mercado de capitais.

Diante desse contexto, surge a lei n.° 6.435/77, que marca o início da

intervenção governamental no setor. Segundo Beltrão et al. (2004), a referida lei se

mostrou bastante ampla em seus objetivos, a saber: proteger os interesses dos

participantes (associado, segurado ou beneficiário); determinar os padrões mínimos

26

de segurança econômico-financeira; disciplinar a expansão dos planos de

benefícios; e coordenar as atividades de previdência privada no país.

Nessa lei, as entidades de previdência privada (EPPs) foram, então, definidas

como aquelas “que têm por objetivo instituir planos privados de concessão de

benefícios complementares aos da previdência social”. Desta forma, ficou definida a

previdência privada como sendo facultativa e de caráter complementar. Beltrão et al.

(2004) afirmam que a necessidade de distinguir os aspectos relacionados com a

captação de recursos do público em geral, daqueles vinculados às entidades que se

restringem a atender o público de uma empresa ou grupo de empresas, dividiu a

previdência privada em dois grandes grupos e estabeleceu regras específicas para

cada um destes. Nesse sentido, as EPPs foram classificadas entre fechadas e

abertas, seguindo critérios como: relação entre a entidade e seus participantes e

objetivos econômicos da entidade (com ou sem fins lucrativos).

Nesse ínterim, Afonso (1996), amparado pela lei n.°6.435/77, define as EFPCs

como entidades sem fins lucrativos, cujo acesso está limitado aos funcionários de

determinada empresa, que fica assim denominada patrocinadora. Já as EAPCs são

aquelas constituídas sob a forma de sociedades anônimas quando tiverem fins

lucrativos ou sob a forma de sociedades civis e fundações quando não tiverem fins

lucrativos. Elas são destinadas a qualquer cidadão que se comprometa a realizar

aportes regulares das contribuições requeridas pelo plano de benefícios contratado.

A lei n.° 6.435/77 também tratou da competência dos órgãos governamentais

que teriam funções normativas e executivas (supervisoras) no sistema de

previdência complementar, além de vincular os órgãos responsáveis pelo segmento

das EFPCs ao Ministério da Previdência e Assistência Social (MPAS), e integrar as

EAPCs ao Sistema Nacional de Seguros Privados8, que é vinculado ao Ministério da

Fazenda. Beltrão et al (2004) salientam que, apesar de a lei atribuir separadamente

as obrigações dos órgãos normativo e executivo das EFPCs e das EAPCs, essas

atribuições são bastante semelhantes nos dois segmentos. Nesse sentido, aos

órgãos normativos cabe fixar diretrizes e normas, regular a constituição,

organização, funcionamento e fiscalização, estipular as condições de custeio e

8 Instituído pelo Decreto-Lei nº 73, de 21 de novembro de 1966, o Sistema Nacional de Seguros

Privados, nessa época, ficou constituído, no âmbito normativo, pelo Conselho Nacional de Seguros Privados (CNSP) e no âmbito fiscalizador, pela Superintendência de Seguros Privados (SUSEP), enquanto que as empresas fiscalizadas eram apenas aquelas autorizadas a operar com seguros privados. Em 1977, o CNSP e a SUSEP passaram também a regular e fiscalizar o segmento das entidades abertas de previdência complementar.

27

investimento, estabelecer as características gerais para planos de benefícios,

normas gerais de atuária e contabilidade, entre outras atribuições. Já os órgãos

supervisores são responsáveis por processar os pedidos para autorização,

constituição, funcionamento, fusão, incorporação, grupamento, transferência de

controle e reformas de estatutos das entidades, fiscalizar a execução das normas

fixadas pelos órgãos normativos, bem como da política de investimentos fixada pelo

CMN, inclusive aplicando as penalidades previstas na própria lei no caso de

constatação de alguma irregularidade.

Paixão (2007) afirma que, embora a lei n.° 6.435/77 tenha representado um

avanço considerável para a racionalização do setor, uma vez que atendeu às

preocupações e demandas da época em que foi sancionada, ela não acompanhou a

dinâmica do mercado de previdência privada. Diante disso, a década de 90 foi

marcada por intensas discussões sobre a atualização do aparato legal, resultando

na emenda constitucional n.° 20, de 15 de dezembro de 1998, e em novas leis

decorrentes, que buscaram atender a essa nova demanda no âmbito regulatório.

Essa emenda constitucional marca, então, a nova fase regulatória da

previdência complementar que dura até os dias de hoje. Tal emenda deu nova

redação ao artigo 202 da Constituição Federal, dedicando-o inteiramente ao regime

de previdência complementar. Com isso, introduziu, no texto constitucional,

princípios básicos que norteiam o regime mencionado, que são: autonomia em

relação à Previdência Social; caráter facultativo; e garantias quanto à constituição de

reservas que assegurem o pagamento dos benefícios contratados.

Desta emenda, surgiram três projetos de lei complementar (PLCs): o PLC 8, o

PLC 9 e o PLC 10. O primeiro deles dispunha sobre a relação entre a União, dos

Estados, do Distrito Federal e dos Municípios para suas autarquias, fundações,

sociedades de economia mista e outras entidades públicas e suas respectivas

entidades fechadas de previdência complementar. Já o PLC 10, peça fundamental

do processo de atualização regulatória da previdência complementar, visava

substituir a lei n.° 6.435/77, introduzindo elementos de flexibilização e modernização

do sistema, tais como portabilidade e vesting (serão explicados mais a frente). Por

fim, o PLC 9 buscou instituir o regime de previdência complementar aos servidores

públicos de cargo efetivo de todos os entes federados mencionados na PLC 8. Um

dos principais tópicos da PLC 9 era a possibilidade de fixar, para os novos

servidores estatutários e para os demais optantes, um teto de benefícios de valor

28

igual ao da Previdência Social. Esse projeto de lei complementar, diferentemente

dos outros dois, não foi aprovado. Entretanto, graças à emenda constitucional n.°

41/2003, que determinou que tais assuntos fossem aprovados por meio de lei de

iniciativa do Poder Executivo, o regime complementar para esses servidores e o

referido teto foram instituídos com a sanção da lei n.° 12.618/12 (BELTRÃO et al.,

2004).

Com relação ao PLC 8, este resultou na lei complementar n.º 108/01, que

disciplina as entidades fechadas de previdência complementar ligadas a entes

governamentais e a relação entre esses entes e as suas respectivas EFPCs. A LC

n.° 108/01 abrange também os fundos de pensão patrocinados por empresas

privadas permissionárias ou concessionárias que prestam serviço público.

Basicamente, a referida lei estabelece: as regras gerais e de custeio dos planos de

benefícios ofertados por essas entidades; a estrutura organizacional desses fundos

de pensão, definindo a função e a composição do Conselho Deliberativo, Fiscal e da

Diretoria-Executiva dos mesmos; e os órgãos responsáveis pela fiscalização dessas

entidades.

Já o PLC 10 originou a lei complementar n.° 109/01, que representa o aparato

legal mais importante da última grande fase do regime de previdência complementar

(PAIXÃO, 2007). Conforme mencionado, tal lei revogou a lei n.° 6.435/77 e,

inicialmente, reforçou o texto constitucional que define a previdência privada como

sendo complementar, facultativa, autônoma da Previdência Social e baseada na

constituição de reservas que garantam o benefício dos participantes. Beltrão et al.

(2004) ressaltam ainda que, pela nova lei, cabe ao Estado, além das ações previstas

na lei n.° 6.435/77, definir a política de previdência complementar, fiscalizar as

entidades e assegurar aos participantes e assistidos o pleno acesso às informações

relativas à gestão de seus respectivos planos de benefícios, garantindo assim maior

transparência ao sistema.

Além do disposto acima, a referida lei trouxe importantes mudanças, das quais

se destacam: a criação da figura do instituidor; o direito de representação dos

trabalhadores nos conselhos das entidades fechadas; o plano de benefícios na

modalidade contribuição definida; direito à portabilidade e definição do conceito de

vesting; e a sugestão de fundir os órgãos reguladores e fiscalizadores das entidades

fechadas e abertas. Em seguida, abordaremos esses tópicos, a exceção do último,

29

pois a estrutura do sistema previdenciário complementar permanece segmentada

até hoje.

Pela nova lei, a previdência complementar por meio de entidades fechadas

deixou de ser uma exclusividade de empregados de empresas comuns ou de grupos

empresariais e passou a ser acessível aos associados membros de pessoas

jurídicas de caráter profissional, classista ou setorial, denominadas instituidores. Tal

abertura não excluiu o direito dessas associações classistas de optarem por

participar de planos previdenciários coletivos ofertados por entidades abertas.

Outra novidade foi a representatividade dos participantes e associados nos

conselhos deliberativo e fiscal das EFPCs. Segundo a lei, a esse público é

assegurado ao menos um terço das vagas dos conselhos. Paixão (2007) salienta

que, mesmo que a representação dos trabalhadores no conselho seja minoritária,

esse novo direito dos participantes já pode ser considerado um avanço.

A abordagem da LC n.° 109/01 acerca dos planos de benefícios na modalidade

contribuição definida foi considerada outro importante avanço para a

sustentabilidade do mercado de previdência complementar. Isso porque, até a

década de 90, a maioria dos planos contratados (principalmente, por meio de

entidades fechadas) eram na modalidade benefício definido (também reconhecida

pela referida lei), que consiste em estabelecer, mediante um contrato bilateral

(entidade e participante), já no ato da contratação, o valor a ser pago de benefícios

ao final do período de acumulação das contribuições, o que expunha as entidades a

assumir eventuais déficits ocasionados por oscilações de variáveis independentes

do modelo que projetava os benefícios9.

Devido aos riscos inerentes à modalidade benefício definido, surge, na década

de 90, um movimento migratório desses planos para os de modalidade contribuição

definida, que consiste, segundo Pinheiro (2007), na definição prévia das

contribuições, sendo que os benefícios são calculados com base no total das

contribuições vertidas para o plano somado aos resultados das aplicações desses

recursos. Dessa forma, os riscos, como o de mercado, por exemplo, recaem sobre o

participante e deixam de ser absorvidos pelas entidades. Diante desse movimento

9 Um exemplo clássico são os efeitos ocasionados pela oscilação da variável taxa de juros. Ao

contratar um plano na modalidade benefício definido, se a taxa de juros ao longo do período de contribuição fica muito abaixo da taxa de juros utilizada para calcular o benefício no ato da contratação, essa variação negativa era quase que integralmente assumida pela entidade, a fim de garantir o benefício previamente contratado.

30

do mercado, a LC n.° 109/01 surge reconhecendo essa modalidade, tornando-a,

inclusive, obrigatória para as entidades fechadas constituídas por instituidores. Além

do benefício definido e da contribuição definida, a lei complementar também

reconhece a modalidade contribuição variável, cujos benefícios programados

apresentem uma conjugação das características das modalidades contribuição

definida e benefício definido. Entretanto, pode-se dizer que a referida definição para

o formato de contribuição variável, atualmente, vale somente para o segmento das

entidades fechadas, sendo, inclusive, denominado como plano misto, por alguns

autores. Para o segmento aberto, o Conselho Nacional de Seguros Privados (CNSP)

trouxe outra definição dessa modalidade que será apresentada mais à frente.

O quarto tópico mencionado anteriormente é a inserção, na referida lei, do

direito à portabilidade e do conceito de benefício proporcional diferido (vesting).

Segundo Amaral (2013), a portabilidade é o direito que o participante possui de

transferir os recursos financeiros acumulados na sua provisão para outro plano de

benefício previdenciário operado por entidade de previdência complementar. Já o

vesting, segundo a mesma autora, é um direito que proporciona ao participante,

vinculado a uma EFPC10, a opção de continuar no plano após o rompimento do

vínculo empregatício com a patrocinadora ou associativo com o instituidor, mesmo

não estando no período do benefício da aposentadoria. Nesse caso, as

contribuições do participante continuam na entidade, que tem a responsabilidade da

gestão dos recursos até a devolução do recurso ao participante, conforme

regulamento. Vale ressaltar que há algumas peculiaridades sobre a portabilidade

que serão discutidas mais adiante. Por agora, ficaremos apenas com o seu conceito.

Na última década, surgiram outras leis que passaram a integrar o aparato legal

do regime de previdência complementar. A primeira é a lei n.° 11.053/04, que

dispõe, basicamente, sobre a tributação dos planos de caráter previdenciário. Tal lei

passou a permitir aos participantes de planos previdenciários, nas modalidades

contribuição definida e contribuição variável, a optarem por uma tabela regressiva de

tributação quando do recebimento de benefícios ou resgates. Os modelos de

tributação existentes para os planos de previdência complementar também serão

explorados de forma mais detalhada mais a frente. Aproximadamente cinco anos

depois, foi aprovada a lei n.° 12.154/09, que cria a Superintendência Nacional de

10

Note que a definição de vesting para entidades abertas de previdência privada difere desta definição, válida para entidades fechadas. Adiante neste texto, abordaremos esta questão.

31

Previdência Complementar (PREVIC). Essa autarquia passa a ser, então, o novo

órgão fiscalizador das entidades fechadas de previdência complementar,

substituindo a Secretaria de Previdência Complementar (SPC).

Por fim, depois de discussões intensas sobre a insustentabilidade do regime

próprio de previdência dos servidores públicos titulares de cargo efetivo, surge a lei

n.° 12.618/12, que, finalmente, define as seguintes providências: fixa o limite máximo

da aposentadoria desse regime, equiparando-o ao teto da Previdência Social; institui

o regime de previdência complementar desses servidores; e autoriza a criação de

três entidades fechadas de previdência complementar: Fundação de Previdência

Complementar do Servidor Público Federal do Poder Executivo (Funspresp-Exe),

Fundação de Previdência Complementar do Servidor Público Federal do Poder

Legislativo (Funspresp-Leg) e Fundação de Previdência Complementar do Servidor

Público Federal do Poder Judiciário (Funspresp-Jud).

Depois das reformas legais do mercado privado de previdência, pode-se dizer

que este conta com um arcabouço legal satisfatório e possui bastante credibilidade,

haja vista o crescimento vertiginoso puxado tanto pelo amadurecimento dos fundos

de pensão, quanto pela alavancagem do segmento aberto. Devido à grande

importância do segmento fechado na trajetória do mercado de previdência

complementar brasileiro, seja pelo volume de recursos administrados pelos fundos

de pensão, seja pelo histórico protecionista do governo com os trabalhadores das

grandes empresas públicas e privadas, é natural que o arcabouço legal seja mais

elaborado para o mercado das entidades fechadas do que para o segmento aberto.

Entretanto, pode-se afirmar que o segmento aberto também está bem amparado, do

ponto de vista regulatório, não só pelas leis que o regem, mas também pelas

resoluções do órgão normativo (CNSP) e circulares do órgão fiscalizador (Susep)

que o disciplinam.

2.1.2 ANÁLISE DO SETOR DE PREVIDÊNCIA PRIVADA

Na busca por aprimorar o conhecimento sobre previdência privada, surge a

linha de pesquisa voltada para entender a estruturação desse setor. Dentro dessa

linha, duas pesquisas relevantes merecem destaque. A primeira, realizada por

Coimbra e Toyoshima (2009), investigou a estrutura do segmento aberto de

previdência privada, do ponto de vista mercadológico. Já a segunda, realizada por

Caetano (2014), procurou identificar economias de escala e de escopo no segmento

32

dos fundos de pensão. Diante disso, este tópico irá expor as análises e conclusões

dessas duas pesquisas.

Coimbra e Toyoshima (2009) afirmam que, para entender a estrutura de um

mercado, quatro fatores devem ser investigados e analisados: a diferenciação dos

produtos; a existência das barreiras à entrada e à saída de empresas; a

concentração de mercado; e o número e tamanho relativo das empresas. Dessa

forma, para entender o setor de previdência complementar, os autores investigaram

cada um desses fatores. Além disso, eles identificaram as características e

estratégias que favorecem as empresas líderes do mercado, assim como as práticas

utilizadas por elas, mas que são prejudiciais ao setor.

Quanto aos dois primeiros aspectos, Kato apud Coimbra e Toyoshima (2009)

apresentam algumas conclusões:

A diferenciação do produto ocorre pela reputação e tradição de uma empresa.

Como o plano de previdência tem como característica um serviço a ser usufruído

no longo prazo, é natural que os contratantes confiem mais em instituições mais

antigas e já conhecidas. Tal fato dificulta a entrada de novas empresas nesse

setor, demandando delas, um grande esforço em transmitir segurança para os

potenciais clientes;

O acesso ao canal de distribuição também é outro fator de barreira às novas

entrantes no segmento de previdência privada. Isso porque aproximar-se do

cliente requer a contratação de corretores autônomos e a instituição de escritórios

próprios, o que implica altos custos;

Custos menores das empresas já inseridas no mercado. Nesse caso, a barreira

se dá porque essas empresas já se encontram bem situadas, conhecendo as

formas de atuação e os caminhos mais simples de sua administração. Entretanto,

essa barreira não é peculiar do segmento de previdência privada, estendendo-se

a outros setores da economia.

Com relação ao nível de concentração de um setor, os autores enfatizam que

entendê-lo é importante para compreender melhor o nível de competição dessa

indústria. Dessa forma, os autores analisaram o nível de concentração por meio da

mensuração de dois tipos de índices: índices de concentração parcial e índice de

Gini. O primeiro investiga a situação das empresas líderes, enquanto o outro analisa

a concentração do setor como um todo. A variável utilizada para o cálculo baseou-se

nas contribuições arrecadadas com plano de previdência, menos as transferências

33

cedidas para outras entidades, mais as transferências aceitas de outras entidades.

Segundo os autores, o tamanho da arrecadação foi escolhido por refletir o poder da

empresa no mercado.

Para o estudo mencionado, foram mensurados os índices de concentração

parcial das quatro (CR4) e das oito (CR8) maiores empresas do setor. Esses índices

representam a soma do percentual de participação de mercado dessas entidades.

Esse percentual é a divisão da variável citada no parágrafo anterior pelo total de

arrecadação do setor de previdência privada aberta. Já o índice de Gini do setor foi

calculado, substituindo-se as variáveis tradicionais “proporção acumulada da

população” e “proporção acumulada da renda”, respectivamente, por “proporção

acumulada do número de empresas” e “proporção acumulada de provisão

matemática”. Para todos os índices, o período de análise foi de 1999 a 2007.

Fonte: Coimbra e Toyoshima (2009)

De acordo com a análise dos autores sobre a Figura 2, há alta concentração do

mercado de previdência privada. Somente as quatros maiores empresas do setor

concentraram, em 2007, cerca de 70% do total de arrecadação, enquanto as oito

maiores concentraram mais de 85% no mesmo ano. O índice de Gini, que mede o

nível de concentração como um todo, apesar de apontar para uma tendência de

desconcentração, ainda apresenta um elevado nível de concentração desse

mercado. De 2006 para 2007, aconteceram algumas fusões, o que ocasionou uma

Figura 2 - Concentração do sistema de previdência privada aberta

34

pequena elevação do índice de Gini e a elevação mais íngreme dos outros dois

índices. Entre 2002 e 2007, um fato curioso é a contrariedade entre a tendência

negativa do índice de Gini e a tendência positiva dos outros dois índices. Segundo

os autores, isso ocorreu porque as cinco maiores empresas aumentaram suas fatias

no mercado, nesse período, enquanto que as dez seguintes perderam participação.

Ademais, as menores, assim como as maiores, vem conquistando maiores parcelas

de arrecadação do setor, mas não em volume suficiente para anular o aumento

percentual de participação das maiores.

Para enriquecer o estudo da estrutura do setor, foi verificada sua eficiência.

Para analisá-la, foi utilizada uma técnica conhecida como Análise Envoltória de

Dados. Por meio dessa técnica, que se utiliza de programação matemática, cria-se

uma fronteira eficiente dentro de um sistema de coordenadas em que cada eixo

representa a quantidade de um determinado insumo (input) para produzir uma

unidade do produto final (output). As empresas localizadas nessa fronteira são

consideradas eficientes, e, portanto, benchmarks para as outras, enquanto que as

que estão à direita dessa fronteira são ineficientes. Por propriedade, não haveria

empresas à esquerda dessa fronteira. Para esse trabalho, foi analisado um total de

46 corporações que atuaram no setor nos anos 2005, 2006 e 2007. Tais empresas

foram divididas em seguradoras (21) e entidades abertas de previdência

complementar (25) e analisadas de acordo com sua natureza jurídica. Quanto às

variáveis, as de input foram despesas comerciais, despesas administrativas,

despesas financeiras e despesas tributárias. Já o output foi a renda de contribuições

retidas e de prêmios ganhos.

Quanto à eficiência, os autores verificaram que das 18 empresas eficientes,

onze eram seguradoras e das 20 empresas mais representativas no mercado,

somente duas não são seguradoras. Entre as EAPCs, somente sete se mostraram

eficientes. Essa ineficiência pode ser explicada como resultado de maiores gastos

operacionais, de falta de ligação com outras instituições que ofereçam as facilidades

operacionais e de ganhos que são oferecidos às seguradoras, além da reduzida

participação das EAPCs nas contribuições retidas do setor, o que impede ganhos de

escala, observados nas seguradoras. Tal fato mostra a importância das seguradoras

no mercado de previdência privada aberta no Brasil.

Em suas considerações finais, Coimbra e Toyoshima (2009) ainda destacam

que o número de empresas inseridas nesse segmento cresceu significativamente

35

desde 1994, com destaque para as seguradoras. Tal crescimento foi fruto da

trajetória de estabilização da economia nacional, que permitiu ao investidor comum

começar a pensar em longo prazo. No entanto, de 2001 até 2007, observou-se uma

redução gradual de novas instituições, consequência da redução do número de

entrantes e crescimento do número das que saem. Os autores entendem ser um

movimento natural de um mercado novo e com altas taxas de crescimento.

Inicialmente, houve estímulo à entrada de muitas novas empresas. Contudo, após

um período de consolidação e maturação das empresas e de suas estratégias,

muitas acabaram por sair pela dificuldade de acompanhar a evolução do setor.

Quanto à alta concentração do setor, os autores consideram que esse mercado é

um oligopólio. Entretanto, o setor tem apresentado uma desconcentração, que

ocorre mais intensamente entre as seguradoras. Já sobre a eficiência, as

seguradoras se mostraram mais eficientes por conta do aproveitamento das

instalações e do pessoal envolvidos com a atividade de seguro.

Ademais, eles entendem que a indústria parece ter começado uma nova fase

em 2002, com os cinco maiores players firmando suas posições e outros procurando

encontrar melhores estratégias para ganhar posições no mercado. Com a ajuda da

nova legislação e das novas resoluções, as empresas menores estão conseguindo

concorrer de forma mais igualitária, entretanto, eles sugerem que algumas regras

deveriam ser revistas, haja vista que estratégias tal como associação com o setor

bancário, ainda prejudica bastante a concorrência do setor, permitindo que

empresas mais ineficientes continuem a ganhar participação no mercado.

Outra pesquisa relevante que estudou a indústria de previdência complementar

foi a de Caetano (2014). Tal estudo se dedicou a investigar economias de escala e

de escopo no segmento dos fundos de pensão ou previdência complementar

fechada. Inicialmente, o autor define que há evidências de economia de escala

quando há redução dos custos médios de uma empresa à medida que a produção

aumenta. Já a economia de escopo se verifica quando o custo de uma empresa

ofertar dois produtos distintos seja inferior ao custo desses dois produtos quando

produzidos por firmas distintas.

Trazendo esses conceitos para o mercado de previdência complementar

fechada, uma EFPC obterá ganhos de escala quando o aumento do número de

participantes e do volume de investimento reduzir suas despesas administrativas

médias por participante e por real investido. Quanto à economia de escopo, esta

36

será identificada se a inserção de mais um plano no portfólio da EFPC ou a adesão

de mais uma patrocinadora não significaria aumento de custo administrativo.

Qualquer aumento de custo, em termos absolutos, nesses casos, seria fruto do

aumento do número de participantes ou do volume de investimento.

Diante disso, Caetano (2014) realizou testes econométricos de uma função de

custo, cujas variáveis independentes principais foram “total de participantes”, “total

de ativos administrados”, “quantidade de planos” e “quantidade de

patrocinadores/instituidores” por EFPC. Como se pode deduzir, as duas primeiras

estão relacionadas à investigação sobre a existência de economia de escala,

enquanto as duas últimas, relacionadas à identificação de economia de escopo.

Segundo o autor, se a soma dos coeficientes das duas primeiras variáveis for inferior

a um, há economia de escala nesse mercado. Já com relação à economia de

escopo, essa se dará se os coeficientes das duas últimas variáveis não forem

estatisticamente diferentes de zero. Os dados foram estruturados na forma de painel

não balanceado para os anos de 2010 e 2011 e se referem a 283 EFPCs.

Em todos os cinco testes econométricos realizados, a soma dos coeficientes

das variáveis “total de participantes” e “total de ativos administrados” foi inferior à

unidade. Em outras palavras, o mercado brasileiro de previdência privada fechada

apresentou potencial de ganhos de escala, sendo, inclusive, comparativamente

maior do que o resto do mundo. Para corroborar com o resultado, uma análise

simples de distribuição das EFPCs por quantidade de participantes e pensionistas já

aponta indícios de economia de escala. De acordo com os dados apresentados, em

2011, apenas 8% das entidades possuem um número inferior a mil participantes e

pensionistas.

Quanto às evidências de economia de escopo, estas se mostraram

substanciais. Isso porque, em todos os testes econométricos, os coeficientes das

variáveis “quantidade de planos” e “quantidade de patrocinadores/instituidores”

ficaram com valor absoluto muito próximo de zero. Em outras palavras, o impacto

sobre o custo administrativo da criação de novo plano e da adesão de outro

patrocinador é diminuto. Ao observar a distribuição das EFPCs de acordo com a

quantidade de planos, detectou-se que quase metade das EFPCs oferecem,

apenas, um plano de previdência e que a média ficou próxima de quatro planos por

entidade. Tais informações indicam um alto potencial para ganhos de escopo ainda

não explorados no mercado brasileiro.

37

O trabalho ainda buscou estudar os custos administrativos dessas entidades.

Segundo a pesquisa, em 2011, mais de 15% das EFPCs despenderam mais de R$

10 milhões com custeio de atividades administrativas e para mais de três quartos

das entidades essa soma supera R$ 1 milhão. Ao observar o percentual de

despesas administrativas sobre o investimento, nesse mesmo ano, cerca de 12,5%

das entidades fechadas gastaram mais do que 2% do total investido. Na análise

econométrica, a regressão em painel com efeitos fixos apresentou uma constante

elevada, indicando um grande peso de elementos fixos no custo administrativo das

EFPCs. Uma hipótese para essa característica seria o incentivo inadequado gerado

pelos tetos às taxas de administração e carregamento estabelecidos na Resolução

CGPC n.° 29/2009, que prevê tetos para o custeio das atividades de uma EFPC. Por

conta dessa regulamentação, pode ser que algumas entidades fechadas busquem

elevar seu custeio próximo ao nível máximo permitido pela norma, não repassando

todo ganho de escala aos participantes.

Outra questão investigada foi a possibilidade de as EFPCs públicas terem os

custos administrativos mais elevados que as privadas. Para isso, acrescentaram-se

duas dummies referentes aos tipos mencionados de EFPC. O resultado para a

regressão em painel com efeitos aleatórios aponta que as públicas são mais caras.

Segundo o autor, tal fato pode ser decorrente de uma ineficiência por parte destas

ou por questões de regulamentação mais rígida aplicada a esse tipo de entidade.

Por fim, o autor trouxe algumas reflexões interessantes sobre os resultados

encontrados. Inicialmente, Caetano (2014) conclui que a evidência favorável aos

ganhos de escala demonstra a dificuldade que uma empresa de menor porte teria

para a criação de sua EFPC. Tal fato pode aparentar um empecilho à expansão da

previdência complementar, mas os ganhos de escopo indicam a viabilidade de

políticas de fomento ao setor. Em outras palavras, a concentração das EFPCs tende

a gerar redução do custo administrativo médio por participante e o baixo custo

marginal da criação de um novo plano de benefícios ou da adesão de um

patrocinador a uma EFPC já existente abre caminho para que a previdência privada

se estenda a empresas de menor porte. No âmbito público, os resultados da

pesquisa sugerem que a União e os governos de grandes estados podem criar

entidades fechadas multipatrocinadas como instrumento para que a previdência

privada alcance servidores de municípios e estados de menor porte.

38

2.1.3 ANÁLISE DE DESEMPENHO DE FUNDOS PREVIDENCIÁRIOS

Conforme já foi mencionado, a crescente demanda brasileira por planos de

previdência privada tem estimulado diversos estudos com foco na investigação do

desempenho de fundos previdenciários. Tal interesse acadêmico nesse assunto o

tornou um dos temas mais pesquisado nos últimos anos, sendo a maioria desses

trabalhos, direcionados para a comparação com a performance de outras

alternativas de investimento. Apesar da existência de diversas pesquisas sobre o

tema, serão apresentadas as pesquisas mais recentes após a sanção da LC

n°109/01, uma vez que estudos mais antigos estão baseados em outra estrutura do

mercado de previdência privada, muito distinta da estrutura atual.

Lima (2008) analisou o desempenho de 26 fundos previdenciários direcionados

a planos do tipo PGBL com patrimônio superior a R$ 100 milhões, no período

compreendido entre 2003 e 2004, por meio do índice de Sharpe. Além disso, o autor

verificou a sensibilidade dos retornos desses fundos em relação ao CDI, que

normalmente é utilizado como benchmark para investimentos conservadores. Para o

cálculo do índice de Sharpe foi usado o desvio-padrão como medida de risco de

cada fundo. Para analisar a sensibilidade dessa indústria, foi realizado o estudo da

correlação entre os retornos e o CDI, ambos mensais.

Para o período analisado, o autor chegou a algumas conclusões. A primeira

delas foi a de que fundos maiores não necessariamente geram retornos maiores.

Sob a ótica de retornos crescentes de escala sugerida por Caetano (2014), tal

conclusão pode indicar a inexistência de ganhos de escala no setor de previdência

privada aberta. Quanto ao desempenho desse mercado, cerca de 30% dos fundos

apresentaram índice de Sharpe negativo e, na média, os fundos não conseguiram

superar o CDI. Em outras palavras, o estudo sugere certa ineficiência na gestão de

fundos previdenciários no Brasil. Quanto à sensibilidade dos retornos à variação do

CDI, o setor de previdência privada aberta apresentou forte correlação (cerca de

0,8). Isso se explica pela grande representatividade dos fundos de renda fixa no total

dos fundos desse mercado. Vale salientar que o estudo apresenta algumas

fragilidades, tais como a ausência de outros indicadores de desempenho, a

superficialidade na análise de sensibilidade, além do período curto de análise.

Já Cardoso (2006) teve como objetivo principal, a investigação de persistência

de performance dos fundos previdenciários também direcionados a planos PGBL.

39

Para tal, foram observados os retornos mensais com e sem taxa de administração

de 41 Fundos Balanceados, 16 Multimercados com Renda Variável e 35 Renda Fixa

no período compreendido entre 2001 e 2004. Para averiguar a presença de

persistência de performance, o período de análise foi dividido em dois e, em

seguida, foram calculados índices de desempenho, tais como índice de Sharpe,

índice de Treynor e alpha de Jensen para cada subperíodo. Em seguida, foram

feitos testes estatísticos desses índices. São eles: coeficiente de correlação de

Spearman, coeficiente de correlação de Pearson e o teste qui-quadrado. Os dois

primeiros ajudaram a identificar a associação dos fundos entre os subperíodos

(positiva ou negativa) e a sua magnitude (forte, moderada ou fraca), e o terceiro foi

importante para analisar a proporção populacional dos casos de persistência.

No cálculo dos índices de Sharpe e de Treynor, foi utilizada a taxa da

caderneta de poupança como risk-free rate. Quanto aos testes, depois de calculados

os coeficientes de correlação de Spearman e de Pearson entre os subperíodos para

cada classe de fundo e índice de desempenho, foram testadas suas significâncias

estatísticas, de forma que, se fossem estatisticamente significativos, seria rejeitada a

hipótese nula e, consequentemente, aceita a hipótese de persistência de

performance. Já para o teste qui-quadrado, haverá persistência de performance

quando o 𝜒2 calculado for maior do que o 𝜒2 crítico, também, para cada classe de

fundo e índice de desempenho.

Diante dos resultados, o autor conclui que, para os fundos de Renda Fixa, não

se pode aceitar com total veemência a existência de persistência de performance.

Isso porque, apesar de a maioria dos testes para os índices de Sharpe e de Treynor

terem sido estatisticamente significativos, a maioria dos resultados para o alpha de

Jensen indicaram não persistência de performance. Para os fundos Balanceados e

Multimercado com Renda Variável não há persistência de performance, pois, na

maioria dos resultados, obteve-se magnitude moderada ou fraca das correlações,

quando não, eram não significativas estatisticamente. Vale ressaltar que esses

resultados valem para retornos líquidos ou não de taxa de administração.

Além disso, Cardoso (2006) fez uma análise de desempenho, comparando os

retornos mensais médios entre 2001 e 2004 desses fundos com o CDI e um índice

multi-indexado chamado pelo autor de Benchmark Previdência11. A análise foi feita

11

Tal índice, construído por Marques (2005), é composto pela ponderação de quatro outros índices: CDI, IBOVESPA, FGV100 e PTAX+Cupom. Para o período compreendido entre janeiro de 2001 e

40

para retornos com e sem taxa de administração (retornos líquidos e brutos,

respectivamente). Quanto aos Balanceados, apenas 12% superaram o CDI, para

retornos médios líquidos, e 78% superaram, para retornos médios brutos. Quando

comparados com o Benchmark Previdência, 44% o superou para retornos médios

líquidos, enquanto que 98% o superou para retornos médios brutos. A análise dos

fundos Multimercado com Renda Variável apresentou resultados similares aos dos

fundos Balanceados. Por fim, nenhum fundo Renda Fixa superou o CDI para

retornos médios líquidos, enquanto que 80% desses fundos o superaram para

retornos médios brutos. Quando confrontados com o Benchmark Previdência, 29%

deles o superaram para retornos médios líquidos e 94% o superaram para retornos

médios brutos. Por esses resultados, percebe-se o peso da taxa de administração

na performance desses fundos.

Os dois estudos mais recentes sobre análise de desempenho foram os

realizados por Yang et al. (2010) e Amaral (2013). Essas duas pesquisas já foram

mencionados anteriormente e buscaram comparar a performance entre fundos

previdenciários e tradicionais, ambos conservadores. Os primeiros autores

observaram um melhor desempenho dos fundos tradicionais de renda fixa contra os

previdenciários também de renda fixa, enquanto que os fundos previdenciários

referenciados DI obtiveram melhor performance que os não previdenciários dessa

mesma categoria. Uma das limitações da pesquisa foi a ausência de comparação

dos retornos médios entre os tipos de fundos ou de outros índices de desempenho.

Essas conclusões foram baseadas somente em análise de parâmetros de

regressões para cada tipo de fundo, conforme já foi explicado anteriormente. Para

exemplificar, a constante da regressão dos fundos previdenciários DI foi de 0,30,

enquanto que a dos fundos DI tradicionais foi de 0,01. Como esse foi o parâmetro

escolhido para comparação, o resultado foi claramente favorável aos fundos

previdenciários DI. Entretanto, o coeficiente angular dos tradicionais foi de 0,98,

enquanto que o coeficiente para os previdenciários foi de 0,65. Tal diferença não foi

considerada na análise, mas merece ser observada, haja vista a diferença entre

esses valores.

dezembro de 2004, os pesos variaram mensalmente entre 87% e 77,2% para o CDI; entre 8,2% e 0,3% para o IBOVESPA; entre 0% e 8,4% para o FGV100; e entre 5,1% e 18,2% para o PTAX+Cupom.

41

Amaral (2013) também comparou a performance de fundos de renda fixa

tradicionais e previdenciários. Conforme mencionado anteriormente, a autora

verificou se os retornos mensais médios dos dois tipos de fundos, - líquidos de taxa

de administração, porém brutos em relação ao imposto de renda e calculados para o

período compreendido entre janeiro de 2005 e dezembro de 2011 -, eram

estatisticamente diferentes entre eles e, a 95% de confiança, o resultado foi

vantajoso para os fundos tradicionais, corroborando com os resultados de Yang et

al. (2010). Vale ressaltar ainda que os retornos mensais médios dos fundos

tradicionais, calculados para cada ano dos sete estudados, foram sistematicamente

maiores que os retornos mensais médios dos fundos previdenciários. Além disso, ao

analisar o desempenho de cada fundo dos dois tipos mencionados, por meio dos

índices de Sharpe e de Modigliani, constatou-se que, para uma taxa livre de risco

igual a 96% da Selic, cerca de 10% dos fundos tradicionais tiveram resultados

positivos nos dois índices, enquanto que, apenas, 2% dos fundos previdenciários

obtiveram resultados similares.

Para entender melhor essa diferença de desempenho, Amaral (2013) verificou

a diferença das taxas de administração médias cobradas pelos dois tipos de fundo.

Para todos os anos, com exceção do ano de 2005, os fundos previdenciários

apresentaram taxas de administração superiores aos fundos tradicionais. Segundo a

autora, tal fato pode explicar, ao menos parcialmente, a diferença de desempenho

entre os dois tipos de fundos.

Outro estudo feito pela autora na busca de obter maior entendimento sobre a

performance desses dois tipos de fundos foi a análise de estilo de gestão de ambos.

Para isso, ela testou três hipóteses: as carteiras dos fundos previdenciários de renda

fixa concentram-se mais em ativos atrelados a índices de preços do que as carteiras

dos fundos tradicionais de renda fixa; as carteiras dos fundos previdenciários de

renda fixa concentram-se mais em ativos atrelados a títulos prefixados do que as

carteiras dos fundos tradicionais de renda fixa; e as carteiras dos fundos

previdenciários de renda fixa concentram-se mais em ativos atrelados à taxa de

juros Selic do que as carteiras dos fundos tradicionais de renda fixa. Contrariamente

às expectativas, a autora verificou que as carteiras dos fundos previdenciários,

assim como nos fundos tradicionais, eram compostas majoritariamente por ativos

financeiros de curto e médio prazos. Especificamente, os dois tipos de fundos se

mostraram significativamente atrelados à taxa de juros Selic (LFT), com destaque

42

para os previdenciários, que apresentaram uma concentração maior em ativos

indexados a essa taxa do que os tradicionais.

2.2 PREVIDÊNCIA COMPLEMENTAR

2.2.1 REGIMES PREVIDENCIÁRIOS BRASILEIROS

Atualmente, a Constituição Brasileira prevê três tipos de regimes

previdenciários: Regime Geral de Previdência Social (RGPS), no artigo 201; os

Regimes Próprios dos Servidores Públicos Efetivos (RPPS), no artigo 40; e o

Regime de Previdência Complementar (RPC), no artigo 202.

Em um primeiro prisma, existem o RGPS e o RPPS, inseridos numa mesma

categoria, denominada previdência principal, como pode ser observado na Figura 1.

Esse tipo de previdência tem caráter obrigatório e é utilizada para substituir a renda

do contribuinte, quando ele perde a capacidade de trabalho, seja por doença,

invalidez, idade avançada ou morte (AMARAL, 2013). O que, basicamente, distingue

os dois regimes é o público atendido por cada um deles. Angoti (2012),

primeiramente, define o RGPS como aquele administrado pelo Instituto Nacional de

Seguridade Social (INSS) e destinado aos trabalhadores da iniciativa privada, aos

servidores de entes federativos não aderentes a regimes próprios e aos empregados

públicos, regidos pela CLT. Em seguida, o autor afirma que o RPPS, de

responsabilidade dos Tesouros (Nacional, Estaduais e Municipais), é destinado aos

servidores titulares de cargo efetivo da União, dos Estados, do Distrito Federal e de

quase metade dos Municípios, incluídas suas autarquias e fundações, e aos

membros do Ministério Público, do Poder Judiciário e do Tribunal de Contas da

União.

43

Em um segundo prisma, existe o Regime de Previdência Complementar, de

filiação facultativa, tendo por finalidade atender à necessidade de renda adicional

por ocasião da inatividade ou idade avançada. Na ramificação para o setor privado,

o objetivo é complementar o benefício oriundo do RGPS, que, como já foi

mencionado, é limitado a um teto estabelecido pelo governo federal. Nesse setor, há

dois tipos de planos: os fechados e abertos. Os planos fechados são coletivos,

oferecidos pelas empresas a seus funcionários ou por associações, sindicatos ou

entidades de classe a seus associados. Em qualquer caso, o serviço é oferecido por

meio de uma EFPC, que gerencia esses planos. Os planos abertos são ofertados

por sociedades seguradoras e por EAPCs e podem ser individuais, quando

contratados por qualquer pessoa física, ou coletivos, quando contratado por pessoa

jurídica, para atender a indivíduos vinculados a ela.

O Regime de Previdência Complementar para o setor público é uma novidade,

se comparado com o setor privado. Isso porque, tal regime só passou a valer, de

fato, para os servidores públicos titulares de cargo efetivo a partir de 2012, quando a

lei 12.618/12 instituiu um teto para o RPPS, sendo este equivalente ao estipulado

para a Previdência Social. Antes disso, as aposentadorias e pensões oriundas de

regimes próprios para esses servidores eram integrais ou tinham por base de cálculo

a totalidade da remuneração dos servidores da ativa.

Diante dessa alteração, surge a necessidade de oferecer a esse público

(principalmente aos servidores nomeados após a sanção da referida lei) uma opção

Sistema Previdenciário Nacional

Principal Complementar

RPPS Setor

Público

RGPS Setor

Privado

Setor Público

Fechado

Setor Privado

Aberto

Fechado Fonte: Adaptação Andrezo e Lima (2007)

Figura 3 - Regimes Previdenciários Nacionais

44

de complementar a aposentadoria ou pensão oriundas do RPPS. Para supri-la, a

mesma lei autorizou a criação de até três EFPCs, denominadas como: Fundação de

Previdência Complementar do Servidor Público Federal do Poder Executivo

(Funpresp-Exe), Legislativo (Funpresp-Leg) e Judiciário (Funpresp-Jud). Entretanto,

as instituídas, de fato, foram a Funpresp-Exe, que ficou responsável por atender

simultaneamente aos Poderes Executivo e Legislativo, e a Funpresp-Jud, que

atende ao Poder Judiciário.

2.2.2 SISTEMAS DE PREVIDÊNCIA COMPLEMENTAR DO SETOR PRIVADO

Conforme a Figura 4, os regimes de previdência complementar fechada e

aberta do setor privado funcionam dentro de sistemas regulatórios distintos.

A indústria da previdência complementar fechada tem, desde o final de 2009, a

Superintendência Nacional de Previdência Complementar (Previc) como órgão

supervisor. Ela é uma autarquia vinculada ao Ministério da Previdência Social e atua

na fiscalização das EFPCs e na execução de políticas direcionadas a essa indústria,

observando as diretrizes traçadas pelo Conselho Nacional de Previdência

Complementar (CNPC), que vem a ser o órgão regulador desse sistema.

Previdência Complementar Fechada

Ministério da Previdência Social

CNPC (órgão regulador)

Previc (órgão supervisor)

EFPCs (fundos de pensão)

Previdência Complementar Aberta

Ministério da Fazenda

CNSP (órgão regulador)

Susep (órgão supervisor)

Sociedades Seguradoras** e EAPCs

Sociedades Seguradoras e

Resseguradoras

Sociedades de Capitalização

SNSP ** enquanto gestoras de planos de caráter previdenciário

Fonte: O autor

Figura 4 - Sistemas de Previdência Complementar Fechada e Aberta

45

Já o mercado de previdência complementar aberta12 compartilha seus órgãos

supervisor e regulador com outras indústrias, tais como a de seguros, resseguros e

capitalização, formando, assim, o Sistema Nacional de Seguros Privados (SNSP). A

autarquia que atua como órgão fiscalizador desse sistema é a Superintendência de

Seguros Privados (Susep). Criada em 1966 e vinculada ao Ministério da Fazenda, a

Susep possui três diretorias totalmente dedicadas à fiscalização dessas indústrias:

Diretoria de Autorizações (DIRAT), Diretoria de Fiscalização (DIFIS) e Diretoria

Técnica (DITEC).

À DIRAT compete administrar o processo de autorização e cadastramento das

sociedades e entidades supervisionadas, bem como dos produtos comercializados.

Já a DIFIS é responsável por zelar pela saúde econômico-financeira dos mercados

de seguros, resseguros, previdência complementar aberta e capitalização; fazer

cumprir a regulamentação aplicável, fiscalizar as práticas de governança, gestão e

controles internos das sociedades e entidades supervisionadas, bem como aplicar o

regime repressivo, se for o caso. Por fim, à DITEC compete monitorar as operações

e funcionamento das sociedades e entidades supervisionadas, por meio do

acompanhamento: da constituição atuarial das provisões técnicas; da adequação da

cobertura proporcionada pelos ativos garantidores das referidas provisões; da

compatibilidade entre fluxos financeiros projetados ou estimados para os passivos e

correspondentes ativos; de outros passivos não relacionados a provisões técnicas;

do tratamento dado aos demais ativos financeiros constantes nas carteiras de

investimento das companhias; de implementação e desenvolvimento de modelo

interno pelas companhias e da sua efetiva utilização na gestão corporativa; dos

riscos incidentes sobre as operações das companhias e seus reflexos em sua

solvência; do nível de capital requerido dos entes supervisionados; e das

informações prestadas nos relatórios financeiros.

O órgão regulador do Sistema Nacional de Seguros Privados é o Conselho

Nacional de Seguros Privados (CNSP). Ele é composto pelo Ministro da Fazenda,

pelo Superintendente da Susep, por um representante do Ministério da Justiça, por

um representante do Banco Central, por um representante do Ministério da

Previdência Social e por um representante da Comissão de Valores Mobiliários

12

Nesse tópico, entende-se por previdência complementar aberta todos os planos de cobertura por sobrevivência oferecidos por EAPCs e Sociedades Seguradoras do ramo vida. O conceito de cobertura por sobrevivência será tratado mais à frente.

46

(CVM). Pela composição desse Conselho, nota-se que as diretrizes e normas que

regem o Sistema Nacional de Seguros Privados são frutos da concordância entre

representantes de todos os subsistemas do Sistema Financeiro Nacional, o que

mostra a importância da higidez do SNSP para a harmonia de todo o SFN.

2.2.3 ETAPAS DOS PLANOS PREVIDENCIÁRIOS E SUAS MODALIDADES

Todo plano de previdência complementar tem duas fases. A primeira é a fase

de acumulação de capital ou capitalização, quando, segundo Burkhauser et al.

(2004), o indivíduo se encontra na etapa ativa e superavitária do seu ciclo de vida.

Essa fase, também conhecida como período de diferimento, corresponde ao período

compreendido entre a data do início do plano até a data de início do pagamento do

benefício, onde acontece a acumulação das contribuições. A segunda fase, portanto,

é a do pagamento dos benefícios, quando o indivíduo se encontra na etapa final,

dependente e deficitária do seu ciclo de vida13. O final do recebimento do benefício

pode ser uma data predeterminada, quando o beneficiário opta pela renda

temporária, ou pode ser a data de falecimento do beneficiário, quando ele opta pela

renda vitalícia14.

Quanto aos tipos de planos previdenciários, há três reconhecidos pela

legislação brasileira da previdência complementar em vigor: planos de benefício

definido (BD), planos de contribuição definida (CD) e planos de contribuição variável

(CV). No segmento fechado de previdência complementar, o plano BD é definido,

pela Resolução n° 16/05 do extinto Conselho de Gestão da Previdência

Complementar (CGPC), como aquele cujo benefício programado é previamente

estabelecido, sendo o custeio determinado atuarialmente, de forma a assegurar sua

concessão e manutenção.

Pinheiro (2007) afirma que, tradicionalmente, os planos de benefício definido

são aqueles que proporcionam um benefício de aposentadoria a partir de uma

determinada idade sob a forma de renda vitalícia e que esse benefício é calculado

em função do tempo de serviço conjugado com o salário médio. Além disso, algo

bastante comum nos planos BD é considerar o valor da aposentadoria a ser paga

13

Para o presente trabalho, consideraremos a contratação de um plano de previdência privada para fins de aposentadoria, ou seja, para o caso de o participante alcançar a última etapa do seu ciclo de vida, recebendo a renda complementar que lhe é de direito. 14

Em determinadas modalidades da renda vitalícia e da renda temporária, há a possibilidade de o benefício ser transferido a beneficiários ou a herdeiros legais. Tal peculiaridade será discutida mais a frente.

47

pelo RGPS como uma variável, para fins de cálculo da renda complementar

oferecida nessa modalidade. O autor também explica que nesse tipo de plano,

tipicamente oferecidos por fundos de pensão, o patrimônio acumulado com as

contribuições dos empregados e dos empregadores não é alocado em contas

individuais, mas compõem um plano mutualista em que o valor do benefício é uma

variável independente, previamente estabelecido pelo regulamento do plano, e a

contribuição, uma variável dependente, que fica em aberto, sendo determinada

anualmente e atuarialmente pelo plano de custeio.

Segundo o autor, essas características dos planos BD trazem um nível

considerável de complexidade na estruturação desses planos, à medida que

assegura um valor final de benefício independente das oscilações das hipóteses

demográficas e econômicas incidentes no período de diferimento, implicando em

aumentos ou reduções na taxa de contribuição dentro do custeio do plano, tanto por

parte do participante, quanto por parte da empresa. Dessa forma, o plano de

benefício definido é o modelo que mais preocupa as empresas, porque embute

maior risco.

Por conta dessa exposição, Yermo e Pugh (2009) afirmam que, nos países da

Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), por

exemplo, os planos BD, que sempre foram a principal fonte de renda da previdência

complementar, perderam bastante espaço nas últimas duas décadas.

Especificamente no Brasil, Meiback (2014) afirma que os planos BD viraram um

problema para as empresas nacionais na década de 90. Isso porque, como os

planos dessa época foram desenhados quando os juros eram significativamente

mais altos, consequentemente os benefícios prometidos pelos fundos de pensão

eram elevados para as contribuições efetivamente pagas. Além da superestimação

dos benefícios, havia a resistência de funcionários a contribuir por um valor maior e,

simultaneamente, a abrir mão das altas aposentadorias, gerando déficits aos fundos

de pensão (GIAMBIAGI, 2014). Os três principais fundos de pensão da época (fundo

do Banco do Brasil, da Petrobras e da Caixa Econômica), por exemplo, foram

impactados significativamente por déficits ocasionados por planos BD. Diante disso,

as EFPCs impulsionaram a migração dos planos BD para os de contribuição definida

(CD) e os de contribuição variável (CV).

48

No segmento aberto, o plano BD é ainda mais arriscado para as sociedades

seguradoras e EAPCs. Isso porque, segundo as Resoluções CNSP n° 139/0515 e n°

140/0516, tanto as contribuições a serem acumuladas, quanto o benefício e os

reajustes inflacionários são previamente estabelecidos na proposta de inscrição,

sem correções periódicas nessas contribuições. Em outras palavras, todos os riscos

atuariais citados anteriormente são totalmente assumidos pela entidade gestora do

plano. Entretanto, a contratação de planos BD é incomum no segmento aberto, uma

vez que o próprio órgão regulador já proibiu que os dois principais produtos desse

mercado, que são o PGBL e o VGBL, sejam contratados pela referida modalidade.

Especificamente, esses dois produtos só podem ser estruturados na modalidade

contribuição variável (CV).

O segundo tipo de plano é o de contribuição definida. Somente regulamentada

no segmento fechado, essa modalidade é mais simples que a do benefício definido,

no que se refere à estruturação, pois permite que empregados e empresas façam

contribuições predeterminadas, contabilizadas numa conta individual de

aposentadoria, ou seja, não há mutualismo das contribuições. O dinheiro dessa

conta é investido em diferentes modalidades de investimentos, algumas vezes

escolhidos pelos próprios empregados, segundo seu critério de diversificação. Na

maior parte das vezes, são ditados pelos empregadores ou por um acordo entre

estes e sindicatos (PINHEIRO, 2007).

Segundo a Resolução n° 16/05 do extinto CGPC, os planos CD são aqueles

cujos benefícios programados são permanentemente ajustados, de acordo com o

saldo da conta mantida em favor do participante, inclusive na fase de percepção de

benefícios. Esse saldo é resultado do acúmulo dos valores aportados e dos

rendimentos líquidos do valor aplicado subtraído dos benefícios eventualmente já

pagos. Em outras palavras, Pinheiro (2007) explica que o benefício, que passa a ser

a variável dependente, varia de acordo com o desempenho dos investimentos feitos

com os recursos das contribuições. A variável independente, portanto, é a

contribuição. Na prática, o plano CD funciona como uma poupança programada, no

qual o saldo acumulado na data da aposentadoria é transformado em benefício, que

pode ser pago de diversas formas, tais como renda mensal, seja ela vitalícia ou não,

15

Altera e consolida as regras de funcionamento e os critérios para operação da cobertura por sobrevivência oferecida em plano de previdência complementar aberta e dá outras providências. 16

Altera e consolida as regras de funcionamento e os critérios para operação da cobertura por sobrevivência oferecida em plano de seguro de pessoas e dá outras providências.

49

resgate único ou pagamentos anuais (anuidades). Além disso, essa fase de

recebimento de benefícios pode ou não ser contemplada com reajustes anuais.

Diante do exposto, nota-se o quão mais interessante a modalidade CD pode

ser para as entidades fechadas de previdência complementar. Isso porque, nesse

plano, a exposição às oscilações anteriormente mencionadas durante o período de

diferimento passa a ser totalmente assumida pelo participante, refletindo-se na

projeção do seu benefício. Tais características desse plano justificam, portanto, o

esforço citado acima dos fundos de pensão na migração dos planos BD para os CD.

Além disso, a própria legislação previdenciária atual colabora com a redução da

representatividade dos planos de benefício definido. Dentre os incentivos legais,

tem-se: a obrigatoriedade da modalidade CD para os planos de previdência

complementar contratados por participantes cujos fundos de pensão tenham sido

instituídos por associações, sindicatos, cooperativas ou órgãos de classe,

estendendo-se também para servidores públicos titulares de cargo efetivo; e o

incentivo tributário dado pela lei ordinária n° 11.053/04, que permite, aos

participantes aderentes ao plano CD, a opção por um regime regressivo de imposto

de renda, além da postergação da cobrança de impostos. Vale ressaltar que tais

incentivos fiscais estendem-se aos planos de contribuição variável, nos segmentos

fechado e aberto, e serão detalhados mais à frente.

Tantos esforços trouxeram alguns resultados ao longo dos anos. Segundo

dados da Previc, os planos BD, que, em 1990, representavam cerca de 80% dos

ativos administrados por fundos de pensão, tiveram sua representatividade reduzida

drasticamente, sendo responsáveis por pouco menos de 30% dos ativos

administrados no mercado de previdência complementar fechada até meados de

2014.

A terceira modalidade, denominada contribuição variável (CV), tem definições

distintas nos segmentos fechado e aberto de previdência complementar. No

segmento fechado, a Resolução CGPC n° 16/05 define os planos CV como aqueles

cujos benefícios programados apresentem a conjugação de características das

modalidades de contribuição definida e benefício definido. A essa modalidade,

Pinheiro (2007) dá o nome de plano misto. Para exemplificar, um plano em que são

definidos previamente as contribuições e um piso para os benefícios é uma espécie

de plano misto.

50

Já no segmento aberto, as Resoluções CNSP n° 139/05 e n° 140/05

estabelecem que, na modalidade CV, o valor e o prazo de pagamento das

contribuições podem ser definidos previamente. Quanto ao pagamento do benefício,

poderá ser feito de uma única vez ou sob a forma de renda, por ocasião de

sobrevivência do participante ao período contributivo. No caso de renda, ela será

calculada com base no saldo acumulado da respectiva provisão matemática de

benefícios a conceder e no fator de cálculo17. Machado et al. (2004) explicam que a

resolução sugere, mas não obriga que o valor e o prazo das contribuições sejam

definidos previamente. Dessa forma, planos de previdência aberta na modalidade

CV são aqueles em que o valor e a periodicidade das contribuições podem ou não

ser regulares, admitindo-se também aportes extraordinários de qualquer valor e a

qualquer tempo, se estiverem previstos em contrato (PINHEIRO, 2007).

Na fase contributiva, as provisões de benefícios são individualizadas para cada

participante, limitando-se à acumulação financeira dos recursos. Portanto, não há a

presença dos riscos atuariais no período de diferimento. Na fase de recebimento,

caso o participante opte pelo resgate único, seu plano pouco difere de outros

investimentos tradicionais. Entretanto, se ele optar pela renda, temporária ou

vitalícia, pode-se considerar que a modalidade CV passa a ser similar ao BD nessa

fase. Isso porque, a partir do momento em que se encerra o período de diferimento e

é definido o valor do benefício a que o participante tem direito, a EAPC assume o

compromisso de honrar os pagamentos futuros até a sua extinção. O mutualismo,

inexistente no período de diferimento, onde as provisões de benefícios a conceder

são individualizadas, aparece na fase de pagamento de benefícios, e com ele, os

riscos atuariais (MACHADO et al., 2004).

Conforme já foi citado anteriormente, há mais de uma forma de pagamento dos

benefícios. As já mencionadas até aqui foram o pagamento único, a renda mensal

temporária e a renda mensal vitalícia. De maneira geral, essas são as três opções

fundamentais e as outras são, na verdade, variações das duas últimas. Além disso,

algumas dessas novas modalidades de renda surgem de outras finalidades

possíveis além da aposentadoria complementar. Diante disso, com base em

informações da Susep, serão apresentadas as definições de cada uma das formas

17

Resultado numérico, calculado mediante a utilização de taxa de juros e tábua biométrica, quando for o caso, no intuito de obter o capital segurado a ser pago sob a forma de renda (Resoluções n° 139/05 e n° 140/05).

51

de pagamento regulamentadas para o mercado de previdência complementar

aberta.

A primeira delas é o pagamento único, que é aquele realizado no primeiro dia

útil seguinte à data prevista para o término do período de diferimento. O valor a ser

pago será calculado com base no saldo de provisão matemática de benefícios a

conceder, verificado ao término daquele período.

Já a renda mensal temporária consiste na renda paga exclusivamente ao

participante durante um período predeterminado. Vale ressaltar que, nesse caso, o

benefício cessa com o falecimento do participante ou com o fim do período

contratado, o que acontecer primeiro. Uma variação dessa modalidade é a renda

mensal por prazo certo. Nesse caso, a única opção é a renda cessar com o término

do prazo estabelecido. Isso porque, em caso de falecimento do segurado antes do

término do prazo de recebimento de benefícios, a renda continuará a ser paga a um

ou mais beneficiários, pelo período remanescente contratado. Na hipótese de um

beneficiário falecer ou na hipótese de não haver beneficiários, a renda será

destinada aos sucessores legítimos, observada a legislação vigente. Enquanto não

for encontrado um sucessor legítimo, a renda será provisionada mensalmente,

durante o decorrer do prazo determinado, sendo o saldo corrigido pelo índice de

atualização de valores previsto no regulamento do plano contratado, até serem

identificados os sucessores legítimos a quem deverão ser pagos o saldo

provisionado e, se for o caso, os pagamentos mensais remanescentes.

A terceira categoria básica abrange as rendas mensais de caráter vitalício.

Segundo alguns especialistas, a característica perene dessas formas de benefícios

é a razão de existir da previdência complementar. Em outras palavras, tal

peculiaridade é o que diferencia esse segmento das alternativas tradicionais de

investimento a longo prazo. Por conta disso, a renda mensal vitalícia é uma das

mais antigas opções de renda dos planos de previdência privada e consiste no

pagamento de benefícios de forma perene e exclusiva ao participante até o seu

falecimento. As variações dela são: renda mensal vitalícia com prazo mínimo

garantido, renda mensal vitalícia reversível ao beneficiário indicado e renda mensal

vitalícia reversível ao cônjuge com continuidade aos menores.

A primeira consiste em uma renda paga vitaliciamente ao participante a partir

da data da concessão do benefício, sendo garantida aos beneficiários da seguinte

forma: no momento da inscrição, o participante escolherá um prazo mínimo de

52

garantia que será indicado na proposta de inscrição, de forma que, caso ele venha a

falecer antes desse prazo, os beneficiários continuarão a receber a renda até o fim

desse período mínimo garantido. Caso o falecimento ocorra após o prazo mínimo de

garantia, encerra-se o pagamento de benefícios de forma similar à renda mensal

vitalícia tradicional. No caso de falecimento de beneficiários dentro do prazo mínimo

garantido, a parte paga a eles será rateada entre os demais beneficiários. Não

havendo beneficiários remanescentes, a renda será paga aos sucessores legítimos

do participante pelo período restante garantido.

A renda mensal vitalícia reversível ao beneficiário indicado consiste na renda

vitalícia paga ao participante, sendo reversível vitaliciamente ao beneficiário, em

caso de falecimento do participante. Se o beneficiário falecer antes do participante e

durante o período de recebimento da renda, a reversibilidade é extinta e, se o

beneficiário falecer após o mesmo já ter começado a receber a renda, o benefício

também será encerrado.

Por fim, a renda mensal vitalícia reversível ao cônjuge com continuidade aos

menores significa que, em caso de falecimento do participante, a renda será

revertida vitaliciamente ao cônjuge e na falta desse, reversível temporariamente ao

menor ou aos menores até que atinjam a maioridade (18, 21 ou 24) estabelecida no

regulamento e conforme o percentual de reversão pré-estabelecido.

2.2.4 PGBL, VGBL E OUTROS PRODUTOS DE COBERTURA POR

SOBREVIVÊNCIA

Segundo a Susep, entende-se por produtos ou planos previdenciários aqueles

que podem ser contratados de forma individual ou coletiva e podem oferecer, juntos

ou separadamente, coberturas de risco ou por sobrevivência. Os de cobertura de

risco têm as seguintes formas de benefício: renda ou pecúlio por invalidez; e pensão

ou pecúlio por morte. Já os benefícios dos planos de cobertura por sobrevivência,

objeto de estudo do presente trabalho, são oferecidos na forma de renda por

sobrevivência, geralmente denominada de renda de aposentadoria. Tal renda

consiste no benefício gerado pela sobrevivência (evento gerador) do participante ao

período de diferimento contratado e suas modalidades são as já mencionadas no

tópico anterior. A escolha da forma de recebimento do benefício é feita no ato da

contratação do plano, mas pode ser alterada a qualquer momento antes da data

prevista para a concessão do benefício.

53

Até abril de 1998, os planos de previdência complementar aberta, conhecidos

como planos tradicionais ou Fundo Garantidor de Benefícios (FGB), garantiam

remuneração com base na inflação medida pelo Índice Geral de Preços de Mercado

(IGP-M) mais juros que variavam de 0% a 6% ao ano e o que excedia a esse

rendimento mínimo era dividido entre entidades e participantes. Entretanto, depois

de muita reivindicação das empresas do setor, em maio de 1998, é aprovada pela

Susep a comercialização do Plano Gerador de Benefício Livre (PGBL), cujos

resultados financeiros dos investimentos oriundos das contribuições passam a ser

totalmente revertidos para o participante, isentando as entidades abertas e

seguradoras de garantir uma rentabilidade mínima para o cliente. Além disso, o

PGBL trouxe a possibilidade de o participante optar por um perfil de investimento,

fato até então inexistente na contratação dos planos tradicionais. As opções de

alocação que passaram a ser oferecidas com o PGBL foram: somente títulos

públicos federais, conhecida como plano soberano; títulos públicos e privados,

conhecida como plano renda fixa; e composto por renda fixa e até 49% em renda

variável, denominada plano composto18.

Outra novidade para a época trazida com o PGBL foi a necessidade da criação

de fundos de investimento exclusivos para alocar as contribuições advindas desse

plano, conhecidos, hoje, como fundos de investimento especialmente constituídos

(FIEs). Note que a expressão “fundo de pensão” ficou restrita aos fundos fechados

de previdência.

Uma das características importantes dos fundos PGBL é o fato de não haver,

ao longo do período de investimento das contribuições, a incidência de imposto de

renda sobre os rendimentos, conhecida como come-cotas. Isso porque o IR

referente aos rendimentos das aplicações alocadas em um FIE é cobrado fora do

ambiente do fundo de investimento, de forma que, se houvesse a cobrança do

come-cotas nesse caso, haveria uma dupla tributação sobre esses rendimentos.

Entretanto, o participante de um PGBL, assim como quem investe em fundos de

investimento tradicionais, paga uma taxa de administração, que é apropriada

diariamente e cobrada mensalmente sobre o patrimônio líquido do FIE. Além da taxa

de administração, outro custo a que o participante está exposto é a taxa de

18

Esta é a norma da Susep, entretanto as instituições de previdência privada aberta podem criar subdivisões. Um exemplo fictício (porém bastante comum) seria a instituição ABC oferecer um plano soberano, um plano conservador (renda fixa), um plano moderado (até 20% em renda variável), um plano agressivo (até 35% em renda variável) e um plano agressivo plus (até 49% em renda variável).

54

carregamento. Ela é cobrada no momento do aporte de cada contribuição e,

portanto, o valor efetivamente aplicado no FIE será abatido desse custo.

Quanto à estruturação do período de diferimento do PGBL, o CNSP obrigou

que fosse na forma de contribuição variável. Conforme já foi visto anteriormente,

isso significa dizer que os aportes não precisam ser regulares no que diz respeito a

valor e periodicidade, e a renda que efetivamente será paga ao participante ou

beneficiário só será conhecida ao final do período de diferimento. Outro ponto

importante é que o regime financeiro do PGBL é o de capitalização. Diferentemente

do regime de caixa19, no de capitalização, as contribuições devem ser suficientes

para gerar montantes que visam garantir todo o fluxo de benefícios que virá após o

período de diferimento.

Por fim, a característica mais conhecida do PGBL é a postergação da

incidência do imposto de renda (IR) sobre as quantias revertidas ao plano, limitadas

a 12% da renda total tributável20 do participante, desde que o participante contribua

para a previdência do RGPS ou do RPPS. Ademais, o participante só poderá

usufruir desse benefício fiscal se optar pelo regime completo de declaração do IR.

Por se tratar de postergação e não isenção dessa tributação, no período de

recebimento da renda de aposentadoria, haverá a cobrança do IR sobre as quantias

revertidas ao plano acrescidas dos rendimentos acumulados durante o período de

diferimento. Tal cobrança será feita numa escala progressiva ou regressiva de

tributação, a ser escolhida pelo participante no ato da contratação do plano (os

regimes serão detalhados mais à frente). Caso não seja escolhido nenhum modelo

de tributação na contratação, o modelo progressivo será utilizado compulsoriamente.

Apesar das novidades, o PGBL não se diferenciou dos planos tradicionais

quanto aos benefícios fiscais, ou seja, ambos continuaram a beneficiar somente

aqueles que se enquadravam nos pré-requisitos mencionados acima para usufruir

da postergação do IR. Entretanto, havia uma demanda por flexibilizações fiscais do

19

No Regime de Caixa, tecnicamente chamado de Regime de Repartição Simples, as contribuições pagas em determinado exercício são suficientes para cobrir somente os benefícios pagos nesse mesmo exercício. Esse é o regime adotado na Previdência Social e ele a expõe a graves riscos demográficos à medida que a população envelhece. Isso porque, nesse cenário, o volume de arrecadação com as contribuições tende a reduzir, enquanto que o volume de benefícios tende a aumentar, gerando, em algum momento, déficits que serão cobertos com recursos públicos. 20

Vale salientar que, a partir de 2013, a Participação nos Lucros e Resultados (PLR) não é mais somada à renda bruta tributável, sendo esse valor tributado direto na fonte. Emoutras palavras, a renda considerada para base de cálculo dos 12% (que podem ser diferidos para fins de IR) não abrange a PLR.

55

público que declarava pelo método simplificado de imposto de renda e daqueles que

declaravam pelo regime completo, mas que tinham planos cujas contribuições

superavam o limite de 12% sobre a renda tributável. O problema desses dois

públicos era a tributação duplicada. No caso dos declarantes pelo regime

simplificado, a bitributação acontecia da seguinte forma: desconsiderando o

desconto já garantido pelo modelo de 20% da renda tributável, limitado atualmente

ao valor de R$ 15.880,89 (2015), nada do que eles aportavam nos seus planos

durante o período de diferimento era abatido da base de cálculo do IR, e, portanto,

esses aportes eram integralmente tributados. Depois, ao final do período de

diferimento, os aportes e rendimentos acumulados durante o respectivo período

também seriam tributados. Em outras palavras, a isenção do IR no montane

investido em um plano PGBL naquele momento não trazia absolutamente nenhum

benefício aos optantes pelo modelo simples de declaração. Algo semelhante

acontecia com aqueles que desejavam aplicar num plano PGBL mais do que 12%

da renda bruta tributável: eles seriam bitributados no excedente aos 12%.

Diante desse cenário, surge, em dezembro de 2001, um seguro, denominado

Vida Gerador de Benefício Livre (VGBL), que é muito similar ao PGBL,

diferenciando-se deste somente no formato de tributação. Apesar de ter

características e finalidades de um plano de previdência complementar aberta, o

VGBL é um seguro e, portanto, as contribuições vertidas a esse plano são, na

verdade, prêmios. Como se sabe, prêmios de seguros não são dedutíveis da base

de cálculo de imposto de renda para pessoa física (IRPF), independentemente do

modelo de declaração ser o completo ou o simplificado. Entretanto, apesar dessa

aparente desvantagem, o IR cobrado no plano VGBL incidirá somente sobre os

rendimentos atrelados aos prêmios investidos durante o período de diferimento.

Tal formato resolveu o problema da bitributação mencionado acima.

Consequentemente, o referido seguro se popularizou de forma significativa,

acontecimento possivelmente explicado pelo fato de o modelo simplificado ser

responsável pela maior fatia do total de declarações de Imposto de Renda. Por

exemplo, em 2012, 58,3% do total das declarações foram feitas pelo método

simplificado, segundo o relatório de grandes números apresentado pela Receita

Federal em 2013. Para ilustrar a popularização do VGBL, dados apresentados pela

Fenaprevi apontam que, em 2014, o VGBL foi responsável por cerca de 66% do total

de investimentos advindos do mercado de planos de cobertura por sobrevivência.

56

Também no início da década passada, outros planos de cobertura por

sobrevivência foram autorizados pela Susep, a saber: Plano com Remuneração

Garantida e Performance (PRGP) e Vida com Remuneração Garantida e

Performance (VRGP); Plano com Atualização Garantida e Performance (PAGP) e

Vida com Atualização Garantida e Performance (VAGP); Plano com Remuneração

Garantida e Performance sem Atualização (PRSA) e Vida com Remuneração

Garantida e Performance sem Atualização (VRSA); e Plano de Renda Imediata

(PRI) e Vida com Renda Imediata (VRI). Como pode ser observado, para cada uma

das quatro categorias acima, há dois tipos de plano, sendo que todos iniciados com

a palavra “Plano” são produtos de previdência complementar aberta, enquanto que

todos iniciados com a palavra “Vida” são seguros pessoais. Resumidamente, a

lógica entre eles é a mesma válida para o PGBL e o VGBL, ou seja, a única

diferença entre os planos de cada categoria é o tratamento tributário dispensado a

eles, de modo que, para os planos PRGP, PAGP, PRSA e PRI, o formato de

cobrança do IR é idêntico ao estabelecido para o PGBL, enquanto que os seguros

VRGP, VAGP, VRSA e VRI espelham o método de tributação de IR atrelado ao

VGBL.

Em linhas gerais, Lubiato (2003) afirma que esses planos vieram com o

propósito de garantir uma rentabilidade mínima ao cliente durante o período de

diferimento, assim como os planos tradicionais antigos faziam. Os planos da primeira

categoria (PRGP e VRGP), por exemplo, garantem, como rentabilidade mínima, uma

taxa de juros efetiva anual acrescida de um índice de atualização de valores. Já os

da segunda categoria (PAGP e VAGP) garantem como rentabilidade mínima

somente um índice de atualização de valores e os da terceira categoria (PRSA e

VRSA) garantem somente um índice de juros anual como rentabilidade mínima.

Para essas três categorias, haverá, obrigatoriamente, a reversão de um percentual

dos resultados financeiros21, durante o período de diferimento, sendo que,

21

No caso de planos que garantam rentabilidade mínima durante o período de diferimento, resultado financeiro será a diferença entre o retorno efetivo das aplicações feitas com as contribuições desses planos e a rentabilidade mínima garantida. Portanto, se, por exemplo, um plano obteve resultado financeiro positivo em determinado ano, um percentual desse excedente será revertido ao participante, nos casos em que é garantida a reversão de resultado financeiro. Entretanto, se houver um acúmulo de resultados negativos de outros anos, é permitido à entidade compensar esses déficits passados com o atual superávit, desde que a rentabilidade mínima garantida não seja afetada. No caso de planos que não garantam rentabilidade mínima durante o período de diferimento, o resultado financeiro será o retorno efetivo (positivo ou negativo) das referidas aplicações, que será totalmente revertido ao participante.

57

especificamente para os planos PRSA e VRSA, esse percentual é obrigatoriamente

maior ou igual a 95%. Vale ressaltar que todas essas garantias de rentabilidade

mínima, bem como os percentuais de reversão dos resultados financeiros serão

previstos no regulamento do plano a ser contratado, sendo que aqueles planos que

garantem taxa de juros não poderão estabelecer um valor acima de 6%. Por fim, os

planos da quarta categoria (PRI e VRI), que consistem num aporte único no período

de diferimento e numa renda imediata no período de recebimento, só garantem

indiretamente uma rentabilidade mínima quando são contratados na modalidade

benefício definido e a reversão de resultados financeiros é facultativa. Apesar de o

VGBL e o PGBL não garantirem uma rentabilidade mínima, durante o período de

pagamento de benefícios é permitida a reversão de um percentual dos resultados

financeiros advindos dos investimentos da provisão matemática de benefícios

concedidos (classificação dada ao montante acumulado durante o plano, quando se

inicia o período de recebimento da renda).

Em 2007, a Susep autorizou mais outros três seguros, que visam atender a um

público de alta renda. Um deles é destinado somente a cobertura por sobrevivência

e os outros dois, destinados à cobertura de risco e sobrevivência simultaneamente.

O primeiro é o plano Dotal Puro que garante, durante o período de diferimento,

remuneração por meio da contratação de índice de atualização de valores, taxa de

juros e, opcionalmente, tábua biométrica, sem reversão de resultados financeiros,

sendo o capital segurado pago ao segurado sobrevivente ao término do período de

diferimento. O segundo é o Dotal Misto que, além de oferecer tudo o que o Dotal

Puro contempla, oferece também a cobertura de morte durante o período de

diferimento. Por fim, o terceiro é o Dotal Misto com Performance, que garante o

mesmo que o Dotal Misto, acrescido de reversão parcial ou total dos resultados

financeiros. Todos esses planos são obrigatoriamente estruturados na modalidade

benefício definido.

Um benefício interessante advindo do caráter securitário dos planos abertos de

previdência é a liberdade de escolha dos beneficiários por parte do participante, não

tendo que ser necessariamente um herdeiro legal. Além disso, Wiltgen (2014)

destaca outro benefício, oriundo do fato de recursos acumulados por esses planos

não entrarem em inventário, uma vez que se tratam de produtos securitários. Tal

peculiaridade faz com que o VGBL, por exemplo, seja constantemente utilizado

como uma alternativa menos complexa em processos de transmissão de herança,

58

além de menos custosa, uma vez que os recursos aportados nesse plano

normalmente não sofrem incidência de imposto sobre a herança. Entretanto,

segundo a autora, vale salientar que essa isenção do referido imposto é discutível

no âmbito jurídico. Isso porque o Imposto de Transmissão Causa Mortis e Doações

(ITCMD) é estadual e em alguns estados, como Minas Gerais, por exemplo,

entende-se que planos previdenciários são aplicações financeiras como qualquer

outro fundo de investimento e, portanto, deveria ser cobrado o ITCMD sobre esses

recursos.

A autora ainda acrescenta algumas falácias que são pregadas sobre os planos

de caráter previdenciário. Uma delas é a impenhorabilidade de fundos de

previdência privada em casos de processos. Em outras palavras, os recursos

aplicados num plano como o VGBL e o PGBL, por exemplo, podem sim ser

executados para pagamento de uma dívida ou indenização. É até possível alegar

perante a Justiça que os recursos são destinados à aposentadoria, mas não há

como garantir que eles ficarão fora da penhora, ainda mais se o juiz detectar um

aporte significativo em um VGBL (o que é mais comum nesses casos) de forma que

transmita a tentativa de tornar tal quantia indisponível para penhora. Outra falácia é

a crença de que recursos aportados nesses planos ficam blindados nos casos de

partilha de um divórcio. Para planos coletivos, normalmente é esse o entendimento,

uma vez que os recursos não podem ser movimentados a qualquer momento, além

do fato de parte do valor acumulado ser oriunda de contribuições da empresa, na

maioria dos casos. Entretanto, quando se trata de planos abertos e individuais, a

Justiça costuma entender como aplicações financeiras que saíram da renda familiar.

Se, assim como no caso anterior, for detectada uma tentativa de blindar uma

determinada quantia por meio de um aporte nesses planos, as chances de tornar o

montante nos planos indisponível para a partilha, sob alegação de ser um valor

destinado à aposentadoria, são ainda menores.

Todos os planos citados acima podem ser comercializados tanto na forma

individual, como na forma coletiva, senda esta, quando se tratar de contratante

pessoa jurídica, com objetivo de oferecer planos de cobertura por sobrevivência a

seus funcionários. Quanto aos planos coletivos, estes podem ser averbados ou

instituídos. No caso dos planos coletivos averbados, a pessoa jurídica, denominada

averbadora, que propõe a contratação de plano coletivo junto à seguradora ou

entidade aberta, fica investida apenas de poderes de representação, deixando de

59

participar, portanto, do custeio do plano. Já nos planos coletivos instituídos, a

pessoa jurídica contratante, conhecida como instituidora, fica investida de poderes

de representação para contratá-lo com a EAPC e participa, total ou parcialmente, do

custeio.

A opção ao plano coletivo instituído é a criação de um fundo de pensão

(previd^ncia fechada) ou a aderência a um já existente, conhecido como fundo

multipatrocinado. Dadas as opções (previdência empresarial aberta e fechada), vale

apontar algumas características que devem ser analisadas ao decidir por um dos

dois segmentos. A primeira delas é o fato de fundos de pensão não oferecerem

seguros com caráter previdenciário, como o VGBL, por exemplo. Diante disso,

funcionários que tenham planos previdenciários administrados por um fundo de

pensão, mas declaram a renda pelo modelo simplificado (por exemplo) perdem o

benefício do diferimento fiscal e portanto serão bitributados. Já nos planos coletivos

oferecidos por entidades abertas, há a possibilidade de serem oferecidos aos

funcionários, tanto os planos de previdência complementar, tais como o PGBL e

seus derivados, como os planos de seguro de pessoas, tais como o VGBL e suas

variações. Dessa forma, no segmento aberto, é possível beneficiar os colaboradores

que declaram a renda por qualquer um dos modelos (simplificado ou completo).

Outra característica importante é o incentivo fiscal dado às empresas que

oferecem planos de previdência complementar. Conforme a lei n.° 9.532/97,

contribuições feitas pela empresa aos planos de seus colaboradores podem ser

deduzidas como despesa operacional para fins de apuração de imposto de renda e

da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) até o limite de 20% da folha

salarial dos participantes. A partir de 2005, tal benefício fiscal passou a ser válido

também para seguros coletivos com cláusula de cobertura por sobrevivência, como

o VGBL ou derivados, por exemplo.

Há também a questão dos custos para a empresa e para os colaboradores ao

optar por um dos dois segmentos. Em relação ao segmento aberto, duas variáveis

devem ser consideradas: taxa de administração e taxa de carregamento. Como as

entidades abertas e seguradoras são organizações com fins lucrativos, é de se

esperar que as taxas de administração dos fundos previdenciários por ela

administrados tendem a ser maiores que a dos fundos de pensão. Além disso, há a

possibilidade (muito comum, aliás) da cobrança de uma taxa de carregamento sobre

as contribuições desse plano. Já no segmento fechado, não há a figura da taxa de

60

carregamento e as taxas de administração tendem a ser menores, uma vez que elas

são somente destinadas a cobrir despesas do fundo de pensão. Caso a empresa

opte pelo segmento fechado, dois cenários devem ser avaliados: a criação de um

fundo de pensão próprio ou fazer parte de um fundo multipatrocinado. Segundo

Caetano (2014), os ganhos de escala de fundos multipatrocinados tendem a fazer

com que a maioria das empresas opte por aderir a esses fundos.

Por fim, há diferenças nos dois segmentos quanto à autonomia na aplicação

dos recursos oriundos dos planos empresariais. Quando a empresa opta pelo plano

fechado, quem decide como será feita a alocação de recursos é a entidade fechada.

Portanto, se a empresa aderiu a um fundo multipatrocinado, ela terá que se sujeitar,

ao menos parcialmente, ao perfil de investimentos do referido fundo, tendo algum

poder de influência nesse quesito limitado ao número de participantes e do volume

que seu plano representa no patrimônio do fundo. Já no segmento aberto, além das

empresas poderem escolher o perfil de risco das aplicações de seu plano, há

também a possibilidade de os funcionários decidirem, individualmente, o perfil de

risco que preferirem.

2.2.5 RESGATE, PORTABILIDADE E VESTING

Conforme já foi mencionado, a lei complementar n° 109/01 regulamentou três

importantes direitos dentro do universo de previdência complementar. Um deles é o

direito a resgate que, segundo a Susep, consiste na permissão dada ao participante

de retirar, durante o período de diferimento, recursos da Provisão Matemática de

Benefícios a Conceder. Já, segundo o CNPC, entende-se por resgate o instituto que

faculta ao participante o recebimento de valor decorrente do seu desligamento do

plano de benefícios.

O objetivo de trazer as duas definições é apresentar os fatos geradores do

direito ao resgate em cada um dos segmentos. Percebe-se que na definição da

Susep o resgate não está atrelado ao encerramento do plano contratado. Isso

porque, no segmento aberto, o resgate não necessariamente significa desligar-se do

plano, uma vez que pode ser feito, a qualquer momento após o prazo de carência e

antes do evento gerador do benefício, retiradas parciais dos recursos capitalizados

(provisão matemática de benefícios a conceder) durante a fase de acumulação.

Quanto ao prazo de carência, ele estará compreendido entre 60 dias e 24 meses,

61

quando se tratar de resgate total, e entre 60 dias e 6 meses, quando se tratar de

resgate parcial (em relação ao último resgate ou início do plano).

Já no segmento fechado, o resgate caracteriza o encerramento do plano de

benefícios contratado e, portanto, não faz sentido existir a opção de resgate parcial

nesse caso. De acordo com a Resolução CGPC n.° 06/03, planos instituídos por

patrocinador (empresa), o resgate só será permitido após a cessação do vínculo

empregatício (art. 22). Em caso de planos instituídos por instituidor (órgãos de

classe, sindicatos, etc), o regulamento deverá prever um período de carência para o

pagamento do resgate, que seja superior a 6 meses e inferior a 2 anos (art. 23).

Uma característica importante do direito ao resgate é que ele é tipicamente

desenhado para planos previdenciários com cobertura por sobrevivência. No

segmento aberto, por exemplo, o CNSP é taxativo quando determina que só há a

obrigatoriedade do direito ao resgate para planos com esse tipo de cobertura,

enquanto que, para planos com cobertura de risco, tal direito é apenas facultativo,

desde que o regime financeiro seja o de capitalização. Caso contrário, não há a

possibilidade de resgate. Já no segmento dos fundos de pensão, a referida

característica se repete, quando o CNPC determina que, da totalidade de recursos a

ser resgatado de um plano, poderá ser abatida a quantia destinada à cobertura de

benefícios de risco.

Outro direito garantido pela lei n.° 109/01 aos participantes de planos

previdenciários é a portabilidade, que consiste na transferência (durante o período

de diferimento e na forma regulamentada) de recursos previdenciários entre planos

da mesma espécie e atrelados ao mesmo participante, podendo transitar dentro de

uma mesma entidade ou entre diferentes entidades de previdência complementar

sem sofrer qualquer incidência tributária durante essa transação.

Quando a legislação em vigor define que a portabilidade pode ser feita entre

planos da mesma espécie, isso significa que não é permitida, por exemplo, a

portabilidade entre planos de previdência complementar aberta e seguros de vida

com cláusula de cobertura por sobrevivência, ou seja, um PGBL não pode migrar

para um VGBL ou vice-versa. Já quando o mesmo aparato legal determina que tais

planos (o antigo e o novo) sejam atrelados ao mesmo participante, isso quer dizer

que é vedada a portabilidade dos recursos de um indivíduo para outro. Em relação à

possibilidade de transitar entre diferentes entidades de previdência complementar,

isso quer dizer que a portabilidade pode ocorrer entre entidades abertas distintas,

62

entre entidades fechadas distintas e, ainda, entre entidades fechadas e abertas ou

vice-versa. Por fim, a não incidência de imposto sobre os recursos previdenciários a

serem transferidos no processo de portabilidade é a razão de existência desse

direito. Isso porque se a retirada dos recursos de um plano, no processo de

portabilidade, caracterizasse um resgate, tal montante ou a parte dele referente aos

rendimentos sofreriam incidência de imposto de renda. Sob essa hipótese, a

portabilidade em nada se diferenciaria de uma operação em que se resgata o

montante acumulado de um plano para, em seguida, aportá-lo em outro plano de

mesma espécie. Portanto, por não se caracterizar resgate, é vedado, no caso da

portabilidade, que os recursos financeiros em trânsito sejam acessados sob

qualquer circunstância pelo participante.

Assim como no resgate, a portabilidade originária de um plano do segmento

fechado caracteriza o encerramento do referido plano, ou seja, nesse caso, só há a

possibilidade de portabilidade da totalidade dos recursos acumulados. Quando o

plano originário for instituído por patrocinador, só será possível a portabilidade com o

fim do vínculo empregatício entre participante e patrocinador e o cumprimento de

uma carência de até três anos de vínculo do participante ao plano. Para planos

instituídos por instituidor, subentende-se que a elegibilidade ao direito à

portabilidade está atrelada somente ao cumprimento do referido período de

carência.

A portabilidade entre planos de caráter previdenciário no segmento aberto

poderá ser total ou parcial. Quanto à carência, esta será de 60 dias, podendo ser

inferior nos casos em que a portabilidade se dá entre planos de uma mesma EAPC.

No caso de portabilidade de entidades fechadas para entidades abertas, a

Resolução CNSP n.º 139/2005 define que os recursos portados não obedecem à

carência mencionada acima. Ainda sobre esse tipo de portabilidade, a referida

resolução veda o resgate desses recursos, uma vez portados para entidades

abertas.

Outro ponto importante da portabilidade é que a instituição recebedora dos

fundos não poderá cobrar taxa de carregamento (taxa de entrada), ao passo que a

instituição provedora dos fundos (isto é, instituição de onde os fundos estão

migrando) poderá cobrar taxa de saída, caso esta esteja em seu regulamento.

Além do direito ao resgate e à portabilidade, a lei complementar n.° 109/01

também garante aos trabalhadores ou associados que contribuíram a um

63

determinado fundo de pensão, de continuar filiado a esse fundo até sua

aposentadoria. A essa garantia dá-se o nome de benefício proporcional diferido ou

vesting e ela permite que o trabalhador/associado possa, mesmo que haja quebra

do vínculo empregatício/associativo, ter acesso aos recursos depositados em seu

nome no fundo de pensão, inclusive à parcela paga pelo patrocinador/instituidor,

quando for o caso. Ao se aposentar, o trabalhador recebe um benefício proporcional

ao valor contribuído ao fundo. Entretanto, para ter direito ao vesting (no segmento

fechado), devem ocorrer simultaneamente duas situações: rompimento dos vínculos

mencionados acima e o cumprimento da carência de até três anos do plano de

benefícios. Vale ressaltar que a escolha do participante pelo benefício proporcional

diferido não impede posterior escolha pela portabilidade ou resgate. Para o

segmento aberto, o vesting foi regulamentado pelo CNSP e tem uma definição

diferente da do segmento fechado. O termo vesting aqui significa um conjunto de

cláusulas, constante do contrato entre a EAPC e a instituidora, que o participante de

plano coletivo instituído deve cumprir para que lhe possam ser oferecidos e postos a

sua disposição os recursos da provisão decorrente das contribuições pagas pela

instituidora.

2.2.6 REGIMES DE TRIBUTAÇÃO PARA PLANOS PREVIDENCIÁRIOS

Além do diferimento fiscal sobre os rendimentos advindos das contribuições

investidas em fundos previdenciários (FIEs) durante o período de acumulação,

outras duas ações governamentais impulsionaram significativamente o mercado de

previdência privada na última década. A primeira delas foi a já mencionada

autorização da venda dos seguros de pessoas com cláusula de cobertura por

sobrevivência, com destaque para o VGBL, que atingiu de forma bem mais

significativa a parcela da população optante pelo modelo simplificado de declaração

de imposto de renda ou que necessitava investir mais do que 12% de sua renda

bruta tributável. A segunda ação foi a promulgação da lei n.° 11.053/2004, que

trouxe importantes atualizações na tributação dos planos de caráter previdenciário,

tanto no segmento aberto, quanto no fechado. Dentre elas, a principal foi a

introdução de um novo regime de tributação denominado regressivo, bastante

benéfico para os poupadores de longo prazo.

64

Tal regime consiste basicamente na introdução de alíquotas do imposto de

renda sobre os resgates e benefícios22, variáveis segundo o tempo em que os

recursos são mantidos no plano de previdência complementar (GAUDENZI, 2006). A

lógica é similar à tributação sobre os rendimentos advindos de investimentos

tradicionais de renda fixa, em que, quanto mais tempo os recursos ficam investidos,

menor a alíquota de imposto de renda incidente sobre eles.

Antes de a referida lei entrar em vigor, o único regime existente era o

progressivo. Como o próprio nome já indica, ele se fundamenta na progressividade

das alíquotas à medida que a base de cálculo do imposto aumenta. Em outras

palavras, seguindo a tabela progressiva estabelecida pela Receita Federal, quanto

maior a renda tributável de um indivíduo, maior será a alíquota de imposto de renda

a ser cobrada. No caso dos planos de caráter previdenciário, quanto maior o valor

do benefício ou de sua fatia advinda dos rendimentos acumulados durante o período

de diferimento (caso do VGBL), maior será a alíquota de imposto de renda.

Com a existência dos dois regimes, é necessário que o contratante de um

plano de caráter previdenciário os entenda detalhadamente ao optar por um deles.

Isso porque, uma vez escolhido o regime, não é permitido alterá-lo, o que pode

ocasionar perdas financeiras importantes, tanto no resgate, quanto no recebimento

dos benefícios. Diante do exposto, faz-se necessária uma explicação minuciosa de

cada um desses regimes.

REGIME REGRESSIVO 2.2.6.1

Primeiramente, ressaltamos que tal regime de imposto de renda é exclusivo

do sistema previdenciário. Conforme mencionado anteriormente, a mesma lei que

introduziu possibilidade do regime regressivo para os planos de caráter

previdenciário, também tratou de definir os prazos de acumulação dos aportes e

suas respectivas alíquotas de imposto de renda. Tal relação pode ser vista na

Tabela 1.

22

Vale ressaltar que, para planos de caráter previdenciário, são dois os fatos geradores de incidência de imposto de renda, a saber: resgate e recebimento do benefício nas modalidades de renda já mencionadas.

65

Tabela 1 - Tabela Regressiva de Alíquotas do Imposto de Renda para Planos de Benefícios de Caráter Previdenciário

Prazos de Acumulação Alíquota do IR

Até 2 anos 35%

De 2 a 4 anos 30%

De 4 a 6 anos 25%

De 6 a 8 anos 20%

De 8 a 10 anos 15%

Acima de 10 anos 10%

Para ilustrar a utilização da tabela regressiva, suponha o seguinte exemplo:

um indivíduo contratou um VGBL e fez um aporte único líquido de R$ 10.000,00 há

cinco anos e pretende resgatar, hoje, o montante acumulado durante esse período.

Sabe-se que, desde o aporte até hoje, acumulou-se R$ 6.000,00 de rendimentos.

Para saber o total a ser pago a título de imposto de renda, identifica-se por quanto

tempo os recursos advindos do aporte único foram mantidos no plano. Dado que

esses recursos foram mantidos por cinco anos, ao olhar a tabela regressiva,

observa-se que esse período se encontra na faixa “de 4 a 6 anos” e a alíquota

correspondente a esse intervalo é de 25%. Como se trata de um VGBL, o valor

devido de imposto de renda será o produto entre essa alíquota e o total dos

rendimentos (R$ 6.000,00), que resultará no valor de R$ 1.500,00.

De maneira geral, os planos previdenciários sob o regime regressivo de

tributação serão tributados exatamente de acordo com o exemplo acima, ou seja,

uma vez conhecido o prazo de acumulação, aplica-se a alíquota devida de acordo

com a tabela regressiva (Tabela 1). Entretanto, quando ocorrer pagamentos de

benefícios não programados23 em um prazo de acumulação inferior ou igual a seis

anos, haverá uma flexibilização dessa tabela. Para esses casos, foi fixada pelo

artigo 95 da lei n.° 11.196/05 uma alíquota de 25%, em uma tentativa, segundo

Gaudenzi (2006), de manter certa relação com a alíquota máxima do regime

progressivo de tributação (27,5%, mas com parcela a descontar). Tal alíquota

estabelecida pela referida lei será passível de redução, segundo os mesmos critérios

da tabela acima, quando o prazo de acumulação superar os seis anos.

23

Pagamento de benefícios previdenciários por invalidez ao participante ou pagamento de benefícios previdenciários aos beneficiários em razão de falecimento do titular.

Fonte: Lei n.° 11.053, de 29 de dezembro de 2004.

66

Por praticidade, o exemplo acima contempla apenas um único aporte.

Entretanto, é esperada que a principal finalidade, na contratação de um plano de

previdência privada, seja a formação de uma poupança de longo prazo por meio de

aportes periódicos (normalmente mensais). Nesse cenário, o cálculo do tributo a ser

pago é mais complexo e, segundo a Instrução Normativa Conjunta SRF/SPC/Susep

n.° 524/05, poderá ser feito de duas formas, dependendo da forma como os recursos

serão revertidos ao participante (fatos geradores de tributos).

Para definir o imposto de renda a ser pago em resgates e rendas por prazo

determinado, a metodologia de cálculo utilizada é, segundo Rodrigues (2007),

similar ao critério contábil de avaliação de estoques conhecido como PEPS (primeiro

que entra, primeiro que sai), de forma que as contribuições24 mais antigas são as

primeiras a compor os valores relacionados aos fatos geradores de tributos

especificados acima. À medida que o “estoque” de aportes mais antigos vai se

esgotando, os mais recentes vão sendo utilizados (GAUDENZI, 2006). Dessa forma,

o imposto a ser pago será resultado da incidência das devidas alíquotas

correspondentes a cada aporte utilizado na composição dos resgates ou rendas por

prazo determinado. Como se sabe, para os planos de previdência complementar

aberta, como o PGBL, por exemplo, tais alíquotas incidirão no total de cada aporte

atualizado (principal e rendimentos) que irá compor o valor a ser pago. Para os

seguros de pessoas com cláusula de cobertura por sobrevivência, como é o caso do

VGBL, as alíquotas incidirão sobre os rendimentos de cada prêmio nominal

aportado.

No caso de pagamentos de benefícios estruturados em regime atuarial25, a

metodologia definida pela instrução normativa em questão é baseada no prazo

médio ponderado (PMP). Em linhas gerais, cada aporte, convertido e representado

por quotas de FIEs, será ponderado pelo período compreendido entre data do seu

depósito e a data do evento gerador de imposto, no caso, o pagamento das rendas.

Calculado o PMP, verifica-se em que faixa da tabela regressiva tal prazo médio se

encontra e aplica-se a alíquota correspondente. Dessa forma, à medida que as

rendas de aposentadoria são pagas, o PMP vai aumentando e a alíquota,

24

Atualizadas de acordo com o valor das quotas dos FIEs adquiridas por esses aportes ou com base em critérios estabelecidos no regulamento do plano contratado. Nos casos de PGBL e VGBL, é comum que essa atualização se dê pela atualização das quotas dos FIEs. 25

Aquele cuja manutenção dos benefícios concedidos tenha por premissa o mutualismo dos respectivos recursos garantidores. Para exemplificar, benefícios pagos sob a forma de renda vitalícia são estruturados em regime atuarial.

67

diminuindo. A incidência da alíquota do imposto de renda, no caso dos planos de

previdência complementar aberta, recairá sobre os valores integrais das rendas

recebidas. Em outras palavras, se, por exemplo, um PGBL, ao final do período de

diferimento, for pagar renda mensal vitalícia de R$ 5.000,00, o imposto de renda que

será recolhido mensalmente, terá como base de cálculo os R$ 5.000,00.

Já a tributação incidente sobre o capital segurado pago sob regime atuarial

por seguros com cláusula de cobertura por sobrevivência merece uma atenção

especial. Antes de entender a metodologia de cobrança de IR para esse tipo de

produto, vale recorrer à Circular Susep n.° 339/07. Tal instrumento regulatório, no

art. 38, sugere que as sociedades seguradoras devem manter controle analítico do

saldo da Provisão Matemática de Benefícios Concedidos26 (PMBC), de forma que

segregue dessa provisão, o somatório dos prêmios nominais pagos pelo segurado

durante o período de diferimento. Em seguida, o artigo 39, § 1º determina que, no

pagamento do capital segurado, os valores recebidos sejam formados de forma

proporcional aos recursos segregados da PMBC. Vale salientar que tal proporção se

altera à medida que os valores da PMBC e o saldo dos prêmios nominais são

atualizados (tal mecanismo é explicado minuciosamente no método de pesquisa).

Diante disso, o mercado, amparado por essas determinações do órgão

fiscalizador, entende que, para fins de recolhimento do imposto de renda, a base de

cálculo, em cada benefício recebido, será a fração do capital segurado pago

correspondente à diferença entre a PMBC e o saldo dos prêmios nominais, já que

essa parcela da PMBC, para fins de IR, é rendimento ainda não tributado.

Dadas as características supracitadas do regime regressivo, Derzi e Zappa

(2006) afirmam que o objetivo da introdução desse regime foi preservar a filosofia da

previdência complementar, uma vez que privilegia o indivíduo que contribui desde

cedo para o plano de previdência com o propósito de garantir uma poupança para o

período de aposentadoria. Entretanto, vale salientar que nem sempre o referido

regime será interessante para os que contratam um plano de previdência privada

com a finalidade mencionada acima. Isso significa dizer que, dependendo do valor

do benefício a ser pago no futuro, o regime progressivo pode ser mais interessante,

ainda que não privilegie a poupança de longo prazo.

26

Ao final do período de diferimento e início do período de pagamento do capital segurado, todo o montante acumulado a título de Provisão Matemática de Benefícios a Conceder (PMBaC) passa a ser classificado como Provisão Matemática de Benefícios Concedidos (PMBC).

68

Por fim, uma característica importante do regime regressivo de tributação é o

seu caráter exclusivo (ou ainda, definitivo) na fonte. Tal peculiaridade pode ser um

ponto negativo, uma vez que, recolhido o IR sob esse regime, não há a possibilidade

de restituição do imposto pago, na hipótese de existir eventuais despesas

dedutíveis. Isso porque esse imposto não integra o ajuste na Declaração Anual do

Imposto de Renda da Pessoa Física. Entretanto, se considerarmos que os valores

recebidos (submetidos a essa tributação) não são inseridos na formação da base de

cálculo do IR no respectivo ano-calendário, a tributação exclusiva na fonte pode, por

outro lado, ser favorável ao contribuinte.

REGIME PROGRESSIVO 2.2.6.2

Em consonância com o modelo de Estado Social, que se coloca como agente

responsável por políticas que visem à redução da desigualdade social e econômica,

emerge, dentre diversos princípios, o da isonomia. Tal princípio consiste, segundo

Santos (2010), em tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais na

medida de suas desigualdades. No âmbito econômico, isso se traduz em um

tratamento tributário sobre a renda cuja alíquota do tributo aumenta em proporção

superior ao incremento da base de cálculo, já que a renda efetivamente disponível

de um indivíduo também aumenta mais do que proporcionalmente ao aumento de

sua renda bruta. Segundo Freitas (2007), a esse tratamento tributário, dá-se o nome

de regime progressivo de tributação e a Constituição Federal de 1988, elaborada

sob a luz do conceito de Estado Social, tornou-o obrigatório27 para fins de cálculo de

imposto de renda da pessoa física (IRPF). Dessa forma, cabe ao Estado, por meio

de um processo legal que permeia os Poderes Legislativo e Executivo, estabelecer a

tabela progressiva de imposto de renda que define as faixas de renda a serem

tributadas e suas respectivas alíquotas. Recentemente, a tabela progressiva do

IRPF para o ano-calendário 2015 foi aprovada pela Medida Provisória n.° 670/2015

e está representada pela Tabela 2.

27

As exceções a essa regra, tais como o regime regressivo de tributação sobre os rendimentos de investimentos de renda fixa ou, como já visto, a possibilidade de aplicação de um regime também regressivo sobre os benefícios de planos de caráter previdenciário, se justificam pela aplicação da extrafiscalidade, que consiste em uma técnica usada para imputar à configuração dos tributos elementos que possam nortear comportamentos dos contribuintes, de forma a estimular ou desestimular ações de relevante interesse público nos âmbitos social, político, monetário ou econômico (GAUDENZI, 2006).

69

O regime progressivo adotado no Brasil é o gradativo, que consiste na

incidência de diferentes alíquotas sobre diferentes frações da renda (Machado,

2004). Para exemplificar tal formato de progressividade, suponha uma renda

tributável mensal (após todas deduções possíveis) de R$ 2.500,00. Ao observar a

Tabela 2, nota-se que esse valor está entre os limites da segunda faixa (“De

1.903,99 a 2.826,65”). Diante disso, para calcular o IR a ser cobrado, divide-se essa

renda em duas partes. A primeira parte representa a fração da renda que será

alocada na primeira faixa (R$ 1.903,98) e a segunda parte é o restante da renda

alocado na segunda faixa, que será a diferença entre o total da renda e o que ficou

na primeira faixa, ou seja, R$ 596,02. Depois de repartida a renda, serão aplicadas

as alíquotas correspondentes a cada uma das partes. Sobre a primeira fatia da

renda (R$ 1.903,98), não há alíquota a incidir e sobre a segunda (R$ 596,02), a

alíquota aplicada será de 7,5% (vide Tabela 2). Logo, o IR a ser pago sobre a renda

de R$ 2.500,00 será de R$ 44,70 (produto entre R$ 596,02 e 7,5%). Para bases de

cálculos que atinjam faixas superiores, a lógica é a mesma, ou seja: repartir a base

de cálculo, de acordo com as faixas da tabela progressiva, e aplicar, sobre cada

uma dessas partes, as alíquotas correspondentes às faixas em que elas se

encontram alocadas.

No intuito de facilitar esses cálculos, a tabela progressiva disponibiliza a

coluna “Parcela a deduzir do IR” (vide Tabela 2). Utilizando-se desse recurso, o IR

será calculado da seguinte forma: dada uma renda qualquer, uma vez verificada em

que faixa da tabela ela se encontra, aplica-se, sobre o valor integral dessa renda, a

alíquota de imposto correspondente. Em seguida, do resultado dessa operação,

subtrai-se a respectiva parcela a deduzir do IR. Portanto, para o exemplo acima, tal

metodologia de cálculo do IR consiste em aplicar, sobre a referida renda (R$

2.500,00), a alíquota correspondente à faixa em que ela se encontra (7,5%) e, em

Base de Cálculo (R$) Alíquota de IR Parcela a Deduzir no IR (R$)

Até 1.903,98 - -

De 1.903,99 até 2.826,65 7,5% 142,80

De 2.826,66 até 3.751,05 15% 354,80

De 3.751,06 até 4.664,68 22,5% 636,13

Acima de 4.664,68 27,5% 869,13

Tabela 2 - Tabela Progressiva de Alíquotas do Imposto de Renda da Pessoa Física – Base de Cálculo Mensal (Ano-Calendário 2015)

Fonte: Medida Provisória n.° 670, de 11 de março de 2015.

70

seguida, diminuir, do resultado encontrado pelo produto entre renda e alíquota (R$

187,50), a respectiva parcela a deduzir do IR, que nesse caso é de R$ 142,80.

Repare que o resultado será os mesmos R$ 44,70 encontrados na metodologia

anterior.

Uma vez explicada a lógica do cálculo progressivo de IR no Brasil, vale

detalhar algumas peculiaridades metodológicas na aplicação desse regime nos

benefícios e resgates de planos de caráter previdenciário. Nos planos de previdência

complementar aberta, como o PGBL, por exemplo, a metodologia de cálculo do IR é

idêntica à descrita no exemplo acima, tanto para a modalidade de renda vitalícia,

quanto para a renda por prazo determinado. Em outras palavras, se a renda mensal

tributável de R$ 2.500,00 citada acima fosse proveniente de um PGBL, o imposto de

renda a ser recolhido seria os mesmos R$ 44,70 mencionados no exemplo.

Já no caso de seguro de vida com cláusula de cobertura por sobrevivência,

como o VGBL, por exemplo, a base de cálculo do IR variará de acordo com a

metodologia de composição dos fatos geradores. Conforme mencionado no

subtópico 2.2.6.1 (regime regressivo), os valores dos benefícios não estruturados

sob regime atuarial, como é o caso da renda por prazo determinado, são compostos

seguindo a lógica PEPS, enquanto que os valores dos benefícios estruturados sob

regime atuarial obedecerão o critério da proporcionalidade entre o somatório de

prêmios pagos e a PMBC. Uma vez identificada a forma de composição do

benefício, torna-se possível destacar a fração que será a base de cálculo do IR. A

partir daí o procedimento é similar ao exemplo descrito acima: verificar em que faixa

a base de cálculo se encontra e aplicar a alíquota correspondente seguida da

subtração da parcela de IR a deduzir. A exceção a essa regra acontece nos casos

de resgates, sejam eles parciais ou totais, que sofrerão a tributação fixa de 15%

sobre os rendimentos. Vale destacar, que a formação do valor a ser resgatado

obedece ao mesmo critério de formação da renda por prazo determinado, ou seja, o

PEPS.

Assim como no regime regressivo, o IR cobrado progressivamente sobre os

benefícios e resgates de planos de caráter previdenciário também é retido na fonte,

sendo que, no regime em destaque, tal retenção não configura tributação exclusiva.

Em outras palavras, os benefícios e resgates recebidos (ou parte deles, no caso do

VGBL e similares) são acrescidos ao restante dos rendimentos tributáveis na

declaração de ajuste anual de IR, o que permite a restituição de uma eventual

71

retenção sobressalente de imposto ou uma cobrança complementar, no caso de

imposto retido a menor.

72

3 MÉTODO DE PESQUISA

O método utilizado para cumprir a segunda etapa do objetivo deste trabalho

será apresentado nos três primeiros itens deste capítulo. O primeiro item explica a

construção do modelo responsável por realizar as simulações da fase de

acumulação dos planos de caráter previdenciário e da autoprevidência. Já o

segundo item é dedicado a mostrar as etapas de construção do modelo que simulou

a fase de recebimento de renda das duas alternativas de investimento mencionadas.

Por fim, o terceiro item descreve os passos da pesquisa de campo realizada para

entender qual a prática do mercado em relação a algumas variáveis presentes nos

dois referidos modelos. O quarto item descreve a limitação do método tanto na

construção dos modelos, quanto na pesquisa de campo.

3.1 FASE DE ACUMULAÇÃO

As simulações realizadas, tanto no âmbito dos planos PGBL e VGBL, quanto

no da autoprevidência, consideraram o indivíduo que poupa e investe mensalmente

determinada quantia durante o período laboral no intuito de obter uma renda

complementar à garantida pelo RGPS durante a aposentadoria. Em outras palavras,

não foi considerada a possibilidade de aporte único nas simulações.

Dada essa premissa, faz-se necessário entender as variáveis inerentes às

simulações de cada uma das alternativas de acumulação de capital citadas acima. O

Quadro 1 descreve as variáveis presentes nas simulações de previdência privada.

Quadro 1 - Variáveis do Simulador de Previdência Privada – Etapa de Acumulação Variáveis Descrição

Contribuição/Prêmio Mensal (c_bruta)

Valor nominal investido mensalmente nos planos PGBL e VGBL. Por praticidade, prêmio também será chamado de contribuição ao longo do texto.

Período de Diferimento (n)

Período, em meses, compreendido entre a data da contratação do plano e a data de encerramento do período de acumulação. Nas simulações, os valores assumidos por essa variável foram sempre múltiplos de 12, de forma a representar períodos, em anos inteiros.

Taxa de Juros Real Durante Diferimento (rd)

Taxa de juros real que remunerará as contribuições líquidas durante o período de diferimento. A taxa mensal equivalente a rd será representada por 𝒓𝒅𝟏𝟐

73

Inflação Durante Diferimento (π)

Inflação anual ao longo do período de diferimento. A inflação mensal equivalente a π será representada por π12

Taxa de Carregamento (tx_carregamento)

Percentual deduzido pelas seguradoras e EAPCs do valor nominal das contribuições ou prêmios mensais.

Taxa de Administração do FIE (𝑡𝑥_𝑎𝑑𝑚𝐹𝐼𝐸)

Taxa anual cobrada sobre o montante investido no FIE. A taxa mensal equivalente à 𝑡𝑥_𝑎𝑑𝑚𝐹𝐼𝐸 será representada por 𝒕𝒙_𝒂𝒅𝒎𝑭𝑰𝑬𝟏𝟐

.

Restituição do Imposto de Renda (rest_IR)

Valor referente à dedução fiscal de contribuições feitas nos planos PGBL, que será aportado anualmente ao PGBL em questão ou a um VBGL.

Provisão Matemática de Benefícios a Conceder (PMBaC)

Valor acumulado ao final do período de diferimento que servirá como base de cálculo para renda a ser paga pelo plano de previdência complementar.

A contribuição mensal paga, em qualquer tempo ”t” durante o período de

diferimento, é deduzida da taxa de carregamento. Dessa forma, o valor da

contribuição mensal efetivamente destinado a compor a provisão matemática de

benefícios a conceder será:

𝑐_𝑙í𝑞𝑢𝑖𝑑𝑎𝑡 = 𝑐_𝑏𝑟𝑢𝑡𝑎𝑡 ∙ (1 − 𝑡𝑥_𝑐𝑎𝑟𝑟𝑒𝑔𝑎𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜)

onde “c_líquidat” significa contribuição líquida da taxa de carregamento no tempo “t”.

Quanto ao número de contribuições pagas durante a fase de acumulação de

recursos, tal valor é o número de meses relativos ao período de diferimento. Isso

porque a primeira contratação é feita no tempo “t” igual a 0 (zero), ou seja, no ato da

contratação, e a última será feita no início do último mês do período de diferimento.

Em outras palavras, haverá contribuições entre o período “t=0” e “t=n-1”, o que

totalizará “n” contribuições. Dessa forma, o total, em R$, de contribuições líquidas

durante o período de diferimento será representado pelo seguinte somatório:

𝑇𝑜𝑡𝑎𝑙 𝑐𝑜𝑛𝑡𝑟𝑖𝑏𝑢𝑖çõ𝑒𝑠 𝑙í𝑞𝑢𝑖𝑑𝑎𝑠 = ∑ 𝑐_𝑙í𝑞𝑢𝑖𝑑𝑎𝑡

𝑛−1

𝑡=0

O valor das contribuições foi reajustado a cada mês múltiplo de 12 pela

inflação acumulada nos 12 meses que antecedem o reajuste. Para fins de

simulação, essa inflação, denominada “inflação durante diferimento” (π), foi

considerada constante durante todo o período de diferimento. Em outras palavras,

trabalhou-se com uma inflação média ao longo do referido período. A Figura 3

exemplifica tal mecanismo de reajuste.

74

Tais contribuições líquidas serão aplicadas em cotas de um ou mais FIEs

vinculados ao plano contratado. Para o presente trabalho, consideraremos que o

plano simulado estará vinculado a apenas um FIE, o que reflete a realidade da

maioria dos planos PGBL e VGBL conservadores.

Para o modelo, o valor da cota do FIE, em “t=0”, será sempre R$ 1,00. Nos

meses seguintes, esse valor será, simultaneamente, capitalizado mensalmente a

uma taxa nominal mensal constante “i12” (que considerará a taxa real e a inflação

mensais)28 e deduzido pela taxa de administração mensal do FIE “tx_adm12”. Dessa

forma, no início de cada mês “t” diferente de 0 (zero), o valor da cota, líquido de taxa

de administração, obedecerá a seguinte fórmula:

𝑐𝑜𝑡𝑎𝑡 = 1 ∙ [(1 + 𝑖12) ∙ (1 − 𝑡𝑥𝑎𝑑𝑚𝐹𝐼𝐸12)]

𝑡

∴ 𝑡 = 1,2,3 …

Portanto, ao final do último mês do período de diferimento (t=n), o valor da cota será:

𝑐𝑜𝑡𝑎𝑛 = 1 ∙ [(1 + 𝑖12) ∙ (1 − 𝑡𝑥_𝑎𝑑𝑚𝐹𝐼𝐸12)]

𝑛

Conforme mencionado, cada contribuição líquida é destinada à compra de

uma quantidade “qt” de cotas do FIE, que variará devido à evolução mensal do valor

dessas cotas e devido aos reajustes inflacionários anuais sobre as contribuições. Ao

28

𝑖12 = (1 + 𝑟𝑑12) ∙ (1 + 𝜋12) − 1

. . . . .

. . . .

. . . . . . .

0 1 11 12 23 24 35 36*

Figura 5 - Fluxo de Caixa de Contribuições Mensais Durante um Período de Diferimento de 36 Meses

𝑐_𝑙í𝑞𝑢𝑖𝑑𝑎0 = 𝑐_𝑙í𝑞𝑢𝑖𝑑𝑎1 = ⋯ = 𝑐_𝑙í𝑞𝑢𝑖𝑑𝑎11

𝑐_𝑙í𝑞𝑢𝑖𝑑𝑎12 = 𝑐_𝑙í𝑞𝑢𝑖𝑑𝑎11 ∙ (1 + 𝜋)

𝑐_𝑙í𝑞𝑢𝑖𝑑𝑎12 = ⋯ = 𝑐_𝑙í𝑞𝑢𝑖𝑑𝑎23

𝑐_𝑙í𝑞𝑢𝑖𝑑𝑎24 = 𝑐_𝑙í𝑞𝑢𝑖𝑑𝑎23 ∙ (1 + 𝜋) = 𝑐_𝑙í𝑞𝑢𝑖𝑑𝑎11 ∙ (1 + 𝜋)2

* Pedido de reversão da PMBaC em renda. Em “t=37”, inicia-se o pagamento da renda.

75

final do período de diferimento, o montante de recursos financeiros acumulado será

o produto entre o valor final da cota (cotan) e o total de cotas adquiridas ao longo do

referido período. Tal montante, conhecido como Provisão Matemática de Benefícios

a Conceder (PMBaC), será a quantia que garantirá as rendas mensais após o fase

de acumulação. Representando em fórmula o que foi descrito, temos que:

𝑃𝑀𝐵𝑎𝐶 = 𝑐𝑜𝑡𝑎𝑛 ∙ ∑ 𝑞𝑡

𝑛−1

𝑡=0

Como pode ser observado, não foi citado o come-cotas no cálculo da PMBaC.

Isso porque, como já mencionado, não há cobrança de imposto de renda durante a

fase de acumulação nos planos PGBL e VGBL.

Ainda sobre vantagens no âmbito tributário, as contribuições vertidas a planos

do tipo PGBL, como já descrito anteriormente, podem ser deduzidas da base de

cálculo do imposto de renda até o limite de 12% da renda tributável. Tal dedução

gerará, na declaração de ajuste anual de imposto de renda, uma restituição a ser

paga entre junho e dezembro do ano da declaração, que será aportada ao PGBL em

questão. Tal hipótese se justifica pelo princípio de equidade para fins de

comparação com planos do tipo VGBL e de autoprevidência. Sob uma ótica

conservadora, foi considerado, nas simulações, que tal restituição será recebida e

aportada no mês do primeiro lote, ou seja, em junho29. Além disso, não houve a

incidência, prevista na lei n.° 9.250/95, da taxa Selic acumulada entre a data limite

de entrega da declaração de ajuste anual e o mês anterior ao do pagamento da

restituição acrescida de 1% sobre a restituição. Ao longo da construção do modelo,

sempre que se deparou com detalhes e variáveis muito difíceis de serem estimadas

e/ou muito específicas, adotou-se uma abordagem conservadora, ou seja, aquela

que não procura maximizar os benefícios dos planos de previdência privada.

29

Nos fluxos das contribuições, tal aporte entrará nos meses 5+12k, onde “k” representa o número de anos completos de contribuição.

76

Quadro 2 - Variáveis do Simulador de Autoprevidência Variáveis Descrição

Investimento Mensal (investimento)

Valor nominal investido mensalmente em fundos tradicionais de renda fixa.

Período de Investimento (n)

Período, em meses, compreendido entre o primeiro investimento mensal e o último. É igual ao período de diferimento.

Taxa de Juros Real Durante Investimento (a.a.) (ri)

Taxa de juros real que remunerará, mensal-mente, os investimentos mensais durante o perí-odo de investimento. A taxa mensal equivalente a ri será representada por 𝒓𝒊𝟏𝟐

.

Inflação Durante Investimento (a.a.) (π)

Inflação anual ao longo do período de investimento. A inflação mensal equivalente a π será representada por π12.

Taxa de Administração do Fundo Tradicional de Renda Fixa (a.a.)

(𝑡𝑥_𝑎𝑑𝑚𝐹𝑅𝐹)

Taxa anual cobrada mensalmente sobre o montante investido no fundo de renda fixa. A taxa mensal equivalente à tx_admFRF será represen-tada por 𝒕𝒙_𝒂𝒅𝒎𝑭𝑹𝑭𝟏𝟐

.

Come-cotas (come_cotas)

Recolhimento compulsório do IR sobre os rendimentos do valor aplicado no fundo de renda fixa ao final dos meses de maio e novembro. Para o presente trabalho, tal fundo será sempre de longo prazo, o que significa dizer que a alíquota de IR será de 15%.

Montante Acumulado Durante Investimento

Valor acumulado ao final do período de investimento que servirá como base de cálculo para uma renda mensal por um período determinado na fase de aposentadoria.

O Quadro 2 apresenta as variáveis inerentes à fase de acumulação da

autoprevidência, que é similar a dos planos de previdência privada. As diferenças

residem no acréscimo de uma variável e na ausência de outras duas. Uma das

variáveis que deixa de existir na autoprevidência é a taxa de carregamento. Dessa

forma, os investimentos mensais, que se equivalem às contribuições mensais, são

integralmente revertidos à compra de cotas de fundos de renda fixa. Outra variável

ausente na autoprevidência é a restituição de imposto de renda. Isso porque os

investimentos feitos nesses fundos não são dedutíveis para fins de tributação sobre

a renda. O que acontece, na verdade, é a tributação semestral exclusiva na fonte

sobre os rendimentos auferidos nesses fundos, conhecido como come-cotas.

Conforme já mencionado no Quadro 2, a alíquota referente ao come-cotas é de

15%, que vem a ser a menor alíquota da tabela regressiva de IR para esse tipo de

investimento, conforme evidenciado na Tabela 3. Em caso de resgates em prazos

inferiores a 720 dias após o investimento, haverá uma tributação adicional de forma

que o imposto total pago reflita o imposto devido de acordo com a tabela regressiva

representada na Tabela 3. Nas simulações, todos os resgates no período de

77

aposentadoria (rendas mensais) foram de recursos aportados nesses fundos há

mais 720 dias30. Portanto, não haverá tributação acima dos 15%.

Tabela 3 - Tabela Regressiva de Imposto sobre os Rendimentos de Fundos de Investimento de Longo Prazo

Prazos de Acumulação Alíquota do IR

Até 180 dias 22,5%

De 181 a 360 dias 20%

De 361 a 720 dias 17,5%

Acima de 720 dias 15%

Fonte: Lei n.° 11.033, de 21 de dezembro de 2004.

3.2 FASE DE RECEBIMENTO DAS RENDAS

Nessa segunda etapa, as simulações foram realizadas sob a premissa de o

indivíduo receber o montante acumulado na primeira etapa sob a forma de renda

mensal durante um prazo determinado (tanto no caso da previdência privada quanto

na autoprevidência) ou por prazo indeterminado (somente no caso de previdência

privada). As variáveis inerentes às simulações das rendas mensais advindas dos

planos PGBL e VGBL estão descritas no Quadro 3.

Quadro 3 - Variáveis do Simulador Previdência Privada – Etapa Recebimento de Renda Variáveis Descrição

Provisão Matemática de Benefícios Concedidos (PMBC)

Nas simulações dessa nova etapa, a provisão deixa de ser o resultado final (PMBaC) da acumulação de recursos e passa a ser uma variável de entrada (PMBCx) para a definição das rendas mensais, sejam elas constituídas sob regime atuarial ou não.

Período de Renda Garantida (n’)

Período mínimo garantido, em meses, de recebimento de renda no caso da renda vitalícia com prazo mínimo garantido ou período certo do recebimento de renda na modalidade de renda por prazo certo ou prazo máximo de recebimento de renda na modalidade renda temporária.

Idade de Saída / Idade de Aposentadoria (x)

Idade, em meses, em que o indivíduo solicita a reversão da PMBaC em renda.

30

Para fins tributários, os resgates parciais realizados na autoprevidência também obedecem ao conceito de PEPS descrito no subtópico que tratou do regime regressivo de tributação dos planos de caráter previdenciário.

78

Taxa de Juros Real Após Diferimento (rd’)

Taxa de juros real anual que remunerará o saldo remanescente, mês a mês, da provisão matemática de benefícios concedidos durante o período de pagamento de renda. A taxa mensal equivalente a rd’ será representada por 𝒓𝒅′𝟏𝟐.

Tábua Biométrica de Sobrevivência BR-EMS

Tábua biométrica utilizada para o cálculo da ex-pectativa de vida do indivíduo a partir da idade de aposentadoria, bem como para o cálculo das ren-das sob regime atuarial. As tábuas utilizadas no presente trabalho são as de sobrevivência, masculina e feminina, BR-EMS 2010, disponibilizada em anexo à Circular Susep n.° 402/2010. Mais informações sobre as tábuas de sobrevivência BR-EMS no Anexo 1.

Inflação Após Diferimento (π’)

Inflação anual ao longo do período de recebimento da renda, que será utilizada para reajustar anualmente o valor das rendas mensais brutas.

Renda Mensal por Prazo Certo (𝑟_𝑏𝑟𝑢𝑡𝑎_𝑃𝐶)

Renda bruta mensal paga durante o período de renda garantida, independentemente da sobrevi-vência do participante durante tal período. Não há risco atuarial nesse caso.

Renda Mensal Temporária (𝑟_𝑏𝑟𝑢𝑡𝑎_𝑇)

Renda bruta mensal paga até o encerramento do período de renda garantida ou até o falecimento do participante, o que ocorrer primeiro. Há risco atuarial nesse caso, e, portanto, considera-se que tal pagamento é estruturado sob regime atuarial.

Renda Mensal Vitalícia (𝑟_𝑏𝑟𝑢𝑡𝑎_𝑉)

Renda bruta mensal paga até o falecimento do participante. Há risco atuarial nesse caso, e, portanto, considera-se que tal pagamento é estruturado sob regime atuarial.

Renda Mensal Vitalícia com Prazo Mínimo Garantido

(𝑟_𝑏𝑟𝑢𝑡𝑎_𝑉𝑃𝐺)

Renda bruta mensal paga durante o prazo mínimo garantido (período de renda garantida), independentemente da sobrevivência do participante durante tal período. Não há risco atuarial durante esse período. Após o prazo mínimo, caso o beneficiário sobreviva, o regime é idêntico ao da renda mensal vitalícia.

Tributação Progressiva do Imposto de Renda - PGBL

Tributo cobrado sobre cada renda mensal de acordo com a tabela progressiva de Imposto de Renda.

Tributação Regressiva do Imposto de Renda - PGBL

Tributo cobrado sobre cada renda mensal de acordo com a tabela regressiva de Imposto de Renda.

Tributação Progressiva do Imposto de Renda - VGBL

Tributo cobrado sobre a fração de cada renda mensal composta pelos rendimentos auferidos no FIE de acordo com a tabela progressiva de Imposto de Renda.

Tributação Regressiva do Imposto de Renda - VGBL

Tributo cobrado sobre a fração de cada renda mensal composta pelos rendimentos auferidos no FIE de acordo com a tabela regressiva de Imposto de Renda.

Na etapa de pagamento das rendas dos planos PGBL e VGBL, o modelo

simulou rendas brutas iniciais para cada uma das modalidades de renda estudadas

no presente trabalho, a saber: renda mensal por prazo certo, renda mensal

79

temporária, renda mensal vitalícia e renda mensal vitalícia com prazo mínimo

garantido. Além dessas rendas, foi considerada a hipótese de resgates parciais

mensais31, ou seja, nesse caso não haveria a reversão da PMBaC em renda e,

portanto, tal montante permaneceria a disposição do participante/segurado.

A fórmula para calcular a renda inicial bruta mensal por prazo certo foi a

mesma utilizada, na matemática financeira para calcular o valor da parcela de uma

série uniforme de pagamentos, onde o valor presente foi a 𝑃𝑀𝐵𝐶, o período foi o 𝑛′

e a taxa, a 𝑟𝑑′12. Já as fórmulas das últimas três modalidades de renda mencionadas

no parágrafo anterior advêm da matemática atuarial e o detalhamento das fórmulas

se encontra no Apêndice A. Vale ressaltar que essas fórmulas estão em

consonância com as notas técnicas atuariais (NTAs) dos planos PGBL e VGBL

individuais disponibilizadas pela Susep.

Na análise comparativa entre os fluxos mensais das referidas modalidades de

renda, dois parâmetros foram considerados: inflação e imposto de renda. O primeiro

parâmetro é fruto de direito garantido no artigo 64 de qualquer regulamento de

planos individuais PGBL e VGBL. Nesse dispositivo é previsto uma atualização

monetária anual sobre o último valor da renda por meio de um índice de inflação

(IPCA, por exemplo) acumulado durante os 12 meses que antecedem ao momento

de reajuste. Além disso, o valor do benefício receberá um aumento adicional ao já

mencionado em função do eventual acréscimo na respectiva PMBC, decorrente da

sua atualização monetária mensal e da atualização anual aplicada às rendas (tais

reajustes estão explicitados por modalidade de renda no Apêndice A e também

estão em consonância com o que determina as NTAs).

Ao inserir o segundo parâmetro (imposto de renda), faz-se necessário

analisar separadamente, por tipo de plano e por regime de tributação, como serão

modelados os fluxos das rendas líquidas de IR. Para facilitar o entendimento, as

explicações foram esquematizadas nos Quadros 4, 5 e 6.

31

As circulares Susep n.° 338/2207 e n.° 339/2007 só permitem resgates parciais das PMBaCs de planos PGBL e VGBL com intervalo mínimo de 60 dias entre eles. Para resolver esse problema, considerou-se a hipótese de o indivíduo ter dois planos idênticos intercalando entre eles os resgates parciais, ou seja: o primeiro resgate parcial seria feito da PMBaC de um dos planos; o segundo resgate seria feito da provisão do outro plano um mês após o resgate realizado no primeiro plano; o terceiro resgate viria do primeiro plano; e assim por diante. Dessa forma, seria respeitada a carência mínima por plano imposta pela Susep entre resgates parciais sem impedir a possibilidade de simular resgates mensais.

80

Quadro 4 - Método de Cálculo da Renda Líquida de IR - Modalidade Renda por Prazo Certo

Renda por Prazo Certo

Composição das rendas

(Fins Tributários)

Modalidade de renda não estruturada em regime atuarial. Dessa forma as rendas são compostas no sistema (PEPS), ou seja, as contribuições (ou prêmios) mais antigas, capitalizadas até a data de saída, são as primeiras a serem utilizadas na composição das rendas. O valor dessas contribuições, na data de saída, será o seu valor líquido da taxa de carregamento na data do aporte, capitalizado, durante o período de diferimento, conforme o critério de atualização do valor das cotas do FIE, e, em seguida, capitalizado, até a sua saída, conforme as diretrizes das NTAs para o cálculo de capitalização mensal da PMBC, que considera o índice de inflação e a taxa real mínima garantida, ambos previstos no regulamento do plano contratado.

Tributação PGBL VGBL

Progressiva

Sobre cada renda mensal, há retenção de IR na fonte (IRRF) de acordo com a tabela progressiva mensal vigente para o respectivo ano. No ano seguinte, é feito eventual ajuste em relação ao IRRF pago a menos ou a mais.

Sobre os rendimentos dos prêmios capitalizados que compõem determi-nada renda mensal, há retenção de IR na fonte (IRRF) de acordo com a tabela progressiva mensal vigente para o res-pectivo ano. No ano seguinte, é feito eventual ajuste em relação ao IRRF pago a menos ou a mais. Para calcular o quanto da renda provém dos rendi-mentos, é preciso descontar, do valor de saída dos prêmios utilizados para composição da renda, o valor dos prê-mios líquidos de taxa de carregamento nas respectivas datas do aporte.

Regressiva

Sobre o valor de saída das contribui-ções utilizadas para compor a renda, há a incidência exclusiva na fonte da alíquota de IR correspondente ao tempo de permanência dessas contri-buições. Ex: Se para compor uma renda forem utilizadas exatamente as duas contribuições mais antigas, uma apor-tada há 10 anos e outra aportada há pouco menos de 10 anos, o valor refe-rente à primeira contribuição sofrerá incidência de 10%, enquanto o da se-gunda sofrerá incidência de 15% (ver Tabela 1, página 65).

Sobre os rendimentos dos prêmios capitalizados que compõem determi-nada renda mensal, há a incidência exclusiva na fonte de IR correspon-dente ao tempo de permanência des-ses prêmios. Ex: Se para compor uma renda forem utilizados exatamente os dois prêmios mais antigos, um aportado há 10 anos e outro aportado há pouco menos de 10 anos, os rendimentos referentes ao primeiro prêmio sofrerão incidência de 10%, enquanto os do segundo sofrerão incidência de 15% (ver Tabela 1, página 65).

81

Quadro 5 - Método de Cálculo da Renda Líquida de IR - Modalidades Renda Temporária e Renda Vitalícia

Renda Mensal Temporária e Renda Mensal Vitalícia

Composição das rendas

(Fins Tributários)

Modalidades de renda estruturada exclusivamente em regime atuarial. No caso das rendas advindas de planos PGBL, não há um método estipulado de composição. Já para os planos VGBL, a composição se dá inicialmente pela proporção entre somatório dos prêmios líquidos (∑ 𝑐_𝑙í𝑞𝑢𝑖𝑑𝑎𝑡

𝑛−1𝑡=0 ) e o valor da

diferença “𝑃𝑀𝐵𝐶 − ∑ 𝑐_𝑙í𝑞𝑢𝑖𝑑𝑎𝑡𝑛−1𝑡=0 ”. Para exemplificar, suponha que, no

pagamento da primeira renda sob essas modalidades, trinta por cento da PMBC seja somatório dos prêmios líquidos. Logo, trinta por cento da renda a ser paga será decorrente do referido somatório e 70% virá da diferença “𝑃𝑀𝐵𝐶 −∑ 𝑐_𝑙í𝑞𝑢𝑖𝑑𝑎𝑡

𝑛−1𝑡=0 ”. Vale ressaltar que, para cada renda mensal a seguir, essa

proporção será diferente. No caso do somatório de prêmios líquidos, tal valor será mensalmente reduzido por conta dos abatimentos das quantias utilizadas para compor as rendas pagas (para o presente trabalho chamaremos tal quantia de saldo dos prêmios líquidos). Já no caso da PMBC, seu valor altera por conta de três fatores: abatimento do valor integral das rendas pagas; capitalização financeira pela taxa mensal de juros real garantida, pela inflação mensal; e capitalização atuarial (Ver Apêndice A)

Tributação PGBL VGBL

Progressiva

Sobre cada renda mensal, há retenção de IR na fonte (IRRF) de acordo com a tabela progressiva vigente para o respectivo ano. No ano seguinte, é feito eventual ajuste em relação ao IRRF pago a menos ou a mais.

Sobre a parte de cada renda mensal advinda da diferença entre PMBC e saldo dos prêmios líquidos, há retenção de IR na fonte (IRRF) de acordo com a tabela progressiva mensal vigente para o respectivo ano. No ano seguinte, é feito eventual ajuste em relação ao IRRF pago a menos ou a mais.

Regressiva

Sobre a primeira renda, há incidência exclusiva na fonte da alíquota de IR correspondente ao prazo ponderado médio (PMP) de acumulação das contribuições aportadas no plano até a data do pagamento da renda. Para as rendas seguintes, continua a ser contado tal prazo, importando na redução da alíquota de IR até o limite de 10% (ver Tabela 1, página 65).

Sobre a parte de cada renda mensal advinda da diferença entre PMBC e saldo dos prêmios líquidos, há incidên-cia exclusiva na fonte da alíquota de IR correspondente ao prazo ponderado médio (PMP) de acumulação dos prêmios aportados no plano até a data do pagamento da renda. Para as rendas seguintes, continua a ser con-tado tal prazo, importando na redução da alíquota de IR até o limite de 10% (ver Tabela 1, página 65).

82

Quadro 6 - Método de Cálculo da Renda Líquida de IR - Modalidade Renda Vitalícia com Prazo Mínimo Garantido

Renda Mensal Vitalícia com Prazo Mínimo Garantido

Composição das rendas

(Fins Tributários)

Durante o período de renda garantida, a composição da renda, tanto nos planos PGBL, quanto nos planos VGBL, é idêntica à modalidade renda por prazo certo (sistema PEPS). Após esse período, para os planos VGBL, a composição da renda seguirá o método utilizado nas modalidades renda temporária e renda vitalícia (proporcionalidade). Já para o PGBL, não há uma metodologia específica para formação das rendas durante esse período estruturado em regime atuarial.

Tributação PGBL VGBL

Progressiva

Período de renda garantida e período exclusivamente sob regime atuarial: Sobre cada renda mensal, há retenção de IR na fonte (IRRF) de acordo com a tabela progressiva vigente para o respectivo ano. No ano seguinte, é feito eventual ajuste em relação ao IRRF pago a menos ou a mais.

Período de renda garantida: Sobre os rendimentos dos prêmios capitalizados que compõem determi-nada renda mensal, há retenção de IR na fonte (IRRF) de acordo com a tabela progressiva mensal vigente para o respectivo ano. No ano seguinte, é feito eventual ajuste em relação ao IRRF pago a menos ou a mais. Período exclusivamente sob regime atuarial: Sobre a parte de cada renda mensal proveniente da diferença entre PMBC e saldo dos prêmios líquidos, há retenção de IR na fonte (IRRF) de acordo com a tabela progressiva vigente para o respectivo ano. Em abril do ano seguinte (quarto fluxo de cada ano), será feito o ajuste em relação ao IRRF pago a menos ou a mais.

Regressiva

Período de renda garantida: Sobre o valor de saída de cada contribuição utilizada para compor a renda, há a incidência exclusiva na fonte da alíquota de IR correspondente ao tempo de permanência dessas contribuições. Período exclusivamente estruturado em regime atuarial: Sobre a primeira renda após o período de renda garantida, há incidência exclusiva na fonte da alíquota de IR correspon-dente ao prazo ponderado médio (PMP) de acumulação das contribuições aportadas no plano até o pagamento do referido benefício. Para as rendas seguintes, continua a ser contado tal prazo, importando na redução da alíquota de IR até o limite de 10% (ver Tabela 1, página 65).

Período de renda garantida: Sobre os rendimentos dos prêmios capitalizados que compõem as rendas mensais desse período, há a incidência exclusiva na fonte de IR correspondente ao tempo de perma-nência desses prêmios. Período exclusivamente estruturado em regime atuarial: Sobre a parte da primeira renda desse período advinda da diferença entre PMBC e saldo dos prêmios líquidos, há incidência exclusiva na fonte da alíquota de IR correspondente ao prazo ponderado médio (PMP) de acumulação dos prêmios aportados no plano até a data do pagamento da renda. Para as rendas seguintes, continua a ser contado tal prazo, importando na redução da alíquota de IR até o limite de 10% (ver tabela regressiva)

83

3.3 COLETA DE DADOS E PESQUISA DE CAMPO

Em prol de entender os valores praticados no mercado para algumas das

variáveis mencionadas nos subtópicos anteriores, foram feitos dois tipos de

pesquisa. O primeiro consistiu na coleta de dados disponibilizados por quatro

seguradoras e pela Susep, no caso dos planos de caráter previdenciário, e pela

CVM e pela ANBIMA, no caso da autoprevidência por meio de aplicações em cotas

de fundos tradicionais de renda fixa. O segundo tipo de pesquisa consistiu em uma

pesquisa de campo com quatro seguradoras, obedecendo ao mesmo critério citado

acima.

A coleta de dados inerentes às variáveis dos planos de caráter previdenciário

começou pela consulta aos regulamentos dos PGBLs e VGBLs, ambos individuais,

das seguintes seguradoras:

Brasilprev Seguros e Previdência S.A (Brasilprev);

Bradesco Vida e Previdência S.A (Bradesco);

Itaú Vida e Previdência S.A (Itaú);

Zurich Santander Brasil Seguros e Previdência S.A (Santander).

A decisão por coletar informações dessas quatro seguradoras foi baseada

pelos últimos rankings (outubro/2014) divulgados pela Federação Nacional de

Previdência Privada e Vida (Fenaprevi), nos quesitos receita acumulada em 2014

advinda de planos PGBL e VGBL. As Figuras 6 e 7 apresentam esses dados

separadamente.

27,13%

24,54%

23,64%

4,88%

4,78%

4,11%

10,92%

BRASILPREV SEGUROS E PREVIDÊNCIA S.A.

BRADESCO VIDA E PREVIDÊNCIA S.A.

ITAÚ VIDA E PREVIDÊNCIA S.A.

HSBC VIDA E PREVIDÊNCIA (BRASIL) S.A.

CAIXA VIDA E PREVIDÊNCIA S.A.

ZURICH SANTANDER BRASIL SEGUROS E…

DEMAIS ENTIDADES

Total da Receita Acumulada PGBL: R$ 6.166.394.754,00 Fonte: Fenaprevi (2014)

Figura 6 – Ranking das Seguradoras por Receita Acumulada em PGBL de Janeiro a Outubro de 2014

84

A partir dos dados fornecidos acima, obtém-se o ranking descrito no Quadro

7. Quadro 7 - Ranking das Seguradoras por Receitas Consolidadas (PGBL + VGBL) Acumuladas de Janeiro a Outubro de 2014

Seguradoras

Receita Acumulada PGBL + VGBL (R$ bilhões)

BRASILPREV SEGUROS E PREVIDÊNCIA S.A. 24,190

BRADESCO VIDA E PREVIDÊNCIA S.A. 15,225

ITAÚ VIDA E PREVIDÊNCIA S.A. 12,565

ZURICH SANTANDER BRASIL SEGUROS E PREVIDÊNCIA S.A.

2,995

CAIXA VIDA E PREVIDÊNCIA S.A. 2,910

HSBC VIDA E PREVIDÊNCIA (BRASIL) S.A. 1,277

DEMAIS ENTIDADES 1,830

TOTAL 60,992

Fonte: O autor

Observa-se que as quatro primeiras seguradoras detém cerca de 90% das

receitas acumuladas desses dois produtos, o que comprova a representatividade

dessas empresas no segmento aberto de previdência privada e justifica a escolha

delas para o presente trabalho. Uma vez escolhidas as seguradoras, foram

compilados todos os regulamentos de planos conservadores PGBL e VGBL

individuais disponíveis nos sites dessas instituições. O Quadro 8 apresenta o total de

regulamentos coletados por seguradora.

41,07%

25,01%

20,26%

5,00%

4,77%

1,78%

2,11%

BRASILPREV SEGUROS E PREVIDÊNCIA S.A.

BRADESCO VIDA E PREVIDÊNCIA S.A.

ITAÚ VIDA E PREVIDÊNCIA S.A.

ZURICH SANTANDER BRASIL SEGUROS E…

CAIXA VIDA E PREVIDÊNCIA S.A.

HSBC VIDA E PREVIDÊNCIA (BRASIL) S.A.

DEMAIS ENTIDADES

Total da Receita Acumulada VGBL: R$ 54.825.907.668,00 Fonte: Fenaprevi (2014)

Figura 7 - Ranking das Seguradoras por Receita Acumulada em VGBL de Janeiro a Outubro de 2014

85

Quadro 8 - Total de Regulamentos de Planos Conservadores dos tipos PGBL e VGBL Consultados

Seguradoras

Total de Regulamentos por Tipo de Plano e Por Seguradora

PGBL VGBL

BRASILPREV SEGUROS E PREVIDÊNCIA S.A. 11 11

BRADESCO VIDA E PREVIDÊNCIA S.A. 9 11

ITAÚ VIDA E PREVIDÊNCIA S.A. 17 17

ZURICH SANTANDER BRASIL SEGUROS E PREVIDÊNCIA S.A.

1 1

TOTAL 37 39

A relevante quantidade de regulamentos do Bradesco e do Itaú se justifica

pelo fato de a maioria deles terem sido concebidos para serem vinculados a apenas

um FIE. Especificamente, os coletados para o presente trabalho são vinculados a

FIEs de renda fixa, mas, nas duas instituições, há inúmeros outros regulamentos

vinculados a FIEs multimercado, por exemplo. Já no caso da Brasilprev, cada

regulamento é vinculado a diversos FIEs, sendo alguns de renda fixa e outros

multimercado. O percentual a ser aplicado em cada um dos fundos fica a critério do

participante/segurado. Como o trabalho se concentra nos planos conservadores,

será considerado que o indivíduo aplicará 100% das suas contribuições líquidas em

FIEs de renda fixa. O alto volume se justifica, principalmente, pelo fato de cada

regulamento ser formatado para volumes distintos de aporte inicial. Por fim, o único

regulamento formatado pelo Santander para cada tipo de plano vincula todos os

FIEs da instituição a ele. Entretanto, o participante/segurado só poderá alocar sua

PMBaC em fundos com menores taxas de administração se tal montante atingir o

valor mínimo necessário para adquirir cotas desses fundos.

As informações coletadas nesses regulamentos estão descritas no Quadro 4.

Quadro 9 - Informações Coletadas nos Regulamentos dos Planos Informações Descrição

N° Processo do Plano

Registro de aprovação do plano junto à Susep. Nesse código consta o ano de aprovação do referido regulamento. Portanto, foram desconsiderados todos os regulamentos registrados anteriormente a 2010. Isso porque a tábua biométrica desses regulamentos não é a BR-EMS.

Aporte Inicial

Tal limite, na verdade, não é informado no regulamento do plano, mas sim no site das próprias seguradoras. Esse limite está mais relacionado ao FIE em que serão aportadas as contribuições.

86

Nome do(s) FIE(s) listado(s) nos regulamentos

O objetivo de saber qual(is) o(s) FIE(s) listado(s) nos regulamentos é para depois acessar os regulamentos desses fundos.

Taxa de administração dos FIEs

Essa é outra informação que não se encontra nos regulamentos dos planos. Na verdade, o FIE é inicialmente identificado no regulamento do plano. Em seguida, a taxa de administração é obtida nos regulamentos dos fundos.

Tempo Máximo de Renda Garantida

Limite máximo de tempo, em meses, para: o pe-ríodo de renda garantida na modalidade renda vitalícia com prazo mínimo garantido; período da renda temporária; e período da renda por prazo certo.

Taxas de Carregamento Na maioria dos casos, escalonadas por volume do aporte e tempo de permanência no plano.

Taxa de Juros Após Diferimento Taxa de juros reais mínima que remunerará a Provisão Matemática de Benefícios Concedidos

Reversão De Resultados Financeiros

Se o plano oferecer um percentual de reversão, esse será o resultado excedente à taxa de juros reais (quando tiver) e ao índice de inflação pre-visto no regulamento.

Idade Mínima de Saída (Aposentadoria) Outra informação não fornecida pelo regula-mento. Para as quatro seguradoras, tal dado foi obtido pelos seus respectivos sites.

Modalidades de Renda Permitidas Verificar quais das quatro modalidades estuda-das no presente trabalho estão previstas nos regulamentos.

Índice de Atualização Monetária Verificar qual índice de atualização monetária previsto nos regulamentos que reajustará, anu-almente, as rendas.

Além dessa coleta de dados, foi realizada uma pesquisa de campo nas quatro

seguradoras para saber, no ato da negociação: se era possível, com aportes

mensais de R$ 1.000,00, durante 30 anos, corrigidos anualmente pelo IPCA, aderir a

planos mais atrativos (vinculados a fundos mais rentáveis, o que quase sempre

significa taxas de administração menores) do que aqueles com limites de aporte

inicial inferiores a R$ 1.000,00; e se, com aportes únicos elevados, com objetivo de

reversão imediata a alguma modalidade de renda, seriam oferecidos planos com

melhores condições que as encontradas nos regulamentos disponibilizados ao

público. Basicamente, nesse último caso, essas condições se resumem a valores

mais atrativos para os parâmetros inerentes ao cálculo da renda nas suas diferentes

modalidades. Eventualmente em algumas seguradoras, buscou-se obter algumas

das informações listadas no Quadro 9 que não foram encontradas nos sites das

seguradoras. O roteiro para a pesquisa de campo se encontra no Apêndice B. Para

realizar essas pesquisas foram procurados consultores de investimento do

segmento Private de cada uma das instituições financeiras vinculadas às

seguradoras estudadas.

87

3.4 LIMITAÇÕES DO MÉTODO

As simulações foram baseadas em retornos e inflação constantes. Além

disso, ela não abrangeu a possibilidade de 13 rendas por ano. Na parte de

tributação, a tabela progressiva foi atualizada anualmente pela inflação do período

anterior. Já quanto à coleta de dados nos regulamentos dos planos, foram

verificados somente os disponibilizados nos sites das instituições financeiras

vinculadas às seguradoras. Na pesquisa de campo, o caráter meramente

investigativo das entrevistas pode ter impedido a possibilidade de saber se há

condições melhores do que as mencionadas pelos consultores.

88

4 RESULTADOS

4.1 INFORMAÇÕES OBTIDAS NOS REGULAMENTOS DOS PLANOS E DOS FIES

Após a consulta de 76 regulamentos de planos PGBL e VGBL (ligados a pelo

menos um FIE de renda fixa) das quatro seguradoras com maiores participações no

segmento aberto de previdência privada, foi possível observar certa padronização de

determinadas condições contratuais desse mercado. Uma delas, observada em

todos os regulamentos analisados, é adotar o Índice Nacional de Preços ao

Consumidor Amplo (IPCA) acumulado durante um período de 12 meses como índice

de atualização monetária. Outra característica comum a todos os regulamentos

analisados é a ausência de uma taxa real mínima garantida durante o período de

pagamento dos benefícios em todas as modalidades de renda. Em outras palavras,

a PMBC, sob o ponto de vista financeiro, é mensalmente atualizada somente pelo

referido índice de inflação. Quanto às outras especificações do regulamento, nota-se

certa diferenciação nas condições estipuladas entre as seguradoras.

Uma dessas especificações é a taxa de carregamento. A Brasilprev, por

exemplo, apresentou dois tipos de cobrança dessa taxa nos regulamentos

disponíveis no site. Quanto à taxa cobrada na entrada, ela é escalonada somente no

Tipo 1 (Quadro 10), enquanto que no Tipo 2 (Quadro 11), não há taxa de

carregamento no momento do aporte. Na saída, tal taxa é escalonada por tempo de

permanência em ambos os tipos e só é cobrada em caso de resgate ou

portabilidade. Entretanto, só foi informada a última faixa de cobrança, uma vez que,

em todas as simulações de resgates parciais como forma de renda, tais retiradas só

começaram a acontecer bem depois do limite estabelecido para que não haja esse

tipo de cobrança. Apesar de mais vantajoso, o tipo 2 não está relacionado a planos

cujo limite de aporte inicial seja maior que os relacionados ao tipo 1. Na verdade,

comparando os regulamentos dos planos que preveem o tipo 1 e o tipo 2, não foi

encontrada nenhuma condição especial para aderir ao plano de melhor taxa de

carregamento.

89

Quadro 10 - Taxa de Carregamento (Tipo 1) - Brasilprev Seguros e Previdência

Taxas de Carregamento Brasilprev Seguros e Previdência S.A. – TIPO 1

Saldo da PMBaC Na Entrada Na Saída

Até R$ 19.999,99 2,00% Após 108 meses de

permanência no plano, a taxa de

carregamento na saída é reduzida a 0%.

De R$ 20.000,00 a R$ 49.999,99 0,5%

A partir de R$ 50.000,00 0%

Quadro 11 - Taxa de Carregamento (Tipo 2) - Brasilprev Seguros e Previdência

Taxas de Carregamento Brasilprev Seguros e Previdência S.A. – TIPO 2

Na Entrada Na Saída

0% Após 108 meses de permanência no plano, a

taxa de carregamento na saída é reduzida a 0%.

Os regulamentos obtidos no site da Bradesco Vida e Previdência

apresentaram três tipos de cobrança de taxa de carregamento. Na entrada, somente

o tipo 1 é escalonado, enquanto os tipos 2 e 3 apresentam uma taxa fixa.

Diferentemente das outras seguradoras analisadas, a Bradesco Vida e Previdência

S.A. não explicita, no site, os limites mínimos de aporte inicial para aderir a um plano

mais ou menos vantajoso. Entretanto, sabe-se que a seguradora pratica tal política

(tal conclusão vem dos resultados da pesquisa de campo). O tipo 3 está relacionado

a um plano específico, cuja característica principal é a migração automática da

provisão de FIEs de renda fixa com taxas de administração maiores para FIEs com

taxa de administração menores à medida que o saldo da provisão cresce.

Entretanto, a taxa de carregamento de 0% (zero por cento) na entrada não está

condicionada ao valor do aporte inicial.

Quadro 12 - Taxa de Carregamento (Tipo 1) - Bradesco Vida e Previdência

Taxas de Carregamento Bradesco Vida e Previdência S.A. – TIPO 1

Saldo da Provisão Na Entrada Na Saída

Até R$ 4.999,99 4,5% Após 24 meses de permanência no plano, a taxa de carrega-mento na saída é reduzida a 0%.

De R$ 5.000,00 a R$ 29.999,99 3,0%

De R$ 30.000,00 a R$ 49.999,99 2,0%

A partir de R$ 50.000,00 1,2%

90

Quadro 13 - Taxa de Carregamento (Tipo 2) - Bradesco Vida e Previdência

Taxas de Carregamento Bradesco Vida e Previdência S.A. – TIPO 2

Na Entrada Na Saída

0,7% Após 24 meses de permanência no plano a taxa de carregamento, a taxa de carregamento na saída é reduzida a 0%.

Quadro 14 - Taxa de Carregamento (Tipo 3) - Bradesco Vida e Previdência

Taxas de Carregamento Bradesco Vida e Previdência S.A. – TIPO 3

Na Entrada Na Saída

0% A partir do 61° mês a taxa de carregamento na saída será 0%

A Itaú Vida e Previdência apresenta dois tipos de cobrança da taxa de

carregamento. Ambos são direcionados a cobrança na entrada, ou seja, no

momento do aporte, não havendo taxa de carregamento na eventual saída de

recursos via resgate ou portabilidade. O tipo 1 é escalonado pelo saldo da provisão

somado ao valor do próximo aporte e, simultaneamente, pelo tempo de

permanência, o que representa uma vantagem em relação ao tipo 2, escalonado

somente pelo saldo da provisão somado ao valor do próximo aporte. Curiosamente,

o tipo 1 está atrelado aos regulamentos de planos direcionados ao segmento mais

popular de clientes, enquanto que o tipo 2 está atrelado ao segmento mais elitizado.

Apesar de tal condição parecer uma desvantagem para este segmento, há uma

compensação na taxa de administração que está explicada mais a frente.

Quadro 15 - Taxa de Carregamento (Tipo 1) - Itaú Vida e Previdência

Taxas de Carregamento Itaú Vida e Previdência S.A. – TIPO 1

Valor do Saldo PMBaC + Aporte

Tempo de Permanência no Plano

até 12 meses

de 13 a 24

meses

de 25 a 36

meses

de 37 a 48

meses

de 49 a 60

meses

de 61 a 72

meses

a partir de 73 meses

Até R$ 9.999,99 3,50% 3,00% 2,50% 2,00% 1,50% 1,00% 0,75%

De R$ 10.000,00 a R$ 29.999,99 2,50% 2,00% 1,50% 1,00% 0,75% 0,75% 0,75%

De R$ 30.000,00 a R$ 99.999,99 1,50% 1,00% 0,75% 0,75% 0,75% 0,75% 0,75%

A partir de R$ 100.000,00 0,75% 0,75% 0,75% 0,75% 0,75% 0,75% 0,75%

Quadro 16 - Taxa de Carregamento (Tipo 2) - Itaú Vida e Previdência

Taxas de Carregamento Itaú Vida e Previdência S.A. – TIPO 2

Valor do Saldo PMBaC + Aporte Taxas de Carregamento

Até R$ 9.999,99 3,50%

De R$ 10.000,00 a R$ 29.999,99 2,50%

De R$ 30.000,00 a R$ 99.999,99 1,50%

A partir de R$ 100.000,00 0,75%

91

Por fim, a seguradora Zurich Santander Brasil Seguros e Previdência

apresenta apenas um tipo de cobrança de taxa de carregamento, uma vez que

disponibiliza apenas um regulamento para todos os planos informados no site. Em

linhas gerais, para qualquer plano, os aportes que, somados a provisão já existente,

ultrapassarem o limite de R$ 100.000,00 serão isentos de taxa de carregamento. A

diferenciação entre os planos, portanto, se dá na taxa de administração, de forma

que, valores maiores de aporte são aplicados em fundos com taxas de

administração menores e, portanto, mais rentáveis, uma vez que as carteiras dos

FIEs de renda fixa de uma seguradora tendem a ser muito similares.

Quadro 17 - Taxa de Carregamento (Tipo Único) - Zurich Santander Brasil Seguros e Previdência

Taxas de Carregamento Zurich Santander Brasil Seguros e Previdência S.A. – Tipo Único

Saldo da Provisão + Aporte Na Entrada Na Saída

Até R$ 100.000,00 1,00% Após 60 meses de permanência no plano, a taxa de carregamento na saída é reduzida a 0%. Após R$ 100.000,00 0,00%

Outras informações obtidas indiretamente dos regulamentos analisados foram

as taxas de administração dos FIEs de renda fixa32. Como esperado, em todas as

seguradoras, foi observado que o valor da taxa de administração está inversamente

relacionado ao volume da provisão vertido a determinado FIE, ou seja, volumes

maiores de recursos a serem aportados em um PGBL ou VGBL são destinados a

FIEs com taxas de administração menores.

Dessa forma, foram identificados seis FIEs vinculados aos 22 regulamentos

disponibilizados pela Brasilprev, organizados em ordem decrescente de taxa de

administração, e consequentemente, em ordem crescente de valor mínimo de aporte

inicial.

32

Vale frisar que não foram verificados todos os FIEs de renda fixa sob a gestão das seguradoras estudadas, uma vez que nem todos esses FIEs aparecem vinculados aos regulamentos de planos PGBL e VGBL disponibilizados nos seus respectivos sites. Há duas possibilidades para tal fato: alguns desses fundos estão atrelados a planos que deixaram de ser comercializados, porém ainda há provisões alocadas nesses fundos; ou alguns desses fundos podem ser vinculados a planos/regulamentos não disponibilizados nos sites por questões estratégicas da seguradora.

92

Quadro 18 - Taxas de Administração dos FIEs - Brasilprev Seguros e Previdência Nome dos FIES de Renda Fixa Valor mínimo a ser aplicado Taxa de Administração

BRASILPREV RT FIX IX FICFI R$ 50,00 2,80%

BRASILPREV RT FIX IV FICFI R$ 50,00 2,50%

BRASILPREV RT FIX V FICFI R$ 200,00 2,00%

BRASILPREV RT FIX X FICFI R$ 5.000,00 1,80%

BRASILPREV RT FIX II FICFI R$ 50.000,00 1,50%

BRASILPREV RT FIX VI FICFI R$ 300.000,00 1,25%

A Bradesco Vida e Previdência disponibiliza um total de vinte regulamentos

de planos conservadores PGBL e VGBL dos quais dezesseis deles (nove VGBLs e

sete PGBLs) estão vinculados a um total de dez FIEs. Diferentemente das outras

seguradoras estudadas, para esses dez FIEs, a Bradesco Vida e Previdência não

estabelece publicamente limites mínimos de aporte. Entretanto, sabe-se que

internamente há condições especiais que devem ser atendidas para conseguir

participar de planos vinculados a FIEs com taxas de administração mais atrativas.

A exceção se dá em quatro planos (dois PGBLs e dois VGBLs) que

apresentam uma característica diferente dos demais: à medida que o volume de

recursos acumulado nesse plano aumenta, tais recursos migram automaticamente

para fundos idênticos quanto à carteira de investimentos, porém com taxas de

administração inferiores. Cada um desses planos são vinculados a cinco FIEs de

renda fixa com limites mínimos de investimento definidos em regulamento. Um

PGBL e um VGBL desses quatro planos são vinculados aos mesmos 5 FIES.

Portanto, esses quatro regulamentos estão vinculados a um total de 15 FIEs. No

total, a Bradesco Vida e Previdência disponibiliza um total de vinte regulamentos

(Quadro 8), vinculados a um total de 25 FIEs, que estão discriminados abaixo.

Quadro 19 - Taxas de Administração dos FIEs - Bradesco Vida e Previdência

Nome dos FIEs de Renda Fixa

Taxa de Administração

Nome dos FIEs de Renda Fixa

Taxa de Administração

Bradesco FICFI RF Prev Fácil PGBL FIX

3,00% Bradesco FICFI RF

PGBL/VGBL DINÂMICO 1,50%

Bradesco FICFI RF Prev Fácil VGBL FIX

3,00% Bradesco FICFI RF

PGBL/VGBL – F10 C 1,00%

Bradesco FICFI RF PGBL/VGBL-F24

2,40% Bradesco FICFI RF CRÉDITO

PRIVADO II – PGBL VGBL 1,00%

Bradesco FICFI RF PGBL/VGBL-F19

1,90% Bradesco Private FICFI RF

PGBL/VGBL ATIVO – F 08 C 0,80%

Bradesco FICFI RF 19 IMA-B PGBL/VGBL

1,90% Bradesco FICFI Renda Fixa A

PGBL/VGBL 0,70%

93

Quadro 20 - Taxas de Administração dos FIEs (Migração Automática de PMBaC) - Bradesco Vida e Previdência

Nome dos FIEs de Renda Fixa (Planos de Migração Automática da Provisão)

Limites Taxa de

Administração

Bradesco FICFI RF I-A

Bradesco FICFI RF I-C

Bradesco FICFI RF I-D

Até R$ 9.999,99

2,40%

Bradesco FICFI RF II-A

Bradesco FICFI RF II-C

Bradesco FICFI RF II-D

De R$ 10.000,00 a

R$ 19.999,99 1,90%

Bradesco FICFI RF III-A

Bradesco FICFI RF III-C

Bradesco FICFI RF III-D

De R$ 20.000,00 a

R$ 49.999,99 1,50%

Bradesco FICFI RF IV-A

Bradesco FICFI RF IV-C

Bradesco FICFI RF IV-D

De R$ 50.000,00 a

R$ 99.999,99 1,20%

Bradesco FICFI RF V-A

Bradesco FICFI RF V-C

Bradesco FICFI RF V-D

A partir de R$ 100.000,00

1,00%

A seguradora Itaú Vida e Previdência apresentou trinta e quatro regulamentos

vinculados a um total de nove FIEs de renda fixa. Como pode ser observado no

Quadro 21, a maioria dos fundos têm dois valores mínimos de aplicação. Pra cada

um desses FIEs, o menor valor entre os dois está relacionado a planos com taxas de

carregamento do tipo 2, enquanto que o maior valor está relacionado a planos com

taxas de carregamento do tipo 1. O FIE “SPECIAL” está vinculado a planos com

taxas de carregamento do tipo 1. Já os FIEs “IMA PLUS” e “CRÉDITO PRIVADO”

estão relacionados a planos com taxas de carregamento do tipo 2.

Quadro 21 - Taxas de Administração dos FIEs - Itaú Vida e Previdência

Nome dos FIES de Renda Fixa Valor mínimo a ser aplicado Taxa de

Administração

ITAÚ FLEXPREV SPECIAL RF FICFI R$ 70,00* 3,00%

ITAÚ FLEXPREV IMA RENDA FIXA FICFI R$ 10.000,00 / R$ 15.000,00 2,50%

ITAÚ FLEXPREV VI RENDA FIXA FICFI R$ 1.000,00 (R$ 150,00*) 2,20%

ITAÚ FLEXPREV VIII RENDA FIXA FICFI R$ 30.000,00 / R$ 40.000,00 1,75%

ITAÚ FLEXPREV XXII RENDA FIXA FICFI R$ 100.000 / R$ 150.000,00 1,50%

ITAÚ FLEXPREV IMA PLUS RF FICFI R$ 250.000,00 1,50%

ITAÚ FLEXPREV XII RENDA FIXA FICFI R$ 250.000,00 / R$ 300.000,00 1,30%

ITAÚ FLEXPREV CRÉDITO PRIVADO ATIVO FICFI RF

R$ 350.000,00 1,00%

ITAÚ FLEXPREV XV RENDA FIXA FICFI R$ 500.000,00 / R$ 700.000,00 1,00%

* limites para planos com cobertura de risco de morte incluída

A Zurich Santander Brasil Seguros e Previdência apresentou um regulamento

único vinculado a 15 FIEs de renda fixa, sendo 7 deles vinculados a planos ainda

comercializados com propósito de aposentadoria (há alguns FIEs vinculados

somente a planos voltados à criação de poupança para crianças e adolescentes). Os

sete estão ordenados no Quadro 22 de forma decrescente por taxa de administração

94

e crescente com relação ao valor mínimo a ser aplicado, à exceção do último, que

não foi possível saber o valor mínimo de aporte.

Quadro 22 - Taxas de Administração dos FIEs - Zurich Santander Brasil Seguros e Previdência

Nome dos FIES de Renda Fixa Valor mínimo a ser aplicado Taxa de Administração

SANTANDER FIC FI RENDA FIXA VIII CP R$ 30,00 2,50%

SANTANDER FIC FI PREV FIX SUPERIOR RF CP

R$ 15.000,00 2,00%

SANTANDER FIC FI PREV FIX EXECUTIVO RF CP

R$ 50.000,00 1,50%

SANTANDER FIC FI PREV IMA-B RENDA FIXA

R$ 50.000,00 1,40%

SANTANDER FIC FI RENDA FIXA III CP (RUBI)

R$ 100.000,00 1,20%

SANTANDER PREV FIX EXCLUSIVO FIC RF CP

R$ 300.000,00 1,00%

SANTANDER FIC FI PREV FIX MASTER RF CP

? 1,00%

Observando a frequência das taxas de administração, verifica-se que dos 47

FIEs estudados, dezessete deles (cerca de 36%) se concentram nas taxas de

1,00% (um por cento) e 1,50% (um e meio por cento). Apesar dessa aparente

concentração, tal fato não significa dizer que, de maneira geral, o mercado pratica

tais taxas de administração para os FIEs de renda fixa. Se observarmos os quadros

anteriores, o menor limite de aporte inicial para FIEs com 1% de taxa de

administração é de R$ 100 mil, enquanto que, para FIEs com 1,50% de taxa de

administração, esse valor é de R$ 20 mil. Para os planos contratados com o intuito

Figura 8 - Distribuição das Taxas de Administração dos FIEs Analisados

0

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

Taxas de administração

95

de efetuar aportes mensais menores, as taxas podem ser significativamente

maiores. Para o caso-base simulado no presente trabalho (que consiste em

contribuições mensais iniciais de R$ 1.000,00, atualizadas anualmente pela inflação

acumulada dos últimos 12 meses), se desconsiderarmos a possibilidade de uma

negociação, a menor taxa de administração possível para os primeiros aportes seria

de 2% (dois por cento).

Por fim, quatro outras informações, diretamente relacionadas ao período de

pagamento de benefícios, foram investigadas nos regulamentos, a saber: idade

mínima de saída do plano (aposentadoria); período máximo, em meses, de renda

garantida; modalidades permitidas de renda nos regulamentos; e percentual de

reversão de excedentes financeiros durante o período de pagamento dos benefícios.

Quadro 23 - Idade Mínima de Saída, Tempo Máximo de Renda Garantida, Modalidades de Renda, Percentual de Reversão de Excedentes Financeiros

Seguradoras Idade Mínima

de Saída

Tempo Máximo de

Renda Garantida

Modalidades de Renda Permitidas

% de Reversão de Excedentes

Financeiros

Brasilprev 50 anos 240 meses

Vitalícia Sim

20% Temporária Sim

Vit. c/ Pr. Min. Sim

Prazo Certo Sim

Bradesco Vida e Previdência

50 anos 600 meses

Vitalícia Sim

0% Temporária Sim

Vit. c/ Pr. Mín. Sim

Prazo Certo Sim

Itaú Vida e Previdência

60 anos 120 meses

(360 meses*)

Vitalícia Não

0% Temporária Sim

Vit. c/ Pr. Mín. Não

Prazo Certo Sim

Zurich Santander Brasil Seguros e

Previdência ? 180 meses

Vitalícia Sim

50% Temporária Sim

Vit. c/ Pr. Mín. Sim

Prazo Certo Sim

* apenas dois planos (um PGBL e um VGBL) permitem o prazo máximo de 360 meses

Quanto à idade mínima de aposentadoria, o Santander foi o único a não

divulgá-la publicamente. O maior limite mínimo de idade de aposentadoria

encontrado foi de 60 anos. Diante disso, para o caso-base ficou estabelecida em 60

anos a idade de aposentadoria, para ambos os gêneros.

Com relação ao período de renda garantida, o maior limite de todos é de 600

meses. O segundo maior já é bem abaixo (360 meses) e se destina a um plano com

96

alto valor de aporte inicial. Todos os outros limites estão abaixo do que seria a

expectativa de vida restante de um indivíduo com 60 anos de idade (idade de

aposentadoria para o caso-base), segundo cálculos atuariais baseados na tábua de

sobrevivência BR-EMS versão 2010, que é a mais atual e é a utilizada no presente

trabalho. Como há pelo menos uma seguradora que pratica um período máximo

superior à mencionada expectativa de vida, ficou determinado tal intervalo de tempo

como sendo o período de renda garantida para as modalidades de renda temporária,

renda por prazo certo e renda vitalícia com prazo mínimo definido; ou ainda como

período de resgates parciais tanto do fundo previdenciário, quanto dos fundos

tradicionais de renda fixa.

Quanto às modalidades, percebe-se que o Itaú é o único a não oferecer

nenhuma das duas modalidades de renda vitalícia analisadas no presente trabalho,

enquanto as outras três seguradoras permitem as quatro modalidades. Isso se deve

a uma estratégia da seguradora em questão de se expor somente a riscos atuariais

mais controlados como é o caso da renda temporária. Ainda sim, percebe-se certo

conservadorismo, dado que, em quase todos os seus planos, o período máximo de

renda garantida permitido é de 120 meses, o menor entre as quatro maiores

seguradoras.

Por fim, a última especificação analisada foi o percentual de reversão dos

resultados financeiros que excedem a taxa mínima garantida, que nas quatro

seguradoras é, a princípio, 0%, e o índice de atualização monetária (nos quatro

casos, o IPCA). Verifica-se que somente duas garantem algum percentual de

reversão desses excedentes. Tal realidade ajuda a justificar o baixo percentual, no

mercado brasileiro, de reversão das PMBaCs em renda.

4.2 PESQUISA DE CAMPO

Durante a coleta de dados dos regulamentos de planos, ficou evidente a

possibilidade de haver outros regulamentos e planos com condições mais atrativas

que, possivelmente, por questões estratégicas, não são divulgados publicamente.

Isso porque, além de ter sido verificada a existência de FIEs de renda fixa sob a

gestão das quatro seguradoras, mas que não estavam vinculadas aos regulamentos

analisados, foi verificada também, nos simuladores de renda para planos PGBL e

VGBL do site da Susep, a existência de diversos outros processos aprovados além

daqueles que resultaram na aprovação dos regulamentos estudados.

97

Outro fato que suscitou atenção foi a possível margem de negociação quanto

ao valor mínimo de aporte em determinados FIEs. Isso porque não há nenhum

instrumento formal que obrigue as seguradoras a se prender a esses valores, como

cláusulas nos regulamentos dos planos ou dos próprios FIEs. Aliás, uma das

seguradoras chegou a apresentar dois limites mínimos de aporte distintos para um

mesmo FIE. Diante desse cenário, conforme já mencionado, foi feita uma pesquisa

de campo nas quatro seguradoras em destaque no presente trabalho.

Quadro 24 - Taxas de Administração e Taxas de Carregamento - Pesquisa de Campo

Seguradora FIE Taxa de Administração

Taxa de carregamento

Brasilprev BRASILPREV RT FIX II FICFI

1,50% 0%

Bradesco Vida e Previdência

Bradesco FICFI RF PGBL/VGBL – F10 C

1,00% 0,45%

Itaú Vida e Previdência ITAÚ FLEXPREV XXII RENDA FIXA FICFI

1,50% Tipo 1*

Zurich Santander Brasil Seguros e Previdência

SANTANDER FIC FI RENDA FIXA III CP (RUBI)

1,20% Tipo Único*

* Tipo 1 (ver Quadro 15) e Tipo Único (ver Quadro 17).

Quanto à fase de diferimento, percebe-se que, como previsto, é possível

conseguir condições melhores nos custos relacionados a esse período. Vale

ressaltar que todos os consultores garantiram conseguir a adesão a planos

vinculados aos FIEs citados no Quadro 24. Quanto à taxa de carregamento, o

consultor da Bradesco Vida e Previdência indicou haver a possibilidade de conseguir

a taxa de carregamento explicitada no quadro (0,45%), mas não chegou a garantir

efetivamente tal taxa.

98

Quadro 25 - Taxas de Juros Mínimas Garantidas - Pesquisa de Campo

Seguradora Aportes Únicos

Taxa de Juros Mínima Garantida

Renda Vitalícia

Renda Prazo Certo

(10 anos)

Brasilprev

R$ 1 milhão 3% 3%

R$ 5 milhões 3% 3%

R$ 10 milhões 3% 3%

Bradesco Vida e Previdência

R$ 1 milhão 0% 0%

R$ 5 milhões 0% 0%

R$ 10 milhões 0% 0%

Itaú Vida e Previdência

R$ 1 milhão - 0%

R$ 5 milhões - 0%

R$ 10 milhões - 0%

Zurich Santander Brasil Seguros e Previdência

R$ 1 milhão 0% 0%

R$ 5 milhões 0% 0%

R$ 10 milhões 0% 0%

Quando se tentou saber qual o valor máximo de renda nas modalidades

renda vitalícia e renda por prazo certo durante dez anos, as seguradoras informaram

os valores acima para o parâmetro taxa de juros mínima garantida. A Brasilprev

ofereceu taxa mínima de 3% ao ano, mas deixou de garantir os 20% de reversão

dos excedentes financeiros já citados no tópico anterior. A Zurich Santander Brasil

Seguros e Previdência também permaneceu garantindo o percentual de 50% de

reversão do excedente financeiro. Entretanto, tanto esta última, quanto a Bradesco

Vida e Previdência e a Itaú Vida e Previdência não garantiram taxa mínima real.

Esta última continuou não oferecendo a modalidade renda vitalícia.

Durante a conversa com os consultores de investimento, três deles

informaram nunca ter visto um cliente reverter sua provisão em renda, enquanto o

consultor da Brasilprev já tinha conduzido duas reversões. Entretanto, curiosamente,

todos eles desaconselharam a reversão sugerindo que fosse feito resgates parciais

regulares como uma espécie de modalidade de renda, com a vantagem de não

precisar imobilizar toda a provisão acumulada para garantir alguma modalidade de

renda tradicional.

Por fim, vale ressaltar que as entrevistas foram conduzidas mais de forma

investigativa do que no intuito de simular uma negociação com possibilidade de

contratação imediata de um VGBL, no caso do aporte único, ou de um PGBL ou

VGBL, no caso do plano com contribuições mensais. Diante disso, é possível que

clientes que buscam a contratação imediata de um desses planos consigam

condições melhores, principalmente nos casos do aporte único.

99

4.3 FASE DE ACUMULAÇÃO

4.3.1 CASO-BASE

O caso base consiste na acumulação de contribuições/investimentos mensais

no valor de R$ 1 mil, atualizado anualmente pela inflação média. Tal acumulação

ocorrerá durante um período de diferimento/investimento de 30 anos. A idade de

aposentadoria ficou definida em 60 anos. Portanto, a fase de acumulação do caso-

base se dá entre os 30 e 60 anos de uma pessoa qualquer. Após a análise dos

regulamentos e da pesquisa de campo, ficou projetada em 1,50% ao ano a taxa de

administração do FIE.

Para o presente trabalho, o objetivo inicial ao comparar os montantes

acumulados via previdência privada e autoprevidência foi verificar as vantagens

fiscais dos planos de caráter previdenciário sobre a autoprevidência. Para isso, ficou

definido que, no caso-base, as variáveis comuns às duas alternativas estariam

equiparadas. Portanto, a taxa de administração do fundo tradicional de renda fixa

também ficou incialmente fixada em 1,50% ao ano. Da mesma forma, os

rendimentos nominais brutos anuais (desconsiderando a dedução da taxa de

administração) do FIE e do fundo tradicional de renda fixa também foram

equiparados e compostos da seguinte forma: considerando um cenário médio de

estabilidade econômica para os próximos 30 anos, ficou definida uma inflação média

anual de 4,50%; e o rendimento real médio anual ficou em 3%. Ainda seguindo a

lógica de equiparação entre as duas alternativas de investimento, a taxa de

carregamento ficou inicialmente fixada em 0%33, já que não há esse tipo de custo

para quem investe em fundos tradicionais de renda fixa.

4.3.2 ANÁLISE DE SENSIBILIDADE DOS PLANOS PGBL E VGBL

Com o propósito de entender o impacto de cada uma das variáveis taxa de

carregamento, rendimento real bruto, inflação e taxa de administração sobre o valor

das Provisões Matemáticas de Benefícios a Conceder (PMBaC) acumuladas nos

33 Apesar de a taxa de carregamento estar em 0% no caso-base devido à intenção de identificar integralmente os ganhos auferidos com o diferimento fiscal nos planos de caráter previdenciário, tal valor para a referida variável já é uma realidade nesse mercado para um plano estruturado nos moldes definidos no presente trabalho (contribuições/prêmios mensais de R$ 1.000,00 atualizados anualmente pela inflação acumulada no ano anterior ao reajuste).

100

planos PGBL e VGBL, foram feitas algumas análises de sensibilidade, que estão

discriminadas nas Figuras 9, 10, 11, 12 e 13.

Antes de discutir sobre os resultados da Figura 9, vale destacar que, durante

as simulações, a taxa de carregamento foi considerada fixa e não escalonada, como

é a prática de algumas seguradoras. Dito isto, ao observar o impacto da taxa de

carregamento sobre as PMBaCS, verifica-se que a relação é simétrica, ou seja, a

cada acréscimo de 1% na taxa de carregamento, há uma redução de 1% no valor

das PMBaCs, tanto nos planos PGBL, quanto nos planos VGBL.

0,00%

-1,00%

-2,00%

-3,00%

-4,00%

-5,00%

0,00%

1,00%

2,00%

3,00%

4,00%

5,00%

Taxa de Carregamento

Impacto percentual sobre as PMBaCs

Figura 9 - Análise de Sensibilidade PGBL/VGBL - Taxa de Carregamento

27,88%

17,56%

8,31%

0,00%

-7,48%

-14,22%

-20,31%

0,00%

0,50%

1,00%

1,50%

2,00%

2,50%

3,00%

Taxa de Administração

(a.a.)

Impacto percentual sobre as PMBaCs

Figura 10 - Análise de Sensibilidade PGBL – Taxa de Administração do FIE

101

As figuras 10 e 11 representam a sensibilidade das PMBaCs provenientes de

planos PGBL e VGBL, respectivamente, quanto à variações da taxa de

administração. Nota-se que a provisão do plano VGBL se mostrou levemente mais

sensível a variações da taxa de administração que a PMBaC provenientes do plano

PGBL. Dado que a PMBaC é o valor futuro de um fluxo de contribuições/prêmios, a

maior sensibilidade da PMBaC proveniente do VGBL se deve ao fato de os fluxos

de aportes do VGBL serem menos concentrados no final do período de diferimento

que os fluxos do PGBL. O PGBL, por sua vez, tem fluxos de aportes mais

concentrados ao final do período de diferimento devido aos aportes adicionais das

restituições advindas das declarações de ajuste anual de IR, que ano a ano são

reajustadas pela inflação, já que as contribuições vertidas ao plano também são

atualizadas anualmente pelo IPCA.

28,25%

17,79%

8,41%

0,00%

-7,56%

-14,37%

-20,51%

0,00%

0,50%

1,00%

1,50%

2,00%

2,50%

3,00%

Taxa de Administração

(a.a.)

Impacto percentual sobre as PMBaCs

Figura 11 - Análise de Sensibilidade VGBL – Taxa de Administração do FIE

-35,58%

-25,83%

-14,12%

0,00%

17,06%

37,74%

62,84%

0,00%

1,00%

2,00%

3,00%

4,00%

5,00%

6,00%

Rendimento real bruto (a.a.)

Impacto percentual sobre as PMBaCs

Figura 12 - Análise de Sensibilidade PGBL – Rendimento Real Bruto Anual

102

-35,88%

-26,08%

-14,27%

0,00%

17,28%

38,26%

63,80%

0,00%

1,00%

2,00%

3,00%

4,00%

5,00%

6,00%

Rendimento real bruto (a.a.)

Impacto percentual sobre as PMBaCs

Figura 13 - Análise de Sensibilidade VGBL – Rendimento Real Bruto Anual

Ao observar as Figuras 12 e 13, verifica-se que a variável rendimento real é,

como esperado, a mais impactante no valor das PMBaCs. Como já explicado, tal

variável é ainda mais impactante na PMBaC proveniente do VGBL do que na

PMBaC do PGBL.

4.3.3 PGBL, VGBL E AUTOPREVIDÊNCIA

A primeira simulação foi verificar os diferentes montantes acumulados via

planos conservadores PGBL e VGBL e via fundos de renda fixa tradicionais de

acordo com os parâmetros estabelecidos no caso-base. As diferenças entre esses

montantes, ao final do período de 30 anos de diferimento/investimento estão

apresentadas na Figura 14.

-

250.000,00

500.000,00

750.000,00

1.000.000,00

1.250.000,00

1.500.000,00

1.750.000,00

2.000.000,00

2.250.000,00

2.500.000,00

0 5 10 15 20 25 30

Acumulação PMBaC PGBL

Acumulação PMBaC VGBL

Acumulação InvestimentoAutoprevidência

Val

ore

s em

R$

Período de acumulação (anos)

R$ 1.448.435,54

R$ 1.660.697,29 (+ 14,65%)

R$ 2.222.348,40 (+ 53,43%)

Figura 14 - Período de Acumulação via PGBL, VGBL e Autoprevidência

103

Ao observar a Figura 14, verifica-se que a não incidência de IR sobre os

rendimentos nos planos VGBL durante o período de diferimento garantiu uma

provisão que excede em quase 15% o montante acumulado via autoprevidência. O

excedente da provisão acumulada via PGBL frente ao montante da autoprevidência

é ainda mais expressivo (53,43%). Isso porque, além do diferimento fiscal

mencionado acima, há o montante acumulado das restituições de IR aportadas

anualmente ao PGBL (tais aportes adicionais são os responsáveis pelas

irregularidades na curva de evolução da provisão do PGBL). Portanto, a diferença

entre a provisão acumulada no plano PGBL e a provisão acumulada no plano VGBL

é exatamente o total dessas restituições capitalizadas pela inflação e taxa real.

Quadro 26 – Valores Acumulados Brutos e Líquidos de IR ao Final do Período de Acumulação

Alternativas de Investimento

Montante ao Final do Período de Acumulação

Valor da Renda Única / Resgate Total ao Final do Período de Acumulação

PGBL R$ 2.222.348,40

(+53,43%)

Tributação Progressiva R$ 1.611.202,59

(+11,34%) Tributação Regressiva

R$ 1.907.736,87 (+31,83%)

VGBL R$ 1.660.697,29

(+14,65%)

Tributação Progressiva R$ 1.405.328,86

(-2,88%) Tributação Regressiva

R$ 1.555.366,00 (+7,49%)

Autoprevidência R$ 1.448.435,54* Tributação

Regressiva** R$ 1.447.045,43

* Vale ratificar que os rendimentos que compõem o montante acumulado via autoprevidência já sofreram incidência da maior parte do IR devido por meio do come-cotas. ** Tabela regressiva de IR incidente sobre os rendimentos provenientes de investimentos tradicionais de renda fixa.

A vantagem expressiva das provisões frente ao montante acumulado via

autoprevidência, provocada por tratamentos tributários distintos entre as opções de

investimento, deve ser levada em consideração, principalmente para fins de cálculo

das rendas brutas mensais a serem recebidas na fase de aposentadoria. Entretanto,

tal análise pode ser enganosa se o interesse em avaliar as duas alternativas for de

acumular recursos para, ao final dessa fase, resgatá-los integralmente. Isso porque

os valores finais das provisões não consideram o IR postergado e ainda não

cobrado. Como pode ser observado no Quadro 26, os excedentes das provisões sob

a forma de renda única líquida de IR frente ao valor integral de resgate dos recursos

acumulados via autoprevidência foram significativamente reduzidos. Outro cuidado

que se deve ter é escolher adequadamente o regime tributário dos planos de caráter

104

previdenciário. No caso acima, verifica-se que regime regressivo é a melhor opção

tanto para os planos PGBL, quanto para os planos VGBL.

Dadas as diferenças entre as provisões dos planos PGBL e VGBL e o

montante acumulado via autoprevidência, o Quadro 27 apresenta os valores das

variáveis em destaque necessários para a equiparação do montante às provisões e

vice-versa34.

Quadro 27 - Valor das Variáveis na Equiparação entre Montante Autoprevidência e PMBaCs – Caso-base

Variáveis

Montante Autoprev.

Equiparado à PMBaC VGBL

Montante Autoprev.

Equiparado à PMBaC PGBL

PMBaC VGBL Equiparado ao

Montante Autoprev.

PMBaC PGBL Equiparado ao

Montante Autoprev.

Taxa de Carregamento

- - 12,78% 34,82%

Taxa de Administração

0,48% Não existe* 2,38% 4,44%

Rendimento Real Bruto Anual

4,05% 6,18% 2,11% 0,08%

* A taxa de administração, nesse caso, teria que ser negativa.

Para exemplificar, na coluna “Montante Autoprev. X PMBaC VGBL”, o valor

de 0,48% significa que, mantendo constantes os valores estipulados no caso-base

para as outras variáveis (o que inclui o valor de 1,5% ao ano para a taxa de

administração do FIE), o fundo tradicional de renda fixa teria que oferecer uma taxa

de administração de 0,48%a.a., aproximadamente, para que o montante acumulado

via autoprevidência alcançasse a provisão acumulada no plano VGBL. Já para

equiparar o mencionado montante à PMBaC do PGBL, o fundo tradicional de renda

fixa teria que oferecer uma taxa de administração negativa, o que significa dizer que,

ainda que tal fundo isentasse o investidor desse custo, tudo o mais constante, não

seria possível acumular via autoprevidência o mesmo valor acumulado via PGBL.

Quanto ao rendimento real bruto, mantendo tudo o mais constante (o que

inclui um rendimento real bruto de 3% ao ano via previdência privada), seria possível

acumular, via autoprevidência, o mesmo valor acumulado na provisão do plano

VGBL caso o rendimento real bruto desta alternativa alcançasse um valor

aproximado de 4,05% ao ano. Se tal valor fosse de 6,18% ao ano, o montante

acumulado, via autoprevidência, equivaleria à provisão acumulada via PGBL.

34

O valor alterado para cada uma das variáveis apresentadas na Tabela 30 pressupõe que as outras assumem seus respectivos valores estipulados no caso-base.

105

As duas últimas colunas do Quadro 27 apresentam valores para as três

variáveis mencionadas sob uma ótica inversa a das duas colunas anteriores: quão

maior devem ser os custos com taxa de administração do FIE ou com taxa de

carregamento, ou ainda, quão menor deve ser o valor do rendimento real bruto do

FIE para que as provisões reduzam ao valor do montante acumulado via

autoprevidência. O que mais chama atenção são os valores da taxa de

carregamento necessários para que haja a equiparação entre montante e provisões.

Tais valores, completamente fora dos padrões do mercado, apenas reforçam as

evidências apontadas nas análises de sensibilidade das PMBaCs frente a variações

da taxa de carregamento: apesar de muito contestada por quem contraindica a

previdência privada, a taxa de carregamento não é uma variável tão decisiva na

escolha entre autoprevidência e previdência privada. Se ainda considerarmos os

mais altos valores praticados por 90% do mercado para tal custo (entre 4,5% e

3,5%), tal variável se torna ainda menos decisiva.

Outro valor irreal para os padrões do segmento é a taxa de administração do

FIE (4,44% ao ano) necessária para reduzir a PMBaC do PGBL ao valor do

montante acumulado via autoprevidência. Isso só reforça a vantagem considerável

do PGBL frente à autoprevidência para aqueles que realizam a declaração completa

de ajuste anual de imposto de renda e redirecionam a restituição para o plano.

Quanto aos quatro valores remanescentes no quadro, dois deles são bem

realísticos: a taxa de administração (2,38% a.a.) e o rendimento real bruto (2,11%)

de um FIE vinculado a um VGBL necessários para equiparar a PMBaC do referido

plano ao montante acumulado via previdência. Já os valores de 6,18% a.a. e 0,08%

a.a. que representam, respectivamente, rendimentos reais brutos de um fundo

tradicional de renda fixa e de um FIE de renda fixa vinculado a um PGBL são, na

prática, possíveis, porém improváveis, quando comparados com a rendimento real

bruto de seus pares (3%a.a. em ambos os casos). Em outras palavras, ao observar

os resultados dos estudos mencionados no presente trabalho sobre comparação de

performance de fundos tradicionais e FIEs de renda fixa, não se verifica tamanho

descolamento nos rendimentos reais líquidos de taxa de administração. Logo, ao

considerar os rendimentos reais brutos, tal descolamento é ainda mais improvável.

106

Quadro 28 - Valor das Variáveis na Equiparação entre Valor do Resgate Total (autoprevidência) e Rendas Únicas (PGBL/VGBL) – Caso-base

Variáveis

Resgate Autoprev. Equiparado à Renda única

VGBL

Resgate Autoprev. Equiparado à Renda única

PGBL

Renda única VGBL

Equiparada ao Resgate Autoprev.

Renda única PGBL

Equiparada ao Resgate Autoprev.

Taxa de Carregamento

- - 6,67% 27,59%

Taxa de Administração

0,96% Não existe* 1,94% 3,67%

Rendimento Real Bruto Anual

3,55% 5,08% 2,56% 0,83%

* A taxa de administração, nesse caso, teria que ser negativa.

O quadro 28 propõe a mesma análise do Quadro 27 equiparando, dessa vez,

valores do resgate integral dos recursos investidos via autoprevidência a rendas

únicas dos planos PGBL e VGBL e vice-versa. Nesse cenário, percebe-se

significativa mudança nos valores das variáveis. Entretanto, aquelas que

apresentaram valores fora dos padrões no Quadro 27 permanecem apresentando

valores incompatíveis com a realidade no Quadro 28.

Sob a ótica dos custos mínimos encontrados em ambos os mercados

(previdência privada e fundos de renda fixa), foi realizada uma nova simulação

mantendo-se o retorno real bruto dos tipos de fundos (3% a.a.) e a inflação (4,5%

a.a.), mas alterando a taxa de administração do fundo tradicional de renda fixa (0,3%

a.a.), a taxa de administração do FIE (1% a.a.) e da taxa de carregamento (0,45%)35.

35

Uma das menores taxas encontradas para valores de entrada de R$ 1.000,00 em fundos de renda fixa foi de 0,3% a.a. (Valor Data) e os custos, nos planos PGBL e VGBL, se basearam na melhor condição encontrada na pesquisa de campo.

Val

ore

s em

R$

Período de acumulação (anos)

R$ 1.702.480,73

R$ 1.792.313,27 (+ 5,28%)

R$ 2.396.256,46 (+ 40,75%)

-

250.000,00

500.000,00

750.000,00

1.000.000,00

1.250.000,00

1.500.000,00

1.750.000,00

2.000.000,00

2.250.000,00

2.500.000,00

2.750.000,00

0 5 10 15 20 25 30

Acumulação PMBaC PGBL

Acumulação PMBaC VGBL

Acumulação InvestimentoAutoprevidência

Figura 15 - Período de Acumulação via PGBL, VGBL e Autoprevidência – Caso Alternativo

107

Com esses novos valores para as variáveis mencionadas no parágrafo

anterior, percebe-se uma aproximação significativa do valor do montante acumulado

via autoprevidência ao valor da PMBaC acumulado via VGBL. Tamanha proximidade

já dá vantagem aos recursos acumulados via autoprevidência, quando comparados

o valor do resgate integral desses recursos com o valor da renda única do VGBL. Tal

fato é refletido no Quadro 29. Como pode ser observado, a taxa de administração do

fundo de renda fixa para que o valor do resgate total se equipare ao valor da renda

única do VGBL (0,4% a.a.) teria que ser maior do que a simulada (0,3%a.a.),

enquanto que o rendimento real bruto (2,90% a.a.) teria que ser menor do que o

estabelecido (3% a.a.). Do outro lado, mesmo isentando o segurado da taxa de

carregamento, ainda sim, não seria possível fazer com que o valor da renda única

do VGBL atingisse o valor do resgate total da autoprevidência.

Quadro 29 - Valor das Variáveis na Equiparação entre Valor do Resgate Total (autoprevidência) e Rendas Únicas (PGBL/VGBL) – Caso Alternativo

Variáveis

Resgate Autoprev. Equiparado à Renda única

VGBL

Resgate Autoprev. Equiparado à Renda única

PGBL

Renda única VGBL

Equiparada ao Resgate Autoprev.

Renda única PGBL

Equiparada ao Resgate Autoprev.

Taxa de Carregamento

- - Não Existe* 17,02%

Taxa de Administração

0,40% Não existe* 0,82% 2,10%

Rendimento Real Bruto Anual

2,90% 4,31% 3,18% 1,89%

* A taxa de administração, nesse caso, teria que ser negativa. * A taxa de carregamento, nesse caso, teria que ser negativa.

4.4 FASE DE RECEBIMENTO DAS RENDAS

4.4.1 RENDAS MENSAIS POR PRAZO CERTO E RESGATES MENSAIS

No presente item, busca-se responder a seguinte questão: dados os valores

encontrados nas simulações para o montante acumulado via autoprevidência e para

as provisões do PGBL e do VGBL36, quão mais rentável o fundo de renda fixa teria

que ser em relação ao FIE para que o fluxo de rendas (em forma de resgates

mensais) líquidas de IR proveniente da autoprevidência seja equivalente ao fluxo de

rendas (em forma de resgates mensais ou em forma de renda por prazo certo)

36

Ver Figura 14.

108

líquidas de IR proveniente dos planos PGBL e VGBL durante todo o período de

recebimento de renda?

Antes de apresentar os resultados que visam respondem a essa pergunta,

faz-se necessário verificar alguns pontos. O primeiro deles refere-se a que regime

tributário adotar para os resgates e rendas provenientes dos planos de caráter

previdenciário. Conforme já mencionado, o imposto retido na fonte sob regime

progressivo, diferentemente do regressivo, não tem caráter exclusivo, ou seja, se,

por exemplo, o IR pago no ato do recebimento da renda ou do resgate estiver abaixo

do valor devido, tal diferença será cobrada na declaração de ajuste anual. Para o

presente trabalho, considera-se que tal renda, tanto proveniente da autoprevidência,

quanto dos planos PGBL e VGBL têm caráter complementar. Portanto, se

considerarmos que o indivíduo recebe, no mínimo, o equivalente ao teto do INSS, tal

indivíduo, sem incluir a referida renda complementar na base de cálculo, já se

encontrará na faixa dos 22,5% de alíquota de IR (desconsiderando as possíveis

despesas dedutíveis de IR). Portanto, independentemente do quanto ele receberá

via PGBL ou VGBL, para o presente trabalho, a alíquota de IR devida no regime

progressivo será sempre superior a do regime regressivo (10%)37. Diante disso, o

regime tributário considerado nas simulações a seguir foi o regressivo.

Outra questão importante é a modalidade de renda a ser escolhida nos planos

de caráter previdenciário. Como já mencionado, nesse item, o fluxo de rendas

provenientes dos planos PGBL e VGBL será constituído via renda por prazo certo ou

via resgates mensais. Com relação à modalidade renda por prazo certo, duas

variáveis presentes nos regulamentos merecem destaque, a saber: “percentual de

reversão de resultados financeiros” e “taxa mínima garantida”. Para o presente

trabalho, nunca é viável reverter em renda por prazo certo a provisão acumulada nos

planos que prevejam algum percentual de reversão dos resultados financeiros, mas

que não oferecem uma taxa mínima garantida. Isso porque optar pelos resgates

mensais, em vez da renda por prazo certo, significa dizer que o indivíduo já tem o

equivalente a uma renda por prazo certo com 100% de reversão dos resultados

37

Na simulação foi considerado que, tanto a tabela progressiva, quanto o teto da aposentadoria do INSS são atualizados ano a ano pela inflação do período. Portanto, é natural que o teto da aposentadoria do INSS permaneça, em qualquer momento futuro, na mesma faixa de tributação que está hoje (ano-calendário 2015), que corresponde à alíquota de 22,5%. Quanto à alíquota cobrada no regime regressivo, ela será de 10%, porque o período de diferimento considerado nas simulações foi sempre de 30 anos, e, uma vez que o método de composição das rendas por prazo certo e dos resgates mensais é o PEPS, o valor de cada renda ou resgate será composto por contribuições/prêmios investidos há mais de 10 anos (ver Tabela 1).

109

financeiros e como, nas simulações a seguir, não foi considerada a hipótese de

retornos reais líquidos negativos, não há o risco de o valor do resgate mensal ser

reduzido, em termos reais, a cada atualização anual dessa quantia38. Já quando o

plano concede uma taxa mínima garantida considerada atrativa frente ao rendimento

que se pode conseguir não revertendo as provisões em renda, torna-se viável optar

pela renda por prazo certo. Entretanto, como o mercado raramente oferece uma taxa

mínima garantida, os resultados analisados a seguir foram obtidos sob a premissa

de que os fluxos provenientes dos planos de caráter previdenciário são, na maioria

dos casos, uma sucessão de resgates mensais cuja taxa de desconto é o

rendimento real líquido esperado do FIE e o índice de atualização monetária anual, a

inflação acumulada nos 12 meses que antecedem o reajuste.

Uma vez feitas as considerações acima, as Figuras 16 e 17 aparecem para

responder a pergunta inicial desse item, considerando os valores encontrados na

simulação do caso-base. A diferença entre elas reside apenas no período

estabelecido de recebimento de rendas. A Figura 16, por exemplo, apresenta

resultados provenientes de simulações de resgates mensais durante um período de

350 meses (valor próximo ao da expectativa de vida de uma mulher de 60 anos,

segundo a tábua BR-EMS), enquanto que, na Figura 17, tal período é de 306 meses

(valor próximo ao da expectativa de vida de um homem de 60 anos, segundo a

tábua BR-EMS). Vale ressaltar que a inflação anual considerada para atualizar o

valor das rendas foi de 4,5% (a mesma para o período de acumulação).

38

A reversão em renda por prazo certo de um plano que só oferece um percentual de reversão de resultados financeiros só seria viável em comparação aos resgates mensais na hipótese de o FIE apresentar um retorno real líquido médio negativo durante o período de recebimento da renda. Nesse cenário um tanto pessimista, a modalidade renda por prazo certo garantiria ao beneficiário/assistido, no mínimo, o valor inicialmente definido no ato da reversão com atualizações monetárias anuais da inflação acumulada nos 12 meses antecedentes ao mês do reajuste.

110

Ao analisar inicialmente a Figura 16, observa-se que, no cenário mais

conservador, o fundo tradicional de renda fixa (FRF) teria que ter, no mínimo, um

rendimento real líquido de 2,40% a.a. para garantir um fluxo de resgates mensais

líquidos de IR equivalente ao fluxo de resgates mensais líquidos de IR provenientes

de um VGBL que tem a sua provisão alocada em um FIE com um rendimento real

líquido de 1% ao ano. Em outras palavras, o FRF teria que ter um rendimento real

líquido 140% (cento e quarenta por cento) maior que o do fundo previdenciário. Já

na simulação mais otimista, em que o rendimento real líquido do FIE seria de

5%a.a., o desempenho do FRF teria que ser, aproximadamente, 44% superior ao do

FIE. Apesar de, neste cenário, a necessidade de desempenho excedente do FRF

em relação ao do FIE ser proporcionalmente menor do que nas outras simulações

representadas na Figura 16, tal distância entre os rendimentos ainda é

significativamente elevada se confrontada com os resultados obtidos nos estudos

que comparam os desempenhos desses dois tipos de fundos.

Quando a equiparação se dá entre fluxo de resgates via autoprevidência e

fluxo de resgates via PGBL, a diferença entre os rendimentos reais líquidos do FRF

e do FIE é ainda mais significativa. No cenário mais conservador, por exemplo, o

rendimento real líquido do FRF teria que ser quase cinco vezes maior que o do FIE,

2,40%

2,94%

3,59%

4,79%

6,00%

7,21%

4,90%

5,53%

6,29%

7,70%

9,13%

10,59%

1,00%

1,455%*

2,00%

3,00%

4,00%

5,00%

Rendimento Real Líquido FRF (Equiparação entre Resgates Autoprevidência e PGBL)

Rendimento Real Líquido FRF(Equiparação entre Resgates Autoprevidência e VGBL)

Ren

dim

ento

Rea

l Líq

uid

o F

IE (

a.a.

)

* Tal valor representa o mesmo rendimento real líquido do período de acumulação.

Rendimento Real Líquido FRF (a.a.)

Figura 16 - Rendimento Real Líquido dos Fundos de Renda Fixa - Equiparação Resgates Mensais Via Autoprevidência e Via PGBL/VGBL (Período de Recebimento de Renda Igual à Expectativa de Vida de uma Mulher de 60 Anos)

1,478%*

*

111

enquanto que, no cenário mais otimista, tal rendimento deveria ser pouco mais que o

dobro do rendimento real líquido do fundo previdenciário. Em termos relativos, uma

performance do FRF tão superior a do FIE já é bastante improvável. Em termos

absolutos, os rendimentos reais líquidos que o FRF precisaria ter nos cenários mais

otimistas (9,13% a.a. e 10,59%a.a.) estão fora dos padrões do segmento dos fundos

de renda fixa. Para exemplificar, de acordo com dados da Associação Brasileira das

Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (ANBIMA), o segmento de fundos

de renda fixa, no acumulado entre agosto de 2014 e julho de 2015, obteve um

retorno real líquido de 2,77%a.a.

Ao observar a Figura 17, percebe-se que há uma relação inversa entre a

variação do período de recebimento de renda e a variação do rendimento real

líquido do FRF. Em outras palavras, mantidas todas as outras variáveis constantes,

numa eventual redução do prazo de recebimento da renda, o rendimento real líquido

do FRF necessário para que os valores dos resgates provenientes da

autoprevidência sejam equivalentes aos do PGBL/VGBL deverá ser maior.

As simulações anteriores partiram de provisões e montantes acumulados,

respectivamente, em FIE e fundo tradicional de renda fixa (FRF), ambos com a

mesma rentabilidade. Como já mencionado, tal simulação teve o intuito de entender

os efeitos do diferimento fiscal em benefício dos planos de previdência privada.

Rendimento Real Líquido FRF (a.a.)

Figura 17 - Rendimento Real Líquido dos Fundos de Renda Fixa - Equiparação Resgates Mensais Via Autoprevidência e Via PGBL/VGBL (Período de Recebimento de Renda Igual à Expectativa de Vida de um Homem de 60 Anos)

2,48%

3,01%

3,67%

4,87%

6,07%

7,28%

5,31%

5,94%

6,70%

8,11%

9,54%

10,98%

1,00%

1,455%*

2,00%

3,00%

4,00%

5,00%

Rendimento Real Líquido FRF (Equiparação entre Resgates Autoprevidência e PGBL)

Rendimento Real Líquido FRF(Equiparação entre Resgates Autoprevidência e VGBL)

Ren

dim

ento

Rea

l Líq

uid

o F

IE (

a.a.

)

1,478%*

*

112

A simulação a seguir, parte das provisões e montante acumulados no caso

alternativo (representados na Figura 15). Tal simulação tentou replicar as melhores

condições, em termos de custo, encontradas nos respectivos mercados. Vimos na

Figura 16 que essa adaptação aproximou os valores da PMBaC proveniente do

VGBL e o montante acumulado via autoprevidência. Isso porque, além do

surgimento da taxa de carregamento para os planos de previdência (0,45%), o

rendimento real líquido do FRF (2,7% a.a.) passou a ser maior do que o rendimento

real líquido do FIE (2% a.a.) na fase de acumulação. Diante disso, as Figuras 18 e

19 trazem os resultados para a mesma pergunta inicial. Na verdade, a única

diferença aqui é que agora as condições pelas quais os investimentos e as

contribuições/prêmios foram capitalizados são distintas entre si.

Ren

dim

ento

Rea

l Líq

uid

o F

IE (

a.a.

)

1,66%

2,81%

3,96%

5,11%

6,26%

3,07%

4,50%

5,93%

7,37%

8,82%

1,00%

2,00%

3,00%

4,00%

5,00%

Rendimento Real Líquido FRF (Equiparação entre Resgates Autoprevidência e PGBL)

Rendimento Real Líquido FRF(Equiparação entre Resgates Autoprevidência e VGBL)

Figura 18 - Rendimento Real Líquido dos Fundos de Renda Fixa - Equiparação Resgates Mensais Via Autoprevidência e Via PGBL/VGBL (Período de Recebimento de Renda Igual à Expectativa de Vida de uma Mulher de 60 Anos) – Caso Alternativo

113

Nas simulações de 1% a.a. de retorno real líquido para o FIE, percebe-se que

a diferença entre rendimento real líquido do FIE e o rendimento real líquido que o

FRF precisa ter para equiparar os fluxos de resgates da autoprevidência e do VGBL

é de, respectivamente, 0,66% e 0,64% ao ano. Isso significa dizer que, se ambos os

fundos tiverem o mesmo retorno real bruto, dada a diferença entre as taxas de

administração do FIE (1% a.a.) e do FRF (0,3% a.a.), o FRF teria um retorno real

líquido superior ao mínimo exigido, ou seja, o montante aplicado nesse fundo seria

capaz de gerar um fluxo de resgates superior ao fluxo de resgates do VGBL. Nos

outros casos, essas diferenças de rendimentos são maiores do que a diferença entre

as taxas de administração, o que faz com que, mantidos os rendimentos reais

brutos, o FIE tenha um rendimento real líquido superior ao do FRF. Entretanto, nos

casos em que o FRF teria que ter um rendimento real bruto superior ao do FIE, tal

diferença, em nenhum dos casos, é tão elevada quanto nas simulações

representadas nas Figuras 16 e 17. No caso mais otimista, por exemplo, em que o

retorno real bruto do FIE é de, aproximadamente, 6% a.a., para superar o limite de

rendimento real líquido, o FRF teria que ter um retorno real bruto de,

aproximadamente, 6,56% e 6,53% ao ano, respectivamente.

Quanto ao PGBL, para os dois períodos de recebimento de renda, ainda são

percebidas distâncias significativas entre os rendimentos reais líquidos do FIE e do

FRF. Se considerarmos, que ambos têm o mesmo retorno real bruto, em nenhuma

das simulações seria possível que o FRF alcançasse o rendimento real líquido

Ren

dim

ento

Rea

l Líq

uid

o F

IE (

a.a.

)

1,64%

2,78%

3,93%

5,08%

6,23%

4,36%

5,69%

7,03%

8,38%

9,75%

1,00%

2,00%

3,00%

4,00%

5,00%

Rendimento Real Líquido FRF (Equiparação entre Resgates Autoprevidência e PGBL)

Rendimento Real Líquido FRF(Equiparação entre Resgates Autoprevidência e VGBL)

Figura 19 - Rendimento Real Líquido dos Fundos de Renda Fixa - Equiparação Resgates Mensais Via Autoprevidência e Via PGBL/VGBL (Período de Recebimento de Renda Igual à Expectativa de Vida de um Homem de 60 Anos) – Caso Alternativo

114

mínimo necessário pelo fato de ter uma taxa menor. Na verdade, nem mesmo

desconsiderando a taxa de administração do FRF seria possível obter um dos

rendimentos mínimos necessários para que o fluxo de resgates da autoprevidência

se equipare ao fluxo de resgates provenientes do PGBL.

4.4.2 RENDA MENSAL TEMPORÁRIA E RESGATES MENSAIS

As formas de renda por meio de planos de caráter previdenciário

mencionadas no subtópico anterior têm uma característica em comum: durante o

período de recebimento de renda, caso aconteça o falecimento do

participante/segurado, o restante da provisão será repassado a herdeiros ou

beneficiários indicados39. Entretanto, para o indivíduo que não tem herdeiros e que,

após a fase de acumulação, pretende obter uma renda mensal durante um intervalo

de tempo, a modalidade renda temporária passa a ser uma opção.

A vantagem de optar pela renda temporária em detrimento da renda por prazo

certo é que há um ganho no valor da renda decorrente do risco atuarial que passa a

ser transferido para o participante/segurado. Em outras palavras, é como se tal

indivíduo, ao optar pela renda temporária, estivesse vendendo o seu risco à

contraparte, no caso, à seguradora. Para entender tal ganho, os fluxos de resgates

mensais40 foram equiparados com os fluxos de renda temporária.

Antes de analisar os resultados dessas simulações, alguns pontos devem ser

destacados. Um deles é que os fluxos equiparados foram os brutos. No caso do

PGBL, equiparar fluxo bruto e fluxo líquido de IR é indiferente. Isso porque, ainda

que os métodos de composição da renda, nos dois casos, sejam diferentes, o valor

do IR a ser retido de cada renda será o mesmo nos dois fluxos já que a base de

cálculo e a alíquota são as mesmas. Já no caso do VGBL, o critério de composição

da renda, nos dois casos, faz com que as bases de cálculo provenientes de um

resgate e de uma renda temporária de mesmo valor bruto sejam diferentes. Tal

fenômeno faz com que a renda temporária líquida de IR, no início do período, seja

maior e no final do período, menor do que o valor líquido do resgate. Apesar de

39

A diferença está no fato de que, nos resgates mensais, se o participante falecer, a provisão remanescente pode ser integralmente revertida a herdeiros ou beneficiários indicados, enquanto que, ao reverter a PMBaC em renda por prazo certo, tais herdeiros só podem continuar recebendo a renda antes paga ao contratante do plano. 40

Dado que, em cada regulamento analisado, foram oferecidos os mesmos valores de taxa mínima garantida e de percentual de reversão de resultados financeiros para todas as modalidades de renda inclusive a por prazo certo e a temporária, não há como equiparar o fluxo de renda temporária com o de prazo certo, uma vez que o primeiro será sempre maior que o segundo.

115

existir certa vantagem tributária para quem adota a renda temporária, uma vez que

paga menos imposto no início do fluxo, essa diferença, nas quatro simulações, não

se mostrou significativa, ficando em torno de 1,5% do valor bruto. Diante disso, para

efeitos práticos, foi considerado que, no caso do VGBL, assim como no PGBL, ao

equiparar os fluxos brutos dos resgates mensais e da renda temporária, considerou-

se igualmente equiparados os fluxos líquidos de IR.

Outro ponto é que não foi simulada a modalidade de renda temporária com

algum percentual de reversão dos resultados financeiros. Isso porque, não há como

equiparar tais fluxos com os fluxos de resgates mensais, já que os fluxos de renda

temporária com reversão de resultados serão sempre superiores aos fluxos de

resgates mensais.

Por fim, a última observação a ser feita é que, diferentemente do subtópico

anterior, os fluxos de resgates mensais e o de renda temporária, quando

equiparados, partem da mesma provisão. Isso significa dizer que variações no valor

desse montante, para os dois fluxos, gerarão variações idênticas no valor a ser

recebido mensalmente, mantendo inalterada a taxa de desconto dos fluxos. Em

outras palavras, mantidas todas as outras variáveis constantes, o rendimento real

líquido do FIE necessário para que o fluxo de resgates seja idêntico ao da renda

temporária, será o mesmo tanto para o PGBL quanto para o VGBL. Estendendo o

alcance dos resultados abaixo, eles servem para qualquer provisão acumulada

desde que, a inflação projetada para o período de recebimento de renda seja de

4,5% a.a., que o referido período esteja de acordo os descritos no caso-base e que

o participante/segurado já tenho adquirido o direito de ser tributado a uma alíquota

de 10%.

Feitas as observações acima, a Figura 20 apresenta os rendimentos reais

líquidos que o FIE precisaria gerar, na fase de recebimento da renda, para que o

fluxo de resgates mensais seja equivalente ao fluxo de renda temporária quando a

taxa mínima garantida for 0% (zero por cento) ou 3% (três por cento) ao ano. Vale

ressaltar que tais valores de taxa mínima garantida visam replicar os valores

encontrados no mercado para a referida variável.

116

No caso de fluxos que podem durar 350 meses, os resultados mostram que

se a participante/segurada optasse por reverter a PMBaC do caso-base em renda

temporária com uma taxa mínima garantida de 0%, o FIE, onde se encontra

investida a referida provisão, teria que gerar um retorno real líquido de 1,77% ao

ano. Tal valor não é muito distante do que foi projetado no período de acumulação

(1,478% a.a.) e poderia ser alcançado com a migração para um FIE com taxas de

administração menores. Já no caso de um plano que garanta uma taxa mínima de

3%, o retorno real líquido mínimo do FIE teria que ser de 4,69% ao ano. Abaixo,

verifica-se que, diferentemente do que se viu no subtópico anterior, a redução do

período de recebimento de renda implica na redução dos retornos reais líquidos do

FIE.

4.4.3 RENDA MENSAL VITALÍCIA E RESGATES MENSAIS

Projetar o montante acumulado em rendas mensais (via resgates mensais,

renda por prazo certo ou renda temporária) durante um prazo que coincide com a

expectativa de vida a partir da idade de aposentadoria, apesar de fazer sentido, é

apostar em um cenário improvável. Diante disso, a modalidade renda vitalícia surge

para garantir que o indivíduo receba uma renda mensal da data de aposentadoria

até o seu falecimento. Entretanto, há duas questões que podem inibir o participante

ou segurado de optar por essa modalidade.

A primeira delas reside no fato de que, uma vez escolhida a renda vitalícia,

não há mais como ter acesso ao valor integral do montante que assegura o

pagamento da renda vitalícia. Concomitante a esse fato, sob uma perspectiva

1,55%

4,49%

1,77%

4,69%

0%

3%

0%

3%

Rendimento Real Líquido FIE (a.a.)(Equiparação Renda Temporária e Resgates Mensais)

Taxa

Mín

ima

Gar

anti

da

350 meses

(Expectativa de Vida de uma Mulher de 60 anos)

306 meses

(Expectativa de Vida de

um Homem de 60 anos)

Taxa

Mín

ima

Gar

anti

da

PG

BL/

VG

BL

(a.a

.)

Figura 20 – Rendimento Real Líquido do FIE – Equiparação entre Renda Temporária e Resgates Mensais (PGBL/VGBL)

117

familiar, tal modalidade pode gerar perdas financeiras consideráveis caso o

participante/segurado não viva o suficiente para receber, em forma de renda, o total

acumulado durante o período mencionado acima.

A segunda questão está ligada às condições atuais oferecidas pelo mercado

para quem deseja reverter a provisão em renda mensal vitalícia. Como verificado

anteriormente, a maioria dos planos não oferecem uma taxa mínima de retorno da

provisão, nem um percentual de reversão do resultado financeiro excedente à

inflação. Diante disso, o presente trabalho verificou a seguinte hipótese: supondo um

índice de atualização monetária (ficou definida em 4,5% a.a. para todas as

simulações) e um rendimento real líquido médio para o FIE onde se encontra

investida a PMBaC41, até que idade (dado que a aposentadoria começa aos 60

anos) é possível garantir resgates mensais com valores brutos exatamente iguais

aos projetados para as rendas mensais brutas na modalidade vitalícia?

O Quadro 30 apresenta algumas respostas para a pergunta acima.

Quadro 30 - Duração do Fluxo de Resgates Mensais Equiparados às Rendas Mensais na Modalidade Vitalícia PGBL/VGBL

Taxa mínima

garantida (a.a.) 0% 0% 0% 3% 0% 0% 0% 3%

Reversão resultados financeiros

0% 20% 50% 0% 0% 20% 50% 0%

Rendimento Real Líquido do FIE (a.a.)

Homem de 60 anos Mulher de 60 anos

1,50% 92 anos 90 anos e 4 meses

88 anos e 5 meses

79 anos e 9 meses

97 anos e 10 meses

95 anos e 7 meses

92 anos e 11 meses

82 anos e 2 meses

2,00% 95 anos e 2 meses

92 anos e 7 meses

89 anos e 6 meses

80 anos e 11 meses

102 anos e

6 meses

98 anos e 8 meses

94 anos e 4 meses

83 anos e 8 meses

2,50% 99 anos e 5 meses

95 anos e 2 meses

90 anos e 9 meses

82 anos e 2 meses

108 anos e

10 meses

102 anos e

5 meses 96 anos

85 anos e 4 meses

3,00% 105 anos

e 4 meses

98 anos e 5 meses

92 anos e 1 mês

83 anos e 9 meses

116 anos* 107 anos

e 4 meses

97 anos e 11 meses

87 anos e 6 meses

3,50% 113 anos

e 10 meses

102 anos e

8 meses

93 anos e 7 meses

85 anos e 8 meses

116 anos* 113 anos

e 5 meses

100 anos e 1 mês

90 anos e 2 meses

4,00% 116 anos* 108 anos

e

6 meses

95 anos e 4 meses

88 anos e 2 meses

116 anos* 116 anos* 102 anos

e

7 meses

93 anos e 10 meses

4,50% 116 anos* 115 anos

e

10 meses

97 anos e 5 meses

91 anos e 6 meses

116 anos* 116 anos* 105 anos

e

7 meses

99 anos e 5 meses

41

Os valores das PMBaCs são os calculados de acordo com os parâmetros estabelecidos no caso-base do período de acumulação. Entretanto, tal valor não interfere nos resultados acima, uma vez que as rendas variam de forma proporcional às variações do valor da PMBaC, não afetando significativamente a duração do fluxo de resgates mensais.

118

O fato que mais chama a atenção é a diferença entre as idades de término

dos resgates entre homens e mulheres para um mesmo retorno real líquido

esperado. Isso acontece porque, dada a maior longevidade das mulheres, para uma

mesma PMBaC, o valor da renda vitalícia para elas é menor que o valor para os

homens. Como resgates mensais de menor valor garantem maior duração da

provisão acumulada, é natural que o fluxo de resgates mensais equiparados ao fluxo

de rendas vitalícias para mulheres seja mais extenso que o dos homens.

Considerando os parâmetros “taxa mínima garantida” e “reversão dos

resultados financeiros” iguais a 0%, observa-se que, no cenário mais conservador

(rendimento real líquido de 1,5%a.a.), os resultados para um homem que se

aposenta aos 60 anos dura até os 92 anos. De acordo com a tábua de sobrevivência

BR-EMS 2010, a probabilidade de esse fluxo chegar ao fim é de, aproximadamente,

30%. Já no cenário mais otimista (rendimento real líquido de 4,5% a.a.), a idade de

término do fluxo de resgates ultrapassa os 116 anos, o que significa dizer que, para

uma inflação de 4,5%a.a., um fluxo de resgates mensais equiparado ao fluxo de

renda vitalícia duraria, de fato, pelo resto da vida de um homem que se aposenta

hoje, com 60 anos de idade. Isso porque, de acordo com a tábua de sobrevivência

BR-EMS 2010, a partir desta idade, não haveria mais nenhum beneficiário/assistido

de planos com cobertura por sobrevivência vivo.

Quanto aos resultados encontrados para as mulheres, no cenário mais

conservador, o fluxo de resgates, que pode durar dos 60 até os 97 anos e 10 meses,

tem uma probabilidade aproximada de 19% de chegar até o fim. Em um cenário

intermediário (rendimento real líquido de 3%a.a.) já é possível ultrapassar o limite

dos 116 anos estabelecido pela tábua de sobrevivência BR-EMS 2010.

As colunas seguintes do Quadro 30 representam, tanto para os homens,

quanto para as mulheres, simulações com valores diferentes de 0% para os

parâmetros “taxa mínima garantida” e “reversão dos resultados financeiros”. Na

verdade os valores estipulados para esses parâmetros são os mesmos encontrados

na coleta de dados dos regulamentos descrita no item 4.1. Como esperado, o

aumento dos valores para esses parâmetros encurta a duração dos fluxos de

resgates mensais quando equiparados aos fluxos de renda vitalícia. Entretanto, nas

simulações com reversão de resultados financeiros iguais a 20% e 50%, em todos

os cenários considerados para a variável “rendimento real líquido do FIE”, o fluxo de

resgates mensais ainda duraria além da expectativa de vida de um homem ou de

119

uma mulher de 60 anos. Já para as simulações com a taxa mínima garantida igual a

3% a.a., na maior parte das simulações feitas, tanto para os homens, quanto para as

mulheres, espera-se que optar pela renda vitalícia seja mais vantajoso que optar por

resgates mensais equivalentes.

4.4.4 RENDA MENSAL VITALÍCIA COM PRAZO MÍNIMO GARANTIDO E

RESGATES MENSAIS

Conforme mencionado no subtópico anterior, a renda vitalícia é interessante

sob a ótica do beneficiário/assistido, no sentido de que tal modalidade garante que

tal indivíduo receba uma renda mensal até o seu falecimento, mas, sob uma ótica

familiar, optar por ela pode significar perdas financeiras significativas, em caso de

falecimento precoce do beneficiário/assistido. Isso porque, ao ocorrer esse evento,

encerra-se o pagamento da renda. Diante disso, a modalidade renda vitalícia com

prazo mínimo garantido surge para mitigar o risco de deixar herdeiros ou

beneficiários indicados sem renda durante o período de renda garantida, em caso de

falecimento do contratante.

Para as simulações presentes nesse subtópico (Quadro 31), foram

consideradas como períodos de renda garantida as expectativas de vida de um

homem e de uma mulher de 60 anos, já que essa foi a idade definida no caso-base

para a aposentadoria. Tais simulações foram similares às realizadas no subtópico

anterior, ou seja, buscou-se verificar a duração estimada de um fluxo de resgates

mensais com valores equivalentes aos das rendas provenientes da modalidade

vitalícia com prazo mínimo garantido.

120

Quadro 31 - Duração do Fluxo de Resgates Mensais Equiparados às Rendas Mensais na Modalidade Vitalícia com Prazo Mínimo Garantido PGBL/VGBL

Taxa mínima garantida (a.a.)

0% 0% 0% 3% 0% 0% 0% 3%

Reversão resultados

financeiros 0% 20% 50% 0% 0% 20% 50% 0%

Rendimento Real Líquido do FIE (a.a.)

Homem de 60 anos Mulher de 60 anos

1,50% 98 anos e 11 meses

96 anos e 7 meses

93 anos e 9 meses

83 anos e 4 meses

104 anos e

7 meses

101 anos e

7 meses 98 anos

85 anos e 3 meses

2,00% 103 anos

e

10 meses

99 anos e 10 meses

95 anos e 3 meses

84 anos e 11 meses

111 anos 105 anos

e

9 meses

99 anos e 11 meses

87 anos e 2 meses

2,50% 110 anos

e

7 meses

103 anos e

10 meses

97 anos 86 anos e 10 meses

116 anos* 110 anos

e

11 meses

102 anos e 1 mês

89 anos e 6 meses

3,00% 116 anos* 109 anos 99 anos 89 anos e

3 meses 116 anos* 116 anos*

104 anos e

8 meses

92 anos e

8 meses

3,50% 116 anos* 115 anos

e 1 mês

101 anos e

3 meses

92 anos e

4 meses 116 anos* 116 anos*

107 anos e

7 meses

96 anos e

10 meses

4,00% 116 anos* 116 anos* 104 anos 96 anos e

10 meses 116 anos* 116 anos*

110 anos

e 11 meses

103 anos

e 2 meses

4,50% 116 anos* 116 anos* 107 anos

e 1 mês

103 anos

e 9 meses

116 anos* 116 anos*

114 anos

e 6 meses

110 anos

Como pode ser observado, em quase todas as simulações, a duração do

fluxo de resgates foi superior à expectativa de vida de um homem e de uma mulher

de 60 anos. Somente em duas simulações para cada um dos gêneros tal resultado

foi diferente (para taxa mínima garantida de 3% a.a.). Logo, em quase todas as

simulações realizadas, espera-se que optar pelo resgate mensal seja melhor que

optar pela renda vitalícia com prazo mínimo garantido.

121

5 CONCLUSÃO

A previdência privada é um assunto recorrente nas mídias e relativamente

controverso, já que há sempre matérias e comentários a favor e contrários a essa

alternativa de poupança de longo prazo. Tal divergência é interessante, pois

estimula o debate e põe em destaque um tema importante do cotidiano das pessoas,

porém pode gerar ainda mais dúvidas, principalmente por ser uma modalidade de

investimento com muitos detalhes extras em relação a um fundo de investimento

tradicional.

Nesse ínterim, o presente trabalho teve por objetivo municiar o investidor de

longo prazo com informações sobre o mercado e os planos de previdência privada

aberta, com destaque para os planos PGBL e VGBL (de longe, os mais negociados

atualmente). Inicialmente, a revisão de literatura abrangeu uma breve análise da

evolução histórica e da estrutura atual desse mercado, bem como trouxe o resultado

de recentes estudos de desempenho dos fundos tradicionais e previdenciários,

ambos, de renda fixa. Além disso, trouxe informações técnicas a respeito do sistema

regulatório e de especificidades dos planos de caráter previdenciário.

Em seguida, uma pesquisa realizada em setenta e seis regulamentos de

planos PGBL e VGBL oferecidos pelas quatro maiores seguradoras no Brasil (90%

do mercado) mostrou que, para a fase de acumulação, já existem planos

padronizados que isentam o investidor de longo prazo da taxa de carregamento sem

exigir valores elevados de aporte inicial (por exemplo, acima de R$ 1.000,00).

Quanto às taxas de administração, as dos fundos previdenciários de renda fixa ainda

são consideradas altas se comparadas com as taxas dos fundos tradicionais de

renda fixa, mas existe uma tendência de alinhamento junto com a evolução deste

mercado. Dentre os FIEs pesquisados no presente trabalho, a menor taxa de

administração para uma aporte inicial de R$ 1.000,00 (mil reais) é de 2% ao ano,

enquanto que o valor médio da taxa de administração dos fundos de renda fixa, para

o mesmo aporte inicial, é de 1% ao ano (ANBIMA, 2015).

Por outro lado, verificou-se, na pesquisa de campo, que os limites de aporte

inicial para FIEs com menores taxas de administração é negociável. Nesse sentido,

ao simular aportes mensais de R$ 1.000,00, durante 30 anos, com os consultores de

investimento das quatro instituições estudadas, chegou a serem oferecidos planos

vinculados a fundos previdenciários que cobram 1% ao ano de taxa de

122

administração. Nessa mesma pesquisa, verificou-se que a taxa de carregamento

também é negociável.

Na fase de recebimento, verificou-se uma postura conservadora das

seguradoras quanto às condições de remuneração oferecidas à provisão

matemática de benefícios concedidos (PMBC). Nos planos padronizados, todas

oferecem 0% (zero por cento) de taxa mínima garantida. Quanto à reversão de

resultados financeiros, somente duas delas oferecem algum percentual

(especificamente, 20% e 50% de reversão). No encontro com os consultores de

investimento, verificou-se que tais condições não são tão passíveis de negociação.

Dentre as quatro, somente uma delas ofereceu uma taxa mínima garantida de 3%

ao ano, com a condição de abdicar do percentual de reversão dos resultados

financeiros. A partir desse cenário, a sugestão para pesquisas futuras é avaliar a

viabilidade de as seguradoras oferecerem condições melhores para essas duas

variáveis, no intuito de estimular mais pessoas a reverterem suas provisões em

renda, principalmente, nas modalidades estruturadas atuarialmente.

Após essa pesquisa, foram realizadas simulações nas etapas de acumulação

de recursos e de recebimento de renda. Na fase de acumulação foi verificada a

sensibilidade da provisão acumulada ao final do período de diferimento em relação a

três variáveis: taxa de carregamento, taxa de administração e rendimento real bruto.

Dentre as três, as provisões acumuladas via PGBL e VGBL se mostraram menos

sensíveis a variações da taxa de carregamento e mais sensíveis a variações do

rendimento real bruto. Além disso, foi feito, em dois cenários distintos, um estudo

comparativo entre a acumulação de recursos por meio dos fundos tradicionais de

renda fixa (denominado no presente trabalho de autoprevidência) e por meio de

planos PGBL e VGBL. O primeiro cenário, que considerou as mesmas condições de

custo (taxa de administração de 1,5% a.a.) e rendimento real bruto (3% a.a.) para as

duas alternativas de investimento, mostrou que a vantagem dos recursos

acumulados via VGBL em relação aos recursos acumulados via autoprevidência,

quando ambos são revertidos, respectivamente, em renda única e resgate integral

depende fundamentalmente da diferença entre as taxas de administração. Para

exemplificar, se o fundo utilizado para autoprevidência tivesse uma taxa de

administração de 0,96% ao ano, o valor acumulado via autoprevidência seria

equivalente ao valor da renda única do VGBL. No segundo cenário, onde foi mantido

o mesmo valor para o rendimento real bruto, mas considerou os menores custos

123

encontrados no mercado para as duas alternativas de investimento, verificou-se que

o valor do resgate integral da autoprevidência superou a renda única do VGBL.

Quanto ao PGBL, devido aos aportes adicionais provenientes das restituições

anuais de IR, o valor da renda única deste plano foi significativamente superior ao

valor do resgate integral da autoprevidência nos dois cenários. Tal superioridade

também foi verificada na forma de resgates mensais. Nessa etapa, os rendimentos

reais líquidos que o fundo de renda fixa teria que alcançar para equiparar os

resgates mensais líquidos de IR da autoprevidência aos do referido plano se

mostravam fora dos padrões desse segmento.

Em relação à comparação entre resgates mensais da autoprevidência e do

VGBL, verificou-se que, para a provisão e o montante acumulados no primeiro

cenário, o fundo vinculado à autoprevidência, em todas as simulações, teria que

obter rendimentos reais líquidos significativamente maiores que os do FIE para

garantir que o fluxo de resgates mensais líquidos de IR da autoprevidência fosse

igualado ao do VGBL. Já para os recursos acumulados no segundo cenário, o que

se viu foi que a diferença entre o rendimento real líquido simulado para o FIE e o

rendimento real líquido necessário para que ocorresse a equiparação dos fluxos foi

menor do que 1% em três das cinco simulações realizadas. Isso indica que com uma

performance um pouco melhor (causado possivelmente por uma diferença entre as

taxas de administração de acordo com a realidade dos dois mercados), poderíamos

ter o fluxo de resgates da autoprevidência superior ao fluxo proveniente do VGBL.

Para os indivíduos que já acumularam seus recursos via PGBL ou VGBL, três

outras modalidades de renda foram analisadas. A primeira delas foi a renda

temporária. Os resultados obtidos foram que, sem uma taxa mínima garantida ou um

percentual de reversão de resultados financeiros, é pouco atrativo reverter a

provisão na referida modalidade. Para as outras duas modalidades (renda vitalícia e

vitalícia com prazo mínimo garantido), acontece o mesmo que o verificado na renda

temporária.

Além dos estudos mencionados acima, o presente trabalho buscou trazer

uma contribuição inédita com uma explicação minuciosa dos diferentes métodos de

tributação das rendas provenientes dos planos PGBL e VGBL, principalmente para

as estruturadas sob regime atuarial.

Diante do exposto, verifica-se que taxas de administração mais próximas do

segmento dos fundos de renda fixa e a tendência do mercado em diminuir os custos

124

com taxa de carregamento tornam os planos conservadores de previdência privada

uma alternativa de investimento de longo prazo cada vez mais atrativa, se

comparada a investimentos em fundos de renda fixa. Entretanto, as condições atuais

para a reversão das provisões em renda não estimulam os participantes ou

segurados a realizá-la, favorecendo a prática de resgates parciais como forma de

renda.

125

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129

APÊNDICE A

Fórmulas das Modalidades de Renda Estruturadas Sob Regime Atuarial

𝑥 – idade em meses;

𝑦 – parte inteira da divisão 𝑥 12⁄ ;

𝑙𝑥 – número de vivos na idade 𝑥 (em meses);

𝑄𝑦 – probabilidade do participante com idade 𝑦 falecer antes de atingir a idade 𝑦 + 1

(probabilidade de falecimento “anual”);

𝑞𝑥 – probabilidade do participante com idade 𝑥 (em meses) falecer antes de atingir a

idade 𝑥 + 1 (probabilidade de falecimento “mensal”);

𝑟𝑑′12 – para as fórmulas a seguir, será a taxa mínima garantida mensal.

𝑞𝑥 = (1 + 𝑄𝑦)1

12⁄− 1

𝑙𝑥 = 𝑙𝑥−1 ∙ (1 − 𝑞𝑥−1)

𝑣 =1

1 + 𝑟𝑑′12

𝐷𝑥 = 𝑙𝑥 ∙ 𝑣𝑥

𝑁𝑥 = ∑ 𝐷𝑥+𝑡

𝑡=0

I - Fórmulas das Rendas:

𝑟_𝑏𝑟𝑢𝑡𝑎_𝑇 =𝑃𝑀𝐵𝐶𝑥

(𝑁𝑥+1 − 𝑁𝑥+𝑛´+1)𝐷𝑥

𝑟_𝑏𝑟𝑢𝑡𝑎_𝑉 =𝑃𝑀𝐵𝐶0

𝑁𝑥+1

𝐷𝑥

𝑟_𝑏𝑟𝑢𝑡𝑎_𝑉𝑃𝐺 =𝑃𝑀𝐵𝐶𝑥

[𝑎(𝑟𝑑′12 , 𝑛′) + 𝑁𝑥+𝑛´+1

𝐷𝑥]

𝑎(𝑟𝑑′12, 𝑛′) = {(1 + 𝑟𝑑′12) ∙

1 − 𝑣𝑛´

𝑟𝑑′12 𝑠𝑒 𝑟𝑑′12 ≠ 0%

𝑛′ 𝑠𝑒 𝑟𝑑′12 = 0%

130

II - Fórmulas das PMBCs:

𝑃𝑀𝐵𝐶𝑥+12𝑘+𝑠 – Provisão Matemática de Benefícios Concedidos após transcorridos k

anos e s meses de recebimento de renda

𝐶𝑥+12𝑘+𝑠 – fator de ajuste das probabilidades de sobrevivência (capitalização

atuarial)

𝜋′𝑥+12𝑘+𝑠 – inflação entre x+12k+s-1 e x+12k+s.

𝐶𝑥+12𝑘+𝑠 =𝐷𝑥+12𝑘+𝑠

𝐷𝑥+12𝑘+𝑠+1

a. PMBC para a renda temporária

Para 𝑠 = 1

𝑃𝑀𝐵𝐶𝑥+12𝑘+𝑠 = 𝑟_𝑏𝑟𝑢𝑡𝑎_𝑇𝑥+12𝑘+𝑠 ∙ [(𝑁𝑥+12𝑘+𝑠−𝑁𝑥+𝑛´−12𝑘+𝑠)

𝐷𝑥+12𝑘∙ 𝐶𝑥+12𝑘 ∙ (1 + 𝜋′

𝑥+12𝑘+𝑠) − 1]

Para 𝑠 = 2,3, … ,11,0

𝑃𝑀𝐵𝐶𝑥+12𝑘+𝑠 = 𝑃𝑀𝐵𝐶𝑥+12𝑘+𝑠−1 ∙ 𝐶𝑥+12𝑘+𝑠−1 ∙ (1 + 𝜋′𝑥+12𝑘+𝑠) − 𝑟_𝑏𝑟𝑢𝑡𝑎_𝑇𝑥+12𝑘+𝑠

b. PMBC para a renda vitalícia

Para 𝑠 = 1

𝑃𝑀𝐵𝐶𝑥+12𝑘+𝑠 = 𝑟_𝑏𝑟𝑢𝑡𝑎_𝑉𝑥+12𝑘+𝑠 ∙ [𝑁𝑥+12𝑘+𝑠

𝐷𝑥+12𝑘∙ 𝐶𝑥+12𝑘 ∙ (1 + 𝜋′

𝑥+12𝑘+𝑠) − 1]

Para 𝑠 = 2,3, … ,11,0

𝑃𝑀𝐵𝐶𝑥+12𝑘+𝑠 = 𝑃𝑀𝐵𝐶𝑥+12𝑘+𝑠−1 ∙ 𝐶𝑥+12𝑘+𝑠−1 ∙ (1 + 𝜋′𝑥+12𝑘+𝑠) − 𝑟_𝑏𝑟𝑢𝑡𝑎_𝑉𝑥+12𝑘+𝑠

c. PMBC para a renda vitalícia com prazo mínimo garantido

𝑃𝑀𝐵𝐶𝑥+12𝑘+𝑠 = 𝑃𝑀𝐵𝐶′𝑥+12𝑘+𝑠 + 𝑃𝑀𝐵𝐶′′𝑥+12𝑘+𝑠

- Durante o período de renda garantida:

Para 𝑠 = 1

𝑃𝑀𝐵𝐶′𝑥+12𝑘+𝑠 = 𝑟_𝑏𝑟𝑢𝑡𝑎_𝑉𝑃𝐺𝑥+12𝑘+𝑠 ∙ [𝑎(𝑟𝑑′12

, 𝑛′ − 12𝑘) ∙ (1 + 𝑟𝑑′12

) ∙ (1 + 𝜋′𝑥+12𝑘+𝑠). −1]

𝑃𝑀𝐵𝐶′′𝑥+12𝑘+𝑠 = 𝑟_𝑏𝑟𝑢𝑡𝑎_𝑉𝑃𝐺𝑥+12𝑘+𝑠 ∙𝑁𝑥+𝑛´−12𝑘+1

𝐷𝑥+12𝑘

∙ (1 + 𝑟𝑑′12

) ∙ 𝐶𝑥+12𝑘 ∙ (1 + 𝜋′𝑥+12𝑘+𝑠)

131

Para 𝑠 = 2,3, … ,11,0

𝑃𝑀𝐵𝐶′𝑥+12𝑘+𝑠 = 𝑃𝑀𝐵𝐶′𝑥+12𝑘+𝑠−1 ∙ (1 + 𝑟𝑑′12

) ∙ (1 + 𝜋′𝑥+12𝑘+𝑠) − 𝑟_𝑏𝑟𝑢𝑡𝑎_𝑉𝑃𝐺𝑥+12𝑘+𝑠

𝑃𝑀𝐵𝐶′′𝑥+12𝑘+𝑠 = 𝑃𝑀𝐵𝐶′′

𝑥+12𝑘+𝑠−1 ∙𝑁𝑥+𝑛´−12𝑘+1

𝐷𝑥+12𝑘

∙ (1 + 𝑟𝑑′12

) ∙ 𝐶𝑥+12𝑘+𝑠−1 ∙ (1 + 𝜋′𝑥+12𝑘+𝑠)

- Após o período de renda garantida:

Para 𝑠 = 1

𝑃𝑀𝐵𝐶𝑥+12𝑘+𝑠 = 𝑟_𝑏𝑟𝑢𝑡𝑎_𝑉𝑥+12𝑘+𝑠 ∙ [𝑁𝑥+12𝑘+𝑠

𝐷𝑥+12𝑘∙ 𝐶𝑥+12𝑘 ∙ (1 + 𝜋′

𝑥+12𝑘+𝑠) − 1]

Para 𝑠 = 2,3, … ,11,0

𝑃𝑀𝐵𝐶𝑥+12𝑘+𝑠 = 𝑃𝑀𝐵𝐶𝑥+12𝑘+𝑠−1 ∙ 𝐶𝑥+12𝑘+𝑠−1 ∙ (1 + 𝜋′𝑥+12𝑘+𝑠) − 𝑟_𝑏𝑟𝑢𝑡𝑎_𝑉𝑥+12𝑘+𝑠

132

APÊNDICE B

Roteiro da pesquisa de campo

1- Se um(a) (homem/mulher) de 60 anos aportasse hoje em um VGBL, o valor de

(R$ 1 milhão/R$ 5 milhões/R$ 10 milhões) para reversão imediata em renda, quanto

(ele/ela) receberia em renda vitalícia e renda por prazo certo? (Dado o valor

informado, procurou-se verificar se o plano oferecia alguma taxa mínima garantida)

2- Para esses montantes, vocês conseguem oferecer quanto de taxa mínima

garantida no caso de reversão à renda vitalícia ou por prazo certo? (essa pergunta

foi feita em casos que os valores das rendas informados na pergunta 1 condiziam

com uma taxa mínima garantida igual a 0%a.a.)

3- Qual seria o percentual de reversão de resultados financeiros oferecido em caso

de aportes únicos nos seguintes valores?

4- Se fosse fechado um plano em que fossem realizados, durante 30 anos, aportes

mensais de R$ 1.000,00 atualizados anualmente pela inflação acumulada, em qual

HOMEM MULHER

R$ 1 milhão

R$ 5 milhões

R$ 10 milhões

Percentual de Reversão de

Resultados Financeiros

R$ 1 milhão

R$ 5 milhões

R$ 10 milhões

133

FIE conseguiria aplicar minhas contribuições/prêmios? (a partir da resposta,

verificou-se a taxa de administração do FIE)

ANEXO A

Tábua de Sobrevivência BR-EMS 2010 2010

Idade (anos)

Sobrevivência Masculina

Sobrevivência Feminina

Qy (anual) Qy (anual) 0 0,00200 0,00038 1 0,00069 0,00038 2 0,00035 0,00020

3 0,00022 0,00013 4 0,00016 0,00010 5 0,00013 0,00008 6 0,00012 0,00007

7 0,00011 0,00007 8 0,00011 0,00008 9 0,00012 0,00009

10 0,00013 0,00012

11 0,00015 0,00015 12 0,00019 0,00018 13 0,00024 0,00022 14 0,00031 0,00025

15 0,00039 0,00027 16 0,00048 0,00029 17 0,00057 0,00030 18 0,00066 0,00031

19 0,00074 0,00030 20 0,00080 0,00030 21 0,00085 0,00030 22 0,00089 0,00029

23 0,00092 0,00029 24 0,00093 0,00029 25 0,00093 0,00029 26 0,00093 0,00029

27 0,00092 0,00030 28 0,00092 0,00032 29 0,00091 0,00033 30 0,00092 0,00035

31 0,00093 0,00037 32 0,00094 0,00040 33 0,00099 0,00042 34 0,00103 0,00045

35 0,00109 0,00047 36 0,00115 0,00051 37 0,00121 0,00054

38 0,00128 0,00058 39 0,00136 0,00062 40 0,00144 0,00066

41 0,00153 0,00071 42 0,00164 0,00077 43 0,00175 0,00083 44 0,00187 0,00089

45 0,00200 0,00096 46 0,00215 0,00104 47 0,00231 0,00112 48 0,00249 0,00121

49 0,00268 0,00131 50 0,00290 0,00142 51 0,00313 0,00155 52 0,00339 0,00169

53 0,00367 0,00185 54 0,00398 0,00203 55 0,00431 0,00223 56 0,00468 0,00245

57 0,00509 0,00271 58 0,00554 0,00299 59 0,00603 0,00330 60 0,00656 0,00365

61 0,00715 0,00403 62 0,0078 0,00445 63 0,00851 0,00491 64 0,00929 0,00541

65 0,01014 0,00593 66 0,01107 0,00648 67 0,01210 0,00710 68 0,01323 0,00775

69 0,01446 0,00843 70 0,01581 0,00919 71 0,01730 0,01006 72 0,01893 0,01102

73 0,02072 0,01204 74 0,02268 0,01313 75 0,02483 0,01433 76 0,02719 0,01566

77 0,02977 0,01714 78 0,03261 0,01876 79 0,03573 0,02055

80 0,03914 0,02264 81 0,04289 0,02516 82 0,04700 0,02817

83 0,05150 0,03176 84 0,05645 0,03577 85 0,06187 0,04042 86 0,06782 0,04582

87 0,07434 0,05219 88 0,08150 0,05928 89 0,08935 0,06734 90 0,09796 0,07651

91 0,10741 0,08727 92 0,11777 0,09906 93 0,12913 0,11227 94 0,14160 0,12800

95 0,15527 0,14641 96 0,17027 0,16835 97 0,18672 0,18672 98 0,20477 0,20477

99 0,22457 0,22457 100 0,24628 0,24628 101 0,27010 0,27010 102 0,29622 0,29622

103 0,32488 0,32488 104 0,35632 0,35632 105 0,39080 0,39080 106 0,42862 0,42862

107 0,47011 0,47011 108 0,51562 0,51562 109 0,56553 0,56553 110 0,62029 0,62029

111 0,68035 0,68035 112 0,74623 0,74623 113 0,81849 0,81849 114 0,89776 0,89776

115 0,98471 0,98471 116 1 1