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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO COPPEAD DE ADMINISTRAÇÃO RENATA ERLICH JOSEPH A CONSTRUÇÃO SOCIOCULTURAL DE MARCAS POR MEIO DO DIÁLOGO ENTRE EMPRESAS E ÁRBITROS CULTURAIS: UM ESTUDO DE CASO PORTA DOS FUNDOS. Rio de Janeiro 2015

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

INSTITUTO COPPEAD DE ADMINISTRAÇÃO

RENATA ERLICH JOSEPH

A CONSTRUÇÃO SOCIOCULTURAL DE MARCAS POR MEIO DO DIÁLOGO

ENTRE EMPRESAS E ÁRBITROS CULTURAIS: UM ESTUDO DE CASO PORTA

DOS FUNDOS.

Rio de Janeiro

2015

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RENATA ERLICH JOSEPH

A CONSTRUÇÃO SOCIOCULTURAL DE MARCAS POR MEIO DO DIÁLOGO

ENTRE EMPRESAS E ÁRBITROS CULTURAIS: UM ESTUDO DE CASO PORTA

DOS FUNDOS.

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-

Graduação em Administração, Instituto Coppead de

Administração, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como

parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre

em Administração (M.Sc.).

Orientadora: Roberta Dias Campos, Ph.D.

Rio de Janeiro

2015

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FICHA CATALOGRÁFICA

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RENATA ERLICH JOSEPH

A CONSTRUÇÃO SOCIOCULTURAL DE MARCAS POR MEIO DO DIÁLOGO

ENTRE EMPRESAS E ÁRBITROS CULTURAIS: UM ESTUDO DE CASO PORTA

DOS FUNDOS.

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-

Graduação em Administração, Instituto Coppead de

Administração, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como

parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre

em Administração (M.Sc.).

Aprovada em:

BANCA EXAMINADORA

_______________________________________

Prof. Roberta Dias Campos, D.Sc.- Orientadora-

Presidente da banca

(COPPEAD/UFRJ)

_______________________________________

Prof. Maribel Suarez, D.Sc.

(COPPEAD/UFRJ)

_______________________________________

Prof. Benjamin Rosenthal, D.Sc.

(FGV - SP)

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AGRADECIMENTOS

Aqui eu consolido um longo e prazeroso percurso de descobertas e

transformação. Aqui eu deixo registrado apenas uma pequena parte do extenso

conhecimento e vivência proporcionados pelo mestrado da COPPEAD.

E é por isso que começo agradecendo a essa instituição. Por ter me recebido

de braços abertos, assim como a cidade maravilhosa. Agradeço a todos os

professores que tiveram e se dedicaram à missão de compartilhar um pouco de seus

conhecimentos, o bem mais precioso que o ser humano carrega em si.

Especialmente, agradeço à professora Letícia Casotti que me proporcionou um

verdadeiro momento de epifania apresentando o paradigma do Consumer Culture

Theory., E também à professora Maribel Suarez que me ensinou e me guiou em um

maravilhoso projeto de pesquisa qualitativa.

Em um parágrafo dedicado, tento colocar em palavras o meu agradecimento

à minha querida professora e orientadora Roberta Campos. Mais do que uma

orientadora, uma mentora e amiga, uma pessoa verdadeiramente dedicada ao

processo de formação acadêmica. Uma das pessoas mais humanas com a qual já

convivi e que teve a paciência de me guiar nessa descoberta do processo

dissertativo. Agradeço toda a atenção, cuidado e orientação desse período, e

também as inúmeras ajudas, conversas e mentorias para o meu desenvolvimento

profissional. Nada disso existiria sem você.

Aos amigos que conheci aqui e que levarei para a vida, agradeço por terem

feito a minha caminhada mais alegre, mais feliz e mais divertida. Mariana Mergulhão,

minha sister, obrigada por ter sido a irmã que escolhi e por ter me acompanhado em

cada passo. Carla Reis, Rachel Lino, Thaís Wanderley obrigada por todos os

momentos, pelas risadas, choros e conversas compartilhadas. Espero que os

nossos destinos ainda se cruzem muitas vezes. Farei força para isso.

À minha família, agradeço o apoio e a paciência por todas as minhas

ausências nesses dois anos. Foram muitas festas judaicas, aniversários e datas

comemorativas que faltei com vocês. Mas por um bom motivo! Obrigada mãe, Rafa

e Tia Pérola, pelo constante incentivo nos meus estudos. E, é claro, ao meu pai que

está sempre comigo mesmo não estando mais aqui. Um agradecimento especial aos

meus tios/primos Paulo e Norma Sanchez que sempre ajudaram a melhorar os meus

textos em inglês, sem contar a tradução da minha certidão de nascimento que era

requisito para o intercâmbio.

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Ao Bruno, meu namorado, agradeço a paciência por ter escutado, entendido,

e participado, de todo o meu mestrado, me apoiando e me esperando estudar horas

e mais horas.

Aos amigos paulistanos, agradeço por terem me visitado na cidade

maravilhosa, por terem me incentivado nos estudos, e por terem me esperado em

Sampa. A distância não separa os verdadeiros amigos. Ela apenas conta o tempo

entre duas boas risadas!

Aos meus entrevistados, agradeço a disponibilidade por me receberem e por

conversarem comigo sobre suas atividades profissionais.

E por fim, agradeço a Deus, que me iluminou e me guiou nas minhas

escolhas fazendo possível a vivência de uma experiência tão especial.

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RESUMO

JOSEPH, Renata Erlich. A construção sociocultural de marcas por meio do diálogo

entre empresas e árbitros culturais: um estudo de caso Porta dos Fundos,

Orientadora: Roberta Dias Campos. Rio de Janeiro: UFRJ/COPPEAD, 2015.

Dissertação (Mestrado em Administração)

Embora a investigação sobre a temática de construção de marcas seja

amplamente presente em pesquisas acadêmicas, a disseminação das mídias sociais

provoca a sociedade acadêmica a refletir sobre suas implicações no patrimônio de

marca. O presente estudo teve por objetivo pesquisar como as organizações

compreendem e tratam a atuação de árbitros culturais no processo de construção de

marcas. Assim, estudou-se o caso do vídeo “Na Lata”, de autoria do coletivo de

humor Porta dos Fundos, como pista metodológica para pesquisa da conduta da

empresa The Coca-Cola Company quanto à gestão de marcas no ambiente de

mídias sociais. Os resultados foram apresentados em dois blocos: primeiramente, foi

discutido o modelo de gestão de marcas da empresa no contexto das mídias sociais,

em seguida foram descritas as ações e interpretações da empresa e de seus

gestores sobre o conteúdo publicado pelo Porta dos Fundos. O presente trabalho

contribuiu para o entendimento sobre a construção coletiva e cultural de significados

no processo construção das marcas, bem como no papel de árbitros culturais neste

processo.

Palavras-chave: Construção de Marcas, Mídias Sociais, Cultural Branding, Árbitro

Cultural, Cocriação, Coca-Cola, Porta dos Fundos.

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ABSTRACT

JOSEPH, Renata Erlich. A construção sociocultural de marcas por meio do diálogo

entre empresas e árbitros culturais: um estudo de caso Porta dos Fundos,

Orientadora: Roberta Dias Campos. Rio de Janeiro: UFRJ/COPPEAD, 2015.

Dissertação (Mestrado em Administração)

Although studies about brand building have been extensively produced, the

propagation of social media incites the academic society to reflect on its implications

for the brand equity. This work aimed at investigating how organizations understand

and deal with the interference of cultural intermediaries in the brand building process.

Therefore, the case of the video Na Lata, made by the group Porta dos Fundos, was

used as a methodological lead to study the behavior of The Coca-Cola Company

regarding brand management within the social media environment. The results were

presented in two main sections: firstly, the brand management model was discussed

within the social media environment, and then the actions and interpretations of the

company and its employees were described regarding the content published by Porta

dos Fundos. This research has contributed to the understanding of the collective and

cultural construction of meanings in the brand building process, as well as to the role

of the cultural intermediaries in this process.

Key Words: Brand Building, Social Media, Cultural Branding, Cultural Intermediaries,

Co-creation, Coca-Cola, Porta dos Fundos.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Brand Equity segundo Aaker.......................................................................25

Figura 2: Modelo Ressonância da Marca...................................................................26

Figura 3: Movimentação do Significado.....................................................................29

Figura 4: Geração de Mitos de Mercado....................................................................33

Figura 5: Modelo de Construção de Marca baseado no Significado da

Marca...........................................................................................................38

Figura 6: Estrutura Organizacional Gestão de Marcas The Coca-Cola

Company.....................................................................................................71

Figura 7: Estrutura Organizacional Gestão de Comunicação The Coca-Cola

Company.....................................................................................................74

Figura 8: Estrutura Organizacional Gestão Mídias Sociais The Coca-Cola

Company.....................................................................................................76

Figura 9: Elementos fundamentais no processo de resposta ao consumidor em

Mídias Sociais.............................................................................................77

Figura 10: Estratégia de atuação nas Mídias Sociais................................................79

Figura 11: Reprodução do diálogo entre internauta e Coca-Cola no Caso Rap.......82

Figura 12: Reprodução de parte do diálogo entre Internauta e Coca-Cola no Caso

Star Wars..................................................................................................83

Figura 13: Ilustração do vídeo “Na Lata”...................................................................91

Figura 14: Imagens das latas publicadas na fanpage da Coca-Cola Zero................92

Figura 15: Elementos de motivação e sucesso do vídeo Porta dos Fundos.............98

Figura 16: Estratégia de atuação nas Mídias Sociais no caso do vídeo “Na Lata”..102

Figura 17: Exemplo de Vídeo da Campanha Kuat ..................................................104

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Figura 18: Nova Estrutura Organizacional Gestão de Comunicação The Coca-Cola

Company.................................................................................................106

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1: Identificação das facetas da Ressonância da Marca................................39

Quadro 2: Definição de Tipos de Mídia Social...........................................................44

Quadro 3: Relação dos Entrevistados........................................................................67

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LISTA DE FOTOGRAFIAS

Fotografia 1: Foto de mendigo vestindo camiseta Abercrombie ............................19

Fotografia 2: Foto de mendigo vestindo camiseta Abercrombie .............................19

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

APCA Associação Paulista de Críticos de Arte

CCT Consumer Culture Theory

CIC Customer Interaction Center

CGU Conteúdo Gerado pelo Usuário

SAC Serviço de Atendimento ao Consumidor

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO....................................................................................................15

1.1 DEFINIÇÃO DO PROBLEMA........................................................................15

1.2 OBJETIVOS DE PESQUISA..........................................................................16

1.3 RELEVÂNCIA DO ESTUDO..........................................................................17

1.4 DELIMITAÇÃO DO ESTUDO........................................................................20

1.5 ESTRUTURA DO TRABALHO......................................................................21

2 REVISÃO DE LITERATURA...............................................................................23

2.1 GESTÃO DA MARCA....................................................................................23

2.1.1 Paradigma Gerencial.........................................................................24

2.1.2 Paradigma Social...............................................................................26

2.1.2.1 A marca segundo a lente da psicologia social.............................27

2.1.2.2 A marca segundo a lente sociocultural........................................28

2.1.2.3 Os atores da construção da marca..............................................30

2.1.2.3.1 Organização......................................................................31

2.1.2.3.2 Cultura...............................................................................32

2.1.2.3.3 Consumidor........................................................................35

2.1.2.4 Modelo de Ressonância da marca..............................................37

2.2 MÍDIAS SOCIAIS...........................................................................................41

2.2.1 Mídias Sociais: a revolução tecnológica.........................................42

2.2.2 Mídias Sociais e suas implicações nas esferas políticas e

culturais..............................................................................................44

2.2.3 Mídias Sociais e suas implicações na esfera econômica..............46

2.2.3.1 Impacto no campo do comportamento do consumidor...............47

2.2.3.2 Impacto no campo na gestão empresarial..................................51

2.3 RECORTE TEÓRICO....................................................................................56

3 METODOLOGIA..................................................................................................57

3.1 QUESTÕES DE PESQUISA.........................................................................57

3.2 FILIAÇÃO PARADIGMÁTICA........................................................................57

3.3 DESENHO DE PESQUISA............................................................................58

3.3.1 Escolha do método............................................................................58

3.3.2 Escolha do contexto..........................................................................59

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3.3.2.1 Porta dos Fundos.......................................................................60

3.3.2.2 As marcas e o grupo...................................................................61

3.3.2.3 O vídeo.......................................................................................62

3.3.3 A escolha da unidade de análise: The Coca-Cola Company.........63

3.4 COLETA DE DADOS.....................................................................................66

3.5 ANÁLISE DOS DADOS.................................................................................67

3.6 LIMITAÇÕES DO MÉTODO..........................................................................68

4 APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS ...........................................................69

4.1 APRESENTANDO O MODELO COCA-COLA DE GESTÃO DE MARCAS..69

4.1.1 O posicionamento de Coca-Cola Zero.............................................69

4.1.2 Coca-Cola Zero: estrutura organizacional do processo de gestão

de marcas...........................................................................................70

4.1.3 Coca-Cola Zero: estrutura e processo de gestão de marcas no

ambiente digital..................................................................................74

4.1.4 Coca-Cola Zero: o papel da agência digital no processo de gestão

do marketing digital...........................................................................85

4.1.5 Coca-Cola Zero: processo de acompanhamento de desempenho

das marcas..........................................................................................88

4.2 APRESENTANDO O CASO DO VÍDEO “NA LATA”.....................................90

4.2.1 Ação e Reação: o lançamento do vídeo e a reposta da The Coca-

Cola Company.....................................................................................91

4.2.2 Avaliando os resultados do vídeo sobre a marca..........................94

4.2.3 O sucesso do vídeo: uma interpretação cultural...........................97

4.2.4 Novos desdobramentos da relação da Coca-Cola e Porta dos

Fundos..............................................................................................102

4.2.5 Novas alterações na estrutura organizacional para gestão de

marcas no ambiente digital.............................................................105

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS..............................................................................107

5.1 REVENDO O PONTO DE PARTIDA E O CAMINHO PERCORRIDO........107

5.2 CONTRIBUIÇÕES À TEORIA.....................................................................110

5.3 IMPLICAÇÕES GERENCIAIS.....................................................................119

5.4 SUGESTÕES DE ESTUDOS FUTUROS....................................................120

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REFERÊNCIAS.................................................................................................122

APÊNDICE A – Roteiro de entrevista com o gestor da marca Coca-Cola

Zero...................................................................................................................130

APÊNDICE B – Roteiro de entrevista com o gestor de mídias sociais da The

Coca-Cola Company........................................................................................132

APÊNDICE C – Roteiro de entrevista com o gerente de contas e com diretor

de criação da Muta.to responsável pela The Coca-Cola Company............134

APÊNDICE D – Roteiro de entrevista com o gestor pesquisa da The Coca-

Cola Company..................................................................................................136

APÊNDICE E – Roteiro de entrevista com o gestor da marca Kuat............138

APÊNDICE F – Transcrição do vídeo “Na Lata”...........................................140

APÊNDICE G – Portfólio de marcas da The Coca-Cola Company..............141

ANEXO A – Diálogo entre internauta e a The Coca-Cola Company no caso

Star Wars..........................................................................................................142

ANEXO B – Princípios de mídia social da The Coca-Cola Company ........144

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1 INTRODUÇÃO

1.1 DEFINIÇÃO DO PROBLEMA

O mundo contemporâneo apresenta aos gestores e acadêmicos de marketing

desafios presentes e futuros no que concerne a administração das marcas. Os

modelos antigos de branding já não parecem suficientes para compreender o

relacionamento do consumidor contemporâneo e de suas marcas (ALLEN;

FOURNIER; MILLER, 2008), desafiando empresas e agências de publicidade a

reinventar seus protocolos cotidianos de gestão de identidade de marca.

Uma das causas deste movimento pode estar no surgimento de um novo tipo

de consumidor (CASOTTI, 1998), multifacetado, que desenvolve e gerencia

inúmeras identidades em seu projeto de vida, onde, muitas vezes, as marcas são

uma importante ferramenta de construção ou de materialização (EL-AMIR; BURT,

2010; HIRSCHMAN, 2010). Trata-se de um indivíduo amadurecido e crítico quanto

ao ato de consumir e que se apropria de seus direitos como consumidor, exigindo

das empresas atitudes transparentes e ações coerentes com suas promessas

(HOLT, 2002).

O movimento de fragmentação das mídias e o surgimento das mídias sociais

contribuíram para este processo, quando permitem ao consumidor tornar-se, ele

também, produtor e distribuidor de informação sobre produtos, serviços e marcas

(KELLER, 2011), conferindo-lhe voz e autoridade. A atualidade parece revisitar a

época em que a propaganda boca-a-boca era a arma mais forte das empresas

(ALLEN; FOURNIER; MILLER, 2008). Entretanto, na pós-modernidade, o boca-a-

boca coexiste e concorre com outras formas de comunicação e de difusão de

conteúdo sobre marcas, produtos e serviços. A autoridade cultural do novo

consumidor (HOLT, 2002) tem impacto na construção da identidade das marcas,

pois acaba por impor uma nova forma de diálogo entre as empresas e seus clientes

e prospects.

Nesse contexto de múltiplas e pulverizadas mídias, não apenas o consumidor

desponta como crítico e idealizador de significados para as marcas, mas também

aparecem outros atores da sociedade, que compõem o sistema cultural,

(FOURNIER; SOLOMON; ENGLIS, 2008; MCCRACKEN, 1986) como os críticos de

arte, jornalistas, formadores de opinião, entre outros. Esses agentes se comportam

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como árbitros culturais, atuando na circulação de significados de marcas, por meio

da cocriação e da ressignificação de seus elementos (ALLEN; FOURNIER; MILLER,

2008). Para Fournier, Solomon e Englis (2008), o termo árbitros culturais pode ser

atribuído aos diferentes grupos, pessoas ou instituições que compõem a sociedade

e que desenvolvem atividades de selecionar, moldar e esclarecer os significados das

marcas. São eles comunidades e subculturas de marca, grupos de interesse e de

estilo de vida, formadores de opinião, jornalistas, críticos sociais, produtores de

cinema, entre outros.

Dessa forma, a construção dos significados de uma marca pode passar por

uma negociação triangular entre empresas, consumidores e sociedade, em um

cenário em que as mídias sociais se tornam grandes catalisadores de relações entre

esses agentes.

Este estudo nasce do interesse de investigar os movimentos, intervenções e

interações entre os diversos atores que agem sobre os significados das marcas na

atualidade: empresas, consumidores, agências de publicidade e outros árbitros

culturais da sociedade no contexto das mídias sociais.

Pela lente acadêmica, busca-se contribuir para os estudos de branding,

entendendo como o meio cultural associado à adoção das redes sociais está

mudando a forma de gerenciar marcas. Já no que se refere ao meio gerencial, o

objetivo é proporcionar novos caminhos e práticas que auxiliem os gestores a

renovarem a forma de pensar e de efetivamente gerir as marcas no mundo

contemporâneo.

Para tanto, a delimitação do estudo será o coletivo criativo de humor online

Porta dos Fundos. Tradicionalmente, o canal Porta dos Fundos utiliza marcas de

produtos, serviços e empresas como combustível criativo de seus roteiros. Este foi o

ponto de partida para uma reflexão sobre como as empresas interagem com este

árbitro cultural, que oferece novos significados para suas marcas. O método utilizado

será o estudo de caso.

1.2 OBJETIVOS DE PESQUISA

O objetivo dessa pesquisa é compreender a forma por meio da qual

empresas articulam significados das marcas com outros agentes da sociedade, no

ambiente das mídias sociais, e a forma como essas empresas incorporam essa

negociação em seu processo de gestão de marcas. Esse trabalho se concentrará

particularmente na maneira pela qual empresas e árbitros culturais dialogam e

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gerem os significados das marcas no ambiente de mídias sociais.

Questão primária de pesquisa:

Como as empresas lidam com a atuação de árbitros culturais sobre suas

marcas, no contexto de mídias sociais?

Questões secundárias de pesquisa:

1. Quais são as ferramentas atuais de construção e gestão de marca? E qual é o

papel das mídias sociais e do conteúdo online neste processo?

2. Como as empresas enxergam essa apropriação das marcas pelos árbitros

culturais nas mídias sociais? Como as empresas interpretam as motivações dos

árbitros culturais nas mídias sociais?

3. Quais as principais condutas das empresas frente a essa apropriação da marca

pelos árbitros culturais nas mídias sociais?

4. Como essas condutas se integram ao conjunto de práticas de gestão de marca

pelas empresas? E como as empresas medem seu efeito no equity da marca?

5. Qual a percepção das empresas em relação ao consumidor espectador dessa

negociação?

1.3 RELEVÂNCIA DO ESTUDO

Muitos são os teóricos e gestores de marketing que buscam entender como

gerir uma marca a ponto de potencializar o seu valor de mercado, dada a

importância que o mundo contemporâneo atribuiu a esse tema (AAKER;

JOACHIMSTHALER, 2000; ALLEN; FOURNIER; MILLER, 2008; KELLER, 2003;

KOTLER; KELLER, 2006). Entretanto, o que se observou, com o passar do tempo,

foi a atuação do consumidor como um agente de significação da marca, concorrendo

com a atividade das empresas (BERTHON et al., 2011). A marca torna-se um

artifício simbólico para a construção do projeto de identidade do consumidor

(FOURNIER, 1998; SOLOMON, 1988; THOMPSON; HAYTKO, 1997), que assume

um papel de co-autoria na formação da compreensão do que é a marca. O

consumidor, juntamente com a empresa, passa a ser entendido e tratado como um

agente articulador de sentidos para a marca (FOURNIER; SOLOMON; ENGLIS,

2008).

Entretanto, nesse processo de construção de significados para a marca,

existem outros agentes na sociedade que também passam a negociar significados

com empresas e consumidores, são os chamados árbitros culturais (ALLEN;

FOURNIER; MILLER, 2008). Pessoas e instituições, que atuam como árbitros

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culturais, julgam, criticam e elaboram os significados segundo suas próprias

atividades e agendas. Exemplos de árbitros culturais são os críticos de cinema,

jornalistas, formadores de opinião, entre outros (MCCRACKEN, 1986). São pessoas

ou entidades reconhecidas socialmente por sua contribuição cultural, seja qual for o

meio em que se manifestam: livros, filmes, artigos, poemas, etc.

No entanto, o que se observa nos estudos contemporâneos sobre marcas é a

concentração de investigações que discorrem sobre a ação consumidor como

agente de significação, resultando em ausência de estudos que analisem a atuação

dos árbitros culturais sobre as marcas (FOURNIER, 1998; HOLT, 2002;

VELOUTSOU, 2009). Poucas são as investigações que analisam a forma como

árbitros culturais e empresas interagem e negociam significados para a marca

(FEATHERSTONE, 1991; THOMPSON; HAYTKO, 1997 FOURNIER; HERMAN,

2005 apud ALLEN; FOURNIER; MILLER, 2008). Essa pesquisa tem por objetivo tratar

desta lacuna, buscando entender como as empresas e árbitros culturais se

relacionam para negociar significados para as marcas, no cenário de mídias sociais.

Já na perspectiva empresarial, o novo ambiente de mídias sociais catalisa a

atuação de diversos agentes de significado das marcas, que concorrem com as

empresas (KELLER, 2011). O novo cenário possibilita que o alcance das opiniões de

pessoas e árbitros culturais tenha proporções cada vez maiores. Conhecer casos

concretos de empresas, que desenvolveram soluções para atuar nesta negociação

de significados de suas marcas, torna-se essencial para aprimorar o processo de

gestão de marcas. O antigo paradigma de que as empresas criavam e controlavam

a identidade, emissão e percepção da marca torna-se obsoleto à medida que cada

vez mais observamos consumidores e árbitros culturais atuando ativamente nesse

processo de significação da marca (ALLEN; FOURNIER; MILLER, 2008).

Um dos recentes exemplos é o caso internacional da famosa marca de

roupas norte americana Abercrombie&Fitch que causou polêmica quando seu CEO,

Mike Jeffries, ( POLÊMICA..., 2013) concedeu uma entrevista afirmando que a loja

não tinha tamanhos grandes pois não gostaria que a sua marca fosse usada por

gordos ou feios, para que a sua imagem não fosse associada a pessoas que não

fossem consideradas “cool”. Em suas palavras:

Toda escola tem as crianças cool e populares, e também tem as não tão

cool. Sinceramente, nós vamos atrás das cool. Vamos atrás da criança total

americana, com uma ótima personalidade e vários amigos. Muitas pessoas

não pertencem e elas não podem pertencer. Se somos excludentes?

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Absolutamente. ( POLÊMICA..., 2013).

Logo em seguida, houve uma grande repercussão nas mídias sociais e uma

campanha feita por diversos consumidores passou a boicotar a marca. Foram

postadas fotos de mendigos1 com camisetas dessa marca, como mostram as figuras

abaixo.

A campanha chegou ao Brasil e uma comunidade no Facebook chamada de

Abercrombie Popular2 foi criada para concentrar as ações dos consumidores contra

a marca. Todas essas manifestações de consumidores demonstram o papel ativo

que eles tiveram no boicote ao que a marca passou a representar após a declaração

de seu CEO.

Outro exemplo interessante foi o surgimento da página do Facebook “Gina

Indelicada”. Situação na qual um publicitário de 19 anos se apropriou da imagem de

Gina, ilustração gráfica de uma mulher que figura na caixa de palitos de dente Gina

criada nos anos 50, e deu a ela uma personalidade ácida, irreverente e sarcástica. A

criação dessa página foi ideia de Ricck Lopes e a sua ideia era chegar a 1 milhão de

seguidores em um mês, mas esse marco ocorreu em apenas uma semana

1 Abercrombie Popular. Disponível em: <http://abercrombiepopular.tumblr.com/>. Acesso em 05 jun.

2014. 2 Abercrombie Popular . Disponível em: < https://www.facebook.com/AbercrombiePopular?fref=ts>.

Acesso em 05 jun. 2014.

Fotografia 1: Foto de mendigo

vestindo camiseta Abercrombie.

Fonte: Abercrombie Popular

(2014)

Fotografia 2: Foto de mendigo vestindo

camiseta Abercrombie. Fonte:

Abercrombie Popular (2014)

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(DONO..., 2012). A página da Gina tem atualmente 4,2 milhões de seguidores3, e a

Gina posta suas reflexões sobre a rotina diária e os eventos cotidianos além de

responder as perguntas de seus seguidores. Posteriormente, a empresa detentora

da marca chegou a conversar com o publicitário buscando parceria para aproveitar a

oportunidade de awareness da marca.

Os dois exemplos acima ilustram a atuação de outros agentes, diferentes da

empresa, que de forma independente, criam, articulam, renovam os significados das

marcas, sejam quais forem suas motivações. Por isso, no contexto das rápidas

viralizações nas plataformas de mídias sociais, as empresas se deparam com uma

nova realidade a ser pensada. A articulação dos significados em conjunto com as

pessoas e árbitros culturais passa a ser um dos novos dilemas da atualidade na

gestão do marketing. E é a esse questionamento que esse estudo busca contribuir

para repensar a gestão contemporânea de marcas.

1.4 DELIMITAÇÃO DO ESTUDO

Para o desenvolvimento dessa investigação, se fez necessária a

determinação de algumas escolhas teóricas e metodológicas a fim de tornar possível

a elaboração desse trabalho dentro do enquadramento ao qual ele está inserido que

é o de uma dissertação de mestrado.

A primeira escolha a ser feita foi a definição do fenômeno estudado. Como a

significação das marcas ocorre por meio da triangulação das relações entre

empresa, consumidores, e árbitros culturais, optou-se por retratar apenas o fluxo de

negociação desses significados entre empresas e árbitros culturais. Esse foco se

justifica pela quantidade de artigos já existentes sobre a articulação entre

consumidores e marcas, e a menor incidência de estudos sobre a negociação de

significados entre empresas e árbitros culturais.

A segunda escolha foi o recorte do fenômeno. O presente estudo busca

compreender a significação das marcas entre árbitros culturais e empresas no

ambiente das mídias sociais. Com a fragmentação das mídias, os consumidores e

árbitros culturais encontram no ambiente das mídias sociais um espaço de razoável

repercussão para suas ideias, opiniões e criações. Por isso, buscou-se compreender

a atuação de um árbitro cultural em ambiente de mídia social no processo de

articulação de significados das marcas com as suas respectivas empresas.

3 Gina Indelicada. Disponível em: <https://www.facebook.com/GinaIndelicada>. Acesso em 05 jun.

2014.

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A terceira escolha refere-se à delimitação do árbitro cultural a ser investigado.

Com a democratização da internet e das plataformas de mídias sociais, diariamente

surgem novos árbitros culturais que coabitam esse espaço com aqueles já

estabelecidos. Portanto, foi necessário realizar a seleção de um árbitro relevante e

usuário habitual das marcas em seu repertório cultural. Optamos pelo caso do Porta

dos Fundos, canal com milhões de visualizações e importante visibilidade hoje em

dia (CONHEÇA..., 2015).

A quarta e última escolha foi a unidade de análise. Apesar de muitas marcas

aparecem no repertório dos árbitros culturais no ambiente de mídia social, a

definição de uma marca que representou uma relação única nessa articulação de

significados com o árbitro cultural selecionado foi importante para a viabilização do

estudo. No caso do presente trabalho, a escolha recaiu sobre a empresa The Coca-

Cola Company, detentora da marca Coca-Cola Zero, tema de um vídeo do Porta

dos Fundos que recebeu milhões de visualizações. Não apenas a repercussão do

vídeo colaborou com essa delimitação, mas também o posicionamento e a

disposição da empresa em estabelecer um diálogo com esse árbitro cultural.

1.5 ESTRUTURA DO TRABALHO

Esse trabalho é composto por quatro partes. O capítulo introdutório

estabeleceu e delimitou o tema de pesquisa a ser estudado e também determinou a

relevância acadêmica e gerencial desse estudo.

A segunda parte do trabalho contempla a revisão de literatura que irá

apresentar o arcabouço teórico fundamental para o entendimento dos achados da

pesquisa. Essa revisão possui dois focos teóricos distintos: marcas e mídias sociais.

A primeira parte irá tratar da evolução dos modelos de estudo e gestão de marcas

nos últimos tempos (EL-AMIR; BURT, 2010). A segunda parte discutirá o

fenômeno das mídias sociais e o impacto que a adoção dessa tecnologia causou em

todas as esferas da sociedade: política, cultural e econômica. Será oferecido um

aprofundamento no entendimento das implicações dessa inovação no

comportamento do consumidor e na gestão das marcas. Ao final desse capítulo,

será apresentado o recorte teórico que foi realizado para orientar a análise dos

achados dessa pesquisa.

O terceiro capítulo, o de Metodologia, abordará a filiação paradigmática na

qual essa pesquisa está situada, a escolha do método, do contexto e das unidades

de análise, realizando uma descrição detalhada desses itens. Além disso, serão

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relatados os métodos de coleta e análise dos dados.

Por fim, será apresentado o capítulo dos achados desse estudo

correlacionando-os com o que foi discutido previamente na literatura na qual se

fundamentou a investigação. Nas considerações finais, discutiremos as

contribuições que esta pesquisa oferece à literatura, bem como serão propostos

caminhos de pesquisa futura.

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2 REVISÃO DE LITERATURA

A revisão de literatura tem como objetivo contextualizar o leitor sobre os

achados teóricos que delimitam e conceituam as marcas e os seus processos de

construção de significados. Muitos são os autores que estudam esse fenômeno da

sociedade de consumo, em que uma marca é consumida não apenas por sua

dimensão física, seus atributos em si, mas também por sua dimensão simbólica

(ALLEN; FOURNIER; MILLER, 2008; SCHOUTEN; MCALEXANDER, 1995;

SOLOMON, 1988; THOMPSON; HAYTKO, 1997). Entender as fontes de

significados da marca e suas práticas de consumo são essenciais para responder à

pergunta dessa pesquisa: Como as empresas lidam com a atuação de árbitros

culturais sobre suas marcas, no contexto de mídias sociais?

Dessa forma, esse capítulo será dividido em dois grandes temas de estudo:

Marcas e Mídia Social. A revisão de literatura de marcas compreende o

entendimento do campo teórico de branding de maneira ampla, passando pelos

acadêmicos alinhados com a visão gerencial da marca em que a empresa controla a

construção de seus significados; e aqueles alinhados com a visão social em que a

empresa passa a ser um dos atores dessa construção trabalhando conjuntamente

com diversos outros agentes formados pela sociedade e cultura (EL-AMIR; BURT,

2010). Alinhado a essa visão social, será apresentado o modelo de marca que

analisa como os significados criados para a marca contribuem no processo de

construção de brand equity, que foi desenvolvido por Fournier, Solomon e Englis

(2008).

Já o tema de Mídia Social irá contemplar a conceituação necessária para a

contextualização da transição de significados das marcas que ocorre na Web 2.0.

Portanto, o conteúdo selecionado irá situar o leitor sobre o novo ferramental

tecnológico que é oferecido para a sociedade e seus integrantes. E irá também

refletir sobre as alterações já notadamente importantes que ocorreram na sociedade

e, mais precisamente, no campo do comportamento do consumidor e da gestão das

marcas.

2.1 GESTÃO DE MARCA

Essa parte da revisão de literatura busca entender o conceito de marca e o

seu processo de construção de significados, o que, por sua vez, é essencial para

compreender o diálogo entre os diversos atores da sociedade que interagem para

absorver, ampliar, conceber, e ressignificar os mais variados significados de uma

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marca (FOURNIER; SOLOMON; ENGLIS, 2008).

A literatura de marketing e comportamento do consumidor é repleta de

estudos sobre gestão de marcas, surgindo como um dos assuntos mais discutidos

em marketing tanto na academia quanto no mundo corporativo (ALLEN; FOURNIER;

MILLER, 2008; HIRSCHMAN, 2010). Os esforços de compreensão sobre o

fenômeno têm ampliado o olhar acadêmico sobre a questão, e gerado pesquisas

que se inserem dentro de dois grandes paradigmas: o gerencial e o social (ALLEN;

FOURNIER; MILLER, 2008; BERTHON et al., 2011; EL-AMIR; BURT, 2010;

FOURNIER; SOLOMON; ENGLIS, 2008; HOLT, 2002)

Os autores selecionados para compor essa revisão são aqueles que

expressivamente contribuíram para o campo de estudos da marca e de gestão de

marca. Suas teorias serão divididas nos dois grandes paradigmas que pautam a

literatura existente: o gerencial e o social. Serão estudados também os atores que

compõem o processo de construção dos significados da marca: as empresas, a

cultura e os consumidores. E, por fim, será apresentado o construto que integra

esses três atores no contexto do paradigma social e que analisa como os

significados da marca são transformados em valor para a marca (FOURNIER;

SOLOMON; ENGLIS, 2008)

2.1.1 Paradigma Gerencial

O paradigma gerencial é aquele que entende a marca como um ativo contábil

da empresa, que carrega significados e atributos construídos e controlados pelas

próprias organizações. Entende-se aqui que as empresas são criadoras e

controladoras das marcas sendo capazes de moldá-las no mercado a fim de

capturar valor.

A marca, nesse contexto, cumpre a função de diferenciar a empresa das

concorrentes, com o objetivo de aumentar a participação de mercado e, dessa

forma, os lucros da empresa. Um dos grandes teóricos desse paradigma, (AAKER,

1996), introduz a noção de brand equity que foi concebida a partir da abordagem

contábil da marca, e assim a define:

Um conjunto de ativos e passivos relacionados a uma marca, seu nome e

símbolo, que adicionam ou subtraem ao valor gerado pelo produto ou

serviço de uma empresa para seus consumidores. (AAKER, 1998, p. 16)

Os ativos e passivos desse conceito foram definidos por Aaker como (1)

lealdade à marca, (2) conhecimento da marca, (3) qualidade percebida, (4)

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associações da marca, (5) outros ativos. Esse conjunto resultará em um rol de

benefícios, tanto para a empresa como para os consumidores, como mostra a

ilustração a seguir:

Figura 1: Brand Equity segundo Aaker (Fonte: adaptado de Aaker, 1998)

Para a construção do brand equity, Aaker destaca a importância do conceito

de identidade de marca que é “o conjunto exclusivo de associações que

representam o que a marca defende e promete aos clientes” (KOTLER; KELLER,

2006, p. 274). Essa identidade é composta por um núcleo central no qual reside a

essência fundamental e perene que tende a se manter intacta a medida que a marca

evolui para novos mercados e novos produtos; e a identidade estendida que

compreende todos os outros elementos que não são centrais e que estão

organizados em grupos significativos e coesos (AAKER; JOACHIMSTHALER, 2000,

p. 54)

Para Keller, outro importante teórico do paradigma gerencial, a construção do

brand equity depende de uma sucessão de etapas ascendentes. Seu modelo,

chamado de ressonância da marca, busca certificar que o consumidor consegue

identificar, entender e vivenciar o significado de uma marca a ponto de gerar alta

fidelidade, conforme ilustração a seguir:

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Figura 2: Modelo Ressonância da Marca (Fonte: adaptado de Kotler e Keller, 2006, p.275)

Além da visão da marca como um ativo, o paradigma gerencial compreende a

empresa como constituinte não apenas dos atributos físicos dos produtos, mas

também como a principal criadora de significados que podem posicionar a marca na

mente dos consumidores (EL-AMIR; BURT, 2010).

O principal recurso teórico deste paradigma é a psicologia cognitiva, que foi

adotada para auxiliar o entendimento da percepção das marcas pelos consumidores,

e a construção de modelos eficientes de gestão de marca pelas empresas (KELLER,

2003). A psicologia cognitiva teria a capacidade de mapear precisamente os

componentes emocionais e funcionais, que formam a percepção de marca na mente

dos consumidores fazendo com que fosse possível gerenciar a percepção dos

consumidores pelos gestores de marketing, aumentando assim o valor do patrimônio

da marca.

É possível perceber que o paradigma gerencial pressupõe que a concepção

dos significados da marca ocorre de forma unilateral colocando a empresa no papel

de único agente gerador de sentido e o consumidor no papel de receptor passivo

dessa informação. As ferramentas dessa abordagem sugerem que as organizações

são capazes de gerir não apenas a identidade da marca, seus ativos e passivos,

suas associações, mas também a percepção na mente dos consumidores. Nessa

visão, o consumidor aparece como a audiência passiva de uma narrativa criada e

contada apenas por um ator: a organização e seus gestores.

2.1.2 Paradigma Social

Conforme as pesquisas teóricas sobre marcas evoluíram, percebeu-se que o

consumidor não desempenha apenas um papel passivo de receptor de informações,

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ele também atua ativamente na construção das marcas na medida em que

interpreta, negocia, articula e comunica significados no mercado (ALLEN;

FOURNIER; MILLER, 2008; EL-AMIR; BURT, 2010; FOURNIER; SOLOMON;

ENGLIS, 2008). As marcas evoluíram para se tornarem plataformas culturais

servindo não apenas como mecanismo de redução de risco do processo decisório

do consumidor, mas também como afirmações de ideológicas e de identidade

(ALLEN; FOURNIER; MILLER, 2008). Dessa forma, o processo de construção passa

a contar com dois agentes de elaboração de significados: as organizações e os

consumidores (BERTHON et al., 2011).

Com a inclusão do consumidor como um colaborador no processo de

construção de marcas, os teóricos passam a se orientar por um novo paradigma de

pesquisa, em que contribuições da psicologia social, antropologia e sociologia

auxiliam na construção de novos conceitos. É o chamado paradigma social (EL-

AMIR; BURT, 2010). Neste paradigma, os autores entendem o significado da marca

como um constante processo de negociação entre empresas, consumidores e

cultura.

A lente do paradigma social amplia o entendimento do processo de gestão da

marca que antes era compreendido como algo controlável pelas empresas. O novo

escopo sugere esse processo de administração da marca como algo multidisciplinar,

fluído, complexo e socialmente aberto (PITT et al, 2006). A fim de compreender esse

fenômeno, os teóricos desse campo integraram disciplinas de outras ciências

humanas e sociais: psicologia social, antropologia e sociologia (EL-AMIR; BURT,

2010), além de observarem três grandes colaboradores na construção e negociação

de significados: empresa, consumidor e cultura (ALLEN; FOURNIER; MILLER,

2008). Esses conceitos multidisciplinares bem como a tríade de colaboração na

significação da marca que embasam o paradigma social e que são essenciais para o

entendimento dessa pesquisa serão descritos a seguir.

2.1.2.1 A marca segundo a lente da psicologia social

A psicologia social preocupa-se em descrever a identidade de marca que

surge a partir das interações entre a marca e o consumidor, dentro de um processo

dialógico e relacional (EL-AMIR; BURT, 2010). Susan Fournier (1998), uma

importante autora deste paradigma, introduziu o conceito de relacionamento com a

marca, sugerindo que as pessoas interagem com as marcas como se estas fossem

uma entidade humana. A ideia central é que a dinâmica do relacionamento

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interpessoal possa servir como metáfora ou chave de leitura para entender o

relacionamento entre consumidores e suas marcas (O’MALLEY; TYNAN, 2000).

Esse novo conceito sugere que a significação da marca surge a partir da interação

do consumidor com ela, entendendo então que o consumidor é um participante ativo

nessa construção de significados. Essa nova visão ressalta a necessidade da

mudança de postura dos gestores de marca, que passam a não serem os únicos

proprietários e emissores dos significados das marcas (VELOUTSOU, 2009).

A abordagem do relacionamento entende a marca como um repositório de

significados que são empregados na materialização, criação e reprodução de

conceitos do eu. Além disso, as relações dos consumidores com as marcas são

estabelecidas mais por uma questão de compatibilidade percebida de objetivos do

que pela congruência entre os atributos dos produtos e dos traços de personalidade.

Dessa forma, as marcas não apenas ajudam na vida dos consumidores, mas os

auxiliam a dar significados a suas vidas. Assim, afirma-se que as pessoas não

escolhem marcas, elas escolhem vidas e marcas tornam-se recursos expressivos

em suas vidas (FOURNIER, 1998).

Os tipos de relacionamento que os consumidores estabelecem com as

marcas foram mapeados e apresentados em um artigo seminal de Fournier (1998) e

se dividem em quinze tipos: casamento arranjado, amigos casuais, casamento por

conveniência, melhores amigos, amizades compartimentalizadas, parentesco, recuo,

amizade de infância, dependência, caso, inimizade, caso secreto, escravidão. Por

meio dessa tipologia, os gestores de marcas podem identificar como os

consumidores negociam suas identidades em suas próprias e complexas redes de

relações sociais.

Essa abordagem relacional da marca também é conhecida como “branding

emocional” e sugere que os autores entendem a marca, não apenas como uma série

de associações abstratas como no paradigma gerencial, mas como um parceiro de

relacionamento (HOLT, 2004, p. 37). Nessa visão, a marca bem sucedida é aquela

que cria uma conexão profunda com o consumidor. Esse último, por sua vez,

desempenha papel fundamental nesse processo relacionando-se constantemente

com a marca a ponto de concebê-la como uma boa amiga.

2.1.2.2 A marca segundo a lente sociocultural

Enquanto a psicologia social compreende a marca como um repositório de

significados que surge a partir da negociação da identidade dos consumidores, a

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abordagem sociocultural entende a marca como uma plataforma cultural cujo

arcabouço de significados tem como fonte primária a própria cultura. Essa nova

abordagem também acredita na construção da identidade dos consumidores a partir

da marca, entretanto, entende que essa marca reflete apenas a gama de

significados que existem na cultura na qual ela está inserida (MCCRACKEN, 1993).

Dessa forma, a marca levaria a cultura encapsulada em si e as atividades de

comunicação dessa marca teriam o papel social de transferir a cultura para a marca.

Feita essa transferência, a marca seria capaz de evocar esses significados,

tornando-se então um forte símbolo cultural (MCCRACKEN, 1993). Essa

movimentação de significado foi detalhada nos estudos de McCracken que criou um

modelo de transferência de significados:

Figura 3: Movimentação do Significado (MCCRACKEN, 1986)

Em seu modelo, o mundo culturalmente constituído é a fonte inicial de

categorias de significados para as marcas. Essas categorias representam

coordenadas fundamentais de significados por meio das quais a cultura faz uso para

entender e organizar os fenômenos do mundo (ALLEN; FOURNIER; MILLER, 2008).

Segundo McCracken (1986), as formas com as quais os significados

transitam da cultura para os bens de consumo seriam a publicidade, que tem como

agentes de significados as empresas e agências de publicidade; e o sistema de

moda que pode ser entendido como o sistema de produção cultural mais amplo

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como a mídia de massa, indústria do cinema, críticos sociais, formadores de opinião,

etc.

O modelo de McCracken (1986) especifica também outro sistema de

transferência de significado, em que os conceitos culturalmente compartilhados que

residem em produtos e marcas se deslocam para a vida do indivíduo. São os

chamados rituais do consumidor. Essa é a forma através da qual o consumidor

manipula o significado cultural para atender o seu propósito único e circunstancial de

comunicação e de categorização individual e coletiva.

Envolvendo a participação do indivíduo nessa transferência de significados, o

modelo de McCracken implicitamente sugere um processo de cocriação do

consumidor (ALLEN; FOURNIER; MILLER, 2008). Dessa forma, o modelo de

McCracken propõe que a marca possui três agentes de significação e transferência:

a publicidade, a moda e o consumidor. Esse conceito de cocriação implícito no

modelo de McCracken tem como ideia central a filosofia hermenêutica, que

considera que cada pessoa é autora dos significados que pautam sua visão de

mundo, sendo esses significados construídos segundo valores e categorias da

cultura na qual essa pessoa está inserida (GERGEN, 1990).

Alinhado a esse pensamento, Douglas Holt (2002), um importante acadêmico

da abordagem sociocultural, entende a marca como um recurso cultural para o

sujeito utilizar como matéria prima no curso de sua narrativa pessoal. A identidade

social dessa marca é criada a partir de um mito (Holt, 2004), que irá unir socialmente

marcas e consumidores, para que, ativamente, co-construam suas identidades,

levando eventualmente, no caso de algumas empresas, a marca a um status de

ícone (fenômeno cultural).

Nessa visão, portanto, é o consumidor que adota uma postura culturalmente

ativa ao atribuir significado às marcas na busca por sua identidade social, além de

ativamente colaborar com a marca e com outros consumidores que tenham os

mesmos objetivos (EL-AMIR; BURT, 2010).

2.1.2.3 Os atores da construção da marca

Os atores da construção dos significados da marca são os agentes que dão

sentido a ela, e que expressam para o ambiente aquilo que as marcas de fato

significam (ALLEN; FOURNIER; MILLER, 2008). Os diferentes paradigmas e linhas

teóricas darão ênfases específicas a cada um destes atores.

No paradigma gerencial, a construção dos significados era atribuição ativa e

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exclusiva das empresas e seus gestores. As ferramentas nessa visão existem para

auxiliar na gestão da identidade e da percepção da marca na mente dos

consumidores. O consumidor aparece como a audiência passiva de uma narrativa

criada e contada apenas por um único ator: a organização e seus administradores.

Conforme as pesquisas teóricas sobre marcas avançaram, percebeu-se que

as marcas tornam-se plataformas culturais, servindo não apenas como mecanismo

de redução de risco do processo decisório do consumidor, mas também como

afirmações de ideologias sociopolíticas (ALLEN; FOURNIER; MILLER, 2008). O

paradigma social entende que o consumidor não desempenha apenas um papel

passivo de receptor de informações, ele também atua ativamente na construção das

marcas na medida em que interpreta, negocia, articula e comunica significados no

mercado. Dessa forma, nesse novo paradigma, dois novos atores de significado

passam a contribuir com as empresas no processo de gestão da marca: a cultura e

o consumidor.

2.1.2.3.1 Organização

As empresas e seus gestores foram, por algum tempo, interpretados como os

únicos responsáveis pela construção de significados das marcas. Esses

administradores construíam a narrativa que organizava como as pessoas sentiam e

pensavam as marcas (HOLT, 2002). A forma pela qual o significado é construído

pela empresa passa pelas ferramentas utilizadas pelos gestores de marketing e

diretores criativos como o marketig mix (produto, preço, praça e promoção) e as

ações de comunicação (relações públicas), merchandisings, product placements,

patrocínios e endossos (KOTLER; KELLER, 2006).

O paradigma gerencial e a criação de significados pelas empresas estão

alinhados com o conceito de engenharia cultural proposto por Holt (2002). Ele

sugere que, a partir dos anos 20, o modelo do branding foi construído segundo a

autoridade cultural que as empresas desempenhavam sobre as pessoas. Essa

soberania da organização sobre o consumidor ditava os padrões que deveriam guiar

a vida das pessoas e como suas marcas ajudariam esses indivíduos a alcançarem

esse ideal. Era um modelo mais paternalista, apoiado no crescimento das mídias de

massa, com abordagem didática, que começava a associar os atributos dos

produtos a expressões sociais e morais.

Já no paradigma Social, a organização é compreendida como um dos

emissores dos sentidos da marca. Ela compartilha, articula e negocia significados da

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marca com a cultura na qual ela está inserida, estabelecendo um constante diálogo

com a sociedade, seus consumidores e árbitros culturais.

2.1.2.3.2 Cultura

A atuação da cultura como geradora de significados deve ser compreendida

nas duas formas pela qual ela se manifesta: (a) como fonte inicial de significado, por

onde as marcas fluem; e (b) pela existência de árbitros culturais no processo de

concepção de significado (ALLEN; FOURNIER; MILLER, 2008).

Cultura como fonte fundamental de significado das marcas

A cultura é a fonte inicial e lugar onde as categorias e princípios culturais são

criados e de onde as marcas se apropriam de sentido. Essas categorias e princípios

culturais representam as coordenadas fundamentais de significados que a cultura

usa para entender e organizar os fenômenos do mundo e são relacionadas a

gênero, estilo de vida, idade, ocupação, classe e status social, tempo e lugar,

valores, moda, entre outros (MCCRACKEN, 2005). Além das categorias e princípios

culturais, que dizem respeito ao conteúdo e contexto cultural, Holt (2004) reforça o

tema da cultura como fonte de significados das marcas ao apresentar a ideia do

processo pelo qual a cultura cria marcas.

Para Holt, as marcas se alimentam de contradições culturais que surgem

quando as experiências individuais colidem com a ideologia cultural dominante, e

essas incoerências geram ansiedade nos indivíduos, fazendo com que eles se

isolem da visão compartilhada dominante. A partir desse momento surge, nesses

indivíduos, uma necessidade por mitos que possam reparar essa dissonância. O

autor vai assim desenvolver a noção de marcas ícones (2004), definidas como mitos

de mercado culturalmente construídos, que resolvem essas tensões, pois resolvem

a dissonância vivida pelos consumidores, amenizando os sentimentos de isolamento

dos consumidores em conflito, conforme demonstrado na figura 4.

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Figura 4: Geração de Mitos de Mercado (Fonte: adaptado de Holt, 2004)

As marcas ícones propiciam alto valor de identidade porque respondem a

ansiedades e desejos coletivos desencadeados pelas mudanças históricas que

geram tensões e influenciam a sociedade como um todo. Essas marcas auxiliam o

consumidor a reestabelecer suas metas existenciais e a consolidar a identidade

desejada quando ele se sente sob pressão. O uso de marcas ícones chegam a

causar pequenos momentos de epifania, dando lugar a sólidos vínculos emocionais

com a marca (HOLT, 2004).

O nascimento de marcas ícones pode ocorrer a partir de tempos de crise ou

de ansiedade cultural que se mostram como janelas de oportunidade para a

resolução de tensões vivenciadas pela sociedade (HOLT, 2004). Já para se

manterem vivas, essas marcas devem se adaptar e se renovar segundo as

contradições históricas do momento. A marca é uma estória em evolução: um crível

dispositivo dialógico pelo qual marcas ícones circulam como narrativas que

encapsulam fortes mitos que definem o mundo cultural.

Holt (2004) estabelece então uma nova forma de pensar o branding e

estabelece o termo branding cultural o definindo como “conjunto de axiomas e

princípios estratégicos que orientam a transformação de marcas em ícones culturais”

(pg. 27). O branding cultural auxilia instituições a estabelecerem marcas com

funções equivalentes ao do ícone cultural. A ideia é que a marca seja percebida

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como símbolo representativo de uma cultura ou movimento, e que seja considerada

digna de admiração ou respeito, assim como todo ícone cultural. O símbolo mais

envolvente de um conjunto de ideias ou valores preceituados de uma sociedade é o

ícone cultural (HOLT, 2004).

A campanha de Dove, “Beleza Real” desponta como um exemplo

contemporâneo de branding cultural. Em uma sociedade em que o padrão de

beleza apresenta-se rígido, dificilmente alcançável, mas extremamente desejado, a

comparação cotidiana da mulher entre o seu corpo versus o padrão cultural gerou

uma tensão social criando um desconforto diário vivenciado por essas mulheres. A

Unilever foi capaz de entender, não apenas o padrão desejado de beleza, mas

também a grande carga emocional gerada por essa dissonância entre realidade e

ideal desejado. A empresa resolve essa tensão do mito da beleza por meio da

criação de um discurso social centrado na ampliação do conceito de beleza

englobando outros tipos de beleza da mulher: “várias formas e tamanhos” (ALLEN;

FOURNIER; MILLER, 2008).

As marcas ícones atuam, portanto, como ativistas culturais estimulando as

pessoas a pensarem de forma diferente sobre si mesmas ou sobre a sociedade. As

mais vigorosas estão voltadas para a vanguarda cultural. O valor de mito dessas

marcas está na harmonia com que se conectam com desejos de identidade do corpo

social. Por esta razão, seu valor ou potência simbólica dependem do grau de

alinhamento com as questões e tensões do contexto histórico, cultural e social

(HOLT, 2004). O autor lembra que nem todas as marcas se tornam ícones. Para que

isto ocorra, é necessário que haja uma tensão advinda de uma contradição cultural.

Nesse momento, a marca ícone resolve essa contradição com um mito: uma história

simples que auxiliará o consumidor a reestabelecer sua meta existencial e sua

identidade.

Árbitros culturais geradores de significados para a marca

A cultura não é apenas a fonte de onde os significados fluem e da qual as

marcas se apropriam. Ela também contém uma série de árbitros culturais que

interferem no significado das marcas e que estão fora do controle das organizações.

São eles: mídia de massa, a indústria do cinema, escritores, jornalistas, agentes do

sistema da moda, críticos sociais, líderes de opinião de tendência, grupos sociais e

eventos históricos genéricos. Esse sistema cultural mais amplo auxilia na criação,

clarificação e escolha dos significados das marcas ao longo do tempo (ALLEN;

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FOURNIER; MILLER, 2008). Alguns autores buscaram ampliar a conceituação de

árbitros culturais (FEATHERSTONE, 1991) adicionando novos discursos que

contribuem para a construção de significados da marca, como o folclore popular a

respeito de gênero, raça ou classe social (THOMPSON; HAYTKO, 1997).

A existência de árbitros culturais que interferem nos significados das marcas,

e até na evolução das técnicas de branding, foi discutida por Holt (2002) quando ele

sugere que a partir dos anos 50, as práticas de branding se tornaram cada vez mais

agressivas por meio de obsolescência planejada e pesquisas de motivação. Essa

avidez dos engenheiros culturais (empresa) despertou nos críticos e produtores

culturais (árbitros culturais) um movimento anti-engenharia cultural, uma vez que

eles interpretavam as propagandas como artifícios manipuladores, que buscavam

persuadir os consumidores a comprarem determinadas marcas e tolhiam a liberdade

de escolha do individuo.

Autores de livros como William H. Whyte (O homem organizacional), Charles

Wright Mills (White collar), Herbert Marcuse (One- dimensional man), e David

Riesman (The lonely crowd) formam um conjunto de pensadores dos anos 50 que

criticaram os valores da contemporânea sociedade americana de consumo (HOLT,

2002). A atuação dos árbitros culturais, criticando e analisando as práticas do

mercado, implica na articulação de novos significados para as marcas levando a

sociedade a repensar a forma como lidam com produtos e serviços. Exemplos atuais

sobre esse tipo de influência podem ser observados por iniciativas como o

lançamento da revista Adbusters em 1989, do respectivo site www.adbusters.org, do

livro Fast Food Nation de Eric Schlosser lançado em 2001, e do livro No Logo de

Naomi Klein de 1999. Todos esses árbitros criticam - por meio de narrativas,

criações publicitárias, manifestos, entre outros - as consequências da sociedade de

consumo e dos valores consumistas que violam a essência humana tornando a

existência uma sequência de atos de consumo na busca por significados que

confortem o impulso humano de existir.

2.1.2.3.3 Consumidor

Consumidores se tornam cocriadores da marca quando eles geram e

distribuem novos significados para a marca, que podem ampliar, modificar e até

contribuir para o processo de construção de marca. Segundo a literatura, existem

três formas pelas quais os consumidores cocriam significados das marcas: (1)

marcas como recurso de gestão de identidade, (2) grupo de consumidores como

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colaboradores da construção de marca, (3) consumidores como criadores de

significados contrários à marca. Essas três formas são detalhadas a seguir.

Uso das marcas na gestão do projeto de identidade dos indivíduos

O artigo seminal de Belk (1988) desenvolve a ideia de como os indivíduos

utilizam os bens para definir a seu senso de eu (self). Ele argumenta que os

indivíduos sistematicamente se apropriam dos significados de suas posses com o

objetivo de se autodefinirem. Outros teóricos estudaram o assunto e verificaram que

os consumidores constroem suas narrativas de identidade (HOLT, 2002) e atingem o

objetivo desses projetos por meio das marcas (FOURNIER, 1998; THOMPSON;

HAYTKO, 1997). Além disso, algumas marcas, consumidas em associação com

outras, podem compor uma constelação de produtos, correspondente a um

determinado papel social (SOLOMON; ASSAEL, 1987; SOLOMON, 1988). Existem

também as marcas indesejáveis, que são aquelas com as quais os consumidores

não querem se identificar (OGILVIE, 1987). Ou até as marcas invisíveis que são

aquelas que não estão ligadas à negociação da identidade do indivíduo e sim a um

processo de elaboração de significação de um sistema social especifico

(COUPLAND, 2005).

As mesmas marcas podem conter diferentes significados para diferentes

consumidores, o que pode ser considerado como a multivocalidade da marca

(FOURNIER, 1998), uma vez que o processo de construção de significado implica

na filtragem dos significados da marca pela lente individual de cada projeto

identitário.

Grupos como colaboradores de construção de significado para a marca

Os consumidores também podem ser reconhecidos como uma rede de

interconexões interpessoais que se manifestam em grupos: subculturas de consumo

(KATES, 2002; SCHOUTEN; MCALEXANDER, 1995), microcultura de consumo

(THOMPSON; TROESTER, 2002), cultura de consumo (KOZINETS, 2001), tribos

(COVA, 1997) e comunidades de marca (MUNIZ; O’GUINN, 2001). Esses grupos de

consumo compreendem uma rede de pessoas distintas que estão ligadas por

emoções e experiências compartilhadas entorno de uma marca (COVA e COVA,

2002). As pessoas buscam, por meio do consumo compartilhado, estarem

associadas a determinado grupo social, para então expressarem a sua identidade

social. Segundo Cova (1997), as marcas oferecem um valor de ligação que pode ser

definido como a facilitação da aproximação de indivíduos com estilos de vida

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semelhantes ou desejados.

As comunidades que se formam ao entorno de uma marca e a identificação

dos consumidores com a marca, muitas vezes, geram benefícios, valorizados pelos

gestores de marcas: lealdade, elasticidade de preços, propaganda boca a boca,

aceitação de novos produtos. A comunidade também pode ser encarada como uma

cocriadora do significado da marca uma vez que a coletividade se torna gestora da

marca por meio de suas ações, guiando e dando suporte à marca ao longo do tempo

(MUÑIZ; SCHAU, 2005).

Consumidores como colaboradores de construção de significados contrários da

marca

Algumas vezes, no processo de construção de significado das marcas, os

consumidores atribuem ideias e conceitos que são moldados de forma contrária

àquelas desejadas pelos gestores de marketing, e apresentados como sátiras,

paródias, críticas, os "não-comerciais" e os boicotes (ALLEN; FOURNIER; MILLER,

2008).

Tendo em vista esse cenário da cocriação entre empresas, cultura e

consumidores, alguns autores acreditam que o sucesso das empresas não será

medido pelo produto final e sim pela qualidade da conversa que ela realiza com o

seu consumidor (BAKER; GREEN, 2005). As empresas vencedoras serão aquelas

que aprenderem a abraçar a cocriação com o objetivo de promover conversas

abertas e honestas sobre suas marcas (HOLT, 2002). Isso é um desafio para a

maior parte dos gestores que foram educados dentro do paradigma gerencial. Além

disso, a literatura alerta que métricas para qualificar e mensurar os riscos de

cocriação se faz necessárias.

2.1.2.4 Modelo de Ressonância de Marca

A compreensão sobre a importância e circulação de significados para a marca

impulsionou alguns teóricos a pensarem como esses sentidos criam valor para as

empresas. Feldwick (2002) sugere que o grupo de significados associados à marca

possui uma relação direta com a sua força, ou seja, com o grau de conexão que os

consumidores têm em relação a ela. Esse vínculo com a marca também estaria

diretamente relacionado com o valor da marca em termos financeiros.

Alinhados com o entendimento de que significados estão diretamente

relacionados com força e valor da marca, Fournier, Solomon e Englis (2008)

desenvolveram um esquema conceitual que permite compreender o papel dos

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sentidos da marca na geração de valor, conforme mostra a figura 5 abaixo.

Figura 5: Modelo de Construção de Marca baseado no Significado da Marca (Fonte adaptado de de Fournier, Solomon e Englis (2008)

Esse novo construto intitulado de ‘ressonância do significado da marca’ busca

descrever a fonte de onde força de marca e seu respectivo valor se originam. O

modelo considera como um grupo de significados, desejados e trabalhados por

determinada marca, é recebido pelos atores de significação - consumidores, árbitros

culturais e sociedade, e empresas - e transformados então em valor financeiro.

Assim, o modelo trata da ressonância, ou seja, da reverberação do significado da

marca em todo o contexto no qual ela está inserida, sociedade, empresa, e vida

pessoal dos consumidores. Essa ressonância está relacionada, por sua vez, com a

relevância e importância dos sentidos da marca que podem ser percebidos pelo grau

com que eles ecoam, são repetidos ou reconfigurados por esses atores.

O construto de Fournier, Solomon e Englis (2008) oferece três níveis de

análise de ressonância da marca: ressonância pessoal, que busca entender a

qualidade do encaixe entre a arquitetura de significados reivindicada por uma marca

e o grupo de significados desejados pelos consumidores para incorporar à sua vida

pessoal; ressonância cultural que pretende refletir como os significados

reivindicados pela marca modelam e reforçam os sentidos do espaço coletivo, sendo

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utilizados como um recurso de conexão pela sociedade através de uma linguagem e

de um rol de experiências comuns; e ressonância organizacional que objetiva

relacionar o modelo de negócios, valores, missão, e comportamento dos

funcionários ao grupo de significados relacionados pela marca.

As ressonâncias pessoais e culturais atuam como moderadores que

influenciam na força da marca, ou seja, no grau de conexão do consumidor com o

grupo de significados desejados e trabalhados pela marca. Já a ressonância

organizacional agiria como um moderador que moldaria a forma com a qual a

empresa captura ou não valor dessa força de marca. Para melhor caracterizar cada

um desses moderadores, foram identificadas dezessete facetas que representam

mecanismos e propriedades encontrados em publicações de comportamento do

consumidor, estratégia de marketing, entre outros. Essas facetas auxiliam a delimitar

cada uma das ressonâncias e estão descritas no quadro 1 abaixo para serem

posteriormente detalhadas:

Quadro 1: Identificação das facetas da Ressonância da Marca

O modelo sugere que quanto mais fortes forem as ressonâncias, maior será a

possibilidade de captura de valor pela marca. As cinco facetas que caracterizam a

Ressonância Pessoal são:

a) Auto-conexão: o grau em que a marca oferece significados que servirão

ao propósito de auxiliar o alcance ou a expressão de temas centrais da

vida dos consumidores, como projetos de identidade, de personalidade e

objetivos de vida.

b) Interdependência: o grau em que a marca sugere a adoção de rituais,

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hábitos e rotinas para seu uso, levando o consumidor a vivenciar os

significados dessa marca no seu dia a dia.

c) Intimidade: o grau em que uma pessoa conhece e é íntimo dos detalhes

de uma marca.

d) Cocriação pessoal: o grau em que os consumidores criam a sua própria

gama de significados ao redor de uma marca.

e) Vibração emocional: o grau em que significados relativos à emoção e a

experiências hedônicas se relacionam com uma marca.

A Ressonância Cultural apresenta 8 facetas:

a) Alicerce cultural: o grau em que as marcas reivindicam significados que

estão inseridos em alicerces culturais, ou seja, aqueles sentidos

relacionados a questões mais perenes da sociedade.

b) Valor de circulação: o grau em que as marcas reivindicam significados

atuais, relacionados a modismos e tendências. Esses sentidos têm mais

chance de ressoar culturalmente uma vez que eles desempenham um

papel fundamental na definição do personagem contemporâneo.

c) Oposição de significados: o grau em que a marca evoca a presença de

sentidos opostos em seu portfolio de significados criando energias e

tensões que aumentam as chances dos consumidores se identificarem

com elas.

d) Ressonância de papel social: o grau em que a marca é compreendida

como símbolo emblemático de determinado grupo ou papel social.

e) Ressonância de categoria: o grau em que a marca é interpretada como

referência de determinada categoria de produto tornando-se o benchmark

desse tipo de consumo.

f) Cocriação cultural: o grau em que a marca evoca significados que foram

cocriados socialmente já que esses são considerados autênticos

conferindo textura às marcas.

g) Multivocalidade: o grau em que a marca ecoa diferentes grupos de

significados ou o grau em que a interpretação de seus significados

alcança diferentes grupos de consumidores.

h) Comunidade: o grau em que a marca incentiva o desenvolvimento de uma

comunidade ao seu entorno aumentando o seu valor por aproximar e

conectar consumidores.

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A Ressonância Organizacional é delimitada em 4 facetas.

a) Alinhamento com modelo de negócio: o grau em que o modelo de

operação da empresa permite que a marca entregue os significados que

ela reivindica em seu portfólio.

b) Intimidade e entendimento compartilhado: o grau em que os funcionários

compreendem intimamente os significados reivindicados pela marca,

comportando-se de acordo com esses valores.

c) Vivência da marca por meio da cocriação dos empregados: o grau em que

os funcionários operam a marca no seu dia a dia revelando a promessa da

marca por meio de atividades que criam e reforçam o portfólio de

significados da marca.

d) Alinhamento interno e externo da promessa: o grau em que a marca alinha

o sistema de significados interpretados externamente, pessoais e culturais,

com o grupo de significados trabalhados e desejados por essa marca.

Ao criar esse construto, a intenção dos autores foi a de contribuir para o

entendimento do papel dos significados da marca para geração de valor de brand

equity. Por meio dessa nova perspectiva, que congrega os diferentes atores de

criação de significados - consumidores, cultura e empresa, os teóricos esperam

aprimorar os modelos de avaliação das marcas, ampliando a compreensão dos

elementos que influenciam no desempenho dessas marcas. Possibilidades de

avaliação como baixa cocriação cultural ou pessoal, significados que não reflitam

tendências contemporâneas, baixo alinhamento entre a promessa da marca e o

modelo de negócio da empresa podem influenciar negativamente o desempenho da

marca no mercado.

2.2 MÍDIAS SOCIAIS

Nesta parte, buscaremos refletir sobre o novo ambiente social, as chamadas

mídias sociais, em que os diversos atores da sociedade interagem. A relevância

deste tópico se dá pelas novas formas de relacionamento que se formam no mundo

digital (GENSLER et al., 2013), determinando novas maneiras de encontro, de

comunicação e de gestão de marca.

A pesquisa de marketing no campo digital tem atraído um grande número de

estudiosos. O interesse por acompanhar a evolução das práticas e ferramentas de

mercado nesse universo digital também desponta de forma cada vez mais intensa

no campo gerencial. Acadêmicos nas esferas do comportamento do consumidor

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(BELK, 2014; FOURNIER; AVERY, 2011), da inovação (PACE, 2013), dos canais de

distribuição (TSAI et al., 2010) entre outros (GRANITZ; KOERNIG, 2011) buscam

contribuir para a evolução do conhecimento do marketing e das práticas gerenciais,

dentro deste novo contexto trazido pelo advento das mídias sociais.

Essa seção será organizada de forma a orientar o leitor quanto à

caracterização do novo espaço digital, as relações e comportamentos dos

integrantes desse ambiente e as implicações para o campo do branding e marketing

(BELK, 2014; FOURNIER; AVERY, 2011; GENSLER et al., 2013; KAPLAN;

HAENLEIN, 2010).

2.2.1 Mídias sociais: a revolução tecnológica

Diversos pesquisadores do marketing contemporâneo vêm buscando definir

esse conceito. Kaplan e Haenlein (2010) sugerem que:

Mídia social é um grupo de aplicações na internet que foram concebidas sob os fundamentos ideológicos e tecnológicos da Web 2.0 possibilitando a criação e troca de conteúdo gerado pelo usuário (CGU). (KAPLAN; HAENLEIN, 2010, p. 61)

A definição acima sugere que o novo ambiente social é produto das

inovações tecnológicas trazidas pela Web 2.0 em que agentes sociais interagem

criando e compartilhando conteúdo (KIETZMANN et al., 2011). A compreensão dos

elementos que são os princípios constituintes do conceito de mídia social irá auxiliar

no entendimento da contribuição desse novo espaço para a sociedade.

Inicialmente é necessário conhecer a tecnologia na qual as mídias digitais

estão fundamentadas. A Web 2.0 é uma evolução da Web 1.0 que alterou a forma

como pessoas e instituições utilizam a rede digital. A importante mudança que

acompanhou essa evolução foi a introdução de novas tecnologias que possibilitaram

aos participantes da rede uma atuação colaborativa (KAPLAN; HAENLEIN, 2010). O

fluxo de informação passou de unidirecional para bidirecional concedendo ao

usuário um espaço para expressão e exposição de conteúdo que antes era

exclusivo das instituições (BELK, 2014).

Exemplos dessas novas possibilidades de interação na internet são os sites

das empresas. Na Web 1.0 eram apenas publicações corporativas que permitiam ao

consumidor ler e conhecer a empresa. A esse consumidor leitor foi dada a

oportunidade de participar na Web 2.0, à medida em que as empresas passaram a

ter blogs, permitindo ao consumidor uma atuação mais ativa. Desde comentários,

reclamações, sugestões até colaboração na personalização e confecção de

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produtos, os consumidores assumiram um novo papel no diálogo com as empresas

nesse espaço digital (BERTHON et al., 2012).

O esforço participativo do usuário, seja por meio da criação de novo conteúdo

ou pela alteração de conteúdo existente na web, foi denominado conteúdo gerado

pelo usuário ou CGU (KAPLAN; HAENLEIN, 2010). Entende-se que esse material é

gerado por amadores, pessoas comuns, ou até por profissionais, mas que não

estejam publicando no curso de suas práticas de mercado (ORGANISATION FOR

ECONOMIC CO-OPERATION AND DEVELOPMENT, 2007, p. 8). Esse ímpeto

criativo pode gerar uma miríade de conteúdos como vídeos, fotos, posts, músicas,

isto é, todas as formas de comunicação passíveis de serem publicadas na internet

por seus criadores e compartilhadas pelos demais usuários.

Por fim, se a Web 2.0 foi o caminho tecnológico que possibilitou o trânsito de

informações entre usuários e instituições, os veículos que permitiram essa

movimentação de conteúdo (BERTHON et al., 2012) são os aplicativos. Segundo

Kaplan e Haenlein (2010), esse grupo de softwares que compõem o universo de

mídias sociais pode ser classificado da seguinte forma:

Tipo de Mídia Social

Definição

Exemplo

Projetos Colaborativos

São projetos que permitem a criação e junção

de conteúdo por diversos usuários finais.

Wikipedia

Blogs

Tipos especiais de páginas que apresentam as

publicações em ordem cronológica reversa e

que permitem a publicação de comentários de

leitores.

Blogs pessoais;

Blogs de empresas

Comunidades

Espaços digitais que permitem o

compartilhamento de conteúdo entre seus

usuários.

Slideshare;

Youtube;

Flickr

Redes Sociais

Sites que possibilitam a criação de perfis

Facebook;

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pessoais para serem acessados pela rede de

usuários convidados permitindo a troca de

mensagens e de conteúdo entre essa rede.

MySpace

Jogos Virtuais

Plataformas que replicam ambientes

tridimensionais em que os participantes são

avatares personalizados que interagem como

se estivesse no mundo real.

World of Warcraft

Sociedades Virtuais

Plataformas que replicam ambientes

tridimensionais em que os participantes são

avatares personalizados que interagem sob

regras diferentes das do mundo real, como

alterações das leis da física, ausência de

gravidade, etc.

Second Life

Quadro 2: Definição de Tipos de Mídia Social (KAPLAN e HAENLEIN, 2010)

Devido à natureza dinâmica do universo digital, essa relação não pode ser

considerada definitiva. A rapidez de sua evolução implica no surgimento frequente

de novos aplicativos e softwares e na obsolescência dessas ferramentas, o que

torna inviável a elaboração de uma lista definitiva.

Com a democratização da internet e a grande aceitação das plataformas de

mídias sociais, o indivíduo encontrou um espaço criativo para se autoexpressar,

participar e colaborar com a sociedade. Dessa forma, atualmente, presencia-se uma

séria de mudanças no comportamento das pessoas. Essas alterações apresentam

manifestações relevantes nas esferas políticas, culturais e econômicas.

2.2.2 Mídias sociais e suas implicações nas esferas políticas e culturais

A maciça adoção mundial das mídias sociais está relacionada ao atendimento

de algumas motivações primárias dos indivíduos, como a necessidade de

pertencimento, adequação e aceitação (FOURNIER e AVERY, 2011). A web 2.0

proporcionou a conexão virtual com similares gerando um autêntico senso de

comunidade, possibilitando aos participantes a atuação ativa por meio da criação e

compartilhamento de conteúdo.

Segundo Berthon et. al (2012), as aplicações fundamentadas na Web 2.0

causaram alguns efeitos importantes da sociedade, dentre eles a mudança do locus

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de poder e de produção de valor, que passou da empresa para o consumidor. As

novas tecnologias permitem que os indivíduos criem conteúdo e interajam no

ambiente digital com baixo investimento de energia e por meio de participação

casual (FOURNIER; AVERY, 2011). Ampliando, dessa forma, o potencial de

utilização das mídias sociais como um espaço genuíno de auto expressão.

Portanto, pode-se afirmar que o consumidor na era da mídia social está

dotado de poder. Ele pode se comunicar livremente por meio de recursos

tecnológicos acessíveis com a sua rede de relacionamento. Seu papel no ambiente

social digital oferece os meios necessários para que ele crie e gere conteúdo

tornando-se uma voz ativa em diversos processos sociais.

As implicações dessa mudança de locus de poder foi evidenciada em

recentes acontecimentos em diferentes esferas da nossa sociedade. No campo da

política, os movimentos conhecidos como Primavera Árabe e as Manifestações de

Junho de 2013 no Brasil tiveram uma forte relação com as mídias sociais. Com

relação ao movimento no mundo árabe, o papel central que os aplicativos tiveram na

disseminação de informação, organização e articulação do movimento social foi tão

importante que chegou a ser denominado de Revolução do Twitter (BERTHON et

al., 2012). Provocando os mesmos efeitos no Brasil, as mídias sociais também

contribuíram para a organização e articulação das manifestações ocorridas em

Junho de 2013 (REIS et al., 2014). A velocidade com que a sociedade aderiu ao

movimento e a dimensão que ele alcançou proporcionaram grande visibilidade

levando a uma rápida resposta do sistema político brasileiro (SCHERER-WARREN,

2014).

Já na esfera da cultura, o poder e a capacidade de geração de valor do

consumidor, aliados às ferramentas dos aplicativos, conferiram à sociedade a

liberdade de legitimar talentos sem a necessidade de intermediários. Anteriormente,

a promoção dos novos talentos culturais dependia exclusivamente de agentes e

instituições. Atualmente, esse papel na sociedade passou a ser compartilhado com

as redes sociais. Dotadas de inúmeras ferramentas de rápido compartilhamento, o

consumidor pode, ele mesmo, encontrar talentos e disseminá-los em sua rede,

atuando portanto como um promotor.

Esse foi o caso de dois fenômenos brasileiros, o desenho infantil a Galinha

Pintadinha e o programa humorístico Porta dos Fundos (BARROS, 2014). O primeiro

foi considerado um sucesso ao acaso. Os publicitários Juliano Prado e Marcos

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Luporini tinham como objetivo apresentar um novo projeto a um canal infantil e,

como não poderiam comparecer à reunião, postaram o vídeo no Youtube. O vídeo

não foi aprovado, mas permaneceu no site de compartilhamento de vídeos. Em seis

meses, após 500 mil visualizações a dupla identificou a aceitação do público e deu

andamento ao projeto (CORONATO; CISCATI, 2013). Atualmente, a marca Galinha

Pintadinha está presente em um amplo portfólio de produtos e se tornou um forte

negócio brasileiro. Esse caso é um exemplo de mudança de locus de poder e de

produção de valor, uma vez que os idealizadores tiveram seu projeto rejeitado pelas

tradicionais autoridades culturais, ou seja, os produtores do canal infantil.

Outro exemplo de sucesso genuinamente nascido na internet é o canal do

grupo de humor Porta dos Fundos (BRANDT, 2013). O grupo iniciou suas atividades

em 2012 publicando vídeos no Youtube. Hoje é reconhecidamente um dos mais

importantes canais de humor do Youtube. O sucesso do programa está relacionado

com as rápidas viralizações que seus esquetes tiveram logo no início fazendo com o

que o canal tivesse milhões de seguidores. O caso do Porta dos Fundos será melhor

detalhado no capítulo sobre Metodologia.

2.2.3 Mídias sociais e suas implicações na esfera econômica

O ambiente criado pelas mídias sociais propiciou uma série de movimentos.

Permitiu ao consumidor encontrar um novo espaço criativo para elaboração,

alteração e disseminação de conteúdo. Facilitou a articulação e organização de

movimentos sociais. Favoreceu o surgimento de novos árbitros culturais e deu

visibilidade aos já existentes, pois encontram uma forma de amplificar sua relevância

cultural. No entanto, além das mudanças evidenciadas nas esferas políticas e

sociais, as contribuições nas esferas econômicas são inúmeras, fato que tem

motivado estudiosos a investigarem as novas formas de consumo e de

relacionamento com as empresas e marcas.

Belk (2014) argumenta que a economia colaborativa é um fenômeno na era

da Internet. O autor explica que o consumo colaborativo envolve a coordenação da

aquisição e distribuição de recursos por indivíduos em troca de compensações

monetárias ou não monetárias. Um exemplo interessante desse tipo de orientação

econômica é a empresa Zazcar, uma iniciativa de compartilhamento de carros em

que é possível alugar o carro por algumas horas e depois devolvê-lo em um dos

diversos estacionamentos da cidade. De uma maneira geral, esse novo tipo de

consumo resulta em um menor número de aquisições e facilita uma mudança de

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paradigma da propriedade individual para a propriedade coletiva ou para o aluguel

de curto prazo (BOESLER, 2013).

A aceitação e adoção dos serviços dessas novas empresas de consumo

compartilhado estão desestruturando mercados tradicionais que, por sua vez,

buscam maneiras de se manterem economicamente interessantes. Um exemplo

bastante conhecido é a empresa Airbnb que concorre diretamente com o mercado

hoteleiro. Em seu site, pessoas alugam quartos ou casas inteiras tornando-se um

grande negócio em cidades de evidente vocação turística, como Paris, Nova Iorque

e Barcelona. A empresa foi criada em 2008 e foi avaliada em U$ 2,5 bilhões.

Atualmente, possui 500 mil imóveis em mais de 190 países (KESSLER, 2014). O

incômodo causado por esse tipo de novo negócio levou a prefeitura de Paris a

interferir na dinâmica desse mercado para garantir a estabilidade do setor hoteleiro e

a moradia dos parisienses (PARIS..., 2014). Não apenas o governo francês busca

interferir e regulamentar a atuação das empresas de consumo colaborativo, mas o

americano, o espanhol, o brasileiro, entre outros, buscam acomodar os interesses

desse novo consumidor produtor na dinâmica do mercado já regulamentado.

Essas novas formas de negócios possibilitadas pela tecnologia Web 2.0

fazem parte de uma transformação que afetou diversos campos na esfera

econômica. Ao explorar o novo ambiente digital, o consumidor passa a absorver

novos comportamentos que o apoderam na relação entre ele e o mercado. Ele

ganhou a possibilidade de adquirir produtos e serviços de uma forma diferente, além

de poder ser, ele mesmo, um produtor. Diante desse novo cenário, as empresas

buscam encontrar novas formas de lidar com essas peculiaridades. Muitas têm

apresentado dificuldades ou até resistência em adaptar-se a esse contexto

(FOURNIER; AVERY, 2011; HANNA, ROHM; CRITTENDEN, 2011; KAPLAN;

HAENLEIN, 2010; KIETZMANN et al., 2011). A compreensão dessa nova forma de

atuação dos consumidores e das empresas parece ser essencial para entender as

diferentes relações de mercado que estão surgindo.

2.2.3.1 Impacto no campo do comportamento do consumidor

O consumidor moderno está diante de novas possibilidades de consumo e de

atuação na internet. A mudança de locus de poder e de geração de valor

(BERTHON et al., 2012) posicionam o indivíduo em um novo espaço em relação às

empresas e às marcas. Novos comportamentos surgem relacionados a uma inédita

autoridade cultural, a uma possibilidade de ampliação do sentimento de

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pertencimento social, ao exercício da cidadania e à liberdade criativa de expressão.

As mídias sociais permitem aos consumidores compartilharem suas

experiências, pensamentos e sentimentos sobre as marcas, produtos e serviços com

os seus pares. Esses relatos são narrativas que fluem sobre as marcas e que,

coexistem com as estórias criadas pelas próprias empresas. As organizações

buscam criar estórias para as suas marcas pois elas contribuem de várias formas

para a organização: conhecimento, empatia, reconhecimento, lembrança e

significação para a marca (SINGH; SONNENBURG, 2012, p. 189).

Entretanto, o que se observa é que as estórias geradas pelos consumidores

possuem alto grau de persuasão (CHINTAGUNTA; GOPINATH; VENKATARAMAN,

2010) uma vez que elas estão organizadas em formatos de narrativas ou dramas,

incluindo incidentes, experiências, avaliações, tornando-se mais impressionantes

(DEIGHTON; ROMER; MCQUEEN, 1989; ESCALAS, 2004). O valor gerado pelos

consumidores às marcas por meio de suas estórias e a sua importância na

atribuição de significados no processo de branding tem assumido tamanha

importância que pesquisadores denominaram esse processo de Open Source

Branding (FOURNIER; AVERY, 2011). Os autores entendem que branding é um

fluxo coletivo, cocriativo, social envolvendo as mais variadas vozes da sociedade,

cada um contribuindo com sua própria estória.

A nova autoridade cultural do consumidor não está limitada a sua capacidade

de confeccionar estórias e significados para as marcas, mas também na magnitude

de sua rede de contatos. A partir da elaboração e compartilhamento de novos

relatos sobre marcas, o consumidor pode disparar um processo de geração de

novas conexões, seja entre indivíduos ou entre empresas (GENSLER et al., 2013).

Além da contribuição com a significação das marcas e da ampliação das

redes de contato, as mídias sociais também propiciaram ao consumidor o lugar

adequado para o exercício de diversas outras atividades. A movimentação de poder

da empresa para o consumidor aparece relacionada ao comportamento desse

indivíduo na web 2.0. Nesse ambiente, ele exerce sua necessidade de socialização,

busca organizações com modelos de gestão mais transparente, cultiva espírito

crítico, e ainda ensaia sua liberdade criativa.

Segundo Fournier e Avery (2011), a web 2.0 com seus aplicativos de mídias

sociais atendeu a uma das necessidades mais básicas dos indivíduos; a

necessidade de pertencer. Reconhecendo esse novo espaço como detentor de

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inúmeras possibilidades de se sentir conectado com o outro, o indivíduo passou a

utilizá-lo de forma extensiva. Os consumidores entendem o espaço digital como uma

entidade social coletiva, uma comunidade, em que todos interagem de forma

genuína. Uma participação é considerada legítima quando o grupo aceita e integra o

novo integrante. No caso das empresas, o endosso para ingresso no grupo ocorre

quando os seus participantes entendem que a marca conquistou o seu espaço.

Para Holt (2002), uma das formas pela qual os consumidores exercem sua

soberania em relação às empresas, é a exigência de uma atuação mais

transparente e autêntica. Esses consumidores estão dispostos a verificar se os

valores das empresas estão de acordo com suas ações. Para Fournier e Avery

(2011), isso significa que as organizações devem ser capazes de se comunicarem

de forma sincera mesmo expondo-se a riscos. A marca autêntica é aquela que

desempenha suas atividades econômicas e sociais de forma aberta e honesta, não

havendo qualquer episódio corporativo a ser omitido. “You see what you get with an

authentic brand” (FOURNIER ; AVERY, 2011, p. 198).

Uma das formas mais evidentes em que o consumidor articula sua soberania

em relação às empresas nas redes sociais é a utilização de ferramentas que

permitem ao indivíduo a expressão de sua opinião quanto a determinado produto,

serviço ou marca. As motivações que mobilizam esse tipo de comportamento estão

relacionadas à possibilidade de interação social, de preocupação com outros

consumidores, de fortalecimento da autovalorização, ou como uma resposta a

incentivos econômicos, quando for o caso (HENNIG-THURAU et al., 2004). O uso

massivo desse tipo de ferramenta aperfeiçoou o espírito crítico do consumidor

(FOURNIER; AVERY, 2011) o que tornou o compartilhamento de experiências e

estórias de marca uma prática comum. A importância e consequência desse

comportamento é que as críticas podem ser refletidas nas vendas ou até na

reputação da marca (KIETZMANN et al., 2011).

Um exemplo que ilustra uma possível ameaça a imagem de uma marca

ocorreu no segmento de luxo (FOURNIER; AVERY, 2011). Quando a Porsche

estendeu sua linha de veículos lançando uma submarca, o SUV Cayenne, os atuais

clientes, proprietários dos carros esportes Porsche, não reconheceram esse novo

usuário como seu semelhante. Esse tipo de carro seria usado por mães, donas de

casa para levarem seus filhos às atividades cotidianas. Assim, os motoristas

tradicionais que se sentiam conectados aos valores da marca, viram-se diante de

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uma destruição de significados que antes faziam parte de suas identidades. Dessa

forma, os tradicionais clientes iniciaram uma série de críticas em fóruns de discussão

e blogs, hostilizando os proprietários da SUV Cayenne alegando que esse carro não

era um Porsche. O resultado foi uma crise de imagem que chegou, inclusive, nas

mídias tradicionais.

Além desse espírito crítico, em que o consumidor exerce seu poder em

relação às marcas de maneira organizada e estruturada, é possível observar uma

forma mais criativa de exercício de força: a paródia. Estudos realizados por

pesquisadores (MUNTINGA; MOORMAN; SMIT, 2011) constataram que o fator

chave para a contribuição de conteúdo criativo na internet é o entretenimento.

Outras motivações também foram encontradas por outros pesquisadores como

interesses de auto expressão (SCHAU; GILLY, 2003), necessidade de conexão com

outros (PHELPS et al., 2004), e busca pelo poder (LABRECQUE et al., 2013).

Bergh et al (2011) conduziram uma pesquisa sobre paródias criadas por

consumidores e o processo de construção de marcas. Eles constataram que o

conhecimento que a sociedade tem sobre as marcas e as técnicas de publicidade

(uso de testemunhal de celebridades, hipérboles, promessas utópicas, ou qualquer

outro tipo de exagero), tornam a publicidade um alvo relevante para a construção de

sátiras. Outros autores, como Fournier e Avery (2011), sugeriram que as marcas são

temas recorrentemente utilizadas na paródia pois têm grande riqueza cultural, uma

vez que são repertórios de conteúdo amplo e compartilhado pela sociedade. Além

disso, as paródias têm o poder de atribuir a seus criadores e distribuidores uma

credencial social importante já que possuem alto valor viral, e por isso estão entre os

itens mais compartilhados na web (HARVEST COMMUNICATIONS, 2002).

Na pesquisa de Bergh et al (2011), sugere-se que as paródias atendem aos

objetivos de satirizar, de diminuir o prestígio simbólico de marcas conhecidas,

ridicularizar as crenças de determinados consumidores fiéis a certas marcas e de

revelar as intenções de controle social de determinada marca. Ainda segundo Bergh

et al (2011), as paródias também atendem aos objetivos de elogiar. Isso ocorre

quando os criadores da paródia reconstroem ideias de outras pessoas ou

instituições não os tornando o alvo da crítica. Por exemplo, paródias de campanhas

publicitárias que não criticam o produto ou a marca, mas os utilizam como recurso

para satirizar algum outro elemento social. Esses inúmeros objetivos estimulam os

consumidores a criarem materiais paródicos que serão ampla e rapidamente

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disseminados pelas redes sociais.

2.2.3.2 Impacto no campo da gestão empresarial

O processo de lapidação desse novo consumidor ocorre de forma gradual a

medida em que ele desbrava as possibilidades que esse novo ecossistema digital da

web 2.0 oferece a ele. Conforme ele vivencia novas formas de atuar como

consumidor, ele adquire diferentes habilidades e reconhece o seu poder nessa

recente realidade. Concomitantemente ao processo de aprendizado do indivíduo, as

organizações também são movidas a passarem por uma curva de aprendizagem

sobre como articular e negociar com esse novo consumidor. Algumas empresas têm

sido apontadas como exemplos de sucesso no ambiente digital enquanto outras são

responsáveis por algumas tentativas frustradas igualmente exemplares. Existem

ainda aquelas que se negam a iniciar o processo de diálogo com os consumidores

nesse ambiente digital permitindo que os indivíduos sozinhos transacionem

significados e experiências sobre a marca. Entretanto, é possível constatar por meio

da quantidade de publicações cientificas e empresariais que o tema das mídias

sociais tem atraído uma série de pesquisadores que buscam orientar as empresas

sobre as melhores condutas de mercado. Essa seção tem como objetivo refletir

sobre as principais práticas de gestão quanto aos processos que envolvem mídias

sociais.

Um exemplo importante sobre a força das mídias sociais em relação a uma

marca é o caso canadense sobre o dano que a companhia United Airlines causou na

guitarra de Dave Carroll em 2008 (KIETZMANN et al., 2011). O artista teve o pedido

de ressarcimento sobre a guitarra quebrada negado, o que o motivou a fazer um

vídeo chamado United Breaks Guitars e a postá-lo no Youtube. Esse vídeo viralizou

rapidamente chegando a 10 milhões de visualizações (DEIGHTON; KORNFELD,

2010), sendo que hoje esse número já alcançou 14 milhões4. Muitas postagens e

comentários sobre o vídeo passaram a repercutir na mídia e David Carroll se tornou

mundialmente conhecido por sua insatisfação com os desserviços da empresa

United Airlines. Seu incidente foi até comentado na Time.com e na CNN

(KIETZMANN et al., 2011). A partir desse descaso, a United passou a enfrentar uma

crise de imagem (FARIA E SOUSA, 2010). David se tornou um fenômeno da

internet, sua música sobre o acontecido é considerada um sucesso e o seu episódio

4 United Breaks Guitars. Disponível em: < https://www.youtube.com/watch?v=5YGc4zOqozo>. Acesso em 13

nov. 2014.

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ficou conhecido na mídia como Doce Vingança (FARIA E SOUSA, 2010, p. 3).

Outro exemplo igualmente relevante, entretanto apontado como um caso de

sucesso, é o da marca Old Spice pertencente à empresa Procter & Gamble. A

estratégia de comunicação para rejuvenescimento da marca, que estava em fase de

declínio, foi a veiculação de uma propaganda com linguagem bem-humorada e

roteiro nonsense, e a participação de um famoso jogador de futebol americano

Isaiha Mustafa. O anuncio ganhou o Leão de Ouro de Cannes em 2010 (BERTHON

et al., 2012). Mas o sucesso da comunicação entre o público geral aconteceu

quando a marca disponibilizou o vídeo no Youtube. A repercussão foi imediata: 6,7

milhões de visualizações em apenas um dia e mais de 23 milhões de visualizações

após 36 horas (DIAS, 2014). Atualmente o vídeo contabiliza mais de 49 milhões de

visualizações5. O sucesso reverberou também nas redes sociais, os seguidores no

Twitter aumentaram em 2700%, a interação com os seguidores no Facebook

cresceu 800% e o site da marca aumentou seu tráfego de visitas em 300% (DIAS,

2014). Por fim, o êxito da campanha também impactou o volume de vendas da

empresa que registrou crescimento de 55% entre Abril e Junho de 2010 (PITT et al.,

2011).

Reconhecendo o poder do consumidor nas mídias sociais, uma das principais

atividades da gestão do marketing do moderno é a proteção da marca (FOURNIER;

AVERY, 2011). Na era em que o consumidor se sente confortável para manifestar

seu espírito crítico, as empresas devem estar preparadas para o diálogo com esse

indivíduo. Sugere-se, portanto, que atividades relacionadas à disciplina de Relações

Públicas sejam incorporadas à administração da marca (FOURNIER; AVERY, 2011;

GENSLER et al., 2013).A ideia é que esse expertise de comunicação auxilie no

mapeamento dos riscos que possuam alto valor de degradação para a reputação da

marca (FOURNIER; AVERY, 2011). As organizações estão diante de um

consumidor que busca uma empresa autêntica e transparente, que está

aperfeiçoando sua capacidade critica e que busca reconhecimento social. Portanto,

é importante que elas estejam preparadas para monitorar o fluxo de informação que

transcorre na internet sobre as suas marcas, produtos e serviços (KIETZMANN et

al., 2011). Um exemplo de monitoramento ocorreu em um restaurante. Um cliente

decepcionado com o fato de que o restaurante não tinha mais tortilhas, fez um

5Old Spice: The Man Your Man Could Smell Like. Disponivel em

https://www.youtube.com/watch?v=owGykVbfgUE. Acesso em 13 de novembro de 2014.

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comentário em uma plataforma de mídia social e sua reclamação foi vista por um

dos funcionários do local. Imediatamente o gerente do restaurante resolveu a

insatisfação do cliente (ARMANO, 2009).

Além de monitoramento, é preciso que existam processos de distinção de

acontecimentos potencialmente danosos à marca para que esses sejam

devidamente gerenciados. Para Gensler et al.(2013), existem alguns passos a

serem cumpridos. Primeiro o incidente precisa ser reconhecido uma vez que a

possibilidade dele se tornar uma crise de imagem aumenta conforme o quão

surpreendente, emocional ou pertinente ele é em relação ao um atributo ou valor

central da empresa ou da marca (TYBOUT; ROEHM, 2009). Em seguida, o evento

precisa ser avaliado e solucionado imediatamente se a empresa for de fato

impactada. Em terceiro lugar, ao elaborar a resposta, a organização deve agir de

forma transparente, ou seja, se a alegação do consumidor for verdadeira,

explicações, desculpas, compensação e punição deverão ocorrer. Entretanto, se a

alegação for falsa, a empresa poderá negar as informações apresentadas pelo

consumidor.

A integração do expertise de Relações Públicas na gestão da marca é uma

das diretrizes sugeridas pelos pesquisadores. A outra é a ampliação dos esforços

em busca da excelência na execução das ações de marketing em detrimento do

empenho no planejamento. Para Fournier e Avery (2011), as marcas precisam

desenvolver capacidade adaptativa, flexibilidade e senso de oportunidade para

navegar na nova realidade da gestão de marcas na Web 2.0. Nesse sentido, elas

sugerem que é mais provável que as estratégias de marca sejam descobertas do

que construídas, e que portanto, seu sucesso está menos sujeito aos processos de

planejamento. Isso significa que, com a perda do controle da organização para o

consumidor, os gestores devem aprender a trabalhar em ambientes altamente

incertos que requerem tomada de decisão rápida sem o auxílio de grandes

quantidades de dados. As autoras ainda sugerem que, nesse novo panorama digital,

muitas das decisões corporativas contarão com a capacidade intuitiva de seus

colaboradores. Elas também preconizam que, para que a gestão do branding tenha

sucesso na Web 2.0, as organizações devem criar um conteúdo relevante que

provoque engajamento e que tenha alto valor viral. Exemplos desse tipo de

conteúdo são elaboração de estórias autênticas, utilização de celebridades,

disponibilização de conteúdo para download, geração de burburinho, e qualquer

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outra ação de marketing que possa ser viralizada.

Alinhados à recomendação de excelência na execução, Gensler et al (2013),

sugerem que as organizações devem gerir as estórias geradas pelos consumidores

e integra-las às estórias criadas pelas empresas. Apesar de não haver literatura

sobre essa incorporação de estórias, sabe-se que quando o consumidor elabora

uma estória que confronta com aquela gerada pela empresa ele está em uma

posição considerada autêntica pela sua rede. Autenticidade de estória de marca

pode ser entendida como algo original e evidentemente verdadeiro (GRAYSON;

MARTINEC, 2004). Portanto, se a empresa contestar algo que esta sendo

legitimado como autêntico, ela pode colocar em risco sua própria autenticidade.

Sendo assim, os gestores devem estar preparados para avaliar quando uma estória

deve ou não ser incorporada à narrativa da empresa. Por outro lado, a corporação

pode estimular e promover a geração de estórias positivas sobre as marcas. Sugere-

se que os consumidores irão confeccionar narrativas com o objetivo de se

entreterem em situações em que sabem que serão reconhecidos não somente por

seus pares mas também pelas empresas patrocinadoras (JEPPESEN;

FREDERIKSEN, 2006). Além disso, também foi identificado que as empresas que

geram conteúdo relevante com bastante possibilidade de interatividade tem maior

probabilidade de ser comentado, apropriado ou ressignificado pelos consumidores,

ou seja, aumentam a chance dos consumidores contribuírem e criarem novos

conteúdos (VRIES; GENSLER; LEEFLANG, 2012).

Ao sugerir que os gestores de marketing ampliem os esforços de execução

das ações de marketing, os pesquisadores também orientam que as mídias sociais

sejam integradas ao tradicional marketing mix de comunicação (MANGOLD;

FAULDS, 2009). O engajamento do consumidor pode ser estimulado por meio de

ações que utilizem as mídias offline e a internet conjuntamente, como a veiculação

de uma propaganda na televisão que convida o consumidor a participar de um

concurso pela internet. O importante é que os gestores de marketing consigam criar

experiências que incorporem alcance, intimidade e engajamento por meio de

estratégias de comunicação integradas que reúnam as mídias sociais e as

tradicionais (HANNA; ROHM; CRITTENDEN, 2011).

A geração de experiências que engajem o consumidor também está

relacionada com mais uma diretriz sugerida pelos pesquisadores. Os gestores

devem passar de uma gestão orientada a marcas para a administração que

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considere a ressonância cultural (FOURNIER; AVERY, 2011). A diferenciação está

relacionada a significados que determinada marca pode proporcionar ao consumidor

diferentemente da concorrência entregando uma proposta única de valor (REEVES,

1961). Entretanto, no ambiente digital, em que o poder do consumidor não oferece

um grande espaço para a soberania das empresas e sua concorrência acirrada, a

relevância de uma marca passa a transitar nas esferas do valor cultural e do

significado que pode trazer para a vida dos consumidores (FOURNIER, SOLOMON

e ENGLIS, 2008).

Portanto, um dos principais objetivos do branding nesse novo ambiente é o de

criar diálogos que possuam eco cultural. Para atingir esse objetivo, os gestores

podem criar artefatos de marcas, rituais sociais, e ícones culturais que estimulem os

consumidores a se engajarem rapidamente nas experiências de marca (FOURNIER;

AVERY, 2011). Estimular a produção de estórias positivas de marca pelos

consumidores é uma das formas de integrar o consumidor na criação de significados

para a marca já que as estórias podem ser memoráveis (HANNA; ROHM;

CRITTENDEN, 2011; MANGOLD; FAULDS, 2009) e portanto possuírem alta

relevância e alto grau viral. É importante ainda que o enredo seja ímpar, autêntico e

ousado (HANNA; ROHM; CRITTENDEN, 2011; MANGOLD; FAULDS, 2009) uma

vez que as pessoas gostam de falar sobre o que é diferente, inusitado.

Um exemplo de uma marca que gerou esse tipo de resposta por meio de uma

ação de marketing foi o Burger King. A empresa brincou com seus clientes ao

disseminar a informação de que o Whopper, seu sanduíche mais vendido, não seria

mais produzido. As reações foram gravadas em vídeo tornando-se o tema principal

da sua próxima campanha de comunicação. Um outro tipo de estória que possui alta

aceitação e expressividade no meio digital é a paródia. Conforme descrito na seção

anterior, os consumidores da Web 2.0 se sentem estimulados a exercerem sua

liberdade criativa confeccionando paródias. Motivados a criar algo que entretenha,

as empresas podem incitar esses consumidores a elaborar materiais que trabalhem

suas marcas. Para Fournier e Avery (2011), quando uma marca é alvo de uma

paródia significa que a campanha original de comunicação está imbuída de

conteúdo de alta ressonância cultural. Sátiras dessa natureza, como por exemplo

aquelas criadas utilizando o tema “Não tem preço” da Mastercard, aumentam o

awareness da campanha e da marca, produzindo efeitos positivos. Isso significa que

as paródias tem um alto valor não apenas para o consumidor que quer se entreter

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mas também para o processo de gestão de marcas das empresas. Portanto, os

gestores podem incentivar os consumidores a produzirem paródias mas com certo

cuidado pois os resultados podem surpreender negativamente. A empresa General

Motors vivenciou esse desafio ao lançar um concurso para sua marca Chevy Tahoe,

em que os consumidores deveriam enviar suas ideias para a marca.

Inesperadamente, os gestores receberam uma série de conteúdo relacionando a

marca com a guerra do Iraque, o aquecimento global, desflorestamento, entre outros

problemas ambientais (SANDOVAL, 2006) É preciso atentar para as criações de

paródias que miram diretamente as marcas produzindo efeitos negativos ao

desconstruir significados com os quais as empresas gostariam de estar apropriadas

e legitimadas (FOURNIER; AVERY, 2011).

2.3 RECORTE TEÓRICO

A reflexão sobre a articulação de significados entre empresas e árbitros

culturais no contexto das mídias sociais sugere um recorte teórico especifico. O

programa de pesquisa de branding que orientará esse estudo será o do paradigma

social que culminou no modelo de Ressonância de Marca de Fournier, Solomon e

Englis (2008) apresentado anteriormente. Essa visão integradora sugere que são os

diversos atores da sociedade que criam, negociam, articulam e renovam significados

para as marcas. E, ainda oferece a ideia de que é essa circulação de significados

que pode gerar valor às organizações dependendo de como as empresas espelham

esse sistema de significados. Deve haver um alinhamento entre o grupo de

significados reivindicados internamente e externamente à empresa possibilitando a

geração e captação de valor pela marca.

O trânsito e a articulação de significados das marcas entre os atores da

sociedade pareceram ser evidenciados com o surgimento das plataformas de mídias

sociais viabilizadas pela tecnologia Web 2.0. O consumidor, árbitros culturais e

sociedade se apropriaram com mais intensidade do seu papel ativo na significação

das marcas. A exposição das marcas a essa multivocalidade inspirou essa pesquisa

à investigação desse novo panorama. Portanto, o entendimento desse contexto de

mídias sociais delimitou não apenas a compreensão da nova tecnologia, mas

também os seus impactos na sociedade. O deslocamento de força e poder para o

consumidor e para o coletivo social nesse ambiente digital orientará também esse

estudo sobre a articulação de significados entre empresa e árbitros culturais.

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3 METODOLOGIA

Neste capítulo discutem-se as escolhas metodológicas utilizadas nessa

pesquisa. Para tanto, as questões de pesquisa serão reintroduzidas, e em seguida a

filiação paradigmática, o desenho da pesquisa, o método de coleta e a análise dos

dados serão detalhados.

3.1 QUESTÕES DE PESQUISA

Questão primária de pesquisa:

Como as empresas lidam com a atuação de árbitros culturais sobre suas

marcas, no contexto de mídias sociais?

Questões secundárias de pesquisa:

1. Quais são as ferramentas atuais de construção e gestão de marca? E qual é

o papel das mídias sociais e do conteúdo online neste processo?

2. Como as empresas enxergam essa apropriação das marcas pelos árbitros

culturais nas mídias sociais? Como as empresas interpretam as motivações

dos árbitros culturais nas mídias sociais?

3. Quais as principais condutas das empresas frente a essa apropriação da

marca pelos árbitros culturais nas mídias sociais?

4. Como essas condutas se integram ao conjunto de práticas de gestão de

marca pelas empresas? E como as empresas medem seu efeito no equity da

marca?

5. Qual a percepção das empresas em relação ao consumidor espectador dessa

negociação?

3.2 FILIAÇÃO PARADIGMÁTICA

O caminho teórico dessa pesquisa está fundamentado na linha de

investigação conhecida como Consumer Culture Theory (CCT) que tem como

objetivo analisar e compreender os fenômenos do consumo a partir de uma lente

teórica interpretativista e naturalista, entendendo que os consumidores conferem

significados a essas práticas de consumo a partir da cultura na qual estão inseridos.

O termo CCT (ARNOULD; THOMPSON, 2005) agrupa e identifica uma

diversidade de artigos acadêmicos em um novo programa teórico que entende a

cultura como chave de leitura para a significação do consumo. Essas obras,

publicadas ao longo de vinte anos no Journal of Consumer Reasearch, foram

reunidas em quatro grandes grupos: projetos de construção de identidade dos

consumidores, cultura popular de mercado, padrões sócio históricos de consumo; e

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ideologias de mídia de massa e as estratégias de interpretação do consumidor.

Esse novo programa teórico foi constituído a partir de estudos que utilizaram

métodos de pesquisa até então pouco usuais no campo do marketing. A abordagem

qualitativa e naturalista das pesquisas acomodaram investigações que se inspiraram

no campo da antropologia buscando entender os significados das práticas de

consumo a partir do olhar do nativo. A etnografia, a netnografia, as entrevistas em

profundidade, métodos projetivos, estudos de casos entre outros, são as

ferramentas que proporcionam compreender a gama de significados culturais

atribuídos ao ato de consumir.

3.3 DESENHO DA PESQUISA

Nesse item da metodologia, será discutida a escolha do método de pesquisa,

bem como o contexto selecionado e a unidade de análise.

3.3.1 Escolha do método

A principal condição a que se deve estar atento ao escolher a estratégia de

pesquisa é o tipo de pergunta que o estudo busca responder (YIN, 2003). Para

responder a pergunta primária proposta nesse trabalho: “Como as empresas lidam

com a atuação de árbitros culturais sobre suas marcas, no contexto de mídias

sociais?”, a presente pesquisa optou pela adoção método do estudo de caso.

Segundo Yin (2003), quando se está diante de um questionamento sobre um

fenômeno contemporâneo em que o pesquisador não tem nenhum controle sobre o

comportamento dos eventos, estando ainda a pergunta formulada nas formas de

“como” e “por que”, sugere-se a utilização de estudos de casos. Adicionalmente, por

se tratar de uma pesquisa sobre práticas empresariais e de agentes de construção

de marcas, o interesse do campo recai sobre unidades de análise institucionais, em

que o estudo de caso, também se coloca como a escolha mais indicada.

O estudo de caso possibilitará a investigação profunda e holística da unidade

de análise escolhida penetrando na sua realidade social a fim de se compreender

sua totalidade. Esse método possibilita, por meio do questionamento sistemático, a

identificação de propriedades gerais que se destacam da singularidade do caso para

serem transpostas a outros casos e, assim, generalizadas (GOLDENBERG, 2002, p.

33).

O método de estudo de caso contempla dois tipos: o estudo de caso único ou

o estudo de casos múltiplos. O primeiro é utilizado quando o caso investigado é

único, um evento raro. O segundo é apropriado quando se objetiva extrair

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generalizações analíticas por meio da comparação de similaridades e diferenças

entre os distintos casos (YIN, 2003). Stake (1995), que contextualiza o método do

estudo de caso na perspectiva interpretativista afirma que os estudos de caso único

podem ser intrínsecos, quando o interesse do pesquisador recai sobre o

entendimento de um fenômeno em si; ou instrumentais quando a investigação tem

por objetivo prover refinamento para alguma teoria ou novas ideias sobre um

determinado assunto. Nessa última situação, o caso passa ser secundário e destina-

se como meio para entendimento da teoria. Para essa pesquisa, foi escolhido o

método de estudo de caso único instrumental devido à singularidade com a qual o

fenômeno repercutiu na articulação entre marca e árbitro cultural. Essa escolha

justifica-se também pela possibilidade de compreender a ampliar a teoria de

branding a partir de um único caso, tamanha a sua representividade no contexto das

mídias sociais. Para tanto, entrevistas pessoais foram realizadas com diferentes

entrevistados buscando concatenar os distintos pontos de vistas e as diferentes

práticas de gestão para o mesmo fenômeno contemporâneo. Além disso, foram

realizadas coletas de dados secundários de jornais, revistas, sites, além de textos

culturais obtidos pelos envolvidos nos casos.

3.3.2 Escolha do Contexto

A escolha do contexto a ser estudado se mostra uma decisão chave para o

valor da contribuição do resultado final para o campo teórico. O contexto com um

bom potencial para investigação apresenta, dentre outras possibilidades, um

exemplo de um importante fenômeno do consumidor. O potencial desse contexto

ainda se expande quando o fenômeno estudado é original e importante (BELK;

FISCHER; KOZINETS, 2012, p. 17), culturalmente significante e socialmente rico já

que ele tem sentido para um grande número de pessoas (ARNOULD; PRICE;

MOISIO, 2007).

Foi nesse sentido que, para compreender o contexto em que a interação

entre empresas e árbitros culturais confere significados para as marcas, o recorte

selecionado foi o canal independente de humor Porta dos Fundos. Esse provedor de

conteúdo cultural, funcionando numa lógica alternativa a dos tradicionais programas

humorísticos das mídias de massa, possui liberdade para tecer críticas políticas,

sociais e culturais usando, muitas vezes as marcas para construção do seu

repertório de humor. Além disso, sua atuação se dá no ambiente das mídias sociais,

um espaço genuinamente novo e altamente relevante devido ao seu alcance na

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população mundial. Esse novo lugar da sociedade permite, entre os seus diversos

agentes, a troca de informações rápida, constante, em tempo real, com alto alcance

e indiscutivelmente democrática, tornando esse novo ambiente interessante para as

investigações em marketing. O item desse recorte que será estudado é o vídeo

publicado pelo Porta dos Fundos intitulado de “Na Lata6” referente à Coca ColaZero.

3.3.2.1 Porta dos Fundos

O Porta dos Fundos é um coletivo criativo que produz conteúdo audiovisual

voltado para a web com qualidade de TV e liberdade editorial de internet. Foi criado

em parceria com o site de humor www.kibeloco.com.br e com a produtora Fondo

Filmes. Iniciou sua atividade em março de 2012 e lançou o primeiro programa em

agosto do mesmo ano. Em seis meses chegou a 30 milhões de visualizações (AS

MARCAS,...2013; PARAFERNALHA,...2015). O sucesso do programa despontou

quando foi ao ar o episódio “Spoleto” que satirizava o atendimento dos restaurantes

de mesmo nome.

O canal atinge principalmente o público de 20 a 45 anos

(PARAFERNALHA,..2015). É o quinto canal de comédia mais assistido no mundo no

Youtube, sendo que no Brasil é o canal com mais inscritos no geral, considerando

todos os canais de todos os gêneros (LAPORTA, 2015; CONHEÇA..., 2015).

Em setembro de 2013, foi notícia no The New York Times apontado como o

canal mais popular de comédia do Brasil (ROMERO, 2013). O programa também

tem recebido elogios da crítica, tendo se tornado o primeiro canal on-line a vencer o

prêmio da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA), concorrendo na

categoria de TV, como programa de comédia. Em Maio de 2015, os vídeos do canal

totalizam mais de 957 milhões de visualizações, atingiram a marca de 865 vídeos e

10,9 milhões de inscritos 7.

O grupo já diversificou sua atuação. Além do canal Porta dos Fundos que

lança seus vídeos três vezes na semana: às segundas, quintas e sábados às onze

da manhã, o coletivo criativo também detém mais quatro canais no Youtube. O canal

Portaria8 publica vídeos com comentários dos próprios artistas sobre a repercussão

dos vídeos na internet e também responde às dúvidas dos internautas. O canal

6 Na Lata. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=NZb0XKHgtjo. Acesso em 24 jun. 2014.

7Disponível em< https://www.youtube.com/user/portadosfundos/about > Acesso em 08 mai. 2015.

8Disponível em https://www.youtube.com/channel/UCxfi7W868SXcmNWUYYml7dw. Acesso em 04 jun. 2014.

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Fundos da Porta9 contém os erros de gravação, makingoffs, extras, entrevistas e

tudo relacionado aos bastidores do canal Porta dos Fundos. Já o canal Propaganda

dos Fundos10, contém algumas das propagandas feitas pelo grupo para as

empresas (29 vídeos). O canal possui também uma versão de seus vídeos em

inglês, chamada de BackDoor11. O site www.portadosfundos.com.br apresenta todos

os vídeos do grupo, seus integrantes e ainda oferece uma loja online12. Essa loja

contém camisetas, bottons e mousepads com criações inspiradas nos famosos

vídeos do grupo, como camisetas com a palavra “Gorilão da Bola Azul” do vídeo

“Quem Manda”13, ou com o nome “Kellen” do vídeo “Na Lata”14, e “Essa é pra você”

do vídeo homônimo15, entre outros. Na loja ainda estão disponíveis o livro e o DVD

do grupo. E, ainda, é possível adquirir aplicativos de jogos para serem baixados em

tablets e smartphones16.

O Porta dos Fundos, que teve origem na internet, com linguagem própria para

esse meio, extrapolou sua atuação ao estabelecer um contrato com o canal Fox.17. A

presença do grupo no meio televisivo se dá basicamente por meio dos vídeos já

veiculadas em seu canal na internet. Apesar do grupo ter expandido sua atuação

atingindo os meios tradicionais, ele se mantém fiel à linguagem que prioriza a

liberdade na concepção de suas criações. Seu discurso ainda é desprovido de

regras, utilizando palavrões e temas polêmicos em seus esquetes.

3.3.2.2 As marcas e o grupo

A relação do grupo com a questão das marcas aparece em toda a sua

trajetória de diversas formas. Primeiramente, o vídeo que destacou o Porta dos

Fundos foi o do Spoleto. Mas já no primeiro vídeo do programa, algumas marcas

apareceram como sinalizadores sociais: Cultura Inglesa e Negresco versus Wizard e

9Disponível em https://www.youtube.com/channel/UCqXpnf9sqhSArZYdDlkQuqQ. Acesso em 04 jun. 2014.

10 Disponível em https://www.youtube.com/user/propagandadosfundos/videos. Acesso em 04 jun. 2014.

11Disponível em https://www.youtube.com/user/TheBackdoorchannel. Acesso em 04 jun. 2014.

12 Disponível em http://loja.portadosfundos.com.br/. Acesso em 04 jun. 2014.

13Quem Manda. Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=0b_l0bE_E9s. Acesso em 04 jun. 2014.

14Na Lata. Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=NZb0XKHgtjo. Acesso em 04 jun. 2014.

15 Essa é pra você. Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=4WryP4KxHaU. Acesso em 04 jun. 2014.

16 Google Play. Disponível em

https://play.google.com/store/apps/details?id=com.playerum.portagamesbr&hl=pt_BR. Acesso em 04 jun.

2014 17

Site Fox. Disponível em <http://www.foxplaybrasil.com.br/show/11248-porta-dos-fundos>. Acesso em 08

mai. 2015.

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Mabel18. As marcas foram utilizadas como recurso de demarcação de diferentes

universos econômicos e sociais.

Assim como o Spoleto, algumas outras marcas foram utilizadas como

protagonistas de vídeos que as satirizavam de algum modo: Coca ColaZero e a

campanha dos nomes, Dolly, Peixe Urbano e Tim. Até o próprio recurso de product

placement foi ironizado em um episódio em que os protagonistas param o tiroteio

para saborear um Danette.

Com o episódio Spoleto, o grupo chamou atenção da empresa Spoleto que o

contratou para uma resposta bem humorada da empresa. Foram os primeiros vídeos

pagos. Com o sucesso do canal, outras empresas têm contrato o Porta dos Fundos,

que destina o canal Propaganda dos Fundos para publicar esses vídeos, separando-

os daqueles que não possuem qualquer tipo de patrocínio. Algumas das marcas que

já realizaram esse tipo de propaganda são: Fiat, Bis, Veja, Minas Casa, Kuat, Draft,

Prepara Cursos, Rossi, OLX, Mabel, Pão de Açúcar, Samsung, Dorflex, Draft,

Batavo, e o valor cobrado para a criação dos vídeos é aproximadamente 200 mil

reais (FRAGA, 2013). Segundo seus integrantes em entrevista dada à Marília

Gabriela, a criação do vídeo comercial para as marcas deve estar alinhada com a

visão deles sobre a empresa. Eles afirmam que não mentiriam a favor de uma

marca, e que o que eles dizem sobre a marca em seus vídeos é o que eles de fato

acreditam19.

Diferentemente das marcas acima citadas, que contratam o Porta dos Fundos

para criação de vídeos para suas campanhas de marketing, a cerveja Itaipava,

estabeleceu uma parceria com o grupo para ações de product placement nos vídeos

veiculados no canal Porta dos Fundos (ITAIPAVA..., 2013).

3.3.2.3 O vídeo

A partir da escolha do contexto e do recorte a ser utilizado, tendo em vista

ainda a pergunta de pesquisa de estudo que é a de compreender a interação entre

empresas e árbitros culturais no processo de significação das marcas, o vídeo

escolhido que irá guiar o estudo múltiplo de casos é o “Na Lata” referente à Coca

ColaZero,.

O vídeo “Na Lata” foi lançado em 17 de Janeiro de 2013 e, rapidamente teve 18

Porta dos Fundos. Disponível em http://www.portadosfundos.com.br/traveco-da-firma-porta-dos-fundos-

no-1/. Acesso em 04 jun. 2014. 19

De Frente Com Gabi (04/08/13) - Porta dos Fundos - Parte 1. Disponível em:

https://www.youtube.com/watch?v=TCseV14int4. Acesso em 24 de jun. 2014.

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sucesso na internet sendo visualizado 1,1 milhões de vezes em menos de 24

horas20. Até hoje ele é o vídeo mais visto do grupo Porta dos Fundos atingindo a

marca de 15 milhões visualizações. Esse vídeo satirizou uma campanha da Coca

ColaZero, que estava sendo veiculada na época. A campanha basicamente era a

venda de latas de Coca ColaZero com nomes de homens e mulheres, como Renata,

Rodrigo, Bruna, Carlos, entre outros, sendo que os nomes estavam na seguinte

frase “ Quanto mais Fulano, Melhor”. A campanha teve sucesso no Brasil e fez com

que muitas pessoas buscassem locais nos quais pudessem encontrar as latas com

os seus nomes. Poucas horas após o lançamento do vídeo, a Coca Cola respondeu

em sua fan page do Facebook publicando uma latinha de Coca Cola Zero com o

seguinte texto “Quanto mais Porta dos Fundos, Melhor”, “Quanto mais Kellen,

Melhor”, “Quanto mais Uelerson, Melhor” (PORTUGAL, 2013). Encontramos ai,

portanto, o exemplo de uma empresa dialogando com outros atores, falando de sua

marca na internet e mídias sociais.

A escolha desse vídeo se deu por sua destacada relevância cultural que o

posiciona ainda como o vídeo mais visto do grupo. Conforme explorado

anteriormente, a escolha do contexto deve se dar pela novidade que o fenômeno

contemporâneo oferece. Assim, o vídeo “Na Lata”, por sua repercussão e pela

articulação que esse texto cultural gerou com a corporação Coca Cola, se mostra

um caso revelador que serve ao objetivo de explorar como a empresa se estrutura

para dialogar com o árbitro cultural.

3.3.3 A escolha da Unidade de Análise: The Coca Cola Company

Segundo Yin (2003) a escolha da unidade de análise está fundamentalmente

relacionada com a pergunta de pesquisa em si. No caso do presente estudo o intuito

de compreender “Como as empresas lidam com a atuação de árbitros culturais

sobre suas marcas, no contexto de mídias sociais” ofereceu a oportunidade de

delirmitar não somente o contexto do Porta dos Fundos e o vídeo “Na Lata”, mas

também a unidade de análise The Coca-Cola Company.

Essa delimitação foi naturalmente selecionada devido à interação que ocorreu

entre a empresa Coca-Cola e o canal Porta dos Fundos nas mídias sociais após a

veiculação do vídeo “Na Lata”, caso acima citado. Além disso, a presença e as

estratégias desempenhadas pela Coca-Cola nas mídias sociais é tema dos

20

Facebook. Disponível em https://www.facebook.com/PortaDosFundos/posts/120403411465377. Acesso em

24 jun 2014.

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principais veículos especializados como Meio & Mensagem21, Adnews22, entre

outros. Não apenas a atuação destacada da marca no plano das redes sociais

contribuiu para sua escolha como unidade de análise, mas também o consagrado

prestígio de sua marca. A importância da marca Coca-Cola não desponta apenas

por sua nomeação como a marca mais valiosa do mundo por treze vezes (COCA-

COLA..., 2012), mas também pelo fato de o seu campo de significação extrapolar a

origem de sua criação que é a da categoria de refrigerantes.

A criação da Coca-Cola ocorreu em 1886 por John Pemberton. Primeiramente

ocorreu uma estratégia de comercialização nacional, tornando o produto mais

conhecido. Com a chegada da Segunda Guerra Mundial, a empresa estabeleceu

uma estratégia de expansão internacional e com o sucesso da marca, nos anos 70,

a empresa diversificou os sabores dos refrigerantes. Atualmente a empresa está

presente em 200 países e responde por mais de 400 marcas de bebidas não

alcoólicas23.

A longa e centenária trajetória da marca a coloca em uma posição importante

na sua categoria de produto. Além de sua ligação íntima com o grupo de

refrigerantes, o emblema Coca-Cola também incita interpretações de imperialismo,

americanismo, capitalismo, sociedade de consumo, obesidade, osteoporose, entre

outros, evidenciando a extrapolação semântica da marca. Não apenas sentidos

negativos podem ser evocados pela marca, mas expressões positivas como aquelas

relacionadas a comemorações natalinas, refeições com familiares, Papai Noel,

geração Coca-Cola, etc. Tal diversidade e amplitude de significados evidenciam sua

relevância social e destacam a pluralidade de movimentos de cocriação coletiva que

a marca vivenciou ao longo dos anos.

A compreensão sobre a consagração da marca Coca-Cola faz parte da

publicação de Douglas Holt , de 2004, sob o título de “Como as marcas se tornam

ícones- Os princípios do Branding Cultural”. Conforme explicado anteriormente, Holt

explica que marcas ícones surgem quando elas se oferecem mitos ao mercado que

auxiliam as pessoas a solucionarem grandes tensões culturais. O autor narra a

21

Meio & Mensagem. Disponível em :

http://www.meioemensagem.com.br/home/marketing/noticias/2014/07/14/Os-melhores-e-os-piores-momentos-da-Copa. Acesso em 11 abr. 2015. 22

AdNews. Disponível em : http://www.adnews.com.br/elojo/a-primeira-copa-do-mundo-real-time-da-coca-

cola. Acesso em 11 abr. 2015. 23

Site Coca-Cola. Disponível em: < https://www.cocacolabrasil.com.br/coca-cola-brasil/historia-da-marca/>.

Acesso em 24 abr. 2015.

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trajetória da marca Coca-Cola pontuando os momentos específicos em que ela

respondeu a conturbações sociais.

O primeiro mito criado pela marca refere-se à época da Segunda Guerra

Mundial. A empresa decidiu que ofereceria aos soldados americanos em combate a

oportunidade de beber Coca-Cola. Mesmo em solo europeu, os defensores

americanos teriam a oportunidade de degustar o refrigerante. Dessa forma, as

tropas eram vistas bebendo Coca-Cola, pedindo Coca-Cola, tratando essa bebida

como algo familiar, algo que representasse sua pátria. Assim, o mito americano de

orgulho patriótico, de defesa da democracia, de poder econômico foram

encapsulados na marca. Até os anos 70, a empresa se beneficiou de tais

significados. Mas a eclosão da Guerra do Vietnã e os movimentos sociais pacifistas

configuraram o que Holt classifica como ruptura cultural. Essa cisão impõe às

marcas ícones que reinventem os seus mitos de mercado para permanecerem

relevantes à sociedade. Para responder a essa necessidade, a empresa cria seu

segundo mito de mercado. Com a famosa campanha de comunicação que

apresentava pessoas de diferentes raças, gêneros e nacionalidades, cantando

frases como “Eu gostaria de comprar uma casa para o mundo e mobiliá-la com

amor” , segurando velas na mão, parecendo um coro de igreja, a Coca-Cola se

consagrava mais uma vez. Agora a marca engarrafava apelos humanitários de

compreensão, tolerância e paz. Na década seguinte, com a consolidação dos guetos

e com o crescimento das drogas, o problema racial passou a ser a preocupação

mais latente na sociedade americana. Assim surgia o terceiro mito de mercado. A

campanha criada pela empresa veiculava um famoso jogador de futebol americano

negro, chamado “Mean Joe Green” e reconhecido por ser durão, mancando após um

jogo. No corredor ele é interrompido por um menino branco que oferece sua Coca-

Cola a ele. Ele acaba aceitando, e depois de beber a garrafa inteira, abre um sorriso

e joga sua camisa ao garoto. Esse ato de aproximação entre negros e brancos

reinventa a marca Coca-Cola que agora passa a encapsular elementos que aliviam

a divisão racial americana.

A trajetória da marca e sua constante reinvenção a colocou em lugar de

destaque social, tornando-se assim um assunto sempre contemporâneo. Muitas

criações literárias surgiram e ainda surgem sobre a marca, como “Por Deus, pela

pátria e pela Coca-Cola” de Mark Pendergrast de 1993 narrando a história não

autorizada sobre a empresa. E livros mais recentes, como “Design to Grow” de

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autoria de David Butler e Linda Tischler, publicado em 2015, detalhando as

estratégias de crescimento da empresa por meio da resposta ágil e do ganho de

escala.

Nesse estudo de caso, a Coca-Cola surge como a unidade que servirá como

análise para compreender como as empresas interpretam e negociam significados

sobre suas marcas com árbitros culturais no ambiente das mídias sociais. Ela será

uma ilustração de como o mercado e seus integrantes compreendem esse novo

panorama em que as mídias sociais atuam como catalisadores do processo de

cocriação de significados entre os diferentes atores sociais.

3.4 COLETA DOS DADOS

Os procedimentos de coleta de dados geralmente utilizados nos estudos de

casos são as entrevistas em profundidade e a observação participante

(GOLDENBERG, 2002). Entretanto, como os fenômenos a serem estudados situam-

se no passado, o principal recurso de coleta de dados foi o da entrevista em

profundidade. Como forma a aprofundar e enriquecer a análise, informações

adicionais foram coletadas para ampliar o entendimento do discurso dos

entrevistados (YIN, 2003). Todos os dados secundários referem-se aos eventos

relatados pelos interlocutores das empresas estudadas sendo coletados em artigos

jornais, revistas, sites e vídeos.

As entrevistas em profundidade têm como objetivo ultrapassar a

superficialidade da fala do entrevistado buscando caminhos que revelem os

significados da sua percepção sobre o fenômeno (BELK; FISCHER; KOZINETS,

2012). Dessa forma, os roteiros foram estruturados com tópicos que foram usados

como guias para as entrevistas proporcionando liberdade para a condução da

conversa com o entrevistado (BELK; FISCHER; KOZINETS, 2012).

A credibilidade da fonte de informação é um aspecto crucial das entrevistas

em profundidade (GOLDENBERG, 2002), portanto a indicação dos respondentes foi

feita meticulosamente a fim de garantir a validade da pesquisa. Além disso, entender

o fenômeno sob os seus diversos prismas também se mostra como ponto nevrálgico

na reconstrução dos casos. Dessa forma, as entrevistas foram realizadas não

apenas com as pessoas envolvidas diretamente na situação, mas também com

aquelas de envolvimento indireto, como os fornecedores das empresas analisadas.

Assim, os profissionais das agências de publicidade foram contatados e

entrevistados, além dos gestores da marca e gestores de marketing diretamente

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envolvidos com o fenômeno. A multiplicidade de fontes sobre o mesmo

acontecimento possibilita o processo de triangulação conferindo a elaboração de

análises mais acuradas e convincentes (YIN, 2003).

O estudo do caso foi elaborado a partir de 6 entrevistas, como detalha o

quadro a seguir:

Empresa Área Nome

Coca-Cola Gestor de Marca Coca-Cola e

Coca-Cola Zero

Adriano Torres

Coca-Cola Gestora Mídias Sociais Luiza Boller

Coca-Cola Diretora da área de Knowledge

e Insights

Patrícia Fonseca

Coca-Cola Gestora de Marca Kuat Renata Furlanetto

Muta.to Gestora de Contas Giamile Rossato

Muta.to Diretor de Criação Tulio Tavanielli

Quadro 3: Relação dos Entrevistados

3.5 ANÁLISE DOS DADOS

A etapa da análise dos dados é uma das fases mais críticas na elaboração de

estudos de caso (YIN, 2003). A grande e diversa quantidade de dados coletados

pode dificultar o processo de análise do pesquisador. Para lidar com esse desafio,

Goldenberg (2002) sugere que o entrevistador comece a análise logo após a fase da

entrevista de forma a possibilitar a construção interpretativa do caso logo no inicio

das entrevistas.

Dessa forma, após cada uma das entrevistas, uma primeira etapa de análise

foi realizada de modo a ampliar e aprimorar o entendimento para a confecção do

roteiro da entrevista seguinte. Nesse sentido, o processo de concepção das

entrevistas, aplicação e análise seguiu um círculo virtuoso de retroalimentação

constante.

A segunda etapa de análise foi a descrição das informações coletadas

segundo padrões pré-definidos no roteiro da pesquisa ou conforme padrões que

surgiram no decorrer da aplicação das entrevistas. O objetivo dessa fase foi o de

compreender o discurso dos entrevistados sobre as práticas de construção de

significados das marcas. Assim, foram entrevistados executivos de áreas diversas e

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em seguida seus relatos foram analisados de forma triangulada, gerando uma visão

mais complexa do processo de gestão de marcas na empresa.

A terceira fase da análise contemplou a comparação entre as informações

coletadas e o referencial teórico escolhido para suportar essa pesquisa. Essa etapa

busca compreender a relação entre as práticas atuais e a literatura de interesse

existente a fim de extrair desse confronto interpretações que expliquem e ampliem a

compreensão do fenômeno estudado, buscando então possíveis generalizações

para novos acontecimentos.

3.6 LIMITAÇÕES DO MÉTODO

Todo método possui limitações, seja pela falta de rigor (YIN, 2003) em sua

aplicação ou pela metodologia em si. O fato do estudo de caso ser um método

qualitativo de pesquisa implica na geração de teorias não generalizáveis a toda

população. Entretanto,Yin (2003) esclarece que, apesar desse método não

proporcionar ao pesquisador a possibilidade de generalização estatística, ele

confere a oportunidade de realizar generalizações analíticas, possibilitando,

portanto, a ampliação do entendimento da teoria que busca explicar o fenômeno

social estudado.

Outra limitação eminente da pesquisa qualitativa provém do recorte escolhido

para a análise do fenômeno social foco do estudo. No caso dessa pesquisa, o

estudo da construção de significados proveniente da relação entre empresas e

árbitros culturais, foi realizado segundo o recorte do canal de humor Porta dos

Fundos. Outros árbitros culturais no ambiente online ou em outros contextos

também se relacionam com instituições, cocriando sentidos para as marcas.

Entretanto, esse recorte se faz necessário a fim de viabilizar esse estudo, mesmo

apresentando o risco de não contemplar outros casos de interesse sobre esse

mesmo tema.

Por fim, há a limitação que provém do próprio pesquisador (GOLDENBERG,

2002). Como na pesquisa qualitativa o pesquisador é um dos instrumentos da

investigação não podendo ser ele isolado do fenômeno em si, pode haver no estudo

o viés proveniente do olhar desse pesquisador. Para minimizar essa restrição nesse

estudo, algumas anotações e análises foram verificadas tanto com os próprios

entrevistados, como com outros pesquisadores.

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69

4 APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS

Para responder à pergunta de como as empresas lidam com a atuação de

árbitros culturais sobre suas marcas, no contexto de mídias sociais, a apresentação

dos resultados foi estruturada em duas partes.

A partir da análise das entrevistas, ficou claro que para entender a dinâmica

de interação iniciada pelo vídeo, seria necessário primeiramente apresentar como a

empresa gerencia marca no ambiente das mídias sociais, e como esse trabalho se

articula com a gestão global da marca. Assim, primeiramente, será apresentado o

contexto gerencial no qual o processo de construção das marcas está inserido. E,

posteriormente, serão apresentados os resultados encontrados sobre a interação

entre a organização selecionada, a The Coca-Cola Company e o árbitro cultural

escolhido como lente dessa pesquisa, o Porta dos Fundos.

4.1 APRESENTANDO O MODELO COCA-COLA DE GESTÃO DE MARCAS

A primeira parte da apresentação dos resultados discute os achados de

campo que buscam conceituar a maneira com a qual a empresa unidade de análise

se estruturou para construir marcas no contexto das mídias sociais. Serão discutidos

o posicionamento do produto Coca-Cola Zero, a organização da empresa para gerir

o processo de branding as especificidades dessa gestão no ambiente digital e a

contribuição da agência especializada no tema, e os processos de acompanhamento

de desempenho da marca.

4.1.1 O posicionamento de Coca-Cola Zero

A empresa Coca-Cola é detentora de diversas marcas no segmento de

bebidas não alcoólicas no Brasil, nas categorias de refrigerantes, refrescos,

repositores, energéticos, bebidas infantis, chás e água24, conforme apêndice G.

A Coca-Cola original, além de ser vendida em diferentes tamanhos e tipos de

embalagem, tem duas extensões de linha: Coca-Cola Light e Coca-Cola Zero, sendo

essa última a marca alvo desse estudo. Foi a partir dessa marca que se buscou

entender como a empresa Coca-Cola está estruturada para construir e gerenciar

marcas no mercado.

Adriano Torres, gerente de Coca-Cola Zero, explica que no portfólio das

Colas, a Coca-Cola original é chamada de “vermelha” e o seu posicionamento tem

como estratégia ser uma bebida democrática que está presente massivamente nos

24

Disponível em: https://cocacolabrasil.com.br/nossas-marcas/. Acesso em 07 de Julho de 2014.

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pontos de vendas, servindo a todas as classes socioeconômicas e a todas as

idades. Já a Coca-Cola Zero tem a missão de incorporar princípios de

rejuvenescimento ao portfólio das Colas, e, portanto, tem como posicionamento

atender as necessidades dos jovens adultos: homens e mulheres com idade entre

20 e 29 anos. O gerente da marca ainda afirma que após os 29 anos, com a

progressão socioeconômica, esses adultos passam a optar por bebidas mais

sofisticadas, como vinhos, cervejas importadas, entre outros.

A comunicação das marcas, segundo Adriano Torres, buscará atender ao

objetivo de posicionamento de cada um dos produtos. A Coca-Cola vermelha

apresenta “uma estratégia de comunicação de inclusão, é a marca gregária, que

inclui, é a marca inocente, que aceita todas as diferenças, que tenta abarcar a

todos.” Já a Coca-Cola Zero, manifesta uma comunicação mais orientada ao público

jovem adulto. Adriano afirma que a empresa “se permite um pouquinho não de

exclusão, mas aumentar um pouco a diferença para se falar mais diretamente com o

target jovem adulto”.

Apesar do objetivo da marca estar relacionado a aspectos de estratificação

etária, o gerente de Coca-Cola Zero relata um aspecto sociocultural que apresenta

um dilema no gerenciamento desse produto. Adriano afirma que a intenção de Coca-

Cola Zero é de “tentar abarcar todas as classes”. Entretanto, a característica do

produto Zero, reduzido em calorias não está presente “no território de atratividade

para a classe CDE”. Portanto, a marca passa a ser “mais um discurso AB do que

CDE”.

Como consequência do desafio enfrentado pelo gerente, a marca Coca-Cola

Zero possui uma estratégia de distribuição diferenciada em relação à Coca-Cola

vermelha. Segundo Adriano, pelo fato da classe AB “ser muito mais familiar à

categoria Diet ou Light” os pontos de vendas que atendem a esse segmento de

mercado terão um volume muito maior de Coca-Cola Zero do que os varejistas que

abastecem os consumidores das classes C, D e E, já que esses últimos preferem a

Coca-Cola vermelha.

4.1.2 Coca-Cola Zero: Estrutura organizacional do processo de gestão de

marcas

A estrutura da The Coca-Cola Company, segundo Adriano Torres, está

organizada em um “desenho de gerenciamento de marca bem especifico”. O gerente

explica que “a estrutura é matricial”, ou seja, os gerentes da marca são responsáveis

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por toda a estratégia nacional da marca. E, em seu cotidiano, interagem com outras

áreas que provêm as informações ou os serviços necessários para a implementação

da estratégia de mercado.

Existem dois gerentes para a marca Coca-Cola, sendo que a divisão está

marcada prioritariamente pelo público alvo. Um gestor administra as ações para o

segmento de adolescentes, ocasião de consumo imediato25 em embalagens de

porção única (single serve) e grandes eventos, como ações na Copa do Mundo e

Olimpíadas. O outro gestor administra o público-alvo população geral e mães, os

canais de consumo futuro (domiciliar) em embalagens de consumo compartilhado

(multi serve) e inovações e extensões. A Coca-Cola Zero é de responsabilidade

desse último gestor por ser uma extensão da linha Coca-Cola.

Figura 6 – Estrutura Organizacional Gestão de Marcas The Coca-Cola Company

A estrutura matricial fornece o suporte necessário para o desdobramento da

estratégia idealizada na área de marcas. Conforme figura 6 acima, existem cinco

áreas que colaboram com esse processo. O fluxo de informações transcorre

matricialmente entre elas, ou seja, as cinco áreas provêm dados para as gerências

de marcas e também são alimentadas por elas. A área de Knowledge e Insights, em

25

Consumo imediato é uma denominação utilizada pela empresa para delimitar a ocasião de consumo em que

o produto é comprado e consumido ao mesmo tempo, como a aquisição de uma lata de Coca-Cola comprada em um restaurante. Já o que consumo futuro refere-se ao produto que será comprado e consumido em momentos distintos, como uma embalagem de 2 litros para ser servida em casa na hora do jantar.

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particular, exerce o papel de fornecer informação para todas as áreas envolvidas no

processo de gestão de marcas.

A área de Shopper Market é responsável pela administração dos canais de

vendas contemplando também a estratégia de promoções. Segundo Adriano Torres,

essa equipe possui relacionamento com os gerentes de supermercado / hiper,

minimercado e tradicional26, que são as pessoas com quem ele possui contato mais

frequente já que esses canais de vendas são os territórios em que “a estratégia de

consumo futuro aporta”. Essa área tem autonomia para desdobrar a estratégia

determinada pela marca em campanhas específicas e localizadas nos pontos de

venda de determinadas regiões. O gerente da marca exemplifica: “Tenho uma

estratégia de refeições em casa que precisa ser implementada, faço filme,

comunicação, o cara de shopper, além disso, dá um duplo clique e desenvolve um

plano promocional, uma shopper promotion para alavancar Coca-Cola em

supermercados”. A área de Shopper Market ainda alimenta o gerente da marca com

informações importantes para o seu processo de gestão. Portanto, são áreas que

estão orientadas a trabalharem em um processo de colaboração mútua.

“Quando falo de um gerente de shopper market para consumo futuro, ele tem dashboards

27 e ferramentas proprietárias nossas, internas, de

acompanhamento de performance, indicadores de aceitação, atratividade, materiais, tudo. Tem esse tracking que é microscópico, que é muito importante o trabalho dele. Disso ele tem alguns macro números que ele passa para a marca porque são importantes para a marca, preciso saber a efetividade do material, a diferença da efetividade, o hiper e super, isso é especifico da disciplina dele, mas preciso saber por que Coca-Cola está sendo menos efetivo como ação de consumo em supermercados pequeno do que em mercados grandes. O que está acontecendo?”(Adriano Torres, Gerente da marca Coca-Cola Zero)

A área de Regional Market é responsável pela administração de marketing e

comunicação para regiões geográficas específicas. Adriano compara a área de

Regional com a de sua gerência. Ele explica que “Eu e Regional Market temos muita

similaridade, a diferença é o click da informação, eu vou olhar nacional e macro

regiões e ele vai olhar cidades”. Portanto, assim como Shopper Market, o

departamento de Regional Market também atua de forma próxima e parceira com a

26

Tradicional é o segmento de loja que não apresenta check-out, ou seja, a venda é feita através de um balcão,

como em um armazém. 27

Dashboard é uma ferramenta de apoio à gestão que reúne em um único painel uma série de indicadores de

negócios.

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gerência da marca.

Shopper Market e Regional Market é muito isso. A gente pensa numa estratégia nacional de Natal, São Paulo decide fazer uma caravana de Natal com uma parada paga onde as pessoas vão ver a parada de natal Coca-Cola num parque em São Paulo, uma ação de marketing regional em grande escala. Ele me alimenta, posso incorporar isso "gostei da idéia", vou incorporar isso ao plano nacional ou não, ele só usa a minha campanha nacional e baixa nessa atividade regional. (Adriano Torres, Gerente da marca Coca-Cola Zero)

O processo de vendas está sob a responsabilidade da área de

Operations/Commercial que também fornece indicadores que servirão como

informação para a tomada de decisão da equipe que gerencia a marca.

A área de Insights é responsável por elaborar ou lapidar ideias que irão suprir

os processos das Gerências das Marcas, do Shopper Market e do Regional Market.

Patrícia Fonseca, responsável pelo departamento, explica que a área combina

“pesquisa e inteligência” e se posiciona como “business partner” das áreas clientes.

Para cumprir com os objetivos da área, Patrícia ainda detalha que o objetivo é que

esse time atue como “parceiro de negócio” partindo da compreensão ”da estratégia

das marcas, das áreas dos canais” para que ele possa ”propor soluções, ajudar a

refinar as estratégias, dar alguma direção”. Para isso, utilizam diversas ferramentas,

como “pesquisas”, “assessments”, “desk researches”, e “análises de mercados”.

A área de Comunicação Integrada possui a missão de gerenciar a estratégia

de comunicação da The Coca-Cola Company. Para atender a esse objetivo, ela está

organizada em quatro grandes esferas que trabalham conjuntamente elaborando e

administrando as iniciativas de interlocução com o mercado, conforme mostra a

figura 7 abaixo. Toda a estratégia de mídia, incluindo a gestão das mídias sociais,

está sob a responsabilidade da área de Connections; o conteúdo criativo e a

mensagem das comunicações da marca é atribuição da área de Content; as

promoções a serem implementadas são incumbências da área de Promotion; e por

fim, a gestão da experiência da marca, incluindo o licenciamento de produtos, é

responsabilidade da área de Experience/Asset.

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Figura 7 – Estrutura Organizacional Gestão de Comunicação The Coca-Cola Company

4.1.3 Coca-Cola Zero: Estrutura e processo de gestão de marcas no ambiente

digital

O processo de gestão do marketing digital da Coca-Cola passou por uma

transformação em 2012. Até esse ano, a área de Marketing Interativo era a

responsável por este segmento, e a sua forma de atuação acontecia de maneira

paralela às ações de mídia off-line. Luiza Boller, responsável pela área de Mídias

Sociais explica que havia uma agência chamada de “líder”, responsável pelos

“conceitos criativos”, e uma “agência digital espelhada” que tinha o objetivo de

“derivar o conceito principal” para as mídias digitais. Após 2012, a organização

iniciou um movimento de integração entre as áreas de mídia offline e online, uma

vez que entendeu que o consumidor já não fazia distinção entre esses dois tipos de

mídia. Assim surgiu a área de Connections. Segundo Renata Furnaletto, gerente da

marca Kuat, Connections é responsável pelo ”plano geral de conexões com o

consumidor”, respondendo por mídias off-line, como televisão, e on-line, como redes

sociais.

Uma das atribuições dessa nova área é o desenvolvimento das plataformas

de mídias sociais. A ideia é estimular o uso desses meios de comunicação pelos

consumidores de Coca-Cola a fim de estabelecer um relacionamento um a um.

Luiza relata que a estratégia de “aceleração de recrutamento de base” tem como

objetivo congregar todos os “brand lovers”, ou seja, todas as pessoas com uma forte

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relação com a marca, no novo espaço de plataformas sociais e transformá-los em

“defensores da marca”. A gerente de Mídias Sociais esclarece que “brand lover” é o

consumidor que tem “um engajamento alto”, ou seja, que se comunica com a

empresa de forma “recorrente” e está “sempre falando bem”. Ela também esclarece

que o perfil do público alvo que possui o maior índice de amor à marca, aceitação do

produto e consumo, é constituído por jovens de 12 a 25 anos. Esse estrato também

coincide com as características dos principais usuários de mídias sociais.

Para atender aos objetivos da organização de desenvolvimento das

plataformas sociais, optou-se por conceber um núcleo especializado nessa atividade

na área de Connections, e assim foi criada a área de Mídias Sociais responsável

pela gestão das plataformas Facebook, Twitter, Instagram e Google Plus. Para Luiza

Boller, a reunião dos consumidores nas plataformas de mídias sociais associada à

possibilidade de interação frequente com a marca atende aos objetivos de branding

da Coca-Cola. Ela relata que “uma grande parte desse trabalho é o branding

mesmo” e afirma que a tarefa de construção de marcas é facilitada pela

possibilidade de humanizar a empresa ao apresentar aos consumidores que “a

Coca-Cola é formada por pessoas”.

Neste contexto, surge uma política específica chamada de persona da marca

Coca-Cola. A persona é a construção de um perfil, um padrão de resposta e de

reação, que deve ser seguido por todos os profissionais que falam pela marca nas

mídias sociais. Ao lidar com um consumidor que comenta sobre a marca Coca-Cola

vermelha, os funcionários que respondem pela marca, devem se posicionar de

forma “calma” e “humana” sempre exaltando o “lado positivo da vida, o copo meio

cheio”, uma vez que “a palavra que define Coca-Cola vermelha é otimismo”.

Portanto, existe um protocolo de comunicação que todas as pessoas do time devem

seguir, de forma a se comunicarem de acordo com a grande persona de cada

marca.

O relacionamento periódico e personalizado, entre marca e consumidor,

possibilitado pelas plataformas sociais contribui para o trabalho de branding.

Segundo Luiza Boller, com o advento das mídias sociais, ocorreu uma “mudança

radical” que possibilitou à organização receber feedback dos consumidores. Além

disso, a Coca-Cola passou a “conversar” com as pessoas, permitindo que esta

“reagisse” aos movimentos externos à organização. Dessa forma, o diálogo com os

consumidores foi facilitado pelas plataformas trazendo ganhos para a construção da

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marca.

Para gerenciar essa nova realidade de relacionamento um a um com o

consumidor, o time de Mídias Sociais identificou uma importante sinergia com o time

do Serviço de Atendimento ao Consumidor. Luiza explica que era necessário que os

profissionais do Serviço de Atendimento ao Consumidor (SAC) fizessem um

“movimento de capacitação digital” para que fosse implantada uma “forma oficial” de

se comunicar nas plataformas de mídia social. Portanto, a área de Mídias Sociais foi

estruturada com o intuito de ser um polo de relacionamento e interação com o

consumidor. A operação que responde a esse objetivo foi denominada de Customer

Interaction Center (CIC) sendo sua formação fundamentada em quatro esferas,

conforme figura 8:

Figura 8 – Estrutura Organizacional Gestão Mídias Sociais The Coca-Cola Company

Time de React

O time de React tem a responsabilidade de atender prontamente a todas as

dúvidas, críticas e sugestões dos internautas. A missão dessa área é responder de

forma personalizada, um a um, a qualquer manifestação direcionada à empresa por

meio das mídias sociais. Segundo Luiza, a gama de assuntos que a equipe lida é

muito grande, diferenciando-se do tradicional SAC que basicamente “atendia

reclamações”. A gerente exemplifica relatando casos em que os internautas

gostariam de saber como fazer para “baixar” a música de determinada campanha,

ou casos em que as pessoas querem saber como participar de promoções, ou até

saber se “é verdade que o papai Noel foi inventado pela Coca-Cola”.

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Existem três pilares fundamentais da atuação deste time, que possibilitam

que a equipe de React cumpra a sua missão de responder prontamente aos

internautas: desburocratização dos processos, autonomia da equipe e capacitação

digital.

Figura 9: Elementos fundamentais no processo de resposta ao consumidor em Mídias Sociais

Adriano Torres esclarece que essa equipe “atua de forma diferente do modelo

de SAC tradicional”. No modelo usado na época anterior às plataformas sociais,

para cada reclamação a equipe do SAC “abria um chamado” que virava um

“processo”. Existia um tempo para resposta ao consumidor. O modelo atual

implementado pela Coca-Cola, garante resposta em “real time”. Para que isso

ocorra, o gerente destaca que “o sujeito que trabalha na linha de frente tem que ter

muita autonomia” e também precisa ter sido treinado com “todos os protocolos” de

resposta.

Para garantir rápido atendimento às solicitações, comentários e reclamações

do consumidor nas mídias sociais, os processos de resposta foram

desburocratizados. Segundo Adriano Torres, a The Coca-Cola Company identificou

uma ampla gama de assuntos e os “clusterizou” em grandes grupos considerando

“riscos” e “temas”. Ao receber um comentário, pergunta ou reclamação do

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consumidor, respostas e procedimentos pré-definidos são utilizados. Dessa forma, a

empresa consegue responder com mais “inteligência” e “organização” garantindo

rapidez no retorno ao consumidor.

Entretanto, algumas vezes as manifestações dos consumidores não são

atendidas prontamente. Em alguns casos, pode haver necessidade de deliberação

da área jurídica, a fim de avaliar se há alguma questão legal envolvida. As situações

que passam pelo jurídico e que acabam tendo algum desdobramento legal são

aquelas que denigrem a imagem e/ou a integridade da marca ou do produto.

Além da identificação de temas e de necessidade de deliberação do jurídico,

a empresa também comenta sobre uma política de respostas que leva em

consideração fatores como a autoria do comentário (pessoa física ou jurídica), o

local de publicação da manifestação (página pública ou privada), e o teor do

comentário (positivo ou negativo). Adriano Torres contrasta duas situações em que

as autorias são distintas. Ele exemplifica o caso em que “um estudante” faz “um

videozinho, um comercialzinho” “brincando” ou “falando mal de Coca-Cola” e informa

que nenhum acionamento com relação à essa pessoa jurídica seria feito. Entretanto,

no caso de uma pessoa jurídica, a política seria outra.

Um site fez uma super decoração do site deles com todas as brincadeiras

em cima de Coca-Cola Zero. Mandaram para mim. Legal, mas não que

esteja denegrindo a marca, mas está usando a marca de um jeito... Se

aproveitando. Não vou processar o cara. Pedi para o jurídico: entra em

contato, manda email para ele, pergunta quanto tempo ele leva para refazer

o site dele. Não foi má fé, foi se aproveitando, mas a gente mandou email e

o cara respondeu: pô, desculpa, não era a minha intenção fazer isso.

Preciso de 1 mês e meio pra poder brifar novamente na minha agência pra

refazer tudo. Ta bom, deixa um mês e meio com o cara lá. Ninguém vai

morrer por causa disso. Precisa tomar a atitude correta. ? (Adriano Torres,

Gerente da marca Coca-Cola Zero)

A autoria da manifestação (pessoa física ou jurídica) parece revelar o

entendimento que a empresa tem sobre a autenticidade da cocriação

desempenhada pelos diversos atores sociais. Aqueles que usam a marca com a

intenção de extrair proveito comercial serão interpretados diferentemente daqueles

que a utilizam para fins de auto-expressão. Os outros dois aspectos que definirão a

conduta da organização estão relacionados ao local de publicação da manifestação

do consumidor, como sua página pessoal do Facebook, blog, etc, versus a fanpage

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ou o Twitter da Coca-Cola; e o teor do comentário, como um elogio ou comentário

positivo versus uma crítica negativa. A Coca-Cola define sua atuação conforme

figura 10 abaixo:

Figura 10: Estratégia de atuação nas Mídias Sociais

O consumidor que se manifesta em sua própria rede de relacionamento

publicando conteúdos negativos sobre a marca é respeitado pela Coca-Cola. A

empresa entende que essa é sua opinião e que, qualquer tentativa de contato pela

marca seria considerada “intrusiva”. Já no que se refere a qualquer manifestação do

consumidor no domínio da Coca-Cola, ou seja, na fanpage do Facebook, a empresa

entende que o conteúdo é público e se estabelece então um diálogo entre o

consumidor e a empresa. Nota-se portanto, que a delimitação do que é considerado

privado é definida pela propriedade do local de publicação e pelo tipo de comentário.

Entretanto, existem algumas situações em que essa delimitação não é clara

havendo intersecção entre o que é considerado público e privado. Luiza Boller

comentou sobre a política da empresa em realizar ações de “relacionamento ativo”

que ocorrem quando a empresa identifica, por meio de seus “dashboards” de

inteligência, usuários que estão fazendo elogios sobre a marca ou que têm

questionamentos sobre a empresa em suas próprias páginas. A empresa captura

essa informação e estabelece, a partir de então, um diálogo com esses

consumidores

Além da desburocratização dos processos, a agilidade de resposta é

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viabilizada devido ao alto grau de autonomia do time. Os colaboradores, por meio

das respostas mapeadas, têm certa liberdade controlada para responder aos

consumidores sem passar por um processo de aprovação dos seus superiores ou de

outras áreas. Tal movimento dentro da organização só pode ser estabelecido devido

às frequentes iniciativas de capacitação digital.

O foco em capacitação digital garante que o time seja constantemente

treinado com conteúdos específicos sobre a empresa, a marca, os produtos, as

plataformas de mídias sociais e o tom de comunicação que deve ser utilizado na

rotina de seu trabalho. Segundo Luiza Boller, existe um programa de treinamento

“perene” em que se estuda as “best practices”, os “do´s and don´ts” e os novos

recursos de mídias sociais. Tal programa de ensino conta também com palestras

ministradas pelos próprios funcionários das plataformas, como Twitter, Facebook e

Google.

A parceria que a Coca-Cola estabeleceu com essas plataformas trouxe

alguns benefícios para a empresa. Além de treinamentos específicos sobre cada

dispositivo, as empresas também informam sobre as tendências do mercado, uma

vez que elas atendem outras companhias de outros setores podendo ser agentes

disseminadores de melhores práticas. Outras informações que esses parceiros

oferecem são os próprios dados sobre perfil de usuário e de utilização em suas

redes, como o tradicional Ibope.

A capacitação digital também perpassa por diretrizes de alinhamento à

persona da marca na elaboração das respostas. Para que a equipe de React tenha

autonomia e liberdade criativa, a marca, seus valores, tom de comunicação,

posicionamento e público alvo são estudados a fim de garantir sinergia de

comunicação com a orientação preestabelecida por cada uma das marcas.

Luiza Boller também explica que a capacitação digital deve contemplar as

peculiaridades de cada plataforma, portanto a empresa ministra “treinamentos

separados” para cada uma das plataformas. Ela esclarece que o Twitter permite

responder aos questionamentos dos consumidores de forma individualizada, o que é

chamado de “direct messaging”. Já o Facebook, não possui essa ferramenta para as

páginas das marcas, e as respostas devem ser publicadas no próprio comentário do

usuário, o que fica “visível para todos os outros usuários”. Para a gerente de Mídias

Sociais, essa característica cria a possibilidade de “gerar mais dúvidas ou mais

reclamações” ou causar estranhamento no motivo pelo qual a empresa está

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respondendo a “uma pessoa só” em um comentário público. Entretanto, ela frisa que

com a “própria evolução dos canais sociais” os consumidores passam a

compreender “que no Facebook as marcas não podem responder diretamente”.

Os treinamentos que orientam a conduta dos profissionais de Mídias Sociais

da Coca-Cola também incluem alguns princípios que a empresa segue para a

atuação nesse tipo de mídia. No anexo B, intitulado de “Princípios de Mídia Social”28,

é possível verificar o esforço da empresa em disponibilizar um documento que

norteie a atuação dos colaboradores nas plataformas sociais. Tal documento tem

como objetivo orientar, não somente aqueles que atuam diretamente com as mídias

sociais em nome da organização, mas também todos os colaboradores em diversas

ocasiões. O guia deixa claro qual o significado das mídias sociais para a empresa,

reforça os compromissos corporativos que a marca tem para com a sociedade, e

ainda delimita as expectativas sobre a conduta dos funcionários e dos porta vozes

das marcas nesse ambiente.

Luiza reforça que a empresa “acredita no caráter colaborativo da internet” e

que, portanto reconhece a liberdade dos consumidores em manifestarem suas

opiniões nas redes. A gerente relata que a empresa não possui uma política de

apagar comentários negativos ou desabilitar a função que possibilita os

consumidores a comentarem os posts da empresa, mesmo nos casos de conteúdos

considerados “polêmicos” ou “vulneráveis”. Luiza esclarece os casos em que,

excepcionalmente a empresa opta por apagar o comentário do consumidor:

As pessoas vão fazer as suas próprias versões e se isso não ferir nenhum direito jurídico mesmo de marca, de você associar com a logo da Coca-Cola ou utilização indevida de marca, a gente nunca vai pedir para retirar um conteúdo, a não ser que ele tenha alguma coisa ofensiva, alguma coisa preconceituosa, só se forem realmente casos em que isso esteja prejudicando pessoas aqui dentro da Coca-Cola ou consumidores, de forma

muito clara. (Luiza Boller, Gerente de Mídias Sociais da Coca-Cola)

A forma com a qual a empresa se estruturou para ganhar agilidade de

resposta, desburocratizando processos, promovendo autonomia e capacitação da

equipe, resultou em uma série de boas práticas em redes sociais que tiveram

repercussão na mídia. Elas podem ser representadas em dois exemplos citados

pelos entrevistados. O primeiro é o caso do consumidor Igor Dettmann Guaitolini

28

Site da The Coca-Cola Company. Disponível em: < http://assets.coca-

colacompany.com/7c/cf/8b910fab4b789ee307e0ea57cdfa/portuguese-brazil-social-media-principles-2013-pt-

br.pdf. Acesso em 08 mai. 2015.

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que criticou a categoria refrigerante fazendo uma paródia com a letra de música do

rapper B Negão29. A área de React não precisou submeter a resposta ao jurídico, por

ser um caso identificado no rol de assuntos pré-selecionados que podem prescindir

de uma avaliação jurídica; e respondeu no mesmo tom de comunicação, ou seja,

com rimas, conforme mostra o figura 11. O interessante é que o número de likes nos

posts da Coca-Cola excedeu o do consumidor Igor.

Figura 11: Reprodução do diálogo entre internauta e Coca-Cola no Caso Rap

O segundo caso foi o do consumidor que postou uma crítica à Coca-Cola

chamando de Darth Vader (personagem do filme Star Wars, conhecido por

representar a força do mal) o ácido fosfórico contido no refrigerante30. A equipe da

empresa respondeu ao consumidor também usando referencias de Star Wars

conforme figura 12 e anexo A.

29

Disponível em http://www.adnews.com.br/publicidade/coca-cola-cria-rimas-para-responder-criticas-de-

internauta. Acesso em 07 jul. 2014. 30

Disponível em

https://www.facebook.com/photo.php?fbid=10151646815043230&set=a.427519348229.233428.61124008229&type=1&comment_id=9402593&offset=50&total._Acesso em 10 jul. 2014.

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Figura 12: Reprodução de parte do diálogo entre Internauta e Coca-Cola no Caso Star Wars

Time de Listen

O trabalho de observação dos movimentos na internet, resultando em

“dashboards” de inteligência, é uma das atribuições do time de Listen. Sua

responsabilidade é acompanhar o que está sendo dito na rede por consumidores,

blogueiros, formadores de opinião, mídia tradicional, entre outros. Esse time utiliza

inúmeras ferramentas para geração de dashboards e relatórios sobre o que as

pessoas estão falando na rede. Além disso, contam com parceiros especializados

em publicações sobre o meio publicitário como Proxxima, Meio e Mensagem e Blue

Bus. A função dessa área na companhia é de gerar inteligência proveniente do

comportamento em mídias sociais para auxiliar os gestores da Coca-Cola em suas

decisões de negócios. Segundo Luiza Boller, um exemplo interessante foi o

mapeamento da palavra “Sprite” que estava sendo associada à palavra “Ressaca” e

que acabou levando a empresa a fazer um estudo sobre o uso desse refrigerante

nessa ocasião de consumo. A companhia entende que manifestações como essa

configuram uma “oportunidade” a ser trabalhada para ”reverberar positivamente para

a marca”.

Time de Speak

O terceiro pilar da área de Customer Interaction Center é o Speak que tem

como função o planejamento da estratégia da atuação digital e da criação de

conteúdo. O objetivo principal dessa vertente é atender à missão de branding das

marcas, ativando-as no canal digital. De forma alinhada com o gestor da marca, esta

área implementa a estratégia de construção de marca no universo online: sites, fan

pages, plataformas de mídias sociais. Para tanto, a Coca-Cola tem duas agências

especializadas em marketing digital que são parceiras em toda a gestão digital das

marcas. Além da criação de campanhas, as parceiras dão sugestões de pautas para

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gerar diálogos nas mídias sociais. Elas também são responsáveis por criar algumas

das respostas que a equipe de React utiliza para se comunicar com os

consumidores. Segunda Luiza, na situação em que é preciso elaborar “um texto

mais criativo, mais humano, menos duro, menos formal”, as agências digitais são

chamadas para orientar essa concepção.

Uma das campanhas utilizadas como exemplo pela gerente de mídias sociais

foi a da Copa das Confederações de 2013, sediada no Brasil. A Coca-Cola elaborou

uma estratégia de produto em que as latas foram recriadas com uma estampa

colorida. E a estratégia de mídia digital estava associada ao acompanhamento do

evento, elaborando comentários sobre os jogos e sobre os recentes acontecimentos.

Segundo Luiza, a atuação da Coca-Cola nesse evento esportivo estava sendo muito

elogiada nas plataformas sociais levando a agência digital a ampliar os diálogos nas

mídias sociais. Por exemplo, na ocasião em que o Brasil ganhou da Espanha por

três a zero, a empresa publicou “hoje vai ter paella”. Conforme os usuários

comentavam o post, a Coca-Cola desenvolvia o diálogo, oferecendo novas

informações e conteúdo, como por exemplo “Que legal que você gostou, Tenho

uma receita de paella muito boa aqui, você já experimentou?”.

Time de Amplify

O quarto e último pilar da área é o Amplify. O objetivo dessa frente de

trabalho é identificar os conteúdos, tanto os gerados pela área de React quanto

aqueles gerados por Speak, que tiveram boa repercussão na rede e passar a

patrociná-los para que eles alcancem uma base maior de usuários da internet.

Então se a gente publicou um post sobre a copa das confederações no Facebook e a gente viu que em muito pouco tempo aquele conteúdo já reverberou muito, a gente patrocina ele para que ele chegue a uma base ainda maior de usuários e funcione como sendo uma peça de mídia on-line. Um post que era orgânico na nossa timeline que passa a ser patrocinado e aí em vez de ele chegar só a uma parte da nossa base de fãs, ele extrapola isso e vai para os usuários de internet que estiverem no Facebook. (Luiza Boller, Gerente de Mídias Sociais da Coca-Cola)

O processo de decisão sobre o patrocínio dos posts se dá a partir do

monitoramento dos indicadores de desempenho do universo digital: número de likes,

de compartilhamentos e de comentários gerados pela publicação. Segundo Luiza,

para cada tipo de campanha será atribuído um indicador mais adequado. Algumas

campanhas contam com “medidas de awareness” quando, por exemplo, o objetivo é

aumentar o número de visitação de um site. Outras podem ter “métricas de

engajamento” como o número de downloads de determinado aplicativo.

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Esses quatro pilares do Customer Interaction Center descritos acima fazem

parte da estruturação que a Coca-Cola iniciou para participar do “caráter

colaborativo da internet”. Segundo Luiza, a empresa entende e “apóia” essa

natureza cooperativada Web 2.0. Ela explica que a empresa está “fazendo todas as

mudanças possíveis” para que a empresa “consiga conversar” de forma mais ágil

com os consumidores nas plataformas sociais. Ela relata que, para melhorar a

relação e o diálogo com os consumidores, as áreas da Coca-Cola que lidam com

esse processo também trabalham de forma bastante colaborativa, tanto

internamente como externamente. Uma ação que exemplifica essa qualidade

cooperativa descrita pela gerente é o trabalho chamado de “Conteúdo Coletivo”

envolvendo jovens de comunidades como Alemão, Rocinha, Vidigal. Esses

adolescentes são chamados para participarem dos treinamentos de Facebook e

Twitter e de reuniões internas para dar suas opiniões e sugestões. Eles também são

convidados para participar de eventos e viagens em que, eles mesmos, produzem

conteúdo, como posts e fotos sobre a Coca-Cola. Essa iniciativa colaborativa tem

como objetivo estreitar a relação da empresa com todas as pessoas dessa faixa

etária.

4.1.4 Coca-Cola Zero: O papel da agência digital no processo de gestão do

marketing digital

A The Coca-Cola Company estabeleceu parcerias com diversas agências de

comunicação que a auxiliam no processo de gestão estratégica e de implementação

das ações de comunicação. Dentre as diversas agências, duas são responsáveis

pela vertente digital. Para a presente pesquisa, foi entrevistada a agência Muta.to,

por ser a responsável pelas marcas Coca-Cola vermelha, Coca-Cola Zero, Coca-

Cola Light, Sprite e Fanta.

A empresa Muta.to nasceu em 2012 vislumbrando o nicho de mercado que

despontava no universo das plataformas sociais. Sendo originada da produtora

Colméia, seus fundadores entenderam que poderiam aproveitar a expertise de

criação de conteúdo e transpô-la para o mundo digital. Segundo Tulio Tavanielli,

diretor de criação da agência Muta.to, a Coca-Cola foi uma das primeiras clientes da

agência. A etapa inicial dessa parceria foi o investimento no aprimoramento das

ações de mídia social. O diretor relata que no início de 2012 a estratégia em social

ainda estava pouco desenvolvida. A empresa publicava “3 posts por semana e todos

com fundo vermelho e texto branco”.

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Foram realizadas ações que eram acompanhadas e testadas a fim de

desenvolver um arcabouço de práticas de sucesso e de fracasso. Por meio do

conhecimento gerado por essas ações, a Coca-Cola foi adquirindo maturidade

conjuntamente com a agência o que a levou a fazer as modificações estruturais

necessárias para dialogar com a nova realidade das mídas sociais. Para Tulio a

empresa passou por “uma evolução muito grande” que culminou na Copa do Mundo

de 2014. O diretor explicou que para esse grande evento foi montada uma sala

especial, chamada de “war room”, em que times trabalhavam em tempo real

produzindo e publicando conteúdo, inclusive vídeos. E ainda detalhou que um “grupo

no whatsapp” foi criado para aprovações desburocratizadas com o jurídico da

companhia o qual deveria responder em tempo real também.

Sendo a Muta.to uma das agências de comunicação da Coca-Cola, o

processo de trabalho em grandes campanhas implica em um sistema de

colaboração com outras agências. Giamile Rossato, gerente de contas da Muta.to

responsável pela Coca-Cola, explica que a visão de sua cliente é “dividir para

conquistar”. Isso significa que as agências irão contribuir com as campanhas nas

esferas de domínio de seus expertises. Portanto, quando há uma “grande campanha

360”, a Coca-Cola passa o briefing para as agências, e a agência líder que “é

responsável pelas mídias tradicionais”, irá trabalhar em conjunto com as demais.

Ocorre então um processo chamado de “hot house” em que as agências validam

com a líder o briefing e, em seguida, cada uma delas desdobra o planejamento e

criação das ações de comunicação de sua competência.

A importância de desdobrar a estratégia de comunicação no plano das mídias

sociais se dá pela forma singular com que essas ações contribuem para o processo

de construção das marcas. Segundo Tulio, diferentemente das mídias tradicionais,

as iniciativas nas plataformas sociais auxiliam as marcas a construir o seu valor de

forma mais genuína, elas “ganham respeito” ao contrário do que ocorria

anteriormente com as mídias tradicionais em que elas “impunham respeito”. Ao

compreender que o canal da mídia social é de propriedade do usuário e não da

marca, as empresas passam a se comportar da maneira com a qual o seu grupo de

consumidores almeja. Aliado a esse entendimento de que a propriedade é do

usuário, o intuito de estar próximo aos consumidores faz com que as marcas

estabeleçam diálogos que gerem engajamento. Para Giamile, a ideia é que as

marcas se relacionem na dimensão das mídias sociais da mesma forma com a qual

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os seus usuários se relacionam entre si. Portanto, as redes sociais devem “se propor

a ter um diálogo diário com todo mundo” e, para isso, devem escolher os “territórios”

a serem “explorados”, “conquistados” e aqueles a serem “evitados”. Os territórios a

serem “explorados e evitados” estão relacionados aos temas da atualidade que

serão escolhidos para capitanear esse diálogo na rede. Os territórios a serem

“conquistados” referem-se diretamente a metas de ações da marca na rede, como

uma campanha, ou disponibilização de vídeos para download, etc.

Giamile exemplifica um desses territórios a serem evitados ao afirmar que não

disponibilizaria um post sobre as manifestações ocorridas em Junho de 2013 pela

polêmica que poderia causar. E complementa explicando que os territórios a serem

explorados estão relacionados a assuntos sobre atualidades, “coisas que estão

acontecendo”, temas que façam com que a marca não seja “morta”. O importante é

disponibilizar uma pauta que gere diálogo. Um dos casos apontados como exemplo

por Giamile foi o post que estava relacionado com o programa Big Brother. Ela

descreve a situação como forte geradora de conversa entre os internautas uma vez

que o debate passou por diversos aspectos do programa, como sua qualidade, os

recentes acontecimentos, as preferências dos usuários, entre outros. A especialista

em mídias sociais afirma que alguns comentários negativos foram publicados. Mas

relata que como eles se referiam ao programa e a seus participantes, e não à marca

Coca-Cola, eles estariam dentro da configuração do território que pode ser

explorado. No que se refere ao território a ser conquistado, Giamile cita os casos em

que as campanhas se propõem a gerar visitação em sites específicos, download de

músicas ou inscrição em páginas da Coca-Cola.

Essa construção de marca no plano social da Coca-Cola que ocorre

diariamente permeia os quatro pilares do Customer Interaction Center: React, Listen,

Speak e Amplify. A função da Muta.to é auxiliar a empresa na gestão desses quatro

processos. Uma das formas é pelo monitoramento da internet feito pela agência que

ocorre de duas formas. A primeira se refere ao acompanhamento diário da internet

que terá como produto um relatório quinzenal a ser entregue para a Coca-Cola.

Segundo Giamile, esse reporte congrega dados sobre “comentários negativos,

comentários positivos” sobre aquilo que é entendido como “neutro”, sobre as

iniciativas que “agregaram” e também sobre aquelas que foram consideradas

“detratoras”. Essa varredura na internet compreende tanto as publicações

espontâneas quanto a análise da performance de uma campanha específica. A

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segunda maneira pela qual a agência monitora o universo digital ocorre pela seleção

de determinados indivíduos que serão monitorados ao longo do tempo. O objetivo é

acompanhar a evolução do comportamento daquele sujeito na rede em relação à

marca Coca-Cola. Um dos exemplos citados pela gerente de contas seria a atuação

de algum integrante do Black Block que passasse a frequentar ou a comentar a

página da Coca-Cola.

A outra forma pela qual a agência contribui com a gestão dos quatro pilares

do plano social se dá pelo fornecimento de alertas provenientes do trabalho de

monitoramento da rede. Giamlie explica que qualquer novo comentário que possa

configurar como ponto de atenção, é enviado à Coca-Cola. Ela ainda complementa

que a agência faz sugestões de repostas que são enviadas ao jurídico para

aprovação e posterior incorporação no processo já sistematizado de respostas do

time de React. A gerente de contas ainda complementa dizendo que, por meio do

monitoramento, a Muta.to conseguiu “salvar” algumas vezes a Coca-Cola. O

acompanhamento em tempo real da repercussão de campanhas levou o time de

inteligência da agência a prever situações de alerta. A colaboração com o time de

React, segundo a gerente mídias sociais Luiza Boller, também ocorre quando a

Coca-Cola necessita que a agência conceba respostas “mais criativas, mais

humanas, mais soltas” para munir os profissionais dessa área.

As funções da agência no monitoramento da internet, na geração de alertas e

na elaboração de respostas criativas estão diretamente relacionadas com a gestão

dos pilares de Listen e React da Coca-Cola. As outras duas vertentes do plano

social, Speak e Amplify, estão relacionados com a criação e otimização de

campanhas. As funções da agência nesse processo já foram descritas acima e

estão associadas com a forma singular com a qual as mídias sociais criam valor e

significados para a marca.

4.1.5 Coca-Cola Zero: Processo de acompanhamento do desempenho das

marcas

O processo de acompanhamento das marcas na The Coca-Cola Company

está consolidado e oferece aos gerentes indicadores de desempenho de diversas

naturezas. Renata Furnaletto, responsável pela marca Kuat, informa que todas as

marcas da companhia passam por um processo de definição de um documento

chamado de “Brand Vision and Architecture” com o objetivo de oferecer uma diretriz

para a marca e também como uma garantia de alinhamento da compreensão da

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marca para os futuros colaboradores da companhia:

é um documento que você define o posicionamento e a visão dessa marca,

personalidade, arquétipo, enfim é um documento bem completo que define aonde

essa marca quer chegar, o que ela quer deixar de marca nos próximos anos

(Renata Furnaletto, Gerente da marca Kuat)

Posteriormente ao processo de planejamento, as marcas serão

constantemente monitoradas. Segundo Adriano Torres, existe dois tipos de

indicadores que atendem às necessidades de verificação de desempenho: os

permanentes e aqueles confeccionados sob medida, chamados de ad hoc. Os

indicadores permanentes são grandes painéis quantitativos que medem desde

atributos afetivos, como amor à marca, até de performance transacional, como

número de vendas. Esses índices são associados aos indicadores de

acompanhamento de cada área, como Shopper ou Regional, proporcionando

informações importantes para o gerente da marca. Adriano exemplifica sua relação

com a área de Shopper Market:

Adriano também informa que a The Coca-Cola Company tem uma ferramenta

permanente de acompanhamento de marca, proprietária da empresa, chamada The

Cube. Essa solução é considerada por Patrícia Fonseca, responsável pela área de

Insights, como “um barômetro” ou como uma ferramenta de “equity para todas as

marcas”. Ela explica que o The Cube é composto por um questionário que é “rodado

todo mês no Brasil e que mensura diversos atributos de imagem e de consumo para

todas as marcas e concorrências”. Dessa forma, essa área gera uma base de dados

que alimenta a companhia, disponibilizando para os diferentes departamentos da

empresa distintos níveis de informação.

Além do acompanhamento realizado de forma periódica, os indicadores ad

hoc são utilizados para acompanhamento de campanhas que sejam consideradas

de grande importância para a companhia, seja por seu alcance ou pela importância

estratégica. Adriano Torres exemplifica com a promoção das minigarrafas, e

esclarece que campanhas dessa natureza são “um passo estratégico muito forte

para a marca” e que usualmente elas têm “um investimento alto” gerando

“expectativas muito altas” sobre o resultado.

Adicionalmente a essas pesquisas ad hoc de pós-teste, a The Coca-Cola

Company também faz uso de pesquisas ad hoc para pré-teste. Estas têm como

objetivo averiguar a aceitação prévia do mercado antes do produto ou da campanha

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a serem lançados. Adriano explica que a empresa possui uma política de avaliar

muitas das campanhas, principalmente aquelas que “vão para o consumidor de

forma massiva”. Para tanto, utilizam metodologias de mercado, como o Link da

MillwardBrown, ou contratam empresas do mercado para desenhar uma pesquisa

específica.

Além dos indicadores acima relacionados que avaliam objetivamente atributos

de amor à marca, informações transacionais, aceitação e desempenho de

campanhas, Patrícia Fonseca, complementa que a área de Insights também realiza

“estudos que não tem ligação com nenhuma área ou com nenhuma marca, mas que

são a base do pensamento para a companhia”. São pesquisas de fundamento

antropológico ou que buscam identificar tendências que estão relacionados a

grandes movimentos culturais. Ela exemplifica ao citar uma pesquisa que ocorre a

cada quatro anos e que contribui para o planejamento estratégico da empresa. Esse

estudo investiga as motivações sobre o ato do consumo para qualquer categoria de

bebida. O objetivo dessa pesquisa é identificar quais “espaços motivacionais”

existirão no futuro para determinar “as macroprioridades” da companhia e também

das marcas. Para tanto, busca-se entrevistar cerca de cinco mil pessoas aplicando

um questionário que acessa as motivações e os itens consumidos nas ultimas vinte

e quatro horas.

4.2 APRESENTANDO O CASO DO VÍDEO “NA LATA”

A segunda parte dessa apresentação de resultados contemplará a descrição

do episódio sobre a publicação do vídeo Na Lata. A análise será descrita segundo a

vivência dos representantes da esfera empresarial. Ou seja, será detalhado como o

vídeo foi recebido pelos gestores da The Coca-Cola Company ,quais as condutas

tomadas em relação a esse acontecimento, a avaliação sobre o impacto na marca e

o sucesso do vídeo.

4.2.1 Ação e Reação: O lançamento do vídeo e a resposta da The Coca-Cola

Company

A publicação do inédito vídeo “Na Lata” em 17 de janeiro de 2013 não

surpreendeu totalmente os executivos da Coca-Cola. Os gestores responsáveis pela

marca, mídias sociais, e também os criativos da agência digital Muta.to, já

aguardavam esse lançamento. A origem da informação sobre a divulgação do vídeo

apareceu nas entrevistas de formas distintas. Tulio Tavanielli, diretor de criação da

Muta.to, informou que um funcionário da Coca-Cola que era “amigo de uma galera

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do Porta dos Fundos” enviou um e-mail a ele informando que iria “sair um filme de

nome na lata”. Já Adriano Torres, gerente da marca Coca-Cola Zero, relatou que o

Porta dos Fundos fazia uma espécie de teaser divulgando o próximo vídeo a ser

lançado, o que alertou toda a equipe da empresa. Entretanto, independentemente da

fonte da informação, a ciência desse fato possibilitou que a Coca-Cola preparasse a

equipe para ficar de prontidão de modo a avaliar e reagir à publicação como julgasse

necessário.

Figura 13: Ilustração do vídeo “Na Lata”

A temática do vídeo foi a procura pelos nomes nas latas de Coca-Cola Zero.

Fabio Porchat representa um funcionário de um supermercado; e Letícia Lima

representa uma consumidora que busca uma latinha com o seu nome. Fábio oferece

ajuda à Leticia e pergunta o nome que ela procura. Ela responde informando que

busca por seu nome, Kellen. Fábio então esclarece que nome “merda”, “nome de

puta” a Coca-Cola não fazia. Ele ainda acrescenta que o seu próprio nome, Uelerson

é um nome ruim e por isso ele também não encontraria nas latinhas. Ele sugere

então que ela busque seu nome na promoção da Dolly, empresa que faria uma

campanha com nome ruim. A transcrição do vídeo está disponível no apêndice F.

A resposta da Coca-Cola foi publicada na fanpage da Coca-Cola Zero

algumas horas após o vídeo. A agilidade e criatividade dessa réplica se devem à

parceria entre as áreas envolvidas que trabalharam cooperativamente. Adriano

Torres explica que ele fez uma “avaliação de risco” e decidiu que iria considerar

aquela manifestação bem-humorada do Porta dos Fundos como uma expressão

legítima, não acarretando em qualquer acionamento legal. Apesar do Porta dos

Fundos não configurar uma pessoa física em atividade de cocriação com a marca

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Coca-Cola Zero, a estratégia de conduta da empresa foi a mesma utilizada com

pessoas físicas descrita anteriormente. O árbitro cultural não recebeu nenhum

acionamento legal. Portanto, parece haver uma distinção entre o site que utilizou a

marca Coca-Cola Zero com intenção comercial e o canal Porta dos Fundos que o

utilizou como recurso cultural para elaboração de uma paródia.

Adriano ainda relata que o teor do vídeo continha elementos que estavam em

contradição com a política global da empresa e da marca, como o uso de

“palavrões”, e por isso ele teve que se posicionar para o departamento jurídico

explicando sua decisão. Ele conta o episódio conforme abaixo:

Aí é que está, tem que fazer a análise de risco. No caso os caras falavam palavrão dentro de um conteúdo de Coca-Cola, isso não pode, falar palavrão, não pode ser ofensivo, são polices globais de comunicação da marca. Os caras fizeram isso. Tive que ligar para o jurídico e falar "não vou acionar eles em nenhuma instância", vou considerar que isso foi como se fosse um consumidor que pixasse um muro: fora Coca-Cola do país, não vou processar o cara. (Adriano Torres, Gerente da marca Coca-Cola Zero)

O gerente de Coca-Cola entendeu que o vídeo estava em um território

particular, com uma ética e linguagem próprias, e que nesse espaço, uma

linguagem, considerada inapropriada em outros canais para a identidade da marca,

passa a ser aceitável ou mesmo consonante com o próprio espaço. Nas mídias

sociais, Coca-Cola pode aparecer junto com “palavrões”. Isso remete à fala anterior

de Tulio, da Muta.to, quando explica que a marca ganha um revestimento mais

humano e honesto nas mídias sociais. Atacar essa espontaneidade poderia implicar

em perder sua legitimidade neste espaço, junto aos consumidores.

Concomitantemente à avaliação do gestor da marca e do jurídico, a agência

digital em parceria com a equipe da Coca-Cola iniciava um processo de

brainstorming para a concepção da melhor resposta a ser dada ao Porta dos

Fundos. O trabalho em conjunto, segundo Tulio, é uma das práticas da Coca-Cola.

No seu ponto de vista, o processo de cocriação tem como um dos benefícios

principais a “diluição do risco”. A criação conjunta aliada à tomada de decisão

compartilhada entre agência e cliente parece ter sido o fator que permitiu que a ideia

final surgisse tão rapidamente e de forma criativa. Giamile explica que a decisão da

Coca-Cola foi se unir ao Porta dos Fundos, “agregar” e identificar o que poderia ser

feito “de bom”.

E em quatro horas após a veiculação do vídeo, foi elaborada e publicada a

ilustração contendo as latas de Coca-Cola Zero personalizadas com os nomes dos

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personagens do episódio Na Lata, conforme figura 14 abaixo:

Figura 14: Imagens das latas publicadas na fanpage da Coca-Cola Zero

A equipe da Coca-Cola envolvida nesse trabalho teve autonomia para

publicar essa resposta na fanpage. Segundo Adriano, para que a contrapartida da

Coca-Cola seja rápida, não é possível realizar um “processo de aprovação de um

anúncio normal”, por isso que ele, o gerente da marca, só viu “a resposta que foi na

fanpage no ar”. Adriano esclarece que a autonomia que as áreas precisam ter hoje

em dia causa “um incômodo danado para o modelo antigo de gestão de marcas que

controlava tudo”. Tal afirmação parece ilustrar o sentimento causado pela nova

organização que a dinâmica das mídias sociais apresenta às organizações. Com a

necessidade de quebra de hierarquias e reordenação do processo de

desenvolvimento e aprovação das mensagens que chegam ao consumidor, as

novas plataformas de mídia social ocasionam rupturas nos protocolos usais de

produção de conteúdo para a marca. Dessa forma, parece fazer sentido que os

mecanismos de controle sejam revistos e até suprimidos em alguns casos a ponto

de existir um conteúdo de marca publicado sem a necessidade de aprovação do

gestor dessa marca.

O relato da The Coca-Cola company sobre as decisões tomadas para lidar

com a publicação do vídeo “Na Lata” ilustra parte do processo estabelecido para a

gestão de marcas no ambiente digital, descrito anteriormente. O preparo da equipe

para responder em apenas quatro horas exemplifica a velocidade com a qual

decisões criativas e importantes foram tomadas. A deliberação do time passou por

avaliações densas de branding, relacionadas à conduta e a associações da marca

Coca-Cola. Os aspectos de gestão trabalhados pela empresa, como autonomia e

capacitação digital, despontaram como elementos fundamentais na elaboração da

apropriada resposta oferecida pela Coca-Cola. E, ainda, a desburocratização dos

processos foi o princípio catalisador de toda essa articulação com o árbitro cultural.

Tal desburocratização aparece de forma explícita quando o gerente, responsável por

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toda a estratégia de marca, informa que sua função principal nesse evento foi a de

realizar a avaliação de risco, deixando ao time de Mídias Sociais a responsabilidade

de criar a devolutiva que melhor atendesse ao estímulo do Porta dos Fundos.

4.2.2 Avaliando os resultados do vídeo sobre a marca

A Coca-Cola indica estar no caminho de acomodar uma nova estrutura que

possibilite agilidade e autonomia no processo de diálogo com a sociedade, no

contexto das mídias sociais. Entretanto, apesar da geração de conteúdo estar

adequada a essa nova realidade, o processo de avaliação desse conteúdo parece

ainda não acompanhar essa transformação. Segundo Adriano Torres, as ações que

podem ser monitoradas e avaliadas são aquelas que são planejadas e

implementadas de forma sistemática. Ele exemplifica dizendo que para ter

monitorado o resultado, esse vídeo deveria ter sido “trackeado” e “estimulado nos

canais corretos” com possibilidade de “acessar o servidor” do Porta dos Fundos. A

ideia seria poder acompanhar o caminho do internauta verificando se, após

visualizar o vídeo, ele iria para a página da Coca-Cola Zero.

Além disso, Adriano acrescenta que deveria ter sido feita também “uma

amostra controle” para verificação da aceitação da marca entre aqueles que

assistiram ao filme em relação àqueles que não o viram. Alinhado a esse raciocínio,

Patrícia Fonseca, diretora da área de Insights, também afirmou que nenhuma

avaliação estruturada foi realizada para ponderar qual o impacto do vídeo no

processo de construção de marca. Ela disse também que esse tipo de vídeo “não

constrói equity para a marca” porque “não foi originalmente pensado para a Coca

Zero”. Parece haver, portanto, uma importante atribuição ao autor do conteúdo da

marca na questão de avaliação de resultados. A autoria da ação pela empresa se

mostra necessária para que existam mecanismos de análise a fim de avaliar com

“objetividade” (grupos controle, planejamento) o impacto de determinada ação para

a companhia. Além disso, parece haver um entendimento de que iniciativas de

comunicação que não trabalhem os atributos já existentes da marca não contribuem

com a construção de significados para a marca.

Diferentemente da visão da Coca-Cola, Tulio da agência Muta.to, acredita

que o vídeo tenha contribuído de alguma forma com a construção da marca Coca-

Cola Zero. Primeiramente, ele pontua a qualidade e relevância do vídeo explicando

que: “o vídeo que eles fizeram bebe de todas as premissas que a gente gosta de

trabalhar, tem conteúdo pensado no canal, que dialoga de forma mais humana com

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os consumidores, com os expectadores, que bota o produto num contexto de

conteúdo legal”. Além desses aspectos, ele afirma que pelo fato do Porta dos

Fundos ter uma grande audiência, aliado à força do vídeo e ao seu conteúdo bem

humorado, é possível concluir que essa veiculação contribui com a construção da

marca.

Entretanto, ele pondera que a frequência de visualizações do vídeo pelo

mesmo consumidor pode ter sido baixa para auxiliar na construção de significados

para a marca. Além disso, ele também observa que a forma com a qual o Porta dos

Fundos posicionou o produto pode não refletir “exatamente a forma que Coca-Cola

pensa o produto”. Na visão da agência, portanto, parece haver o entendimento de

que mesmo em situações em que são veiculadas comunicações não proprietárias da

marca, com conteúdos indesejados por ela, o processo de construção de marca

ainda ocorre. O ponto de vista desses especialistas do mercado vislumbra o

processo de construção de marcas como um fluxo contínuo de articulação de

significados cocriado pelo coletivo social. Além disso, essa linha de raciocínio parece

posicionar a empresa como agente não exclusivo de criação de significados,

considerando-o como mais um integrante desse processo social.

Apesar de não ter havido qualquer julgamento quantitativo sobre a

contribuição na construção da marca Coca-Cola Zero por esse vídeo, os envolvidos

demonstraram ter passado por uma série de análises informais sobre esse

acontecimento. Com relação à comparação entre as marcas Coca-Cola Zero e Dolly,

a maioria dos entrevistados acredita que esse paralelo acarretaria em uma

insinuação negativa exclusivamente para a marca Dolly. No vídeo, Adriano Torres

explica que existe uma diferença entre atestar uma “realidade”, que é o fato da

“Coca-Cola Zero não trazer todos os nomes”, e apresentar um argumento com “teor

negativo” que se refere à insinuação de que seriam “só os excluídos” que teriam os

seus nomes nas embalagens da Dolly. Luiza Boller classificou esses nomes

relacionados à marca Dolly como sendo os “nomes engraçados” e como “nomes não

tão comuns”. Tulio já explica que a campanha explicitava: ”quer nome ruim, vai para

a Dolly”.

Entretanto, Patrícia Fonseca, considera o teor dessa comparação como

“ambígua”. Ela afirma que o fato da Dolly ser vista como “popular” pode ser um bom

aspecto para a marca uma vez que é ela quem “fala com o povão”. Ela complementa

afirmando que na comparação entre as marcas, pode ser possível interpretar o

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posicionamento da Coca-Cola como “elitista”, parecendo haver também um teor

negativo permeando a marca. A responsável pela área de Insights elabora esse

conceito sobre a marca elitista ao argumentar que existe “uma verdade de produto”

fundamentando essa afirmação uma vez que a empresa tem de fato “preços mais

elevados do que a Dolly”. Giamile parece estar alinhada com esse ponto de vista ao

declarar que “não vai ter um Craysson na latinha por uma questão de venda”, e que

caso houvesse a Coca-Cola iria “ter um problema de estoque”.

A campanha dos nomes na lata parece ter sido concebida de forma a atender

o posicionamento já conquistado no mercado brasileiro. Conforme detalhado na

seção 4.1.1. sobre o posicionamento da Coca-Cola Zero, apesar da empresa buscar

jovens entre 20 e 29 anos de todas as classes sociais, a natureza de baixa calorias

do produto Zero, traz maior aderência com as classes A e B. A campanha dos

nomes, considerada como “ estratégia de guerrilha” por Patrícia Fonseca, foi

lançada com poucos recursos e tinha o objetivo de alavancar as vendas do produto

Coca-Cola Zero que estava “sofrendo uma questão de volume difícil”. Portanto,

parece que essa campanha foi concebida para estimular as vendas nesse segmento

já existente A e B, e para isso, os nomes nas latas deveriam reverberar junto a esse

público. Patrícia Fonseca explica que, apesar de ter sido realizado um estudo de

nomes para identificar “os nomes mais comuns”, não foi aplicado nenhuma camada

de estratificação social. Dessa forma, parece haver um entendimento de que o

sucesso da campanha extrapolou a delimitação inicial do público alvo do produto

chegando à camadas da população que se fascinaram pelo mote da campanha, a

personalização das latinhas.

Além das observações realizadas sobre a comparação das marcas, os

entrevistados também parecem ter uma avaliação unanimemente positiva sobre as

consequências da criação do Porta dos Fundos para a companhia. Adriano Torres

comentou que mesmo não havendo “fit com Coca-Cola Zero”, o episódio Na Lata

gerou “um buzz para a marca”. O gerente explicou que a linha de comunicação mais

“escrachada” estaria desalinhada com o direcionamento desejado para a marca que

está mais relacionado a “situações do dia a dia do jovem adulto” contextualizado em

uma linguagem “bem humorada, mas nunca escrachada”. Entretanto, Adriano

considera que como o conteúdo “não denegria o valor da marca” e como a

repercussão do vídeo foi consideravelmente alta, o destaque dado à marca poderia

ser considerado positivo.

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Patrícia Fonseca, gerente da área de Insights, parece estar alinhada às

considerações de Adriano. Ela entende que o discurso do Porta dos Fundos não

estaria consonante com as diretrizes de comunicação da empresa por apresentar

elementos de segregação. Patrícia explica que “a marca não discrimina ninguém” e

portanto, essa mensagem estaria ligada a territórios de significação que a marca não

exploraria. Entretanto, ela pontua que o aspecto positivo desse episódio estaria

relacionado à relevância cultural que a marca e a campanha haviam gerado na

sociedade. Luiza Boller, gerente de mídias sociais, também acredita que a

relevância cultural tenha configurado um fator benéfico para a Coca-Cola:

O vídeo não é da Coca-Cola, o vídeo é do Porta dos Fundos. Isso é a

grande sacada da história. Quando a gente consegue criar um conceito que

seja tão relevante a ponto de consumidores comuns e de formadores de

opinião recriarem em cima, isso não aconteceu só com Porta dos Fundos,

Porta dos Fundos é o que a gente conhece, mas tem uma série de pessoas

normais que fazem paródias em cima das campanhas da Coca-Cola. Essa

é a beleza da história, quando você vê que as pessoas estão fazendo as

suas próprias versões. O Porta dos Fundos fez a versão dele da campanha

da Coca-Cola. A Luiza pode fazer o vídeo dela e publicar isso no Youtube

de forma espontânea. Quando isso vira conversa espontânea o sucesso é

impossível de controlar. (Luiza Boller, Gerente de Mídias Sociais da Coca-

Cola)

Por meio desse relato é possível verificar a amplitude do sistema de avaliação

de marca estabelecido pela Coca-Cola. Apesar da densa estrutura de indicadores de

branding descrito no processo de desempenho de marcas, a empresa não

contempla nenhuma aferição formal, seja quantitativa ou qualitativa, sobre eventos

da natureza como o Porta dos Fundos. O entendimento sobre a contribuição de

significados para a marca que um fenômeno como o Porta dos Fundos desempenha

não aparece interpretado da mesma forma. Para alguns, o vídeo contribui, para

outros não. Entretanto, um aspecto interessante que surge como importante, e que

futuramente poderia configurar entre os indicadores da companhia, é a relevância

cultural que será elaborada a seguir.

4.2.3 O sucesso do vídeo: uma interpretação cultural

As versões recriadas das marcas, quando elaboradas por atores distintos da

empresa, parecem ter boa receptividade social por carregarem interpretações de

autenticidade, legitimidade e espontaneidade. Conforme visto na seção acima, o

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material, que apresenta estímulos para que os consumidores e árbitros culturais

recriem, são aqueles considerados como relevantes culturalmente. Esse foi o caso

do vídeo “Na Lata”. A relevância cultural que parece ter levado o vídeo a se tornar

um sucesso foi detalhado pelos entrevistados. De acordo com os relatos, a

relevância cultural aparece traduzida em cinco elementos para explicar a motivação

criação do vídeo e o seu consequente sucesso:

Figura 15: Elementos de motivação e sucesso do vídeo Porta dos Fundos

No âmbito da marca é possível identificar dois elementos que impulsionaram

o coletivo de humor a desenvolver a criação do vídeo. O primeiro é o poder da

marca. Giamile, gerente de contas na Muta.to, relata que já havia trabalhado com o

Porta dos Fundos e que eles buscam “mexer com uma marca que todo mundo

conhece, que tem uma repercussão e um spread de conteúdo muito grande” para

dessa forma ter um bom acolhimento pelo público. Adriano Torres, gerente da marca

Coca-Cola Zero afirma que pelo fato de a Coca-Cola ter “um awareness muito alto,

um grau de likeability muito alto” e também por gerar “muito engajamento”, a marca

se torna “um assunto muito procurado”. Por ser um “tema quente” é que ele acredita

ter despertado o interesse do Porta dos Fundos.

O segundo elemento nessa orientação da marca está relacionado à

transgressão que esse coletivo de humor articula ao veicular um vídeo satirizando a

marca Coca-Cola. Patrícia Fonseca entende que a motivação do Porta dos Fundos é

“simplesmente fazer a graça” e que eles se posicionam na mídia como

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personalidades “de contra cultura”, o que acabou virando “cool”. Giamile, também

acredita que utilizar uma marca forte como recurso oferece ainda “mais glamour para

Porta dos Fundos” já que seria um ato “ousado” ironizar a Coca-Cola.

No âmbito da campanha “Quanto mais, melhor” também é possível identificar

dois elementos. O primeiro está relacionado com a alta aceitação que a campanha

teve entre os consumidores. Adriano Torres explica que a campanha teve uma

repercussão tão grande que “estourou o número de acessos ao SAC” e que em

“pouquíssimos dias” eles adicionaram “mais de 2 milhões de pessoas na fanpage da

marca”31. Para ele, essa campanha “foi uma febre”. Giamile explica esse movimento

no SAC dizendo que “a campanha difundiu de uma maneira gigante” o que levou

“todo mundo a caçar a sua latinha”. Luiza relata que “as pessoas estavam loucas

colecionando lata, procurando lata” e ainda exemplifica descrevendo casos em que

as pessoas pediam para trocar as latas nos restaurantes, pois queriam as unidades

com os seus nomes estampados. Túlio também exemplifica esse movimento

relembrando que “todo mundo mesmo” estava falando dos nomes nas latas,

inclusive a sua “avó”.

A alta aceitação dessa ação de marketing pelos consumidores contribuiu para

o surgimento do segundo elemento no âmbito da campanha que foi a tensão social

gerada por ela. Segundo Adriano, a procura pela lata com o nome personalizado

levou a criação de “uma comunidade no Facebook” por parte dos consumidores,

intitulada "eu te ajudo a achar o teu nome na latinha" chegando a ter “60 mil

seguidores”. Alguns consumidores tinham dificuldade de encontrar a latinha com o

seu nome. Outros não encontrariam por não terem um nome comum. Essa tensão,

segundo Patrícia, já tinha virado “brincadeira” e “fonte de assunto em roda de

amigos”. Ela ainda exemplifica:

Então você tem uma amiga lá que chama Deise e o cara sacaneou o nome

Deise, eu vou lá e mando para ela, entendeu? Então isso vira uma moeda

de troca social ali. (Patrícia Fonseca, diretora da área de Insights)

Túlio também concorda que o movimento de busca pelas latas era “um

assunto que estava muito em vigência, com muita visibilidade”. Além disso, ele

acrescenta que o Porta dos Fundos se apropriou de “uma piada que um monte de

31

Atualmente, a página da Coca-Cola Zero do Facebook tem 6,6 milhões de seguidores. O número total de

seguidores na época da campanha não foi informado. Disponível em: <

https://www.facebook.com/cocacolazero?fref=ts>. Acesso em 28 mai. 2015.

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gente estava fazendo” e então adicionou “um layer criativo em cima” que era “Nome

zuado; a Coca-Cola não tem”. Dessa forma, a tensão social gerada pela campanha

aliada à sua alta aceitação complementaram os elementos da marca, poder e

transgressão, compondo os aspectos chave relacionados à motivação de criação do

vídeo e o seu posterior sucesso.

Essa relevância cultural explicada acima foi traduzida pelo Porta dos Fundos

em um produto de alta aceitação e de fácil viralização. Esse produto, um vídeo de

alta qualidade e forte adequação ao canal de veiculação, completa o quinto

elemento que explica o sucesso do episódio do Porta dos Fundos. Segundo Adriano,

“a qualidade do vídeo” e a “piada boa” contribuíram para a alta repercussão. Além

disso, como já relatado anteriormente, Tulio explica que o coletivo de humor utilizou

as premissas adequadas para trabalhar o canal de vídeo digital: o conteúdo tem

alinhamento com o tipo de mídia, a linguagem mais humana dialoga de forma

orgânica com os consumidores e o produto é inserido em um contexto interessante.

Ele sintetiza dizendo que ”foi um vídeo muito legal”.

A relevância cultural determinou a motivação para a escolha do tema e o

posterior sucesso do vídeo. Entretanto, o objetivo do Porta dos Fundos parece estar

mais relacionado a uma estratégia de desenvolvimento de negócios. Para Adriano

Torres, existia um “interesse comercial” que estava “meio camuflado”. Na sua visão,

o vídeo “Na Lata” “provou que colocar uma marca num conteúdo deles pode gerar

muita visibilidade, muito alcance”. Dessa forma, o gerente de marca parece acreditar

que o vídeo foi utilizado como uma vitrine para que o Porta dos Fundos

desenvolvesse ações de marca de outras empresas em seus conteúdos de forma

remunerada. Ele informa que a Coca-Cola “até virou case deles para vender para o

anunciante Fiat e outros que entraram logo na sequência”. Ele ainda compara essa

estratégia com antigas práticas de mercado ao dizer que essa é “aquela velha

história de quem trabalha com mídia” e exemplifica dizendo que se em um pacote de

cinco cotas de mídia, a Coca-Cola comprar uma, ocorre um “fator de atratividade

para as outras 4 cotas”. Ou seja, a Coca-Cola aparece como uma marca endosso

para a alavancagem de negócios.

Já Tulio, diretor de criação da Muta.to, acredita que o Porta dos Fundos está

trabalhando com uma lógica moderna de “startup” a qual preconiza desenvolver

primeiramente o produto até que ele esteja “bem resolvido” e depois identificar

“como ganhar grana” com ele. Para o criativo, o Porta dos Fundos se posicionou

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como um “player de conteúdo” buscando atuar de forma livre, produzindo um

conteúdo “autoral” e “humorístico” e utilizando recursos e linguagem que repercutem

bem na internet, como “temas complicados” e “palavrões”. Ele explica também que

os produtores do Porta dos Fundos fizeram o tipo de “conteúdo que eles achavam

que funcionava” e foram “respondendo ao que a audiência” contestava levando o

grupo a crescer e se estabelecer como ele é hoje. Portanto, parece haver entre os

entrevistados duas linhas de pensamento com relação aos formatos de

desenvolvimento de negócios do Porta dos Fundos. Uma que entende que o grupo

já pretendia usar o poder da marca como um forte endosso dentro da antiga lógica

de mídia. E outra distinta que concebe que não havia um escopo predeterminado

pelo Porta dos Fundos, e sim uma lógica de tentativa e erro. Essa experimentação

teria como objetivo identificar o tipo de veiculação de maior aceitação e visibilidade,

e não estaria relacionada a qualquer intenção comercial até aquele momento.

O relato sobre o sucesso do vídeo e os objetivos a que ele serviu para o Porta

dos Fundos parece aprofundar a discussão sobre a questão dos territórios

semânticos que a Coca-Cola decide explorar, bem como sobre a matriz da

estratégia de atuação nas mídias sociais. Primeiramente, como visto anteriormente,

alguns temas são estimulados e outros evitados. Assuntos polêmicos configuram

esferas de abstenção, enquanto temas atuais aparecem como territórios de

operação. No caso do Porta dos Fundos, apesar do vídeo trazer uma interpretação

que trabalha a Coca-Cola como um marcador de classe social, oferecendo uma

crítica à sociedade, a empresa entendeu que o teor da paródia não pertencia ao

campo dos assuntos a serem evitados. E, portanto, trabalhou no diálogo com esse

árbitro cultural. Complementarmente, pode-se avaliar a decisão da empresa por

meio do quadro de estratégia de atuação nas mídias sociais. Segundo a matriz

abaixo já apresentada previamente, independente do teor do vídeo, a estratégia

seria a de atuar, uma vez que o local de publicação foi o Youtube, em um canal

público, pertencente ao grupo Porta dos Fundos.

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Figura 16: Estratégia de atuação nas Mídias Sociais no caso do vídeo “Na Lata”

Entretanto, essa avaliação está condizente com a política de atuação para

pessoas físicas e não jurídicas. Nesse aspecto, existe uma questão limítrofe de

entendimento sobre a caracterização segundo fins comerciais desse árbitro cultural.

Conforme explicado antecipadamente, empresas que utilizam a marca Coca-Cola

com finalidade comercial não são consideradas legítimas, enquanto pessoas que a

usam como recurso de expressão são interpretadas como pertinentes. No caso do

Porta dos Fundos, têm-se um árbitro cultural ,que seria uma pessoa jurídica, usando

a marca explicitamente como recurso literário de expressão, mas sem evidenciar de

forma clara seu objetivo comercial.

4.2.4 Novos desdobramentos da relação Coca-Cola e Porta dos Fundos

Após algum tempo o Porta dos Fundos estabeleceu uma série de parcerias

remuneradas com empresas para promoção de suas marcas. Uma delas foi com a

própria Coca-Cola celebrada como consequência do sucesso do vídeo “Na Lata”

para promoção da marca Kuat. Segundo explica Renata Furnaletto, gerente da

marca Kuat, a companhia considerou o Porta dos Fundos como uma “mídia

relevante” para atingir o seu público-alvo uma vez que entendeu que havia muita

“afinidade do tom do humor” do grupo com o do marca Kuat. Ela ainda detalha que

os consumidores alvo da marca são adolescentes de 15 a 17 anos, das classes A, B

e C. Sobre a personalidade da marca, ela comenta que Kuat “é ousadia, é uma

marca desafiadora, é intensidade”. Por isso é que o tom do humor usado pela marca

é “mais escrachado”, podendo “pisar um pouco mais fundo” quando comparado à

marca Coca-Cola. Para exemplificar, a gerente descreve:

As piadas vão ser piadas um pouco mais ácidas, os temas. A gente tem um filme que fala da mãe e do amigo, do menino que acha que a mãe do amigo está dando mole para ele. Então é um tema super ousado. Então é uma marca que vai nesses temas que são enfim interessantes para o adolescente, mas mais ousadas que

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não teria nada a ver com Coca Cola por exemplo. (Renata Furnaletto, gerente da marca Kuat)

Luiza Boller, gerente de mídias sociais, detalha que a parceria foi feita com o

Fábio Porchat e que se estabeleceu “uma relação tradicional de marketing”, como

ocorre com a contratação de outras celebridades para estrelarem filmes publicitários.

Segundo a gerente, o roteiro foi “passado para ele” havendo espaço para que ele

fizesse “inputs para deixar mais engraçado, mais verdadeiro, mais real”. Apesar

dessa interpretação de que o processo de criação do vídeo tenha sido

fundamentado em uma relação tradicional de marketing, Renata Furnaletto narra

elementos que demonstram certa contradição a essa visão. Ela explica que os filmes

criados para serem veiculados em canais não televisivos não poderiam ter uma

mensagem “totalmente promocional”, sob pena de perder o interesse do

consumidor. Por isso, ela conta que os briefings passados para o Porta dos Fundos

eram “bem mais abertos” do que aqueles enviados às agências de publicidade.

Renata explica que houve flexibilização dos “dois lados”, tanto da Coca-Cola no que

se refere à elaboração do briefing, quanto do Porta dos Fundos no que se refere ao

ajuste de regras corporativas, como descrito abaixo:

Eles criavam os roteiros, vinham aqui para debater com a gente, então era difícil para eles porque eles estavam acostumados a ter mais liberdade do que quando trabalharam com a Coca Cola. Tem que passar o roteiro pelo jurídico, porque fora os chatos de marketing que falava “Kuat é um pouquinho mais pra cá, Kuat falaria assim”, depois disso ainda tem o nosso jurídico e tudo mais (Renata Furnaletto, gerente da marca Kuat)

Luiza conta que o produto final foi a veiculação de um filme de televisão,

chamado de “Lambaeróbica” em que o Fábio convocava os telespectadores a enviar

as suas próprias histórias, além dos filmes que foram veiculados em outros canais,

conforme relatou Renata. Posteriormente, os relatos que mais se destacassem por

serem os mais engraçados foram produzidos e publicados no Youtube, juntamente

com filmes produzidos pela marca Kuat, com Fábio Porchat, conforme exemplo

abaixo:

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104

Figura 17 – Exemplo de Vídeo da Campanha Kuat

Os indicadores de avaliação estabelecidos para essa campanha, segundo

Renata, estavam relacionados aos atributos da marca que a empresa gostaria de

“alavancar”, como diversão e identificação com o público alvo. A gerente da marca

diz que a campanha foi “bem avaliada” segundo as métricas tradicionais de

acompanhamento de marca (como o The Cube ), mas pondera que o impacto não

foi tão “forte” porque foi uma campanha que tinha um aporte financeiro menor, se

comparada com outras campanhas offlines tradicionais.

Ao relatar os resultados da campanha, a gestora de Kuat demonstra que o

referencial de métricas utilizado para verificar o seu sucesso está mais ligado aos

indicadores do ambiente offline do que do online. Tal orientação pode ser verificada

quando ela informa que a campanha do guaraná não pode ser comparada com o

vídeo “Na Lata” uma vez que a primeira foi “estimulada” e o segundo “foi

espontâneo”. E também quando ela destaca que o universo impactado pelo vídeo é

pequeno quando comparado ao tamanho do público consumidor do produto, mesmo

aquele que acessa o Porta dos Fundos. Os espectadores do canal Porta dos Fundos

ou do canal da marca Kuat são, segundo Renata, um subgrupo do grupo mais amplo

de consumidores da marca.

A utilização da linguagem e do estilo do árbitro cultural, encarnados por Fabio

Porchat, em uma campanha de mídia tradicional, parecem demonstrar o

entendimento da gestora sobre a oportunidade que um ator social originado no

ambiente de mídias sociais oferece para o aumento da relevância da marca e para a

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ampliação do alcance do público-alvo. A atuação do comediante como porta voz da

marca traz a possibilidade de influenciar o ambiente cultural e também de atingir um

público tradicional de mídia offline que não tem tanta familiaridade com o universo

online. Neste sentido, a marca parece oferecer mais uma modalidade de interação

entre empresa e árbitros culturais, quando a primeira convida o segundo para

integrar suas campanhas em espaços onde a voz do árbitro cultural normalmente

pode não ter visibilidade, mas possivelmente pode ter relevância, e assim somar ao

esforço de construção de marca.

Apesar do alinhamento do tom de comunicação com a marca Kuat, do

esforço criativo e da utilização do personagem do Fabio Porchat, a iniciativa de

comunicação parece ter ficado aquém do sucesso do “Na Lata” quando utilizadas as

métricas de sucesso do universo online. Segundo Patrícia Fonseca, a ação do Kuat

foi “engraçada”, “divertida”, mas ela não obteve a mesma repercussão que teve a da

Coca-Cola Zero.

Este desdobramento da relação da empresa Coca-Cola com o Porta dos

Fundos revela o esforço que a organização está realizando no sentido de congregar

os diferentes atores de significação no processo de gestão das marcas. Tanto Coca-

Cola Zero quanto Kuat tiveram condutas de interação com o árbitro cultural. A

primeira de uma forma mais sutil permitindo um diálogo com esse intermediário, e a

segunda de forma mais contundente utilizando-o como porta voz de sua campanha.

4.2.5 Novas alterações na estrutura organizacional para gestão de marcas no

ambiente digital

A estrutura organizacional de administração de marcas descrita no item 4.1.2

retratou o modelo de gestão vigente na época da veiculação do vídeo “Na Lata”, em

Janeiro de 2013. Entretanto, no último mês do processo de coleta de informações

complementares, em Abril de 2015, os executivos da empresa descreveram uma

última mudança nessa estrutura, conforme figura abaixo:

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Figura 18 –Nova Estrutura Organizacional Gestão de Comunicação The Coca-Cola Company

A área de Comunicação Integrada passou a ter duas demarcadas

orientações. A primeira é a diretoria de “Planned”, responsável por aquelas ações

que são passíveis de planejamento. Segundo Renata Furnaletto, essas ações

seriam “os planos de mídia em geral TV, digital também, (out of home), revista,

evento”, ou seja, tudo o que a companhia tem a possibilidade de controlar. Já a

segunda diretoria, a de “Real Time”, tem como missão garantir uma resposta em

tempo real para todos os estímulos gerados para a empresa. Um exemplo seria o

acompanhamento e resposta dos comentários dos consumidores sobre algum vídeo

produzido e veiculado pela área de “Planned”, o que ocorre principalmente em redes

sociais.

Dessa forma, vimos ao longo de dois anos a utilização de três modelos de

gestão distintas pela The Coca-Cola Company. Primeiramente existia uma área de

marketing interativo que trabalhava de forma paralela às áreas que lidavam a

comunicação offline. A partir de 2012, um movimento de integração entre as

iniciativas online e offline concebeu a área de Connections. Ela ficou responsável

pelas conexões com o consumidor independentemente do tipo de mídia, digital ou

tradicional. Já em 2015, foi possível mapear um novo ajuste na estrutura da

companhia visando melhor adequar-se às necessidades de relacionamento e de

interação com o consumidor. Essa segregação entre as estruturas de ações

planejadas e de ações em tempo real demonstram a orientação da empresa em

organizar-se para dialogar prontamente com a sociedade.

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

5.1 REVENDO O PONTO DE PARTIDA E O CAMINHO PERCORRIDO

O presente trabalho teve como objetivo investigar como as empresas lidam

com a atuação de árbitros culturais sobre suas marcas, no contexto de mídias

sociais. Para tanto, a literatura sobre gestão de marcas e mídias sociais foi

revisitada chegando a um recorte teórico específico.

A revisão de literatura sobre gestão de marcas pontuou os paradigmas que

organizam os programas teóricos de branding: o gerencial e o social, oferecendo um

modelo alternativo para compreender as marcas na atualidade. O primeiro é aquele

que compreende a empresa como o único ator de significação da marca; e o

segundo o que interpreta a marca como resultado de uma constante articulação de

significados entre empresa, sociedade, e consumidores, em um processo de

cocriação coletiva. O modelo alternativo é o paradigma cultural de marca,

representado, entre outras propostas, pelo modelo de Ressonância da Marca

desenvolvido por Fournier, Solomon e Englis em 2008. Neste modelo, os autores

oferecem um esquema conceitual que permite compreender o papel dos diferentes

agentes de significado da marca (indivíduo, cultura e organização) na geração de

valor da marca. Além disso, a revisão também apresentou a pesquisa sobre mídias

sociais, discorrendo sobre suas características e impactos na sociedade,

destacando as mudanças que esta nova modalidade de interação opera no

comportamento do consumidor.

O recorte teórico utilizado para este trabalho compreendeu a escolha da linha

teórica do paradigma social, por entender a construção de marcas como um

processo de cocriação social. Sugeriu-se, então, a utilização do modelo de

“Ressonância de Marca“ por congregar os diferentes atores sociais nessa

articulação de significados e por oferecer uma nova forma de avaliar marcas. E por

fim, considerou o contexto das mídias sociais como catalisador desse processo de

cocriação por reunir em um único ambiente: empresa, consumidor e árbitros

culturais; apresentando entre eles um novo arranjo de poder.

As decisões metodológicas foram feitas com base na natureza do fenômeno

que se optou estudar. O caso oferecido pelo Porta dos Fundos possibilitou, por um

lado, (1) a investigação sobre a negociação de significados entre empresa e árbitro

cultural, e, por outro, foi adotado como (2) ferramenta metodológica para

compreender essa interação simbólica no ambiente das mídias sociais. Portanto,

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essa pesquisa foi feita com base no estudo de caso único; tomando o Porta dos

Fundos e o vídeo “Na Lata” como contexto; e a unidade de análise a empresa The

Coca Cola Company.

A apresentação dos resultados, por meio de um viés interpretativo, revelou o

ponto de vista da empresa sobre o fenômeno do compartilhamento de significado de

marca com árbitros culturais e consumidores, além de apresentar o comportamento

da organização diante desse novo contexto. Os principais achados evidenciaram a

preocupação da empresa em estabelecer uma estrutura organizacional que

possibilitasse o diálogo com esses atores de significação. Tal necessidade foi

despertada pela difusão do uso das mídias sociais que facilitou essa interação entre

empresa e agentes externos.

Os resultados desse estudo foram estruturados em dois grupos principais: (a)

o modelo organizacional de gestão de marcas da The Coca-Cola Company e (b) a

narrativa do caso sobre o vídeo “Na Lata” do Porta dos Fundos. Esses dois grupos

compilam cinco orientações temáticas que despontam como preocupações centrais

na fala dos entrevistados.

O primeiro tema se relaciona à nova forma de gerenciar a construção de

marcas. Com a ampla aceitação e utilização das mídias sociais, o processo de

interlocução entre empresa e sociedade se dinamizou. Consumidores e árbitros

culturais acessam com mais frequência o canal de diálogo com as empresas

esperando retorno de suas reivindicações. Portanto, a agilidade de resposta imposta

para as organizações fez com que a Coca-Cola se reestruturasse (ao longo do

tempo de coleta de dados, o departamento de comunicação e mídias sociais

apresentou três configurações distintas) e se capacitasse, desburocratizando seus

processos a fim de propiciar a autonomia necessária para esse rápido diálogo. Além

disso, foram selecionados novos parceiros para auxiliar na gestão da marca no novo

contexto, que atuam de forma participativa no desenvolvimento desse conhecimento

sobre o universo digital. A atuação próxima da agência Muta.to revelou a força do

relacionamento entre cliente e fornecedor no que diz respeito às decisões sobre a

marca e à tomada de decisão com risco compartilhada. O novo ambiente requer que

as empresas desenvolvam alianças com especialistas no mercado para auxiliá-las

na navegação desse novo território das mídias sociais.

A singularidade e originalidade desse novo contexto incitam o segundo tema

relatado pelos entrevistados. Não apenas novas estruturas, processos e parceiros

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são necessários, mas também a definição da forma de conduta se mostra uma

preocupação. Os territórios semânticos que devem ser explorados ou evitados pela

empresa foram destacados como ponto de atenção, uma vez que eles devem estar

em consonância com as marcas. Por isso que, como exemplificado pelos

entrevistados, assuntos polêmicos, como as manifestações sociais, por exemplo,

não são trabalhados pela marca. A empresa ainda sugere a discussão entre a

natureza física ou jurídica da pessoa que atua nas mídias sociais assim como a

distinção entre o que é público ou privado nesse ambiente. O entendimento de

privacidade aparece modalizado pela empatia do consumidor com a marca, uma vez

que a Coca-Cola decide interagir na página privada de um consumidor quando ele

se manifesta positivamente sobre a marca.

O terceiro tema surge da necessidade do acompanhamento do desempenho

da gestão de marca. A The Coca-Cola Company apresenta uma estrutura bem

organizada e consolidada para mensuração de suas marcas. A descrição dos

resultados apresenta os diversos instrumentos utilizados pela empresa para cumprir

esse objetivo. Boa parte das campanhas de mídias tradicionais, lançadas pela

empresa, é acompanhada e mensurada. Entretanto, o novo contexto parece ainda

desafiar a empresa a mensurar o desempenho da marca quando se trata do

processo participativo de cocriação de significados. Os indicadores de

acompanhamento de mídias sociais são aqueles relacionados à ferramenta da web

2.0; como número de compartilhamentos, visualizações, downloads, menções, etc. E

os de gestão de marca são aqueles relacionados à construção de brand equity,

como atributos desejados pela empresa ou aqueles de campanhas pontuais. Os

entrevistados não relataram processos de mensuração de construção de imagem de

marca em movimentos de cocriação não controlados pela empresa, por serem

provenientes dos diferentes atores de significação.

O quarto, e último, tema que aparece entre os entrevistados decorre dos

aprendizados que são referentes ao vídeo “Na Lata”. O episódio sobre a publicação

do vídeo, sua notável repercussão e posterior resposta da Coca-Cola, nos ofereceu

a oportunidade de visualizar como se dá o processo de negociação de significados

entre empresa e árbitro cultual na prática. É possível perceber a importância da

relevância cultural na escolha de pautas a serem usadas no diálogo entre empresa e

sociedade. Sejam elas traduzidas em campanhas, em anúncios de propaganda,

revista, ou nas mídias sociais, a relevância cultural dos assuntos tratados na

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comunicação aparece como ponto nevrálgico para a repercussão e o sucesso

dessas campanhas. O relato apresentado pelos entrevistados evidencia a

conscientização da empresa sobre essa questão posicionando, inclusive, a

relevância cultural como o fator motivador para a criação do vídeo “Na Lata”, bem

como o fator que explica seu consequente sucesso.

Além da importância da relevância cultural, também foi possível constatar que

a organização se mostra madura e moderna quanto ao processo de interação com o

consumidor final, mas sua conduta no relacionamento com árbitros culturais ainda

pareceu ser menos estruturada. Como esse intermediário transita em um limiar

indeterminado entre pessoa física e jurídica, ainda é necessário que o processo

decisório para se relacionar com esse árbitro passe por instâncias mais complexas,

como a área jurídica. O Porta dos Fundos, por exemplo, é um grupo organizado que

se aproxima mais de uma pessoa jurídica mas sua produção criativa acaba por

tangenciar a liberdade e o repertório da pessoa física. Dessa forma, seria importante

que a empresa ponderasse e institucionalizasse em seu processo de gestão de

marca, um grupo de condutas para lidar com esse ator peculiar que se delimita

como árbitro cultural.

5.2 CONTRIBUIÇÕES À TEORIA

O conjunto dos achados apresentado na Análise dos Resultados oferece uma

contribuição à literatura uma vez que evidenciam as mudanças que surgem nas

empresas a partir da necessidade de utilizar um renovado modelo de gestão de

marcas. Para aprofundar essa colaboração, serão apresentadas a seguir as

contribuições teóricas que os achados de pesquisa proporcionaram.

Primeiramente, no discurso dos entrevistados foi possível constatar a

conscientização sobre a participação de atores externos na articulação de

significados para a marca. Tal presença parece não apenas ser aceita como

também estimulada pela organização. O próprio episódio “Na Lata” revela a postura

da organização sobre o diálogo com esses novos interlocutores. A empresa

demonstrou acolhimento da paródia ao responder à provocação com um post que

utilizava a mesma temática que o vídeo.

A empresa parece, portanto, reconhecer o caráter colaborativo do branding

na contemporaneidade e ainda demonstra buscar modelos que possibilitem a

integração desses significados na construção de marcas da organização. Nesse

sentido, o movimento da empresa, evidenciado pelas mudanças na estrutura da

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área de comunicação, parece alinhar-se com o que foi proposto por Fournier,

Solomon e Englis (2008), em seu modelo de ‘ressonância do significado da marca’.

Conforme a figura 5 apresenta, a cultura e os consumidores despontam como

moderados dos significados das marcas na atribuição de força para a marca. Ou

seja, se os sentidos comunicados pela empresa são relevantes e importantes para a

cultura e para os consumidores, eles serão reverberados, repetidos ou

reconfigurados por esses atores externos conferindo força para a marca. Assim, ao

compreender a importância do sistema cultural e da atuação dos consumidores para

a força da marca, a empresa parece estar na direção de cada vez mais estimular

essa participação.

Figura 5: Modelo de Construção de Marca baseado no Significado da Marca (Fonte adaptado

de de Fournier, Solomon e Englis (2008)

Entretanto, apesar de notar a conscientização da organização sobre a

participação de diferentes atores na transação de significados para a marca, a

empresa ainda não desenvolveu métricas que mensurem efetivamente o potencial

dessa cocriação no processo de branding. Como visto anteriormente, os indicadores

existentes para avaliação do resultado de campanhas no mundo online estão ligados

aos mecanismos da ferramenta (número de downloads, compartilhamentos, de likes,

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etc...), não estando eles relacionados com o processo de construção de marcas em

si. Dessa forma, verifica-se uma oportunidade para a empresa se aproximar ainda

mais do modelo de “ressonância do significado da marca” já que ela ainda não

conhece ao certo como e em que medida os árbitros culturais e os consumidores

podem contribuir nesse processo de atribuição de força para suas marcas.

Dessa forma, é possível concluir que a The Coca-Cola Company se posiciona

em um território híbrido no que se refere aos paradigmas de brading. Por um lado

ela parece compreender o paradigma social do branding (EL-AMIR; BURT, 2010)

uma vez que entende o consumidor como um articulador ativo de significados

oferecendo, inclusive, meios para que ele se manifeste. Mas, por outro lado, parece

posicionar seus sistemas de avaliação de marcas no paradigma gerencial já que não

possui ainda mecanismos para mensurar o impacto dessa participação dos

consumidores e do sistema cultural no processo de construção de suas marcas.

Um aspecto importante que o estudo identificou foi o empenho da companhia

em estabelecer uma estrutura que maximize a captura de valor da marca. Ainda

segundo Fournier, Solomon e Englis (2008), em seu modelo de ‘ressonância do

significado da marca’, o terceiro e último moderador seria a própria empresa.

Enquanto as ressonâncias cultural e pessoal irão moderar a força da marca, a

ressonância organizacional irá moderar a forma de capturar valor. Nesse aspecto, a

The Coca-Cola Company parece compreender intuitivamente as quatro facetas que

delimitam essa ressonância, preconizadas pelo modelo.

Primeiramente, ao demonstrar preocupação constante com o estabelecimento

de uma estrutura que possibilite dialogar com o consumidor, e que permita o

constante fluxo de informações gerenciais, a empresa destacou a importância

atribuída ao seu modelo de operação para os processos de construção de marca. A

esse movimento, o modelo de Fournier, Solomon e Englis (2008), oferece a

nomenclatura de ‘Alinhamento com o modelo de negócio’, preconizando que a

estrutura da operação, que melhor possibilitar a entrega do portfólio de significados

pretendidos pela marca, terá a capacidade de melhor capturar valor.

Além disso, a empresa também pareceu estar consciente da necessidade de

assegurar que os funcionários compreendam profundamente os significados da

marca. Isso é o que a segunda faceta do modelo intitula de ‘Intimidade e

entendimento compartilhado’, e que a empresa materializa em seus programas de

capacitação, oferecendo aos seus colaboradores o detalhamento sobre a persona

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das marcas, os seus tons de comunicação, os seus territórios semânticos de

atuação, entre outros. Tal movimento, de disseminação dos conteúdos de identidade

desejada para a marca, parece ter ganhado importância com o advento das mídias

sociais. De certa forma, ao mudar a comunicação para lidar com as novas

plataformas sociais na web, a empresa foi impelida a desenvolver uma capacidade

de transmissão dos valores de marca na organização para que os seus funcionários

pudessem dialogar com o consumidor na velocidade com a qual esse tipo de

ambiente digital impõe.

A terceira faceta da ‘Ressonância Organizacional’, chamada de ‘Vivência da

marca por meio da cocriação dos empregados’ surgiu de maneira destacada como

uma das práticas da empresa. Os exemplos oferecidos pelos entrevistados sobre

algumas ações cocriativas de seus funcionários, como as respostas com rimas

(figura 11) ou os posts com as mesmas metáforas utilizadas pelos consumidores

como o caso do Darth Vader (anexo A), comprovam a importância atribuída pela

empresa a essa característica de captura de valor da marca.

Por fim, todo o mapeamento que essa pesquisa realizou, em relação à

existência e importância dos processos de acompanhamento de desempenho da

marca, atestou o esforço da empresa em aferir a percepção externa da marca. A

quarta e última faceta da ‘Ressonância Organizacional’, chamada de ‘Alinhamento

interno e externo da promessa’ trata dessa questão. Ao sugerir que o grau de

alinhamento entre o sistema de significados interpretados externamente e o grupo

de significados trabalhados e desejados pela marca determina a captura de valor

dessa marca, o modelo implicitamente recomenda que existam meios de avaliar

essa harmonia e de atuar sobre possíveis descompassos.

Toda essa movimentação da The Coca-Cola Company, no sentido de

estruturar-se para dialogar com o consumidor buscando meios para que ele tenha

espaço e voz, parece ter ganhado força e importância com a popularização das

mídias sociais. A utilização massiva das plataformas pelos consumidores pode ser

considerada como um catalisador para a constatação do paradigma social de

branding, uma vez que coloca sociedade, cultura, empresa e consumidor em um

mesmo espaço dialogando sobre o mesmo assunto. Essa função de catalisadora

exercida pelas mídias sociais parece ter tido o mesmo efeito na Coca-Cola, quando

exige de seus gestores um modelo de atuação mais aberto à participação do

consumidor e mais horizontal na distribuição de controle da imagem de marca pela

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empresa. As mídias sociais, portanto, levaram a The Coca-Cola Company a

construir uma estrutura organizacional que dialoga com o modelo proposto por

Fournier, Solomon e Englis (2008), no território da ‘ressonância organizacional’.

Com relação à literatura sobre mídias sociais, foi possível encontrar na

unidade de análise pesquisada, diversas práticas que corroboram as discussões

teóricas sobre poder, processos, conduta e conteúdo, e ainda refletir sobre a

caracterização dos árbitros culturais provenientes desse meio.

A The Coca-Cola Company reconhece a reorganização de poder

proporcionada pelas mídias sociais (BERTHON et al., 2012) uma vez que legitima a

autoridade cultural do consumidor nesse espaço, e admite uma nova posição nessa

interação com o consumidor. Ao estabelecer a preocupação sobre a estratégia de

atuação nas mídias sociais, buscando entender as esferas do público e privado, a

empresa demonstra compreender o processo de horizontalização de poder ocorrido

pelas plataformas sociais. Entretanto, diferentemente do que é dito na literatura, a

organização também interpreta que, apesar da transferência de poder da empresa

para os demais atores da sociedade, a instituição também conquistou a permissão

para exercer uma diferente forma poder.

Essa diferente forma de autoridade, comentada como uma “mudança radical”,

refere-se à possibilidade da empresa receber feedback dos consumidores, o que

sem as mídias sociais não seria possível. Tal percepção demonstra o senso de

oportunidade da organização em estabelecer diálogos com os consumidores mesmo

nos casos em que se trata de conteúdo com teor negativo. Os exemplos ilustrados

anteriormente, sobre os posts com metáforas do Darth Vader e com rimas do rapper

BNegão, elucidam a percepção da empresa sobre essa oportunidade de

comunicação. Os posts que surgem criticando o refrigerante Coca-Cola são

interpretados não como uma ameaça, mas como oportunidade inédita para

desmitificar algumas concepções sobre a marca que circulam na sociedade.

A organização apresenta-se lúcida quanto ao empoderamento do consumidor

e quanto à abertura de novas possibilidades de diálogo. Ela está ciente não apenas

do novo fluxo de comunicação, mas também dos possíveis riscos de degradação

aos quais a reputação da marca está exposta (FOURNIER; AVERY, 2011). E, por

isso, estabeleceu uma série de processos que asseguram o mapeamento de riscos

e, também, a correta abordagem para solucioná-los. Conforme preconizam

Kietzmann et al. (2011), a empresa possui os processos e as ferramentas para

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monitorar o fluxo de informações que transacionam na internet a fim de identificar

possíveis alertas de risco à imagem da marca.

O processo da área de React que “clusterizou” os assuntos trazidos pelos

consumidores segundo “riscos e temas” garantiu não apenas agilidade de resposta

aos indivíduos, mas também a preservação da reputação da marca. Já as

ferramentas de monitoramento (como os “dashboards”) são utilizadas pela empresa,

e por seu parceiro especializado, a Muta.to, atuando ambos na atividade de vigília, a

fim de garantir que qualquer manifestação com potencial de dano seja rapidamente

identificada. Quando a agência informa que chegou a “salvar” algumas vezes a

Coca-Cola, ela sugere que detectou alguma informação de alto risco para a marca.

Além do entendimento da horizontalização do poder e da necessidade de

estabelecimento de processos que protejam a marca, a The Coca-Cola Company

também demonstrou estar alinhada aos estudos de mídias sociais quando se trata

de sua conduta no espaço digital. Dentre o que se discorre sobre o assunto, a

empresa parece compreender que o empoderamento do consumidor lhe conferiu

uma soberania a ponto de exigir das empresas uma atuação mais transparente e

autêntica (HOLT, 2002). Assim, a empresa também entende que é necessário que

sua comunicação seja transparente e sincera mesmo expondo-se a riscos

(FOURNIER; AVERY, 2011). Tal orientação teórica se traduz em prática quando a

empresa garante que não possui a política de apagar comentários negativos em sua

fanpage, mesmo nos casos considerados “polêmicos” ou “vulneráveis”.

Quando a gerente de mídias sociais, Luiza Boller, afirma que a empresa

“acredita no caráter colaborativo da internet” reconhecendo a liberdade dos

consumidores em manifestarem suas opiniões nas redes, ela sugere que a empresa

está desempenhando suas atividades de forma aberta e honesta assim como

preconiza Fournier e Avery (2011) ao elaborarem as características de uma marca

autêntica. Tal expectativa sobre o comportamento das marcas nas mídias sociais

também cria uma janela de oportunidade para as empresas. Assim como Tulio,

especialista da Muta.to explicou, as iniciativas nas plataformas sociais auxiliam na

construção de uma marca mais autêntica. Quando as empresas dispõem das ações

corretas no ambiente digital, reconhecendo o poder do consumidor, elas ”ganham

respeito”, ao contrário do que ocorria anteriormente com as mídias tradicionais em

que elas “impunham respeito”.

Não apenas a transparência nas ações desponta em concordância com o que

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os estudiosos afirmam sobre mídias sociais, mas também o deslocamento do

empenho no planejamento para a excelência na execução (FOURNIER; AVERY,

2011). O constante esforço da organização em estabelecer uma estrutura que

dialogue na mesma velocidade com a qual os eventos ocorrem nas plataformas

sociais resultou na criação da área de Real Time. No novo organograma, esse novo

time está ao lado hierarquicamente da área chamada de Planned. Essa nova

estrutura sugere alinhamento ideológico no tipo de esforço que deve ser

desenvolvido dentro das organizações, como capacidade adaptativa, flexibilidade e

senso de oportunidade, a fim de navegar na nova realidade da gestão de marcas na

Web 2.0.

Com relação ao que a teoria preconiza sobre o conteúdo da comunicação

transacionada nas redes sociais, a The Coca-Cola Company também apresenta

algumas práticas consonantes com as orientações dos estudiosos. A questão da

relevância cultural desponta como nevrálgica na comunicação que circula nas

mídias sociais. Conforme orienta Fournier e Avery (2011), a gestão de marcas deve

passar a se orientar segundo a ressonância cultural das marcas. Ou seja, o grau

com o qual determinado conteúdo irá reverberar na sociedade ou nos indivíduos, irá

instituir a força daquele significado para a marca. Tal preocupação pode ser

observada nessa pesquisa quando os entrevistados comentam sobre a escolha dos

assuntos que serão tratados na rede, sendo selecionados aqueles que tratam das

“coisas que estão acontecendo” e que façam com que a marca não seja “morta”.

Apesar de não ter sido alvo dessa pesquisa o tema específico da relevância

cultural nos mundos online e offline, é importante salientar a importância dessa

questão em qualquer que seja o universo. A preocupação sobre a construção de

material culturalmente relevante, que propicie a cocriação social, deve ultrapassar o

ambiente online. Proporcionar ao consumidor e à sociedade a oportunidade de

participar na articulação de significados para a marca pode contribuir com a força da

marca. E, portanto, essa orientação sobre a relevância cultural deveria permear todo

o programa da marca, nos mundos online e offline. O caso estudado demonstra

inclusive como o ambiente online pode funcionar como fonte de elementos

culturalmente relevantes que podem ser adotados para construção da marca no

espaço offline. Exemplo disso foi o uso que a marca Kuat fez da parceria com o

Porta dos Fundos, ao identificar a aderência de estilo e linguagem do canal ao

posicionamento da marca, adotando esta linha como fonte de inspiração para a

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campanha off-line (com um braço online) da marca.

A importância da circulação de conteúdo que contenha relevância cultural

aparece também no discurso dos entrevistados quando eles buscam explicar os

fatores de sucesso do vídeo ‘Na Lata’. O esquema oferecido na seção dos achados

dessa pesquisa sobre o sucesso da campanha oferece um caminho de análise que

pode ser relacionado com as ressonâncias pessoal e cultural do modelo proposto

por Fournier, Solomon e Englis (2008). As facetas da “Ressonância Pessoal” podem

ser identificadas pelas histórias narradas pelos entrevistados. Por exemplo, a faceta

de “auto-conexão”, que é o grau em que a marca oferece significados que servirão

ao propósito de auxiliar o alcance ou a expressão de temas centrais da vida dos

consumidores, como projetos de identidade, de personalidade e objetivos de vida;

pode ser destacado nesse episódio. Pela repercussão da campanha, foi possível

observar a reverberação que a temática da ação ganhou para auxiliar os aspectos

de auto-expressão da vida dos consumidores.

Com relação à “Ressonância Cultural”, também foi possível identificar a

reverberação por meio de algumas facetas. A primeira delas, chamada de

“Cocriação Cultural”, sugere que a própria criação do vídeo pelo árbitro cultural já

indica a reverberação da campanha, uma vez que ele usa a tensão criada pela

campanha na busca das latinhas para desenvolver um texto paródico. A segunda

faceta, passível de ser identificada, foi a “Comunidade” evidenciada pelo surgimento

da comunidade no Facebook “eu te ajudo a achar o teu nome na latinha" com 60 mil

seguidores aproximando consumidores que vivenciavam a mesma problemática da

busca pelas embalagens com seus nomes impressos. Também foi possível observar

uma terceira faceta, chamada de “Valor de Circulação”, uma vez que a própria

campanha teve alto valor de transação social. Conforme observado nas pesquisas, a

tensão da procura das latas virou “brincadeira” e “fonte de assunto em roda de

amigos”, tornando-se “moeda de troca social”. A faceta de “Oposição de

Significados”, também apareceu uma vez que a interpretação trazida pelos

entrevistados sobre a transgressão da marca indicou que a marca traz em seu

portfólio de significados sentidos opostos. A quinta faceta identificada foi a de

“Multivocalidade” sugerindo que a campanha atingiu diversos grupos de

consumidores, inclusive a “avó” de um dos entrevistados.

Ainda vale destacar a sexta faceta observada, a de “Ressonância de Papel

Social”, definida pelo o grau em que a marca é compreendida como símbolo

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emblemático de determinado grupo ou papel social. A comparação feita no vídeo

entre a Coca-Cola Zero e a Dolly foi percebida por Patrícia Fonseca como

“ambígua”, sugerindo que a Dolly atua como um marcador social daquilo que é

“popular”; e a Coca Cola Zero como daquilo que é “elitista”. Dessa forma, percebe-

se a manifestação dessas marcas no vídeo do Porta dos Fundos como

reverberações sociais para sinalizar produtos que seriam destinados a diferentes

classes sociais.

Por fim, é importante destacar a discussão que esse trabalho incita quando se

aprofunda o olhar sobre a caracterização do árbitro cultural originado da web 2.0. As

definições que a literatura nos oferece parece não fazer distinção entre os diferentes

intermediários culturais que assim são classificados. Nessa miríade estão: a mídia

de massa, a indústria do cinema, escritores, jornalistas, agentes do sistema da

moda, críticos sociais, líderes de opinião de tendência, grupos sociais, eventos

históricos genéricos (ALLEN; FOURNIER; MILLER, 2008), o folclore popular

(THOMPSON; HAYTKO, 1997) e os ativistas da anti-engenharia cultural (HOLT,

2002). Entretanto, assim como o Porta dos Fundos, árbitros culturais oriundos do

ambiente digital podem apresentar uma forma ambígua de atuação que os distingue

dos intermediários acima listados.

Primeiramente, há certa imprecisão quanto à natureza física ou jurídica

desses agentes. Sua atuação e organização mais informal podem posicioná-los

como um consumidor, mas seu alcance e impacto podem oferecer uma

interpretação de que sua atuação se aproxima a de um veículo. Outro ponto refere-

se a sua forma de remuneração que está ligada ao seu desempenho na plataforma

do Youtube, por exemplo (ou views em um blog). Como essa renda está relacionada

à sua popularidade, sua conduta criativa está mais livre e próxima daquilo que o

publico gostaria de ver, não estando sujeita a políticas editoriais que se harmonizem

com o que seus patrocinadores podem desejar ver publicado. Já os intermediários

offline estão mais sujeitos a algum tipo de censura, pois eles dependem do aval do

veículo para publicação de suas ideias.

Também foi possível identificar outro tipo de distinção quando se observa a

predisposição em realizar acordos comerciais. Diferentemente de outros

intermediários culturais, o Porta dos Fundos foi contratado por uma série de

empresas para realizar vídeos com fins comerciais, demonstrando uma intenção

clara em capitalizar o seu sucesso. Entretanto, para que a idoneidade do seu

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trabalho de árbitro cultural fosse preservada, o grupo garantiu que esses vídeos

fossem publicados em canal separado no Youtube, deixando claro à sociedade

quais trabalhos transitam no território da liberdade criativa total e quais circulam no

campo do patrocínio empresarial.

A questão da caracterização dos árbitros culturais também parece contribuir

com os estudos de Cova (2008) que buscou definir uma tipologia sobre a postura

das empresas frente à criatividade dos consumidores. Em seu estudo, o autor

propõe um modelo segundo o comportamento das empresas (ativo ou passivo) e da

atitude da empresa (positiva ou negativa) diante dos esforços criativos de

consumidores, chegando a quatro tipos de respostas: resistência, desaprovação,

facilitação e aprovação. Entretanto, o que foi observado aqui é que o comportamento

de resposta das organizações também irá permear questões sobre o teor do

comentário (positivo ou negativo) e o local de publicação (público ou privado). E

ainda, quando se observa a atuação de um árbitro cultural nesse processo

cocriativo, mais uma complexidade é adicionada ao modelo referindo-se a natureza

do autor (física ou jurídica).

5.3 IMPLICAÇÕES GERENCIAIS

A investigação do caso do vídeo Na Lata, utilizando a The Coca-Cola

Company como unidade de análise, possibilitou elaborar algumas contribuições

gerenciais pertinentes aos desafios enfrentados pelas empresas na atualidade.

Primeiramente, uma nova configuração organizacional parece ser necessária

para dialogar com o novo panorama trazido pelas redes sociais. Assim como fez a

Coca-Cola, os processos de interface com o consumidor devem ser

desburocratizados a fim de garantir agilidade de diálogo com a sociedade. Além

disso, complementarmente, o comportamento das pessoas na organização deve ser

remodelado para essas novas necessidades do mercado. A autonomia que os

funcionários precisam para garantir agilidade impõe que os gestores em cargos de

decisão desloquem parte do poder de decisão para toda a sua estrutura. Para tanto,

é importante garantir capacitação para esses colaboradores que passarão a decidir

e trabalhar as habilidades de liderança com os gestores que compartilharam o seu

poder.

Com relação ao processo de gestão de marcas em si, mostra-se necessário o

aprimoramento do sistema de acompanhamento de performance das marcas.

Mesmo em empresas que mensuram suas atividades de marketing, de equity da

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marca, de desempenho das ações no universo digital, ainda permanece a lógica do

paradigma gerencial. Apenas aquilo que foi gerado pela própria empresa aparece

como passível de aferição. Nada do que foi cocriado socialmente é interpretado pela

empresa como relevante para o processo de construção de marcas. Portanto, esse

trabalho sugere o inicio de um processo de reflexão sobre os modelos e a lógica de

mensuração de ressonância cultural de marca.

Por fim, essa pesquisa oferece um importante ponto de vista sobre algumas

diretrizes de comunicação que podem ser utilizadas nas ações atuais de marketing

das companhias. O destaque da relevância cultural como fator de sucesso do vídeo

“Na Lata” oferece a avaliação sobre o tipo de discurso que deve ser buscado e

oferecido à sociedade. Em um panorama de redes sociais, em que as pessoas

buscam constantemente oportunidades de socialização, oferecer diálogos

pertinentes e materias culturalmente relevantes para cocriação pode oferecer

posição de destaque para as marcas que souberem trabalhar esses movimentos.

Dessa forma, sugere-se que as empresas integrem em seus processos de

comunicação orientações para que esse diálogo social ocorra.

5.4 SUGESTÕES DE ESTUDOS FUTUROS

O objetivo a que esse estudo se propôs, o de investigar como as empresas

lidam com a atuação de árbitros culturais sobre suas marcas, no contexto de mídias

sociais, sugere que os significados das marcas circulam entre diversos atores:

empresa, consumidores, árbitros culturais e a cultura como um todo. Portanto,

considerando esse diálogo triangular, uma pesquisa sobre a interpretação do

consumidor acerca do vídeo “Na Lata”, bem como a postura do Porta dos Fundos

nesse evento, surge como sugestão para melhor compreender esse fenômeno.

Da mesma forma, outro tema surge quando se trata de compreender o ponto

de vista do Porta dos Fundos. Analisando o prisma das mídias sociais, novos

estudos poderiam ser elaborados para estudar casos em que as empresas não

tenham conseguido estabelecer uma estrutura organizacional que possibilite o

diálogo com o consumidor, algo tão importante nessas plataformas 2.0.

Além desses estudos, no que se refere ao paradigma social do Branding,

seria importante investigar como as empresas têm percebido e se estruturado para

realizar as atividades de gestão da marca nesse novo contexto. Compreender a sua

percepção sobre a colaboração de agentes externos à empresa e a sua importância

no processo de planejamento e acompanhamento da marca apresentam-se como

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questões relevantes. Principalmente, quando se considera a disseminação e uso

das redes sociais que atuam como catalisadoras desse processo de diálogo de

significados.

Sugere-se também, uma investigação mais aprofundada da caracterização do

que foi tratado nesse estudo como árbitro cultural, e definido por Allen, Fournier e

Miller (2008) como intermediário cultural. Esses atores de significados, que são

pessoas ou entidades reconhecidos socialmente por sua contribuição cultural seja

qual for o meio em que se manifestam (livros, filmes, artigos, poemas, etc.),

desempenham um importante papel na cultura arbitrando conceitos, ideias,

aspirações e valores que direcionam marcas, produções culturais e paradigmas

ideológicos. Sendo assim, é importante que esses árbitros sejam mais bem

estudados e caracterizados a fim de compreender como eles impactam o meio

social e como os diferentes setores da sociedade lidam com essa interferência.

O último aspecto interessante a ser investigado seria a aplicação do modelo

de “Ressonância do Significado da Marca”, proposto por Fournier e Englis (2008), a

fim de mensurar efetivamente a força e captura de valor pela marca por meio das

três ressonâncias propostas: pessoal, cultural e organizacional. Compreender como

e em que medida essas reverberações se traduzem para o equity da marca passam

a ser questões centrais no contexto em que as redes sociais aproximam empresas e

sociedade, homogeneizando o poder entre eles.

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APÊNDICE A - ROTEIRO DE ENTREVISTA COM GESTOR DA MARCA COCA-

COLA ZERO

1. A marca Coca-Cola Zero: posicionamento da marca, público alvo, tipos de

campanhas de comunicação, posicionamento do produto no portfólio da

empresa, diretrizes para campanhas de comunicação, papel das mídias

tradicionais e atuais, estrutura e funções da equipe e fornecedores que apoiam a

construção da marca (Agências, departamento de comunicação, de marca etc).

2. Gestão da marca: processo de criação e gestão da marca, ferramentas

utilizadas, estrutura da empresa (organograma), técnica projetiva para

identificação da atuação da empresa perante as informações da mídia.

3. Gestão de Mídias Sociais: importância das mídias sociais para a Coca-ColaZero,

processo de gestão, estrutura da empresa (organograma).

4. Campanha “Quanto mais, melhor”: histórico da ação, de onde veio a ideia,

objetivo, expectativas, mensuração efetiva de resultados, razões para alteração

do formato original australiano.

5. Vídeo “Na Lata”: reações dentro da empresa, processo decisório para resposta

ao vídeo, quais áreas e processos foram afetados, decisores.

6. Visão da Coca-Cola sobre a Porta dos Fundos: motivações da PF, receptividade

da resposta dada pela Coca-Cola, motivo por ser o vídeo mais visto, motivo pelo

qual o vídeo sai do ar eventualmente.

7. Visão da Coca-Cola sobre o consumidor: Foi mensurado ou avaliado o impacto

sobre os consumidores? impacto na percepção do consumidor com a marca

dado o vídeo da PF, impacto da percepção do consumidor com a marca dada a

resposta da Coca-Cola Zero. Impacto nas vendas e nos indicadores de brand

equity medidos pela empresa da campanha Quanto Mais Melhor e do vídeo Na

Lata.

8. Visão da Coca-Cola sobre a Dolly: motivos pelos quais a Dolly não se

manifestou, sugestão de resposta para Dolly, percepção da Dolly sobre a

resposta da Coca – Cola.

9. Visão da Coca-Cola sobre a cocriação de identidade de marca: motivações,

forma de gerenciar identidade de marca nesse novo contexto, exemplos de

empresas que lidam bem com esse aspecto contemporâneo, existência de

conhecimento prévio sobre o Spoleto?

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131

10. Campanha Kuat e Porta dos Fundos: motivação da Coca-Cola para atuar com a

Porta dos Fundos, parceria ocorreu antes ou depois do vídeo “Na Lata”.

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APÊNDICE B - ROTEIRO DE ENTREVISTA COM GESTOR DE MÍDIAS SOCIAIS

DA THE COCA-COLA COMPANY

1. Área de Mídias Sociais na Coca-Cola: historia do surgimento da área e

principalmente do setor react, inspiração para o formato atual da área, a missão

da área, como ela interage com as demais áreas da empresa, qual marca é o

maior cliente interno, como funciona o atendimento da área às diferentes marcas.

2. Tom de comunicação de Mídias Sociais: Hoje com a internet e as mídias sociais

existem vários canais e fontes: o consumidor, as comunidades, as fanpages, as

páginas de empresas no twitter, canais como o Porta dos Fundos. Como vocês

lidam com cada um desses diferentes espaços? Tem diferenças? Tem

semelhanças? Você poderia me dar um exemplo? a comunicação dos

consumidores e de outras fontes, como a Porta dos Fundos, o processo decisório

para publicação de respostas, como é tom da comunicação, qual a diretriz de

comunicação em relação à autoridade da empresa versus o consumidor (o

cliente esta sempre certo?), como é o treinamento da equipe, como a equipe é

organizada, qual o perfil desse profissional, como se dá a questão da autonomia,

e qual o papel da agencia Mutato?

3. Gestão da marca e a área de mídias sociais: qual o processo e as ferramentas,

suas funções e respectivas areas para construção e gestão das marcas da

empresa.

4. A marca Coca-ColaZero e a área de mídias sociais: qual a função que a área de

mídia sociais no geral desempenha na construção da marca Coca-ColaZero, e

qual a função da area de react nesse processo.

5. Campanha “Quanto mais, melhor” e mídias sociais:. Conte-me a história da

campanha “Quanto maior melhor”, quando começou, como foi construída, que

ferramentas foram utilizadas. Qual era o papel inicial das midias sociais nessa

campanha, algo mudou no curso da campanha?

6. Vídeo “Na Lata” e a area de mídias sociais: reações dentro da empresa,

processo decisório para resposta ao vídeo, quais áreas e processos foram

afetados, quem foram os decisores.

7. Visão da Coca-Colasobre a Porta dos Fundos: motivações da PF, receptividade

da resposta dada pela Coca-Cola, motivo por ser o vídeo mais visto, motivo pelo

qual o vídeo sai do ar eventualmente.

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133

8. Visão da Coca-Colasobre o consumidor: Foi mensurado ou avaliado o impacto

sobre os consumidores? Como foi feita essa mensuração? Quais foram os

indicadores acompanhados? Por quê? impacto na percepção do consumidor com

a marca dado o vídeo da PF, impacto da percepção do consumidor com a marca

dada a resposta da Coca-Cola Zero. Impacto nas vendas e nos indicadores de

brand equity medidos pela empresa da campanha Quanto Mais Melhor e do

vídeo Na Lata.

9. Visão da Coca-Cola sobre a Dolly: motivos pelos quais a Dolly não se

manifestou, sugestão de resposta para Dolly, percepção da Dolly sobre a

resposta da Coca – Cola.

10. Visão da Coca-Cola sobre a co-criação de identidade de marca: motivações,

forma de gerenciar identidade de marca nesse novo contexto, exemplos de

empresas que lidam bem com esse aspecto contemporâneo, existência de

conhecimento prévio sobre o caso Spoleto?

11. Campanha Kuat e Porta dos Fundos: motivação da Coca-Cola para atuar com a

Porta dos Fundos, parceria ocorreu antes ou depois do vídeo “Na Lata”.

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APÊNDICE C - ROTEIRO DE ENTREVISTA COM GERENTE DE CONTAS E COM

DIRETOR DE CRIAÇÃO DA MUTA.TO RESPONSÁVEL PELA THE COCA-COLA

COMPANY

1. Perfil da agência: tipo de trabalho, tipo de cliente, historia da agencia, qual a

intersecção entre a muta.to e outras agencias de publicidade.

2. Papel da agência na gestão das marcas dos clientes: qual a função da agencia

nesse processo, como a agencia se posiciona (ativa ou passiva), como ela

conversa com as outras áreas que fazem a gestão da marca, quais processos e

ferramentas existem para essa gestão das marcas?

3. Relacionamento com a Coca-Cola: como nasceu a parceria, em quais processos

a agencia atua (exemplos), quais marcas atende, como tem evoluído esse

relacionamento?

4. Campanha “Quanto mais, melhor” e a agencia:. Conte-me a história da

campanha “Quanto maior melhor”, quando começou, como foi construída, que

ferramentas foram utilizadas. Qual era o papel inicial da agencia nessa

campanha, algo mudou no curso da campanha? Você tem os textos, as

publicações da campanha para compartilhar conosco?

5. Vídeo “Na Lata” e atuação da agencia: reações dentro da empresa, processo

decisório para resposta ao vídeo, quais áreas e processos foram afetados, quem

foram os decisores, a agencia muta.to já ntinha passado por algo como esse

evento? Vocês tem os textos de resposta / diálogo que foram publicados após a

veiculação do vídeo? As latas Porta dos Fundos e Kellen foram produzidas de

fato ou apenas difundidas na internet?

6. Tom de comunicação de Mídias Sociais: Hoje com a internet e as mídias sociais

existem vários canais e fontes: o consumidor, as comunidades, as fanpages, as

páginas de empresas no twitter, canais como o Porta dos Fundos. Como vocês

lidam com cada um desses diferentes espaços? Tem diferenças? Tem

semelhanças? Você poderia me dar um exemplo? a comunicação dos

consumidores e de outras fontes, como a Porta dos Fundos, o processo decisório

para publicação de respostas, como é tom da comunicação, qual a diretriz de

comunicação em relação à autoridade da empresa versus o consumidor (o

cliente esta sempre certo?), como é o treinamento da equipe, como a equipe é

organizada, qual o perfil desse profissional, como se dá a questão da autonomia?

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7. A marca Coca-ColaZero e a agência: qual a função que a Muta.to no geral

desempenha na construção da marca Coca-ColaZero, e qual a função da area

de react nesse processo.

8. Visão da Muta.to sobre a Porta dos Fundos: motivações da PF, receptividade da

resposta dada pela Coca-Cola, motivo por ser o vídeo mais visto, motivo pelo

qual o vídeo sai do ar eventualmente. Já lidaram com o PF para outro cliente?

Como ocorreu? A Mutato também atende a marca Kuat? Como foi a experiência

com Kuat?

9. Visão da Muta.to sobre o consumidor: Foi mensurado ou avaliado o impacto

sobre os consumidores? Como foi feita essa mensuração? Quais foram os

indicadores acompanhados? Por quê? impacto na percepção do consumidor com

(a) a campanha quanto mais velhor, (b) impacto da marca dado o vídeo da PF,

(c) impacto da percepção do consumidor com a marca dada a resposta da Coca-

Cola Zero. Impacto nas vendas e nos indicadores de brand equity medidos pela

empresa da campanha Quanto Mais Melhor e do vídeo Na Lata.

10. Visão da Muta.to sobre a Dolly: motivos pelos quais a Dolly não se manifestou,

sugestão de resposta para Dolly, percepção da Dolly sobre a resposta da Coca –

Cola.

11. Visão da Muta.to sobre a co-criação de identidade de marca: motivações, forma

de gerenciar identidade de marca nesse novo contexto, exemplos de empresas

que lidam bem com esse aspecto contemporâneo, existência de conhecimento

prévio sobre o caso Spoleto?

12. Campanha Kuat e Porta dos Fundos: motivação da Coca-Cola para atuar com a

Porta dos Fundos, parceria ocorreu antes ou depois do vídeo “Na Lata”.

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APÊNDICE D - ROTEIRO DE ENTREVISTA COM GESTORA DE PESQUISA DA

THE COCA-COLA COMPANY

1. Área de pesquisa na Coca Cola: a missão da área, como ela interage com as

demais áreas da empresa, qual marca é o maior cliente interno, como funciona o

atendimento da área às diferentes marcas.

2. Área de pesquisa e gestão de marcas: como a área contribui para o processo de

gestão e construção de marcas, qual o seu principal papel, existem indicadores

de gestão da marca, como eles são desenvolvidos.

3. Área de pesquisa no contexto de mídias sociais: ocorreram mudanças após o

advento das mídias sociais, como é feita a gestão dos indicadores de marca que

são provenientes da área de mídias sociais, qual a função da área para a

contribuição no processo de gestão de marcas no ambiente digital, existem

pesquisas realizadas nesse universo digital pela área de pesquisa.

4. Tom de comunicação de Mídias Sociais: Na sua opinião, qual o tom de

comunicação adequado para lidar com as mídias sociais e os seus diversos

integrantes: o consumidor, as comunidades, canais como o porta dos fundos.

Existem diferenças ou semelhanças para lidar com cada um deles? Você poderia

me dar um exemplo?

5. A marca Coca Cola Zero e a área de mídias sociais: Na sua opinião, qual a

função que a área de mídia sociais no geral desempenha na construção da

marca Coca Cola Zero.

6. Campanha “Quanto mais, melhor” e mídias sociais:. Conte-me a história da

campanha “Quanto maior melhor”, quando começou, como foi construída, que

ferramentas foram utilizadas. Qual era o papel inicial da área de pesquisa nessa

campanha, algo mudou no curso da campanha?

7. Vídeo “Na Lata” e a área de pesquisa: reações dentro da empresa, a área de

pesquisa foi envolvida, qual foi o papel da área de pesquisa.

8. Visão da Coca Cola sobre a Porta dos Fundos: motivações da PF, receptividade

da resposta dada pela Coca Cola, motivo por ser o vídeo mais visto, motivo pelo

qual o vídeo sai do ar eventualmente.

9. Visão da Coca Cola sobre o consumidor: Foi mensurado ou avaliado o impacto

sobre os consumidores? Como foi feita essa mensuração? Quais foram os

indicadores acompanhados? Por quê? impacto na percepção do consumidor com

a marca dado o vídeo da PF, impacto da percepção do consumidor com a marca

Page 139: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO … · entre empresas e Árbitros culturais: um estudo de caso porta dos fundos. ... 4.1 apresentando o modelo coca-cola de gestÃo

137

dada a resposta da Coca-Cola Zero. Impacto nas vendas e nos indicadores de

brand equity medidos pela empresa da campanha Quanto Mais Melhor e do

vídeo Na Lata.

10. Visão da Coca-Cola sobre a Dolly: motivos pelos quais a Dolly não se

manifestou, sugestão de resposta para Dolly, percepção da Dolly sobre a

resposta da Coca – Cola.

11. Visão da Coca-Cola sobre a co-criação de identidade de marca: motivações,

forma de gerenciar identidade de marca nesse novo contexto, exemplos de

empresas que lidam bem com esse aspecto contemporâneo, existência de

conhecimento prévio sobre o caso Spoleto?

12. Campanha Kuat e Porta dos Fundos: motivação da Coca-Cola para atuar com a

Porta dos Fundos, parceria ocorreu antes ou depois do vídeo “Na Lata”.

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APÊNDICE E - ROTEIRO DE ENTREVISTA COM GESTORA DE MARCA DA

KUAT

1. A marca Coca Cola Zero: posicionamento da marca, público alvo, tipos de

campanhas de comunicação, posicionamento do produto no portfólio da

empresa, diretrizes para campanhas de comunicação, papel das mídias

tradicionais e atuais, estrutura e funções da equipe e fornecedores que apoiam a

construção da marca (Agências, departamento de comunicação, de marca etc).

2. Gestão da marca: processo de criação e gestão da marca, ferramentas utilizadas,

estrutura da empresa (organograma), técnica projetiva para identificação da

atuação da empresa perante as informações da mídia.

3. Quais as identidades de marca desejadas para Coca-Cola, Coca-Cola Zero e

Kuat?

4. Comunicação Integrada: quais as funções de cada uma das áreas: Connections,

Content, Experience/Asset, Promotion. Existem outras gerências abaixo dessas

funções? Em Connections, além da gerência de mídias sociais, quais outras

áreas?

5. Gestão de Mídias Sociais: importância das mídias sociais para a Coca Cola Zero,

processo de gestão, estrutura da empresa (organograma).

6. CIC (Customer Interaction Center): como o SAC se integra à área de mídias

sociais. Como ele se encaixa no organograma?

7. Campanha “Quanto mais, melhor”: histórico da ação, de onde veio a ideia,

objetivo, expectativas, mensuração efetiva de resultados, razões para alteração

do formato original australiano.

8. Como foi a escolha dos nomes. Teve algum estudo para definir a relação de

nomes que estampariam as latas?

9. Vídeo “Na Lata”: reações dentro da empresa, processo decisório para resposta

ao vídeo, quais áreas e processos foram afetados, decisores.

10. Visão da Coca Cola sobre a Porta dos Fundos: motivações da PF, receptividade

da resposta dada pela Coca Cola, motivo por ser o vídeo mais visto, motivo pelo

qual o vídeo sai do ar eventualmente.

11. Visão da Coca Cola sobre o consumidor: Foi mensurado ou avaliado o impacto

sobre os consumidores? impacto na percepção do consumidor com a marca

dado o vídeo da PF, impacto da percepção do consumidor com a marca dada a

resposta da Coca-Cola Zero. Impacto nas vendas e nos indicadores de brand

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equity medidos pela empresa da campanha Quanto Mais Melhor e do vídeo Na

Lata.

12. Visão da Coca-Cola sobre a Dolly: motivos pelos quais a Dolly não se

manifestou, sugestão de resposta para Dolly, percepção da Dolly sobre a

resposta da Coca – Cola.

13. Visão da Coca-Cola sobre a co-criação de identidade de marca: motivações,

forma de gerenciar identidade de marca nesse novo contexto, exemplos de

empresas que lidam bem com esse aspecto contemporâneo, existência de

conhecimento prévio sobre o Spoleto?

14. Campanha Kuat e Porta dos Fundos: motivação da Coca-Cola para atuar com a

Porta dos Fundos, parceria ocorreu antes ou depois do vídeo “Na Lata”. Qual foi

o resultado da ação ? Como podemos comparar os vídeos Na Lata e os da

campanha Kuat.

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APÊNDICE F – TRANSCRIÇÃO DO VÍDEO “NA LATA”

A cena inicia com Letícia Lima, representando a personagem Kellen,

revirando algumas latas de Coca- Cola Zero na geladeira de um supermercado.

Fábio Porchat, que representa um funcionário desse supermercado se aproxima e

diálogo se inicia.

FP: Opa, tudo bem? “Cê” quer alguma ajuda? Está procurando alguma coisa? Quer

alguma ajuda?

LL: To procurando meu nome na latinha.

FP: Ahh, legal! Qual é seu nome?

LL: É Kellen.

FP: Kellen? Não, Kellen é ruim. É um nome merda, não tem.

LL: Como assim?

FP: Nome de puta a Coca não faz. Brigite, Sheila, nunca vi.

LL: Gente, “cê" tá louco? Tá maluco?

FP: Ah, tah. Kellen é legal? Kellen agora é um puta nome, Kellen é um nome bíblico.

A mãe de Cristo, Kellen. Kellen é ruim! Meu nome é Uelerson e não é por isso que

estou procurando aqui o meu nome na latinha porque Uelerson é um nome bosta, eu

tenho consciência disso.

LL: Ok Uelerson, só que eu já achei Kelli. Então se tem Kelli, de repente tem o meu

nome.

FP: Kelli é um nome, Kellen é a derivação merda deste nome. É ruim, Por duas

letras teu pai te amaldiçoou pra sempre.

LL: Tá bom brigada,vou continuar procurando porque eu sei que vou achar.

FP: Não, você não vai achar. Se você quiser achar procura na promoção aqui

embaixo que é a promoção do Dolly que é bem semelhante só que com nome

merda. Sâmila, tem Tábata, muito bacana. Tem nome errado também, Cráudio, tem

um que eu gosto muito que é a Grória. Eu levei pra minha mãe. Se não achar no

Dolly, acho que a promoção da Sukita, é a tua onda.

A cena finaliza. E o próximo quadro apresenta a Leticia Lima procurando em

uma geladeira, que parece ser a de sua casa, os refrigerantes Dolly com os nomes.

LL: Ô gente, eu vou pegar aqui a Dolly porque a Coca Zero não tem não, tá? Quem

foi que pediu mesmo? Sâmila? Sâmila tem aqui, o Cráudio tem, o Kréber pediu? O

Kréber pediu, Tábata também, Néguima, mas quem mesmo gente? Ah a Grória, a

Grória pediu, Shana.

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APÊNDICE G –PORTFÓLIO DE MARCAS DA THE COCA-COLA COMPANY

Refrigerantes

Coca-Cola, Coca-ColaLight, Coca-ColaZero, Kuat, Kuat Zero, Fanta, Fanta Zero, Sprite, Sprite Zero,

Aquarius Fresh, Schweppes

Refrescos

Del Valle Frut, Del Valle Reserva, Laranja Caseira, Del Valle Mais

Repositores

I9, Powerade

Energéticos

Burn

Infantis

Del Valle Kapo

Chás

Chá Leão, Chá Matte Leão, Leão Ice Tea

Água

Crystal

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ANEXO A – DIÁLOGO ENTRE INTERNAUTA E A THE COCA-COLA COMPANY

NO CASO STAR WARS

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ANEXO B – PRINCÍPIOS DE MÍDIA SOCIAL DA THE COCA-COLA COMPANY

Princípios de Mídia Social

Atualizado em agosto de 2013

O QUE MÍDIAS SOCIAIS SIGNIFICAM PARA NÓS

Inúmeras conversas acontecem online sobre a Coca-Cola todos os dias, e queremos

que os mais de 150 mil associados da empresa, em mais de 200 países, participem

dessas conversas, representem nossa empresa e compartilhem do espírito otimista

e positivo de nossas marcas.

Esses Princípios de Mídia Social devem orientar sua participação nas mídias sociais,

tanto na vida pessoal, bem como quando você está representando oficialmente a

empresa. É fundamental sempre nos lembrarmos de quem somos, a maior empresa

do mundo de bebidas, refrescando consumidores com mais de 500 marcas de

bebidas gaseificadas ou não (e qual o papel da nossa empresa na comunidade de

mídia social), a fim de inspirar momentos de otimismo e felicidade e consolidar

nossas marcas. As mesmas considerações que se aplicam às nossas mensagens e

comunicações na mídia tradicional ainda se aplicam no espaço da mídia social on-

line, inclusive sobre o que você possa considerar plataformas "internas".

Divirta-se, mas seja inteligente. Use o bom senso e o senso comum, siga os valores

da empresa e respeite as mesmas políticas da empresa que você segue no mundo

off-line. Para começar ou para ajudá-lo a melhorar suas habilidades nas mídias

sociais, oferecemos treinamento para nossos funcionários e nossas agências

parceiras através de nossos portais de aprendizagem on-line, e continuaremos a

avaliar regularmente as aulas de treinamento e atualizá-las conforme a evolução dos

meios de comunicação social.

COMPROMISSOS CORPORATIVOS

A empresa tem certos compromissos relativos à forma como interagimos com o

público e com os outros, e esses compromissos também se aplicam a interações

que ocorrem em plataformas de mídias sociais. Esperamos os mesmos

compromissos de todos os representantes da empresa, incluindo funcionários da

empresa e colaboradores de nossas agências, fornecedores de serviços e produtos

da empresa:

1. A Coca-Cola será transparente em cada contrato de mídia social.

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2. A Coca-Cola protegerá a privacidade dos nossos consumidores em conformidade

com as políticas de privacidade aplicáveis, as políticas de segurança de TI e as leis,

regras e regulamentos.

3. A Coca-Cola respeitará direitos autorais, marcas comerciais, direitos de

publicidade e outros direitos de terceiros.

4. A Coca-Cola será responsável pelo uso da tecnologia e conscientemente não

associará nossa empresa com quaisquer organizações ou sites que usam softwares

excessivos de monitoramento, adware, malware ou spyware.

5. A Coca-Cola razoavelmente monitorará nosso comportamento no espaço das

mídias sociais, criando protocolos adequados para o estabelecimento de nossa

presença nas mídias sociais e mantendo registros apropriados de nossa

participação como ditada por lei e/ou pelas melhores práticas da indústria.

A EMPRESA E AS ATIVIDADES NA MÍDIA SOCIAL DE FUNCIONÁRIOS

A empresa respeita o direito de seus funcionários de usar blogs e outras ferramentas

de mídia social, não apenas como forma de autoexpressão, mas também como

forma de promover os negócios da empresa. É importante que nossos funcionários e

nossas agências estejam cientes das implicações de se engajar nas mídias sociais e

conversas on-line que fazem referência à empresa, a suas marcas ou a seus

negócios, e que eles reconheçam quando a empresa possa ser responsabilizada

pelo seu comportamento. Nossas expectativas para uso pessoal e profissional/oficial

de mídias sociais são definidas separadamente abaixo.

USO PESSOAL DE MÍDIAS SOCIAIS: NOSSAS EXPECTATIVAS

Se você é porta-voz autorizado da empresa ou não, quando falar sobre nossa

empresa, nossas marcas ou sobre nossos negócios nas redes sociais pessoais,

tenha em mente que:

1. Nossa Política de Proteção de Informações, a Política de Negociação e outras

políticas da empresa ainda se aplicam.

2. Você é responsável por suas ações. Nós o incentivamos a ficar on-line e se

divertir, mas use o bom senso e o senso comum.

3. Você é um embaixador importante para as marcas da nossa empresa e é

incentivado a promovê-las, desde que se certifique de revelar que você seja

associado à empresa. Como você divulga pode depender da plataforma, mas a

divulgação deve ser clara e próxima da mensagem propriamente dita.

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4. Quando você vir as postagens ou comentários em temas que exigem experiência

sobre o assunto, como ingredientes, obesidade, os impactos ambientais da empresa

ou desempenho financeiro da empresa, evite a tentação de responder a essas

questões diretamente, a menos que responda com mensagens aprovadas, que a

empresa tenha preparado para esses tópicos. Em caso de dúvida, entre em contato

com seu diretor de relações públicas e comunicações local.

5. Seja consciente ao misturar sua vida profissional e pessoal; não deixe de

conhecer as políticas do seu grupo de trabalho a respeito do uso pessoal das mídias

sociais no trabalho ou em dispositivos da empresa.

PORTA-VOZES DA EMPRESA: NOSSAS EXPECTATIVAS

Ao agir como porta-voz oficial da empresa, esperamos que você:

1. Esteja treinado. Todos os porta-vozes autorizados da empresa devem completar a

formação interna necessária antes de falar em nome dela.

2. Siga todas as políticas aplicáveis da empresa.

3. Divulgue sua associação com a empresa. Todos os funcionários que falam pela

empresa devem ser transparentes e divulgar sua associação com a empresa. Como

exatamente você faz essa divulgação pode variar, dependendo das circunstâncias e

da plataforma, mas o importante é garantir que as pessoas que leem sua declaração

sejam capazes de identificar imediatamente que você é associado à empresa. Esses

requisitos de divulgação são igualmente importantes para qualquer

agência/fornecedor/parceiro/terceira pessoa que esteja representando a empresa

online.

4. Na dúvida, não publique.

5. Dê crédito onde o crédito é devido e não viole os direitos de outros. NÃO

reivindique a autoria de algo que não é seu. Se estiver usando conteúdo de outra

parte, tenha certeza de que ela receba o crédito por isso em sua postagem e de que

ela aprove a utilização de seu conteúdo. Não use material com direitos autorais,

marcas registradas, direitos de publicidade ou outros direitos de terceiros sem as

permissões necessárias do(s) titular(es) do direito.

6. Lembre-se de que suas postagens locais podem ter um significado global. A

maneira como você responde a uma pergunta on-line pode ser precisa em algumas

partes do mundo, mas imprecisa (ou mesmo ilegal) em outros. Tenha essa "visão

mundial" em mente quando você estiver participando de conversas on-line.

7. Lembre-se de que a Internet é permanente.