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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS E ECONÔMICAS FACULDADE NACIONAL DE DIREITO Crise econômica e direito do trabalho: O paradigma da austeridade no contexto da crise brasileira dos anos de 2015/2016 ANTONIO LEONARDO SILVA CARNEIRO Rio de Janeiro 2017/1º Semestre

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS E ECONÔMICAS

FACULDADE NACIONAL DE DIREITO

Crise econômica e direito do trabalho: O paradigma da austeridade no contexto da crise

brasileira dos anos de 2015/2016

ANTONIO LEONARDO SILVA CARNEIRO

Rio de Janeiro

2017/1º Semestre

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ANTONIO LEONARDO SILVA CARNEIRO

Crise econômica e direito do trabalho: O paradigma da austeridade no contexto da crise

brasileira dos anos de 2015/2016

Monografia de final de curso, elaborada no

âmbito da graduação em Direito da

Universidade Federal do Rio de Janeiro, como

pré-requisito para obtenção do grau de

bacharel em Direito, sob a orientação da

Professora Doutora Sayonara Grillo

Coutinho Leonardo da Silva.

Rio de Janeiro

2017/1º Semestre

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ANTONIO LEONARDO SILVA CARNEIRO

Crise econômica e direito do trabalho: O paradigma da austeridade no contexto da crise

brasileira dos anos de 2015/2016

Monografia de final de curso, elaborada no

âmbito da graduação em Direito da

Universidade Federal do Rio de Janeiro, como

pré-requisito para obtenção do grau de

bacharel em Direito, sob a orientação da

Professora Doutora Sayonara Grillo

Coutinho Leonardo da Silva.

Data da Aprovação: __ / __ / ____.

Banca Examinadora:

_________________________________

Prof.ª Sayonara Grillo Coutinho Leonardo da Silva

_________________________________

Membro da Banca

_________________________________

Membro da Banca

Rio de Janeiro

2017/1º Semestre

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À Fernanda Oliveira, minha amada mãe, que

se formou em Psicologia amamentando-me.

Dedico este trabalho a todas as mães

universitárias.

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AGRADECIMENTOS

Aos meus pais, Carneiro Jr. e Fernanda, por todo incentivo e toda confiança; o amor

de vocês é minha inspiração diária.

À minha linda irmã, Ana Luiza, pelo companheirismo e pela amizade. Aos meus avós,

padrinhos, tios, primos e amigos; o carinho de vocês é fundamental.

Ter suportado a saudade de minha família maranhense só foi possível porque contei

com o apoio de pessoas tão queridas. À Buba, Lêda e Humberto, que foram determinantes

nesta conquista.

Ao Movimento Escoteiro, pela minha alegria de viver.

Agradeço a todos aqueles que contribuíram para a minha formação acadêmica: aos

mestres, servidores e trabalhadores terceirizados; é indescritível o privilégio de ter estudado

na Faculdade Nacional de Direito. Destaco a importância das atividades realizadas no

Laboratório de Direitos Humanos (LADIH) e no grupo de pesquisa Configurações

Institucionais e Relações de Trabalho (CIRT), além das monitorias nas áreas de Direito

Internacional Público e Direito Admnistrativo.

Agradeço, especialmente, a professora Sayonara, por todo apoio e confiança

depositados em mim.

Dentre tantas realizações, a Nacional me proporcionou amizades inesquecíveis e um

amor especial. À Thizá, que tornou mais completa minha trajetória no Rio de Janeiro.

Que Deus me guie nos novos desafios e experiências que virão, recordando-me das

responsabilidades concernentes a casa em que me formei.

Page 7: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE …âmbito da graduação em Direito da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como pré-requisito para obtenção do grau de bacharel

“Desconfiai do mais trivial,

na aparência singelo.

E examinai, sobretudo, o que parece habitual.

Suplicamos expressamente:

não aceiteis o que é de hábito

como coisa natural.

Pois em tempo de desordem sangrenta,

de confusão organizada,

de arbitrariedade consciente,

de humanidade desumanizada,

nada deve parecer natural.

Nada deve parecer impossível de mudar.”

(Bertold Brecht)

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RESUMO

A monografia analisa a relação histórica entre o direito do trabalho e a crise econômica na

manutenção do capitalismo, tendo como enfoque o padrão de crises instaladas a partir do

fenômeno da financeirização do capital e da ascensão do neoliberalismo, problematizando-se

a relação entre a austeridade económica, o desmantelamento do Estado-providência e a

flexibilização das relações laborais. O objeto cinge-se ao exame da introdução das políticas de

austeridade na conjuntura da crise brasileira dos anos de 2015/2016 e dos seus reflexos no

âmbito do direito do trabalho, tomando como base os conceitos de austeridade econômica e

direito do trabalho de exceção em António Casimiro Ferreira. Por intermédio do projeto de

austeridade neoliberal, os pressupostos básicos do direito do trabalho são negados a partir da

confluência de três aspectos principais: o paradoxo da soberania, a temporalidade de exceção

e a jurisprudência de austeridade. Pretende-se analisar esses três aspectos assinalados na

emergência do direito do trabalho de exceção no Brasil, tendo em vista a disseminação de

uma racionalidade pautada na urgência e inevitabilidade de ajustes econômicos estruturais

como resposta a desestruturação do mercado de trabalho brasileiro, ensejando conjunto de

medidas de restrições aos direitos sociais assentadas no discurso da austeridade.

Palavras-chave: Crise econômica; Neoliberalismo; Flexibilização das relações laborais;

Austeridade econômica; Direito do trabalho de exceção.

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ABSTRACT

The monograph analyses the historical relation between labor law and economic crisis in the

maintenance of capitalism, focusing on the pattern of installed crisis as of the phenomenon of

financialisation of the capital and the growth of neoliberalism, discussing the relation

between economic austerity, dismantling of the welfare state and flexibilization of labor

relations. The object girds to the examination of the introduction of policies of austerity

during the conjecture of the Brazilian crisis in the years of 2015/2016 and its reflexions in the

scope of labor law, taking as a basis the concepts of economic austerity and labor law of the

exception in António Casimiro Ferreira. Through the project of neoliberal austerity, the basic

assumptions of labor law are denied as of the confluence of three main aspects: the paradox of

sovereignty, the temporality of the exception and the jurisprudence of the austerity. The

intention is to analyse these three pointed out aspects in the emergency of labor law of

exception in Brazil, bearing in mind the dissemination of a rationality ruled by the urgency

and inevitability of the structural economic adjustments as an answer to the disruption of the

Brazilian labor market, leading to a group of restrictive measures to the social rights settled by

the discourse of austerity.

Key words: Economic crisis; Neoliberalism; Flexibilization of labor relations; Economic

austerity; Labor law of exception.

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LISTA DE ABREVIATURAS

ANAMTRA Associação Nacional dos Magistrados Trabalhistas

ACP Ação Civil Pública

ADPF Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental

ARE Agravo em Recuso Extraordinário

CLT Consolidação das Leis Trabalhistas

CAGED Cadastro Geral de Empregados e Desempregados

CNI Confederação Nacional das Indústrias

CRFB Constituição da República Federativa do Brasil

EC Emenda à Constituição

FAT Fundo de amparo ao trabalhador

FGTS Fundo de Garantia do Tempo de Serviço

FMI Fundo Monetário Internacional

FEM Fórum Econômico Mundial

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

INSS Instituto Nacional do Seguro Social

IPEA Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada

LOA Lei orçamentária Anual

MP Medida Provisória

MPT Ministério Público do Trabalho

TEM Ministério do Trabalho e Emprego

OCDE Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico

OMC Organização Mundial do Comércio

OIT Organização Internacional do Trabalho

OS Organização Social

PDI Plano de dispensa incentivada

PDV Plano de dispensa voluntária

PEC Proposta de Emenda à Constituição

PNADC Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua

PL Projeto de Lei

PLC Projeto de Lei da Câmara

PLOA Projeto de Lei Orçamentária Anual

PME Pesquisa Mensal de Emprego

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PMDB Partido do Movimento Democrático Brasileiro

PPE Programa de Proteção ao Emprego

PSE Programa de Seguro-Emprego

RE Recurso Extraordinário

STF Supremo Tribunal Federal

TST Tribunal Superior do Trabalho

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LISTA DE TABELA/GRÁFICOS

Tabela 1: Taxa de desocupação das pessoas de 14 anos ou mais de idade, na semana de

referência - Brasil, Grandes Regiões e Unidades da Federação. PNADC................................44

Gráfico 1: Taxas de subutilização da força de trabalho das pessoas de 14 anos ou mais de

idade – Brasil – (2012 – 2016). PNADC..................................................................................45

Tabela 2: Emprego e Renda. Criação de novas vagas formais. Carta de conjuntura/Out. 2016.

IPEA...................................................................................................................... ....................45

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO........................................................................................................................13

1. CRISE ECONÔMICA, DIREITO DO TRABALHO E A RACIONALIZAÇÃO DO

CAPITALISMO.................................................................................................................. ......16

1.1 Lineamentos acerca da geografia histórica do capitalismo e a formação do direito do

trabalho..................................................................................................................................16

1.2 O enigma do capital: as crises econômicas enquanto instrumentos de reconfiguração do

domínio de classe..................................................................................................................21

1.3 O discurso da crise, o neoliberalismo e a redução da proteção institucional ao

trabalhador............................................................................................................................24

1.4 A financeirização do Capital e a crise econômica mundial de 2007/2008.....................29

2. O PARADIGMA DA AUSTERIDADE E O DIREITO DO TRABALHO DE

EXCEÇÃO................................................................................................................................34

2.1 A austeridade econômica, o desmantelamento do Estado Social e a flexibilização das

relações laborais....................................................................................................................34

2.2 A disseminação do medo e da incerteza e a institucionalização da excepcionalidade...38

2.3 A mercadorização do direito do trabalho e o rompimento do pacto democrático..........42

3. A “AUSTERIZAÇÃO” NO BRASIL..................................................................................43

3.1 Crise política, crise econômica e a desestruturação do mercado de trabalho

brasileiro................................................................................................................... .............43

3.2 O direito do trabalho de exceção no Brasil.....................................................................49

3.2.1 O paradoxo da soberania: a prevalência do negociado versus legislado.................50

3.2.2 A temporalidade de exceção: a PEC nº 241/2016 (EC nº 95) e a utilização de

medidas provisórias pelo Poder Executivo.......................................................................53

3.2.3 A jurisprudência de austeridade: a atuação do Supremo Tribunal Federal na retirada

de direitos trabalhistas.......................................................................................................61

3.3 ADIn 5468 à luz da jurisprudência de austeridade.........................................................68

3.3.1 Breve contextualização............................................................................................68

3.3.2 Os argumentos contidos no relatório da PLOA/16..................................................69

3.3.3 O princípio da separação dos poderes e a compatibilização da LOA/16 com o

sistema constitucional brasileiro.......................................................................................71

CONCLUSÃO..........................................................................................................................73

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.....................................................................................75

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INTRODUÇÃO

O presente trabalho intitulado “Crise econômica e direito do trabalho: O paradigma da

austeridade no contexto da crise brasileira dos anos de 2015/2016” analisa a relação entre o

direito do trabalho e a crise econômica na manutenção do modo de produção capitalista.

Nesse sentido, a análise será direcionada ao padrão de crises instaladas a partir do fenômeno

da financeirização do capital e da ascensão do pensamento econômico neoliberal,

problematizando-se a relação entre a austeridade econômica, o desmantelamento do Estado

Social e a flexibilização das relações laborais. A conjuntura de recessão econômica nacional

consolidada nos anos de 2015/2016 é situada como reflexo da crise econômica mundial de

2007-2008, tida como auge do padrão de crises financeiras.

O objeto da pesquisa volve-se para o exame das políticas de austeridade na conjuntura

da crise brasileira dos anos de 2015/2016 e dos seus reflexos no âmbito do direito do trabalho,

tomando como base os conceitos de austeridade econômica e do direito do trabalho de

exceção em Antônio Casimiro Ferreira1. Estuda-se a emergência do direito do trabalho de

exceção no Brasil, tendo em vista a disseminação de uma racionalidade pautada na urgência e

inevitabilidade de ajustes econômicos estruturais como resposta a desestruturação do mercado

de trabalho brasileiro, estabelecendo-se um conjunto de proposições assentadas no discurso da

austeridade no sentido da restrição dos direitos sociais, dentre os quais, o corte no orçamento

reservado à Justiça do Trabalho promovido pela LOA/2016 que afetou o funcionamento deste

ramo especializado.

No primeiro capítulo, tomando como referenciais teóricos Manuel-Carlos Palomeque

David Harvey analisa-se a formação histórica do direito do trabalho, enquanto instrumento de

equilíbrio estrutural dos interesses antagônicos concernentes ao conflito base do capitalismo

industrial2, relacionando-o às crises econômicas, elemento central na reconfiguração do

domínio capitalista3. Problematiza-se a ascensão do pensamento econômico neoliberal e a

redução da proteção institucional do trabalhador a partir do discurso da crise econômica. Por

fim, há a contextualização do fenômeno da financeirização do capital e suas implicações na

crise econômica mundial iniciada nos anos de 2007/2008.

1 FERREIRA, António Casimiro. Sociedade da austeridade e direito do trabalho de exceção. Porto: Vida

Econômica, 2012. 2 PALOMEQUE, Manuel-Carlos. Direito do Trabalho e Ideologia. Coimbra: Almedina, 2001, p. 13-44. 3 HARVEY, David. O enigma do capital e as crises do capitalismo. 1ª edição. São Paulo: Boitempo, 2011. .

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Em Portugal, nos anos de 2011/2012, Antonio Casemiro Ferreira pesquisou a

emergência do paradigma da austeridade e do direito do trabalho de exceção como reflexo das

respostas governamentais à crise econômica Mundial de 2007/2008. Segundo o autor,

estabeleceu-se um projeto de austeridade neoliberal fundamentado pelo sacrifício individual

e legitimado pelo medo e incerteza. Nesse projeto, os pressupostos básicos do direito do

trabalho são negados por intermédio da confluência de três aspectos principais: o paradoxo da

soberania, a temporalidade de exceção e a jurisprudência de Austeridade4, objeto de análise

do segundo capítulo.

No terceiro capítulo, tomando como base levantamento de dados do IBGE e IPEA,

assinala-se a desestruturação do mercado de trabalho brasileiro, nos anos de 2015/2016, como

consequência do contexto de instabilidades político-econômicas. Pretende-se analisar aspectos

conjunturais da emergência de um direito do trabalho de exceção no Brasil, tendo em vista a

consolidação da plataforma de austeridade neoliberal5, emplacada mais fortemente pelo

governo de Michel Temer, logo após o impeachment da presidente Dilma Rousseff. O

primeiro aspecto analisado é a pretensa reformulação das fontes do direito do trabalho no

Brasil, objetivando acrescentar a prevalência do negociado sobre o legislado, a partir da

tramitação da PL nº 6787/2016 (PLC nº 38/2017) que propõe a inclusão do artigo 661-A na

CLT. O segundo aspecto, tem como enfoque a análise da tramitação da PEC 241/2016 (EC nº

95/2016), relativa ao teto de gastos públicos e a utilização de medidas provisórias pelo

executivo na restrição de direitos e garantias ao trabalhador, que foram selecionadas e

catalogadas em forma de tabela6.

O último aspecto analisado foi a atuação do STF na chancela das políticas de

austeridade. Nesse sentido, foi realizada uma pesquisa jurisprudencial7, reunindo uma série de

decisões voltadas à restrição de direitos trabalhistas, as quais podem ser estudadas sob a

perspectiva de afirmação de uma jurisprudência de austeridade pelo Tribunal. Dentre as ações

4 FERREIRA, António Casimiro. Sociedade da austeridade e direito do trabalho de exceção. Porto: Vida

Econômica, 2012. 5 Uma ponte para o futuro. Fundação Ulysses Guimarães, PMDB, Brasília, 29 out. 2015. 6 Todas as informações foram obtidas em consulta à plataforma eletrônica da Câmara dos Deputados:

http://www4.planalto.gov.br/legislacao/portallegis/legislacao1/medidasprovisorias/2011a2014;http://www4.plan

alto.gov.br/legislacao/portal-legis/legislacao-1/medidas-provisorias/medidas-provisorias-2015-a-2018. Acesso

em: 03/06/2017. 7 Todas as informações foram obtidas a partir da consulta à plataforma eletrônica do STF:

http://www.stf.jus.br/portal/processo/pesquisarProcesso.asp. Acesso em: 04/06/2017.

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selecionadas em tabela, foi examinada especificadamente a ADIn 5468, relativa ao corte de

gastos orçamentários à Justiça do Trabalho, promovida pela LOA/2016, que repercutiu em

amplo debate sobre a desconstrução do direito do trabalho na sociedade. Após

contextualização, foram apresentados os argumentos contidos no PLOA/2016, objeto de

impugnação pela ANAMATRA, bem como a utilização pelo STF do princípio da separação

dos poderes para a compatibilização dessa medida legislativa com a CRFB/1988.

O trabalho adota uma perspectiva interdisciplinar, com ênfase nas áreas do direito do

trabalho, direito constitucional e sociologia do direito. A metodologia envolveu o

levantamento bibliográfico, legislativo e jurisprudencial, além da análise documental

legislativa e judicial.

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1. CRISE ECONÔMICA, DIREITO DO TRABALHO E A RACIONALIZAÇÃO DO

CAPITALISMO

O presente capítulo analisa a relação entre o direito do trabalho e a crise econômica na

legitimação do modo de produção capitalista. Primeiramente, examinam-se os aspectos

históricos de formação do ramo jurídico laboral, contextualizado a partir da ascensão do

capitalismo industrial e do novo conflito estabelecido na base da sociedade. Em seguida, a

crise econômica é analisada como um dos fundamentos de reprodução do capitalismo, vez

que atua historicamente na reconfiguração do domínio de classe. Após, problematiza-se a

ascensão do pensamento econômico neoliberal e a redução da proteção institucional do

trabalhador a partir do discurso da crise econômica. Por fim, examina-se o fenômeno da

financeirização do capital e das suas implicações na crise econômica mundial de 2007/2008.

1.1 Lineamentos acerca da geografia histórica do capitalismo e a formação do direito do

trabalho

Analisar a formação do direito do trabalho pressupõe situá-lo enquanto produto do

modo de produção capitalista industrial8. Tal premissa está diretamente associada à

consolidação da relação empregatícia como mecanismo de vinculação do trabalhador ao

modelo econômico, tomando como referência o trabalho livre, subordinado e oneroso9. Há a

emergência de novo conflito social entre empregador e trabalhador assalariado, cuja relação

8 “O direito do trabalho é, desde logo, uma categoria cultural fruto do sistema capitalista industrial1. Não é,

portanto, a resposta normativa ao conflito social laboral ou de trabalho em geral, na medida em que todas as

sociedades históricas conheceram o trabalho como fonte de conflitos sociais sem que, por isso, possa registrar

nesse seio o nascimento daquele sistema normativo2, mas propriamente a reação ante o conflito industrial, o

conflito entre o capital e o trabalho assalariado na sociedade capitalista industrial, o conflito que se gera na

<grande indústria> do séc. XIX, caracterizada pela dupla concentração de capitais e de trabalhadores. Não é,

pois, mais um conflito, dentro de uma estrutura social puramente conflituosa, mas, antes, de um autêntico motor

de todas as suas contradições, do seu conflito central ou paradigmático.” PALOMEQUE, Manuel-Carlos.

Direito do Trabalho e Ideologia. Coimbra: Almedina, 2001, p. 17. 9 “A relação empregatícia, como categoria socioeconômica e jurídica tem seus pressupostos despontados com o

processo de ruptura do sistema produtivo feudal. Ao longo do desenrolar da Idade Moderna. Contudo, apenas mais a frente, no desenrolar do processo da Revolução Industrial, é que irá efetivamente se estruturar como

categoria específica, passando a responder pelo modelo principal de vinculação do trabalhador livre ao sistema

produtivo emergente. Somente a partir desse último momento, situado desde a Revolução Industrial do século

XVII (e principalmente século XVIII), é que a relação empregatícia (com a subordinação que lhe é inerente)

começará seu roteiro de construção de hegemonia no conjunto das relações de produção fundamentais da

sociedade industrial contemporânea. Apenas a partir do instante em que a relação de emprego se toma a

categoria dominante como modelo de vinculação do trabalhador ao sistema produtivo, é que se pode iniciar a

pesquisa sobre o ramo jurídico especializado que se gastou em torno dessa relação empregatícia.” DELGADO,

Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. ed. 14. São Paulo: LTR, 2015, p. 91.

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17

expressa interesses essencialmente antagônicos, interligados, respectivamente, na

diferenciação relativa ao domínio dos meios de produção e à composição da força de trabalho:

“No sistema de produção capitalista, o processo de produção de bens e serviços

expressa-se através da combinação de diversos fatores que intervêm no mesmo, a

partir de uma relação básica, que é a troca de trabalho assalariado por salário. [...]

Na relação de troca de trabalho por salário, os sujeitos que a protagonizam esgrimem

interesses, não só distintos, mas contrapostos. Tal significaria que na própria raiz da

relação de trabalho assalariado se instalou um conflito social de carácter estrutural

(contraposição de interesses entre aqueles dominam os meios de produção e aqueles

que oferecem exclusivamente trabalho dependente).”10

Marx destaca o caráter revolucionário promovido pelo Capital, ressaltando o incremento

do modelo produtivo baseado na cooperação, isto é, “forma de trabalho onde muitos operários

trabalham lado a lado e em conjunto, num mesmo processo de produção, ou em processos

diferentes, mas relacionados”11

, fundamentado pela divisão do trabalho, classicamente

expressa na manufatura12

. Contudo, ruptura paradigmática há com o surgimento da grande

indústria, visto que esta, agora simbolizada pela máquina, reconfigura o pressuposto inicial da

transformação produtiva, que não é mais a força de trabalho13

.

É imprescindível destacar os fatores chaves do processo de ascensão do capitalismo

enquanto categoria dominante, quais sejam as revoluções burguesa e industrial. A

racionalidade liberal transformou-se em concepção de mundo,14

fundamentando-se a partir da

igualdade jurídica formal e a autonomia da vontade. Em primeira análise o impacto é

reconhecer sujeitos de direito, até então juridicamente inexistentes no âmbito das relações

laborais, sob a figura do trabalhador “livre”. Daí decorre a inequívoca problemática na relação

de poder-dependência, significando que o trabalhador assalariado, além de se submeter à

sujeição produtiva típica, é também economicamente dependente do empregador15

.

Esse processo histórico conduz a um contexto de superexploração do trabalhador e,

gradativamente, a necessidade de intervenção do Estado, que já não mais pode se abster,

10 PALOMEQUE, Manuel-Carlos. Direito do Trabalho e Ideologia. Coimbra: Almedina, 2001, p. 17-18. 11 MARX, KARL. O Capital. 2. Ed. Resumida por Borchardt, Julian. Traduzida por SCHMIDT, Ronaldo Alves. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1969, p. 58. 12 Op. Cit. p. 64. 13 “Na manufatura, o ponto de partida da transformação do modo de produção é a fôrça de trabalho; na grande

indústria é o meio de trabalho. Logo, é preciso de início procurar saber como a máquina se distingue do

instrumento de trabalho [...] Desde que a verdadeira ferramenta, operando na matéria-prima, passou do homem

para o mecanismo, a simples ferramenta transformou-se em máquina.” Op. Cit. p. 81-82. 14

PALOMEQUE, Manuel-Carlos. Direito do Trabalho e Ideologia. Coimbra: Almedina, 2001, p. 20-21. 15 NUNES, António José Avelãs. Os trabalhadores e a crise do capitalismo. 1.ed. Florianópolis: Empório do

Direito, 2016, p. 33.

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conforme determinava a doutrina liberal clássica, pois a crescente mobilização dos

trabalhadores, a partir de uma construção de consciência coletiva, pressionava o Estado a

responder esse dilema, até mesmo para o intuito de manutenção do sistema capitalista16

. É

justamente no cerne dessa conjuntura que o direito do trabalho erige, com a percepção de que

a relação laboral sui generis estabelecida pelo modo de produção capitalista industrial deveria

ser regulada por ramo jurídico especializado e unitário:

“A confrontação entre o trabalho assalariado e o capital informa, assim, transversal e

longitudinalmente, a sociedade de classes, o que iria exigir, historicamente, a criação

de uma nova estrutura normativa canalizadora do novo conflito social básico, uma

vez que eram inúteis já, a tal fim, os corpos normativos da sociedade pré-industrial,

que seria então, o ordenamento jurídico-laboral. A funcionalidade ou razão histórica

do Direito do Trabalho como disciplina jurídica independente é, por isso, a de servir

ao processo de juridificação do conflito entre o trabalhador assalariado e o capital,

da sua canalização ou institucionalização pelo Estado.”17

Classicamente, apontam-se quatro fases determinantes para o desenvolvimento do

direito do trabalho, quais sejam, formação, intensificação, consolidação e autonomia.18

É

válido ressaltar a importância histórica dessa análise, contudo, deve se ter em mente o seu

caráter eminentemente descritivo. Em outras palavras, as quatro fases não constituem uma

periodização explicativa do substrato de formação do direito do trabalho nos países

capitalistas centrais, apesar de tais fases se referirem à formação do direito do trabalho nestes

países19

. À procura de compreensão mais geral e sistemática deste fenômeno, aborda

16 “As terríveis consequências do maquinismo e da exaltação capitalista dos princípios liberais, haveriam de

conduzir a quadros negros: jornadas de trabalho esgotantes (<de sol a sol>), salários de fome (no limite da

subsistência física do trabalhador, que permitisse a reprodução da força de trabalho), condições laborais

precárias e ambientes nocivos e insalubres; exploração qualificada do trabalho feminino e dos menores (as chamadas < médias forças>), relativamente aos quais as miseráveis condições gerais se agravam; [...] Em suma,

tinha-se atingindo a exploração sistemática do proletariado industrial, que via, realmente, ameaçada a sua

permanência histórica como grupo social diferenciado.” PALOMEQUE, Manuel-Carlos. Direito do Trabalho e

Ideologia. Coimbra: Almedina, 2001, p. 23-24. 17 PALOMEQUE, Manuel-Carlos. Direito do Trabalho e Ideologia. Coimbra: Almedina, 2001, p. 19. 18 Segundo Maurício Godinho Delgado tal proposta de classificação foi formulada pelos autores Granizo e

Rothvoss, sendo amplamente citados na doutrina nacional. GRANIZO; ROTHVOSS, 1935, p. 24-27 Apud

DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. ed. 14. São Paulo: LTR, 2015, p. 98. Vide a

nota de rodapé número 16 da supracitada obra, na qual Godinho aborda as referências da classificação de

Granizo e Rothvoss nas obras de Délio Maranhão, José César Oliveira e Alice Monteiro de Barros. 19 “Há uma específica tipologia (dos autores Granizo e Rothvoss), bastante recorrente em manuais sobre Direito do Trabalho, que foi claramente delineada a partir desses marcos históricos acima apontados. Esses dois autores

percebem a existência de quatro fases principais na evolução do Direito do Trabalho: formação, intensificação,

consolidação e autonomia. [...] Não há dúvida de que a periodização de Granizo e Rothvoss é bastante descritiva

de importantes eventos da História do Direito do Trabalho. Contudo, à semelhança de outras periodizações

correntes tem o inconveniente de não permitir nenhuma compreensão mais sistemática sobre o padrão de

organização do mercado de trabalho e de sua normatização jurídica nos países desenvolvidos ocidentais. É

periodização descritiva mas não explicativa da substância do Direito do Trabalho e dos modelos justrabalhistas

aos quais se refere.” DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. ed. 14. São Paulo: LTR,

2015, p. 98.

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19

Maurício Godinho Delgado além dos tradicionais contextos, uma conjuntura que norteará

posteriormente o presente trabalho: a Crise e Transição do ramo justrabalhista20

.

Destaca-se inicialmente o advento de legislações esparsas com intuito de amenizar a

situação de depauperamento dos trabalhadores21

, simbolizadas na Peel’s Act (1802), que

regulou condições do trabalho infantil na Inglaterra. Ainda não havia o reconhecimento

jurídico de organizações dos trabalhadores, pois o entendimento era que se constituía óbice à

liberdade de trabalho, historicamente concebida nas legislações francesa e inglesa,

respectivamente, Le Chapelier (1791) e Combinations Acts (1799 e 1800)22

. Os primeiros

esforços de regulação do conflito laboral são constituídos, mas ainda não há que se falar no

surgimento de ramo jurídico unitário, haja vista o caráter pontual e assistemático de tais

medidas, com forte apelo humanitário, principalmente, voltadas à proteção de mulheres e

crianças23

.

Há gradativamente a sistematização e consolidação do ramo justrabalhista, momento

histórico associado às crescentes mobilizações dos trabalhadores industriais, que começam a

ser juridicamente reconhecidas24

. Tanto o Manifesto Comunista (1848) quanto o movimento

cartista são marcos estruturantes da concepção coletiva dos trabalhadores, além do mais

simbolizam canalização de resistências à estrutura institucional dominante, amplamente

questionada na Revolução da França (1848)25

. Tal processo culminou com o reconhecimento

por parte das principais economias mundiais à época, na Conferência de Berlim (1890), da

necessidade de novas formas de regulação do mercado de trabalho, preocupação também

demonstrada na Encíclica papal Rerum Novarum (1891)26

.

20 DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. ed. 14. São Paulo: LTR, 2015, p. 99. 21Marx elenca alguns efeitos da emergência da sociedade industrial, dentre eles, o depauperamento moral de

crianças e mulheres fazendo referência à obra A Situação das Classes Trabalhadoras na Inglaterra, de Engels,

motivo pelo qual se abstém de maiores detalhes: “Não preciso pois aqui me deter. Mas esse empobrecimento

intelectual, que ocorre porque os homens, antes de ter chegado a sua maturidade, foram transformados em

simples máquinas tendo por função produzir mais-valia, e que é preciso distinguir cuidadosamente da ignorância natural que deixa o espírito sem cultura, essa falta de desenvolvimento fôrçou finalmente o Parlamento Inglês a

decretar que em todas as indústrias submetidas à lei sôbre as fábricas a instrução elementar seria condição legal

para utilização produtiva de crianças com menos de 14 anos.” MARX, KARL. O Capital. 2. Ed. Resumida por

Borchardt, Julian. Traduzida por SCHMIDT, Ronaldo Alves. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1969, p. 92-93. 22 PALOMEQUE, Manuel-Carlos. Direito do Trabalho e Ideologia. Coimbra: Almedina, 2001, p. 26. 23 DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. ed. 14. São Paulo: LTR, 2015, p. 99. 24

PALOMEQUE, Manuel-Carlos. Direito do Trabalho e Ideologia. Coimbra: Almedina, 2001, p. 26-27. 25 DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. ed. 14. São Paulo: LTR, 2015, p. 100. 26 Op. Cit. p. 100-101.

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20

A exacerbação do conflito laboral conduziu a novas estratégias de atuação no sentido da

institucionalização do ramo jurídico trabalhista, isto é, houve um processo de completa

assimilação do direito do trabalho pela dinâmica das instituições sociais e estatais27

. Cria-se a

OIT (1919) e os direitos trabalhistas ganham relevância no âmbito constitucional, fenômeno

prenunciado pela Constituição Mexicana (1917) e de Weimar (1919), estabelecendo-se

princípios estruturantes, tais como, a valorização do trabalho humano e a justiça social28

. Há a

emergência do Estado Providência29

, Social ou de Bem-estar Social, com a ressignificação

das relações laborais, tomando como referencial a materialização da liberdade individual e

coletiva dos trabalhadores. Em outras palavras, o trabalhador abstratamente livre transmuda-

se em sujeito de direitos fundamentais, os quais passam a ser perseguidos pelo Estado e pela

sociedade, dentre estes direitos estão a promoção do trabalho digno e a ampla liberdade

sindical30

.

27 DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. ed. 14. São Paulo: LTR, 2015, p. 102. 28 Nesse sentido, destaca-se como marco paradigmático a nível internacional a Declaração da Filadélfia (1944)

que restabelece princípios estruturantes do ramo jurídico juslaboral, dentre os quais, a promoção da justiça social

e a compreensão desmercantilizada do trabalho: “A declaração estabelece um entendimento amplo acerca da

importância do social e, muito particularmente, do valor do trabalho e dos seus direitos, assentes no princípio de

que ‘o trabalho não é mercadoria’ e na valorização deste como mecanismo de redistribuição e promoção da justiça social. Circunstâncias relevantíssimas para as décadas seguintes, em que se assiste à consolidação, nas

sociedades ocidentais desenvolvidas, do designado Estado-providência e da relação salarial fordista.”

FERREIRA, António Casimiro. Sociedade da austeridade e direito do trabalho de exceção. Porto: Vida

Econômica, 2012, p. 19. 29 A contextualização do surgimento do Estado-providência subjaz de central relevância no âmbito da

institucionalização do Direito do Trabalho, assim como no posterior contexto de Crise e transição do direito do

trabalho, inclusive, estando este contexto intimamente associado ao desmantelamento do Estado-Providência.

Nesse sentido, destaca-se a obra de Antônio Rodrigues de Freitas Junior: “Dizendo de outro modo: nada obstante

o que possa exibir de ‘aprofundamento do Estado protecionista clássico’, como adequadamente sugere

ROSANVALLON (1981: 20 – 21), o Estado-Providência encerra uma espécie de ‘pacto’ político, certamente

capaz de engendrar formações sociais de igual modo específicas as quais, embora possivelmente dotadas de

alguma porção de auto-referibilidade, como sustenta KING (1988), aparecem de algum modo indissociavelmente ligadas a um período de reconstrução social caracterizado [1] por uma forte presença das

organizações sindicais do trabalhadores na agenda política; [2] pela fragilidade das alianças no terreno da

política partidária; [3] pela necessidade de pautar, ainda que em limites e ritmos diversos, a legitimidade do

sistema político [3.1] fortes o bastante para pôr em questão a estabilidade política do Estado-Nação, [3.2] mas

incapazes de imprimir uma agenda de mudanças políticas recortadas por um caráter de classe alternativo; [4]

pela expansão, na qualidade de direitos de ‘cidadania social’, como designa BARCELLONA (1991: 31 e ss), dos

domínios de cobertura social das necessidades e carências, por intermédio da ação direta ou indutora do Estado-

Nação; e [5] pelo aprofundamento da intervenção reguladora do Estado-nação sobre os limites da autonomia

contratual entre atores materialmente desiguais, em especial, entre empregados e empregadores”. FREITAS

JÚNIOR, Antônio Rodrigues de. Direito do trabalho na era do desemprego: Instrumentos jurídicos em

políticas públicas de fomento à ocupação. 1ª edição. São Paulo: LTr, 1999, p. 50. 30 No âmbito do fenômeno da constitucionalização dos direitos laborais destaca-se o reconhecimento dos

sindicatos, da liberdade sindical e os direitos decorrentes, que serviram de base das democracias sociais,

gradualmente reconhecidos a nível constitucional: “O sindicato converte-se numa instituição essencial, para os

fins a que constitucionalmente se propõe o Estado, que dispõem de um quadro reforçado de tutela. A liberdade

sindical e o conjunto de direitos que integram o seu conteúdo essencial, não é já apenas um instrumento básico

de auto-tutela para a classe trabalhadora, mas, simultaneamente, um dos pilares da estrutura institucional dos

Estados democráticos de capitalismo avançado. A partir da Constituição alemã de Weimar (1919), o sindicato e

a liberdade sindical receberam consagração constitucional nos textos fundamentais modernos como a

Constituição italiana de 1947 (art. 39), a constituição francesa de 1958 (preâmbulo da de 1946 mantido em

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21

Sucedeu-se, então, um processo de desestruturação do modelo de Estado-providência31

e do modo de organização econômica taylorista-fordista32

, tendo como marco histórico a

Crise do Petróleo (1973). Nesse aspecto, assinala-se o incremento do fenômeno da

globalização, entendido não apenas como fase do capitalismo, mas também enquanto

processo de integração econômica global. Tal fase possui como pressupostos a generalização

do sistema capitalista, reconfigurado pela hegemonia do capital financeiro-especulativo, pelas

novas formas de tecnologia e pelos novos modos de organização produtiva33

. A globalização

ainda conta com requisitos da consolidação do neoliberalismo, da ausência de contraponto ao

capitalismo, diante o colapso do regime socialista soviético, e do enfraquecimento dos

movimentos sindicais, provocando alterações substanciais nas políticas publicas dos países

centrais e, após, nos países periféricos,34

com a hegemonização das perspectivas de

desregulamentação, mormente voltada para reformar o direito do trabalho, com a redução das

normas e instituições voltadas para um controle do mercado.

1.2 O enigma do capital: as crises econômicas enquanto instrumentos de reconfiguração

do domínio de classe

De antemão, é válido ressaltar que as crises econômicas são elementos centrais para a

reprodução histórica do modo de produção capitalista, isso é, “são tão necessárias para a

vigor), a Constituição portuguesa de 1976 (arts. 55 e 56), ou, finalmente a Constituição espanhola de 1978 (art. 7

e 28.1)”. PALOMEQUE, Manuel-Carlos. Direito do Trabalho e Ideologia. Coimbra: Almedina, 2001, p. 27. 31 Vide FREITAS JÚNIOR, Antônio Rodrigues de. Direito do trabalho na era do desemprego: Instrumentos

jurídicos em políticas públicas de fomento à ocupação. 1ª edição. São Paulo: LTr, 1999, p. 79-89. 32 Antônio Rodrigues de Freitas Junior, tomando como base a obra de HIRSCH, aborda a conjuntura econômica

e política a nível macro da consolidação do fordismo, com destaque a reorganização taylorista do processo

laboral, concebendo-se, dentre outras características, a partir da autossuficiência na concentração produtiva em

cadeia, elevada estratificação de comando e remuneração padronizada a nível hierárquico. Contudo,

gradualmente foram introduzidas modificações, fundamentando novos paradigmas de organização do trabalho:

“[1] em vez de auto-suficiência, a medida da eficiência passaria a ser a agilidade e a adaptabilidade; [2] o

cliente-alvo deixaria de ser aquele baseado estritamente no mercado nacional, de modo que os horizontes de

competitividade em pouco tempo ultrapassariam barreiras nacionais; [3] como estratégia para o enfrentamento

das crises, além da contínua adaptação por intermédio do paradigma do kaizen, o paradigma emergente

preconizará a identificação e a delimitação dos nichos específicos de demanda potencial, associadas à progressiva redução do nível de concentração, por intermédio dos mecanismos downsizing, bem como enfatizara

o desenvolvimento de tecnologias de curto período de maturação; e [4] sob ângulo das políticas de recursos

humanos, em lugar das grandes concentrações fabris, a empresa construída sob o paradigma emergente

preconizara a contínua otimização do pessoal ocupado, a terceirização das atividades não estratégicas, bem como

o oferecimento de uma remuneração seletivamente atraente, segundo critérios de compromisso com os objetivos

da empresa, e de produtividade individual ou setorial”. Op. Cit, p. 65 e 97-99. 33

DELGADO, Mauricio Godinho. Capitalismo, trabalho e emprego: entre o paradigma da destruição e os

caminhos de reconstrução. 2. ed. São Paulo: LTR, 2015, p. 15-20. 34 Op. Cit. p. 20-21.

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22

evolução do capitalismo como o dinheiro, o poder do trabalho e o próprio capital” 35

. Estudos

apontam que a sustentabilidade desse modo de produção está associada à taxa de expansão

composta de 3% ao ano, menos que isso há indícios de fragilidade. E, especialmente, quando

há uma taxa inferior a 1%, crises econômicas são instaladas36

. Nesses períodos de recessão

novas relações de produção e investimento são constituídas, ou seja, ocorrem reconfigurações

de poder no sentido da reordenação das instabilidades sistêmicas e manutenção do status quo

dominante.37

Há de se ter em mente que estes ciclos reprodutivos são contínuos na geografia histórica

do capitalismo, não obstante exista diversidade quanto às tendências de formação, além de

pluralidade quanto à quantidade e intensidade, quando se compara contextos históricos

específicos38

. Em que se pese a importância histórica das teorizações tradicionais, quanto aos

padrões de formação das crises, assevera Harvey a compreensão a partir dos limites e

barreiras da acumulação do capital, evidenciando a estratégia de superação provisória dos

desequilíbrios sistêmicos,39

nos seus próprios termos, “as tendências de crise não são

resolvidas, apenas deslocadas” 40

.

É justamente a partir dos escritos de Karl Marx que se problematiza a concepção de

equilíbrio econômico41

, base para posteriores estudos de contestação aos referenciais

dominantes42

, no sentido de evidenciar os fundamentos do capital em acentuar o desequilíbrio

35 HARVEY, David. O enigma do capital e as crises do capitalismo. 1ª ed. São Paulo: Boitempo, 2011, p. 100. 36 “Ao longo da história do capitalismo, a taxa composta de crescimento real foi de cerca de 2,25%/ ao ano

(negativa em 1930 e muito maior – cerca de 5% – no período de 1945 a 1973). O consenso atual entre os economistas e na imprensa financeira é que uma economia ‘saudável’ do capitalismo, em que a maioria dos

capitalistas obtém um lucro razoável, expande-se em 3% ao ano. Quando se cresce menos do que isso, a

economia é considerada lenta. Quando se obtém abaixo de 1%, a linguagem de recessão e a crise estouram

(muitos capitalistas não têm lucro).” Op. Cit. p. 30. 37 Op. Cit. p. 18. 38 Tais comparações não podem ser prescindidas da análise dos modelos de organização do capitalismo,

historicamente adaptados e transformados no decurso histórico da acumulação. Desde já, aponta-se que o recorte

a ser analisado posteriormente é relativo ao aumento substancial da quantidade e abrangência das crises

econômicas a partir da década de 1970, tendo em vista o fenômeno da financeirização, objeto que constituirá o

enfoque do tópico 1.4. Vide HARVEY, David. O enigma do capital e as crises do capitalismo. 1ª ed. São

Paulo: Boitempo, 2011, p. 52. 39 Op. Cit. p. 99. 40 Idem. 41 “Acrescenta-se a isso, ainda, que o equilíbrio é sempre devido ao acaso e que, se a proporção no emprego dos

capitais investidos nos diversos ramos da produção não cessa de tender a se equilibrar, a permanência dêsse

equilíbrio supõem, por sua vez, a não menos permanente desproporção à qual não se deixa de colocar fim,

frequentemente de forma violenta.” MARX, KARL. O Capital. 2. Ed. Resumida por Borchardt, Julian.

Traduzida por SCHMIDT, Ronaldo Alves. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1969, p. 285. 42 HARVEY, David. O enigma do capital e as crises do capitalismo. 1ª ed. São Paulo: Boitempo, 2011, p. 64-

65.

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23

das forças econômicas e, consequentemente, propiciar crises. A literatura afirma serem as

crises consubstanciais ao capitalismo, necessárias para sua permanência, pois ampliam a

acumulação do capital.

“O que eles também mostraram foi que as crises são, de fato, não apenas

inevitáveis, mas também necessárias, pois são a única maneira em que o equilíbrio pode ser restaurado e as contradições internas da acumulação do capital, pelo menos

temporariamente, resolvidas. As crises são, por assim dizer, os racionalizadores

irracionais de um capitalismo sempre instável. Durante uma crise, como esta em que

estamos agora, é sempre importante manter esse fato em mente. Temos sempre a

perguntar: o que está sendo racionalizado aqui e que direção estão tomando as

racionalizações, uma vez que isso é o que vai definir não apenas a nossa forma de

saída da crise, mas o caráter futuro do capitalismo? Em tempos de crise há sempre

opções. Qual delas é escolhida depende criticamente da relação das forças de classe

e das concepções mentais sobre o que poderia ser possível.”43

Em suma, as crises econômicas são racionalizadoras de um sistema capitalista

fundamentalmente insustentável, isto é, são instrumentos de reconfiguração do domínio de

classe que têm como base a superação artificial de barreiras44

, no sentido da acumulação

expansiva do capital, em espaços interligados de forma desordenada45

. Portanto, conclui-se

que há múltiplas respostas que podem ser dadas às crises econômicas, posto que estejam

relacionadas ao conflito entre as forças sociais existentes e os discursos e ideologias

preponderantes, e são esses os fatores que conformam o direito do trabalho em seu alcance e

sentido. Nesse mesmo raciocínio, é possível compreender que divergentes leituras afiguram-

se historicamente a partir da afirmação/expansão e negação/redução do ramo juslaboral diante

da força contraposta entre o trabalho e o capital e das concepções hegemônicas

estabelecidas.46

43 HARVEY, David. O enigma do capital e as crises do capitalismo. 1ª ed. São Paulo: Boitempo, 2011, p. 65. 44 “Há, portanto, dentro da geografia histórica do capitalismo, uma luta perpétua para converter limites

aparentemente absolutos em barreiras que possam ser transcendidas ou contornadas. Como isso acontece e quais

são os limites principais? O exame do fluxo de capital por meio da produção revela seis barreiras potenciais à

acumulação, que devem ser negociadas para o capital ser reproduzido: i) capital inicial sob a forma de dinheiro

insuficiente; ii) escassez de oferta de trabalho ou dificuldades políticas com esta; iii) meios de produção

inadequados, incluindo os chamados “limites naturais”; iv) tecnologias e formas organizacionais inadequadas; v)

resistências ou ineficiências no processo de trabalho; e vi) falta de demanda fundamentada em dinheiro para

pagar no mercado.” Op. Cit. p. 46-47. 45 Op. Cit. p. 132. 46 “O movimento de redução e expansão do direito do trabalho é uma decorrência da sua estreita relação com a crise econômica, sua companheira de viagem. O direito do trabalho surge de crises, ganha destaque com as

crises, é combatido a cada crise que se apresenta, mais do que qualquer outro ramo do direito sofre os efeitos das

medidas adotadas para combater as crises e dele é exigido que mostre a sua força especialmente em momentos

de crise. Em razão de crises econômicas, o próprio direito do trabalho é colocado em crise, com questionamentos

dos seus princípios fundamentais, da relação entre suas fontes, da sua finalidade e das suas funções.”

ALMEIDA, Cléber Lúcio. Redução e expansão do direito do trabalho: por um direito do trabalho de

segunda geração. In: TEODORO, Maria Cecíla Máximo et al (coord.). Direito material e processual do

trabalho: III Congresso Latinoamericano de Direito Material e Processual do Trabalho. São Paulo: LTr, 2016, p.

41.

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24

1.3 O discurso da crise, o neoliberalismo e a redução da proteção institucional ao

trabalhador

Crise econômica não implica necessariamente em retrocesso de direitos individuais e

sociais, inclusive, o aumento da proteção ao trabalhador em contextos de recessão encontra

exemplos na história47

. Compreender a complexidade da relação entre a crise econômica e o

direito do trabalho perfaz situá-la enquanto processo de influências históricas. Como bem

aduz Manuel-Carlos Palomeque, a relação entre crise e direito do trabalho ocorre em ciclos,

pois as modificações econômicas influenciam na construção institucional do direito, seu

“companheiro histórico de viagem”48

. Ademais, é válido reforçar que tais influências não se

restringem a determinado contexto histórico, como o período analisado a seguir, relativo à

década de 70 em diante, pois a crise econômica conforma o direito do trabalho desde os

primórdios da formação deste ramo jurídico49

.

Não obstante, evidencia-se aumento quantitativo e qualitativo das conjunturas de

recessão econômica a partir da década de 197050

, significando um maior número e uma

progressiva abrangência das crises, a partir da primeira grande crise global, a posteriori da

Segunda Guerra, a Crise do Petróleo (1973)51

. Esse contexto está interligado à emergência de

nova concepção hegemônica de pensamento: o neoliberalismo, entendido como marco na

revitalização do poder capitalista frente aos avanços da classe trabalhadora52

. É

fundamentada, pelo discurso neoliberal, a ideia de que não haveria alternativas, especialmente

47 PALOMEQUE, Manuel Carlos. Un compañero de viaje histórico del Derecho del trabajo: la crisis

económica. Revista de Política Social, Madrid, n. 143, julho-setembro de 1984, p. 20. 48 PALOMEQUE, Manuel-Carlos. Direito do Trabalho e Ideologia. Coimbra: Almedina, 2001, p. 39.

49 “É imprescindível, no entanto, reter neste ponto uma dupla noção de transcendental importância: 1) a crise

econômica é uma realidade que tem acompanhado o Direito do Trabalho, pelo menos de forma intermitente, ao

longo do seu percurso histórico, para converter-se, certamente, num < companheiro histórico de viagem> da

mesma, incômodo se se quiser; e 2) a crise econômica exerceu sempre a sua influência no quadro institucional

do Direito do Trabalho e não só, na verdade, a partir da metade dos anos setenta do presente século.” Ibidem. 50 “Crises financeiras e monetárias têm sido características de longa data da geografia histórica do capitalismo.

Mas sua frequência e profundidade aumentaram acentuadamente desde 1970, mais ou menos, e temos de lidar

com o porquê de isso estar acontecendo e pensar no que poderia ser feito.” Idem. 51 Op. Cit. p. 14. 52 “A resposta depende do que entendemos com a palavra neoliberalismo. Minha opinião é que se refere a um

projeto de classe que surgiu na crise dos anos 1970. Mascarada por muita retórica sobre liberdade individual,

autonomia, responsabilidade pessoal e as virtudes da privatização, livre‑mercado e livre-comércio, legitimou

políticas draconianas destinadas a restaurar e consolidar o poder da classe capitalista. Esse projeto tem sido bem-

sucedido, a julgar pela incrível centralização da riqueza e do poder observável em todos os países que tomaram o

caminho neoliberal. E não há nenhuma evidência de que ele está morto.” Op. Cit. p. 16.

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no âmbito trabalhista, se não forem empreendidas reformas que visem à desregulamentação

das relações laborais.

O surgimento da teoria neoliberal remete inicialmente à criação da Mont Pelerin Society

(1947), sociedade composta, dentre outros, por Ludwig von Mises, Milton Friedman e Karl

Popper, afirmando a preservação da propriedade privada e da competitividade dos mercados

como meio de assegurar a liberdade individual, tomando como referência os estudos do

filósofo político Friedrich von Hayek53

. Tal escola de pensamento foi diretamente

influenciada pela economia neoclássica, no que tange os valores do livre mercado, e

contrapõe-se às teorias clássicas e marxista54

. Foi a partir da década de 70 que o

neoliberalismo ganhou notoriedade acadêmica e política, tornando-se modelo econômico

dominante de políticas públicas governamentais das principais economias capitalistas55

. Na

posição de precursor, destaca-se o governo de Margareth Thatcher que, eleita a partir de

agenda econômica reformista, introduziu medidas de desestruturação do poder sindical,

desmantelamento do Estado Providência, privatização das empresas públicas, dentre outras 56

.

53 HARVEY, David. O neoliberalismo - história e implicações. São Paulo: Edições Loyola, 2008, p. 29. 54 “Os membros do grupo se descreveram como "liberais" (no sentido europeu tradicional) devido a seu

compromisso fundamental com ideais de liberdade pessoal. O rótulo ‘neoliberal’ marcava sua adesão aos

princípios de livre mercado da economia neoclássica que emergira na segunda metade do século XIX (graças aos

trabalhos de Alfred Marshall, William Stanley Jevons e Leon Walras) para substituir as teorias clássicas de

Adam Smith, David Ricardo e, naturalmente, Karl Marx”. Op. Cit. p. 29-30. 55 “Mas esse movimento permaneceu à margem tanto da política como da influência acadêmica até os

conturbados anos da década de 1970. A partir de então, começou a ocupar o centro do palco, especialmente nos

Estados Unidos e na Grã-Bretanha, nutrido por vários bem financiados bancos de idéias (rebentos da Mont

Pelerin Society, como o lnstitute of Economic Affairs, de Londres, e a Heritage Foundation, de Washington),

bem como mediante sua crescente influência na academia, particularmente na Universidade de Chicago, em que

reinava Milton Friedman. A teoria neoliberal obteve respeitabilidade acadêmica quando Hayek em 1974 e Friedman em 1976 ganharam o prêmio Nobel de economia. [...] Mas a dramática consolidação do neoliberalismo

como nova ortodoxia econômica de regulação da política pública no nível do Estado no mundo capitalista

avançado ocorreu nos Estados Unidos e na Grã-Bretanha em 1979.” Op. Cit. p. 31. 56 “Thatcher reconhecia que isso significava nada menos que uma revolução em políticas fiscais e sociais, e

demonstrou imediatamente uma forte determinação de acabar com as instituições e práticas políticas do Estado

socialdemocrata que se consolidara no país a partir de 1945. Isso envolvia enfrentar o poder sindical, atacar todas

as formas de solidariedade social que prejudicassem a flexibilidade competitiva (como as expressas pela

governança municipal e mesmo o poder de muitos profissionais e de suas associações), desmantelar ou reverter

os compromissos do Estado de bem-estar social, privatizar empresas públicas (incluindo as dedicadas à moradia

popular), reduzir impostos, promover a iniciativa dos empreendedores e criar um clima de negócios favorável

para induzir um forte fluxo de investimento externo (particularmente do Japão). Ficou famosa sua declaração: ‘a

sociedade não existe, apenas homens e mulheres individuais’ - e, acrescentou depois suas famílias. Todas as formas de solidariedade social tinham de ser dissolvidas em favor do individualismo, da propriedade privada, da

responsabilidade individual e dos valores familiares. O ataque ideológico nessas linhas advindo da retórica de

Thatcher era implacável; como ela mesma disse, ‘a economia é o método, mas o objetivo é transformar espírito’.

E transformar ela de fato transformou, ainda que de modo algum completa e abrangentemente, para não falar

sem custos políticos.”Op. Cit. p. 32.

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26

É válido destacar que posteriormente o Conselheiro-chefe Econômico do governo inglês

sugeriu que as políticas de austeridade relativas à contenção de gastos públicos e arrocho

salarial constituiu estratégia de desestruturação do poder da classe trabalhadora, escamoteada

pelo discurso da crise relativo ao combate a inflação57

. Assim como Thatcher, o governo

Reagan prenunciou a internacionalização da agenda neoliberal por intermédio do

aprofundamento do nexo Estado-finanças58

, estabelecendo-se o mercado global e

crescentemente interligado em uma lógica financeira de absorção dos excedentes e embasado

no endividamento. Privatizar os lucros e socializar os riscos59

, através de uma ampla margem

de atuação e restrita regulamentação do mercado financeiro, constituiu-se em regra. Isto tudo

fundamentando o livre comércio, o livre mercado e a promoção de uma agenda política de

proteção irrestrita aos bancos em detrimento dos direitos dos cidadãos60

.

A hegemonia do pensamento neoliberal está relacionada não só a sua emergência no

plano das agendas políticas dos Estados nacionais, como também na consolidação de

instituições e organizações internacionais, tais como o Banco Mundial, FMI e OMC,

responsáveis por propagar medidas de ajustes estruturais da economia norteadas pela

racionalidade do mercado financeiro61

. Tal processo conduziu a reestruturação do poder da

57 “[...] havia pessoas como Ronald Reagan, Margaret Thatcher e o general Augusto Pinochet à espera, armados

com a doutrina neoliberal, preparados para usar o poder do Estado para acabar com o trabalho organizado.

Pinochet e os generais brasileiros e argentinos o fizeram com poderio militar, enquanto Reagan e Thatcher

orquestraram confrontos com o grande trabalho, quer diretamente no caso do confronto de Reagan com os

controladores de tráfego aéreo e a luta feroz de Thatcher com os mineiros e os sindicatos de impressão, quer

indiretamente pela criação de desemprego. Alan Budd, conselheiro-chefe econômico de Thatcher, mais tarde

admitiu que ‘as políticas dos anos 1980 de ataque à inflação com o arrocho da economia e gastos públicos foram

um disfarce para esmagar os trabalhadores’, e assim criar um ‘exército industrial de reserva’, que minaria o

poder do trabalho e permitiria aos capitalistas obter lucros fáceis para sempre.” HARVEY, David. O enigma do

capital e as crises do capitalismo. 1ª ed. São Paulo: Boitempo, 2011, p. 21. 58 Segundo Harvey a expressão “nexo Estado-finanças” se refere a conjunto de acordos provenientes da

correlação entre os poderes estatal e o financeiro, tal concepção enquanto fundamento do atual sistema de crédito

expressa-se na existência de estruturas governamentais “nas quais a gestão do Estado para a criação do capital e

dos fluxos monetários torna-se parte integrante, e não separável, da circulação do capital. A relação inversa

também se sustenta na medida em que impostos ou empréstimos fluem para os cofres do Estado e na medida em

que as funções do Estado também se monetarizam, mercantilizam e, finalmente, privatizam.” Op. Cit. p. 47-48. 59 Op. Cit. p. 16. 60 “A administração da crise fiscal de Nova York abriu pioneiramente o caminho para práticas neoliberais, tanto

domesticamente, sob Reagan, como internacionalmente por meio do FMI na década de 1980. Estabeleceu o

princípio de que, no caso de um conflito entre a integridade das instituições financeiras e os rendimentos dos detentores de títulos, de um lado, e o bem-estar dos cidadãos, de outro, os primeiros devem prevalecer. Acentuou

que o papel do governo é criar um clima de negócios favorável e não cuidar das necessidades e do bem-estar da

população em geral.” HARVEY, David. O neoliberalismo - história e implicações. São Paulo: Edições Loyola,

2008, p. 58. 61 “O FMI e o Banco Mundial se tornaram a partir de então centros de propagação e implantação do

‘fundamentalismo do livre mercado’ e da ortodoxia neoliberal. Em troca do reescalonamento da dívida, os países

endividados tiveram de implementar reformas institucionais como cortes nos gastos sociais, leis do mercado de

trabalho mais flexíveis e privatização. Foi inventado assim o ‘ajuste estrutural’. O México foi um dos primeiros

Estados recrutados para aquilo que iria se tornar uma crescente coluna de aparelhos neoliberais de Estado em

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27

classe capitalista apoiada, fundamentalmente, pela injunção dos fluxos monetários globais e

das políticas de desregulamentação social e econômica. Nesse sentido, afirma David Harvey,

o neoliberalismo “apoiou-se pesadamente em mais-valia extraída do resto do mundo por meio

de fluxos internacionais e práticas de ajuste estrutural”62

. Destaca-se o Consenso de

Washington (1989)63

como marco simbólico da consolidação desta agenda

desregulamentadora, reflexa ao desmonte dos modelos políticos norteados pela solidariedade

social64

.

A flexibilização das relações trabalhistas65

foi uma tendência da introdução do

pensamento econômico neoliberal, orientado pela redução da proteção institucional ao

trabalhador e pela restrição da liberdade sindical. Segundo Ermida Uriarte66

este fenômeno

implicou, especialmente na América Latina, reformas legislativas orientadas, primeiramente,

pela diminuição dos benefícios trabalhistas e pelo desprestígio ao contrato individual de

trabalho. Em segundo lugar, alguns países tomaram a decisão pela privatização dos regimes

de seguridade social67

. Muito embora não haja evidências empíricas comprovando os efeitos

todo o mundo. Mas o caso do México demonstrou na verdade uma diferença essencial entre a prática liberal e a

neoliberal: naquela, os emprestadores assumem as perdas decorrentes de más decisões de investimento, ao passo

que sob esta última os tomadores são forçados pelo Estado e por forças internacionais a assumir o ônus do custo

do pagamento da dívida sejam quais forem as conseqüências para a vida e o bem-estar da população local”.

HARVEY, David. O neoliberalismo - história e implicações. São Paulo: Edições Loyola, 2008, p. 38. 62 Idem. 63 “Trata-se de um consenso no sentido de impor ao mundo o catecismo monetarista e neoliberal: a liberdade

plena de circulação de capitais; a desregulamentação dos mercados de capitais, incluindo o mercado de divisas; o

combate prioritário a inflação e a desvalorização das políticas de promoção de emprego; a privatização das

empresas públicas, incluindo as que produzem e fornecem serviços públicos; a adopção de políticas tributárias

favoráveis aos muitos ricos e às grandes empresas; a rejeição de qualquer ideia de equidade e de quaisquer

políticas de redistribuição do rendimento em favor dos titulares de rendimentos mais baixos; a flexibilização do mercado de trabalho e a contenção ou redução dos salários reais, num mundo em que a mundialização do

mercado de trabalho significou um aumento enorme do exército industrial de reserva e constituiu um estímulo

poderoso à deslocalização de empresas, em busca de mão-de-obra mais barata e sem direitos.” NUNES, António

José Avelãs. Uma leitura crítica da actual crise do capitalismo. Coimbra: Boletim de Ciências Econômicas

Liv., 2011, p. 19-20. 64 FERREIRA, António Casimiro. Sociedade da austeridade e direito do trabalho de exceção. Porto: Vida

Econômica, 2012, p. 23-24. 65 Nesse sentido, destaca-se análise de Jose Dari Krein: “Na sua essência, a flexibilização é uma tendência

presente em praticamente todos os países capitalistas centrais e em desenvolvimento, com diferentes

intensidades e temporalidades, forjada a partir da crise dos anos 70, que, na visão conservadora e hegemônica,

seria necessário ocorrer um ajuste das relações de trabalho à nova ordem social, econômica e política. A flexibilização aparece como “resposta” a um ambiente em que tende a se intensificar a concorrência

intercapitalista, num contexto de instabilidade e baixo dinamismo do produto, crescente importância do capital

financeiro (financeirização), prevalência de políticas econômicas restritivas voltadas ao controle da inflação e

elevação do desemprego”. KREIN, José Dari. Tendências Recentes nas relações de emprego: 1980 – 2005.

Instituto de Economia Escola, Universidade Estadual de Campinas, 2007. 66 ERMIDA URIARTE, Oscar. A política laboral dos governos progressistas. In: Revista Nueva Sociedad, n.

211, Argentina, Setembro/Outubro de 2007. 67 Em relação ao desprestígio da relação individual de trabalho Uriarte aborda a instauração de “contratos

basuras”, isto é, contratos que levam a precarização do trabalhador diante a escassez ou nulidade de direitos, ou

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reais destas proposições para a estabilização econômica, os argumentos justificadores

concernentes à redução do desemprego e o aumento da competitividade ainda são hoje

defendidos, constatando-se o fenômeno da concentração expansiva de renda, em uma

proporção nunca antes vista na história68

.

Dessa maneira, apesar da vulnerabilidade dos trabalhadores se acentuar em contextos de

crise econômica, inúmeras são as propostas de reformas sobre o marco legal e demais

garantias fundamentais, no âmbito trabalhista, que apoiem o desmantelamento das proteções

jurídicas existentes, justamente em um momento que mais se faz necessário à classe

trabalhadora o fortalecimento desses institutos69

. A desregulamentação do direito juslaboral é

apontada como proposição pelo pensamento econômico neoliberal, apesar da ausência de

dados que comprovem a relação de casualidade entre a flexibilização das relações de trabalho

e o crescimento da economia70

. Tendo em vista que os objetivos expressos das reformas

neoliberais não foram obtidos em nenhum dos seus aspectos71

, problematiza-se a utilização do

discurso da crise como meio de reconfiguração do poder de classe através da redução da

proteção institucional ao trabalhador, como afirma Oscar Ermida Uriarte, para quem há uma

dupla maneira de o Direito do Trabalho enfrentar a crise, pois além da solução neoliberal, é

possível também ampliar as medidas protetivas para evitar que os custos da crise sejam

até mesmo o estabelecimento de relações legais ou fraudulentas que afastem a aplicação da legislação

trabalhista, tais como terceirização, subcontratação, cooperativas de mão de obra, entre outras. ERMIDA

URIARTE, Oscar. A política laboral dos governos progressistas. In: Revista Nueva Sociedad, n. 211,

Argentina, Setembro/Outubro de 2007, p. 52. 68 Segundo pesquisa realizada pela organização não governamental britânica Oxfam pela primeira vez na história

a riqueza acumulada pelo grupo referente a 1% das pessoas mais ricas equivale ao restante acumulado por 99% da população mundial, tomando como base dados de outubro de 2015 relativos ao banco Credit Suisse.

Esta informação foi extraída do portal de notícias da BBC: 1% da população global detém mesma riqueza dos

99% restantes, diz estudo. BBC BRASIL, 18/01/2016. Disponível em:

<http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2016/01/160118_riqueza_estudo_oxfam_fn.> Acesso em 26/04/2017.

A íntegra do relatório “Uma economia para 1%” da OXFAM pode ser extraída do portal eletrônico brasileiro da

entidade: https://www.oxfam.org.br/noticias/relatorio_davos_2016. Acesso em: 26/04/2017. 69 ERMIDA URIARTE, Oscar. La crisis financiera global y el derecho del trabajo. In: revista de la facultad

de derecho, Uruguai, n. 26, Janeiro/Julho de 2007, p. 61-62. 70 António Casimiro Ferreira, a partir do relatório da ILO (International Labour Organization) - “Recovering

from the crisis: A global Jobs Pact”, aborda a problemática suscitada da ausência de sustentação empírica da

flexibilidade laboral como meio de crescimento econômico: “É que, embora alguns privilegiem a flexibilidade do mercado laboral como modo de contornar a gravidade e a duração do desemprego atual na crise, não há

evidência de uma relação clara entre a fraca regulação laboral e um crescimento econômico e de emprego rápido

(cf. ILO, 2009:52).” FERREIRA, António Casimiro. Sociedade da austeridade e direito do trabalho de

exceção. Porto: Vida Econômica, 2012, p. 13-14. 71 “El objetivo declarado de estas reformas era aumentar la competitividad económica, el empleo y la cobertura

de la seguridad social. No fue alcanzado em ninguno de los aspectos, lo cual no impide que muchos las sigan

defendiendo, dado que los objetivos reales eran otros, estos sí conquistados, como generar una transferencia

regresiva del ingreso.” ERMIDA URIARTE, Oscar. A política laboral dos governos progressistas. In: Revista

Nueva Sociedad, n. 211, Argentina, Setembro/Outubro de 2007, p. 52-53.

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29

suportados exclusivamente pelos trabalhadores72

. Contudo, a transferência do risco das crises

para os mais pobres se intensifica com a crise econômica iniciada em 2007 em um cenário de

financeirização econômica, como a seguir examinado.

1.4 A financeirização do Capital e a crise econômica mundial de 2007/2008

A internacionalização da economia mundial, a partir do surgimento dos mercados

financeiros de derivados, prenuncia estratégia de reorganização do capitalismo no sentido da

financeirização econômica. Trata-se de processo de inovação financeira, traduzido pela

criação de mercados mundiais de ativos, pautados na especulação fictícia de capital de tal

modo que esta atividade passou a ser preponderante na circulação monetária das grandes

empresas em detrimento do seu próprio objeto produtivo73

. Este fenômeno insere-se no

contexto da hegemonia do pensamento neoliberal, em se sopese a existência de tensões, vez

que se instalou uma política de proteção irrestrita ao mercado financeiro, em contraponto à

tradicional noção da mínima intervenção do Estado na economia74

. Assim, o pensamento

econômico neoliberal e a financeirização econômica convergem na centralização do poder da

classe capitalista, situando-se no centro das recorrentes crises econômicas instaladas a partir

dos anos de 198075

, tendo como o auge a crise mundial de 2007/200876

.

72 ERMIDA URIARTE, Oscar. La crisis financiera global y el derecho del trabajo. In: Revista de La Facultad

de Derecho, Uruguai, n. 26, Janeiro/Julho de 2007, p. 61-62. 73 “A tendência de investimento em ativos se tornou generalizada. De 1980 em diante vieram à tona

periodicamente relatórios sugerindo que muitas das grandes corporações não financeiras geravam mais dinheiro

de suas operações financeiras do que fazendo coisas. [...] Um mercado descentralizado e informal de trocas

surgiu fora do quadro regulamentar e das regras de comércio. Foi o tipo de iniciativa privada que levou a uma

avalanche de novos produtos financeiros na década de 1990 – troca de inadimplência de crédito, derivativos cambiais, trocas de taxas de juros e todo o resto –, o que constituiu um sistema de banco às escuras totalmente

desregulamentado em que muitas empresas se tornaram jogadoras intensas.” HARVEY, David. O enigma do

capital e as crises do capitalismo. 1ª ed. São Paulo: Boitempo, 2011, p. 28. 74 “Um dos princípios básicos pragmáticos que surgiram na década de 1980, por exemplo, foi o de que o poder

do Estado deve proteger as instituições financeiras a todo custo. Esse princípio, que bateu de frente com o não

intervencionismo que a teoria neoliberal prescreveu, surgiu a partir da crise fiscal da cidade de Nova York de

meados da década de 1970. Foi então estendido internacionalmente para o México durante a crise da dívida que

abalou os fundamentos do país em 1982. De modo nu e cru, a política era: privatizar os lucros e socializar os

riscos; salvar os bancos e colocar os sacrifícios nas pessoas (no México, por exemplo, o padrão de vida da

população diminuiu cerca de um quarto em quatro anos após o socorro econômico de 1982).” Op. Cit. p. 16. 75 “Os momentos de crise sucederam-se a partir dos anos 1980: a crise dos países em desenvolvimento em 1982; a crise dos mercados de ações dos EUA em 1987; a crise (também nos EUA) dos mercados de obrigações de alto

risco e das caixas econômicas (savings and loans), em 1989/1990; a crise bancária dos países escandinavos no

início da década de 1990; a crise que atravessou o japão ao longo desta década; a crise do sistema monetário

europeu em 1992/1993; em 1994, nova crise do mercado obrigacionista americano; ainda em 1994, a crise do

peso mexicano (“a primeira grande crise dos mercados globalizados”, segundo o então diretor-geral do FMI,

Michel Camdessus); a crise das moedas asiáticas em 1997/1998; a crise do rublo em 1998/1999; a crise (200-

2002) que afetou a chamada ‘nova economia’ (a economia das novas tecnologias: biotecnologia, informárica,

computação, telecomunicações); a crise do real brasileiro em 1999; a grave crise financeira, económica, política

e social da Argentina (2001/2002), por muitos consideradas o maior desastre das receitas neoliberais

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30

Sem dúvidas, pode-se compreender que a tendência da financeirização constitui

resposta ao problema da absorção de excedente relativo às crises de superacumulação do

modo de produção capitalista77

, conformando-se a partir do aumento contínuo do

endividamento em relação ao capital produzido78

. Nesse sentido, destaca-se a adoção de um

conjunto de medidas direcionadas a criação de novos mercados, especialmente, com a

introdução das políticas de privatização das empresas públicas79

. Outras medidas adotadas,

diante do enorme fluxo econômico decorrente dessas inovações financeiras, foram a

securitização da dívida hipotecária e o mercado de derivativos80

. O sistema de crédito tornou-

se o mecanismo central da circulação econômica mundial, consolidando a primazia do capital

financeiro sobre o produtivo, a partir de um modo de acumulação caracterizado pela ampla

liberdade de atuação do mercado especulativo81

, formando-se uma rede de dispersão dos

riscos sistêmicos82

.

Como já assinalado, a crise econômica mundial de 2007/2008, ou “crise das hipotecas

subprime”, constitui marco representativo de um padrão de crises financeiras, intimamente

implementadas pelo FMI enquanto ‘gestor de negócios’ do grande capital financeiro internacional”. NUNES,

António José Avelãs. Uma leitura crítica da actual crise do capitalismo. Coimbra: Boletim de ciências

econômicas liv., 2011, p. 12-14 e 21. 76 HARVEY, David. O enigma do capital e as crises do capitalismo. 1ª ed. São Paulo: Boitempo, 2011, p. 13-

14. 77 “Na ausência de quaisquer limites ou barreiras, a necessidade de reinvestir a fim de continuar a ser um

capitalista impulsiona o capitalismo a se expandir a uma taxa composta. Isso cria então uma necessidade

permanente de encontrar novos campos de atividade para absorver o capital reinvestido: daí ‘o problema da

absorção do excedente de capital’. [...] A geografia histórica do capitalismo está repleta de exemplos de crises de

superacumulação, algumas locais e de curta duração (como a queda dos bancos suecos em 1992), outras em uma escala um pouco maior (a recessão de longa data que aflige a economia japonesa desde 1990 aproximadamente)

e outras vezes tomando todo o sistema e, mais tarde, o globo (como em 1848, 1929, 1973 e 2008). Numa crise

geral, uma grande quantidade de capital fica desvalorizada (cerca de 50 trilhões de dólares de perda estimada em

valores de ativos globais na crise atual, por exemplo).”Op. Cit. p. 45. 78 HARVEY, David. O enigma do capital e as crises do capitalismo. 1ª ed. São Paulo: Boitempo, 2011, p. 33. 79 Op. Cit. p. 32. 80 “Desde 1970, as inovações financeiras, como a securitização da dívida hipotecária e a disseminação dos riscos

de investimento mediante a criação de mercados de derivativos, tacitamente (e agora, como vemos, de verdade)

apoiadas pelo poder do Estado, permitiram um enorme fluxo de excesso de liquidez em todas as facetas da

urbanização e do espaço construído no mundo todo.” Op. Cit. p. 75-76.

81 Op. Cit. p. 198. 82António José Avelã Nunes aborda o fenômeno da “propagação contagiosa dos fatores de risco” no contexto da

plena liberdade de circulação do capital financeiro. Para o autor, isso leva a uma acentuação do risco sistêmico e

da ocorrência de crises a escala global, uma vez que “a turbulência causada pela especulação em um dado país

ou região tende a propagar-se a todo sistema financeiro mundial graças ao comportamento mimético dos grandes

especuladores”. NUNES, António José Avelãs. Uma leitura crítica da actual crise do capitalismo. Coimbra:

Boletim de ciências econômicas liv., 2011, p. 15-16.

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relacionada ao desenvolvimento de um mercado, não regulamentado, de derivativos entre

particulares83

.

Houve a concepção de um círculo vicioso de dispersão dos riscos, através da criação de

um mercado de derivativos, cuja base era composta por empréstimos subprime, ou seja, não

adstrito às exigências de garantia e de renda a que se refere o tradicional sistema de crédito.

Explica-se que muitos desses créditos podem ser “designados empréstimos tipo ninja, i.e,

empréstimos concedidos a quem não tinha rendimentos, nem emprego, nem ativos – ‘No

income, no job or Asset’”84

. Dessa maneira, os altos riscos envolvidos na operação,

diferentemente do que se imagina, não desaparecem na estrutura em rede dos produtos

hipotecários, e, sim, concentram-se, o que amplia a fragilidade do sistema, haja vista que as

operações se diversificavam com a atuação das instituições internacionais85

. Sobre a origem

da crise de 2007/2008, vale salientar que, apesar das hipotecas estarem lastreados por títulos

de alto risco ou tóxicos, os atores envolvidos agiam como se o preço dos imóveis pudessem

subir para sempre86

. Somado a isso, consolidou-se estruturas fraudulentas de transação

comercial, a exemplo da manipulação de mercado, das fraudes corporativas e da parcialização

de ativos por fusões e aquisições87

, arraigadas na desregulamentação das atividades

financeiras e no reduzido controle estatal.

Não obstante o aumento expressivo da taxa de despejo em áreas de baixa renda

prenunciar um grave desequilíbrio econômico/financeiro nos Estados Unidos desde 2006,

com o alerta de possível calamidade financeira, feito por alguns especialistas, a recessão

83 HARVEY, David. O enigma do capital e as crises do capitalismo. 1ª ed. São Paulo: Boitempo, 2011, p. 13-

14. 84 NUNES, António José Avelãs. Uma leitura crítica da actual crise do capitalismo. Coimbra: Boletim de

ciências econômicas liv., 2011, p. 34. 85 “A banca começou a vender pacotes desses produtos derivados (títulos obrigacionais negociáveis), assentes

em crédito hipotecários menos fiáveis que foram adquiridos por investidores institucionais (hedge funds), tendo-

se espalhado por instituições financeiras de todo o mundo. Disperso o risco pela grande quantidade de titulares

de unidades de participação nestes fundos, os inventores deste ‘jogo’ talvez tenham acreditado terem resolvido a

quadratura do círculo, supondo que poderiam vender esses créditos titularizados sem limitações, criando a ilusão

de que a dispersão dos riscos como que os fazia desaparecer.” Op. Cit, p. 33-34. 86 HARVEY, David. O enigma do capital e as crises do capitalismo. 1ª ed. São Paulo: Boitempo, 2011, p. 10. 87 “Todos os tipos de práticas predatórias bem como as legais (taxas de juros abusivas sobre os cartões de

crédito, execuções hipotecárias em negócios por meio da negação de liquidez em momentos-chave e assim por

diante) podem ser usados para perseguir táticas de despossessão que beneficiam os que já são ricos e poderosos.

A onda de financeirização que ocorreu a partir de meados da década de 1970 foi espetacular por seu estilo

predatório. Promoções de ações e manipulações de mercado; esquemas Ponzi e fraude corporativa; parcialização

de ativos por fusões e aquisições; promoção de níveis de facilitação do endividamento que reduz populações

inteiras, mesmo nos países capitalistas avançados, à escravidão pela dívida; expropriação dos ativos (o assalto

dos fundos de pensão e sua dizimação pelos colapsos das ações e corporações) – todas essas características são

fundamentais para explicar o capitalismo contemporâneo.” Op. Cit. p. 198.

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ganhou destaque apenas em 2007, quando a classe média branca estadunidense foi

diretamente atingida88

. Tal processo culminou com a emblemática falência do banco Lehman

Brothers em 15 de setembro de 200889

, representando o efetivo colapso do mercado

financeiro a nível internacional, sendo que os efeitos alastraram-se de acordo com o grau de

dependência econômica dos países ao mercado de crédito90

. Tomando como regra a lógica da

socialização dos riscos, coube aos Estados à adoção de conjuntos de medidas de salvaguarda

das instituições financeiras em face do bem-estar dos cidadãos, tornando pública a dívida

contraída pela atuação especulativa dos financistas91

.

Este contexto é retratado no filme “A Grande Aposta” (2015)92

, que aborda os

momentos antecedentes à deflagração da crise econômica de 2007/2008, assim como as suas

consequências e projeções. Primeiramente, destaca-se a insuficiência das concepções

econômicas dominantes, que não conseguiram prever a catarse coletiva. Em segundo,

denuncia-se a intervenção seletiva do Estado no socorro aos responsáveis pelo colapso

financeiro, posto que se optou pela distribuição do ônus para a sociedade. Por fim,

88 HARVEY, David. O enigma do capital e as crises do capitalismo. 1ª ed. São Paulo: Boitempo, 2011, p. 9. 89 “No outono de 2008, no entanto, a ‘crise das hipotecas subprime’, como veio a ser chamada, levou ao

desmantelamento de todos os grandes bancos de investimento de Wall Street, com mudanças de estatuto, fusões

forçadas ou falências. O dia em que o banco de investimentos Lehman Brothers desabou – em 15 de setembro de 2008 – foi um momento decisivo. Os mercados globais de crédito congelaram, assim como a maioria dos

empréstimos no mundo. Como o venerável ex-presidente da Federal Reserve Paul Volcker (que cinco anos antes,

juntamente com vários outros comentaristas de prestígio, previra a calamidade financeira se o governo dos EUA

não forçasse o sistema bancário a reformar seu funcionamento) observou, nunca antes as coisas haviam

despencado ‘tão fácil e tão uniformemente ao redor do mundo’. O resto do mundo, até então relativamente

imune (à exceção do Reino Unido, onde problemas análogos no mercado da habitação já tinham vindo à tona, o

que levou o governo a nacionalizar uma casa de empréstimos importantes, a Northern Rock), foi arrastado

precipitadamente para a lama, gerada em particular pelo colapso financeiro dos EUA.” Op. Cit. p. 10

90 “O colapso dos mercados de crédito, entretanto, teve um impacto diferenciado de acordo com o grau em que a

atividade econômica dependia desses mercados. A Islândia, que havia assumido o papel de empreendedor de

crédito especulativo e sistema bancário, perdeu quase toda a sua riqueza de ativos em questão de semanas,

deixando os investidores (muitos na Grã-Bretanha), com imensas perdas e seu governo em desordem. Muitos

países da Europa oriental que recentemente aderiram à União Europeia e haviam tomado grandes empréstimos

não puderam rolar suas dívidas e enfrentaram a falência (o governo da Letônia entrou em colapso). Por outro

lado, os países que não haviam integrado totalmente seu sistema financeiro à rede global, como China e Índia,

foram mais bem protegidos. E, como consumidores recuaram, países como os EUA e Reino Unido, com

endividamento imenso das famílias em relação à renda, foram atingidos de forma diferente, como foram os

países, a exemplo dos EUA de novo, que tinham as proteções sociais menos generosas contra o aumento do

desemprego. (Os países europeus eram em geral muito melhores nessa questão e, portanto, não precisaram responder com pacotes de estímulo extras.) Os países que dependiam fortemente dos EUA como principal

mercado de exportação, em particular aqueles do Leste e Sudeste Asiático, acabaram sendo puxados para baixo,

assim como os mercados acionários, enquanto produtores de matérias-primas e bens, que estavam em alta no

início de 2008 e consideravam-se imunes à crise, de repente se viram em sérias dificuldades quando os preços

das matérias-primas e bens despencaram no segundo semestre de 2008.” HARVEY, David. Op. Cit. p, 38-39. 91 NUNES, António José Avelãs. Uma leitura crítica da actual crise do capitalismo. Coimbra: Boletim de

ciências econômicas liv., 2011, p. 36. 92 The Big Short (no Brasil, traduzido como A Grande Aposta). Direção: Adam McKay. Produção: por Dede

Gardner, Jeremy Kleiner, Arnon Milchan e Brad Pitt. Estados Unidos: Paramount Pictures, 2015.

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33

problematiza-se a reconfiguração das transações financeiras no sentido da disseminação de

novos produtos financeiros, similares aos que deram ensejo à crise mundial93

. É, pois,

essencial abordar a inequívoca correlação entre o padrão de crises financeiras e a renovação

do domínio da classe capitalista, uma vez que os pressupostos e as concepções dominantes,

relativas à manutenção da ordem hegemônica, são reconfiguradas em momentos de crise.

93 “Segundo os desenvolvimentos, conhecidos no início de julho/2011, os bancos privados (sobretudo franceses e

alemãs) aceitam reformar 70% da dívida de curto e médio prazo, substituindo-a por títulos de dívida pagável

num praz de 30 anos, com uma taxa de juro entre 5,5% e 8%, conforme a taxa de crescimento do PIB grego que

vier a verificar-se. Os especialistas chamam atenção para o facto de esta operação assentar em um novo ‘produto

financeiro’, particularmente complexo, que poderá conduzir a uma situação idêntica à que decorreu dos

empréstimo subprime nos EUA.” NUNES, António José Avelãs. Uma leitura crítica da actual crise do

capitalismo. Coimbra: Boletim de ciências econômicas liv., 2011, p. 104-105.

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2. O PARADIGMA DA AUSTERIDADE E O DIREITO DO TRABALHO DE

EXCEÇÃO

Conforme o exposto no capítulo anterior, a década de 70 inaugura um período histórico

caracterizado por crises econômicas cada vez mais constantes e intensas. Tal peculiaridade

está intimamente associada à ascensão do pensamento econômico neoliberal e da

financeirização do capitalismo, dimensionados enquanto fenômenos convergentes na

desestruturação do poder da classe trabalhadora e, reflexamente, do direito trabalho. A crise

econômica mundial de 2007/2008 foi examinada como auge do padrão das crises financeiras,

evidenciando-se, como regra, a atuação seletiva dos Estados na repartição social do ônus em

favor da ampla proteção ao mercado financeiro.

Tomando como base a obra de António Casimiro Ferreira, o capítulo a seguir examina a

emergência do paradigma da sociedade da austeridade e do direito do trabalho de exceção, em

Portugal, nos anos de 2011/2012, como reflexo das respostas governamentais à crise

econômica mundial anteriormente descrita, conformando um projeto de austeridade

neoliberal. Primeiramente, analisa-se a relação entre a austeridade econômica, o

desmantelamento do Estado social e a flexibilização das relações trabalhistas. Em seguida,

examina-se a articulação do medo e da incerteza no discurso de legitimação do projeto

assinalado, especialmente, no que tange a ruptura dos pressupostos básicos de formação do

direito do trabalho. Neste ponto, são analisados três aspectos principais: o paradoxo da

soberania, a temporalidade de exceção e a jurisprudência de austeridade. Por fim,

problematiza-se a relação entre a mercantilização do direito do trabalho e as interpelações ao

princípio democrático.

2.1 A austeridade econômica, o desmantelamento do Estado Social e a flexibilização das

relações laborais

A atuação dos Estados e Organismos Internacionais, na crise econômica mundial de

2007/2008, convergiu no sentido da transferência do ônus da recuperação do sistema

financeiro para a sociedade, através da manutenção do dogma da economia de mercado94

.

94 GONDIM, T. P. O discurso da austeridade no contexto da atual crise econômica brasileira e suas

implicações para o direito do trabalho. In: II Encontro da RENAPEDTS, 2016, Curitiba. Anais do II encontro

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35

Nesse sentido, António Casimiro Ferreira aborda a emergência de um novo paradigma na

sociedade portuguesa, qual seja, a sociedade da austeridade, tendo como referência uma

lógica sociológica renovada de naturalização das desigualdades sociais, associada ao

pensamento hegemônico neoliberal, fundamentando a adoção de medidas relativas à

contenção das despesas do Estado, aumento dos impostos e das taxas de juro, diminuição dos

salários e desregulamentação do direito do trabalho95

. Isto é, um “projeto de austeridade

neoliberal” 96

, envolvendo dois aspectos fundamentais: 1) o Estado, enquanto detentor do

monopólio da austeridade legítima, incumbido de reforçar o sacrifício individual como

solução inevitável à estabilização econômica; 2) ênfase ao desmantelamento do Estado social,

a partir do triplo processo que envolve a privatização dos bens públicos, individualização dos

riscos sociais e mercadorização da vida social.97

Este fenômeno é caracterizado pela estruturação de uma agenda político-econômica

punitiva aos cidadãos98

de culpabilização dos indivíduos pelos efeitos negativos da crise

econômica, promovendo reformas políticas antidemocráticas de redução dos direitos sociais

em prol da garantia dos valores do livre mercado99

. Nesse processo, destaca-se a tendência

inicial de recorte dos direitos trabalhistas, ou melhor, da iniciativa na proposição de reformas

laborais no sentido da flexibilização das relações laborais amparadas por pretenso

RENAPEDTS: rede nacional de pesquisas e estudos em direito do trabalho e da seguridade social. Florianópolis:

Empório do Direito, 2016, p. 806. 95 Segundo o autor, austeridade significa um “processo de implementação de políticas e de medidas económicas

que conduzem à disciplina, ao rigor e à contenção económica, social e cultural”. Nesse contexto específico, a

peculiaridade reside no fato de que “é através dos indivíduos e das suas privações subjetivas e objetivas que se

encontram as soluções para a crise composta pela nebulosa dos mercados financeiros, do défice público do

Estado e dos modelos económicos e sociais seguidos nos últimos anos”. O autor propõem reflexão no sentido de conceber o conjunto de medidas implementadas a partir deste paradigma como uma fórmula sociológica de

naturalização das desigualdades, através do qual define a sua hipótese: “A reflexão levada a cabo neste ensaio

procura contribuir para uma discussão em torno do conceito de sociedade de austeridade orientada pela hipótese

de que à formula conhecida de contenção das despesas do Estado, privatização do setor público, aumento dos

impostos, diminuição dos salários e liberalização do direito do trabalho corresponde uma lógica sociológica de

naturalização das desigualdades.” FERREIRA, António Casimiro. Sociedade da austeridade e direito do

trabalho de exceção. Porto: Vida Econômica, 2012, p. 11-14. 96 Op. Cit. p. 29. 97 Op. Cit. p. 36. 98“O significado atual da austeridade é, portanto, em meu entender, o de um modelo político-econômico punitivo

em relação aos indivíduos, orientado pela crença de que os excessos do passado devem ser reparados pelo sacrifício presente e futuro, enquanto procede à implementação de um arrojado projeto de erosão dos direitos

sociais e a liberalização econômica da sociedade.” Op. Cit. p. 13. 99 “A austeridade tornou-se palavra de ordem, e não somente em Portugal como noutros países da Europa estão a

ser levadas a cabo reformas com o intuito de estabilizar os mercados através do cumprimento do défices

orçamentais previstos. Em comum as várias reformas adotaram a máxima flexibilização quanto aos direitos

sociais e laborais, com o intuito de facilitar a criação de empregos e aumentar a competitividade. O mimetismo

com a agenda reformadora do neoliberalismo é evidente. Os conteúdos apresentados insistem, uma vez mais, na

erosão de direitos sociais e laborais concebidos como barreiras a eliminar no quadro de uma resposta liberal à

crise.” Op. Cit. p. 29.

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reestabelecimento do crescimento econômico100

. Como consequência, acarreta-se a

fragilização do poder da classe trabalhadora pela fragmentação, segmentação dos modos de

trabalho e precarização dos direitos trabalhistas.

A dimensão social do trabalho é reduzida à lógica do custo-benefício em que a justiça

social se atinge necessariamente através do ônus partilhado pelos cidadãos em benefício do

mercado por intermédio de uma racionalidade neoliberal, que tem como principal

característica “la generalización de la competencia como norma de conducta e la empresa

como modelo de subjetivización” 101

. Isto é, o processo de mercantilização do direito102

que

afasta a dimensão política, entendida na forma de espaço democrático de regulação do

trabalho, e estabelece o primado do mercado em detrimento do valor social do trabalho103

.

Assinala-se também a desestruturação dos sistemas normativos de proteção social e,

dentre eles, o desmonte do sistema jurídico-trabalhista. Nessa égide, desmantelam-se os

pressupostos básicos de formação do direito trabalhista, a partir de uma racionalidade

econômica-utilitarista. Em outros termos, emerge-se o direito do trabalho de exceção,

impactando na perda da identidade político-jurídica do direito do trabalho, frente à eliminação

do “conflito enquanto elemento dinâmico das relações laborais e a proteção do trabalhador

enquanto condição de liberdade”104

. Torna-se, então, essa área do direito em objeto do

mercado e critério de atração para investimentos externos105

. Para tanto, há uma

reconfiguração política através do estabelecimento de um consenso entre atores

100 WILHELMI, Marco Aparicio. Crises financeiras y recortes de derechos: la austeridad como dispositivo de

desposesión constitucional. In: Revista de Derecho Social, n. 76, 2016, p. 20. 101 BAYLOS, Antonio. Crisis y Derecho del Trabajo - ¿Derecho del Trabajo en Crisis? Una Aproximación

desde Europa. In: EINLOFT, Denis; TOSS, Luciane; SEVERO, Valdete Souto (coord.). Direito do Trabalho e

Pensamento Crítico. Porto Alegre: HS Editora, 2016, p. 15. 102 “Entre nós, João Leal Amado observa com perspicácia que a concorrência entre os trabalhadores à escala

universal, a competitividade das empresas, as deslocalizações, os dumping social, etc., têm concorrido para o

surgimento do designado ‘mercado dos produtos legislativos’. Em consonância com a tese de Alain Supiot, Leal

Amado sublinha que a mercadorização dos ordenamentos jurídico-laborais nacionais coloca-os em concorrência

sob égide dos mercados financeiros que impulsionam a desregulamentação das legislações laborais concebidas

agora como fatores de competitividade. O isomorfismo entre o princípio do mercado e os princípios orientadores da legislação laboral conduz assim ‘ao triunfo das leis do mercado’ e à consagração do mercado das leis

(Amado, 2009: 20).” FERREIRA, António Casimiro. Sociedade da austeridade e direito do trabalho de

exceção. Porto: Vida Econômica, 2012, p. 110. 103 BAYLOS, Antonio. Crisis y Derecho del Trabajo - ¿Derecho del Trabajo en Crisis? Una Aproximación

desde Europa. In: EINLOFT, Denis; TOSS, Luciane; SEVERO, Valdete Souto (coord.). Direito do Trabalho e

Pensamento Crítico. Porto Alegre: HS Editora, 2016, p. 9-34. 104

FERREIRA, António Casimiro. Sociedade da austeridade e direito do trabalho de exceção. Porto: Vida

Econômica, 2012, p. 110, p. 76. 105 Op. Cit. p. 75-77.

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governamentais e não-governamentais106

. Explicando esse ponto, vale observar que o

desmonte analisado é promovido não só por entidades nacionais, como também

supranacionais, ambas atuando no sentido da institucionalização do paradigma da austeridade.

Consequentemente, há de se destacar a relativização da própria soberania do Estado Nação

através da desnacionalização das reformas laborais:

“A reflexão em torno do poder dos não eleitos conduz, ainda, a uma observação

final. Ela diz respeito ao processo de desnacionalização das reformas laborais, pondo

em causa a sobernia nacional. Os sistemas de relações laborais e o direito do

trabalho, em bem rigor, nunca foram totalmente limitados ao espaço nacional. Com

efeito, o papel da OIT e do Código Internacional do Trabalho fizeram-se sentir

desde o início do século XX até os dias de hoje [...] Situação diversa é da atual fase,

que venho me reportando, invocando o conceito do poder dos não eleitos e do direito do trabalho da exceção. Trabalhadores e direitos são, neste momento,

‘desnacionalizados’, tratados como variável de ajustamento de mercados (cf. Supiot,

2005), concebidos, principalmente, como elementos de um plano de austeridade

com o objetivo de gerir as expectativas de investidores internacionais, mercados,

agências de rating, por uma forma a criar um clima de confiança na economia

portuguesa.”107

É o direito do trabalho da exceção um instrumento de reconfiguração dos poderes108

e

importante mecanismo para a constituição de um novo paradigma laboral, visando suplantar o

substrato histórico de formação do direito juslaboral. Esse novo paradigma, portanto, permite

conceber a mercadorização do direito e a objetificação da pessoa humana, transformando-se o

trabalhador em coisa jurídica, uma vez que os seus direitos e garantias são negados,

destacadamente a partir do fenômeno de intensificação da flexibilidade legal e da legalização

de práticas sociais ilegítimas109

. Vale apontar que a flexibilidade laboral é entendida em dois

aspectos. No primeiro deles, situa-se o âmbito da expansão do princípio da liberdade

empresarial. No segundo, localiza-se a redução do custo da força de trabalho. Ao fim, os dois

aspectos se combinam para a redução de direitos e garantias e para a desestruturação dos

sistemas institucionais de proteção ao trabalhador, em especial, no âmbito da remuneração,

106 FERREIRA, António Casimiro. Sociedade da austeridade e direito do trabalho de exceção. Porto: Vida

Econômica, 2012, p. 110, p. 66-67. 107 FERREIRA, António Casimiro. Sociedade da austeridade e direito do trabalho de exceção. Porto: Vida Econômica, 2012, p. 110, p. 77-78. 108 Op. Cit. p. 75. 109 “Na atualidade, o tempo da austeridade e afirmação do direito do trabalho da exceção marcam o surgimento

de uma nova tendência pautada pela redução, ou mesmo resolução, das descoincidências entre o law in books e o

law in action, ao fundirem no direito do trabalho da exceção o aprofundamento da flexibilidade legal e a

legalização de práticas sociais ilegítimas. Ao longo deste tópico vou procurar fundamentar esta hipótese,

orientado pela preocupação de que o direito do trabalho de exceção legitime definitivamente o paradigma laboral

de que o trabalho é uma mercadoria,e que, portanto, o trabalhador enquanto tal é uma pessoa sem direitos, uma

coisa, uma coisa jurídica, um objeto de direitos sem direitos de pessoa.” Op. Cit. p. 90.

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38

jornada, formas de contratação e alocação do trabalho110

. Os fundamentos para tamanha

reforma dos marcos legal e convencional, adequando-os à nova ordem hegemônica,

prescidem do discurso sobre o viés econômico, de forma que é proposta a ideia de que as

economias dos países carecem de eficiência e competitividade.

João Leal Amado se afasta dessa compreenssão jurídica eminentemente mercantil,

evidenciando que há diversos outros valores a serem perseguidos pelo direito do trabalho, tais

como, a dignidade humana e o trabalho decente. Nos termos do autor, ainda que houvesse

clara relação entre a flexibilização das relações laborais e o cresimento econômico, estes

valores deveriam ser considerados, especialmente, quanto aos princípios da dignidade da

pessoa humana e do trabalho decente111

.

2.2 A disseminação do medo e da incerteza e a institucionalização da excepcionalidade

Prosseguindo com as concepções do sociólogo Cassimiro Ferreira, a sociedade da

austeridade e o direito do trabalho de exceção se estabelecem a partir de uma lógica de medo

como mecanismo de legitimação. Ambas se referenciam nos princípios da incerteza e

indeterminação, tomando como base a disseminação de uma plataforma governamental,

pautada na mensagem de que se não forem urgentemente adotadas as medidas de austeridade,

inevitavelmente se perpetuaria a instabilidade social, econômica e política. Partem, em suma,

de uma estratégia centralizada na desestruturação dos mecanismos de proteção social,

enquanto é ampliada a insegurança individual. Mais do que nunca, o discurso do medo

permite legitimar e fortalecer o controle social, perpetuando a desigual distribuição de poder e

de bens112

.

110 “na ordem econômica e política hegemônica no capitalismo a partir dos anos 80 nos países centrais e dos anos

90 no Brasil, a flexibilidade apresenta dois sentidos bem definidos. Primeiro, possibilitar maior liberdade às

empresas na determinação das condições de uso, de contratação e de remuneração do trabalho. Em segundo

lugar, possibilitar ajustes no volume e no preço da força de trabalho na perspectiva de reduzir seu custo no

cenário descrito acima. Essas duas finalidades concretizam-se, por um lado, por meio da supressão de benefícios

e de direitos advindos da legislação e/ou de normas coletivas, o que significa a eliminação, diminuição ou afrouxamento da proteção trabalhista e social vigente em cada país. Por outro lado, pela introdução de novas

legislações ou normas coletivas que permitam adaptar os direitos trabalhistas à lógica apontada acima,

especialmente em relação a quatro temas bastante comuns em diversas experiências nacionais: remuneração,

jornada, formas de contratação e alocação do trabalho.” KREIN, José Dari. Tendências Recentes nas relações

de emprego: 1980 – 2005. Instituto de Economia Escola, Universidade Estadual de Campinas, 2007. 111 AMADO, João Leal. O Direito do Trabalho, a crise e a crise do Direito do Trabalho. In: Revista Direito e

Desenvolvimento, Brasil, v. 4, n. 8, julho/dezembro de 2013, p. 184. 112 FERREIRA, António Casimiro. Sociedade da austeridade e direito do trabalho de exceção. Porto: Vida

Econômica, 2012, p. 55.

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O mecanismo de conversão da austeridade econômica em modelo sócio-político

hegemônico113

, por intermédio da disseminação dos valores neoliberais do mercado,

paralelamente ao desmantelamento do Estado social, visa efetivar a “contratualização da

cidadania” 114

.

No âmbito laboral, as narrativas de conversão do medo em padrão de legitimidade da

metanarrativa neoliberal envolvem, sobretudo, a indeterminação quanto ao presente e a

incerteza sobre o futuro do trabalhador diante da crise econômica, tudo isso convergindo na

temática da insegurança no trabalho. Dimensiona-se, primeiramente, o aspecto objetivo da

possibilidade de perda do emprego, tendo em vista o cenário de empregabilidade estrutural.

Logo, para a disseminação social dessa ideia, expõem-se índices de desemprego e a

dificuldade de integração dos trabalhadores no mercado e nas empresas. Em segundo lugar,

destaca-se o aspecto subjetivo da repercussão social, a qual se refere ao argumento de um

possível desemprego, causando danos individuais e familiares que podem ser analisadas na

perspectiva emocional da perda do emprego115

. Por fim, destaca-se que o contexto cultural

influencia na percepção individual do trabalhador, ameaçando sua segurança laboral, pois

estando ele inserido neste contexto em que os discursos hegemônicos propagam a insegurança

no trabalho, ele acaba por ser emocionalmente afetado116

. Nessa conjuntura, a precarização do

trabalho, utilizada como instrumento de ajuste econômico, dissemina a concepção de que

113 Antônio Casemiro Ferreira utiliza-se da obra de Margareth Somers como referência: “E é este ponto que

pretendo enfatizar, argumentado que o medo, no âmbito da sociedade de austeridade, se afirma como um

mecanismo de tradução de um problema estrutural num desígnio individual, ou socorrendo-me da proposta de

Margaret Somers, num mecanismo de conversão da narrativa da austeridade em modelo político-social

dominante, assegurando a prioridade absoluta dos valores morais do neoliberalismo econômico e laboral (cf. Somers, 2008: 3). O medo e o distopismo são, assim, constitutivos das narrativas de conversão, operando a fusão

entre os níveis coletivo e individual.” Inclusive, na nota de rodapé número 52, define o conceito “narrativas de

conversão” enquanto “medos induzidos através de previsão de outros cenários, de modo a converter as

narrativas dominantes de uma sociedade de um carácter social para uma carácter econômico, fazendo-o através

da exposição das implicações morais e econômicas de continuar no curso de políticas sociais”. SOMERS,

Margaret. 2008, p. 3 Apud FERREIRA, António Casimiro. Sociedade da austeridade e direito do trabalho de

exceção. Porto: Vida Econômica, 2012, p. 56. 114 FERREIRA, António Casimiro. Sociedade da austeridade e direito do trabalho de exceção. Porto: Vida

Econômica, 2012, p. 57. 115 “É importante, também, compreender como é definida a insegurança no trabalho, já que esta é influenciada,

segundo os autores, por dois fatores. Em primeiro lugar, é afetado pela percepção objetiva da possibilidade de perder o emprego, o que inclui o capital humano individual, a empregabilidade, a influência no trabalho, bem

como a situação socioeconômica do indivíduo a nível meso e macro, logo tanto ao nível da empresa como ao

nível do país. Em segundo lugar, pode ser condicionada pela subjetividade e grau emocional relativamente à

insegurança no emprego. Ou seja, os indivíduos que temem as repercussões da perda de emprego na sua vida e

na vida das suas famílias, ou mesmo outras razões que se predem a possibilidade de perder o emprego. Estes dois

fatores gerais condensam as variáveis que afetam a percepção individual em termos da percepção do risco, e

também da percepção do mesmo em termos do impacto que teria esse mesmo risco (Chung e Oorschot, 2010: 8

– 9)” Op. Cit. p. 59-60. 116 Op. Cit. p. 60.

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mais vale um emprego precário do que nenhum. Sendo assim, dissemina-se a ideia de que, em

um contexto marcado por elevadas taxas de desemprego que sujeita os indivíduos a um estado

ampliado de vulnerabilidade, os trabalhadores devem suportar situações degradantes porque

essa seria a única forma de lhes garantir o emprego e, estruturalmente, de se superar a crise

econômica117

.

O tempo adquire conotação especial no âmbito da sociedade de austeridade. Nesse

sentido, parte-se do pressuposto de que o paradigma da austeridade está inserido dentro do

processo de intensificação da agenda neoliberal, constituindo-se uma temporalidade de

exceção. Por esta razão, Ferreira aponta três consequências principais: 1) a relativização da

história e da memória; 2) o incremento do princípio insegurança jurídica em detrimento da

segurança jurídica; 3) a reconfiguração da noção de consentimento na teoria democrática118

.

Corrompem-se, então, os fundamentos da ordem democrática por meio da reconfiguração do

padrão de regulação jurídica, entendida na forma de aceleração temporal da produção de

direito. Dessa maneira, são empreendidas reformas constitucionais e infraconstitucionais

céleres em desprestígio aos direitos adquiridos e à sistemática de proteção social, negando-se

o conflito social-base que fundamenta a construção democrática ponderada119

. Em suma, há

uma reconfiguração institucional a partir de uma estratégia de conformação das instituições ao

projeto de austeridade neoliberal, segundo uma racionalidade fundamentada na urgência120

,

117 “Na sequência do que anteriormente foi dito, sugiro que a austeridade está a moldar um novo habitus, um

novo modo de vida que se cria a partir do medo e da insegurança subjetiva. Em Portugal, o contexto da

austeridade dá origem a situações de insegurança que são toleradas ou suportadas pelos indivíduos, dado não

terem alternativa possível. [...] Dito de outro modo: a taxa de desemprego alimenta a ideia de que devido à dificuldade de encontrar um emprego, a qualidade do trabalho seja sacrificada, constituindo a precariedade mais

uma variável de ajustamento para a saída da crise.” FERREIRA, António Casimiro. Sociedade da austeridade e

direito do trabalho de exceção. Porto: Vida Econômica, 2012 p. 61. 118 Op. Cit. p. 80- 82. 119 “A aceleração do tempo do direito por efeito da austeridade conduz três patologias temporais. A primeira

resulta do imediatismo e da pressão para a revisão dos textos constitucionais e legislativos. Contrariando os

princípios da estabilidade e da confiança inerentes às limitações impostas aos processos de revisão

constitucional, procura-se proceder à sua alteração invocando o realismo político do momento, a disponibilidade

de maiorias conjunturais e tendencial unanimidade dos partidos do arco constitucional. A segunda decorrente do

esquecimento, nomeadamente quanto ao texto constitucional, o que se reconhece sob a forma de constituição

semântica74 de excecionalidade e paralela, onde se silenciam as regras constitucionais como a da *proibição do retrocesso social75. Colocadas, agora, num limbo correspondendo à excecionalidade do estado de necessidade. A

terceira decorrente do conflito de temporalidades surgido da tensão entre uma decisão rápida e uma decisão

ponderada. O tempo de exceção, como o da austeridade, tende a ocultar os conflitos diluídos no imediatismo das

soluções. Ele contrapõem-se ao tempo da institucionalização dos conflitos que possibilitou (Dahrendorf, ...) a

criação de uma arquitetura social onde se legitimaram os direitos adquiridos.” Op. Cit. p. 83 – 84. 120 “Em síntese, a urgência provoca uma desvalorização do passado, por ter já ocorrido, e do futuro, por ser

demasiadamente incerto. Provoca igualmente uma desqualificação das expectativas, da duração e das transições.

Emerge, assim, uma cultura político-jurídica de impaciência e propensão para a resolução dos problemas por via

do provisório definitivo. Digamo-lo numa palavra: o transitório tornou-se o habitual, a urgência tornou-se

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que deslegitima quaisquer outras formas de regulação social se estas não visarem à tutela do

mercado. No âmbito laboral, o autor já referido destaca, como consequência principal desse

processo, a perda da identidade político-jurídica do direito do trabalho, sobretudo, quando se

nega a sua função econômico-instrumental no equilíbrio da relação entre o trabalho e o

capital. O direito do trabalho, portanto, passa a ser moldado em consonância com a afirmação

dos dogmas do neoliberalismo, tencionando a liberdade e igualdade nas relações de trabalho,

e eliminando o seu caráter protetivo121

.

Em razão disso, o próprio Estado de Direito é interpelado no âmbito do consenso entre

poderes governamentais eleitos e não eleitos, como anteriormente mencionado, destacando-se

a progressiva influência das entidades supranacionais na consolidação do paradigma

neoliberal. Tal influência mercadológica fica mais aparente quando o Estado é questionado

sobre os seus motivos para intervir no controle da legalidade e legitimidade dos direitos122

.

Esta reconfiguração de poderes dá ensejo ao “paradoxo da soberania”, que quer dizer “(1) o

facto de a soberania se encontrar ao mesmo tempo dentro e fora da ordem política nacional;

(2) o facto de a soberania se encontrar ao mesmo tempo dentro e fora da ordem jurídica” 123

.

Em outros termos, as intervenções do paradigma da austeridade feitas no Estado de Direito

decorrem de uma estratégia fundamentada na “autossuspensão da soberania pela soberania, e

de um direito que se coloca fora da lei através dele próprio”124

. Cria-se, porquanto, um

sistema de exceção da soberania e do direito a partir da atuação governamental que

implementa uma série de reformas legais, as quais se orientam pelos princípios da incerteza e

indeterminação125

.

Neste processo de institucionalização da austeridade, Antônio Casimiro Ferreira aborda

a atuação do judiciário na chancela do programa governamental de austeridade e alerta para a

tendência da relativização do sistema de controle entre os poderes federativos (legislativo

executivo e judiciário). Inicialmente, aduz-se o caráter político, decorrente da disputa

envolvida do controle judicial da legalidade sobre as decisões políticas que se referem ao

permanente (cf. Ost, 2001: 359).” FERREIRA, António Casimiro. Sociedade da austeridade e direito do

trabalho de exceção. Porto: vida econômica, 2012, p. 84.

121 Op. Cit. p. 85-86. 122 Op. Cit. p. 69. 123 AGAMBEN, 1998, p. 15 Apud FERREIRA, António Casimiro. Sociedade da austeridade e direito do

trabalho de exceção. Porto: Vida Econômica, p. 70. 124 Op. Cit. p. 70. 125 Idem.

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paradigma da austeridade, uma vez que a normatividade de exceção conduz a indefinição na

fronteira entre o constitucional e o inconstitucional. Segundo o autor, apesar da possibilidade

das Supremas Cortes terem disponíveis cenários interpretativos direcionados à fiscalização e

aplicação do direito, na prática, elas optam por afirmar as medidas empreendidas. Estabelece-

se, então, uma jurisprudência de austeridade que tem como fundamento a atuação interventiva

por parte do sistema judiciário no sentido da legitimação das políticas de austeridade,

estabelecida por uma racionalidade instrumental, pautada no princípio da separação dos

poderes126

.

2.3 A mercadorização do direito do trabalho e o rompimento do pacto democrático

A correlação entre a supressão da soberania e as interpelações ao Estado de Direito, a

pressão política dos agentes do mercado nacionais e internacionais, a implantação do projeto

de austeridade neoliberal constituem ameaças ao princípio democrático. No tocante ao

Direito, é estudado que este passa a ser conformado pelo padrão tecnicista, o qual diz formar

normas pretensamente neutras. Como resultado, afastam-se os limites conferidos pela

soberania popular e pelo princípio democrático de produção do direito, os quais colocam em

jogo a própria temporalidade atinente à produção normativa, com fulcro na inevitabilidade e

urgência da reconfiguração da ordem hegemônica127

.

Em suma, emerge o direito de exceção, “projetando-se como direito líquido no sentido

de Bauman, prescinde dos predicados da previsibilidade, da segurança e da confiança,

transmudando-se em instrumento de dominação da nova configuração de poderes”128

.

Especialmente no âmbito laboral, é eliminado o seu caráter ambivalente, bem como é negado

seu papel na organização das relações desiguais de poder. Constrói-se, pelo entendimento

neoliberal, o direito do trabalho de exceção, que simboliza um direito do trabalho

instrumentalizado pelo mercado, representando a negação dos pressupostos básicos de

formação do ramo juslaboral.129

126 FERREIRA, António Casimiro. Sociedade da austeridade e direito do trabalho de exceção. Porto: Vida Econômica, p. 72-73.

127 Op. Cit. p. 75. 128

FERREIRA, António Casimiro. Sociedade da austeridade e direito do trabalho de exceção. Porto: Vida

Econômica, 2012, p. 75. 129 Op. Cit. p. 77.

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3. A “AUSTERIZAÇÃO” NO BRASIL

Tomando como base os referenciais expostos no capítulo 2, examinam-se em seguida as

consequências na seara do direito do trabalho da emergência de plataforma de austeridade

neoliberal no Brasil, emplacada mais fortemente pelo governo de Michel Temer, em

decorrência do impeachment da presidente Dilma Rousseff. Contextualiza-se a

desestruturação do mercado de trabalho brasileiro a partir da crise política e econômica

delineada nos anos de 2015/2016, analisando os aspectos conjunturais do estabelecimento do

direito do trabalho de exceção. O primeiro aspecto se refere à pretensa reformulação das

fontes do direito do trabalho no Brasil, tendo em vista a proposta de inclusão do artigo 661-A

na CLT por intermédio da PL nº 6787/2016 (PLC nº 38/2017), que estabelece a prevalência

do negociado sobre o legislado, analisado à luz do paradoxo da soberania. Após, analisa-se a

tramitação da PEC 241/2016 (EC nº 95/2016), relativa ao teto de gastos públicos, além da

utilização de medidas provisórias pelo Poder Executivo, associando-as ao fenômeno da

temporalidade de exceção. Por fim, são examinadas diversas decisões do STF convergentes

na restrição de direitos e garantias trabalhistas. Analisa-se especificadamente a ADIn 5468,

que julgou constitucional o corte de gastos orçamentários à Justiça do Trabalho, promovida

pela LOA/2016, problematizando-se a consolidação de uma jurisprudência de austeridade no

âmbito da Suprema Corte brasileira.

3.1 Crise política, crise econômica e a desestruturação do mercado de trabalho brasileiro

O Brasil atingiu a marca de 14,2 milhões de desempregados no primeiro trimestre de

2017130

, conforme levantamento realizado pelo IBGE, no âmbito da PNADC, o que

representa uma taxa de 13,7% de desemprego. Trata-se da maior taxa de todos os tempos, se

for considerado o início dessa abordagem metodológica a partir de 2012, a qual foi

responsável pela substituição definitiva da PME em fevereiro de 2016. Além disso, a taxa

composta de subutilização da força de trabalho, que envolve os indicadores da subocupação

por insuficiência de horas trabalhadas, de desocupação e de força de trabalho potencial,

130

IBGE: total de desempregados cresce e atinge 14,2 milhões. AGÊNCIA BRASIL. Rio de Janeiro,

24/04/2017. Disponível em: http://agenciabrasil.ebc.com.br/economia/noticia/2017-04/ibge-total-de-

desempregados-cresce-e-atinge-142-milhoes. Acesso em 29/05/2017.

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44

registrou a marca de 24,1%, correspondendo a 26,5 milhões de pessoas em situação de

subemprego131

.

Em outubro de 2016, pelo 19º mês seguido, as demissões superaram as contratações,

com 74,7 mil postos formais de trabalho fechados, acumulando-se perda de 751.816 vagas

formais de emprego, no período compreendido entre janeiro e outubro de 2016, segundo dados do

CAGED relativo ao MTE132

. Há de se assinalar que esses números simbolizam um processo de

desestruturação do mercado de trabalho brasileiro, sobretudo, a partir do ano de 2015,

consolidando uma conjuntura de recessão da economia brasileira, paralelamente a

intensificação de crise política. Crise política esta que culminou no impeachment da ex-

presidente Dilma Rousseff e a ascensão de Michel Temer como presidente da república.

Tabela 1: Taxa de desocupação das pessoas de 14 anos ou mais de idade, na semana de

referência - Brasil, Grandes Regiões e Unidades da Federação. PNADC.133

131 Taxa composta de subutilização da força de trabalho chega a 24,1% no Brasil. Cerca de 26,5 milhões de pessoas não estão em trabalhos adequados. CORREIO DO ESTADO. Mato Grosso do Sul, 18 de maio de

2017. Disponível em: http://www.correiodoestado.com.br/brasilmundo/taxa-composta-de-subutilizacao-da-

forca-de-trabalho-chega-a-241-no/304143/. Acesso em 29/05/2016. 132 Brasil fecha 74,7 mil postos formais de trabalho em outubro Foi o 19º mês seguido em que demissões

superaram as contratações no país. Números do emprego formal foram divulgados pelo Ministério do Trabalho.

PORTAL G1. Brasília, 24/11/2016. Disponível em: http://g1.globo.com/economia/noticia/2016/11/brasil-tem-

perda-de-744-mil-postos-formais-de-emprego-em-outubro.html. Acesso em 29/05/2016. 133Disponível:<http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/indicadores/trabalhoerendimento/pnad_continua/.

Acesso 29/05/2017.

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45

Gráfico 1: Taxas de subutilização da força de trabalho das pessoas de 14 anos ou mais

de idade – Brasil – (2012 – 2016). PNADC.134

Tabela 2: Emprego e Renda. Criação de novas vagas formais. Carta de conjuntura/Out.

2016. IPEA.135

134Disponível:<ftp://ftp.ibge.gov.br/Trabalho_e_Rendimento/Pesquisa_Nacional_por_Amostra_de_Domicilios_c

ontinua/Trimestral/Novos_Indicadores_Sobre_a_For%C3%A7a_de_Trabalho/pnadc_201201_201603_trimestre

_novos_indicadores.pdf>. Acesso: 29/05/2017. 135Disponível em: http://www.ipea.gov.br/cartadeconjuntura/index.php/series-estatisticas-conjunturais-2/. Acesso

em 29/05/2017.

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46

Desde dezembro de 2007, o IPEA realiza análise e projeções econômicas,

trimestralmente, por intermédio das Cartas de Conjuntura, com disponibilização de Séries

Estatísticas Conjunturais, e do indicador IPEA. Também são disponibilizados alguns

trabalhos de pesquisa na plataforma observatório do desenvolvimento136

. A síntese da carta de

conjuntura nº 23 (junho de 2014)137

aborda a percepção de baixo dinamismo da economia

brasileira, reforçando as análises do ano de 2013. Nesse estudo, destaca-se que a confiança

dos consumidores e empresários se encontrava em níveis similares ao ano de 2009, quando o

país se recuperava dos efeitos da crise financeira mundial (2007/2008).

Em que se pese a estagnação econômica com um quadro de pressão inflacionária e

aumento do déficit externo e interno, o mercado de trabalho ainda era considerado um aspecto

positivo. Vale lembra que o país mantinha um baixo nível de desemprego e sustentava valores

reais dos salários, apesar da Série do IPEA constatar a desaceleração da criação de postos

formais em 2014138

. Então, ajustes econômicos estruturais são propostos pelo governo no ano

de 2015, notadamente no âmbito fiscal, naquilo que tange à contenção dos gastos públicos,

136 Segue a apresentação da edição nº 1 da carta de conjuntura (dez. 2007): “o Instituto de Pesquisa Econômica

Aplicada (Ipea) inaugura, com esta Carta, uma nova sistemática de apresentação das publicações sobre a

conjuntura, visando ampliar o debate sobre os rumos da economia brasileira. 1. Carta de Conjuntura – A partir

deste mês, será divulgada, com periodicidade trimestral, a Carta de Conjuntura, trazendo uma análise dos

principais temas econômicos dos três meses precedentes, sempre acompanhada de projeções dos mais

importantes indicadores macroeconômicos. 2. Séries Estatísticas Conjunturais – Junto com a Carta será

disponibilizada, na página do Ipea na internet (www.ipea.gov.br), uma segunda publicação, denominada Séries

Estatísticas Conjunturais, com diversos quadros e gráficos que permitirão uma observação mais detalhada dos

números da economia. 3. Observatório do Desenvolvimento – Uma vez por ano, sempre no mês de maio, será

publicado o Observatório do Desenvolvimento, com trabalhos de pesquisa sobre a economia brasileira. O propósito aqui será permitir uma análise mais aprofundada dos temas tratados, colocando-os numa perspectiva

de longo prazo. 4. Indicador Ipea – Mensalmente será divulgado o Indicador Ipea, que apresentará a projeção

calculada pelo Ipea para os resultados da Pesquisa Industrial Mensal (PIM) do Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatística (IBGE). A principal característica dessa publicação está em antecipar em cerca de três semanas a

variação da produção industrial calculada pelo IBGE.” IPEA. Carta de conjuntura nº 1. Brasília, DF, dezembro

de 2007. Disponível em: http://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/conjuntura/cc01_apresentacao.pdf.

Acesso em 29/05/2017. 137 Disponível em: http://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/conjuntura/cc23_sintesedaconjuntura.pdf.

Acesso em 30/05/2017. 138 Conforme a síntese da carta de conjuntura nº 25 (dez. 2014): “O ano de 2014 se encerra com um quadro

complexo, em que a virtual estagnação da atividade econômica se combina com a persistência de pressões inflacionárias, com a elevação, ainda que gradual, do deficit externo e com sensível piora das contas públicas. O

mercado de trabalho permanece sendo a nota positiva nesse quadro, com a manutenção da taxa de desemprego

em níveis historicamente baixos e a sustentação de ganhos reais de salário cumprindo um papel importante em

mitigar o custo social da desaceleração da atividade econômica. Mas mesmo este já apresenta sinais de fraqueza,

com importante desaceleração da criação de novos postos, até o momento compensada pela redução da

população economicamente ativa.” IPEA. Carta de conjuntura nº 25. Brasília, DF, dezembro de 2014, p. 7.

Disponível em:

http://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/conjuntura/cc_dez2014_sinteseconjuntura.pdf. Acesso em:

30/05/2017.

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47

redução da inflação e das contas externas. Foi assinalado, na defesa da politica econômica que

se seguiu, a acentuada deterioração econômica e o aumento expressivo da taxa de

desemprego139

. É de bom tom reforçar, que a discussão sobre os rumos da economia se deu

em contexto de grande instabilidade politica, haja vista a discussão sobre a possibilidade de

afastamento da presidente Dilma Rousseff140

.

Diversos relatórios, subscritos por organismos internacionais, tais como FMI, OCDE e

Banco Mundial, indicavam a necessidade de resolução das instabilidades políticas, no sentido

de estabelecimento de consenso político para a realização de reformas econômicas

estruturais141

. Em 28 de outubro de 2015, o PMDB correspondia não só a sigla partidária do

vice-presidente à época, Michel Temer, como também representava a maior base governista.

Aproveitando-se desse quadro, o partido lança um manifesto intitulado “Uma Ponte para o

Futuro”142

, ressaltando a inevitabilidade e emergência de ajustes estruturais macroeconômicos

nas searas tributária, previdenciária e trabalhista, referenciando seu manifesto no Relatório

139 Nesse sentido, segue a conclusão da carta de conjuntura nº 28 (set. 2015): “Em suma, o momento econômico

é delicado e, diante do acúmulo de incertezas, a reação natural dos agentes econômicos é retrair-se à espera de

sinalizações mais concretas sobre o futuro. Isso revela um cenário econômico que é fortemente condicionado

pelo quadro político. A recuperação da confiança depende, por um lado, da capacidade do governo federal de

apresentar medidas que propiciem um cenário fiscal mais previsível e confortável para os próximos anos e, por

outro, de uma adequada articulação entre o Executivo e o Congresso no sentido de alcançar acordos que

permitam a aprovação dessas medidas.” IPEA. Carta de conjuntura nº 28. Brasília, DF, setembro de 2015, p.

10. Disponível em: http://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/conjuntura/151120_cc28_sintese.pdf. Acesso em 31/05/2017. 140 Em 2 de dezembro de 2015, o então presidente da Câmara do Deputados Eduardo Cunha aceitou formalmente

a denúncia, oferecida pelos juristas Hélio Bicudo, Miguel Reale Júnior e Janaina Paschoal, relativa ao

cometimento de crime de responsabilidade, precisamente, irregularidades em movimentações fiscais (“pedaladas

fiscais”) e na emissão de decretos suplementares. Impeachment de Dilma: Uma retrospectiva. POLITIZE. Santa

Catarina, 25/08/2016. Disponível em: http://www.politize.com.br/impeachment-de-dilma-retrospectiva/. Acesso

em 31/05/2017.

141 “Desde o final de 2014, a grande mídia noticiou com frequência relatórios de organismos não-eleitos – como FMI, OCDE, Banco Mundial e agências de rating – que apresentavam análises, prognósticos e recomendações

sobre a crise econômica brasileira. Em comum, esses relatórios produziram, por meio de determinados

indicadores, uma narrativa caracterizada pela intensificação da queda da economia brasileira com a projeção de

um cenário cada vez mais catastrófico para o futuro e pela necessidade imediata de resolução dos problemas

políticos para a construção de um caminho de saída da crise econômica sem recomendar, no entanto, a

preservação da ordem constitucional e do regime democrático.” GONDIM, Thiago Patrício. O discurso da

austeridade no contexto da atual crise econômica brasileira e suas implicações para o direito do trabalho. In: COUTINHO, Aldacy Rachid; WANDELLI, Leonardo Vieira (org.). Anais do II encontro RENAPEDTS. 1.ª

ed. Florianópolis: Empório do Direito, 2016, p. 813 – 814.

142 Uma Ponte para o Futuro. Fundação Ulysses Guimarães, PMDB, Brasília, 29 out. 2015. Disponível em:

http://pmdb.org.br/wp-content/uploads/2015/10/RELEASE-TEMER_A4-28.10.15Online.pdf. Acesso em:

31/05/2016.

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48

Global de Competitividade 2015-2016 do FEM143

. Neste Relatório, argumentou-se que o

Brasil teria perdido 18 posições no ranking de competitividade, ficando em 75º lugar dentre

os 140 países analisados.

Em 19 de março de 2016, o PMDB formalmente abandonou a base aliada do

governo144

, sendo a presidente Dilma afastada provisoriamente de sua função em 12 de maio

de 2016, a partir da abertura pelo Senado do processo de Impeachment145

. Nesse cenário,

estabelece-se um governo transitório em que o vice-presidente, Michel Temer, assume a

Presidência da República. Em seguida, seu governo se torna definitivo na data de 31 de agosto

de 2016, quando a ex-presidente é condenada pelo Senado Federal por de crime de

responsabilidade, perdendo o mandato146

. Tomando como referência o manifesto acima,

Temer elabora sua plataforma de governo baseada na ideia de austeridade econômica. No

âmbito laboral, justamente quando são registrados sucessivos aumentos das taxas de

desemprego e subocupação, ocorre a flexibilização das relações trabalhistas e as reformas

legislativas são apontadas como pilares do programa governamental147

. Os argumentos para

tanto refletem uma concepção sobre eficiência, competitividade e integração na cadeia do

mercado global. Em outras palavras, pode-se entender que o programa governamental

143 Jose dari Krein afirma tratar-se de projeto de mercado, não de nação, no sentido da retirada de direitos e

desestruturação dos mecanismos de proteção social, segundo o autor, “é um programa que tem como

diagnósticos dos problemas do país o Relatório Global de Competitividade 2015-2016, do Fórum Econômico

Mundial. Ou seja, é uma visão de quem pretende construir um mercado e não uma nação, pois as informações

são baseadas em pesquisas realizadas com empresários discutindo as condições para viabilizar os seus negócios”.

KREIN, José Dari. O golpe e as tendências de desconstrução dos direitos no Brasil. In: RAMOS, Gustavo Texeira; MELO, Hugo Cavalcante; LOGUÉRCIO, José Eymard; FILHO, Wilson Ramos (org.). A classe

trabalhadora e a resistência ao golpe de 2016. Bauru: Editora Praxis, 2016. 1ª edição, p.226. O relatório Global

de Competitividade 2015-2016, do Fórum Econômico Mundial está Disponível em:

http://reports.weforum.org/global-competitiveness-report-2015-2016/. Acesso em: 31/05/2016. 144 Por aclamação, PMDB oficializa rompimento com governo Dilma. Os seis ministros peemedebistas serão

orientados a entregar seus cargos. Saída do PMDB pode desencadear desembarque de outras siglas aliadas.

PORTAL G1. Brasília, 29/03/2016. Disponível em: http://g1.globo.com/politica/noticia/2016/03/por-

aclamacao-pmdb-oficializa-rompimento-com-governo-dilma.html. Acesso em 31/05/2017. 145 Processo de impeachment é aberto, e Dilma é afastada por até 180 dias. Senadores aprovaram instauração de

processo por 55 votos a 22. Presidente fica afastada por até 180 dias enquanto é julgada no Senado.

PORTAL G1. Brasília, 12/05/2016. Disponível em: http://g1.globo.com/politica/processo-de-impeachment-de-dilma/noticia/2016/05/processo-de-

impeachment-e-aberto-e-dilma-e-afastada-por-ate-180-dias.html. Acesso em 31/05/2017. 146

Senado aprova impeachment, Dilma perde mandato e Temer assume. PORTAL G1 Brasília, 31/08/2016.

Disponível em: Senado aprova impeachment, Dilma perde mandato e Temer assume. Disponível em:

http://g1.globo.com/politica/processo-de-impeachment-de-dilma/noticia/2016/08/senado-aprova-impeachment-

dilma-perde-mandato-e-temer-assume.html. Acesso em 31/05/2017. 147

Conheça o plano de governo de Temer. Programa estabelece idade mínima de aposentadoria e flexibiliza as

leis trabalhistas. O DIA. Rio de Janeiro, 18/04/2016. Disponível em: http://odia.ig.com.br/brasil/2016-04-

18/conheca-o-plano-de-governo-de-temer.html. Acesso em: 31/05/2017.

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49

representa um projeto de austeridade neoliberal148

, desmaterializando os direitos sociais,

especialmente, previdenciários e trabalhistas e articulando o discurso da crise e da legitimação

pelo medo no sentido da concentrar o poder nas mãos da classe empresarial brasileira149

.

A visão geral da carta de conjuntura nº 33 (4º trimestre de 2016) do IPEA reforça essa

agenda governamental. Ela aduz a inevitabilidade da adoção de medidas direcionadas ao

campo macroeconômico do ajuste fiscal e equilíbrio da política monetária. Além do mais,

sugere reformas microeconômicas no intuito de atrair investimentos do capital

internacional.150

Dentre as reformas microeconômicas sugeridas, destaca-se a trabalhista,

apontando-se a atual legislação como entrave a competitividade brasileira no mercado

mundial diante suposta rigidez. Nesse sentido, a retomada do crescimento econômico

brasileiro é condicionado à flexibilização das relações laborais151

. A seguir, é examinada uma

das propostas fundamentais da reforma trabalhista proposta pelo Governo Federal, qual seja, a

estipulação da prevalência do negociado sobre o legislado, dimensionando-a como um dos

aspectos concernentes emergência do direito do trabalho de exceção no Brasil.

3.2 O direito do trabalho de exceção no Brasil

Contextualiza-se, neste tópico, um pouco mais sobre as referências já expostas no

capítulo 2, quanto à emergência do paradigma da austeridade e a conformação de um direito

do trabalho de exceção. O manifesto intitulado a “ponte para o futuro” do PMDB prenunciava

um dos pontos que viria a fundamentar a plataforma do governo Temer, na seara trabalhista,

qual seja, “permitir que as convenções coletivas prevaleçam sobre as normas legais, salvo

quanto aos direitos básicos”152

. Esse ponto foi reiterado a nível nacional pela CNI nos

documentos intitulados “101 propostas para modernização trabalhista”153

e “Agenda para o

148 Para uma análise da introdução das políticas de austeridade a nível internacional: CARELLI, Rodrigo de

Lacerda. O neoliberalismo, as reformas trabalhistas, a “desdemocratização” e os direitos humanos no

trabalho. In: EMERIQUE, L. M. B.; GARCIA, Ivan Simões; SILVA, Sayonara Grillo (Org.). Direitos Humanos

e Trabalho Decente. 1. ed. Belo Horizonte: Forum, 2016, v. 1, p. 93-109. 149 SILVA, Sayonara Grillo Leonardo Coutinho da. A introdução das políticas ultraliberais no Brasil e as

reformas trabalhistas: uma ponte para a exceção? In: EINLOFT, Denis; TOSS, Luciane; SEVERO, Valdete

Souto (coord.). Direito do Trabalho e Pensamento Crítico. Porto Alegre: HS Editora, 2016, p. 74. 150 IPEA. Carta de Conjuntura nº 33 – 4º trimestre de 2016. Brasília, DF, 2016, p. 12 - 13. Disponível em:

http://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/conjuntura/161130_cc33_visao_geral.pdf. Acesso em:

30/05/2017. 151 Vide tópico 2.3. 152

Uma ponte para o futuro. Fundação Ulysses Guimarães, PMDB, Brasília, 29 out. 2015, p. 19. 153 Disponível em: http://www.portaldaindustria.com.br/publicacoes/2013/2/101-propostas-para-modernizacao-

trabalhista/. Acesso em: 31/05/2017.

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50

país sair da crise 2016-2018”154

. Não consiste, fundamentalmente, em nova reivindicação do

empresariado, uma vez que essa temática já foi objeto de discussão no âmbito dos governos

Collor (PL nº 821/91) e Fernando Henrique Cardoso (PL nº 5483/01), inclusive, neste último,

houve a aprovação pela câmara dos deputados de tal medida, mas posteriormente ela foi

arquivada. Deste modo, de início, analisa-se a problemática da prevalência do negociado

versus o legislado à luz do paradoxo da soberania.

3.2.1 O paradoxo da soberania: a prevalência do negociado versus legislado

A reformulação do sistema de fontes do direito do trabalho, com objetivo de se estipular

a prevalência do negociado sobre legislado, é um dos pontos estruturantes da agenda

neoliberal. Com isso, a proposta de reformar esse sistema permite a redução dos direitos e

garantias do trabalhador, apesar dos argumentos utilizados estarem travestidos pelo discurso

da modernização, eficiência e competitividade, tomando como referência a concepção

mercantilizada do ramo jurídico trabalhista155

. Deve-se frisar que a Reforma conta com a ideia

de negação da desigualdade de forças existentes na relação trabalhista, diante de seu caráter

essencialmente antagônico. Por esse motivo, torna-se lógico que a assunção da prevalência do

negociado implica, necessariamente, em prevalência dos interesses do capital, vez que ao

invés de negociação, estabelece-se efetiva imposição por parte daqueles que detém a

supremacia da força econômica:

“Neste contexto regulatório, observa-se a apropriação do discurso para criação de

novos dispositivos, ao mesmo tempo de legitimação e dominação, no espírito novo

do capitalismo. A ampla negociação coletiva é uma reivindicação histórica e importante da classe trabalhadora no processo de sua constituição e afirmação como

classe. Contudo, o Direito do Trabalho é do Trabalho e não do Capital na medida

exata em que traz em si a dimensão utópica da autonomia. Todavia, quando se

propõe uma fissura total entre os sistemas jurídicos e ‘se dá às partes a opção de

escolher’ entre qual o ordenamento jurídico a lhe ser aplicável, não temos

autonomia, temos ‘mercado de produtos legislativos’; um law shopping chegando a

um direito, que deixaria de ser ambiguamente um direito capitalista do trabalho para

154 Disponível em: 2016-2018http://www.portaldaindustria.com.br/publicacoes/2016/4/agenda-para-o-brasil-sair-

da-crise-2016-2018/. Acesso em 31/05/2017. 155 “A proposição de reformular o sistema de fontes do direito, de modo a separar em ordens jurídicas distintas as

regulações aplicáveis, ‘a ser objeto de escolha pelos interessados’ é um indicador de como a negociação coletiva

é reorientada, para constituir alternativa às regras legais ou transformar a natureza destas em uma legalidade que

pode não ser aplicada, passível de ser afastada.” SILVA, Sayonara Grillo Leonardo Coutinho da. A introdução

das políticas ultraliberais no Brasil e as reformas trabalhistas: uma ponte para a exceção? In: EINLOFT,

Denis; TOSS, Luciane; SEVERO, Valdete Souto (coord.). Direito do Trabalho e Pensamento Crítico. Porto

Alegre: HS Editora, 2016, p. 75.

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51

se afirmar como um direito do capital sobre o trabalho. Ou seja, para um direito que

não precisa ser revogado, pois se suspende.”156

Após desistir de alterar a legislação trabalhista por intermédio de MP157

, o governo

Temer, em 22 de dezembro de 2016, direcionou iniciativa de lei à câmara dos deputados, a

“minirreforma trabalhista”158

, que veio a ser denominado PL nº 6.787/2016/PLC nº 38159

, com

objetivo de alterar dispositivos da CLT e da lei sobre trabalho temporário (Lei 6019/74).

Dentre os aspectos fundamentais, destaca-se a inclusão na CLT do artigo 611-A160

, que

institui a ampla prevalência do negociado sobre o legislado em temas centrais da relação de

trabalho, tais como, férias, jornada de trabalho, plano de cargos e salários, ultratividade das

normas e instrumentos coletivos, dentre outros. Conforme a exposição dos motivos do projeto

de lei trata-se de um instrumento de valorização da negociação coletiva entre trabalhadores e

empregados. Contudo, não foram reguladas formas de intervenção direta do trabalhador na

156 SILVA, Sayonara Grillo Coutinho Leonardo da. A introdução das políticas ultraliberais no Brasil e as

reformas trabalhistas: uma ponte para a exceção? In: EINLOFT, Denis; TOSS, Luciane; SEVERO, Valdete Souto (coord.). Direito do Trabalho e Pensamento Crítico. Porto Alegre: HS Editora, 2016, p. 76. 157

Governo desiste de mudar legislação trabalhista por medida provisória. UOL. Brasília, 22/12/2016.

Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2016/12/1843701-governo-desiste-de-mudar-legislacao-

trabalhista-por-medida-provisoria.shtml. Acesso em: 01/06/2016

158 Temer anuncia propostas de mudanças na legislação trabalhista. Presidente apresenta às centrais sindicais e

aos empresários uma minirreforma. ESTADÃO.

Disponível em: http://economia.estadao.com.br/ao-vivo/michel-temer-reforma-trabalhista-2017. Acesso em:

01/06/2017. 159 Para uma análise crítica mais detalhada desta medida legislativa: Nota técnica nº 7, da Secretaria de Relações

institucionais do Ministério Público do Estado. MPT. Brasília, DF, 09/05/2017. Disponível em:

http://fundacaoanfip.org.br/site/wp-content/uploads/2017/06/Nota-t%C3%A9cnica-PLC-38_2017-MPT.pdf.

Acesso em: 14/06/2017.

160 Nesse sentido, segue a redação original do Projeto de lei nº 6.787/2016:

[...] “Art. 611-A. A convenção ou o acordo coletivo de trabalho tem força de lei quando dispuser sobre: I - parcelamento de período de férias anuais em até três vezes, com pagamento proporcional às parcelas, de

maneira que uma das frações necessariamente corresponda a, no mínimo, duas semanas ininterruptas de

trabalho;

II - pacto quanto à de cumprimento da jornada de trabalho, limitada a duzentas e vinte horas mensais;

III - participação nos lucros e resultados da empresa, de forma a incluir seu parcelamento no limite dos prazos do

balanço patrimonial e/ou dos balancetes legalmente exigidos, não inferiores a duas parcelas;

IV - horas in itinere;

V - intervalo intrajornada, respeitado o limite mínimo de trinta minutos; VI - ultratividade da norma ou do

instrumento coletivo de trabalho da categoria;

VII - adesão ao Programa de Seguro-Emprego - PSE, de que trata a Lei no 13.189, de 19 de novembro de 2015;

VIII - plano de cargos e salários; IX - regulamento empresarial;

X - banco de horas, garantida a conversão da hora que exceder a jornada normal de trabalho com acréscimo de,

no mínimo, cinquenta por cento;

XI - trabalho remoto;

XII - remuneração por produtividade, incluídas as gorjetas percebidas pelo empregado; e

XIII - registro de jornada de trabalho.”

[...]

Disponível:<http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=1520055&filename=PL+

6787/2016>.Acesso em 01/06/2017.

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52

gestão empresarial, restringindo-se a ampliar hipótese de possibilidade da supressão de

direitos por instrumentos coletivos, constituindo apropriação pelo Governo Federal de uma

das demandas históricas da classe trabalhadora relativa à efetivação da autonomia nas

relações laborais161

.

Propõe-se, como medida complementar a regulamentação do artigo 11 da CRFB/88,

que ressalta a necessidade de construção de um canal de representação dos trabalhadores no

âmbito da empresa, inclusive se remetendo a experiências de países europeus. Porém, a

medida completar não avança na estipulação de mecanismos de integração dos trabalhadores

na dinâmica organizacional e produtiva da empresa, afigurando-se representação

eminentemente formal, no sentido da harmonização da relação e enfraquecimento do poder

sindical, uma vez que não é necessária a sindicalização. Além disso, a medida exclui a

possibilidade dos trabalhadores com contrato por tempo determinado de serem representantes

na empresa162

.

Deve-se ter em mente que a própria CRFB/88 reconhece, como fonte do direito do

trabalho, as convenções e acordos coletivos, conforme artigo 5 º, inciso XXVI, estruturado a

partir dos princípios do não retrocesso social e do non reformatio in pejus163

. Logo, afasta-se,

161 “Na exposição de motivos do PL 6787/2016, o governo federal procura apropriar-se discursivamente de uma

reivindicação de autonomia das classes trabalhadoras ao afirmar a juridicidade da negociação coletiva. Contudo

não o faz, já que apresenta proposição que tão somente amplia as possibilidades derrogatórias dos instrumentos

coletivos, sem reconhecer suas possibilidades concretas de intervenção na vida da empresa e de controle do

poder econômico. SILVA, Sayonara Grillo; GONDIM, Thiago Patrício. Austericídio e reforma trabalhista: A

gramática de exceção contida no projeto de lei 6787/2016. Revista eletrônica da OAB. Disponível em:

http://revistaeletronica.oabrj.org.br/?artigo=austericidio-e-reforma-trabalhista-a-gramatica-de-excecao-contida-no-projeto-de-lei-67872016-2. Acesso em 31/05/2016. 162 “[...] 4. Essas discussões demonstram a importância da medida ora proposta, de valorização da negociação

coletiva, que vem no sentido de garantir o alcance da negociação coletiva e dar segurança ao resultado do que foi

pactuado entre trabalhadores e empregadores. 5. Outra medida ora proposta, que visa prestigiar o diálogo social e

desenvolver as relações de trabalho no país, é a regulamentação do art. 11 da Constituição Federal. Esse

dispositivo constitucional assegura a eleição de um representante dos trabalhadores nas empresas com mais de

duzentos empregados, com a missão de promover o entendimento direto com a direção da empresa. O

representante dos trabalhadores no local de trabalho deverá atuar na conciliação de conflitos trabalhistas no

âmbito da empresa, inclusive os referente ao pagamento de verbas trabalhistas periódicas e rescisórias, bem

como participar na mesa de negociação do acordo coletivo de trabalho com a empresa. 6. A experiência européia

demonstra a importância da representação laboral na empresa. Países como Alemanha, Espanha, Suécia, França, Portugal e Reino Unido possuem há vários anos as chamadas comissões de empresa ou de fábrica. A maturidade

das relações de trabalho em alguns países europeus propicia um ambiente colaborativo entre trabalhador e

empresa, resultando na melhoria do nível de produtividade da empresa. [...]” Exposição de Motivos do PL n.º

6.787. Planalto Nacional. Brasília, DF, 23 de dezembro de 2016. Disponível em:

http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=1520055&filename=PL+6787/2016.

Acesso em 01/06/2017. 163

Para uma análise mais detalhada: SILVA, Sayonara Grillo Coutinho Leonardo da; HORN, Carlos Henrique.

O princípio da proteção: fundamento da regulação não-mercantil das relações de trabalho. In: revista

OAB/RJ, Brasil, Julho/Dezembro de 2010, vol. 26, n. 2, 2010, p. 83-112.

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53

via de regra, a possibilidade de supressão de direitos e garantias, enquanto pressuposto de

proteção ao trabalhador devido a sua posição de vulnerabilidade. A proposição da prevalência

do negociado sobre o legislado rompe com essa sistemática protetiva, já que liberaliza a

possibilidade de flexibilização do núcleo estruturante dos direitos fundamentais164

,

transformando a negociação coletiva em instrumento do domínio econômico,

especificadamente, da consolidação do projeto de precarização das relações de trabalho:

“Deste modo, a negociação coletiva se tornaria um mecanismo disponível aos

agentes econômicos para a realização de ajustes pontuais e setoriais em relações de

emprego a partir da promoção da flexibilidade precarizadora das condições de

trabalho. Em contraponto à autonomia coletiva reconhecida pela Constituição de

1988, o PL 6787/2016, na medida em que amplia os efeitos derrogatórios dos

instrumentos resultantes da autonormação, reduz a potencialidade da autotutela

(greve e demais mecanismos de ação direta e manifestação sindical) e da auto-

organização (como financiamento e redução da liberdade sindical, criminalização

dos movimentos sociais e sindicais), aumentando a desigualdade da distribuição de

poder entre capital e trabalho no plano coletivo.”165

3.2.2 A temporalidade de exceção: a PEC nº 241/2016 (EC nº 95) e a utilização de

medidas provisórias pelo Poder Executivo

Uma das ações principais do governo provisório Temer foi a iniciativa de emenda à

constituição, por intermédio da mensagem nº 329/2016, para o estabelecimento de um novo

regime fiscal, propondo-se um teto para os gastos públicos com lapso temporal de 20 anos166

.

164 “Por meio do modus operandi das políticas de austeridade, implementa-se a possibilidade de suspensão de um

direito pela sua não aplicação sem a necessidade de revogá-lo, tal qual ocorrem nas políticas de exceção. A

introdução do Art. 611-A no texto da CLT, ao permitir a formação de dois modelos regulatórios diferenciados

cuja escolha fica a cargo de uma decisão privada das partes contratantes, inclusive com a possibilidade de flexibilização do núcleo de direitos fundamentais trabalhistas protegidos pelo princípio do não retrocesso social

previsto no caput do Art. 7.º, em algumas hipóteses, ensejaria o afastamento da aplicação dos três modelos

normativos de admissibilidade e incorporação da negociação coletiva construídos pela doutrina juslaboralista

brasileira. Em outras, promoveria a ampliação da incidência do regime supletório a partir dos mecanismos da

vantagem compensatória e do princípio da intervenção mínima da Justiça do Trabalho na autonomia da vontade

coletiva sem realçar a sua natureza excepcional e transitória.” . SILVA, Sayonara Grillo; GONDIM, Thiago

Patrício. Austericídio e reforma trabalhista: A gramática de exceção contida no projeto de lei 6787/2016. Revista

eletrônica da OAB. Disponível em: http://revistaeletronica.oabrj.org.br/?artigo=austericidio-e-reforma-

trabalhista-a-gramatica-de-excecao-contida-no-projeto-de-lei-67872016-2. Acesso em 31/05/2016.

165 SILVA, Sayonara Grillo; GONDIM, Thiago Patrício. Austericídio e reforma trabalhista: A gramática de exceção contida no projeto de lei 6787/2016. Revista eletrônica da OAB. Disponível em:

http://revistaeletronica.oabrj.org.br/?artigo=austericidio-e-reforma-trabalhista-a-gramatica-de-excecao-contida-

no-projeto-de-lei-67872016-2.Acesso em 31/05/2016. 166 Tal medida está em consonância com a agenda governamental prenunciada no manifesto “A ponte para o

futuro”, dentre as primeiras proposições: “[...] a) construir uma trajetória de equilíbrio fiscal duradouro, com

superávit operacional e a redução progressiva do endividamento público; b) estabelecer um limite para as

despesas de custeio inferior ao crescimento do PIB, através de lei, após serem eliminadas as vinculações e as

indexações que engessam o orçamento [...]”. Uma ponte para o futuro. Fundação Ulysses Guimarães, PMDB,

Brasília, 29 out. 2015, p. 18.

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54

Em 15 de junho de 2016, tal iniciativa foi proposta com a PEC 241/2016, sob regime de

tramitação especial. Em 10 de outubro de /2016, aprovada em 1º turno, em sessão deliberativa

extraordinária, e definitivamente aprovada em 25 de outubro de 2017, em 2º turno, conforme

o procedimento constitucional. Dessa forma, no segundo turno, houve nova sessão

deliberativa extraordinária, contando com o quórum de 477 parlamentares presentes, 359

votos favoráveis, 116 contrários e 2 abstenções. Em 15 de fevereiro de 2016, a mesa diretora

da Câmara dos deputados, após oficiar o Senado Federal, promulgou tal medida sob a forma

da EC nº 95/2016, sendo publicada no Diário Oficial em 16 de fevereiro de 2016167

:

“Faz-se necessária mudança de rumos nas contas públicas, para que o País consiga,

com a maior brevidade possível, restabelecer a confiança na sustentabilidade dos

gastos e da dívida pública. É importante destacar que, dado o quadro de agudo

desequilíbrio fiscal que se desenvolveu nos últimos anos, esse instrumento é essencial para recolocar a economia em trajetória de crescimento, com geração de

renda e empregos. Corrigir o desequilíbrio das contas públicas é condição necessária

para retirar a economia brasileira da situação crítica que Vossa Excelência recebeu

ao assumir a Presidência da República. [...] Trata-se, também, de medida

democrática. Não partirá do Poder Executivo a determinação de quais gastos e

programas deverão ser contidos no âmbito da elaboração orçamentária. O Executivo

está propondo o limite total para cada Poder ou órgão autônomo, cabendo ao

Congresso discutir esse limite. Uma vez aprovada a nova regra, caberá à sociedade,

por meio de seus representantes no parlamento, alocar os recursos entre os diversos

programas públicos, respeitado o teto de gastos. Vale lembrar que o descontrole

fiscal a que chegamos não é problema de um único Poder, Ministério ou partido

político. É um problema do país! E todos o país terá que colaborar para solucioná-lo.” Planalto Nacional. Intenção de motivos da PEC 241/16. Brasília, DF,

15/06/2016.Disponível:<http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/prop_mostrari

ntegra?codteor=1468431&filename=PEC+241/2016>. Acesso em: 02/06/2016.

A forma como foi procedida a substancial alteração no texto constitucional brasileiro,

quanto ao regime de fiscal, é um exemplo emblemático da ascensão do fenômeno da

temporalidade de exceção. Por meio desse fenômeno, é induzida a aceleração do tempo da

produção jurídica, a partir de racionalidade pautada pela urgência, o que apoia a conformação

institucional ao paradigma da austeridade. Nesse caso, o aspecto da contenção dos gastos

públicos, sendo introduzida em exatos 6 meses e em regime especial de tramitação, não

obstante a rejeição por parte de 60% da população brasileira indicar a grande impopularidade

da medida168

.

167Informações retiradas da plataforma eletrônica da Câmara dos deputados. Disponível em:

http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=2088351. Acesso em 02/06/2016. 168

Maioria dos brasileiros reprova emenda dos gastos, diz Datafolha. UOL. São Paulo, 13/12/2016.

Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/poder/2016/12/1840825-maioria-dos-brasileiros-reprova-emenda-

dos-gastos-diz-datafolha.shtml. Acesso em: 02/06/2016.

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55

Recorda-se que a PEC 241/2016 foi denominada como “PEC do fim do mundo”, por

parte da sociedade civil e dos movimentos sociais, os quais evidenciavam as implicações

nefastas desta medida para a manutenção dos serviços públicos básicos, sobretudo, nas áreas

da educação e saúde, uma vez que os investimentos públicos seriam reajustados com base da

inflação. Além disso, questiona-se a legitimidade democrática do procedimento, devido à falta

de diálogo social e repressão aos movimentos de resistência169

, aspecto que pode ser

associado a uma das consequências da temporalidade de exceção, qual seja, a reconfiguração

do consentimento no âmbito da teoria democrática. Apesar de tamanha impopularidade, o

governo disseminava a existência de um pretenso pacto social, o qual se colocava na posição

de inquestionável ao divulgar a mensagem relativa à urgência e inevitabilidade das reformas

para a retomada do crescimento econômico, independentemente dos efeitos políticos, sociais e

jurídicos reflexos que essas reformas trouxessem.

No âmbito da temporalidade de exceção, é válido destacar também a utilização da

MP170

, medida executiva com força de lei que tem como requisitos essenciais a relevância e

urgência, conforme o artigo 62 da CRFB/88, em que se pesem críticas no que tange a sua

utilização indiscriminada171

. A partir do segundo mandato da ex-presidente Dilma Rousseff,

169 Nesse sentido, destacam-se algumas notícias. Governo reprime ato contra a PEC 241/55 em Brasília.

ESQUERDA DIÁRIO. Brasília, 29/11/2016. Disponível em: http://www.esquerdadiario.com.br/Governo-

reprime-ato-contra-a-PEC-241-55-em-Brasilia. Acesso em: 02/06/2017; No Rio, repressão e truculência em ato

contra a PEC 241. Disponível em: http://jornalggn.com.br/blog/vania/mais-de-sete-mil-pessoas-no-centro-do-rio-

contra-a-pec-241. Rio de Janeiro, 18/10/2016. GGN. Acesso em: 02/06/2017; Com bombas de gás

lacrimogêneo, spray pimenta e balas de borracha, PM reprime manifestação pacífica em Brasília contra a PEC

241/55; há pessoas feridas. VIOMUNDO. Brasília, 29/11/2016. Disponível em:

http://www.viomundo.com.br/denuncias/urgente-com-bombas-de-gas-lacrimogeneo-pm-reprime-manifestacao-

pacifica-em-brasilia-contra-a-pec-24155.html. Acesso em: 02/06/2017. 170 Conforme pesquisa realizada na plataforma eletrônica da Câmara dos deputados: “A Medida Provisória (MP)

é um instrumento com força de lei, adotado pelo presidente da República, em casos de relevância e urgência.

Produz efeitos imediatos, mas depende de aprovação do Congresso Nacional para transformação definitiva em

lei. Seu prazo de vigência é de sessenta dias, prorrogáveis uma vez por igual período. Se não for aprovada no

prazo de 45 dias, contados da sua publicação, a MP tranca a pauta de votações da Casa em que se encontrar

(Câmara ou Senado) até que seja votada. Neste caso, a Câmara só pode votar alguns tipos de proposição em

sessão extraordinária. Ao chegar ao Congresso Nacional, é criada uma comissão mista, formada por deputados e

senadores, para aprovar um parecer sobre a Medida Provisória. Depois, o texto segue para o Plenário da Câmara

e, em seguida, para o Plenário do Senado. Se a Câmara ou o Senado rejeitar a MP ou se ela perder a eficácia, os

parlamentares têm que editar um decreto legislativo para disciplinar os efeitos jurídicos gerados durante sua

vigência. Se o conteúdo de uma Medida Provisória for alterado, ela passa a tramitar como projeto de lei de conversão. Depois de aprovada na Câmara e no Senado, a Medida Provisória - ou o projeto de lei de conversão -

é enviada à Presidência da República para sanção. O presidente tem a prerrogativa de vetar o texto parcial ou

integralmente, caso discorde de eventuais alterações feitas no Congresso. É vedada a reedição, na mesma sessão

legislativa, de MP que tenha sido rejeitada ou que tenha perdido sua eficácia por decurso de prazo. As normas

sobre edição de Medida Provisória estão no artigo 62 da Constituição Federal.” Disponível em:

http://www2.camara.leg.br/comunicacao/assessoria-de-imprensa/medida-provisoria. Acesso em: 03/06/2016. 171

“As medidas provisórias, com força de lei, podem ser adotadas pelo Presidente da República, as quais, no

entanto, para serem legítimas, há de atender os pressupostos formais, materiais e, ainda, regras de procedimento

que agora se exigem no artigo 62 da CF com o enunciado oferecido pela EC-32/2001. Os formais são a

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56

no qual se iniciou uma agenda econômica fundamentada pelo ajuste fiscal de cunho

neoliberal172

, é possível destacar um conjunto de medidas de austeridade implementadas via

MP, especialmente, nas searas trabalhista e previdenciária. Os motivos de exposição das MP’s

catalogadas convergem quanto à necessidade de equacionamento dos gastos públicos e

equilíbrio financeiro/atuarial do Estado, tendo em vista uma racionalidade de emergência,

atrelada tanto ao nível estrutural da sustentabilidade dos sistemas de proteção social, quanto à

conjuntura específica de recessão econômica. Nesse sentido, segue tabela com a catalogação

de algumas dessas MP’s, assinalando-se a área, o objeto, os motivos e a situação jurídica173

:

Medida

Provisória nº

Área Objeto Exposição de motivos

(urgência e relevância)

Situação

664

(30/12/2014) Altera as Leis nº 8.213,

de 24 de julho de 1991,

nº 10.876, de 2 junho de

2004, n º 8.112, de 11 de

dezembro de 1990, e a

Lei n º 10.666, de 8 de

maio de 2003.

Previdência

Pensão por morte e

auxílio doença

Expressivo déficit financeiro

atuarial (envelhecimento

populacional e evolução das despesas);

Equacionamento das

disparidades existentes nas

regras de concessão dos

benefícios;

Equilíbrio Financeiro.

Prorrogação

do prazo de

vigência

Convertida

na Lei nº

13.135, de

2015

665

(30/12/2014) Altera a Lei nº 7.998, de

11 de janeiro de 1990,

que regula o Programa

do Seguro-Desemprego,

o Abono Salarial e

institui o Fundo de

Trabalhista Seguro desemprego e

abono salarial

Acelerado crescimento das

despesas no âmbito do FAT,

que financia as políticas

públicas de emprego;

Sustentabilidade financeira

intertemporal;

Prorrogação

do prazo de

vigência

Convertida

na Lei nº 13.134, de

relevância e a urgência; os materiais dizem respeito à matéria que pode por elas ser regulamentada. As restrições

para legislar mediante medidas provisórias sobre certas matérias foram consignadas agora no artigo 62 pela EC-

32/2001. Os pressupostos da urgência e relevância já existiam, sempre apreciados subjetivamente pelo

Presidente da república; nunca foram rigorosamente respeitados. Por isso foram editadas medidas provisórias sobre assuntos irrelevantes ou sem urgência. Jamais o Congresso Nacional e o poder judiciário se dispuseram a

apreciá-los para julgar inconstitucionais MPs que a ales não atendessem, sob o falso fundamento de que isso era

assunto de estrita competência do Presidente da República.” SILVA, José Afonso da. Curso de Direito

Constitucional Positivo. 36ª ed. São Paulo: Malheiros Editores, 2013, p. 534. 172 “No entanto, a partir do final de 2014 surgem indicadores que revelam o início de uma crise econômica e

política no Brasil. Esse cenário influenciou nas próprias políticas públicas referentes ao início do segundo

mandato do governo Dilma Rousseff com a proposição das Medidas Provisórias n.º 664 e n.º 665 que

dificultavam o acesso dos trabalhadores ao seguro-desemprego, sobretudo os jovens, diminuíam o valor do

abono salarial e reduziam o valor e limitavam o período das pensões. Neste contexto, observa-se a sinalização do

governo em ceder ao discurso neoliberal com a promoção de um ajuste fiscal como resposta ao problema de

financiamento do Estado que estabelece como um dos principais alvos o sistema de garantias dos trabalhadores em um cenário de crescimento do desemprego”. GONDIM, Thiago Patrício. O discurso da austeridade no

contexto da atual crise econômica brasileira e suas implicações para o direito do trabalho. In: COUTINHO,

Aldacy Rachid; WANDELLI, Leonardo Vieira (org.). Anais do II encontro RENAPEDTS. 1.ª ed. Florianópolis:

Empório do Direito, 2016, p. 810-811. 173 Todas as informações foram obtidas em consulta à plataforma eletrônica da Câmara dos Deputados. Quanto

às MP’s 664 e 665, segue o link: http://www4.planalto.gov.br/legislacao/portal-legis/legislacao-1/medidas-

provisorias/2011-a-2014. Em relação às MP’s 669, 676, 680, 761 e 767:

http://www4.planalto.gov.br/legislacao/portal-legis/legislacao-1/medidas-provisorias/medidas-provisorias-2015-

a-2018. Acesso em: 03/06/2017.

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57

Amparo ao Trabalhador

- FAT, altera a Lei n o

10.779, de 25 de

novembro de 2003, que

dispõe sobre o seguro

desemprego para o

pescador artesanal, e dá

outras providências.

2015

669

(26/02/2015) Altera a Lei n º 12.546,

de 14 de dezembro de

2011, quanto à

contribuição

previdenciária sobre a

receita bruta; a Lei n º

12.469, de 26 de agosto

de 2011, a Lei n º

12.995, de 18 de junho

de 2014, e a Lei n º

11.196, de 21 de

novembro de 2005,

quanto à tributação de

bebidas frias; e a Lei n º

12.780, de 9 de janeiro

de 2013, que dispõe

sobre medidas tributárias

referentes à realização,

no Brasil, dos Jogos

Olímpicos de 2016 e dos

Jogos Paraolímpicos de

2016.

Previdência Contribuição

previdenciária

Equilíbrio das contas da

Previdência Social por

intermédio do aumento do

ingresso de recursos;

Menção à MP nº 664,

aduzindo tratar-se de medida

complementar ao corte de

despesas no sentido do equilíbrio financeiro da

Previdência.

Perda da

eficácia em

03/03/2015

(ato

declaratório

do

presidente

da casa do Congresso

nacional, nº

5, de 2015)

Revogada

676

(17/06/2015) Altera a Lei n º 8.213, de

24 de julho de 1991, que

dispõe sobre os Planos

de Benefícios da

Previdência Social.

Previdência Regra da aposentadoria por

tempo de

contribuição

Sustentabilidade financeira da Previdência Social

(processo de transição

demográfica, acelerado

envelhecimento

populacional e crescente

aumento da expectativa de

sobrevida);

Assegurar o equilíbrio

atuarial e a garantia dos

benefícios previdenciários.

Prorrogação do prazo de

vigência

Convertida

na Lei nº

13.183, de

2015

680

(06/07/2015) Institui o Programa de

Proteção ao Emprego e

dá outras providências.

Trabalhista Jornada de trabalho e salário

Preservação dos empregos e retomada do crescimento

econômico diante o cenário

de recessão econômica;

Manutenção da saúde

econômico-financeira das

empresas;

Sustentação da demanda

agregada durante momentos

de adversidade para facilitar

a recuperação da economia;

Estimulação da produtividade do trabalho

por meio do aumento da

duração do vínculo

trabalhista;

Incremento da negociação

coletiva.

Prorrogação do prazo de

vigência

Convertida

na Lei nº

13.189, de

2015

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58

761

(22/12/2016) Altera o Programa de

que trata a Lei nº 13.189,

de 19 de novembro de

2015, para denominá-lo

Programa Seguro-

Emprego e para

prorrogar seu prazo de

vigência.

Trabalhista Programa Seguro-

Emprego

Reiteram-se os argumentos

da MP nº 680 referentes à

necessidade de manutenção

dos postos formais de

emprego diante o cenário de

recessão econômica;

Alerta a possibilidade de

aumento das despesas do

FAT e desequilíbrio fiscal,

caso a medida não seja

prorrogado, uma vez que o aumento do acesso ao seguro

desemprego decorrente das

demissões elevaria os gastos

públicos.

Prorrogação

do prazo de

vigência

Em

tramitação

no âmbito da

conversão

em lei

767

(06/01/2017) Altera a Lei n º 8.213, de

24 de julho de 1991, que

dispõe sobre os Planos

de Benefícios da

Previdência Social, e a

Lei n º 11.907, de 2 de

fevereiro de 2009, que

dispõe sobre a

reestruturação da

composição

remuneratória da

Carreira de Perito

Médico Previdenciário e

da Carreira de

Supervisor Médico-

Pericial, e institui o

Bônus Especial de

Desempenho

Institucional por Perícia

Médica em Benefícios

por Incapacidade.

Previdência Bônus especial de

Desempenho

Institucional por

Perícia Médica em Benefícios por

Incapacidade

Segundo a análise do

governo, a demora de laudo

de perícia médica dos

benefícios previdenciários onera os cofres públicos,

uma vez que protela a

habilitação dos indivíduos

ao retorno ao trabalho;

O bônus ao médico perito

seria uma forma de estimular

a realização de perícias

médicas nos benefícios por

incapacidade mantidos há

mais de dois anos sem

análise, conforme parecer do

Ministério da Transparência, Fiscalização e Controladoria

Geral da União e pelo

Tribunal de Contas da

União;

Contenção dos gastos

públicos e equilíbrio fiscal.

Prorrogação

do prazo de

vigência

Em

tramitação

no âmbito da

conversão

em lei

A MP nº 664 altera dispositivos previdenciários concernentes à pensão por morte e

auxílio doença, dentre os motivos, ressalta-se o déficit financeiro da Previdência Social,

relacionando-o com o envelhecimento populacional e aumento das despesas de custeio. As

restrições aos benefícios são apontadas como ajustes necessários à correção de determinadas

disparidades no sentido do equilíbrio fiscal, propondo-se novas regras quanto à carência,

forma de cálculo e prazo de duração, tendo em vista o destaque da análise comparada

internacional174

. A MP nº 665 introduz restrições aos benefícios trabalhistas do seguro

emprego e abono salarial, ressaltando o déficit financeiro do FAT diante do crescimento das

despesas. Propõe-se incremento da exigência quanto ao tempo de permanência dos 174

Planalto Nacional. Exposição de Motivos da MP nº 664. Brasília, DF, 30 de dezembro 2014 Disponível em:

http://www4.planalto.gov.br/legislacao/portal-legis/legislacao-1/medidas-provisorias/2011-a-2014. Acesso em:

09/06/2017.

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59

trabalhadores no ano-base para obtenção do abono salarial, além do aumento do período de

carência na solicitação do benefício de seguro desemprego, como instrumentos de

viabilização da sustentabilidade financeira intertemporal175

. Em sentido complementar ao

corte de despesas promovido pelas MP nº 664, a MP nº 669 refere-se ao incremento de

recursos por intermédio do aumento das alíquotas da contribuição previdenciárias sobre a

receita bruta176

. As duas primeiras MP’s foram convertidas em lei enquanto que a última foi

revogada, ambas foram concebidas no segundo mandato da ex-presidente Dilma Rousseff177

.

A MP nº 676 cinge-se a regulação das disposições relativas à nova regra da

aposentadoria por tempo de serviço, evocando a sustentabilidade do regime previdenciário,

equilíbrio atuarial e garantia dos benefícios, diante do processo de envelhecimento

populacional e aumento da expectativa de vida, sendo a restrição a tal benefício aprovada pelo

Congresso Nacional178

. A MP nº 680 institui o PPE, possibilitando a redução da jornada de

trabalho e dos salários, através de acordo coletivo de trabalho, tratando-se de uma medida de

precarização dos direitos trabalhistas, formulada a partir do discurso da crise econômica e

harmonização das relações trabalhistas, uma vez que os direitos são relativizados a partir de

175 Planalto Nacional. Exposição de Motivos da MP nº 665. Brasília, DF, 30 de dezembro de 2014. Disponível

em: http://www4.planalto.gov.br/legislacao/portal-legis/legislacao-1/medidas-provisorias/2011-a-2014. Acesso

em: 03/06/2017 176 “No que concerne aos arts. 1º e 2º do projeto, relativos à contribuição previdenciária sobre a receita bruta, são

propostos ajustes nas alíquotas em virtude de o quadro atual apontar para a necessidade de aumento de

arrecadação e corte de despesas. Com relação ao corte de despesas, a Medida Provisória nº 664, de 30 de

dezembro de 2014, fez ajustes na concessão de benefícios previdenciários, como pensão por morte e auxílio

doença. Por outro lado, somente o ajuste na concessão de benefícios não é suficiente para o equilíbrio das contas

da Previdência Social, havendo também a necessidade urgente de aumentar o ingresso de recursos, que é o que

se propõe na presente Medida Provisória ao aumentar as alíquotas da contribuição previdenciária sobre a receita bruta.” Planalto Nacional. Exposição de Motivos da MP nº 669. Brasília, DF, 25 de Fevereiro de 2015.

Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Exm/ExmMP-669-15.pdf. Acesso

em: 03/06/2016. 177 Para uma análise mais abrangente das medidas de ajuste fiscal propostas nesse período: entenda as medidas

do ajuste fiscal. Para sair do vermelho, país começou a cortar gastos e aumentar impostos. Medidas que

impõem 'sacrifício' encontraram resistência no Congresso. Notícia disponível em:

http://g1.globo.com/economia/noticia/2015/05/entenda-medidas-do-ajuste-fiscal.html. Acesso em 10/06/2017. 178 “Assim sendo, a presente proposta de Medida Provisória acrescenta o art. 29-C à Lei no 8.213, de 1991, com

a finalidade de manter a regra 85/95 aprovada pelo Congresso Nacional, com vigência imediata, mas com a

inclusão da progressividade deste parâmetro de cálculo, incorporando o impacto do envelhecimento da

população e o aumento da expectativa de sobrevida. Esta é uma exigência para assegurar a sustentabilidade financeiro-orçamentária futura da Previdência Social. [...] A urgência se justifica para garantir vigência imediata

desta proposta, porque o Congresso Nacional, ao aprovar o Projeto de Lei de Conversão nº 4, de 2015, no âmbito

da discussão de uma Medida Provisória, gerou uma expectativa de direito que está sendo assegurada por essa

iniciativa. A relevância é inquestionável porque diz respeito ao cálculo da aposentadoria por tempo de

contribuição da população brasileira e procura garantir a sustentabilidade financeira da Previdência Social,

assegurando os direitos previdenciários com maior benefício e equilíbrio atuarial.” Planalto Nacional. Exposição

de Motivos da MP nº 676. Brasília, DF, 17 de junho de 2015. Disponível em:

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Exm/Exm-MP%20676-15.pdf. Acesso em:

03/06/2016.

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60

acordo envolvendo governo e empresa179

. Além da preservação dos empregos e da

competitividade empresarial, defende-se o aumento da duração do vínculo trabalhista, como

meio de estímulo a produtividade e o incremento da negociação coletiva180

. Essas duas MP’s

foram editadas ao decorrer do governo provisório de Michel Temer sendo convertidas em lei,

tramitando ainda outras 14, o que evidencia um aumento no uso dessas Medidas, se

comparado ao início dos dois governos antecedentes181

.

A MP nº 761 prorrogou o PPE, objeto da MP nº 680, que foi convertida na lei

13.189/2016, redenominado-o como PSE com tempo de adesão estendido por mais um ano,

sendo reiterados os argumentos referentes à necessidade de manutenção dos postos formais de

emprego e de se evitar aumentos nas despesas do FAT182

. A MP nº 767 se refere à instituição

de bônus especial de desempenho institucional por perícia médica em benefícios por

179 “Considerando o estado atual do mercado de trabalho com perda de dinamismo na criação de empregos

formais e a necessidade de ampliação das políticas ativas que busquem aumentar a duração do vínculo

trabalhista, percebe-se que o Programa de Proteção ao Emprego (PPE) é importante para (i) proteger os

empregos em momentos de retração da atividade econômica; (ii) preservar a saúde econômico-financeira das

empresas; (iii) sustentar a demanda agregada durante momentos de adversidade para facilitar a recuperação da

economia; (iv) estimular a produtividade do trabalho por meio do aumento da duração do vínculo trabalhista; e

(v) fomentar a negociação coletiva e aperfeiçoar as relações do trabalho. [...] A urgência desta medida provisória

deriva da necessidade de preservar os empregos formais que são indispensáveis para a retomada do crescimento

econômico. Tal urgência se faz ainda mais relevante diante do cenário atual no mercado de trabalho, que tem registrado menor vigor na criação líquida de empregos formais.” . Planalto Nacional. Exposição de Motivos da

MP nº 680. Brasília, DF, 06 de julho de 2015. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-

2018/2015/Exm/ExmMP-%20680-15.pdf. Acesso em: 03/06/2016. 180 Problematizam-se os últimos argumentos e as posteriores discussões referentes às reformas trabalhistas, pois

estas estipulam a ampliação dos contratos temporários e da terceirização, relegando a um segundo plano o

argumento da produtividade pelo aumento do vínculo da duração trabalhista em detrimento de percepção

imediata da redução dos custos operacionais, além do mais, pretende-se a generalização da prevalência do

negociado sobre o legislado, objeto de análise do tópico 4.2.1. 181 Balanço: veja o que foi feito durante o governo provisório de Temer. AGÊNCIA BRASIL. Brasília,

31/08/2016. Disponível em: http://agenciabrasil.ebc.com.br/politica/noticia/2016-08/balanco-veja-o-que-foi-

feito-durante-o-governo-provisorio-de-temer. Acesso em 10/06/2017. 182 “A medida provisória ora proposta institui o Programa de Seguro-Emprego (PSE), com os seguintes

objetivos: (i) possibilitar a preservação dos empregos em momentos de retração da atividade econômica; (ii)

favorecer a recuperação econômico-financeira das empresas; (iii) sustentar a demanda agregada durante

momentos de adversidade, para facilitar a recuperação da economia; (iv) estimular a produtividade do trabalho

por meio do aumento da duração do vínculo empregatício; e (v) fomentar a negociação coletiva e aperfeiçoar as

relações de emprego [...]. A urgência desta medida provisória deriva da necessidade de evitar um cenário

crescente de demissões, haja vista que o PSE é um importante instrumento na manutenção dos empregos, pois

atenua desligamentos em empresas que se encontram em dificuldades financeiras temporárias. Sabe-se que a

manutenção do nível de emprego é indispensável para a retomada do crescimento econômico, pois sustenta a

demanda agregada durante momentos de adversidade. Ressalta-se, ainda, que a possibilidade de adesão ao

Programa será encerrada em 31 de dezembro de 2016, caso não seja editada a medida provisória ora proposta.

Ou seja, caso o PPE não seja prorrogado, as despesas do FAT poderão crescer, tendo em vista que o seu público potencial poderá acessar o seguro-desemprego ou Bolsa Qualificação. Neste caso, as empresas não pagam

salários e tampouco contribuições sobre a folha durante a vigência do programa, tornando-o mais dispendioso

para o governo do que o PSE.” Planalto Nacional. Exposição de Motivos da MP nº 761. Brasília, DF, 22 de

dezembro de 2015. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2016/Exm/Exm-

MP%20761-16.pdf. Acesso em: 03/06/2016.

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61

incapacidade (BESP-PMBI) ao médico perito do INSS, por perícia médica efetivamente

realizada nas agências da previdência. Os argumentos apontados envolvem contenção dos

gastos públicos e equilíbrio fiscal183

, tendo em vista racionalidade voltada a restrição dos

benefícios com a rápida reinserção dos beneficiários no mercado de trabalho, sendo alvo de

críticas no que concerne a ingerência administrativa no corte de benefícios concedidos

judicialmente nos denominados “mutirões de perícia”184

. Ambas as MP’s foram convertidas

em lei no âmbito do governo de Michel Temer.

3.2.3 A jurisprudência de austeridade: a atuação do Supremo Tribunal Federal na

retirada de direitos trabalhistas

No âmbito da emergência do direito do trabalho de exceção, o último aspecto a ser

analisado nessa monografia é a atuação do STF na chancela das políticas de austeridade, com

enfoque à desestruturação do sistema institucional de proteção ao trabalhador no sentido da

restrição de direitos e garantias trabalhistas e limitação da jurisprudência protetiva da Justiça

do Trabalho185

. Nesse sentido, catalogou-se conjunto de decisões proferidas pelo STF em

183 “Diversas iniciativas estão sendo propostas no âmbito do CMAP, dentre elas, destacam-se as que fortalecem a

governança dos benefícios da previdência e assistência social e reduzem a judicialização, principalmente, sobre a concessão do auxílio-doença e da aposentadoria por invalidez. O auxílio-doença é um benefício securitário,

provisório, não programado e temporário, devido ao segurado que comprovar mediante exame médico pericial a

cargo do Instituto Nacional de Seguro Social (INSS), estar incapaz de trabalhar por motivo de doença. Por sua

vez, a aposentadoria por invalidez é um benefício ligado à atividade laborativa destinado aos trabalhadores que

não podem ser reabilitados profissionalmente, de acordo com a avaliação da perícia médica do INSS. Ambos os

benefícios são pagos enquanto persistir a incapacidade do trabalhador. [...] A urgência dessa medida caracteriza-

se pela necessidade de sanar as desconformidades apontadas pelo Ministério da Transparência, Fiscalização e

Controladoria Geral da União e pelo Tribunal de Contas da União no que se refere a não realização de perícias

médicas nos benefícios por incapacidade mantidos há mais de dois anos. Com a agenda do corpo de peritos

médicos já saturada, existe a necessidade premente de se instituir um bônus para a revisão de tais benefícios

acima da capacidade ordinária da Agência, ou seja, um acréscimo real à capacidade operacional ordinária de realização de perícias médicas pelo perito médico.” Planalto Nacional. Exposição de Motivos da MP nº 767.

Brasília, DF, 05 de janeiro de 2015. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-

2018/2016/Exm/Exm-MP%20761-16.pdf. Acesso em: 03/06/2016.

184 Especialista critica lisura do pente-fino do INSS. O DIA. Rio de Janeiro, 18/01/2017. Disponível em:

http://odia.ig.com.br/economia/2017-01-18/especialista-critica-lisura-do-pente-fino-do-inss.html. Acesso em:

10/06/2017. 185 Nesse sentido, destaca-se o aludido pelo professor Jorge Luiz Souto Maior: “É dentro do objetivo de esvaziar

a influência jurídica da Justiça do Trabalho que se podem compreender os julgamentos do STF, seguindo a linha do julgamento proferido em agosto de 2004, que declarou a constitucionalidade de taxação dos inativos (ADI

3105), nos Recursos Extraordinários 586453 e 583050 (em fevereiro de 2013), que atribuiu à Justiça Comum a

competência julgar os conflitos envolvendo a complementação de aposentadoria dos ex-empregados da

Petrobrás e do Banco Santander Banespa S/A; no ARE 709212, em novembro de 2014, que reduziu a prescrição

do FGTS de trinta para cinco anos; na ADIn nº 5.209, de dezembro de 2014, que, na prática, a pedido da

Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc), à qual estão associadas grandes construtoras,

como a Andrade Gutierrez, Odebrecht, Brookfield Incorporações, Cyrela, MRV Engenharia, suspendeu a

vigência da Portaria n. 2, de 2011, referente à lista do trabalho escravo; e na ADI 1923, em abril de 2015, que

declarou constitucional as Leis ns. 9.637/98 e 9.648/98, legitimando a privatização do Estado nos setores da

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62

controle de constitucionalidade abordando o relator, as partes, o objeto impugnado e a

situação do processo, no caso de repercussão geral, a tese adotada pela Corte Suprema, tendo

em vista consulta à plataforma eletrônica do STF186

:

Ações Relator/Partes Objeto

Impugnado

Situação do

processo

Tese

ARE 709.212 (Tema 608 da

Repercussão Geral

- Prazo

prescricional

aplicável à

cobrança de valores não depositados no

Fundo de Garantia

por Tempo de

Serviço - FGTS)

Relator: Ministro Gilmar Mendes;

Reclamante: Banco

do Brasil;

Reclamado: Ana

Maria Movilla de

Pires e Marcondes.

Artigos 23, § 5º, da Lei 8.036/1990

e 55 do Decreto nº

99.684/1990.

(prescrição

trintenária da

cobrança dos

valores não

depositados no

FGTS)

Em sessão do Plenário realizada no

dia 13/11/2014, por

maioria, negou-se

provimento ao

recurso, declarando-

se a inconstitucio-

nalidade do art. 23, §

5º, da Lei nº

8.036/1990, e do art.

55 do Decreto nº

99.684/1990, tomando como base

o art. 7º, XXIX da

CF.

“O prazo prescricional

aplicável à

cobrança de valores

não depositados no

Fundo de Garantia

por Tempo de

Serviço (FGTS) é

quinquenal, nos

termos do art. 7º,

XXIX, da

Constituição Federal.”

ADIn 5209 (medida liminar)

Relatora: Ministra

Cármen Lúcia

Requerente:

Associação brasileira

de incorporadoras

imobiliárias;

Requeridos: Ministra

de Estado Chefe da

Secretaria de Direitos Humanos da

Presidência da

República, Ministro

de Estado do

Trabalho e Emprego.

Portaria

Interministerial

MTE/SDH n°

2, de 12 de maio

de 2011, bem

como da Portaria

MTE n° 540, de

19 de outubro de

2004. (“lista suja do

trabalho escravo”)

No dia 23/12/2014,

em decisão

monocrática liminar,

determinou-se a

suspensão dos

efeitos da Portaria

2/2011 e da Portaria

540/2004, tomando

como fundamentos os princípios da

legalidade e devido

processo legal. Em

decisão monocrática

final, no dia

16/05/2016, a ação

foi julgada

prejudicada pela

perda superveniente

do objeto.

------------------

ADIn 1923 Relator: Ministro

Luiz Fux

Requerente: Partido dos Trabalhadores e

Partido Democrático

Trabalhista

Lei nº 9637, de 15

de maio de 1998.

(Permissão para contratação de

OS’s para

realização de

No dia 16/04/2015, o

Tribunal, por

maioria, julgou parcialmente

procedente o pedido,

apenas para conferir

--------------------

saúde, educação, cultura, desporto e lazer, ciência e tecnologia e meio ambiente por intermédio de convênios,

sem licitação, com Organizações Sociais” Os direitos trabalhistas sob o fogo cruzado da crise política. SOUTO

MAIOR, Jorge Luiz. CARTA MAIOR. http://cartamaior.com.br/?/Editoria/Politica/Os-direitos-trabalhistas-

sob-o-fogo-cruzado-dacrisepolitica/4/35810. Artigo publicado em 28.03.2016. Acesso em 21.11.2016. 186 Todas as informações foram obtidas a partir da consulta à plataforma eletrônica do STF:

http://www.stf.jus.br/portal/processo/pesquisarProcesso.asp. Acesso em: 04/06/2017. Utilizou-se como

referência na catalogação dos processos: 8 grandes decisões do STF que tiraram direitos dos trabalhadores.

CARTA CAPITAL. Disponível em: http://justificando.cartacapital.com.br/2016/10/28/8-grandes-decisoes-do-

stf-que-tiraram-direitos-dos-trabalhadores/. Acesso em 03/06/2017.

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63

Requeridos:

Presidente da

República.

serviços públicos) interpretação

conforme à

Constituição à Lei nº

9.637/98 e ao art.

24, XXIV da Lei nº

8.666/93, incluído

pela Lei nº 9.648/98

RE 590.415 (Tema 152 da

repercussão geral)

Relator: Ministro

Roberto Barroso;

Reclamante: Banco

do Brasil (sucessor

do Banco do Estado de Santa Catarina –

BAESC);

Reclamado: Claudia

Maria Leite

Eberhardt

Cláusula de

quitação ampla no

PDV e PDI.

Em sessão realizada

no dia 30/04/2015,

por unanimidade, o

tribunal julgou

procedente o recurso extraordinário,

reconhecendo a

validade da clausula

impugnada, afastan-

do a incidência do

art. 477, § 2º da

CLT, que restringe a

eficácia liberatória

da quitação aos

valores e às parcelas

discriminadas

exclusivamente no termo de rescisão.

“A transação

extrajudicial que

importa rescisão do

contrato de trabalho

em razão de adesão voluntária do

empregado a plano

de dispensa

incentivada enseja

quitação ampla e

irrestrita de todas as

parcelas objeto do

contrato de

emprego caso essa

condição tenha

constado

expressamente do acordo coletivo que

aprovou o plano,

bem como dos

demais

instrumentos

celebrados com o

empregado.”

ADIn 5468 Relator: Ministro

Luiz Fux;

Requerente:

Associação Nacional

dos Magistrados trabalhistas

(ANAMATRA);

Requeridos:

Congresso Nacional,

Presidente da

república.

Lei Orçamentária

Anual de 2016

(LOA/2016)/ Lei

Federal nº

13.255/2016, no tocante ao corte

orçamentário

imposta à Justiça

do Trabalho.

Em sessão do

plenário realiza em

29/06/2016, a ação

foi julgada

improcedente, por maioria dos votos,

reconhecendo-se a

constitucionalidade

da LOA/16.

“Salvo em situações

graves e

excepcionais, não

cabe ao Poder

Judiciário, sob pena de violação ao

princípio da

separação de

poderes, interferir

na função do Poder

Legislativo de

definir receitas e

despesas da

administração

pública, emendando

projetos de leis

orçamentárias, quando atendidas as

condições previstas

no art. 166, § 3º e §

4º, da Constituição

Federal.”

RE 895.759 Relator: Ministro

Teori Zawascki;

Reclamante: Usina

Central Olho D’agua

Central;

Reclamado: Moíses

Lourenço da Silva.

Decisão do TST

que condenou a

reclamante ao

pagamento de

horas in tinere,

anulando-se

cláusula de acordo

Em decisão

monocrática do

relator, no dia

08/09/2016, o

recurso

extraordinário foi

provido,

------------------

Page 65: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE …âmbito da graduação em Direito da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como pré-requisito para obtenção do grau de bacharel

64

coletivo que

excluía o

pagamento em

decorrência do

estipulado na

CLT.

reformando-se a

decisão do TST no

sentido de afastar a

condenação da

recorrente ao

pagamento de horas

in tinere e dos

reflexos salariais.

ADPF 323 (medida liminar)

Relator: Ministro

Gilmar Mendes;

Requerente:

Confederação Nacional dos

Estabelecimentos de

ensino

(CONFENEN)

Requeridos: Tribunal

Superior do

Trabalho; Tribunal

Regional do

Trabalho 1ª região e

Tribunal Regional do

Trabalho 2ª região.

Súmula 277 do

TST

“Convenção coletiva

de trabalho ou acordo

coletivo de trabalho.

Eficácia.

Ultratividade. As

cláusulas normativas

dos acordos coletivos

ou convenções

coletivas integram os

contratos individuais

de trabalho e somente

poderão ser

modificadas ou

suprimidas mediante

negociação coletiva de

trabalho.”

Redação dada pela

resuloção do TST nº

185, de 14/09/2012.

Em processo de

julgamento, o relator

deferiu medida

liminar em 14/10/2016,

determinando

suspensão de todos

os processos em

curso e dos efeitos

de decisões judiciais

proferidas no âmbito

da Justiça do

Trabalho que versem

sobre a aplicação da

ultratividade de

normas de acordos e de convenções

coletivas, sem

prejuízo do término

de sua fase

instrutória, bem

como das execuções

já iniciadas.

------------------

RE 661.256 (tema 503 –

repercussão geral)

Relator: Ministro

Roberto Barroso;

Reclamante: Instituto

Nacional do Seguro

Nacional (INSS); Relamado: Valdemar

Roncaglio

Direito à

“Desaposentação”

Em sessão plena

realizada no dia

26/10/2016, por

maioria, o tribunal

deu provimento ao recurso extraordiná-

rio, tomando como

base o artigo art. 18,

§ 2º, da Lei nº

8.213/91, afastando-

se a possibilidade do

aposentado pedir a

revisão do benefício

por ter voltado a

contribuir para a

Previdência medi-

ante reinserção no mercado de trabalho.

"No âmbito do

Regime Geral de

Previdência Social -

RGPS, somente lei

pode criar benefícios e

vantagens

previdenciárias, não

havendo, por ora,

previsão legal do

direito à

'desaposentação',

sendo

constitucional a

regra do art. 18, §

2º, da Lei nº

8.213/91".

RE 693.456 (tema 531 –

repercussão geral)

Relator: Ministro

Dias Toffoli;

Reclamante:

Fundação de Apoio à

Escola Técnica

(FAETEC);

Relamado: Renata

Barroso Bernabe e

outros.

Desconto salarial

em razão de greve

do servidor

público.

Em sessão plena

realizada em

27/10/2016, o

Tribunal, por unani-

midade, conheceu

em parte do recurso,

e, por maioria, na

parte conhecida,

deu-lhe provimento,

reconhecendo que a

administração

"A administração

pública deve

proceder ao

desconto dos dias

de paralisação

decorrentes do

exercício do direito

de greve pelos

servidores públicos,

em virtude da

suspensão do

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65

pública deve fazer o

corte do ponto dos

servidores públicos

grevistas.

vínculo funcional

que dela decorre,

permitida a

compensação em

caso de acordo. O

desconto será,

contudo, incabível

se ficar

demonstrado que a

greve foi provocada

por conduta ilícita do Poder Público."

RE 760.931 (Tema 246 –

repercussão geral)

Relatora: Ministra

Rosa Weber;

Reclamante: União

Relamados: Priscila

Medeiros Nunes;

Evolution

Admnistradora de

Serviços

Terceirizados LTDA.

Responsabilidade

subsidiária da

administração

pública por

encargos

trabalhistas

gerados pelo

inadimplemento

de empresa

terceirizada.

Em sessão plena

realizada em

30/03/2017, o

Tribunal, por

maioria, conheceu

em parte do recurso

extraordinário e, na

parte conhecida, a

ele deu provimento,

afastando-se a

responsabilização

automática da admi- nistração pública por

encargos trabalhistas

gerados pelo

inadimplemento de

empresa terceirizada.

"O inadimplemento

dos encargos

trabalhistas dos

empregados do

contratado não

transfere

automaticamente ao

Poder Público

contratante a

responsabilidade

pelo seu

pagamento, seja em caráter solidário ou

subsidiário, nos

termos do art. 71, §

1º, da Lei nº

8.666/93".

Para uma melhor compreensão da jurisprudência de austeridade, apresenta-se uma

breve síntese dos julgamentos realizados pelo Supremo Tribunal Federal acima apresentados,

que denotam a existência de uma tendência restritiva de direitos dos trabalhadores naquela

corte. O caso ARE 709.212 envolveu a constitucionalidade artigos 23, § 5º, da Lei

8.036/1990 e 55 do decreto nº 99.684/1990 relativos à prescrição trintenária da cobrança dos

valores não depositados no FGTS, entendimento consolidado a partir da criação desse

instituto. Segundo diversos juristas, a decisão do STF atenta contra o princípio da proteção no

que tange a aplicação da norma mais favorável ao trabalhador, restringindo o direito

fundamental do acesso à justiça, uma vez que reduz o prazo prescricional para 5 anos, na

forma da tese 608 de repercussão geral187

. Já na decisão proferida no âmbito da ADIn 5289, a

suspensão dos efeitos em medida liminar das portarias 2/2011 e 540/2004 inviabilizou a

divulgação do cadastro anual das empresas flagradas, submetendo trabalhadores a condição

análoga a de escravidão ou “lista suja do trabalho escravo”, referência na coibição das práticas

de escravidão contemporânea e desenvolvimento de políticas empresariais de sustentabilidade

187

Para complementar o entendimento acerca dessa temática segue o artigo: O que restará do Direito do

Trabalho? SEVERO, Valdete Souto. ANAMATRA. Disponível em: https://www.anamatra.org.br/artigos/1073-

o-que-restara-do-direito-do-trabalho. Publicado em 27/11/2014. Acesso em 10/06/2017.

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66

social em consonância com a convenção número 27 da OIT, pendente de ratificação188

. Não

obstante a improcedência da ação, por perda superveniente do objeto, tendo em vista a

publicação da portaria interministerial nº 4/2016, a publicação do cadastro somente voltou a

ser publicada em 23 de março de 2017 em decorrência de ACP impetrada pelo MPT189

.

A ADIn 1923 estabeleceu a possibilidade de contratação de Organizações Sociais-

OS’s, entidades privadas sem fins lucrativos, para realização de serviços públicos, tendo o

Supremo julgado constitucionais os dispositivos impugnados da Lei nº 9637, de 15 de maio

de 1998. Críticas são direcionadas quanto à utilização dessa forma jurídica para ampliar os

casos de terceirização no serviço público e afastamento da aplicação da legislação

trabalhista190

. Por outro lado, no Recurso Extraordinário 590.415 reformou-se o entendimento

do TST quanto à invalidade da cláusula de quitação ampla das parcelas do contrato de

trabalho em PDI e PDV, determinando a prevalência do negociado sobre o legislado ao se

afastar a incidência do art. 477, § 2º da CLT. Segundo Jorge Souto Maior, a atuação do TST,

na aplicação da sistemática protetiva vigente, foi limitada, prenunciando o debate acerca da

inversão de um dos princípios estruturantes do direito do trabalho brasileiro: da

impossibilidade de acordo coletivo sobrepor-se a lei para retirar direitos e garantias

trabalhistas. No mesmo sentido, seguiu a decisão nos autos do Recurso Extraordinário

895.759, que afirma a legalidade da sobreposição do estipulado em acordo coletivo191

em

detrimento da CLT no que se refere o pagamento de horas in tinere.

No âmbito da ADPF 343, afastou-se o novo entendimento do Tribunal Superior do

Trabalho sobre ultratividade de normas e acordos coletivos, assegurando que a eficácia das

normas coletivas se projetem no tempo, sendo apenas revogadas por posterior disposição

188 O Ministério Público do Trabalho em nota oficial ressaltou a importância da divulgação desse instrumento:

Necessária publicidade à Lista Suja do trabalho escravo. MPT reforça razões da importância da divulgação do

Cadastro de Empregadores para o combate à escravidão contemporânea. MPT, Brasília, 27 de janeiro de 2017.

In: http://portal.mpt.mp.br/wps/portal/portal_mpt/mpt/sala-imprensa/mpt-noticias. Acesso em: 10/06/2017. 189 Para mais informações desse processo: Governo publica 'lista suja' do trabalho escravo. PORTAL G1. São

Paulo, 24/03/2017. Disponível em: http://g1.globo.com/economia/noticia/governo-publica-lista-suja-do-trabalho-

escravo.ghtml. Acesso em: 10/06/2017. O cadastro de empregadores que tenham submetido trabalhadores a

condição análoga à de escravo, conforme a portaria interministerial nº 4/2016, encontra-se acessível em: http://trabalho.gov.br/noticias/4428-ministerio-publica-cadastro-de-empregadores-que-tenham-submetido-

trabalhadores-a-condicao-analoga-a-de-escravo. Acesso em: 10/06/2017. 190 Para análise mais detalhada, segue o artigo: ADI 1923: legitimação e ampliação da terceirização no setor público. SOUTO

MAIOR, Jorge Luiz. CARTA MAIOR. Disponível: http://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Principios-Fundamentais/ADI-1923-

legitimacao-e-ampliacao-da-terceirizacao-no-setor-publico/40/33321. Publicado em 22/04/2015. Acesso em: 10/06/2017. 191 Conforme o exposto: STF inova e decide que vale o negociado sobre o legislado no âmbito trabalhista.

ESTADÃO. Brasília, 13/09/2016. Disponível em: http://politica.estadao.com.br/blogs/fausto-macedo/stf-inova-

e-decide-que-vale-o-negociado-sobre-o-legislado-no-ambito-trabalhista/. Acesso em: 10/06/2017. Vide tópico

4.2.1.

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67

coletiva (Súmula 277 do TST) Inclusive, em medida liminar monocraticamente decidida, o

Supremo Tribunal deferiu a suspensão de todos os processos em curso e dos efeitos de

decisões judiciais proferidas no âmbito da Justiça do Trabalho que versem sobre essa

temática. Já no Recurso Extraordinário 661.256 o STF afirmou-se a ilegalidade da

“desaposentação”, ou seja, da possibilidade de revisão do benefício da aposentadoria, tendo

em vista a posterior contribuição, ao RGPS, em decorrência de reinserção no mercado de

trabalho, retrocedendo em matéria de direitos sociais. Tal entendimento, expresso no tema

503 da repercussão geral, vinculou os mais de 180 mil processos suspensos e que aguardavam

julgamento em diversas instâncias judiciais192

.

Prosseguindo na análise de julgados recentes que poderiam ser caracterizados entre nós

como demonstrativos do retrocesso em matéria interpretativa, são dignos de nota os Recursos

Extraordinários 693.456 e 760.931. No primeiro, foi reconhecido o direito de corte do ponto

de servidores públicos grevistas pela Administração Pública, representado um ataque direito à

mobilização e resistência dos trabalhadores no sentido do efetivo direito à greve. Já no

segundo, no RE 760.931, discutiu-se a controvérsia referente à responsabilidade da

Administração Pública por encargos trabalhistas de empresas contratadas, especialmente, no

tocante às atividades terceirizadas, de maneira que o entendimento adotado reforçou a

necessidade de prova inequívoca de conduta omissiva ou comissiva da Administração na

fiscalização dos contratos, o que caminha na contramão das reivindicações dos setores

trabalhistas. Em outras palavras, segundo o Supremo Tribunal Federal não há transferência

automática da responsabilidade da Administração Pública por encargos trabalhistas, geradas

pelo inadimplemento de empresa terceirizada, afigurando-se óbice na efetivação da

integralidade dos encargos trabalhistas, apesar da situação de acentuada vulnerabilidade das

relações de terceirização.

Neste contexto de fortes retrocessos em matéria de direitos sociais e interpretação

constitucional, opta-se por analisar especificamente um caso de jurisprudência sobre a

austeridade. A seguir, será analisado, detalhadamente, o caso da ADIn 5468, proposta contra

cortes orçamentários promovidos no cenário de introdução do discurso da austeridade na cena

pública brasileira no ano de 2015, quando o Congresso Nacional começou a aprovar um

192

Desaposentação: entenda o que muda depois da decisão do STF. EPÓCA NEGÓCIOS. São Paulo,

04/11/2016. Disponível em: http://epocanegocios.globo.com/Economia/noticia/2016/11/desaposentacao-tire-

suas-duvidas-sobre-o-que-muda-depois-da-decisao-do-stf.html. Acesso em 10/06/2016.

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conjunto de medidas restritivas de direitos sociais. Dentre tais medidas encontra-se o drástico

corte promovido no orçamento reservado à Justiça do Trabalho, e que afetou diretamente o

funcionamento deste ramo especializado, provocando um amplo debate e expressivas reações,

por parte de instituições da sociedade civil e de magistrados. Foi, inclusive, divulgado um

manifesto intitulado “Documento em Defesa do Direito do Trabalho e da Justiça do Trabalho

no Brasil” 193

, subscrito por 20 dos 27 ministros integrantes do TST a sugerir uma necessária

reação institucional em defesa do direito juslaboral e de sua afirmação na conjuntura de

instabilidade econômica, política e jurídica.

3.3 ADIn 5468 à luz da jurisprudência de austeridade

Para melhor entender a Ação Direta de Inconstitucionalidade 5468, realiza-se o

mapeamento dos argumentos contidos no relatório final do PLOA/16, de autoria do Deputado

Federal Ricardo Barros (PP/PR), problematizando-se o discurso da modernização das relações

trabalhistas e a desregulamentação do direito do trabalho. Após, será analisada a utilização do

princípio da separação dos poderes na compatibilização de tal medida legislativa com a

CRFB/88.

3.3.1 Breve contextualização

A LOA/16/ Lei Federal nº 13.255/2016 promoveu corte orçamentário da Justiça do

Trabalho na medida de 50% das dotações para custeio e 90% dos recursos destinados para

investimento. O corte promovido foi superior a todas as demais áreas judicantes, implicando

em diversas reações institucionais que fomentaram o debate acerca de tal medida. Em nota

pública subscrita em 04 de fevereiro de 2016194

, a ANAMATRA aduziu o caráter

desproporcional, discriminatório e retaliativo dos cortes orçamentários, tomando como base

os argumentos contidos no relatório geral do PLOA/16, ressaltando as suas consequências

institucionais nefastas na manutenção da Justiça do Trabalho. Foi ajuizada por esta entidade a

ADIn 5468, tendo como pedido principal, a declaração de nulidade do quantum orçamentário

estipulado na LOA/2016 com a execução da integralidade da proposta orçamentária

193 Disponível em: https://www.anamatra.org.br/images/uploads/Anexos_Noticias/2016/lista-1838-adesoes.pdf.

Acesso em 11/06/2017. 194 Nota pública disponível em: https://www.anamatra.org.br/imprensa/noticias/22418-anamatra-ingressa-no-stf-

contra-cortes-no-orcamento-da-justica-do-trabalho. Acesso em: 17/11/2016

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69

originariamente encaminhada pela Justiça do Trabalho e, subsidiariamente, aduziu-se o corte

na medida do estipulado aos demais órgãos do poder judiciário195

:

“Requer, pois, a Anamatra, por ser medida de absoluta essencialidade para a

preservação da AUTONOMIA, INDEPENDÊNCIA, DIGNIDADE e

FUNCIONAMENTO REGULAR da Justiça do Trabalho NO ANO DE 2016, a

concessão da medida cautelar, para o fim declarar abusivo o padrão de corte

orçamentário imposto somente a este ramo do Poder Judiciário da União,

determinando-se à União (a) que promova em 2016 a execução de 100% da sua

proposta orçamentária encaminhada originariamente pela Justiça do Trabalho, seja

em relação a relação ao CUSTEIO, seja em relação ao INVESTIMENTO, ou

sucessivamente (b) que promova em 2016 a execução orçamentária de CUSTEIO e

INVESTIMENTO, para a Justiça do Trabalho, no mesmo parâmetro dos cortes efetuados em face dos demais órgãos do Poder Judiciário da União, ou seja, com o

corte linear de 15% para o custeio e de 40% para investimentos.”196

3.3.2 Os argumentos contidos no relatório da PLOA/16

O Relator da Lei Orçamentária, deputado Ricardo Barros (PP/PR), em relatório final do

PLOA/16, afirma expressamente que o corte orçamentário à Justiça do Trabalho, superior em

relação às demais áreas judicantes, é um meio de reflexão acerca da modernização da

legislação e da Justiça do Trabalho. Em outras palavras, para o Deputado, o corte se justifica

como instrumento de pressão política para o debate relativo à desregulamentação do direito do

trabalho por intermédio de reformas legais que reduzam a atuação da Justiça do Trabalho.197

De antemão, assinala-se a estratégia de desqualificação da legislação e das instituições

trabalhistas198

, apontando-se correlações sem dados empíricos. O relator do PLOA/16 afirma

195 Juízes questionam em ADI corte do orçamento da Justiça do Trabalho. Notícia disponível em:

http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=309441. Acesso em 07.11.2016. 196 STF. Petição inicial da ADIn 5468. Brasília, 03/02/2016. Disponível em:

http://redir.stf.jus.br/estfvisualizadorpub/jsp/consultarprocessoeletronico/ConsultarProcessoEletronico.jsf?seqobj

etoincidente=4920998. Acesso em 06/06/2017. 197 BRASIL. Relatório final do Projeto de Lei nº 7 – CN (PLOA 2016). Planalto Nacional, Brasília, DF, 13 de

dezembro de 2015. p. 19 e 20. Disponível em:

<http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=2074738>. Acesso em

05/06/2017. 198 Nesse sentido, Rodrigo Carelli associa o corte orçamentário Justiça do Trabalho promovido pela LOA/16 ao

conceito de assédio moral na obra de Marie-France Hirigoyen: “A autora indica também comportamentos, dentre outros, pelos quais pode ser considerada uma pessoa (ou uma instituição, no caso) assediada: constrangimento,

desqualificação, descrédito, isolamento, divisão e desestabilização pelo uso do paradoxo. Senão vejamos a

presença de todos esses elementos. O caso do corte nas verbas da Justiça do Trabalho ocorrido na votação pelo

Congresso Nacional da Lei Orçamentária de 2016 (Lei nº 13.255/2016) é exemplar do assédio moral sofrido pela

Justiça do Trabalho. A diminuição em 90% nas despesas de investimento e 29,4% nas de custeio impõe de forma

constrangedora a redução nas atividades normais da Justiça do Trabalho, impedindo-a, por meios transversos, de

realizar sua missão. O discurso do relator do orçamento é recheado de elementos de desqualificação da Justiça

do Trabalho, ora afirmando que ela é parcial, ora acusando que o Juiz trabalhista só quer despachar os

demandantes. Tenta desacreditar a Justiça do Trabalho, alegando que esse ramo do Judiciário não tem condições

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70

que as leis trabalhistas são condescendentes com os trabalhadores e estimulam a

judicialização dos conflitos, muito embora estudos apontarem no sentido de que as demandas

trabalhistas têm como motivação principal o não pagamento das verbas rescisórias. Inclusive,

não haveria propriamente um excesso de ações na Justiça do Trabalho em análise comparada

com os demais ramos judicantes199

. De fato, as leis materiais e processuais do trabalho

estipulam tratamentos diferenciados em relação ao empregado e o empregador, contudo, não

há que se falar em privilégio, muito menos em obsolescência do direito ou em parcialidade da

Justiça do Trabalho, uma vez que são concebidas como meio de equilíbrio, diante da

desigualdade de força existente na relação trabalhista.

Em sentido contrário, o discurso da modernização das relações de trabalho, proposto no

relatório, nega a desigualdade de forças e a dimensão do conflito social entre o empregado e

empregador, tendo em vista que diversas disposições legais são concebidas como

desequilíbrios a serem corrigidos. Nesse sentido, as reformas são apontadas não só como

necessárias, mas também como urgentes para a estabilização econômica das empresas, dentre

outras medidas apontadas, destaca-se a adoção da sucumbência proporcional, restrição à

justiça gratuita e indenização trabalhista, equiparação dos efeitos da revelia, redução do prazo

prescricional da demanda, etc. No final, o caráter antagônico da relação trabalhista é afastado

ao se afirmar que as mudanças, de forma complementar, beneficiariam os trabalhadores.

de dar conta de todas as ações ajuizadas.” A Justiça do Trabalho sob assédio moral: um caso de vida ou morte.

CARELLI, Rodrigo de Lacerda. JOTA. Disponível em: https://jota.info/artigos/justica-trabalho-sob-assedio-

moral-um-caso-de-vida-ou-morte-19102016. Publicado em: 19/10/2016. Acesso em: 05/06/2017. 199 Rodrigo Carelli também aborda a existência de 5 mitos relativos à Justiça do Trabalho, refutando o

posicionamento de que a judicialização dos conflitos na Justiça do Trabalho é decorrência da legislação

trabalhista: “No ano de 2015, 46,9% das ações em curso eram relativas a pagamento das verbas rescisórias

(Relatório Justiça em Números 2015, Conselho Nacional de Justiça), sendo que a maior parte desses

trabalhadores, provavelmente, foram encaminhados pela própria empresa à Justiça do Trabalho para conciliar e reduzir o valor que o trabalhador tem por direito a receber. Ou seja, quase a metade da demanda na Justiça do

Trabalho se dá pelo simples não pagamento de verbas na dispensa do trabalhador, não tendo qualquer relação

com rigidez do Direito do Trabalho.” Além disso, afasta a existência de excesso de ações na Justiça do Trabalho:

“Os jornais estampam manchetes dizendo que a Justiça do Trabalho receberá cerca de três milhões de ações este

ano. Esse número, em termos absolutos, realmente assusta. Mas se olharmos em termos relativos, a Justiça do

Trabalho recebe 13,8% dos casos novos, muito menos processos que a Justiça Estadual (69,7%), e menos ainda

que a Justiça Federal, que tem praticamente um réu, a União Federal (14%).” CARELLI, Rodrigo. Os 5 mitos da

Justiça do Trabalho. JOTA. Disponível em: https://jota.info/trabalho/os-5-mitos-da-justica-trabalho-07092016.

Publicado em: 07/09/2016. Acesso em: 05/06/2016.

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3.3.3 O princípio da separação dos poderes e a compatibilização da LOA/16 com o

sistema constitucional brasileiro

Em 24 de maio de 2016, a Procuradoria-Geral da República manifestou-se no sentido

do conhecimento da ADIn 5468 e, no mérito, pela improcedência da ação, afastando a

alegação da ANAMATRA de que houve abuso do poder legislativo no âmbito do corte

orçamentário à Justiça do Trabalho. Segundo o parecer, possível intervenção do STF

ocasionaria violação à competência do Congresso Nacional e ao princípio da separação dos

poderes, na forma dos artigos 166, §3 e 2º da CRFB/88. Afirmando-se, no Parecer Geral, que

não se pode estabelecer vínculo entre os argumentos contidos no relatório final da PLOA/16

com as razões de aprovação da LOA/16.200

Em 29 de junho de 2016, houve o julgamento da ADIn 5468 pelo plenário do STF,

preliminarmente, conheceu-se por maioria da ação, vencido o Ministro Marco Aurélio, no

mérito. Seguindo-se o voto do Ministro relator Luiz Fux, também por maioria, decidiu-se pela

improcedência da ação, vencidos os Ministros Celso de Mello, Ricardo Lewandowski e Rosa

Weber201

. O relator, Ministro Luiz Fux, afastou o argumento sobre o caráter retaliativo da

medida legislativa, objeto de impugnação, e a afronta à autonomia e independência do poder

judiciário (art. 99 da CRFB/88), assinalando que houve o cumprimento ao devido processo

legal (art. 166, §§ 3º e 4º), concordando com os fundamentos elencados pelo Ministério

Público, em especial, naquilo que tange aos efeitos não vinculativos do parecer do relatório

final da LOA/16. Em outros termos, asseverou-se a possível interferência do legislativo sobre

os recursos do poder judiciário na lei orçamentária anual, violando o princípio da separação

dos poderes e do devido processo legal, uma vez que o parecer do relatório final não é

200 STF. Parecer ministerial ADIn 5468. Brasília, 24/05/2016. Disponível em:

http://redir.stf.jus.br/estfvisualizadorpub/jsp/consultarprocessoeletronico/ConsultarProcessoEletronico.jsf?seqobj

etoincidente=4920998. Acesso em 06/06/2016. 201 Segue a decisão, conforme consulta realizada na plataforma eletrônica do STF “Decisão: Preliminarmente, o

Tribunal, por maioria e nos termos do voto do Relator, reconheceu a legitimidade ativa ad causam da requerente

e conheceu da ação, vencido o Ministro Marco Aurélio. No mérito, o Tribunal, por maioria e nos termos do voto do Relator, julgou improcedente o pedido formulado na ação direta, vencidos os Ministros Celso de Mello,

Ricardo Lewandowski (Presidente) e Rosa Weber, que o julgavam procedente. Em seguida, o Tribunal, por falta

de quórum, deliberou fixar tese na próxima assentada”. STF. Decisão relativa à ADIn 5468. Brasília,

29/06/2017. Disponível em:

http://www.stf.jus.br/portal/processo/verProcessoAndamento.asp?incidente=4920998. Acesso em: 06/06/2017.

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vinculativo. O voto do relator Luiz Fux foi seguido pelos Ministros Edson Fachin, Luís

Roberto Barroso, Dias Toffoli, Cármen Lúcia, Gilmar Mendes e Marco Aurélio.202

Já os votos divergentes, proferidos pelos ministros Celso de Mello, Ricardo

Lewandowski e Rosa Weber, convergiram no sentido do reconhecimento da arbitrariedade e

incompatibilidade do corte orçamentário impugnado com o comando constitucional de

preservação da competência da Justiça do Trabalho e da proteção aos direitos sociais (artigos

7 e 99 da CRFB/88)203

, acolhendo a inconstitucionalidade diante do princípio do não

retrocesso social. Contudo, o discurso da austeridade foi vitorioso no Supremo Tribunal

Federal, em julgamento representativo de como o direito do trabalho e suas instituições, tais

como a Justiça do Trabalho, são diretamente atingidas pelas crises econômicas e políticas

ultraliberais, como as que chegam com força na atual conjuntura nacional .

202

Plenário, 30.06.2016.” STF. Tese referente ao julgamento da ADIn 5468. Brasília, 30/06/2016. Disponível

em: http://www.stf.jus.br/portal/processo/verProcessoAndamento.asp?incidente=4920998. Acesso em:

06/06/2017. 203 “O ministro Celso de Mello divergiu do relator e votou pela procedência da ADI. Seu voto fundamentou-se na afronta à autonomia do Judiciário. Segundo ele, a manipulação do processo de elaboração e execução da Lei

Orçamentária Anual pode atuar como instrumento de dominação, pelo Legislativo, dos outros Poderes da

República, ‘muitas vezes culminando com a imposição de um inadmissível estado de submissão financeira e de

subordinação orçamentária absolutamente incompatível com a autonomia que a própria Constituição outorgou’.

No caso em discussão, Celso de Mello considerou que o Congresso exerceu sua competência ‘de forma

arbitrária, imoderada, irrazoável e abusiva’ [...] A divergência foi seguida pelos ministros Ricardo Lewandowski

e Rosa Weber. O presidente do STF afirmou que os cortes orçamentários representam um atentado ao

funcionamento da Justiça do Trabalho, frustrando a possibilidade de concretização dos direitos sociais,

garantidos no artigo 7º da Constituição Federal, e o pleno livre exercício das competências da Justiça do

Trabalho. (GRIFO NOSSO) STF julga improcedente ADI contra cortes orçamentários da Justiça do Trabalho.

PLATAFORMA ELETRÔNICA STF. Brasília, 05/06/2016. Disponível em

http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=319997. Acesso em 07/11/2016.

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73

CONCLUSÃO

Muito embora não haja evidências empíricas comprovando efeitos reais positivos de

políticas de austeridade para a estabilização econômica, especialmente no âmbito trabalhista,

a desregulamentação do direito do trabalho, através de reformas legislativas, é apontada como

uma medida necessária pelo discurso hegemônico. Porém, tal discurso, além de defender a

estabilização da economia, também avança na defesa da adoção de políticas de austeridade

para que se promova o crescimento econômico, apesar de aqui, novamente, faltar dados que

comprovem a relação de casualidade entre alteração do direito do trabalho e alargamento do

desenvolvimento econômico-financeiro. Numa outra dimensão, constata-se nível de

concentração de renda nunca antes visto na história, conforme relatório realizado pela

organização não governamental britânica Oxfam publicado em 2016. Nesse sentido, há de se

ressaltar a estratégia da utilização, pelo pensamento hegemônico neoliberal, do discurso da

crise econômica, na intenção de reconfigurar a relação de poder de classe, protagonizando a

implementação de medidas de redução da proteção institucional ao trabalhador.

A estratégia de naturalização das desigualdades sociais e de culpabilização dos

indivíduos pelos efeitos crise econômica conectam-se, na sociedade portuguesa pós-crise de

2007/2008, em um projeto neoliberal configurado a partir da austeridade econômica. Tal

projeto é introduzido no Brasil no contexto de crise político-econômica, consolidada nos anos

de 2015/2016, com reflexos substanciais ao Direito e à Justiça do Trabalho. Há a ascensão de

uma agenda governamental autointitulada de “salvação nacional", voltada à disseminação de

um pretenso pacto social em prol da estabilização econômica. Como trabalhado, os

argumentos empregados afirmam a inevitabilidade da introdução de políticas de austeridade

que se direcionem ao ajuste fiscal, à redução do déficit e à contenção dos gastos públicos.

Diante a desestruturação do mercado de trabalho brasileiro, o governo assume o papel

de detentor da austeridade legítima, articulando o sacrifício individual à racionalidade que

destaca a emergência para a promoção de reformas constitucionais e infraconstitucionais,

mesmo que elas sejam antidemocráticas e desestruturem os sistemas de proteção social. Por

este motivo, estudou-se que o Congresso, apesar de ciente dos efeitos sociais e políticos de

suas políticas de austeridades, a exemplo do caso da EC nº 95, foi capaz de aprovar um

congelamento para os investimentos públicos para os próximos 20 anos.

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Evidencia-se ainda a influência direta, nas políticas governamentais, promovida pela

articulação entre entidades patronais e organismos financeiros internacionais, impondo uma

concepção eminentemente mercantil do direito do trabalho, conforme foi destacado nos

documentos da CNI e do FEM. Nesse sentido, o processo de “austerização” conecta-se ao

questionamento da função protetiva do direito do trabalho, haja vista que por meio de tais

políticas desvirtuam-se os valores sociais, em especial, quando se argumenta que o direito do

trabalho é um custo e a legislação trabalhista um óbice à competitividade do Brasil no

mercado global. Em suma, as reformas trabalhistas são concebidas como ajustes de mercado,

no sentido da redução do custo da mão-de-obra, escamoteada também por argumentos

econômicos, que mencionam a necessidade de modernização, de eficiência e de

produtividade, expressos em nível institucional, como no relatório final do PLOA/2016. Outra

característica, advinda do paradigma da austeridade, é a negação da dimensão do conflito

social e da desigualdade de forças existentes na relação trabalhista, acentuando o domínio da

classe capitalista.

É certo afirmar que o projeto de austeridade neoliberal no Brasil envolve a atuação dos

três poderes da república, mutuamente se auxiliando para a desestruturação do sistema

institucional de proteção ao trabalhador e consolidação do direito do trabalho da exceção.

Além das reformas legislativas, inclusive, com a direta atuação do executivo por intermédio

de MP’s, houve a restrição de direitos e garantias trabalhistas com a atuação do STF.

Porquanto, vê-se que a Suprema Corte se afigura como ator, chancelando as políticas de

austeridade, como na emblemática ação relativa ao corte orçamentário à Justiça do Trabalho

promovida pela LOA/16. No âmbito do julgamento da ADIn 5468, paira a discussão referente

às duas formas de racionalidade. De um lado, tem-se a racionalidade lógico-formal, amparada

pelo princípio da separação dos poderes. De outro, a material, com vistas à análise do mérito

do corte orçamentário e da concretização dos direitos sociais, utilizando-se do princípio da

autonomia do poder judiciário e da preservação da competência da Justiça do Trabalho

constitucionalmente assegurados. O STF, ao julgar improcedente a ADIn 5468, privilegiou a

racionalidade lógica formal, no sentido de afastar-se da análise do mérito da questão,

constituindo um marco representativo no processo de liberalização do direito do trabalho

brasileiro. Assim, esse texto situa a atuação do Tribunal como contributiva para a chancela

das políticas de austeridade, construindo uma concepção jurídica-mercantil em detrimento da

concretização dos direitos sociais, afirmando uma jurisprudência da austeridade a partir do

princípio da separação dos poderes.

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