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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS E ECONÔMICAS
FACULDADE NACIONAL DE DIREITO
Crise econômica e direito do trabalho: O paradigma da austeridade no contexto da crise
brasileira dos anos de 2015/2016
ANTONIO LEONARDO SILVA CARNEIRO
Rio de Janeiro
2017/1º Semestre
ANTONIO LEONARDO SILVA CARNEIRO
Crise econômica e direito do trabalho: O paradigma da austeridade no contexto da crise
brasileira dos anos de 2015/2016
Monografia de final de curso, elaborada no
âmbito da graduação em Direito da
Universidade Federal do Rio de Janeiro, como
pré-requisito para obtenção do grau de
bacharel em Direito, sob a orientação da
Professora Doutora Sayonara Grillo
Coutinho Leonardo da Silva.
Rio de Janeiro
2017/1º Semestre
ANTONIO LEONARDO SILVA CARNEIRO
Crise econômica e direito do trabalho: O paradigma da austeridade no contexto da crise
brasileira dos anos de 2015/2016
Monografia de final de curso, elaborada no
âmbito da graduação em Direito da
Universidade Federal do Rio de Janeiro, como
pré-requisito para obtenção do grau de
bacharel em Direito, sob a orientação da
Professora Doutora Sayonara Grillo
Coutinho Leonardo da Silva.
Data da Aprovação: __ / __ / ____.
Banca Examinadora:
_________________________________
Prof.ª Sayonara Grillo Coutinho Leonardo da Silva
_________________________________
Membro da Banca
_________________________________
Membro da Banca
Rio de Janeiro
2017/1º Semestre
À Fernanda Oliveira, minha amada mãe, que
se formou em Psicologia amamentando-me.
Dedico este trabalho a todas as mães
universitárias.
AGRADECIMENTOS
Aos meus pais, Carneiro Jr. e Fernanda, por todo incentivo e toda confiança; o amor
de vocês é minha inspiração diária.
À minha linda irmã, Ana Luiza, pelo companheirismo e pela amizade. Aos meus avós,
padrinhos, tios, primos e amigos; o carinho de vocês é fundamental.
Ter suportado a saudade de minha família maranhense só foi possível porque contei
com o apoio de pessoas tão queridas. À Buba, Lêda e Humberto, que foram determinantes
nesta conquista.
Ao Movimento Escoteiro, pela minha alegria de viver.
Agradeço a todos aqueles que contribuíram para a minha formação acadêmica: aos
mestres, servidores e trabalhadores terceirizados; é indescritível o privilégio de ter estudado
na Faculdade Nacional de Direito. Destaco a importância das atividades realizadas no
Laboratório de Direitos Humanos (LADIH) e no grupo de pesquisa Configurações
Institucionais e Relações de Trabalho (CIRT), além das monitorias nas áreas de Direito
Internacional Público e Direito Admnistrativo.
Agradeço, especialmente, a professora Sayonara, por todo apoio e confiança
depositados em mim.
Dentre tantas realizações, a Nacional me proporcionou amizades inesquecíveis e um
amor especial. À Thizá, que tornou mais completa minha trajetória no Rio de Janeiro.
Que Deus me guie nos novos desafios e experiências que virão, recordando-me das
responsabilidades concernentes a casa em que me formei.
“Desconfiai do mais trivial,
na aparência singelo.
E examinai, sobretudo, o que parece habitual.
Suplicamos expressamente:
não aceiteis o que é de hábito
como coisa natural.
Pois em tempo de desordem sangrenta,
de confusão organizada,
de arbitrariedade consciente,
de humanidade desumanizada,
nada deve parecer natural.
Nada deve parecer impossível de mudar.”
(Bertold Brecht)
RESUMO
A monografia analisa a relação histórica entre o direito do trabalho e a crise econômica na
manutenção do capitalismo, tendo como enfoque o padrão de crises instaladas a partir do
fenômeno da financeirização do capital e da ascensão do neoliberalismo, problematizando-se
a relação entre a austeridade económica, o desmantelamento do Estado-providência e a
flexibilização das relações laborais. O objeto cinge-se ao exame da introdução das políticas de
austeridade na conjuntura da crise brasileira dos anos de 2015/2016 e dos seus reflexos no
âmbito do direito do trabalho, tomando como base os conceitos de austeridade econômica e
direito do trabalho de exceção em António Casimiro Ferreira. Por intermédio do projeto de
austeridade neoliberal, os pressupostos básicos do direito do trabalho são negados a partir da
confluência de três aspectos principais: o paradoxo da soberania, a temporalidade de exceção
e a jurisprudência de austeridade. Pretende-se analisar esses três aspectos assinalados na
emergência do direito do trabalho de exceção no Brasil, tendo em vista a disseminação de
uma racionalidade pautada na urgência e inevitabilidade de ajustes econômicos estruturais
como resposta a desestruturação do mercado de trabalho brasileiro, ensejando conjunto de
medidas de restrições aos direitos sociais assentadas no discurso da austeridade.
Palavras-chave: Crise econômica; Neoliberalismo; Flexibilização das relações laborais;
Austeridade econômica; Direito do trabalho de exceção.
ABSTRACT
The monograph analyses the historical relation between labor law and economic crisis in the
maintenance of capitalism, focusing on the pattern of installed crisis as of the phenomenon of
financialisation of the capital and the growth of neoliberalism, discussing the relation
between economic austerity, dismantling of the welfare state and flexibilization of labor
relations. The object girds to the examination of the introduction of policies of austerity
during the conjecture of the Brazilian crisis in the years of 2015/2016 and its reflexions in the
scope of labor law, taking as a basis the concepts of economic austerity and labor law of the
exception in António Casimiro Ferreira. Through the project of neoliberal austerity, the basic
assumptions of labor law are denied as of the confluence of three main aspects: the paradox of
sovereignty, the temporality of the exception and the jurisprudence of the austerity. The
intention is to analyse these three pointed out aspects in the emergency of labor law of
exception in Brazil, bearing in mind the dissemination of a rationality ruled by the urgency
and inevitability of the structural economic adjustments as an answer to the disruption of the
Brazilian labor market, leading to a group of restrictive measures to the social rights settled by
the discourse of austerity.
Key words: Economic crisis; Neoliberalism; Flexibilization of labor relations; Economic
austerity; Labor law of exception.
LISTA DE ABREVIATURAS
ANAMTRA Associação Nacional dos Magistrados Trabalhistas
ACP Ação Civil Pública
ADPF Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental
ARE Agravo em Recuso Extraordinário
CLT Consolidação das Leis Trabalhistas
CAGED Cadastro Geral de Empregados e Desempregados
CNI Confederação Nacional das Indústrias
CRFB Constituição da República Federativa do Brasil
EC Emenda à Constituição
FAT Fundo de amparo ao trabalhador
FGTS Fundo de Garantia do Tempo de Serviço
FMI Fundo Monetário Internacional
FEM Fórum Econômico Mundial
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
INSS Instituto Nacional do Seguro Social
IPEA Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
LOA Lei orçamentária Anual
MP Medida Provisória
MPT Ministério Público do Trabalho
TEM Ministério do Trabalho e Emprego
OCDE Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico
OMC Organização Mundial do Comércio
OIT Organização Internacional do Trabalho
OS Organização Social
PDI Plano de dispensa incentivada
PDV Plano de dispensa voluntária
PEC Proposta de Emenda à Constituição
PNADC Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua
PL Projeto de Lei
PLC Projeto de Lei da Câmara
PLOA Projeto de Lei Orçamentária Anual
PME Pesquisa Mensal de Emprego
PMDB Partido do Movimento Democrático Brasileiro
PPE Programa de Proteção ao Emprego
PSE Programa de Seguro-Emprego
RE Recurso Extraordinário
STF Supremo Tribunal Federal
TST Tribunal Superior do Trabalho
LISTA DE TABELA/GRÁFICOS
Tabela 1: Taxa de desocupação das pessoas de 14 anos ou mais de idade, na semana de
referência - Brasil, Grandes Regiões e Unidades da Federação. PNADC................................44
Gráfico 1: Taxas de subutilização da força de trabalho das pessoas de 14 anos ou mais de
idade – Brasil – (2012 – 2016). PNADC..................................................................................45
Tabela 2: Emprego e Renda. Criação de novas vagas formais. Carta de conjuntura/Out. 2016.
IPEA...................................................................................................................... ....................45
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO........................................................................................................................13
1. CRISE ECONÔMICA, DIREITO DO TRABALHO E A RACIONALIZAÇÃO DO
CAPITALISMO.................................................................................................................. ......16
1.1 Lineamentos acerca da geografia histórica do capitalismo e a formação do direito do
trabalho..................................................................................................................................16
1.2 O enigma do capital: as crises econômicas enquanto instrumentos de reconfiguração do
domínio de classe..................................................................................................................21
1.3 O discurso da crise, o neoliberalismo e a redução da proteção institucional ao
trabalhador............................................................................................................................24
1.4 A financeirização do Capital e a crise econômica mundial de 2007/2008.....................29
2. O PARADIGMA DA AUSTERIDADE E O DIREITO DO TRABALHO DE
EXCEÇÃO................................................................................................................................34
2.1 A austeridade econômica, o desmantelamento do Estado Social e a flexibilização das
relações laborais....................................................................................................................34
2.2 A disseminação do medo e da incerteza e a institucionalização da excepcionalidade...38
2.3 A mercadorização do direito do trabalho e o rompimento do pacto democrático..........42
3. A “AUSTERIZAÇÃO” NO BRASIL..................................................................................43
3.1 Crise política, crise econômica e a desestruturação do mercado de trabalho
brasileiro................................................................................................................... .............43
3.2 O direito do trabalho de exceção no Brasil.....................................................................49
3.2.1 O paradoxo da soberania: a prevalência do negociado versus legislado.................50
3.2.2 A temporalidade de exceção: a PEC nº 241/2016 (EC nº 95) e a utilização de
medidas provisórias pelo Poder Executivo.......................................................................53
3.2.3 A jurisprudência de austeridade: a atuação do Supremo Tribunal Federal na retirada
de direitos trabalhistas.......................................................................................................61
3.3 ADIn 5468 à luz da jurisprudência de austeridade.........................................................68
3.3.1 Breve contextualização............................................................................................68
3.3.2 Os argumentos contidos no relatório da PLOA/16..................................................69
3.3.3 O princípio da separação dos poderes e a compatibilização da LOA/16 com o
sistema constitucional brasileiro.......................................................................................71
CONCLUSÃO..........................................................................................................................73
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.....................................................................................75
13
INTRODUÇÃO
O presente trabalho intitulado “Crise econômica e direito do trabalho: O paradigma da
austeridade no contexto da crise brasileira dos anos de 2015/2016” analisa a relação entre o
direito do trabalho e a crise econômica na manutenção do modo de produção capitalista.
Nesse sentido, a análise será direcionada ao padrão de crises instaladas a partir do fenômeno
da financeirização do capital e da ascensão do pensamento econômico neoliberal,
problematizando-se a relação entre a austeridade econômica, o desmantelamento do Estado
Social e a flexibilização das relações laborais. A conjuntura de recessão econômica nacional
consolidada nos anos de 2015/2016 é situada como reflexo da crise econômica mundial de
2007-2008, tida como auge do padrão de crises financeiras.
O objeto da pesquisa volve-se para o exame das políticas de austeridade na conjuntura
da crise brasileira dos anos de 2015/2016 e dos seus reflexos no âmbito do direito do trabalho,
tomando como base os conceitos de austeridade econômica e do direito do trabalho de
exceção em Antônio Casimiro Ferreira1. Estuda-se a emergência do direito do trabalho de
exceção no Brasil, tendo em vista a disseminação de uma racionalidade pautada na urgência e
inevitabilidade de ajustes econômicos estruturais como resposta a desestruturação do mercado
de trabalho brasileiro, estabelecendo-se um conjunto de proposições assentadas no discurso da
austeridade no sentido da restrição dos direitos sociais, dentre os quais, o corte no orçamento
reservado à Justiça do Trabalho promovido pela LOA/2016 que afetou o funcionamento deste
ramo especializado.
No primeiro capítulo, tomando como referenciais teóricos Manuel-Carlos Palomeque
David Harvey analisa-se a formação histórica do direito do trabalho, enquanto instrumento de
equilíbrio estrutural dos interesses antagônicos concernentes ao conflito base do capitalismo
industrial2, relacionando-o às crises econômicas, elemento central na reconfiguração do
domínio capitalista3. Problematiza-se a ascensão do pensamento econômico neoliberal e a
redução da proteção institucional do trabalhador a partir do discurso da crise econômica. Por
fim, há a contextualização do fenômeno da financeirização do capital e suas implicações na
crise econômica mundial iniciada nos anos de 2007/2008.
1 FERREIRA, António Casimiro. Sociedade da austeridade e direito do trabalho de exceção. Porto: Vida
Econômica, 2012. 2 PALOMEQUE, Manuel-Carlos. Direito do Trabalho e Ideologia. Coimbra: Almedina, 2001, p. 13-44. 3 HARVEY, David. O enigma do capital e as crises do capitalismo. 1ª edição. São Paulo: Boitempo, 2011. .
14
Em Portugal, nos anos de 2011/2012, Antonio Casemiro Ferreira pesquisou a
emergência do paradigma da austeridade e do direito do trabalho de exceção como reflexo das
respostas governamentais à crise econômica Mundial de 2007/2008. Segundo o autor,
estabeleceu-se um projeto de austeridade neoliberal fundamentado pelo sacrifício individual
e legitimado pelo medo e incerteza. Nesse projeto, os pressupostos básicos do direito do
trabalho são negados por intermédio da confluência de três aspectos principais: o paradoxo da
soberania, a temporalidade de exceção e a jurisprudência de Austeridade4, objeto de análise
do segundo capítulo.
No terceiro capítulo, tomando como base levantamento de dados do IBGE e IPEA,
assinala-se a desestruturação do mercado de trabalho brasileiro, nos anos de 2015/2016, como
consequência do contexto de instabilidades político-econômicas. Pretende-se analisar aspectos
conjunturais da emergência de um direito do trabalho de exceção no Brasil, tendo em vista a
consolidação da plataforma de austeridade neoliberal5, emplacada mais fortemente pelo
governo de Michel Temer, logo após o impeachment da presidente Dilma Rousseff. O
primeiro aspecto analisado é a pretensa reformulação das fontes do direito do trabalho no
Brasil, objetivando acrescentar a prevalência do negociado sobre o legislado, a partir da
tramitação da PL nº 6787/2016 (PLC nº 38/2017) que propõe a inclusão do artigo 661-A na
CLT. O segundo aspecto, tem como enfoque a análise da tramitação da PEC 241/2016 (EC nº
95/2016), relativa ao teto de gastos públicos e a utilização de medidas provisórias pelo
executivo na restrição de direitos e garantias ao trabalhador, que foram selecionadas e
catalogadas em forma de tabela6.
O último aspecto analisado foi a atuação do STF na chancela das políticas de
austeridade. Nesse sentido, foi realizada uma pesquisa jurisprudencial7, reunindo uma série de
decisões voltadas à restrição de direitos trabalhistas, as quais podem ser estudadas sob a
perspectiva de afirmação de uma jurisprudência de austeridade pelo Tribunal. Dentre as ações
4 FERREIRA, António Casimiro. Sociedade da austeridade e direito do trabalho de exceção. Porto: Vida
Econômica, 2012. 5 Uma ponte para o futuro. Fundação Ulysses Guimarães, PMDB, Brasília, 29 out. 2015. 6 Todas as informações foram obtidas em consulta à plataforma eletrônica da Câmara dos Deputados:
http://www4.planalto.gov.br/legislacao/portallegis/legislacao1/medidasprovisorias/2011a2014;http://www4.plan
alto.gov.br/legislacao/portal-legis/legislacao-1/medidas-provisorias/medidas-provisorias-2015-a-2018. Acesso
em: 03/06/2017. 7 Todas as informações foram obtidas a partir da consulta à plataforma eletrônica do STF:
http://www.stf.jus.br/portal/processo/pesquisarProcesso.asp. Acesso em: 04/06/2017.
15
selecionadas em tabela, foi examinada especificadamente a ADIn 5468, relativa ao corte de
gastos orçamentários à Justiça do Trabalho, promovida pela LOA/2016, que repercutiu em
amplo debate sobre a desconstrução do direito do trabalho na sociedade. Após
contextualização, foram apresentados os argumentos contidos no PLOA/2016, objeto de
impugnação pela ANAMATRA, bem como a utilização pelo STF do princípio da separação
dos poderes para a compatibilização dessa medida legislativa com a CRFB/1988.
O trabalho adota uma perspectiva interdisciplinar, com ênfase nas áreas do direito do
trabalho, direito constitucional e sociologia do direito. A metodologia envolveu o
levantamento bibliográfico, legislativo e jurisprudencial, além da análise documental
legislativa e judicial.
16
1. CRISE ECONÔMICA, DIREITO DO TRABALHO E A RACIONALIZAÇÃO DO
CAPITALISMO
O presente capítulo analisa a relação entre o direito do trabalho e a crise econômica na
legitimação do modo de produção capitalista. Primeiramente, examinam-se os aspectos
históricos de formação do ramo jurídico laboral, contextualizado a partir da ascensão do
capitalismo industrial e do novo conflito estabelecido na base da sociedade. Em seguida, a
crise econômica é analisada como um dos fundamentos de reprodução do capitalismo, vez
que atua historicamente na reconfiguração do domínio de classe. Após, problematiza-se a
ascensão do pensamento econômico neoliberal e a redução da proteção institucional do
trabalhador a partir do discurso da crise econômica. Por fim, examina-se o fenômeno da
financeirização do capital e das suas implicações na crise econômica mundial de 2007/2008.
1.1 Lineamentos acerca da geografia histórica do capitalismo e a formação do direito do
trabalho
Analisar a formação do direito do trabalho pressupõe situá-lo enquanto produto do
modo de produção capitalista industrial8. Tal premissa está diretamente associada à
consolidação da relação empregatícia como mecanismo de vinculação do trabalhador ao
modelo econômico, tomando como referência o trabalho livre, subordinado e oneroso9. Há a
emergência de novo conflito social entre empregador e trabalhador assalariado, cuja relação
8 “O direito do trabalho é, desde logo, uma categoria cultural fruto do sistema capitalista industrial1. Não é,
portanto, a resposta normativa ao conflito social laboral ou de trabalho em geral, na medida em que todas as
sociedades históricas conheceram o trabalho como fonte de conflitos sociais sem que, por isso, possa registrar
nesse seio o nascimento daquele sistema normativo2, mas propriamente a reação ante o conflito industrial, o
conflito entre o capital e o trabalho assalariado na sociedade capitalista industrial, o conflito que se gera na
<grande indústria> do séc. XIX, caracterizada pela dupla concentração de capitais e de trabalhadores. Não é,
pois, mais um conflito, dentro de uma estrutura social puramente conflituosa, mas, antes, de um autêntico motor
de todas as suas contradições, do seu conflito central ou paradigmático.” PALOMEQUE, Manuel-Carlos.
Direito do Trabalho e Ideologia. Coimbra: Almedina, 2001, p. 17. 9 “A relação empregatícia, como categoria socioeconômica e jurídica tem seus pressupostos despontados com o
processo de ruptura do sistema produtivo feudal. Ao longo do desenrolar da Idade Moderna. Contudo, apenas mais a frente, no desenrolar do processo da Revolução Industrial, é que irá efetivamente se estruturar como
categoria específica, passando a responder pelo modelo principal de vinculação do trabalhador livre ao sistema
produtivo emergente. Somente a partir desse último momento, situado desde a Revolução Industrial do século
XVII (e principalmente século XVIII), é que a relação empregatícia (com a subordinação que lhe é inerente)
começará seu roteiro de construção de hegemonia no conjunto das relações de produção fundamentais da
sociedade industrial contemporânea. Apenas a partir do instante em que a relação de emprego se toma a
categoria dominante como modelo de vinculação do trabalhador ao sistema produtivo, é que se pode iniciar a
pesquisa sobre o ramo jurídico especializado que se gastou em torno dessa relação empregatícia.” DELGADO,
Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. ed. 14. São Paulo: LTR, 2015, p. 91.
17
expressa interesses essencialmente antagônicos, interligados, respectivamente, na
diferenciação relativa ao domínio dos meios de produção e à composição da força de trabalho:
“No sistema de produção capitalista, o processo de produção de bens e serviços
expressa-se através da combinação de diversos fatores que intervêm no mesmo, a
partir de uma relação básica, que é a troca de trabalho assalariado por salário. [...]
Na relação de troca de trabalho por salário, os sujeitos que a protagonizam esgrimem
interesses, não só distintos, mas contrapostos. Tal significaria que na própria raiz da
relação de trabalho assalariado se instalou um conflito social de carácter estrutural
(contraposição de interesses entre aqueles dominam os meios de produção e aqueles
que oferecem exclusivamente trabalho dependente).”10
Marx destaca o caráter revolucionário promovido pelo Capital, ressaltando o incremento
do modelo produtivo baseado na cooperação, isto é, “forma de trabalho onde muitos operários
trabalham lado a lado e em conjunto, num mesmo processo de produção, ou em processos
diferentes, mas relacionados”11
, fundamentado pela divisão do trabalho, classicamente
expressa na manufatura12
. Contudo, ruptura paradigmática há com o surgimento da grande
indústria, visto que esta, agora simbolizada pela máquina, reconfigura o pressuposto inicial da
transformação produtiva, que não é mais a força de trabalho13
.
É imprescindível destacar os fatores chaves do processo de ascensão do capitalismo
enquanto categoria dominante, quais sejam as revoluções burguesa e industrial. A
racionalidade liberal transformou-se em concepção de mundo,14
fundamentando-se a partir da
igualdade jurídica formal e a autonomia da vontade. Em primeira análise o impacto é
reconhecer sujeitos de direito, até então juridicamente inexistentes no âmbito das relações
laborais, sob a figura do trabalhador “livre”. Daí decorre a inequívoca problemática na relação
de poder-dependência, significando que o trabalhador assalariado, além de se submeter à
sujeição produtiva típica, é também economicamente dependente do empregador15
.
Esse processo histórico conduz a um contexto de superexploração do trabalhador e,
gradativamente, a necessidade de intervenção do Estado, que já não mais pode se abster,
10 PALOMEQUE, Manuel-Carlos. Direito do Trabalho e Ideologia. Coimbra: Almedina, 2001, p. 17-18. 11 MARX, KARL. O Capital. 2. Ed. Resumida por Borchardt, Julian. Traduzida por SCHMIDT, Ronaldo Alves. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1969, p. 58. 12 Op. Cit. p. 64. 13 “Na manufatura, o ponto de partida da transformação do modo de produção é a fôrça de trabalho; na grande
indústria é o meio de trabalho. Logo, é preciso de início procurar saber como a máquina se distingue do
instrumento de trabalho [...] Desde que a verdadeira ferramenta, operando na matéria-prima, passou do homem
para o mecanismo, a simples ferramenta transformou-se em máquina.” Op. Cit. p. 81-82. 14
PALOMEQUE, Manuel-Carlos. Direito do Trabalho e Ideologia. Coimbra: Almedina, 2001, p. 20-21. 15 NUNES, António José Avelãs. Os trabalhadores e a crise do capitalismo. 1.ed. Florianópolis: Empório do
Direito, 2016, p. 33.
18
conforme determinava a doutrina liberal clássica, pois a crescente mobilização dos
trabalhadores, a partir de uma construção de consciência coletiva, pressionava o Estado a
responder esse dilema, até mesmo para o intuito de manutenção do sistema capitalista16
. É
justamente no cerne dessa conjuntura que o direito do trabalho erige, com a percepção de que
a relação laboral sui generis estabelecida pelo modo de produção capitalista industrial deveria
ser regulada por ramo jurídico especializado e unitário:
“A confrontação entre o trabalho assalariado e o capital informa, assim, transversal e
longitudinalmente, a sociedade de classes, o que iria exigir, historicamente, a criação
de uma nova estrutura normativa canalizadora do novo conflito social básico, uma
vez que eram inúteis já, a tal fim, os corpos normativos da sociedade pré-industrial,
que seria então, o ordenamento jurídico-laboral. A funcionalidade ou razão histórica
do Direito do Trabalho como disciplina jurídica independente é, por isso, a de servir
ao processo de juridificação do conflito entre o trabalhador assalariado e o capital,
da sua canalização ou institucionalização pelo Estado.”17
Classicamente, apontam-se quatro fases determinantes para o desenvolvimento do
direito do trabalho, quais sejam, formação, intensificação, consolidação e autonomia.18
É
válido ressaltar a importância histórica dessa análise, contudo, deve se ter em mente o seu
caráter eminentemente descritivo. Em outras palavras, as quatro fases não constituem uma
periodização explicativa do substrato de formação do direito do trabalho nos países
capitalistas centrais, apesar de tais fases se referirem à formação do direito do trabalho nestes
países19
. À procura de compreensão mais geral e sistemática deste fenômeno, aborda
16 “As terríveis consequências do maquinismo e da exaltação capitalista dos princípios liberais, haveriam de
conduzir a quadros negros: jornadas de trabalho esgotantes (<de sol a sol>), salários de fome (no limite da
subsistência física do trabalhador, que permitisse a reprodução da força de trabalho), condições laborais
precárias e ambientes nocivos e insalubres; exploração qualificada do trabalho feminino e dos menores (as chamadas < médias forças>), relativamente aos quais as miseráveis condições gerais se agravam; [...] Em suma,
tinha-se atingindo a exploração sistemática do proletariado industrial, que via, realmente, ameaçada a sua
permanência histórica como grupo social diferenciado.” PALOMEQUE, Manuel-Carlos. Direito do Trabalho e
Ideologia. Coimbra: Almedina, 2001, p. 23-24. 17 PALOMEQUE, Manuel-Carlos. Direito do Trabalho e Ideologia. Coimbra: Almedina, 2001, p. 19. 18 Segundo Maurício Godinho Delgado tal proposta de classificação foi formulada pelos autores Granizo e
Rothvoss, sendo amplamente citados na doutrina nacional. GRANIZO; ROTHVOSS, 1935, p. 24-27 Apud
DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. ed. 14. São Paulo: LTR, 2015, p. 98. Vide a
nota de rodapé número 16 da supracitada obra, na qual Godinho aborda as referências da classificação de
Granizo e Rothvoss nas obras de Délio Maranhão, José César Oliveira e Alice Monteiro de Barros. 19 “Há uma específica tipologia (dos autores Granizo e Rothvoss), bastante recorrente em manuais sobre Direito do Trabalho, que foi claramente delineada a partir desses marcos históricos acima apontados. Esses dois autores
percebem a existência de quatro fases principais na evolução do Direito do Trabalho: formação, intensificação,
consolidação e autonomia. [...] Não há dúvida de que a periodização de Granizo e Rothvoss é bastante descritiva
de importantes eventos da História do Direito do Trabalho. Contudo, à semelhança de outras periodizações
correntes tem o inconveniente de não permitir nenhuma compreensão mais sistemática sobre o padrão de
organização do mercado de trabalho e de sua normatização jurídica nos países desenvolvidos ocidentais. É
periodização descritiva mas não explicativa da substância do Direito do Trabalho e dos modelos justrabalhistas
aos quais se refere.” DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. ed. 14. São Paulo: LTR,
2015, p. 98.
19
Maurício Godinho Delgado além dos tradicionais contextos, uma conjuntura que norteará
posteriormente o presente trabalho: a Crise e Transição do ramo justrabalhista20
.
Destaca-se inicialmente o advento de legislações esparsas com intuito de amenizar a
situação de depauperamento dos trabalhadores21
, simbolizadas na Peel’s Act (1802), que
regulou condições do trabalho infantil na Inglaterra. Ainda não havia o reconhecimento
jurídico de organizações dos trabalhadores, pois o entendimento era que se constituía óbice à
liberdade de trabalho, historicamente concebida nas legislações francesa e inglesa,
respectivamente, Le Chapelier (1791) e Combinations Acts (1799 e 1800)22
. Os primeiros
esforços de regulação do conflito laboral são constituídos, mas ainda não há que se falar no
surgimento de ramo jurídico unitário, haja vista o caráter pontual e assistemático de tais
medidas, com forte apelo humanitário, principalmente, voltadas à proteção de mulheres e
crianças23
.
Há gradativamente a sistematização e consolidação do ramo justrabalhista, momento
histórico associado às crescentes mobilizações dos trabalhadores industriais, que começam a
ser juridicamente reconhecidas24
. Tanto o Manifesto Comunista (1848) quanto o movimento
cartista são marcos estruturantes da concepção coletiva dos trabalhadores, além do mais
simbolizam canalização de resistências à estrutura institucional dominante, amplamente
questionada na Revolução da França (1848)25
. Tal processo culminou com o reconhecimento
por parte das principais economias mundiais à época, na Conferência de Berlim (1890), da
necessidade de novas formas de regulação do mercado de trabalho, preocupação também
demonstrada na Encíclica papal Rerum Novarum (1891)26
.
20 DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. ed. 14. São Paulo: LTR, 2015, p. 99. 21Marx elenca alguns efeitos da emergência da sociedade industrial, dentre eles, o depauperamento moral de
crianças e mulheres fazendo referência à obra A Situação das Classes Trabalhadoras na Inglaterra, de Engels,
motivo pelo qual se abstém de maiores detalhes: “Não preciso pois aqui me deter. Mas esse empobrecimento
intelectual, que ocorre porque os homens, antes de ter chegado a sua maturidade, foram transformados em
simples máquinas tendo por função produzir mais-valia, e que é preciso distinguir cuidadosamente da ignorância natural que deixa o espírito sem cultura, essa falta de desenvolvimento fôrçou finalmente o Parlamento Inglês a
decretar que em todas as indústrias submetidas à lei sôbre as fábricas a instrução elementar seria condição legal
para utilização produtiva de crianças com menos de 14 anos.” MARX, KARL. O Capital. 2. Ed. Resumida por
Borchardt, Julian. Traduzida por SCHMIDT, Ronaldo Alves. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1969, p. 92-93. 22 PALOMEQUE, Manuel-Carlos. Direito do Trabalho e Ideologia. Coimbra: Almedina, 2001, p. 26. 23 DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. ed. 14. São Paulo: LTR, 2015, p. 99. 24
PALOMEQUE, Manuel-Carlos. Direito do Trabalho e Ideologia. Coimbra: Almedina, 2001, p. 26-27. 25 DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. ed. 14. São Paulo: LTR, 2015, p. 100. 26 Op. Cit. p. 100-101.
20
A exacerbação do conflito laboral conduziu a novas estratégias de atuação no sentido da
institucionalização do ramo jurídico trabalhista, isto é, houve um processo de completa
assimilação do direito do trabalho pela dinâmica das instituições sociais e estatais27
. Cria-se a
OIT (1919) e os direitos trabalhistas ganham relevância no âmbito constitucional, fenômeno
prenunciado pela Constituição Mexicana (1917) e de Weimar (1919), estabelecendo-se
princípios estruturantes, tais como, a valorização do trabalho humano e a justiça social28
. Há a
emergência do Estado Providência29
, Social ou de Bem-estar Social, com a ressignificação
das relações laborais, tomando como referencial a materialização da liberdade individual e
coletiva dos trabalhadores. Em outras palavras, o trabalhador abstratamente livre transmuda-
se em sujeito de direitos fundamentais, os quais passam a ser perseguidos pelo Estado e pela
sociedade, dentre estes direitos estão a promoção do trabalho digno e a ampla liberdade
sindical30
.
27 DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. ed. 14. São Paulo: LTR, 2015, p. 102. 28 Nesse sentido, destaca-se como marco paradigmático a nível internacional a Declaração da Filadélfia (1944)
que restabelece princípios estruturantes do ramo jurídico juslaboral, dentre os quais, a promoção da justiça social
e a compreensão desmercantilizada do trabalho: “A declaração estabelece um entendimento amplo acerca da
importância do social e, muito particularmente, do valor do trabalho e dos seus direitos, assentes no princípio de
que ‘o trabalho não é mercadoria’ e na valorização deste como mecanismo de redistribuição e promoção da justiça social. Circunstâncias relevantíssimas para as décadas seguintes, em que se assiste à consolidação, nas
sociedades ocidentais desenvolvidas, do designado Estado-providência e da relação salarial fordista.”
FERREIRA, António Casimiro. Sociedade da austeridade e direito do trabalho de exceção. Porto: Vida
Econômica, 2012, p. 19. 29 A contextualização do surgimento do Estado-providência subjaz de central relevância no âmbito da
institucionalização do Direito do Trabalho, assim como no posterior contexto de Crise e transição do direito do
trabalho, inclusive, estando este contexto intimamente associado ao desmantelamento do Estado-Providência.
Nesse sentido, destaca-se a obra de Antônio Rodrigues de Freitas Junior: “Dizendo de outro modo: nada obstante
o que possa exibir de ‘aprofundamento do Estado protecionista clássico’, como adequadamente sugere
ROSANVALLON (1981: 20 – 21), o Estado-Providência encerra uma espécie de ‘pacto’ político, certamente
capaz de engendrar formações sociais de igual modo específicas as quais, embora possivelmente dotadas de
alguma porção de auto-referibilidade, como sustenta KING (1988), aparecem de algum modo indissociavelmente ligadas a um período de reconstrução social caracterizado [1] por uma forte presença das
organizações sindicais do trabalhadores na agenda política; [2] pela fragilidade das alianças no terreno da
política partidária; [3] pela necessidade de pautar, ainda que em limites e ritmos diversos, a legitimidade do
sistema político [3.1] fortes o bastante para pôr em questão a estabilidade política do Estado-Nação, [3.2] mas
incapazes de imprimir uma agenda de mudanças políticas recortadas por um caráter de classe alternativo; [4]
pela expansão, na qualidade de direitos de ‘cidadania social’, como designa BARCELLONA (1991: 31 e ss), dos
domínios de cobertura social das necessidades e carências, por intermédio da ação direta ou indutora do Estado-
Nação; e [5] pelo aprofundamento da intervenção reguladora do Estado-nação sobre os limites da autonomia
contratual entre atores materialmente desiguais, em especial, entre empregados e empregadores”. FREITAS
JÚNIOR, Antônio Rodrigues de. Direito do trabalho na era do desemprego: Instrumentos jurídicos em
políticas públicas de fomento à ocupação. 1ª edição. São Paulo: LTr, 1999, p. 50. 30 No âmbito do fenômeno da constitucionalização dos direitos laborais destaca-se o reconhecimento dos
sindicatos, da liberdade sindical e os direitos decorrentes, que serviram de base das democracias sociais,
gradualmente reconhecidos a nível constitucional: “O sindicato converte-se numa instituição essencial, para os
fins a que constitucionalmente se propõe o Estado, que dispõem de um quadro reforçado de tutela. A liberdade
sindical e o conjunto de direitos que integram o seu conteúdo essencial, não é já apenas um instrumento básico
de auto-tutela para a classe trabalhadora, mas, simultaneamente, um dos pilares da estrutura institucional dos
Estados democráticos de capitalismo avançado. A partir da Constituição alemã de Weimar (1919), o sindicato e
a liberdade sindical receberam consagração constitucional nos textos fundamentais modernos como a
Constituição italiana de 1947 (art. 39), a constituição francesa de 1958 (preâmbulo da de 1946 mantido em
21
Sucedeu-se, então, um processo de desestruturação do modelo de Estado-providência31
e do modo de organização econômica taylorista-fordista32
, tendo como marco histórico a
Crise do Petróleo (1973). Nesse aspecto, assinala-se o incremento do fenômeno da
globalização, entendido não apenas como fase do capitalismo, mas também enquanto
processo de integração econômica global. Tal fase possui como pressupostos a generalização
do sistema capitalista, reconfigurado pela hegemonia do capital financeiro-especulativo, pelas
novas formas de tecnologia e pelos novos modos de organização produtiva33
. A globalização
ainda conta com requisitos da consolidação do neoliberalismo, da ausência de contraponto ao
capitalismo, diante o colapso do regime socialista soviético, e do enfraquecimento dos
movimentos sindicais, provocando alterações substanciais nas políticas publicas dos países
centrais e, após, nos países periféricos,34
com a hegemonização das perspectivas de
desregulamentação, mormente voltada para reformar o direito do trabalho, com a redução das
normas e instituições voltadas para um controle do mercado.
1.2 O enigma do capital: as crises econômicas enquanto instrumentos de reconfiguração
do domínio de classe
De antemão, é válido ressaltar que as crises econômicas são elementos centrais para a
reprodução histórica do modo de produção capitalista, isso é, “são tão necessárias para a
vigor), a Constituição portuguesa de 1976 (arts. 55 e 56), ou, finalmente a Constituição espanhola de 1978 (art. 7
e 28.1)”. PALOMEQUE, Manuel-Carlos. Direito do Trabalho e Ideologia. Coimbra: Almedina, 2001, p. 27. 31 Vide FREITAS JÚNIOR, Antônio Rodrigues de. Direito do trabalho na era do desemprego: Instrumentos
jurídicos em políticas públicas de fomento à ocupação. 1ª edição. São Paulo: LTr, 1999, p. 79-89. 32 Antônio Rodrigues de Freitas Junior, tomando como base a obra de HIRSCH, aborda a conjuntura econômica
e política a nível macro da consolidação do fordismo, com destaque a reorganização taylorista do processo
laboral, concebendo-se, dentre outras características, a partir da autossuficiência na concentração produtiva em
cadeia, elevada estratificação de comando e remuneração padronizada a nível hierárquico. Contudo,
gradualmente foram introduzidas modificações, fundamentando novos paradigmas de organização do trabalho:
“[1] em vez de auto-suficiência, a medida da eficiência passaria a ser a agilidade e a adaptabilidade; [2] o
cliente-alvo deixaria de ser aquele baseado estritamente no mercado nacional, de modo que os horizontes de
competitividade em pouco tempo ultrapassariam barreiras nacionais; [3] como estratégia para o enfrentamento
das crises, além da contínua adaptação por intermédio do paradigma do kaizen, o paradigma emergente
preconizará a identificação e a delimitação dos nichos específicos de demanda potencial, associadas à progressiva redução do nível de concentração, por intermédio dos mecanismos downsizing, bem como enfatizara
o desenvolvimento de tecnologias de curto período de maturação; e [4] sob ângulo das políticas de recursos
humanos, em lugar das grandes concentrações fabris, a empresa construída sob o paradigma emergente
preconizara a contínua otimização do pessoal ocupado, a terceirização das atividades não estratégicas, bem como
o oferecimento de uma remuneração seletivamente atraente, segundo critérios de compromisso com os objetivos
da empresa, e de produtividade individual ou setorial”. Op. Cit, p. 65 e 97-99. 33
DELGADO, Mauricio Godinho. Capitalismo, trabalho e emprego: entre o paradigma da destruição e os
caminhos de reconstrução. 2. ed. São Paulo: LTR, 2015, p. 15-20. 34 Op. Cit. p. 20-21.
22
evolução do capitalismo como o dinheiro, o poder do trabalho e o próprio capital” 35
. Estudos
apontam que a sustentabilidade desse modo de produção está associada à taxa de expansão
composta de 3% ao ano, menos que isso há indícios de fragilidade. E, especialmente, quando
há uma taxa inferior a 1%, crises econômicas são instaladas36
. Nesses períodos de recessão
novas relações de produção e investimento são constituídas, ou seja, ocorrem reconfigurações
de poder no sentido da reordenação das instabilidades sistêmicas e manutenção do status quo
dominante.37
Há de se ter em mente que estes ciclos reprodutivos são contínuos na geografia histórica
do capitalismo, não obstante exista diversidade quanto às tendências de formação, além de
pluralidade quanto à quantidade e intensidade, quando se compara contextos históricos
específicos38
. Em que se pese a importância histórica das teorizações tradicionais, quanto aos
padrões de formação das crises, assevera Harvey a compreensão a partir dos limites e
barreiras da acumulação do capital, evidenciando a estratégia de superação provisória dos
desequilíbrios sistêmicos,39
nos seus próprios termos, “as tendências de crise não são
resolvidas, apenas deslocadas” 40
.
É justamente a partir dos escritos de Karl Marx que se problematiza a concepção de
equilíbrio econômico41
, base para posteriores estudos de contestação aos referenciais
dominantes42
, no sentido de evidenciar os fundamentos do capital em acentuar o desequilíbrio
35 HARVEY, David. O enigma do capital e as crises do capitalismo. 1ª ed. São Paulo: Boitempo, 2011, p. 100. 36 “Ao longo da história do capitalismo, a taxa composta de crescimento real foi de cerca de 2,25%/ ao ano
(negativa em 1930 e muito maior – cerca de 5% – no período de 1945 a 1973). O consenso atual entre os economistas e na imprensa financeira é que uma economia ‘saudável’ do capitalismo, em que a maioria dos
capitalistas obtém um lucro razoável, expande-se em 3% ao ano. Quando se cresce menos do que isso, a
economia é considerada lenta. Quando se obtém abaixo de 1%, a linguagem de recessão e a crise estouram
(muitos capitalistas não têm lucro).” Op. Cit. p. 30. 37 Op. Cit. p. 18. 38 Tais comparações não podem ser prescindidas da análise dos modelos de organização do capitalismo,
historicamente adaptados e transformados no decurso histórico da acumulação. Desde já, aponta-se que o recorte
a ser analisado posteriormente é relativo ao aumento substancial da quantidade e abrangência das crises
econômicas a partir da década de 1970, tendo em vista o fenômeno da financeirização, objeto que constituirá o
enfoque do tópico 1.4. Vide HARVEY, David. O enigma do capital e as crises do capitalismo. 1ª ed. São
Paulo: Boitempo, 2011, p. 52. 39 Op. Cit. p. 99. 40 Idem. 41 “Acrescenta-se a isso, ainda, que o equilíbrio é sempre devido ao acaso e que, se a proporção no emprego dos
capitais investidos nos diversos ramos da produção não cessa de tender a se equilibrar, a permanência dêsse
equilíbrio supõem, por sua vez, a não menos permanente desproporção à qual não se deixa de colocar fim,
frequentemente de forma violenta.” MARX, KARL. O Capital. 2. Ed. Resumida por Borchardt, Julian.
Traduzida por SCHMIDT, Ronaldo Alves. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1969, p. 285. 42 HARVEY, David. O enigma do capital e as crises do capitalismo. 1ª ed. São Paulo: Boitempo, 2011, p. 64-
65.
23
das forças econômicas e, consequentemente, propiciar crises. A literatura afirma serem as
crises consubstanciais ao capitalismo, necessárias para sua permanência, pois ampliam a
acumulação do capital.
“O que eles também mostraram foi que as crises são, de fato, não apenas
inevitáveis, mas também necessárias, pois são a única maneira em que o equilíbrio pode ser restaurado e as contradições internas da acumulação do capital, pelo menos
temporariamente, resolvidas. As crises são, por assim dizer, os racionalizadores
irracionais de um capitalismo sempre instável. Durante uma crise, como esta em que
estamos agora, é sempre importante manter esse fato em mente. Temos sempre a
perguntar: o que está sendo racionalizado aqui e que direção estão tomando as
racionalizações, uma vez que isso é o que vai definir não apenas a nossa forma de
saída da crise, mas o caráter futuro do capitalismo? Em tempos de crise há sempre
opções. Qual delas é escolhida depende criticamente da relação das forças de classe
e das concepções mentais sobre o que poderia ser possível.”43
Em suma, as crises econômicas são racionalizadoras de um sistema capitalista
fundamentalmente insustentável, isto é, são instrumentos de reconfiguração do domínio de
classe que têm como base a superação artificial de barreiras44
, no sentido da acumulação
expansiva do capital, em espaços interligados de forma desordenada45
. Portanto, conclui-se
que há múltiplas respostas que podem ser dadas às crises econômicas, posto que estejam
relacionadas ao conflito entre as forças sociais existentes e os discursos e ideologias
preponderantes, e são esses os fatores que conformam o direito do trabalho em seu alcance e
sentido. Nesse mesmo raciocínio, é possível compreender que divergentes leituras afiguram-
se historicamente a partir da afirmação/expansão e negação/redução do ramo juslaboral diante
da força contraposta entre o trabalho e o capital e das concepções hegemônicas
estabelecidas.46
43 HARVEY, David. O enigma do capital e as crises do capitalismo. 1ª ed. São Paulo: Boitempo, 2011, p. 65. 44 “Há, portanto, dentro da geografia histórica do capitalismo, uma luta perpétua para converter limites
aparentemente absolutos em barreiras que possam ser transcendidas ou contornadas. Como isso acontece e quais
são os limites principais? O exame do fluxo de capital por meio da produção revela seis barreiras potenciais à
acumulação, que devem ser negociadas para o capital ser reproduzido: i) capital inicial sob a forma de dinheiro
insuficiente; ii) escassez de oferta de trabalho ou dificuldades políticas com esta; iii) meios de produção
inadequados, incluindo os chamados “limites naturais”; iv) tecnologias e formas organizacionais inadequadas; v)
resistências ou ineficiências no processo de trabalho; e vi) falta de demanda fundamentada em dinheiro para
pagar no mercado.” Op. Cit. p. 46-47. 45 Op. Cit. p. 132. 46 “O movimento de redução e expansão do direito do trabalho é uma decorrência da sua estreita relação com a crise econômica, sua companheira de viagem. O direito do trabalho surge de crises, ganha destaque com as
crises, é combatido a cada crise que se apresenta, mais do que qualquer outro ramo do direito sofre os efeitos das
medidas adotadas para combater as crises e dele é exigido que mostre a sua força especialmente em momentos
de crise. Em razão de crises econômicas, o próprio direito do trabalho é colocado em crise, com questionamentos
dos seus princípios fundamentais, da relação entre suas fontes, da sua finalidade e das suas funções.”
ALMEIDA, Cléber Lúcio. Redução e expansão do direito do trabalho: por um direito do trabalho de
segunda geração. In: TEODORO, Maria Cecíla Máximo et al (coord.). Direito material e processual do
trabalho: III Congresso Latinoamericano de Direito Material e Processual do Trabalho. São Paulo: LTr, 2016, p.
41.
24
1.3 O discurso da crise, o neoliberalismo e a redução da proteção institucional ao
trabalhador
Crise econômica não implica necessariamente em retrocesso de direitos individuais e
sociais, inclusive, o aumento da proteção ao trabalhador em contextos de recessão encontra
exemplos na história47
. Compreender a complexidade da relação entre a crise econômica e o
direito do trabalho perfaz situá-la enquanto processo de influências históricas. Como bem
aduz Manuel-Carlos Palomeque, a relação entre crise e direito do trabalho ocorre em ciclos,
pois as modificações econômicas influenciam na construção institucional do direito, seu
“companheiro histórico de viagem”48
. Ademais, é válido reforçar que tais influências não se
restringem a determinado contexto histórico, como o período analisado a seguir, relativo à
década de 70 em diante, pois a crise econômica conforma o direito do trabalho desde os
primórdios da formação deste ramo jurídico49
.
Não obstante, evidencia-se aumento quantitativo e qualitativo das conjunturas de
recessão econômica a partir da década de 197050
, significando um maior número e uma
progressiva abrangência das crises, a partir da primeira grande crise global, a posteriori da
Segunda Guerra, a Crise do Petróleo (1973)51
. Esse contexto está interligado à emergência de
nova concepção hegemônica de pensamento: o neoliberalismo, entendido como marco na
revitalização do poder capitalista frente aos avanços da classe trabalhadora52
. É
fundamentada, pelo discurso neoliberal, a ideia de que não haveria alternativas, especialmente
47 PALOMEQUE, Manuel Carlos. Un compañero de viaje histórico del Derecho del trabajo: la crisis
económica. Revista de Política Social, Madrid, n. 143, julho-setembro de 1984, p. 20. 48 PALOMEQUE, Manuel-Carlos. Direito do Trabalho e Ideologia. Coimbra: Almedina, 2001, p. 39.
49 “É imprescindível, no entanto, reter neste ponto uma dupla noção de transcendental importância: 1) a crise
econômica é uma realidade que tem acompanhado o Direito do Trabalho, pelo menos de forma intermitente, ao
longo do seu percurso histórico, para converter-se, certamente, num < companheiro histórico de viagem> da
mesma, incômodo se se quiser; e 2) a crise econômica exerceu sempre a sua influência no quadro institucional
do Direito do Trabalho e não só, na verdade, a partir da metade dos anos setenta do presente século.” Ibidem. 50 “Crises financeiras e monetárias têm sido características de longa data da geografia histórica do capitalismo.
Mas sua frequência e profundidade aumentaram acentuadamente desde 1970, mais ou menos, e temos de lidar
com o porquê de isso estar acontecendo e pensar no que poderia ser feito.” Idem. 51 Op. Cit. p. 14. 52 “A resposta depende do que entendemos com a palavra neoliberalismo. Minha opinião é que se refere a um
projeto de classe que surgiu na crise dos anos 1970. Mascarada por muita retórica sobre liberdade individual,
autonomia, responsabilidade pessoal e as virtudes da privatização, livre‑mercado e livre-comércio, legitimou
políticas draconianas destinadas a restaurar e consolidar o poder da classe capitalista. Esse projeto tem sido bem-
sucedido, a julgar pela incrível centralização da riqueza e do poder observável em todos os países que tomaram o
caminho neoliberal. E não há nenhuma evidência de que ele está morto.” Op. Cit. p. 16.
25
no âmbito trabalhista, se não forem empreendidas reformas que visem à desregulamentação
das relações laborais.
O surgimento da teoria neoliberal remete inicialmente à criação da Mont Pelerin Society
(1947), sociedade composta, dentre outros, por Ludwig von Mises, Milton Friedman e Karl
Popper, afirmando a preservação da propriedade privada e da competitividade dos mercados
como meio de assegurar a liberdade individual, tomando como referência os estudos do
filósofo político Friedrich von Hayek53
. Tal escola de pensamento foi diretamente
influenciada pela economia neoclássica, no que tange os valores do livre mercado, e
contrapõe-se às teorias clássicas e marxista54
. Foi a partir da década de 70 que o
neoliberalismo ganhou notoriedade acadêmica e política, tornando-se modelo econômico
dominante de políticas públicas governamentais das principais economias capitalistas55
. Na
posição de precursor, destaca-se o governo de Margareth Thatcher que, eleita a partir de
agenda econômica reformista, introduziu medidas de desestruturação do poder sindical,
desmantelamento do Estado Providência, privatização das empresas públicas, dentre outras 56
.
53 HARVEY, David. O neoliberalismo - história e implicações. São Paulo: Edições Loyola, 2008, p. 29. 54 “Os membros do grupo se descreveram como "liberais" (no sentido europeu tradicional) devido a seu
compromisso fundamental com ideais de liberdade pessoal. O rótulo ‘neoliberal’ marcava sua adesão aos
princípios de livre mercado da economia neoclássica que emergira na segunda metade do século XIX (graças aos
trabalhos de Alfred Marshall, William Stanley Jevons e Leon Walras) para substituir as teorias clássicas de
Adam Smith, David Ricardo e, naturalmente, Karl Marx”. Op. Cit. p. 29-30. 55 “Mas esse movimento permaneceu à margem tanto da política como da influência acadêmica até os
conturbados anos da década de 1970. A partir de então, começou a ocupar o centro do palco, especialmente nos
Estados Unidos e na Grã-Bretanha, nutrido por vários bem financiados bancos de idéias (rebentos da Mont
Pelerin Society, como o lnstitute of Economic Affairs, de Londres, e a Heritage Foundation, de Washington),
bem como mediante sua crescente influência na academia, particularmente na Universidade de Chicago, em que
reinava Milton Friedman. A teoria neoliberal obteve respeitabilidade acadêmica quando Hayek em 1974 e Friedman em 1976 ganharam o prêmio Nobel de economia. [...] Mas a dramática consolidação do neoliberalismo
como nova ortodoxia econômica de regulação da política pública no nível do Estado no mundo capitalista
avançado ocorreu nos Estados Unidos e na Grã-Bretanha em 1979.” Op. Cit. p. 31. 56 “Thatcher reconhecia que isso significava nada menos que uma revolução em políticas fiscais e sociais, e
demonstrou imediatamente uma forte determinação de acabar com as instituições e práticas políticas do Estado
socialdemocrata que se consolidara no país a partir de 1945. Isso envolvia enfrentar o poder sindical, atacar todas
as formas de solidariedade social que prejudicassem a flexibilidade competitiva (como as expressas pela
governança municipal e mesmo o poder de muitos profissionais e de suas associações), desmantelar ou reverter
os compromissos do Estado de bem-estar social, privatizar empresas públicas (incluindo as dedicadas à moradia
popular), reduzir impostos, promover a iniciativa dos empreendedores e criar um clima de negócios favorável
para induzir um forte fluxo de investimento externo (particularmente do Japão). Ficou famosa sua declaração: ‘a
sociedade não existe, apenas homens e mulheres individuais’ - e, acrescentou depois suas famílias. Todas as formas de solidariedade social tinham de ser dissolvidas em favor do individualismo, da propriedade privada, da
responsabilidade individual e dos valores familiares. O ataque ideológico nessas linhas advindo da retórica de
Thatcher era implacável; como ela mesma disse, ‘a economia é o método, mas o objetivo é transformar espírito’.
E transformar ela de fato transformou, ainda que de modo algum completa e abrangentemente, para não falar
sem custos políticos.”Op. Cit. p. 32.
26
É válido destacar que posteriormente o Conselheiro-chefe Econômico do governo inglês
sugeriu que as políticas de austeridade relativas à contenção de gastos públicos e arrocho
salarial constituiu estratégia de desestruturação do poder da classe trabalhadora, escamoteada
pelo discurso da crise relativo ao combate a inflação57
. Assim como Thatcher, o governo
Reagan prenunciou a internacionalização da agenda neoliberal por intermédio do
aprofundamento do nexo Estado-finanças58
, estabelecendo-se o mercado global e
crescentemente interligado em uma lógica financeira de absorção dos excedentes e embasado
no endividamento. Privatizar os lucros e socializar os riscos59
, através de uma ampla margem
de atuação e restrita regulamentação do mercado financeiro, constituiu-se em regra. Isto tudo
fundamentando o livre comércio, o livre mercado e a promoção de uma agenda política de
proteção irrestrita aos bancos em detrimento dos direitos dos cidadãos60
.
A hegemonia do pensamento neoliberal está relacionada não só a sua emergência no
plano das agendas políticas dos Estados nacionais, como também na consolidação de
instituições e organizações internacionais, tais como o Banco Mundial, FMI e OMC,
responsáveis por propagar medidas de ajustes estruturais da economia norteadas pela
racionalidade do mercado financeiro61
. Tal processo conduziu a reestruturação do poder da
57 “[...] havia pessoas como Ronald Reagan, Margaret Thatcher e o general Augusto Pinochet à espera, armados
com a doutrina neoliberal, preparados para usar o poder do Estado para acabar com o trabalho organizado.
Pinochet e os generais brasileiros e argentinos o fizeram com poderio militar, enquanto Reagan e Thatcher
orquestraram confrontos com o grande trabalho, quer diretamente no caso do confronto de Reagan com os
controladores de tráfego aéreo e a luta feroz de Thatcher com os mineiros e os sindicatos de impressão, quer
indiretamente pela criação de desemprego. Alan Budd, conselheiro-chefe econômico de Thatcher, mais tarde
admitiu que ‘as políticas dos anos 1980 de ataque à inflação com o arrocho da economia e gastos públicos foram
um disfarce para esmagar os trabalhadores’, e assim criar um ‘exército industrial de reserva’, que minaria o
poder do trabalho e permitiria aos capitalistas obter lucros fáceis para sempre.” HARVEY, David. O enigma do
capital e as crises do capitalismo. 1ª ed. São Paulo: Boitempo, 2011, p. 21. 58 Segundo Harvey a expressão “nexo Estado-finanças” se refere a conjunto de acordos provenientes da
correlação entre os poderes estatal e o financeiro, tal concepção enquanto fundamento do atual sistema de crédito
expressa-se na existência de estruturas governamentais “nas quais a gestão do Estado para a criação do capital e
dos fluxos monetários torna-se parte integrante, e não separável, da circulação do capital. A relação inversa
também se sustenta na medida em que impostos ou empréstimos fluem para os cofres do Estado e na medida em
que as funções do Estado também se monetarizam, mercantilizam e, finalmente, privatizam.” Op. Cit. p. 47-48. 59 Op. Cit. p. 16. 60 “A administração da crise fiscal de Nova York abriu pioneiramente o caminho para práticas neoliberais, tanto
domesticamente, sob Reagan, como internacionalmente por meio do FMI na década de 1980. Estabeleceu o
princípio de que, no caso de um conflito entre a integridade das instituições financeiras e os rendimentos dos detentores de títulos, de um lado, e o bem-estar dos cidadãos, de outro, os primeiros devem prevalecer. Acentuou
que o papel do governo é criar um clima de negócios favorável e não cuidar das necessidades e do bem-estar da
população em geral.” HARVEY, David. O neoliberalismo - história e implicações. São Paulo: Edições Loyola,
2008, p. 58. 61 “O FMI e o Banco Mundial se tornaram a partir de então centros de propagação e implantação do
‘fundamentalismo do livre mercado’ e da ortodoxia neoliberal. Em troca do reescalonamento da dívida, os países
endividados tiveram de implementar reformas institucionais como cortes nos gastos sociais, leis do mercado de
trabalho mais flexíveis e privatização. Foi inventado assim o ‘ajuste estrutural’. O México foi um dos primeiros
Estados recrutados para aquilo que iria se tornar uma crescente coluna de aparelhos neoliberais de Estado em
27
classe capitalista apoiada, fundamentalmente, pela injunção dos fluxos monetários globais e
das políticas de desregulamentação social e econômica. Nesse sentido, afirma David Harvey,
o neoliberalismo “apoiou-se pesadamente em mais-valia extraída do resto do mundo por meio
de fluxos internacionais e práticas de ajuste estrutural”62
. Destaca-se o Consenso de
Washington (1989)63
como marco simbólico da consolidação desta agenda
desregulamentadora, reflexa ao desmonte dos modelos políticos norteados pela solidariedade
social64
.
A flexibilização das relações trabalhistas65
foi uma tendência da introdução do
pensamento econômico neoliberal, orientado pela redução da proteção institucional ao
trabalhador e pela restrição da liberdade sindical. Segundo Ermida Uriarte66
este fenômeno
implicou, especialmente na América Latina, reformas legislativas orientadas, primeiramente,
pela diminuição dos benefícios trabalhistas e pelo desprestígio ao contrato individual de
trabalho. Em segundo lugar, alguns países tomaram a decisão pela privatização dos regimes
de seguridade social67
. Muito embora não haja evidências empíricas comprovando os efeitos
todo o mundo. Mas o caso do México demonstrou na verdade uma diferença essencial entre a prática liberal e a
neoliberal: naquela, os emprestadores assumem as perdas decorrentes de más decisões de investimento, ao passo
que sob esta última os tomadores são forçados pelo Estado e por forças internacionais a assumir o ônus do custo
do pagamento da dívida sejam quais forem as conseqüências para a vida e o bem-estar da população local”.
HARVEY, David. O neoliberalismo - história e implicações. São Paulo: Edições Loyola, 2008, p. 38. 62 Idem. 63 “Trata-se de um consenso no sentido de impor ao mundo o catecismo monetarista e neoliberal: a liberdade
plena de circulação de capitais; a desregulamentação dos mercados de capitais, incluindo o mercado de divisas; o
combate prioritário a inflação e a desvalorização das políticas de promoção de emprego; a privatização das
empresas públicas, incluindo as que produzem e fornecem serviços públicos; a adopção de políticas tributárias
favoráveis aos muitos ricos e às grandes empresas; a rejeição de qualquer ideia de equidade e de quaisquer
políticas de redistribuição do rendimento em favor dos titulares de rendimentos mais baixos; a flexibilização do mercado de trabalho e a contenção ou redução dos salários reais, num mundo em que a mundialização do
mercado de trabalho significou um aumento enorme do exército industrial de reserva e constituiu um estímulo
poderoso à deslocalização de empresas, em busca de mão-de-obra mais barata e sem direitos.” NUNES, António
José Avelãs. Uma leitura crítica da actual crise do capitalismo. Coimbra: Boletim de Ciências Econômicas
Liv., 2011, p. 19-20. 64 FERREIRA, António Casimiro. Sociedade da austeridade e direito do trabalho de exceção. Porto: Vida
Econômica, 2012, p. 23-24. 65 Nesse sentido, destaca-se análise de Jose Dari Krein: “Na sua essência, a flexibilização é uma tendência
presente em praticamente todos os países capitalistas centrais e em desenvolvimento, com diferentes
intensidades e temporalidades, forjada a partir da crise dos anos 70, que, na visão conservadora e hegemônica,
seria necessário ocorrer um ajuste das relações de trabalho à nova ordem social, econômica e política. A flexibilização aparece como “resposta” a um ambiente em que tende a se intensificar a concorrência
intercapitalista, num contexto de instabilidade e baixo dinamismo do produto, crescente importância do capital
financeiro (financeirização), prevalência de políticas econômicas restritivas voltadas ao controle da inflação e
elevação do desemprego”. KREIN, José Dari. Tendências Recentes nas relações de emprego: 1980 – 2005.
Instituto de Economia Escola, Universidade Estadual de Campinas, 2007. 66 ERMIDA URIARTE, Oscar. A política laboral dos governos progressistas. In: Revista Nueva Sociedad, n.
211, Argentina, Setembro/Outubro de 2007. 67 Em relação ao desprestígio da relação individual de trabalho Uriarte aborda a instauração de “contratos
basuras”, isto é, contratos que levam a precarização do trabalhador diante a escassez ou nulidade de direitos, ou
28
reais destas proposições para a estabilização econômica, os argumentos justificadores
concernentes à redução do desemprego e o aumento da competitividade ainda são hoje
defendidos, constatando-se o fenômeno da concentração expansiva de renda, em uma
proporção nunca antes vista na história68
.
Dessa maneira, apesar da vulnerabilidade dos trabalhadores se acentuar em contextos de
crise econômica, inúmeras são as propostas de reformas sobre o marco legal e demais
garantias fundamentais, no âmbito trabalhista, que apoiem o desmantelamento das proteções
jurídicas existentes, justamente em um momento que mais se faz necessário à classe
trabalhadora o fortalecimento desses institutos69
. A desregulamentação do direito juslaboral é
apontada como proposição pelo pensamento econômico neoliberal, apesar da ausência de
dados que comprovem a relação de casualidade entre a flexibilização das relações de trabalho
e o crescimento da economia70
. Tendo em vista que os objetivos expressos das reformas
neoliberais não foram obtidos em nenhum dos seus aspectos71
, problematiza-se a utilização do
discurso da crise como meio de reconfiguração do poder de classe através da redução da
proteção institucional ao trabalhador, como afirma Oscar Ermida Uriarte, para quem há uma
dupla maneira de o Direito do Trabalho enfrentar a crise, pois além da solução neoliberal, é
possível também ampliar as medidas protetivas para evitar que os custos da crise sejam
até mesmo o estabelecimento de relações legais ou fraudulentas que afastem a aplicação da legislação
trabalhista, tais como terceirização, subcontratação, cooperativas de mão de obra, entre outras. ERMIDA
URIARTE, Oscar. A política laboral dos governos progressistas. In: Revista Nueva Sociedad, n. 211,
Argentina, Setembro/Outubro de 2007, p. 52. 68 Segundo pesquisa realizada pela organização não governamental britânica Oxfam pela primeira vez na história
a riqueza acumulada pelo grupo referente a 1% das pessoas mais ricas equivale ao restante acumulado por 99% da população mundial, tomando como base dados de outubro de 2015 relativos ao banco Credit Suisse.
Esta informação foi extraída do portal de notícias da BBC: 1% da população global detém mesma riqueza dos
99% restantes, diz estudo. BBC BRASIL, 18/01/2016. Disponível em:
<http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2016/01/160118_riqueza_estudo_oxfam_fn.> Acesso em 26/04/2017.
A íntegra do relatório “Uma economia para 1%” da OXFAM pode ser extraída do portal eletrônico brasileiro da
entidade: https://www.oxfam.org.br/noticias/relatorio_davos_2016. Acesso em: 26/04/2017. 69 ERMIDA URIARTE, Oscar. La crisis financiera global y el derecho del trabajo. In: revista de la facultad
de derecho, Uruguai, n. 26, Janeiro/Julho de 2007, p. 61-62. 70 António Casimiro Ferreira, a partir do relatório da ILO (International Labour Organization) - “Recovering
from the crisis: A global Jobs Pact”, aborda a problemática suscitada da ausência de sustentação empírica da
flexibilidade laboral como meio de crescimento econômico: “É que, embora alguns privilegiem a flexibilidade do mercado laboral como modo de contornar a gravidade e a duração do desemprego atual na crise, não há
evidência de uma relação clara entre a fraca regulação laboral e um crescimento econômico e de emprego rápido
(cf. ILO, 2009:52).” FERREIRA, António Casimiro. Sociedade da austeridade e direito do trabalho de
exceção. Porto: Vida Econômica, 2012, p. 13-14. 71 “El objetivo declarado de estas reformas era aumentar la competitividad económica, el empleo y la cobertura
de la seguridad social. No fue alcanzado em ninguno de los aspectos, lo cual no impide que muchos las sigan
defendiendo, dado que los objetivos reales eran otros, estos sí conquistados, como generar una transferencia
regresiva del ingreso.” ERMIDA URIARTE, Oscar. A política laboral dos governos progressistas. In: Revista
Nueva Sociedad, n. 211, Argentina, Setembro/Outubro de 2007, p. 52-53.
29
suportados exclusivamente pelos trabalhadores72
. Contudo, a transferência do risco das crises
para os mais pobres se intensifica com a crise econômica iniciada em 2007 em um cenário de
financeirização econômica, como a seguir examinado.
1.4 A financeirização do Capital e a crise econômica mundial de 2007/2008
A internacionalização da economia mundial, a partir do surgimento dos mercados
financeiros de derivados, prenuncia estratégia de reorganização do capitalismo no sentido da
financeirização econômica. Trata-se de processo de inovação financeira, traduzido pela
criação de mercados mundiais de ativos, pautados na especulação fictícia de capital de tal
modo que esta atividade passou a ser preponderante na circulação monetária das grandes
empresas em detrimento do seu próprio objeto produtivo73
. Este fenômeno insere-se no
contexto da hegemonia do pensamento neoliberal, em se sopese a existência de tensões, vez
que se instalou uma política de proteção irrestrita ao mercado financeiro, em contraponto à
tradicional noção da mínima intervenção do Estado na economia74
. Assim, o pensamento
econômico neoliberal e a financeirização econômica convergem na centralização do poder da
classe capitalista, situando-se no centro das recorrentes crises econômicas instaladas a partir
dos anos de 198075
, tendo como o auge a crise mundial de 2007/200876
.
72 ERMIDA URIARTE, Oscar. La crisis financiera global y el derecho del trabajo. In: Revista de La Facultad
de Derecho, Uruguai, n. 26, Janeiro/Julho de 2007, p. 61-62. 73 “A tendência de investimento em ativos se tornou generalizada. De 1980 em diante vieram à tona
periodicamente relatórios sugerindo que muitas das grandes corporações não financeiras geravam mais dinheiro
de suas operações financeiras do que fazendo coisas. [...] Um mercado descentralizado e informal de trocas
surgiu fora do quadro regulamentar e das regras de comércio. Foi o tipo de iniciativa privada que levou a uma
avalanche de novos produtos financeiros na década de 1990 – troca de inadimplência de crédito, derivativos cambiais, trocas de taxas de juros e todo o resto –, o que constituiu um sistema de banco às escuras totalmente
desregulamentado em que muitas empresas se tornaram jogadoras intensas.” HARVEY, David. O enigma do
capital e as crises do capitalismo. 1ª ed. São Paulo: Boitempo, 2011, p. 28. 74 “Um dos princípios básicos pragmáticos que surgiram na década de 1980, por exemplo, foi o de que o poder
do Estado deve proteger as instituições financeiras a todo custo. Esse princípio, que bateu de frente com o não
intervencionismo que a teoria neoliberal prescreveu, surgiu a partir da crise fiscal da cidade de Nova York de
meados da década de 1970. Foi então estendido internacionalmente para o México durante a crise da dívida que
abalou os fundamentos do país em 1982. De modo nu e cru, a política era: privatizar os lucros e socializar os
riscos; salvar os bancos e colocar os sacrifícios nas pessoas (no México, por exemplo, o padrão de vida da
população diminuiu cerca de um quarto em quatro anos após o socorro econômico de 1982).” Op. Cit. p. 16. 75 “Os momentos de crise sucederam-se a partir dos anos 1980: a crise dos países em desenvolvimento em 1982; a crise dos mercados de ações dos EUA em 1987; a crise (também nos EUA) dos mercados de obrigações de alto
risco e das caixas econômicas (savings and loans), em 1989/1990; a crise bancária dos países escandinavos no
início da década de 1990; a crise que atravessou o japão ao longo desta década; a crise do sistema monetário
europeu em 1992/1993; em 1994, nova crise do mercado obrigacionista americano; ainda em 1994, a crise do
peso mexicano (“a primeira grande crise dos mercados globalizados”, segundo o então diretor-geral do FMI,
Michel Camdessus); a crise das moedas asiáticas em 1997/1998; a crise do rublo em 1998/1999; a crise (200-
2002) que afetou a chamada ‘nova economia’ (a economia das novas tecnologias: biotecnologia, informárica,
computação, telecomunicações); a crise do real brasileiro em 1999; a grave crise financeira, económica, política
e social da Argentina (2001/2002), por muitos consideradas o maior desastre das receitas neoliberais
30
Sem dúvidas, pode-se compreender que a tendência da financeirização constitui
resposta ao problema da absorção de excedente relativo às crises de superacumulação do
modo de produção capitalista77
, conformando-se a partir do aumento contínuo do
endividamento em relação ao capital produzido78
. Nesse sentido, destaca-se a adoção de um
conjunto de medidas direcionadas a criação de novos mercados, especialmente, com a
introdução das políticas de privatização das empresas públicas79
. Outras medidas adotadas,
diante do enorme fluxo econômico decorrente dessas inovações financeiras, foram a
securitização da dívida hipotecária e o mercado de derivativos80
. O sistema de crédito tornou-
se o mecanismo central da circulação econômica mundial, consolidando a primazia do capital
financeiro sobre o produtivo, a partir de um modo de acumulação caracterizado pela ampla
liberdade de atuação do mercado especulativo81
, formando-se uma rede de dispersão dos
riscos sistêmicos82
.
Como já assinalado, a crise econômica mundial de 2007/2008, ou “crise das hipotecas
subprime”, constitui marco representativo de um padrão de crises financeiras, intimamente
implementadas pelo FMI enquanto ‘gestor de negócios’ do grande capital financeiro internacional”. NUNES,
António José Avelãs. Uma leitura crítica da actual crise do capitalismo. Coimbra: Boletim de ciências
econômicas liv., 2011, p. 12-14 e 21. 76 HARVEY, David. O enigma do capital e as crises do capitalismo. 1ª ed. São Paulo: Boitempo, 2011, p. 13-
14. 77 “Na ausência de quaisquer limites ou barreiras, a necessidade de reinvestir a fim de continuar a ser um
capitalista impulsiona o capitalismo a se expandir a uma taxa composta. Isso cria então uma necessidade
permanente de encontrar novos campos de atividade para absorver o capital reinvestido: daí ‘o problema da
absorção do excedente de capital’. [...] A geografia histórica do capitalismo está repleta de exemplos de crises de
superacumulação, algumas locais e de curta duração (como a queda dos bancos suecos em 1992), outras em uma escala um pouco maior (a recessão de longa data que aflige a economia japonesa desde 1990 aproximadamente)
e outras vezes tomando todo o sistema e, mais tarde, o globo (como em 1848, 1929, 1973 e 2008). Numa crise
geral, uma grande quantidade de capital fica desvalorizada (cerca de 50 trilhões de dólares de perda estimada em
valores de ativos globais na crise atual, por exemplo).”Op. Cit. p. 45. 78 HARVEY, David. O enigma do capital e as crises do capitalismo. 1ª ed. São Paulo: Boitempo, 2011, p. 33. 79 Op. Cit. p. 32. 80 “Desde 1970, as inovações financeiras, como a securitização da dívida hipotecária e a disseminação dos riscos
de investimento mediante a criação de mercados de derivativos, tacitamente (e agora, como vemos, de verdade)
apoiadas pelo poder do Estado, permitiram um enorme fluxo de excesso de liquidez em todas as facetas da
urbanização e do espaço construído no mundo todo.” Op. Cit. p. 75-76.
81 Op. Cit. p. 198. 82António José Avelã Nunes aborda o fenômeno da “propagação contagiosa dos fatores de risco” no contexto da
plena liberdade de circulação do capital financeiro. Para o autor, isso leva a uma acentuação do risco sistêmico e
da ocorrência de crises a escala global, uma vez que “a turbulência causada pela especulação em um dado país
ou região tende a propagar-se a todo sistema financeiro mundial graças ao comportamento mimético dos grandes
especuladores”. NUNES, António José Avelãs. Uma leitura crítica da actual crise do capitalismo. Coimbra:
Boletim de ciências econômicas liv., 2011, p. 15-16.
31
relacionada ao desenvolvimento de um mercado, não regulamentado, de derivativos entre
particulares83
.
Houve a concepção de um círculo vicioso de dispersão dos riscos, através da criação de
um mercado de derivativos, cuja base era composta por empréstimos subprime, ou seja, não
adstrito às exigências de garantia e de renda a que se refere o tradicional sistema de crédito.
Explica-se que muitos desses créditos podem ser “designados empréstimos tipo ninja, i.e,
empréstimos concedidos a quem não tinha rendimentos, nem emprego, nem ativos – ‘No
income, no job or Asset’”84
. Dessa maneira, os altos riscos envolvidos na operação,
diferentemente do que se imagina, não desaparecem na estrutura em rede dos produtos
hipotecários, e, sim, concentram-se, o que amplia a fragilidade do sistema, haja vista que as
operações se diversificavam com a atuação das instituições internacionais85
. Sobre a origem
da crise de 2007/2008, vale salientar que, apesar das hipotecas estarem lastreados por títulos
de alto risco ou tóxicos, os atores envolvidos agiam como se o preço dos imóveis pudessem
subir para sempre86
. Somado a isso, consolidou-se estruturas fraudulentas de transação
comercial, a exemplo da manipulação de mercado, das fraudes corporativas e da parcialização
de ativos por fusões e aquisições87
, arraigadas na desregulamentação das atividades
financeiras e no reduzido controle estatal.
Não obstante o aumento expressivo da taxa de despejo em áreas de baixa renda
prenunciar um grave desequilíbrio econômico/financeiro nos Estados Unidos desde 2006,
com o alerta de possível calamidade financeira, feito por alguns especialistas, a recessão
83 HARVEY, David. O enigma do capital e as crises do capitalismo. 1ª ed. São Paulo: Boitempo, 2011, p. 13-
14. 84 NUNES, António José Avelãs. Uma leitura crítica da actual crise do capitalismo. Coimbra: Boletim de
ciências econômicas liv., 2011, p. 34. 85 “A banca começou a vender pacotes desses produtos derivados (títulos obrigacionais negociáveis), assentes
em crédito hipotecários menos fiáveis que foram adquiridos por investidores institucionais (hedge funds), tendo-
se espalhado por instituições financeiras de todo o mundo. Disperso o risco pela grande quantidade de titulares
de unidades de participação nestes fundos, os inventores deste ‘jogo’ talvez tenham acreditado terem resolvido a
quadratura do círculo, supondo que poderiam vender esses créditos titularizados sem limitações, criando a ilusão
de que a dispersão dos riscos como que os fazia desaparecer.” Op. Cit, p. 33-34. 86 HARVEY, David. O enigma do capital e as crises do capitalismo. 1ª ed. São Paulo: Boitempo, 2011, p. 10. 87 “Todos os tipos de práticas predatórias bem como as legais (taxas de juros abusivas sobre os cartões de
crédito, execuções hipotecárias em negócios por meio da negação de liquidez em momentos-chave e assim por
diante) podem ser usados para perseguir táticas de despossessão que beneficiam os que já são ricos e poderosos.
A onda de financeirização que ocorreu a partir de meados da década de 1970 foi espetacular por seu estilo
predatório. Promoções de ações e manipulações de mercado; esquemas Ponzi e fraude corporativa; parcialização
de ativos por fusões e aquisições; promoção de níveis de facilitação do endividamento que reduz populações
inteiras, mesmo nos países capitalistas avançados, à escravidão pela dívida; expropriação dos ativos (o assalto
dos fundos de pensão e sua dizimação pelos colapsos das ações e corporações) – todas essas características são
fundamentais para explicar o capitalismo contemporâneo.” Op. Cit. p. 198.
32
ganhou destaque apenas em 2007, quando a classe média branca estadunidense foi
diretamente atingida88
. Tal processo culminou com a emblemática falência do banco Lehman
Brothers em 15 de setembro de 200889
, representando o efetivo colapso do mercado
financeiro a nível internacional, sendo que os efeitos alastraram-se de acordo com o grau de
dependência econômica dos países ao mercado de crédito90
. Tomando como regra a lógica da
socialização dos riscos, coube aos Estados à adoção de conjuntos de medidas de salvaguarda
das instituições financeiras em face do bem-estar dos cidadãos, tornando pública a dívida
contraída pela atuação especulativa dos financistas91
.
Este contexto é retratado no filme “A Grande Aposta” (2015)92
, que aborda os
momentos antecedentes à deflagração da crise econômica de 2007/2008, assim como as suas
consequências e projeções. Primeiramente, destaca-se a insuficiência das concepções
econômicas dominantes, que não conseguiram prever a catarse coletiva. Em segundo,
denuncia-se a intervenção seletiva do Estado no socorro aos responsáveis pelo colapso
financeiro, posto que se optou pela distribuição do ônus para a sociedade. Por fim,
88 HARVEY, David. O enigma do capital e as crises do capitalismo. 1ª ed. São Paulo: Boitempo, 2011, p. 9. 89 “No outono de 2008, no entanto, a ‘crise das hipotecas subprime’, como veio a ser chamada, levou ao
desmantelamento de todos os grandes bancos de investimento de Wall Street, com mudanças de estatuto, fusões
forçadas ou falências. O dia em que o banco de investimentos Lehman Brothers desabou – em 15 de setembro de 2008 – foi um momento decisivo. Os mercados globais de crédito congelaram, assim como a maioria dos
empréstimos no mundo. Como o venerável ex-presidente da Federal Reserve Paul Volcker (que cinco anos antes,
juntamente com vários outros comentaristas de prestígio, previra a calamidade financeira se o governo dos EUA
não forçasse o sistema bancário a reformar seu funcionamento) observou, nunca antes as coisas haviam
despencado ‘tão fácil e tão uniformemente ao redor do mundo’. O resto do mundo, até então relativamente
imune (à exceção do Reino Unido, onde problemas análogos no mercado da habitação já tinham vindo à tona, o
que levou o governo a nacionalizar uma casa de empréstimos importantes, a Northern Rock), foi arrastado
precipitadamente para a lama, gerada em particular pelo colapso financeiro dos EUA.” Op. Cit. p. 10
90 “O colapso dos mercados de crédito, entretanto, teve um impacto diferenciado de acordo com o grau em que a
atividade econômica dependia desses mercados. A Islândia, que havia assumido o papel de empreendedor de
crédito especulativo e sistema bancário, perdeu quase toda a sua riqueza de ativos em questão de semanas,
deixando os investidores (muitos na Grã-Bretanha), com imensas perdas e seu governo em desordem. Muitos
países da Europa oriental que recentemente aderiram à União Europeia e haviam tomado grandes empréstimos
não puderam rolar suas dívidas e enfrentaram a falência (o governo da Letônia entrou em colapso). Por outro
lado, os países que não haviam integrado totalmente seu sistema financeiro à rede global, como China e Índia,
foram mais bem protegidos. E, como consumidores recuaram, países como os EUA e Reino Unido, com
endividamento imenso das famílias em relação à renda, foram atingidos de forma diferente, como foram os
países, a exemplo dos EUA de novo, que tinham as proteções sociais menos generosas contra o aumento do
desemprego. (Os países europeus eram em geral muito melhores nessa questão e, portanto, não precisaram responder com pacotes de estímulo extras.) Os países que dependiam fortemente dos EUA como principal
mercado de exportação, em particular aqueles do Leste e Sudeste Asiático, acabaram sendo puxados para baixo,
assim como os mercados acionários, enquanto produtores de matérias-primas e bens, que estavam em alta no
início de 2008 e consideravam-se imunes à crise, de repente se viram em sérias dificuldades quando os preços
das matérias-primas e bens despencaram no segundo semestre de 2008.” HARVEY, David. Op. Cit. p, 38-39. 91 NUNES, António José Avelãs. Uma leitura crítica da actual crise do capitalismo. Coimbra: Boletim de
ciências econômicas liv., 2011, p. 36. 92 The Big Short (no Brasil, traduzido como A Grande Aposta). Direção: Adam McKay. Produção: por Dede
Gardner, Jeremy Kleiner, Arnon Milchan e Brad Pitt. Estados Unidos: Paramount Pictures, 2015.
33
problematiza-se a reconfiguração das transações financeiras no sentido da disseminação de
novos produtos financeiros, similares aos que deram ensejo à crise mundial93
. É, pois,
essencial abordar a inequívoca correlação entre o padrão de crises financeiras e a renovação
do domínio da classe capitalista, uma vez que os pressupostos e as concepções dominantes,
relativas à manutenção da ordem hegemônica, são reconfiguradas em momentos de crise.
93 “Segundo os desenvolvimentos, conhecidos no início de julho/2011, os bancos privados (sobretudo franceses e
alemãs) aceitam reformar 70% da dívida de curto e médio prazo, substituindo-a por títulos de dívida pagável
num praz de 30 anos, com uma taxa de juro entre 5,5% e 8%, conforme a taxa de crescimento do PIB grego que
vier a verificar-se. Os especialistas chamam atenção para o facto de esta operação assentar em um novo ‘produto
financeiro’, particularmente complexo, que poderá conduzir a uma situação idêntica à que decorreu dos
empréstimo subprime nos EUA.” NUNES, António José Avelãs. Uma leitura crítica da actual crise do
capitalismo. Coimbra: Boletim de ciências econômicas liv., 2011, p. 104-105.
34
2. O PARADIGMA DA AUSTERIDADE E O DIREITO DO TRABALHO DE
EXCEÇÃO
Conforme o exposto no capítulo anterior, a década de 70 inaugura um período histórico
caracterizado por crises econômicas cada vez mais constantes e intensas. Tal peculiaridade
está intimamente associada à ascensão do pensamento econômico neoliberal e da
financeirização do capitalismo, dimensionados enquanto fenômenos convergentes na
desestruturação do poder da classe trabalhadora e, reflexamente, do direito trabalho. A crise
econômica mundial de 2007/2008 foi examinada como auge do padrão das crises financeiras,
evidenciando-se, como regra, a atuação seletiva dos Estados na repartição social do ônus em
favor da ampla proteção ao mercado financeiro.
Tomando como base a obra de António Casimiro Ferreira, o capítulo a seguir examina a
emergência do paradigma da sociedade da austeridade e do direito do trabalho de exceção, em
Portugal, nos anos de 2011/2012, como reflexo das respostas governamentais à crise
econômica mundial anteriormente descrita, conformando um projeto de austeridade
neoliberal. Primeiramente, analisa-se a relação entre a austeridade econômica, o
desmantelamento do Estado social e a flexibilização das relações trabalhistas. Em seguida,
examina-se a articulação do medo e da incerteza no discurso de legitimação do projeto
assinalado, especialmente, no que tange a ruptura dos pressupostos básicos de formação do
direito do trabalho. Neste ponto, são analisados três aspectos principais: o paradoxo da
soberania, a temporalidade de exceção e a jurisprudência de austeridade. Por fim,
problematiza-se a relação entre a mercantilização do direito do trabalho e as interpelações ao
princípio democrático.
2.1 A austeridade econômica, o desmantelamento do Estado Social e a flexibilização das
relações laborais
A atuação dos Estados e Organismos Internacionais, na crise econômica mundial de
2007/2008, convergiu no sentido da transferência do ônus da recuperação do sistema
financeiro para a sociedade, através da manutenção do dogma da economia de mercado94
.
94 GONDIM, T. P. O discurso da austeridade no contexto da atual crise econômica brasileira e suas
implicações para o direito do trabalho. In: II Encontro da RENAPEDTS, 2016, Curitiba. Anais do II encontro
35
Nesse sentido, António Casimiro Ferreira aborda a emergência de um novo paradigma na
sociedade portuguesa, qual seja, a sociedade da austeridade, tendo como referência uma
lógica sociológica renovada de naturalização das desigualdades sociais, associada ao
pensamento hegemônico neoliberal, fundamentando a adoção de medidas relativas à
contenção das despesas do Estado, aumento dos impostos e das taxas de juro, diminuição dos
salários e desregulamentação do direito do trabalho95
. Isto é, um “projeto de austeridade
neoliberal” 96
, envolvendo dois aspectos fundamentais: 1) o Estado, enquanto detentor do
monopólio da austeridade legítima, incumbido de reforçar o sacrifício individual como
solução inevitável à estabilização econômica; 2) ênfase ao desmantelamento do Estado social,
a partir do triplo processo que envolve a privatização dos bens públicos, individualização dos
riscos sociais e mercadorização da vida social.97
Este fenômeno é caracterizado pela estruturação de uma agenda político-econômica
punitiva aos cidadãos98
de culpabilização dos indivíduos pelos efeitos negativos da crise
econômica, promovendo reformas políticas antidemocráticas de redução dos direitos sociais
em prol da garantia dos valores do livre mercado99
. Nesse processo, destaca-se a tendência
inicial de recorte dos direitos trabalhistas, ou melhor, da iniciativa na proposição de reformas
laborais no sentido da flexibilização das relações laborais amparadas por pretenso
RENAPEDTS: rede nacional de pesquisas e estudos em direito do trabalho e da seguridade social. Florianópolis:
Empório do Direito, 2016, p. 806. 95 Segundo o autor, austeridade significa um “processo de implementação de políticas e de medidas económicas
que conduzem à disciplina, ao rigor e à contenção económica, social e cultural”. Nesse contexto específico, a
peculiaridade reside no fato de que “é através dos indivíduos e das suas privações subjetivas e objetivas que se
encontram as soluções para a crise composta pela nebulosa dos mercados financeiros, do défice público do
Estado e dos modelos económicos e sociais seguidos nos últimos anos”. O autor propõem reflexão no sentido de conceber o conjunto de medidas implementadas a partir deste paradigma como uma fórmula sociológica de
naturalização das desigualdades, através do qual define a sua hipótese: “A reflexão levada a cabo neste ensaio
procura contribuir para uma discussão em torno do conceito de sociedade de austeridade orientada pela hipótese
de que à formula conhecida de contenção das despesas do Estado, privatização do setor público, aumento dos
impostos, diminuição dos salários e liberalização do direito do trabalho corresponde uma lógica sociológica de
naturalização das desigualdades.” FERREIRA, António Casimiro. Sociedade da austeridade e direito do
trabalho de exceção. Porto: Vida Econômica, 2012, p. 11-14. 96 Op. Cit. p. 29. 97 Op. Cit. p. 36. 98“O significado atual da austeridade é, portanto, em meu entender, o de um modelo político-econômico punitivo
em relação aos indivíduos, orientado pela crença de que os excessos do passado devem ser reparados pelo sacrifício presente e futuro, enquanto procede à implementação de um arrojado projeto de erosão dos direitos
sociais e a liberalização econômica da sociedade.” Op. Cit. p. 13. 99 “A austeridade tornou-se palavra de ordem, e não somente em Portugal como noutros países da Europa estão a
ser levadas a cabo reformas com o intuito de estabilizar os mercados através do cumprimento do défices
orçamentais previstos. Em comum as várias reformas adotaram a máxima flexibilização quanto aos direitos
sociais e laborais, com o intuito de facilitar a criação de empregos e aumentar a competitividade. O mimetismo
com a agenda reformadora do neoliberalismo é evidente. Os conteúdos apresentados insistem, uma vez mais, na
erosão de direitos sociais e laborais concebidos como barreiras a eliminar no quadro de uma resposta liberal à
crise.” Op. Cit. p. 29.
36
reestabelecimento do crescimento econômico100
. Como consequência, acarreta-se a
fragilização do poder da classe trabalhadora pela fragmentação, segmentação dos modos de
trabalho e precarização dos direitos trabalhistas.
A dimensão social do trabalho é reduzida à lógica do custo-benefício em que a justiça
social se atinge necessariamente através do ônus partilhado pelos cidadãos em benefício do
mercado por intermédio de uma racionalidade neoliberal, que tem como principal
característica “la generalización de la competencia como norma de conducta e la empresa
como modelo de subjetivización” 101
. Isto é, o processo de mercantilização do direito102
que
afasta a dimensão política, entendida na forma de espaço democrático de regulação do
trabalho, e estabelece o primado do mercado em detrimento do valor social do trabalho103
.
Assinala-se também a desestruturação dos sistemas normativos de proteção social e,
dentre eles, o desmonte do sistema jurídico-trabalhista. Nessa égide, desmantelam-se os
pressupostos básicos de formação do direito trabalhista, a partir de uma racionalidade
econômica-utilitarista. Em outros termos, emerge-se o direito do trabalho de exceção,
impactando na perda da identidade político-jurídica do direito do trabalho, frente à eliminação
do “conflito enquanto elemento dinâmico das relações laborais e a proteção do trabalhador
enquanto condição de liberdade”104
. Torna-se, então, essa área do direito em objeto do
mercado e critério de atração para investimentos externos105
. Para tanto, há uma
reconfiguração política através do estabelecimento de um consenso entre atores
100 WILHELMI, Marco Aparicio. Crises financeiras y recortes de derechos: la austeridad como dispositivo de
desposesión constitucional. In: Revista de Derecho Social, n. 76, 2016, p. 20. 101 BAYLOS, Antonio. Crisis y Derecho del Trabajo - ¿Derecho del Trabajo en Crisis? Una Aproximación
desde Europa. In: EINLOFT, Denis; TOSS, Luciane; SEVERO, Valdete Souto (coord.). Direito do Trabalho e
Pensamento Crítico. Porto Alegre: HS Editora, 2016, p. 15. 102 “Entre nós, João Leal Amado observa com perspicácia que a concorrência entre os trabalhadores à escala
universal, a competitividade das empresas, as deslocalizações, os dumping social, etc., têm concorrido para o
surgimento do designado ‘mercado dos produtos legislativos’. Em consonância com a tese de Alain Supiot, Leal
Amado sublinha que a mercadorização dos ordenamentos jurídico-laborais nacionais coloca-os em concorrência
sob égide dos mercados financeiros que impulsionam a desregulamentação das legislações laborais concebidas
agora como fatores de competitividade. O isomorfismo entre o princípio do mercado e os princípios orientadores da legislação laboral conduz assim ‘ao triunfo das leis do mercado’ e à consagração do mercado das leis
(Amado, 2009: 20).” FERREIRA, António Casimiro. Sociedade da austeridade e direito do trabalho de
exceção. Porto: Vida Econômica, 2012, p. 110. 103 BAYLOS, Antonio. Crisis y Derecho del Trabajo - ¿Derecho del Trabajo en Crisis? Una Aproximación
desde Europa. In: EINLOFT, Denis; TOSS, Luciane; SEVERO, Valdete Souto (coord.). Direito do Trabalho e
Pensamento Crítico. Porto Alegre: HS Editora, 2016, p. 9-34. 104
FERREIRA, António Casimiro. Sociedade da austeridade e direito do trabalho de exceção. Porto: Vida
Econômica, 2012, p. 110, p. 76. 105 Op. Cit. p. 75-77.
37
governamentais e não-governamentais106
. Explicando esse ponto, vale observar que o
desmonte analisado é promovido não só por entidades nacionais, como também
supranacionais, ambas atuando no sentido da institucionalização do paradigma da austeridade.
Consequentemente, há de se destacar a relativização da própria soberania do Estado Nação
através da desnacionalização das reformas laborais:
“A reflexão em torno do poder dos não eleitos conduz, ainda, a uma observação
final. Ela diz respeito ao processo de desnacionalização das reformas laborais, pondo
em causa a sobernia nacional. Os sistemas de relações laborais e o direito do
trabalho, em bem rigor, nunca foram totalmente limitados ao espaço nacional. Com
efeito, o papel da OIT e do Código Internacional do Trabalho fizeram-se sentir
desde o início do século XX até os dias de hoje [...] Situação diversa é da atual fase,
que venho me reportando, invocando o conceito do poder dos não eleitos e do direito do trabalho da exceção. Trabalhadores e direitos são, neste momento,
‘desnacionalizados’, tratados como variável de ajustamento de mercados (cf. Supiot,
2005), concebidos, principalmente, como elementos de um plano de austeridade
com o objetivo de gerir as expectativas de investidores internacionais, mercados,
agências de rating, por uma forma a criar um clima de confiança na economia
portuguesa.”107
É o direito do trabalho da exceção um instrumento de reconfiguração dos poderes108
e
importante mecanismo para a constituição de um novo paradigma laboral, visando suplantar o
substrato histórico de formação do direito juslaboral. Esse novo paradigma, portanto, permite
conceber a mercadorização do direito e a objetificação da pessoa humana, transformando-se o
trabalhador em coisa jurídica, uma vez que os seus direitos e garantias são negados,
destacadamente a partir do fenômeno de intensificação da flexibilidade legal e da legalização
de práticas sociais ilegítimas109
. Vale apontar que a flexibilidade laboral é entendida em dois
aspectos. No primeiro deles, situa-se o âmbito da expansão do princípio da liberdade
empresarial. No segundo, localiza-se a redução do custo da força de trabalho. Ao fim, os dois
aspectos se combinam para a redução de direitos e garantias e para a desestruturação dos
sistemas institucionais de proteção ao trabalhador, em especial, no âmbito da remuneração,
106 FERREIRA, António Casimiro. Sociedade da austeridade e direito do trabalho de exceção. Porto: Vida
Econômica, 2012, p. 110, p. 66-67. 107 FERREIRA, António Casimiro. Sociedade da austeridade e direito do trabalho de exceção. Porto: Vida Econômica, 2012, p. 110, p. 77-78. 108 Op. Cit. p. 75. 109 “Na atualidade, o tempo da austeridade e afirmação do direito do trabalho da exceção marcam o surgimento
de uma nova tendência pautada pela redução, ou mesmo resolução, das descoincidências entre o law in books e o
law in action, ao fundirem no direito do trabalho da exceção o aprofundamento da flexibilidade legal e a
legalização de práticas sociais ilegítimas. Ao longo deste tópico vou procurar fundamentar esta hipótese,
orientado pela preocupação de que o direito do trabalho de exceção legitime definitivamente o paradigma laboral
de que o trabalho é uma mercadoria,e que, portanto, o trabalhador enquanto tal é uma pessoa sem direitos, uma
coisa, uma coisa jurídica, um objeto de direitos sem direitos de pessoa.” Op. Cit. p. 90.
38
jornada, formas de contratação e alocação do trabalho110
. Os fundamentos para tamanha
reforma dos marcos legal e convencional, adequando-os à nova ordem hegemônica,
prescidem do discurso sobre o viés econômico, de forma que é proposta a ideia de que as
economias dos países carecem de eficiência e competitividade.
João Leal Amado se afasta dessa compreenssão jurídica eminentemente mercantil,
evidenciando que há diversos outros valores a serem perseguidos pelo direito do trabalho, tais
como, a dignidade humana e o trabalho decente. Nos termos do autor, ainda que houvesse
clara relação entre a flexibilização das relações laborais e o cresimento econômico, estes
valores deveriam ser considerados, especialmente, quanto aos princípios da dignidade da
pessoa humana e do trabalho decente111
.
2.2 A disseminação do medo e da incerteza e a institucionalização da excepcionalidade
Prosseguindo com as concepções do sociólogo Cassimiro Ferreira, a sociedade da
austeridade e o direito do trabalho de exceção se estabelecem a partir de uma lógica de medo
como mecanismo de legitimação. Ambas se referenciam nos princípios da incerteza e
indeterminação, tomando como base a disseminação de uma plataforma governamental,
pautada na mensagem de que se não forem urgentemente adotadas as medidas de austeridade,
inevitavelmente se perpetuaria a instabilidade social, econômica e política. Partem, em suma,
de uma estratégia centralizada na desestruturação dos mecanismos de proteção social,
enquanto é ampliada a insegurança individual. Mais do que nunca, o discurso do medo
permite legitimar e fortalecer o controle social, perpetuando a desigual distribuição de poder e
de bens112
.
110 “na ordem econômica e política hegemônica no capitalismo a partir dos anos 80 nos países centrais e dos anos
90 no Brasil, a flexibilidade apresenta dois sentidos bem definidos. Primeiro, possibilitar maior liberdade às
empresas na determinação das condições de uso, de contratação e de remuneração do trabalho. Em segundo
lugar, possibilitar ajustes no volume e no preço da força de trabalho na perspectiva de reduzir seu custo no
cenário descrito acima. Essas duas finalidades concretizam-se, por um lado, por meio da supressão de benefícios
e de direitos advindos da legislação e/ou de normas coletivas, o que significa a eliminação, diminuição ou afrouxamento da proteção trabalhista e social vigente em cada país. Por outro lado, pela introdução de novas
legislações ou normas coletivas que permitam adaptar os direitos trabalhistas à lógica apontada acima,
especialmente em relação a quatro temas bastante comuns em diversas experiências nacionais: remuneração,
jornada, formas de contratação e alocação do trabalho.” KREIN, José Dari. Tendências Recentes nas relações
de emprego: 1980 – 2005. Instituto de Economia Escola, Universidade Estadual de Campinas, 2007. 111 AMADO, João Leal. O Direito do Trabalho, a crise e a crise do Direito do Trabalho. In: Revista Direito e
Desenvolvimento, Brasil, v. 4, n. 8, julho/dezembro de 2013, p. 184. 112 FERREIRA, António Casimiro. Sociedade da austeridade e direito do trabalho de exceção. Porto: Vida
Econômica, 2012, p. 55.
39
O mecanismo de conversão da austeridade econômica em modelo sócio-político
hegemônico113
, por intermédio da disseminação dos valores neoliberais do mercado,
paralelamente ao desmantelamento do Estado social, visa efetivar a “contratualização da
cidadania” 114
.
No âmbito laboral, as narrativas de conversão do medo em padrão de legitimidade da
metanarrativa neoliberal envolvem, sobretudo, a indeterminação quanto ao presente e a
incerteza sobre o futuro do trabalhador diante da crise econômica, tudo isso convergindo na
temática da insegurança no trabalho. Dimensiona-se, primeiramente, o aspecto objetivo da
possibilidade de perda do emprego, tendo em vista o cenário de empregabilidade estrutural.
Logo, para a disseminação social dessa ideia, expõem-se índices de desemprego e a
dificuldade de integração dos trabalhadores no mercado e nas empresas. Em segundo lugar,
destaca-se o aspecto subjetivo da repercussão social, a qual se refere ao argumento de um
possível desemprego, causando danos individuais e familiares que podem ser analisadas na
perspectiva emocional da perda do emprego115
. Por fim, destaca-se que o contexto cultural
influencia na percepção individual do trabalhador, ameaçando sua segurança laboral, pois
estando ele inserido neste contexto em que os discursos hegemônicos propagam a insegurança
no trabalho, ele acaba por ser emocionalmente afetado116
. Nessa conjuntura, a precarização do
trabalho, utilizada como instrumento de ajuste econômico, dissemina a concepção de que
113 Antônio Casemiro Ferreira utiliza-se da obra de Margareth Somers como referência: “E é este ponto que
pretendo enfatizar, argumentado que o medo, no âmbito da sociedade de austeridade, se afirma como um
mecanismo de tradução de um problema estrutural num desígnio individual, ou socorrendo-me da proposta de
Margaret Somers, num mecanismo de conversão da narrativa da austeridade em modelo político-social
dominante, assegurando a prioridade absoluta dos valores morais do neoliberalismo econômico e laboral (cf. Somers, 2008: 3). O medo e o distopismo são, assim, constitutivos das narrativas de conversão, operando a fusão
entre os níveis coletivo e individual.” Inclusive, na nota de rodapé número 52, define o conceito “narrativas de
conversão” enquanto “medos induzidos através de previsão de outros cenários, de modo a converter as
narrativas dominantes de uma sociedade de um carácter social para uma carácter econômico, fazendo-o através
da exposição das implicações morais e econômicas de continuar no curso de políticas sociais”. SOMERS,
Margaret. 2008, p. 3 Apud FERREIRA, António Casimiro. Sociedade da austeridade e direito do trabalho de
exceção. Porto: Vida Econômica, 2012, p. 56. 114 FERREIRA, António Casimiro. Sociedade da austeridade e direito do trabalho de exceção. Porto: Vida
Econômica, 2012, p. 57. 115 “É importante, também, compreender como é definida a insegurança no trabalho, já que esta é influenciada,
segundo os autores, por dois fatores. Em primeiro lugar, é afetado pela percepção objetiva da possibilidade de perder o emprego, o que inclui o capital humano individual, a empregabilidade, a influência no trabalho, bem
como a situação socioeconômica do indivíduo a nível meso e macro, logo tanto ao nível da empresa como ao
nível do país. Em segundo lugar, pode ser condicionada pela subjetividade e grau emocional relativamente à
insegurança no emprego. Ou seja, os indivíduos que temem as repercussões da perda de emprego na sua vida e
na vida das suas famílias, ou mesmo outras razões que se predem a possibilidade de perder o emprego. Estes dois
fatores gerais condensam as variáveis que afetam a percepção individual em termos da percepção do risco, e
também da percepção do mesmo em termos do impacto que teria esse mesmo risco (Chung e Oorschot, 2010: 8
– 9)” Op. Cit. p. 59-60. 116 Op. Cit. p. 60.
40
mais vale um emprego precário do que nenhum. Sendo assim, dissemina-se a ideia de que, em
um contexto marcado por elevadas taxas de desemprego que sujeita os indivíduos a um estado
ampliado de vulnerabilidade, os trabalhadores devem suportar situações degradantes porque
essa seria a única forma de lhes garantir o emprego e, estruturalmente, de se superar a crise
econômica117
.
O tempo adquire conotação especial no âmbito da sociedade de austeridade. Nesse
sentido, parte-se do pressuposto de que o paradigma da austeridade está inserido dentro do
processo de intensificação da agenda neoliberal, constituindo-se uma temporalidade de
exceção. Por esta razão, Ferreira aponta três consequências principais: 1) a relativização da
história e da memória; 2) o incremento do princípio insegurança jurídica em detrimento da
segurança jurídica; 3) a reconfiguração da noção de consentimento na teoria democrática118
.
Corrompem-se, então, os fundamentos da ordem democrática por meio da reconfiguração do
padrão de regulação jurídica, entendida na forma de aceleração temporal da produção de
direito. Dessa maneira, são empreendidas reformas constitucionais e infraconstitucionais
céleres em desprestígio aos direitos adquiridos e à sistemática de proteção social, negando-se
o conflito social-base que fundamenta a construção democrática ponderada119
. Em suma, há
uma reconfiguração institucional a partir de uma estratégia de conformação das instituições ao
projeto de austeridade neoliberal, segundo uma racionalidade fundamentada na urgência120
,
117 “Na sequência do que anteriormente foi dito, sugiro que a austeridade está a moldar um novo habitus, um
novo modo de vida que se cria a partir do medo e da insegurança subjetiva. Em Portugal, o contexto da
austeridade dá origem a situações de insegurança que são toleradas ou suportadas pelos indivíduos, dado não
terem alternativa possível. [...] Dito de outro modo: a taxa de desemprego alimenta a ideia de que devido à dificuldade de encontrar um emprego, a qualidade do trabalho seja sacrificada, constituindo a precariedade mais
uma variável de ajustamento para a saída da crise.” FERREIRA, António Casimiro. Sociedade da austeridade e
direito do trabalho de exceção. Porto: Vida Econômica, 2012 p. 61. 118 Op. Cit. p. 80- 82. 119 “A aceleração do tempo do direito por efeito da austeridade conduz três patologias temporais. A primeira
resulta do imediatismo e da pressão para a revisão dos textos constitucionais e legislativos. Contrariando os
princípios da estabilidade e da confiança inerentes às limitações impostas aos processos de revisão
constitucional, procura-se proceder à sua alteração invocando o realismo político do momento, a disponibilidade
de maiorias conjunturais e tendencial unanimidade dos partidos do arco constitucional. A segunda decorrente do
esquecimento, nomeadamente quanto ao texto constitucional, o que se reconhece sob a forma de constituição
semântica74 de excecionalidade e paralela, onde se silenciam as regras constitucionais como a da *proibição do retrocesso social75. Colocadas, agora, num limbo correspondendo à excecionalidade do estado de necessidade. A
terceira decorrente do conflito de temporalidades surgido da tensão entre uma decisão rápida e uma decisão
ponderada. O tempo de exceção, como o da austeridade, tende a ocultar os conflitos diluídos no imediatismo das
soluções. Ele contrapõem-se ao tempo da institucionalização dos conflitos que possibilitou (Dahrendorf, ...) a
criação de uma arquitetura social onde se legitimaram os direitos adquiridos.” Op. Cit. p. 83 – 84. 120 “Em síntese, a urgência provoca uma desvalorização do passado, por ter já ocorrido, e do futuro, por ser
demasiadamente incerto. Provoca igualmente uma desqualificação das expectativas, da duração e das transições.
Emerge, assim, uma cultura político-jurídica de impaciência e propensão para a resolução dos problemas por via
do provisório definitivo. Digamo-lo numa palavra: o transitório tornou-se o habitual, a urgência tornou-se
41
que deslegitima quaisquer outras formas de regulação social se estas não visarem à tutela do
mercado. No âmbito laboral, o autor já referido destaca, como consequência principal desse
processo, a perda da identidade político-jurídica do direito do trabalho, sobretudo, quando se
nega a sua função econômico-instrumental no equilíbrio da relação entre o trabalho e o
capital. O direito do trabalho, portanto, passa a ser moldado em consonância com a afirmação
dos dogmas do neoliberalismo, tencionando a liberdade e igualdade nas relações de trabalho,
e eliminando o seu caráter protetivo121
.
Em razão disso, o próprio Estado de Direito é interpelado no âmbito do consenso entre
poderes governamentais eleitos e não eleitos, como anteriormente mencionado, destacando-se
a progressiva influência das entidades supranacionais na consolidação do paradigma
neoliberal. Tal influência mercadológica fica mais aparente quando o Estado é questionado
sobre os seus motivos para intervir no controle da legalidade e legitimidade dos direitos122
.
Esta reconfiguração de poderes dá ensejo ao “paradoxo da soberania”, que quer dizer “(1) o
facto de a soberania se encontrar ao mesmo tempo dentro e fora da ordem política nacional;
(2) o facto de a soberania se encontrar ao mesmo tempo dentro e fora da ordem jurídica” 123
.
Em outros termos, as intervenções do paradigma da austeridade feitas no Estado de Direito
decorrem de uma estratégia fundamentada na “autossuspensão da soberania pela soberania, e
de um direito que se coloca fora da lei através dele próprio”124
. Cria-se, porquanto, um
sistema de exceção da soberania e do direito a partir da atuação governamental que
implementa uma série de reformas legais, as quais se orientam pelos princípios da incerteza e
indeterminação125
.
Neste processo de institucionalização da austeridade, Antônio Casimiro Ferreira aborda
a atuação do judiciário na chancela do programa governamental de austeridade e alerta para a
tendência da relativização do sistema de controle entre os poderes federativos (legislativo
executivo e judiciário). Inicialmente, aduz-se o caráter político, decorrente da disputa
envolvida do controle judicial da legalidade sobre as decisões políticas que se referem ao
permanente (cf. Ost, 2001: 359).” FERREIRA, António Casimiro. Sociedade da austeridade e direito do
trabalho de exceção. Porto: vida econômica, 2012, p. 84.
121 Op. Cit. p. 85-86. 122 Op. Cit. p. 69. 123 AGAMBEN, 1998, p. 15 Apud FERREIRA, António Casimiro. Sociedade da austeridade e direito do
trabalho de exceção. Porto: Vida Econômica, p. 70. 124 Op. Cit. p. 70. 125 Idem.
42
paradigma da austeridade, uma vez que a normatividade de exceção conduz a indefinição na
fronteira entre o constitucional e o inconstitucional. Segundo o autor, apesar da possibilidade
das Supremas Cortes terem disponíveis cenários interpretativos direcionados à fiscalização e
aplicação do direito, na prática, elas optam por afirmar as medidas empreendidas. Estabelece-
se, então, uma jurisprudência de austeridade que tem como fundamento a atuação interventiva
por parte do sistema judiciário no sentido da legitimação das políticas de austeridade,
estabelecida por uma racionalidade instrumental, pautada no princípio da separação dos
poderes126
.
2.3 A mercadorização do direito do trabalho e o rompimento do pacto democrático
A correlação entre a supressão da soberania e as interpelações ao Estado de Direito, a
pressão política dos agentes do mercado nacionais e internacionais, a implantação do projeto
de austeridade neoliberal constituem ameaças ao princípio democrático. No tocante ao
Direito, é estudado que este passa a ser conformado pelo padrão tecnicista, o qual diz formar
normas pretensamente neutras. Como resultado, afastam-se os limites conferidos pela
soberania popular e pelo princípio democrático de produção do direito, os quais colocam em
jogo a própria temporalidade atinente à produção normativa, com fulcro na inevitabilidade e
urgência da reconfiguração da ordem hegemônica127
.
Em suma, emerge o direito de exceção, “projetando-se como direito líquido no sentido
de Bauman, prescinde dos predicados da previsibilidade, da segurança e da confiança,
transmudando-se em instrumento de dominação da nova configuração de poderes”128
.
Especialmente no âmbito laboral, é eliminado o seu caráter ambivalente, bem como é negado
seu papel na organização das relações desiguais de poder. Constrói-se, pelo entendimento
neoliberal, o direito do trabalho de exceção, que simboliza um direito do trabalho
instrumentalizado pelo mercado, representando a negação dos pressupostos básicos de
formação do ramo juslaboral.129
126 FERREIRA, António Casimiro. Sociedade da austeridade e direito do trabalho de exceção. Porto: Vida Econômica, p. 72-73.
127 Op. Cit. p. 75. 128
FERREIRA, António Casimiro. Sociedade da austeridade e direito do trabalho de exceção. Porto: Vida
Econômica, 2012, p. 75. 129 Op. Cit. p. 77.
43
3. A “AUSTERIZAÇÃO” NO BRASIL
Tomando como base os referenciais expostos no capítulo 2, examinam-se em seguida as
consequências na seara do direito do trabalho da emergência de plataforma de austeridade
neoliberal no Brasil, emplacada mais fortemente pelo governo de Michel Temer, em
decorrência do impeachment da presidente Dilma Rousseff. Contextualiza-se a
desestruturação do mercado de trabalho brasileiro a partir da crise política e econômica
delineada nos anos de 2015/2016, analisando os aspectos conjunturais do estabelecimento do
direito do trabalho de exceção. O primeiro aspecto se refere à pretensa reformulação das
fontes do direito do trabalho no Brasil, tendo em vista a proposta de inclusão do artigo 661-A
na CLT por intermédio da PL nº 6787/2016 (PLC nº 38/2017), que estabelece a prevalência
do negociado sobre o legislado, analisado à luz do paradoxo da soberania. Após, analisa-se a
tramitação da PEC 241/2016 (EC nº 95/2016), relativa ao teto de gastos públicos, além da
utilização de medidas provisórias pelo Poder Executivo, associando-as ao fenômeno da
temporalidade de exceção. Por fim, são examinadas diversas decisões do STF convergentes
na restrição de direitos e garantias trabalhistas. Analisa-se especificadamente a ADIn 5468,
que julgou constitucional o corte de gastos orçamentários à Justiça do Trabalho, promovida
pela LOA/2016, problematizando-se a consolidação de uma jurisprudência de austeridade no
âmbito da Suprema Corte brasileira.
3.1 Crise política, crise econômica e a desestruturação do mercado de trabalho brasileiro
O Brasil atingiu a marca de 14,2 milhões de desempregados no primeiro trimestre de
2017130
, conforme levantamento realizado pelo IBGE, no âmbito da PNADC, o que
representa uma taxa de 13,7% de desemprego. Trata-se da maior taxa de todos os tempos, se
for considerado o início dessa abordagem metodológica a partir de 2012, a qual foi
responsável pela substituição definitiva da PME em fevereiro de 2016. Além disso, a taxa
composta de subutilização da força de trabalho, que envolve os indicadores da subocupação
por insuficiência de horas trabalhadas, de desocupação e de força de trabalho potencial,
130
IBGE: total de desempregados cresce e atinge 14,2 milhões. AGÊNCIA BRASIL. Rio de Janeiro,
24/04/2017. Disponível em: http://agenciabrasil.ebc.com.br/economia/noticia/2017-04/ibge-total-de-
desempregados-cresce-e-atinge-142-milhoes. Acesso em 29/05/2017.
44
registrou a marca de 24,1%, correspondendo a 26,5 milhões de pessoas em situação de
subemprego131
.
Em outubro de 2016, pelo 19º mês seguido, as demissões superaram as contratações,
com 74,7 mil postos formais de trabalho fechados, acumulando-se perda de 751.816 vagas
formais de emprego, no período compreendido entre janeiro e outubro de 2016, segundo dados do
CAGED relativo ao MTE132
. Há de se assinalar que esses números simbolizam um processo de
desestruturação do mercado de trabalho brasileiro, sobretudo, a partir do ano de 2015,
consolidando uma conjuntura de recessão da economia brasileira, paralelamente a
intensificação de crise política. Crise política esta que culminou no impeachment da ex-
presidente Dilma Rousseff e a ascensão de Michel Temer como presidente da república.
Tabela 1: Taxa de desocupação das pessoas de 14 anos ou mais de idade, na semana de
referência - Brasil, Grandes Regiões e Unidades da Federação. PNADC.133
131 Taxa composta de subutilização da força de trabalho chega a 24,1% no Brasil. Cerca de 26,5 milhões de pessoas não estão em trabalhos adequados. CORREIO DO ESTADO. Mato Grosso do Sul, 18 de maio de
2017. Disponível em: http://www.correiodoestado.com.br/brasilmundo/taxa-composta-de-subutilizacao-da-
forca-de-trabalho-chega-a-241-no/304143/. Acesso em 29/05/2016. 132 Brasil fecha 74,7 mil postos formais de trabalho em outubro Foi o 19º mês seguido em que demissões
superaram as contratações no país. Números do emprego formal foram divulgados pelo Ministério do Trabalho.
PORTAL G1. Brasília, 24/11/2016. Disponível em: http://g1.globo.com/economia/noticia/2016/11/brasil-tem-
perda-de-744-mil-postos-formais-de-emprego-em-outubro.html. Acesso em 29/05/2016. 133Disponível:<http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/indicadores/trabalhoerendimento/pnad_continua/.
Acesso 29/05/2017.
45
Gráfico 1: Taxas de subutilização da força de trabalho das pessoas de 14 anos ou mais
de idade – Brasil – (2012 – 2016). PNADC.134
Tabela 2: Emprego e Renda. Criação de novas vagas formais. Carta de conjuntura/Out.
2016. IPEA.135
134Disponível:<ftp://ftp.ibge.gov.br/Trabalho_e_Rendimento/Pesquisa_Nacional_por_Amostra_de_Domicilios_c
ontinua/Trimestral/Novos_Indicadores_Sobre_a_For%C3%A7a_de_Trabalho/pnadc_201201_201603_trimestre
_novos_indicadores.pdf>. Acesso: 29/05/2017. 135Disponível em: http://www.ipea.gov.br/cartadeconjuntura/index.php/series-estatisticas-conjunturais-2/. Acesso
em 29/05/2017.
46
Desde dezembro de 2007, o IPEA realiza análise e projeções econômicas,
trimestralmente, por intermédio das Cartas de Conjuntura, com disponibilização de Séries
Estatísticas Conjunturais, e do indicador IPEA. Também são disponibilizados alguns
trabalhos de pesquisa na plataforma observatório do desenvolvimento136
. A síntese da carta de
conjuntura nº 23 (junho de 2014)137
aborda a percepção de baixo dinamismo da economia
brasileira, reforçando as análises do ano de 2013. Nesse estudo, destaca-se que a confiança
dos consumidores e empresários se encontrava em níveis similares ao ano de 2009, quando o
país se recuperava dos efeitos da crise financeira mundial (2007/2008).
Em que se pese a estagnação econômica com um quadro de pressão inflacionária e
aumento do déficit externo e interno, o mercado de trabalho ainda era considerado um aspecto
positivo. Vale lembra que o país mantinha um baixo nível de desemprego e sustentava valores
reais dos salários, apesar da Série do IPEA constatar a desaceleração da criação de postos
formais em 2014138
. Então, ajustes econômicos estruturais são propostos pelo governo no ano
de 2015, notadamente no âmbito fiscal, naquilo que tange à contenção dos gastos públicos,
136 Segue a apresentação da edição nº 1 da carta de conjuntura (dez. 2007): “o Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada (Ipea) inaugura, com esta Carta, uma nova sistemática de apresentação das publicações sobre a
conjuntura, visando ampliar o debate sobre os rumos da economia brasileira. 1. Carta de Conjuntura – A partir
deste mês, será divulgada, com periodicidade trimestral, a Carta de Conjuntura, trazendo uma análise dos
principais temas econômicos dos três meses precedentes, sempre acompanhada de projeções dos mais
importantes indicadores macroeconômicos. 2. Séries Estatísticas Conjunturais – Junto com a Carta será
disponibilizada, na página do Ipea na internet (www.ipea.gov.br), uma segunda publicação, denominada Séries
Estatísticas Conjunturais, com diversos quadros e gráficos que permitirão uma observação mais detalhada dos
números da economia. 3. Observatório do Desenvolvimento – Uma vez por ano, sempre no mês de maio, será
publicado o Observatório do Desenvolvimento, com trabalhos de pesquisa sobre a economia brasileira. O propósito aqui será permitir uma análise mais aprofundada dos temas tratados, colocando-os numa perspectiva
de longo prazo. 4. Indicador Ipea – Mensalmente será divulgado o Indicador Ipea, que apresentará a projeção
calculada pelo Ipea para os resultados da Pesquisa Industrial Mensal (PIM) do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE). A principal característica dessa publicação está em antecipar em cerca de três semanas a
variação da produção industrial calculada pelo IBGE.” IPEA. Carta de conjuntura nº 1. Brasília, DF, dezembro
de 2007. Disponível em: http://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/conjuntura/cc01_apresentacao.pdf.
Acesso em 29/05/2017. 137 Disponível em: http://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/conjuntura/cc23_sintesedaconjuntura.pdf.
Acesso em 30/05/2017. 138 Conforme a síntese da carta de conjuntura nº 25 (dez. 2014): “O ano de 2014 se encerra com um quadro
complexo, em que a virtual estagnação da atividade econômica se combina com a persistência de pressões inflacionárias, com a elevação, ainda que gradual, do deficit externo e com sensível piora das contas públicas. O
mercado de trabalho permanece sendo a nota positiva nesse quadro, com a manutenção da taxa de desemprego
em níveis historicamente baixos e a sustentação de ganhos reais de salário cumprindo um papel importante em
mitigar o custo social da desaceleração da atividade econômica. Mas mesmo este já apresenta sinais de fraqueza,
com importante desaceleração da criação de novos postos, até o momento compensada pela redução da
população economicamente ativa.” IPEA. Carta de conjuntura nº 25. Brasília, DF, dezembro de 2014, p. 7.
Disponível em:
http://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/conjuntura/cc_dez2014_sinteseconjuntura.pdf. Acesso em:
30/05/2017.
47
redução da inflação e das contas externas. Foi assinalado, na defesa da politica econômica que
se seguiu, a acentuada deterioração econômica e o aumento expressivo da taxa de
desemprego139
. É de bom tom reforçar, que a discussão sobre os rumos da economia se deu
em contexto de grande instabilidade politica, haja vista a discussão sobre a possibilidade de
afastamento da presidente Dilma Rousseff140
.
Diversos relatórios, subscritos por organismos internacionais, tais como FMI, OCDE e
Banco Mundial, indicavam a necessidade de resolução das instabilidades políticas, no sentido
de estabelecimento de consenso político para a realização de reformas econômicas
estruturais141
. Em 28 de outubro de 2015, o PMDB correspondia não só a sigla partidária do
vice-presidente à época, Michel Temer, como também representava a maior base governista.
Aproveitando-se desse quadro, o partido lança um manifesto intitulado “Uma Ponte para o
Futuro”142
, ressaltando a inevitabilidade e emergência de ajustes estruturais macroeconômicos
nas searas tributária, previdenciária e trabalhista, referenciando seu manifesto no Relatório
139 Nesse sentido, segue a conclusão da carta de conjuntura nº 28 (set. 2015): “Em suma, o momento econômico
é delicado e, diante do acúmulo de incertezas, a reação natural dos agentes econômicos é retrair-se à espera de
sinalizações mais concretas sobre o futuro. Isso revela um cenário econômico que é fortemente condicionado
pelo quadro político. A recuperação da confiança depende, por um lado, da capacidade do governo federal de
apresentar medidas que propiciem um cenário fiscal mais previsível e confortável para os próximos anos e, por
outro, de uma adequada articulação entre o Executivo e o Congresso no sentido de alcançar acordos que
permitam a aprovação dessas medidas.” IPEA. Carta de conjuntura nº 28. Brasília, DF, setembro de 2015, p.
10. Disponível em: http://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/conjuntura/151120_cc28_sintese.pdf. Acesso em 31/05/2017. 140 Em 2 de dezembro de 2015, o então presidente da Câmara do Deputados Eduardo Cunha aceitou formalmente
a denúncia, oferecida pelos juristas Hélio Bicudo, Miguel Reale Júnior e Janaina Paschoal, relativa ao
cometimento de crime de responsabilidade, precisamente, irregularidades em movimentações fiscais (“pedaladas
fiscais”) e na emissão de decretos suplementares. Impeachment de Dilma: Uma retrospectiva. POLITIZE. Santa
Catarina, 25/08/2016. Disponível em: http://www.politize.com.br/impeachment-de-dilma-retrospectiva/. Acesso
em 31/05/2017.
141 “Desde o final de 2014, a grande mídia noticiou com frequência relatórios de organismos não-eleitos – como FMI, OCDE, Banco Mundial e agências de rating – que apresentavam análises, prognósticos e recomendações
sobre a crise econômica brasileira. Em comum, esses relatórios produziram, por meio de determinados
indicadores, uma narrativa caracterizada pela intensificação da queda da economia brasileira com a projeção de
um cenário cada vez mais catastrófico para o futuro e pela necessidade imediata de resolução dos problemas
políticos para a construção de um caminho de saída da crise econômica sem recomendar, no entanto, a
preservação da ordem constitucional e do regime democrático.” GONDIM, Thiago Patrício. O discurso da
austeridade no contexto da atual crise econômica brasileira e suas implicações para o direito do trabalho. In: COUTINHO, Aldacy Rachid; WANDELLI, Leonardo Vieira (org.). Anais do II encontro RENAPEDTS. 1.ª
ed. Florianópolis: Empório do Direito, 2016, p. 813 – 814.
142 Uma Ponte para o Futuro. Fundação Ulysses Guimarães, PMDB, Brasília, 29 out. 2015. Disponível em:
http://pmdb.org.br/wp-content/uploads/2015/10/RELEASE-TEMER_A4-28.10.15Online.pdf. Acesso em:
31/05/2016.
48
Global de Competitividade 2015-2016 do FEM143
. Neste Relatório, argumentou-se que o
Brasil teria perdido 18 posições no ranking de competitividade, ficando em 75º lugar dentre
os 140 países analisados.
Em 19 de março de 2016, o PMDB formalmente abandonou a base aliada do
governo144
, sendo a presidente Dilma afastada provisoriamente de sua função em 12 de maio
de 2016, a partir da abertura pelo Senado do processo de Impeachment145
. Nesse cenário,
estabelece-se um governo transitório em que o vice-presidente, Michel Temer, assume a
Presidência da República. Em seguida, seu governo se torna definitivo na data de 31 de agosto
de 2016, quando a ex-presidente é condenada pelo Senado Federal por de crime de
responsabilidade, perdendo o mandato146
. Tomando como referência o manifesto acima,
Temer elabora sua plataforma de governo baseada na ideia de austeridade econômica. No
âmbito laboral, justamente quando são registrados sucessivos aumentos das taxas de
desemprego e subocupação, ocorre a flexibilização das relações trabalhistas e as reformas
legislativas são apontadas como pilares do programa governamental147
. Os argumentos para
tanto refletem uma concepção sobre eficiência, competitividade e integração na cadeia do
mercado global. Em outras palavras, pode-se entender que o programa governamental
143 Jose dari Krein afirma tratar-se de projeto de mercado, não de nação, no sentido da retirada de direitos e
desestruturação dos mecanismos de proteção social, segundo o autor, “é um programa que tem como
diagnósticos dos problemas do país o Relatório Global de Competitividade 2015-2016, do Fórum Econômico
Mundial. Ou seja, é uma visão de quem pretende construir um mercado e não uma nação, pois as informações
são baseadas em pesquisas realizadas com empresários discutindo as condições para viabilizar os seus negócios”.
KREIN, José Dari. O golpe e as tendências de desconstrução dos direitos no Brasil. In: RAMOS, Gustavo Texeira; MELO, Hugo Cavalcante; LOGUÉRCIO, José Eymard; FILHO, Wilson Ramos (org.). A classe
trabalhadora e a resistência ao golpe de 2016. Bauru: Editora Praxis, 2016. 1ª edição, p.226. O relatório Global
de Competitividade 2015-2016, do Fórum Econômico Mundial está Disponível em:
http://reports.weforum.org/global-competitiveness-report-2015-2016/. Acesso em: 31/05/2016. 144 Por aclamação, PMDB oficializa rompimento com governo Dilma. Os seis ministros peemedebistas serão
orientados a entregar seus cargos. Saída do PMDB pode desencadear desembarque de outras siglas aliadas.
PORTAL G1. Brasília, 29/03/2016. Disponível em: http://g1.globo.com/politica/noticia/2016/03/por-
aclamacao-pmdb-oficializa-rompimento-com-governo-dilma.html. Acesso em 31/05/2017. 145 Processo de impeachment é aberto, e Dilma é afastada por até 180 dias. Senadores aprovaram instauração de
processo por 55 votos a 22. Presidente fica afastada por até 180 dias enquanto é julgada no Senado.
PORTAL G1. Brasília, 12/05/2016. Disponível em: http://g1.globo.com/politica/processo-de-impeachment-de-dilma/noticia/2016/05/processo-de-
impeachment-e-aberto-e-dilma-e-afastada-por-ate-180-dias.html. Acesso em 31/05/2017. 146
Senado aprova impeachment, Dilma perde mandato e Temer assume. PORTAL G1 Brasília, 31/08/2016.
Disponível em: Senado aprova impeachment, Dilma perde mandato e Temer assume. Disponível em:
http://g1.globo.com/politica/processo-de-impeachment-de-dilma/noticia/2016/08/senado-aprova-impeachment-
dilma-perde-mandato-e-temer-assume.html. Acesso em 31/05/2017. 147
Conheça o plano de governo de Temer. Programa estabelece idade mínima de aposentadoria e flexibiliza as
leis trabalhistas. O DIA. Rio de Janeiro, 18/04/2016. Disponível em: http://odia.ig.com.br/brasil/2016-04-
18/conheca-o-plano-de-governo-de-temer.html. Acesso em: 31/05/2017.
49
representa um projeto de austeridade neoliberal148
, desmaterializando os direitos sociais,
especialmente, previdenciários e trabalhistas e articulando o discurso da crise e da legitimação
pelo medo no sentido da concentrar o poder nas mãos da classe empresarial brasileira149
.
A visão geral da carta de conjuntura nº 33 (4º trimestre de 2016) do IPEA reforça essa
agenda governamental. Ela aduz a inevitabilidade da adoção de medidas direcionadas ao
campo macroeconômico do ajuste fiscal e equilíbrio da política monetária. Além do mais,
sugere reformas microeconômicas no intuito de atrair investimentos do capital
internacional.150
Dentre as reformas microeconômicas sugeridas, destaca-se a trabalhista,
apontando-se a atual legislação como entrave a competitividade brasileira no mercado
mundial diante suposta rigidez. Nesse sentido, a retomada do crescimento econômico
brasileiro é condicionado à flexibilização das relações laborais151
. A seguir, é examinada uma
das propostas fundamentais da reforma trabalhista proposta pelo Governo Federal, qual seja, a
estipulação da prevalência do negociado sobre o legislado, dimensionando-a como um dos
aspectos concernentes emergência do direito do trabalho de exceção no Brasil.
3.2 O direito do trabalho de exceção no Brasil
Contextualiza-se, neste tópico, um pouco mais sobre as referências já expostas no
capítulo 2, quanto à emergência do paradigma da austeridade e a conformação de um direito
do trabalho de exceção. O manifesto intitulado a “ponte para o futuro” do PMDB prenunciava
um dos pontos que viria a fundamentar a plataforma do governo Temer, na seara trabalhista,
qual seja, “permitir que as convenções coletivas prevaleçam sobre as normas legais, salvo
quanto aos direitos básicos”152
. Esse ponto foi reiterado a nível nacional pela CNI nos
documentos intitulados “101 propostas para modernização trabalhista”153
e “Agenda para o
148 Para uma análise da introdução das políticas de austeridade a nível internacional: CARELLI, Rodrigo de
Lacerda. O neoliberalismo, as reformas trabalhistas, a “desdemocratização” e os direitos humanos no
trabalho. In: EMERIQUE, L. M. B.; GARCIA, Ivan Simões; SILVA, Sayonara Grillo (Org.). Direitos Humanos
e Trabalho Decente. 1. ed. Belo Horizonte: Forum, 2016, v. 1, p. 93-109. 149 SILVA, Sayonara Grillo Leonardo Coutinho da. A introdução das políticas ultraliberais no Brasil e as
reformas trabalhistas: uma ponte para a exceção? In: EINLOFT, Denis; TOSS, Luciane; SEVERO, Valdete
Souto (coord.). Direito do Trabalho e Pensamento Crítico. Porto Alegre: HS Editora, 2016, p. 74. 150 IPEA. Carta de Conjuntura nº 33 – 4º trimestre de 2016. Brasília, DF, 2016, p. 12 - 13. Disponível em:
http://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/conjuntura/161130_cc33_visao_geral.pdf. Acesso em:
30/05/2017. 151 Vide tópico 2.3. 152
Uma ponte para o futuro. Fundação Ulysses Guimarães, PMDB, Brasília, 29 out. 2015, p. 19. 153 Disponível em: http://www.portaldaindustria.com.br/publicacoes/2013/2/101-propostas-para-modernizacao-
trabalhista/. Acesso em: 31/05/2017.
50
país sair da crise 2016-2018”154
. Não consiste, fundamentalmente, em nova reivindicação do
empresariado, uma vez que essa temática já foi objeto de discussão no âmbito dos governos
Collor (PL nº 821/91) e Fernando Henrique Cardoso (PL nº 5483/01), inclusive, neste último,
houve a aprovação pela câmara dos deputados de tal medida, mas posteriormente ela foi
arquivada. Deste modo, de início, analisa-se a problemática da prevalência do negociado
versus o legislado à luz do paradoxo da soberania.
3.2.1 O paradoxo da soberania: a prevalência do negociado versus legislado
A reformulação do sistema de fontes do direito do trabalho, com objetivo de se estipular
a prevalência do negociado sobre legislado, é um dos pontos estruturantes da agenda
neoliberal. Com isso, a proposta de reformar esse sistema permite a redução dos direitos e
garantias do trabalhador, apesar dos argumentos utilizados estarem travestidos pelo discurso
da modernização, eficiência e competitividade, tomando como referência a concepção
mercantilizada do ramo jurídico trabalhista155
. Deve-se frisar que a Reforma conta com a ideia
de negação da desigualdade de forças existentes na relação trabalhista, diante de seu caráter
essencialmente antagônico. Por esse motivo, torna-se lógico que a assunção da prevalência do
negociado implica, necessariamente, em prevalência dos interesses do capital, vez que ao
invés de negociação, estabelece-se efetiva imposição por parte daqueles que detém a
supremacia da força econômica:
“Neste contexto regulatório, observa-se a apropriação do discurso para criação de
novos dispositivos, ao mesmo tempo de legitimação e dominação, no espírito novo
do capitalismo. A ampla negociação coletiva é uma reivindicação histórica e importante da classe trabalhadora no processo de sua constituição e afirmação como
classe. Contudo, o Direito do Trabalho é do Trabalho e não do Capital na medida
exata em que traz em si a dimensão utópica da autonomia. Todavia, quando se
propõe uma fissura total entre os sistemas jurídicos e ‘se dá às partes a opção de
escolher’ entre qual o ordenamento jurídico a lhe ser aplicável, não temos
autonomia, temos ‘mercado de produtos legislativos’; um law shopping chegando a
um direito, que deixaria de ser ambiguamente um direito capitalista do trabalho para
154 Disponível em: 2016-2018http://www.portaldaindustria.com.br/publicacoes/2016/4/agenda-para-o-brasil-sair-
da-crise-2016-2018/. Acesso em 31/05/2017. 155 “A proposição de reformular o sistema de fontes do direito, de modo a separar em ordens jurídicas distintas as
regulações aplicáveis, ‘a ser objeto de escolha pelos interessados’ é um indicador de como a negociação coletiva
é reorientada, para constituir alternativa às regras legais ou transformar a natureza destas em uma legalidade que
pode não ser aplicada, passível de ser afastada.” SILVA, Sayonara Grillo Leonardo Coutinho da. A introdução
das políticas ultraliberais no Brasil e as reformas trabalhistas: uma ponte para a exceção? In: EINLOFT,
Denis; TOSS, Luciane; SEVERO, Valdete Souto (coord.). Direito do Trabalho e Pensamento Crítico. Porto
Alegre: HS Editora, 2016, p. 75.
51
se afirmar como um direito do capital sobre o trabalho. Ou seja, para um direito que
não precisa ser revogado, pois se suspende.”156
Após desistir de alterar a legislação trabalhista por intermédio de MP157
, o governo
Temer, em 22 de dezembro de 2016, direcionou iniciativa de lei à câmara dos deputados, a
“minirreforma trabalhista”158
, que veio a ser denominado PL nº 6.787/2016/PLC nº 38159
, com
objetivo de alterar dispositivos da CLT e da lei sobre trabalho temporário (Lei 6019/74).
Dentre os aspectos fundamentais, destaca-se a inclusão na CLT do artigo 611-A160
, que
institui a ampla prevalência do negociado sobre o legislado em temas centrais da relação de
trabalho, tais como, férias, jornada de trabalho, plano de cargos e salários, ultratividade das
normas e instrumentos coletivos, dentre outros. Conforme a exposição dos motivos do projeto
de lei trata-se de um instrumento de valorização da negociação coletiva entre trabalhadores e
empregados. Contudo, não foram reguladas formas de intervenção direta do trabalhador na
156 SILVA, Sayonara Grillo Coutinho Leonardo da. A introdução das políticas ultraliberais no Brasil e as
reformas trabalhistas: uma ponte para a exceção? In: EINLOFT, Denis; TOSS, Luciane; SEVERO, Valdete Souto (coord.). Direito do Trabalho e Pensamento Crítico. Porto Alegre: HS Editora, 2016, p. 76. 157
Governo desiste de mudar legislação trabalhista por medida provisória. UOL. Brasília, 22/12/2016.
Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2016/12/1843701-governo-desiste-de-mudar-legislacao-
trabalhista-por-medida-provisoria.shtml. Acesso em: 01/06/2016
158 Temer anuncia propostas de mudanças na legislação trabalhista. Presidente apresenta às centrais sindicais e
aos empresários uma minirreforma. ESTADÃO.
Disponível em: http://economia.estadao.com.br/ao-vivo/michel-temer-reforma-trabalhista-2017. Acesso em:
01/06/2017. 159 Para uma análise crítica mais detalhada desta medida legislativa: Nota técnica nº 7, da Secretaria de Relações
institucionais do Ministério Público do Estado. MPT. Brasília, DF, 09/05/2017. Disponível em:
http://fundacaoanfip.org.br/site/wp-content/uploads/2017/06/Nota-t%C3%A9cnica-PLC-38_2017-MPT.pdf.
Acesso em: 14/06/2017.
160 Nesse sentido, segue a redação original do Projeto de lei nº 6.787/2016:
[...] “Art. 611-A. A convenção ou o acordo coletivo de trabalho tem força de lei quando dispuser sobre: I - parcelamento de período de férias anuais em até três vezes, com pagamento proporcional às parcelas, de
maneira que uma das frações necessariamente corresponda a, no mínimo, duas semanas ininterruptas de
trabalho;
II - pacto quanto à de cumprimento da jornada de trabalho, limitada a duzentas e vinte horas mensais;
III - participação nos lucros e resultados da empresa, de forma a incluir seu parcelamento no limite dos prazos do
balanço patrimonial e/ou dos balancetes legalmente exigidos, não inferiores a duas parcelas;
IV - horas in itinere;
V - intervalo intrajornada, respeitado o limite mínimo de trinta minutos; VI - ultratividade da norma ou do
instrumento coletivo de trabalho da categoria;
VII - adesão ao Programa de Seguro-Emprego - PSE, de que trata a Lei no 13.189, de 19 de novembro de 2015;
VIII - plano de cargos e salários; IX - regulamento empresarial;
X - banco de horas, garantida a conversão da hora que exceder a jornada normal de trabalho com acréscimo de,
no mínimo, cinquenta por cento;
XI - trabalho remoto;
XII - remuneração por produtividade, incluídas as gorjetas percebidas pelo empregado; e
XIII - registro de jornada de trabalho.”
[...]
Disponível:<http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=1520055&filename=PL+
6787/2016>.Acesso em 01/06/2017.
52
gestão empresarial, restringindo-se a ampliar hipótese de possibilidade da supressão de
direitos por instrumentos coletivos, constituindo apropriação pelo Governo Federal de uma
das demandas históricas da classe trabalhadora relativa à efetivação da autonomia nas
relações laborais161
.
Propõe-se, como medida complementar a regulamentação do artigo 11 da CRFB/88,
que ressalta a necessidade de construção de um canal de representação dos trabalhadores no
âmbito da empresa, inclusive se remetendo a experiências de países europeus. Porém, a
medida completar não avança na estipulação de mecanismos de integração dos trabalhadores
na dinâmica organizacional e produtiva da empresa, afigurando-se representação
eminentemente formal, no sentido da harmonização da relação e enfraquecimento do poder
sindical, uma vez que não é necessária a sindicalização. Além disso, a medida exclui a
possibilidade dos trabalhadores com contrato por tempo determinado de serem representantes
na empresa162
.
Deve-se ter em mente que a própria CRFB/88 reconhece, como fonte do direito do
trabalho, as convenções e acordos coletivos, conforme artigo 5 º, inciso XXVI, estruturado a
partir dos princípios do não retrocesso social e do non reformatio in pejus163
. Logo, afasta-se,
161 “Na exposição de motivos do PL 6787/2016, o governo federal procura apropriar-se discursivamente de uma
reivindicação de autonomia das classes trabalhadoras ao afirmar a juridicidade da negociação coletiva. Contudo
não o faz, já que apresenta proposição que tão somente amplia as possibilidades derrogatórias dos instrumentos
coletivos, sem reconhecer suas possibilidades concretas de intervenção na vida da empresa e de controle do
poder econômico. SILVA, Sayonara Grillo; GONDIM, Thiago Patrício. Austericídio e reforma trabalhista: A
gramática de exceção contida no projeto de lei 6787/2016. Revista eletrônica da OAB. Disponível em:
http://revistaeletronica.oabrj.org.br/?artigo=austericidio-e-reforma-trabalhista-a-gramatica-de-excecao-contida-no-projeto-de-lei-67872016-2. Acesso em 31/05/2016. 162 “[...] 4. Essas discussões demonstram a importância da medida ora proposta, de valorização da negociação
coletiva, que vem no sentido de garantir o alcance da negociação coletiva e dar segurança ao resultado do que foi
pactuado entre trabalhadores e empregadores. 5. Outra medida ora proposta, que visa prestigiar o diálogo social e
desenvolver as relações de trabalho no país, é a regulamentação do art. 11 da Constituição Federal. Esse
dispositivo constitucional assegura a eleição de um representante dos trabalhadores nas empresas com mais de
duzentos empregados, com a missão de promover o entendimento direto com a direção da empresa. O
representante dos trabalhadores no local de trabalho deverá atuar na conciliação de conflitos trabalhistas no
âmbito da empresa, inclusive os referente ao pagamento de verbas trabalhistas periódicas e rescisórias, bem
como participar na mesa de negociação do acordo coletivo de trabalho com a empresa. 6. A experiência européia
demonstra a importância da representação laboral na empresa. Países como Alemanha, Espanha, Suécia, França, Portugal e Reino Unido possuem há vários anos as chamadas comissões de empresa ou de fábrica. A maturidade
das relações de trabalho em alguns países europeus propicia um ambiente colaborativo entre trabalhador e
empresa, resultando na melhoria do nível de produtividade da empresa. [...]” Exposição de Motivos do PL n.º
6.787. Planalto Nacional. Brasília, DF, 23 de dezembro de 2016. Disponível em:
http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=1520055&filename=PL+6787/2016.
Acesso em 01/06/2017. 163
Para uma análise mais detalhada: SILVA, Sayonara Grillo Coutinho Leonardo da; HORN, Carlos Henrique.
O princípio da proteção: fundamento da regulação não-mercantil das relações de trabalho. In: revista
OAB/RJ, Brasil, Julho/Dezembro de 2010, vol. 26, n. 2, 2010, p. 83-112.
53
via de regra, a possibilidade de supressão de direitos e garantias, enquanto pressuposto de
proteção ao trabalhador devido a sua posição de vulnerabilidade. A proposição da prevalência
do negociado sobre o legislado rompe com essa sistemática protetiva, já que liberaliza a
possibilidade de flexibilização do núcleo estruturante dos direitos fundamentais164
,
transformando a negociação coletiva em instrumento do domínio econômico,
especificadamente, da consolidação do projeto de precarização das relações de trabalho:
“Deste modo, a negociação coletiva se tornaria um mecanismo disponível aos
agentes econômicos para a realização de ajustes pontuais e setoriais em relações de
emprego a partir da promoção da flexibilidade precarizadora das condições de
trabalho. Em contraponto à autonomia coletiva reconhecida pela Constituição de
1988, o PL 6787/2016, na medida em que amplia os efeitos derrogatórios dos
instrumentos resultantes da autonormação, reduz a potencialidade da autotutela
(greve e demais mecanismos de ação direta e manifestação sindical) e da auto-
organização (como financiamento e redução da liberdade sindical, criminalização
dos movimentos sociais e sindicais), aumentando a desigualdade da distribuição de
poder entre capital e trabalho no plano coletivo.”165
3.2.2 A temporalidade de exceção: a PEC nº 241/2016 (EC nº 95) e a utilização de
medidas provisórias pelo Poder Executivo
Uma das ações principais do governo provisório Temer foi a iniciativa de emenda à
constituição, por intermédio da mensagem nº 329/2016, para o estabelecimento de um novo
regime fiscal, propondo-se um teto para os gastos públicos com lapso temporal de 20 anos166
.
164 “Por meio do modus operandi das políticas de austeridade, implementa-se a possibilidade de suspensão de um
direito pela sua não aplicação sem a necessidade de revogá-lo, tal qual ocorrem nas políticas de exceção. A
introdução do Art. 611-A no texto da CLT, ao permitir a formação de dois modelos regulatórios diferenciados
cuja escolha fica a cargo de uma decisão privada das partes contratantes, inclusive com a possibilidade de flexibilização do núcleo de direitos fundamentais trabalhistas protegidos pelo princípio do não retrocesso social
previsto no caput do Art. 7.º, em algumas hipóteses, ensejaria o afastamento da aplicação dos três modelos
normativos de admissibilidade e incorporação da negociação coletiva construídos pela doutrina juslaboralista
brasileira. Em outras, promoveria a ampliação da incidência do regime supletório a partir dos mecanismos da
vantagem compensatória e do princípio da intervenção mínima da Justiça do Trabalho na autonomia da vontade
coletiva sem realçar a sua natureza excepcional e transitória.” . SILVA, Sayonara Grillo; GONDIM, Thiago
Patrício. Austericídio e reforma trabalhista: A gramática de exceção contida no projeto de lei 6787/2016. Revista
eletrônica da OAB. Disponível em: http://revistaeletronica.oabrj.org.br/?artigo=austericidio-e-reforma-
trabalhista-a-gramatica-de-excecao-contida-no-projeto-de-lei-67872016-2. Acesso em 31/05/2016.
165 SILVA, Sayonara Grillo; GONDIM, Thiago Patrício. Austericídio e reforma trabalhista: A gramática de exceção contida no projeto de lei 6787/2016. Revista eletrônica da OAB. Disponível em:
http://revistaeletronica.oabrj.org.br/?artigo=austericidio-e-reforma-trabalhista-a-gramatica-de-excecao-contida-
no-projeto-de-lei-67872016-2.Acesso em 31/05/2016. 166 Tal medida está em consonância com a agenda governamental prenunciada no manifesto “A ponte para o
futuro”, dentre as primeiras proposições: “[...] a) construir uma trajetória de equilíbrio fiscal duradouro, com
superávit operacional e a redução progressiva do endividamento público; b) estabelecer um limite para as
despesas de custeio inferior ao crescimento do PIB, através de lei, após serem eliminadas as vinculações e as
indexações que engessam o orçamento [...]”. Uma ponte para o futuro. Fundação Ulysses Guimarães, PMDB,
Brasília, 29 out. 2015, p. 18.
54
Em 15 de junho de 2016, tal iniciativa foi proposta com a PEC 241/2016, sob regime de
tramitação especial. Em 10 de outubro de /2016, aprovada em 1º turno, em sessão deliberativa
extraordinária, e definitivamente aprovada em 25 de outubro de 2017, em 2º turno, conforme
o procedimento constitucional. Dessa forma, no segundo turno, houve nova sessão
deliberativa extraordinária, contando com o quórum de 477 parlamentares presentes, 359
votos favoráveis, 116 contrários e 2 abstenções. Em 15 de fevereiro de 2016, a mesa diretora
da Câmara dos deputados, após oficiar o Senado Federal, promulgou tal medida sob a forma
da EC nº 95/2016, sendo publicada no Diário Oficial em 16 de fevereiro de 2016167
:
“Faz-se necessária mudança de rumos nas contas públicas, para que o País consiga,
com a maior brevidade possível, restabelecer a confiança na sustentabilidade dos
gastos e da dívida pública. É importante destacar que, dado o quadro de agudo
desequilíbrio fiscal que se desenvolveu nos últimos anos, esse instrumento é essencial para recolocar a economia em trajetória de crescimento, com geração de
renda e empregos. Corrigir o desequilíbrio das contas públicas é condição necessária
para retirar a economia brasileira da situação crítica que Vossa Excelência recebeu
ao assumir a Presidência da República. [...] Trata-se, também, de medida
democrática. Não partirá do Poder Executivo a determinação de quais gastos e
programas deverão ser contidos no âmbito da elaboração orçamentária. O Executivo
está propondo o limite total para cada Poder ou órgão autônomo, cabendo ao
Congresso discutir esse limite. Uma vez aprovada a nova regra, caberá à sociedade,
por meio de seus representantes no parlamento, alocar os recursos entre os diversos
programas públicos, respeitado o teto de gastos. Vale lembrar que o descontrole
fiscal a que chegamos não é problema de um único Poder, Ministério ou partido
político. É um problema do país! E todos o país terá que colaborar para solucioná-lo.” Planalto Nacional. Intenção de motivos da PEC 241/16. Brasília, DF,
15/06/2016.Disponível:<http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/prop_mostrari
ntegra?codteor=1468431&filename=PEC+241/2016>. Acesso em: 02/06/2016.
A forma como foi procedida a substancial alteração no texto constitucional brasileiro,
quanto ao regime de fiscal, é um exemplo emblemático da ascensão do fenômeno da
temporalidade de exceção. Por meio desse fenômeno, é induzida a aceleração do tempo da
produção jurídica, a partir de racionalidade pautada pela urgência, o que apoia a conformação
institucional ao paradigma da austeridade. Nesse caso, o aspecto da contenção dos gastos
públicos, sendo introduzida em exatos 6 meses e em regime especial de tramitação, não
obstante a rejeição por parte de 60% da população brasileira indicar a grande impopularidade
da medida168
.
167Informações retiradas da plataforma eletrônica da Câmara dos deputados. Disponível em:
http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=2088351. Acesso em 02/06/2016. 168
Maioria dos brasileiros reprova emenda dos gastos, diz Datafolha. UOL. São Paulo, 13/12/2016.
Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/poder/2016/12/1840825-maioria-dos-brasileiros-reprova-emenda-
dos-gastos-diz-datafolha.shtml. Acesso em: 02/06/2016.
55
Recorda-se que a PEC 241/2016 foi denominada como “PEC do fim do mundo”, por
parte da sociedade civil e dos movimentos sociais, os quais evidenciavam as implicações
nefastas desta medida para a manutenção dos serviços públicos básicos, sobretudo, nas áreas
da educação e saúde, uma vez que os investimentos públicos seriam reajustados com base da
inflação. Além disso, questiona-se a legitimidade democrática do procedimento, devido à falta
de diálogo social e repressão aos movimentos de resistência169
, aspecto que pode ser
associado a uma das consequências da temporalidade de exceção, qual seja, a reconfiguração
do consentimento no âmbito da teoria democrática. Apesar de tamanha impopularidade, o
governo disseminava a existência de um pretenso pacto social, o qual se colocava na posição
de inquestionável ao divulgar a mensagem relativa à urgência e inevitabilidade das reformas
para a retomada do crescimento econômico, independentemente dos efeitos políticos, sociais e
jurídicos reflexos que essas reformas trouxessem.
No âmbito da temporalidade de exceção, é válido destacar também a utilização da
MP170
, medida executiva com força de lei que tem como requisitos essenciais a relevância e
urgência, conforme o artigo 62 da CRFB/88, em que se pesem críticas no que tange a sua
utilização indiscriminada171
. A partir do segundo mandato da ex-presidente Dilma Rousseff,
169 Nesse sentido, destacam-se algumas notícias. Governo reprime ato contra a PEC 241/55 em Brasília.
ESQUERDA DIÁRIO. Brasília, 29/11/2016. Disponível em: http://www.esquerdadiario.com.br/Governo-
reprime-ato-contra-a-PEC-241-55-em-Brasilia. Acesso em: 02/06/2017; No Rio, repressão e truculência em ato
contra a PEC 241. Disponível em: http://jornalggn.com.br/blog/vania/mais-de-sete-mil-pessoas-no-centro-do-rio-
contra-a-pec-241. Rio de Janeiro, 18/10/2016. GGN. Acesso em: 02/06/2017; Com bombas de gás
lacrimogêneo, spray pimenta e balas de borracha, PM reprime manifestação pacífica em Brasília contra a PEC
241/55; há pessoas feridas. VIOMUNDO. Brasília, 29/11/2016. Disponível em:
http://www.viomundo.com.br/denuncias/urgente-com-bombas-de-gas-lacrimogeneo-pm-reprime-manifestacao-
pacifica-em-brasilia-contra-a-pec-24155.html. Acesso em: 02/06/2017. 170 Conforme pesquisa realizada na plataforma eletrônica da Câmara dos deputados: “A Medida Provisória (MP)
é um instrumento com força de lei, adotado pelo presidente da República, em casos de relevância e urgência.
Produz efeitos imediatos, mas depende de aprovação do Congresso Nacional para transformação definitiva em
lei. Seu prazo de vigência é de sessenta dias, prorrogáveis uma vez por igual período. Se não for aprovada no
prazo de 45 dias, contados da sua publicação, a MP tranca a pauta de votações da Casa em que se encontrar
(Câmara ou Senado) até que seja votada. Neste caso, a Câmara só pode votar alguns tipos de proposição em
sessão extraordinária. Ao chegar ao Congresso Nacional, é criada uma comissão mista, formada por deputados e
senadores, para aprovar um parecer sobre a Medida Provisória. Depois, o texto segue para o Plenário da Câmara
e, em seguida, para o Plenário do Senado. Se a Câmara ou o Senado rejeitar a MP ou se ela perder a eficácia, os
parlamentares têm que editar um decreto legislativo para disciplinar os efeitos jurídicos gerados durante sua
vigência. Se o conteúdo de uma Medida Provisória for alterado, ela passa a tramitar como projeto de lei de conversão. Depois de aprovada na Câmara e no Senado, a Medida Provisória - ou o projeto de lei de conversão -
é enviada à Presidência da República para sanção. O presidente tem a prerrogativa de vetar o texto parcial ou
integralmente, caso discorde de eventuais alterações feitas no Congresso. É vedada a reedição, na mesma sessão
legislativa, de MP que tenha sido rejeitada ou que tenha perdido sua eficácia por decurso de prazo. As normas
sobre edição de Medida Provisória estão no artigo 62 da Constituição Federal.” Disponível em:
http://www2.camara.leg.br/comunicacao/assessoria-de-imprensa/medida-provisoria. Acesso em: 03/06/2016. 171
“As medidas provisórias, com força de lei, podem ser adotadas pelo Presidente da República, as quais, no
entanto, para serem legítimas, há de atender os pressupostos formais, materiais e, ainda, regras de procedimento
que agora se exigem no artigo 62 da CF com o enunciado oferecido pela EC-32/2001. Os formais são a
56
no qual se iniciou uma agenda econômica fundamentada pelo ajuste fiscal de cunho
neoliberal172
, é possível destacar um conjunto de medidas de austeridade implementadas via
MP, especialmente, nas searas trabalhista e previdenciária. Os motivos de exposição das MP’s
catalogadas convergem quanto à necessidade de equacionamento dos gastos públicos e
equilíbrio financeiro/atuarial do Estado, tendo em vista uma racionalidade de emergência,
atrelada tanto ao nível estrutural da sustentabilidade dos sistemas de proteção social, quanto à
conjuntura específica de recessão econômica. Nesse sentido, segue tabela com a catalogação
de algumas dessas MP’s, assinalando-se a área, o objeto, os motivos e a situação jurídica173
:
Medida
Provisória nº
Área Objeto Exposição de motivos
(urgência e relevância)
Situação
664
(30/12/2014) Altera as Leis nº 8.213,
de 24 de julho de 1991,
nº 10.876, de 2 junho de
2004, n º 8.112, de 11 de
dezembro de 1990, e a
Lei n º 10.666, de 8 de
maio de 2003.
Previdência
Pensão por morte e
auxílio doença
Expressivo déficit financeiro
atuarial (envelhecimento
populacional e evolução das despesas);
Equacionamento das
disparidades existentes nas
regras de concessão dos
benefícios;
Equilíbrio Financeiro.
Prorrogação
do prazo de
vigência
Convertida
na Lei nº
13.135, de
2015
665
(30/12/2014) Altera a Lei nº 7.998, de
11 de janeiro de 1990,
que regula o Programa
do Seguro-Desemprego,
o Abono Salarial e
institui o Fundo de
Trabalhista Seguro desemprego e
abono salarial
Acelerado crescimento das
despesas no âmbito do FAT,
que financia as políticas
públicas de emprego;
Sustentabilidade financeira
intertemporal;
Prorrogação
do prazo de
vigência
Convertida
na Lei nº 13.134, de
relevância e a urgência; os materiais dizem respeito à matéria que pode por elas ser regulamentada. As restrições
para legislar mediante medidas provisórias sobre certas matérias foram consignadas agora no artigo 62 pela EC-
32/2001. Os pressupostos da urgência e relevância já existiam, sempre apreciados subjetivamente pelo
Presidente da república; nunca foram rigorosamente respeitados. Por isso foram editadas medidas provisórias sobre assuntos irrelevantes ou sem urgência. Jamais o Congresso Nacional e o poder judiciário se dispuseram a
apreciá-los para julgar inconstitucionais MPs que a ales não atendessem, sob o falso fundamento de que isso era
assunto de estrita competência do Presidente da República.” SILVA, José Afonso da. Curso de Direito
Constitucional Positivo. 36ª ed. São Paulo: Malheiros Editores, 2013, p. 534. 172 “No entanto, a partir do final de 2014 surgem indicadores que revelam o início de uma crise econômica e
política no Brasil. Esse cenário influenciou nas próprias políticas públicas referentes ao início do segundo
mandato do governo Dilma Rousseff com a proposição das Medidas Provisórias n.º 664 e n.º 665 que
dificultavam o acesso dos trabalhadores ao seguro-desemprego, sobretudo os jovens, diminuíam o valor do
abono salarial e reduziam o valor e limitavam o período das pensões. Neste contexto, observa-se a sinalização do
governo em ceder ao discurso neoliberal com a promoção de um ajuste fiscal como resposta ao problema de
financiamento do Estado que estabelece como um dos principais alvos o sistema de garantias dos trabalhadores em um cenário de crescimento do desemprego”. GONDIM, Thiago Patrício. O discurso da austeridade no
contexto da atual crise econômica brasileira e suas implicações para o direito do trabalho. In: COUTINHO,
Aldacy Rachid; WANDELLI, Leonardo Vieira (org.). Anais do II encontro RENAPEDTS. 1.ª ed. Florianópolis:
Empório do Direito, 2016, p. 810-811. 173 Todas as informações foram obtidas em consulta à plataforma eletrônica da Câmara dos Deputados. Quanto
às MP’s 664 e 665, segue o link: http://www4.planalto.gov.br/legislacao/portal-legis/legislacao-1/medidas-
provisorias/2011-a-2014. Em relação às MP’s 669, 676, 680, 761 e 767:
http://www4.planalto.gov.br/legislacao/portal-legis/legislacao-1/medidas-provisorias/medidas-provisorias-2015-
a-2018. Acesso em: 03/06/2017.
57
Amparo ao Trabalhador
- FAT, altera a Lei n o
10.779, de 25 de
novembro de 2003, que
dispõe sobre o seguro
desemprego para o
pescador artesanal, e dá
outras providências.
2015
669
(26/02/2015) Altera a Lei n º 12.546,
de 14 de dezembro de
2011, quanto à
contribuição
previdenciária sobre a
receita bruta; a Lei n º
12.469, de 26 de agosto
de 2011, a Lei n º
12.995, de 18 de junho
de 2014, e a Lei n º
11.196, de 21 de
novembro de 2005,
quanto à tributação de
bebidas frias; e a Lei n º
12.780, de 9 de janeiro
de 2013, que dispõe
sobre medidas tributárias
referentes à realização,
no Brasil, dos Jogos
Olímpicos de 2016 e dos
Jogos Paraolímpicos de
2016.
Previdência Contribuição
previdenciária
Equilíbrio das contas da
Previdência Social por
intermédio do aumento do
ingresso de recursos;
Menção à MP nº 664,
aduzindo tratar-se de medida
complementar ao corte de
despesas no sentido do equilíbrio financeiro da
Previdência.
Perda da
eficácia em
03/03/2015
(ato
declaratório
do
presidente
da casa do Congresso
nacional, nº
5, de 2015)
Revogada
676
(17/06/2015) Altera a Lei n º 8.213, de
24 de julho de 1991, que
dispõe sobre os Planos
de Benefícios da
Previdência Social.
Previdência Regra da aposentadoria por
tempo de
contribuição
Sustentabilidade financeira da Previdência Social
(processo de transição
demográfica, acelerado
envelhecimento
populacional e crescente
aumento da expectativa de
sobrevida);
Assegurar o equilíbrio
atuarial e a garantia dos
benefícios previdenciários.
Prorrogação do prazo de
vigência
Convertida
na Lei nº
13.183, de
2015
680
(06/07/2015) Institui o Programa de
Proteção ao Emprego e
dá outras providências.
Trabalhista Jornada de trabalho e salário
Preservação dos empregos e retomada do crescimento
econômico diante o cenário
de recessão econômica;
Manutenção da saúde
econômico-financeira das
empresas;
Sustentação da demanda
agregada durante momentos
de adversidade para facilitar
a recuperação da economia;
Estimulação da produtividade do trabalho
por meio do aumento da
duração do vínculo
trabalhista;
Incremento da negociação
coletiva.
Prorrogação do prazo de
vigência
Convertida
na Lei nº
13.189, de
2015
58
761
(22/12/2016) Altera o Programa de
que trata a Lei nº 13.189,
de 19 de novembro de
2015, para denominá-lo
Programa Seguro-
Emprego e para
prorrogar seu prazo de
vigência.
Trabalhista Programa Seguro-
Emprego
Reiteram-se os argumentos
da MP nº 680 referentes à
necessidade de manutenção
dos postos formais de
emprego diante o cenário de
recessão econômica;
Alerta a possibilidade de
aumento das despesas do
FAT e desequilíbrio fiscal,
caso a medida não seja
prorrogado, uma vez que o aumento do acesso ao seguro
desemprego decorrente das
demissões elevaria os gastos
públicos.
Prorrogação
do prazo de
vigência
Em
tramitação
no âmbito da
conversão
em lei
767
(06/01/2017) Altera a Lei n º 8.213, de
24 de julho de 1991, que
dispõe sobre os Planos
de Benefícios da
Previdência Social, e a
Lei n º 11.907, de 2 de
fevereiro de 2009, que
dispõe sobre a
reestruturação da
composição
remuneratória da
Carreira de Perito
Médico Previdenciário e
da Carreira de
Supervisor Médico-
Pericial, e institui o
Bônus Especial de
Desempenho
Institucional por Perícia
Médica em Benefícios
por Incapacidade.
Previdência Bônus especial de
Desempenho
Institucional por
Perícia Médica em Benefícios por
Incapacidade
Segundo a análise do
governo, a demora de laudo
de perícia médica dos
benefícios previdenciários onera os cofres públicos,
uma vez que protela a
habilitação dos indivíduos
ao retorno ao trabalho;
O bônus ao médico perito
seria uma forma de estimular
a realização de perícias
médicas nos benefícios por
incapacidade mantidos há
mais de dois anos sem
análise, conforme parecer do
Ministério da Transparência, Fiscalização e Controladoria
Geral da União e pelo
Tribunal de Contas da
União;
Contenção dos gastos
públicos e equilíbrio fiscal.
Prorrogação
do prazo de
vigência
Em
tramitação
no âmbito da
conversão
em lei
A MP nº 664 altera dispositivos previdenciários concernentes à pensão por morte e
auxílio doença, dentre os motivos, ressalta-se o déficit financeiro da Previdência Social,
relacionando-o com o envelhecimento populacional e aumento das despesas de custeio. As
restrições aos benefícios são apontadas como ajustes necessários à correção de determinadas
disparidades no sentido do equilíbrio fiscal, propondo-se novas regras quanto à carência,
forma de cálculo e prazo de duração, tendo em vista o destaque da análise comparada
internacional174
. A MP nº 665 introduz restrições aos benefícios trabalhistas do seguro
emprego e abono salarial, ressaltando o déficit financeiro do FAT diante do crescimento das
despesas. Propõe-se incremento da exigência quanto ao tempo de permanência dos 174
Planalto Nacional. Exposição de Motivos da MP nº 664. Brasília, DF, 30 de dezembro 2014 Disponível em:
http://www4.planalto.gov.br/legislacao/portal-legis/legislacao-1/medidas-provisorias/2011-a-2014. Acesso em:
09/06/2017.
59
trabalhadores no ano-base para obtenção do abono salarial, além do aumento do período de
carência na solicitação do benefício de seguro desemprego, como instrumentos de
viabilização da sustentabilidade financeira intertemporal175
. Em sentido complementar ao
corte de despesas promovido pelas MP nº 664, a MP nº 669 refere-se ao incremento de
recursos por intermédio do aumento das alíquotas da contribuição previdenciárias sobre a
receita bruta176
. As duas primeiras MP’s foram convertidas em lei enquanto que a última foi
revogada, ambas foram concebidas no segundo mandato da ex-presidente Dilma Rousseff177
.
A MP nº 676 cinge-se a regulação das disposições relativas à nova regra da
aposentadoria por tempo de serviço, evocando a sustentabilidade do regime previdenciário,
equilíbrio atuarial e garantia dos benefícios, diante do processo de envelhecimento
populacional e aumento da expectativa de vida, sendo a restrição a tal benefício aprovada pelo
Congresso Nacional178
. A MP nº 680 institui o PPE, possibilitando a redução da jornada de
trabalho e dos salários, através de acordo coletivo de trabalho, tratando-se de uma medida de
precarização dos direitos trabalhistas, formulada a partir do discurso da crise econômica e
harmonização das relações trabalhistas, uma vez que os direitos são relativizados a partir de
175 Planalto Nacional. Exposição de Motivos da MP nº 665. Brasília, DF, 30 de dezembro de 2014. Disponível
em: http://www4.planalto.gov.br/legislacao/portal-legis/legislacao-1/medidas-provisorias/2011-a-2014. Acesso
em: 03/06/2017 176 “No que concerne aos arts. 1º e 2º do projeto, relativos à contribuição previdenciária sobre a receita bruta, são
propostos ajustes nas alíquotas em virtude de o quadro atual apontar para a necessidade de aumento de
arrecadação e corte de despesas. Com relação ao corte de despesas, a Medida Provisória nº 664, de 30 de
dezembro de 2014, fez ajustes na concessão de benefícios previdenciários, como pensão por morte e auxílio
doença. Por outro lado, somente o ajuste na concessão de benefícios não é suficiente para o equilíbrio das contas
da Previdência Social, havendo também a necessidade urgente de aumentar o ingresso de recursos, que é o que
se propõe na presente Medida Provisória ao aumentar as alíquotas da contribuição previdenciária sobre a receita bruta.” Planalto Nacional. Exposição de Motivos da MP nº 669. Brasília, DF, 25 de Fevereiro de 2015.
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Exm/ExmMP-669-15.pdf. Acesso
em: 03/06/2016. 177 Para uma análise mais abrangente das medidas de ajuste fiscal propostas nesse período: entenda as medidas
do ajuste fiscal. Para sair do vermelho, país começou a cortar gastos e aumentar impostos. Medidas que
impõem 'sacrifício' encontraram resistência no Congresso. Notícia disponível em:
http://g1.globo.com/economia/noticia/2015/05/entenda-medidas-do-ajuste-fiscal.html. Acesso em 10/06/2017. 178 “Assim sendo, a presente proposta de Medida Provisória acrescenta o art. 29-C à Lei no 8.213, de 1991, com
a finalidade de manter a regra 85/95 aprovada pelo Congresso Nacional, com vigência imediata, mas com a
inclusão da progressividade deste parâmetro de cálculo, incorporando o impacto do envelhecimento da
população e o aumento da expectativa de sobrevida. Esta é uma exigência para assegurar a sustentabilidade financeiro-orçamentária futura da Previdência Social. [...] A urgência se justifica para garantir vigência imediata
desta proposta, porque o Congresso Nacional, ao aprovar o Projeto de Lei de Conversão nº 4, de 2015, no âmbito
da discussão de uma Medida Provisória, gerou uma expectativa de direito que está sendo assegurada por essa
iniciativa. A relevância é inquestionável porque diz respeito ao cálculo da aposentadoria por tempo de
contribuição da população brasileira e procura garantir a sustentabilidade financeira da Previdência Social,
assegurando os direitos previdenciários com maior benefício e equilíbrio atuarial.” Planalto Nacional. Exposição
de Motivos da MP nº 676. Brasília, DF, 17 de junho de 2015. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Exm/Exm-MP%20676-15.pdf. Acesso em:
03/06/2016.
60
acordo envolvendo governo e empresa179
. Além da preservação dos empregos e da
competitividade empresarial, defende-se o aumento da duração do vínculo trabalhista, como
meio de estímulo a produtividade e o incremento da negociação coletiva180
. Essas duas MP’s
foram editadas ao decorrer do governo provisório de Michel Temer sendo convertidas em lei,
tramitando ainda outras 14, o que evidencia um aumento no uso dessas Medidas, se
comparado ao início dos dois governos antecedentes181
.
A MP nº 761 prorrogou o PPE, objeto da MP nº 680, que foi convertida na lei
13.189/2016, redenominado-o como PSE com tempo de adesão estendido por mais um ano,
sendo reiterados os argumentos referentes à necessidade de manutenção dos postos formais de
emprego e de se evitar aumentos nas despesas do FAT182
. A MP nº 767 se refere à instituição
de bônus especial de desempenho institucional por perícia médica em benefícios por
179 “Considerando o estado atual do mercado de trabalho com perda de dinamismo na criação de empregos
formais e a necessidade de ampliação das políticas ativas que busquem aumentar a duração do vínculo
trabalhista, percebe-se que o Programa de Proteção ao Emprego (PPE) é importante para (i) proteger os
empregos em momentos de retração da atividade econômica; (ii) preservar a saúde econômico-financeira das
empresas; (iii) sustentar a demanda agregada durante momentos de adversidade para facilitar a recuperação da
economia; (iv) estimular a produtividade do trabalho por meio do aumento da duração do vínculo trabalhista; e
(v) fomentar a negociação coletiva e aperfeiçoar as relações do trabalho. [...] A urgência desta medida provisória
deriva da necessidade de preservar os empregos formais que são indispensáveis para a retomada do crescimento
econômico. Tal urgência se faz ainda mais relevante diante do cenário atual no mercado de trabalho, que tem registrado menor vigor na criação líquida de empregos formais.” . Planalto Nacional. Exposição de Motivos da
MP nº 680. Brasília, DF, 06 de julho de 2015. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-
2018/2015/Exm/ExmMP-%20680-15.pdf. Acesso em: 03/06/2016. 180 Problematizam-se os últimos argumentos e as posteriores discussões referentes às reformas trabalhistas, pois
estas estipulam a ampliação dos contratos temporários e da terceirização, relegando a um segundo plano o
argumento da produtividade pelo aumento do vínculo da duração trabalhista em detrimento de percepção
imediata da redução dos custos operacionais, além do mais, pretende-se a generalização da prevalência do
negociado sobre o legislado, objeto de análise do tópico 4.2.1. 181 Balanço: veja o que foi feito durante o governo provisório de Temer. AGÊNCIA BRASIL. Brasília,
31/08/2016. Disponível em: http://agenciabrasil.ebc.com.br/politica/noticia/2016-08/balanco-veja-o-que-foi-
feito-durante-o-governo-provisorio-de-temer. Acesso em 10/06/2017. 182 “A medida provisória ora proposta institui o Programa de Seguro-Emprego (PSE), com os seguintes
objetivos: (i) possibilitar a preservação dos empregos em momentos de retração da atividade econômica; (ii)
favorecer a recuperação econômico-financeira das empresas; (iii) sustentar a demanda agregada durante
momentos de adversidade, para facilitar a recuperação da economia; (iv) estimular a produtividade do trabalho
por meio do aumento da duração do vínculo empregatício; e (v) fomentar a negociação coletiva e aperfeiçoar as
relações de emprego [...]. A urgência desta medida provisória deriva da necessidade de evitar um cenário
crescente de demissões, haja vista que o PSE é um importante instrumento na manutenção dos empregos, pois
atenua desligamentos em empresas que se encontram em dificuldades financeiras temporárias. Sabe-se que a
manutenção do nível de emprego é indispensável para a retomada do crescimento econômico, pois sustenta a
demanda agregada durante momentos de adversidade. Ressalta-se, ainda, que a possibilidade de adesão ao
Programa será encerrada em 31 de dezembro de 2016, caso não seja editada a medida provisória ora proposta.
Ou seja, caso o PPE não seja prorrogado, as despesas do FAT poderão crescer, tendo em vista que o seu público potencial poderá acessar o seguro-desemprego ou Bolsa Qualificação. Neste caso, as empresas não pagam
salários e tampouco contribuições sobre a folha durante a vigência do programa, tornando-o mais dispendioso
para o governo do que o PSE.” Planalto Nacional. Exposição de Motivos da MP nº 761. Brasília, DF, 22 de
dezembro de 2015. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2016/Exm/Exm-
MP%20761-16.pdf. Acesso em: 03/06/2016.
61
incapacidade (BESP-PMBI) ao médico perito do INSS, por perícia médica efetivamente
realizada nas agências da previdência. Os argumentos apontados envolvem contenção dos
gastos públicos e equilíbrio fiscal183
, tendo em vista racionalidade voltada a restrição dos
benefícios com a rápida reinserção dos beneficiários no mercado de trabalho, sendo alvo de
críticas no que concerne a ingerência administrativa no corte de benefícios concedidos
judicialmente nos denominados “mutirões de perícia”184
. Ambas as MP’s foram convertidas
em lei no âmbito do governo de Michel Temer.
3.2.3 A jurisprudência de austeridade: a atuação do Supremo Tribunal Federal na
retirada de direitos trabalhistas
No âmbito da emergência do direito do trabalho de exceção, o último aspecto a ser
analisado nessa monografia é a atuação do STF na chancela das políticas de austeridade, com
enfoque à desestruturação do sistema institucional de proteção ao trabalhador no sentido da
restrição de direitos e garantias trabalhistas e limitação da jurisprudência protetiva da Justiça
do Trabalho185
. Nesse sentido, catalogou-se conjunto de decisões proferidas pelo STF em
183 “Diversas iniciativas estão sendo propostas no âmbito do CMAP, dentre elas, destacam-se as que fortalecem a
governança dos benefícios da previdência e assistência social e reduzem a judicialização, principalmente, sobre a concessão do auxílio-doença e da aposentadoria por invalidez. O auxílio-doença é um benefício securitário,
provisório, não programado e temporário, devido ao segurado que comprovar mediante exame médico pericial a
cargo do Instituto Nacional de Seguro Social (INSS), estar incapaz de trabalhar por motivo de doença. Por sua
vez, a aposentadoria por invalidez é um benefício ligado à atividade laborativa destinado aos trabalhadores que
não podem ser reabilitados profissionalmente, de acordo com a avaliação da perícia médica do INSS. Ambos os
benefícios são pagos enquanto persistir a incapacidade do trabalhador. [...] A urgência dessa medida caracteriza-
se pela necessidade de sanar as desconformidades apontadas pelo Ministério da Transparência, Fiscalização e
Controladoria Geral da União e pelo Tribunal de Contas da União no que se refere a não realização de perícias
médicas nos benefícios por incapacidade mantidos há mais de dois anos. Com a agenda do corpo de peritos
médicos já saturada, existe a necessidade premente de se instituir um bônus para a revisão de tais benefícios
acima da capacidade ordinária da Agência, ou seja, um acréscimo real à capacidade operacional ordinária de realização de perícias médicas pelo perito médico.” Planalto Nacional. Exposição de Motivos da MP nº 767.
Brasília, DF, 05 de janeiro de 2015. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-
2018/2016/Exm/Exm-MP%20761-16.pdf. Acesso em: 03/06/2016.
184 Especialista critica lisura do pente-fino do INSS. O DIA. Rio de Janeiro, 18/01/2017. Disponível em:
http://odia.ig.com.br/economia/2017-01-18/especialista-critica-lisura-do-pente-fino-do-inss.html. Acesso em:
10/06/2017. 185 Nesse sentido, destaca-se o aludido pelo professor Jorge Luiz Souto Maior: “É dentro do objetivo de esvaziar
a influência jurídica da Justiça do Trabalho que se podem compreender os julgamentos do STF, seguindo a linha do julgamento proferido em agosto de 2004, que declarou a constitucionalidade de taxação dos inativos (ADI
3105), nos Recursos Extraordinários 586453 e 583050 (em fevereiro de 2013), que atribuiu à Justiça Comum a
competência julgar os conflitos envolvendo a complementação de aposentadoria dos ex-empregados da
Petrobrás e do Banco Santander Banespa S/A; no ARE 709212, em novembro de 2014, que reduziu a prescrição
do FGTS de trinta para cinco anos; na ADIn nº 5.209, de dezembro de 2014, que, na prática, a pedido da
Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc), à qual estão associadas grandes construtoras,
como a Andrade Gutierrez, Odebrecht, Brookfield Incorporações, Cyrela, MRV Engenharia, suspendeu a
vigência da Portaria n. 2, de 2011, referente à lista do trabalho escravo; e na ADI 1923, em abril de 2015, que
declarou constitucional as Leis ns. 9.637/98 e 9.648/98, legitimando a privatização do Estado nos setores da
62
controle de constitucionalidade abordando o relator, as partes, o objeto impugnado e a
situação do processo, no caso de repercussão geral, a tese adotada pela Corte Suprema, tendo
em vista consulta à plataforma eletrônica do STF186
:
Ações Relator/Partes Objeto
Impugnado
Situação do
processo
Tese
ARE 709.212 (Tema 608 da
Repercussão Geral
- Prazo
prescricional
aplicável à
cobrança de valores não depositados no
Fundo de Garantia
por Tempo de
Serviço - FGTS)
Relator: Ministro Gilmar Mendes;
Reclamante: Banco
do Brasil;
Reclamado: Ana
Maria Movilla de
Pires e Marcondes.
Artigos 23, § 5º, da Lei 8.036/1990
e 55 do Decreto nº
99.684/1990.
(prescrição
trintenária da
cobrança dos
valores não
depositados no
FGTS)
Em sessão do Plenário realizada no
dia 13/11/2014, por
maioria, negou-se
provimento ao
recurso, declarando-
se a inconstitucio-
nalidade do art. 23, §
5º, da Lei nº
8.036/1990, e do art.
55 do Decreto nº
99.684/1990, tomando como base
o art. 7º, XXIX da
CF.
“O prazo prescricional
aplicável à
cobrança de valores
não depositados no
Fundo de Garantia
por Tempo de
Serviço (FGTS) é
quinquenal, nos
termos do art. 7º,
XXIX, da
Constituição Federal.”
ADIn 5209 (medida liminar)
Relatora: Ministra
Cármen Lúcia
Requerente:
Associação brasileira
de incorporadoras
imobiliárias;
Requeridos: Ministra
de Estado Chefe da
Secretaria de Direitos Humanos da
Presidência da
República, Ministro
de Estado do
Trabalho e Emprego.
Portaria
Interministerial
MTE/SDH n°
2, de 12 de maio
de 2011, bem
como da Portaria
MTE n° 540, de
19 de outubro de
2004. (“lista suja do
trabalho escravo”)
No dia 23/12/2014,
em decisão
monocrática liminar,
determinou-se a
suspensão dos
efeitos da Portaria
2/2011 e da Portaria
540/2004, tomando
como fundamentos os princípios da
legalidade e devido
processo legal. Em
decisão monocrática
final, no dia
16/05/2016, a ação
foi julgada
prejudicada pela
perda superveniente
do objeto.
------------------
ADIn 1923 Relator: Ministro
Luiz Fux
Requerente: Partido dos Trabalhadores e
Partido Democrático
Trabalhista
Lei nº 9637, de 15
de maio de 1998.
(Permissão para contratação de
OS’s para
realização de
No dia 16/04/2015, o
Tribunal, por
maioria, julgou parcialmente
procedente o pedido,
apenas para conferir
--------------------
saúde, educação, cultura, desporto e lazer, ciência e tecnologia e meio ambiente por intermédio de convênios,
sem licitação, com Organizações Sociais” Os direitos trabalhistas sob o fogo cruzado da crise política. SOUTO
MAIOR, Jorge Luiz. CARTA MAIOR. http://cartamaior.com.br/?/Editoria/Politica/Os-direitos-trabalhistas-
sob-o-fogo-cruzado-dacrisepolitica/4/35810. Artigo publicado em 28.03.2016. Acesso em 21.11.2016. 186 Todas as informações foram obtidas a partir da consulta à plataforma eletrônica do STF:
http://www.stf.jus.br/portal/processo/pesquisarProcesso.asp. Acesso em: 04/06/2017. Utilizou-se como
referência na catalogação dos processos: 8 grandes decisões do STF que tiraram direitos dos trabalhadores.
CARTA CAPITAL. Disponível em: http://justificando.cartacapital.com.br/2016/10/28/8-grandes-decisoes-do-
stf-que-tiraram-direitos-dos-trabalhadores/. Acesso em 03/06/2017.
63
Requeridos:
Presidente da
República.
serviços públicos) interpretação
conforme à
Constituição à Lei nº
9.637/98 e ao art.
24, XXIV da Lei nº
8.666/93, incluído
pela Lei nº 9.648/98
RE 590.415 (Tema 152 da
repercussão geral)
Relator: Ministro
Roberto Barroso;
Reclamante: Banco
do Brasil (sucessor
do Banco do Estado de Santa Catarina –
BAESC);
Reclamado: Claudia
Maria Leite
Eberhardt
Cláusula de
quitação ampla no
PDV e PDI.
Em sessão realizada
no dia 30/04/2015,
por unanimidade, o
tribunal julgou
procedente o recurso extraordinário,
reconhecendo a
validade da clausula
impugnada, afastan-
do a incidência do
art. 477, § 2º da
CLT, que restringe a
eficácia liberatória
da quitação aos
valores e às parcelas
discriminadas
exclusivamente no termo de rescisão.
“A transação
extrajudicial que
importa rescisão do
contrato de trabalho
em razão de adesão voluntária do
empregado a plano
de dispensa
incentivada enseja
quitação ampla e
irrestrita de todas as
parcelas objeto do
contrato de
emprego caso essa
condição tenha
constado
expressamente do acordo coletivo que
aprovou o plano,
bem como dos
demais
instrumentos
celebrados com o
empregado.”
ADIn 5468 Relator: Ministro
Luiz Fux;
Requerente:
Associação Nacional
dos Magistrados trabalhistas
(ANAMATRA);
Requeridos:
Congresso Nacional,
Presidente da
república.
Lei Orçamentária
Anual de 2016
(LOA/2016)/ Lei
Federal nº
13.255/2016, no tocante ao corte
orçamentário
imposta à Justiça
do Trabalho.
Em sessão do
plenário realiza em
29/06/2016, a ação
foi julgada
improcedente, por maioria dos votos,
reconhecendo-se a
constitucionalidade
da LOA/16.
“Salvo em situações
graves e
excepcionais, não
cabe ao Poder
Judiciário, sob pena de violação ao
princípio da
separação de
poderes, interferir
na função do Poder
Legislativo de
definir receitas e
despesas da
administração
pública, emendando
projetos de leis
orçamentárias, quando atendidas as
condições previstas
no art. 166, § 3º e §
4º, da Constituição
Federal.”
RE 895.759 Relator: Ministro
Teori Zawascki;
Reclamante: Usina
Central Olho D’agua
Central;
Reclamado: Moíses
Lourenço da Silva.
Decisão do TST
que condenou a
reclamante ao
pagamento de
horas in tinere,
anulando-se
cláusula de acordo
Em decisão
monocrática do
relator, no dia
08/09/2016, o
recurso
extraordinário foi
provido,
------------------
64
coletivo que
excluía o
pagamento em
decorrência do
estipulado na
CLT.
reformando-se a
decisão do TST no
sentido de afastar a
condenação da
recorrente ao
pagamento de horas
in tinere e dos
reflexos salariais.
ADPF 323 (medida liminar)
Relator: Ministro
Gilmar Mendes;
Requerente:
Confederação Nacional dos
Estabelecimentos de
ensino
(CONFENEN)
Requeridos: Tribunal
Superior do
Trabalho; Tribunal
Regional do
Trabalho 1ª região e
Tribunal Regional do
Trabalho 2ª região.
Súmula 277 do
TST
“Convenção coletiva
de trabalho ou acordo
coletivo de trabalho.
Eficácia.
Ultratividade. As
cláusulas normativas
dos acordos coletivos
ou convenções
coletivas integram os
contratos individuais
de trabalho e somente
poderão ser
modificadas ou
suprimidas mediante
negociação coletiva de
trabalho.”
Redação dada pela
resuloção do TST nº
185, de 14/09/2012.
Em processo de
julgamento, o relator
deferiu medida
liminar em 14/10/2016,
determinando
suspensão de todos
os processos em
curso e dos efeitos
de decisões judiciais
proferidas no âmbito
da Justiça do
Trabalho que versem
sobre a aplicação da
ultratividade de
normas de acordos e de convenções
coletivas, sem
prejuízo do término
de sua fase
instrutória, bem
como das execuções
já iniciadas.
------------------
RE 661.256 (tema 503 –
repercussão geral)
Relator: Ministro
Roberto Barroso;
Reclamante: Instituto
Nacional do Seguro
Nacional (INSS); Relamado: Valdemar
Roncaglio
Direito à
“Desaposentação”
Em sessão plena
realizada no dia
26/10/2016, por
maioria, o tribunal
deu provimento ao recurso extraordiná-
rio, tomando como
base o artigo art. 18,
§ 2º, da Lei nº
8.213/91, afastando-
se a possibilidade do
aposentado pedir a
revisão do benefício
por ter voltado a
contribuir para a
Previdência medi-
ante reinserção no mercado de trabalho.
"No âmbito do
Regime Geral de
Previdência Social -
RGPS, somente lei
pode criar benefícios e
vantagens
previdenciárias, não
havendo, por ora,
previsão legal do
direito à
'desaposentação',
sendo
constitucional a
regra do art. 18, §
2º, da Lei nº
8.213/91".
RE 693.456 (tema 531 –
repercussão geral)
Relator: Ministro
Dias Toffoli;
Reclamante:
Fundação de Apoio à
Escola Técnica
(FAETEC);
Relamado: Renata
Barroso Bernabe e
outros.
Desconto salarial
em razão de greve
do servidor
público.
Em sessão plena
realizada em
27/10/2016, o
Tribunal, por unani-
midade, conheceu
em parte do recurso,
e, por maioria, na
parte conhecida,
deu-lhe provimento,
reconhecendo que a
administração
"A administração
pública deve
proceder ao
desconto dos dias
de paralisação
decorrentes do
exercício do direito
de greve pelos
servidores públicos,
em virtude da
suspensão do
65
pública deve fazer o
corte do ponto dos
servidores públicos
grevistas.
vínculo funcional
que dela decorre,
permitida a
compensação em
caso de acordo. O
desconto será,
contudo, incabível
se ficar
demonstrado que a
greve foi provocada
por conduta ilícita do Poder Público."
RE 760.931 (Tema 246 –
repercussão geral)
Relatora: Ministra
Rosa Weber;
Reclamante: União
Relamados: Priscila
Medeiros Nunes;
Evolution
Admnistradora de
Serviços
Terceirizados LTDA.
Responsabilidade
subsidiária da
administração
pública por
encargos
trabalhistas
gerados pelo
inadimplemento
de empresa
terceirizada.
Em sessão plena
realizada em
30/03/2017, o
Tribunal, por
maioria, conheceu
em parte do recurso
extraordinário e, na
parte conhecida, a
ele deu provimento,
afastando-se a
responsabilização
automática da admi- nistração pública por
encargos trabalhistas
gerados pelo
inadimplemento de
empresa terceirizada.
"O inadimplemento
dos encargos
trabalhistas dos
empregados do
contratado não
transfere
automaticamente ao
Poder Público
contratante a
responsabilidade
pelo seu
pagamento, seja em caráter solidário ou
subsidiário, nos
termos do art. 71, §
1º, da Lei nº
8.666/93".
Para uma melhor compreensão da jurisprudência de austeridade, apresenta-se uma
breve síntese dos julgamentos realizados pelo Supremo Tribunal Federal acima apresentados,
que denotam a existência de uma tendência restritiva de direitos dos trabalhadores naquela
corte. O caso ARE 709.212 envolveu a constitucionalidade artigos 23, § 5º, da Lei
8.036/1990 e 55 do decreto nº 99.684/1990 relativos à prescrição trintenária da cobrança dos
valores não depositados no FGTS, entendimento consolidado a partir da criação desse
instituto. Segundo diversos juristas, a decisão do STF atenta contra o princípio da proteção no
que tange a aplicação da norma mais favorável ao trabalhador, restringindo o direito
fundamental do acesso à justiça, uma vez que reduz o prazo prescricional para 5 anos, na
forma da tese 608 de repercussão geral187
. Já na decisão proferida no âmbito da ADIn 5289, a
suspensão dos efeitos em medida liminar das portarias 2/2011 e 540/2004 inviabilizou a
divulgação do cadastro anual das empresas flagradas, submetendo trabalhadores a condição
análoga a de escravidão ou “lista suja do trabalho escravo”, referência na coibição das práticas
de escravidão contemporânea e desenvolvimento de políticas empresariais de sustentabilidade
187
Para complementar o entendimento acerca dessa temática segue o artigo: O que restará do Direito do
Trabalho? SEVERO, Valdete Souto. ANAMATRA. Disponível em: https://www.anamatra.org.br/artigos/1073-
o-que-restara-do-direito-do-trabalho. Publicado em 27/11/2014. Acesso em 10/06/2017.
66
social em consonância com a convenção número 27 da OIT, pendente de ratificação188
. Não
obstante a improcedência da ação, por perda superveniente do objeto, tendo em vista a
publicação da portaria interministerial nº 4/2016, a publicação do cadastro somente voltou a
ser publicada em 23 de março de 2017 em decorrência de ACP impetrada pelo MPT189
.
A ADIn 1923 estabeleceu a possibilidade de contratação de Organizações Sociais-
OS’s, entidades privadas sem fins lucrativos, para realização de serviços públicos, tendo o
Supremo julgado constitucionais os dispositivos impugnados da Lei nº 9637, de 15 de maio
de 1998. Críticas são direcionadas quanto à utilização dessa forma jurídica para ampliar os
casos de terceirização no serviço público e afastamento da aplicação da legislação
trabalhista190
. Por outro lado, no Recurso Extraordinário 590.415 reformou-se o entendimento
do TST quanto à invalidade da cláusula de quitação ampla das parcelas do contrato de
trabalho em PDI e PDV, determinando a prevalência do negociado sobre o legislado ao se
afastar a incidência do art. 477, § 2º da CLT. Segundo Jorge Souto Maior, a atuação do TST,
na aplicação da sistemática protetiva vigente, foi limitada, prenunciando o debate acerca da
inversão de um dos princípios estruturantes do direito do trabalho brasileiro: da
impossibilidade de acordo coletivo sobrepor-se a lei para retirar direitos e garantias
trabalhistas. No mesmo sentido, seguiu a decisão nos autos do Recurso Extraordinário
895.759, que afirma a legalidade da sobreposição do estipulado em acordo coletivo191
em
detrimento da CLT no que se refere o pagamento de horas in tinere.
No âmbito da ADPF 343, afastou-se o novo entendimento do Tribunal Superior do
Trabalho sobre ultratividade de normas e acordos coletivos, assegurando que a eficácia das
normas coletivas se projetem no tempo, sendo apenas revogadas por posterior disposição
188 O Ministério Público do Trabalho em nota oficial ressaltou a importância da divulgação desse instrumento:
Necessária publicidade à Lista Suja do trabalho escravo. MPT reforça razões da importância da divulgação do
Cadastro de Empregadores para o combate à escravidão contemporânea. MPT, Brasília, 27 de janeiro de 2017.
In: http://portal.mpt.mp.br/wps/portal/portal_mpt/mpt/sala-imprensa/mpt-noticias. Acesso em: 10/06/2017. 189 Para mais informações desse processo: Governo publica 'lista suja' do trabalho escravo. PORTAL G1. São
Paulo, 24/03/2017. Disponível em: http://g1.globo.com/economia/noticia/governo-publica-lista-suja-do-trabalho-
escravo.ghtml. Acesso em: 10/06/2017. O cadastro de empregadores que tenham submetido trabalhadores a
condição análoga à de escravo, conforme a portaria interministerial nº 4/2016, encontra-se acessível em: http://trabalho.gov.br/noticias/4428-ministerio-publica-cadastro-de-empregadores-que-tenham-submetido-
trabalhadores-a-condicao-analoga-a-de-escravo. Acesso em: 10/06/2017. 190 Para análise mais detalhada, segue o artigo: ADI 1923: legitimação e ampliação da terceirização no setor público. SOUTO
MAIOR, Jorge Luiz. CARTA MAIOR. Disponível: http://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Principios-Fundamentais/ADI-1923-
legitimacao-e-ampliacao-da-terceirizacao-no-setor-publico/40/33321. Publicado em 22/04/2015. Acesso em: 10/06/2017. 191 Conforme o exposto: STF inova e decide que vale o negociado sobre o legislado no âmbito trabalhista.
ESTADÃO. Brasília, 13/09/2016. Disponível em: http://politica.estadao.com.br/blogs/fausto-macedo/stf-inova-
e-decide-que-vale-o-negociado-sobre-o-legislado-no-ambito-trabalhista/. Acesso em: 10/06/2017. Vide tópico
4.2.1.
67
coletiva (Súmula 277 do TST) Inclusive, em medida liminar monocraticamente decidida, o
Supremo Tribunal deferiu a suspensão de todos os processos em curso e dos efeitos de
decisões judiciais proferidas no âmbito da Justiça do Trabalho que versem sobre essa
temática. Já no Recurso Extraordinário 661.256 o STF afirmou-se a ilegalidade da
“desaposentação”, ou seja, da possibilidade de revisão do benefício da aposentadoria, tendo
em vista a posterior contribuição, ao RGPS, em decorrência de reinserção no mercado de
trabalho, retrocedendo em matéria de direitos sociais. Tal entendimento, expresso no tema
503 da repercussão geral, vinculou os mais de 180 mil processos suspensos e que aguardavam
julgamento em diversas instâncias judiciais192
.
Prosseguindo na análise de julgados recentes que poderiam ser caracterizados entre nós
como demonstrativos do retrocesso em matéria interpretativa, são dignos de nota os Recursos
Extraordinários 693.456 e 760.931. No primeiro, foi reconhecido o direito de corte do ponto
de servidores públicos grevistas pela Administração Pública, representado um ataque direito à
mobilização e resistência dos trabalhadores no sentido do efetivo direito à greve. Já no
segundo, no RE 760.931, discutiu-se a controvérsia referente à responsabilidade da
Administração Pública por encargos trabalhistas de empresas contratadas, especialmente, no
tocante às atividades terceirizadas, de maneira que o entendimento adotado reforçou a
necessidade de prova inequívoca de conduta omissiva ou comissiva da Administração na
fiscalização dos contratos, o que caminha na contramão das reivindicações dos setores
trabalhistas. Em outras palavras, segundo o Supremo Tribunal Federal não há transferência
automática da responsabilidade da Administração Pública por encargos trabalhistas, geradas
pelo inadimplemento de empresa terceirizada, afigurando-se óbice na efetivação da
integralidade dos encargos trabalhistas, apesar da situação de acentuada vulnerabilidade das
relações de terceirização.
Neste contexto de fortes retrocessos em matéria de direitos sociais e interpretação
constitucional, opta-se por analisar especificamente um caso de jurisprudência sobre a
austeridade. A seguir, será analisado, detalhadamente, o caso da ADIn 5468, proposta contra
cortes orçamentários promovidos no cenário de introdução do discurso da austeridade na cena
pública brasileira no ano de 2015, quando o Congresso Nacional começou a aprovar um
192
Desaposentação: entenda o que muda depois da decisão do STF. EPÓCA NEGÓCIOS. São Paulo,
04/11/2016. Disponível em: http://epocanegocios.globo.com/Economia/noticia/2016/11/desaposentacao-tire-
suas-duvidas-sobre-o-que-muda-depois-da-decisao-do-stf.html. Acesso em 10/06/2016.
68
conjunto de medidas restritivas de direitos sociais. Dentre tais medidas encontra-se o drástico
corte promovido no orçamento reservado à Justiça do Trabalho, e que afetou diretamente o
funcionamento deste ramo especializado, provocando um amplo debate e expressivas reações,
por parte de instituições da sociedade civil e de magistrados. Foi, inclusive, divulgado um
manifesto intitulado “Documento em Defesa do Direito do Trabalho e da Justiça do Trabalho
no Brasil” 193
, subscrito por 20 dos 27 ministros integrantes do TST a sugerir uma necessária
reação institucional em defesa do direito juslaboral e de sua afirmação na conjuntura de
instabilidade econômica, política e jurídica.
3.3 ADIn 5468 à luz da jurisprudência de austeridade
Para melhor entender a Ação Direta de Inconstitucionalidade 5468, realiza-se o
mapeamento dos argumentos contidos no relatório final do PLOA/16, de autoria do Deputado
Federal Ricardo Barros (PP/PR), problematizando-se o discurso da modernização das relações
trabalhistas e a desregulamentação do direito do trabalho. Após, será analisada a utilização do
princípio da separação dos poderes na compatibilização de tal medida legislativa com a
CRFB/88.
3.3.1 Breve contextualização
A LOA/16/ Lei Federal nº 13.255/2016 promoveu corte orçamentário da Justiça do
Trabalho na medida de 50% das dotações para custeio e 90% dos recursos destinados para
investimento. O corte promovido foi superior a todas as demais áreas judicantes, implicando
em diversas reações institucionais que fomentaram o debate acerca de tal medida. Em nota
pública subscrita em 04 de fevereiro de 2016194
, a ANAMATRA aduziu o caráter
desproporcional, discriminatório e retaliativo dos cortes orçamentários, tomando como base
os argumentos contidos no relatório geral do PLOA/16, ressaltando as suas consequências
institucionais nefastas na manutenção da Justiça do Trabalho. Foi ajuizada por esta entidade a
ADIn 5468, tendo como pedido principal, a declaração de nulidade do quantum orçamentário
estipulado na LOA/2016 com a execução da integralidade da proposta orçamentária
193 Disponível em: https://www.anamatra.org.br/images/uploads/Anexos_Noticias/2016/lista-1838-adesoes.pdf.
Acesso em 11/06/2017. 194 Nota pública disponível em: https://www.anamatra.org.br/imprensa/noticias/22418-anamatra-ingressa-no-stf-
contra-cortes-no-orcamento-da-justica-do-trabalho. Acesso em: 17/11/2016
69
originariamente encaminhada pela Justiça do Trabalho e, subsidiariamente, aduziu-se o corte
na medida do estipulado aos demais órgãos do poder judiciário195
:
“Requer, pois, a Anamatra, por ser medida de absoluta essencialidade para a
preservação da AUTONOMIA, INDEPENDÊNCIA, DIGNIDADE e
FUNCIONAMENTO REGULAR da Justiça do Trabalho NO ANO DE 2016, a
concessão da medida cautelar, para o fim declarar abusivo o padrão de corte
orçamentário imposto somente a este ramo do Poder Judiciário da União,
determinando-se à União (a) que promova em 2016 a execução de 100% da sua
proposta orçamentária encaminhada originariamente pela Justiça do Trabalho, seja
em relação a relação ao CUSTEIO, seja em relação ao INVESTIMENTO, ou
sucessivamente (b) que promova em 2016 a execução orçamentária de CUSTEIO e
INVESTIMENTO, para a Justiça do Trabalho, no mesmo parâmetro dos cortes efetuados em face dos demais órgãos do Poder Judiciário da União, ou seja, com o
corte linear de 15% para o custeio e de 40% para investimentos.”196
3.3.2 Os argumentos contidos no relatório da PLOA/16
O Relator da Lei Orçamentária, deputado Ricardo Barros (PP/PR), em relatório final do
PLOA/16, afirma expressamente que o corte orçamentário à Justiça do Trabalho, superior em
relação às demais áreas judicantes, é um meio de reflexão acerca da modernização da
legislação e da Justiça do Trabalho. Em outras palavras, para o Deputado, o corte se justifica
como instrumento de pressão política para o debate relativo à desregulamentação do direito do
trabalho por intermédio de reformas legais que reduzam a atuação da Justiça do Trabalho.197
De antemão, assinala-se a estratégia de desqualificação da legislação e das instituições
trabalhistas198
, apontando-se correlações sem dados empíricos. O relator do PLOA/16 afirma
195 Juízes questionam em ADI corte do orçamento da Justiça do Trabalho. Notícia disponível em:
http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=309441. Acesso em 07.11.2016. 196 STF. Petição inicial da ADIn 5468. Brasília, 03/02/2016. Disponível em:
http://redir.stf.jus.br/estfvisualizadorpub/jsp/consultarprocessoeletronico/ConsultarProcessoEletronico.jsf?seqobj
etoincidente=4920998. Acesso em 06/06/2017. 197 BRASIL. Relatório final do Projeto de Lei nº 7 – CN (PLOA 2016). Planalto Nacional, Brasília, DF, 13 de
dezembro de 2015. p. 19 e 20. Disponível em:
<http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=2074738>. Acesso em
05/06/2017. 198 Nesse sentido, Rodrigo Carelli associa o corte orçamentário Justiça do Trabalho promovido pela LOA/16 ao
conceito de assédio moral na obra de Marie-France Hirigoyen: “A autora indica também comportamentos, dentre outros, pelos quais pode ser considerada uma pessoa (ou uma instituição, no caso) assediada: constrangimento,
desqualificação, descrédito, isolamento, divisão e desestabilização pelo uso do paradoxo. Senão vejamos a
presença de todos esses elementos. O caso do corte nas verbas da Justiça do Trabalho ocorrido na votação pelo
Congresso Nacional da Lei Orçamentária de 2016 (Lei nº 13.255/2016) é exemplar do assédio moral sofrido pela
Justiça do Trabalho. A diminuição em 90% nas despesas de investimento e 29,4% nas de custeio impõe de forma
constrangedora a redução nas atividades normais da Justiça do Trabalho, impedindo-a, por meios transversos, de
realizar sua missão. O discurso do relator do orçamento é recheado de elementos de desqualificação da Justiça
do Trabalho, ora afirmando que ela é parcial, ora acusando que o Juiz trabalhista só quer despachar os
demandantes. Tenta desacreditar a Justiça do Trabalho, alegando que esse ramo do Judiciário não tem condições
70
que as leis trabalhistas são condescendentes com os trabalhadores e estimulam a
judicialização dos conflitos, muito embora estudos apontarem no sentido de que as demandas
trabalhistas têm como motivação principal o não pagamento das verbas rescisórias. Inclusive,
não haveria propriamente um excesso de ações na Justiça do Trabalho em análise comparada
com os demais ramos judicantes199
. De fato, as leis materiais e processuais do trabalho
estipulam tratamentos diferenciados em relação ao empregado e o empregador, contudo, não
há que se falar em privilégio, muito menos em obsolescência do direito ou em parcialidade da
Justiça do Trabalho, uma vez que são concebidas como meio de equilíbrio, diante da
desigualdade de força existente na relação trabalhista.
Em sentido contrário, o discurso da modernização das relações de trabalho, proposto no
relatório, nega a desigualdade de forças e a dimensão do conflito social entre o empregado e
empregador, tendo em vista que diversas disposições legais são concebidas como
desequilíbrios a serem corrigidos. Nesse sentido, as reformas são apontadas não só como
necessárias, mas também como urgentes para a estabilização econômica das empresas, dentre
outras medidas apontadas, destaca-se a adoção da sucumbência proporcional, restrição à
justiça gratuita e indenização trabalhista, equiparação dos efeitos da revelia, redução do prazo
prescricional da demanda, etc. No final, o caráter antagônico da relação trabalhista é afastado
ao se afirmar que as mudanças, de forma complementar, beneficiariam os trabalhadores.
de dar conta de todas as ações ajuizadas.” A Justiça do Trabalho sob assédio moral: um caso de vida ou morte.
CARELLI, Rodrigo de Lacerda. JOTA. Disponível em: https://jota.info/artigos/justica-trabalho-sob-assedio-
moral-um-caso-de-vida-ou-morte-19102016. Publicado em: 19/10/2016. Acesso em: 05/06/2017. 199 Rodrigo Carelli também aborda a existência de 5 mitos relativos à Justiça do Trabalho, refutando o
posicionamento de que a judicialização dos conflitos na Justiça do Trabalho é decorrência da legislação
trabalhista: “No ano de 2015, 46,9% das ações em curso eram relativas a pagamento das verbas rescisórias
(Relatório Justiça em Números 2015, Conselho Nacional de Justiça), sendo que a maior parte desses
trabalhadores, provavelmente, foram encaminhados pela própria empresa à Justiça do Trabalho para conciliar e reduzir o valor que o trabalhador tem por direito a receber. Ou seja, quase a metade da demanda na Justiça do
Trabalho se dá pelo simples não pagamento de verbas na dispensa do trabalhador, não tendo qualquer relação
com rigidez do Direito do Trabalho.” Além disso, afasta a existência de excesso de ações na Justiça do Trabalho:
“Os jornais estampam manchetes dizendo que a Justiça do Trabalho receberá cerca de três milhões de ações este
ano. Esse número, em termos absolutos, realmente assusta. Mas se olharmos em termos relativos, a Justiça do
Trabalho recebe 13,8% dos casos novos, muito menos processos que a Justiça Estadual (69,7%), e menos ainda
que a Justiça Federal, que tem praticamente um réu, a União Federal (14%).” CARELLI, Rodrigo. Os 5 mitos da
Justiça do Trabalho. JOTA. Disponível em: https://jota.info/trabalho/os-5-mitos-da-justica-trabalho-07092016.
Publicado em: 07/09/2016. Acesso em: 05/06/2016.
71
3.3.3 O princípio da separação dos poderes e a compatibilização da LOA/16 com o
sistema constitucional brasileiro
Em 24 de maio de 2016, a Procuradoria-Geral da República manifestou-se no sentido
do conhecimento da ADIn 5468 e, no mérito, pela improcedência da ação, afastando a
alegação da ANAMATRA de que houve abuso do poder legislativo no âmbito do corte
orçamentário à Justiça do Trabalho. Segundo o parecer, possível intervenção do STF
ocasionaria violação à competência do Congresso Nacional e ao princípio da separação dos
poderes, na forma dos artigos 166, §3 e 2º da CRFB/88. Afirmando-se, no Parecer Geral, que
não se pode estabelecer vínculo entre os argumentos contidos no relatório final da PLOA/16
com as razões de aprovação da LOA/16.200
Em 29 de junho de 2016, houve o julgamento da ADIn 5468 pelo plenário do STF,
preliminarmente, conheceu-se por maioria da ação, vencido o Ministro Marco Aurélio, no
mérito. Seguindo-se o voto do Ministro relator Luiz Fux, também por maioria, decidiu-se pela
improcedência da ação, vencidos os Ministros Celso de Mello, Ricardo Lewandowski e Rosa
Weber201
. O relator, Ministro Luiz Fux, afastou o argumento sobre o caráter retaliativo da
medida legislativa, objeto de impugnação, e a afronta à autonomia e independência do poder
judiciário (art. 99 da CRFB/88), assinalando que houve o cumprimento ao devido processo
legal (art. 166, §§ 3º e 4º), concordando com os fundamentos elencados pelo Ministério
Público, em especial, naquilo que tange aos efeitos não vinculativos do parecer do relatório
final da LOA/16. Em outros termos, asseverou-se a possível interferência do legislativo sobre
os recursos do poder judiciário na lei orçamentária anual, violando o princípio da separação
dos poderes e do devido processo legal, uma vez que o parecer do relatório final não é
200 STF. Parecer ministerial ADIn 5468. Brasília, 24/05/2016. Disponível em:
http://redir.stf.jus.br/estfvisualizadorpub/jsp/consultarprocessoeletronico/ConsultarProcessoEletronico.jsf?seqobj
etoincidente=4920998. Acesso em 06/06/2016. 201 Segue a decisão, conforme consulta realizada na plataforma eletrônica do STF “Decisão: Preliminarmente, o
Tribunal, por maioria e nos termos do voto do Relator, reconheceu a legitimidade ativa ad causam da requerente
e conheceu da ação, vencido o Ministro Marco Aurélio. No mérito, o Tribunal, por maioria e nos termos do voto do Relator, julgou improcedente o pedido formulado na ação direta, vencidos os Ministros Celso de Mello,
Ricardo Lewandowski (Presidente) e Rosa Weber, que o julgavam procedente. Em seguida, o Tribunal, por falta
de quórum, deliberou fixar tese na próxima assentada”. STF. Decisão relativa à ADIn 5468. Brasília,
29/06/2017. Disponível em:
http://www.stf.jus.br/portal/processo/verProcessoAndamento.asp?incidente=4920998. Acesso em: 06/06/2017.
72
vinculativo. O voto do relator Luiz Fux foi seguido pelos Ministros Edson Fachin, Luís
Roberto Barroso, Dias Toffoli, Cármen Lúcia, Gilmar Mendes e Marco Aurélio.202
Já os votos divergentes, proferidos pelos ministros Celso de Mello, Ricardo
Lewandowski e Rosa Weber, convergiram no sentido do reconhecimento da arbitrariedade e
incompatibilidade do corte orçamentário impugnado com o comando constitucional de
preservação da competência da Justiça do Trabalho e da proteção aos direitos sociais (artigos
7 e 99 da CRFB/88)203
, acolhendo a inconstitucionalidade diante do princípio do não
retrocesso social. Contudo, o discurso da austeridade foi vitorioso no Supremo Tribunal
Federal, em julgamento representativo de como o direito do trabalho e suas instituições, tais
como a Justiça do Trabalho, são diretamente atingidas pelas crises econômicas e políticas
ultraliberais, como as que chegam com força na atual conjuntura nacional .
202
Plenário, 30.06.2016.” STF. Tese referente ao julgamento da ADIn 5468. Brasília, 30/06/2016. Disponível
em: http://www.stf.jus.br/portal/processo/verProcessoAndamento.asp?incidente=4920998. Acesso em:
06/06/2017. 203 “O ministro Celso de Mello divergiu do relator e votou pela procedência da ADI. Seu voto fundamentou-se na afronta à autonomia do Judiciário. Segundo ele, a manipulação do processo de elaboração e execução da Lei
Orçamentária Anual pode atuar como instrumento de dominação, pelo Legislativo, dos outros Poderes da
República, ‘muitas vezes culminando com a imposição de um inadmissível estado de submissão financeira e de
subordinação orçamentária absolutamente incompatível com a autonomia que a própria Constituição outorgou’.
No caso em discussão, Celso de Mello considerou que o Congresso exerceu sua competência ‘de forma
arbitrária, imoderada, irrazoável e abusiva’ [...] A divergência foi seguida pelos ministros Ricardo Lewandowski
e Rosa Weber. O presidente do STF afirmou que os cortes orçamentários representam um atentado ao
funcionamento da Justiça do Trabalho, frustrando a possibilidade de concretização dos direitos sociais,
garantidos no artigo 7º da Constituição Federal, e o pleno livre exercício das competências da Justiça do
Trabalho. (GRIFO NOSSO) STF julga improcedente ADI contra cortes orçamentários da Justiça do Trabalho.
PLATAFORMA ELETRÔNICA STF. Brasília, 05/06/2016. Disponível em
http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=319997. Acesso em 07/11/2016.
73
CONCLUSÃO
Muito embora não haja evidências empíricas comprovando efeitos reais positivos de
políticas de austeridade para a estabilização econômica, especialmente no âmbito trabalhista,
a desregulamentação do direito do trabalho, através de reformas legislativas, é apontada como
uma medida necessária pelo discurso hegemônico. Porém, tal discurso, além de defender a
estabilização da economia, também avança na defesa da adoção de políticas de austeridade
para que se promova o crescimento econômico, apesar de aqui, novamente, faltar dados que
comprovem a relação de casualidade entre alteração do direito do trabalho e alargamento do
desenvolvimento econômico-financeiro. Numa outra dimensão, constata-se nível de
concentração de renda nunca antes visto na história, conforme relatório realizado pela
organização não governamental britânica Oxfam publicado em 2016. Nesse sentido, há de se
ressaltar a estratégia da utilização, pelo pensamento hegemônico neoliberal, do discurso da
crise econômica, na intenção de reconfigurar a relação de poder de classe, protagonizando a
implementação de medidas de redução da proteção institucional ao trabalhador.
A estratégia de naturalização das desigualdades sociais e de culpabilização dos
indivíduos pelos efeitos crise econômica conectam-se, na sociedade portuguesa pós-crise de
2007/2008, em um projeto neoliberal configurado a partir da austeridade econômica. Tal
projeto é introduzido no Brasil no contexto de crise político-econômica, consolidada nos anos
de 2015/2016, com reflexos substanciais ao Direito e à Justiça do Trabalho. Há a ascensão de
uma agenda governamental autointitulada de “salvação nacional", voltada à disseminação de
um pretenso pacto social em prol da estabilização econômica. Como trabalhado, os
argumentos empregados afirmam a inevitabilidade da introdução de políticas de austeridade
que se direcionem ao ajuste fiscal, à redução do déficit e à contenção dos gastos públicos.
Diante a desestruturação do mercado de trabalho brasileiro, o governo assume o papel
de detentor da austeridade legítima, articulando o sacrifício individual à racionalidade que
destaca a emergência para a promoção de reformas constitucionais e infraconstitucionais,
mesmo que elas sejam antidemocráticas e desestruturem os sistemas de proteção social. Por
este motivo, estudou-se que o Congresso, apesar de ciente dos efeitos sociais e políticos de
suas políticas de austeridades, a exemplo do caso da EC nº 95, foi capaz de aprovar um
congelamento para os investimentos públicos para os próximos 20 anos.
74
Evidencia-se ainda a influência direta, nas políticas governamentais, promovida pela
articulação entre entidades patronais e organismos financeiros internacionais, impondo uma
concepção eminentemente mercantil do direito do trabalho, conforme foi destacado nos
documentos da CNI e do FEM. Nesse sentido, o processo de “austerização” conecta-se ao
questionamento da função protetiva do direito do trabalho, haja vista que por meio de tais
políticas desvirtuam-se os valores sociais, em especial, quando se argumenta que o direito do
trabalho é um custo e a legislação trabalhista um óbice à competitividade do Brasil no
mercado global. Em suma, as reformas trabalhistas são concebidas como ajustes de mercado,
no sentido da redução do custo da mão-de-obra, escamoteada também por argumentos
econômicos, que mencionam a necessidade de modernização, de eficiência e de
produtividade, expressos em nível institucional, como no relatório final do PLOA/2016. Outra
característica, advinda do paradigma da austeridade, é a negação da dimensão do conflito
social e da desigualdade de forças existentes na relação trabalhista, acentuando o domínio da
classe capitalista.
É certo afirmar que o projeto de austeridade neoliberal no Brasil envolve a atuação dos
três poderes da república, mutuamente se auxiliando para a desestruturação do sistema
institucional de proteção ao trabalhador e consolidação do direito do trabalho da exceção.
Além das reformas legislativas, inclusive, com a direta atuação do executivo por intermédio
de MP’s, houve a restrição de direitos e garantias trabalhistas com a atuação do STF.
Porquanto, vê-se que a Suprema Corte se afigura como ator, chancelando as políticas de
austeridade, como na emblemática ação relativa ao corte orçamentário à Justiça do Trabalho
promovida pela LOA/16. No âmbito do julgamento da ADIn 5468, paira a discussão referente
às duas formas de racionalidade. De um lado, tem-se a racionalidade lógico-formal, amparada
pelo princípio da separação dos poderes. De outro, a material, com vistas à análise do mérito
do corte orçamentário e da concretização dos direitos sociais, utilizando-se do princípio da
autonomia do poder judiciário e da preservação da competência da Justiça do Trabalho
constitucionalmente assegurados. O STF, ao julgar improcedente a ADIn 5468, privilegiou a
racionalidade lógica formal, no sentido de afastar-se da análise do mérito da questão,
constituindo um marco representativo no processo de liberalização do direito do trabalho
brasileiro. Assim, esse texto situa a atuação do Tribunal como contributiva para a chancela
das políticas de austeridade, construindo uma concepção jurídica-mercantil em detrimento da
concretização dos direitos sociais, afirmando uma jurisprudência da austeridade a partir do
princípio da separação dos poderes.
75
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