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Universidade Federal do Rio de Janeiro ANÁLISE DIACRÔNICA DA COLOCAÇÃO PRONOMINAL NAS VARIEDADES BRASILEIRA E EUROPÉIA DO PORTUGUÊS LITERÁRIO: UM ESTUDO SEGUNDO O CONJUGADO “VARIAÇÃO-MUDANÇA & CLITICIZAÇÃO” por Daniely Cassimiro de Oliveira Santos 2010

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Universidade Federal do Rio de Janeiro

ANÁLISE DIACRÔNICA DA COLOCAÇÃO PRONOMINAL NAS VARIEDADES

BRASILEIRA E EUROPÉIA DO PORTUGUÊS LITERÁRIO: UM ESTUDO

SEGUNDO O CONJUGADO “VARIAÇÃO-MUDANÇA & CLITICIZAÇÃO”

por

Daniely Cassimiro de Oliveira Santos

2010

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ANÁLISE DIACRÔNICA DA COLOCAÇÃO PRONOMINAL NAS VARIEDADES

BRASILEIRA E EUROPÉIA DO PORTUGUÊS LITERÁRIO: UM ESTUDO

SEGUNDO O CONJUGADO “VARIAÇÃO-MUDANÇA & CLITICIZAÇÃO”

Daniely Cassimiro de Oliveira Santos

Dissertação de Mestrado apresentada ao

Programa de Pós-graduação em Letras Vernáculas

da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como

parte dos requisitos para obtenção do Título de

Mestre em Letras Vernáculas (Língua

Portuguesa).

Orientadora: Professora Doutora Silvia Rodrigues

Vieira

Rio de Janeiro

Fevereiro de 2010

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ANÁLISE DIACRÔNICA DA COLOCAÇÃO PRONOMINAL NAS VARIEDADES

BRASILEIRA E EUROPÉIA DO PORTUGUÊS LITERÁRIO: UM ESTUDO

SEGUNDO O CONJUGADO “VARIAÇÃO-MUDANÇA & CLITICIZAÇÃO”

Daniely Cassimiro de Oliveira Santos

Orientadora: Professora Doutora Silvia Rodrigues Vieira

Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-Graduação em Letras

Vernáculas da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ –, como parte dos

requisitos necessários para a obtenção do Título de Mestre em Letras Vernáculas

(Língua Portuguesa).

Aprovada por:

______________________________________________________________________

Professora Doutora Silvia Rodrigues Vieira – UFRJ

______________________________________________________________________

Professora Doutora Maria da Conceição Auxiliadora de Paiva – UFRJ

______________________________________________________________________

Professora Doutora Silvia Figueiredo Brandão – UFRJ

______________________________________________________________________

Professor Doutor Afranio Gonçalves Barbosa – UFRJ, suplente (Presidente)

______________________________________________________________________

Professora Doutora Christina Abreu Gomes – UFRJ, suplente

Rio de Janeiro

Fevereiro de 2010

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SANTOS, Daniely Cassimiro de Oliveira.

Análise diacrônica da colocação pronominal nas variedades brasileira e

européia do Português Literário: um estudo segundo o conjugado “Variação-

Mudança & Cliticização”/ Daniely Cassimiro de Oliveira Santos. – Rio de

Janeiro: UFRJ/ FL, 2010.

xxiv, 280f.: il.; 31 cm.

Orientadora: Silvia Rodrigues Vieira

Dissertação (Mestrado) – UFRJ / FL / Programa de Pós-graduação em

Letras Vernáculas (Língua Portuguesa), 2010.

Referências Bibliográficas: f. 250-257.

1. Sociolingüística. 2. Variação. 3. Cliticização. 4. Morfossintaxe. 5.

Ordenação dos pronomes I. VIEIRA, Silvia Rodrigues. II. Universidade

Federal do Rio de Janeiro, Faculdade de Letras, Programa de Pós-graduação

em Letras Vernáculas (Língua Portuguesa). III. Título.

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Dedico esta obra ao Cristo Eucarístico, cuja grandeza infinitamente me excede, bem

como aos meus pais, Sebastião e Fátima, e a minha irmã, Thamiris, pela razão de,

muitas vezes, terem confundido suas vidas a minha, quando, em inúmeras renúncias,

optaram por mim em primeiro lugar.

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AGRADECIMENTOS

Eis o momento em que me sinto à vontade para expressar, em primeira pessoa,

os meus mais profundos e eternos agradecimentos àqueles que me auxiliaram a tornar

realidade o estudo que nas próximas páginas se expõe.

Registro, de modo primeiro, a minha gratidão imensurável à Santíssima

Trindade, revelada a mim por meio da docilidade do Pai Eterno, do Cristo

misericordioso e do Espírito Santo, meu inspirador. Agradeço, pois, a Deus por me ser

sempre propício, por ser responsável por minha vida, trajetória e conquistas, por

transformar em certeza o meu talvez, em coragem e força as minhas aflições e medos.

Remeto, também, os meus humildes agradecimentos à Santíssima Virgem Maria

– especialmente sob os títulos de Aparecida, de Fátima e de Guadalupe – pelas

intercessões poderosas, assim como a todos os anjos e santos de Deus.

No desejo de demonstrar minha gratidão aos meus amados e queridos pais,

Sebastião e Fátima, razão da minha existência, presto minha singela homenagem

àqueles que me formam no amor, carinho, ternura, zelo, cumplicidade, dedicação e em

tantos outros substantivos abstratos os quais, na prática dos meus dias, se fazem

concretos. Nesse ensejo, dedico meus agradecimentos a minha querida irmã, Thamiris,

meu exemplo de coragem e de força. Que todos os meus familiares, principalmente

minha avó Isaura, minha Madrinha Verônica, meu Padrinho Paulo e meu primo Paulo

Henrique, se sintam contemplados em minhas expressões de gratidão e afeto.

Agradeço, neste momento, ao Conselho Nacional de Desenvolvimento

Científico e Tecnológico (CNPq), pelo incentivo à permanência nas atividades de

pesquisa, com as bolsas de Iniciação Científica (do Programa PIBIC/UFRJ) e de

Mestrado (agosto de 2008 a janeiro de 2009), bem como à Fundação Carlos Chagas

Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ), pelos

financiamentos concernentes ao Programa Bolsa Nota 10 (fevereiro de 2009 a fevereiro

de 2010).

De modo particular, apresento minha gratidão à Professora Silvia Figueiredo

Brandão, responsável por me introduzir no fascinante mundo da investigação científica

e por me ser sempre solícita.

Destino, também, “o meu muito obrigado” aos Professores Afranio Gonçalves

Barbosa (quem me concedeu diversas orientações e conselhos ao longo do Curso de

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Mestrado), a Maria da Conceição Auxiliadora de Paiva, e Christina Abreu Gomes, pela

prontidão no aceite em integrar a banca examinadora de meu trabalho.

Aos Professores Antônio Carlos Secchin, Mônica Figueiredo e Luci Ruas,

dedico meus agradecimentos em virtude da ajuda que me facultaram para a constituição

dos corpora literários que servem à presente pesquisa.

Agradeço, ainda, a todos os professores que passaram por minha vida,

apresentando a mim palavras de amizade, incentivo e motivação.

Expresso, agora, todo meu carinho aos meus amigos e colegas – principalmente

a Maria de Fátima Vieira, Adriana Lopes, Cristina Márcia, Giselle Esteves, Carla Nunes

e Rodrigo Ribeiro –, pelo companheirismo na jornada acadêmica.

A todos aqueles que passaram pela minha vida, cujos nomes foram mencionados

ou omitidos, expresso minha gratidão sincera.

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Especiais agradecimentos

Julgo mais do que oportuno sublinhar o quanto sou grata a minha orientadora, Silvia

Rodrigues Vieira, a quem chamo de amiga, por todas as orientações valiosas (desde a

época de Iniciação Científica) que extrapolaram o âmbito acadêmico e se revelaram

como verdadeiros conselhos de vida. Agradeço-lhe por todas as palavras, carinho,

generosidade, paciência e compreensão. Que meus agradecimentos sejam acolhidos por

aquela que acredita em mim e que, de modo direto, me auxiliou (e certamente me

auxiliará em vários outros estudos) a concretizar este trabalho que, antes, era somente

um projeto.

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Ad majorem Dei gloriam.

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Parte desta investigação foi fomentada pelo

apoio financeiro do CNPq (agosto de 2008

a janeiro de 2009) bem como pelo

Programa Bolsa Nota 10 – FAPERJ

(fevereiro de 2009 a fevereiro de 2010).

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SINOPSE

Investigação da ordem dos clíticos

pronominais em domínios de lexias verbais

simples e complexas coletadas de romances

representativos do Português do Brasil e do

Português Europeu dos séculos XIX e XX.

Estudo da variação e mudança relacionadas

ao segundo parâmetro de cliticização

proposto por Klavans (1985), à luz dos

fundamentos teórico-metodológicos da

Sociolingüística Laboviana.

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RESUMO

ANÁLISE DIACRÔNICA DA COLOCAÇÃO PRONOMINAL NAS VARIEDADES

BRASILEIRA E EUROPÉIA DO PORTUGUÊS LITERÁRIO: UM ESTUDO

SEGUNDO O CONJUGADO “VARIAÇÃO-MUDANÇA & CLITICIZAÇÃO”

Daniely Cassimiro de Oliveira Santos

Orientadora: Silvia Rodrigues Vieira

Resumo da Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-graduação

em Letras Vernáculas, Faculdade de Letras, da Universidade Federal do Rio de Janeiro

– UFRJ, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Letras

Vernáculas (Língua Portuguesa).

O trabalho dissertativo presente concorre por investigar o fenômeno variável da

ordenação dos clíticos pronominais nas variedades brasileira e européia do Português

atestado no percurso diacrônico dos séculos XIX e XX, a partir de corpora

criteriosamente constituídos de romances compostos por escritores representativos da

Literatura de “aquém e além-mar”.

Promove-se, pois, o exame da colocação discriminando-se contextos de lexias

verbais simples – em face dos fatores (i) próclise (aqui se investiga), (ii) mesóclise

(investigar-se-á) e (iii) ênclise (investiga-se) –, bem como de complexos verbais –

segundo as posições (i) pré-LVC (aqui se pode investigar), (ii) intra-LVC com hífen

(pode-se investigar), (iii) intra-LVC sem hífen (pode se investigar) e (iv) pós-LVC

(pode investigar-se).

De natureza variacionista, o estudo ampara-se nos princípios preconizados pela

Sociolingüística Laboviana (cf. WEINREICH, LABOV & HERZOG, 1968, por ex.) e nos

pressupostos de cliticização avalizados por Klavans (1985), no que respeita,

especificamente, ao Parâmetro 2, de caráter morfossintático. A propósito do tratamento

estatístico dos dados, adota-se o instrumental Goldvarb X, o qual concede, dentre outras

informações, os índices absolutos, percentuais e relativos de cada fator controlado, além

de sinalizar os grupos relevantes no condicionamento do fenômeno. Os resultados

permitem vislumbrar, além de algumas semelhanças, diferenças que sugerem conceber

PB e PE como normas distintas de aplicação do evento variável.

Pelos esclarecimentos prestados, este trabalho empreende uma apresentação

consistente da colocação dos clíticos pronominais no domínio literário do Português,

concedendo novos subsídios ao conhecimento do fenômeno de colocação, cujo estudo a

gramática contemporânea pede seja pormenorizado.

Palavras-chave: Sociolingüística, cliticização, morfossintaxe, ordem dos pronomes.

Rio de Janeiro

Fevereiro de 2010

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ABSTRACT

DIACRONIC ANALYSIS OF PRONOMINAL COLLOCATION IN THE

BRAZILIAN AND EUROPEAN VARIETIES OF LITERARY PORTUGUESE: A

STUDY ACCORDING TO SUBJECT “VARIATION-CHANGE AND

CLITICIZATION”

Daniely Cassimiro de Oliveira Santos

Orientadora: Silvia Rodrigues Vieira

Abstract da Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-graduação

em Letras Vernáculas, Faculdade de Letras, da Universidade Federal do Rio de Janeiro

– UFRJ, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Letras

Vernáculas (Língua Portuguesa).

This dissertative work concerns about the phenomenon of pronominal

collocation in Brazilian and European varieties of Portuguese, attested in the diacronic

route of the 19th and 20th centuries, using corpora composed by novel written by

representative authors of both Brazilian and Portuguese Literature.

Examination of clitic order in simple verbal context – according to proclitic,

mesoclitic and enclitic positions – and in complex verbal structures – through the

variants: clitic before verbal complex structure, clitic inside verbal complex stucture and

clitic after verbal complex structure – is performed.

This study, conceived as a variacionist approach, is based on the principles of

Labovian Sociolinguistics (WEINREICH, LABOV and HERZOG, 1968, for example) and

on the postulates of cliticization proposed by Klavans (1985), considering, especially,

the morphosyntactic Parameter 2. Goldvarb X instrumental is adopted in order to

perform statistic treatment of data, that provides several pieces of information like these

ones: absolute numbers, percentages and relative values concerning controlled factors,

showing, besides other aspects, relevant restrictions for the variable phenomenum. The

results show, besides some similarities, differences that suggest that Brazilian and

European Portuguese apply distinct norms of pronominal collocation.

It is convenient to emphasize that this analysis undertakes a consistent study of

pronominal order in Literary Portuguese, providing new information about the

phenomenon whose study modern grammar requests to be revised.

Key words: Sociolinguistics, cliticization, Morphosyntax, pronominal order.

Rio de Janeiro

Fevereiro de 2010

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO..................................................................................................................

25

1.1 Justificativas e problemas........................................................................................................... 25

1.2 Objetivos....................................................................................................................................... 27

1.2.1 Gerais......................................................................................................................................... 27

1.2.2 Específicos................................................................................................................................. 28

1.3 Hipóteses da investigação........................................................................................................... 28

1.4 As partes integrantes de um todo............................................................................................... 29

2. REVISÃO DA LITERATURA CONCERNENTE AO TEMA DA COLOCAÇÃO..............

31

2.1 A ordenação dos clíticos pronominais consoante o panorama tradicional........................ 32

2.2 A ordenação dos clíticos pronominais consoante o panorama não-tradicional................. 34

2.2.1 A ordem mediante dois compêndios gramaticais descritivos......................................... 34

2.2.2 A ordem mediante diversas investigações científicas.................................................... 36

3. FUNDAMENTOS TEÓRICOS.............................................................................................

54

3.1 As diretrizes do tratamento da cliticização........................................................................ 54

3.2 O aporte sociolingüístico................................................................................................... 59

4. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS..........................................................................

68

4.1 As etapas percorridas para o desenvolvimento da análise variacionista........................... 68

4.2 Descrição dos corpora................................................................................................................ 68

4.3 Delimitação da variável dependente......................................................................................... 74

4.3.1 Os fatores da variável dependente em contexto de Lexias Verbais Simples.................. 74

4.3.2 Os fatores da variável dependente em contexto de Lexias Verbais Complexas............. 75

4.3.2.1 A concepção de Lexias Verbais Complexas pelo confronto entre algumas

perspectivas..............................................................................................................................

77

4.4 Descrição das variáveis independentes: as pressões sociais e estruturais motivadoras do

fenômeno em variância......................................................................................................................

84

4.4.1 Grupos de fatores de natureza extralingüística............................................................... 85

4.4.2 Grupos de fatores de natureza lingüística....................................................................... 87

4.5 Medidas concernentes ao tratamento quantitativo efetuado.............................................. 108

5. EXPOSIÇÃO ANALÍTICA DOS DADOS: OS RESULTADOS ALCANÇADOS

MEDIANTE EXAME DOS CORPORA............................................................................................

114

5.1 A ordem em ambientes de Lexias Verbais Simples: a realidade dos corpora.................. 114

5.1.1 A colocação pronominal em domínio de Lexias Verbais Simples................................. 117

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15

5.1.1.1 Grupos de fatores relevantes no condicionamento da próclise em LVS, no âmbito

do PB e do PE dos séculos XIX e XX.....................................................................................

135

5.1.1.1.1 Variável de cunho extralingüístico........................................................................... 136

5.1.1.1.2 Variáveis de cunho lingüístico.................................................................................. 139

5.2 A ordem em ambientes de Lexias Verbais Complexas: a realidade dos corpora............. 151

5.2.1 A colocação pronominal em domínio de LVC constituída de verbo principal no

gerúndio...............................................................................................................................................

154

5.2.1.1 A ordem pronominal em LVC com gerúndio a partir de variáveis extralingüísticas.. 159

5.2.1.2 A ordem pronominal em LVC com gerúndio a partir de variáveis lingüísticas.......... 160

5.2.2 A colocação pronominal em domínio de LVC constituída de verbo principal no

particípio..............................................................................................................................................

166

5.2.2.1 A ordem pronominal em LVC com particípio a partir de variáveis

extralingüísticas.......................................................................................................................

171

5.2.2.2 A ordem pronominal em LVC com particípio a partir de variáveis lingüísticas........ 172

5.2.3 A colocação pronominal em domínio de LVC constituída de verbo principal no

infinitivo..............................................................................................................................................

178

5.2.3.1 A ordem pronominal em LVC com infinitivo a partir de variáveis

extralingüísticas..................................................................................................................................

197

5.2.3.2 A ordem pronominal em LVC com infinitivo a partir de variáveis lingüísticas........ 210

5.3 O fenômeno da interpolação..................................................................................................... 225

6. SISTEMATIZAÇÃO DOS RESULTADOS E REFLEXÕES FINAIS.....................................

229

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.........................................................................................

250

ANEXOS..............................................................................................................................................

258

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16

ÍNDICE DE QUADROS, TABELAS E FIGURAS

→ QUADROS

Quadro 1: Apresentação dos autores com suas respectivas obras contempladas nos corpora brasileiro e

europeu dos séculos XIX e XX................................................................................................. ............................

71

Quadro 2: Distribuição geral do número de dados colhidos nas variedades brasileira e européia do

Português dos séculos XIX e XX pelos contextos sob análise................................................................... ..........

74

Quadro 3: Sistematização dos critérios de auxiliaridade propostas por Barroso (1994) apud Vieira (2002:

243) ........................................................................................................................ ..............................................

79

Quadro 4: Continuum de auxiliaridade proposto por Machado Vieira (2004) ...................................................

82

Quadro 5: Variáveis selecionadas quanto ao evento da ordem em LVS no PB e no PE dos séculos XIX e

XX............................................................................................................................................... ..........................

136

→ TABELAS

Tabela 1: Distribuição geral das variantes no PB dos séculos XIX e XX, em todos os contextos de

LVS.......................................................................................................................... .............................................

116

Tabela 2: Freqüência percentual e absoluta das variantes em início absoluto e nos demais contextos a partir

de dados do PB dos séculos XIX e XX.......................................................................................... .......................

116

Tabela 3: Freqüência percentual e absoluta das variantes em domínio de proclisadores canônicos e não-

canônicos a partir de dados do PB dos séculos XIX e XX................................................................................. ..

116

Tabela 4: Distribuição geral das variantes no PE dos séculos XIX e XX, em todos os contextos de

LVS.......................................................................................................................... .............................................

117

Tabela 5: Freqüência percentual e absoluta das variantes em início absoluto e nos demais contextos a partir

de dados do PE dos séculos XIX e XX.......................................................................................... .......................

117

Tabela 6: Freqüência percentual e absoluta das variantes em domínio de proclisadores canônicos e não-

canônicos a partir de dados do PE dos séculos XIX e XX................................................................................. ..

117

Tabela 7: Distribuição do número total de dados no âmbito das LVS, no PB e no PE dos séculos XIX e XX,

em todos os contextos............................................................................................................................. ...............

118

Tabela 8: Freqüência percentual e absoluta das variantes em início absoluto e nos demais contextos a partir

de dados do PB dos séculos XIX e XX.......................................................................................... .......................

122

Tabela 9: Freqüência percentual e absoluta das variantes em domínio de proclisadores canônicos e não-

canônicos a partir de dados do PB dos séculos XIX e XX................................................................................. ..

125

Tabela 10: Freqüência percentual e absoluta das variantes em início absoluto e nos demais contextos a partir

de dados do PE dos séculos XIX e XX.......................................................................................... .......................

126

Tabela 11: Freqüência percentual e absoluta das variantes em domínio de proclisadores canônicos e não-

canônicos a partir de dados do PE dos séculos XIX e XX................................................................................. ..

128

Tabela 12: Produtividade percentual e absoluta das variantes em contexto de proclisadores canônicos e não-

canônicos, segundo o grupo de fatores época/fase de publicação das obras adotadas, em referência ao PB e

ao PE dos séculos XIX e XX, no âmbito das lexias verbais simples....................................................................

137

Tabela 13: Produtividade percentual e absoluta das variantes em contexto de proclisadores canônicos e não-

canônicos, segundo os fatores amalgamados da variável presença de um possível elemento proclisador: PB e

PE dos séculos XIX e XX, no âmbito das lexias verbais simples........................................................................

140

Tabela 14: Produtividade percentual e absoluta das variantes em contexto de proclisadores canônicos e não-

canônicos, segundo os fatores amalgamados da variável tipo de clítico pronominal: PB e PE dos séculos

XIX e XX, no âmbito das lexias verbais simples.................................................................................................

143

Tabela 15: Produtividade percentual e absoluta das variantes em contexto de proclisadores canônicos e não-

canônicos, segundo fatores amalgamados da variável tempo e modo das formas verbais: PB e PE dos séculos

XIX e XX, no âmbito das lexias verbais simples.................................................................................................

145

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17

Tabela 16: Produtividade percentual e absoluta das variantes em contexto de proclisadores canônicos e não-

canônicos, segundo o grupo de fatores tonicidade dos itens verbais: PB dos séculos XIX e XX, no âmbito

das lexias verbais simples.....................................................................................................................................

148

Tabela 17: Produtividade percentual e absoluta das variantes em contexto de proclisadores canônicos e não-

canônicos, segundo fatores amalgamados da variável natureza da oração: PE dos séculos XIX e XX, no

âmbito das lexias verbais simples.........................................................................................................................

150

Tabela 18: Distribuição geral das variantes em todos os contextos, no âmbito das LVC com gerúndio,

referente ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX...................................................................................................

155

Tabela 19: Produtividade percentual e absoluta das variantes em contexto de estrutura (semi-)auxiliar +

gerúndio no PB e no PE dos séculos XIX e XX..................................................................................................

157

Tabela 20: Produtividade percentual e absoluta das variantes em face do grupo de fatores tipo de clítico

pronominal em referência ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX, no âmbito das lexias verbais complexas

com gerúndio........................................................................................................................................................

162

Tabela 21: Produtividade percentual e absoluta das variantes em face do grupo de fatores natureza da

oração em referência ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX, no âmbito das lexias verbais complexas com

gerúndio...................................................................................................... ..........................................................

163

Tabela 22: Produtividade percentual e absoluta das variantes em face do grupo de fatores presença/ausência

de um possível elemento proclisador em referência ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX, no âmbito das

lexias verbais complexas com gerúndio...............................................................................................................

164

Tabela 23: Produtividade percentual e absoluta das variantes em face do grupo de fatores tempo e modo dos

verbos (semi-)auxiliares em referência ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX, no âmbito das lexias verbais

complexas com gerúndio......................................................................................................... .............................

165

Tabela 24: Distribuição geral das variantes em todos os contextos, no âmbito das LVC com particípio,

referente ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX......................................................................... ..........................

167

Tabela 25: Produtividade percentual e absoluta das variantes em contexto de haver + particípio e ter +

particípio no PB e no PE dos séculos XIX e XX.......................................................................... .......................

169

Tabela 26: Produtividade percentual e absoluta das variantes em face do grupo de fatores tipo de clítico

pronominal em referência ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX, no âmbito das lexias verbais complexas

com particípio................................................................................................................................... ....................

174

Tabela 27: Produtividade percentual e absoluta das variantes em face do grupo de fatores natureza da

oração em referência ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX, no âmbito das lexias verbais complexas com

particípio............................................................................................................................. ..................................

175

Tabela 28: Produtividade percentual e absoluta das variantes em face do grupo de fatores presença/ausência

de um possível elemento proclisador em referência ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX, no âmbito das

lexias verbais complexas com particípio..............................................................................................................

176

Tabela 29: Produtividade percentual e absoluta das variantes em face do grupo de fatores tempo e modo das

formas auxiliares em referência ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX, no âmbito das lexias verbais

complexas com particípio............................................................................................................................. ........

177

Tabela 30: Distribuição geral das variantes em todos os contextos, no âmbito das LVC com infinitivo

referente ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX................................................................................. ..................

178

Tabela 31: Distribuição geral das variantes em início absoluto, no âmbito das LVC com infinitivo referente

ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX........................................................................................... ........................

182

Tabela 32: Distribuição geral das variantes em contexto de proclisadores canônicos, no âmbito das LVC

com infinitivo referente ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX ...........................................................................

183

Tabela 33: Distribuição geral das variantes em contexto de proclisadores não-canônicos, no âmbito das

LVC com infinitivo referente ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX...................................................................

185

Tabela 34: Distribuição geral das variantes em contexto de proclisadores canônicos e não-canônicos, no

âmbito das LVC com infinitivo referente ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX................................................

187

Tabela 35: Distribuição percentual e absoluta das variantes em face do grupo de fatores fase/época dos

romances eleitos em referência ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX, no âmbito das lexias verbais

complexas com infinitivo.....................................................................................................................................

195

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18

Tabela 36: Distribuição percentual e absoluta das variantes em face do grupo de fatores séculos investigados

em referência ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX, no âmbito das lexias verbais complexas com

infinitivo................................................................................................................................................................

197

Tabela 37: Produtividade percentual e absoluta das variantes amalgamadas em face do grupo de fatores

vozes do romance no que concerne ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX, no âmbito das lexias verbais

complexas com infinitivo......................................................................................................................................

198

Tabela 38: Produtividade percentual e absoluta das variantes em face do grupo de fatores autores

contemplados em referência ao PB dos séculos XIX e XX, no âmbito das lexias verbais complexas com

infinitivo................................................................................................................................................... .............

200

Tabela 39: Produtividade percentual e absoluta das variantes em face do grupo de fatores autores

contemplados em referência ao PE dos séculos XIX e XX, no âmbito das lexias verbais complexas com

infinitivo................................................................................................................................................................

204

Tabela 40: Produtividade percentual e absoluta das variantes em face do grupo de fatores gênero/sexo dos

autores contemplados em referência ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX, no âmbito das lexias verbais

complexas com infinitivo.....................................................................................................................................

209

Tabela 41: Produtividade percentual e absoluta das variantes em face do grupo de fatores presença /

ausência de elementos intervenientes na estrutura verbal complexa em referência ao PB e ao PE dos séculos

XIX e XX, no âmbito dos complexos verbais com infinitivo...............................................................................

211

Tabela 42: Produtividade percentual e absoluta das variantes em face dos fatores amalgamados da variável

natureza da oração em referência ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX, no âmbito das Lexias Verbais

Complexas com infinitivo.....................................................................................................................................

212

Tabela 43: Produtividade percentual e absoluta das variantes em face dos fatores amalgamados da variável

presença de um possível elemento proclisador em referência ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX, no

âmbito das Lexias Verbais Complexas com infinitivo.........................................................................................

213

Tabela 44: Produtividade percentual e absoluta das variantes em face dos fatores amalgamados da variável

distância entre possível elemento proclisador e seqüência constituída de clítico e complexo verbal em

referência ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX, no âmbito das lexias verbais complexas com infinitivo.....

218

Tabela 45: Produtividade percentual e absoluta das variantes em face dos fatores amalgamados da variável

tempo e modo das formas (semi-)auxiliares em referência ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX, no âmbito

das lexias verbais complexas com infinitivo.....................................................................................................

220

Tabela 46: Produtividade percentual e absoluta das variantes em face dos fatores amalgamados da variável

tipo de clítico pronominal em referência ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX, no âmbito das lexias verbais

complexas com infinitivo.....................................................................................................................................

222

Tabela 47: Produtividade percentual e absoluta das variantes em face dos fatores amalgamados da variável

tipo de lexia verbal complexa em referência ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX, no âmbito dos complexos

verbais com infinitivo...........................................................................................................................................

223

ANEXOS

→ Anexo 3

265

Tabela 48: Produtividade percentual e absoluta das variantes proclítica e enclítica em face do grupo de

fatores vozes do romance no que concerne ao PB e PE dos séculos XIX e XX, no âmbito das lexias verbais

simples..................................................................................................................................................................

Tabela 49: Produtividade percentual e absoluta das variantes proclítica e enclítica em face do grupo de

fatores autores contemplados no que concerne ao PB dos séculos XIX e XX, no âmbito das lexias verbais

simples..................................................................................................................................................................

265

Tabela 50: Produtividade percentual e absoluta das variantes proclítica e enclítica em face do grupo de

fatores autores contemplados no que concerne ao PE dos séculos XIX e XX, no âmbito das lexias verbais

simples..................................................................................................................................................................

266

Tabela 51: Produtividade percentual e absoluta das variantes proclítica e enclítica em face do grupo de

fatores gênero/sexo dos autores contemplados no que concerne ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX, no

âmbito das lexias verbais simples.........................................................................................................................

267

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19

Tabela 52: Produtividade percentual e absoluta das variantes proclítica e enclítica em face do grupo de

fatores séculos investigados no que concerne ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX, no âmbito das lexias

verbais simples......................................................................................................................................................

268

Tabela 53: Produtividade percentual e absoluta das variantes proclítica e enclítica em face do grupo de

fatores distância entre possível elemento proclisador e segmento constituído por clítico e item verbal no que

concerne ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX, no âmbito das lexias verbais simples.......................................

268

Tabela 54: Produtividade percentual e absoluta das variantes proclítica e enclítica em face do grupo de

fatores natureza da oração no que concerne ao PB dos séculos XIX e XX, no âmbito das lexias verbais

simples....................................................................................................................................... ...........................

269

Tabela 55: Produtividade percentual e absoluta das variantes proclítica e enclítica em face do grupo de

fatores tonicidade dos itens verbais no que concerne ao PE dos séculos XIX e XX, no âmbito das lexias

verbais simples......................................................................................................................................................

269

→ Anexo 4

Tabela 56: Produtividade percentual e absoluta das variantes em contexto de proclisadores canônicos e não-

canônicos, segundo a variável presença de possível elemento proclisador: PB e PE dos séculos XIX e XX,

no âmbito das lexias verbais simples....................................................................................................................

270

Tabela 57: Produtividade percentual e absoluta das variantes em contexto de proclisadores canônicos e não-

canônicos, segundo a variável tipo de clítico pronominal: PB e PE dos séculos XIX e XX, no âmbito das

lexias verbais simples...........................................................................................................................................

272

Tabela 58: Produtividade percentual e absoluta das variantes em contexto de proclisadores canônicos e não-

canônicos, segundo a variável tempo e modo das formas verbais: PB e PE dos séculos XIX e XX, no âmbito

das lexias verbais simples.....................................................................................................................................

272

Tabela 59: Produtividade percentual e absoluta das variantes em contexto de proclisadores canônicos e não-

canônicos, segundo a variável natureza da oração: PE dos séculos XIX e XX, no âmbito das lexias verbais

simples..................................................................................................................................................................

273

→ Anexo 5

Tabela 60: Produtividade percentual e absoluta das variantes em face do grupo de fatores natureza da

oração em referência ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX, no âmbito das lexias verbais complexas com

infinitivo................................................................................................................................................................

274

Tabela 61: Produtividade percentual e absoluta das variantes em face do grupo de presença de possível

elemento proclisador em referência ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX, no âmbito das lexias verbais

complexas com infinitivo.....................................................................................................................................

275

Tabela 62: Produtividade percentual e absoluta das variantes em face do grupo de fatores distância entre um

possível elemento proclisador e complexo verbal em referência ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX, no

âmbito das lexias verbais complexas com infinitivo.........................................................................................

277

Tabela 63: Produtividade percentual e absoluta das variantes em face do grupo de fatores tempo e modo dos

verbos (semi-)auxiliares em referência ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX, no âmbito das lexias verbais

complexas com infinitivo.....................................................................................................................................

278

Tabela 64: Produtividade percentual e absoluta das variantes em face do grupo de fatores tipo de clítico

pronominal em referência ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX, no âmbito das lexias verbais complexas

com infinitivo........................................................................................................................................................

279

Tabela 65: Produtividade percentual e absoluta das variantes em face do grupo de fatores tipo de lexia

verbal complexa em referência ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX, no âmbito dos complexos verbais com

infinitivo................................................................................................................................................................

280

→ FIGURAS

Figura 1: A variante proclítica mediante verbos em posição inicial, com base no gráfico extraído de Martins

(2009: 181) ................................................................................................................. ..........................................

124

Figura 2: Distribuição dos índices de próclise em contexto de início absoluto de oração no PB dos séculos

XIX e XX..................................................................................................................... .........................................

124

Figura 3: Distribuição dos índices de próclise em contexto de início absoluto de oração no PE dos séculos

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20

XIX e XX..................................................................................................................... .........................................

127

Figura 4: Concretização das variantes em todos os contextos, no âmbito das lexias verbais simples, pelas

fases estipuladas a partir da publicação dos romances brasileiros dos séculos XIX e XX...................................

129

Figura 5: Concretização das variantes em todos os contextos, no âmbito das lexias verbais simples, pelas

fases estipuladas a partir da publicação dos romances europeus dos séculos XIX e XX.....................................

130

Figura 6: Concretização das variantes em início absoluto, no âmbito das lexias verbais simples, pelas fases

estipuladas a partir da publicação dos romances brasileiros dos séculos XIX e XX............................................

130

Figura 7: Concretização das variantes em início absoluto, no âmbito das lexias verbais simples, pelas fases

estipuladas a partir da publicação dos romances europeus dos séculos XIX e XX..............................................

131

Figura 8: Concretização das variantes em contexto de proclisadores canônicos, no âmbito das lexias verbais

simples, pelas fases estipuladas a partir da publicação dos romances brasileiros dos séculos XIX e XX...........

131

Figura 9: Concretização das variantes em contexto de proclisadores canônicos, no âmbito das lexias verbais

simples, pelas fases estipuladas a partir da publicação dos romances europeus dos séculos XIX e XX.............

132

Figura 10: Concretização das variantes em contexto de proclisadores não-canônicos, no âmbito das lexias

verbais simples, pelas fases estipuladas a partir da publicação dos romances brasileiros dos séculos XIX e

XX........................................................................................................................... ..............................................

132

Figura 11: Concretização das variantes em contexto de proclisadores não-canônicos, no âmbito das lexias

verbais simples, pelas fases estipuladas a partir da publicação dos romances europeus dos séculos XIX e XX

133

Figura 12: Concretização das variantes em contexto de proclisadores canônicos e não-canônicos, no âmbito

das lexias verbais simples, pelas fases estipuladas a partir da publicação dos romances brasileiros dos séculos

XIX e XX..............................................................................................................................................................

133

Figura 13: Concretização das variantes em contexto de proclisadores canônicos e não-canônicos, no âmbito

das lexias verbais simples, pelas fases estipuladas a partir da publicação dos romances europeus dos séculos

XIX e XX..................................................................................................................... .........................................

134

Figura 14: Aplicação da próclise (pesos relativos) em contexto de proclisadores canônicos e não-

canônicos, mediante a variável época/fase de publicação das obras adotadas: PB dos séculos XIX e XX.......

138

Figura 15: Aplicação da próclise (pesos relativos) em contexto de proclisadores canônicos e não-

canônicos, mediante a variável época/fase de publicação das obras adotadas: PE dos séculos XIX e XX.......

139

Figura 16: Aplicação da próclise (pesos relativos) em contexto de proclisadores canônicos e não-

canônicos, mediante a variável presença de um possível elemento proclisador: PB dos séculos XIX e XX......

141

Figura 17: Aplicação da próclise (pesos relativos) em contexto de proclisadores canônicos e não-

canônicos, mediante a variável presença de um possível elemento proclisador: PE dos séculos XIX e XX......

142

Figura 18: Aplicação da próclise (pesos relativos) em contexto de proclisadores canônicos e não-canônicos,

mediante a variável tipo de clítico pronominal: PB dos séculos XIX e XX.........................................................

144

Figura 19: Aplicação da próclise (pesos relativos) em contexto de proclisadores canônicos e não-canônicos,

mediante a variável tipo de clítico pronominal: PE dos séculos XIX e XX.........................................................

144

Figura 20: Aplicação da próclise (pesos relativos) em contexto de proclisadores canônicos e não-canônicos,

mediante a variável tempo e modo das formas verbais: PB dos séculos XIX e XX............................................

146

Figura 21: Aplicação da próclise (pesos relativos) em contexto de proclisadores canônicos e não-canônicos,

mediante a variável tempo e modo das formas verbais: PE dos séculos XIX e XX.............................................

147

Figura 22: Aplicação da próclise (pesos relativos) em contexto de proclisadores canônicos e não-canônicos,

mediante a variável tonicidade dos itens verbais: PB dos séculos XIX e XX.....................................................

148

Figura 23: Aplicação da próclise (pesos relativos) em contexto de proclisadores canônicos e não-canônicos,

mediante a variável natureza da oração: PE dos séculos XIX e XX...................................................................

151

Figura 24: Distribuição das variantes em domínio de LVC integrada por gerúndio, no PB dos séculos XIX e

XX........................................................................................................................... ..............................................

157

Figura 25: Distribuição das variantes em domínio de LVC integrada por gerúndio, no PE dos séculos XIX e

XX........................................................................................................................... ..............................................

157

Figura 26: Freqüência percentual das estruturas (semi-)auxiliar + gerúndio no PB e no PE dos séculos XIX

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21

e XX.......................................................................................................... ............................................................

158

Figura 27: Distribuição das variantes em domínio de LVC participial, no PB dos séculos XIX e XX.............

168

Figura 28: Distribuição das variantes em domínio de LVC participial, no PE dos séculos XIX e XX..............

168

Figura 29: Freqüência percentual das estruturas ter + particípio e haver + particípio no PB e no PE dos

séculos XIX e XX............................................................................................ .....................................................

170

Figura 30: Distribuição das variantes em todos os contextos, no âmbito das LVC com infinitivo, no PB dos

séculos XIX e XX.......................................................................... .......................................................................

179

Figura 31: Distribuição das variantes em todos os contextos, no âmbito das LVC com infinitivo, no PE dos

séculos XIX e XX.................................................................................................................................................

179

Figura 32: Distribuição das variantes em início absoluto, no âmbito das LVC com infinitivo, no PB dos

séculos XIX e XX.................................................................................................................................................

183

Figura 33: Distribuição das variantes em início absoluto, no âmbito das LVC com infinitivo, no PE dos

séculos XIX e XX.................................................................................................................................................

183

Figura 34: Distribuição das variantes em domínio de proclisadores canônicos, no âmbito das LVC com

infinitivo, no PB dos séculos XIX e XX...............................................................................................................

185

Figura 35: Distribuição das variantes em domínio de proclisadores canônicos, no âmbito das LVC com

infinitivo, no PE dos séculos XIX e XX...............................................................................................................

185

Figura 36: Distribuição das variantes em domínio de proclisadores não-canônicos, no âmbito das LVC com

infinitivo, no PB dos séculos XIX e XX...............................................................................................................

187

Figura 37: Distribuição das variantes em domínio de proclisadores não-canônicos, no âmbito das LVC com

infinitivo, no PE dos séculos XIX e XX............................................................................................................. ..

187

Figura 38: Distribuição das variantes em domínio de proclisadores canônicos e não-canônicos, no âmbito

das LVC com infinitivo, no PB dos séculos XIX e XX........................................................................................

188

Figura 39: Distribuição das variantes em domínio de proclisadores canônicos e não-canônicos, no âmbito

das LVC com infinitivo, no PE dos séculos XIX e XX........................................................................................

188

Figura 40: Concretização das variantes em todos os contextos pelas fases estipuladas a partir da publicação

dos romances brasileiros dos séculos XIX e XX..................................................................................................

189

Figura 41: Concretização das variantes em todos os contextos pelas fases estipuladas a partir da publicação

dos romances portugueses dos séculos XIX e XX................................................................................................

190

Figura 42: Concretização das variantes em início absoluto pelas fases estipuladas a partir da publicação dos

romances brasileiros dos séculos XIX e XX.........................................................................................................

190

Figura 43: Concretização das variantes em início absoluto pelas fases estipuladas a partir da publicação dos

romances portugueses dos séculos XIX e XX................................................................................................... ...

191

Figura 44: Concretização das variantes em contextos de proclisadores não-canônicos pelas fases

estipuladas a partir da publicação dos romances brasileiros dos séculos XIX e XX............................................

192

Figura 45: Concretização das variantes em contextos de proclisadores não-canônicos pelas fases

estipuladas a partir da publicação dos romances europeus dos séculos XIX e XX..............................................

192

Figura 46: Concretização das variantes em contextos de proclisadores canônicos pelas fases estipuladas a

partir da publicação dos romances brasileiros dos séculos XIX e XX.................................................................

193

Figura 47: Concretização das variantes em contextos de proclisadores canônicos pelas fases estipuladas a

partir da publicação dos romances portugueses dos séculos XIX e XX...............................................................

194

Figura 48: Concretização das variantes em contexto de proclisadores canônicos e não-canônicos pelas fases

estipuladas a partir da publicação dos romances brasileiros dos séculos XIX e XX............................................

195

Figura 49: Concretização das variantes em contexto de proclisadores canônicos e não-canônicos pelas fases

estipuladas a partir da publicação dos romances portugueses dos séculos XIX e XX..................................... ....

196

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22

ABREVIATURA E CONVENÇÕES

Sintagmas:

SAdv → Sintagma Adverbial

SN → Sintagma Nominal

SPrep → Sintagma Preposicional

Categorias/Classes de palavras:

Adv. → Advérbio

V → Verbo

Cl → Clítico

Conj. → Conjunção

Conj. coord. → Conjunção coordenativa

Loc. → Locução

Loc. conj. → Locução conjuntiva

Prep. → Preposição

Pron. → Pronome

Pron. indef. → Pronome indefinido

Tempo verbal:

Pres. → Presente

Pret. → Pretérito

Perf. → Perfeito

Imp. → Imperfeito

Natureza de oração:

Or. coord. → Oração coordenada

Or. sub. → Oração subordinada

Or. sub. red. → Oração subordinada reduzida

Variedades do Português:

PB → Português do Brasil

PE → Português Europeu

Banco de dados

NURC → Projeto Estudo da Norma Lingüística Urbana Culta do Rio de Janeiro

VARPORT → Projeto Análise Contrastiva de Variedades do Português

Outras categorias:

Pal. → Palavra

Suj. → Sujeito

Domínios examinados:

LVS → Lexia Verbal Simples

LVC → Lexia Verbal Complexa

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23

Variantes:

Cl-LVC → Clítico-lexia verbal complexa

Pré- LVC → Pré-lexia verbal complexa

Intra- LVC → Intra-lexia verbal complexa

Pós- LVC → Pós-lexia verbal complexa

ABREVIATURAS ONOMÁSTICAS DOS AUTORES CONTEMPLADOS

Autores concernentes ao Português do Brasil

– Século XIX

AAz → Aluísio Azevedo

BG → Bernardo Guimarães

JAl → José de Alencar

JL → Júlia Lopes

JMM → Joaquim Manuel de Macedo

MA → Machado de Assis

MAA → Manuel Antônio de Almeida

RP → Raul Pompéia

– Século XX

AAr → Afonso Arinos

DSQ → Dinah Silveira de Queiroz

EC → Euclides da Cunha

EV → Érico Veríssimo

GR → Guimarães Rosa

GrR → Graciliano Ramos

JAm → Jorge Amado

JLR → José Lins do Rego

LB → Lima Barreto

LFT → Lygia Fagundes Telles

NP → Nélida Piñon

RQ → Rachel de Queiroz

Autores concernentes ao Português Europeu

– Século XIX

AG → Almeida Garrett

AH → Alexandre Herculano

ArG → Arnaldo Gama

CCB → Camilo Castelo Branco

EQ → Eça de Queiroz

FA → Fialho de Almeida

JD → Júlio Dinis

TC → Trindade Coelho

– Século XX

AAb → Augusto Abelaira

AB → Abel Botelho

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24

ABL → Augustina Bessa Luís

AlR → Alves Redol

AqR → Aquilino Ribeiro

CM → Campos Monteiro

FN → Fernando Namora

JCP → José Cardoso Pires

JS → José Saramago

RB → Raul Brandão

VF → Vergílio Ferreira

VN → Vitorino Nemésio

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25

1. INTRODUÇÃO

É objetivo do trabalho dissertativo, que ora se apresenta, investigar, à luz de

critérios científicos, o fenômeno da colocação dos átonos pronominais nas variedades

brasileira (PB) e européia (PE) do Português Literário averiguado no decurso dos

séculos XIX e XX. Pretende-se, a partir do cotejo de textos concernentes à literatura de

“aquém e além-mar”, estabelecer as regras que efetivamente presidem o evento da

ordem em contextos com lexias verbais simples 1 – isto é, manifestação do clítico

mediante uma única forma verbal – e com complexos verbais 2 – comportamento do

pronome átono em face de uma estrutura perifrástica.

Quanto à fundamentação teórico-metodológica, o presente exame, de caráter

variacionista, concebe-se sob a égide dos postulados da Sociolingüística Laboviana (cf.

WEINREICH, LABOV & HERZOG, 1968; LABOV, 1972, 1994, por ex.), ancorando-

se, também, nos preceitos estabelecidos por Klavans (1985), no que tange aos

parâmetros de cliticização, dentre os quais se discrimina, principalmente, o Parâmetro 2,

de caráter morfossintático. A conjugação dessas orientações investigativas favorece a

adequação descritiva e explicativa que se pretende alcançar no desenvolvimento da

pesquisa.

Com base nas discrepâncias existentes entre o PB e o PE e na forma como as

gramáticas brasileiras abordam o tema da colocação pronominal, tendo supostamente

como paradigma a realização lusitana, a pesquisa visa a contribuir, a partir de descrições

e análises criteriosas, por apresentar a efetiva identidade lingüística do padrão culto

escrito literário característico das normas brasileira e européia do idioma.

Para que esta investigação assuma um caráter empírico, recorre-se a corpora

criteriosamente constituídos de romances produzidos na diacronia dos séculos XIX e

XX por autores representativos da Literatura de ambas as variedades.

1.1 Justificativas e problemas

1 A respeito das lexias verbais simples, tomem-se os seguintes exemplos: (i) “Aqui se promove o estudo

da ordem.” [posição pré-verbal / próclise], (ii) “Promover-se-á o estudo da ordem.” [posição intraverbal /

mesóclise], (iii) “Promove-se o estudo da ordem.” [posição pós-verbal / ênclise]. 2 No que tange aos complexos verbais – construções constituídas de mais de uma forma verbal, sendo a

última uma forma não-finita, com algum grau de integração sintático-semântica –, eis as ilustrações: (i)

“Sempre se deve promover o estudo da ordem pronominal.” [Colocação pré-LVC], (ii) “Deve-se

promover o estudo da ordem pronominal.” [Colocação intra-LVC com hífen], (iii) Deve se promover o

estudo da ordem pronominal. [Colocação intra-LVC sem hífen], (iv) “Deve promover-se o estudo da

ordem pronominal.” [Colocação pós-LVC].

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26

A pesquisa pleiteia respostas e a atestagem de hipóteses acerca do fenômeno de

cliticização de modo a acrescentar informações atualizadas ao conhecimento sobre o

evento da ordem, que se julga ainda insuficiente para traçar o que se concebe como

norma(s) de uso do PB e do PE. Assim, observem-se as palavras de Perini (2001: 230) a

respeito da variedade brasileira:

A análise [do evento de colocação elucidada nos compêndios gramaticais brasileiros]

cobre uma forma muito conservadora da língua [...]. É necessário atualizá-la, mas isso

deverá ser precedido de um levantamento do uso dos clíticos no padrão brasileiro

moderno [...].

De fato, os manuais gramaticais utilizados no Brasil carecem de descrições

precisas e consistentes a propósito da colocação, fator que motiva e justifica a

relevância da presente investigação. Ademais, os referidos compêndios prescrevem um

ideal de língua inspirado nos parâmetros literários e lusitanos em detrimento da

realidade lingüística praticada no Brasil, o que se denuncia em Bechara (2003: 591):

Há certas tendências brasileiras que nem sempre a Gramática agasalha como dignas de

imitação, presa que está a um critério de autoridade que a lingüística moderna pede seja

revisto.

A respeito da língua preconizada nos compêndios gramaticais, registrem-se,

ainda, as ponderações de Rocha Lima (2005: 7), na seqüência, apresentadas:

Fundamentam-se as regras da gramática normativa nas obras dos grandes escritores, em

cuja linguagem as classes ilustradas põem o seu ideal de perfeição, porque nela é que se

espelha o que o uso idiomático estabilizou e consagrou.

Corrobore-se, pois, que as gramáticas e, aqui em especial, os compêndios

brasileiros, se inspiram nas regras do bem escrever dos escritores mais ilustres da

língua. Ocorre que, como bem se avalia na citação, as regras prescritas nos manuais

normativos advêm de uma língua idealizada e estilizada, própria de um domínio

artístico, como é o da Literatura.

Justifique-se, pois, a relevância deste estudo, haja vista que, aqui, se pretende

tratar do evento da ordem no âmbito literário, pouco explorado dentre os trabalhos

desenvolvidos acerca da colocação (dentre eles, destaque-se o de Schei, 2003), no que

concerne às lexias verbais simples e, mais especificamente, aos complexos verbais. A

propósito dessas últimas construções, pontuem-se as palavras de Pagotto (1992: 30),

agora transcritas: “Os trabalhos que lidam com a questão da posição dos clíticos

normalmente negligenciam os casos em que eles aparecem em construções com dois

verbos”. É oportuno considerar que, embora o autor tenha realizado tal consideração em

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1992, se advoga que, até ao que se conhece, a comunidade lingüística, mesmo com

avanços científicos testemunhados ao longo do tempo, ainda carece de análises que se

somem às já feitas que abordam o tema a partir da observação do uso dos clíticos em

construções verbais complexas.

Com base nas justificativas apresentadas até aqui, arrolam-se, a seguir, os

principais problemas relacionados ao assunto deste estudo, que, uma vez respondidos,

atendem a alguns dos objetivos propostos:

(i) Qual é o padrão que efetivamente constitui a norma vigente da ordem dos

clíticos pronominais nas variedades brasileira e européia do Português Literário,

no que tange aos domínios de lexias verbais simples e complexas?

(ii) Qual é a variante da ordem dos clíticos pronominais mais produtiva em cada

fase investigada de ambas as variedades?

(iii) Dentre as variáveis lingüísticas, quais se constituem relevantes à ocorrência

do fenômeno? Em que medida o contexto morfossintático opera na colocação

dos clíticos nos domínios de lexias verbais simples e de complexos verbais?

(iv) No que concerne às variáveis de cunho extralingüístico, quais se apresentam

significativas ao condicionamento da ordem?

As respostas aos questionamentos acima servirão para que se tracem reflexões a

respeito de três grandes questões científicas usualmente relacionadas ao tema da ordem

dos clíticos pronominais: (1) a norma de uso atestada nos dados literários condiz com a

norma idealizada em manuais prescritivos?; (2) os resultados indiciam normas

diferenciadas no PB e no PE?; e (3) no que se refere ao percurso diacrônico, os registros

de colocação sugerem situação de mudança no PB e /ou no PE? Espera-se que, em

alguma medida, os resultados do presente trabalho contribuam com o debate dessas

questões.

1.2 Objetivos

Conhecidas as justificativas e os problemas a serem abordados no estudo da

ordem, propõem-se os seguintes objetivos para o tratamento do tema:

1.2.1 Gerais

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(i) Concorrer para o maior conhecimento acerca do fenômeno de cliticização nas

duas variedades contempladas.

(ii) Contribuir por descrever a identidade lingüística do PB e do PE, no que

tange ao evento da colocação dos pronomes.

1.2.2 Específicos

(i) Atestar a norma de ordenação dos clíticos pronominais no PB e no PE,

elegendo-se, para tanto, testemunhos literários produzidos por autores

representativos da Literatura de ambas as variedades.

(ii) Identificar as variáveis lingüísticas e extralingüísticas relevantes ao

fenômeno da cliticização pronominal em ambientes de lexias verbais simples e

complexas.

(iii) Averiguar o estatuto da ordem mediante a transição das fases de publicação

dos romances adotados na diacronia dos séculos XIX e XX.

1.3 Hipóteses da investigação

No que concerne às hipóteses gerais que nortearam a execução do presente

trabalho, tomem-se os seguintes itens:

(i) Postula-se que, no que toca ao fenômeno da ordem, PB e PE apresentariam

freqüência distribucional das variantes de modo semelhante no âmbito das lexias

verbais simples. A propósito dos domínios de complexos verbais, a variedade

brasileira tenderia a denotar maiores índices de manifestação da ordem intra-

LVC sem hífen em oposição aos verificados na escrita literária européia.

(ii) No que tange às variáveis de cunho lingüístico condicionadoras da ordem em

ambas as variedades, acredita-se que os grupos de fatores possível elemento

proclisador e tipo de clítico pronominal seriam decisivos à ordenação dos

pronomes átonos de modo geral.

(iii) Acerca das variáveis extralingüísticas, o grupo de fatores época/fase de

publicação das obras adotadas constituiria ponto crucial para a compreensão da

ordem em termos diacrônicos.

Informa-se que, consoante o desenvolvimento do trabalho, serão apresentadas

hipóteses específicas para as demais questões aludidas nesta introdução e para cada

contexto e grupo de fatores controlados na pesquisa.

Para maiores esclarecimentos a propósito da configuração estrutural pela qual a

presente dissertação se delineia, considere-se a subseção agora introduzida.

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1.4 As partes integrantes de um todo

Constate-se que este trabalho se constitui, além deste segmento introdutório, de

mais cinco capítulos, os quais, neste momento, passam a ser apresentados.

No capítulo 2, promove-se a apresentação panorâmica de parte dos estudos que

tratam do tema da colocação pronominal na Língua Portuguesa, especialmente em suas

variedades brasileira e européia, discriminando-se aqueles cujo domínio temporal

examinado coincide, em alguma medida, com as fases aqui contempladas. Lança-se

mão, ainda, de alguns compêndios gramaticais de cunho tradicional e não-tradicional

relevantes para a compreensão do tema proposto, empreendendo, em seguida, a

descrição dos principais resultados obtidos nos diversos trabalhos resenhados.

No que respeita ao capítulo 3, expõem-se os fundamentos teóricos nos quais esta

análise se ancora acerca dos princípios preconizados pela Sociolingüística de orientação

Laboviana bem como sobre os pressupostos da cliticização, destacando-se,

principalmente, o Parâmetro 2, de natureza morfossintática, proposto por Klavans

(1985).

A propósito das diretrizes metodológicas, elucidam-se, no quarto capítulo, os

pontos cruciais pelos quais se delineia esta investigação, prestando esclarecimentos

acerca das etapas cumpridas para o desenvolvimento da análise, no que toca,

especificamente, à constituição dos corpora investigados, ao tratamento estatístico dos

dados codificados em face das variáveis de caráter lingüístico e extralingüístico, assim

como às diversas opções metodológicas adotadas.

O quinto dos capítulos promove a apresentação dos resultados alcançados neste

exame variacionista, discriminando-se, separadamente, as constatações evidenciadas

acerca da ordem em domínios de lexias verbais simples e complexas, e considerando-se,

ainda, o fenômeno de interpolação.

O sexto capítulo, de caráter sistemático e conclusivo, empreende a exposição

sumarizada dos resultados quanto à colocação no Português Literário, nos contextos de

lexias verbais simples e de lexias verbais complexas, seguida de breves reflexões acerca

das contribuições desta pesquisa às questões lingüísticas gerais concernentes ao

tratamento do Português do Brasil e do Português Europeu, já mencionadas nesta

introdução.

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Procede-se, ao fim do trabalho, à apresentação das referências bibliográficas que

nortearam as considerações efetuadas. Destaque-se, na seqüência, um segmento de

anexos no qual se introduzem informações paralelas, julgando-se relevante concedê-las.

Por todas as considerações proporcionadas, saliente-se, em linhas gerais, que a

investigação presente, ao buscar desenvolver uma análise consistente acerca da

colocação dos clíticos pronominais nas variedades brasileira e européia do Português

Literário, testemunhado no decurso dos séculos XIX e XX, acrescenta novas

informações ao conhecimento de que se dispõe acerca do fenômeno. Espera-se que as

ponderações aqui estabelecidas suscitem novos debates que encorajem o sempre

saudável prosseguimento e aprofundamento das pesquisas científicas no âmbito dos

estudos que tomam a língua como seu objeto primordial.

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2. REVISÃO DA LITERATURA CONCERNENTE AO TEMA DA

COLOCAÇÃO

Cumpre-se, aqui, o objetivo de apresentar os principais trabalhos3 que tratam do

tema da ordem pronominal, os quais, de modo indubitável, suscitam diversos debates no

panorama descritivo e prescritivo.

Destaque-se que diversos estudos de cunho teórico-descritivo, especialmente os

de orientação formalista, se interessam pelo fenômeno de colocação, uma vez que a

ordem dos pronomes átonos vem sendo concebida como parâmetro essencial para a

identificação de características que permitem delinear gramáticas – consideradas opções

estruturais prototípicas e adquiridas nos primeiros anos de aprendizagem – das línguas

ou variedades lingüísticas existentes. Sublinhem-se, assim, dentre as diversas pesquisas

que concedem possíveis explicações sintáticas para o estabelecimento dos parâmetros

de ordenação do clítico, embora não necessariamente estabeleçam descrições a partir do

exame de dados, as investigações de Duarte (1983), Galves (1993), Duarte & Matos

(1994), Duarte et alii (2001), dentre outras. No âmbito fonológico, as propostas de

Carvalho (1989), Nunes (1996), Galves & Abaurre (1996), Frota & Vigário (1999), por

exemplo, objetivam relacionar a colocação ao condicionamento rítmico e acentual.4

Aos estudos supracitados, acrescentem-se as investigações que se valem de

corpus representativo para análise empírica da ordem segundo a perspectiva sincrônica

e diacrônica do fenômeno no Português do Brasil e no Português Europeu, dentre as

quais se verificam aquelas que se ocupam ora de ambas as variedades, ora

exclusivamente de uma delas.

No âmbito do Português Europeu, arrolam-se, por exemplo, as análises de Lobo

(1991)5, Martins (1994), Ribeiro (1995) e Magro (2004). A propósito do Português do

Brasil6, ressaltem-se, dentre vários trabalhos, as contribuições de Pereira (1981),

3 Convém registrar que o capítulo presente contempla parte dos trabalhos que possuem como objeto

central de debate a ordenação dos clíticos pronominais, não estabelecendo um levantamento exaustivo

dos estudos que integram a vasta literatura acerca da questão. Priorizaram-se aqueles que buscam

apresentar normas subjetivas ou objetivas acerca do fenômeno, bem como aqueles que se ocuparam do

percurso diacrônico com base no tratamento empírico de dados. 4 Para maior conhecimento do teor dos trabalhos citados, sugere-se consultar, além das próprias obras em

questão, a tese de doutorado de Vieira (2002). 5 Certifique-se de que Lobo (1991) estabelece um estudo sincrônico a partir de textos do século XV,

cotejando seus resultados com dados das variedades européia e brasileira obtidos em outras investigações. 6 Grande parte das investigações arroladas no domínio do Português do Brasil ocupa-se, também, de

outras variedades, como Vieira (2002), que efetua o exame não somente contemplando o Português do

Brasil e o Português Europeu, como também a variedade moçambicana da língua.

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Pagotto (1992), Lobo (1991), Monteiro (1994), Vieira (2002), Schei (2003), Machado

Morito (2007), Martins (2009) e Nunes (2009).

Mediante o panorama geral das obras ora apresentado, promove-se, doravante, a

apresentação sintética dos estudos selecionados, contemplando-se, ainda, as

considerações tecidas sobre a ordem em determinados compêndios gramaticais.

2.1 A ordenação dos clíticos pronominais consoante o panorama tradicional

A fim de ilustrar parte das constatações dignas de nota acerca do evento da

ordem no âmbito do tratamento tradicional, promove-se, na seqüência, a apresentação

de algumas ponderações que se julgam relevantes.

No que se refere a dois estudos do início do século XX a respeito do

estabelecimento de uma norma brasileira e de uma norma européia acerca da colocação

pronominal, considerem-se, por exemplo, os trabalhos de Figueiredo (1917 [1909]) e de

Said Ali (1966 [1908]), apresentados de modo sintético.

O europeu Cândido de Figueiredo, em O problema da colocação de pronomes,

datado de 1909, apesar do extremo conservadorismo purista em considerar que algumas

estruturas observadas no Português do Brasil não poderiam ser avalizadas como

“portuguesas”, salienta que, segundo a intenção e a entoação de quem fala, a ordenação

dos elementos de uma frase ou de um período pode sofrer variação.

No que concerne ao estudioso brasileiro Said Ali, em Dificuldades da língua

portuguesa, de 1908, o autor tece importantes considerações sobre o que seria a norma

de colocação dos pronomes átonos nas variedades brasileira e européia do Português,

dentre as quais se destacam as de caráter fonético no que se refere, especificamente, ao

conceito de atração. O teórico postula que qualquer vocábulo pode exercer influência na

atração fonética do pronome átono desde que anteposto ao verbo, destituído de

entonação e pausa. Acerca da tonicidade das palavras, salienta a tendência do Português

em evitar criação de segmentos proparoxítonos.

Conforme se constata pelos estudos supracitados, perceba-se que, apesar de

trabalhos do início do século XX salientarem que as regras de colocação brasileira se

revelam divergentes das portuguesas, os compêndios gramaticais prescritivos atuais

determinam regras que se aplicariam, igualmente, tanto à variedade brasileira quanto à

variedade européia do idioma. Isso dito, ressalte-se que tais gramáticas, embora

reconheçam disparidades entre PB e PE quanto ao fenômeno da ordem, recomendam,

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por exemplo, a colocação enclítica como regra geral, considerando, de modo especial, o

que se idealiza para a escrita literária (cf. Cunha & Cintra, 2001: 300).

No que tange aos contextos em que a variante pré-verbal se faz obrigatória

devido à “atração” exercida por alguns itens, discriminem-se os seguintes domínios

arrolados pela tradição gramatical, em contextos com formas verbais finitas:

(i) Sentenças negativas (Nunca se viu tal atitude7);

(ii) Orações exclamativas (Quanto sangue se derramou inutilmente!);

(iii) Orações interrogativas (Quem o obrigou a sair?);

(iv) Orações subordinadas (Espero que me atendas sem demora);

(v) Construções com alguns elementos adverbiais [já, aqui, bem, entre outros] (Aqui se

aprende a defender a pátria);

(vi) Pronomes indefinidos e numeral ambos (Tudo se fez como você sugeriu; Todos os

barcos se perdem, entre o passado e o futuro).

Considere-se que a pausa – identificada nos manuais pela vírgula – entre um

elemento “atrator” e o verbo é sinalizada como fator que tende a favorecer a ênclise,

mesmo estando o pronome antecedido por um item proclisador.

Ademais, propõe-se a ênclise como regra geral com formas verbais no infinitivo

e no gerúndio. Entretanto, no que respeita ao infinitivo, admite-se, ainda, a possibilidade

de colocação proclítica ou enclítica uma vez que o verbo se encontre antecedido de

preposição ou de vocábulo negativo. Sugere-se a ênclise como opção preferencial

quando o elemento verbal no infinitivo se exibe regido de preposição a associado ao

pronome o/a (Se soubesse, não continuaria a lê-lo). Recomenda-se a próclise

obrigatória nos casos em que o gerúndio se encontra precedido pela preposição em (Em

se tratando de minorar o sofrimento alheio, podemos contar com a sua colaboração.),

bem como por advérbios responsáveis por modificar o pronome sem pausa entre si (Não

nos provando essa grave denúncia, a testemunha será processada.).

No que tange ao evento da ordem em locuções verbais, grosso modo, os manuais

prescritivos admitem três possibilidades, quais sejam: (i) ênclise ao verbo auxiliar (O

presidente quer lhe falar ainda hoje.), (ii) próclise ao verbo auxiliar (O presidente lhe

quer falar ainda hoje.) e (iii) ênclise ao verbo principal (O presidente quer falar-lhe

ainda hoje.) – sendo esta última possibilidade não aplicada às estruturas participiais.

7 As ilustrações indicadas correspondem, por vezes, a adaptações dos exemplos observados nos manuais

analisados.

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Ressalte-se que as gramáticas, como em uma espécie de reconhecimento das

particularidades da norma brasileira, admitem que é “sintaxe brasileira a interposição do

pronome átono nas locuções verbais, sem se ligar por hífen ao auxiliar” (ROCHA

LIMA, 2005: 455).

Pontue-se, ainda, que alguns manuais, em referência às locuções como vem ver-

me, sinalizam que o Português do Brasil possui por opção a ligação do pronome ao

verbo que o rege.

Uma vez contempladas as principais prescrições concernentes ao fenômeno de

ordenação dos clíticos pronominais, ponderem-se, na seqüência, algumas das propostas

apresentadas em manuais que assumem realizar uma abordagem gramatical descritiva.

2.2 A ordenação dos clíticos pronominais consoante o panorama não-tradicional

Pontuem-se, aqui, os vários estudos que desenvolvem o exame da ordenação dos

átonos pronominais, sem o compromisso prescritivo adotado pela abordagem

tradicional.

2.2.1 A ordem mediante dois compêndios gramaticais descritivos

Promove-se, nesta subseção, uma apreciação sintética das propostas

apresentadas pelas gramáticas de Perini (2001 [1995]) e de Mateus et alii (2003), no

propósito de se contemplar o evento da ordem segundo uma abordagem diferenciada.

Perini (2001), em Gramática descritiva do português, intenta conceder a

professores e alunos um material atualizado que descreva a norma culta verificável na

escrita jornalística e acadêmica e não apresente três principais problemas averiguados

nas gramáticas tradicionais: falta de coerência teórica, falta de adequação à realidade da

língua e normativismo sem controle.

Considerando, especificamente, o fenômeno de colocação dos clíticos

pronominais, o estudioso pontua que os princípios atuantes no evento são simples e que

o verdadeiro problema se deposita nas incertezas de julgamento a propósito da posição

dos pronomes em determinados casos. Salienta que tais incertezas decorrem da

diferença significativa entre as variedades brasileira e européia.

Para o teórico, a variante enclítica não seria observada com grande freqüência no

Português do Brasil, sobretudo na modalidade falada, tendência tal que, possivelmente,

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teria já deixado profundas marcas no padrão escrito. Sugere a simplificação das regras

apresentadas pelos manuais normativos em favor da proposta de que, no PB, os clíticos

se colocariam sempre antepostos ao núcleo do predicado.

Ao ressaltar a próclise e a ênclise como duas posições dos pronomes clíticos,

Perini (2001) estabelece as restrições que, segundo ele, cobririam a maior parte dos

casos de colocação do padrão culto escrito, a saber:

Restrição à próclise: É mal formada toda oração que contenha proclítico no início de

estrutura oracional não-subordinada ou logo após elemento topicalizado.

Restrição à ênclise: É mal formada toda oração que contenha enclítico quando: o

elemento verbal (Aux ou NdP) é gerúndio, precedido de em; ou o Aux/NdP é particípio;

ou a oração se inicie com item marcado [+Atração]. Em todos os outros casos, usa-se

próclise ou ênclise , indiferentemente. (PERINI, 2001: 229-230)

O autor pontua que, no que se refere aos compêndios gramaticais, apesar da

indicação recorrente de alguns vocábulos (relativos; interrogativos; os elementos não,

nunca, só, até, mesmo, também, tudo, nada, alguém, ninguém; o complementizador

que), não existe, quanto aos elementos que atuariam de modo efetivo como “atratores”,

grande consenso. Salienta, ainda, que, em contextos nos quais não se verificam fatores

de próclise tradicionais, se pode optar, de certa forma, pelas variantes proclítica ou

enclítica.

A propósito da colocação dos pronomes em estruturas verbais complexas, o

autor observa que o átono se posiciona nos limites da mesma oração. Sublinha, no

entanto, a hipótese de que (i) construções com o verbo saber admitiriam a posição

proclítica ao verbo auxiliar (Ela me sabe agradar) e (ii) estruturas com item auxiliar

acompanhado de preposição (Ela se deixou de maquiar) poderiam aceitar a próclise na

modalidade escrita do Português do Brasil.

No que respeita às considerações feitas por Mateus et alii (2003), certifique-se

de que as autoras, ao pontuarem o que seria a norma-padrão verificada no Português

Europeu moderno, praticado em Lisboa, apresentam uma descrição que se aproxima das

propostas observadas nos compêndios gramaticais brasileiros considerados.

Estabelecem que os clíticos pronominais dependem de um hospedeiro verbal –

forma finita ou não-finita –, ao qual se acomodam em adjacência. No que respeita ao

contexto de posição inicial absoluta de frase, indicam, como regra geral, que os

pronomes átonos europeus se pospõem ao verbo.

Tal como considerado pelas autoras (MATEUS et alii, 2003: 853-857),

destaquem-se os seguintes contextos nos quais se pode observar a colocação proclítica

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no Português Europeu: operadores de negação e sintagmas negativos, sintagmas-Q,

complementadores, advérbios de focalização, de referência predicativa, confirmativos,

de atitude proposicional e aspectuais, subtipos de quantificadores e conectores de

coordenação (correlativas com um elemento de polaridade negativa e correlativas

disjuntivas), além de constituintes ligados discursivamente em construções

apresentativas (de inversão locativa).

A propósito das construções verbais complexas, as autoras destacam os

domínios em que se verifica o fenômeno de subida de clítico8, o qual consiste na

“selecção de um verbo do qual o pronome clítico não é dependente para hospedeiro

verbal” (MATEUS et alii, 2003: 857), como na exemplificação: O João não a vai

provavelmente convidar.

Embora as estudiosas tratem do tema da colocação com maior rigor teórico, o

que se reflete na própria terminologia utilizada, verifica-se, em termos descritivos, a

proximidade existente entre a descrição da variedade européia proposta e a determinada

em compêndios tradicionais brasileiros.

2.2.2 A ordem mediante diversas investigações científicas

Sumarizam-se, nesta subseção, as constatações advindas de estudos –

apresentados em ordem cronológica de publicação – que promovem o exame de dados

coletados nos períodos que, de certo modo, sincrônica ou diacronicamente, coincidem

com o intervalo de tempo investigado no presente trabalho.

De modo a versar sobre o evento da colocação pronominal no âmbito do

Português do Brasil, Pereira (1981) vale-se de corpora que contemplam dados das

modalidades oral e escrita.

Mediante a análise desenvolvida, a autora constata, no que concerne à

modalidade oral – averiguada segundo dados produzidos por falantes masculinos e

femininos de distintas idades e escolaridades naturais dos estados do Rio de Janeiro,

Minas Gerais e Alagoas –, que o PB não cumpre as recomendações prescritas pela

tradição gramatical. Ainda no que tange a tal modalidade, ressalte-se que, consoante as

constatações da pesquisadora, peculiaridades como (i) predomínio da variante

8 O termo pressupõe que, na estrutura formal arbórea, o clítico ultrapassa o nó relacionado ao verbo que

lhe dá existência e se localiza acima, antes do verbo auxiliar.

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proclítica, (ii) ocorrência de ênclise restrita a determinados clíticos pronominais, (iii)

ausência de registros de mesóclise, bem como (iv) apagamento e/ou substituição do

átono pronominal por sua forma reta correspondente caracterizam o Português

vernacular atestado no Brasil.

A propósito do PB escrito, examinado segundo uma amostra constituída de

textos jornalísticos modernos assim como de manuscritos dos séculos XVII, XVIII e

XIX além de crônicas do século XX, Pereira pontua a existência de variação quanto ao

evento da ordem nos manuscritos examinados, variação essa que se estende ao

momento contemporâneo contemplado por ela. No que respeita à colocação mesoclítica,

afirma a pesquisadora que tal variante se constitui como a única posição a revelar

extinção na diacronia considerada.

A respeito da ênclise, salienta que a opção pela ordem pós-verbal se manifesta

com predomínio nos contextos integrados pelos pronomes se e me, sendo sobrepujada,

na maior parte dos ambientes investigados, pela colocação pré-verbal, contrariando, por

vezes, os postulados preconizados pela tradição gramatical. Ainda no que toca à posição

proclítica, Pereira verifica a potencialidade dos chamados fatores de próclise –

concebidos no presente trabalho como proclisadores (canônicos e não-canônicos) –

como decisivos, na maior parte dos casos, para o fenômeno da ordenação pronominal.

Pontua, também, que, em textos de registros informais, o evento da ordem se procede

mediante a condição de manter ou configurar vocábulos paroxítonos.

No que concerne ao peso das variáveis relacionadas aos operadores de próclise e

à manutenção ou formação de palavras com pauta acentual paroxítona, postula Pereira

que a ordem dos clíticos pronominais apresenta maior eficácia explicativa caso se

considere a influência dos fatores de próclise, apesar de a hipótese dos vocábulos

paroxítonos ser mais adequada em determinadas situações.

Lobo (1991), ao investigar o evento da ordem na variedade culta do Português

averiguado nos períodos quinhentista e atual, comparando o PB e o PE contemporâneos,

lança mão de amostra constituída de documentos da corte de Dom João III para o exame

da colocação no Português quinhentista bem como de corpus que compila quinze

inquéritos disponibilizados pelo Projeto NURC.

Ancorada no arcabouço teórico-metodológico da Sociolingüística Laboviana, a

autora apresenta as prováveis motivações sociolingüísticas para as variantes atestadas.

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A propósito dos grupos de fatores de natureza social, Lobo pontua que as

variáveis extralingüísticas controladas não se revelam decisivas para o fenômeno de

colocação, postulando que o evento da ordem se faz sensível fundamentalmente aos

fatores de cunho estrutural.

De suas constatações, destaque-se que o modelo de ordenação pronominal no PB

oral culto, em registro formal, é caracterizado pela variação averiguada em quase todos

os contextos sintáticos por ela examinados com opção primeira pela ordem proclítica,

principalmente em enunciados cujo verbo é antecedido por SN sujeito pronome pessoal

e por elementos de negação, ambientes nos quais a variante pré-verbal se manifesta de

modo categórico.

A respeito dos demais fatores favorecedores da posição proclítica, arrolam-se as

orações subordinadas desenvolvidas, SN sujeito nominal bem como sintagmas

adverbiais e preposicionais, mormente quando esses não se separam do hospedeiro

verbal do clítico por meio de vírgula.

Saliente-se, também, que a estudiosa atesta a generalização da variante pré-

verbal em todos os contextos, salvo nos domínios de pronome acusativo de terceira

pessoa e de ambiente de infinitivo verbal, em que impera a colocação enclítica. A

propósito da posição pós-verbal, favorecem, ainda, a ênclise o domínio de orações

subordinadas reduzidas de gerúndio, assim como de sentenças de sujeito

semanticamente indeterminado.

No que tange às variedades brasileira e européia contemporâneas e à época da

publicação, Lobo, em sentenças integradas por verbos finitos, constata que PB e PE

elegem, consideravelmente, a colocação pré-verbal em cláusulas subordinadas

desenvolvidas. Nas orações principais/absolutas, computam-se registros de clítico em

primeira posição de oração no PB, fato não constatado no PE. Estando o verbo

precedido por elementos de negação, o pronome manifesta-se evidentemente em

próclise nas duas variedades, ocorrendo proclítico, também, em domínios de verbos

antecedidos por SN sujeito nominal e pronominal no PB e em posição de ênclise no PE.

Em orações coordenadas, a colocação enclítica faz-se marcante no Português Europeu,

ao passo que, na variedade brasileira, a variação posicional tende, em primeira instância,

para a ordem proclítica.

Ao examinar a ordem mediante formas não-finitas, Lobo atesta que, nas

cláusulas subordinadas reduzidas de infinitivo, quando não regidas por preposição, a

colocação enclítica ocorre soberana, competindo com as outras posições quando se

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observa a presença de elementos preposicionais. A respeito da variedade brasileira, a

opção majoritária por próclise independe da presença ou ausência de itens

preposicionais nas sentenças reduzidas de infinitivo. Os contextos de sentenças

subordinadas reduzidas de gerúndio não introduzidas por preposição revelam-se como

favorecedoras da ordem pós-verbal nas duas variedades contempladas.

Com fundamentos nos resultados alcançados, Lobo admite que o Português

Europeu atual, ainda que se detectem algumas distinções no modelo de colocação

pronominal, apresenta um condicionamento sintático semelhante ao verificado no

Português quinhentista. No que toca ao Português do Brasil contemporâneo,

contabilizam-se ocorrências consideráveis de próclise, fato que evidencia o

desaparecimento de certas motivações sintáticas.

Mediante acurada análise dos corpora contemplados, defende a pesquisadora,

por meio de vários argumentos, que o Português do Brasil revela um quadro de processo

de mudança lingüística quanto ao posicionamento dos átonos pronominais.

Com o propósito de investigar o trajeto diacrônico dos átonos pronominais no

Português atestado no decurso dos anos compreendidos entre os séculos XVI e XX,

Pagotto (1992) – valendo-se dos preceitos preconizados pela linha investigativa

proposta por Tarallo & Kato (1989), que ficou conhecida como Sociolingüística

Paramétrica – visa a esclarecer o fenômeno da mudança por meio de distinções

interlingüísticas verificadas segundo a ordenação dos pronomes átonos em contextos de

verbos simples finitos, grupos verbais (identificados, neste trabalho, como lexias verbais

complexas) e, ainda, sentenças infinitivas e gerundivas.

Ao efetuar o exame da ordem em textos literários e em documentos notariais,

todos produzidos no Brasil – embora os testemunhos escritos até o século XVIII sejam

de portugueses ou de autores cuja nacionalidade é desconhecida –, o pesquisador

confere ao componente sintático maior prioridade para a análise da ordem que se efetua

a partir da observação de 1436 registros de pronomes átonos em diferentes contextos,

nos quais se verificam distintos padrões de ordenação pronominal. Os dados de clíticos

obtidos distribuem-se por quatro variáveis dependentes, quais sejam: (a) cláusulas

constituídas de um único verbo; (b) cláusulas constituídas de grupos verbais; (c)

cláusulas integradas por um só verbo antecedido por elemento de negação ou por

advérbios – configurando um caso de interpolação –; (d) cláusulas integradas por grupos

verbais antecedidos por elemento de negação ou por advérbios. Uma vez consideradas

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as especificidades estruturais das sentenças observadas, o autor, por vezes, procede ao

tratamento da ordem em frases infinitivas e gerundivas em separado.

No que tange aos resultados alcançados, Pagotto (1992), a propósito da

colocação em sentenças com formas verbais simples finitas, pontua certa estabilidade

quanto à ordem dos pronomes átonos na gramática do PB, no decorrer dos séculos XVI

ao XX, salientando maior ocorrência de próclise no Português do Brasil clássico em

comparação ao PB atual, mormente a partir do século XIX.

Postula o autor que a mudança atestada (operada também no PE) rumo a um

padrão enclítico atuou socialmente sobre o PB escrito, motivando os falantes brasileiros

a optarem pela ênclise, caráter que contraria as tendências da língua falada. Pondera,

ainda, que a próclise, tida como a norma até o século XVIII, passa a ser estigmatizada

no Português do Brasil em virtude da mudança ocorrida no PE.

Acerca da ordenação dos clíticos em grupos verbais, salienta o pesquisador que

a próclise a v1, independentemente do tipo de pronome átono e da presença dos

chamados fatores de próclise – os quais, ao que parece, contribuíam, apenas, por

aumentar a concretização dessa variante –, constitui o padrão de ordenação até a

primeira metade do século XVIII.

Destaca o autor que, na segunda metade do mesmo século, a ordem cl v1 v2

passa a ser sobrepujada pelo padrão v1 cl v2, ocorrendo, assim, a mudança de colocação

implementada, principalmente, pelos grupos integrados por verbos no infinitivo

acompanhados de pronomes reflexivos. No que se refere à ocorrência de ênclise a v2, o

estudo pontua maiores registros de tal posição em domínio de clítico acusativo de

terceira pessoa.

No que concerne à ordem em contexto de formas verbais simples acompanhadas

de elementos de negação e de advérbios, o trabalho de Pagotto sublinha que, no curso

dos séculos XVI ao XVIII, o fenômeno de interpolação, isto é, a freqüência de cl-NEG

v, é mais evidente do que a variante NEG cl-v, apresentando esta, após o período

referido, índice de ocorrência quase categórico. Em referência aos advérbios, a análise

evidencia que o padrão ADV cl-v é a opção primeira em todo o período. Tendo em vista

que o não interpolado ocorre quase unanimemente no século XVI, o estudo supõe que a

anteposição do pronome aos itens adverbiais tenha sido produtiva no Português da

época medieval.

Quanto ao fenômeno da ordem em grupos verbais precedidos de elementos de

negação bem como de advérbios, a análise de Pagotto destaca que somente a negação

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admite o evento de interpolação (cl-NEG v v), já que os advérbios influenciam, com

maior freqüência, o padrão ADV cl v v, além de outras posições. À luz dessas

evidências, o estudioso advoga que a opção primeira pela próclise ao elemento de

negação, observada nos anos dos séculos XVI ao XVIII, sofreu uma mudança

considerável a fim de impedir esse tipo de ordenação no PB de épocas ulteriores.

No tocante ao posicionamento dos clíticos em sentenças gerundivas e infinitivas,

Pagotto elucida o caráter nitidamente distinto da ordenação dos pronomes em contextos

de formas verbais finitas e infinitas, principalmente nos séculos XVI, XVII e XVIII. O

lingüista verifica a grande produtividade da ênclise em ambientes de formas gerundivas

e infinitivas, enquanto a variante proclítica se restringe a contextos nos quais o verbo se

encontra precedido de um possível fator de próclise.

De seu exame, Pagotto postula que a perda do movimento do verbo assim como

da longa mobilidade do clítico corresponderia às causas das mudanças no padrão de

colocação em direção aos altos índices de freqüência da próclise generalizada e na

alteração da natureza categorial dos clíticos no PB. Advoga, ainda, que a mudança no

Português do Brasil, no que concerne à ordem pronominal, estaria concluída: os átonos

pronominais seriam concebidos como partículas em desaparecimento, assumindo

radicalmente a ordem pré-verbal em contextos que, porventura, sobrevivessem.

Em cotejo entre PB e PE, diz Pagotto, em defesa do Português como uma língua

que passa a percorrer dois caminhos distintos, que o fato de a variedade européia

exercer forte pressão sobre o Português do Brasil estaria fortemente relacionado ao fato

de a modalidade escrita do PB acolher estruturas que não condizem com sua realidade

vernacular.

Monteiro (1994), em seu trabalho intitulado Pronomes pessoais: subsídios para

uma gramática do português do Brasil, promove, em seção especial de “sínclise”

pronominal, considerações acerca da ordenação dos clíticos no PB oral culto observada

em cinco cidades brasileiras por meio de inquéritos fornecidos pelo Projeto NURC.

A análise quantitativa desenvolvida pelo pesquisador contabiliza, apenas, 15%

de manifestação da variante enclítica. Postula o autor que os baixos registros de ênclise

se relacionam, dentre outros fatores, ao tipo de clítico pronominal e ao fenômeno de

apagamento do objeto sintático.

No intuito de elucidar a natureza do fenômeno de colocação, Monteiro expõe as

três explicações comumente utilizadas para sua apreciação, a saber: (i) a atração lexical,

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por meio da qual determinados vocábulos, mediante o sentido que expressam, exigiriam

a adjacência do pronome a si; (ii) o reflexo da função expressiva, visto que a ordem

estaria diretamente relacionada a fatores de natureza estilística, e (iii) a ação dos fatores

rítmico-prosódicos.

A respeito do postulado da atração lexical, Monteiro trava severas críticas

quanto a tal explicação, ressaltando que “se de fato determinadas palavras tivessem o

poder de atrair o pronome oblíquo, este mudaria de posição toda vez que elas também se

deslocassem ou fossem retiradas da frase” (MONTEIRO, 1994: 188).

Quanto à função expressiva, considera o estudioso que alguns autores

argumentam que, para justificar o fenômeno da colocação, se torna necessária a análise

das relações entre os componentes sintático, prosódico e informacional do enunciado.

No que respeita ao caráter rítmico-prosódico, ancorado em estudos anteriores ao

dele, Monteiro atesta que uma possível explicação acerca da ordenação pronominal em

Português se alicerça no postulado de que as sentenças do PB se constituem com um

padrão de ritmo binário relacionado a uma pauta acentual de natureza paroxítona.

Em consideração ao posicionamento dos pronomes em face de duas formas

verbais, o pesquisador propõe, mediante suas intuições na audição dos inquéritos

examinados, que o clítico ora se revela como segmento silábico postônico em relação ao

verbo auxiliar, ora como sílaba pretônica ao verbo principal, sendo essa opção mais

freqüente.

Realizadas todas as constatações, Monteiro (1994) reitera que a ordem dos

clíticos no PB se revela diretamente relacionada ao preenchimento do objeto anafórico,

compreendendo que o apagamento do objeto, possivelmente, constituiria um modo de

se evitar a realização da variante enclítica.

Martins (1994a), em sua tese de doutoramento intitulada Clíticos na história do

Português, promove a análise da ordenação dos clíticos discriminando dois estágios

temporais, quais sejam: (i) século XIII ao XVI – período examinado segundo

testemunhos notariais (não-literários) – e (ii) século XVI aos dias atuais – intervalo de

tempo investigado por meio de documentos de natureza literária9.

9 Conjugando a descrição dos dados ao que propõe a teoria de princípios e parâmetros em seu caráter

minimalista, postula que a ordenação dos pronomes clíticos nas línguas românicas esteja relacionada à

natureza da categoria funcional Sigma.

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No que respeita à ordenação dos clíticos em estruturas verbais simples, a

estudiosa verifica a preferência pela ênclise no século XIII, ocorrendo, gradualmente e

de modo lento, no século XVI, a opção pela próclise, principalmente em orações

subordinadas tal como se verifica no Português Europeu atual. A variante proclítica,

freqüente no século XVI, conforme já se pontuou, sofre forte decréscimo em seus

índices de ocorrência e, em conseqüência, maiores registros de ênclise são

contabilizados entre os séculos XVII e XIX. A autora constata, assim, o fenômeno de

mudança sintática no que respeita à ordem pronominal a partir do século XVII.

A propósito do fenômeno de interpolação, Martins pontua que, no decurso dos

séculos XIII ao XVI, contabilizam-se ocorrências de elementos interpolados entre o

pronome e o verbo. Todavia, a partir do século XVII, o fenômeno passa a apresentar

escassez de manifestação, sendo, apenas, verificado por meio da interposição da

partícula não. Em cotejo entre esse período e o momento atual do Português Europeu, a

pesquisadora atesta que, no PE contemporâneo, os clíticos pronominais ocorrem,

predominantemente, adjacentes ao seu hospedeiro verbal, computando-se, ainda, alguns

registros de não interpolado, os quais se revelam restritos a determinados contextos.

No que tange às estruturas verbais complexas integradas por verbo no infinitivo

no decorrer dos séculos XIII ao XVI (visto que a referida pesquisa não apresenta

constatações sobre as formas complexas participiais e gerundivas), Martins verifica que,

na maior parte dos casos, os clíticos se adjungem ao verbo auxiliar, não estando

diretamente ligados à forma principal no infinitivo. Saliente-se, entretanto, que, somente

em contextos de elipse do verbo auxiliar, o pronome, necessariamente, se associa ao

item no infinitivo.

De modo geral, o evento da colocação entre clítico e verbo auxiliar exibe-se com

características muito semelhantes à ordem em estruturas verbais simples, isto é, a

precedência do pronome ao verbo ocorre em cláusulas subordinadas com item verbal

finito, em orações negativas, em estruturas subordinadas finitas introduzidas por

determinadas preposições e em orações principais afirmativas encetadas pela forma

adverbial asy. Assim como o constatado por Martins (1994) em construções verbais

simples, os átonos pronominais observados em lexias complexas em contexto de

orações não-dependentes ora se antepõem, ora se pospõem ao verbo auxiliar.

A pesquisadora sistematiza, então, que, no século XIII, se atesta o predomínio da

ordem enclítica ao hospedeiro verbal auxiliar, havendo, no século XIV, um equilíbrio

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distribucional entre as colocações proclítica e enclítica. No que respeita aos séculos XV

e XVI, a próclise, nesse período, faz-se majoritária.

Contabilizam-se 16 registros da variante enclítica ao verbo auxiliar em domínios

nos quais os verbos do complexo apresentam preposições e advérbios intervenientes ou

a contração entre os clíticos acusativos o(s), a(s) e um item verbal finalizado por –s ou

por vogal nasal, gerando uma “cliticização fonologicamente visível ao auxiliar”

(MARTINS, 1994: 152).

A respeito do posicionamento do clítico à esquerda dos verbos das construções

complexas, Martins verifica tal colocação em situações nas quais o verbo principal

antecede seu auxiliar (ex.: se fazerVp. poderVaux.).

Quanto à ordenação do pronome em ênclise ao infinitivo, estando esse item

verbal após seu auxiliar, a estudiosa salienta que a cliticização v1 v2-cl constitui apenas

5 registros dentre as 106 ocorrências examinadas.

Pelas constatações efetuadas por Martins (1994), pontue-se que seu estudo

demonstra, no que respeita aos complexos verbais observados no decurso dos séculos

XIII e XVI, a opção preferencial pela adjacência do clítico a v1 em detrimento de v2.

No que concerne ao período de tempo compreendido entre os séculos XVI e XX,

não se observam considerações de Martins (1994) acerca das mudanças posteriores ao

século XIX, fato que leva a crer que a autora, provavelmente, não procedeu ao

tratamento analítico das construções complexas no intervalo temporal discriminado.

Com o propósito de efetuar o exame da ordenação dos átonos pronominais em

estruturas verbais complexas bem como em contextos de objeto nulo averiguados no

Português do Brasil, Cyrino (1996) promove a observação de textos dramáticos

produzidos no decurso dos séculos XVIII, XIX e XX, a fim de atestar a suposta

colocação pronominal vernacular de cada fase contemplada.

Considere-se que, de modo a atender às especificidades resguardadas ao tema do

presente trabalho, priorizam-se, da abrangência da pesquisa de Cyrino (1996), as

constatações acerca da colocação em domínio de complexos verbais.

No que respeita ao fenômeno de mudança da ordem dos clíticos no PB, Cyrino

salienta a não-ocorrência progressiva da variante enclítica bem como da colocação

proclítica a v1 no século XX. De outro lado, pontua, para o PB contemporâneo, a

freqüência de colocação do clítico à esquerda do “verbo mais baixo” – tratamento

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consoante o quadro formalista de que se vale – ou ao item verbal que não revela

concordância, isto é, o verbo principal (v1 cl v2).

Ressalte-se que a estudiosa atesta que manifestações da variante proclítica a v2

já se verificam no século XIX, intensificando-se no período posterior de cem anos

mesmo em face de elementos proclisadores.

A propósito do século XX, Cyrino atesta a redução de ocorrências da variante

enclítica a v1 (v1-cl v2) assim como a queda de ênclise a v2 (v1 v2-cl), além de índices

reduzidos de próclise ao auxiliar (cl-v1 v2). Paralelamente ao declínio e/ou à

improdutividade dessas variantes, verifica os registros cada vez maiores da ordem v1 cl

v2, considerada próclise a v2, posição essa que, consoante a pesquisadora, tende a se

fixar ao verbo principal no século XX, em conseqüência da imobilidade do clítico nesse

período. Certifique-se, ainda, de que a autora chega a contabilizar contextos categóricos

da variante v1 cl v2 no decurso do século XX em oposição aos índices nulos dessa

posição no século XVIII.

Em especial comparação entre os séculos XIX e XX, Cyrino salienta que

realizações como “João me vai dar um livro” (e “Tinham-lhe escrito cartas”) não são

evidentes no PB atual. Em contrapartida, verifica certa mobilidade do clítico ao se

deslocar para a esquerda de v1 ou permanecer à direita de v2 em contextos de sentença

imperativa afirmativa, construções gerundivas ou com infinitivo pessoal, no PB do

século XIX. É na primeira metade desse século que ocorrências como “João vai me

dar um livro” passam a ser observadas nas peças teatrais examinadas.

Como constatações gerais licenciadas pelo estudo realizado, Cyrino apura que,

no século XVIII, as características sintáticas do item verbal auxiliar se debilitam. No

que concerne à primeira metade do século XIX, a variante enclítica passa a ser

reanalisada como próclise ao verbo principal, sendo esta última posição freqüente no

século XX.

A tese de doutoramento intitulada A colocação pronominal na língua literária

contemporânea do português brasileiro10

, de autoria de Schei (2003), promove a análise

de considerável número de ocorrências do fenômeno de colocação pronominal extraídas

de seis romances representativos da Literatura brasileira de fins do século XX, de modo

10

Torna-se oportuno esclarecer que a resenha concernente ao trabalho, agora exposto, se efetua a partir da

obra A colocação pronominal do português brasileiro: a língua literária contemporânea, a qual

corresponde, originalmente, à tese de doutorado defendida por Schei, em 2000, na Universidade de

Estocolmo.

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a atestar as discrepâncias existentes entre aquilo que se recomenda no âmbito da

prescrição gramatical (norma idealizada ou subjetiva) e a realidade lingüística que,

efetivamente, se constata empiricamente (norma objetiva).

De modo a investigar a hipótese de que os compêndios gramaticais brasileiros

contemplam, quanto ao fenômeno da ordem, os padrões de colocação lusitanos, Schei

(2003) lança mão de três romances europeus, em análise paralela à da ordenação dos

clíticos na variedade brasileira. Desse modo, os materiais contemplados em conjunto

fornecem mais de 8000 dados da manifestação da regra variável.

A pesquisadora, embora saliente que não se possam estabelecer conclusões

definitivas, corrobora, por meio dos resultados obtidos, que a ordenação dos clíticos

pronominais na escrita literária do Português do Brasil difere do padrão proposto nos

manuais normativos. Entretanto, dado que os seis romances brasileiros contemplados

apresentam determinadas particularidades, sublinha a autora a impossibilidade de se

considerar um modelo único de colocação da língua literária brasileira contemporânea.

Considerando as sentenças com apenas um item verbal e os contextos integrados

por mais de uma forma verbal (identificados como locuções), Schei pondera, a partir do

cotejo entre os dados das amostras examinadas e as regras prescritas pela tradição

gramatical, a existência de disparidades entre aquilo que se concebe como norma

idealizada e o que de fato se concretiza.

No que tange às formas finitas simples, destaca a autora que tais diferenças se

revelam, mormente, nos contextos para os quais o padrão normativo sugere a ênclise.

Em ambientes avaliados por Schei como neutros – como domínios de oração principal

declarativa, coordenada integrada por conjunção e, e sentença desprovida de operadores

de próclise –, os seis escritores das obras examinadas diferem, haja vista que alguns

deles atendem aos preceitos gramaticais, realizando, quase sempre, a variante enclítica,

enquanto outros optam por próclise, à semelhança da modalidade oral da variedade

brasileira.

A propósito da compreensão do fenômeno da ordem no âmbito das locuções

verbais, Schei destaca as seguintes construções: (i) auxiliar + particípio, (ii) auxiliar +

gerúndio, (iii) auxiliar + infinitivo e (iv) auxiliar com preposição + infinitivo.

Dentre as evidências verificadas, ressalta a pesquisadora que o pronome se

indeterminador, com freqüência, figura em posição proclítica ou enclítica em face do

verbo auxiliar, em oposição aos demais pronominais átonos, os quais se colocam, na

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maior parte das vezes, em próclise ao verbo principal, havendo ou não elemento

proclisador.

Acerca dos registros do pronome se na variedade européia, verifica-se que a

ordem proclítica ao auxiliar se manifesta quando da presença de um elemento

proclisador nas estruturas integradas por verbos flexionados no particípio e gerúndio,

caráter esse também observado, em certa medida, com os demais átonos. No que

concerne às construções verbais complexas constituídas de infinitivo, os dados advindos

dos três romances portugueses concedem constatar que, nem sempre, a variante

proclítica ao auxiliar se manifesta mesmo em presença de possível elemento

proclisador.

De modo a apresentar alguns dos pormenores da ordem em perífrases

participiais (auxiliar + particípio), pontua Schei que os literatos observados produzem

com freqüência a ordem proclítica ao verbo auxiliar de modo mais evidente do que o

verificado em construções constituídas de gerúndio e de infinitivo. Destaca, entretanto,

a particularidade de colocação dos acusativos o(s)/a(s), os quais não se posicionam em

próclise ao verbo principal.

Em contexto de locuções com item verbal no gerúndio, sinaliza a autora a

tendência ao favorecimento geral da posição proclítica ao verbo de segunda posição.

Nos domínios verbais de auxiliar + infinitivo, o posicionamento do clítico pode

ser comumente atestado ora em ordem proclítica ora em colocação enclítica ao verbo

principal, com especial preferência pela próclise.

As estruturas complexas do tipo auxiliar com preposição + infinitivo

constituem-se como ambientes de favorecimento, em primeira instância, de próclise a

v2, seguida da variante enclítica ao verbo principal, principalmente quando se trata da

ordenação do clítico acusativo.

Pelas descrições estabelecidas, perceba-se que Schei (2003) ressalta, tendo como

base a colocação de maior produtividade nos romances brasileiros examinados, que a

ordem proclítica ao verbo principal tende a sobrepujar a freqüência de realização das

demais colocações. Isso posto, advoga a autora que o fenômeno de posicionamento dos

átonos pronominais em estruturas verbais complexas se assemelha, em alguma medida,

à suposta ordem verificada na modalidade oral do Português do Brasil.

Em seu trabalho investigativo intitulado Colocação pronominal nas variedades

européia, brasileira e moçambicana: para a definição da natureza do clítico em

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português, Vieira (2002) busca aferir o padrão de ordenação dos átonos pronominais

mediante os condicionamentos de natureza lingüística e social nas três variedades

discriminadas, no que respeita às modalidades oral e escrita do Português, além de

realizar o exame da ordem com base prosódica.

Uma vez que a análise aqui desenvolvida empreende o exame da colocação no

Português do Brasil bem como no Português Europeu dos séculos XIX e XX, busca-se

sublinhar as constatações de Vieira (2002), no que respeita, especificamente, às

variedades destacadas. Saliente-se, apenas a título de curiosidade, que o Português

Moçambicano, no âmbito das lexias verbais simples, tende a realizar a ênclise de modo

generalizado, e, em construções verbais complexas, denota preferência pela colocação

intra-LVC.

No que tange às variedades brasileira e européia do Português oral, a

investigação de Vieira (2002) considera a fala de informantes de distintos níveis de

escolaridade e de faixas etárias diversificadas. A propósito da modalidade escrita, os

dados colhidos advêm de textos publicados em revistas e jornais brasileiros e

portugueses.

Com base no arcabouço teórico-metodológico da Sociolingüística Variacionista,

a análise efetuada dispõe de um total de 5196 ocorrências de pronomes átonos,

distribuídas entre construções denominadas de lexias verbais simples e de lexias verbais

complexas, as quais são examinadas em momentos distintos.

Dentre as diversas constatações observadas pela pesquisadora, destaque-se que o

Português do Brasil apresenta um comportamento particular em cada modalidade

contemplada. Nas sentenças constituídas de lexias verbais simples na modalidade oral,

os dados corroboram que, grosso modo, a ordem pré-verbal, condicionada

fundamentalmente pela variável tipo de clítico/valor do se assim como pelo grupo de

fatores extralingüístico faixa etária, é concebida como não-marcada. A propósito do

corpus escrito, saliente-se a motivação considerável do grupo presença de operador de

próclise na oração – especialmente na oposição início absoluto versus demais contextos

– além das variáveis tipo de oração e distância entre o operador e o grupo clítico-verbo

para a instauração de um modelo lusitano na imprensa brasileira.

No tocante ao fenômeno em ambientes de construções verbais complexas, no

Português do Brasil oral, a ordem intra-LVC faz-se majoritária em 90 pontos

percentuais, não dependendo de motivação de proclisadores para se manifestar. A

respeito da modalidade escrita, embora o estudo disponha de escassos números de dados

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de estruturas verbais complexas, os resultados verificados pela estudiosa evidenciam a

produtividade da ordem intra-LVC. Ademais, atestam que os chamados proclisadores

não denotam influência significativa para a anteposição do clítico à esquerda do

complexo verbal. A posição enclítica ao complexo ocorreria em domínios específicos,

como, por exemplo, em construções nas quais se vislumbra a colocação dos clíticos

acusativos em face de conglomerados verbais com infinitivo.

No que tange à variedade européia, a colocação assume um condicionamento, de

caráter estrutural, sistemático em ambas as modalidades observadas. Embora se constate

a distribuição equilibrada dos dados segundo as variantes pré-verbal e pós–verbal, os

resultados alcançados por Vieira (2002) permitem verificar que tal distribuição pode ser

justificada, sobretudo, pelos números consideráveis de contextos de subordinação, nos

quais figuram os elementos proclisadores.

Em referência às constatações realizadas no âmbito dos complexos verbais, o PE

oral admite, na maior parte das vezes, ênclise a V1. A ordem pré-LVC, igualmente

produtiva, apresenta-se condicionada, principalmente, pela presença de operador de

próclise no contexto anterior ao complexo verbal, tendendo a se manifestar, ainda, nos

ambientes influenciados pela atuação dos grupos de fatores tipo de clítico e forma do

verbo não-flexionado. Acerca da modalidade escrita, o estudo sinaliza que, em domínio

constituído de elementos proclisadores, a variante pré-LVC constitui a opção

preferencial de colocação.

Nunes (2009), com o propósito de examinar a ordem pronominal em estruturas

verbais complexas na modalidade escrita do PB e do PE no decorrer dos séculos XIX e

XX, promove a análise de dados a partir de corpora constituídos de textos de natureza

jornalística. Para tanto, alicerça a análise no arcabouço teórico-metodológico da

Sociolingüística Laboviana bem como nos parâmetros de cliticização propostos por

Klavans (1985).

Na análise proposta, a autora adota o procedimento metodológico de avaliar o

evento da ordem em contextos de início absoluto de oração bem como em domínios

integrados por proclisadores canônicos e não-canônicos.

Verifica, então, que, nas amostras de ambas as variedades, não foram

contabilizados casos de pronomes átonos em posição inicial absoluta, o que implica

atestar a ausência de manifestação da variante pré-LVC. Salienta a pesquisadora que a

ordem pós-LVC se procede em maiores registros em relação às demais no que respeita

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às duas variedades contempladas nos séculos XIX e XX, salvo no PB do século XIX,

em que a ordem intra-LVC se revelou mais produtiva. A autora justifica tal tendência

brasileira do século XIX pela variável gênero textual, uma vez que a maioria dos dados

colhidos advém de anúncios, que favorecem as expressões cristalizadas – próprias do

gênero – associadas à partícula se apassivadora / indeterminadora (ex.: Precisa-se

alugar). Além disso, o particípio como verbo principal, presente em diversas

construções, impossibilita a colocação pós-LVC e, uma vez que se considerem

contextos isentos de elementos proclisadores, não se teria outra opção a não ser a

variante intra-LVC.

No que concerne à distribuição geral nos contextos desprovidos de início

absoluto, postula Nunes (2009) que não se vislumbram diferenças significativas entre

PB e PE, principalmente no que respeita às variantes pré-LVC e pós-LVC. Os dados

examinados evidenciaram que, em ambas as variedades, nos dois séculos observados, a

próclise a v1 ocorre com mais freqüência, seguida da variante pós-LVC, nos contextos

com possíveis elementos proclisadores.

A propósito da colocação intra-LVC, a autora sublinha o caráter inovador do PB

em realizar alguns dados de próclise ao verbo principal já no século XIX.

No que respeita à atuação das variáveis controladas, a estudiosa constata que o

PB se revela sensível tanto aos condicionamentos de cunho externo como de caráter

estrutural. Em referência ao PE, atesta Nunes que a variedade européia demonstra forte

estabilidade no condicionamento do fenômeno nos dois séculos, atrelado,

especialmente, à influência dos grupos de fatores de caráter lingüístico.

Isso posto, no que toca à atuação dos elementos proclisadores, o estudo avaliza

que os fatores de próclise operam de modo particular nas variedades examinadas: a

distribuição da variante pré-LVC, por exemplo, em face de partículas de negação,

apresenta-se mais produtiva no PE dos séculos XIX e XX. No PB, tais partículas

revelam influência somente nas produções escritas do século XIX. Em contrapartida, os

elementos subordinativos constituem-se como os condicionadores mais potenciais de

próclise a v1 em todos os casos.

Quanto à natureza do verbo principal, o trabalho permite vislumbrar que a forma

participial assume um comportamento mais seletivo em relação à ordem, ao passo que

os infinitivos concedem maior flexibilidade. O particípio, tanto no PB quanto no PE dos

séculos XIX e XX, denota forte incidência da ordem pré-LVC. Em consideração ao

gerúndio, pontue-se que, em seus domínios, se verifica um equilíbrio distribucional das

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variantes pré-LVC e intra-LVC em ambas as variedades, especialmente no século XX.

Os contextos integrados por infinitivo evidenciam, no século XIX, que a ordem dos

pronomes se associa à presença de elemento proclisador. No século posterior,

contabilizam-se maiores registros de ênclise a v2.

Ponderações acerca do tipo de clítico pronominal são, também, estabelecidas por

Nunes (2009). Assim, salienta a autora que o clítico “se” denota comportamento

diferenciado a depender da estrutura em que ocorre nas duas variedades examinadas. A

propósito dos clíticos acusativos, salvo nos casos advindos da amostra brasileira do

século XX, esses se posicionam, predominantemente, em posição pré-LVC, motivados,

também, pela presença de um elemento proclisador. Em contrapartida, os registros

verificados no corpus do PB do século XX sinalizam a preferência pela variante pós-

LVC, mormente quando o pronome “se” se adjunge ao verbo no infinitivo configurando

uma espécie de estrutura cristalizada.

Em referência ao exame desenvolvido por Martins (2009), acerca dos padrões de

ordenação dos clíticos pronominais na escrita catarinense, a partir de corpus em que se

compilam vinte e quatro peças teatrais escritas por brasileiros nascidos no litoral de

Santa Catarina, no decurso dos séculos XIX e XX, saliente-se que o autor visa a lançar

luz sobre o postulado de que a escrita catarinense refletiria um processo de mudança

sintática concebida, possivelmente, como um processo gradual que se empreende via

competição de gramáticas, no sentido utilizado por Anthony Kroch.

A partir da análise de dados de orações finitas não-dependentes com verbos

simples e construções verbais complexas, o autor apresenta, ao longo de seu trabalho, as

evidências empíricas quanto à colocação dos clíticos pronominais, municiando-se,

também, de uma amostra de vinte e uma peças teatrais escritas por portugueses

lisboetas, todos coetâneos dos séculos XIX e XX.

A hipótese de que os dados da pesquisa de Martins (2009) refletiriam a chamada

competição de gramáticas ancora-se na proposta apresentada no trabalho de Galves,

Brito & Paixão de Sousa (2005). As autoras, em vasto estudo diacrônico, propõem que

os autores nascidos em meados do século XVIII seriam os primeiros a utilizar as

estruturas da ordem que se concebem como pertencentes às gramáticas do Português

Europeu e do Português Brasileiro, deixando de concretizar as estruturas típicas da

gramática anterior, identificada como a gramática do Português Clássico.

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Em linhas gerais, propõe-se que a gramática do PE adotaria a ênclise como

opção preferencial não só em início absoluto, mas também após contextos sem fatores

de próclise, enquanto a gramática do PB adotaria a próclise como opção preferencial

geral. Nas construções com mais de uma forma verbal, o PB também inovaria ao adotar

a próclise ao verbo principal.

Os resultados obtidos na investigação proposta por Martins (2009), tratados

estatisticamente à luz da Sociolingüística Laboviana, confirmam as tendências

apontadas em Galves, Brito & Paixão de Sousa (2005). No que tange às construções

brasileiras nas quais a variação entre próclise (clV) e ênclise (Vcl) é observada em

cláusulas finitas não-dependentes, o pesquisador registra um aumento progressivo nos

índices da ordem proclítica em contextos V1 assim como em domínios X(X)V, sendo X

antecedido por um sujeito, um advérbio modal ou um sintagma preposicional sem

focalização.

Evidencia o estudioso que a colocação proclítica em escritos do PB do século

XIX se revela de modo mais recorrente em cláusulas com sujeitos pré-verbais do tipo

pronome pessoal, em oposição ao que se constata em sentenças com sujeitos DPs

simples. Quanto à manifestação de próclise no século XX, pontua o autor a ocorrência

categórica de tal ordenação mediante sujeitos pré-verbais.

No que concerne ao posicionamento do átono pronominal em conglomerados

verbais, verifica um progressivo acréscimo da ordem pré-verbal na adjacência do verbo

não-finito, o que também seria evidência da gramática do PB. Ainda assim, advoga o

pesquisador que o Português do Brasil do século XIX, no que respeita aos dados

analisados, apresenta construções DPclV e estruturas XclV assim como o fenômeno de

interpolação do elemento não e/ou do pronome pessoal eu, estruturas que seriam

interpretadas como resquícios dos padrões supostamente instanciados pela gramática do

Português Clássico.

Ressalta Martins (2009) que, assim como os padrões instanciados pela gramática

do Português do Brasil em textos do século XIX podem ser observados, uma vez que se

constata a realização de próclise a V1 e ao verbo não-finito em construções verbais

complexas, se percebe, do mesmo modo, o padrão enclítico, bastante produtivo no

corpus brasileiro, que seria instanciado pela gramática do Português Europeu.

Pontua, assim, o pesquisador, de modo geral, que os resultados alcançados

permitem vislumbrar um complexo fenômeno entre as gramáticas do Português

Clássico, do Português do Brasil, assim como do Português Europeu.

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Por todas as considerações, aqui efetuadas, certifique-se de que o conhecimento

dos principais trabalhos que se ocupam do tema contemplado na presente investigação é

de fundamental importância não só para o estabelecimento das hipóteses investigativas

que se apresentam na seção referente à descrição das variáveis, mas também para a

interpretação dos resultados obtidos.

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3. FUNDAMENTOS TEÓRICOS

A investigação presente instaura-se no conjugado dos preceitos basilares de duas

orientações teóricas, quais sejam: (i) as premissas formalistas de cliticização (ZWICKY

& PULLUM, 1983; ZWICKY, 1985; KLAVANS, 1985) – das quais advêm os

fundamentos e os parâmetros para a abordagem do fenômeno –, bem como (ii) os

postulados da Sociolingüística Laboviana – conjunto de princípios que subsidiam a

análise dos dados no que concerne à variação e mudança.

Julga-se que a interface das duas orientações mencionadas se faz pertinente, uma

vez que tal procedimento promove o exame da regra variável aplicado à ordem dos

pronomes átonos. Desse modo, cumpre-se o propósito de se efetuar a descrição e a

interpretação dos resultados quanto ao evento da ordem de forma consistente, sem que

os fundamentos teóricos empregados transgridam suas fronteiras ou violem suas

identidades ao responderem determinadas questões que, porventura, (não) sejam

alcançadas em seu domínio teórico.

Considere-se, pois, que, no tratamento da cliticização pronominal, a perspectiva

dos estudos sociolingüísticos ancorada na Teoria da Variação e Mudança permite a

abordagem da ordem como fenômeno variável, sendo este motivado pela interinfluência

de fatores de cunho lingüístico e social. A fundamentação teórica relacionada ao

conceito de cliticização, com base na perspectiva adotada pelos autores considerados,

possibilita associar a variação da ordem dos clíticos não só aos outros níveis

gramaticais, o que configura um nítido quadro de interface, mas também à proposta de

estabelecer parâmetros de cliticização, que aproximam ou distanciam as línguas ou

variedades lingüísticas, justificando-se, assim, a eficácia da adoção conjunta das

abordagens contempladas para o exame da colocação, cujos pormenores agora se

apresentam.

3.1 As diretrizes do tratamento da cliticização

Preliminarmente, convém tratar do conceito de cliticização usualmente

empregado, tendo em vista que a presente pesquisa se vale da ordem de elementos

considerados clíticos na Língua Portuguesa, ou seja, os pronomes átonos.

O vocábulo clítico, de origem grega, significa, em dicionários gerais do

Português (cf. Aurélio, 1986: 418), “qualquer monossílabo átono subordinado, por meio

de elemento prosódico, ao vocábulo que o precede, ou que o segue, ou no qual se acha

inserido”.

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Em dicionários especializados em Lingüística, o termo cliticização também é

definido considerando-se sua natureza fonética. A esse respeito, observe-se a definição

de clítico proposta por Crystal (2000), em seu Dicionário de Lingüística e Fonética:

Termo usado na gramática com referência a uma forma que se assemelha a uma

palavra, mas não pode aparecer sozinha em um enunciado normal, sendo

estruturalmente dependente da palavra vizinha na construção. (CRYSTAL, 2000: 49)

Conforme se observou na revisão da literatura acerca da colocação, diversos

estudos priorizam a natureza átona dos clíticos para postular hipóteses interpretativas

acerca do comportamento da ordem dos pronomes átonos, bem como acerca das

diferenças entre variedades do Português. Ressalte-se, a esse respeito, a consideração

hipotética de que a pauta acentual produtiva da Língua Portuguesa, a paroxítona,

constituiria motivação para a próclise, já que a ênclise daria origem a um vocábulo

proparoxítono.

Em seu Dicionário de Lingüística e Gramática, Câmara Jr. (1997) considera

próclise o fato de uma forma dependente unir-se ao vocábulo que o segue, configurando

um caso de “inclinação para frente”. Contemplando-se graus de tonicidade, postula que

a forma átona, que constitui sílaba que inicia o vocábulo fonológico, apresenta

atonicidade mínima (grau 1), enquanto a forma átona que se liga ao fim do vocábulo,

em ênclise, assume atonicidade máxima (grau 0).

Embora as definições pautadas no comportamento fonético-fonológico sejam

assumidas como verdadeiras em diversas abordagens do fenômeno, os clíticos de

natureza pronominal costumam ser classificados como proclíticos, enclíticos ou

mesoclíticos, em função unicamente da posição em relação à palavra de que dependem

sintaticamente, ou seja, a forma verbal.

Em consideração às características definidoras dos clíticos ora apresentadas,

pode-se perceber que essa categoria se constitui a partir da interface dos níveis

gramaticais. Definido foneticamente como partícula átona, o clítico insere-se numa

categoria morfológica formal entre o afixo e a palavra – do tipo “forma dependente” –

que depende de outro constituinte no nível sintático.

Em função desse caráter de interface gramatical – que abarca os componentes

fonético, morfológico e sintático –, é oportuno sublinhar que a Lingüística moderna, no

que concerne, especificamente, à orientação investigativa de cunho formalista, vem

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deliberando acerca da natureza dos pronomes átonos com o intuito de estabelecer uma

possível tipologia de clíticos nas línguas do mundo.

Aronoff (1994:12), ao tratar dessa interface no tratamento do fenômeno,

considera que, sendo o clítico um elemento constitutivo de uma instância sintática no

que respeita à ordem de palavras, é também um item morfológico, visto que se revela

como categoria pronominal que exibe, em determinados casos, características

semelhantes às de um afixo, por ser concebido como uma forma dependente.

A propósito do âmbito fonológico, Vieira (2002: 382), com base em bibliografia

especializada, também salienta que os pronomes átonos não apresentam força acentual

própria e, por essa razão, tornam-se dependentes de outro vocábulo, o que os torna

deficientes no que toca ao aspecto prosódico. Desse modo, possuiriam os clíticos a

natureza sintática das palavras e as características fonológicas dos afixos.

Estudos realizados acerca dos átonos pronominais das línguas românicas

advogam que os clíticos apresentam comportamento que os aproxima de um afixo (cf.

KLAVANS, 1985). Em contrapartida, buscando caracterizar especificamente os

pronomes átonos do Português Europeu, determinados trabalhos, tais como o de Vigário

(1999), defendem que eles se inserem na estrutura gramatical, após o componente

lexical, e que seu caráter de mobilidade no enunciado constitui evidência suficiente para

que eles não sejam tidos como afixos (Cf. DUARTE, I. et alii, 2001).

Spencer (1991) postula que clíticos e afixos, por apresentarem determinadas

propriedades, se aproximam e se distanciam por vezes. Sublinha o autor que a principal

semelhança entre ambos os elementos pode ser observada pelo fato de serem

concebidos como “morfemas dependentes”. Ademais, ressalta o estudioso a importância

do posicionamento do hospedeiro do clítico na sentença, o que lhe confere estatuto

próprio em termos sintáticos.

Nesse sentido, alguns estudos priorizam o exame do tema dos átonos

pronominais, buscando postular tendências sintáticas, como, por exemplo, as

relacionadas à posição do hospedeiro verbal na frase. Assim, postula-se, como

fenômeno geral, o pressuposto identificado como “fenômeno de segunda posição”–

compreendido como a Lei de Wackernagel –, segundo o qual os clíticos não iniciam

sentenças, figurando, mais comumente, após o primeiro constituinte da oração.

Ainda no que tange à ordem do pronome átono em segunda posição, tomem-se

antigas referências, como as de Tobler (1875) e Mussafia (1886, 1898), que confirmam,

em certa medida, tal tendência, propondo, entretanto, que não se determine a segunda

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posição como lugar exato de ocorrência do clítico, mas que se recuse a posição do

clítico como primeiro elemento da oração (Lei de Tobler-Mussafia). Corrobora-se,

assim, a premissa de que “pronomes objetos átonos não figuram em posição inicial

absoluta na sentença” (FONTANA, 1993: 28).

No que concerne à natureza dos clíticos em geral, destaque-se o trabalho de

Zwicky & Pullum (1983) – no qual os autores apresentam alguns critérios pelos quais,

possivelmente, se podem distinguir as categorias de clíticos e afixos – bem como o de

Zwicky (1985) – em que se discute a separação entre clíticos e palavras.

A propósito das observações efetuadas por Zwicky & Pullum (1983), estipulam-

se seis critérios de modo a evidenciar as características particulares de clíticos e afixos:

(i) grau de seleção do morfema dependente em relação ao seu hospedeiro; (ii) lacunas

lexicais arbitrárias; (iii) idiossincrasias fonológicas; (iv) idiossincrasias semânticas; (v)

operações sintáticas que afetam possíveis combinações; (vi) restrições na combinação

de clíticos e afixos.

Com base em tais critérios, Vieira (2002) apresenta reflexões acerca da natureza

dos clíticos em Português. A autora postula, então, duas propriedades dos pronomes

portugueses que os aproximam da categoria de afixos: (i) eles posicionam-se adjacentes

ao verbo, assim como um afixo se encontra adjacente à raiz que o hospeda; e (ii)

semelhantemente aos afixos flexionais, os pronomes átonos integram um inventário

relativamente pequeno e fechado, contrapondo-se às classes abertas, como nome,

adjetivo e verbo. Duas outras propriedades dos clíticos pronominais do Português,

apresentadas pela autora, impossibilitam, entretanto, o tratamento desses elementos

como afixos, no sentido estrito da palavra: (i) eles ligam-se a uma instância sintática, e

não a raízes vocabulares; e (ii) apresentam relativa mobilidade, podendo figurar antes

ou depois do verbo, já que não se comportam como formas presas.

Em face das proposta de Zwicky (1985), Vieira elucida as características

sintáticas que favorecem a consideração dos pronomes átonos na categoria de palavras.

Sistematizando os testes sintáticos para a diferenciação de clíticos e palavras propostos

pelo autor, a autora tece as seguintes considerações:

(i) o pronome do Português está sujeito ao apagamento quando idêntico (p. ex.: <eu oi vi

e Øi admirei>); (ii) sendo o próprio clítico uma proforma de um referente representável

por um SN, pode vir retomado, por ele próprio, numa espécie de proforma por

substituição repetitiva (cf. KOCH, 1990), como em <eu o vi e o admirei>; e (iii) está

sujeito à regra de movimento, podendo antepor-se ou pospor-se ao verbo. (VIEIRA, 2002:

392)

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De modo genérico, por toda a interface dos níveis gramaticais revelada na

delimitação dos clíticos, em função de eles apresentarem algumas propriedades mais

afixais e outras mais de palavra, essa categoria chega a ser tratada como um “afixo

sintagmático”. Fontana (1993: 24 apud VIEIRA, 2002) afirma:

Clíticos são definidos como elementos que, ao mesmo tempo em que se ligam

fonologicamente a palavras, se ligam sintaticamente a sintagmas. Para Klavans, a

ligação sintagmática é uma propriedade inerente dos clíticos, e, conseqüentemente, uma

característica que os define universalmente: ela define clíticos especificamente como

afixos sintagmáticos.

A presente investigação, considerando a interface dos níveis gramaticais na

caracterização do fenômeno da colocação pronominal, lança mão de parte da proposta

de Klavans (1985), que objetiva caracterizar as línguas do mundo em função de

parâmetros de cliticização. A autora advoga que a sintaxe e a fonologia podem atuar de

forma independente no tocante ao evento da cliticização, postulando que os clíticos

podem estar ligados, a um só tempo, sintaticamente a um hospedeiro e fonologicamente

a outro.

Partindo do pressuposto de que as formas clíticas ocorrem ligadas a um

elemento sintático específico (seu hospedeiro), a estudiosa propõe que as línguas do

mundo podem ser caracterizadas quanto à posição dos clíticos – antes ou depois – em

relação a esse elemento sintático. Em termos fonéticos, eles podem figurar apoiados em

qualquer forma precedente ou subseqüente a ele. A fim de observar a formulação desses

parâmetros, apresentam-se as definições a seguir, preconizadas pela autora:

(i) Parâmetro 1, o da dominância (inicial/ final): exprime a possibilidade de que

o clítico esteja ligado ao constituinte inicial ou final dominado por um

sintagma específico.

(ii) Parâmetro 2, o da precedência (antes/ depois): examina-se se o clítico se

posiciona antes ou depois do hospedeiro sintático escolhido no primeiro

parâmetro.

(iii) Parâmetro 3, o da ligação fonológica (enclítico/proclítico): exibe a ligação

do clítico ao seu hospedeiro fonológico

O exame aqui efetuado, no que se refere aos três parâmetros, parte da proposta

da independência entre eles para propor uma pesquisa específica do parâmetro 2, ou

seja, o da precedência. Investiga-se, especificamente, se o clítico elege, em relação às

lexias verbais simples, a posição pré-verbal / proclítica (cl v) ou pós-verbal / enclítica (v

cl); e, no que tange às lexias verbais complexas, a posição anterior (cl v1 v2), posterior

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(v1 v2-cl), interveniente com hífen (v1-cl v2), ou sem hífen (vl cl v2) na modalidade

escrita literária brasileira e européia. Uma vez os pronomes átonos do Português

apresentando o verbo como hospedeiro sintático (determinação específica do âmbito do

primeiro parâmetro), postula-se, então, a precedência (P2) do clítico a essa forma

verbal, selecionada em P1.

No que concerne ao terceiro parâmetro, acredita-se que apenas uma investigação

de natureza fonético-fonológica com dados da modalidade oral tornaria viáveis

conclusões cientificamente fundamentadas. Pontue-se que, neste trabalho, o

componente rítmico-acentual – especialmente no que se refere ao padrão de tonicidade

do vocábulo fonológico que se constitui com a adjunção do clítico às formas verbais

simples – é considerado apenas na qualidade de variável independente como possível

condicionamento estrutural da ordem.

Feitas as considerações acerca do fenômeno que integra a base da regra variável

em estudo, ou seja, a cliticização, passa-se a expor a fundamentação relacionada ao

aporte que permitirá o tratamento específico das questões concernentes à variação e à

mudança lingüísticas.

3.2 O aporte sociolingüístico

A Teoria da Variação e Mudança, muitas vezes designada de Sociolingüística

Variacionista, Quantitativa ou Laboviana, possui por escopo o estudo dos padrões

lingüísticos verificados em uma determinada comunidade de fala, por meio do exame

dos possíveis fatores internos ou externos à língua que motivam a manifestação de um

fenômeno lingüisticamente variável.

Constate-se que o modelo teórico-metodológico da Sociolingüística

Variacionista compreende o conceito de comunidade de fala não como um conjunto de

indivíduos que falam exatamente da mesma forma, mas que, de algum modo,

compartilham traços lingüísticos que diferenciam o grupo ao qual pertencem dos

demais. A partir de tal compreensão, asseguram os postulados sociolingüísticos que os

falantes de uma mesma comunidade tendem a estabelecer a comunicação entre si, de um

modo mais freqüente, do que com outros indivíduos oriundos de grupos distintos,

apresentando normas e atitudes comuns em face do uso da língua (cf. LABOV, 1972).

Ao inscrever-se na premissa de que a língua é, por excelência, concebida como

sistema dotado de variação intrínseca e não-arbitrária, haja vista que pressões de

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natureza estrutural (lingüística) e social (extralingüística) presidem a sistematicidade do

evento em variância (cf. WEINREICH; LABOV & HERZOG, 1968), a Sociolingüística

de orientação laboviana refuta a máxima estruturalista de que a variação lingüística é

um fato assistemático e irregular, outorgando, desse modo, legitimidade ao princípio da

heterogeneidade ordenada, em detrimento da correlação funcionalidade-

homogeneidade.

Em acréscimo às considerações acima determinadas no que respeita ao caráter

heterogêneo e estruturado da língua, tomem-se as palavras de Weinreich, Labov &

Herzog (2006 [1968]: 105), abaixo, transcritas:

Para dar conta da [...] variação íntima, é necessário introduzir outro conceito no modelo

de heterogeneidade ordenada que estamos desenvolvendo aqui: a variável lingüística – um

elemento variável dentro do sistema controlado por uma única regra.11

Sob a égide dos postulados variacionistas, a variação, no âmbito lingüístico,

constitui um fenômeno universal, o qual pressupõe a existência de formas lingüísticas

alternativas designadas variantes, as quais pertencem ao domínio da variável

dependente.

Isso posto, certifique-se de que a análise presente comunga com o construto

teórico básico do aporte sociolingüístico no que concerne à noção de regra variável,

sendo essa considerada como um conjunto de duas ou mais maneiras distintas de se

dizer algo, transmitindo o mesmo significado referencial em um mesmo contexto

lingüístico (cf. LABOV, 1972: 271). Eis, aí, a definição clássica de variantes

lingüísticas.

É digna de nota a discussão aventada por alguns estudiosos, tais como

Lavandera (1984) e Romaine (1981), a respeito da extensão da aplicabilidade da teoria

variacionista aos níveis morfológico, sintático e semântico, uma vez que, somente no

âmbito fonológico, o fenômeno de variação propriamente dito ocorreria de modo

inequívoco, obedecendo à exigência de que, para o estudo do evento variável, as

supostas formas em análise teriam de ser, de fato, variantes em um mesmo contexto,

com idêntico valor de verdade. Como conseqüência desses debates, figuraram com

predominância na fase inicial do desenvolvimento da Sociolingüística Laboviana

11

Convém pontuar que, no excerto em destaque, o conceito de variável lingüística abrange o fenômeno

em variação, isto é, a variável dependente constituída das formas variantes, cujos detalhes serão mais bem

apreciados no capítulo referente à metodologia. Por ora, cumpre esclarecer que a mesma designação

variável lingüística abarca, em determinados momentos, o conjunto de fatores internos à língua

motivadores da regra em variância, ou seja, as variáveis independentes de caráter lingüístico – também

apresentadas em minúcias no capítulo de metodologia.

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trabalhos variacionistas de natureza fonético-fonológica. Saliente-se que a restrição da

análise de formas variantes a tal nível não se sustentou por muito tempo, visto que o

avanço dos estudos permitiu que pesquisadores afeitos aos princípios teórico-

metodológicos da Teoria da Variação e Mudança estendessem a análise da regra

variável aos domínios morfológico, sintático e semântico – sem que o aporte

sociolingüístico fosse tomado por mero instrumental técnico-metodológico –, sob a

prerrogativa de que os fenômenos examinados possuíssem ao menos o mesmo valor

básico referencial dentre as formas variantes em um mesmo contexto de ocorrência.

Desse modo, muitos estudos, ao ampliarem a noção de regra variável, passam a

considerar, acima de tudo, a exigência de comparabilidade funcional entre as estruturas

em variância.

Em face da problematização supracitada, é oportuno pontuar que os preceitos

sociolingüísticos referentes à regra variável não sofrem transgressões na análise

presente; isso porque o evento da ordem pronominal aqui investigado, ao apresentar os

clíticos em domínios de lexias verbais simples e complexas mediante as diversas

posições que, por vezes, podem assumir, se constitui de variantes de mesmo valor

referencial.

A propósito dos contextos integrados pelos complexos verbais12

, a adoção do

arcabouço teórico-metodológico da Sociolingüística Variacionista subsidiou de modo

profícuo o desenvolvimento da análise efetuada, de modo que o julgamento do

fenômeno como evento variável se revelou pertinente.

Não se pode deixar de mencionar que, no que toca ao tratamento de dados

lingüísticos, os estudos variacionistas consideram, com primazia, a modalidade oral

pelo fato de a mesma permitir a reprodução autêntica da realidade vernacular de

determinada comunidade de fala, constituindo-se, por assim dizer, um material

confiável para o estudo da mudança. Cumpre ressaltar que Labov (1972), na seção

introdutória de Sociolinguistic Patterns, concebe a língua vernacular – objeto da

investigação sociolingüística – como a língua falada cotidianamente, ou seja, como o

veículo de comunicação utilizado pelos membros de uma mesma comunidade de fala.

Em face da predileção por dados da oralidade, Labov (1994) adverte para o

indispensável cuidado que o analista da língua deve apresentar quando da utilização do

12

Para maiores detalhes das estruturas verbais complexas investigadas e das formas alternantes em

questão, confira a seção referente à metodologia.

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62

conceito de regra variável a outros fenômenos não-orais, mormente se esses

corresponderem a dados de natureza histórica.

Registre-se que, dos não poucos desafios metodológicos deflagrados por

exigências particulares da Sociolingüística Histórica, se destaca a dificuldade de

controlar dados de sincronias passadas com procedimentos paralelos aos adotados para

corpora atuais (cf. BARBOSA, no prelo). De modo a ilustrar uma das

incompatibilidades metodológicas para análise de amostras antigas, em comparação ao

tratamento destinado ao exame de dados provenientes de corpus recente, saliente-se o

árduo trabalho de colher testemunhos escritos que evidenciam a língua vernacular de

uma dada comunidade de fala não-contemporânea à invenção de equipamentos de

gravação de áudio. Mediante tal circunstância, cabe ao pesquisador tão somente o

recurso da modalidade escrita para o estudo histórico que se pretende efetuar. Todavia,

conforme acautela Labov (1994), dados de sincronias passadas não asseguram uma

avaliação exata da realidade de uma língua; a adoção desses registros lingüísticos acaba,

pois, sendo um mal necessário correspondendo àquilo que o estudioso (1994: 11)

acredita ser a arte de fazer o melhor uso de dados precários.

No intuito de amenizar os efeitos de imprecisão da realidade lingüística de tais

momentos sincrônicos, aventa a Sociolingüística Variacionista, mediante o Princípio do

Uniformitarismo (cf. LABOV, 1975), a prática do reconhecimento e da comparação dos

fenômenos lingüísticos antigos mediante a observação dos processos presentes. A

respeito de possíveis pressões sociais, o referido princípio encontra limitações para

qualquer tipo de inferência acerca da organização social de comunidades de tempos

passados, as quais se configuravam de modo bem distinto do das atuais.

Compreenda-se, então, a importância do princípio supracitado à medida que ele

se delineia como condição preliminar fundamental para a reconstrução histórica bem

como para o uso do presente de modo a estabelecer uma possível explicação do passado

(cf. LABOV, 1994: 24).

Conforme a dinâmica do sistema lingüístico, há de se constatar que o fenômeno

de mudança corresponde a uma conseqüência inevitável das línguas naturais verificada

no presente de um processo de variação contínua que inicia sua implementação no

passado. É lícito, assim, pontuar outra premissa matriz do arcabouço teórico-

metodológico variacionista, a qual preconiza que toda mudança pressupõe variação

embora nem toda variação concorra, necessariamente, em mudança lingüística.

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63

A respeito da variação estável e da mudança em progresso, cumpre salientar

alguns aspectos que as distinguem e evidenciam. Concebe-se dado fenômeno como

legítimo processo de variação estável quando a tendência de predomínio de uma

variante lingüística sobre a(s) outra(s) não se encontra instaurada, permanecendo como

tal por um longo período de tempo. Para o diagnóstico de mudança em progresso,

convém observar em que medida o processo de variação avança para sua resolução em

favor de uma das variantes envolvidas, a qual tende a se generalizar, assumindo o

caráter categórico de uso na comunidade de fala, em face do possível desaparecimento

da(s) outra(s) forma(s) concorrente(s).

No que tange ao estudo da mudança lingüística, certifique-se de que tal análise

pode ser empreendida de acordo com a perspectiva de tempo aparente – segundo a qual

as diferenças no comportamento lingüístico de gerações distintas de falantes em um

determinado momento refletiriam diferentes estágios do desenvolvimento histórico da

língua – ou de tempo real.

A possibilidade de fazer inferências acerca do desenvolvimento diacrônico da

língua mediante análises sincrônicas adquire grande relevo com os estudos efetuados

por Labov na década de 1960, a respeito do inglês da ilha de Martha‟s Vineyard, em

1963, bem como da cidade de Nova York, em 1966. Tal como sustentara o estudioso

(LABOV, 1972), compreendendo o evento da variação lingüística como fenômeno

sistemático e não aleatório, a barreira erigida por Hockett (1958), a propósito da

concepção de que a mudança lingüística não poderia ser contemplada em seu processo

de implementação, mas somente em seus estágios finais, poderia ser superada. Postula-

se, pois, que, fundamentalmente, a variação analisada sincronicamente em um dado

ponto da estrutura da gramática de uma comunidade de fala pode denunciar um

processo de mudança em curso na língua, no que respeita à diacronia. Busca-se, desse

modo, apreender o tempo real – em que se observa o desenvolvimento diacrônico da

língua – a partir do chamado tempo aparente, concebido como uma espécie de projeção.

É pertinente registrar que, tal como ressaltam Chambers & Trudgill (1980: 165), a

relação entre tempo aparente e tempo real pode parecer mais complexa do que a simples

equiparação dessas duas instâncias. Isso porque a projeção do que se verifica no tempo

aparente de modo a inferir aquilo que teria ocorrido no tempo real encontra amparo no

pressuposto de uma possível estabilidade do sistema, sugerindo, por exemplo, que o

padrão lingüístico fixado por um indivíduo na fase de sua adolescência se conserva de

certo modo intacto ao longo de toda a sua vida.

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Os preceitos variacionistas validam, ainda, que não há como assegurar que um

indício de mudança, identificado pelo lingüista em um dado momento, não será

revertido em um futuro próximo em decorrência de novos fatos que não se encontravam

presentes nas circunstâncias em que o analista da língua fez seu diagnóstico. Por conta

da contingência dos processos históricos, qualquer afirmação acerca da mudança em

progresso é, de fato, uma inferência (cf. LABOV, 1981: 177).

Por se inscrever legitimamente nas bases da Teoria da Variação e Mudança, o

estudo descrito julga os cinco problemas ou questionamentos do aporte variacionista

como diretrizes de inquestionável relevância para a análise dos dados que aqui se

promove.

Sob essas considerações, introduz-se, muito a propósito, mediante uma

apresentação sintetizada de seus principais aspectos, o elenco das cinco

problematizações acerca da mudança, a saber: (i) o problema dos fatores condicionantes

(ou seja, das restrições), (ii) o problema da transição, (iii) o problema do encaixamento,

(iv) o problema da avaliação, bem como (v) o problema da implementação.

No que concerne aos fatores condicionantes, proposição central da primeira das

questões consideradas, saliente-se que, para o tratamento de uma regra variável, se faz

imprescindível o diagnóstico das pressões lingüísticas e sociais, também designadas

como variáveis independentes, responsáveis por condicionar de modo direto ou indireto

a manifestação de duas ou mais variantes constituintes de dada variável dependente.

Nos domínios de tal questionamento, interroga-se sobre as possíveis condições

que motivariam ou restringiriam as mudanças lingüísticas de modo a predizer o

conjunto das possibilidades de sua ocorrência.

Postula-se que a premissa essencial que assegura o estabelecimento da presente

questão concebe a mudança como fenômeno orientado por princípios gerais, ou mesmo

universais, conduzindo à simplificação e à generalização de regras da gramática (cf.

LABOV, 1982: 26-27), sem que haja a desvinculação dos aspectos sociais. Aventa-se,

desse modo, que o problema das restrições seja conjugado ao problema do

encaixamento, a ser, ainda, elucidado.

O segundo questionamento apresentado diz respeito ao problema da transição,

por meio do qual se discute o fato de os processos de mudança constituírem estágios

discretos ou a fixação de um continuum. Reitere-se que o aspecto dinâmico do sistema

lingüístico não admite a concepção estruturalista da mudança tampouco compreende a

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língua como um todo homogêneo e unitário caracterizado por períodos de instabilidade,

conforme divulgava a perspectiva saussuriana.

Consoante o proposto pela Sociolingüística Variacionista, considere-se a questão

em destaque como uma sugestão de se estabelecer o percurso da mudança lingüística

sem que, para isso, se deixe de levar em conta a estrutura social que exerce forte

influência sobre a língua.

Uma sucessão de estudos variacionistas tende a corroborar a evidência de que o

fenômeno de mudança lingüística se opera de modo lento e gradual, percorrendo um

continuum ininterrupto de variação e passando, em determinados momentos, por

estágios intermediários, nos quais formas conservadoras e inovadoras alternantes

coexistem.

De modo a compreender o terceiro dos questionamentos para o estudo da

mudança lingüística, cumpre atestar que o problema do encaixamento tem por

fundamento a máxima do estruturalismo diacrônico o qual adverte que um possível

fenômeno de mudança só poderá ser bem depreendido caso seja considerada sua

inserção no sistema lingüístico que ele afeta. Em face dessas colocações, Weinreich,

Labov & Herzog (2006: 122) ressaltam que

Haverá pouca discordância entre os lingüistas de que as mudanças lingüísticas sob

investigação devem ser vistas como encaixadas no sistema lingüístico como um todo. O

problema de oferecer fundamentos empíricos sólidos para a teoria da mudança traz à tona

diversas questões sobre a natureza e a extensão deste encaixamento.

Não se deve perder de vista que o encaixamento deve estar em uma relação

direta não só com os aspectos internos das línguas, mas também com o conjugado

“sistema e estrutura social” de uma determinada comunidade de fala. A propósito da

conjugação mencionada, desmembre-se tal problema em duas vertentes, quais sejam: (i)

encaixamento na estrutura lingüística e (ii) encaixamento na estrutura social, tal como,

na seqüência, se procede sob a inspiração do tratamento sociolingüístico.

Mediante o encaixamento no âmbito da estrutura lingüística, a mudança é

concebida como um processo que ocorre em conjunto, tendo a comunidade de fala

como o domínio em que se desenvolve, não se limitando, portanto, ao nível individual,

o do idioleto. Concebe-se que a língua revela variáveis intrínsecas a um sistema

heterogeneamente estruturado associadas a fatores de natureza lingüística e

extralingüística que orientam os possíveis processos de mudança, os quais consistem em

um lento movimento de um conjunto limitado de variáveis inerentes a um dado sistema

que, gradualmente, se altera de um extremo ao outro. Compreenda-se, pois, o fenômeno

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de variação como evento inerente à competência lingüística de indivíduos de uma

comunidade de fala, considerando-se o grupo em detrimento de um indivíduo

isoladamente. Nesses termos, tomem-se, abaixo, as considerações acerca do

encaixamento no âmbito social.

É digno de reconhecimento o avanço instaurado pela proposta variacionista ao

integrar à análise lingüística ponderações de caráter social, visto que um exame

essencialmente lingüístico seria insuficiente para o tratamento do processo de mudança,

bem como para uma apreciação adequada da constituição de uma língua quanto a seu

aspecto histórico.

Por meio dos pressupostos ora desenvolvidos, note-se que a interinfluência entre

o processo de estruturação da língua e as relações sócio-históricas presentes em uma

comunidade de fala caracteriza o problema do encaixamento como uma das áreas mais

produtivas e desafiadoras das investigações em Sociolingüística.

Não menos importante para a depreensão do fenômeno de mudança, perceba-se

o problema da avaliação como o responsável por trazer luz ao debate entre o caráter

ativo de avaliação subjetiva dos indivíduos, consoante o apregoado pela visão

sociolingüística, e o posicionamento passivo dos falantes, defendido pelo estruturalismo

de Saussure, mediante as mudanças do processo de estruturação da língua.

Cabe pontuar que tal avaliação subjetiva dos indivíduos percorre uma escala

intimamente relacionada aos estágios por que caminha a mudança. Assim dito, postula-

se que a primeira etapa de avaliação se posiciona abaixo do nível de consciência social,

momento em que a descoberta da mudança pela comunidade de fala não se processa de

modo simples e evidente. A respeito dos estágios intermediários, trata-se da fase em que

alguns desvios de estilo aparecem de forma mais notória. Nos períodos finais da

mudança, a não rara tendência à fixação de estereótipos se revela como resultado de

uma ampla percepção social do fenômeno instaurado, criando-se pólos extremos entre a

norma dita conservadora e os padrões julgados sob uma forte depreciação social.

A problematização apresentada sugere, pois, que o grau de avaliação subjetiva

dos indivíduos pode sensivelmente influenciar o processo de mudança lingüística.

É escopo do último dos problemas da mudança contemplados pela Teoria da

Variação e Mudança – o problema da implementação – a investigação das pressões de

caráter lingüístico e social que motivam o processo global da mudança, a fim de que se

possa desvendar o motivo por que o fenômeno de mudança não se implementou em um

dado momento e lugar.

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Na expectativa de aclarar um pouco a obscuridade de tal questão, Weinreich,

Labov & Herzog (2006: 124) advertem que a dificuldade natural em se predizer

hipóteses consistentes acerca de tal questionamento ocorre devido à circunstância de

que a mudança lingüística representa, também, uma mudança no comportamento de

uma sociedade.

Por todas as considerações efetuadas, certifique-se de que a presente

investigação, ao lançar mão do aporte teórico-metodológico da Sociolingüística

Laboviana conjugado aos postulados do conceito de cliticização, pretende, à luz dos

questionamentos há pouco apresentados, contribuir por examinar de forma especial o

problema dos fatores condicionantes relativo à colocação pronominal. Pela observação

do percurso diacrônico do fenômeno ao longo dos séculos XIX e XX, serão feitas,

quando possível, considerações atinentes, em maior ou menor medida, aos problemas da

transição, do encaixamento, da avaliação e da implementação.

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4. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Elucidam-se, no capítulo que agora se inicia, as questões precípuas concernentes

aos empreendimentos metodológicos que se fazem necessários para o desenvolvimento

do exame da ordem aqui efetuado.

Prestam-se, doravante, diversos esclarecimentos no que respeita às etapas

estabelecidas para a execução deste trabalho; aos corpora investigados – sobretudo às

particularidades envolvidas em sua composição –; à delimitação do fenômeno de

colocação à luz da variável dependente bem como dos grupos de fatores independentes

de natureza lingüística e extralingüística; assim como ao tratamento variacionista, que

contempla as atividades de coleta e tratamento de dados, análise-técnico computacional

e sistematização interpretativa dos resultados alcançados.

Sob essas colocações, acompanhem-se, pois, as seções subseqüentes.

4.1 As etapas percorridas para o desenvolvimento da análise variacionista

Convém registrar que o exame aqui efetuado desempenha todos os estágios

peculiares de uma investigação sociolingüística, quais sejam: (i) estabelecimento do

fenômeno a ser averiguado por meio da determinação da variável dependente; (ii)

composição de corpora criteriosamente constituídos de romances brasileiros e europeus

publicados no decurso dos séculos XIX e XX; (iii) obtenção de dados concernentes às

variantes esperadas no âmbito das lexias verbais simples e complexas por meio de

atividade de coleta; (iv) estipulação das variáveis de cunho lingüístico e extralingüístico

com seus respectivos fatores, os quais, possivelmente, podem motivar o evento em

variância; (v) codificação dos registros colhidos nas amostras examinadas mediante os

grupos de fatores internos e externos; (vi) tratamento técnico-computacional dos dados

submetidos à codificação segundo o pacote de Programas Goldvarb X; (vii)

interpretação analítica e sistematização dos resultados alcançados.

4.2 Descrição dos corpora

De modo a conferir credibilidade e confiabilidade às constatações que aqui se

promovem, faz-se imprescindível, para o exame empírico da ordem desenvolvido, a

análise de números consideráveis de registros que permitam testemunhar os casos de

colocação nas variedades brasileira e européia do Português dos séculos XIX e XX.

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Nesta investigação, elegem-se textos literários inscritos, exclusivamente, nas

características do gênero textual romance. No que respeita às particularidades desse

gênero, cumpre esclarecer que, por não corresponder às especificidades e às intenções

que aqui se pleiteiam estabelecer, não se realiza o debate acerca dos aspectos

controversos que se travam em estudos de cunho literário de feição crítica e

historiográfica a propósito da definição de romance.

Isso considerado, ressalte-se que o trabalho dissertativo aqui efetuado, mediante

o que se tem por consenso, concebe o romance literário como um gênero no qual impera

a longa narração descritiva de ações e peripécias exercidas por personagens fictícios.

Uma vez compreendido o romance segundo a definição mencionada, procedeu-se à

eleição de obras com feições narrativas cuja autoria correspondesse a brasileiros e

europeus.

Para a constituição dos corpora, consideraram-se, primeiramente, os anseios que

se pleiteavam atender, quais sejam: (i) estabelecimento exato do número de autores e

autoras a fim de que o controle da variável “gênero/sexo dos escritores contemplados”

pudesse ser tratado de modo comparável; (ii) os autores eleitos deveriam ser naturais

das cidades do Rio de Janeiro (Português do Brasil) e de Lisboa (Português Europeu) e

nelas residissem a maior parte de suas vidas; (iii) a publicação dos romances compostos

pelos escritores considerados deveria corresponder às seguinte fases: (a) século XIX –

fase 1 (1801-1833), fase 2 (1834-1866), fase 3 (1867-1900) –; (b) século XX – fase 4

(1901-1933), fase 5 (1934-1966), fase 6 (1967-2000)13

.

Verifique-se, pois, que os parâmetros supracitados – gênero/sexo, variedade,

fase – geram um total de 24 células sociolingüísticas (12 para a amostra brasileira e 12

para o corpus europeu) a serem preenchidas, como se desejava, com 4 escritores

representativos das literaturas brasileira e portuguesa, totalizando, assim, o número de

96 escritores.

Após longo investimento na tentativa de construção do corpus consoante os

critérios inicialmente planejados, foi absolutamente necessário redimensionar os

propósitos da investigação. O grande número de autores bem como as dificuldades em

contemplar romancistas representativos de cada época revelaram-se um impasse para

que a proposta inicial de composição das amostras se tornasse possível.

13

Cabe informar que a segmentação dos séculos nas fases discriminadas se baseou inicialmente nos

critérios de constituição do banco de dados VARPORT (cf. www.letras.ufrj.br/varport).

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Ressalte-se que, no Brasil, a autoria de romances passa a ganhar vulto a partir do

período correspondente à fase 2 apresentada, fato que impossibilitava a consideração do

primeiro intervalo de tempo do século XIX. Ademais, a produção feminina de romances

consagrados não é verificada com grande intensidade nas primeiras fases determinadas

de ambas as literaturas (em Portugal, por exemplo, a publicação de obras de autoria

feminina passa a revelar expressividade no século XX, principalmente após a ditadura

salazarista, cujo término data de 1974 com a Revolução dos Cravos), motivo pelo qual

não se pôde contemplar, em números precisos, a distribuição equiparada entre homens e

mulheres.

No que respeita às cidades concernentes ao nascimento dos literatos, não foi

possível, também, devido ao número necessário para o preenchimento das células

geradas, encontrar autores representativos exclusivamente do Rio de Janeiro e de

Lisboa, especialmente em função do curto prazo de tempo para a pesquisa efetuada.

Ademais, postulou-se que o propósito inicial não constituía condição essencial para o

cumprimento do objetivo central da presente investigação, que implica constatar a

colocação pronominal mediante a norma objetiva dos escritores citados na tradição

gramatical e indicados nos meios escolares como modelo de norma culta idealizada, e

não o de propor generalizações sobre a norma vernacular. Isso posto, justifica-se que o

exame desenvolvido não controle sistematicamente, na amostra estratificada, a região de

onde os autores são naturais (nem a respectiva data de seu nascimento). Desse modo, o

procedimento metodológico adotado passa a desconsiderar a exclusividade de autores

nascidos no Rio de Janeiro e em Lisboa14

.

Em face desses esclarecimentos, dada a defasagem no número de autores que

atendiam estritamente aos requisitos sociolingüísticos estipulados, a constituição final

dos corpora pauta-se nas seguintes condições expostas: (i) autores (homens ou

mulheres) representativos das literaturas brasileira e portuguesa, citados em sua maioria

em manuais gramaticais utilizados como modelo de norma; (ii) romancistas que tenham

por país de origem, respectivamente, Brasil e Portugal (nascidos em diferentes

localidades/estados das federações consideradas); (iii) a época/fase de publicação das

obras selecionadas deve datar entre os anos dos períodos redefinidos: (a) século XIX:

14

Reitere-se, uma vez mais, que, para a composição das amostras, não bastava o fato de os autores serem

naturais do Rio de Janeiro ou de Lisboa, mas os mesmos deveriam passar toda a sua vida ou, então,

grande parte dela em suas federações de origem.

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fase 1 (1834-1866), fase 2 (1867-1900); (b) século XX – fase 3 (1901-1933), fase 4

(1934-1966), fase 5 (1967-2000)15

.

Os parâmetros assim definidos têm por resultado 10 células (5 para o corpus

brasileiro e 5 para o europeu) que, uma vez atendidas, estabelecem o número de 40

escritores (4 autores por célula), desse modo distribuídos com suas respectivas obras:

Autores e obras contemplados em corpora brasileiro e europeu dos séculos XIX e XX16

Português do Brasil Português Europeu

Século XIX

→ Fase 1 (1834-1866)

Joaquim Manuel de Macedo – A moreninha

José de Alencar – Diva

Manuel Antônio de Almeida – Memórias de um

sargento de milícias

Bernardo Guimarães – O ermitão de Muquém

Século XIX

→ Fase 1 (1834-1866)

Camilo Castelo Branco – Coração, Cabeça e

Estômago

Arnaldo Gama – Honra ou loucura

Almeida Garrett – O arco de Sant’Ana

Alexandre Herculano – O Bobo

Século XIX

→ Fase 2 (1867-1900)

Júlia Lopes – A viúva Simões

Raul Pompéia – As jóias da coroa

Aluísio Azevedo – O cortiço

Machado de Assis – Quincas Borba

Século XIX

→ Fase 2 (1867-1900)

Júlio Dinis – As pupilas do Senhor Reitor

Fialho de Almeida – “O ninho de águia”

Eça de Queiroz – O primo Basílio

Trindade Coelho – “Sultão”

Século XX

→ Fase 3 (1901-1933)

Afonso Arinos – O mestre de campo

Rachel de Queiroz – O quinze

Lima Barreto – O triste fim de Policarpo Quaresma

Euclides da Cunha – Os sertões

Século XX

→ Fase 3 (1901-1933)

Aquilino Ribeiro – A batalha sem fim

Campos Monteiro – Camilo alcoforado

Raul Brandão – Húmus

Abel Botelho – Os Lázaros

Século XX

→ Fase 4 (1934-1966)

Dinah Silveira de Queiroz – A muralha

José Lins do Rego – Fogo morto

Guimarães Rosa – Grande Sertão: Veredas

Graciliano Ramos – Vidas Secas

Século XX

→ Fase 4 (1934-1966)

Augustina Bessa Luís – A Sibila

Alves Redol – Gaibéus

Vitorino Nemésio – Mau tempo no canal

José Cardoso Pires – O anjo Ancorado

15

Note-se que o estudo, por conta das justificativas prestadas, efetivamente contempla 5 fases em vez de

6, haja vista as dificuldades encontradas para a seleção de escritores no período de 1801-1833, primeira

proposta de fase 1 do século XIX. Ateste-se, assim, a determinação de dois períodos temporais para tal

século bem como de 3 fases para o século XX. Acrescente-se, ainda, a essas informações que a

segmentação dos séculos respeita o número aproximado de 32 anos para cada intervalo temporal,

intervalo que, consoante os preceitos sociolingüísticos, se mostra oportuno para se começar a vislumbrar

um possível fenômeno de mudança. 16

As edições adotadas assim como a primeira data de publicação das obras encontram-se pormenorizadas

no Anexo 1.

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Século XX

→ Fase 5 (1967-2000)

Nélida Piñon – A doce canção de Caetana

Lygia Fagundes Telles – As meninas

Érico Veríssimo – O prisioneiro

Jorge Amado – Tenda dos milagres

Século XX

→ Fase 5 (1967-2000)

José Saramago – O ano da morte de Ricardo Reis

Augusto Abelaira – O Bosque Harmonioso

Fernando Namora – O rio triste

Vergílio Ferreira – Para sempre

Quadro 1: Apresentação dos autores com suas respectivas obras contempladas nos corpora brasileiro e

europeu dos séculos XIX e XX

Constate-se que todas as obras arroladas correspondem a romances literários

(alguns publicados, primeiramente, em forma folhetinesca), conforme critério

anteriormente informado, salvo os escritos de Fialho de Almeida (“O ninho de águia”) e

de Trindade Coelho (“Sultão”), concebidos como contos. Todavia, julgou-se que a

adoção de tais textos não comprometeria a homogeneidade dos corpora, visto que os

contos comungam com o romance uma característica peculiar no que concerne a seu

caráter narrativo. A propósito da aproximação entre esses gêneros textuais, verifica-se

que, no Dicionário de Literatura: Literatura Brasileira, Literatura Portuguesa,

Literatura Galega, Estilística Literária (1987), dirigido por Jacinto do Prado Coelho, o

romance, no conceito mais generalizado, se distingue do conto e novela apenas em

extensão.

Para a eleição dos escritores adotados, diversos manuais foram consultados, tais

como: gramáticas, biobibliografias, artigos específicos de literatura, além das valiosas

sugestões concedidas por professores conceituados na área de estudos literários17

. No

propósito de averiguar a representatividade dos autores a serem contemplados,

analisaram-se, especificamente, as gramáticas de Rocha Lima (2005 [1972]), Cunha &

Cintra (2001 [1985]), bem como a de Bechara (2003 [1999]) a fim de observar quais

literatos eram citados como modelo de escrita em tais compêndios gramaticais.

Procedeu-se, na seqüência, à consulta de biobibliografias assim como de artigos

especializados em literatura com o propósito de identificar a naturalidade de mais de

cem autores18

que poderiam, a princípio, figurar dentre os nomes dos escritores

selecionados. Após a prática de todos esses procedimentos, definiram-se, então, os

17

O auxílio concedido pelos professores Antônio Carlos Secchin (UFRJ), Mônica Figueiredo (UFRJ) e

Luci Ruas (UFRJ) foram fundamentais para a constituição dos corpora examinados. 18

O caráter cosmopolita de vários escritores tornou-se outro impedimento para a composição dos

corpora. Alguns, apesar de nascerem no Brasil e em Portugal, foram residir em outros países ainda

crianças. De outro lado, parte dos autores tidos como representativos da literatura do PB e do PE não

nasceu nas unidades federativas destacadas; por esse motivo, não compõe as amostras concernentes às

variedades brasileira e européia do Português.

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autores arrolados acima – juntamente com suas obras de grande expressão –, os quais

são, efetivamente, brasileiros e portugueses que passaram (alguns ainda passam) a

maior parte de suas vidas em seu país de origem.

Com a finalidade de tornar os corpora ainda mais comparáveis para a

observação distribucional dos dados pelas variedades examinadas, estabeleceu-se que o

evento da colocação seria atestado em um domínio aproximado de 2000 palavras19

por

romance, considerando-se 1000 palavras iniciais bem como 1000 palavras finais de cada

obra. Note-se, pois, que esse controle resulta na investigação da ordem em contexto

constituído de mais de 80.000 vocábulos formais.

No que concerne às edições utilizadas, faz-se saber que se buscou acessar as

publicações princeps (ou seja, as primeiras edições das obras com aprovação dos

autores), consultadas na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro e no Real Gabinete

Português de Leitura. Quando da impossibilidade de examinar as publicações primárias,

adotaram-se edições críticas que se julgaram confiáveis.

A título de esclarecimento, convém pontuar que, em alguns casos, a coleta dos

dados foi realizada em publicações modernas20

. Resguarde-se, pois, o motivo de vários

registros do século XIX, por exemplo, serem, ao longo deste trabalho, citados com o

padrão ortográfico da Reforma de 1971 com vigência a partir de 1972. Entretanto, tais

edições foram comparadas com suas respectivas edições primárias quando possível.

No que toca, especificamente, à obtenção dos dados, colheram-se registros de

clíticos pronominais em domínios de narrador personagem (1ª pessoa) – romances com

foco narrativo em primeira pessoa – bem como de narrador observador – obras

narrativas em 3ª pessoa – e em falas de personagens, não se considerando epístolas,

cartas ou quaisquer outros contextos que interrompessem o fluxo da narração. Cada

domínio, há pouco discriminado, mostra-se controlado por meio da variável vozes do

romance, conforme se elucida na seção em que se arrolam as variáveis independentes

extralingüísticas examinadas.

19

Certifique-se de que, aqui, se compreende “palavra” sob sua acepção sinonímica de vocábulo formal,

considerando, assim, todo item que se delimita pelos espaços e/ou pontuações existentes nos domínios

textuais observados. 20

Informa-se que alguns romances de domínio público (ou seja, obras que integram uma determinada

herança cultural, cujos direitos econômicos não são mais de exclusividade de quaisquer indivíduos e

entidades; fazem parte, também, desse rol, obras com publicação licenciada por parte dos titulares de seus

direitos autorais) foram consultados via on-line, como, por exemplo, no endereço eletrônico do Governo

Federal do Brasil: <www.dominiopublico.gov.br> (Acessado em 2008 / 2009), sendo posteriormente

cotejados com suas edições primárias.

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Por intermédio de todas as elucidações postas, contemple-se, no quadro a seguir,

a realidade dos corpora investigados. A delimitação dos contextos apresentados na

tabela e os valores indicados serão tratados nas próximas seções e no capítulo referente

à análise dos resultados.

Quadro 2: Distribuição geral do número de dados colhidos nas variedades brasileira e européia do

Português dos séculos XIX e XX pelos contextos sob análise

4.3 Delimitação da variável dependente

Consoante as ponderações realizadas na seção 3.2 a propósito do conceito de

variável dependente, promove-se, agora, a elucidação de seus fatores constituintes,

discriminando-se as variantes concernentes ao fenômeno da ordem em ambientes de

uma só forma verbal – lexias verbais simples – bem como nos contextos de lexias

verbais complexas – mais de uma forma verbal.

4.3.1 Os fatores da variável dependente em contexto de Lexias Verbais Simples

Em domínios integrados por uma única forma verbal, o evento da colocação

pode ser desmembrado nas posições pré-verbal / proclítica (clítico precedente ao

verbo), intraverbal / mesoclítica (clítico na intermitência da forma verbal) e pós-

verbal / enclítica (clítico posposto ao item verbal) consoante as possibilidades abaixo

ilustradas:

21

As estruturas com verbos sensitivos e causativos foram coletadas em separado para uma futura análise

específica, devido às particularidades da colocação em tais contextos. Em função dos limites de execução

deste trabalho, tais construções não foram analisadas.

Total de dados: 3478 casos de colocação pronominal

Português do Brasil Português Europeu

1663 dados 1815 dados

Lexias Verbais

Simples

Lexias Verbais

Complexas

Estruturas com

verbos

causativos e

sensitivos21

Lexias Verbais

Simples

Lexias Verbais

Complexas

Estruturas com

verbos

causativos e

sensitivos

1427

dados

194

dados

42

dados

1538

dados

237

dados

40

dados

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(i) Ordem pré-verbal / próclise: Agora se elucidam as particularidades da ordem pronominal.

(ii) Ordem intraverbal / mesóclise: Elucidar-se-ão as particularidades da ordem pronominal.

(iii) Ordem pós-verbal / ênclise: Elucidam-se as particularidades da ordem pronominal.

Ateste-se que as minúcias relativas às variantes destacadas se encontram

contempladas no segmento em que se promove a análise dos resultados obtidos.

4.3.2 Os fatores da variável dependente em contexto de Lexias Verbais Complexas

No que tange ao fenômeno variável no âmbito das estruturas com mais de uma

forma verbal, é oportuno esclarecer, de antemão, que, para o exame da ordem, se

procede à constituição de inventários nos quais se agrupam as construções complexas

segundo a forma do verbo principal que apresentam. A análise da cliticização em

conglomerados verbais considera, assim, o posicionamento dos clíticos em complexos

integrados por verbo principal no gerúndio, no particípio, ou no infinitivo.

Feitos tais esclarecimentos, verifique-se que as lexias verbais complexas

gerundivas concedem ao clítico quatro principais22

possibilidades de posicionamento, a

saber: colocação pré-LVC (pronome proclítico a v1), intra-LVC com hífen (pronome

enclítico a v1), intra-LVC sem hífen (pronome, potencialmente, proclítico a v223

) bem

como pós-LVC (pronome enclítico a v2), todas, a seguir, exemplificadas:

22

Diz-se quatro possibilidades principais, não exclusivas somente de complexos com gerúndio, mas

também com infinitivo (e, em certa medida, com particípio, conforme se verá), visto que não se apresenta,

por ora, a variante concernente à mesóclise morfologicamente marcada no verbo principal como em

“Estar-se-á exemplificando a colocação dos pronomes átonos”. 23

Por razão da escassez de dados com elementos intervenientes entre os verbos do complexo, não se

estabelece, na presente análise, a separação de casos do tipo “Está agora se exemplificando a colocação”

do registro “Está se exemplificando a colocação”, casos esses representados em Martins (2009) como

v1(X)clv2 e v1clv2, respectivamente. Interpretam-se, aqui, essas colocações como exemplos da variante

intra-LVC sem hífen (v1 cl v2) e faz-se o controle de elementos intervenientes como variável

independente.

A propósito das várias possibilidades de colocação, pontue-se, segundo os preceitos da cliticização

preconizadas por Klavans (1985) – principalmente no que respeita ao Parâmetro 3 de cliticização

fonológica – que o clítico pode, fonologicamente, estar ligado não necessariamente ao seu hospedeiro

verbal, fato que também pode ser examinado no âmbito das lexias verbais simples. Isso dito, compreenda-

se, assim, que outras possibilidades de variantes podem ser elencadas:

(i) Aqui se está exemplificando a colocação. (Clítico ligado ao item aqui.)

(ii) Está se agora exemplificando a colocação. (Clítico ligado ao verbo está.)

(iii) Está se agora exemplificando a colocação. (Clítico ligado ao item agora.)

(iv) Está agora se exemplificando a colocação. (Clítico ligado ao item agora.)

(v) Está agora se exemplificando a colocação. (Clítico ligado ao verbo exemplificando.)

(vi) Está agora exemplificando-se a colocação. (Clítico ligado ao verbo exemplificando.)

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(i) cl v1 v2: Aqui se está exemplificando a colocação dos pronomes átonos.

(ii) v1-cl v2: Está-se exemplificando a colocação dos pronomes átonos.

(iii) v1 cl v2: Está se exemplificando a colocação dos pronomes átonos.

(iv) v1 v2-cl: Está exemplificando-se a colocação dos pronomes átonos24

.

No domínio das estruturas verbais complexas com particípio, percebam-se três

maneiras de o clítico se adjungir aos itens verbais, tendo em vista a não-ocorrência da

variante v1 v2-cl:

(i) cl v1 v2: Aqui se tem avaliado o evento da ordem.

(ii) v1-cl v2: Tem-se avaliado o evento da ordem.

(iii) v1 cl v2: Tem se avaliado o evento da ordem.

Saliente-se, consoante o prescrito nos compêndios gramaticais, a não

procedência da colocação enclítica ao verbo auxiliar no particípio.

No que tange aos fatores da variável dependente em complexos constituídos de

verbo principal no infinitivo, considerem-se as mesmas posições atestadas para as

formas gerundivas:

(i) cl v1 v2: Agora se podem atestar os pormenores da cliticização.

(ii) v1-cl v2: Podem-se atestar os pormenores da cliticização.

(iii) v1 cl v2: Podem se atestar os pormenores da cliticização.

(iv) v1 v2-cl: Podem atestar-se os pormenores da cliticização.

As particularidades relevantes acerca da ordem nas construções gerundivas,

participiais e infinitivas encontram-se detalhadas na seção analítica da ordenação dos

clíticos (capítulo 5).

(vii) Está agora exemplificando-se a colocação. (Clítico ligado ao item a.)

Dado que o exame presente se fundamenta no Parâmetro 2 postulado por Klavans (1985) acerca da

natureza morfossintática da colocação, não se consideram aqui as possibilidades de ligação fonético-

fonológica. 24

Apesar de determinadas variantes soarem possivelmente estranhas entre os brasileiros, sublinhe-se sua

possibilidade em termos potenciais na Língua Portuguesa.

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Considere-se, por ora, que, quando se trata do tratamento da regra variável em

lexias verbais complexas, duas questões costumam ser trazidas ao debate: (i) o fato de

determinadas variantes soarem estranhas em dada variedade do Português; e (ii) a

hipótese de que nem sempre o valor referencial entre as formas controladas se

mantenha.

Quanto à primeira questão, acredita-se que ela não constitua impedimento para o

tratamento do fenômeno como variável, tendo em vista que, levando em conta o

conjunto de possibilidades de concretização na Língua Portuguesa, todas as formas

alternantes devam ser examinadas e podem ser registradas com maior ou menor

produtividade, em função não só da variedade lingüística, mas também do contexto. Se

houver de fato impedimento de o clítico aparecer nas três posições, como o que ocorre

nas construções causativas/sensitivas (mandei-o sair; o mandei sair, mas não mandei

saí-lo, por exemplo), os dados não devem ser considerados na análise geral.

No que se refere à manutenção do valor de verdade, admite-se que, em certas

estruturas complexas, o sentido original da sentença pode ficar comprometido ao ser

alterada a posição do clítico. A título de ilustração, cite-se o caso da interpretação

indeterminadora em pode-se dirigir a (= é permitido/ é possível dirigir), que, embora

não seja impossível, não parece ser a primeira leitura evocada em pode dirigir-se a. Esta

estrutura parece candidata a receber, em primeiro lugar, ao menos no Português do

Brasil, uma interpretação como a de um se reflexivo ou inerente (= alguém pode

encaminhar-se a). Apesar de hipoteticamente haver as referidas tendências

interpretativas, não se pode negar que as quatro posições são virtualmente possíveis em

ambas as interpretações, razão pela qual se devem considerar tais estruturas na análise

do fenômeno, buscando depreender o padrão de comportamento em cada variedade

lingüística.

Em face da apresentação dos fatores constituintes da variável dependente no

âmbito de estruturas verbais complexas, tomem-se, a seguir, as particularidades e

problematizações concernentes às construções que, aqui, se concebem como complexos

verbais.

4.3.2.1 A concepção de Lexias Verbais Complexas pelo confronto entre algumas

perspectivas

Devido ao anseio de se discorrer acerca das categorias a que determinados

verbos da Língua Portuguesa pertencem, a comunidade lingüística vem testemunhando

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o desenvolvimento de trabalhos que contemplam, como proposta central de

investigação, o tema referente ao conceito de complexo verbal25

, compreendido, neste

trabalho dissertativo, como uma construção integrada por duas ou mais formas verbais

que estabelecem entre si uma unidade sintagmática com algum grau de integração

sintático-semântica.

De modo a apresentar algumas das problematizações que a noção de lexias

verbais complexas enseja, constatem-se as seguintes estruturas26

: (i)“Ana quer

alimentar seu filho”; (ii) “Ela tentou alimentar seu filho”; (iii) “Ela pode alimentar seu

filho”; (iv) “Uma mãe tem de alimentar seu filho”; (v) “A mulher há de alimentar seu

filho”; (vi) “Maria deve alimentar seu filho”.

Os enunciados supracitados possivelmente suscitam um confronto de posições

no que respeita à consideração das sentenças ilustradas como um período simples ou

como um período composto. Isso porque, caso se concebam as formas destacadas como

verbo principal, admite-se que seu argumento interno é preenchido por um sintagma

oracional com predicador27

verbal no infinitivo. De outro lado, avaliando-se tais

elementos como verbo auxiliar, reconhece-se que esses operam sobre um predicador

verbal no infinitivo constituindo com ele uma unidade verbal complexa (Vauxiliar +

Vauxiliado), ou seja, uma perífrase verbal.

Nos termos de Perini (2001), um item verbal é tido como auxiliar28

quando não

apresenta traços próprios de transitividade. Assim, o caráter transitivo observado em um

predicado simples é comparável àquele verificado em um predicado complexo no qual o

auxiliar figura. A título de ilustração, o enunciado “está escrevendo”, em “O jornalista

está escrevendo os artigos”, possibilita atestar (i) a transitividade do verbo escrever, que

25

Informa-se que, neste trabalho, as denominações “complexo verbal”, “conglomerado verbal”,

construções/estruturas verbais complexas”, “lexias verbais complexas”, “locuções verbais” ou, ainda,

“perífrases verbais” são tomadas como sinonímicas não se considerando, por isso, as particularidades que

cada termo, possivelmente, pode sugerir. 26

Os exemplos arrolados são inspirados em Machado Vieira (2004). 27

O termo predicador é, aqui, utilizado para expressar uma forma verbal capaz de projetar os argumentos

necessários que completem sua predicação. A título de exemplificação, tome-se a seguinte sentença: “Os

avós entregaram presentes aos netos.”. Perceba-se, por este enunciado, que os espaços sintáticos da

oração são constituídos pelos itens projetados pelo verbo entregaram/entregar, responsável por predicar

o argumento externo (sujeito) “os avós” e os argumentos internos “presentes” (objeto direto) e “aos

netos” (objeto indireto). 28

Os compêndios tradicionais, como, por exemplo, o de Cunha & Cintra (2001: 394-398), compreendem

como auxiliares os verbos indicados nas estruturas agora arroladas: (i) construções observadas com maior

freqüência: ter/ haver + particípio ou infinitivo, ser + particípio e estar + particípio, estar + gerúndio ou

estar + (“para” ou “por”) + infinitivo; (ii) outros auxiliares: ir + gerúndio, ir + infinitivo, vir + gerúndio,

vir + (“a” ou “de”) + infinitivo, andar (semelhante a estar) + gerúndio ou andar + (a) + infinitivo, ficar +

particípio (estrutura de voz passiva), ficar + gerúndio, ficar + (“a” ou “por”) + infinitivo, acabar + de +

infinitivo.

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projeta os espaços sintáticos de sujeito (o jornalista) e de objeto direto (os artigos), bem

como (ii) a natureza não-transitiva da forma está/estar, que confere à ação o caráter

aspectual.

As ponderações de Perini (2001) vão ao encontro, em certa medida, dos critérios

estabelecidos por Barroso (1994) para a delimitação de um verbo quanto ao seu aspecto

auxiliar, critérios esses, abaixo discriminados, no quadro adaptado de Vieira (2002:

243):

Critérios de auxiliaridade Características do verbo auxiliar

Perda sêmica do auxiliar

(critério semântico)

O elemento modificador não possui significado léxico, mas apenas

instrumental (Ex.:„Voltei a ler O nome da Rosa‟, em que voltei/voltar perdeu

o sema „movimento no espaço‟).

Unidade significativa

A estrutura em auxiliação possui unidade significativa: o primeiro elemento

desempenha a função gramatical e o segundo a função lexical (Ex.: „Desatou a

rir à gargalhada‟, em que desatou/desatar expressa a face inceptiva, e rir à

gargalhada, a significação lexical ou objetiva).

Sujeito do verbo

Os verbos da construção exibem o mesmo sujeito (Ex.: „Começou a

trabalhar‟, em que o infinitivo expressa a ação praticada pelo sujeito e o verbo

que o precede representa a modalidade – de aspecto – da ação expressa pelo

infinitivo).

Ordem dos termos na

oração

O verbo flexionado é seguido de uma forma no particípio, no infinitivo ou no

gerúndio (Ex.: „Estava estudando‟.)

Restrição ao critério: Não é de rendimento funcional elevado: construções

como „fala dormindo‟ se apresentam na mesma ordem e não contêm um

auxiliar.

Restrição paradigmática

O verbo auxiliar é defectivo.

Restrição ao critério: Não afeta todas as classes de auxiliares. As formas que

costumam faltar são o imperativo e o particípio passado. Este é próprio da

conjugação central; o primeiro concretiza-se, por exemplo, em „começa a

estudar a lição‟.

Separabilidade na

identificação dos auxiliares

Um grupo verbal constituindo uma unidade semântica, tal como uma lexia,

seria inseparável.

Restrição ao critério: Nem sempre tal critério é aplicável, pois pode haver

dissociação, como ocorre em „estava eu a dormir, quando tocou o telefone‟ ou

„o pai continua, todavia, a ralhar com o filho‟.

Comportamento em bloco

em face das transformações

passiva e interrogativa

A „apassivação‟ e a „interrogação‟ não afetam cada um dos verbos

individualmente, mas os dois como se de um só se tratasse (Ex.: „Estou a

escrever este trabalho.‟; “O trabalho está a ser escrito por mim.‟; „O que estás

a escrever?‟).

Restrição ao critério: Trata-se de um critério “essencial, mas não absoluto”.

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Freqüência de ocorrência

Usualmente, o verbo auxiliar vem acompanhado de infinitivo, gerúndio ou

particípio.

Restrição ao critério: Não se trata de um critério essencial na delimitação do

auxiliar, uma vez que há verbos auxiliares que aparecem com freqüência e

outros que só aparecem em certos tempos e modos.

Quadro 3: Sistematização dos critérios de auxiliaridade propostas por Barroso (1994) apud Vieira

(2002: 243)

Dos critérios arrolados, Barroso avalia os três primeiros como primordiais para a

caracterização do verbo auxiliar pertencente a uma perífrase verbal.

Ainda no que toca à delimitação de uma possível forma auxiliar, Mateus et alii

(2003) advogam que construções do tipo ter + particípio e ser + particípio possuem

verbos tipicamente auxiliares (ter e haver). A respeito, especificamente, dos itens

querer, ir, haver de e poder, propõem, por meio da discussão acerca da integração das

formas verbais em um complexo ou da manutenção de unidades predicativas distintas,

as propriedades subseqüentes:

(i) Em uma construção verbal complexa, os elementos auxiliares não

demonstram caráter de seleção semântica e temática, sendo o segundo item do

complexo a forma responsável pela seleção dos argumentos, dentre eles o sujeito;

(ii) Em orações simples integradas por um verbo auxiliar, dá-se, na maioria das

vezes, a impossibilidade de substituição da segunda parte da cláusula pelo

complementizador que (Ex.: O pesquisador tinha ido à conferência, donde *O

pesquisador tinha que ia à conferência);

(iii) Em estruturas constituídas por auxiliar, uma vez que se concebem tais

estruturas como uma única oração, não se faz possível o emprego de dois advérbios de

tempo de mesma circunstância (Ex.: *Ontem o pesquisador tinha ido à conferência

hoje). Pontue-se que, a depender do caráter semântico do contexto, o referido

procedimento pode ser aceitável em períodos que apresentem duas orações (Ex.: Ontem

o pesquisador queria ir à conferência hoje. Dessa construção não se pode interpretar,

precisamente, se o pesquisador tem, ainda, o desejo de ir à conferência);

(iv) No domínio de uma única oração, postula-se que, à esquerda do primeiro

verbo, só se admite um advérbio de negação frásica, o qual modifica toda a sentença

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(Ex.: Os turistas não tinham visitado o museu. Essa ilustração adaptada em Os turistas

tinham não visitado o museu torna-se agramatical, corroborando a existência de uma

cláusula de predicação simples). Em períodos com duas orações, pode-se aferir a

possibilidade de existência de advérbio de negação em ambas as cláusulas: Os turistas

não quiseram não visitar o museu;

(v) O segundo verbo de uma estrutura em auxiliação bem como seus

complementos não permitem ser substituídos pelo pronome demonstrativo “isso” ou

pelo clítico “o” (Ex.: *O pesquisador tinha ido à conferência, mas os turistas não o

tinham). Em contrapartida, em estruturas de complementação, percebe-se a

possibilidade de o segundo domínio da predicação ser substituído, por exemplo, pelo

pronome “o” com valor demonstrativo ou por “isso” (Ex.: O pesquisador quis ir à

conferência, mas os turistas não o quiseram (quiseram isso));

(vi) Em conglomerados verbais, a admissão de ocorrência de pronome átono na

adjacência do primeiro verbo indicaria seu caráter de auxiliaridade. Estruturas bi-

oracionais costumam apresentar a alocação de pronomes ao segundo verbo, embora os

clíticos possam ocupar ora a adjacência de v1 ora a de v2 (Ex.: O pesquisador não tinha

feito-os – a agramaticalidade dessa sentença não se procede em: O pesquisador quis

fazê-lo).

Mateus et alii (2003), à luz das propriedades apresentadas, pontuam que algumas

construções são de complementação verbal, ou seja, a categoria selecionada é de caráter

frásico apesar do item verbal no infinitivo, assim como em sentenças constituídas pelo

verbo querer.

As estudiosas classificam verbos que ora atendem e ora não atendem às

particularidades supracitadas como semi-auxiliares, tais como: os aspectuais estar,

chegar, começar, acabar, continuar e as formas temporais ir / haver de + infinitivo.

Quanto aos itens dever, poder e ter de/que, as autoras, pela razão de essas

formas verbais apresentarem características que as aproximam de verbos principais e, ao

mesmo tempo, revelarem certo grau de defectividade, consideram tais verbos como

elementos de natureza híbrida.

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Machado Vieira (2004), também em referência ao caráter de auxiliaridade

verbal, postula que algumas unidades (como ter e haver + particípio em estrutura de

tempo composto) são concebidas como membros prototípicos do inventário de

auxiliares. Consoante a pesquisadora, os elementos verbais são tidos como auxiliares,

uma vez que atendam os seguintes parâmetros listados:

(i) As construções em que se verificam esses verbos são instâncias de períodos

simples, ou interpretadas como tal;

(ii) Quanto mais dependente do constituinte adjacente – responsável pela

projeção de espaços sintáticos, isto é, da predicação em um enunciado –, tanto mais um

verbo se afasta de seu caráter lexical e assume função gramatical;

(iii) Quanto menos colabora para impor restrições de seleção semântica e/ou

atribuir papel temático ao constituinte que tenha relação gramatical de Sujeito com o

núcleo da predicação, maior o caráter auxiliar da forma verbal;

(iv) Quanto maior a extensão de seu domínio de atuação – ou seja, a

possibilidade de se combinar com elementos auxiliados que apresentem qualquer

configuração semântica29

e/ou sintática –, maior seu caráter instrumental;

(v) Os constituintes verbais com certo grau de auxiliaridade passam a possuir

distribuição lexical, em certa medida, limitada, visto que pertencem a um conjunto de

itens de comportamento restrito.

É, sob a observação desses critérios, que Machado Vieira (2004) propõe, além

das estruturas com ter / haver + particípio, uma escala que contempla cinco subclasses

de verbos (semi-)auxiliares, como se exibem no quadro que se segue:

Graus de afastamento do pólo de auxiliaridade

→1º grau de afastamento

Ser seguido de particípio (em estruturas de voz passiva analítica).

29

Um verbo auxiliar prototípico não limitaria a seleção do elemento auxiliado a uma determinada classe

semântica.

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→2º grau de afastamento

Estar, vir, ir, ficar, andar em construções com Vpredicador no gerúndio.

Ir, vir, haver (de) em construções com Vpredicador no infinitivo.

→3º grau de afastamento

Poder, dever modais em construções com Vpredicador no infinitivo.

Estar, costumar, começar, chegar seguidos da preposição a em construções com Vpredicador

no infinitivo.

→4º grau de afastamento

Ter (de/que) modal em construções com Vpredicador no infinitivo.

Acabar (de/por) em construções com Vpredicador no infinitivo.

→5º grau de afastamento

Tentar, querer, conseguir, ousar, pretender seguidos de Vpredicador no infinitivo.

Mandar, fazer, deixar causativos em construções com Vpredicador no infinitivo.

Ver perceptivo/sensitivo em construções com Vpredicador no infinitivo.

Quadro 4: Continuum de auxiliaridade proposto por Machado Vieira (2004)

Com base nas propostas de tratamento da auxiliaridade verbal ora sintetizadas,

esta pesquisa, uma vez considerada a pluralidade de estruturas que podem ser

concebidas como complexos verbais, contempla qualquer construção constituída por

mais de um item verbal com algum grau sintático-semântico de integração, na qual se

observa a possibilidade de alternância dos clíticos em qualquer das posições

discriminadas em 4.3.2. Isso posto, certifique-se de que os dados desta investigação

abarcam, além dos auxiliares prototípicos (como ter e haver + particípio), itens verbais

considerados semi-auxiliares bem como verbos que atendem a restritas propriedades de

auxiliaridade (como querer + infinitivo, construção mais próxima do eixo de

lexicalidade).

Conforme se salienta mais adiante (seção 4.4.2), controlam-se os vários tipos de

complexos verbais mediante a variável tipo de lexia verbal complexa, contemplando-se,

pormenorizadamente, cada construção averiguada nas amostras a partir de fatores

distintos. Pela razão dos parcos números de dados das estruturas colhidas bem como

pelas semelhanças que alguns complexos apresentam entre si, congregam-se,

posteriormente ao exame individual de cada lexia, as construções nas mesmas

categorias apresentadas por Vieira (2002), a saber: (i) tempos compostos (juntamente

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com algumas construções aspectuais como estar / ir + gerúndio, lexias essas avaliadas

em vários estudos de auxiliaridade como domínios de alta integração entre os verbos

auxiliar e principal), (ii) complexos modais e aspectuais e (iii) complexos bi-oracionais

(constituídos de verbos volitivos/optativos ou declarativos) com mesmo referente

sujeito.

Haja vista que esta análise se inscreve nos princípios preconizados pela

Sociolingüística de orientação Laboviana, faz-se imprescindível à investigação de

domínios verbais em que a posição dos pronomes esteja em variação segundo os fatores

apresentados na seção relativa à variável dependente. Isso considerado, ateste-se que

não se contabilizam, entre os casos de colocação em estruturas complexas, os registros

de clíticos em sentenças constituídas de verbos causativos/sensitivos (como mandar /

ver + infinitivo), visto que essas construções não admitem as quatro posições esperadas

no âmbito das lexias verbais complexas como sinônimas mediante as várias

combinações que realizam com os pronomes (Ex.: Mandei-o ler na sentença Mandei-o

ler o livro não apresenta, por exemplo, uma relação de equivalência semântica com

Mandei lê-lo).

Feitas todas essas considerações, visa-se a corroborar o postulado de que a

ordem dos pronomes átonos, especialmente em conglomerados verbais, se revela com

comportamento diferenciado entre as variedades brasileira e européia do Português no

decorrer das fases observadas. No que respeita especificamente às variantes complexas

v1-cl v2 e v1 cl v2, advoga-se que esta última ocorra em maior número no Português do

Brasil, sendo a ordem intra-LVC com hífen (v1-cl v2) a predominante no Português

Europeu.

À luz de tudo o que foi exposto, verifiquem-se, na seqüência, os grupos de

fatores lingüísticos e extralingüísticos controlados no tratamento da ordem aqui

promovido.

4.4 Descrição das variáveis independentes: as pressões sociais e estruturais

motivadoras do fenômeno em variância

No propósito de pormenorizar os grupos de fatores de cunho lingüístico e

extralingüístico intimamente relacionáveis ao fenômeno variável da ordem no PB e no

PE – variedades cujos dados são examinados em separado por serem concebidas como

normas de uso distintas –, arrolam-se, na presente subseção, as variáveis independentes,

aqui eleitas, para o estudo descritivo da colocação, tendo por amparo a concepção de

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que uma investigação sociolingüística possui por um de seus escopos a aferição do grau

de estabilidade da variação ou de sua evolução para mudança lingüística, por meio do

diagnóstico dos possíveis fatores relevantes ou irrelevantes ao comportamento

sistemático das variantes sob análise.

De modo a avalizar a importância da conjugação das variáveis lingüísticas e

extralingüísticas para o tratamento de um fenômeno em variabilidade ou em mudança,

considerem-se os termos subscritos:

A contribuição das forças estruturais, internas para a difusão efetiva da mudança

lingüística, como formalizado por Martinet (1955), deve ser naturalmente a primeira

preocupação para qualquer lingüista que esteja investigando esses processos de

propagação e regularização. Contudo, uma explicação das pressões estruturais

dificilmente pode contar toda a história. Nem todas as mudanças são altamente

estruturadas, e nenhuma mudança acontece num vácuo social. Mesmo a mais sistemática

mudança em cadeia ocorre com uma especificidade de tempo e lugar que demanda uma

explicação. (LABOV, 1972 [1963]: 2).

Em face do exposto acerca das variáveis independentes que subjazem a

manifestação de usos lingüísticos alternativos, cumpre declarar que, para a constituição

do rol dos grupos de fatores estruturais e sociais contemplados no estudo presente, se

fez imprescindível um exame preliminar dos contextos constituídos de dados de clíticos

pronominais considerando a natureza dos corpora utilizados.

Apresentam-se, a seguir, as variáveis lingüísticas e extralingüísticas adotadas

nesta investigação, reiterando a advertência de que, em conseqüência da especificidade

da colocação em domínios de lexias verbais simples e de estruturas verbais complexas,

não se procedeu, por vezes, à atribuição dos mesmos grupos de fatores estruturais para a

observação da ordem nos dois ambientes referidos.

4.4.1 Grupos de fatores de natureza extralingüística

Para o controle de possíveis interferências sociais no fenômeno analisado,

propõem-se, como prováveis condicionadores da colocação, as variáveis

extralingüísticas:

→ “Vozes do romance” – trata-se das instâncias concernentes ao aspecto narrativo das

obras adotadas, conforme pontuado na seção 4.2, agora reiteradas: (a) narrador

personagem (1ª pessoa) [Ex1.: Ao retirar-me, o olhar da menina [...] acompanhou-me até que

desapareci na porta. [JAl-PB-LVS-19] 30

]; (b) narrador observador (3ª pessoa) [Ex2.: Assim o

30 Os dados investigados, respeitados os parâmetros de constituição dos corpora, conforme o descrito na seção 4.2,

identificam-se por meio de uma notação que discrimina, respectivamente, (i) a abreviatura onomástica do escritor

que produziu tal registro – elucidada no índice de abreviaturas contido na parte pré-textual do presente trabalho –

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entendera José das Dornas, que foi amestrando o seu primogênito e foi preparando-o [...][JD-PE-LVC-29]];

(c) personagem [Ex3.: – Foi ela que me recomendou aqueles dois quadrinhos, quando andávamos, os

três, a ver coisas para comprar. [MA-PB-LVS-29]]. A análise da presente variável justifica-se pelo

anseio de constatar, em que medida, os domínios narrativos podem interferir na ordem

pronominal.

→ Autores contemplados – saliente-se que o rol de autores selecionados se expõe à

seção 4.2, referente à descrição dos corpora. Pretende-se, por meio desse grupo de

fatores, atestar se o caráter subjetivo da escrita individual, que implica o estilo próprio

de cada escritor, opera de modo significativo no fenômeno variável.

→ Gênero/sexo dos autores eleitos – como se esclareceu à seção 4.2, apesar da não

equivalência no número de escritores e escritoras, promove-se, em certa medida, o

controle dessa variável pelos fatores (i) masculino e (ii) feminino, a fim de observar se

homens e mulheres apresentam ou não diversidade na realização da ordem dos clíticos

pronominais.

→ Época/fase de publicação das obras adotadas – considere-se, uma vez mais, a

investigação da ordem por cinco fases, quais sejam: fase 1 (1834-1866) e fase 2 (1867-

1900) – para o século XIX – assim como fase 3 (1901-1933), fase 4 (1934-1966) e fase

5 (1967-2000) – para o século XIX. Postula-se que o fenômeno da ordem,

principalmente no que toca às lexias verbais complexas, se revelaria de modo distinto

no PB e no PE ao longo das fases averiguadas, conforme se propõe em trabalhos

diacrônicos sobre o fenômeno (cf. capítulo 2).

→ Séculos investigados – O exame diacrônico controla, ainda, as unidades temporais

por século – (i) XIX e (ii) XX –, no propósito de compactar as fases discriminadas e

observar com maior clareza a colocação nessas duas grandes instâncias.

Aos grupos de fatores elencados, associem-se as variáveis lingüísticas abaixo

discriminadas.

[Ex.: MA = Machado de Assis / EQ = Eça de Queiroz], (ii) a variedade do português [Ex.: PB = Português do

Brasil / PE = Português Europeu], (iii) o domínio em que a colocação se manifesta [Ex.: LVS = Lexia Verbal

Simples / LVC = Lexia Verbal Complexa / C = Estrutura com verbo Causativo / S = Estrutura com verbo Sensitivo],

(iv) a fase em que tal dado foi realizado [Ex.: 1, 2, 3, 4, 5 = Fases 1, 2, 3, 4, 5 respectivamente], (v) bem como o

século correspondente à ocorrência exemplificada [Ex.: 9 = século XIX e 2 = século XX]. Registre-se, também,

que as exemplificações dos casos de colocação obtidos nos corpora analisados são numeradas de acordo com cada

capítulo, não sendo, assim, os exemplos indicados a partir de uma numeração corrida por todo o trabalho.

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4.4.2 Grupos de fatores de natureza lingüística

De forma a pontuar as variáveis estruturais comuns e restritas ao tratamento da

colocação no âmbito das lexias verbais simples e dos complexos verbais, recorre-se, a

seguir, a um esboço esquemático dos grupos de fatores abordados.

À luz da representação estabelecida, relacionam-se os fatores constitutivos de

cada variável lingüística observada com suas respectivas hipóteses e exemplificações.

Natureza da oração

A fim de que a manifestação da ordem fosse verificada mediante os contextos

oracionais em que os clíticos se fizeram presentes, estabeleceu-se um paralelo entre os

modelos tradicionais de oração33

, considerando-se sua qualidade de (i) independente34

31

Por meio desta variável, no que concerne ao domínio dos complexos verbais, tem-se por consideração o

verbo auxiliar da estrutura complexa. 32

Saliente-se que os supostos grupos de fatores referentes ao número de formas verbais auxiliares e à

forma do verbo principal foram contemplados inicialmente como variáveis independentes, norteadoras da

codificação dos dados. Com o avanço da análise, verificou-se que tais variáveis seriam fundamentais para

conhecer os tipos de complexos e seu comportamento. Desse modo, esses dois grupos de fatores serviram

para, a partir da codificação inicial, isolar os poucos dados de complexos com mais de uma forma auxiliar

e separar o banco de dados de LVC em três amostras, a dos complexos com particípio, com gerúndio e

com infinitivo. 33

Nesta análise, agregam-se aos padrões tradicionais de oração as estruturas optativas – por meio das

quais se exprime um desejo (Ex.:Deus o proteja.) – bem como as sentenças clivadas, que, segundo Braga

(1991) apud Vieira (2002), admitem seis subtipos de clivagem, a depender dos critérios de distribuição

dos constituintes, do padrão entonacional, da localização do acento primário e da função do elemento

focalizado. Eis, então, os possíveis modelos de clivagem: (a) sentença clivada stricto sensu (Ex.: É isso

Natureza da oração

Presença/ausência de possível

elemento proclisador

Distância entre possível elemento

proclisador e sequência

constituída de clítico e

verbo/complexo verbal

Tempo e modo das formas

verbais31

Tipo de clítico pronominal

Tonicidade dos itens verbais Número de itens (semi-)auxiliares

do complexo verbal

Forma do verbo principal (não-

flexionado)32

Presença / ausência de elementos

intervenientes na estrutura verbal

complexa

Tipo de lexia verbal complexa

Variáveis Lingüísticas

Lexias Verbais Complexas Lexias Verbais Simples

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versus dependente; (ii) coordenada versus subordinada; (iii) desenvolvida versus

reduzida, no intuito de corroborar a hipótese de que a colocação proclítica/pré-complexo

verbal se daria mais freqüentemente em contextos de maior dependência sintática,

principalmente naqueles em que os elementos subordinativos se fazem presentes, ao

passo que a ordem enclítica/ pós-complexo verbal ocorreria em número superior nos

domínios de maior independência sintática entre orações relacionadas sem elos formais.

Quanto às formas gerúndio e infinitivo, notar-se-ia, de modo particular, nas sentenças

reduzidas por elas integradas, uma motivação à ocorrência da ênclise e da variante pós-

complexo verbal.

Mediante os dados colhidos na amostra investigada, expõem-se, na seqüência, os

fatores considerados para essa variável:

→ Oração “independente” [Oração absoluta, coordenada assindética ou principal]

→ Oração coordenada sindética

→ Oração subordinada desenvolvida

que eu leio.); (b) construção é que (Ex.: O motorista é que conhece o caminho.); (c) sentença pseudo-

clivada (Ex.: Quem ordena é o dono.); (d) foco ser (Ex.: As crianças estão é contentes.); (e) Que foco

(Ex.: Os mais velhos que decidem a educação dos filhos na família.); (f) duplo foco (Ex.: É a refeição é a

que está saborosa.). 34

Atribui-se, aqui, a classificação de “oração independente” àquelas estruturas caracterizadas pela

ausência de elementos formais que desencadeiam os processos de coordenação e de subordinação.

Convém esclarecer que não se presume uma independência (sintática/semântica) efetiva entre orações.

Nesses termos, compreenda-se que “(in)dependência” salienta, exclusivamente, a (não-)ocorrência

explícita de conectores entre orações. Desse modo, explica-se a decisão de inserir, no fator das “orações

independentes”, as tradicionais sentenças absolutas, coordenadas assindéticas e principais.

Ex4[LVS]: Ricardo Reis levanta-se, põe a gravata, vai sair, mas ao passar a mão pela cara sente

a barba crescida [...]. [JS-PE-LVS-52]

Ex5[LVC]: Tenho fé em S. José que ainda chove! Tem-se visto inverno começar até em abril. [RQ-PB-LVC-32]

Ex6[LVS]: A bondade do major inspirava [...] muita confiança, e lembraram-se por isso de

recorrer a ele de novo. [BG-PB-LVS-19]

Ex7[LVC]: Instantes depois Guida recuava um passo e ia sentar-se no chão, quebrada, numa

grande fadiga. [JCP-PE-LVC-29]

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→ Oração subordinada reduzida de infinitivo

→ Oração subordinada reduzida de gerúndio

→ Estrutura optativa

→ Sentença clivada

Presença/ausência de possível elemento proclisador

Ancorada na hipótese da existência de determinados itens gramaticais que

possivelmente desencadeiam o processo de colocação, esta investigação efetua o

controle do contexto anterior – imediato ou não – à seqüência clítico/verbo ou

clítico/complexo verbal por meio da presente variável, que congrega fatores concebidos

como “atratores” tradicionais e não-tradicionais. A opção por se ponderar até mesmo a

atuação de elementos não considerados pela tradição gramatical como “atratores” –

Ex8[LVS]: Os terríveis pensamentos que o agitavam produziam nele uma desusada energia. [AH-PE-LVS-19]

Ex9[LVC]: Tiago havia dito que teria de levá-la novamente para a “sujeira”. [DSQ-PB-LVC-32]

Ex10[LVS]: Aqueles livros – uns cem, no máximo – eram velhos companheiros que ela escolhia

ao acaso, para lhes saborear um pedaço aqui, outro além, no decorrer da noite. [RQ-

PB-LVS-32]

Ex11[LVC]: [...] creio ter-lhe dito um dia que a Lídia tinha um irmão [...]. [JS-PE-LVC-52]

Ex12[LVS]: Bertoleza então, erguendo-se com ímpeto de anta bravia, recuou de um salto [...]. [AAz-PB-LVS-29]

Ex13[LVC]: A senhora aprumou-se, sacudiu a cabeleira para trás estando se equilibrando na

listra até chegar ao toca-discos. [LFT-PB-LVC-52]

Ex14[LVS]: O pai do Céu o acolhesse no misericordioso seio que por aquela corda de praias, de

Nazaré a Matozinhos, estava para nascer [...]. [RP-PB-LVS-29]

Ex15[LVC]: [...] Antes a peste me tivesse levado. [JCP-PE-LVC-42]

Ex16[LVS]: Chegara até a se arriscar em leituras socialistas, e justamente dessas leituras é que

lhe saíam as piores das tais idéias, estranhas e absurdas à avó. [RQ-PB-LVS-32]

Ex17[LVC]: – O cego é que venha buscá-la aqui, se for capaz!... – desafiou o vendeiro de si para

si. [AAz-PB-LVC-29]

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como, por exemplo, conjunções coordenativas, preposições e SN sujeito – deve-se à

hipótese de que diversos itens, ainda que não-canônicos, possam motivar, em certa

medida, com pesos distintos, a ocorrência das posições proclítica e pré-LVC.

A fim de tornar criteriosa a codificação, algumas medidas se fizeram necessárias

nos contextos em que havia mais de um elemento candidato a atuar como proclisador.

Nos casos em que, dos possíveis elementos desencadeadores de próclise, um fosse tido

como “atrator” tradicional, e outro não, considerou-se, na codificação, o elemento

tradicional; nos casos em que figurassem dois elementos tradicionais ou dois elementos

não-tradicionais, considerou-se o elemento mais próximo ao clítico.

Sob essas palavras, verifiquem-se os seguintes fatores controlados:

→ Verbo/complexo verbal não antecedido por possível elemento proclisador 35

→ Verbo/complexo verbal antecedido por SN sujeito nominal36

→ Verbo/complexo verbal antecedido por sujeito do tipo pronome pessoal

→ Verbo/complexo verbal antecedido por sujeito do tipo pronome indefinido37

35

Controlam-se, a partir deste fator, os contextos integrados pelo verbo/complexo verbal em posição

inicial absoluta de período ou de oração, ainda que esta esteja antecedida por outra oração. 36

Por conta do reduzido número de SNs sujeito nominal integrados por constituintes adjuntos na amostra

analisada (Ex.: Os joelhos d’Egas curvaram-se debaixo dele. [AH-PE-LVS-19]. Ex.: A cachorra Baleia

foi enroscar-se junto dele. [GrR-PB-LVC-42]), decidiu-se agrupá-los juntamente com os SNs simples. 37

Embora os termos ninguém, nada e nenhum pertençam à classe dos pronomes indefinidos, optou-se por

considerá-los no fator “elementos de negação”.

Ex18[LVS]: Causar-lhe-ia riso a façanha desse camponês da Suíça [...].[BG-PB-LVS-19]

Ex19[LVC]: – Venho salvar-te, homem! – replicou o bobo. [AH-PE-LVC-19]

Ex20[LVS]: O sol encontrava-o sempre de pé, e em pé o deixava ao esconder-se. [JD-PE-LVS-29]

Ex21[LVC]: As mulheres foram se levantando da mesa. [JLR-PB-LVC-42]

Ex22[LVS]: Num domingo de junho de 1891 ela sentou-se na sua sala, muito fresca e perfumada [...].[JL-PB-LVS-29]

Ex23[LVC]: Parte-se carregado de coisas, elas vão-se perdendo pelo caminho. [VF-PE-LVC-52]

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→ Verbo/complexo verbal antecedido por sujeito do tipo pronome demonstrativo

→ Verbo/complexo verbal antecedido por complemento preposicionado anteposto

→ Verbo/complexo verbal antecedido por predicativo do sujeito

→ Verbo/complexo verbal antecedido por elemento de negação

→ Verbo/complexo verbal antecedido por advérbio (um só vocábulo) canônico39

38

Conforme se verá mais adiante, devido aos escassos números de dados, esta variante não se submete ao

tratamento variacionista aqui desenvolvido. 39

Trata-se, neste caso, das formas adverbiais mais citadas nas listas tradicionais de “atratores”, conforme

se apresentou na revisão da literatura acerca do tema da colocação.

Ex24[LVS]: – Tudo me repele aqui! [DSQ-PB-LVS-42]

Ex25[LVC]: Mas isso fora há umas três noites, alguém lhe teria dito? [VF-PE-LVC-52]

Ex26[LVS]: [...] este lhes serve para desdenhar os pobres países, até a chuva natural [...].[JS-PE-

LVS-52]

Ex27[LVC]: Tropas do exército regular do Sul, ajudadas pelos seus aliados brancos de além-mar,

tinham sido levadas em helicópteros para o lugar onde se presumia estivesse o

inimigo, mas este se havia sumido por completo. [EV-PB-LVC-52]

Ex28[LVS]: Dos grandes pecadores fazem-se os grandes santos, como da imundícia e podridão

brotam por vezes as mais lindas e viçosas plantas. [BG-PB-LVS-19]

Ex29[LVC]: Da rapidez dessa réplica poder-se-ia calcular o humor do director, ou antes, do

"patrão".38

[FN-PE-LVC-52]

Ex30[LVS]: [...] um pouco trêmulo abriu-a defronte dos olhos e leu-a demoradamente. [AAz-PB-

LVS-29]

Ex31[LVC]: Não houve dado em ambas as amostras.

Ex32[LVS]: Nunca mais cairia noutra. Que se o papá soubesse, não lhe daria mais brinquedos

bonitos. [AlR-PE-LVS-42]

Ex33[LVC]: E prestes voltava a cara para a outra banda, para se rir à vontade... – não fosse vê-lo

[...] Sultão... [TC-PE-LVC-29]

Ex34[LVS]: Já se sabe que houve nesse dia função [...].[MAA-PB-LVS-19]

Ex35[LVC]: – Lá vou soltá-lo. [MA-PB-LVC-29]

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→ Verbo/complexo verbal antecedido por advérbio (um só vocábulo) não-canônico

→Verbo/complexo verbal antecedido por advérbio com sufixo –mente

→ Verbo/complexo verbal antecedido por locução adverbial

→ Verbo/complexo verbal antecedido por “operadores de foco” do tipo só, apenas, até,

mesmo, ainda, também

→ Verbo/complexo verbal antecedido por preposição para

→ Verbo/complexo verbal antecedido por preposição a [ao]

Ex36[LVS]: Depois sentiu-se uma grande chilreada, o frêmito de várias asas, e uma nuvenzinha

de melros, precedida do par que guerreava, perdeu-se para os lados do pico. [VN-PE-

LVS-42]

Ex37[LVC]: Agora Guida se podia levantar um pouco mais senhora de si. [JCP-PE-LVC-42]

Ex38[LVS]: E aflitivamente admirava-se de que a multidão se não espantasse, ao ver aquela

abominável ruína ambulante [...]. [AB-PE-LVS-32]

Ex39[LVC]: Encostou-se à porta, dobrando-se, aniquilado... mas ansiadamente teve que

endireitar-se [...].[BG-PB-LVC-19]

Ex40[LVS]: Em seguida ajoelhou-se na pele de onça, estendida como um tapete aos pés da cama,

pousou os cotovelos no chão, cruzou as mãos e sobre elas deitou as barbas. [RO-PB-

LVS-29]

Ex41[LVC]: Os anjos [...] sorriam; e a cada oração do mancebo se iam atenuando e descontando,

um a um, no livro da vida que diante do Eterno está aberto, os crimes enormes do

velho pecador. [AG-PE-LVC-19]

Ex42[LVS]: A notoriedade, o reconhecimento público, o aplauso, a admiração dos eruditos, a

glória, o sucesso - inclusive mundano, [...] Pedro Archanjo só os teve post-mortem.. [JAm-PB-LVS-52]

Ex43[LVC]: Jisé Simpilício e Aristides mesmo estão se engordando [...].[GR-PB-LVC-42]

Ex44[LVS]: E prestes voltava a cara para a outra banda, para se rir à vontade... [TC-PE-LVS-29]

Ex45[LVC]: Quando menos se contava, estacou por falta de largueza e Guida saiu com o

perdigoto na mão para o ir deixar no meio dumas moitas. [JCP-PE-LVC-42]

Ex46[LVS]: Todo ele estremecia como se houvesse lavas a ferverem-lhe no íntimo. [RP-PB-LVS-

29]

Ex47[LVC]: Não houve dado em ambas as amostras.

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→ Verbo/complexo verbal antecedido por preposição de

→ Verbo/complexo verbal antecedido por preposição por

→ Verbo/complexo verbal antecedido por preposição sem

→ Verbo/complexo verbal antecedido por preposição em

→ Verbo/complexo verbal antecedido por conjunção coordenativa aditiva

→ Verbo/complexo verbal antecedido por conjunção coordenativa alternativa

→ Verbo/complexo verbal antecedido por conjunção coordenativa adversativa

Ex48[LVS]: Conheço-te, fito-te ainda um pouco na hesitação de te ver aqui, estás só. [VF-PE-

LVS-52]

Ex49[LVC]: – É estranho, pensou Ricardo Reis, não me lembrava deste relógio, ou esqueci-me

dele depois de o ter ouvido pela primeira vez. [JS-PE-LVC-52]

Ex50[LVS]: O universo ainda não parou por lhe faltarem alguns poemas mortos em flor na

cabeça de um varão ilustre ou obscuro [...]. [MA-PB-LVS-29]

Ex51[LVC]: Não houve dado em ambas as amostras.

Ex52[LVS]: Subiu as escadas, disposto a pôr de parte todas as cautelas, e a dar a novidade sem

lhe importar as conseqüências. [JD-PE-LVS-29]

Ex53[LVC]: Não houve dado em ambas as amostras.

Ex54[LVS]: Foi aceita a idéia, ainda que houvesse dificuldade em se encontrarem pares. [MAA-

PB-LVS-19]

Ex55[LVC]: Não houve dado em ambas as amostras.

Ex56[LVS]: Calculou que estaria em casa das pupilas, e dirigiu-se para lá. [JD-PE-LVS-29]

Ex57[LVC]: Explicou-lhe, como pôde [...] e acabou perguntando-lhe [...].[MA-PB-LVC-29]

Ex58[LVS]: Alguém transporta ao colo uma criança, que pelo silêncio portuguesa deve ser, não

se lembrou de perguntar onde está, ou avisaram-na antes [...]. [JS-PB-LVS-52]

Ex59[LVC]: Podes conservá-la ou podes destruí-la [...]. [JAl-PB-LVC-19]

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→ Verbo/complexo verbal antecedido por conjunção coordenativa conclusiva

→ Verbo/complexo verbal antecedido por conjunção coordenativa explicativa40

→ Verbo/complexo verbal antecedido por conjunção subordinativa

→ Verbo/complexo verbal antecedido por que em locução conjuntiva

→ Verbo/complexo verbal antecedido por conjunção integrante que

40

Convém registrar a tênue distinção entre as orações coordenadas explicativas e as orações subordinadas

causais, uma vez que, segundo Vieira (2002), em ambas, se encontra presente a causa de um elemento em

relação a outro. Enquanto nas explicativas a causa do dito é verificada, nas causais é observada a causa do

fato em si.

Ex60[LVS]: Uma das extravagâncias do dono foi dar-lhe o seu próprio nome; mas, explicava-o

por dois motivos, um doutrinário, outro particular. [MA-PB-LVS-29]

Ex61[LVC]: Sua pobre cabeça não se comprazia em especulações sutis: homem de ação,

raciocinava apenas para deliberar, e logo; hesitava um instante na escolha do

caminho, mas acabava sempre por tomá-lo, e não retrocedia. [AAr-PB-LVC-32]

Ex62[LVS]: Não houve registro de dado em ambas as amostras.

Ex63[LVC]: Não houve registro de dado em ambas as amostras.

Ex64[LVS]: Se a mulher tivesse concordado, Fabiano arrefeceria, pois lhe faltava convicção;

como sinhá Vitória tinha dúvidas, Fabiano exaltava-se, procurava incuti-lhe

coragem. [GrR-PB-LVS-42]

Ex65[LVC]: Demora-te, pois, João, demora, que me hás de acompanhar, e mais ao José das

Dornas, em uma saúde aos noivos. [JD-PE-LVC-29]

Ex66[LVS]: A mãe encontrava-se à porta de casa, agachada à maneira dos mouros. Estava de

guarda à única rua do casal por onde haviam de passar os dois viajantes quando se

dirigissem para a estrada. [JCP-PE-LVS-42]

Ex67[LVC]: Quando acabaram de acender-se as luzes também o movimento cessou.

Principiaram-se os serões. [RP-PB-LVC-29]

Ex68[LVS]: [...] o Tomé punha-se a fazer de interesseiro consigo mesmo, resmungando alto para

que o ouvisse [...]. [TC-PE-LVS-29]

Ex69[LVC]: Antes que viessem surpreender-me corri a vestir-me, e resoluto, os olhos cheios de

lágrimas e a corda à cintura, voltei a buscar depois a aguiazinha. [FA-PE-LVC-29]

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95

→ Verbo/complexo verbal antecedido por conjunção integrante se

→ Verbo/complexo verbal antecedido por pronome relativo que

→ Verbo/complexo verbal antecedido por outros pronomes/advérbios relativos, tais

como: cujo, o qual, onde, quem

→ Verbo/complexo verbal antecedido por que em sentenças clivadas

→ Verbo/complexo verbal antecedido por palavra QU- interrogativa do tipo

pronominal, tais como: (o) que, quem, qual

Ex70[LVS]: A princípio o Leonardo quis que a festa tivesse ares aristocráticos, e propôs que se

dançasse o minueto da corte. [MAA-PB-LVS-19]

Ex71[LVC]: [...] conservaram-se encolhidos, temendo que a nuvem se tivesse desfeito, vencida

pelo azul terrível, aquele azul que deslumbrava e endoidecia a gente. [GrR-PB-LVC-

42]

Ex72[LVS]: Digam lá vocês se no palácio mexe-se mais no negócio dos ladrões... [RP-PB-LVS-

29]

Ex73[LVC]: Não houve registro de dado em ambas as amostras.

Ex74[LVS]: Enquanto ele sobe as escadas, direi ao leitor o motivo do desassossego, em que nos

aparece o velho clínico. [JD-PE-LVS-29]

Ex75[LVC]: Baleia [...] vigiava, aguardando a parte que lhe iria tocar, provavelmente os ossos do

bicho e talvez o couro. [GrR-PB-LVC-42]

Ex76[LVS]: O automóvel estacou à porta do hospital onde se via um grande movimento de

veículos e soldados. [EV-PB-LVS-52]

Ex77[LVC]: Metia entre dentes um pedacito de queijo, logo uma côdea de pão, e fazendo

umas grandes rugas na testa, de quem começa a zangar-se, voltava-se então

muito sério [...].[TC-PE-LVC-29]

Ex78[LVS]: [...] só muito depois disso é que me contaram em segredo que as jóias tinham sido

achadas no quintal [...]. [RP-PB-LVS-29]

Ex79[LVC]: – Estou com pena do compadre José Amaro. Como é que vai ele se arrumar

naquela casa abandonada. [JLR-PB-LVC-42]

Ex80[LVS]: Quem poderia rir, quem a acharia grotesca, ou quem encontraria motivo de

escândalo? [ABL-PE-LVS-42]

Ex81[LVC]: – E quem me poderá obrigar? [JMM-PB-LVC-19]

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96

→ Verbo/complexo verbal antecedido por palavra QU- interrogativa do tipo adverbial,

tais como: quando, como, onde, por que

→ Verbo/complexo verbal antecedido por outro pronome átono

→ Verbo/complexo verbal antecedido por elementos discursivos/fáticos41

→ Verbo/complexo verbal antecedido por hesitações [eh, ah, ora] e interjeições

→ Contexto constituído de partícula eis

Distância entre possível elemento proclisador e seqüência constituída por clítico e

item/complexo verbal

O controle do grupo de fatores agora descrito é motivado pela hipótese de que a

influência dos operadores de próclise não se daria de modo idêntico nos contextos em

que houvesse itens interpostos entre o proclisador e a seqüência constituída por clítico e

determinado verbo/complexo verbal.

41

Cabe informar que, neste fator, foram consideradas as ocorrências de vocativo no contexto em que os

clíticos se fizeram presentes.

Ex82[LVS]: – Como se chama? [JMM-PB-LVS-19]

Ex83[LVC]: – Como queres igualar-te ao imenso e imperscrutável? [VF-PE-LVC-52]

Ex84[LVS]: Quando chegamos e me reconheceu, toda a boca se lhe contorceu num sorriso, fez-

me um sinal para eu me aproximar. [VF-PE-LVS-52]

Ex85[LVC]: Eram onze e meia quando saiu de casa.[...] Ela lho [lhe + o] tinha dito, Ah, sim

senhor doutor, tenho um irmão que é marinheiro no Afonso de Albuquerque [...]. [JS-

PE-LVC-52]

Ex86[LVS]: A comida, essa sim, arranjava-lhe mediante quatrocentos réis por dia [...]. [AB-PE-

LVS-32]

Ex87[LVC]: – Bem, vai-te deitar, – epilogou o conde, de manso, tomando à escada. [AH-PE-LVC-

19]

Ex88[LVS]: – Então é só isso? Ora valha-te Deus! É verdade. [JD-PE-LVS-29]

Ex89[LVC]: – Ora... a tudo a gente se acostuma! Adeus, vá ver-me de vez em quando. [JL-PB-

LVC-19]

Ex90[LVS]: Não houve dado em ambas as amostras.

Ex91[LVC]: Não houve dado em ambas as amostras.

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97

Acredita-se que o comprometimento da atuação dos elementos proclisadores

nesses contextos, quanto à distância, esteja intimamente ligado a razões de ordem

cognitiva e/ou rítmica. No que respeita à circunstância cognitiva, aventa-se que,

mediante Vieira (2002), quanto mais “presente”/próximo se encontrar o operador de

próclise no momento em que se enuncia o clítico pronominal, maior atenção do usuário

da língua é dada à atuação do proclisador. Em termos prosódicos, pressupondo-se que

tais proclisadores podem possuir por função certa influência de natureza rítmica, esta

estaria comprometida pela distância que dificultaria ou mesmo impediria a subida do

clítico.

Para que tal intervalo entre o operador de próclise e a cadeia segmental clítico e

verbo/complexo verbal passe por uma mensuração, procede-se à contagem do número

de sílabas canônicas (cf. CRYSTAL, 1988: 43) pertencentes a tal distância. É oportuno

ressaltar que, embora o referido procedimento não seja o mais adequado para o controle

exato da distância, uma vez que as estruturas silábicas – mesmo idênticas – podem ser

produzidas com durações distintas, avalia-se que a opção pelo controle silábico ainda

seja o modo preferível de aferição comparado a outras unidades42

.

Pelo que anteriormente foi dito, estabelecem-se, abaixo, os fatores para a

variável em destaque:

→ Zero sílaba

→ Uma sílaba

→ Duas sílabas

42

A esse propósito, considera Naro & Scherre apud Vieira (2002: 115) que “cada sílaba ocupa

aproximadamente a mesma quantidade de tempo, enquanto outras unidades têm dimensões diversas e

diferenciadas”.

Ex92[LVS]: Aquela relíquia, que se dizia milagrosa, era sua última esperança [...]. [JMM-PB-LVS-

19]

Ex93[LVC]: A de fora já está se dissipando e aqui começa outra [...]. [LFT-PB-LVC-52]

Ex94[LVS]: O único problema que lhe apareceu claro e palpável era o que se lhe referia à própria

posição naquele momento [...]. [AAr-PB-LVS-32]

Ex95[LVC]: – Duma virtude não sujeita à tentação, nem Deus pode chamá-la virtude. [AAb-PE-

LVC-19]

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98

→ Três sílabas

→ Quatro sílabas

→ Cinco sílabas

→ Seis sílabas

→ Sete a dez sílabas

→ Onze sílabas em diante

Ex96[LVS]: Fez que não, com um gesto, ao frasco de bolso que ele lhe pôs à frente [...]. [JCP-PE-

LVS-42]

Ex97[LVC]: [...] receei as interpretações que delas se poderiam tirar. [AAb-PE-LVC-52]

Ex98[LVS]: Gonçalo, se é lícito comparar uma frágil criatura humana com a divindade, estava

então como o Cristo [...], em que no monte das Oliveiras junto à torrente do Cedron,

[...] suou sangue e sentiu sua alma desfalecer e vacilar ao receber o cálice do

martírio, que um anjo lhe apresentava. [BG-PB-LVS-19]

Ex99[LVC]: – Cá meu amo tinha-me dito: << Vais ó Garnel e perguntas o sr. Roberto se quer que

o ajudes a tirar a mala da loja [...]>>. [VN-PE-LVC-42]

Ex100[LVS]: No dia em que a Câmara se lembrasse de trazer eletricidade para ali, uma boa

esplanada havia de chamar muitos banhistas a São Romão. [JCP-PE-LVS-42]

Ex101[LVC]: Nunca seu marido pudera acostumar-se à idéia da cegueira irremediável. [CM-PE-

LVC-32]

Ex102[LVS]: Assim, em vez de disfarçar os soldados e espalhá-los para não chamarem a atenção

do povo, ele, ao contrário, entendia que a tropa real se humilharia em querer

encobrir essa qualidade [...]. [AAr-PB-LVS-32]

Ex103[LVC]: Dir-se-ia que a natureza acabava de cobrir-se de lutuosos merinós, se não fosse o

cetim azulado do firmamento, e se não chovesse o riso das estrelas. [RP-PB-LVC-29]

Ex104[LVS]: Já em algumas eiras se expunham ao sol, para a secagem [...]. [CM-PE-LVS-32]

Ex105[LVC]: – Será que amanhã sua mãe podia me emprestar o carro? [LFT-PB-LVC-52]

Ex106[LVS]: Entretanto, parece que um renascimento de vida se operara nele. [AAr-PB-LVS-32]

Ex107[LVC]: [...] e súbito se inundava a rua de rapazes, rotos, descalços, alguns quase nus [...]

gritando-lhe, acenando-lhe, espantando-o – como se o mesmo vento de folia os

houvesse varrido a todos, varrendo a própria rua... [TC-PE-LVC-29]

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99

Tempo e modo das formas verbais/(semi-)auxiliares

Julga-se relevante a observação da influência exercida pelos tempos e modos

verbais para a manifestação da regra variável, tendo em vista o postulado de que, nos

domínios integrados por verbos flexionados nos tempos do subjuntivo, a colocação

proclítica/pré-complexo verbal seria mais produtiva, pela circunstância de esse modo

figurar, muitas vezes, em sentenças subordinadas providas dos chamados fatores de

próclise. No que concerne ao indicativo, seus tempos apresentariam uma neutra atuação

no fenômeno da ordem. Por seu turno, as formas nominais do verbo bem como o modo

imperativo constituiriam os contextos de maior proeminência de ênclise e da variante

intra-complexo verbal com hífen.

Sob essas declarações, eis a configuração da variável pelos fatores subscritos:

→ Presente do indicativo

→ Pretérito imperfeito do indicativo

→ Pretérito perfeito do indicativo

Ex108[LVS]: A moça percebia confusamente que aquele trôpego ancião, talvez enfermo, de

enxovalhado paletó, calças com remendo, buracos nos sapatos, roto coração, era-

lhe próximo, um parente quem sabe? [JAm-PB-LVS-52]

Ex109[LVC]: Era terrível quando, ao voltar uma esquina ou ao sair de manhã de sua casa, o

cidadão esbarrava com uma daquelas solenes figuras, que, desdobrando junto

dele uma folha de papel, começava a lê-la em tom confidencial! [RB-PE-LVC-

32]

Ex110[LVS]: O tempo estava morno, impregnado dessa quietude de natureza exaurida que se

encontra num baque ondulante de folha [...]. [ABL-PE-LVS-42]

Ex111[LVC]: Confesso que dou o cavaco por elas, mas as moças me têm posto velho. [JMM-PB-

LVC-19]

Ex112[LVS]: Os meirinhos desse belo tempo não, não se confundiam com ninguém [...]. [MAA-

PB-LVS-19]

Ex113[LVC]: Não podia enganar-me na marcha. [FA-PE-LVC-29]

Ex114[LVS]: [...] o mosteiro edificou-se, e a povoação nasceu. [AH-PE-LVS-19]

Ex115[LVC]: Pôs-se a fazer movimentos para se aquecer. [JCP-PE-LVC-42]

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100

→ Pretérito mais-que-perfeito do indicativo

→ Futuro do presente do indicativo

→ Futuro do pretérito do indicativo

→ Presente do subjuntivo

→ Pretérito imperfeito do subjuntivo

→ Futuro do subjuntivo

→ Imperativo

Ex116[LVS]: Além disto recebeu o Leonardo ao mesmo tempo carta de seu pai, na qual o

chamava para fazer-lhe entrega do que lhe deixara seu padrinho, que se achava

religiosamente intacto. [MAA-PB-LVS-19]

Ex117[LVC]: E depois do almoço, como o céu abrisse e estendesse um grande lençol de luz sobre

a varanda, viera sentar-se ali, a cabeça abrigada na sombra do alpendre e as pernas

estendidas ao banho caricioso do sol. [RB-PE-LVC-32]

Ex118[LVS]: Realmente, nenhuma figura intelectual gozou de tamanha evidência [...] com as

costumeiras e honrosas exceções das quais logo se dará notícia. [AAb-PB-LVS-52]

Ex119[LVC]: – Gonçalo Mendes da Maia virá soltar-me... Sei certo que há de vir. [AH-PE-LVC-

19]

Ex120[LVS]: Dir-se-ia que, no fundo da sua memória, a lembrança adormecida daquele nome

despertara subitamente... [TC-PE-LVS-29]

Ex121[LVC]: Um dia haveria de reencontrá-los, em algum lugar, de alguma maneira. [EV-PB-

LVC-52]

Ex122[LVS]: São outras gentes; gozam a paz da fortuna e das famílias, bebem vinho tinto nos

bares do Guincho ou de Cascais sem que alguém lhes leve a mal. [AB-PE-LVS-32]

Ex123[LVC]: [...] É bem capaz que eu a tenha de levar de novo para... a sujeira... [...].[DSQ-PB-

LVC-42]

Ex124[LVS]: Rubião quis que se agasalhasse, e trouxe-lhe um fraque, um colete, um chambre,

um capote, à escolha. [MA-PB-LVS-29]

Ex125[LVC]: – Isso é que seria bom se se pudesse dispensar... [AAz-PB-LVC-29]

Ex126[LVS]: – Ouvirei vossa confissão quando vos aprouver, meu irmão. [AH-PE-LVS-19]

Ex127[LVC]: – Se não quiser me ouvir que se retire. [JLR-PB-LVC-42]

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101

→ Infinitivo

→ Gerúndio

Tipo de clítico pronominal

A opção pelo controle da variável agora descrita procede do intuito de verificar

em que medida a ordem dos clíticos pronominais é motivada pela forma pronominal ou

pela função sintática que os pronomes exercem frente aos elementos verbais com os

quais se associam.

Alega-se por hipótese que os clíticos de primeira e segunda pessoas, por motivo

de focalização, apresentariam maior tendência a ocorrer em posição de destaque, uma

vez que eles, no discurso, identificam as vozes do locutor bem como do interlocutor,

função não exercida pelos demais pronomes.

As formas pronominais o, a (s) também podem assumir comportamento

particular na ordem dos pronomes, especialmente em virtude da debilidade fônica de

sua constituição silábica (uma só vogal), que faz com que elas se constituam, em certos

enunciados, como lo/la (s), por exemplo. No contexto de complexos verbais, presume-

se que tais formas tornariam inviáveis determinadas posições como, por exemplo, a

ordem intra-complexo verbal. Desse modo, possivelmente, esses pronomes se

aglutinariam a outros elementos sonoros da lexia verbal complexa, como postula Rocha

Lima (2005 [1972]: 455]:

Ex128[LVS]: – A cruz! – lembro. Ponho na sua janela, no lado de fora, não se esqueça de pegar! [LFT-PB-LVS-52]

Ex129[LVC]: – Vá-se deitar! [VN-PE-LVC-42]

Ex130[LVS]: Compreendia que estava num beco cego e falso e não seria o amigo quem lhe ia

estender a mão para a tirar de lá. [JCP-PE-LVS-42]

Ex131[LVC]: Sentia não poder atendê-lo. [NP-PB-LVC-52]

Ex132[LVS]: O Leonardo, fazendo-se-lhe justiça, não era nesse tempo de sua mocidade mal-

apessoado [...]. [MAA-PB-LVS-19]

Ex133[LVC]: Um ano, fins de Outubro, havendo-se abalançado com tempo incerto até o extremo

das cordas, foi caso que já ele, como arrais responsara o lanço [...]. [AqR-PE-LVC-

32]

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102

[A] construção [verbal complexa, integrada por clítico interposto,] não tem agasalho com

o pronome o (a, os, as), em razão, decerto, do volume fonético dele, mais reduzido do que

o das demais partículas pronominais. De fato, não se usa „estou o esperando‟, etc.

O pronome se, conforme atestam outros estudos sobre o fenômeno (cf. capítulo

2), parece ter seu padrão de ordem influenciado pela função que exerce. No que tange

ao domínio dos complexos verbais, por exemplo, supõe-se que o clítico “se” de caráter

reflexivo/inerente esteja mais propenso, no Português Brasileiro, a se cliticizar ao verbo

principal por esse lhe conferir função sintático-semântica de objeto/tema verbal. O se

indeterminador/apassivador tenderia a ficar na posição adjacente ao primeiro verbo da

lexia verbal complexa.

Após essas declarações, considerem-se as seguintes ocorrências:

→ Me

→ Te

→ Se do tipo reflexivo/inerente

→ Se como índice de indeterminação do sujeito

→ Se apassivador

Ex134[LVS]: – Obrigado pela parte que me toca, respondeu-lhe o homem. [JCP-PE-LVS-42]

Ex135[LVC]: – A Ana já veio me dizer que exige mais ordenado! [AlR-PE-LVC-42]

Ex136[LVS]: E acrescentava com força: – É o que te digo: vou e vou, porque devo, porque quero,

porque é do meu direito. [LB-PB-LVS-32]

Ex137[LVC]: – Sim, vou deixar-te, vou esperar por ele. [AAb-PE-LVC-52]

Ex138[LVS]: E parando à porta de casa, ainda a mulher se benzia do alto da escada, mexendo e

remexendo o alguidar de barro [...]. [TC-PE-LVS-29]

Ex139[LVC]: O mestre José Amaro, arrastando a perna torta, foi se chegando para mesa posta,

uma pobre mesa de pinho sem toalha. [JLR-PB-LVC-42]

Ex140[LVS]: Era raro e alarmante, em março, ainda se tratar de gado. [RQ-PB-LVS-32]

Ex141[LVC]: Voavam sempre, não se podia saber donde vinha tanto urubu. [GrR-PB-LVC-42]

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103

→ O(s)/a(s)

→ Nos

→ Vos

→ Lhe(s)

→ Formas contraídas

Ex142[LVS]: Ela move-se ritmicamente [...] naquela sala onde se recolhem em pilhas as maçãs

[...]. [ABL-PE-LVS-42]

Ex143[LVC]: [...] e ele vai misturando, no alvoroçado pensamento, conquistas bélicas e amorosas

[...] e mais que tudo, as histórias que sobre isso se hão de contar à noite no

refeitório dos Grilos hoje, oh impiedade! [AG-PE-LVC-19]

Ex144[LVS]: A terra sobranceia o oceano, dominante, do fastígio das escarpas; e quem a alcança,

como quem vinga a rampa de um majestoso palco, justifica todos os exageros

descritivos [...]. [EC-PB-LVS-32]

Ex145[LVC]: – [...] no dia em que a houveres penetrado inteiramente, [...] terás o maior prazer da

vida [...]. [MA-PB-LVC-29]

Ex146[LVS]: E este nascimento é certamente de tudo o que temos dito o que mais nos interessa,

porque o menino de quem falamos é o herói desta história. [MAA-PB-LVS-19]

Ex147[LVC]: – Tinham-nos avisado do asilo [...]. [VF-PE-LVC-52]

Ex148[LVS]: – Pelo contrário. É porque a vossa beleza me exalta que eu encontro nela a força de

que antes carecia. E por isso vos peço ajuda nesta circunstância. [AAb-PE-LVS-52]

Ex149[LVC]: – Como poderei ajudar-vos? [AAb-PE-LVC-53]

Ex150[LVS]: Então lhe aparece em sonho a Virgem Mãe de Deus tal qual se achava esculpida na

medalha, porém rodeada de todo o esplendor de sua celeste glória [...]. [BG-PB-LVS-

19]

Ex151[LVC]: – Eu avancei para Emília; e meu passo hirto, e meu olhar abrasado deviam incutir-

lhe terror. [JAl-PB-LVC-19]

Ex152[LVS]: Guida puxou-o pela mão. Apertou-lha [lhe + a] muito com uns dedos úmidos e

nervosos. [JCP-PE-LVS-42]

Ex153[LVC]: Eram onze e meia quando saiu de casa.[...] Ela lho [lhe + o] tinha dito, Ah, sim

senhor doutor, tenho um irmão que é marinheiro no Afonso de Albuquerque [...]. [JS-PE-LVC-52]

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104

Tonicidade dos itens verbais (somente para as lexias verbais simples43

)

De modo a corroborar a hipótese de que a colocação enclítica seria menos

proeminente com elementos verbais paroxítonos e proparoxítonos – dado o fato de a

Língua Portuguesa evitar formações de palavras com acentuação tônica em segmentos

silábicos anteriores à penúltima sílaba, isto é, vocábulos proparoxítonos / esdrúxulos –,

achou-se conveniente a constituição da variável cujos fatores abaixo se ilustram.

→ Vocábulo proparoxítono

→ Vocábulo paroxítono

→ Vocábulo oxítono

Número de itens (semi-)auxiliares do complexo verbal

Com o propósito de observar se a presença de mais de um verbo (semi-)auxiliar

afetaria o número de posições em que o clítico, possivelmente, poderia ocupar no

domínio das lexias verbais complexas, estipulou-se o presente grupo de fatores.

Conforme já se observou, tendo em vista o número de formas (semi-)auxiliares, a ordem

dos pronomes átonos assume mais possibilidades de posicionamento, o que fez isolar,

na análise, as ocorrências de construções com mais de uma forma auxiliar.

Isso declarado, expõem-se, na seqüência, os fatores inicialmente previstos:

→ Presença de um verbo (semi-)auxiliar

Ex157[LVC]: Luciano tinha-se afastado do quarto e passeava no jardim, fugindo aos olhos de

todos e à bulha atormentadora das vozes. [JL-PB-LVC-29]

→ Presença de dois verbos (semi-)auxiliares

43

O controle dessa variável não foi aplicado ao contexto de complexos verbais, em virtude da dificuldade

de delimitação dos possíveis vocábulos fonológicos que poderiam ser formados, a depender da ligação do

clítico com as formas verbais ou com outros elementos do enunciado.

Ex154[LVS]: – Tivemos a sorte duma alma boa nos socorrer. E onde menos o esperávamos! [AqR-PE-LVS-32]

Ex155[LVS]: Qualquer das propriedades a acolheria com o fogão de lenha aceso e o feijão

cozido. [NP-PB-LVS-52]

Ex156[LVS]: O professor disse que sim, conclamou o líder capaz de fazê-lo [...]. [JAm-PB-LVS-

52]

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105

Ex158[LVC]: [...] ninguém estranhará que vá saber, interessar-se, Coitada da rapariga, o que lhe

havia de ter acontecido, há pessoas que nascem sem sorte. [JS-PE-LVC-52]

→ Presença de três ou mais verbos (semi-)auxiliares

Ex159[LVC]: Não houve dado em ambas as amostras.

Forma do verbo principal (não-flexionado)

Mediante tal variável, objetivou-se avaliar a existência de possíveis padrões de

ordem motivados pela natureza da forma do verbo principal da lexia verbal complexa.

Como já se salientou, por meio do tratamento dessa variável, foi possível analisar

separadamente os complexos constituídos por gerúndio, por particípio e por infinitivo.

A hipótese que sustenta a pertinência do controle do verbo principal sugere, para

o Português como um todo, que determinadas formas nominais permitiriam maior opção

de posicionamento dos clíticos do que outras. Aventa-se, por exemplo, que a forma de

infinitivo se constituiria como contexto profícuo à ocorrência da variante pós-complexo

verbal. No que respeita ao particípio, conforme preconizado pelos compêndios

gramaticais e diversos estudos sobre a ordem, tal forma não favoreceria essa variante.

Pagotto (1992), por meio da relevância dessa variável, sustenta que a mudança

ocorrida no padrão cl-VV para a ordem Vcl-V, verificada no Português Brasileiro, na

segunda metade do século XVIII, foi deflagrada, em primeira instância, pelos

complexos verbais integrados por infinitivo seguidos por estruturas constituídas de

verbo principal no particípio.

Apontadas tais considerações, tomem-se os exemplos subseqüentes:

→ Verbo principal no gerúndio

Ex160[LVC]: Mas a mão ia-se demorando, chegava a parar [...]. [JCP-PE-LVC-42]

→ Verbo principal do particípio

Ex161[LVC]: As alpercatas dele estavam gastas nos saltos, e a embira tinha-lhe aberto

entre os dedos rachaduras muito dolorosas. Os calcanhares, duros como

cascos, gretavam-se e sangravam. [GrR-PB-LVC-42]

→ Verbo principal do infinitivo

Ex162[LVC]: Quem examinasse vagarosamente aquela grande coleção de livros havia de

espantar-se ao perceber o espírito que presidia a sua reunião. [LB-PB-LVC-32]

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106

Presença / ausência de elementos intervenientes na estrutura verbal complexa

(apenas para as lexias verbais complexas)

Postula-se que a presença de elementos intervenientes no complexo verbal –

como sintagma, preposição e outros conectores –, atuaria, em alguma medida, na

manifestação de determinadas variantes da ordem pronominal, em comparação à

ausência de qualquer elemento.

Acredita-se que, tais como os possíveis elementos proclisadores, os itens em

destaque, especialmente as preposições, uma vez na posição entre verbos, apresentariam

certo potencial de atração do clítico, consoante pontua Perini (2001: 232) pelos termos

abaixo:

O clítico antes do [auxiliar] tem aceitabilidade mais ou menos reduzida quando o

[auxiliar] vem acompanhado de preposição como em ??

Ela se deixou de maquiar [/] *Ela

se continuou a maquiar [/] ??

Ela se tem de maquiar.

Para exemplificação dos fatores desta variável, verifiquem-se os casos a seguir:

→ Presença da preposição a

→ Presença da preposição de

→ Presença da preposição para

→ Presença do conector que

→ Presença de sintagma

Ex163[LVC]: Quincas Borba procurou com os pés as chinelas; [...] calçou-as e pôs-se a andar

para esticar as pernas. [MA-PB-LVC-29]

Ex164[LVC]: Selavisa não merece descrição; porém como o leitor o há-de achar algumas vezes

n'esta minha história, direi, por cumprimento, que era de figura grossa, barriguda e

baixa [...]. [ArG-PE-LVC-19]

Ex165[LVC]: [...] parecendo-lhe quase impossível que João Semana não soubesse já alguma

coisa, deu-lhe para tomar o silêncio [...].[JD-PE-LVC-29]

Ex166[LVC]: Havia que se prevenir, sobretudo quando faltavam escassas horas para o dia

terminar. [NP-PB-LVC-52]

Ex167[LVC]: [...] sendo assim vai Ricardo Reis barbear-se [...]. [JS-PE-LVC-52]

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107

→ Ausência de elementos intervenientes

Tipo de lexia verbal complexa

Justifique-se a relevância do grupo de fatores em destaque, tendo em vista que

diversos estudos sobre o tema atribuem à composição do complexo verbal a qualidade

de variável diretamente motivadora dos padrões de colocação nos domínios das lexias

verbais complexas.

Por esses termos, registre-se que Mateus et alii (2003), com base em dados do

Português Europeu, postulam que, em construções de tempos compostos integradas pela

forma verbal ter assim como em estruturas passivas com o verbo cópula ser, a ordem

enclítica a tais auxiliares seria registrada com maior proeminência quando da ausência

dos elementos proclisadores. Esses elementos, uma vez presentes nos contextos de

ocorrência dos clíticos, motivariam a subida do pronome para a posição de próclise ao

primeiro verbo. A respeito das estruturas constituídas de formas (semi-)auxiliares

modais e aspectuais, propõem por hipótese que as partículas átonas se ligariam ora ao

verbo auxiliar ora ao principal.

No que concerne ao Português Brasileiro, Perini (2001) advoga que a ordem dos

átonos pronominais se restringe aos limites da mesma oração, exceto nos domínios de

duas construções, quais sejam: uma integrada pelo verbo saber e a outra constituída de

auxiliar seguido de preposição, as quais admitiriam a colocação proclítica ao auxiliar na

modalidade escrita da língua, embora as chances de manifestação de tal ordem sejam

reduzidas.

Presume-se que, no PB, a variante proclítica ao verbo principal (v1 cl v2)

poderia ser mais facilmente aceita nos vários complexos, principalmente, na ausência

dos operadores de próclise em comparação à variedade européia da língua. Quanto a

certas lexias auxiliadas por formas modais, especialmente aquelas integradas pela

expressão “pode-se”, a ênclise ao verbo auxiliar ocorreria em posição de ênclise a v1,

constituindo uma estrutura que parece, por vezes, cristalizada para a expressão de

indeterminação.

Ex168[LVC]: Alguém devia de ver, então era eu mesmo, este vosso servidor. Fosse lhe contar... [GR-PB-LVC-42]

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108

Em face das hipóteses acima sugeridas, investigam-se as construções, na

seqüência, arroladas44

:

→ Tempos compostos (ter/haver + particípio) e estruturas aspectuais (ir/vir + infinitivo;

estar + a + infinitivo; ir/vir/estar + gerúndio), cujo auxiliar se apresenta no segundo

nível de afastamento da categoria de auxiliaridade.

→ “Perífrases verbais” modais e aspectuais de natureza diversa, cujo auxiliar revela

certo grau de esvaziamento semântico e o verbo principal possui o mesmo referente-

sujeito (haver/ter + de/que + infinitivo; poder/dever/costumar + infinitivo; acabar +

de/por + infinitivo; chegar/começar/voltar/pôr-se/tornar-se/continuar + a + infinitivo;

acabar/ficar/continuar/andar + gerúndio).

→ Complexos bi-oracionais com mesmo referente-sujeito, cujo auxiliar se revela mais

próximo do nível de lexicalidade45

(estruturas com verbos volitivos/optativos ou

declarativos, tais como: querer / desejar / tentar / procurar / conseguir / saber / evitar /

prometer / resolver / decidir/ pretender / preferir + infinitivo).

Arrolados os grupos de fatores com suas respectivas justificativas, ressaltem-se,

na seção seguinte, os procedimentos adotados no tratamento técnico-computacional dos

dados colhidos.

4.5 Medidas concernentes ao tratamento quantitativo efetuado

44

Não foram constatados dados de ordem pronominal em domínio de estrutura verbal complexa do tipo

passiva de ser (ser + particípio) nos corpora examinados. Cabe informar, ainda, que, na codificação

inicial, cada estrutura coletada recebeu um código especifico, sendo tratada em separado. 45

Embora as estruturas compiladas no presente fator ofereçam maior margem de dúvidas acerca do

caráter variável da regra de colocação, decidiu-se contemplá-las nesta investigação, uma vez que, na

amostra analisada concernente às variedades européia e brasileira dos séculos XIX e XX, tais construções

se revelaram como ocorrências variáveis a respeito da ordem.

Ex169[LVC]: O gosto moderno tem-se modificado, ao que parece, exigindo nos seus tipos de

adoção o que quer que seja de franzino e delicado [...]. [JD-PE-LVC-29]

Ex170[LVC]: Era também agilíssimo no jogo da faca; com os pés atados bem juntos e com uma

faca em punho desafiava a qualquer, e com tal destreza se defendia que nem assim o

podiam tocar. [BG-PB-LVC-19]

Ex171[LVC]: – Quando desço, Lião a enlaça como se fossem sair dançando as duas, o braço

estendido para a frente procurando agarrar-lhe a mão. [LFT-PB-LVC-52]

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109

Realizada a atividade de coleta dos dados, procedeu-se, conforme já se pontuou

na subseção referente às etapas da análise variacionista, à codificação dos registros de

clíticos pronominais mediante cada fator constituinte das variáveis independentes de

natureza lingüística e extralingüística determinadas.

Os dados, uma vez codificados, foram submetidos ao tratamento técnico-

computacional auxiliado pelo Pacote de Programas Goldvarb X, instrumental que

fornece, dentre outras informações: (a) o índice de aplicabilidade geral dos fatores

constituintes da variável dependente; (b) as freqüências absolutas e percentuais, além de

pesos relativos46

para cada variante examinada; (c) os grupos de fatores lingüísticos e

extralingüísticos relevantes e não-relevantes à manifestação do fenômeno em análise;

bem como (d) o influxo, isto é, o cruzamento entre as variáveis examinadas.

A análise estatística inicia-se, pois, por meio da constituição do arquivo de

células, o qual concede os valores de freqüência percentual e absoluta das variantes em

face dos fatores integrantes das variáveis independentes. É por meio dessa etapa inicial

que se constatam em quais contextos o evento sob análise se revela variável ou

categórico (ausência absoluta (0%) ou manifestação exclusiva (100%) de certa variante

em determinado contexto; índice identificado como knockout).

De modo a obter valores capazes de informar a real influência dos fatores

controlados em conjunto, promove-se o tratamento dos dados segundo os pesos

relativos. Para que tais pesos possam ser gerados, torna-se imprescindível nova

constituição do arquivo de células sem os contextos categóricos. Assim, realiza-se a

recodificação dos fatores da variável independente para a eliminação dos domínios de

Knockouts, segundo alguns procedimentos, tais como: desconsideração dos fatores

categóricos na leitura da próxima rodada (“não se aplica”), exclusão dos dados

categóricos do arquivo de dados (“exclude”), ou amalgamação de fatores, de modo a

eliminar os knockouts.

A respeito do processo de amalgamação, salienta-se que tal recurso pode ser

efetuado não só para dar fim aos dados categóricos como já se afirmou, mas também

para compactar fatores que apresentam características semelhantes por meio de

combinações entre si. Essa medida colabora para que as percentagens do novo arquivo

de células se tornem mais consistentes para a obtenção dos pesos relativos.

46

O peso relativo constitui o valor de aplicação da variante analisada em relação a determinado fator em

função da ponderação conjunta de todos os fatores sob análise. Em outras palavras, projeta-se a

probabilidade de ocorrência da variante em um dado contexto, no confronto com todos os demais.

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110

Guy & Zilles (2007), a propósito dos princípios que fundamentam a junção de

elementos, ressaltam que a decisão de amalgamar itens deve estar diretamente embasada

em justificativas de cunho teórico e quantitativo. No que tange ao caráter teórico, os

autores salientam que os fatores a serem amalgamados devem apresentar, entre si,

equivalências lingüísticas ou sociais. A propósito da justificativa quantitativa, os itens

amalgamados precisam revelar semelhanças quanto à quantidade percentual,

considerando, para tanto, a distribuição dos dados e as diferenças percentuais, por

exemplo.

Como forma de ilustrar o que os referidos autores pontuam, verifique-se que a

presente análise, preliminarmente, observa a freqüência percentual e absoluta de todos

os fatores das variáveis independentes, como, por exemplo, o grupo possível elemento

proclisador, que apresenta, dentre vários outros constituintes, as conjunções

coordenativas. Atestadas as semelhanças morfossintáticas de tais conjunções, o

processo de amalgamação entre elas torna-se justificado. Ademais, no que toca à

amalgamação de caráter quantitativo, promove-se, por vezes, a combinação entre os

fatores da variável distância entre um elemento proclisador e seqüência clítico

verbo/complexo verbal, que exibem raras ocorrências em alguns fatores inicialmente

planejados.

Tomadas as devidas decisões quanto ao procedimento de eliminação ou

amalgamação de dados, gera-se, então, o arquivo de células a partir do qual se

possibilita a análise multivariacional, ou seja, etapa na qual se obtêm os valores

referentes aos pesos relativos por meio da ponderação de todas as possíveis influências

sobre a variável dependente. Nesse momento, o programa computacional utilizado

promove a seleção dos grupos de fatores relevantes estatisticamente, com conseqüente

eliminação das variáveis não-significativas.

É oportuno salientar que, para a realização das rodadas multivariacionais, os

pesos relativos obtidos e apresentados na seção concernente aos resultados da análise

possuem como valor de aplicação a variante proclítica versus a posição enclítica, no que

respeita à ordem no âmbito das lexias verbais simples.

No domínio das estruturas verbais complexas, em razão dos exíguos números de

dados de colocação em complexos verbais com gerúndio e particípio – conforme se verá

na apresentação dos resultados –, não se efetua a análise multivariacional para a

obtenção dos pesos relativos. No caso das construções com infinitivo, embora haja um

número mais expressivo de dados, a opção de segmentar o conjunto de dados em

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111

subamostras (início absoluto de oração; contextos com proclisadores canônicos e não-

canônicos, em conjunto ou separadamente) também gerou números de dados baixos por

fator controlado. Aliada ao fato de se tratar de uma variável dependente do tipo eneária,

que teria de ser transformada em binária (pré-LVC versus outras variantes), essa

distribuição rarefeita dos dados fez com que também se tomasse por opção

metodológica a análise exclusiva dos valores percentuais no caso das construções com

infinitivo.

A relevância das medidas adotadas justifica-se uma vez que se pretende, aqui,

averiguar as possíveis formas de seleção dos grupos de fatores proeminentes ao

fenômeno da ordem no PB e no PE dos séculos XIX e XX sem que se dê maior

privilégio a uma determinada variante em prejuízo das demais.

Diversos padrões de rodadas foram empreendidos durante a etapa referente ao

tratamento estatístico dos dados. A fim de fazer conhecer algumas dessas rodadas,

expõem-se, em anexo (Anexo 2), quadros que contemplam aquelas que se apresentaram

como as mais significativas para a compreensão da ordem em lexias verbais simples nas

duas variedades do Português dos séculos XIX e XX.

Convém registrar que, nas primeiras análises experimentadas, se procedeu à

investigação dos dados do PB e do PE, separando-se as amostras por séculos tanto em

contextos de lexias verbais simples quanto em domínio de complexos verbais, tal como

se esquematiza: (i) PB – século XIX; (ii) PB – século XX; PE – século XIX; PE –

século XX. Devido à semelhança do evento da colocação em ambos os séculos de cada

variedade bem como a evidências observadas em estudo recente (Nunes, 2009), advoga-

se que o tratamento conjunto dos dois séculos se revela mais produtivo do que o

tratamento em separado. Assim, as análises procedentes daquelas preliminares

configuram-se do seguinte modo: (i) PB – séculos XIX e XX; (ii) PE – séculos XIX e

XX.

Julgou-se necessário, ainda, quanto aos contextos estruturais em que figura o

pronome átono, o tratamento, em separado, de dados de início absoluto47

e de registros

de proclisadores canônicos e/ou não-canônicos (nomeados, aqui, como demais

contextos) em lexias verbais simples e complexas. A constituição de subamostras ao

47

No que concerne aos contextos de início absoluto, constate-se que se considera, nesses domínios, a

posição do verbo em início absoluto de período (Ex.: Analisa-se o fenômeno variável.) assim como em

início de oração não coincidindo, necessariamente, com o locus inicial do período (Ex.: Ao promover o

estudo da ordem, espera-se contribuir com novas informações sobre o tema.)

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112

longo do tratamento dos dados permitiu aferir o caráter categórico/semi-categórico de

alguns contextos e observar com mais precisão os efeitos dos fatores controlados.

No que toca especificamente ao tratamento da colocação em dados de estruturas

verbais complexas, destaque-se que a análise das perífrases considera a forma do verbo

principal como critério para o exame da ordem em três etapas, quais sejam: (i)

cliticização em lexias verbais complexas com gerúndio; (ii) cliticização em lexias

verbais complexas com particípio; (iii) cliticização em lexias verbais complexas com

infinitivo.

Mediante todas as rodadas realizadas, discriminam-se, na seqüência, as variáveis

cujos fatores, por vezes, foram amalgamados do modo que se avaliou como o mais

produtivo para o tratamento comparativo dos resultados alcançados:

→ Âmbito das Lexias Verbais Simples e Complexas

– Grupo de fatores extralingüístico:

(a) Vozes do romance: por vezes se amalgamam dados de narradores de 1ª e 3ª

pessoas em face dos personagens.

– Grupos de fatores lingüísticos:

(b) Natureza da oração: combinam-se orações subordinadas desenvolvidas e

estruturas clivadas, permanecendo as demais cláusulas sem amalgamação.

(c) Possível elemento proclisador do clítico: congregam-se (i) todos os domínios

de SN sujeito (nominal, pronome pessoal, pronome indefinido e pronome demonstrativo

– em certas situações, separam-se os nominais dos pronominais); (ii) os advérbios

canônicos; (iii) os advérbios não-canônicos e com sufixo –mente; (iv) as preposições (a,

em, de, para, por, sem – por vezes, cria-se um grupo com os itens a, de, para; e outro

com em, por, sem); (v) as conjunções coordenativas (aditiva, alternativa, adversativa,

conclusiva, explicativa); (vi) os “elementos subordinativos” (conjunções subordinativas,

pronome relativo que, outros pronomes/advérbios relativos; conjunções integrantes que

e se, que em locução conjuntiva e em estruturas clivadas, palavra QU- interrogativa do

tipo pronominal e adverbial).

(d) Distância entre proclisador e seqüência clítico verbo/complexo verbal:

reúnem-se as distâncias (i) de zero a três sílabas; (ii) de quatro a dez sílabas; (iii) de oito

sílabas em diante.

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113

(e) Tempo e modo das formas verbais/(semi-)verbais: agregam-se (i) os tempos

de presente e pretéritos (perfeito, imperfeito e mais-que-perfeito) do indicativo; (ii) os

futuros (do presente e do pretérito) do indicativo; (iii) todos os tempos do subjuntivo.

(f) Tipo de clítico pronominal: amalgamam-se (i) os pronomes referentes às

primeiras e segundas pessoas do singular e do plural (me, te, nos, vos); (ii) o pronome se

do tipo apassivador e indeterminador.

(g) Tonicidade das formas verbais (no âmbito das lexias verbais simples):

procede-se à junção – quando se verificam dados de vocábulos proparoxítonos – das

formas verbais paroxítonas e proparoxítonas.

(h) Presença / ausência de elementos intervenientes na estrutura verbal

complexa (no âmbito das lexias verbais complexas): reúnem-se, por vezes, os

conectores de e que.

(i) Tipo de lexia verbal complexa (no âmbito das lexias verbais complexas):

congregam-se, em certos momentos, (i) locuções concebidas como temporais-

aspectuais, (ii) perífrases modais; (iii) estruturas com verbos de controle (volitivos ou

declarativos) de mesmo referente-sujeito.

Com o amparo de todos os esclarecimentos, aqui concedidos, contemplem-se os

resultados expostos na seqüência concernentes à análise dos dados – da observação das

freqüências absolutas e percentuais para cada fator constituinte das variáveis

controladas até as rodadas multivariacionais (pesos relativos – para as lexias verbais

simples) empreendidas.

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114

5. EXPOSIÇÃO ANALÍTICA DOS DADOS: OS RESULTADOS ALCANÇADOS

MEDIANTE EXAME DOS CORPORA

Por intermédio de todas as ponderações, até o momento, efetuadas, apresentam-

se, doravante, os efeitos da colocação pronominal no PB e no PE dos séculos XIX e XX

segundo os moldes da investigação sociolingüística.

É oportuno registrar que, neste capítulo, se promove, preliminarmente, a

apresentação da realidade dos corpora, discriminando-se o número total de casos de

ordenação dos clíticos em domínios de lexias verbais simples e complexas, a fim de

informar quais dos dados, efetivamente, são submetidos ao tratamento variacionista.

Em busca do conjugado “adequação descritiva e explicativa”, empreende-se a

apresentação dos resultados pela exibição, primeiramente, dos pormenores da ordem no

âmbito de sentenças integradas por uma única forma verbal, tecendo-se,

subseqüentemente, as particularidades da colocação no domínio de estruturas verbais

complexas. Reitere-se que o estudo do posicionamento dos átonos pronominais em

ambientes de lexias verbais complexas se instaura – haja vista a consideração da forma

do verbo principal – em três instâncias analíticas, quais sejam: posicionamento do

pronome em ambientes de complexos (i) gerundivos, (ii) participiais e (iii) com verbo

principal no infinitivo.

Conforme já salientado ao capítulo 4, buscando observar se PB e PE apresentam

padrões de normas distintas, opta-se pelo exame, em separado, dos dados provenientes

das variedades brasileira e européia, comparando-os sempre quando possível. No que

concerne ao tratamento diacrônico da ordem, consideram-se os valores absolutos,

percentuais e relativos das variantes atestadas nos séculos XIX e XX a um só tempo,

visto que, tal como o pontuado na seção 4.5, a análise, ao contemplar ambos os séculos

em conjunto, se revela mais produtiva. Ademais, para maiores detalhes acerca da

influência do percurso temporal, controlam-se os grupos de fatores época/fase de

publicação dos romances eleitos e séculos investigados.

Além da análise interpretativa dos valores obtidos para o evento examinado nos

domínios de lexias verbais simples e complexas mediante as variáveis lingüísticas e

extralingüísticas, estabelecem-se, ainda, considerações sobre os casos de interpolação

constatados.

5.1 A ordem em ambientes de lexias verbais simples: a realidade dos corpora

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115

No conjunto de 3478 dados de colocação pronominal distribuídos pelos

domínios em exame (cf. quadro 2 da seção 4.2), 2965 casos (1427 para PB e 1538 para

PE) correspondem à ordenação de clíticos em ambientes nos quais os clíticos se

apresentam na adjacência de um único hospedeiro verbal, conforme o esquematizado:

Contemple-se, a seguir, a distribuição dos dados pelos fatores da variável

dependente no domínio de lexias verbais simples.

Tome-se, primeiramente, a exposição das freqüências absolutas e percentuais

das variantes observadas na amostra do Português do Brasil:

48

A totalidade dos dados de LVS contabilizados tanto no PB quanto no PE representa o número de

registros de colocação em todos os contextos, isto é, em domínios nos quais se considera a ordem

pronominal em ambientes de início absoluto de oração/período bem como de proclisadores canônicos e

não-canônicos. Contabilizam-se, no cômputo dos valores dessa esquematização, os casos de mesóclise,

variante essa que, conforme se esclarecerá, não se contempla no tratamento quantitativo.

Número total de dados: 3478

Número total de LVS: 2965

Total48

de LVS no PB: 1427 dados

[Século XIX: 587 – Século XX: 840]

Total de LVS no PE: 1538 dados

[Século XIX: 559 – Século XX: 979]

→ Dados em Início Absoluto: 335;

→ Dados nos demais contextos (somente com

proclisadores canônicos e não-canônicos sem os

chamados inícios absolutos de período e oração):

1092:

→ em domínio de proclisadores

canônicos: 514;

→ em domínio de proclisadores não-

canônicos: 578.

→ Dados em Início Absoluto: 424;

→ Dados nos demais contextos (somente com

proclisadores canônicos e não-canônicos sem os

chamados inícios absolutos de período e oração):

1114:

→ em domínio de proclisadores

canônicos: 576;

→ em domínio de proclisadores não-

canônicos: 538.

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116

Tabela 1: Distribuição geral das variantes no PB dos séculos XIX e XX em todos os contextos de LVS

Tabela 2: Freqüência percentual e absoluta das variantes em início absoluto e nos demais

contextos a partir de dados do PB dos séculos XIX e XX

Tabela 3: Freqüência percentual e absoluta das variantes em domínio de proclisadores

canônicos e não-canônicos a partir de dados do PB dos séculos XIX e XX

Cumpre esclarecer que os índices expostos na seqüência de tabelas apresentadas

serão pormenorizados na seção em que, efetivamente, se analisam os resultados da

ordem em lexias verbais simples. Por ora, pontue-se que, pelos escassos números de

casos da mesóclise no PB dos séculos XIX e XX, tal variante não é contemplada na

análise quantitativa multivariacional. Entretanto, exibem-se suas particularidades na

próxima subseção.

No que concerne à realidade distribucional das variantes no âmbito do Português

Europeu, acompanhem-se os quadros:

Todos os contextos [Início Absoluto / Proclisadores canônicos / Proclisadores não-canônicos]

1427 dados

Próclise Mesóclise Ênclise

704 dados

49%

8 dados

1%

715 dados

50%

Distribuição detalhada dos 1427 dados do PB pelos contextos investigados

Início Absoluto

Demais contextos [Proclisadores Canônicos / Proclisadores Não-

canônicos]

335 dados 1092 dados

Próclise Mesóclise Ênclise Próclise Mesóclise Ênclise

6%

21 dados

3%

8 dados

91%

306 dados

63%

683 dados

0%

0 dado

37%

409 dados

Demais contextos

Proclisadores Canônicos Proclisadores Não-canônicos

514 dados 578 dados

Próclise Mesóclise Ênclise Próclise Mesóclise Ênclise

485 dados

94%

0 dado

0%

29 dados

6%

198 dados

34%

0 dado

0%

380 dados

66%

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117

Tabela 4: Distribuição geral das variantes no PE dos séculos XIX e XX em todos os contextos de LVS

Tabela 5: Freqüência percentual e absoluta das variantes em início absoluto e nos demais contextos a

partir de dados do PE dos séculos XIX e XX

Tabela 6: Freqüência percentual e absoluta das variantes em domínio de proclisadores canônicos e não-

canônicos a partir de dados do PE dos séculos XIX e XX

Tal como se procede com os dados do PB, elucidam-se os valores concernentes

ao PE na próxima seção, salientando-se, igualmente, que os ínfimos registros da

variante mesoclítica não são submetidos ao tratamento quantitativo.

5.1.1 A colocação pronominal em domínio de Lexias Verbais Simples

49

As percentagens que, por vezes, se apresentarem com casas decimais representam uma necessidade de

expor valores que, quando somados, resultem na totalidade de 100 pontos percentuais.

Todos os contextos [Início Absoluto / Proclisadores canônicos / Proclisadores não-canônicos]

1538 dados

Próclise Mesóclise Ênclise

723 dados

47%

7 dados

1%

808 dados

52%

Distribuição detalhada dos 1538 dados do PE pelos contextos investigados

Início Absoluto

Demais contextos

[Proclisadores Canônicos / Proclisadores Não-

canônicos]

424 dados 1114 dados

Próclise Mesóclise Ênclise Próclise Mesóclise Ênclise

1 dado

0,5% 49

6 dados

1,5%

417 dados

98%

721 dados

64,9%

1dado

0,1%

392 dados

35%

Demais contextos

Proclisadores Canônicos Proclisadores Não-canônicos

576 dados 538 dados

Próclise Mesóclise Ênclise Próclise Mesóclise Ênclise

572 dados

99%

0 dado

0%

4 dados

1%

149 dados

27,8%

1 dado

0,2%

388 dados

72%

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Empreende-se, nesta seção, a exposição dos resultados obtidos a partir da análise

variacionista de 2965 dados (1427 casos para o PB e 1538 ocorrências para o PE) de

colocação pronominal no âmbito das Lexias Verbais Simples.

Com base em outros estudos do fenômeno, propõe-se que o tratamento destinado

à ordem dos pronomes átonos em domínio de um único item verbal deva ser realizado

mediante a observação dos seguintes contextos: (i) início absoluto de oração; (ii)

ambientes constituídos de operadores de próclise – denominados, aqui, de proclisadores

– concebidos pela tradição gramatical como fatores inequívocos de atração do clítico; e

(iii) ambientes constituídos de proclisadores não-canônicos, aqueles que não se arrolam

usualmente entre os índices de próclise considerados nos compêndios normativos.

Julga-se que a análise em separado dos ambientes citados lance luz às constatações que

se pretendem apresentar, especialmente quanto ao estabelecimento das normas de uso

literárias em comparação às normas idealizadas como padrão culto na tradição

gramatical.

Com a finalidade de garantir maiores esclarecimentos quanto à distribuição dos

dados pelos contextos investigados, leia-se a tabela que se segue:

Tabela 7: Distribuição do número total de dados no âmbito das LVS, no PB e no PE dos séculos XIX e

XX, em todos os contextos

Conforme se verifica pela disposição dos fatores da variável dependente – os

quais, anteriormente, foram discriminados na seção 4.3.1 (próclise: aqui se investiga a

ordem pronominal; mesóclise: Investigar-se-á a ordem pronominal; e ênclise: Investiga-se a

ordem pronominal) –, os casos de colocação observados em todos os contextos revelam

uma distribuição similar no que respeita a ambas as variedades, nas quais se aponta um

registro levemente superior para a ordem enclítica (50% e 52%, respectivamente para

PB e PE) seguida da proclítica (49% e 47%, de modo respectivo). A propósito da

colocação intraverbal, ateste-se a não expressividade de sua manifestação em 8 casos no

PB e em 7 dados no PE, todos a seguir apresentados:

Todos os contextos [Início Absoluto / Proclisadores canônicos / Proclisadores não-canônicos]

Português do Brasil

Português Europeu

1427 dados 1538 dados

Próclise Mesóclise Ênclise Próclise Mesóclise Ênclise

49%

704 dados

1%

8 dados

50%

715 dados

47%

723 dados

1%

7 dados

52%

808 dados

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Dados de mesóclise verificados no PB dos séculos XIX e XX

Ex1.: - Atirar-me-ia a seus pés, abraçar-me-ia com eles e lhe diria: "Perdoai-me, perdoai-me,

senhora, eu já não posso ser vosso esposo! Tomai a prenda que me deste..." [JMM-PB-

LVS-19]

Ex2.: - Atirar-me-ia a seus pés, abraçar-me-ia com eles e lhe diria: "Perdoai-me, perdoai-me,

senhora, eu já não posso ser vosso esposo! Tomai a prenda que me deste..." [JMM-PB-

LVS-19]

Ex3.: Causar-lhe-ia riso a façanha desse camponês da Suíça, do qual se conta que por ordem

de um tirano teve de atravessar com uma flecha uma maçã colocada sobre a cabeça de seu

filho; Gonçalo teria atravessado um anel. [BG-PB-LVS-19]

Ex4.: - Se é este o seu receio, eu o tranqüilizo... Assino, se você quiser, um papel de dívida,

comprometendo-me a dar a mesma recompensa, seja qual for o resultado no negócio...

Ora, imagine que nos venha daí um bolo de 600 contos... Dar-lhe-ia boa porção. [RP-PB-

LVS-29]

Ex5.: Dir-se-ia que a natureza acabava de cobrir-se de lutuosos merinós, se não fosse o cetim

azulado do firmamento, e se não chovesse o riso das estrelas. [RP-PB-LVS-29]

Ex6.: Fixar-se-iam muito longe, adotariam costumes diferentes. [GrR-PB-LVS-42]

Ex7.: Acomodar-se-iam num sítio pequeno, o que parecia difícil a Fabiano, criado solto no

mato. [GrR-PB-LVS-42]

Ex8.: Mudar-se-iam depois para uma cidade, e os meninos freqüentariam escolas, seriam

diferentes deles. [GrR-PB-LVS-42]

Dados de mesóclise verificados no PE dos séculos XIX e XX

Ex9.: - Não digas mais! Tens razão, o vingar-se é o prazer supremo de um réprobo! Não

aceitei dela a liberdade: aceitá-la-ei de ti... Depois... depois, Deus se compadeça de

mim. [AH-PE-LVS-19]

Ex10.: Pensas tu que, se a cabeça me corresse algum risco, eu a exporia por te salvar? Oh que

não! Também tenho a minha vingança, e quero folgar depois de a ver satisfeita. Deixar-

me-ão aqui; porque o Conde de Trava não voltará esta noite; e amanhã... oh, amanhã...

Gonçalo Mendes da Maia virá soltar-me... Sei certo que há de vir. [AH-PE-LVS-19]

Ex11.: Dir-se-ia que, no fundo da sua memória, a lembrança adormecida daquele nome

despertara subitamente... [TC-PE-LVS-29]

Ex12.: - Dominá-los-emos pela ignorância. [RB-PE-LVS-32]

Ex13.: O povo julgava-os noivos, porque a espécie de esotérico entendimento que havia entre

ambos parecer-lhe-ia, de outro modo, uma pantomina. [ABL-PE-LVS-42]

Ex14.: [...] se ela jamais tivesse pretendido explorar o paralelo entre a sua força estuante e

poderosa e a incapacidade, ou aquém, de todos os outros, ter-se-ia verdadeiramente

ultrapassagem, seria como um meteoro que, liberto das leis que o encadeiam numa

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restrição de espaço e de tempo, se lança na aventura eterna do infinito. [ABL-PE-LVS-42]

Ex15.: Penso: comigo já morto, já desaparecido, reconquistado o teu amor, morto também o

rival, estas estrelas e esta flor obrigar-te-ão a pensar em mim? [AAb-PE-LVS-52]

Consoante os exemplos arrolados, certifique-se de que, dos contextos em que a

mesóclise é constatada, 11 casos50

ocorrem com itens verbais no futuro do pretérito do

indicativo, enquanto 4 ocorrências, todas verificadas no PE, se encontram em verbos

flexionados no futuro do presente do indicativo, tempos verbais aos quais a

manifestação da variante mesoclítica se restringe.

Considere-se, ainda, que a maioria dos registros de mesóclise, salvo os exemplos

2, do PB – no qual o verbo inicia uma oração antecedida de outra em período composto

por coordenação –, 13 e 15, do PE – nos quais os verbos se encontram precedidos de SN

Sujeito –, se apresenta em início absoluto de oração (embora não necessariamente em

início absoluto de período, como em Ex14 ).

No que respeita ao padrão normativo-gramatical, cumpre sinalizar que os

escritores responsáveis por tais realizações não possuíam outra opção de ordem, haja

vista que o uso da ênclise infringiria as limitações morfológicas referentes ao tempo

verbal e a realização de próclise não corresponderia às prescrições quanto à

manifestação dessa variante em face de um proclisador não-canônico.

No caso do PB, é oportuno observar que praticamente todos os registros se

exibem em início absoluto de período, ambiente concebido como inibidor potencial da

ordem proclítica. No que concerne ao PE, verifica-se, em 3 dos 7 casos, que ocorre a

mesóclise tanto em contexto inicial de período quanto em posição inicial de oração,

além do contexto antecedido de sujeito. Embora os parcos casos da variante intraverbal

não permitam generalizações, a diferença detectada entre PB e PE sugere que a variante

mesoclítica apareça em maior variedade de contextos no PE, sendo uma opção mais

natural na escrita literária européia do que na brasileira. No Brasil, tem-se por hipótese

que a manifestação do pronome interposto à forma verbal iniciando períodos se procede

em virtude de um suposto cumprimento a uma tradição discursiva ou de um

atendimento aos postulados preconizados pela Lei de Tobler-Mussafia, conforme o

salientado na seção referente à Fundamentação Teórica.

50

Tomem-se, dentre os escritores em cujas obras se atestam dados de colocação intraverbal, os autores

brasileiros Joaquim Manuel de Macedo (fase 1 – 2 dados), Bernardo Guimarães (fase 1 – 1 dado), Raul

Pompéia (fase 2 – 2 dados), Graciliano Ramos (fase 4 – 3 dados), bem como os europeus Alexandre

Herculano(fase 1 – 2 dados), Trindade Coelho (fase 2 – 1 dado), Raul Brandão (fase 3 – 1 dado),

Augustina Bessa Luís (fase 4 – 2 dados) e Augusto Abelaira (fase 5 – 1 dado).

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Ainda em relação à mesóclise, costuma-se postular que a escassez dessa variante

estaria relacionada à baixa produtividade de contextos com as formas do futuro simples,

dada a suposta preferência pelas construções de futuro perifrástico do tipo ir +

infinitivo. Tendo sido levantados os dados de futuro simples do indicativo nos corpora

investigados, contabilizam-se, no PB, 21 ocorrências que apresentam contexto indicado

para a colocação intraverbal – domínio de futuros do indicativo em que não se observam

proclisadores canônicos –; desses 21 casos, a próclise se registra em 16 ocorrências,

traduzidas em 76 pontos percentuais. A fim de exemplificar um registro de próclise em

ambiente que, possivelmente, potencializaria a ordem intraverbal, examine-se o seguinte

contexto de início de oração:

Ex16.: Se eu fosse pedir o que pagam na cidade, me chamariam de ladrão. [JLR-PB-LVS-42]

No que concerne ao PE, dos 10 contextos potenciais para a manifestação da

variante mesoclítica, 7 acusam a realização de mesóclise, o que corresponde a 70%.

Como ilustração de um dos contextos propícios tradicionalmente à mesóclise (presença

de proclisador não-canônico), mas em que, no entanto, se opta pela próclise, eis o dado:

Ex17.: - Maria, adeus – disse ele em voz abafada e surda – Em breve nos veremos na

eternidade; lá saberei a verdade. [ArG-PE-LVS-19]

Considerados exclusivamente os contextos restritos à manifestação da posição

intraverbal, verifica-se que a colocação mesoclítica ainda se constitui como primeira

opção de ordem pronominal na escrita literária européia do período investigado. Embora

os dados sejam exíguos, cabe observar que se registrou um número maior de casos no

PB do século XIX (5/8 registros) e no PE do século XX (4/7 ocorrências).

Cumpre esclarecer que somente uma investigação específica acerca da variante

mesoclítica em corpora diversificados – conjugando, possivelmente, preceitos teóricos

que abarquem as noções de gênero textual bem como de tradição discursiva e

procedendo ao levantamento de toda a expressão temporal do futuro – permitirá atestar

a produtividade de tal colocação em ambas as variedades do Português no decurso do

tempo.

Estabelecidas as considerações acerca da variante intraverbal, prossegue-se ao

detalhamento da distribuição total dos dados pelos demais contextos examinados, a

começar pelo PB:

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Tabela 8: Freqüência percentual e absoluta das variantes em início absoluto e nos demais contextos a

partir de dados do PB dos séculos XIX e XX

Note-se, pela tabela indicada, que os domínios integrados por proclisadores

canônicos e não-canônicos – demais contextos – excedem, em número considerável, os

ambientes de início absoluto, no PB.

Verifique-se que, em posição inicial de período/oração, a variante enclítica se

revela de modo expressivo (91%), conforme o recomendado pelas prescrições da

tradição gramatical de não se encetar cláusula com pronome oblíquo átono. O que

denota curiosidade, a fortiori, são as ocorrências de próclise em tais contextos (6%), que

se exemplificam a seguir:

Ex18.: - Me disseram; eu não quis avistar. [GR-PB-LVS-42]

Ex19.: - Me concebo. O senhor não é como eu? [GR-PB-LVS-42]

Ex20.: - Ouço um motor pesado passando próximo. Se afasta. [LFT-PB-LVS-52]

Ex21.: E se uma voz meio velada me chamar no telefone, voz de homem que prefere não deixar

o nome. Me vejo de perfil no espelho esfumaçado. [LFT-PB-LVS-52]

Ex22.: - Se escondeu atrás da igreja, olhe! [RQ-PB-LVS-32]

Ex23.: - Me declare tudo, franco – é alta mercê que me faz: e pedir posso, encarecido. Este caso

– por estúrdio que me vejam – é de minha certa importância. [GR-PB-LVS-42]

Ex24.: - Não? Lhe agradeço! Sua alta opinião compõe minha valia. [GR-PB-LVS-42]

Ex25.: - Nunca se sabe quem bate à nossa porta. Quando se é o homem mais rico das

redondezas, mais vale se prevenir. [NP-PB-LVS-52]51

É oportuno salientar que os autores brasileiros realizadores da variante proclítica

em contexto de início de período/oração são os seguintes: Rachel de Queiroz (fase 3 – 1

dado), Dinah Silveira de Queiroz (fase 4 – 2 dados), José Lins do Rego (fase 4 – 3

51

Este exemplo destoa dos demais em função da não-coincidência entre início de oração e início de

período.

Distribuição detalhada dos 1427 dados do PB pelos contextos investigados

Início Absoluto

Demais contextos [Proclisadores canônicos / Proclisadores não-

canônicos]

335 dados 1092 dados

Próclise Mesóclise Ênclise Próclise Mesóclise Ênclise

6%

21 dados

3%

8 dados

91%

306 dados

63%

683 dados

0%

0 dado

37%

409 dados

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dados), Guimarães Rosa (fase 4 – 10 dados), Nélida Piñon (fase 5 – 1 dado) e Lygia

Fagundes Telles (Fase 5 – 4 dados). A lista desses autores permite constatar que tais

dados ocorrem em textos de escritores do século XX, especialmente na obra de

Guimarães Rosa, em que imperam falas de personagem.

A propósito dos registros de próclise em posição inicial absoluta, leiam-se as

seguintes palavras de Martins (2009: 168), em sua tese de doutoramento:

Um aspecto interessante da variação Vcl/clV [...], revelador da gramática do PB, como já

evidenciado em muitos estudos (cf. PAGOTTO, 1992; LOBO, 1992; ABAURRE;

GALVES, 1996; GALVES, 2001; CARNEIRO, 2005), é a próclise em orações com o

verbo em primeira posição absoluta (contextos V1).

O autor, ao determinar o caráter de ocorrência categórica de ênclise na história

do Português em contexto de “primeira posição absoluta”, julga que a variante proclítica

em tal ambiente fortemente indicia uma característica particular do PB. A respeito da

colocação clV em tais contextos, lança mão de alguns estudos, tais como o de Galves,

Brito, Paixão de Sousa (2005) [GBPS, em Martins (2009)] bem como o de Carneiro

(2005)52

, no propósito de examinar a evolução dos índices de freqüência de próclise em

orações integradas por formas verbais em primeira posição no decurso dos séculos XVI

a XX.

A fim de se promover um cotejo entre os números obtidos por GBPS (2005),

Carneiro (2005), Martins (2009) e os valores da presente investigação a respeito da

ordem proclítica em ambiente de início absoluto, observem-se as representações

gráficas que se seguem:

52

É oportuno pontuar que as investigações de GBPS (2005), Carneiro (2005) e Martins (2009)

promoveram, respectivamente, a observação de (i) textos escritos por portugueses nascidos entre 1542 e

1836, disponibilizados no banco de dados Tycho Brahe Parsed Corpus of Historical Portuguese; (ii)

Cartas Brasileiras mediante textos do século XIX, bem como (iii) peças teatrais compostas por autores

catarinenses e lisboetas nascidos entre os séculos XIX e XX. Faz-se saber que Martins (2009), para a

construção do gráfico que se expõe, contabilizou, somente, a realização de clV em textos da variedade

brasileira do Português. Convém informar que os percentuais de próclise na figura extraída de Martins

(2009) se distribuem pelos anos de nascimento dos autores analisados. No presente estudo, a variável

extralingüística responsável pelo controle do período temporal ancora-se na época de publicação das

obras contempladas.

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O gráfico exposto, averiguado em Martins (2009: 181), permite ao autor

esclarecer que, no decorrer dos séculos analisados, a variante proclítica, em face de

verbos em posição inicial, não se constitui como um fenômeno constante nos textos

observados pelos estudiosos destacados na esquematização, manifestando-se, a partir do

século XIX, em algumas ocorrências, e alcançando maior expressividade apenas no

século XX.

Com base nos valores indicados, comparem-se, a seguir, os números de próclise

constatados em início absoluto de oração na análise aqui desenvolvida:

Figura 2: Distribuição dos índices de próclise em contexto de início absoluto de oração no PB dos

séculos XIX e XX

A linha gráfica representada testemunha índices nulos de próclise em início de

período/oração no decurso das fases do século XIX, tal como na análise de GBPS

Figura 1: A variante proclítica mediante verbos em posição inicial, com base no gráfico extraído de

Martins (2009: 181)

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(2005). Verifique-se, pois, que as primeiras ocorrências da variante pré-verbal ocorrem

a partir da fase 3, isto é, início do século XX, atingindo 19% de manifestação no ínterim

de 1934 e 1966, com um decréscimo na fase 5, em que se registram 7% de tal

colocação.

O cotejo de todos os valores de próclise em contexto de verbo inicial observados

nos estudos confrontados permite postular que, até o século XIX, a variante proclítica

em início absoluto se faz ausente, assumindo, mesmo que sutilmente, alguns índices de

realização a partir do século XX.

Estabelecidas as considerações acerca da distribuição de próclise, mesóclise e

ênclise em ambiente de início absoluto de período/oração, retome-se a tabela 8, de

modo a reiterar as freqüências percentuais e absolutas das variantes em domínio dos

demais contextos no âmbito do PB.

Perceba-se que a colocação pronominal em face dos proclisadores canônicos e

não-canônicos apresenta maiores índices de produtividade para a ordem pré-verbal

(63%) comparados à ausência categórica (0%) do fator mesoclítico bem com aos baixos

percentuais de ênclise (37%). Os números permitem constatar que, de fato, os

proclisadores exercem, nos dados de lexias verbais simples do PB, potencialidade de

atração.

De modo a observar a manifestação dos fatores da variável dependente

discriminando-se, separadamente, os casos integrados por operadores de próclise

tradicionais dos registros que apresentam fatores de próclise não tradicionais,

acompanhe-se o quadro a seguir:

Tabela 9: Freqüência percentual e absoluta das variantes em domínio de proclisadores canônicos e não-

canônicos a partir de dados do PB dos séculos XIX e XX

Os números exibidos permitem constatar que, consideravelmente, os

proclisadores concebidos pela prescrição gramatical como tradicionais motivam a

ocorrência do clítico à esquerda de seu hospedeiro verbal em 94% contra a marca de

34% da mesma variante em contexto de proclisadores não-canônicos. Torna-se, assim,

Demais contextos

Proclisadores Canônicos Proclisadores Não-canônicos

514 dados 578 dados

Próclise Mesóclise Ênclise Próclise Mesóclise Ênclise

485 dados

94%

0 dado

0%

29 dados

6%

198 dados

34%

0 dado

0%

380 dados

66%

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oportuno salientar a influência decisiva que os proclisadores tradicionais exercem na

manifestação da ordem pré-verbal.

Todavia, cumpre registrar que, mesmo em face dos fatores de próclise

canônicos, a ordem enclítica se procede em 6% (29/514 dados) dos casos, como no

contexto que, abaixo, se ilustra:

Ex26.: Sua tia, D. Leocádia, que fazia-lhe agora as vezes de mãe, estava sentada à cabeceira. [RP-PB-LVS-29]

Observe-se, também, que a próclise, mesmo diante de operadores não-

tradicionais, se revela em 34% (198/578 dados), tal como na exemplificação:

Ex27.: Ao ouvir isto, o sorriso se transformou em desassombrada gargalhada. [DSQ-PB-LVS-42]

No que toca ao Português Europeu, compreenda-se a distribuição de 1538 dados

de ordem averiguados em todos os contextos (conforme se indica na tabela 7) pelos

domínios exibidos na seqüência:

Tabela 10: Freqüência percentual e absoluta das variantes em início absoluto e nos demais contextos a

partir de dados do PE dos séculos XIX e XX

Examinando, primeiramente, o caráter distribucional das variantes mediante os

inícios absolutos de período/oração, saliente-se o índice quase categórico de 98% de

ordem enclítica tal como o recomendado pela tradição gramatical. No entanto, convém

mencionar o único suposto caso de manifestação da próclise em posição inicial, agora

apresentado:

Ex28.: – Se sabe o que aconteceu [...] creio ter-lhe dito um dia que a Lídia tinha um irmão na

Marinha, Morreu, Morreu. [JS-PE-LVS-52]

Primeiramente, ressalte-se o caráter excepcional da próclise no dado acima.

Quanto a essa ocorrência, resguarde-se o caráter dúbio do elemento se, uma vez que não

se tem total certeza quanto a sua classificação morfológica como possível conjunção

Distribuição detalhada dos 1538 dados do PE pelos seguintes contextos investigados

Início Absoluto

Demais contextos

[Proclisadores canônicos / Proclisadores não-

canônicos]

424 dados 1114 dados

Próclise Mesóclise Ênclise Próclise Mesóclise Ênclise

1 dado

0,5%

6 dados

1,5%

417 dados

98%

721 dados

64,9%

1dado

0,1%

392 dados

35%

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condicional ou pronome átono. Na interpretação como pronome átono, compreende-se

tal item como partícula apassivadora pela razão de se considerar a oração “Se sabe o

que aconteceu” como coordenada assindética (seguida de uma sentença coordenada

explicativa sem a concretização da conjunção pois ou porque, por exemplo) em

construção passiva sintética equivalente à estrutura analítica “algo é sabido por

alguém”. Por esse motivo, a presente análise aponta a possibilidade de o Ex28 ser

considerado como um caso em que se testemunha a presença de um clítico pronominal

em início de período.

Deve-se considerar, ainda, que a presença desse dado, o qual, além de único, é

duvidoso, não descaracteriza a proposta de que a manifestação da próclise em posição

inicial não é compatível com a variedade européia do Português. Vieira (2002), por

exemplo, não constata, também, casos da ordem proclítica em início de oração/período

em dados de domínio jornalístico. A título de descrição, a ocorrência ora observada

(Ex28) corresponde à realização proclítica em instância de fala de personagem – tal

como o verificado nos dados do PB no que respeita aos registros colhidos do romance

de Guimarães Rosa – averiguada nos escritos de José Saramago (fase 5).

Compare-se a figura abaixo com o padrão gráfico 2, referente à distribuição de

próclise no PB em posição inicial absoluta:

Figura 3: Distribuição dos índices de próclise em contexto de início absoluto de oração no PE dos

séculos XIX e XX

A visualização gráfica deixa evidente que os valores encontrados na amostra

brasileira, ainda que parcos (21 dados), são relevantes se comparados à única e duvidosa

ocorrência de clítico em início absoluto no PE.

A respeito da produtividade das variantes da ordem em lexias verbais simples do

PE pelos demais contextos, cujos valores se indicam na tabela 10, ateste-se que, assim

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como no PB, a variedade européia permite verificar a atuação dos proclisadores

canônicos e não-canônicos, tomados em conjunto, de modo efetivo para a produtividade

da ordem pré-verbal (64,9%) em comparação aos números de ênclise (35%).

A fim de ponderar a potencialidade de atração em dados exclusivos de

proclisadores tradicionais bem como em casos de proclisadores não-tradicionais,

observem-se as freqüências:

Tabela 11: Freqüência percentual e absoluta das variantes em domínio de proclisadores canônicos e não-

canônicos a partir de dados do PE dos séculos XIX e XX

O Português Europeu demonstra a produtividade quase categórica de próclise

(99%) em contexto de operadores canônicos, tal como as prescrições gramaticais

recomendam. Em contrapartida, os índices de ênclise fazem-se majoritários mediante os

proclisadores não-canônicos. As constatações estabelecidas para o PE vão ao encontro

do que se observa para o PB nos mesmos domínios destacados: freqüência considerável

da ordenação pré-verbal em face de proclisadores tradicionais e maiores valores de

ênclise à vista dos não-tradicionais. A diferença entre as variedades reside na

intensidade da tendência verificada: no PE, o efeito proclisador de elementos canônicos

chega a quase 100% dos casos e o efeito dos elementos não canônicos é menor (27,8%)

do que no PB (34%).

Os dois exemplos destacados abaixo ilustram, todavia, a marca de 4 dados de

ênclise, mesmo em ambientes nos quais se espera a próclise, assim como o valor

absoluto de 149 dados de próclise em domínio de proclisadores não apontados pelos

padrões normativos como “atratores”, de modo respectivo:

Ex29.: Porque o certo era que [...] o conde reconhecia-se um espectro... [AB-PE-LVS-32]

Ex30.: Quase perdeu o equilíbrio ao saltar para o passeio, junto da paragem uma velhota refilou

de o ver esbaforido e desastrado. [FN-PE-LVS-52]

Observe-se que, no primeiro caso (Ex29), é provável que o efeito da distância

entre o elemento que e a estrutura clítico mais verbo tenha agido no sentido de atenuar o

efeito proclisador.

Demais contextos

Proclisadores Canônicos Proclisadores Não-canônicos

576 dados 538 dados

Próclise Mesóclise Ênclise Próclise Mesóclise Ênclise

572 dados

99%

0 dado

0%

4 dados

1%

149 dados

27,8%

1 dado

0,2%

388 dados

72%

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129

No que respeita à próclise em contexto de elemento não-canônico, observe-se

que se trata de uma preposição, que, como se verá adiante, exerce efeito proclisador na

variedade européia.

No que tange ao caráter distribucional das variantes pela diacronia das fases

examinadas, contemplem-se, abaixo, as linhas gráficas que denotam a freqüência de

próclise, mesóclise e ênclise em todos os contextos, em domínio de início absoluto,

assim como em ambientes exclusivos de proclisadores canônicos e de proclisadores

não-canônicos, além dos demais contextos (proclisadores tradicionais e não-tradicionais

sem início absoluto).

– Todos os contextos no que concerne ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX

Figura 4: Concretização das variantes em todos os contextos no âmbito das lexias verbais simples pelas

fases estipuladas a partir da publicação dos romances brasileiros dos séculos XIX e XX

Perceba-se a nítida variação entre próclise e ênclise por todas as fases

contempladas, salientando-se a instabilidade de freqüência dessas variantes, uma vez

que as ordens pré-verbal e pós-verbal se alternam, quanto à produtividade de

manifestação, em cada fase controlada.

No que respeita ao PE, contemple-se o padrão gráfico:

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130

Figura 5: Concretização das variantes em todos os contextos no âmbito das lexias verbais simples pelas

fases estipuladas a partir da publicação dos romances europeus dos séculos XIX e XX

De modo parecido ao PB, registre-se a evidente competição entre as variantes

proclítica e enclítica, atentando-se para o fato de que, no PE, os índices não são tão

instáveis como o observado no PB, uma vez que nas fases 2, 3 e 4 os valores de próclise

e ênclise apresentam certa constância. Verifique-se que, somente no início do século

XIX (fase 1) e no fim do século XX (fase 5), os percentuais de próclise assumem

valores levemente superiores aos da ordem pós-verbal.

Acredita-se que os registros verificados no domínio de todos os dados tomados

em conjunto não podem ser seguramente avaliados, tendo em vista as possíveis

influências das estruturas constantes de cada fase, podendo tais construções possuir ou

não um elemento proclisador. Por essa razão, passa-se a observar a evolução do

comportamento da ordem em função das subamostras delimitadas segundo os contextos

estruturais.

– Início absoluto no que concerne ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX

Figura 6: Concretização das variantes em início absoluto no âmbito das lexias verbais simples pelas

fases estipuladas a partir da publicação dos romances brasileiros dos séculos XIX e XX

Contabilizem-se, em contexto de início absoluto, os índices consideráveis de

ênclise em todas as fases do PB, os quais alcançam quase a marca de 100%,

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131

salientando-se que, na fase 4, os valores da ordem enclítica sofrem decréscimo

assumindo a freqüência de 80 pontos percentuais, à proporção em que se dá a elevação

da variante pré-verbal (20%), improdutiva em todos as outras fases. A mesóclise

mantém-se com baixíssimos índices em todo o período investigado.

Pelas observações estabelecidas, observe-se que o Português literário brasileiro

em contexto de verbo inicial atende, via de regra, às prescrições gramaticais.

A respeito do PE, contemple-se o padrão gráfico exposto:

Figura 7: Concretização das variantes em início absoluto no âmbito das lexias verbais simples pelas

fases estipuladas a partir da publicação dos romances europeus dos séculos XIX e XX

Tal como o Português do Brasil, ressaltem-se os elevados registros de ênclise,

considerando que, no PE, tal variante se dá de modo extremamente produtivo em todas

as fases, enquanto a próclise demonstra ausência quase categórica, abaixo dos registros

de mesóclise.

– Proclisadores canônicos

Figura 8: Concretização das variantes em contexto de proclisadores canônicos no âmbito das lexias

verbais simples pelas fases estipuladas a partir da publicação dos romances brasileiros dos séculos XIX

e XX

A variedade brasileira do Português apresenta altas freqüências de próclise

acima de 80%, sendo os valores quase categóricos nas fases 3 e 4. Na presença de

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132

proclisadores canônicos, os discretos números de ênclise destacam-se um pouco mais no

intervalo de tempo entre 1867 e 1900 (fase 2).

No que se refere ao Português Europeu, acompanhe-se a evolução das linhas

gráficas:

Figura 9: Concretização das variantes em contexto de proclisadores canônicos no âmbito das lexias

verbais simples pelas fases estipuladas a partir da publicação dos romances europeus dos séculos XIX e

XX

O presente gráfico da variedade européia reflete a evolução da próclise e da

ênclise de modo inversamente proporcional ao verificado nas linhas gráficas que

representavam o contexto de início absoluto de período/oração. Ressalte-se que, em

contextos de proclisadores canônicos, são os índices de próclise que ocorrem com quase

exclusividade (ora 99%, ora 100%), em vez dos registros quase categóricos da ordem

enclítica em contexto de início absoluto do PE.

– Proclisadores não-canônicos

Figura 10: Concretização das variantes em contexto de proclisadores não-canônicos no âmbito das

lexias verbais simples pelas fases estipuladas a partir da publicação dos romances brasileiros dos séculos

XIX e XX

No domínio agora considerado, no âmbito da variedade brasileira, a variante

enclítica, com maior freqüência de manifestação, sobrepuja os valores das demais

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133

colocações, ocorrendo de forma mais intensa na fase 2 (fim do século XIX). No entanto,

na segunda metade da fase 4, os índices de próclise são, levemente, superiores aos

registros da ordem pós-verbal.

No que tange ao PE, eis a ilustração:

Figura 11: Concretização das variantes em contexto de proclisadores não-canônicos, no âmbito das

lexias verbais simples pelas fases estipuladas a partir da publicação dos romances europeus dos séculos

XIX e XX

Os índices de próclise e ênclise permanecem distantes ao longo das fases

examinadas, aproximando-se um pouco mais no início do século XIX (fase 1) e no fins

do século XX (fase 5).

– Contexto de proclisadores canônicos e não-canônicos

Figura 12: Concretização das variantes em contexto de proclisadores canônicos e não-canônicos, no

âmbito das lexias verbais simples pelas fases estipuladas a partir da publicação dos romances brasileiros

dos séculos XIX e XX

Considerando-se os dados de colocação em contextos de proclisadores canônicos

e não-canônicos do PB em conjunto, constata-se que a variante proclítica se faz,

também, em maiores números do que as demais posições. Entretanto, tal colocação

sofre um declínio na segunda metade da fase 2, sendo levemente sobrepujada pela

ordem enclítica.

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134

De modo a considerar a distribuição dos fatores da variável dependente na

amostra européia em ambiente dos possíveis operadores de próclise, tome-se,

preliminarmente, a esquematização que se segue:

Figura 13: Concretização das variantes em contexto de proclisadores canônicos e não-canônicos, no

âmbito das lexias verbais simples pelas fases estipuladas a partir da publicação dos romances europeus

dos séculos XIX e XX

A ordenação proclítica, em todas as fases, mantém-se, em termos de freqüência,

mais produtiva do que as outras variantes, assumindo índices ainda maiores no início do

século XIX (fase 1) assim como no fim do século XX (fase 5).

Tomando-se por base todos os padrões gráficos acima representados segundo os

contextos em destaque, pontuem-se as seguintes constatações:

(i) Em grande parte dos domínios analisados, a variante mesoclítica permanece,

efetivamente, na marca categórica de 0%. Nos poucos momentos em que tal colocação

se deixa contabilizar, observe-se que sua manifestação não ultrapassa as marcas de 5% e

3% no PB e no PE, respectivamente, em ambiente de início absoluto, contexto em que

atinge seus maiores números de realização.

(ii) No que tange aos domínios de possíveis proclisadores, ressalte-se que a ordem

proclítica se manifesta quase exclusivamente, em ambas as variedades contempladas no

decurso dos séculos XIX e XX, diante de operadores de próclise concebidos como tais

pelo padrão gramatical. Esse fato sinaliza que os contextos de proclisadores tradicionais

atuam como inibidores do fenômeno variável dada a quase categoricidade de registro da

colocação pré-verbal, especialmente no PE.

(iii) Os contextos de início absoluto também se constituem como ambiente em que não

se pode vislumbrar o fenômeno variável, haja vista que a ordem enclítica sobrepuja os

índices das demais variantes, que permanecem próximas de zero ponto percentual no

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135

PB e no PE dos séculos XIX e XX. Exceção a essa tendência se observa na fase 4 do

PB, em que a realização da próclise demonstra um certo aumento.

(iv) No que respeita aos domínios de todos os contextos, considerem-nos como

ambientes mais expressivos de manifestação da regra variável em todo o período

considerado.

(v) O condicionamento do evento de colocação em termos diacrônicos pode ser

sugerido pelo comportamento diferenciado do fenômeno em algumas fases controladas.

O debate acerca desse possível condicionamento é enriquecido pelo fato de a variável

época/fase de publicação das obras adotadas ter sido selecionada em ambas as

variedades, como se verá na próxima seção.

Uma vez estabelecidas as tendências brasileiras e européias gerais acerca da

ordem em lexias verbais simples nos diversos contextos, procede-se, na seqüência, à

apresentação dos efeitos dos grupos de fatores apontados pelo tratamento estatístico dos

dados como relevantes, considerando-se, somente, registros da ordem em ambientes em

que se contempla a interferência dos operadores canônicos e não-canônicos. Excetuam-

se, pois, os dados de início absoluto de período e/ou oração. Pontue-se, ainda, que,

conforme o constatado, a variante mesoclítica, pela razão dos escassos números de

dados e pelo fato de não ser concebida como fator que efetivamente compete com as

demais posições de modo variável, não se encontra contabilizada nos valores que, na

seção 5.1.1.1, se apresentam.

5.1.1.1 Grupos de fatores relevantes no condicionamento da próclise em LVS, no

âmbito do PB e do PE dos séculos XIX e XX

Descrita a distribuição geral das variantes pelos contextos discriminados, bem

como pela diacronia das fases estipuladas nos séculos XIX e XX, pormenorizam-se, na

seqüência, os grupos de fatores apontados pela seleção do tratamento técnico-

computacional como variáveis relevantes à compreensão do fenômeno que, nesta

investigação, se pondera.

Por intermédio do quadro exposto, apresentam-se os grupos salientes à

ocorrência do evento variável em ordem de seleção para o condicionamento da próclise.

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136

Variáveis relevantes no âmbito do PB e do PE dos séculos XIX e XX53

Português do Brasil Séculos XIX e XX

Português Europeu Séculos XIX e XX

Próclise como valor de aplicação

→ Significância: 0.01

Input: 0.783

Próclise como valor de aplicação

→ Significância: 0.03

Input: 0.826

1º - Possível elemento proclisador 1º - Possível elemento proclisador

2º - Época/fase de publicação das obras adotadas 2º - Época/fase de publicação das obras adotadas

3º - Tipo de clítico pronominal 3º - Natureza da oração

4º - Tempo e modo das formas verbais 4º - Tipo de clítico pronominal

5º - Tonicidade dos itens verbais 5º - Tempo e modo das formas verbais

Quadro 5: Variáveis selecionadas quanto ao evento da ordem em LVS no PB e no PE dos séculos XIX e

XX

O quadro acima permite observar que PB e PE demonstram, quase sempre, as

mesmas variáveis relevantes (apresentadas, por vezes, na mesma ordem de seleção ou

em posição distinta), salvo os grupos tonicidade das formas verbais (para o Português

do Brasil) e natureza da oração (para o Português Europeu).

Foram descartadas, nas duas variedades lingüísticas, as seguintes variáveis: de

caráter extralingüístico, vozes do romance, autores contemplados, gênero/sexo dos

autores, séculos investigados; e no âmbito lingüístico, distância entre possível elemento

proclisador e seqüência constituída de clítico e verbo.54

Feitos tais esclarecimentos, acompanhem-se, na seqüência, os efeitos das

variáveis no condicionamento da próclise verificados.

5.1.1.1.1 Variável de cunho extralingüístico

Reitere-se que ambas as variedades do Português sinalizam, em segundo lugar

na ordem de seleção, o grupo época/fase de publicação das obras adotadas como

variável independente de natureza extralingüística decisiva à instauração da regra

variável.

Haja vista que as devidas considerações acerca do caráter diacrônico da

distribuição percentual das variantes foram anteriormente estabelecidas em face dos

contextos discriminados, compreendam-se, a seguir, os percentuais associados aos pesos

53

A listagem das variáveis relevantes ora apresentada foi construída a partir da sistematização das

diversas rodadas executadas. Para observação da seleção das variáveis em cada análise multivariacional,

reitere-se que se expõe, no Anexo 2, o quadro relativo à seleção de grupos de fatores nas rodadas mais

importantes do PB e do PE dos séculos XIX e XX. 54

Para o conhecimento da distribuição de dados da variável dependente pelos fatores dos grupos

descartados, consultar o Anexo 3.

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137

relativos observados para cada variedade examinada em domínio de proclisadores

canônicos e não-canônicos.

Constatem-se, na tabela abaixo, os valores que se seguem:

Época/fase de publicação das obras adotadas em dados de Lexias Verbais Simples

Variedades Português do Brasil

Séculos XIX e XX

Português Europeu Séculos XIX e XX

Variantes

Fatores Próclise Ênclise Próclise Ênclise

Fase 1

[1834 – 1866] 70%

171/245

30%

74/245

73%

163/222

27%

59/222

Fase 2

[1867 – 1900] 47%

104/222

53%

118/222

54%

100/186

46%

86/186

Fase 3

[1901 – 1933] 60%

126/209

40%

83/209

60%

111/186

40%

75/186

Fase 4

[1934 – 1966] 77%

161/210

23%

49/210

58%

134/233

42%

99/233

Fase 5

[1967 – 2000] 59%

121/206

41%

85/206

75%

213/286

25%

73/286

Tabela 12: Produtividade percentual e absoluta das variantes em contexto de proclisadores canônicos e

não-canônicos, segundo o grupo de fatores época/fase de publicação das obras adotadas, em referência

ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX, no âmbito das lexias verbais simples

Os números discriminados permitem observar que, em ambas as variedades, os

índices de próclise se manifestam com expressividade em comparação às freqüências

percentuais e absolutas da variante enclítica.

No que concerne, particularmente, ao PB, a ocorrência da ordem pré-verbal

realiza-se majoritariamente a partir de 59%, em todas as fases investigadas, salvo no

segundo intervalo de tempo referente ao século XIX, cujos valores de próclise (47%) se

exibem em números inferiores à colocação enclítica (53%). A propósito da fase 4,

contabilize-se a maior produtividade da ordem pré-verbal com a marca de 77 pontos

percentuais. No que tange à variedade européia do idioma, assim como no PB, as

percentagens de ocorrência do pronome à esquerda de seu hospedeiro verbal

sobrepujam os registros de ênclise. Note-se que a próclise se constitui como primeira

opção de ordem em todos os períodos destacados a partir de 54%, alcançando sua maior

produtividade (75%) no fim do século XX (fase 5).

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138

A fim de se estabelecer um cotejo contemplando a freqüência da variante

proclítica por cada época examinada, em ambas as variedades, pontue-se que o

Português Europeu denota ser o padrão em que os registros de próclise se manifestam

com mais freqüência na presença de possíveis proclisadores em comparação ao

Português do Brasil. Em todas as fases observadas, os valores absolutos e percentuais

dessa variante no corpus europeu se dão em maiores números do que na amostra

brasileira, com exceção da fase 4, a qual, conforme já se pontuou, registra maior

realização de próclise (77%) no PB. Saliente-se, também, que PB (60%) e PE (60%) se

equiparam em termos de realização da variante pré-verbal no decurso dos primeiros

anos do século XX (fase 3 – 1901 a 1933).

À vista de tais ponderações estabelecidas mediante as porcentagens,

contemplem-se os valores relativos advindos do exame multivariacional, observando-se,

primeiramente, o padrão gráfico concernente ao PB e, posteriormente, a representação

referente ao PE.

Figura 14: Aplicação da próclise (pesos relativos) em contexto de proclisadores canônicos e não-

canônicos, mediante a variável época/fase de publicação das obras adotadas: PB dos séculos XIX e XX

Confirmando a diferença de comportamento já verificada com os índices

percentuais, certifique-se de que a fase 4, efetivamente, representa o intervalo de tempo

que favorece a ordem proclítica (.76), ao contrário do que ocorre na fase 2, que a

desfavorece (.18). A propósito das demais fases – especialmente a 1 –, verifica-se

comportamento próximo ao da neutralidade no condicionamento da próclise segundo os

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139

valores relativos. As fases 3 e 5 assumem, igualmente (.55), leve favorecimento à

variante tida como valor de aplicação.

No que tange ao PE, acompanhe-se a esquematização:

Figura 15: Aplicação da próclise (pesos relativos) em contexto de proclisadores canônicos e não-

canônicos, mediante a variável época/fase de publicação das obras adotadas: PE dos séculos XIX e XX

O gráfico exposto acima permite constatar que a fase 1, em primeira instância, e

a fase 5, em segunda, constituem contextos de favorecimento da próclise, assim como

os percentuais obtidos sugerem. No que respeita aos demais períodos, a ponderação

estatística sinaliza que as fases 2, 3 e 4 não favorecem a ordem pré-verbal, tendo

registrado índices relativos abaixo da marca de .50.

Pelas constatações pontuadas, ateste-se que a variedade brasileira do Português

denota uma tendência considerável de próclise na fase 4, em primeira ordem, e de

ênclise na fase 2. Acerca do PE, os intervalos de tempo representados pelas fases 1 (.59)

e 5 (.58) corroboram o favorecimento desses períodos à ocorrência da variante

proclítica.

5.1.1.1.2 Variáveis de cunho lingüístico

Discriminam-se, doravante, os grupos de fatores de natureza interna concebidos

como relevantes no condicionamento da próclise.

a) Grupos de fatores relevantes para as amostras brasileira e européia:

(i) Possível elemento proclisador

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140

De modo a tecer as devidas observações a propósito da atuação dos

proclisadores de caráter canônico e não-canônico, considere-se a tabela subseqüente, em

que se apresentam os elementos amalgamados consoante as decisões informadas no

capítulo referente à metodologia55

.:

Presença de possível elemento proclisador em dados de Lexias Verbais Simples

(fatores amalgamados)

Variedades Português do Brasil Séculos XIX e XX

Português Europeu Séculos XIX e XX

Variantes

fatores Próclise Ênclise Próclise Ênclise

SN sujeito nominal 39%

110/281

61%

171/281

17%

37/219

83%

182/219

Conjunções coordenativas 30%

34/115

70%

81/115

13%

13/103

87%

90/103

Adv canônicos [aqui, cá, já, lá]

e Operadores de foco [Ex.:

apenas, só, também (inclusão), até, mesmo, ainda]

93%

64/69

7%

5/69

100%

96/96

0%

0/96

Adv não-canônicos [sempre,

depois, talvez, agora] e Adv em

-mente

40%

8/20

60%

12/20

30%

9/30

70%

21/30

Loc. adverbiais 30%

14/47

70%

33/47

29%

15/52

71%

37/52

Preposições 25%

25/101

75%

76/101

58%

68/117

42%

49/117

Vocábulos de negação 97%

91/94

3%

3/94

100%

105/105

0%

105/105

Elementos subordinativos 94%

330/351

6%

21/351

99%

371/375

1%

4/375 Tabela 13: Produtividade percentual e absoluta das variantes em contexto de proclisadores canônicos e

não-canônicos, segundo os fatores amalgamados da variável presença de um possível elemento

proclisador: PB e PE dos séculos XIX e XX, no âmbito das lexias verbais simples

Contemplando-se a atuação dos elementos proclisadores de cunho canônico e

não-canônico, registre-se que aqueles (como, por exemplo, os vocábulos de negação, os

elementos subordinativos e os advérbios canônicos / operadores de foco), de fato, se

revelam decisivos ao favorecimento da posição pré-verbal nas variedades brasileira e

européia do Português. Registre-se que, no âmbito do PE, as preposições, uma vez

consideradas em conjunto, parecem ser, em certa medida, motivadoras da variante

proclítica.

55

No Anexo 4, exibem-se as tabelas com a distribuição percentual e absoluta das variantes por cada fator

constituinte das variáveis em destaque no presente capítulo, antes da amalgamação de fatores.

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141

No que se refere ao PB, os números exibidos permitem constatar que,

efetivamente, os vocábulos de negação (97%), os elementos subordinativos (94%) e os

advérbios canônicos / operadores de foco (93%) integram as três primeiras instâncias de

“atração” do clítico tal como o prescrito pela tradição gramatical. Perceba-se, pois, que

os demais fatores analisados corroboram seu status de operadores de próclise não-

canônicos pelo motivo de não serem decisivos no deslocamento do clítico para a

esquerda do item verbal.

Os pesos relativos, que se apresentam a seguir, legitimam as tendências

apontadas:

Figura 16: Aplicação da próclise (pesos relativos) em contexto de proclisadores canônicos e não-

canônicos, mediante a variável presença de um possível elemento proclisador: PB dos séculos XIX e XX

Os elementos, há pouco considerados como fatores de maior potencialidade na

atração do clítico pronominal, apresentam-se como favorecedores inquestionáveis da

posição proclítica. Destaque-se, também, que os índices de próclise atribuídos aos SN

sujeitos do tipo pronome pessoal, indefinido e demonstrativo – ao contrário dos sujeitos

nominais – revelam, ainda que de modo discreto (.56) em cotejo com os fatores mais

potenciais, certa participação no favorecimento à variante pré-verbal. Os demais

elementos – dentre os quais as preposições “a”, “de”, “para” alcançam índice

aproximado ao ponto neutro – desfavorecem a próclise.

No que respeita ao PE, pontue-se que, assim como o observado no Português do

Brasil, todavia com índices mais altos, os vocábulos de negação (100%), os advérbios

canônicos/operadores de foco (100%) e os elementos subordinativos (99%),

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142

inquestionavelmente, se constituem como contexto de freqüência (quase) categórica da

colocação proclítica, consoante se atesta uma vez mais56

:

Figura 17: Aplicação da próclise (pesos relativos) em contexto de proclisadores canônicos e não-

canônicos, mediante a variável presença de um possível elemento proclisador: PE dos séculos XIX e XX

Cumpre ressaltar a expressividade das preposições que, concebidas pela

prescrição como fatores que não exercem potencialidade de “atração” do clítico

pronominal, se dão a perceber como elementos proeminentes (.70) à manifestação da

ordem pré-verbal.

A propósito dos itens prepositivos, contemplem-se as palavras de Mateus et alii

(2003: 854) transcritas:

Os complementadores simples e complexos, i.e., seleccionados por uma preposição ou um

advérbio ou que resultam de reanálise, são igualmente palavras funcionais indutoras de

próclise, como se pode ver através do contraste (24) e (25):

(24) [...] O Pedro pediu à Maria para lhe telefonar logo.

(25) [...] *O Pedro pediu à Maria para telefonar-lhe logo.

De modo geral, fica estabelecido o claro condicionamento da variável presença

de possível elemento proclisador em relação à próclise. Via de regra, esse

condicionamento é mais efetivo na variedade européia do que na brasileira. Consoante o

exame da influência dos vários proclisadores canônicos e não-canônicos sobre o evento

da ordenação pronominal, verifica-se que a escrita literária tende a concretizar a

variante pré-verbal mais especificamente nos contextos com proclisadores canônicos.

56

Esclarece-se que a presente representação gráfica discrimina valores referentes aos pesos obtidos na

análise multivariacional. Para efeito de melhor comparação, acrescentam-se as barras gráficas

concernentes aos índices percentuais categóricos (100%).

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143

As preposições, ao que parece, atuam, em boa parte das ocorrências, como elemento

proclisador típico da norma de uso literária.

(ii) Tipo de clítico pronominal

Para exame do efeito da presente variável, torna-se imprescindível a análise das

freqüências expostas:

Tipo de clítico em dados de Lexias Verbais Simples

(fatores amalgamados) Variedades Português do Brasil

Séculos XIX e XX

Português Europeu Séculos XIX e XX

Variantes

fatores Próclise Ênclise Próclise Ênclise

Me, te, nos, vos 89%

146/164

11%

18/164

79%

153/194

21%

41/194

Se reflexivo / inerente 54%

206/380

46%

174/380

55%

213/389

45%

176/389

Se indeterminador /

apassivador

70%

67/96

30%

29/96

79%

83/105

21%

22/105

O, a, os, as 60%

136/227

40%

91/227

62%

150/242

38%

92/242

Lhe, lhes 58%

126/219

42%

93/219

67%

116/173

33%

57/173 Tabela 14: Produtividade percentual e absoluta das variantes em contexto de proclisadores canônicos e

não-canônicos, segundo os fatores amalgamados da variável tipo de clítico pronominal: PB e PE dos

séculos XIX e XX, no âmbito das lexias verbais simples

No que respeita aos clíticos pronominais, perceba-se que todos os pronomes

considerados se apresentam com maior freqüência de próclise em ambas as variedades

(salvo as formas contraídas no PB, que registraram mais ênclise e foram excluídas da

tabela acima, por apresentarem número incipiente de dados). Todavia, é oportuno

constatar que os índices de produtividade da próclise em referência a cada pronome não

ocorrem de modo semelhante. Observe-se que os clíticos concernentes às primeiras e

segundas pessoas discursivas bem como o se do tipo apassivador e indeterminador se

constituem como os fatores de maior realização de próclise em ambas as variedades.

Comparem-se, pois, as percentagens acima e os pesos relativos que, na

seqüência, se indicam para o PB:

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144

Figura 18: Aplicação da próclise (pesos relativos) em contexto de proclisadores canônicos e não-

canônicos, mediante a variável tipo de clítico pronominal: PB dos séculos XIX e XX

Note-se que os valores percentuais obtidos para os clíticos de primeira e segunda

pessoas discursivas do singular e do plural se confirmam mediante os pesos relativos

observados no PB, fato que corrobora a hipótese de que, por motivo de focalização, tais

pronomes tendem a favorecer o posicionamento proclítico por identificarem as vozes do

locutor bem como do interlocutor quando em situação dialogal. Verifique-se que as

marcas probabilísticas revelam que os acusativos assumem a segunda posição de maior

favorecimento da variante proclítica nos contextos com elementos proclisadores. Os

demais átonos comportam-se com valores abaixo de .50, não se constituindo, por isso,

como relevantes no condicionamento da ordem pré-verbal.

No que tange ao PE, eis as marcas:

Figura 19: Aplicação da próclise (pesos relativos) em contexto de proclisadores canônicos e não-

canônicos, mediante a variável tipo de clítico pronominal: PE dos séculos XIX e XX

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145

Assim como se atesta no PB, os pronomes me, te, nos, vos, igualmente,

constituem, no PE, contexto de maior favorecimento de próclise seguidos de se

apassivador/indeterminador. Os outros clíticos pronominais revelam-se

desfavorecedores da variante pré-verbal.

(iii) Tempo e modo das formas verbais

Apreciem-se, preliminarmente, as freqüências da ordem em face da variável

tempo e modo das formas verbais segundo os seguintes fatores amalgamados:

Tempo e modo das formas verbais em dados de Lexias Verbais Simples

(fatores amalgamados)

Variedades Português do Brasil

Séculos XIX e XX

Português Europeu Séculos XIX e XX

Variantes

fatores Próclise Ênclise Próclise Ênclise

Presente e pretéritos do

indicativo

65%

562/870

35%

308/870

63%

527/841

37%

314/841

Futuros do indicativo 100%

18/18

0%

0/18

100%

28/28

0%

0/28

Tempos do subjuntivo 98%

55/56

2%

1/56

99%

78/79

1%

1/79

Imperativo 65%

13/20

35%

7/20

55%

6/11

45%

5/11

Infinitivo 26%

29/111

74%

82/111

56%

77/138

44%

61/138

Gerúndio 35%

6/17

65%

11/17

31%

5/16

69%

11/16 Tabela 15: Produtividade percentual e absoluta das variantes em contexto de proclisadores canônicos e

não-canônicos, segundo fatores amalgamados da variável tempo e modo das formas verbais: PB e PE dos

séculos XIX e XX, no âmbito das lexias verbais simples

A interpretação da presente variável esclarece que, em ambas as variedades, os

futuros do indicativo bem como os tempos do subjuntivo correspondem aos contextos

de maior concretização da variante pré-verbal. Note-se, ainda, que, de modo geral, os

demais tempos do indicativo – tanto no PB quanto no PE – também se revelam como

contextos preferenciais para a realização da variante proclítica. No que respeita ao PB,

as formas de imperativo (65%) apresentam taxas percentuais consideráveis de

ocorrência da próclise. As formas nominais do verbo registram baixos índices da

variante pré-verbal: gerúndio (35%) e infinitivo (26%). A propósito do Português

Europeu, verbos flexionados no infinitivo (56%) bem como no imperativo (55%) atuam,

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146

de modo similar, como hospedeiros do clítico em posição de próclise. As formas de

gerúndio (31%), tal como no PB, mostram-se como domínios de baixos registros da

colocação proclítica.

Uma vez conhecidas as freqüências percentuais da ordem em face dos tempos e

modos das formas verbais, considerem-se, no que respeita ao PB, os pesos relativos

obtidos57

:

Figura 20: Aplicação da próclise (pesos relativos) em contexto de proclisadores canônicos e não-

canônicos, mediante a variável tempo e modo das formas verbais: PB dos séculos XIX e XX

Além dos índices percentuais dos futuros do indicativo registrados acima, as

tendências probabilísticas corroboram com expressividade os tempos do subjuntivo

como domínios de maior favorecimento à próclise. Os tempos do presente e pretéritos

do indicativo apresentam discreto favorecimento à variante pré-verbal, estando poucos

pontos acima da linha de neutralidade (.50). Postula-se que a manifestação categórica da

variante pré-verbal em domínio dos futuros do indicativo ocorra como forma de se

evitar a variante mesoclítica. No que respeita aos tempos do subjuntivo, ressalte-se que

tais formas verbais, por estarem diretamente correlacionadas com elementos

subordinativos, concebidos como proclisadores canônicos, tendem a se constituir como

ambientes profícuos de ocorrência da ordem proclítica. Note-se que, abaixo da marca de

57

Esclarece-se que, para efeito de melhor comparação, exibem-se as barras gráficas concernentes aos

índices percentuais categóricos (100%) da ordem em domínio de futuro do presente bem como do

pretérito do indicativo.

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147

.30, se percebe o desfavorecimento da próclise por parte das formas de gerúndio e

infinitivo, tendência que não fica evidente para a forma imperativa consoante a mera

observação dos percentuais.

No tocante ao PE, eis os valores relativos alcançados:

Figura 21: Aplicação da próclise (pesos relativos) em contexto de proclisadores canônicos e não-

canônicos, mediante a variável tempo e modo das formas verbais: PE dos séculos XIX e XX

Tal como a variedade brasileira do Português, o PE denota, de fato, que os

futuros do indicativo e os tempos do subjuntivo favorecem de forma incontestável a

variante proclítica. As demais formas verbais, assim como o presente e pretéritos do

indicativo, não se evidenciam com considerável proeminência como elementos

favorecedores do deslocamento do clítico para a esquerda de seu hospedeiro verbal.

b) Grupo de fatores relevante apenas para a amostra brasileira

Observe-se, nesta seção, a atuação da variável tonicidade das formas verbais,

selecionada (em 5ª posição) exclusivamente para a compreensão da ordem em lexias

verbais simples no âmbito do Português do Brasil.

Para o estabelecimento das considerações acerca deste grupo de fatores, julga-se

oportuna a análise das freqüências a seguir expostas:

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Tonicidade dos itens verbais em dados de Lexias Verbais Simples

Variedades Português do Brasil Séculos XIX e XX

Variantes

Fatores Próclise Ênclise

Oxítona 44%

182/416

56%

234/416

Paroxítona 74%

501/676

26%

175/676 Proparoxítona - -

Tabela 16: Produtividade percentual e absoluta das variantes em contexto de proclisadores

canônicos e não-canônicos, segundo o grupo de fatores tonicidade dos itens verbais: PB dos

séculos XIX e XX, no âmbito das lexias verbais simples

Registre-se que os vocábulos paroxítonos integram contextos de maior

ocorrência da variante proclítica em comparação com as formas oxítonas. Uma vez

observada a seleção de tal grupo de fatores para PB pelo programa computacional

utilizado, ressaltem-se os pesos relativos indicados:

Figura 22: Aplicação da próclise (pesos relativos) em contexto de proclisadores canônicos e não-canônicos,

mediante a variável tonicidade dos itens verbais: PB dos séculos XIX e XX

As formas verbais com acentuação paroxítona revelam-se, como já se pontuou,

como domínio em que a freqüência de próclise efetivamente encontra favorecimento.

Os resultados vão ao encontra da hipótese de que a pauta acentual das paroxítonas

motive a realização de próclise em detrimento da ênclise de modo a evitar a

configuração de um vocábulo fonológico proparoxítono, os quais não são freqüentes no

Português. As formas oxítonas, por sua vez, não atuam no favorecimento à próclise; a

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149

ênclise a um vocábulo oxítono (perdeu-se, por exemplo) mantém a aludida pauta

paroxitonizante do Português.

Com o fim de exemplificar o que há pouco se justificou, acompanhem-se as

ilustrações:

(i) Aqui se acarreta a próclise. → Donde: se . a .car .re .ta, com pauta acentual na 4ª silaba.

5 4 3 2 1

(ii)

Acarreta-se a ênclise. → Donde: a. car. re. ta. se, com pauta acentual na 3ª silaba.

5 4 3 2 1

(iii) Lá nos levantávamos cedo. → Donde: nos. le. van. tá. va. mos, com pauta acentual na 4ª silaba.

6 5 4 3 2 1

(iv) Levantávamo-nos cedo. → Donde: le. van. tá. va. mo. nos, com pauta acentual na 3ª silaba.

6 5 4 3 2 1

Certifique-se de que em (i) o item vocabular paroxítono revela a realização do

vocábulo fonológico com pauta acentual na 2ª sílaba, permanecendo com a mesma

acentuação ao contrário de (ii), contexto em que se verifica a configuração de uma

forma proparoxítona.

Os ínfimos registros de freqüência absoluta de itens proparoxítonos permitem

atestar a improdutividade desses vocábulos na Língua Portuguesa. Nos dois casos de

proparoxítonas no PE (ausentes no PB), a colocação proclítica foi estabelecida como

forma de manutenção da mesma pauta acentual (como em (iii)) para que não se

demandasse a constituição de uma forma bi-esdrúxula (apresentada em (iv)).

c) Grupo de fatores relevante apenas para a amostra européia

Sublinhe-se que a variável natureza da oração se exibe como o terceiro grupo de

fatores responsável pelo condicionamento da ordem no Português Europeu, conforme

apontado pelo tratamento multivariacional dos dados.

No que respeita à atuação da variável natureza da oração, tomem-se, de

antemão, os números distribucionais das variantes pelos fatores amalgamados conforme

o exposto:

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150

Fatores amalgamados do grupo natureza da oração em dados de Lexias Verbais

Simples

Variedades Português Europeu Séculos XIX e XX

Variantes

fatores Próclise Ênclise

Or. absoluta / principal

/ Coord. assindética 44%

151/344

56%

193/144

Or. coord. sindética 38%

76/201

62%

125/201

Or. sub. desenvolvida /

Estruturas clivadas 99%

405/408

1%

3/408

Or. sub. red. de

infinitivo 56%

77/138

44%

61/138

Or. sub. red. de

gerúndio 33%

5/15

67%

10/15

Tabela 17: Produtividade percentual e absoluta das variantes em contexto de proclisadores canônicos e

não-canônicos, segundo fatores amalgamados da variável natureza da oração: PE dos séculos XIX e XX,

no âmbito das lexias verbais simples

Perceba-se que, no PE, as orações absolutas / principais / coordenadas

assindéticas assim como as sindéticas e as subordinadas reduzidas de gerúndio se

evidenciam como ambiente de baixos índices de próclise, confirmando as

recomendações gramaticais. Saliente-se, ainda, que a variedade européia revela índices

de 56% de freqüência da ordem proclítica no contexto de subordinadas reduzidas de

infinitivo, variante essa que assume índices quase categóricos em contexto de cláusulas

subordinadas desenvolvidas / clivadas (99%).

Associem-se, pois, às percentagens obtidas para PE, no que respeita à variável

presente, os pesos relativos alcançados segundo a seleção realizada pelo programa

computacional utilizado:

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Figura 23: Aplicação da próclise (pesos relativos) em contexto de proclisadores canônicos e não-

canônicos, mediante a variável natureza da oração: PE dos séculos XIX e XX

Corrobore-se que, quanto ao favorecimento da variante proclítica, as orações

desenvolvidas / clivadas, indubitavelmente, assumem o forte caráter de motivação de

próclise. As demais orações examinadas – até mesmo as cláusulas subordinadas

reduzidas de infinitivo –, com pesos abaixo de .50, não se apresentam atuantes para a

ocorrência de tal ordenação.

5.2 A ordem em ambientes de Lexias Verbais Complexas: a realidade dos corpora

Para a análise do fenômeno de ordenação pronominal no âmbito das construções

verbais complexas, dispõe-se de 431 dados de clíticos, dos quais 194 concernem à

colocação constatada na amostra brasileira e 237 correspondem aos registros colhidos

no corpus europeu.

Acompanhem-se os números citados por meio da seguinte representação

esquemática:

Número total de dados: 3478

Número total de LVC: 431

Total de LVC no PB: 194 dados

[Século XIX: 81 – Século XX: 113]

Total de LVC no PE: 237 dados

[Século XIX: 80 – Século XX: 157]

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152

Faz-se conveniente esclarecer que a totalidade de 194 casos de ordem no PB

engloba, dentre as variantes apresentadas na subseção 4.3.2, uma ocorrência de

mesóclise morfologicamente marcada no verbo auxiliar, a qual, agora, se apresenta:

Ex1.: O subsecretário não mostrava os livros a ninguém, mas acontecia que, quando se abriam

as janelas da sala de sua livraria, da rua poder-se-iam ver as estantes pejadas de cima a

baixo. [LB-PB-LVC-32]

Note-se que a manifestação da variante mesoclítica se procede mesmo diante de

um proclisador canônico, isto é, da conjunção integrante que. Acredita-se que a

interferência da variável distância entre proclisador e segmento constituído de clítico e

complexo verbal motive a realização de tal registro. Por se tratar de um único dado

particular, opta-se, em termos metodológicos, por não contemplá-lo na análise

variacionista.

Ressalte-se que a maior parte dos registros de lexias verbais complexas colhidas

tanto na amostra brasileira quanto na européia correspondem a casos de conglomerados

integrados por dois elementos verbais, quais sejam: (i) v1 como auxiliar e (ii) v2 como

principal. Entretanto, verificam-se, no PB, 2 complexos constituídos de duas formas

auxiliares, agora exibidos:

Ex2.: O que pensei encontrar: alguma velha, ou um velho, que da história soubesse – dela

lembrados quando tinha sido menina – e então a razão [...] de muitas coisas haviam de

poder me expor muitos mundos. [GR-PB-LVC-42]

Ex3.: Um ancião, envolto em sua toga cerimonial de seda preta e acompanhado de seu

primogênito, saiu do grande templo aonde tinha ido [...] prosternar-se diante do altar de

seus ancestrais. [EV-PB-LVC-52]

Os parcos dados de estruturas verbais complexas com dois auxiliares – nas quais

se observa a realização das variantes intra-LVC sem hífen (entre o segundo auxiliar e o

verbo principal) e pós-LVC – surtem como uma razão consistente para que tais registros

não sejam considerados na análise quantitativa dos resultados.

Mediante a exclusão das 3 ocorrências supracitadas (1 caso de mesóclise

morfologicamente marcada bem como 2 manifestações de complexos com dois verbos

auxiliares), submetem-se ao tratamento técnico-computacional 191 dados de colocação

em lexias verbais complexas advindos do corpus do PB dos séculos XIX e XX.

No que toca ao Português Europeu, tal como o constatado no PB, leia-se o dado

no qual a mesóclise se realiza no verbo auxiliar:

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153

Ex4.: Da rapidez dessa réplica poder-se-ia calcular o humor do director, ou antes, do "patrão". [FN-PE-LVC-52]

A propósito das lexias verbais complexas integradas por 2 auxiliares,

destaquem-se as 5 ocorrências subseqüentes:

Ex5.: [...] ninguém estranhará que vá saber, interessar-se, Coitada da rapariga, o que lhe havia

de ter acontecido, há pessoas que nascem sem sorte. [JS-PE-LVC-52]

Ex6.: – Ao cimo da escada aparece o Pimenta, vai para descer julgando que é um cliente com

bagagem, então ficou à espera, ainda não reconheceu quem sobe, pode-se ter esquecido,

são tantas as caras que entram e saem da vida de um mandarete de hotel [...].[JS-PE-LVC-

52]

Ex7.: O do 2º direito bem poderia tê-lo levado no Alfa Romeo, pelo menos ao Chile. [FN-PE-

LVC-52]

Ex8.: – Deus, na sua infinita misericórdia, há-de ter-lhe perdoado, porque muito amou e muito

sofreu! [CM-PE-LVC-32]

Ex9.: – Apesar do tempo que tive, não cheguei a acabar de lê-lo [...]. [JS-PE-LVC-52]

Note-se, das escassas ocorrências de conglomerados verbais com 2 auxiliares, a

realização de 1 dado da variante pré-LVC (Ex5) assim como de 3 registros de intra-LVC

com hífen (em Ex6, o clítico se coloca em ênclise a v1 enquanto, em Ex7 e Ex8, o

pronome se revela enclítico ao segundo auxiliar) além de 1 manifestação da ordem pós-

LVC (Ex9). De todos os autores analisados, José Saramago apresenta-se como o escritor

que mais produziu dados de complexos com duplo auxiliar (3 casos).

Pelos mesmos motivos expostos para o PB, procede-se à eliminação do caso de

mesóclise morfologicamente marcada bem como dos dados de complexos com 2

auxiliares no conjunto de registros de colocação no PE dos séculos XIX e XX, que

passa a contar, para o exame variacionista, com 231 ocorrências.

Sumarizem-se todas as informações aqui prestadas pelo novo esquema em que

se discrimina o número de dados quantitativamente investigados no âmbito das

estruturas verbais complexas do PB e do PE dos séculos XIX e XX:

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154

Os pormenores da ordem em complexos verbais encontram-se registrados nas

respectivas seções em que se analisam, em três momentos, os casos de colocação em

lexias verbais complexas com gerúndio, particípio de infinitivo.

5.2.1 A colocação pronominal em domínio de LVC constituída de verbo principal

no gerúndio

Por intermédio dos dados concernentes às variedades brasileira e européia do

Português dos séculos XIX e XX, almeja-se, na seção que ora se inicia, discorrer acerca

do fenômeno da ordem em estruturas verbais complexas em que v1 (semi-)auxilia

verbos na forma de gerúndio.

De modo a efetuar as considerações pretendidas, examinam-se 23 ocorrências de

tais construções com pronome clítico na amostra brasileira, bem como 15 registros de

colocação nos mesmos ambientes verificados no corpus europeu.

Certifique-se de que, conforme salientado na subseção 4.3.2, em contexto de

auxiliar + gerúndio, se admitem quatro possíveis variantes:

(i) cl v1 v2: Aqui se está analisando a ordem pronominal.

(ii) v1-cl v2: Está-se analisando a ordem pronominal.

(iii) v1 cl v2: Está se analisando a ordem pronominal.

Número inicial de LVC: 431

Número total de LVC após as decisões metodológicas: 422

Total de LVC no PB (todos os contextos): 191 dados Total de LVC no PE (todos os contextos): 231 dados

→ Dados em LVC com gerúndio: 23;

→ Dados em LVC com particípio: 29;

→ Dados em LVC com infinitivo: 139.

→ Dados em LVC com gerúndio: 15;

→ Dados em LVC com particípio: 39;

→ Dados em LVC com infinitivo: 177.

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155

(iv) v1 v2-cl: Está analisando-se a ordem pronominal58

.

No que concerne à variável dependente examinada nas estruturas de complexos

integrados por verbos na forma de gerúndio, apreciem-se os números atribuídos a cada

fator em particular:

Variantes em domínio de LVC com gerúndio a partir de todos os contextos

Português do Brasil Português Europeu Pré-LVC

cl v1 v2

Intra-LVC

v1-cl v2

Intra-LVC

v1 cl v2

Pós-LVC

v1 v2-cl

Pré-LVC

cl v1 v2

Intra-LVC

v1-cl v2

Intra-LVC

v1 cl v2

Pós-LVC

v1 v2-cl

17% 4/23

17% 4/23

44% 10/23

22% 5/23

40% 6/15

53% 8/15

0% 0/15

7% 1/15

Tabela 18: Distribuição geral das variantes em todos os contextos, no âmbito das LVC com gerúndio,

referente ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX

A distribuição dos valores da tabela 18 permite verificar que a colocação v1 cl

v2 (44%), no PB, bem como a ordem v1-cl v2 (53%), no Português Europeu, se revelam

em números superiores em cotejo com as demais registradas, assim como pontua Schei

(2003) em sua análise da ordem em romances brasileiros. No que tange ao PB, como

segunda opção de colocação pronominal em estruturas com gerúndio, apresenta-se a

variante pós-LVC (22%) seguida das posições cl v1 v2 (17%) e v1-cl v2 (17%).

Constate-se que o inverso se observa no PE, uma vez que a variante pré-LVC (40%) –

cujos índices superam os valores da ordem pós-LVC (7%) – se manifesta em segunda

instância, pelo possível fato de os elementos proclisadores, conforme se verificará na

análise dos grupos de fatores linguísticos, serem mais atuantes nessa variedade, tal

como o atestado por Schei (2003).

Os índices, há pouco expostos, sugerem a preferência pela colocação intra-LVC

sem hífen na variedade brasileira do idioma, enquanto o padrão europeu opta, na

maioria das vezes, pela ordenação dos clíticos em posição intra-LVC com hífen.

A respeito da colocação intra-LVC sem hífen, isto é, v1 cl v2, ressalte-se que, no

corpus brasileiro – em discrepância à amostra européia, na qual não se constatam

ocorrências dessa ordem –, sua manifestação foi verificada em 10 registros de um total

de 23 dados, sobrepujando a freqüência da colocação intra-LVC com hífen (4/23

58

Constate-se que, embora tal construção possa vir a causar algum tipo de estranhamento no que se refere

ao Português do Brasil devido à presença de se do tipo indeterminador/apassivador, a tradição gramatical

prevê tal estrutura em termos teórico-virtuais da língua.

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156

dados). De modo a ilustrar alguns dos casos de v1-cl v2 e v1 cl v2 no PB, observem-se,

respectivamente, os itens subscritos:

Ex1.: Pouco a pouco uma série de interrogações foram-se erguendo no seu espírito. [AAr-PB-

LVC-32]

Ex2.: – Sei lá, doutor! Os antigos diziam tolices, como todo o mundo... Mas, até logo; Mãe

Nácia está-me chamando lá da casa da Lourdinha [...]. [RQ-PB-LVC-32]

Ex3.: As mulheres foram se levantando da mesa. [JLR-PB-LVC-42]

Ex4.: – Eu fiquei me rindo quando o portador do Oiteiro me chegou com a sela. [JLR-PB-LVC-

42]

Faz-se oportuno esclarecer, ainda, que, por motivo do baixo número de dados

em complexos formados por auxiliar + gerúndio, não se estabelece, aqui, a exposição

pormenorizada das freqüências percentuais das variantes em contexto de início absoluto

de oração em face dos demais constituídos de proclisadores. Apresentam-se, assim, os

valores contabilizados a partir de todos os dados em início de oração bem como em

ambientes integrados por proclisadores canônicos e não-canônicos em conjunto,

contemplando-se, dessa forma, todos os contextos. Saliente-se que, no PB, somente

quatro dados (1 de ordem v1-cl v2, 1 de v1 cl v2 e 2 de v1 v2-cl) revelam o fenômeno

em início de período/oração e, no PE, apenas 1 registro (de colocação v1-cl v2). Para

exemplificação dessas ocorrências, considerem-se os casos subseqüentes:

Ex5.:

Iam-se amodorrando e foram despertados por Baleia, que trazia nos dentes um preá. [GrR-PB-LVC-42]

Ex6.: – [...] Depois saímos, eu de um lado, você do outro; está me compreendendo, Lião. [LFT-PB-LVC-52]

Ex7.: Caindo por ali há séculos as fortes enxurradas, derivando a princípio em linhas

divagantes de drenagem, foram talhando-as em quebradas que se fizeram canyons[...]. [EC-PB-LVC-32]

Ex8.: Vou-me deixando para trás [...]. [FN-PE-LVC-52]

A partir dos exemplos, verifique-se que, nos dados em que os inícios absolutos

de oração e de período59

coincidem (Ex5 e Ex8 [este último advindo do PE]), ocorrências de

v1-cl v2 são observadas. Nos registros em que não se dá tal coincidência, todos da

amostra brasileira, perceba-se que – apesar dos escassos números de dados colhidos – se

opta ora pela variante v1 cl v2 (Ex6) ora pela colocação v1 v2-cl (Ex7).

59

Considerou-se o conceito tradicional de período para a modalidade escrita – todo enunciado

compreendido entre letra maiúscula e ponto final.

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157

Uma vez destacado o uso das variantes v1-cl v2 e v1 cl v2, tomem-se os padrões

gráficos, a seguir apresentados, os quais concedem melhor visualização dos números,

anteriormente, discriminados na tabela 18:

Em face dos índices percentuais concernentes aos fatores constituintes da

variável dependente, observem-se, agora, os valores absolutos e percentuais referentes à

manifestação de cada variante pelos tipos de lexias verbais complexas integradas por

verbo com flexão de gerúndio encontrados no material analisado:

Variantes em face de estrutura complexa (semi-)auxiliar + gerúndio

Variedades Português do Brasil Séculos XIX e XX

Português Europeu Séculos XIX e XX

Variantes

Estruturas

Pré-LVC

cl v1 v2

Intra-LVC

v1-cl v2 Intra-LVC

v1 cl v2

Pós-LVC v1 v2-cl

Pré-LVC

cl v1 v2 Intra-LVC

v1-cl v2 Intra-LVC

v1 cl v2

Pós-LVC v1 v2-cl

Acabar + gerúndio 0% 0/2

0% 0/2

0% 0/2

100% 2/2

_ _ _ _

Ficar + gerúndio 0% 0/3

0% 0/3

100% 3/3

0% 0/3

0% 0/1

100% 1/1

0% 0/1

0% 0/1

Estar + gerúndio 20% 1/5

20% 1/5

60% 3/5

0% 0/5

100% 2/2

0% 0/2

0% 0/2

0% 0/2

Ir + gerúndio 23% 3/13

23% 3/13

31% 4/13

23% 3/13

33% 4/12

59% 7/12

0% 7/12

8% 1/12

Total de dados 23 dados 2 de acabar + gerúndio, 3 de ficar + gerúndio,

5 de estar + gerúndio e 13 de ir + gerúndio.

15 dados 1 de ficar + gerúndio, 2 de estar + gerúndio e

12 de ir + gerúndio.

Tabela 19: Produtividade percentual e absoluta das variantes em contexto de estrutura (semi-)

auxiliar + gerúndio no PB e no PE dos séculos XIX e XX

Figura 24: Distribuição das variantes em

domínio de LVC integrada por gerúndio,

no PB dos séculos XIX e XX

Figura 25: Distribuição das variantes em

domínio de LVC integrada por gerúndio,

no PE dos séculos XIX e XX

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158

Identifique-se, à primeira vista, considerando o total de dados e as estruturas

recorrentes nas amostras de ambas as variedades do Português, a realização do

complexo ir + gerúndio em índices absolutos mais elevados comparados com a

freqüência apresentada pelos demais. Para efeitos de melhor percepção visual da

constituição dos corpora quanto aos números de lexias verbais complexas com verbo

principal no gerúndio, expõe-se o seguinte gráfico:

Note-se, pela apresentação crescente das barras gráficas, uma distribuição

similar dos tipos de complexos constatados em ambos os corpora, com especial atenção

à estrutura acabar + gerúndio, que apresenta baixo número de ocorrências no conjunto

de dados do PB e não se apresenta no corpus do Português Europeu.

Com o amparo dos valores concedidos na tabela 19, pode-se diagnosticar que,

nos domínios de todas as construções complexas atestadas no âmbito do PB, a variante

v1 cl v2 excede os números de realização das outras colocações, salvo em contexto de

acabar + gerúndio, no qual a ordem pós-LVC se faz categórica nos dois únicos casos

de registro desse complexo. No que toca à ordem v1-cl v2, note-se que, no conjunto de

dados europeus em que se registram as lexias complexas consideradas, seus valores

absolutos e percentuais ocorrem em proporções maiores comparadas aos outros fatores

da mesma variável dependente. A construção estar + gerúndio – tipicamente brasileira

(ilustrada, mais adiante, em Ex20 e Ex21, em vez de estar + a + infinitivo) – assume a

particularidade de, entre as estruturas observadas no PE, apresentar 2 ocorrências da

variante pré-LVC.

Figura 26 Freqüência percentual das estruturas (semi-)auxiliar + gerúndio no PB e no PE dos

séculos XIX e XX

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159

5.2.1.1 A ordem pronominal em LVC com gerúndio a partir de variáveis

extralingüísticas

Efetuada a descrição do caráter distribucional das variantes assim como da

realidade das amostras investigadas, pormenorizam-se, na presente seção, as

peculiaridades do fenômeno da ordem em construções complexas integradas por

gerúndio quanto às variáveis extralingüísticas consideradas.

No que respeita à variável vozes do romance, a observação do comportamento

das variantes no PB admite constatar que a colocação v1 v2-cl consiste na opção

majoritária de ordem em domínio narrativo de 3ª pessoa. Cumpre, ainda, informar que

v1 cl v2, nos dados da variedade brasileira do Português, atinge índices categóricos de

manifestação nos contextos instanciados pelos personagens (4/4 dados) e narradores

personagens [1ª pessoa] (3/3 dados). Das vozes verificadas no PE, isto é, narrador

personagem [1ª pessoa] bem como narrador de 3ª pessoa, em construções complexas

com gerúndio, a variante v1-cl v2 alcança maiores índices nos domínios destes (6/8

dados) enquanto a ordem pré-LVC revela maior ocorrência nos contextos de narrador

personagem (5/7 dados). A propósito da posição pós-LVC, seus 5 registros no corpus

brasileiro bem como sua única ocorrência dentre os dados de lexias verbais complexas

com gerúndio na amostra européia encontram-se em instância narrativa de 3ª pessoa.

Saliente-se que, devido aos parcos números de construções complexas com

verbo principal no gerúndio em ambos os corpora, nem todas as obras permitiram uma

apreciação dessas estruturas em seus domínios.

Dos escritores responsáveis pelas poucas lexias com gerúndio, citam-se, como

aqueles que em maior número realizaram a variante mais produtiva do PB, ou seja, a

intra-LVC sem hífen, José Lins do Rego (Fase 4 – 3/4 dados), Guimarães Rosa (Fase 4

– 1/1 dado) e Lygia Fagundes Telles (Fase 5 – 5/5 dados). Certifique-se de que os

autores Bernardo Guimarães (Fase 1 – 1/1 dado) e Afonso Arinos (Fase 3 – 1/1 dado),

em seus únicos dados de ordem com complexos integrados por gerúndio, revelam opção

pela ordem intra-LVC com hífen. No que concerne à distribuição equilibrada das

variantes, Rachel de Queiroz (Fase 3) assume, nos dois dados que produz, ora a

colocação v1-cl v2 ora a ordem v1 cl v2, enquanto o autor Graciliano Ramos (Fase 4)

revela igual distribuição entre as variantes pré-LVC e intra-LVC com hífen. No âmbito

do PE, resguardada a mesma particularidade dos baixos registros de lexias complexas

com gerúndio, tal como o registrado para PB, obras houve em que tais estruturas não

foram testemunhadas. Ressalte-se que a variante v1-cl v2, de maior freqüência no

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160

corpus europeu, alcança ocorrência categórica nas obras de Eça de Queiroz (Fase 2 – 1

dado), José Cardoso Pires (Fase 4 – 3 dados), José Saramago (Fase 5 – 1 dado),

Fernando Namora (Fase 5 – 1 dado), Vergílio Ferreira (Fase 5 – 1 dado) e Alves Redol

(Fase 4 – 1 dado). A colocação pré-LVC, do mesmo modo, é diagnosticada

categoricamente nos escritos de Camilo Castelo Branco (Fase 1 – 2 dados), Almeida

Garrett (Fase 1 – 2 dados), Alexandre Herculano (Fase 1 – 1 dado) e Raul Brandão

(Fase 3 – 1 dado). Pontue-se que o único registro da variante pós-LVC é atestado no

romance de Júlio Dinis (Fase 2).

A atuação do evento da ordem em face da variável gênero/sexo dos escritores

contemplados60

demonstra, no PB, que escritores assumem a posição pós-LVC com a

marca de 31% (5/16 dados) enquanto, em romances de autoria feminina, a variante v1 cl

v2 revela índices quase categóricos (6/7 dados). No âmbito do PE, não se registram

dados de colocação em estruturas complexas com gerúndio no texto de Augustina Bessa

Luís, única obra feminina do corpus europeu.

O exame da ordem pelas fases estipuladas a partir da época de publicação dos

romances não permite tecer generalizações quanto à colocação no PB, uma vez que cada

período de tempo apresenta preferências distintas quanto à realização das variantes.

Entretanto, pode-se sinalizar que o século XIX, dos 5 dados que fornece, aponta

distribuição equilibrada das posições pré-LVC e pós-LVC, ao passo que o século XX,

apresentando 18 registros de ordenação de clíticos, indicia, majoritariamente (10/18

dados), a ordem v1 cl v2. As considerações descritas para PE demonstram que cl v1 v2,

nas fases 1 e 3, e v1-cl v2, nas fases 4 e 5, tomam para si registros categóricos. De modo

particular, a fase 2 distribui, igualmente, nos 2 dados de complexos com gerúndio que

apresenta, as variantes cl-v1 v2 e v1 v2-cl. O decurso dos anos concede observar que o

século XIX põe à vista maiores índices da ordem pré-LVC (5/7 dados), enquanto as

ocorrências de v1-cl v2 assumem números mais elevados (7/8 dados) no século XX.

5.2.1.2 A ordem pronominal em LVC com gerúndio a partir de variáveis

lingüísticas

60

Considere-se, uma vez mais, a discrepância – já justificada no capítulo 4, referente à constituição das

amostras – entre o número de escritores e escritoras cujas obras foram eleitas para a composição dos

corpora brasileiro e europeu.

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161

No propósito de descrever o evento da colocação em estruturas complexas com

forma de gerúndio a partir dos grupos de fatores de cunho lingüístico, contemplem-se os

exemplos selecionados:

Dados de clíticos com (semi-)auxiliar + gerúndio no PB dos séculos XIX e XX

Ex9.: Explicou-lhe, como pôde, essas dúvidas, e acabou perguntando-lhe [...]. [MA-PB-LVC-

29]

Ex10.: – Vamos, Lena, entra depressa. Você vai na frente. Mas não fique aí 61

me olhando, está

quase amanhecendo. [LFT-PB-LVC-52]

Ex11.: Nas pausas das lições ficava me olhando, tão mais consciente do que eu na minha

inconsciência, como é que eu podia saber? [LFT-PB-LVC-52]

Ex12.: A cena se estava tornando patética; ambos choravam e só passados alguns instantes a

inexplicável Moreninha pôde falar e responder ao triste estudante. [JMM-PB-LVC-19]

Ex13.: A de fora já está se dissipando e aqui começa outra, ah, não esquecer de avisar à menina

de Santarém que se aparecer um gatinho malhado atendendo pelo nome de Astronauta.

Gatinho? Mas ele não cresceu? Enfim, um gato malhado. Me avise e será fartamente

recompensada. [LFT-PB-LVC-52]

Ex14.: Jisé Simpilício e Aristides, mesmo estão se engordando, de assim não-ouvir ou ouvir. [GR-PB-LVC-42]

Ex15.: Pouco a pouco uma vida nova [...] se foi esboçando. [GrR-PB-LVC-42]

Ex16.: Pouco a pouco uma série de interrogações foram-se erguendo no seu espírito. [AAr-PB-

LVC-32]

Ex17.: O mestre José Amaro, arrastando a perna torta, foi se chegando para mesa posta, uma

pobre mesa de pinho sem toalha. [JLR-PB-LVC-42]

Ex18.: Pegou no pedaço de sola e foi dobrando-a, com os dedos grossos. [JLR-PB-LVC-42]

Dados de clíticos com (semi-)auxiliar + gerúndio no PE dos séculos XIX e XX

Ex19.: Outros ficaram-se movendo as cabeças e olhando à volta, estranhos à imensidão da

lezíria, a desdobrar-se até ao infinito, numa chã retalhada de oiro e verde, verde e

castanho [...] [AlR-PE-LVC-42]

61

Acredita-se que este dado testemunhe o percurso do processo de gramaticalização do item verbal ficar

pela ambigüidade de função que tal forma assume na fronteira entre verbo predicador [instanciando o

SAdv ai] e verbo (semi-)auxiliar [demonstrando um matiz aspectual, o qual pode ser percebido

claramente no exemplo seguinte] por conta da perda de parte de seus semas prototípicos. Compreenda-se,

assim, que o caráter dúbio da classificação inequívoca de ficar como verbo predicador ou gramatical

enseja contemplá-lo, aqui, como um item (semi-)auxiliar integrante de uma estrutura complexa. Para

maiores detalhes acerca dos padrões de auxiliaridade em perífrases verbais, consultar, por exemplo, os

estudos de Machado Vieira (2001, 2003 e 2004).

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162

Ex20.: Eu cismava estas e outras coisas quando me estava preparando para entregar a minha

vida às quietas delícias dum casamento que faria rir de piedade os meus amigos. [CCB-

PE-LVC-19]

Ex21.: O bispo soluçava e gemia como se lhe estivessem dando os mais excruciantes tratos de

tortura [...]. [AG-PE-LVC-19]

Ex22.: Isto disse o monge com tom solene e em voz alta, de modo que fosse ouvido dos dous

homens d'armas que se iam retirando. [AH-PE-LVC-19]

Ex23.: Cabem aqui dentro as velhas cismáticas, atrás de interesses, de paixões ou de simples

ninharias [...]; os homens a quem se foram apegando pela vida [...] e o Gabiru e o seu

sonho. [RB-PE-LVC-32]

Ex24.: Da porta da casa, a mãe da rendeira vigiava o genro e ia-se voltando para dentro [...].[JCP-PE-LVC-42]

Ex25.: Parte-se carregado de coisas, elas vão-se perdendo pelo caminho. [VF-PE-LVC-52]

Ex26.: Assim o entendera José das Dornas, que foi preparando-o para um dia abdicar nele a

enxada, a foice, a vara, a rabiça, e confiar-lhe a chave do cabanal, tão repleto em

ocasiões de colheita. [JD-PE-LVC-29]

As ilustrações de ambas as variedades demonstram que os casos de complexos

com gerúndio, quase em sua totalidade, não apresentam a inserção de elementos entre

os verbos integrantes de tais construções. Apenas 2 dados, no PB, indicam a presença de

material interveniente (como no Ex.10), não sendo registrados itens interpostos nos

complexos do PE.

De modo a verificar a ordem segundo o tipo de clítico pronominal, tome-se o

quadro que se segue:

Variável tipo de clítico pronominal em domínio de LVC com verbo no gerúndio

Variedades Português do Brasil

Séculos XIX e XX

Português Europeu Séculos XIX e XX

Variantes

Fatores

Pré-LVC

cl v1 v2

Intra-LVC

v1-cl v2

Intra-LVC

v1 cl v2

Pós-LVC

v1 v2-cl

Pré-LVC

cl v1 v2

Intra-LVC

v1-cl v2

Intra-LVC

v1 cl v2

Pós-LVC

v1 v2-cl

Me 0%

0/5 20% 1/5

80% 4/5

0% 0/5

50% 1/2

50% 1/2

0% 0/2

0% 0/2

Se reflexivo /

inerente

27% 3/11

18% 2/11

55% 6/11

0% 0/11

33% 3/9

67% 6/9

0% 0/9

0% 0/9

Se apassivador 0% 0/1

100% 1/1

0% 0/1

0% 0/1

100% 1/1

0% 0/1

0% 0/1

0% 0/1

O, a, os, as 25% 1/4

0% 0/4

0% 0/4

75% 3/4

0% 0/1

0% 0/1

0% 0/1

100% 1/1

Lhe, lhes 0% 0/2

0% 0/2

0% 0/2

100% 2/2

50% 1/2

50% 1/2

0% 0/2

0% 0/2

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163

Tabela 20: Produtividade percentual e absoluta das variantes em face do grupo de fatores tipo de

clítico pronominal em referência ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX, no âmbito das lexias verbais

complexas com gerúndio

A realidade da amostra brasileira evidencia que a variante v1 cl v2 – a mais

produtiva, conforme já se pontuou – encontra contexto de maior freqüência com os

pronomes me (4/5 dados – v.g. Ex11) e se reflexivo/inerente (6/11 dados – v.g. Ex14).

Perceba-se, também, o registro de v1-cl v2 com o clítico se apassivador (1/1 dado – v.g.

Ex16). Os clíticos acusativo (3/4 dados – v.g. Ex18) e dativo (2/2 dados – v.g. Ex9)

manifestam-se, (quase) exclusivamente, em posição pós-LVC. No âmbito do PE, o se

reflexivo/inerente faz-se freqüente em colocação v1-cl v2 (6/9 dados – v.g. Ex24),

enquanto os pronomes me e lhe(s) exibem opção equilibrada por cl v1 v2 e v1-cl v2. Na

amostra européia, o único registro de colocação pós-LVC deu-se com pronome

acusativo (Ex26).

A propósito da variável natureza da oração, eis os fatores recorrentes em ambos

os corpora:

Variável natureza da oração em domínio de LVC com verbo no gerúndio

Variedades Português do Brasil

Séculos XIX e XX

Português Europeu Séculos XIX e XX

Variantes

Fatores

Pré-LVC

cl v1 v2

Intra-LVC

v1-cl v2

Intra-LVC

v1 cl v2

Pós-LVC

v1 v2-cl

Pré-LVC

cl v1 v2

Intra-LVC

v1-cl v2

Intra-LVC

v1 cl v2

Pós-LVC

v1 v2-cl

Or. absoluta / principal

/ coord. assindética

14%

2/14 22% 3/14

50% 7/14

14%

2/14 0% 0/4

100% 4/4

0% 0/4

0% 0/4

Or. coord. sindética 12% 1/8

12% 1/8

38% 3/8

38% 3/8

20% 1/5

80% 4/5

0% 0/5

0% 0/5

Or. sub. desenvolvida 100% 1/1

0% 0/1

0% 0/1

0% 0/1

83% 5/6

0% 0/6

0% 0/6

17% 1/6

Tabela 21: Produtividade percentual e absoluta das variantes em face do grupo de fatores natureza da

oração em referência ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX, no âmbito das lexias verbais complexas

com gerúndio

No âmbito da variedade brasileira do Português, ateste-se que as orações

indicadas em primeira posição na tabela 21 integram contexto de considerável

ocorrência da variante v1 cl v2 (7/14 – v.g. Ex17). O dado único de cláusula subordinada

desenvolvida expõe a ordem pré-LVC [[Rubião] [...] esperava que o fosse animando. [MA-PB-

LVC-29]]. Verifique-se, ainda, que as coordenadas sindéticas apresentaram a ordem v1 cl

v2 [Ex.: E, deitada, à luz vermelha do farol [...] Conceição ia se embebendo nas descrições de ritos [...].

[RQ-PB-LVC-32]] e a posição v1 v2-cl (Ex18), em 3 dos 8 registros observados para cada

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164

variante. Na variedade européia, como no único dado do PB, as subordinadas

desenvolvidas favorecem com expressividade a variante pré-LVC (5/6 dados – v.g.

Ex22). Quanto às demais orações constatadas, considere-as como contexto de maior

registro de v1-cl v2.

No intuito de pormenorizar o comportamento da ordenação dos clíticos segundo

os possíveis elementos proclisadores, discriminem-se, previamente, os fatores

observados:

Variável presença/ausência de possível elemento proclisador em domínio de LVC com verbo

no gerúndio

Variedades Português do Brasil

Séculos XIX e XX

Português Europeu Séculos XIX e XX

Variantes

Fatores

Pré-LVC

cl v1 v2

Intra-LVC

v1-cl v2

Intra-LVC

v1 cl v2

Pós-LVC

v1 v2-cl

Pré-LVC

cl v1 v2

Intra-LVC

v1-cl v2

Intra-LVC

v1 cl v2

Pós-LVC

v1 v2-cl

Início absoluto /

ausência de proclisador

0%

0/4 25% 1/4

25% 1/4

50% 2/4

0% 0/1

100% 1/1

0% 0/1

0% 0/1

SN sujeito nominal

33.3% 3/9

33.3% 3/9

33.3% 3/9

0% 0/9

0% 0/3

100% 3/3

0% 0/3

0% 0/3

SN suj. pron. pessoal 0% 0/1

0% 0/1

100% 1/1

0% 0/1

0% 0/1

100% 1/1

0% 0/1

0% 0/1

SN suj. pron. indef. [exceto elemento de negação]

_ _ _ _ 0%

0/1

100%

1/1

0%

0/1

0%

0/1 Conj. coord. aditiva 0%

0/4 0% 0/4

25% 1/4

75% 3/4

0% 0/2

100% 2/2

0% 0/2

0% 0/2

SAdv. [um só vocábulo] 0% 0/1

0% 0/1

100% 1/1

0% 0/1

_ _ _ _

SAdv – Loc. adverbiais 0% 0/1

0% 0/1

100% 1/1

0% 0/1

100% 1/1

0% 0/1

0% 0/1

0% 0/1

Operador de foco 0% 0/1

0% 0/1

100% 1/1

0% 0/1

_ _ _ _

Vocábulo de negação

0% 0/1

0% 0/1

100% 1/1

0% 0/1

_ _ _ _

Elementos

subordinativos62

100% 1/1

0% 0/1

0% 0/1

0% 0/1

84% 5/6

0% 0/6

0% 0/6

16% 1/6

Tabela 22: Produtividade percentual e absoluta das variantes em face do grupo de fatores

presença/ausência de um possível elemento proclisador em referência ao PB e ao PE dos séculos XIX

e XX, no âmbito das lexias verbais complexas com gerúndio

Dá-se a perceber que, no PB, com exceção do elemento subordinativo, os itens:

(i) advérbio (v.g. Ex13), (ii) operador de foco (Ex14) e (iii) vocábulo de negação (Ex10),

62

Do rol dos elementos subordinativos verificados no PB em dados de clíticos no âmbito de LVC com

gerúndio, averiguou-se somente a presença da conjunção integrante que. No que concerne ao PE,

observam-se os seguintes fatores: (i) pronome relativo que (domínio no qual cl v1 v2 ocorre em 3 dos 4

casos colhidos), (ii) outros pronomes/advérbios relativos e (iii) conjunção subordinativa.

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165

todos apresentados pela tradição normativa como proclisadores canônicos, não

evidenciam um comportamento decisivo para a manifestação da variante pré-LVC

esperada, salvo o único domínio integrado por conector que [[Rubião] [...] esperava que o

fosse animando. [MA-PB-LVC-29]]. Em tais contextos, registre-se a predominância da variante

inovadora v1 cl v2. Convém, entretanto, sinalizar que, embora a ordem pré-LVC não se

manifeste com expressividade mediante operadores de próclise tradicionais, sua

ocorrência pode ser percebida em contextos não prescritos pelos compêndios

gramaticais (Ex12 e Ex15). De todos os possíveis proclisadores recorrentes nos dados de

complexo com gerúndio do PB, a conjunção coordenativa aditiva (3/4 dados) se

constituiu como contexto de maior registro da variante pós-LVC (v.g. Ex9). A propósito

da variedade européia do Português, perceba-se que esta revela, pelos casos analisados,

que os elementos subordinativos motivam, altamente, o fenômeno de subida de clítico

(como nos dados indicados em Ex20, Ex21, Ex22, Ex23, evento não verificado em Ex26).

Dentre os proclisadores não-canônicos constatados, apenas o domínio de locução

adverbial apresentou dado de ordem pré-LVC [Os anjos [...] a cada oração do mancebo se iam

atenuando [...] os crimes enormes do velho pecador. [AG-PE-LVC-19]].

Para apreciação da influência da variável tempo e modo das formas (semi-)

auxiliares, considerem-se os fatores registrados:

Variável tempo e modo dos verbos (semi-)auxiliares em domínio de LVC com verbo no

gerúndio

Variedades Português do Brasil

Séculos XIX e XX

Português Europeu Séculos XIX e XX

Variantes

Fatores

Pré-LVC

cl v1 v2

Intra-LVC

v1-cl v2

Intra-LVC

v1 cl v2

Pós-LVC

v1 v2-cl

Pré-LVC

cl v1 v2

Intra-LVC

v1-cl v2

Intra-LVC

v1 cl v2

Pós-LVC

v1 v2-cl

Presente do indicativo 20% 1/5

20% 1/5

60% 3/5

0% 0/5

0% 0/2

100% 2/2

0% 0/2

0%

0/2 Pret. imperfeito do

indicativo

25% 1/4

25% 1/4

50% 2/4

0% 0/4

57% 4/7

43% 3/7

0% 0/7

0% 0/7

Pret. perfeito do

indicativo

8% 1/12

17% 2/12

33% 4/12

42% 5/2

21% 1/5

60% 3/5

0% 0/5

20% 1/5

Pret. imperfeito do

subjuntivo

100% 1/1

0% 0/1

0% 0/1

0% 0/1

100% 1/1

0% 0/1

0%

0/1 0% 0/1

Imperativo 0% 0/1

0% 0/1

100% 1/1

0% 0/1

_ _ _ _

Tabela 23: Produtividade percentual e absoluta das variantes em face do grupo de fatores tempo e modo

dos verbos (semi-)auxiliares em referência ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX, no âmbito das lexias

verbais complexas com gerúndio

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166

É oportuno salientar que, no PB, a variante v1 cl v2 se faz freqüente em

contextos constituídos por verbo (semi-)auxiliar nos tempos do indicativo observados

(v.g. Ex13 e Ex17), ocorrendo, também, no único dado de imperativo (Ex10). O pretérito

imperfeito do subjuntivo (1 registro) – antecipado por operador de próclise –

testemunha a colocação pré-LVC [[Rubião] [...] esperava que o fosse animando. [MA-PB-LVC-29]].

No que concerne à variedade européia, tal como no PB, a variante pré-LVC ocorre no

dado exclusivo de verbo flexionado no pretérito imperfeito do subjuntivo (Ex21). O

presente e o pretérito perfeito do indicativo indiciam freqüências maiores de colocação

v1-cl v2 (v.g. Ex25 e Ex19). A propósito do pretérito imperfeito do mesmo modo,

contabilizem-se 4 ocorrências da ordem pré-LVC dos 7 casos registrados na amostra

examinada (v.g. Ex22).

Acrescentem-se às ponderações, aqui estabelecidas, as considerações efetuadas

na próxima seção concernente à interpretação dos resultados da ordem no âmbito das

lexias verbais complexas integradas por particípio.

5.2.2 A colocação pronominal em domínio de LVC constituída de verbo principal

no particípio

A seção presente visa a descrever, quanto ao evento da ordem nas variedades

brasileira e européia do Português nos séculos XIX e XX, as particularidades encerradas

no âmbito das LVC que apresentam verbo principal na forma de particípio. As

ponderações, aqui estabelecidas, ancoram-se no exame de 29 dados verificados no

corpus brasileiro e de 39 ocorrências registradas na amostra européia.

A propósito das possibilidades de colocação pronominal nas estruturas verbais

complexas com particípio, conforme o apresentado na seção 4.3.2, examinem-se os

exemplos que se seguem63

:

(i) cl v1 v2: Aqui se tem analisado a ordem pronominal.

(ii) v1-cl v2: Tem-se analisado a ordem pronominal.

63

Convém registrar que, embora não se tenha por expectativa a manifestação da ordem pós-LVC no

conjunto de dados de complexos verbais com particípio – variante essa não prevista pela tradição

gramatical (Ex.: Tem analisado-se), não se pode desconsiderar o fato de que ela, mesmo que

hipoteticamente, pode ocorrer em tais domínios. Verifique-se, entretanto, que os resultados desta

investigação, assim como de vários outros estudos (cf. Schei, 2003, por ex.), corroboram a não-

manifestação de pronome átono posposto ao complexo verbal.

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167

(iii) v1 cl v2: Tem se analisado a ordem pronominal.

A propósito dessa última variante em contexto de particípio – ausente no PE –,

certifique-se de que, no corpus brasileiro, seu registro foi testemunhado em apenas uma

ocorrência, a qual, abaixo, se ilustra:

Ex1.: [...] Porque eu, em tanto viver de tempo, tinha negado em mim aquele amor, e a amizade

desde agora estava [...] falseada; e o amor, e a pessoa dela, mesma, ela tinha me negado. [GR-PB-LVC-42]

É oportuno esclarecer que, tal como na análise da ordem em lexias verbais

complexas com gerúndio, em razão dos escassos números de dados, não se procede,

aqui, à apresentação detalhada dos percentuais em contexto de início absoluto de oração

em face dos demais constituídos por proclisadores. Opta-se, assim, por indicar os

números contabilizados a partir de dados em início de oração e em ambientes em que os

fatores de próclise (canônicos e não-canônicos) se fazem presentes, isto é,

contemplando-se os valores mediante todos os contextos. Constate-se que, no PB,

somente 3 casos foram verificados em início de período e, no PE, 9 registros, todos com

realização de v1-cl v2 nas duas variedades. Eis, respectivamente, dois exemplos:

Ex2.: Tem-se visto inverno começar até em abril. [RQ-PB-LVC-32]

Ex3.: Tinham-me dito – vais pela vereda, chegas ao cotovelo da rocha, à esquerda, sobes a

encosta. [FA-PE-LVC-29]

Em face dessas considerações preliminares, acompanhem-se os números

exibidos na tabela subseqüente para maior clareza quanto à distribuição das variantes:

Variantes em domínio de LVC com particípio a partir de todos os contextos

Português do Brasil Português Europeu Pré-LVC

cl v1 v2

Intra-LVC

v1-cl v2

Intra-LVC

v1 cl v2

Pós-LVC

v1 v2-cl

Pré-LVC

cl v1 v2

Intra-LVC

v1-cl v2

Intra-LVC

v1 cl v2

Pós-LVC

v1 v2-cl

69%

20/29

28%

8/29

3%

1/29

0%

0/29

62%

24/39

38%

15/39

0%

0/39

0%

0/39 Tabela 24: Distribuição geral das variantes em todos os contextos, no âmbito das LVC com particípio,

referente ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX

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168

Pelos números expostos, é possível constatar que, tal como o prescrito nos

compêndios gramaticais – no que concerne à recomendação de não se pospor clítico ao

verbo principal no particípio (cf. CUNHA & CINTRA, 2001: 316) –, a ordem pós-LVC

não ocorre nas obras pertencentes aos corpora investigados.

Constatem-se, como variantes registradas em contexto de LVC participial, as

colocações cl v1 v2 – com maior produtividade –, v1-cl v2 e v1 cl v2 – sendo esta

última encontrada somente no PB –, tal como o ilustrado na figura a seguir para efeito

de melhor visualização:

Note-se que ambas as variedades revelam similaridade de distribuição no que se

refere à freqüência da variante cl v1 v2: a ordem pré-LVC revela-se com percentagens

de 69% no PB e 62% no PE. Acredita-se que os altos índices de próclise a v1 se

sucedem pela forte potencialidade de “atração” exercida pelos proclisadores canônicos

nos complexos com particípio, fato não verificado nos dados de LVC com gerúndio.

Ressalte-se, também, que alguns operadores de próclise não-tradicionais – como os

itens prepositivos e as locuções adverbiais observados no PE (discriminados na tabela

concernente à atuação de possíveis proclisadores, exposta mais adiante) – contribuem

para a motivação de próclise a v1. De modo a ilustrar alguns dos casos de manifestação

de cl v1 v2, leiam-se os exemplos:

Figura 27: Distribuição das variantes

em domínio de LVC participial, no PB

dos séculos XIX e XX

Figura 28: Distribuição das variantes em

domínio de LVC participial, no PE dos

séculos XIX e XX

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169

Ex4.: – Mas em expiação de tuas culpas, e para que volte a paz à tua consciência, é mister que

leves a efeito uma obra piedosa e santa, que compense largamente em benefícios à

humanidade os danos e males que lhe tens causado. [BG-PB-LVC-19]

Ex5.: – Confesso que dou o cavaco por elas, mas as moças me têm posto velho. [JMM-PB-LVC-

19]

Ex6.: Estava desnorteado ou se calhar meio louco com aquele momento de sorte que lhe tinha

caído do céu. [JCP-PE-LVC-42]

Ex7.: [...] É estranho, pensou Ricardo Reis, não me lembrava deste relógio, ou esqueci-me dele

depois de o ter ouvido pela primeira vez. [JS-PE-LVC-52]

As variantes v1-cl v2 (28%) e v1 cl v2 (3%), no PB, e v1-cl v2 (38%), no PE,

são contabilizadas com percentuais inferiores à ordem pré-LVC. Estudos recentes, como

o de Schei (2003) e o de Nunes (2009), apontam a predominância da ordem pré-LVC

sobre v1(-)cl v264

em ambiente de complexos verbais com a forma de particípio.

Registre-se que, embora o PB apresente apenas 1 dado de colocação v1 cl v2 –

concebida como tipicamente brasileira –, tal caso representa, de certo modo, uma

diferença entre as variedades do Português examinadas, uma vez que o PE não

demonstra registros dessa mesma variante em complexos com particípio, assim como

atestado em ambientes de lexias com gerúndio. Antecipe-se, entretanto, que, no que toca

especificamente ao PE, em ambiente de conglomerados verbais com infinitivo, tal

variedade permite vislumbrar, ainda que em números reduzidos, casos de intra-LVC

sem hífen em construções complexas com elementos intervenientes entre os verbos que

as integram.

No propósito de aduzir a produtividade das variantes pelas estruturas verbais –

haver + particípio e ter + particípio – verificadas nos corpora, considerem-se os

valores abaixo:

Variantes em face das estruturas complexas haver + particípio e ter + particípio

Variedades Português do Brasil Séculos XIX e XX

Português Europeu Séculos XIX e XX

Variantes

Estruturas

Pré-LVC

cl v1 v2

Intra-LVC

v1-cl v2

Intra-LVC

v1 cl v2

Pré-LVC

cl v1 v2 Intra-LVC

v1-cl v2 Intra-LVC

v1 cl v2

Haver + particípio 75% 6/8

25% 2/8

0% 0/8

60% 3/5

40% 2/5

0% 0/5

64

A indicação de parênteses entre o hífen sinaliza que, em alguns trabalhos, como o de Nunes (2009), se

contabilizam juntamente as posições v1-cl v2 e v1 cl v2 por motivo dos escassos números da variante

intra-LVC sem hífen.

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170

Ter + particípio 67% 14/21

29% 7/21

4% 1/21

62% 21/34

38% 13/34

0% 0/34

Total de dados 29 dados 8 de haver + particípio e 21 de ter +

particípio

39 dados 5 de haver + particípio e 34 de ter +

particípio

Tabela 25: Produtividade percentual e absoluta das variantes em contexto de haver + particípio e ter +

particípio no PB e no PE dos séculos XIX e XX

Primeiramente, pode-se perceber que, das lexias verbais complexas registradas, a

construção ter + particípio ocorre em maior número nas amostras das duas variedades

contempladas. Assim, visualize-se graficamente a produtividade dos complexos,

considerando-se a totalidade das ocorrências – 29 dados do PB e 39 do PE:

Quanto à ordem, no PB, a variante proclítica a v1 faz-se um pouco mais

freqüente com o auxiliar haver (75%) em comparação a ter (67%). No que tange ao

Português Europeu, os índices são muito próximos, sendo o registro de cl v1 v2 em

construções verbais complexas com auxiliar ter (62%) levemente superior aos

percentuais observados em domínio de verbo principal auxiliado por haver (60%).

Expostos os valores de ocorrência das lexias verbais complexas destacadas,

apresenta-se, a seguir, a descrição dos dados relativos à ordem em face dos grupos de

fatores controlados.

Figura 29: Freqüência percentual das estruturas ter + particípio e haver + particípio no PB e no

PE dos séculos XIX e XX

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171

5.2.2.1 A ordem pronominal em LVC com particípio a partir de variáveis

extralingüísticas

Procede-se, nesta seção, à apresentação das particularidades da ordem no total

de dados obtidos, embora os registros não sejam suficientemente numerosos para que se

proponham generalizações.

No que se refere ao controle da variável vozes do romance, faz-se saber que a

variante cl v1 v2, a mais freqüente nos corpora brasileiro e europeu, se revela como a

opção mais realizada em todas as vozes do romance, isto é, em falas de personagens,

narradores observadores (3ª pessoa) e narradores personagens (1ª pessoa), nos dados do

PB. A propósito do PE, percebe-se comportamento semelhante ao Português do Brasil,

salvo em contexto de narrador personagem (1ª pessoa), em que a variante v1-cl v2 se

manifesta em 5 dos 7 dados colhidos.

No que respeita aos escritores contemplados na amostra brasileira, registrem-se

índices categóricos da variante proclítica a v1 em grande parte das obras observadas. Os

escritos concernentes à autoria de Júlia Lopes (Fase 2 – 1/1 dado), Rachel de Queiroz

(Fase 3 – 2/2 dados), Euclides da Cunha (Fase 3 – 1/1 dado) e Nélida Piñon (Fase 5 –

1/1 dado) exibem exclusivamente a posição v1-cl v2. O único dado da ordem intra-LVC

sem hífen – já apresentado no início desta seção – encontra-se registrado na obra de

Guimarães Rosa. Considere-se, ainda, que os escritores Lima Barreto (Fase 3) e

Graciliano Ramos (Fase 4), responsáveis por 4 dos dados colhidos, apresentam igual

opção pelas variantes pré-LVC e intra-LVC com hífen (2 dados de cl v1 v2 e 2 dados de

v1-cl v2). A propósito do PE, o número de escritores, quanto à realização categórica de

cl v1 v2 ou v1-cl v2, encontra-se equilibrado. Daqueles cuja escrita permite vislumbrar

um possível caso de variação (tendendo para próclise a v1) – ainda que de modo tênue,

visto que uma das variantes não se estabelece de modo categórico ou em igual número

de realização como a sua concorrente –, citam-se Vitorino Nemésio (Fase 4 – 3/5

dados), José Cardoso Pires (Fase 4 – 5/7 dados) e José Saramago (Fase 5 – 4/7 dados).

No que tange à distribuição equivalente de cl v1 v2 e v1-cl v2, destacam-se as obras de

Júlio Dinis (Fase 2) e Vergílio Ferreira (Fase 5) como ambientes de ocorrência de 2 dos

dados de pré-LVC e 2 dos casos de inta-LVC com hífen observados em contexto de

auxiliar + particípio.

A análise do evento da colocação pelas fases controladas, em ambas as

variedades, aponta índices superiores da variante pré-LVC, com exceção da fase 3 no

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172

PB e da fase 5 no PE, em que a ordem intra-LVC com hífen ocorreu em maior número:

4 de 5 dados no PB e 6 de 11 casos no PE. Em ambas as variedades, o século XIX

consiste no período de tempo em que se dá a colocação pré-LVC em primeira instância,

no que respeita às construções de auxiliar + particípio. Todavia, no Português Europeu,

embora cl v1 v2 se apresente em maiores números do que v1-cl v2 nos períodos

contemplados, as diferenças percentuais dessa colocação entre os séculos XIX (68%) e

XX (60%) não são consideravelmente díspares.

5.2.2.2 A ordem pronominal em LVC com particípio a partir de variáveis

lingüísticas

No intuito de pormenorizar o evento da ordenação dos clíticos pronominais em

domínios de construções verbais complexas com verbo principal no particípio mediante

variáveis de cunho lingüístico, leiam-se, preliminarmente, os exemplos arrolados:

Dados de auxiliar + particípio no PB dos séculos XIX e XX

Ex8.: Sentia que não deveria, por coisa alguma, contrariar aquela valente mulherzinha que as

águas do mar lhe haviam trazido do reino [...]. [DSQ-PB-LVC-42]

Ex9.: O senhor de Bertoleza não teve sequer conhecimento do fato; o que lhe constou, sim, foi

que a sua escrava lhe havia fugido para a Bahia depois da morte do amigo. [AAz-PB-

LVC-29]

Ex10.: Tropas do exército regular do Sul, ajudadas pelos seus aliados brancos de além-mar,

tinham sido levadas em helicópteros para o lugar onde se presumia estivesse o inimigo,

mas este se havia sumido por completo. [EV-PB-LVC-52]

Ex11.: Apesar de haver-lhe freqüentado o leito e, desavisado, batido à porta do ventre, tudo

que queria era livrar-se daquele afeto. [NP-PB-LVC-52]

Ex12.: Haviam-se esquadrinhado todas as anfractuosidades, e todos os dédalos rasgados entre

as pedras [...]. [EC-PB-LVC-32]

Ex13.: Ora! bastava já, e não era pouco, o que lhe tinham sugado durante tanto tempo! [AAz-

PB-LVC-29]

Ex14.: Foram ter com Maria-Regalada, que mesmo na véspera lhes tinha mandado dar parte

que se mudara da Prainha, e oferecia-lhes sua nova morada. [MAA-PB-LVC-19]

Ex15.: [...] creio que a não ser a falta de louças, já teu senhor me teria oferecido. [JMM-PB-

LVC-19]

Ex16.: A velhice tinha-o tornado moleirão e pachorrento; com sua vagareza atrasava o negócio

das partes [...]. [MAA-PB-LVC-19]

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173

Ex17.: Luciano tinha-se afastado do quarto e passeava no jardim, fugindo aos olhos de todos e

à bulha atormentadora das vozes. [JL-PB-LVC-29]

Dados de auxiliar + particípio no PE dos séculos XIX e XX

Ex18.: De todos os maus sentimentos que outrora lhe haviam corroído a alma, só um persistira,

mas orientado de maneira a tornar-se prestável à comunidade: a emulação. [CM-PE-LVC-

32]

Ex19.: [...] é como se a sua pavorosa desordem interior se houvesse, por qualquer reflexo

fenômeno, exteriorizado, extravasando numa forma visível sobre todo o seu ser [...]. [AB-PE-LVC-32]

Ex20.: Milagre fora o Algodres vir no barco que senão, havendo-lhes faltado a corda que [...] é

mais que a muleta para um coxo, os peixes tinham festim. [AqR-PE-LVC-32]

Ex21.: Um ano, fins de outubro, havendo-se abalançado com tempo incerto até o extremo das

cordas, foi caso que já ele, como arrais responsara o lanço [...]. [AqR-PE-LVC-32]

Ex22.: O trato e freqüência da corte enriqueceu os burgueses: muitos francos, vindos em

companhia do Conde, aí se tinham estabelecido, e os homens de rua, ou moradores do

burgo, constituíram-se em sociedade civil. [AH-PE-LVC-19]

Ex23.: Raras vezes se terá visto quadro tão estranho: uma rapariga a sacudir a cabeça,

desesperada, e um homem sorrindo tristemente para a paisagem, certo de que a

tempestade iria passar. [JCP-PE-LVC-42]

Ex24.: [...] Antes a peste me tivesse levado! [VN-PE-LVC-42]

Ex25.: É estranho, pensou Ricardo Reis, não me lembrava deste relógio, ou esqueci-me dele

depois de o ter ouvido pela primeira vez. [JS-PE-LVC-52]

Ex26.: Mas isso fora há umas três noites, alguém lhe teria dito? [VF-PE-LVC-52]

Ex27.: A companheira tinha-se chegado. Fumava e olhava. [JCP-PE-LVC-42]

Ex28.: Tinham-nos avisado no asilo [...]. [VF-PE-LVC-52]

Ex29.: Consoante vão pondo pé em terra, [...] os estrangeiros murmuram contra o temporal,

como se fôssemos nós os culpados deste mau tempo, parece terem-se esquecido de que

nas franças e inglaterras deles costuma ser bem pior [...]. [JS-PE-LVC-52]

No que concerne à ausência ou presença de elemento interveniente nas lexias

verbais complexas com forma de particípio, os exemplos permitem observar que não

existem registros de complexos com material interveniente no PB. Dos 39 dados de

auxiliar + particípio no corpus europeu, somente 1 apresenta sintagma entre os verbos

da construção complexa (Ex19).

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174

Para a apresentação da ordem frente à variável tipo de clítico pronominal,

expõem-se, na tabela abaixo, os seguintes resultados da colocação em face de

construções auxiliar + particípio, no PB e no PE dos séculos XIX e XX:

Variável tipo de clítico pronominal em domínio de LVC com verbo no particípio

Variedades Português do Brasil

Séculos XIX e XX

Português Europeu Séculos XIX e XX

Variantes

Fatores

Pré-LVC

cl v1 v2

Intra-LVC

v1-cl v2

Intra-LVC

v1 cl v2

Pré-LVC

cl v1 v2

Intra-LVC

v1-cl v2

Intra-LVC

v1 cl v2

Me 75%

3/4 0% 0/4

25% 1/4

40% 2/5

60% 3/5

0% 0/5

Se reflexivo /

inerente

67% 4/6

33% 2/6

0% 0/6

47% 7/15

53% 8/15

0% 0/15

Se apassivador 0% 0/2

100% 2/2

0% 0/2

100% 1/1

0% 0/1

0% 0/1

O, a, os, as 67% 4/6

33%

2/6 0% 0/6

83% 5/6

17% 1/6

0% 0/6

Lhe, lhes 82% 9/11

18% 2/11

0% 0/11

78% 7/9

22% 2/9

0% 0/9

Nos _ _ _ 0% 0/1

100% 1/1

0% 0/1

Formas contraídas _ _ _ 100% 2/2

0% 0/2

0% 0/2

Tabela 26: Produtividade percentual e absoluta das variantes em face do grupo de fatores tipo de clítico

pronominal em referência ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX, no âmbito das Lexias Verbais

Complexas com particípio

Dos pronomes observados no PB, apenas o clítico se apassivador (Ex2) diverge

dos demais quanto à colocação em contexto de particípio: enquanto os outros são mais

freqüentes na posição proclítica a v1, o apassivador mostra-se, nos dois casos de

ocorrência, em posição intra-LVC com hífen. No que toca ao PE, o apassivador se (1/1

dado – Ex23) bem como os acusativos o(s), a(s) (5/6 dados – v.g. Ex25) e o dativo lhe(s)

(7/9 dados – v.g. Ex18) correspondem às formas pronominais65

que figuram, na maioria

dos casos, em posição pré-LVC. Ateste-se, ainda, que os clíticos se reflexivo/inerente

(8/15 dados – v.g. Ex27) assim como os pronomes me (3/5 dados – v.g. Ex3) e nos (1/1

dado – v.g. Ex28) se revelam um pouco mais freqüentes em colocação intra-LVC com

hífen.

65

Perceba-se que, em contexto de formas contraídas observadas no PE, a posição pré-LVC se faz

categórica (Ex.: [...] ela lho [lhe + o] tinha dito [...] [JS-PE-LVC-52]).

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175

A respeito da ordem em face da variável natureza da oração, considerem-se os

contextos subseqüentes:

Variável natureza da oração em domínio de LVC com verbo no particípio

Variedades Português do Brasil

Séculos XIX e XX

Português Europeu Séculos XIX e XX

Variantes

Fatores

Pré-LVC

cl v1 v2

Intra-LVC

v1-cl v2

Intra-LVC

v1 cl v2

Pré-LVC

cl v1 v2

Intra-LVC

v1-cl v2

Intra-LVC

v1 cl v2

Or. absoluta / principal /

coord. assindética

33% 3/9

56% 5/9

11% 1/9

44% 8/18

56% 10/18

0% 0/18

Or. coord. sindética 67% 2/3

33% 1/3

0% 0/3

_ _ _

Or. sub. desenvolvida 100% 15/15

0% 0/15

0% 0/15

100% 13/13

0% 0/13

0% 0/13

Or. sub. red. de infinitivo 0% 0/2

100% 2/2

0% 0/2

50% 2/4

50% 2/4

0% 0/4

Or. sub. red. de gerúndio _ _ _ 0% 0/3

100% 3/3

0% 0/3

Or. optativa _ _ _ 100% 1/1

0% 0/1

0% 0/1

Tabela 27: Produtividade percentual e absoluta das variantes em face do grupo de fatores natureza da

oração em referência ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX, no âmbito das Lexias Verbais Complexas

com particípio

Em ambas as variedades, a posição pré-LVC manifesta-se de modo categórico

em contexto de orações subordinadas desenvolvidas – v.g. Ex13 e Ex18, respectivamente

– (bem como em cláusula optativa em 1 registro do PE) –, as quais se constituem dos

elementos proclisadores. No que tange ao PB, verifique-se que a variante cl v1 v2, em

domínio de coordenadas sindéticas (v.g. Ex5), ocorre em dois dos três registros colhidos.

A propósito da colocação v1-cl v2, pontua-se sua manifestação em 5 dos 9 casos de

oração absoluta/principal/coordenada assindética (v.g. Ex12) assim como nos 2 únicos

registros de oração subordinada reduzida de infinitivo (v.g. Ex11). No âmbito do PE, a

ordem v1-cl v2 apresenta-se, no maior número de vezes, em contexto de oração

principal/absoluta e/ou coordenada assindética (10/18 dados – v.g. Ex27) bem como de

cláusulas subordinadas reduzidas de gerúndio (3/3 dados – v.g. Ex21). Quanto às

reduzidas de infinitivo, as variantes cl v1 v2 e v1-cl v2 distribuem-se igualmente em

número de ocorrências.

O evento da colocação em estruturas de auxiliar + particípio, mediante o grupo

de fatores presença/ausência de possível elemento proclisador, assume os seguintes

índices com base nos contextos analisados:

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176

Tabela 28: Produtividade percentual e absoluta das variantes em face do grupo de fatores

presença/ausência de um possível elemento proclisador em referência ao PB e ao PE dos séculos XIX e

XX, no âmbito das lexias verbais complexas com particípio

Consoante o prescrito pela tradição gramatical, pode-se, também, constatar, nas

estruturas complexas integradas por particípio, que, em ambas as variedades, os

elementos subordinativos, os vocábulos de negação – observados somente no PB –

assim como os advérbios67

integram contextos com maiores índices de freqüência da

variante pré-LVC. O único registro de SN sujeito pronome demonstrativo – no PB – tal

como o de SN sujeito pronome indefinido e de preposição de – na variedade européia –

apresentam, também, a ocorrência da ordem pré-LVC. Saliente-se, ainda, que tanto PB

66

Do inventário dos elementos reunidos sob o rótulo “elementos subordinativos” averiguados no PB,

citam-se: (i) conjunção integrante que, (ii) pronome relativo que e (iii) palavra QU- interrogativa do tipo

pronominal. No que tange ao PE, eis os fatores: (i) conjunção integrante que, (ii) pronome relativo que,

(iii) outros pronomes/advérbios relativos, (iv) conjunção subordinativa, partícula que em locução

conjuntiva e (v) palavra QU- interrogativa do tipo adverbial. 67

Ilustra-se o dado: “– Cá meu amo tinha-me dito: <<Vai [...] e perguntas o sr. Roberto se quer que o

ajudes a tirar a mala da loja [...].>> [VN-PE-LVC-42]. A distância entre o advérbio e o clítico pode ter

motivado o fato de essa ocorrência corresponder ao único caso do PE de contexto adverbial em que a

variante v1-cl v2 ocorre em vez da ordem esperada pré-LVC.

Variável presença/ausência de possível elemento proclisador em domínio de LVC com

verbo no particípio

Variedades Português do Brasil

Séculos XIX e XX

Português Europeu Séculos XIX e XX

Variantes

Fatores

Pré-LVC

cl v1 v2

Intra-LVC

v1-cl v2

Intra-LVC

v1 cl v2

Pré-LVC

cl v1 v2

Intra-LVC

v1-cl v2

Intra-LVC

v1 cl v2

Início absoluto / ausência

de proclisador

0% 0/3

100% 3/3

0% 0/3

0% 0/9

100% 9/9

0% 0/9

SN sujeito nominal 43% 3/7

57% 4/7

0% 0/7

20% 1/5

80% 4/5

0% 0/5

SN suj. pron. pessoal 0% 0/1

0% 0/1

100% 1/1

67% 2/3

33% 1/3

0% 0/3

SN suj. pron. indef. [exceto

elemento de negação]

_ _ _ 100%

1/1 0% 0/1

0% 0/1

SN suj. pron.

demonstrativo

100% 1/1

0% 0/1

0% 0/1

_ _ _

SAdv. [um só vocábulo] 100% 3/3

0% 0/3

0% 0/3

80% 4/5

20% 1/5

0% 0/5

SAdv – Loc. adverbiais _ _ _ 100% 2/2

0% 0/2

0% 0/2

Preposição de 0% 0/1

100% 1/1

0% 0/1

100% 1/1

0% 0/1

0% 0/1

Vocábulo de negação

100% 1/1

0% 0/1

0% 0/1

_ _ _

Elementos

subordinativos66

100% 12/12

0%

0/12 0%

0/12 100% 12/12

0% 0/12

0% 0/12

Pronome átono

_ _ _ 100%

1/1 0% 0/1

0% 0/1

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177

quanto PE – em conformidade com a prescrição gramatical – não demonstram registros

de cl v1 v1 em contexto de início absoluto, ambientes nos quais a ordem v1-cl v2 é

categórica em ambas as variedades.

No que respeita à atuação do grupo tempo e modo das formas auxiliares,

considerem-se os fatores discriminados:

Variável tempo e modo das formas auxiliares em domínio de LVC com verbo no

particípio

Variedades Português do Brasil

Séculos XIX e XX

Português Europeu Séculos XIX e XX

Variantes

Fatores

Pré-LVC

cl v1 v2

Intra-LVC

v1-cl v2

Intra-LVC

v1 cl v2

Pré-LVC

cl v1 v2

Intra-LVC

v1-cl v2

Intra-LVC

v1 cl v2

Presente do indicativo 67%

2/3 33% 1/3

0% 0/3

0% 0/1

100% 1/1

0% 0/1

Pret. imperfeito do

indicativo

67% 12/18

28% 5/18

5% 1/18

63% 15/24

37% 9/24

0% 0/24

Futuro do pres. do

indicativo _ _ _ 100%

1/1 0% 0/1

0% 0/1

Futuro do pret. do

indicativo

100% 3/3

0% 0/3

0% 0/3

100% 2/2

0% 0/2

0% 0/2

Pret. imperfeito do

subjuntivo

100% 2/2

0% 0/2

0% 0/2

100% 4/4

0% 0/4

0% 0/4

Futuro do subjuntivo 100% 1/1

0% 0/1

0% 0/1

_ _ _

Infinitivo 0% 0/2

100% 2/2

0% 0/2

50% 2/4

50% 2/4

0% 0/4

Gerúndio _ _ _ 0% 0/3

100% 3/3

0% 0/3

Tabela 29: Produtividade percentual e absoluta das variantes em face do grupo de fatores tempo e modo

das formas auxiliares em referência ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX, no âmbito das lexias verbais

complexas com particípio

Ressalte-se que os futuros do indicativo – dos quais o do pretérito se constata no

PB – bem como o pretérito imperfeito e o futuro do subjuntivo – sendo esse último

verificado somente no PB – se particularizam como contextos categóricos de realização

da variante pré-LVC. A respeito da variante v1-cl v2, perceba-se seu registro categórico

em ambiente de infinitivo, no PB, bem como em domínio de presente do indicativo e de

gerúndio no PE.

À luz das constatações, aqui efetuadas, acerca do evento da ordem no conjunto

de dados de complexos verbais com particípio do PB e do PE, contemplem-se as

considerações que se tecem, na seção subseqüente, a propósito da colocação em

construções verbais complexas com infinitivo.

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178

5.2.3 A colocação pronominal em domínio de LVC constituída de verbo principal

no infinitivo

Em seqüência à análise da ordem em lexias verbais complexas gerundivas e

participiais, leva-se a efeito, nesta seção, o exame de estruturas perifrásticas constituídas

de infinitivo com o propósito de se delinear, nas variedades brasileira e européia do

Português dos séculos XIX e XX, a ordenação dos clíticos no domínio de tais

construções.

De modo a apresentar as primeiras noções acerca da cliticização pronominal em

complexos com infinitivo, reiterem-se as seguintes possibilidades de colocação, tal

como o pontuado na seção 4.3.2:

(i) cl v1 v2: Aqui se pode examinar a ordem pronominal.

(ii) v1-cl v2: Pode-se examinar a ordem pronominal.

(iii) v1 cl v2: Pode se examinar a ordem pronominal.

(iv) v1 v2-cl: Pode examinar-se a ordem pronominal.

Uma vez apreciados os fatores da variável dependente no âmbito das lexias

verbais complexas com infinitivo, contemplem-se as freqüências percentuais e absolutas

de cada variante atestada nos corpora investigados:

Variantes em domínio de LVC com infinitivo a partir de todos os contextos

Português do Brasil Português Europeu Pré-LVC

cl v1 v2

Intra-LVC

v1-cl v2

Intra-LVC

v1 cl v2

Pós-LVC

v1 v2-cl

Pré-LVC

cl v1 v2

Intra-LVC

v1-cl v2

Intra-LVC

v1 cl v2

Pós-LVC

v1 v2-cl

11%

15/139

7%

10/139

18%

25/139

64%

89/139

20%

37/177

17%

30/177

4%

7/177

58%

103/177 Tabela 30: Distribuição geral das variantes em todos os contextos, no âmbito das LVC com infinitivo

referente ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX

Os valores evidenciam que o fenômeno da colocação pronominal assume, em

ambas as variedades, índices maiores de freqüência em posição pós-LVC (64% e 58%,

respectivamente no PB e no PE), sinalizando que, supostamente, os domínios de

conglomerados com verbo no infinitivo se constituem como ambientes profícuos à

realização v1 v2-cl, situação não observada nos contextos de gerúndio e de particípio.

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179

Segundo constatações dos estudos sobre o fenômeno, o registro obtido para a variante

pós-LVC vai ao encontro do padrão esperado de colocação em construções integradas

por verbo principal no infinitivo.

Certifique-se, entretanto, de que Vieira (2002), a propósito da variedade

brasileira, registra, nos poucos dados por ela obtidos, maior freqüência de realização

intra(-)LVC68

, atestando no PE percentuais levemente superiores de v1 v2-cl em

comparação aos obtidos para a variante pré-LVC. Schei (2003), de outro lado, registra

no conjunto de dados brasileiros ora a colocação pré-LVC ora a pós-LVC. No que

respeita ao PE, a pesquisadora contabiliza maiores números de v1 v2-cl. A propósito

dos resultados de Nunes (2009), tanto o PB quanto o PE do século XIX demonstram

certa preferência pela colocação pré-LVC, cujos índices sofrem decréscimos no século

posterior em favor da variante pós-LVC.

No presente estudo, no que respeita à ordem pré-LVC, PB e PE revelam,

também, distribuição similar de dados, tendo o Português Europeu registrado um

número maior de ocorrências (11% e 20%, de modo respectivo).

Verifique-se, pois, que a disparidade existente entre as variedades do Português

quanto à colocação em domínios de estruturas verbais complexas se estabelece na

produtividade das variantes v1 cl v2 e v1-cl v2, característica essa mais bem

representada nas construções gráficas que se sucedem:

68

Uma vez mais, constate-se a utilização dos parênteses para indicar que alguns estudos, como o de

Vieira (2002) e o de Nunes (2009), devido aos parcos números de v1-cl v2 e v1 cl v2, contabilizam,

juntamente, ambas as variantes.

Figura 30: Distribuição das variantes em

todos os contextos, no âmbito das LVC

com infinitivo, no PB dos séculos XIX e

XX

Figura 31: Distribuição das variantes em

todos os contextos, no âmbito das LVC

com infinitivo, no PE dos séculos XIX e

XX

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180

No que respeita à variante v1 cl v2 – concebida em diversas investigações como

inovação da variedade brasileira, uma vez que registros dessa colocação não são

acusados na história do Português (v.g. MARTINS, 2009; PAGOTTO, 1992; GALVES,

2001) –, contabilizem-se, do total de 139 dados da amostra brasileira, 25 casos (contra

10 ocorrências de ordem v1-cl v2), dentre os quais se arrolam:

Ex1.: – A Ana já veio me dizer que exige mais ordenado!... [JL-PB-LVC-29]

Ex2.: – Eu não digo besteira, mulher. Se não quiser me ouvir que se retire. Estou falando a

verdade. [JLR-PB-LVC-42]

Ex3.: Um homem que se preza não deve se entregar. [JLR-PB-LVC-42]

Ex4.: Não quis se levantar, mas acertou bem os ouvidos. [JLR-PB-LVC-42]

Ex5.: – Alguém devia de ver, então era eu mesmo, este vosso servidor. Fosse lhe contar... [GR-PB-LVC-42]

Ex6.: – Mas ninguém não pode me impedir de rezar; pode algum? O existir da alma é a reza... [GR-PB-LVC-42]

Ex7.: – E quem vai nos visitar a esta hora, Dodô? [NP-PB-LVC-52]

Ex8.: – Quero me lembrar de um verso de Garcia Lorca e que não me lembro mas cito ao

acaso, precisamos ir falando, falando em voz baixa mas falando como duas delirantes

amparando uma terceira, a mais trôpega e a mais bonita, onde foi a festa? [LFT-PB-LVC-

52]

Ex9.: Sua missão acabava de lhe ser revelada pelo céu por um modo solene e miraculoso; ali

mesmo pois prostrado aos pés da imagem prometeu erigir-lhe uma capela naquele

mesmo sítio e junto àquele mesmo córrego onde fora visitado pela beatífica visão. [BG-

PB-LVC-19]

Ex10.: – Estou com pena do compadre José Amaro. Como é que vai ele se arrumar naquela

casa abandonada. [JLR-PB-LVC-42]

Ex11.: – Numa manhã assim tenho que me segurar senão saio voando, olha as margaridinhas,

abriram todas! [LFT-PB-LVC-52]

Ex12.: – E por que iria o pai se vingar? A senhora lhe deu cinco filhas saudáveis e terras como

dote. [NP-PB-LVC-52]

Mediante os exemplos supracitados, pode-se verificar que a manifestação da

ordem v1 cl v2 ora ocorre em estruturas que não demonstram a presença de elementos

intervenientes entre os verbos do complexo (exemplos 1 a 8), ora em construções com

material interposto (exemplos 9 a 12). Saliente-se que, dos 25 casos da colocação intra-

LVC sem hífen encontrados no PB, essa variante é registrada em maior número em

domínios desprovidos de elementos intervenientes (16/25 dados).

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181

Compare-se aos 25 registros de v1 cl v2 do PB a marca de apenas 7

manifestações dessa mesma variante no corpus europeu – que privilegia a estrutura com

hífen (v1-cl v2), atestada em 30 dados. É oportuno salientar que os testemunhos da

posição intra-LVC sem hífen no PE ocorrem apenas em complexos com elemento

interveniente – em sua maioria a preposição de –, o que sugere um efeito proclisador

interno ao complexo verbal:

Ex13.: Na capoeira, a galinha raivosa, reconhecendo o outro enjeitado à luz da manhã, acabava

de o matar à bicada, lançando-o fora do cesto. [FA-PE-LVC-29]

Ex14.: – Há de lhe isso servir de muito! - rosnou o Paula, afastando-se. [EQ-PE-LVC-29]

Ex15.: Mas se ele nem força tinha de se arrastar até lá! Ao que ele chegara!... Clamaria

por socorro... [AB-PE-LVC-32]

Ex16.: Não esperou pela resposta; ou pelo menos não precisou de a saber. [JCP-PE-LVC-42]

Ex17.: Nem tempo tiveram de lhe gritar. Conforme apareceu sumiu-se. [JCP-PE-LVC-42]

Ex18.: Pareceu-lhe ver nos criados um ar de susto e de perturbação, que acabou de lhe fazer

[...] medo. [JD-PE-LVC-29]

Ex19.: Rodrigo não tinha que se surpreender. [FN-PE-LVC-52]

No que toca aos poucos registros da colocação v1-cl v2 (10 dados) na variedade

brasileira do Português, contemplem-se alguns dos casos a seguir:

Ex20.: Em todos os maus lugares, onde quer que houvesse uma orgia, um batuque, uma

algazarra qualquer, podia-se jurar que lá se achava Gonçalo [...]. [BG-PB-LVC-19]

Ex21.: Num domingo de junho de 1891, ela sentou-se na sua sala, muito fresca e perfumada; e,

estendida numa cadeira de balanço, perto da janela, pôs-se muito sossegadamente a ler

um jornal do dia. [JL-PB-LVC-29]

Ex22.: Voltada para o sonho, ela continuou imóvel, com os membros lassos estendidos sob as

roupagens longas e negras do seu ainda rigoroso luto de viuvez, e pôs-se a seguir com o

olhar, que o pensamento erradio tornava ora abstrato, ora pensativo, uma barquinha de

velas pandas que deslizava lá embaixo, isolada e pequenina, na solidão das águas. [JL-

PB-LVC-29]

Ex23.: A língua do boato murmurava que, no dia seguinte ao da descoberta do crime, o duque

se levantara acabrunhado como um doente; que recebera a visita do Dr. Louro

Trigueiro; que começara-se a dizer então que as jóias tinham sido encontradas. [RP-PB-

LVC-29]

Ex24.: A moça ultimou a trança, levantou-se e pôs-se a cear, calada, abstraída. [RQ-PB-LVC-

32]

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182

Ex25.: Quincas Borba procurou com os pés as chinelas; Rubião chegou-lhas; ele calçou-as e

pôs-se a andar para esticar as pernas. [MA-PB-LVC-29]

Ex26.: O sol apontava por trás das montanhas quando o velho que, ao entardecer do dia

anterior, havia apanhado uma pomba-rola com sua armadilha de bambu, saiu de sua

choça e pôs-se a acender um fogo de gravetos para esquentar a água do chá matinal.

[EV-PB-LVC-52]

Os complexos verbais expostos, em sua maioria, encontram-se antecedidos por

conjunção coordenativa, locução adverbial, assim como SN sujeito nominal e

pronominal. Atente-se, entretanto, para o Ex23, em que, mesmo mediante a presença de

operador de próclise canônico, o pronome clítico não se posiciona de modo anteposto a

v1. É oportuno salientar que grande parte dos casos de v1-cl v2 se manifesta em

domínio da construção complexa do tipo pôr-se + infinitivo, fato que sugere ser a lexia

destacada uma possível motivação para a ocorrência da variante intra-LVC com hífen.

A propósito da colocação em contexto de início absoluto, aprecie-se a tabela

seguinte:

Variantes em domínio de LVC com infinitivo a partir do contexto de início absoluto

Português do Brasil Português Europeu Pré-LVC

cl v1 v2

Intra-LVC

v1-cl v2

Intra-LVC

v1 cl v2

Pós-LVC

v1 v2-cl

Pré-LVC

cl v1 v2

Intra-LVC

v1-cl v2

Intra-LVC

v1 cl v2

Pós-LVC

v1 v2-cl

0%

0/33

0%

0/33

15%

5/33

85%

28/33

0%

0/49

22%

11/49

2%

1/49

76%

37/49 Tabela 31: Distribuição geral das variantes em início absoluto, no âmbito das LVC com infinitivo

referente ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX

Em oposição às lexias verbais simples, tanto PB quanto PE não exibem dados de

pronomes átonos em primeira posição inicial absoluta, conforme se constata pelos

índices nulos da variante cl v1 v2. Em tais contextos, a predileção pela ordem pós-LVC

torna-se mais nítida em ambas as variedades contempladas. Eis a aplicação dos valores

expostos na tabela 31 nos gráficos abaixo:

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183

Os padrões gráficos permitem observar que, na variedade brasileira do

Português, além da colocação pós-LVC, somente a variante intra-LVC sem hífen se

concretiza. Em contrapartida, note-se que, no PE, a variante intra-LVC com hífen se

apresenta como segunda opção de ordem em início absoluto, seguida pela variante v1 cl

v2, cujo percentual (2%) é ainda menor se comparado ao obtido para os demais

contextos.

De modo a observar o comportamento das variantes sob a intervenção dos

proclisadores canônicos, analisem-se as freqüências percentuais e absolutas expostas na

seqüência:

Variantes em domínio de LVC com infinitivo a partir do contexto de proclisadores canônicos

Português do Brasil Português Europeu Pré-LVC

cl v1 v2

Intra-LVC

v1-cl v2

Intra-LVC

v1 cl v2

Pós-LVC

v1 v2-cl

Pré-LVC

cl v1 v2

Intra-LVC

v1-cl v2

Intra-LVC

v1 cl v2

Pós-LVC

v1 v2-cl

21%

15/70

3%

2/70

21%

15/70

55%

38/70

42%

29/69

3%

2/69

7%

5/69

48%

33/69 Tabela 32: Distribuição geral das variantes em contexto de proclisadores canônicos, no âmbito das LVC

com infinitivo referente ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX

Os números permitem atestar que, em contexto de proclisadores canônicos,

ambas as variedades optam, em primeira instância, pela realização pós-LVC nos

domínios em que, segundo a prescrição gramatical, se recomenda a colocação pré-LVC.

A título de ilustração, leiam-se os dados subseqüentes:

Figura 32: Distribuição das variantes em

início absoluto, no âmbito das LVC com

infinitivo, no PB dos séculos XIX e XX

Figura 33: Distribuição das variantes em

início absoluto, no âmbito das LVC com

infinitivo, no PE dos séculos XIX e XX

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Casos de “v1 v2-cl” em dados do PB dos séculos XIX e XX

Ex27.: – Junto ao leito de um moribundo jurou que havia de amá-la para sempre. [JMM-PB-

LVC-19]

Ex28.: Era terrível quando, ao voltar uma esquina ou ao sair de manhã de sua casa, o cidadão

esbarrava com uma daquelas solenes figuras, que, desdobrando junto dele uma folha de

papel, começava a lê-la em tom confidencial! [MAA-PB-LVC-19]

Ex29.: Do hábito que tinha de queixar-se a todo o instante de que só pagassem por sua citação

a módica quantia de 320 réis, lhe viera o apelido que juntavam ao seu nome. [MAA-PB-

LVC-19]

Ex30.: – Iaiá não quer vê-lo e pede-lhe para não voltar a esta casa. [JL-PB-LVC-29]

Ex31.: Sentia não poder atendê-lo. [NP-PB-LVC-52]

Casos de “v1 v2-cl” em dados do PE dos séculos XIX e XX

Ex32.: – Não podia enganar-me na marcha. [FA-PE-LVC-29]

Ex33.: – Sempre o desejo de apoiar as almas necessitadas conduziu os meus actos, porque

penso não se conquistar a salvação cumprindo somente os sacramentos, mas pelas obras

que devem conformar-se com a vontade divina. Como poderei ajudar-vos? [AAb-PE-

LVC-52]

Ex34.: – Para melhor merecer o apreço de Deus, não deveríamos então pô-la à prova? [AAb-

PE-LVC-52]

Ex35.: – Mas eu sacrifico-me, a Igreja entende que deve sacrificar-se pela Igreja e pelos

pobres. [RB-PE-LVC-32]

Conforme se pontuará mais adiante, as ocorrências expostas denotam que os

operadores de próclise parecem não atuar de modo tão significativo para a manifestação

da ordem proclítica a v1 como o fazem no domínio das lexias verbais simples. A

respeito da atuação dos proclisadores em contexto de lexias verbais complexas,

reproduzem-se as seguintes considerações de Vieira (2002: 315):

[Em lexias verbais complexas,] Não se pode assegurar, entretanto, a efetiva atuação dos

operadores de próclise, uma vez que, independentemente da presença de tais elementos, a

variante intra-complexo verbal (e até a pós-CV) se concretiza.

Embora, mormente no PB, os elementos proclisadores não interfiram

significativamente na manifestação de próclise a v1 – como é de expectativa –,

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185

considere-se que os índices de cl v1 v2 exibem, em sua freqüência, acréscimos de

alguns pontos percentuais em ambientes integrados por tais formas, em comparação aos

obtidos no conjunto de todos os contextos e nos domínios de início absoluto.

A fim de visualizar a distribuição das variantes em ambientes de proclisadores

tradicionais, contemplem-se as figuras:

Ressalte-se que, apesar de os elementos proclisadores não promoverem a

realização categórica ou quase categórica da realização de cl v1 v2 em ambas as

variedades, a interferência desses itens se faz de modo mais efetivo no PE (42%) em

comparação ao PB (21%).

No que tange aos contextos constituídos de proclisadores não-canônicos,

analisem-se os números expostos:

Variantes em domínio de LVC com infinitivo a partir de contexto de proclisadores não-

canônicos

Português do Brasil Português Europeu Pré-LVC

cl v1 v2

Intra-LVC

v1-cl v2

Intra-LVC

v1 cl v2

Pós-LVC

v1 v2-cl

Pré-LVC

cl v1 v2

Intra-LVC

v1-cl v2

Intra-LVC

v1 cl v2

Pós-LVC

v1 v2-cl

0%

0/36

22%

8/36

14%

5/36

64%

23/36

14%

8/59

29%

17/59

1%

1/59

56%

33/59 Tabela 33: Distribuição geral das variantes em contexto de proclisadores não-canônicos, no âmbito das

LVC com infinitivo referente ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX

Uma vez mais, perceba-se que a variante pós-LVC se constitui como a primeira

opção de ordem nas duas variedades do Português. No que concerne ao PB, faz-se

Figura 34: Distribuição das variantes em

domínio de proclisadores canônicos, no

âmbito das LVC com infinitivo, no PB dos

séculos XIX e XX

Figura 35: Distribuição das variantes em

domínio de proclisadores canônicos, no

âmbito das LVC com infinitivo, no PE dos

séculos XIX e XX

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186

necessário sinalizar a ausência categórica da colocação pré-LVC indiciando que os

proclisadores não-canônicos, de fato, não se apresentam como potenciais motivadores

de tal variante. Pari passu, constate-se que, no PE, ainda que os índices de cl v1 v2

sejam pequenos, os valores obtidos revelam a distinção entre as variedades do

Português: enquanto a chamada subida do clítico assume caráter mais europeu, mesmo

em domínio de operador de próclise não-tradicional (tal como os itens: SN pronome

pessoal (Ex36), preposições para (Ex37) e de (Ex38) e locução adverbial (Ex39)), o

Português do Brasil não registra qualquer dado.

Como exemplificação dos registros de cl v1 v2 em face dos proclisadores não-

canônicos, leiam-se, a seguir, os dados:

Casos de cl v1 v2 em dados do PE dos séculos XIX e XX

Ex36.: – Eu lhe virei abrir! [AB-PE-LVC-32]

Ex37.: [...] Guida saiu com o perdigoto na mão para o ir deixar no meio dumas moitas. [JCP-

PE-LVC-42]

Ex38.: [...] o coração, assustadoramente parado, parecia que crescera e avolumara a ponto de

lhe ir estourar o peito... [AB-PE-LVC-32]

Ex39.: [...] ele, com menos custo, a pode aumentar, se quiser. [JD-PE-LVC-29]

O contexto de proclisadores não-canônicos permite evidenciar, ainda, um

relativo aumento nos percentuais de v1-cl v2, sendo tais números superiores àqueles

observados para a mesma variante nos demais contextos, nos dados de início absoluto

de oração/período e de proclisadores canônicos. No tocante ao PE, tal como no

Português do Brasil, os números da colocação pós-LVC continuam superiores em

relação aos das demais possibilidades de ordenação pronominal. Note-se, também, que,

para o PE, se diagnostica o contexto de operadores de próclise não-canônicos como

ambiente em que se observa maior freqüência da variante v1-cl v2 em comparação à

obtida em todos os contextos anteriormente contemplados. A respeito dos números

indicados na tabela anterior, ei-los a seguir representados:

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187

Observando-se, de forma pormenorizada, o comportamento da ordem em lexias

verbais com infinitivo segundo cada contexto – ambiente de início absoluto, de

proclisadores canônicos e de proclisadores não-canônicos –, verificou-se a necessidade

de tratamento diferenciado dos dados de início absoluto de oração/período,

principalmente pelo fato de esse domínio não exibir qualquer registro da variante pré-

LVC. Desse modo, o exame da colocação doravante efetuado assume, por decisão

metodológica, o procedimento de contemplar – tal como o estabelecido na análise das

lexias verbais simples – apenas os casos constituídos de proclisadores canônicos e não-

canônicos. Embora esses contextos também apresentem algumas diferenças

comportamentais em termos de distribuição das variantes, o tratamento conjunto dos

dados permitirá a observação de possíveis motivações para a ordem em função de se

contar com maior número de ocorrências por contexto. Ademais, o tratamento

qualitativo dos exemplos, sempre que necessário, fundamenta a análise dos fatores em

questão.

A ordem dos clíticos pronominais, assim analisada, delineia-se conforme a

seguinte tabela:

Variantes em domínio de LVC com infinitivo a partir dos contextos de proclisadores

canônicos e não-canônicos

Português do Brasil Português Europeu Pré-LVC

cl v1 v2

Intra-LVC

v1-cl v2

Intra-LVC

v1 cl v2

Pós-LVC

v1 v2-cl

Pré-LVC

cl v1 v2

Intra-LVC

v1-cl v2

Intra-LVC

v1 cl v2

Pós-LVC

v1 v2-cl

14%

15/106

9%

10/106

19%

20/106

58%

61/106

29%

37/128

15%

19/128

4%

6/128

52%

66/128

Figura 36: Distribuição das variantes em

domínio de proclisadores não-canônicos,

no âmbito das LVC com infinitivo, no PB

dos séculos XIX e XX

Figura 37: Distribuição das variantes em

domínio de proclisadores não-canônicos,

no âmbito das LVC com infinitivo, no PE

dos séculos XIX e XX

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188

Tabela 34: Distribuição geral das variantes em contexto de proclisadores canônicos e não-canônicos, no

âmbito das LVC com infinitivo referente ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX

Os registros contemplados em domínio de proclisadores canônicos e não-

canônicos em conjunto confirmam a variante pós-LVC como posição mais freqüente

nos romances brasileiros e europeus dos séculos XIX e XX. Acompanhe-se, pois, a

leitura de tais números mediante os padrões gráficos representados:

Schei (2003), em sua tese de doutoramento, ao analisar o estatuto da ordem em

romances literários brasileiros e, em certa medida69

, em obras européias do século XX,

constata, para o Português do Brasil, que a variante proclítica a v1 ocorre muito

esporadicamente nos textos investigados e que a ênclise a v1 também não se manifesta

de modo expressivo. Das variantes mais freqüentes, divulga a autora que o clítico

pronominal, na maior parte de seus dados, ora se antepõe ora se pospõe ao verbo

principal, resultado esse comparável à distribuição aqui atestada. No tocante ao PE, a

estudiosa, em exame de três romances europeus, verifica que a freqüência da ordem

ocorre, de modo significativo, em próclise ao auxiliar (v1) ou em ênclise ao infinitivo

(v2), posições essas compatíveis com os resultados da presente análise.

No que respeita à cliticização em domínio de escrita jornalística, reitere-se que

Vieira (2002), por exemplo, em face dos dados investigados do final do século XX,

69

Conforme o pontuado no capítulo de Revisão da Literatura sobre a colocação, Schei (2003) enfoca o

estudo da ordem no Português do Brasil por meio da análise de seis romances brasileiros. No entanto,

com o anseio de constatar possíveis semelhanças ou discrepâncias entre as variedades do idioma, a autora

lança-mão de três obras literárias do Português Europeu, contemplado tais romances em segunda

instância.

Figura 38: Distribuição das variantes em

domínio de proclisadores canônicos e

não-canônicos, no âmbito das LVC com

infinitivo, no PB dos séculos XIX e XX

Figura 39: Distribuição das variantes em

domínio de proclisadores canônicos e

não-canônicos, no âmbito das LVC com

infinitivo, no PE dos séculos XIX e XX

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189

verifica a preferência brasileira pelo padrão v1 cl v2, seguido das variantes pré-LVC e

pós-LVC. No âmbito do Português Europeu, apresenta a opção, em primeira instância,

por v1 v2-cl seguida por v1-cl v2. Observe-se, então, pelas ponderações estabelecidas,

que as distinções evidentes entre os corpora jornalístico e literário do PB – isto é, entre

a amostra de Vieira (2002) e a compilação de dados do estudo que aqui se efetua – não

se procedem do mesmo modo no que respeita à variedade européia. Pontue-se, uma vez

mais, que a investigação de Nunes (2009), também a respeito da ordem em textos

jornalísticos, revela índices maiores da colocação pré-LVC no PB e no PE do século

XIX, com percentuais superiores de pós-LVC no século posterior, em ambas as

variedades.

Efetuadas as considerações concernentes aos fatores integrantes da variável

dependente contemplada, examinam-se, na seqüência, as possíveis interferências do

caráter diacrônico sobre a distribuição das variantes ao longo das fases investigadas dos

séculos XIX e XX, discriminando-se, separadamente, cada contexto anteriormente

apresentado.

→ Domínio de todos os contextos no PB e no PE dos séculos XIX e XX

Figura 40: Concretização das variantes em todos os contextos pelas fases estipuladas a partir da

publicação dos romances brasileiros dos séculos XIX e XX

Convém pontuar, dada a consideração de todos os contextos do PB analisados a

um só tempo, que os índices de próclise a v1 se exibem com discreta freqüência

atingindo, na segunda metade da fase 4, sua maior percentagem de concretização

seguida de um declínio quase categórico no fim do século XX. Perceba-se, ainda, que,

na proporção em que a variante intra-LVC sem hífen se opera de forma crescente –

assim como se dá com a colocação pré-LVC da fase 3 para a 4 – os valores da ordem

pós-LVC, mais freqüente em relação às outras posições, sofre decréscimo de

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190

produtividade, mantendo-se, todavia, com índices superiores comparados aos das

demais variantes.

A respeito da variedade européia do Português, considere-se o gráfico que se

segue:

Figura 41: Concretização das variantes em todos os contextos pelas fases estipuladas a partir da

publicação dos romances portugueses dos séculos XIX e XX

A figura exposta denota maior concorrência entre as variantes pré-LVC, intra-

LVC com hífen e pós-LVC, sinalizando números um pouco maiores para a ordem v1

v2-cl e equiparados percentuais de cl v1 v2 e v1-cl v2. O registro (quase) nulo da

variante intra-LVC sem hífen é constante em todo o período investigado.

→ Domínio de início absoluto de período/oração no PB e no PE dos séculos XIX e XX

Figura 42: Concretização das variantes em início absoluto pelas fases estipuladas a partir da publicação

dos romances brasileiros dos séculos XIX e XX

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191

Verifique-se, pela evolução da linha gráfica, a inaplicabilidade de dados da

variante pré-LVC70

em contexto de início absoluto dentre os dados colhidos do PB no

decurso de todas as fases. Os índices nulos verificados para essa posição também se

aplicam para a variante v1-cl v2 em todos os intervalos de tempo verificados. A

propósito da ordem intra-LVC sem hífen, constate-se, do mesmo modo, sua ausência

categórica até a segunda metade do século XIX. Certifique-se de que essa variante, nos

períodos posteriores, assume acréscimos em seus percentuais de freqüência. A respeito

da ordem pós-LVC, observe-se que tal variante assume, até meados da fase 2,

manifestação categórica com declínio nos intervalos de tempo posteriores à medida que

a colocação intra-LVC sem hífen emerge.

No que toca ao PE, eis a figura representada:

Figura 43: Concretização das variantes em início absoluto pelas fases estipuladas a partir da publicação

dos romances portugueses dos séculos XIX e XX

Tal como o PB, a variedade européia do idioma, em ambiente de início de

período/oração, parece repudiar a próclise a v1, conforme se pode constatar pela

ausência de ocorrências da variante pré-LVC. Ateste-se, ainda, que a inconstância de

aplicação das colocações pós-LVC e intra-LVC com hífen advém de uma suposta

competição entre si ao longo de todas as fases investigadas.

→ Domínio de proclisadores não-canônicos no PB e no PE dos séculos XIX e XX

70

Perceba-se que a não-visualização da linha gráfica concernente à variante pré-LVC ocorre pelo motivo

de essa colocação apresentar índices nulos em contexto de início absoluto tal como a colocação intra-

LVC com hífen, representada pela linha laranja, que se sobrepõe à verde na figura.

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192

Figura 44: Concretização das variantes em contextos de proclisadores não-canônicos pelas fases

estipuladas a partir da publicação dos romances brasileiros dos séculos XIX e XX

Os operadores de próclise não concebidos pela prescrição gramatical como

“atratores” do pronome não parecem atuar no PB como contextos de favorecimento da

colocação proclítica a v1 – do mesmo modo que se verifica em início absoluto de

período/oração –, consoante se atesta pelos índices nulos de tal variante. Note-se,

quanto às posições v1-cl v2 e v1 v2-cl (considerando, também, v1 cl v2 a partir da

segunda metade da fase 3), que a instabilidade de suas linhas gráficas testemunha a

competição que elas realizam no decurso de todas as fases contempladas.

Convém destacar, a propósito das variantes v1-cl v2 e v1 cl v2, que a ordem

intra-LVC sem hífen, cuja freqüência, até a fase 3, se revela inferior aos percentuais da

posição intra-LVC com hífen, passa a suplantar esta última variante – a qual atinge 0%

no fim da fase 5 – nos períodos posteriores do século XX. Tal fato indicia a emergência

da variante tipicamente brasileira em contexto de proclisadores não-canônicos.

No que tange ao PE, contemple-se o gráfico abaixo:

Figura 45: Concretização das variantes em contextos de proclisadores não-canônicos pelas fases

estipuladas a partir da publicação dos romances europeus dos séculos XIX e XX

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É oportuno salientar que os chamados proclisadores não-canônicos, embora não

apresentem alta motivação de próclise a v1, se revelam mais atuantes na manifestação

de tal variante – exceto no fim do século XX – em comparação ao que se verificou no

PB. Sublinhe-se, também, que, enquanto as posições cl v1 v2, v1-cl v2 e v1 cl v2

demonstram percentagens mais baixas de ocorrência, a ordem pós-LVC, principalmente

a partir da terceira fase, exibe números cada vez mais elevados de manifestação,

alcançando valores majoritários no fim do século XX.

→ Domínio de proclisadores canônicos no PB e no PE dos séculos XIX e XX

Figura 46: Concretização das variantes em contextos de proclisadores canônicos pelas fases

estipuladas a partir da publicação dos romances brasileiros dos séculos XIX e XX

A representação exposta no gráfico 46 concede averiguar que, em cotejo com os

outros contextos examinados, os índices de cl v1 v2 apresentam seus maiores valores de

manifestação em ambiente integrado por proclisadores canônicos, mesmo que, nesses

domínios, as variantes intra-LVC sem hífen e pós-LVC se dêem em valores mais

elevados do que a ordem proclítica a v1 no final do século XX. A evolução das linhas

gráficas sugere que os operadores de próclise tradicionais, apesar de apresentarem certa

potencialidade no favorecimento de cl v1 v2 – presente no início do século XIX e

retomado no início do XX –, não são efetivamente decisivos para a ocorrência da

posição proclítica a v1 de forma altamente produtiva no decurso dos períodos

controlados e chegam a deixar de atuar no fim do século XX.

A fim de conhecer o efeito dos operadores de próclise canônicos no padrão

literário da escrita européia, acompanhe-se a evolução das variantes investigadas:

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194

Figura 47: Concretização das variantes em contextos de proclisadores canônicos pelas fases

estipuladas a partir da publicação dos romances portugueses dos séculos XIX e XX

Dos contextos observados no PE, ressalte-se que é em domínio de proclisadores

canônicos que a variante proclítica a v1 assume, pela primeira vez, valores percentuais

superiores aos atribuídos à ordem intra-LVC com hífen em todas as fases, revelando-se,

na fase 1 (século XIX) e na segunda metade da fase 4 (século XX) – períodos nos quais

passa a sobrepujar, também, a variante pós-LVC –, como a opção preferencial de

colocação. Entretanto, seu decréscimo a partir do meado do período 4 sinaliza, de outro

lado, a preferência pela variante pós-LVC de modo isolado em relação às outras

posições.

→ Domínio dos demais contextos (proclisadores canônicos e não-canônicos) no PB e no

PE dos séculos XIX e XX

Dado que, para o desenvolvimento da análise da ordem em construções verbais

complexas com infinitivo, se procede, na maior parte das vezes, ao exame da colocação

em face dos ambientes constituídos de proclisadores canônicos e não-canônicos a um só

tempo, contemplem-se, preliminarmente à observação das representações gráficas

construídas, os valores percentuais e absolutos expostos na tabela subseqüente:

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195

Fase / Época de publicação dos romances eleitos em dados de Lexias Verbais Complexas com

infinitivo

Variedades Português do Brasil

Séculos XIX e XX

Português Europeu Séculos XIX e XX

Variantes

Fatores Pré-LVC

cl v1 v2

Intra-LVC

v1-cl v2

Intra-LVC

v1 cl v2

Pós-LVC

v1 v2-cl

Pré-LVC

cl v1 v2

Intra-LVC

v1-cl v2

Intra-LVC

v1 cl v2

Pós-LVC

v1 v2-cl

Fase 1

[1834 – 1866] 21% 4/19

11% 2/19

5% 1/19

63% 12/19

35% 6/17

6% 1/17

0% 0/17

59% 10/17

Fase 2

[1867 – 1900] 7% 2/29

17% 5/29

4% 1/29

72% 21/29

21% 7/34

29% 10/34

6% 2/34

44% 15/34

Fase 3

[1901 – 1933] 13% 1/8

13% 1/8

0% 0/8

74% 6/8

35% 7/20

20% 4/20

5% 1/20

40% 8/20

Fase 4

[1934 – 1966] 33% 7/21

5% 1/21

33% 7/21

29% 6/21

46% 11/24

13% 3/24

8% 2/24

33% 8/24

Fase 5

[1967 – 2000] 4% 1/29

4% 1/29

37% 11/29

55% 16/29

18% 6/33

3% 1/33

3% 1/33

76% 25/33

Tabela 35: Distribuição percentual e absoluta das variantes em face do grupo de fatores fase/época dos

romances eleitos em referência ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX, no âmbito das lexias verbais

complexas com infinitivo

Associem-se, pois, à exposição dos índices da tabela 35 os gráficos que se

seguem:

Figura 48: Concretização das variantes em contexto de proclisadores canônicos e não-canônicos pelas

fases estipuladas a partir da publicação dos romances brasileiros dos séculos XIX e XX

O padrão gráfico do PB, no que tange aos contextos constituídos de

proclisadores tradicionais e não-tradicionais, denota, ao longo dos séculos XIX e XX,

índices superiores da variante pós-LVC, revelando um decréscimo a partir da segunda

metade da fase 3 que culmina em percentuais inferiores em relação às variantes pré-

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196

LVC e intra-LVC sem hífen em meados da fase 4. Registre-se que, desse período em

diante, a ordem pós-LVC, novamente, assume acréscimos percentuais até a fase 5, na

qual se mantém, mesmo com um sutil percentual de diferença, mais freqüente do que a

variante intra-LVC sem hífen. As posições v1 cl v2 e v1 v2-cl, as duas primeiras

instâncias de opção pela ordem no PB nos fins do século XX, justificam os ínfimos

valores de cl v1 v2 nesse mesmo período.

No que respeita ao evento da colocação no Português Europeu em domínios de

proclisadores canônicos e não-canônicos, acompanhem-se as freqüências subseqüentes:

Figura 49: Concretização das variantes em contexto de proclisadores canônicos e não-canônicos pelas

fases estipuladas a partir da publicação dos romances portugueses dos séculos XIX e XX

Na variedade européia, a variabilidade entre as posições pré-LVC, intra-LVC

com hífen e pós-LVC mostra-se de modo mais evidente do que o constatado no PB até a

segunda metade da fase 4. Entretanto, verifique-se que o Português Europeu, nos

momentos finais do século XX, adota, como primeira opção de ordem, a colocação pós-

LVC, a qual assume, de forma isolada, as maiores percentagens de manifestação em

face das posições cl v1 v2, v1-cl v2 e v1 cl v2.

Em consonância às constatações efetuadas mediante a análise das épocas/fases

de publicação dos romances investigados, acrescentem-se as ponderações que se

estabelecem segundo a variável século, de que, a seguir, se trata.

No intuito de observar o fenômeno da ordem na totalidade dos séculos

examinados, sem segmentação por fases, exibe-se a tabela subseqüente:

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Séculos investigados em dados de Lexias Verbais Complexas com infinitivo

Variedades Português do Brasil

Séculos XIX e XX

Português Europeu Séculos XIX e XX

Variantes

Fatores Pré-LVC

cl v1 v2

Intra-LVC

v1-cl v2

Intra-LVC

v1 cl v2

Pós-LVC

v1 v2-cl

Pré-LVC

cl v1 v2

Intra-LVC

v1-cl v2

Intra-LVC

v1 cl v2

Pós-LVC

v1 v2-cl

Século XIX 12% 6/48

15% 7/48

4% 2/48

69% 33/48

25% 13/51

22% 11/51

4% 2/51

49% 25/51

Século XX 16% 9/58

5% 3/58

31% 18/58

48% 28/58

31% 24/77

11% 8/77

5% 4/77

53% 41/77

Tabela 36: Distribuição percentual e absoluta das variantes em face do grupo de fatores séculos investigados

em referência ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX, no âmbito das Lexias Verbais Complexas com infinitivo

De modo indubitável, a posição pós-LVC constitui-se como a variante de

primeira opção em ambos os séculos nas duas variedades do Português.

Convém ressaltar que, embora v1 v2-cl assuma índices de freqüência superiores

aos das outras colocações, seus maiores valores de ocorrência, no que respeita ao PB,

são verificados no século XIX (69%), observação essa que, conseqüentemente, sublinha

o decréscimo da ordem pós-LVC no século XX (48%) em benefício de outras posições.

A alteração que parece mais relevante vincula-se à posição intra-LVC: enquanto a

variante com hífen sofre decréscimo de 10% do século XIX para o XX, a ordem sem

hífen aumenta sua produtividade em 27 pontos percentuais.

O Português Europeu, em discrepância ao PB, permite verificar uma estabilidade

de comportamento entre os dois séculos. Registre-se apenas a discreta elevação dos

casos da ordenação pré-LVC (31%) e pós-LVC (53%) no século XX. A respeito da

variante intra-LVC com hífen, note-se que os valores indiciam queda em seus pontos

percentuais de freqüência no século XX.

Após as considerações estabelecidas a respeito da diacronia pela qual a ordem é

examinada, segundo os grupos de fatores extralingüísticos época/fase de publicação dos

romances eleitos bem como séculos investigados, acompanhem-se os números da

colocação segundo as demais variáveis externas.

5.2.3.1. A ordem pronominal em LVC com infinitivo a partir de variáveis

extralingüísticas

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198

Examine-se, pois, o fenômeno da ordenação dos clíticos pronominais em

estruturas complexas com verbo principal na forma de infinitivo consoante as seguintes

variáveis:

a) Vozes dos romances contemplados

Comparem-se, a seguir, as freqüências das variantes pelas vozes constatadas nos

romances eleitos para o presente estudo:

Vozes do Romance em dados de Lexias Verbais Complexas com infinitivo

Variedades Português do Brasil

Séculos XIX e XX

Português Europeu Séculos XIX e XX

Variantes

Fatores Pré-LVC

cl v1 v2

Intra-LVC

v1-cl v2

Intra-LVC

v1 cl v2

Pós-LVC

v1 v2-cl

Pré-LVC

cl v1 v2

Intra-LVC

v1-cl v2

Intra-LVC

v1 cl v2

Pós-LVC

v1 v2-cl

Narrador

personagem e/ou

de 1ª pessoa

8%

1/12 0%

0/12

17%

2/12

75%

9/12

25%

9/35

6%

2/35

6%

2/35

63%

22/35

Narrador de 3ª

pessoa 16%

9/57

16%

9/57

5%

3/57

63%

36/57

25%

13/52

21%

11/52

8%

4/52

46%

24/52

Personagem 14%

5/37

3%

1/37

40%

15/37

43%

16/37

37%

15/41

14%

6/41

0%

0/41

49%

20/41

Tabela 37: Produtividade percentual e absoluta das variantes amalgamadas em face do grupo de fatores

vozes do romance no que concerne ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX, no âmbito das lexias verbais

complexas com infinitivo

Por intermédio da tabela 37, verifique-se que a variante mais produtiva na

amostra brasileira, a colocação pós-LVC, ocorre, como padrão preferencial de ordem,

em contextos que se constituem como domínios de narrador de 1ª pessoa (75%) e de 3ª

pessoa (63%). No que toca a diálogos de personagem, observe-se a opção ora por v1 cl

v2 ora por v1 v2-cl. Resguardadas as particularidades de cada amostra, verifica-se, em

romances da variedade européia, que a colocação pós-LVC também ocorre em números

um pouco superiores às demais posições atestadas. De modo distinto ao que se procede

no PB, a escrita literária européia, no domínio de fala de personagens, exibe índices de

v1 cl v2 nulos. Os valores de v1 v2-cl, nesse contexto, são levemente superiores aos

percentuais observados em contexto de narrador de 3ª pessoa.

Atestadas as devidas influências lingüísticas presentes nos contextos, observa-se

que é na fala de personagens, em primeira instância, e na de narrador personagem, em

segundo lugar, que se verifica maior distância entre o comportamento do PB e do PE.

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199

Essa distância é especialmente observável nos índices obtidos para a variante intra-

LVC: os maiores valores para a posição sem hífen, considerada típica da variedade

brasileira, são registrados nos referidos contextos. Ao que parece, esses domínios

propiciariam a reprodução do que seria a norma de uso em cada variedade, enquanto a

voz do narrador observador revelaria um comportamento mais compatível com o que se

idealiza como escrita padrão formal, constituindo-se um contexto inibidor das

diferenças entre as variedades.

A propósito de tais vozes discriminadas, tomem-se as seguintes exemplificações:

Dados de clíticos pelas vozes do romance mediante dados do PB dos séculos XIX

e XX

→ Narrador personagem (1ª pessoa)

Ex40.: Eu avancei para Emília; e meu passo hirto, e meu olhar abrasado deviam incutir-lhe terror.

[LFT-PB-LVC-52]

→ Narrador de 3ª pessoa

Ex41.: No momento em que o duque, sem mais poder conter-se, levantava-se do tapete, sentiu

um peso sobre os ombros e tornou a cair de joelhos. [MAA-PB-LVC-19]

→ Personagem

Ex42.: – A Ana já veio me dizer que exige mais ordenado!... [JL-PB-LVC-29]

Ex43.: – Leva este dinheiro; esconde-o bem escondido, que muito pode servir-te no

caminho. [AAr-PB-LVC-32]

Dados de clíticos pelas vozes do romance mediante dados do PE dos séculos XIX

e XX

→ Narrador personagem (1ª pessoa)

Ex44.: Fernão não respondeu palavra, e continuava a fitá-la com a mesma serenidade. [ArG-

PE-LVC-19]

→ Narrador de 3ª pessoa

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200

Ex45.: Metia entre dentes um pedacito de queijo, logo uma côdea de pão, e fazendo umas

grandes rugas na testa, de quem começa a zangar-se, voltava-se então muito sério. [TC-

PE-LVC-29]

→ Personagem

Ex46.: – Já me custa ler, disse, mas mesmo assim vou levá-lo [...].[JS-PE-LVC-52]

b) Autores dos romances contemplados

Com a finalidade de pormenorizar o evento da ordenação dos clíticos por meio

do presente grupo de fatores, cotejem-se os valores da colocação segundo cada um dos

autores brasileiros eleitos:

Autores contemplados do PB em dados de Lexias Verbais Complexas com

infinitivo

Variedade Português do Brasil Séculos XIX e XX

Variantes

Fatores Pré-LVC

cl v1 v2

Intra-LVC

v1-cl v2

Intra-LVC

v1 cl v2

Pós-LVC

v1 v2-cl

Fa

se 1

[18

34

– 1

866

]

Joaquim Manuel de

Macedo 17% 1/6

17% 1/6

0% 0/6

66% 4/6

Manuel Antônio de Almeida 33% 1/3

0% 0/3

0% 0/3

67% 2/3

José de Alencar 20% 1/5

0% 0/5

0% 0/5

80% 4/5

Bernardo Guimarães 20% 1/5

20% 1/5

20% 1/5

40% 2/5

Fa

se 2

[18

67

– 1

900

]

Raul Pompéia 0% 0/7

14% 1/7

0% 0/7

86% 6/7

Machado de Assis 14% 1/7

14% 1/7

0% 0/7

72% 5/7

Aluísio Azevedo 13% 1/8

13% 1/8

0% 0/8

74% 6/8

Júlia Lopes 0% 0/7

29% 2/7

14% 1/7

57% 4/7

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201

Fa

se 3

[19

01

– 1

933

]

Euclides da Cunha _

_ _ _

Lima Barreto 25% 1/4

0% 0/4

0% 0/4

75% 3/4

Afonso Arinos 0% 0/3

0% 0/3

0% 0/3

100% 3/3

Rachel de Queiroz 0% 0/1

100% 1/1

0% 0/1

0% 0/1

Fa

se 4

[19

34

– 1

966

]

Graciliano Ramos 50% 3/6

17% 1/6

0% 0/6

33% 2/6

José Lins do Rego 0% 0/4

0% 0/4

100% 4/4

0% 0/4

Dinah Silveira de Queiroz 43% 3/7

0% 0/7

0% 0/7

57% 4/7

Guimarães Rosa 25% 1/4

0% 0/4

75% 3/4

0% 0/4

Fa

se 5

[19

67

– 2

000

]

Érico Veríssimo 20% 1/5

20% 1/5

0% 0/5

60% 3/5

Jorge Amado 0% 0/5

0% 0/5

60% 3/5

40% 2/5

Lygia Fagundes Telles 0% 0/12

0% 0/12

50% 6/12

50% 6/12

Nélida Piñon 0% 0/7

0% 0/7

29% 2/7

71% 5/7

Tabela 38: Produtividade percentual e absoluta das variantes em face do grupo de fatores autores

contemplados em referência ao PB dos séculos XIX e XX, no âmbito das Lexias Verbais Complexas com

infinitivo

Apesar dos baixos valores registrados por fator, os números demonstram que, de

todos os autores brasileiros cujos escritos constituem as amostras que servem a esta

análise, somente Euclides da Cunha não apresenta o fenômeno da ordem em

construções verbais complexas com infinitivo.

O quadro exposto concede observar que grande parte dos escritores efetua, como

primeira opção de ordem, a colocação pós-LVC de 50 pontos percentuais em diante.

Ressalte-se que, dentre as obras com maiores índices de v1 v2-cl, se apresentam os

textos de Afonso Arinos (3/3 dados), Raul Pompéia (6/7 dados) e José de Alencar (4/5

dados). Leiam-se, assim, alguns exemplos:

→ Afonso Arinos

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202

Ex47.: Leva este dinheiro; esconde-o bem escondido, que muito pode servir-te no caminho.

[AAr-PB-LVC-32]

→ Raul Pompéia

Ex48.: Quando acabaram de acender-se as luzes também o movimento cessou. Principiaram-

se os serões. [RP-PB-LVC-29]

→ José de Alencar

Ex49.: – Eu avancei para Emília; e meu passo hirto, e meu olhar abrasado deviam incutir-lhe

terror. [JAl-PB-LVC-19]

Pontue-se que, no PB, tal como já se informou, os operadores de próclise

parecem não atuar para a manifestação do fenômeno de subida de clítico conforme se

imaginara.

A propósito da ordem realizada por Graciliano Ramos, verifique-se que, em

comparação aos demais, ele se apresenta como o único escritor a produzir mais casos de

colocação pré-LVC (3/6 dados):

Ex50.: Baleia, o ouvido atento, o traseiro em repouso e as pernas da frente erguidas, vigiava,

aguardando a parte que lhe iria tocar, provavelmente os ossos do bicho e talvez o couro.

[GrR-PB-LVC-42]

Ex51.: Voavam sempre, não se podia saber donde vinha tanto urubu. [GrR-PB-LVC-42]

Ex52.: O que indignava Fabiano era o costume que os miseráveis tinham de atirar bicadas aos

olhos de criaturas que já não se podiam defender. [GrR-PB-LVC-42]

Em discrepância aos exemplos anteriores nos quais se atesta a ordem pós-LVC,

os elementos proclisadores (em Ex50, Ex51, Ex52) parecem exercer a chamada atração do

clítico pronominal.

A propósito dos autores José Lins do Rego (4/4 dados), Guimarães Rosa (3/4

dados) e Jorge Amado (3/5 dados), certifique-se de que esses se constituem como os

literatos que mais produzem a variante v1 cl v2. Considerando-se que essa variante seria

inovadora no PB, pode-se, por hipótese, propor que tais autores seriam inovadores no

sentido de registrar com mais freqüência as tendências do vernáculo brasileiro. Ocorre

que o baixo número de ocorrências e a ausência de descrições lingüísticas mais gerais

de suas obras impedem a confirmação empírica dessa hipótese.

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203

→ José Lins do Rego

Ex53.: Um homem que se preza não deve se entregar. [JLR-PB-LVC-42]

→ Guimarães Rosa

Ex54.: Então ele desconversou. Mas, naqueles três dias, não descansou de querer me aliviar, e

de formar outros planejamentos para encaminhar minha vida. [GR-PB-LVC-42]

→ Jorge Amado

Ex55.: Há de se misturar, ninguém pode impedir. [JAm-PB-LVC-52]

As ocorrências supracitadas ilustram que a variante v1 cl v2 ora ocorre em

domínio de estrutura verbal complexa com elemento interposto entre as formas verbais

(Ex55) ora em contexto no qual a tradição gramatical recomenda a próclise a v1 (Ex53)

ou a ênclise a v2 (Ex54). O mesmo, de certo modo, pode ser percebido nos casos

seguintes.

Perceba-se que, em certa freqüência de dados, Lygia Fagundes Telles opta,

igualmente, pelas colocações v1 cl v2 e v1 v2-cl.

Ex56.: – Não vão nos pegar, querida. [LFT-PB-LVC-52]

Ex57.: Eu sei que o senhor executa sua tarefa a frio mas desta vez vai recebê-la com mãos

diferentes, a beleza ainda emociona. [LFT-PB-LVC-52]

Observe-se que Bernardo Guimarães se apresenta como o único escritor

contemplado a realizar todas as variantes, sendo a posição pós-LVC a ordem de

primeira instância em seus escritos:

Ex58.: Era também agilíssimo no jogo da faca [...] e com tal destreza se defendia que nem

assim o podiam tocar. [BG-PB-LVC-19]

Ex59.: Em todos os maus lugares [...] podia-se jurar que lá se achava Gonçalo [...].[BG-PB-

LVC-19]

Ex60.: Sua missão acabava de lhe ser revelada pelo céu por um modo solene e miraculoso

[...].[BG-PB-LVC-19]

Ex61.: Quando em Goiás aparecia algum desses valentões [...] lá ia Gonçalo procurá-lo

[...].[BG-PB-LVC-19]

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204

A propósito da variante v1-cl v2, destaque-se que Rachel de Queiroz, em seu

único dado de complexo verbal com infinitivo no domínio dos demais contextos, realiza

o registro, agora ilustrado:

Ex62.: A moça ultimou a trança, levantou-se e pôs-se a cear, calada, abstraída. [RQ-PB-LVC-

32]

Eis, agora, a realidade de colocação segundo os autores portugueses arrolados:

Autores contemplados do PE em dados de Lexias Verbais Complexas com

infinitivo

Variedade Português do Brasil Séculos XIX e XX

Variantes

Fatores Pré-LVC

cl v1 v2

Intra-LVC

v1-cl v2

Intra-LVC

v1 cl v2

Pós-LVC

v1 v2-cl

Fa

se 1

[18

34

– 1

866

]

Alexandre Herculano 0% 0/5

0% 0/5

0% 0/5

100% 5/5

Almeida Garrett 67% 2/3

0% 0/3

0% 0/3

33% 1/3

Arnaldo Gama 17% 1/6

17% 1/6

0% 0/6

66% 4/6

Camilo Castelo Branco 100% 3/3

0% 0/3

0% 0/3

0% 0/3

Fa

se 2

[18

67

– 1

900

]

Júlio Dinis 37% 4/11

27% 3/11

9% 1/11

27% 3/11

Fialho de Almeida 0% 0/7

0% 0/7

14% 1/7

86% 6/7

Eça de Queiroz 25% 1/4

50% 2/4

0% 0/4

25% 1/4

Trindade Coelho 16% 2/12

42% 5/12

0% 0/12

42% 5/12

Fa

se 3

[19

01

– 1

933

]

Abel Botelho 33% 3/9

23% 2/9

11% 1/9

33% 3/9

Raul Brandão 40% 2/5

20% 1/5

0% 0/5

40% 2/5

Aquilino Ribeiro 0% 0/2

50% 1/2

0% 0/2

50% 1/2

Campos Monteiro 50% 2/4

0% 0/4

0% 0/4

50% 2/4

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205

Fa

se 4

[19

34

– 1

966

]

Alves Redol 100% 2/2

0% 0/2

0% 0/2

0% 0/2

Vitorino Nemésio

67% 2/3

0% 0/3

0% 0/3

33% 1/3

Augustina Bessa Luís 33.3% 2/6

33.3% 2/6

0% 0/6

33.3% 2/6

José Cardoso Pires 39% 5/13

7% 1/13

15% 2/13

39% 5/13

Fa

se 5

[19

67

– 2

000

]

Augusto Abelaira 20% 3/15

7% 1/15

0% 0/15

73% 11/15

Vergílio Ferreira 0% 0/4

0% 0/4

0% 0/4

100% 4/4

José Saramago 22% 2/9

0% 0/9

0% 0/9

78% 7/9

Fernando Namora 20% 1/5

0% 0/5

20% 1/5

60% 3/5

Tabela 39: Produtividade percentual e absoluta das variantes em face do grupo de fatores autores

contemplados em referência ao PE dos séculos XIX e XX, no âmbito das Lexias Verbais Complexas com

infinitivo

A respeito dos representantes da literatura européia, constate-se que Alexandre

Herculano (5/5 dados), Vergílio Ferreira (4/4 dados), Fialho de Almeida (6/7 dados),

José Saramago (7/9 dados), Augusto Abelaira (11/15 dados), Arnaldo Gama (4/6 dados)

e Fernando Namora (3/5 dados) integram o inventário dos autores que mais levam a

efeito a variante pós-LVC.

→ Alexandre Herculano

Ex63.: – [...] Gonçalo Mendes da Maia virá soltar-me... Sei certo que há de vir. [AH-PE-LVC-

19]

→ Vergílio Ferreira

Ex64.: Como queres igualar-te ao imenso e imperscrutável? [VF-PE-LVC-52]

→ Fialho de Almeida

Ex65.: – Não podia enganar-me na marcha. [FA-PE-LVC-29]

→ José Saramago

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206

Ex66.: Ricardo Reis [...] um destes dias terá de assentar-lhe o fio, que parece dobrado. [JS-PE-

LVC-52]

→ Augusto Abelaira

Ex67.: – Sempre o desejo de apoiar as almas necessitadas conduziu os meus actos, porque

penso não se conquistar a salvação cumprindo somente os sacramentos, mas pelas obras

que devem conformar-se com a vontade divina. Como poderei ajudar-vos? [AAb-PE-

LVC-52]

→ Arnaldo Gama

Ex68.: Fernão não respondeu palavra, e continuava a fitá-la com a mesma serenidade. [ArG-

PE-LVC-19]

→ Fernando Namora

Ex69.: A lotação ou já estaria esgotada ou iria esgotar-se num rufo assim que chegasse a

próxima paragem [...]. [FN-PE-LVC-52]

As ilustrações ora apresentadas denotam a ocorrência da posição v1 v2-cl em

orações absolutas/principais bem como em cláusulas coordenadas sindéticas e

subordinadas. Convém sublinhar, ainda, os registros dessa colocação em ambiente

integrado por vocábulo de negação (v.g. Ex65), por palavra QU- (v.g. Ex64) e por

pronome relativo (Ex67), nos quais a próclise a v1 é esperada.

Os maiores índices de realização da variante pré-LVC são advindos dos textos

de Camilo Castelo Branco (3/3 dados), Alves Redol (2/2 dados), Almeida Garrett (2/3

dados) e Vitorino Nemésio (2/3 dados).

→ Camilo Castelo Branco

Ex70.: Leontina, dias depois, foi para o Convento da Encarnação, onde esteve dois anos e

donde saiu a tomar caldas em Torres Vedras, por consenso do marido, que a foi lá

visitar e de lá foi com ela à exposição à Londres. [CCB-PE-LVC-19]

→ Alves Redol

Ex71.: Andei-me nela que nem sombra atrás d'alma penada, mas o patrão arrinca para cima de

quarenta sementes. Se os outros a pudessem comer... [AlR-PE-LVC-42]

→ Almeida Garrett

Ex72.: [...] e ele vai misturando, no alvoroçado pensamento, conquistas bélicas e amorosas, as

damas que há de render e as guerrilhas que há de espatifar, – e mais que tudo, as

histórias que sobre isso se hão de contar à noite no refeitório dos Grilos hoje [...].[AG-

PE-LVC-19]

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207

→ Vitorino Nemésio

Ex73.: A fúria do cão enchia-o de um atrevimento nervoso, como se Margarida estivesse em

perigo ou o quisesse experimentar [...]. [VN-PE-LVC-42]

No que concerne à variante intra-LVC com hífen, observe-se que os números

obtidos revelam índices superiores de tal colocação nos escritos de Eça de Queiroz (2/4

dados) assim como na obra de Aquilino Ribeiro, sendo este último pontuado como o

escritor que, igualmente, opta por v1-cl v2 e v1 v2-cl. Eis, pois, alguns exemplos:

→ Eça de Queiroz

Ex74.: Jorge enrolou um cigarro, e muito repousado [...], pôs-se a pensar na sua jornada ao

Alentejo. [EQ-PE-LVC-29]

→ Aquilino Ribeiro

Ex75.: Entretanto, perfura-se, esbarronda-se e torna-se a perfurar o areal em que assentam

todas as nossas construções [...]. [AqR-PE-LVC-32]

Ex76.: Amplie-se a aventura da duna, e teremos a aventura da humanidade no tempo e no

espaço. Não conseguirá evadir-se! [AqR-PE-LVC-32]

Aquilino Ribeiro, mesmo em possível ambiente favorecedor à próclise (Ex76),

revela preferência pela colocação pós-LVC.

No que concerne ao literato Júlio Dinis, note-se que as ordens cl v1 v2 e v1-cl

v2 se igualam em números de ocorrência.

→ Júlio Dinis

Ex77.: Que empresa é essa em que me andas a cismar há tantos dias? [JD-PE-LVC-29]

Ex78.: Eu, tu e José das Dornas devíamo-nos retirar, porque eles estão agora persuadidos que

nunca envelhecem nem morrem [...].[JD-PE-LVC-29]

Registros equivalentes de cl v1 v2 e v1 v2-cl são verificados nos textos de Raul

Brandão, Campos Monteiro e José Cardoso Pires, conforme o exemplificado:

→ Raul Brandão

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208

Ex79.: Outra época se vai abrir na história da humanidade. [RB-PE-LVC-32]

Ex80.: Só uma figueira brava conseguiu meter-se nos interstícios das pedras e delas extrair

suco e vida. [RB-PE-LVC-32]

→ Campos Monteiro

Ex81.: Ultimamente, ouvindo falar de uma cura quase miraculosa realizada por certo médico de

Aveiro, entrara de envidar todos os seus esforços no sentido de conseguir que ele o fosse

ver. [CM-PE-LVC-32]

Ex82.: – Ó minhas senhoras! Que feliz surpresa! - bradou o velho capelão, tentando

desnvencilhar-se do capote e fazendo menção de se erguer. [CM-PE-LVC-32]

→ José Cardoso Pires

Ex83.: No entanto, ele, indivíduo de modos terra a terra, não se podia comparar a qualquer dos

ditos infantes da lavoura. [JCP-PE-LVC-42]

Ex84.: Como de facto passou. Instantes depois Guida recuava um passo e ia sentar-se no chão,

quebrada, numa grande fadiga. [JCP-PE-LVC-42]

Pontue-se, também, que Trindade Coelho fornece freqüência similar de dados

constituídos das ordens intra-LVC com hífen (5/12 dados) e pós-LVC (5/12 dados).

→ Trindade Coelho

Ex85.: O Tomé pôs-se a roer as unhas, nervoso... [TC-PE-LVC-29]

Ex86.: – Não! – Parecia responder-lhe o animal. E, abstrato, continuava a envolvê-lo no seu

olhar profundo. [TC-PE-LVC-29]

As variantes pré-LVC, intra-LVC com hífen e pós-LVC ocorrem em números

iguais de registros nas porções textuais analisadas dos romances de Augustina Bessa

Luís:

Ex87.: Germana, sua prima, era, por seu lado, um tipo fatídico das degenerescências, o artista,

o produto mais gratuito da natureza e que se pode definir como uma inutilidade

imediata. [ABL-PE-LVC-42]

Ex88.: E, absorta, pôs-se a murmurar um lento monólogo, olhando à sua frente o caixilho da

porta que comunicava com a cozinha, onde se via a pedra da lareira, arrumada e varrida

de cinza. [ABL-PE-LVC-42]

Ex89.: – É já de noite; eu vou levar-te a casa. [ABL-PE-LVC-42]

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209

De modo geral, a enorme alternância de comportamento nos poucos dados

registrados por autor não permite traçar generalizações acerca de seus estilos mais ou

menos inovadores quanto ao atendimento à norma. Ademais, os contextos lingüísticos

registrados por autor podem ser mais decisivos para a opção de ordem escolhida do que

o próprio estilo do autor.

c) Gênero / sexo dos autores eleitos

Considerando-se a já esclarecida desproporcionalidade do número de escritores e

escritoras contemplados, observem-se as freqüências obtidas em relação à variável

gênero/sexo:

Gênero / Sexo dos autores contemplados em dados de Lexias Verbais Complexas com infinitivo

Variedades Português do Brasil

Séculos XIX e XX

Português Europeu Séculos XIX e XX

Variantes

Fatores Pré-LVC

cl v1 v2

Intra-LVC

v1-cl v2

Intra-LVC

v1 cl v2

Pós-LVC

v1 v2-cl

Pré-LVC

cl v1 v2

Intra-LVC

v1-cl v2

Intra-LVC

v1 cl v2

Pós-LVC

v1 v2-cl

Masculino 17% 12/72

10% 7/72

15% 11/72

58% 42/72

29% 35/122

14% 17/122

5% 6/122

52% 64/122

Feminino 9% 3/34

9% 3/34

26% 9/34

56% 19/34

33.3% 2/6

33.3% 2/6

0% 0/6

33.3% 2/6

Tabela 40: Produtividade percentual e absoluta das variantes em face do grupo de fatores gênero/sexo

dos autores contemplados em referência ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX, no âmbito das Lexias

Verbais Complexas com infinitivo

As percentagens indicadas exprimem que, no PB, homens e mulheres optam, de

modo equiparado, pelas colocações pós-LVC e intra-LVC sem hífen em primeira e em

segunda instâncias, respectivamente.

O gênero masculino no PE também realiza, na maior parte das vezes, a variante

pós-LVC. Reitere-se que a única autora, cuja obra integra o corpus europeu, Augustina

Bessa Luís, decide por produzir em números exatamente idênticos as variantes

examinadas, salvo a colocação v1 cl v2 (0%).

No que respeita à variante v1 cl v2, de caráter inovador no PB, perceba-se que as

autoras produzem tal posição em 26% dos casos contra 15% da escrita masculina.

Grosso modo, essa diferença percentual sugere que a escrita feminina seria mais

inovadora do que a masculina quanto ao evento da colocação. Com base no que propõe

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210

Labov em relação ao comportamento feminino – as mulheres seriam mais inovadoras

nos processos de mudança, desde que a variante considerada fosse tida como de

prestígio –, pode-se supor que a ausência do hífen na variante intra-LVC não seja

avaliada como um desvio relevante no atendimento à escrita culta literária. Essa

hipótese deve ser aferida em estudo específico da variável gênero/sexo com a ampliação

do número de dados.

Em contrapartida, no Português Europeu, os poucos registros de v1 cl v2 não

concedem traçar hipóteses sobre o caráter inovador/conservador do comportamento

atestado. Isso porque essa variante, além de pouquíssimo produtiva, circunscreve-se

exclusivamente a complexos com elemento interveniente específico, conforme já se

descreveu. Além disso, o fato de haver uma só escritora impede qualquer tentativa de

generalização.

5.2.3.2. A ordem pronominal em LVC com infinitivo a partir de variáveis

lingüísticas

Compreenda-se, agora, o evento de ordenação dos clíticos em domínio de

complexos verbais com infinitivo segundo as variáveis de natureza lingüística

controladas:

a) Presença / ausência de elementos intervenientes na estrutura verbal complexa

Com o propósito de observar o fenômeno em face da variável presente,

acompanhem-se os índices subseqüentes:

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211

Tabela 41: Produtividade percentual e absoluta das variantes em face do grupo de fatores presença /

ausência de elementos intervenientes na estrutura verbal complexa em referência ao PB e ao PE dos

séculos XIX e XX, no âmbito dos complexos verbais com infinitivo

As percentagens expostas evidenciam que, no PB, a variante pós-LVC se faz em

maiores índices em comparação aos das demais posições em complexos com as formas

de/por, com alguns sintagmas (como SN sujeito) e, de forma mais expressiva, com o

item a entre as formas verbais. Quanto à anteposição do pronome ao verbo auxiliar, a

faixa de 20% alcançada em contexto sem elemento interveniente diminui ou nem sequer

se registra em domínios verbais com itens intervenientes, o que faz supor que a

chamada subida do clítico é inibida nessas estruturas. Verifique-se que o único registro

em que se visualiza a interveniência da preposição para demonstra a manifestação da

ordem intra-LVC com hífen em complexo do tipo dar + para + infinitivo. O elemento

que, na única vez em que se manifesta, presencia a realização da ordem v1 cl v2.

O Português Europeu, em oposição ao PB, permite contabilizar maiores

percentuais da ordem pré-LVC no âmbito de complexos com elementos interpostos

entre as formas que os constituem, sugerindo que tais elementos não impedem a

chamada subida do clítico. Apenas nos contextos com de/por interveniente, registra-se

índice mais expressivo da variante intra-LVC sem hífen, conforme já se descreveu

anteriormente. Tal como o PB, a ordenação pós-LVC faz-se mais produtiva em

Presença / ausência de elementos intervenientes na estrutura verbal complexa em dados de

complexos verbais com infinitivo

Variedades Português do Brasil

Séculos XIX e XX

Português Europeu Séculos XIX e XX

Variantes

fatores Pré-LVC

cl v1 v2

Intra-LVC

v1-cl v2

Intra-LVC

v1 cl v2

Pós-LVC

v1 v2-cl

Pré-LVC

cl v1 v2

Intra-LVC

v1-cl v2

Intra-LVC

v1 cl v2

Pós-LVC

v1 v2-cl

Presença de para 0% 0/1

100% 1/1

0% 0/1

0% 0/1

0% 0/2

100% 2/2

0% 0/2

0% 0/2

Presença de de/por 15% 2/13

0% 0/13

23% 3/13

62% 8/13

30% 3/10

0% 0/10

50% 5/10

20% 2/10

Presença de a 0% 0/19

32% 6/19

0% 0/19

68% 13/19

9% 3/32

35% 11/32

0% 0/32

56% 18/32

Presença de que 0% 0/1

0% 0/1

100% 1/1

0% 0/1

0% 0/1

0% 0/1

100% 1/1

0% 0/1

Presença de

sintagma

0% 0/6

17% 1/6

33% 2/6

50% 3/6

30% 3/10

20% 2/10

0% 0/10

50% 5/10

Ausência de

elemento

20% 13/66

3% 2/66

21% 14/66

56% 37/66

38% 28/73

6% 4/73

0% 0/73

56% 41/73

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212

estruturas verbais complexas integradas por a e sintagmas intervenientes assim como

em lexias sem itens interpolados.

b) Natureza da oração

A propósito do presente grupo de fatores, contemplem-se os números obtidos:

Natureza da oração em dados de Lexias Verbais Complexas com infinitivo (fatores amalgamados)

Variedades Português do Brasil

Séculos XIX e XX

Português Europeu Séculos XIX e XX

Variantes

Fatores Pré-LVC

cl v1 v2

Intra-LVC

v1-cl v2

Intra-LVC

v1 cl v2

Pós-LVC

v1 v2-cl

Pré-LVC

cl v1 v2

Intra-LVC

v1-cl v2

Intra-LVC

v1 cl v2

Pós-LVC

v1 v2-cl

Or. absoluta /

principal / coord.

assindética

12% 4/34

9% 3/34

23% 8/34

56% 19/34

25% 12/49

18% 9/49

6% 3/49

51% 25/49

Or. coord.

sindética 3% 1/27

19% 5/27

22% 6/27

56% 15/27

12% 5/42

24% 10/42

2% 1/42

62% 26/42

Or. sub.

desenvolvida /

Estruturas clivadas

25% 10/40

5% 2/40

12% 5/40

58% 23/40

53% 17/32

0% 0/32

6% 2/32

41% 13/32

Or. sub. red. de

infinitivo 0% 0/3

0% 0/3

33% 1/3

67% 2/3

60% 3/5

0% 0/5

0% 0/5

40% 2/5

Or. sub. red. de

gerúndio 0% 0/2

0% 0/2

0% 0/2

100% 2/2

_ _ _ _

Tabela 42: Produtividade percentual e absoluta das variantes em face dos fatores amalgamados da variável

natureza da oração em referência ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX, no âmbito das Lexias Verbais

Complexas com infinitivo

Na variedade brasileira, especialmente no que respeita à colocação v1 v2-cl,

todas as cláusulas controladas se apresentam como contexto favorável à ocorrência

dessa variante, a qual se opera com valores a partir de 56 pontos percentuais, atingindo

índices categóricos (2/2 dados) em orações subordinadas reduzidas de gerúndio.

Verifique-se, também, que a variante v1 cl v271

é concebida como a segunda opção de

ordenação em sentenças absolutas, principais, coordenadas assindéticas e sindéticas e

em subordinadas reduzidas de infinitivo. O único contexto em que a próclise a v1 se

manifesta com maior freqüência, uma vez comparados os números percentuais e

71

Uma vez contemplada a tabela exposta no Anexo 5, na qual se discriminam todos os fatores da presente

variável, perceba-se que, em estruturas clivadas, as percentagens de v1 cl v2 se igualam aos números de

freqüência da variante pós-LVC no PB dos séculos XIX e XX, contrariando a hipótese de que, em tais

contextos (em comparação às cláusulas subordinadas), a ordem pré-LVC seria evidente.

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213

absolutos dessa variante nas demais cláusulas, é o ambiente de orações subordinadas

desenvolvidas. Saliente-se, entretanto, que, apesar de possuir em seus domínios

elementos subordinativos concebidos como proclisadores canônicos, não se observa a

realização de altos índices de cl v1 v2 – tal como o averiguado por Schei (2003) –,

sendo esses sobrepujados pela maior ocorrência de v1 v2-cl. A respeito da ordenação

intra-LVC com hífen, registre-se que o contexto de orações coordenadas sindéticas se

revela como o ambiente em que tal variante ocorre de forma mais expressiva (5/27

dados).

No que concerne à variedade européia do idioma, note-se que v1 v2-cl, assim

como no PB, encontra maiores índices de ocorrência em orações absolutas, principais,

coordenadas assindéticas e sindéticas a partir de 51%. As cláusulas subordinadas

desenvolvidas, em oposição ao PB, exibem-se de forma mais atuante (53%) para a

colocação cl v1 v2. As orações subordinadas reduzidas de infinitivo, em número

escasso, apresentaram o clítico na posição anterior ou posterior ao complexo verbal. No

que se refere à variante v1-cl v2, também no PE, seus maiores valores são percebidos

em orações coordenadas sindéticas.

c) Presença de possível elemento proclisador

Para a compreensão do grupo de fatores agora contemplado, analisem-se os

números que se indicam:

Presença de possível elemento proclisador em dados de Lexias Verbais Complexas com infinitivo

(fatores amalgamados)

Variedades Português do Brasil

Séculos XIX e XX

Português Europeu Séculos XIX e XX

Variantes

Fatores Pré-LVC

cl v1 v2

Intra-LVC

v1-cl v2

Intra-LVC

v1-cl v2

Pós-LVC

v1 v2-cl

Pré-LVC

cl v1 v2

Intra-LVC

v1-cl v2

Intra-LVC

v1 cl v2

Pós-LVC

v1 v2-cl

SN sujeito 0% 0/14

14% 2/14

7% 1/14

79% 11/14

17% 3/18

28% 5/18

5% 1/18

50% 9/18

Conjunções

coordenativas

0% 0/14

36% 5/14

14% 2/14

50% 7/14

4% 1/27

33% 9/27

0% 0/27

63% 17/27

Adv canônicos [aqui, cá, já,

lá] e Operadores de foco [Ex.: apenas, só, também

(inclusão), até, mesmo, ainda]

30% 3/10

0% 0/10

30% 3/10

40% 4/10

25% 1/4

0% 0/4

0% 0/4

75% 3/4

Adv não-canônicos [sempre, depois, talvez, agora]

e SAdv em –mente

33% 1/3

0% 0/3

0% 0/3

67% 2/3

29% 2/7

29% 2/7

0% 0/7

42% 3/7

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214

Loc. adverbiais 0% 0/4

25% 1/4

0% 0/4

75% 3/4

22% 2/9

11% 1/9

0% 0/9

67% 6/9

Preposições 0% 0/1

0% 1/1

100% 1/1

0% 0/1

67% 2/3

0% 0/3

0% 0/3

33% 1/3

Vocábulos de negação 16% 3/19

0% 0/19

37% 7/19

47% 9/19

36% 8/22

0% 0/22

14% 3/22

50% 11/22

Elementos

subordinativos

21% 8/38

5% 2/38

13% 5/38

61% 23/38

50% 18/36

0% 0/36

6% 2/36

44% 16/36

Tabela 43: Produtividade percentual e absoluta das variantes em face dos fatores amalgamados da

variável presença de um possível elemento proclisador em referência ao PB e ao PE dos séculos

XIX e XX, no âmbito das Lexias Verbais Complexas com infinitivo

Mediante o amálgama de fatores, dado o baixo número de ocorrências em cada

contexto individualizado72

no PB, perceba-se que os três primeiros domínios nos quais

os maiores registros de cl v1 v2 se verificam são integrados por advérbios não-

canônicos e com sufixo em –mente (33%), bem como por advérbios canônicos /

operadores de foco (30%) e por elementos subordinativos em geral (21%).

No Português Europeu, certifique-se de que as preposições (67%), os elementos

subordinativos (50%) e os vocábulos de negação (36%) se revelam como os três

primeiros ambientes de maior ocorrência da ordem pré-LVC.

Como se pode observar, em nenhuma das variedades fica evidente o efeito dos

elementos proclisadores no contexto de complexos verbais com infinitivo,

diferentemente do que se registrou no contexto de lexias verbais simples. Ainda assim,

percebe-se que, na variedade européia, os índices da variante pré-LVC são mais

expressivos. No que se refere aos elementos citados, ressalte-se que os itens

subordinativos, canonicamente apontados como proclisadores, exercem certa atuação

em ambas as variedades, embora em proporções diferentes.

Quanto à variante pós-LVC, a mais produtiva em ambas as variedades, verifica-

se sua realização com maior freqüência no PB nos contextos de SN sujeito (79%),

locução adverbial (75%) e advérbios não-canônicos (67%).

No tocante ao PE, a variante pós-LVC encontra, nos três contextos de maior

produtividade – domínios de advérbios canônicos / operadores de foco (75%), de

locução adverbial (67%) e conjunções coordenativas (63%) –, índices percentuais a

partir de 63 pontos de freqüência.

72

Para o acompanhamento detalhado de cada possível elemento proclisador, conferir Anexo 5.

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215

Destacados os contextos em que se dá o maior e o menor efeito proclisador,

passa-se a comentar o comportamento específico de alguns contextos controlados

(Anexo 5).

A respeito dos SN sujeitos, em ambas as variedades, a ordem pós-LVC se dá de

modo mais freqüente em comparação aos índices das demais posições, salvo em

contexto de SN sujeito pronome indefinido – listado em alguns compêndios gramaticais

como fator de próclise – no qual a ordem pré-LVC, no PE, se manifesta no único dado

colhido.

No que concerne aos domínios integrados por conjunções coordenativas, a opção

pela variante pós-LVC, no PB, faz-se evidente com exceção dos domínios constituídos

de conjunção coordenativa aditiva, em que a ordem v1-cl v2 se apresenta em número

maior do que o registrado pela posição pós-LVC. O verificado no PB pode, de certo

modo, ser constatado no PE, a propósito dos maiores índices de pós-LVC em face das

conjunções coordenativas. Ateste-se, ainda, que, mediante conjunções coordenativas

explicativas, a igual distribuição entre cl v1 v2 e v1 v2-cl pode ser constatada.

Registre-se que, embora a prescrição gramatical recomende próclise a v1 em

face dos chamados advérbios tradicionais (aqui, cá, já, lá, por exemplo), maiores

percentagens de v1 v2-cl foram computadas nas duas variedades examinadas,

pontuando maiores índices de pós-LVC no PE (2/3 dados) em comparação aos do PB

(4/9 dados). A propósito dos vocábulos adverbiais nem sempre considerados “atratores”

em compêndios normativos (sempre, depois, talvez, agora), destaque-se, no PB, assim

como ocorre em ambientes de advérbios tradicionais, a primeira opção pela variante

pós-LVC (2/3 dados). A freqüência de v1 v2-cl é acompanhada pelo único caso de pré-

LVC. A variedade européia revela semelhante distribuição das variantes cl v1 v2, v1-cl

v2 e v1 v2-cl nos mesmos contextos de advérbios não-tradicionais.

Embora os casos de ordem em contexto de advérbios com sufixo –mente não

tenham sido averiguados em números consideráveis (ambiente esse não observado na

amostra brasileira), verifique-se que o único domínio com tal item vocabular exibe, no

PE, a colocação pós-LVC. Os sintagmas adverbiais do tipo locução, em ambos os

corpora, atuam de modo similar aos advérbios canônicos, não-canônicos e àqueles com

–mente sufixal, visto que tais locuções se constituem como contexto de maior

freqüência da posição v1 v2-cl.

Em consideração aos chamados operadores de foco (como, por exemplo, os itens

apenas, só, também [inclusão], até, mesmo, ainda), os casos exclusivos de tais

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216

elementos em ambas as amostras (1 dado para PB e 1 dado para PE) sinalizam a

manifestação da variante pós-LVC.

Do inventário de preposições consideradas, somente o conectivo de –

licenciando a colocação v1 cl v2 – se faz presente no conjunto de dados de clíticos em

ambiente de estruturas verbais complexas com infinitivo no PB. A mesma escassez de

contextos constituídos de preposições é verificada para o PE, em que se registrou igual

freqüência de cl v1 v2 (1/1 dado) e v1 v2-cl (1/1 dado) em face da preposição de, assim

como a ocorrência de cl v1 v2 no caso exclusivo do conectivo para.

Acerca dos vocábulos de negação, concebidos nos compêndios gramaticais

como fatores de próclise tradicionais, constate-se que – assim como o atestado por Schei

(2003) – também esses itens parecem não exercer, no PB, efeito proclisador, haja vista o

registro de maiores percentagens da variante pós-LVC (47%) em detrimento da ordem

pré-LVC (16%), a qual se manifesta, ainda, em números inferiores à colocação v1 cl v2

(37%). Tal como o PB, a variedade européia, em contextos de elementos de negação,

apresenta maior ocorrência da posição pós-LVC (50%). No entanto, em oposição ao

Português do Brasil, PE assume, como segunda opção de ordem em face desses itens, a

colocação pré-LVC (36%) acompanhada da ordem v1 cl v2 (14%).

No que tange aos elementos de natureza subordinativa, considerados como

proclisadores canônicos pela prescrição gramatical, ressalte-se que, no PB, os itens

introdutores de orações subordinadas adverbiais demonstram, em seus domínios,

freqüências mais significativas da variante pós-LVC (4/7 dados) do que as obtidas para

as colocações cl v1 v2 e v1-cl v2. Em contrapartida, no PE, os mesmos itens

subordinativos registram maior produtividade da ordenação pré-LVC (6/7 dados),

figurando apenas um dado na posição v1 cl v2 (1/7 dados).

No que respeita à conjunção integrante que, os registros do PB permitem

evidenciar que tal partícula apresenta em seus domínios percentagens superiores para a

posição pós-LVC seguida da ordem v1 cl v2, cujos índices sobrepujam os valores das

variantes do tipo intra-LVC. Do mesmo modo como ocorre com as conjunções

subordinativas no PE, o que integrante, na maior parte dos casos, sugere favorecimento

à ordem pré-LVC (3/5 dados), estando v1 v2-cl com o registro de 40% (2/5 dados).

No tocante ao que pronome relativo, observe-se que, no PB, tal conector, assim

como os demais elementos subordinativos até o momento considerados, não se revela

decisivo para a ocorrência de cl v1 v2. Nesses domínios de grande freqüência da ordem

proclítica no âmbito das lexias verbais simples, a produtividade da colocação pós-LVC

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217

em complexos com infinitivo se revela bem expressiva. Pontue-se que, nesses

ambientes constituídos de relativo que, o PE exibe distribuição equivalente de pré-LVC

(46%) e pós-LVC (46%).

Quanto aos demais pronomes / advérbios relativos, nos dois casos integrados por

tais elementos no PB, a ordem pré-LVC deu-se de modo categórico (2/2 dados). A

variedade européia, de outro lado, registrou, nos 4 dados encontrados, 3 ocorrências de

posição pós-LVC e 1 de colocação pré-LVC.

Tanto no PB (1/1 caso) quanto no PE (1/1 caso), as locuções conjuntivas com o

elemento que registram em seus domínios a ordem pós-LVC.

Os vocábulos QU- interrogativos do tipo pronominal (por exemplo, quem, qual),

observados somente no PB, integram contexto de igual distribuição entre cl v1 v2 e v1

cl v2. A propósito de QU- interrogativo de natureza adverbial (por exemplo, como,

quando), a variedade brasileira do Português registra número equivalente de ocorrência

das variantes v1 cl v2 e v1 v2-cl. O Português Europeu, nesses mesmos contextos de

QU- interrogativo de caráter adverbial, exibe mais casos de v1 v2-cl do que de pré-

LVC.

A partícula que em estruturas clivadas, atestada em complexos verbais com

infinitivo no PB, constitui caso em que se computam valores iguais de v1 cl v2 e v1 v2-

cl.

As únicas ocorrências de sintagma preposicionado (1/1 dado de pós-LVC), de

elemento discursivo fático (1/1 dado de v1 cl v2) e de interjeição (1/1 dado de pós-

LVC), verificadas entre os dados de clíticos em estruturas verbais complexas com

infinitivo no PB, ora mostram realização de v1 v2-cl, ora de v1 cl v2. No PE, houve o

registro exclusivo de pós-LVC em domínio de interjeição.

À vista do detalhamento de cada fator inicialmente previsto para a presente

variável, reafirma-se que, grosso modo, os elementos averiguados não se demonstram

decisivos à manifestação de cl v1 v2 em ambas as variedades (mormente no PB), haja

vista a maior freqüência da variante pós-LVC. Tal fato não corrobora a hipótese inicial

de que a manifestação da posição pré-LVC seria observada de modo expressivo nos

diversos contextos controlados, assim como o constatado no âmbito das lexias verbais

simples, no qual a ordem pré-verbal se faz em valores majoritários.

Sublinhe-se que, no PB, a próclise a v1, esperada em domínio de proclisadores

canônicos, ocorre, em primeira instância, em ambiente de operadores não-tradicionais

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218

como os advérbios não-canônicos. O Português Europeu permite vislumbrar números

mais consideráveis de cl v1 v2 em face de preposições, elementos que, embora não

contemplados nas listas dos compêndios normativos, foram apontados por Mateus et alii

(2003) com significativo potencial de motivação no fenômeno de subida de clítico no

PE.

Schei (2003) atesta que, em romances tanto brasileiros como portugueses, a

colocação pós-LVC se destaca em face das demais variantes em contexto de lexias

verbais complexas com infinitivo, mesmo em domínio de proclisadores canônicos. As

constatações da autora podem ser corroboradas, assim, segundo os resultados da

presente análise.

Postula-se, pois, que, a produtividade das variantes, possivelmente, esteja

associada ao tipo de complexo verbal, visto que, em ambientes de conglomerados

verbais com infinitivo, a ordem pré-LVC se faz em menores números do que em

domínio de complexos com gerúndio e particípio, fato esse também pontuado por Schei

(2003).

d) Distância entre possível elemento proclisador e seqüência constituída de clítico e

complexo verbal

Preliminarmente às ponderações que se pretendem estabelecer acerca da ordem

em face da variável distância entre possível elemento proclisador e seqüência

constituída de clítico e complexo verbal, tomem-se os números indicados:

Distância entre possível elemento proclisador e seqüência constituída de clítico e complexo

verbal em dados de Lexias Verbais Complexas com infinitivo (fatores amalgamados)

Variedades Português do Brasil

Séculos XIX e XX

Português Europeu Séculos XIX e XX

Variantes

Fatores Pré-LVC

cl v1 v2

Intra-LVC

v1-cl v2

Intra-LVC

v1 cl v2

Pós-LVC

v1 v2-cl

Pré-LVC

cl v1 v2

Intra-LVC

v1-cl v2

Intra-LVC

v1-cl v2

Pós-LVC

v1 v2-cl

Zero a três

sílabas

15% 14/96

7% 7/96

20% 19/96

58% 56/96

29% 34/117

14% 16/117

3% 4/117

54% 63/117

Quatro a dez

sílabas

25% 1/4

0% 0/4

25% 1/4

50% 2/4

40% 2/5

0% 0/5

20% 1/5

40% 2/5

Onze sílabas em

diante

0% 0/6

50% 3/6

0% 0/6

50% 3/6

17% 1/6

49% 3/6

17% 1/6

17% 1/6

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219

Tabela 44: Produtividade percentual e absoluta das variantes em face dos fatores amalgamados da variável

distância entre possível elemento proclisador e seqüência constituída de clítico e complexo verbal em

referência ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX, no âmbito das Lexias Verbais Complexas com infinitivo

Os valores ora em debate não permitem sugerir o efeito do presente grupo de

fatores sobre o fenômeno de ordenação dos clíticos em ambientes de complexos verbais

com infinitivo, nas duas variedades, tal como o já pontuado no exame das lexias verbais

simples.

Os fatores, uma vez amalgamados73

, revelam que, no PB, a posição pós-LVC, se

manifesta em maiores números em relação às demais variantes em ambientes nos quais

os possíveis elementos proclisadores se encontram em até dez sílabas distantes do

conglomerado integrado por verbo (semi-)auxiliar + infinitivo. A partir de onze sílabas

em diante, igual distribuição de v1-cl v2 e v1 v2-cl pode ser verificada. Advoga-se que

a atuação dos elementos proclisadores quanto à ausência considerável de atração não é

influenciada pelo fator distância, haja vista que a colocação v1 v2-cl se procede como

primeira opção de ordem (56%) até mesmo em domínio de zero a três sílabas de

distanciamento entre o operador de próclise e a seqüência constituída de clítico e

complexo verbal.

No que respeita ao PE, v1 v2-cl manifesta-se, assim como no PB, em maiores

percentagens na distância de até três sílabas. Pontue-se que tanto a posição pré-LVC

quanto a pós-LVC apresentam semelhante freqüência na distância de quatro a dez

segmentos silábicos. Contraponha-se, pois, o valor de 40% de cl v1 v2 em contexto de

afastamento de quatro a dez sílabas ao índice de 29% da mesma variante em ambiente

de zero a três sílabas, de modo a sinalizar a refutação da hipótese de que, quanto maior a

proximidade entre o item proclisador e o segmento clítico e complexo verbal, maior

registro da variante pré-LVC poderia ser observado. Saliente-se, também, que, da marca

de onze sílabas adiante, a ordem v1-cl v2 se faz em números mais elevados no que

respeita às demais colocações.

e) Tempo e modo das formas (semi-)auxiliares

Analisem-se, de antemão, as freqüências percentuais e absolutas registradas:

73

Reitere-se que o quadro referente à exposição de todos os fatores da presente variável se encontra

apresentado no Anexo 5.

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220

Fatores amalgamados do grupo tempo e modo dos verbos (semi-)auxiliares em dados de Lexias

Verbais Complexas com infinitivo

Variedades Português do Brasil

Séculos XIX e XX

Português Europeu Séculos XIX e XX

Variantes

Fatores Pré-LVC

cl v1 v2

Intra-LVC

v1-cl v2

Intra-LVC

v1 cl v2

Pós-LVC

v1 v2-cl

Pré-LVC

cl v1 v2

Intra-LVC

v1-cl v2

Intra-LVC

v1 cl v2

Pós-LVC

v1 v2-cl

Presente e pretéritos do

indicativo

12% 10/83

12% 10/83

21% 17/83

55% 46/83

26% 25/98

18% 18/98

6% 6/98

50% 49/98

Futuros do indicativo 20% 2/10

0% 0/10

10% 1/10

70% 7/10

25% 4/16

0% 0/16

0% 0/16

75% 12/16

Tempos do subjuntivo 43% 3/7

0% 0/7

14% 1/7

43% 3/7

63% 5/8

0% 0/8

0% 0/8

37% 3/8

Imperativo 0% 0/1

0% 0/1

0% 0/1

100% 1/1

0% 0/1

100% 1/1

0% 0/1

0% 0/1

Infinitivo 0% 0/3

0% 0/3

33% 1/3

67% 2/3

60% 3/5

0% 0/5

0% 0/5

40% 2/5

Gerúndio 0% 0/2

0% 0/2

0% 0/2

100% 2/2

_ _ _ _

Tabela 45: Produtividade percentual e absoluta das variantes em face dos fatores

amalgamados da variável tempo e modo das formas (semi-)auxiliares em referência ao PB e ao

PE dos séculos XIX e XX, no âmbito das Lexias Verbais Complexas com infinitivo

Os valores, ora dispostos, permitem pontuar que, em ambas as variedades, os

tempos do indicativo, com especial atenção aos futuros, integram contextos de maiores

freqüências da ordem pós-LVC.

Quanto às formas do futuro, não se registra de fato a posição intra-LVC,

conforme recomenda a prescrição gramatical. O único contexto colhido de futuro do

presente do indicativo, no PB, apresenta a realização de pré-LVC. Em contrapartida,

averigúe-se que, no PE, o mesmo tempo se revela como contexto de maiores

freqüências de v1 v2-cl (8/9 dados). O futuro do pretérito, nas duas variedades

examinadas, interfere nos maiores índices de v1 v2-cl. Pontue-se que, no Português

Europeu, como segunda opção de ordem em ambientes integrados por verbos

flexionados em tal tempo, se verifica a ocorrência de cl v1 v2 em 43 pontos percentuais

(conforme indicado na tabela exposta no Anexo 5).

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221

O modo subjuntivo, no que concerne ao PB, aponta equivalente distribuição

entre as colocações pré-LVC e pós-LVC. Em contrapartida, no PE, evidencie-se maior

ocorrência de cl v1 v2 em detrimento de v1 v2-cl.

Saliente-se que, no Português do Brasil, o presente assim como o pretérito

imperfeito do subjuntivo correspondem aos domínios de distribuição equivalente entre

as variantes pré-LVC e pós-LVC. Quanto ao futuro do mesmo modo, o único caso em

que tal tempo se manifesta exibe a ordem v1-cl v2.

Dos tempos do subjuntivo observados no PE, o presente, em dado exclusivo,

revela a ocorrência da posição pós-LVC. No que respeita ao pretérito imperfeito, dá-se a

preferência pela variante cl v1 v2, ao lado do registro da posição pós-LVC.

Quanto ao imperativo, observado somente uma vez no PB assim como no PE,

testemunha naquela variedade a ordem pós-LVC enquanto nesta expõe a colocação v1-

cl v2.

As formas nominais do verbo infinitivo e gerúndio, no PB, apresentam-se como

domínio de freqüência majoritária de v1 v2-cl. Destaquem-se, pois, os índices

categóricos dessa variante em contexto de gerúndio (2/2 casos) assim como a única

manifestação de v1 cl v2 em contexto de infinitivo.

No que tange ao PE, das formas nominais observadas, somente 5 casos de

infinitivo foram obtidos no conjunto de dados de clíticos examinados. Desses casos, 3

registraram a ordem cl v1 v2 e 2, a posição pós-LVC.

À luz dessas considerações descritivas, verifique-se que os tempos do indicativo,

concebidos hipoteticamente como contexto de atuação neutra no fenômeno da ordem,

manifestam, de fato, a variante mais comum em ambas as variedades, a pós-LVC. As

formas do futuro não denotaram por preferência a variante intra-LVC.

No que concerne aos tempos do subjuntivo, perceba-se que a colocação

proclítica a v1 se distribui do mesmo modo como a ordem pós-LVC, no PB. A

variedade européia, por seu turno, permite vislumbrar maior freqüência da posição pré-

LVC em face da ordenação pós-LVC, demonstrando que a atuação dos tempos de

subjuntivo para a manifestação de cl v1 v2 se revela com maior potencialidade do que

no Português do Brasil. Associe-se a essas evidências aquilo que se pontuou no controle

do grupo possível elemento proclisador, reiterando que, no PE, a influência dos

elementos subordinativos, típicos de contextos de subjuntivo, é mais bem observada no

conjunto de seus dados.

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222

f) Tipo de clítico pronominal

O quadro exposto dá conhecimento sobre a distribuição percentual e absoluta da

ordem mediante os fatores amalgamados do presente grupo:

Tipo de clítico pronominal em dados de Lexias Verbais Complexas com infinitivo (fatores

amalgamados)

Variedades Português do Brasil

Séculos XIX e XX

Português Europeu Séculos XIX e XX

Variantes

Fatores Pré-LVC

cl v1 v2

Intra-LVC

v1-cl v2

Intra-LVC

v1 cl v2

Pós-LVC

v1 v2-cl

Pré-LVC

cl v1 v2

Intra-LVC

v1-cl v2

Intra-LVC

v1 cl v2

Pós-LVC

v1 v2-cl

Me, te, nos, vos 12% 2/16

0% 0/16

69% 11/16

19% 3/16

18% 4/22

23% 5/22

0% 0/22

59% 13/22

Se reflexivo /

inerente

3% 1/32

22% 7/32

19% 6/32

56% 18/32

12% 5/42

28% 12/42

5% 2/42

55% 23/42

Se indeterminador /

apassivador

58% 4/7

14% 1/7

14% 1/7

14% 1/7

62% 8/13

7% 1/13

0% 0/13

31% 4/13

O, a, os, as 16% 5/32

0% 0/32

0% 0/32

84% 27/32

41% 12/29

0% 0/29

7% 2/29

52% 15/29

Lhe, lhes 16% 3/19

10% 2/19

10% 2/19

64% 12/19

36% 8/22

5% 1/22

9% 2/22

50% 11/22

Tabela 46: Produtividade percentual e absoluta das variantes em face dos fatores amalgamados da

variável tipo de clítico pronominal em referência ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX, no âmbito

das lexias verbais complexas com infinitivo

Observe-se, neste momento, que os átonos pronominais de primeira e segunda

pessoas, no PB, se revelam, na maior parte das vezes sob a ordem v1 cl v2 (69%), ao

passo que no PE a colocação v1 v2-cl é verificada em 59% dos casos com essas formas

pronominais. Esse resultado confirma que a variante tipicamente brasileira, a intra-LVC

sem hífen, se instaura de forma mais produtiva com pronomes que identificam os

interlocutores.

Detalhando o comportamento de cada forma pronominal em questão, registrou-

se que: (i) no que toca ao pronome me, no PB, a variante de maior número de

ocorrências é a posição v1 cl v2, enquanto no PE é preferida a ordem v1 v2-cl; (ii) em

referência ao clítico de 2ª pessoa te, observa-se, no PB, igual distribuição entre as

variantes v1 cl v2 e v1 v2-cl, assim como no Português Europeu, também se registrou

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223

maior concretização da variante pós-LVC; (iii) quanto ao pronome nos, nos dois casos

encontrados no PB, averigua-se a opção categórica por realizá-lo em posição v1 cl v2,

enquanto no PE tal clítico se distribui de modo similar entre as variantes v1-cl v2 e v1

v2-cl; (iv) o pronome vos – encontrado somente uma vez no PE – ocorre em colocação

pós-LVC.

Em cotejo entre o se reflexivo/inerente e o apassivador / indeterminador, a um

só tempo, saliente-se que aquele, em ambas as variedades, se manifesta com maior

freqüência na posição pós-LVC, enquanto este, no PB e no PE, se exibe, na maioria das

vezes, na ordem pré-LVC.

Saliente-se que houve apenas um registro de se de natureza indeterminadora em

cada variedade. No PB, ele ocorreu na posição cl v1 v2 e no PE, na ordem v1 v2-cl. Em

ambas as variedades, o clítico se apassivador se apresenta em maior número de dados

sob a colocação pré-LVC.

O quadro exposto concede, ainda, perceber que os acusativos bem como os

dativos, nas variedades brasileira e européia, se manifestam enclíticos a v2 em grande

parte de seus registros, confirmando a tendência atestada em outros estudos sobre o

tema.

g) Tipo de lexia verbal complexa

Observe-se a seguir o comportamento das construções complexas em face dos

fatores amalgamados:

Tipo de lexia verbal complexa em dados de complexos verbais com infinitivo

Variedades Português do Brasil

Séculos XIX e XX

Português Europeu Séculos XIX e XX

Variantes

fatores Pré-LVC

cl v1 v2

Intra-LVC

v1-cl v2

Intra-LVC

v1 cl v2

Pós-LVC

v1 v2-cl

Pré-LVC

cl v1 v2

Intra-LVC

v1-cl v2

Intra-LVC

v1 cl v2

Pós-LVC

v1 v2-cl

Tempos compostos 10% 3/28

0% 0/28

29% 8/28

61% 17/28

32% 11/34

6% 2/34

0% 0/34

62% 21/34

Modais 29% 10/35

5% 2/35

20% 7/35

46% 16/35

42% 16/38

8% 3/38

10% 4/38

40% 15/38

Aspectuais 0% 0/21

33% 7/21

5% 1/21

62% 13/21

6% 2/35

37% 13/35

6% 2/35

51% 18/35

Bi-oracionais com

mesmo referente

sujeito

9% 2/22

5% 1/22

18% 4/22

68% 15/22

39% 7/18

5% 1/18

0% 0/18

56% 10/18

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224

Tabela 47: Produtividade percentual e absoluta das variantes em face dos fatores amalgamados da

variável tipo de lexia verbal complexa em referência ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX, no

âmbito dos complexos verbais com infinitivo

Em todos os domínios controlados na amostra brasileira, a variante pós-LVC

exibe-se de modo mais produtivo em relação às demais posições, especialmente em

contexto de complexos bi-oracionais com mesmo referente sujeito. Assim como se

verifica no PB, a variante v1 v2-cl também ocorre em números majoritários em todos as

lexias verbais complexas colhidas na amostra européia, salvo em ambiente de (semi-)

auxiliares modais, nos quais os índices da variante pré-LVC sobrepujam levemente (em

2 pontos percentuais) à posição v1 v2-cl.

Quanto ao PB, além da variante mais produtiva, destaca-se que a ordem pré-

LVC se verifica com percentual mais alto em construções modais (cf. detalhamento no

anexo 5), o que parece estar relacionado à forma do verbo modal. As variantes pré-LVC

e pós-LVC distribuem-se de modo equiparado em complexos do tipo ter + de/que +

infinitivo. Os domínios de poder + infinitivo apresentam, em primeira instância, a

ordem cl v1 v2. Tal como se atestou no controle da variável presença/ausência de

elementos intervenientes na estrutura verbal complexa, a estrutura integrada por

preposição para (dar + para + infinitivo) exibe a colocação v1-cl v2 (1/1 dado), a qual

ocorre em 7 de 13 dados da estrutura começar / passar + a + infinitivo. Ao que parece,

estruturas do tipo não se pode fazer mostram-se produtivas na escrita literária brasileira.

Cabe, ainda, ressaltar que a variante tida como inovação brasileira, a intra-LVC

sem hífen, se registra em todos os contextos, com menor expressividade nas construções

aspectuais.

No que concerne ao PE, registre-se, mais uma vez, a maior produtividade da

ordem cl v1 v2 em comparação com a verificada no PB. Detalhadamente, verifica-se

sua ocorrência em complexos do tipo: haver + de/que + infinitivo (3/4 dados), poder +

infinitivo (13/21 dados), costumar + infinitivo (1/1 dado) e querer + infinitivo (6/10

dados). Os escassos registros da posição intra-LVC sem hífen dão-se em domínio de ter

+ de/que + infinitivo (3/5 dados); e precisar + infinitivo (1/1 dado). Nos contextos de

acabar + de/por + infinitivo e chegar + a + infinitivo, as variantes v1 cl v2 (2/5 dados)

e v1 v2-cl (2/5 dados) distribuem-se em igual número de ocorrências. A respeito da

ordem intra-LVC com hífen, constate-se que a mesma se revela nos dois únicos casos

de dar + para + infinitivo.

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225

5.3 O fenômeno da interpolação

Convém contemplar, no âmbito da análise da ordem, o evento da interpolação74

,

concebido como o fenômeno em que o pronome átono, em posição proclítica, se

encontra separado do item verbal devido à presença de um elemento intercalado (entre o

clítico e o verbo), situação essa que acarreta um posicionamento não-contíguo,

conforme o ilustrado na seguinte exemplificação:

Ex1.: Só os loucos e os iludidos a não sabem. [VF-PE-LVS-52]

Ateste-se, pois, pelo dado exposto acima, a posição interveniente do elemento de

negação não entre o pronome a e o verbo sabem.

Estudos sobre o fenômeno na história do Português revelam que a interpolação,

freqüente no Português antigo e clássico, pode ocorrer mediante a existência de algum

elemento proclisador. No intuito de verificar, diacronicamente, a produtividade de tal

fenômeno, Martins (1994), considerando os contextos potenciais de interpolação, isto é,

domínios em que o evento pode se manifestar, registra as marcas de 94% da estrutura

com não interpolado e 66% quando a interpolação abrange outro tipo de elemento –

como sujeito pronominal ou nominal, sintagma preposicional ou adverbial – em dados

do século XIII. Em períodos posteriores, a percepção do decréscimo da produtividade

de interpolação de outros elementos torna-se cada vez mais evidente, restringindo-se,

basicamente, aos casos de não interveniente.

De modo a investigar a produtividade dos registros de interpolação nos corpora

investigados na presente análise, procedeu-se ao cômputo dos casos encontrados no PB

e no PE.

No Português do Brasil, contabilizaram-se apenas 6 registros de interpolação,

todos com não interveniente e realizados nas duas fases do século XIX, tendo sido 2

deles produzidos em texto de Manuel Antônio de Almeida (Fase 1), 2, no romance de

Joaquim Manuel de Macedo (Fase 1) e os outros 3, na obra de Aluísio Azevedo (Fase

2):

74

Martins (1994: 161), em seu estudo intitulado Clíticos na história do português, define a interpolação

como “o fenômeno de não adjacência entre o verbo e o clítico, comum no português medieval e clássico;

[passível] apenas quando o clítico precede o verbo; [havendo o contrário, ocorre,] necessariamente

adjacência.”

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226

1. Aquele aperto de mão que no dia do enterro de seu marido Luizinha dera ao Leonardo

não caíra no chão a D. Maria, assim como também lhe não escaparam muitos outros

fatos consecutivos a esse. [MAA-PB-LVS-19]

2. Verdade é que se não sabiam bem as contas que seu pai havia feito a esse respeito; mas

como era coisa que constava de verba testamentária, D. Maria nada via de mais fácil do

que propor uma demanda, cujo resultado não seria duvidoso. [MAA-PB-LVS-19]

3. Filipe não falava, por conhecer o propósito em que estavam os três de lhe não deixar

concluir75

uma só proposição [...] [JMM-PB-C-19]

4. – Como, filho, se você não a alugou das mãos de ninguém?!... Você não sabe lá se a

mulher é ou era escrava; tinha-a por livre naturalmente; agora aparece o dono, reclama-a,

e você a entrega, porque não quer ficar com o que lhe não pertence! [AAz-PB-LVS-29]

5. – É, se eu soubesse que eles se não demoravam muito ficava para ajudá-lo. [AAz-PB-

LVS-29]

6. Os policiais, vendo que ela se não despachava, desembainharam os sabres. [AAz-PB-

LVS-29]

No que tange ao PE, verificaram-se 16 ocorrências de interpolação, todas,

igualmente ao PB, caracterizadas por não76

interveniente. Os registros do fenômeno no

corpus europeu distribuem-se pelos dois séculos analisados, contabilizando-se 8 dados

exatos para ambos os períodos de cem anos. No que concerne ao século XIX, os dados

de não interpolado são advindos das obras de Arnaldo Gama (Fase 1 – 1 dado), Almeida

Garrett (Fase 2 – 1 dado), Júlio Dinis (Fase 2 – 3 dados) e Trindade Coelho (Fase 2 – 3

dados). A propósito do século XX, de todos os autores contemplados, destaquem-se

Aquilino Ribeiro (Fase 3 – 1 dado), Abel Botelho (Fase 3 – 1 dado), Alves Redol (Fase

4 – 1 dado), José Cardoso Pires (Fase 4 – 1 dado), Fernando Namora (Fase 5 – 1 dado) e

Vergílio Ferreira (Fase 5 – 3 dados) como os escritores responsáveis pelos exemplos de

interpolação na variedade européia do Português, a seguir listados77

:

1. Desta singular mistura de qualidades fisiológicas resultava o de João de Mendonça um

destes tipos inexplicáveis, a primeira face, para quem o não conhecesse de perto. [ArG-PE-

LVS-19]

75

Ateste-se uma ocorrência do fenômeno de interpolação em estrutura constituída de verbo causativo +

infinitivo. 76

Consoante Martins (1994), a variedade européia do Português atual, em alguns de seus dialetos,

apresenta ocorrências de interpolação de pronomes retos e advérbios além do elemento não. 77

Arrolam-se, agora, 15 dos 16 dados de interpolação no PE, uma vez que, no início desta seção, a

exemplificação da ocorrência de não interpolado constitui 1 dos casos provenientes da amostra européia.

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227

2. Era o Sr. José U homem bem apessoado, e de tal capacidade e rotundidade nas formas

posteriores, que, por elegante e popular metonímia, lhe chamaram a parte pelo todo, e foi

apelidado José U, ou José outra coisa que a gravidade da minha história me não deixa por

aqui mais clara. [AG-PE-LVS-19]

3. Em perfeita e exemplar harmonia vivera vinte anos com sua mulher, e então, como depois

que viuvara, manifestou sempre pelos filhos uma solicitude, não revelada por meiguices –

que lhe não estavam no gênio – mas que, nas ocasiões, se denunciava por sacrifícios de

fazerem hesitar os mais extremosos. [JD-PE-LVS-29]

4. Correu, em vista disso, à casa do reitor; também o não encontrou. [JD-PE-LVS-29]

5. Imagine-se pois se o não irritaria a presença de espírito, o ar de gracejo, com que lhe

respondeu o reitor! [JD-PE-LVS-29]

6. E, por se vingar, o Tomé carregava o semblante numa seriedade muito pesada, e, erguendo

o rosto iracundo, chamava-lhe interesseiro, maroto, afirmando que já lhe não dava o pão! [TC-PE-LVS-29]

7. – Sai-te para lá – dizia ele muito amuado, sem se voltar. – Cuidas talvez que te não

conheço, cuidas?! Já te não quero, vai-te! [TC-PE-LVS-29]

8. – Sai-te para lá – dizia ele muito amuado, sem se voltar. – Cuidas talvez que te não

conheço, cuidas?! Já te não quero, vai-te! [TC-PE-LVS-29]

9. Imprevistamente, ao cabo duma dessas pausas assombrosas, garganta de pária que se não

via cantou [...]. [AqR-PE-LVS-32]

10. E aflitivamente admirava-se de que a multidão se não espantasse, ao ver aquela

abominável ruína ambulante [...]. [AB-PE-LVS-32]

11. Sabiam que os não teriam nunca, como o mendigo não teria uns seios de mulher, mesmo

flácidos e descorados. [AlR-PE-LVS-42]

12. Tudo é terrível enquanto se não conhece. [JCP-PE-LVS-42]

13. [...] fingira que o não vira. [FN-PE-LVS-52]

14. Cá em cima, o cheiro a mofo clareou. Mas há ainda o odor forte à sombra e ao tempo, sinal

de abandono e solidão, que se não desvaneceu. [VF-PE-LVS-52]

15. Segui-a com os olhos para a não perder de vista [...].[VF-PE-LVS-52]

Por meio do cotejo dos dados supracitados referentes às duas variedades

consideradas, verificou-se que os casos de interpolação do PB e do PE integram, na

maioria das vezes, estruturas oracionais subordinadas. Observem-se, ainda, ocorrências

de não interveniente em orações absolutas com a presença de proclisadores, assim como

1 dado de interpolação em contexto de infinitivo preposicionado [Segui-a com os olhos

para a não perder de vista [...].[VF-PE-LVS-52]].

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À luz das ponderações de Martins (1994), não se verifica a mudança gramatical

que se efetivou para outros elementos, como advérbios, por exemplo, no caso da

interpolação de não na história do Português Europeu até o advento do século XIX. No

entanto, um considerável decréscimo do fenômeno faz-se pressentir no século XX. No

que concerne aos dados do PE investigados na presente pesquisa, resguardadas as

especificidades de tal variedade e a realidade do corpus, verificaram-se os mesmos

índices de não interpolado em ambos os séculos. Cumpre, todavia, ponderar que, por

mais que se registrem exemplificações de interpolação no Português Europeu do século

XX, tais casos, comparados à produtividade de não interpolado no Português clássico e

medieval, se revelam em reduzidas proporções. No âmbito do Português do Brasil,

destaque-se, uma vez mais, a ausência de dados de interpolação nos romances

brasileiros, aqui analisados, durante o decorrer de todo o século XX. Essa ausência

sinaliza uma flagrante diferença entre as duas variedades em contexto literário:

enquanto o PE tende a admitir, ainda que com baixa produtividade, a estrutura com o

elemento não, o PB não apresenta qualquer possibilidade de interpolação na passagem

do século XIX para o XX, mesmo com tal partícula.

Ateste-se que, tal como o observado no conjunto de dados aqui investigado,

Martins (2009), no âmbito do PB, registra, em escritos do século XIX, ocorrências de

não interveniente além de duas manifestações de interpolação do pronome pessoal eu,

não constando, no século posterior, casos de elemento interpolado. No que tange ao PE,

verificou o autor a freqüência de 35 registros de interpolação no século XIX em face de

apenas 2 casos observados no século XX. Martins (2009), mediante a forma como o

fenômeno se apresentou nas amostras contempladas em seu estudo bem como em outras

investigações por ele analisadas, postula que os registros de interpolação nos textos

escritos por brasileiros do século XIX podem ser apreciados como padrões da gramática

do PE ou, até mesmo, da gramática do Português Clássico.

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229

6. SISTEMATIZAÇÃO DOS RESULTADOS E REFLEXÕES FINAIS

Em face de todas as constatações evidenciadas ao longo do exame, aqui

promovido, sistematizam-se, neste capítulo de caráter conclusivo, as ponderações que se

julgam relevantes reiterar a propósito do tema da colocação pronominal nas variedades

brasileira e européia do Português Literário segundo a diacronia dos séculos XIX e XX.

Após a sistematização dos resultados, apresentam-se reflexões acerca das questões

centrais – que estão na base dos diversos estudos sobre o tema (cf. capítulo 2) –

propostas na introdução deste trabalho.

Em atendimento aos objetivos almejados, a análise foi efetuada com base nos

pressupostos (cf. capítulo 3) da Sociolingüística Laboviana aplicados à compreensão da

regra variável relacionada ao segundo parâmetro de cliticização, o da precedência,

proposto por Klavans (1985). O tratamento dos dados (cf. capítulo 5) sublinha as

variantes mais produtivas no âmbito da ordem em lexias verbais simples – construções

com uma só forma verbal – e complexas – construções com mais de uma forma verbal –

em face da realidade total de 3478 dados, todos obtidos em corpora criteriosamente

constituídos de romances representativos da Literatura de “aquém e além-mar”.

No que respeita aos contextos de lexias verbais simples (cf. capítulo 5, seção

5.1), o exame da colocação, nos 1427 dados do PB, assim como nos 1538 registros do

PE, permite atestar uma distribuição equilibrada entre próclise e ênclise, e baixíssimos

índices de mesóclise.

Quanto à ordem mesoclítica, embora as poucas ocorrências registradas não

permitam generalizações, elas sugerem que a variante apareça em maior variedade de

contextos no PE, sendo uma opção mais natural na escrita literária européia do que na

brasileira. Considerando que a ordem intraverbal se manifesta em contextos estruturais

restritos (com formas de futuro e sem elementos proclisadores), verifica-se que a

mesóclise se constitui, em tais domínios, como primeira opção de ordem pronominal na

escrita literária européia do período investigado. Indubitavelmente, somente uma

investigação específica acerca da variante mesoclítica em corpora diversificados –

conjugando, possivelmente, preceitos teóricos que abarquem as noções de gênero

textual bem como de tradição discursiva e procedendo ao levantamento de toda a

expressão temporal do futuro – permitirá tratar, com mais propriedade, a produtividade

de tal colocação em ambas as variedades do Português.

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230

No que se refere ao equilíbrio entre as variantes proclítica e enclítica, a

observação detalhada dos resultados demonstrou que o comportamento dos dados se

altera de modo fundamental consoante o contexto sintático em que se encontram a

forma verbal e o pronome átono. Em função disso, a compreensão do referido equilíbrio

entre as variantes foi garantida pela separação dos dados de cada variedade em

subamostras, consoante as seguintes estruturas: início absoluto de oração/período e

demais contextos (com elementos proclisadores canônicos e não-canônicos, ora tratados

separadamente ora em conjunto).

A descrição detalhada de cada variedade no decorrer dos séculos XIX e XX

permitiu constatar o seguinte comportamento dos dados:

(i) Os contextos de início absoluto constituem-se como ambiente em que não se

pode observar o fenômeno variável, visto que a ordem enclítica sobrepuja os índices das

demais posições, que permanecem próximas de zero ponto percentual no PB e no PE

em praticamente todas as fases dos séculos XIX e XX. Exceção a esse comportamento

se observa na fase 4 do PB, em que a variedade brasileira registra, ainda que de forma

discreta, dados do comportamento considerado vernacular – a variante pré-verbal em

início de sentença. De todo modo, pode-se considerar, consoante Labov (2003), que, no

contexto de verbo inicial, se detecta uma regra categórica ou semi-categórica de

colocação pronominal no PE em todo o percurso e no PB, com exceção da fase 4 do

século XX.

(ii) No que tange aos domínios de possíveis proclisadores, ressalte-se que a

ordem proclítica se manifesta de forma mais produtiva, em ambas as variedades no

decurso dos séculos XIX e XX, diante de operadores de próclise canônicos. Na

variedade européia, a colocação pré-verbal alcança índices quase categóricos. Diante de

operadores não-canônicos, a manifestação da regra variável ocorre de forma mais nítida

em todo o período investigado.

Tendo em vista a distribuição dos dados verificada por variedade, época e

contexto sintático, procedeu-se ao tratamento multivariacional das estruturas em que se

exibem possíveis proclisadores, canônicos ou não-canônicos. Nessa amostra, as

variáveis possível elemento proclisador, época/fase de publicação das obras adotadas,

tipo de clítico pronominal e tempo e modo das formas verbais – para ambas as

variedades –, assim como os grupos de fatores tonicidade das formas verbais – somente

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231

para o PB – e natureza da oração – apenas para o PE – revelam-se como as mais

proeminentes à instauração do fenômeno variável.

Isso posto, acompanhem-se as seguintes observações que sintetizam os

resultados encontrados quanto às referidas variáveis:

a) Possível elemento proclisador: Tanto no PB quanto no PE, os índices de

próclise manifestam-se com expressividade em detrimento da colocação enclítica no

que concerne à influência dos chamados proclisadores, especialmente os canônicos.

Ocorre que, considerando-se os resultados obtidos, o condicionamento dos elementos

proclisadores tradicionais se dá de forma mais efetiva na escrita literária européia do

que na brasileira.

No PE, registram-se índices categóricos ou quase categóricos da ordem pré-

verbal com os operadores canônicos do tipo vocábulo de negação, elemento

subordinativo e advérbio canônico / operador de foco, e, ainda, com preposições (que

figuram em alguns compêndios normativos como elementos que favorecem a variação).

No PB, além de os vocábulos de negação, os elementos subordinativos e os

advérbios canônicos / operadores de foco atuarem com índices um pouco mais baixos

do que os obtidos no PE, observa-se o favorecimento da próclise pelos SN sujeitos do

tipo pronome pessoal, indefinido e demonstrativo – nem todos aventados como

proclisadores canônicos.

b) Época/fase de publicação das obras adotadas: A distribuição dos dados

revela que, em ambas as variedades, de modo geral, os índices de próclise se

manifestam com expressividade em comparação aos de ênclise, pelas fases investigadas

segundo os contextos com possíveis elementos proclisadores.

No que tange, particularmente, aos registros do PB, a ocorrência da ordem pré-

verbal só não é majoritária na segunda fase do século XIX, período em que, mediante a

implantação da norma gramatical tradicional, alguns estudiosos advogam que a escrita

brasileira teria adotado a ênclise como modelo de colocação pronominal (cf.

PAGOTTO, 1992). Ressalte-se, ainda, que, na fase 4, se contabiliza a maior

produtividade da ordem pré-verbal nos dados brasileiros. A análise variacionista

confirma esses resultados, indicando que, enquanto o fim do século XIX desfavorece a

próclise, a fase 4 a favorece.

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232

Com base nos dados do PE, a posição proclítica constitui-se como opção

preferencial em todos os períodos, alcançando sua maior produtividade no fim do século

XX (fase 5). Mediante a ponderação estatística realizada, o estudo registrou que a fase

1, em primeiro lugar, e a fase 5, em segundo, constituem contextos de favorecimento da

próclise.

Comparando as duas variedades, atestou-se que os registros de próclise se

manifestam com mais freqüência na presença de possíveis proclisadores no Português

Europeu do que no Português do Brasil, em quase todas as fases. Esse resultado leva a

crer que o efeito proclisador seja mais efetivo na variedade européia do que na

brasileira.

c) Tipo de clítico pronominal: Todos os clíticos contemplados revelam maior

produtividade de ordem pré-verbal no PB e no PE nos contextos com possíveis

proclisadores – salvo as formas contraídas no PB, que registram mais a ênclise.

Todavia, cumpre destacar que, ponderando-se a atuação de todos os pronomes em

conjunto, o tratamento estatístico aponta que, em ambas as variedades, as formas

referentes às primeira e segunda pessoas discursivas, que identificam as vozes do

locutor bem como do interlocutor, se apresentam como os fatores de maior realização

da ordem proclítica. No PB, figura em segundo lugar no favorecimento à próclise os

acusativos de 3ª pessoa e, no PE, o pronome se apassivador / indeterminador.

d) Tempo e modo das formas verbais: A respeito dos futuros do indicativo assim

como dos tempos do subjuntivo, note-se que tais formas verbais, tanto no PB quanto no

PE, se revelam como elementos favorecedores da ordem pré-verbal. Quanto aos

primeiros, sublinha-se que o uso da próclise acaba por evitar a mesóclise. No que se

refere às formas do subjuntivo, registra-se a coatuação, nesses contextos, dos elementos

subordinativos, concebidos como proclisadores canônicos. No PB, também apresentam

discreto favorecimento à variante pré-verbal os tempos do presente e pretéritos do

indicativo. Destaque-se, ainda, o desfavorecimento da próclise por parte das formas de

gerúndio e imperativo.

e) Tonicidade das formas verbais (variável selecionada apenas para o PB): Os

resultados corroboram a hipótese de que a pauta acentual dos vocábulos proparoxítonos

influencia a ocorrência de próclise em detrimento da ênclise.

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233

O fato de essa variável ter sido selecionada apenas para o PB sugere, por

hipótese, que o condicionamento de natureza fonético-fonológica se aplique

efetivamente no vernáculo brasileiro, conforme pontuam alguns estudos resenhados

neste trabalho. A confirmação dessa consideração hipotética depende, de modo

indubitável, de investigação específica do parâmetro 3 (KLAVANS, 1985). Vieira

(2002), estudando o comportamento de tal parâmetro a partir de exame de natureza

acústica, confirmou a importância do componente prosódico na delimitação da ligação

fonética do pronome átono no PB. Segundo o estudo, a diferença entre as sílabas

pretônica e postônica, expressiva no PB, mas não no PE, afetaria a colocação

pronominal.

f) Natureza da oração (variável selecionada apenas para o PE): tal grupo de

fatores permite atestar que as cláusulas subordinadas desenvolvidas/clivadas assumem a

forte tendência de motivação da ordem pré-verbal.

Mediante a consideração das lexias verbais complexas (cf. capítulo 5, seção

5.2), o conjunto de 431 ocorrências foi segmentado em três subamostras consoante a

forma do verbo principal, se infinitiva, gerundiva ou participial. Essa segmentação

tomou por base o comportamento diferenciado da colocação pronominal não só

sugerido em compêndios gramaticais, mas também confirmado em estudos descritivos

em amostras variadas. Em decorrência dessa decisão metodológica, que gerou

subamostras com número reduzido de dados por contexto estrutural controlado, julgou-

se necessário analisar os dados a partir dos índices percentuais. Saliente-se, ainda, que a

sistematização que ora se apresenta exibe maior grau de detalhamento – em que, quando

necessário, se comparam os resultados com os obtidos em outros trabalhos – do que o

apresentado para as lexias verbais simples, em função de os complexos verbais terem

recebido menos atenção dos estudos descritivos do fenômeno.

Em face da descrição detalhada dos 23 registros de ordem pronominal no

Português do Brasil e dos 15 dados no Português Europeu, no âmbito dos complexos

verbais com gerúndio de todos os contextos (que não apresentaram em sua maioria

elementos intervenientes), procede-se, subseqüentemente, à sistematização dos

resultados constatados. Saliente-se que os escassos números da ordem em LVC com

gerúndio não concedem estabelecer generalizações a respeito do fenômeno; busca-se,

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tão-somente e até quando se faz possível, tecer as particularidades que se julgam

conveniente pontuar.

Preliminarmente, destaque-se que a construção ir + gerúndio corresponde ao

tipo de complexo mais freqüente nos dois corpora analisados, tal como o constatado por

Schei (2003), no Português do Brasil. De outro lado, o conglomerado acabar +

gerúndio exibe-se com os menores índices de freqüência tanto no PB quanto no PE.

Dentre os casos examinados, a variante v1 cl v2, na variedade brasileira, e a v1-

cl v2, na européia, constituem-se como os fatores mais freqüentes da variável

dependente analisada. Esse resultado confirma a diferença entre PB e PE apontada em

diversos estudos do fenômeno, no que se relaciona ao comportamento do clítico entre as

formas verbais. Os textos literários demonstram que, enquanto o PB assume por padrão

particular a ordem intra-LVC sem hífen (interpretada como próclise ao verbo principal),

o conjunto de dados europeus de LVC com gerúndio não registra qualquer manifestação

dessa variante.

No que respeita aos parcos dados de início absoluto, a variante v1-cl v2, em

ambas as variedades, ocorre em domínios nos quais os inícios de período bem como de

oração coincidem. Em contrapartida, as posições intra-LVC sem hífen e pós-LVC

revelam-se, nos dados do PB, como as opções de ordem em contextos de início apenas

de orações. Esse resultado sugere que a literatura apresenta rigor no cumprimento da

prescrição gramatical em contextos prototípicos de assinalação da variante, em que o

descumprimento poderia ser facilmente denunciado, qual seja o de início absoluto de

oração e de período.

Em termos diacrônicos, os resultados obtidos acerca da variável fase/época de

publicação sugerem, grosso modo, que as referidas opções preferenciais do PB e do PE

são mais expressivas no século XX do que no XIX. Embora o Português do Brasil, nos

cinco intervalos de tempo controlados, opte por distintas variantes, no século XIX, as

ordens pré-LVC e pós-LVC se distribuem com número equilibrado de ocorrências,

enquanto, no século XX, a variante inovadora v1 cl v2 se exibe de modo majoritário em

face das demais posições. Os resultados de Nunes (2009), no que concerne à colocação

em LVC com gerúndio no âmbito da escrita jornalística, apontam o percentual de 56

pontos para a variante pré-LVC, no século XIX, e de 60 pontos de ordem intra(-)LVC78

,

78

Novamente, lança-se mão do sinal gráfico de hífen na representação da variante intra-LVC, pelo

motivo de a autora considerar, juntamente, as posições v1-cl v2 e v1 cl v2, devido aos escassos números

de dados.

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no século XX. Os padrões literário e jornalístico, pelo que se expõe, apresentam certa

similaridade quanto à distribuição dessas variantes no PB.

No Português Europeu, o decurso dos anos permite verificar que a colocação

pré-LVC assume maiores índices de produtividade no século XIX, sendo a posição v1-

cl v2 a mais freqüente no século posterior. Nunes (2009) contabiliza, também,

percentuais maiores de manifestação da ordem pré-LVC no século XIX, bem como

considerável produtividade das variantes pré-LVC (52%) e intra(-)LVC (47%), no século

XX.

Ao que parece, as generalizações usualmente propostas para a mudança de

padrão de ordem no PB, que se teria iniciado no século XIX e se intensificado no XX,

encontram respaldo nas tendências verificadas nos poucos dados de complexos com

gerúndio desta investigação.

Quanto às variáveis de caráter extralingüístico, pode-se sintetizar o

comportamento dos dados em relação à variante mais produtiva em cada variedade do

Português da seguinte forma:

a) Vozes do romance – As variedades contempladas demonstram opções

distintas quanto à colocação nos domínios averiguados: enquanto a ordem mais

freqüente no PB, v1 cl v2, se faz em índices maiores em contextos de narrador

personagem (1ª pessoa) e em falas de personagem – instâncias favorecedoras da norma

vernacular brasileira –, PE demonstra a posição v1-cl v2, mais produtiva em seu corpus,

em contexto de narrador observador (3ª pessoa).

b) Autoria – Do inventário de autores que mais efetuam a ordem v1 cl v2, no

PB, destaquem-se: José Lins do Rego, Guimarães Rosa e Lygia Fagundes Telles. Do rol

de autores portugueses, os literatos Eça de Queiroz, José Cardoso Pires, José Saramago,

Fernando Namora, Vergílio Ferreira e Alves Redol são os responsáveis por maiores

índices de v1-cl v2.

c) Gênero/sexo dos autores contemplados – Escritores brasileiros produzem

mais a posição pós-LVC em comparação às escritoras selecionadas – as quais optam, na

maior parte dos casos, pela variante tipicamente brasileira v1 cl v2. Os escritos de

autoria masculina parecem ser, quanto à colocação pronominal em LVC com gerúndio,

mais conservadores do que os textos compostos por mulheres. No que se refere ao PE,

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tal variedade permite pontuar apenas os números majoritários de v1-cl v2 em obras

masculinas, haja vista que os escritos de Augustina Bessa Luís, única autora portuguesa

observada na amostra européia, não apresentam dados de complexos com verbo

principal no gerúndio.

No que se refere às variáveis estruturais que ainda puderam ser observadas,

sistematizam-se os resultados do seguinte modo:

a) Tipo de clítico – As variedades brasileira e européia do idioma assumem

discrepâncias de colocação quanto à variável tipo de clítico pronominal. No PB, os

pronomes me e se reflexivo/inerente posicionam-se, na maioria das vezes, em colocação

v1 cl v2. Os acusativos e dativos realizam-se, via de regra, enclíticos a v2 (v1 v2-cl).

Schei (2003), em análise dos tipos de pronomes átonos, observa, tal como neste estudo,

maiores percentuais de me em posição v1 cl v2; todavia, em oposição às evidências aqui

constatadas, o clítico acusativo o assume índices categóricos em domínio de pré-LVC.

Saliente-se que os dados considerados pela estudiosa ocorrem em ambientes

favorecedores da variante proclítica a v1. No que toca ao PE, em oposição ao PB, o

átono se reflexivo/inerente realiza-se, com maior freqüência, em posição v1-cl v2.

Pontue-se, também, que os clíticos me e lhe testemunham, de modo equilibrado, ora a

variante cl v1 v2, ora a posição v1-cl v2. O átono acusativo exibe-se no único dado de

ordenação v1 v2-cl em domínio de LVC com gerúndio no PE.

b) Natureza da oração – As estruturas subordinadas desenvolvidas, em ambas as

variedades, figuram como contextos motivadores da ordem pré-LVC. Tal constatação

sugere que os elementos subordinativos constituintes de tais cláusulas exerçam

considerável influência no fenômeno de subida do clítico. No que respeita às demais

sentenças, PB e PE assumem opções díspares de ordem: enquanto, no Português do

Brasil, as orações absolutas/principais/coordenadas assindéticas representam domínio de

freqüência da variante v1 cl v2, sendo essa também verificada ao lado da realização

pós-LVC em estruturas coordenadas sindéticas, a variedade européia do idioma permite

vislumbrar que, em todas as outras sentenças – as quais não possuem itens

subordinativos –, salvo as subordinadas desenvolvidas, a variante v1-cl v2 ocorre

majoritariamente.

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237

c) Possível elemento proclisador do clítico – Com exceção dos elementos

subordinativos, favorecedores de cl v1 v2 em ambas as variedades, os demais

proclisadores verificados, concebidos pela tradição gramatical como canônicos, não

demonstram influência decisiva para a manifestação do clítico à esquerda de v1. No PB,

os advérbios, operadores de foco e vocábulos de negação constituem ambiente de

ocorrência categórica da variante v1 cl v2 em vez da ordem pré-LVC. Os dois registros

de advérbio observados no conjunto de dados de LVC com gerúndio no PE apresentam

a variante v1-cl v2 em detrimento de cl v1 v2. Ademais, tanto PB quanto PE exibem

casos de pré-LVC em face de proclisadores não-canônicos, fato não verificado por

Schei (2003), cujos resultados de colocação em LVC com gerúndio demonstram, no PE,

a ocorrência de próclise ao auxiliar quando da presença de algum fator proclítico.

Acredita-se que, em domínios de LVC com gerúndio, à exceção dos elementos

subordinativos, os proclisadores canônicos não atuem na chamada atração do clítico

pronominal do mesmo modo como atuam no conjunto de dados de lexias verbais

simples.

À luz das considerações de Schei (2003), cogita-se que a não-manifestação da

variante pré-LVC, mesmo diante dos proclisadores canônicos, esteja, de algum modo,

associada ao tipo de auxiliar integrante dos complexos verbais com gerúndio, os quais

não permitiriam a adjacência de clítico à esquerda. A autora salienta que suas

constatações não permitem pontuar, exatamente, quais são os auxiliares que impedem a

próclise a v1. Ao considerar somente aqueles que, em seu conjunto de dados,

permitiram algum registro de cl v1 v2, isto é, estar, ficar, ir e andar, a estudiosa verifica

que, igualmente, os índices da posição pré-LVC não se evidenciam em grandes

números.

d) Tempo e modo das formas verbais – o PB demonstra maior produtividade da

variante intra-LVC sem hífen nos tempos do indicativo (presente, pretérito imperfeito e

perfeito), assim como no caso exclusivo de imperativo. Somente no único dado de

imperfeito do subjuntivo – tempo este típico de sentenças em que se observa a presença

de algum elemento subordinativo –, tal como no PE, ocorre a variante pré-LVC.

Observa-se que, na variedade européia, os tempos do indicativo (presente e pretérito

perfeito) – salvo o pretérito imperfeito, no qual os índices de cl v1 v2 sobrepujam os

percentuais das demais variantes –, considerados contextos neutros quanto ao

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condicionamento da ordem pronominal (cf. VIEIRA, 2002, por ex.), se exibem como

ambientes de ocorrência da variante intra-LVC com hífen.

Tendo em vista as considerações efetuadas ao longo da análise acerca de todos

os contextos de colocação em lexias verbais complexas participiais – formadas por ter

(mais predominante) e haver, sem elemento interveniente (em sua maioria) –,

sistematiza-se o comportamento da ordem examinado a partir dos 29 dados do

Português do Brasil e dos 39 do Português Europeu.

Primeiramente, pelas evidências observadas, as variedades brasileira e européia

do Português revelam maiores similaridades quanto à ordem em domínio de estruturas

verbais complexas integradas de particípio do que em construções constituídas de

gerúndio.

Quanto à variável dependente, pontue-se que, tanto no PB quanto no PE, não se

registra qualquer ocorrência da variante v1 v2-cl em ambiente de complexos

participiais. Em ambas as variedades, manifestam-se as ordens cl v1 v2 e v1-cl v2 no

conjunto de dados analisados. A posição pré-LVC, motivada provavelmente pela forte

potencialidade dos operadores de próclise – potencialidade essa não verificada em

contextos de LVC com gerúndio –, ocorreu majoritariamente em ambos os corpora.

Cumpre declarar que, embora se tenha contabilizado apenas 1 registro da variante intra-

LVC sem hífen no PB, tal fato demonstra uma relevante diferenciação entre as

variedades examinadas, uma vez que a realização v1 cl v2 não é esperada dentre os

dados do PE. No que respeita especificamente aos casos de início absoluto de

período/oração, perceba-se a exclusividade de ocorrência da ordem v1-cl v2 nas duas

amostras consideradas.

O caráter distribucional das variantes, aqui atestado, vai ao encontro das

constatações de Vieira (2002), Schei (2003) e Nunes (2009), por exemplo, no que tange

aos maiores índices da posição pré-LVC, os quais sobrepujam a freqüência de v1-cl v2

em contexto de verbo principal na forma de particípio.

No que toca ao comportamento das LVC com particípio, não se verifica

qualquer diferença – nem entre fases, nem entre séculos – que permita confirmar ou

negar tendências relacionadas a mudanças observadas em outros estudos sobre o

fenômeno. Na presente investigação, em praticamente todos os intervalos de tempo

estabelecidos, a posição pré-LVC revela-se em maiores números nos complexos com

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particípio, o que deve ser relativizado em função dos contextos morfossintáticos que

caracterizam as poucas ocorrências registradas.

No que diz respeito aos possíveis condicionamentos extralingüísticos, não se

podem postular tendências vinculadas aos fatores controlados nos grupos vozes do

romance, escritores contemplados e sexo/gênero dos autores eleitos. Com exceção de

alguns poucos contextos, o número exíguo de dados por fator observado e a maior

concretização da variante pré-LVC impedem a observação de diferenças que permitam

traçar tais tendências.

Quanto ao exame das variáveis lingüísticas, podem-se propor as seguintes

considerações:

a) Tipo de clítico pronominal – No PB, todos os pronomes observados, com

exceção do se apassivador (que se posiciona em ordem v1-cl v2 – 2/2 dados), registram

a variante pré-LVC como opção preferencial. Saliente-se, ainda, que o único dado de

colocação intra-LVC sem hífen ocorre com o pronome me, clítico que, em outros

contextos e trabalhos, costuma favorecer essa variante.

Schei (2003), a propósito dos tipos pronominais observados em ambientes de

conglomerados com verbo auxiliar no particípio, constata que o átono pronominal o se

constitui como a única forma divergente dos demais itens: enquanto os outros pronomes

atestados ocorrem, por vezes, proclíticos ao verbo principal, o acusativo o não é

atestado nessa posição, figurando, assim, na maioria das vezes, em ordem pré-LVC e,

esporadicamente, em posição v1-cl v2, tal como o constatado na presente investigação.

Esse resultado confirma a hipótese de que a fragilidade fonética do clítico acusativo não

permite que ele se submeta aos mesmos condicionamentos sintáticos verificados para

outras formas pronominais.

Em referência ao PE, diferentemente do PB, constata-se maior variação entre as

posições pré-LVC e intra-LVC com hífen. Tal variabilidade fica mais evidente nos

contextos em que se encontram os pronomes me, se reflexivo/inerente e nos, os quais se

mostram mais produtivos na posição intra-LVC com hífen.

b) Natureza da oração – Nas amostras brasileira e européia, a posição pré-LVC

manifesta-se categoricamente em contexto de orações subordinadas desenvolvidas (bem

como de optativas no PE), nos quais também imperam os chamados elementos

subordinativos, fortemente potenciais para a ocorrência de próclise a v1. Nos dados do

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PB, a variante cl v1 v2 ocorre, também, preferencialmente (2/3 dados), em orações

coordenadas sindéticas. Os registros do PE confirmam o aspecto variável normalmente

detectado em ambiente de cláusula subordinada reduzida de infinitivo, em que se

contabilizam percentuais equilibrados de cl v1 v2 e de v1-cl v2. A próclise a v1, nesse

contexto, pode ser possivelmente justificada em razão de essas orações apresentarem,

por vezes, itens prepositivos, os quais, conforme já pontuado por Mateus et alii (2003),

exercem potencialidade de atração na variedade européia.

c) Possível elemento proclisador – Em conformidade com a prescrição

gramatical e conforme o atestado por Schei (2003), os itens concebidos como

proclisadores canônicos (como os elementos subordinativos, vocábulos de negação –

verificados somente na amostra do PB – e advérbios) atuam, assim como em ambientes

de lexias verbais simples, em ambas as variedades, em favor da variante pré-LVC.

Destaque-se, ainda, a ocorrência da ordem proclítica a v1 em domínios de operadores de

próclise não-tradicionais – como em contexto integrado por item prepositivo no PE, por

exemplo.

d) Tempo e modo das formas auxiliares – Apesar do exíguo número de dados, os

valores alcançados não negam certas tendências usualmente verificadas para as formas

verbais. Temporalidades do subjuntivo – que se combinam com elementos

subordinativos – e dos futuros do indicativo – que usualmente evitam a ênclise e, no PB,

também a mesóclise –, quando registradas, revelam índices categóricos da variante cl v1

v2. Quanto às formas nominais, reitere-se que o gerúndio e o infinitivo demonstram

maior produtividade de colocação v1-cl v2, sendo os contextos de infinitivo os

ambientes em que as posições cl v1 v2 e v1-cl v2 (no PE) se exibem em maior

competição.

A propósito das constatações observadas no âmbito das lexias verbais

complexas com infinitivo – que conta, considerando-se todos os contextos em

conjunto, com 139 ocorrências no PB, e 177, no PE –, certifique-se de que a variante

pós-LVC ocorre em índices percentuais majoritários em face dos demais fatores da

variável dependente analisada. Essa opção preferencial particulariza as construções

verbais complexas infinitivas em relação às lexias integradas por particípio e gerúndio.

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Cotejando-se as variedades brasileira e européia no conjunto dos dados, também

se verifica distribuição similar das ocorrências no que se refere à ordem pré-LVC, tendo

o PE concretizado a chamada subida do clítico com freqüência um pouco maior.

Desse modo, a diferença mais flagrante entre as variedades do Português quanto

à colocação em domínios de estruturas verbais infinitivas é verificada no âmbito das

variantes v1 cl v2 e v1-cl v2. Confirmando a proposta de que a variante v1 cl v2

constitui inovação da variedade brasileira, já que ela não é registrada na história do

Português (v.g. MARTINS, 2009; PAGOTTO, 1992; GALVES, 2001), os dados do PB

registram essa variante em 18% dos contextos. No PE, dá-se a preferência, no caso da

ordem intra-LVC, pela forma hifenizada (17%); os raros casos da variante sem hífen

ocorrem em contextos específicos: os de complexos com elemento interveniente – em

sua maioria com preposição de, que atuaria como proclisador interno ao complexo

verbal.

Também isolando os contextos de início absoluto de oração, verifica-se a

diferença entre as variedades: além da ordem pós-LVC, o PB registra a intra-LVC sem

hífen e o PE, a intra-LVC com hífen.

Os demais contextos (com elementos proclisadores canônicos e não-canônicos,

separados ou em conjunto) permitiram observar que, de modo geral, o Português do

Brasil concretiza menos a subida de clítico do que o Português Europeu, registrando a

variante intra-LVC sem hífen por opção. Ressalte-se, porém, que, mesmo na variedade

européia, a subida de clítico não se dá com a relevância verificada nos dados de lexias

verbais simples. De fato, é a ordem pós-LVC a opção primeira dos complexos com

infinitivo.

No que se refere à distribuição dos dados pelas fases e séculos estipulados no

decurso temporal, evidenciou-se, uma vez mais, ser fundamental a separação dos dados

pelos contextos controlados, especialmente no que tange à oposição início absoluto

versus demais contextos.

A propósito dos dados de início absoluto, a variedade brasileira não exibe

variação no século XIX, registrando a colocação pós-LVC. No século XX, emerge a

variante intra-LVC sem hífen, que alcança maiores índices da fase 4 em diante. A

variedade européia exibe, ao longo de todo o período, concorrência entre as posições

pós-LVC e intra-LVC com hífen (há raros casos sem hífen). Na fase 4, dá-se a

intensificação no uso de v1-cl v2, variante essa que não chega a ultrapassar os números

de v1 v2-cl.

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No que concerne aos elementos proclisadores, saliente-se que o PE, embora

tenha por preferência, de modo geral, a variante pós-LVC, demonstra o efeito dos itens

proclisadores (canônicos, especialmente, mas também não-canônicos) em todo o

período controlado, diferentemente do que ocorre no PB. Esse efeito proclisador

europeu revela-se de modo intenso na penúltima fase, especialmente com os elementos

tradicionais, mas se reduz no fim do século XX, em que há nítida preferência pela

ordem pós-LVC.

A respeito do Português do Brasil, em comparação com os outros contextos

examinados, os índices de cl v1 v2 apresentam seus maiores valores de manifestação em

ambiente integrado por proclisadores canônicos, ainda que, nesses domínios, a variante

pós-LVC se dê em valores mais elevados em quase todas as fases. Esse discreto efeito

proclisador, verificado no início do século XIX e retomado no início do século XX,

intensifica-se na fase 4, mas parece se perder no fim do século XX. Nesse período, a

norma literária brasileira impõe-se, fazendo com que coexistam apenas as variantes

intra-LVC sem hífen e a pós-LVC.

No que tange aos grupos de fatores de natureza extralingüística, pode-se

sintetizar o comportamento dos dados de complexos com infinitivo em relação à

variante mais produtiva em cada variedade do Português tal como se segue:

a) Vozes do romance – Na fala de personagens, em primeiro lugar, e na de

narrador personagem, em segundo, constata-se maior distância entre o comportamento

do PB e do PE. De acordo com os índices obtidos para a variante intra-LVC, verificou-

se que a concretização da ordem considerada típica da variedade brasileira, a sem hífen,

é mais comum nesses contextos do que nos ambientes relativos à voz do narrador

observador.

Com base nesse resultado, apresentou-se, por hipótese, que os contextos

relacionados a personagem propiciariam a reprodução do que seria a norma de uso em

cada variedade, ao contrário da voz do narrador observador, que motivaria

comportamento mais compatível com o que se idealiza como escrita padrão formal,

constituindo-se um domínio inibidor das diferenças entre as variedades.

b) Autoria – Os índices obtidos para cada autor não permitem estabelecer

qualquer generalização quanto ao comportamento da ordem segundo a variável em

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questão. Embora se trate de poucos dados por escritor, acredita-se que as diferenças de

comportamento reveladas nos escritos dos autores – em todas as subamostras

controladas na investigação – vão ao encontro das conclusões do trabalho de Schei

(2003). A autora advoga, em linhas gerais, que não é possível estabelecer um modelo

único de colocação para a norma literária, em função das especificidades relacionadas à

autoria.

c) Sexo/gênero do autor – Pela razão de a amostra européia se constituir de

apenas uma escritora em face dos autores adotados, não se julgou pertinente sugerir o

efeito de tal grupo de fatores sobre a ordem na variedade referida. Nos dados do PB,

pode-se pontuar que as autoras realizaram a variante v1 cl v2, considerada de caráter

inovador no PB, com maior freqüência do que os autores. Apesar do pouco número de

dados, o estudo tomou por hipótese, amparado nos pressupostos labovianos, que a

diferença percentual sugeriria que a escrita feminina seria mais inovadora do que a

masculina quanto ao evento da colocação.

No que tange aos índices percentuais obtidos com a investigação das variáveis

lingüísticas nos contextos de complexos com infinitivo, propõem-se as considerações

subseqüentes:

a) Presença de elemento interveniente – A presença de elementos intervenientes

não se constitui como fator motivador da colocação intra-LVC. Conforme sugerem

alguns estudiosos, a realização da ordem cl v1 v2 parece ser desfavorecida nos

contextos com itens intervenientes, especialmente no PB. Na variedade européia, ao que

parece, mesmo na presença de formas entre os verbos do complexo, dá-se a subida do

clítico de modo mais freqüente.

b) Natureza da oração – As orações subordinadas registram índices maiores

(embora distantes de categóricos) da posição pré-LVC, mais no PE do que no PB, o que

confirma que o efeito proclisador atua de modo mais expressivo na variedade européia

do que na variedade brasileira. Os contextos de orações independentes e coordenadas

sindéticas registram, via de regra, a opção preferencial de cada variedade. As orações

reduzidas, mesmo ocorrendo em número muito baixo, confirmam, no PB, a tendência à

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variante pós-LVC e, em Portugal (somente as reduzidas de infinitivo), apresentam a

distribuição entre as colocações pré-LVC e pós-LVC.

c) Possível elemento proclisador – Em nenhuma das variedades, pode-se atestar

a evidente atuação dos elementos proclisadores no contexto de complexos verbais com

infinitivo, diferentemente do que se registrou nos domínios de lexias verbais simples. A

título de ilustração, ambientes com elementos de negação (que costumam se manifestar

como fortes proclisadores) exibem mais a ordem pós-LVC do que a colocação pré-LVC

no PB e no PE. Entretanto, percebe-se que, na variedade européia, os índices da variante

cl v1 v2 são mais evidentes.

Quanto aos elementos controlados, os itens subordinativos, canonicamente

apontados como proclisadores, registram certa atuação em ambas as variedades, embora

em proporções diferentes. O PB não só exibe o efeito proclisador de forma mais

discreta, como também considera elementos não-canônicos (advérbios não tradicionais

e com sufixo em –mente) ao lado de canônicos (advérbios / operadores de foco e

elementos subordinativos). No que se refere ao PE, averigua-se que tal variedade

registra percentuais mais altos de pré-LVC na presença de elementos subordinativos e

de preposições.

d) Distância entre proclisador e seqüência constituída por clítico e complexo

verbal – Não foi possível sugerir o efeito dessa variável sobre o fenômeno investigado.

Como a atuação dos proclisadores não se mostrou efetiva nas lexias complexas com

infinitivo, não era de fato esperada a atuação da distância entre eles e o clítico.

e) Tempos das formas (semi-) auxiliares – Os tempos do indicativo manifestam,

de fato, a variante mais comum em ambas as variedades, a pós-LVC, o que indica que

eles possuem uma atuação neutra quanto ao evento de colocação. As formas do futuro

não registraram por preferência a variante intra-LVC. Quanto aos tempos do subjuntivo,

no PB, a colocação proclítica a v1 distribui-se na mesma proporção que a pós-LVC. A

variedade européia registra maior freqüência da ordem pré-LVC em face da colocação

pós-LVC, demonstrando que a atuação dos tempos de subjuntivo para a manifestação de

cl v1 v2 se revela com maior potencialidade no PE do que no PB. Quanto às demais

formas, a raridade das ocorrências não permite qualquer generalização.

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f) Tipo de clítico – Também nos dados de complexos com infinitivo, os

pronomes de primeira e segunda pessoas revelam mais, no PB, a variante considerada

tipicamente brasileira, a ordem v1 cl v2. No PE, entretanto, verificou-se, com essas

formas pronominais, mais uma vez, a colocação v1 v2-cl como opção preferencial.

O se reflexivo/inerente denota a variante mais produtiva, a pós-LVC, com maior

freqüência. O apassivador / indeterminador, em ambas as variedades, guardadas suas

proporções, exibe-se, na maioria das vezes, na ordem pré-LVC – isso confirma, apesar

do baixo número de dados, a diferença entre os tipos de se, e a hipótese de que a

adjacência ao primeiro verbo é típica das estruturas indeterminadoras. Observe-se,

porém, que, embora como tendência geral o resultado obtido para o se se aplique a

ambas as variedades, as constatações observadas são mais contundentes no PB. No

conjunto de dados do PE, dá-se a subida do se reflexivo/ inerente em um número maior

de registros.

Os clíticos acusativos e dativos de 3ª pessoa manifestam-se enclíticos a v2 em

grande parte de suas ocorrências, confirmando a tendência atestada em outros estudos

sobre o tema para o contexto com infinitivos.

g) Tipo de complexo verbal – No PB, atestou-se maior produtividade da variante

pós-LVC em todos os tipos de construção, com mais destaque para o contexto de

complexos bi-oracionais com mesmo referente sujeito. A variante tida como inovação

brasileira, a intra-LVC sem hífen, ocorre em todas as estruturas, com menor

expressividade nas construções aspectuais. Além da variante mais produtiva, a

colocação pré-LVC ocorre com percentual mais alto em complexos integrados por

modais, o que parece estar relacionado à forma do verbo modal – estruturas do tipo

(não) se pode fazer (e não: (não) pode se fazer) parecem produtivas na escrita literária

brasileira.

Na variedade européia, também se contabilizou a maior freqüência da variante

v1 v2-cl em todos as lexias verbais complexas, salvo em ambientes de (semi-)auxiliares

modais, nos quais se observaram índices um pouco maiores da ordem pré-LVC. Em

cotejo com o PB, constatou-se que ocorre maior produtividade da ordem cl v1 v2.

Feita toda a sistematização dos resultados em cada subamostra contemplada,

apresentam-se, por fim, breves reflexões a respeito das três grandes questões científicas

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usualmente relacionadas ao tema da ordenação dos clíticos pronominais, citadas na

introdução do presente trabalho.

A primeira delas diz respeito à relação entre a norma idealizada em manuais

prescritivos, supostamente construída a partir dos textos literários que constituiriam o

bem escrever, e a efetiva norma de uso atestada no material analisado.

Em consideração ao tema da ordem dos clíticos pronominais, este estudo

permite atestar que tanto os romances brasileiros quanto os europeus refletem, em

quantidade de dados e qualidade diferenciadas, as regras apresentadas em tais manuais,

mas não revelam o pleno cumprimento das propostas tradicionais. Em outras palavras,

os resultados desta pesquisa permitem sugerir certo grau de incompatibilidade entre as

normas subjetiva e objetiva do que se considera a escrita culta padrão.

De fato, dá-se o respeito, em certa medida, por exemplo, às regras de que não se

deve iniciar sentença com o clítico pronominal e de que determinados elementos,

chamados “atratores”, atuam no sentido de determinar a próclise. Comparando as duas

variedades, pode-se afirmar, entretanto, que o atendimento a essas regras se expressa de

forma mais efetiva na norma de uso européia do que na brasileira. No PE, os índices

obtidos da ordem pré-verbal são categóricos ou quase categóricos e os contextos em que

se dá a suposta atração são, grosso modo, compatíveis com os proclisadores

tradicionais, exceto no caso das preposições, que nem sempre são elencadas nas listas

apresentadas pelos compêndios tradicionais. No PB, os valores que confirmam a regra

tradicional são, via de regra, um pouco menos elevados e, em termos qualitativos, ao

lado dos atratores tradicionais, a categoria de alguns sujeitos demonstra certo efeito

proclisador.

No contexto das lexias verbais complexas, a incompatibilidade entre o que

propõe a tradição normativo-gramatical e o que se verifica nos dados da pesquisa é,

indubitavelmente, maior. Podem-se destacar, nesse sentido, duas das tendências

delineadas a partir da sistematização dos resultados:

(1) Nem no PB, nem no PE, a atuação dos operadores de próclise é verificada

em complexos verbais com índices comparáveis aos obtidos no contexto das lexias

verbais simples. Nas estruturas participiais, esse efeito é um pouco mais evidente do que

nas construções com gerúndio e com infinitivo. No que toca às construções complexas

infinitivas, em particular, a tendência geral à colocação pós-LVC registrada nos dados

está longe de representar o que propõem os compêndios normativos. Destaque-se, ainda,

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que o padrão idealizado não apresenta as diferenças obtidas em relação aos tipos de

clíticos, o que, sem dúvida, distancia a proposta tradicional das regras de uso, de forma

relevante.

(2) No âmbito do Português do Brasil, particularmente, verifica-se a

concretização de uma variante não contemplada, como regra, nos manuais prescritivos,

a colocação intra-LVC sem hífen. Ressalte-se, a esse respeito, que a presença dessas

estruturas na norma idealizada pelos manuais figura como uma espécie de concessão

aos padrões brasileiros, mas não como modelo a ser seguido pela modalidade escrita

literária. Essa concessão é apresentada por Pagotto (1998) na tese defendida em artigo

que trata da implantação da norma lusitana nas gramáticas brasileiras. Segundo o autor,

as normas de uso brasileiras seriam admitidas nos compêndios gramaticais tradicionais

num discurso de condescendência.

A partir do debate relativo à primeira questão, já se pôde delinear a contribuição

dos dados desta pesquisa em relação ao segundo questionamento proposto: os resultados

indiciam normas diferenciadas no PB e no PE?

Embora haja diversas semelhanças entre as tendências verificadas na aplicação

da regra variável, as diferenças observadas entre os dados do PB e do PE são – além de

quantitativamente distintas, conforme já se apresentou – qualitativamente suficientes

para sugerir que os dados literários sinalizam normas de uso diferenciadas no Português

do Brasil e no Português Europeu. Nesse sentido, destaquem-se, em especial, duas

estruturas verificadas nos romances brasileiros e, de modo geral, não constatadas nas

obras européias: a próclise em início de oração e a próclise ao verbo principal.

Isso posto, os resultados permitem postular, ao menos, uma competição de

normas nos textos literários brasileiros: entre o padrão idealizado pelos compêndios

gramaticais e o padrão de uso atestado em outros estudos acerca do fenômeno (VIEIRA,

2002; NUNES, 2009), no âmbito do vernáculo do Português do Brasil. Dentro do

escopo sociolingüístico assumido na presente investigação, a referida competição de

normas também pode ser atestada na variedade européia, todavia de forma discreta,

tendo em vista que algumas estruturas não são totalmente compatíveis com a norma

idealizada.

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Por fim, no que tange ao percurso diacrônico, objeto da terceira questão

formulada para reflexão, os dados da pesquisa permitem avaliar se houve situação de

mudança no PB e/ou no PE.

Em consideração aos dados de início absoluto de oração no que concerne às

lexias verbais simples, os dados da pesquisa não permitem postular mudança de

comportamento lingüístico nem no PB, nem no PE, tendo em vista a ênclise categórica

ou quase categórica. Cabe salientar, entretanto, que a exceção verificada na fase 4 do

PB – que registra a variante pré-verbal em início absoluto – sugere que os casos de

próclise, que são mais evidentes nesse período, sejam indícios da mudança

supostamente iniciada no PB vernacular desde a segunda metade do século XVIII

(PAGOTTO, 1992). Saliente-se que o intervalo de tempo compreendido pela fase 4 se

caracteriza pelo forte apego ao que representaria a identidade nacional brasileira, o que

pode, por hipótese, se relacionar ao fato de, não só no contexto de lexias verbais

simples, mas também no de complexos verbais, essa fase registrar índices destoantes em

face dos obtidos para outras fases investigadas.

No que se refere, principalmente, aos contextos com possíveis elementos

proclisadores, a evidência de a ordem pré-verbal não ser majoritária na segunda fase do

século XIX pode sinalizar o peso que teve a implantação do modelo lusitano na norma

gramatical brasileira. Nesse sentido, os dados de ênclise podem ser reflexo da adoção de

um modelo “estrangeiro” na literatura praticada no Brasil (cf. PAGOTTO, 1998).

Quanto aos ambientes integrados por possíveis elementos proclisadores na variedade

européia, sublinhe-se, apenas, o maior favorecimento à próclise no início do século

XIX. Segundo alguns estudos (como os de GALVES, BRITTO & PAIXÃO DE

SOUSA, 2005 e MARTINS, 2009), essa maior tendência à variante pré-verbal pode

constituir um resquício de períodos mais antigos do Português, em que a ordem

proclítica seria a regra em praticamente todos os casos, exceto em início absoluto.

Considerando os resultados alcançados para a variável fase/época de publicação

nos contextos de complexos verbais, destaca-se que a suposta mudança de padrão de

ordem no PB, em que a variante v1 cl v2 teria sido implantada no século XIX e se

intensificado no XX (cf. CYRINO, 1996), encontra respaldo nas tendências verificadas

nos poucos dados de complexos com gerúndio desta investigação.

Nos registros de construções verbais complexas com infinitivo, verificou-se,

também nos dados do PB do século XX, a variante intra-LVC sem hífen, que alcança

maiores índices da fase 4 em diante. Ressalte-se que, no fim do século XX, a norma

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literária brasileira se impõe com feições próprias, fazendo com que coexistam apenas as

variantes intra-LVC sem hífen e a pós-LVC.

De modo geral, os resultados diacrônicos, ao demonstrarem maior estabilidade

de comportamento na norma de uso praticada na variedade européia do que na

brasileira, sinalizam a implantação de um padrão de uso brasileiro diferenciado, com

maior ou menor expressividade em função das fases no decurso temporal. Nesse

sentido, os registros analisados revelam que é no século XX que as prováveis mudanças

operadas no decorrer do século XIX apresentam reflexos na norma de uso literária, e

ainda com mais nitidez a partir do período 4 contemplado.

Por todas as constatações efetuadas, espera-se que a sistematização dos

resultados, aqui empreendida, e as reflexões propostas ao fim do presente trabalho

possam efetivamente contribuir para o conhecimento de que se dispõe acerca do

fenômeno da ordem dos clíticos pronominais nas variedades brasileira e européia do

Português, testemunhado no decurso dos séculos XIX e XX. De modo indubitável, as

interpretações que, por ora, foram formuladas como hipóteses interpretativas serão

objeto de análise de futuras etapas investigativas, nas quais se pretende ampliar o

material, especialmente no que se refere aos contextos de lexias verbais complexas e,

ainda, aprofundar o exame acerca da implantação histórica da norma constatada no

Brasil e em Portugal.

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<www.bnportugal.pt>. Acessado em 2008 / 2009.

<www.instituto-camoes.pt>. Acessado em 2008 / 2009.

79

Esclarece-se que os endereços eletrônicos arrolados foram consultados durante o decurso dos anos de

2008 e 2009, indicando-se, por esse motivo, somente o ano sem a especificação do dia e do mês nos quais

o acesso foi efetuado. Ressalte-se que as páginas indicadas concernem às inúmeras pesquisas realizadas

acerca da biobibliografia dos autores contemplados, bem como das consultas em meio eletrônico das

obras que se encontram disponibilizadas em domínio público. Reitere-se que os romances obtidos em

meio digital foram cotejados com edições impressas.

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258

ANEXOS

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259

Anexo 1

Obras literárias utilizadas na composição dos corpora brasileiro e europeu dos séculos

XIX e XX

Português do Brasil

– Século XIX

→ Fase 1 [1834 – 1866]

Joaquim Manuel de Macedo (1820 – 1882) – A moreninha [1844].

Edição examinada: MACEDO, Joaquim Manuel de. A moreninha (1899). Rio de Janeiro:

Paris, H. Garnier. [1844]

Manuel Antônio de Almeida (1831 – 1861) – Memórias de um sargento de Milícias: por um

brasileiro [1854 – 1855].

Edição examinada: ALMEIDA, Manuel Antônio de [1854 – 1855]. Memórias de um

sargento de Milícias: por um brasileiro. Rio de Janeiro: Typ. Brasiliense de Maximiano

Gomes Ribeiro.

José de Alencar (1829 – 1877) – Diva (perfil de mulher)[1864].

Edição examinada: ALENCAR, José de [1864]. Diva. Rio de Janeiro: B. L. Garnier.

Bernardo Guimarães (1825-1884) – O ermitão de Muquém [escrito em 1858 e publicado em 1869].

Edição examinada: GUIMARÃES, Bernardo. O ermitão de Muquém [1869]. Rio de

Janeiro: B.L. Garnier.

→ Fase 2 [1867 – 1900]

Raul Pompéia (1863 - 1895) – As Jóias da Coroa [1882].

Edição examinada: POMPÉIA, Raul [1882]. As Jóias da Coroa. In: COUTINHO, Afrânio

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Aluísio Azevedo (1857 – 1913) – O Cortiço [1890]

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Machado de Assis (1839 – 1908) – Quincas Borba [Publicado, primeiramente, entre 1886 e 1891 na

revista A Estação].

Edição examinada: ASSIS, Machado de [1891]. Quincas Borba. Rio de Janeiro: B. L.

Garnier.

Júlia Lopes (1862- 1934) – A Viúva Simões [1897]

Edição examinada: LOPES, Júlia [1897]. A Viúva Simões. Lisboa: A. M. Pereira.

– Século XX

→ Fase 3 [1901 – 1933]

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Edição examinada: CUNHA, Euclides da [1902]. Os Sertões: Rio de Janeiro/São Paulo:

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Lima Barreto (1881-1922) – O triste fim de Policarpo Quaresma [1911].

Edição examinada: BARRETO, Lima (1948). O triste fim de Policarpo Quaresma. Rio de

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Afonso Arinos (1868- 1916) – O mestre de campo [1915]

Edição examinada: ARINOS, Afonso. O mestre de campo. [1915] In: COUTINHO,

Afrânio. (org.) (1969). Obra Completa. Rio de Janeiro: INL.

Rachel de Queiroz (1910- 2003) – O Quinze [1930].

Edição examinada: QUEIROZ, Rachel de [1930]. O Quinze. Rio de Janeiro: Urânia.

→ Fase 4 [1934 – 1966]

Graciliano Ramos (1892- 1953) – Vidas Secas [1938].

Edição examinada: RAMOS, Graciliano [1938]. Vidas Secas. Rio de Janeiro: José

Olympio.

José Lins do Rego (1901- 1957) – Fogo Morto [1943].

Edição examinada: REGO, José Lins do [1943]. Fogo Morto. Rio de Janeiro: José

Olympio.

Dinah Silveira de Queiroz (1910- 1982) – A Muralha [1953].

Edição examinada: QUEIROZ, Dinah Silveira de (1954). A Muralha. Rio de Janeiro: José

Olympio [1953].

João Guimarães Rosa (1908- 1967) – Grande Sertão: Veredas [1956].

Edição examinada: ROSA, João Guimarães [1956]. Grande Sertão: Veredas. Rio de

Janeiro: José Olympio.

→ Fase 5 [1967 – 2000]

Érico Veríssimo (1905- 1975) – O prisioneiro [1967].

Edição examinada: VERÍSSIMO, Érico [1967]. O prisioneiro. Porto Alegre: Globo.

Jorge Amado (1912- 2001) – Tenda dos milagres [1969].

Edição examinada: AMADO, Jorge [1969]. Tenda dos milagres. São Paulo: Martins.

Lygia Fagundes Telles (1923 -) – As Meninas [1973].

Edição examinada: TELLES, Lygia Fagundes [1973]. As Meninas. Rio de Janeiro: José

Olympio.

Nélida Piñon (1937 –) – A doce Canção de Caetana [1987]

Page 262: Universidade Federal do Rio de Janeiro ANÁLISE DIACRÔNICA ...livros01.livrosgratis.com.br/cp134790.pdf · anÁlise diacrÔnica da colocaÇÃo pronominal nas variedades brasileira

261

Edição examinada: PIÑON, Nélida [1987]. A doce canção de Caetana. Rio de Janeiro:

Guanabara

Português Europeu

– Século XIX

→ Fase 1 [1834 – 1866]

Alexandre Herculano (1810 - 1877) – O Bobo [1843].

Edição examinada: HERCULANO, Alexandre (1884). O Bobo. Lisboa: Bertrand [1843].

Almeida Garrett (1799- 1854) – O arco de Sant’ Anna [1845].

Edição examinada: GARRETT, Almeida [1845]. O arco de Sant’ Anna: Chronica

Portuense. Lisboa: Imprensa Nacional.

Arnaldo Gama (1828 – 1869) – Honra ou Loucura [1858].

Edição examinada: GAMA, Arnaldo [1858]. Honra ou Loucura. Porto: Typ. Sebastião

José Pereira.

Camilo Castelo Branco (1825 – 1890) – Coração, cabeça e estômago [1862].

Edição examinada: CASTELO BRANCO, Camilo [1862]. Coração, cabeça e estômago.

Lisboa: Livraria de Antonio Maria Pereira.

→ Fase 2 [1867 – 1900]

Júlio Dinis [Pseudônimo de Ernesto Biester] (1829 – 1880) – As pupilas do Senhor Reitor [1868?].

Edição examinada: DINIS, Júlio (1869). As pupilas do Senhor Reitor. Porto: Typ. Jornal

do Porto [1868?].

Eça de Queiroz (1845 – 1900) – O primo Basílio [1878].

Edição examinada: QUEIROZ, Eça de [1878]. O primo Basílio. Porto; Braga: Livraria

Chardron.

Fialho de Almeida (1857 – 1911) – “O ninho de Águia”. [1881].

Edição examinada: ALMEIDA, Fialho de [1881] “O ninho de Águia”. In: _____ [1881].

Contos. Porto; Braga: Livraria Chardron.

Trindade Coelho (1861 – 1908) – Sultão [1891].

Edição examinada: COELHO, Trindade [1891] “Sultão”. In: _____ [1891]. Os meus

amores: Contos e baladas. Lisboa: Livraria de Antonio Maria Pereira.

– Século XX

→ Fase 3 [1901 – 1933]

Page 263: Universidade Federal do Rio de Janeiro ANÁLISE DIACRÔNICA ...livros01.livrosgratis.com.br/cp134790.pdf · anÁlise diacrÔnica da colocaÇÃo pronominal nas variedades brasileira

262

Abel Botelho (1856 – 1917) – Os Lázaros [1904].

Edição examinada: BOTELHO, Abel [1904]. Os Lázaros. Porto: Tip. Renascença

Portuguesa.

Raul Brandão (1867 – 1930) – Húmus [1916].

Edição examinada: BRANDÃO, Raul [1916]. Húmus. Porto: Tip. Renascença Portuguesa.

Campos Monteiro (1876 – 1933) – Camilo alcoforado [1925].

Edição examinada: MONTEIRO, Campos [1925]. Camilo alcoforado. Porto: Livraria

Civilização

Aquilino Ribeiro (1885 – 1963) – A batalha sem fim [1931].

Edição examinada: RIBEIRO, Aquilino [1932]. A batalha sem fim. Lisboa: Soc. Graf.

Editorial. [1931]

→ Fase 4 [1934 – 1966]

Alves Redol (1911 – 1969) – Gaibéus [1938]

Edição examinada: REDOL, Alves (1939). Gaibéus. Lisboa; Barcelos: Comp. Ed. do

Minho [1938]

Vitorino Nemésio (1901 – 1978) – Mau tempo no canal [1944].

Edição examinada: NEMÉSIO, Vitorino [1944]. Mau tempo no canal. Lisboa: Bertrand

Augustina Bessa Luís (1922 -) – A Sibila [1953]

Edição examinada: LUÍS, Augustina Bessa [1953]. A Sibila. Lisboa: Guimarães.

José Cardoso Pires (1925 – 1998) – O Anjo Ancorado [1958].

Edição examinada: PIRES, José Cardoso [1958]. O Anjo Ancorado. Lisboa: Ulisseia.

→ Fase 5 [1967 – 2000]

Fernando Namora (1919 – 1989) – O rio triste [1982].

Edição examinada: NAMORA, Fernando [1982]. O rio triste. Amadora: Bertrand.

Augusto Abelaira (1926 – 2003) – O Bosque Harmonioso [1982].

Edição examinada: ABELAIRA, Augusto [1982]. O Bosque Harmonioso. Lisboa: Sá da

Costa.

Vergílio Ferreira (1916 – 1996) – Para Sempre [1983].

Edição examinada: FERREIRA, Vergílio [1983]. Para Sempre. Lisboa: Bertrand.

José Saramago (1922 -) – O ano da morte de Ricardo Reis [1984].

Edição examinada: SARAMAGO, José [1984]. O ano da morte de Ricardo Reis. Lisboa:

Caminho.

Page 264: Universidade Federal do Rio de Janeiro ANÁLISE DIACRÔNICA ...livros01.livrosgratis.com.br/cp134790.pdf · anÁlise diacrÔnica da colocaÇÃo pronominal nas variedades brasileira

Todos os contextos

Rodadas80 /

variáveis

Vozes do

romance

Autores Gênero Fase Século Oração Proclisador Distância Tempos e

modos

Clítico Tonicidade

Rodada 1 (3)

0.02 / 0.574 S 3º

S

S

-

S

-

S

-

S

S

S

S

S

S

4º Rodada 2 (4)

0.02 / 0.574 S 4º

S 2º

S -

S 3º

S

-

S 8º

S 1º

S 7º

S 6º

S 9º

S 5º

Rodada 3 (5)

0.00 / 0.543 N

N

N

S 2º

N

S -

S 1º

N

S 4º

S 3º

S 5º

Rodada 4 (6)

0.00 / 0.543 N

N

N

N

N

S -

S 1º

N

S 3º

S 2º

S 4º

Demais contextos [Proclisadores canônicos e não-canônicos] Rodadas /

variáveis

Vozes do

romance

Autores Gênero Fase Século Oração Proclisador Distância Tempos e

modos

Clítico Tonicidade

Rodada 1 (3)

0.01 / 0.838 S 5º

S

S

-

S

S

-

S

S

S

S

S

S

7º Rodada 2 (4)

0.01 / 0.783 N

N

N

S 2º

S -

S -

S 1º

N

S 4º

S 3º

S 5º

Rodada 3 (5)

0.04 / 0.783 N

N

N

S 2º

S -

S 6º

S 1º

N

S 4º

S 3º

S 5º

Rodada 4 (6)

0.01 / 0.783 N

N

N

S 2º

S -

S 6º

S 1º

N

S 4º

S 3º

S 5º

Rodada 5 (7)

0.00 / 0.799 N

S 2º

N

S -

S 4º

S 3º

S 1º

N

S 7º

S 5º

S 6º

Rodada 6 (8)

0.00 / 0.801 N

S

N Não

S houve

N ordem

S de

S seleção

N

S

S

S

Proclisadores canônicos

Rodadas /

variáveis

Vozes do

romance

Autores Gênero Fase Século Oração Proclisador Distância Tempos e

modos

Clítico Tonicidade

Rodada 1 (3)

0.02 / 0.980 N

S

N

S

-

S

S

S

N

S

-

S

-

N

Rodada 2 (4)

0.04 / 0.994 N

N

N

S

S

-

S

S

N

S

S

-

N

Proclisadores não-canônicos

Rodadas /

variáveis

Vozes do

romance

Autores Gênero Fase Século Oração Proclisador Distância Tempos e

modos

Clítico Tonicidade

Rodada 1 (3)

0.01 / 0.277 S 3º

S

S

-

S

-

S

S

-

S

-

N

S

S

-

S

2º Rodada 2 (4)

0.04 / 0.299 N

N

N

S

S

-

S

S

N

S

S

N

Anexo 2 – Seleção das variáveis investigadas no PB em face de diversas rodadas realizadas a partir de dados de LVS

80 Cumpre esclarecer que o presente quadro contempla, somente, as rodadas advindas a

partir dos resultados percentuais amalgamados. Uma vez feita tal consideração,

certifique-se de que diversas análises univariacionais foram realizadas, todavia, por

motivo de espaço, não são igualmente expostas. Informa-se, ainda, que, na primeira

coluna, se apresentam os números referentes à significância, números esses separados

por barra (/) dos valores concernentes ao input.

Legenda

S – Variáveis consideradas pela autora. → Rodada contemplada no capítulo 5 acerca dos resultados.

N – Variáveis não consideradas pela autora.

Numerais – Ordem de seleção realizada pelo Programa Goldvarb X.

- Variáveis excluídas pelo Programa Goldvarb X.

X – Variáveis, ao mesmo tempo, selecionadas e excluídas pelo Programa Goldvarb X.

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264

Todos os contextos

Rodadas81 /

variáveis

Vozes do

romance

Autores Gênero Fase Século Oração Proclisador Distância Tempos e

modos

Clítico Tonicidade

Rodada 1 (3)

0.01 / 0.543 S

S

S

-

S

-

S

-

S

S

S

S

S

-

S

- Rodada 2 (4)

0.02 / 0.320 N

N

N

S

S

-

S 3º

S 1º

N

S -

S 4º

S -

Demais contextos [Proclisadores canônicos e não-canônicos] Rodadas /

variáveis

Vozes do

romance

Autores Gênero Fase Século Oração Proclisador Distância Tempos e

modos

Clítico Tonicidade

Rodada 1 (4)

0.00 / 0.814 S 4º

S

-

S

-

S

S

-

S

S

S

S

S

-

S

- Rodada 2 (5)

0.03 / 0.826 N

N

N

S 2º

S -

S 3º

S 1º

N

S 5º

S 4º

S -

Rodada 3 (6)

0.00 / 0.827 N

N

N

N

S -

S 3º

S 1º

N

S 4º

S 2º

S -

Proclisadores canônicos

Rodadas /

variáveis

Vozes do

romance

Autores Gênero Fase Século Oração Proclisador Distância Tempos e

modos

Clítico Tonicidade

Rodada 1 (3)

0.00 / 0.959 N

N

N

N

S

-

S

N

N

S

S

N

Proclisadores não-canônicos

Rodadas /

variáveis

Vozes do

romance

Autores Gênero Fase Século Oração Proclisador Distância Tempos e

modos

Clítico Tonicidade

Rodada 1 (3)

0.00 / 0.223 S 2º

N

S

-

S

-

S

-

S

S

N

S

S

-

S

- Rodada 2 (4)

0.04 / 0.222 N

N

S

-

S

S

-

S

S

N

S

S

S

-

Seleção das variáveis investigadas no PE em face de diversas rodadas realizadas a partir de dados de LVS

81 Informa-se, novamente, que o quadro apresentado expõe, somente, as

rodadas advindas dos resultados percentuais amalgamados. Reitere-se que

diversas análises univariacionais foram realizadas, mas, por motivo de

espaço, não são igualmente apresentadas. Considere, uma vez mais, que, na

primeira coluna, se apresentam os números referentes à significância,

números esses separados por barra (/) dos valores concernentes ao input.

Legenda

S – Variáveis consideradas pela autora. → Rodada contemplada no capítulo 5 acerca dos resultados.

N – Variáveis não consideradas pela autora.

Numerais – Ordem de seleção realizada pelo Programa Goldvarb X.

- Variáveis excluídas pelo Programa Goldvarb X.

X – Variáveis, ao mesmo tempo, selecionadas e excluídas pelo Programa Goldvarb X.

Page 266: Universidade Federal do Rio de Janeiro ANÁLISE DIACRÔNICA ...livros01.livrosgratis.com.br/cp134790.pdf · anÁlise diacrÔnica da colocaÇÃo pronominal nas variedades brasileira

265

Anexo 3

Grupo de fatores não selecionados na análise multivariacional no âmbito das Lexias

Verbais Simples

– Variáveis extralingüísticas

→ Vozes do romance

Vozes do Romance – Lexias Verbais Simples

Variedades Português do Brasil

Séculos XIX e XX

Português Europeu Séculos XIX e XX

Variantes

fatores Próclise Ênclise Próclise Ênclise

Narrador personagem e/ou

de 1ª pessoa 72% 60/83

28% 23/83

71% 292/410

29% 118/410

Narrador de 3ª pessoa 53% 384/725

47% 341/725

53% 260/488

47% 228/488

Personagem 84% 239/284

16% 45/284

79% 169/215

21% 46/215

Tabela 48: Produtividade percentual e absoluta das variantes proclítica e enclítica em face do grupo de

fatores vozes do romance no que concerne ao PB e PE dos séculos XIX e XX, no âmbito das lexias

verbais simples

→ Autores contemplados

– No âmbito do PB:

Autores contemplados – Lexias Verbais Simples

Variedade Português do Brasil

Séculos XIX e XX

Variantes

fatores Próclise Ênclise

Fa

se 1

[18

34

– 1

866

]

Joaquim Manuel de Macedo 79%

46/58

21%

12/58

Manuel Antônio de Almeida 61%

35/57

39%

22/57

José de Alencar 72%

54/75

28%

21/75

Bernardo Guimarães 66%

36/55

34%

19/55

Fa

se 2

[18

67

– 1

900

]

Raul Pompéia 32%

19/59

68%

40/59

Machado de Assis 62%

32/52

38%

20/52

Aluísio Azevedo 44%

30/68

56%

38/68

Júlia Lopes 54%

23/43

46%

20/43

Page 267: Universidade Federal do Rio de Janeiro ANÁLISE DIACRÔNICA ...livros01.livrosgratis.com.br/cp134790.pdf · anÁlise diacrÔnica da colocaÇÃo pronominal nas variedades brasileira

266

Fa

se 3

[19

01

– 1

933

]

Euclides da Cunha 52%

32/62

48%

30/62

Lima Barreto 73%

30/41

27%

11/41

Afonso Arinos 51%

24/47

49%

23/47

Rachel de Queiroz 68%

40/59

32%

19/59

Fa

se 4

[19

34

– 1

966

]

Graciliano Ramos 41%

23/56

59%

33/56

José Lins do Rego 89%

33/37

11%

4/37

Dinah Silveira de Queiroz 84%

59/70

16%

11/70

Guimarães Rosa 98%

46/47

2%

1/47

Fa

se 5

[19

67

– 2

000

]

Érico Veríssimo 47%

24/51

53%

27/51

Jorge Amado 67%

30/45

33%

15/45

Lygia Fagundes Telles 85%

44/52

15%

8/52

Nélida Piñon 40%

23/58

60%

35/58

Tabela 49: Produtividade percentual e absoluta das variantes proclítica e enclítica em face do grupo

de fatores autores contemplados no que concerne ao PB dos séculos XIX e XX, no âmbito das lexias

verbais simples

– No âmbito do PE

Autores contemplados – Lexias Verbais Simples

Variedade Português do Brasil

Séculos XIX e XX

Variantes

fatores Próclise Ênclise

Fa

se 1

[18

34

– 1

866

]

Alexandre Herculano 69%

37/54

31%

17/54

Almeida Garrett 92%

59/64

8%

5/64

Arnaldo Gama 63%

37/59

37%

22/59

Camilo Castelo Branco 67%

30/45

33%

15/45

Fa

se 2

[18

67

– 1

900

]

Júlio Dinis 65%

41/63

35%

22/63

Fialho de Almeida 46%

18/39

54%

21/39

Eça de Queiroz 38%

15/39

62%

24/39

Trindade Coelho 58%

26/45

42%

19/45

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267

Fa

se 3

[19

01

– 1

933

]

Abel Botelho 43%

24/56

57%

32/56

Raul Brandão 69%

33/48

31%

15/48

Aquilino Ribeiro 68%

32/47

32%

15/47

Campos Monteiro 63%

22/35

37%

13/35

Fa

se 4

[19

34

– 1

966

]

Alves Redol 44%

15/34

56%

19/34

Vitorino Nemésio

67%

28/42

33%

14/42

Augustina Bessa Luís 69%

38/55

31%

17/55

José Cardoso Pires 52%

53/102

48%

49/102

Fa

se 5

[19

67

– 2

000

]

Augusto Abelaira 71%

48/68

29%

20/68

Vergílio Ferreira 80%

65/81

20%

16/81

José Saramago 73%

41/56

27%

15/56

Fernando Namora 73%

59/81

27%

22/81

Tabela 50: Produtividade percentual e absoluta das variantes proclítica e enclítica em face do grupo

de fatores autores contemplados no que concerne ao PE dos séculos XIX e XX, no âmbito das lexias

verbais simples

→ Gênero/sexo dos autores contemplados

Gênero / Sexo dos autores contemplados – Lexias Verbais Simples

Variedades Português do Brasil

Séculos XIX e XX

Português Europeu Séculos XIX e XX

Variantes

fatores Próclise Ênclise Próclise Ênclise

Masculino 61%

494/810

39%

316/810

65%

683/1058

35%

375/1058

Feminino 67%

189/282

33%

93/282

69%

38/55

31%

17/55

Tabela 51: Produtividade percentual e absoluta das variantes proclítica e enclítica em face do grupo de

fatores gênero/sexo dos autores contemplados no que concerne ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX, no

âmbito das lexias verbais simples

Page 269: Universidade Federal do Rio de Janeiro ANÁLISE DIACRÔNICA ...livros01.livrosgratis.com.br/cp134790.pdf · anÁlise diacrÔnica da colocaÇÃo pronominal nas variedades brasileira

268

→ Séculos investigados

Séculos investigados – Lexias Verbais Simples

Variedades Português do Brasil

Séculos XIX e XX

Português Europeu Séculos XIX e XX

Variantes

fatores Próclise Ênclise Próclise Ênclise

Século XIX 59%

275/467

41%

192/467

65%

263/408

35%

145/408

Século XX 65%

408/625

35%

217/625

65%

458/705

35%

247/705

Tabela 52: Produtividade percentual e absoluta das variantes proclítica e enclítica em face do grupo de

fatores séculos investigados no que concerne ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX, no âmbito das lexias

verbais simples

– Variáveis lingüísticas

→ Distância entre um possível elemento proclisador e segmento constituído de

clítico e item verbal

Distância entre possível elemento proclisador e segmento constituído por clítico e

item verbal – Lexias Verbais Simples

Variedades Português do Brasil

Séculos XIX e XX

Português Europeu Séculos XIX e XX

Variantes

fatores Próclise Ênclise Próclise Ênclise

Zero sílaba 62%

579/938

38%

359/938

62%

540/867

38%

327/867

Uma sílaba 88%

7/8

12%

1/8

100%

15/15

0%

0/15

Duas sílabas 90%

17/19

10%

2/19

94%

30/32

6%

2/32

Três sílabas 93%

13/14

7%

1/14

97%

30/31

3%

1/31

Quatro sílabas 80%

12/15

20%

3/15

84%

21/25

16%

4/25

Cinco sílabas 91%

10/11

9%

1/11

83%

15/18

17%

3/18

Seis sílabas 75%

9/12

25%

3/12

77%

13/17

23%

4/17

Sete a dez sílabas 61%

22/36

39%

14/36

66%

29/44

34%

15/44

Onze sílabas em diante 36%

14/39

64%

25/39

44%

28/63

56%

35/63

Tabela 53: Produtividade percentual e absoluta das variantes proclítica e enclítica em face do grupo de

fatores Distância entre possível elemento proclisador e segmento constituído por clítico e item verbal no

que concerne ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX, no âmbito das lexias verbais simples

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269

– No âmbito do PB

→ Natureza da oração

Tabela 54: Produtividade percentual e absoluta das variantes proclítica e enclítica em face do grupo de

fatores natureza da oração no que concerne ao PB dos séculos XIX e XX, no âmbito das lexias verbais

simples

– No âmbito do PE

→ Tonicidade dos itens verbais

Tonicidade dos itens verbais – Lexias Verbais Simples

Variedades Português Europeu

Séculos XIX e XX

Variantes

fatores Próclise Ênclise

Oxítona 54%

200/371

46%

171/371

Paroxítona 70%

519/740

30%

221/740 Proparoxítona 100%

2/2

0%

0/2

Tabela 55: Produtividade percentual e absoluta das variantes proclítica e enclítica em face do grupo de

fatores Tonicidade dos itens verbais no que concerne ao PE dos séculos XIX e XX, no âmbito das lexias

verbais simples

Natureza da oração – Lexias Verbais Simples

Variedades Português do Brasil Séculos XIX e XX

Variantes

fatores Próclise Ênclise

Or. absoluta / principal /

Coord. assindética 52%

209/402

48%

193/402

Or. coord. sindética 45%

82/183

55%

101/183

Or. sub. Desenvolvida 94%

346/367

6%

21/367

Or. sub. red. de infinitivo 26%

29/112

74%

83/112

Or. sub. red. de gerúndio 35%

6/17

65%

11/17

Or. optativas 100%

5/5

0%

0/5

Estruturas clivadas 100%

6/6

0%

0/6

Page 271: Universidade Federal do Rio de Janeiro ANÁLISE DIACRÔNICA ...livros01.livrosgratis.com.br/cp134790.pdf · anÁlise diacrÔnica da colocaÇÃo pronominal nas variedades brasileira

270

Anexo 4

Tabelas detalhadas acerca da distribuição das variantes por cada fator constituinte das

variáveis relevantes para a ordem no PB e no PE dos séculos XIX e XX, no âmbito das

Lexias Verbais Simples

→ Presença de possível elemento proclisador

Possível elemento proclisador do clítico – Lexias Verbais Simples

Variedades Português do Brasil

Séculos XIX e XX

Português Europeu Séculos XIX e XX

Variantes

fatores Próclise Ênclise Próclise Ênclise

SN sujeito nominal 31%

75/238

69%

163/238

14%

26/188

86%

162/188

SN suj. pron. pessoal 84%

32/38

16%

6/38

16%

3/19

84%

16/19

SN suj. pron. indef. [exceto

elemento de negação]

75%

3/4

25%

1/4

60%

3/5

40%

2/5

SN suj. pron.

demonstrativo

0%

0/1

100%

1/1

71%

5/7

29%

2/7

Conj. coord. aditiva 30%

29/97

70%

68/97

9%

7/74

91%

67/74

Conj. coord. alternativa 0%

0/1

100%

1/1

0%

0/7

100%

7/7

Conj. coord. adversativa 23%

3/13

77%

10/13

0%

0/14

100%

14/14

Conj. coord. conclusiva __ __ __ __

Conj. coord. explicativa 50%

2/4

50%

2/4

75%

6/8

25%

2/8

SAdv canônicos [aqui, cá, já,

lá]

94%

45/48

6%

3/48

100%

64/64

0%

0/64

SAdv não-canônicos [sempre, depois, talvez, agora]

39%

7/18

61%

11/18

36%

8/22

64%

14/22

SAdv em -mente 50%

1/2

50%

1/2

12%

1/8

88%

7/8

SAdv – Loc. adverbiais 30%

14/47

70%

33/47

29%

15/52

71%

37/52

Operadores de foco [Ex.:

apenas, só, também (inclusão), até, mesmo, ainda]

91%

19/21

9%

2/21

100%

32/32

0%

0/32

Prep. a, ao 15%

4/26

85%

22/26

0%

0/37

100%

37/37

Prep. para 27%

7/26

73%

19/26

81%

25/31

19%

6/31

Prep. de 21%

8/38

79%

30/38

85%

23/27

15%

4/27

Prep. por 50%

1/2

50%

1/2

75%

3/4

25%

1/4

Prep. sem, até 50%

3/6

50%

3/6

100%

17/17

0%

0/17

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271

Prep. em 67%

2/3

33%

1/3

0%

0/1

100%

1/1

Vocábulos de negação 97%

91/94

3%

3/94

100%

105/105

0%

0/105

Conj. subordinativa 98%

41/42

2%

1/42

98%

61/62

2%

1/62

Conj. integrante se 0%

0/1

100%

1/1

100%

3/3

0%

0/3

Conj. integrante que 87%

47/54

13%

7/54

94%

46/49

6%

3/49

Pronome relativo que 96%

168/176

4%

8/176

100%

189/189

0%

0/189

Outros pron. / adv.

relativos

98%

39/40

2%

1/40

100%

30/30

0%

0/30

Que em loc. conjuntiva [Ex.: para que]

93%

14/15

7%

1/15

100%

26/26

0%

0/26

Pal. QU- interrogativa do

tipo pronominal [Ex.: quem,

qual]

100%

6/6

0%

0/6

100%

3/3

0%

0/3

Pal. QU- interrogativa do

tipo adverbial [Ex.: como,

quando, onde, por que]

85%

11/13

15%

2/13

100%

13/13

0%

0/13

Que em estruturas

clivadas

100%

4/4

0%

0/4

__ __

Sprep [Ex.: objeto indireto] 25%

1/4

75%

3/4

50%

4/8

50%

4/8

Predicativo do Sujeito 0%

0/1

100%

1/1

__ __

Partícula Eis __ __ __ __

Pronome átono __ __ 100%

2/2

0%

0/2

Elementos discursivos

fáticos [Ex.: tá, por favor]

50%

3/6

50%

3/6

20%

1/5

80%

4/5

Interjeições 100%

3/3

0%

0/3

0%

0/1

100%

1/1

Tabela 56: Produtividade percentual e absoluta das variantes em contexto de proclisadores canônicos e

não-canônicos, segundo a variável presença de um possível elemento proclisador: PB e PE dos séculos

XIX e XX, no âmbito das lexias verbais simples

Page 273: Universidade Federal do Rio de Janeiro ANÁLISE DIACRÔNICA ...livros01.livrosgratis.com.br/cp134790.pdf · anÁlise diacrÔnica da colocaÇÃo pronominal nas variedades brasileira

272

→ Tipo de clítico pronominal

Tipo de clítico pronominal – Lexias Verbais Simples

Variedades Português do Brasil

Séculos XIX e XX

Português Europeu Séculos XIX e XX

Variantes

fatores Próclise Ênclise Próclise Ênclise

Me 88%

103/117

12%

14/117

72%

91/126

28%

35/126

Te 91%

32/35

9%

3/35

90%

35/39

10%

4/39

Se reflexivo / inerente 54%

206/308

46%

174/308

55%

213/389

45%

176/389

Se indeterminador 86%

6/7

14%

1/7

89%

8/9

11%

1/9

Se apassivador 69%

61/89

31%

28/89

78%

75/96

22%

21/96

O, a, os, as 60%

136/227

40%

91/227

62%

150/242

38%

92/242

Lhe, lhes 58%

126/219

42%

93/219

67%

116/173

33%

57/173

Nos 100%

9/9

0%

0/9

91%

19/21

9%

2/21

Vos 67%

2/3

33%

1/3

100%

8/8

0%

0/8

Formas contraídas [Ex.: mo

(me + o)]

33%

2/6

67%

4/6

60%

6/10

40%

4/10

Tabela 57: Produtividade percentual e absoluta das variantes em contexto de proclisadores canônicos e

não-canônicos, segundo a variável tipo de clítico pronominal: PB e PE dos séculos XIX e XX, no âmbito

das lexias verbais simples

→ Tempo e modo das formas verbais

Tempo e modo verbais – Lexias Verbais Simples

Variedades Português do Brasil

Séculos XIX e XX

Português Europeu Séculos XIX e XX

Variantes

fatores Próclise Ênclise Próclise Ênclise

Presente do indicativo 86%

186/216

14%

30/216

78%

205/263

22%

58/263

Pret. imperfeito do

indicativo

66%

187/284

34%

97/284

62%

171/277

38%

76/277

Pret. perfeito do indicativo 48%

159/329

52%

170/329

46%

118/257

54%

139/257

Pret. mais-que-perf. do

indicativo

73%

30/41

27%

11/41

75%

33/44

25%

11/44

Futuro do pres. do

indicativo

100%

8/8

0%

0/8

100%

10/10

0%

0/10

Futuro do pret. do indicativo 100%

10/10

0%

0/10

100%

18/18

0%

0/18

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273

Presente do subjuntivo 95%

20/21

5%

1/21

96%

24/25

4%

1/25

Pret. imperfeito do

subjuntivo

100%

29/29

0%

0/29

100%

48/48

0%

0/48

Futuro do subjuntivo 100%

6/6

0%

0/6

100%

6/6

0%

0/6

Imperativo 65%

13/20

35%

7/20

55%

6/11

45%

5/11

Infinitivo 26%

29/111

74%

82/111

56%

77/138

44%

61/138

Gerúndio 35%

6/17

65%

11/17

31%

5/16

69%

11/16

Tabela 58: Produtividade percentual e absoluta das variantes em contexto de proclisadores canônicos e

não-canônicos, segundo a variável tempo e modo das formas verbais: PB e PE dos séculos XIX e XX, no

âmbito das lexias verbais simples

– No âmbito do PE

→ Natureza da oração

Natureza da oração – Lexias Verbais Simples

Variedades Português Europeu Séculos XIX e XX

Variantes

fatores Próclise Ênclise

Or. absoluta / principal / Coord.

assindética 44%

151/344

56%

193/344 Or. coord. sindética 38%

76/201

62%

125/201

Or. sub. Desenvolvida 99%

403/406

1%

3/406

Or. sub. red. de infinitivo 56%

77/138

44%

61/138

Or. sub. red. de gerúndio 33%

5/15

67%

10/15

Or. optativas 100%

7/7

0%

0/7

Estruturas clivadas 100%

2/2

0%

0/2

Tabela 59: Produtividade percentual e absoluta das variantes em contexto de proclisadores canônicos e

não-canônicos, segundo a variável natureza da oração: PE dos séculos XIX e XX, no âmbito das lexias

verbais simples

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274

Anexo 5

Tabelas detalhadas acerca da distribuição das variantes por cada fator constituinte das

variáveis contempladas no tratamento da ordem em Lexias Verbais Complexas com

infinitivo, no âmbito do PB e do PE dos séculos XIX e XX

→ Natureza da oração

Natureza da oração em dados de Lexias Verbais Complexas com infinitivo

Variedades Português do Brasil

Séculos XIX e XX

Português Europeu Séculos XIX e XX

Variantes

fatores Pré-LVC

cl v1 v2

Intra-LVC

v1-cl v2

Intra-LVC

v1 cl v2

Pós-LVC

v1 v2-cl

Pré-LVC

cl v1 v2

Intra-LVC

v1-cl v2

Intra-LVC

v1 cl v2

Pós-LVC

v1 v2-cl

Or. absoluta /

principal / Coord.

assindética

12% 4/34

9% 3/34

23% 8/34

56% 19/34

25% 12/49

18% 9/49

6% 3/49

51% 25/49

Or. coord.

sindética 3% 1/27

19% 5/27

22% 6/27

56% 15/27

12% 5/42

24% 10/42

2% 1/42

62% 26/42

Or. sub.

Desenvolvida 26% 10/38

5% 2/38

11% 4/38

58% 22/38

53% 17/32

0% 0/32

6% 2/32

41% 13/32

Or. sub. red. de

infinitivo 0% 0/3

0% 0/3

33% 1/3

67% 2/3

60% 3/5

0% 0/5

0% 0/5

40% 2/5

Or. sub. red. de

gerúndio 0% 0/2

0% 0/2

0% 0/2

100% 2/2

_ _ _ _

Or. optativas _ _ _ _ _ _ _ _

Estruturas

clivadas 0% 0/2

0% 0/2

50% 1/2

50% 1/2

_ _ _ _

Tabela 60: Produtividade percentual e absoluta das variantes em face do grupo de fatores natureza da

oração em referência ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX, no âmbito das Lexias Verbais Complexas

com infinitivo

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275

→ Presença de possível elemento proclisador

Presença de um possível elemento proclisador em dados de Lexias Verbais Complexas com infinitivo

Variedades Português do Brasil

Séculos XIX e XX

Português Europeu Séculos XIX e XX

Variantes

fatores Pré-LVC

cl v1 v2

Intra-LVC

v1-cl v2

Intra-LVC

v1 cl v2

Pós-LVC

v1 v2-cl

Pré-LVC

cl v1 v2

Intra-LVC

v1-cl v2

Intra-LVC

v1 cl v2

Pós-LVC

v1 v2-cl

SN sujeito nominal 0% 0/11

9% 1/11

9% 1/11

82% 9/11

7% 1/14

36% 5/14

7% 1/14

50% 7/14

SN suj. pron.

pessoal

0% 0/3

33% 1/3

0% 0/3

67% 2/3

33% 1/3

0% 0/3

0% 0/3

67% 2/3

SN suj. pron. indef. [exceto elemento de

negação]

_ _ _ _ 100% 1/1

0% 0/1

0% 0/1

0% 0/1

SN suj. pron.

demonstrativo

_ _ _ _ _ _ _ _

Conj. coord.

aditiva

0% 0/11

46% 5/11

18% 2/11

36% 4/11

0% 0/22

41% 9/22

0% 0/22

59% 13/22

Conj. coord.

alternativa

0% 0/1

0% 0/1

0% 0/1

100% 1/1

0% 0/1

0% 0/1

0% 0/1

100% 1/1

Conj. coord.

adversativa

0% 0/2

0% 0/2

0% 0/2

100% 2/2

0% 0/2

0% 0/2

0% 0/2

100% 2/2

Conj. coord.

conclusiva

_ _ _ _ _ _ _ _

Conj. coord.

explicativa

_ _ _ _ 50% 1/2

0% 0/2

0% 0/2

50% 1/2

SAdv canônicos [aqui, cá, já, lá]

33% 3/9

0% 0/9

22% 2/9

45% 4/9

33% 1/3

0% 0/3

0% 0/3

67% 2/3

SAdv não-

canônicos [sempre,

depois, talvez, agora]

33% 1/3

0% 0/3

0% 0/3

67% 2/3

33.3% 2/6

33.3% 2/6

0% 0/6

33.3% 2/6

SAdv em -mente _ _ _ _ 0% 0/1

0% 0/1

0% 0/1

100% 1/1

SAdv – Loc.

adverbiais

0% 0/4

25% 1/4

0% 0/4

75% 3/4

22% 2/9

11% 1/9

0% 0/9

67% 6/9

Operadores de

foco [Ex.: apenas, só,

também (inclusão), até,

mesmo, ainda]

0% 0/1

0% 0/1

100% 1/1

0% 0/1

0% 0/1

0% 0/1

0% 0/1

100% 1/1

Prep. a, ao _

_ _ _ _ _ _ _

Page 277: Universidade Federal do Rio de Janeiro ANÁLISE DIACRÔNICA ...livros01.livrosgratis.com.br/cp134790.pdf · anÁlise diacrÔnica da colocaÇÃo pronominal nas variedades brasileira

276

Prep. para _

_ _ _ 100% 1/1

0% 0/1

0% 0/1

0% 0/1

Prep. de 0% 0/1

0% 0/1

100% 1/1

0% 0/1

50% 1/2

0% 0/2

0% 0/2

50% 1/2

Prep. por _

_ _ _ _ _ _ _

Prep. sem, até _

_ _ _ _ _ _ _

Prep. em _

_ _ _ _ _ _ _

Vocábulos de

negação

16% 3/19

0% 0/19

37% 7/19

47% 9/19

36% 8/22

0% 0/22

14% 3/22

50% 11/22

Conj.

subordinativa

29% 2/7

14% 1/7

0% 0/7

57% 4/7

86% 6/7

0% 0/7

14% 1/7

0% 0/7

Conj. integrante se _

_ _ _ _ _ _ _

Conj. integrante

que

8% 1/12

8% 1/12

17% 2/12

67% 8/12

60% 3/5

0% 0/5

0% 0/5

40% 2/5

Pronome relativo

que

20% 2/10

0% 0/10

0% 0/10

80% 8/10

46% 6/13

0% 0/13

8% 1/13

46% 6/13

Outros pron. / adv.

relativos

100% 2/2

0% 0/2

0% 0/2

0% 0/2

25% 1/4

0% 0/4

0% 0/4

75% 3/4

Que em loc.

conjuntiva [Ex.: para

que]

0% 0/1

0% 0/1

0% 0/1

100% 1/1

0% 0/1

0% 0/1

0% 0/1

100% 1/1

Pal. QU-

interrogativa do

tipo pronominal [Ex.: quem, qual]

50% 1/2

0% 0/2

50% 1/2

0% 0/2

_ _ _ _

Pal. QU-

interrogativa do tipo

adverbial [Ex.: como, quando, onde, por que]

0% 0/2

0% 0/2

50% 1/2

50% 1/2

33% 2/6

0% 0/6

0% 0/6

67% 4/6

Que em estruturas

clivadas 0% 0/2

0% 0/2

50% 1/2

50% 1/2

_ _ _ _

Sprep [Ex.: objeto

indireto] 0% 0/1

0% 0/1

0% 0/1

100% 1/1

_ _ _ _

Predicativo do

Sujeito _

_ _ _ _ _ _ _

Partícula Eis _

_ _ _ _ _ _ _

Pronome átono _

_ _ _ _ _ _ _

Elementos

discursivos fáticos [Ex.: tá, por favor]

0% 0/1

0% 0/1

100% 1/1

0% 0/1

0% 0/2

100% 2/2

0% 0/2

0% 0/2

Page 278: Universidade Federal do Rio de Janeiro ANÁLISE DIACRÔNICA ...livros01.livrosgratis.com.br/cp134790.pdf · anÁlise diacrÔnica da colocaÇÃo pronominal nas variedades brasileira

277

Interjeições 0% 0/1

0% 0/1

0% 0/1

100% 1/1

_ _ _ _

Tabela 61: Produtividade percentual e absoluta das variantes em face do grupo presença de um possível

elemento proclisador em referência ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX, no âmbito das Lexias Verbais

Complexas com infinitivo

→ Distância entre um possível elemento proclisador e segmento constituído por

clítico e item verbal

Distância entre um possível elemento proclisador e clítico/complexo verbal em dados de

Lexias Verbais Complexas com infinitivo

Variedades Português do Brasil

Séculos XIX e XX

Português Europeu Séculos XIX e XX

Variantes

fatores Pré-LVC

cl v1 v2

Intra-LVC

v1-cl v2

Intra-LVC

v1-cl v2

Pós-LVC

v1 v2-cl

Pré-LVC

cl v1 v2

Intra-LVC

v1-cl v2

Intra-LVC

v1 cl v2

Pós-LVC

v1 v2-cl

Zero sílaba 14% 13/92

7% 7/92

20% 18/92

59% 54/92

26% 26/101

15% 15/101

3% 3/101

56% 57/101

Uma sílaba 100% 1/1

0% 0/1

0% 0/1

0% 0/1

50% 1/2

0% 0/2

0% 0/2

50% 1/2

Duas sílabas 0% 0/2

0% 0/2

50% 1/2

50% 1/2

60% 3/5

0% 0/5

20% 1/5

20% 1/5

Três sílabas 0% 0/1

0% 0/1

0% 0/1

100% 1/1

45% 4/9

10% 1/9

0% 0/9

45% 4/9

Quatro sílabas _

_ _ _ 50% 1/2

0% 0/2

0% 0/2

50% 1/2

Cinco sílabas 0% 0/1

0% 0/1

0% 0/1

100% 1/1

0% 0/1

0% 0/1

100% 1/1

0% 0/1

Seis sílabas 50% 1/2

0% 0/2

50% 1/2

0% 0/2

_ _ _ _

Sete a dez sílabas 0% 0/1

0% 0/1

0% 0/1

100% 1/1

50% 1/2

0% 0/2

0% 0/2

50% 1/2

Onze sílabas em diante 0% 0/6

50% 3/6

0% 0/6

50% 3/6

17% 1/6

49% 3/6

17% 1/6

17% 1/6

Tabela 62: Produtividade percentual e absoluta das variantes em face do grupo de fatores distância

entre um possível elemento proclisador e clítico/complexo verbal em referência ao PB e ao PE dos

séculos XIX e XX, no âmbito das Lexias Verbais Complexas com infinitivo

Page 279: Universidade Federal do Rio de Janeiro ANÁLISE DIACRÔNICA ...livros01.livrosgratis.com.br/cp134790.pdf · anÁlise diacrÔnica da colocaÇÃo pronominal nas variedades brasileira

278

→ Tempo e modo dos verbos (semi-)auxiliares

Tempo e modo dos verbos (semi-)auxiliares em dados de Lexias Verbais Complexas com infinitivo

Variedades Português do Brasil

Séculos XIX e XX

Português Europeu Séculos XIX e XX

Variantes

fatores Pré-LVC

cl v1 v2

Intra-LVC

v1-cl v2

Intra-LVC

v1 cl v2

Pós-LVC

v1 v2-cl

Pré-LVC

cl v1 v2

Intra-LVC

v1-cl v2

Intra-LVC

v1 cl v2

Pós-LVC

v1 v2-cl

Presente do

indicativo

7% 2/28

3% 1/28

36% 10/28

54% 15/28

38% 12/32

6% 2/32

0% 0/32

56% 18/32

Pret. imperfeito do

indicativo

23% 6/26

4% 1/26

11% 3/26

62% 16/26

28% 7/25

16% 4/25

12% 3/25

44% 11/25

Pret. perfeito do

indicativo

3% 1/27

26% 7/27

15% 4/27

56% 15/27

14% 5/36

34% 12/36

8% 3/36

44% 16/36

Pret. mais-que-perf.

do indicativo

50% 1/2

50% 1/2

0% 0/2

0% 0/2

20% 1/5

0% 0/5

0% 0/5

80% 4/5

Futuro do pres. do

indicativo

100% 1/1

0% 0/1

0% 0/1

0% 0/1

11% 1/9

0% 0/9

0% 0/9

89% 8/9

Futuro do pret. do

indicativo

11% 1/9

0% 0/9

11% 1/9

78% 7/9

43% 3/7

0% 0/7

0% 0/7

57% 4/7

Presente do

subjuntivo

50% 1/2

0% 0/2

0% 0/2

50% 1/2

0% 0/1

0% 0/1

0% 0/1

100% 1/1

Pret. imperfeito do

subjuntivo

50% 2/4

0% 0/4

0% 0/4

50% 2/4

71% 5/7

0% 0/7

0% 0/7

29% 2/7

Futuro do

subjuntivo

0% 0/1

0% 0/1

100% 1/1

0% 0/1

_ _ _ _

Imperativo 0% 0/1

0% 0/1

0% 0/1

100% 1/1

0% 0/1

100% 1/1

0% 0/1

0% 0/1

Infinitivo 0% 0/3

0% 0/3

33% 1/3

67% 2/3

60% 3/5

0% 0/5

0% 0/5

40% 2/5

Gerúndio 0% 0/2

0% 0/2

0% 0/2

100% 2/2

_ _ _ _

Tabela 63: Produtividade percentual e absoluta das variantes em face do grupo de fatores tempo e

modo dos verbos (semi-)auxiliares em referência ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX, no âmbito

das Lexias Verbais Complexas com infinitivo

Page 280: Universidade Federal do Rio de Janeiro ANÁLISE DIACRÔNICA ...livros01.livrosgratis.com.br/cp134790.pdf · anÁlise diacrÔnica da colocaÇÃo pronominal nas variedades brasileira

279

→ Tipo de clítico pronominal

Tipo de clítico pronominal em dados de Lexias Verbais Complexas com infinitivo

Variedades Português do Brasil

Séculos XIX e XX

Português Europeu Séculos XIX e XX

Variantes

fatores Pré-LVC

cl v1 v2

Intra-LVC

v1-cl v2

Intra-LVC

v1 cl v2

Pós-LVC

v1 v2-cl

Pré-LVC

cl v1 v2

Intra-LVC

v1-cl v2

Intra-LVC

v1 cl v2

Pós-LVC

v1 v2-cl

Me 17% 2/12

0% 0/12

66% 8/12

17% 2/12

27% 3/11

18% 2/11

0% 0/11

55% 6/11

Te 0% 0/2

0% 0/2

50% 1/2

50% 1/2

12% 1/8

25% 2/8

0% 0/8

63% 5/8

Se reflexivo /

inerente

3% 1/32

22% 7/32

19% 6/32

56% 18/32

12% 5/42

29% 12/42

4% 2/42

55% 23/42

Se indeterminador 100% 1/1

0% 0/1

0% 0/1

0% 0/1

0% 0/1

0% 0/1

0% 0/1

100% 1/1

Se apassivador 49% 3/6

17% 1/6

17% 1/6

17% 1/6

67% 8/12

8% 1/12

0% 0/12

25% 3/12

O, a, os, as 16% 5/32

0% 0/32

0% 0/32

84% 27/32

41% 12/29

0% 0/29

7% 2/29

52% 15/29

Lhe, lhes 16% 3/19

10% 2/19

10% 2/19

64% 12/19

36% 8/22

5% 1/22

9% 2/22

50% 11/22

Nos 0% 0/2

0% 0/2

100% 2/2

0% 0/2

0% 0/2

50% 1/2

0% 0/2

50% 1/2

Vos _

_ _ _ 0% 0/1

0% 0/1

0% 0/1

100% 1/1

Formas contraídas [Ex.: mo (me + o)]

_

_ _ _ _ _ _ _

Tabela 64: Produtividade percentual e absoluta das variantes em face do grupo de fatores tipo de

clítico pronominal em referência ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX, no âmbito das Lexias

Verbais Complexas com infinitivo

Page 281: Universidade Federal do Rio de Janeiro ANÁLISE DIACRÔNICA ...livros01.livrosgratis.com.br/cp134790.pdf · anÁlise diacrÔnica da colocaÇÃo pronominal nas variedades brasileira

280

→ Tipo de lexia verbal complexa

Tipo de lexia verbal complexa em dados de complexos verbais com infinitivo

Variedades Português do Brasil

Séculos XIX e XX

Português Europeu Séculos XIX e XX

Variantes

fatores Pré-LVC

cl v1 v2

Intra-LVC

v1-cl v2

Intra-LVC

v1 cl v2

Pós-LVC

v1 v2-cl

Pré-LVC

cl v1 v2

Intra-LVC

v1-cl v2

Intra-LVC

v1 cl v2

Pós-LVC

v1 v2-cl

Estar + a + infinitivo - - - - 25% 1/4

25% 1/4

0% 0/4

50% 2/4

Ir + a + infinitivo 16% 3/19

0% 0/19

31% 6/19

53% 10/19

41% 9/22

4% 1/22

0% 0/22

55% 12/22

Vir + a + infinitivo 0% 0/9

0% 0/9

22% 2/9

78% 7/9

12% 1/8

0% 0/8

0% 0/8

88% 7/8

Haver + de/que +

infinitivo

0% 0/5

0% 0/5

40% 2/5

60% 3/5

75% 3/4

0% 0/4

0% 0/4

25% 1/4

Ter + de/que + infinitivo 40% 2/5

0% 0/5

20% 1/5

40% 2/5

0% 0/5

0% 0/5

60% 3/5

40% 2/5

Poder + infinitivo 44% 8/18

6% 1/18

17% 3/18

33% 6/18

62% 13/21

0% 0/21

0% 0/21

38% 8/21

Dever + infinitivo 0% 0/6

0% 0/6

17% 1/6

83% 5/6

0% 0/5

20% 1/5

0% 0/5

80% 4/5

Precisar + infinitivo - - - - 0% 0/1

0% 0/1

100% 1/1

0% 0/1

Dar + para + infinitivo 0% 0/1

100% 1/1

0% 0/1

0% 0/1

0% 0/2

100% 2/2

0% 0/2

0% 0/2

Acabar +de/por +

infinitivo

Chegar + a + infinitivo

0% 0/7

0% 0/7

14% 1/7

86% 6/7

20% 1/5

0% 0/5

40% 2/5

40% 2/5

Começar / pôr-se / tornar-

se e voltar [somente PE] /

passar [somente PB]+ a +

infinitivo

0% 0/13

54% 7/13

0% 0/13

46% 6/13

0% 0/25

48% 12/25

0% 0/25

52% 13/25

Andar / continuar e

habituar-se [somente PE]

+ a + infinitivo

0% 0/1

0% 0/1

0% 0/1

100% 1/1

20% 1/5

20% 1/5

0% 0/5

60% 3/5

Costumar + infinitivo - - - - 100% 1/1

0% 0/1

0% 0/1

0% 0/1

Saber + infinitivo - - - - 0% 0/2

0% 0/2

0% 0/2

100% 2/2

Procurar / conseguir /

tentar [somente PE]+

infinitivo

0% 0/3

0% 0/3

0% 0/3

100% 3/3

12% 1/8

0% 0/8

0% 0/8

88% 7/8

Querer / prometer,

propor e decidir [somente

PB] / permitir [somente

PE] + infinitivo

11% 2/19

5% 1/19

21% 4/19

63% 12/19

60% 6/10

10% 1/10

0% 0/10

30% 3/10

Tabela 65: Produtividade percentual e absoluta das variantes em face do grupo de fatores tipo de lexia

verbal complexa em referência ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX, no âmbito dos complexos verbais

com infinitivo

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