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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
COPPEAD
CONTROLE GERENCIAL, AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO:
UM ESTUDO DE CASO EM UM BANCO ESTATAL
MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO
AUTOR: ROBERTO AMARANTE CAMPOS
ORIENTADOR: JOSIR SIMEONE GOMES
Setembro de 1999
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CONTROLE GERENCIAL, AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO:
UM ESTUDO DE CASO EM UM BANCO ESTATAL
Roberto Amarante Campos
Tese submetida ao Corpo Docente do Instituto de Pós-Graduação e Pesquisa em
Administração - COPPEAD, da Universidade Federal do Rio de Janeiro como
parte dos requisitos necessários para a obtenção do grau de Mestre em
Ciências(M.Sc.)
Aprovada por:
_________________________________
Prof. Josir Simeone Gomes
COPPEAD / UFRJ
_________________________________
Prof. Moacir Sancovschi
COPPEAD / UFRJ
_________________________________
Prof. Roberto Nogueira Fontoura Filho
ELETROBRÀS
Rio de Janeiro, RJ – Brasil
Setembro de 1999
iii
Campos, Roberto Amarante
Controle Gerencial, Avaliação de Desempenho:
um estudo de caso em um Banco estatal / Roberto Amarante
Campos. Rio de Janeiro: COPPEAD / UFRJ, 1999.
Dissertação – Universidade Federal do Rio de Janeiro,
COPPEAD.
1.Controle Gerencial. 2.Avaliação de Desempenho
3.Tese (Mestrado – COPPEAD / UFRJ), I - Título
iv
Ao meu pai, Carlos, pelo exemplo acadêmico
no qual sempre procurei espelhar-me.
À minha mãe, Alina, pela formação transmitida.
À minha esposa, Thais, seu amor e compreensão
foram fundamentais para chegar à este título.
Aos meus queridos filhos
Priscilla e Rafael,
por vocês lutei para chegar até aqui.
v
AGRADECIMENTOS
Ao Professor Josir Simeone Gomes, pela orientação objetiva, apoio
imprescindível e pelo incentivo constante, fundamental para que eu concluisse
este trabalho.
Aos Professores Moacir Sancovschi e Roberto Nogueira Fontoura Filho,
pelas importantes sugestões, interesse e participação.
Aos Professores do COPPEAD pelos valiosos ensinamentos transmitidos,
em especial a Profª. Anna Maria.
A todos os funcionários do COPPEAD, em especial a Elza da AMEA, pela
enorme ajuda recebida.
Ao amigo Luiz Eduardo, pela grande colaboração e incentivo sem os quais
este trabalho não seria realizado.
Aos amigos Marcos Licínio, Luiz Euler e Luís Henrique pela inestimável
ajuda e apoio nos momentos mais difíceis da realização deste trabalho.
À todos os colegas e amigos que conheci no COPPEAD que, com certeza,
de alguma forma me ajudaram a chegar até aqui, em especial: João Paulo,
Francisco, Marcelo Carrullo, Sérgio, Cláudia, Demílton e André.
Aos colegas Paulo Amaral, Ronaldo Cotrim e Roberto Guerra pela ajuda no
conciliamento das atividades profissionais com as acadêmicas.
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RESUMO DA TESE APRESENTADA AO COPPEAD/UFRJ, COMO PARTE DOS
REQUISITOS NECESSÁRIOS À OBTENÇÃO DO GRAU DE MESTRE EM
CIÊNCIAS (M.Sc.)
CONTROLE GERENCIAL, AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO:
UM ESTUDO DE CASO EM UM BANCO ESTATAL
Roberto Amarante Campos
Setembro de 1999
ORIENTADOR: Josir Simeone Gomes
PROGRAMA: Administração
Esta pesquisa tem por objetivo explorar a literatura referente à controle
gerencial, principalmente evidenciando estruturas organizadas em unidades de
negócio, abordando sistemas de avaliação de desempenho e, procurando
relacioná-la à estrutura de controle implementada por um banco sob controle
estatal, bem como as medidas adotadas para avaliar o desempenho de seus
empregados.
Assim, a revisão de literatura procurou abordar os conceitos do controle
gerencial, visando empresas estruturadas em unidades de negócios, examinando
também sistemas de avaliação de desempenho e os indicadores mais utilizados.
A metodologia utilizada foi a de estudo de caso através de entrevistas pessoais e
exames de documentos da empresa. Na análise do caso procurou-se comparar
as práticas de controle utilizadas pelo banco com a base teórica referenciada. Por
fim, são apresentadas as conclusões e recomendações para empresa e estudos
futuros.
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ABSTRACT OF THESIS PRESENTED TO COPPEAD/UFRJ AS PARTIAL
FULFILLMENT OF REQUIREMENTS FOR THE DEGREE OF MASTER OF
SCIENCE(M.Sc.)
CONTROLE GERENCIAL, AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO:
UM ESTUDO DE CASO EM UM BANCO ESTATAL
Roberto Amarante Campos
September 1999
CHAIRMAN: Prof. Josir Simeone Gomes
DEPARTAMENT: Administração
The main goal of this study was is to analise how much the performance
control standards of the responsability centers are close to the “ideal model”, that
means, to theoretical paradigms as illustrated on the referred literature.
It is morever presented a case featuring a brazilian stateowned bank. The
case was written based on several interviews done with the bank top
management, so as a documenral analysis. On the case discussion it was aimed
the comparison among the actual bank control system and academic concepts, as
per the referred literature.
Finally, it is included some conclusions and suggestions to the bank, so as
to future studies.
viii
Índice das Ilustrações
pág.
Quadro 1: Perspectivas de Controle 17
Quadro 2: Objetivos e Problemas da Avaliação de Desempenho 45
Quadro 3: Indicadores de Centros de Lucro 49
Quadro 4: Empresas do Banco Estadual S.A. 65
ix
ÍNDICE
pág.
Capítulo 1 – Introdução 1
1.1 – Objetivos do Estudo 2
1.2 – Importância do Estudo 2
1.3 – Organização do Estudo 5
Capítulo 2 - Revisão da Literatura 7
2.1 – Introdução 8
2.2 – A evolução das organizações até o Controle Gerencial 9
2.3 – O Controle Gerencial 14
2.4 – Descentralizar para controlar 20
2.4.1 – Centros de Responsabilidade 28
2.4.1.1 – Centros de Receita 31
2.4.1.2 – Centros de Custo/Despesa 31
2.4.1.3 – Centros de Lucro 32
2.4.1.4 – Centros de Investimento 33
2.4.2 – Preços de Transferência 34
2.5 – Medindo o Desempenho nas Empresas 38
2.6 – Indicadores de Desempenho 46
2.7 – Sinopse 57
x
Capítulo 3 – Metodologia da Pesquisa 58
3.1 – Metodologia utilizada 59
3.2 – Escolha da Empresa 59
3.3 – Coleta de dados 60
Capítulo 4 – O Estudo de Caso 61
4.1 – Introdução 62
4.2 – Histórico da Empresa 62
4.3 – Contexto Macroeconômico 64
4.4 – Adaptação à Nova Realidade Macroeconômica 65
4.5 – Situação Encontrada no BE pela Nova Diretoria 66
4.6 – A Gestão Estratégica 69
4.7 – Medidas Corretivas 72
4.8 – A Nova Estruturação 74
4.8.1 – O Sistema de Informações 81
4.8.1.1 - Requisitos do Sistema de Informações 82
4.8.2 – Controladoria 84
4.8.3 – Sistema de Remuneração 86
4.8.3.1 – Operação do PRP 89
Capítulo 5 – Análise do Caso 94
5.1 – Introdução 95
5.2 – Análise do Caso do BE 96
xi
Capítulo 6 – Conclusões, Recomendações e Sugestões para
Pesquisas Futuras 107
6.1 – Sumário 108
6.2 – Conclusões 108
6.3 – Recomendações 112
6.4 – Sugestões para novas pesquisas 113
Bibliografia 115
Capítulo Um – INTRODUÇÃO
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1.1 – Objetivos do Estudo
O principal objetivo deste estudo é examinar o quanto as práticas de
avaliação de desempenho de uma empresa, estruturada em centros de
responsabilidade, se aproxima do ideal, ou seja, daquilo que é preconizado pela
teoria, exposta na literatura de controle de gestão.
Para a consecução deste objetivo faz-se necessário discorrer sobre
como a atividade de Controle de Gestão é conceituada na literatura, assim como,
quais são os mecanismos para avaliar os atores desse processo nas
organizações. Além disso, esta pesquisa procura mostrar como se estrutura a
empresa estudada e a forma pelo qual avalia os seus empregados, de maneira a
permitir um maior conhecimento sobre este tipo de empresa, possibilitando auxiliar
a outras, na solução de problemas correlatos.
1.2 – Importância do Estudo
Com as rápidas mudanças que estão ocorrendo no mundo de hoje,
discutir controle de gestão se reveste da maior importância, afinal é do senso
comum que “o controle é a chave do sucesso”, uma máxima que surgiu desde os
tempos em que a dinâmica do contexto social era mais lenta. Hoje, inseridos num
contexto social agressivo, com mudanças rápidas dos paradigmas, o controle
gerencial se torna função primordial para o sucesso das empresas. Mas, sucesso
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hoje não quer dizer sucesso sempre, logo, estudos e atitudes no campo do
controle de gestão deverão estar num processo contínuo de aperfeiçoamento de
modo a sustentar seu resultado positivo ao longo dos anos.
Segundo Gomes e Amat (1999, p.22):
“O controle, seja muito ou pouco formalizado, é fundamental para
assegurar que as atividades de uma empresa se realizem da forma
desejada pelos membros da organização e contribuam para a
manutenção e melhoria da posição competitiva e a consecução de
estratégias, planos, programas e operações, consentâneos com as
necessidades identificadas pelos clientes. Para alcançar estes
objetivos, a administração se assegura de obter a informação e
influenciar o comportamento das pessoas para atuar sobre as variáveis
internas e externas de que depende o funcionamento da organização.”
Dessa forma, dentro da perspectiva de constante mudança do
contexto social e organizacional, sistemas de controle baseados em medidas
físicas ou financeiras, onde procura-se induzir o comportamento das pessoas
através de normas, procedimentos e sistemas de controle rígidos poderão trazer
efeitos contrários, pois o ambiente agressivo dos novos tempos conduzem as
organizações a um contexto social mais aberto, internacional e dinâmico.
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Estamos num mundo onde a velocidade das mudanças e inovações
não permite hesitação na tomada de decisão, um simples atraso na
implementação de uma ação pode causar perda de mercado. Dessa forma
empresas devem se estruturar de modo a permitir que a tomada de decisão esteja
perto da ação. Estruturas centralizadas com autoridade baseada na alta gerência
podem se tornar inadequadas para essa nova realidade de mercado. Vancil (1979,
p.26) procura explicar essa tendência:
“A força primária que motivou a adoção da descentralização gerencial é
a econômica; mais especificamente, a economia das tarefas gerenciais,
e o efeito que a qualidade das decisões gerenciais consegue sobre o
desempenho econômico da empresa. O constante, imponente
crescimento da economia dos Estados Unidos nos últimos 100 anos
criou grandes oportunidades para corporações de negócios. Como tais
empresas cresceram em tamanho e complexidade, tornou-se
mandatório para seus alto-executivos reestruturar a divisão de seu
trabalho de ordem a colher os benefícios inerentes a esse tamanho
corrente e capitalizar as oportunidades futuras.”
Vancil ainda aponta que um outro fator de cunho não econômico
ajudou a determinar essa tendência de descentralização, que foi a crescente
profissionalização da administração através da sofisticação de tecnologia e de
treinamento formal nas universidades, capacitando milhares de pessoas a assumir
posições gerenciais.
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Já Solomons (1976) entende que, quando o volume de vendas de
uma companhia cresce e a medida que vai se tornando necessário diversificar suas
linhas de produtos, o caminho natural para essa organização é adotar uma
estrutura divisionalizada. Entretanto, o autor ressalva que, como toda mudança,
problemas surgirão, levando a administração inicialmente a operar sob regras
difíceis, porém a resolução de problemas traz o progresso.
Desta forma, espera-se que este trabalho seja relevante ao estudar
uma atividade primordial para o sucesso das organizações: o controle. Ele
também procurará verter para uma área dentro da matéria em que temos uma
carência de estudos no Brasil, a avaliação de desempenho em empresas
estruturadas em unidades de negócio.
Por fim, ao estudar uma empresa do setor financeiro, um banco
estatal, esta pesquisa procurará investigar um setor da economia cujo
conhecimento do assunto é limitado em relação à de outros setores, contribuindo
assim para o desenvolvimento de massa crítica que possa ampliar os horizontes
do tema em questão.
1.3 – Organização do Estudo
Este trabalho está organizado em seis capítulos.
6
O primeiro apresenta os objetivos e a relevância do estudo. Nesta
fase, faz-se uma breve exposição do que se pretende com o trabalho.
O capítulo dois apresenta a revisão literária sobre o tema em tela.
Seu objetivo é elencar as principais abordagens a respeito do Controle Gerencial,
principalmente no que tange à gestão descentralizada em Centros de
Responsabilidades e às formas de avaliar o desempenho dessas unidades.
O capítulo três descreve a metodologia de pesquisa empregada, os
motivos que levaram à escolha da empresa estudada e a forma que foi feita a
coleta de dados para consecução do trabalho.
No capítulo quatro, tem-se o estudo de caso, no qual procurou-se
descrever a empresa quanto aos seus aspectos situacionais, bem como sua
evolução até chegar a uma estrutura baseada em centros de responsabilidade,
evidenciando as medidas de avaliação de desempenho utilizadas.
O capítulo cinco se dedica à análise do caso, onde procurou-se
comparar os resultados da empresa estudada, com a base teórica apresentada no
capítulo dois.
Finalmente o capítulo seis apresenta as conclusões do estudo em tela,
bem como recomendações para novos estudos dentro dessa linha de pesquisa.
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Capítulo Dois – REVISÃO DA LITERATURA
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2.1 – Introdução:
Como diria Pereira (1992, p.14):
“...desde o início dos tempos, o homem teoriza sobre o ambiente em
que vive, e teoriza não apenas porque pensa, mas porque também
sente e age. A teoria nasce não apenas da racionalidade humana,
mas também dos desejos, da paixão, das ações etc”.
Para Motta (1994, p.7), a chave para a compreensão do homem e da
sua relação com o ambiente, a luz da antropologia, não está só no pensamento,
mas também no sentido e na ação. Tentando tornar mais mecânico sua relação
com o ambiente, o homem construiu “uma estrutura social - a burocracia - na
qual a direção das atividades coletivas fica a cargo de um aparelho impessoal,
hierarquicamente organizado, que deve agir segundo critérios impessoais e
métodos racionais.” A sociedade moderna é uma sociedade de organizações
burocráticas submetida a uma outra grande organização burocrática que é o
Estado.
O Estado moderno se tornou um instrumento de controle e
administração de um número cada vez maior de setores da vida social,
aumentando extraordinariamente o seu papel e as suas funções na maioria
absoluta dos países. A burocratização tende a se generalizar em todos os setores
da vida social.
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Ainda segundo Motta, talvez a organização que melhor reflita a
burocratização seja a grande empresa moderna, embora seja evidente que a
burocracia limita a liberdade, a espontaneidade, a iniciativa, e a criatividade dos
membros da empresa. Nas organizações onde a divisão do trabalho é metódica e
disciplinadamente conduzida para determinados objetivos, o ambiente é
essencialmente burocrático.
2.2 – A evolução das organizações até o Controle Gerencial1:
Para Motta (1986), a teoria da administração nasceu com a
revolução industrial, que mudou a relação do homem com a natureza. Em 1755,
Morelly editou o seu “Código da Natureza”, onde defendia que o trabalho fosse
feito de acordo com a habilidade do trabalhador. No final do século XVIII, o Conde
de Saint Simon editou seu livro “O organizador e o sistema industrial”, sendo
considerado por Motta (ibid, p.4) “o precursor do planejamento e da racionalização
do trabalho”. Em seguida, Charles Fourier denunciou a falência das instituições,
costumes e tradições vigentes em seu tempo, afirmando que o trabalho deveria
ser digno e atrativo. Owen (1820) parece ter sido o precursor da racionalização do
trabalho e da sociedade, sob a tese de o homem ser facilmente treinado e dirigido.
Em 1840, Louis Blanc publicou o seu tratado “A organização do trabalho”. No
início do século XX, principalmente a partir dos trabalhos de Taylor e Fayol, surgiu
1 Baseado em: Motta, F. C. P. Teoria das Organizações, Evolução e Crítica. Livraria Pioneira Ed. São Paulo.1986.
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a escola clássica com a Teoria da Administração Científica, e a Teoria da
Gerência Administrativa. A administração passou a ser vista como sendo o
planejamento cuidadoso de atividades, organizando e coordenando o trabalho dos
subordinados, e introduzindo os conceitos de comando e controle de
desempenho.
Na virada do século, Taylor (1911) defendeu o conceito de
produtividade, ainda que mais preocupado com a racionalização dos métodos e
sistemas de trabalho, do que com a racionalização da organização do trabalho.
Para Taylor, há somente uma única maneira certa de se realizar um trabalho, e
uma vez descoberta esta maneira, a eficiência pode ser maximizada. O homem
seria capaz de maximizar suas decisões buscando atingir o máximo de ganhos
com o mínimo de esforços. Para tanto, a seleção, o treinamento e o controle dos
trabalhadores seriam fundamentais.
Em 1916, Fayol editou seu trabalho “General and Industrial
Management” e, de certa forma, complementava as idéias de Taylor. Segundo
Fayol, as funções do administrador são : planejar, organizar, coordenar, comandar
e controlar. Para tanto, seriam importantes a unidade de comando, a divisão do
trabalho, a especialização e a amplitude do controle.
Em contraponto às teorias mecanicistas e reducionistas da escola
clássica, o psicólogo australiano George Mayo defendeu em 1927 o conceito do
“homem social”, o homem visto como um ser cujo comportamento não pode ser
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reduzido a esquemas mecanicistas, mas como um ser a um só tempo
condicionado por demandas de ordem biológica e social, isto é, o homem visto
como movido por necessidades de segurança, aprovação social, afeto, prestígio e
auto-realização. Nesta mesma época, iniciaram-se os estudos de sociometria,
visando avaliar a força do grupo sobre o indivíduo.
As idéias de Mayo inspiraram toda uma corrente de pensamento
administrativo, a “psicologização” das relações de trabalho, espécie de ponte entre
a Escola de Administração Científica e a Escola de Relações Humanas, que
influenciou o ensino da administração a partir dos anos 40, resultando no
surgimento da sociologia industrial.
A tentativa de estudar o sistema social, em busca de uma maior
eficiência administrativa, e não apenas de produtividade, segundo Motta (1986,
p.13), foi marcada pelo livro “Organizations” de March e Simon, que refletia “uma
preocupação em aplicar a psicologia social, a sociologia e a ciência política na
administração”. Neste livro, os autores concluem que não há uma relação simples
e constante entre moral, satisfação, coesão e produtividade. O comportamento
no trabalho seria, assim, mais motivado pela expectativas futuras do que pela
percepção das condições presentes. A organização foi entendida como uma rede
de tomada de decisões, cuja eficiência depende de fatores estruturais e
comportamentais. Ao estudar em detalhes o processo decisório, Simon
desenvolveu uma linha teórica que ficou conhecida por “behaviorismo”.
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Por outro lado, a ciência social norte-americana foi profundamente
marcada pelo “funcionalismo”, tal e qual na antropologia inglesa de Malinovski e
Radcliffe-Brown, e a obra “O Sistema Social” de Talcott Parsons foi o seu maior
divulgador. Evoluindo o pensamento de Parsons, Merton, Gouldner, Etzioni e
outros desenvolveram o “estruturalismo”, baseado num mesmo paradigma teórico
resumido por Dahrendorf (1958) como:
- “a sociedade industrial pode ser entendida como um sistema em
mudança contínua;
- o conflito entre os grupos sociais deve ser visto como um processo
social básico;
- o conflito entre os grupos tende à institucionalização;
- a resolução dos conflitos entre os grupos determina a direção da
mudança;
- o bem-estar social está na dependência do resultado dos conflitos
entre os grupos”. (apud Motta, 1986, p.18)
Para os estruturalistas, a burocracia possui funções manifestas e
latentes, e os mesmos fatores burocráticos que levam à eficiência, podem também
levar à ineficiência. Para eles o importante é a racionalidade do sistema, já tão
dificultada pelas fontes de imprevisibilidade que lhe são inerentes. Sintetizando o
que Motta (1986) apontou, a excessiva burocratização pode levar à ineficiência do
sistema, visto que:
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- pode estimular o apego às regras, dificultando a adaptação a novas
exigências;
- tende a fixar os padrões mínimos de desempenho, sem incentivar a
maximização de resultados;
- pode levar ao excesso de processos e de pessoal, comprometendo a
eficiência global;
- na delegação de autoridade há a bifurcação de interesses
(interiorização de subobjetivos);
- a impessoalidade pode ser estendida aos clientes, gerando uma
ineficiência no serviço;
- a imposição de um padrão de comportamento pode gerar frustrações
que levam à desobediência, à deterioração do moral e à redução da
produtividade.
As tensões e conflitos constituem o centro da análise estruturalista.
Esses conflitos são múltiplos na organização e decorrem de tensões entre
racionalidade e irracionalidade, formalidade e informalidade, na estrutura
departamental, na hierarquia etc. Como conseqüência da análise estruturalista, foi
desenvolvida a teoria “dos sistemas abertos”, que admitia a existência de leis,
princípios e modelos que podiam ser aplicados a qualquer organização. A
organização foi estudada como um sistema social, e os conceitos sistêmicos
amplamente adaptados.
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Um pouco mais recentemente (final da década de 50), surgiu a teoria
“contingencialista”, que reúne um conjunto de conhecimentos (“princípios gerais
de administração”) delimitados a situações específicas. Alguns
contingencialistas como Burns, Stalker, Joan Woodward e o grupo de Aston,
entendem que há dois tipos ideais, virtuais, de organização, que seriam os pontos
extremos de um continuum: a organização mecânica e a orgânica. Dependendo
da atividade fim, a organização deveria estar mais perto de um extremo ou do
outro.
Muitas novas tendências e teorias têm sido desenvolvidas para a
análise organizacional, seja influenciadas por experiências positivas de auto-
gestão, seja por novos estudos antropológicos. Contudo, num mundo que muda
cada vez mais rápido, é pouco provável que cheguemos a algum consenso, já que
as conclusões dos estudos se referem sempre a um mundo ultrapassado.
2.3 – O Controle Gerencial
Conforme se pode perceber, o mundo complexo das organizações
vem evoluindo ao longo dos tempos. Assim, tão natural quanto foi a evolução das
organizações, natural foi a necessidade de exercer controle sobre elas.
Espontâneo ou formalizado o controle gerencial passou a ser primordial para a
vida, e porque não a sobrevida, das organizações.
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No início, o controle era visto dentro da visão mecanicista de Taylor e
Fayol, onde tínhamos a especialização da tarefa, a padronização das operações e
a centralização como mandamentos para se alcançar a eficiência empresarial.
Controlar significava verificar se tudo tinha saído conforme planejado. O
pensamento daquela época parecia considerar o homem como uma máquina sem
vontade própria e sentimentos, que trabalhava apenas motivado pelo incentivo
financeiro.
Hoje vivemos uma realidade diferente, muito mais complexa, e
naturalmente temos que considerar o controle de gerencial numa visão mais
ampla. Spiller (1990, p.39) mencionando uma das estruturas teóricas mais
referenciadas na área de controle de gestão, aborda Anthony2 (1965) segundo o
qual “controle gerencial como um processo pelo qual os administradores
asseguram que os recursos serão obtidos e usados eficaz e eficientemente de
modo a atender os objetivos da organização”. Dentro dessa abordagem, o controle
de gestão é visto como uma combinação de atividades de planejamento e
controle , levando em conta ainda a satisfação das motivações do indivíduo.
Talvez nesse plano, Anthony, não tenha conseguido mostrar o quão
amplo é esse conceito. No entanto, Gomes e Amat(1999), mostram que podemos
distinguir o conceito de controle através de duas perspectivas bem diferenciadas.
Segundo estes autores, primeiramente temos uma perspectiva limitada, no qual o
2 Anthony, R.N., Planning and control systems: a framework for analysis. Boston, Harvard Business School,1965. 180p.
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controle na organização está fundamentado em aspectos financeiros. A outra,
mostra uma perspectiva mais ampla de controle onde aspectos como estratégia,
estrutura organizacional, comportamento individual, cultura organizacional e
contexto social e competitivo são considerados.
No quadro 1 que se segue, os autores apresentam de forma sucinta
aspectos dessas duas perspectivas.
Mas então qual seria a melhor prática do controle de gestão? Com
certeza poderíamos consultar uma dezena de autores e talvez não chegaríamos a
um senso comum.
Em recente artigo publicado, Drucker (1999), um dos pais da
moderna teoria da administração, coloca de maneira clara que a organização certa
é algo que não existe. Para o autor o que existem são apenas organizações, cada
uma das quais possui pontos fortes distintos, limitações distintas e aplicações
específicas. Continua dizendo ainda que, a organização não é um absoluto, mas
sim uma ferramenta para tornar as pessoas produtivas quando trabalham em
conjunto. Como tal, uma estrutura organizacional é adequada para determinar
tarefas em determinadas condições e em determinadas épocas.
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Quadro 1 – Perspectivas de Controle
Aspectos Perspectiva limitada Perspectiva amplaFilosofia Controle de cima p/ baixo
Controle como sistema
Controle realizado p/todos
Controle como atitude
Ênfase Cumprimento Motivação, autocontrole
Conceito de Controle Medição de resultado baseado
na análise de desvios e
geração de relação de
relatórios
Desenho, técnicas de gestão
Desenvolvimento de uma
consciência estratégica
orientada para o
aperfeiçoamento contínuo
Melhora da posição
competitiva
Consideração do
contexto social,
organizacional e
humano
Limitado. Ênfase no desenho
de aspectos técnicos
Normas rígidas, padrões
valores monetários
Amplo. Contexto Social,
sociedade, cultura,
emoções, valores
Fundamento teórico Economia, Engenharia Antropologia, Sociologia,
Psicologia
Mecanismos de controle Controle baseado no
resultado da Contabilidade
de Gestão
Formal e informal. Outras
variáveis, aprendizado
Fonte: Gomes e Amat (1999, p.25) – adaptado de Amat (1993, p.27).
Já Silva (1998) afirma que, após um período onde as idéias de Taylor
e Fayol predominavam e consequentemente faziam crer que era possível
desenhar um sistema de controle de gestão, mesmo sem que se soubesse o tipo
de organização no qual seria utilizado, tivemos um evolução do conceito, que
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redundou na impossibilidade de uma solução universal, o que levou a literatura a
se tornar menos normativa e prescritiva e mais discursiva e conceitual.
Ainda segundo este autor, não existem fórmulas para desenhar o
sistema ótimo de controle de gestão para uma organização, apenas existem
aspectos que devam ser considerados para elaboração de um sistema de controle
de gestão adequado para uma determinada empresa, em um determinado
ambiente competitivo, em uma determinada cultura e em um determinado contexto
social.
Parece claro então, que não existem fórmulas precisas para a
arquitetura de um modelo de controle de gestão para uma determinada
organização. Na verdade trata-se de um processo dinâmico, de constante
aprendizado e único para cada organização, cujo o foco principal é a construção
de um sistema que garanta a congruência dos objetivos da organização, onde os
objetivos individuais das pessoas sejam compatíveis com os objetivos
organizacionais.
Para Gomes (1983, p.66), os seguintes aspectos deveriam ser
levados em conta no projeto de um sistema de controle gerencial:
• “utilize dados contábeis que possibilitem uma comunicação clara dos
objetivos da organização;
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• facilite a assimilação e aceitação dos objetivos pelos gerentes, de modo
que possam transformá-lo em metas administrativas que motivem os
empregados a alcançarem os resultados esperados de forma eficiente e
eficaz;
• utilize medidas de avaliação de desempenho que, além de possibilitar
uma avaliação correta dos resultados, seja aceita como justa pelos
empregados;
• não deixe dúvidas quanto ao grau de comprometimento da alta direção
da empresa no processo, demonstrado através de participação efetiva
nas atividades de programação, avaliação de perfomance,
implementação dos sistemas de planejamento e controle, e a forma
como, continuamente, efetuam revisões e modificações no processo de
controle gerencial;
• possibilite a existência de centros de responsabilidades – com
predominância de centros de lucros em empresas descentralizadas –
onde se perceba independência do centro em relação aos outros centros
e substancial autonomia em relação à direção da empresa de modo que
a medida de responsabilidade pelos resultados alcançados pelo centro
reflita o desempenho real do centro de responsabilidade;
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• possibilite a realimentação do sistema de modo a permitir que a alta
direção utilize os relatórios gerados como inputs do próprio processo e
do processo orçamentário dos próximos anos;
• permita à administração desenvolver um sistema de recompensas que
incentive os empregados para o alcance das metas gerais da
organização”.
2.4 – Descentralizar para controlar
Drucker (1999) procurando historiar a evolução da descentralização
como uma nova força para o controle gerencial nas empresas, colocou
sucintamente que, tal movimento originou-se a partir da Primeira Guerra Mundial
onde a necessidade de uma estrutura organizacional formal se tornou imperiosa,
isto porque administrar milhares soldados e reorientar economias inteiras em torno
da produção para a guerra tornou indispensável tal organização. No entanto, a
guerra evidenciou que a estrutura funcional preconizada por Fayol (e Carnegie)
não era a forma mais adequada para administrar empreendimentos enormes. A
administração altamente centralizada que Fayol defendia simplesmente não
funcionava nessa escala. O processo decisório tinha que ser redirecionado para
escalões mais baixos da organização.
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Tal constatação levou primeiramente a Pierre S. du Pont e depois a
Alfred Sloan, imediatamente após a Primeira Guerra Mundial, a introduzirem o
conceito de descentralização como a forma mais correta de administrar grandes
organizações. Tão logo a descentralização parece ter se transformado no mantra
da administração daquela época.
Vancil (1979) também associa a Du Pont como um precursor do
conceito sobre descentralização, no entanto, para ele a adoção da estrutura
descentralizada se fez surgir por “si própria” e motivada por forças econômicas. A
Du Pont e a General Motors é que “inventaram a necessidade”, isto porque seus
negócios tinham grande potencial de crescimento e eles queriam melhorar o
desempenho da companhia pela melhora da qualidade das decisões gerenciais.
Logo, administradores de outras corporações, que amargaram crescimento tímido
de seus negócios e, a fim de manter sua ingerência, caminharam rumo à
descentralização, permitindo-os a diversificação dos seus negócios e a
manutenção de sua efetiva gerência.
Ainda segundo Vancil, contribuiu também para o surgimento da
descentralização gerencial, uma importante força, esta não por motivos
econômicos mas sim sociais, mais especificamente, a profissionalização gerencial.
Esse movimento é facilmente verificado pelo simples fato que hoje em dia a
maioria das empresas têm o seu presidente, um “assalariado” (C.E.O.) e não
mais o próprio dono. Para ele um dos fatores que mais contribuíram para esta
22
constatação foi o crescimento das escolas de administração que formaram nas
últimas décadas milhares de pessoas para as posições gerenciais.
Para este autor, a profissionalização gerencial contribuiu bastante
para a descentralização pois nenhum corpo gerencial delegaria funções
importantes nas filiais para profissionais incompetentes e mal preparados. Além
disso, o rápido crescimento e sofisticação da tecnologia de gerenciamento,
contribuíram para essa situação se estabelecer, devido principalmente ao
aumento do tamanho e complexidade da corporação de negócios moderna e das
pesquisas realizadas nas faculdades de administração.
Até aqui pode-se entender a descentralização como um processo de
delegação de autoridade para a tomada de decisão, motivado principalmente por
fatores econômicos. Chandler (1962, p.297), procurando explicar a evolução da
descentralização nas organizações, corrobora com isto:
“A falta de tempo, de informação, e de compromisso psicológico
sobre uma visão empresarial global não foi necessariamente uma
séria desvantagem se a atividade básica da empresa permaneceu
estável, isto é, se as fontes de matérias prima e suprimentos,
tecnologia de fabricação, os mercados, e a natureza dos produtos e
linha de produtos ficaram relativamente sem mudanças. Mas quando
promoveu-se expansão de novas funções, em novas áreas
geográficas, ou incrementou-se grandemente todos os tipos de
23
decisões administrativas em novas linhas de produtos, então os
executivos da matriz viram-se sobrecarregados e seu desempenho
administrativo menos eficiente. Esse aumento de pressão, por sua
vez, criou a necessidade de construir ou adotar uma estrutura
multidivisional com um escritório central e divisões autônomas
operacionais.”
De forma sucinta, Anthony & Govindarajan (1998) destacam que uma
organização procura divisionalizar-se pelo desejo de delegar mais autoridade para
os seus gerentes operacionais. Certas decisões devem ser tomadas ao nível mais
baixo possível na estrutura organizacional, isto é, deve estar mais próximo
possível da ação, principalmente quando todas as informações relevantes estão
disponíveis. Dessa maneira, para os autores, a tomada de decisão seria
implementada mais rapidamente pela pessoa envolvida mais perto da atividade do
que pela alta direção não diretamente envolvida. Dessa forma, sobraria mais
tempo para alta direção concentrar-se nos processos de planejamento, controle e
resolução de problemas mais complexos e estratégicos.
Uma outra vantagem ressaltada por Anthony & Govindarajan (1998)
seria porque muitas das informações sobre uma situação particular é do
conhecimento apenas da pessoa mais perto da atividade. Nem sempre o sistema
de informações é capaz de transmitir adequadamente coisas como condições
ambientais e culturais para a alta gerência.
24
Por último, estes autores colocam que ao optar pela divisionalização,
a empresa possivelmente ganharia no poder de análise, isto porque somente a
pessoa perto da atividade tem o sentimento intuitivo (feeling) para a situação.
Essas assertivas são pertinentes aos casos das empresas multinacionais que
operam com subsidiárias em países com diferentes culturas.
De modo a esclarecer ainda mais a questão da descentralização,
torna-se interessante enumerar as vantagens da adoção da divisonalização pelas
empresas descritas por Anthony & Govindarajan (1998, p.173):
• “aumento da velocidade das decisões operacionais, pois muitas
dessas decisões não diz respeito ao centro corporativo;
• melhora da qualidade das decisões pois elas podem ser feitas por
pessoas com maior familiaridade da situação;
• a administração central terá mais tempo para resolver assuntos mais
relevantes e estratégicos não perdendo tempo com problemas do dia
a dia;
• acentua a consciência pelo lucro pois quando gerentes de linha são
responsáveis pelo lucro, eles constantemente procurarão a melhor
forma para alcançá-los;
25
• ampliação da medida de desempenho. Lucratividade é uma medida
mais abrangente de desempenho quando comparadas com receitas
e despesas separadamente porque mede simultaneamente o efeito
das decisões gerenciais sobre ambas;
• gerentes de linha com poucas restrições corporativas podem estar
livres para melhor usar sua intuição/imaginação;
• uma divisão estabelece um desafio para o gerente que gera um
excelente treinamento para ele aspirar gerências mais altas, porque
uma divisão é similar a uma companhia independente e, sendo
assim, ele é treinado em gerenciar diversas áreas funcionais.
Também se constitui num meio de avaliar a capacidade dos gerentes
em exercerem posições mais elevadas;
• caso a companhia tenha uma estratégia de diversificação, a
divisionalização facilita o uso de diferentes talentos e expertise em
diferentes tipos de situação;
• Divisionalização fornece ao gerenciamento superior informações de
partes lucrativas da companhia”.
26
Por sua vez, relevante abordar também as possíveis
dificuldades/desvantagens, que os mesmos autores consideraram como restritivo
ao processo de divisionalização:
• “Perda de controle por parte do centro corporativo pois uma série de
relatórios de controle não são suficientes para se ter íntimo
conhecimento da operação. No entanto, a administração de topo ao
invés de estar pessoalmente na direção, deve contar com um mais
extenso relatório gerencial de controle;
• Problemas com a falta de capacitação dos gerentes da unidade de
negócios, uma vez que em organizações funcionais, as pessoas
geralmente não costumam ser treinadas para obter uma capacidade
gerencial generalista;
• Possivelmente o ambiente de cooperação dentro de uma
organização com gerenciamento central, não mais existirá. Divisões
irão competir entre elas. Aumento de lucro em uma divisão poderá
acarretar decréscimo de lucro em outra. Quando uma venda que
favoreça uma divisão e também a companhia como um todo mas
acarreta custos indesejáveis em outras, terá possivelmente a má
vontade do gerente da divisão de produção;
27
• Aumento dos atritos dentro da organização. Deverá haver discussões
sobre preços de transferência apropriado, apropriação de custos
comuns e crédito de receitas geradas pelos esforços de duas ou
mais divisões;
• Haverá aumento para ênfase da lucratividade de curto prazo em
detrimento da lucratividade de longo prazo. Com a necessidade de
ser bem avaliado apresentando o maior lucro possível, o gerente
tenderá a economizar muito com pesquisa e desenvolvimento,
treinamento de pessoal e manutenção. Essa tendência prevalecerá
quando o ‘turnover’ de gerentes de divisão é relativamente alto,
principalmente se eles acreditarem que o ‘status quo’ da operação da
divisão permanecerá até eles trocarem de emprego;
• Nenhum sistema poderá garantir que a divisão não estará otimizando
o seu próprio lucro em detrimento da otimização do lucro da
companhia;
• Se no centro corporativo o gerenciamento for mais capaz ou tiver
informações mais abrangentes do que os gerentes das divisões, a
qualidade de algumas decisões deverá ser reduzida;
28
• Divisionalização deve ocasionar custos maiores pois ela requer
gerenciamento e pessoal administrativo próprios.”
Neste ponto, cabe destacar que, para Gomes e Amat(1999), será
extremamente importante que o sistema de controle em uma empresa
descentralizada seja o mais sofisticado e formalizado possível, com predomínio de
sistemas de controle financeiros e orientado para atuação de cada responsável
pelo centro. Para isto, é necessário que o planejamento seja feito de forma a
alocar adequadamente os recursos aos diferentes centros, facilitando a
congruência dos objetivos entre os membros da organização.
2.4.1 – Centros de Responsabilidade
A melhor definição para Centro de Responsabilidade, de acordo com
Anthony & Govindarajan (1998, p.128), é:
“Uma unidade da organização que é encabeçada por um gerente
responsável. Toda organização está representada por uma coleção
de centros de responsabilidades pertencentes ao organograma da
empresa, interligados através de uma hierarquia. Pode-se assumir
que o nível mais baixo é aquele constituído pelo ‘chão de fábrica’, já
os níveis mais elevados seriam os gerentes departamentais. Apesar
de sob o ponto de vista do ‘board of directors’ a empresa como um
todo constitui num centro de responsabilidade, a melhor definição
29
seria aquela que atribui a centro de responsabilidade para a menor
ou ao nível mais baixo de unidade dentro de uma organização”.
Para estes autores, um centro de responsabilidade existe para a
execução dos objetivos estabelecidos para este centro ajudar o alcance das metas
globais da empresa. Essas metas, em geral, são fruto, presumivelmente, de um
processo de planejamento estratégico que na verdade seria o primeiro passo do
processo de controle gerencial.
Basicamente pode-se dizer que os centros de responsabilidades
usam inputs como materiais, horas de trabalho, serviços, etc., e através do
trabalho desenvolvido por esta unidade e, principalmente através de incremento
de capital, transforma-os em outputs, ou seja, bens e serviços. Esses bens
produzidos geralmente são fornecidos para outros centros de responsabilidade ou
então para o mundo exterior.
Em geral, inputs devem ser medidos em custo, ou seja, o sistema de
controle gerencial deve ser convenientemente ajustado para transladar esses
recursos (inputs) em termos monetários. Custo é uma medida monetária de
quantidade de recursos usadas pelo centro de responsabilidade.
Com relação aos outputs pode-se dizer serem muito mais difíceis de
medir. Geralmente em empresas voltadas para o lucro, receitas são uma
importante medida de outputs. No entanto, ela dificilmente é a completa expressão
30
da realidade, pois ela não abrange tudo o que foi realizado pelo centro de
responsabilidade, pois raramente mede o trabalho de um relações pública, da área
jurídica ou do controle de qualidade.
Em organizações não voltadas para lucro como por exemplo o caso
de centros de ensino, medir os outputs se torna bastante complicado pois é muito
fácil medir o número de alunos aprovados, mas é muito complicado medir o
quanto de educação e conhecimento ele verdadeiramente adquiriu.
Numa visão que procura ligar objetivos organizacionais com a
atuação dos centros de responsabilidade, Gomes e Amat(1999) colocam que o
sistema de controle deverá estar inter-relacionado com o planejamento estratégico
da empresa, desde a fase da formulação das alternativas estratégicas até o
processo de controle, de modo a propiciar uma maior aderência entre a atuação
dos responsáveis pelos centros de responsabilidade com os objetivos globais
traçados para a organização. Assim, o planejamento estratégico deve chegar ao
nível de definição dos objetivos e metas específicas de cada centro de
responsabilidade.
Gomes e Amat (1999) advertem porém que, quando se atribui maior
responsabilidade, autonomia e discricionariedade às pessoas encarregadas de
administrar os centros de responsabilidade, um maior controle específico para
cada um desses centros será imperativo.
31
Seguindo Fainguelart (1998), de um modo geral, a literatura classifica
os centros de responsabilidade em quatro tipos: centros de receita, centro de
custo/despesa, centro de lucro e centro de investimento. Uma classificação um
pouco diferente é a dada por Anthony & Govindarajan (1998), onde caracteriza os
tipos de centros de responsabilidade em centros de receita, centros de custo,
centro administrativos, centros de pesquisa e desenvolvimento e centro de
marketing.
2.4.1.1 – Centros de Receita
Segundo Anthony & Govindarajan (1998) são os centros onde as
medidas importantes para avaliação dos resultados são as unidades monetárias
auferidas através da venda dos produtos (outputs), não havendo preocupação
prioritária com os inputs. Normalmente esses centros de responsabilidade são
próprios em empresas voltadas para o marketing, onde os resultados das vendas
ou pedidos em carteira são comparados a meta anual de vendas. O bom
desempenho será alcançado através do alcance da previsão de vendas
estabelecida no planejamento anual da empresa.
2.4.1.2 – Centro de custo/despesa
Nesses centros de responsabilidade somente os inputs (recursos)
são medidos em unidades monetárias, não sendo medido os outputs.
32
Anthony & Govindarajan (1998) diferenciam o conceito de centro de
custos em dois tipos: centro de despesa de engenharia e centro de despesas
discricionárias. No centro de despesas em engenharia a quantidade de custo que
será incorrida pode ter um alto grau de previsibilidade. Isto normalmente ocorre
com os custos de fabricação de produtos cuja quantidades de recursos/inputs
(matéria-prima, horas de mão de obra direta, energia elétrica, etc.) pode ser
facilmente estimada e cumprida dentro do planejamento estabelecido. Nos centros
de gastos discricionários em geral a forma que são apropriados os custos vai
depender do julgamento do gerente. Normalmente esses centros apresentam
custos administrativos em boa proporção e boa parte de custos diferenciais.
Exemplos são centros de pesquisa e desenvolvimento, departamento de recursos
humanos e jurídico.
2.4.1.3 – Centros de Lucro
Seriam as unidades organizacionais cuja a performance é
regularmente avaliada por alguma medida de lucro.
Para Vancil (1979) , iniciativa é tudo o que o gerente desse centro
deve ter em seu trabalho, ele é o responsável por um negócio, dentro de um
mercado com um determinado número de competidores. Sua principal atribuição
é imaginar o que precisa ser feito para o seu negócio sempre progrida e obtenha
lucro. Qualquer que seja a ação a ser tomada, o gerente precisa “fazer
acontecer”, dessa forma, é imperioso que a empresa delegue a este gerente
33
autoridade e autonomia. Pode-se concluir que para esse autor centros de lucros
são próprios para organizações com elevado grau de descentralização.
Pela definição de Anthony & Govindarajan (1998), quando a
performance financeira em um centro de responsabilidade é medida baseada no
lucro gerado, definida pela diferença entre receitas e despesas, esse centro
poderá se chamar de centro de lucro. Para ele esse tipo de centro é próprio para
organizações cuja fabricação e vendas de um produto ou família são divisões
independentes dos demais, de modo a delegar uma maior autoridade de
operação aos gerentes. Se o gerente tem responsabilidade em gerar lucro ele
deve estar capacitado para tomar decisões que envolvam trade-offs entre receitas
e despesas para maximização do resultado. Se por exemplo tivéssemos um
gerente responsável apenas por marketing sua motivação seria apenas o de
realizar gastos com promoções que incrementem apenas as vendas não se
importando em saber se tais gastos compensaram o aumento da receita, ou seja,
se o lucro também cresceu.
Estes autores ressaltam, ainda, que existem duas condições limite
para se delegar autoridade aos gerentes dos centros de lucro: o gerente deve ter
todas as informações relevantes disponíveis e ter alguma maneira de medir quão
efetivo ele é na tomada de decisões.
2.4.1.4 – Centro de investimento
34
Para Anthony & Govindarajan (1998), num centro de investimento
além do lucro são considerados os ativos empregados para a obtenção destes
ganhos. Para ele o objetivo de medir os ativos empregados deve-se a duas
razões: prover-se de informações que possibilitem tomar decisões mais completas
que naturalmente traduzirão no melhor interesse da companhia como um todo e,
medir a performance da divisão como uma entidade econômica.
O tratamento a ser dado para avaliar o lucro em relação aos ativos
empregados é utilizando medidas como o ROI (retorno sobre o investimento),
traduzida pela razão entre lucro e ativo empregados ou lucro residual que seria o
lucro propriamente dito subtraído de um encargo sobre o capital utilizado.
2.4.2 – Preços de Transferência
Anthony & Govindarajan (1998), consideram o preço de transferência
o valor atribuído aos bens e serviços oriundos de transações comerciais dentro de
uma mesma empresa e que envolvam dois ou mais centros de lucro. Neste preço
seria justo incluir a parcela de lucro, pois normalmente empresas não vendem
seus produtos a outras pelo preço de custo.
Apesar deste conceito parecer ser uma coisa simples, o tratamento
dado aos preços de transferência em empresas descentralizadas/divisionalizadas
assume um papel primordial para o sucesso dessa empresa. Solomons (1976,
p.160) retrata bem essa preocupação:
35
“Se uma companhia divisionalizada pode organizar seus negócios de
forma que suas divisões não tenham transações comerciais de
qualquer tipo entre elas, certamente estará eliminando um dos
problemas mais complexos da medição de lucro destas divisões.
Porém, estará perdendo também um aspecto valioso da
descentralização, que é a capacidade de aproveitar os frutos da
divisão do trabalho e especialização ao mesmo tempo que se
beneficiando da integração em maior ou menor grau. O fato de que
uma companhia divisionalizada é mais que a soma das partes é
evidenciado através do complicado padrão de relações que podem
se estabelecer entre suas divisões.”
Segundo Gomes e Amat (1999) a política de preços de transferência
deverá buscar favorecer a autonomia de cada centro de modo a melhorar sua
eficácia, no entanto, sem perder de vista a coerência que deve existir entre as
metas da unidade com os objetivos globais. Essa política poderá ficar numa linha
divisória entre um relevante processo de avaliação de desempenho e quando
conduzida de forma inadequada num mecanismo desagregador, com reflexos
negativos na motivação dos indivíduos podendo levá-los a manipulação dos
resultados, de modo a aparecerem bem diante da avaliação utilizada pela
empresa.
36
Solomons (1976) destaca que, uma vez que os preços de
transferência são primordiais para o sistema de medição de lucro, eles passam a
ajudar a alta administração das empresas a avaliar o desempenho dos centros de
lucro vistos como unidade separadas. Nesse ponto ele coloca que a política de
preços de transferência deve ser estruturada de maneira a motivar os gerentes a
atuarem da melhor forma para a organização como um todo. A grande questão
será como elaborar essa política de forma a evitar uma maior chance de um
centro de lucro procurar maximizar seus lucros para ser melhor avaliado, em
detrimento do lucro de toda a empresa que poderá ser reduzido? Tal situação não
deverá ser permitida pela alta administração.
Para Anthony & Govindarajan (1998) o preço de transferência é
extremamente importante porque influencia a habilidade do gerente do centro de
lucro tomar a decisão ótima. O sistema de preço de transferência é importante
também porque pode influenciar na medição do desempenho financeiro do
gerente do centro, pois preços de transferência incorretos criam medidas
incorretas e, por sua vez, resultarão em decisões incorretas.
Catelli et al (1999, p.420), destacam “que as avaliações de
desempenhos e de resultados requerem o estabelecimento de preços de
transferência com base em conceitos racionais, lógicos, justos e capazes de
induzir às melhores decisões para a empresa”.
Os autores apresentam quatro modelos de preços de transferência:
37
a) baseados em custos:
• custo total realizado;
• custo variável realizado;
• custo marginal;
• custo variável padrão;
• custo mais margem;
b) baseados em negociação entre gestores;
c) baseados em preços de mercado:
• preços correntes de mercado;
• preço de mercado ajustado;
d) baseado no custo oportunidade3.
Os autores consideram o modelo de preços de transferência
baseados no custo por oportunidade, onde apropria-se o menor preço, como o
mais apropriado para a otimizar o resultado econômico das empresas. Isto
explica-se pelo fato que nos modelos baseados em custos geralmente os gerentes
são responsáveis apenas pelo custo dos recursos consumidos no processo
produtivo, não havendo vinculação à receita que este custo gerou. Como é mais
justo medir não apenas custos mas também benefícios gerados pelas atividades,
a utilização de modelos baseados em preços de mercado para a gestão
econômica torna-se melhor que os modelos baseados em custo.
3 Na verdade o modelo baseado no custo de oportunidade segundo os autores também é um modelo com baseno preço de mercado. O destaque dado trata-se de um refinamento.
38
Para Horngren & Foster (1987) a transferência de produtos ou
serviços baseada em preços de mercado possivelmente conduzirá a decisão
ótima para a empresa indo ao encontro da congruência dos objetivos e dos
esforços gerenciais, além de reforçar a autonomia dos centros de lucro. No
entanto, os autores ressaltam que para isso acontecer é necessário que a
empresa esteja inserida num mercado perfeitamente competitivo, ou seja, num
mercado onde a participação de uma companhia qualquer não produza efeitos no
preço. Advertem porém que, poucos mercados são perfeitamente competitivos,
tornando os preços de mercado pouco confiáveis ou até mesmo indisponíveis.
Dessa forma, o ideal é que o sistema de controle abranja uma política de preços
de transferência flexível, onde haja a ponderação da melhor condição para utilizar-
se de preços baseados em custos ou de preços baseados no mercado.
2.5 – Medindo o Desempenho nas Empresas
A avaliação de desempenho é uma atividade do âmbito empresarial
revestida de maior complexidade do que os julgamentos e avaliações a que
estamos habituados no cotidiano. Lybrand et al (1996, p.175) com singular
propriedade cita Thomas B. Wilson4(1995) quando este se refere à questão como:
“Um destes encontros humanos especiais nos quais o gerente não
consegue dormir na noite anterior, e o empregado não consegue
dormir na noite seguinte.”
39
Em resumo, pode-se dizer que avaliar um desempenho é o ato de
exercer julgamento ou atribuir um conceito a uma pessoa ou a uma ação que
esteja sendo avaliada a partir de um referencial padrão pré-estabelecido.
Para Catelli et al (1999), tal conceito reveste-se de valor mais amplo,
vez que, em processo de gestão, avaliações de desempenho representam o
fundamento para a atividade de controle. Esta interage com outras fases do
processo como planejamento e execução das atividades. Dessa forma, avaliar
desempenho torna-se um importante instrumento de tomada de decisão para a
organização, transformando-se num processo complexo que requer um sistema
de informação adequado e abrangente, essencial dentro de um processo de
gestão que integre as fases de planejamento, execução e controle, de modo a
resultar numa correta avaliação de desempenho.
Os autores chamam a atenção para uma leve distinção entre medir
desempenho e avaliar desempenho. A mensuração do desempenho realizado
parte de uma quantificação dos planos estabelecendo uma base comparativa com
o desempenho planejado de maneira a fornecer requisitos para uma boa avaliação
de desempenho. Portanto, avaliar tem um sentido mais abrangente que medir.
Vancil (1979) considera que os sistemas de mensuração são críticos
para o gerenciamento efetivo de uma empresa descentralizada. Apesar de admitir
que medidas não financeiras são muito importantes, o autor foca sua atenção para
4 WILSON, T.B. Innovative reward systems for the changing workplace. New York: McGraw, 1995.
40
as medidas financeiras pois em geral são atributos naturais dos sistemas de
medição, constatado principalmente por quatro fatores, aqui apresentados
conforme resumo de Sancovschi (1986, p.12):
• “são disciplinadas pela contabilidade, único conjunto de regras
detalhadas e inflexíveis a que uma organização se submete, o que
explica a razão do sucesso dos relatórios financeiros, que mesmo
contendo informações que nem sempre se ajustam aos estilos e as
capacidades individuais, sejam merecedores da confiança de todos;
• são abrangentes. A moeda homogeneiza as transações realizadas
nos vários segmentos da organizações tornando-as comparáveis;
• são obrigatórias e maduras. As organizações, há muito tempo,
preparam relatórios financeiros nem que sejam para atender a
exigências legais;
• são adaptáveis ao contexto, de vez que os dados que ele armazena
podem ser combinados de diversas maneiras, a medida que a
situação assim o exija”.
Sancovschi (1986) chega a conclusão que a maioria dos autores
admitem que os sistemas de controle são, em última análise, sistemas de
41
mensuração. À empresa cabe determinar qual é o sistema de mensuração
relevante para o seu processo de controle, visto que, de modo geral, elas
possuem diversos sistemas de mensuração.
Corroborando com esta conclusão, Sancovschi (1986, p.09) releva o
trabalho de Flamholtz5 (1979), que identificou de forma específica os quatro
elementos básicos de um sistema de controle organizacional como sendo:
1. “Os objetivos para o desempenho de uma atividade ou função;
2. Os padrões para o desempenho em cada um dos objetivos de uma
atividade ou função;
3. Um método de mensuração para monitorar o desempenho dos
membros da organização; e
4. Um método de administrar recompensas para motivar e reforçar o
desempenho”.
Ainda nesse trabalho, Flamholtz evidencia que um sistema de
mensuração organizacional tem por finalidade influenciar o comportamento das
pessoas mediante o exercício de duas funções:
1. “função informacional – a provisão de informações quantitativas para o
suporte das decisões gerenciais; e
5 Flamholtz, E.G. Organizational Control Systems as managerial tool. California Mangement Review, 22 (2) :50-9, Winter 1979.
42
2. função processo – o ato de medir, que por si só produz certos efeitos
tanto nas decisões como no processo do qual elas decorrem.” (apud
Sancovschi, 1986, p.10)
Para este autor, apesar da função informacional ser a mais citada
pela literatura, no entanto, a função processo para ele é também muito importante
pois incorpora a vocação fundamental dos sistemas de controle no âmbito das
organizações, ou seja, são essencialmente sistemas de mensuração que,
regularmente, coletam informações acerca de aspectos específicos do
desempenho organizacional para que os gerentes exerçam controle.
Lybrand et al (1996, p.162) advertem que: “sistemas de medição são
modelos da realidade e não a própria realidade, sendo assim ele será sempre uma
simplificação da complexidade dos ambientes externo e interno da organização”.
Os autores elencam algumas recomendações relevantes para os gestores das
empresas a respeito dos sistemas de medição:
• Eles devem sempre evoluir uma vez que a realidade do mundo empresarial
muda constantemente, e tais sistemas devem acompanhar essas mudanças.
Os usuários devem questionar a necessidade e importância das medidas
utilizadas. Os sistemas de medição devem incluir indicadores fixos e
indicadores temporários.
43
• Deve haver equilíbrio entre dados quantitativos e informações qualitativas, isto
porque alguns aspectos para avaliação de desempenhos são difíceis de
quantificar em números, no entanto, desprezá-los pode levar a julgamento
errado.
• Cada organização ou unidade da organização é única, apesar de poder haver
similaridades entre tecnologias e estruturas os sistemas devem ser
desenvolvidos sob medida para a realidade da empresa ou unidade.
• Deve-se evitar os extremos. Sistemas altamente sofisticados com excessiva
informação podem ser de difícil operação, da mesma forma que sistemas muito
informais podem falhar.
• Quando uma empresa redefinir sua missão, reorientar sua estratégia e
realizarem esforços para alterar traços culturais devem mudar também seu
sistema de medição tradicional, caso contrário na hora de tomada de decisão a
nova organização esbarrará na antiga, prejudicando a empresa real.
Outro ponto importante sobre os cuidados a serem tomados na
seleção de medidas de desempenho dos sistemas de medição, Fainguelart (1998)
levantou ao estudar Gomes (1983), Eccles (1991) e Anthony & Govindarajan
(1998), principalmente no que se refere aos centros de lucro. Ele evidenciou que
existem dois tipos distintos de avaliação destes centros: uma concentrada na
44
atuação do gerente e outra na performance econômica do centro de lucro. Isto é
necessário pois a unidade pode estar em situação difícil, porém, seu gerente pode
estar tendo um excelente desempenho na tentativa de salvar a unidade.
Num contraponto interessante, Lybrand et al (1996) observam que as
empresas hoje em dia estão, aos poucos, abandonando a utilização de avaliação
de desempenho, em sua forma tradicional, e as que ainda utilizam, fazem por
mera formalidade como um evento anual dissociado da gestão de pessoal. “O
evento da avaliação é um acontecimento subjetivo revestido de objetividade”
(Lybrand et al, 1996, p.175). Observam também que raramente a avaliação
consegue alcançar uma de suas principais finalidades no tocante a motivar o
desempenho individual à remuneração.
Lybrand et al (1996, p.176), salientam que uma das críticas mais
radicais vem do movimento da qualidade, conforme apontado por Walton6 (1989).
Basicamente as críticas à avaliação de desempenho são concentradas em três
pontos:
• “concentra atenção no indivíduo enquanto a maior parte dos
problemas empresariais são relacionados aos processos;
• pressupõe que os resultados estão sob controle do avaliado
desconsiderando que muitas das variáveis consideradas independem
do esforço do avaliado; e
6 WALTON, M. O método Deming de administração. Rio de Janeiro: Marquês-Saraiva, 1989.
45
• estabelece metas numéricas, levando o avaliado a procurar atingir
somente os níveis requeridos, deixando de fazer melhorias por não
influir na sua avaliação”.
No quadro a seguir, estes autores apresentam os objetivos e problemas da
avaliação de desempenho:
Quadro 2: Objetivos e Problemas da Avaliação de Desempenho
OBJETIVOS(o que é prometido)
PROBLEMAS(o que é entregue)
• melhorar o desempenho individual egrupal
• Impacto negativo sobre odesempenho (algumas vezes)
• motivar o liderado • frustações para o líder e para oliderado
• explicitar expectativas do líder emrelação ao liderado e do liderado emrelação ao líder
• tensões entre líder e liderado edificuldade de explicitação deexpectativas
• aprimorar o relacionamento entrelíder e liderado
• evento da avaliação traumático(muitas vezes)
• melhorar a comunicação • sentimento de injustiça e ruídos nacomunicação
• ajudar a desenvolver habilidades • comentários pontuais que poucoacrescentam em termos deorientação
• ligar o desempenho à remuneração • aumentos de salários sem muitarelação com a avaliação dedesempenho
Fonte: Adaptado de LAWLER III, E. E. Strategic pay: aligning organizational strategies and pay systems. San Francisco: Jossey Bass, 1990. P. 86-107.
46
2.6 – Indicadores de Desempenho
Para Lybrand et al (1996, p.161) indicadores de desempenho são os
sinais vitais de uma organização, com a importante função de mostrar à seus
membros quais os resultados que suas ações alcançaram. Analogamente a um
avião, eles funcionam como um painel de controle, revelando o quadro da situação
presente e guiando os passos e ações seguintes.
Os autores destacam de maneira sucinta:
“Os indicadores de desempenho mostram as pessoas o que elas
estão fazendo e como estão se saindo. Devem comunicar a todos os
níveis da organização o que é importante. Cada nível deve ter seu
painel de controle, com respectivos indicadores de desempenho.
Cada painel deve estar integrado com os demais e orientado para os
grandes objetivos e metas da empresa. Indicadores de desempenho
são também uma forma de manter a convergência de propósitos e a
coerência de esforços na organização.”
O acompanhamento dos indicadores deve ser feito por cada área
através do sistema de medição estabelecido, geralmente sob a forma de um
relatório periódico, de gráficos numa sala de reuniões ou de um sistema de
47
informação on-line. Assim, torna-se crucial para a empresa a análise sistemática
das informações geradas e a rápida decisão para as ações corretivas necessárias.
Hauser & Katz ( 1998) chamam atenção para o fato que toda medida,
qualquer que seja o objetivo proposto, afetará as ações e decisões dentro das
empresas. Isto implicará num maior foco dos gerentes em ações que levam a
melhorar o seu desempenho quanto àquele indicador, ou seja, se uma empresa
mede A, B e C ao invés de X, Y e Z, logo toda a organização estará voltada nas
formas de melhorar tais medidas. E assim, a empresa transformar-se-á no que
mede.
Se maximizando A, B e C a empresa alcançará lucro a longo prazo,
os indicadores são efetivos, caso contrário, eles foram mal escolhidos. Os autores
advertem que uma vez estabelecida tais medidas, uma grande inércia leva a
temer mudanças de curso, pois em geral é extremamente difícil redirecionar a
empresa em novas metas. Sendo assim, é crítico para a empresa a escolha certa
dos indicadores, pois levará a gerentes e empregados acreditarem que suas
decisões e ações serão as melhores para alcance do máximo lucro de longo
prazo.
Gomes & Amat (1999) destacam a importância da utilização de
indicadores no processo de controle. A empresa ao utilizar um quadro de
indicadores, que reflita sucintamente a situação interna e as variáveis externas,
possibilitará à alta direção, informações sobre os principais índices de evolução
48
de cada unidade ou organização de forma sintética e integrada, possibilitando
previsões e comparações da evolução dos negócios, além de facilitar a definição
de prioridades para as unidades organizacionais. Para os autores, a capacidade
de síntese do quadro de indicadores facilita o controle por exceção.
Lybrand et al (1996, p.169) apresentam resultados de uma pesquisa
realizada por Coopers & Lybrand7, primeiro semestre de 1995, revelando que as
classes de indicadores de desempenho mais utilizados em sistemas de
remuneração variável em empresas são a lucratividade ( 85%) e a produtividade
(39%).
Anthony & Govindarajan (1998) destacam que uma das vantagens
de medir desempenho baseado no lucro é o da sua abrangência pois retrata tanto
receitas como custos, além do fato de se poder comparar resultados entre
unidades de negócio diferentes. A performance econômica de um centro de lucro
deve ser medida pelo lucro líquido após a inclusão de todos os custos, inclusive o
rateio dos custos incorridos com a administração geral. Já o desempenho do
gerente da unidade de negócio os autores relacionam cinco tipos de indicadores
explicitados pelo quadro a seguir:
7 Pesquisa de salários e benefícios. Coopers & Lybrand, maio 1995.
49
Quadro 3: Indicadores de centros de lucro
(+) receitas (-) custos com vendas
(-) despesas variáveis = margem de contribuição
(-) despesas fixas da Unidade de Negócio= lucro direto
(-) custos corporativos controláveis p/ gerente daunidade
= lucro controlável
(-) outros custos corporativos= lucro antes dos impostos
(-) impostos= lucro líquido
Fonte: Adaptado de Anthony & Govindarajan, 1998, p.182
A seguir, serão apresentadas sucintamente algumas características
destes indicadores, conforme abordagem de Anthony & Govindarajan (1998).
• Margem de Contribuição:
A principal vantagem na utilização deste indicador pelo gerente da
unidade é focar na maximização do spread entre receitas e custos variáveis,
já que não há incidência de custos fixos, não controláveis por esse gerente.
50
No entanto, os autores admitem que quase todos os custos fixos da unidade
podem ser controláveis pelo gerente – ex: aumentar a produtividade no longo
prazo de empregados administrativos.
• Lucro Direto:
Mede o quanto a unidade de negócio contribui para os custos
indiretos gerais e para o lucro da organização. Incorpora todas as despesas
incorridas na unidade, independente se elas são controláveis pelo gerente ou
não, no entanto, não é incorporado qualquer custo corporativo. A principal
fraqueza deste indicador apontada pelos autores é exatamente pelo fato dele
não motivar o gerente da unidade a questionar/debelar os custos corporativos.
• Lucro Controlável:
Incluem os custos que podem, pelo menos num certo grau, ser
controlado pelo gerente da unidade de negócio – ex: os custos relacionados a
sistemas de informação gerencial. A grande dificuldade é a justa definição dos
custos corporativos que o gerente efetivamente pode influenciar.
• Lucro antes dos Impostos:
51
Incorpora o rateio dos custos corporativos às unidades de negócios.
Um ponto negativo para adoção deste indicador é alocar custos não
controláveis pelo gerente da unidade. Um outro, seria o difícil consenso sobre
o melhor método de rateio dos custos indiretos numa empresa de modo a
permitir uma distribuição justa. Pode-se destacar como pontos positivos: o
questionamento pelos gerentes das unidades de custos incorridos pelo
administração que não agreguem valor ao todo da organização e, que esse
indicador pode ser comparável aos competidores diretos.
• Lucro Líquido:
É o resultado da diminuição da parcela relativa à unidade de negócio
dos impostos pago pela empresa do Lucro antes dos impostos. O principal
argumento contra sua utilização na avaliação de desempenho dos gerentes
das unidades, reside no fato que, em geral, esses impostos são pré-
estabelecidos (leis) ou estabelecidos dentro da estratégia da alta
administração.
Outras medidas financeiras são bastantes utilizadas como o retorno
sobre o investimento ( ROI ) ou o lucro residual ( RI ), principalmente quando as
unidades de negócios são tratadas como centros de investimentos. A seguir,
serão discutidas algumas abordagens sobre estes indicadores.
52
• Retorno sobre o Investimento ( ROI )
Este ainda é um dos indicadores mais utilizados pelas empresas
segundo pesquisa de alguns autores. Reece & Cool (1978) objetivando conhecer
como as maiores empresas industriais mediam suas divisões, realizaram uma
pesquisa que abrangeu 620 empresas, obtendo resultados importantes sobre o
uso do ROI: 65% das empresas que possuíam centros de investimentos utilizavam
o ROI; 28% utilizavam tanto o ROI como o RI; 2% utilizavam apenas o RI (residual
income) e; 4% utilizavam outra medida.
Definindo de forma simples, o ROI é a razão entre o lucro gerado
pela unidade de negócio e o investimento (ativo) empregado para obtenção dos
lucros.
Anthony & Govindarajan (1998) destacam, em princípio, três
benefícios aparentes na utilização do ROI:
• é uma medida abrangente, qualquer coisa que afetar as finanças da
unidade será refletida na taxa;
• é fácil de calcular, fácil de entender e, significativo em senso absoluto;
• por ser um denominador comum, permite a comparação entre diferentes
unidades da organização, além de permitir comparar a performance
entre competidores e tipos de investimentos.
53
Em contrapartida alguns autores criticam a utilização do ROI como
medida de performance. Dearden (1987) considera o uso do ROI como um
caminho errado para medir o desempenho dos gerentes dos centros de lucro.
Algumas desvantagens importantes do seu uso são:
• desestimular o crescimento de unidades mais lucrativas, pois quando
novos investimentos tiverem taxas menores que o ROI da unidade, ou
seja, abaixo da taxa que o gerente será medido, ele provavelmente
desistirá do investimento. Caso o retorno pretendido seja maior que o
retorno médio de toda organização, tal atitude não favorece o goal
congruence da organização;
• estimular o sucateamento de alguns ativos bons da unidade, pois ao
diminuir o denominador o gerente estará aumentando o ROI e,
consequentemente, melhorando seu desempenho.
• Lucro Residual
Hoje em dia comumente chamado de EVA8– Economic Value Added,
este indicador é definido pelo lucro antes dos impostos menos o custo (juros) do
capital da empresa.
Vários autores ressaltam vantagens na utilização deste indicador
sobre o ROI. Reece & Cool (1978) destacam que uma das vantagens da utilização
do RI sobre o ROI é que o formato de cálculo facilita a utilização de diferentes
54
taxas de desconto para diferentes tipos de ativos, o que torna uma comparação
mais correta visto que, investimentos normalmente têm taxas de risco diferentes.
Anthony & Govindarajan (1998) destacam ainda que uma das
vantagens da utilização do RI ou EVA, é que os gerentes de unidades podem
decidir por investimentos com um custo de capital alto mas que ainda sim
apresentam um EVA positivo, o que trará um aumento do lucro de toda
organização. Se o indicador utilizado fosse o ROI possivelmente esse
investimento teria um ROI menor que o ROI de sua divisão e sua decisão seria na
não realização do investimento, prejudicando os interesses da organização como
um todo.
Hoje em dia cresce o entendimento que as empresas devem utilizar
medidas não-financeiras nos sistemas de avaliação de desempenho. Dearden
(1987) ressalta que a avaliação de subordinados talvez seja a mais importante
responsabilidade da alta gerência e devem envolver também medidas em várias
dimensões em adição à perfomance financeira. Para este autor, mesmo no curto
prazo, a avaliação financeira não garante uma avaliação justa. Uma empresa que
quer crescer, não pode utilizar das mesmas técnicas desenvolvidas à décadas
para medir o desempenho de centros de lucro nos dias de hoje.
Kaplan & Norton (1992) advertem que as medidas financeiras
funcionaram bem na era industrial, no entanto, elas não são completas para as
8 Anthony & Govindarajan, Management Control Systems, 9ª ed., 1998, p.252
55
habilidades necessárias que as empresas precisam para sobreviver dentro da
nova realidade dos negócios. É impossível para uma empresa focar atenção numa
área crítica de seu negócio simplesmente pela análise de um indicador financeiro
ou operacional.
Após um longa pesquisa em doze empresas, estes autores criaram o
chamado “Balanced Scorecard”, estruturado de maneira a mostrar a alta gerência
uma rápida e abrangente visão de seu negócio. Ele permite agregar às medidas
financeiras, medidas operacionais como satisfação do consumidor, processos
internos e, inovação e processos de melhoria organizacionais que darão indícios
para o desempenho futuro da empresa. Kaplan & Norton fazem uma analogia
comparando o balanced scorecard ao mostrador da cabine de um avião, onde os
gerentes tal como um piloto de avião, deverão ser capazes de acompanhar o
desempenho de diversas áreas simultaneamente.
Sumariamente o balanced scorecard leva aos gerentes a enxergar
seu negócio sob quatro perspectivas, respondendo a quatro questões básicas:
• Perspectiva do consumidor – Como o cliente nos vê?
• Perspectiva interna – O que nós devemos superar?
• Perspectiva de inovação e aprendizado – Como continuar a melhorar e
criar valor?
• Perspectiva financeira – Como olhamos os nossos acionistas?
56
Para estes autores, a principal vantagem na adoção do balanced
scorecard é que colocar a estratégia e a visão, e não o controle, no centro das
questões empresariais. Dessa forma, as pessoas podem adotar qualquer
comportamento e qualquer ação para alcançar as metas estabelecidas.
Por último, cabe ressaltar que sistemas de avaliação devem
contemplar o benchmarking, uma ferramenta importante no mundo competitivo de
hoje. Em artigo recentemente publicado Silva9 (1999) define muito bem a sua
utilização:
“... benchmarking não é sinônimo de cópia. Benchmarking é um
processo estruturado e sistemático, baseado em medições
matemáticas e em análises comparativas, em que não há espaço para
empirismo. Ao lançar mão do benchmarking, uma empresa não
apenas ausculta sua posição em relação a seus concorrentes mas
também afere se os objetivos a que se propôs estão sendo atingidos,
identifica as áreas de seu mercado com o maior potencial de
crescimento e foca com maior clareza os fatores que são cruciais para
o seu desempenho”.
9 Adriano Silva, Revista Exame Melhores e Maiores, edição junho/99, p.49
57
2.7 - Sinopse
A partir da linha de pesquisa, seguida através desta revisão
bibliográfica, proceder-se-á à análise do caso. Pode-se, aqui, destacar os
principais aspectos que deverão ser observados:
• A estrutura organizacional da empresa e se está adequada para competir
dentro do ambiente no qual está inserida. Se seu controle é centralizado ou
descentralizado procurando identificar os tipos de centros de responsabilidades
pelo qual ela se organiza buscando suas semelhanças com o visto na
literatura. Analisar o grau de autonomia delegado aos gerentes dos centros de
responsabilidades. Descobrir se a empresa pratica política de preços de
transferência destacando qual o preço praticado.
• Se a empresa estudada tem, e se utiliza de, algum sistema de avaliação de
desempenho; quais os indicadores que são usados na medição do
desempenho e se são adequados e justos; se a empresa se utiliza tanto de
indicadores financeiros como de indicadores não-financeiros e se emprega
algum sistema de remuneração atrelado ao desempenho.
58
Capítulo Três – Metodologia da Pesquisa
59
3.1 – Metodologia Utilizada
Neste trabalho adotou-se o método de estudo de casos. Segundo
Kerling(1973), pesquisas deste tipo são todas aquelas que se caracterizam por
estudos de campo de natureza exploratória.
Esse método é indicado quando o objetivo almejado é um maior
conhecimento de um tema, pois permite uma descrição mais detalhada sobre uma
ou mais organizações, possibilitando aumentar o poder de análise da realidade do
mundo empresarial com aquele referenciado na literatura.
Importante ressaltar que, em decorrência do método empregado, os
resultados obtidos nesta pesquisa são limitados ao caso estudado. Outra limitação
é devida às observações feitas pelo pesquisador e o relato do entrevistado,
levando-se em conta que ambos são baseadas em percepção subjetiva sobre o
sistema de avaliação de desempenho posto em prática pela empresa, objeto do
estudo.
3.2 – Escolha da Empresa
O processo de escolha da empresa foi influenciado principalmente
pelos seguintes fatores:
• O fato do pesquisador conhecer pessoas da alta direção da empresa,
facilitando a coleta de dados;
60
• Pelo fato da empresa ter realizado recentemente uma redesenho no modelo de
sua gestão, estruturando-se alguns setores em unidades de negócios;
• Pelo fato de ser uma empresa do setor financeiro, no qual se tem pouco
conhecimento sobre o tema desta pesquisa;
3.3 – Coleta de dados
Face ao objetivo de uma maior riqueza de detalhes, necessária ao
tipo de estudo escolhido, o estudo de caso, adotou-se a entrevista pessoal
conduzida pelo pesquisador.
O método adotado pelo pesquisador foi o de entrevistas não
estruturadas à alguns dirigentes do banco. Também foram bastante utilizados
dados secundários, obtidos em fontes internas e externas (publicações e relatórios
diversos da empresa).
Os administradores pediram confidencialidade sobre a identificação
da empresa, sendo assim foi utilizado um nome fantasia com os dados sendo
apresentados de forma disfarçada de modo a dificultar o seu reconhecimento.
61
Capítulo Quatro – O Estudo de caso
62
4.1 – Introdução
Neste capítulo apresenta-se o caso da empresa estudada, o Banco
Estadual S.A. (BE), procurando-se seguir da forma mais fidedigna possível o
depoimento do entrevistado, complementada com os dados secundários, quando
pertinentes, deixando a análise para o capítulo 5.
4.2 – Histórico da Empresa
O BE – Banco Estadual S.A. – é uma Sociedade de Economia Mista,
sendo o Governo do Estado ABC seu acionista majoritário. Atuando como banco
de varejo, possuía um Patrimônio Líquido de cerca US$ 180 milhões em 1997.
Desenvolvendo suas atividades com cerca de quase 2.000
empregados, conta com uma rede de aproximadamente 100 pontos de
atendimento bancário, todos informatizados – interligados de forma “on-line” – a
maior parte na região sul do estado. Possui, ainda, pontos de atendimentos nas
principais capitais brasileiras: São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte.
Associado ao Sistema Verde-Amarelo dos bancos estaduais, está interligado a
mais de 6.000 pontos de atendimento em todo o Brasil.
O BE atua como principal provedor de serviços bancários para o
Governo do Estado ABC, administrando os recursos de suas empresas e
recebendo todos os seus impostos e taxas. Além disso, os servidores do Estado
63
ABC recebem seus salários através do BE. Por atuar também como banco social
da região a comunidade de ABC traz consigo uma grande identificação com a
instituição.
Fazem parte do grupo financeiro BE – Banco Estadual S.A. as
seguintes empresas:
Quadro 4: Empresas do Banco Estadual S.A.
US$ mil
Empresas Ativos Totais Patrimônio
Líquido
Lucro Líquido Participação(%)
BE no capital
BE 1420 192 10,0 -
BE – CIF 90 18 2,8 100
BE – CTVM 35 20 3,2 99
O BE participa ainda com cerca de 50% das ações da Cartão BE
S.A., empresa administradora de cartões de crédito. Iniciando suas operações no
final de 1997, associado a bandeira VISA.
Além disso, o BE, possui cerca de 5% do capital social da
Companhia Brasileira de Securitização – CIBRASEC – e participa do Conselho de
Administração através de seu Diretor-Presidente. Dessa forma, o BE objetiva atuar
no ainda recente Sistema Financeiro Imobiliário.
64
4.3 – O Contexto Macroeconômico:
O setor bancário no Brasil vive um momento de transição. Com a
nova realidade econômica do país, ficou evidente que o novo ambiente de
estabilização macroeconômica não seria condizente com a dimensão que o
sistema bancário havia alcançado, fruto de vários anos de inflação alta e
desequilíbrios macroeconômicos. Assim, desde 1994, o Sistema Financeiro
Nacional vem passando por ajustes estruturais em sua composição e forma de
atuação.
O setor bancário vem nesses dois últimos anos sendo marcado pela
continuidade desses ajustes. Em 1997, a participação do setor bancário no PIB
nacional, que em 1993 correspondia a 15,6%, despencou para 6,5%, uma queda
de 58,3%. Ainda nesse ano, com continuidade em 1998, bancos foram liquidados,
a internacionalização financeira se aprofundou, com várias instituições financeiras
estrangeiras sendo autorizadas a operar no país – a participação estrangeira nos
ativos bancários pulou dos 6,8% em 1994, para 16,6% em junho de 1997
(aumento de 144,1%) e com tendência de aumento ainda maior pelos próximos
anos. O processo de fusões e incorporações se evidencia como uma tendência
natural para instituições que estão em busca de escala operacional e adequação
de custos aos níveis das receitas para sobreviverem à nova realidade econômica.
65
A partir de agosto de 1997, o contexto econômico-financeiro foi
fortemente influenciado pela crise dos países do leste asiático, pela crise russa e
porque não, pela crise brasileira. Dentro desse contexto, o país vem sofrendo
saídas líquidas de recursos aplicados no mercado nacional de capitais e de
recursos para investimentos. Essa crise ocorreu num momento em que a
economia brasileira mantinha trajetória ascendente da atividade produtiva,
redução das taxas de inflação, tendência de estabilização do déficit comercial e
taxas de câmbio estáveis.
As perspectivas futuras apontam para uma inflação ainda sob
controle, desempenho moderado da economia – com boas possibilidades de
retração do PIB nacional e menores ganhos de poder aquisitivo. Os bancos
continuarão sua marcha de adaptações ao novo cenário. A acirrada concorrência,
o ingresso de novos concorrentes estrangeiros, as fusões e incorporações e a
redução do número de bancos como decorrência direta de todas as outras
tendências apontadas, deverão ser a tônica do setor financeiro nos próximos
exercícios.
4.4 – Adaptação à Nova Realidade Macroeconômica
Consciente do cenário que dominava o setor financeiro e sabendo da
importância para seu estado de se ter um banco estadual sob sua gestão,
pressionado também pela autoridade monetária (Banco Central), que era contrário
a manutenção de bancos estaduais, determinando várias metas de funcionamento
66
de modo a praticamente impedir sua gestão pelos governos estaduais, o Governo
do ABC, no início de 1997, mudou a Diretoria do BE – Banco Estadual S.A.,
trazendo para a Presidência um profissional da iniciativa privada, fora dos quadros
de carreira do banco, de modo a dar ao banco uma atuação mais proativa dentro
do setor. Incumbiu à nova diretoria reverter a curva de prejuízos que o banco
vinha apresentando – que nos últimos 28 meses (de janeiro de 1995 a abril de
1997) acumulava um prejuízo de mais de US$ 50 milhões – e voltar a torná-lo um
banco lucrativo, maneira pelo qual se enxergava ser a única capaz de
manter/lembrar também de sua função social, importante para seus programas
políticos.
4.5 – Situação Encontrada no BE pela Nova Diretoria
A Diretoria do BE ao assumir encontrou um quadro bastante grave,
inclusive estando o banco deficitário, sobretudo devido a um brutal volume de
inadimplência por operações ocorridas no passado. Aspectos organizacionais
encontrados, principalmente no que tange a parte de gestão – foco deste trabalho,
serão discorridos nas linhas abaixo:
• Inexistência de clareza e/ou divulgação de um Modelo Institucional, impedindo
o estabelecimento de objetivos e metas dos grupos coerentes e que concorrem
para a visão global, atual e futura do BE;
67
• O compromisso existente era em relação às atividades que exercem
rotineiramente, e não com os objetivos e diretrizes institucionais;
• O processo de tomada de decisão era centralizado, com foco na hierarquia e
nos níveis superiores, o que originava falta de agilidade na prestação de
serviços (principalmente nas agências) e desinformações, resultando em baixa
produtividade e eficácia organizacional.
• Não existiam definidas de maneira clara e efetivamente operacionalizadas, as
funções de planejamento e controle da gestão dos negócios e no nível
institucional do BE. Existiam diversos departamentos de acompanhamento de
resultados, espalhados pela organização, sem a devida conectividade.
Inexistiam parâmetros uniformes para apuração e avaliação de resultados
integrados e globais, bem como um sistema de informações que o
suportassem;
• Não havia a definição de indicadores de desempenho comuns às áreas; na
verdade pode-se dizer que, quando usados, eram conforme a necessidade da
situação – atenuar falhas ou superdimensionar qualidades;
• As agências não eram consideradas unidades de negócios, com seu gerente
com autonomia para assumir riscos, limitando-se ao “feijão com arroz”;
68
• A departamentalização funcional não refletia a visão de negócios com
características diferenciadas em termos de mercado e resultados;
• A departamentalização funcional também não permitia um adequado
acompanhamento e controle do desempenho operacional e econômico dos
negócios. Não se conseguia apurar resultados e nem alocar responsabilidades
por estas encontrarem-se diluídas.
• Implicava, também, numa falta de visão cliente-fornecedor interno – não havia
política de preços de transferência, de maneira a não permitir ou levar a um
grau de comprometimento com o BE enquanto instituição;
• Por fim a departamentalização funcional reforçava o distanciamento entre as
Agências(front end) e Direção Geral(back office);
• Havia um excesso de níveis hierárquicos, ocasionando sobreposição de
funções, duplicidade de esforços, lentidão na comunicação e conseqüente
aumento de gastos com pessoal;
• Desproporcionalidade na alocação de pessoal entre atividade-meio e atividade-
fim do banco. Tinha-se aproximadamente 750 profissionais alocados na
Direção Geral contra 1300 nas agências;
69
• Inexistência de um órgão de Controladoria, com responsabilidades,
metodologias e estratégias de monitoramento e planejamento dos negócios
que o BE atua ou atuará.
• A estrutura de cargos exercendo força sobre a estrutura administrativa,
provocando criação de espaços para contemplar necessidades individuais e
não organizacionais;
• Gestão voltada para o curto prazo, com forte orientação para ações
emergenciais e de curto prazo, gerando descontinuidade, incongruências e
incompatibilidades com ações e resultados esperados dentro de um horizonte
de tempo maior;
4.6 – A Gestão Estratégica
Ao iniciar o seu trabalho, a nova diretoria, sabedora do momento pelo
qual passava o Sistema Financeiro Nacional, que exigia esforços de adequação
em suas estruturas de custos e busca de novas fontes de receitas, traçou planos
que objetivaram superar o desafio e reverter os resultados anteriores, promovendo
a adaptação da empresa ao quadro de estabilidade econômica. Assim, foi
elaborada diretrizes estratégicas baseadas em cinco premissas: preservação de
ativos; redução de custos; ampliação de negócios; modernização empresarial e
gestão participativa.
70
A preservação de ativos significou alta seletividade na concessão de
novos créditos, bem como o provisionamento da totalidade dos créditos em
liquidação duvidosa.
A redução de custos englobou esforços diversos, com ênfase na
promoção de programas de aposentadoria e desligamento voluntários de acordos
com o sindicato da categoria, possibilitando o congelamento de benefícios e de
promoções automáticas.
A ampliação de negócios caracterizou-se pelo ingresso em novos
campos de atuação como cartões de crédito, títulos de capitalização e
securitização, pelo lançamento de extensa linha de novos produtos e pela
ampliação da base de clientes. Para consecução desse objetivo, foram feitos
acordos estratégicos de parceria, que permitiram não somente maior velocidade e
consistência ao lançamento de produtos, como também a obtenção de reais
benefícios mútuos.
A modernização empresarial através da evolução tecnológica e
gerencial, envolvendo investimentos em informatização da Direção Geral e
automação de agências, capacitação funcional e adoção de um novo modelo de
gestão, direcionados para o negócio do Banco.
71
A gestão participativa permitiu que questões fundamentais pudessem
ser amplamente discutidas por todos os segmentos da organização, fortalecendo
o processo de comunicação e aumentando o comprometimento das pessoas em
levar à frente as decisões tomadas.
Aliado a esses ajustes mencionados, a nova diretoria empreendeu
esforços na elaboração e implantação urgente de um Projeto de Modelagem
Institucional para o BE, de forma a promover uma ampla reengenharia adequando
o banco ao ambiente externo agressivo no qual ele pertence. Tal projeto gerou no
direcionamento das ações para três modelos:
• Modelo Institucional – no qual pode-se destacar a definição da missão do
banco: “ Prover soluções financeiras com excelência, de forma rentável, e
contribuir para o desenvolvimento sócio-econômico sustentado do Estado
ABC”; e, em virtude do tema deste trabalho, um dos valores a ser perseguido
será: “Resultados – eficácia no alcance de metas, enfatizando a rentabilidade”
.
• Modelo de Gestão – composto por um conjunto de preceitos de administração,
determinando a implantação da uma área de CONTROLADORIA, responsável
pela coordenação dos conceitos que integram o Modelo de Gestão, pelo apoio
aos gestores em suas necessidades informativas e pelo desenvolvimento e
manutenção do sistema de informações, de forma a orientar o cumprimento da
missão do BE.
72
• Modelo de Informações – constituído de um conjunto de princípios,
apresentados sob a forma de premissas e requisitos, que visam orientar a
estruturação e implantação do SISTEMA DE INFORMAÇÕES, de forma a
garantir a sua integração conceitual com o Modelo institucional e o Modelo de
Gestão aprovados pelo BE.
Dentro do escopo deste trabalho, narrar-se-á as mudanças
importantes ocorridas na área do Controle Gerencial com suas implicações no
Sistema de Informações, suporte básico do Modelo de Gestão.
4.7 – Medidas Corretivas
A nova Diretoria entendia ser a Estrutura Organizacional uma
ferramenta básica que a direção da empresa dispõe para o atingimento de seus
objetivos globais. Dessa forma, devem ser feitas constantes avaliações da
estrutura e dos profissionais que a integram, flexibilizando sempre que necessário,
dentro de limites adequados, segundo as dimensões internas da empresa e as
condições ambientais externas.
Assim a Diretoria percebeu a necessidade do Banco possuir uma
estrutura mais adaptável às mudanças do ambiente externo e interno, tais como: o
aumento do nível de internacionalização da economia e dos negócios; as
mudanças tecnológicas contínuas (nível de informatização e automação bancária
e do varejo); o grau de profissionalização das organizações e o crescente nível de
73
exigência e do padrão de consumo dos clientes, tornando-se imperioso maior
flexibilidade e inovação na sua estruturação organizacional.
Dessa forma, independente do papel social assumir proporções
diferenciadas dentro do modelo institucional do BE, a diretoria considerou que
uma estrutura em termos de unidades estratégicas de negócios permitiria a
adequada flexibilidade para adoção dos objetivos, metas e apuração dos
resultados/desempenho inerentes a cada negócio, de maneira a configurar
situações com tratamentos diferenciados.
Para a direção do BE, a estruturação do banco em Unidades
Estratégicas de Negócios, permitiria o BE visualizar seus diferentes negócios ou
papéis, identificando com maior segurança e precisão os objetivos, as estratégias,
os recursos e mecanismos de acompanhamento de desempenho, coerentes com
cada realidade específica, consolidados em sua vocação e missão.
Assim, cabe destacar algumas das principais características da
estrutura proposta:
• Menor grau de formalização;
• Necessidade de profissionais generalistas;
74
• Comunicação multidirecional;
• Modelagem celular, onde a estrutura é descentralizada, projetada com base
em equipes de trabalho, com menos hierarquia, responsabilidade
compartilhada e poder de decisão no nível do grupo;
• Modelagem colegiada, onde as principais decisões são tomadas no nível de
um Comitê, que se reúne periodicamente para definir estratégias e diretrizes
globais;
• Unidades Estratégicas de Negócios e Unidade Prestadora de Serviços, com a
configuração do segundo plano em Células de Trabalho orientadas para
processo e cliente;
• Terceirização de serviços, áreas e/ou funções que não agregam valor
diretamente aos negócios do BE, ou não considerados estratégicos.
4.8 – A nova estruturação
O BE se estruturou em três classes de Unidades, a saber,
Administradora de Produtos, Distribuidora de Produtos e de Infra-estrutura.
75
A Unidade Administradora de Produtos cuidava dos seguintes
produtos: Cheque Especial, CDC - Crédito Direto ao Consumidor, CP – Crédito
Pessoal, Capital de Giro, “Hot Money”, Cartão de Crédito, Seguros, Cobrança,
Serviços Diversos, CDB – Certificado de Depósito Bancário, Poupança, Título de
Capitalização, Fundos, Mesa.
Como pode ser visto, no que concerne as Unidades, não existia
distinção entre produtos de captação e de aplicação. O casamento entre aplicação
e captação e a Gestão de Risco (casamento de moedas, taxas e prazos) era
monitorado pela Diretoria Financeira, que estabelecia limites de taxas e prazos e
recomendava medidas às outras diretorias para direcionar as Unidade no sentido
de equilibrar as aplicações e captações.
A Unidade de Infra-estrutura cuidava da Informática, RH - Recursos
Humanos, Marketing e Serviços Gerais.
As Unidades que cuidavam da distribuição dos produtos eram as
agências, tanto as físicas (tradicionais) como a Central de Atendimento Telefônico
e a Internet Banking. Assim, a Central de Atendimento Telefônico e a Internet
Banking eram consideradas uma agência e possuíam uma estrutura gerencial
muito parecida, em termos de nomenclatura e estrutura gerencial, com uma
agência tradicional – evidentemente que o número de pessoa era completamente
diferente e o treinamento de cada pessoa também. A diferença básica era que nas
duas últimas não havia o contato físico e nem se mantinha o cadastro dos
76
correntistas. Porém, todas as operações tradicionais das agências eram
realizadas por estas Unidade. Era possível abrir uma conta corrente pela Internet
ou pela Central de Atendimento. Nestes casos, o contrato da Conta Corrente era
enviado pelo correio e o cliente o devolvia pelo Correio (ou entregava em qualquer
agência). Cabia à Unidade que abrisse a Conta Corrente escolher a agência que
iria manter o cadastro do correntista.
Outras atividades do BE não estavam estruturadas em Unidades de
Negócio, como é o caso da Diretoria, Controladoria, Auditoria, Assessorias em
geral (ex. Imprensa, Parlamentar, etc...), Jurídico – quando atuava como consultor,
pois quando atuava com cobrança de dívidas era uma Unidade específica.
É importante destacar que as Unidades se localizavam
indistintamente na estrutura hierárquica ou até mesmo jurídica do BE. Algumas
Unidades eram Departamentos, outras eram gerências, outras empresas
subsidiárias (Cartão de Crédito), e ainda, outras Unidades eram empresas
independentes, com um “joint venture” com o banco – (Seguros e Título de
Capitalização). Contudo, a nível gerencial, possuíam autonomia, tinham metas
específicas, sofriam recompensas e conseqüências previamente definidas, eram
avaliadas segundo critérios claros e previamente definidos, ou seja, a nível
gerencial eram Unidades de Negócios.
Procurando fazer uma analogia de forma a esclarecer o
funcionamento da estrutura, as Unidades de Produção seriam as fábricas, as
77
Unidades de Distribuição são as lojas e as Unidades de Infra-estrutura seriam a
prefeitura.
Assim, a partir do Planejamento Estratégico, que no caso do BE era
participativo, coordenado pela Controladoria e aprovado pela Diretoria, a meta de
cada Unidade era estabelecida.
Para se ter uma idéia da interação operacional estabelecida,
descrever-se-á a operação de duas Unidade de Produção, uma Unidade de Infra-
estrutura e uma Unidade de Distribuição. A princípio, o funcionamento de cada
classe de Unidade era muito parecido. Assim, o motivo para descrever a operação
de duas Unidades de Produção é permitir a compreensão da concorrência que se
estabelecia entre cada produto do BE.
Será descrito dois produtos de aplicação que eram administrados por
duas Unidades separadas e que concorriam entre si, o Cheque Especial e o CP –
Crédito Pessoal.
Cada Unidade de produção tinha uma meta determinada de
crescimento no número de operações e um limite mínimo de margem de
contribuição. Dessa forma, cabia ao administrador da Unidade de Produção
maximizar o seu resultado – que é uma multiplicação de giro (número de
contratos) vezes margem – estabelecendo uma taxa de juros, obviamente maior
que a margem estabelecida, que maximizasse o ganho.
78
Assim, uma vez respeitada a margem mínima de contribuição e
alcançado o crescimento previsto do Planejamento Estratégico, o administrador e
sua equipe, receberiam uma remuneração variável adicional baseado no ganho a
mais (dentro de um Plano de Remuneração). Além da margem, o administrador
também tinha autonomia para flexibilizar as características do produto, tornando-
os mais atrativos ao cliente, como renovação automática do Cheque Especial e
elevação/diminuição do seu limite e, no caso do CP – crédito pessoal, pode-se
citar por exemplo um crédito pré-aprovado ou juros menores conforme
reciprocidade do cliente. Assim, cada Unidade teria que estar em sintonia com o
que a clientela estava demandando.
Para oferecer os seus produtos de aplicação, cada Unidade tinha o
custo do dinheiro baseado na regulamentação do Banco Central (que atribui
fontes e usos específicos – como poupança para lastrear financiamento
imobiliário) e no valor de mercado (CDI) acrescido de um spread, fixado com base
nos custos fixos. O ganho da equipe da mesa estava em diminuir seus custos
fixos e captar abaixo do CDI. Com isto, teriam um prêmio – participando do Plano
de Remuneração.
Com isto, cada administrador de produto procurava oferecer o
produto com as melhores características e preços que maximizassem o resultado.
Por outro lado, as agências, que são as Unidade de Distribuição, tinham metas
globais de crescimento e poderiam escolher os produtos que fossem mais
79
adequados para permitir tal crescimento. Vale lembrar que, com base na
flexibilidade descrita acima, as Unidades de Produção segmentavam o mercado,
oferecendo produtos específicos a cada segmento, com nome e características
específicas. Isto requeria um trabalho próximo entre as agências e as unidades de
produtos, pois ambas tinham interesse em aumentar as vendas. Dessa forma, os
gerentes das agências transformaram-se em termômetro do mercado, procurando
identificar os interesses da clientela e repassar às Unidades de Produção.
Para impedir que as agências ficassem “brigando” com as Unidades
de Produção, ao invés de procurarem identificar às necessidades dos clientes, o
ganho das agências estava baseado apenas nas vendas globais, ganhando
comissões fixas sobre cada venda, e não nos “spread” de cada produto. Isto
porque cada agência poderia estar em um mercado mais aplicador ou mais
tomador deste ou daquele produto. Assim, as agências deveriam ser neutras nos
ganhos de cada unidade de produto vendido. A equalização das taxas e prazos
era feita no banco e não nas agências.
Para avaliar o desempenho das agência, estas eram categorizadas
em faixas crescentes de 10% em função do seu desempenho (produção de
comissão), e os melhores desempenho recebiam prêmios adicionais e concorriam
a sorteios. Os gerentes situados nas faixas mais baixas eram sujeitos a serem
rebaixados, ou seja, perderiam a posição de gerentes gerais indo para posições
mais baixas como gerente comercial. As comissões procuravam sintetizar o
desempenho.
80
A avaliação de desempenho das Unidade de Produção é baseada
nas margem de contribuição agregada. Assim, o volume de contas poderá até
diminuir, o importante é que o produto Giro X Margem atual seja maior do que o
anterior. Todos esses desempenhos relativos eram distribuídos e quem mais se
destacar, ou menos cair, é premiado. Quem menos se destacar poderá ser
substituído. Como são produtos diferentes e não existem concorrentes internos,
não se pode calcular a recompensa como no caso das agências. A comparação
do desempenho entre as Unidade de Produção é baseada em quantidade que
cada uma consegue superar o seu próprio desempenho passado. Por isto as
punições e compensações são menores do que as das agências.
Na atual fase de reestruturação do BE, ficou estabelecido a não
fixação de preços de transferências para cobrar os serviços prestados pelas
Unidades de Infraestrutura. Pela complexidade de sua instituição e assimilação
por parte das pessoas envolvidas nesse processo de revitalização da empresa, a
Diretoria, para evitar injustiças na sua apropriação, resolveu adiar, para um
momento mais adequado, a implementação de uma política de preços de
transferência.
Para sucesso da nova estrutura medidas complementares e
fundamentais foram necessárias, as mais importantes foram a implantação de um
novo Sistema de Informações e de uma área de Controladoria. Além disso, era
81
também necessário implementar um Plano de Remuneração que ajudasse na
melhoria do desempenho do BE.
4.8.1 – O Sistema de Informações
A principal finalidade do Sistema de Informação é a de servir como
instrumento de apoio ao processo de gestão no alcance da eficácia e eficiência da
empresa, fornecendo suporte ao gestor no planejamento, execução e controle das
diversas atividades e garantir uma orientação uniforme e precisa para toda a
organização.
Ele é composto por um conjunto de sistemas que formaliza e integra
todo o processo de gestão, disponibiliza para cada um dos gestores instrumentos
de simulação em nível operacional e financeiro, confronta os resultados reais com
os planejados, e apoia as ações de controle corretivas.
Ele foi concebido de maneira que as informações estivessem
compatibilizadas com a estrutura de autoridade, decisões e responsabilidade pela
execução das atividades estabelecidas pela organização. Sua base conceitual
deve estar principalmente voltada para as necessidades informativas dos
gestores, contemplando a modelagem de decisão, mensuração e de informação.
82
4.8.1.2 – Requisitos do Sistema de Informações
O modelo conceitual do sistema de informações foi concebido para
atender aos seguintes requisitos(selecionados aqueles ao interesse deste
trabalho):
• apurar o resultado econômico do BE, das áreas, atividades, produtos/serviços,
segmentos clientes, conforme necessidade da gestão;
• permitir avaliação de desempenhos das áreas;
• permitir avaliação de resultados dos produtos, serviços e eventos;
• basear-se em conceitos que reflitam o valor econômico dos objetos
mensurados;
• imputar aos gestores somente as receitas e custos sobre os quais eles
possuam efetivo controle;
• permitir a simulação de resultados das alternativas da decisão;
• ter a informação disponível no momento oportuno para a tomada de decisão;
83
• refletir adequadamente (de forma justa e imparcial) os relacionamentos entre
as áreas;
• permitir que as avaliações de desempenho e de resultados baseiam-se no
confronto entre os desempenhos realizados e planejados;
• permitir que os resultados reflitam graus de eficácia (desejada e realizada);
• apoiar o autocontrole pelos gestores;
• induzir a decisão correta;
• permitir que a avaliação de desempenho seja concebida como um instrumento
de gestão;
• permitir que o evento econômico expresse o modelo de decisão restrito do
gestor;
• respeitar o comportamento e a identificação natural dos recursos em relação
aos produtos e seus respectivos valores, evitando a aplicação de processos
artificiais que alterem essa condição.
84
4.8.2 – Controladoria
Por decisão do Presidente, a área de Controladoria foi constituída
como um órgão de assessoria ligado à Presidência do Banco Estadual, assumindo
a missão de “assegurar a otimização do resultado econômico da instituição”.
Como um órgão de “staff”, a controladoria não possui atuação
negocial direta, desse modo o cumprimento da missão requer o desenvolvimento
de mecanismos que induzam efetivamente os gestores das demais áreas do
Banco à otimização dos resultados dos negócios sob sua responsabilidade.
Dentre esses mecanismos, destaca-se o papel fundamental dos
seguintes elementos:
• adequação do processo de gestão;
• planejamento de resultados;
• efetividade do processo orçamentário;
• disponibilizar indicadores precisos;
• correta mensuração dos resultados;
• preços de transferência baseados no custo de oportunidade;
• modelos decisórios adequados;
• sistema de informações integrados ao processo de gestão.
85
Os objetivos que foram estabelecidos para a Controladoria,
assumiram um caráter preponderantemente operacional, caracterizando muito
mais como “meios” para que a área alcance objetivos mais nobres, dentre os
quais pode-se destacar:
• promover o aumento dos níveis de eficácia do Banco;
• viabilizar a gestão econômica em todos os níveis gerenciais da empresa;
• promover a integração eficaz das áreas;
• dotar o Banco de instrumentos que permitam a congruência de objetivos entre
as áreas.
A principal postura da área será fundamentalmente a de apoio à
gestão empresarial, sem assumir um caráter de intervenção, fiscalização ou
punição, mas sim, uma postura de parceria com as áreas, visando uma sinergia
de ações de modo a induzir às melhores decisões para empresa como um todo.
Um dos principais instrumentos que a Controladoria dispõe para
melhor exercício de suas atribuições de forma eficaz é o Sistema de Informações,
sendo também de sua responsabilidade a configuração e gestão do sistema, de
forma a propiciar o alcance de seus objetivos.
86
4.8.3 – Sistema de Remuneração
Conforme visto na literatura, os indicadores de desempenho e os
sistemas de medição estão na base dos processos de tomada de decisão da
empresa. Podemos considerar que existe uma grande interface entre os dois
sistemas: o sistema de medição de desempenho organizacional e o sistema
utilizado para cálculo de remuneração. Sendo assim, o sistema de remuneração,
dentro do Modelo de Gestão de RH, apresenta-se atualmente no ambiente
empresarial como destacada ação estratégica, no sentido de viabilizar a
integração e engajamento dos empregados com os objetivos/resultados da
empresa como um todo.
Dessa forma, torna-se relevante apresentar o plano de remuneração
do BE para verificarmos sua aderência aos objetivos estratégicos na medição de
seus resultados.
A nova Diretoria do BE resolveu adotar conforme as novas práticas
empresariais um plano de remuneração variável que chamou de Plano de
Remuneração por Performance – PRP.
O Plano de Remuneração por Performance é um incentivo ao
alcance e superação dos resultados esperados pelo BE. Faz parte do plano geral
de remuneração estratégica da Organização e premia os funcionários de forma
objetiva, transparente e progressiva, em decorrência dos resultados alcançados e
87
do lucro líquido apurado. Torna uma parcela da remuneração percebida pelos
funcionários fator de incentivo à melhoria do desempenho individual e grupal, além
dos resultados em si do Banco.
Pelo PRP, todos os funcionários, independentemente de nível ou
função, são elegíveis a premiação. A análise dos resultados se dá a partir de
metas previamente definidas e os critérios de premiação primam pela
transparência. O PRP é um estímulo ao trabalho em equipe e à administração
participativa. Seu bom uso depende, em grande parte, da responsabilidade
conjunta dos funcionários e chefias, bem como de um compromisso permanente
com os resultados e o desenvolvimento do Banco.
Podemos destacar algumas importantes características do PRP:
• O Programa de Remuneração por Performance contempla a participação tanto
no lucro quanto nos resultados operacionais, tendo sido elaborado a partir de
constituição de indicadores de desempenho ou metas, inicialmente, apenas
quantitativas. Para uma etapa seguinte, o PRP deverá introduzir indicadores
de ordem qualitativa.
• O programa abrange, num primeiro momento, os níveis global e grupal.
Posteriormente serão incluídas metas individuais, ligadas a um plano de
gestão de desempenho, alinhadas à visão estratégica do Banco.
88
• As metas devem estar vinculadas aos objetivos estratégicos do BE e serem
priorizadas considerando os recursos e condições necessários para o seu
alcance, com possibilidades de superação, caso um esforço extra seja
empreendido.
• As metas devem ser desafiadoras porém factíveis, elaboradas com o propósito
de motivar pela possibilidade de serem superadas.
• Condicionando uma parcela do Lucro Líquido ao prévio atingimento das metas,
o PRP procura envolver de forma completa os empregados na
responsabilidade de sua contribuição para o resultado final do Banco, dentro
do conceito de se promover uma administração mais participativa.
• O programa como um todo ressalta a permanente ligação entre o desempenho
com a remuneração percebida por cada funcionário, independente de seu nível
hierárquico.
• No estabelecimento da ponderação deve-se, sempre que possível, obedecer à
seguinte regra: as maiores ponderações serão atribuídas para as metas cujos
resultados sejam mais representativos em termos de valor, impacto e
importância no período abrangido.
89
4.8.3.1 – Operação do PRP
Como foge totalmente ao objetivo deste trabalho a operacionalização
do PRP do Banco Estadual, será abordado de modo superficial sua estrutura de
funcionamento. Conforme já descrito, o PRP apresenta dois componentes
distintos:
1) Participação nos Lucros (PLL):
Parte-se da apuração contábil do Lucro Líquido (LL) do BE no
período a ser considerado. Desse valor, será abatido um percentual equivalente à
rentabilidade mínima garantida aos acionistas, determinada de acordo com a Lei
9249, que disciplina o retorno sobre o capital investido, a qual determina o índice
equivalente à TJLP como garantia de retorno ao acionista, conforme abaixo:
T = LL - garantia do acionista, em valor equivalente à TJLP
2) Participação nos Resultados (PR):
Para apuração do quanto será distribuído, parte-se da definição de
alguns indicadores representativos da situação do momento do Banco, os quais
parametrizam a mensuração dos resultados. Tais indicadores deverão ser revistos
periodicamente, zelando-se para que sejam sempre relevantes para os resultados
globais do Banco.
90
Foram selecionados os seguintes indicadores, pela sua objetividade, abrangência
e possibilidade de mensuração:
• Metas de Captação; • Metas de Recuperação de Créditos; • Metas de Redução de Despesas; e • Receita de Tarifas Bancárias.
Abaixo, mostrar-se-á sucintamente o funcionamento de cada um dos
indicadores selecionados.
a) Metas de Captação: será o montante de incremento alcançado pertinente aos
principais produtos oferecidos, tomando-se como base a média alcançada por
cada agência no semestre, ou bimestre, imediatamente anterior. Devido às
características peculiares de cada agência/região, esse indicador foi dividido em
duas partes, quais sejam:
• 1/3 dos resultados refere-se ao total de receitas de captação verificado para
esses produtos, por agência;
• 2/3 refere-se aos resultados verificados por agência, dos quatro ou cinco
principais produtos do BE, devidamente ponderados conforme seu grau de
importância.
91
b) Recuperação de Créditos: refere-se ao valor esperado de recuperação dos
créditos em liquidação do BE, junto aos seus clientes. Deve futuramente vir a ser
substituído pelo indicador “Operações de Crédito”. O valor de recuperação de
crédito apurado, será determinado conforme a média de recuperação de CL
verificada no semestre imediatamente anterior de cada agência/global.
Assume-se como pressuposto básico, que o atual critério de
distribuição (em termos de responsabilidade - não referente à alocação contábil)
dos créditos entre agência e D G será mantido.
Da mesma forma, para apuração do total de créditos a serem
recuperados que será utilizado para esse indicador, considerar-se-á os valores
constantes até 31 de dezembro de 1997. Além disso, não serão computados nos
cálculos os créditos recuperados pela via judicial.
Trabalhar-se-á com duas fórmulas distintas, uma para agências e
outra para a D G, conforme segue:
• Agência:
Rb = Valor de recuperação de Crédito Realizado por agência Média de recuperação de Crédito do sem. anterior por agência
92
• D G:
Rb = Valor de recuperação de Crédito Realizado pela D G Média de recuperação de Crédito do sem. anterior pela D G
c) Redução de Despesas: é um indicador global que pode ser apurado tanto no
nível de agência, quanto ao nível de departamentos da D.G.. O montante de
redução basear-se-á na média das despesas verificadas por
agência/departamento no semestre imediatamente anterior. Especificamos a
seguir a formula:
Rc = Total de Redução de Despesas Realizado por Agência/Deptos Média das Despesas do sem. anterior por Agência/Deptos
d) Receitas de Tarifas Bancárias: esse indicador corresponde à relação entre a
receita de tarifas dos serviços bancários prestados verificada no período de
apuração, em relação à média observada no semestre imediatamente anterior, por
agência. Para a D G, considerar-se-á os montantes globais do BE pertinentes a
esse indicador. Temos abaixo as fórmulas:
• Agência:
Rd = Valor de Receitas de Tarifas Bancárias Realizado por agência Média de Receitas de Tarifas Bancárias do sem. anterior por agência
• D G:
Rd = Valor de Receitas de Tarifas Bancárias Globais Verificadas Média de Receitas de Tarifas Bancárias Globais do sem. anterior
93
Por fim, cabe colocar que existe um Comitê específico no BE –
Comitê PRP que tem a função de promover um adequado acompanhamento dos
resultados. Este Comitê deve reunir-se mensalmente para disponibilizar, discutir e,
posteriormente, divulgar os resultados auferidos. É também responsável pela
identificação e análise do impacto das variáveis externas ao controle do grupo e a
necessidade de eventuais adaptações ao processo. É ainda sua atribuição,
administrar o processo permanente de comunicação dos resultados e ações
inerentes. Finalmente as metas poderão ser revisadas ou alteradas em
decorrência de mudanças significativas, de ordem: econômica; estrutural; ou de
estratégia empresarial.
94
Capítulo Cinco – ANÁLISE DO CASO
95
5.1 – Introdução
O mercado bancário brasileiro vem nos últimos anos passando por
significativas mudanças em seu contexto. As condições macroeconômicas e o
acirramento da concorrência, motivada principalmente pelo ingresso de bancos
estrangeiros, vem trazendo um forte enxugamento no número de instituições.
Fusões, aquisições e outras modalidades de reorganização societária estão
determinando uma redução da quantidade dos bancos que operam no Brasil. No
caso dos bancos estatais, mais lentos na adaptação às mudanças ambientais e
aos requisitos do mercado, o governo federal promove um forte programa de
reestruturação que incentiva, basicamente, a extinção ou privatização dos
mesmos.
Esse novo ambiente é uma das conseqüências da estabilidade
econômica por qual passa o país, forçando os bancos a mudar radicalmente sua
forma de atuar10. A perda de receita de float – rendimento gerado pela aplicação
do excedente de caixa – , decorrente do fim do processo inflacionário, levando os
bancos a reduzir custos (pessoal e administrativo principalmente) e conseguir
novas fontes de receita sem contudo onerar o cliente, cada dia mais exigente, o
surgimento de novas fontes de comércio, principalmente as eletrônicas, e a
entrada no mercado de instituições não bancárias que passaram a fornecer
serviços antes exclusivos dos bancos, estão mudando radicalmente a forma de
sobreviver.
96
Sobreviver11. Esta será a palavra chave para os bancos nos
próximos anos e, para isto, várias estratégias deverão ser aplicadas. A
especialização tem-se mostrado uma alternativa para bancos de médio e pequeno
porte. Conhecendo-se a fundo um tipo específico de cliente que se pretende
atingir, os bancos têm encontrado condições de desenvolver produtos mais
apropriados às necessidades da clientela e determinar quais serão suas
necessidades futuras, vencendo em eficácia e eficiência a concorrência.
5.2 – Análise do Caso do BE
Seria pouco provável para o BE sobreviver nessa realidade agressiva
do mercado bancário dentro do quadro encontrado pela nova Diretoria. Esse
quadro só seria sustentável se, conforme Chandler (1962) destacou, a atividade
da empresa permanecesse estável, ou seja, se a economia, os mercados, a
tecnologia de informação, a natureza e linha dos produtos, as necessidades dos
clientes ficassem relativamente sem mudanças. Em resumo, se tais condições
permanecessem as mesmas, nada melhor seria viver tranqüilamente da receita do
float.
Ao olhar para o quadro encontrado no BE e se comparar ao plano de
referência de Gomes (1983) onde são apresentados caminhos para o
10 Premissa da globalização do capitalismo americano-europeu.11 E se possível crescer.
97
desenvolvimento de um processo ótimo de controle gerencial, pode-se concluir
que ele é diametralmente oposto, ou seja, estava longe de processo eficaz e
eficiente de controle.
As medidas estratégicas tomadas, ao menos no nível das intenções,
vão ao encontro do que Gomes e Salas (1999) abrange como uma perspectiva
ampla de controle. Assim a nova Diretoria caminhou corretamente ao entender
que a estrutura organizacional é uma ferramenta básica para o atingimento dos
objetivos globais. Além disso, ao delinear uma estrutura mais adaptável às
mudanças do ambiente interno e externo, flexibilizando-a para atender sempre
que possível ao crescente nível de exigência e padrão de consumo do cliente, a
Diretoria procurou preparar o BE para enfrentar a forte concorrência.
Pode-se dizer que o BE partiu de um estrutura de controle
inoperante, onde havia uma dicotomia entre os objetivos globais e os objetivos
individuais, a partir de uma situação estável de mercado: clientes cativos
(funcionários públicos estaduais e federais) e o float que gerava cobertura
suficiente para folha de pagamento e despesas operacionais; para implementação
de uma estrutura de controle gerencial mais próxima ao visto na literatura,
permitindo ao banco enfrentar a nova realidade do ambiente macroeconômico.
Cabe destacar nessa reformulação a assunção da gestão
participativa, discutindo questões fundamentais em toda organização de modo a
fortalecer o processo de comunicação e aumentar o comprometimento das
98
pessoas no cumprimento das decisões tomadas. Ainda cabe mencionar o
estabelecimento da missão e dos objetivos da empresa, a modernização
empresarial primando pelo desenvolvimento dos gerentes e evolução tecnológica
e, a criação do órgão de Controladoria orientado para o planejamento e controle.
Conforme preconizado pela literatura o aumento do tamanho e
complexidade das operações dentro das empresas e do seu mercado de atuação,
além da necessidade de melhoria da qualidade das decisões gerenciais
impulsionam as organizações para a adoção de uma estrutura descentralizada.
Dentro dessa filosofia pode-se dizer que as mudanças efetuadas no BE
caminharam nesta direção, através da criação de unidades de negócios
descentralizadas.
Dentro do conceito apresentado por Anthony & Govindarajan (1998)
que certas decisões devem ser tomadas ao nível mais baixo possível da estrutura
organizacional, ou seja, mais perto da ação, onde a tomada de decisão é
implementada rapidamente pela pessoa envolvida mais perto da atividade do que
pela alta direção não envolvida diretamente, pode-se dizer que a delegação de
autoridade dada pela diretoria do BE à essas unidades foi ao encontro das
melhores formas de controle gerencial em empresas cuja a complexidade de
operação e concorrência de mercado agressiva devem adotar propiciando
principalmente o aumento da velocidade e qualidade das decisões operacionais.
99
Numa análise mais introspectiva das unidades de negócio criadas,
percebe-se que primeiramente elas não constituem efetivamente uma divisão/filial
nos moldes tradicionais, ou seja, com contabilidade própria de uma empresa
jurídica. Tal fato contudo, não tira o mérito da estrutura criada pois na sua
concepção, conforme já visto, é aderente a literatura. No entanto, está claro que
os gerentes responsáveis pelas unidades não gozam de total autonomia com
questões como contratação/demissão de empregados, treinamento de pessoal,
contratação de firmas tercerizadas, de redução de custos administrativos tais
como despesas com aluguéis. Além disso, as unidades de produção guardam
uma proximidade física grande com administração central, que trazem dificuldades
naturais a autonomia delegada. Assim, sob esse prisma, essa divisão em “centros
de responsabilidades” se afasta ao preconizado pela literatura.
De acordo com Vancil (1979), o gerente de um centro de lucro é
responsável por um negócio, inserido num mercado competidor, assim sua
principal atribuição é imaginar o que é necessário fazer para que o seu negócio
progrida e obtenha lucro. Dentro desta colocação pode-se associar a Unidade
Administradora de Produtos a um Centro de Lucro pois a sua principal atribuição
era gerar lucro ao BE. Os gerentes deveriam estar concatenados ao mercado e
criar/copiar os produtos que os clientes demandavam, gerando a maior margem
possível para aumento da lucratividade do banco.
De acordo com Anthony & Govindarajan (1998) o gerente dos
centros de receita em geral não tem preocupações com os inputs, seu foco é a
100
venda de produtos (outputs). Esses centros são voltados para o marketing, onde
os resultados das vendas são comparados com as metas de vendas
estabelecidas. Assim, as agências (Unidades de Distribuição dos Produtos) do BE
assemelham a esta definição, pois dentro da nova filosofia adotada no banco sua
principal missão era vender os produtos financeiros criados pelas unidades de
produção, além é claro, de ser o local onde os clientes efetuam suas transações
bancárias.
Conforme visto na literatura, em estruturas descentralizadas é
extremamente importante, para um gerenciamento efetivo, a utilização de
sistemas de mensuração, pois o ato de medir é fundamental para expressar a
distância dos objetivos e clarificar os alvos das decisões a serem tomadas, mas
principalmente para controlar e avaliar os resultados das atividades envolvidas no
processo de alcançar as metas. Dessa forma o estabelecimento, pelo BE, de um
sistema que permitisse avaliar desempenho era uma questão impositiva para seu
sucesso, apesar das resistências naturais pelo fato de ser um banco estatal, onde
recompensas e principalmente punições, em geral, não fazem parte de seus
sistemas de controle conforme já apurado por Gomes (1983) e Spiller (1990).
As medidas de avaliação de desempenho adotadas pelo BE para
avaliar os gerentes das Unidades de Produção foram baseadas na apuração da
margem de contribuição agregada (giro X margem). Segundo um alto dirigente do
BE, esta resolução foi tomada de modo a que não fossem imputados ao
desempenho desses gerentes a parcela dos custos fixos das unidades do banco,
101
uma vez que o controle destes gastos, por parte deles, não fazia parte do
planejamento previsto para essa fase de implantação da estrutura. Dessa forma,
usando esse indicador, a avaliação recairia apenas nas ações controláveis pelo
gerente, ou seja, as receitas e os custos variáveis.
Outro ponto importante dessa avaliação, a fim de ser considerada
justa pelos empregados, é comparar o desempenho dos gerentes com seu
desempenho passado, principalmente nesta fase inicial, uma vez que uma
comparação entre as unidades seria injusta face as diferenças existentes entre os
produtos. Tal regra poderá contribuir de forma motivacional para que os gerentes
se empenhem na sua própria superação, convergindo seus interesses individuais
com os interesses do banco na maximização do resultado, além de evitar uma
concorrência danosa para os interesses da empresa. Ainda, pode-se dizer, tal
metodologia evita o efeito continuado de crises no mercado, visto que a possível
redução do desempenho seria detectado no período inicial e, a partir da
estabilização do ambiente externo, as variações dos desempenhos, apurados
entre os períodos, se estabilizariam num novo patamar.
Sendo as Unidades de Administração de Produtos um centro de
lucro, e admitindo que seus gerentes não tem como atuar na redução dos seus
custos fixos, segundo o exposto pela literatura, principalmente através de Anthony
& Govindarajan (1998), o uso da margem de contribuição como indicador é o
apropriado para este caso, inclusive por possibilitar comparar resultados entre
unidades de negócio diferentes.
102
Já as Unidades de Distribuição dos Produtos, as agências, tinham
como indicador, para medir o seu desempenho, as vendas globais, o que
conforme visto pela literatura também é um indicador apropriado para um centro
de receita. No entanto, cabe chamar atenção, conforme descrito no estudo de
caso, ao comparar o desempenho entre as agências, apesar de numa primeira
análise parecer estar comparando gerentes que executam trabalhos iguais, deve-
se ponderar que, conforme a própria missão do BE em desempenhar também
uma função social dentro do Estado do ABC, algumas agências operam em áreas
de baixo poder aquisitivo, dificultando o trabalho de vendas dos gerentes. Tal fato,
inclusive, evita que à luz da racionalidade financeira, o BE feche as agências
deficitárias.
Sob este aspecto, cabe a diretoria do BE, observar o desempenho
dos gerentes dessas agências deficitárias sob um outro prisma. Conforme
evidenciado por Gomes(1983), Eccles (1991) e Anthony & Govindarajan (1998),
existem dois tipos de avaliação: uma concentrada no gerente e outra na
performance econômica da unidade, o que é bastante atinente com essa situação.
Assim injustiças, e conseqüente desestímulo, serão evitados pois possivelmente
os gerentes dessas agências deficitárias poderão estar com desempenho superior
a média, no entanto, por fatores alheio ao seu desempenho, o resultado da
agência vai mal.
103
Importante ressaltar, ainda, que a interpretação da Diretoria em não
impor indicadores que ponderem parcelas dos ativos do BE é acertada, visto que
tanto os gerentes de produção quanto os gerentes de agências, não têm
autonomia para empreender ações para vender, comprar ou alugar ativos. Além
disso, dentro de uma filosofia até pouco tempo predominante, principalmente em
empresas estatais, era comum ter-se imóveis grandes e luxuosos, impactando
demasiadamente, por exemplo, o denominador de indicadores como o ROI.
Tal decisão, conforme Dearden (1987) e Anthony & Govindarajan
(1998), estimula, tanto aos gerentes das unidades de produtos como aos gerentes
das agências, a planejar ações que possam aumentar o lucro do BE como um
todo, evitando aumentar apenas o resultado de suas unidades, favorecendo
portanto a harmonia interna e o alcance do goal congruence, requisito básico para
o sucesso do sistema de medição, segundo a unanimidade dos autores.
O único preço de transferência utilizado pelo BE, que pôde ser
apurado, é aquele que a mesa, responsável pela captação de recursos junto às
instituições financeiras e pela apuração das taxas praticadas pelo mercado,
repassa às unidades de produção para que estas estabeleçam os parâmetros
para venda dos produtos. Esse spread era calculado em cima dos custos fixos, o
que, aliás, pode ser considerado como não apropriado, por transferir ineficiências,
conforme visto na literatura.
104
Catelli et al (1999) consideram importante o estabelecimento de
preços de transferência com base em conceitos racionais e lógicos, contribuindo
numa justa avaliação de desempenho e resultados, levando à empresa tomar as
melhores decisões. Acredita, também, que modelos baseados em preços de
mercado são mais apropriados para otimização do resultado econômico das
empresas. Anthony & Govindarajan (1998) consideram justo atribuir uma parcela
de lucro neste preço, pois empresas vendem produtos à outras auferindo lucro.
Conclui-se, portanto, que a política de preço de transferência
adotada inicialmente pelo BE, ainda está distante da melhor prática indicada pela
base teórica.
Quanto a decisão da Diretoria do BE de não estabelecer nenhum
preço de transferência nas transações entre as Unidades de Infraestrutura e as
outras unidades, pode-se citar Eccles (1983), quando pondera que a política de
preços de transferência de uma organização, e o processo de administrá-la,
depende da situação particular e da direção para onde a empresa está
caminhando, de modo a garantir que seu tratamento seja dentro de bases mais
justas. Dessa forma, sob este aspecto, pode-se julgar a cautela da diretoria do BE,
na implantação dessa política, conveniente para o seu sucesso futuro.
Nenhuma medida não-financeira é utilizada na avaliação de
desempenho no BE. Segundo a filosofia descrita por um dirigente, para saber, por
exemplo, se um cliente estava satisfeito com os serviços do banco, bastava
105
averiguar a variação da quantidade de contas correntes mantidas, ou mesmo a
quantidade de aplicações realizadas. Também sobre este aspecto o sistema de
controle deixa muito a desejar quando confrontado com a literatura utilizada
neste estudo, havendo unanimidade por parte dos diversos autores referenciados,
sobre a necessidade de se complementar os indicadores financeiros com medidas
não financeiras.
Lybrand et al (1996), por exemplo, recomendam equilíbrio entre
indicadores quantitativos e qualitativos, uma vez que alguns aspectos para
avaliação de desempenho são difíceis de quantificar em números, mas ignorá-los
poderia levar a um julgamento errado.
Dearden (1987) considera muito importante a adição de medidas não
financeiras à avaliação de desempenho, advertindo que uma empresa que quer
crescer não pode utilizar de técnicas desenvolvidas à décadas. Kaplan & Norton
(1992) advertem que as medidas financeiras não são completas para as
habilidades necessárias para sobrevivência da empresa dentro do ambiente
agressivo dos dias atuais.
O Banco Estadual também não se utiliza da ferramenta do
benchmarking em seu sistema de avaliação de desempenho/resultado. Conforme
Silva (1999), trata-se de uma estratégia competitiva fundamental para a
sobrevivência da empresa dentro de um ambiente altamente competitivo.
Nenhuma empresa precisa construir um sistema perfeito de controle, evidenciado
106
na literatura como algo que não existe, na verdade, a empresa deve apenas
construir um sistema melhor do que o de seu concorrente.
Finalmente, pode-se dizer que associar um plano de remuneração
por performance, ao sistema de avaliação de desempenho, é um caminho correto
para o sucesso das ações gerenciais implementadas pelo BE. Conforme Gomes
(1983) ressaltou, num sistema de controle gerencial deve-se ter “um sistema de
recompensas que incentive os empregados para o alcance das metas gerais da
organização”. Lybrand et al (1996) salienta, também, que um dos objetivos da
avaliação de desempenho é motivar a performance individual à remuneração.
107
Capítulo Seis – Conclusões, Recomendações e
Sugestões para Pesquisas Futuras
108
6.1 – Sumário
O objetivo desta pesquisa foi o de analisar um banco sob controle
estatal, Banco Estadual S.A., procurando investigar as relações existentes entre
estruturas descentralizadas em unidades de negócio, principalmente no que se
refere à questão da avaliação de desempenho, e a prática utilizada pela empresa
em tela.
Assim, para que o objetivo pudesse ser alcançado, evidenciou-se
uma revisão de literatura a fim de estudar as teorias defendidas por autores do
assunto proposto.
A partir da utilização do método do estudo de caso, foram descritos
aspectos relevantes do Banco Estadual, que focalizam o tema proposto de forma
a permitir uma análise comparativa dos dados com a revisão de literatura,
apresentada no capítulo dois, e chegar a algumas conclusões.
6.2 – Conclusões
Conforme descrito neste trabalho, o BE acordou para a realidade do
mercado e está empreendendo uma mudança radical na sua estrutura, de forma a
adequá-la para enfrentar a concorrência externa. A alta direção está
empreendendo esforços para agilizar os processos decisórios e aumentar a
velocidade de colocação de produtos no mercado. A filosofia das mudanças,
109
procurando descentralizar as decisões e buscando dar maior autonomia aos
gerentes, caminha na direção do exposto na literatura.
Não se pode dizer, ainda, que a estrutura implementada é aderente à
base teórica que fundamentou este estudo. Apesar de já parecer existir uma certa
preocupação com uma maior aproximação da tomada de decisão, do nível de topo
para a base, ou seja, perto do cliente, permitindo agilidade de resposta do banco
na luta pelo aumento/ manutenção de receitas, não é dada autonomia total aos
gerentes, tanto das Unidades Administradora de Produtos como das Unidades
Distribuidora de Produtos (agências), em decisões, por exemplo, de redução de
custos fixos. A razão, talvez, seja a permanência de aspectos culturais internos,
isto é, o controle estatal, lento para as questões como redução de pessoal,
desmobilização de ativos pouco rendosos, fechamento de unidades deficitárias,
mas cumpridoras de “um papel social”.
Já existe uma definição da missão que o banco deverá desempenhar
e clareza no estabelecimento dos objetivos empresariais, estabelecendo a busca
da eficiência para cumprimento das metas de modo a alcançar resultados
econômicos positivos, para tanto, a melhoria do sistema de controle é essencial.
Parece existir, também, uma visão estratégica de longo prazo, refletida
principalmente nos investimentos em tecnologia, na qualificação profissional e na
implementação de uma estrutura flexível para adoção dos objetivos, metas e
apuração dos resultados/desempenho inerentes a cada negócio, com tratamento
diferenciado.
110
Neste contexto, a implementação de um sistema de avaliação de
desempenho associado a um sistema de remuneração/ premiação é um passo
importante para motivação do empregado, podendo influenciar seu
comportamento no sentido de alcançar a congruência dos objetivos individuais e
globais, conforme abordado na literatura.
Cabe aqui considerar que o sistema de medidas de desempenho
implementado, apesar de ser conveniente no tocante à avaliação a centros de
lucro e centros de receita, conforme a base teórica referenciada, é incipiente ao
não considerar mais medidas, principalmente não-financeiras. Tal fato, pode
provocar injustiças no processo de avaliação, contrariando os interesses de
congruência dos objetivos, pois possivelmente trará desmotivação aos
empregados. Além disso, o BE deve urgentemente adequar a esse sistema
considerações sobre custo e preços de transferência, pois tal apropriação é
essencial para o alcance dos objetivos de justiça e controle (Eccles, 1991).
Conforme Sancovschi (1986) salientou, sistemas de controle são, em
última análise, sistemas de mensuração. Portanto, é fundamental para a gestão do
BE uma abrangência maior do seu sistema de avaliação de
desempenho/resultados, utilizando não só medidas financeiras, mas também
indicadores não-financeiros e indicadores de benchmarking. A análise permanente
desses indicadores propiciará à direção do banco, e aos gerentes das unidades de
negócio, a monitoração do cumprimento das metas estabelecidas, corrigindo o
111
rumo das ações em direção ao planejamento feito, ou seja, permitindo um
verdadeiro exercício de controle gerencial.
Outra medida muito importante tomada pela nova Diretoria, de forma
a conseguir um melhor controle gerencial, foi a implantação da área de
Controladoria. Seu papel será de vital importância para o alcance dos objetivos do
banco. Apoiado num sistema de informações acurado, esse órgão terá o papel de
prover à alta direção informações precisas e atuais, propiciando agilidade na
tomada de decisão e nas intervenções corretivas, permitindo que tais ações
possam assegurar que o planejamento estabelecido esteja caminhando na direção
certa e, possibilitando inclusive, corrigir falhas que porventura tenham existido na
sua elaboração.
Sob esse aspecto, a direção do BE parece estar consciente da
importância da área da Controladoria, ao estabelecer que um de seus principais
objetivos será o de promover a integração eficaz das áreas e dotar o banco de
instrumentos que permitam a congruência entre os objetivos entre as áreas, de
modo que eles convirjam com os objetivos da empresa no alcance das metas
planejadas. Pode-se dizer que a Controladoria terá que desempenhar um
importante papel para as mudanças organizacionais, contribuindo para o
aperfeiçoamento da gestão do BE, incentivando posturas gerenciais mais
empreendedoras orientadas no cumprimento dos objetivos do banco, na busca
dos resultados e otimização das decisões na empresa.
112
6.3 – Recomendações
É recomendável ao BE nessa fase de mudanças, utilizar ferramentas
como o Balanced Scorecard que, conforme apontado por Kaplan & Norton ( apud
Ferreira, 1999), mostrou-se eficaz ao ser utilizado na condução de um processo
de mudança. O Scorecard permite identificar ações estratégicas necessárias à
consecução de objetivos organizacionais mais amplos ao identificar um pequeno
número de vetores críticos que darão suporte a esses objetivos, resultando num
modelo consensual da empresa inteira.
Importante ressaltar também que o BE deve ampliar o espectro de
indicadores a serem utilizados no processo de avaliação de desempenho/
resultados, tais como: satisfação dos clientes, clima no trabalho, inovações em
processo, qualidade das informações e indicadores de benchmarking. Outro
aspecto que o BE deve contemplar nesse processo é, conforme recomendação de
Lybrand et al (1996), buscar sempre a evolução do sistema de medição
acompanhando as mudanças da realidade empresarial.
O Banco Estadual deve, por outro lado, evitar que ocorra no seu
processo de descentralização o que, em geral, acontece em muitas empresas: a
“autonomia” dada ao gerente só é notada quando da avaliação dos resultados,
principalmente quando o resultado é negativo. Normalmente, procura-se
explicações ao mau resultado e cobra-se do gerente a falta de iniciativa pela não
solução de problemas passados que evitariam o insucesso atual, esquecendo-se
113
normalmente, por exemplo, do controle de despesas imposto pela hierarquia
superior limitando por deveras a “autonomia” do gerente.
Outro ponto importantíssimo, conforme Spiller (1990) apontou em
seu trabalho, que pode afetar o BE, por se tratar de um banco sob controle estatal,
é a descontinuidade administrativa, provocada pela interferência e sucessão
política. De acordo com o autor, tais aspectos acarretam em alteração de
prioridades, reformulação dos objetivos da organização e falta de
comprometimento dos dirigentes para com os propósitos. Assim, cabe ao Governo
do ABC entender que, para a sobrevivência do BE, é necessário uma
administração profissional, voltada para o lucro e eficiência dos serviços
prestados, única forma de sobrevivência dentro do agressivo mercado bancário.
6.4 – Sugestões para novas pesquisas
Seria importante e oportuno sugerir que este estudo pudesse ser
replicado em outros bancos comerciais ou de investimentos, privados ou estatais,
de maneira a formar uma massa crítica que possa estabelecer generalizações a
respeito deste assunto, contribuindo para o enriquecimento dos conhecimentos
nessa área de concentração.
114
Por último, no intuito de provocar uma reflexão ao leitor, após os
conceitos abordados neste estudo, cabe reproduzir uma parte de recente artigo
de Peter Drucker12, um dos pais da moderna teoria da administração:
“Ouve-se falar muito no ‘fim da hierarquia’. Isso é bobagem pura e
simples. Em qualquer instituição é preciso que haja uma autoridade
final, ou seja, um ‘chefe’ – alguém que, numa situação de perigo
comum, tome a decisão final e possa esperar ser obedecido. (É
provável que toda instituição enfrente uma situação desse tipo, cedo
ou tarde.) Se o navio está afundando, o capitão não convoca uma
reunião – ele dá as ordens. E, para que o navio possa ser salvo, é
preciso que todos obedeçam a essas ordens, que todos saibam
exatamente aonde devem ir e o que devem fazer, e que o façam sem
discussão, sem ‘participação’. A hierarquia, e a aceitação dela sem
questionamentos por todos na organização, é a única esperança de
salvação numa crise.”
12 DRUCKER, Peter F., Revista Exame, 24/02/99, p.38
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