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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ CURSO DE ZOOTECNIA FABIANA DE ORTE STAMM ENRIQUECIMENTO AMBIENTAL PARA URSO-DE-ÓCULOS E CACHORRO-DO- MATO NO ZOOLÓGICO MUNICIPAL DE CURITIBA CURITIBA 2013

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ

CURSO DE ZOOTECNIA

FABIANA DE ORTE STAMM

ENRIQUECIMENTO AMBIENTAL PARA URSO-DE-ÓCULOS E CACHORRO-DO-MATO NO ZOOLÓGICO MUNICIPAL DE CURITIBA

CURITIBA 2013

FABIANA DE ORTE STAMM

ENRIQUECIMENTO AMBIENTAL PARA URSO-DE-ÓCULOS E CACHORRO-DO-MATO NO ZOOLÓGICO MUNICIPAL DE CURITIBA

Trabalho de Conclusão do Curso de Graduação em Zootecnia da Universidade Federal do Paraná, apresentado como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Zootecnia. Supervisora: Profª. Dra. Carla Forte

Maiolino Molento Orientadora do Estágio Supervisionado:

Zootec. Silmara Maldonado Marthos

CURITIBA 2013

AGRADECIMENTOS

Aos meus pais, pelo incentivo e por me apoiarem sempre.

Ao meu irmão, Leandro, por me alegrar em todas as situações.

À professora Carla, pela orientação, incentivo, apoio e por me

apresentar a oportunidade de estágio no Zoológico.

À Silmara, pelas explicações, ensinamentos, paciência e por ser, além

de uma orientadora sempre presente, uma verdadeira amiga.

À Juliana Pucca, pela amizade, companhia, pelas fotos maravilhosas e

pelos bons momentos perturbando o Marquinhos.

À Lis, pela companhia... sem você o Zoo ficou muito mais quieto.

À todos os técnicos do Zoológico, em especial ao Marcelo, Carlos,

Manoel, Cris, Nancy e Hélia pelos ensinamentos e boas conversas.

Aos tratadores do Zoológico, pela disposição e auxílio durante a parte

prática do meu trabalho.

À todos os professores da graduação, em especial à professora Alda,

por ser sempre tão compreensiva e estar sempre disposta a ajudar.

Ao Bruno Müller, por toda a ajuda com as estatísticas do trabalho.

Ao Giuliano, pelas respostas a tantas dúvidas.

À todos os meus amigos, pelos ótimos momentos junto comigo.

À Hisly, pela amizade ao longo de todo o curso e pela companhia em

praticamente todos os trabalhos, projetos e viagens de Zootecnia.

Aos meus avós, por todo o apoio e pela companhia nos almoços.

À Deus, por tudo.

Você nunca sabe que resultados virão da sua ação. Mas se você não fizer nada, não existirão resultados.

Mahatma Gandhi

Podemos muito bem perguntar-nos: o que seria do homem sem os animais? Mas não o contrário: o que seria dos animais sem o homem?

Christian Hebbel

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1. Urso-de-óculos (Tremarctos ornatus) do Zoológico Municipal de Curitiba. Setembro de 2013. ............................................................................................ 21

Figura 2. Cachorro-do-mato (Cerdocyon thous) do Zoológico Municipal de Curitiba. Outubro de 2013. .............................................................................................. 22

Figura 3. Recinto do urso-de-óculos no Zoológico Municipal de Curitiba. (A) Parte externa e (B) parte interna do recinto. Setembro de 2013................................. 25

Figura 4. Itens de enriquecimento ambiental para o urso-de-óculos no Zoológico Municipal de Curitiba, sendo (A) dieta do dia inserida dentro de caixas e (B) caixa colocada no recinto. Setembro de 2013. .................................................. 27

Figura 5. Itens de enriquecimento ambiental para o urso-de-óculos no Zoológico Municipal de Curitiba, sendo (A) coco verde e ração e (B) essências de baunilha e morango. Outubro de 2013. ........................................................................... 27

Figura 6. Bolo dentro de abóbora para enriquecimento ambiental do urso-de-óculos no Zoológico Municipal de Curitiba. Outubro de 2013. ...................................... 28

Figura 7. Itens de enriquecimento ambiental para o urso-de-óculos no Zoológico Municipal de Curitiba, sendo (A) pneu preso no recinto e (B) erva-doce. Outubro de 2013. ............................................................................................................ 28

Figura 8. Itens de enriquecimento ambiental para o urso-de-óculos no Zoológico Municipal de Curitiba, sendo (A) pneu contendo ração e (B) mel. Outubro de 2013. ................................................................................................................. 29

Figura 9. Itens de enriquecimento ambiental para o urso-de-óculos no Zoológico Municipal de Curitiba, sendo (A) tronco e (B) canela em rama. Outubro de 2013. .......................................................................................................................... 29

Figura 10. Coco maduro como item de enriquecimento ambiental para o cachorro-do-mato no Zoológico Municipal de Curitiba. Outubro de 2013. ........................ 31

Figura 11. Itens de enriquecimento ambiental para o cachorro-do-mato no Zoológico Municipal de Curitiba, sendo (A) caixa de papelão e (B) essência de baunilha. Outubro de 2013. .............................................................................................. 32

Figura 12. Tubo de PVC com ratos abatidos e folhas frescas como item de enriquecimento ambiental para o cachorro-do-mato no Zoológico Municipal de Curitiba. Outubro de 2013. ................................................................................ 32

Figura 13. Pneu utilizado como item de enriquecimento ambiental para o cachorro-do-mato do Zoológico Municipal de Curitiba. (A) Pneu pendurado no recinto e (B) carne inserida no centro do pneu. Outubro de 2013. .................................. 33

Figura 14. Itens de enriquecimento ambiental para o cachorro-do-mato no Zoológico Municipal de Curitiba, sendo (A) tronco e (B) carne presa em varal de barbante. Outubro de 2013. .............................................................................................. 33

Figura 15. Urso-de-óculos (Tremarctos ornatus) do Zoológico Municipal de Curitiba interagindo com enriquecimento ambiental: (A) segurando caixa de papelão, (B) empurrando pneu, (C) lambendo mel e (D) farejando tronco. Outubro de 2013. .......................................................................................................................... 38

Figura 16. Cachorro-do-mato interagindo com enriquecimento ambiental: (A) carregando coco maduro, (B) farejando temperos espalhados pelo recinto, (C) comendo ovo no pote de argila e (D) pulando tronco. Outubro de 2013. .......... 42

Figura 17. Fotos dos locais de estágio.. ................................................................... 50

LISTA DE TABELAS

Tabela 1. Itens de enriquecimento ambiental aplicados para o urso-de-óculos (Tremarctos ornatus) no Zoológico Municipal de Curitiba durante a fase de intervenção, em setembro e outubro de 2013. .................................................. 26

Tabela 2. Itens de enriquecimento ambiental aplicados para o cachorro-do-mato (Cerdocyon thous) no Zoológico Municipal de Curitiba durante a fase de intervenção, em outubro de 2013. ..................................................................... 30

Tabela 3. Frequência dos comportamentos observados, em porcentagem, do Tremarctos ornatus, agrupados nas categorias ativo, inativo, anormal e não visível, e separados entre as fases pré-intervenção (PRE) e durante intervenção (INT). ................................................................................................................. 39

Tabela 4. Frequência dos comportamentos observados, em porcentagem, do Cerdocyon thous, agrupados nas categorias ativo, inativo, anormal e não visível, e separados entre as fases PRE e INT. ............................................................ 43

Tabela 5. Atividades desenvolvidas durante o período de estágio e respectivas cargas horárias .................................................................................................. 46

LISTA DE QUADROS

Quadro 1. Etograma com as frequências dos comportamentos do urso-de-óculos (Tremarctos ornatus) nas fases pré-intervenção (PRE) e durante intervenção (INT) no Zoológico Municipal de Curitiba, em setembro e outubro de 2013. ..... 34

Quadro 2. Etograma com as frequências dos comportamentos observados do cachorro-do-mato (Cerdocyon thous) nas fases pré-intervenção (PRE) e durante intervenção (INT) no Zoológico Municipal de Curitiba, em outubro de 2013. .... 40

LISTA DE ABREVIATURAS

PRE: Fase de pré-intervenção (de enriquecimento ambiental) INT: Fase de intervenção (de enriquecimento ambiental)

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 12 2. OBJETIVOS ......................................................................................................... 13 2.1 Objetivo geral ..................................................................................................... 13 2.2 Objetivos específicos .......................................................................................... 13 3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ................................................................................. 14

3.1 Bem-estar animal ............................................................................................... 14 3.2 Enriquecimento ambiental .................................................................................. 16 3.3 Zoológicos .......................................................................................................... 17 3.4 Escolha das espécies ......................................................................................... 19 3.4.1 Urso-de-óculos (Tremarctos ornatus) .............................................................. 19

3.4.2 Cachorro-do-mato (Cerdocyon thous) ............................................................. 21

4. MATERIAL E MÉTODOS ..................................................................................... 23 4.1 Local de estudo .................................................................................................. 23

4.2 Método de observação ....................................................................................... 23 4.3 Urso de óculos (Tremarctos ornatus) ................................................................. 24

4.3.1 Histórico do animal .......................................................................................... 24

4.3.2 Recinto ............................................................................................................ 24 4.3.3 Tempo de observação ..................................................................................... 25 4.3.4 Itens de enriquecimento ambiental aplicados .................................................. 25 4.4 Cachorro-do-mato (Cerdocyon thous) ................................................................ 29

4.4.1 Histórico do animal .......................................................................................... 29

4.4.2 Tempo de observação ..................................................................................... 30 4.4.3 Enriquecimentos ambientais aplicados............................................................ 30

5. RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................................................ 34 5.1 Etograma do Tremarctos ornatus durante as fases PRE e INT .......................... 34 5.2 Descrição das interações com enriquecimento ambiental pelo Tremarctos ornatus durante a fase INT ....................................................................................... 36

5.3 Resultados estatísticos dos comportamentos observados nas fases PRE e INT do Tremarctos ornatus ............................................................................................. 38

5.4 Etograma do Cerdocyon thous durante as fases PRE e INT.............................. 40 5.5 Descrição das interações com enriquecimento ambiental pelo Cerdocyon thous durante a fase INT .................................................................................................... 41 5.6 Resultados estatísticos dos comportamentos observados nas fases PRE e INT do Cerdocyon thous ................................................................................................. 42

6. CONCLUSÕES .................................................................................................... 45 7. RELATÓRIO DE ESTÁGIO .................................................................................. 46

7.1 Plano de estágio ................................................................................................. 46 7.2 Local do estágio ................................................................................................. 46

7.3 Descrição das atividades desenvolvidas ............................................................ 47 7.3.1 Acompanhamento da rotina na cozinha .......................................................... 47 7.3.2 Acompanhamento da rotina dos tratadores ..................................................... 47

7.3.3 Acompanhamento de preparação e aplicação de enriquecimento ambiental para outras espécies, além das estudadas .............................................................. 48

7.3.4 Acompanhamento da rotina dos técnicos (biólogos, médicos veterinários e zootecnistas) ............................................................................................................ 48 7.3.5 Observação das espécies em estudo e aplicação de enriquecimento ambiental ................................................................................................................................. 49

8. CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 51

REFERÊNCIAS ........................................................................................................ 52 ANEXOS................................................................................................................... 56

Anexo 1. Termo de compromisso e Plano de estágio .............................................. 56 Anexo 2. Termo de compromisso e Plano de estágio .............................................. 57 Anexo 3. Lista de frequência no local de estágio ..................................................... 58 Anexo 4. Lista de frequência no local de estágio ..................................................... 59 Anexo 5. Ficha de avaliação no local de estágio ...................................................... 60

RESUMO

Animais que são criados em cativeiro, por permanecerem em um ambiente diferente

do natural e pouco dinâmico, ficam inativos por longos períodos ou desenvolvem

comportamentos anormais, sendo estes indicadores de baixo grau de bem-estar.

Para reduzir comportamentos anormais e incentivar maior atividade dos animais de

cativeiro, são inseridos enriquecimentos ambientais nos recintos dos mesmos. O

presente trabalho foi realizado no Zoológico Municipal de Curitiba, fazendo parte do

estágio de conclusão de curso. Parte do estágio também foi realizada no Passeio

Público, sendo desenvolvidas atividades de acompanhamento da rotina na cozinha,

dos tratadores, dos técnicos e atividades de enriquecimento ambiental para animais,

em ambos locais de estágio. O estágio atendeu às expectativas, permitindo uma

visão do trabalho do zootecnista além da produção de animais. O objetivo deste

trabalho foi avaliar os efeitos do enriquecimento ambiental para duas espécies no

Zoológico Municipal de Curitiba, o urso-de-óculos (Tremarctos ornatus) e o cachorro-

do-mato (Cerdocyon thous). O trabalho foi dividido em duas fases: pré-intervenção

(PRE) e durante intervenção (INT) com enriquecimento ambiental. O comportamento

do urso-de-óculos foi observado por um total de 63 h e 20 min e o cachorro-do-mato

foi observado por 71 h e 25 min ao todo. Conclui-se que não houve diferença

significativa nas atividades do urso-de-óculos e do cachorro-do-mato com a

utilização de enriquecimento ambiental conforme aplicado neste trabalho.

Palavras-chave: Bem-estar animal, enriquecimento ambiental, estereotipia.

12

1. INTRODUÇÃO

Os zoológicos, cujo objetivo inicial era apenas demonstrar poder e riqueza por

meio de coleções de animais exóticos, atualmente apresentam um importante papel

na conservação da biodiversidade, destacando-se entre seus objetivos a

manutenção e reprodução de espécies ameaçadas, a pesquisa científica e a

educação ambiental, além de ser uma opção de lazer para o público visitante (TASSI

et al., 2008).

No entanto, existem diferenças evidentes entre o ambiente de um zoológico e

o ambiente natural de determinada espécie animal. Um exemplo dessa diferença é a

obtenção de alimentos: enquanto localizar alimentos apropriados é um dos maiores

problemas encontrados pelos animais na natureza, sendo que eles gastam boa

parte do tempo de caminhada localizando alimento e extraindo-o do seu ambiente

(GRIFFIN, 2001), animais que são criados em cativeiro, na maioria dos casos,

recebem os seus alimentos prontos, sem haver necessidade de dispender tempo à

procura ou à captura do mesmo. Dessa forma, os animais de cativeiro permanecem

grande parte do tempo inativos, resultando frequentemente no desenvolvimento de

comportamentos anormais, devido à falta de atividades e de diferentes estímulos no

ambiente em que se encontram.

Um método para reduzir a frequência de comportamentos estereotipados é a

introdução de técnicas de enriquecimento ambiental para animais cativos, resultando

em efeitos positivos sobre o bem-estar e facilitando a adaptação ao cativeiro

(PIZZUTTO et al., 2009). Portanto, sabendo-se da importância do enriquecimento

ambiental para o bem-estar de animais criados em cativeiro, este trabalho objetivou

a aplicação de enriquecimento ambiental a duas espécies de animais no Zoológico

Municipal de Curitiba.

13

2. OBJETIVOS

2.1 Objetivo geral

Avaliar os efeitos do enriquecimento ambiental para duas espécies de animais

no Zoológico Municipal de Curitiba.

2.2 Objetivos específicos

Selecionar duas espécies de animais do zoológico.

Observar o comportamento dos animais das espécies escolhidas, por

meio de estudos etológicos, antes de inserir enriquecimento ambiental.

Planejar o enriquecimento ambiental.

Aplicar enriquecimento ambiental no recinto dos animais.

Observar o comportamento dos animais em estudo durante o

enriquecimento ambiental.

Estudar a relevância do enriquecimento utilizado a partir da

comparação dos dados etológicos obtidos.

14

3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

3.1 Bem-estar animal

O bem-estar de um indivíduo pode ser definido como seu estado em relação

às tentativas de se adaptar ao seu ambiente, podendo este termo ser aplicado às

pessoas ou aos animais silvestres, de produção, de zoológicos, de experimentação

ou à animais nos lares (BROOM e MOLENTO, 2004). De acordo com BROOM e

FRASER (2010), o bem-estar é a característica de um indivíduo em um momento

específico, podendo variar em uma escala de muito bom a muito ruim.

MOLENTO (2007) afirma que os objetivos gerais das ações de bem-estar

animal são diminuir o sofrimento físico, comportamental e psicológico dos animais

sob nossa guarda. Uma vez que os animais são considerados seres sencientes, ou

seja, apresentam a capacidade de ter sentimentos associados à consciência

(MOLENTO, 2005), é responsabilidade do ser humano promover aos mesmos uma

vida livre de sofrimento. Considera-se que o bem-estar de uma espécie animal

depende da sua complexidade de vida e comportamento, habilidade para aprender,

funcionamento do cérebro e do sistema nervoso e indicações de dor, distresse e

consciência, baseadas em observações e trabalhos experimentais (BROOM e

FRASER, 2010).

Apesar da relação entre seres humanos e animais, assim como a

manutenção de animais em cativeiro, datarem de milênios, o reconhecimento do

bem-estar animal como ciência foi estabelecido recentemente, nas últimas três

décadas (SAAD et al, 2011). De acordo com Peter Singer (SINGER, 1975), Jeremy

Bentham foi, provavelmente, o primeiro a denunciar a tirania do domínio do homem

sobre os animais, em 1780, com sua obra “An Introduction to the Principies of Morals

and Legislation”. A partir desse ano a preocupação com relação aos animais

aumentou gradativamente, surgindo leis para proteção dos mesmos. O livro “Animal

15

Machines”, escrito em 1964 por Ruth Harrison, foi o livro pioneiro que denunciava a

forma como os animais destinados à produção eram criados, sendo esta obra

responsável por diversas mudanças relacionadas ao bem-estar de animais de

produção, afetando as fundações filosóficas do pensamento ético sobre os animais

(DAWKINS, 2013).

Foi no ano de 1967 que o conceito das “cinco liberdades” surgiu, quando o

Conselho de Bem-Estar de Animais de Produção, na Inglaterra, estabeleceu um

conjunto de “estados” ideais, que deveriam ser respeitados (SAAD et al., 2011). De

acordo com os critérios das “cinco liberdades”, os animais devem viver (FARM

ANIMAL WELFARE COUNCIL, 1979):

1. Livres de fome e sede.

2. Livres de desconforto.

3. Livres de dor, ferimentos ou doenças.

4. Livres para expressar seu comportamento natural.

5. Livres de medo e angústia.

Situações que afetam o bem-estar animal podem ser identificadas pelo

comprometimento de um ou mais itens dessa lista.

Um bom indicador de que determinado animal apresenta seu bem-estar

prejudicado é a presença de comportamentos anormais, sendo que o cativeiro, por

ser um ambiente limitado, pode levar os animais a desenvolverem tais

comportamentos, uma vez que os locais onde permanecem confinados não

proporcionam a eles condições semelhantes a seu habitat natural, interferindo em

seu bem-estar (SANDERS e FEIJÓ, 2007). Cabe aqui ressaltar que mensurações do

comportamento do animal apresentam grande valor na avaliação de seu bem-estar

(BROOM e MOLENTO, 2004).

De acordo com BROOM e FRASER (2010), o comportamento anormal pode

ser definido como um comportamento que difere em padrão, frequência ou contexto

daquele que é exibido pela maioria dos membros de uma espécie em condições que

permitam o desenvolvimento de uma gama comportamental completa. A estereotipia

é um tipo de comportamento anormal, sendo caracterizada como uma sequência de

movimentos repetidos, com pouca ou nenhuma variação, não apresentando um

propósito aparente (BROOM E FRASER, 2010), ocorrendo comumente em animais

confinados. Uma solução que se propõe para reduzir a ocorrência de

16

comportamentos anormais em animais que permanecem em condições de

confinamento é o uso de enriquecimento ambiental.

3.2 Enriquecimento ambiental

O conceito de enriquecimento ambiental foi introduzido nos anos de 1920, por

Robert Yerkes, ao desenvolver itens para brincadeiras destinados aos primatas de

suas pesquisas (AMERICAN ASSOCIATION OF ZOO KEEPERS - AAZK, 2013). De

acordo com YOUNG (2003), as práticas de enriquecimento ambiental apresentam

como objetivos aumentar a diversidade comportamental e de comportamentos

padrões de uma espécie, reduzir a frequência de comportamentos anormais,

incentivar o animal a utilizar seu ambiente de maneira mais positiva e aumentar a

habilidade do animal para lidar com desafios de maneira mais natural. PIZZUTTO et

al.(2009) afirmam que oferecer aos animais ambientes enriquecidos e dinâmicos

acarreta um aumento da excitação, podendo trazer benefícios funcionais e psíquicos

para os mesmos. O enriquecimento também proporciona uma atividade maior ao

animal, diminuindo seu estresse, resultando em maior facilidade de manejo para os

tratadores e reduzindo a ocorrência de doenças, além de proporcionar um interesse

maior do visitante pelo animal (TASSI et al., 2008).

O enriquecimento ambiental pode ser classificado em diferentes categorias,

sendo elas (AAZK, 2013):

Enriquecimento físico: relacionado às modificações de elementos

físicos no ambiente, com adição de novos itens, como, por exemplo, adicionar

piscina ao recinto, troncos, cordas, dentre outros objetos que estimulem

comportamentos naturais ou exploratórios.

Enriquecimento alimentar: caracterizado pela alteração no modo como

o alimento é fornecido ao animal. São exemplos desse tipo de enriquecimento

esconder o alimento pelo recinto, variar o horário de fornecimento da dieta e criar

desafios para que o animal consiga obter o alimento, como colocá-lo dentro de

caixas.

Enriquecimento social: muitas espécies de animais socializam-se, de

maneira a respeitar uma hierarquia social. A importância da formação de grupos

sociais para o bem-estar de algumas espécies de animais deve ser reconhecida e

respeitada. São exemplos desse tipo de enriquecimento manter animais em recintos,

17

com indivíduos de mesma espécie ou de espécies diferentes que possam interagir

de maneira positiva.

Enriquecimento sensorial: é o fornecimento de algo que estimule os

sentidos dos animais, como o tato, o olfato, a visão e a audição. Podem ser

aplicados perfumes, temperos e essências no recinto do animal, tocar gravações do

barulho de outros animais vocalizando, para incentivar respostas comportamentais

naturais e permitir o contato visual com outros animais presentes no local.

Enriquecimento cognitivo: consiste em fornecer aos animais

dispositivos que estimulem a capacidade de resolver problemas como, por exemplo,

quebra-cabeças.

De acordo com CAVALCANTI et al. (2010), a vida de um animal em cativeiro

difere substancialmente da vida livre, sendo a aproximação entre estes ambientes

uma das propostas dos profissionais envolvidos na lida com animais silvestres

confinados em zoológicos. Os mesmos autores afirmam que animais confinados não

podem portar-se como em seu estado natural, trazendo sempre alguma ordem de

prejuízo para o seu comportamento e bem-estar.

O enriquecimento ambiental é utilizado para reduzir o estresse causado pela

vida em cativeiro (VASCONCELLOS, 2009), sendo uma eficiente alternativa para

aumentar o bem-estar dos animais. Por meio de estudos de comportamento em

animais em cativeiro, é possível verificar comportamentos anormais ou

estereotipados, e também conhecer melhor as necessidades desses animais,

importante para identificar condições de bem-estar animal e propor manejos mais

adequados às espécies estudadas (MORETTO et al., 2010; JÚNIOR et al., 2013).

3.3 Zoológicos

De acordo com o Artigo 1º da Lei nº 7.173, de 14 de dezembro de 1983, que

dispõe sobre o estabelecimento e funcionamento de jardins zoológicos, considera-se

jardim zoológico qualquer coleção de animais silvestres mantidos vivos em cativeiro

ou em semiliberdade e expostos à visitação pública.

A existência de animais selvagens mantidos em cativeiro data de milhares de

anos, frequentemente relacionados a símbolo de poder e riqueza ou de significância

religiosa. No entanto, os zoológicos modernos, semelhantes aos existentes

atualmente, foram desenvolvidos no final do século 18 e início do século 19, como

18

os zoológicos de Londres, Paris e Dublin (ZLS LIVING CONSERVATION, 2013). O

primeiro zoológico público foi o “Jardin des Plants”, fundado no ano de 1794, em

Paris, na França, exibindo animais apreendidos em circos e outros eventos que

utilizavam animais em shows (RODRIGUES et al., 2008; SAAD et al., 2011).

De acordo com TASSI et al. (2008), os zoológicos apresentam um importante

papel na conservação da biodiversidade, destacando-se entre seus objetivos a

manutenção e reprodução de espécies ameaçadas, a pesquisa científica e a

educação ambiental, além de ser uma opção de lazer para o público visitante.

Entretanto, são comuns os questionamentos relacionados às condições dos recintos

dos zoológicos, que apresentam diferenças em relação ao ambiente natural dos

animais. Outra importante questão relacionada aos animais de cativeiro é a pouca

similaridade existente entre os alimentos a eles fornecidos e os alimentos

encontrados nas condições naturais. A tendência nos cativeiros é que os alimentos

oferecidos sejam os mesmos utilizados na alimentação de animais domésticos,

como por exemplo, rações nutricionalmente balanceadas, sendo estes produtos

pouco similares aos disponíveis na natureza (ALTRAK, 2012).

De acordo com GALHARDO (2002), a qualidade de vida dos animais em

zoológicos pode receber atenção em três áreas, sendo elas a avaliação do bem-

estar pela observação do comportamento, de parâmetros fisiológicos e de medidas

de saúde e condição física; as condições de manutenção e intervenções de

melhoramento nas estruturas das instalações, estando incluído nesse item o

enriquecimento ambiental; e a gestão, devendo haver respeito quanto à origem e o

destino que se pretende oferecer aos animais obtidos para conservação. O mesmo

autor conclui que é necessária aos zoológicos a existência de uma equipe de

técnicos capazes de lidar com o bem-estar dos animais, instalações adequadas e

pessoas responsáveis pelos aspectos educacionais do parque que devem contribuir

para a educação do público em geral, e também requerer maior respeito dos

visitantes com relação aos animais.

Diretamente relacionada aos zoológicos, a Educação Ambiental envolve

fatores ambientais, sociais, políticos e culturais que ultrapassam o ambiente escolar,

visando à formação de cidadãos conscientes da importância do meio ambiente

(BARRETO et al., 2009). A educação ambiental também está relacionada ao bem-

estar animal, uma vez que não é possível transmitir uma mensagem educativa

19

correta se os animais não se apresentarem física e mentalmente saudáveis em um

ambiente próximo ao natural (SAAD et al, 2011).

3.4 Escolha das espécies

Para o presente trabalho de avaliação de enriquecimento ambiental, optou-se

pela escolha de duas espécies de animais do Zoológico Municipal de Curitiba que

apresentavam comportamentos anormais: o urso-de-óculos (Tremarctos ornatus) e o

cachorro-do-mato (Cerdocyon thous).

3.4.1 Urso-de-óculos (Tremarctos ornatus)

Sendo a única espécie de urso nativa da América do Sul, o urso-de-óculos é

natural da Bolívia, Colômbia, Equador, Peru e Venezuela (GOLDSTEIN et al., 2008).

O urso-de-óculos apresenta pelagem comprida e espessa, de coloração negra

uniforme, apresentando linhas brancas ou creme características da espécie ao redor

dos olhos, podendo ter disposição e tamanho variáveis de indivíduo para indivíduo.

Os ursos-de-óculos apresentam tamanho relativamente pequeno com relação aos

outros membros da família Ursidae. A cabeça é grande, com orelhas pequenas e o

pescoço é curto e musculoso; as patas são robustas, relativamente curtas, com

cinco dedos providos de fortes garras; a cauda é muito curta, não sendo visível

externamente (CANEVARI E VACCARO, 2007). O peso do macho pode ser de 100

a 155 quilos, as fêmeas pesam de 64 a 82 quilos e, ao nascer, o filhote apresenta

peso de 300 a 360 gramas (INTERNATIONAL ASSOCIATION FOR BEAR

RESEARCH & MANAGEMENT, 2007).

Estes ursos apresentam uma dieta onívora, alimentando-se principalmente de

produtos de origem vegetal como frutas e plantas suculentas e, ocasionalmente, de

carne (GOLDSTEIN et al., 2008). Quando não há disponibilidade de frutas maduras,

os ursos-de-óculos vivem das partes fibrosas de plantas como bromélias, partes

macias de palmas, bulbos de orquídeas e até cascas de árvores, sendo a ingestão

de proteína animal, tais como insetos, pequenos roedores e aves, apenas um

complemento à dieta vegetariana (RÍOS-UZEDA, 2009; WWF, 2013).

Com relação ao seu comportamento, os ursos-de-óculos são escaladores

ágeis, além de nadarem bem, sendo mais ativos em períodos diurnos e

20

crepusculares. Com exceção de fêmeas em lactação ou animais em período

reprodutivo, os ursos-de-óculos são animais solitários. Os ursos dessa espécie não

hibernam, uma vez que em seu habitat natural existe disponibilidade de alimentos ao

longo do ano todo (ANDEAN BEAR CONSERVATION PROJECT, 2013; WWF,

2013). Na natureza, a maior ameaça para a sobrevivência dos ursos-de-óculos é

causada pela interferência humana, podendo-se citar a destruição de habitats para

agricultura, caça ilegal e assassinatos de ursos por motivo de medo ou falta de

informação, sendo essa espécie considerada pela IUCN como vulnerável à extinção

(GOLDSTEIN et al., 2008; ANDEAN BEAR CONSERVATION PROJECT, 2013).

Dentre os itens de enriquecimento ambiental já utilizados para os animais

dessa espécie, pode-se citar como exemplo o trabalho de SANS (2008), que

adicionou ao recinto dos ursos-de-óculos do Zoológico Municipal de Curitiba troncos

e galhos de árvores, alimentos espalhados pelo chão e pendurados nos troncos,

locais com esfregaço de mel e essências de coco, morango e abacaxi espalhadas

pelo recinto, ocorrendo interação dos animais do estudo com todos os itens. Outros

exemplos de enriquecimento para animais pertencentes à família Ursidae são os

utilizados no Jardim Zoológico de Lisboa (Portugal), em que frutos são colocados

dentro de buracos de troncos pendurados no recinto dos ursos-pardos (Ursus arctos)

para que os animais permaneçam durante um maior tempo procurando alimento.

Também são fornecidas frutas dentro de blocos de gelo, fazendo com que os ursos

demorem mais tempo para conseguir obter o alimento (JARDIM ZOOLÓGICO DE

LISBOA – PORTUGAL, 2013).

21

Figura 1. Urso-de-óculos (Tremarctos ornatus) do Zoológico Municipal de Curitiba. Setembro de 2013.

Foto: Fabiana Stamm

3.4.2 Cachorro-do-mato (Cerdocyon thous)

Conhecido popularmente no Brasil como cachorro-do-mato, graxaim, graxaim-

do-mato, raposinha-do-mato, raposão, lobinho, lobete, guaraxo, guancito, fusquinho

ou rabo-fofo (REIS et al., 2006), o Cerdocyon thous é um mamífero da família

Canidae. Apresenta pelagem curta e grossa, com coloração dorsal escura, pelos

negros mesclados com pelos amarelados e ventre acinzentado ou alaranjado pálido.

A base, o dorso e a ponta da cauda são de cor cinza muito escura ou negra, assim

como a lateral externa das patas. O focinho é alongado, e as orelhas são

arredondadas (CANEVARI E VACCARO, 2007). Este animal de médio porte tem

peso variando de 5 a 7 kg, e sua distribuição geográfica é ampla, englobando

savanas, matagais, cerrado, caatinga e florestas da América do Sul, podendo ser

encontrado na Argentina, Bolívia, Brasil, Colômbia, Guiana Francesa, Guiana,

Paraguai, Suriname, Uruguai e Venezuela (COURTENAY e MAFFEI, 2004; THOISY

et al., 2013). Os cachorros-do-mato alimentam-se principalmente de frutos e de

animais como artrópodes, pequenos roedores e aves, sendo considerados animais

de dieta generalista e oportunista (ROCHA, 2004; LEMOS, 2007; NUNES et al.,

2012). Sua alimentação, portanto, apresenta grande variação dependendo da região

na qual o animal se encontra e da estação do ano.

22

A espécie Cerdocyon thous é vista na maior parte dos casos registrados

como casais e sua prole (LEMOS, 2007). A fêmea tem em média duas ninhadas por

ano, sendo o período de gestação de cerca de dois meses, nascendo de três a seis

filhotes (BRADY, 1978 apud REIS et al., 2006). De hábitos predominantemente

noturnos e crepusculares, apresentam eventual atividade diurna e utilizam

principalmente ambientes de vegetação aberta (OLIVEIRA, 2002; NUNES et al.,

2012). Apresentando população estável, esta espécie não é classificada como

preocupante com relação a risco de extinção (COURTENAY e MAFFEI, 2008).

Figura 2. Cachorro-do-mato (Cerdocyon thous) do Zoológico Municipal de Curitiba. Outubro de 2013.

Foto: Fabiana Stamm

23

4. MATERIAL E MÉTODOS

4.1 Local de estudo

O presente estudo foi desenvolvido no Zoológico Municipal de Curitiba,

situado no Parque Municipal do Iguaçu, na região sul-sudeste de Curitiba, no estado

do Paraná. Fundado em 28 de março de 1982, o Zoológico ocupa uma área de

569.000 m², possuindo um acervo de aproximadamente 1.800 animais entre aves,

répteis e mamíferos (PREFEITURA DE CURITIBA, 2012).

4.2 Método de observação

O projeto de enriquecimento ambiental foi divido em duas fases, para ambas

as espécies:

Fase pré-intervenção (PRE): os animais foram observados antes da

aplicação de enriquecimento ambiental, não havendo nenhuma alteração no recinto

ou no manejo;

Fase de intervenção (INT): os animais foram observados com os itens

de enriquecimento ambiental aplicados.

O método de observação utilizado para ambas as espécies foi o animal focal,

com registro instantâneo a cada cinco minutos (DEL-CLARO, 2004).

Os comportamentos observados foram agrupados de acordo com as

seguintes categorias comportamentais:

Alimentação: comportamento relacionado às necessidades

alimentares.

Excreção: urinar e defecar.

Social: interagir com outros animais ou pessoas, com ou sem contato.

24

Territorial: comportamento ligado à ocupação territorial.

Auto cuidado: relacionado à higienização.

Locomoção: realizando movimentos relacionados à locomoção, como

andar ou correr.

Inativo: animal inerte, sem atividade.

Anormal: comportamento que não é comum ao observado em animais

de mesma espécie em vida livre.

Não visível: o animal não estava em local visível no momento da

observação.

Interação com enriquecimento ambiental: observada apenas durante a

fase INT.

4.3 Urso de óculos (Tremarctos ornatus)

4.3.1 Histórico do animal

O urso-de-óculos do Zoológico de Curitiba, chamado de Endy, nasceu no dia

01 de maio de 2005, no Zoológico de São Carlos, em São Paulo. No dia 19 de

dezembro de 2006 ele e seu irmão, cujo nome é Guaxu, entraram no acervo do

Zoológico de Curitiba. No entanto, devido a constantes brigas entre os dois ursos,

Guaxu foi transferido para o Zoológico de Sapucaia, no dia 22 de maio de 2012, e

atualmente Endy está sozinho no recinto. O urso-de-óculos do Zoológico Municipal

de Curitiba apresenta como estereotipia andar continuamente pelo recinto e girando

a cabeça em alguns momentos durante o andar contínuo.

4.3.2 Recinto

O urso-de-óculos permanece em exposição durante o dia em uma parte

externa do recinto, cuja área é de 782,33 m², onde pode ser visualizado pelo público.

No final da tarde até a manhã do dia seguinte o animal permanece em um recinto

interno, ou área de manejo, cujo tamanho é de 89,22 m². No recinto externo existe

uma plataforma feita de madeira, duas piscinas e uma depressão entre o gramado

25

do recinto e a tela de divisão entre o público e o animal. Apenas uma das piscinas

permanece com água.

(A) (B)

Figura 3. Recinto do urso-de-óculos no Zoológico Municipal de Curitiba. (A) Parte externa e (B) parte interna do recinto. Setembro de 2013.

Fotos: Fabiana Stamm

4.3.3 Tempo de observação

A observação da fase PRE do urso-de-óculos durou 32 h e 5 min ao todo, no

decorrer de seis dias (17, 18, 19, 23, 24 e 25 de setembro de 2013), sendo realizada

em média das 9h00min, o horário no qual o animal era liberado para a área externa,

às 12h00min e das 13h00min às 16h00min. Durante o dia 19 de setembro foi

realizada a limpeza do recinto do animal, e no dia 24 do mesmo mês foi feito o corte

da grama do recinto, resultando em menos horas de observação durante estes dois

dias. Para a fase INT, as observações somaram um total de 31 h e 15 min, sendo

realizadas nos dias 30 de setembro e 01, 02, 03, 07 e 08 de outubro.

4.3.4 Itens de enriquecimento ambiental aplicados

Para o urso-de-óculos do Zoológico Municipal de Curitiba, os itens utilizados

estão apresentados na Tabela 1.

26

Tabela 1. Itens de enriquecimento ambiental aplicados para o urso-de-óculos (Tremarctos ornatus) no Zoológico Municipal de Curitiba durante a fase de intervenção, em setembro e outubro de 2013.

Dia Categoria Itens utilizados para o urso-de-óculos

1º Enriquecimento

alimentar

Alimento do dia misturado com feno de alfafa inserido em caixa de papelão fechada e colocada dentro de outra caixa.

Alimento escondido pelo recinto.

2º Enriquecimento

alimentar e olfativo

Ração inserida em cocos verdes, furados.

Essências de alimentos (baunilha e morango) espalhadas pelo recinto.

3º Enriquecimento

alimentar Parte do alimento inserido em abóbora.

4º Enriquecimento

alimentar, físico e olfativo

Pneu amarrado com corda colocado no recinto com alimento no centro.

Erva-doce e alecrim espalhados pelo recinto.

5º Enriquecimento

alimentar e físico

Pneu com alimento no centro*.

Mel espalhado pelo recinto.

6º Enriquecimento

alimentar, físico e olfativo

Tronco furado com alimento no centro, contendo ração, ovos, couve e snack sabor carne.

Canela em rama espalhada pelo recinto.

*Observação: como o urso-de-óculos jogou o pneu no fosso durante o quarto dia de enriquecimento,

optou-se por colocar novamente o objeto no centro do recinto para verificar o comportamento do

animal no dia seguinte. No entanto, o urso jogou novamente o pneu no fosso no quinto dia de

enriquecimento.

Segue a descrição do enriquecimento ambiental utilizado para o urso-de-

óculos em cada um dos dias da fase INT:

Primeiro dia

O alimento que seria fornecido para o urso-de-óculos no dia foi inserido em

uma caixa de papelão contendo feno de alfafa, e esta caixa foi colocada no interior

de outra, fechando-se ambas. A caixa foi deixada em cima da plataforma do recinto.

Também foram escondidos alimentos pelo recinto.

27

(A) (B)

Figura 4. Itens de enriquecimento ambiental para o urso-de-óculos no Zoológico Municipal de Curitiba, sendo (A) dieta do dia inserida dentro de caixas e (B) caixa colocada no recinto. Setembro de 2013.

Fotos: Fabiana Stamm

Segundo dia

Foi feito um furo em uma das pontas de dois cocos verdes, sem água, e

colocou-se ração no interior. Essências de baunilha e morango foram espalhadas

pelo recinto.

(A) (B)

Figura 5. Itens de enriquecimento ambiental para o urso-de-óculos no Zoológico Municipal de Curitiba, sendo (A) coco verde e ração e (B) essências de baunilha e morango. Outubro de 2013.

Fotos: Fabiana Stamm

Terceiro dia

Foi colocado bolo de passas e cereais, alimento diferente do usual, dentro de

uma abóbora e esta deixada no recinto do urso-de-óculos.

28

Figura 6. Bolo dentro de abóbora para enriquecimento ambiental do urso-de-óculos no Zoológico Municipal de Curitiba. Outubro de 2013.

Fotos: Fabiana Stamm

Quarto dia

Um pneu foi amarrado no recinto, sendo inserida ração no centro do objeto.

Foram espalhadas pelo recinto erva-doce e alecrim.

(A) (B)

Figura 7. Itens de enriquecimento ambiental para o urso-de-óculos no Zoológico Municipal de Curitiba, sendo (A) pneu preso no recinto e (B) erva-doce. Outubro de 2013.

Fotos: Fabiana Stamm

Quinto dia

O mesmo pneu utilizado no dia anterior, que havia caído em um fosso, foi

recolocado entre duas toras de madeira presentes no recinto, e foi colocada ração

em cima do pneu e no centro do mesmo. Espalhou-se mel nas paredes e pedras do

recinto.

29

(A) (B)

Figura 8. Itens de enriquecimento ambiental para o urso-de-óculos no Zoológico Municipal de Curitiba, sendo (A) pneu contendo ração e (B) mel. Outubro de 2013.

Fotos: Fabiana Stamm

Sexto dia

Em um tronco com buraco no centro foram inseridos ração, ovos, couve e

snack sabor carne. Também foram espalhados pelo recinto pedaços de canela em

rama.

(A) (B)

Figura 9. Itens de enriquecimento ambiental para o urso-de-óculos no Zoológico Municipal de Curitiba, sendo (A) tronco e (B) canela em rama. Outubro de 2013.

Fotos: Fabiana Stamm

4.4 Cachorro-do-mato (Cerdocyon thous)

4.4.1 Histórico do animal

30

Registrado com o nome de Lobinho, o cachorro-do-mato do Zoológico de

Curitiba é um macho originário do CETAS (Centro de Triagem de Animais Silvestres)

do Paraná. A entrada desse animal no acervo do Zoológico ocorreu em 12 de julho

de 2006. Em junho de 2013 o animal foi manejado para o recinto no qual se

encontra atualmente. O cachorro-do-mato apresenta o movimento estereotipado de

andar continuamente. Existem no recinto três rotas pelas quais o animal costuma

andar de um lado para o outro constantemente e com um padrão repetitivo.

4.4.2 Tempo de observação

Para o cachorro-do-mato, durante a fase PRE, as observações eram

realizadas, em média, das 8h10min às 12h00min e das 13h00min às 16h30min,

sendo o tempo de observação diário de aproximadamente 7 h e 20 min, resultando

em 37 h e 10 min de observação ao longo dos cinco dias. Para a fase INT, as

observações iniciavam-se após a preparação do recinto, contando das 8h40min às

12h00min e 13h00min às 16h30min, somando 34 h e 15 min de observação,

também durante cinco dias, com aproximadamente 6 h e 50 min de observação

diária. Somando as duas fases, a observação total foi de 71 h e 25 min. As

observações da fase PRE foram efetuadas nos dias 09, 10, 14, 15 e 16 de outubro

de 2013, e a fase INT, nos dias 17, 21, 22, 23 e 24 de outubro de 2013.

4.4.3 Enriquecimentos ambientais aplicados

Os itens de enriquecimento ambiental utilizados para o cachorro-do-mato no

Zoológico Municipal de Curitiba encontram-se descritos na Tabela 2.

Tabela 2. Itens de enriquecimento ambiental aplicados para o cachorro-do-mato (Cerdocyon thous) no Zoológico Municipal de Curitiba durante a fase de intervenção, em outubro de 2013.

Dia Categorias Itens utilizados para o cachorro-do-mato

1º Enriquecimento

alimentar e olfativo

Alimento misturado com feno, inserido em coco maduro quebrado.

Canela em rama espalhada pelo recinto.

2º Enriquecimento

alimentar Caixas de papelão contendo carne misturada com feno.

31

3º Enriquecimento

alimentar, físico e olfativo

Pneu suspenso por uma corda amarrada em um galho de árvore no recinto e com alimento inserido no centro do pneu.

Temperos espalhados pelo recinto (alecrim e erva-doce).

Enriquecimento

alimentar e olfativo

Alimento dentro de tubo de PVC.

Essência de baunilha e morango espalhadas pelo recinto.

5º Enriquecimento

alimentar e físico

Tronco novo inserido no recinto.

Varal com carne.

Ovos espalhados pelo recinto.

Pote de argila com ovo dentro.

Descrição dos materiais para enriquecimento do recinto do cachorro-do-mato

utilizados em cada dia:

Primeiro dia

Cortou-se, lateralmente, um coco maduro, retirando-se um quarto da casca.

Por essa abertura, foram inseridos neonatos de ratos previamente abatidos,

misturados com feno de alfafa para dificultar a obtenção. O coco foi fechado com fita

esparadrapo, sendo posteriormente deixado no recinto do cachorro-do-mato. Foi

espalhada canela em rama pelo recinto.

Figura 10. Coco maduro como item de enriquecimento ambiental para o cachorro-do-mato no Zoológico Municipal de Curitiba. Outubro de 2013.

Fotos: Fabiana Stamm

Segundo dia

Foi inserida a dieta do dia (pedaços de carne) em uma caixa de papelão,

juntamente com feno de alfafa. A caixa foi fechada, e colocada no recinto. Essências

de baunilha e morango foram espalhadas pelo recinto.

32

(A) (B)

Figura 11. Itens de enriquecimento ambiental para o cachorro-do-mato no Zoológico Municipal de Curitiba, sendo (A) caixa de papelão e (B) essência de baunilha. Outubro de 2013.

Fotos: Fabiana Stamm

Terceiro dia

Ratos previamente abatidos foram inseridos em um tubo de PVC, com

diâmetro de quatro polegadas, junto com folhas frescas.

Figura 12. Tubo de PVC com ratos abatidos e folhas frescas como item de enriquecimento ambiental para o cachorro-do-mato no Zoológico Municipal de Curitiba. Outubro de 2013.

Fotos: Fabiana Stamm

Quarto dia

Em uma árvore do recinto foi amarrado um pneu com corda, de modo a ficar

como um balanço, sendo inserida a dieta do dia (pedaços de carne) no centro do

pneu. Foram espalhados alecrim e erva-doce pelo recinto.

33

(A) (B)

Figura 13. Pneu utilizado como item de enriquecimento ambiental para o cachorro-do-mato do Zoológico Municipal de Curitiba. (A) Pneu pendurado no recinto e (B) carne inserida no centro do pneu. Outubro de 2013.

Fotos: Fabiana Stamm

Quinto dia

Colocou-se um tronco no meio do caminho que o cachorro-do-mato percorre

constantemente, para verificar se ele alterava a estereotipia de andar

continuamente. Alguns ovos crus foram escondidos no recinto. Foram feitos

pequenos furos em pedaços de carne, sendo passado barbante nesses furos. O

barbante foi amarrado de modo a atravessar parte do recinto, como um varal.

(A) (B)

Figura 14. Itens de enriquecimento ambiental para o cachorro-do-mato no Zoológico Municipal de Curitiba, sendo (A) tronco e (B) carne presa em varal de barbante. Outubro de 2013.

Fotos: Fabiana Stamm

34

5. RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.1 Etograma do Tremarctos ornatus durante as fases PRE e INT

O etograma com os comportamentos do urso-de-óculos observados ao longo

do experimento encontra-se no Quadro 1, com as frequências, em porcentagem, de

cada comportamento ao longo dos doze dias de observação.

Quadro 1. Etograma com as frequências dos comportamentos do urso-de-óculos (Tremarctos ornatus) nas fases pré-intervenção (PRE) e durante intervenção (INT) no Zoológico Municipal de Curitiba, em setembro e outubro de 2013.

Categoria comportamental

Comportamentos observados

Frequência de ocorrências

observadas (%) - Fase PRE

Frequência de ocorrências

observadas (%) - Fase INT

Alimentar

Deitado, alimentando-se

12,01 8,82

Parado, com as quatro patas no chão, alimentando-se

0 0,53

Parado, com duas patas no chão, duas patas apoiadas na

plataforma, alimentando-se

0,49 0

Parado, sentado, alimentando-se

0,25 0,8

Sentado, lambendo madeira

0 0,27

Parado, com as quatro patas no chão, bebendo água

0,25 0,27

35

Excreção Defecando 0 0,27

Social Observando público e/ou pesquisadores

0,98 1,34

Territorial

Parado, com as quatro patas no chão, atento

0,98 1,07

Deitado, com a cabeça levantada, atento

4,9 1,6

Sentado, atento 0,49 2,94

Sentado, farejando o ar

1,47 1,34

Parado, com as quatro patas no chão, farejando o ar

0,25 2,41

Deitado, com a cabeça levantada, farejando o

ar 1,47 1,07

Parado, com as quatro patas no chão,

farejando chão ou parede

1,23 4,01

Parado, em pé, sobre duas patas, farejando

chão ou parede 0,74 0,27

Sentado, farejando chão ou parede

1,23 1,87

Deitado, farejando chão

0,25 0

Deitado, raspando a madeira da plataforma

0 0,27

Cavando o chão 0,98 0,27

Auto cuidado

Sentado, na piscina 1,47 1,07

Parado na água, sobre as quatro patas

0,25 0

Espreguiçando-se 0,25 0

Coçando-se 0,25 0,53

Locomoção Andando 3,19 4,55

Andando na água 5,15 1,07

36

Subindo na plataforma 0,25 0

Inativo

Deitado, dormindo 31,62 28,34

Deitado, de olhos abertos

5,64 4,55

Sentado 4,41 1,87

Anormal

Movimentando a cabeça

0,49 1,34

Andando continuamente

13,73 13,1

Andando, estressado e vocalizando

0 2,67

Não visível 5,39 1,61

Interação com enriquecimento

ambiental

Interagindo com tronco 0 1,87

Interagindo com caixa 0 1,6

Cavando para conseguir alimento

0 0,53

Interagindo com coco verde

0 0,8

Interagindo com abóbora

0 0,53

Interagindo com pneu 0 3,21

Interagindo com corda 0 1,34

O urso-de-óculos, nos seis dias de observação da fase INT, interagiu com

todos os itens de enriquecimento ambiental, sendo que 9,88% do tempo observado

na fase INT foi do urso interagindo com os itens de enriquecimento.

5.2 Descrição das interações com enriquecimento ambiental pelo Tremarctos

ornatus durante a fase INT

No primeiro dia de aplicação de enriquecimento ambiental, o animal logo após

ser solto da área de manejo, andou diretamente até a caixa de papelão e rasgou-a

por, aproximadamente, 20 min durante a manhã. Apenas após rasgar toda a caixa é

que ele ingeriu o alimento. À tarde, o animal ainda interagiu durante alguns minutos

37

com a caixa novamente. O urso-de-óculos também cavou os buracos nos quais

havia sido inserido alimento.

Durante o segundo dia de enriquecimento ambiental, a primeira ação

realizada pelo urso após ser solto foi farejar o ar durante aproximadamente 10 min.

Em seguida, abriu os cocos verdes facilmente, e ingeriu a ração contida no interior

dos mesmos. Nesse dia foi feita a limpeza da área de manejo do recinto com jato de

água, o que pode ter contribuído para o comportamento anormal de andar

continuamente, estressado e vocalizando. A limpeza teve a duração de 40 min.

No terceiro dia, o animal interagiu por pouco tempo com a abóbora,

quebrando-a rapidamente e ingerindo o alimento em seu interior. Nesse dia também

foi realizada limpeza do recinto, durando 10 min.

O pneu foi o objeto de enriquecimento ambiental com maior frequência de

interação observada. Durante o quarto dia, o animal inicialmente farejou o pneu,

empurrou o objeto com as patas dianteiras, e tentou puxar o objeto para cima da

escada. Também mordeu a corda que prendia o pneu. Após aproximadamente 45

min interagindo com os objetos de enriquecimento ambiental, o urso arrebentou a

corda e derrubou o pneu, que rolou até o fosso presente no recinto. O animal

interagiu um pouco com pneu após esse incidente, no entanto com menor

frequência.

No quinto dia, o urso brincou por pouco tempo com o pneu, mas o objeto

rolou novamente para o fosso, e o animal não interagiu mais com o mesmo. O mel

que havia sido espalhado pelo recinto foi lambido pelo animal.

O urso-de-óculos, no sexto dia de aplicação de enriquecimento ambiental,

durante o período da manhã, farejou e arranhou o tronco inserido no recinto durante

15 min, aproximadamente. No entanto, o animal empurrou o objeto para a piscina

vazia, e voltou a interagir com o tronco apenas no final da tarde.

Nas fotos seguintes podem ser observadas as interações do urso-de-óculos

com os enriquecimentos ambientais aplicados.

38

(A) (B)

(C) (D)

Figura 15. Urso-de-óculos (Tremarctos ornatus) do Zoológico Municipal de Curitiba interagindo com enriquecimento ambiental: (A) segurando caixa de papelão, (B) empurrando pneu, (C) lambendo mel e (D) farejando tronco. Outubro de 2013.

Fotos: Fabiana Stamm

5.3 Resultados estatísticos dos comportamentos observados nas fases PRE e

INT do Tremarctos ornatus

Para comparar os resultados dos comportamentos observados antes e

durante a aplicação de enriquecimento ambiental, utilizou-se o método estatístico de

Wilcoxon. Optou-se por agrupar os comportamentos em quatro categorias principais:

Atividade normal (ou ativo), que engloba as categorias comportamentais de

alimentação, excreção, social, territorial, auto cuidado, locomoção e interação com

enriquecimento ambiental;

Inativo;

39

Anormal (ou estereotipado);

Não visível.

Dentro de cada categoria, foram comparadas as porcentagens da fase PRE

com aquelas da fase INT, sendo cada dia de observação uma repetição, ou seja,

foram utilizadas para os cálculos seis repetições para cada uma das fases.

Os resultados obtidos estão representados na Tabela 3.

Tabela 3. Frequência dos comportamentos observados, em porcentagem, do Tremarctos ornatus, agrupados nas categorias ativo, inativo, anormal e não visível, e separados entre as fases pré-intervenção (PRE) e durante intervenção (INT).

Ativo Inativo

Anormal (estereotipado)

Não visível

Dias PRE INT PRE INT PRE INT PRE INT

1 37,838 46,575 52,703 31,507 4,054 17,808 5,405 4,110

2 33,783 62,666 41,892 18,667 21,622 18,667 2,703 0,000

3 22,535 28,378 61,972 64,865 12,676 2,703 2,817 4,054

4 72,581 73,333 1,613 2,222 25,806 24,445 0,000 0,000

5 42,105 57,143 43,860 11,428 12,281 31,429 1,754 0,000

6 28,572 26,388 42,857 55,556 10,000 18,056 18,571 0,000

p 0.0747 0.3454 0.4631 0.0796

Os resultados indicam que não houve diferença significativa, em nenhuma

das categorias comportamentais, comparando-se as fases PRE e INT, embora

apareça uma tendência de diferença nas categorias Ativo e Não visível. Os

resultados do presente trabalho diferem do resultado obtido no trabalho realizado

por SANS (2008), que observou uma redução no comportamento anormal dos ursos-

de-óculos estudados ao receberem enriquecimento ambiental em seus recintos.

VIVAS-DUQUE et al.(2012), que realizaram mudanças na alimentação e

adição de essências e de alguns objetos no recinto dos ursos-de-óculos (Tremarctos

ornatus), concluíram que, em geral, foi observada uma resposta positiva a tais

mudanças. No mesmo trabalho, observaram-se maiores níveis de cortisol nos

animais durante a aplicação do enriquecimento ambiental, se comparado com os

níveis antes da aplicação, resultado obtido, provavelmente, devido à energia

necessária para realizar os comportamentos exploratórios pelos animais com

ambiente enriquecido.

40

5.4 Etograma do Cerdocyon thous durante as fases PRE e INT

As frequências de ocorrências dos comportamentos do cachorro-do-mato

observados durante o estudo estão representadas no Quadro 2.

Quadro 2. Etograma com as frequências dos comportamentos observados do cachorro-do-mato (Cerdocyon thous) nas fases pré-intervenção (PRE) e durante intervenção (INT) no Zoológico Municipal de Curitiba, em outubro de 2013.

Categoria comportamental

Comportamentos observados

Frequência de ocorrências observadas (%) - Fase PRE

Frequência de ocorrências observadas (%) - Fase INT

Alimentar

Alimentando-se 2,44 1,44

Ingerindo vegetação do recinto

0,22 1,44

Bebendo água 0,22 0,48

Excreção Urinando 0 0,24

Social Observando pessoas e/ou outros animais

1,56 0,24

Territorial

Andando, atento 0,22 0

Deitado, com a cabeça levantada,

atento 3,56 1,68

Sentado, atento 1,33 0

Parado, com as quatro patas no chão,

atento 3,11 1,92

Andando farejando 2 3,84

Deitado, farejando 0,67 0

Parado, com as quatro patas no chão,

farejando 4,22 8,39

Auto cuidado Lambendo-se 0 0,48

Locomoção Andando 2,89 5,76

Inativo

Deitado, dormindo 40,67 31,89

Deitado, de olhos abertos

10,44 10,55

Sentado 0,67 0,48

Anormal Andando

continuamente 24 21,82

41

Andando continuamente e pulando tronco

0 6,95

Não visível 1,78 0

Interação com enriquecimento

ambiental

Interagindo com coco maduro

0 0,96

Interagindo com caixa

0 0,24

Interagindo com pneu 0 0,24

Interagindo com pote de argila

0 0,24

Interagindo com carne no varal

0 0,24

Carregando ovo 0 0,24

Interagindo com tronco

0 0,24

Com relação à interação com enriquecimento ambiental, observa-se que o

cachorro-do-mato, nos cinco dias de observação da fase INT, interagiu 2,4% do

tempo com os itens de enriquecimento.

5.5 Descrição das interações com enriquecimento ambiental pelo Cerdocyon

thous durante a fase INT

No primeiro dia de enriquecimento ambiental, logo após ser colocado o coco

maduro no recinto, o cachorro-do-mato começou a tentar abri-lo, batendo a lateral da

cabeça repetidas vezes contra o objeto. Após aproximadamente 15 min, a fita

esparadrapo soltou-se e o coco foi aberto. Os neonatos de ratos foram ingeridos. O

cachorro-do-mato interagiu por mais tempo com esse objeto, se comparado com os

enriquecimentos ambientais aplicados nos dias seguintes.

Durante o segundo dia de intervenção com enriquecimento ambiental, o

animal cheirou a caixa de papelão por pouco tempo e não interagiu mais com o

objeto em nenhum outro momento do dia. No terceiro dia, no qual o enriquecimento

foi o pneu, a interação com o objeto foi semelhante ao do dia anterior.

No quarto dia, o animal farejou as essências que estavam espalhadas no

chão durante a manhã. Quanto ao tubo de PVC, o cachorro-do-mato não interagiu

em nenhum momento ao longo do dia.

42

No quinto dia de intervenção com enriquecimento ambiental, o cachorro-do-

mato mordeu a carne no varal por pouco tempo, ingerindo apenas um pedaço do

alimento. Ele farejou e encontrou todos os ovos escondidos, carregando-os para um

local mais plano do recinto, batendo com a lateral da cabeça, quebrando a casca e

comendo o conteúdo dos ovos. Também farejou o pote de argila várias vezes ao

longo do dia. O animal realizou o comportamento estereotipado de andar

continuamente na rota onde foi colocado o tronco, fazendo o percurso normalmente,

no entanto, pulando por cima do tronco.

(A) (B)

(C) (D)

Figura 16. Cachorro-do-mato interagindo com enriquecimento ambiental: (A) carregando coco maduro, (B) farejando temperos espalhados pelo recinto, (C) comendo ovo no pote de argila e (D) pulando tronco. Outubro de 2013.

Fotos: Fabiana Stamm

5.6 Resultados estatísticos dos comportamentos observados nas fases PRE e

INT do Cerdocyon thous

43

Para comparar os resultados dos comportamentos observados antes e

durante a aplicação de enriquecimento ambiental, utilizou-se o método estatístico de

Wilcoxon. Optou-se por agrupar os comportamentos em quatro categorias principais,

como utilizado com os dados do urso-de-óculos.

Dentro de cada categoria, foram comparadas as porcentagens da fase PRE

com aquelas da fase INT, sendo cada dia de observação uma repetição, ou seja,

foram utilizadas para os cálculos cinco repetições em cada uma das fases. Os

resultados obtidos estão representados na Tabela 4.

Tabela 4. Frequência dos comportamentos observados, em porcentagem, do Cerdocyon thous, agrupados nas categorias ativo, inativo, anormal e não visível, e separados entre as fases PRE e INT.

Ativo Inativo

Anormal (estereotipado)

Não visível

PRE INT PRE INT PRE INT PRE INT

1 22,681 35,714 50,515 29,762 23,711 34,524 3,093 0,000

2 18,085 13,253 57,447 68,675 22,340 18,072 2,128 0,000

3 21,840 30,488 67,816 40,244 9,195 29,268 1,149 0,000

4 18,824 28,571 45,882 50,000 32,941 21,429 2,353 0,000

5 31,034 33,334 36,782 26,190 32,184 40,476 0,000 0,000

P 0,138 0,3452 0,5002 -

Analisando os resultados, não houve diferença significativa entre nenhuma

das categorias comportamentais, embora a categoria Não visível não tenha sido

observada após a inserção dos itens de enriquecimento ambiental. O valor de P

para a categoria Não visível não pode ser analisada estatisticamente, já que no

período INT todos os valores foram iguais a zero.

Em trabalho de enriquecimento ambiental realizado com lobo-guará

(Chrysocyon brachyurus), que é um canídeo silvestre assim como o cachorro-do-

mato, SANTOS et al. (2013) observaram que respostas positivas foram obtidas para

a maioria das técnicas de enriquecimento, sendo exemplos dos itens estimulatórios

que apresentaram melhor resultado osso defumado, cobertor, frutas inteiras, caixa

de papelão e coco verde com carne em seu interior. VASCONCELLOS (2009)

também em trabalho com lobos-guarás apresentou como resultado que, em testes

de escolha, os animais dedicam um maior tempo para obter alimentos dispersos,

adquiridos por meio de desafios, em detrimento aos alimentos fornecidos

44

diretamente em bandejas, ou seja, escolhem os itens alimentares que simulam a

forma de buscar alimento em vida livre, o que demanda um maior esforço para ser

obtido.

45

6. CONCLUSÕES

Com relação à interação com os itens de enriquecimento ambiental, o urso-

de-óculos interagiu mais, em um total de 9,88% do tempo observado na fase INT, se

comparado ao cachorro-do-mato, que interagiu durante 2,4% do tempo observado

na mesma fase.

Não houve diferença significativa nas atividades do urso-de-óculos e do

cachorro-do-mato com a utilização de enriquecimento ambiental conforme aplicado

neste trabalho, apesar de ser observada uma tendência de aumento na frequência

da categoria comportamental Ativo e redução na categoria Não visível para o urso-

de-óculos na fase INT se comparada com a fase PRE. Para o cachorro-do-mato, a

categoria comportamental Não visível não foi observada nenhuma vez durante a

fase INT, indicando que o animal permaneceu visível por mais tempo durante a fase

de intervenção.

No presente trabalho, por se tratar de apenas um indivíduo de cada espécie,

os resultados obtidos podem não ser representativos da espécie. Tipos variados de

enriquecimento ambiental também devem ser estudados, pois em alguns dias os

animais não interagiram, ou interagiram por pouco tempo, com os itens de

enriquecimento oferecidos neste trabalho. O fato da ausência de diferenças

estatísticas em termos de uso de tempo sugere a necessidade de se entender

melhor o significado da interação com os itens de enriquecimento ambiental do

ponto de vista de intensidade e valência emocional, pois mesmo um período

extremamente curto de uma atividade comportamental especifica pode ter relevância

para o bem-estar do animal.

46

7. RELATÓRIO DE ESTÁGIO

7.1 Plano de estágio

O estágio foi realizado no Zoológico de Curitiba e no Passeio Público, entre

os dias 26 de agosto e 05 de dezembro de 2013. As atividades realizadas no

decorrer do estágio, assim como a carga horária das mesmas, estão representadas

na Tabela 5.

Tabela 5. Atividades desenvolvidas durante o período de estágio e respectivas cargas horárias

Atividades Carga horária

Acompanhamento da rotina na cozinha do Passeio Público 24

Acompanhamento da rotina na cozinha do Zoológico 24

Acompanhamento da rotina dos tratadores no Passeio Público 24

Acompanhamento da rotina dos tratadores no Zoológico 24

Acompanhamento de preparação e aplicação de enriquecimento ambiental para outras espécies, além das estudadas

20

Acompanhamento da rotina dos técnicos 200

Observação das espécies em estudo na fase pré-intervenção (PRE) 69

Aplicação de enriquecimento ambiental e observação das espécies em estudo (fase INT)

65

Total 450

7.2 Local do estágio

O Zoológico de Curitiba fica situado no Parque Municipal do Iguaçu, na região

sul-sudeste de Curitiba, no estado do Paraná. Foi fundado em 28 de março de 1982,

e ocupa uma área de 569.000 m², possuindo um acervo de aproximadamente 1.800

espécies de aves, répteis e mamíferos (PREFEITURA DE CURITIBA, 2012). O

47

Passeio Público, inaugurado em 1886, possui 69.285 m² e está localizado no centro

de Curitiba, sendo o parque mais antigo e o primeiro zoológico da cidade.

Funcionando como sede do Departamento de Pesquisa e Conservação da Fauna, o

Passeio Público abriga hoje os pequenos animais que permaneceram quando o

Zoológico foi transferido para o Parque Iguaçu em 1982 (PORTAL DA PREFEITURA

DE CURITIBA, 2013).

7.3 Descrição das atividades desenvolvidas

7.3.1 Acompanhamento da rotina na cozinha As atividades realizadas durante o acompanhamento da rotina na cozinha,

tanto do Passeio Público quanto do Zoológico, envolviam selecionar e cortar os

alimentos de cada animal, e distribuí-los em bandejas para as espécies

determinadas. A maioria das bandejas possui identificação dos animais, facilitando o

manejo, tanto na hora do preparo da dieta quanto no momento de distribuir a mesma

pelos recintos. É necessário saber o tamanho ideal dos alimentos para cada

espécie, com os cortes e a retirada ou não da casca dos vegetais dependente dos

animais aos quais os alimentos serão destinados. A quantidade de alimentos

ofertada não é precisa, sendo medida pela observação do volume presente nas

bandejas.

7.3.2 Acompanhamento da rotina dos tratadores Cada tratador é responsável por alguns setores do Zoológico, sendo sua

função colocar os alimentos para os animais e limpar os recintos e cochos. Os

alimentos, dentro das bandejas identificadas, são colocados no caminhão que faz

um percurso pré-determinado, parando nos lugares próximos aos recintos, onde os

tratadores retiram as bandejas para levar o alimento aos animais pelos quais são

responsáveis. Alguns animais, como o urso-de-óculos, o leão e o chimpanzé, ficam

presos em um recinto fechado durante a noite, sendo necessário soltá-los pela

manhã, havendo todo um manejo diferenciado visando à segurança dos tratadores.

No final da tarde, esses animais devem ser presos.

Devido a alguns setores não possuírem um tratador fixo, variando de acordo

com o dia, foi observada menor responsabilidade com relação aos animais desses

48

setores. Um exemplo é o cachorro-do-mato, que não recebeu alimento dos

tratadores no período da tarde durante um dos dias de observação comportamental.

O mesmo animal ficou alguns dias com água extremamente escassa, e em alguns

momentos sem água, provavelmente devido a um problema em seu bebedouro,

havendo necessidade de lembrar aos tratadores durante vários dias para colocarem

água para o animal. É importante existirem tratadores fixos para todos os setores e

haver maior organização para substituição dos tratadores, no caso de faltas ou

férias, para que se saiba quem será o responsável por quais animais. Outro

problema observado é que as bandejas de alimentação de alguns animais são

deixadas sem proteção, resultando na ingestão do alimento destinado aos animais

do Passeio Público e do Zoológico por aves invasoras, como pombos e urubus.

Essas aves ingerem principalmente a carne, que é um alimento de elevado custo e

essencial para os animais que a recebem.

7.3.3 Acompanhamento de preparação e aplicação de enriquecimento

ambiental para outras espécies, além das estudadas

Durante o período de estágio, foram inseridos nos recintos de diversos

animais enriquecimentos ambientais, dentre eles: espalhar essências de alimentos

no recinto das jaguatiricas; espalhar temperos e essências no recinto do leão;

preparar e esconder pinhas, contendo uvas passas, no recinto dos babuínos; colocar

pneu amarrado por corda no recinto da irara e dos babuínos; preparar e colocar

pinhas presas em arames, junto com frutas, no recinto das araras azuis; fornecer

coelhos, previamente abatidos, para harpias e leões, sendo uma forma diferente de

fornecimento da alimentação a esses animais.

7.3.4 Acompanhamento da rotina dos técnicos (biólogos, médicos veterinários

e zootecnistas)

Todos os dias, pela manhã, pelo menos um dos técnicos realiza uma vistoria

por todo o Zoológico ou Passeio Público, para verificar se não houve óbito de

nenhum animal, se existe algum animal doente ou ferido e se os recintos não

apresentam problemas. Foi possível observar procedimentos cirúrgicos de alguns

casos clínicos que ocorreram durante o estágio, citando-se como exemplos a

49

cirurgia de uma coruja com asa quebrada, a qual foi amputada, e tentativa de cura

de um bugio que havia sofrido trauma por queda ou atropelamento, vindo o animal a

óbito, sendo ambos os animais de vida livre.

No Passeio Público, semanalmente, realiza-se o manejo para organização do

biotério, que contém ratos e ratazanas criados para consumo dos animais do

Passeio Público. Para isso, os roedores destinados à reprodução são separados em

caixas que contêm duas matrizes e um macho. Quando as fêmeas têm crias, é feita

a contagem dos filhotes e realiza-se o controle de óbitos, para verificar se as fêmeas

da caixa apresentam boa habilidade materna. O desmame ocorre após três

semanas, quando as crias são colocadas em outra caixa, onde é feita a engorda e,

por fim, são destinadas ao consumo.

Alterações nos recintos de alguns dos animais também estão sendo

realizadas, incluindo a reforma das pastagens e retirada de plantas tóxicas. Foi feita

a semeadura de plantas forrageiras, como azevém e guandu, que serão destinadas

à alimentação dos animais do Zoológico.

7.3.5 Observação das espécies em estudo e aplicação de enriquecimento

ambiental

Foram realizadas observações das espécies Tremarctos ornatus, o urso-de-

óculos, e Cerdocyon thous, o cachorro-do-mato, e elaborado um etograma com os

comportamentos observados. Após terminarem as observações dos

comportamentos sem o enriquecimento ambiental no recinto, foram inseridos

enriquecimentos ambientais físicos, olfativos e alimentares para os animais em

estudo, conforme descrito anteriormente neste trabalho com maiores detalhes.

50

(A) (B)

(C) (D)

Figura 17. Fotos dos locais de estágio. (A) Cozinha do Zoológico Municipal de Curitiba com alguns dos alimentos que são fornecidos aos animais; (B) Enriquecimento ambiental de arame inserido no recinto das araras azuis, no Zoológico Municipal de Curitiba; (C) Camundongos do biotério do Passeio Público; (D) Aplicação de enriquecimento ambiental para uma das espécies estudadas (Tremarctos ornatus) no Zoológico Municipal de Curitiba.

Fotos A, B e C: Fabiana Stamm. Foto D: Juliana Pucca

51

8. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A área de formação do zootecnista engloba diversos conhecimentos, que não

devem ser utilizados separadamente, mas sim em conjunto para que seja possível

um melhor desempenho do profissional. Ao trabalhar com animais em zoológicos,

alguns dos desafios são diferentes daqueles encontrados quando se trata de

animais de produção. No entanto, ainda cabe ao profissional a responsabilidade de

fornecer a alimentação ideal para mantença de cada espécie animal.

Também é função do zootecnista alterar o local no qual os animais

encontram-se, propondo mudanças para que os recintos dos animais sejam os mais

apropriados possíveis para as espécies, considerando-se as características

comportamentais das mesmas. O bem-estar dos animais também é um assunto

cada vez mais presente nas profissões que envolvem esses seres, sendo uma

exigência da população, de modo geral, a garantia de uma vida mais adequada aos

animais, independentemente da finalidade de sua criação.

A oportunidade de realizar este estágio me permitiu enxergar o trabalho do

zootecnista além da produção de animais, sendo uma experiência muito válida, não

apenas para minha formação profissional, mas também pessoal.

52

REFERÊNCIAS

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56

ANEXOS

Anexo 1. Termo de compromisso e Plano de estágio

57

ANEXOS Anexo 2. Termo de compromisso e Plano de estágio

58

ANEXOS

Anexo 3. Lista de frequência no local de estágio

59

ANEXOS

Anexo 4. Lista de frequência no local de estágio

60

ANEXOS Anexo 5. Ficha de avaliação no local de estágio