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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO DIRETORIA DE PESQUISA PROGRAMA INSTITUCIONAL DE BOLSAS DE INICIAÇÃO CIENTIFÍCA RELATÓRIO TÉCNICO – CIENTÍFICO Período: AGOSTO/2014 a Julho/2015 () PARCIAL (X) FINAL IDENTIFICAÇÃO DO PROJETO Título do Projeto de Pesquisa: Bioecologia dos crustáceos decápodes dos domínios pelágicos e bentônicos do estuário de Marapanim, Pará, litoral Norte do Brasil Nome da Orientadora: Jussara Moretto Martinelli Lemos Titulação da Orientadora: Doutora Unidade: ICB-UFPA Laboratório: Laboratório de Biologia Pesqueira e Manejo dos Recursos Aquáticos, Grupo de Pesquisa em Ecologia de Crustáceos da Amazônia (GPECA) Título do Plano de Trabalho: Estrutura populacional do camarão pelágico Acetes marinus (Decapoda, Sergestidae) no estuário de Marapanim, Pará, litoral Norte do Brasil Nome da Bolsista: Miani Corrêa Quaresma

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO DIRETORIA DE PESQUISA

PROGRAMA INSTITUCIONAL DE BOLSAS DE INICIAÇÃO CIENTIFÍCA

RELATÓRIO TÉCNICO – CIENTÍFICO

Período: AGOSTO/2014 a Julho/2015 () PARCIAL (X) FINAL IDENTIFICAÇÃO DO PROJETO Título do Projeto de Pesquisa: Bioecologia dos crustáceos decápodes dos domínios pelágicos e bentônicos do estuário de Marapanim, Pará, litoral Norte do Brasil Nome da Orientadora: Jussara Moretto Martinelli Lemos Titulação da Orientadora: Doutora Unidade: ICB-UFPA Laboratório: Laboratório de Biologia Pesqueira e Manejo dos Recursos Aquáticos, Grupo de Pesquisa em Ecologia de Crustáceos da Amazônia (GPECA) Título do Plano de Trabalho: Estrutura populacional do camarão pelágico Acetes marinus (Decapoda, Sergestidae) no estuário de Marapanim, Pará, litoral Norte do Brasil Nome da Bolsista: Miani Corrêa Quaresma

Introdução

Camarões apresentam extrema importância em ambientes aquáticos, contribuindo

para a biomassa e riqueza nestas regiões. Os representantes do gênero Acetes são

pelágicos, e constituem importante componente de comunidades zooplanctônicas,

apresentando pequeno porte corporal, com distribuição tanto em ambientes tropicais,

como subtropicais (Omori, 1974; Amim et al., 2009; Aziz et al., 2010; Simões et al.,

2013).

São 17 espécies descritas para o gênero, sendo três com registro para a costa

brasileira: A. americanus Ortmann, 1893, A. paraguayensis Hansen, 1919 e A. marinus

Omori, 1975 (Peréz-Farfante & Kensley, 1997). As duas primeiras espécies

apresentam influência dos fatores ambientais, com distribuição por áreas que

apresentam vegetação e/ou bancos de areia (Simões et al., 2013; Montoya et al.,

2014). Já, para A. marinus, não são conhecidos estágios larvais, e os adultos

apresentam dimorfismo sexual, com distribuição em ambientes salinos ou dulcícolas

(Omori, 1975). Estes camarões são denominados popularmente na Amazônia de “aviú”

e distribuem-se nas Guianas e no Brasil (Amapá, Pará e Tocantins), habitando águas

salobras e sendo fonte alimentícia para as populações (Melo, 2003).

Embora os camarões Acetes possuam importância econômica e ecológica (Xiao

& Greenwood, 1993; Chul-Woong & Jeong, 2003; Kang et al., 2015), A. marinus é

pouco estudada. Com isso, o objetivo do presente trabalho foi estimar a densidade e a

biomassa de A. marinus em relação aos períodos climáticos e ao gradiente de

salinidade e de temperatura em ambiente natural.

Objetivo

- Objetivo geral

Descrever a estrutura populacional (tamanho e peso) do camarão pelágico A.

marinus (Sergestidae) em um estuário amazônico.

- Objetivos Específicos

- Calcular a distribuição de frequência de A. marinus em classes de tamanho e

peso em relação aos: a) meses, b) setores Médio-Superior, Médio e Inferior do estuário

de Marapanim (PA);

- Correlacionar a densidade da espécie às variáveis ambientais (temperatura, pH

e salinidade da água; granulometria e matéria orgânica do sedimento).

Justificativa

Os estuários destacam-se como um dos mais produtivos e valiosos

ecossistemas aquáticos da Terra (Costanza et al., 1997; Heip et al., 2005),

caracterizados por grande variabilidade na salinidade da água e pela instabilidade das

variáveis ambientais que nele atuam (Silva, 2000). A alta produtividade é causada,

principalmente, pela elevada concentração de nutrientes na coluna d’água e no

sedimento (McLusky & Elliott, 2004), que são incorporados às cadeias tróficas da

região costeira e da plataforma continental adjacentes (Silva, 1998).

Os camarões são crustáceos decápodes representativos das comunidades

bentônicas e pelágicas estuarinas e contribuem para o tamanho, complexidade e

funcionamento dos ecossistemas tropicais (Hendrickx, 1995). Este recurso pesqueiro

constitui um grupo bem diversificado, habitando diferentes tipos de substratos como

rochas, areia, lama e fragmento de conchas (Carpenter, 2002).

Acetes marinus compõem os menores crustáceos holoplanctônicos, porém com

relevante importância econômica na Ásia, África (Omori, 1975) e no Brasil. Eles

representam significativa fonte proteica para a população residente na região tocantina

(Assunção, 2007) e outras localidades da região norte brasileira. Além do consumo

humano, desempenham papel importante na cadeia trófica como alimento para peixes

e outros camarões (Omori, 1974; Branco, 2005; Fujimura et al., 2005). As fêmeas

apresentam o comprimento total de até 23 mm e os machos 19 mm (Omori, 1975).

Materiais e Métodos

Descrição da Área Estudada

As coletas foram realizadas no Estuário do Rio Marapanim (00o32'S/47o28'W e

00o52'S/47o45'W), localizado na costa nordeste paraense, sob licença do IBAMA/MMA

(Processo n° 02001.003954/01-16 de 12/12/2001). Neste estuário é possível identificar

vários ecossistemas, como manguezais, praias, dunas e restingas, apresentando clima

tropical úmido, influenciado pela Zona de Convergência Intertropical, com temperatura

média em torno de 27°C e alta umidade relativa do ar (aproximadamente 85%), com

precipitações máximas de 3000 mm (Martorano et al., 1993). Este fato permite

distinguir dois períodos anuais, sendo os seis primeiros meses mais chuvosos e o

restante menos chuvoso (Silva, 2009).

O principal rio do município é o Rio Marapanim, cuja bacia hidrográfica atravessa

toda a cidade estendendo-se por outros municípios limítrofes, tomando a direção Sul-

Norte, desaguando na Baía de Marapanim. Apresenta profundidade de 3 a 8 metros na

maré baixa e de 5 a 10 metros na maré cheia. Durante o período seco, a corrente de

maré adentra cerca de 62 km e no período chuvoso recua, penetrando 42 km no

estuário. O gradiente de salinidade vertical é discreto, resultado da mistura da água

continental e a ação das correntes, e horizontalmente, o gradiente salino aumenta em

direção à costa (Silva, 2009).

Coletas em Campo

As coletas foram realizadas mensalmente, durante a lua nova, com a maré

vazante no período de agosto de 2006 a julho de 2007. A fim de que o canal principal

fosse amostrado, a arte utilizada para a captura dos camarões foi o arrasto-de-fundo,

que totalizou 144 amostras biológicas [2 arrastos x 6 locais (2 em cada setor) x 12

meses]. As amostragens foram realizadas em três setores: Médio-Superior, Médio e

Inferior; e em cada margem do estuário: A e B (Fig. 01).

Figura 01. Indicação dos locais da coleta no estuário do Rio Marapanim. Fonte:

Modificado de OLIVEIRA et al. (2012).

A principal diferença entre os setores são os gradientes salinos. O setor I possui

o maior teor de sal dissolvido devido à influência do oceano, enquanto o setor II possui

tanto influência de água salgada quanto doce, sendo denominado de setor

intermediário, já o setor III demonstra o menor gradiente salino, ocasionado pela

influência do Rio Marapanim.

As margens diferem principalmente em relação às aglomerações urbanas, pois a

A é influenciada por regiões mais populosos, apresentando maior interferência de

dejetos e construções humanas, enquanto a B é consideravelmente mais protegida e

menos habitada (Silva & Martinelli-Lemos, 2012).

As coletas na região subtidal foram feitas com uma rede de arrasto wing-trawl

com comprimentos de 8,62 m na tralha superior e 10,43 m na tralha inferior e malha de

13 mm entre nós opostos na “manga” e “barriga” e malha de 5 mm entre nós opostos

no saco. A rede foi fixada através de dois cabos de aproximadamente 35 metros de

comprimento a duas portas de madeira vazadas com 70 cm de comprimento e 42 cm

de largura e peso de 9,3 kg em cada unidade. Foram feitas duas réplicas para cada

amostra, com um barco de pesca comercial com velocidade aproximadamente de 1,7

nós durante cinco minutos para cada arrasto. A área arrastada [50% abertura da rede

(m)*distância percorrida (m)] (Pauly, 1980), foi calculada com as coordenadas

geográficas obtidas a cada minuto após o lançamento das redes através de um GPS

(Global Position System) e posteriormente exportadas para o programa ESRI®ArcMap.

Os camarões coletados foram armazenados em sacos plásticos, etiquetados,

acondicionados em caixa térmica com gelo e transportados para o Laboratório de

Biologia Pesqueira e Manejo de Recursos Aquáticos localizado na Universidade

Federal do Pará, Belém (PA).

As variáveis ambientais analisadas foram temperatura (°C), salinidade e o

sedimento, totalizando 144 amostras cada. A temperatura foi verificada in situ, com um

analisador multiparâmetro YSI. A salinidade foi quantificada em laboratório, a partir de

amostras de água coletadas em frascos de polietileno e gotejadas em um refratômetro

óptico Atago. Amostras de sedimento para verificação da granulometria e do teor de

matéria orgânica foram coletadas com um pegador de fundo van Veen, acondicionadas

em sacos plásticos etiquetados e mantidos refrigerados. Por serem estuarinas, as

amostras de sedimento foram submetidas ao processo de duas lavagens com água

doce para eliminação do teor salino.

Para efetuar a análise granulométrica foi utilizado o Método da Peneiração. O

sedimento foi previamente seco em estufa a 60°C, após este processo 100g de cada

amostra foi peneirada por uma série de peneiras de 63; 125; 200; 500 µm e 1; 3,35;

4,75 mm em um agitador de grãos Fritsch durante 15 minutos. Após a peneiração, o

material retido em cada um dos filtros foi pesado em balança analítica Marte a fim de

verificar as frações de peneiração. A classificação granulométrica utilizada foi: silte e

argila (˂0,063 mm); areia fina (0,063 mm); areia muito fina (0,125 mm); areia média

(0,2 mm); areia grossa (0,5 mm); areia muito grossa (1 mm); cascalho fino (3,35 mm) e

cascalho médio (˃4,75 mm) (Wentworth, 1922). Para estimar o teor de matéria

orgânica das amostras coletadas foi utilizado o Método de Calcinação. Três réplicas de

30g de cada amostra previamente seca a 60°C foram levadas à mufla e aquecida à

500°C por 3 horas. Posteriormente, foram pesadas na balança de precisão Marte e a

diferença entre o peso inicial e o peso final correspondeu ao teor de matéria orgânica.

Análise dos dados

Os camarões foram identificados (Peréz-Farfante, 1967; Cérvigon et al., 1992;

Pérez-Farfante & Kensley, 1997), contados, pesados e medidos. A pesagem foi

realizada com uma balança digital de precisão 0,01g Sartorius e as medidas

biométricas com um paquímetro eletrônico digital Vonder.

Os camarões foram medidos quanto ao Comprimento do Cefalotórax (CC -

extremidade posterior da cavidade ocular até a margem posterior do cefalotórax). A

densidade e a biomassa de A. marinus foi expressa como o número e o peso médio de

camarões pela área arrastada pela rede (m2), respectivamente.

A normalidade dos dados foi verificada com o teste Shapiro-Wilk (Ayres et al.,

2007). Sendo os dados heterogêneos, a densidade e a biomassa foram comparadas

quanto à distribuição espacial (setores) e temporal (meses) com aplicação do teste

Kruskal-Wallis seguido do teste de comparações de Student-Newman-Keuls. Para

verificar a influência das variáveis ambientais na distribuição espaço-temporal da

densidade de A. marinus foi utilizada Correlação de Spearman.

Para análise da distribuição de frequência de tamanho de CC e peso, os

camarões foram agrupados em classes de intervalo para plotagem em histograma. A

normalidade desta distribuição será testada por Kolmogorov-Smirnov (KS) com o intuito

de verificar se a distribuição destas variáveis é unimodal, bimodal ou polimodal. Para

todos os dados foram adotados nível de significância de 95%.

Resultados

Todos os fatores abióticos variaram ao longo dos meses (p<0,001), sendo os

menores valores de salinidade e temperatura no período chuvoso (fevereiro e março),

com 3 de salinidade e 27,6 oC de temperatura, e as maiores no período menos

chuvoso (agosto e janeiro), com 30 de salinidade e 29,6 oC de temperatura (Fig. 02).

Figura 02. Variação das médias dos fatores abióticos de agosto/2006 a janeiro/2007 no

estuário de Marapanim, estuário amazônico.

Foram coletados 2.607 camarões de 2 a 8,99 mm de CC. Destes, 75 espécimes

eram da classe de 2-3 mm de CC e 1.173 de 3-4 mm de CC. Na maior classe de

tamanho ocorreu apenas 2 camarões (Tab. 01).

Tabela 01. Distribuição de frequência de tamanho (CC), Número de Indivíduos (N),

porcentagem dos indivíduos (%), Média do Peso e Desvio Padrão (DP) de agosto de

2006 a janeiro de 2007 no estuário de Marapanim (PA).

Classes N % MP ± DP

1˧ 2 75 2,88 0,012 0,005

2 ˧ 3 439 16,84 0,02 0,009

3 ˧ 4 1.173 45 0,02 0,009

4 ˧ 5 864 33,14 0,03 0,009

5 ˧ 6 36 1,38 0,07 0,06

6 ˧ 7 15 0,58 0,22 0,07

7 ˧ 8 3 0,12 0,37 0,04

≥8 2 0,07 0,51 0,007

A biomassa da espécie foi elevada no período menos chuvoso, com média de

3,15 g/m-2, em comparação ao período chuvoso, com média de 0,006 g/m-2 (Tab. 02).

Tabela 02. Máximo, mínimo e média da biomassa de A. marinus de agosto de 2006 a

janeiro de 2007 no estuário de Marapanim (PA).

Chuvoso Menos chuvoso

Máximo 5,39 6,94

Mínimo 0 0

Média 0,006 3,15

Desvio padrão 0,01 0,00001

A densidade de A. marinus correlacionou-se positivamente com a salinidade e

com a temperatura e, negativamente com o silte (Tab. 03).

Tabela 03. Coeficientes de correlação de Spearman e valor de p entre a densidade de

A. marinus e as variáveis ambientais no estuário do Rio Marapanim, estuário

amazônico.

Variáveis R P

Profundidade (m) -0,0043 0,9588

Temperatura (oC) 0,2882 0,0005

Salinidade 0,1959 0,0186

Areia (%) 0,1313 0,1167

Silte (%) -0,2423 0,0034

Matéria Orgânica (%) -0,056 0,505

A distribuição espacial de A. marinus foi variável (p< 0,001) entre locais e

setores, com maior densidade e biomassa no setor II do estuário, sendo mais intensa

na margem A (Fig. 03).

Figura 03. Densidade e biomassa de A. marinus por margem (A e B) e setores (I, II e

III) no estuário do Rio Marapanim, estuário amazônico.

A biomassa e a densidade da espécie variaram significativamente entre meses

(H: 31,82; p: 0,0008) e entre períodos sazonais (H: 5,47; p: 0,01). As maiores

densidades foram observadas no período seco (julho/2007), e biomassa no período

chuvoso (março e abril/2006) (Fig. 04).

Figura 04. Variação da biomassa e densidade dos adultos de A. marinus de

agosto/2006 a janeiro/2007 no estuário do Rio Marapanim, estuário amazônico.

Triângulo: período menos chuvoso; círculo: período chuvoso.

Discussão

A distribuição de A. marinus apresentou distinção entre os períodos anuais,

setores e margens na região estuarina de Marapanim. Esta distribuição espacial é

característica das comunidades de Acetes sp. e apresenta forte impacto na distribuição

de outros sergestídeos em ambiente natural (Hajisame & Yeesin, 2014; Torres et al.,

2014), advindo a heterogeneidade de habitats criada pelo regime pluviométrico e

variação dos fatores abióticos que são essenciais à distribuição desses camarões

(Simões et al., 2013; Montoya et al., 2014).

As flutuações dos elementos abióticos, tal como salinidade e temperatura em

estuários são associadas ao clima, períodos anuais e regime de chuvas, por exemplo,

e as diferentes respostas dos organismos são relacionadas à tolerância e ecologia de

cada grupo (Berrêdo et al., 2008; Sánchez & Raz-Guzman, 1997). Para Acetes sp. a

alta da salinidade e da temperatura oferecem ótimas condições à permanência em

ambiente natural (Hajisami & Yeesin et al., 2014), o que corrobora a distribuição

espacial de A. marinus em regiões salobras, como a do estuário de Marapanim, o que

já foi relatado para outras espécies, como A. americanus e A. indicus, ao quais estes

fatores são preponderantes para a permanência e distribuição sazonal (Xiao &

Greenwood, 1993; Simões et al., 2013).

Esta sazonalidade de A. marinus é também influenciada pela presença de

vegetação e tipo de sedimento do local, pois são fontes de alimento e de abrigo,

respectivamente, tal como a região intermediária do estuário. A maior intensidade na

margem A deste setor é ocasionada pela maior heterogeneidade deste habitat,

ocasionado por atividades humanas (Connor, 2013). Este fato é corroborado para

Acetes sp., A. paraguayensis e A. sibogae, que apresentam influência de vegetação,

sendo os bancos de areia refúgio para estes camarões (Meager et al., 2003; Montoya

et al., 2014; Hajisamae & Yeesin, 2014).

O hábito alimentar de A. marinus é outro fator controlador da distribuição da

espécie. A hipótese é que tal como A. indicus (Metillo, 2011), A. marinus se alimenta

preferencialmente de larvas de outros crustáceos decápodes, sendo este tipo de

forrageio intensificado em período posterior ao chuvoso. Este fato é advindo às

condições favoráveis geradas para a distribuição das larvas durante as épocas de

chuvas, pois ocorre a amplificação das áreas de dispersão e o aumento da quantidade

de recursos alimentares (Hsueh, 1991; Litulo et al., 2005; Vergamini & Mantelatto,

2008), o que, por conseguinte, pode ter ocasionado a maior biomassa da espécie no

período menos chuvoso. Este fato é corroborado por A. erythraeus, A. indicus, A.

japonicus e A. sibogae australis que demonstram hábito onívoro, com preferência para

alimentação animal (Le Reste, 1970; Xiao & Greenwood, 1993; McLeay & Alexander,

1998; Coman et al., 2006). Assim, as espécies do gênero apresentam tendência para a

localidade, ocasionado, dentre outros fatores, pela alimentação, sendo esta

característica responsável pela distribuição destes camarões a partir da disponibilidade

do tipo de forrageio (Xiao & Greenwood, 1993; Metillo, 2011; Hajisamae & Yeesin,

2014).

Conclusão

Os fatores abióticos são variáveis durante os meses e setores do estuário, sendo

que a temperatura, a salinidade e o silte influenciam significativamente a densidade e a

distribuição espaço-temporal de A. marinus.

A espécie é encontrada durante todos os meses, com maior intensidade no período

menos chuvoso, com ampla distribuição nos setores do estuário e com maior

densidade e biomassa na região intermediária do estuário.

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PARECER DO ORIENTADOR A discente Miani Corrêa Quaresma apresentou excelente rendimento nas atividades

propostas, executando todas as etapas do plano de trabalho com assiduidade,

responsabilidade e compromisso com o trabalho. Conceito: excelente.