universidade federal do parÁ instituto de...

197
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS FACULDADE DE TURISMO FLAVIO HENRIQUE SOUZA LOBATO CONCURSEIROS VIAJANDO PELO BRASIL: UMA NOVA SEGMENTAÇÃO DO MERCADO TURÍSTICO? BELÉM 2016

Upload: vuthu

Post on 13-Nov-2018

220 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

INSTITUTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS

FACULDADE DE TURISMO

FLAVIO HENRIQUE SOUZA LOBATO

CONCURSEIROS VIAJANDO PELO BRASIL: UMA NOVA SEGMENTAÇÃO DO MERCADO TURÍSTICO?

BELÉM

2016

Page 2: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

FLAVIO HENRIQUE SOUZA LOBATO

CONCURSEIROS VIAJANDO PELO BRASIL: UMA NOVA SEGMENTAÇÃO DO MERCADO TURÍSTICO?

Trabalho de Conclusão de Curso submetido à apreciação da Faculdade de Turismo, do Instituto de Ciências Sociais Aplicadas, da Universidade Federal do Pará (UFPA), como requisito para obtenção do grau de Bacharel em Turismo.

Orientadora: Prof.ª Ma. Diana Priscila Sá Alberto

BELÉM

2016

Page 3: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

FLAVIO HENRIQUE SOUZA LOBATO

CONCURSEIROS VIAJANDO PELO BRASIL: UMA NOVA SEGMENTAÇÃO DO MERCADO TURÍSTICO?

Trabalho de Conclusão de Curso submetido à apreciação da Faculdade de Turismo, do Instituto de Ciências Sociais Aplicadas, da Universidade Federal do Pará (UFPA), como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Turismo. Orientadora: Prof.ª Ma. Diana Priscila Sá Alberto.

Aprovado em: 08/06/2016

Conceito: Excelente

Banca Examinadora:

__________________________________________ Prof.ª Ma. Diana Priscila Sá Alberto (Orientadora) Faculdade de Turismo da Universidade Federal do Pará (UFPA) __________________________________________ Prof.ª Dr.ª Helena Doris de Almeida Barbosa Quaresma (Avaliadora interna) Faculdade de Turismo da Universidade Federal do Pará (UFPA) __________________________________________ Prof.ª Ma. Cristiane Barroncas Maciel Costa Novo (Avaliadora externa) Escola Superior de Artes e Turismo da Universidade do Estado do Amazonas (UEA)

Page 4: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

À empregada doméstica, à vendedora de roupas e de comidas, à minha mãe,

Maria Olinda de Sousa,

Dedico.

Page 5: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

AGRADECIMENTOS

A gratidão, por vezes, me define. É um sentimento que prezo em demasia.

Procuro ser grato sempre por tudo e com todos que me circundam, apoiam, ajudam,

torcem por mim, pelo meu sucesso, pelo meu desenvolvimento, pela minha

felicidade.

Comumente, muitos preferem fazer os agradecimentos no geral, sempre

evitando a dor na consciência posterior de esquecer alguém, sobretudo um alguém

importante. Eu, no entanto, prefiro me ariscar... “Eu trabalho com nomes [rs]”... Na

verdade, não citar as pessoas e não registrar o que elas fizeram por mim é, para

mim, como se eu não estivesse dando o devido agradecimento. É como se eu

estivesse deixando uma dívida em aberto, em meio à relação de reciprocidade (dar,

receber, retribuir). Mas, e se eu esquecer alguém? Bem, de antemão, do fundo do

meu coração, peço desculpas, e digo: essa jamais foi a minha intenção!

Os agradecimentos não serão poucos. Em outras palavras: Vai ter TEXTÃO,

sim!

Sou grato,

A Deus, por sempre me guiar, dar sossego, saúde, paz, calma, sapiência,

sobretudo, nos momentos mais difíceis ao longo de minha trajetória de vida; pela

minha família, pelos(as) amigos(as) e amores; por me permitir alcançar lugares onde

nunca pensei estar. Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

Universidade, por eu – um menino que veio das “entranhas” da periferia (Alô,

Jurunas, Pratinha feat Tapanã) – ter conseguido ultrapassar fronteiras, pela

concessão maravilhosa que foi o intercâmbio acadêmico internacional, tendo vivido,

certamente, um dos períodos mais mágicos, incríveis e felizes de toda a minha vida.

À minha mãe, Maria Olinda de Sousa, e ao meu pai, Francisco de Canindé

Miranda Lobato – a empregada doméstica e o açougueiro – pela vida, pelo amor,

carinho e proteção, por me educarem, por fazerem o possível e o impossível para

que eu pudesse correr atrás dos meus, menores e maiores, sonhos, por me

ensinarem que no decorrer dos caminhos trilhados sempre devemos cultivar a

esperança, renovar à fé...

Page 6: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

Aos meus irmãos, João Gilmar de Sousa e Leandro de Sousa Lobato, pela

convivência, amizade, amor, fraternidade e pelas brigas também. Obrigado por

cuidarem e me protegerem, confiarem em mim, no meu potencial. Por sempre,

sempre demonstrarem o quanto felizes e orgulhosos ficam com as minhas

conquistas – elas, em verdade, são nossas.

Às minhas tias, Maria de Fátima Moraes, Lucilene da Silva Sousa e Terezinha

Ferreira Reis, e aos meus tios, Janilson da Silva Sousa e Jean Reis, por sempre

estarem por perto, por ajudarem a minha mãe (solteira) na nossa criação e,

sobretudo, nos momentos em que a gente poderia vir a passar fome... Minha

gratidão.

À minha cunhada, Marlene Rocha Alves, pelas inúmeras vezes em que foi paciente

comigo e procurou entender os meus estresses e as minhas oscilações de

temperamento e humor, por juntamente com meu irmão João, ter me concedido a

maravilhosa sensação de ser tio: pelos meus sobrinhos Eloá e Enzo, aos quais

também agradeço, por serem meus verdadeiros parques de diversões, por trazerem

inexplicáveis alegrias e felicidades cotidianas.

À minha melhor amiga-irmã, Jamyle Cristine Abreu Aires, por se fazer presente

nos dias mais felizes e, também, nos mais “bostas” que a vida acadêmica e pessoal

nos proporcionou.

Aos amigos e às amigas, Rafaela Rodrigues, Tácio Wesley, Ana Paula (Paulinha),

Jully, Ingrid (Lora’h), Gabrielly, Meggie, Pollyanna, Gilberto, Marcela (Mah, ha, ha),

Ana Paula Moreira (in memoriam), Douglas Ribeiro (in memoriam), Lucélia,

Alessandra, Erick, Igor Cruz, Kelry, Waléria, Cleide Souza, Beatriz Aviz, por ao longo

da minha vida acadêmica e pessoal me ajudarem, apoiarem, acreditarem em mim e,

muitos deles, fizeram com que eu acreditasse mais em mim, me estimulando,

principalmente, nos momentos em que esbocei desistir.

Aos amigos do intercâmbio, Gustavo, Crisk’a, Felipe, Thiago, Maria Vieira, Luciana

(Luci Indescai) e Kessiatour, que foram a minha família do outro lado do Oceano

Page 7: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

Atlântico, meu porto seguro, meus guias em uma terra desconhecida. Sou grato a

todos vocês pelos momentos, pelas experiências compartilhadas, pelas viagens,

pelas “baladinhas”, pelo estudo, pelas dicas de leitura e por me aturarem falando

deste TCC o tempo todo.

Às minhas professoras e aos meus professores, em especial, Tia Dilma, Marcya

Luzia, Guilherme Piedade, Gilberto, Wilma, Márcia Bevone, Helena Doris de Almeida

Barbosa Quaresma, Eduardo Gomes, Voyner Ravena-Cañete e Alessandra de

Almeida Pereira, pelos conhecimentos repassados, por ajudarem a constituir a

minha formação, pelos conselhos pessoais, pelo espelho que foram e são em minha

vida.

À minha orientadora, Diana Priscila Sá Alberto, por sempre se fazer presente na

minha vida acadêmica, e até pessoal, pelos inestimáveis pronto-atendimentos nos

meus pedidos de socorro; pela acolhida, por ter me estendido suas mãos em um

momento crucial no processo de construção deste TCC; pela confiança, por me

deixar ir e voltar, “turistar” pelo universo da pesquisa cientifica, claro, sempre com os

devidos direcionamentos e “puxões de orelha” nos momentos em que quis escrever

demais, ultrapassar o limite de páginas ou nos que esqueci da “Dona ABNT” e de

lembrar a você (leitor) qual era o meu objeto de estudo. É uma professora admirável,

que trabalha muito, com muito amor e dedicação. Agradeço a Deus pela

oportunidade de cruzar seu caminho e/ou ela o meu.

À Escola Estadual Padre Francisco Berton, ao Instituto de Educação Ciência e

Tecnologia do Pará (IFPA), à Universidade Federal do Pará (UFPA), à

Universidade de Coimbra (UC) e ao Conselho Nacional de Desenvolvimento

Científico e Tecnológico (CNPq), pela minha formação pessoal e profissional, pelo

meu caráter. Foram dias e noites estudando por essas instituições, ainda que o

ensino tenha sido por vezes deficiente, aprendi e contribui com cada uma delas.

Aos concurseiros, às concurseiras e às empresas, que se dispuseram participar

da pesquisa, por responder os questionários, conversar ou “teclar” a respeito de

suas experiências em viagens realizadas para participar de concursos públicos, em

busca do sonho de adentrar ao serviço público e se estabilizar economicamente em

Page 8: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

um país de crises frequentes... Agradeço enormemente. Vocês foram essenciais

para a construção deste trabalho.

Em tempo, gostaria de agradecer elas e eles, que por vezes são esquecidos nos

agradecimentos: Às autoras e aos autores que foram consultados para a

construção deste trabalho, também, quero deixar registrada a minha profunda

gratidão. Vocês foram os meus verdadeiros guias, seja no mundo do turismo, seja

no mundo dos concursos públicos. Com vocês, viajei, concordei, discordei e, acima

de tudo, aprendi muito.

Sem todos vocês nada disso seria possível. Gratidão!

E que venha o Mestrado!!!

Page 9: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

A viagem não acaba nunca. Só os viajantes acabam. E mesmo estes podem prolongar-se em memória, em lembrança, em narrativa. Quando o visitante sentou na areia da praia e disse: “Não há mais o que ver”, sabia que não era assim. O fim de uma viagem é apenas o começo de outra. É

preciso ver o que não foi visto, ver outra vez o que se viu já, ver na primavera o que se vira no verão, ver de dia o que se viu de noite, com o sol

onde primeiramente a chuva caía, ver a seara verde, o fruto maduro, a pedra que mudou de lugar, a sombra que aqui não estava. É preciso voltar aos passos que foram dados, para repetir e para traçar caminhos novos ao

lado deles. É preciso recomeçar a viagem. Sempre. (José Saramago).

Os concursos talvez não acabem nunca. Só os concurseiros acabam. E mesmo estes podem prolongar-se em memória, em lembrança, em

narrativa. Quando o concurseiro sentou na sua mesa de estudos e disse: “Não há mais o que ver o que estudar”, sabia que não era assim. O fim de um concurso é apenas o começo de outro. É preciso estudar o que não foi

estudado, estudar outra vez o que já se estudou. É preciso voltar aos passos que foram dados, para repetir e para traçar caminhos novos ao lado

deles. É preciso recomeçar a viagem no mundo dos estudos, dos concursos. Sempre.

(José Saramago, adaptado pelo autor)

Page 10: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

RESUMO

Metaforicamente, o presente estudo simulou um roteiro pelo mundo das viagens motivadas à realização de concursos públicos no Brasil, a fim de compreender se estas figuram uma nova segmentação do turismo. Nesse sentido, o objetivo que orientou esta pesquisa foi o de investigar essas viagens enquanto uma possível nova segmentação do mercado turístico, a partir do perfil, dos conhecimentos e das experiências de candidatos que viajam pelo país fazendo provas, identificando se esses fluxos afetam diferentes setores socioeconômicos locais. Para tal fim, a metodologia de investigação, sob uma abordagem quali-quantitativa e em uma perspectiva exploratória, se roteirizou mediante pesquisas bibliográficas, documentais e de campo. Buscando estabelecer uma aproximação do método etnográfico, na ambiência cibernética que abarca a rede social Facebook foram realizadas incursões virtuais, observações/acompanhamentos de interações, de postagens e de depoimentos entre internautas de grupos de estudo para concursos públicos. Ademais, conceberam-se conversas informais (bate-papos), capturas de tela (registros imagéticos) e aplicação de questionários. Os resultados obtidos permitiram compreender que o “Turismo de Concursos Públicos” apresenta configurações de uma segmentação de mercado, tendo em vista que, dentre outras condicionantes, possui uma demanda, com necessidades e desejos específicos, que se difere de outros grupos homogêneos. Sob essa perspectiva, identificou-se a existência de pelo menos quatro perfis de concurseiros que viajam: o viajante, o visitante, o turista e o excursionista. No mais, essas viagens e seus viajantes impactam deveras as cidades onde ocorrem as provas, ao movimentarem o trade turístico e outros setores locais, social e economicamente. Palavras-chave: Concursos Públicos. Viagens. Turismo. Segmentação de Mercado.

Page 11: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

ABSTRACT

Metaphorically, this study simulated an itinerary through the travels motivated by public tenders in Brazil, in order to understand if these trips are a new segmentation of tourism. In this sense, the purpose of this research has been to investigate these trips as a possible new segmentation of the tourism market, from the profile, knowledge and experiences of applicants traveling the country doing tenders, identifying whether these shifts affect different local socio-economic sectors. For such aim, the investigation methodology, under a qualitative and quantitative approach as well as an exploratory perspective, was scripted by bibliographical, documentary and field research. Seeking to establish an approximation of the ethnographic method, in the social network Facebook were carried out virtual incursions, observations/accompaniments of interactions, posts and message exchange between Internet study groups for public tenders. Furthermore, there were informal conversations (chats), screenshots (pictorial records) and questionnaires. The results led to understand that "Public Tenders Tourism" provides settings for a market segmentation, taking into account, among other conditions, that it has a demand, with needs and desires, which differ from other homogeneous groups. From this perspective, it identified the existence of at least four candidate profiles traveling: the traveler, the visitor, the tourist and the hiker. Thus, these trips and their travelers truly impact the cities where the tests occur, they move the tourism industry and other local sectors socially and economically. Keywords: Public Tenders. Travels. Tourism. Market Segmentation.

Page 12: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Viagens, lazer e turismo ........................................................................... 47

Figura 2 – Classificação dos setores produtivos ....................................................... 55

Figura 3 – Modelo Referencial do Sistema de Turismo (SISTUR) ............................ 59

Figura 4 – Diferenciações das nomenclaturas .......................................................... 62

Figura 5 – Representação do processo de segmentação de mercado. .................... 68

Figura 6 – Etapas mais usuais adotadas no processo de segmentação ................... 73

Figura 7 – Possíveis vantagens e desvantagens da segmentação do mercado ....... 73

Figura 8 – Etapas do concurso público ................................................................... 100

Figura 9 – Perfis de candidatos a concursos públicos no Facebook. ...................... 110

Figura 10 – Compartilhamento de informações entre concurseiros ........................ 110

Figura 11 – Grupo específico .................................................................................. 111

Figura 12 – Duvidas, dicas e divisão de .................................................................. 111

Figura 13 – Divisão de despesas ............................................................................ 111

Figura 14 – Concurseiros se (re)encontrando antes e após as provas ................... 112

Figura 15 – Divulgação dos produtos e serviços das empresas ............................. 113

Figura 16 – Fan page da Pousada no Facebook .................................................... 114

Figura 17 – Banner de divulgação dos serviços da Pousada .................................. 115

Figura 18 – Instalações e funcionamento da Pousada dos Concurseiros ............... 115

Figura 19 – Concurseiros viajantes por regiões ...................................................... 122

Figura 20 – Hospedagem pelo Airbnb ..................................................................... 142

Figura 21 – Hospedagem pelo Couchsurfing ........................................................ 142

Figura 22 – “Turistando” depois da prova. .............................................................. 155

Figura 23 – Turismo de concurseiros em Chapada dos Guimarães ....................... 155

Figura 24 – Perfis de concurseiros que viajam ........................................................ 165

Page 13: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 – Sexo ...................................................................................................... 117

Gráfico 2 – Pessoa com deficiência ........................................................................ 117

Gráfico 3 – Idade ..................................................................................................... 118

Gráfico 4 – Estado civil ............................................................................................ 119

Gráfico 5 – Nível de escolaridade ........................................................................... 120

Gráfico 6 – Renda ................................................................................................... 125

Gráfico 7 – Ocupação ............................................................................................. 126

Gráfico 8 – Motivos de se fazer concursos públicos ............................................... 129

Gráfico 9 – Tempo de realização de concursos públicos ........................................ 131

Gráfico 10 – Preferência de níveis de concursos públicos ...................................... 131

Gráfico 11 – Número de participações em Concursos Públicos.............................. 134

Gráfico 12 – Número de viagens a Concursos Públicos ......................................... 136

Gráfico 13 – As fontes de informação no planejamento desse tipo de viagem ....... 137

Gráfico 14 – Preferência sobre o de tipo de viagens a concursos públicos ............ 138

Gráfico 15 – Meios de transporte utilizados nesse tipo de viagem .......................... 139

Gráfico 16 – Locais de hospedagem utilizados nesse tipo de viagem .................... 140

Gráfico 17 – Número de dias que costumam ficar na cidade de realização da prova

................................................................................................................................ 143

Gráfico 18 – Quantos dias antes da prova chega-se à cidade de sua realização ... 143

Gráfico 19 – Gastos médios com as viagens .......................................................... 146

Gráfico 20 – Com o que se costuma gastar ............................................................ 147

Gráfico 21 – O que se costuma fazer antes e/ou depois da realização das provas 148

Gráfico 22 – Essas viagens seriam oportunidades para conhecer outras cidades,

regiões e culturas .................................................................................................... 150

Gráfico 23 – Já visitou ou tem vontade de visitar alguma cidade onde realizou prova

de concurso, a turismo. ........................................................................................... 157

Gráfico 24 – Essas viagens podem ser consideradas uma nova forma de fazer

turismo (uma nova segmentação do mercado turístico?) ........................................ 158

Page 14: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AIA Avaliação de Impacto Ambiental

ANPAC Associação Nacional de Proteção e Apoio aos Concursos

AO Ações Operacionais

CESGRANRIO Centro de Seleção de Candidatos ao Ensino Superior

do Grande Rio

CESPE Centro de Seleção e Promoção de Eventos

CNTUR Conselho Nacional de Turismo

CNUMAH Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente Humano

EMBRATUR Instituto Brasileiro de Turismo

ESAF Escola de Administração Fazendária

FCC Fundação Carlos Chagas

FUJB Fundação Universitária José Bonifácio

FUNGETUR Fundo Geral de Turismo

FUNRIO Fundação de Apoio a Pesquisa, Ensino e Assistência

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

INSS Instituto Nacional do Seguro Social

IRB Instituto de Resseguros do Brasil

MPOG Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão

MTUR Ministério do Turismo

OE Organização Estrutural

OMT Organização Mundial do Turismo

ONU Organização das Nações Unidas

PNMA Política Nacional de Meio Ambiente

RA Relações Ambientais

SETUR Secretaria de Estado de Turismo

SISTUR Sistema de Turismo

SNUC Sistema Nacional de Unidades de Conservação

TCC Trabalho de Conclusão de Curso

UFPA Universidade Federal do Pará

UIOOT União Internacional dos Organismos Oficiais do Turismo

UnB Universidade de Brasília

Page 15: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .............................................................................................. 16

2 TURISMO: UMA VIAGEM HISTÓRICA E CONCEITUAL ............................ 24

2.1 A história do turismo, o turismo na história. ......................................... 24

2.2 “O Pré-turismo” ........................................................................................ 26

2.3 “A Idade Antiga do turismo” ................................................................... 29

2.4 “A Idade Média do turismo” .................................................................... 32

2.5 “A Idade Moderna do turismo” ............................................................... 34

2.6 “A Idade Contemporânea do turismo” ................................................... 36

2.7 “A Idade Pós-contemporânea do turismo”. ........................................... 41

3 VIAJANDO PELO UNIVERSO TURÍSTICO: CONCEPÇÕES,

DEFINIÇÕES E FUNCIONAMENTO DO TURISMO ....................................... 46

3.1 Viagens, lazer e turismo .......................................................................... 46

3.2 Turismo: desmistificando visões ............................................................ 51

3.3 Sistema turístico ...................................................................................... 56

3.4 Quem viaja?: viajantes, visitantes, turistas e excursionistas. ............. 60

4 SEGMENTAÇÃO DE MERCADO: UMA VISITA AO LEQUE DE

SEGMENTOS E NICHOS DO TURISMO ........................................................ 63

4.1 Mercados do turismo ............................................................................... 63

4.2 A segmentação de mercado .................................................................... 66

4.3 Aspectos metodológicos da segmentação de mercado: métodos,

bases, variáveis e requisitos. ........................................................................ 69

4.4 Segmentação do mercado turístico: bases, variáveis, segmentos e

nichos do turismo. ......................................................................................... 74

5 UM PASSEIO NO MUNDO DOS CONCURSOS PÚBLICOS ....................... 83

5.1 A história dos concursos públicos ......................................................... 83

5.2 Definições, princípios, regras e exceções dos concursos públicos ... 91

5.3 Funcionamento: os atos administrativos de um concurso público .... 99

5.4 Panorama dos concursos no Brasil ..................................................... 103

6 UM GIRO PELO TURISMO DE CONCURSOS PÚBLICOS: INVESTIGANDO

UMA NOVA SEGMENTAÇÃO DO MERCADO TURÍSTICO BRASILEIRO.. 106

6.1 Viagens a concursos públicos: sonhos e desejos que cruzam

fronteiras ....................................................................................................... 107

Page 16: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

6.2 Os concurseiros viajantes: perfilando a demanda das viagens a

concursos públicos no Brasil ..................................................................... 116

7 CONCLUSÃO ............................................................................................. 167

REFERÊNCIAS .............................................................................................. 172

ANEXO A ....................................................................................................... 186

APÊNDICE A ................................................................................................. 193

Page 17: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

16

1 INTRODUÇÃO

As viagens e o turismo, na atualidade, têm sido alvos de muitos

questionamentos que incitam a produção de novos estudos. Tais questionamentos

são frutos de um campo do conhecimento em construção. Suas interfaces,

plenitudes, tendências e dinamicidades, pois, ainda foram/são pouco estudadas,

logo, são, por vezes, nebulosas e incertas. Aliada a essa questão, enquanto

fenômeno mundial, a atividade turística tem características inerentes que “alimentam

a fome” do saber a seu respeito, eis algumas delas: o poder de influenciar, de

envolver, de se inter-relacionar e de transversalizar-se, de maneira recíproca e

espontânea, por entre/com diferentes áreas do conhecimento, setores da economia

e aspectos da vida em/na sociedade e da natureza.

Em face dessas características, instabilidades mundiais econômicas, sociais,

culturais, políticas e ambientais são, em demasia, propícias a afetar o turismo direta

e indiretamente. As mudanças ocorridas nas percepções e nas motivações das

viagens como reflexo de variáveis de diferentes ordens, que marcaram a história da

humanidade, são claras exemplificações disso. Nesse prisma, Dencker (2015, p. 37)

explana que equilíbrio e crise são altos e baixos presentes em toda e qualquer

atividade envolvida por ideais capitalistas. Assim sendo, no turismo, mudanças

inferem uma alternância nos “ciclos de prosperidade e declínio”, que pressupõem

impactos, positivos e negativos, substanciais na vida de pessoas, em culturas, na

natureza e no desenvolvimento de localidades.

Nessa esfera, as motivações que perfilam os fluxos e refluxos turísticos estão

intrínseca e extrinsecamente acondicionadas às basilares necessidades humanas,

às guerras, às crises, aos fenômenos e catástrofes naturais, às mudanças nas

tecnologias, nos poderes políticos e nas concorrências de mercado, enfim, aos mais

incontáveis motivos (CUNHA, L., 2003). E sob a mesma lógica, a complexidade

subjetiva humana contribui para que o comportamento do consumidor turístico sofra

constantes alterações (MARQUES, 2009), e por conseguinte o mercado também se

altere, ao passo que os viajantes têm buscando vivenciar, sobremaneira, novos e

particulares momentos e experiências (MOLINA, 2003).

Sobre as motivações que circundam a atividade turística atual, é crescente

nos brasileiros a busca pela aprovação em concursos públicos, visto que estes

oferecem inúmeras vantagens e, sobretudo, a almejada estabilidade econômico-

Page 18: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

17

social. O investimento em direção à sonhada nomeação em um cargo público é alto,

tanto que estes privam-se de tempo disponível, afastam-se de seus empregos

(FIUZA, 2015), exercem duplas e até triplas jornadas: trabalho, estudo e família,

bem como investem na compra de livros, na preparação em cursos específicos e até

em viagens, que têm forjado e materializado uma nova motivação para viajar.

No tocante a essas viagens, observa-se que muitos concurseiros1 têm, cada

vez mais, gastos com transportes, hospedagem ou alimentação fora de suas

cidades e de seus estados, em busca de um cargo no serviço público a qualquer

custo. Visando diminuir despesas, é comum grupos organizarem viagens

individualmente ou em excursão para trocar informações sobre as cidades, verificar

possibilidades de transporte, dividir diárias em hotéis ou “rachar” o valor do táxi.

Diante desse cenário, tais viagens têm fomentado o surgimento e o explorar de um

novo mercado, que já dispõe de agências e/ou operadoras de viagens e de turismo,

transportadoras e meio de hospedagem, articulados para atender, de maneira

especializada, o já intitulado, por cursos preparatórios, trade turístico e concurseiros,

“Turismo de Concursos” (TURISMO..., 2013).

No aspecto teórico-conceitual, entrementes, não há no Brasil nenhum

trabalho acadêmico: artigo, monografia, dissertação e tese que verse sobre as

“viagens a concursos públicos” ou o “Turismo de Concursos Públicos”. Ao que

parece, nenhum outro pesquisador, ainda, voltou os “olhos” para essa tipologia de

viagens enquanto um frutífero objeto de estudos em turismo. Diante deste

panorama, o presente trabalho buscou questionar se estar-se-ia, então, diante de

uma nova segmentação do mercado turístico?. Importa destacar, que foram levadas

em consideração apenas as viagens a concursos públicos. Vestibulares e outros

processos seletivos para cargos temporários ou concursos de outros gêneros, que

também podem efetivar-se enquanto motivos para viajar, não foram o foco deste

estudo, dada a representatividade dos certames – essas, porém, podem figurar

outras abordagens de investigação.

Para responder esta problemática, o objetivo geral foi: investigar as viagens

motivadas pela realização de concursos públicos no Brasil enquanto uma possível

1 Também conhecidos como concursantes, concusandos(as) ou concursistas, são aqueles

candidatos em que a vida gira entorno dos concursos públicos, a fim de conquistarem a tão sonhada nomeação em um cargo da Administração Pública brasileira. Esses demais termos, objetivando evitar o uso recorrente da palavra “concurseiro”, serão utilizados também no decorrer do trabalho.

Page 19: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

18

nova segmentação do mercado turístico, a partir do perfil, dos conhecimentos e das

experiências de concurseiros que viajam pelo país prestando certames, e

identificando se elas afetam as localidades onde ocorrem as provas. Nessa esteira,

os objetivos específicos foram: Compreender como se estabelecem as viagens de

candidatos a concursos públicos no Brasil; Caracterizar o perfil dos viajantes dessa

nova tipologia de viagens; Identificar se essas viagens movimentam as destinações

onde acontecem os certames; Analisar se esse fluxo de viagens compreende uma

nova segmentação do mercado turístico.

Os pressupostos forjados e testados ao longo desta pesquisa, e que de certa

forma também a guiaram, foram os seguintes: O turismo de concursos públicos

existe e pode, sim, ser considerada uma nova segmentação do turismo no Brasil; O

concurseiro aproveita sua estada na cidade de realização do concurso para passear

por ela e conhecê-la melhor; Os impactos gerados por essa vertente do turismo são

vários, visto que os concurseiros se deslocam até a cidade onde os concursos são

realizados, se hospedam em hotéis, se alimentam, utilizam o transporte da cidade e

visitam pontos turísticos.

De conformidade com Minayo (1999, p. 26), é bem verdade que uma

pesquisa se efetiva por intermédio de “um processo de trabalho em espiral que

começa com uma pergunta e termina com um produto provisório capaz de dar

origem a novas interrogações”. Antes, contudo, de se chegar a esse produto, é

primacial adotar uma metodologia passível de alcançar os objetivos traçados. Sobre

metodologia, Dencker (1998) a compreende enquanto ciência que constrói

abordagens, modelos, métodos e ferramentas que possibilitam abstrair informações

de uma realidade a ser confirmada ou refutada.

Ainda de acordo com a autora em tela, em seguimento, o método se configura

como uma maneira ordenada de proceder um estudo, por meio da execução de

atividades previamente definidas. As técnicas de pesquisa, por outro lado, servem

para colher informações de uma realidade, a fim de identificar, analisar, diagnosticar

e prognosticar respostas às problemáticas pesquisadas (DENCKER, 1998). Com

isso, entende-se que os procedimentos metodológicos: os métodos e as técnicas de

pesquisa são de sumária importância para descoberta de valores, caminhos e meios

eficazes de compreensão e análise de uma dada realidade. Portanto, a construção

do conhecimento se concretiza a partir de embasamentos epistemológicos pré-

existentes, definição de um método e aplicação de técnicas (SEVERINO, 2007).

Page 20: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

19

À luz dessas acepções, o caminho metodológico construído para elaboração

deste Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) guiou-se por meio de uma abordagem

quali-quantitativa, em uma perspectiva exploratória, utilizando-se de pesquisas

bibliográficas, pesquisas documentais e pesquisas de campo. O motivo pelo qual a

pesquisa exploratória foi eleita para ajudar com esta investigação deu-se porque ela,

segundo Minayo (1999), possibilita um feedback a problemáticas que não dispõe

ainda de um corpo teórico específico capaz de contextualizar e depreender

fenômenos inerentes e/ou exclusivos de uma realidade. Marconi e Lakatos (2011, p.

71) contribuem que essa tipologia configura:

[...] pesquisas empíricas cujo objetivo é a formulação de questões ou de um problema, com tripla finalidade: desenvolver hipóteses, aumentar a familiaridade do pesquisador com um ambiente, fato ou fenômeno para a realização de uma pesquisa futura mais precisa ou modificar e clarificar conceitos.

Logo, essa foi de sumária importância para a geração de conhecimentos

concernentes às viagens de concursos públicos.

As pesquisas bibliográficas almejaram delimitar o objeto de estudo, construir

embasamentos teóricos e contextualizar, sobretudo, os conceitos e as categorias de

análise trabalhadas. Já as pesquisas documentais, permitiram coletar e analisar

dados correlatos antecedentes, porém ainda não interpretados/discutidos

(SEVERINO, 2007). E as pesquisas de campo, por meio de aproximações

netnográficas, visaram compreender e vivenciar aspectos que permeiam as viagens

motivadas à participação de concursos públicos, o perfil dos viajantes e o mercado

desse possível novo nicho ou segmento da atividade turística, que será tratado

neste trabalho de “Turismo de Concursos Públicos”.

A respeito das vivências em campo, por meio das incursões netnográficas na

rede social Facebook, estas foram norteadas, principalmente, por postulados de

Malinowski (1986) e Geertz (2008), tendo em vista que a netnografia é uma tentativa

de aplicar as premissas da etnografia no ambiente virtual. Noveli (2010, p. 110-111)

destaca que a etnografia e a netnografia “podem se coadunar na busca por um

melhor entendimento dos objetos de pesquisa, na medida em que a realidade

hodierna pode ser considerada um continuum do off-line para o on-line ou vice-

versa”. Ainda segundo o autor supramencionado, ao apoderar-se das observações

de Kozinetz (2002 apud NOVELI, 2010, p. 115):

Page 21: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

20

A principal diferença entre a netnografia e sua precursora, a etnografia, seria que a primeira parte da observação do discurso textual no contexto online, e a identidade do informante nesse contexto é duvidosa; enquanto que a etnografia foca no discurso e no comportamento observado durante a etnografia face a face, na qual as pessoas buscam apresentar uma auto-imagem mais cuidadosamente cultivada e controlada.

Cumpre salientar, no entanto, que a pretensão jamais foi realizar uma (n)etnografia,

de fato, mas utilizar de seus ideais, de suas técnicas para compreender questões

que outros métodos não conseguiriam2. Desse modo, procurou-se fazer o que

alguns pesquisadores da antropologia intitulam de aproximação (n)etnográfica.

A abordagem netnográfica, de certo modo, foi realizada desde o final do ano

de 2014, momento no qual o pesquisador direcionou seus “olhares” para essa

possibilidade de investigação, participando desde essa época de vários grupos no

ciberespaço, inclusive já coletando dados. No início de 2015, ainda no período de

elaboração e de desenvolvimento do pré-projeto, do qual resultou este TCC, esse

acompanhamento se intensificou, havendo uma participação mais ativa do autor na

rede social. De forma metódica, porém, as incursões no ambiente virtual ocorreram

desde setembro de 2015, com o pesquisador participando, diariamente, de mais de

cem (100) grupos ou comunidades de concursos públicos, sendo essa fase findada

em março de 2016.

Embora apresente algumas limitações ou ressalvas, apontadas nos trabalhos

de Noveli (2010) e Tafarelo (2013), a aproximação netnográfica foi primacial ao

estabelecer uma maior proximidade com os concurseiros viajantes e ao proporcionar

coletar, de maneira mais facilitada e profícua, dados deveras pertinentes à pesquisa

– seja por intermédio de conversas informais (bate-papos), seja por meio de

postagens e de comentários (NOVELI, 2010), seja mediante o preenchimento dos

questionários. É válido ressaltar que a combinação desses diferentes procedimentos

metodológicos é, em demasiado, inovadora no âmbito das pesquisas em turismo,

sendo possível observar um número ainda diminuto de investigações sobre a

atividade turística, no mundo virtual, utilizando-se dos ideais da (n)etnografia.

2 Dencker (2015, p. 36) pondera ainda que, na busca por “[...] antecipar o surgimento de novos

segmentos de mercado e se prepara par as mudanças, as empresas recorrem a pesquisas sobre tendências. Empregando referenciais metodológicos da pesquisa antropológica e a etnografia para a pesquisa de campo, quando usadas para interpretação dos fluxos de informação que circulam nas redes, essas pesquisas são denominadas netnografia ou webnografia”.

Page 22: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

21

Tangente à aplicação dos questionários3, ela ocorreu entre 16 de janeiro e 03

de março de 2016, de forma on-line, ora nos grupos e nas comunidades, ora por

mensagens enviadas diretamente aos perfis dos participantes da rede social,

alcançando o número total de 674 respondentes – excetuando-se a regra de que

somente os concursandos que viajam poderiam participar da pesquisa, nenhum

outro critério para o preenchimento foi adotado, Estruturadas e semiestruturadas, as

perguntas foram elaboradas de maneira a objetivar as respostas, mas, ao mesmo

tempo, também, conceber oportunidades dos sujeitos expressarem

opiniões/percepções mais subjetivas acerca da temática abordada (SEVERINO,

2007). Elas perfilaram aspectos socioeconômicos dos informantes, sobre os

concursos públicos, as viagens: os produtos e os serviços adquiridos nesse mercado

e a percepção acerca dessa tipologia de viagem enquanto uma possível

segmentação do turismo (APÊNDICE A).

A composição e o preenchimento dos questionários, bem como, a validação e

o tratamento dos dados se deram por meio da plataforma SurveyMonkey –

ferramenta digital numerosamente utilizada em pesquisas como esta por apresentar,

dentre outras vantagens, certa praticidade quanto à tabulação e à aferição dos

resultados. Dos 674 questionários preenchidos pelos concurseiros na plataforma,

como supradito – por motivos de: preenchimento parcial, “brincadeiras” ou pessoas

que nunca viajaram4 a concursos e mesmo assim responderam – 500 foram

validados, constituindo-se essa a amostra da pesquisa.

A adoção dessa construção metodológica, baseada em tais métodos e

técnicas de pesquisa, ajudou a coletar dados de grande relevância para o

entendimento dessa nova tipologia da atividade turística. Colheu-se dados

referentes às viagens motivadas à prestação de concursos públicos, por meio da

aplicação de questionário on-line, observações e capturas de tela (Prints Screen5) de

postagens, conversas e informações divulgadas pelos perfis individuais de

concurseiros e nos grupos de concursos no Facebook. Foram acompanhados

3 Primeiramente, foi realizado um teste do instrumento para validar as perguntar, fazer ajustes

necessários e reorganizá-lo. 4 Vale lembrar que os participantes sempre eram/foram avisados de que se tratava de uma

pesquisa direcionada àqueles que viajavam para participar de concursos públicos. 5 O Print Screen é uma tecla presente nos teclados de computadores, ela, no Windows, quando

acionada, captura – excetuando-se o ponteiro do mouse e vídeos – em forma de imagem tudo o que está presente na tela e copia para a Área de Transferência. Para salvar a área “printada” como imagem, basta abrir algum programa que suporte imagens e pressionar "Ctrl + V" (colar) e salva-lá.

Page 23: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

22

diversos grupos voltados a trocas de informações sobre concursos públicos, ainda

que se tenha “privilegiado” os grupos de concursos federais e de tribunais estaduais,

em que a quantidade de participantes era maior, com o objetivo de garantir a

participação de uma amostra6 considerável da população brasileira concurseira na

pesquisa.

Convém pontuar que, durante a aplicação dos questionários, foi informado

aos respondentes que caso quisessem ter acesso aos resultados da pesquisa

deveriam deixar seus e-mails, para que posteriormente fosse compartilhado o

estudo, como uma forma de dar um feedback, difundindo junto a eles os

conhecimentos construídos por meio de suas próprias experiências e percepções

sobre as viagens a concursos. Tal preocupação reside, também, no fato de que esta

investigação científica de maneira alguma venha a ser considerada “vampiresca” ou

“sanguessuga”. E mais, “todo conhecimento se desenvolve socialmente” (TOMAZI,

2007, p. 6).

Decerto, esta investigação ao versar sobre uma nova segmentação da

atividade turística, dado o seu ineditismo, traz avanços representativos aos estudos

em turismo e ao planejamento da atividade, mais especificamente desse mercado. O

estudo oferece a estudantes, a pesquisadores, a gestores e ao empresariado

embasamentos teóricos conceituais inovadores, que podem motivar a realização de

novas pesquisas – sejam na mesma, sejam em novas abordagens, levantando,

assim, a importância da discussão do tema na academia, no mercado e na gestão

pública. Demais, este é passível de estimular insights, que podem fomentar,

porventura, o planejamento, a implementação, o desenvolvimento e a consolidação

de uma atividade turística empreendedora centrada, também, nessa segmentação,

em diversas cidades, estados ou regiões do país.

Como Mário Beni (2004) bem pontua, uma viagem abre, desperta, instiga, e

proporciona um inestimável universo de possibilidades: sentimentos, emoções,

desejos, sonhos, sensações e conhecimentos. Dessa sorte, a fim de ampliar os

horizontes, revelar e “passear” por um novo mundo do universo turístico, produzir e

6 A respeito da amostra coleta, faz-se necessário explanar que, é sabido que ela é calculada a partir

da população, de estudos anteriores que mensuraram sua dimensão quantitativamente. Nessa pesquisa, entretanto, não encontrou-se nenhum documento ou trabalho precedente que tenha quantificado a população de concurseiros no Brasil, em sua totalidade, muito menos daqueles que viajam pelo país. Dessa forma, a amostra de 500 questionários foi determinada a partir do maior número de respondentes alcançados (674), entre janeiro e março de 2016, e das validações de suas respostas.

Page 24: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

23

aglutinar novos conhecimentos aos já existentes, o autor deste TCC convida o leitor

a “embarcar” em mais uma aventura pelo mundo do turismo, dessa vez o destino

principal é o mundo das viagens a concursos públicos. A viagem7, que contempla

oito rotas (seções), será efetivada pela leitura enquanto meio de transporte, tendo

duração de 197 páginas. Os guias das rotas serão compostos por uma gama de

autores que possuem trabalhos clássicos e atuais na área. O piloto que conduzirá

esta viagem será o autor.

Repassando o roteiro, esta primeira rota da viagem traz uma breve

contextualização do objeto de estudo, a problemática, os objetivos, as hipóteses, os

procedimentos metodológicos e a relevância deste estudo. A segunda parte faz uma

viagem histórica e conceitual pelas andanças, migrações e viagens, ao longo da

história humana, enquanto momentos direta e indiretamente ligados à construção

social atual do turismo. Em seguida, na terceira rota, se viaja pelo universo turístico,

onde são desmistificados e (re)conhecidos conceitos, visões, classificações e

elementos que estão perfilam o funcionamento do turismo. Na quarta rota, o

percurso contempla a segmentação de mercado em turismo, onde são explanados

conceitos, metodologias, bases, variáveis, e requisitos da segmentação, além de

uma visita rápida à plural variedade de segmentos e nichos de mercado existentes.

Dando sequência ao roteiro, na quinta rota, serão realizados pequenos

passeios no mundo dos concursos públicos: história, definições, princípios, regras e

exceções que os caracterizam e os legitimam, além de serem conhecidos os atos

administrativos que garantem a sua funcionalidade e o seu panorama atual no

Brasil. A sexta parte da viagem, é um rota que contempla as viagens a concursos

públicos, nelas, são desvendadas e conhecidas algumas nuanças que envolvem

esses traslados e o perfil dos concurseiros viajantes. Na sétima rota são

apresentadas as conclusões (da viagem) a despeito do “Turismo de Concursos

Públicos” enquanto uma segmentação de mercado em ascensão no Brasil. E, por

fim, na última rota, são apresentados os grandes guias desta viagem: os autores, e

suas respectivas obras, consultados para a construção do presente estudo.

Parafraseando Alexandre Panosso Netto e Cecília Gaeta (2010, p.1), as rotas

estão traçadas. “Novos e [antigos] conhecimentos são oferecidos”. Tenha uma boa

viagem.

7 Emprega-se “o termo viagem como uma metáfora por entendermos que este é um caminho, um

percurso, uma trajetória [...]” (ROSSETTO FERREIRA, 2007, p. 26).

Page 25: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

24

2 TURISMO: UMA VIAGEM HISTÓRICA E CONCEITUAL

Com base na definição etimológica da palavra turismo e de um parâmetro

temporal traçado a partir de uma analogia às demarcações da história humana8, este

capítulo – a fim de melhor embasar este estudo e de contribuir com a concepção

histórica das dinâmicas que marcam a atividade turística – pretende fazer uma

viagem pelos mais importantes acontecimentos humanos que, possivelmente,

influenciaram, direta ou indiretamente, os primeiros deslocamentos, as migrações,

as viagens e, finalmente, as viagens turísticas. A segunda parte desta viagem,

“Turismo: uma viagem histórica e conceitual”, tem como roteiro “A história do

turismo, o turismo na história”, que contempla: “O Pré-turismo”, “A Idade Antiga do

turismo”, passando, “A Idade Média do turismo”, “A Idade Moderna do turismo”,

posteriormente, “A Idade Contemporânea do turismo” e, a última parada, “A Idade

Pós-contemporânea do turismo”.

2.1 A história do turismo, o turismo na história.

O turismo enquanto campo de estudos, se comparado às demais áreas do

conhecimento, é relativamente recente. Mesmo que vários estudos tenham sido

realizados, observa-se que a sua história ainda é “embaçada” por um “nevoeiro de

incertezas”. Talvez, por esse motivo seus paradigmas históricos e conceituais

tenham amplos debates e discordâncias entre os pesquisadores que debruçam seus

estudos na historicidade do turismo ou na chamada epistemologia do turismo, com

vistas a compreender melhor esse novo campo de estudos e prática social,

econômica, política, ambiental e cultural.

Dentre as questões que marcam embates teóricos entre estudiosos da área,

está a origem do próprio turismo enquanto atividade. Ao mesmo tempo em que

alguns autores, como De Lacerda Badaró (2013), afirmam que “o homem sempre

viajou”, ou que o “turismo sempre existiu”. Outros renegam que alguns fatos

históricos teriam relação, direta ou indireta, com o surgimento e o desenvolvimento

da atividade turística. Pontuam estes, que somente a partir do século XVIII, ou XIX

8 Ressalta-se que esta analogia à divisão da História (Pré-história, Idade Antiga, Idade Média, Idade

Moderna, Idade Contemporânea e Idade Pós-contemporânea) é apenas uma forma de representar e compreender de maneira mais clara e dinâmica a história do turismo, que, evidentemente, não deixa de estar intrínseca e extrinsecamente relacionada à história humana na terra.

Page 26: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

25

(FIGUEIREDO; RUSCHMANN, 2004; TRIGO, 1998), com os Grand Tours, é que de

fato teria o turismo surgido (BOYER, 2000; NUNES, 2009). Há também aqueles que,

mesmo concordando que o turismo somente teve início a partir do século XVIII, não

deixam de defender que alguns fatos históricos marcantes da humanidade podem

ter sido os ancestrais, a embriologia, o primitivismo do que se concebe enquanto

turismo nos dias atuais (ACERENZA, 2002; BARBOSA, Y., 2002; BARRETTO, 1995;

BURSZTYN, 2005; DE LACERDA BADARÓ, 2008; PIMENTEL, 2001; REJOWSKI,

2002; RUSCHMANN, 2001).

Astorino (2013, p. 36) argumenta que “a história da viagem acompanha a

história do homem, pois tem sido por esta condicionada”, existindo “uma história do

turismo antes do turismo” (VENEGAS MARCELO, 2011, p. 12). Doris Ruschmann

(2001, p. 12), por sua vez, analisa o turismo não como um “fenômeno recente e

muito menos privativo do século XX. A novidade reside na sua extensão, na

multiplicidade das viagens e no lugar que ocupa na vida das pessoas”. Nessa linha

de pensamento, para Venegas Marcelo (2011), a teoria de que o turismo surgiu

apenas no século XX, recorrente em diversos trabalhos, não leva em consideração

contextos antecedentes, que deram contributos importantes ao que se compreende

como turismo na atualidade. Portanto, para estes últimos, o turismo atual tem em

muitas viagens, migrações e/ou andanças ocorridas em períodos históricos

anteriores, uma linhagem, uma genealogia, como será possível notar no decorrer

deste capítulo.

A respeito da historicidade do turismo, nota-se que as diferentes motivações

que permeiam as viagens, configuram um fenômeno muito antigo. A gênese de

diferentes segmentações da atividade, ao longo da história, pode ser visualizada sob

a forma: das viagens realizadas pela necessidade de subsistência e de comércio

dos nômades – turismo de negócios; das viagens de exploração dos povos antigos –

turismo de aventura; as viagens das guerras santas, de romeiros na Idade Média –

turismo religioso; das visitas às termas durante o Império Romano – turismo de

saúde, etc (IGNARRA, 2003). Dessa forma, segmentação e turismo possuem uma

relação muito antiga, sendo, praticamente, cada segmento forjado durante um

diferente contexto histórico. Nessa esteira, é possível fazer a seguinte correlação: a

realidade brasileira corroborou para o nascimento das viagens com motivação de

realização de provas de concursos públicos.

Page 27: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

26

Decerto, o turismo na configuração ao qual se (re)conhece nos dias atuais,

evidentemente, não se desenvolveu de forma repentina. A história tem mostrado que

a existência e o desenvolvimento desse fenômeno mundial, enquanto campo de

estudos e atividade (econômica, política, social, ambiental e cultural), apresentou

diferentes feições em virtude, sobretudo, das motivações e das necessidades

humanas. Estas propiciaram a evolução da tecnologia que, por sua vez, fomentou

modificações nos modos de produção, de deslocamento e de viver em sociedade.

Sob essa acepção, Barretto (1995) destaca que o modo de produção e o

desenvolvimento tecnológico, respectivamente, passaram a determinar ao longo dos

anos quem viaja e como viajar. Esses, porventura, também cingem as viagens

motivadas à participação de provas de certames públicos, assim como, os seus

viajantes – o foco deste trabalho.

Não obstante, ao menos parece haver uma concertação no que tange à

etimologia do termo entre os pesquisadores. Segundo a literatura consultada, o

verbete turismo deriva do radical tur ou tour, que se refere à “voltar”, a “circular”, à

“andar em círculos”, à “dar a volta”, ao “ir e voltar”, à “deslocar-se” (BARRETTO,

1995; BURSZTYN, 2005; CUNHA, A., 1982), ou ainda, à “viagem de descoberta, de

exploração, de reconhecimento” (CONFEDERAÇÃO NACIONAL DE COMÉRCIO,

2005; OLIVEIRA, A., 2001; SANTOS, 2010).

Partindo-se dessa compreensão etimológica, inicia-se, a partir deste ponto,

uma verdadeira viagem. Uma viagem pela história do turismo. “Era uma vez...”.

2.2 “O Pré-turismo”9

[Adão e Eva passeando pelo Jardim do Éden; o nômade em busca de abrigo e de alimento] O peregrino em romaria por lugares santos; o mercador em busca de novos produtos e clientes; o conquistador que almeja expandir seus domínios e riquezas; o aventureiro disposto a experiências exóticas. O explorador antevendo descobertas. O que há em comum entre essas pessoas? - Sem dúvida, a vontade de ultrapassar fronteiras, a curiosidade de conhecer o novo. E, na raiz desses dois desejos, molda-se a mola propulsora do Turismo através dos tempos (CONFEDERAÇÃO NACIONAL DE COMÉRCIO, 2005. p. 7).

Esta viagem histórica e, de certa maneira, conceitual tem como ponto de

partida os indícios de um “turismo primitivo”, possivelmente, presentes no Jardim do

9 Este tópico faz referência, sobretudo, aos principais fatos históricos que marcaram o que os

historiadores chamam de Pré-História. Esta fase compreende todo período que antecedeu a invenção da escrita, entre 8000 a. C. e 4000 a. C., aproximadamente.

Page 28: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

27

Éden – evidentemente, sob uma perspectiva que não a atual. O paraíso criado por

Deus, com árvores, flores, frutos, rios que formavam as mais lindas e as mais ricas

paisagens, certamente, seria um lugar em que muitas pessoas gostariam de

conhecer, de estar, de circular, de passear. Adão e Eva, seguramente, antes de

conhecerem o pecado, devem ter realizado andanças e passeios, brincado e

circulado pelos elementos que compuseram aquela bela e mitológica natureza. Após

cometerem o pecado de comer o fruto proibido, e serem levados à terra, Adão, Eva

e seus filhos (Caim, Abel e Sete), devem ter vagado em busca de moradas, de

alimentos e mesmo de lazeres. Pode-se então dizer que Adão e Eva teriam

realizado uma espécie de “turismo primitivo”? Teriam sido eles os “pré-turistas” ou

ainda os “turistas primitivos”?. Levando em consideração a significação do termo, é

provável que sim.

Rossetto Ferreira (2007) pontua que no transcorrer da partida do Egito em

direção à terra sagrada de Israel, Moisés, junto ao povo Hebreu, por volta de 1445

a.C, acampou no deserto de Parã, península do Sinai. De lá, Moisés enviou de cada

uma das doze tribos um homem, com o objetivo de buscar informações sobre Canaã

– “a história conta que essa viagem teve duração de 40 dias, ao fim dos quais

retornaram os espiões ao local de partida, trazendo os frutos da terra, entre eles um

cacho de uva, carregado em uma vara por dois homens, Josué e Calebe”

(ROSSETTO FERREIRA, 2007, p. 28). Certamente, esta viagem não se caracteriza

como a viagem praticada nos dias atuais, contudo, não se pode deixar de notar que

ela possuiu a condição de “ida e volta”, de retorno, que marca a atividade. Barretto

(1995), de todo modo, pontua que é nesse período que o termo tur aparece pela

primeira vez na Bíblia Sagrada, mais especificamente no Livro de Números, capítulo

13.

Ainda de consonância com as histórias bíblicas, em Génesis, uma viagem

constante, e quase sem fim, de Ulisses com Abraão é relatada, onde a salvação

estava na própria viagem. Em um trecho do Antigo Testamento, nessa direção, são

elencadas as diversas utilidades que uma viagem pode ter:

O homem que viajou aprendeu muito; E o homem de experiência exprime-se como conhecimentos de causa. Quem não foi posto à prova sabe poucas coisas, Mas quem viajou está cheio de recursos. Muito vi no discurso de minhas viagens. E o que compreendi ultrapassa o que eu poderia dizer. Muitas vezes corri perigos mortais,

Page 29: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

28

Mas fui salvo graças à minha experiência (BÍBLIA, 1994 apud TRIGO, 2010, p. 23).

No Novo Testamento, Trigo (2010) fala sobre as viagens do apóstolo Paulo. Estas,

motivadas pela disseminação do cristianismo, pela Europa, pelo Oriente Médio e

pela Ásia, são narradas como aventuras épicas, em que são expressas todas as

dores, as angústias, os perigos, os sofrimentos do viajante – demonstrando que as

viagens não implicam somente o desfrute de boas experiências.

Por outro lado, sob a premissa do surgimento e da evolução humana, Santos

Filho (2008) destaca que a concepções de deslocamento e de viagens podem estar

atreladas ao próprio aparecimento humano na terra. Antes mesmo de se conceber o

turismo, os primeiros ancestrais do Homo Sapiens já tinham ciência de que no/pelo

ambiente que os cercava era possível se deslocar, e que o deslocamento era, em

muitos casos, uma necessidade crucial para a sobrevivência (TADINI, 2010).

Pimentel, (2001, p. 82) reitera que:

Até que os homens se distribuíssem pelo planeta e ele atingisse o formato que possui atualmente, apesar das constantes migrações que continuam movimentando os diferentes povos, centenas de milhares de viagens foram empreendidas. Incontáveis viagens de ida, nem tantas de volta.

Santos Filho (2005, p. 75) pondera que os deslocamentos, com “diferentes e

aproximadas essencialidades”, sempre fizeram parte da realidade do homem,

manifestando-se na história humana.

Em consonância, Astorino (2013) e Ycarim Barbosa (2002) ratificam que o ser

humano, a contar de sua existência na terra, tem viajado por diversas motivações

que se estabeleceram desde as naturais, perpassando pelas políticas, econômicas e

religiosas, até as culturais. Desse modo, ainda que de forma primitiva, é possível

que o homem por variadas motivações e com a utilização de diferentes meios, ao

longo dos tempos, tenha feito o que se pode chamar de “embriologia do turismo”.

Esses traslados, assim, certamente, se assemelham a características das viagens e

do turismo de concursos públicos correntes atualmente.

Nessa direção, De Lacerda Badaró (2013) sinaliza que se estudos ou

pesquisas, com relação à prática de um “turismo primitivo”, fossem concebidos em

períodos mais antigos, muito provavelmente se encontraria vestígios bem remotos,

para além dos que se tem, da existência de um “pré-turismo”. Nos quatro cantos do

mundo há indícios ou relatos da ocorrência de migrações, de encontros entre povos

Page 30: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

29

de diferentes regiões, com fins de “cooperação, dominação e conflitos. Todos esses

encontros deixaram marcas por meio das pinturas rupestres e achados

arqueológicos” (SANTOS FILHO, 2008, p. 1), ajudando a entender em pormenores

as histórias da humanidade em diferentes temporalidades.

Barretto (1995) e Ycarim Barbosa (2002) dissertam que o turismo pode ter

sua gênese primitiva sob a forma dos primeiros deslocamentos dos povos nômades

– que andavam, em geral, sob círculos para obtenção de alimentos. A arqueologia

corrobora este pensamento ao descobrir que, há aproximadamente treze mil anos

grupos humanos que habitavam a Caverna de Madasin, nos Pirineus, “viajavam”,

iam e vinham até o mar. Diante disso, o homem “sempre viajou, seja em definitivo

(processo migratório) ou temporariamente (processo de retorno)”, na visão de De

Lacerda Badaró (2013, p. 1).

Como se viu, desde os povos nômades, observa-se que a procura por lugares

apropriados ao atendimento das necessidades humanas sempre se fez presente.

Ainda que as viagens realizadas nessas épocas possuíssem uma acepção bem

diferenciada das atuais – pois, nem sempre se concretizava a dinâmica que permeia

as viagens e o turismo: o ir e o voltar – são eventos importantes no mundo do

turismo. Marcam um período que se pode chamar de “pré-turismo”.

2.3 “A Idade Antiga do turismo”10

Em sequência, de acordo Confederação Nacional de Comércio (2005), é

muito provável que as viagens marítimas, notadamente comerciais, dos fenícios,

entre 1200 a.C. e 500 a.C., ou as expedições dos sumérios, dos babilônios, dos

assírios, dos povos mesopotâmios apresentassem uma concepção turística. Nas

localidades onde os barcos ancoravam, havia, em vários sítios, tendas armadas com

o objetivo de abrigar os forasteiros que por ali passassem. Esse período,

certamente, marca a existência da hospitalidade e de uma hotelaria em seu estado

inicial.

Mas, é na Grécia, aproximadamente no século VIII a. C. (entre 800 e 701),

que autores como Acerenza (2002), Barretto (1995), Bursztyn (2005), Rejowski

10

Este tópico faz referência, sobretudo, aos principais fatos históricos que marcaram o que os historiadores chamam de Idade Antiga ou Antiguidade. Esta fase inicia-se com a invenção da escrita por volta de 4000 a. C. aproximadamente, e finda com a queda do Império Romano por volta de 476 d. C. (ESPINOSA; GUERRA, 1968).

Page 31: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

30

(2002) e Ycarim Barbosa (2002) apontam o início do turismo. Tais apontamentos

fazem referência, de forma geral, ao fato de que alguns festivais públicos, como os

Jogos Olímpicos – evento esportivo realizado a cada quadriênio na cidade de

Olímpia – atraíram, para além de atletas que iriam competir, uma grande multidão

para apreciação das competições. Olímpia e todas as demais localidades, que

nessa época abrigavam as modalidades esportivas, se adequavam, construindo

(infra)estruturas de alimentação, de hospedagem e de transporte aos atletas e aos

expectadores; já nessa época existia uma preocupação muito grande com a

hospitalidade e o bem receber dos visitantes. É na Grécia, também, que surge o

“Mito da hospitalidade”, em que acreditava-se que Zeus se disfarçava de forasteiro

para testar os humanos. Assim, todos costumavam abrigar forasteiros, que em suas

portas batessem, para não sofrer castigo caso negassem abrigo ao deus disfarçado

(CASTELLI, 1975).

Ademais, nesse período é possível visualizar o turismo enquanto uma

atividade econômica, sendo, inclusive, o palco do surgimento primitivo da

segmentação da atividade turística com base no deslocamento dos participantes dos

eventos. Desse modo, observa-se que os Jogos Olímpicos ao motivar a realização

dessas viagens – que muito se parecem com o que se entende e se pratica

enquanto viagem turística nos dias atuais – têm um papel fundamental na evolução

do turismo e, portanto, merecem um lugar de destaque na historicidade do turismo.

Tadini (2010) pontua que por volta de 3000 a. C., a antiga civilização egípcia

– por ter se desenvolvido no nordeste africano, mais precisamente na região do

deserto do Saara – teve que desenvolver atividades capazes de otimizar as funções

que rio Nilo poderia lhes proporcionar. Porém, além da utilização deste rio para fins

ligados diretamente à subsistência: beber água, pescar e fertilizar as plantações,

essa civilização utilizou o rio para navegar com os grandiosos blocos materiais que

hoje formam os túmulos dos grandes faraós.

A era romana teve um papel representativo no evoluir das viagens, De

Lacerda Badaró (2013) afirma que, comumente, nessa época, as viagens que eram

realizadas pelos homens livres tinham como motivações principais o puro

lazer/prazer, o comércio e o fascínio pelas descobertas do desconhecido. Com a

expansão do Impero Romano, as viagens também expandiram, realizadas a partir

do intenso intercambio cultural e comercial originado com a conquista de novas

terras. Nesse sentido, a elite romana passou a ter mais opções de lugares atraentes

Page 32: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

31

e exóticos de serem visitados, onde, além da contemplação das belezas naturais, as

grandes atrações circenses, as corridas de biga e as lutas entre gladiadores eram as

principais distrações daqueles forasteiros (CONFEDERAÇÃO NACIONAL DE

COMÉRCIO, 2005).

No ínterim da “Pax Romana” – período da história romana marcado pelo

domínio militar que ficou muito conhecido por compreender quase dois séculos de

“paz” (ainda que guerras tivessem ocorrido) – De Lacerda Badaró (2013) pontua que

muitas estradas foram edificadas, assim como locais de hospedagem e centros de

tratamento termal. Isto, pois, possibilitou aos cidadãos viajarem da Inglaterra até a

Mesopotâmia, contemplando uma parte da Europa, bem como as regiões do Oriente

Médio e da África, notadamente no percurso dos séculos II a. C. e II d. C. Contudo,

com a recessão das guerras após a queda do Império Romano por volta de 400 d.

C., as estradas e o comércio foram lesados em grande escala, o que marcou o fim

de um período emblemático para o turismo (CONFEDERAÇÃO NACIONAL DE

COMÉRCIO, 2005).

A partir de então, as viagens passaram a ter outras motivações, como as

peregrinações religiosas, em que os “palmeiros” ou peregrinos tinham como destino

Jerusalém, mais especificamente a Igreja do Santo Sepulcro. Essas são um dos

indícios do que se chama hoje turismo religioso (CONFEDERAÇÃO NACIONAL DE

COMÉRCIO, 2005; DE LACERDA BADARÓ, 2013). Na visão de Rui Aurélio de

Lacerda Badaró (2013, p. 2), os romanos trouxeram muitos contributos para o

turismo hodierno, pois, possivelmente, foram um dos primeiros “turistas” a viajar

visando o lazer/prazer. O autor em tela apoia seu argumento a partir da existência

de pesquisas cientificas que ponderam, por exemplo, que “o povo romano ia à praia

e a centros de rejuvenescimento e de tratamento do corpo, buscando sempre

divertimento e relaxamento”, tem-se, nessa conjuntura, uma primitiva segmentação

do turismo de saúde. Sob estes pontos de vista, é inegável as contribuições dos

romanos para aquilo que passaria a se chamar, mais tarde, Turismo – inclusive,

para as viagens a concursos públicos, uma vez que alguns concurseiros buscam no

lazer o relaxamento e o divertimento, para tratar o corpo e a mente cansada dos

estudos.

Page 33: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

32

2.4 “A Idade Média do turismo”11

Em mais uma parada, chega-se à Idade Média do turismo, o guia principal

desta parte da viagem será De Lacerda Badaró, autor do artigo “O Direito do

Turismo através da história e sua evolução” (2013). Em seus postulados, esse é um

momento importante na história do turismo, por ter sido um período com uma

redução acentuada de pessoas se deslocando pela Europa. Tal fato se deve,

sobretudo, ao Sistema Feudal que dirigia a sociedade à época, onde os territórios

eram divididos em feudos, e muitos dos Vassalos aprisionados às terras –

produzindo para um sistema marcado por uma economia amonetária (economia de

trocas), sem comércio, caracterizado pela subsistência e pelo trabalho servil ao

Suserano (BURSZTYN, 2005).

O homem da Idade Média “enraizou-se” de tal forma à terra que as estradas

construídas pelos romanos, no período da “Pax Romana”, foram aos poucos se

desgastando até à destruição (ESPINOSA; GUERRA, 1968). Com o valor da terra

em alta, as disputas eram tão grandes que as viagens eram consideradas muito

perigosas, demandavam custos altos e eram desconfortáveis, sendo, em vista disso,

realizadas somente se fossem essencialmente necessárias. Por outro lado, as

peregrinações religiosas, que embora tenham surgido em 326 d. C., com a

construção da Igreja do Santo Sepulcro, somente se intensificaram a partir do século

VI, dando um novo ritmo às viagens. Nesse período, com éditos (leis) criados para

regulamentar a entrada de “palmeiros” (peregrinos) em Roma, estes passaram a ser

conhecidos como “romeiros”, uma vez que a cidade de Roma foi inclusa nas

passagens das peregrinações (DE LACERDA BADARÓ, 2013).

Durante o transcorrer dos séculos VII e IX, consoante os apontamentos de De

Lacerda Badaró (2013), as viagens tiveram uma fértil expansão. A principal

motivação era a celebração de festas religiosas, a chegada da primavera, a boa

colheita e a conquista de novos territórios. Porém, as viagens com motivação

religiosa se intensificaram de fato a partir do século IX (entre os anos 813 e 820 d.

C.), com o descobrimento da tumba do apóstolo Tiago, São Tiago, ou ainda

Santiago, no norte da Espanha. Após a descoberta, a grande veneração atraiu

11

Este tópico faz referência, sobretudo, aos principais fatos históricos que marcaram o que os historiadores chamam de Idade Média. Tal período histórico, tem sua gênese em 476 d. C com a queda do Império Romano e vai até 1453, com a tomada de Constantinopla, pelos turcos otomanos (ESPINOSA; GUERRA, 1968).

Page 34: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

33

muitas excursões até o local onde o corpo de Santiago foi encontrado, lugar em que

anos mais tarde seria conhecido como Santiago de Compostela. O famoso caminho

de Santiago de Compostela representa, hoje, uma das principais destinações do

turismo religioso.

Em meados do início do século XI, em virtude de Jerusalém ser dominada

pelos turcos seljúcidas, o acesso a Santo Sepulcro foi restrito aos peregrinos,

fazendo com que estes passassem a visitar Santiago de Compostela. Entre os

séculos XI e XIII, no entanto, inúmeras caravanas militares de caráter religioso – que

mais tarde ficaram conhecidas como Cruzadas – tinham como objetivo libertar Santo

Sepulcro das mãos turcas. No caminhar da Guerra Santa, das Cruzadas, o então rei

da Inglaterra Ricardo Coração de Leão, ao firmar com o Sultão Saladino um tratado,

conseguiu recuperar algumas terras que abrangiam uma área costeira da Síria, onde

ficaria permitida a passagem de peregrinos até Jerusalém. O acordo garantiu a

continuação de peregrinações a Jerusalém, fomentou o renascimento de mercados

de transportes marítimos e de guias (DE LACERDA BADARÓ, 2013).

Na Idade Média, surgiram as primeiras feiras, durante reuniões entre

mercadores, que ocorriam paralelamente às festas e aos festejos religiosos, em que

inúmeros produtos eram comercializados ou trocados, bem como as relações

comerciais (econômicas), políticas, sociais e culturais se (re)construíam (LOBATO;

RAVENA-CAÑETE, 2015; SANTOS; RODRIGUES, 2013). De Lacerda Badaró

(2008) salienta que as feiras eram, na verdade, grandes eventos ocorridos durante o

ínterim dos séculos XIII e XIV, que reuniram grandes multidões para trocar ou

adquirir mercadorias, passear ou apenas entreter-se em tais eventos. O número de

participantes era tão expressivo que, em geral, as pousadas, as hospedarias, as

estalagens ou quaisquer outros meios de hospedagem não conseguiam atender a

demanda, excedendo a capacidade da oferta por vezes – algo corriqueiro em

cidades onde ocorrem grandes concursos públicos hoje no Brasil.

De Lacerda Badaró (2013), nesse panorama, salienta que se formou a liga

hanseática, que figurava a associação de comerciantes do norte europeu. Essa liga

organizava viagens com roteiros que contemplavam diversas províncias, a fim de

mostrar, ao maior número de pessoas possíveis, a variedade de mercadorias

existentes para comercialização. Pode-se dizer que nesse período, portanto,

encontra-se a origem das grandes feiras de negócios dos dias atuais, nas quais os

empresários expõem suas empresas/marcas e os produtos por eles fabricados.

Page 35: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

34

As grandes navegações, ocorridas nos séculos XV e no início do XVI,

compreendem outro importante marco na história das viagens e do turismo

(FIGUEIREDO; RUSCHMANN, 2004), sobretudo após a superação, a queda de

teorias, dos medos e das superstições que rodeavam a mente humana daquela

época. Sobre isso, livros de história narram que existam concepções de que: a terra

era quadrada, logo, os barcos cairiam no horizonte; trovões, ventanias e temporais

malignos poderiam causar naufrágios; ou ainda, a existência de seres mitológicos

como sereias, homens sem cabeça, ciclopes e monstros que levavam as

embarcações e os seus tripulantes para o fundo do Oceano Atlântico, conhecido por

“Mar Tenebroso”. Dessa forma, diversas nações, notadamente, holandeses,

ingleses, portugueses e espanhóis, “com o advento do renascimento do comércio e

das cruzadas” (SEABRA, 2001, p. 13), com o uso da bússola – levados pela

curiosidade, pelo desejo e pela ambição de conhecer, de conquistar novas terras e

de firmar novas relações comerciais – intensificaram a expansão marítima, passando

a explorar "mares nunca d'antes navegados", principalmente entre a passagem do

século XV para o século XVI.

2.5 “A Idade Moderna do turismo”12

Atrás de colônias que pudessem fornecer matérias-primas e especiarias,

muitos navegantes continuaram, durante a Idade Moderna, aventurando-se em

caravelas nas viagens transoceânicas que descobririam novos mundos fora da

Europa. Repletos de riquezas, de sabores, de cores, de cheiros e de gostos exóticos

esses mundos instigaram, em muitas pessoas, a vontade viajar para conhecer tudo

o que foi descrito e contado nas Cartas de Pero Vaz Caminha e nas histórias dos

navegantes (FIGUEIREDO; RUSCHMANN, 2004). Assim, várias viagens passaram

a ser realizadas com o objetivo de conhecer os novos territórios e suas riquezas –

objetivo que se aproxima deveras das viagens da segmentação de turismo de

negócios que ocorrem hoje em dia.

Nesse panorama, no Brasil, segundo Barretto (1995), as viagens têm início

com o seu próprio descobrimento, com as expedições que aqui chegaram. Bursztyn

12

Este tópico faz referência, sobretudo, aos principais fatos históricos que marcaram o que os historiadores chamam de Idade Moderna. Tal período histórico tem início em 1453 e se estende até 1789, com a Revolução Francesa (ESPINOSA; GUERRA, 1968).

Page 36: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

35

(2005, p. 8), no entanto, pontua que as viagens realizadas por esses desbravadores

“não podem ser classificadas como turísticas, em virtude de seu caráter mercantil,

colonizador e bélico”. Bursztyn (2005) não está errado em sua colocação, pois essas

viagens naquele contexto não tinha caráter turístico, nem os navegadores podem

considerados turistas por uma série de motivos que serão explanados no próximo

capítulo deste trabalho. Contudo, tendo como base a noção atual do que é

considerado viagem, turismo e turista, poder-se-ia dizer que os navegadores

estariam praticando o “turismo de negócios”, não sendo considerados turistas, mas

estariam em busca de negociações/comercializações ou, simplesmente, de riquezas

para si ou para terceiros.

Licínio Cunha (2003, p. 13) contribui dizendo que, “embora muitas das

viagens que integram o conceito de turismo se realizem no exercício de uma

atividade profissional ou de uma ocupação intelectual, não implicam

necessariamente o lazer”. Cabe apontar, no entanto, que um indivíduo pode utilizar

e aproveitar de algumas horas das viagens com fins profissionais com atividades

que proporcionem lazer. Por outro lado, é importante ressaltar que até nesse

contexto não havia a concepção do que seria turismo, viagem ou turista, e, portanto,

ao levar-se em consideração apenas a terminologia tour, observa-se que os

navegantes estavam realizando deslocamentos, estavam “indo e voltando”, “dando

uma volta”, praticando, portanto, o que se pode chamar de pré-turismo.

De Lacerda Badaró (2013) chama atenção para o número crescente de

viagens ocorridas entre a metade do século XV e o transcorrer do século XVI,

enquanto fatos importantes na história do turismo. De acordo com o referido autor,

tais viagens tinham como objetivo estabelecer uma maior comunicação entre

diferentes nações, visto que esta ainda era insuficiente. Nesse contexto, a

publicação, no ano de 1551, do “Guia das estradas da França”, de autoria de Ch

Etienne, figura outro momento marcante na história do turismo. Esse guia,

reconhecido na Europa “como um ancestral dos guias de viagem da França”, tinha

tiragens exclusivas e restritas (DE LACERDA BADARÓ, 2013, p. 7).

Grande parte de autores que estudam a historicidade do turismo, Barretto

(1995), Bursztyn (2005) e Ycarim Barbosa (2002), destacam o século XVIII como o

período de nascimento do turismo, pois, houve uma evolução dos chamados Grand

Tours. Consoante De Lacerda Badaró (2013, p. 8), “ao retornar à Inglaterra o jovem

aristocrata tornava-se um ‘gentleman’ e, juntamente com os companheiros que já

Page 37: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

36

haviam percorrido a viagem, seguiam a máxima: ‘As viagens formam a juventude’”.

Essa prática caracterizava-se, assim, como uma espécie de ritual, em que os jovens

estudavam e tinham uma viagem – com duração de seis meses a dois anos, com

um tutor13, pela Europa – como a complementaridade de suas formações, ao

entrarem em contato com as mais variadas histórias, tradições, artes e culturas dos

países visitados (ANDRADE, 2000). Esse contexto tem, certamente, uma ligação

“hereditária” com a segmentação do turismo de estudos e intercâmbio da atualidade.

Eva Milheiro e Carla Melo, em seu artigo “O Grand Tour e o advento do

turismo moderno”, reiteram que este representou um marco na história do turismo

porque “o viajante passou a ser, pela primeira vez, um turista associando o lazer e a

ânsia de conhecimento ao prazer da descoberta de países, monumentos, tradições,

sabores e culturas diferentes” (MILHEIRO; MELO, 2005, p. 116). O “Grand Tour”, no

entanto, principalmente com o advento da Revolução Francesa, foi, em certa

medida, interrompido. Ainda segundo as autoras mencionadas, essa prática

contribuiu para o surgimento de expressões de viagens e para novos produtos e

serviços, como as lembranças, os presentes ou os souvenirs de viagens.

Essas viagens, cada uma a seu modo, provavelmente, têm contribuições com

a construção atual do turismo e das diferentes segmentações de seu mercado.

Assim, as viagens a concursos públicos podem ter uma conexão histórica com esses

traslados. Daí a importância de fazer esta contextualização histórica e, em certa

perspectiva, conceitual.

2.6 “A Idade Contemporânea do turismo”14

O século XIX, cenário das revoluções francesa e industrial, vivenciou

alterações substanciais nas dinâmicas socioculturais, políticas e econômicas que

13

[...] para o nobre empreender-se em uma viagem ele tinha que firmar, bem como seu pai, um contractum com o professor ou tutor do mesmo, que estabelecia as metas da viagem, as responsabilidades de cada um, os poderes delegados pelo pai ao professor e condições de cancelamento do documento. [...] Era necessário que o professor ou tutor falasse a língua do país visitado e já o conhecesse para que pudesse tecer alguns comentários e explicar os costumes do povo (DE LACERDA BADARÓ, 2013, p. 7).

14 Este tópico faz referência, sobretudo, a alguns dos principais fatos históricos que marcaram o que

os historiadores chamam de Idade Contemporânea. Tal período histórico, inicia-se em 1789, com a Revolução Francesa e se estende até os dias atuais (ESPINOSA; GUERRA, 1968). Contudo, optou-se por demarcar o fim deste período na década de 70, mais especificamente em 1972, ano da Conferência de Estocolmo, que configura-se como um grande marco para o despertar da preocupação com o meio ambiente – que trouxe reflexos no pensar e no fazer turístico.

Page 38: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

37

permeavam as sociedades daquela época (PÉREZ, 2009). A invenção da máquina a

vapor, ao propiciar a evolução e o desenvolvimento dos transportes, desencadeou

mudanças radicais nesse período, que contribuíram, sobremaneira, para

aperfeiçoamentos e melhorias em termos de velocidade, de eficiência, de eficácia,

de conforto/comodidade e, principalmente, no que concerne ao acesso das mais

distantes destinações em um curto período de tempo (RODRIGUE; COMTOIS;

SLACK, 2013). Tais melhorias, tampouco permitiram “que a gente viaje mais rápido

e mais longe”, provocaram “uma nova visão do mundo. O mundo passa a ser

observado como paisagem, como panorâmica” (PÉREZ, 2009, p. 19). Dessa

maneira, os transportes se transformam, no âmbito do turismo, em um meio dos

viajantes admirarem, conhecerem e vivenciarem diferentes lugares.

Provavelmente, face à Revolução Industrial, o britânico Tomas Cook, em 5 de

julho do ano de 1841, organizou uma viagem com formato de pacote turístico. Cook,

com isso, deixou seu o nome gravado na história do turismo, sendo por muitos

considerado o pai do turismo moderno. Essa viagem, que compreendia 24

quilômetros, ida e volta, entre as cidades de Leicester e Loughborough, realizada em

trem, tinha como objetivo transportar, para um congresso antialcoólico, participantes

que pertenciam à Igreja que Cook15 participava (AGÊNCIA..., 2015; ASTORINO,

2013; BARBOSA, Y., 2002; CAMARGO, H., 2001). Após alugar, da Empresa

Midland Counties Railway Company, um trem e vender os bilhetes a um preço a

baixo de mercado, Cook conseguiu reunir cerca de quinhentos passageiros. Por ser

um pacote turístico, além de oferecer transporte aos passageiros, Thomas

disponibilizou, ainda, entretenimento e alimentação. Mesmo que o pacote não tenha

lhe trazido o retorno esperado, Cook viu que aquele tipo de serviço poderia lhe gerar

grandes lucros. Mais tarde, ele e seu filho James Cook criaram aquela que seria

uma das mais renomadas agências de viagens do mundo, a Thomas Cook & Son

(AGÊNCIA..., 2015; ASTORINO, 2013; BOYER, 2003).

O transcorrer do século XIX, segundo De Lacerda Badaró (2013), é marcado

pelo cruzamento das fronteiras da Europa para o restante do mundo. As viagens

15

De acordo com informações presentes no site da empresa Agência de Viagens Thomas Cook, Cook era “ex-pastor, um homem religioso que acreditava que a maioria dos problemas sociais vitorianos foram relacionados ao álcool e que a vida das pessoas que trabalham teriam muito a ganhar se eles beberam menos e tornou-se mais instruídos. Enquanto caminhava ao longo da estrada para Leicester, recordou mais tarde, "o pensamento de repente passou pela minha mente quanto à viabilidade de empregar as grandes potências de ferrovias e locomoção para o adiantamento da reforma social" (AGÊNCIA..., 2015, s. p.).

Page 39: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

38

passaram a ser realizadas pela busca, além do lazer, de contatos, de

conhecimentos e de interações com outras culturas e o desfrute das praias tropicais.

Assim, regiões da África, dos Estados Unidos e, já no final do século, das Américas,

Central e do Sul, foram as destinações mais almejadas pelos viajantes. No entanto,

com o advento da Primeira Guerra Mundial, no decorrer de 1914 e 1918, o turismo

sofre um impacto muito significativo (TRIGO, 1998), visto que esse contexto de

batalhas, as viagens a muitos lugares, sobretudo aos mais bombardeados pela

guerra, reduziram com o terror que assolou o mundo naquele período.

Com o final da Guerra e a reabilitação da produção industrial, o turismo

reaparece em sua magnitude. Nesse período, os Estados ao perceberem a

dimensão da injeção que o turismo era capaz de introduzir na economia passaram a

produzir em larga escala carros e ônibus, empresas aéreas foram criadas e voos

efetivados. Esse período é de grande avanço no que se refere à organização da

atividade turística, visto que superestruturas: entidades, organizações e instituições

foram criadas com os objetivos de criar, desenvolver, fomentar, fiscalizar e gerir os

serviços ligados à atividade (ACERENZA, 2002; DE LACERDA BADARÓ, 2008).

Contudo, em 1929, ano da crise da Bolsa de Valores de New York, que

refletiu no mundo todo, o turismo sofreu impactos muito intensos. Segundo De

Lacerda Badaró (2008, p. 31), a crise “provocou cortes drásticos por parte dos

governos europeus nos mais diversos setores – entre eles, o do turismo. A redução

de investimentos ao setor foi constante por três anos”. Esse período ficou conhecido,

por alguns autores (BURSZTYN, 2005; TRIGO, 1998), como um período de

estagnação do turismo. O turismo teria, por ora, “falecido”. Nesse panorama, no

entanto, marcado pelo ínterim das guerras, diversos países europeus procuraram

criar formas de desenvolver o turismo, vendo este como uma saída para superar a

crise e como, até mesmo, uma estratégia de guerra, conforme o Quadro 1 mostra a

seguir.

Page 40: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

39

Quadro 1 – O desenvolvimento do turismo no período entre guerras

Itália

Mussolini, então primeiro ministro, “revisou sua política de turismo e passou a dar mais importância aos meios de captação de turistas estrangeiros”. Com o sucesso de seus planejamentos “MUSSOLINI passou a escarniar alegando que o turismo cobria 63% do déficit comercial italiano e que os milhões de estrangeiros que vinham ver as grandiosas criações italianas voltavam a se conectar a criações do vasto império romano”;

Alemanha

O Partido Nacional Socialista, no ano de 1933, pois em andamento o “programa Kraft Durch Freude, ou Força para Alegria”. Este programa tinha como objetivo, a partir de viagens pelo territorial nacional alemão, a “educação cultural dos trabalhadores alemães, mas estrategicamente criado para prepará-los para a guerra”;

URSS Por sua vez, passou a investir na promoção do lazer aos trabalhadores na tentativa de concretizar o artigo 119 da Constituição de STALIN, o “direito do trabalhador às férias remuneradas e a um descanso”;

França

No ano de 1936, Léo Lagrange, o então subsecretário de Esportes e Lazer “estabelece metas em busca da promoção do turismo social, através da instauração de programas como o “La neige pour tous”, e da massificação de cinemas, de museus e de esportes em geral”.

Fonte: Elaborado pelo autor (2015) a partir de De Lacerda Badaró (2008, p. 31-33).

O período que marca a interseção entre as duas grandes guerras mundiais,

foi importante, como se pode notar, para trabalhadores de boa parte da Europa,

visto que o direito às férias começa a se estabelecer, propiciando que esse grupo

pudesse sonhar e, com a consolidação do sistema crediário, tornar as viagens uma

realidade (DE LACERDA BADARÓ, 2008; REJOWSKI, 2002). Conforme Santos

Filho (2008), as viagens a baixo custo que Thomas Cook criou, somadas às

reivindicações e às conquistas da redução das horas de trabalho e do direito a

férias, abriram caminhos para o surgimento e desenvolvimento do turismo de massa

(PÉREZ, 2009). Isso se explica pelo fato da classe trabalhadora do sistema

industrial ter passado a imitar a nobreza, frequentando espaços, como as praias e os

balneários, que eram apenas de uso daqueles com maior poder aquisitivo (SANTOS

FILHO, 2008).

Entrementes, paralelamente, as tensões e os rumores de uma nova guerra,

que assombravam a Europa, começam a se disseminar. Com a confirmação de que

uma Segunda Guerra Mundial (1939-1945) estava concretizada, consequentemente,

o turismo sofreu uma nova estagnação, dado que a Europa era considerada o

Page 41: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

40

“coração” do turismo mundial. Para se ter uma noção da real dimensão do impacto

que o turismo sofreu, Py, Pierre (2002 apud DE LACERDA BADARÓ, 2008, p. 35)

assinala que, no ano de “[...] 1940 o fluxo turístico sofreu queda de cerca de 87%.

No ano seguinte o número ultrapassou os 90% e, em 1942, o fluxo turístico foi

praticamente nulo em toda a Europa”. Trigo (1998, p.15), pontua que “[...] os efeitos

da guerra [foram] tão profundos que somente em 1949 o turismo renasce, então com

características crescentes de ‘turismo de massa”. Dessa forma, visualiza-se o

quanto a atividade turística é instável e influenciável por diferentes aspectos

tangentes às sociedades.

Não obstante, o ano de 1942 é um marco na história científica do turismo,

pois, foi o ano de publicação da obra “Grundrin der allgemeinen

Frendenverkehrslehre”, de autoria dos suíços Walter Hunziker e Kurt Krapf, uma das

pioneiras nos estudos do turismo sob uma perspectiva científica. Foram eles que

forjaram, nessa obra, aquela que viria a ser uma das primeiras, e mais clássicas,

definições do turismo: “[...] conjunto das relações e dos fenômenos produzidos pelo

deslocamento e permanência de pessoas de fora de seu local de domicílio, sempre

motivados por uma atividade não lucrativa”, em conformidade com Barretto (1995, p.

30).

Com o fim oficial da Segunda Guerra Mundial, em setembro de 1945, o setor

turístico encontrava-se em séria crise, devido o medo que ainda atormentava as

nações e as destruições ocorridas em linhas de transmissão/comunicação. Nesse

período, foram planejadas e executadas ações em direção ao crescimento e

desenvolvimento da economia mundial (DE LACERDA BADARÓ, 2013). Mas, no

decorrer dos anos de 1950 e 1975, a atividade turística sofreu o fenômeno que ficou

conhecido como boom do turismo, De Lacerda Badaró (2008, p. 38-39) comenta

que:

O que de mais marcante ocorreu durante este período foi, sem dúvida, a massificação do turismo, possibilitada por uma série de fatores. A paz prolongada em zonas de estabilidade política (Mediterrâneo, Europa Central, Estados Unidos, etc.), o aumento do poder aquisitivo da população, mudanças nas leis trabalhistas garantindo mais dias de descanso remunerado, evasão em busca de locais mais próximos à natureza para escapar dos problemas decorrentes da industrialização e os grandes avanços tecnológicos nos setores de comunicação e de transportes – todos estes fatores foram decisivos no processo de retomada, a pleno vapor, das atividades turísticas. A busca por novas culturas e conhecimento também fez parte do leque de fatores que deram novo impulso à retomada do setor turístico, com o movimento de expansão cultural e educacional da população.

Page 42: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

41

Pérez (2009), sob este prisma, contribui dizendo que esse processo decorreu com o

reestabelecimento e crescimento econômico e a estabilidade político-social que

diversos países alcançaram, devido, sobretudo, às revoluções de modernização nos

transportes. Por outro lado,

A fábrica veio separar os espaços de produção e reprodução social, e também definiu o tempo do trabalho e não-trabalho. Foi somente assim que surgiu a reivindicação pelo direito ao tempo livre, que não mais era visto como momento de ócio, mas como uma necessidade do trabalhador, que foi sendo institucionalizada de diversas formas. Legitimado o tempo livre, legitima-se o lazer. É justamente no tempo livre que as pessoas têm a possibilidade de fazer turismo de lazer. O tempo livre foi inserido no mercado turístico de modo que, ao invés de se tornar um tempo de ócio, pudesse se transformar em tempo mercantilizado (HOBO, 2011, 16).

Dessa maneira, a atividade turística, ao ser percebida enquanto um setor com

grande potencial para geração de emprego e renda, transformou-se em uma

mercadoria poderosa do setor terciário. É nesse contexto que a classe social

proletária passa a desfrutar dos prazeres que o turismo proporciona: “De produtores

passamos a ser consumidores. [...] Democratizar-se-á o fenômeno” (PÉREZ, 2009,

p.). Evidentemente, esse processo dinamizou o crescimento da atividade no mundo,

contudo, insta pontuar que ele centrou-se, sobretudo, nos países considerados mais

desenvolvidos (DE LACERDA BADARÓ, 2008, p. 40).

Essas revoluções, assim, corroboraram para a concepção do lazer/prazer

enquanto um direito, uma necessidade fundamental e, consequentemente, para a

compreensão e para o desenvolvimento do turismo como prática e como campo

profícuo de conhecimento. Na atualidade, os diferentes cenários econômicos,

políticos, sociais, ambientais e culturais, também, exercem influência no turismo,

como é o caso dos concursos públicos no Brasil, que motivam pessoas a viajar em

busca de um emprego público – essas viagens e seus viajantes são objeto de

investigação deste trabalho.

2.7 “A Idade Pós-contemporânea do turismo”16.

16

Este tópico faz referência, sobretudo, a alguns dos principais fatos históricos que marcaram o que os historiadores chamam de Idade Pós-contemporânea. Tal período histórico, inicia-se na década de 70, mais especificamente em 1972, ano da Conferência de Estocolmo, que configura-se como um grande marco para o despertar da preocupação com o meio ambiente. Tal marco gerou novas discussões sobre a atividade turística, criando novos paradigmas de se pensar e fazer turismo, nascendo desde, então, o que aqui optou-se por chamar de: turismo pós-contemporâneo.

Page 43: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

42

A globalização mundial, o capitalismo e a indústria cultural do lazer ao

promoverem o surgimento de novos processos dinamizadores que sobremaneira

marcaram alterações e têm permeado os modos de vida social, político, econômico,

cultural e ambiental do homem em sociedade – como a nova eclosão das invenções

tecnológicas e os crescentes avanços nos transportes e nas comunicações –

permitiram que o turismo se expandisse e logo se tornasse globalizado (REJOWSKI,

2002). Nas palavras de De Lacerda Badaró (2008, p. 46),

Viagens longas em tempos curtíssimos, com o máximo de conforto possíveis, eram agora possíveis graças à grande evolução tecnológica propiciada pela globalização. Eis que surge então o turismo globalizado, com um número crescente de empresas de transporte regular criando companhias charter, a expansão, integração, fusão e internacionalização de inúmeras empresas do ramo de turismo, o advento de novas máquinas, o aumento do poder aquisitivo da população em geral com o aumento de empregos, etc. Em cerca de três décadas, as características da demanda e dos serviços oferecidos no setor turístico sofreram profundas alterações.

E assim o fenômeno turismo assolou o mundo, a competitividade dos destinos

turísticos logo se originou e a busca pela oferta de serviços e produtos turísticos foi

se intensificando. Como reação ao aquecimento econômico fomentado pelo turismo

e como consequência da elevação social de uma parcela da população, a demanda

potencial passou a cada vez mais se tornar efetiva, desfrutando dos prazeres e

status que as viagens, o turismo e o lazer moderno passaram a representar.

Lundberg (2000 apud DE LACERDA BADARÓ, 2013), explica que boom do

turismo teve um impacto tão considerável no mundo que, na década de 60 as

receitas produzidas chagaram a 10 milhões de dólares, na década seguinte chegou-

se a 50 milhões em faturamentos, na década de 80 as receitas alcançaram os 300

milhões, chagando ao final dos anos 90 a ultrapassar 1 bilhão de dólares. Assim, ao

longo dos anos, a atividade turística cresceu e se consolidou em diversos locais do

mundo, passando a ser compreendida como uma atividade restrita a uma pequena

parcela da população: aquela que pode pagar os altos preços de uma viagem. Isso

ocorreu porque o turismo, enquanto atividade de lazer, ao longo dos anos, foi

apropriado pelo capitalismo e se constituiu como mais um produto a ser consumido

pelo homem (BARRETTO, 1995).

Convém sinalizar, nesse sentido, que no turismo a questão ambiental é uma

condicionante sine qua non para o seu desenvolvimento, à medida que ele precisa

consumir o espaço elementarmente para se materializar (CRUZ, 2001). Isto é, a

atividade turística necessita dos recursos naturais, finitos e infinitos, para se

Page 44: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

43

estabelecer e desenvolver. E com esse crescimento exponencial desordenado –

com ou sem planejamento – que o boom trouxe, o consumo do espaço pela

atividade tornou-se mais intenso. Desse modo, o boom do turismo também gerou

impactos drásticos e irreversíveis a diversos ecossistemas, sendo por muitos

conferida como uma atividade exploradora, agressora e danosa do/ao meio

ambiente (LOBATO; AIRES; COSTA, 2013).

A partir dessa conjuntura, os questionamentos negativos acerca deste modelo

predatório que o turismo foi adquirindo, sem respeito e comprometimento com os

recursos naturais, tiveram um destaque significativo. Tais questionamentos foram

incitados em face de uma preocupação crescente com o meio ambiente, de

discussões e de avanços nas concepções acerca dos impactos ambientais e da

sustentabilidade, emergentes na década de 70 (PINTO; QUARESMA; CAMPOS,

2012; QUARESMA, 2003). Essa década foi o cenário dos grandes avanços de

sensibilização do meio ambiente por, mais precisamente em 1972, o documento “Os

Limites do Crescimento” ter sido produzido. Demais, 72 também se figurou como um

importante marco histórico dos movimentos ambientalistas, pois, foi o ano de

acontecimento da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente Humano

(CNUMAH), em Estocolmo. Nela, foram debatidos e alertados direitos e deveres da

humanidade para com a manutenção de um meio ambiente ecologicamente

equilibrado e saudável (KÖRÖSSY, 2008).

Posteriormente, novos avanços são dados em direção à luta pela

conservação do meio ambiente, sendo em 1984 criada a Comissão Mundial sobre

Meio Ambiente e Desenvolvimento, que em 1987 publicou o documento

mundialmente conhecido “Nosso Futuro Comum”17. Em seguida, são realizados

outros eventos: Agenda 21, no Rio de Janeiro (1992); Cúpula da Terra, em Nova

York (1997); Cúpula do Milênio, em Nova Iorque (2000), Cúpula Mundial sobre o

Desenvolvimento Sustentável, em Joanesburgo (RIO+10, 2002) e, mais

recentemente, a Rio +20, no Rio de Janeiro (2012). De acordo com Körössy (2008,

p. 61), esses eventos tiveram sempre um mesmo discurso: “o ser humano está

degradando o planeta e, caso o desenvolvimento sustentável não for efetivamente

17

“Tal documento delineou a noção de sustentabilidade ao apresentar o termo ‘desenvolvimento sustentável”, o qual é definido como o “desenvolvimento que atende às necessidades do presente sem comprometer as possibilidades das gerações futuras atenderem às suas próprias’” (COMISSÃO MUNDIAL SOBRE MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO, 1991 apud KÖRÖSSY, 2008, p. 61).

Page 45: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

44

adotado em escala planetária, a tendência é o caos, decorrente de um colapso nas

fontes de energia e da poluição global”.

Aliadas ao desenvolvimento tecnológico e à especialização técnica, tais

discussões fomentaram a elaboração de instrumentos jurídicos de avaliação de

impactos ambientais de atividades possivelmente danosas sobre determinados

ecossistemas. Assim, no contexto brasileiro, a Avaliação de Impacto Ambiental (AIA)

emerge como um importante instrumento de execução da Política Nacional de Meio

Ambiente (PNMA). Tal processo de avaliação ambiental, tem contribuído

sumariamente para a identificação de possíveis impactos, bem como possíveis

ações de solução para a mitigação e para compensação desses (BRASIL, 1981).

Ademais, com a implementação de áreas protegidas no Brasil, por meio,

principalmente, do Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), novas

restrições de uso do ambiente foram estabelecidas (BRASIL, 2000). Dessarte,

possibilitou a manutenção, a conservação e a preservação de diversos

ecossistemas.

Concomitante e posteriormente, no Brasil são criados os primeiros

instrumentos de ordenamento, de fiscalização e de regulamentação da atividade –

as superestruturas – a partir de 1968, a saber: Conselho Nacional de Turismo

(CNTUR), Fundo Geral de Turismo (FUNGETUR) e Instituto Brasileiro de Turismo

(EMBRATUR). Em 2003, o então presidente, Luís Inácio Lula da Silva cria o

Ministério do Turismo (MTUR), um marco importantíssimo para o turismo brasileiro

(DIAS, 2003a), o que corroborou para a melhor organização, gestão,

desenvolvimento e fiscalização da atividade no país, sobretudo em áreas protegidas

naturais e culturais.

Em meio a esses avanços na percepção social, política e, notadamente,

ambiental, o turismo, em muitas áreas, precisou efetivar modificações em sua cadeia

e formas de materialização e de apropriação no/do espaço. Passou, portanto, a

buscar novos meios de se desenvolver e consolidar, uma vez que os principais

atrativos de sua cadeia, no Brasil, são os naturais. Nessa esteira, tendo como

alicerce os conceitos e os moldes do desenvolvimento sustentável18 e do

ecodesenvolvimento, o turismo passou a buscar novas segmentações para

18

De Lacerda Badaró (2008, p. 46) explica que “A filosofia do desenvolvimento sustentável” tem como gênese “a idéia básica era que ‘usufruir o turismo no presente deve significar poder usufruir no futuro’”.

Page 46: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

45

continuar se desenvolvendo, configurando-se o Ecoturismo, neste cenário, como

paradigma exemplificador dessas novas abordagens (LOBATO; AIRES; COSTA,

2013).

A entidade Turismo Inteligente Internacional reitera essa mudança sobre o

fazer turístico ao apontar que:

Um novo turismo está emergindo, sustentável, ambiental e socialmente correto, e caracterizado pela flexibilidade de escolha. Um novo tipo de turista está surgindo: mais educado, experiente, independente, orientado para a conservação, com respeito às culturas e à procura da boa relação preço-qualidade (TOURISM INTELLIGENCE, 2015, s. p. Tradução nossa).

Neiman e Rabinovici (2010), nesse sentido, sinalizam que a atividade turística com

os ideais que movem a sustentabilidade passou a caracterizar uma tendência, uma

imposição de mercado, uma “moda ambiental”: que tem buscado sensibilizar

“empresários e turistas para as causas de preservação histórica e ecológica, de

forma a conciliar a necessidade da continuidade da expansão turística com a

conscientização da necessidade de preservação e manutenção do meio” (DE

LACERDA BADARÓ, 2008, p. 46). Assim, o trade turístico viu-se obrigado a segui-

la, ofertando produtos e serviços, adotando medidas e mostrando as

responsabilidades social e ambiental, mesmo que mascaradas, da empresa diante

dessa desafiante conjuntura.

E com a busca por viagens e experiências cada vez mais alternativas, únicas

e diferenciadas, os “novos turistas” têm fragmentado mais o mercado turístico. O

consumo, mesmo com a globalização, passa a ser menos padronizado e mais plural,

o consumidor, pois, não aceita mais pacotes pré-formatos. “O turista de hoje quer

mais do que apenas alguns dias para descansar. Ele deseja que sua vontade e suas

expectativas sejam atendidas, ele busca viagens que o faça passar por sensações

ímpares [...] que lhe proporcionem uma experiência marcante” (PANOSSO NETTO;

GAETA, 2010, p. 7). Ele prefere fazer as suas escolhas tendo como base

necessidade, exigências, sonhos, desejos, sua personalidade (MOLINA, 2003).

Nesse cenário, têm-se, então, o surgimento das segmentações e dos nichos que

marcam o mercado turístico da contemporaneidade – como é o caso das viagens a

concursos públicos, objeto de estudo desta pesquisa.

Page 47: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

46

3 VIAJANDO PELO UNIVERSO TURÍSTICO: CONCEPÇÕES, DEFINIÇÕES

E FUNCIONAMENTO DO TURISMO

O universo turístico caracteriza-se como uma atividade econômica e social

complexa, um campo de estudos relativamente novo e pouco conhecido. À vista

disso, é visualizado e analisado sob diferentes e errôneas visões. Essas, em muitos

casos, frutos de estereótipos forjados no seio do senso comum, estão permeadas

pela falta ou pelo conhecimento superficial sobre o turismo – quer seja enquanto

atividade, quer seja como disciplina do conhecimento. Na tentativa de contribuir com

as discussões paradoxais entre pesquisadores da área, bem como contextualizar e

embasar o presente trabalho, este capítulo pretende desmistificar e esclarecer

questões que mediam o universo turístico. Assim, nesta terceira parte da viagem,

serão abordados conceitos, definições, classificações, funcionamento e

(inter)relações que, com o desenvolvimento da atividade, foram/são construídas e

orientam a dinâmica desse fenômeno.

3.1 Viagens, lazer e turismo

Muito embora o turismo seja realizado a partir de deslocamentos, convém

elucidar que nem toda viagem pode ser considerada um fazer turístico, porquanto,

há deslocamentos e há viagens que não têm por objetivo (principal ou secundário) o

turismo em si. As viagens apresentam diferentes e especificas motivações19. É

dependendo, sobretudo, da motivação que uma viagem pode ser considerada

turística ou não. Assim, é factível a existência de viagens que têm como finalidade a

participação de reuniões, de eventos, a realização de estudos e de pesquisas, ou

ainda, visitas a pessoas que estão doentes (BARRETO, 1995; CUNHA, L., 2003).

Nessas viagens, porém, nada impede do viajante reservar algumas horas para

conhecer e passear pela cidade onde está, ainda que essa não tenha sido a sua

motivação inicial – em uma viagem podem existir motivações primárias e

secundárias ou ocultas (MARQUES, 2009).

19

Consoante aos apontamentos de Cunha (2003, p. 16), “as pessoas viajam para: Escapar a

qualquer situação desagradável ou penosa; Alcançar melhor situação económica; Cumprir

missões ligadas ao exercício de uma actividade profissional, política ou intelectual; Cumprir

obrigações ou deveres de carácter familiar ou social; Conhecer coisas diferentes e viver situações diferentes [sic]”.

Page 48: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

47

O turismo antes de tudo está embutido em um universo maior: o lazer.

Consoante o sociólogo Joffre Dumazedier (1979, p. 166), considerado o pai da

Sociologia do lazer, esse é percebido enquanto um:

Conjunto de ocupações às quais o indivíduo pode entregar-se de livre vontade, seja para repousar, seja para divertir-se, recrear-se e entreter-se ou ainda para desenvolver sua formação “desinteressada”, sua participação social voluntária, ou sua livre capacidade criadora, após livrar-se ou desembaraçar-se das obrigações profissionais e familiares.

Em meio a essa acepção, o turismo representa uma atividade-meio de ocupação do

tempo livre, do tempo de lazer. De forma prática, pode-se dizer que o turismo

compreende tipologias de viagens que possuem como motivação a ocupação do

tempo disponível por meio do recreio, do entretenimento e de outras atividades que

proporcionem lazer/prazer. Na figura 1, a seguir, representa-se, de forma ilustrativa,

o posicionamento do turismo (das viagens turísticas) em relação ao lazer e às

viagens de modo geral.

Figura 1 – Viagens, lazer e turismo

Fonte: Elaboração do autor (2015).

Mas, o que seria o turismo, afinal? Iniciando esta discussão pela etimologia

do termo, entre os estudos levantados que versam sobre essa questão observou-se,

contudo, divergências entre posicionamentos de pesquisadores já no que refere ao

idioma de origem da terminologia. Enquanto alguns defendem que o radical tour

Page 49: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

48

possui como língua materna o francês, outros argumentam o inglês, e há, ainda,

aqueles que assinalam a origem do termo como advinda do hebraico. Autores como

Andrade (2000), Antônio Cunha (1982), Barretto (1995), Bursztyn (2005), Cisne e

Gastal (2010) e De La Torre Padilla (1992) consideram tour como sendo originário

da língua francesa, muito provavelmente, advindo, de acordo com Santos (2010),

das palavras tourisme e touriste. Na visão de Antônio Cunha (1982), tourisme teria

surgido por volta de 1643 e se difundiu pelo mundo em vários idiomas, chegando,

em meados de 1811, a ser utilizado em inglês sob a forma de tourism. Em

português, o autor em tela esclarece que a primeira aparição do termo somente

ocorreu no século XX, no entanto, com uma concepção mais complexa, para além

do ir e voltar.

Em contrapartida, Antônio Oliveira (2001) e Haroldo Camargo (2001) e

Moesch (2002) contestam que tour seja derivado do francês, alegando que a

terminologia é, na verdade, de origem inglesa. Moesch (2002, p. 10) embasa seu

posicionamento ao discorrer que “A raiz tour aparece documentada em 1760, [...] na

Inglaterra. A etimologia da palavra permite indicar sua procedência latina tornus

(torno) como substantivo, e tornare (redondear, tornear, girar) como verbo”. Já a

palavra turismo aparece pela primeira vez documentada, em 1800, no “Pequeno

Dicionário de Inglês Oxford” (MOESCH, 2002, p. 10). Haroldo Camargo (2001, p.

52), por sua vez, aponta que “[...] o tour foi responsável pela origem da palavra

turista. Não obstante, o termo só se fixou em inglês por volta de 1800. Do inglês, a

palavra é adotada na França, por volta de 1816”, dado que embasa seu

posicionamento.

No seio dessas discordâncias, Andrade (2000), mesmo acreditando que tour

seja de procedência francesa, pondera que não se pode ficar refém dessa

informação, pois, dicionaristas de grande reconhecimento indicam que a

terminologia é de origem inglesa. Santos (2010, p. 11) sinaliza que, no novo

dicionário da língua portuguesa, o verbete turismo provém “da língua inglesa,

compactuando com o posicionamento do lexicógrafo lusitano Francisco Júlio Caldas

Aulete, que em seu Dicionário Contemporâneo da Língua Portuguesa cita que a

língua portuguesa adotou o termo através do inglês”, e não do francês – reiterando o

inglês como sendo a língua materna do termo.

Contudo, Arthur Haulot, em seus estudos, constatou que a terminologia tour

encontra-se presente no hebraico antigo, significando “viagem de descoberta, de

Page 50: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

49

exploração, de reconhecimento” (CONFEDERAÇÃO NACIONAL DE COMÉRCIO,

2005, p. 9; OLIVEIRA, A., 2001; SANTOS, 2010). Os estudos de Barretto (1995) e

Rossetto Ferreira (2007) indicam que tur aparece na Bíblia, em Números, ao narrar

alguns momentos do transcorrer do deslocamento de Moisés e do povo em direção

a Israel ratificando a gênese do termo na língua hebraica.

De todo modo, como apontado no capítulo anterior, ao menos se visualiza

certa concordância entre os pesquisadores quanto ao significado do termo, como o

turismo sendo derivado do termo tur ou tour, que significa “voltar”, “circular”, “andar

em círculos”, “dar a volta”, “ir e voltar”, “deslocar-se” (ANDRADE, 2000; BARRETTO,

1995; BURSZTYN, 2005; CUNHA, A., 1982; DE LA TORRE PADILLA 1992;

MOESCH, 2002), ou ainda, “viagem de descoberta, de exploração, de

reconhecimento”, na concepção hebraica (CONFEDERAÇÃO NACIONAL DE

COMÉRCIO, 2005; OLIVEIRA, A., 2001; SANTOS, 2010).

Decerto, o turismo em sua faceta atual não se constituiu de forma abrupta.

Desde sua aparição, a ele foram conferidas diferentes acepções, isto é, sua

conceituação passou por algumas variações motivadas pelo próprio

desenvolvimento da atividade. No entanto, sua essência conceitual, de acordo com

Rossetto Ferreira (2007, p. 24), aparentemente se manteve: “a de um conjunto de

relações provenientes do deslocamento humano temporário”, como se pode

observar no quadro 2.

Page 51: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

50

Quadro 2 – Evolução da conceituação do turismo

Ano Autor Conceito

1911 Hermann von Schullernzu Schattenhofeno

“turismo é o conceito que compreende todos os processos, especialmente os

econômicos, que se manifestam na chegada, na permanência e na saída do turista

de um determinado município, estado ou país” (BARRETTO, 1995, p. 9).

1929 Schwink

“o movimento de pessoas que abandonam temporariamente o local de residência

permanente por motivos relacionados com o espírito, corpo ou profissão”

(BARRETTO, 1995, p. 10).

1942 Krapf e Hunziker

“fenómenos e relações originados pela deslocação e permanência de pessoas para

fora do seu local de residência, desde que tal deslocação e permanência não sejam

utilizadas para o exercício de uma actividade lucrativa principal, permanente ou

temporária” (BARRETTO, 1995, p. 11).

1992 Óscar de la Torre Padilla

“consiste no deslocamento voluntário e temporário de indivíduos ou grupos de

pessoas que, fundamentalmente por motivos de recreação, descanso, cultura ou

saúde, saem dos seus locais de residência habitual para outro, no qual não exercem

nenhuma atividade lucrativa nem remunerada, gerando múltiplas inter-relações de

importância social, econômica e cultural” (DE LA TORRE PADILLA, 1992. p. 19).

1999 Organização Mundial do Turismo (OMT)

“O turismo compreende as atividades realizadas pelas pessoas durante suas

viagens a e estadias em lugares diferentes de seu entorno habitual, por um período

de tempo consecutivo inferior a um ano, tendo em vista lazer, negócios ou outros

motivos não relacionados ao exercício de uma atividade remunerada no lugar

visitado” (PAKMAN, 2014, p. 13).

Fonte: Elaboração do autor (2015).

Page 52: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

51

Na análise dos conceitos acima apresentados, é perceptível que para além do

deslocamento, indicado por Antônio Cunha (1982) e Rossetto Ferreira (2007), outros

elementos podem ser destacados enquanto componentes importantes da base

conceitual do turismo: “o tempo de permanência, o caráter não lucrativo da visita e a

procura do prazer por parte dos turistas” (BARRETTO, 1995, p. 13). Em síntese, o

turismo pode ser compreendido como o movimento de pessoas que saem de seus

ambientes habituais temporariamente, almejando/buscando os conteúdos

culturais do lazer20, que não lhe tragam retorno financeiro, podendo também ser

definido como atividade de transportar e de acomodar visitantes e colocar a sua

disposição meios que possibilitem lazer e recreação no sentido mais amplo, sempre

com o objetivo principal de satisfazer as exigências e as necessidades do visitante

(BARRETTO, 1995; COSTA et al, 2013; MARCELLINO, 2007; ROSSETTO

FERREIRA, 2007).

3.2 Turismo: desmistificando visões

O turismo figura como um fenômeno mundial ao qual são atribuídas variadas

conceituações e importâncias. Barretto (1995, p. 99) aponta que para o ser humano

“[...] o turismo é uma das atividades que se lhe oferecem dentro de uma infinita

gama de possibilidades de entretenimento [e de lazer]” enquanto uma necessidade

inerente à sua existência. Àqueles que trabalham ou que procuram empregos, o

turismo “[...] pode significar a oportunidade de emprego ou subemprego”.

Empresários o veem como “[...] uma fonte de enormes lucros”. Pesquisadores

percebem-no como “[...] uma dentre várias formas de adquirir conhecimentos, ou

seja, uma forma de educação alternativa” (BARRETTO, 1995, p. 99). Nessa direção,

há aqueles que compreendem o turismo a partir de percepções diferenciadas:

discorrendo que o “turismo é ciência” ou que “Não existe uma ciência do turismo” ou,

ainda, que o “turismo é uma indústria”. Visando desmitificá-las, esta subseção

pretende abordar o(s) porquê(s) do turismo ser ou não uma ciência ou uma indústria.

Consoante os postulados de Lohmann e Panosso Netto (2012, p. 23), no bojo

do debate acerca do turismo ser ciência ou não, existem, pelo menos, três correntes

teóricas: a primeira delas defende que não existe uma ciência do turismo, contudo,

20

Os conteúdos culturais do lazer são: os artísticos, intelectuais, manuais, sociais, físicos-esportivos e turísticos (MARCELLINO, 2007).

Page 53: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

52

há um caminho sendo trilhado para que esse alcance o status de ciência, estando o

turismo, segundo esses pensadores, perpassando por fases que outras ciências,

durante a sua construção, passaram; a segunda tem o posicionamento de que o

turismo não é e nunca será uma ciência. O posicionamento dessa corrente é

embasado no fato que o turismo não tem um objeto de estudo claro e definido e nem

se quer conhecimentos e procedimentos metodológicos próprios, condições

basilares para a materialização de uma ciência; a terceira vê o turismo como uma

ciência que detêm de um escopo teórico-conceitual expressivo e amadurecido, mas,

nos dizeres de Lohmann e de Panosso Netto (2012), essa corrente, mediante seus

estudos, ainda não conseguiu comprovar esse pensamento sobre a realidade.

O turismo é um fato social, uma atividade nascida de forma espontânea, logo,

não se constituiu por meio de pesquisas ou experimentos que prognosticassem o

seu nascimento e desenvolvimento. Porém, à medida que o turismo foi se efetivando

e crescendo enquanto atividade, conhecimentos científicos passaram a ser

construídos a fim de tentar compreender e explicar esse fenômeno e suas

interfaces: tudo aquilo que ele abarca e que está a ele envolto. Os conhecimentos

até aqui construídos, no entanto, não foram formados a partir de metodologias

próprias, mas sim das contribuições e da adoção de conceitos, de classificações, de

métodos e de técnicas de pesquisa de vários campos do conhecimento.

Nas palavras de Boullón (2002),

O turismo, por se algo novo, cresceu insuspeitadamente pressionado pelos problemas que o próprio crescimento descontrolado deixou sem resolver, ainda não teve tempo de criar sua própria linguagem técnica medianamente aceitável. É por isso que a terminologia turística criada por essa atividade é mínima. [...] Desde que o turismo alcançou a importância que tem atualmente, seu conhecimento analítico foi-se concretizando lentamente, não como um produto de um trabalho de pesquisa sistemática, mas como resultado de uma série de estudos e ensaios individuais que ainda não conseguiram constituir um corpo teórico (BOULLÓN, 2002, p. 15).

No entendimento desse autor, na falta de conhecimentos, conceituações ou técnicas

de pesquisa próprias, o turismo tem utilizado “de outras disciplinas, sem que até hoje

se tenha feito um balanço desses termos e, muito menos, chegado a um acordo

sobre o significado que adquirem ao serem aplicados ao turismo” (BOULLÓN, 2002,

p. 16). Essa utilização de conceitos de outras disciplinas, contudo, tem gerado

confusões semânticas, visto que determinadas terminologias quando empregadas,

no âmbito da atividade turística, podem ter (e têm) diferentes conotações.

Page 54: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

53

Nessa lógica, baseando-se no paradigma clássico de ciência, o turismo

precisa conceber um escopo conceitual que possa explicar suas facetas, os

fenômenos que o compõe. Boullón (2002) assinala que para que isso ocorra é

necessário que a atividade construa uma linguagem universal sólida, uma teoria

científica que possua princípios gerais consolidados, ainda que estes possam (e

devam) ser flexíveis. É por intermédio dessa, pois, que “o homem aperfeiçoa sua

capacidade de expressar-se, configurando-se, desse modo, conceitos mais firmes,

dotando as palavras de um significado preciso” (BOULLÓN, 2002, p. 16). O turismo

está longe dessa fase, tendo em vista que ainda há muitas confusões conceituais

e/ou significativas nos termos utilizados, que, como retrodito, derivam de outras

áreas do conhecimento.

Mas para que se possa construir uma teoria científica, o autor

supramencionado ressalta que é de sumária importância a existência de

pressupostos que figurem-se como caminhos norteadores de uma pesquisa, que

passarão por experimentos e combinações reflexivas que, por sua vez, determinarão

suas validades ou não. A partir das conclusões e dos conhecimentos gerados com a

validação das hipóteses se poderá estabelecer princípios gerais que guiarão um

campo do saber científico. Demais, a precisão e a sistematização das definições e

das classificações iniciais são essenciais para a formação de conhecimentos mais

particulares, que poderão compreender e elucidar um fenômeno. Destarte, segundo

Dencker (1998) e Panosso Netto (2011), turismo não é e não pode ser considerada

uma ciência, visto que para se chegar à condição de ciência é essencial que a

produção do saber cumpra, de forma sucessiva e sistemática: metódica, as etapas

descritas. E essas, ainda não foram, e estão longe de ser, ascendidas pelo turismo.

Tendo-se em mente que “sem pesquisa não há ciência”, Boullón (2002, p. 24)

pondera que a despeito da pesquisa em turismo: “só podemos dizer que é escassa e

que se mantém na superfície”, bem como apresenta “falta de integração” – em

consonância com ele, advinda da ausência “de confrontos que permitam, primeiro,

conhecer e depois comparar todas as ideias em circulação no ambiente turístico”

(BOULLÓN, 2002, p. 15). Isto é, segundo Boullón (2002, p. 24), a pesquisa turística

“está centrada ‘na descrição, sistematização e previsão, [parcial e fragmentada] ao

custo da teorização’”, há ainda uma preocupação muita ínfima com o contínuo

exercício da epistemologia (PANOSSO NETTO, 2011; PANOSSO NETTO;

CASTILLO NECHAR, 2014). Sob esta concepção, “é inegável que o campo turístico

Page 55: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

54

carece de teorias devidamente fundamentadas, já que não podemos admitir que a

mera enumeração e a deficiente descrição de eventos constitua uma teoria

cientifica” (BOULLÓN, 2002, p. 24).

Souza Junior e Ito (2005) pontuam que como o turismo não se originou a

partir de teorias não é uma ciência. No entanto, pode ser incorporado enquanto

objeto de estudo de ciências, desde que estas possam a partir de pressupostos

interpretar, demonstrar e aclarar fenômenos envoltos ao surgimento, à efetivação,

ao desenvolvimento e a influências do turismo em diferentes contextos. Diante

desse prisma, Boullón (2002, p. 23) discorre que seria sensato classificar o turismo,

primeiramente, enquanto:

[...] um saber situado no âmbito do conhecimento natural das coisas, porque nesse nível encontram-se as interpretações, deduções e procedimentos mais utilizados em sua operação e explicação e, segundo, admitir que seu progresso medular só será possível por meio das ciências sociais, motivo pelo qual como um capítulo destas, e não como conhecimento autônomo.

Levando-se em consideração os postulados do autor, o turismo está situado no

campo de estudos das Ciências Sociais Aplicadas. Boulllón (2002, p. 23) enfatiza,

ainda, que “Por mais que nos esforcemos, não podemos conceber a atual nem a

futura existência das ciências do turismo em si mesmas”. Até mesmo porque o

turismo possui como características inerentes a multi, a inter, a trans e a

pluridisciplinaridade (FARIAS; SONAGLIO, 2013): apropria-se e utiliza-se de

conhecimentos, e inter-relaciona-se de maneira muito profícua, com diversos ramos

do saber científico, e a concepção clássica de ciência (cartesiana) pressupõe, como

visto, que cada uma possua teórica, metodologia e linguagem universal próprias,

que consigam explicar as realidades, os fenômenos a que se propuseram estudar.

Dado o fato de que o turismo não é uma ciência – não possui uma linguagem,

um escopo conceitual universal consolidado – a epistemologia desponta como um

elemento de demasiada importância, tendo em vista que essa é a ciência do

conhecimento, aquela que revisa e que busca por problemáticas, com vista a

melhorias, no que já foi construído enquanto conhecimento do turismo (PANOSSO

NETTO, 2011). Panosso Netto e Castillo Nechar (2014), dois importantes estudiosos

da epistemologia do turismo na atualidade, sinalizam que com a epistemologia, ao

se realizar análises sobre os conhecimentos produzidos em turismo, encontrar

problemáticas e propor soluções, tem contribuído para (re)interpretação de teorias,

Page 56: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

55

(re)explanação de conceitos e distinções do que seria (ou estaria) “certo ou errado”

no pensamento científico turístico.

Boullón (2002) salienta a existência de outra concepção equivocada e

corriqueira sobre o turismo: a que o compreende enquanto indústria, a “indústria do

turismo”. Somam-se a essa outras denominações, como: “indústria das viagens”,

“indústria hoteleira”, ou ainda, “indústria sem chaminés” e ”indústria da paz”, que,

embora pouco conhecidas, são igualmente errôneas. Mas, por que o turismo não

pode ser considerado uma indústria? Para responder a esse questionamento, é

interessante conhecer, a priori, como se apresentam os sistemas de produção.

Nesse sentido, as atividades produtivas são basicamente materializadas por

empresas que trabalham com a obtenção de matérias-primas, a fabricação de

produtos finais e intermediários e a prestação de serviços. Baseando-se nessa

noção, Colin Clark, em 1940, elaborou uma classificação que mais tarde seria aceita

em todo o mundo. Segundo ele, os sistemas produtivos podem ser classificados em

três setores: o primário, o secundário e o terciário (Figura 2) (BOULLÓN, 2002).

Figura 2 – Classificação dos setores produtivos

Fonte: Elaboração do autor (2015) a partir de Boullón (2002).

Com essa depreensão, é evidente que o turismo não está englobado pelas

atividades que compõe o setor primário – apesar da atividade turística beneficiar-se

Page 57: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

56

do meio espacial/ambiental para a sua efetivação, porém, insta esclarecer que essa

atividade, sob um stricto sensu, não explora nem extrai ou produz a partir dos

recursos naturais, apenas “utiliza-se” desses para a contemplação, ou ainda, lazer e

entretenimento. Também não faz parte do setor secundário, pois não é produto de

uma construção ou de uma indústria. Quer-se dizer que o turismo não foi concebido

mediante uma construção, uma edificação, nem mesmo é fruto de processos

industriais, isto é, não se originou de “uma atividade de transformação que emprega

numerosos recursos, alguns dos quais podem ser matéria-prima e outros produtos

industriais intermediários”: a indústria21 (BOULLÓN, 2002, p. 31).

No entanto, é possível destacar diversos elementos industriais, do setor

secundário, que são apropriados pela atividade turística para a formatação de

produtos turísticos, como: “barracas, lanchas, botes e veleiros esportivos, esquis

aquáticos e para a neve, equipamentos para a prática de montanhismo, sacos de

dormir, raquetes e bolas de tênis, tacos de golfe”, etc. Mas isso não faz do turismo

uma indústria, uma vez que esses produtos pertencem a indústrias específicas, e

que não necessariamente foram fabricados para fins turísticos ou por uma “indústria

turística” (BOULLÓN, 2002, p. 31). Em síntese, o turismo é uma atividade que

consome/utiliza-se de recursos e produtos elaborados pelos setores primário e

secundário, visando criar e prestar serviços para satisfação de necessidades e de

desejos de viajantes e de visitantes. Logo, na classificação das atividades

produtivas, esse é enquadrado no setor terciário. Para que pudesse ser considerada

uma indústria, portanto, essa deveria ser, pois, uma atividade do setor secundário:

com características industriais.

3.3 Sistema turístico

A atividade turística é um grande e complexo mundo, um verdadeiro universo,

em que contínuos fluxos e refluxos de pessoas transitam, temporariamente, sob

diferentes motivações, entre suas casas e as mais diversas destinações. Assim, o

turismo, em sua efetivação, contempla e movimenta diversos setores que buscam

21

“Em geral, é o produto final que serve para qualificar os diferentes tipos de industria; aceita-se mencionar as fabricas de sapatos como integrantes da industria de calçados, assim como as de roupa originam a industria do vestuário; assim, se o turismo fosse uma industria deveriam existir, mas não existem, fábricas turísticas ou processos industriais cujo produto final ou intermediário fosse o turismo” (BOULLÓN, 2002, p. 31).

Page 58: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

57

nas interações e nas (inter)relações conceber produtos: bens e serviços turísticos

(oferta) a serem postos à disposição dos turistas (demanda) no mercado. Nesse

sentido, a convergência e a sinergia dos setores que compreendem esse fenômeno,

e os que são por ele afetados, são em demasia importantes para o seu pleno

funcionamento. De modo que, conforme Beni (1998), a falha de um pode

comprometer o todo.

Dessa maneira, Licínio Cunha (2003, p. 110) pontua que para se

compreender o turismo em sua dimensão, é essencial que se perceba e entenda a

importância de cada agente que o compõe. Mas também, deve-se levar em

consideração a compreensão do conjunto: os agentes e as relações, da sua “teia

complexa de dependências e de conexões”, bem como a natureza, as diferentes

funções e a importância que cada uma possui dentro do todo. “Caso contrário, ter-

se-ão apenas visões parcelares ou especificas”. Sob esta perspectiva, o autor

supracitado pondera, ainda, que para uma compreensão abrangente do turismo faz-

se “necessário adoptar [sic] uma abordagem integrada da actividade [sic] turística,

ou seja, de todas as suas componentes e relações através de uma visão sistêmica”

(CUNHA, L., 2003, p. 110).

Boullón (2002), nesse viés, destaca que vários pesquisadores ocuparam-se (e

têm se ocupado) de estudar o turismo sob uma abordagem sistêmica, criando

diversos modelos analíticos a fim de compreender o turismo sobre diferentes

abordagens. Contudo, o autor em tela explica que embora existam diferentes

maneiras de se entender o turismo pelo viés sistêmico, existe um único sistema22

turístico, ainda que com várias facetas. Existem, desse modo, ângulos de análise do

sistema turístico que se preocupam em estudar: o ócio e o tempo disponível, sendo

esse o modelo antropológico social; o que se interessa no estudo da produção em

massa e lucro é o modelo de turismo industrial e o modelo de oferta-demanda: que

se interessa pelo funcionamento do turismo comercial.

22

Cunha (2003, p. 110) define um sistema como um “conjunto de elementos inter-relacionados, coordenados de forma unificada e organizada, para alcançar determinados objectivos. Neste sentido, os elementos que compõem o sistema estabelecem relações entre si de tal modo que a modificação de um elemento provocará modificação no outro ou outros, e o sistema actuará de forma eficaz, no sentido de alcançar objectivos, quando todos os elementos que o compõem forem, ou estiverem, organizados coordenadamente”. Portanto, um conjunto composto por elementos que não apresentam objetivos comuns e que não apresentam interligações e inter-relações não constituem um sistema, visto que não há mutualismo: uma relação de interdependência entre os elementos, isto é, a mudança de um não implica a alteração dos demais.

Page 59: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

58

Mario Carlos Beni, em seu livro Análise Estrutural do Turismo (1998), propõe

a Teoria Geral dos Sistemas enquanto um modelo conceitual, que ao ser empregado

à análise do turismo, considera-o

[...] em toda sua abrangência, complexidade e multicausalidade, em um esquema sintetizador dinâmico que demonstre as combinações multifacetadas de forças e energias, sempre em movimento, de modo a produzir um modelo referencial. Este deve ter a capacidade de retratar, até seus limites máximos, a configuração que tenta assumir um fenômeno como o do Turismo, tão sujeito a variáveis internas e externas que escapam, no momento da análise cientifica, a praticamente todo esforço de cristalização para se poder estudá-las, determiná-las e avaliá-las (BENI, 1998, p. 44).

Tendo como base essa concepção, Beni criou o Sistema de Turismo (SISTUR), com

o objetivo de identificar e de melhor analisar o fenômeno turístico, a partir da

compreensão dos diferentes elementos que o integram, suas funções e suas

relações – que se desenham na complexidade de todo o conjunto formado.

Beni (1998) identificou que o SISTUR, isto é, o funcionamento do turismo se

dá, basicamente, com a superestrutura, a infraestrutura, a oferta, o mercado, a

demanda, a produção, a distribuição e o consumo. A fim de demonstrar as relações

estabelecidas entre estes, o autor foi além ao elaborar o Modelo Referencial do

Sistema de Turismo (Figura 3), que identificou a existência de três grandes

conjuntos, Relações Ambientais (RA); Organização Estrutural (OE) e Ações

Operacionais (AO). Cada um desses foi considerado pelo autor como um

subsistema por possuírem elementos, funções e relações específicas, ainda que

com objetivos comuns.

O Conjunto das Relações Ambientais (RA) é compreendido por quatros

elementos, considerados por Beni (1998) subsistemas: ecológico, social, econômico

e cultural. O segundo conjunto, da Organização Estrutural (OE), compreende os

subsistemas infraestrutura e superestrutura. O Conjunto das Ações Operacionais

(AO) é constituído pelos subsistemas: oferta, demanda, mercado, produção,

distribuição e consumo. Nesse contexto, a oferta compreende os produtos: serviços

e bens turísticos; a demanda se estabelece pelos turistas; o mercado é o palco de

interação entre a oferta e a demanda. De maneira prática, as relações se dão da

seguinte maneira: a oferta é gerada por intermédio da produção, depois é

distribuída, divulgada e comercializada por meio do mercado e consumida pela

demanda. Esses, no entanto, são/estão condicionados pelos meios: ecológico,

Page 60: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

59

social, econômico e cultural e pelas infraestruturas e superestruturas de apoio,

fiscalização e ordenamento da atividade turística.

Figura 3 – Modelo Referencial do Sistema de Turismo (SISTUR)

Fonte: BENI (1998).

Enquanto sistema aberto, o SISTUR é constituído por elementos que

possuem interconexões. Noutros termos, os elementos, suas interações e inter-

relações, estão condicionados e permeados entre si. Apresentam a

interdependência e o mutualismo, nesse sentido, como características essenciais à

sua fluidez (BENI, 1998). Portanto, para que o setor turístico continue a se

desenvolver de forma consolidada, é imprescindível que a infraestrutura e a

superestruturas das destinações acompanhe o ritmo da atividade, do mercado.

A oferta, por outro lado, precisa criar formas para o atendimento eficaz das

necessidades e dos desejos da demanda, sem deixar de levar em consideração as

relações ambientais: ecológicas, sociais, econômicas e culturais, que podem se

originar com os investimentos e o crescimento da atividade. Tal interação somente

desencadeará benefícios tanto para os turistas que terão à sua disposição

serviços/produtos eficientes, quanto para população que terá uma melhoria

Page 61: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

60

significativa na qualidade de vida. Dado que a atividade turística pode vir a se

concretizar como uma fonte de renda de muitas famílias da localidade, nos âmbitos

formal e informal, direto e indireto (BARBOSA, F., 2005; FERNANDES; COELHO,

2002; LAGE; MILONE 2001; TRIBE, 2003), a partir de sua dinamicidade e facilidade

de criação de oportunidades inovadoras de negócios, com os diferentes nichos e

segmentos de mercado que cria, como exemplo tem-se a segmentação objeto de

estudo deste trabalho.

3.4 Quem viaja?: viajantes, visitantes, turistas e excursionistas.

Os deslocamentos humanos sempre existiram, e por diferentes motivos, como

visto outrora. No entanto, de acordo com Licínio Cunha (2003) é somente no

momento em que os deslocamentos, motivados pela busca de experiências

prazerosas, passaram a dispor de caráter comercial/econômico é que houve a

necessidade distinguir aqueles que se deslocavam de acordo com as características

de suas viagens. Dessa forma, nomenclaturas como viajantes, visitantes, turistas e

excursionistas foram criadas com o objetivo de evitar confusões semânticas e de

demarcar, de certa forma, as características de cada tipologia de viagem e dos

indivíduos que viajam, tendo em vista que, apesar das viagens possuírem diferentes

propósitos, todos aqueles que viajam costumam utilizar, quase sempre, os mesmos

produtos, serviços, equipamentos e/ou infraestruturas básicas e turísticas de um

determinado lugar.

Conforme Licínio Cunha (2003), viajante compreende toda e qualquer pessoa

que viaja independente dos modos e dos meios de deslocamento utilizados.

Contudo, o termo viajante pode sofrer uma pequena divisão que depende da

extensão espacial que uma viagem pode ter, quer-se dizer que, se uma pessoa viaja

dentro do limite territorial de seu país, ela é considerada um viajante interno ou

nacional, mas se uma pessoa ultrapassa os limites territoriais de seu país,

atravessa fronteiras entre países, se estará diante de um viajante internacional.

Nesse sentido, a definição de viajante representa um conceito amplo, que acaba por

compreender todo aquele que, independente do motivo, viaja. Ou seja, abarca tanto

as viagens com fins turísticos como as que possuem outras finalidades.

Quanto às definições de visitante, de turista e de excursionista, Licínio Cunha

(2003) esclarece que ao longo dos anos tais nomenclaturas receberam diferentes e

Page 62: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

61

confusas conceituações: ora por compreenderem somente viagens para fora do país

de residência – “reduzindo a importância do turismo apenas à sua dimensão

internacional” (CUNHA, L., 2003, p. 18-19) –, ora por não existir uma demarcação

temporal sobre as diferentes viagens, uma diferenciação da permanência dos

visitantes, dos turistas e dos excursionistas, ou ainda sobre a utilização, ou não, de

determinadas infraestruturas ou equipamentos turísticos. Desse modo, Licínio

Cunha (2003) discorre que é somente a partir de 1983, com União Internacional dos

Organismos Oficiais do Turismo (UIOOT), atual OMT, e com as reformulações da

Organização das Nações Unidas (ONU), em 1993, e da OMT, em 1994, que os

termos visitante, turista e excursionista passaram a possuir a acepção atual.

Considerado componente das viagens que integram o universo turístico, o

termo visitante é atribuído ao individuo que viaja para fora de seu “ambiente

habitual durante um período inferior a 12 meses consecutivos e cujo motivo principal

da visita é outro que não seja o de exercer uma actividade [sic] remunerada no local

visitado” (CUNHA, L., 2003, p. 19). Já os viajantes que não tem como objetivo

turismo são, geralmente, denominados de outros ou de não-visitantes ao serem

distinguidos dos visitantes.

As terminologias turista e excursionista são divisões do conceito de visitante,

sendo utilizadas para diferir, genericamente, o tempo de permanência de um

visitante em um determinado lugar. O turista é, dessa maneira, considerado como

“todo o visitante que passa pelo menos uma noite num estabelecimento de

alojamento colectivo [sic] ou num alojamento privado no local visitado” e

excursionista ou visitante do dia como “todo o visitante que não passa a noite” ou

que fica menos de 24 horas no local visitado (OMT, 1993 apud CUNHA, L., 2003, p.

19). Sistematicamente, as diferenciações que marcam os termos acima

esclarecidos, podem ser expressas de acordo com a figura 4.

Page 63: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

62

Figura 4 – Diferenciações das nomenclaturas

Fonte: Elaboração do autor (2015).

Dessarte, ao aplicar a Teoria dos conjuntos às nomenclaturas viajantes,

visitantes, turistas e excursionistas é possível clarificar de forma esquematizada as

diferenças e as semelhanças entre elas. De maneira ilustrativa, a figura mostra que

os viajantes são representados por um conjunto maior, nele estando embutidos os

conjuntos que representam os visitantes e os não-visitantes ou outros, distinguem-

se, basicamente, pela existência (ou não) do turismo enquanto motivação de uma

viagem. Os conceitos turistas e excursionistas compreendem subconjuntos

pertencentes ao conjunto que representa os visitantes, esses diferencem apenas no

que se refere ao tempo de permanência do visitante em uma dado lugar, como já

assinalado. Diferir tais classificações é, aqui, importante por permitir depreender

onde se situam, nesse meio, aqueles que viajam para participar de concursos

públicos.

Page 64: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

63

4 SEGMENTAÇÃO DE MERCADO: UMA VISITA AO LEQUE DE SEGMENTOS

E NICHOS DO TURISMO

O homem e a natureza possuem como característica intrínseca a capacidade

de se diferenciar. A natureza em suas representações – formas, cores, sabores,

cheiros e sons – é diversa e, ao mesmo tempo, única. As diferentes nações que

habitam o globo possuem culturas: costumes, simbologias, linguagens, cores,

crenças, complexidades, subjetividades igualmente plurais. O turismo e as suas

segmentações, nessa esfera, podem ser percebidos como produtos de produções e

de reproduções do ser humano e da natureza, ou seja, a demanda e a oferta, os

recursos naturais e o homem são quem condicionam a atividade turística, tendo em

vista que há lugares e lugares, assim como, viajantes e viajantes. Daí a necessidade

de segmentação do mercado, a origem dos segmentos e dos nichos do turismo: é

preciso atender os diferentes de formas diferentes.

Desse modo, com o objetivo de contextualizar e de dar suporte para as

evidências encontradas em campo sobre as viagens a concursos públicos, neste

capítulo, serão “visitados” conceitos e classificações que se relacionam com a

categoria de análise segmentação. O itinerário dessa quarta parte da viagem inicia-

se pelos “Mercados do turismo”, em seguida, chega-se “A segmentação de

mercado” e aos “Aspectos metodológicos da segmentação de mercado: métodos,

bases, variáveis e requisitos” e, por fim, à “Segmentação do mercado turístico:

bases, variáveis, segmentos e nichos do turismo”.

4.1 Mercados do turismo

Tratar do leque de segmentos e nichos do turismo requer, de antemão,

depreender noções que tangem o mercado. Com a mesma preocupação – a de

procurar contextualizar o que seria mercado – Beni (2003, p. 145) em sua obra

questiona: “Que conceito fazemos do mercado?”. Esse termo, em/para diversos

contextos econômicos e socioculturais, vem apresentando diversificadas

compreensões e representações. Os olhares e as análises de várias áreas do saber

corroboram para a pluralidade dessas conceituações.

Sua genealogia está ligada ao espaço físico “onde os compradores e os

consumidores se reuniam para intercambiar bens e serviços” (KOTLER et al, 2008,

Page 65: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

64

p. 167). Para Beni (2003, p. 145), “quando se fala em mercado, logo se imagina

trocas de produtos/serviços e de valores”. Mas, sob uma análise mais técnica e

científica, mercado pode ser definido como “toda organização ou lugar por meio do

qual, de um lado, compradores e, de outro, vendedores de um bem ou serviço

realizam negócios de vendas, compra ou troca” (FERNANDES; COELHO, 2002, p.

167). Assim sendo, as empresas, ao ofertarem, e os indivíduos, ao demandarem

produtos, serviços e capitais, propiciam a organização e reúnem as condicionantes

basilares de uma transação mercadológica (BENI, 2003).

A literatura que se ocupa do estudo de mercados atenta para a existência de

três questões ou problemas econômicos fundamentais que caracterizam um

mercado: o que produzir?, como produzir? e para quem produzir? (BENI, 2003;

LAGE; MILONE, 2001; LOHMANN; PANOSSO NETTO, 2012). A resolução dessas

questões é primacial para o alcance do que Beni (2003) chamou de eficiências

atributiva, produtiva e distributiva que todo mercado precisa possuir. Entretanto,

alcançar tais eficiências, de conformidade com Kotler e Keller (2006), requer: 1) a

existência de ao menos duas partes; 2) essas partes tenham alguma coisa que

possa ser atribuído valor pelas outras partes; 3) as partes precisam ter condições

para efetivação de comunicação e entrega; 4) as partes precisam estar livres para

aceitar ou não aceitar a troca; e 5) as partes precisam acreditar ser vantajosa a

negociação.

Mas, o que seria o mercado turístico? Conforme Lage e Milone (2001, p. 11),

este pode ser definido como “uma rede de informações que permite os agentes

econômicos — consumidores (turistas) e produtores (empresas de turismo) —

tomarem decisões para solucionar os problemas econômicos fundamentais do

setor”. Já Brasil (2007, p. 15) conceitua mercado turístico como “o encontro e a

relação entre a oferta de produtos e serviços turísticos e a demanda, individual ou

coletiva, interessada e motivada pelo consumo e uso destes produtos e serviços”.

Os autores em tela explanam, ainda, que o mercado turístico pode ser classificado

sob dois prismas: o mercado direto e o mercado indireto, neste último são ofertados

e consumidos produtos e/ou serviços que estão em parte atrelados ao turismo;

naquele, são ofertados e consumidos produtos e/ou serviços que estão totalmente

atrelados ao turismo (LAGE; MILONE, 2001).

Page 66: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

65

Dentro do mercado turístico, para Beni (2003), porém, existem outros

múltiplos mercados, cada um deles pode oferecer pelo menos um produto turístico23

diferenciado – movimentando, assim, diferentes agentes econômicos, bens, serviços

e capitais. Nas palavras do autor supracitado, “os produtos não são homogêneos e

intercambiáveis, mas diferenciados. Cada empresa vende um produto que de certo

modo se traduz como único e diferenciado dos demais [...]” (BENI, 2003, p. 149), o

que acaba consolidando um mercado específico. Logo, partindo dessa visão, Beni

(2003) fala em mercados turísticos.

No turismo, consoante Lage e Milone (2001), nada é igual ou uniforme.

Embora hajam produtos parecidos, eles nunca serão iguais em suas plenitudes.

Beni (2003, p. 150) exemplifica isso pontuando que:

Não existem dois hotéis iguais nem instalados no mesmo lugar; o que um oferece, o outro não o fará exatamente da mesma maneira. O roteiro turístico que é produzido e comercializado por uma operadora não é vendido com todos os detalhes por nenhuma outra empresa.

Acerca da heterogeneidade dos mercados turísticos (MEDAGLIA; MAYNART;

SILVEIRA, 2013), Ruschmann (2001) chama atenção para outra característica

atrelada à oferta e, sobretudo, à demanda turística: os serviços prestados podem

gerar diversificadas expectativas e impressões.

O consumo desses serviços, enquanto experiência vivencial, (RUSCHMANN,

2001) pode: ter múltiplas interpretações e importâncias; despertar sentimentos,

sensações e emoções, e influenciar as próximas experiências – dada a

complexidade subjetiva intrínseca ao ser humano (LOBATO et al, 2015). Por outro

lado, é importante sempre atentar não somente para a heterogeneidade dos

mercados, mas também para a sua intensa e profícua dinamicidade, como sinalizam

as reflexões de Panosso Netto e de Ansarah (2015, p. 24):

O mercado turístico é dinâmico. As pessoas continuam a viajar pelos mais diversos (e recônditos) motivos. Os destinos mudam, as formas de viajar mudam, os anseios dos turistas mudam. Os produtos ofertados mudam. As estratégias de marketing mudam e se atualizam.

23

Sobre produto turístico, Doris Ruschmann (2001, p. 11) o define como “composto de um conjunto de bens e serviços unidos por relações de interação e interdependência que o tornam extremamente complexo. Suas singularidades o distinguem dos bens industrializados e do comércio, como também dos demais tipos de serviços. Uma de suas características mais marcantes é que se trata de um produto imaterial – intangível – cujo resíduo, após o uso, é uma experiência vivencial”.

Page 67: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

66

A alteridade cultural, a multiplicidade de sonhos, de desejos, de gostos, de

expectativas, de manias da complexidade e da subjetividade humana, assim como

as suas naturais e contínuas mudanças acabam por conferir à demanda o poder de

movimentação e, principalmente, de criação de oportunidades de

empreendedorismo (CHIAS, 2007). No entanto, a diversificação e as inovações

constantes na oferta de produtos e serviços turísticos também regem os mercados

ao “criarem” nos visitantes uma espécie de “pseudonecessidade” – metaforizada sob

a forma da viagem dos sonhos – de vivenciar experiências exóticas, diferenciadas e,

até mesmo, opostas à realidade habitual. Assim, a oferta, por vezes, estabelece e

potencializa, igualmente, novos mercados, segmentos e nichos, do turismo – que

serão discutidos em seus pormenores mais a frente.

4.2 A segmentação de mercado

Muito embora já existisse na prática, a teoria acerca da segmentação de

mercado aparece pela primeira vez na literatura mundial em 1956, no artigo “Product

differentiation and market segmentation as alternative marketing strategies”, de

autoria de Wendell Smith, publicado no Journal de Marketing (TAVARES; AFONSO;

LOCATELLI, 2011; TOCQUER; ZINS, 2004). A segmentação de mercado, nesse

panorama, surge a partir da compreensão da heterogeneidade do mercado, da

noção de que as pessoas são diferentes, logo, possuem demandas próprias, e,

dessa forma, buscam produtos e serviços especializados. Nesse universo de

diferenças, consumidores com demandas semelhantes acabam formando pequenos

grupos homogêneos, submercados ou segmentos (TOCQUER; ZINS, 2004). A

concepção de segmentação de Smith, assim, tem sua gênese como oposição ao

conceito do marketing de massas – em que se produz, comercializa, distribui e

promove em massa, a partir de um único composto de marketing, produtos a todos

os compradores (KOTLER et al, 2008).

Rui Oliveira (2015, p. 3) pontua que segmentar consiste em “dividir, separar,

fracionar, fragmentar”. Logo, genericamente, a expressão segmentação de mercado

implica a partição de um mercado maior em pequenos mercados ou segmentos e

subsegmentos (nichos). Complementando essa definição, Valles (1996), citado por

Ansarah e Panosso Netto (2010, p. 5), define segmentação de mercado como:

Page 68: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

67

[...] a prova mais fascinante de que as pessoas são diferentes nos gostos, nas necessidades, nas atitudes, nos estilos de vida, na dimensão e na composição da unidade familiar. Trata-se de uma política deliberada que busca maximizar a demanda de mercado dirigindo a ação a subgrupos significativos de usuários ou consumidores. [...] A segmentação é a participação imaginária do mercado em que a empresa deseja competir em vários segmentos homogêneos.

Com efeito, para um segmento se figurar como tal, precisa, dentre outros aspectos,

ser composto por consumidores que possuam um perfil com diferenças mínimas

entre si e máximas com relação aos demais segmentos (CAVACO; SIMÕES, 2009).

Face à existência dessas pequenas diferenças – no que tange a

“preferências, poder de compra, localização geográfica, atitudes de compra e

hábitos de compra” (KOTLER, 2000, p. 278) de consumidores de um mesmo

segmento – Cavaco e Simões (2009) dissertam que no interior de um segmento, e

sob a mesma dinâmica, podem ser encontrados um ou mais subsegmentos. Esses,

denominados de nichos de mercado, são caracterizados por subgrupos que

apresentam necessidades e desejos particulares ao grupo maior – já segmentado –

do qual fazem parte (a Figura 5 ajuda a clarificar as distinções dessas

classificações). Os nichos, portanto, compreendem um mercado ainda menor, que

possui uma oferta muito pequena (e única muitas vezes), onde as empresas que

neles trabalham – diferentemente da dimensão e dos níveis de competitividade de

segmentos –, apresentam normalmente um ou outro concorrente, isso quando

possuem (BENI, 2003; CAVACO; SIMÕES, 2009; KOTLER, 2000).

No tocante ao debate acerca dessas classificações, cabe pontuar que, muito

embora a dimensão do mercado seja o requisito geral e primacial para a

diferenciação de segmentos e de nichos, a linha que difere essas classificações é

muito tênue e, em certos casos, nebulosa, envolvendo, pois, condições específicas

difíceis de serem identificadas em alguns contextos. Demais, é preciso clarificar que

um mesmo mercado pode se estabelecer de forma diferenciada em diferentes

contextos. Noutras palavras, há a possibilidade de segmentos e de nichos, já

consolidados em um país específico, não terem a mesma representatividade em

outros países, ou ainda, serem em um país segmentos, mas nichos em outros –

como é o caso do turismo de concursos públicos que não existe enquanto mercado

em certos países por não haver seleção de servidores públicos a partir de provas de

concursos públicos ou por essas serem ínfimas, mas crescente âmbito do mercado

da atividade turística brasileira.

Page 69: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

68

Figura 5 – Representação do processo de segmentação de mercado.

Fonte: Elaboração do autor (2015).

Estudos diversos sobre segmentação mostram que essa pode ser trabalhada

em dois vieses, um direcionado aos consumidores e outro com enfoque nos

produtos e serviços: respectivamente, o primeiro deles compreende na divisão

mercados heterogêneos em submercados homogêneos, nesses últimos,

consumidores apresentam demandas semelhantes e respostas para empresas que

ofertam um dado produto (KOTLER et al, 2008). A segmentação da oferta configura-

se como uma estratégia de criação e de desenvolvimento, distribuição,

comercialização e promoção de um novo produto ou serviço (ENGEL; BLACKWEL;

MINIARD, 1995) que visa criar a necessidade de compra e de utilização em um

grupo de consumidores. Ou seja, segmentação pode ser estabelecida a partir da

demanda e da oferta.

Essas abordagens, porém, não se cancelam, pelo contrário, se

retroalimentam. São formas de melhor organizar e potencializar os mercados, ao

passo que buscam levar em consideração tanto os perfis dos consumidores quanto

as características naturais e socioculturais dos produtos e dos serviços ofertados

(BRASIL, 2010; OLIVEIRA, R., 2015). No embalo, cumpre pontuar que, ainda que a

Page 70: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

69

oferta seja explorada, o foco central deste trabalho será a demanda: os concurseiros

que ao viajarem se utilizam de serviços/produtos turísticos.

No cerne desse debate, entrementes, o arcabouço teórico que contextualiza a

segmentação de mercado, seja nos estudos de turismo, seja nos de marketing, de

administração e de economia, notadamente, enquadram-na como tão somente uma

política ou estratégia de marketing. Todavia, insta enfatizar que a segmentação do

mercado é, comumente, uma criação da demanda. No âmbito de uma política

mercadológica, Ruschmann (2001, p. 24) assinala que “a demanda determina a

oferta e não o inverso”. É a demanda, então, que, por vezes, divide, separa,

fragmenta o mercado. Moraes (2001b, p. 154), nesse sentido, disserta que a

segmentação “ocorre de forma inconsciente, desapercebida e intuitiva, e não parte

de um estudo”, de uma estratégia de marketing. Como antes externalizado, os

desejos e as necessidades dos consumidores condicionam as ofertas. Criam

oportunidades de negócios inovadores, concebem novos mercados.

4.3 Aspectos metodológicos da segmentação de mercado: métodos, bases,

variáveis e requisitos.

Tavares, Afonso e Locatelli (2011), a partir de uma revisão bibliográfica,

explicam que, concernente aos procedimentos metodológicos adotados pelas

empresas, existem três formas principais: 1) segmentação a priori e a posteriori ou

post-hoc; 2) segmentações de primeira e de segunda ordem; e 3) técnica estatística

de Análise de Agrupamento. Desses métodos, os mais conhecidos e utilizados pelas

empresas são a segmentação a priori e a posteriori ou post-hoc. Na segmentação a

priori bases e variáveis são definidas previamente, mediante pesquisas e/ou dados

secundários. Isto é, “Parte-se de características dos consumidores de fácil

identificação e, daí, verificando se os segmentos por eles formados possuem

necessidades, desejos ou outros traços diferentes” (TAVARES; AFONSO;

LOCATELLI, 2011, p. 113); De forma antagônica, na segmentação a posteriori

segmentos, bases e variáveis não são conhecidos ou definidos antecipadamente.

Eles são descobertos a partir de pesquisas de demanda direcionadas à identificação

de bases e de variáveis que possam diferenciar segmentos.

Rui Oliveira (2015) ressalta que a combinação dessas metodologias de

segmentação, ainda que inversas, tem sido a cada dia mais utilizada, haja vista que

Page 71: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

70

da mesma forma que podem preexistir informações/dados sobre um mercado,

podem não haver nenhuma pesquisa anterior ao que se deseja estudar – como

ocorre com o turismo de concursos públicos, foco deste trabalho. Outro ângulo que

demarca as diferenças entre essas metodologias, mas também mostra a

possibilidade de combinação, expressa que a segmentação a priori foca inicialmente

na descrição da viagem, já a posteriori ou post-hoc centra suas análises, antes, na

descrição dos viajantes. Logo, as diferentes informações captadas a partir desses

dois vieses podem se retroalimentar, dinamizando mais ainda o processo de

segmentação.

No processo de segmentação do mercado há uma infinidade de bases e de

variáveis, conhecidas também como critérios, que são utilizadas para delimitar

grupos de consumidores, em consonância com as suas necessidades, desejos.

Esse mapeamento do perfil dos consumidores é utilizado para identificar potenciais

segmentos e nichos de mercado, como antes tratado. As bases e as variáveis mais

clássicas, e mais utilizadas na segmentação de mercados, são as elencadas por

Kotler et al (2008) e Kotler e Keller (2006): geográfica, demográfica, comportamental

e psicográfica (Quadro 3). Algumas das variáveis, por serem mais dinâmicas e

transversais, acabam por fazer parte de mais de uma base, tudo dependerá da

perspectiva a ser analisada.

Quadro 3 – Bases e variáveis da segmentação

Bases Variáveis

Geográfica

Região; Estados; Municípios; Bairros e ruas; Concentração geográfica e populacional; Clima; Limites políticos; Área comercial; Localização; Acesso e transporte; Topografia; Trafego.

Demográfica e Socioeconômica

Demográfica

Idade; Gênero; Tamanho da família; Ciclo de vida da família; Geração; Número de dependentes; Estado civil; Raça; Nacionalidade; Religião; Orientação sexual; Deficiência física ou mental, etc.

Socioeconômica Renda; Ocupação; Grau de instrução (Educação); Classe social; Fatores de posse de residência.

Page 72: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

71

Comportamental

Relacionadas ao comportamento de compra de produtos e serviços

Ocasião de compra; Status de uso; Grau de uso ou status do usuário; Lealdade/Fidelidade; Modo de utilização; Razão de compra; Frequência de compra; Local de compra; Estágio de atenção para a compra; Atitude em relação ao produto.

Benefícios24:

Satisfação física/psicológica; Preço favorável; Qualidade; Durabilidade; Redução de custos; Atendimento ou serviços agregados; Modernidade/atualização; Marcas reconhecidas (Confiança); Rapidez; Aparência e características físicas do produto; Produtos saudáveis e/ou ecológicos, etc.

Não relacionadas ao comportamento de compra

Atividades; Exposição à mídia; Estilo de vida25; Personalidade.

Psicográfica Valores; Atitudes; Interesses; Opiniões; Personalidade···.

Fonte: Kotler et al (2008), Rui Oliveira (2015) e Yanaze (2011), com contribuições do autor (2015).

A base geográfica, como sua própria denominação sugere, é perfilada pela

fragmentação do mercado a partir de aspectos geográficos. Isto é, o mercado é

classificado de acordo com o espaço físico, por meio de suas unidades e/ou

características geográficas. Uma das mais utilizadas pelo marketing como estratégia

de segmentação, a base demográfica e socioeconômica, classifica os mercados em

concordância com variáveis concernentes ao perfil demográfico dos consumidores.

Suas variáveis têm a capacidade de ser mais mensurável que as demais bases, do

mesmo modo, que representam de forma mais fiel as necessidades e os desejos

dos consumidores. Como elucidado no quadro 3, as variáveis dessa base, são:

idade, ciclo de vida, tamanho da família, religião, educação, ocupação, renda, cor,

gênero, classe social, etc. (KOTLER; KELLER, 2006).

Na base comportamental, a divisão do mercado obedece uma lógica que se

baseia, para alguns autores (YANAZE, 2011), no comportamento relacionado à

compra de produtos e de serviços e nos comportamentos não diretamente

24

Yanaze (2011), e Rui Oliveira (2015) ao citá-la, classificam os benefícios com relação aos produtos e serviços como uma base da segmentação, contudo essa categoria é uma variável que está embutida, também, no comportamento de compra do consumidor, logo pertence à base comportamental.

25 Partindo da compreensão de que estilo de vida “é o conjundo de comportamentos influênciados

por diversas variáveis, inclusive as psicográficas”, a variável estilo de vida pertence à base comportamental e não psicográfica (OLIVEIRA, R., 2015, p. 19).

Page 73: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

72

relacionados à compra. Assim, essa base procura agrupar os clientes a partir de

variáveis como: conhecimentos que os clientes possuem atitudes, utilização e,

sobretudo, as respostas que esses dão com relação aos produtos, aos serviços e/ou

ao marketing utilizado pelas empresas. A base psicográfica, na fase de

segmentação de mercados, é responsável por organizar os diferentes, e pequenos,

grupos homogêneos de consumidores, em conformidade com variáveis que se

estabelecem acerca do estilo de vida, da personalidade, dos interesses, das

opiniões, entre outras (KOTLER; KELLER, 2006).

Todavia, para que um segmento de mercado, seja, de fato, reconhecido como

tal – para além da utilização de bases e de variáveis que servem como parâmetros

de classificação de grupos de consumidores – esse precisa atender alguns

requisitos básicos, que em essência são sumarizados por Tavares, Afonso e

Locatelli (2011) em sete (Figura 6). Tais requisitos aparecem na literatura ora com

nomenclaturas diferenciadas, mas com a mesma significação, ora em números

diferentes.

Desse modo, no caminhar da segmentação, é preciso analisar se o provável

segmento atende ou não a esses requistos, uma vez que não é todo e qualquer

grupo, comunidade, região ou mercado que pode se segmentar e/ou ser

segmentado(a) (PANOSSO NETTO, ANSARAH, 2009b). Dessa forma, pretende-se

correlacionar esses critérios a viagens a concursos públicos, a fim de buscar

respostas para o alcance dos objetivos desta investigação. Se observado com

calma, se atentará que esses requisitos são princípios basilares de uma análise (de

viabilidade) de mercado. Essa análise ajudará a conhecer algumas das possíveis

vantagens e desvantagens de se segmentar, como as expressas na figura 7, a

seguir.

Page 74: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

73

Figura 6 – Etapas mais usuais adotadas no processo de segmentação

Fonte: Tavares, Afonso e Locatelli (2011, p.111).

Figura 7 – Possíveis vantagens e desvantagens da segmentação do mercado

Fonte: Elaboração do autor (2015) a partir de Ansarah e Panosso Netto (2009), Lohmann e Panosso Netto (2012), Morrison (2012 apud OLIVEIRA, R., 2015) e Tocquer e Zins (2004).

Os aspectos metodológicos na fase de segmentação de mercados, portanto,

são conferidos como métodos e técnicas essenciais para identificação, criação,

•Identifica segmentos mais rentáveis;

•Identifica necessidades ainda não satisfeitas que podem representar oportunidade;

•Acompanha a dinamicidade de comportamento do consumidor;

•Identifica um novo mercado em que a concorrência é menor

•Alcança o consumidor conhecendo ele antecipadamente;

•Define de forma mais otimizada o seu programa de marketing

•Necessidade de ser diferente e chamar atenção para si por meios de estratégias criativas

Vantagens

•Quando é mais caro que uma abordagem não segmentada;

•Quando é difícil escolher as características apropriadas para realizar a segmentação;

•Quando é complicado definir a amplitude que o estudo deve abranger

•Quando existe a possibilidade de selecionar segmentos que não sejam viáveis.

•Quando já se trabalha com muitos, e diferentes, segmentos

Desvantagens

•Constatação de diferenças e similaridades entre segmentos.

Identificável

•Dimensionamento do tamanho, do poder de compra e das características dos segmentos.

Mensurável

•Suficiência de tamanho e de rentabilidade dos segmentos.

Substancial

•Possibilidade de serem os segmentos alcançados e trabalhados.

Acessível

•Distinção de respostas dos segmentos. Diferenciável

•Capacidade de atrair e obter resposta dos segmentos com o mix de marketing.

Acionável

•Permanência e constância dos segmentos ao longo do tempo.

Durável/Estável

Page 75: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

74

validação e efetividade de um segmento. Por intermédio desses, nomeadamente

dos estudos e das pesquisas que os compõem, é possível obter informações em

pormenores a respeito dos grupos homogêneos existentes: suas principais

características, suas necessidades, seus desejos, suas preferências; e, em especial,

possibilitam identificar quais as bases e as variáveis que a esses estão envoltas. Por

conseguinte, tais procedimentos, possibilitam realizar diagnósticos e prognósticos de

mercado, tendo em vista que eles permitem a descoberta de possíveis vantagens e

desvantagens de se segmentar e, ademais, o conhecimento de quais estratégias de

marketing serão (ou podem ser) utilizadas, pelas empresas, para obter respostas

dos consumidores alvo.

4.4 Segmentação do mercado turístico: bases, variáveis, segmentos e nichos

do turismo.

No campo do turismo, o processo de segmentação é imprescindível dado que

a atividade pode ser simbolizada como um vasto universo, onde uma pluralidade

quase incontável de mundos e de micromundos estão inseridos. As ações da

natureza, as relações socioculturais e a subjetividade e complexidade humana,

como precedentemente ponderado, continuamente criam, desfazem e recriam novos

segmentos ou nichos de mercado. Assim, a segmentação auxilia o marketing

turístico a melhor conhecer e concentrar esforços nos públicos alvo e, sobretudo, a

melhor organizar os diversificados mercados turísticos (LAGE, 1992).

Panosso Netto e Ansarah (2009b) apontam que a segmentação dos

mercados turísticos, realizada e potencializada no âmbito das empresas, ocorre em

função de um esforço em alcançar e, quem sabe, fidelizar o consumidor – alvo real

ou potencial – de maneira eficaz. Demais, segundo os autores em tela, é quase

impossível uma mesma empresa ou um mesmo destino turístico englobar todo o

público que compõe o mercado. Logo, segmentar diferentes grupos homogêneos é

uma saída para atender as diversificadas demandas.

Nessa esteira, Barretto e Rejowski (2009, p. 16) completam: no turismo “não

existe o turista, mas turistas, no plural”. E esses não tão somente dedicam suas

viagens para desfrutar de um único aspecto que essas possibilitam. Em geral,

procuram desvendar por inteiro o lugar visitado, conhecer o maior número de

atrações, vivenciar as mais plurais e exóticas experiências. Nas palavras das

Page 76: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

75

autoras supracitadas, eles “dedicam um pouco do tempo, ou grande parte dele, para

desfrutar do principal atrativo, mas praticam também outros tipos de turismo ao

mesmo tempo”, claro, nessa questão é possível encontrar exceções (BARRETTO;

REJOWSKI, 2009, p. 15). Nessa conjectura, insta sinalizar que por mais que uma

viagem se concretize a partir de uma motivação principal, nessa podem estar

envoltas outras, e diferentes, motivações. Logo, o viajante de negócios que está em

uma localidade a trabalho pode ter como motivação secundária (ou oculta) o desejo

de conhecer a cidade, visitar atrativos.

Dessa maneira, no turismo, às bases de segmentação tratadas na seção

anterior – geográfica, demográfica, psicográfica e comportamental – é acrescida a

base da motivação/objetivo das viagens, ou ainda os padrões de consumo em

turismo, de acordo com Ignarra (2003). Essa base identifica grupos de consumidores

de serviços turísticos a partir dos objetivos, dos desejos e, notadamente, das

motivações que norteiam suas viagens. As variáveis que essa base contempla são,

portanto, as que normalmente permeiam a atividade turística, conforme as

elencadas no quadro 4 abaixo.

Quadro 4 – Bases e variáveis da segmentação do mercado turístico

Bases Variáveis

Objetivo ou motivação da viagem

Objetivos e/ou Motivações; Necessidades; Desejos (sonhos); Benefícios procurados.

Férias; Família e amigos; Negócios; Compras; Eventos; Entretenimento; Saúde; Educação; Ciência; Aventuras; Lazer/Prazer; Esporte; Pesca; Descanso; Meio ambiente/Natureza; Cultura; Religião; Gastronomia; Rural/Campo. Estudos; E outros.

Fonte: Costa (2006) e Moraes (2001a), com adaptações do autor (2015).

Alicerçado pelas bases e variáveis da segmentação de mercado do quadro 3

(KOTLER; KELLER, 2006) e na base nas e variáveis da segmentação do mercado

turística demonstrada no quadro 4 (COSTA, 2006; IGNARRA, 2003; YANAZE,

2011), Rui Oliveira (2015) propõe, no Anexo A, uma abrangente correlação de bases

e de variáveis passível de ser utilizada enquanto parâmetro de segmentação do

mercado turístico. O referido autor enumera, ainda, possíveis composições ou

desdobramentos dessas classificações.

Page 77: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

76

As bases e as principais variáveis na segmentação do mercado turístico, e

seus desdobramentos/composições, apresentadas por Rui Oliveira (2015), no Anexo

A, ajudam a definir uma infinidade de segmentos e de nichos de mercado.

Guilherme Lohmann e Alexandre Panosso Netto (2012), sob estes paradigmas,

mapearam uma série de mercados e de submercados que estão presentes na

atividade turística na atualidade, conforme dispostos no quadro 5, a partir de uma

compilação realizada sobre diversos estudos na área. Nessa relação de vertentes,

há ainda uma sucinta explanação acerca da significação de alguns segmentos ou

nichos.

Para os autores retrocitados, contudo, há a possibilidade de um dado

segmento possuir múltiplas bases e variáveis de segmentação. Em consequência,

segmentos e nichos são passíveis de cruzarem-se, por serem semelhantes e suas

distinções serem marcadas por linhas deveras tênues. Ao ponderar esse

pensamento, Barretto e Rejowski (2009, p. 8) deixam claro que essas “[...]

classificações são abstrações conceituais de tipos de ideias que não existem em

estado pura na realidade, podendo um turista ser enquadrado em mais de uma

classificação ao mesmo tempo”. Entrementes, caso seja necessária a distinção de

vertentes, essa pode ser alcançada a partir da tipologia que possuir maior

preponderância de características ou, segundo Quaresma (2003), levando-se em

consideração que é o praticante/consumidor quem decide sua vertente e o seu

mercado.

Quadro 5 – Segmentos e nichos do turismo

Bases e variáveis da segmentação Segmentos e nichos possíveis do turismo

Idade

Turismo infantil Turismo juvenil Turismo de meia-idade Turismo de terceira idade

Econômica

Turismo social Turismo popular Turismo de classe média Turismo de luxo

Page 78: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

77

Bases e variáveis da segmentação Segmentos e nichos possíveis do turismo

Meios de transporte

Turismo de caminhada Cicloturismo Turismo aéreo Turismo rodoviário Turismo ferroviário Turismo marítimo Turismo fluvial/lacustre

Duração de permanência

Turismo de curta duração ou itinerante (o turista fica pouco tempo no local visitado) Turismo de média duração Turismo de longa duração

Distância do mercado consumidor

Turismo local Turismo regional Turismo nacional Turismo continental Turismo intercontinental

Tipo de grupo

Turismo single (Individual) Turismo de casais Turismo de famílias Turismo de grupos

Sentido do fluxo turístico Turismo emissivo Turismo receptivo

Grau de urbanização do destino turístico

Turismo em pequenas comunidades Turismo de grandes metrópoles Turismo de pequenas cidades Turismo em áreas naturais

Motivação da viagem

Agroturismo (a atração são as novas tecnologias de plantio e colheita, e as novas formas de se trabalhar em fazendas. Nesse caso, a principal renda da propriedade não advém do turismo, sendo este apenas um complemento da renda ou usado apenas como estratégia de marketing de grandes produtores rurais) Ecoturismo Turismo ecológico Turismo de aventura Turismo de base local Turismo de base comunitária Turismo de sol e praia Turismo de montanha Turismo de campo Turismo de neve Turismo climático/hidrotermal Turismo paisagístico ou cênico (feito por quem deseja observar a paisagem natural ou artificial) Turismo habitacional (aquele desenvolvido no local onde o turista possui uma casa como segunda residência ou

Page 79: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

78

Bases e variáveis da segmentação Segmentos e nichos possíveis do turismo

na forma de timesharing) Turismo de habitação (aquele em que o turista escolhe se hospedar em residências históricas, palácios ou edifícios que se tornaram famosos por algum acontecimento especial) Turismo urbano Turismo Rural (a atração são os motivos do campo, da natureza em sítios e fazendas. Nesse caso, a principal renda da propriedade advém do turismo) Turismo Sertanejo Backpacker (mochileiro) Turismo Low Cost (viagens baratas) Enoturismo (visita a vinhedos e vinícolas) Turismo alternativo (em contraposição ao tradicional turismo de massa) Turismo ativo (maior motivação recai no exercício de algum tipo de interatividade com o entorno, seja físico ou de caráter lúdico) Turismo de saúde Turismo bariátrico (realizado com fins de cirurgia plástica estética corporal, em que a pessoa acaba fazendo turismo no destino da operação) Turismo do parto (mulheres viagens em busca de melhor infraestrutura para dar a luz ou viajam para adquirir nacionalidade de outros países) Turismo bíblico (visita a lugares bíblicos) Turismo cervejeiro (mais difundido no Leste Europeu. As pessoas viajam para provar os mais diferentes tipos de cervejas) Turismo cinegético (para pessoas que gostam de caçar. Não há notícias oficiais de sua existência no Brasil) Turismo cívico institucional (realizado em locais cívicos, com o intuito de conhecer monumentos e construções relacionados à história de uma região, país, estado, município ou nação) Turismo comercial (feito por empresários e comerciantes que se deslocam de sua residência para comprar e vender produtos em outros lugares. Assemelha-se ao turismo de negócios) Turismo criativo (feito por pessoas que querem aprender atividades diferentes e especializadas durante

Page 80: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

79

Bases e variáveis da segmentação Segmentos e nichos possíveis do turismo

o tempo de turismo, como pintura, música, teatro etc.) Turismo de contato social (feito com o objetivo de encontrar amigos ou parentes ou fazer novos amigos e conhecer novas pessoas) Turismo de esportes Turismo de excentricidades Turismo de golfe Turismo de interesse especial (feito em áreas protegidas, como parques e reservas naturais) Turismo de jogos ou de cassinos Turismo de lazer Turismo de eventos Turismo de negócios ou Viagens coorporativas (aquelas feitas por empresários e funcionários de empresas por motivos profissionais, cuja despesa é paga pela própria empresa da qual faz parte o funcionário) Turismo de incentivos Turismo cultural Turismo de experiência Turismo patrimonial (feito em lugares com patrimônio histórico de reconhecida importância) Turismo arqueológico Turismo científico Turismo de estudos ou estudantil (feito por estudantes que buscam lugares para participar de cursos diversos) Turismo de intercâmbio Turismo pedagógico (turismo de estudo organizado pela escola) Turismo educacional ou educativo (durante o turismo, busca-se a aprendizagem de um determinado tema) Turismo ortonitológico (feito por pessoas que querem estudar a avifauna do destino – também conhecidos como bird watchers) Turismo de raízes ou genealógico (visita a lugares de origem dos antepassados ou em busca de compreender a origem dos sobrenomes) Turismo esotérico, Esoturismo Turismo místico (desejo de visitar lugares relacionados com o oculto, com o sobrenatural, com o desconhecido ou fantasmagórico) Turismo Cemiterial (Visitar lugares onde famosos e

Page 81: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

80

Bases e variáveis da segmentação Segmentos e nichos possíveis do turismo

personalidades estão enterrados ou morrem, conhecer estórias populares, admirar arquitetura de túmulos e mausoléus) Turismo Negro ou Turismo com motivação mórbida (visita a lugares relacionados à morte e a desastres) Turismo étnico Turismo folclórico e artesanal Turismo histórico Turismo linguístico (a viagem ocorre para o exterior para a aprendizagem de idiomas) Turismo literário (busca por lugares que se tornaram famosos, devido o fato de serem descritos em obras literárias mundialmente conhecidas, ou lugares em que foram gestadas obras de reconhecido valor literário) Turismo biográfico (Conhecer lugares que fizeram parte da vida de personalidades: locais onde moraram, por onde passaram, quais os lugares que mais gostavam, etc) Turismo religioso Turismo de pesca Turismo de recreação e entretenimento Turismo de repouso (feito por pessoas que querem descansar e repousar) Turismo de ruínas ou de guerra (feito em áreas que, no passado, foram palco de guerras) Turismo espacial Turismo esportivo Turismo étnico-histórico-familiar Turismo filantrópico (feito por aqueles que desejam ajudar pessoas em necessidade seja por catástrofes naturais, como terremotos, maremotos e tsunamis, seja por questões sociais, como campo de refugiados, guerras, problemas políticos etc.) Turismo gastronômico Turismo hedonista Turismo industrial (feito em áreas industriais para se conhecer o processo de produção de um determinado produto e a tecnologia utilizada nessa produção) Turismo insular (feito em ilhas) Turismo para deficientes físicos Turismo residencial

Page 82: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

81

Bases e variáveis da segmentação Segmentos e nichos possíveis do turismo

(feito por famílias ou grupos que se hospedam em casa alugadas. Não confundir com segunda residência) Turismo romântico Turismo sociofamiliar Turismo surpresa Turismo temático Turismo virtual (viagem sem deslocamento geográfico. Pode ser feito em casa, desde que haja um computador conectado à internet) Turismo náutico Turismo de compras Turismo sexual Turismo LGBTS Astroturismo (Observatórios astronômicos como opções de lazer e turismo ou locais onde é possível observar luzes estrelares de um céu noturno límpido) Turismo em favelas Turismo em plataformas de petróleo Turismo em parques temáticos Turismo de concursos públicos (vertente foco deste estudo)

Fonte: Compilação de inúmeras fontes, sites e resultado das experiências de Lohmann e Panosso Netto (2012), com adaptações/contribuições do autor (2015).

Esta lista extensa de segmentos e de nichos expressa que o mercado do

turismo está se especializando cada vez mais. Lohmann e Panosso Netto (2012)

pontuam que esse fenômeno crescente de hipersegmentação é reflexo de uma nova

lógica mundial, em que as pessoas passam, a cada vez mais, pelo e no turismo a

satisfazer necessidades, desejos, vontades, sonhos idiossincráticos, que não são

possíveis de serem concretizados no cotidiano. A título de exemplo, tem-se as

viagens que têm como motivação a realização de concursos públicos no Brasil, foco

deste trabalho, em que concurseiros viajam o país inteiro atrás de vagas em cargos

públicos almejando a realização de um sonho, um desejo ou vontade.

Lohmann e Panosso Netto (2012) explicam que há a possibilidade de

aumentar essa lista, pois, novas vertentes do mercado turístico podem surgir todos

dos dias, pois, há segmentos que se dividem e tornam-se nichos, outros se fundem

e geram um novo segmento. Para além disso, Dencker (1998) sinaliza para o fato de

que a segmentação (nichos e segmentos) se transforma repentinamente, sendo esta

Page 83: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

82

condicionada, nomeadamente, às mudanças socioculturais das sociedades e às

ações da natureza.

No Brasil, dada a pluralidade cultural e a sociobiodiversidade existente, o

Ministério do Turismo (MTUR) tem buscado na segmentação, da demanda e da

oferta, a organização e o desenvolvimento do setor turístico no país, ao passo da

segmentação ser por ele compreendida como “uma forma de organizar o turismo

para fins de planejamento, de gestão e de mercado. Os segmentos turísticos podem

ser estabelecidos a partir dos elementos de identidade da oferta e também das

características e das variáveis da demanda” (BRASIL, 2006, p. 3). Assim, desde

2006, o Mtur tem criado frentes de trabalho baseando em doze segmentos

considerados prioritários, tendo em vista às suas potencialidades no país – Turismo

Social; Ecoturismo; Turismo Cultural; Turismo de Estudos e Intercâmbio; Turismo de

Esportes; Turismo de Pesca; Turismo Náutico; Turismo de Aventura; Turismo de Sol

e Praia; Turismo de Negócios e Eventos; Turismo Rural e Turismo de Saúde.

Page 84: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

83

5 UM PASSEIO NO MUNDO DOS CONCURSOS PÚBLICOS

Os cargos públicos no Brasil têm despontado como o emprego dos sonhos,

sendo o longo e árduo caminho de seu alcance metaforizado em expressões e

sentimentos como: foco, força, preparação, estudo, dedicação, cansaço, histeria,

desistências, bem como contínuas tentativas de fuga da iniciativa privada, dos níveis

de desemprego e das crises que têm assolado o Brasil e o mundo. Essas fugas

veem/têm como refúgio a estabilidade financeira, a segurança econômica e social e

os demais benefícios inerentes aos cargos públicos, ofertados, por vezes, em outros

municípios ou estados.

Em mais uma parada nesta viagem pelo universo do turismo, chega-se aos

concursos públicos, o mundo que permeia e condiciona o objeto de pesquisa deste

trabalho: as viagens motivadas à realização de certames. E, a fim de construir

conhecimentos e análises a respeito desse sistema de seleção de servidores

públicos e das viagens de concurseiros pelo Brasil, neste capítulo, serão realizados

passeios por esse mundo. A primeira parada é na sua história, onde serão

conhecidos os diferentes meios de seleção de pessoal que antecederam, originaram

no mesmo período ou ainda posteriormente aos concursos públicos. Mais a frente,

serão abordadas as definições, os princípios, as regras e as exceções que os

caracterizam e os legitimam. Posteriormente, serão visitados os atos administrativos

que garantem a sua funcionalidade. E, na última parada, será ilustrado o seu

panorama no Brasil.

5.1 A história dos concursos públicos

Na trajetória histórica da seleção de funcionários públicos no mundo, nota-se

que vários, e diferentes, foram os meios, os sistemas e/ou as metodologias

adotadas. Cretella Júnior (2002) disserta que, em diversas sociedades humanas,

destacaram-se pelo menos sete formas de seleção de servidores públicos: sorteio,

compra e venda, herança, arrendamento, nomeação, eleição e concurso público. É

conivente, contudo, antes de se adentrar no bojo das discussões acerca dos

concursos públicos, compreender estas modalidades de seleção de servidores – que

precederam, originaram-se em paralelo e/ou sucederam os concursos públicos –,

Page 85: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

84

pois elas, provavelmente, têm contributos ao que se compreende enquanto concurso

público na contemporaneidade.

Partindo dessa perspectiva, o sorteio – utilizado por algumas sociedades na

Antiguidade Clássica e na Idade Média – muito diferente do que teórica e

logicamente se possa pressupor, não era considerado um processo em que a sorte

era decisória, acreditava-se que se tratava de um processo de inspiração divina

(CRETELLA JÚNIOR, 2002). Essa tipologia de seleção era realizada de duas

maneiras: simples e puro ou condicionada – a primeira forma, segundo Fiuza (2015),

era realizada com qualquer pessoa. Aglantzakis (2003) e Cretella Júnior (2002),

contudo, assinalam que o sorteio mesmo na forma simples, era realizado mediante

processos seletivos anteriores; a segunda forma de sorteio era realizada apenas

com aqueles que fossem possuidores de certas características (habilidades e

competências). Pressupõe-se que tais determinantes exigidas na forma

condicionada tivessem correlações com as atribuições a serem desempenhadas nos

cargos.

Instituído durante a Idade Média, na França, o sistema de compra e venda de

cargos públicos se estabelecia em face do serviço público ser um sistema comercial

controlado por aqueles que possuíam maior poder aquisitivo. Dessa maneira, nessa

época, para possuir um cargo público, comprava-o ou este era transmitido por

hereditariedade, por herança (AGLANTZAKIS, 2003; CRETELLA JÚNIOR, 2002;

MACHADO JÚNIOR, 2008). Márcio Maia e Ronaldo Queiroz (2007) e Fiuza (2015)

sinalizam que a prática da hereditariedade dos cargos nem sempre se perpetuava,

tendo em vista o fato de que o cargo público concedido ao(a) herdeiro(a) nem

sempre era de seu interesse. Desse fato, a função pública era colocada, por vezes,

à disposição do sistema de compra e venda pelo herdeiro.

Outra forma de ocupação dos cargos públicos identificada por Cretella Júnior

(2002) foi o arrendamento. De origem feudal, estabelecia-se mediante o aluguel de

cargos do Estado a terceiros, com prazos e quantias ou interesses previamente

determinados (AGLANTZAKIS, 2003). A nomeação ou a livre nomeação, por outro

lado, consistia na escolha ou na indicação de determinada pessoa para a investidura

de cargo público. Ela poderia ser relativa ou absoluta: esta “forma de designação

para o cargo público efetuado por um só indivíduo, sem a interferência de qualquer

poder”; aquela “perfaz‐se em ato administrativo complexo, onde o ato para se tornar

perfeito e acabado necessita da manifestação de vontade de um poder sob a

Page 86: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

85

aprovação de outro poder” (AGLANTZAKIS, 2003, s. p.). Isto é, o cargo público era

concedido por uma autoridade do Estado que não estivesse sob as ordens de outro

poder.

A eleição foi, e ainda é, outro usual sistema de seleção de servidores

públicos. Esse consiste na preferência de uma maioria, por meio do voto, para que

um indivíduo ocupe determinado cargo público. Igualmente a eleição, o concurso

público foi, ao longo da história, uma das formas de seleção de servidores públicos

mais utilizadas em diversas sociedades, em face do seu caráter igualitário, moral e

justo (AGLANTZAKIS, 2003; CRETELLA JÚNIOR, 2002; MACHADO JÚNIOR,

2008). Originário na China Antiga, por volta de 221 a. C., o concurso público surge

durante o período histórico que marcou a formação do grande Império Chinês.

Nesse período, o surgimento, a estruturação e as manutenções necessárias no

Império demandaram a contratação de pessoal. Dessa forma, por meio de

concursos públicos, as primeiras seleções buscaram selecionar os candidatos mais

aptos para exercer funções públicas para atender necessidades do Império (FIUZA,

2015).

Inicialmente, as seleções baseavam-se apenas em avaliações da condição

física dos candidatos. Rocha (2006 apud FIUZA, 2015) conta que por volta de 2.300

a. C. e 150 a. C., oficiais do Império passavam por avaliações físicas a cada triênio.

Tais avaliações eram realizadas com o objetivo de observar se os oficiais possuíam

ou não condições para continuar exercendo suas funções com eficiência – caso o

desempenho do oficial fosse insatisfatório, esse era dispensado, mas, se o

desempenho fosse satisfatório ele, geralmente, era promovido. Já os testes que

mediam a inteligência, as capacidades intelectuais enquanto sistema de seleção de

funcionários do Estado, somente surgiram entre 202 a. C. a 200 d. C, na Dinastia

Han, influenciados pela filosofia do Confucionismo.

Criada pelo filósofo Confúcio, essa filosofia pregava que o respeito e o amor

ao próximo deveriam ser características fundamentais do homem, do mesmo modo

que a discrição, a moderação e a prudência – de tal maneira que os excessos,

mesmo quando tidos como virtudes, eram reprováveis (FIUZA, 2015). Embasada

pela doutrina Confucionista, na Disnatia Han, surgiu uma classe dominante formada

por intelectuais, que se aperfeiçoava à medida que se preparava para as seleções

das funções públicas do Império. Nesse fluxo, a Administração Pública Imperial, em

consonância com Gernet (2002 aoud FIUZA, 2015), foi se constituindo por pessoas

Page 87: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

86

que possuíam vastos conhecimentos acerca da escrita chinesa e das atribuições

dos cargos a que concorriam, essas eram conhecidas como Mandarins.

Entre 581 d. C. a 618 d. C., na Dinastia SuI, a importância dos estudos na

preparação para o concurso público já se fazia presente. De modo que, nessa

época, foram criadas escolas e provas com a finalidade de preparação para os

concursos públicos. Sob esta perspectiva, Gernet (2002 apud FIUZA, 2015) pontua

que os aprovados nos concursos normalmente eram os que tinham formação por

essas escolas. Supõe-se que tais escolas e provas especificas representam um

estágio inicial dos “cursinhos preparatórios” e dos simulados dos dias atuais.

Durante a Dinastia Tang, de 618 d. C. a 907 d. C., o concurso público sofreu

transformações substanciais em sua organização e aplicabilidade. Consoante aos

princípios da filosofia Confucionista, o Império Chinês aplicou medidas de

reorganização na Administração Pública – criação de bibliotecas, reformas nas

funções e atribuições públicas, por exemplo – visando aperfeiçoar e universalizar o

serviço público na China Antiga. Em meio a essas novas dinâmicas, a criação do

Ministério de Ritos merece destaque, pois, ao elaborar, organizar e aplicar exames

escritos e orais, de acordo com as diferentes áreas do conhecimento, com o objetivo

de definir nomeações efetivas às funções públicas, corroborou para a melhoria do

concurso público enquanto sistema de seleção de servidores (GERNET, 2002 apud

FIUZA, 2015).

No período que compreendeu 1.368 d. C. e 1.644 d. C., na Dinastia Ming, o

qual a marinha e o exército chinês se consolidaram, Gernet (2002 apud FIUZA,

2015) sinaliza que os aprovados nos concursos públicos recebiam títulos, uma

espécie de diploma universitário pela conquista alcançada. Os postulados de Fiuza

(2015, p. 72) a respeito da genealogia e da evolução do concurso público na

civilização chinesa, sinalizam que dentre outros avanços houve: a “tentativa de

recrutar um corpo de servidores de elite para o governo”; “os funcionários passaram

a ser escolhidos em processo seletivo por mérito” e “a seleção não era definida

somente pela sua origem ou classe social, mas pela sua inteligência”. Contudo, na

Dinastia Ming, foi possível identificar várias formas de tentar burlar a legitimidade

dos concursos, com vistas a conquistar ganhos pessoais (ROCHA, 2006 apud

FIUZA, 2015). Desse modo, observa-se que alguns escândalos que envolvem

fraudes em concursos públicos atualmente, com interesses puramente pessoais,

Page 88: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

87

ocorrem desde a civilização chinesa – claro, não se pode afirmar que da mesma

maneira, mas sim com fins/objetivos análogos.

Inobstante às possibilidades de sofrer fraudes, o concurso público surgido na

China Antiga se espalhou pelo mundo como uma das melhores formas de seleção

de servidores públicos, tendo sofrido, evidentemente, algumas transformações que

se fizeram necessárias em face das diferentes questões, sobretudo, socioculturais

que mediaram (e mediam) as diferentes sociedades. Rocha (2006), citado por Fiuza

(2015), disserta que o sistema de seleção por concursos públicos foi adotado pelos

europeus durante o contato com os chineses no período em que ocorriam as

cruzadas. Fascinados com a objetividade, a igualdade de acesso e a eficácia dos

concursos públicos em selecionar os mais aptos a exercer os cargos, os europeus

passaram a empregar tal metodologia de seleção, inclusive para cargos civis

considerados de maior relevância, sobretudo no contexto dos Estados-Nação.

No ocidente, o concurso público teria, em consonância com Cretella Júnior

(2002, p. 461), instituído-se “na França, a partir de Napoleão, depois de renhidas

lutas contra seus opositores, beneficiados por outros sistemas [de seleção de

pessoal]”. Percebe-se, portanto, que o concurso público surge e se desenvolve em

virtude da utilização de outros mecanismos de seleção que não ofereciam igualdade

no acesso aos cargos públicos e que, notadamente, favoreciam os mais ricos para a

investidura das funções públicas.

Aglantzakis (2003), nesse contexto, traça uma interessante linha (histórica) de

pensamento: a de que o surgimento e o desenvolvimento do concurso público, no

ocidente, é equivalente à origem do Estado de Direito. O autor em tela, com base

nos apontamento de Celson Bastos (1994), ressalta que esta conclusão advém de

uma viagem na história da gênese do Estado, em que:

[...] o primeiro período de vida da organização estatal apresentava como característica fundamental a concentração do poder nas mãos do monarca, era o chamado “Estado de Polícia ou Absoluto”. Nesse período não existia a carreira administrativa, nem garantias constituídas em favor daqueles que desempenhavam a função pública, cuja nomeação, permanência e dispensa dependiam exclusivamente da vontade do monarca. A função pública [...] Era exercida por pessoas presas por laços de fidelidade muito forte ao monarca. De outra parte, os agentes exerciam suas funções de maneira ilimitada, o que acabava por fazer deles verdadeiros proprietários do cargo que ocupavam e do qual podiam usufruir livremente. Ao Estado de Polícia, Celso Bastos (1994) diz que sucedeu o Estado de Direito, que se caracteriza como o nome evidencia, pelo fato de submeter‐se ao direito, entendido como

Page 89: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

88

algo acima de governantes e governados. Essa evolução, que se deu muito lentamente durante o século XIX, esboça o que hoje constitui a carreira administrativa. Nesse processo reconheceram‐se certos direitos, próprios dos agentes

públicos, assim como se delineou o sistema disciplinar a que deveriam submeter‐se”. (CELSO BASTOS, 1994 apud

AGLANTZAKIS, 2003, s. p.).

O referido sistema, portanto, traz envergadura a inúmeros princípios; dentre os quais

o da legalidade, que, por sua vez, passou a legitimar “o que o Estado pode fazer e o

que lhe é vedado praticar” (AGLANTZAKIS, 2003, s. p.). Nesse panorama, surge,

então, o concurso público enquanto um procedimento de caráter administrativo

envolvido, nomeadamente, pelo principio da legalidade

No Brasil, a contratação de pessoal pode ser visualizada ainda no Brasil-

Colônia, momento em que as investiduras dos cargos, que compunham a

monarquia, eram realizadas pelo Rei de Portugal consoante seus critérios. Um

exemplo categórico dessa metodologia de nomeação de servidores se dá com o

advento da criação das Capitanias Hereditárias, em que D. João III nomeia pessoas

que pudessem explorar as terras e impedir e/ou dificultar invasões de outras nações

(SOUSA, 2011). Entretanto, o que de fato institui e traz avanços significativos para

compreensão do que os concursos públicos representam na atualidade, foram as

constituições brasileiras. De modo particular, cada constituição estabeleceu

diretrizes em direção à legitimidade do concurso público: seja plantando sementes,

seja contribuindo de forma efetiva e substancial nos avanços, como apontadas no

quadro 6.

Page 90: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

89

Quadro 6 – O Concurso Público na evolução das constituições brasileiras

Constituição Imperial de 1824

Não tratou sobre o tema concurso público

Porém, seu artigo 179, XIV, estabeleceu que “todo cidadão pode ser admitido aos Cargos

Públicos Civis, Políticos ou Militares, sem outra diferença, que não seja a dos seus talentos, e

virtudes”.

Constituição de 1891

Também não previu em seus artigos nenhuma disposição acerca de concurso público;

Entrementes, o seu artigo 73, que dispôs: “os cargos públicos civis ou militares são acessíveis a

todos os brasileiros, observadas as condições de capacidade especial que a lei estatuir”.

No artigo 79 havia proibição de acumulação de cargos públicos entre Poderes distintos e eram

vedadas cumulações remuneradas.

Constituição de 1934

Foi a primeira constituição brasileira a dispor sobre a previsão da acessibilidade dos cargos

públicos por meio de concurso público;

Os seus artigos 168 e 170, rezavam em síntese que “sem distinção de sexo ou estado civil,

observadas as condições que a lei estatuir” ;

O concurso público “a primeira investidura nos postos de carreira das repartições administrativas,

e nos demais que a lei determinar[...]”.

Foi possível nessa Carta: Apenas Concurso aberto ao público na primeira investidura; a

possibilidade de concurso interno; liberdade ao legislativo na escolha de quais cargos de carreira

poderia haver concurso; estabilidade do servidor

proibição de acumulação remunerada de cargos públicos, sejam eles ocupados na União, nos

Estados ou Municípios.

Constituições de 1937, 1946 e 1967

A Constituições de 1937 praticamente acolheu a redação da Constituição de 1934;

Na Constituição de 46 ficou vedada a estabilidade aos cargos de confiança, e aos ocupantes de

cargos que a lei declarasse de livre nomeação e exoneração;

Já a constituição de 1967 estabeleceu, em seu artigo 95, que “ a nomeação para cargo público de

provas ou de provas e títulos exige aprovação prévia em concurso público”. No artigo 95,

prescreve, ainda, que “prescinde de concurso a nomeação para cargos em comissão, declarados

em lei, de livre nomeação e exoneração”;

Até essas Constituição não se exigia concurso público para admissão nos empregos públicos e

nem nas funções técnicas ou científicas, e os servidores celetistas não tinham direito à

estabilidade.

Constituição de 1988

A Constituição da República Federativa do Brasil, de 5 de outubro de 1988, foi a que trouxe mais

inovações

Essa Constituição passou a exigir o concurso público de provas ou de provas e títulos para o

ingresso nos cargos e nos empregos públicos, com algumas exceções;

Fonte: Elaboração do autor (2015) a partir de Aglantzakis (2003) e Sousa (2011).

Page 91: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

90

Carvalho (2014) afirma que a Carta Magna rege e é detalhada em/por

legislações específicas da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios,

a exemplo: a Lei nº 8.112, de 11 de dezembro de 1990 – que “dispõe sobre o regime

jurídico dos servidores públicos civis da União, das autarquias e das fundações

públicas federais” (BRASIL, 1990, s. p.) – e o Decreto nº 6.944, de 21 de agosto de

2009 – que “Estabelece medidas organizacionais para o aprimoramento da

administração pública federal direta, autárquica e fundacional”, bem como, “dispõe

sobre normas gerais relativas a concursos públicos, organiza sob a forma de

sistema as atividades de organização e inovação institucional do Governo Federal” e

compreende outras questões (BRASIL, 2009, s.p.).

Com os avanços constitucionais e legislativos, a instituição do concurso

público passa a representar, segundo Aglantzakis (2003, s. p.), “uma reação contra

a hereditariedade e venalidade dos cargos públicos e da afirmação do princípio de

acesso aos cargos públicos segundo a capacidade dos indivíduos e sem outra

distinção que não fossem as virtudes e talentos do indivíduo”. Carvalho (2014, p. 89)

reitera essa concepção ao sublinhar que “tal instrumento viabiliza a contratação, de

maneira impessoal e sem favoritismo, ou intuito meramente lucrativo, dos indivíduos

mais capacitados para o exercício dos misteres estatais”. O autor retrocitado

visualiza, ainda, o concurso público como:

[...] o único método seletivo que se coaduna com critérios de jaez científico, ao passo que é o menos sujeito aos inconvenientes que maculam os demais, como, por exemplo, a aleatoriedade do sorteio, a comercialidade da compra e venda e do arrendamento de cargos públicos e a discricionariedade da livre nomeação (CARVALHO, 2014, p. 89).

Portanto, o concurso, à vista dos avanços em direção à sua legitimidade,

estabelecidos com as constituições, foi sendo percebido, pelo Estado, enquanto um

mecanismo que – por meio de procedimentos de avaliação igualitária, moral, justa e

democrática das habilidades e competências dos candidatos – melhor cumpre

princípios e direitos constitucionais ao abarcar, sobretudo, o interesse da

coletividade. Todavia, Carvalho (2014) pondera que esse também é passível de

vícios, de irregularidades e/ou de fraudes.

Os cargos públicos, na conjectura brasileira, dada a existência de seus

inerentes benefícios e garantias, dispostas em instrumentos normativos, são os

empregos mais concorridos. Com o assustador número de respostas corretas nas

provas, conseguir a posse de um cargo público fica a cada dia mais difícil. Por isso,

Page 92: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

91

muitos concursandos ou concurseiros têm viajado por diferentes lugares do país –

que consideram mais fáceis de garantir aprovação – para prestar concursos

públicos. Compreender como se caracterizam essas viagens no universo do turismo

e quem são esses viajantes que originaram e têm movimentado uma nova face do

mercado turístico é o objetivo desta investigação.

5.2 Definições, princípios, regras e exceções dos concursos públicos

O arcabouço teórico que depreende a conceituação de concurso público, de

acordo com Aglantzakis (2003), Fiuza (2015) e Sousa (2011), é em demasia

extenso. Embora não interexclusivas, existem diversificadas formas “de se viver,

pensar, falar sobre e planejar institucionalmente os certames” (FONTAINHA et al,

2014, p. 9). Assim, o entendimento de concurso público encontra-se margeado e

entrelaçado por alguns embates ora teóricos, ora doutrinários.

Dentre tais dissensos, Aglantzakis (2003) e Carvalho (2014) chamam atenção

para o concernente à natureza jurídica dos concursos públicos; que se vê entre a

compreensão desses enquanto um procedimento administrativo e a que os visualiza

como um processo administrativo. Essa última, contudo, é mais aceita entre os

estudiosos, ao passo que não considera concurso público como apenas um

procedimento/ato administrativo, mas o compreende, de maneira inteligente, a partir

de sua dinâmica complexa, lógica e sistemática de diferentes atos, que convergem

em direção à materialização do certame (CARVALHO, 2014).

No tocante às diferentes definições acerca do concurso público, Aglantzakis

(2003), Carvalho (2014), Fiuza (2015) e Sousa (2011), em seus trabalhos,

apoderam-se de conceitos considerados os mais usuais para realizarem suas

análises. Carvalho (2014, p. 89), em uma perspectiva mais geral, comenta que o

concurso público consiste num:

[...] processo administrativo destinado a aquilatar as capacidades dos indivíduos interessados em ocupar cargos na estrutura funcional da Administração Pública, que, por impostergável necessidade de aparelhar seu quadro de pessoal, seleciona os candidatos que demonstrarem maiores aptidões ao exercício do ofício estatal por meio do aludido crivo seletivo. Trate-se, pois, de técnica democrática de perfil moralizador colocada à disposição do Poder Público para conferir maior eficiência e impessoalidade à sua própria atuação.

Page 93: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

92

Aglantzakis (2003, s. p.), de sua vez, cita a definição de Sousa (2000), que atenta

para uma coexistência de sentidos na efetivação dos concursos públicos, o objetivo

e o subjetivo: esse primeiro é representado pelo Poder Público, denotando que os

concursos são/devem ser planejados e executados por entidades não privadas nem

pessoas físicas, mas sim públicas/estatais; o último direciona-se à coletividade, “a

todos aqueles que preencham, naquilo que nos interessa, os requisitos inerentes

aos cargos, aos empregos ou às funções públicas” (SOUSA, 2000 apud Aglantzakis,

2003, s. p.) que almejam tomar posse.

Sob um prisma mais técnico, Gasparini (2010), citado por Fiuza (2015),

percebe o concurso público a partir de uma lógica metódica de atos administrativos

interconectados, norteados por predeterminada cronologia, à serviço da

Administração e do interesse público para selecionar candidatos aos cargos

públicos. Nessa mesma linha de pensamento, Madeira (2009), citado por Sousa

(2011), complementa dizendo que, tal dinâmica de procedimentos administrativos

tem como objetivo avaliar aptidões, ou ainda, habilidades e competências daqueles

que se candidatam aos cargos.

Maia e Queiroz (2007) dividem esse conjunto de atos, em internos e externos.

Os internos compreendem as etapas de “abertura de vagas para o serviço púbico,

na viabilidade orçamentária do órgão, na autorização para a realização do processo

seletivo, no estabelecimento das regras do certame, na escolha da banca

examinadora e na elaboração do edital”. Os externos, por sua vez, figuram “a

publicação do edital, as inscrições dos candidatos, a execução das provas, a

divulgação dos gabaritos, os recursos, a publicidade dos resultados, a homologação,

a convocação e a posse”, ou seja, os atos mais próximos dos candidatos.

Rocha (1999 apud SOUSA, 2011, p. 40-41) chama atenção para a

perspectiva do concurso público, para além da contratação de pessoal da máquina

pública, no âmbito da meritocracia, visto que este é um “processo administrativo pelo

qual se avalia o merecimento de candidatos à investidura em cargo ou emprego

público, considerando-se as suas características e a qualidade das funções que lhes

são inerentes”. Nesse caminho, Alves (2013) e Carvalho Filho (2012) entendem o

concurso público como a principal ferramenta de incremento da meritocracia na

sociedade brasileira, dada as oportunidades de igualdade e de isonomias conferidas

àqueles que participam dos certames. Demais, esse modelo de seleção de pessoal,

Page 94: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

93

como se pode ver a seguir, é revestido por princípios constitucionais (e

infraconstitucionais) que garantem, entre outras questões:

[...] que todos podem participar nas mesmas condições [dos concursos], permitindo que sejam escolhidos realmente os melhores candidatos. Baseia‐se o concurso público em três postulados fundamentais. O primeiro

é o princípio da igualdade, pelo qual se permite que todos os interessados em ingressar no serviço público disputem a vaga em condições idênticas para todos. Depois, o princípio da moralidade administrativa, indicativo de que o concurso veda favorecimentos e perseguições pessoais, bem como situações de nepotismo, em ordem a demonstrar que o real escopo da Administração é o de selecionar os melhores candidatos. Por fim, o princípio da competição, que significa que os candidatos participem de um certame, procurando alçar‐se à classificação que os coloque em condições de

ingressar no serviço público (CAETANO, 1973 apud CARVALHO FILHO, 2012, p. 563).

O concurso público, enquanto uma seleção de cargos públicos concorrida, precisa

estar envolto aos princípios26, sejam os constitucionais, sejam os

infraconstitucionais, sejam as demais normas que o legitimam, a fim de garantir

oportunidades de acesso igualitárias e, em especial, justas a todo e qualquer

brasileiro ou estrangeiro, salvo as exceções, de acordo com a lei.

Nessa levada, mesmo tendo ciência da existência de diversos, e importantes,

outros princípios, será dada prioridade à discussão de princípios constitucionais e

infraconstitucionais de caráter universal, que regem e legitimam a Administração

Pública, e, notadamente, o instituto do concurso público, assim como, os princípios

específicos que o abrangem. Logo, tratam-se de princípios mais recorrentes durante

o caminhar dos concursos. Essas doutrinas, por vezes, presentes nos conteúdos

programáticos, podem influenciar a participação de candidatos, tendo em vista que

alguns editais têm imposto requisitos como idade, sexo e altura (ALVES, 2013), que,

por conseguinte, irão afetar as viagens de concurseiros.

Sob a ótica dos princípios (infra)constitucionais, todo concurso público – em

consonância com o artigo 37 da Constituição Federal de 1988 e o artigo 2º da Lei nº

9.784/99 – precisa estar regulado pelos princípios de: legalidade, impessoalidade,

moralidade, publicidade e eficiência (BRASIL, 1988); e finalidade, motivação,

26

Fiuza (2015, p. 29-30), ao citar Mello (2004), explana que os “princípios são proposições que servem de base para toda a estrutura da ciência jurídica, revestindo-se de grande importância para informar normas, inspirar direta ou indiretamente uma série de soluções, resolver casos não previstos, promover e embasar a aprovação de novas normas e orientar a interpretação das existentes”. Em resumo, “São regras fundamentais das quais orientam todo o ordenamento jurídico”. Por este motivo, o seguimento de suas proposições é obrigatório, do contrário estará-se-a diante de um descumprimento “muito mais grave do que a transgressão de uma norma, significa a violação de todo o sistema de comandos”.

Page 95: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

94

razoabilidade, proporcionalidade, ampla defesa, contraditório, segurança jurídica e

interesse público, respectivamente (BRASIL, 1999). Quanto aos princípios

específicos que recaem sobre os concursos, Maia e Queiroz (2007) sumarizam: a

obrigatoriedade, a vinculação ao edital, a competitividade, a seletividade e o

proibitivo da quebra da ordem de classificação. Ainda que tais princípios, por vezes,

divirjam ou se oponham, esses não se cancelam. Quando há conflitos, a análise

pauta-se na ponderação de interesses ou valores e, principalmente, procura

visualizar qual principio está mais envolvido na questão, ou seja, qual o critério que

mais predomina no caso (CARVALHO FILHO, 2012; FIUZA, 2015).

No universo constitucional e jurídico que condiciona, rege e permeia os

concursos públicos, têm-se, para além dos princípios referenciados, normas gerais e

específicas que regularizam e guiam o seu funcionamento. Essas regras estão

dispostas desde a Declaração Universal dos Direitos Humanos até leis e decretos da

União, dos Estados, do Distrito Federal e Municípios. No artigo 21 da Declaração

Universal dos Direitos Humanos (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, 1948),

por exemplo, está firmado que “Toda a pessoa tem o direito de acesso, em

condições de igualdade, às funções públicas do seu país”. O artigo 37 da

Constituição Federal, por sua vez, entre outras providências, garante que:

I - os cargos, empregos e funções públicas são acessíveis aos brasileiros que preencham os requisitos estabelecidos em lei, assim como aos estrangeiros, na forma da lei; II - a investidura em cargo ou emprego público depende de aprovação prévia em concurso público de provas ou de provas e títulos, de acordo com a natureza e a complexidade do cargo ou emprego, na forma prevista em lei, ressalvadas as nomeações para cargo em comissão declarado em lei de livre nomeação e exoneração. III - o prazo de validade do concurso público será de até dois anos, prorrogável uma vez, por igual período; IV - durante o prazo improrrogável previsto no edital de convocação, aquele aprovado em concurso público de provas ou de provas e títulos será convocado com prioridade sobre novos concursados para assumir cargo ou emprego, na carreira; [...] VIII - a lei reservará percentual dos cargos e empregos públicos para as pessoas portadoras de deficiência e definirá os critérios de sua admissão; (BRASIL, 1988, s.p.).

Desse modo, tanto a Declaração Universal quanto o artigo 37 da Constituição

Federal de 1988 determinam que todo e qualquer brasileiro(a), do mesmo modo que

estrangeiros, que preencham determinados requisitos estabelecidos em lei, podem

exercer funções, empregos ou cargos públicos. O art. 37, porém, estabelece que o

acesso a cargos públicos se efetivará mediante realização de provas e de provas de

Page 96: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

95

títulos e aprovação em concurso público, salvo as exceções. Todo concurso pode ter

validade de até dois anos, podendo ser postergado por igual período, uma única

vez. Nesse sentido, todo aprovado em concurso público, que tenha prazo

improrrogável, deverá ser convocado. Além disso, o referido artigo trata da reserva

de vagas a pessoas com necessidades especiais (BRASIL, 1988).

Já a lei nº 8.112, de 11 de dezembro de 1990, que trata do regime jurídico dos

servidores públicos civis da União, das autarquias e das fundações públicas

federais, elenca em seu artigo 5º os requisitos básicos para a posse no serviço

público:

I - a nacionalidade brasileira; II - o gozo dos direitos políticos; III - a quitação com as obrigações militares e eleitorais; IV - o nível de escolaridade exigido para o exercício do cargo; V - a idade mínima de dezoito anos; VI - aptidão física e mental. § 1

o As atribuições do cargo podem justificar a exigência de outros

requisitos estabelecidos em lei. § 2

o Às pessoas portadoras de deficiência é assegurado o direito de se

inscrever em concurso público para provimento de cargo cujas atribuições sejam compatíveis com a deficiência de que são portadoras; para tais pessoas serão reservadas até 20% (vinte por cento) das vagas oferecidas no concurso. § 3

o As universidades e instituições de pesquisa científica e tecnológica

federais poderão prover seus cargos com professores, técnicos e cientistas estrangeiros, de acordo com as normas e os procedimentos desta Lei. (Incluído pela Lei nº 9.515, de 20.11.97) (BRASIL, 1990, 1997a, s.p.).

Essa norma acentua, dessa maneira, que existem critérios imprescindíveis para a

investidura de cargos que assim demandem. Do mesmo modo que a Constituição

Federal de 1988, o parágrafo 2º menciona a reserva de vagas a pessoas com

necessidades especiais, contudo, sublinha que as atribuições precisam ser

desempenhadas sem nenhum entrave causado pela deficiência, isto é, o trabalho

deve ser compatível com as limitações físicas de que o servidor é portador. Aliado a

isso, ela determina que a esses candidatos sejam reservadas até 20% do total de

vagas ofertas.

Os artigos 6º, 7º e 8º garantem que nos concursos, respectivamente: “O

provimento dos cargos públicos far-se-á mediante ato da autoridade competente de

cada Poder” e “A investidura em cargo público ocorrerá com a posse”, bem como

explicitam as formas de provimento de cargos públicos, a saber: “I - nomeação; II -

promoção; V - readaptação; VI - reversão; VII - aproveitamento; VIII - reintegração e

IX - recondução". No caput do artigo 11, tem-se a exigência de provas ou provas e

Page 97: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

96

títulos nos concursos públicos, sendo “condicionada a inscrição do candidato ao

pagamento do valor fixado no edital, quando indispensável ao seu custeio, e

ressalvadas as hipóteses de isenção nele expressamente previstas. (Redação dada

pela Lei nº 9.527, de 10.12.97)” (BRASIL, 1990, 1997b, s. p.), trazendo, assim, um

maior detalhamento acerca dos procedimentos normativos a serem adotados em

concursos públicos.

E, no artigo 12, trata-se da validade do concurso público, igualmente

expressado no inciso III, do artigo 37, da Constituição Federal de 1988 – de dois

anos, com prorrogação de igual período – com a complementação, porém, disposta

em seus parágrafos 1º e 2º, respectivamente: “O prazo de validade do concurso e as

condições de sua realização serão fixados em edital, que será publicado no Diário

Oficial da União e em jornal diário de grande circulação” e “Não se abrirá novo

concurso enquanto houver candidato aprovado em concurso anterior com prazo de

validade não expirado” (BRASIL, 1990, s. p.). Ponderando, nesse sentido, a garantia

de que todo candidato aprovado deve ser chamado, e só após um novo concurso

poderá ser criado.

De sua vez, o Decreto nº 6.944, de 21 de agosto de 2009, estipula outro

conjunto de regras sobre o concurso público, no entanto, com as disposições que

galgam em direção ao fortalecimento da capacidade institucional. Parte-se do

princípio que esse fortalecimento somente será alçado por meio:

I - da criação e transformação de cargos e funções, ou de sua extinção, quando vagos; II - da criação, reorganização e extinção de órgãos e entidades; III - da realização de concursos públicos e provimento de cargos e empregos públicos; IV - da aprovação e revisão de estrutura regimental e de estatuto; V - do remanejamento ou redistribuição de cargos e funções públicas; e VI - da autorização para contratação temporária de excepcional interesse público, nos termos da Lei n

o 8.745, de 9 de dezembro de 1993 (BRASIL,

2009, s. p.).

Observa-se, dessa maneira, que a essencialidade do concurso público é

materializada a partir dessa norma, que visualiza esse meio de seleção enquanto

um agente de fortalecimento do Estado. Sendo primacial, para isso, a criação, a

(re)organização, a transformação, o remanejamento, a redistribuição e a extinção de

vagas, de órgãos e de entidades, assim como, a realização de novos concursos, a

contratação temporária, as revisões e as aprovações na estrutura regimental, de

forma constante, de acordo com a lei.

Page 98: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

97

O Capítulo II, do retrocitado decreto, dos artigos 10 a 19, que trata Dos

Concursos Públicos, para além de outras especificações até aqui não apresentadas,

dispõe ainda:

Art. 10. Fica delegada competência ao Ministro de Estado do Planejamento, Orçamento e Gestão para autorizar a realização de concursos públicos nos órgãos e entidades da administração pública federal direta, autárquica e fundacional e decidir sobre o provimento de cargos e empregos públicos, bem como expedir os atos complementares necessários para este fim. [...] Art. 13. O concurso público será de provas ou de provas e títulos, podendo ser realizado em duas etapas, conforme dispuser a lei ou o regulamento do respectivo plano de carreira. [...] § 4

o A realização de provas de aptidão física exige a indicação no edital

do tipo de prova, das técnicas admitidas e do desempenho mínimo para classificação. § 5

o No caso das provas de conhecimentos práticos específicos, deverá

haver indicação dos instrumentos, aparelhos ou das técnicas a serem utilizadas, bem como da metodologia de aferição para avaliação dos candidatos. [...] Art. 14. A realização de avaliação psicológica está condicionada à existência de previsão legal específica e deverá estar prevista no edital. (Redação dada pelo Decreto nº 7.308, de 2010) [...] Art. 15. O valor cobrado a título de inscrição no concurso publico será fixado em edital, levando-se em consideração os custos estimados indispensáveis para a sua realização, e ressalvadas as hipóteses de isenção nele expressamente previstas, respeitado o disposto no Decreto

no 6.593, de 2 de outubro de 2008. Art. 16. O órgão ou entidade responsável pela realização do concurso público homologará e publicará no Diário Oficial da União a relação dos candidatos aprovados no certame, classificados de acordo com Anexo II deste Decreto, por ordem de classificação (BRASIL, 2009, 2010c, s. p.).

Assim, visualiza-se que esses artigos trazem com maior clareza e profundidade uma

gama complexa de regras que transversalizam os concursos públicos, enquanto

processo administrativo. Notou-se, ainda, que as diferentes normas aqui expressas,

em escalas variadas, complementam-se, sendo, em verdade, desdobramentos uma

das outras.

Todavia, o escopo jurídico-constitucional sobre os concursos públicos é,

segundo Carvalho (2014), alvo de muitas críticas, como a de Maia e Queiroz (2007),

que aborda a ausência de pormenores nas premissas, outrora citadas, que regulam

os concursos públicos no Brasil. De acordo com Carvalho (2014, p. 90):

[...] o casuísmo da jurisprudência e a dificuldade de efetivo acesso ao Poder Judiciário demandam tal positivação para efeito de eliminação do arbítrio das bancas examinadoras, dado que a omissão estatal neste particular acaba por ensejar uma “delegação normativa” aos editais dos certames e acarreta, de conseguinte, transtornos de todas as ordens para os administrados.

Fontainha et al (2014, p. 14) reitera a crítica pontuando que:

Page 99: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

98

A carta constitucional não oferece muitos detalhes sobre uma política de seleção de pessoal à administração pública. Todavia, tal situação é bastante normal, já que o seu texto precisa ser abrangente o bastante para regular amplas áreas, e um grau majorado de detalhe não auxiliaria a efetivação da prática dos certames no âmbito da administração pública, em especial dos estados e dos municípios. A questão central é que a legislação infraconstitucional também não é pródiga na oferta de disposições referentes aos certames.

O supracitado autor pondera, ainda, que não existem premissas que normatizem,

por exemplo, os “critérios para a composição de bancas, bem como [...] a regulação

da relação entre o Estado e a entidade organizadora do certame. Não há qualquer

menção nas normas federais sobre o papel a ser desempenhado pelas entidades

promotoras” (FONTAINHA et al, 2014, p. 14). As especificações legais dos

concursos públicos, conforme Carvalho (2014) e Fontainha et al (2014), podem ser

conferidas nos editais que os acondicionam. De modo que o edital é (re)conhecido

como “a lei do concurso público”, sendo, também, um componente administrativo

comunicacional de sumária importância à coletividade no que diz respeito,

sobretudo, à divulgação, à publicidade das vagas disponíveis no serviço público.

Como anteriormente discutido, no Brasil, a contração de servidores públicos é

realizada por meio de aprovação em provas e/ou provas de títulos em livre concurso

público, visando garantir o cumprimento de princípios e de outras normas.

Entrementes, a investidura de cargos públicos possui exceções – inclusive

legitimadas pela Constituição Federal de 1988 – que emanam de

necessidades/demandas da sociedade. Desse modo, serão apresentadas a seguir

as exceções que marcam o mundo da contratação de servidores públicos, que

dispensam o concurso público como meio de ingresso ao serviço público do país.

As exceções são inerentes dos concursos públicos dada a gama de

atividades desenvolvidas pelo Poder Público. Há ocasiões, tendo em vista, que não

se pode esperar pelo tempo que demandam os tramites burocráticos sob os quais

os concursos estão revestidos, pois a Administração precisa atender, muitas vezes

de forma emergencial, o interesse e a necessidade da coletividade. Nessa esteira,

Fiuza (2015) elenca cinco exceções que fogem à regra do concurso público,

legitimadas pela Constituição Federal de 1988, sendo elas: os cargos em comissão;

o atendimento de contingências excepcionais; os cargos eletivos; a contratação dos

agentes comunitários de saúde e agentes de combate às endemias; e as

nomeações ou indicações pelos Chefes do Poder Executivo. Nessas ocasiões, o

concurso público, propriamente dito, é dispensado ou realizado de forma mais

Page 100: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

99

simplificada, mediante um processo seletivo com maior flexibilidade e menor rigor e

burocracia.

5.3 Funcionamento: os atos administrativos de um concurso público

Em alusão à definição de concurso público empregada por Gasparini (2010

apud FIUZA, 2015) e Maia e Queiroz (2007), que percebe esse a partir de uma série

ordenada e articulada de atos administrativos, condicionados à uma temporalidade,

à Administração Pública e ao interesse coletivo, com vistas à selecionar, em tese, os

mais aptos para assumir cargos no serviço público. Insta anotar que esse conjunto

de atos é dividido em duas etapas: a interna e a externa.

Na etapa interna, aquela engloba a preparação e o planejamento do certame

no âmbito da Administração, os atos administrativos correspondem: a abertura de

vagas, a viabilidade orçamentária, a autorização do processo seletivo, o

estabelecimento das regras do concurso, a escolha da banca e a elaboração do

edital. Na etapa externa, que abarca todo e qualquer ato administrativo executado

após a publicação do edital – em que a sociedade, em particular o concurseiro, toma

conhecimento das normas especificas que guiaram o concurso, bem como, é o

período em que as provas são realizadas e os resultados alcançados pelos

candidatos são conhecidos – os atos administrativos são os seguintes: Publicação

do edital; Inscrição; Execução das provas; Divulgação dos gabaritos e recursos;

Publicidade dos resultados e recursos; Homologação e Convocação dos aprovados

e posse (MAIA; QUEIROZ, 2007).

De maneira sistemática, a figura 8 representa o funcionamento do concurso

público, de acordo com os atos administrativos que o constituem. Entretanto, a fim

de explicar – ainda que sem muitos pormenores – a função de tais atos, apoiando-

se, nos postulados de Márcio Maia e Ronaldo Queiroz (2007), sobretudo, buscou-se

tratar como cada um deles funciona e qual os seus respectivos papéis para que o

concurso público aconteça sem nenhuma ilegitimidade. Nesse sentido, apresenta-se

a seguir, de maneira objetiva, os atos que integram a parte interna e a parte externa

de um concurso público.

Page 101: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

100

Figura 8 – Etapas do concurso público

Fonte: Elaboração do autor (2015) a partir de Maia e Queiroz (2007).

PARTE EXTERNA

PARTE INTERNA

CONCURSO PÚBLICO

Page 102: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

101

Inicialmente, tem-se a abertura de vagas, momento que a Administração

Pública realiza um levantamento acerca das necessidades e da importância de

selecionar ou não candidatos à investidura de cargos, sendo, então, conhecida a

demanda de vagas existente. O segundo ato administrativo, viabilidade

orçamentária, é exigência prevista ainda na Constituição Federal de 1988, nos

incisos I e II, do parágrafo 1º, do artigo 169, dispondo que a contração de novos

servidores, a concessão de vantagens e/ou aumentos na remuneração, somente

será válida se passar pela dotação e pela autorização orçamentária disposta em lei,

salvo as exceções (BRASIL, 1988; MAIA; QUEIROZ, 2007).

Após a viabilidade orçamentária ser deferida, chega-se a fase de autorização

do concurso público, que se dá com a solicitação por parte da Administração Pública

ao Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão (MPOG), no âmbito Federal. Na

esfera Estadual e Municipal, a solicitação é realizada pela Administração ao órgão

análogo às funções MPOG (MAIA; QUEIROZ, 2007). Sendo analisadas, novamente,

as necessidades e a importância de novas contratações, do mesmo modo que a

viabilidade orçamentário-financeira do certame (FIUZA, 2015).

Com a autorização do concurso público, chega-se ao estabelecimento das

regras do concurso e da escolha da banca, como o próprio nome sugere é o

momento em que a Administração Pública determina normas específicas. É durante

essa fase que a Administração Pública decide se é ela quem vai executar o

concurso ou irá escolher um terceiro para realizá-lo: as instituições que trabalham

com a organização de concursos e seleções, popularmente conhecidas como

bancas examinadoras. A Elaboração do edital, conforme Maia e Queiroz (2007), é

primacial para a realização do concurso público, pois, é nesse instrumento que são

descriminadas as regras. Por intermédio dele, a Administração Pública comunica à

sociedade acerca do inicio do certame, do número de vagas, dos vencimentos e das

remunerações, bem como os critérios de participação (MAIA; QUEIROZ 2007).

Após a elaboração, é chegada a hora da publicação do edital, correspondente

o primeiro ato administrativo da parte externa do concurso público (MAIA; QUEIROZ,

2007). Nessa fase, o edital deve ser publicado, de acordo com a abrangência do

certame, em sites de entidades ou órgãos responsáveis pelo concurso e nos Diários

Oficiais da União, Estado, Município ou Distrito Federal, em respeito ao artigo 18, do

Decreto nº 6.944/2009 (BRASIL, 2009). A participação do interessado, no concurso,

é expressa por meio da inscrição, deferida a partir do pagamento de uma taxa que,

Page 103: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

102

ressalvados os casos de isenção, é utilizada no pagamento de despesas originárias

da realização do certame, conforme o caput do artigo 11 e 15, da lei nº 8.112, de 11

de dezembro de 1990 (BRASIL, 1990). Majoritariamente, a inscrição é realizada via

internet, nos sites das bancas organizadoras, com datas e horários iniciais e finais

fixados em edital.

Sobre as provas, conforme dispõe o inciso I, do artigo 18, do Decreto nº

6.944/2009, a primeira prova do concurso deve ser realizada com um prazo de

sessenta dias a contar da data de publicação do edital. O parágrafo 2o, da mesma

norma, por outro lado, garante que este prazo pode ser reduzido, caso necessário.

As provas podem ser objetivas, subjetivas e, ainda segundo Maia e Queiroz (2007),

orais, acompanhadas ou não de provas de títulos, podendo ser executadas em duas

etapas, em coadunância com o artigo 13 (BRASIL, 2009).

Os gabaritos preliminares e o período de interposição de recursos

concernente às questões das provas, geralmente, são divulgados, no site da

“banca”. Os recursos podem alterar as respostas e anular questões, sendo

divulgado posteriormente o resultado das interposições e o gabarito definitivo.

Poderá, ainda, haver a possibilidade de anulação integral da prova, caso muitas

questões sejam anuladas ou as respostas sejam duvidosas. A anulação depende,

em grande parte, dos recursos interpostos, da mobilização dos candidatos e da

Administração Pública (MAIA; QUEIROZ, 2007; FIUZA, 2015).

Mesmo que os gabaritos sejam corrigidos pelo candidato, esse somente terá

certeza de sua aprovação, com a publicação dos resultados, a partir da interposição

de recursos e da Homologação dos resultados. Os resultados devem ser divulgados

e homologados nos Diários Oficiais da União do Estado, do Município ou do Distrito

Federal, de acordo com a abrangência do concurso. Conforme o artigo 16, do

Decreto nº 6.944/2009, a relação de candidatos classificados deve obedecer à

ordem de classificação máxima presente em seu Anexo II (BRASIL, 2009).

Por fim, os candidatos aprovados são convocados e, se for o caso,

empossados para assumir os cargos públicos. A convocação é realizada pela

Administração Pública levando em conta a classificação. O candidato deve

enquadra-se em todos os critérios e apresentar os documentos expressos em edital,

que serão analisados e, posteriormente, será dado um parecer quanto à aprovação

ou reprovação. Os candidatos que não comparecerem ou não atenderem todos os

critérios serão desclassificados nessa fase final (FIUZA, 2015).

Page 104: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

103

5.4 Panorama dos concursos no Brasil

À luz das discussões até aqui apresentadas, é inegável a valorosa

contribuição do instituto do concurso público à envergadura do Estado Democrático

de Direito em sua feição atual. Ao realizar a seleção de pessoas para ingresso no

serviço público, procurando seguir princípios e outras normas constitucionais,

infraconstitucionais e especificas, esse sistema de seleção corrobora, em tese, para

a contratação de servidores, pelo Estado, que encontram-se mais bem preparados

(CARVALHO, 2014; FIUZA, 2015; MACHADO JÚNIOR, 2008) para desenvolver as

atribuições que os cargos demandam. Concomitante, também assegura aos que

concorrem às vagas ofertadas, por intermédio de provas e de provas de títulos,

legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade, eficiência, igualdade, justiça e

isonomia, e, à coletividade e ao serviço público, promove outros inúmeros benefícios

– como os trazidos com as viagens a concursos públicos, a partir do efeito

multiplicador do turismo, que serão mais à frente expressados.

No cenário atual, tendo em vista os inúmeros benefícios dos cargos públicos

como: salários acima da média dos oferecidos pela iniciativa privada e, sobretudo,

as almejadas estabilidade e segurança econômico-social, tem crescido no Brasil a

busca pela aprovação em concursos públicos, como exemplo tem-se o concurso

público do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) de 2016, que contou com mais

de 1 milhão de inscritos. Todavia, tal crescimento é também decorrente de uma

“Cultura dos Concursos Públicos” muito forte no Brasil, uma vez que o brasileiro, de

forma geral, é incentivado desde muito pequeno a prestar concursos, pois, este o

caminho para alcançar a estabilidade econômica. Ademais, as instabilidades em

diversas sociedades, sobretudo de cunho econômico, como é o caso da recente

crise que assola o país, têm forçado grandes empresas a demitirem, em massa,

empregados, para que não fechem as portas (FIUZA, 2015), o que reflete na ânsia

pela “vida pública” e o número crescente de viajantes “caçando” uma nomeação pelo

país.

Insta considerar, no cerne dessa questão, conforme reportagem vinculada

pelo Jornal Hoje, da Rede Globo, em 2013, que o mercado de concursos cresce

cerca de 40% ao ano no Brasil. A previsão é de que, até 2016, sejam abertas 400

mil vagas em concursos federais, estaduais e municipais. Em um país em recessão

Page 105: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

104

técnica, com a economia enfraquecida e o nível de novos empregos praticamente

estagnado, a proposta de “bater cartão” em órgãos públicos se torna ainda mais

tentadora. Os gastos com concursos, que incluem cursinhos preparatórios, livros

didáticos, inscrições, viagens e realização das provas, movimentam no Brasil algo

próximo de R$ 50 milhões ao ano (CONCURSO..., 2013). Com relação ao número

de candidatos, a Associação Nacional de Proteção e Apoio aos Concursos (ANPAC)

estima que, por ano, pelo menos 12 milhões de brasileiros se inscrevem para

disputar uma vaga no serviço público (ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PROTEÇÃO E

APOIO AOS CONCURSOS, 2014).

De acordo com o estudo “Processos seletivos para a contratação de

servidores públicos: Brasil, o país dos concursos?”, de Fontainha et al (2014), em

uma análise de 698 processos seletivos realizados entre 2001 e 2010, que ofertaram

41.241 vagas, mostrou que no tocante às bancas organizadoras de certames, a

principal delas é o Centro de Seleção e Promoção de Eventos (CESPE), com

aproximadamente 73% dos processos seletivos organizados nesse período, seguida

da Escola de Administração Fazendária (ESAF), com 12.23%, da Fundação

Universitária José Bonifácio (FUJB), com 6.70%, do Centro de Seleção de

Candidatos ao Ensino Superior do Grande Rio (CESGRANRIO), com 3.49%, da

Fundação Carlos Chagas (FCC), com 2.04%, do Instituto de Resseguros do Brasil

(IRB), com 1.60% e da Fundação de Apoio a Pesquisa, Ensino e

Assistência (FUNRIO), com 1.02%.

No que se refere aos cargos que mais apresentaram vagas nesse ínterim,

Fontainha et al (2014) sinalizam que o cargo que apresentou maior número de

vagas foi de engenheiro, seguido por cargos na área do direito. Por outro ângulo, o

trabalho os dados analisados pelos autores demonstram que no que diz respeito à

remuneração, aos vencimentos dos cargos ofertados, direto é o curso mais bem

pago, seguido por administração e engenharia, sendo as vagas para arquivologia e

biblioteconomia as com remunerações mais baixas. Acerca dos tipos de provas

aplicadas para selecionar servidores nesse período (2001-2010), a pesquisa revela

que a prova de múltipla escolha foi, nomeadamente, a mais empregada,

correspondendo a 97.66% das provas presentes nos 698 processos seletivos

realizados, seguida da prova discursiva e da prova de títulos, presentes em 70.20%

e 53.58% dos certames. Na parte de baixo do ranking, não foi realizada nenhuma

prova prática nos processos seletivos que foram analisados, sendo a redação e a

Page 106: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

105

prova oral as que apresentaram as menores taxas de utilização, com 2.29% e

1.29%, respectivamente (FONTAINHA et al, 2014).

As diferentes tipologias de provas, na verdade de avaliação, foram sendo

concebidas ao longo dos anos como meios de selecionar e de adquirir, mediante

parâmetros, os melhores servidores públicos à serviço do Estado. Nesse sentido, as

provas subjetivas, de títulos, de aptidão física, redação, memorial, dentre outras,

foram aliadas à aplicação de provas objetivas, visto que estas, com a concorrência

cada vez mais acirrada na luta pela investidura de cargos públicos, não são

suficientes para avaliar quem de fato são os melhores, pois, o número de erros,

nessas provas, tem sido cada vez menor.

Com a assustadora concorrência e a dificuldade de aprovação, na corrida

pela almejada nomeação em um cargo público, um número cada vez mais

acentuado de concurseiros têm migrado por diferentes lugares do país, que

consideram mais fáceis de garantir aprovação, para prestar concursos públicos.

Assim, eles têm investido pesado em gastos com viagens (transportes,

hospedagem, alimentação) para fora de suas cidades e estados, em busca de um

cargo no serviço público a qualquer custo, como se mostrará no próximo capítulo, na

próxima rota desta viagem.

Page 107: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

106

6 UM GIRO PELO TURISMO DE CONCURSOS PÚBLICOS: INVESTIGANDO UMA

NOVA SEGMENTAÇÃO DO MERCADO TURÍSTICO BRASILEIRO

Assim como as demais modalidades de viagem e de turismo, o ato de viajar

tendo como motivação a realização de provas de concursos públicos antecedeu

estudos que prognosticassem o seu surgimento e desenvolvimento (BOULLÓN,

2002). E desde a sua aparição não há conhecimento sobre a existência de algum

trabalho científico que verse sobre as suas interfaces – o que existem são

reportagens e textos em blogs instruindo estudantes e sinalizando para o fato de que

essas viagens têm movimentado cidades e estados, em certa medida, social e

economicamente. Logo, pouco ou quase nada se sabe sobre as viagens a

concursos públicos. Dessa sorte, o presente trabalho buscou investigar essas

viagens no Brasil enquanto uma possível nova segmentação do mercado turístico.

A considerar que, conforme Brasil (2010a, p. 14), para compreender um

mercado, antes, é preciso “entender as pessoas que compõem este mercado, e é

importante lembrar que as pessoas pensam e agem de forma diferente, dependendo

de suas motivações ou experiências anteriores”. A pesquisa de campo, para tanto,

como retrodito, teve como enfoque análises concernentes ao perfil, aos

conhecimentos e às vivências de concurseiros que viajam pelo país prestando

concursos públicos (a demanda). Tais análises se estabeleceram mediante uma

aproximação/abordagem netnográfica27, a partir de acompanhamentos, de

conversas e de interações em/com diversos grupos de concursos públicos e perfis

privados da rede social Facebook, além de capturas de tela (Prints Screen) e

aplicação de questionários, que compuseram os métodos as técnicas e os

instrumentos de coleta de dados empregados.

E assim chega-se em mais uma parada desta viagem. Esta rota, “Um giro

pelo turismo de concursos públicos: investigando uma nova segmentação do

mercado turístico brasileiro”, certamente uma das mais aguardadas, tem o seguinte

itinerário: “Viagens a concursos públicos: sonhos e desejos que cruzam fronteiras” e

“Os concurseiros viajantes: a demanda das viagens a concursos públicos”,

27

Ratificando, a netnografia é uma espécie de tecnologia da etnografia, uma etnografia na internet, também conhecida como Etnografia Digital, Webnografia, Web etnografia ou Ciberantropologia (NOVELI, 2010; TAFARELO, 2013).

Page 108: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

107

prometendo novos conhecimentos e grandes surpresas a respeito dessa nova faceta

das viagens e do turismo. Que a sua viagem continue a ser enriquecedora.

6.1 Viagens a concursos públicos: sonhos e desejos que cruzam fronteiras

“Turismo de concursos vira nicho de mercado”, em agosto de 2013 anunciava

a chamada de uma reportagem. Ela assimilava a busca por um cargo público a uma

verdadeira maratona, pois, concurseiros “acabam muitas vezes fazendo provas em

outras cidades e estados, analisando pontos como: onde a concorrência é menor e o

número de vagas é maior, fatores que podem auxiliar na aprovação” (TURISMO...,

2013, s. p.). Ainda de acordo com a matéria jornalística, até o final daquele ano,

“concursos municipais, estaduais e federais, motivaram muitos candidatos a

viajarem para fazer as provas, criando um novo nicho de mercado: o turismo de

concursos” (TURISMO..., 2013, s. p.). Outras reportagens, antes e posteriormente,

noticiaram como alguns concursos pelo Brasil, em razão do recorde de inscritos,

provocaram em várias cidades uma movimentação social e economicamente

desmedida, onde tanto o mercado formal quanto o informal se beneficiaram: hotéis

lotaram ou chegaram a taxas de ocupação próximas do total; empresas de ônibus

criaram linhas extras para atender a demanda excedente; e vendedores ambulantes

lucraram com a venda de água, de caneta, etc. (CONCURSEIROS..., 2011;

CONCURSO DO TRT-MG..., 2015; CONCURSOS..., 2014; CONCURSOS

LOTAM..., 2009).

Nessa direção, um estudo realizado pelo Centro de Seleção e Promoção de

Eventos (CESPE) da Universidade de Brasília (UnB), tendo analisado uma amostra

de 269.689 candidatos, que concorriam a vagas de 15 concursos de diferentes

estados, ocorridos em 2006, mostrou que aproximadamente 9% dos escritos eram

residentes de outros estados. A pesquisa apontou ainda que no concurso público da

Polícia Civil do Pará cerca de 21,5% dos inscritos eram originários de outros

estados, o que representou 1.282 pessoas, de um total de 5.959 inscritos

(UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA, 2007). Certamente, essas taxas sofreram

alterações porquanto o número de concursos aumentou consideravelmente desde

2006 – e como tratado em um momento precedente, o “mercado” dos concursos

públicos tem crescido, em aproximado, 40% ao ano no país (CONCURSO..., 2013).

De modo proporcional, se presume que o índice de pessoas viajando para fazer

Page 109: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

108

provas, em escala semelhante, também se expandiu. No entanto, não há como

precisar numericamente o volume dessas viagens, pois nenhum outro estudo foi

feito para indicar um demonstrativo atual de concursistas que viajam.

Sobre os destinos das viagens a concursos, a aproximação web etnográfica

permitiu compreender que a demanda maior de concurseiros procura por certames

em locais, normalmente as capitais, que ofereçam uma boa qualidade de vida,

condições de trabalho e salários muito favoráveis, para que o investimento

compense. Concursos do Sul e do Sudeste, comumente, ofertam os maiores

números de vagas28 e têm cidades com as melhores infraestruturas e qualidade de

vida do Brasil, no entanto, justamente por esses motivos, são mais concorridos.

Desse fato, uma demanda crescente de concurseiros, que viaja em busca de

oportunidades de emprego público, se desloca para destinos, por vezes,

completamente desconhecidos e jamais presumíveis de se estar. São cidades

interioranas, das regiões Norte e Nordeste, distantes das capitais ou dos centros

urbanos, com deficientes ou inexistentes serviços urbanos, mas que dispõem,

costumeiramente, de vagas disponíveis, de ótimos salários, de uma menor

concorrência e/ou onde as pontuações são mais baixas, isto é, onde as chances de

aprovação e de classificação são maiores. Logo, há uma disputa não apenas pelas

vagas, mas pelas cidades de investidura dos cargos.

No planejamento da viagem, o concursista pode ter a opção de ir sozinho ou

em grupo (excursão), quando há neste caso a oferta de serviços por empresas. Ao

se optar por viajar sozinho, ele também tem duas opções: contratar uma agência

para organizar a viagem ou ter que planejá-la e prepará-la. Nesse último caso, é

preciso: verificar datas, comprar passagens, fazer a reserva do meio de

hospedagem, verificar o local de prova, ficando os estudos um pouco de lado. Em

contrapartida, quando se compra um pacote de excursão, adquire-se comodidade,

tudo fica sob responsabilidade da empresa: passagens, hotéis e transfer para os

locais de aplicação das provas, nesses casos, o concurseiro acaba dispondo de

maior tempo para continuar estudando. Cumpre sinalizar que nem sempre todos os

serviços oferecidos pelas empresas são utilizados, isso vai depender do perfil do

consumidor.

28

Por serem as regiões do Brasil que possuem as maiores populações, logo, a demanda por serviços do Estado é maior.

Page 110: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

109

A internet, em especial o Facebook, é o palco principal das dicas, dos

estudos, da organização das viagens e da gênese de relações sociais que se

solidificam, por vezes, no mundo off-line, (NOVELI, 2010) durante as viagens. Em

bate-papos e em observância aos perfis e as suas interações on-line, notou-se que,

como a preparação para concursos públicos requer foco e determinação, alguns

internautas criam contas personalizadas ou fakes29 na rede social, única e

exclusivamente, para acompanhar e interagir nos grupos, a fim de evitar distrações,

corriqueiras em seus perfis “normais”. Fazendo alusões a personagens do mundo

infantil, sobretudo no caso das mulheres, os nomes dos fakes (Figura 9) são

formados normalmente pelas palavras “Concurseiro(a)”, “Concursando(a)”,

“Concursante” e “Concursista” acompanhadas de adjetivos, como: “Determinada(o)”,

“Otimista” ou “Guerreira(o)”.

Nessa ambiência cibernética, mais do que divulgação, dicas e trocas de

documentos, de arquivos, de planos de aulas, de exercícios e de novos concursos,

por meio de contas reais e “fictícias”, organizam-se as viagens, “rolam” as dicas, os

“macetes”, a compra e a venda de passagens aéreas, a reserva de hospedagens

(Figuras 10 e 11), bem como discussões sobre para qual cidade ir ou que concurso

participar, quais as companhias que ofertam voos mais baratos, quais delas

oferecem promoções. Assim, além da demanda concurseira, a oferta também se

relaciona virtualmente, empresas divulgam seus serviços de transporte e turismo,

assim como os próprios candidatos forjam excursões, as divulgam, firmam parcerias

para viajar, conseguem “companheiros” para “rachar” os custos com a gasolina do

carro (Figura 13), o quarto do hotel, o táxi do aeroporto até o hotel, ou destes até os

locais de prova, a fim de reduzir o valor das despesas.

29

Couto e Rocha (2010, p. 29) conceituam fakes como representações “que experimentam outras identidades para demonstrar sentimentos, percepções, desejos, gostos que poderiam ser ridicularizados e promotores de constrangimentos na vida off-line, mas que são celebrados e festejados na dinâmica efêmera e plural da internet”.

Page 111: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

110

Figura 9 – Perfis de candidatos a concursos públicos no Facebook.

Fonte: Capturas de tela realizadas via Facebook. Pesquisa de campo (2016).

Figura 10 – Compartilhamento de informações entre concurseiros

Fonte: Captura de tela realizada via Facebook. Pesquisa de campo (2016).

Percebeu-se, nessa relação, que as mulheres dão preferência exclusiva, em

muitos casos, para ratear os custos com outras mulheres – possivelmente por se

sentirem mais seguras (Figura 12). Antonioli (2015) alerta que a segurança é uma

condicionante basilar para uma viajante feminina, em especial, àquela que viaja

Page 112: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

111

sozinha, afinal, violências e assédios morais e sexuais são sofridas a esse público

recorrentemente. Em sua pesquisa a autora mostra que alguns empreendimentos

turísticos têm se sensibilizado para essa necessidade feminina (para não dizer

amedrontamento), e mais que isso, fazendo dela um verdadeiro nicho de mercado:

que conta com uma oferta que garante, a exemplo, quartos de hostel somente para

mulheres e trancas de quartos de hotéis reforçadas.

Figura 11 – Grupo específico

Figura 12 – Duvidas, dicas e divisão de despesas

Figura 13 – Divisão de despesas

Fonte: Capturas de tela realizadas via Facebook. Pesquisa de campo (2015).

E são nessas viagens que muitos amigos virtuais se encontram e se

reencontram, contam um pouco mais da vida um do outro e realizam as provas

juntos. Com “fome de conhecimento”, desfrutam o que as cidades têm a oferecer:

passeiam ou “turistam” (Figura 14), degustam os seus sabores de suas comidas

típicas, vestem de suas roupas ou adereços, sentem os seus cheiros, olham e se

encantam com as suas cores, tocam as suas formas e ouvem os seus sons

(LOBATO et al, 2015). Desbravam o novo, o exótico, o diferente. São formas de, por

meio do lazer e do turismo, aliviar a tensão, os ânimos, desprender-se, por alguns

dias ou algumas horas, da pressão rotineira de estudos, do trabalho e das demais

Page 113: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

112

coações sociais, de aproveitar e de vivenciar novas e/ou antigas experiências (BENI,

2004; CAMARGO, L., 1986; MARCELLINO, 1987; MONLEVADE, 2010), uma vez

que o investimento na viagem e nos estudos foi grande. Essa dinâmica constitui o

“ciclo de reconstituição do ser humano na sociedade industrial”, em que as coações

sociais são o cotidiano e as viagens o anticotidiano, na visão de Krippendorf (2001,

p. 36).

Figura 14 – Concurseiros se (re)encontrando antes e após as provas

Fonte: Captura de tela realizada via Facebook. Pesquisa de campo (2016).

Mesmo porque, Dias (2003b, p. 19) aponta que nesses momentos o indivíduo

acaba [...] deixando para trás os diferentes papéis que desempenha (profissional,

econômico, social, etc) e assumindo o papel de turista”. De modo que as viagens

são capazes, conforme Krippendorf (2001, p. 36), de pintar “manchas coloridas na

tela cinzenta da nossa existência. Elas devem reconstituir, recriar o homem, curar e

sustentar o corpo e a alma, proporcionar uma fonte de forças vitais e trazer um

sentido à vida”. Assim, a viagem a concurso público, por vezes, acaba sendo

percebida por alguns como uma compensação pelo esforço, pela dedicação, pelo

longo caminho trilhado para chegar até ali. Um momento propício ao lazer/prazer

Page 114: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

113

ante todo o sofrimento e as abdicações que tiveram que ser feitas durante o período

de preparação para as provas.

No embalo das viagens a concursos públicos, operadoras, transportadoras e

agências de viagens e de turismo têm se especializado nesse novo mercado. Há

empresas em todas as regiões do Brasil, oferecendo, para além do transporte até a

cidade de realização dos concursos, traslados (Aeroporto-Hotel, Hotel-Local de

prova, Local de prova-Hotel, Hotel-Aeroporto), hospedagem, serviços de

alimentação e roteiros turísticos (City Tours) para visitação de atrações culturais e

naturais das cidades onde acontecem as provas. Conforme mostram as capturas de

tela feitas dos banners de divulgação dos serviços, postados em páginas das

empresas ou em grupos da rede social Facebook (Figura 15).

Figura 15 – Divulgação dos produtos e serviços das empresas

Fonte: Capturas de tela realizadas via Facebook. Pesquisa de campo (2016).

Inobstante, não existem apenas transportadoras, operadoras ou agências de

viagens e turismo especializadas em concursos públicos. No Rio de Janeiro, existe

Page 115: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

114

um meio de hospedagem: uma pousada30 direcionada para concurseiros. Nela,

concursistas de outros estados e municípios se hospedam não tão somente para

participar de concursos no estado, mas para buscar adentrar em uma verdadeira

imersão de estudos – que começa com o check-in31 e só termina no check-out32.

Convém pontuar, porém, que esse espaço não é destinado apenas a candidatos de

outras cidades ou estados, residentes dos arredores também procuram a calmaria, o

silêncio, a concentração, o foco, a determinação e as aulas ofertadas pelo espaço

para dinamizar os estudos. Assim, durante a estada nessa tipologia de hospedagem,

os concursandos aprendem e revisam conteúdos com professores de alto

reconhecimento no mundo dos concursos (Figuras 16, 17 e 18).

Figura 16 – Fan page33 da Pousada no Facebook

Fonte: Captura de tela realizada via Facebook. Pesquisa de campo (2016).

30

Maiores informações a respeito: <https://www.facebook.com/Pousada-dos-concurseiros-1718421955053501/?fref=ts>.

31 “[...] é o horário de entrada do hóspede no hotel, geralmente convencionada após às 12:00 h”

(BRASIL, s. d., s. p.). 32

“É o horário de saída do hóspede, do hotel. Registro de saída do hóspede do hotel, quando se dá o pagamento da conta relativa a sua estada, o que permite ao hóspede deixar as dependências do hotel com sua bagagem. Os hotéis costumam ter, afixado na portaria, esse horário para orientação do cliente, pois, caso ele venha a sair após esse prazo, o hotel se reserva o direito de cobrar mais uma diária” (BRASIL, s. d., s. p.).

33 Também conhecida como Página de fãs, compreende uma página (conta) específica no

Facebook, que tem como objetivo representar o perfil virtual de uma empresa, de produtos, de serviços, etc., isto é, qualquer organização com ou sem fins lucrativos que desejem interagir e se promover com os seus clientes que estão na rede social Facebook.

Page 116: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

115

Figura 17 – Banner de divulgação dos serviços da Pousada

Fonte: Retirado da página da Pousada no Facebook. Pesquisa de campo (2016).

Figura 18 – Instalações e funcionamento da Pousada dos Concurseiros

Fonte: Capturas de tela realizadas via Facebook. Pesquisa de campo (2016).

Estudos em voga no empreendedorismo indicam os modelos de negócios

criados a partir de necessidades da demanda são os com maiores chances de

Page 117: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

116

sucesso, de lucro e de impactar os mercados, à vista de sua efetiva inovação

(GREATTI; SENHORINI, 2000). Adentrando no debate acerca dos impactos, faz-se

necessário acentuar que as viagens, de modo geral, concebem e dinamizam uma

intensa movimentação social e econômica nas destinações de aplicação das provas,

ao interagir e ao se coligar com diferentes empresas, setores e camadas sociais,

que criam, compram e/ou comercializam produtos e serviços disponíveis no mercado

turístico. Logo, elas têm o poder de afetar/beneficiar inúmeros setores, de forma

direta e indireta – o efeito multiplicador do turismo é estabelecido (LOHMANN;

PANOSSO NETTO, 2012). Mas, os impactos não ocorrem apenas nas cidades de

destino. Essas viagens, nas precedências de suas realizações, consoante Fábia

Barbosa (2005) e Lage e Milone (2001), contribuem de forma representativa em

diferentes níveis/escalas econômicas e sociais dos polos emissores e de transição

do turismo, tendo em vista que a promoção, a comercialização e a

operacionalização da atividade turística demandam a contratação de recursos

humanos e geram renda.

6.2 Os concurseiros viajantes: perfilando a demanda das viagens a concursos

públicos no Brasil

Os 500 questionários aplicados e validados com o objetivo de traçar os perfis

desses viajantes e melhor caracterizar as viagens a concursos públicos iniciaram por

questões de cunho socioeconômico, por esse ângulo, quando se perguntou o sexo

dos participantes da pesquisa, os resultados mostraram que 59,20% eram do sexo

feminino e 40,80% eram do sexo masculino, correspondente a 296 mulheres e a 204

homens, como ilustra o gráfico 1 a seguir. Os percentuais denotam uma diferença de

18,40% (92 respondentes) entre o sexos, ou seja, não existe uma preferência

acentuada de homens ou de mulheres para ingresso no serviço público, ao passo

que o número de mulheres no país é superior ao de homens.

Page 118: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

117

Gráfico 1 – Sexo

Fonte: Pesquisa de campo (2016).

Ainda buscando perfilar a amostra coletada de concurseiros que viajam,

procurou-se saber se eles possuíam algum tipo de deficiência. Do total, 97,20%

(486) assinalou que não e apenas 2,80% (14) disse ter alguma deficiência (Gráfico

2). Sendo que, daqueles que marcaram a assertiva “Sim”, ao responderem qual o

tipo de deficiência possuíam, identificou-se deficientes físicos, auditivos e visuais.

Gráfico 2 – Pessoa com deficiência

Fonte: Pesquisa de campo (2016).

É oportuno sublinhar que a Constituição Federal de 1988, em seu artigo 37 –

como discutido no capítulo anterior – assegura ao deficiente um percentual de vagas

para exercer função, cargo ou emprego público (BRASIL, 1988). A lei nº 8.112, de

11 de dezembro de 1990, no seu artigo 5º, sob essa perspectiva, legitima a reserva

de até 20% do total de vagas ofertadas em certames. Determinando, porém, que as

Page 119: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

118

atribuições do cargo ou do emprego sejam compatíveis com as limitações da

deficiência do servidor (BRASIL, 1990).

Com relação à idade dos participantes da pesquisa, 1,20% (6) tinham idades

entre 18 e 20 anos, 62,80% (314) entre 21 e 30 anos, 28,20% (141) entre 31 e 40

anos, 6,20% (31) entre 41 e 50 anos e 1,60% (8) acima de 50 anos, conforme o

gráfico 3. Os dados em questão demonstram que o concurseiro viajante é,

nomeadamente, jovem, com idades entre 21 a 30 anos (314). Sobre a faixa-etária de

18 a 20 anos, pôde-se presumir que, o número expressivamente baixo, correlaciona-

se ao fato de que nessas idades os jovens estão em fase de preparação para os

vestibulares ou focados na faculdade.

Gráfico 3 – Idade

Fonte: Pesquisa de campo (2016).

O percentual de pessoas acima de 50 anos deve-se, provavelmente, ao fato

de que nesse momento da vida o corpo por estar envelhecido já não reage da

mesma forma que outrora. Assim sendo, por vezes, essa faixa-etária não consegue

ter uma rotina intensa de estudos para concorrer aos cargos públicos, outra hipótese

passível para interpretar esse dado são as persistentes altas taxas de analfabetismo

de pessoas nessa parte da pirâmide etária brasileira34. Demais, o serviço público

34

No ano de 2014, a taxa de analfabetismo das pessoas de 15 anos ou mais de idade, no Brasil, segundo dados do IBGE, foi de 8,3%. Apesar do mesmo estudo mostrar que houve uma queda de

Page 120: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

119

pode, em alguns casos, determinar como critérios de seleção sexo, altura e idades

mínimas e máximas para que o candidato possa participar, conforme trata o texto de

Alves (2013). Consequentemente, alguns concurseiros não viajam por não se

enquadrarem aos requisitos preestabelecidos em determinados editais.

Acerca do estado civil dos sujeitos da pesquisa, os dados indicaram que

70,40% (352) daqueles que viajam para realizar as provas eram solteiros(as),

22,40% (112) casados(as), 1,20% (6) divorciados(as), 0,40% (2) viúvos(as), 4,80%

(24) encontravam-se em uma união estável e 0,80% (4) disseram estar em outro tipo

de estado civil não representado por nenhuma das opções dispostas no

questionário, a saber: namorando, noivado e morando junto (Gráfico 4).

Gráfico 4 – Estado civil

Fonte: Pesquisa de campo (2016).

Portanto, depreende-se que esses viajantes são em maioria solteiros,

imagina-se que isso ocorre em virtude desse grupo ter uma maior disponibilidade de

tempo para focar nos estudos. Presume-se que, para eles, relacionar-se

afetivamente com alguém nesse período pode ser considerada uma forma de

distração – a qual pode atrapalhar a preparação –, ou ainda, por não conseguir dar a

aproximadamente 1,8% em um comparativo entre os anos de 2007 e 2014, ainda é uma taxa considerável para um país emergente e em pleno século XXI. Disponível em: <http://brasilemsintese.ibge.gov.br/educacao/taxa-de-analfabetismo-das-pessoas-de-15-anos-ou-mais.html>. Acesso em: 14 abr. 2016.

Page 121: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

120

devida atenção a(ao) companheira(o), por conta da rotina intensa, é preferível ficar

sozinho(a). Sobre o percentual de casados(as) pode-se inferir que estes(as) estão

em busca de melhores condições de vida para a família, pois muito provavelmente,

ainda não conseguiram boas oportunidades de trabalho na iniciativa privada. Esse

pensamento vai ao encontro da argumentação de Castelar et al (2010), pois, para

eles, embora um indivíduo com vínculos conjugais possua um tempo de estudos

mais restrito devido coações familiares, ele busca na possibilidade de qualidade de

vida da família a motivação para conquistar uma nomeação.

Quanto ao nível de escolaridade dos concursistas viajantes, 2,80% (14)

possuíam ensino médio completo, 13,80% (69) ensino superior incompleto, 47,80%

(239) ensino superior completo e 35,60% (178) pós-graduação. Não houve menção

dos níveis ensino fundamental incompleto, fundamental completo e médio

incompleto na pesquisa pelos participantes (Gráfico 5). Assim sendo, a maioria dos

respondentes, 97,2% (486), apresenta um nível de formação superior ao nível médio

completo, sendo que do total quase a metade tem ensino superior incompleto. Tais

dados ilustram que o candidato a concurso público viajante possui um ótimo nível de

escolaridade, apontando um indicador acerca do perfil do consumidor das viagens e

do turismo de concursos públicos.

Gráfico 5 – Nível de escolaridade

Fonte: Pesquisa de campo (2016).

Uma relação pertinente a ser feita é a com os resultados da pesquisa de

Castelar et al (2010), que apontam o alto nível de escolaridade como um dos

indicadores mais recorrentes no perfil dos candidatos aprovados no estudo de caso

Page 122: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

121

analisado por eles. Isso, quiçá, deve-se ao fato de que muitos dos cargos ofertados,

especialmente os que apresentam as remunerações mais atraentes, têm como

exigência mínima de formação os ensinos médio e superior completo – os cargos de

técnico e analista de tribunais são exemplos categóricos.

Concernente aos locais onde residem os concursistas que participaram da

pesquisa, 14,40% (72) eram da Região Norte, 27,80% (139) da Região Nordeste,

9,20% (46) da Região Centro-oeste, 30,60% (153) da Região Sudeste e 18,00% (90)

da Região Sul. Nesse sentido, regiões Nordeste e Sudeste apresentaram o maior

número de concurseiros, somando juntas mais de 50% do total dos pesquisados, a

figura 19 traz uma noção espacial desses dados. Em relação aos estados de origem

dos questionados, 0,80% eram do Acre, 1,40% do Amapá, 1,80% do Amazonas,

7,40% do Pará, 1,60% de Rondônia, 0,60% de Roraima, 1,00% do Tocantins, 2,20%

de Alagoas, 3,20% da Bahia, 3,60% do Ceará, 2,40% do Maranhão, 3,20% da

Paraíba, 3,60% de Pernambuco, 5,00% do Piauí, 3,00% do Rio Grande do Norte,

1,60% de Sergipe, 2,60% do Distrito Federal, 2,80% de Goiás, 1,80% do Mato

grosso, 1,00% do Mato Grosso do Sul, 2,60% do Espírito Santo, 8,80% de Minas

Gerais, 6,60% do Rio de Janeiro, 12,60% de São Paulo, 5,80% do Paraná, 2,60% de

Santa Catarina e 9,60% do Rio Grande do Sul, como sistematizado a tabela 1.

Page 123: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

122

Figura 19 – Concurseiros viajantes por regiões

Fonte: Google imagens, com intervenções do autor (2016).

14,40%

(72)

27,80%

(139)

9,20%

(46)

30,60%

(153)

18,00%

(90)

Região Norte

Região Nordeste

Região Centro-oeste

Região Sudeste

Região Sul

Page 124: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

123

Tabela 1 – Concurseiros viajantes por estados

Opções de resposta Nº %

Acre 4 0,80%

Alagoas 11 2,20%

Amapá 7 1,40%

Amazonas 9 1,80%

Bahia 16 3,20%

Ceará 18 3,60%

Distrito Federal 17 3,40%

Espírito Santo 13 2,60%

Goiás 14 2,80%

Maranhão 12 2,40%

Mato Grosso 9 1,80%

Mato Grosso do Sul 5 1,00%

Minas Gerais 44 8,80%

Pará 37 7,40%

Paraíba 16 3,20%

Paraná 29 5,80%

Pernambuco 18 3,60%

Piauí 25 5,00%

Rio de Janeiro 33 6,60%

Rio Grande do Norte 15 3,00%

Rio Grande do Sul 48 9,60%

Rondônia 8 1,60%

Roraima 3 0,60%

Santa Catarina 13 2,60%

São Paulo 63 12,60%

Sergipe 8 1,60%

Tocantins 5 1,00%

Total 500 100,00%

Fonte: Pesquisa de campo (2016).

Essas distribuições demográficas apresentadas pela pesquisa, por região e

por estado, são quase diretamente proporcionais às populações reais desses

Page 125: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

124

lugares, conforme demonstram os dados do último censo brasileiro (INSTITUTO

BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2010). Ao passo de que estados

como São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul, que estão entre

os mais populosos do país, foram os mais citados pelos concurseiros, e, do mesmo

modo, Roraima, Amapá e Acre, estados menos populosos, estão entre os menos

reportados.

Seguindo esse raciocínio, não há uma diferença real, entre estados e regiões,

sobre a participação em concursos públicos, “o Brasil” quer adentrar no serviço

público. Como precedentemente externalizado, isso é, provavelmente, reflexo de

uma “cultura dos concursos públicos” forjada historicamente no país. Desde criança

o brasileiro cresce ouvindo dos pais, ou de seu grupo social, que a “carreira pública”

é a saída para garantir a estabilidade financeira – sendo também um meio de fugir

das crises que instabilizam, mormente, a vida de quem depende da iniciativa privada

(CASTELAR et al 2010; FIUZA, 2015).

No que tange à renda daqueles que viajam para participar de certames, de

acordo com a pesquisa, 29,60% (148) não possuíam renda, 3,60% (18) detinham de

“Menos de 1 salário mínimo” por mês como receita, 33,60% (168) faturava de “De 1

a 3 salários mínimos”, 22,00% (110) “De 4 a 6 salários mínimos”, 7,40% (37) “De 7 a

9 salários mínimos” e 3,80% (19) “10 ou mais de 10 salários mínimos” como

rendimentos mensais (Gráfico 6). Estes percentuais indicam que o nível de renda de

grande parte desses concurseiros, mais especificamente 66,20%, é relativamente

alto, em comparação com o rendimento médio do brasileiro de R$ 2.227,5035.

De certa forma, previa-se esses interessantes números tendo em vista que os

gastos com viagens, na atualidade, são em demasiado elevados. Demais, as

viagens, historicamente, foram apoderadas e dirigidas pela indústria do consumo

para atender necessidades e desejos de poucos: dos que podem pagar pelos altos

custos que elas demandam. Autores como Werneck e Isayama (2001), Barretto

(2003) e Marcellino (2006), sob esse prisma, teorizam as viagens, o lazer e o turismo

enquanto produtos concebidos e comercializados para a elite, uma mercadoria a

mais em uma sociedade “afogada” no/pelo consumo.

35

Com base nas pesquisas divulgadas pelo IBGE sobre Rendimento Médio Real - a preços de Fevereiro de 2016 das Regiões Metropolitanas dos estados de: Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/indicadores/trabalhoerendimento/pme_nova/pme_201602tm_02.shtm>. Acesso em: 14 abr. 2016.

Page 126: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

125

Em alternância, partindo dessa concepção, como explicar, contudo, a

expressiva porcentagem, quase 30%, dos candidatos que declararam não possuir

renda, porém conseguem viajar? Pressupõe-se que esses 148 que não possuíam

renda, estavam entre aqueles que têm como ocupação unicamente o estudo,

moravam com os pais ou os cônjuges: os financiadores dos gastos com cursinhos e

com viagens a concursos públicos. A mesma explicação pode ser aplicada aos

3,60% que tinham como renda “Menos de 1 salário mínimo”.

Gráfico 6 – Renda

Fonte: Pesquisa de campo (2016).

Nessa direção, no tocante à ocupação, 26,80% (134) eram estudantes,

12,80% (64) encontravam-se desempregados, 15,00% (75) empregados, 32,20%

(161) eram servidores públicos, 11,20% (51) autônomos ou profissionais liberais36 e

2,00% (10) tinham outras ocupações que, segundo eles, não se enquadravam nas

elencadas no questionário, como: estagiário, concurseiros(as), empresário,

empreendedor. (Gráfico 7).

36

Convém elucidar que essas duas categorias, apesar de possuírem diferentes significações, foram enquadradas em uma única opção pelo fato de que alguns respondentes não saberem as diferenças que as demarcam, isto foi evidenciado durante os processos de validação e tratamento dos dados. Assim sendo, como efeito de conhecimento e esclarecimento, autônomo e profissional liberal se diferem, basicamente, pelo fato de que este último possui formação/capacitação técnica ou superior.

Page 127: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

126

Gráfico 7 – Ocupação

Fonte: Pesquisa de campo (2016).

Um dado curioso e/ou intrigante a respeito da ocupação, certamente, foi o fato

de que 161 concurseiros mesmo já sendo servidores públicos continuavam a prestar

provas de concursos públicos. É provável que a situação econômica não fosse

considerada garantia de estabilidade financeira ou eles estivessem buscando

melhores salários ou ainda não tinham alcançado o cargo dos sonhos ou queriam

ser nomeados nas cidades de origem, como comumente se pôde evidenciar nos

grupos de concursos a partir da pesquisa netnográfica. A percentagem de

empregados (15,00%), aparentemente insatisfeitos com a iniciativa privada, que

foram atraídos pelos benefícios intrínsecos aos cargos públicos, foi outro aspecto

interessante. Demais, o percentual de estudantes, como se pôde notar, foi

relativamente acentuado, levando a crer que esses, por vezes, ocupam seu tempo

integralmente para preparação das provas – certamente, isso os deixa à frente, dos

concorrentes, no que se refere aos estudos e, ainda que nem sempre, nas primeiras

colocações das listas de aprovados.

A fim de avaliar a relação entre as categorias renda e ocupação dos

concurseiros, a partir de uma análise comparativa, foi viabilizada variadas relações,

Page 128: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

127

como a entre aqueles que disseram não possuir renda, serem majoritariamente os

estudantes e os desempregados, juntos eles somam 93,92% do total de 148

respondentes sem renda. Por outro lado, os que possuíam as maiores rendas

mensais, entre 1 e mais de 10 salários, foram aqueles 161 que disseram ser

servidores públicos. Desse total, 56 recebiam entre 1 e 3 salários mínimos, 66 entre

4 e 6 salários mínimos, 28 entre 7 e 9 salários mínimos, assim como, de todos os 19

participantes da pesquisa que disseram receber 10 ou mais de 10 salários, 11

possuíam como ocupação o serviço público. Já dos 75 que marcaram a opção de

que estavam empregados, 48 tinham como renda de 1 a 3 salários mínimos e 19

entre 4 e 6 salários mínimos, como melhor esclarece a tabela 2. Os dados sugerem

que a continuidade de prestar concursos, sobretudo no caso daqueles que já estão a

serviço da coletividade, motiva-se pela busca de maiores rendimentos ou pela

nomeação em seus estados e cidades de origem ou cargo dos sonhos.

Page 129: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

128

Tabela 2 – Renda x Ocupação

Fonte: Pesquisa de campo (2016).

Estudante Desempregado(a) Empregado(a) Servidor(a) Público(a)

Autônomo(a)/ Profissional

Liberal– Aposentado(a) Outro Total

Não possui renda

58,11% 86

35,81% 53

0,00% 0

0,00% 0

5,41% 8

0,00% 0

0,68% 1

29,60% 148

Menos de 1 salário mínimo

77,78% 14

11,11% 2

0,00% 0

0,00% 0

5,56% 1

0,00% 0

5,56% 1

3,60% 21

De 1 a 3 salários mínimos

16,07% 27

2,98% 5

28,57% 48

33,33% 56

16,67% 28

0,00% 0

2,38% 4

33,60% 167

De 4 a 6 salários mínimos

5,45% 6

0,91% 1

17,27% 19

60,00% 66

13,64% 15

0,00% 0

2,73% 3

22,00% 108

De 7 a 9 salários mínimos

2,70% 1

5,41% 2

5,41% 2

75,68% 28

10,81% 4

0,00% 0

0,00% 0

7,40% 37

10 ou mais de 10 salários mínimos

0,00% 0

5,26% 1

31,58% 6

57,89% 11

0,00% 0

0,00% 0

5,26% 1

3,80% 19

Total 134 64 75 161 56 0 10 500

Page 130: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

129

Quando questionados acerca de quais seriam os motivos que levavam eles a

realizarem concursos públicos, 92,00% (460) disse ser a “Estabilidade financeira”,

65,20% (326) o “Bom salário” que um cargo público oferece, 31,40% (157) o

“Horário de trabalho fixo”, pois, na iniciativa privada, geralmente, a carga horária não

é respeitada ou é preciso fazer hora extra para ajudar nas despesas da casa.

25,80% (129) via na carreira pública uma excelente oportunidade para alcançar uma

boa “Aposentadoria”, 2,00% (10) porque existe cota de “Vagas para deficientes” –

inclusive amparadas por leis (BRASIL, 1988, 1990). Os outros 6,60% (33) tinham

outras motivações de ingresso no serviço público (Gráfico 8), tais quais: “Amor ao

serviço público”; “Cargo almejado”; “Sonho profissional”; “prazer em morar noutra

cidade”; “contribuir com a administração pública, claro que os bons ganhos contam

bastante”; “Plano de saúde para família”; “Realização profissional”; “Voltar a morar

em minha cidade natal preferencialmente ou estado”; “Trabalhar na minha carreira”;

“As carreiras jurídicas que tenho interesse em seguir exigem concurso”; “Menor

pressão por metas comparado ao serviço privado”; “Desilusão com a iniciativa

privada”; “vocação”; “Melhor Qualidade de vida”.

Gráfico 8 – Motivos de se fazer concursos públicos

Fonte: Pesquisa de campo (2016).

A observância dos dados permitiu inferir os principais motivos envoltos à

realização de provas de concursos em outros lugares: a busca por estabilidade e por

Page 131: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

130

melhores salários, tendo em vista que estes, aparentemente, ainda não foram

alcançados. No tocante aos demais motivos especificados pelos respondentes, a

questão da realização profissional, do sonho, do amor e da vocação ao serviço

público, decerto, surpreendeu muito, pois, não foram pressupostas essas

motivações. Levando a crer que há motivações subjetivas e sociais, para além da

corriqueira motivação financeira.

Uma das hipóteses levantadas anteriormente sobre a persistência de

servidores públicos na realização de certames foi comprovada com estes dados:

existem servidores nomeados em outras cidades ou outros estados, diferentes

dos(as) que moravam antes, que continuam a prestar concursos com o propósito de

assumir um cargo mais próximo de “casa”: da família e dos amigos. Atrelando esse

aspecto às viagens, com efeito, imagina-se que os custos das viagens para esses

locais são menores, pois, dependendo da cidade não há despesas com

hospedagem, além do mais, possibilitam ao concurseiro “matar” a saudade de sua

terra natal.

A respeito do tempo de participação de concursos públicos, 16,40% (82) dos

concursandos afirmaram concorrer a vagas no serviço público a “Menos de 1 ano”,

48,00% (240) “De 1 a 3 anos”, 17,40% (87) “De 4 a 5 anos”, 6,20% (31) “De 6 a 7

anos” e 12,00% (60) a “Mais de 7 anos” (Gráfico 9). Os percentuais levam a concluir

que um número acentuado dos respondentes (322) fazia concursos públicos há

relativamente pouco tempo. De outro lado, os índices mais baixos, daqueles que

estavam fazendo certames entre 6 e mais de 7 anos (91), podem indicar que muitos

outros candidatos com esse período de dedicação já conseguiram (ou desistiram) o

cargo que almejavam.

Aos participantes da pesquisa, em seguida, foi perguntado quais eram as

suas preferências quanto aos níveis de concursos públicos, os resultados revelaram

que 88,00% (440) preferiam concursos “Federais”, mas também, 63,00% (315)

tinham preferência por concursos “Estaduais” e 31,20% (156) “Municipais”.

Visualiza-se no gráfico 10 que quase a totalidade dos respondentes prezava por

certames em nível federal, conquanto haja uma percentagem considerável buscando

pelos estaduais, assim como, em número menor, pelos municipais.

Page 132: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

131

Gráfico 9 – Tempo de realização de concursos públicos

Fonte: Pesquisa de campo (2016).

Gráfico 10 – Preferência de níveis de concursos públicos

Fonte: Pesquisa de campo (2016).

O acompanhamento diário dos grupos no Facebook (pesquisa netnográfica)

permitiu compreender que, em geral, a concorrência e o nível de dificuldade de

aprovação em um certame no Brasil são, além do número de vagas, diretamente

proporcionais aos salários ofertados e outros benefícios inerentes aos cargos

públicos. Assim, normalmente, os certames municipais, que costumam oferecer

menores salários, são os menos concorridos, e os concursos estaduais e federais,

Page 133: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

132

por apresentarem salários bem atrativos, acabam sendo os mais procurados.

Enquadram-se nesse perfil os cargos de técnico e de analista judiciário, com

remunerações que giram em torno de R$ 5.365,92 e de R$ 8.803,9737,

respectivamente, possuindo um quantitativo expressivo de chamadas e de

nomeações, de acordo com os mais experientes concorrentes.

A concorrência, de acordo com atores dos grupos na rede social, relativiza-se

na esfera dos concursos, há, pois, concorrências e concorrências. Isto é, existem

pelo menos dois tipos de concorrentes: os que se preparam de fato e os que não

estão preparados para “encarar” as provas. Assim, quando a demanda é divulgada

nem sempre o elevado número de participantes preocupa um concurseiro, afinal,

muitos dos inscritos irão faltar, outros estão somente testando ou conhecendo

melhor a banca, os formatos das provas, outros, porém, estão ali de fato

preparados. Nessa lógica, há concursos em que o número dos que realmente se

preparam é menor, assim como, existem os certames em que o número de

concorrentes de alto nível é considerável – nesses últimos, seguramente, os valores

dos vencimentos e os benefícios são considerados mais compensatórios.

Na sequência, buscando averiguar de quantos concursos públicos, em

aproximado, os sujeitos da pesquisa haviam participado, obteve-se um total de 37

tipos de respostas, sendo tabuladas em intervalos, conforme exposto na tabela 3.

Em análise estatística38 realizada sobre estes dados obteve-se que a média de

concursos realizados, pelos depoentes da pesquisa, foi cerca de 10, o desvio padrão

aproximou-se de 12, a mediana – ou o número mais central após o ordenamento

das respostas – foi de 8, já o indicador que mais vezes se repetiu, a moda, foi de 10

participações. Juntos os 500 concurseiros realizaram mais de 4.828 certames, visto

que as participações daqueles 48 que disseram não recordar um número, sequer

aproximado, não tiveram como ser computadas nos cálculos (Tabela 4).

37

Informação baseada no edital nº 1, de 21 de dezembro de 2015, do Concurso Público do Tribunal

Regional do Trabalho (TRT) 8ª Região, para provimento de vagas e formação de cadastro de reserva dos cargos de analista judiciário e de técnico judiciário. Disponível em: <http://www.cespe.unb.br/concursos/trt8_15/arquivos/TRT_8_REGI__O_2016___ED_ABERTURA.PDF>. Acesso em: 14 abr. 2016.

38 O cálculo do total de participações em concursos públicos, assim como, a média e o desvio

padrão ignoraram a resposta “Perdeu a conta”, visto que esta não se configura enquanto um valor numérico.

Page 134: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

133

Tabela 3 – Número de participações em Concursos Públicos

Nº de participações em Concursos

Nº de Concurseiros

%

1 – 5 155 31,00%

6 – 10 165 33,00%

11 – 15 51 10,20%

16 – 20 40 8,00%

21 – 25 13 2,60%

26 – 30 13 2,60%

31 – 35 2 0,40%

36 – 40 8 1,60%

45 – 50 4 0,80%

200 1 0,20%

Perderam a conta 48 9,60%

Total 500 100,00%

Fonte: Pesquisa de campo (2016).

Tabela 4 – Estatísticas dos números de participações em Concursos Públicos

Estatísticas das participações em Concursos Nº

Média 10,68141593

Mediana 8

Moda 10

Desvio padrão 12,3094

Total de participações 4828

Fonte: Pesquisa de campo (2016).

Estas evidências implicam pressupor que o número de tentativas de ser

aprovado para o ingresso no serviço público é menor quando se está a pouco tempo

“encarando” concursos, uma vez que, como notado no gráfico 9, pelo menos 322

concursandos participaram de concursos entre 3 e menos de 3 anos. Nessa linha de

pensamento, de modo consequente, o grande número de participações deve ser de

pessoas que estão um maior tempo na “vida de concurseiro”, os 91 que afirmaram

estarem fazendo certames entre 6 e mais de 7 anos (Gráfico 9). No gráfico 11 é

Page 135: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

134

4

21

44

36

50

32 33 28

18

54

9 7 6 6

23

6 2

6 3

23

2 2 1

8

1 1 2

9

1 1 1 2 5

1 3 1

0

10

20

30

40

50

60

1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 26 29 32 36 40 50 Núm

ero

de

resp

on

de

nte

s

Número de concursos públicos

possível ver que as indicações de participações variam de início, mas

posteriormente sofrem uma queda exponencial à medida que, supostamente, os

candidatos vão conseguindo suas nomeações, como visto também nos períodos

temporais de dedicação aos concursos públicos. É interessante observar que o

número de participações decerto irá refletir no número de viagens, conforme irão

reiterar outros dados mais adiante.

Gráfico 11 – Número de participações em Concursos Públicos

Fonte: Pesquisa de campo (2016).

Nessa esteira, visando adentrar na discussão acerca da viagem a concursos

públicos – o objeto central de discussão deste trabalho – perguntou-se: de todas as

participações, anteriormente indicadas, quantas se estabeleceram mediante

viagens? A pergunta aberta possibilitou a obtenção de 25 tipos de respostas, sendo

ordenadas em intervalos para uma melhor visualização, consoante mostra a tabela

5. Igualmente feito com o número de participações em concursos, a análise

estatística39 a respeito das viagens revelou que uma média de aproximadamente 5

viagens foram realizadas a concursos públicos pelos concurseiros, com um desvio

padrão próximo de 8 viagens. Sobre a mediana, o número mais central após o

ordenamento das respostas, foi de 4 viagens, e a moda, o número que mais se

repetiu nas respostas, foi de 2 viagens. Somando-se todas as respostas da amostra

39

O cálculo do total das viagens a concursos públicos, assim como, a média e o desvio padrão ignoraram a resposta “Perdeu a conta”, visto que esta não se configura enquanto um valor numérico.

Page 136: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

135

da pesquisa – e levando em consideração que o cálculo não considerou o número

de viagens dos (19) respondentes que afirmaram ter pedido a conta de quantas

tinham realizado – foram feitas mais de 2.536 viagens tendo como motivação a

participação em processos de seleção de funcionários públicos (Tabela 6).

Tabela 5 – Número de viagens a Concursos Públicos

Nº de Viagens a Concursos Nº de

concurseiros %

1 – 5 347 69,40%

6 – 10 96 19,20%

11 – 15 26 5,20%

16 – 20 6 1,20%

21 – 30 5 1,00%

150 1 0,20%

Perderam a conta 19 3,80%

Total 500 100,00%

Fonte: Pesquisa de campo (2016).

Tabela 6 – Estatísticas do número de viagens a Concursos Públicos

Estatísticas das viagens a Concursos Nº

Média 5,272349

Mediana 4

Moda 2

Desvio padrão 7,814426

Total de viagens 2536

Fonte: Pesquisa de campo (2016).

Importa discorrer que essas viagens (e seus números), embora não sejam

devidamente reconhecidas – como outras segmentações – pelos instrumentos de

ordenamento, de fiscalização e de regulamentação da atividade turística no país,

estão/são catalogadas, desapercebidamente, nas estatísticas de embarques e

desembarques registrados pelas Secretarias Estaduais de Turismo (SETUR’s), pelo

Ministério do Turismo (Mtur) e pela própria Organização Mundial do Turismo (OMT).

E como nos últimos anos presencia-se um crescimento exponencial de participações

em concursos públicos, os números das viagens domésticas no Brasil computadas

Page 137: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

136

pelo Mtur (BRASIL, 2015), decorrem também dessa nova vertente do setor das

viagens e do turismo. Portanto, tais números corroboram para uma dinamização

turística no país, e, consequentemente, para uma maior estruturação e

desenvolvimento dessa inovadora segmentação de mercado.

Os dados acima apresentados sobre o número de viagens permitem fazer a

mesma correlação realizada sobre o número e o tempo médio de participações em

concursos: o número de viagens é, de maneira suposta, proporcional ao tempo em

que se está realizando provas de certames, assim como, aqueles que viajaram mais

vezes estão mais tempo prestando concursos. O gráfico 12 ilustra, a priori, um

número acentuado de concurseiros que viajaram, entre 1 e 5 vezes, adiante, tem-se

uma diminuição do número de viagens feitas por eles, calcula-se que essa queda

também está ligada às investiduras dos cargos que vão se efetivando.

Gráfico 12 – Número de viagens a Concursos Públicos

Fonte: Pesquisa de campo (2016).

O planejamento das viagens a concursos, geralmente, é realizado a partir de

informações captadas por meio de(a): “Parentes e Amigos”, 30,60% (153); “Internet”,

94,80% (474); “Agências de viagens e turismo”, 8,00% (40); Guias de turísticos,

5,20% (26) e outras fontes, 3,20% (16) (Gráfico 13), especificadas como a utilização

de aplicativos de localização existentes em telefones celulares e carros (GPS,

Google Maps) e a rede social Facebook – em especial os grupos de concursos

embora houvesse a “Internet” como opção de resposta – foi bastante mencionada

como um elementar canal de obtenção de informações para o planejamento e a

50

96

79

64 58

20 21 21

7

27

2 8

1 2 13

2 1 3 1 1 1 1 1 1

0

20

40

60

80

100

120

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

11

12

13

14

15

18

19

20

22

23

24

25

30

15

0

Núm

ero

de

resp

on

de

nte

s

Número de viagens

Page 138: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

137

organização das viagens, como dissertado anteriormente em dados oriundos das

incursões netnográficas.

Gráfico 13 – As fontes de informação no planejamento desse tipo de viagem

Fonte: Pesquisa de campo (2016).

Compreende-se, então, que a internet desponta como a principal fonte de

informação no preparo desse tipo de viagem. Mas essa não é uma característica

exclusiva das viagens a concursos públicos, no mundo dos negócios turísticos,

diversos estudos em voga, consideram a internet como um verdadeiro agente

catalisador do turismo, que oportunizou, em suma, à demanda e à oferta

praticidades. Oliveira e Resende (2014) explicam que, por intermédio dela, muitas

empresas viram seu volume de vendas aumentar progressivamente, acessos se

facilitarem e, por conseguinte, longas distâncias “encolherem”, novas relações se

estabeleceram com os consumidores e houve uma melhora em termos de

qualidade. Assim sendo, no mundo dos negócios, considerando que “a informação é

a ‘alma’ do turismo, sem a qual o sector não funciona. Ou seja, o turismo não

sobrevive sem a informação e, por isso, precisa estar ao lado dos meios de

comunicação” (MARUJO, 2008, p. 26), a internet é, na atualidade, uma

condicionante substancial para o sucesso e a permanência de uma organização no

mercado turístico.

Page 139: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

138

E se tratando das organizações do mercado turístico, ao buscar compreender,

da amostra coletada, se preferia viajar individualmente ou com/por empresas (em

excursões), 90,40% (452) expressou que prima por “Viajar sozinho(a)” e 9,60%

“Viajar com empresas (em excursão)” (Gráfico 14). Tal cenário revela que há uma

notória propensão por viagens individuais, certamente, isto deve-se ao fato dessas

permitirem uma maior flexibilidade ao viajante e, quem sabe, economia.

No mais, o mercado de intermediação de viagens por intermédio de agências

ainda possui cicatrizes profundas dos impactos do “boom da internet”. Como a

pouco contextualizado, os clientes, com uma relação mais acessível aos

fornecedores, passaram a planejar e a organizar suas próprias viagens, afinal, em

muitos casos, isso implicou redução de custos (MARUJO, 2008). Colaborando com a

questão levantada, durante a participação nos grupos do espaço cibernético do

Facebook, foi perceptível que mesmo aqueles que contratavam os serviços de

empresas, os utilizavam com muita cautela e preocupação, pois, pelo visto, é um

público muito exigente, que costuma verificar junto aos prestadores de serviços

como anda a viagem, afinal, um erro por parte da empresa pode frustrar uma

preparação de anos, um sonho.

Gráfico 14 – Preferência sobre o de tipo de viagens a concursos públicos

Fonte: Pesquisa de campo (2016).

Quanto aos meios de transportes usualmente utilizados pelos depoentes ao

realizarem as viagens, obteve-se: “Ônibus” 57,00% (285); “Van” 4,60% (23); “Carro”

31,40% (157); “Avião” 75,00% (375); “Barco ou Navio” 3,40% (17); e 0,20% (1)

assinalou a alternativa “Outro”, especificando que utiliza trem quando se desloca a

Minas Gerais (Gráfico 15). Depreende-se que, sobremaneira, esses preferem fazer

Page 140: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

139

uso do avião em seus deslocamentos, possivelmente em decorrência desse meio de

transporte possibilitar uma viagem com menor duração, além de um maior conforto e

uma maior segurança.

Gráfico 15 – Meios de transporte utilizados nesse tipo de viagem

Fonte: Pesquisa de campo (2016).

Os altos percentuais de utilização de ônibus podem estar atrelados à oferta

de viagens de excursões rodoviárias por empresas, a curtas distâncias ou por

simplesmente apresentar menores custos. A utilização de automóveis por 157 dos

respondentes, igualmente, pode sugerir pequenas distâncias ou uma preferência ou

uma possibilidade de diminuir gastos com a opção de “rachar a gasolina” com outros

concurseiros, como evidenciado corriqueiramente nos grupos de concursos do

Facebook. Os 17 que disseram ter feito uso de barco ou de navio provavelmente

viajaram pelo Norte do país, onde há muitas cidades em que o acesso somente é

estabelecido por via fluvial.

A respeito dos locais onde costumeiramente se hospedam durante as

viagens, 43,00% (215) marcou a assertiva “Casa de Parentes e Amigos”, 1,80% (9)

“Imóvel Alugado”, 76,00% (380) “Hotéis”, 26,40% (132) “Albergues/Hostel”, 24,00%

(120) “Pousadas”, 4,40% (22) disse “Não me hospedo” e 1,20% (6) marcou a opção

“Outro”, conforme o Gráfico 16. Estes resultados revelam que uma maioria dos

concuseiros viajantes tem preferência por hospedar-se em Hotéis, o meio de

Page 141: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

140

hospedagem mais tradicional no turismo. No entanto, um quantitativo expressivo

(153) costuma se hospedar em Pousadas, Albergues ou Hostel, tipologias de

hospedagens relativamente novas, as quais apresentam preços mais acessíveis,

para atender, sobretudo, a juventude, segundo Giaretta (2003).

Gráfico 16 – Locais de hospedagem utilizados nesse tipo de viagem

Fonte: Pesquisa de campo (2016).

Aqueles que não se hospedam, preferem ir e voltar no mesmo dia, pois,

consoante um dos sujeitos da pesquisa: “prefiro não me hospedar, assim os custos

são menores40”. Apoderando-se das classificações de viajantes tratadas por Licínio

Cunha (2003), e levando em consideração os que fazem turismo na cidade, estaria-

se diante de “concurseiros excursionistas” – relembrando, indivíduos permanecentes

menos de 24 horas em uma localidade (CUNHA, L., 2003). De outro lado, dá a

entender que as participações de concursos públicos em outros municípios ou

estados estão ligadas à existência de familiares e de amigos que lá residem, e

podem oferecer hospedagem, tendo em vista a possibilidade de redução das

despesas, de rever pessoas e de aproveitar melhor a cidade a partir de dicas dos

hospedantes.

40

Informação adquirida por meio dos questionários. Pesquisa de campo (2016).

Page 142: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

141

Sobre os que responderam a opção “Outro” (6), um deles chegou a

mencionar “ja pernoitei em motel por nao haver pousada na cidade. la so havia

hoteis caros41 [sic]”, é um dado no mínimo curioso, tendo em vista que essa

categoria de hospedagem, no Brasil, historicamente se caracterizou enquanto um

espaço de encontros amorosos, que muito dista da motivação42 de seu nascimento e

desenvolvimento (GUIMARÃES; CAVALCANTI, 2007). Entrementes, para Borella

(2005), a imagem a respeito dos motéis vem mudando no país, há, atualmente,

nesses empreendimentos um conjunto de serviços igualmente oferecidos por outros

meios de hospedagem, e como se pôde notar no comentário de um dos

concurseiros, acaba saindo mais em conta, e o hóspede tem a opção de pagar por

hora e não por diárias, que muitas vezes não é utilizada na íntegra.

Por outro lado, observou-se também nessas respostas duas “novas formas de

hospedagens”: a primeira delas foi a reserva e o aluguel quartos, casas e

apartamentos via o Airbnb43, site que tem revolucionado o mercado de hospedagem,

onde tanto empresas quanto pessoas têm lucrado, como evidencia a figura 20 – é

possível que os nove (9) que disseram ter alugado imóveis fizeram o por meio dessa

ferramenta; a segunda forma foi a possibilidade de hospedagem gratuita (solidária)

por meio de uma rede social chamada CouchSurfing44 (Figura 21) – espaço virtual

onde pessoas, que desejam mostrar cidades, fazer companhia, oferecer

hospedagem ou precisem se hospedar, se conectam, interagem e trocam,

hospitalidades em diferentes lugares do mundo (DUTRA, 2010).

No centro dessa questão, cabe discorrer o que Urry (2003) já sinalizava,

outrossim, se esteja em uma sociedade permeada fortemente por redes virtuais, que

a priori dispensa os traslados espaço-tempo-reais, as pessoas, na ausência de

“sinestesias puras”, têm buscado nas viagens diminuir distâncias físicas, promover a

manutenção de uma vida social e de interações transculturais off-line. Nesse

contexto, as hospedagens em residências de familiares, de amigos ou de

desconhecidos, a partir do Airbnb ou do CouchSurfing, permitem que relações

41

Informação adquirida por meio dos questionários. Pesquisa de campo (2016). 42

De gênese inglesa, a terminologia motel, nascida da fusão das palavras motor e hotel, compreende empreendimentos que situavam-se à beira de estradas, em geral no zona rural dos EUA, que abrigavam para descanso motoristas e seus veículos entre horas e horas de quilômetros rodados nessas rodovias (GUIMARÃES; CAVALCANTI, 2007).

43 Para maiores informações a respeito do Airbnb:<https://www.airbnb.com.br/>.

44 Para maiores informações a respeito do CouchSurfing: <https://www.couchsurfing.com/>.

Page 143: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

142

socioculturais, nascidas no ambiente virtual, se consolidem na ambiência real das

viagens (NOVELI, 2010).

Figura 20 – Hospedagem pelo Airbnb Figura 21 – Hospedagem pelo Couchsurfing

Fonte: Capturas de tela realizadas via Airbnb e Couchsurfing. Pesquisa de campo (2016).

Ao buscar categorizar a permanência dos candidatos nas cidades onde

realizaram provas, se averiguou quantos dias, em média, duram as estadas, os

resultados apresentados no Gráfico 17 ilustram que, 11,00% (55) ficou apenas “1

dia” nas localidades onde ocorreram os certames, 41,40% (207) “2 dias”, 33,00%

(165) “3 dias”, 11,00% (55) “4 dias”, 3,20% (16) “5 dias” e 0,40% (2) disseram que

permaneceram por “Mais de 5 dias”. Como sequência, foi questionado quantos dias

antes da prova normalmente chegam às cidades, 7,20% (36) disse que chegam “No

dia da prova”, 69,80% (349) “1 dia antes”, 22,20% (111) “2 dias antes”, 0,40% (2) “3

dias antes”, 0,20% (1) “4 dias antes” e 0,20% (1) “Mais de 4 dias antes” de ocorrer

as provas (Gráfico 18).

Page 144: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

143

Gráfico 17 – Número de dias que costumam ficar na cidade de realização da prova

Fonte: Pesquisa de campo (2016).

Gráfico 18 – Quantos dias antes da prova chega-se à cidade de sua realização

Fonte: Pesquisa de campo (2016).

Page 145: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

144

As informações colhidas oferecem o ensejo para delimitar, de maneira geral,

que a permanência dos concurseiros nas cidades onde fizeram as provas foi de 2 a

3 dias. Porém, não se pode ocultar que uma pequena cota dos respondentes teve

estadas de 4 ou mais dias, tal como houve outra parcela com apenas um dia.

Provavelmente, estes últimos objetivam economizar dinheiro ou precisam retornar

por questões familiares e de trabalho. Já o grupo com permanência maior, busca,

possivelmente, chegar antes para conhecer o local de prova e verificar como chegar

até ele, descansar após uma viagem cansativa e/ou longa, aproveitar para conhecer

e “turistar” pela localidade, encontrar amigos e parentes. Haja vista que uma

porcentagem expressiva costuma chegar 1 ou 2 dias antes, conforme demonstra o

gráfico 18. Nessa ótica, Ceretta (2005) pondera que o gasto turístico está

diretamente conexo com o tempo de permanência do indivíduo, logo, um maior

número de estadas pode implicar maiores gastos.

E quais seriam os gastos médios dessas viagens? Questionou-se aos

viajantes. Mesmo sabendo que as despesas de uma viagem para outra podem

variar vertiginosamente, buscou-se as respostas na forma de valores monetários a

fim de ilustrar quantitativamente, em reais, a média de gastos nessas viagens. Com

resultado, identificou-se 37 diferenciados valores que, ao serem ordenados sob

intervalos, (Tabela 7) revelaram custos de R$ 100,00 a R$ 3.500,00. Uma análise

estatística (Tabela 8) realizada sobre esses valores possibilitou apontar que a média

de gastos nessas viagens foi de R$ 884,32 reais, assim como, o desvio padrão de

R$ 547,8591, o valor que mais vezes foi citado pelos interlocutores da pesquisa, a

moda, foi de R$ 1.000,00 e o mais central no ordenamento, a mediana, de R$

800,00. O dispêndio total dos gastos dos respondentes durantes essas viagens foi

de R$ 442.160,00, um valor, em certa medida, representativo no universo das

viagens e do turismo. Esses gastos, contudo, não abrangem apenas o transcorrer

das viagens, Ceretta (2005) soma a eles os gastos para a preparação da viagem e

os para o regresso. Logo, as viagens a concursos públicos demandam, igualmente,

despesas em diferentes mercados, turísticos e não turísticos, e polos emissivos,

transitórios e receptivos (LAGE; MILONE, 2001).

Page 146: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

145

Tabela 7 – Gastos médios com as viagens

Valores Nº de

Concurseiros %

R$ 100,00 – R$ 450,00 95 19,00%

R$ 500,00 – R$ 950,00 197 39,40%

R$ 1.000,00 – R$ 1.400,00 126 25,20%

R$ 1.500,00 – R$ 3.500,00 82 16,40%

Total 500 100,00%

Fonte: Pesquisa de campo (2016).

Tabela 8 – Estatísticas dos custos aproximados das viagens

Estatísticas Valores

Média R$ 884,32

Mediana R$ 800,00

Moda R$ 1.000,00

Desvio padrão R$ 547,8591

Total de gastos R$ 442.160,00

Fonte: Pesquisa de campo (2016).

É presumível que os mais baixos gastos sejam de viagens de curtas

distâncias – feitas em veículos particulares, barcos ou ônibus. Os maiores valores,

por outro lado, podem representar as viagens longas, para estados ou regiões

distantes e/ou de difícil acesso. Nessa concepção, no gráfico 19 é possível notar

pelo menos 3 grupos expressivos de respostas iguais, em que um grupo de 55

(11,00%) concurseiros gastou em média R$ 500,00, um segundo grupo de 98

(19,60%) gastou R$ 1.000,00 e o terceiro grupo 45 (9,00%) desembolsou R$

1.500,00 para viajar. Estes grupos podem estar correlacionados às distâncias, às

durações das viagens e aos meios de transportes utilizados. Do mesmo modo, é

verossímil que estejam ligados às condições econômicas dos candidatos, afinal,

como visto muitos dos participantes da pesquisa apresentam rendas bem elevadas,

sendo alguns, inclusive, servidores públicos.

Page 147: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

146

Gráfico 19 – Gastos médios com as viagens

Fonte: Pesquisa de campo (2016).

Partindo da ótica de que o gasto com deslocamento (transporte externo) é

inevitável, questionou-se que outros gastos os sujeitos costumam ter durante essas

viagens. O resultado foi: 86,00% (430) disseram gastar com “Hospedagem”; 97,80%

(489) com “Alimentação”; 79,00% (395) com “Transporte Interno (Traslado, Táxi,

Coletivos.)”; 25,20% (126) “Compras Pessoais”; 25,20% (126) “Atrativos e Passeios”

e 2,40% (12) “Outro: Baladas, Festas, Bares, Nigth, lembrancinhas típicas

[Souvenirs], Remédios e Combustível” (Gráfico 20).

Estes números revelam os três maiores, mais basilares e comuns gastos

nessas e em outras viagens: “Hospedagem”, “Alimentação” e “Transporte”. O

percentual de gastos com hospedagem não alcançou o totalidade porque pode estar

correlacionado àqueles 43,00% (215) que disseram ter preferência em se hospedar

em “Casas de Parentes e Amigos” (Gráfico 16). Os gastos com alimentação, para

além de figurar uma necessidade biológica, possivelmente estão atrelados também

com o desejo de conhecer a gastronomia das localidades. O transporte interno,

embora esteja ligado aos traslados para realização de provas, pode, igualmente, ser

um meio de conhecer os pontos turísticos das cidades. Importa frisar que, direta ou

indiretamente, esses gastos estão ligados ao mercado do lazer e do turismo (LAGE;

MILONE, 2001; TRIBE, 2003).

8 2 1

17

5

29

5

26

2

55

4

40

3

29

1 8

29

6 2 12 8

98

3 1

16

2 3 3

45

3 2 2

18

1 1 9

1

0

20

40

60

80

100

120

Núm

ero

de

resp

on

de

nte

s

Gastos com as viagens

Page 148: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

147

Gráfico 20 – Com o que se costuma gastar

Fonte: Pesquisa de campo (2016).

Houve também um tímido número de respondentes com gastos claramente

turísticos: compras pessoais, atrativos e passeios, assim como baladas, bares,

festas e souvenir. Averiguou-se com as incursões virtuais que essas atividades são

realizadas pelos concurseiros, ou ofertadas por empresas, normalmente em cidades

presentes no imaginário turístico do país, sendo incitadas pelas campanhas

publicitárias que as conferem como experiências únicas e primaciais na realização

de viagens (RUSCHMANN, 2001). Elas podem, também, estar ligadas à

possibilidade do candidato conhecer a cidade que poderá ser a sua nova casa e seu

novo local de trabalho, caso seja aprovado no concurso.

Ao inquirir-se sobre as atividades que costumam fazer antes ou após a

realização das provas, as informações obtidas, figuradas no Gráfico 21,

descortinaram que o tempo é ocupado da seguinte maneira: 59,40% (297)

“Ler/Estudar”; 52,00% (260) “Dormir”; 26,00% (130) “Assistir TV”; 44,80% (224)

“Navegar na internet”; 57,20 (286) “Conhecer, passear, divertir-se na/pela cidade” e

11,60% (58) “Outro”. Nota-se que existe a preocupação de um percentual em focar

nos estudos, mas também, existem os que procuram aproveitar as cidades

turisticamente. Não obstante, houve um grupo que disse preferir relaxar ou

Page 149: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

148

descansar, seja dormindo, seja assistindo tevê, seja navegando na internet no

tempo ocioso dessas viagens.

Gráfico 21 – O que se costuma fazer antes e/ou depois da realização das provas

Fonte: Pesquisa de campo (2016).

Supostamente, ocorre uma variância nas atividades antes e após o certame,

interpretação ratificada por aqueles que ao especificaram as respostas na opção

“Outro”, escreveram: antes das provas, se foca nos estudos, em assistir os “aulões

de véspera”, as “revisões”, “verificar onde será o local de prova, se fica próximo ou

longe do hotel. Vejo também como vou chegar, de ônibus, táxi ou traslado

oferecidos”; Depois das provas, houve um grupo que disse preferir “Ir embora”;

“Nada, aguardo meu transporte para voltar a minha cidade natal”; “ir para o

aeroporto para volta para casa”. No entanto, tiveram aqueles que procuram fazer um

pouco de tudo: “É importante fazer de tudo um pouco, revisar as matérias, passear,

dormir (isso é essencial), falar com a família e amigos pela internet”; “Costumo me

exercitar, correr pela cidade, em praças ou lugares próximos de onde me hospedo“

ou “saio caminhando mesmo pelo bairro. Gosto de ver também as programações

diferentes da tv local”.

E teve o grupo que disse preferir “turistar” pelas cidades, como demonstram

as seguintes respostas: “depois da prova sempre termina após as 18:30h vou curtir

com os concurseiros”; “depois da prova a ideia é relaxar, curtir uma night é uma

Page 150: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

149

boa”; “Ir a baladas”; “Ir em festas, conhecer as casas noturnas, depois da prova”;

“Conhecer a noite da cidade, relaxar, geralmente no pós prova”; “Comidas típicas”;

“’Tomar um gelo’! Típico do Belenense”; “visitar amigos(as)”; “Ir ao shopping ver

coisas diferentes, as pessoas da terra”; “ir almoçar/jantar em um lugar legal, mas

não caro”; “Fazer compras de coisas exóticas da cidade”; “Interação com o

hospedante”; “Sair para comer e visitar pontos turísticos”; “Conhecer pontos

turísticos tradicionais”; conhecer “Cinema”; “Restaurantes, bares e pizzarias”.

Os gastos ordenados na Tabela 7 e sistematizados no Gráfico 19 e os seus

motivos apresentados no Gráfico 20, somados às atividades que os concurseiros

costumam praticar nas cidades, expostas no Gráfico 21, viabilizam depreender que

essas viagens envolvem diferentes esferas do turismo: Hotelaria, Agenciamento,

Hospitalidade, Transporte, Alimentos e Bebidas (Gastronomia), que, certamente,

impactaram (e continuam a impactar) socioeconomicamente muitos destinos onde

ocorreram as provas. Embora retrodito, reitera-se que a atividade turística é capaz

de afetar e, mais, beneficiar economicamente inúmeros agentes sociais, seja no

mercado formal, seja no informal, de maneira direta e indireta, em um “efeito

dominó”: conhecido pelos estudiosos da área como efeito multiplicador do turismo

(BENI, 2003; FERNANDES; COELHO, 2002; LAGE; MILONE, 2001; LOHMANN;

PANOSSO NETTO, 2012).

Na perspectiva analítica sistêmica de Beni (2003), abordada no escopo

teórico dessa pesquisa, o turismo, para “acontecer”, envolve-se e transversaliza-se

por/com variados elementos de diferentes subsistemas. Dessa compreensão,

órgãos e entidades públicas, empresas e as camadas sociais articulam-se, em meio

a uma relação, comumente, tácita, em prol da atividade turística, e muitas vezes sem

perceber que estão envolvidos nesse complexo processo. Desse modo, é comum

não se ter um planejamento integrado, é visível a ausência ou a falha de

comunicação, de decodificação e de conexão entre esses setores em destinações

turísticas no mundo e, principalmente, no Brasil. Corroborando para que ações se

efetivem de modo parcelado e, até, conflituoso, tal fato reflete em esforços

frustrados e fragmentados, tanto no campo científico, como Dencker (1998) sinaliza,

quanto na atividade.

Lück (2003), nessa pauta, postula que em face do descrédito, da falta de

tempo e de conhecimento técnico, não é incomum ações serem executadas sem

estarem sequer previstas em projetos. À vista disso, os benefícios que o turismo

Page 151: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

150

forja não são potencializados e, muito menos, gozados. Esse cenário é replicado

também na segmentação das viagens a concursos públicos, que por não ser, a

sério, reconhecida pelas superestruturas, pelo empresariado e, ao menos, pela

academia, enquanto uma possibilidade de mercado e de estudo próspera, não pôde

ainda alcançar os mesmos patamares que outros nichos ou segmentos, tampouco

dinamizar seus benefícios.

Posteriormente, foi indagado aos sujeitos da pesquisa se eles consideravam

essas viagens enquanto oportunidades de conhecer novas cidades, regiões e

culturas, a maioria, 75,80% (379), disse “Sim” e 24,20% (121) que “Não” (Gráfico

22). Aos justificarem os porquês, aqueles que afirmaram não concordar, pontuaram

que o foco principal da viagem é o concurso, alguns procuram fazer revisões,

estudar ao máximo, por isso acabam não tendo a oportunidade de explorar a cidade,

como confirmam algumas respostas: “Viajo apenas para realizar a prova“; “Não,

devido à circunstância, à tensão em torno da prova”; “Antes da prova há ansiedade e

nervosismo. Após a prova há cansaço“; “Para quem está muito focado e ansioso, o

único pensamento e tentar estudar mais um pouco antes da prova ou tentar

descansar (dormir) um pouco”; “Não, porque estarei focado na prova, não vim fazer

turismo. Só faço algumas atividades pra aliviar a tensão”; “Antes da prova

precisamos manter foco em pequenas revisões e descansar a mente. Passear pode

ser divertido porém acaba distraindo” [sic].

Gráfico 22 – Essas viagens seriam oportunidades para conhecer outras cidades, regiões e culturas

Fonte: Pesquisa de campo (2016).

Page 152: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

151

O curto tempo e a economia figuram como motivos prevalecentes desses

viajantes não aproveitarem as cidades em um viés turístico, pois, alguns precisam

voltar logo para trabalhar, e mais dias de estada demandam maiores custos: “como

geralmente trabalho no dia seguinte, não consigo conhecer quase nada”; “Tenho

que retornar rápido ao trabalho/família”; “Quem viaja para fazer concursos tem que

gastar pouco, pois, a incerteza da aprovação cria a necessidade de economizar ao

máximo para viabilizar outras viagens com o mesmo objetivo”; “Nunca dá tempo. A

única viagem em que consegui aproveitar um pouco foi para o Pernambuco, em que

não estudei no sabado q antecedia a prova e dei um pulo ate Porto de Galinhas”;

“Pq é difícil, mas quando dá eu vou”; “Porque minhas viagens para concurso são

única e exclusivamente destinadas ao concurso. Se não houvesse o concurso, eu

não viajaria. Não disponho de tempo, nem investimento suficiente para viagens

turísticas”; Outro grupo afirmou: “Meu único intuito nessas viagens é tentar me

classificar bem no concurso. Deixo para fazer turismo depois da posse”; “Farei isso

depois de aprovado” [sic].

Além destas, outras questões rondam as decisões de não aproveitar a

ocasião para conhecer a cidade, como a de um grupo de mulheres que afirmaram

não sentirem segurança para passear “sozinhas” por localidades onde não

conhecem nada nem ninguém: “Nunca tenho tempo para conhecer a cidade. Além

disso, sempre viajo sozinha, tenho medo, o que me desestimula fazer algum

turismo”; “Penso no risco de vida por andar por lugares desconhecidos”;

Viajar na tensão pré-prova e com a grana contada para pagar hospedagem, transporte e alimentação torna o turismo praticamente impossível. além disso, sempre viajo sozinha, então, na condição de mulher, é bem complicado sair sozinha, principalmente quando se trata de lugar desconhecido

45.

Esse é um discurso muito recorrente nas falas de mulheres que viajam, pois, há,

recentemente, um acentuado número de relatos de mulheres assediadas,

estupradas, violentadas e até mortas por estarem viajando “sozinhas”, como bem

alerta as reflexões de Antonioli (2015). A título de exemplificação, em março de 2016

aconteceu um caso com muita repercussão e revolta no mundo, sobretudo nas

redes sociais, o assassinato de duas amigas argentinas, no Equador, que viajavam,

45

Informação adquirida por meio dos questionários. Pesquisa de campo (2016).

Page 153: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

152

pela América Latina “sozinhas”46. Portanto, este é um forte empecilho aos passeios

das concurseiras pelas cidades.

As respostas de outros informantes consentem que essas viagens podem se

materializar enquanto oportunidades para conhecer um pouco de outras regiões e

culturas, versaram que as viagens de forma geral, em diferentes intensidades,

possibilitam: enriquecimento cultural, conhecer o novo, o inusitado, o diferente, o

igual, o semelhante. Eis, algumas respostas dos sujeitos da pesquisa: “As viagens

em sí já são investimentos culturais”; “Toda viagem é uma oportunidade de mudar

de ares e conhecer algo diferente“; “Uma estadia de alguns dias em uma região

diferente daquela que você vive, traz um crescimento cultural mesmo que pequeno”;

“Sim, porque você já está automaticamente inserido em uma nova cultura. Logo,

mesmo não sendo a principal motivação da viagem essa é uma consequência

natural”; “Sempre é bom conhecer novos lugares, pessoas e culturas. Isso nos

enriquece culturalmente e proporciona um grande lazer”; “Viajar é sempre renovação

de energias e de conhecer novas culturas e pessoas” [sic]. Analogicamente, estas

respostas remetem às escritas de grandes pensadores das viagens e do turismo,

como Barretto (1995), Beni (2003, 2004), Chias (2007), Molina (2003), Panosso

Netto e Gaeta (2010), Trigo (1998, 2013) e Urry (2001).

Elas possibilitam, ainda, que: “A cada ida pra uma cidade diferente, a gente

sente despertar a vontade de explorar melhor as belezas da região”; “provar

alimentos locais e falar com individuos do local, permite um contato com a ctura

[cultura] dos mesmos. Além disso a perspectiva visual do lugar visitado fala muito

sobre a cultura ali presente [sic]”; “Como já mencionei, gosto de me exercitar, corro

pelas cidades onde faço as provas, geralmente em praças perto do hotel, assim

acabo conhecendo melhor as cidades, as pessoas”; “Nosso país é muito

interessante e cada lugar possui um diferencial, seja nos modos ou na comida. Para

quem goza de mais tempo livre em relação ao horário/dia da prova é válido a

procura por esses diferenciais”; “Sempre vou atrás de pontos turísticos”;

“Oportunidade para conhecer a cidade, passear, fazer comprar e conhecer a

gastronomia local”.

46

Maiores informações: <http://g1.globo.com/mundo/noticia/2016/03/viajosozinha-como-morte-de-duas-turistas-argentinas-levou-debate-sobre-assedio.html>; <http://brasil.elpais.com/brasil/2016/03/02/internacional/1456911848_192026.html>.

Page 154: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

153

Como reflexo desse enriquecimento cultural, tem-se “uma higienização

mental”, conforme os respondentes, que desmistifica e “rompe muitos estereótipos”,

“nos desnuda de preconceitos” [sic]. Nas palavras da teoria, as práticas realizadas

nas viagens e no turismo, enquanto experiências vivenciais (RUSCHMANN, 2001),

“revelam-se potencialmente capazes de reiterar ou modificar essas diferenças e

desigualdades através de seus contatos transculturais” (ANTONIOLI, 2015, p. 4), a

partir de um olhar holístico e real dos lugares, das pessoas e das “coisas”.

No que se refere às provas, conhecer e “turistar” na/pela cidade pode ser uma

forma de aliviar a tensão e o nervosismo, assim como recarregar as energias: “dar

um passeio antes ajuda a relaxar para a prova e depois ajuda a aliviar a tensão da

prova”; “É uma oportunidade de, também, relaxar depois das provas”; “nao costumo

estudar no dia anterior à prova, conhecer o local ajuda a espairecer”. Durante as

estadas, é possível, ainda, que novas amizades se estabeleçam e antigas se

estreitem, onde muitos aproveitam para: “rever os amigos de outros estados que

também fazem concursos”; “conhecer pessoas de outros estados que estão nas

mesma [mesmas] sistuações [situações] e rola uma troca de experiência”; “Com toda

a certeza, e falo isso com base na minha experiência. Tenho amigos e conhecidos

em várias cidades que já fiz concursos“[sic]. Dessa forma, essas viagens

configuram oportunidades de rever amizades antigas, conhecer novos concurseiros

e se ambientar na cidade ou região onde possivelmente irá se trabalhar, caso seja

nomeado.

“Simples, se já estou lá, por que não conhecer?“ É assim que se estreita a

relação entre os concursos públicos, as viagens e o turismo. Segundo um dos

depoentes, “Entre concurseiros, a brincadeira é que concurseiro só faz turismo/lazer

quando tem prova!”, logo, percebe-se haver uma “conciliação de interesses”, como

relatou outro depoente. Encontra-se, portanto, diante de uma chance de explorar um

lugar que pode ser até então desconhecido, assim: “aproveito para conhecer o lugar,

que não sei se vou voltar, e relasar [relaxar] um pouco depois da prova!”; “como já

estou lá, tento aproveitar o que o lugar tem para oferecer, pois não sei se ou quando

voltarei aquele lugar”; “Sempre aproveito para ver a organização da cidade e o

clima”; “Unir o util ao agradável, pois ja está tendo o gasto com passagem/

hospedagem”; “Faço questão de conhecer pelo menos os principais pontos turísticos

da cidade”; “Sim pois já vou ter um gasto, então vale a pena "turistar" um

Page 155: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

154

pouquinho”. É uma forma de agregar a motivação principal: o concurso, a uma

motivação secundária: o turismo (MARQUES, 2009).

Houve quem admitisse já ter viajado mais para fazer turismo do que fazer a

prova, de fato. É, para muitos, a melhor parte da viagem, “é o momento da diversão,

da recompensa, pelos dias incansáveis de estudo”. Normalmente, o turismo é

realizado no pós prova, para relaxar, “depois das provas, eu fico um ou dois dias a

mais nas cidades, justamente para aproveitar a ocasião de ali está e conhecê-las”

(como constatado na pesquisa netnográfica, Figura 22). Dessarte, a viagem a

concursos é percebida por uma parcela dos candidatados como uma oportunidade

de usufruir das práticas turísticas de lazer ofertadas pelas/nas cidades, pois, para

eles, os investimentos com deslocamento, hospedagem, alimentação e preparação

não podem ser utilizados apenas para fazer as provas.

O fato de aproveitar a ocasião para fazer turismo ou não, correlaciona-se,

demais, aos seguintes aspectos: “Depende, se for região muito distância da minha

origem (moro no Sul, vou para o Norte fazer um concurso), aí geralmente reservo

um tempo para turismo. Se for em alguma cidade da minha região, não dedico

tempo ao turismo”; “A oferta de passeios da empresa que viajo ou dos hotéis é um

facilitador para que eu aproveite as cidades. Nesse último concurso, por exemplo,

conheci o Parque Nacional Chapada dos Guimarães, em Goiás” (Figura 23).

Conforme Costa et al (2013, p. 7) o indivíduo que pratica turismo “tem entre suas

principais motivações a busca por lugares que diferenciam-se da sua realidade, isto

é, este é instigado pelo que de fato é exótico ao seu olhar”. O interesse e a

curiosidade para com as destinações são estimulados pelo marketing da oferta, que

cria e introjeta imaginários turísticos, a partir da publicidade e da propaganda: da

informação e da persuasão, em respectivo (COSTA et al, 2013; RUSCHMANN,

2001). Portanto, uma oferta maior de serviços turísticos é primacial para desenvolver

atividades turísticas de lazer para esse público.

Page 156: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

155

Figura 22 – “Turistando” depois da prova.

Fonte: Captura de tela via Facebook. Pesquisa de campo (2016). Figura 23 – Turismo de concurseiros na Chapada dos Guimarães

Fonte: Captura de realizada via Facebook. Pesquisa de campo (2016).

Mediante essas viagens, conforme relatado pelos informantes, é capaz de se

desvendar cidades fora dos roteiros turísticos convencionais – “nos permite

Page 157: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

156

conhecer lugares que talvez não fizesse parte de um roteiro tradicional de férias ou

que não pretendesse conhecer”; “Eu sempre me surpreendo com as belezas dos

lugares por onde passo, e me pergunto: por que elas são tão desconhecidas?, por

que não são mais divulgadas?” [sic]. As contribuições de Rita Cruz (2001) são

passíveis de responder a esses questionamentos, uma vez que elas contextualizam

a concepção de lugares turísticos, assim como atrativos ou pontos, como porções

espaciais às quais foram conferidas, historicamente, valorações ambientais, sociais,

políticas, econômicas (mercadológicas) e culturais de “turistificação”. Nesse

contexto, por serem frutos dessas construções, as destinações convencionais do

turismo de hoje “não eram no passado e talvez não sejam no futuro. Como a cultura

varia no tempo e também no espaço, o que é atrativo turístico para alguns grupos de

pessoas pode não ser para outros” (CRUZ, 2001, p. 8). Na contemporaneidade,

como reflexo disso, tem-se uma valorização de certos espaços em detrimento de

outros, e isso é fomentado pelo processo globalizatório, que ajuda a forjar e a

massificar estereótipos sobre a imagem de localidades.

Retomando a discussão anterior, as viagens possibilitam uma pluralidade de

oportunidades e de concessões, ora semelhantes, ora antagônicas. Afinal, como

muito bem disserta Beni (2004, p. 295-296),

Viajar é abrir novos horizontes, conhecer novas culturas, lugares e paisagens. A viagem rompe a rotina do cotidiano, revela novos cenários e traz para a vivência (...) expectativas sempre surpreendentes. A viagem é um movimento externo e interno [ao viajante]. Externo porque ele desloca-se no espaço físico e no tempo. Interno porque seu imaginário segue na frente, instigando a intelectualidade e o emocional, preparando-o para viver o inusitado em experiências únicas na revelação do desconhecido e do diferente. A viagem exerce (...) muitas influências eis que no aspecto subjetivo liberará o conteúdo de seus sonhos, seus desejos, sua imaginação projetiva e aumentará suas experiências existenciais. No aspecto material, por outro lado, crescerá seu acervo de conhecimentos profissionais e seus negócios poderão expandir-se ou transformar-se em novos empreendimentos.

Dessa sorte, em suma, viajar permite aos concurseiros: conhecer várias cidades,

diferentes culturas, onde podem vir a exercer alguma função pública; forjar cenários

de mutualísticas trocas de símbolos, de signos, de linguagens, de experiências, de

culturalidades; ampliar a visão de mundo, romper preconceitos; Conciliar estudos e

lazer; Construir conhecimentos científicos e populares, a partir de experiências, de

vivências, pelo e através do lazer. E, ainda, ter o subjetivo instigado, os sonhos, os

desejos, o estado emocional estremecido e aflorado.

Page 158: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

157

Sob esse prisma, ao questioná-los se já visitaram ou têm vontade de visitar

algum dos lugares onde se prestou concursos, com fins exclusivamente turísticos, o

resultado foi: 86,00% (430) “Sim” e 14,00% (70) “Não” (Gráfico 23). Os dados

indicam uma propensão acentuada de candidatos que desejam retornar ou já

retornaram a turismo. As respostas negativas podem estar ligadas ao fato de que

algumas vagas são ofertadas em interiores do Brasil que não apresentam uma boa

infraestrutura e qualidade de vida, ou eles já conheciam os locais. O desejo de

retorno é muito comum em outras segmentações do mercado turístico, em que

viajantes se deslocam para uma determinada destinação com uma motivação e, em

outras oportunidades, retornam com motivações turísticas de lazer – levando

consigo, por vezes, familiares e amigos (ANSARAH, 2001; BRASIL, 2010a;

PANOSSO NETTO; ANSARAH, 2009, 2015; SIMÕES; FERREIRA, 2009).

Gráfico 23 – Já visitou ou tem vontade de visitar alguma cidade onde realizou prova de concurso, a turismo.

Fonte: Pesquisa de campo (2016).

A semelhança desse viajante com os de outras segmentações é tamanha que

dados encontrados neste estudo são em demasia próximos dos resultados da

pesquisa do Ministério do Turismo, intitulada: Impacto Econômico dos Eventos

Internacionais realizados no país, entre 2007 e 2008, que ao perfilar o turista de

negócios e eventos, identificou que “81,7% pretendem voltar à cidade do evento e

94,5% ao Brasil. Destes, 82,6% querem retornar a lazer” (BRASIL, 2010b, p. 28). O

retorno junto de familiares e de amigos é estimulado pelos recursos naturais e

culturais que as localidades dispõem. No mais, os viajantes dessas segmentações,

em comparação aos visitantes que buscam lazer e entretenimento, podem gerar

Page 159: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

158

maior rentabilidade aos destinos, afinal, eles, eventualmente, terão duas

permanências (BRASIL, 2010b).

Após esses questionamentos, que em certa medida estimularam reflexões

nos respondentes sobre os seus comportamentos, as suas atitudes e as suas

percepções acerca das cidades e do turismo durante as viagens, por fim, indagou-se

se estas seriam, para eles, uma nova forma de fazer turismo, estar-se-ia diante de

uma inovadora segmentação do mercado turístico?. Da totalidade de sujeitos que

integraram a pesquisa, 73,60% (368) concordaram e 26,40% (132) discordaram

(Gráfico 24). Esse resultado demonstrou que uma expressiva parcela apreende

essas viagens enquanto uma nova segmentação do turismo. Aqueles que não as

visualizaram dessa forma, provavelmente, compõe o grupo daqueles 24,20% (121)

que não consideram que essas sejam oportunidades para conhecer outras cidades,

regiões e culturas (conforme representação do Gráfico 22) e o grupo dos 14,00%

(70) que disseram não ter visitado e nem ter vontade de visitar a turismo as cidades

onde houve os certames de que participaram (Gráfico 23).

Gráfico 24 – Essas viagens podem ser consideradas uma nova forma de fazer turismo (uma nova segmentação do mercado turístico?)

Fonte: Pesquisa de campo (2016).

E quando questionado o motivo da resposta, obteve-se uma variância

deveras numerosa de concepções a respeito. Quanto aos que não consideraram as

viagens a concursos públicos como um novo meio de fazer turismo, uma nova

segmentação (segmento ou nicho), um grupo entende que o turismo não cumpre a

motivação principal das viagens a concursos, logo essas não podem ser conferidas

enquanto turísticas. O foco principal, em consonância com eles, é a realização das

Page 160: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

159

provas, fazer turismo pode ser uma forma de distração, que pode afetar a

concentração. Outros, por estarem tão focados, acabam não conseguindo relaxar, a

tensão e o estresse dominam, preferindo continuar os estudos e as revisões no meio

de hospedagem, como sintetiza a resposta de um dos informantes da pesquisa:

Pois a pessoa está focada na prova. Chega e vai para a hospedagem estudar ou revisar, ou ir a algum lugar só para esquecer a prova, mas ainda está tenso. Não consegue relaxar. E na maioria das vezes vai embora logo após a prova. Ou seja, não é o foco

47.

Observa-se, assim, que para esse grupo, de fato, o lazer e o turismo não aparecem,

nem mesmo, como motivações secundárias ou ocultas (MARQUES, 2009).

Independente disso, houve quem pontuasse que, embora as viagens não sejam

turísticas, não se pode negar que “é inegável o fato de, indiretamente, conhecer

vários locais e quando o tempo de estadia é maior, acabamos por "turistar" na

cidade em que está” e que “os destinos sempre lucram com hospedagem, taxi e

alimentaçao, sem dúvida” [sic]. Ao passo de existirem casos em que é aconselhável

fazer a reserva do meio de hospedagem assim que o edital é publicado, pois “as

cidades acabam lotando”, de acordo com os questionários. Conduzindo esses dados

ao encontro da fundamentação teórica, atenta-se para um fato, ainda que muito

frisado neste estudo: as viagens e o turismo podem gerar impactos sociais e

econômicos, em diferentes escalas, nos mais variados setores de mercados

receptores, e não apenas neles, mas também, nos emissores e nos de transição de

viajantes (BARBOSA, F., 2005; FERNANDES; COELHO, 2002; LAGE; MILONE

2001; TRIBE, 2003).

No cenário das justificativas dos concurseiros que não concordaram, notou-se

dois grandes entraves para que o concurseiro não aproveite essas viagens em um

viés turístico: o tempo e o dinheiro – que em uma perspectiva mutualística se

condicionam e condicionam o turismo. O concurso público é, via de regra, pois,

realizado aos finais de semana, assim, o concurseiro que viaja, em geral, sai de sua

residência às sextas-feiras e retorna às segundas – ou, no mesmo dia, aos

domingos – visto que precisa trabalhar ou desempenhar outros papéis sociais:

“Como saio do trabalho pelo período determinado seria difícil”; Não é o objetivo

principal e quando vamos prá outro estado fazer prova que é sempre aos domingos,

47

Informação adquirida por meio dos questionários. Pesquisa de campo (2016).

Page 161: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

160

não sobra tempo prá turismo depois” [sic]. Portanto, é complicado permanecer por

mais algumas horas para aproveitar as cidades turisticamente.

Concernente ao empecilho dinheiro, essas viagens requerem uma demanda

de gastos elevada, estender por mais dias e “turistar” pelas cidades implica maiores

gastos, como visto anteriormente e como remetem as falas a seguir: “estender a

viagem para depois da prova é inviável financeiramente”; “Para a minha faixa de

salário só da para ficar com o pacote básico, isso posso afirmar”; “Acredito que

essas viagens são feitas por necessidades, nem sempre as pessoas têm dinheiro

para aproveitar a cidade, é mais um bate e volta” [sic]. E como mostram os dados

desta investigação, existe um quantitativo de respondentes que, no momento da

pesquisa, possuíam apenas menos de 1 salário (3,60%) como renda e (29,60%) que

sequer detinham (Gráfico 6). Dessa forma, igualmente outras tipologias de viagem

(ANSARAH, 2001; COSTA, 2006; LAGE, 1992; PANOSSO NETTO; ANSARAH.

2009a, 2015; YANAZE, 2011), as viagens a concursos públicos encontram-se, entre

outros aspectos, acondicionadas à disponibilidade de tempo e de recursos

financeiros.

Conquanto tenham assinalado a opção negativa, outro grupo de

respondentes considerou que há uma variação nessa questão, pois, há candidatos

que aproveitam para desfrutar do que as cidades têm a oferecer, assim como há os

que preferem retornar para casa, viajar em direção a novos certames, ou mesmo

optam por não ter mais gastos, para além dos já realizados. Já outros dissertaram

que preferem colecionar vontades e desejos de retornos, para que possam realizá-

los quando forem servidores, como ratifica uma das respostas:

É fato ser comum que aqueles que prestam concurso público não estejam em condições financeiras favoráveis ao turismo convencional, estando todos os recursos financeiros - parcos - voltados à consecussão do objetivo. É igualmente verdade que aqueles que não desistem na caminhada estejam em melhor situação quando da aprovação e as vontades deixadas no caminhos acabam por ser realizadas no futuro

48 [sic].

Para esse grupo, a oportunidade de fazer turismo na cidade é uma escola pessoal,

varia em conformidade com o tempo e o dinheiro, mas, também, com as motivações

– gestadas intrinsecamente no complexo subjetivo do indivíduo e influenciadas

extrinsecamente por “n” estímulos sensoriais, psíquicos e emocionais (MARQUES,

2009).

48

Informação adquirida por meio dos questionários. Pesquisa de campo (2016).

Page 162: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

161

No bojo dessas reflexões e discussões, alguns sujeitos da pesquisa

levantaram questões muito pertinentes com relação à indagação proposta, como

mostram as falas:

Marquei "não" porque não tem a opção "talvez". Acho difícil que seja um novo nicho de turismo, pois vejo mais contra do que prós: os concurseiros geralmente não têm emprego e, consequentemente, têm pouco dinheiro para gastar na cidade onde prestam o concurso. Outro fator é a falta de tempo, visto que muitos acabam um concurso e já vão se preparando para o próximo, há pouco tempo para o descanso. A terceira questão é que boa parte dos concurseiro preferem descansar a passear no pós prova. Esses 3 fatores, ao meu ver, são empecilhos para tal segmento. Mas não me baseei em pesquisas empíricas para dizê-los, apenas em minha opinião. Talvez sua pesquisa mostre que estou completamente errada!

49.

Não necessariamente uma nova forma de turismo, mas sim meio de inflar a economia das cidades, visto que, quando um concurso foca toda a realização das provas nas capitais dos estados ou, até mesmo, na capital do Brasil, todos os milhares de inscritos são levados a movimentar a economia de tais cidades - com transporte externo e interno, alimentação, hospedagem, e demais gastos pessooais (fármacos e produtos de higiênie), etc. Claro que isso não impede que alguém (com condiçoes financeiras e circunstanciais, ex.: folga do trabalho, férias, licença ou outro) chegue alguns dias antes da prova, ou fique alguns dias depois para turistar, caso em que isso não decorre diretamente do concurso, mas sim do expresso desejo de turistar. Portanto, não há nexo causal entre o concurso e

atividade turística50

.

O(a) primeiro(a) depoente levantou três questões para que esta tipologia de viagens

não seja considerada uma segmentação – um segmento ou um nicho do mercado

turístico – sublinhando que sua concepção não está embasada por um estudo

científico como este. A(o) segunda(o) informante complementa esse raciocínio ao

discorrer que muito embora essas viagens sejam um meio de inflar a economia das

cidades, ao utilizar os bens e os serviços disponíveis nessas e que o fato de

pessoas possuírem condições financeiras e oportunidades de chegar antes das

provas, para fazer turismo, não estaria atrelado diretamente ao concurso público.

Nesse contexto, para esse(a) o(a) concurseiro(a), não há uma correlação entre o

concurso público e a atividade turística.

Em uma análise dessas percepções, e ao correlacioná-las com a teoria e com

o que foi precedentemente debatido sobre os demais “achados” do campo, observa-

se que os sujeitos apontaram: os três aspectos que, de fato, moderam o lazer

turístico de alguns candidatos: dinheiro, tempo e descanso. Por outro lado, este

estudo já revelou que há diferentes perfis desses viajantes: os que não podem ou

49

Informação adquirida por meio dos questionários. Pesquisa de campo (2016). 50

Informação adquirida por meio dos questionários. Pesquisa de campo (2016).

Page 163: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

162

não querem aproveitar as cidades num prisma turístico e os que aproveitam os

recursos naturais e culturais que essas destinações têm a oferecer e, inclusive,

como antes postulado, ajudando a impactar fortemente esses locais, como reitera o

início do discurso do(a) segundo(a) informante.

Como resposta à assertiva de que o fato de aproveitar as cidades

turisticamente “não decorre diretamente do concurso, mas sim do expresso desejo

de ‘turistar’. Portanto, não há nexo causal entre o concurso e atividade turística”,

questiona-se: caso não houvesse o certame, será mesmo que esse viajante iria para

essa localidade só para “turistar”? Naquele período específico? Se o concurso

público é a motivação principal da viagem desse individuo, que pode, porém,

aproveitar da ocasião para turismo, como a atividade turística não pode ser passível

de decorrer das viagens a concursos públicos? Como não atrelar o desejo de

retornar a cidade com fins turísticos à participação prévia de concursos nela?. No

mais, como não pode haver uma conexão “casual” entre essas viagens e o turismo

se há utilização de toda uma cadeia, dos diferentes setores (FERNANDES;

COELHO, 2002), dos sistemas e dos subsistemas (BENI, 2003) do setor?.

Nessa direção, e reforçando esses questionamentos, alguns candidatos

informaram que a partir desta pesquisa refletiram que podem, devem ou precisam,

sim, aproveitar as estadas nas cidades para conhecê-la melhor, uma vez que já

houve o gasto para estar ali, então porque não se beneficiar disso da forma mais

proveitosa possível: “Penso em modificar o meu perfil e gastar cerca de 2 dias após

a prova para aproveitar a viagem”; “Atualmente não aproveito essas viagens para

turismo, talvez no futuro faça isso”; “Não, mas depois de participar dessa pesquisa

vejo que daqui posso melhor aproveitar os gastos que já tenho quando viajo”. Assim,

visualiza-se uma mudança no perfil de certa parcela de concurseiros viajantes, que

antes apenas participavam dos concursos, porém, agora, pretendem aproveitar as

viagens para lazer e turismo.

De outro lado, alguns dos questionados concordantes que essas viagens

seriam uma inovadora segmentação do turismo, justificaram que: é “conveniente unir

o útil ao agradável”, “Já que estou lá, por que não fazer turismo?”, “Porque você é de

fora, tá ali visitando o lugar”; “Creio que sim, tenho amigos que fazem do concurso

uma oportunidade de conhecer novos lugares, geralmente eles ficam mais um pouco

mais nas cidades, visitam outros atrativos, compram lembranças e até viajam a

locais próximos” ou ainda “porque a gente acaba utilizando a viagem pra fazer

Page 164: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

163

concurso como uma oportunidade de conhecer a cidade” [sic]. Desse modo, as

viagens a concursos figuram oportunidades de conhecer um novo lugar, de passear

e de “turistar”.

Existem alguns que reservam, por exemplo, alguns dias para fazer turismo na

cidade e região: “Vou pelo menos dois dias antes da prova para conhecer a cidade”;

“Sim. Alguns amigos sempre reservam de 2 a 3 dias após a prova para conhecer a

cidade”. Da mesma forma, existe um grupo que vê essas viagens como vitrines para

possíveis retornos, como um dos respondentes que comentou: “eu não esperava

que fosse tão cedo [a cidade em que realizou o concurso]. Por causa da visita,

pretendo voltar para conhecer melhor assim que eu puder. Nesse mês vou conhecer

Cuiabá e o Acre, eu nunca havia planejado ir a esses lugares. Será uma agradável

oportunidade” [sic]. Estas respostas reiteram o que foi anteriormente tratado: alguns

concursantes reservam dias para conhecer as cidades, viajam para cidades que

jamais esperavam estar, descobrem novas opções de destinações para possíveis

férias e pretendem retornar.

Fundamentando a concordância de que a prática de viajar a concursos

públicos pode ser considerada uma nova segmentação do mercado turístico, alguns

sujeitos da pesquisa sinalizaram que existe um fluxo de viajantes expressivo,

“normalmente se nao reservamos hotel no dia que é publicado edital, nao

encontramos mais vagas e isso acontece com as passagens aéreas tbm” [sic],

movimentando “milhares de pessoas nos mesmos dias naquela localidade”.

Corroborando, outro informante pontua:

Há um volume grande de pessoas que busca uma vaga no serviço público por meio de viagens. Elas movimentam as cidades economicamente de maneira muito forte. Já presenciei casos em que o número de pessoas foi tão grande na cidade que não haviam vagas em nenhum hotel. Por mais que eu não passeie por pontos turísticos, movimento o setor hoteleiro e de transportes e outros poucos serviços, algumas cidades mudam muito em época de concurso. São importantes para a economia local, pois acabam gerando lucro extra na baixa temporada

51.

Dessa forma, visualiza-se que há um impacto econômico e social muito forte nessas

cidades. E os agentes dinamizadores desses impactos, os concurseiros viajantes,

compreendem que esse: “É um público específico”, “É um público particular e

crescente, com demandas próprias”, que outros grupos de consumidores não têm.

51

Informação adquirida por meio dos questionários. Pesquisa de campo (2016).

Page 165: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

164

Nesse panorama, participantes da pesquisa sugeriram que seria interessante

que mais empresas pudessem oferecer viagens e passeios turísticos, como uma

formar de conciliar a participação no certame e as atividades turísticas de lazer,

conforme os comentários que seguem: “Sim, poderia existir um plano específico que

unisse a diversidade da viagem que inclui descanso e comodidade, transporte

programado (em alguns locais se sofre qto a isso, não existe quase táxi, etc), e

passeios turísticos pós prova”; “Porque cada dia é maior a demanda de

Concurseiros que viajam em busca desse sonho e nem sempre há agências que

atendem aos nossos anseios. Acredito que a existência de um setor especializado

nesse tipo de viagem é essencial” [sic];

É um público crescente e permanente. Embora organize minhas viagens sozinha, seria bem mais fácil e prático (e pouparia preocupação) se houvesse pacotes de viagem voltados para esse público. As excursões que vejo só se preocupam em levar para fazer a prova, em geral para economizar, já que comcurseiro tem muito gasto, mas acho que tem opções de lazer barato em todo lugar e dá para conciliar

52.

Sob essa ótica, essas viagens forjam oportunidades de fazer turismo, tudo depende

de questões pessoais dos candidatos e, também, de uma oferta especializada,

tendo em vista que há certa vontade e interesse em atividades de lazer e turismo,

entretanto, não há um leque de serviços que tragam comodidade, praticidade e

segurança a esse consumidor. Talvez, isso deve-se a questão de que essas viagens

são um ramo do turismo em crescimento e desenvolvimento, em que muitos ainda

não o percebem enquanto uma oportunidade inovadora de empreendedorismo.

Brasil (2010a, p. 9) sinaliza que na atual conjectura globalizatória modeladora “se

diferenciar adquire importância a cada dia”. É preciso, portanto, ter a expertise de

visualizar oportunidades inovadoras de negócio, a partir de necessidades da

demanda ainda não sanadas, principalmente – uma vez que os turistas almejam

viagens que atendam, a cada dia mais, suas idiossincrasias: suas mais subjetivas e

“estranhas” aspirações, desejos ou vontades.

Nessa direção, em uma perspectiva dialógica com a teoria do turismo,

evidencia-se que os concurseiros viajantes compreendem uma demanda potencial e

real crescente, que se movimenta, em certa temporalidade, almejando participar

de provas de concursos públicos, mas que também pode buscar os conteúdos

culturais do lazer – nesse caso os turísticos – que não lhe trazem, naquele

52

Informação adquirida por meio dos questionários. Pesquisa de campo (2016).

Page 166: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

165

momento (e pode ser que em nenhum outro), um retorno financeiro, ou seja, há

custos com transportes, meios de hospedagem e alimentação, podendo haver

também com lazer, entretenimento e turismo (BARRETTO, 1995; BENI, 2003; DE LA

TORRE PADILLA, 1992; IGNARRA 2003; MARCELLINO, 2007).

Seguindo o dialogo entre os resultados encontrados e a teoria construída

neste estudo, mapeou-se que há pelos menos 4 perfis de concurseiros nessas

viagens (Figura 24): o concurseiro viajante, que viaja independente dos modos e

dos meios de deslocamento utilizados; o concurseiro visitante, que viaja por um

período menor que um ano, independente da motivação, mas desde que não exerça

nenhuma atividade, na localidade de trânsito ou destino, que lhe traga remuneração;

o concurseiro turista, que viaja para fazer as provas mas também aproveita a sua

estada nas cidades, por mais de 24 horas e menos de um ano, para fazer turismo e

outras atividades ligadas ao lazer; e o concurseiro excursionista, aquele que faz

tudo o que o concurseiro turista faz, no entanto em um período menor que 24 horas,

isto é, ele não pernoita nas localidades, faz o famoso “bate e volta”, porventura,

evitando maiores custos (CUNHA, L., 2003).

Figura 24 – Perfis de concurseiros que viajam

Fonte: Pesquisa de campo (2016).

Page 167: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

166

Em conversa com o escopo teórico da segmentação de mercado (turístico),

verifica-se uma demanda com necessidades e desejos específicos, que se diferem

das de consumidores de outras segmentações (KOTLER et al, 2008; TAVARES;

AFONSO; LOCATELLI, 2011). Afinal, como postulam Cavaco e Simões (2009),

Kotler (2000), Panosso Netto; Ansarah (2009b) e Rui Oliveira (2015), em essência,

para uma segmentação (segmento ou nicho) ser considerada como tal, necessita

minimamente de um grupo de consumidores com demandas semelhantes entre si e

destoantes com relação a outros grupos.

Pormenorizando a análise e a discussão, o “Turismo de Concursos Públicos”

é ou pode vir a ser: Identificável; Mensurável; Substancial; Acessível; Diferenciável e

Acionável. Não se pode afirma apenas que ele seja “Durável/estável”, dada a sua

recente criação (TAVARES; AFONSO; LOCATELLI, 2011). Noutros dizeres, nas

viagens a concursos, é possível identificar, facilmente, um grupo de viajantes

específico, uma fatia do mercado que tem expandido e desenvolvido muito

rapidamente, com certa rentabilidade e distribuição econômica em/com diversos

agentes, como se pôde evidenciar nos dados aqui apresentados. Certamente, é

capaz de atingir e obter, via marketing, respostas dos consumidores, uma vez que a

amostra da pesquisa, a exemplo, apresenta certo interesse na criação de mais bens

e serviços (oferta) especializados à sua disposição.

Page 168: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

167

7 CONCLUSÃO

O fim de uma viagem não é de fato um fim. No retorno para casa, o viajante

sempre carrega em si uma parte de sua viagem, seja na forma das suas

lembranças, das suas reflexões/conclusões sobre as experiências vivenciadas, seja

no seu desejo de retorno, seja na ânsia por novas aventuras. Dessa depreensão,

chega-se neste ponto ao fim desta viagem, aqui serão externalizadas as conclusões

sobre as rotas percorridas, sobre os “achados” e sobre os aprendizados adquiridos.

Mas, o fim desta também traz aberturas para novas incursões investigativas, para

caminhos em busca de novos conhecimentos, de revisões e/ou de

complementações aos aqui produzidos. Chega-se, portanto, a um fim e a novos

inícios.

Deslocamentos, andanças, traslados, migrações e viagens, em diversos

períodos da história humana, desenharam linhagens genealógicas com a acepção

prática e teórica do turismo, dado que as múltiplas motivações que condicionam a

atividade turística hodierna, porventura, foram progênitas de contributos de

diferentes temporalidades. Havendo, portanto, uma história da prática turística antes

mesmo de sua existência em efetivo. Partindo dessa compreensão, a gênese e o

desenvolvimento das segmentações turísticas são passiveis de ter uma ligação com:

os Jogos Olímpicos, o palco provável do nascimento das viagens e do turismo de

esportes e de eventos; os romeiros no caminho de Santo Sepulcro e de Santiago de

Compostela, podem ter forjado as viagens de turismo religioso, etc. Nesse

raciocínio, segmentação e turismo possuem uma relação deveras antiga.

Do mesmo modo, as viagens a concursos públicos estão atreladas ao

contexto atual brasileiro, em que o individuo nasce, por vezes, em meio à “Cultura

dos Concursos Públicos”, estimulado a ser servidor público, afinal, os salários e os

benefícios intrínsecos aos cargos públicos figuram a emblemática garantia da

estabilidade financeira. Ademais, as crises políticas e econômicas que tangem o

Brasil e o mundo – ao provocarem demissões em massa na iniciativa privada e,

logo, aumentarem os altos índices de desemprego – têm forçado muitas pessoas a

levar uma “vida de concurseiro”. A busca pela nomeação na Administração Pública é

tão expressiva que alguns certames têm registrado mais de hum milhão de

candidatos inscritos.

Page 169: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

168

Na maratona pela aprovação, nesse sentido, na “caça” por vagas e na fuga

da concorrência, concurseiros têm viajado pelo país, conhecendo e “turistando” por

cidades que sequer sabiam da existência. Nesse novo e ainda turvo cenário de

viagens e de turismo, percebendo a inexistência de trabalhos científicos que

tratassem a seu respeito, buscou-se contribuir com o desenho que forma as viagens

motivadas a concursos públicos. Questionou-se então se elas configurariam uma

nova segmentação do turismo, investigando as suas nuanças, o perfil, os

conhecimentos e as experiências de seus viajantes: os “concurseiros”, e

identificando se elas movimentam as localidades onde ocorrem as provas.

Os resultados alcançados, a partir dos procedimentos metodológicos

adotados, permitiram compreender que as viagens que têm como motivação a

participação de certames possibilitam aos candidatos, conhecerem novas

destinações, pessoas e culturas, conceber intercâmbios culturais a partir de

simbologias, linguagens, modos de vida e experiência, que distam, em alguns casos,

de suas realidades, bem como dão um panorama do local onde eles possivelmente

podem morar com a possível aprovação. Como efeito, ampliam e deixam mais

límpidas as visões que orientam os seus mundos, as suas ações e os pensamentos,

desconstruindo preconceitos e estereótipos, aproveitando-se das ocasiões para

conciliarem estudos e lazer, construírem conhecimentos teóricos e práticos, com as

vivências pelo e por meio o turismo e do lazer. Ainda nessas viagens, os candidatos

têm o subjetivo instigado, os sonhos, os desejos e o estado emocional estremecido

e aflorado.

Na busca por caracterizar o perfil dos viajantes dessa modalidade de viagem,

radiografou-se que tanto o sexo feminino quanto o sexo masculino viajam, eles têm

idades entre 21 e 40 anos, sendo a maioria solteiro(a), com um nível de

escolaridade bem elevado. São originários de todas as regiões, os estados e o

Distrito Federal do Brasil, normalmente, têm de 1 a 3 salários mínimos e de 4 a 6

salários mínimos, havendo também um grupo com renda entre 7 e mais de 10

salários mínimos. São em maioria estudantes, desempregados, empregados do

setor privado, autônomos(as)/profissionais liberais, além de uma grande parcela ser

de servidores públicos que almejam maiores salários ou a investidura de um cargo

em suas cidades de origem.

No que concerne às viagens, os concurseiros viajaram uma média de 5 vezes

para participar de certames, nos primeiros anos eles(as) viajam mais, mas esse

Page 170: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

169

índice cai com as aprovações e as nomeações que vão ocorrendo. As viagens

normalmente são organizadas a partir de informações adquiridas com amigos e

parentes, agências de viagens e turismo, guias turísticos e em maior número na

internet – principalmente, nos grupos e/ou comunidades da rede social Facebook.

Na extensão desses ciberespaços, as viagens são organizadas pelos próprios

concursistas ou por meio de empresas e de outras pessoas físicas, sendo que o

perfil da amostra coleta tem preferência por viajar sozinho.

Geralmente, eles viajam de ônibus ou avião, ficando hospedados em casas

de familiares e de amigos, hotéis, albergues e pousadas, havendo também aqueles

que preferem não se hospedar, ir e voltar no mesmo dia da aplicação das provas. As

estadas nas cidades variam entre algumas horas e mais de 5 dias, sendo mais

comum a permanência por 2 e 3 dias, com chegadas entre 1 ou 2 dias antes das

provas ocorrem. Quanto aos gastos, os valores giram por volta de R$ 100,00 e R$

3.500,00, sendo a média de custos nessas viagens de R$ 884,32 – os montantes

menores podem ser de viagens a lugares mais próximos entre municípios, já os

maiores podem corresponder a deslocamentos interestaduais e inter-regionais. Os

custos são com os meios de hospedagem, a alimentação e o transporte,

basicamente, em menores vezes com compras pessoais e visitas a atrativos.

Para além de estudar, dormir, assistir TV e navegar na internet, os

respondentes disseram que costumam conhecer, passear ou “turistar” pelas cidades

onde realizam as provas. Majoritariamente reconheceram essas viagens enquanto

chances de conhecer novas cidades, regiões e culturas. Para eles, essas viagens

oportunizam, em verdade, um universo possibilidades, que vão desde conhecer ou

reencontrar amigos e familiares, até conhecer novas opções de destinações para as

férias, de acordo com as justificativas dos sujeitos da pesquisa. Os viajantes que

não concordaram, alegam que o curto tempo e o pouco recurso financeiro são

condições que inviabilizam fazer turismo pela cidade, por isso muitos chegam e

viajam no mesmo dia. Contudo, houve um considerável número que manifestou

interesse por retornar às cidades onde participou dos concursos.

Diante desse panorama, depreende-se que as viagens a concursos públicos

caracterizam uma vertente do turismo, quando: compreendem fluxos de pessoas

que trasladam pelo país em um espaço de tempo determinado, menor que um ano,

com a motivação de concorrer a vagas de certames públicos, mas que também

desfrutam de atividades de lazer e de turismo, que não lhe trazem nenhum retorno

Page 171: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

170

financeiro. Havendo utilização das infraestruturais básicas e turísticas, e gastos com

o trade turístico: alimentação, meios de hospedagens, transportes, lazer. Por

conseguinte, dada a demanda de inscritos, essas viagens estabelecem uma

movimentação, “em efeito dominó”, social e econômica nas destinações onde são

aplicadas as provas, pois, tanto o mercado turístico quanto o mercado informal,

direta e indiretamente, se beneficiam.

A pesquisa permitiu identificar, ainda, no âmbito das viagens e do turismo,

quatro diferentes tipos de consumidores que viajam: o concurseiro viajante; o

concurseiro visitante; o concurseiro turista; e o concurseiro excursionista. Algumas

de suas necessidades e de seus desejos específicos ainda não foram sanadas,

muito menos potencializadas, pela oferta, haja vista que há uma disposição em

demasia restrita de serviços e de produtos especializados, sendo o desejo por eles

foi perceptível em diversos momentos da pesquisa.

Nos termos da segmentação de mercado, portanto, esta pesquisa conseguiu

verificar que esse consumidor compõe um grupo de viajantes particular, com

demandas específicas e diferentes de outras segmentações (segmentos e nicho). É

uma ramificação do mercado turístico que possui fortes indicadores de crescimento

e desenvolvimento, é possível por meio dela obter rentabilidade e estabelecer uma

distribuição econômica – a partir do efeito multiplicador do turismo. Dada a busca

pela oferta de bens e serviços, por parte dos consumidores, esta segmentação é

capaz de atingir e obter, via marketing, feedback do público-alvo. No entanto, trata-

se de mercado ainda em escala muito pequena, com um trade turístico muito

limitado articulando-se e com um poder de compra ainda pouco expressivo, logo,

uma rentabilidade diminuta em relação a outras segmentações do turismo. Deste

fato, sobre o “Turismo de Concursos Públicos”, pode-se dizer: é uma segmentação,

contudo, com esta investigação não houve como determinar que este figure,

efetivamente, um segmento do turismo, mas sim compreende um nicho de mercado.

Destarte, observa-se que o objetivo inicial da pesquisa foi alcançado, e todas

as hipóteses foram confirmadas, visto que: O turismo de concursos públicos existe e

pode, sim, vir a ser considerada uma nova segmentação do turismo no Brasil; O

concurseiro aproveita sua estada na cidade de realização do concurso para passear

por ela e conhecê-la melhor; Os impactos gerados por essa vertente do turismo são

vários, visto que os concurseiros se deslocam até a cidade onde os concursos são

Page 172: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

171

realizados, se hospedam em hotéis, se alimentam, utilizam o transporte da cidade e

visitam pontos turísticos.

Entrementes, essa nova segmentação de mercado ainda é desconhecida por

uma parcela da demanda, por gestores, por pesquisadores, até mesmo pelo trade

turístico, assim como pela sociedade em geral. Tal fato é visto como um empecilho

para o crescimento e a dinamização dessa segmentação de mercado no Brasil, haja

vista que há uma demanda real e uma demanda potencial crescendo ano a ano.

Logo, abre-se aqui caminhos para quem visa empreender no universo turístico e

para que as superestruturas e/ou os órgãos oficiais de planejamento, gestão e

fomento do turismo possam abarcar essa nova segmentação nas suas ações,

podendo maximizar e dinamizar esse mercado, seus benefícios e beneficiários.

Nesta viagem, deu-se conta que acerca das viagens e do turismo de

concursos públicos e de seus viajantes muito há a ser descortinado, abre-se aqui um

leque frutífero de possibilidades de investigação, novas viagens podem ser

realizadas por esse mundo. Tomando a compreensão de que não há como um único

estudo conseguir abarcar todas elas, nessa escrita, em especial, como retrodito,

ainda que contextualizada a oferta, buscou-se explorar a demanda, especificamente

o perfil dos viajantes dessa modalidade de viagens e de turismo, a fim de contribuir

com a construção de uma concepção teórica e, quiçá, prática dessa inovadora

segmentação do mercado turístico. Buscando fomentar um continuum investigativo,

como indicações para novas pesquisas, para outras viagens, sugere-se estudos

concernentes à oferta especializada existente e o seu crescimento, bem como sobre

os impactos socioeconômicos dessas viagens nos polos de emissão, de transição e

de recepção de viajantes, como relevantes contribuições em direção ao avanço de

uma construção teórica (e mercadológica) a respeito dessa nova motivação de

viagem, dessa inovadora segmentação do mercado turístico brasileiro.

E aqui termina mais uma grande viagem. O autor agradece a sua companhia,

até um novo encontro, uma nova aventura pelo universo do turismo. “Por ora, fim de

nossos serviços!".

Page 173: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

172

REFERÊNCIAS

ACERENZA, M. A. Administração do turismo. 1. ed. Bauru: EDUSC, 2002. AGÊNCIA de Viagens Thomas Cook. Thomas Cook História. Uma breve história. [S. I.]: Agência de Viagens Thomas Cook, 2015. Disponível em: <http://www.thomascook.com/thomas-cook-history/>. Acesso em: 23 maio 2015. AGLANTZAKIS, L. C. Breves conceitos sobre o instituto do concurso público no direito brasileiro. Âmbito Jurídico, Rio Grande, v. 1, n. 15, [s. p.], 2003. Disponível em:

<http://www.ambito‐juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=4092>. Acesso 06 de jun 2015. ALVES, T. A. L. Considerações sobre o concurso público: critérios de idade, sexo e altura exigidos em editais de concurso público. In: GUERRA, A. C. F.; ROCHA, J. X.; ARAÚJO, J. S.; ALCANTARA, J. V. (Org.). Temas de direito administrativo III: regras sobre concurso público. Fortaleza: Expressão Gráfica Editora, 2013. p. 147-160. ANDRADE, J. V. Turismo: fundamentos e dimensões. 8. ed. São Paulo: Ática, 2000. ANSARAH, M. G. D. R. (Org.) Turismo: segmentação de mercado. 4. ed. São Paulo: Editora Futura, 2001. ______.; PANOSSO NETTO, A. A segmentação dos mercados como objeto de estudo do turismo. In: SEMINÁRIO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO EM TURISMO, 6., 2010, São Paulo. Anais... São Paulo: Universidade Anhembi Morumbi. ANPTUR, 2010, s. p. Disponível em: <www.anptur.org.br/ocs/index.php/seminario/2010/paper/downloadSuppFile/.../78>. Acesso em: 26 dez. 2015. ANTONIOLI, F. L. A. Viagens no feminino: gênero, turismo e transnacionalidade. 2015. 131 f. Dissertação (Mestrado em Antropologia Social) – Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2015. ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PROTEÇÃO E APOIO AOS CONCURSOS. Anpac comemora dez anos defendendo a transparência nos concursos públicos. Associação Nacional de Proteção e Apoio aos Concursos. [Site]. Rio de Janeiro, 27 out. 2014. Disponível em: <http://www.anpac.org.br/portal/index.php/institucional/editorial/254-anpac-comemora-dez-anos-defendendo-a-transparencia-nos-concursos-publicos->. Acesso em: 2 nov. 2015. Não paginado. ASTORINO, C. M. Viajando pela terminologia de agenciamento de viagens e turismo: reflexões e proposta de dicionário multilíngue. 2013. 305 f. Tese (Doutorado em Linguística) – Universidade de São Paulo, São Paulo, 2013.

Page 174: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

173

BARBOSA, F. F. O turismo como um fator de desenvolvimento local e/ou regional. Revista Caminhos de Geografia, Uberlândia, v. 10, n. 14, p. 107-114, 2005. Disponível em: <http://www.seer.ufu.br/index.php/caminhosdegeografia/article/view/15380>. Acesso em: 02 maio 2016. BARBOSA, Y. M. História das viagens e do turismo. 1. ed. São Paulo: Aleph, 2002. BARRETTO, M. Manual de iniciação ao estudo do turismo. 11. ed. Campinas: Papirus, 1995. ______. O imprescindível aporte das ciências sociais para o planejamento e a compreensão do turismo. Horizontes Antropológicos, Porto Alegre, v. 9, n. 20, p.15-29, 2003. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-71832003000200002>. Acesso em: 02 abr. 2015. ______.; REJOWSKI, M. Considerações epistemológicas sobre segmentação: das tipologias turísticas à segmentação de mercado. In: PANOSSO NETTO, A,; ANSARAH, M. G. D. R. (Org.). Segmentação do mercado turístico: estudos produtos e perspectivas. 1. ed. Barueri-SP: Manole, 2009. p. 3-18. BENI. M. C. Análise Estrutural do Turismo. 1. ed. São Paulo: SENAC, 1998. ______. ______. 9. ed. São Paulo: SENAC, 2003. ______. Turismo: da economia de serviços à economia da experiência. Turismo - Visão e Ação, Balneário Camboriú, v. 6, n. 3, p. 295-305, 2004. Disponível em: <http://www6.univali.br/seer/index.php/rtva/article/view/1063/872> Acesso em: 12 mar. 2015. BORELLA, H. Motéis: assimetrias e simetrias com a prática hoteleira. 1. ed. Porto Alegre: SENAC/RS, 2005. BOULLÓN, R. C.. Planejamento do espaço turístico. 3. ed. Tradução Josely Vianna Baptista. Bauru/SP: Edusc. 2002. BOYER, M. Histoire de l’Invention du tourisme: XVIe-XIXe siècles, 1. ed. Paris: L’Aube, 2000. ______. História do turismo de massa. Bauru, SP: EDUSC, 2003. BRASIL, Ministério do Turismo. Desembarque de passageiros em voos nacionais: variação mensal 2014/2015. Brasília: Ministério do Turismo e Agência Nacional de Aviação Civil, 2015. Disponível em: <http://www.dadosefatos.turismo.gov.br/dadosefatos/estatisticas_indicadores/desembarques_domesticos/>. Acesso em: 16 maio 2016.

Page 175: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

174

______. Glossário do turismo. Brasília: Mtur. [s. d.]. [s. p.]. Disponível em: <http://www.dadosefatos.turismo.gov.br/dadosefatos/espaco_academico/glossario/>. Acesso em: 12 maio 2016. ______. Programa de regionalização do turismo – roteiros do Brasil: módulo operacional 8 – promoção e apoio à comercialização. Brasília: Ministério do Turismo, 2007. Disponível em: <http://www.turismo.gov.br/sites/default/turismo/o_ministerio/publicacoes/downloads_publicacoes/Livro_Regionalizaxo.pdf:>. Acesso em: 3 dez. 2015. ______. Segmentação do turismo e o mercado. 1. ed. Brasília: Ministério do Turismo, 2010. Disponível em: <http://www.turismo.gov.br/sites/default/turismo/o_ministerio/publicacoes/downloads_publicacoes/Livro_Regionalizaxo.pdf:>. Acesso em: 3 jan. 2015. [a] ______. Segmentação do turismo: marcos conceituais. 1. ed. Brasília: Ministério do Turismo, 2006. Disponível em: <http://www.turismo.gov.br/sites/default/turismo/o_ministerio/publicacoes/downloads_publicacoes/Marcos_Conceituais.pdf>. Acesso em: 3 jan. 2015. ______. Turismo de negócios e eventos: orientações básicas. 2, ed. Brasília: Ministério do Turismo, 2010. Disponível em: <http://www.turismo.gov.br/sites/default/turismo/o_ministerio/publicacoes/downloads_publicacoes/Turismo_de_Negocios_e_Eventos_Orientacoes_Basicas.pdf>. Acesso em: 12 maio 2016. [b] ______. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 15 out. 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm>. Acesso em: 13 out. 2015. Não paginado. ______. Decreto nº 6.944, de 21 de agosto de 2009. Estabelece medidas organizacionais para o aprimoramento da administração pública federal direta, autárquica e fundacional, dispõe sobre normas gerais relativas a concursos públicos, organiza sob a forma de sistema as atividades de organização e inovação institucional do Governo Federal, e dá outras providências. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 24 ago. 2009. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2009/decreto/d6944.htm>. Acesso em: 02 out. 2015. Não paginado. ______. Decreto nº 7.308, de 22 de setembro de 2010. Altera o Decreto nº 6.944, de 21 de agosto de 2009, no tocante à realização de avaliações psicológicas em concurso público. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 23 set. 2010. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/Decreto/D7308.htm>. Acesso em: 02 out. 2015. Não paginado. [c] ______. Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981. Dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras providências, 1981. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 2 set. 1981. Disponível em:

Page 176: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

175

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6938.htm>. Acesso em: 28 maio 2015. Não paginado. ______. Lei nº 8.112, de 11 de dezembro de 1990. Dispõe sobre o regime jurídico dos servidores públicos civis da União, das autarquias e das fundações públicas federais. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 12 dez. 1990. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/CCIVIL_03/leis/L8112cons.htm>. Acesso em: 13 out. 2015. Não paginado. ______. Lei nº 9.515, de 20 de janeiro de 1997. Dispõe sobre a admissão de professores, técnicos e cientistas estrangeiros pelas universidades e pelas instituições de pesquisa científica e tecnológica federais. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 21 nov. 1997. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9515.htm>. Acesso em: 13 out. 2015. Não paginado. ______. Lei nº 9.527, de 10 de dezembro de 1997. Altera dispositivos das Leis nº 8.112, de 11 de dezembro de 1990, nº 8.460, de 17 de setembro de 1992, e nº 2.180, de 5 de fevereiro de 1954, e dá outras providências. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 12 dez. 1997. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9527.htm>. Acesso em: 13 out. 2015. Não paginado. ______. Lei nº 9.784, de 29 de janeiro de 1999. Regula o processo administrativo no âmbito da Administração Pública Federal. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 11 mar. 1999. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9784.htm>. Acesso em: 13 out. 2015. Não paginado. ______. Lei nº. 9.985, de 18 de julho de 2000. Regulamenta o art. 225, § 1o, incisos I, II, III e VII da Constituição Federal, institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza e dá outras providências. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 19 jul. 2000. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/port/conama/legiabre.cfm?codlegi=322>. Acesso em: 27 maio 2015. Não paginado. BURSZTYN, I. Políticas públicas de turismo visando à inclusão social. 2005. 117 f. Dissertação (Mestrado em Ciências em Engenharia de Produção) – Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2005. CAMARGO, H. L. Fundamentos multidisciplinares do turismo: historia. In: TRIGO, L. G. G. (Org.) Turismo: como aprender, como ensinar. 1. ed. São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2001. CAMARGO, L. O. D. L., O que é lazer. São Paulo: Brasiliense, 1986. CARVALHO FILHO, J. D. S. Manual de direito administrativo. 25. ed. São Paulo: Atlas, 2012.

Page 177: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

176

CARVALHO, R. G. D. O controle judicial da discricionariedade técnica nas provas de concursos públicos no Brasil. Revista CEJ, Brasília, v. 27, n. 63, p. 87-99, 2014. Disponível em: <http://www.jf.jus.br/ojs2/index.php/revcej/article/viewFile/1802/1836>. Acesso em: 20 nov. 2015. CASTELAR, I. et al. Uma análise dos determinantes de desempenho em concurso público. Economia Aplicada, Ribeirão Preto, v. 14, n. 1, 2010, pp. 81-98. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-80502010000100006>. Acesso em: 10 nov. 2015. CASTELLI, G. Turismo: análise e organização. 1. ed. Porto Alegre: Sulina, 1975. CAVACO, C.; SIMÕES, J. M. Turismos de nicho: uma introdução. In: SIMÕES, J. M.; FERREIRA, C. C. (Ed.). Turismos de nicho: motivações, produtos e territórios. 1. ed. Lisboa: Centro de estudos geográficos da Universidade de Lisboa, 2009, p. 15-39. COUTO, E. S.; ROCHA, T. Brito. A vida no Orkut: narrativas e aprendizagens nas redes sociais. Salvador: EDUFBA, 2010. GUIMARÃES, D.; CAVALCANTI, L. Arquitetura de motéis cariocas: espaço e organização social. 1. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2007. CERETTA, C. C. A composição do gasto turístico nos municípios de Canela e Gramado, 2005. 136 f. Dissertação (Mestrado em Administração) – Universidade de Caxias do Sul, Caxias do Sul, 2005. CHIAS, J. Turismo, o negócio da felicidade: desenvolvimento e marketing turístico de países, regiões, lugares e cidades. 1. ed. São Paulo: Editora Senac, 2007. CISNE, R. N. C.; GASTAL, S. História do Turismo: buscando unificar um conhecimento fragmentado. In: SEMINÁRIO DE PESQUISA EM TURISMO DO MERCOSUL, 6., 2010, Caxias do Sul. Anais... Caxias do Sul: Programa de Pós-graduação em Turismo da Universidade de Caxias do Sul, 2010. Disponível em: <http://www.ucs.br/ucs/eventos/seminarios_semintur/semin_tur_6/apresentacao>. Acesso em: 2 fev. 2015. CONCURSEIROS lotam hotéis. Gazeta Digital, 11 maio 2011. Disponível em: <https://www.gazetadigital.com.br/conteudo/show/secao/2/og/1/materia/274518/t/concurseiros-lotam-hoteis >. Acesso: 06 mar. 2016. CONCURSO DO TRT-MG tem recorde de inscritos e lota hotéis em BH. G1 Minas Gerais, 24 jun. 2015. Disponível em: <http://g1.globo.com/minas-gerais/noticia/2015/07/concurso-do-trt-mg-tem-recorde-de-inscritos-e-lota-hoteis-em-bh.html >. Acesso: 06 mar. 2016. CONCURSO público atrai brasileiros em busca de bons salários e estabilidade. Jornal Hoje. G1, Portal de noticias da Globo. 14 out. 2013. Disponível em:

Page 178: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

177

<http://g1.globo.com/jornal-hoje/noticia/2013/10/concurso-publico-atrai-brasileiros-em-busca-de-bons-salarios-e-estabilidade.html> Acesso em: 25 set. 2015. CONCURSOS LOTAM hotéis de Nova Andradina. Vale do Ivinhema Agora, 18 set. 2009. Disponível em: <http://www.valedoivinhemagora.com.br/leitura.php?id=50594>. Acesso: 06 mar. 2016. CONCURSOS no mesmo dia em Palmas lotam hotéis e ônibus interestaduais. G1 Tocantins, 23 maio 2014. Disponível em: <http://g1.globo.com/to/tocantins/noticia/2014/05/concursos-no-mesmo-dia-em-palmas-lotam-hoteis-e-onibus-interestaduais.html>. Acesso: 06 mar. 2016. CONFEDERAÇÃO NACIONAL DE COMÉRCIO. Conselho de Turismo. Breve história do turismo e da hotelaria. 1. ed. Rio de Janeiro: Conselho de Turismo, 2005. COSTA, A. C. J. et al. A importância do (re) conhecimento dos atrativos turísticos no sucesso da atividade turística em Belém do Pará. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE TURISMO, 8., 2013, Recife. Anais... Recife: Bureau de Cultura, 2013. CD- ROM. COSTA, M. A. L. Segmentação do mercado turístico: o caso do destino Brasil. 2006. 273 f. Dissertação (Mestrado em Cultura e Turismo) – Universidade Estadual de Santa Cruz, Ilhéus, 2006. CRETELLA JÚNIOR, J. Curso de direito administrativo. 18. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2002. CRUZ, R. D. C. A. Introdução à geografia do turismo. 1. ed. São Paulo: Roca, 2001. CUNHA, A. G. D. Dicionário etimológico nova fronteira da língua portuguesa. 1. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1982. CUNHA, L. Introdução ao turismo. 2. ed. Lisboa: Verbo, 2003. DE LA TORRE PADILLA, Ó. El turismo: fenómeno social. 1. ed. México: Fondo de Cultura Económica, 1992. DE LACERDA BADARÓ, R. A. Direito internacional do turismo: o papel das organizações internacionais no turismo. 1. ed. São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2008. ______. O Direito do turismo através da história e sua evolução. [S.l.]: Academia, 2013. Disponível em: <http://www.academia.edu/315698/O_Direito_Do_Turismo_Atrav%C3%A9s_Da_Hist%C3%B3ria_E_Sua_Evolu%C3%A7%C3%A3o >. Acesso em: 31 mar. 2015. DENCKER, A. F. M. Métodos e técnicas de pesquisa em turismo. 1. ed. São Paulo: Futura, 1998.

Page 179: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

178

______. Pesquisa de mercado em turismo: identificação de novos segmentos. In: PANOSSO NETTO, A.; ANSARAH, M. G. D. R. (Org.). Produtos turísticos e novos segmentos de mercado: planejamento, criação e comercialização. 1. ed. Barueri-SP: Manole, 2015. p. 35-54. DIAS, R. Planejamento do turismo: política e desenvolvimento do turismo no Brasil. 1. ed. São Paulo: Atlas, 2003. [a] ______. Sociologia do Turismo. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2003. [b] DUMAZEDIER, J. Sociologia Empírica do Lazer. São Paulo: Perspectiva, 1979. DUTRA, M. Turismo 2.0: um estudo de perfil de usuários da rede Couchsurfing. 2010. 80 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Comunicação Social Habilitação em Relações Públicas) – Universidade do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2010. Disponível em: <http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/25573/000754724.pdf>. Acesso em: 16 maio 2016. ENGEL, J.; BLACKWEL, R.; MINIARD, P. Consumer behavior. Forth Worth USA: The Dryden Press, 1995. ESPINOSA, F.; GUERRA, M. L. História: Antiguidade oriental, Grécia, Roma, Idade média (séc. VIII). (Volume 3). 1. ed. Porto: Porto Editora, 1968. FARIAS, M. F. D.; SONAGLIO, K. E. Perspectivas multi, pluri, inter e transdisciplinar no turismo. Revista Iberoamericana de Turismo – RITUR, Penedo, v. 3, n.1, p. 71-85, 2013. Disponível em: <https://repositorio.ufrn.br/jspui/bitstream/123456789/19066/1/PerspectivasMultiPluri_2013.pdf>. Acesso em: 17 fev. 2015. FERNANDES, I. P.; COELHO, M. F. Economia do turismo: teoria e prática. 5. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2002. FIGUEIREDO, S. J. L.; RUSCHMANN, D. V. M. Estudo genealógico das viagens, dos viajantes e dos turistas. Revista Novos Cadernos NAEA, Belém, v. 7, n. 1, p. 155-188, 2004. Disponível em: <http://repositorio.ufpa.br/jspui/bitstream/2011/3165/1/Artigo_EstudoGenealogicoViagens.pdf>. Acesso em: 15 maio 2015. FIUZA, M. V. Paralelo entre o concurso público brasileiro vigente e o concurso público originado na China Antiga: um estudo comparado de história do direito e legislação correspondente. 2015. 83 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Direito) – Faculdade de Direito da Universidade Estadual do Piauí, Terezina, 2015. FONTAINHA, F. D. C. et al. Processos seletivos para a contratação de servidores públicos: Brasil, o país dos concursos?. Relatório de pesquisa do Projeto “Pensando o Direito”. Niterói: FGV Direito Rio, 2014.

Page 180: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

179

GEERTZ, C. A interpretação das culturas. 1. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2008. GIARETTA, M. J. Turismo da juventude. 1. ed. São Paulo: Manole, 2003. GREATTI, L.; SENHORINI, V. M. Empreendedorismo: uma visão comportamentalista. ENCONTRO DE ESTUDOS SOBRE EMPREENDEDORISMO E GESTÃO DE PEQUENAS EMPRESAS, 1., 2000, Maringá. Anais... Maringá: EGEPE, 2000. Disponível em: <http://www.anegepe.org.br/edicoesanteriores/maringa/EMP2000-01.pdf>. Acesso em: 29 abr. 2015. HOBO, F. E. Viajando por paisagens naturais: a espeleologia como experiência turística. 2011. 200 f. Dissertação (Mestrado em Geografia) – Universidade de São Paulo, São Paulo, 2011. IGNARRA, L. R.. Fundamentos do turismo. 2. ed. São Paulo: Pioneira, 2003. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Censo 2010. Disponível em: <http://censo2010.ibge.gov.br/>. Acesso em: 18 maio 2016. KÖRÖSSY, N.. Do turismo predatório ao turismo sustentável: uma revisão sobre a origem e a consolidação do discurso da sustentabilidade na atividade turística. Caderno Virtual de Turismo, Rio de Janeiro, v. 8, n. 2, p. 56-68, 2008. Disponível: <http://www.ivt.coppe.ufrj.br/caderno/index.php?journal=caderno&page=article&op=view&path%5B%5D=238&path%5B%5D=178>. Acesso: 22 jul. 2015. KOTLER, P.. Administração de marketing: a edição do novo milênio. Tradução Bazán Tecnologia e Linguística. São Paulo: Pearson Educación, 2000. ______. et al. Marketing para turismo. Tradução Cristina Belló, Elena Blázquez e Raquel Nieto. 3. ed. Madrid. Pearson Educación, 2008. ______.; KELLER, K. L. Administração do marketing: a bíblia do marketing. 12. ed. São Paulo: Pearson Educación, 2006. KRIPPENDORF, J. Sociologia do Turismo: para uma nova compreensão do lazer e das viagens. 3. ed. São Paulo: Aleph, 2001. LAGE, B. H. G. Segmentação do mercado turístico. Turismo em Análise, São Paulo, v. 3, n.2, p. 61-74, 1992. Disponível em: <http://www.revistas.usp.br/rta/article/view/64158>. Acesso em: 5 nov. 2015. ______.; MILONE, P. C. Economia do turismo. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2001. LOBATO, F. H. S. et al. Extensão universitária e o turismo social: despertando emoções e promovendo a inclusão social. Revista Conexão UEPG, Ponta Grossa, v. 11, n. 3, 2015, p. 260-273. Disponível em: <http://www.revistas2.uepg.br/index.php/conexao/article/view/7343>. Acesso em: 5 dez. 2015.

Page 181: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

180

______.; AIRES, J. C. A.; COSTA, A. C. J. Turismo de base comunitária: o caminho para a inclusão social, conservação ambiental e geração de emprego e renda na comunidade de Santa Maria do Baixo Acará - Trilha do Cutiti (PA). In: CONGRESSO NACIONAL DE ECOTURISMO, 9., ENCONTRO INTERDISCIPLINAR DE TURISMO EM UNIDADES DE CONSERVAÇÃO, 5., 2013, Rio Branco. Anais... São Paulo: Revista Brasileira de Ecoturismo, 2013. p. 213-214. Disponível em: <http://www.sbecotur.org.br/rbecotur/seer/index.php/ecoturismo/article/view/776>. Acesso em: 28 abr. 2015. ______.; RAVENA-CANETE, V. Farinha de feira: memórias e identidades de vendedores em feiras do bairro do Guamá, Belém (PA). Iluminuras, Porto Alegre, v. 16, n. 3, p. 242-271, 2015. Disponível em: <http://www.seer.ufrgs.br/iluminuras/article/view/53150>. Acesso em: 28 mar. 2015. LOHMANN, G.; PANOSSO NETTO, A. Teoria do turismo: modelos, conceitos e sistemas. 2. ed. São Paulo: Aleph, 2012.

LÜCK, H. Escopo geral do método de projetos. In.:____. Metodologia de projetos: uma ferramenta de planejamento e gestão. 11. ed. Petrópolis: Vozes, 2003.

MACHADO JÚNIOR, A. Concursos públicos. 1. ed. São Paulo: Atlas, 2008. MAIA, M. B.; QUEIROZ, R. P. D. O regime Jurídico do concurso público e o seu controle jurisdicional. 1. ed. São Paulo: Saraiva, 2007. MALINOWSKI, B. Introdução: o assunto, o método e o objetivo desta investigação [Argonautas do Pacífico Ocidental]. In: DURHAM, E. (Org.) Bronislaw Malinowski. 1. ed. São Paulo: Ática, 1986. p. 24-48. MARCELLINO, N. C. (Org.). Lazer e cultura. 1. ed. Campinas: Alínea, 2007. ______. Lazer e educação. 1. ed. Campinas: Papirus, 1987. ______. O lazer e os espaços na cidade. In: ISAYAMA, H.; LINHALES, M. A.(Org.) Sobre lazer e política: maneiras de ver, maneiras de fazer. 1. ed. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2006, p. 65 - 92. MARCONI, M. A.; LAKATOS, E. M. Técnicas de pesquisa: planejamento e execução de pesquisas, amostragens e técnicas de pesquisa, elaboração, análise e interpretação de dados. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2011. MARQUES, C. D. C. P. Motivações das viagens turísticas para regiões do interior: o caso do Douro. Vila Real. 2009. 233 f. Tese (Doutorado em Gestão) – Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, Vila Real, 2009. MARUJO, M. N. N. V. A Internet como novo meio de comunicação para os destinos turísticos: o caso da Ilha da Madeira. Turismo em Análise, São Paulo, v.19, n.1, p. 25-42, 2008. Disponível em:

Page 182: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

181

<https://www.turismoemanalise.org.br/turismoemanalise/article/view/7>. Acesso em: 23 abr. 2016. MEDAGLIA, J.; MAYNART, K.; SILVEIRA, C. E. A segmentação de mercado e a demanda turística real em Diamantina/MG e região. Observatório de Inovação do turismo - Revista acadêmica, v. 7, n. 4, Rio de Janeiro, p. 54-75, 2013. Disponível em: <http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/oit/article/view/11412/10372>. Acesso em: 23 nov. 2016. MILHEIRO, E; MELO, C. O Grand Tour e o advento do turismo moderno. Revista Aprender, Portalegre, v. 30, n. 1, p. 114-118, 2005. Disponível em: <http://www.esep.pt/publicacoes/aprender/030.php>. Acesso 06 de jun 2015. MINAYO. C. D. S. Ciência, técnica e arte: o desafio da pesquisa social. In:______. et al. (Org.). Pesquisa Social: teorias, métodos e criatividade. 14. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 1999. p. 9-30. MOESCH, M. M. A produção do saber turístico. 3. ed. São Paulo: Editora Contexto, 2002. MOLINA, S. O pós-turismo. 2. ed. São Paulo: Aleph, 2003. MONLEVADE, A. P. B. D. Por uma sociologia do turismo: estudo Introdutório. In: SEMINÁRIO DE PESQUISA EM TURISMO DO MERCOSUL, 4., 2010, Caxias do Sul. Anais... Caxias do Sul: Universidade de Caxias do Sul, 2010. [s. p.]. Disponível em:<http://www.ucs.br/ucs/tplSeminTur2010/eventos/seminario_de_pesquisa_semintur/anais/gt09/arquivos/09/Por%20uma%20Sociologia%20do%20Turismo%20Estudo%20Introdutorio.pdf>. Acesso em: 12 jun. 2015. MORAES, C. C. D. A. Turismo – segmentação de mercado: um estudo introdutório. In: ANSARAH, M. G. D. R. (Org.) Turismo: segmentação de mercado. 4. ed. São Paulo: Editora Futura, 2001. [a] ______. Turismo para single: uma segmentação em crescimento. In: ANSARAH, M. G. D. R. (Org.) Turismo: segmentação de mercado. 4. ed. São Paulo: Editora Futura, 2001. [b] NEIMAN, Z.; RABINOVICI, A. Turismo e meio ambiente no Brasil. 1. ed. Barueri: Manole, 2010. NOVELI, M. Do off-line para o online: a netnografia como um método de pesquisa ou o que pode acontecer quando tentamos levar a etnografia para a Internet? Organizações em Contexto, São Paulo, v.6, n.12, p. 107-133, 2010. Disponível em:< https://www.metodista.br/revistas/revistas-ims/index.php/OC/article/view/2697>. Acesso em: 12 jun. 2015. NUNES, C. M. D. F. A. Figueira da Foz (1930-1960): apontamentos sobre o Turismo Balnear. 2009. 236 f. Dissertação (Mestrado em Turismo) – Universidade de Coimbra, Coimbra, 2009.

Page 183: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

182

OLIVEIRA, A. P. Turismo e desenvolvimento: planejamento e organização. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2001. OLIVEIRA, J. E. D. S.; RESENDE, M. G. As mudanças no turismo com o advento da tecnologia de informação. Revista de Iniciação Científica RIC – Cairu, Salvador, n. 1, v. 1, p. 140-152, 2014. Disponível em: <http://www.cairu.br/riccairu/artigos0.php>. Acesso em: 22 abr. 2016. OLIVEIRA, R. J. D. Marketing dos destinos: a segmentação da demanda turística. In: PANOSSO NETTO, A.; ANSARAH, M. G. D. R. (Org.). Produtos turísticos e novos segmentos de mercado: planejamento, criação e comercialização. 1. ed. Barueri-SP: Manole, 2015. p. 2-34.

ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Declaração Universal dos Direitos Humanos. [S. I.]: ONU, 1948. Disponível em: <http://unicrio.org.br/img/DeclU_D_HumanosVersoInternet.pdf.> Acesso em: 06 jul. 2015.

PAKMAN, E. T. Sobre as definições de turismo da OMT: uma contribuição à história do pensamento turístico. In: SEMINÁRIO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO EM TURISMO, 11., 2014, São Paulo. Anais... São Paulo: Universidade Estadual do Ceará. ANPTUR, 2014, p. 1-12. Disponível em: <http://www.anptur.org.br/novo_portal/anais_anptur/anais_2014/arquivos/DFP/DFP1/034.pdf>. Acesso em: 26 dez. 2015. PANOSSO NETTO, A. Filosofia do turismo: teoria e epistemologia. 2. ed. São Paulo: Aleph, 2011. ______.; ANSARAH, M. G. D. R. (Org.). Produtos turísticos e novos segmentos de mercado: planejamento, criação e comercialização. 1. ed. Barueri-SP: Manole, 2015. ______.; ______. (Org.). Segmentação do mercado turístico: estudos produtos e perspectivas. 1. ed. Barueri-SP: Manole, 2009. [a] ______.; ______. Segmentação do turismo: panorama atual. In: ______. (Org.). Segmentação do mercado turístico: estudos produtos e perspectivas. 1. ed. Barueri-SP: Manole, 2009. [b] ______.; GAETA, C. (Org.). Turismo de experiência. 1. ed. São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2010. ______.; CASTILLO NECHAR, M.. Epistemologia do turismo: escolas teóricas e proposta crítica. Revista Brasileira de Pesquisa em Turismo, São Paulo, v. 8, v. 1, p. 120-144, 2014. Disponível em: <https://www.rbtur.org/rbtur/article/view/719>. Acesso em: 4 jun. 2015. PÉREZ, X. P. Turismo cultural: uma visão antropológica. 1. ed. Tenerife: Colección PASOS edita, 2009.

Page 184: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

183

PIMENTEL, T. V. C. Viajar e narrar: toda viagem destina-se a ultrapassar fronteiras. Revista Varia Historia, Belo Horizonte, v. 25, n. 1, p. 81-120, 2001. Disponível em: <http://www.fafich.ufmg.br/varia/admin/pdfs/25p81.pdf>. Acesso em: 2 abr. 2015. PINTO, P. M.; QUARESMA, H. D. D. A. B.; CAMPOS, R. I. R. Turismo de base comunitária em áreas haliêuticas da Amazônia: as possibilidades de desenvolvimento em São João de Pirabas. In: ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM AMBIENTE E SOCIEDADE, 6., 2012, Belém. Anais... 2012. Disponível em: <http://www.anppas.org.br/encontro6/anais/ARQUIVOS/GT1-776-473-20120628140734.pdf>. Acesso em: 30 maio 2015. QUARESMA, H. D. D. A. B. O desencanto da princesa: o turismo e pescadores artesanais da Área de Proteção Ambiental de Algodoal/Maiandeua-Pa. 1. ed. Belém: Editora NAEA, 2003. REJOWSKI, M. (Org.). Turismo no percurso do tempo. 1. ed. São Paulo: Aleph, 2002. RODRIGUE, J. P; COMTOIS, C.; SLACK, B. The geography of transport systems 3. ed. Oxon: Routledge. 2013. ROSSETTO FERREIRA, L. A comunicação e o turismo sexual [manuscrito]: as garotas do Brasil – um olhar hermenêutico. 2007. 310 f. Tese (Doutorado Comunicação Social) – Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2007. RUSCHMANN, D. V. D. M. Marketing turístico: um enfoque promocional. 7. ed. Campinas: Papirus editora, 2001. SANTOS FILHO, J. D. As relações de produção na Inglaterra criaram Thomas Cook - Parte II. Revista Espaço Acadêmico, Maringá, v. 7, n. 88, p. 1-8, 2008. Disponível em: <http://www.espacoacademico.com.br/088/88jsf.pdf>. Acesso em: 31 mar. 2015. ______. Ontologia do turismo: estudo de suas causas primeiras. 1. ed. Caxias do Sul: Educs, 2005. SANTOS, M. T. D. Fundamentos de turismo e hospitalidade. 1. ed. Manaus: Centro de Educação Tecnológica do Amazonas, 2010. SANTOS. J. J. F.; RODRIGUES, C. I. A feira e os vendedores de CDs e DVDs ‘piratas’. Revista Composição, Mato Grosso do Sul, v. 7, n. 12, p. 8-22, 2013. Disponível em: <http://www.revistacomposicao.ufms.br/composicao12.pdf>. Acesso em: 20 mar. 2015. SARAMAGO, J. Viagem a Portugal. 23. ed. Alfragide: Caminho, 2011. SEABRA, G. Ecos do turismo: o turismo ecológico em áreas protegidas. Campinas: Papirus, 2001.

Page 185: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

184

SEVERINO, A. J. Metodologia do trabalho científico. 23. ed. São Paulo: Cortez, 2007. SIMÕES, J. M.; FERREIRA, C. C. (Ed.). Turismos de nicho: motivações, produtos e territórios. 1. ed. Lisboa: Centro de estudos geográficos da Universidade de Lisboa, 2009. SOUSA, A. R. D. O processo administrativo do concurso público. 2011. 161 f. Dissertação (Mestrado em Direito) – Faculdade de Direito da Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, 2011. SOUZA JUNIOR, X. S. D. S.; ITO, C. A. Turismo e espaço: uma leitura geográfica da interferência da atividade turística no processo de (re)organização sócio-espacial do município de João Pessoa-PB. Revista electrónica de geografía y ciencias sociales, Barcelona, v. 9, n. 194, 2005. Disponível em: <http://www.ub.edu/geocrit/sn/sn-194-116.htm>. Acesso em: 06 maio 2015. TADINI, R. F. Evolução histórica do turismo In: ______; MELQUIADES, T. (Org.) Fundamentos do turismo. Rio de Janeiro: Fundação CECIERJ, 2010. p. 105-120. TAFARELO, C. S. C. Análise crítica entre etnografia e netnografia: métodos de pesquisa empírica. In: INTERPROGRAMAS DE MESTRADO DA FACULDADE CÁSPER LIBERO, 9., 2013. São Paulo. Anais... São Paulo: Faculdade Cásper Libero, 2013. Disponível em: <http://administrativocasper.fcl.com.br/noticias/index.php/2013/12/09/9o-interprogramas:-mesa-1-endash;-comunicacao-e-cibercultura,n=10204.html>. Acesso em: 29 abr. 2015. TAVARES, M. C.; AFONSO, T.; LOCATELLI, R. L. Segmentação de mercado, diferenciação de produtos e a perspectiva da antropologia do consumo. Revista Gestão e Tecnologia, Pedro Leopoldo, v. 11, n. 1, p. 106-122. 2011. Disponível em: <https://revistagt.fpl.edu.br/get/article/view/276/363>. Acesso em: 5 nov. 2015. TOCQUER, G.; ZINS, M. Marketing do Turismo. 2. ed. Lisboa:Piaget Editora, 2004. TOMAZI, N. D. Sociologia para o ensino médio. 1. ed. São Paulo: Atual, 2007. TOURISM INTELLIGENCE. Reinventando o turismo. [S.l.]: 2015. Disponível em: <http://www.tourism-intelligence.com/article.php?id=13>. Acesso em: 2 fev. 2015. TRIBE, J. Economia do Lazer e do Turismo. 2. ed. São Paulo: Manole, 2003. TRIGO, L. G. G. A viagem como experiência significativa. In: PANOSSO NETTO, A.; GAETA, C. (Org.). Turismo de experiência. 1. ed. São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2010. p. 21-41. ______. A viagem: caminho e experiência. 1. ed. São Paulo: Aleph, 2013. ______. Turismo básico. 6. ed. São Paulo: Editora Senac São Paulo, 1998.

Page 186: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

185

TURISMO de concursos vira nicho no mercado. Band.com Cidades, Bahia, 9 ago. 2013. Disponível em: <http://noticias.band.uol.com.br/cidades/bahia/noticia/100000621242/turismo-de-concursos-vira-nicho-no-mercado.html>. Acesso: 22 fev. 2015. UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA, Centro de Seleção e Promoção de Eventos (CESPE). Candidatos que fazem concursos em outras cidades ou estados (Relatório Anual 2006), 2007. Disponível em: <http://www.cespe.unb.br>. Acesso: 15 mar. 2016. URRY, J. O olhar do turista: lazer e viagens nas sociedades contemporâneas. 3. ed. São Paulo: Editora Studio Nobel/SESC. 2001. ______. Social networks, travel and talk. The British journal of sociology, Malden, v. 54, n.2, 2003, p. 155-175. Disponível em: <http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1080/0007131032000080186/abstract>. Acesso em: 23 jul. 2015. VENEGAS MARCELO, Hernán. As antecipações do turismo no Brasil. Revista Iberoamericana de Turismo- RITUR, Penedo, v. 1, n. 2, p. 12-25, 2011. Disponível em: <http://www.seer.ufal.br/index.php/ritur>. Acesso em: 01 jun. 2015. WERNECK, C. L. G.; ISAYAMA, H. F. Lazer, cultura, indústria cultural e consumo. In; ______. et al. Lazer e mercado. 1. ed. Campinas, SP: Papirus, 2001. p. 45-70. YANAZE, M. H. Gestão de marketing e comunicação. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2011.

Page 187: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

186

ANEXO A – BASES E PRINCIPAIS VARIÁVEIS NA SEGMENTAÇÃO DO MERCADO TURÍSTICO ATUAL

Bases Variáveis Exemplos de possíveis desdobramentos/composições

Geográfica (Origem dos turistas/de onde vêm)

Continente/Região do mundo África, Ásia, Europa, Américas, Oceania.

Acordos/agrupamentos regionais Mercosul, Comunidade Comum Europeia.

País Austrália, México, Japão, Brasil, França, EUA, Egito, Holanda.

Região Norte, Nordeste, Centro-Oeste, Sudeste e Sul.

Estado Amazonas, Ceará, Goiás, Minas Gerais, Paraná.

Cidade/Região turística do estado Florianópolis/Grande São Paulo, Triângulo Mineiro.

Área/Bairro/Zona/Setor da cidade/rua Barra da Tijuca/Área rural/Zona Norte/Avenida Brasil

Densidade populacional Até 50 mil habitantes, de 51 a 100 mil habitantes, etc.

Clima Frio, chuva intensa, calor, chuva da tarde em Belém (PA).

Distância Até 100 km, de 101 a 200 km, de 201 a 300 km, etc.

Tempo de percurso Até 4 horas de avião, até 3 horas de ônibus...

Demográfica e Socioeconômica

(Perfil dos turistas/Quem são os turistas)

Demográfica

Gênero Feminino e Masculino

Idade Até 10 anos, de 11 a 20, de 21 a 30, de 31 a 40, etc.

Estado civil Solteiro (a), Casado (a), Divorciado(a), Viúvo(a)

Tamanho da família 1 a 2, 3 a 4, 5 a 6, 7 a 8, mais de 8 membros.

Ciclo de vida da família Jovem solteiro(a), casal jovem sem filho, casal jovem com filho, casal de meia-idade sem filhos, casal de meia-idade com filhos, etc.

Número de Filhos 1 filho(a), 2 filhos(as), 3 filhos(as), 4 filhos(as), etc.

Geração Baby Bommers, geração X, geração Y, etc.

Nacionalidade Brasileiro(a), Francês(a), Chinês(a), Boliviano(a), etc.

Page 188: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

187

Bases Variáveis Exemplos de possíveis desdobramentos/composições

Cor Afrobrasileira, branca, indígena, parda (autodenominação).

Religião Católica, espírita, evangélica, judia (autodenominação).

Orientação sexual Heterossexual, Homossexual, bissexual, etc. (autodenominação).

Deficiência física ou mental, etc. Auditivo, visual, físico, mental.

Socioeconômica

Renda Até R$ 500,00, de R$ 501,00 a R$ 1.000,00, de R$ 1.001,00 a R$ 1.500,00, etc.

Ocupação Estudante, Dona de casa, empresário(a), doméstica(o), professor(a), médico(a), turismólogo(a)...

Grau de instrução (Educação) Analfabeto, Alfabetização, Ensino Fundamental, Ensino Médio, Ensino Superior, Pós-graduação.

Classe social A1, A2, B1, B2, C1, C2, D, E, etc.

Posse de bens Tipo de habitação, imóvel próprio ou alugado, posse de equipamentos, veículos, barcos, etc.

Comportamental (quais são os

costumes/atitudes dos turistas nas viagens e na vida de

maneira geral)

Relacionadas ao comportamento de compra de turismo

Ocasião da compra Com antecedência de meses, semanas, dias, última hora.

Ocasião da viagem Finais de semana, verão, inverno, meses de baixa temporada turística, férias escolares, feriados prolongados

Organização da viagem Por conta própria, agência de viagens, pacote turístico, etc.

Destino frequentado Praia, montanha, neve, urbano, rural, ecológico, etc.

Lugar de compra Agência de viagens, agência on-line, compra direta

Duração da viagem Até 2 dias, de 3 a 5 dias, de 6 a 10 dias, de 11 a 15 dias, etc.

Frequência que viaja Um vez na vida, uma vez por ano, uma vez por mês

Taxa/grau de uso Viajante light, médium, heavy user

Tipo de grupo Sozinha, casal, família, colegas de escola/trabalhos, amigos, etc.

Page 189: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

188

Bases Variáveis Exemplos de possíveis desdobramentos/composições

Status do visitante em relação ao destino Não visitante, visitante potencial, visitante pela primeira vez, visitante regular

Lealdade ao destino Nenhuma, pouca, média, alta lealdade (retorno)

Meio de transporte utilizado até o destino Avião, ônibus, automóvel, trem, navio, motocicleta, etc.

Meio de transporte utilizado no destino Transporte público, veículo próprio, veículo alugado, motocicleta, bicicleta.

Tipo de acomodação Resort, Hotel luxo, hotel econômico, pousada, hostel, flat

Tipo de entretenimento Cultural, relaxante, recreativo, esportivo, contemplativo, estático, artístico, noturno, aquático, urbano, de natureza...

Gastos diários no destino turístico Até R$ 50,00, de R$ 51,00 a R$ 100,00, de R$ 101,00 a R$ 150,00, etc.

Forma e condição de pagamento À vista, parcelado, em dinheiro, boleto bancário, cartão de débito, cartão de crédito, pela internet...

Estágio de atenção para com o destino Desconhece, conhece, interessado, desejoso, com intenção de compra

Atitude em relação ao destino Entusiasta, positiva, indiferente, negativa, hostil.

Benefícios oferecidos e conquistados com os produtos ou serviços adquirir dos

Satisfação física/psicológica

Produtos saudáveis e/ou ecológicos, etc.

Preço favorável

Qualidade

Durabilidade

Redução de custos

Atendimento ou serviços agregados

Modernidade/atualização

Marcas reconhecidas (Confiança)

Rapidez

Page 190: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

189

Bases Variáveis Exemplos de possíveis desdobramentos/composições

Aparência e características físicas do produto

Não relacionadas somente ao comportamento de compra de turismo

Atividades

Assistir shows de música e exposição de artes, frequentar clubes esportivos, fazer compras, em shoppings centers, ir a parques e praias com a família aos finais de semana, reunir amigos, assistir os jogos do time de futebol pela televisão, colecionar souvenirs de outros países, hábitos alimentares, jogos eletrônicos, contribuir com ONG’s, animal de estimação, etc.

Exposição à mídia

Ler o jornal da cidade todos os dias, ler revistas da área de atuação profissional, telespectador de novelas e filmes, ouvir músicas no rádio do carro, acessar diariamente a internet e participar de redes sociais, estar sempre próximo do celular

Estilo de vida

VALS: inovadores, satisfeitos, realizadores, experimentadores, crentes, lutadores, fazedores, esforçados; 4C’s: inquietos, transformadores, vencedores, emulares, integrados, batalhadores, conformados; Mosaic Brasil: ricos, sofisticados e influentes; prósperos moradores urbanos; assalariados urbanos; empreendedores e comerciantes; aspiradores sociais; periferia jovem; envelhecendo na periferia; aposentadoria tranquila. Envelhecendo no interior; Brasil rural

Personalidade

Humilde, convencido, reservado, extrovertido, sociável, retraído, confiante, desconfiado, relaxado, tenso, liberal, conservador, criativo, prático, otimista, pessimista, inovador, tradicional, exigente, complacente, ativo, preguiçoso.(comportamentos)

Psicográfica (quais são os aspectos

subjetivos dos turistas/como Valores

Honestidade solidariedade, verdade, bondade, justiça, ética, igualdade, liberdade, cidadania, disciplina, paz, integridade, comprometimento, altruísmo, respeito

Page 191: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

190

Bases Variáveis Exemplos de possíveis desdobramentos/composições

eles pensam e encaram a vida) Atitudes

Altamente positiva, positiva, negativa, altamente negativa, favorável, desfavorável, nem favorável nem desfavorável

Interesses

Família, casa, trabalho, lazer, comunidade individual, artes, astronomia, biologia, computação, comunicação, cultura, dança, engenharia, esportes, filosofia, gastronomia, história, línguas, literatura, medicina, música

Opiniões Sobre si mesmo, sociedade, política, economia, educação sobre produtos, empresas, marcas, futuro.

Personalidade

Amorosa, amiga, cúmplice, harmoniosa, otimista, pessimista, inovadora, inquieta, sonhadora, sofredora, triste, alegre, feliz, etc (emoções, sentimentos e pensamentos).

Motivação ou objetivo da viagem

(o que os turistas querem na viagem)

Principal motivo da viagem Lazer, negócios, visita a parentes e amigos, participação em eventos educacionais, culturais, religiosos e esportivos, saúde

Objetivos da viagem Descansar, desligar, relaxar, fugir da rotina, recarregar

Lazer

Ter muitas atividades, badalação, divertimento

Comer e beber bem, fazer apenas o que tiver vontade

Praticar muita atividade física, entrar em forma

Buscar aventuras, assumir riscos, atividades radicais

Estar em contato com a natureza, ar puro, água limpa

Tomar sol, mudar de clima, bronzear-se

Visitar cidades, entreter-se em espaços urbanos

Conhecer outros lugares, ver a diversidade do mundo

Adquirir conhecimentos, experimentar coisas novas

Conhecer outras pessoas, trocar experiências

Reavivar lembranças, nostalgia, explorar ascendência

Dedicar-se aos seus interesses e aos seus hobbies

Page 192: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

191

Bases Variáveis Exemplos de possíveis desdobramentos/composições

Proporcionar entretenimento para os filhos e para si próprio

Negócios

Prospectar novos negócios, conquistar clientes

Visitar clientes antigos e fechar mais negócios

Dar consultoria, palestras, treinamentos

Executar trabalhos específicos

Visitar parentes e amigos Rever amigos, colegas e familiares

Comemorar acontecimentos e datas festivas

Eventos educacionais, culturais, religiosos e esportivos

Participar de eventos científicos, educacionais, profissionais, seminários, congressos, convenções

Assistir shows de música, festivais de dança mostras de cinema, peças de teatro, visitar museus, exposições

Assistir jogos de futebol, voleibol, basquete, corridas de automóvel e motocicletas, ver competições de surfe, vela, esportes radicais, natação, lutas marciais

Participar como atleta ou equipe técnica de corridas de rua e competições esportivas.

Participar de eventos e peregrinações religiosas

Saúde

Consultas médicas, prevenção de doenças

Cirurgias, procedimentos, tratamento com especialistas

Tratamentos estéticos, cuidados com a beleza

Acompanhamento de pacientes em tratamento

Dar a luz em outros lugares

Prestigio social/Status Destino confere pouco, médio ou muito status, diferenciado, exclusivo

Benefícios53 Preço

53

Os benefícios estão presentes enquanto variável de duas bases da segmentação em turismo, a comportamental e a motivação ou objetivo da viagem, por apresentar características que podem influenciar de maneira mútua as duas.

Page 193: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

192

Bases Variáveis Exemplos de possíveis desdobramentos/composições

Aparências e qualidades dos aspectos tangíveis (arquitetura, instalações, equipamentos, ambientação)

Qualidade no atendimento e empatia dos anfitriões e funcionários (informação, presteza, atenção, cortesia, segurança)

Oferecimento de serviços agregados

Reconhecimento da marca/destino

Organizações com práticas sustentáveis (ambientalmente corretas, socialmente justas, culturalmente aceitas e economicamente viáveis)

Fonte: Compilação de vários trabalhos realizada por Rui Oliveira (2015), com adaptações do autor (2015).

Page 194: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

193

APÊNDICE A – QUESTIONÁRIO DE CAMPO APLICADO JUNTO AOS

CONCURSEIROS

O presente questionário configura o instrumento metodológico de

investigação do Trabalho de Conclusão de Curso intitulado: "Concurseiros viajando

pelo Brasil: uma nova segmentação do mercado turístico?", de autoria de Flavio

Henrique Souza Lobato, com orientação da Prof.ª Msc. Diana Priscila Sá Alberto, no

âmbito do curso de bacharelado em Turismo da Universidade Federal do Pará

(UFPA). Este visa compreender questões relativas às viagens a concursos públicos:

produtos, serviços, dinâmicas e interfaces desse novo e crescente mercado turístico

brasileiro.

Ressaltamos que os dados coletados serão usados para fins científicos, e o

questionário garante o anonimato dos participantes da pesquisa.

Aqueles que quiserem tomar conhecimento dos resultados da pesquisa podem

deixar o e-mail na ultima pergunta do questionário, que, posteriormente, os dados

finais sejam enviados como uma forma de dar um feedback a vocês.

De antemão, agradecemos a colaboração de todos. Quem puder

divulgar/compartilhar o questionário com amigos ou conhecidos seremos mais

gratos ainda.

O tempo médio de preenchimento deste questionário é de 5 minutos

1- Sexo: ( )Masculino ( ) Feminino ( ) Não quis declarar 2- Pessoa com Deficiência (PCD) ? ( )Sim ( )Não Se Sim, Qual(is)?: _______________________ 3- Idade: ( ) 18 a 20 anos; ( ) 21 a 30 anos; ( ) 31 a 40 anos; ( ) 41 a 50 anos; ( ) Acima de 50. 4- Estado Civil: ( ) Solteiro(a) ( ) Casado(a) ( ) Divorciado(a)

Page 195: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

194

( ) União Estável ( ) Viúvo(a) ( ) Outros: ______________ 5- Escolaridade: ( ) Fundamental Incompleto; ( ) Fundamental Completo; ( ) Médio Incompleto; ( ) Médio Completo; ( ) Superior Incompleto; ( ) Superior Completo; ( ) Pós-Graduação. 6- Local de Residência: 6.1- Cidade: __________________ 6.2- Estado:___________________ 7- Renda: ( ) Não recebe nenhuma renda; ( ) Menos de 1 salários mínimos ; ( ) De 1 a 3 salários mínimos; ( ) De 4 a 6 salários mínimos; ( ) De 7 a 9 salários mínimos; ( ) 10 ou mais de 10 salários mínimos: ( ) Acima de 16 sm; . 8- Ocupação: ( ) Estudante; ( ) Desempregado(a); ( ) Empregado(a) ( ) Servidor(a) Público; ( ) Autônomo(a)/Profissional Liberal; ( ) Aposentado(a); ( ) Outros : _________________ 9- Qual o motivo que leva você a prestar concursos públicos? ( ) Estabilidade Financeira; ( ) Bom Salários; ( ) Horário de Trabalho Fixo; ( ) Aposentadoria; ( ) Vagas para Deficientes; ( ) Outros: ___________________ 10- Tempo de participação de Concursos Públicos? ( ) Menos de 1 Ano; ( ) De 1 a 3 anos; ( ) De 4 a 5 anos; ( ) De 6 a 7 anos: ( ) Mais de 7 anos.

Page 196: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

195

11- Nível de preferência de Concursos Públicos ( ) Municipais; ( ) Estaduais: ( ) Federais. 12-De quantos Concursos Públicos você já participou? 13- Quantas viagens você já fez para participar de Concursos Públicos? 14- Geralmente, quais são as suas principais fontes de informação ao preparar esse tipo de viagem? ( ) Parentes e Amigos; ( ) Internet; ( ) Agência de Viagens; ( ) Guias Turísticos (Folders, Informativos Impressos...) ( ) Outros. ________________ 15- Prefere: ( ) Viajar em grupo; ( ) Viajar sozinho(a) 16- Quais os meios de transporte você costuma utilizar para esse tipo de Viagem: ( ) Ônibus; ( ) Van; ( ) Carro; ( ) Avião; ( )Barco Ou Navio; ( ) Outro.___________ 17- Quando você realiza uma viagem para fazer provas de concursos, onde você costuma se hospedar? ( ) Casa de Parentes / Amigos ( ) Imóvel Alugado; ( ) Hotéis ( ) Pousadas; ( ) Albergues/Hostel ( ) Outros:____________ 18- Em média, quantos dias você costuma ficar na cidade de realização da prova? ( ) 1 dia; ( ) 2 dias; ( ) 3 dias; ( ) 4 dias; ( ) 5 dias; ( ) Mais de 5 dias 19- Quantos dias antes da prova, você costuma chegar à cidade onde o certame será realizado? ( ) No dia da Prova; ( ) 1 dia antes;

Page 197: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE …setur.pa.gov.br/sites/default/files/pdf/concurseiros_viajando_pelo... · Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na

196

( ) 2 dias antes; ( ) 3 dias antes; ( ) 4 dias antes; ( ) Mais de 4 dias; 20- Quanto em média você gasta com esse tipo de viagem? R:____________ (Essa questão aceita apenas respostas em forma de numerais). 21- Com o que você costuma gasta? ( ) Hospedagem; ( ) Alimentação; ( )Transporte Interno; ( ) Compras Pessoais; ( ) Atrativos e Passeios; ( )Outros:__________________ 22- O que você costuma fazer antes e/ou após a realização das provas? ( ) Ler/estudar; ( ) Dormir; ( ) Assistir Tv; ( ) Conhecer e passear pelas cidades; ( ) Outros:___________________ 23- Essas viagens seriam oportunidades para conhecer outras cidades, regiões e culturas. ( ) Sim ( ) Não Justifique: _________________________ 24- Já visitou ou tem vontade de visitar alguma cidade onde realizou prova de concurso, a turismo? ( ) Sim ( ) Não 25- Para você, as viagens realizadas para a participação em concursos públicos, podem ser consideradas como uma nova forma de se fazer turismo (novo nicho/segmento)? ( ) Sim ( )Não Justifique: _________________________ Caso queria receber posteriormente os resultados da pesquisa, informe seu contato a seguir: E-mail: __________________________