universidade federal do cearÁ universidade … · rir é correr o risco de parecer tolo. chorar é...

Download UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ UNIVERSIDADE … · Rir é correr o risco de parecer tolo. Chorar é correr o risco de parecer sentimental. Expor-se para o outro é correr o risco

If you can't read please download the document

Upload: nguyenanh

Post on 22-Nov-2018

220 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • i

    UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEAR

    UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARABA UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO

    PROGRAMA DE DOUTORADO INTEGRADO EM ZOOTECNIA

    USO DA ABELHA MELFERA (Apis mellifera L.) NA POLINIZAO E AUMENTO DE PRODUTIVIDADE DE GROS EM VARIEDADE DE SOJA (Glycine max (L.) Merril.) ADAPTADA S CONDIES CLIMTICAS DO

    NORDESTE BRASILEIRO

    MARCELO DE OLIVEIRA MILFONT

    FORTALEZA - CE

    FEVEREIRO - 2012

  • ii

    UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEAR

    UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARABA UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO

    PROGRAMA DE DOUTORADO INTEGRADO EM ZOOTECNIA

    USO DA ABELHA MELFERA (Apis mellifera L.) NA POLINIZAO E

    AUMENTO DE PRODUTIVIDADE DE GROS EM VARIEDADE DE SOJA (Glycine max (L.) Merril.) ADAPTADA S CONDIES CLIMTICAS DO

    NORDESTE BRASILEIRO

    MARCELO DE OLIVEIRA MILFONT Engenheiro Agrnomo

    FORTALEZA - CE FEVEREIRO - 2012

  • iii

    MARCELO DE OLIVEIRA MILFONT

    USO DA ABELHA MELFERA (Apis mellifera L.) NA POLINIZAO E AUMENTO DE PRODUTIVIDADE DE GROS EM VARIEDADE DE SOJA (Glycine max (L.) Merril.) ADAPTADA

    S CONDIES CLIMTICAS DO NORDESTE BRASILEIRO

    Tese apresentada ao Programa de Doutorado Integrado em Zootecnia da Universidade Federal do Cear, Universidade Federal Rural de Pernambuco e Universidade Federal da Paraba; como requisito parcial para a obteno do ttulo de Doutor em Zootecnia. Orientador: Prof. PhD. Breno Magalhes Freitas

    FORTALEZA - CEAR FEVEREIRO - 2012

  • iv

    MARCELO DE OLIVEIRA MILFONT

    USO DA ABELHA MELFERA (Apis mellifera L.) NA POLINIZAO E AUMENTO DE PRODUTIVIDADE DE GROS EM VARIEDADE DE SOJA (Glycine max (L.) Merril.) ADAPTADA S CONDIES CLIMTICAS DO

    NORDESTE BRASILEIRO

    Tese defendida e aprovada pela Comisso Examinadora em Comisso Examinadora:

    _________________________________________ Dra. Vera Lcia Imperatriz Fonseca Universidade de So Paulo USP

    _________________________________________ Dra.. Eva Mnica Sarmento da Silva

    Universidade Federal do Vale do So Francisco - UNIVASF

    ____________________________________________ Dra. Darci de Oliveira Cruz

    Universidade Federal do Cear - UFC

    ___________________________________________ Dr. Francisco Deoclcio Guerra Paulino Universidade Federal do Cear - UFC

    _________________________________________ Ph D. Breno Magalhes Freitas (Orientador)

    Universidade Federal do Cear -UFC

  • v

    RISCOS...

    Rir correr o risco de parecer tolo.

    Chorar correr o risco de parecer sentimental.

    Expor-se para o outro correr o risco de se envolver.

    Expor seus sentimentos arriscar expor seu verdadeiro eu.

    Mostrar suas idias e sonhos diante de todos arriscar perd-los.

    Amar arriscar no ser amado.

    Viver arriscar morrer.

    Ter esperana arriscar desespero.

    Tentar arriscar falhar.

    Mas riscos tm que ser assumidos, porque o maior

    perigo no arriscar nada.

    A pessoa que no arrisca nada, no faz nada,

    no tem nada, no nada...

    Ela pode evitar o sofrimento e a tristeza, mas ela

    simplesmente no pode aprender, sentir, mudar,

    crescer, amar, viver.

    Acorrentada por suas certezas imutveis, ela , na

    verdade um escravo que desistiu da liberdade.

    Somente a pessoa que arrisca livre!

    No porque as coisas so difceis que ns no

    ousamos porque no ousamos que as coisas so

    difceis!

    Sneca - ano IV a.C

  • vi

    Deus, pela vida, sade, coragem e condio da realizao desse trabalho.

    minha esposa Karolina Milfont, por todo amor, ajuda e pacincia que foram imprescindveis realizao desse trabalho, ao nosso beb que est a caminho reservando muitas alegrias para as nossas vidas e a toda sua famlia pelo incentivo e colaborao.

    Aos meus pais Ronaldo Milfont e Judite Milfont por acreditarem em mim, torcerem e por me darem apoio para que pudesse obter esse ttulo.

    s minhas irms Carine Milfont e Caroline Milfont (in memorian), companheiras de todas as horas, por todo carinho e amizade.

    Aos meus avs Jaime Milfont e Diva Milfont, Osvaldo Pimentel e La Nobre (exemplos de vida) pelo afeto, constante apoio e carinho.

    toda minha famlia pelo apoio, carinho e

    amizade. s abelhas, em nome da natureza.

    DEDICO

  • vii

    AGRADECIMENTOS

    A realizao do presente trabalho no seria possvel sem a participao de vrias

    pessoas e instituies, s quais agradeo:

    Em primeiro lugar, agradeo ao nosso bom Deus...

    Universidade Federal do Cear, Universidade Federal Rural de Pernambuco e

    Universidade Federal da Paraba, atravs do Programa de Doutorado Integrado em

    Zootecnia, pela oportunidade de realizao desse curso e ao Dr. Arlindo de Alencar

    Araripe Noronha Moura (coordenador do programa).

    Ao professor orientador PhD. Breno Magalhes Freitas pela orientao,

    ensinamentos, amizade, pacincia e compreenso.

    agroempresa Faedo Sementes: Dagoberto Faedo por disponibilizar suas reas

    e instalaes para execuo do experimento.

    todos os funcionrios da agroempresa Faedo Sementes pela amizade e

    constante apoio durante a execuo do projeto, em especial a Mrcio, Neto, neas

    (vigia), Lucieldo, Joo, Duda, Naldim, Cuca (in memorian), careca e as secretrias

    Valdirene e Mnica.

    empresa Altamira Apcola pelo emprstimo das colnias e total apoio na

    execuo do experimento.

    Dra. Vera Lcia Imperatriz Fonseca pelas valiosas sugestes ao presente

    trabalho.

    Dra. Eva Mnica Sarmento da Silva pelo apoio e sugestes ao trabalho.

    Dra. Darci de Oliveira Cruz pelas crticas e sugestes ao trabalho.

    Ao Dr. Francisco Deoclcio Guerra Paulino, pela amizade e colaborao.

    mestranda Epifnia de Macedo Rocha e aos estudantes de graduao David e

    Ariane, por toda a ajuda e dedicao no presente trabalho.

    Ana Gludia Catunda Vasconcelos pela amizade, ajuda e disposio nas

    anlises estatsticas.

    Dra. Favzia Freitas de Oliveira pela amizade e identificao das abelhas

    coletadas nesse trabalho.

  • viii

    A todos do Laboratrio de Sementes do Departamento de Fitotecnia pela

    amizade e colaborao nas anlises, em especial ao colega Lineker de Souza Lopes.

    bibliotecria Isabela Nascimento pela ajuda e colaborao nas referncias

    bibliogrficas.

    A todos os colegas e amigos do Grupo de Pesquisa com abelhas.

    Aos funcionrios do setor de apicultura Francisco Jos Carneiro e Hlio Rocha

    Lima pela amizade e ajuda no decorrer do curso.

    Aos professores do Departamento de Zootecnia UFC, pelos ensinamentos e

    incentivos no decorrer do curso.

    Francisca Prudncio, secretria da Ps-Graduao, pela simpatia, cooperao

    e apoio administrativo durante todo decorrer do curso.

    A todos os colegas do curso de Ps-Graduao.

    CAPES Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior,

    pelo incentivo a pesquisa e pela concesso da bolsa de estudo.

    E por fim, a todos aqueles que de forma direta ou indiretamente contriburam

    para a realizao desse trabalho.

    Meu muito obrigado!

  • ix

    SUMRIO

    Pgina

    CONSIDERAES INICIAIS.....................................................................

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS.........................................................

    1

    3

    Captulo I

    1. Referencial Terico .................................................................................. 6

    2. A cultura da soja (Glycine Max (L.) Merril).......................................... 9

    2.1 Origem da planta...................................................................................

    2.2 Importncia econmica.........................................................................

    2.3 Produo e produtividade.....................................................................

    2.4 Expanso da cultura..............................................................................

    2.5 Caractersticas botnicas.......................................................................

    2.6 Estdios de desenvolvimento................................................................

    2.7 Biologia floral.......................................................................................

    2.7.1 Flor, inflorescncia e tempo de florescimento..........................

    2.7.2 Padro de secreo de nctar...................................................

    2.7.3 Produo de plen....................................................................

    2.7.4 Requerimentos de polinizao...................................................

    2.8 Visitantes florais.................................................................................

    2.9 Atratividade das flores de soja para as abelhas...................................

    2.10 Influncia das abelhas na produtividade da soja.................................

    2.11 Recomendao de polinizadores.........................................................

    2.12 Produo de mel..................................................................................

    3. Referncias bibliogrficas..........................................................................

    9

    10

    12

    13

    15

    16

    18

    18

    20

    21

    22

    23

    24

    25

    27

    27

    29

  • x

    Captulo II

    Biologia floral, requerimentos de polinizao e eficincia polinizadora de Apis

    mellifera L. na soja (Glycine max (L.) Merril) em Limoeiro do Norte CE.

    Resumo ............................................................................................................. 40

    Abstract ............................................................................................................ 41

    Introduo ......................................................................................................... 42

    Material e Mtodos ........................................................................................... 44

    Resultados e Discusso .................................................................................... 50

    Concluses ....................................................................................................... 59

    Referncias Bibliogrficas ............................................................................... 60

    Captulo III

    Comportamento e padro de forrageamento de Apis mellifera L. em soja tropical

    (Glycine max (L.) Merril)

    Resumo ............................................................................................................. 67

    Abstract ............................................................................................................ 68

    Introduo ......................................................................................................... 69

    Material e Mtodos ........................................................................................... 70

    Resultados e Discusso .................................................................................... 73

    Concluses ....................................................................................................... 80

    Referncias Bibliogrficas ............................................................................... 81

  • xi

    Captulo IV

    O uso de Apis mellifera L. no incremento de produtividade da soja cv. BRS-

    Carnaba e seu efeito no teor de leo e protena das sementes.

    Resumo ............................................................................................................. 85

    Abstract ............................................................................................................ 87

    Introduo ........................................................................................................ 89

    Material e Mtodos .......................................................................................... 91

    Resultados e Discusso .................................................................................... 97

    Concluses ....................................................................................................... 106

    Referncias Bibliogrficas ............................................................................... 107

    Captulo V

    Potencial produtivo e anlise de multiresduos de pesticidas no mel de abelhas

    melferas oriundo de cultivo de soja (Glycine max (L.) Merril)

    Resumo ............................................................................................................. 111

    Abstract ............................................................................................................ 112

    Introduo ........................................................................................................ 113

    Material e Mtodos .......................................................................................... 114

    Resultados e Discusso .................................................................................... 118

    Concluses ....................................................................................................... 123

    Referncias Bibliogrficas ............................................................................... 124

    Consideraes Finais e Implicaes ............................................................ 128

  • xii

    LISTA DE TABELAS

    Captulo I

    Pgina

    TABELA 01 Descrio dos estdios reprodutivos da soja (Glycine max (L.) Merril) .......................................................................................

    18

    Captulo II

    TABELA 01 Produo de nctar (L) de flores de soja (Glycine max (L.) Merril) ao longo do dia das variesdade BRS-Carnuba e Monsoy 9144 RR em Limoeiro do Norte, CE. 2009...........................................................................................

    54

    TABELA 02 Efeito da remoo de nctar em flores de soja (Glycine max (L.) Merril) variedades BRS-Carnaba e Monsoy 9144 RR em Limoeiro do Norte, CE. 2009. Valores em mdias e.p.m; n representa o nmero de flores......................................

    54

    TABELA 03 Visitantes florais da soja (Glycine max (L.) Merril) coletadas no municpio de Limoeiro do Norte-CE. 2009..........................

    56

    TABELA 04 Vingamento de vagens e sementes na soja (Glycine max (L.) Merril) cv. BRS-Sambaba sob quatro formas de polinizao das flores. Limoeiro do Norte-CE.2009....................................

    56

    Captulo III

    TABELA 01 Nmero de abelhas Apis mellifera em coleta de nctar, nctar + plen e total de abelhas melferas em duas variedades de soja tropical (Glycine max (L.) Merril) em Limoeiro do Norte-CE. 2009..............................................................................................

    77

  • xiii

    Captulo IV

    TABELA 01 Produo total e classificao das sementes de soja (Glycine max (L.) Merril) cv. BRS-Carnaba em trs tratamentos de polinizao em Limoeiro do Norte, Cear. 2009........................

    97

    TABELA 02 Percentual de incremento de produo entre os diferentes ensaios de polinizao realizados na soja (Glycine max (L.) Merril) em Limoeiro do Norte, Cear. 2009..............................

    98

    TABELA 03 Produo total de vagens, gros e nmero total de vagens com uma, duas e trs sementes na soja (Glycine max (L.) Merril) cv. BRS-Carnaba em diferentes ensaios de polinizao em Limoeiro do Norte, Cear. 2009.................................................

    103

    TABELA 04 Peso de mil sementes (PMS), Altura de insero de primeira vagem (AIPV) e percentual de flores no vingadas (PFNV) na soja (Glycine max (L.) Merril) cv. BRS-Carnaba em trs ensaios de polinizao em Limoeiro do Norte, Cear. 2009...........................................................................................

    104

    TABELA 05 Percentual de leo e protena de sementes de soja (Glycine max (L.) Merril) cv. BRS-Carnaba dos trs diferentes ensaios de polinizao em Limoeiro do Norte, Cear. 2009...................

    104

    Captulo V

    TABELA 01 Pesticidas aplicados na soja (Glycine max (L.) Merril) do plantio ao final do florescimento em Limoeiro do Norte, Cear. 2009.................................................................................

    115

    TABELA 02 Produo de mel (Kg) por colmeia, produtividade mdia e produo total de apirio instalado em plantio de soja (Glycine max (L.) Merril em Limoeiro do Norte, Cear. 2009.................

    119

    TABELA 03 Compostos analisados no mel de soja (Glycine max (L.) Merril) produzido em Limoeiro do Norte. 2009.........................

    121

  • xiv

    LISTA DE FIGURAS

    Captulo I

    Pgina

    FIGURA 01

    Flor de soja (Glycine max (L.) Merril) em corte longitudinal.... 19

    Captulo II

    FIGURA 01 Padro percentual de abertura das flores de soja (Glycine max (L.) Merril) variedade BRS-Carnuba e Monsoy 9144 RR em Limoeiro do Norte, CE. 2009.....................................................

    51

    FIGURA 02 Padro dirio de secreo de nctar das flores de soja (Glycine max (L.) Merril) variedades BRS-Carnaba e Monsoy 9144 RR em Limoeiro do Norte, CE. 2009.........................................

    53

    Captulo III

    FIGURA 01 Comportamento de forrageio de abelhas melferas (Apis mellifera L.) em flores de soja (Glycine max (L.) Merril) no municpio de Limoeiro do Norte, Cear. 2009...........................

    73

    FIGURA 02 Atividade das abelhas Apis mellifera L. nas cultivares BRS-Carnaba (flor branca) e Monsoy 9144 RR (flor roxa) ao longo do dia, em Limoeiro do Norte, Cear. 2009.....................

    76

    FIGURA 03 Abelha Apis mellifera L. com plen na corbcula na flor de soja (Glycine max (L.) Merril) variedade BRS-Carnaba flor branca (a) e coletando nctar na variedade Monsoy 9144 RR flor roxa (b) em Limoeiro do Norte, Cear. 2009...................

    77

    FIGURA 04 Nmero de abelhas Apis mellifera L. em coleta de nctar nas cultivares BRS-Carnaba (flor branca) e Monsoy 9144 RR (flor roxa) ao longo do dia, em Limoeiro do Norte, Cear. 2009.............................................................................................

    78

  • xv

    FIGURA 05

    Nmero de abelhas Apis mellifera L. em coleta de nctar + plen nas cultivares BRS-Carnaba (flor branca) e Monsoy 9144 RR (flor roxa) ao longo do dia, em Limoeiro do Norte, Cear. 2009.................................................................................

    79

    Captulo IV

    FIGURA 01 Pivs plantados com soja (Glycine max (L.) Merril) em Limoeiro do Norte, Cear. 2009. (1) piv com trs tratamentos: reas amarelas (reas consideradas abertas com introduo de abelhas melferas (Apis mellifera L.) na linha lateral; reas verdes (rea aberta); reas brancas (rea fechada), (2) piv com um tratamento: reas amarelas (reas consideradas abertas com introduo de abelhas melferas no centro da cultura. Os traos em vermelho significa o local de instalao do apirio (oito colnias cada)...................................

    92

    FIGURA 02 Gaiolas de tela de nilon (3,0 x 6,0 x 1,5m) montadas sobre a soja (Glycine max (L.) Merril) e impedindo a visitao de agentes polinizadores em Limoeiro do Norte, Cear. 2009............................................................................................

    94

    FIGURA 03 Produo de soja (Glycine max (L.) Merril) em sacos (60kg)/ha dos diferentes ensaios de polinizao realizados em Limoeiro do Norte, Cear. 2009.................................................

    99

    Captulo V

    FIGURA 01 Apirio constitudo de oito colmias instalado em meio ao plantio de soja (Glycine max (L.) Merril var. Monsoy 9144 RR, em Limoeiro do Norte, Cear.2009.....................................

    116

  • xvi

    Uso da abelha melfera (Apis mellifera L.) na polinizao e aumento de produtividade de gros em variedade de soja (Glycine max (L.) Merril.) adaptada s condies climticas do Nordeste brasileiro

    RESUMO GERAL

    A pesquisa foi conduzida entre julho e dezembro de 2009 usando cultivares tropicais de

    soja (Glycine max (L.) Merril) irrigadas por piv central no distrito de irrigao

    Jaguaribe-Apodi, sendo o plantio pertencente agroempresa Faedo Sementes situada na

    Chapada do Apodi, Limoeiro do Norte, Cear. O estudo teve por objetivo investigar o

    uso de Apis mellifera L. para polinizao e incrementos de produtividade nas cultivares

    de soja Monsoy 9144RR, BRS-Carnaba, BRS-Sambaba, adaptadas s condies

    tropicais do Norte e Nordeste brasileiro. Os seguintes aspectos foram investigados:

    biologia floral, requerimentos de polinizao, eficincia de polinizao de A. mellifera;

    comportamento e padro de forrageamento; uso de A. mellifera para elevar a

    produtividade por rea, por planta, em contedo de leo e protena dos gros; potencial

    para a produo de mel e os riscos de contaminao deste mel. Os resultados mostraram

    que as cultivares estudadas so atrativas para as abelhas melferas e elas concentram seu

    forrageio na coleta de nctar no turno da manh. As variedades so capazes de se

    autopolinizarem, contudo houve incrementos de produtividade significativos (p0.05) ao das flores abertas

    para polinizao. No que se refere produo total, observou-se diferenas

    significativas (p0,05)

    entre os tratamentos. Todas as colnias produziram mel e ao final do florescimento (30

  • xvii

    dias) a produo total alcanou 81,7 kg, com uma produo mdia por colmia de 10,1

    0,86 kg e nenhum resduo de pesticida foi identificado no mel. Concluiu-se que as

    cultivares de soja adaptadas ao Norte e Nordeste do Brasil podem ser usadas para a

    produo de mel e o comportamento de forrageio de A. mellifera visitando flores

    somente no perodo da manh permite recomendar a aplicao de defensivos apenas no

    final da tarde ou cedo da noite, quando as abelhas no se encontram no plantio para

    produzir mel livre de resduos de pesticidas e prevenir riscos de envenenamento das

    abelhas; tambm, a introduo de A. mellifera para polinizao pode elevar a

    produtividade em mais de 25%, principalmente devido ao aumento no percentual de

    vagens com trs gros.

    Palavras-chave: Mel de soja. Polinizao agrcola. Polinizao da soja. Polinizao por

    abelhas. Produo de soja. Resduos de pesticidas.

  • xviii

    Use of honey bees (Apis mellifera L.) in the pollination and the gain in productivity of grains in variety of soybean (Glycine max (L.) Merril.) adapted to Brazilian Northeastern climatic conditions

    GENERAL ABSTRACT

    The research was carried out between July and December 2009 using tropical soya bean

    (Glycine max (L.) Merril) cultivars irrigated by center pivots in the irrigation district of

    Jaguaribe-Apodi, belonging to the agribusiness Faedo Sementes situated at the Apodi

    plateau, Limoeiro do Norte, Cear, Brazil. The study aimed to investigate the use of

    Apis mellifera L. for pollination and productivity increment in the soya bean cultivars

    Monsoy 9144RR, BRS-Carnaba, BRS-Sambaba, adapted for the tropical conditions of

    N and NE Brazil. The following aspects were investigated: floral biology, pollination

    requirements, pollination efficiency of A. mellifera ; behavior and pattern of foraging;

    use of A. mellifera to augment productivity per rea, per plant, in oil and protein

    content; and potential for honey production in soya bean crops and risks of pesticide

    contamination of the honey. Results showed that the cultivars are attractive to honey

    bees and they concentrate their foraging for nectar collection in the morning shift. The

    varieties were capable of autopollination, however there were significant (p0.05) levels of those flowers open for

    pollination. Regarding absolute production, it differed significantly (p0.05) among treatments. All colonies produced honey and by the end of the

    blooming period (30 days) total production reached 81.7 kg, with a mean production of

    10.1 0.86 kg per hive and no pesticide residue was found. It was concluded that the

    soya bean cultivars adapted to N and NE Brazil can be used for honey production and

    the foraging behavior of A. mellifera visiting flowers only in the morning allows to

  • xix

    recommend spraying the crop only in the late afternoon and early evening when bees

    are no longer in the crop to produce residue-free honey and prevent poisioning risks to

    the bees; also, introducing A. mellifera for pollination purpose can increase production

    over 25% especially due to augment in the percentage of three-seeded pods.

    Keywords: Bee pollination, Crop pollination, Pesticide residues, Soybean honey,

    Soybean pollination, Soybean production.

  • 1

    CONSIDERAES INICIAIS

    Os polinizadores so essenciais para a produo agrcola, sendo responsveis

    pela polinizao da grande maioria das espcies vegetais cultivadas pelo homem, sua

    ausncia em reas agrcolas pode levar a aumento de custos, reduo na lucratividade e,

    em certos casos, prejuzos (FREITAS, 2010). Atualmente, alm dos fatores econmicos,

    uma maior ateno vem sendo dada a esse assunto devido aos fatores ecolgicos. A

    falta de polinizadores pode acarretar uma diminuio da produo de alimentos e como

    conseqncia uma expanso na rea cultivada para compensar a queda de

    produtividade, levando ento a um aumento no desmatamento (AIZEN et al., 2009).

    Aproximadamente 75% das culturas agrcolas so dependentes da polinizao

    animal (FAO, 2004), e destes, 73% so polinizadas por alguma espcie de abelha

    (KEVAN & IMPERATRIZ-FONSECA, 2002). Entre as abelhas, destaca-se a Apis

    mellifera L., espcie amplamente utilizada em diversas culturas agrcolas (FREE, 1993;

    FREITAS, 1998; DELAPLANE & MAYER, 2000). A ausncia desses polinizadores

    em reas cultivadas pode reduzir em at 90% a produtividade de sementes, frutos e

    nozes (SOUTHWICK & SOUTHWICK, 1992).

    Independentemente da planta possuir flores monicas ou diicas, a presena de

    polinizadores pode contribuir no aumento da produtividade (D AVILA & MARCHINI,

    2005). At mesmo espcies onde ocorre a auto-fecundao e, portanto no necessitam

    obrigatoriamente da participao de agentes polinizadores, aumentos considerveis na

    produo podem ser obtidos. Culturas como o algodo (Gossypium hirsutum L.), o caf

    (Coffea arbica L.), a canola (Brassica napus L.) e a soja (Glycine max (L.) Merril)

    podem apresentar aumentos em produtividade na presena de abelhas (SILVA, 2007;

    MALERBO-SOUZA et al., 1994; SABBAHI, 2005; CHIARI et al., 2005). No caso

    especfico da soja, o que se observa so resultados bastante satisfatrios, porm muitas

    vezes discrepantes. Enquanto, alguns autores observaram aumentos na produtividade da

    cultura em funo da presena de abelhas melferas, outros relatam a no influncia das

    abelhas na produo da cultura. (ERICKSON, 1975; ABRAMS et al., 1978;

    ERICKSON et al., 1978; ISSA et al., 1980).

    Questo semelhante ocorre no uso dos recursos da soja (nctar e plen) pelas

    abelhas. So inmeras e variveis as informaes da cultura da soja como fonte de

    nctar e plen (DADANT, 1975; FREE, 1993). Recentemente, AYRES (2010), definiu

  • 2

    a soja como uma planta apcola muito duvidosa, sofrendo bastante influncia dos fatores

    climticos e do tipo de solo onde cultivada.

    Atualmente, a cultura da soja vem sendo amplamente cultivada no Brasil, tendo

    recentemente chegado ao Nordeste Brasileiro, suas sementes possuem elevada

    importncia econmica, principalmente em funo do teor de leo e protena (AGUILA,

    2005; BRASIL, 2007). A sua explorao nas regies tropicais poder contribuir para a

    modernizao e fortalecimento da economia agrcola regional, podendo ainda constituir

    importante fonte na alimentao humana, suprimindo as carncias proticas

    generalizadas na regio (EMBRAPA, 2011). Por outro lado, a cultura faz uso de

    grandes quantidades de defensivos agrcolas e seu cultivo na maioria das vezes

    constitudo de extensas reas contnuas, o que acaba por interferir e reduzir os nveis

    ideais de polinizao, podendo assim ocasionar um dficit de polinizao na planta e

    consequentemente perdas de produtividade. Embora existam indcios de aumento na

    produtividade da soja pela ao abelhas, esses so muito relativos, e quando se referindo

    s novas variedades adaptadas s regies Norte e Nordeste, essas informaes so

    inexistentes.

    Dessa maneira, o presente trabalho procurou investigar as necessidades de

    polinizao de variedades de soja preconizadas para as regies Norte e Nordeste,

    conhecer a sua biologia floral, seus requerimentos de polinizao, a eficincia da

    polinizao melitfila na produtividade da cultura, teor de leo e protena, alm de

    avaliar o potencial apcola da cultura para a produo de mel.

  • 3

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

    ABRAMS, R. I.; EDWARDS, C. R.; HARRIS, T. Yields and cross-pollination of

    soybeans as affected by honeybees and alfalfa leaf cutting bees. American Bee

    Journal, v. 118, n. 8, p. 555-556, 1978.

    AIZEN, M. A. et al. How much does agriculture depend on pollinators? Lessons from

    long-term trends in crop production. Ann. Bot., v. 103, p. 1579-1588, 2009.

    AGUILA, R. M. D. et al. BRS Carnaba, nova cultivar de soja para a regio Norte

    e Nordeste do Brasil. Teresina: Embrapa Meio-Norte, 2005. 4p. (Embrapa Meio-Norte.

    Comunicado tcnico, 180).

    AYERS, G. S. Soybean, a good honey plant: sometimes. American Bee Journal, The

    Other Side of Beekeeping, Apr., 2010. Disponvel em:

    . Acesso em: 28 set.

    2010.

    BRASIL. Ministrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento. Cadeia produtiva da

    soja. Braslia, 2007. (Agronegcios, n. 3).

    CHIARI, W. C. et al. Pollination of soybean (Glycine max (L.) Merril by honeybees

    (Apis mellifera L.). Braz. Arch. Biol. Technol., Curitiba, v. 48, n. 1, p. 31-36, 2005.

    DADANT, C. La colmena y la abeja melfera. [S. l.]: Hemisferio Sur, 1975.

    DAVILA, M.; MARCHINI, L. C. Polinizao realizada por abelhas em culturas de

    importncia econmica no Brasil. B. Indstr. animal., N. Odessa, v. 62, n. 1, p. 79-90,

    2005.

    DELAPLANE, K. S.; MAYER, D. F. Crop pollination by bees. New York: Cabi

    Publishing, 2000.

  • 4

    EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECURIA. Soja: histria. [2011?].

    Disponvel em: .

    Acesso em: 7 fev. 2011.

    ERICKSON Jr., E. H. Variability of floral characteristics influence honey bee visitation

    to soybean blossons. Crop Science, v. 15, p. 767-771, 1975.

    ERICKSON, E. et al. Honey bee pollination increases soybean yields in the Missouri

    Delta Region of Arkansas and Missouri. Journal of Economic Entomology, v. 71, n. 4,

    p. 601-603, 1978.

    FOOD AND AGRICULTURE ORGANIZATION OF THE UNITED NATIONS.

    Conservation and management of pollinators for sustainable agriculture: the

    international response. In: FREITAS, B. M.; PEREIRA, J. O. P. (Eds.) Solitary bees:

    conservation, rearing and management for pollination. Fortaleza: Imprensa

    Universitria, 2004. p. 19-25.

    FREE, J. B. Insect pollination of crops. London: Academic Press, 1993.

    FREITAS, B. M. A importncia relativa de Apis mellifera L. e outras espcies de

    abelhas na polinizao de culturas agrcolas. In: ENCONTRO SOBRE ABELHAS, 3.,

    1998, Ribeiro Preto. Anais... Ribeiro Preto: USP-FFLRP, 1998. p. 10-20.

    FREITAS, B. M. Polinizao por abelhas na agricultura brasileira: empecilhos e

    perspectivas. In: CONGRESSO BEROLATINO AMERICANO DE APICULTURA,

    10., 2010, Natal. Palestra... Natal: XIBLA, 2010. Disponvel em:

    . Acesso em: 30 out. 2010.

    ISSA, M. R. C. et al. Ensaio de polinizao em soja (Glycine max L.) por abelhas Apis

    mellifera L. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE APICULTURA, 5., 1980, Viosa,

    MG. Anais... Viosa, MG: Confederao Brasileira de Apicultura, 1980.

  • 5

    KEVAN, P. G.; IMPERATRIZ-FONSECA, V. L. Pollinating bees: the conservation

    link between agriculture and nature. Braslia: Ministrio do Meio Ambiente, 2002.

    MALERBO-SOUZA, D. T.; COUTO, L. A.; NOGUEIRA-COUTO, R. H. Polinizao

    em caf (Coffea arbica, var. Mundo Novo), com a utilizao de atrativos para as

    abelhas Apis mellifera. In: CONGRESSO IBEROLATINO AMERICANO DE

    APICULTURA, 4.; FORO EXPOCOMERCIAL INTERNACIONAL DE

    APICULTURA, 1., 1994, Rio Cuarto. Anais... Cuarto: [s. n.], 1994. p.167-170.

    SABBAHI, R.; OLIVEIRA, D.; JOCELYN, M. Influence of honey bee (Hymenoptera:

    Apidae) density on the production of canola (Crucifera: Brassicacae). J. Econ.

    Entomol., v. 98, n. 2, p. 367-372, 2005.

    SILVA, E. M. S. Abelhas visitantes florais do algodoeiro (Gossypium hirsutum) em

    Quixeramobim e Quixer, estado do Cear e seus efeitos na qualidade da fibra e da

    semente. 2007. 118 f. Tese (Doutorado em Zootecnia) Universidade Federal do

    Cear, Fortaleza, 2007.

    SOUTHWICK, E. E.; SOUTHWICK JR, L. Estimating the economic value of

    honeybees (Hymenoptera: Apidae) as agricultural pollinators in the United States.

    Journal of Economic Entomology, v. 85, p. 621-633, 1992.

  • 6

    CAPTULO I

    Referencial Terico

  • 7

    1 A IMPORTNCIA DOS POLINIZADORES

    A expanso das fronteiras agrcolas amplamente reconhecida como uma das

    mais significativas alteraes humanas ao meio ambiente, em nveis globais. Essa

    intensificao tecnolgica no uso da terra, atravs da utilizao de variedades de alto

    desempenho, fertilizantes qumicos, pesticidas e mecanizao dentre outros insumos

    agrcolas, tem contribudo com o aumento surpreendente na produo mundial de

    alimentos nos ltimos sculos (MATSON et al., 1997). Por sua vez, a mesma

    agricultura moderna, que aplica tecnologia avanada permitindo o cultivo de grandes

    reas de terra contnua, acaba por afetar os servios naturais de polinizao fornecidos

    pelo ecossistema, e dessa maneira faz com que no se consiga mais atingir os nveis

    ideais de polinizao das flores apenas pelas visitas de polinizadores nativos (ALLEN-

    WARDELL et al., 1998; KREMEN et al., 2002). Como resultado, no adianta plantar a

    melhor semente ou muda selecionada, fazer correo e adubao de solos, irrigar,

    combater ervas daninhas, pragas e doenas, entre outros fatores de produo, se no

    momento do florescimento no houver na rea agentes polinizadores eficientes e em

    nmero suficiente para polinizar as flores, e por consequncia assegurar os nveis de

    polinizao desejados para maximizar a produo e, finalmente garantir a lucratividade

    do sistema agrcola em questo (FREITAS & IMPERATRIZ-FONSECA, 2005;

    FREITAS; 2006).

    Logo, a polinizao mediada por animais constitui-se tambm em um fator de

    produo, o qual de extrema importncia para produo agrcola mundial, sendo que

    35% das culturas agrcolas, servem de base para a alimentao dos povos, dependentes

    do trabalho desses vetores biticos para a formao de suas sementes e/ou frutos

    (KLEIN et al., 2007). Dentre esses animais, as abelhas so consideradas como os

    polinizadores mais importantes (FREE, 1993; KLEIN et al., 2007; WINFREE et al.,

    2011; ELLIS et al., 2010), sendo estimado em 73%, as espcies agrcolas ao redor do

    mundo dependentes da polinizao por abelhas (NABHAN e BUCHMANN, 1997;

    FAO, 2004).

    As abelhas destacam-se como extraordinrios polinizadores principalmente por

    serem os nicos insetos que visitam as flores para coleta de plen, o qual servir como

    fonte de alimento para suas larvas, alm da necessidade de coletar nctar para satisfazer

    suas prprias necessidades energticas, e/ou as necessidades de sua colnia, no caso

  • 8

    particular das abelhas sociais (KEVAN, 2007; BRADBEAR, 2009). Essas necessidades

    fazem com que se torne obrigatrio o contato constante das abelhas com as flores

    (FREITAS, 2006). Alm do mais, as abelhas possuem adaptaes especiais

    (morfolgicas, fisiolgicas e comportamentais), como a grande quantidade de plos

    ramificados ao redor do seu corpo, que permite o aumento na eficincia da aderncia

    dos gros de plen (WINSTON, 2003; VIANA & SILVA, 2006; BRADBEAR, 2009), a

    necessidade de plen para seu crescimento e desenvolvimento e um comportamento de

    fidelidade e constncia floral bastante desenvolvido que, por sua vez, torna maior a

    probabilidade dos gros de plen serem depositados em flores da mesma espcie

    (ROBINSON et al., 1989; FREITAS, 1998a; DELAPLANE & MAYER, 2000).

    Dentre as abelhas, a espcie Apis mellifera se destaca como o polinizador

    economicamente mais valioso para a agricultura mundial (MCGREGOR, 1976;

    COMMITTEE ON THE STATUS OF POLLINATORS IN NORTH AMERICA,

    NATIONAL RESEARCH COUNCIL, 2007; KLEIN et al., 2007). Sua adaptao a uma

    ampla variedade de condies climticas encontradas no planeta, juntamente com a sua

    espantosa capacidade de comunicao que a permite informar e recrutar outras abelhas

    da mesma colnia a buscarem mais alimentos, alm da sua tolerncia ao manejo

    humano tornam essa espcie um polinizador bastante eficiente para vrias culturas

    agrcolas e, portanto, o mais utilizado ao redor do mundo (DELAPLANE & MAYER,

    2000; BRADBEAR, 2009). No Brasil, apenas duas culturas de maior expresso

    econmica e que dependem do uso de polinizadores vem recorrendo introduo

    sistemtica de colnias de Apis mellifera em larga escala: a ma (Malus domestica) na

    Regio Sul, especialmente Santa Catarina, e o melo (Cucumis melo) na Regio

    Nordeste, particularmente nos Estados do Cear e Rio Grande do Norte (FREITAS &

    IMPERATRIZ-FONSECA, 2005), embora em muitos casos prevalea a errnea idia

    de que a simples introduo na rea plantada de algumas colmeias de abelhas j

    suficiente para obter-se nveis ideais de polinizao. Como consequncia, os resultados

    so culturas mal polinizadas, o que gera baixos ndices de produtividade, altas

    percentagens de perdas, pouca rentabilidade, o que apenas contribui para a

    desvalorizao dos servios de polinizao no meio agrcola nacional. Isso se deve

    principalmente a falta de conhecimentos por parte de apicultores e produtores a respeito

  • 9

    das caractersticas florais, e necessidades de polinizao dessas culturas (FREITAS,

    1998b).

    O grau em que uma determinada cultura agrcola depende da polinizao por

    abelhas varia de acordo com a morfologia floral, com o nvel de autopolinizao exibido

    pela planta, alm da disposio floral dentro da prpria planta ou mesmo nas plantas

    vizinhas (DELAPLANE & MAYER, 2000). Segundo KLEIN et al. (2007), dentre as

    107 principais culturas agrcolas utilizadas diretamente na alimentao humana, 13

    delas so essencialmente dependentes de polinizadores (perda de 90% ou mais na

    produo na ausncia de polinizadores); 30 so altamente dependentes de polinizadores

    (40% a quase 90% de reduo na produo); 27 so moderadamente dependentes (10%

    a quase 40% de reduo); 21 so levemente dependentes (mais que 0 e menos que 10%

    na reduo); para sete das culturas agrcolas estudadas a dependncia inexistente; e

    para as nove restantes o grau de dependncia de polinizadores desconhecido. Sendo

    assim, a cultura da soja classificada como moderadamente dependente, o que significa

    que na ausncia de polinizadores pode-se reduzir em at 40% a produo de gros de

    soja. Portanto, mesmo em culturas consideradas, anteriormente, como exclusivamente

    autgamas, como acontece no caso da soja, h evidncias de que a polinizao por

    abelhas pode incrementar a produtividade da cultura (ERICKSON et al., 1978; CHIARI

    et al., 2005; AIZEN et al., 2008).

    2 - A CULTURA DA SOJA (Glycine max (L.) Merril)

    2.1 - Origem da planta

    A soja (Glycine max (L.) Merril) cultivada hoje bem diferente dos seus

    ancestrais, que eram plantas rasteiras que se desenvolviam ao longo de rios e lagos. Sua

    evoluo iniciou-se com o aparecimento de plantas procedentes de cruzamentos naturais

    entre duas espcies de soja selvagem, domesticadas e melhoradas por cientistas da

    antiga China, provavelmente da Glycine ussuriensis, espcie com sementes pequenas

    que se desenvolviam na sia oriental (MARTIN, 2006)

  • 10

    O primeiro registro do gro data de 2838 a.C, onde a soja juntamente com o

    arroz, trigo, cevada e milheto eram considerados gros sagrados (EMBRAPA, 2011). A

    sua domesticao parece ter acontecido durante a dinastia de Shang, aproximadamente

    de 1500 a 1027 a.C.. Entretanto, historicamente e geograficamente, a soja s parece ter

    sido domesticada por volta de 1027 a 221 a.C, perodo da dinastia de Zhou, onde foi

    cultivada no Nordeste da China (HYMOWITZ, 1970 citado por MEYER, 2006).

    Aps sua domesticao, a soja expandiu-se de maneira lenta para outras regies

    e pases do Oriente; como o sul da China, Manchria, Coria, Japo, Unio Sovitica e

    pases do sudeste da sia (BORM, 1999a).

    No sculo XVII a soja chegou a Europa levada pelo botnico alemo Engelbert

    Kaempfer, que residiu no Japo de 1681 a 1692. Em seguida, por volta de 1740,

    sementes de soja enviadas por missionrios chineses foram plantadas no Jardim

    Botnico de Paris. Um pouco depois, em 1790, a soja chegou Inglaterra, sendo

    plantada no Jardim Botnico Peal Kiev. Vale destacar que permaneceu nesse continente

    at o final do sculo IXX apenas como curiosidade. Posteriormente, vrias tentativas de

    explorao comercial do gro na Europa falharam, provavelmente devido s condies

    climticas desfavorveis (PINHO, 1999).

    A apario da soja no continente americano data de 1765 em Savannah, Gergia

    EUA, passando a ser cultivada comercialmente no incio do sculo XX (COSTA,

    1966 citado por BORM, 1999a). No Brasil, o primeiro registro data de 1882, no estado

    da Bahia (VERNETTI, 1983; SEDIYAMA, 1985; SANTOS, 1988). O gro apareceu

    com maior expresso em 1908 com os imigrantes japoneses e foi introduzida

    oficialmente em 1914 no Rio Grande do Sul, de onde se tem registros do primeiro

    cultivo comercial do pas (CIS, 2011; FACS, 2011). Porm, a sua expanso no Brasil

    somente ocorreu nos anos 70, com o crescente interesse da indstria de leo e a alta

    demanda do mercado internacional (MISSO, 2006).

    2.2 - Importncia econmica

    Inicialmente, a soja era utilizada como cultura forrageira, sendo basicamente

    utilizada na alimentao de animais (CARNEIRO, 2006). Apenas na segunda dcada do

  • 11

    sculo XX foi que o teor de leo e protena contida no gro passou a despertar o

    interesse das indstrias, e assim sua produo passou a ter importncia econmica.

    Atualmente, a soja uma das mais importantes commodities transacionadas no

    mercado internacional (MARTIN, 2005), sendo uma das principais fontes de protena e

    leo vegetal utilizadas no mundo (BORM, 1999a; BRASIL, 2007).

    Para a economia brasileira, a cadeia produtiva da soja de extrema importncia.

    Em 2010, as exportaes do complexo da soja (gro, farelo e leo) totalizaram mais de

    US$ 20 bilhes de dlares, o equivalente a aproximadamente 22% do saldo positivo da

    balana comercial do pas (BRASIL, 2011; ABIOVE, 2011). Alm disso, ela destaca-se

    como a principal cultura explorada no pas, correspondendo a cerca de 46% da produo

    brasileira de gros (CONAB, 2010). Em nvel mundial, o Brasil se destaca como maior

    exportador e detm a segunda maior produo, ficando atrs apenas dos Estados

    Unidos.

    A soja destaca-se como matria-prima para a formao de diversos produtos e

    subprodutos, bastante utilizados pela agroindstria, indstria qumica e de alimentos. Na

    alimentao humana, constituinte de vrios produtos embutidos, chocolates, temperos

    para saladas e outros produtos (HASSE, 1999).

    A protena de soja base para ingredientes de padaria, massas, produtos de

    carne, cereais, misturas preparadas, bebidas, alimentao para bebs e alimentos

    dietticos. Ela tambm bastante utilizada pela indstria de adesivos e nutrientes,

    alimentao animal, adubos, formulador de espumas, fabricao de fibra e revestimento

    (PINHO, 1999; BRASIL, 2010).

    A forma mais usual como leo refinado, obtido a partir do leo bruto. O

    mesmo rico em cidos graxos poliinsaturados. Podendo ser usado como leo de

    salada, de cozinha e de fritura. Algumas das aplicaes do leo so para a produo de

    maionese e margarinas. Na rea industrial, faz-se uso do leo para a confeco de tinta

    de caneta e de impresso, tintas de pintura em geral, xampus, sabes e detergentes

    (HASSE, 1999).

    atravs da extrao da goma do seu leo bruto que se obtm a lecitina, agente

    emulsificante responsvel pela unio entre a fase aquosa e oleosa de produtos, muito

    usada na fabricao de produtos ricos em gorduras e leos, como salsichas, maioneses,

    achocolatados, margarinas e produtos de panificao. Podendo ser utilizada ainda como

  • 12

    agente estabilizante em banhas e como agente umectante em cosmticos (HASSE,

    1999).

    A soja um componente essencial na fabricao de raes animais e adquire

    importncia crescente na alimentao humana (BRASIL, 2011).

    Alm desses usos, a soja utilizada tambm na fabricao de lubrificantes,

    explosivos, adesivos, isolamentos eltricos, papel impermevel e laminados, acessrios

    para veculos, vernizes, antioxidantes, tubulaes, vedaes, borrachas sintticas,

    estabilizadores de combustvel, etc. Tambm se faz uso da soja como adubao verde,

    forragem e pastagem (PINHO, 1999).

    Outro importante nicho da sua utilizao ocorreu recentemente devido criao

    do Programa Nacional de Biodiesel em 2004, e sua regulamentao por meio do decreto

    n 5.448, de 20 de maio de 2005, em que o governo autorizou a adio de 2% em

    volume de biodiesel ao leo diesel at 2008 e de 5% em 2013. Assim algumas

    leguminosas passaram a ser exploradas com essa finalidade, dentre elas destaca-se a

    soja.

    Atualmente, existem cerca de 60 plantas autorizadas pela ANP (Agncia

    Nacional de Petrleo) para a produo de biodiesel, entretanto, mais de 80% da

    produo nacional de biocombustvel proveniente do leo da soja (SANTANNA,

    2009; ROMANO, 2010; MOUTINHO, 2011). A ampla participao dessa oleaginosa

    na produo de biodiesel decorrente da existncia de extensas reas plantadas, escala

    de produo e uma cadeia produtiva bem organizada (UBRABIO, 2010). Outro aspecto

    a se considerar, que hoje, atravs do melhoramento gentico a cultura da soja possui

    cultivares apropriadas para cada regio do pas.

    2.3 - Produo e produtividade

    Estima-se que a cultura da soja ocupa uma rea mundial de 102,0 milhes de

    hectares, produzindo 259,7 milhes de toneladas. Os Estados Unidos o maior produtor

    mundial com uma rea plantada de 30,9 milhes de hectares, produo na safra

    2009/2010 de 91,4 milhes de toneladas e produtividade de 2.958 kg/ha (USDA, 2010).

    O Brasil o segundo maior produtor mundial. Na safra 2009/2010, a cultura ocupou

  • 13

    uma rea de 23,46 milhes de hectares, o que rendeu uma produo de 68,7 milhes de

    toneladas e uma produtividade mdia de 2.927 kg/ha (CONAB, 2011). Outros

    importantes pases produtores so Argentina, China, ndia e Paraguai (EMBRAPA,

    2011).

    Acredita-se que o Brasil possa vir a ser o maior produtor mundial, j que

    possuidor ainda de extensas reas inexploradas e com aptido para a cultura, caso que

    no acontece com os Estados Unidos. Somado a isso, nos Estados Unidos vem

    ocorrendo um forte incentivo para a produo de milho, ocasionando uma mudana dos

    produtores para essa cultura. Entretanto, um dos principais fatores da elevao da

    produo de soja no Brasil est relacionado com ganhos de produtividade (BRASIL,

    2010).

    No Brasil, as principais reas produtoras esto nas regies Centro-oeste e Sul.

    Na safra 2009/2010, o estado do Mato Grosso, maior produtor brasileiro de soja,

    seguido pelo estado do Paran produziram juntos 32.845,6 mil toneladas, o que

    representa 47,96% da produo total brasileira. (CONAB, 2011).

    No Nordeste brasileiro, segundo previses da CONAB (2011), a produo na

    safra 2009/2010 na regio deve ser de 5.309,5 mil toneladas, superando mais uma vez a

    regio Sudeste, que teve sua produo mensurada em 4.457,6 mil toneladas. Destaque

    para os estados da Bahia, Maranho e Piau, sendo os dois ltimos os principais pontos

    de abertura de novas reas de lavouras (SANTANNA, 2009).

    Por sua vez, na regio Norte, representada pelos estados de Tocantis, Rondnia,

    Par e Roraima deve apresentar uma produo de 1.691,7 mil toneladas (CONAB,

    2011).

    2.4 - Expanso da cultura

    A soja (Glycine max L. Merril) uma leguminosa anual, considerada como

    planta de dias curtos e, atualmente cultivada em mais de 35 pases nas mais diversas

    condies edafoclimticas (BORM, 1999b; MEYER, 2006). Inicialmente seu cultivo

    se restringia a locais que apresentavam latitudes compreendidas entre 35 a 45 N, onde

    predominam o clima temperado (SPEHAR, 1994, 2000). No Brasil, sua explorao deu-

  • 14

    se incio no estado da Bahia em 1882, posteriormente chegou regio Sul, onde devido

    s condies bioclimticas apresentou melhor adaptao (VERNETTI, 1983).

    Na regio Sul do Brasil os programas de melhoramento deram nfase,

    inicialmente, introduo de gentipos desenvolvidos no sul dos Estados Unidos, e

    posteriormente no desenvolvimento de cultivares mais adaptadas.

    Na dcada de 1970, a soja passou a representar uma das mais importantes

    culturas agrcolas, tendo sua produo alavancada, porm 80% da produo se

    concentrava na regio Sul do pas. Apenas na dcada de 1980 que a produo se

    expandiu para outras regies (CARNEIRO, 2006).

    A adaptao da soja s condies de menores latitudes das regies Centro-Oeste,

    Norte e Nordeste representou um dos grandes desafios enfrentados pelos programas de

    melhoramento no pas. Essa expanso s foi possvel devido ao desenvolvimento de

    gentipos com caracterstica de perodo juvenil longo, em razo das limitaes no porte

    e na produtividade (PALUDZYSZYN et al., 1993). Essas caractersticas so

    influenciadas durante o seu crescimento no perodo vegetativo, o qual encurtado em

    baixas latitudes, onde a amplitude entre o dia mais curto e o dia mais longo menor

    (CAMPELO et al., 1998).

    Atualmente, quase metade da produo brasileira produzida em estados

    compreendidos em latitudes menores de 20. As regies situadas abaixo de 10

    representam hoje a rea de expanso da cultura, principalmente nos estados do

    Maranho, Piau, Tocantis e Par (CRUZ et al., 2009).

    A existncia de germoplasma de soja adaptvel s regies tropicais permite que

    sua explorao constitua uma atividade econmica alternativa, contribuindo para o

    fortalecimento da economia agrcola regional. A propsito, a soja poder prover

    matria-prima para as indstrias de leos e raes; poder promover o aproveitamento

    de reas ainda inexploradas; poder contribuir como fator de modernizao da

    agricultura e, ainda, constituir importante fonte na alimentao humana, suprimindo, as

    carncias proticas generalizadas na regio (EMBRAPA, 2011).

  • 15

    2.5 - Caractersticas botnicas

    De acordo com SEDIYAMA (2009), a soja pertencente ao reino Plantae,

    diviso Magnoliophyta, classe Magnoliopsida, ordem Fabales, famlia Fabaceae

    (Leguminosae), subfamlia Faboideae (Papilionoideae), gnero Glycine. A espcie

    cultivada comercialmente hoje a Glycine Max (L.) Merril.

    A soja uma planta herbcea com grande variabilidade gentica, tanto em

    relao ao ciclo vegetativo (perodo compreendido da emergncia at a abertura das

    primeiras flores) quanto ao ciclo reprodutivo (perodo representado pelo incio da

    florao at a maturao), sendo tambm bastante influenciada pelo meio ambiente.

    O seu germoplasma apresenta ampla diversidade quanto ao ciclo, podendo variar

    de 70 dias para as mais precoces e de at 200 dias para as mais tardias. As variedades

    brasileiras, de uma forma geral, possuem ciclos de 100 a 160 dias e podem ser

    classificadas em grupos de maturao precoce, semiprecoce, mdio, semitardio e tardio,

    dependendo da regio (BORM, 1999b).

    A altura da planta bastante dependente da interao das condies ambientais

    com as caractersticas genotpicas da variedade. As cultivares utilizadas comercialmente

    no Brasil variam de 60 a 120 cm (SEDIYAMA, 1999).

    Em relao ao hbito de crescimento, a soja pode apresentar trs tipos de

    crescimento: indeterminado, semideterminado e determinado, todos diretamente

    correlacionados com o porte da planta. Essa classificao baseia-se no tipo de

    crescimento da haste principal. Variedades que possuem crescimento determinado

    apresentam plantas com caules terminados em racemos florais e que aps o incio do

    florescimento as plantas crescem muito pouco em altura. J variedades com hbito de

    crescimento indeterminado no apresentam racemos terminais e continuam

    desenvolvendo ns e alongando o caule, assim as plantas continuam crescendo at o

    final do florescimento. Os racemos axilares possuem menor tamanho e um menor

    nmero de flores. Nas variedades com tipos semideterminados ocorre uma ligeira

    semelhana com as variedades com hbito indeterminado, o florescimento inicia-se

    quando aproximadamente metade dos ns da haste principal j se formou, mas o

    florescimento e o desenvolvimento de novos ns cessam mais abruptamente do que nos

    tipos indeterminados (BORM 1999b, SEDIYAMA, 1999).

  • 16

    O sistema radicular da soja pivotante, constitudo de um eixo principal e

    inmeras razes secundrias, ricas em ndulo de bactrias Bradyrhizobium japonicum,

    com a capacidade de fixao de nitrognio atmosfrico (PINHO, 1999; MISSO,

    2006). O comprimento das razes pode alcanar at 1,80 m, sendo que a maiorias delas

    se encontram a 15 cm de profundidade (CIS, 2011).

    A planta de soja apresenta caule herbceo, ereto e com porte varivel,

    nubescentes de plos brancos, parcedaneos ou tostados. Possui bastante ramificaes,

    sendo os ramos inferiores mais alongados e formando diferentes angulaes com a haste

    principal (SEDIYAMA, 1999).

    A soja possui quatro diferentes tipos de folhas ao longo do seu ciclo:

    cotiledonares, folhas primrias ou simples, folhas trifolioladas ou compostas e prfilos

    simples. Sua cor, na maioria das cultivares, varia do verde plido ao verde escuro. Em

    grande parte das variedades, as folhas comeam a amarelar medida que os frutos

    amadurecem e passam a cair quando as vagens esto maduras.

    As flores surgem em racnios curtos, axilares de terminais, podendo apresentar a

    colorao branca, prpura diluda ou roxa, de 3 at 8mm de dimetro. O incio da

    florao d-se quando a planta apresenta de 10 at 12 folhas trifolioladas (BORM,

    1999b).

    Os frutos so levemente arqueados, achatados e peludos, medindo de 2 at 7cm,

    onde alojam de 1 at 5 sementes. Entretanto, a maioria das cultivares apresentam vagens

    com dois a trs gros. A cor da vagem varia entre amarela-palha, cinza e preta,

    dependendo do estgio de desenvolvimento da planta. Geralmente esto agrupadas em

    um nmero de trs a cinco, de modo que podem ser encontradas um total de at 400

    vagens por planta (MISSO, 2006).

    As sementes so lisas, ovais, globosas ou elpticas. Sua colorao pode ser

    amarela, preta ou verde. O hilo geralmente marrom, preto ou cinza. Seu tamanho

    bastante varivel (SEDIYAMA, 2009).

    2.6 - Estdios de desenvolvimento

    Os estdios de desenvolvimento da soja so divididos em vegetativos e

    reprodutivos. Os estdios vegetativos so representados pela letra V e os estdios

  • 17

    reprodutivos pela letra R. As letras so seguidas por ndices numricos que identificam

    os estdios especficos. A exceo so os estdios VE e VC, que correspondem

    emergncia e cotildone, respectivamente (FERH & CAVINESS, 1977).

    O estdio vegetativo VE representa a emergncia dos cotildones, ou seja, uma

    planta recm emergida. O momento em que os cotildones se apresentam

    completamente abertos e expandidos denominado como VC. A partir do estdio VC

    passam a ocorrer s subdivises dos estdios vegetativos (V1, V2, V3, V4, V5,...Vn),

    onde Vn representa o ltimo n, no topo da planta, com folha completamente

    desenvolvida. Desta forma, uma plntula se encontra em V1 quando as folhas

    unifolioladas opostas no primeiro n se encontrarem completamente desenvolvidas e

    quando os bordos dos fololos da primeira folha trifoliolada no mais se tocarem. O

    estdio V2 caracterizado quando a primeira folha trifoliolada estiver completamente

    desenvolvida e os bordos dos fololos da segunda folha trifoliolada no mais se tocarem.

    Por conseguinte, o estdio V3 se caracteriza pela segunda folha trifoliolada

    completamente desenvolvida e quando os bordos da terceira folha trifoliolada no mais

    se tocarem. Na ordem, ocorrem os estdios V4, V5, V6,... Vn. A mudana de um

    estdio vegetativo para o outro varia de trs a cinco dias, sendo os estdios iniciais mais

    prolongados que os estdios finais (BONATO, 2000).

    Os estdios reprodutivos correspondem ao perodo florescimento-maturao,

    sendo caracterizado pela letra R acompanhada dos nmeros um at oito. Os estdios

    reprodutivos correspondem a quatro fases distintas do desenvolvimento reprodutivo: os

    estdios R1 e R2 correspondem ao florescimento; os estdios R3 e R4 referem-se ao

    desenvolvimento da vagem; os estdios R5 e R6 esto relacionados ao desenvolvimento

    do gro; e a maturao da planta compreende os estdios R7 e R8. A descrio

    detalhada dos mesmos encontra-se na tabela 1.

  • 18

    Tabela 1: Descrio dos estdios reprodutivos da soja (Glycine max (L.) Merril).

    Fonte: BONATO, 2000

    2.7 - Biologia Floral

    2.7.1 - Flor, inflorescncia e tempo de florescimento

    A soja apresenta flores perfeitas, ou seja, possuem perianto e rgos sexuais na

    mesma flor. (SEDIYAMA et al., 1985). As flores zigomrficas surgem em racemos

    axilares e terminais, sendo constituda de clice tubular e corola. O clice formado por

    cinco spalas desuniformes. A corola situa-se logo acima do clice e composta de

    cinco ptalas. A ptala superior denominada estandarte, as duas medianas,

    lateralmente localizadas, so as asas e as duas inferiores formam a quilha ou carena

    (CARLSON & LERSTEN, 1987). A quilha forma uma espcie de cmara, e onde se

    abrigam os rgos sexuais (FIGURA 1).

    Estdio Denominao Descrio

    R1 Incio de florescimento Uma flor aberta em qualquer n da haste principal

    R2 Florescimento pleno Uma flor aberta num dos 2 ltimos ns da haste principal com folha completamente desenvolvida

    R3 Incio de formao

    da vagem Vagem com 5 mm de comprimento num dos 4 ltimos ns da haste

    principal com folha completamente desenvolvida

    R4 Vagem completamente desenvolvida

    Vagem com 2 cm de comprimento num dos 4 ltimos ns da haste principal com folha completamente desenvolvida

    R5 Incio do enchimento

    do gro Gro com 3 mm de comprimento em vagem num dos 4 ltimos ns da

    haste principal, com folha completamente desenvolvida

    R6 Gro verde ou vagem cheia

    Uma vagem contendo gros verdes preenchendo as cavidades da vagem de um dos 4 ltimos ns da haste principal, com folha

    completamente desenvolvida

    R7 Incio da maturao Uma vagem normal na haste principal com colorao de madura

    R8 Maturao plena 95% das vagens com colorao de madura

  • 19

    FIGURA 1: Flor de soja (Glycine max (L.) Merril) em corte longitudinal. Fonte: Adaptado de McGregor, 1976.

    O androceu constitudo por 10 estames, inicialmente separados, mas com o

    desenvolvimento floral nove se fundem e formam uma coroa abaixo do estigma

    (BORM, 1999 a, b). Os estames se localizam ao redor do rgo feminino e momentos

    antes da antese, se elevam, projetando-se na altura do estigma. Assim, no momento de

    abertura das anteras, o plen cai diretamente sobre o estigma. Isso pode acontecer antes

    mesmo da abertura da flor, ocorrendo ento um processo conhecido como cleistogamia.

    Em condies adversas de temperatura, fotoperodo e luminosidade, por exemplo, as

    flores nem chegam a abrir completamente, ocorrendo a polinizao com a flor ainda

    fechada (MULLER, 1981; BORM, 1999b).

    O gineceu constitudo de um nico ovrio, sendo este pubescente e spero,

    contm de 1 a 5 vulos que se desenvolvem simultaneamente (FREE, 1993; BORM,

    1999b), possu estilo curvo, terminado em estigma bfido, globoso e coberto com

    papilas (BORM, 1999a). De acordo com KUEHL (1961, citado por BORM 1999a) e

    MULLER (1981), o estigma torna-se receptivo de um a dois dias antes da antese,

    permanecendo assim por mais dois dias. Desta forma, considerando a facilidade do

    plen se projetar diretamente para o estigma, sem a interferncia de nenhum vetor,

    estimula-se a autopolinizao (DELAPLANE e MAYER 2000).

    Nectrio Asas

    Estigma

    Antera

    Quilha

    Estame

    vulo Ovrio

    Clice

    Estandarte

  • 20

    As flores variam da tonalidade branca, prpura clara ou roxa. As flores

    arroxeadas possuem guias de nctar roxos, conhecidos como lnguas guias, bem

    marcantes e localizados na base da ptala estandarte que convergem aos nectrios

    (FREE, 1993; AYERS, 2010). As flores diferem ainda segundo a sua dimenso;

    podendo ser longas e relativamente delgadas ou pequenas e largas (ERICKSON Jr.,

    1983).

    A inflorescncia da soja um racemo que possui de 5 a 35 flores, podendo uma

    mesma planta apresentar at 800 flores, porm cada flor permanece aberta apenas por

    um s dia. Um mximo de 13 flores por inflorescncia pode abrir de uma s vez

    (DELAPLANE e MAYER, 2000).

    Estima-se que em um hectare a quantidade de flores emitidas por dia pode

    alcanar 4,1 milhes (McGREGOR, 1976; ERICKSON Jr. 1983). O nmero, a

    proporo de flores que se abrem simultaneamente e a progressividade de abertura

    variam segundo a variedade (FREE, 1993).

    O perodo total de florescimento da soja pode durar de trs a seis semanas. O

    tempo de florescimento bastante varivel e difere entre cultivares (McGREGOR,

    1976; VERNETTI, 1983).

    2.7.2 - Padro de secreo de nctar

    De acordo com ERICKSON e GARMENT (1979) o nectrio da soja discoidal

    em formato de clice. O seu tamanho varia de 0,63 a 0,73 mm e sua distribuio

    desuniforme, podendo formar grupos de dois ou trs. Sua localizao mais precisamente

    ao redor do ovrio (FREE, 1993) O nctar das flores da soja composto basicamente

    de trs acares: frutose, glucose e sacarose.

    O perodo de maior secreo de nctar ocorre no perodo da manh, entre 7:15 e

    10:15h, e esse coincide com o horrio de total abertura das flores (VILA, 1988)

    Em trabalho realizado no Haiti com 17 variedades de soja, SEVERSON e

    ERICKSON Jr., (1984) concluram que: a secreo de nctar acontece entre as 9:00 e

    15:00h ; sua produo varia de 0,022 a 0,127 l; a flor permanece vivel em um nico

    dia; a quantidade de carboidratos na flor varia de 301 a 1. 354 g/ l de nctar e de 16 a

  • 21

    134 g por flor. A concentrao de acares nas 17 variedades foi de 1,2: 1,0: 6,7 de

    frutose, glucose e sacarose, respectivamente. O contedo mdio total de acar no

    nctar foi de 37 a 45%. Ao longo do dia a concentrao de acar aumenta, porm o

    volume decresce. O nctar produzido por variedades de plantas de flores brancas e

    roxas, quando comparados, mostrou-se semelhante.

    Em experimento realizado com a variedade BRS-133, CHIARI et al., (2005a)

    obtiveram os seguintes valores mdios: quantidade total de acar de 14,33 g/flor, com

    uma variao de 5,25 a 42,61 g/flor; quantidade de glicose de 3,61 g/flor, com uma

    variao de 1,05 a 17,8 g/flor; volume de nctar de 0,072 l/flor.

    As condies edficas e climticas interferem significativamente na produo,

    qualidade e secreo de nctar. Plantas de soja em reas com nveis ideais de clcio e

    magnsio produzem nctar de excelente qualidade. A alta umidade atmosfrica

    intensifica a secreo, mas pode reduzir a quantidade de acar secretado. A textura do

    solo pode afetar na quantidade de nctar secretado, solos com pouca aerao apresentam

    plantas com reduzida produo de nctar, porm com maior concentrao (SHUEL,

    1967).

    ROBACKER et al., (1983), trabalhando em ambiente controlado com a

    variedade Mitchell, constatou que a produo de nctar foi influenciada pela

    temperatura do ar, pelas condies atmosfricas dirias, pela temperatura do solo e

    pelos nveis de nitrognio e fsforo.

    2.7.3 - Produo de plen

    A produo de plen por plantas de soja bastante varivel e difere entre

    variedades. Da mesma forma a coleta de plen pelas abelhas. Em algumas regies, a

    quantidade de plen coletada insignificante, no entanto, em outras pode alcanar 50%

    da quantidade total coletada (FREE, 1983). O plen da soja possui colorao cinza

    marrom, tamanho pequeno e dureza. (ERICKSON Jr. 1983).

    De acordo com ERICKSON e HERBERT Jr. (1980), os gros de plen contm

    de 4 a 7% de gordura e valores proticos que variam de 45 a 60%.

  • 22

    2.7.4 - Requerimentos de polinizao

    A soja uma espcie autgama, com flores perfeitas, possuindo os rgos

    masculinos e femininos protegidos dentro da corola (SEDIYAMA et al., 1985). A

    liberao do plen e a receptividade do estigma em algumas variedades ocorrem antes

    mesmo da abertura da flor, prevalecendo assim a autopolinizao (DELAPLANE e

    MAYER 2000). Momentos antes da antese os estames se elevam altura do estigma, e

    as anteras ao se abrirem por deiscncia projetam o plen sobre o estigma. Esse artifcio

    pode acontecer antes mesmo da abertura da flor, ocorrendo ento um processo

    conhecido como cleistogamia (MULLER, 1981). Porm, apesar da autopolinizao ser

    um processo automtico, algumas variedades apresentam um percentual de aborto nas

    flores superiores a 75% (ERICKSON, 1982; FREE, 1993).

    Estima-se que sua taxa de fertilizao gire em torno de 13 a 57%, sendo esse

    percentual varivel de acordo com o gentipo e com as condies ambientais em que as

    plantas se encontram. Apesar de a soja emitir uma grande quantidade de flores, o

    nmero final de vagens formadas bem inferior (VAN SCHAIK e PROBST 1958,

    citados por McGREGOR, 1976).

    O elevado potencial de rendimento de gros da soja, em parte perdido, devido

    ao elevado ndice de aborto e absciso das estruturas reprodutivas (flores, vagens e

    gros), reflexo da interao com o ambiente e da competio entre os rgos por

    assimilados durante o desenvolvimento (NAVARRO JNIOR e COSTA, 2002).

    Diante do exposto, formam-se dvidas se a polinizao da soja no seria um dos

    fatores limitantes na produo (DELAPLANE e MAYER, 2000). Somado a isso,

    existem fortes indcios que algumas variedades se beneficiem da polinizao mediada

    por abelhas (CARRILLO e ROS, 2009).

    Vrias so as pesquisas que mostraram um maior rendimento em plantios

    quando introduzidas abelhas nas reas. (ERICKSON, 1975; JULIANO, 1976;

    ERICKSON, 1978; ISSA et al., 1980; MORETI et al., 1998; FVERO, 2000; CHIARI

    et al., 2005b; CHIARI et al., 2008). Porm, no est claro se esse aumento funo da

    autopolinizao, da polinizao cruzada ou de ambas (FREE, 1993; DELAPLANE e

    MAYER 2000).

  • 23

    Outros pesquisadores como ERICKSON (1975), ISSA et al., (1980) e

    ROBACKER et al., (1983) reportam que nem todas as variedades de soja so atrativas

    s abelhas devido a fatores prprios determinados por efeitos genticos e ambientais.

    Em geral, a soja apresenta baixa freqncia de cruzamentos naturais. A taxa de

    cruzamento entre plantas de fileiras adjacentes cerca de 0,5%, esse valor sobe para

    aproximadamente 1,0% quando as plantas esto em estreito contato (SEDIYAMA,

    1970). Insetos, principalmente as abelhas, podem transportar o plen e realizar a

    polinizao de flores de diferentes plantas, porm a taxa de fecundao cruzada

    normalmente menor que 1% (BORM, 1999b). Em diversos gentipos, valores

    compreendidos entre 0,78 a 3,13% de alogamia foram obtidos (VILA, 1988; AHRENT

    e CAVINESS, 1994).

    A baixa taxa de alogamia na espcie decorrente da caracterstica cleistogmica

    da flor (BORM 1999 a, b). Porm, ERICKSON (1975), aps ampla reviso,

    mencionou um intervalo de 0,5 a 35% de polinizao cruzada natural, tendo uma maior

    taxa de cruzamento em linhagens onde a fertilizao ocorre pela manh. Na verdade, os

    valores variam de um lugar para o outro, essa variao conseqncia dos fatores

    ambientais e das diferentes variedades (SEDIYAMA, 1970; VILA, 1988).

    De acordo com ROBACKER et al., (1982) e ERICKSON (1984), para uma

    adequada polinizao so necessrios um mnimo de 20 gros de plen.

    FREE (1993) relata que os requerimentos de polinizao da soja variam entre

    cultivares e so afetados pelas condies ambientais.

    2.8 - Visitantes florais

    Existem vrios relatos associados visitao de insetos s inflorescncias da

    soja. Dentre eles, destacam-se as abelhas (JAYCOX, 1970; RUST et al., 1980 CHIARI

    et al., 2005b);

    Um total de 29 espcies de abelhas foram coletadas em trs cidades dos Estados

    Unidos (Dalaware, Wisconsin e Missouri) sendo estas pertencentes a quatro famlias

    distintas (Hymenoptera: Apidae, Anthophoridae, Megachilidae e Halictidae). As

  • 24

    espcies mais freqentes foram: Apis mellifera L., Ceratina calcarata Robertson,

    Megachile testaceus Robertson e Dialictus versatus Robertson. (RUST et al., 1980).

    Na ndia, WOODHOUSE e TAYLOR (1913), citados por FREE (1993),

    observaram moscas e trs espcies de abelhas; Apis cerana, Apis dorsata e Nomia

    cognata, sendo a ltima a espcie mais presente na rea.

    MORSE e CARTTER (1937) citados por FREE (1970) mencionam a visita de

    outros insetos, como o Thrips tabaci as flores de soja e WOODHOUSE e TAYLOR

    (1913) tambm citados por FREE (1970) verificaram a presena de moscas (Musidae) e

    das abelhas A. cerana, A. dorsata e Nomia cognata (Halictidae) nas flores de soja,

    sendo a ltima a espcie mais abundante.

    O tripes (Thrips tabaci) e outros insetos so apontados como possveis

    causadores de cruzamentos naturais na soja (WEBER e HANSON, citados por

    SEDIYAMA et al., 1970).

    J JAYCOX (1970) relata as abelhas Apis mellifera L., Bombus impatiens, B.

    griseocollis, Triepeolus spp. e Coelioxys, bem como abelhas solitrias dos gneros

    Melisores, Megachile, Calliopsis, Colletes, Halictus, Agapostemon e Lasioglossum.

    No Brasil, FVERO e NOGUEIRA COUTO (2000) estudando a polinizao

    entomfila na soja observaram Apis mellifera L., como a espcie mais freqente

    visitando as flores de soja. Vespas e abelhas Trigona sp. e Tetragonisca sp. tambm

    foram registradas na cultura.

    Segundo CHIARI et al., (2005b) em experimento realizado em Maring-PR,

    observaram a superioridade de visitas realizadas por abelhas melferas as flores de soja,

    tendo registrado tambm a presena de lepidpteros e de outras abelhas. As seguintes

    espcies foram identificadas: Trigona fuscipennis Friese, 1900; Exomalopsis subtilis

    Timberlake, 1980; Exomalopsis analis Spinola, 1853; Exomalopsis tomentosa Friese,

    1899; Exomalopsis ypirangensis Schrottky, 1910.

    2.9 - Atratividade das flores de soja para as abelhas

    A elevada atratividade das flores de soja s abelhas melferas pode ser

    justificada pela sndrome melitfila que suas flores apresentam. Nectrios bem

  • 25

    desenvolvidos circundando a base do carpelo com produo de nctar de boa qualidade,

    flor com guia de nctar bem definido e visvel a ultravioleta, aroma prprio, e a

    existncia de um canal guia para a introduo da lngua das abelhas so algumas dessas

    caractersticas. Desta forma, as abelhas possuem a capacidade de reconhecer as flores

    pela cor, forma e aroma (ROBACKER et al., 1983; VILA, 1988; HORNER et al., 2003;

    ORTIZ-PEREZ, et al., 2006; PALMER et al., 2009)

    Outras caractersticas florais como: tamanho da flor, abundncia de flores,

    cleistogamia, produo de nctar e sequncia de florao esto diretamente associados

    no efeito de atrao s abelhas. Essas caractersticas so herdadas, entretanto, podem ser

    influenciadas por fatores climticos e edficos (ERICKSON, 1975). Ainda segundo o

    autor, as abelhas do preferncia s variedades que apresentam um maior nmero de

    flores, maior tamanho e que produzam mais nctar.

    ROBACKER et al., (1982) afirmam que o tamanho da flor e o padro de

    abertura possuem relao positiva com sua atrao para as abelhas.

    Em relao cor da flor, as variedades que apresentam flores brancas so mais

    preferidas por abelhas melferas (ERICKSON, 1975). O mesmo foi constatado por

    VILA (1988), onde variedades que possuam flores brancas receberam um maior

    nmero de visitas que as variedades que possuam flores roxas, e que as variedades do

    grupo tardias em relao s do grupo precoces foram preferidas, fato justificado por

    apresentarem plantas mais altas, maior nmero de flores por planta e por possurem uma

    mdia superior em dias de florao. Porm, JAYCOX (1970), relata que flores de cores

    brancas e roxas so igualmente atrativas, e que a diferena na atrao devido ao

    nmero de flores por planta ou na quantidade de secreo de nctar.

    2.10 - Influncia das abelhas na produtividade da soja

    Por se tratar de uma espcie autgama, e que possui mecanismos que facilitam a

    autopolinizao, o uso de abelhas melferas no costuma ser recomendado. Porm,

    sabido que algumas espcies autgamas se beneficiam desses agentes polinizadores

    (FREE, 1993). No caso particular da soja, vrios so os trabalhos que indicam um

  • 26

    aumento na produo, assim como outras pesquisas revelaram o no beneficiamento

    dessa cultura com a introduo de abelhas (ISSA et al., 1984).

    Nos EUA, ERICKSON (1975) testando trs cultivares, sendo uma cleistgama,

    que no foi influenciada pela ao das abelhas, obteve aumento de 14 e 16% nas outras

    duas.

    No Brasil, mais especificamente no estado do Rio Grande do Sul, JULIANO

    (1976) trabalhando com a cultivar Santa Rosa concluiu que abelhas, vespas e outros

    insetos contriburam positivamente no aumento do nmero de vagens e gros, tendo o

    nmero de vagens aumentado em 37,95%, o peso mdio das vagens em 40,13% e o

    peso mdio dos gros em 39,85%.

    Um maior rendimento foi observado em campos de soja que possuam colmeias

    com abelhas melferas instaladas a 100 metros do plantio (ERICKSON, 1978). Porm

    SHEPPARD et al., (1979, citado por DELAPLANE e MAYER, 2000) no encontrou

    nenhuma relao de rendimento a diferentes distncias de colnias de abelhas melferas.

    Em trs anos sucessivos, no Kansas, Estados Unidos, KETTLE e TAYLOR

    (1979 citados por FREE, 1993) obtiveram aumentos de 5, 20 e 36% em uma variedade

    polinizada por abelhas e em outra variedade o rendimento foi em torno de 10%.

    J ISSA et al., (1980), verificando a ao polinizadora das abelhas em relao as

    cultivares IAC-8 e IAC-3, obtiveram um aumento na produo em relao ao controle

    de 81% e 9%, respectivamente.

    A cultivar IAC 14 apresentou um aumento de 58,58% no nmero mdio de

    vagens em uma rea coberta por gaiola com introduo de abelhas em relao a uma

    rea coberta com gaiola sem abelhas (MORETI et al., 1998).

    Trabalhando com a variedade FT 2000, FVERO (2000) registrou um

    incremento no nmero de vagens e gros em uma rea descoberta, permitindo a

    visitao de polinizadores, em comparao com uma rea coberta, impedindo toda e

    qualquer visita de agentes polinizadores.

    CHIARI et al., (2005b) obtiveram uma produo mdia estimada de 60,12 sacos

    por hectare em uma rea coberta com abelhas contra 39,91 sacos em uma rea coberta

    sem a presena de abelhas melferas.

  • 27

    Mais recentemente, CHIARI et al., (2008) constataram um aumento na produo

    de gros de 37,84% em uma rea coberta por gaiola com introduo de abelhas em

    relao a uma rea coberta por gaiola sem a presena abelhas.

    Outro aspecto a salientar em relao ao percentual de aborto nas flores de soja

    quando expostas a ao de polinizadores. CHIARI et al., (2005b) trabalhando com a

    cultivar BRS 133 registraram uma reduo de 82,91% em reas cobertas por gaiolas

    para 53,95% e 52,66% em reas cobertas com a presena de abelhas e livres,

    respectivamente.

    De acordo com ERICKSON (1982), os benefcios na polinizao intermediados

    por abelhas so mais evidentes em reas com solos mais pobres. Porm, a influncia das

    abelhas no aumento de produtividade da soja fortemente afetada pelas caractersticas

    das variedades e pelas condies ambientais (DELAPLANE & MAYER, 2000).

    2.11 Recomendao de polinizadores

    A introduo de polinizadores suplementares em campos de soja fato raro,

    apesar de alguns trabalhos demonstrarem efeito positivo com a introduo de abelhas.

    (ERICKSON, 1975; JULIANO, 1976; ERICKSON, 1978; ISSA et al., 1980; MORETI

    et al., 1998; FVERO, 2000; CHIARI et al., 2005b; CHIARI et al., 2008).

    O fato da cultura da soja ser economicamente rentvel sem a introduo de

    polinizadores biticos, somado ao intenso uso de defensivos agrcolas talvez sejam os

    grandes responsveis pela no utilizao de polinizadores.

    Apenas SHEPPARD et al., (1979, citados por DELAPLANE e MAYER, 2000)

    fazem referncia para um incremento de polinizao cruzada e considera 0,6 colmeia de

    abelhas melferas por hectare como um nmero adequado para esta finalidade.

    2.12 - Produo de mel

    So inmeras e variveis as informaes da cultura da soja como fonte de nctar.

    Nos Estados Unidos, mais precisamente nas plancies centrais e especialmente em

  • 28

    Arkansas e Missouri, plantios de soja representam uma das principais fontes para a

    produo de mel. Apicultores das cidades de Carolina do Norte, Maryland e Tennessee

    reportam sobre boas colheitas de mel advindas da cultura da soja. ERICKSON Jr.

    (1984), na regio do delta do Mississipi (EUA), relata impressionantes mdias anuais de

    70 a 90 kg de mel por colnia em floradas de soja. Em contrapartida, apicultores de

    outras zonas dizem que a soja possui pouco valor apcola e que s vezes pode produzir

    algum excedente de mel, assim no fonte confivel e nem importante (DADANT,

    1975).

    No Brasil, especificamente em Viosa MG, VILA (1980), em experimento

    realizado em casa de vegetao, faz referncia a uma produo suficientemente boa

    considerando a pouca quantidade de flores disponveis. Porm no quantifica a

    produo.

    Colnias instaladas prximas a plantios de soja em Maring PR obtiveram

    uma produo mdia entre 5,75 a 8,32 Kg em um perodo de 31 dias (CHIARI, 2004).

    Essas variaes na produo de mel so decorrentes das muitas variedades

    existentes, bem como dos tipos de solos e condies climticas onde se cultivam soja

    (DADANT, 1975).

    AYRES (2010) relata a influncia dos fatores climticos, de acordo com o

    mesmo, a produo de mel possui correlao com o tipo de solo onde a soja cultivada.

    Em relao s caractersticas do mel obtido em plantios de soja, DADANT

    (1975), caracteriza como sendo um produto de alta qualidade e com uma tendncia de

    cristalizao muito rpida, possui consistncia leve e com uma cor variando do mbar

    claro ao extra claro, apresentando um sabor pouco comum e agradvel.

  • 29

    3 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

    AHRENT, D. K.; CAVINESS, C. E. Natural cross-pollination of twelve soybean

    cultivars in Arkansas. Crop Science, v. 34, n. 2, p. 376-378, 1994.

    AIZEN, M. A. et al. Long-term global trends in crop yield and production reveal no

    current pollination shortage but increasing pollinator dependency. Current Biology, v.

    18, p. 1572-1575, 2008.

    ALLEN-WARDELL, G. et al. The potential consequences of pollinator declines on the

    conservation of biodiversity and stability of food crop yields. Conservation Biology, v.

    12, n. 1, p. 8-17, 1998.

    AYERS, G. S. Soybean, a good honey plant: sometimes. American Bee Journal, The

    Other Side of Beekeeping, Apr., 2010. Disponvel em:

    . Acesso em: 28 set.

    2010.

    BONATO, E. R. Estresses em soja. Passo Fundo: Embrapa Trigo, 2000.

    BORM, A. Escape gnico: os riscos do escape gnico da soja no Brasil. Biotecnologia

    Cincia e Desenvolvimento, Braslia, 1999a, v. 10, p. 101-107.

    BORM, A. Hibridao artificial de plantas. Viosa: UFV, 1999b.

    BRADBEAR, N. Bees and their role in forest livelihoods: a guide to the services

    provided by bees and the sustainable harvesting, processing and marketing of their

    products. Rome: Food And Agriculture Organization of The United Nations, 2009.

    BRASIL. Ministrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento. Cadeia produtiva da

    soja. Braslia, 2007. (Agronegcios, n. 3).

  • 30

    BRASIL. Ministrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento. Projees do

    agronegcio: Brasil 2009/2010 a 2019/2020. Braslia, 2010. 76 p.

    BRASIL. Ministrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento. Soja. [201-?].

    Disponvel em: . Acesso em: 7 fev. 2011.

    CAMPELO, G. J.; KIIHL, R. A. S.; ALMEIDA, L. A. Soja: desenvolvimento para

    regies de baixas latitudes. Teresina: Embrapa Meio-Norte, 1998. (Documentos, 37).

    CARLSON, J. B.; LERSTEN, N. R. Reproductive morphology. In: WILCOX, J. R.

    (Ed.) Soybeans: improvement, production and uses. Madison: ASA, 1987. p. 95-134.

    (Agronomy Monograph, 16).

    CARNEIRO, W. M. A. Gros nos cerrados nordestinos: produo, mercado e

    estruturao das principais cadeias. Fortaleza: Banco do Nordeste, 2006. (Documentos

    do Etene, 08).

    CARRILLO, J. L. R.; ROS, P. C. Manual de polinizacin apcola. [200-?].

    Disponvelem:. Acesso em: 18 nov. 2009.

    CHIARI, W. C. et al. Polinizao por Apis mellifera em soja transgnica (Glycine max

    (L.) Merril) Roundup Ready cv. BRS 245 RR e convencional cv. BRS 133. Acta Sci.

    Agron., Maring, v. 30, n. 2, p. 267-271, 2008.

    CHIARI, W. C. et al. Produo de mel na cultura da soja (Glycine max L. Merril)

    variedade Embrapa 48, em Maring-PR. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE

    APICULTURA, 15., 2004, Natal. Anais... Natal: Confederao Brasileira de

    Apicultura, 2004.

  • 31

    CHIARI, W. C. et al. Pollination of soybean (Glycine max (L.) Merril by honeybees

    (Apis mellifera L.). Braz. Arch. Biol. Technol., Curitiba, v. 48, n. 1, p. 31-36, 2005a.

    CHIARI, W. C. et al. Floral biology and behavior of Africanized honeybees Apis

    mellifera in soybean (Glycine max (L.) Merril). Braz. Arch. Biol. Technol., Curitiba, v.

    48, n. 3, p. 367-378, 2005b.

    CENTRO DE INTELIGNCIA DA SOJA. Aspectos botnicos. [200-?]. Disponvel

    em: . Acesso em: 15 mar.

    2011.

    COMMITTEE ON THE STATUS OF POLLINATORS IN NORTH AMERICA,

    NATIONAL RESEARCH COUNCIL. Status of Pollinators in North America.

    Washington, DC: The National Academies Press, 2007.

    COMPANHIA NACIONAL DE ABASTECIMENTO. Disponvel em:

    . Acesso em: 23 de maio.

    2011.

    CRUZ, S. J. S. et al. Desempenho de trs variedades de soja na regio dos tabuleiros

    costeiros no estado alagoas. Caatinga, Mossor, v. 22, n. 2, p. 195-199, abr./jun. 2009.

    DADANT, C. La colmena y la abeja melfera. [S. l.]: Hemisferio Sur, 1975.

    DELAPLANE, K. S.; MAYER, D. F. Crop pollination by bees. New York: Cabi

    Publishing, 2000.

    ELLIS, J. D.; EVANS, J. D.; PETTIS, J. Colony losses, managed colony population

    decline, and colony collapse disorder in the United States. Journal of Apicultural

    Research, v. 49, n. 1, p. 134136, 2010.

  • 32

    EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECURIA. Soja: histria. [2011?].

    Disponvel em: .

    Acesso em: 7 fev. 2011.

    ERICKSON Jr., E. H. Soja para las abejas y la apicultura. Apiacta, v. 1, p. 1-7, 1983.

    ERICKSON Jr., E. H. Soybean pollination and honey production. Am. Bee J., v. 124, n.

    11, p. 775-779, 1984.

    ERICKSON Jr., E. H. Variability of floral characteristics influence honey bee visitation

    to soybean blossons. Crop Science, v. 15, p. 767-771, 1975.

    ERICKSON, E. H. et al. Honey bee pollination increases soybean yields in the

    Mississipi Delta Region of Arkansas and Missouri. Journal of Economic Entomology,

    v. 71, n. 4, p. 601-603, 1978.

    ERICKSON Jr., E. H.; GARMENT, M. B. Soybean flowers: nectary ultrastructure,

    nectar guides, and orientation on the flower by foraging honey bees. J. Apicul. Res., v.

    18, n. 1, p. 3-11, 1979.

    ERICKSON Jr., E. H.; HERBERT, Jr., W. E. Soybean products replace expeller

    processed soyflour for pollen supplements and substitutes. Am. Bee J., v. 120, n. 2, p.

    122-126, 1980.

    ERICKSON, E. H. et al. Honey bee pollination increases soybean yields in the

    Mississippi delta region of Arkansas and Missouri. Journal of Economic Entomology,

    v. 71, p. 601603, 1978.

    ERICKSON, E. H. The soybean for bees and bee-kipping. Apiacta, v. 18, p. 1-7, 1982.

  • 33

    FVERO, A. C.; COUTO, R. H. N. Polinizao entomfila em soja (Glycine max L.

    var. FT 2000). In: CONGRESSO BRASILEIRO DE APICULTURA, 13., 2000,

    Florianpolis. Anais... Florianpolis: Confederao Brasileira de Apicultura, 2000.

    FERH, W. R.; CAVINESS, C. E. Stages of soybean development. Ames: State

    University of Science and Technology, 1977. 11 p. (Special report, 80).