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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ
FACULDADE DE FARMÁCIA, ODONTOLOGIA E ENFERMAGEM
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ODONTOLOGIA
BRENO SOUZA BENEVIDES
ALTERAÇÃO DO PERFIL DE COLÁGENO DE DENTES EXTRAÍDOS DE
PACIENTES SUBMETIDOS A RADIOTERAPIA DE CABEÇA E PESCOÇO
FORTALEZA
2016
BRENO SOUZA BENEVIDES
AVALIAÇÃO DA ALTERAÇÃO DO PERFIL DE COLÁGENO DE DENTES
EXTRAÍDOS DE PACIENTES SUBMETIDOS A RADIOTERAPIA DE CABEÇA E
PESCOÇO
FORTALEZA
2016
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Odontologia da Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Odontologia. Área de concentração: Clínica Odontológica. Orientador: Prof. Dr. Fabrício Bitu Sousa
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação Universidade Federal do Ceará Biblioteca de Ciências da Saúde
B413a Benevides, Breno Souza.
Avaliação da alteração do perfil de colágeno de dentes extraídos de pacientes submetidos a radioterapia de cabeça e pescoço / Breno Souza Benevides. – 2016.
69 f.: il. color.
Dissertação (mestrado) – Universidade Federal do Ceará; Faculdade de Farmácia, Odontologia e Enfermagem; Departamento de Odontologia; Programa de Pós-Graduação em Odontologia; Mestrado em Odontologia, Fortaleza, 2016.
Área de Concentração: Clínica Odontológica.
Orientação: Prof. Dr. Fabrício Bitu Sousa.
1. Radioterapia. 2. Neoplasias de cabeça e pescoço. 3. Colágeno tipo I. 4. Colágeno tipo III. 5. Dentina. 6. Ligamento Periodontal. 7. Cárie Dentária. I. Título.
CDD 617.6
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus, Nosso Senhor todo poderoso, por todas as coisas boas
e más que me aconteceram. Cada uma delas, ao seu modo, me fez chegar aonde
cheguei e ser quem eu sou. Foi minha trajetória cheia de tropeços, vitórias e
derrotas que permitiu que adquirisse maturidade suficiente para realizar este sonho.
Minha eterna gratidão aos meus pais, CLOVIS e MARIA JOSÉ, que,
mesmo com os afazeres do cotidiano e as atribulações de trabalho, sempre
priorizaram a educação dos filhos à base das atitudes e do exemplo, orientando e
apoiando o meu engrandecimento pessoal e profissional.
À minha esposa, amiga e companheira, MARIANA CANUTO, pela sua
lealdade, paciência e amor. Você é um presente que a vida me deu.
À minha avó/mãe, JULIETA GOMES DE BARROS, pelo dom da vida e
pelo amor sempre dispensado a mim, ao meu irmão, BRUNO BENEVIDES, por estar
sempre ao meu lado e ser um grande referencial na minha trajetória científica. À
minha irmã, JULIANA BENEVIDES, por me dar o ânimo infantil do qual todo adulto
necessita.
Ao Prof. Dr. FABRÍCIO BITU SOUSA, que teve a bondade de me aceitar
como orientando, agradeço pela colaboração, paciência e pelos conhecimentos
repassados durante todo o desenvolvimento do trabalho.
Aos queridos amigos que conheci durante o mestrado e que me ajudaram
como se fossem meus irmãos nesta jornada, especialmente PAULO GOBERLÂNIO,
ELISA LIMA VERDE e ALCEU MACHADO.
Agradeço também aos amigos: JOSÉ MARIA MENESES, LINCOLN
PARENTE, ASSIS DA SILVA LIMA, pelo suporte e oportunidades que sempre me
deram desde o início desta caminhada, em todos os momentos.
Aos professores, coordenadores, secretárias e colaboradores do
Programa de Pós-graduação em Odontologia da Universidade Federal do Ceará.
AGRADECIMENTOS ESPECIAIS
À Universidade Federal do Ceará, na pessoa do reitor JESUALDO
PEREIRA FARIAS.
À Faculdade de Farmácia, Odontologia e Enfermagem (FFOE/UFC), na
pessoa de sua diretora Profa. Dra. LIDIANY KARLA AZEVEDO RODRIGUES.
Ao Curso de Odontologia, na pessoa do seu coordenador Prof. Dr.
JULIANO SARTORI MENDONÇA.
Ao coordenador do Programa de Pós-Graduação em Odontologia da
Faculdade de Farmácia, Odontologia e Enfermagem (FFOE/UFC) Prof. Dr.
VICENTE DE PAULO ARAGÃO SABÓIA.
Ao Pró-Ensino na Saúde, através da Coordenação de Aperfeiçoamento
de Nível Superior (CAPES), pela concessão da bolsa de mestrado.
Aos professores participantes da banca examinadora, pelas valiosas
colaborações e sugestões.
“Conhecimento não é aquilo que você
sabe, mas o que você faz com aquilo que
você sabe.” (Aldous Huxley)
RESUMO
O comprometimento da saúde dental pela incidência de radiação é tido como
resultado da redução do fluxo salivar bem como de possíveis danos radiogênicos
diretos à estrutura dental. A natureza exata destes últimos ainda está por ser
elucidada. A partir deste contexto, o presente estudo objetiva analisar a
predominância anatômica de colágeno tipo I e colágeno tipo III da dentina e do
ligamento periodontal assim como a quantidade de colágenos tipos I e III do
ligamento periodontal de dentes contidos nos campos de radiação extraídos de
pacientes submetidos a radioterapia (RT) para tratamento de neoplasias malignas
de cabeça e pescoço. A amostra foi constituída de 20 dentes, sendo oito dentes
cariados submetidos à dose total de radiação menor que 60 Gy (grupo experimental
I - GE I), seis dentes cariados submetidos à dose total de radiação igual ou maior
que 60 Gy (grupo experimental II - GE II) e seis dentes hígidos erupcionados não
submetidos a radiação (grupo controle - GC). Foi realizado estudo histomorfométrico
através da técnica de coloração Picrosirius Red com luz polarizada. Análise
qualitativa: em relação à dentina, percebeu-se predominância de colágeno tipo III
nas regiões circunjacentes às lesões cariosas no GE I, predominância geral de
colágeno tipo III em toda a dentina no GE II e predominância geral de colágeno tipo I
na dentina do GC. Em relação ao ligamento periodontal, percebeu-se que, no grupo
controle, houve predominância de colágeno tipo I no terço cervical e tipo III no terço
apical. Esse comportamento foi similar no GE I, mas no GE II as fibras se mostraram
mais desorganizadas e não havia mais o padrão de predominância anterior. Análise
quantitativa: o total de colágeno tipo I se mostrou significantemente reduzido no GE I
(48.8±6.1%) ou 60 Gy ou GE II (49.1±5.0%) em relação ao ligamento periodontal do
GC (69.7±6.3%) (p=0.047). O total de colágeno tipo III se mostrou significantemente
maior nos grupos experimentais I (51.2±6.1%) ou II (50.9±5.0%) em relação ao
ligamento periodontal do GC (24.8±5.1%) (p=0.006). A partir desses achados,
conclui-se que a radiação ionizante promove alterações do colágeno da dentina e do
ligamento periodontal em dentes de pacientes que foram submetidos a RT de
cabeça e pescoço.
Palavras-chave: Radioterapia. Neoplasias de cabeça e pescoço. Colágeno tipo I.
Colágeno tipo III. Dentina. Ligamento periodontal. Cárie dental.
ABSTRACT
Compromised dental health by incidence of radiation is taken as a result of the
reduction in salivary flow as well as possible direct radiogenic damage to tooth
structure. The exact nature of the latter remains to be elucidated. The aim of this
paper is to investigate the anatomical predominance of collagen type I and type III in
the dentin and periodontal ligament and the amount of these collagens in the
periodontal ligament of extracted teeth within the radiation fields of patients who have
underwent radiotherapy (RT) for treatment of malignant head and neck tumors. The
sample consisted of 20 teeth, 8 carious teeth of patients who underwent total dose of
less radiation than 60 Gy (experimental group I - EG I), 6 carious teeth of patients
who underwent total radiation dose equal to or greater than 60 Gy (experimental
group II - EG II) and 6 healthy erupted teeth not subjected to radiation (control group
- CG). A histomorphometrical study was conducted using the staining technique
Picrosirius Red with polarized light. Qualitative analysis of dentin noticed the
predominance of type III collagen in the surrounding regions to carious lesions in EG
I, general predominance of type III collagen throughout the dentin of EG II and
general predominance of type I collagen in the dentin of the CG. Qualitative analysis
of the periodontal ligament noticed that the CG and EG I there was a predominance
of type I collagen in the cervical third and type III in the apical third. In the EG II, the
fibers were more disorganized and there was no more the previous dominance
pattern. Quantitative analysis of the periodontal ligament noticed that the total of
collagen type I showed significantly reduced in EG I (48.8 ± 6.1%) or EG II (49.1 ±
5.0%) in relation to the periodontal ligament of the CG (69.7 ± 6.3%) (p = 0.047).
Total collagen type III showed significantly higher in EG I (51.2 ± 6.1%) or in EG II
(50.9 ± 5.0%) in relation to the periodontal ligament of the CG (24.8 ± 5.1%) (p =
0.006). Conclusion: ionizing radiation promotes collagen changes in the dentin and
periodontal ligament of teeth within the radiation fields of patients who have
underwent head and neck RT.
Keywords: Radiotherapy. Head and neck cancer. Collagen Type I. Collagen type III.
Dentin. Periodontal ligament.
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1 - Avaliação da quantidade de colágeno no ligamento periodontal............38
Gráfico 2 - Correlação entre fibras de colágeno tipo I:III no ligamento periodontal.38
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1 - Painel de fotomicrografias da dentina a ligamento periodontal de dentes
irradiados....................................................................................................................39
Figura 2 - Painel de fotomicrografias da dentina perilesional de dentes cariados
irradiados (GE I e GE II).............................................................................................39
Figura 3 - Painel de fotomicrografias da dentina e ligamento periodontal de dentes
hígidos não irradiados (GC) ......................................................................................40
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
RT Radioterapia
QT Quimioterapia
ORN Osteorradionecrose
IMRT Radioterapia de intensidade modulada
HP Hidroxilisilpiridinolina
LP Lisilpiridinolina
TGF-β Fator de crescimento tumoral Beta
EPM Erro padrão da média
α Alfa
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO GERAL........................................................................................ 14
2 PROPOSIÇÃO..................................................................................................... 18
2.1 Objetivo Geral...................................................................................................... 18
2.2 Objetivos Específicos.......................................................................................... 18
3 CAPÍTULOS......................................................................................................... 19
3.1 Capítulo 1: Avaliação da alteração do perfil de colágeno de dentes extraídos
de pacientes submetidos a radioterapia de cabeça e pescoço.......................... 20
4 CONCLUSÃO GERAL......................................................................................... 41
REFERÊNCIAS......................................................................................................... 42
ANEXOS................................................................................................................... 44
14
1 INTRODUÇÃO GERAL
Cirurgia ablativa, radioterapia (RT), quimioterapia (QT) e cirurgia
reconstrutiva são componentes do tratamento curativo ou paliativo das
neoplasias malignas de cabeça e pescoço, os quais se destinam a aumentar a
sobrevida e a qualidade de vida (BAKER et al., 2001; HONG et al., 2001;
SCHIMMELE et al., 2001; WARNKE et al., 2007). A RT é uma técnica que
utiliza a radiação ionizante e exerce efeito terapêutico por semisseletividade,
visando a danificar o material genético de células malignas vulneráveis, seja de
forma direta ou por meio da produção de radicais livres, resultando em morte
celular (BLOOMER et al., 1975). Em adição aos efeitos anticancerígenos
desejáveis, a radiação ionizante provoca danos aos tecidos normais
localizados dentro dos campos de radiação (BARCELLOS-HOFF et al., 2000).
Os sinais e sintomas incluem mucosite, hipossalivação irreversível devido à
função da glândula salivar prejudicada, osteorradionecrose (ORN), cáries de
radiação e perda de inserção periodontal (VISSINK et al., 2003; BARTEL-
FRIEDRICH et al., 1999).
A dose de radiação necessária para o tratamento das neoplasias
malignas de cabeça e pescoço é baseada na localização do tumor, tipo do
tumor maligno e se utilizada exclusivamente ou em combinação com outras
modalidades de tratamento. A maioria dos pacientes portadores de carcinomas
de cabeça e pescoço tratados com intenção curativa recebem uma dosagem
total entre 50 Gy e 70 Gy. Essa dosagem é normalmente administrada no
período de cinco a sete semanas, uma vez ao dia, cinco dias da semana, 2 Gy
per fraction (BARRETT et al., 2009). O fracionamento da radiação é utilizado
devido à diferença da resposta reparadora tecidual: de forma geral, os tecidos
normais têm a capacidade de reparar danos subletais ao seu DNA, em
especial, quando expostos a baixas doses, de maneira mais eficaz do que os
tecidos tumorais (JOINER et al., 2016). Outra vantagem é que a radiação
fracionada permite a reoxigenação de tumores hipóxicos radiorresistentes entre
o intervalo de administração das frações, levando a uma maior porcentagem de
células radiossensíveis oxigenadas (HALL et al., 2000).
15
O fator limitante mais importante da dosagem de radiação é a tolerância
dos tecidos normais adjacentes. A depender do estágio e da localização do
tumor primário e linfonodos afetados, a boca, glândulas salivares e maxilares
da maioria dos pacientes portadores de câncer de cabeça e pescoço poderão
estar localizados nos campos de radiação. Mesmo com o cronograma
radioterapêutico mais otimizado, alterações radioinduzidas não desejadas vão
ocorrer nessas estruturas. Os tecidos com altas taxas de turnover exibem
reações agudas à RT (efeitos precoces), enquanto nos tecidos com baixas
taxas de turnover os danos podem não se tornar evidentes por meses ou anos
após a RT (efeitos tardios ou crônicos) (JOINER et al., 2016; HALL et al.,
2000).
Uma vez que as taxas globais de sobrevida para neoplasias malignas de
câncer de boca são de 80% para as lesões em estágio inicial e 35% para as
lesões em estágios avançados, o objetivo da terapêutica efetiva inclui a
preservação da função dos tecidos normais e redução das injúrias ao máximo.
Estratégias para aumento da probabilidade de controle dos tumores sem
aumentar, ou até mesmo diminuir, a probabilidade de complicação dos tecidos
normais vêm sendo desenvolvidas e têm sido tema de ensaios clínicos. Com
base nas propriedades radiobiológicas descritas, esquemas alternativos de
fracionamento de radiação (hiperfracionamento e fracionamento acelerado),
técnicas que reduzem o volume de radiação (radioterapia de intensidade
modulada - IMRT e radioterapia conformada 3D) e esquemas que aumentam a
oxigenação dos tecidos tumorais foram desenvolvidos (RUSSEL, 2000;
KAANDERS et al., 2002).
O principal componente dos dentes humanos é a dentina, a qual é
composta de minerais (70%), matriz orgânica (20%) e água (10%). Acredita-se
que 90% da matriz orgânica seja constituída de colágeno (ACIL, 2002). O
esmalte dentário que recobre a coroa é considerado o tecido mais mineralizado
dos mamíferos (sendo 95% tecido calcificado, 5% água e matriz orgânica) e
também apresenta colágeno em sua composição (mínimas quantidades). A
polpa dentária está localizada no interior de uma cavidade dentária central e no
sistema de canais radiculares e representa a parte vital do dente. Apresenta
função sensorial, formadora, uma vez que durante toda a vida do dente há a
16
produção de matriz orgânica da dentina e sua mineralização, nutritiva e
imunológica, capaz de reagir a estímulos agressores, levando à formação de
diferentes tipos de dentina no intuito de barrar o curso da cárie e restringi-la a
níveis mais superficiais do dente. Em sua superfície externa, a polpa dentária
tem células que a revestem (odontoblastos), com processos que se estendem
ao interior dos túbulos dentinários (SCHROEDER, 1991). A necrose do tecido
dentário pulpar e sua subsequente remoção no curso de tratamento de lesões
cariosas profundas resultam em perda de elasticidade da estrutura dentária e
risco aumentado de fraturas dentinárias (al-NAWAS et al., 2000).
O periodonto é constituído por cementoblastos, células do ligamento
periodontal e osteoblastos. Os fibroblastos do ligamento periodontal
representam o tipo celular mais encontrado nesse tecido. São células
mesenquimais que expressam marcadores específicos, como periostina,
esclerotina, proteína de ligação de cemento, além de fatores de transcrição
para a diferenciação osteoblástica, colágeno, fosfatase alcalina, osteonectina,
osteocalcina e osteopontina (LOSSDORFER et al., 2010; MARCHESAN et al.,
2011). Consequentemente, apresentam a capacidade de se diferenciar em
osteoblastos, o que fica reforçado pela propriedade de formação de nódulos
minerais imaturos, quando cultivados in vitro (MURAKAMI et al., 2003). Desta
maneira, contribuem significativamente para a integridade e capacidade de
reparo do periodonto e desenvolvimento da doença periodontal (LEKIC et al.,
1997). Os efeitos da RT sobre o periodonto têm sido atribuídos à
hipovascularidade e hipocelularidade, comprometimento da capacidade de
reparo e regeneração e risco aumentado de perda de inserção periodontal
(VISSINK et al., 2003).
As fibras de colágeno são o principal componente de tração da matriz
extracelular e desempenham um papel estrutural fundamental nos tecidos
conjuntivos, proporcionando resistência, conferindo forma e permitindo, ao
mesmo tempo, flexibilidade. A partir de estudos prévios de exposição de
colágeno à radiação, fica evidente que o diâmetro das fibras colágenas é dose-
dependente, tornando-se o colágeno, neste contexto, uma espécie de
dosímetro biológico (TZAPHLIDOU, 2002).
17
Por um lado, a radiação aparenta ter um efeito destrutivo direto sobre
os tecidos dentais duros, especialmente à junção amelo-dentinária. Por outro
lado, a hipossalivação radioinduzida é considerada causadora de deficiência de
mecanismos de auto-limpeza orais e imunocompetência local, facilitando a
atividade de microrganismos envolvidos na etiopatogênese da cárie dentária
(CHAMBERS et al., 2004; GROTZ et al., 1997). Quando os dentes estão
localizados nos campos de radiação, a hipovascularização pulpar e periodontal
resulta no déficit da sua microcirculação. Os efeitos indiretos da radiação sobre
o fluxo vascular da dentição também exercem um papel fundamental nesse
ciclo multifacetado de promoção de cáries e doença periodontal (SQUIER,
1990).
A partir da análise dos trabalhos que investigam os efeitos da radiação
sobre os tecidos componentes do sistema estomatognático, com ênfase para o
desenvolvimento de cáries e alterações periodontais, este estudo objetivou
analisar qualitativamente a predominância e a organização das fibras de
colágeno tipo I e colágeno tipo III da dentina e ligamento periodontal de dentes
irradiados bem como a quantidade de colágeno tipo I e colágeno tipo III do
ligamento periodontal de dentes irradiados, extraídos de pacientes submetidos
a RT para tratamento de neoplasias malignas de cabeça e pescoço.
18
2 PROPOSIÇÂO
2.1 Objetivo geral
Analisar o perfil de colágeno tipo I e colágeno tipo III da dentina e do
ligamento periodontal de dentes contidos nos campos de radiação de pacientes
submetidos a RT de cabeça e pescoço.
2.2 Objetivos específicos
Avaliar o perfil em dentina e ligamento periodontal dos colágenos
tipo I e III bem como quantificar estes tipos de colágeno no
ligamento periodontal de dentes submetidos a menos de 60 Gy de
radiação, 60 Gy ou mais de radiação e dentes hígidos não
irradiados.
Comparar a quantidade de colágeno tipo I e colágeno tipo III do
ligamento periodontal de dentes de pacientes submetidos a
menos de 60 Gy de radiação, 60 Gy ou mais de radiação e dentes
hígidos não irradiados;
Determinar a proporção de colágeno tipo I:colágeno tipo III do
ligamento periodontal de dentes submetidos a menos de 60 Gy de
radiação, 60 Gy ou mais de radiação e dentes hígidos não
irradiados.
19
3 CAPÍTULOS
Esta dissertação está baseada no Artigo 46 do Regimento Interno do
Programa de Pós-Graduação em Odontologia da Universidade Federal do
Ceará (Anexo A), que regulamenta o formato alternativo para dissertações de
Mestrado e teses de Doutorado e permite a inserção de artigos científicos de
autoria ou coautoria do candidato.
Por se tratar de pesquisas envolvendo seres humanos, o presente
trabalho foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade
Federal do Ceará/PROPESQ, com o parecer Nº 1.350.280, sendo aprovado
em 03/12/15, sob o CAAE: 51260715.7.0000.5054 (Anexo B).
Foram utilizados espécimes teciduais emblocados em parafina,
armazenados nos arquivos do Laboratório de Patologia Bucal da UFC, através
da assinatura do Termo de Fiel Depositário (Anexo C).
Diante disso, tal dissertação de mestrado é composta por um
capítulo que contém um artigo científico, que será submetido à publicação no
periódico “Medicine”, conforme descrito abaixo: (ANEXO D).
Avaliação da alteração do perfil de colágeno de dentes
extraídos de pacientes submetidos a radioterapia de cabeça e pescoço.
Benevides BS, Sousa FB
20
3.1 CAPÍTULO 1: Avaliação da alteração do perfil de colágeno
de dentes extraídos de pacientes submetidos a radioterapia de cabeça e
pescoço. Este artigo seguiu as normas de publicação do Periódico Medicine
(ISSN: 0025-7974).
Autores:
Breno Souza Benevides
Grau acadêmico: Bacharel em Odontologia, Especialista em Cirurgia
e Traumatologia Bucomaxilofacial
Posição: Estudante de Mestrado em Odontologia
Afiliação institucional: Departamento de Clínica Odontológica, Setor
de Diagnóstico Oral, Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, Brasil.
Fabricio Bitu Sousa
Grau acadêmico: Bacharel em Odontologia, Doutor em Patologia
Oral, Bacharel em Patologia Oral.
Posição: Professor Titular da Universidade Federal do Ceará -
campus Fortaleza.
Afiliação institucional: Departamento de Clínica Odontológica, Setor
de Patologia Oral, Universidade Federal do Ceará, campus Fortaleza,
Fortaleza, Brasil.
Autor de Correspondência: Breno Souza Benevides
Endereço: Rua Frei Mansueto, 505, AP 1401. Meireles – Fortaleza,
Ceará, Brasil, CEP: 60175-070.
Telefone Residencial: 55-85-30776643
Email: [email protected]
21
RESUMO
O comprometimento da saúde dental pela incidência de radiação é tido como
resultado da redução do fluxo salivar bem como de possíveis danos
radiogênicos diretos à estrutura dental. A natureza exata destes últimos ainda
está por ser elucidada. Objetivo: investigar a predominância anatômica de
colágeno tipo I e colágeno tipo III da dentina e ligamento periodontal e a
quantidade desses colágenos no ligamento periodontal de dentes contidos nos
campos de radiação extraídos de pacientes submetidos a radioterapia (RT)
para tratamento de neoplasias malignas de cabeça e pescoço. Metodologia: a
amostra foi constituída de 20 dentes, sendo oito dentes cariados submetidos à
dose total de radiação menor que 60 Gy (grupo experimental I - GE I), seis
dentes cariados submetidos à dose total de radiação igual ou maior que 60 Gy
(grupo experimental II - GE II) e seis dentes hígidos erupcionados não
submetidos a radiação (grupo controle - GC). Foi realizado estudo
histomorfométrico através da técnica de coloração Picrosirius Red por
microscopia óptica de luz polarizada. Resultados: análise qualitativa da
dentina: percebeu-se predominância de colágeno tipo III nas regiões
circunjacentes às lesões cariosas no GE I, predominância geral de colágeno
tipo III em toda a dentina no GE II e predominância geral de colágeno tipo I na
dentina no grupo controle. Análise qualitativa do ligamento periodontal:
percebeu-se que, no GC e no GE I, houve predominância de colágeno tipo I no
terço cervical e tipo III no terço apical. No GEII as fibras se mostraram mais
desorganizadas e não havia mais o padrão de predominância anterior. Análise
quantitativa do ligamento periodontal: o total de colágeno tipo I se mostrou
significantemente reduzido no GE I (48.8±6.1%) e GE II (49.1±5.0%) em
relação ao ligamento periodontal do GC (69.7±6.3%) (p=0.047). O total de
colágeno tipo III se mostrou significantemente maior no GE I (51.2±6.1%) e GE
II (50.9±5.0%) em relação ao ligamento periodontal do GC (24.8±5.1%)
(p=0.006). Conclusão: a radiação ionizante promove alterações do colágeno
da dentina e do ligamento periodontal em dentes de pacientes que foram
submetidos a RT de cabeça e pescoço.
22
Keywords: Radiotherapy. Head and neck cancer. Collagen Type I. Collagen
type III. Dentin. Periodontal ligament.
INTRODUÇÃO
Radioterapia (RT), quimioterapia (QT), cirurgia ressectiva e cirurgia
reconstrutiva são componentes do tratamento curativo ou paliativo das
neoplasias malignas de cabeça e pescoço, destinados a aumentar a sobrevida
e a qualidade de vida1-4. Em adição aos efeitos anticancerígenos desejáveis, a
radiação ionizante provoca danos aos tecidos normais localizados dentro dos
campos de radiação5. Os efeitos indiretos da radiação sobre o fluxo vascular da
dentição, levando a um déficit da microcirculação tecidual, também exercem
um papel fundamental no contexto clínico oral multifacetado desses pacientes6.
Os sinais e sintomas incluem mucosite, hipossalivação, osteorradionecrose
(ORN), cáries de radiação e perda de inserção periodontal7,8.
O principal componente dos dentes humanos é a dentina, a qual é
composta de minerais (70%), matriz orgânica (20%) e água (10%). Acredita-se
que 90% da matriz orgânica seja constituída de colágeno9. O esmalte dentário,
que recobre a coroa, é considerado o tecido mais mineralizado dos mamíferos,
sendo 95% tecido calcificado, 4% água e 1% matriz orgânica, apresentando
porcentagem de colágeno irrisória em sua composição. A polpa dentária está
localizada no interior de uma cavidade central e no sistema de canais
radiculares e representa a parte vital do dente. Apresenta função sensorial,
formadora, uma vez que durante toda a vida do dente há a produção de matriz
orgânica da dentina e sua mineralização, nutritiva e imunológica, capaz de
reagir a estímulos agressores, levando à formação de diferentes tipos de
dentina no intuito de barrar o curso da cárie e restringi-la a níveis mais
superficiais do dente. Em sua superfície externa, a polpa dentária tem células
que a revestem (odontoblastos), com processos que se estendem ao interior
dos túbulos dentinários10. A necrose do tecido dentário pulpar e sua
subsequente remoção no curso de tratamento de lesões cariosas profundas
23
resultam em perda de elasticidade da estrutura dentária e risco aumentado de
fraturas dentinárias11.
O periodonto de inserção é constituído por cementoblastos, células do
ligamento periodontal e osteoblastos. Os fibroblastos do ligamento periodontal
representam o tipo celular mais encontrado nesse tecido. São células
mesenquimais que expressam marcadores específicos, como periostina,
esclerotina, proteína de ligação de cemento, além de fatores de transcrição
para a diferenciação osteoblástica, colágeno, fosfatase alcalina, osteonectina,
osteocalcina e osteopontina12,13. Consequentemente, apresentam a capacidade
de se diferenciar em osteoblastos, o que fica reforçado pela propriedade de
formação de nódulos minerais imaturos, quando cultivados in vitro14. Desta
maneira, contribuem significativamente para a integridade e capacidade de
reparo do periodonto e desenvolvimento da doença periodontal15. Os efeitos da
RT sobre o periodonto têm sido atribuídos à hipovascularidade e
hipocelularidade, comprometimento da capacidade de reparo e regeneração e
risco aumentado de perda de inserção periodontal7.
As fibras de colágeno são o principal componente de tração da matriz
extracelular e desempenham um papel estrutural fundamental nos tecidos
conjuntivos, proporcionando resistência, conferindo forma e permitindo, ao
mesmo tempo, flexibilidade. A partir de estudos prévios de exposição de
colágeno a radiação, fica evidente que o diâmetro das fibras colágenas é dose-
dependente, tornando-se o colágeno, neste contexto, uma espécie de
dosímetro biológico16. Os colágenos tipo I e III são fibrilares, apresentando
estrutura semelhante a uma corda. Ao microscópio óptico, esses polímeros
lineares de fibrilas apresentam padrões de bandas característicos, refletindo a
organização escalonada das moléculas individuais de colágeno. O colágeno
tipo I foi o primeiro a ser caracterizado e é o mais comum e abundante de todos
os tipos. O colágeno tipo III, mais primitivo, foi encontrado, inicialmente, na
derme fetal, estando presente em pequenas quantidades em outros tecidos
como trabéculas de órgãos hematopoiéticos, fígado, útero, camadas
musculares do intestino e, particularmente, no sistema vascular16.
Colágenos tipos I e III têm importante papel de suporte e de
amortecimento, respectivamente, e suas mudanças vão influenciar a fixação e
24
mobilidade dos dentes. Como um importante componente da matriz
intercelular, o colágeno tipo III regula a proliferação e migração celular e
expressão de genes específicos, pela integração da sua sequência de
aminoácidos com os receptores de integrina sobre a superfície celular17,18. Um
grupo de autores descobriu que o nível de transcrição de mRNA de colágeno
tipo III aumenta sensivelmente antes de nódulos mineralizados serem
formados, o que demonstra a importância do colagénio do tipo III no curso da
remodelação do colágeno do ligamento periodontal19. Outro estudo evidenciou
que, com a reparação do ligamento periodontal, o colágeno tipo III foi
gradualmente substituído por colágeno tipo I e a formação de osso maduro
aumentou significativamente, em cães da raça beagle20. Esse fato constata que
o colágeno tipo III é uma espécie de precursor do colágeno tipo I, sendo que
este último está mais associado à formação de tecidos mineralizados e que a
substituição do colágeno tipo I pelo colágeno tipo III pode levar a um prejuízo
da regeneração periodontal.
Um estudo imunohistoquímico realizou a caracterização dos
fibroblastos do ligamento periodontal de humanos que se tornaram senis após
replicação exaustiva ou exposição à radiação ionizante e concluiu que o efeito
do processo de envelhecimento leva a uma significante redução sobre sua
capacidade de diferenciação osteoblástica e, como essas células são de
grande importância para a regeneração periodontal13, a identificação do seu
status de senilidade e capacidade de diferenciação são de extrema
importância21.
Considerando que a radiação ionizante propicia alterações teciduais de
forma direta e indireta aos tecidos normais, que as cáries de radiação e doença
periodontal são doenças recorrentes associadas à degradação do colágeno e,
não tendo sido descritas, até então, as alterações do colágeno dentário após
RT de dentes incluídos nos campos de radiação, este trabalho busca analisar
qualitativamente o perfil de predominância e organização das fibras de
colágeno tipo I e colágeno tipo III da dentina e ligamento periodontal de dentes
irradiados bem como a quantidade de colágeno tipo I e colágeno tipo III do
periodonto de dentes irradiados extraídos de pacientes submetidos a RT para
25
tratamento de neoplasias malignas de cabeça e pescoço, buscando contribuir
para melhor entendimento do surgimento e comportamento das cáries de
radiação e doença periodontal nesses pacientes.
MATERIAIS E MÉTODOS
IMPLICAÇÕES ÉTICAS
Esta pesquisa obteve o parecer favorável do Comitê de Ética em
Pesquisa da Universidade Federal do Ceará/PROPESQ do Departamento de
Medicina Clínica da Universidade Federal do Ceará, sob o número do parecer
1.350.280. CAAE: 51260715.7.0000.5054.
DELINEAMENTO DO ESTUDO
Trata-se de uma pesquisa descritiva observacional de corte transversal,
constando de análise, quantificação e investigação comparativa de
características histológicas em uma série de casos de dentes cariados contidos
nos campos de radiação extraídos de pacientes previamente submetidos a RT
para tratamento de neoplasias malignas de cabeça e pescoço e dentes
terceiros molares erupcionados, hígidos e funcionais, extraídos de pacientes
não irradiados.
A amostra da pesquisa foi de conveniência, constituída por 20 blocos de
espécimes de dentes do acervo do laboratório de Patologia Bucal do Curso de
Odontologia da UFC campus Fortaleza, sendo destes oito dentes cariados
submetidos à dose total de radiação menor que 60 Gy (grupo experimental I),
seis de dentes cariados submetidos à dose total de radiação igual ou maior que
60 Gy (grupo experimental II) e seis de dentes terceiros molares hígidos
erupcionados e funcionais não submetidos a radiação (grupo controle). Todos
os espécimes foram acondicionados em frascos de vidro tampados em timol
5%, imediatamente após suas extrações, pelo período máximo de uma hora,
tempo após o qual foram submetidos a descalcificação em frascos de vidro
26
tampados com EDTA 10%. Essa solução foi renovada semanalmente e o ciclo
total de descalcificação foi de 45 dias (temperatura de 25 graus Celsius). Os
espécimes foram emblocados em parafina e identificados por numeração.
Os espécimes de dentes cariados irradiados foram oriundos de
pacientes encaminhados pelo Hospital Haroldo Juaçaba - ICC ao Núcleo de
Estudos em Pacientes Especiais (NEPE) da Faculdade de Odontologia da
Universidade Federal do Ceará / UFC, durante o mês de dezembro de 2015.
Todas as exodontias foram executadas pelo mesmo cirurgião-dentista e não
houve complicações trans-operatórias. Os dentes foram minimamente
manipulados pelas suas coroas, com o cuidado adicional de não se
manipularem suas superfícies radiculares. As lesões cariosas acometiam
esmalte, dentina e polpa dentais, além dos seus sistemas de canais, mas sem
comprometimento radicular. O total de espécimes foi de quatro dentes
incisivos, dois caninos, três molares e cinco pré-molares.
Os espécimes de dentes terceiros molares erupcionados, hígidos, não
irradiados e funcionais foram oriundos de pacientes atendidos na Disciplina de
Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial do Curso de Odontologia da
Universidade Federal do Ceará / UFC - Campus Fortaleza, durante o mês de
dezembro de 2015. Todas as exodontias foram executadas pelo mesmo
cirurgião-dentista e foram incluídos como viáveis para a amostra apenas os
dentes extraídos sob a utilização da Técnica Primeira, mediante utilização de
elevadores ou fórceps. Houve cuidado para realização de mínima manipulação
dos espécimes, restrita apenas às superfícies coronárias dentais, isentando as
superfícies radiculares de traumas. O total de espécimes foi de seis dentes
terceiros molares.
ANÁLISE HISTOQUÍMICA
Cortes de 3μm dos espécimes emblocados foram dispostos em lâminas
de vidro e desparafinizadas em estufa a 60ºC por três horas, seguidos de três
banhos de xilol (cinco minutos cada). Após reidratação em série decrescente
27
de álcool, as lâminas foram incubadas em solução de picrosirius red (ScyTek®)
por 30 minutos e lavadas rapidamente em dois banhos de ácido clorídrico 5%,
contracorados com hematoxilina de Harris por 45 segundos e montadas com
Enhtellan®. As lâminas foram analisadas em microscópio de luz polarizada
(Leica® modelo DM 2000), o que permite visualizar o colágeno tipo I com
coloração vermelho-alaranjada e o colágeno tipo III com coloração verde.
Para análise dos diferentes tipos de colágeno na região da dentina e do
ligamento periodontal, foi realizada uma análise qualitativa, na qual um
avaliador, previamente treinado e de forma cega, observou a predominância de
colágenos tipo I e III, em cada uma das amostras.
Para quantificação dos diferentes tipos de colágeno na região do
ligamento periodontal, três campos de cada amostra em região cervical
(associada ao limite cervical do cemento) e apical (associada ao forame
apical), em um aumento de 200x, foram fotografados através de câmera
(Sony® modelo DFC 295) acoplada ao Microscópio Leica® DM 2000. As
fotomicrografias foram avaliadas pelo software de análise de imagem Image J®
(RSB). As regiões que não correspondiam ao ligamento periodontal foram
selecionadas através do comando Freehand Selection e eliminadas (Edit>Cut).
Posteriormente, foi realizada a calibração dos canais de cores das imagens
pelo comando Color Thershold (Image > Adjust > Color Thersold) na função
RGB para as cores Vermelho (Mínimo de 71 e Máximo de 255), Verde (Mínimo
de zero e Máximo de 69) e Azul (Mínimo de 0 e Máximo de 92). Depois da
calibração, as imagens foram convertidas para a escala de cor de 8-bits (Image
> Type > 8-bit), binarizadas (Process > Binary > Make Binary) e foi mensurada
a porcentagem de área de colágeno marcada em vermelho (Analyse > Analyse
Particles) (adaptado de ANDRADE et al., 2011)22.
Após a polarização de luz, o mesmo protocolo foi realizado, ajustando-
se as cores na função RGB para Vermelho (Mínimo de 71 e Máximo de 255),
Verde (Mínimo de zero e Máximo de 69) e Azul (Mínimo de 0 e Máximo de 92).
Após ajuste, as imagens foram convertidas para a escala de cor de 8-bits
(Image > Type > 8-bit), binarizadas (Process > Binary > Make Binary), e foi
mensurada a porcentagem de área de colágeno marcada em amarelo-
avermelhado (correspondente ao colágeno tipo I). Em seguida, do total da área
28
marcada em vermelho, foi separado o percentual da região ocupada somente
pela marcação amarelo-avermelhada. A área verde-esbranquiçada, relativa ao
colágeno tipo III, foi obtida pela subtração da região total marcada em vermelho
e o percentual marcado unicamente pela cor amarelo-avermelhada (adaptado
de ANDRADE et al., 2011)22.
ANÁLISE ESTATÍSTICA
Os dados foram submetidos ao teste de normalidade de
Kolmogorov-Smirnov e comparados por meio do teste ANOVA, seguido do pós-
teste de Bonferroni [nível de significância: 5%, dados paramétricos descritos na
forma: média ± erro-padrão da média (EPM)].
RESULTADOS
Análise qualitativa do ligamento periodontal
Nos dentes pertencentes ao GC, as fibras se mostravam longas e
embotadas, com distribuição acentuada de colágeno tipo I no terço cervical e
tipo III no terço apical. A distribuição dos diferentes tipos de colágeno se
mostrou alterada nos dentes irradiados. Em relação ao GE I, o perfil de
organização das fibras de colágeno mudava sua conformação. As fibras se
dispunham de forma menos difusa, mas organizadas, e, no terço cervical,
predominou o colágeno tipo I, ao passo que no terço apical predominou o
colágeno tipo III. Em relação ao GE II, as fibras de colágeno, por vezes
escassas, dispunham-se de forma difusa, desorganizadamente arranjadas e
não havia um padrão de predominância do subtipo de colágeno por regiões da
raiz dentária. Havia zonas de predominância ora de colágeno tipo I, ora de
colágeno tipo III, independente da região. (Figura 1 e figura 2).
Análise quantitativa do ligamento periodontal
29
Não houve diferença entre os valores de percentual de área de
colágeno dos ligamentos periodontais do GC (18.8±4.1%), GE I (14.7±2.7%) ou
GE II (15.5±2.4%) (p=0.619).
O percentual de área representada por colágeno tipo I se mostrou
significantemente reduzido nos grupos GE I (48.8±6.1%) ou GE II (49.1±5.0%)
em relação ao ligamento periodontal do GC (69.7±6.3%) (p=0.047). O
percentual de área representada por colágeno tipo III se mostrou
significantemente maior nos grupos GE I (51.2±6.1%) ou GE II (50.9±5.0%) em
relação ao ligamento periodontal do GC (24.8±5.1%) (p=0.006). (Gráfico 1).
A relação entre fibras de colágenos tipo I e III se mostrou
significantemente reduzida nos grupos irradiados quando comparados ao
controle. A proporção média de fibras tipo I no GE I foi de 1.1±0.2 para cada
fibra de colágeno tipo III. No GE II, a proporção média de fibras tipo I foi
1.1±0.1 para cada fibra de colágeno tipo III. Por outro lado, a proporção média
de fibras tipo I no GC foi na ordem de 2.5±0.3 para cada fibra de colágeno tipo
III (p=0.005). (Gráfico 2).
Análise qualitativa da dentina
Em relação à dentina, observou-se, no GC, uma predominância de
colágeno tipo I na região peripulpar e mais periférica, adjacente ao cemento. O
colágeno tipo III predominava na região central entre essas duas regiões.
O GE I apresentou predominância de colágeno tipo III na região
próxima à polpa, e de colágeno tipo I nas regiões mais periféricas em relação à
polpa, com pouco ou quase nenhum colégano tipo I na região peripulpar. Além
disso, observou-se que a proporção de colágeno tipo I era maior no terço
apical, quando comparado ao terço médio e cervical.
O GE II apresentou predominância de colágeno tipo III,
principalmente no terço apical. Além disso, nota-se, no terço apical, uma
desorganização do padrão de fibras colágenas, visualizando-se uma perda da
conformação dos túbulos dentinários. As regiões correspondentes a lesões
cariosas também apresentaram uma predominância de colágeno tipo III
perilesionalmente. (Figura 1 e figura 2).
30
DISCUSSÃO
As cáries de radiação são tidas como resultado da combinação de
higiene oral deficiente, aumento da ingestão de alimentos ricos em açúcar e
carboidratos, alterações salivares que resultam em deficiência dos mecanismos
de auto-limpeza oral e diminuição da imunocompetência local associados aos
efeitos destrutivos diretos dos tecidos dentais duros23. Essas cáries são,
portanto, o resultado da interrelação de inúmeros fatores intrínsecos e
extrínsecos do hospedeiro24.
Em relação aos dentes incluídos no campo de radiação, foi sugerido
que a destruição do colágeno contido na polpa dentária contribui para fibrose
secundária e diminuição da sua microvascularização e metabolismo,
interferindo, portanto, sobre o metabolismo dos odontoblastos: a obliteração
dos túbulos dentinários precedida pela degeneração dos processos
odontoblásticos mostrou-se ser o principal resultado do dano radiogênico
celular direto6,24. Estudiosos sugeriram que um déficit no metabolismo
combinado com o dano latente do parênquima pulpar resultaram em cáries de
subsuperfície25. Essas lesões seriam o principal fator de contribuição para o
rápido e atípico progresso das cáries de radiação que não seriam justificados
apenas pela hipossalivação26.
O aumento da quantidade de colágeno tipo III e a diminuição do
colágeno tipo I nas regiões peripulpares da dentina dos dentes submetidos a
radiação podem, em parte, ser explicados pela alteração do metabolismo e
degradação dos odontoblastos associados à formação de uma dentina mais
primitiva, dada a rápida progressão das lesões de cárie por radiação.
Estudos in vitro evidenciaram a presença de alterações em esmalte e
dentina de dentes submetidos a radiação11,25,27. Outros estudos demonstraram
que a radiação não apresenta efeitos diretos na estrutura inorgânica de dentes
humanos, sendo as alterações dentárias observadas em pacientes com
neoplasia maligna de cabeça e pescoço após RT devidas a alterações na
matriz orgânica dos seus tecidos28,29. De fato, análises em microscopia
eletrônica do esmalte revelaram alterações morfológicas estruturais mais
31
significativas da sua região interprismática (superfície e junção amelo-
dentinária), o que corresponde à sua matriz orgânica. É provável que as
alterações nessas regiões, que concentram água, resultem de radicais livres e
de acúmulo de espécies reativas de oxigênio que podem reagir e danificar os
componentes orgânicos. Sugere-se que, por conta das alterações estruturais
sofridas, o esmalte seja menos resistente ao ataque ácido após radiação25,27.
Contudo, a aplicação de radiação não promove alterações significativas da
microdureza do esmalte dentário como um todo30.
O mesmo estudo de análise em microscopia eletrônica, ao avaliar a
dentina de dentes permanentes após as doses de radiação acumuladas de 30
e 60 Gy, revelou degradação de colágeno e alterações micro-morfológicas
generalizadas, evidenciadas pela presença de obliteração dos túbulos
dentinários e fissuras na estrutura dentinária, além da fragmentação da rede de
fibras de colágeno, possivelmente resultante da perda de sua hidratação, o que
torna o tecido seco e friável25, achados estes que estão de acordo com os
resultados do presente trabalho. Irradiação de proteínas provoca alterações em
suas estruturas secundárias e terciárias, com efeitos nocivos sobre a
hidratação das fibras de colágeno pela ação de radicais livres31.
A radiação ionizante apresenta efeitos diferentes sobre a microdureza
do esmalte e dentina. Uma possível explicação pode ser o fato de a dentina
apresentar teor de água maior do que o esmalte - 10% versus 4% em peso32.
Um fato conhecido é que a radiação atua sobre a água conduzindo à formação
de radicais livres e peróxido de hidrogênio. Desta forma, o tecido com maior
teor de água pode ser mais vulnerável aos efeitos de radiação do que outro
com menor teor. As alterações micro-morfológicas da dentina também podem
explicar a diminuição progressiva da sua microdureza com o aumento da
dosagem de radiação. Como a dentina promove suporte ao esmalte, uma
dentina mais macia se torna menos eficiente, permitindo a ocorrência de
fraturas e trincas na estrutura de esmalte30.
Um estudo que comparou a fração de fragmentos de colágeno de
tecidos dentários mineralizados irradiados versus não irradiados não detectou
diferenças nas concentrações de Hidroxilisilpiridinolina (HP) e Lisilpiridinolina
32
(LP), que são ligações trivalentes cruzadas de colágeno maduro (a primeira
encontrada virtualmente em todos os tecidos maduros, e a segunda, na dentina
e osso)9, implicando que a quantidade de colágeno danificado é equivalente
nos dois grupos e que os danos radiogênicos de colágeno da dentina e esmalte
não desempenham um papel crucial no curso do desenvolvimento das cáries
de radiação. Essa constatação foi suportada pelo argumento de que a dentina
e o esmalte apresentam relativa baixa concentração de colágeno24. Tal
constatação diverge do que evidencia o presente trabalho. Vale salientar que a
dose de radiação utilizada no referido estudo foi de 31.5 Gy, bastante abaixo
da dosagem utilizada em RT para tratamento de neoplasias malignas de
cabeça e pescoço, e que a medição de HP e LP representa apenas a
mensuração de fragmentação dessas fibras e, portanto, sua estabilidade.
Outros autores descobriram que as propriedades mecânicas da
dentina irrradiada in vitro foram afetadas apenas após doses experimentais
acima de 500 Gy, sugerindo que danos radiogênicos diretos sem cofatores
adicionais, como hipossalivação, não afetam significativamente os tecidos
dentais duros11.
O ligamento periodontal desempenha um papel importante na
dissipação da força mecânica, remodelação óssea alveolar e na manutenção
do equilíbrio fisiológico do tecido periodontal33. Como componentes essenciais
da matriz extracelular do ligamento periodontal, colágenos do tipo I e III estão
intimamente correlacionados com os danos, reparação e regeneração do tecido
periodontal, exercendo importante função no metabolismo dessa matriz34. Todo
colágeno tipo I pode integrar-se com receptores de integrina α1 e β2 na
membrana dos osteoblastos e facilitar a diferenciação osteoblástica35,36.
Diminuição da vascularidade e acelularidade do ligamento periodontal
com ruptura, diminuição da sua espessura, desorientação das suas fibras e
alargamento do espaço periodontal após radiação são achados que já foram
relatados37 e são comuns a alguns dos achados do presente trabalho.
Alterações no cemento (acelularidade e capacidade de regeneração diminuída)
e no ligamento periodontal podem predispor a infecção. Tal predisposição à
infecção periodontal também é potencializada pela hipossalivação
radioinduzida, aumento do acúmulo de placa e alteração da microbiota oral. A
33
relativa baixa prevalência de periodontite crônica avançada está relacionada ao
aparecimento das cáries dentais. Uma vez que a cárie de radiação se
desenvolve, sua progressão é tão rápida que o dente afetado é perdido antes
que a doença periodontal possa ocorrer7. Todos os dentes extraídos dos
pacientes submetidos a RT, no presente trabalho, tiveram como indicação
cáries de radiação.
Alguns estudos apontam que os efeitos diretos e indiretos da RT sobre
o periodonto resultam em risco aumentado de perda de inserção periodontal,
perda dentária e, por consequência, risco aumentado de desenvolvimento de
ORN. Portanto, os pacientes portadores de neoplasias malignas de cabeça e
pescoço candidatos a RT devem passar por um plano de tratamento
periodontal prévio38,39. Esse potencial de perda de inserção pode explicar, em
parte, a diminuição da predominância do colágeno tipo I na porção cervical
(região onde se iniciam as alterações periodontais) dos dentes submetidos a
mais de 60 Gy de radiação, encontrada neste trabalho.
Um estudo realizado para avaliar as alterações da atividade biológica
do cemento após radiação ɣ verificou que as substâncias (dentre elas o TGF-β,
que apresenta acentuada importância à produção e maturação de colágeno)
que aumentam a secreção de osteoprogerina e fator inibidor de
osteoclastogênese dos fibroblastos presentes no cemento irradiado são
destruídas pela exposição à radiação. Consequentemente, a proliferação de
osteoblastos no cemento não pode ser controlada, havendo uma tendência a
anquilose40. Tal fato pode justificar, em parte, a maior predominância de
colágeno tipo I nas regiões da dentina mais próximas ao cemento nos dentes
não irradiados e nos dentes irradiados submetidos a menos de 60 Gy bem
como a maior predominância de colágeno tipo III em todas as regiões da
dentina dos dentes submetidos a 60 ou mais Gy de radiação deste presente
trabalho.
CONCLUSÕES
34
Conclui-se que a radiação ionizante promove alterações do perfil de
colágeno da dentina e do ligamento periodontal de dentes submetidos a RT de
cabeça e pescoço, o que foi evidenciado pela significância estatística percebida
em da diminuição colágeno tipo I e elevação do colágeno tipo III dos dentes
que foram submetidos a radiação em comparação a dentes hígidos não
irradiados. Tais alterações podem exercer um papel de destaque na instalação
e desenvolvimento de cáries ou eventual doença periodontal dos dentes dos
pacientes que são submetidos a RT para tratamento de neoplasias malignas de
cabeça e pescoço. Contudo, é coerente destacar a necessidade de mais
estudos para elucidar a real participação da alteração do padrão de colágeno
dos tecidos dentais irradiados sobre a etiopatologia e desenvolvimento das
cáries de radiação e doença periodontal.
COLABORADORES
Drª. Ana Paula Negreiros Nunes Alves, Paulo Goberlânio Barros Silva,
Alceu Machado de Sousa e Elisa Lima Verde participaram no suporte técnico
nas fases laboratoriais da pesquisa.
AGRADECIMENTOS
Ao Pró-Ensino na Saúde, por meio da Coordenação de Aperfeiçoamento
de Nível Superior (CAPES), pela concessão da bolsa de mestrado.
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38
GRÁFICOS
Gráfico 1: Quantificação do colágeno no ligamento periodontal de dentes de
pacientes submetidos a diferentes doses de radioterapia de cabeça e pescoço.
(*p<0.05 versus grupo controle; média ± erro-padrão).
Gráfico 2: Avaliação da relação de fibras de colágeno tipo I:III no ligamento
periodontal de dentes de pacientes submetidos a diferentes doses de
radioterapia de cabeça e pescoço. (*p<0.05 versus grupo controle; média ±
erro-padrão).
39
FIGURAS
Figura 1: Fotomicrografias de dentes irradiados (≥ 60 Gy e < 60 Gy), mostrando
alteração no perfil de colágenos tipo I e tipo III em dentina e em ligamento
periodontal. (Picrosirius Red sob luz polarizada, 200X)
Figura 2: Fotomicrografias de dentes irradiados cariados (< 60 Gy e ≥ 60 Gy),
mostrando alteração no perfil de colágenos tipo I e tipo III em dentina
perilesional. (Picrosirius Red sob luz polarizada, 200X)
40
Figura 3: Fotomicrografias de dentes hígidos não irradiados, mostrando o perfil
de colágenos tipo I e tipo III em dentina e ligamento periodontal. (Picrosirius
Red sob luz polarizada, 200X)
41
4 CONCLUSÃO GERAL
A análise dos resultados desta pesquisa permitiu observar que ocorrem
alterações dose-dependentes no perfil de colágeno tipo I e colágeno tipo III em
dentina e ligamento periodontal de dentes incluídos nos campos de radiação de
pacientes submetidos a RT para tratamento de neoplasias malignas de cabeça
e pescoço.
Adicionalmente, as alterações percebidas em relação à predominância
anatômica da dentina e ligamento periodontal bem como em nível quantitativo
do ligamento periodontal sugerem que essa alteração do perfil de colágeno
interfere sobre a etiopatogênese das cáries de radiação e doença periodontal
de dentes incluídos nos campos de radiação.
42
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