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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ DEPARTAMENTO DE PATOLOGIA E MEDICINA LEGAL PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PATOLOGIA MÔNICA COELHO ANDRADE AVALIAÇÃO DA RESPOSTA ELETROCARDIOGRÁFICA E SOROLÓGICA AO TRATAMENTO COM BENZONIDAZOL EM PACIENTES NA FASE CRÔNICA DA DOENÇA DE CHAGAS FORTALEZA 2013

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ

DEPARTAMENTO DE PATOLOGIA E MEDICINA LEGAL

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PATOLOGIA

MÔNICA COELHO ANDRADE

AVALIAÇÃO DA RESPOSTA ELETROCARDIOGRÁFICA E SOROLÓGICA AO

TRATAMENTO COM BENZONIDAZOL EM PACIENTES NA FASE CRÔNICA DA

DOENÇA DE CHAGAS

FORTALEZA

2013

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MÔNICA COELHO ANDRADE

AVALIAÇÃO DA RESPOSTA ELETROCARDIOGRÁFICA E SOROLÓGICA AO

TRATAMENTO COM BENZONIDAZOL EM PACIENTES NA FASE CRÔNICA DA

DOENÇA DE CHAGAS

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Patologia da Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial para obtenção do Título de Mestre em Patologia. Orientador: Prof. Dr. Fernando Schemelzer Moraes Bezerra Co-orientadora: Prof(a). Dr(a). Maria de Fátima Oliveira

FORTALEZA

2013

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MÔNICA COELHO ANDRADE

AVALIAÇÃO DA RESPOSTA ELETROCARDIOGRÁFICA E SOROLÓGICA AO

TRATAMENTO COM BENZONIDAZOL EM PACIENTES NA FASE CRÔNICA DA

DOENÇA DE CHAGAS

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Patologia, da Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial para obtenção do Título de Mestre em Patologia.

Aprovada em:-----/-----/-----.

BANCA EXAMINADORA

Prof. Dr. Fernando Schemelzer Moraes Bezerra (Orientador) Universidade Federal do Ceará (UFC)

Prof. Dr. Ivo Castelo Branco Coelho Universidade Federal do Ceará (UFC)

Prof(a). Dr(a). Marli Maria Lima Instituto Oswaldo Cruz (IOC)

Prof(a). Dr(a). Maria Jânia Teixeira Universidade Federal do Ceará (UFC)

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Dedico esse trabalho primeiramente a Deus e

depois a minha querida família.

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente a Deus, por ser meu alicerce e guia, em todos os momentos da

minha vida. Sem Ele, nada seria possível, obrigada meu Pai.

A toda a minha família, pelo apoio incondicional, principalmente aos meus pais,

que tanto me escutaram em momentos onde achei que não iria conseguir.

A todos os meus amigos da Comunidade Recado, muito obrigada pelas orações e

pela torcida. Principalmente ao Pérsio Veloso, que além de melhor amigo é um namorado

dedicado e companheiro.

Aos pacientes portadores de doença de Chagas, que sempre se esforçaram em

comparecer aos atendimentos, apesar da distância e das dificuldades financeiras.

A alguns anjos que Deus colocou no meu caminho, que de uma maneira ou de

outra me ajudaram a concluir esse trabalho: Darlan Cândido, Erlane Freitas, Laíse dos Santos,

Renan Rolim, José Damião, Kátia Cristina, Jáder Canuto, João Paulo Ramalho, Arduína

Vasconcelos e Juliane Alemida, muito obrigada por tudo.

Ao Danilo Lima (interno) e Dr. Marcondes Tavares Cruz (cardiologista), que

foram pessoas imprescindíveis na realização da avaliação eletrocardiográfica dos pacientes.

À enfermeira Valdênia e a técnica Shirlei Ximenes, que tanto colaboraram na

realização de exames.

Ao HEMOCE, pelo fornecimento de reagentes importantes.

Ao Laboratório de Cultivo Celular (LCC), que tanto colaborou no cultivo dos

parasitos (principalmente a Ticiana Praciano).

Aos professores Ivo Castelo Branco Coelho e Aparecida Tiemi Nagao Dias pela

amizade e pelas orientações valiosas as quais recebi.

Ao professor Fernando Schemelzer Moraes Bezerra por ter aceitado ser meu

orientador, me dando a oportunidade de fazer parte do programa de pós-graduação em

Patologia. Muito obrigada pela confiança.

À professora Maria de Fátima Oliveira, por ser não somente uma orientadora

como também uma conselheira nos momentos de dificuldade.

À Universidade Federal do Ceará (UFC), pelos conhecimentos adquiridos.

À CAPES (REUNI), pelo apoio financeiro necessário para que o presente trabalho

pudesse ser desenvolvido.

A todos que, de alguma forma contribuíram para esta construção.

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“Nada te perturbe, nada te espante, tudo passa,

Deus não muda, a paciência tudo alcança; Quem

a Deus tem nada lhe falta, só Deus basta”.

(Santa Tereza D’avila)

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RESUMO

A doença de Chagas (DC) é uma patologia de natureza endêmica, causada pelo protozoário

Trypanosoma cruzi, com pronunciada relevância entre as doenças cardíacas. Foi descrita

oficialmente em 1909 e mesmo após mais de um século de sua descoberta ainda representa

um problema de saúde pública. O objetivo deste trabalho foi avaliar a efetividade da

quimioterapia com Benzonidazol (Bz) em pacientes chagásicos crônicos através de análise

sorológica e eletrocardiográfica. Trata-se de um estudo prospectivo não concorrente e

concorrente, onde os pacientes foram acompanhados sorologicamente uma vez ao ano depois

do tratamento, a partir de 2005, 2006 ou 2007 (antes do tratamento) até 2011. A avaliação

eletrocardiográfica foi realizada no início (2005 a 2007) e final da pesquisa (2011). Os

pacientes foram tratados com Bz na dosagem de 5mg/Kg/dia em duas a três tomadas diárias

durante 60 dias. A análise sorológica foi realizada através das técnicas de ELISA (Ensaio

Imunoenzimático) e IFI (Imunofluorescência indireta). A avaliação eletrocardiográfica foi

feita através dos eletrocardiogramas (ECG) realizados no Hospital Universitário Walter

Cantídio e disponíveis nos prontuários dos pacientes. Foram acompanhados 31 pacientes, 20

(64,5%) do sexo masculino e 11 (35,5%) do feminino, de 25 a 64 anos, dos quais 51,6%

(16/31) cursaram o primeiro grau incompleto e 22,6% (7/31) eram agricultores. A análise

sorológica através do teste ELISA demonstrou queda significativa da densidade óptica das

amostras coletadas antes (2005 a 2007) em relação às amostras pós-tratamento (2011). Com

relação à IFI, os pacientes mantiveram-se inalterados durante o segmento (variação de no

máximo uma diluição entre a amostra basal e 2011). No que diz respeito à avaliação

eletrocardiográfica, 76,2% (16/21) apresentaram manutenção dos laudos eletrocardiográficos

ao longo do estudo, com exceção de cinco casos. Um dos pacientes excluído da análise

eletrocardiográfica (não existia ECG realizado em 2011) necessitou de um implante de

desfibrilador ao longo do acompanhamento (2010). Em conclusão, pode-se afirmar que

embora o Bz apresente efetividade limitada em pacientes na fase crônica da DC, este estudo

demonstrou um efeito benéfico do medicamento na maioria dos pacientes acompanhados, já

que a maioria destes apresentou manutenção dos laudos eletrocardiográficos e a sorologia

mostrou uma tendência à queda. Entretanto, faz-se necessário um período maior de segmento,

já que o tempo de acompanhamento deste estudo (5 a 7 anos) é considerado curto para

pacientes na fase crônica da doença.

 

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Palavras-chave: Doença de Chagas, benzonidazol, efetividade, sorologia, avaliação eletrocardiográfica.

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ABSTRACT

Chagas disease (CD) is a pathology of endemic nature, caused by the protozoan Trypanosoma

cruzi, with pronounced relevance between heart disease. It was officially described in 1909

and even after more than a century of its discovery is still a public health problem. The aim of

this study was to evaluate the effectiveness of chemotherapy with Benznidazole (Bz) in

patients with chronic Chagas disease by serological analysis and electrocardiography. This is

a prospective non-concurrent and concurrent study, where patients were followed

serologically once a year after treatment, from 2005, 2006 or 2007 (before treatment) until

2011. The electrocardiographic evaluation was performed at baseline (2005-2007) and end of

the study (2011). The patients were treated with Bz in dose of 5mg/kg/day in two to three

daily doses for 60 days. The serological analysis was conducted, through the techniques of

ELISA (enzyme immunoassay) and IIF (indirect immunofluorescence). The

electrocardiographic evaluation was performed at the University Hospital Walter Cantídio

through the electrocardiograms (ECG) available in patient charts. This study followed 31

patients, 20 (64,5%) male and 11 (35,5%) female, from 25 to 64 years, where 51.6% (16/31)

did not finish high school and 22,6% (7/31) were farmers. Serological analysis by ELISA

demonstrated a significant decrease in the optical density of the samples collected before

(2005 to 2007) when compared with the samples after treatment (2011). Now with regard to

IIF, patients remained unchanged during the segment (variation in a maximum of a dilution of

the sample between baseline and 2011). Regarding the electrocardiographic evaluation, 76.2%

(16/21) showed maintenance of electrocardiographic reports throughout the study, with the

exception of cinco cases. One patient was excluded from analysis electrocardiographic (there

wasn’t ECG performed in 2011) required a defibrillator implantation during follow-up (2010).

In conclusion, one can say that although Bz presents limited effectiveness in patients in the

chronic phase of CD, this study demonstrated a beneficial effect of the drug in most followed

patients, as the majority of these reports showed maintenance of electrocardiographic and

serology showed a downward trend. However, it is necessary a longer segment, since the

follow-up period of this study (5-7 years) is considered short for patients in the chronic phase

of the disease.

Keywords: Chagas disease, benznidazole, effectiveness, serology, electrocardiographic

evaluation.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

FIGURA 1 - Ciclo evolutivo do Trypanosoma cruzi............................................... 16

FIGURA 2 - Migração de indivíduos infectados com o Trypanosoma cruzy para

áreas não endêmicas............................................................................

19

FIGURA 3 - Representação das ondas do ECG....................................................... 26

FIGURA 4 - Medidas no papel de ECG: Traçado eletrocardiográfico, segundos e

voltagem (milivolts – Mv)..................................................................

27

FIGURA 5 - Representação do Complexo QRS e do Intervalo QT........................ 28

FIGURA 6 -  Mecanismo de ação do benzonidazol.................................................. 31

FIGURA 7 -  Bz fabricado pela Roche (Rochagan, à esquerda) e pelo LAFEPE (à

direita).................................................................................................

31

FIGURA 8 -  Delineamento do estudo...................................................................... 40

FIGURA 9 -  Esquema do período do estudo........................................................... 41

FIGURA 10 -  Atendimento aos pacientes.................................................................. 42

FIGURA 11 -  Esquema do acompanhamento sorológico antes e após tratamento

com Bz em pacientes chagásicos crônicos (realizado 1 vez ao ano)..

43

FIGURA 12 - Mapa do estado do Ceará mostrando as 4 principais cidades de

onde os pacientes eram provenientes: Russas (19,4%), Limoeiro do

Norte (16,1%), Jaguaruana (12,9%) e Quixeramobim (12,9%)..........

50

GRÁFICO 1 -  Comparação entre as médias das densidades ópticas em amostras de

soro de 30 pacientes chagásicos crônicos tratados com Bz com 5 a 7

anos de segmento................................................................................

52

GRÁFICO 2 -  Acompanhamento sorológico de 11 pacientes chagásicos crônicos

tratados com Bz e acompanhados por 6 anos ininterruptos................

53

GRÁFICO 3 -  Acompanhamento sorológico de 13 pacientes chagásicos crônicos

tratados com Bz e acompanhados por 5 anos

ininterruptos........................................................................................

53

GRÁFICO 4 -  Avaliação por IFI de 30 pacientes chagásicos crônicos tratados com

Bz com 5 a 7 anos de acompanhamento............................................. 

55

QUADRO 1 -  Suspensão do tratamento devido ao surgimento de Reações

Adversas ao Bz....................................................................................

47

QUADRO 2 - Avaliação eletrocardiográfica de 21 pacientes chagásicos crônicos

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antes (2005 a 2007) e após tratamento com Bz (2011)....................... 56

QUADRO 3 -

Relação entre o acompanhamento sorológico e eletrocardiográfico

em pacientes chagásicos crônicos tratados com Bz............................

59

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LISTA DE TABELAS

TABELA 1 - Distribuição segundo sexo e faixa etária de 31 pacientes chagásicos

crônicos tratados com Bz........................................................................

48

TABELA 2 - Nível de escolaridade.............................................................................. 48

TABELA 3 - Profissão dos pacientes acompanhados pelo estudo............................... 49

TABELA 4 - Distribuição dos pacientes segundo naturalidade................................... 50

TABELA 5 - Distribuição dos 31 pacientes segundo local de residência...................... 51

TABELA 6 -  Evolução sorológica de 30 pacientes chagásicos crônicos tratados com

Bz, com 5 a 7 anos de segmento.............................................................

54

TABELA 7 -  Comparação da duração da curva QRS antes e após tratamento com

Bz de 21 pacientes chagásicos crônicos..................................................

57

TABELA 8 -  Comparação entre a frequência cardíaca (FC) antes e após tratamento

com Bz em 21 pacientes chagásicos crônicos.........................................

57

TABELA 9 -  Análise do intervalo QT e intervalo QT corrigido antes e após

tratamento com Bz em 21 pacientes chagásicos crônicos......................

58

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AL Anticorpos Líticos

ASC Anticorpos da sorologia convencional

ARV Alteração da repolarização ventricular

Bz Benzonidazol

BRD

BIRD

Bloqueio de ramo direito

Bloqueio incompleto do ramo direito 

BDAS Bloqueio divisional ântero-superior

CCC Cardiopatia chagásica crônica

DACT Departamento de Análises Clínicas e Toxicológicas

ECG Eletrocardiograma

ELISA Ensaio imunoenzimático

ESV

ES

Extrassístole ventricular

Evolução sorológica

FC Frequência cardíaca

IFI Imunofluorescência indireta

ICC

IFN-γ

KDa

Insuficiência Cardíaca Congestiva

Interferon gama

Kilo Daltons

LPDC Laboratório de Pesquisa em doença de Chagas

LAFEPE Laboratório Farmacêutico do Estado de Pernambuco

LIT Liver Infusion Triptose

NK

Nf

OD

Natural Killer

Nifurtimox

Odds Ratio

PCR

QTc

Reação em Cadeia da Polimerase

QT corrigido

RAM

TNF-α

Reação Adversa a Medicamento

Fator de Necrose Tumoral alfa

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO................................................................................................ 15

1.1 Considerações Gerais sobre doença de Chagas............................................. 15

1.2 Ciclo evolutivo do Trypanosoma cruzi............................................................. 15

1.3 Cepas do Trypanosoma cruzi........................................................................... 16

1.4 Transmissão...................................................................................................... 17

1.5 Aspectos epidemiológicos................................................................................. 18

1.6 Manifestações da doença de Chagas............................................................... 20

1.7 Cardiopatia chagásica...................................................................................... 22

1.7.1 Bradiarritmias.................................................................................................... 23

1.7.1.1 Doença do nó sinusal, bloqueios intraventriculares e bloqueios

atrioventriculares...............................................................................................

23

1.7.2 Taquiarritmias................................................................................................... 23

1.8 Seguimento clínico............................................................................................ 24

1.9 Fundamentos eletrocardiográficos.................................................................. 25

1.9.1. Complexo QRS e Intervalo QT......................................................................... 27

1.10 Resposta imunológica na doença de Chagas.................................................. 28

1.10.1 Auto-imunidade................................................................................................. 29

1.11 Tratamento etiológico da doença de Chagas.................................................. 30

1.12 Reações adversas ao benzonidazol.................................................................. 33

1.13 Perspectivas de novos tratamentos................................................................. 35

1.14 Critérios de cura............................................................................................... 37

2 OBJETIVOS..................................................................................................... 39

2.1 Objetivo Geral................................................................................................... 39

2.2 Objetivos Específicos........................................................................................ 39

3 METODOLOGIA............................................................................................. 40

3.1 Delineamento e período de estudo................................................................... 40

3.2 Tratamento........................................................................................................ 41

3.3 Local e casuística.............................................................................................. 41

3.4 Amostragem, critérios de inclusão e exclusão................................................ 42

3.5 Análise sorológica............................................................................................. 43

3.5.1 Ensaio Imunoenzimático (ELISA).................................................................... 43

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3.5.2 Imunofluorescência indireta (IFI).................................................................... 44

3.5.2.1 Reação de IFI..................................................................................................... 44

3.6 Avaliação eletrocardiográfica.......................................................................... 45

3.7 Aspectos éticos................................................................................................... 46

3.8 Análise estatística.............................................................................................. 46

4 RESULTADOS................................................................................................. 47

4.1 Reações adversas que levaram a suspensão do tratamento com

benzonidazol......................................................................................................

47

4.2 Descrição do perfil sócio-demográfico............................................................ 47

4.3 Aspectos epidemiológicos................................................................................. 49

4.4 Análise sorológica............................................................................................. 51

4.5 Avaliação eletrocardiográfica.......................................................................... 55

4.6 Medicamentos utilizados.................................................................................. 59

4.7 Relatos de casos................................................................................................. 60

5 DISCUSSÃO..................................................................................................... 62

6 CONCLUSÕES................................................................................................ 71

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................... 72

REFERÊNCIAS................................................................................................ 73

APÊNDICE A................................................................................................... 85

APÊNDICE B.................................................................................................... 87

APÊNDICE C................................................................................................... 90

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15  

1 INTRODUÇÃO

1.1 Considerações Gerais sobre doença de Chagas

A doença de Chagas (DC) foi descrita oficialmente pelo médico brasileiro Carlos

Chagas em 1909. Trata-se de uma patologia de natureza endêmica, causada pelo protozoário

hemoflagelado Trypanosoma cruzi, com pronunciada relevância entre as doenças cardíacas.

Essa endemia era restrita às regiões das Américas, principalmente América Latina, mas se

espalhou para outros continentes e hoje se tornou uma preocupação mundial que pode ter

consequências graves para a saúde humana, deixando para trás o estereótipo de uma doença

zoonótica que afetava exclusivamente a população rural e menos favorecida da América

Latina (COURA; VIÑAS, 2010; LESLIE, 2011). Estima-se que 10 milhões de pessoas

estejam infectadas no mundo (LESLIE, 2011).

1.2.1 Ciclo evolutivo do Trypanosoma cruzi

O ciclo de vida do T. cruzi (Figura 1) envolve vários estágios morfologicamente

distintos alternados entre hospedeiros vertebrados (mamíferos) e invertebrados (insetos

vetores), com estágios de desenvolvimento específicos para cada hospedeiro. O ciclo se inicia

quando o triatomíneo infectado (barbeiro) exerce o hematofagismo no hospedeiro vertebrado

e elimina, através das fezes e urina, as formas infectantes (tripomastigotas metacíclicas) que

penetram pelas mucosas ou regiões lesadas da pele do hospedeiro. No interior das células, os

tripomastigotas se diferenciam em amastigotas, que se multiplicam por divisão binária.

Quando as células estão repletas de amastigotas, estas novamente transformam-se em

tripomastigotas e com a ruptura da célula hospedeira disseminam-se pela corrente sanguínea,

sendo capazes de infectar novos tecidos e órgãos. Durante um novo repasto sanguíneo, em

indivíduo ou animal infectado, as formas tripomastigotas podem ser ingeridas pelos

triatomíneos. No intestino do inseto vetor, essas formas se diferenciam para epimastigotas,

que sofrem intensa multiplicação ao longo do tubo digestivo e, ao atingir a ampola retal,

novamente se transformam em tripomastigotas metacíclicas, a forma infectante para os

mamíferos, completando assim o ciclo (PIRES, 2007).

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16  

Figura 1 - Ciclo evolutivo do Trypanosoma cruzi.

Fonte: Doença de Chagas, Tripanossomíase Americana, Parasitologia Médica. 1.3 Cepas do Trypanosoma cruzi

Em 1999, diante da confirmação da existência de duas linhagens do T. cruzi

(revisto em ZINGALES et al., 1999), um comitê de expertos decidiu padronizar a

nomenclatura destas linhagens em: T. cruzi I e T. cruzi II (ANÔNIMO, 1999). Em seguida,

foi dado andamento a uma série de estudos sobre a relevância epidemiológica e sobre a

genotipagem de isolados de reservatórios silvestres destas duas linhagens, permitindo concluir

que o T. cruzi I tem uma adaptação preferencial pelo ciclo silvestre, em gambás, por exemplo,

enquanto o T. cruzi II é mais característico do ciclo domiciliar, preferindo hospedar-se em

primatas, como o homem (FERNANDES et al., 1999; BRENIERE et al., 1998; ZINGALES

et al., 1998). Entretanto, com o avanço dos estudos e pesquisas sobre o DNA mitocondrial e o

próprio Projeto Genoma de T. cruzi, foi-se descobrindo e propondo a existência de novos

grupos e sub-grupos do parasito. Fato que levou a uma nova reunião, comitê realizado em

2009 (ZINGALES, 2011), a fim de padronizar novamente a nomenclatura do T. cruzi,

momento em que se dividiu em seis grupos (T. cruzi I – IV), onde cada grupo corresponde a

um DTU (“discrete typing unit”) definido como “um conjunto de isolados que é

geneticamente semelhante e que pode ser identificado por marcadores moleculares ou

imunológicos comuns” (TIBAYRENC, 1998). Segundo Zingales (2011), os DTUs III – IV

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17  

devem corresponder a organismos híbridos, provenientes de trocas genéticas, assim, cada um

desses grupos apresenta distribuição geográfica e manifestações patogênicas específicas de

cada DTU.

1.4 Transmissão

As principais formas de transmissão da DC para o homem são a vetorial,

transfusão sanguínea ou via congênita. Consideram-se formas alternativas a via oral,

transplantes de órgãos e via acidental (DIAS; MACÊDO, 2005; CONSENSO, 2005;

CHIEFFI; AMATO NETO, 2000). Com os avanços no controle dos vetores domiciliados e a

rigorosa seleção de doadores de sangue, as vias alternativas aumentaram sua relevância

(DIAS; AMATO NETO, 2011). A realização de programas multicêntricos no Brasil, região

Andina e América Central levaram a uma redução de 70% no número de novos casos na

América do Sul, causada principalmente pela interrupção das transmissões por transfusão de

sangue e pela eliminação do Triatoma infestans, até então considerado o principal vetor da

doença no Cone Sul. Como consequência, não tem sido observada infecções ativas

(NATURE, 2010 apud SHIKANAI-YASUDA; CARVALHO, 2012; DIAS; SILVEIRA;

SCHOFIELD, 2002). Atualmente, graças ao êxito alcançado pela eliminação de espécies de

hábitos domésticos (principalmente o T. infestans), os programas de controle da DC devem

concentrar-se em manter os bons resultados obtidos e impedir o surgimento e o

estabelecimento de novos focos de transmissão vetorial (CONSENSO, 2005).

Embora o T. infestans tenha sido um dos principais vetores do agente etiológico

da DC, esta espécie não é encontrada no estado do Ceará. Este fato foi observado por Alencar

(1987), no livro História Natural da doença de Chagas no Estado do Ceará, onde se fez um

resumo das informações e estudos existentes a respeito das espécies e distribuição geográfica

de triatomíneos no período de 1955/1983. No livro, o Triatoma brasiliensis foi descrito como

a principal espécie transmissora da DC no estado do Ceará, não existindo menção ao T.

infestans nos estudos realizados.

Nesse sentido, não se pode deixar de comentar a respeito da transmissão oral, que

está sendo considerada a principal via responsável por vários surtos da doença de Chagas no

Brasil, principalmente na região amazônica. Como exemplo, o caso ocorrido em Belém do

Pará, que apresentou 41 casos confirmados de DC em 2011 (até outubro), sendo que 24

ocorreram somente no mês de outubro. Esse surto estaria associado ao consumo de açaí,

alimento base do paraense, já que o barbeiro costuma ficar em áreas de várzea, onde o fruto

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18  

do açaí é colhido. Devido a baixas condições de higiene dos manipuladores o alimento

poderia ter chegado contaminado ao consumidor final, explicando a ocorrência do surto (G1,

2011).

Nesse contexto, pode-se relatar a microepidemia que ocorreu nos municípios de

Aratuba e Redenção, ambos localizados ao norte do Ceará. Foram atingidas oito pessoas

pertencentes a dois núcleos familiares, que estiveram juntas nas férias do mês de janeiro de

2006, duas mulheres e seis crianças, com idade variando entre 2 e 35 anos. Todos

apresentaram quadro inicial de febre, cefaléia, náuseas, vômitos, mialgia e diarreia. Três

semanas após o início dos sintomas apresentaram edema nos membros inferiores e de face.

Ao exame físico, além de edema, todos apresentaram hepatoesplenomegalia e

linfoadenomegalia. O diagnóstico foi confirmado através da demonstração direta de

amastigota nos linfonodos, tecido muscular e medula. Anticorpos IgM contra T. cruzi foram

detectados em soro pelo método de hemaglutinação indireta e todas as culturas foram

positivas. A possível fonte de contaminação foi uma sopa à qual tinham sido adicionados

coentro e cebolinha liquidificados, provenientes de uma horta domiciliar (CAVALCANTI et

al., 2009).

1.5 Aspectos epidemiológicos

Aproximadamente 10 milhões de pessoas estão infectadas pelo T. cruzi em todo o

mundo, principalmente na América Latina, onde a doença é endêmica e mais de 25 milhões

de pessoas estão expostas ao risco de adquirir a parasitose (WHO, 2010).

Principalmente devido aos movimentos populacionais, o T. cruzi pôde ser levado

de áreas endêmicas para não endêmicas, como América do Norte (Estados Unidos e Canadá),

o oeste do Pacífico (especialmente Japão e Austrália) e, mais recentemente, para a Europa

(sobretudo Bélgica, Espanha, França, Itália, Reino Unido e Suíça, e em menor grau,

Alemanha, Áustria, Croácia, Dinamarca, Holanda, Luxemburgo, Noruega, Portugal, Romênia

e Suécia). Segundo estimativas, acredita-se que haja mais de 300.000 indivíduos infectados

com o T. cruzi nos Estados Unidos, cerca 5.500 no Canadá, 80.000 na Europa e na região do

Pacífico ocidental, 3.000 no Japão e 1.500 na Austrália (Figura 5). Os movimentos

populacionais começaram a criar desafios epidemiológicos, econômicos, sociais e políticos.

Com a ausência de vetores naturais em áreas não endêmicas, as transfusões de sangue

contaminado, transmissão vertical de mãe para filho, transplante de órgãos e acidentes de

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19  

laboratório tornam-se as principais ameaças de transmissão da doença (SCHMUNIS;

YADON, 2010; SCHMUNIS, 2007; COURA; VIÑAS, 2010).

Figura 2 – Migração de indivíduos infectados com o T. cruzi para áreas não endêmicas.

Fonte: COURA; VIÑAS, 2010.

No Brasil, com aproximadamente três milhões de indivíduos infectados,

predominam os casos crônicos de DC decorrentes de infecções adquiridas no passado. A área

endêmica (com risco de transmissão vetorial) conhecida no final dos anos 70, incluía 18

estados com mais de 2.200 municípios, e destes, 711 com presença do T. infestans. Ações de

controle foram instituídas a partir de 1975 e desde então foram mantidas em caráter regular.

Essas ações levaram à uma redução da presença do T. infestans e, simultaneamente, da

transmissão do T. cruzi ao homem (PORTAL DE SAÚDE DO SUS, 2012). Entretanto, não se

pode deixar de comentar sobre a relevância do Triatoma brasiliensis, pois esta espécie foi a

segunda a ser registrada e a principal transmissora da DC no estado do Ceará. De acordo com

o livro História Natural da doença de Chagas, que mencionou um resumo dos estudos a

respeito das espécies e distribuição geográfica de triatomíneos no período de 1955/1983, o T.

brasilensis foi encontrado em 85,8% (121/141) dos municípios do estado (ALENCAR, 1987).

Atualmente, o perfil epidemiológico da doença no Brasil apresenta um novo

cenário, com a ocorrência de surtos e casos na Amazônia Legal por transmissão oral e

vetorial. Surtos de doença de Chagas aguda (DCA) relacionados à ingestão de alimentos

contaminados (caldo de cana, açaí, entre outros) e casos isolados por transmissão vetorial

extradomiciliar. No período de 2000 a 2011, registrou-se no Brasil 1.252 casos de DCA.

Destes, 70% (877/1.252) foram por transmissão oral, 7% por transmissão vetorial (92/1.252),

e em 22% (276/1.252) não foi identificada a forma de transmissão (PORTAL DE SAÚDE

DO SUS, 2012).

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20  

Com relação ao estado do Ceará, o inquérito sorológico nacional (1975-1980)

estimou em 0,8% a prevalência de infecção chagásica na população rural do estado

(CAMARGO, 1984). Nesse sentido, pode-se destacar também o estudo de Borges-Pereira et

al (2008), que realizaram um inquérito sorológico em quatro localidades do município de

Jaguaruana–CE, observando uma prevalência de infecção chagásica de 3,1%, avaliada através

dos testes de ELISA, Imunofluorescência indireta e Hemaglutinação indireta.

1.6 Manifestações da doença de Chagas

Após a instalação do parasito no organismo, ocorrem duas etapas fundamentais na

infecção humana pelo T. cruzi, a fase aguda e a crônica. A fase inicial aguda dura cerca de

dois meses, apresentando alta parasitemia. Em menos de 5% dos casos, podem ser observadas

complicações fatais de ordem neurológica e/ou cardíaca (PRATA, 2001). Na maioria dos

casos, os sintomas são ausentes ou leves, mas podem incluir febre, cefaléia, gânglios

linfáticos aumentados, palidez, dor muscular, dificuldade em respirar, inchaço e dor

abdominal ou no peito. O indivíduo infectado por via vetorial pode apresentar sinais de porta

de entrada aparente como o Sinal de Romanã (edema ocular bipalpebral unilateral) ou

Chagoma de Inoculação (WHO, 2010; SARMENTO, 2008).

Na grande maioria dos casos, passada a fase aguda, o paciente entra então na fase

crônica da doença, onde raramente são encontrados parasitos circulantes. Inicialmente, esta

fase é assintomática e sem sinais de comprometimento cardíaco e/ou digestivo. Pode

apresentar-se como uma das seguintes formas:

• Forma indeterminada: ausência de sintomas e sem sinais de comprometimento

do aparelho circulatório (clínica, eletrocardiograma e radiografia de tórax

normais) e do aparelho digestivo (avaliação clínica e radiológica normais de

esôfago e cólon). O indivíduo contaminado pode permanecer nesta fase

durante toda a vida ou evoluir tardiamente para uma das formas a seguir.

• Forma cardíaca: ocorre em aproximadamente 30% dos casos crônicos sendo

considerada a maior responsável pela mortalidade dos pacientes nesta fase da

doença. Evidências de acometimento cardíaco que, freqüentemente, evolui

para quadros de miocardiopatia dilatada e insuficiência cardíaca congestiva

(ICC).

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21  

• Forma digestiva: Ocorre em cerca de 10% dos casos, com evidências de

acometimento do aparelho digestivo que, comumente, evolui para megacólon

ou megaesôfago.

• Forma mista (cardiodigestiva): ocorrência simultânea de lesões compatíveis

com as formas cardíacas e digestivas (OPAS, 2009).

• Forma Nervosa (NEVES; MELO; VITOR, 2011).

A fase crônica da DC pode evoluir para óbito em cerca de 1% a 10% dos casos

estudados e não tratados, especialmente em crianças (OPAS, 2009).

No Brasil, a forma digestiva da doença está presente em aproximadamente 7% a

11% dos casos e apresenta como principais manifestações a incoordenação motora,

caracterizando o megaesôfago e o megacólon. O megaesôfago pode surgir em qualquer idade,

desde a infância até a velhice, entretanto, na maioria dos casos é observada entre 20 e 40 anos.

Aparece mais frequentemente no sexo masculino e é mais comum na zona rural endêmica. Os

principais sintomas são: disfagia, dor retroesternal, regurgitação, pirose, soluço, tosse e

sialose. O megacólon compreende as dilatações dos cólons e surge depois do megaesôfago. O

diagnóstico é feito mais tardiamente porque a obstipação, o sintoma mais característico do

megacólon, é encontrado em outras patologias digestivas. É mais frequente em adultos entre

30 e 60 anos e mais no homem do que na mulher. É comum a associação com o megaesôfago

e este fato agrava em muito a desnutrição. As complicações mais graves do megacólon são a

obstrução intestinal e a perfusão, esta levando a peritonite (NEVES; MELO; VITOR, 2011).

As formas nervosas crônicas da DC comprometem tanto o sistema nervoso central

(SNC) como o periférico, apesar de não serem encontradas com tanta frequência, como

anteriormente foi indicado por Carlos Chagas (JARDIM; TAKAYANAGUI, 1993). O

mecanismo dessa forma clínica seria a denervação, contestada por alguns autores por consistir

em agregados de células gliais e linfonoides sem encontro de parasitos. Entretanto, se admite

que na fase crônica da doença a perda ou diminuição dos neurônios possa ser consequência da

isquemia devido à ICC e arritmias cardíacas, bem como de processos auto-imunes (NEVES;

MELO; VITOR, 2011).

Dessa forma, a literatura apresenta alguns relatos de casos envolvendo

acometimento do sistema nervoso em pacientes com DC, como por exemplo, o caso

mencionado por Jardim & Takayanagui (1993), que refere-se a uma paciente chagásica

crônica desde a infância que, progressivamente, desenvolveu comprometimento da

motricidade voluntária, do tono muscular, da coordenação, dos nervos cranianos. Sofria

também de uma cardiopatia e de uma colopatia chagásicas, vindo a falecer no pós-operatório

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de uma hemicolectomia. Foi necropsiada e o estudo histopatológico do SNC revelou

desmielinização dos feixes espinocerebelares e dos cordões posteriores, grande redução do

número de células de Purkinje, grande destruição neuronal da substância negra e do locus

coeruleus, entre outros achados.

1.7 Cardiopatia chagásica

Principalmente devido a sua alta morbidade e mortalidade e, consequentemente,

de seu impacto médico e social, a cardiomiopatia crônica pode ser considerada a forma clínica

mais importante da DC (ROCHA; RIBEIRO; TEIXEIRA, 2003; CONSENSO, 2005). Dessa

forma, a cardiopatia chagásica crônica (CCC) pode causar insuficiência cardíaca, arritmias de

tipo e gravidades variáveis, bloqueios de condução do estímulo elétrico, tromboembolismo,

acidente vascular isquêmico e morte súbita (BARBOSA, 2009; ROCHA; RIBEIRO;

TEIXEIRA, 2003; ROCHA; TEIXEIRA; RIBEIRO, 2007).

Diante dos vários mecanismos responsáveis pela patogênese da CCC, pode-se

citar alguns como: lesão direta causada pelo microorganismo; autoimunidade induzida por

antígenos do protozoário com consequente destruição de miócitos, gânglios simpáticos e

parassimpáticos; doença microvascular e mecanismos neurogênicos com disfunção

parassimpática e, em menor escala, simpática. Também não se pode deixar de mencionar o

papel das lesões inflamatórias determinadas por eosinófilos, macrófagos e monócitos

mediadas por óxido nítrico, fator de necrose tumoral alfa (TNF-α) e outras citocinas e

quimiocinas (HIGUCHI et al., 2003; BARBOSA, 2009).

A histologia na fase crônica da patologia apresenta miocardite inflamatória e

fibrose reparativa. Esse processo ocorre de maneira difusa e indiscriminadamente, envolvendo

o tecido elétrico especializado na condução atrial e ventricular (nó sinusal, nó atrioventricular,

sistema His- Purkinje e ramos). Entretanto, costuma ocorrer de forma heterogênea, com

necrose/fibrose em graus variáveis nas diferentes regiões miocárdicas e lesões em distintas

fases de evolução. Dessa forma, as manifestações eletrofisiológicas e clínicas terão relação

direta com o grau de envolvimento do tecido elétrico (doença do nó sinusal, bloqueios de

ramo, bloqueios atrioventriculares, etc.) e do miocárdio. Além disso, acrescenta-se o fato de a

doença cursar com denervação parassimpática e distúrbios da microcirculação, portanto, com

desequilíbrios regionais autonômicos e de perfusão (isquemia) facilitando o surgimento de

arritmias (MATEOS; LOBO; MATEOS, 2009; LOPES et al., 1975).

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23  

1.7.1 Bradiarritmias

1.7.1.1 Doença do nó sinusal, bloqueios intraventriculares e bloqueios atrioventriculares

Inflamação e fibrose do nó sinusal e da junção sinoatrial são consequências do

acometimento cardíaco causado pela DC. A miocardite e fibrose reparativa juntamente com a

disfunção autonômica destroem a arquitetura do nó sinusal e substitui as células nobres por

tecido de regeneração. As principais manifestações eletrocardiográficas são: Bradicardia

sinusal, pausas ou paradas sinusais, bloqueio sinoatrial, ritmo de escape juncional e pausas

longas após extrassístoles ou taquicardia atriais (síndrome bradi-taquicardia). (MATEOS;

LOBO; MATEOS, 2009).

Os bloqueios intraventriculares (fasciculares ou de ramo) são distúrbios de

condução do estímulo elétrico que ocorrem em diversos níveis do sistema de condução

intraventricular (LANTIERI; BERTOLETTI, 2006). Devido à facilidade de diagnóstico

(eletrocardiograma) e da elevada incidência, representam um dos principais critérios para se

classificar um paciente como portador de cardiopatia chagásica (MATEOS; LOBO;

MATEOS, 2009). De acordo com Nacruth et al. (1987), em estudo retrospectivo com 143

pacientes, a principal associação encontrada foi a do bloqueio de ramo direito com bloqueio

divisional ântero-superior esquerdo (24,7%), seguido por bloqueio de ramo direito isolado

(13,3%) e bloqueio divisional ântero-superior esquerdo (9,7%).

Os bloqueios atrioventriculares podem ser entendidos por um atraso de

propagação ou por um impedimento total do impulso supraventricular em ativar os

ventrículos. Logo, podem ser definidos como um distúrbio de condução do impulso cardíaco

localizado em qualquer nível do sistema de condução atrioventricular. (blog do ECG).

1.7.2 Taquiarritmias

Devido ao intenso comprometimento da cardiomiopatia chagásica associado a

distúrbio autonômico (em alguns casos agravado pelo distúrbio nutricional/eletrolítico do

envolvimento digestivo da doença), existe extenso substrato para os fenômenos de reentrada e

de atividade deflagrada no miocárdio atrial e ventricular, levando ao surgimento de

extrassístoles, taquicardias e fibrilação (MATEOS; LOBO; MATEOS, 2009).

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24  

Nesse sentido, as arritmias ventriculares apresentam-se como o grande desafio no

acompanhamento de pacientes chagásicos, devido ao elevado risco de morte súbita. As

extrassístoles ventriculares isoladas são muito comuns e, de modo geral, não têm valor

prognóstico. Entretanto, quando muito frequentes, dessincronizam o miocárdio e podem

contribuir para piorar o rendimento cardíaco em pacientes com disfunção ventricular grave.

Na maioria das vezes, servem como um alerta para pesquisa de arritmias ventriculares

complexas e risco de morte súbita (MATEOS; LOBO; MATEOS, 2009).

1.8 Seguimento Clínico

A cardiopatia é a complicação mais temível em pacientes chagásicos, de forma

que o seguimento clínico torna-se uma ferramenta de suma importância na detecção de

possíveis alterações cardíacas. Esse seguimento pode acontecer através da realização de

exames complementares que indiquem uma maior necessidade de acompanhamento ou de

medidas terapêuticas diferenciadas (ARAÚJO, 2008; GRUPO DE TRABAJO CIENTÍFICO,

2007; GARZON et al., 1995).

O eletrocardiograma basal (ECG) é um exame de baixo custo, simples e rotineiro.

Possui valor importante em estudos longitudinais, com implicações no diagnóstico e

prognóstico de doenças (ARAÚJO, 2008). É considerado padrão ouro para o diagnóstico não

invasivo das arritmias e distúrbios de condução, além de ser muito importante nos quadros

isquêmicos coronarianos, constituindo-se em um marcador de doença do coração. Sua

sensibilidade e sua especificidade são maiores para o diagnóstico das arritmias e distúrbios de

condução, do que para as alterações estruturais ou metabólicas. Diante disso, principalmente

em estudos de segmento, parece haver uma progressão entre ECG normal, com alterações

limítrofes e com alterações definidas no curso da cardiopatia. Logo, após as primeiras

alterações inespecíficas, a tendência é que surjam outras cada vez mais complexas em um

mesmo traçado, sendo mais comum em casos de cardiopatia avançada e de pior prognóstico

(ARAÚJO, 2008; GUIMARÃES et al., 2003). É um dos principais métodos utilizados na

detecção do acometimento miocárdico, entretanto a ausência de alterações

eletrocardiográficas não indica, fidedignamente, ausência de acometimento cardíaco

(ARAÚJO, 2008; MARIN-NETO; SIMÕES; SARABANDA, 1999; ROCHA; RIBEIRO;

TEIXEIRA, 2003; GARZON, LORGA; NICOLAU, 1995).

A prevalência de alterações eletrocardiográficas em pacientes portadores da DC

apresenta-se normalmente maior no sexo masculino, principalmente na faixa etária entre 25 e

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44 anos, não havendo diferença até os 14 anos de idade (CARRASCO et al., 1990;

MAGUIRE et al., 1983). Em indivíduos com faixa etária mais elevada (após os 60 anos), a

DC ainda continua apresentando impacto no prognóstico da cardiopatia, embora a prevalência

dessas alterações diminua em relação aos controles (ROCHA; RIBEIRO; TEIXEIRA, 2003;

ARAÚJO, 2008).

A ecocardiografia é um método complementar essencial na avaliação da

cardiopatia chagásica. Embora de limitada disponibilidade na frequência e quantidade

necessária, esse exame fornece a localização das alterações patológicas, permite determinar a

evolução e a gravidade do comprometimento cardíaco, dando estimativa do grau de disfunção

do ventrículo esquerdo e fornecendo assim dados fundamentais para a orientação terapêutica e

de prognóstico (ARAÚJO, 2008; ESPINOSA et al., 1991; ACQUATELLA; SCHILLER,

1988). A ecocardiografia possibilita a avaliação dos diâmetros e volumes ventriculares, das

funções sistólica e diastólica, como também estudo da contratilidade segmentar. É

considerado um método de grande importância, já que a disfunção sistólica global do

ventrículo esquerdo constitui o principal fator prognóstico na CCC (SILVA, 2006; MARIN-

NETO; SIMÕES; MACIEL, 1998; RASSI JR.; MARIN-NETO, 2000; CONSENSO, 2005).

O Holter (eletrocardiografia dinâmica) apresenta grande importância na CCC para

a investigação de arritmias em pacientes com sintomas cardiovasculares sem explicação,

especialmente palpitações, tonteiras e síncope (SILVA, 2006; RIBEIRO, 1998). Trata-se de

um conjunto de equipamentos usados para o registro ambulatorial dos sinais

eletrocardiográficos. A análise é realizada com programas instalados em computadores que

fornecem informações sobre o padrão circadiano eletrocardiográfico, quantificação das

arritmias, documentam alterações do eletrocardiograma no momento da sua ocorrência, como

também distúrbios do ritmo assintomáticos, que permitem o diagnóstico presuntivo de causa

arrítmica. Esse sistema também mostra-se útil em pacientes difíceis de colaborar e naqueles

nos quais os sintomas são incapacitantes (LANTIERI; BERTOLETTI, 2006).

1.9 Fundamentos Eletrocardiográficos

No momento em que o impulso elétrico flui através do coração, ocorre um

processo de despolarização e repolarização a cada batimento cardíaco. A despolarização é

considerada o estado de ação, e a repolarização o estado de repouso. O ciclo

(despolarização/repolarização) cria um campo elétrico e um fluxo de corrente que então

podem ser captados pelo ECG. Assim, as ondas observadas no ECG refletem eventos

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mecânicos simultâneos aos elétricos. A onda P está relacionada à contração dos átrios e

resulta do somatório dos potenciais de ação de todas as células miocárdicas atriais, sendo uma

onda de despolarização atrial. Como a despolarização se espalha pelos átrios antes que ocorra

a contração (por processos químicos), a onda P acontece imediatamente antes da contração

atrial (JENKINS, 2011) (Figura 2).

A presença do complexo QRS representa a despolarização (ativação) ventricular,

enquanto a onda T está ligada ao relaxamento (repolarização) do músculo ventricular. Os

eventos elétricos associados ao relaxamento dos átrios não são visíveis no ECG (JENKINS

2011).

Figura 3 – Representação das ondas do ECG.

Fonte: JENKINS, 2011.

De acordo com a figura 4, o eixo horizontal representa o tempo, onde cada

quadradinho menor equivale à 0,04 segundos. No eixo vertical, cada um corresponde a 0,1mV

e cada quadrado maior equivale a 0,5 mV

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Figura 4 - Medidas no papel de ECG: Traçado eletrocardiográfico, segundos e voltagem (milivolts – mV).

Fonte: JENKINS, 2011.

1.9.1. Complexo QRS e Intervalo QT

O complexo QRS reflete o tempo que o impulso elétrico leva para despolarizar os

ventrículos. A onda Q é uma deflexão para baixo a partir da linha isoelétrica e dura menos de

0,04 segundo, na derivação DII. A onda R, que tem aproximadamente o triplo do tamanho da

onda Q, é a primeira deflexão positiva (para cima), depois da onda P, e a onda S é a deflexão

para baixo, imediatamente seguinte à onda R (JENKINS, 2011). Nesse sentido, pode-se

afirmar que a duração do complexo QRS é medido do início da onda Q, quando ela existir, ou

início da onda R, até o final da sua última onda, que poderá ser uma onda R, S, R’ ou S’

(LANTIERI; BERTOLETTI, 2006). O complexo QRS normal tem menos de 0,12 segundo.

Devido à maior massa muscular dos ventrículos, que gera um potencial elétrico mais

acentuado, a amplitude ou voltagem da onda R é muito maior do que a da onda P (JENKINS,

2011).

De acordo com a figura 4, o período denominado intervalo QT pode ser medido

para mostrar o tempo entre o início da despolarização ventricular e o término da repolarização

ventricular, ou início do complexo QRS e final da onda T. O intervalo QT costuma ser

chamado intervalo QT corrigido, ou QTc, por ser obtido por derivação matemática (razão

entre intervalo QT medido e a raiz quadrada do intervalo RR) (JOHNSON; SWARTZ, 1986).

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Figura 5 – Representação do Complexo QRS e do Intervalo QT.

Fonte: WALKOFF, A.

1.10 Resposta imunológica na doença de Chagas

A infecção por T. cruzi mobiliza mecanismos humorais e celulares da resposta

inata e adquirida. O parasito se torna um alvo do sistema imunológico do hospedeiro e passa a

ser combatido, tendo sua multiplicação reduzida. Embora a persistência do parasito se torne

necessária e suficiente para a manutenção da miocardite (TARLETON; ZHANG; DOWNS,

1997; TARLETON; ZHANG, 1999), o papel da resposta imune também pode levar ao

surgimento de lesões teciduais resultantes desta atividade imunológica prolongada, podendo

participar na patogênese das formas clínicas da doença (NEVES; MELO; VITOR, 2011).

Diante desses fatos, pode-se afirmar que o sucesso no controle da infecção chagásica depende

do equilíbrio da resposta imunológica, que seja suficiente para erradicar o parasito, mas

prevenindo a destruição do tecido do hospedeiro (MARINO, 2005).

Com relação à resposta celular na DC, deve-se ressaltar a grande importância dos

macrófagos e das células T, que exercem uma atividade de controle da infecção chagásica

(NATHAN et al., 1979). Inicialmente, o T. cruzi realiza uma interação com os macrófagos,

fazendo com que estes produzam IL-12. Esta citocina estimula a proliferação de linfócitos T e

ativa as células NK a produzirem IFN-γ, que é considerado de fundamental importância na

ativação dos macrófagos e consequentemente na ação antiparasitária contra o T. cruzi

(TRINCHIERI, 1998; OLIVERA; SANTIAGO, LISBOA, 2000).

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29  

Considerando a imunidade humoral, anticorpos anti-T.cruzi são amplamente

detectados em portadores da DC (BRENER, 1980). KRETTLI & BRENER (1982)

revolucionaram os estudos da imunidade humoral na doença de Chagas quando demonstraram

a existência de duas categorias de anticorpos funcionalmente distintas no soro de hospedeiros

infectados com o T. cruzi, os quais foram denominados anticorpos da sorologia convencional

(ASC) e anticorpos líticos (AL). Os ASC podem ser encontrados no soro de hospedeiros

infectados com o T. cruzi mesmo após quimioterapia. Por outro lado, os AL são encontrados

apenas no soro de hospedeiros com infecção ativa, desaparecendo após a cura por intervenção

terapêutica específica para a DC. Esses anticorpos são específicos para epítopos presentes nas

formas tripomastigotas vivas do T. cruzi, sendo identificados in vitro através das técnicas de

lise mediada pelo complemento (GALVÃO et al., 1993) e, mais recentemente, pela citometria

de fluxo (MARTINS-FILHO et al., 1995). Assim, os AL têm sido considerados importantes

no controle da parasitemia na fase crônica da infecção, por serem capazes de induzir a lise

mediada pelo complemento de formas tripomastigotas sanguíneas (LAGE, 2008).

1.10.1 Autoimunidade

Pode ser definida como a quebra no balanço da resposta imunológica em relação a

autotolerância do organismo. Vários mecanismos podem desempenhar um papel na indução

da autoimunidade na infecção pelo T. cruzi. Todos estes mecanismos baseiam-se na

observação de seres humanos e animais que podem manter uma população de células T e B

potencialmente autorreativas, mas que normalmente são tolerantes a autoantígenos

(BONNEY; ENGMAN, 2008). Dentre os principais mecanismos propostos atualmente,

abordaremos o mimetismo molecular e a ativação do hospedeiro:

• Mimetismo molecular - Há algumas décadas, foi postulada a hipótese autoimune da

patogênese da CCC, que procurava explicar a agressão ao tecido cardíaco na ausência

do T. cruzi in situ como um fenômeno secundário a uma resposta imunológica contra

algum antígeno do T. cruzi, que apresentasse semelhanças antigênicas, ou mimetismo

molecular, com um componente cardíaco. Assim, pode-se conceituar reação cruzada

imunológica como a capacidade de um anticorpo reagir com um antígeno semelhante,

porém distinto daquele que gerou a resposta imune. Tanto as respostas imunes ao T.

cruzi quanto a autoimunidade a componentes cardíacos já foram responsabilizadas

como desencadeadores do infiltrado inflamatório e da destruição tecidual na CCC

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30  

(KALIL; CUNHA-NETO, 1996). Assim, estudaram-se anticorpos antimiosina

cardíaca no soro de pacientes com CCC e na fase indeterminada. Anticorpos

antimiosina cardíaca purificados a partir de soros de pacientes CCC reconheceram

especificamente um antígeno do T. cruzi em um ensaio de imunoblot com proteínas

dos parasitos, apresentando-se como duas bandas de 140 e 116 kDa (CUNHA-NETO

et al., 1995). Identificou-se esse antígeno como a proteína recombinante B13 do T.

cruzi (GRUBER; ZINGALES, 1993).

• Ativação do hospedeiro - A infecção pelo T. cruzi pode facilitar a destruição dos

tecidos, a liberação de antígenos do hospedeiro como também de mediadores

inflamatórios. Assim, a libertação de grandes quantidades de autoantígenos em uma

ambiente rico em citocinas inflamatórias, quimiocinas, linfotoxina e óxido nítrico

podem superar a auto tolerância, reduzindo o limiar de ativação suficiente para ativar

potencialmente células T auto-reativas e iniciar a autoimunidade. A ativação do

sistema imune do hospedeiro pode também ser iniciada por células T CD8 +

específicas para os antígenos do T. cruzi. Uma vez ativadas, as células T podem

proliferar em resposta a autoantígenos apresentados por células apresentadoras de

antígeno. Fatores inflamatórios, como IFN-γ e óxido nítrico, em concentrações

elevadas durante a infecção, também podem promover a ativação de células T auto-

reativas (BONNEY; ENGMAN, 2008).

1.11 Tratamento etiológico da doença de Chagas

No Brasil, o único fármaco disponível no momento para a terapêutica da DC é o

Benzonidazol (Bz), que foi lançado em 1966 pela Hoffman-La Roche, na Suíça (VIOTTI et

al., 2009; MENEZES et al, 2011). Desde 2008, a droga passou a ser produzida pelo

laboratório farmacêutico do Estado de Pernambuco (LAFEPE), atualmente o único fabricante

mundial do medicamento (JORNAL ESTADÃO, 2011).

Trata-se de uma droga nitroheterocíclica (N-benzil-2- nitroimidazol-1-acetamida)

com atividade sobre Trichomonas vaginalis, Entamoeba hystolitica, Trypanosoma

rhodesiense, T. congolense e T. cruzi, no entanto a aplicação clínica restringe-se ao tratamento

da doença de Chagas (CANÇADO, 1997; 2002).

Estudos apontam que o Bz atua através da formação de radicais livres e/ou

metabólitos eletrofílicos (Figura 6). O grupo nitro (NO2) presente nestas moléculas é reduzido

ao grupo amino (NH2) pela ação de enzimas do tipo nitroredutases, que atuam

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31  

especificamente em sistemas moleculares do tipo R-NO2. Este processo (iniciado pela reação

catalisada pela NADPH citocromo P450 redutase ) leva à formação de um intermediário nitro

radicalar (R-NO2·-) com subsequente formação de hidroxilamina (R-NHOH). Segundo

evidências, o Bz não atua através do ciclo redox e não depende diretamente de espécies

reativas de oxigênio (DIAS et al., 2009). O efeito tripanocida aconteceria através do radical

nitro, com a formação de ligações covalentes com macromoléculas do parasito (DÍAZ DE

TORANZO et al., 1988). Alguns estudos descrevem ainda que o Bz aumenta a fagocitose e

lisa o T. cruzi através de um mecanismo dependente de IFN-γ (ROMANHA et al., 2002).

Figura 6 - Mecanismo de ação do Bz.

Fonte: DIAS et al., 2009.

O Bz apresenta-se na forma de comprimidos de 100mg (Figura 7), com a

posologia variando de acordo com a idade, a saber: a) Adultos: 5 mg/kg/dia, por via oral,

durante 60 dias, em duas ou três tomadas diárias; Crianças: 5-10 mg/kg/dia por via oral

durante 60 dias, em duas ou três tomadas diárias (CONSENSO, 2005).

Figura 7: Bz fabricado pela Roche (Rochagan, à esquerda) e pelo LAFEPE (à direita).

Fonte: Laboratório de Pesquisa em doença de Chagas (LPDC), 2011.

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32  

Os nitrofuranos são outra opção de tratamento existente (Nifurtimox, Nf).

Entretanto, o Nf teve sua comercialização interrompida (a partir da década de 1980)

primeiramente no Brasil e depois em outros países da América do Sul (Venezuela, Chile,

Argentina). Isso se deve, possivelmente, em razão do menor efeito tripanocida em algumas

regiões endêmicas (COURA; CASTRO, 2002). Atualmente, o Nf é produzido pela Bayer, em

El Salvador, e pode ser adquirido através da Organização Mundial da Saúde (SCHOFFIELD;

JANNIN; SALVATELLA, 2006).

O tratamento tem como objetivo a eliminação de patógenos a fim de diminuir as

chances de progressão da doença e interromper a cadeia de transmissão do parasito (SOSA-

ESTANI; VIOTTI; SEGURA, 2009; MENEZES et al., 2011). Dessa forma, o tratamento é

recomendado para todas as pessoas diagnosticadas com infecção aguda, casos de infecção

congênita, crianças na fase crônica, contaminação acidental e pacientes imunodeprimidos

(WHO, 2010). Para adultos, o tratamento específico pode ser instituído na fase crônica

recente (período de cinco a doze anos após a infecção inicial), apesar da falta de evidências

que garantam o sucesso da terapia. Já para a fase crônica mais longa, tem sido indicado na

forma indeterminada e nas formas cardíacas e digestivas leves (CONSENSO, 2005). Por

causa da elevada toxicidade do medicamento, seu uso é contra indicado em casos graves de

cardiomiopatia chagásica, gravidez, mulheres em idade fértil sem o uso de contraceptivos,

insuficiência hepática ou renal, doenças neurológicas (sem relação com DC) e outras doenças

que podem ser agravadas pelo uso do fármaco (MARIN-NETO et al., 2009; CONSENSO,

2005; MENEZES et al, 2011).

Atualmente, não existem dúvidas quanto ao benefício trazido pelo uso do Bz

durante a fase aguda da DC. Entretanto, o tratamento na infecção crônica ainda permanece

controverso e com poucos estudos longitudinais que comprovem o benefício do uso do

medicamento (principalmente com relação aos pacientes adultos). A principal dificuldade é a

falta de marcadores para avaliar o sucesso ou o fracasso da terapia medicamentosa. Até

recentemente, além do xenodiagnóstico, o principal marcador era a sorologia, ferramenta de

confiabilidade limitada, pois pode permanecer positiva durante anos, mesmo após a

negativação do parasitológico (LE LOUP; PIALOUX; LESCURE, 2011). Recentemente,

novos marcadores tem sido estudados, como as técnicas de Biologia Molecular (DUFFY et

al., 2009) e anticorpos anti-F2/3 (ALTCHECH et al., 2003). Vale salientar que outros fatores

também podem influenciar a resposta ao tratamento e permanecem pouco documentados na

literatura, como por exemplo a idade do paciente, a duração da infecção e a linhagem do

parasito (LE LOUP; PIALOUX; LESCURE, 2011).

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33  

Diante dessa realidade, Pérez-Molina et al. (2009) realizaram uma revisão

sistemática e meta-análise a respeito da resposta à terapia com Bz, utilizando indicadores

sorológicos, parasitológicos ou clínicos. A revisão foi feita por busca eletrônica da literatura

publicada até outubro de 2008 e foram incluídos os estudos sobre pacientes na fase crônica

para quem o tratamento com benzonidazol foi comparado com placebo ou nenhum

tratamento. Foram identificados 696 estudos, dos quais foram escolhidos nove, sendo três de

testes clínicos e seis de estudos observacionais. Em comparação com placebo ou nenhum

tratamento, o Bz aumentou 18 vezes a probabilidade de uma resposta à terapia [odds ratio

global (OR), 18,8, intervalo de confiança de 95% (IC)]. Este efeito foi principalmente

observado nos ensaios clínicos (OR, 70,8, 95% CI), menos acentuada nos estudos

observacionais (OR, 7,8; IC 95%), e menos ainda quando apenas adultos foram estudados

(OR, 6,3; IC 95%). Embora esses dados apontem para um efeito benéfico do medicamento, a

análise das informações disponíveis revelam que a eficácia do tratamento na fase crônica

tardia é duvidosa. Esta incerteza é em grande parte resultado de diferenças nas populações do

estudo, períodos de acompanhamento e ao fato de que quase todas as informações sobre o

tratamento na fase crônica tardia vêm de estudos não randomizados (PÉREZ-MOLINA et al.,

2009).

1.12 Reações adversas ao Bz

De acordo com a OMS, reação adversa a medicamento

(RAM) “é qualquer efeito prejudicial ou indesejável, não intencional,

que aparece após a administração de um medicamento, em doses

normalmente utilizadas no homem, para profilaxia, diagnóstico e

tratamento de uma moléstia ou ainda para a modificação de uma

função fisiológica. Ela ocorre frequentemente em pacientes com

hipersensibilidade ou que tiveram alguma reação adversa anterior,

ou após a tolerância ao medicamento com o aumento de dose,

podendo predispor um quadro de toxicidade” (MAGALHÃES;

CARVALHO, 2001 apud MENON et al., 2005).

As reações adversas associadas ao Bz podem ser classificadas em três tipos: (i)

Manifestações de hipersensiblidade como dermatite com erupção cutânea (usualmente

aparecendo entre o 7º e 10º dia de tratamento), edema peri-orbital ou generalizado, febre,

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34  

linfoadenopatia e dores musculares e articulares; (ii) Depressão da medula óssea, entre as

quais neutropenia, agranulocitose e púrpura trombocitopêmica; (iii) Polineuropatia periférica

representado por parestesias e polineurite (FIOCRUZ, 2012).

A presença de efeitos dermatológicos ocorre em aproximadamente 30% dos

pacientes e consiste em erupções cutâneas (que raramente progridem para dermatite

esfoliativa) causadas pela fotossensibilização. A dermatite é geralmente leve a moderada e

controlável com uso tópico ou baixas doses de corticosteróides sistêmicos. No entanto, o

medicamento deve ser interrompido imediatamente em casos de dermatite esfoliativa ou

dermatite associada com febre e linfadenopatia. Também se faz importante comentar que

aproximadamente 30% dos pacientes apresentam neuropatia periférica dose-dependente que

é quase sempre reversível, mas pode levar meses para o desaparecimento dos sintomas. Essa

reação ocorre frequentemente na fase final do tratamento e deve provocar interrupção do

medicamento. Um efeito adverso considerado grave e raro é a supressão da medula óssea, que

deve levar à imediata suspenção da droga (BERN et al, 2007).

Entre os efeitos adversos adicionais relatados pode-se incluir a anorexia, perda

de peso, náuseas, vômitos e insônia. Devem ser realizados exames laboratoriais (hemograma

completo e níveis das enzimas hepáticas, bilirrubina, soro creatinina e uréia) antes do início

do medicamento, como também o hemograma completo deve ser repetido a cada 2 a 3

semanas durante o curso do tratamento, a fim de monitorar possíveis efeitos ocasionados pelo

uso do fármaco. Uso do álcool associado ao benzonidazol pode levar à efeitos tipo dissulfiram

(cólicas abdominais, náuseas, vômitos, rubor, dor de cabeça) e deve ser evitado (BERN et al,

2007).

Um exemplo de estudo envolvendo reações adversas é o trabalho de Pontes et al.

(2010) envolvendo 32 pacientes chagásicos crônicos tratados com Bz entre janeiro de 2005 e

abril de 2006, residentes no estado do Ceará. As reações foram relatadas em 28 (87,5%)

pacientes tratados, tendo sido as mais frequentes: Prurido (50%), formigamento (43,8%),

fraqueza muscular (37,5%) e rash cutânea (31,3%). Dos 28 pacientes que apresentaram algum

tipo de reação, oito (28,57%) interromperam o tratamento devido à erupção cutânea e/ou

formigamento. Com esse estudo, Pontes et al. (2010) puderam concluir que o

acompanhamento farmacoterapêutico dos pacientes chagásicos se torna uma ferramenta de

grande relevância na prevenção e detecção precoce das reações adversas a medicamentos.

Outro trabalho que merece ser mencionado é o de Viotti et al. em 2006. Os

autores relataram que 37 de 283 pacientes em uso de Bz descontinuaram o tratamento por

apresentarem dermatite alérgica severa (33 casos) e distúrbios gastrintestinais (4 casos).

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35  

Daqueles que apresentaram a primeira opção, 30 receberam o tratamento com anti-

histamínicos e 3 fizeram uso de corticosteróides. Naqueles que completaram o tratamento, 55

apresentaram alguma reação adversa, dentre elas: Dermatite alérgica (de média a moderada),

dor de cabeça, febre e prurido.

Finalmente, diante do elevado potencial de toxicidade do Bz, se faz necessário a

realização de estudos de monitoramento dos pacientes chagásicos em tratamento, a fim de

minimizar os riscos e aumentar a segurança no uso do fármaco.

1.13 Perspectivas de novos tratamentos

Os motivos para a diferença na eficácia antiparasitária dos nitro-compostos

heterocíclicos nas fases aguda e crônica da DC ainda não foram completamente esclarecidas

(CANÇADO 2002). Uma das explicações pode estar relacionada com propriedades

farmacocinéticas desfavoráveis do fármaco, tais como tempo de meia-vida relativamente

curto e limitada penetração tecidual (WORKMAN et al., 1984; URBINA, 2009), o que

poderia limitar a ação do medicamento na fase crônica (momento em que os parasitos estão

confinados em tecidos profundos e submetidos a replicação lenta) da doença (URBINA,

2009; URBINA; DOCAMPO 2003). A eficácia também pode variar de acordo com a área

geográfica, mais provavelmente devido a diferenças na sensibilidade aos medicamentos entre

diferentes cepas do T. cruzi (URBINA, 2009; KIRCHHOFF, 1999).

Apesar da efetividade limitada, vários estudos de observação clínica têm mostrado

que os pacientes crônicos submetidos ao tratamento com Bz podem conseguir uma redução

significativa na ocorrência de alterações electrocardiográficas e uma menor frequência de

deterioração do seu estado clínico, embora não parasitologicamente curados (VIOTTI et al.

1994; VIOTTI et al. 2006; URBINA, 2009), no entanto, outros estudos não confirmam esses

achados (LAURIA-PIRES et al. 2000; URBINA, 2009). O efeito positivo dos atuais

tratamentos específicos no acompanhamento clínico dos pacientes foi explicado pelo fato de

as drogas induzirem uma redução da carga parasitária em tecidos infectados e

consequentemente reduzirem a gravidade dos processos inflamatórios associados (VIOTTI et

al. 2006, TARLETON et al. 2007; URBINA, 2009).

Diante de tantas controvérsias a respeito da efetividade da terapia com Bz, um

grande número de pesquisas vem sendo realizadas, a fim de obter medicamentos mais seguros

e eficazes no que diz respeito ao tratamento da fase crônica da DC. Assim, um dos

medicamentos que vem apresentando bons resultados é o posaconazol, cujo mecanismo de

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36  

ação está relacionado à inibição da biossíntese dos esteróis constituintes da membrana

plasmática do parasito (LAZARDI; URBINA; DE SOUZA, 1990; URBINA, 2009). O

bloqueio da síntese de ergosterol (principal esterol da membrana de vários parasitos) é fatal

para fungos e protozoários, já que afeta a citocinese, impedindo o crescimento celular e,

eventualmente, leva ao rompimento da membrana celular destruindo o parasito (ALVES;

BRAGA; ANDRADE, 2012; LEPESHEVA; WATERMAN, 2007).

Esse mecanismo de ação resulta em potentes efeitos anti-parasitários, quer in vitro

como em modelos animais da DC (BUCKNER; NAVABI, 2010; URBINA et al., 1998;

VEIGA-SANTOS et. al 2012). O posaconazol também é capaz de eliminar amastigotas de

cardiomiócitos em cultura, permitindo simultaneamente remontagem completa do aparelho

contráctil e do citoesqueleto da célula hospedeira (SILVA et al., 2006; VEIGA-SANTOS et.

al 2012). Diante desses fatos, recentemente demonstrou-se que o posaconazol curou um

paciente imunodeprimido com concomitante DC crônica e lúpus eritematoso sistêmico, que já

havia sido tratado com Bz e este falhou para alcançar a cura parasitológica (PINAZO et al.,

2010; VEIGA-SANTOS et. al 2012). Atualmente, o posaconazol está registrado para o

tratamento de infecções fúngicas invasivas e está em fase de ensaios clínicos de Fase II, a fim

de avaliar a sua eficácia e segurança para o tratamento específico da fase crônica da DC em

humanos (URBINA, 2010; VEIGA-SANTOS et. al 2012).

Outro medicamento utilizado atualmente é a amiodarona, que já atua no

tratamento sintomático de pacientes chagásicos crônicos com comprometimento cardíaco, e

vem demonstrando atividade anti T. cruzi através do rompimento da homeostase dos canais de

Ca2+ do parasito e da inibição da biossíntese de ergosterol. Além disso, tem sido mostrado que

a amiodarona atua sinergicamente com o posaconazol contra o T. cruzi in vitro e in vivo

(BENAIM et al., 2006; VEIGA-SANTOS et. al 2012).

Assim, de acordo com Veiga-Santos et. al (2012), a associação de amiodarona

com posaconazol pode constituir uma forma muito eficaz de terapia anti-T. cruzi, já que o

posaconazol (ótimo perfil de segurança) é o agente mais potente conhecido contra a DC,

enquanto a amiodarona é a droga mais utilizada como antiarrítmico em pacientes com

comprometimento cardíaco. Os dois medicamentos estão disponíveis no mercado e podem

ser considerados fortes candidatos para o tratamento da DC. Segundo Veiga-Santos et. al

(2012), o uso simultâneo desses fármacos poderia ser eficaz em deter a proliferação do

parasita no hospedeiro mamífero em doses mais baixas do que as requeridas quando utilizados

isoladamente, esse fato levaria à uma redução do custo potencial ou efeitos tóxicos envolvidos

no tratamento.

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37  

1.14 Critérios de cura

Segundo o Consenso Brasileiro em DC, a negatividade sorológica tem sido

considerada como o único método indicador de cura. O tempo necessário para a negativação é

variável e depende da fase da doença, sendo de: 3-5 anos para a fase aguda, um ano para a

infecção congênita, 5-10 anos para a fase crônica recente e acima de 20 anos na fase crônica

de longa duração. Nesse período de acompanhamento, pode ocorrer uma queda persistente e

progressivo acima de 3 diluições dos títulos sorológicos, sendo um resultado sugestivo de

futura negativação. Entretanto, é importante comentar que a positividade dos exames

parasitológicos indica fracasso terapêutico, em qualquer momento da evolução do paciente

(CONSENSO, 2005).

A imunofluorescência indireta (IFI), ensaio imunoenzimático (ELISA) e

hemaglutinação indireta são as técnicas sorológicas recomendadas como critério de cura

(ZICKER et al., 1990). Com a utilização destas técnicas é possível comparar os títulos de

anticorpos séricos antes, durante e após a conclusão do tratamento, de forma que, a cura

sorológica é determinada pela obtenção de resultados pós-terapêuticos persistentemente

negativos, por um longo período de segmento (SOSA et al., 1998; SILVEIRA; CASTILLO;

CASTRO, 2000; OLIVEIRA et al., 2008). A técnica de IFI padronizada por Camargo, em

1966, tem a grande vantagem de ser utilizada em laboratórios clínicos empregando–se

reagentes padronizados como os conjugados anti-globulínicos marcados com fluoresceína,

sais reagentes e o próprio parasito (epimastigota) proveniente de cultura, sem necessidade de

processos de extração ou fracionamento. Já o método imunoenzimático (ELISA),

padronizado na década de 70, trouxe vantagens adicionais como automação e a utilização de

um leitor de densidade óptica. Essas inovações possibilitaram analisar várias amostras por vez

além de dispensar a leitura do técnico em microscopia (GILBER, 2007; CAMARGO, 1966).

Entretanto, os métodos sorológicos anteriormente mencionados apresentam

algumas limitações, como exemplo, o fato de a sorologia permanecer positiva durante anos

após o tratamento (LE LOUP, 2011). Diante dessa realidade, novos marcadores têm sido

estudados, como os anticorpos anti-F2/3 e a PCR, descritos a seguir (ALTCHEH et al., 2003;

DUFFY et al., 2009).

Altcheh et al. (2003) analisaram anticorpos anti-F2/3 (early antibodies) como

marcador de cura em crianças com infecção congênita de DC no Hospital de Niños Ricardo

Gutiérrez, Buenos Aires. A fração antigênica F2/3, isolada de tripomastigotas do T. cruzi,

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38  

contém epítopos detectáveis por anticorpos representativos de infecção ativa. A fracção

antigênica F2/3 (ALMEIDA et al., 1993) é constituída por glicoconjugados, ancorados à

membrana por glicofosfatidilinositol, com características de mucina: Elevada quantidade de

aminoácidos hidrofílicos (T, S, K, G), ácido siálico e oligossacarídeos com união O-

glicosídica com a proteína. Estes oligossacarídeos representam 60% do massa desta

glicoproteína do T. cruzi e são ricos em resíduos de galactopiranosil (ALMEIDA et al., 1994).

Altcheh et al. (2003) compararam os anticorpos anti-F2/3 com técnicas sorológicas

convencionais (ELISA) em pacientes submetidos ao tratamento com Bz. Como uma de suas

conclusões, pôde constatar que os anticorpos anti-F2/3 podem ser considerados como um

marcador precoce para avaliação de cura, particularmente nos pacientes com tempo

prolongado de infecção.

Outra ferramenta, utilizada por Duffy et al. (2009), foi a PCR em tempo real.

Aplicou-se essa técnica com vários objetivos, dentre estes o de avaliar a carga parasitária no

sangue periférico de indivíduos infectadas; monitorar a resposta ao tratamento com Bz em

crianças, permitindo uma rápida avaliação da efetividade da droga; assim como também de

avaliar a possível reativação da DC em pacientes que receberam drogas imunossupressoras

após o transplante cardíaco. Segundo o autor, a PCR em tempo real constitui uma ferramenta

sensível de avaliação parasitológica de acompanhamento terapêutico da DC, podendo

representar num futuro próximo um avanço nos critérios de cura da doença.

Diante das controvérsias a respeito dos reais benefícios trazidos pelo tratamento

farmacológico com Bz em pacientes na fase crônica da DC, do elevado potencial de

toxicidade do medicamento e das limitações apresentadas pelos métodos sorológicos

convencionais utilizados atualmente como indicadores de cura, verificou-se a necessidade de

uma avaliação da efetividade do tratamento em pacientes atendidos no projeto Atenção

Farmacêutica ao paciente chagásico do estado do Ceará, a fim de verificar ou não, o possível

benefício do Bz, do ponto de vista sorológico e eletrocardiográfico.

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39  

2 OBJETIVOS

2.1 Objetivo Geral:

Avaliar a efetividade da quimioterapia com Benzonidazol em pacientes na fase crônica

da doença de Chagas.

2.2 Objetivos Específicos:

Descrever o perfil sócio-demográfico dos pacientes.

Avaliar a resposta sorológica dos pacientes em um período de 5 a 7 anos de

seguimento.

Realizar uma análise comparativa dos eletrocardiogramas dos pacientes antes (2005 a

2007) e após o tratamento (2011).

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40  

3. METODOLOGIA

3.1 Delineamento e período de estudo

Trata-se de um estudo prospectivo não-concorrente e concorrente

(ROUQUAYROL, 1990). É considerado “não-concorrente” porque a primeira etapa do

acompanhamento da coorte se faz em relação a fatos já passados e “concorrente” pois a

segunda etapa da observação é realizada contemporaneamente como parte integrante dos

trabalhos atuais da pesquisa, com data pré-estabelecida para o seu encerramento (Figura 8). O

estudo foi realizado a partir de 2005, 2006 ou 2007 (de acordo com o ano de entrada do

paciente no projeto) até 2011, ou seja, 7, 6 ou 5 anos de acompanhamento (análise

sorológica), respectivamente (Figura 9).

Figura 8 – Delineamento do estudo.

Fonte: ROUQUAYROL, 1990.

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42  

No primeiro atendimento, antes do paciente ser tratado, era aplicado um

questionário contendo perguntas sobre dados pessoais e sociais dos pacientes (APÊNDICE

A), coletado sangue e dispensado o Bz na quantidade suficiente para 30 dias de tratamento

com as devidas orientações farmacêuticas. No segundo atendimento, os pacientes retornavam

no final de 30 dias de tratamento para realizar exames laboratoriais e receber o restante do

medicamento. No terceiro atendimento, final de 60 dias, os pacientes retornavam para coleta

de sangue. Os demais atendimentos eram agendados para ocorrer uma vez por ano (entrevista

e coleta de sangue). Para este estudo (no que diz respeito à análise sorológica) foram

considerados apenas os dados do primeiro atendimento (antes do tratamento) e o

acompanhamento realizado 1 vez ao ano após o uso do Bz, já que o objetivo deste estudo foi

avaliar a efetividade da terapia após o tratamento farmacológico, comparado ao primeiro

atendimento (quando o paciente ainda não havia sido tratado).

Figura 10 – Atendimento aos pacientes.

Fonte: LPDC, 2011.

3.4 Amostragem, critérios de inclusão e exclusão

Foram incluídos aqueles que tinham infecção chagásica crônica, de ambos os

sexos, com faixa etária acima de 18 anos, tratados com Bz e que concordaram em participar

do estudo e assinaram o termo de consentimento.

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43  

Foram excluídos os casos de cardiomiopatia chagásica grave (em casos em que

não se acreditava que o medicamento trouxesse algum tipo de benefício ao paciente),

gravidez, mulheres em idade fértil sem o uso de contraceptivos, insuficiência hepática ou

renal e outras doenças que podem ser agravadas pelo uso do Bz.

A pesquisa foi iniciada com 35 pacientes, entretanto quatro foram excluídos

devido ao surgimento de reações adversas que levaram a suspensão do tratamento com Bz.

Dos 31 restantes, 01 foi excluído apenas da análise sorológica, por não haver comparecido à

coleta de sangue, mas permaneceu na avaliação eletrocardiográfica. Assim, o estudo contou

com 30 pacientes acompanhados sorologicamente desde 2005, 2006 ou 2007 (de acordo com

a data de admissão no projeto) até 2011.

Figura 11 – Esquema do acompanhamento sorológico antes e após tratamento com benzonidazol em pacientes chagásicos crônicos (realizado 1 vez ao ano).

Antes do tto (2005) 2006  2007  2008  2009  2010  2011  (4 pacientes)

Antes do tto (2006) 2007  2008  2009  2010  2011           (12 pacientes) 

Antes do tto (2007) 2008  2009  2010  2011                        (14 pacientes) Fonte: LPDC, 2011. Legenda: tto – tratamento.

3.5 Análise sorológica

Todas as análises sorológicas (ELISA e IFI) foram realizadas no LPDC.

3.5.1 Ensaio Imunoenzimático (ELISA)

As amostras de soro foram armazenadas a -20°C até o momento da análise. O

ensaio semi quantitativo de IgG anti-T. cruzi foi realizado por ensaio imunoenzimático

(Biomeriéux: ELISA cruzi, Brasil), utilizando soros na diluição de 1/80 para todas as

amostras analisadas.

O ELISA cruzi é um método imunoenzimático em microplaca de Microelisa. Os

poços são revestidos com antígenos do T. cruzi para detecção de anticorpos IgG anti-T. cruzi

em amostras de soro de indivíduos que possam estar infectados com o parasito. Os anticorpos

da amostra são capturados pelo antígeno do T. cruzi (extrato de formas epimastigotas da cepa

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44  

Y) presente nos poços após incubação por 30 minutos a 37°C. Após uma etapa de lavagem, é

adicionado o conjugado (anti-imunoglobulina humana marcada com a enzima peroxidase), e a

placa incubada por 30 minutos a 37°C. As lavagens são repetidas e durante a etapa de

detecção, a peroxidase presente no complexo antígeno-anticorpo conjugado reage com o

substrato cromogênico (tetrametilbenzida), em 10 minutos de incubação à temperatura

ambiente e no escuro. A intensidade da cor é lida por espectrofotometria e os resultados são

interpretados como presença ou ausência de anticorpos anti-T. cruzi na amostra.

Utilizando os resultados do teste de ELISA, os pacientes foram classificados, de

acordo com ZAUZA e BORGES-PEREIRA (2001) em: Evolução inalterada, quando a

densidade óptica (DO) da última amostra recolhida (2011) apresentou um aumento ou

redução menor que 1,5 vezes em relação à amostra basal (antes do tratamento); progressiva

quando a DO apresentou um aumento igual ou superior a 1,5 vezes a análise da primeira; e

regressiva quando a DO teve uma redução igual ou superior a 1,5 vezes a primeira análise.

Neste estudo, a razão entre as DO foi realizada sempre do maior pelo menor valor.

3.5.2 Imunofluorescência indireta (IFI)

3.5.2.1 Reação de IFI

O ensaio de Imunofluorescência indireta foi realizado utilizando diluição seriada

(1/20, 1/40, 1/80, 1/160, 1/320, 1/640, 1/1280) das amostras de soro (armazenadas a -20°C até

o momento das análises), a fim de verificar a presença de IgG anti-T. cruzi.. O soro dos

pacientes foi diluído previamente em tubos eppendorf com PBS nas diluições anteriormente

apresentadas. A lâmina contendo os parasitos fixados foi incubada com o soro do paciente por

30 minutos a 37ºC, em câmara úmida. Após 3 lavagens de 10 minutos em PBS, as lâminas

foram incubadas com o segundo anticorpo (conjugado com FIT) anti-IgG humano na diluição

1/50, por 30 min., a 37ºC em câmara úmida. O processo de lavagem foi repetido (2 lavagens

de 10 minutos) e finalmente a lâmina foi montada com glicerina tamponada e realizada a

leitura em microscópio de fluorescência com objetiva 400x. Foram considerados reagentes os

soros com título igual ou superior a 1/40. Nesse ensaio foram realizadas as análises apenas

das amostras basais (antes do tratamento) e de 2011 (Modificado de SHERWIN et al., 1987).

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45  

3.6 Avaliação eletrocardiográfica

A avaliação eletrocardiográfica foi realizada através da análise dos ECGs

disponíveis nos prontuários (arquivados no SAME - Serviço de arquivamento médico e

estatístico) de 67,7% (21/31) dos pacientes incluídos neste estudo. Os pacientes que não

tinham ECG em 2011 não foram avaliados (32,2% - 10/31). Foram considerados os ECGs

mais próximos ao início do tratamento (2005, 2006 ou 2007), de acordo com a admissão no

Hospital e os de 2011.

Dos 21 pacientes incluídos na avaliação eletrocardiográfica, todos foram

submetidos à realização do ECG convencional, que foi analisado de forma padronizada,

calculando-se a frequência cardíaca (FC), medindo-se a duração do complexo QRS e do

intervalo QT e QT corrigido. Neste estudo, não foi realizada avaliação da forma digestiva da

doença de Chagas, já que o foco do trabalho era a avaliação eletrocardiográfica. A frequência

cardíaca foi calculada através da razão entre 1500 e o intervalo RR. O intervalo QT foi

medido desde o início do complexo QRS até o final da onda T. Em seguida, aplicou-se a

fórmula matemática (razão do intervalo QT medido pela raiz quadrada do intervalo RR) a fim

de se obter o valor do QT corrigido. E por fim, calculou-se a duração do complexo QRS que

foi medido do início da onda Q, quando ela existia, ou início da onda R, até o final da sua

última onda, que poderia ser uma onda R, S, R’ ou S’ (JOHNSON; SWARTZ, 1986).

De acordo com alguns dos critérios utilizados por estudos prévios (ARAÚJO

2008; GARZON, LORGA, NICOLAU, 1995; MARIN-NETO, SIMÕES, SARABANDA,

1999), foi conceituada como mudança eletrocardiográfica a ocorrência das seguintes

anormalidades, desde que ausentes no exame inicial:

• Distúrbio da condução intraventricular

• Distúrbio da condução atrioventricular

• Fibrilação, flutter ou ritmo atrial ectópico

• Extrassístoles ventriculares frequentes (duas ou mais)

• Área de inatividade elétrica

• Baixa voltagem periférica

• Sobrecargas ventriculares

• Alterações significativas da repolarização ventricular (onda T negativa superior a 1 mv

ou desvios do segmento ST superiores a 1mm).

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46  

Com relação á frequência cardíaca (FC), foram considerados apenas os casos com

bradicardia igual ou inferior a 50bpm (batimentos por minuto).

3.7 Aspectos Éticos

O projeto foi submetido à apreciação do Comitê de Ética em Pesquisas do

HUWC/UFC recebendo parecer favorável em 19 de agosto de 2010 com o protocolo de

número 014.03.10. Os requisitos básicos da bioética (autonomia, não maleficência,

beneficência e justiça) previstos na resolução n° 196/96 foram seguidos. Os participantes

foram informados sobre a finalidade da pesquisa e deram seu consentimento (APÊNDICE B).

3.8 Análise Estatística

Os dados foram analisados com auxílio do programa GraphPad Prism 5.

Inicialmente, foi realizada a análise de normalidade dos dados segundo os testes de

Kolmogorov-Smirnov, D’Agostino and Pearson e Shapiro-Wilk. Posteriormente, o teste t

pareado, repeated measures ANOVA foram usados para comparar as médias da concentração

do anticorpo IgG anti-T. cruzi, assim como o teste de wilcoxon comparou as medianas. O

intervalo de confiança foi de 95% e foram consideradas significantes as análises com p <

0,05.

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47  

4 RESULTADOS

4.1 Reações adversas que levaram a suspensão do tratamento com benzonidazol

A droga foi tolerada na maioria dos pacientes 88,57% (31/35). Desses, alguns

apresentaram reações adversas que não levaram a suspensão do uso do fármaco, por isso não

foram descritas neste estudo. Apenas 1 desses casos, após 8 a 9 dias de uso do Bz, apresentou

uma reação (rosto e braços avermelhados) que culminou com suspensão do medicamento por

5 dias. Entretanto, após retorno ao médico, voltou a usar o medicamento (prescrição alterada)

em associação com antialérgico, conseguindo completar o tratamento.

Por outro lado, 11,43% (4/35) apresentaram reações adversas que culminaram

com a interrupção completa do uso do Bz e precisaram ser excluídos do estudo (Quadro 1).

Quadro 1 – Suspensão do tratamento devido ao surgimento de Reações Adversas ao Bz.

Paciente Período de uso do Bz (dias)

RAM (Reação adversa a medicamentos)

1 37 Descamação da pele, formigamento

2 25 Manchas vermelhas e coceira

3 37 Ardor e vermelhidão na pele,

vesículas com pus

4 8 Prurido no corpo inteiro Fonte: LPDC, 2012.

4.2 Descrição do perfil sócio-demográfico

De acordo com a tabela 1, verifica-se a distribuição segundo sexo e faixa etária

(relativa ao ano de admissão no projeto) dos 31 pacientes do estudo. A maioria estava entre 30

e 59 anos de idade 87,1% (27/31) e eram do sexo masculino 64,5% (20/31). Apenas 6,45%

(2/31) se encontravam entre 20 a 29 ou de 60 a 69 anos.

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48  

Tabela 1 – Distribuição por sexo e faixa etária de 31 pacientes chagásicos crônicos tratados com Bz.

   Sexo   

Faixa etária (anos) Masculino Feminino Total

20 - 29 1(3,2%) 1(3,2%) 2 (6,45%)

30 - 39 8 (25,8%) 3 (9,7%) 11(35,5%)

40 - 49 3 (9,7%) 5 (16,1%) 8 (25,8%)

50 - 59 7 (22,6%) 1 (3,2%) 8 (25,8%)

60 - 69 1(3,2%) 1(3,2%) 2 (6,45%)

Total 20 (64,5%) 11(35,5%) 31(100%) Fonte: LPDC, 2012.

Com relação ao nível de escolaridade, pode-se observar na tabela 2 que 51,6%

(16/31) dos pacientes não completaram o 1° grau, seguidos por 22,6% (7/31) com 2° grau

completo, 9,7% (3/31) com 1° grau completo, 3,2% (1/31) semianalfabetos e 6,5% (2/31)

analfabeto ou superior completo.

Tabela 2 – Nível de escolaridade.

Escolaridade  N° de pacientes Analfabeto  2 (6,5%) Semianalfabeto  1 (3,2%) 1° grau incompleto  16 (51,6%) 1° grau completo  3 (9,7%) 2° grau incompleto  0 2° grau completo  7 (22,6%) Superior incompleto  0 Superior completo  2 (6,5%) Total  31 (100%) 

Fonte: LPDC, 2012.

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49  

Com relação a profissão, 22,6% (7/31) dos pacientes eram agricultores; 6,5%

(2/31) eram autônomos, caseiros, comerciantes, desempregados, domésticas, dona de casa, ou

professores/educadores e 3,2% (1/31) eram analista químico, aposentado, auxiliar de

enfermagem, auxiliar técnico administrativo, instalador, motorista ou recepcionista (Tabela

3).

Tabela 3 – Profissão dos pacientes acompanhados pelo estudo. Profissão  N° de pacientes  Agricultor  7 (22,6%) Analista químico  1 (3,2%) Aposentado  1 (3,2%) Autônomo  2 (6,5%) Auxiliar de enfermagem  1 (3,2%) Auxiliar técnico administrativo  1 (3,2%) Caseiro  2 (6,5%) Comerciante  2 (6,5%) Desempregado  2 (6,5%) Doméstica  2 (6,5%) Dona de casa  2 (6,5%) Instalador  1 (3,2%) Motorista  1 (3,2%) Professor/educador  2 (6,5%) Recepcionista  1 (3,2%) Serviços gerais  1 (3,2%) Técnico em eletrônica  1 (3,2%) Vigilante  1 (3,2%) Total  31 (100%) 

Fonte: LPDC, 2012.

4.3 Aspectos epidemiológicos

Quanto à naturalidade, a maioria dos pacientes era proveniente de Russas

(19,4%), Limoeiro do Norte (16,1%), Jaguaruana (12,9%) e Quixeramobim (12,9%) (Tabela

4). De acordo com o mapa do estado do Ceará, Russas, Limoeiro do Norte e Jaguaruana são

municípios localizados na Microrregião do Baixo Jaguaribe, no Vale do Jaguaribe. Já

Quixeramobim é um município localizado na Mesorregião dos Sertões Cearenses (Figura 12).

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50  

Figura 12 – Mapa do estado do Ceará mostrando as 4 principais cidades de onde os pacientes eram provenientes: Russas (19,4%), Limoeiro do Norte (16,1%), Jaguaruana (12,9%) e Quixeramobim (12,9%).

Fonte: Adaptação Wikipédia.

Tabela 4 – Distribuição dos pacientes segundo naturalidade Naturalidade N° %

Acopiara - CE 1 3,2 Alto Santo 1 3,2 Apodi - RN 1 3,2 Aratuípe - BA 1 3,2 Cratéus - CE 1 3,2 Icó - CE 1 3,2 Independência - CE 1 3,2 Ipu - CE 1 3,2 Jaguaruana - CE 4 12,9 Limoeiro do Norte - CE 5 16,1 Patos - CE 1 3,2 Quixadá - CE 1 3,2 Quixeramobim 4 12,9 Russas - CE 6 19,4 São João do Jaguaribe - CE 1 3,2 Tauá - CE 1 3,2 Total 31 100

Fonte: LPDC, 2012.

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51  

Com relação ao local de residência, no início do estudo, 38,7% (12) residiam em

Fortaleza, seguido por 16,1% (5) em Limoeiro do Norte e 12,9% (4) em Jaguaruana, como

pode ser observado na tabela 5.

Tabela 5 – Distribuição dos 31 pacientes segundo local de residência. Local de residência N° %

Acopiara - CE 1 3,2 Fortaleza -CE 12 38,7 Icó - CE 1 3,2 Jaguaruana - CE 4 12,9 Limoeiro do Norte 5 16,1 Maracanaú - CE 2 6,5 Nova Russas - CE 1 3,2 Russas - CE 2 6,5 Tabuleiro do Norte - CE 1 3,2 Tauá - CE 1 3,2 Quixeramobim - CE 1 3,2 Total  31  100 

Fonte: LPDC, 2012.

4.4 Análise sorológica

O gráfico 1 mostra a variação das médias das densidades ópticas antes (0,73 ± 0,09) e

após o tratamento (0,62 ± 0,07), de 30 pacientes chagásicos crônicos acompanhados com 5 a

7 anos de segmento. Segundo o teste de wilcoxon, a diminuição entre os valores analisados

foi significativa (p < 0,05).

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Gráfide 30

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0,67±

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2010

fico 1 – Com0 pacientes

e: LPDC, 2012

Com

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±0,09 (2°an

no, 2011).

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mento, 200

0) e 0,59±0,

mparação enchagásicos

2. Os dados es

m relação à

nte durante 6

saber: 0,69

no, 2008),

Entretanto,

i observada

07), 0,65±0

12 (4°ano, 2

ntre as médcrônicos tra

stão representa

s análises a

6 anos (gráf

9±0,11 (ant

0,63±0,08

entre os p

a uma qued

,13 (1° ano

2011).

dias das denatados com

ados por médi

ano a ano,

fico 2) não

tes do trat

(3°ano, 200

pacientes ac

da significa

o, 2008), 0

sidades óptBz com 5 a

ia ± erro padrã

verifica-se

apresentara

tamento, 2

09), 0,62±0

companhad

ante entre

0,64±0,12 (

icas (ELSAa 7 anos de

ão. Teste wilc

que os pac

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006), 0,74±

0,07 (4°ano

dos ininterru

as médias:

2°ano, 200

A) em amostsegmento.

coxon (*p < 0

cientes aco

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±0,10 (1°a

o, 2010) e

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0,74±0,15

09), 0,61±0

52

tras de soro

.05).

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ano, 2007),

0,54±0,052

por 5 anos

5 (antes do

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2  

o

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e

,

2

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Gráfitratad

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Fonte<0.00

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fico 2 – Ados com Bz

e: LPDC, 2012

fico 3 – Ados com Bz

e: LPDC, 201001).

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vencional, 6

% (4/30) pr

sentaram ev

Acompanhamz e acompan

2. Os dados es

Acompanhamz e acompan

12. Os dados

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66,7% (20/

rogressiva (

volução pro

mento sorolnhados por 6

stão representa

mento sorolnhados por 5

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30) apresen

(Tabela 6).

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lógico (EL6 anos inint

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lógico (EL5 anos inint

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Dos 4 pac

1 regressiva

LISA) de 1terruptos.

ia ± erro padrã

LISA) de 1terruptos.

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ógica, dos 3

olução inalt

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*** 

1 pacientes

ão. Teste ANO

3 pacientes

padrão. Test

30 pacientes

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m 7 anos de

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s chagásico

OVA pareado

s chagásico

te ANOVA p

s avaliados

% (6/30) re

segmento

de acompan

53

os crônicos

o (p > 0.05).

os crônicos

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egressiva e

(1 ao 4), 3

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p

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3

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54  

ao 16), 3 foram regressivos e 9 inalterados; e dos 14 com 5 anos (17 ao 30), 2 foram

regressivos, 1 progressivo e 11 inalterados (Tabela 6).

Tabela 6 – Evolução sorológica de 30 pacientes chagásicos crônicos tratados com Bz, com 5 a 7 anos de segmento.

Paciente  D.O. antes  D. O. depois  Razão  Evolução sorológica       Tempo (anos) 

1  0,645  0,961  1,5  Progressiva  7 2  1,131  0,639  1,8  Regressiva  7 3  0,16  0,408  2,6  Progressiva  7  4  0,468  0,764  1,6  Progressiva  7 5  0,423  0,496  1,2  Inalterada  6 6  0,832  0,781  1,1  Inalterada  6 7  0,827  0,727  1,1  Inalterada  6 8  1,518  0,716  2,1  Regressiva  6 9  0,507  0,4  1,3  Inalterada  6 10  0,257  0,264  1  Inalterada  6 11  0,691  0,698  1  Inalterada  6 12  0,373  0,515  1,4  Inalterada  6 13  0,721  0,34  2,1  Regressiva  6 14  0,38  0,431  1,1  Inalterada  6 15  0,36  0,497  1,4  Inalterada  6 16  1,085  0,568  1,9  Regressiva  6 17  0,429  0,35  1,2  Inalterada  5 18  0,152  0,143  1,1  Inalterada  5 19  0,586  0,454  1,3  Inalterada  5 20  0,089  0,145  1,6  Progressiva  5 21  0,273  0,234  1,2  Inalterada  5 22  1,568  1,201  1,3  Inalterada  5 23  1,194  0,747  1,6  Regressiva  5 24  0,845  0,591  1,4  Inalterada  5 25  0,825  0,645  1,3  Inalterada  5 26  0,127  0,062  2  Regressiva  5 27  1,826  1,694  1,1  Inalterada  5 28  1,44  1,183  1,2  Inalterada  5 29  0,757  0,666  1,1  Inalterada  5 30  1,397  1,253  1,1  Inalterada  5 

Fonte: LPDC, 2012.

No que diz respeito à avaliação sorológica através da imunofluorescência indireta

(IFI), o gráfico 4 mostra que os pacientes mantiveram-se inalterados durante o segmento

(variação de no máximo 1 diluição entre a amostra basal e 2011). Antes do tratamento, 36,7%

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55  

(11/30) dos pacientes apresentavam sorologia positiva até 1/160 e 30% (9/30) até 1/320. Após

o período de 5 a 7 anos de acompanhamento, 26,7% (8/30) apresentaram resultados positivos

até 1/80 e 43,3% (13/30) até 1/160. Com relação à diluição de 1/640, 10% (3/10) das amostras

basais eram consideradas reagentes antes do tratamento, já em 2011 esse número caiu para

6,7% (2/30) (APÊNDICE 3).

Gráfico 4 – Avaliação por IFI de 30 pacientes chagásicos crônicos tratados com Bz com 5 a 7 anos de acompanhamento.

Fonte: LPDC, 2012.

4.5 Avaliação eletrocardiográfica

Com relação ao estudo eletrocardiográfico, algumas das alterações mais

frequentes no grupo estudado (antes do tratamento), o BRD com 38,1% (8/21) (além de um

caso de BIRD), o BDAS com 23,8% (5/21) dos casos e a baixa voltagem periférica com

23,8% (5/21) dos pacientes.

Dos 21 indivíduos avaliados pelo estudo, 76,2% (16/21) apresentaram uma

manutenção dos laudos eletrocardiográficos (iguais ou semelhantes) ao longo do tempo. Com

relação aos demais casos, 4 pacientes evoluíram com o surgimento de novos achados

eletrocardiográficos, a saber: Caso C evoluiu para o bloqueio de ramo direito, embora

apresentasse um bloqueio incompleto no eletrocardiograma realizado antes do tratamento

(vale ressaltar que apresentava baixa voltagem no exame inicial, não mais verificada em

2011); paciente D, surgimento de baixa voltagem no ECG de 2011, embora o basal fosse

normal; caso O, surgimento de extrassístoles ventriculares frequentes (também ausentes no

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56  

exame inicial) e o paciente Q que apresentou uma queda da frequência cardíaca de 10,1 bpm,

passando de 57,7 (antes do tratamento) para 47,6 bpm (após o tratamento) (Quadro 2).

Por outro lado, foi observado um caso (U) onde o paciente apresentava ESV

frequentes antes do tratamento, entretanto, estas não foram observadas no ECG de 2011

(Quadro 2).

Quadro 2 – Avaliação eletrocardiográfica de 21 pacientes chagásicos crônicos antes (2005 a 2007) e após tratamento com Bz (2011).

Paciente ECG (antes) ECG (depois) Idade (anos)

A* Normal Normal 39

B* BRD+BDAS BRD+BDAS 53

C* BDAS +BIRD+ baixa voltagem BRD+BDAS 56

D* Normal baixa voltagem 35

E** bradicardia (FC 50)+sobrecarga atrial esquerda+baixa voltagem sobrecarga atrial esquerda+baixa voltagem+bradicardia (FC 45,5) 52

F** BRD BRD 44

G** Normal Normal 37

H** Normal Normal 33

I** baixa voltagem nas deriv. dos membros baixa voltagem nas deriv. dos membros 39

J** BRD+BDAS BRD+BDAS 31

K** sobrecarga atrial esquerda+ BRD sobrecarga atrial esquerda+ BRD 45

L*** BRD+BDAS BRD+BDAS 47

M*** Sobrecarga atrial esquerda+BRD Sobrecarga atrial esquerda+BRD 46

N*** Normal Normal 43

O*** Normal ESV 51

P*** BRD+baixa voltagem nas deriv. periféricas BRD+baixa voltagem nas deriv. periféricas 33

Q*** Sobrecarga atrial esquerda (FC 57,7) Sobrecarga atrial esquerda + Bradicardia (FC 47,6) 55

R*** Normal Normal 39

S*** Normal Normal 58

T*** Normal Normal 45

U*** BRD+BDAS+baixa voltagem+Ritmo sinusal c/ ESV BRD+BDAS+baixa voltagem 47

Legenda: BRD (Bloqueio de ramo direito); BDAS (Bloqueio divisional ântero-superior); ARV (Alteração da

repolarização ventricular); FC (Frequência cardíaca); BIRD (Bloqueio incompleto de ramo direito); ESV

(Extrassístole ventricular). Períodos de acompanhamento - * 7 anos; ** 6 anos; *** 5 anos.

Fonte: LPDC, 2012.

No que diz respeito à duração da curva QRS (milissegundos, ms), não houve uma

diferença significante entre as medianas antes 100 (80 – 120) e após o tratamento 100 (80 –

120), de acordo com o teste de Wilcoxon. Pode-se observar também na tabela 7, que houve

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57  

apenas uma pequena variação das médias, de 102.9 ± 24.73 para 106.7 ± 22.21 após o

tratamento.

Tabela 7 – Comparação da duração da curva QRS antes e após tratamento com Bz em 21 pacientes chagásicos crônicos.

Duração da curva QRS (ms) Antes Após o tratamento N° de pacientes 21 21 Mediana 100.0 100.0 Intervalo interquantil 80 - 120 80 - 120 Média ± desvio padrão 102.9 ± 24.73 106.7 ± 22.21 Intervalo de confiança (95%)

91.60 - 114.1 96.56 - 116.8 Limite inferior - Limite superior Valor de p p = 0.2755 (teste de Wilcoxon)

Fonte:LPDC, 2012.

Com relação à frequência cardíaca (batimentos por minuto, bpm), verifica-se na

tabela 8 que houve uma diferença significante entre as médias antes (68.62 ± 11.12) e após

(65.15 ± 11.73) o tratamento com Bz, dos 21 pacientes avaliados no estudo.

Tabela 8 – Comparação entre a frequência cardíaca (FC) antes e após tratamento com Bz em 21 pacientes chagásicos crônicos.

Frequência cardíaca (bpm) Antes Após o tratamento N° de pacientes 21 21 Mediana 67.00 67.00 Intervalo interquantil 60 - 76.95 54.55 - 75 Média ± desvio padrão 68.62 ± 11.12 65.15 ± 11.73 Intervalo de confiança (95%)

63.56 - 73.69 59.81 - 70.49 Limite inferior - Limite superior Valor de p *p = 0,0384 (Teste t pareado)

 Fonte: LPDC, 2012.

 O intervalo QT mostrou diferença significativa, com mediana de 380 (360 – 410)

antes e 400 (370 – 440) após o uso do Bz. Já com relação ao intervalo QT corrigido, pode-se

observar que não houve uma diferença significante entre os valores das médias antes (408.3 ±

31.96) e após (415.4 ± 30.11) o tratamento. Assim, o QT corrigido apresenta uma menor

variação ao longo do estudo em comparação com o QT medido. Esses resultados estão

descritos detalhadamente na tabela 9.

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58  

Tabela 9 – Análise do intervalo QT e intervalo QT corrigido antes e após tratamento com Bz em 21 pacientes chagásicos crônicos.

Intervalo QT (ms) Intervalo QT corrigido (ms) Antes Após o tratamento Antes Após o tratamento N° de pacientes 21 21 21 21 Mediana 380.00 400.00 405.1 418.6 Intervalo interquantil 360 - 410 370 - 440 381.7 - 428.7 397.4 - 430.5 Média ± desvio padrão 383.8 ± 27.29 401.9 ± 31.56 408.3 ± 31.96 415.4 ± 30.11 Intervalo de confiança (95%)

371.4 - 396.2 387.5 - 416.3 Limite inferior - Limite superior 393.7 - 422.8 401.7 - 429.1 Valor de p *p = 0.0150 (Wilcoxon) p = 0.2904 (Teste t pareado)

Fonte: LPDC, 2012.

No quadro 3, observa-se que os pacientes C e D apresentaram novas alterações

eletrocardiográficas (ausentes no exame inicial) e tiveram evolução sorológica progressiva.

Outros dois casos de sorologia progressiva (A e N) apresentaram os laudos

eletrocardiográficos normais ao longo do estudo. Um caso (O) evoluiu com aparecimento de

extrassístoles ventriculares (embora tivesse ECG basal normal) enquanto a análise sorológica

foi inalterada. Três pacientes com sorologia regressiva (B, K, P) mantiveram as alterações

eletrocardiográficas ao longo do estudo.

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59  

Quadro 3 – Relação entre o acompanhamento sorológico e eletrocardiográfico em pacientes chagásicos crônicos tratados com Bz.

Paciente ECG (2005, 2006 ou 2007) ECG (2011) E. S.

A Normal Normal P

B BRD+BDAS BRD+BDAS R

C BDAS +BIRD+baixa voltagem BRD+BDAS P

D Normal baixa voltagem P

E Bradicardia (FC 50)+sobrecarga atrial esquerda+baixa voltagem sobrecarga atrial esquerda+baixa voltagem+bradicardia (FC 45,5) I

F BRD BRD I

G Normal Normal I

H Normal Normal I

I baixa voltagem nas deriv. dos membros baixa voltagem nas deriv. dos membros I

J BRD+BDAS BRD+BDAS I

K sobrecarga atrial esquerda+ BRD sobrecarga atrial esquerda+ BRD R

L BDAS+BRD BRD+BDAS I

M Sobrecarga atrial esquerda+BRD Sobrecarga atrial esquerda+BRD I

N Normal Normal P

O Normal ESV I

P BRD+baixa voltagem nas deriv. Periféricas BRD+baixa voltagem nas deriv. periféricas R

Q Sobrecarga atrial esquerda+Bradicardia (FC 57,7) Sobrecarga atrial esquerda+Bradicardia (FC 47,6) I

R Normal Normal I

S Normal Normal -

T Normal Normal I

U BRD+BDAS+baixa voltagem+Ritmo sinusal c/ ESV BRD+BDAS+baixa voltagem I Legenda: BRD (Bloqueio de ramo direito); BDAS (Bloqueio divisional ântero-superior); ARV (Alteração da

repolarização ventricular); FC (Frequência cardíaca); BIRD (Bloqueio incompleto de ramo direito); ESV

(Extrassístole ventricular); E.S.: Evolução Sorológica (P – progressiva; R – regressiva; I – inalterada).

Fonte: LPDC, 2012.

4.6 Medicamentos utilizados

Na entrevista inicial, os pacientes foram perguntados a respeito da utilização de

outros medicamentos (além do Bz). Dos 21 pacientes que receberam acompanhamento

eletrocardiográfico (antes e após o tratamento), 6 afirmaram não fazer uso de outros

medicamentos, 11 faziam uso de outras drogas (antiinflamatórios, relaxantes musculares,

entre outros) e 4 referiram uso de medicamentos cardiovasculares, a saber: Losartan (01),

Carvedilol (02), Ramipril (01), Enalapril (01), Espironolactona (01) e Ácido Acetilsalicílico

(01).

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60  

Em 2012, os pacientes foram novamente questionados a respeito da utilização de

medicamentos, interrogando quais remédios foram ou estavam sendo ou seriam usados no

período de 2011 a 2012. Dos 21 pacientes com acompanhamento eletrocardiográfico (antes e

após o tratamento), apenas 17 responderam as perguntas, os demais não foram localizados

devido à mudança de contato ao longo do tempo. Desses 17, 01 paciente afirmou não usar

nenhuma droga, 06 faziam ou fazem uso de outros medicamentos (diazepan, antibióticos,

analgésicos, entre outros) e 10 referiram uso de medicamentos cardiovasculares, dentre eles:

Amiodarona (04), Carvedilol (03), Losartan (04), Metaprolol (01), Propranolol (01), Ácido

acetilsalicílico (02), Losartan + Hidroclorotiazida (01), Espironolactona (01), Sinvastativa

(02) e medicamento para colesterol (01) – paciente não soube dizer o nome do medicamento.

4.7 Relatos de casos

Dois casos serão comentados por apresentarem particularidades ao longo do

estudo, como pode ser observado abaixo.

RELATO DE CASO - Implante de desfibrilador implantável

Paciente do sexo feminino, com 60 anos no momento da admissão (2006) no

projeto Atenção Farmacêutica ao paciente chagásico, natural de Jaguaruana-CE, iniciou o

tratamento com Bz em 2006 no referido projeto. No início do acompanhamento no

ambulatório de cardiologia do HUWC, a paciente já apresentava ECG com alterações como,

bradiarritmia sinusal, BRD E BDAS (2006). Após o fim do tratamento com Bz, a paciente

continuou sendo acompanhada pelo ambulatório ao longo dos anos. Em 2009, a paciente

realizou um Holter onde foram detectadas 08 pausas maiores ou iguais a 2,0 segundos, além

de arritmias ventriculares isoladas e episódios de bigeminismo. Associado a esses resultados,

somavam-se as queixas clínicas da paciente (história de cardiopatia chagásica, com dispnéia

ao esforço, progressiva, associada à precordialgia em aperto que cedia com o repouso,

associada a palpitações, tontura e sudorese fria). Assim, foi realizado o implante do CDI

(desfibrilador implantável) em janeiro de 2010. No que diz respeito à análise sorológica, a

paciente apresentou uma evolução sorológica inalterada tanto no ELISA (embora com um

aumento de 1,4 vezes) como na Imunofluorescência indireta (1/160), quando foram

relacionados os resultados da amostra basal com a coleta de 2011.

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61  

RELATO DE CASO – Bloqueio de ramo intermitente

Paciente do sexo feminino, com 37 anos no momento da admissão (2006) no

projeto Atenção Farmacêutica ao paciente chagásico, natural de Limoeiro do Norte, iniciou o

tratamento com Bz em 2006 no referido projeto. No início do acompanhamento ambulatorial

no HUWC, a paciente já apresentava ECG com alterações como o BRD (2006). Após o fim

do tratamento com Bz, a paciente continuou sendo acompanhada pelo ambulatório ao longo

dos anos. Assim, foi observado um fato interessante nos laudos dos eletrocardiogramas dessa

paciente ao longo do tempo: ECG (2006) – BRD; ECG (2007) – Normal; ECG (2008) - BRD;

ECG (2009) – Normal; ECG (2010) – ARV na parede inferior; ECG (2012) – BRD. De

acordo com os resultados observados, o quadro se caracteriza como um bloqueio de ramo

intermitente, que pode acontecer devido a uma área de isquemia observada no ECG e que

pode estar provocando o aparecimento do BRD. Também não se pode deixar de comentar

que o possível uso de drogas (antilipêmicos ou β-bloqueadores) também pode exercer

influência nesses resultados eletrocardiográficos, entretanto não foi possível, até o momento,

um novo contato com a paciente a fim de verificar quais medicamentos estavam ou estão

sendo usados.

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62  

5 DISCUSSÃO

De acordo com Camargo (1979), em inquérito nacional de prevalência da DC, o

valor da prevalência para o Brasil foi de 5,6%, enquanto para o Ceará foi de 1,38%. Esses

dados foram comentados no livro História Natural da doença de Chagas no Estado do Ceará

(Alencar, 1987) e apontam para a necessidade de um maior número de estudos, tanto

epidemiológicos quanto de segmento, a fim de avaliar o real impacto desta doença no país.

Diante disso, procurou-se realizar uma avaliação da resposta ao tratamento com Bz em

pacientes na fase crônica da DC, onde a maioria destes era proveniente de municípios do

interior do estado do Ceará.

Neste estudo, a faixa etária variou de 25 - 64 anos e a maioria (35,5% - 11/31) na

faixa de 30 a 39 anos (destes, 03 com evolução sorológica regressiva, 02 progressivas e 06

inalteradas), seguido pela faixa de 40 a 49 com 25,8% (8/31) dos pacientes (01 indivíduo com

evolução regressiva, 01 progressiva e 06 inalteradas) e de 50 a 59 anos também com 25,8%

(8/31), (02 com regressiva, 01 com progressiva, 04 inalteradas e 01 paciente sem análise

sorológica). Além disso, todos os pacientes de 20 a 29 anos e de 60 a 69 anos apresentaram

evolução inalterada. De acordo com esses resultados, podemos afirmar que a resposta

sorológica regressiva ou progressiva variou nas mais diferentes faixas etárias, não

apresentando predominância nos grupos dos pacientes.

A maioria dos pacientes era do sexo masculino (64,5%), com faixa etária dos 25

aos 64 anos (35,5% dos 30 aos 39 anos), com ensino fundamental incompleto (51,6%),

naturais de municípios do interior do estado do Ceará (93,5%) e cuja principal ocupação era a

agricultura (22,6%). Resultados semelhantes também foram descritas em vários estudos

realizados no Brasil, como o de Oliveira-Marques et al. (2005), que desenvolveram um

inquérito sorológico em Londrina com 163 voluntários e mostrou-se que a maioria era do

sexo masculino (65%), com idade média de 42 anos, caucasianos (84%), baixo nível de

escolaridade, baixa renda familiar, agricultores (26%), provindos de zona rural (85%).

Aguiar et al. (2012), realizando um estudo sobre a presença do T. cruzi no sangue

de indivíduos tratados com Bz no Hospital das Clínicas da Universidade de Campinas,

acompanharam um grupo de 29 pacientes, constituído por 51,7% (15/29) de mulheres e

48,3% (14/29) de homens, onde todos os participantes eram nascidos em áreas endêmicas

para DC no Brasil (exceto um caso); a média de idade era de 36 ± 7,4 anos, no momento do

tratamento (8 a 54 anos). Os resultados de Aguir et al. diferem dos resultados deste estudo

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63  

principalmente no que diz respeito à maior prevalência do sexo feminino em relação ao

masculino.

Em relação ao perfil sócio-demográfico de pacientes com doença de Chagas no

estado do Ceará, Pontes et al. (2010) demonstraram que dos 32 pacientes que fizeram uso de

Bz, a idade média foi de 37 anos, 66% eram homens, 87,5% provinham de município do

interior do estado do Ceará e quanto ao grau de escolaridade, 53% dos entrevistados relataram

possuir o nível fundamental incompleto. Outro exemplo, foi a amostra estudada por Sousa

Júnior (2008), caracterizada por ter a maioria do sexo masculino, com escolaridade até o

ensino fundamental, idade média de 40 anos, ocupação variada (desde comerciante/autônomo

a estudante), procedente de zona rural, com renda de até 2 salários mínimos e de etnia

caucasiana. Esses resultados apontam para a constatação de que a DC no estado do Ceará

ainda permanece como uma patologia típica e característica de uma classe social

desfavorecida e carente das mais básicas necessidades.

O papel do tratamento antiparasitário na fase crônica da DC ainda apresenta

divergência de opiniões, sendo considerado controverso. Do ponto de vista sorológico e

parasitológico as taxas de cura após o tratamento são altamente variáveis, sendo maiores

naqueles tratados precocemente (MARIN-NETO et al., 2009). Após realizar uma revisão

sistemática da literatura, Villar et al. (2002) encontraram apenas cinco estudos randomizados

investigando os efeitos da terapia anti parasitária em pacientes (adultos ou crianças)

chagásicos crônicos. Entretanto, apenas três destes estudos utilizaram Bz ou Nf como agentes

tripanocida, enquanto os outros estudos utilizaram fármacos ditos ineficazes, como o

alopurinol, obtendo resultados insatisfatórios. Depois de um período de seguimento que

variou de 1-4 anos, certos índices apresentaram redução parasitária significativa nos pacientes

tratados, em comparação com os não tratados. Com relação à soroconversão, 61 dos 102

pacientes tratados negativaram a sorologia, em comparação com apenas seis dos 98 pacientes

não tratados (p<0,01). Além disso, quando se observa a redução dos títulos de anticorpos anti

T. cruzi, comparando o grupo tratado com não tratados, Villar et al. (2002) também

observaram uma diferença significativa (p<0,01). Diante desses resultados, pode-se afirmar

que os resultados do presente estudo apresentam algumas semelhanças com a revisão de

Villar et al., já que as duas pesquisas apontam para uma tendência a redução dos níveis

séricos de IgG anti T. cruzi em pacientes tratados.

Outro estudo de segmento realizado foi o de Cançado (2002), que tinha como

objetivo avaliar a resposta ao tratamento com Bz em 21 pacientes chagásicos agudos e 113

crônicos (em alguma das formas clínicas) e acompanhados por longo período de tempo, a

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64  

saber: 13 a 21 anos nos casos agudos e de 6 a 18 anos nos crônicos, em Belo Horizonte,

Minas Gerais. As reações sorológicas usadas foram fixação do complemento, IFI,

hemaglutinação indireta, e, ocasionalmente, ELISA. No estudo de Cançado, verificou-se a

cura em 76% dos pacientes agudos e de 8% dos crônicos. Esse fato demonstra a efetividade

limitada do Bz no que diz respeito ao tratamento farmacológico utilizado na fase crônica da

doença de Chagas.

Em estudo de Zauza e Borges-Pereira (2001) em Virgem da Lapa (Minas Gerais),

foi realizada a análise da evolução sorológica através de ELISA convencional em 140

pacientes chagásicos crônicos não tratados, no intervalo de 10 anos. De acordo com seus

resultados, 57,9% (81) apresentaram evolução inalterada, 37,1% (52) progressiva e apenas 5%

(7) regressiva. Neste estudo, dos 30 pacientes tratados avaliados através de ELISA

convencional, 66,7% (20) apresentaram evolução inalterada, 20% (6) regressiva e 13,3% (4)

progressiva. Esses resultados mostram um possível efeito benéfico do Bz quando comparado

ao grupo de pacientes não tratados. Ainda no que diz respeito ao estudo de Zauza e Borges-

Pereira, considerando os 140 pacientes estudados, a análise comparativa das médias inicial e

final de anticorpos IgG anti-T. cruzi nos soros mostrou a média final significativamente maior

do que a média inicial. Fato diferente do observado nos resultados do presente trabalho, onde

as médias apresentaram uma tendência à queda ao longo dos anos.

Com relação ao acompanhamento feito em crianças após o tratamento específico,

pode ser mencionado o estudo de Striger et al. (2004), com 95 crianças chagásicas crônicas de

1 e 14 anos, residentes na Argentina, não tratadas e tratadas com Nf ou Bz, com período de

segmento de até 24 anos. O autor comenta em seus resultados que das 71 crianças tratadas 49

tiveram acompanhamento de 4 a 24 anos: 14 mantiveram anticorpos anti-T. cruzi; 6

resultados discordantes e 29 negativaram a sorologia. Já com relação às 24 crianças não

tratadas, 14 foram observadas por 8 a 24 anos e apresentaram uma manutenção da sorologia

positiva e do estado clínico inicial. Segundo os autores, pode-se concluir que o tratamento

específico disponível é capaz de conferir benefícios para as crianças infectadas por T. cruzi

embora ainda esteja distante do ideal. Diante disso, além da necessidade de um maior número

de pesquisas sobre novas terapias medicamentosas para o tratamento da DC, também se faz

necessário à utilização de marcadores de cura mais fidedignos e específicos em resposta ao

tratamento (STREIGER et al., 2004).

Aguiar et al. (2012) avaliaram pacientes chagásicos crônicos após o tratamento

com Bz através de indicadores sorológicos e parasitológicos. O trabalho teve como objetivo

avaliar a presença de parasitos no sangue de pacientes tratados atendidos no Hospital das

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Clínicas da Universidade de Campinas, de 1980 a 2010. No momento do tratamento, a idade

média dos pacientes era de 36 ± 7,24 anos (20-39 anos) e o tempo pós-tratamento variou de 1

a 29 anos. Após a terapia com Bz, todos tiveram ELISA reagente e 93,1% tiveram resultado

positivo para o teste de IFI. De acordo com a IFI, dois indivíduos (6,9%) apresentaram

resultados inconclusivos com títulos abaixo do corte 1:40 e o restante (27/29) teve resultados

positivos com títulos entre 1:40 e 1:1280. Os resultados mostram que 61,5% dos títulos de IFI

cairam depois do tratamento, 11,6% mantiveram-se constantes e 26,9% aumentaram.

Já no presente estudo, observou-se que 15 (50%) pacientes apresentaram redução

de um título, 13 (43,3%) permaneceram com títulos inalterados e 2 (6,7%) tiveram aumento

de um título (APÊNDICE C). Os resultados deste trabalho apresentam certas semelhanças

com o estudo de Aguiar et al. (2012), já que a maioria dos pacientes apresentou uma

tendência a queda dos títulos após o tratamento, entretanto é importante salientar que essa

queda foi de apenas uma diluição, não sendo considerada significativa.

Fabbro at al. (2007) acompanharam, durante um período médio de 21 anos,

através de marcadores parasitológicos, sorológicos e clínicos 54 pacientes tratados (27 com

Nf e 27 com Bz) e 57 controles residentes em Santa Fé, Argentina. No que diz respeito ao

grupo tratado, 37% negativaram a sorologia, 28,7% diminuíram a titulação (9 com sorologia

final discordante) e 35,2% permaneceram positivos com titulação constante. Com relação ao

controle, os pacientes conservaram os níveis iniciais de IgG anti-T.cruzi. Já na evolução

clínica, observou-se uma diferença significativa (p<0,05) entre os grupos, já que 2/54 dos

pacientes tratados e 9/57 não tratados apresentaram alterações no ECG que foram atribuídas à

cardiopatia chagásica. Diante desses resultados, Fabbro et al. concluíram que apesar das

limitações de efetividade das terapias existentes, o estudo demonstrou que 37% dos pacientes

foram curados e que os medicamentos exerceram um efeito protetor na evolução clínica da

doença. No presente estudo, embora apresente um período de acompanhamento bem menor

que o de Fabbro et al., foi observada uma tendência a queda dos níveis séricos de IgG anti T.

cruzi, esse fato apoia a necessidade da continuação desse trabalho a fim de que futuramente se

possa observar (ou não) uma possível cura sorológica nesses pacientes.

A DC pode ser considerada como uma das principais responsáveis pelos

bloqueios, arritmias, insuficiência cardíaca, embolia e morte súbita na América Latina

(ROCHA; RIBEIRO; TEIXEIRA, 2003). O curso clínico desta patologia é variável e os

possíveis mecanismos responsáveis pela progressão ainda não foram bem esclarecidos

(RASSI et al., 2006). O principal mecanismo envolvido na morte súbita atribuída a DC é a

arritmia ventricular maligna (RASSI A JR; RASSI SG; RASSI A., 2001). Com efeito, a

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cardiopatia chagásica, que é caracterizada por infiltração inflamatória crônica, afeta

simultaneamnete o sistema contrátil do miocárdio e o sistema nervoso autônomo (LOPES,

1999). Nesse sentido, a identificação de fatores que possam prever elevado risco de morte

pode funcionar como uma ferramenta de grande importância na detecção precoce de

alterações e consequentemente aumentar as chances de sobrevivência dos pacientes (RASSI et

al., 2006; ROCHA; RIBEIRO, 2006; RIBEIRO a et al., 2008). Diante disso, pode-se

mencionar um pouco sobre a relevância do acompanhamento eletrocardiográfico em pacientes

com DC. Embora seja um tema que apresente divergência de opiniões, o significado de

alterações basais no ECG e da ocorrência de novas alterações no seguimento apresenta grande

importância, uma vez que o ECG é ferramenta de fácil acesso e muito utilizado no controle

médico dos pacientes chagásicos (ARAÚJO, 2008).

Dessa forma, foram encontradas como sendo algumas das alterações mais

frequentes no grupo estudado (antes do tratamento), o BRD com 38,1% (8) (além de um caso

de BIRD), o BDAS com 23,8% (5) dos casos e a baixa voltagem periférica com 23,8% (5)

dos pacientes. De acordo com a literatura, o BRD é realmente uma das alterações mais

comuns na DC, como pode ser confirmado pelo estudo de Garzon, Lorga e Nicolau (1995)

que estudaram 1010 casos selecionados em um centro diagnóstico localizado em São José do

Rio Preto, SP, onde encontraram uma prevalência de 33,3% de BRD nos eletrocardiogramas

analisados; resultados semelhantes também foram mostrados por Manguire et al. (1983),

embora com valor menor de prevalência 13,3%, em 346 casos (amostras não selecionadas) na

cidade de Castro Alves, Bahia. Com relação ao bloqueio divisional ântero-superior (BDAS),

Garzon, Lorga e Nicolau (1995) obtiveram uma prevalência de 32,7%, enquanto o estudo de

Manguire et al. (1983) de 2,9%. Outra alteração frequentemente mencionada nesses estudos,

foi a presença das extrassístoles ventriculares, com valor que variou de 7,5% a 40,3% nos

estudos de Manguire et al. (1983) e Garzon, Lorga e Nicolau (1995), respectivamente.

Viotti et al. (1994) realizaram um acompanhamento clínico e sorológico de

pacientes portadores de DC, não tratados e tratados com Bz, por um tempo médio de 8 anos,

na Argentina. No estudo, foi analisado um grupo de pacientes onde ocorreram mudanças

eletrocardiográficas: Entre os pacientes tratados, acima de 50 anos de idade, observou-se um

menor número de novas alterações (8,3%), em comparação aos pacientes não tratados

(17,5%), diferença não significativa. Em pacientes abaixo de 50 anos, a diferença era ainda

maior, 4,2% dos tratados e 30% dos não tratados apresentaram novas mudanças (p<0,001).

Esses resultados mostram que pacientes tratados com Bz tendem a apresentar menor

progressão da cardiomiopatia ao longo do segmento.

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67  

Neste estudo, dos 21 indivíduos avaliados, 76,2% (16/21) apresentaram uma

manutenção dos laudos eletrocardiográficos (iguais ou semelhantes) ao longo do tempo. Com

relação aos demais casos, quatro pacientes evoluíram com o surgimento de novos achados

eletrocardiográficos, a saber: Caso C evoluiu para o bloqueio de ramo direito, embora

apresentasse um bloqueio incompleto no ECG realizado antes do tratamento; paciente D,

surgimento de baixa voltagem no ECG de 2011, embora o basal fosse normal; caso O,

surgimento de extrassístoles ventriculares frequentes (também ausentes no exame inicial) e o

paciente Q que apresentou uma queda da frequência cardíaca de 10,1 bpm, passando de 57,7

(antes do tratamento) para 47,6 bpm (após o tratamento). Desses quatro casos, apenas um

tinha menos de 50 anos de idade, como pode ser observado no quadro 2.

Diante desses resultados, pode-se afirmar que a maioria dos pacientes apresentou

um bom prognóstico (do ponto de vista eletrocardiográfico), já que 16 casos mantiveram os

laudos eletrocardiográficos iniciais e um caso (U) onde o paciente apresentava ESV

frequentes antes do tratamento e estas não foram observadas no ECG de 2011 (Quadro 2).

Entretanto, é importante comentar sobre a influência de outros fatores externos,

como a idade, presença ou não de comorbidades (como hipertensão) e uso dos mais variados

medicamentos de ação cardiovascular. O fato de não se tratar de um estudo randomizado,

dificulta o controle dos possíveis fatores interferentes e pode se tornar um fator limitante ou

possível viés do estudo.

No que diz respeito à utilização de medicamentos de ação cardiovascular, vários

pacientes relataram que fizeram ou estavam fazendo uso de alguma droga durante o

acompanhamento (até 2012, momento da entrevista final). A utilização de medicamentos

como losartan, ramipril pode ser um indicativo da existência de HAS (hipertensão arterial

sistêmica) e consequentemente da influência em determinadas alterações eletrocardiográficas

ao longo do tempo (além de outros fatores já mencionados, como a idade, por exemplo)

quando aparecem isoladamente. Além disso, é importante comentar o caso da amiodarona, um

dos medicamentos mais utilizados pelos pacientes (04) no momento da entrevista final. A

amiodarona é um fármaco de grande relevância no tratamento antiarrítmico e anginoso

(BULAS.MED.BR), podendo ter exercido influência importante no acompanhamento desses

pacientes, principalmente na parte eletrocardiográfica.

Com relação a alguns achados clínicos dos pacientes, os mais relatados no

momento da entrevista foram: hiperlipidemias, distúrbios da PA (pressão arterial), distúrbios

do trato gastrointestinal – TGI - (constipação, gastrite, queimação) e nervosismo ou

ansiedade. Diante disso, foi realizado um levantamento das aferições de pressão arterial

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(momento da admissão no hospital universitário) nos prontuários dos pacientes ou em fichas

do próprio projeto. Dos 21 indivíduos acompanhados eletrocardiograficamente neste estudo,

20 foram considerados nesta análise, pois houve um caso em que não foi possível verificar a

medida da P.A. Assim, três pacientes apresentavam alteração importante da pressão arterial

(PA ≥ 140/90). Realizou-se esse levantamento, pois os distúrbios da PA são considerados um

dos mais relevantes na relação com a cardiopatia chagásica crônica (CCC). Entretanto, é

importante comentar que os valores de PA mencionados neste estudo foram obtidos a partir

de medidas únicas realizadas no momento da admissão do paciente; esse fato se tornou um

fator limitante em nosso estudo, já que não foi possível, por exemplo, realizar diferentes

aferições da PA e realizar o cálculo da média, a fim de gerar informações mais seguras no que

diz respeito à presença de outros problemas de saúde, como a hipertensão.

Inicialmente (em 1962), questionou-se sobre a relação, o possível valor

prognóstico de prolongamento da curva QRS em pacientes com insuficiência cardíaca (IC)

(DYE et al., 1963). No que diz respeito à incidência, o prolongamento da curva QRS (≥ 120

ms) ocorre em 14% a 47% dos pacientes com IC, aproximadamente cerca de 30% (IULIANO

et al., 2002; BADER et al., 2004; KASHANI; BAROLD, 2005). Atualmente, pode-se

afirmar que a duração do complexo QRS se relaciona de forma direta com as dimensões do

ventrículo esquerdo e, inversamente, com a função sistólica do VE, principalmente em se

tratando do bloqueio de ramo esquerdo (RIBEIRO a et al., 2008; ROCHA; RIBEIRO;

TEIXEIRA, 2003; ARAÚJO, 2008). A presença de aumento na duração do QRS também

significa fator prognóstico independente da função ventricular esquerda na cardiopatia

chagásica (RIBEIRO a et al., 2008; RIBEIRO b et al., 2008). Diante desses fatos, avaliou-se

no presente trabalho, a duração da curva QRS em pacientes chagásicos crônicos com

aproximadamente 5 a 7 anos de acompanhamento nas diversas formas das DC, onde foram

realizadas as medições da curva QRS no eletrocardiograma feito antes do tratamento

(dependendo do ano de entrada no programa) e posteriormente em 2011. Não foi observado

aumento estatisticamente significatico da curva QRS, demonstrando uma semelhança entre

quadro inicial e final apresentado pelos pacientes.

Araújo (2008) realizou um estudo de análise do significado da evolução

eletrocardiográfica em pacientes portadores de DC em dois momentos diferentes:

Inicialmente entre 1998 e 1999 e posteriormente entre 2004 e 2006 (com intervalo médio de

tempo de 6,8 anos). Avaliou 127 pacientes sem nenhuma menção ao uso de medicamentos

anti-parasitários ao longo do estudo. De acordo com os resultados do trabalho de Araújo,

houve aumento significativo da duração do complexo QRS, do intervalo QT e QTc. Já com

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relação a este estudo, observou-se um aumento não significativo da duração do complexo

QRS e intervalo QTc. Apenas o intervalo QT apresentou aumento significante, entretanto a

variação dos valores diminuiu quando se analisou o QT corrigido estatisticamente (Tabela 9).

Com relação à frequência cardíaca, tanto o trabalho de Araújo quanto este estudo

demonstraram haver uma redução significativa da frequência cardíaca, possivelmente esse

resultado pode ser uma consequência natural da doença de Chagas ao longo dos anos.

Com relação aos parâmetros do intervalo QT, esses podem ser considerados como

potenciais marcadores de prognóstico de risco de arritmogenicidade e mortalidade

cardiovascular. Segundo Salles et al. (2003), que avaliaram o valor prognóstico de parâmetros

do intervalo QT para o risco de mortalidade em DC, o intervalo QT de dispersão (QTd) pode

ser considerado um importante preditor de risco de mortalidade em pacientes com DC

juntamente com ecocardiografia (derivado da função sistólica do ventrículo esquerdo).

Entretanto, o autor também ressalta a necessidade de um maior número de pesquisas nessa

área, a fim de avaliar o valor preditivo das alterações na duração do intervalo QT e da

dispersão ao longo do tempo (SALLES et al., 2003). Nos resultados do presente estudo,

observamos diferença estatisticamente significante entre intervalo QT, entretanto, quando

analisamos a diferença entre intervalo QT corrigido o p > 0,05, diferença não significante.

Assim, acredita-se que o valor do QTc represente melhor essa variação ao longo do segmento,

variando as médias de 408.3 ± 31.96 antes para 415.4 ± 30.11 após o tratamento.

Uma das grandes limitações encontradas neste estudo foi a dificuldade de

acompanhamento, por um longo período de tempo, de pacientes que residem em diferentes

regiões do estado do Ceará e não apresentam condições financeiras para comparecer aos

atendimentos e consultas, sem falar na dificuldade em manter contato com os mesmos, já que

muitos trocam frequentemente de aparelho telefônico e muitas vezes o celular encontra-se

fora de área, de cobertura de sinal de operadora, na região em que residem. Esses fatos

influenciam no controle do estudo e dificultam a análise dos resultados.

Uma questão de grande importância e que não poderia deixar de ser mencionada,

é o fato de que o armazenamento dos soros pode ter influenciado nos níveis séricos de

anticorpos. Isso pode ter acontecido devido ao longo período de armazenamento a que estes

foram submetidos. Esse fato se torna um fator limitante do estudo e que possivelmente pode

ter influenciado de alguma forma nos resultados, principalmente com relação às amostras

coletadas em 2005 (maior período de armazenamento).

Finalmente, embora esse estudo aponte para um possível efeito benéfico do uso

do Bz em pacientes chagásicos crônicos, as informações disponíveis a respeito da efetividade

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do tratamento ainda permanecem controversas e com divergência de opiniões. De acordo com

Pérez-Molina (2009), esse fato é consequência também das diferentes populações estudadas,

dos mais diversos períodos de acompanhamento dos pacientes, das diferentes cepas do T.

cruzi e principalmente devido ao fato de que a maioria das pesquisas sobre o tratamento na

fase crônica tardia vem de estudos não randomizados, como é o caso deste estudo.

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6 Conclusões

Diante desses resultados, pode-se concluir que, embora o Bz apresente efetividade

limitada em pacientes na fase crônica da DC, o medicamento apresenta um efeito benéfico na

maioria dos pacientes, já que a análise sorológica das médias de IgG anti T. cruzi demonstrou

uma tendência a queda ao longo do tempo, assim como também houve uma manutenção dos

laudos eletrocardiográficos na maioria dos casos.

 

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7 Considerações Finais

Os resultados demonstrados no presente estudo permitem afirmar que alguns

fatores podem ser considerados de grande importância em pesquisas futuras a respeito da

avaliação da efetividade da quimioterapia com Bz em pacientes na fase crônica da DC. Entre

esses fatores, pode-se mencionar: a utilização de marcadores de cura de maior sensibilidade e

de detecção precoce; a realização de estudos randomizados e o acompanhamento por um

período maior de tempo (dependendo da fase da doença). Isso possibilitaria uma avaliação

mais controlada da influência do Bz nos pacientes tratados.

Além disso, diante do elevado potencial de toxicidade do Bz, o monitoramento de

pacientes portadores de DC pode ser considerado um serviço de fundamental importância,

principalmente no que se refere ao estudo do real benefício trazido pelo uso do medicamento.

Por se tratar de uma patologia que acomete principalmente indivíduos de zona rural e menos

favorecidos, a existência de um programa de acompanhamento funciona como um suporte,

um apoio, para uma população carente das mais básicas necessidades.

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APÊNDICES

APÊNDICE A – Ficha de avaliação da resposta eletrocardiográfica e sorológica ao tratamento com benzonidazol em pacientes na fase crônica da doença de Chagas.

PROGRAMA DE ATENÇÃO FARMACÊUTICA A PACIENTES CHAGÁSICOS UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ – MESTRADO EM PATOLOGIA

FICHA DE AVALIAÇÃO DA RESPOSTA ELETROCARDIOGRÁFICA E SOROLÓGICA AO TRATAMENTO COM BENZONIDAZOL EM PACIENTES CHAGÁSICOS CRÔNICOS

N° do paciente: _____

N° do protocolo:______ Pesquisador: ___________________ Data:__/__/__

INFORMAÇÕES PESSOAIS E DADOS DEMOGRÁFICOS

Nome: 

Endereço atual:                                                                                                      

Cidade/Estado:      

Data do 1° atendimento no projeto Atenfar: 

Local de nascimento:    

Data de nascimento: 

Escolaridade: (   )analfabeto (   )semianalfabeto (   )1°grau incompleto (   )1°grau completo (   )2°grau incompleto (   )2° grau completo (   )superior incompleto (   )superior completo. Profissão: 

Gênero: (    ) Masculino     (    ) Feminino 

OUTROS PROBLEMAS DE SAÚDE

Co‐morbidades, medidas de P.A.:   

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MEDICAMENTOS UTILIZADOS

Faz uso de algum medicamento?:   

AVALIAÇÃO CLÍNICA (ELETROCARDIOGRÁGICA)

Exames complement.  Result./Data  Result./Data  Result./Data  Result./Data  Result./Data 

Eletrocardiograma convencional  

              

AVALIAÇÃO SOROLÓGICA

Método sorológico  Result./Data  Result./Data  Result./Data  Result./Data  Result./Data

ELISA                

Imunofluorescência indireta                

 

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APÊNDICE B: Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

Você está sendo convidado (a) a participar da pesquisa – Avaliação da resposta clínica

(eletrocardiográfica) e sorológica ao tratamento com benzonidazol (Bz) em pacientes na fase

crônica da doença de Chagas – que tem por objetivo verificar a efetividade do benzonidazol

em pacientes chagásicos crônicos. Sua participação não é obrigatória, e a qualquer momento,

você poderá desistir de participar e retirar seu consentimento.

PROCEDIMENTOS: Se concordar em participar da pesquisa você terá que responder a um

questionário sobre informações pessoais relativas à doença de Chagas, perfil sócio-

demográfico e sobre a sua qualidade de vida. Serão realizadas coletas de sangue antes do

tratamento e as demais anualmente após o fim da terapia medicamentosa, a fim de avaliar os

anticorpos produzidos contra o parasito após o tratamento.

RELAÇÃO DOS PROCEDIMENTOS ROTINEIROS E COMO SÃO REALIZADOS:

Entrevista (com perguntas a respeito do nível de qualidade de vida do paciente (SF-36),

abordando questões como a felicidade e bem estar geral dessa pessoa); Coleta de sangue por

punção periférica da veia do antebraço; Os Eletrocardiogramas também poderão serão

realizados 1 vez ao ano, no setor de Cardiologia do Hospital Universitário Walter Cantídio,

sob a solicitação do médico responsável pelo acompanhamento daquele paciente. Os exames

serão feitos preferencialmente as terças-feiras em datas convenientes tanto para os pacientes

quanto a disponibilidade do setor de Cardiologia do Hospital.

RISCOS: Com a retirada de sangue podem ocorrer lesões podendo levar a dores, inchaço e

aparecimento de hematomas. Caso ocorram essas situações você receberá atendimento de

primeiros socorros. Também podem surgir reações adversas ao Bz de acordo com o grau de

hipersensibilidade apresentado por cada paciente.

BENEFÍCIOS: Com os resultados da pesquisa busca-se concluir se o Bz, única terapia

medicamentosa atualmente disponível no Brasil para o tratamento da doença de Chagas, é

capaz de reduzir os níveis sorológicos de anticorpos anti T. cruzi e produzir uma melhora ou

estabilização eletrocardiográfica em pacientes chagásicos crônicos.

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CONFIDECIALIDADE DA PESQUISA: As informações obtidas serão analisadas em

conjunto pelos pesquisadores, não sendo divulgado a identificação de nenhum paciente;

Firmamos também o compromisso de utilizar os dados e o material coletado somente para a

pesquisa.

DIREITO SOBRE OS RESULTADOS DA PESQUISA: Direito de ser mantido atualizado

sobre os resultados parciais das pesquisas.

DESPESAS E COMPENSAÇÕES: Não há despesas pessoais para o participante em qualquer

fase do estudo, incluindo exames e consultas. Também não há compensação financeira

relacionada à sua participação.

“Em qualquer etapa do estudo, você terá acesso aos profissionais responsáveis pela pesquisa

para esclarecimento de eventuais dúvidas. A principal investigadora é a Dr(a) Mônica Coelho

Andrade que pode ser encontrado no endereço Rua Padre Cícero 308, Bairro Benfica,

telefone(s) (85)32835165 e (85)88673285.

“Se você tiver alguma consideração ou dúvida sobre a ética da pesquisa, entre em contato

com o Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) do HUWC – Rua Capitão Francisco Pedro 1290,

Rodolfo Teófilo; fone: 3366-8589 – E-mail: [email protected]

Caso você se sinta suficientemente informado a respeito das informações que leu ou

que foram lidas para você sobre os propósitos do estudo, os procedimentos a serem

realizados, seus desconfortos e riscos, as garantias de confidencialidade e de esclarecimentos

permanentes e que sua participação é voluntária, que não há remuneração para participar do

estudo e se você concordar em participar solicitamos que assine no espaço abaixo.

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Assinatura do paciente/representante legal Data / /

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89  

Assinatura da testemunha Data / /

Para casos de pacientes analfabetos, semi-analfabetos ou portadores de deficiência auditiva ou

visual.

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Assinatura do responsável pelo estudo Data / /

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90  

APÊNDICE C: Análise sorológica por IFI de 30 pacientes com 5 a 7 anos de seguimento

(tabela base que originou o gráfico 4).

   IFI Diluição  Basal  2011 1/20  1 (3,3%)  1 (3,3%) 1/40  3 (10%)  3 (10%) 1/80  3 (10%)  8 (26,7%) 1/160  11 (36,7%)  13 (43,3%) 1/320  9 (30%)  3 (10%) 1/640  3 (10%)  2 (6,7%) 1/1280  0  0 Total  30 (100%)  30 (100%)