universidade federal do cearÁ centro de … e... · construtivos, além de caracterizar o solo e...

69
UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ CENTRO DE TECNOLOGIA DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA ESTRUTURAL E CONSTRUÇÃO CIVIL CURSO DE ENGENHARIA CIVIL MAPEAMENTO E CARACTERIZAÇÃO DAS CONSTRUÇÕES EM ADOBE NO NORTE DO ESTADO DO CEARÁ LEONARDO VIEIRA DE MELO ABREU Fortaleza - Ceará

Upload: lydan

Post on 09-Dec-2018

212 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ

CENTRO DE TECNOLOGIA DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA ESTRUTURAL E CONSTRUÇÃO CIVIL CURSO DE ENGENHARIA CIVIL

MAPEAMENTO E CARACTERIZAÇÃO DAS CONSTRUÇÕES EM ADOBE NO

NORTE DO ESTADO DO CEARÁ

LEONARDO VIEIRA DE MELO ABREU

Fortaleza - Ceará

2

2009

LEONARDO VIEIRA DE MELO ABREU

MAPEAMENTO E CARACTERIZAÇÃO DAS CONSTRUÇÕES EM ADOBE NO

NORTE DO ESTADO DO CEARÁ

Monografia submetida à Coordenação do

Curso de Engenharia Civil da Universidade

Federal do Ceará, como requisito parcial para

obtenção do grau de Engenheiro Civil.

Orientador: Prof. M.Sc. Ricardo Marinho de

Carvalho

FORTALEZA

2009

3

LEONARDO VIEIRA DE MELO ABREU

A145m Abreu, Leonardo Vieira de Melo

Mapeamento e caracterização das construções em Adobe no Norte do

Estado do Ceará / Leonardo Vieira de Melo Abreu, 2009.

69f. ; il. color. enc.

Orientador: Prof. MSc. Ricardo Marinho de Carvalho

Área de concentração: Construção Civil

Monografia (graduação) - Universidade Federal do Ceará, Centro de

Tecnologia. Depto. de Engenharia Estrutural e Construção Civil, Fortaleza,

2009.

1. Construção de Adobe 2. Terra Crua 3. Déficit Habitacional I.

Carvalho, Ricardo Marinho de (orient.) II. Universidade Federal do Ceará –

Graduação em Engenharia Civil III. Título

CDD 620

4

MAPEAMENTO E CARACTERIZAÇÃO DAS CONSTRUÇÕES EM ADOBE NO NORTE

DO ESTADO DO CEARÁ

Monografia submetida à Coordenação do Curso de Engenharia Civil, da Universidade Federal

do Ceará, como requisito parcial para a obtenção do grau de Engenheiro Civil.

Aprovada em ____/____/_____

BANCA EXAMINADORA

_______________________________________________________

Prof. M.Sc. Ricardo Marinho de Carvalho (Orientador)

Universidade Federal do Ceará – UFC

_______________________________________________________

Prof. D.Sc. Alexandre Araújo Bertini

Universidade Federal do Ceará – UFC

________________________________________________________

Reymard Sávio Sampaio de Melo

Engenheiro Civil

5

RESUMO

Devido ao grande déficit habitacional brasileiro e a grande contribuição da

construção civil para o grave quadro da crise ambiental que o planeta vive é necessário

encontrar-se soluções construtivas mais econômicas e sustentáveis, sendo o tijolo de adobe

uma alternativa que deve ser seriamente considerada no combate destes problemas. O

presente trabalho consiste no mapeamento das construções em adobe nos municípios de

Viçosa do Ceará, Coreaú, Araquém, Sobral, Alcântras, localizados no norte do Estado do

Ceará, além do município de Pindoretama, que localiza-se fora da região em comento, porém

configura-se como um novo centro de construção em terra dentro do estado, demonstrando a

importância e potencialidade deste sistema construtivo face ao déficit habitacional e

problemas ambientais. O estudo objetiva comprovar a existência de uma cultura em

construção com adobe na região supracitada, destacando as peculiaridades das técnicas de

execução e produção dos tijolos de adobe, identificando possíveis problemas nos processos

construtivos, além de caracterizar o solo e os tijolos de adobe utilizados na região. A

metodologia consistirá em visitas aos municípios, a fim de coletar dados, coletar exemplares

de tijolos de adobe e amostras de solo para ensaios em laboratório da UFC. Os resultados

serão comparados entre si e com a literatura.

Palavras-chaves: tijolo de adobe, mapeamento, construções em terra, terra crua, déficit

habitacional, sustentabilidade.

6

LISTA DE FIGURAS

Figura 01 – Pesagem de amostra do solo..................................................................................12

Figura 02 – Solo adicionado de hexametafosfato.....................................................................13

Figura 03 – Secagem de amostra do solo na estufa..................................................................13

Figura 04 – Detalhe da mistura no copo do dispersor...............................................................13

Figura 05 – Dispersor................................................................................................................14

Figura 06 –Proveta com amostra de solo..................................................................................15

Figura 06 – Detalhe do capeamento dos corpos de prova.........................................................19

Figura 07 – Equipamento utilizado no ensaio de determinação da resistência à compressão..23

Figura 08 - Construções em terra no mundo. Fonte: SILVA (1995) in Alexandria e Lopes

(2008)........................................................................................................................................17

Figura 09 - Tipos de técnicas construtivas com terra crua. Fonte: CRATerre in Faria (2002) in

Oliveira (?)................................................................................................................................18

Figura 10 - Esquema da Taipa de mão. Fonte PISANI (2008)................................................19

Figura 11 - Taipa de pilão. Fonte: PISANI (2008)...................................................................20

Figura 12 - Secagem de tijolos de adobe. Fonte: Grupo de Pesquisa Habis (2004) in SILVA et

al (2006)....................................................................................................................................24

Figura 13 - Fôrma para produção de tijolo de adobe. Fonte: Grupo de Pesquisa Habis (2004)

in SILVA et al ..........................................................................................................................24

Figura 14 - Detalhes da amarração das paredes em adobe. Fonte: Grupo de Pesquisa Habis

(2004) in SILVA et al (2006) ...................................................................................................25

Figura 15 - Detalhes das instalações hidráulicas em adobe. Fonte: Grupo de Pesquisa Habis

(2004) in SILVA et al (2006) ..................................................................................................25

Figura 16 - Regiões propícias á construção com adobe no Ceará. Fonte: IPECE. ..................27

Figura 17 - Exemplo de construção de alto padrão em adobe nos EUA. Fonte: DETHIER, J.

(?)..............................................................................................................................................28

Figura 18 – Municípios visitados durante a pesquisa...............................................................30

Figura 19 – Sobreposição de sistemas construtivos em adobe e alvenaria de tijolo

cerâmico....................................................................................................................................32

Figura 20 – Exemplo de construção histórica em Viçosa do Ceará..........................................33

Figura 21 – Exemplo de construção contemporânea em Viçosa do Ceará...............................33

Figura 22 – Casas construídas em adobe no município de Coreaú...........................................34

Figura 23 – Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretinhos, séc. XVIII (a); Museu Dom José

(b); Teatro São João, séc. XIX (c); Escola de Música de Sobral (d)........................................35

Figura 24 – Área de Preservação do Patrimônio Histórico de Sobral. Fonte: IPHAN.............36

7

Figura 25 - Detalhe da viga baldrame no município de Alcantaras..........................................38

Figura 26 - Detalhe da elevação da parede a partir do baldrame..............................................38

Figura 27 - Detalhe da base de adobe antes da alvenaria..........................................................38

Figura 28 - Base de adobe antes da alvenaria ..........................................................................39

Figura 29 - Detalhe da viga baldrame com tijolo cerâmico no município de Coreaú..............39

Figura 30 - Detalhe da viga baldrame de pedra de mão em Moraújo.......................................40

Figura 31 - Detalhe da viga baldrame no município de Viçosa do Ceará.................................40

Figura 32 - Sequência de produção de adobe: Barreiro (a); Mistura da terra com água (b);

Detalhe da fôrma (c); Moldagem do tijolo (d); Tijolo recém-desmoldado (e); Processo de

secagem (f)................................................................................................................................43

Figura 33 - Sequência de produção de adobe: Barreiro (a); Detalhe da fôrma (b); Moldagem

do tijolo (c); Tijolo recém-desmoldado (d); Processo de secagem (e) e (f)..............................45

Figura 34 – Tijolo de adobe produzido no município de Alcântaras........................................46

Figura 35 - Detalhe do tijolo transversal para amarrar parede..................................................47

Figura 36 - Detalhe da amarração na parede pronta.................................................................47

Figura 37 – Detalhes das vergas e contra-vergas em concreto e madeira em Alcântaras.........48

Figura 38 – Detalhe da amarração das fiadas na metade do tijolo da fiada seguinte................49

Figura 39 – Detalhe das contra-vergas em madeira e concreto................................................49

Figura 40 – Tijolo de adobe do município de Viçosa do Ceará................................................50

Figura 41 – Detalhe da amarração das fiadas na metade do tijolo da fiada seguinte em

Viçosa........................................................................................................................................50

Figura 42 – Detalhes das vergas e contra-vergas em concreto e madeira em Alcântaras.........51

Figura 43 – Detalhes da fixação dos armadores em residências de Viçosa do Ceará...............48

Figura 44 – Tijolo de adobe de Pindoretama............................................................................51

Figura 45 – Detalhes de arremate com argamassa de cimento e areia em Viçosa....................52

Figura 46 – Residência pintada com cal e residência sem revestimento em Alcântaras..........53

Figura 47 – Casa revestida com argamassa de cimento e areia e pintada com tinta ................54

Figura 48 – Casa com revestimento interno com argamassa de cimento e areia e pintada com

tinta............................................................................................................................................54

Figura 49 – Residências pintadas com cal e residência sem revestimento...............................55

Figura 50 – Detalhes da parede protegida da chuva por revestimento....................................55

Figura 51 – Detalhes do revestimento com cimento e areia em Viçosa do Ceará....................56

Figura 52 – Detalhes de pintura com cal em Viçosa do Ceará.................................................56

Figura 53– Detalhes dos rasgos para passagem da tubulação e fiação.....................................57

8

Figura 54 – Construção residencial mais antiga no município de Alcântaras, datada do final do

séc. XIX....................................................................................................................................57

Figura 55 – Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretinhos em Sobral, datada do séc.

XVIII.........................................................................................................................................58

Figura 56– Detalhes das construções com adobe no centro de Viçosa do Ceará.....................59

9

SUMÁRIO

1.

INTRODUÇÃO................................................................................................................1

0

2. OBJETIVOS .................................................................................................................. 11

2.1. Objetivos específicos ....................................................................................................... 11

3. ESTRUTURA DO TRABALHO .................................................................................. 12

4. METODOLOGIA .......................................................................................................... 12

4.1. Revisão bibliográfica.......................................................................................................10

4.2. Visitas aos municípios.....................................................................................................11

4.3. Ensaio de determinação da granulometria do solo..........................................................11

4.4. Ensaio de resistência à compressão.................................................................................13

5. CONSTRUÇÕES EM TERRA.....................................................................................16

5.1. Adobe...............................................................................................................................19

5.1.1. Definição.......................................................................................................................19

5.1.2. Vantagens e Desvantagens............................................................................................20

5.1.3. Tipo de Solo..................................................................................................................21

5.1.4. Dimensões.....................................................................................................................22

5.1.5. Produção.......................................................................................................................22

5.2. Déficit Habitacional e Crise Ambiental: Adobe como solução Sustentável....................25

6. CARACTERIZAÇÃO DOS MUNICÍPIOS VISITADOS.........................................28

6.1. Alcântaras.........................................................................................................................30

6.2. Viçosa do Ceará...............................................................................................................31

6.3. Moraújo............................................................................................................................33

6.4. Coreaú e Araquém...........................................................................................................33

6.5. Sobral...............................................................................................................................35

6.6. Pindoretama.....................................................................................................................35

7. PROCESSOS CONSTRUTIVOS.................................................................................36

7.1. Fundações.........................................................................................................................36

7.1.1. Alcântaras.......................................................................................................................37

7.1.2. Coreaú, Araquém e Moraújo.........................................................................................38

7.1.3. Viçosa do Ceará............................................................................................................39

7.2. Produção do tijolo de adobe.............................................................................................40

7.2.1. Alcântaras......................................................................................................................41

7.2.2. Coreaú e Araquém........................................................................................................42

7.2.3. Viçosa do Ceará............................................................................................................43

7.3. Alvenaria..........................................................................................................................45

7.3.1. Alcântaras......................................................................................................................45

7.3.2. Coreaú, Araquém e Moraújo.........................................................................................48

7.3.3. Viçosa do Ceará............................................................................................................49

7.3.4. Resistência à compressão do tijolo e composição do solo............................................51

7.4. Revestimento e pintura.....................................................................................................52

7.4.1. Alcântaras......................................................................................................................53

7.4.2. Coreaú e Araquém........................................................................................................54

7.4.3. Viçosa do Ceará............................................................................................................55

7.5. Instalações........................................................................................................................56

8. CONCLUSÃO................................................................................................................57

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..................................................................................59

ANEXOS..................................................................................................................................63

10

1. INTRODUÇÃO

Segundo Dethier (2002) apud Alexandria e Lopes (2008) a terra vem sendo

utilizada, pelos homens, desde o surgimento dos primeiros povoados, há milhares de anos,

para edificar cidades inteiras, templos e palácios, igrejas, mesquitas, etc. Ainda hoje existem

cidades inteiras de pé totalmente construídas em terra, como a cidadela de Arg-é Bam, no Irã,

fundada há séculos. No resto do mundo, inclusive no Brasil, temos vários exemplos de

cidades com construções históricas em terra, como em Portugal, América central, América do

sul, África, ou seja, em todos os continentes do planeta.

A crise ambiental que assola o planeta requer a busca por novas tecnologias de

produção de bens para a humanidade, e na produção de habitações não é diferente. Sendo a

construção civil uma das formas de intervenção humana mais degradantes para a natureza, é

preciso encontrar-se novos materiais e técnicas construtivas que possibilitem uma relação

saudável entre o meio ambiente e o desenvolvimento da civilização humana (Faria (2002)

apud Alexandria e Lopes (2008)).

Além da crise ambiental, outro problema assola países subdesenvolvidos e em

desenvolvimento: o déficit habitacional. Estima-se que o déficit habitacional no Brasil seja de

7,935 milhões de domicílios, sendo 6,543 milhões, urbano, e 1,392 milhão, rural (Fundação

João Pinheiro, 2006). Segundo a Fundação João Pinheiro (2006), 95% da população

enquadrada no déficit habitacional possui renda até 3 salários mínimos, configurando um

problema de proporções colossais para os governos de todas as esferas políticas, já que sem

auxílio do governo essa camada significativa da população não tem condições de conseguir

qualquer linha de crédito para financiar a construção de suas moradias.

É nesse contexto de grave crise ambiental, enormes déficits populacionais, crise

ambiental e escassez de recursos (financeiros, tecnológicos e naturais) que as construções em

terra podem ser consideradas uma excelente alternativa para enfrentar-se esses novos desafios

da humanidade.

Apesar das inúmeras vantagens que o adobe apresenta, ainda encontra-se muita

resistência ao seu uso por parte da sociedade. Iglesias (1993) apud Alexandria e Lopes (2006)

afirma que: ”é o fato de se associar as obras de prestígio às técnicas e materiais modernos, que

11

favorece o preconceito às tradicionais formas de construção com terra, fazendo com que se

considere a construção com terra, como precária e símbolo de baixo “status social”. Grande

parte das pessoas nunca sequer ouviu falar em tijolo de adobe. Talvez por ser um material

“sem patrocínio” das grandes empresas, pois encontra-se abundantemente na natureza e pode

ser adquirido por todos sem maiores custos financeiros, não interesse aos grandes centros

estudá-lo. Contudo é necessário que as universidades empenhem-se em demonstrar à

sociedade (governantes principalmente) a potencialidade do uso do adobe como alternativa ao

déficit habitacional e aos problemas ambientais.

2. OBJETIVOS

O presente trabalho objetiva identificar que as cidades parte do estudo possuem

construções em terra (com tijolos de adobe), estudando e comparando as peculiaridades deste

tipo de construção entre os municípios selecionados, comprovando a existência de uma

cultura em construção em terra no estado, bem como a viabilidade deste tipo de construção

em face às dificuldades encontradas por camadas mais marginais da população local.

2.1. Objetivos específicos

- Identificar construções em terra nos municípios de Viçosa do Ceará, Coreaú,

Araquém, Moraújo, Sobral, Alcântaras e Pindoretama: o mapeamento servirá para

identificar os locais de maior relevância em construções em adobe na região;

- Caracterizar e comparar os processos construtivos e de produção do tijolo de

adobe entre cada município: a comparação das técnicas construtivas e de produção

possibilitará a constatação da uniformidade das mesmas ou, se evidenciadas

diferenças entre os processos, o motivo de as mesmas existirem;

- Comparar os tipos de solo entre os municípios a fim de verificar a composição

do material utilizado na produção dos tijolos de adobe das regiões;

- Comparar a resistência à compressão dos tijolos dos diferentes municípios.

12

3. ESTRUTURA DO TRABALHO

Este relatório está dividido em oito capítulos, incluindo este. O primeiro é a

introdução, onde será dada uma idéia geral do tema abordado neste trabalho, assim como

explicitado a importância do mesmo. O segundo capítulo trata dos objetivos do trabalho,

explicitando seus objetivos específicos. Em seguida temos o presente capítulo que trata da

estrutura do trabalho e o quarto capítulo que trata da metodologia. O quinto capítulo traz a

revisão bibliográfica sobre o assunto, onde foram abordados os processos construtivos , bem

como questões sobre o déficit habitacional e a crise ambiental. O capítulo seis traz a

caracterização dos municípios estudados, ressaltando seus aspectos sócio-econômicos. O

capítulo sete trata da descrição dos processos construtivos em cada município. O capítulo oito

traz as conclusões a que se chegou com o presente estudo.

4. METODOLOGIA

A metodologia do trabalho divide-se em três etapas:

1 – Revisão Bibliográfica

2 – Visitas aos municípios

3 – Ensaios em laboratório

A seguir as etapas serão detalhadas.

4.1.Revisão bibliográfica

A revisão bibliográfica foi realizada baseando-se na literatura existente sobre o

assunto. Foram utilizadas como base de consulta artigos de várias bases de pesquisa como,

por exemplo, o Infohab, congressos internacionais, como o SIACOT, entre outros.

A revisão bibliográfica serviu para dar embasamento teórico ao estudo,

procurando-se dar umas visão geral sobre as vantagens das construções em terra, a sua

importância, bem como detalhar aspectos técnicos, como as etapas construtivas por exemplo,

a fim de se comparar as informações colhidas na literatura com a realidade dos municípios

estudados.

13

4.2.Visitas aos municípios

Foram realizadas visitas aos municípios de Alcântaras, Coreaú, Moraújo,

Araquém, Viçosa do Ceará e Pindoretama, selecionados na pesquisa para realizar o

levantamento das informações necessárias ao desenvolvimento da pesquisa.

As visitas foram auxiliadas por moradores das localidades que responderam aos

questionamentos feitos, assim como serviram de guia na região, a fim de otimizar o tempo das

visitas.

Os detalhes dos processos construtivos, da produção dos tijolos de adobe foram

registrados nas visitas através de conversas com os moradores, bem como através de registros

fotográficos.

Foram colhidas amostras de solo e exemplares de tijolos das regiões visitadas e

tijolos para serem ensaiados na universidade.

4.3. Ensaio de determinação da granulometria do solo

Foram realizados ensaios granulométricos em Coreaú, Alcântaras, Moraújo e

Pindoretama.

O objetivo do ensaio de determinação granulométrica do solo foi o de se conhecer

as dimensões das partículas das amostras dos solos da região, assim como se obter a

proporção entre as mesmas.

Foi utilizado o Método da Sedimentação em água destilada, pois as partículas do

solo eram muito finas, impossibilitando a utilização do Método do Peneiramento.

O método utilizado baseia-se na Lei de Stokes, a qual diz que partículas em meio

aquoso depositam-se com velocidades proporcionais aos seus diâmetros (apostila do

LMC/UFC).

14

A seguir são listados os procedimentos relativos ao ensaio. Os procedimentos

listados a seguir foram todos retirados da apostila do Laboratório de Mecânica dos Solos da

Universidade Federal do Ceará – LMC/UFC.

1. Peneira-se a amostra do solo com a peneira n° 10 (2,0 mm) e retira-se cerca de

100g do material que passar na peneira;

Figura 01 – Pesagem de amostra do solo.

2. Coloca-se o material numa vasilha, adicionando 125 cm³ da solução

hexametafosfato de sódio com concentração de 45,7g do sal para 1000 cm³ de

solução;

Figura 02 – Solo adicionado de hexametafosfato.

3. Deixou-se a solução em repouso na estufa por 24 horas.

15

Figura 03 – Secagem de amostra do solo na estufa.

4. Após as 24 horas, transferiu-se toda a mistura para o copo do dispersor;

Figura 04 – Detalhe da mistura no copo do dispersor.

5. Submeteu-se a mistura à ação do dispersor, por aproximadamente 15 minutos;

Figura 05 – Dispersor.

6. Transferiu-se o material para uma proveta graduada;

7. Acrescentou-se água destilada à proveta até atingir a marca de 1000 ml;

16

8. Agitou-se a proveta e imediatamente após a agitação colocou-se a proveta sobre

uma bancada e disparou-se um cronômetro;

Figura 6 –Proveta com amostra de solo

9. Mergulhou-se o densímetro na proveta;

10. Fez-se e leituras do densímetro correspondentes aos tempos de 30 segundos,

1, 2, 4, 8, 15, 30 minutos, 1, 2, 4, 8, 24 horas;

Terminadas as leituras, foi despejada e lavada a solução na peneira n° 200

(0,074mm). O material que ficou retido na peneira foi transferido para uma cápsula e seco na

estufa por 24 horas. O material seco foi passado num conjunto de peneiras (1,2 – 0,6 – 0,42 –

0,30 – 0,15 – 0,074 mm de diâmetro ou n° 16, 30, 40, 50, 100, 200) sendo então pesadas as

proporções que ficaram retidas em cada peneira.

Foi utilizada uma tabela em excel elaborada pelo próprio LMC/UFC a fim de

determinar as granulometria das amostras de solo estudadas. (ANEXO II)

4.4. Ensaio de resistência à compressão

Os tijolos de adobe trazidos foram moldados em corpos de prova com as

dimensões de 7cm x 7cm x 7cm, conforme orienta o projeto da norma brasileira. Os corpos de

prova foram moldados em fôrmas de madeira confeccionadas no próprio Laboratório de

Materiais de Construção da Universidade Federal do Ceará.

17

Após deslmodados, foi feito o capeamento dos corpos de prova com argamassa de

cimento e areia de praia num traço de 1:3 num dos lados dos exemplares sendo os mesmos

deixados em processo de cura por 24h. Então foi repetido o processo para o outro lado dos

corpos de prova.

Figura 07 – Detalhe do capeamento dos corpos de prova

Após o capeamento, foi realizado o ensaio à compressão dos corpos de prova no

equipamento do Laboratório de Materiais de Construção da UFC.

Figura 08 – Equipamento utilizado no ensaio de determinação da resistência à compressão

5. Construções em Terra

A humanidade sempre construiu com terra ao longo de sua história. O material foi

e é utilizado para a construção das mais diversas formas, desde de simples casas até grandes

palácios e igrejas. Segundo Oliveira (?) são encontradas referências ao uso da terra crua na

18

construção no velho testamento da Bíblia, portanto antes da Era Cristã. Mortada (2003) afirma

que são encontradas construções em terra no Egito datando de 5000 anos atrás, sendo citada,

inclusive, a construção de algumas pirâmides, bem como no Iraque, Peru, Paquistão, etc. Este

mesmo autor cita ainda que a Muralha da China tem seu núcleo feito em terra, além de

existirem referências ao uso de terra em construções no Alcorão. A figura a seguir mostra a

localização das construções em terra crua no mundo.

Figura 09 - Construções em terra no mundo. Fonte: SILVA (1995) in Alexandria e Lopes (2008)

Como se pode observar, a utilização de terra crua na construção é uma tecnologia

milenar, sendo apontada por Lourenço (2002) como a técnica construtiva mais antiga e mais

utilizada do mundo. Porém, apesar de ser uma tecnologia antiga, ainda é usada no presente.

Como forma de expressar a significância das construções em terra no mundo contemporâneo,

Dethier e Guillaud (1994) apud Alexandria e Lopes (2006) afirmam que 30% da população

mundial vivem em construções feitas com terra.

Santiago (2001) apud Motta et al (2004) afirma que “construções ditas em terra

são aquelas em que o solo é utilizado de maneira que adquira consistência sem que haja a

queima”. Segundo Oliveira (2002) conceitua-se terra crua como: “a designação genérica que

se dá aos materiais de construção produzidos com solo, porém, sem passar pelo processo de

cozimento (queima)”. A autora afirma ainda que devido às diferenças culturais e naturais de

uma região para outra, existem diferenças das técnicas construtivas em terra crua de região

para região, sendo divididas pelo grupo CRATerre em 12 tipos, conforme figura a seguir

extraída de Faria (2002) in Oliveira (?):

19

Figura 10 - Tipos de técnicas construtivas com terra crua. Fonte: CRATerre in Faria (2002) in Oliveira (?)

Das técnicas mostradas na figura 01, destacamos o adobe (moldada em formas),

taipa de mão ou pau-a-pique (armada) e a taipa de pilão (comprimida), pois são as mais

comuns no Brasil.

Milanez (1958) apud Oliveira (?) diz que na época da chegada dos portugueses ao

Brasil, os índios não conheciam a técnica de construção em terra crua. Os índios utilizavam

madeira e vegetação pra construir suas moradias. Portanto foram os europeus que trouxeram a

técnica de construção em terra para o Brasil, na forma de adobe, taipa-pilão e pau-a-pique

(taipa de mão).

A técnica em taipa de mão é utilizada, principalmente, como vedação e em

conjunto de uma estrutura independente (LOPES e INO, 2000). Neste mesmo trabalho, os

autores definem taipa de mão como “A taipa de mão, também conhecida como taipa de

sopapo, taipa de sebe, estuque, tapona, barro armado ou pau-a-pique, é uma variedade de

20

construção em terra, que consiste basicamente de uma malha interna de madeira, bambu, ou

outro material, preenchida com barro”. Já em outro trabalho, Lopes e Ino (2000) citam Di

Marco (1984) para definir taipa de mão como “preenchimento com uma mistura de água,

terras e fibras, de uma ossatura interna de madeira ou bambu, formada por ripas horizontais e

verticais, com amarração feita de tiras de couro, cipó, barbante, prego ou arame. Esta mistura

é jogada com as mãos do lado de dentro e de fora ao mesmo tempo, e apertada sobre a trama

da parede”.

Figura 11 - Esquema da Taipa de mão. Fonte PISANI (2008)

Pisani (2007) afirma que a taipa de pilão é assim chamada devido a mesma ser

socada (ou apiloada) com o uso de um pilão. Segundo a autora a execução desta técnica

consiste em preparar uma argamassa de barro e socá-la entre formas (taipais) laterias de

madeira que, sustentam a argila enquanto úmida. Uma característica do sistema é as paredes

serem grossas, chegando a ter 120 cm de espessura.

21

Figura 12 - Taipa de pilão. Fonte: PISANI (2008)

A outra técnica trazida pelos europeus é a do adobe, cujo destaque dado à técnica

reside no fato da mesma ser de simples execução e ótimos resultados em termos de conforto e

resistência.

5.1. Adobe

5.1.1. Definição

Lourenço (2005) define adobe como “tijolos de terra crua, preparados em moldes

e secos ao sol”. Já Santiago (2001) apud Motta et al (2004) define adobe como “os tijolos de

barro secos ao sol ou à sombra, em locais arejados, sem que sejam submetidos à queima pelo

fogo”. Gutierrez (1972) apud Oliveira (?) diz que “o adobe como sistema de construção, se

pode descrever como a superposição de blocos de barro misturado com palha, secados ao sol,

que se unem entre si com uma argamassa similar a sua constituição interna”. Percebe-se que

a técnica e, adobe não passa por nenhum processo de industrialização mais elaborado, sendo

constituído basicamente por terra crua moldada por uma forma de madeira, feita

artesanalmente. Na definição de Gutierrez (1972) apud Oliveira (?) é citada a palha como

22

componente do tijolo de adobe. A palha pode ser utilizada a fim de melhorar características

mecânicas do tijolo, sendo o seu emprego na produção de tijolos de adobe, facultativo. O

mesmo verifica-se com a questão da secagem do tijolo: tanto ele pode ser seco ao sol como à

sombra.

Quanto á sua resistência à compressão, Motta et al (2004) afirma ter encontrado

resultados de até 2,08 MPa. Já Silva (2007) encontrou valores médios da ordem de 1,4 MPa.

Portanto, percebe-se que o tijolo de adobe é um tijolo com uma boa resistência à compressão,

não apresentando a fragilidade estrutural preconceituosamente lhe atribuída.

5.1.2. Vantagens e Desvantagens

Segundo Pinto (1993) apud Alexandria e Lopes (2008) “a terra é um produto que

tem potencialidades cada vez maiores, graças às suas capacidades térmicas, à sua

longevidade, à sua abundância, à sua degradabilidade”. Motta et al (2004) afirmam que a

construção de casas em adobe traz uma série de vantagens de natureza social e construtiva

para um país com problemas habitacionais como o Brasil. As autoras continua afirmando que

em países desenvolvidos como França, Estados Unidos e Portugal a prática de construir com

adobe é utilizada por parcela da população rica. Dentre as vantagens citadas por Motta et al

(2004) destacamos as seguintes:

a) Simplicidade (menos técnica);

b) Rapidez e facilidade de execução e produção, sem necessidade de mão-de-

obra especializada;

c) Menor poluição ambiental (sem queima do tijolo);

d) Fácil acesso à matéria prima;

Silva (2006) cita o baixo consumo energético, o baixo custo de produção, o uso de

recursos renováveis e abundantes, facilidade de produção e a melhora da auto-estima dos

moradores, através da participação destes no processo construtivo. Mchenry (1984) apud

Oliveira (?) cita a baixa transmissão sonora pelas paredes, sendo também o adobe à prova de

fogo. Alexandria e Lopes (2008) lista o conforto térmico, o bom desempenho construtivo e

baixo custo, principalmente nos locais onde o acesso aos materiais convencionais é difícil.

23

Silva (2006) cita como desvantagem do adobe a necessidade de proteção da

parede contra umidade, seja de água de chuva, seja por capilaridade da fundação. Motta et al

registra as seguintes desvantagens: menor homogeneidade do que nas construções com terra

apiloada, a secagem do tijolo mais lenta em climas frios, baixa resistência à umidade,

necessitando a alvenaria de impermeabilização especial.

5.1.3. Tipo de Solo

O tipo de solo utilizado na produção do adobe deve ter entre 70-80% de areia e

20-30% de argila (Motta et al, 2004). Os autores ainda afirmam que apesar da proporção entre

areia e argila sugerida, na prática verifica-se que existem muitas divergências na dosagem do

adobe. Hernadez et al (1983) apud Corrêa et al (2006) diz que a proporção ideal para a

produção de adobes é de 50% de areia, 30% de silte e 20% de argila. O mesmo autor, citando

Martinez (1979), aponta uma mistura ideal com 20% de argila, 40 a 55% de areia e o resto de

silte. Mchenry (1984) apud Oliveira (?) afirma que “o ideal para o uso da terra na construção

das paredes é o solo conter quatro elementos: areia grossa, areia fina, silte e argila”. A camada de

terra é constituída por três tipos de partículas: areia, silte e argila. Faria (2002) apud Oliveira (?)

afirma que a técnica em terra crua ser utilizada depende da quantidade de cada uma dessas

partículas no solo. Portanto é mister observar que ao utilizar-se da técnica de adobe é preciso

se conhecer o tipo de solo da região, pois não é todo tipo de solo que é adequado à construção

com tijolos de adobe. Neste sentido Mchenry (1984) apud Oliveira (?) diz que a melhor

prática para determinar se o solo é adequado para construir-se com tijolos de adobe é fazer

alguns exemplares de tijolos com o material local. Já Faria (2002) apud Oliveira (?) diz que os

principais ensaios para caracterizar o solo são:

a) ensaios de determinação do teor de umidade natural do solo e da massa específica

aparente do solo em estado solto;

b) determinação da concentração de nutrientes e metais no solo;

c) determinação da distribuição granulométrica;

d) determinação do limite de liquidez e limite de plasticidade ou, ensaios de

consistência;

e) determinação do limite de contração;

f) ensaio de absorção do azul de metileno.

24

Mchenry (1984) apud Oliveira (?) ainda ressalta que é importante notar que a

camada superficial do solo deve ser retirada (cerca de 30 a 40 cm), pois a mesma contém

muita matéria orgânica, tornando inadequado seu uso para construção. Esta camada inicial é

denominada solo, enquanto que a camada imediatamente inferior a ela, portanto adequada

para uso, é denominada terra.

5.1.4. Dimensões

Segundo Motta et al (2004) o tijolo de adobe apresenta formas e dimensões

diversas, variando dependendo da região. Ortega (1983) apud Corrêa et al (2006) afirma que

em Benin na África as dimensões usadas são 29 cm x 9 cm x 9cm. Milanez (2000) afirma que

a medida mais utilizada no Brasil é a de 20 cm x 20 cm x 40 cm. Contudo, Oliveira (?) afirma

que na região de Tiradentes, MG, as dimensões mais comuns são 10 cm x 12 cm x 25 cm e da

Silva (2007) relata dimensões de 10 cm x 28 cm x 14 cm em Pirituba, São Paulo.

5.1.5. Produção

Para a produção do tijolo de adobe, Oliveira (?) afirma que a terra deve ser

peneirada e misturada com água até a obtenção de uma mistura plástica (barro). O barro é

amassado por animais ou com os próprios pés dos trabalhadores, devendo ser deixado em

descanso por dois dias (Silva, 2000).Passados os dois dias de descanso é preciso amassar

novamente a mistura para então colocá-la em fôrmas, geralmente de madeira, a fim de dar a

forma do tijolo. Logo em seguida a forma é retirada e o tijolo é colocado para secar, não

devendo encostar em outro tijolo. Faria (2002) faz algumas recomendações para a produção

dos tijolos, como utilizar terra próxima ao local de trabalho, reservar uma área para a secagem

dos tijolos, tentando proteger os tijolos das intempéries, assim como medidas ergonômicas

que visem à saúde do trabalhador.

As fôrmas utilizadas para a produção dos tijolos de adobe são de tamanhos

variados, existindo fôrmas com capacidade para produzir apenas uma unidade do tijolo, bem

como fôrmas com capacidade para 16 tijolos. Oliveira (?) diz que as formas devem ser

colocadas em terreno o mais nivelado possível, a fim de evitarem-se imperfeições nos tijolos.

25

Figura 13 - Secagem de tijolos de adobe. Fonte: Grupo de Pesquisa Habis (2004) in SILVA et al (2006)

Figura 14 - Fôrma para produção de tijolo de adobe. Fonte: Grupo de Pesquisa Habis (2004) in SILVA et al

(2006)

5.1.6. Processo construtivo

As fundações de uma construção em adobe são simples, geralmente sapata corrida

de alvenaria de pedra em toda a extensão da parede ou de concreto ciclópico, executada com

pedras de mão (Oliveira (?)). Faria (2002) afirma que a ligação entre a sapata corrida da

fundação e a alvenaria pode ser feita apoiando-se diretamente a parede sobre a fundação.

Para assentar tijolos de adobe é utilizada a mesma massa usada na sua confecção.

Segundo Silva (2000) as juntas entre os tijolos não devem ter espessura maior que 1 a 2 cm,

sendo necessário atentar para a “amarração” da parede, ou seja, o trespasse de metade de um

tijolo em relação ao outro. O autor ainda diz que devem ser confeccionadas vergas de madeira

sobre as portas e janelas da casa.

26

Figura 15 - Detalhes da amarração das paredes em adobe. Fonte: Grupo de Pesquisa Habis (2004) in SILVA et al

(2006)

Silva et al (2006) diz que as instalações hidráulicas podem der executadas

fazendo-se rasgos para as passagens com o uso de talhadeira e martelo, sendo depois

preenchidos com argamassa de areia e cal.

Figura 16 - Detalhes das instalações hidráulicas em adobe. Fonte: Grupo de Pesquisa Habis (2004) in SILVA et

al (2006)

Silva (2000) lista algumas recomendações para as construções em adobe:

a) Deve-se construir sempre em terreno plano, ligeiramente elevado. Não se deve

construir em ladeiras muito íngremes, nem em zonas alagadiças;

b) Deve-se manter uma distância mínima de 1 metro entre portas e janelas e

também para as quinas da casa;

c) A planta baixa da casa deve ter um formato, o mais próximo possível do

quadrado, para garantir maior estabilidade à construção;

27

d) Deve-se proteger contra as chuvas utilizando telhados com beirais

largos.

5.2. Déficit habitacional e Crise Ambiental: adobe como solução sustentável

Devido ao desenvolvimento tecnológico, a população tem aumentado bastante, o

que acarreta aumento na necessidade de habitações por parte da população.

No Brasil, o déficit habitacional medido pela Fundação João Pinheiro (FJP) em

2006 foi de 7,935 milhões de domicílios, sendo 6,543 milhões, urbano, e 1,392 milhão, rural.

No mesmo estudo, a Fundação João Pinheiro afirma que 90,7% da população enquadrada

dentro do déficit habitacional possuem renda de até três salários mínimos, o que configura um

grave problema social, dado que essa camada da população não tem acesso a alguma linha de

crédito a fim de financiar a aquisição de moradia.

O déficit habitacional no Estado do Ceará, medido em 2006 pela FJP, é da ordem

de 415.155 unidades, sendo 316.406 unidades, urbano e 97.749, rural. Desse universo temos

que 94,9% da população que compõe o déficit possuem renda mensal de até três salários

mínimos.

O crescimento da população humana trouxe outro problema, além do grande

déficit habitacional: a poluição. O planeta está à beira de um colapso devido ao consumo

exagerado dos recursos naturais, sendo a construção civil uma das atividades que mais

impacta no meio ambiente. Alexandria e Lopes (2006) afirmam que “a construção civil

apresenta-se como uma das atividades mais impactantes do meio ambiente, pois além do uso

de recursos naturais, utilizados como matéria-prima e como fonte de energia para a produção

e transporte de materiais, gera considerável quantidade de entulho nas obras”. Já Morel et al

(2001) apud Alexandria e Lopes (2008) afirmam que “que, em toda parte do mundo, a

indústria da construção civil é responsável por altos níveis de poluição do meio ambiente, em

decorrência da energia consumida durante as etapas de extração, processamento e transporte

da matéria prima”. Dado a importância dos problemas apresentados nos parágrafos anteriores

é imperativo que se encontre uma solução sustentável para resolver ou amenizá-los.

Devido às vantagens já citadas no item 1.2.2 deste trabalho, como exemplo, a

facilidade de produção e execução, o tijolo de adobe apresenta-se como uma excelente

28

alternativa para combater tanto o grave quadro sócio-ambiental. Porém, o tijolo de adobe,

assim como as construções em terra crua em geral (taipa de pilão, taipa de mão, etc) não

podem ser consideradas soluções para combater o déficit em todos os locais, pois o tipo de

solo determina se é possível ou não a construção em adobe. Neste sentido, Pinto (1993) apud

Alexandria e Lopes afirma que “é preciso que se dê a terra o seu devido valor e lugar, com

suas virtudes e qualidades, mas também com suas limitações, como qualquer outro material

de construção nos dias atuais”.

No Ceará podemos verificar que nem todas as regiões do Estado são propicias à

construção com adobe. Podemos observar na figura que a região nordeste do Ceará, objeto de

estudo deste trabalho, é rica em solo do tipo argiloso, assim como as outras três áreas

destacadas por círculos pretos.

Figura 17 - Regiões propícias á construção com adobe no Ceará. Fonte: IPECE.

Apesar de o tijolo das construções em terra crua apresentarem-se como

sustentáveis e de baixo custo no combate ao déficit habitacional e à crise ambiental, existem

barreiras ao seu uso a serem vencidas. Alexandria e Lopes (2008) dizem que, com surgimento

de novos materiais e tecnologias, as construções em terra foram discriminadas e repudiadas,

sendo associadas à pobreza, relegando seu uso para as camadas mais pobres da população.

Silva (2000) afirma que a Revolução Industrial provocou uma rejeição aos produtos

29

manufaturados, sendo as construções em terra sumariamente desprezadas. Provando-se que o

preconceito da sociedade é infundado, temos exemplos de inúmeras construções em terra de

alto padrão. Nas palavras de Silva (2000), “uso destes materiais aqui tão rejeitados, é

considerado elemento de vanguarda arquitetônica em países desenvolvidos”, como Alemanha,

França, que possuem centros de estudos sobre o material. Outro fator que não contribui para o

aumento do emprego de construções em terra no Brasil é o fato de que não existem grandes

grupos econômicos impulsionando seu desenvolvimento, pois a matéria prima utilizada é

facilmente retirada dos chamados “barreiros” e, no caso dos tijolos de adobe, a produção dos

mesmos não necessita de processo industrial mais elaborado.

Figura 18 - Exemplo de construção de alto padrão em adobe nos EUA. Fonte: DETHIER, J. (?)

Para vencer as os preconceitos e falta de investimentos em pesquisas é necessário

conferir um caráter mais técnico às construções em terra. Em países desenvolvidos, como a

França, essa preocupação é antiga. Dethier (?) cita que, ao longo da história, quando faltaram

materiais mais modernos (aço, concreto, etc) para construção de obras civis (guerras, crises

energéticas, financeiras, etc), fez-se necessário o uso de outros matérias, como a terra crua.

Com isso surgiram grupos de pesquisa espalhados pela Europa (CRATerre na França, por

exemplo) que contribuíram e ainda contribuem bastante para o desenvolvimento das

construções em terra no mundo.

30

Devido aos problemas sociais e ambientais mencionados nos parágrafos

anteriores, o Brasil não pode dar-se ao luxo de não investir em tecnologias que combatam ou

minimizem problemas como imenso déficit habitacional. É preciso provar-se que existe uma

cultura de construção em adobe em determinadas áreas do país, caracterizando técnicas de

construção, de produção dos tijolos, etc. A caracterização e mapeamento de regiões cuja

população tem o hábito de construir em adobe possibilitaria a comparação entre as diferentes

técnicas de construção e daria cabimento à introdução de melhorias nos processos

construtivos e de produção de tijolo, o que permitiria, ao se atingir um certo ponto de

melhoria nos processos construtivos, a aceitação da sociedade e principalmente dos governos

de todas as esferas políticas da técnica em construção em adobe.

6. CARACTERIZAÇÃO DOS MUNICÍPIOS VISITADOS

Os municípios alvo da pesquisa localizam-se na região norte do estado do Ceará, e

são os seguintes: Alcântaras, Coreaú (junto com distrito de Araquém), Viçosa do Ceará,

Moraújo e Sobral, além do município de Pindoretama, que, por se tratar de um novo centro de

construção em adobe no Ceará, foi incluído na pesquisa apesar de não estar na região

supracitada.

A população total dos municípios é de 293.339 habitantes, assim como o PIB total

dos municípios é de R$ 1.789.907.000,00 (IBGE 2007)

A escolha da região norte, assim como a do município de Pindoretama, para o

desenvolvimento do trabalho deveu-se a orientações dadas pelo professor da Universidade

Federal do Ceará Ricardo Marinho de Carvalho, que já havia realizado visitas à região e tinha

conhecimento de que o sistema de construção em adobe era muito comum nas localidades

escolhidas.

O mapa a seguir dá uma perspectiva da localização das cidades visitadas e dos

respectivos tipos de solos.

31

Figura 19 – Municípios visitados durante a pesquisa. Fonte: IPECE

Percebe-se que o tipo de solo predominante na região é o argissolo, o que é um

dos fatores que torna a região bastante propícia a ter construções em adobe.

Em geral são municípios com população de baixo poder aquisitivo além de

predominar o ambiente rural. Possuem PIB per Capita abaixo da média estadual, além de não

terem um Índice de Desenvolvimento Urbano – IDH alto.

32

MUNICÍPIOS área

(km²)

população 2007 (hab) ranking IDH

Ceará (184

mun)

escolaridade (%)

pib 2006 (R$)

pib per

capita

2006 (R$) rural urbana total ensino

fund

esino

médio

Alcântaras 139 7182 3088 10.270 144 97,16 44,65 23.180.000,00

2.263,00

Coreaú 776 9.059 10.375 21.171 161 91,73 63,93 49.353.000,00 2.716,00

Araquém - - - 7.000 - - - - -

Moraújo 416 4773 3232 8.005 156 100 55,46 21.545.000,00

2.828,00

Viçosa 1.312 36351 16504 52.855 158 100 57,87 120.709.000,00

2.474,00

Pindoretama 73 6.768 10.375 17.143 36 98,24 67,08 47.616.000,00 2.716,00

Sobral 2.123 - - 176.895 7 96,74 71,94 1.527.504.000,00

8.688,00

Pelos dados apresentados podemos perceber que a população dos municípios não

tem condições financeiras para utilizar sistemas construtivos tidos como mais modernos, a

exemplo do tijolo cerâmico. Por este motivo o uso do adobe acaba sendo uma solução

bastante utilizada pelos moradores da região, pois, além do fator sócio-econômico, o tipo de

solo propicia o uso do adobe.

O município de Sobral, apesar de não ter construções atuais em adobe, possui

várias construções históricas com o material, sendo importante ter-se o conhecimento disso,

pois é imperativo conservar o patrimônio histórico estadual e, para isso é preciso conhecer de

que material os mesmos são construídos.

6.1. Alcântaras

Alcântaras situa-se à 285 km de Fortaleza, possui uma população de 10.270

habitantes, sendo 3.088 da área urbana e 7.182 da área rural, e tem um PIB de R$

23.180.000,00 (IBGE/IPECE 2007). O município possui um IDH de 0,609, ocupando a 144ª

posição entre os 184 municípios cearenses. (IBGE/IPECE 2007).

Como se pode observar existe uma clara predominância do ambiente rural em

relação ao urbano, com 70% da população residindo na zona rural. Além disso, o município

possui um PIB per Capita de R$ 2.263,00 o qual fica bem abaixo do indicador estadual, que é

de R$ 5.636,00 (IBGE/IPECE 2007)

33

A cidade de Alcântaras possui tanto construções históricas como construções

novas em adobe. Porém, muitas construções possuem sistemas mistos, ou seja, parte em

adobe, parte em alvenaria de tijolo cerâmico.

Figura 20 – Sobreposição de sistemas construtivos em adobe e alvenaria de tijolo cerâmico

O município possui grande parte das suas construções em adobe.

6.2. Viçosa do Ceará

Situada à 366 km de Fortaleza, Viçosa do Ceará possui um população de 52.855

habitantes, sendo 16.504 da zona urbana e 36.351 da zona rural. Tem um PIB de R$

120.709.000,00 e IDH de 0,593, sendo o 158° município do ranking do estado do Ceará.

A cidade de Viçosa possui um grande histórico de construções em adobe, sendo

quase que totalmente construída com tijolo cru. Possui tanto construções históricas como

atuais.

34

Figura 21 – Exemplo de construção histórica em Viçosa do Ceará

Figura 22 – Exemplo de construção contemporânea em Viçosa do Ceará

O solo da cidade de Viçosa é classificado pelo IPECE como sendo do tipo

argissolo, o mesmo solo existente na cidade de Alcântaras e predominante na região.

À exemplo de Alcântaras, possui um baixo IDH, com PIB per Capita de R$

2.474,00, também abaixo da média do estado. Além disso, segundo, também, classificação do

IPECE, possui um solo argiloso o que, junto com o baixo poder aquisitivo da população, torna

o uso das construções em terra bastante comum no município.

35

6.3. Moraújo

O município de Moraújo situa-se à 308 km de Fortaleza, possui uma população de

8.005 habitantes, sendo 3.232 da área urbana e 4.773 da área rural, e tem um PIB de R$

21.545.000,00 (IBGE/IPECE 2007). O município possui um IDH de 0,594, ocupando a 156ª

posição entre os 184 municípios cearenses. (IBGE/IPECE 2007)

6.4 Coreaú e Araquém

Coreaú situa-se à 300 km de Fortaleza, possui uma população de 21.171

habitantes, sendo 12.112 da área urbana e 9.059 da área rural, e tem um PIB de R$

23.180.000,00 (IBGE/IPECE 2007). O município possui um IDH de 0,609, ocupando a 144ª

posição entre os 184 municípios cearenses. (IBGE/IPECE 2007). Já Araquém é o maior

distrito de Coreaú, possuindo aproximadamente 7.000 habitantes.

O município e o distrito têm parte considerável de suas construções em adobe,

sendo um reflexo tanto do solo favorável como do baixo poder aquisitivo da população.

Figura 23– Casas construídas em adobe no município de Coreaú

6.5. Sobral

A cidade de Sobral é a segunda mais rica do Estado do Ceará, com PIB de R$

1.527.504.000,00. Com uma população de 176.895 habitantes apresenta um IDH de 0,699

ocupa a 7ª posição no ranking estadual do IDH.

36

A importância de Sobral na questão das construções em adobe reside na sua

riqueza histórica, com igrejas construídas no século 18, inclusive com sua catedral construída

totalmente em adobe.

(a) (b)

(c) (d)

Figura 24 – Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretinhos, séc. XVIII (a); Museu Dom José (b); Teatro São

João, séc. XIX (c); Escola de Música de Sobral (d).

As construções históricas de Sobral concentram-se no centro da cidade, conforme

o mapa a seguir:

37

Figura 25 – Área de Preservação do Patrimônio Histórico de Sobral

Fonte: IPHAN

6.6. Pindoretama

O município de Pindoretama situa-se a 45 km de Fortaleza, possui uma população

de 17.143 habitantes, sendo 10.375 da área urbana e 6.768 da área rural, e tem um PIB de R$

47.616.000,00 (IBGE/IPECE 2007). O município ocupa a 36ª posição entre os 184

municípios cearenses. (IBGE/IPECE 2007)

Apesar de o município estar numa posição de destaque no que se refere ao ranking

do IDH no estado, cabe lembrar que o Estado do Ceará é um dos mais pobres do Brasil, não

estando o município em comento livre do problema habitacional. Por este motivo é que o

município conta com um grupo de pesquisadores que estão tentando instaurar uma cultura em

construção com terra entre os moradores.

7. PROCESSOS CONSTRUTIVOS

Apesar de o processo construtivo em adobe na região ser parecido, existem

algumas peculiaridades em alguns subsistemas construtivos, como, por exemplo, a viga

38

baldrame no município de Coreaú ser executada com tijolo cerâmico, ou a alvenaria em

Alcântaras ser executada com fiada dupla, com uma amarração das paredes diferenciada.

O município de Pindoretama irá compor a análise granulométrica do solo e de

resistência à compressão.

A seguir serão detalhados os seguintes subsistemas construtivos: fundações,

alvenaria, revestimento, instalações e coberta, além da produção do tijolo de adobe à exceção

de Sobral, pois município não possui construções atuais em adobe, apenas possuindo

construções históricas.

7.1. Fundações

As fundações das construções em adobe dos municípios visitados são, em regra,

executadas em viga baldrame com pedra de mão argamassada. Porém, algumas peculiaridades

ocorrem em certos municípios, como é o caso de Coreaú, onde os moradores executam as

vigas baldrames tanto com tijolo cerâmico como com pedra de mão.

Abaixo é apresentada uma tabela com o resumo dos materiais utilizados na

execução dos baldrames.

FUNDAÇÕES

LOCAL Pedra de mão Tijolo Cerâmico

Alcântras X

Coreaú/Araquém X X

Moraújo X

Viçosa do Ceará X

A seguir serão detalhados os processos construtivos relativos à execução das

fundações das construções em adobe dos municípios estudados.

39

7.1.1. Alcântaras

As fundações no município de Alcântaras são feitas em viga baldrame com pedra

de mão, sendo executadas da seguinte forma: primeiramente é cavada uma vala com

profundidade aproximada de um metro e largura aproximada de 40 cm. Então a vala é

preenchida com pedra de mão junto com a própria argamassa do adobe, misturada com água.

Não foi relatado nenhum tipo de impermeabilização do baldrame, sendo os tijolos de adobe

ora assentados diretamente sobre a viga baldrame, ora assentados sobre uma base mais larga

de adobe, que é executada sobre o próprio baldrame.

Figura 26 - Detalhe da viga baldrame no município de Alcantaras

Figura 27 - Detalhe da elevação da parede a partir do baldrame Figura 28 - Detalhe da base de adobe antes da alvenaria

40

Figura 29 - Base de adobe antes da alvenaria

7.1.2. Coreaú, Araquém e Moraújo

O município de Coreaú, juntamente com seu mais importante distrito, Araquém,

possui uma peculiaridade no que diz respeito às fundações das construções em adobe: elas são

executadas com tijolo cerâmico dobrado.

Figura 30 - Detalhe da viga baldrame com tijolo cerâmico no município de Coreaú.

Isto se deveu ao fato de que na época das eleições municipais os candidatos

distribuíram tijolos ceramicos para a população, porém, em quantidade insuficiente para a

construção de uma unidade habitacional. Então o moradores utilizaram os tijolos para

executar as fundações das casas em adobe, conforme mostra a figura 24.

41

Porém, também são encontradas fundações convencionais do tipo baldrame de

pedra argamassada, tanto em Coreaú como em Moraújo.

Figura 31 - Detalhe da viga baldrame de pedra de mão em Moraújo

7.1.3. Viçosa do Ceará

As fundações no município de Viçosa do Ceará são executadas em viga baldrame,

com pedra de mão argamassada.

Figura 32 - Detalhe da viga baldrame no município de AViçosa do Ceará

7.2. Produção do tijolo de adobe

42

A produção do tijolo de adobe na região varia pouco de região para região. Por

conta disto será relatado o processo básico de produção e então serão apontadas eventuais

particularidades dos municípios.

A produção de adobe na região pode se dá tanto para revenda como para consumo

próprio. Em Viçosa do Ceará, município onde a cultura de construção em adobe é muito viva,

a produção é para venda, e preço do milheiro chega à R$ 100,00 aproximadamente. Já em

outros municípios, como Alcântaras, a produção de adobe é predominantemente para

consumo próprio, onde a maioria da população sabe produzir o tijolo de adobe.

O início da produção do tijolo de adobe se dá com a extração da terra do barreiro,

que fica próximo do local de armazenagem, no caso de produção para venda, ou próximo ao

local da construção em adobe, no caso de produção para consumo próprio. A extração se dá

com o auxílio de uma pá. A terra extraída não é peneirada, o que faz com que muitas

impurezas, como pequenos gravetos, fiquem incrustadas nos tijolos.

Em seguida a terra é misturada com água usando-se uma enxada para tal fim. A

quantidade de água acrescentada não segue um padrão definido, sendo a experiência do

produtor imprescindível. É acrescentado água até que a mistura fique coesa. Após o acréscimo

de água, a mistura é deixada em repouso por 24 horas.

Passadas as 24 horas de repouso é novamente acrescentado água ao material e

novamente procede-se à mistura do mesmo. A mistura é então diretamente moldada, com as

mãos, em fôrmas de madeira confeccionadas pelos próprios produtores. As fôrmas de madeira

variam de município para município, sendo encontradas com dimensões de 30cm x 30cm x

7cm a 40cm x 22cm x 7cm. Algumas fôrmas possuem um acabamento melhor que outras,

sendo por exemplo revestida com fórmica na sua parte interior.

A fôrma é retirada imediatamente após a moldagem, sendo o tijolo posto em

repouso por um período que varia de dois a 4 dias, a depender do município. Os tijolos de

adobe são postos para repousar diretamente no solo, sem contato uns com os outros e secam

ao sol.

Terminado o processo de secagem, o tijolo está pronto para uso, sendo que no

caso de produção para revenda ele ainda é estocado em pilhas de tijolos, sem proteção.

43

A seguir serão apontadas as particularidades, quando houver, na produção dos

tijolos de adobe em cada município.

7.2.1. Alcântaras

O adobe não é comercializado na região, salvo casos excepcionais, onde é

cobrado o valor aproximado de R$ 50,00 o milheiro. Cada construtor produz seu próprio

adobe. O tijolo de adobe é uma boa solução para as famílias de baixa renda da região, pois,

como constatado nas conversas com moradores, o milheiro de tijolo cerâmico chega a custar

R$ 400,00 na região.

As formas para confecção do adobe são de dimensões variadas, sendo a mais

comum a de 30x30x7 cm, que molda dois tijolos de uma vez. São feitas somente de madeira

de madeira da região, sem uso de PVC ou fórmica para facilitar a desforma.

A desmoldagem do tijolo é realizada logo após a moldagem, tendo-se o cuidado

de molhar a fôrma antes do processo de moldagem.

Depois de desmoldado o tijolo de adobe fica em repouso, diretamente no solo,

secando ao sol por 48 horas, estando pronto para uso após a secagem.

(a) (b)

44

(c) (d)

(e) (f)

Figura 33 - Sequência de produção de adobe: Barreiro (a); Mistura da terra com água (b); Detalhe da fôrma (c);

Moldagem do tijolo (d); Tijolo recém-desmoldado (e); Processo de secagem (f)

7.2.2. Coreaú, Araquém e Moraújo

O tijolo de adobe nestes municípios é produzido para consumo próprio.

As fôrmas são de madeira, confeccionadas pelos próprios produtores e possuem,

geralmente, dimensões de 40 cm x 22 cm x 7 cm não sendo incomum fôrmas com dimensões

diferentes das citadas A exemplo de Alcântaras, como as fôrmas não são revestidas com PVC

ou fórmica ou qualquer outro matéria que auxilie na desforma, é necessário que as fôrmas

sejam molhadas antes da moldagem, a fim de facilitar a desmoldagem.

45

Após serem desmoldados, os tijolos são secos ao sol por um período de 2 dias,

deiretamente em contato com o solo, sem contato uns com os outros.

7.2.3. Viçosa do Ceará

Em Viçosa do Ceará, o adobe é produzido para revenda, sendo de

aproximadamente R$ 100,00 o preço do milheiro. Por ser um município onde a cultura de

adobe está mais presente – quase que a totalidade das construções no município é em adobe –

existem pessoas que são especialistas na produção dos tijolos, sendo o seu preço um pouco

superior ao de outros municípios, como Alcântaras, que em raras exceções produz adobe para

revenda a um preço aproximado de R$ 50,00 por milheiro, pelo fato de que o grande uso de

adobe pela população possibilita a comercialização do tijolo de adobe.

As fôrmas usadas na moldagem do tijolo são de madeira e são confeccionadas

pelo próprio produtor do adobe para a produção de um único tijolo. As mesmas são ainda

revestidas na parte interna com fórmica para facilitar a desfôrma.

O tijolo desformado é deixado secando ao sol por no mínimo 4 dias, quando então

é armazenado em pilhas de tijolos até a venda do mesmo.

(a) (b)

46

(c) (d)

(e) (f)

Figura 34 - Sequência de produção de adobe: Barreiro (a); Detalhe da fôrma (b); Moldagem do tijolo (c); Tijolo

recém-desmoldado (d); Processo de secagem (e) e (f).

7.3.Alvenaria

As dimensões dos tijolos de adobe em regra seguem aproximadamente as mesmas

dimensões, porém, é comum encontrar localidades que utilizem fôrmas de dimensões

diferentes das expostas no quadro abaixo. Porém, nota-se um padrão no que tange ao processo

executivo das alvenarias com tijolo de adobe: os equipamentos utilizados no processo são os

mesmos em todas as cidades visitadas, a amarração das fiadas é a mesma, com exceção do

município de Alcântaras, que por conta de ter um tijolo com dimensões menores, faz uma

espécie de parede dupla de adobe, com uma amarração um pouco diferente.

47

Abaixo segue um quadro com o resumo das informações coletadas à respeito das

alvenarias em adobe nos municípios visitados.

ALVENARIA

LOCAL Dimensões (cm) Resistência

compressão (MPa) Assentamento vergas

contra-

vergas

Alcântras 30x20x7 / 27x14x7 1,0MPa / 3,0MPa massa de adobe madeira /

concreto

madeira /

concreto

Coreaú/Araquém 40x22x7 1,0 MPa massa de adobe madeira /

concreto

madeira /

concreto

Moraújo 40x22x7 1,0 MPa massa de adobe madeira /

concreto

madeira /

concreto

Pindoretama 23x12x12 0,4 MPa - - -

Viçosa do Ceará 40x22x7 1,7 MPa massa de adobe madeira /

concreto

madeira /

concreto

A seguir será detalhada a técnica executiva de cada município integrante deste

estudo.

7.3.1. Alcântaras

Como não há uniformidade nas dimensões das fôrmas para produção dos tijolos

de adobe, foram encontradas duas dimensões distintas de tijolos de adobe, uma de 27 x 14 x 7

cm e outra de 30 x 20 x 7 cm. Porém, o tijolo de dimensões de 27x14x7 cm é mais utilizado

na região.

Figura 35 – Tijolo de adobe produzido no município de Alcântaras

48

A elevação é executada de maneira peculiar: as fiadas de tijolos são duplas,

deixando a parede com uma espessura de 30 cm, fora o revestimento, devido a soma das

medidas de dois tijolos de 14 cm mais aproximadamente 1 cm da junta entre eles. Então a

cada cinco ou seis fiadas é colocado um tijolo transversalmente na parede, a fim de amarrar a

parede.

Figura 36 - Detalhe do tijolo transversal para amarrar parede

Figura 37 - Detalhe da amarração na parede pronta

Os equipamentos utilizados para a elevação da alvenaria são os mesmos utilizados

na elevação de alvenaria comum: colher de pedreiro, prumo e régua.

49

Não existe controle preciso das dimensões das juntas entre os tijolos, sendo

comum serem maiores que dois centímetros.

A argamassa utilizada para assentamento dos tijolos é a mesma utilizada para

confeccioná-los, sem qualquer adição de cal, cimento ou outro material.

Foram encontradas tanto vergas de concreto como de madeira, o mesmo

ocorrendo com as contra-vergas.

Figura 38 – Detalhes das vergas e contra-vergas em concreto e madeira em Alcântaras

50

7.3.2. Coreaú, Araquém e Moraújo

As dimensões do tijolos de adobe de Coreaú e Araquém e Moraújo são, em regra,

40 cm x 22 cm x 7 cm. Existem outras dimensões na região, porém esta é a mais usual.

A elevação da alvenaria respeita a amarração convencional de alvenaria, conforme

a figura 33, além de serem utilizados como equipamentos no processo, a colher de pedreiro,

prumo e régua. Não é realizado controle de junta entre os tijolos, o que é característico na

região.

Figura 39 – Detalhe da amarração das fiadas na metade do tijolo da fiada seguinte

A argamassa utilizada no assentamento é, também, a mesma utilizada na

preparação do tijolo em si.

As vergas e contra-vergas são tanto de concreto como de madeira.

Figura 40 – Detalhe das vergas em madeira e concreto

51

7.3.3. Viçosa do Ceará

As dimensões dos tijolos de adobe encontrados no município de Viçosa co Ceará e distritos é

de 40cm x 22cm x 7cm.

Figura 41 – Tijolo de adobe do município de Viçosa do Ceará

A elevação das paredes é executada de maneira tradicional, tomando-se o cuidado para

amarrar um tijolo de uma fiada na metade do tijolo da outra fiada.

Figura 42 – Detalhe da amarração das fiadas na metade do tijolo da fiada seguinte em Viçosa

52

É utilizada a mesma argamassa usada na produção do adobe para o assentamento

dos tijolos. Não é realizado nenhum controle de espessura de juntas entre os tijolos, sendo

utilizados para a elevação da alvenaria equipamentos convencionais, como colher de pedreiro,

prumo e régua.

Foram encontradas tanto vergas e contra-vergas de madeira como de concreto.

Figura 43 – Detalhes das vergas e contra-vergas em concreto e madeira em Alcântaras

As construções em adobe do município realizam o chumbamento de armadores de

rede com argamassa de cimento e areia.

Figura 44 – Detalhes da fixação dos armadores em residências de Viçosa do Ceará

53

7.3.4. Resistência à compressão do tijolo e composição do solo

Foi encontrada uma resistência à compressão variando de 0,8 MPa a 3,0 MPa.

Essa diferença deve-se ao fato de que, mesmo com a semelhança do tipo de solo da região

(argissolo), existem variações deste tipo de solo na própria região. As granulometrias dos

solos são apresentadas a seguir:

Local granulometria (%) fck

(MPa) areia grossa areia média areia fina silte argila

Alcântaras 1 4 22 28 26 20 3,0

Alcântaras 2 9 23 18 27 24 1,0

Viçosa - - - - - 1,7

Coreaú/Araquém 4 5 25 40 26 1,0

Pindoretama 5 14 53 19 14 0,8

Moraújo 5 5 31 36 23 1,0

Apesar de a amostra “Alcântaras 1” ter apresentado um granulometria parecida

com a amostra “Alcântaras 2”, ela apresentou uma resistência a compressão bem mais alta, de

3,0 MPa. O tijolo que deu origem à referida amostra era visivelmente mais resistente que os

demais, tornando, inclusive, o processo de destorroamento muito mais árduo. A coloração do

tijolo também era diferente: enquanto os outros eram de cor avermelhada, o tijolo que

originou a amostra “Alcântaras 1” tinha coloração acinzentada. Os resultados dos ensaios de

garnulometria não foram conclusivos em relação ao estabelecimento de uma relação entre a

composição granulométrica do solo e a sua resistência à compressão. Concluí-se que são

necessários maiores estudos sobre a composição do solo de Alcântaras, com ensaios que

envolvam questões minerológicas das partículas do solo do município.

A amostra de Pindoretama apresentou resistência à compressão mais baixa que as

demais amostras. Isso era esperado, pois o solo da região não está de acordo com o indicado

para produção de adobe, contendo muita areia.

Figura 45 – Tijolo de adobe de Pindoretama

54

7.4. Revestimento e pintura

Geralmente o revestimento das paredes na região é executado com a própria

massa do adobe acrescida de cal. Porém, é comum encontrar revestimentos feitos com

argamassa de cimento e areia. Comum também é encontrar unidades habitacionais sendo

arrematadas com argamassa de cimento e areia.

Figura 46 – Detalhes de arremate com argamassa de cimento e areia em Viçosa.

A pintura das construções em adobe é executada geralmente com cal. Em algumas

construções de padrão mais elevado observa-se o emprego de revestimentos mais nobres,

como demonstra a figura 42.

Existem também unidades habitacionais sem revestimento algum, ficando os

tijolos de adobe a mostra.

LOCAL

Revestimento Pintura

Cal Massa de

adobe Cal Outro

Alcântras X X X X

Coreaú/Araquém X X X

Moraújo X X X

Viçosa do Ceará X X X X

55

7.4.1. Alcântaras

O revestimento interno e externo, o qual nem sempre é feito, no município de

Alcântaras é realizado com uma argamassa de areia, cal e massa de adobe.

Figura 47 – Residência pintada com cal e residência sem revestimento em Alcântaras.

Porém, são encontrados, comumente, mistura de sistemas construtivos, o que

possibilitou a observação de revestimentos executados com argamassa de cimento.

Figura 48 – Casa revestida com argamassa de cimento e areia e pintada com tinta .

As paredes de adobe não são protegidas contra as chuvas. Não se faz o

prolongamento dos beirais das casas para tal fim. Foi relatado pelos moradores do local que as

paredes resistem às chuvas sem problemas.

56

A pintura das casas é geralmente realizada com cal, sendo que, devido também à

mistura de sistemas construtivos, são encontradas pinturas com materiais mais nobres.

Figura 49 – Casa com revestimento interno com argamassa de cimento e areia e pintada com tinta a base de cal

7.4.2. Coreaú, Araquém e Moraújo

O revestimento das paredes é feito com argamassa de produção do tijolo de adobe

e cal. A exemplo de Alcântaras, às vezes o revestimento das paredes não é feito, ficando o

tijolo de adobe aparente.

Figura 50 – Residências pintadas com cal e residência sem revestimento

Os moradores do município procuram proteger com revestimento somente as

paredes susceptíveis a chuvas, deixando as outras sem revestimento.

57

Figura 51 – Detalhes da parede protegida da chuva por revestimento

7.4.3 Viçosa do Ceará

No município de Viçosa do Ceará percebe-se claramente que ocorre uma mistura

de sistemas: alvenaria em adobe e revestimento com argamassa de cimento e areia.

Figura 52 – Detalhes do revestimento com cimento e areia em Viçosa do Ceará.

58

Porém, existem paredes revestidas com massa de adobe e pintadas apenas com cal.

Figura 53 – Detalhes de pintura com cal em Viçosa do Ceará.

7.5. Instalações

As instalações em todos os municípios são executadas fazendo-se rasgos na

alvenaria de adobe, preenchendo-se depois o espaço com massa de adobe ou com argamassa

de cimento e areia.

Figura 54– Detalhes dos rasgos para passagem da tubulação e fiação

Nas instalações elétricas, os quadros gerais são chumbados também com

argamassa de adobe e cal ou de cimento e areia, variando de construção para construção.

59

8. Conclusão

A região norte possui grande quantidade de habitações construídas em adobe.

Cidades como Viçosa do Ceará e Alcântaras possuem cerca de 80% de suas habitações em

terra. Este fato se deve tanto por aspectos sócio-econômicos – baixo poder aquisitivo da

população, baixa escolaridade – como a aspectos culturais e naturais.

O solo da região é bastante favorável para construções com terra. A literatura

aponta como composição ideal do solo para construção com adobe um percentual de

aproximadamente 40 a 55% de areia, 20% de argila e 25 a 40% de silte (Hernandez et al

(1983) apud Correa (2006)). Em Alcâtaras, foi encontrada uma granulometria de 53% de

areia, 27% de silte e 20% de argila e 49% de areia, 27% de silte e 24% de argila. Já em

Coreaú foi encontrada uma composição de 34% de areia, 40% de silte e 26% de argila. As

resistências à compressão encontradas variaram de 1,0 MPa a 3,0 MPa.

A população constrói com tijolos de adobe há séculos. Prova disso, por exemplo,

é que em Alcântaras existem construções ainda habitadas datadas do final do século XIX.

Figura 55 – Construção residencial mais antiga no município de Alcântaras, datada do final do séc. XIX.

Outra prova de que as construções em adobe estão enraizadas na cultura da

população da região são as construções históricas, encontradas em todas as cidades. Igrejas

como a de Nossa Senhora do Rosário dos Pretinhos, localizada em Sobral, são datada de

séculos passados.

60

Figura 56 – Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretinhos em Sobral, datada do séc. XVIII.

A técnica construtiva adotada é basicamente a mesma em todos os municípios,

com particularidades em alguns deles. As dimensões dos tijolos, apesar de conservarem

sempre as mesmas proporções (comprimento é o dobro da largura, salvo em Alcântaras),

variam de município para município e, em alguns casos, entre os distritos dos próprios

municípios. O mesmo acontece com as fôrmas, pois, tanto as dimensões como o acabamento

mudam de município para município, a exemplo de Viçosa, onde as fôrmas possuem um

revestimento na sua parte interna de fórmica, para facilitar na desforma. Apesar destas

particularidades, o processo construtivo é padrão.

Os ensaios de compressão demonstram que os tijolos, mesmo sendo produzidos

sem nenhum auxílio tecnológico mais elaborado, apresentam resistências de até 3,0 MPa, o

que, inclusive, é maior que a dos tijolos cerâmicos, ou mesmo de concreto para vedação, que

geralmente é de 2,5 MPa. Portanto, o preconceito com o uso da terra na construção se mostra

infundado, pois construções em adobe, quando bem acabadas, não devem em nada, em termos

de estética e desempenho, às construções convencionais, conforme demonstram as fotos do

centro de viçosa abaixo.

61

Figura 57 – Detalhes das construções com adobe no centro de Viçosa do Ceará.

Constata-se que existe uma cultura de construção em adobe na região estudada,

com processos construtivos uniformes. Percebe-se ainda que alguns municípios, como Viçosa

do Ceará, comercializam tijolos de adobe, com moradores especializados na produção dos

mesmos, tamanho é o uso do adobe no município.

As construções em adobe mostram-se uma solução bastante viável para a região,

pois, além do solo favorecer, a condição econômica da população justifica o uso do sistema

construtivo.

É necessário que as autoridades governamentais e o meio acadêmico estejam

atentos às possibilidades de construção em adobe em regiões desfavorecidas economicamente

como a estudada. As vantagens do adobe já expostas neste trabalho não podem esbarrar no

preconceito da população. É necessário conferir um caráter mais técnico as construções em

adobe, pois a cultura de construção com o material já existe, sendo apenas necessário que o

62

meio acadêmico empenhe-se em estudar mais a fundo as características das construções em

adobe, propondo melhorias, a fim de fazer com que a sociedade aceite o sistema sem

preconceitos.

63

REFERÊ

NCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALEXANDRIA, S. S. S. de; LOPES, W. G. R.; A utilização do adobe no município de

Uruçuí: técnica construtiva tradicional e sustentável. Florianópolis – SC, agosto/2006.

ALEXANDRIA, S. S. S. de; LOPES, W. G. R; A terra na construção civil: Edificações de

adobe no município de Pedro II, Piauí. Fortaleza – CE, outubro/2008.

CORRÊA, A. A. R. et al.; Avaliação das propriedades físicas e mecânicas do adobe (tijolo

de terra crua). Lavras – MG, junho/2006.

DETHIER, J. A renovação das arquiteturas de terra. (?)

FARIA, O. B.; SILVA, F. M. G. da; INO, A. Arquitetura e construção com terra como

alternativa mais sustentável para a produção de habitação de interesse social rural.

Florianópolis/SC, novembro/2006.

FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO. Déficit Habitacional no Brasil 2006. Brasília, 2008.

98p.

LOURENÇO, P. Arquitectura de Terra: uma visão de futuro. Companhia de arquitetura

e design, Lisboa, set. 2005.

LOPES, W. G. R.; INO, A. Habitação em taipa de mão: alternativa de construção mais

sustentável. VIII ENTAC, 2000, Salvador-BA. VIII ENTAC - Encontro Nacional de

Tecnologia do Ambiente Construído, 2000. p. 1-8.

MORTADA, H. Nadj Style: a timeless tradition of adobe architecture and sustentability.

Santiago/Chile, novembro/1998.

MOTTA, A. L. T. S. da; MACHADO, J. M.; GITAHY, P. F. S. de C. R.; O resgate do adobe

e sua adequação à necessidade de construções contemporâneas. Cidade do Porto/Portugal,

dezembro/2004.

64

OLIVEIRA, L. B. de. Introdução ao estudo de adobe: construção de alvenaria. São Paulo

– SP, (?)

PISANI, M. A. J. Taipas: Arquitetura de terra. CFG BRASIL: CULTURA Y

ARQUITECTURA DE LA DIVERSIDAD, São Paulo, 2007. Texto referente a La Clase 5,

21/08/07, Arquitectura Colonial.

SILVA, C. G. T. Conceitos e Preconceitos relativos às Construções em Terra Crua. 2000.

Dissertação (Mestrado em saúde pública) – Escola Nacional de Saúde Pública, Fundação

Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro.

SILVA, F. M. G. da; BARRETO, M. G. C.; SHIMBO, I.; INO, A.; FARIA, O. B.; Análise

das etapas construtivas de uma habitação rural com paredes estruturas em adobe. Caso:

Assentamento rural Pirituba II (Itapeva-SP). Florianópolis – SC, agosto/2006.

SILVA, F. M. G. da. Análise da sustentabilidade no processo de produção de moradias

utilizando adobe e bloco cerâmico. Caso: assentamento rural Pirituba II, Itapeva, São

Paulo. 2007. Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo) – Escola de Engenharia de

São Carlos, Universidade de São Paulo, São Carlos.

Apostila do Laboratório de Mecânica dos Solos da Universidade Federal do Ceará.

Fortaleza – CE, 2009.

Ceará em Mapas. Disponível em <http://www2.ipece.ce.gov.br/atlas/>. Acessado em: 31out.

2009

IBGE - Cidades. Disponível em <http://www.ibge.com.br/cidadesat/topwindow.htm?1>.

Acessado em 6 nov. 2009.

IPECE - Perfil Básico Municipal 2009. Disponível em

<http://www.ipece.ce.gov.br/publicacoes/perfil_basico/perfil-basico-municipal-2009>.

Acessado em 6 nov. 2009.

65

ANEXOS

ANEXO I – TABELA PARA DETERMINAÇÃO DA GRANULOMETRIA DO SOLO

66

ANEXO IA – TABELA PARA DETERMINAÇÃO DA GRANULOMETRIA DO SOLO

– AMOSTRA ALCÂNTARAS 1

CURVA GRANULOMÉTRICA

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

0,001 0,01 0,1 1 10 100

DIÂMETRO DOS GRÃOS (mm)

PE

RC

EN

TA

GE

M Q

UE

PA

SS

A (

%)

67

ANEXO I B – TABELA PARA DETERMINAÇÃO DA GRANULOMETRIA DO

SOLO – AMOSTRA ALCÂNTARAS 2

CURVA GRANULOMÉTRICA

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

0,001 0,01 0,1 1 10 100

DIÂMETRO DOS GRÃOS (mm)

PE

RC

EN

TA

GE

M Q

UE

PA

SS

A (

%)

68

ANEXO I C – TABELA PARA DETERMINAÇÃO DA GRANULOMETRIA DO

SOLO – AMOSTRA PIDORETAMA

CURVA GRANULOMÉTRICA

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

0,001 0,01 0,1 1 10 100

DIÂMETRO DOS GRÃOS (mm)

PE

RC

EN

TA

GE

M Q

UE

PA

SS

A (

%)

69

ANEXO I D – TABELA PARA DETERMINAÇÃO DA GRANULOMETRIA DO

SOLO – AMOSTRA

CURVA GRANULOMÉTRICA

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

0,001 0,01 0,1 1 10 100

DIÂMETRO DOS GRÃOS (mm)

PE

RC

EN

TA

GE

M Q

UE

PA

SS

A (

%)