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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ CENTRO DE CIÊNCIAS DEPARTAMENTO DE BIOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ECOLOGIA E RECURSOS NATURAIS VICTOR LACERDA MOURA BIOACUMULAÇÃO DE MERCÚRIO NO GRADIENTE ESTUARINO DO RIO JAGUARIBE, CE FORTALEZA 2017

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Page 1: UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ CENTRO DE CIÊNCIAS ... · ... e sete espécies de invertebrados, sendo quatro de ... morfométrica e concentração de mercúrio total. A análise

UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ

CENTRO DE CIÊNCIAS

DEPARTAMENTO DE BIOLOGIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ECOLOGIA E RECURSOS NATURAIS

VICTOR LACERDA MOURA

BIOACUMULAÇÃO DE MERCÚRIO NO GRADIENTE ESTUARINO DO RIO

JAGUARIBE, CE

FORTALEZA

2017

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VICTOR LACERDA MOURA

BIOACUMULAÇÃO DE MERCÚRIO NO GRADIENTE ESTUARINO DO RIO

JAGUARIBE, CE

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Recursos Naturais da Universidade Federal do Ceará, como parte dos requisitos para a obtenção do grau de Mestre em Ecologia e Recursos Naturais. Área de concentração: Ecologia e Recursos Naturais. Orientador: Prof. Dr. Luiz Drude de Lacerda

FORTALEZA

2017

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VICTOR LACERDA MOURA

BIOACUMULAÇÃO DE MERCÚRIO NO GRADIENTE ESTUARINO DO RIO

JAGUARIBE, CE

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Recursos Naturais da Universidade Federal do Ceará, como parte dos requisitos para a obtenção do grau de Mestre em Ecologia e Recursos Naturais. Área de concentração: Ecologia e Recursos Naturais.

Aprovado em: 31 / 05 / 2017

BANCA EXAMINADORA

_______________________________________________________________

Prof. Dr. Luiz Drude de Lacerda (Orientador)

Instituto de Ciências do Mar, Universidade Federal do Ceará (LABOMAR/UFC)

_______________________________________________________________

Profa. Dra. Caroline Viera Feitosa

Instituto de Ciências do Mar, Universidade Federal do Ceará (LABOMAR/UFC)

_______________________________________________________________

Profa. Dra. Carla Ferreira Rezende

Universidade Federal do Ceará (UFC)

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À Deus, minha família, amigos e a todos

que estiveram presentes e prestaram

imenso auxílio para que mais essa etapa

fosse vencida.

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AGRADECIMENTOS

Utilizo esse espaço para expressar meus sinceros agradecimentos a

todos, pessoas e instituições, que, igualmente, contribuíram para a execução e

redação dessa dissertação, oferecendo todo suporte, apoio, conhecimento e força,

em nível acadêmico ou pessoal, para que esse momento se realizasse.

Primeiramente, gostaria de agradecer a Deus, por estar sempre presente

e me conceder força, coragem e sabedoria durante essa caminhada.

À FUNCAP pelo auxílio financeiro, através da concessão de bolsas de

estudos, que ajudou enormemente no desenvolvimento dessa pesquisa.

Ao meu orientador Prof. Dr. Luiz Drude de Lacerda por toda paciência,

atenção e conhecimento compartilhado nesta pesquisa, contribuindo imensamente

com meu crescimento em nível acadêmico e pessoal.

A Profa. Dra. Rozane Valente Marins pela disposição do Laboratório de

Biogeoquímica Costeira (LBC – LABOMAR) para realização da pesquisa, pela

confiança depositada e todo conhecimento e incentivo em todos os momentos.

Agradecer, também, aos membros da banca: Profa. Dra. Caroline Vieira

Feitosa por disponibilizar seu tempo e contribuir com considerações

importantíssimas para a redação dessa dissertação, assim como a Profa. Dra. Carla

Ferreira Rezende, a quem agradeço enormemente por seu apoio e incentivo, que

foram fundamentais em um período difícil o qual enfrentei durante esta caminhada.

Aos professores do curso de Pós-graduação em Ecologia e Recursos

Naturais (PPGERN - UFC) pelo conhecimento repassado, pela atenção e por seu

companheirismo sempre presente em cada disciplina ministrada durante o curso.

A toda equipe de analistas do Laboratório de Biogeoquímica Costeira, que

me recebeu de braços abertos e guardo como grandes amigos, além de diversas

vezes estarem disponíveis para ajudar durante as análises, seja com auxílio no

entendimento e intepretação dos dados, no treinamento e na troca de conhecimento

que foi de fundamental importância para meu progresso no laboratório, em

atividades de campo e em conselhos e incentivos, durante conversas amistosas,

que foram muito importantes no desenvolvimento desta pesquisa.

A Karinne Brito, a quem cito com enorme prazer, pois ela teve um papel

muito importante durante todo esse meu percurso acadêmico, auxiliando a nível

acadêmico no tratamento e discussão dos resultados, redação do trabalho de

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conclusão, troca de conhecimento, além de todo o apoio emocional, sempre com

palavras de incentivo, perseverança e confiança, nunca deixando que os percalços

da vida afetassem meu crescimento.

A toda minha família, pai, mãe, irmãos, tios, avós, primos que sempre

acreditaram e incentivaram meu crescimento pessoal e profissional.

Aos amigos, que já faziam parte da minha vida e aos que conheci durante

essa trajetória, no laboratório, em cursos, durante as aulas da pós-graduação, que

me apoiaram, ajudaram e se fizeram tão presentes nos momentos bons e ruins ao

longo dessa jornada acadêmica.

A todos que direta e/ou indiretamente contribuíram para que esta

pesquisa fosse desenvolvida.

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“Até que tenhamos coragem de

reconhecer crueldade pelo que ela é -

seja a vítima um animal humano ou não

humano - não podemos esperar que as

coisas melhorem neste mundo... não

podemos ter paz vivendo entre homens

cujos corações se deleitam em matar

criaturas vivas. Para cada ato que glorifica

o prazer de matar, estamos atrasando o

progresso da humanidade”. (Rachel

Carson)

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RESUMO

Amplas modificações na paisagem natural na Bacia Inferior do rio Jaguaribe, como a

construção de barragens, juntamente da escassez anual de chuvas devido as

Mudanças Climáticas Globais, contribuem para um maior tempo de residência das

massas de água na região estuarina, possibilitando maior mobilidade e reatividade

do mercúrio, proveniente de atividades antropogênicas desenvolvidas no entorno.

Entretanto, apesar das pequenas cargas de mercúrio lançadas por essas atividades,

as características estuarinas naturais, mudanças climáticas globais e modificações

antropogênicas regionais contribuem para um aumento na produção e

biodisponibilização de mercúrio para a teia trófica desse ecossistema. Logo,

objetivando compreender a influência dos fatores biológicos e ambientais na

variação das concentrações de mercúrio na composição faunística ao longo do

gradiente estuarino do rio Jaguaribe, foram realizadas duas campanhas no ano de

2015 em cinco pontos distribuídos ao longo da região. Dois desses pontos estavam

localizados na zona de influência fluvial e três na zona de influência marinha, onde

foram coletadas espécies de peixes, crustáceos e moluscos para identificação,

registro de dados biométricos e análise da concentração de mercúrio total presente

na musculatura desses organismos. Foram coletados 830 organismos de 16

espécies, sendo nove espécies de vertebrados, composta somente de peixes

ósseos (Osteichthyes, Actinopterygii) e sete espécies de invertebrados, sendo

quatro de crustáceos (Decapoda) e três de moluscos (um Gastropoda e dois

Bivalves). As maiores concentrações foram observadas, para os invertebrados, nos

crustáceos Callinectes bocourti (Decapoda, Portunidae) (201 ng.g-1) e Callinectes

larvatus (Decapoda, Portunidae) (104 ± 43 ng.g-1), e para os peixes Elops saurus

(Elopiformes, Elopideae) (109 ± 15 ng.g-1) e Menticirrhus americanus (Perciformes,

Sciaenidae) (104 ± 30 ng.g-1), em espécies de hábito carnívoro. As curvas de

bioacumulação para as espécies carnívoras apresentaram valores positivos, apesar

de apresentarem fraca correlação, demonstrando assim haver um processo de

bioacumulação de mercúrio com o aumento de tamanho. Porém algumas espécies

de hábitos alimentares distintos apresentaram curvas decrescentes na relação

morfométrica e concentração de mercúrio total. A análise comparativa intraespecífica

entre zonas de influência fluvial e marinha constatou que as espécies coletadas na

zona de influência marinha apresentaram maiores concentrações de mercúrio do

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que as mesmas espécies na zona de influência fluvial. Logo é possível concluir que

os fatores biológicos como hábito alimentar, posição trófica e dados biométricos

foram determinantes nas variações de concentração de mercúrio total entre

indivíduos de mesma espécie e entre espécies distintas. Entretanto, além dos

fatores biológicos, os aspectos ambientais também apresentaram resultados

importantes, evidenciando sua relevância na determinação das concentrações de

mercúrio total ao longo do gradiente estuarino.

Palavras-chave: Estuário. Mercúrio. Bioacumulação.

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ABSTRACT

Extensive changes in the natural landscape in the Lower Basin of the Jaguaribe

River, as the construction of dams, together with scarcer annual rainfall due to Global

Changes, contribute to a greater residence time of the water masse in the estuarine

region, enabling greater mobility and reactivity of the mercury emitted by anthropic

activities in the environment. However, despite the small mercury loads launched by

these activities, natural estuarine characteristics, global climatic changes and

regional anthropic modifications contribute to an increase in the production and

bioavailability of mercury to the trophic web in this ecosystem. Therefore, aiming to

understand the influence of biological and environmental factors in the variation of

mercury concentrations in the aquatic faunal along the estuarine gradient of the

Jaguaribe river, two campaigns were conducted in 2015 at five points distributed

along the estuarine region. Two of these points were located in the area of dominant

river influence and three in the area of dominant marine influence, where fish,

crustaceans and mollusks species were collected for identification, biometric data

record and analysis of the total mercury concentration present in the muscle tissue of

these organisms. 830 organisms of 16 species were collected, nine species of

vertebrates, consisting of finfish (Osteichthyes, Actinopterygii) and seven species of

invertebrate, four of crustaceans (Decapoda) and three of mollusks (one Gastropoda

and two Bivalves). The highest concentrations were observed, for invertebrates, the

crabs Callinectes bocourti (Decapoda, Portunidae) (201 ng.g-1) and Callinectes

larvatus (Decapoda, Portunidae) (104 ± 43 ng.g-1), and for fishes Elops saurus

(Elopiformes, Elopideae) (109 ± 15 ng.g-1) and Menticirrhus americanus

(Perciformes, Sciaenidae) (104 ± 30 ng.g-1), on species of carnivorous habit. The

bioaccumulation curves for the carnivorous species presented positive values,

although with a weak correlation, thereby proving a process of bioaccumulation of

mercury with the increase of size. However, some species of different food habits

showed decreasing curves in the morphometric ratio and concentration of total

mercury. The intraspecific comparative analysis between zones under fluvial and

marine influence showed that the species collected in the area of dominant marine

influence had higher concentrations of mercury than the same species in the area of

dominant river influence. It is soon possible to conclude that the biological factors

such as food habit, trophic position and biometric data were determinant in the

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variations of concentration of total mercury between individuals of the same species

and distinct species. However, in addition to the biological factors, the environmental

aspects also presented important results, evidencing their relevance in determining

the concentrations of total mercury along the estuarine gradient.

Keywords: Estuary. Mercury. Bioaccumulation.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 - Esquema representando o ciclo biogeoquímico do mercúrio nos

diferentes compartimentos ambientais: Ar, água, solo e biota.

SRB representa as bactérias sulfato redutoras, merB e

merA referem-se à atividade de genes que codificam as enzimas

organo-mercurial liase e redutase, respectivamente......................... 16

Figura 2 - Mapa de localização dos pontos de amostragem, zonas urbanas e

fazendas de camarão no Baixo Jaguaribe, CE................................. 25

Figura 3 - Cathorops spixii................................................................................. 26

Figura 4 - Gobionellus oceanicus....................................................................... 27

Figura 5 - Mugil curema..................................................................................... 27

Figura 6 - Centropomus parallelus..................................................................... 28

Figura 7 - Menticirrhus americanus.................................................................... 28

Figura 8 - Elops saurus...................................................................................... 29

Figura 9 - Lutjanus jocu (a) e Lutjanus synagris (b)........................................... 29

Figura 10 - Eugerres brasilianus.......................................................................... 30

Figura 11 - Representação ilustrativa das espécies coletadas............................ 30

Figura 12 - Litopenaeus vannamei....................................................................... 31

Figura 13 - Anomalocardia brasiliana.................................................................. 31

Figura 14 - Mytella charruana.............................................................................. 32

Figura 15 - Pugilina morio.................................................................................... 32

Figura 16 - Desenho esquemático do processo de liofilização e obtenção do

valor do teor de umidade................................................................... 33

Figura 17 - Representação gráfica da relação concentração de mercúrio total

com posição trófica ocupada pelas espécies em estudo.................. 41

Figura 18 - Representação gráfica (bloxspot) das variações na concentração

de mercúrio nas espécies com hábitos alimentares distintos

(carnívoros, onívoros e iliófagos), abordando o grupo dos peixes.... 43

Figura 19 - Representação gráfica (bloxspot) das variações na concentração

de mercúrio nas espécies com hábitos alimentares distintos

(carnívoros, filtradores e detritívoros), abordando o grupo dos

moluscos e crustáceos...................................................................... 44

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Figura 20 - Correlação entre o comprimento (cm) e a [Hg] Total (ng.g-1) na

espécie Cathorops spixii.................................................................... 45

Figura 21 - Correlação entre o peso (g) e a [Hg] Total (ng.g-1) na espécie

Anomalocardia brasiliana.................................................................. 45

Figura 22 - Correlação entre o peso (g) e a [Hg] Total (ng.g-1) na espécie

Mytella charruana.............................................................................. 46

Figura 23 - Correlação entre o peso (g) e a [Hg] Total (ng.g-1) na espécie

Litopenaeus vannamei....................................................................... 46

Figura 24 - Representação gráfica das concentrações de mercúrio total

presente na espécie Eugerres brasilianus coletada nas zonas de

influência fluvial e marinha................................................................ 52

Figura 25 - Representação gráfica das concentrações de mercúrio total

presente na espécie Eugerres brasilianus coletada nas zonas de

influência fluvial e marinha................................................................ 52

Figura 26 - Representação gráfica das concentrações de mercúrio total

presente na espécie Callineces danae coletada nas zonas de

influência fluvial e marinha................................................................ 53

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Nome científico, nome comum, número de indivíduos coletados

(n), comprimento e peso das espécies capturadas na zona de

influência fluvial do Baixo Jaguaribe.................................................. 36

Tabela 2 - Nome científico, nome comum, número de indivíduos coletados

(n), comprimento e peso das espécies capturadas na zona de

influência marinha do Baixo Jaguaribe.............................................. 37

Tabela 3 - Nome científico, área de coleta, hábito alimentar, posição trófica e

concentração de mercúrio apresentada pelas espécies de peixes

capturadas na região do Baixo Jaguaribe......................................... 38

Tabela 4 - Nome científico, área de coleta, hábito alimentar, posição trófica e

concentração de mercúrio apresentada pelas espécies de

invertebrados capturadas na região do Baixo

Jaguaribe........................................................................................... 39

Tabela 5 - Hábito alimentar dos peixes, número amostral, nível trófico médio,

comprimento e peso médio e desvio padrão, concentração de

mercúrio total médio e desvio padrão................................................ 43

Tabela 6 - Hábito alimentar dos invertebrados, número amostral, nível trófico

médio, comprimento e peso médio e desvio padrão, concentração

de mercúrio total médio e desvio padrão........................................... 44

Tabela 7 - Análise comparativa entre as concentrações obtidas nas espécies

coletadas nesta pesquisa e em outros trabalhos desenvolvidos na

mesma área de estudo...................................................................... 48

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................... 15

2 PERGUNTA ................................................................................................... 22

3 HIPÓTESE ..................................................................................................... 22

4 OBJETIVOS ................................................................................................... 23

4.1 Geral .............................................................................................................. 23

4.2 Específicos ................................................................................................... 23

5 MATERIAIS E MÉTODOS ............................................................................. 24

5.1 Área de Estudo ............................................................................................. 24

5.2 Amostragem e preparação das amostras .................................................. 25

5.3 Análise do mercúrio ..................................................................................... 33

5.4 Análise estatística ........................................................................................ 34

6 RESULTADOS E DISCUSSÕES ................................................................... 36

6.1 Amostragem e distribuição das espécies na região estuarina ................ 36

6.2 Concentração de mercúrio total e os aspectos biológicos ...................... 38

6.2.1 Hábito alimentar e posição trófica .............................................................. 38

6.2.2 Dados biométricos ....................................................................................... 44

6.3 Concentração de mercúrio e aspectos ambientais ................................... 48

6.3.1 Variação temporal ........................................................................................ 48

6.3.2 Variação espacial ......................................................................................... 51

7 CONCLUSÃO ................................................................................................ 56

REFERÊNCIAS .............................................................................................. 57

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15

1 INTRODUÇÃO

Amplamente distribuído no ambiente, o mercúrio (Hg) é um elemento

químico de complexo ciclo biogeoquímico, podendo ser encontrado em todos os

compartimentos ambientais: ar, água, solo, sedimento e biota (LACERDA et al.,

2007). Em ambientes naturais, sem interferência humana, sua concentração

encontra-se em nível traço, devido às emissões naturais como atividades vulcânicas

e geotérmicas, e o intemperismo de rochas ricas em mercúrio (ZOUBOULIS et al.,

2004; PATEL & REYNOLDS, 2013; DUARTE et al., 2014). Contudo, as ações

antropogênicas estão contribuindo com o aumento nas emissões e a incorporação

desse metal no ambiente (COSTA, 2014).

Aproximadamente 30% das emissões de mercúrio no ambiente estão

ligadas as atividades antropogênicas, que possuem fundamental contribuição no

aumento da concentração desse metal na biosfera, através de emissões não

intencionais - cujo o mercúrio emitido é resultante das impurezas de processos

industriais - como o refino de combustíveis fósseis, mineração e produção de

eletroeletrônicos, ou intencionais - quando há o uso direto do contaminante - como

ocorre em indústrias farmacêuticas, odontológicas, garimpo de ouro e produção de

soda cáustica (WHO, 1991; MIRANDA et al., 2009; UNEP, 2013).

Entretanto, a principal fonte de mercúrio, aproximadamente 60% do total

presente no ambiente, está associada a processos de remissão e remobilização do

mercúrio, de origem atmosférica, depositado em sedimentos de rios, lagos e

estuários, e em solos e cobertura vegetal, o disponibilizando para o ambiente

novamente (UNEP, 2013).

O mercúrio é considerado um metal não essencial, portanto é um

elemento que não possui nenhuma função vital nos organismos, e bastante

prejudicial a biota quando presente em altas concentrações (DUFFUS, 2002). O

incidente ocorrido na década de 50 em Minamata, Japão, trouxe à tona a

problemática acerca da contaminação por mercúrio, em consequência de um grande

derramamento de resíduos industriais ricos em Hg, que ocasionou a morte de cerca

de 3.000 pessoas após a ingestão de peixes contaminados.

Além do incidente ocorrido em Minamata, sucederam-se outros eventos

danosos em grandes proporções e relacionados ao mercúrio, como a contaminação

de inúmeras pessoas no Iraque, Gana, Paquistão e Guatemala, todos na década de

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70, devido à ingestão de alimentos à base de trigo, os quais haviam sido tratados

com agrotóxicos que possuíam esse metal em sua composição. Em particular, no

Iraque, houve um registro de 6.900 pessoas hospitalizadas e aproximadamente 459

mortes (CLARKSON, 1993; KASPER et al., 2009).

A forma orgânica do mercúrio (metilmercúrio) foi a responsável pelas

casualidades ocorridas no Japão e no Iraque. Porém esse metal também pode ser

encontrado na natureza em diferentes formas químicas (Figura 1.1).

O estado gasoso ou elementar (Hg0) presente na atmosfera é a forma

química mais abundante desse elemento (95%). O mercúrio elementar pode sofrer

oxidação, formando mercúrio inorgânico (Hg+2), espécie solúvel em água e que

também pode reagir com os compostos orgânicos e inorgânicos presentes no

ambiente aquático, como: cloro, enxofre e compostos metilados. A reação com a

matéria orgânica, por intermédio de bactérias heterótrofas (sulfato redutoras)

presentes em zonas com baixas concentrações de oxigênio, formam as espécies

químicas mais tóxicas do mercúrio: o metilmercúrio (CH3Hg+) e o dimetil-mercúrio

((CH3)2Hg) (MOREL et al., 1998; SCHNEIDER et al., 2013; UNEP, 2013; CRESSON

et al., 2015).

Figura 1 - Esquema representando o ciclo biogeoquímico do mercúrio nos diferentes compartimentos ambientais: Ar, água, solo e biota. SRB representa as bactérias sulfato redutoras, merB e merA referem-se à atividade de genes que codificam as enzimas organo-mercurial liase e redutase, respectivamente. Fonte: adaptado de BARKAY et al., 2003

Fonte: adaptado de BARKAY et al., 2003

Ambiente

terrestre,

lagos e

lagoas

Superfície

oceânica Contaminação

local

Ambiente óxido

Ambiente

anóxido e

sedimento

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17

A diversidade de espécies químicas apresentadas pelo mercúrio e suas

propriedades contribuem para uma elevada disseminação desse metal no ambiente.

O mercúrio elementar é a espécie química de maior mobilidade gasosa e seu longo

tempo de residência na atmosfera resulta em uma ampla distribuição global.

Todavia, reações de oxidação convertem esse elemento em sua forma iônica que

por deposição seca ou úmida é levada ao ambiente terrestre ou aquático (WHO,

2003; BAEYENS et al., 2003).

Em ambiente terrestre, o metal pode ser absorvido pelos vegetais, ou ser

depositado no solo, no qual posteriormente poderá ocorrer sua remobilização por

desmatamento ou queimadas. Contudo, em ecossistemas aquáticos, o mercúrio

iônico pode se ligar ao material particulado suspenso e se depositar no sedimento,

sendo sua reação junto ao enxofre presente nesse compartimento a chave para

formação da espécie orgânica (metilação), sob condições favoráveis e por ação de

bactérias sulfato redutoras (MOREL et al., 1998; WHO, 1991; WHO, 2003;

BAEYENS et al., 2003).

Entre os fatores ambientais que contribuem para o processo de metilação

tem-se a temperatura, densidade de bactérias (sulfato redutoras), pH, tipo de

substrato, concentração de sulfeto, condições de óxi-redução e variações sazonais

(BLOOM et al., 1991; GILMOUR & HENRY, 1991; MUHAYA et al., 1997; BAEYENS

et al., 2003).

O metilmercúrio ganha destaque em relação às suas outras espécies

químicas, principalmente, devido à sua capacidade de ser bioacumulado, através de

adsorção ou ingestão, possibilitando sua magnificação, pois é um elemento não

essencial, ou seja, não é aproveitado em nenhuma atividade metabólica dos

organismos ao longo da cadeira trófica (BISINOTI & JARDIM, 2003).

O metilmercúrio possui relativa estabilidade no corpo humano, sendo

lentamente demetilado para sua forma iônica e, por fim, sendo excretado via fezes e

urina. Porém, ao ser absorvido, o metilmercúrio é distribuído para todos os tecidos

do corpo, podendo permanecer por um tempo de residência de 44 a 80 dias no ser

humano (WHO, 1990; EPA, 1997). Os principais sintomas ocasionados pela

exposição ao mercúrio orgânico consistem em distúrbios visuais como escotomas

(visão turva) e diminuição do campo de visão, ataxia (perda do controle muscular

durante movimentos voluntários, como andar e pegar objetos), parestesia

(insensibilidade na pele), neurestenia (dor nos nervos), redução e perda de audição,

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18

disartia (dificuldade ao articular as palavras), deterioração mental, tremor muscular -

podendo em casos mais graves levar à morte - além de complicações no

desenvolvimento do embrião, que apresentam maior sensibilidade que os adultos

(GOODMAN & GILMAN, 1991; EPA,1997).

A ingestão de peixes e frutos do mar contaminados com mercúrio é a

principal fonte de exposição humana ao metilmercúrio (BAEYENS et al., 2003; NAM

& BASU, 2011), sendo estabelecida em legislação, pela Agência de Vigilância

Sanitária (ANVISA), em 1998, a comercialização de peixes com valores inferiores a

0,5 mg.kg-1 para espécies não predadoras e 1 mg.kg-1 para carnívoras. Segundo

Nascimento e Chasin (2001) e Sackett et al. (2013a), os organismos aquáticos

possuem alta capacidade de absorver compostos de mercúrio, sejam de origem

orgânica ou inorgânica, os quais se acumulam em seus tecidos, principalmente, na

forma de metilmercúrio, permanecendo por um longo período de tempo devido ao

lento processo de metabolização.

A capacidade de bioacumulação do metilmercúrio nos tecidos dos

organismos aquáticos, aliada ao seu alto tempo de residência e à uma maior taxa de

ingestão que de eliminação, contribui para um aumento na concentração desse

composto nos organismos, sendo viável avaliá-la através de fatores como idade,

hábito alimentar, comprimento, peso, sexo e estágio de maturação (HUCHABEE et

al., 1979; MALM, 1993; KEHRIG et al., 1998; BAEYENS et al., 2003; KASPER et al.,

2009; BARBOSA et al., 2011). Assim como acontece a nível de indivíduo, o

metilmercúrio pode acumular ao longo da teia trófica, apresentando maiores

concentrações em organismos de nível trófico elevado, configurando-se assim a

biomagnificação - definida por Newman e Unger (2002) como um aumento na

concentração de um contaminante, de característica não essencial, nos níveis

tróficos superiores de uma cadeia alimentar.

A análise de cadeias tróficas e estruturas tróficas de ecossistemas são

temas centrais da ecologia aplicada (WILLIAMS & MARTINEZ, 2004; ELTON, 2001;

POST, 2002). O nível trófico indica a posição de um organismo, espécie, ou

população em uma teia alimentar, apresentando a dimensão do fluxo de energia em

um determinado ecossistema (GARCIA & GIARRIZZO, 2014).

A classificação dos organismos em teias tróficas, segue classificações

baseadas, principalmente, em estudos de composição alimentar (proporção de

presas e seu respectivo nível trófico) (MEARNS et al., 1981; SANGER, 1987), sendo

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19

dispostos em 1º nível trófico os organismos autótrofos (teia de pastejo) ou a matéria

orgânica (teia de detritos). O 2º nível trófico concentra os consumidores primários,

podendo ser herbívoros, em teias de pastejo, e detritívoros, em teias de detritos. Ao

3º e seguintes níveis pertencem organismos carnívoros, sendo consumidores

secundários, terciários etc., porém, além da avaliação de dieta, existe também uma

avaliação através de estudos com isótopos estáveis de carbono e nitrogênio em

tecidos de consumidores que fornecem informações mais precisas sobre os hábitos

alimentares desses organismos (FRY & SHERR, 1988; GIARRIZZO et al., 2011;

PUNCHIHEWA & KRISHNARAJAH, 2013).

Estudos de níveis tróficos de peixes e outros organismos aquáticos são

muito importantes, pois refletem os padrões de bioacumulação e biomagnificação de

toxinas ou poluentes, como o metilmercúrio, em cadeias tróficas (BOISCHIO &

HENSEL, 2000; BISI et al., 2012). Contribuem assim em avaliações de risco à

exposição humana a essas toxinas e poluentes.

Processos de bioacumulação e biomagnificação são observados em

organismos de diferentes ambientes aquáticos, como estuários, oceanos e rios

(KEHRIG et al., 1998; PINHO et al., 2002; KEHRIG et al., 2004; WEIS & ASHLEY,

2007; KEHRIG et al., 2009; SEIXAS et al., 2009), assim como constatado, em

estudos anteriores, na bacia inferior do rio Jaguaribe (COSTA, 2009; LACERDA et

al., 2011; LOPES, 2012; COSTA & LACERDA, 2014; LACERDA et al., 2014).

O avanço de atividades antropogênicas nas proximidades de zonas

estuarinas, locais pretendidos para desenvolvimento de intervenções humanas

como: captura de organismos para sustento ou para comércio (ostras, camarões,

peixes, caranguejos), local de navegação, ponto turístico, criação de mariscos, entre

outros; promove alterações em suas características naturais, inclusive como agente

direto no lançamento de mercúrio nesses ambientes (VAISMAN et al. 2005; COSTA

et al. 2013; LACERDA et al. 2013).

A entrada de mercúrio nos estuários ocorre, principalmente, através de

lançamentos de efluentes não tratados ou por deposição atmosférica. Condições

biogeoquímicas favoráveis proporcionam o processo de metilação do mercúrio

inorgânico nos sedimentos estuarinos, tornando esses ecossistemas importantes

áreas de produção de metilmercúrio e de biodisponibilização para os organismos

autóctones e alóctones que utilizam esse ambiente como fonte de recursos

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20

alimentares e/ou berçário (BECK et al., 2001; LAMBERTSSON & NILSSON, 2006;

CHEN et al., 2009).

Segundo Costa (2014), apesar do baixo nível de industrialização e

reduzida densidade populacional humana ao longo da bacia inferior do rio Jaguaribe,

é possível detectar a presença de mercúrio em sedimentos e na biota neste

ambiente, principalmente devido à disposição inadequada de resíduos sólidos, com

carga anual estimada em 125 kg, águas servidas de origem urbana (75 Kg) e o

lançamento de efluentes não tratados provenientes de fazendas de camarão

(carcinicultura), que contribuem com, aproximadamente, 0,35 kg de Hg por ano para

a bacia inferior do Rio Jaguaribe. Esta última atividade lança seus efluentes

diretamente na as águas estuarinas (LACERDA et al., 2011).

Amplas modificações na paisagem natural como a construção de

barragens, em adição à escassez de chuvas, contribuem para a redução do fluxo

fluvial da bacia do rio Jaguaribe para o estuário, aliado ao avanço do fluxo marinho

para o continente (Lacerda et al., 2013). Isto resulta em um aumento do tempo de

residência da água continental, e do mercúrio nela transportado, na região estuarina,

assim aumentando o tempo para reagir com a matéria orgânica presente, e

possibilitando um crescimento na concentração de metilmercúrio.

O aumento no tempo de residência da massa de água fluvial na região

estuarina ocasionado pela redução na contribuição fluvial para a plataforma

continental – fato fundamentado observado através da análise de série histórica de

vazões para as bacias da região semiárida, disponibilizada pela Agência Nacional de

Águas (ANA, 2008), juntamente à açudagem dos rios, que reduziram a descarga

fluvial de 60 m3.s-1, durante a década de 90, para 20 m3.s-1, atualmente.

A retenção das massas de água na região estuarina está diretamente

relacionada à uma maior mobilização da espécie biodisponível de mercúrio

(LACERDA et al., 2012). Este pode ser incorporado à cadeia trófica e magnificado

ao longo dos níveis tróficos, alcançando concentrações muito superiores àquelas

encontradas na água.

Logo, apesar das pequenas cargas de mercúrio lançadas na bacia inferior

do rio Jaguaribe, suas características estuarinas naturais, mudanças climáticas

globais e modificações antropogênicas regionais contribuem para um aumento na

produção e disponibilização de metilmercúrio para a teia trófica existente nesse

ecossistema. Desta forma, o estudo do comportamento desse metal em organismos

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presentes nesse ambiente, concomitante à avaliações da posição trófica e hábito

alimentar, da análise temporal e espacial das concentrações de Hg total, e da

bioacumulação por diferentes espécies de organismos, possibilitará uma maior

compreensão da dinâmica do mercúrio na teia trófica estuarina do rio Jaguaribe, e

da importância relativa de vetores biológicos, ecológicos e ambientais na definição

da concentração final do mercúrio na biota local.

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2 PERGUNTA

Além do hábito alimentar, posição trófica e características biométricas, as

características ambientais contribuem de forma significativa na variação das

concentrações de mercúrio ao longo de um gradiente estuarino na região semiárida

do estado do Ceará?

3 HIPÓTESE

As alterações ambientais nos estuários do semiárido, resultam em uma

maior disponibilização do mercúrio para a biota na zona de influência marinha.

Portanto, é assumido que os aspectos ambientais são preponderantes em relação

aos biológicos na definição das concentrações finais do mercúrio pelo menos em

organismos que tenham sua distribuição ao longo de todo gradiente estuarino do rio

Jaguaribe.

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23

4 OBJETIVOS

4.1 Geral

Verificar qual a principal influência (biológica e/ou ambiental) sobre a

concentração final de Hg em peixes do estuário do rio Jaguaribe.

4.2 Específicos

Determinar as concentrações de Hg total nos organismos de diferentes níveis

tróficos e dentro de uma mesma espécie, ao longo de seu desenvolvimento,

capturados nos setores de maior influência fluvial e maior influência marinha, do

estuário do rio Jaguaribe;

Avaliar a correlação entre as concentrações de Hg com as variáveis biométricas

para cada espécie (tamanho e peso) e a influência do hábito alimentar e posição

trófica na variação dessas concentrações;

Compreender a relevância do fator espacial na variação da concentração de

mercúrio ao longo do Baixo Jaguaribe.

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5 MATERIAIS E MÉTODOS

5.1 Área de Estudo

O rio Jaguaribe está situado na região leste do estado do Ceará e

apresenta uma pequena porção que se estende para o sul do estado de

Pernambuco. Sua bacia ocupa uma área de aproximadamente 76,000 km² (52% do

total do estado do Ceará). O rio é considerado o maior curso de água cearense,

estendendo-se por 610 km. Sua bacia é caracterizada por diferentes climas: úmido,

subúmido, árido e semiárido, sendo o último tipo o predominante nas áreas próximas

ao litoral. Seu regime pluviométrico é considerado irregular, com as maiores chuvas

(500 a 1.200mm) ocorrendo nos meses de janeiro a maio (GATTO, 1999).

A sub-bacia estuarina no Baixo Jaguaribe possui uma área de drenagem

equivalente a 3.275 km², correspondendo a aproximadamente 5% de toda a Bacia,

sendo composta pelos municípios Icapuí, Aracati, Fortim e Itaiçaba. Segundo o

censo realizado pelo IBGE em 2007, a população dessa região totalizou 66.049

habitantes, aproximadamente, 14% superior ao apresentado em 1996 que era de

56.771 habitantes, indicando uma tendência de crescimento populacional nessa

região.

A Bacia Inferior do rio Jaguaribe é uma área de grande interesse

econômico, social e ecológico, abrigando uma diversidade de espécies aquáticas de

relevante importância para atividades de cultivo e práticas artesanais como a pesca

de subsistência (BARLETTA & COSTA, 2009; BARBOSA et al., 2011). Com isso,

favorecendo a manutenção de empreendimentos como bares e restaurantes

existentes no entorno, que apesar de usufruírem dos benefícios, contribuem para

sua degradação (COSTA, 2014).

As alterações ambientais ocorridas ao longo da Bacia Inferior do rio

Jaguaribe, como a construção de barragens, visando o abastecimento de água ou a

geração de energia, contribuem para redução do aporte continental, agravado pela

escassez de chuvas da região semiárida (MARINS et al., 2003). Juntamente da

elevação média anual de 1mm no nível do mar, que pode ser agravado pelo

aquecimento global, o que permite a entrada do mar na linha da costa, sendo

observada por Dias et al. (2005) ao analisar a hidrodinâmica e o tempo de residência

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das massas de água na região estuarina do rio Jaguaribe, onde foi registrada a

entrada de água marinha até o município de Aracati.

Analisando os resultados de hidroquímica e hidrodinâmica apresentados

por Marins et al. (2003) e Dias et al. (2005) para a Bacia Inferior do rio Jaguaribe, a

área de estudo foi subdivida em zona de influência fluvial (ZIF) e zona de influência

marinha (ZIM).

As amostragens foram realizadas em cinco pontos (Figura 5.1) da região

estuarina do rio Jaguaribe, sendo dois pontos na zona de influência fluvial, sendo um

na zona estuarina da localidade do Cabreiro e outra no município de Itaiçaba, e três

pontos na zona de influência marinha (ZIM), localizados nas proximidades da

comunidade da Volta, Jardim de Baixo e no município de Fortim.

Figura 2 - Mapa de localização dos pontos de amostragem, zonas urbanas e fazendas de camarão no Baixo Jaguaribe, CE

Fonte: Autor

5.2 Amostragem e preparação das amostras

Foram realizadas duas campanhas no período de maio e novembro de

2015 à Bacia Inferior do rio Jaguaribe, para aquisição dos espécimes de peixes e

crustáceos (siri e camarão) capturados pelos pescadores locais, através do uso de

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artes de pesca como redes de emalhar e tarrafa. Entretanto os organismos bivalves

e gastrópodes foram capturados manualmente, sem auxílio dos pescadores.

Todos os organismos capturados foram utilizados na pesquisa, não

havendo seleção de espécies, para avaliação das concentrações de mercúrio na

composição faunística da área de estudo. Após captura, os indivíduos foram

acondicionados e preservados em caixas térmicas com gelo para transporte ao

Laboratório de Biogeoquímica Costeira da Universidade Federal do Ceará

(UFC/LABOMAR).

Todos os organismos foram devidamente identificados taxonomicamente

com uso de referência específica (COELHO & RAMOS-PORTO, 1992; RIOS, 1994;

FIGUEIREDO e MENEZES, 2000; AMARAL et al., 2006; FISHBASE, 2011;

FISCHER et al., 2011), medidos com ictiômetro e pesados em balança (FILIZOLA –

MOD: CS) de precisão de 0,01g, em laboratório.

1) Cathorops spixii (SPIX & AGASSIZ,1829) (Actinopterygii,Siluriformes,

Ariidae): O bagre amarelo (Figura 5.2) pode ser encontrado na costa atlântica da

América do Sul. É considerado um recurso pesqueiro importante no nordeste do

Brasil. Sua localização restringe-se a zonas estuarinas, além de ser muito comum

em praia arenosas, em lagoas e bocas de rio. A espécie tem hábito onívoro com

uma dieta composta por poliquetos, bivalves, crustáceos e microcrustáceos,

pequenos peixes e algas (DENADAI, et al., 2013). Considerado residente, logo pode

ser utilizado como indicador de variações das concentrações de mercúrio no local

onde foi coletado (DANTAS et al., 2010).

Figura 3 - Cathorops spixii

Fonte: Autor

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27

2) Gobionellus oceanicus (PALLAS, 1770) (Actinopterygii, Perciformes,

Gobiidae): Caracterizam-se por seu tamanho diminuto, cabeça larga e olhos de

posição superior (Figura 5.3). Podem ser encontrados, principalmente em ambientes

marinhos, porém são bem abundantes em zonas estuarinas e em ambientes de

água salobra. Organismos bentônicos e de hábito alimentar iliófago, sendo sua

principal fonte de alimentação os seres planctônicos presentes no sedimento

(ZANLORENZI, 2008).

Figura 4 - Gobionellus oceanicus

Fonte: Autor

3) Mugil curema (HANCOCK, 1830) (Actinopterygii, Mugiliformes,

Mugilidae): Popularmente conhecida como Tainha (Figura 5.4), o peixe do gênero

Mugil possui distribuição geográfica ampla, ocorrendo em zonas costeiras e

estuarinas (MENEZES, 1983). A espécie de hábito alimentar iliófago bentívora,

apresenta sua dieta composta por microalgas (dinoflagelados e diatomáceas),

poliquetos e detritos e sedimentos inorgânicos (DEUS et al., 2007).

Figura 5 - Mugil curema

Fonte: Autor

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4) Centropomus parallelus (POEY, 1860) (Actinopterygii, Perciformes,

Centropomidae): O robalo (Figura 5.5), como é popularmente conhecido, apresenta

hábito alimentar carnívoro, alimentando-se de pequenos crustáceos, como

camarões, e larvas de peixes em sua fase juvenil, entretanto, quando adultos se

alimentam de peixes e crustáceos maiores (TONINI et al.,2007). Os indivíduos

jovens costumam habitar estuários, lagunas e zonas de manguezais (ITAGAKI,

2005).

Figura 6 - Centropomus parallelus

Fonte: FISHBASE, 2016

5) Menticirrhus americanus (LINNAEUS, 1758) (Actinopterygii,

Perciformes, Sciaenidae): Conhecido como judeu, betara ou papa-terra (Figura 5.6),

habita águas de pouca profundidade de regiões costeiras e estuarinas. Possui hábito

carnívoro e bentófago (HALUCH et al., 2009; RONDINELLIet al., 2007).

Figura 7 - Menticirrhus americanus

Fonte: FISHBASE, 2016

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6) Elops saurus (LINNAEUS, 1766) (Actinopterygii, Elopiformes,

Elopidae): Os organismos dessa espécie (Figura 5.7) são tipicamente marinhos,

porém podem ser encontrados, raramente, em ambientes dulcícolas (NELSON,

2006; McBRIDE et al., 2010; ADAMS et. al., 2013). Conhecido, popularmente, como

Ubarana, possui hábito alimentar carnívoro, alimentando-se de pequenos peixes e

crustáceos (MENEZES et. al., 2003; ADAMS et. al., 2013).

Figura 8 - Elops saurus

Fonte: FISHBASE, 2016

7) Lutjanus spp. (Actinopterygii, Perciformes, Lutjanidae): Foram

capturadas as espécies Lutjanus jocu (Bloch & Schneider, 1801) e Lutjanus synagris

(Linnaeus, 1758). Espécies do gênero Lutjanus são consideradas os mais

importantes recursos pesqueiros, devido a excelente qualidade de sua carne e do

elevado valor comercial (GRIMES, 1987, HEEMSTRA & RANDALL, 1993).

Distribuídas ao longo da costa brasileira, podem ser encontradas em ambientes

estuarinos (FRÉDOU et al., 2006). Ambas as espécies L. jocu e L. synagris são

carnívoras e possuem sua dieta composta por crustáceos, gastrópodes e por

algumas espécies de peixes (FONSECA, 2009; MONTEIRO et al., 2009)

Figura 9 - Lutjanus jocu (a) e Lutjanus synagris (b).

Fonte: FISHBASE, 2016

a b

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8) Eugerres brasilianus (CUVIER, 1930) (Actinopterygii, Perciformes,

Gerreidae): Popularmente conhecido como Carapeba listrada (Figura 5.9), é muito

apreciada pelas comunidades litorâneas do Nordeste, podendo ser capturado nos

ambientes costeiros e estuarinos. Peixe de hábito alimentar onívoro que utiliza os

estuários como área de berçário (SANTOS & ARAÚJO, 1997).

Figura 10 - Eugerres brasilianus

Fonte: FISHBASE, 2016

9) Callinectes spp. (Malacostraca, Decapoda, Portunidae): Foram

capturadas e identificadas as espécies C. bocourti, C. exasperatus, C. danae e C.

larvatus (Figura5.10). Estes organismos podem ser encontrados ao longo de toda

costa brasileira, em zonas de manguezais, estuários ou lagoas (MELO,1996).

Espécies de hábito carnívoro, sendo moluscos e crustáceos os principais itens

alimentares, entretanto há registros de ocorrência de peixes compondo sua dieta

(CARVALHO & COUTO, 2015).

Figura 11 - Representação ilustrativa das espécies coletadas

Fonte: BALDWIN & JOHNSEN (2012)

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10) Litopenaeus vannamei (BOONE, 1931) (Malacostraca, Decapoda,

Penaeidae): Muito utilizado em atividades de carcinicultura, o Camarão-branco

(Figura 5.11), é originário da costa do Pacífico, habitando águas com faixas de

temperatura entre 20 e 30 ºC. Espécie eurialina, possui preferência por fundos de

lama e de hábito alimentar detritívoro (BARNABÉ, 1996; JUNIOR & FONTELES

FILHO, 2010).

Figura 12 - Litopenaeus vannamei

Fonte: SANTOS, 2007

11) Anomalocardia brasiliana (Gmelin, 1791) (Bivalvia, Venerida,

Veneridae): O berbigão (Figura 5.12), como é conhecido popularmente, é uma

espécie de molusco que se encontra bem distribuída na costa brasileira. Possui

concha trigonal de coloração amarelada com manchas cinzas-escuras. Localizado

em zonas entre marés, esse organismo possui característica bentônica e hábito

alimentar filtrador, sendo assim encontrado enterrado no sedimento (BOFFI, 1979).

Figura 13 - Anomalocardia brasiliana

Fonte: Autor

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12) Mytella charruana (D’ORBIGNY, 1842) (Bivalvia, Mytilida, Mytilidae):

Popularmente conhecidos como mexilhões, são considerados um importante recurso

pesqueiro no mundo. A espécie em estudo (Figura 5.14), de hábito alimentar

filtrador, é encontrada em ambientes estuarinos de regiões tropicais. Possui grande

capacidade de dispersão e colonização em diferentes ambientes (SCARABINO et

al., 1975; GILLIS et al., 2009).

Figura 14 - Mytella charruana

Fonte: PUYANA et al., 2012

13) Pugilina morio (LINNAEUS, 1758) (Gastropoda, Neogastropoda,

Melongenidae): A espécie Pugilina morio(Figura 5.14) é única representante no

Brasil. Bastante comum em ambientes estuarinos, essa espécie apresenta hábito

carnívoro, se alimentando de bivalves (MATTHEWS, 1967; MATTHEWS-CASCON

et al., 1989; RIOS, 2009).

Figura 15 - Pugilina morio

Fonte: MATTHEUS, 1967

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Após identificação e obtenção dos morfométricos, foram retiradas

amostras da musculatura dos organismos coletados e todo material amostrado foi

liofilizado (Figura 5.15), visando a preservação das amostras. As amostras foram

pesadas antes e após o processo de liofilização, permitindo assim calcular os teores

de umidade (TU) por meio da relação entre peso úmido e seco, conforme equação

(1).

𝑇𝑈(%) =Peso seco

peso úmido∗ 100 (1)

Figura 16 - Desenho esquemático do processo de liofilização e obtenção do valor do teor de umidade.

Fonte: Autor

Todo material liofilizado foi devidamente macerado com auxílio de

almofariz e pistilo, depois armazenado em frascos para quantificação de mercúrio.

5.3 Análise do mercúrio

As metodologias de preparação e quantificação do mercúrio total das

amostras biológicas seguiram os procedimentos metodológicos adaptados de

Samanta e colaboradores (2004) e utilização de forno digestor (MARS XPRESS,

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CEM Corporation) com configuração sugerida pelo fabricante para o tipo de amostra

em estudo.

Amostras biológicas foram pesadas (0,5 g) em tubos de teflon, em

duplicata. Posteriormente foram adicionados 10 mL de ácido nítrico concentrado

(HNO3 65%) e os tubos foram deixados em temperatura ambiente e em repouso, em

um período de 1 hora, para pré-digestão. Após esse tempo, os tubos foram levados

ao forno digestor à temperatura de 200ºC por 30 minutos para início do processo de

digestão propriamente dito. Após a digestão, foi adicionado 1 mL de peróxido de

hidrogênio (H2O2) aos tubos retirados do forno digestor. O extrato final foi transferido

para balões volumétricos e diluído a 100 mL com água MiliQ®.

A quantificação das concentrações de Hg total foi realizada utilizando o

extrato digerido e diluído em balão volumétrico, em um espectrofotômetro de

absorção atômica por geração de vapor frio (CV-ASS), modelo NIC RA-3 (NIPON®).

Utilizou-se solução padrão (MERCK) de Hg contendo 1000 μg.mL-1, após sucessivas

diluições, em balão volumétrico, até concentrações de 1 ng.mL-1 para posterior

construção de curvas de calibração. Foram feitas curvas de calibração a cada dia de

análise, a partir das quais as concentrações de Hg nas amostras biológicas eram

calculadas. Os valores de massa selecionados para construção das curvas variaram

de 0,5 a 10 ng, baseando-se em estudos anteriores desenvolvidos na área de

estudo, e o coeficiente de linearidade (R2) médio obtido foi de 0,9995.

O limite de detecção (LD) foi 3 ± 5 ng.g-1, o qual foi obtido pela média dos

resultados do triplo do desvio padrão de sete leituras dos brancos multiplicado pelo

fator específico determinado pela distribuição t de Student (3,14, gl 6) (USEPA,

2000).

A validação dos resultados de concentração de Hg total foi obtida por

análise, em duplicata, de material de referência certificado (SRM). O SRM utilizado

foi de tecido de mexilhão liofilizado (CE278K), contendo 71 ± 7ng.g-1. O valor médio

obtido, em análise, para o material de referência utilizado foi 58 ± 14 ng.g-1.

5.4 Análise estatística

Foram realizadas curvas de bioacumulação, relacionando os dados

biométricos com as concentrações de mercúrio para as espécies com número

amostral elevado (n > 10). Para cada curva foram testadas as correlações utilizando

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r de Spearman, haja vista que os dados utilizados não atenderam aos requisitos de

normalidade(Shapiro-Wilk) e homocedasticidade. Foram utilizados os testes ANOVA

e Kruskal-Wallis para comparar os hábitos alimentares das espécies coletadas com

os valores de concentração de mercúrio, utilizando-se de boxplot para demonstrar

as variações de concentração. Avaliações espaciais, entre as diferentes zonas

estuarinas, sob influência marinha e sob influência fluvial e entre as espécies

encontradas em cada zona, foram avaliadas por intermédio de teste comparativo de

dois grupos de amostras independentes, sendo o teste t de Student para os dados

paramétricos e o teste de Mann-Whitney para os não-paramétricos. O valor de

significância utilizado para os testes foi de 95% (p < 0,05). Os programas utilizados

para realização dos testes estatísticos e confecção de gráficos foram o Past 3.05

(Copyright Hammer 1999-2015) e Microsoft® Office 2010 (©Microsoft Corporation

2010).

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6 RESULTADOS E DISCUSSÕES

6.1 Amostragem e distribuição das espécies na região estuarina

Foram coletadas 16 espécies da fauna aquática local, sendo nove

espécies de vertebrados, composta somente de peixes ósseos (osteíctes) e sete

espécies de invertebrados, sendo quatro de crustáceos e três de moluscos (um

gastrópode e dois bivalves). As identificações de seus nomes científico e comum,

número de indivíduos capturados (número total de 830 organismos) e dados

biométricos (comprimento e peso) estão apresentados nas tabelas 6.1 e 6.2,

representando espécies coletadas na zona de influência fluvial (ZIF) e na zona de

influência marinha (ZIM), respectivamente.

Tabela 1 - Nome científico, nome comum, número de indivíduos coletados (n), comprimento e peso das espécies capturadas na zona de influência fluvial do Baixo Jaguaribe.

Nome Científico Nome

comum n

Comprimento

(cm) Peso (g)

Máx. Mín. Média Máx. Mín. Média

Callinectes danae Siri 3 N.D.* N.D.* N.D.* N.D.* N.D.* N.D.*

Callinectes

exasperatus Siri 2 N.D.* N.D.* N.D.* N.D.* N.D.* N.D.*

Cathorops spixii Bagre

amarelo 26 36 18 27 425,6 53,4 239,5

Centropomus

parallelus Robalo 3 25 15 20,0 117,5 24 70,8

Eugerres brasilianus Carapeba 7 N.D.* N.D.* N.D.* N.D.* N.D.* N.D.*

Litopenaeus

vannamei

Camarão

branco 172 16 8 12 25,5 2,5 13,9

Mugil curema Tainha 3 29,5 22 25,8 279,1 95,7 187,4

* N.D.: Não disponível

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37

Tabela 2 - Nome científico, nome comum, número de indivíduos coletados (n), comprimento e peso das espécies capturadas na zona de influência marinha do Baixo Jaguaribe.

Nome Científico Nome

comum n

Comprimento (cm) Peso (g)

Máx. Mín. Média Máx. Mín. Média

Anomalocardia

brasiliana Berbigão 247 2,3 1,7 2 9,9 2,5 6,2

Callinectes bocourti Siri 1 N.D.* N.D.* N.D.* N.D.* N.D.* N.D.*

Callinectes danae Siri 8 N.D.* N.D.* N.D.* N.D.* N.D.* N.D.*

Callinectes larvatus Siri 5 12,5 7,5 10 152 30,5 91,2

Elops saurus Ubarana 3 26 22,5 24,3 98 56,7 77,3

Eugerres brasilianus Carapeba 6 12,5 11 11,8 36,7 24 30,4

Gobionellus

oceanicus Amoré 5 24,5 20,5 22,5 42,4 23,3 32,8

Litopenaeus

vannamei

Camarão

branco 100 10,7 2,9 6,8 12,0 7,7 9,8

Lutjanus jocu Dentão 6 15 10 12,5 45,8 18,7 32,3

Lutjanus synagris Ariacó 5 25 14 19,5 174,6 39,7 107,1

Menticirrhus

americanus

Peixe

judeu 6 15 12,5 13,8 41,3 20,1 30,7

Mugil curema Tainha 7 27 19 23 254,8 67,9 161,4

Mytella charruana Sururu 200 N.D.* N.D.* N.D.* 2,2 0,7 1,4

Pugilina morio Gatapu 5 10 9 9,5 67,6 48,6 58,1

* N.D.: Não disponível

Foram coletados, na zona de influência marinha, 604 organismos

pertencentes a 14 espécies distintas, consistindo em oito espécies de peixes, quatro

crustáceos e três moluscos. Os valores de riqueza e abundância apresentados pela

zona de influência marinha foram superiores aos obtidos na zona de influência

fluvial, que consistiu em uma amostragem de 216 organismos de sete espécies

diferentes, sendo cinco espécies de peixes e duas de crustáceos.

As espécies Callinectes danae, Litopenaeus vannamei, Eugerres

brasilianus e Mugil curema foram coletadas em ambas as zonas, devido à sua

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38

preferência por ambientes estuarinos, o que possibilitaria sua distribuição ao longo

de toda região estuarina, assim como o comportamento migratório de algumas

espécies, objetivando a reprodução/desova ou a procura por alimento e a

capacidade de suportar amplas variações de salinidade, tornando-as presentes tanto

na zona de influência marinha quanto na fluvial (MENEZES, 1983; ARAÚJO &

SANTOS, 1999; TURNER et al., 2003; TORRES et al., 2008; DANTAS et al., 2010).

6.2 Concentração de mercúrio total e os aspectos biológicos

6.2.1 Hábito alimentar e posição trófica

As concentrações de mercúrio total observadas são apresentadas na

tabela 6.3 e 6.4. A maior concentração observada foi para a espécie Elops saurus

(109 ± 15 ng.g-1), Menticirrhus americanus (104 ± 30 ng.g-1) entre as espécies de

peixes capturadas, já para os invertebrados, as espécies de siri Callinectes bocourti

(201 ng.g-1) e Callinectes larvatus (104 ± 43 ng.g-1) foram as que apresentaram os

maiores valores. Em ambos os grupos (peixes e invertebrados) as espécies de

hábito carnívoro e elevado nível trófico apresentaram as maiores concentrações.

Tabela 3 - Nome científico, área de coleta, hábito alimentar, posição trófica e concentração de mercúrio apresentada pelas espécies de peixes capturadas na região do Baixo Jaguaribe.

Nome Científico Comprimento (cm)

Hábito Alimentar

Nível Trófico

[Hg]Total (ng.g-1)

Elops saurus 24,7 ± 2 Carnívoro 3,5 109 ± 15 Menticirrhus americanus

13,5 ± 1 Carnívoro 3,4 104 ± 30

Lutjanus jocu 12,8 ± 2 Carnívoro 3,7 84 ± 34 Lutjanus synagris 18 ± 4,4 Carnívoro 3,9 61 ± 15 Cathorops spixii 26,7 ± 5 Onívoro 3,3 50 ± 16

Centropomus parallelus

18,7 ± 5,5 Carnívoro 3,8 39 ± 12

Eugerres brasilianus 11,5 ± 1 Onívoro 3,3 37 ± 10 Mugil curema 22,4 ± 3,4 Iliófago 2 23 ± 13 Gobionellus oceanicus

22,1 ± 1,5 Iliófago 2 14 ± 3

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39

Tabela 4 - Nome científico, área de coleta, hábito alimentar, posição trófica e concentração de mercúrio apresentada pelas espécies de invertebrados capturadas na região do Baixo Jaguaribe.

Nome Científico Peso (g) Hábito

Alimentar Nível Trófico [Hg]Total (ng.g-1)

Callinectes bocourti N.D. Carnívoro 3,8 201

Callinectes larvatus 74 ± 48 Carnívoro 3,8 104 ± 43

Callinectes danae N.D. Carnívoro 3,8 87 ± 45

Mytella charruana 1,2 ± 0,4 Filtrador 2 52 ± 8

Anomalocardia brasiliana 4,4 ± 1,4 Filtrador 2 51 ± 14

Pugilina morio 55,5 ± 8,3 Carnívoro 3 49 ± 12

Callinectes exasperatus N.D. Carnívoro 3,8 23 ± 3

Litopenaeus vannamei 9,2 ± 5,2 Detritívoro 2 13 ± 4

E. saurus e M. americanus apresentaram elevadas concentrações de

mercúrio total, em relação às outras espécies de peixes analisadas (Tabela 6.3), o

que se deve, provavelmente, a dieta apresentada por essas espécies, sendo

composta principalmente por peixes e crustáceos que estão associados ao

sedimento (SANTOS-MARTÍNEZ & ARBOLEDA, 1993; RONDINELI et al., 2007;

TURRA et al., 2012). Portanto, o hábito alimentar é um dos fatores determinantes,

juntamente da posição trófica apresentada pela espécie, nas concentrações de

mercúrio total presente nesses organismos (VAN WALLEGHEM et al., 2013;

GOUTTE et al., 2015). Por conseguinte, espécies que apresentem hábito carnívoro

tendem a apresentar maiores concentrações que espécies onívoras, detritívoras

e/ou herbívoras (SOARES et al., 2016).

Centropomus parallelus, espécie de comprimento reduzido, que segundo

Muller et al. (2015) corresponde a fase juvenil, apresentou uma reduzida

concentração de mercúrio total em relação aos outros carnívoros devido sua dieta,

em seus primeiros estágios do ciclo de vida, baseada em pequenos peixes ou larvas

de peixes, pequenos crustáceos, poliquetos e pequenos insetos, organismos de

baixa concentração de mercúrio (ITAGAKI, 2005; TONINI et al., 2007; CONTENTE,

2008).

Entre os invertebrados, as maiores concentrações apresentadas pelos

crustáceos do gênero Callinectes, possivelmente se deve a predisposição de

acumular metais presentes na água e/ou sedimento por absorção como também

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40

através da ingestão, aliada a capacidade do metil mercúrio, que representa 90% em

relação à concentração de mercúrio total presente em espécies carnívoras, de

acumular nos tecidos e seu longo tempo de residência nos organismos

(REICHMUTH et al., 2010), são, possivelmente, fatores que contribuem para a

elevada concentração de mercúrio total apresentada pela maioria das espécies do

gênero Callinectes (C. bocourti, C. larvatus e C. danae), conforme observado na

Tabela 6.4.

Contudo, a dieta de Callinectes exasperatus composta, principalmente,

por pequenos crustáceos e moluscos é um dos fatores que contribuem para sua

reduzida concentração de mercúrio total, além da disponibilidade de alimento

presente na zona de coleta dessa espécie (CARVALHO & COUTO, 2015).

As espécies filtradoras Mytella charruana e Anomalocardia brasiliana,

apesar de estarem mais próximas a base da cadeia trófica, apresentaram

concentrações de mercúrio total (52 ± 8 ng.g-1 e 51 ± 14 ng.g-1, respectivamente)

superiores a outras espécies de invertebrados pertencentes a posições tróficas

superiores (Tabela 6.4), como os carnívoros Pugilina morio (3) e Callinectes

exasperatus (3,8). Tal fato, possivelmente, esteja relacionado a sua capacidade de

incorporação de metais por assimilação de espécies químicas dissolvidas na água,

associadas ao material particulado em suspensão e/ou incorporada ao sedimento

(TORRES, 2009). Outro fator é a proporção de metilmercúrio em relação a

concentração de mercúrio total presente nesse grupo, que é relativamente baixa,

apresentando um valor médio de 30 a 50%, quando comparada a espécies,

presentes em outros níveis tróficos, que incorporam em sua musculatura apenas o

mercúrio em sua forma orgânica (MIKAC et al., 1996; CLAISSE et al.,2001; APETI et

al., 2012; BRIANT et al., 2017).

P. morio e C. exasperatus obtiveram concentrações inferiores aos

invertebrados filtradores, o que pode estar ligado a fatores endógenos e exógenos.

A espécie P. morio tem sua dieta composta por bivalves, espécies filtradoras, que

apesar de apresentarem concentrações de mercúrio total superiores em relação a

essa espécie possuem reduzida razão metilmercúrio/mercúrio total, como foi

mencionado anteriormente (NOGUEIRA, 2010).

As espécies iliófagas, entre os peixes, e detritívoras, entre os

invertebrados, foram as que apresentaram as menores concentrações de mercúrio

total, o que está ligado diretamente a sua dieta constituída, basicamente, de flora

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41

algal, microcrustáceos, poliquetos, restos orgânicos e sedimentos inorgânicos,

sendo considerada uma espécie pertencente ao grupo dos consumidores primários.

A espécie iliófaga Mugil curema tem sua dieta composta de microalgas

dinoflageladas e diatomáceas, copépodos e detritos (RAMANATHAN et al., 1980;

VASCONCELOS FILHO, 1990; FRANCO et al., 1992; DEUS et al., 2007).

Gobionellus oceanicus alimenta-se, assim como a espécie M. curema, de

diatomáceas, microcrustáceos e moluscos, logo também pertencendo ao grupo dos

consumidores primários (VASCONCELOS FILHO, 2009).

Ao analisar a posição trófica apresentada por cada espécie, apesar de

algumas espécies de elevado nível trófico apresentarem concentrações de mercúrio

inferiores a espécies de menor nível trófico, é possível notar um crescimento nas

concentrações de mercúrio com aumento da posição trófica das espécies estudadas

(Figura 6.1), conforme observado nas sete espécies que apresentaram as maiores

concentrações, dispostas na tabela 6.3 e 6.4: C. bocourti (3,8), C. danae (3,8), C.

larvatus (3,8), M. americanus (3,4), E. saurus (3,5), L. jocu (3,7)e L. synagris (3,9).

Figura 17 - Representação gráfica da relação concentração de mercúrio total com posição trófica ocupada pelas espécies em estudo.

A capacidade de bioacumulação apresentada pelo mercúrio orgânico,

garantida pelo seu elevado tempo de residência no organismo, sua característica

lipossolúvel, que contribui no aumento no transporte biológico e sua afinidade aos

radicais sulfidrílicos das proteínas, dificultando, assim, sua eliminação (WHO, 1976;

CRAIG, 1985; MOREL et al., 1998; SELLANES et al., 2002), possibilitam que ocorra

y = 6.9004e0.6133x

R² = 0.4085

0

50

100

150

200

250

1 2 3 4 5

[Hg

] T

ota

l (n

g.g

-1)

Nível trófico

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42

o processo de biomagnificação desse elemento ao longo das cadeias tróficas, logo,

espécies encontradas no topo da cadeia, de hábitos alimentares, essencialmente,

carnívoros, apresentarão concentrações mais elevadas em relação a espécies

próximas a base, como pode ser observado na figura 6.1 (KASPER et al., 2009).

Características morfológicas como o formato e posição da boca, a

dentição, o tamanho dos indivíduos, associada às características fisiológicas e

ambientais (ciclo migratório, idade, atividade reprodutiva, sexo, ciclo de vida,

distribuição e disponibilidade do alimento) contribuem no hábito alimentar e posição

trófica apresentada por cada espécie, podendo variar para cada etapa do seu ciclo

de vida, a qual os peixes juvenis que apresentam uma alimentação, basicamente,

composta por pequenos crustáceos substituem por uma dieta essencialmente

piscívora em sua fase adulta, levando a ampla dispersão dos pontos apresentados

na figura 6.1, principalmente em espécies carnívoras, em espécies de diferentes

tamanhos, fases da vida distintas e amplo espectro alimentar (BROOKS &

DODSON, 1965; WERNER, 1974; BOND, 1979; MAGNAN & FRITZGERALD, 1984;

WERNER et al., 1984; KEAST, 1985; WINEMILLER, 1989; LOWE-McCONNELL,

1999).

O tipo de dieta apresentada por cada espécie coletada, que podem ser

definidas em três grupos: generalistas, especialistas e oportunistas, fator esse

dependente das condições fisiológicas, ecológicas e ambientais, também pode

contribuir na especificação do hábito alimentar e na posição trófica e, com isso,

influenciar nas concentrações de mercúrio incorporado (GERKING, 1994).

Contudo, embora haja espécies em posições tróficas mais elevadas

apresentando menores concentrações de mercúrio total em relação a espécies de

posições tróficas inferiores, uma análise das variações nas concentrações para cada

hábito alimentar das espécies coletadas, como pode ser observado nas tabelas 6.5,

para os peixes, e 6.6, para os invertebrados, e em suas respectivas representações

gráficas (figuras 6.2 e 6.3), confirmou a importância do hábito alimentar na

determinação das concentrações de mercúrio presente nesses organismos. Nos

peixes, os carnívoros (76 ± 3 ng.g-1) foram os que apresentaram as maiores

concentrações, seguido de onívoros (45 ± 3 ng.g-1) e iliófagos (19 ± 1 ng.g-1), com

diferenças significativas entre as faixas de concentração obtidas (F = 28,15, p <

0,05).

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43

Em moluscos e crustáceos, o mesmo resultado, apresentado pelos

peixes, foi observado, havendo diferença significativa entre os hábitos alimentares

(H = 67,2, p < 0,05). Entretanto, entre carnívoros (81± 5 ng.g-1) e filtradores (53 ± 2

ng.g-1), não houve diferença significativa (p > 0,05) nas concentrações de mercúrio,

o que pode estar relacionado a proporção mercúrio total/metilmercúrio, que em

organismos filtradores, como a A. brasiliana e M. charruana, é baixa (30 a 50%) em

relação a proporção encontrada em carnívoros (80 a 90%) (APETI et al., 2012;

FERREIRA et al., 2015; BRIANT et al., 2017).

Tabela 5 - Hábito alimentar dos peixes, número amostral, nível trófico médio, comprimento e peso médio e desvio padrão, concentração de mercúrio total médio e desvio padrão.

Hábito

Alimentar n

Nível

Trófico

Médio

Comprimento

(cm) Peso (g) [Hg] Total (ng.g-1)

Média Desvio Média Desvio Média Desvio

Carnívoro 23 3,7 16,4 4,9 51,8 38,3 76,3 2,5

Onívoro 23 3,3 26,9 4,7 203,4 106,4 45 2,7

Iliófago 26 2,6 19,1 5,5 73,7 70,6 19,4 1,3

Figura 18 - Representação gráfica (bloxspot) das variações na concentração de mercúrio nas espécies com hábitos alimentares distintos (carnívoros, onívoros e iliófagos), abordando o grupo dos peixes.

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44

Tabela 6 - Hábito alimentar dos invertebrados, número amostral, nível trófico médio, comprimento e peso médio e desvio padrão, concentração de mercúrio total médio e desvio padrão.

Hábito

Alimentar n

Nível

Trófico

Médio

Comprimento

(cm) Peso (g) [Hg] Total (ng.g-1)

Média Desvio Média Desvio Média Desvio

Carnívoro a 24 3,6 9,8 1,4 67 32,9 81,2 4,9

Filtrador a 31 2 2 0,2 3,3 1,9 53 1,9

Detritívoro b 38 2 10,5 2,1 8 5,6 12,7 0,3

Figura 19 - Representação gráfica (bloxspot) das variações na concentração de mercúrio nas espécies com hábitos alimentares distintos (carnívoros, filtradores e detritívoros), abordando o grupo dos moluscos e crustáceos.

6.2.2 Dados biométricos

Além do hábito alimentar, a relação comprimento/concentração de

mercúrio em organismos aquáticos é também um fator biológico muito estudado e

que tem apresentado forte correlação, logo que as taxas de eliminação são,

geralmente, inferiores à de acumulação, o que leva a um progressivo aumento com

o aumento do comprimento (WARD & NEUMANN, 1999; BURGER et al., 2001;

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45

SONESTEN, 2003; MURPHY et al., 2007; BARBOSA et al., 2011; SZCZEBAK &

TAYLOR, 2011; PETRE et al., 2012; SACKETT et al. 2013b).

Logo, foram desenvolvidas curvas de bioacumulação (Figuras 6.4 a 6.7)

de mercúrio para as espécies coletadas que correlacionam os dados biométricos

(Tabelas 6.3 e 6.4), sendo utilizando a relação comprimento/[Hg]Total para as

espécies de peixes e peso/[Hg]Total para espécies de crustáceos e moluscos, pois

houve maior variabilidade nos resultados de peso nesse grupo de espécies. Porém

para as espécies com número amostral reduzido (n < 10) e para aquelas nas quais

os dados biométricos não estão disponíveis não foram desenvolvidas curvas de

bioacumulação.

Figura 20 - Correlação entre o comprimento (cm) e a [Hg] Total (ng.g-1) na espécie Cathorops spixii.

Figura 21 - Correlação entre o peso (g) e a [Hg] Total (ng.g-1) na espécie Anomalocardia brasiliana.

y = 0.091x + 52.34R² = 0.000

n.s.

0

10

20

30

40

50

60

70

80

10 15 20 25 30 35 40

[ H

g]T

ota

l (n

g.g

-1)

Comprimento (cm)

Cathorops spixii

y = -10.64x + 99.48R² = 0.550p < 0,05

0

10

20

30

40

50

60

70

80

2 3 4 5 6

[ H

g]T

ota

l (n

g.g

-1)

Peso (g)

Anomalocardia brasiliana

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46

Figura 22 - Correlação entre o peso (g) e a [Hg] Total (ng.g-1) na espécie Mytella charruana.

Figura 23 - Correlação entre o peso (g) e a [Hg] Total (ng.g-1) na espécie Litopenaeus vannamei.

A ausência de correlação presente nos gráficos de bioacumulação, exceto

no camarão branco (L. vannamei) e no berbigão (A. brasiliana) presente na zona de

influência marinha, se deve a variabilidade na dieta alimentar desses organismos,

como pode ser observado nos coeficientes de determinação (r²) obtidos,

principalmente, devido a substituições nos itens alimentares entre indivíduos juvenis

e adultos ou a processos migratórios apresentados pelas espécies, além da

metabolização do contaminante, taxas de bioacumulação e bioeliminação

y = 5,8543x + 47,178R² = 0,0745

n.s.

0

10

20

30

40

50

60

70

80

0 1 2 3

[Hg

] T

ota

l (n

g.g

-1)

Peso (g)

Mytella charruana

y = 0,157x + 9,3608R² = 0,1589

n.s.

y = 2,0203x + 5,0679R² = 0,7353

p < 0,05

0

5

10

15

20

25

30

0 5 10 15 20 25 30

[Hg

] T

ota

l (n

g.g

-1)

Peso (g)

Litopenaeus vannamei

Inf. fluvial

Inf. marinha

Linear (Inf.fluvial)

Linear (Inf.marinha)

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47

(LACERDA et al., 1989; REUTHER, 1994; BECKVAR et al. 1996; SVOBODOVÁ et

al., 1999; BARBOSA et al., 2003).

O reduzido número amostral apresentado pelas outras espécies não

permitiu a realizar a análise de regressão linear significativa, entretanto para os

peixes carnívoros L. synagris, L. jocu e M. americanus apresentaram bioacumulação

de mercúrio com o aumento do crescimento, porém com um coeficiente de

determinação (r²) baixo, não nos permitindo realizar previsões de valores em

indivíduos de maior comprimento.

As diferentes concentrações apresentadas por cada espécie estudada em

diferentes faixas de comprimento e peso estão relacionadas, principalmente, à

exposição de mercúrio desses organismos nos diferentes compartimentos

ambientais (BOENING et al., 2000).

Entre os peixes onívoros, apenas o bagre amarelo (C. spixii) apresentou

número amostral representativo para realização da curva de bioacumulação (Figura

6.4), contudo a linha de tendência da curva não foi muito acentuada, apesar de

haver bioacumulação de mercúrio. O que pode estar ligado ao amplo espectro

alimentar apresentado por essa espécie (DENADAI et al., 2013), logo não havendo

correlação significativa e ampla variação nas concentrações.

Observando as curvas de bioacumulação para os invertebrados (Figuras

6.5 a 6.7) é possível notar uma diferença na curva de regressão entre as duas

espécies filtradoras, A. brasiliana e M. charruana, havendo uma diminuição e um

aumento, respectivamente, na concentração de mercúrio em indivíduos de maior

peso.

O decréscimo observado no berbigão pode estar relacionado ao efeito de

diluição pelo crescimento, no qual o aumento do tamanho dos organismos levaria a

uma diluição do contaminante, ocasionando um decréscimo em organismos de

maior comprimento (OTCHERE et al., 2003).

Entre os invertebrados, apenas na espécie L. vannamei foi possível

confeccionar curvas para organismos coletados na zona de influência fluvial e de

influência marinha. O que permitiu observar que além de apresentar bioacumulação

ao longo do crescimento, também demonstrou haver diferença nos níveis

concentração de mercúrio entre organismos de zonas distintas e taxas

bioacumulação variando em diferentes ordens de grandeza entre organismos

capturados, sendo superiores naqueles presentes nas zonas de influência marinha.

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48

6.3 Concentração de mercúrio e aspectos ambientais

6.3.1 Variação temporal

Além dos fatores biológicos, os aspectos ambientais como modificações

paisagísticas, regime pluviométrico, salinidade e temperatura também podem

contribuir com o processo de metilação do mercúrio, aumentando assim sua

bioincorporação ao longo do tempo ou em diferentes locais de coleta (BLOOM et al.,

1991; GILMOUR & HENRY, 1991; MUHAYA et al., 1997; BAEYENS et al., 2003).

Como pode ser observado na tabela 6.6, que representa variações nas

concentrações de mercúrio total em espécies de peixes analisadas nessa pesquisa

e em outros estudos desenvolvidos na mesma região. Na bacia inferior do rio

Jaguaribe, a maioria das espécies estudadas apresentou concentrações de mercúrio

total superiores às mesmas espécies coletadas em outros estudos.

Tabela 7 - Análise comparativa entre as concentrações obtidas nas espécies coletadas nesta pesquisa e em outros trabalhos desenvolvidos na mesma área de estudo.

Espécie Localidade n Comprimento

(cm) [Hg] Total

(ng.g-1) Referência

Centropomus parallelus

Bacia inferior do rio

Jaguaribe

3 20 ± 5 39 ± 12 Este estudo

11 31,1 ± 7,0 34,4 ± 12,4 COSTA, 2014

6 27,0 ± 4,5 25,4 ± 6,3 LOPES, 2012

N.D* 23,1 (19,2 –

26,3) 28,0 (18,3 –

37,5) BRAGA, 2006

Menticirrhus americanus

Bacia inferior do rio

Jaguaribe

6 13,8 ± 1 104 ± 30 Este estudo

3 23,7 ± 1,0 7,9 ± 1,1 COSTA, 2014

2 23,5 ± 1,4 7,6 ± 0,3 LOPES, 2012

* N.D.: Não disponível

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49

Tabela 7 - Análise comparativa entre as concentrações obtidas nas espécies coletadas nesta pesquisa e em outros trabalhos desenvolvidos na mesma área de estudo. (Continuação)

Espécie Localidade n Comprimento

(cm) [Hg] Total

(ng.g-1) Referência

Elops saurus

Bacia inferior do

rio Jaguaribe

3 24,7 ± 2 109 ± 15 Este estudo

1 27,5 12,3 ± 1,7 COSTA, 2014

Lutjanus synagris

Bacia inferior do

rio Jaguaribe

5 18 ± 4,4 61 ± 15 Este estudo

2 31,00 ± 5,66 63,79 ± 47,18

COSTA, 2014

N.D.* 12,6 (11,8 –

13,3) 9,0 (6,0 –

10,0) BRAGA, 2006

Cathorops spixii

Bacia inferior do

rio Jaguaribe

26 27 ± 9 50 ± 16 Este estudo

11 27.1 ± 12.5 28,7 ± 23,3 COSTA, 2014

2 32.3 ± 8.1 17,0 ± 5,5 LOPES, 2012

36 19 ± 2.8 31,8 ± 14,4 COSTA, 2009

Eugerres brasilianus

Bacia inferior do

rio Jaguaribe

13 11,5 ± 0,7 37 ± 10 Este estudo

27 19,6 ± 5,3 20,5 ± 17,5 COSTA, 2014

Mugil curema

Bacia inferior do

rio Jaguaribe

10 22,3 ± 3,4 23 ± 14 Este estudo

2 28,5 ± 6.4 < 1,14 COSTA, 2014

Litopenaeus vannamei

Bacia inferior do

rio Jaguaribe

50 9,3 ± 3,5 13 ± 4 Este estudo

11 11,2 ± 0,8 20,5 ± 17,5 COSTA, 2014

* N.D.: Não disponível

As espécies E. saurus, C. spixii, E. brasilianus e M. curema exibiram

concentrações superiores as apresentadas pelas mesmas espécies em outros

estudos, mesmo comparando com organismos com maior comprimento, o que nos

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leva a supor que ao longo dos tempos pode ter ocorrido um acréscimo na

incorporação de mercúrio no ambiente em estudo.

A ubarana (E. saurus) foi a que exibiu maior diferença entre as

concentrações de mercúrio total, sendo 109 ± 15 ng.g-1 a concentração apresentada

pela espécie de comprimento 24,7 ± 2 cm, nesse estudo, e 12,3 ± 1,7 ng.g-1 obtida

por Costa (2014) em um indivíduo de comprimento 27,5 cm. Entretanto, o pequeno

número de indivíduos analisados sugere cuidado na interpretação deste resultado.

Outra espécie de diferença marcante entre as concentrações apresentadas em cada

estudo foi a tainha (M. curema) que em estudos desenvolvidos por Costa (2014),

indivíduo com comprimento 28,5 ± 6,4 cm, portanto maior que tamanho médio dos

indivíduos capturados nessa pesquisa, apresentou concentrações de mercúrio

abaixo do limite de detecção (1,14 ng.g-1). As espécies onívoras C. spixii e E.

brasilianus exibiram diferenças entre as concentrações de mercúrio variando,

aproximadamente, entre 20 e 30 ng.g-1, em diferentes estudos (LOPES, 2012;

COSTA, 2014).

Porém as espécies L. synagris e L. vannamei não obtiveram

concentrações superiores a registrada em outros estudos (BRAGA, 2006; COSTA,

2014), exceto em relação à concentração de mercúrio observada em Braga (2006)

para o ariacó. Entretanto, essa espécie apresentou comprimento inferior ao

encontrado nos organismos coletados nesse estudo. A diferença registrada no

camarão branco pode estar relacionada ao comprimento dos indivíduos capturados,

onde maiores indivíduos foram coletados por Costa (2014).

Variações nas concentrações apresentadas pelas espécies podem estar

relacionadas tanto a fatores endógenos ou biológicos quanto exógenos ou

ambientais, seja o processo de migração para áreas mais ou menos contaminadas,

devido à reprodução ou obtenção de alimento (AL-MAJED & PRESTON, 1999;

FRANCESCONI & LENANTON, 1992). Particularidades fisiológicas também podem

influenciar na bioacumulação e bioeliminação do contaminante, tais como

quantidade e tamanho de alimento ingerido e/ ou disponível no ambiente, o tipo de

alimento (hábito alimentar), local de forrageio e estratégias alimentares

apresentadas por cada espécie (LACERDA et al., 1989; REUTHER, 1994; KIM,

1995; BECKVAR et al., 1996; GOLDSTEIN et al., 1996; BARBOSA et al., 2003).

Contudo, fatores ambientais também podem estar contribuindo para as

variações na concentração de mercúrio na biota entre os estudos realizados na

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bacia inferior do rio Jaguaribe. As modificações paisagísticas ocorridas ao longo do

tempo podem ter influenciado diretamente na hidrodinâmica dos ecossistemas

aquáticos, levando a quadros de assoreamento, redução do fluxo fluvial e aumento

do aporte marinho, possibilitando o aumento no tempo de residência das massas de

água, permitindo assim uma aceleração nos processos biogeoquímicos de

transformação do mercúrio para espécies químicas capazes de serem assimiladas

pela biota e biomagnificada ao longo da teia trófica (LACERDA et al., 2013).

Rios et al. (2016), por exemplo, compararam as concentrações de

mercúrio em ostras, Crassostrea rhizophora, coletadas no estuário do rio Jaguaribe

em 2003 e 2015 e observaram um aumento significativo das concentrações do metal

nesses organismos, e sugeriram como principais causas deste aumento de

concentração a expansão da área e da produção das fazendas de camarão, uma

fonte conhecida de mercúrio (Lacerda et al., 2011). Além disto, alterações

ambientais podem estar associadas à mudança do clima e aos usos da bacia de

drenagem, que podem resultar em aumentos na biodisponibilização do mercúrio.

Assim, apesar do número pequeno de indivíduos das espécies estudadas em vários

períodos na região, é possível que os aumentos constatados em algumas espécies,

particularmente de carnívoros, seja um reflexo dos mesmos vetores sugeridos por

Rios et al. (2016).

6.3.2 Variação espacial

Logo, sabendo-se que fatores ambientais, como temperatura, pH, tipo de

solo, condições de oxi-redução, salinidade e concentração de sulfeto, controlam a

formação da espécie química de mercúrio biodisponível, é possível, que dentro de

uma mesma espécie, ocorram diferentes concentrações de mercúrio em diferentes

locais ao longo do estuário (OLSON et al., 1976; FURUTANI & RUDD, 1980;

DRISCOLL et al., 1995; BÔAS, 1997; SILVA-FORSBERG et al., 1999).

O aumento da forçante marinha e redução do fluxo fluvial, devido às

modificações nos usos do solo como a construção de barragens, a intensificação da

aquacultura, e períodos de chuvas mais escassos devido às mudanças climáticas

globais, ampliam o tempo de residência da massa de água continental na região

estuarina e, portanto, da mobilidade e reatividade de contaminantes. Contribuindo

para a existência de diferenças na concentração de mercúrio ao longo da região

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estuarina, podendo se refletir na biodisponibilidade do mercúrio e em sua

concentração final nos organismos. As figuras 6.8, 6.9 e 6.10 apresentam gráficos

comparativos entre as concentrações de mercúrio total presente em três espécies

(Eugerres brasilianus, Litopennaeus vannamei e Callinectes danae) que ocorreram e

foram coletadas simultaneamente nas zonas de influência fluvial e na zona de

influência marinha.

Figura 24 - Representação gráfica das concentrações de mercúrio total presente na espécie Eugerres brasilianus coletada nas zonas de influência fluvial e marinha.

Figura 25 - Representação gráfica das concentrações de mercúrio total presente na espécie Litopenaeus vannamei coletada nas zonas de influência fluvial e marinha.

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Figura 26 - Representação gráfica das concentrações de mercúrio total presente na espécie Callineces danae coletada nas zonas de influência fluvial e marinha.

Os gráficos apresentados demonstraram haver diferença significativa

entre as concentrações de mercúrio total presentes nas espécies E. brasilianus (U =

6, p < 0,05), L. vannamei (U = 64, p < 0,01) e C. danae, apesar de não haver um

número expressivo de amostras para realizar uma estatística comparativa para essa

espécie.

É possível notar, analisando os gráficos, que as espécies coletadas nas

zonas de influência marinha apresentaram maiores concentrações. Mesmo existindo

uma média de comprimento maior de indivíduos de camarão-branco coletados na

zona de influência fluvial, este padrão foi mantido. O padrão de variação da

concentração de mercúrio exibida pelo camarão branco (L. vannamei), conforme

apresentado em sua curva de bioacumulação (Figura 6.7), sugere fortemente uma

maior biodisponibilidade do metal na região sob a influência marinha, onde estes

organismos apresentaram taxas de incorporação do mercúrio 10 vezes mais

intensas que nos indivíduos coletados na região sob a influência fluvial.

Entre as espécies analisadas, o camarão branco (L. vannamei) destaca-

se por serem relativamente sésseis, em comparação a carapeba e ao siri, e,

também, assim como outros invertebrados, serem os primeiros organismos afetados

na cadeia trófica pela biodisponibilização do mercúrio (FORSBERG & KEMENES,

2006), devido a sua dieta e seu contato direto com a camada superficial do

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sedimento, onde se encontra as maiores concentrações de mercúrio orgânico

(LACERDA et al., 2012). Permitindo-nos observar, com maior clareza, as diferenças

existentes entre as concentrações de mercúrio na zona de influência fluvial e

marinha, mesmo havendo uma predominância de indivíduos de comprimento e peso

superiores na zona de influência fluvial.

A variabilidade gradual nas características abióticas da região estuarina,

como exemplo o gradiente de salinidade, o qual é elevado à medida que se

aproxima da costa, zona de influência marinha, contribui, segundo Brandini et al.

(2016), para uma variabilidade biogeoquímica das substâncias ao longo da região

estuarina, o que poderia explicar a diferença nas concentrações apresentadas pelas

espécies nas distintas zonas de influência na região estuarina do rio Jaguaribe. Além

das influências de modificações na paisagem, conforme descrito por Dias, Marins e

Maia (2013), ao avaliarem o impacto das modificações paisagísticas regionais nas

descargas de material particulado e de cobre e zinco particulado, na Bacia Inferior

do rio Jaguaribe, verificando uma diminuição no aporte continental devido a

construção de barragens, havendo maior retenção de material particulado na região

estuarina, principalmente em períodos secos.

Lacerda e Malm (2008), avaliando a influência de atividades

antropogênicas na Baía de Sepetiba e variações na reatividade do mercúrio ao

longo do gradiente estuarino, perceberam, assim como foi observado através da

biota nessa pesquisa, uma variação nas concentrações de espécies reativas de

mercúrio ao longo do estuário, com maior porcentagem de espécies reativas na área

externa da baía. Demonstrando assim, haver uma relação entre as concentrações

de mercúrio ao longo do gradiente estuarino, além de haver maior formação de

espécies orgânicas em regiões próximas a zona de influência marinha.

Lacerda et al. (2013) ao avaliarem as concentrações e fluxos de mercúrio

entre os anos de 2005 e 2009, em estações secas e chuvosas no estuário do rio

Jaguaribe, ambiente de estudo dessa pesquisa, estimaram diferenças de acordo

com a localização no estuário, e os resultados de hidrodinâmica indicaram uma

presença intensa de água marinha em todo o estuário durante o período seco, o que

demonstra a sobreposição do aporte marinho ao fluvial, prejudicado pelas

modificações paisagísticas regionais, acarretando um aumento no tempo de

residência das massas de água entre os períodos secos e chuvosos, com valores

médios de 3,1 e 0,8 dias, respectivamente, com isso havendo maior retenção de

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material suspenso, inclusive do mercúrio ligado a esse material, dentro do estuário.

Possibilitando assim, maior reatividade e disponibilização para incorporação pela

biota, conforme apresentado nos resultados das espécies avaliadas (Figuras 6.8 a

6.10).

Logo, observando todos os fatores ambientais apresentados

anteriormente, modificações paisagísticas regionais e a escassez de chuvas da

região semiárida, que contribuem para a variação nas concentrações de mercúrio ao

longo do gradiente estuarino nesta região semiárida, Lacerda et al. (2012),

comparando a efeitos análogos ao que acontecem na região Polar Ártica,

desenvolvem a teoria do Paradoxo Ártico, que sugere que esses fatores ambientais

contribuem para redução do aporte fluvial, aumentando, assim, o tempo de

residência das águas continentais na região estuarina, promovendo alterações

químicas nos poluentes, inclusive o mercúrio, podendo se refletir na biota ao

incorporar esse metal em sua forma biodisponível. Com isso, analisando os gráficos

6.16, 6.17 e 6.18 é possível observar que as espécies coletadas na zona de

influência marinha e que apresentaram maiores concentrações de mercúrio do que

as mesmas espécies na zona de influência fluvial corrobora com a teoria proposta

anteriormente, e que a redução do aporte fluvial, devido a mudanças climáticas

globais e paisagísticas regionais, promovem uma maior concentração de mercúrio

dissolvido, potencialmente biodisponível, em zonas de influência marinha.

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7 CONCLUSÃO

Os aspectos ambientais apresentaram resultados importantes,

evidenciando sua relevância nas concentrações de mercúrio total ao longo do

gradiente estuarino. Construção de açudes e desvio de rios objetivando o

abastecimento público, crescimento urbano próximo a esses ecossistemas, e

redução da pluviosidade anual devido as mudanças climáticas globais são possíveis

fatores que colaboram para essas variações ao longo da região estuarina, uma vez

que possibilitam um maior tempo de residência das massas de água e maior

mobilidade e reatividade do mercúrio.

Logo, espera-se que, com o aumento das modificações ocorridas no

ambiente natural na zona litoral da região semiárida brasileira e as mudanças

climáticas globais reduzindo a pluviosidade anual, ocorra um aumento nas

concentrações de mercúrio incorporado pela biota local e, por consequência,

aumento da incorporação na cadeia trófica.

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