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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ CENTRO DE CIÊNCIAS DEPARTAMENTO DE BIOQUÍMICA E BIOLOGIA MOLECULAR PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM BIOQUÍMICA PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E ATIVIDADE BIOLÓGICA in vitro CONTRA INSETOS PRAGA DE UM NOVO INIBIDOR DE TRIPSINA ISOLADO DE SEMENTES DE Sapindus saponaria L. (SAPINDACEAE) GLAUBER PACELLI GOMES DE LIMA FORTALEZA-CEARÁ 2012

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ

CENTRO DE CIÊNCIAS

DEPARTAMENTO DE BIOQUÍMICA E BIOLOGIA MOLECULAR

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM BIOQUÍMICA

PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E ATIVIDADE BIOLÓGICA in

vitro CONTRA INSETOS PRAGA DE UM NOVO INIBIDOR DE TRIPSINA ISOLADO

DE SEMENTES DE Sapindus saponaria L. (SAPINDACEAE)

GLAUBER PACELLI GOMES DE LIMA

FORTALEZA-CEARÁ

2012

GLAUBER PACELLI GOMES DE LIMA

PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E ATIVIDADE BIOLÓGICA in

vitro CONTRA INSETOS PRAGA DE UM NOVO INIBIDOR DE TRIPSINA ISOLADO

DE SEMENTES DE Sapindus saponaria L. (SAPINDACEAE)

Dissertação submetida à coordenação do

Programa de Pós-graduação em Bioquímica, do

departamento de Bioquímica e Biologia

Molecular da Universidade Federal do Ceará

como requisito parcial para obtenção de grau de

mestre em Bioquímica

Área de concentração: Bioquímica Vegetal

Orientadora: Profa. Dra. Ana de Fátima

Fontenele Urano Carvalho

FORTALEZA-CEARÁ

2012

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação

Universidade Federal do Ceará

Biblioteca de Ciências e Tecnologia

L696p Lima, Glauber Pacelli Gomes de.

Purificação, caracterização bioquímica e atividade biológica in vitro contra insetos praga de um

novo inibidor de tripsina isolado de sementes de Sapindus Saponaria L. (Sapindaceae) / Glauber

Pacelli Gomes de Lima – 2012. 122 f. : il. color., enc. ; 30 cm.

Dissertação (mestrado) – Universidade Federal do Ceará, Centro de Ciências, Departamento de

Bioquímica e Biologia Molecular, Programa de Pós-Graduação em Bioquímica, Fortaleza, 2012.

Área de Concentração: Bioquímica vegetal.

Orientação: Profa. Dra. Ana de Fátima Fontenele Urano Carvalho.

Coorientação: Dra. Maria Fátima Grossi de Sá.

1. Sapindus saponaria. 2. Inibidor de tripsina. 3. Inseto praga. I. Título.

CDD 574.192

A Deus, por mais essa oportunidade de evoluir intelectual e moralmente.

À Elizabeth Gomes, grande mãe e amiga, por confiar e investir cegamente no

meu potencial.

“Você nasceu no lar que precisava, Vestiu o corpo físico que merecia, Possui os recursos financeiros coerentes com suas necessidades… Nem mais, nem menos, mas o justo para as tuas lutas terrenas, Seu ambiente de trabalho é o que você elegeu espontaneamente para a sua realização, Seus parentes e amigos são as almas que você mesmo atraiu, com sua afinidade. Portanto, seu destino está constantemente sob seu controle. Você escolhe, recolhe, elege, atrai, busca, expulsa, modifica tudo aquilo que te rodeia a existência. Seus pensamentos e vontades são a chave de seus atos e atitudes São as fontes de atração e repulsão na jornada da tua vivência. Não reclame nem se faça de vítima. Antes de tudo, analise e observa. A mudança está em tuas mãos. Re-programe sua meta, busque o bem e viverá melhor”.

“Embora ninguém possa voltar atrás e fazer um novo começo, qualquer um pode começar agora e fazer um novo fim”.

Chico Xavier.

Que alegria! É chegado o final de mais uma etapa na minha vida profissional e pessoal!

Durante esses aproximadamente vinte e seis meses, tive momentos de grandes alegrias e

conquistas, assim como derrotas e momentos em que desespero tomou conta. Em todos esses

momentos, entretanto, estive acompanhado por novos e velhos amigos, que se fizeram

presentes e me auxiliaram imensamente durante esse período de grande desenvolvimento

intelectual, moral e espiritual. Dessa forma, agradeço:

Inicialmente, a Deus pelo constante auxílio e por se fazer presente durante mais essa etapa da

minha vida.

À minha mãe Elizabeth Gomes pelos sacrifícios, perseverança e imensurável amor dedicado

que caracterizam as grandes mães. Sei que não costumo dizer isso, mas a amo e sou

imensamente grato por tudo que me proporcionou durante todos os anos da minha vida.

Agradeço à minha irmã Amanda Gomes, por sempre acreditar e investir em meu potencial,

eis minha segunda mãe.

Ao Erandir Silva, melhor cunhado que poderia ter, pelo apoio e solicitude para me buscar a

qualquer hora e dia em um campus tão isolado do mundo durante dias de experimentos

intermináveis.

À Isabela e Gabriela Gomes, amadas sobrinhas, por reacenderem em mim o valor do amor e

dedicação à família.

À Claudia Cysne, José Lindival e Freitas júnior, por desde cedo reconhecerem e investirem

em meu potencial.

À Profa Dra. Ana de Fátima Carvalho, orientadora, por ainda durante minha graduação ter

me aceitado como pupilo em seu laboratório. Mais importantes que os ensinamentos

acadêmicos, ficarão as valiosas lições éticas e morais, valores lamentavelmente incipientes

nos dias atuais.

À Dra. Fátima Grosssi, coorientadora, por ter me acolhido no seu laboratório durante um

grande período do meu mestrado. Sou grato ainda pelos apoios, incentivos e pela

disponibilidade em contribuir mais ainda para a concretização deste trabalho, através de

participação na banca examinadora.

À Profa Dra. Ilka Vasconcelos, pelos valiosos ensinamentos científicos compartilhados

durante essa etapa acadêmica e pela pronta solicitude para resolução de qualquer problema.

Muito obrigado pelos valiosos diálogos e incentivos, e ainda, por ter aceitado prontamente

fazer da banca examinadora dessa dissertação.

Ao Dr. Marcelo Porto Bemquerer, pela frequente e valiosíssima ajuda em várias etapas do

desenvolvimento desse trabalho. Pela paciência, sugestões e preciosos ensinamentos. Sou

imensamente grato também por ter acrescentado fundamentais correções e sugestões na

redação dessa dissertação. Indubitavelmente, seu auxílio acrescentou um imenso valor

científico a esse trabalho, muito obrigado Dr. Marcelo!!

Ao Dr. Carlos Bloch Jr., coordenador do Laboratório de Espectrometria de Massa (LEM),

locado na Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, em Brasília (DF). Por ter permitido

que parte dos experimentos desse trabalho fossem lá realizados. Obrigado pela paciência,

sugestões e enriquecimento científico.

À Lady Clarissa Bezerra, “coorientadora” e grande amiga. Como co-orientadora, essa

dissertação não teria tal valor sem sua colaboração, apoio e sugestões. Mesmo as acalentadas

discussões tiveram grande valia. Como amiga, me ensinou a necessidade da força,

perseverança e resignação. Infelizmente, forças maiores nos interpuseram a distância física,

mas nada será capaz de se interpor à nossa afinidade moral e espiritual. Não me acanho em

repetir que me arrependo de não ter aproveitado mais seus conselhos e companhia, muito

obrigado por sentir-se e agir como grande irmã.

Ao Davi Farias, por me ter coorientado no início da minha vida profissional e pela grande

amizade. Com pulso forte me ensinou valores e lições que não irei jamais esquecer. Sou

imensamente grato pela paciência, dedicação e incentivos, sendo assim um grande exemplo

profissional. Como amigo, me ensinou que nunca é tarde pra mudar. Será sempre um

acalentador e maduro ombro amigo que sei que possa contar a qualquer hora.

Ao Martônio Viana, um dos poucos cientistas inatos que tive o prazer de conhecer e

acompanhar o desenvolvimento. Agradeço pelo imenso companheirismo, sugestões

profissionais e conselhos pessoais. Homem, eu acredito que você não tem noção do quanto

valorizo tua companhia e amizade, muito obrigado!

Aos demais membros do laboratório de Bioprospeção de Recursos Regionais Renalison

Farias, Geórgia Sampaio, Katharine Gurgel, Alison Rebouças, Gabrielle de Paula, Renata

Silva, Jackeline Medeiros e outros que eu possa ter esquecida de mencionar e, em especial, à

Terezinha Souza, Luiz Filho, Nathanna Sousa e Berenice Alves pela solicitude,

companheirismo e discussões filosóficas e científicas, assim como pelas constantes risadas e

alegrias compartilhadas.

Ao Leonardo Pepino, grande amigo e parceiro profissional, pelos frequentes incentivos,

ajudas, sugestões e significativa amizade. Amigo, Muito obrigado por ter tornado essa

dissertação possível!

À Raquel Sampaio, Caroline Bezerra, Luciane Guimarães, Karla Graziela e Ticiana

Amorim, fortes e excepcionais mulheres que conheci durante minhas estadias no Laboratório

de Interação Molecular Planta Praga I (LPPI), da Embrapa Recursos Genéticos e

Biotecnologia, em Brasília (DF). Acredito que nada nem ninguém entram na sua vida por

acaso, e todas vocês são mais uma prova disso. Indubitavelmente, as saudades de casa foram

compensadas pelo frequente e fraterno carinho de vocês. Sou muito grato pela companhia,

apoio, paciência, conselhos, incentivos e ideias compartilhadas durante esses períodos. Muito

obrigado garotas, de coração!

Aos demais membros do LPPI, Roberta Coelho, Vanessa Evangelista, Bruna Araújo,

Angelina, Tiago Siqueira, Alexandre Firmino, Fernando, Flávia Furtado, Eduardo

Mullinari, Patricia Pelegrini, Itamara Mezzalira, Antônio Américo, Wagner Lucena e

tantos outros que me receberam tão bem, me fazendo sentir parte dessa grande equipe!

Obrigado também pelas sugestões e discussões científicas!

Aos Membros do Laboratório de Espectrometria de Massa (LEM), locado na Embrapa

Recursos Genéticos e Biotecnologia, em Brasília (DF). Em especial à Dra. Maura Viana

Prates, Dr. Luciano Paulino, Nathalia e “Zé”, pela apoio e sugestões a esse trabalho.

Aos colegas Ludovico Migliolo e Michelle Flaviane do Centro de análises proteômicas e

bioquímica (UCB), pelo companheirismo e auxílio durante as digestões enzimáticas, pelas

interessantes discussões e idéias.

Aos Colegas do Laboratório de Toxinas Vegetais (LABTOX) da UFC, pela frequente

colaboração e boa convivência, em especial a Hellen Paula, Mirella Pereira, Daniele Sousa

e Paulo Carvalho, pelo companheirismo, apoio e solicitude.

À Adeliana Oliveira, do Laboratório de Química e função de Proteínas Bioativas da UFRN,

pelas sugestões e incentivos.

Aos melhores amigos do mundo: Vanderson Costa, Eliardo Cavalcante, Sayonara e

Shemariah Melo, Sandino Moreira, David Ribeiro, Sammya Araújo, Bruno Soares, Felipe

Vasconcelos, Rebeka Lúcio, Rafaely Alcântara, Marcio Souza e tantos outros que há muito

tempo fazem parte desta densa teia que é minha vida. Pelo constante apoio, ‘‘puxões de

orelha’’, longas conversas e agradáveis momentos de descontração. Muito obrigado por

fazerem parte da minha vida, porque afinal “sem vocês sou pá furada”.

Este trabalho foi realizado graças ao auxílio das seguintes instituições:

Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES).

Universidade Federal do Ceará (UFC), Fortaleza, Ceará

Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação da Universidade Federal do Ceará, Fortaleza,

Ceará.

Departamento de Bioquímica e Biologia Molecular, Centro de Ciências, Universidade Federal

do Ceará, Fortaleza, Ceará.

Departamento de Biologia, Centro de Ciências, Universidade Federal do Ceará, Fortaleza,

Ceará.

Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA) – Recursos Genéticos e

Biotecnologia, Brasília, Distrito Federal.

Laboratório de Bioprospecção de Recursos Regionais (Bioprospec), Centro de Ciências,

Departamento de Biologia, Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, Ceará.

Laboratório de Interação Molecular Planta Praga I , Embrapa Recursos Genéticos e

Biotecnologia, Brasília, Distrito Federal

Centro de Análises Proteômicas e Bioquímicas, Universidade Católica de Brasília (UCB),

Brasília, Distrito Federal.

RESUMO

A toxicidade ao meio ambiente, a baixa biodegrabilidade e a crescente resistência de insetos

praga da agricultura e de insetos vetores de doenças aos inseticidas tradicionalmente

utilizados tem estimulado o desenvolvimento de alternativas com maior biodegradabilidade e

especificidade, especialmente de origem vegetal. Nesse sentido, o presente estudo consistiu na

purificação, caracterização e avaliação do efeito biológico in vitro de um novo inibidor de

tripsina obtido das sementes de Sapindus saponaria sobre as enzimas digestivas de insetos.

Através de precipitação com ácido tricloroacético (TCA), cromatografia de afinidade à

tripsina e cromatografia de fase reversa em sistema UFLC, foi purificado um novo inibidor de

tripsina (SSTI2) pertencente ao grupo de inibidores do tipo Batata I, uma categoria de

inibidores de peptidases serínicas com reconhecido efeito tóxico sobre insetos. O inibidor

nativo e fragmentos desse gerados por tratamento enzimático com tripsina e pepsina foram

analisados e sequenciados por espectrometria de massa do tipo MALDI-TOF e ESI-TOF,

determinando assim a sua massa molecular acurada (MM = 7571, 976 Da) e elucidando a sua

estrutura primária (64/69 aminoácidos). O inibidor apresentou uma IC50 de 8,3 x 10-2

µmol.L-1

contra a tripsina bovina, mas apresentou baixa atividade inibitória sobre as enzimas

quimotripsina (13,24 ± 0,28%) e papaína (5,28 ± 0,42%), e não foi capaz de inibir a proteólise

promovida pela bromelaína. O SSTI2 inibiu moderadamente a atividade catalítica das

enzimas digestivas totais dos insetos, com percentual de inibição variando entre 4,74 ± 0,45%

a 56,06 ± 1,41%. No entanto, o inibidor foi eficaz em atuar sobre as enzimas digestivas do

tipo tripsina presentes nos intestinos dos insetos Aedes aegypti (92,44 ± 0,99%), Anthonomus

grandis (77,93 ± 0,12%), Anticarsia gemmatalis (32,21 ± 0,57%) e Spodoptera frugiperda

(71,44 ± 1,23%). Esse expressivo efeito inibitório do SSTI2 sobre a atividade catalítica das

peptidases do tipo tripsina provenientes do intestino médio dos insetos sugere um possível

efeito supressor no desenvolvimento e sobrevivência de insetos alimentados com dietas

contendo o inibidor. Assim, futuros estudos in vivo e avaliações de outras propriedades

bioquímicas do inibidor serão importantes para determinar a potencial aplicação

biotecnológica do SSTI2, especialmente para o combate de A. aegypti, A. grandis e A.

gemmatalis. Além disso, a sequência do SSTI2 elucidada nesse estudo possibilita a síntese,

clonagem do gene codificante e expressão heteróloga dessa potencial ferramenta

biotecnológica.

Palavras-chave: Sapindus saponaria; Inibidor de tripsina; sequenciamento de proteínas;

insetos praga; Batata I

ABSTRACT

Environmental toxicity, low biodegradability and increased resistance in agricultural pest

insects and in insect vectors of diseases to insecticides traditionally used for their control have

encouraged the development of chemical alternatives with greater specificity and

biodegradability especially from plants. In this way, the present study aimed the purification,

characterization and evaluation of activity towards pest insect digestive enzymes of a new

trypsin inhibitor obtained from Sapindus saponaria seeds. This new trypsin inhibitor obtained

from S. saponaria seeds (SSTI2) belongs to Potato I inhibitor family and was purified by

protein precipitation with trichloroacetic acid, affinity chromatography and reverse phase

chromatography using UFLC system. The native inhibitor and its fragments generated by

enzymatic treatment with trypsin and pepsin were analyzed and sequenced by MALDI-TOF

and ESI-TOF mass spectrometry, determining its accurate molecular mass (MM = 7571, 976

Da) and primary structure (64 of 69 amino acids). The SSTI2 showed an IC50 of 8.3 x 10-2

μmol.L-1

against bovine trypsin, and a much lower inhibitory activity on the enzymes

chymotrypsin (13.24 ± 0.28%) and papain (5.28 ± 0 , 42%), but was unable to inhibit

proteolysis promoted by bromelain. In spite to show moderate inhibition of total digestive

enzymes (4.74 ± 0.45% to 56.06 ± 1.41%), the inhibitor was very effective upon trypsin-like

enzymes present in Aedes aegypti (92.44 ± 0.99%), Anthonomus grandis (77.93 ± 0.12%),

Anticarsia gemmatalis ( 32.21 ± 0.57%) and Spodoptera frugiperda (71.44 ± 1.23%) guts.

This strong inhibitory effect of SSTI2 on the catalytic activity of trypsin-like peptidases of

insect’s midguts suggests a possible suppressive effect on development and survival of insects

fed with diets containing the inhibitor. Thus, future in vivo assays and evaluation of other

biochemical properties will be important to establish the potential biotechnological

application of SSTI2, especially for the combat of Ae. aegypti, A. grandis and An.

gemmatalis. Furthermore, the sequence of SSTI2 elucidated in this study allows the chemical

synthesis, cloning of coding gene sequence and heterologous expression of this potential new

biotechnological tool.

Key-words: Sapindus saponaria; Trypsin inhibitor; Protein sequencing; Pest insects; Potato I

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Anticarsia Gemmatalis, considerada a pincipal praga da soja (Glycine max)........30

Figura 2 – Spodoptera frugiperda, uma das principais pragas do milho (Zea mays)...............31

Figura 3 – Anthonomus grandis, inseto-praga do algodão (Gossypium sp.).............................32

Figura 4 – Aedes aegypti, vetor da dengue...............................................................................36

Figura 5 – Ciclo de vida de Aedes aegypti................................................................................37

Figura 6 – Sapindus saponaria L., planta-alvo do estudo........................................................44

Figura 7 – Estratégia utilizada para isolamento e purificação do novo inibidor de tripsina das

sementes de S. saponaria (SSTI2)............................................................................................65

Figura 8 – Estratégia utilizada para a elucidação da estrutura primária do novo inibidor de

tripsina de sementes de S. saponaria (SSTI2)..........................................................................66

Figura 9 – Atividade inibitória das frações proteicas de S. saponaria obtidas através de

precipitação com ácido tricloroacético (TCA)..........................................................................67

Figura 10 – Perfil de eluição da F1% em matriz de afinidade Tripsina-Sepharose

4B..............................................................................................................................................70

Figura 11 – Perfil cromatográfico de SS1Af aplicado em coluna de fase reversa semi

preparativa do tipo C4, em sistema em sistema UFLC.............................................................72

Figura 12 – Espectros de massa dos produtos cromatográficos presentes em P1 e P2

adquiridos em espectrômetro de massa do tipo MALDI-TOF.................................................75

Figura 13 – Espectros de massa molecular do SSTI2 adquiridos em espectrômetro de massa

do tipo ESI-TOF........................................................................................................................77

Figura 14 – Perfil eletroforético das etapas de purificação do SSTI2......................................79

Figura 15 – Determinação da concentração inibitória média (CI50) do inibidor SSTI2 sobre

tripsina bovina...........................................................................................................................81

Figura 16 – Sobreposição manual de sequências obtidas através de sequenciamento direto na

fonte (ISD-DAN) e após tratamentos enzimáticos...................................................................85

Figura 17 – Perfil cromatográfico da repurificação do inibidor SSTI2 reduzido e alquilado

aplicado em coluna de fase reversa analítica do tipo C4, em sistema em sistema UFLC........86

Figura 18 – Perfil cromatográfico (Em sistema RP-UFLC) da separação de peptídeos de

SSTI2 gerados por tratamento enzimático com tripsina imobilizada em agarose....................87

Figura 19 – Perfil cromatográfico (Em sistema RP-UFLC) da separação de peptídeos de

SSTI2 gerados por tratamento enzimático com pepsina imobilizada em agarose....................87

Figura 20 – Alinhamento da sequência aminoacídica do SSTI2 com sequências de outros

inibidores da família de inibidores Batata I..............................................................................93

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Produção agrícola brasileira de algodão, milho e soja............................................29

Tabela 2 – Classificação de peptidases de acordo com diversidade estrutural e bioquímica...41

Tabela 3 – Gradiente crescente de solução B empregado durante cromatografia de fase reversa

em sistema RP-UFLC de material proveniente da cromatografia de afinidade (Ss1Af)......... 53

Tabela 4 – Gradiente crescente de solução B empregado durante cromatografia de fase reversa

em sistema RP-UFLC para purificação do SSTI2 reduzido e alquilado...................................58

Tabela 5 – Gradiente crescente de solução empregado durante cromatografia de fase reversa

em sistema RP-UFLC para purificação de peptídeos gerados por hidrólises enzimáticas

independentes de SSTI2 com pepsina e tripsina imobilizadas em agarose..............................60

Tabela 6 – Atividade inibitória específica e percentual de inibição das frações proteicas de

Sapindus saponaria obtidas por fracionamento com ácido tricloroacético (TCA)...................68

Tabela 7 – Tabela de purificação do inibidor de tripsina obtido de sementes de Sapindus

saponaria..................................................................................................................................73

Tabela 8 – Avaliação da especificidade do SSTI2 para enzimas serínicas e cisteínicas..........82

Tabela 9 – Comparação entre as massas teóricas e experimentais dos peptídeos oriundos da

digestão enzimático do SSTI2 com tripsina imobilizada em agarose.......................................90

Tabela 10 – Comparação entre as massas teóricas e experimentais dos peptídeos oriundos da

digestão enzimático do SSTI2 com pepsina imobilizada em agarose......................................91

Tabela 11 – Lista de massas de dipeptídeos, úteis para determinação de íons –b2 sequenciados

por espectrometria de massa.....................................................................................................92

Tabela 12 – Especificidade de inibição do SSTI2 para enzimas digestivas de insetos.............95

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ACN Acetonitrila

CI50

Concentração de inibidor capaz de causar 50% de inibição na atividade

proteolítica da tripsina bovina

ESI Ionização por electron spray, do inglês electron spray ionization

EB Extrato proteico bruto de Sapindus saponaria

F1%

Fração proteica do EB precipitado com um volume de ácido tricloroacético

e encerrando uma concentração final de 1%

ISD Fragmentação direta na fonte, do inglês In-source-decay

Ki Constante de inibição

MALDI

Dessorção/ionização da matriz assistida por laser, do inglês Matrix assisted

laser dessorption/ionization

MM Massa molecular

SSTI2

Novo inibidor de tripsina de Sapindus saponaria, do inglês Sapindus

saponaria trypsin inhibitor

Ss1Af Fração proteica retida em matriz de afinidade Tripsina-Sepharose 4B

TCA Ácido tricloroacético, do inglês Tricloroacetic acid

TFA Ácido tricloroacético, do inglês Trifluoroacetic acid

TOF Tempo de vôo, do inglês Time of flight

LISTA DE RESÍDUOS DE AMINOÁCIDOS

Resíduo Símbolo

de 3

letras

Símbolo

de 1 letra

Massa

monoisotópica

(Da)

Imônio

(Da)

Ácido aspártico Asp D 115,027 88

Ácido glutâmico Glu E 129,042 102

Alanina Ala A 71,037 44

Arginina Arg R 156,101 129

Asparagina Asn N 114,042 87

Cisteína Cys C 103,009 76

Fenilalanina Phe F 147,068 120

Glicina Gly G 57,021 30

Glutamina Gln Q 128,058 101

Histidina His H 137,058 110

Isoleucina Ile I 113,084 86

Leucina Leu L 113,084 86

Lisina Lys K 128,094 101

Metionina Met M 131,040 104

Prolina Pro P 97,052 70

Serina Ser S 87,032 60

Tirosina Tyr Y 163,063 136

Treonina Thr T 101,047 74

Triptofano Trp W 186,079 159

Valina Val V 99,068 72

SUMÁRIO

1 – INTRODUÇÃO..................................................................................................................23

1.1 – Aspectos gerais.............................................................................................................. ..23

1.2 – Insetos como pragas da agricultura..................................................................................26

1.3 – Insetos como vetores de doenças humanas e animais......................................................33

1.4 – Inibidores de peptidases...................................................................................................38

1.4.1 – Inibidores de peptidases da família Batata I.................................................................40

1.5 – Sapindus saponaria..........................................................................................................42

2 – OBJETIVOS.......................................................................................................................45

2.1 – Objetivo geral...................................................................................................................45

2.2 – Objetivos específicos.......................................................................................................45

3 – MATERIAL........................................................................................................................46

3.1 – Material biológico.........................................................................................................46

3.1.1 – Sementes de Sapindus saponaria..................................................................................46

3.1.2 – Insetos...........................................................................................................................46

3.2 – Reagentes químicos..........................................................................................................46

3.2.1 – Proteínas........................................................................................................................46

3.2.2 – Substratos enzimáticos..................................................................................................47

3.2.3 – Outros reagentes............................................................................................................47

4.0 – MÉTODOS......................................................................................................................48

4.1 – Processamento de sementes de Sapindus saponaria........................................................48

4.2 – Quantificação de proteínas solúveis.................................................................................48

4.3 – Ensaio de determinação da atividade inibitória de peptidases serínicas..........................48

4.4 – Ensaio de determinação da atividade inibitória de peptidases cisteínicas.......................49

4.5 – Ensaio de determinação da atividade inibitória de tripsina..............................................50

4.6 – Purificação do inibidor de tripsina das sementes de S. saponaria...................................50

4.6.1 – Preparo do extrato proteico bruto de S. saponaria........................................................50

4.6.2 – Obtenção de frações proteicas ricas em inibidores de tripsina de S. saponaria............51

4.6.3 – Cromatografia de afinidade a matriz de Tripsina-Sepharose 4B................................51

4.6.4 – Cromatografia de fase reversa em coluna C4 semi preparativa....................................52

4.7 – Caracterização bioquímica...............................................................................................54

4.7.1 – Avaliação da diversidade e pureza das frações obtidas em RP-UFLC.........................54

4.7.2 – Determinação da massa molecular acurada por espectrometria de massa....................54

4.7.3 – Perfil eletroforético em gel de poliacrilamidada...........................................................55

4.7. 4 – Determinação da CI50 contra tripsina bovina...............................................................56

4.7.5 – Sequenciamento do SSTI2............................................................................................56

4.7.5.1 – Sequenciamento de SSTI2 por ionização direto na fonte..........................................56

4.7.5.2 – Tratamento de SSTI2 com enzimas proteolíticas......................................................57

4.7.5.3 – Purificação dos peptídeos gerados por tratamentos enzimáticos...............................59

4.7.5.4 – Sequenciamento de novo dos peptídeos.....................................................................61

4.7.5.5 – Análise e alinhamento da sequência de aminoácidos do SSTI2................................61

4.8 – Atividade biológica in vitro.............................................................................................62

4.8.1 – Extração e preparo do homogenato intestinal de insetos..............................................62

4.8.2 – Ensaio de inibição enzimática de peptidases digestivas de insetos..............................62

5 – RESULTADOS...................................................................................................................64

5.1 – Isolamento e purificação..................................................................................................64

5.1.1 – Seleção da fração proteica obtida por precipitação com TCA......................................64

5.1.2 – Cromatografia de afinidade de F1% em matriz de afinidade Tripsina-Sepharose 4B..69

5.1.3 – Cromatografia de SS1Af em coluna de fase reversa acoplada a sistema UFLC.........71

5.1.4 – Rendimento do SSTI2...................................................................................................71

5.2 – Caracterização bioquímica...............................................................................................74

5.2.1 – Análise por MALDI-TOF das frações com atividade inibitória de tripsina.................74

5.2.2 – Determinação da massa molecular acurada através de MS-ESI...................................76

5.2.3 – Perfil elefrorético das etapas de purificação de SSTI2 em gel de poliacrilamidada.....78

5.2.4 – Determinação da CI50....................................................................................................80

5.2.5 – Especificidade do inibidor a enzimas serínicas e cisteínicas........................................80

5.2.6 – Sequenciamento do SSTI2............................................................................................83

5.2.6.1 – Sequencimento por ionização direto na fonte............................................................83

5.2.6.2 – Purificação dos fragmentos de SSTI2 gerados por hidrólises enzimáticas com

tripsina e pepsina.......................................................................................................................83

5.2.6.3 – Sequenciamento de novo dos peptídeos de SSTI2 e alinhamento das sequências.....88

5.3 – Efeito do SSTI2 sobre enzimas digestivas de insetos......................................................94

6 – DISCUSSÃO......................................................................................................................96

7 – CONCLUSÃO..................................................................................................................105

8 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..............................................................................106

20

1. INTRODUÇÃO

1.1 – Aspectos gerais

Atualmente, o ataque de plantas por insetos-pragas e patógenos causa severos

prejuízos à agricultura mundial. Apesar da aplicação anual de 3 bilhões de toneladas de

pesticidas, 40% das plantações em todo o mundo ainda são perdidas devido ao ataque de

patógenos, ervas daninhas, insetos e outras pragas agrícolas, antes e após as colheitas

(OERKE et al., 1994; PIMENTEL, 2009). Estes dados se tornam ainda mais preocupantes

quando analisamos as projeções para o crescimento populacional da humanidade, com um

ritmo anual de 80 milhões por ano e uma estimativa de até 7,7 bilhões de pessoas até o ano de

2020. Esses dados, aliados a fatores como a crescente substituição da alimentação

convencional de gados por grãos e crescentes mudanças climáticas no mundo tornam

imprescindíveis a disponibilidade de solos férteis, o desenvolvimento de variedades vegetais

com alto rendimento e a proteção dessas colheitas quanto às pragas e patógenos para que,

assim, a disponibilidade e qualidade dos alimentos vegetais acompanhem a crescente

demanda mundial (OERKE; DEHNE, 2004, SUTHERST et al., 2011).

De acordo com Oerke et al. (1994), as maiores perdas nas colheitas são devidas ao

ataque de artrópodes e os métodos convencionais disponíveis para conter a predação dos

insetos consistem da utilização de compostos químicos extremamente agressivos ao meio-

ambiente e cuja estimativa em reduzir as perdas aproxima-se de apenas 7%. Outra

problemática é a resistência que esses herbívoros podem desenvolver aos inseticidas

utilizados, tornando urgente a busca e o desenvolvimento de alternativas ao uso desses

pesticidas (OERKE, 2006).

Aliados a esses problemas da humanidade estão também os mosquitos, que são os

principais vetores de diversas doenças como, por exemplo, dengue, febre amarela, filariose,

encefalite japonesa e outras doenças (VENKATACHALAM; JABANESAN, 2001). Dentre

essas, a dengue, considerada a principal doença reemergente da atualidade, atinge até 50

21

milhões de pessoas em todo o mundo e pelo menos 2,5 bilhões residem em áreas onde a

doença é endêmica (TAUIL, 2002; WHO, 2009). O mosquito Aedes (Stegomyia) aegypti é

considerado o principal vetor dos quatro sorotipos do vírus que têm causado a forma benigna

e hemorrágica da doença.

Devido à falta de uma vacina eficaz contra o vírus, o controle da dengue se dá

tentando impedir a proliferação de seu vetor através do controle químico e biológico, pela

erradicação dos depósitos de reprodução dos mosquitos, aplicação de larvicidas em hábitat

larvais e pela educação da população (GUBLER, 1989). Entretanto, o uso maciço de

pesticidas de natureza orgânica ou inorgânica como organoclorados, organofosforados,

carbamatos e piretróides tem acarretado problemas como o desenvolvimento de resistências

e toxicidade ao meio ambiente. A racionalização do emprego de inseticidas, sua utilização

rotativa e o uso integrado com medidas de controle físico e biológico, poderiam diminuir os

riscos de aparecimento ou agravamento de resistência em populações de vetores (BRAGA;

VALLE, 2007ab; BROWN, 1986). Nesse sentido, a busca por novas alternativas como

inseticidas naturais, especialmente de origem vegetal, com especificidade mais elevada

contra o alvo, maior biodegradabilidade e segurança ao meio ambiente tem sido estimulada

(CHAIYASIT et al., 2006).

As inúmeras estratégias de plantas para evitar a predação podem ser classificadas

em diretas, quando causam efeitos negativos imediatos aos herbívoros, ou indiretas, ao atrair

os predadores dos seus predadores através de sofisticadas estratégias químicas a fim de que

esses atuem como agentes defensores indiretos dessas plantas. A defesa direta é ainda muito

diversa, podendo a planta evitar a predação através de barreiras físicas como tricomas,

espinhos, ceras etc. ou através da síntese de moléculas como proteínas e compostos

secundários tóxicos aos herbívoros (ARIMURA et al., 2005).

Segundo descrito por Carlini e Grossi-de-Sá (2002), as plantas expressam,

especialmente em sementes, uma grande diversidade de proteínas com papel defensivo, como

arcelinas, inibidores de peptidases, lectinas, RIP’s (do inglês, Ribosome-inactivating

proteins), quitinases etc., as quais apresentam um amplo espectro entomotóxico para

diferentes ordens de insetos. Nesse sentido, as técnicas de DNA recombinante para a

construção de plantas transgênicas expressando essas proteínas vegetais conferindo resistência

22

a insetos surgiram como uma alternativa promissora e eficaz para o controle de pragas

agrícolas (CARLINI; GROSSI-DE-SÁ, 2002; SMITH; CLEMENT, 2012). Essas mesmas

tecnologias ainda possibilitam a expressão heteróloga em larga escala de proteínas vegetais

tóxicas a Aedes aegypti, oferecendo, assim, uma promissora alternativa para o controle

tradicional do mosquito.

23

1.2 Insetos como pragas da agricultura

Agricultores têm lidado com insetos-praga e patógenos prejudiciais às plantações

desde os primórdios da agricultura, há cerca de 10.000 anos. Registros arqueológicos egípcios

datados de aproximadamente 3.800 a.C. comprovam a antiga relação existente entre alimentos

estocados para alimentação humana e pragas agrícolas (BOROJEVIC et al., 2010). No

entanto, a relação entre vegetais e suas respectivas pragas e patógenos é muito mais antiga,

tendo sido acompanhada pela intrínseca co-evolução desses organismos (ARIMURA et al.,

2005).

Dentre as principais pragas de importância agrícola da atualidade, os insetos e

ácaros fitófagos destacam-se como responsáveis por aproximadamente 13,6% das perdas

mundiais de colheitas de trigo, algodão, milho, batatas, arroz, soja e cevada (BENEDICT,

2003). Só a America do sul é responsável pelo consumo de 43% dos micoinseticidas e

micoacaricidas aplicados na agricultura mundial para controle dessas pragas (LI et al., 2010).

Ficando atrás apenas da produção de cana de açúcar, a cultura de soja (Glycine

max L.) responde pela segunda maior produção agrícola brasileira. Produzindo quase 75

milhões de toneladas de grãos apenas no ano de 2011 (Tabela 1), o Brasil é o segundo maior

produtor de soja do mundo (FAO, 2012; IBGE, 2012). No entanto, a cada 10 sacos de grãos

de soja produzidos ocorrem perdas de em média 1,3 sacos antes e após a colheita. Grande

parte desse desperdício ocorre devido ao ataque de patógenos, insetos praga, transporte

inadequado, armazenamento ineficiente etc., causando prejuízos de aproximadamente R$

1.000.000,00 por ano (BELINE et al., 2009). A cultura de soja pode ser atacada por uma

variedade de artrópodes desde a germinação à colheita, sendo o inseto Anticarsia gemnatalis

Hubner (Figura 1) considerada a principal praga. Esse inseto da ordem Lepidoptera é nativo

de áreas tropicais e subtropicais do Ocidente, e sua primeira ocorrência registrada foi na

Flórida (EUA) em 1903. No Brasil, conhecida como a ‘‘lagarta da soja’’, ataca folhas de G.

max, podendo gerar desfolhamentos de até 100%. Cada fêmea adulta, de coloração cinza,

marrom ou bege, é capaz de depositar até mil ovos nas plantas, os quais eclodem após três

dias de incubação. As larvas se desenvolvem por 12-15 dias, consumindo entre 100-150 cm2

24

de área foliar cada uma, sendo as larvas de 4-6° ínstar as mais vorazes (HINDS, 1931;

HOFFMANN-CAMPO et al,, 2000).

O Brasil é o terceiro maior produtor de milho (Zea mays) do mundo, tornando este

um dos produtos agrícolas com maior produção anual do país (Tabela 1). Apenas em 2011

foram produzidas aproximadamente 56 milhões de toneladas de grãos de milho, havendo uma

expectativa de mais 66 milhões de toneladas a serem gerados no ano de 2012 (FAO, 2012;

IBGE, 2012). Uma das principais pragas do milho nas Américas, particularmente na América

do Sul, é o inseto Spodoptera frugiperda (J. E. Smith), Figura 2. Esse artrópode pertencente à

ordem Lepidoptera ocorre em grande parte do continente Americano, da Argentina aos EUA,

causando sérios danos às plantações de milho e outras espécies vegetais da família Poacea em

vários países Latino-Americanos. O inseto é facilmente encontrado em plantações de Z. mays

durante o período larval, sendo então capaz de reduzir em até 57% a produção do vegetal.

Conhecido no Brasil como ‘‘lagarta militar’’, é ainda um importante predador do algodão e da

soja no cerrado Brasileiro, predação essa relacionada com o estágio de desenvolvimento da

planta e sobrevivência do inseto às altas temperaturas do bioma (BARROS et al., 2010;

VILARINHO et al., 2011) .

Com uma perda anual de aproximadamente 30% das colheitas em todo o mundo

devido ao ataque de pestes e patógenos, o algodão (Gossypium spp) é o mais importante

produto agrícola fibroso, sendo de fundamental importância para a indústria têxtil. De acordo

com OERKE (2006), as plantações de algodão são comumente confrontadas por insetos das

ordens Homoptera, Lepdoptera, Coleoptera e Trysanoptera, e ainda por ervas daninhas. A

produção anual de mais de três milhões de toneladas posiciona o Brasil como o quinto maior

produtor de sementes de algodão no mundo, sendo dessa forma o algodão mais um produto

agrícola de grande importância no país (FAO; IBGE, 2012).

O inseto Coleóptero Anthonomus grandis Boheman (Figura 3), conhecido como

“Bicudo do algodoeiro”, é a maior praga do algodão nas Américas, embora haja pouca

informação sobre o aparecimento e dispersão do inseto na America do Sul. Só nos EUA o

inseto já causou prejuízos de cerca de 17 bilhões de dólares, referentes a custos despendidos

para o seu controle e aos danos causados nas plantações de algodão desde a introdução do

inseto no país, em 1892. Apesar de excelentes programas de controle de A. grandis no EUA

terem obtido até 94% de erradicação nas plantações de algodão, é necessária vigilância

25

constante devido à enorme capacidade de reinfestação desse Coleóptero. No Brasil os

programas de controle que fazem uso de pesticidas químicos não têm sido uma abordagem

efetiva para a erradicação do “bicudo do algodoeiro”. Uma alternativa que tem sido

estimulada é o uso de algodão transgênico resistente a A. grandis (GUZMAN et al., 2007;

OLIVEIRA et al., 2011; WESTBROOK; EYSTER; ALLEN, 2011).

26

Tabela 1 – Produção agrícola brasileira de algodão, milho e soja. Os valores de produção são expressos em

toneladas (t)

Produtos agrícolas Produção (t) Colocação do Brasil na produção

mundial Obtida em 2011 Prevista para 2012

Algodão (Caroço) 3 083 775 3 129 960 5°

Milho (em grãos) 56 271 772 66 014 465 3°

Soja (em grãos) 74 941 773 66 597 687 2°

Total 160 091 013 158 601 837 -

Fonte: Adaptado de IBGE (2012)

27

Figura 1 – Anticarsia Gemmatalis, considerada a pincipal praga da soja (Glycine max). Estágio Larval em

(A) e adulto em (B)

Fonte: DOWAGRO (2012)

Fonte: WIKIPEDIA (2012a)

A

B

28

Figura 2 – Spodoptera frugiperda, uma das principais pragas do milho (Zea mays). Fase larval em (A) e

inseto adulto em (B)

Fonte: WIKI.BUGWOOD (2012a)

Fonte: WIKIMEDIA (2012)

A

B

29

Figura 3 – Anthonomus grandis, inseto-praga do algodão (Gossypium sp.). Fase larval em (A) e inseto adulto

em (B)

Fonte: FORESTRYIMAGES (2012)

Fonte: IPMIMAGES (2012)

A

B

30

1.3 Insetos como vetores de doenças humanas e animais

Dentre os metazoários, os artrópodes são os que obtiveram maior sucesso

evolutivo e ecológico, perfazendo o maior filo de animais existentes. Só os insetos totalizam

mais de um milhão de espécies e dentre esses cerca de 14 000 desenvolveram o hábito da

hematofagia, ou seja, obtenção de nutrientes através do repasto sanguíneo em outros animais

(RIBEIRO, 1995). Durante um repasto sanguíneo em mamíferos pode se iniciar uma relação

parasita-hospedeiro intermediário entre o inseto e diferentes tipos de patógenos, como vírus e

protozoários, os quais passam parte do seu ciclo de vida no intestino dos insetos. Os insetos

hematófagos podem ainda atuar como vetores de doenças ao transmitir, através da

hematofagia, os parasitas para a corrente sanguínea de hospedeiros definitivos como humanos

e outros animais, causando enfermidades nesses (GOODING, 1966).

O mosquito Aedes aegypti é o maior vetor urbano da dengue em todo o mundo.

Nos últimos 25 anos houve um aumento na distribuição do inseto e na atividade epidêmica do

vírus (MACKENZIE et al., 2004). No Brasil, apesar dos programas de vigilância e controle, o

país tem registrado números alarmantes de casos de dengue nos últimos 21 anos. Segundo

informes epidemiológicos do Ministério da Saúde (SINAN, 2012ab), apenas em 2010 foram

registrados mais de um milhão de casos de dengue clássica, o maior número já registrado no

País. Em 2011 foram registrados 764.032 casos, uma diminuição de quase 25%, com maior

incidência nas regiões Norte, Nordeste e Sudeste. Em relação à dengue hemorrágica ou febre

hemorrágica da dengue (DFH), uma forma mais severa e mortal da doença, foram registrados

3700 casos em 2010 e 2801 casos em 2011, com maior prevalência nas regiões Sudeste (1338

casos) e Nordeste (1056 casos) do país.

Recentemente, um estudo detalhado sobre a filogenia do gênero Aedes e de outros

45 taxa, resultou na reclassificação taxonômica desses mosquitos. Uma das mais importantes

alterações foi no subgênero Stegomyia, que foi elevado ao status de gênero. Desta forma, o

então Aedes aegypti tornou-se Stegomyia aegypti, que pode ser abreviado como St. aegypti, e

o Aedes albopictus tornou-se Stegomyia albopicta. Neste último caso, o nome masculino foi

passado para a forma feminina para concordar com o nome do gênero Stegomyia (REINERT;

HARBACH; KITCHING, 2004).

31

Os mosquitos se desenvolvem através de metamorfose completa, e o ciclo de vida

compreende quatro estágios: ovo, larva, pupa e adulto, das quais as três primeiras fases são

aquáticas, e a que corresponde ao mosquito adulto ocorre na terra. Os ovos são depositados

pela fêmea, após repasto sanguíneo, em superfícies úmidas logo acima da linha da água,

havendo preferência por locais artificiais, geralmente ao redor de casas, como jarros de flores,

pneus, garrafas, cisternas e quaisquer outros recipientes capazes de armazenar água limpa

(WHO, 1999). As larvas são providas de grande mobilidade e não selecionam alimentos, o

que facilita a ação de larvicidas por via oral (CONSOLI e OLIVEIRA, 1994). As larvas

passam por quatro estádios (L1, L2, L3 e L4). A duração do desenvolvimento larval depende

da temperatura, da disponibilidade de nutrientes e da densidade de larvas. Sob condições

ótimas, o tempo necessário para atingir a fase adulta pode ser somente de 7 dias, incluindo os

dois dias da fase de pupa. Os machos e a fêmeas adultos alimentam-se de carboidratos

extraídos de vegetais, sendo que as fêmeas se alimentam mais frequentemente de sangue de

animais vertebrados, mostrando, no entanto, marcada predileção pelo homem. Tão logo se

tornem adultos, acasalam-se, e as fêmeas alimentam-se de sangue nas 36 h seguintes, devido

ao fato de que o sangue contém proteínas necessárias à maturação dos ovos. O mosquito

adulto prefere ficar dentro de casa, alimentando-se mais durante o dia (WHO, 1999). Em

média, cada Ae. aegypti vive em torno de 30 dias e a fêmea chega a colocar entre 150 e 200

ovos de cada vez, sendo capaz de realizar inúmeras posturas no decorrer de sua vida mesmo

copulando com o macho uma única vez, já que armazena os espermatozoides em suas

espermatecas (reservatórios presentes dentro do aparelho reprodutor) (CONSOLI;

OLIVEIRA, 1994).

Atualmente, a prospecção por alternativas aos inseticidas sintéticos tem se

concentrado em fontes vegetais, especialmente oriundas do metabolismo secundário de

angiospermas (CARVALHO et al., 2003; FARIAS et al., 2009; SHAALAN et al, 2005;

SOUZA et al., 2012). No tocante aos inseticidas vegetais de natureza proteica, muitos estudos

tem demonstrado o efeito de lectinas vegetais no desenvolvimento e mortalidade de larvas de

Ae. aegypti (COELHO et al., 2009; SÁ et al., 2009; NAPOLEÃO et al., 2012) e ainda, De

Arruda et al.(2010) avaliaram o efeito do inibidor de tripsina purificado de sementes de soja

(SBTI) sobre a mortalidade das larvas do mosquito (LC50 = 32,65 mg.L-1

). Nesse sentido, há

32

ainda uma carência de estudos que avaliem o potencial de inibidores de peptidases para o

controle do vetor da dengue.

33

Figura 4 – Aedes aegypti, vetor da dengue. Fase larval (A) e fêmea adulta (B)

Fonte: BLOGSPOT (2012)

Fonte: WIKIMEDIA (2012b)

A

B

34

Figura 5 – Ciclo de vida do culicídeo vetor da dengue, Aedes aegypti

Fonte: França (2000)

35

1.4 Inibidores de peptidases

Um dos eventos mais frequentes e importantes em enzimologia é a clivagem de

ligações peptídicas de proteínas, evento esse desempenhada por enzimas proteolíticas,

também conhecidas como peptidases ou proteases. Uma vez que os primeiros estudos com

peptidases focavam no processo digestivo humano e animal, acreditava-se que esse era o seu

único papel fisiológico. No entanto, hoje sabemos que são ubíquas e estão envolvidas em um

grande repertório de processos fisiológicos-chave, como eventos hormonais, cascata da

coagulação sanguínea, respostas imunes, progressão do ciclo celular, morte celular,

homeostase, replicação do DNA etc. (NEURATH, 1989, TURK, 2006).

As peptidases estão divididas em dois grandes grupos: exopeptidases (quando

atuam hidrolisando ligações peptídicas nas extremidades N-terminal ou C-terminal da cadeia

proteica) e endopeptidases (quando hidrolisam ligações peptídicas dentro da proteína). Devido

à alta diversidade estrutural e bioquímica, as endopeptidases são categorizadas em diferentes

grupos (Tabela 1), classificação essa atualmente baseada em seus mecanismos de ação,

estruturas tridimensionais e resíduos de aminoácidos do sítio ativo envolvido na ligação ao

substrato e na catálise (NEURATH, 1989; SALAS et al., 2008; STOREY; WAGNER, 1986).

Inibidores de peptidases (IP’s) são proteínas, geralmente de baixa massa

molecular, que formam complexos estequiométricos inativos com peptidases, inibindo e

regulando assim a atividade catalítica dessas proteínas (VALUEVA; MOSOLOV, 1999).

Bem como as peptidases, os inibidores de natureza proteica são ubíquos, ocorrendo em

plantas, animais e micro-organismos (RYAN, 1990). Em plantas, são encontrados em todos

os tecidos vegetais, principalmente em tecidos de reserva como tubérculos e sementes de

monocotiledôneas e dicotiledôneas, onde perfazem entre 5-10% das proteínas solúveis em

água desses tecidos (VALUEVA; MOSOLOV, 1999). Sua função tem sido atribuída à

regulação de atividade proteolítica endógena, estocagem de proteínas e, mais comumente,

defesa contra insetos e outras pragas (CHAUDHARY et al., 2008).

Os IP’s envolvidos com a defesa vegetal podem ser expressos de forma

constitutiva ou induzível. Os inibidores de defesa constitutiva são sempre expressos pela

planta independentemente da predação por herbívoros. Em contrapartida, um IP é considerado

36

como induzível quando sua expressão ocorre apenas após o ataque da praga. Se o inibidor é

expresso apenas no tecido atacado, a defesa é dita local. Por outro lado, quando é expressa em

outros tecidos vegetais além do atacado pela peste, a defesa é sistêmica (CHEN, 2008;

PADUL; TAK; KACHOLE, 2012). A defesa constitutiva não é muito vantajosa para o

vegetal, pois há um grande gasto energético para manutenção da concentração de IP’s. A

defesa induzida é mais eficiente também devido à menor probabilidade de insetos-praga

desenvolverem resistência aos inibidores (PADUL; TAK; KACHOLE, 2012).

A estrutura terciária nativa da peptidase e do inibidor e a termodinâmica das

interações envolvidas determinam a especificidade do inibidor (MACEDO; XAVIER-FILHO,

1992). Essa especificidade levou à categorização dos IP’s de acordo com a classe mecanística

de enzimas que inibem, de forma que quatro classes de inibidores de proteinases foram

estabelecidas: inibidores de proteinases serínicas, cisteínicas, aspárticas e de metalo-

proteinases, sendo os inibidores de proteinases serínicas e os de peptidases cisteínicas os mais

estudados (RYAN, 1990; RICHARDSON, 1991; SALAS et al., 2008 ). Alguns inibidores são

capazes de inibir mais de uma enzima, sendo assim chamados de ‘‘inibidores bifuncionais’’

(OLIVEIRA et al, 2007ab).

Os inibidores de peptidases serínicas são categorizados de acordo com as

propriedades estruturais (sequência aminoacídica, massa molecular, conteúdo de cisteínas e

pontes dissulfeto) em sete famílias de inibidores: Kunitz, Bowman-Birk, Batata, Ragi I-2/

milho, Mostarda, Cereal e Taumatina (OLIVA, 2000; RICHARDSON, 1991). Dentre esses,

os inibidores do tipo Bowman-Birk e do tipo Kunitz são os mais amplamente estudados. Vale

também ressaltar que de várias espécies vegetais foi purificado mais de um inibidor, muitas

vezes pertencentes a diferentes famílias de inibidores; Dois exemplos a destacar são a soja

(Glycine max), de cujas sementes foram purificados inibidores do tipo Bowman-Birk e Kunitz

(KUNITZ, 1946; KUNITZ, 1947; OLIVA; SAMPAIO, 2009) e Momordica charantia, com

pelo menos dez IP’s de quatro diferentes categorias de inibidores isolados de suas sementes

(TSOI et al., 2004).

Os inibidores de peptidases de origem vegetal têm apresentado atividades

biológicas de importância fisiopatológica e agronômica como, por exemplo, efeito inseticida

(DUNSE et al., 2010; LAWRENCE; KOUNDAL, 2002), antimicrobiano (KIM et al., 2005),

antiproliferativo (CACCIALUPI; CECI, 2010; CLEMENTE et al., 2005), quimiopreventivo

37

(DE FLORA; FERGUSON, 2005; MCCORMICK et al., 2007), antiviral (LIN; NG, 2008),

inflamatório (MELLO et al., 2009), anti-inflamatório (RIBEIRO et al., 2010)

etc.comprovando, dessa forma, a flexibilidade o e potencial biotecnológico dessas moléculas.

No que concerne à atividade tóxica contra insetos, há relatos de avaliação do

efeito de inibidores de peptidases em insetos de diferentes ordens (CARLINI; GROSSI DE

SÁ, 2002) e estágios de vida, tanto in vitro (MACEDO et al., 2010; OLIVEIRA et al., 2007a

) quanto in vivo (BROADWAY; DUFFEY, 1986; MACEDO et al., 2003). Além disso,

alguns genes codificando inibidores de peptidases foram inseridos em plantas transgênicas,

conferindo nesses vegetais a resistência contra importantes insetos-praga (DUNSE et al.,

2010). Tamanho efeito é decorrente da inibição da atividade hidrolítica das várias proteinases

digestivas encontradas no intestino médio desses insetos para a digestão de proteínas vitais

para a sua sobrevivência e desenvolvimento (TERRA, 1999; TERRA; FERREIRA, 1994).

1.4.1 Inibidores de peptidase do tipo Batata I

A superfamília de IP’s do tipo Batata reúne dois grupos, a família de inibidores do

tipo Batata I e a família de Inibidores do tipo Batata II. De acordo com Dunse et al. (2010),

ambos as tipos de inibidores são produzidos por plantas da família botânica Solanaceae como

um mecanismo de defesa contra insetos e microorganismos. No entanto, enquanto os

inibidores do tipo Batata II são restritos a espécies dessa família botânica, os inibidores do

tipo Batata I são difundidos entre eucariotos como plantas e animais (HABIB; FAZILI, 2007).

Também chamados de família de inibidores de proteinases do tipo I, os membros

da família Batata I são proteínas geralmente monoméricas de aproximadamente 8 kDa,

frequentemente sem pontes dissulfeto (HABIB; FAZILI, 2007). Esses inibidores podem ser

expressos de forma contitutiva ou induzível, possuindo variação na especificidade para

diferentes peptidases, incluindo tripsina, quimotripsina, elastase, catepsina B e subtilisina,

nesse último caso sugerindo envolvimento desses inibidores em defesa contra

microoganismos. Outra característica comum no grupo é a aparente falta de hipervariabilidade

na região do sítio reativo (CAI et al., 1995; BEUNING; SPRIGGS; CHRISTELLER, 1994).

38

Tabela 2 – Classificação de peptidases de acordo com diversidade estrutural e bioquímica

Famílias Faixa de pH ótimo Resíduos do sítio

ativo

Enzimas Principais sítios de ação Observação

Resíduos P1 Resíduos P1’ -

Serínicas 7,0-9,0 Asp, Ser, His Elastase Não carregados e não

aromáticos. Especialmente

Ala, Ser e Gly

Não específico -

Quimotripsina Trp, Tyr e Phe Não específico -

Subtilisina Aminoácidos ácidos e

neutros

Não específico -

Tripsina Arg, lys Não específico -

Cisteínicas 4,0-7,0 Cys, Asp, His Papaína Pouco específico,

preferencialmente

aromáticos e hidrofóbicos, em especial Arg, Lys

Não específico -

Bromelaína Lys, Ala, Tyr Não específico -

Aspárticas <5,0 Asp Pepsina Clivam preferencialmente

resíduos aromáticos e outros hidrofóbicos, em especial

Phe e Leu

Não específico P1 e P1’ não

podem ser Ala, Val, Gly Catepsina D

Metalo-proteases 7,0-9,0 Zn, Glu, His Termolisina Não específico Leu, Phe, Ile, Val,

Met, Ala

-

Fonte: Adaptado de BEYNON; BOND, 1989; VARELA, 2010.

39

1.5 Sapindus saponaria L.

Sapindus saponaria L.(Figura 6), conhecida popularmente como sabonete ou

sabão de macaco, é uma árvore de porte regular com madeira branco-amarelada, folhas

pinadas e flores amareladas ou brancas em cachos terminais. O fruto é uma cápsula

transparente e globosa de cor amarelada, contendo uma semente negra e globoide (MATOS,

1997). Nativa da região amazônica, essa espécie da família botânica Sapindaceae é

amplamente distribuída no Norte, Nordeste e Centro-Oeste Brasileiro. É uma planta perene,

florescendo no fim do verão (KISSMAN; GROTH, 2000).

A espécie é reconhecidamente tóxica, devido à presença de saponinas em toda a

planta, sobretudo nas sementes, aonde a concentração desse grupo de metabólitos secundários

atinge níveis de até 30% (KISSMAN; GROTH, 2000). Ainda devido à ocorrência desses

metabólitos, as sementes são utilizadas por populações carentes como sabão para lavagem de

roupas e utensílios domésticos (ALBIERO; BACCHI; MOURÃO, 2001).

Apesar da reconhecida toxicidade, S. saponaria possui diversos usos

etnobotânicos, o tegumento do caule, folhas, raiz e frutos dessa espécie vegetal são

administrados em forma de infusão para o tratamento de leucorreia, uretrites, anemias, úlceras

etc. (BALBACH, 1926; MATOS, 1997). Devido o alto teor de compostos secundários como

triterpenóides e saponinas, pesquisas de interesse cosmético e farmacológico têm sido

realizadas com espécies do gênero Sapindus (ALBIERO; BACCHI; MOURÃO, 2001).

Estudos realizados por Dos Santos et al. (2008) avaliaram o efeito de extratos

aquosos de sementes de S. saponaria sobre a sobrevivência e desenvolvimento do inseto

Spodoptera frugiperda. As larvas alimentadas com folhas de milho contendo o extrato aquoso

de S. saponaria na concentração de 1%, tiveram um decréscimo significativo no peso (70%) e

uma alta mortalidade (63,3%) em comparação com o grupo controle (alimentados com folhas

de milhos sem o extrato aquoso de S. saponaria). Os autores mostraram ainda a provável

relação entre a atividade tóxica e a presença de inibidores de peptidases nas sementes de S.

saponaria.

40

Macedo et al. (2011) purificaram e caracterizaram um inibidor de tripsina das

sementes de S. saponaria. Com uma massa molecular de 18 kDa, o primeiro inibidor de

tripsina de sementes de S. saponaria, nomeado de SSTI, pertence à família de inibidores do

tipo Kunitz e é composto por duas cadeias polipetídicas ( 15 e 3 kDa) ligadas por uma a duas

pontes dissulfeto. O SSTI apresenta um baixa constante de inibição (2,4 x 10-9

mol.L-1

), sendo

assim, altamente eficaz em inibir a atividade proteolítica da tripsina, apresentando, no entanto,

atividade inibitória pouco representativa contra outras enzimas (quimotripsina, elastase

pancreática, plasmina, trombina humana etc) e mostrando também elevada inibição contras

as enzimas digestivas de Anagasta kuehniella, Anticarsia gemmatalis, Corcyra cephalonica e

Diatrea saccharalis.

De posse do grande potencial inseticida das sementes de S. saponaria, do elevado

teor de inibidores de peptidases e da capacidade de algumas sementes em expressar mais de

um inibidor de peptidese, é válido investigar a presença de outros inibidores inseticidas em

sementes de S. saponaria.

41

Figura 6 – Sapindus saponaria L., planta-alvo do estudo. Frutos em (A) e exemplar de uma planta adulta em

(B)

Fonte: DISCOVERLIFE (2012)

Fonte: WIKIMEDIA (2012c)

A

B

42

2. OBJETIVOS

2.1 Objetivo geral

Este trabalho teve como objetivo avaliar o efeito biológico de um novo inibidor de

tripsina purificado das sementes de Sapindus saponaria L. sobre as enzimas digestivas de

insetos pragas e insetos vetores de doenças.

2.2 Objetivos específicos

Purificar um inibidor de tripsina de sementes de S. saponaria;

Caracterizar o inibidor purificado quanto à massa molecular acurada, estrutura

primária, especificidade enzimática e concentração inibitória média (CI50);

Determinar a família do inibidor purificado através de ferramentas de bioinformática;

Avaliar o efeito in vitro do inibidor sobre enzimas do mosquito vetor da dengue

(Aedes aegypti) e de insetos pragas da agricultura brasileira (Anthonomus grandis,

Anticarsia gemmatalis e Spodoptera frugiperda).

43

3. MATERIAL

3.1 Material biológico

3.1.1 Sementes de Sapindus saponaria

Os frutos de S. saponaria foram coletados no município de Tamboril, no interior

do Ceará, localizado a 284 km de Fortaleza. Um ramo terminal com folhas e frutos foi

coletado, prensado e desidratado para posterior incorporação e identificação no Herbário

Prisco Bezerra (EAC), Universidade Federal do Ceará, sob a identificação EAC 38-601.

3.1.2 Insetos

Larvas de Aedes aegypti, foram coletadas no insetário de culicídeos do

Laboratório de Bioprospecção de Recursos Regionais (Bioprospec), do Departamento de

Biologia da UFC. Larvas de Anthonomus grandis, Anticarsia gemmatalis, e Spodoptera

frugiperda foram gentilmente cedidas pelo setor de Controle Biológico da Embrapa Recursos

Genéticos e Biotecnologia (Brasília, DF).

3.2 Reagentes químicos

3.2.1. Proteínas

Albumina sérica bovina (BSA), tripsina, quimotripsina, papaína e bromelaína

foram adquiridas da Sigma-Aldrich Co. (St. Louis, EEUU). Marcadores de massa molecular

foram obtidos da Invitrogen (USA) e misturas de peptídeos foram adquiradas da Bruker

Daltonics (Billerica, EUA).

44

3.2.2. Substratos Enzimáticos

Os substrato sintético BApNA (Nα-benzoil-DL-arginina-p-nitroanilida) e o

substrato proteico azocaseína foram adquiridos da Sigma-Aldrich Co. (St. Louis, EEUU).

3.2.3. Outros reagentes

Pepsina e tripsina imobilizadas em agarose foram obtidas da PIERCE (Rockford,

EUA), Matriz cromatográfica Sepharose 4B foi adquirida da Sigma-Aldrich Co. (St. Louis,

EEUU).

45

4. MÉTODOS

4.1 Processamento de sementes de Sapindus saponaria

Após a coleta, o exocarpo e o endocarpo dos frutos de S. saponaria foram

excisados e a semente foi recolhida para posterior processamento em moinho de café e

peneiramento em malha de 1 mm². Em seguida, devido ao alto percentual de lipídeos (25%), a

farinha homogênea foi delipidada com n-hexano na proporção 1:3 (p/v), sendo realizado um

número total de 4 trocas. A farinha delipidada foi então armazenada em recipiente plástico à

temperatura ambiente até a preparação dos extratos.

4.2 Quantificação de proteínas

O teor de proteínas solúveis foi determinado pela metodologia de Bradford (1976)

usando-se albumina sérica bovina (BSA) como proteína padrão. Durante as etapas

cromatográficas, leituras de absorbância a 216 e 280 nm foram empregadas no monitoramento

das frações proteicas.

4.3 Ensaio de determinação da atividade inibitória de peptidase serínicas

Para avaliar a capacidade das amostras em inibir a atividade proteolítica das

enzimas tripsina e quimotripsina, foi utilizada a metodologia descrita por Charney e Tomarelli

(1947). Nessa metodologia, que faz uso do substrato inespecífico azocaseína, pode ser

avaliada a capacidade de inibidores em interferir na atividade proteolítica de determinada

enzima, a depender da enzima utilizada no ensaio. Dessa forma, 5 µL de uma solução de

tripsina (0,3 µg/µL em HCl 1 mmol.L-1

) ou de quimotripsina bovina (0,3 µg/µL em HCl 1

46

mmol.L-1

) foram pré-incubados por 15 min a 37 °C com 220 µL de tampão Tris-HCl 50

mmol.L-1

com CaCl2 20 mmol.L-1

, pH 7,5 e 25 µL da solução teste. Após esse período, a

reação foi iniciada adicionando-se 100 µL de uma solução de azocaseína a 1% (p/v) em

tampão Tris-HCl 50 mmol.L-1

, pH 7,5. Decorridos 30 min, a reação foi interrompida

adicionando-se 150 µL de uma solução de TCA a 20%. A mistura de reação foi centrifugada a

10.000 x g, por 10 min e o sobrenadante alcalinizado com hidróxido de sódio 2 mol.L-1

na

proporção 1:2 (v/v), a fim de intensificar a cor do produto da clivagem da azocaseína pela

enzima. A leitura das absorbâncias foi realizada a 440 nm em espectrofotômetro 700 Plus

(Femto, São Paulo, Brasil). Provas em branco foram realizadas em duplicata e os testes em

triplicata. Os resultados foram expressos em Percentual de Inibição (%) e Unidade de Inibição

(UI), definida como o decréscimo em 0,01 da absorbância a 440 nm.

4.4. Ensaio de determinação da atividade inibitória de peptidase cisteínicas

Para a determinação da atividade do inibidor purificado sobre a catalítise proteica

promovida por bromelaína e papaína, a metodologia descrita por Charney e Tomarelli (1947),

com algumas modificações, foi utilizada:

No caso do ensaio de determinação da inibição da bromelaína, 10 µL de uma

solução da enzima (1 µg/µL em HCl 1 mmol.L-1

) foram pré-incubados por 20 min a 45 °C

com 399,06 µL de tampão acetato de sódio 50 mmol.L-1

, pH 6,0, 40 µL de solução ativadora

(DTT 3 mmol.L-1

e EDTA 2 mmol.L-1

) e 0,94 µL (1 µg/µL) do inibidor purificado. No ensaio

de determinação da atividade inibitória da papaína, 40 µL de solução da enzima (0,2 µg/µL

em HCl 1 mmol.L-1

) foram pré-incubados por 10 min a 37 °C com 369,06 µL de tampão

acetato de sódio 50 mmol.L-1

, pH 6,0, 40 µL de solução ativadora (DTT 3 mmol.L-1

e EDTA

mmol.L-1

) e 0,94 µL (1 µg/µL) do inibidor purificado. Em ambos os casos, após o período de

incubação, a reação foi iniciada adicionando-se 200 µL de azocaseína a 1% (p/v) em tampão

acetato de sódio 50 mmol.L-1

, pH 6,0. Decorridos 40 min, a reação foi interrompida

adicionando-se 150 µL de uma solução de TCA 20%. A mistura de reação foi centrifugada a

10.000 x g, por 10 min e o sobrenadante alcalinizado com hidróxido de sódio 2 mmol.L-1

na

proporção 1:2 (v/v), a fim de intensificar a cor do produto da clivagem da azocaseína pela

47

enzima. A leitura das absorbâncias foi realizada a 440 nm em espectrofotômetro 700 Plus

(Femto, São Paulo, Brasil). Provas em branco foram realizadas em duplicata e os testes em

triplicata. Os resultados foram expressos em Percentual de Inibição (%) e Unidade de Inibição

(UI), definida como o decréscimo em 0,01 da absorbância a 440 nm.

4.5 Ensaio de determinação da atividade inibitória de tripsina

Para determinação da atividade inibitória da tripsina, foi empregado o ensaio

proposto por ERLANGER, KOLOWSKY e COHEN (1961). Nesse ensaio, o substrato

sintético BApNA (N-α-benzoil-DL-arginina-p-nitroanilida) é utilizado por ser específico para

clivagem por tripsina. Assim, 5 µL de uma solução de tripsina (0,3 µg/µL em HCl 1 mmol.L-

1) foram pré-incubados com 345 µL de tampão Tris-HCl 50 mmol.L

-1com CaCl2 20 mmol.L

-1,

pH 7,5 e com 50 µL da solução teste. Decorridos 10 min, foram adicionados 250 µL de uma

solução de BApNA 1,25 mmol.L-1

e então deixado sob incubação por 15 min. A reação

enzimática foi interrompida com a adição de 60 µL de ácido acético a 30% e a leitura da

absorbância das amostras realizada em leitor de microplacas Spectramax 190 (Molecular

Devices, Sunnyvale, EUA) utilizando o comprimento de onda de 410 nm. Provas em branco

foram realizadas em duplicata e os testes em triplicata. Os resultados foram expressos em

Percentual de Inibição (%) e Unidade de Inibição (UI), definida como o decréscimo em 0,01

da absorbância a 440 nm.

4.6 Purificação do inibidor de tripsina das sementes de Sapindus saponaria (SsTI2)

4.6.1 Preparo do extrato proteico bruto (EB) de sementes S. saponaria

A farinha delipidada de sementes de S. saponaria foi dissolvida em tampão Tris-

HCl 50 mmol.L-1

pH 7.5, na proporção 1:10 (p/v), sendo a suspensão deixada sob agitação à

48

temperatura ambiente por 3 horas, filtrado em malha de nylon, seguida de centrifugação- a

10.000 x g, durante 30 min a 4 °C. O precipitado foi descartado e o sobrenadante, utilizado

para os passos posteriores de purificação, foi denominado de Extrato proteico bruto de S.

saponaria (EB).

4.6.2 Fracionamento do EB com ácido tricloroacético

Com a finalidade de remover proteínas de alta massa molecular do extrato

proteico bruto de S. saponaria (EB) antes de se iniciar os procedimentos cromatográficos, o

EB foi submetido à precipitação de proteínas por adição de ácido tricloroacétio (TCA). Dessa

forma, soluções de EB encerrando uma concentração final entre 1-5% de TCA foram

cuidadosamente preparadas e o sobrenadante resultante foi avaliado em relação ao teor de

proteínas solúveis e à capacidade de inibir tripsina e quimotripsina bovinas, indicando assim

qual fração precitada com o ácido seria a mais promissora para os passos posteriores de

purificação. O processo de precipitação foi realizado com a lenta adição de TCA 20% sob

agitação em banho de gelo, seguida de repouso por 40 min e centrifugação por 10.000 x g à

temperatura de 4 °C durante 30 min. O sobrenadante resultante de cada precipitação foi

transferido para membranas com poros de 3,5 kDa e submetido à diálise por 10-12 h contra

Tris-HCl 50 mmol.L-1

, pH 7,5. A fração proteica com maior atividade inibitória específica de

tripsina foi selecionada para os passos posteriores de purificação.

4.6.3 Cromatografia de afinidade à matriz de Tripsina-Sepharose 4B

Para a cromatografia de afinidade à tripsina, foram acoplados aproximadamente

60 mg de tripsina bovina a 3 g de resina Sepharose 4B ativada com brometo de cianogênio

(Sigma-Aldrich, St. Louis, EUA), seguindo instruções do fabricante . Após a preparação da

matriz, o gel de aproximadamente 11 mL foi transferido para uma coluna cromatográfica de

vidro (15,2 x 2,4 cm) e então, realizado o primeiro passo cromatográfico. A F1% (obtida por

precipitação com TCA 20%) previamente dialisada contra tampão Tris-HCl 50 mmol.L-1

, pH

49

7,5, foi aplicada (6 mg de proteína por cromatografia) na coluna equilibrada com o mesmo

tampão. Para eluição do material retido, foi aplicada na coluna uma solução de HCl 50

mmol.L-1

, usando-se o fluxo constante de 1,0 mL.min-1

e coletando-se 1,5 mL de material

adsorvido em cada tubo de ensaio. O perfil cromatográfico das proteínas foi acompanhado por

espectrofotometria a 280 nm e a fração adsorvida na matriz de afinidade, denominada de

Ss1Af, foi dialisada contra água Milli-Q durante 24 horas, sendo realizadas duas trocas e,

então, o material liofilizado. Esse procedimento foi realizado diversas vezes até a obtenção de

material suficiente para o passo cromatográfico posterior.

4.6.4 Cromatografia de fase reversa em coluna C4 semi preparativa

A fração proteica Ss1Af foi submetida à cromatografia de fase reversa em sistema

de cromatografia líquida de alta eficiência (RP-UFLC), em uma coluna semi-preparativa

Jupiter do tipo C4 (10 µm, 250 x 10 mm) (Phenomenex, Torrance, EUA). Devido à baixa

solubilidade do material, a cada cromatografia 1 miligrama de Ss1Af era ressuspenso em 500

µL de solução A – ácido trifluoracético TFA 0,1% (v/v) em água Milli-Q e aplicado na

coluna previamente equilibrada com 5% de solução B - TFA 0,1% (v/v) em acetonitrila

(ACN). A cromatografia foi iniciada com uma lavagem com 5% de solução B para retirada do

material não retido na coluna e então foi aplicado um gradiente crescente de ACN (Tabela 3).

O procedimento foi conduzido à temperatura ambiente durante 60 min e monitorado por

medidas de absorbância a 216 e 280 nm. Os produtos cromatográficos gerados foram

individualmente coletados e avaliados quanto à capacidade de inibir a tripsina bovina. Os

produtos cromatográficos que apresentaram elevado percentual de inibição proteolítica (>

95%) foram analisados por espectrometria de massa a fim de avaliar a diversidade, pureza e

massa molecular dos componentes dessas frações proteicas.

50

Tabela 3 – Gradiente crescente de solução B (ácido trifluoroacético 0,1% em acetonitrila) empregado

durante cromatografia de fase reversa em sistema RP-UFLC¹ de material proveniente da cromatografia

de afinidade (Ss1Af)

Tempo

(minutos)

Solução A

(%)

Solução B

(%)

0-5 95 5

5-35 95-40 5-60

35-40 40 60

40-45 40-5 60-95

45-50 5 95

50-55 5-95 95- 5

55-60 95 5

¹Foi utilizada uma coluna semi preparativa C4 sob um fluxo constante de 2,5 mL/min. Antes da

aplicação da amostra, a coluna foi previamente equilibrada com Solução A, que consistia de

TFA 0,1% (v/v) em água milli-Q.

51

4.7 Caracterização Bioquímica

4.7.1 Avaliação da diversidade e pureza das frações cromatográficas obtidas em RP-UFLC

(do inglês, Reverse Phase-Ultra Fast Liquid Chromatography)

Com a finalidade de avaliar a diversidade de proteínas presentes nas frações 1 e 2

obtidos em RP-UFLC, o material liofilizado foi resuspenso em água Milli-Q e adicionado a

uma solução saturada de matriz α-ciano-4-hidroxicinâmico (CHCA) em uma proporção

1:3(v/v), aplicados em placa de MALDI-TOF/TOF e cristalizados à temperatura ambiente. A

solução de CHCA foi preparada em H2O/ACN/TFA (50/50/0,3, v/v/v) a 10 mg.mL-1

(50 mmol.L-

1). Em seguida, as amostras foram analisadas por espectrometria de massa do tipo MALDI-

TOF em um espetrômetro Microflex (Bruker Daltonics, Billerica, EUA) em modo linear

positivo em duas faixas de detecção 3.500-24.500 Da (Fração 1) e 4.000-20.000 Da ( Fração

2). O aparelho foi calibrado manualmente com o auxílio de uma mistura de peptídeos

denominada de “Peptide Calibration Standard II” (Bruker Daltonics, Billerica, EUA). As

condições do aparelho foram as seguintes: fonte de íon 1 com voltagem de 20 kV, fonte de

íon 2 com 18 kV e lentes com 9,5 kV.

4.7.2 Determinação da massa molecular acurada por espectrometria de massa

O inibidor purificado foi também analisado por espectrometria de massa do tipo

com ionização induzida por electrospray (ESI-TOF) em espectrômetro micrOTOF-Q II

(Bruker Daltonics, Billerica, EUA), onde a sua massa molecular acurada foi determinada.

Para isso, uma pequena alíquota do inibidor purificado foi dissolvida em ácido

fórmico/ACN/H2O (1/50/50, v/v/v) e então aplicada no equipamento. O espectro foi adquirido

por 15 min com seleção de íons positivos e voltagem do capilar de 4,5 kV, com detecção de

espectros entre 50-3000 Da. Para calibração manual do aparelho, foi utilizado o kit ESI tuning

mix (Agilent technologies, Santa Clara, EUA).

52

4.7.3 Perfil eletroforético em gel de poliacrilamida

Para acompanhar a purificação do inibidor de tripsina de S. saponaria, o perfil

eletroforético das proteínas das diferentes etapas de purificação foi analisado por eletroforese

em gel de poliacrilamida em presença de SDS, através da metodologia descrita por Schägger e

Von Jagow (1987), com algumas modificações. Quinze microgramas de proteína obtida em

cada etapa de purificação foram ressuspensos em tampão de amostra (glicerol 10%, β-

mercaptoetanol 10%, SDS 2,3%, Tris 124 mM, Azul de bromofenol 0,01%) e aplicadas em

um gel sólido bifásico de poliacrilamida entre placas de vidro com dimensões de 10 x 8 cm.

O gel espaçador (15% de poliacrilamida) foi preparado com 800 µL de uma solução aquosa

de acrilamida-bisacrilamida 49,5% (p/v), 1.333 µL de solução tampão Tris-HCl 3 mol.L-1

, pH

8,45 com SDS 10 mmol.L-1

, 1.867 µL de água Milli-Q, 37 µL de persulfato de amônio 10%

(p/v) e 5 µL de temed. O gel de empilhamento (5% de acrilamida) foi preparado pela adição

de 367 µL de uma solução aquosa de acrilamida-bisacrilamida 49,5% (p/v), 588 µL de

solução tampão Tris-HCl 3 mol.L-1

, pH 8,45 com SDS 10 mmol.L-1

, 1.544 µL de água Milli-

Q, 37 µL de persulfato de amônio 10% (p/v) e 3 µL de temed. A solução tampão do catodo

era composta por Tris-HCl 0,1 mol.L-1

, tricina 0,1 M e SDS 3 mmol.L-1, pH 8,2. O tampão

do anodo usado na eletroforese era composto por Tris-HCl 1 M, pH 8,9. A eletroforese

ocorreu em sistema mini-gel Mini-Protean 3 (Biorad, Hercules, EUA) com voltagem

crescente de 40 – 80 V, durante 4 h. O gel de poliacrilamida foi corado com uma solução

contendo Comassie Brilliant Blue R-250 em MeOH/AcOH/H2O (4/1/5, v/v/v).

Posteriormente, o gel foi revelado com MeOH/AcOH/H2O (4/1/5, v/v/v) em água destilada.

Para estimar a massa molecular aparente de SsTI2 os demais componentes dos diferentes

passos de purificação foi utilizado o marcador molecular SeeBlue plus2 pre-stained Stanford

(Invitrogen®, USA).

53

4.7.4 Determinação da CI50 (concentração inibitória media) contra tripsina bovina

Para determinar a massa de inibidor que causa 50% de redução na atividade

proteolítica da tripsina bovina, o ensaio de inibição descrito no item 4.5 foi realizado

utilizando-se diferentes concentrações de SsTI2 (3 x 10-3

µmol.L-1

– 3,8 x 10-1

µmol.L-1

) e

concentrações constantes de enzima (0,3 µg/µL em HCl 1 mmol.L-1

) e substrato (BApNA,

1,25 mmol.L-1

). Os crescentes percentuais de inibição observados e as concentrações

utilizadas foram plotados em um gráfico e a CI50 foi calculada através de regressão linear

simples.

4.7.5 Sequenciamento do SsTI2

O sequenciamento do SsTI2 foi realizado no Laboratório de Espectrometria de

Massa (LEM), da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia (Brasília, DF), coordenado

pelo pesquisador Carlos Bloch Júnior. Os experimentos foram realizados sob a supervisão e

colaboração do pesquisador Marcelo Porto Bemquerer. Para o sequenciamento completo do

novo inibidor de tripsina purificado das sementes de S. saponaria, foi necessário o uso de

diferentes técnicas de espectrometria de massa, tais como sequenciamento direto na fonte

(ISD, do inglês ion source decay), sequenciamento de novo de peptídeos gerados por

tratamento enzimático e comparação da massa molecular acurada (obtida por ESI-TOF) com

a massa teórica calculada a partir da sequência proposta. As técnicas utilizadas são descritas

nos tópicos seguintes.

4.7.5.1 Sequenciamento de SsTI2 por ionização direto na fonte

Inicialmente, o inibidor de tripsina purificado das sementes de S. saponaria foi

sequenciado por ionização direta na fonte (In Source Decay, ISD). Para isso, uma baixa

54

quantidade, cerca de 5 µg da proteína liofilizada, foi ressuspensa em 50 μL de água milli-Q,

acrescentada a uma solução saturada de 1,5-diaminonaftaleno (DAN) na proporção de 1:3

(v/v), aplicadas em placa de MALDI-TOF/TOF e cristalizadas à temperatura ambiente. A

solução de DAN foi preparada em H2O/ACN/TFA (50/50/0,3, v/v/v) a 10 mg.mL-1

(50 mmol.L-1

).

O espectro foi obtido em método RPISD, com voltagem da fonte de íon 1 de 20,0 kV, fonte

de íon 2 com 17,7 kV, lentes com 8,0 kV, refletor com 22,0 kV e refletor 2 com voltagem de

9,8 kV.

4.7.5.2 Tratamento de SSTI2 com enzimas proteolíticas

Antes de cada tratamento enzimático, o inibidor purificado sofreu redução e

alquilação. Para isso, 10 µg de inibidor liofilizado foram ressuspensos em 300 µL de uma

solução bicarbonato de amônio 100 mmol.L-1

com DTT 50 mmol.L-1

e incubados a 70 °C por

60 min. Em seguida, foram adicionados 300 µL de uma solução bicarbonato de amônio 100

mmol.L-1

com iodoacetamida 100 mmol.L-1

e, então, incubados a 37 °C por 40 min. Após a

interrupção do tratamento, a solução foi imediatamente filtrada em filtro de 0,22 µm e então

aplicada em uma coluna analítica de fase reversa C4 214 TP (Vydac Grace, EUA) (dimensões

4,6 x 250 mm), em sistema UFLC com loop de 500 µL. Antes do início da corrida, a coluna

foi equilibrada com uma solução de TFA 0,1% em água (Solução A). A corrida foi conduzida

à temperatura ambiente e monitorada nos comprimentos de onda de 216 e 280 nm sob fluxo

constante de 1,0 mL/min com gradiente crescente de TFA 0,1% (v/v) em acetonitrila

(Solução B) o qual é descrito na Tabela 4.

55

Tabela 4 – Gradiente crescente de solução B (ácido trifluoroacético 0,1% em acetonitrila) empregado

durante cromatografia de fase reversa em sistema RP-UFLC¹ para purificação do SSTI2 reduzido e

alquilado

¹Foi utilizada uma coluna analítica C4 sob um fluxo constante de 1,0

mL/min. Antes da aplicação da amostra, a coluna foi previamente equilibrada

com Solução A, que consistia de TFA 0,1% (v/v) em água milli-Q.

Tempo

(minutos)

Solução A

(%)

Solução B

(%)

0-15 95 5

15-20 95-75 5-25

20-50 75-40 25-60

50-55 40-5 60-95

55-60 5 95

60-65 5-95 95- 5

65-70 95 5

56

O tratamento enzimático específico para cada enzima foi realizado como descrito

a seguir:

Tripsina: Uma alíquota de 10 µL de tripsina imobilizada (PIERCE, Rockford,

EUA) em gel de agarose foi lavada sucessivas vezes com tampão bicarbonato de amônio 100

mmol.L-1

, pH 8,0 e então adicionada ao inibidor reduzido e alquilado, o qual foi previamente

ressuspenso em 50 μL do mesmo tampão, sendo então deixado sob agitação constante a 37 °C

por 90 min. Esse procedimento foi baseado nas instruções do fabricante.

Pepsina: Seguindo instruções do fabricante (PIERCE, Rockford, EUA), 15 µL de

pepsina imobilizada em gel de agarose foram ressuspensos em 240 µL de tampão acetato de

sódio 100 mmol.L-1

, pH 4,5, centrifugados a 1.000 x g por 10 min. Em seguida, descartou-se

o tampão e foram adicionados mais 240 µL do mesmo. Após quatro sucessivas lavagens, o

inibidor liofilizado foi ressuspenso em 60 μL do mesmo tampão e então adicionado a 10 μL

de resina contendo pepsina imobilizada. Essa solução foi deixada sob agitação constante a 37

°C overnight.

4.7.5.3 Purificação dos peptídeos de SSTI2 gerados por tratamentos enzimáticos

Os peptídeos gerados por hidrólise enzimática com tripsina e pepsina imobilizadas

em agarose foram purificados em coluna de fase reversa narrowbore, modelo XR-ODS

(Shimadzu Co., Japan) (2 x 30 mm), em sistema UFLC. Para isso, 40 µL da solução de

peptídeos gerados pelos diferentes tratamentos foram aplicados na coluna. A corrida

cromatográfica foi realizada sob fluxo constante de 0,4 mL/min e temperatura constante de

30°C (no caso dos peptídeos gerados por tratamento com tripsina) e 40 °C (peptídeos gerados

por tratamento com pepsina). O gradiente das soluções de TFA 0,1% em água milli-Q

(solução A) e TFA 0,1% em acetonitrila (solução B) aplicados nas corridas cromatográficas é

descrito na Tabela 5.

57

Tabela 5 – Gradiente crescente de solução B (ácido trifluoroacético 0,1% em acetonitrila) empregado

durante cromatografia de fase reversa em sistema RP-UFLC¹ para purificação de peptídeos gerados por

hidrólises enzimáticas independentes de SSTI2 com pepsina e tripsina imobilizadas em agarose

¹Foi utilizada uma coluna narrowbore sob um fluxo constante de 0,4 mL/min. Antes da

aplicação das amostras, a coluna foi previamente equilibrada com Solução A, que consistia de

TFA 0,1% (v/v) em água milli-Q.

Tempo

(minutos)

Concentração da

solução A (%)

Concentração solução B

(%)

5 95 5

5-25 95-40 5-60

25-27 40-10 60-90

27-30 10 90

58

4.7.5.4 Sequenciamento de novo dos peptídeos gerados por clivagem com enzimas

proteolíticas

Os peptídeos de SSTI2 gerados por hidrólises enzimáticas e purificados em

sistema UFLC foram acrescentados a uma matriz saturada de α-ciano-4-hidroxicinâmico

(CHCA) em uma proporção 1:3, aplicados em placa de MALDI-TOF/TOF e cristalizados à

temperatura ambiente. A solução de CHCA foi preparada em H2O/ACN/TFA (50/50/0,3, v/v/v) a

10 mg.mL-1

(50 mmol.L-1

). Os fragmentos foram analisados e sequenciados manualmente por

espectrometria de massa MALDI-TOF/TOF em espectrômetro ULTRAFLEX (Bruker

Daltonics, Billerica, EUA) e em espectrômetro AUTOFLEX SPEED (Bruker Daltonics,

Billerica, EUA). As sequências de alguns desses peptídeos foram ainda analisados e

confirmados em espectrômetro micrOTOF-Q II (Bruker Daltonics, Billerica, EUA).

Inicialmente, os peptídeos foram analisados e os seus respectivos espectros

adquiridos em modo refletido positivo, com detecção de massas entre 700-3.500 Da e então

entre 50 – 1200 Da. Em seguida, os íons foram fragmentados na célula de lift com aceleração

de 18,89 kV(AUTOFLEX SPEED) e 19,0 (ULTRAFLEX). As demais condições de modo lift

em aparelho AUTOFLEX SPEED foram as seguintes: 6,04 kV (fonte de íon 1), 5,29 kV(fonte

de íon), 3,0 kV (lentes), 27,0 kV (refletor 1), 11,7 kV (refletor 2) , 19,0 kV (célula de lift 1) e

4,3 kV (célula de lift 2). No equipamento ULTRAFLEX, as condições foram: 8,0 kV (fonte

de íon 1), 7,2 kV (fonte de íon 2), 3,6 kV (lentes), 29,5 kV (refletor 1), 13,8 kV (refletor 1) e

3,5 kV (célula de lift 2). A estrutura primária dos peptídeos foi interpretada manualmente por

sequenciamento de novo dos espectros obtidos nas análises de MS/MS. Os espectros foram

processados e visualizados utilizando o software FlexAnalysis 3.3.

4.7.5.5 Análise e alinhamento da sequência primária de SSTI2

As sequências aminoacídicas obtidas por ionização direto na fonte e as sequências

interpretadas pela fragmentação dos peptídeos gerados por tratamentos enzimáticos foram

alinhadas manualmente, comparadas e então uma estrutura primária para o SSTI2 foi

59

proposta. A sequência proposta para o inibidor foi analisada e comparada com sequências

existentes no banco de dados através da ferramenta BlastP presente na plataforma online

NCBI (National Center for Biotechnology Information, www.ncbi.nlm.nih.gov). Em seguida,

as sequências que apresentaram maior identidade com o SSTI2 foram alinhadas com o

inibidor no software BioEdit v. 7.0.9.0, através da ferramenta de múltiplos alinhamentos

ClustalW.

4.8 Atividade biológica in vitro

4.8.1 Extração e preparo do homogenato intestinal de insetos

Larvas entre 3° e 4° ínstar de Aedes aegypti, Anticarsia gemmatalis, Anthonomus

grandis e Spodoptera frugiderda foram mantidas em banho de gelo por 15 min, mergulhadas

em uma solução de cloreto de sódio 150 mmol.L-1

e, com o auxílio de lupa estereoscópica e

pinças entomológicas, tiveram seus intestinos cuidadosamente retirados e transferidos para

microtubos de 1,5 mL contendo 100 µL de uma solução de Tris HCl 50 mmol.L-1

, pH 7,5 em

banho de gelo. Em seguida, os intestinos foram macerados com um macerador potter de vidro

por 10 min e, então, centrifugados durante 30 min a 10.000 x g em temperatura constante de 4

°C. Os sobrenadantes (homogenatos enzimáticos intestinais) obtidos foram imediatamente

utilizados para ensaios de inibição como descrito no próximo item.

4.8.2 Ensaio de inibição enzimática de peptidases digestivas de insetos

Para determinar a capacidade do SSTI2 em inibir a atividade proteolítica das

enzimas intestinais de Ae. aegypti, A. grandis, An. genmatalis e S. frugiperda, foram

realizados dois ensaios enzimáticos in vitro, nos quais o homogenato intestinal dos insetos foi

utilizado como fonte de peptidase. No primeiro ensaio, semelhante àquele descrito no item 4.3

60

utilizando o substrato inespecífico azocaseína, foi avaliada a atividade inibitória de SSTI2

sobre o pool de peptidase intestinais dos insetos. No segundo ensaio, foi avaliado o efeito

inibitório de SSTI2 sobre as enzimas do tipo tripsina presentes no homogenato intestinal dos

insetos, utilizando-se BApNA como substrato, como descrito no item 4.5 . Em ambos os

ensaios, foi utilizado 0,94 µg (0,192 µmol.L-1

) de SSTI2. Esse valor foi escolhido após a

determinação da CI50, onde também foi determinada a menor massa de inibidor capaz de

causar 100% de inibição.

61

5. RESULTADOS

Como pode ser observado na Figura 7, nesse estudo foram realizadas a

purificação, caracterização bioquímica parcial e avaliação da atividade inibitória in vitro sobre

as enzimas digestivas de insetos pragas de um novo inibidor de tripsina obtido de sementes de

Sapindus saponaria (SSTI2). O SSTI2 foi purificado após etapas de precipitação com ácido

tricloroacético, cromatografia de afinidade à tripsina e cromatografia de fase reversa. Em

seguida, os produtos cromatográficos com atividade inibitória de tripsina foram analisados

por espectrometria de massa, sendo então verificada a purificação do SSTI2. O inibidor

purificado caracterizado bioquímicamente e foi realizada a avaliação do efeito desse inibidor

sobre enzimas digestivas de insetos-praga. A Figura 8 mostra ainda o esquema utilizado para

a determinação da estrutura primária do SSTI2. Os passos utilizados no trabalho são

detalhadamente descritos nos item abaixo.

5.1 Isolamento e Purificação do novo inibidor de tripsina de sementes de Sapindus

Saponaria (SSTI2)

5.1.1 Seleção da fração proteica obtida por fracionamento com TCA 20%

Os resultados do fracionamento do extrato bruto de sementes de S. saponaria

estão apresentados na Figura 9. Como pôde ser observado, o aumento na concentração de

TCA causou um decréscimo na atividade inibitória de tripsina e quimotripsina em relação à

observada no extrato bruto. Além disso, pôde-se observar que entre as duas enzimas serínicas

testadas, a tripsina é a enzima cuja atividade proteolítica é mais afetada pelos inibidores de

protease das sementes de S. saponaria. Em vista disso, apenas a atividade inibitória de

tripsina foi monitorada durante os demais passos de purificação. Baseado-se nos resultados de

atividade específica e percentual de inibição da atividade proteolítica da tripsina descritos na

Tabela 6, a fração contendo 1% de TCA foi escolhida para os passos seguintes de

purificação.

62

Figura 7 – Estratégia utilizada para isolamento e purificação do novo inibidor de tripsina das sementes de

S. saponaria (SSTI2)

63

Figura 8 – Estratégia utilizada para a elucidação da estrutura primária do novo inibidor de tripsina de

sementes de S. saponaria (SSTI2)

64

Figura 9 – Atividade inibitória das frações proteicas de S. saponaria obtidas através de precipitação com

ácido tricloroacético (TCA). Foram realizados ensaios utilizando-se azocaseína 1 % (v/v) como substrato. Os

valores são médias de ensaios em triplicata, com seus respectivos desvios padrão

65

Tabela 6 – Atividade inibitória específica e percentual de inibição das frações proteicas de Sapindus

saponaria obtidas por fracionamento com ácido tricloroacético (TCA). Atividade inibitória específica

expressa em unidades de inibição¹ por miligrama de proteína (UI/mgP). Foram realizados ensaios utilizando-se azocaseína 1 % (v/v) como substrato. Destacada em negrito, a fração escolhida para os passos posteriores de

purificação por apresentar a maior atividade específica

Grupo Inibição de tripsina

(%)

Atividade inibitória

específica

(UI/mgP)

EB 91 115,56

F1% 91 1740,20

F2% 88 1627,36

F3% 91 1337,12

F4% 81 1309,92

F5% 79 860,72

¹ Uma unidade de inibição é definida como o decréscimo em

0,01 na absorbância a 440 nm no ensaio de atividade inibitória de quimotripsina segundo Charney e Tomarelli (1947).

66

5.1.2 Cromatografia de afinidade de F1% em matriz de Tripsina-Sepharose 4B

A fração proteica de S. saponaria precipitada com TCA na concentração final de

1% (F1%) foi submetida à cromatografia de afinidade em uma matriz de tripsina-Sepharose

4B (Figura 10), gerando uma fração de moléculas não retidas e uma fração de moléculas

retida à matriz. Alíquotas de 1,5 mL de cada fração foram coletadas em tubos de ensaio. As

frações não adsorvidas na matriz foram eluídas com tampão Tris-HCl, 50 mmol.L-1

, pH 7,5, e

as frações proteicas adsorvidas foram eluídas com HCl 50 mmol.L-1

. O fluxo aplicado durante

a cromatografia foi de 1 mL/min e a densidade óptica monitorada a 280 nm. Foram juntados

os tubos contendo o material não retido (pool não retido) e os tubos contendo material retido

(pool retido) e avaliados quanto à capacidade de inibir a tripsina bovina, apresentando,

respectivamente, 19 e 100% de inibição sobre a atividade proteolítica da tripsina bovina.

Apenas a fração retida na matriz (denominada de SS1Af) foi dialisada e, posteriormente,

utilizada nas demais etapas de purificação.

67

Figura 10 – Perfil de eluição da F1% em matriz de afinidade Tripsina-Sepharose 4B. Foram aplicados 6 mg

de proteína. A coluna foi previamente equilibrada com tampão Tris-HCl 50 mmol.L-1, pH 7,5 e as proteínas

retidas na matriz foram eluídas com HCl 50 mmol.L-1. Alíquotas de 1,5 mL de cada fração foram coletadas em tubos de ensaio e monitoradas a 280 nm. Foram juntados os tubos contendo o material não retido (pool não

retido) e os tubos contendo material retido (pool retido) e avaliados quanto à capacidade de inibir a tripsina

bovina

68

5.1.3 Cromatografia de SS1Af em coluna de fase reversa acoplado a sistema UFLC

Na Figura 11, pode ser observado o perfil cromatográfico obtido através de

cromatografia de fase reversa em sistema UFLC (LC – 20AD/T/Shimadzu, Kioto, Japan),

acompanhado por medidas de absorbância no comprimento de onda de 216 nm. Foram

geradas várias frações cromatográficas, as quais foram coletadas, liofilizadas e avaliadas

quanto à capacidade de inibir tripsina bovina. Dentre as frações coletadas, apenas duas

apresentaram percentual de inibição elevado (> 95%): as frações eluídas com 38,61 e 46,81%

de acetonitrila, sendo nomeados Pico 1 (P1, 95% de inibição) e Pico 2 (P2, SSTI2, 100% de

inibição), respectivamente. A diversidade proteica e massa molecular das frações ativas foram

analisadas por espectrometria de massa em espectrômetro do tipo MALDI-TOF.

5.1.4 Rendimento do SSTI2

As etapas utilizadas no processo de purificação do inibidor de tripsina de

sementes de S. saponaria estão sumarizadas na Tabela 7. O extrato bruto (EB), obtido na

primeira etapa do processo de purificação dos inibidores de sementes de S. saponaria, serviu

como referência para as demais frações proteicas, sendo o valor de purificação 1 e um

rendimento de 100% atribuídos a esse. O índice de purificação das demais frações foi

calculado como sendo a razão entre sua atividade especifica e a atividade especifica do EB. A

percentagem de rendimento das demais frações foi calculada com base na razão entre a sua

atividade inibitória e a atividade inibitória do extrato bruto multiplicado por 100. A atividade

específica foi calculada com base na razão entre a atividade inibitória da fração obtida e

proteína total da mesma fração. A tabela de purificação mostra que SSTI2 apresentou um

índice de purificação de 155 e um rendimento de 0,0033%.

69

Figura 11 – Perfil cromatográfico de SS1Af aplicado em coluna de fase reversa semi preparativa do tipo

C4, em sistema em sistema RP-UFLC. O material liofilizado foi ressuspenso em solução aquosa de ácido

trifluoracético 0,1% (v/v) e aplicado na coluna (2 mg.mL-1) previamente equilibrada com acetonitrila 5%. A cromatografia foi realizada à temperatura ambiente, sob um fluxo constante de 2,5 mL.min

-1. Inicialmente, a

coluna foi lavada com acetonitrila (ACN) 5% e, em seguida, foi aplicado um gradiente crescente de ACN (5-

95%) para eluição do material retido na coluna. As frações cromatográficas coletadas foram acompanhadas por

espectrofotometria a 216 nm e submetidas a ensaio de inibição de tripsina bovina. Os produtos cromatográficos

P1 e P2 foram eluídos com 39 e 47% de ACN, respectivamente, e selecionados para fins de purificação por

terem apresentado alta atividade inibitória de tripsina (> 95%).

70

Tabela 7 – Tabela de purificação do inibidor de tripsina obtido de sementes de Sapindus saponaria1. O cálculo foi baseado em uma extração de seis gramas de farinha

delipidada de sementes

Etapas

(Abreviaturas)

Massa de

proteína (mg)

Atividade

específica (UI/mg

prot)

Atividade

inibitória total

(UI)

Purificação²

(X)

Rendimento³ em

termo de proteína

(%)

Rendimento4 em

termo de

atividade (%)

EB 882,85 220,98 195.092,19 1,00 100,00 100

F1% 45,54 3.064,76 139.569,17 13,87 5,15 71,54

Ss1Af 1,96 17.348,72 34.003,44 78,51 0,22 17,42

SSTI2 0,03 34.202,13 1.026,06 154,77 0.0033 0,52

¹ O extrato bruto (EB) obtido na primeira etapa de purificação serviu como referência para as demais amostras. ² Índice de purificação 1 e rendimento de 100% foram atribuídos ao EB. O índice de purificação nos passos subsequentes foi calculado como sendo a razão entre a sua

atividade específica e aquela do EB.

³ O rendimento foi calculado como sendo a razão entre a quantidade de proteína total em cada etapa e aquela do EB, multiplicada por 100. 4 O rendimento foi calculado como sendo a razão entre a atividade total em cada etapa e aquela do EB, multiplicada por 100.

EB: Extrato proteico bruto; F1%: Fração proteica do EB precipitado com àcido tricloroacético; Ss1Af: fração proteica obtida em Tripsina-Sepharose; SSTI2: Novo inibidor

purificado de Sapindus saponaria.

71

5. 2 Caracterização bioquímica

5.2.1 Análise das frações com atividade inibitória de tripsina em MALDI-TOF

As frações resultantes do RP-UFLC que apresentaram alto percentual de inibição

(> 95%) sobre a atividade proteolítica da tripsina bovina foram analisadas por espectrometria

de massa do tipo MALDI-TOF em modo linear. A Figura 12a mostra a presença de pelo

menos sete proteínas na fração denominada de P1 (Pico 1) com diferentes massas moleculares

na faixa analisada (3.500-24.500 Da). Devido a essa heterogeneidade, não foi dado

prosseguimento aos passos de purificação e caracterização dessa fração proteica. Por outro

lado, a fração inicialmente denominada de P2 (Pico 2), cujo espectro de massa é mostrado na

Figura 12b, apresentou uma proteína majoritária com um intenso sinal de 7.578 Da na faixa

analisada (4.000 a 21.000 Da). A proteína purificada evidenciada nessa análise foi então

denominada SSTI2 (do inglês, Sapindus saponaria trypsin inhibitor 2). Vale ressaltar que um

desses sinais com baixa intensidade observados na Figura 12b possui aproximadamente o

dobro da massa de SSTI2, sugerindo formação de dímero.

72

Figura 12 – Espectros de massa dos produtos cromatográficos presentes em P1 e P2 adquiridos em

espectrômetro de massa do tipo MALDI-TOF. Os espectros foram obtidos em modo linear utilizando faixa de

detecção entre 3.500 – 24.500 Da para análise dos componentes de P1 (Figura 10a, acima) e entre 4.000-21.000 Da para análise dos produtos de P2 (Figura 10b, abaixo) (SSTI2). Devido ao grau de pureza observado na

análise, o SSTI2 foi submetido a procedimentos diversos para sua caracterização

B

A

73

5.2.2 Determinação da massa molecular acurada através de MS-ESI

A massa molecular acurada do inibidor de tripsina de S. saponaria foi

determinada por espectrometria de massa do tipo eletrospray (MS-ESI). A distribuição

multicargas do SSTI2 na faixa de massa situada entre aproximadamente 300 e 2.200 Da é

mostrada na Figura 13a, onde se podem observar os íons carregados com 6 – 10 prótons. O

íon carregado com 7 prótons (M + 7H+) foi escolhido para determinação da massa da

proteína, por ser aquele com sinal mais intenso. Na mesma figura, é apresentada a massa

molecular média do SSTI2, calculada a partir do íon. A Figura13b mostra a distribuição

isotópica desse mesmo íon, através do qual foi determinada a massa molecular exata do

SSTI2, 7.571, 976 Da. Para esse cálculo foi escolhido o primeiro pico da distribuição

isotópica.

74

Figura 13 – Espectros de massa molecular do SSTI2 adquiridos em espectrômetro de massa do tipo ESI-

TOF. A Figura 13a (acima) apresenta a distribuição multicargas da proteína. Sobre cada íon de SSTI2, os

respectivos números de prótons. O íon carregado com sete prótons (M+7H+ = 1.083,131) foi escolhido para a determinação das massas moleculares média e acurada do inibidor por ser o mais intenso na região analisada.

Em azul, a massa molecular média calculada. Os íons com massas de 415,205, 622,029 e 922,868 são

pertencentes ao kit de calibração do aparelho, os demais íons não assinalados são contaminantes da amostra. A

Figura 13b (abaixo) apresenta a distribuição isotópica do íon M + 7H+ (massa média: 1.083,131) da proteína. O

isótopo mais leve (assinalado na figura) foi escolhido para o cálculo da massa molecular acurada do inibidor. A

massa do SSTI2 foi determinando como sendo de 7.591,976 Da

M + H+

A = 7571.976

B

A

75

5.2.3 Perfil eletroforético das etapas de purificação de SSTI2 em gel de poliacrilamida

A fim de acompanhar a purificação do inibidor e analisar a diversidade proteica

das frações resultantes dos diferentes passos de purificação, uma eletroforese em gel de tricina

foi realizada. O gel resultante da eletroforese realizada sob condições redutoras e

desnaturantes pode ser visto na Figura 14. A diversidade das frações proteicas diminui com o

decorrer da purificação. Inicialmente, o extrato bruto (raia 2) da farinha de sementes de S.

saponaria apresenta uma grande diversidade de proteínas em um amplo espectro de massa

molecular (~8,0 – 180,0 kDa), que cai drasticamente após o fracionamento com TCA (raia 3).

Após a cromatografia de afinidade à tripsina, a diversidade de proteínas diminui para uma

faixa entre aproximadamente 8,0 – 24 kDa. Ao final da purificação, pode-se observar uma

única banda com massa molecular aparente de aproximadamente 8,0 kDa, correspondente ao

pico gerado em RP-UFLC com tempo de retenção de 27,08 minutos (46,81% de acetonitrila),

denominado de SSTI2.

76

Figura 14 – Perfil eletroforético das etapas de purificação do SSTI2. Raia 1- Marcador de massa molecular;

Raia 2- Extrato bruto da farinha de sementes de Sapindus saponaria; Raia 3 – Fração resultante da adição de 1%

de ácido tricloroacético (TCA) ao extrato bruto EB (F1%); Raia 4- F1% retida em coluna de afinidade em matriz de Tripsina-Sepharose 4-B; Raia 5 – SSTI2 purificado. Foram aplicados 15 µg de cada amostra. A

eletroforese ocorreu em sistema mini-gel Mini-Protean 3 com voltagem crescente de 40 – 80 V, durante 4 h. O

gel de poliacrilamida (15%) foi corado com uma solução contendo Comassie Brilliant Blue R-250 em

MeOH/AcOH/H2O (4/1/5, v/v/v). A seta indica o inibidor purificado, com uma massa molecular aparente de

aproximadamente 8 kDa

MM (Da)

77

5.2.4 Determinação da CI50

Através do ensaio de inibição específica de tripsina com uma concentração fixa de

enzima e substrato, e concentrações crescentes de inibidor, foi possível calcular a

concentração do SSTI2 capaz de causar 50% de inibição da atividade proteolítica da tripsina

(CI50). Como pode ser observado na Figura 15, a CI50 determinada foi de 8,3 x 10-2

mmol.L-1

ou 0,41 µg. Outro dado importante obtido no ensaio foi que a menor concentração de SSTI2

capaz de causar 100% de inibição da ação proteolítica da tripsina é 0,192 µmol.L-1

(0,94 µg).

Essa concentração foi utilizada em ensaios de atividade biológica e caracterização bioquímica

do inibidor que estão descritos adiante.

5.2.5 Especificidade do inibidor a enzimas serínicas e cisteínicas

O inibidor não apresentou atividade inibitória expressiva sobre as enzimas

quimotripsina, bromelaíma e papaína (Tabela 8). Dentre as enzimas serínicas, foi observado

efeito expressivo apenas sobre a tripsina (100%). Em contrapartida, nenhum efeito foi

observado sobre bromelaína e efeito inibitório muito baixo foi observado sobre quimotripsina

(13,94%) e papaína (5,28%).

78

Figura 15 – Determinação da concentração inibitória média (CI50) do inibidor SSTI2 sobre tripsina

bovina. Foram utilizadas concentrações crescentes de SSTI2 (3 x 10-3 µmol.L-1 – 3,8 x 10-1 µmol.L-1) e

concentrações fixas de tripsina bovina e BApNA, substrato específico da tripsina. De acordo com o ensaio, a

CI50 do SSTI2 sobre a tripsina é 0,083 µmol.L-1 ou 0,41 µg

79

Tabela 8 – Avaliação da especificidade do SSTI2 para enzimas serínicas e cisteínicas

Enzimas Inibição (%)

Serínicas Tripsina¹ 100

Quimotripsina² 13,94 ± 0,28

Cisteínicas Bromelaína² ND³

Papaína² 5,28 0,42

¹ Ensaio de inibição utilizando N-α-benzoil-DL-arginina-p-nitroanilida (BapNA) como substrato; ²Ensaio de

inibição utilizando azocaseína como substrato; ³Atividade inibitória não detectada. Todos os valores são médias

de ensaios realizados em triplicata.

80

5.2.6 Sequenciamento do SSTI2

5.2.6.1 Sequenciamento por ionização direto na fonte

Através da adição de uma pequena alíquota do inibidor à matriz DAN, foi

realizado o sequenciamento direto na fonte (ISD). Através deste procedimento, sem

necessidade de tratamento enzimático, foram determinados 48 dos 69 aminoácidos de SSTI2

(Figura 16). A estrutura primária parcial foi então analisada e comparada com outras

sequências depositadas em bancos de dados (BlastP, NCBI), onde foi observado que as

extremidades aminoterminal e carboxiterminal do SSTI2 não foram elucidadas através de

ISD. Sabe-se que uma das limitações da aplicação dessa técnica com uso da matriz DAN é

que os primeiros aminoácidos da região N-terminal geralmente não são determinados por

interferência de íons provenientes da matriz. Dessa forma, foi necessário o tratamento

enzimático do inibidor com tripsina e pepsina imobilizadas em agarose para a obtenção de

fragmentos proteicos que quando sequenciados por sequenciamento de novo pudessem

completar as extremidades da estrutura primária da proteína, assim como confirmar a

sequência parcial obtida por sequenciamento direto na fonte.

5.2.6.2 Purificação dos fragmentos de SSTI2 gerados por hidrólises enzimáticas com tripsina

e pepsina

Antes de cada tratamento enzimático, o inibidor de tripsina purificado das

sementes de S. saponaria sofreu redução e alquilação através de tratamento com ditiotreitol

(DTT) e iodoacetamida, para que não ocorresse inibição da atividade proteolítica das enzimas

durante a digestão enzimática. Após o tratamento com DTT e iodoacetamida, a proteína foi

repurificada em sistema RP-UFLC, onde foi eluída com aproximadamente 42% de

acetonitrila (Figura 15). Após esse passo cromatográfico, foram realizados tratamentos

81

enzimáticos independentes com tripsina e pepsina imobilizadas e então os peptídeos gerados

durante as hidrólises enzimáticas foram também separados por RP-UFLC (Figuras 18 e 19).

82

Figura 16 – Sobreposição manual de sequências obtidas através de sequenciamento direto na fonte (ISD-

DAN) e após tratamentos enzimáticos. Em preto, a sequência da proteína íntegra, obtida através da

sobreposição das sequências obtidas. Em azul, a sequência parcial obtida por sequenciamento direto na fonte com uso da matriz DAN. As sequências dos peptídeos gerados por hidrólise enzimática com pepsina e tripsina

imobilizadas estão representadas, respectivamente, pelas cores verde e laranja. Na primeira linha, os resíduos de

aminoácidos X indicam o isóbaro (L/I) e o resíduo Z indica o isóbaro (K/Q)

83

Figura 17 – Perfil cromatográfico da repurificação do inibidor SSTI2 reduzido e alquilado aplicado em

coluna de fase reversa analítica do tipo C4, em sistema em sistema UFLC. Um volume de 500 µL da solução

aquosa contendo SSTI2, ditiotreitol (DTT) e iodoacetamida foram aplicados em uma coluna semi-analítica C4, previamente equilibrada com 5% da solução B (ácido trifluoracético, TFA 0,1% em acetonitrila). Após a

aplicação do material, a coluna foi lavada com o mesmo gradiente por 15 minutos para eluição do material não

retido na coluna, a um fluxo de 1,0 mL/min, seguida de um gradiente crescente da solução B no mesmo fluxo. A

cromatografia foi acompanhada por espectrofotometria a 216 nm e a proteína coletada foi liofilizada e, em

seguida, submetida aos tratamentos enzimáticos

84

Figura 18 – Perfil cromatográfico (Em sistema RP-UFLC) da separação de peptídeos de SSTI2 gerados

por tratamento enzimático com tripsina imobilizada em agarose. O material liofilizado foi ressupenso em 40

µL de solução A (ácido trifluoracético, TFA 0,1% em água Milli-Q) e então aplicado em uma coluna de fase reversa narrowbore previamente equilibrada com 5% da solução B (TFA 0,1% em acetonitrila). Após a

aplicação do material, a coluna foi lavada com o mesmo solvente por 5 minutos para eluição do material não

retido na coluna a um fluxo constante de 0,4 mL/min, sequido de um gradiente crescente da solução B no mesmo

fluxo. A cromatografia foi acompanhada por detecção de absorbância nos comprimentos de onda de 216 e 280

nm. Os produtos cromatográficos gerados foram separadamente coletados, liofilizados e sequenciados por

espectrometria de massa dos tipos MALDI-TOF e ESI-TOF

Figura 19 – Perfil cromatográfico (Em sistema RP-UFLC) da separação de peptídeos de SSTI2 gerados

por tratamento enzimático com pepsina imobilizada em agarose. O material liofilizado foi ressupenso em 40

µL de solução A (ácido trifluoracético, TFA 0,1% em água Milli-Q) e então aplicado em coluna de fase reversa

narrowbore previamente equilibrada com 5% da solução B (TFA 0,1% em acetonitrila). Após a aplicação do

material, a coluna foi lavada com a mesmo solvente por 5 minutos para eluição do material não retido na coluna

a um fluxo constante de 0,4 mL/min, seguido de um gradiente crescente da solução B no mesmo fluxo. A

cromatografia foi acompanhada por detecção de absorbância nos comprimentos de onda de 216 e 280 nm. Os

produtos cromatográficos gerados foram separadamente coletados, liofilizados e sequenciados por espectrometria de massa dos tipos MALDI-TOF e ESI-TOF

85

5.2.6.3 Sequenciamento de novo dos peptídeos de SSTI2 e alinhamento das sequências

Os fragmentos obtidos após o tratamento enzimático de SSTI2 com tripsina e

pepsina foram sequenciados por espectrometria de massa do tipo MALDI-TOF e/ou do tipo

ESI-TOF e, então, manualmente alinhados com a sequência parcial obtida por ionização

direta na fonte. As sequências dos peptídeos confirmaram a sequência parcial gerada por

análise ISD, completaram a extremidade aminoterminal do inibidor e parte da região

carboxiterminal, faltando apenas dois resíduos de aminoácidos nessa extremidade. Apesar de

nenhum dos peptídeos sequenciados apresentarem esses dois resíduos, há consistentes

evidências de que esses sejam isoleucina (I) e glicina (G). A sequência final obtida foi então

alinhada com sequências de outros inibidores da superfamília Batata (Figura 20) e com a

sequência da região aminoterminal do primeiro inibidor de tripsina purificado das sementes

de S. saponaria (SSTI, MACEDO et al., 2011), no entanto, devido ao baixo percentual de

identidade (5,5%) entre as sequências, não é mostrado no alinhamento.

Através de análises de bioinformática, foi possível comparar a massa dos

peptídeos sequenciados com a massa teórica de peptídeos com sequências correspondentes

(Tabelas 9 e 10). Essa análise é mais uma evidência que corrobora os dados experimentais

das sequências obtidas e, consequentemente, com a sequência total proposta para o SSTI2.

Como pode ser observado nas tabelas, há pouca ou nenhuma diferença entre as massas

calculadas e as massas experimentais, diferenças essas que podem ser atribuídas à calibração

do aparelho.

Outra forma de confirmar a estrutura primária proposta para o inibidor foi a

comparação da massa real obtida por ESI-MS com a massa molecular para a sequência

teórica. Essa comparação mostrou que a diferença entre as duas massas é de 171 Da (para o

cálculo da massa teórica foram utilizados apenas os resíduos de aminoácidos encontrados, ou

seja, 67 dos 69 aminoácidos previstos para SSTI2), restando assim apenas duas possibilidades

de dipeptídeos (Tabela 11) para a extremidade carboxiterminal: 1- isoleucina (I) ou leucina

(L) e glicina (G) ou 2- valina (V) e alanina (A). Essa abordagem, aliada aos resultados de

alinhamento com sequências de proteínas já depositadas em bancos de dados (NCBI), sugere

que os dois últimos aminoácidos da extremidade carboxi terminal sejam isoleucina (I) e

86

glicina (G), como pode ser visto na Figura 20. A Figura 20 apresenta ainda a identidade

encontrada entre o SSTI2 e sequências de outros inibidores da família Batata I (55-64%). Os

36 primeiros aminoácidos da região aminoterminal do SSTI2 foram também alinhados com os

36 primeiros aminoàcidos da mesma região do SSTI (MACEDO et al., 2011), no entanto,

devido a baixissíma identidade encontrada (5,56%) não é mostrado na figura.

87

Tabela 9 – Comparação entre as massas teóricas e experimentais dos peptídeos oriundos da digestão

enzimático do SSTI2 com tripsina imobilizada em agarose. Os peptídeos obtidos foram sequenciados e as

massas observadas foram comparadas com a massa teórica das sequências obtidas pela ferramenta MS-Isotope,

presente na plataforma online ProteinProspector v 5.10.0

SEQUÊNCIA MASSA (Da)

CALCULADA EXPERIMENTAL

VTKAPR 671,4 671,3

(L/I)AECPGQK 902,4 902,4

VWVNNHGK 953,5 953,8

VRVWVNNHGK 1208,6 1208,6

VWVNNHGKVT(K/Q)APR 1605,9 1605,9

VRVWVDNHGKVT(K/Q)APR 1862,0 1861,9

SWPE(L/I)VGASGEVAATKIER 2000,0 2000,0

(I/L)ERENHNVDAVV(L/I)(L/I)EGTPVTR 2361,3 2361,2

QSWP(L/I)VGASGEVAATK(L/I)ERENHNVDAVV(L/I)(L/I)EGTPVTR 3943,7 3943,7

88

Tabela 10 – Comparação entre as massas teóricas e experimentais dos peptídeos oriundos da digestão enzimático do SSTI2 com pepsina imobilizada em agarose. Os peptídeos obtidos foram sequenciados e as

massas observadas foram comparadas com a massa teórica das sequências obtidas pela ferramenta MS-Isotope,

presente na plataforma online ProteinProspector v 5.10.0

SEQUÊNCIA MASSA (Da)

CALCULADA EXPERIMENTAL

(L/I)AECPGQKSW

1175,5

1175,6

(L/I)ERENHNVDA 1196,6 1196,6

WVNNHGKVT(K/Q)A 1253,7 1253,8

ATKIERENHNVDA 1496,6 1496,0

(L/I)AECPGQKSWPE(L/I) 1514,7 1514,8

89

Tabela 11 – Lista de massas de dipeptídeos, úteis para determinação de íons –b2 sequenciados por

espectrometria de massa. Os valores correspondem à soma das massas dos aminoácidos acrescidos de uma

unidade de Da (referente a um próton)

Legendas: *Oxidação;**Carboxidometilcisteína.

Fonte: Cantú et al. (2008).

90

Figura 20 – Alinhamento da sequência aminoacídica do SSTI2 com sequências de outros inibidores da família de inibidores Batata I. O alinhamento foi realizado

utilizando a ferramenta Clustal W de múltiplos alinhamentos disponível na plataforma BioEdit V. 7.0.9.0.. Em azul, o sítio reativo dos inibidores do grupo. Em verde, os dois

últimos aminoácidos da extremidade carboxi terminal. Em amarelo, os resíduos de aminoácidos X indicam os isóbaros (L/I) e o resíduo Z indica os isóbaros (K/Q). Devido a baixa identidade (5,5%), a sequência da região N-terminal do primeiro inibidor purificado das sementes de S. saponaria (SSTI) não é mostrado na figura. ¹Linum

usitatissimun

....|....| ....|....| ....|....| ....|....| ....|....| ....|....| ....|....| .. Identid.

5 15 25 35 45 55 65

SSTI2 -XAECP-GQK SWPELVGASG EVAATKXERE NHNVDAVVXX EGTPVTRDFR CNZVZVWVNN HGKVT-ZAPR IG -

P. tricocarpa MASRCP-GKS SWPELVRAYG EAAAATIERE NRNVDAIVLR EGTPVTKDFR CNRVW--VNE QGVVTRSVP- -- (64%)

R. communis MSNVCL-GKD SWPELVGAKG DDAAATVEKE NKHVHAIVLK EGTPVTRDFR CNRVWVWVDE NGVVT-RAPK TG (63%)

C. maxima --SSCP-GKS SWPHLVGVGG SVAKAIIERQ NPNVKAVILE EGTPVTKDFR CNRVRIWVNK RGLVV-SPPR IG (58%)

J. curcas MASECP-GKS SWPELLGANG KAAAALIEKE NRHVNAIVLK EGTPVTRDFR CDRVWVWVNE CGVVV-RVPI IT (60%)

G. max MASECK-GKS SWPELVGVEG TVAVATIERE NPLVDANTVL KGSIVTADFR CDRVRVWVTK HGIVY-QAPR IG (56%)

V. vinifera MAT-CPDGKS SWPELVGVHG EAAAAIIERE NLNVKAGVVK EGTLVTTDFR CDRVRVWVDS YGIVS-MVPK IG (60%)

A. lyrata MSSECP-RKN SWPELRGTNG DYAATVIERE NPTVDAVVIL DGSPVTADFR CDRVRVFVDR HRIVV-KTPT SG (55%)

L. usitatiss¹ XSRRCP-GKN AWPELVGKSG NMAAATVERE NRNVHAIVLK EGSAMTKDFR CDRVWVIVND HGVVT-SVPH IT (58%)

91

5.3 Efeito do SSTI2 sobre enzimas digestivas de insetos

O inibidor de tripsina obtido de sementes de S. saponaria foi capaz de causar

inibição das enzimas digestivas de todos os insetos testados (Tabela 12), com porcentuais de

inibição variando entre 4,74 a 56,06 quando avaliados em relação às enzimas intestinais totais

dos insetos e 32,21 ± 0,57 a 92,44 ± 0,99 para enzimas digestivas do tipo tripsina. O maior

efeito foi observado em enzimas intestinais do tipo tripsina de Aedes aegypti (92,44%).

92

Tabela 12 – Especificidade de inibição do SSTI2 para enzimas digestivas de insetos

Insetos

Inibição das enzimas

digestivas totais¹ (%)

Inibição das enzimas

digestivas do tipo tripsina²

(%)

Aedes aegypti 56,06 ± 1,41 92,44 ± 0,99

Anticarsia genmatalis 4,74 ± 0,45 32,21 ± 0,57

Anthonomus grandis 19,06 ± 0,49 77,93 ± 0,12

Spodoptera frugiperda 18,31 ± 1,92 71,44 ± 1,23

¹Ensaios realizados utilizando o homogenato intestinal do inseto como fonte de enzimas e azocaseína como

substrato.

²Ensaios realizados utilizando o homogenato intestinal do inseto como fonte de enzimas e N-α-benzoil-DL-

arginina-p-nitroanilida (BapNA) como substrato.

Todos os valores são médias de ensaios realizados em triplicata, utilizando 0,94 µg de inibidor.

93

6. DISCUSSÃO

Muitos autores descreveram a presença de inibidores de peptidase obtidos em

sementes de espécies de diversas famílias botânicas, como Leguminosae (KUNITZ, 1947;

LIN; NG, 2008; MACEDO; XAVIER-FILHO, 1992; OLIVEIRA et al., 2007ab), Solanaceae

(JACINTO et al., 1998; VALUEVA et al., 1997, 1998; WALDRON et al., 1993), Poaceae

(ABE; ARAI, 1991; ABE; KONDO; ARAI, 1987; ABE; SIDENIUS; SVENSON, 1993;

ABE; WHITAKER, 1988; KONDO et al., 1990), Cucurbitaceae (KRISHNAMOORTHI;

GONG; RICHARDSON, 1990; WONG; FONG; NG, 2004; TSOI et al., 2004;), Asteraceae

(KOUZUMA et al., 1996, 2000), Rutaceae (SHEE; SHARMA, 2007; SHEE et al., 2007ab) e

Euphorbiaceae (CHAUDARY et al., 2008; SRITANYARAT et al., 2006). Dentre esses, a

maioria é inibidor de serinopeptidases oriundos das famílias Leguminosae, Solanaceae e

Poaceae (RICHARDSON, 1991), exibindo diferentes propriedades bioquímicas e biológicas.

No presente estudo, um inibidor de tripsina foi purificado das sementes de Sapinus saponaria,

uma espécie pertencente à família Sapindaceae, consistindo no segundo relato da purificação

de um inibidor de peptidases nessa família. Macedo et al. (2011) relataram a obtenção do

primeiro inibidor de peptidases de sementes de S. saponaria, o qual, além das diferenças nas

técnicas utilizadas para purificação, possui algumas características divergentes do purificado

nesse trabalho. Nomeado de SSTI, o inibidor descrito por Macedo et al. (2011) é um dímero

de 18 kDa (uma cadeia de 3 kDa e outra de 15 kDa) que possui alta atividade inibitória in

vitro (2,4 x 10-9

mol.L-1

) sobre a tripsina bovina e enzimas digestivas de insetos-praga e cuja

sequência aminoacídica da região aminoterminal mostrou considerável identidade (50-63%)

com sequências de outros inibidores do tipo Kunitz. Por outro lado, o inibidor purificado no

presente estudo é uma cadeia polipeptídica de 7,6 kDa, possuindo expressiva atividade

inibitória in vitro sobre a atividade proteolítica da tripsina bovina e de enzimas digestivas de

insetos, apresentando alta identidade (58-64%) com outros inibidores da família Batata I e

apenas 5,56% de identidade com os 36 primeiros aminoácidos da região N-terminal do SSTI.

Assim, o novo inibidor purificado no presente estudo foi denominado de SSTI2.

O novo inibidor de tripsina de S. saponaria (SSTI2) foi purificado após

precipitação do extrato proteico bruto (EB) com ácido tricloroacético (TCA), seguida de

cromatografia de afinidade à matriz de Tripsina-Sepharose 4B e cromatografia de fase reversa

94

em sistema RP-UFLC, técnicas essas frequentemente utilizadas na purificação desse grupo de

moléculas (KRISHNAMOORTHI; GONG; LORENC-KUBIS et al., 2001; RICHARDSON,

1990; RICHARDSON, 1991; OLIVEIRA et al., 2007ab). O fracionamento do EB com adição

de volumes diferentes de TCA (encerrando concentrações finais entre 1-5%) levou a uma

diminuição expressiva no teor de proteínas solúveis e a uma discreta diminuição no percentual

de atividade inibitória de tripsina das frações (Figura 9) em relação ao extrato bruto.

Ademais, com o aumento da concentração do ácido houve a manutenção do teor de proteínas

e uma diminuição progressiva na atividade inibitória da enzima, levando a diferenças na

atividade específica (Tabela 6). Assim, a F1% (fração obtida quando a concentração final de

ácido no volume total do EB correspondia a 1%) foi escolhida por manter a mais alta

atividade específica. A Figura 14 mostra o perfil eletroforético obtido em gel de tris-tricina

dos diferentes passos de purificação, onde é possível observar que na F1% ocorreu uma

diminuição expressiva na diversidade de proteínas em relação ao EB, principalmente aquelas

de massa molecular alta. Sabe-se que o ácido tricloroacético precipita principalmente

proteínas de elevada massa molecular (CARREIRA et al., 2003; GREENBERG; SHIPE,

1979), sendo assim uma excelente ferramenta na purificação de proteínas de baixa massa

molecular como os IP’s.

O primeiro passo cromatográfico, realizado após a precipitação com TCA, foi a

cromatografia de afinidade (Figura 10), uma técnica de separação baseada na interação

reversível entre uma proteína (ou um grupo de proteínas) e um ligante específico acoplado a

uma matriz cromatográfica (AMERSHAM-BIOSCIENCES, 2012). Neste estudo, foi utilizada

uma matriz cromatográfica de Tripsina-Sepharose 4B, a qual possuía moléculas de tripsina

bovina ligadas covalentemente à matriz de agarose. Krishnamoorthi, Gong e Richardson

(1990) descreveram a purificação de um inibidor de tripsina e do fator de Hageman (uma

peptidase serínica envolvida na coagulação sanguínea) pertencente ao grupo Batata I em

sementes de abóbora (Cucurbita maxima), utilizando a cromatografia de afinidade como

primeiro passo de purificação. Os autores observaram ainda a propriedade da tripsina

imobilizada na matriz em clivar o sítio reativo de inibidores íntegros no complexo inibidor-

enzima, produzindo assim formas modificadas (clivadas) dos inibidores, os quais levaram a

formação de picos cromatográficos de pares de inibidores íntegros (com massa molecular de

aproximadamente 7 kDa) e de inibidores modificados (com massa molecular de cerca de 3

kDa) no passo cromatográfico subsequente (RP-UFLC), os quais foram diferenciados através

95

de sequenciamento dos resíduos de aminoácidos. No presente estudo, formas modificadas não

foram observadas, mas podem ter sido geradas durante o processo, uma vez que apenas o

SSTI2 teve sua massa molecular acurada e a sequência primária determinada por

espectrometria de massa, informações essas que, comparadas com dados da literatura

(BEUNING; SPRIGGS; CHRISTELLER, 1994; KRISHNAMOORTHI; GONG;

RICHARDSON, 1990) sugerem que essa é forma íntegra do inibidor.

O perfil eletroforético em gel de tris-tricina (Figura 14), o perfil cromatográfico

gerado em coluna de fase reversa do inibidor reduzido e alquilado (Figura 17) e as análises

por espectrometria de massa (Figuras 12b e 13ab) comprovam a pureza do SSTI2, o qual

apresentou um índice de purificação de 155 vezes (Tabela 7), valor esse comparável aos

inibidores de tripsina obtidos de sementes de Tamarindus indica (127 vezes) e Pithecelobium

dumosum (176 vezes) (ARAÚJO et al., 2005; OLIVEIRA et al., 2007a ) e bem superior aos

obtidos pelos inibidores de Momordica cochinchinensis (5-10 vezes), Glycine max (65 vezes)

e Vigna mungo (55 vezes) (LIN; NG, 2008; PRASAD; DUTTA-GUPTA; PADMASREE,

2010; WONG; FONG; NG, 2004). Por outro lado, o rendimento do inibidor purificado foi de

0,0034%, um rendimento extremamente baixo quando comparado com os inibidores de

tripsina purificados de Enterolobium contortisiliquum (0,56%), Lupinus albus (0,022%)

(BEZERRA, 2010; SCARAFONI et al., 2008), porém comparável com o inibidor de

quimotripsina do tipo Kunitz purificado de sementes Erythrina velutina (0,002%) (LUCENA,

2010).

Dentre as frações cromatográficas majoritárias geradas durante a última etapa de

purificação (RP-UFLC), apenas duas (Figura 11) apresentaram percentual elevado de

inibição da tripsina bovina (>95%). Esses produtos cromatográficos foram analisados por

espectrometria de massas em aparelho do tipo MALDI-TOF. A fração nomeada de P1

(Figura 12a) apresentou uma grande diversidade de proteínas na faixa analisada (3,5 - 24,5

kDa), sendo então descartada. Em contraponto, a análise de espectrometria de massa em

modalidade MALDI-TOF da fração P2 (Figura 12b) revelou que há apenas uma proteína

majoritária purificada nesse produto cromatográfico (SSTI2), a qual foi ainda analisada por

espectrômetro de massa do tipo ESI-TOF (Figuras 13 a,b) para determinação da massa

molecular acurada (7571, 976 Da.) Muitos grupos de inibidores de peptidases serínicas

apresentam essa faixa de massa molecular, incluindo aquelas do tipo Bowman-Birk, Mostarda

96

e Batata I (HABIB; FAZILI, 2007). Contudo, o sequenciamento do SSTI2 mostrou que este

pertence à superfamília dos inibidores do tipo Batata, apresentando alta identidade com

inibidores do tipo Batata I (Figura 16) e uma baixa identidade (5,5%) com o primeiro

inibidor purificado de sementes de S. saponaria, purificado por Macedo et al., 2011 (SSTI,

família de inibidores do tipo Kunitz; Sequência não incluída na Figura 16). Apesar da

maioria dessas sequências com elevada identidade com o SSTI2 corresponderem a sequências

previstas através do genoma das espécies (Jatropha curcas, Populus trichocarpa, Ricinus

communis, Glycine max etc.), os inibidores de tripsina da família batata I foram purificados de

sementes de Cucurbita maxima, com 7106 Da (KRISHNAMOORTHI; GONG;

RICHARDSON, 1990) e Linum usitatissimum, com 7655 Da (LORENC-KUBIS et al., 2001)

através de técnicas semelhantes de purificação. Em comparação com os outros grupos de

inibidores de peptidase serínicas, há poucos estudos descrevendo a purificação e determinação

da estrutura primária de inibidores do tipo Batata I, uma família de inibidores presente em

anelídeos (SHEMULLER et al., 1980; WOJTASZEK et al., 2006) e plantas (CHAUDARY et

al., 2008; KRISHNAMOORTHI; GONG; RICHARDSON, 1990; SRITANYARAT et al.,

2006; TSOI et al., 2004). Esse grupo é composto por inibidores de peptidase serínicas que

geralmente apresentam uma massa molecular entre 6-8 kDa, falta de hipervariabilidade no

sítio reativo e um teor baixo de cisteínas que geralmente formam uma única ponte dissulfeto,

cujo rompimento, diferentemente da maioria dos grupos de inibidores, não apresenta

influência na função da proteína (BEUNING; SPRIGGS; CHRISTELLER, 1994;

RICHARDSON, 1991; TSOI et al., 2004).

No que diz respeito à elucidação da estrutura primária do inibidor, foram

utilizadas análises de espectrometria de massa com ionização induzida por laser assistida por

matriz (MALDI) e com ionização induzida por electrospray (ESI), tendo sendo em ambas as

técnicas utilizados analisadores de tempo de voo (TOF). Nessas análises, foram utilizadas

estratégias como fragmentação por decaimento direto na fonte (ISD) e fragmentação de

peptídeos gerados por hidrólises enzimáticas com peptidases, técnicas amplamente utilizadas

no sequenciamento de proteínas (CANTÚ et al., 2008; HARDOUIN, 2007; TANAKA et al.,

1996). A primeira técnica utilizada foi a ISD-MALDI-TOF, através da qual foram

determinados 48 dos 69 aminoácidos. No entanto, os demais aminoácidos das extremidades

amino e carboxi-terminal do inibidor continuavam desconhecidos (Figura 16). O SSTI foi

então submetido a tratamentos proteolíticos independentes com pepsina e tripsina. O

97

tratamento enzimático com tripsina imobilizada em agarose gerou peptídeos que confirmaram

a sequência determinada por ISD e revelaram os aminoácidos restantes na região N-terminal.

O tratamento enzimático com pepsina gerou também outros peptídeos que confirmaram a

sequência obtida pelas demais técnicas e elucidaram parte da extremidade C-terminal,

restando apenas dois resíduos de aminoácidos não revelados.

Através de ferramentas de bioinformática, as massas dos peptídeos obtidas através

de MALDI-TOF/MS foram comparadas com suas massas teóricas, corroborando assim a

exatidão da interpretação de suas sequências (Tabelas 9 e 10). Essa mesma ferramenta foi

utilizada para calcular a massa teórica de toda a sequência obtida para, em seguida, compará-

la com a massa obtida por ESI-TOF (Figuras 13b). A diferença de massas encontrada nessa

comparação foi de 171 Da, referentes aos resíduos não determinados experimentalmente,

restringindo assim as possibilidades para apenas dois dipeptídeos, A e V ou G e I/L. Apesar

dessa ambiguidade, a alta identidade do SSTI2 com inibidores que possuem a terminação IG

no C-terminal sugere que esses sejam os dois últimos resíduos de aminoácidos da região

(Figura 16).

A rigor, outros resíduos de aminoácidos do SSTI2 ainda não foram totalmente

determinados (Figura 20), sendo isso devido ao fato de que uma das limitações do

sequenciamento por espectrometria de massa é a dificuldade na distinção entre espécies

isobáricas, ou seja, resíduos de aminoácidos com a mesma ou aproximadamente a mesma

massa molecular monoisotópica, como lisina (K; 128,09496 Da) com glutamina (Q;

128,05858 Da) e leucina (L; 113,08406 Da) com isoleucina (I; 113,08406 Da). Contudo, os

padrões de clivagem por enzimas específicas de alta pureza e equipamentos com exatidão de

massa e resolução elevadas, como o micrOTOF-Q II utilizado neste estudo são ferramentas

úteis na diferenciação entre lisina e glutamina (CANTÚ et al., 2008). No entanto, mesmo

assim a espécie isobárica K/Q na posição 67 (Figura 20) não foi determinada

inequivocamente, apesar da não ocorrência de clivagens na ligação peptídica entre esse

resíduo e o resíduo vizinho durante o tratamento com tripsina, o que indicaria que esse pode

ser um resíduo de glutamina. Dessa forma, tratamentos enzimáticos com outras peptidases,

sequencimento pelo método da degradação de Edman, ou ainda, técnicas de biologia

molecular são necessárias para determinar com maior precisão o resíduo de aminoácido da

98

posição 67, os dois últimos resíduos da região C-terminal e os isóbaros do tipo L/I das

posições 2, 27, 39 e 40.

É importante ressaltar que através do tratamento do SSTI2 com pepsina era

esperado principalmente a geração de peptídeos, provenientes da quebra do inibidor, quando

na posição P1 residissem resíduos de fenilalanina (F) e leucina (L). Entretanto,

surpreendentemente foram gerados peptídeos quando resíduos de prolina (P), valina (V),

triptofano (W) e alanina (A) ocupavam essa posição (MEROPS, 2012). Esse fato pode ser

explicado por contaminação da pepsina com outras peptidases e pela faixa de pH

recomendada pelo fabricante (PIERCE, Rockford, USA) para o tratamento enzimático ser

mais elevada que o pH ótimo da peptidase.

Devido às limitações de rendimento, uma série de características bioquímicas do

SSTI2 não foram determinadas, como constante de inibição (Ki), modo de inibição e

resistência a pH, temperatura e a agentes redutores. A estabilidade funcional é bastante

conhecida em inibidores e comumente avaliada em trabalhos que relatam a sua purificação

(CHAUDARY et al., 2008; LIN; NG, 2008; PRASAD; DUTTA-GUPTA; PADMASREE,

2010). No entanto, a concentração do inibidor que reduz em 50% a atividade proteolítica da

tripsina (IC50) foi determinada. Assim, O inibidor purificado apresenta uma IC50 sobre a

tripsina bovina na magnitude de 8,32 x 10-8

mol.L-1

ou 0,083 µmol.L-1

(Figura 15), um valor

consideravelmente baixo quando comparado com uma defensina com atividade inibitória de

tripsina, que foi purificada de sementes de Cassia fistula ( IC50 = 2 µmol.L-1

) (WYJAYA et

al., 2000) e com inibidores de tripsina purificado de Jatropha curcas (IC50 = 1,10 µmol.L-1

),

Phaseolus vulgaris (IC50 = 0,6 µmol.L-1

) e Glycine max (IC50 = 19 µmol.L-1

) (DA COSTA,

2012; SUN; WANG; NG, 2010; YE; NG, 2009).

Dentre as enzimas avaliadas quanto à especificidade enzimática do SSTI2

(Tabela 8), o inibidor apresentou inibição potente apenas sobre a atividade proteolítica da

tripsina bovina (100%), apresentando uma atividade inibitória baixa sobre a quimotripsina

(13,94%) e papaína (5,28%) e nenhum efeito sobre a bromelaína. Uma explicação plausível

para esses resultados pode ser a maior especificidade do SSTI2 a enzimas do tipo tripsina.

Tsoi et al. (2004) relataram que quando cerca de 1 micrograma do inibidor da família Batata I

purificado de sementes de Momordica cochinensis foi utilizado em ensaio de avaliação da

capacidade inibitória de enzimas serínicas, este foi capaz de causar completa inibição da

99

atividade proteolítica da quimotripsina e subtilisina, sendo necessário cerca de dez vezes essa

massa para causar o mesmo efeito inibitório sobre a elastase e mais de cem vezes para causar

o mesmo efeito sobre a tripsina, mostrando assim a diferença na especificidade do inibidor.

Muitos inibidores são capazes de atuar sobre enzimas de mais de uma classe mecanicística

(GOMES et al., 2005; OLIVEIRA et al., 2007ab), o que não é o caso dos inibidores da

família Batata I, os quais costumam atuar exclusivamente em enzimas serínicas (TURRÀ;

LORITO, 2011), o que explicaria o baixo efeito sobre as enzimas cisteínicas bromelaína e

papaína.

Como forma preliminar de avaliar o efeito de inibidores de peptidase em insetos

alvo, muitos autores avaliam a sua especificidade sobre as enzimas intestinais desses insetos

em experimentos in vitro (JONGSMA; BOLTER, 1997; KOIWA et al., 1998; MACEDO et

al., 2011; OLIVEIRA et al., 2007ab; PANNETIER et al., 1997;). Muitos desses inibidores

são ainda incorporados à dieta de insetos em ensaio in vivo, apresentando efeitos supressores

no desenvolvimento, crescimento e sobrevivência desses animais (MACEDO et al., 2003;

MACEDO et al., 2004; CHOUGULE et al., 2008), comprovando, assim, a correlação entre os

ensaios in vivo e in vitro. O potencial biotecnológico do inibidor purificado nesse estudo para

o controle de insetos-praga foi avaliado através de ensaios de inibição in vitro sobre as

enzimas digestivas totais e do tipo tripsina de insetos de grande importância agrícola (Tabela

12), como Anthonomus grandis (Coleoptera: Curculionidae), Anticarsia gemmatalis

(Lepidoptera: Erebidade) e Spodoptera frugiperda (Lepidoptera: Noctuidae), bem como sobre

enzimas digestivas do vetor da dengue, Aedes aegypti (Diptera: Culicidae).

Geralmente, peptidases digestivas do tipo serínica como tripsina, quimotripsina e

elastase são predominantes em insetos da ordem Lepidóptera e Díptera (GATEHOUSE et al.,

1999; HAQ; KHAN, 2004; SILVA et al., 2006; TERRA; FERREIRA, 1994), isso inclui os

lepidópteros da família Noctuidae, os quais apresentam uma predominância de enzimas do

tipo tripsina e quimotripsina (CHOUGULE et al., 2008) e dípteras como Aedes aegypti, que

apresentam enzimas do tipo tripsina como principais peptidases digestivas (KUNZ, 1978;

VENANCIO et al., 2009). Por outro lado, insetos da ordem Coleóptera possuem uma

predominância de enzimas dos tipos cisteínica e aspártica em seus intestinos médios (LEMOS

et al., 1990; LECARDONNEL et al., 1999). No entanto, no caso do coleóptero A. grandis,

Oliveira-Neto et al. (2004) descreveram a presença de uma diversificada família de genes que

100

espressam peptidases serínicas no intestino do inseto, com predominância de enzimas

semelhantes à tripsina. Dessa forma, na concentração de 0,192 µmol.L-1

, o SSTI2 apresentou

uma baixa atividade inibitória sobre a atividade proteolítica intestinal total de A. grandis

(19,06%), An. gemmatalis (4,74%) e S. frugiperda (18,31%), embora uma moderada atividade

inibitória tenha sido detectada sobre as enzimas digestivas totais de Ae. aegypti (56,06%). Em

contraste, na mesma concentração o inibidor causou uma expressiva inibição sobre as enzimas

digestivas do tipo tripsina de Ae. aegypti (92,44%), A. grandis (77,93%) e S. frugiperda

(71,44%), ao passo que em An. gemmatalis o efeito inibitório observado foi de apenas

32,21%. A predominância das enzimas digestivas nessas espécies de insetos, aliado à aparente

especificidade do SSTI2 frente a enzimas do tipo tripsina, justificam os percentuais de

inibição observados frente às peptidases intestinais dos insetos avaliados. Os resultados

observados para A. grandis são condizentes com os resultados apresentados pelo inibidor de

tripsina purificado de Piptadenia moniliformis, o qual causou um percentual elevado de

inibição (89,93%) sobre a atividade proteolítica intestinal total do inseto (CRUZ, 2008). Além

disso, o valor de inibição do SSTI2 em enzimas digestivas do tipo tripsina do An. gemmatalis

foi comparável ao observado pelo primeiro inibidor purificado das sementes de S. saponaria

(MACEDO et al., 2011), o qual, quando utilizado uma massa semelhante à utilizada no

presente estudo, causou aproximadamente 40% de inibição.

Os resultados de especificidade a enzimas digestivas de insetos acima descritos

atestam o potencial do SSTI2 na produção de plantas transgênicas resistentes ao ataque de

insetos fitófagos. Vale ressaltar que alguns inibidores de peptidases foram utilizados com

sucesso nesse sentido, incluindo inibidores to tipo batata I (HABIB; FAZILI, 2007;

MOSOLOV; SMITH; CLEMENT, 2012; TURRÀ; LORITO, 2012; VALUEVA, 2008).

Dunse et al. (2010), por exemplo, inseriram genes codificantes de um inibidor do tipo Batata

I oriundo de Solanum tuberosum (batata) e de um inibidor do tipo Batata II oriundo de

Nicotiana alata (tabaco) em plantas de algodão, conferindo grande resistência ao inseto

lepidóptero Helicoverpa punctigera. Em relação aos promissores resultados observados sobre

as enzimas digestivas de Ae. aegypti, é importante ressaltar que há raros relatos de estudos

enfocando o efeito de inibidores de peptidases sobre o inseto (DE ARRUDA et al., 2011).

Esses resultados, aliados a ensaios de toxicidade in vivo, trazem inúmeras possibilidades para

o uso desse inibidor no controle do inseto, como, por exemplo, através da aplicação direta do

SSTI2 ou de formulações de liberação controlada do mesmo em locais de proliferação do

101

mosquito. De acordo com Jeffers e Roe (2008), outra perspectiva promissora para o uso de

inibidores de peptidase no controle de insetos é a aplicação de tais inibidores em associação

com outras proteínas tóxicas a esses animais. E ainda, de acordo com Lehane (1994), o uso

de moléculas essenciais para a digestão de insetos hematófagos como alvos moleculares para

o desenvolvimento de vacinas é uma abordagem promissora para o controle de doenças

transmitidas por esses insetos como a dengue, malária, etc.

102

7 – CONCLUSÕES

As conclusões do presente estudo foram as seguintes:

As sementes de Sapindus saponaria expressam mais de um inibidor de peptidase,

pertencentes a diferentes famílias de inibidores.

Um novo inibidor de tripsina foi purificado das sementes de S. saponaria, através de

fracionamento com ácido tricloroacético (TCA), cromatografia de afinidade a tripsina

e cromatografia de fase reversa em sistema UFLC. Nomeado de SSTI2, o inibidor

apresenta baixa massa molecular (7,5 kDa) e grande especificidade para tripsina

bovina (IC50 = 0,083 µmol.L-1

), possuindo, no entanto, um efeito inibitório baixo

sobre a quimotripsina e papaína e nenhuma inibição sobre a atividade proteolítica da

bromelaína.

Além disso, o inibidor teve sua estrutura primária elucidada e foi identificado como

pertencente à família de inibidores do tipo Batata I, apresentando identidade elevada

com sequências de outros inibidores do grupo (55-64%).

O SSTI2 foi capaz de causar intensa inibição in vitro de enzimas digestivas do tipo

tripsina de importantes insetos-praga de plantas e de insetos vetores de doenças (71,44

– 92,44%), sendo assim uma nova e potente molécula com grande potencial

biotecnológico no controle desses insetos

103

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