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UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS INSTITUTO DE CIÊNCIAS EXATAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM QUÍMICA ESTUDO FITOQUÍMICO E ATIVIDADES BIOLÓGICAS DE Eperua duckeana E Eperua glabriflora (FABACEAE) LIDIAM MAIA LEANDRO MANAUS 2011

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS

INSTITUTO DE CINCIAS EXATAS

PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM QUMICA

ESTUDO FITOQUMICO E ATIVIDADES BIOLGICAS DE Eperua duckeana

E Eperua glabriflora (FABACEAE)

LIDIAM MAIA LEANDRO

MANAUS

2011

i

UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS

INSTITUTO DE CINCIAS EXATAS

PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM QUMICA

LIDIAM MAIA LEANDRO

ESTUDO FITOQUMICO E ATIVIDADES BIOLGICAS DE Eperua duckeana e

Eperua glabriflora (FABACEAE)

Orientador: Prof. Dr. Valdir Florncio da Veiga Junior

MANAUS

2011

Dissertao apresentada ao Programa

de Ps-Graduao em Qumica da

Universidade Federal do Amazonas,

como parte do requisito para obteno

do ttulo de Mestre em Qumica, rea de

concentrao em Qumica Orgnica.

ii

Ficha Catalogrfica (Catalogao realizada pela Biblioteca Central da UFAM)

L437e

Leandro, Lidiam Maia

Estudo fitoqumico e atividades biolgicas de Eperua duckeana e Eperua glabriflora (Fabaceae) / Lidiam Maia Leandro. - Manaus: UFAM, 2011.

217 f.; il.

Dissertao (Mestrado em Qumica Orgnica) Universidade Federal do Amazonas, 2011.

Orientador: Prof. Dr. Valdir Florncio da Veiga Junior

1. Essncias e leos essenciais 2. Plantas medicinais 3. Fitoqumica 4. Bioqumica I. Veiga Junior, Valdir Florncio da (Orient.) II. Universidade Federal do Amazonas III. Ttulo

CDU 665.325.3(043.3)

ii

LIDIAM MAIA LEANDRO

ESTUDO FITOQUMICO E ATIVIDADES BIOLGICAS DE Eperua

duckeana e Eperua glabriflora (FABACEAE)

Aprovada em 18 de abril de 2011.

BANCA EXAMINADORA

Dissertao apresentada ao Programa de Ps-

Graduao em Qumica da Universidade

Federal do Amazonas, como parte do requisito

para obteno do ttulo de Mestre em Qumica,

rea de concentrao em Qumica Orgnica.

iii

AGRADECIMENTOS

Deus por ter estado comigo e me reanimado quando mais precisei, por ter me dado

sade e colocado pessoas boas no meu caminho. Obrigada por mais essa conquista!

Aos meus pais, Maria Rosivalda M. Leandro (a melhor me do mundo!) e Joo

Batista A. Leandro pelo amor, carinho, incentivo e apoio financeiro e minha querida irm

Lilian M. Leandro pelos conselhos e por sempre ter estado presente, mesmo distante.

Obrigada famlia pelo amor imensurvel de vocs!

A toda Famlia Maia e Famlia Leandro, em especial ao meu Tio Silas pelo incentivo.

Ao Leandro Prado por todo amor, pacincia e compreenso.

Ao Prof. Dr. Valdir F. Veiga Jnior, que me acolheu como aluna de iniciao

cientfica e se disponibilizou a me orientar no curso de mestrado. Meus agradecimentos e

admirao pelo exemplo de excelente orientador, incansvel e determinado e que demonstra

um amor incondicional pesquisa, difcil de ser encontrado.

s minhas queridas amigas Klenicy Yamaguchi, Priscilla Oliveira , Joelma

Alcntara, Milena Campelo e Paula Barbosa que aps vrias batalhas, vitrias e derrotas,

se tornaram parte da minha vida. Obrigada meninas por tornarem momentos de intenso

trabalho em algo mais descontrado, e principalmente pelas palavras de alento sempre vindas

em boa hora. Sucesso na carreira de vocs!

Aos amigos Igor Medeiros, e Carol Mathias pelos bons momentos de convivncia e

ajuda nas dificuldades.

Ao amigo e mano Andr Rdiger pelos conhecimentos compartilhados e conversas

que me ajudaram a tomar decises importantes.

bolsista de iniciao Dborah pelas companhias noturnas e nos fins de semanas no

laboratrio.

A todos os alunos (e ex-alunos) do Laboratrio B-09 pela ajuda nas horas necessrias:

Daniele Cardoso, Lamark, Vanessa Campos, Priscila Moraes, rika Izumi, Fabiano

Vargas, Roosevelt Haad, Diego Rabelo, Iuri Barros e Daiana Custdio.

Aos alunos do B-08, em especial, Dominique Fernandes e Jnior Ribeiro por me

ajudarem sempre quando precisei.

A Dra. Rita de Cssia Nunomura e seus alunos de iniciao cientfica, Viviane

Guedes e ao Magno, pelas ajudas iniciais dos ensaios antioxidantes. E ao bolsista do INPA

Nerilson por sempre se mostrar prestativo.

iv

Ao Prof. Dr. Afonso Duarte por disponibilizar os aparelhos do Laboratrio da

Central Analtica (UFAM) e aos alunos Felipe Moura, Mayane Souza, Hctor pelas anlises

realizadas.

Aos professores da Ps-graduao em Qumica PPGQ-UFAM pelas aulas

ministradas contribuindo na minha formao.

As Profa. Rita de Cssia Nunomura e Maria da Paz pelas contribuies no Exame

de Conhecimento.

Ao Prof. Dr. Celso Vataru Nakamura do Laboratrio de Microbiologia Aplicada aos

Produtos Naturais da Universidade Estadual de Maring e alunos que realizaram os ensaios de

atividade antimicrobiana.

Profa. Patrcia Orlandi e as bolsistas Ivanildes e Renata da FIOCRUZ-AM que

me ensinaram e ajudaram a realizar os ensaios atividade antibacteriana.

Aos Profs. Dr. Manoel Odorico e Cludia Pessoa do Laboratrio de Oncologia

Experimental da Universidade Federal do Cear pela realizao dos ensaios de atividade

citotxica em clulas tumorais.

Ao Prof. Massayoshi e aos tcnicos Raimundo Jnior e Laura Cristina pelas

anlises de RMN e CG e Danielle Paiva pela intermediao das solicitaes de oramentos.

Aos Professores da Banca.

Ao CNPq pela concesso da bolsa.

Enfim, muito obrigada a todos que direta ou indiretamente contriburam para a

realizao deste trabalho!

v

RESUMO Eperua um gnero da famlia Fabaceae, endmico da Amaznia Central. O leo exsudado das espcies Eperua oleifera, Eperua purpurea e Eperua falcata utilizado na medicina popular de modo anlogo ao da copaba, como cicatrizante, antifngico e bactericida. De modo geral, duas classes de substncias tm sido isoladas de espcies desse gnero: terpenos e flavonides. Apesar das espcies Eperua glabriflora e Eperua duckeana serem comuns na Amaznia, nunca foram estudadas qumica ou farmacologicamente. O presente trabalho teve como objetivo avaliar a composio qumica dos extratos obtidos das cascas do tronco e folhas e determinar as atividades antioxidantes, antibacteriana, antifngica, antiprotozoria e citotoxicidade em clulas tumorais, alm de analisar a composio qumica dos leos essenciais das folhas e talos dessas espcies. O material vegetal foi coletado na Reserva Ducke em Manaus e as cascas e folhas foram secas temperatura ambiente e posteriormente trituradas. Os extratos foram preparados por macerao com solvente em ordem crescente de polaridade (hexano, acetato de etila e metanol). Foram obtidos doze extratos brutos. Os extratos apolares das cascas foram analisados por Cromatografia Gs acoplada ao Espectrmetro de Massas (CG-EM) e ao Detector de Ionizao de Chama (CG-DIC). Foram identificadas quatorze substncias, sendo essas: seis cidos graxos (cido hexadecanico, cido 9,12-octadecadienico, cido 9-octadecenico, cido octadecanico, cido tetracosanico e cido hexacosanico); quatro cidos diterpnicos (cido catvico, cido 3-hidroxi-labda-7,13-dieno-15-ico, cido 3-clerodeno-15-ico e um ismero dele); um hidrocarboneto (esqualeno); uma vitamina (-tocoferol); e dois esteris (estigmasterol e -sitosterol). As duas ltimas substncias foram isoladas em mistura e identificadas por mtodos espectromtricos. Do extrato obtido em acetato de etila das cascas de E. glabriflora foi isolado um 3-O-glicosil-flavanonol conhecido como engeletina, presente tambm no extrato da E. duckeana, porm, em menor concentrao; e um flavonide de M+ 476. Os leos essenciais foram obtidos por hidrodestilao, em aparelho clevenger modificado durante 4h, e seco com sulfato de sdio e analisados por CG-DIC e CG-EM. Foram identificados nos leos essenciais 35 constituintes, sendo o -cariofileno e o germacreno D os constituintes majoritrios. Os leos essenciais das folhas e talos apresentaram atividade citotxica em linhagens de clulas tumorais de cncer de mama (MDA/MB-435), clon (HCT8) e sistema nervoso central (SKF-295) com inibies de crescimento de aproximadamente 90%. Os extratos testados apresentaram fraca ou nenhuma atividade antileishmania, trypanosoma cruzi, antifngica e antibacteriana, exceto para o extrato obtido em hexano das cascas de E. glabriflora que apresentou significativa atividade contra a bactria gram-positiva Bacillus subtilis (CIM= 62,5 g/mL). Com relao ao potencial antioxidante, a maior atividade de seqestro de radical livre DPPH foi apresentada pelos extratos obtidos em acetato de etila e metanol das cascas (CI50 10,5 -17,8 g/mL) e ambas espcies. Os resultados obtidos neste trabalho contribuem para o conhecimento qumico e biolgico de duas espcies da biodiversidade amaznica. Palavras chaves: Leguminosae, muirapiranga, antioxidante, citotoxicidade, diterpenos e engeletina.

vi

ABSTRACT Eperua is a genus of the Fabaceae-Caesalpinioideae, endemic to the Central Amazon. The oil-resin of E. oleifera, E. purpurea e E. falcata is used in folk medicine in order analogous to copaiba, as a healing agent antifungal and bactericide. In general, two class substances have been isolated from this species: terpenes and flavonoids. Despite the species E. glabriflora and E. duckeana are common in the Amazon, have never been studied chemically and pharmacologically. This study aimed to evaluate the chemical composition of extracts of bark of trunk and leaves and to determine the antioxidant, antibacterial, antifungal, antiprotozoal and cytotoxic activity against tumor cells, and analyzing the chemical composition of essential oils from leaves and stems of these species. The plant material was collected in Ducke Reserve near Manaus and the bark and leaves were dried at room temperature and later crushed. The extracts were prepared by maceration with solvent in order of increasing polarity (hexane, ethyl acetate and methanol) were obtained twelve crude extracts. The non-polar extracts of bark of trunk were analyzed by gas chromatography coupled with mass spectrometry (GC-MS) and flame ionization detector (GC-FID). It was identified fourteen substances among them: six fatty acids (hexadecanoic acid, 9,12-octadecadienoic acid, 9-octadecenoic acid, octadecanoic acid, tetracosanoic acid and hexacosanoic acid); four diterpene acids (cativic acid, 3-hydroxylabd-7,13-dien-15-oic acid, 3-cleroden-15-oic acid and one isomer); one hydrocarbon (squalene); one vitamin (-tocopherol); and two sterols (stigmasterol and -sitosterol). The latter two substances were isolated in mixture and identified by spectrometric methods. From ethyl acetate extract of bark of trunk E.glabriflora was isolated from 3-O-glycoside-flavanonol, engeletin also present in the extract of E. duckeana, but in lower concentration. Other flavonoid was isolated from M+ 476 u.ma. Essential oils were obtained by hydrodistillation in Clevenger apparatus changed during 4h, then dried with sodium sulfate and analyzed by GC-FID and GC-MS. We identified 35 constituents in essential oils, and the -caryophyllene and germacrene D the major constituents. Essential oils from leaves and stems showed cytotoxic activity against tumor cell lines of breast cancer (MDA/MB-435), colon (HCT8) and central nervous system (SKF-295) with inhibitions of growth of approximately 100%. The extracts tested showed weak or no trypanosoma cruzi or leishmania activity and antibacterial and antifungal activity, except the hexane extract of the bark of E. glabriflora that showed significant activity against gram-positive bacterium Bacillus subtilis (MIC = 62.5 g /mL). With respect to antioxidant potential, the highest activity of free radical sequestration was presented by the extracts in ethyl acetate and methanol of bark of trunk (IC50 10.5 -17.8 mg / mL) in both species. The results of this study contribute to the knowledge of chemical and biological of two species from Amazonian biodiversity. Key-words: Leguminosae, muirapiranga, antioxidant, cytotoxicity, diterpenes and engeletin.

vii

LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Estruturas do sesquiterpeno e triterpeno encontrados em espcies de

Eperua......................................................................................................

32

Figura 2. Esqueletos e numerao dos diterpenos labdanos e clerodanos.............. 33

Figura 3. Estruturas de diterpenos labdnicos isolados de espcies de Eperua... 35

Figura 4. Estruturas de diterpenos clerodnicos isolados de espcies de Eperua... 36

Figura 5. cidos fenlicos e flavonides identificados em espcies de Eperua..... 38

Figura 6. Estrutura do cido labda-8-eno-15-ico................................................ 40

Figura 7. Rota biossinttica dos diterpenos............................................................. 41

Figura 8. Diterpenos com atividades biolgicas...................................................... 43

Figura 9. Estrutura bsica dos flavonides: ncleo flavona...................................... 44

Figura 10. Rota biossinttica dos flavonides............................................................ 45

Figura 11. Estrutura da quercetina. Principais aspectos responsveis pela atividade

antioxidante dos flavonides.....................................................................

48

Figura 12. Mecanismo da estabilizao eltron desemparelhado............................... 49

Figura 13. Estrutura da quercetina. Atribuio dos principais pontos responsveis

pela atividade antioxidante........................................................................

49

Figura 14. Reao de reduo da radical DPPH......................................................... 50

Figura 15. Descolorao da soluo de DPPH na presena de substncias

antioxidantes..............................................................................................

51

Figura 16. Reao do cido glico com molibdnio, componente do reagente de

Folin-Ciocalteu..........................................................................................

52

Figura 17. Aumento da absorvncia devido presena de compostos fenlicos... 52

Figura 18. Estrutura e classe dos principais frmacos antibacterianos de origem

natural.........................................................................................................

53

Figura 19. Estrutura e classe dos principais frmacos antifngicos........................... 56

Figura 20. Leishmaniose............................................................................................. 57

Figura 21. Doena de Chagas..................................................................................... 58

Figura 22. Frmacos derivados de plantas usados na terapia do cncer..................... 60

Figura 23. Substncias derivados de plantas em estudo pr-clnico ou clnico para a

terapia do cncer........................................................................................

62

viii

Figura 24. Etapas da revelao de placa de cromatografia em camada delgada

preparativa..................................................................................................

68

Figura 25. Sistema de cromatografia em coluna utilizando slica flash...................... 71

Figura 26. Localizao da Reserva Florestal Adolpho Ducke.................................... 76

Figura 27. Exsicatas depositadas no Herbrio do INPA............................................ 76

Figura 28. Separao e etapas do tratamento do material vegetal............................... 77

Figura 29. Frmula para o clculo do ndice de Reteno......................................... 79

Figura 30. Frmula para clculo da porcentagem de inibio da atividade

antioxidante.....................................................................................

87

Figura 31. Etapas do Ensaio de atividade bacteriana........ 90

Figura 32. Estruturas dos constituintes majoritrios dos leos essenciais................. 98

Figura 33. Ampliao dos cromatogramas de ons totais dos leos essenciais de E.

duckeana....................................................................................................

99

Figura 34. Ampliao dos cromatogramas de ons totais do leo essencial das

folhas da 1 coleta de E. glabriflora..........................................................

100

Figura 35. Ampliao dos cromatogramas de ons totais do leo essencial das

folhas e talos de E. glabriflora da 2 coleta..............................................

101

Figura 36. Resultado do ensaio qualitativo da presena de compostos fenlicos em

CCD utilizando FeCl3...............................................................................

107

Figura 37. CCD dos extratos obtidos em acetato de etila das cascas.......................... 107

Figura 38. Curva de calibrao (padro) para o teor de fenlicos totais..................... 108

Figura 39. Comparativo dos contedos fenlicos dos extratos brutos das folhas e

cascas da E. duckeana e E. glabriflora......................................................

109

Figura 40. Resultado do teste de shinoda.................................................................... 110

Figura 41. Resultado do ensaio qualitativo de Captura do radical livre DPPH em

CCD utilizando DPPH.............................................................................

111

Figura 42. CCD dos extratos brutos das cascas reveladas com DPPH..................... 112

Figura 43. CCD dos extratos brutos das folhas revelados com DPPH....................... 112

Figura 44. Grfico de correlao entre fenis totais e atividade de captura do

DPPH dos extratos brutos........................................................................

114

Figura 45. Ensaios de atividade antibacteriana (mtodo de difuso de disco)............ 116

Figura 46. CCD comparativa dos extratos das cascas de E. dukeana e E.

glabriflora..................................................................................................

125

ix

Figura 47. Cromatogramas de ons totais dos extratos obtido em hexano das cascas

das duas espcies de Eperua......................................................................

127

Figura 48. Estrutura do cido palmtico..................................................................... 131

Figura 49. Espectros de massas da substncia identificada como cido palmtico... 131

Figura 50. Rearranjo de McLafferty resultando em fragmento de m/z 60.................. 132

Figura 51. Espectro de massas da substncia identificada como ster metlico do

cido palmtico...........................................................................................

132

Figura 52. Mecanismo de formao do on molecular e fragmentao do pico base

de steres metlicos saturados....................................................................

133

Figura 53. Estrutura do cido 9,12-octadecadienico................................................. 133

Figura 54. Espectro de massas da substncia identificada como ster metlico do

cido linoleico............................................................................................

134

Figura 55. Mecanismo de fragmentao do 9,12-octadecadienico de metila............ 134

Figura 56. Estrutura do cido 9-octadecenico........................................................... 135

Figura 57. Espectro de massas da substncia identificada como ster metlico do

cido oleico................................................................................................

135

Figura 58. Mecanismo de fragmentao do 9-octadecenoato de metila..................... 136

Figura 59. Estrutura do cido octadecanico.............................................................. 136

Figura 60. Espectro de massas da substncia identificada como ster metlico do

cido esterico............................................................................................

137

Figura 61. Espectro de massas da substncia identificada como ster metlico do

ismero do cido 3-clerodeno-15-ico......................................................

137

Figura 62. Espectro de massas da substncia com tr: 32,3 minutos............................ 138

Figura 63. Espectro de massas da substncia identificada como ster metlico do

cido 3-clerodeno-15-ico.........................................................................

139

Figura 64. Fragmentao do composto identificado como ster metlico do cido 3-

clerodeno-15-ico......................................................................................

139

Figura 65. Espectro de massas da substncia identificada como ster metlico do

cido catvico.............................................................................................

140

Figura 66. Mecanismo de fragmentao do ster metlico do cido catvico........... 140

Figura 67. Espectro de massas da substncia identificada como ster metlico de

um cido diterpnico no identificado.......................................................

141

Figura 68. Espectro de massas da substncia identificada como ster metlico de

x

um cido graxo no identificado............................................................... 141

Figura 69. Espectro de massas da substncia identificada como ster metlico do

cido 3-hidroxi-labda-7,13-dieno-15-ico.................................................

142

Figura 70. Fragmentao do composto identificado com ster metlico do cido 3-

hidroxi-labda-7,13-dieno-15-ico..............................................................

142

Figura 71. Estrutura do cido tetracosanico.............................................................. 142

Figura 72. Espectro de massas da substncia identificada como ster metlico do

cido lignocrico........................................................................................

143

Figura 73. Estrutura do cido hexacosanico.............................................................. 144

Figura 74. Espectro de massas da substncia identificada como ster metlico do

cido hexacosanico..................................................................................

144

Figura 75. Espectro de massas da substncia identificada como ster metlico de

um cido graxo no identificado................................................................

145

Figura 76. Estrutura do esqualeno.............................................................................. 145

Figura 77. Espectros de massas da substncia identificada como esqualeno.............. 146

Figura 78. Clivagem allica do esqualeno.................................................................. 146

Figura 79. Estrutura do -tocoferol........................................................................... 147

Figura 80. Espectros de massas da substncia com tr = 41,6 min e do -tocoferol..... 147

Figura 81. Fragmentao do -tocoferol.................................................................. 148

Figura 82. Estrutura do estigmasterol.......................................................................... 148

Figura 83. Espectros de massas da substncia com tr = 42,5 min e do estigmasterol. 149

Figura 84. Estrutura do -sitosterol............................................................................ 149

Figura 85. Espectros de massas da substncia com tr =43,1min e do -sitosterol...... 150

Figura 86. Proposta de fragmentao do -sitosterol................................................ 150

Figura 87. Cromatograma de ons totais da frao f1-PP1-HCd................................ 154

Figura 88. Espectros de massas do pico de tempo de reteno 15,5 minutos da

frao f1-PP1-HCd e do lupeol.................................................................

155

Figura 89. Espectro de IV da frao f4-PP2-HCd..................................................... 156

Figura 90. Cromatograma de ons totais da frao f4-PP2-HCd................................. 157

Figura 91. Espectro de RMN 13C da frao f4-PP2-HCd......................................... 157

Figura 92. Espectros de RMN 1H da frao f4-PP2-HCd.......................................... 159

Figura 93. Mapa de contornos HSQC da frao f4-PP2-HCd..................................... 160

Figura 94. Estrutura do -sitosterol e estigmasterol................................................... 161

xi

Figura 95. CCD comparativa dos extratos das cascas de E. duckeana e E.

glabriflora..................................................................................................

168

Figura 96. Cromatograma obtido por CLAE, espectro de UV e EM da frao f1-

PP4-ACg2.................................................................................................

171

Figura 97. Espectro de RMN 1H da frao f1-PP4-ACg2.......................................... 172

Figura 98. Suposies da estrutura do flavonide da frao f1-PP4-ACg2............... 173

Figura 99. Cromatograma obtido por CLAE e espectro de UV da frao f2-PP4-

ACg2..........................................................................................................

174

Figura 100. Cromatograma obtido por CLAE e espectro de UV da substncia com

tempo de reteno 17,7 min da frao f7-C3-ACglab..............................

176

Figura 101. Espectro de massas da substncia com tempo de reteno 17,7 min....... 176

Figura 102. Ampliao do espectro de RMN 1H da amostra f7-C3-ACg..................... 177

Figura 103. Mapa de contornos 1H-1H-COSY da frao f7-C3-ACg........................... 179

Figura 104. Espectro de RMN 13C da amostra f7-C3-ACglab...................................... 181

Figura 105. Mapa de contornos HSQC da frao f7-C3-ACglab................................. 182

Figura 106. Expanso do mapa de contornos HMBC da frao f7-C3-ACglab.......... 183

Figura 107. Estrutura da engeletina............................................................................ 184

Figura 108. Resultado da purificao da frao f9-C2-ACd......................................... 189

Figura 109. Espectros de RMN 1H dos extratos brutos obtidos em metanol............... 190

Figura 110. Ampliao da regio 1 dos espectros de RMN 1H dos extratos

metanlicos................................................................................................

191

Figura 111. Ampliao da regio entre H 5,5 4,5 ppm dos espectros de RMN 1H

dos extratos brutos metanlicos...............................................................

192

Figura 112. Ampliao da regio H 4,1 3,3 ppm dos espectros de RMN 1H dos

extratos brutos metanlicos.......................................................................

193

Figura 113. Ampliao da regio H 3,2 0 ppm dos espectros de RMN 1H (500

MHz, CD3OD) dos extratos brutos..........................................................

194

Figura 114. CCD comparativa dos extratos das folhas de E. duckeana e E.

glabriflora..................................................................................................

195

Figura 115. CCD comparativa dos extratos das folhas obtidos e acetato de etila......... 199

Figura 116. Espectros de RMN 1H dos extratos metanlicos das folhas...................... 200

xii

LISTA DE TABELAS

Tabela 1. Informaes taxonmicas sobre o gnero Eperua................................... 28

Tabela 2. Espcies e partes da planta estudadas em trabalhos anteriores............... 31

Tabela 3. Diterpenos encontrados em espcies de Eperua...................................... 34

Tabela 4. Compostos fenlicos encontrados em espcies de Eperua..................... 37

Tabela 5. Relao entre dimetro da coluna e quantidade da amostra na

cromatografia em coluna com slica flash................................................

71

Tabela 6. Eluentes utilizados na CCD comparativa dos extratos brutos.................. 81

Tabela 7. Bactrias gram (+) e (-) utilizadas no ensaio de atividade bacteriana..... 89

Tabela 8. Massas dos materiais vegetais aps secagem e triturao........................ 96

Tabela 9. Rendimento dos leos essenciais............................................................. 97

Tabela 10. Espectros de massas dos constituintes majoritrios no identificados no

OF2Eglab e OTEglab...............................................................................

102

Tabela 11. Diterpenos identificados no OTEglab...................................................... 103

Tabela 12. Composio qumica percentual do leo essencial das folhas (1 e 2

coleta) e talos de E. duckeana e E. glabriflora ........................................

104

Tabela 13. Massas e rendimentos dos extratos brutos e dos materiais vegetais da

primeira coleta...........................................................................................

105

Tabela 14. Resultado da quantificao de fenlicos totais.......................................... 109

Tabela 15. Resultado do ensaio quantitativo de Captura do radical DPPH.............. 113

Tabela 16. Resultados do Ensaio Antibacteriano (Mtodo de difuso em gar)........ 117

Tabela 17. Resultados do Ensaio Antibacteriano (Mtodo de diluio de caldo)....... 120

Tabela 18. Resultados do Ensaio Antifngico (Mtodo de diluio de caldo)........... 121

Tabela 19. Resultados da atividade Antiparasitria expressa em CI50........................ 122

Tabela 20. Resultado do ensaio de Atividade Citotxica em Linhagens de Clulas

Tumorais dos leos essenciais...................................................................

123

Tabela 21. Resultado do ensaio de atividade citotxica em linhagens de clulas

tumorais dos extratos brutos.....................................................................

124

Tabela 22. Substncias detectadas a partir do CG-DIC e CG-EM............................. 128

Tabela 23. Substncias detectadas nos extratos hexnicos derivatizados com TSM.. 130

Tabela 24. Dados de RMN 1H da mistura de estigmasterol e -sitosterol.................. 162

xiii

Tabela 25. Dados de RMN 13C e DEPT da mistura de estigmasterol e -sitosterol.. 163

Tabela 26. Eluentes e massa das fraes da coluna C1-ACg2................................... 169

Tabela 27. Dados de RMN 1H e [1H-1H]-COSY da frao f7-C3-ACg e

engelentina.................................................................................................

184

Tabela 28. Dados de RMN 13C da frao f7-C3-ACg e engeletina............................ 185

Tabela 29. Eluentes e massas das fraes coletadas no fracionamento do extrato

das folhas obtido em hexano de E. glabriflora.........................................

197

xiv

LISTA DE ESQUEMAS

Esquema 1. Esquema geral da obteno das fraes neutra e cida dos

extratos brutos.................................................................................

70

Esquema 2. Esquema geral das extraes realizadas a partir do material

vegetal seco.....................................................................................

78

Esquema 3. Esquema geral dos Ensaio qumicos e biolgicas realizados com

os extratos brutos............................................................................

83

Esquema 4. Pr-fracionamento do extrato hexnico das cascas da E.

duckeana.........................................................................................

151

Esquema 5. Fracionamento da frao no-cida do EHCEduck........................ 152

Esquema 6 Fracionamento da frao f4-C2-HCd............................................. 153

Esquema 7 Fracionamento da frao cida A1-EHCEduck............................. 164

Esquema 8 Fracionamento do extrato EHCEglab1........................................... 165

Esquema 9. Fracionamento da frao cida A1-EHCEglab1............................ 166

Esquema 10. Pr-fracionamento do extrato EHCEglab2..................................... 167

Esquema 11. Fracionamento da frao f4-C1-ACg2........................................... 170

Esquema 12. Fracionamento da frao f5-C1-ACg2.......................................... 175

Esquema 13 Fracionamento da frao f6-C1-ACg2........................................... 186

Esquema 14 Pr-fracionamento do EACEduck.................................................. 187

Esquema 15 Fracionamento da frao f4-C1-ACd.............................................. 188

Esquema 16 Fracionamento da frao cida f4-C1-HFEg2................................ 198

xv

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

Abs.: absorvncia

AcOEt: acetato de etila

CG-DIC: cromatografia gs acoplada ao detector de ionizao de chama

CG-EM: cromatografia gs acoplada ao espectrmetro de massa

CIM: concentrao inibitria mnima

CBM: concentrao bactericida mnima

CFM: concentrao fungincida mnima

CCD: cromatografia em camada delgada

CCDP: cromatografia em camada delgada preparativa

CI50: concentrao inibitria de 50 %

CHCl3: clorofrmio

CLAE: Cromatografia Lquida de Alta Eficincia

CLSI: Clinical and Laboratory Standards Institute

DMSO: dimetilsulfxido

DPPH: 2,2-difenil-1-picril-hidrazila

DPPH-H: 2,2-difenilpicril-hidrazina

EAG: equivalente de cido glico

EHCEduck: extrato obtido em hexano das cascas de E. duckeana

EACEduck: extrato obtido em acetato de etila das cascas de E. duckeana

EMCEduck: extrato obtido em metanol das cascas de E. duckeana

EHCEglab: extrato obtido em hexano das cascas de E. glabriflora

EACEglab: extrato obtido em acetato de etila das cascas de E. glabriflora

EMCEglab: extrato obtido em metanol das cascas de E. glabriflora

EtOH: lcool etlico

FeCl3: cloreto frrico

FIOCRUZ: Fundao Oswaldo Cruz

Hex: hexano

HCl: cido clordrico

HPLC: High Performance/Pressure Liquide Chromatography

INCA: Instituto Nacional do Cncer (Brasil)

INPA: Instituto de Pesquisas da Amaznia

xvi

LIT: Meio de cultura liver infusion tryptose

LOExp: Laboratrio de Oncologia Experimental

MH: Mller Hinton

MeOH: metanol

m/z: razo massa/carga

MTT: sal 3-(4,5-dimetil-2-tiazol)-2,5-difenil-2-H-brometo de tetrazolium

NCI: National Cancer Institute (Estados Unidos)

nm: nanmetro

OFduck: leo essencial das folhas de E. duckeana

OFglab: leo essencial das folhas de E. glabriflora

OMS: Organizao Mundial da Sade

OTduck:leo essencial dos talos de E. duckeana

OTglab: leo essencial dos talos de E. glabriflora

RDA: Reao de retro Diels-Alder

rH: rearranjo de hidrognio

RL: radicais livres

SFB: Soro Fetal Bovino

SVS: Secretaria de Vigilncia Sanitria

UEM: Universidade Estadual de Maring

UFAM: Universidade Federal do Amazonas

UFC: Universidade Federal do Cear

xvii

SUMRIO

1. INTRODUO .............................................................................................................. 23

2. REVISO DA LITERATURA ..................................................................................... 26

2.1. Consideraes gerais sobre a Famlia Fabaceae........................................................... 27

2.2. Gnero Eperua Aublet................................................................................................. 28

2.2.1. Usos etnofarmacolgicos......................................................................................... 29

2.2.2. Constituintes qumicos do gnero Eperua................................................................ 30

2.2.2.1. Terpenos de Eperua................................................................................................ 32

2.2.2.2. Compostos fenlicos de Eperua.............................................................................. 36

2.2.3. Atividades biolgicas do gnero Eperua................................................................... 38

2.3. Diterpenos..................................................................................................................... 40

2.3.1. Atividades biolgicas de diterpenos........................................................................... 42

2.4. Flavonides................................................................................................................... 44

2.4.1. Biossntese dos flavonides....................................................................................... 45

2.5. Consideraes gerais sobre atividades qumicas e biolgicas estudadas..................... 46

2.5.1. Atividade antioxidante............................................................................................... 46

2.5.1.1. Flavonides como antioxidantes............................................................................. 47

2.5.1.2. Captura de radical livre DPPH- Ensaio indicativo de atividade antioxidante....... 50

2.5.2. Determinao de fenlicos totais - Mtodo de Folin-Ciocalteu................................. 51

2.5.3. Atividade antimicrobiana........................................................................................... 52

2.5.3.1. Frmacos antibacterianos de origem naturais disponveis...................................... 53

2.5.3.2. Frmacos antifngicos disponveis......................................................................... 55

2.5.4. Atividade antiprotozoria........................................................................................... 57

2.5.4.1. Leishmaniose........................................................................................................... 57

2.5.4.2. Doena de Chagas.................................................................................................. 58

xviii

2.5.5. Cncer........................................................................................................................ 59

2.5.5.1. Agentes antineoplsicos a partir de plantas............................................................. 60

3. OBJETIVOS................................................................................................................... 63

3.1. Objetivo geral............................................................................................................... 64

3.2. Objetivos especficos.................................................................................................... 64

4. MATERIAIS E MTODOS ......................................................................................... 65

4.1. Mtodos Cromatogrficos............................................................................................. 66

4.1.1. Cromatografia em Camada Delgada (CCD).............................................................. 66

4.1.1.1. Reveladores de CCD.............................................................................................. 66

4.1.2. Cromatografia em Camada Delgada Preparativa (CCDP)......................................... 67

4.1.3. Cromatografia em Coluna Aberta e sob presso........................................................ 69

4.1.4. Cromatografia em fase Gasosa (CG)......................................................................... 72

4.1.4.1. Derivatizao das amostras para injeo em cromatgrafo em fase gasosa........... 72

4.1.5. Cromatografia Lquida de Alta Eficincia (CLAE)................................................... 72

4.2. Mtodos espectromtricos............................................................................................. 73

4.2.1. Espectroscopia no Infravermelho (IV)....................................................................... 73

4.2.2. Ressonncia Magntica Nuclear (RMN).................................................................... 74

4.2.3. Espectroscopia de massa por electronspray (ESI-EM).............................................. 74

4.3. Solventes....................................................................................................................... 75

4.4. Equipamentos e acessrios do laboratrio................................................................... 75

4.5. Coleta e identificao do material vegetal.................................................................... 75

4.6. Tratamento do material vegetal.................................................................................... 77

4.7. Extrao do material vegetal......................................................................................... 78

4.7.1. Extrao dos leos essenciais..................................................................................... 78

4.7.1.1. Anlises cromatogrficas e espectromtricas dos leos essenciais......................... 78

xix

4.7.1.2. Identificao dos componentes dos leos essenciais.............................................. 79

4.7.2. Obteno dos extratos brutos..................................................................................... 80

4.7.2.1. Nomenclatura dos extratos e fraes...................................................................... 80

4.8. Anlise comparativa dos extratos brutos por CCD....................................................... 81

4.9. Anlise dos extratos apolares das cascas por CG-DIC e CG-EM................................ 82

4.10. Ensaios qumicos e biolgicos.................................................................................... 82

4.10.1. Ensaios qumicos..................................................................................................... 83

4.10.1.1. Fenlicos Totais.................................................................................................... 83

4.10.1.1.1. Ensaio qualitativo de compostos fenlicos........................................................ 84

4.10.1.1.2. Quantificao de Fenlicos Totais..................................................................... 84

4.10.1.2. Teste de Shinoda.................................................................................................. 85

4.10.1.3. Ensaios indicativos de atividade antioxidante...................................................... 86

4.10.1.3.1. Captura do Radical Livre DPPH-Ensaio qualitativo......................................... 86

4.10.1.3.2. Captura do Radical Livre DPPH-Ensaio quantitativo..................................... 86

4.10.2. Ensaios Biolgicos................................................................................................... 88

4.10.2.1. Ensaios de Atividade Antimicrobiana.................................................................. 88

4.10.2.1.1. Ensaio de Atividade Antibacteriana-Mtodo de difuso em gar (disco).......... 88

4.10.2.1.2. Ensaio de Atividade Antibacteriana-Mtodo de diluio em caldo................... 90

4.10.2.2. Ensaio de Atividade Antifngica.......................................................................... 91

4.10.2.3. Ensaios de Atividade Antiprotozoria................................................................... 91

4.10.2.3.1. Ensaio de Atividade Antileishmania.................................................................. 92

4.10.2.3.2. Ensaio de Atividade Antitrypanossoma cruzi.................................................... 92

4.10.2.4. Ensaio de Citotoxicidade em Linhagens de Clulas Tumorais............................. 93

5. RESULTADOS E DISCUSSO.................................................................................. 96

5.1. Coleta dos materiais vegetais..................................................................................... 96

xx

5.2. Extrao e anlise dos leos essenciais......................................................................... 96

5.3. Obteno dos extratos brutos........................................................................................ 105

5.4. Ensaios qumicos........................................................................................................... 106

5.4.1. Ensaio qualitativo de compostos fenlicos................................................................ 106

5.4.2. Quantificao de fenlicos totais............................................................................... 108

5.4.3. Teste de Shinoda........................................................................................................ 109

5.4.4. Ensaio indicativo de atividade antioxidante............................................................... 110

5.4.4.1. Ensaio qualitativo da Captura do Radical Livre DPPH......................................... 110

5.4.4.2. Ensaio quantitativo da Captura do Radical Livre DPPH....................................... 113

5.4.4.3. Compostos fenlicos vs. Captura do Radical Livre DPPH................................... 114

5.5. Ensaios Biolgicos........................................................................................................ 115

5.5.1. Ensaios de Atividade Antimicrobiana....................................................................... 115

5.5.1.1. Ensaio de Atividade Antibacteriana- Mtodo de difuso em gar.......................... 115

5.5.1.2. Ensaio de Atividade Antibacteriana- Mtodo de diluio de caldo........................ 119

5.5.1.3. Ensaio de Atividade Antifngica............................................................................ 120

5.5.2. Ensaio de Atividade Antiprotozoria......................................................................... 121

5.5.3. Ensaio de Citotoxicidade em Linhagens de Clulas Tumorais.................................. 122

5.6. Estudo Fitoqumico ...................................................................................................... 125

5.6.1. Extratos das cascas obtidos em hexano................................................................. 125

5.6.1.1. Avaliao dos perfis cromatogrficos dos extratos por CCD................................. 125

5.6.1.2. Anlise dos extratos apolares das cascas por CG-DIC e CG-EM.......................... 126

5.6.1.2.1. Compostos identificados por dados espectrais..................................................... 131

5.6.1.2.1.1. cido hexadecanico (cido palmtico)............................................................ 131

5.6.1.2.1.2. cido 9,12-octadecadienico (cido linolico)................................................. 133

5.6.1.2.1.3. cido 9-octadecenico (cido olico)............................................................... 135

xxi

5.6.1.2.1.4. cido octadecanico (cido esterico)............................................................. 136

5.6.1.2.1.5. Ismero do cido 3-clerodeno-15-ico............................................................. 137

5.6.1.2.1.6. cido 3-clerodeno-15-ico.............................................................................. 138

5.6.1.2.1.7. cido catvico.................................................................................................. 140

5.6.1.2.1.8. cido diterpnico no-identificado.................................................................. 141

5.6.1.2.1.9. cido graxo no-identificado........................................................................... 141

5.6.1.2.1.10. cido 3-hidroxilabda-7,13-dieno-15-ico...................................................... 142

5.6.1.2.1.11. cido tetracosanico (cido lignocrico)....................................................... 143

5.6.1.2.1.12. cido hexacosanico (cido certico)............................................................ 144

5.6.1.2.1.13. cido graxo no-identificado......................................................................... 145

5.6.1.2.1.14. Esqualeno....................................................................................................... 145

5.6.1.2.1.15. -tocoferol...................................................................................................... 147

5.6.1.2.1.16. Estigmasterol.................................................................................................. 148

5.6.1.2.1.17. -sitosterol..................................................................................................... 149

5.6.1.3. Fracionamentos cromatogrficos do extrato bruto EHCEduck.............................. 151

5.6.1.3.1. Fracionamento da frao C1-EHCEduck............................................................. 152

5.6.1.3.1.1. Fracionamento da frao f4-C2-HCd................................................................ 153

5.6.1.3.1.2. Purificao da frao f6-C3-HCd...................................................................... 153

5.6.1.3.1.3. Frao f1-PP1-HCd........................................................................................... 154

5.6.1.3.1.4. Purificao da frao f5-C2-HCd..................................................................... 155

5.6.1.3.1.5. Frao f4-PP2-HCd........................................................................................... 156

5.6.1.3.2. Fracionamento da frao A1-EHCEduck............................................................. 164

5.6.1.4. Fracionamento cromatogrfico do extrato bruto EHCEglab1............................... 165

5.6.1.4.1. Fracionamento da frao A1-EHCEglab1........................................................... 166

5.6.1.5. Fracionamento cromatogrfico do extrato bruto EHCEglab2................................ 167

xxii

5.6.2. Extratos das cascas obtidos em acetato de etila........................................................ 168

5.6.2.1. Avaliao dos perfis cromatogrficos dos extratos por CCD................................. 168

5.6.2.2. Fracionamento do extrato bruto EACEglab2 ........................................................ 169

5.6.2.2.1. Fracionamento da frao f4-C1-ACg2................................................................. 170

5.6.2.2.2. Purificao da frao f1-C2-ACg2....................................................................... 171

5.6.2.2.3. Frao f1-PP4-ACg2............................................................................................ 171

5.6.2.2.4. Frao f2-PP4-ACg2............................................................................................ 173

5.6.2.2.5. Fracionamento da frao f5-C1-ACg2................................................................. 174

5.6.2.2.6. Elucidao estrutural da frao f7-C3-ACg2....................................................... 175

5.6.2.2.7. Fracionamento da frao f6-C1-ACg2................................................................. 186

5.6.2.2.8. Purificao da frao f7-C4-ACg2....................................................................... 186

5.6.2.3. Fracionamento do extrato bruto EACEduck........................................................... 187

5.6.2.3.1. Fracionamento da frao f4-C1-ACd................................................................... 188

5.6.2.3.2. Purificao da frao f9-C2-ACd......................................................................... 188

5.6.3. Extrato metanlicos das cascas: Avaliao por RMN 1H.......................................... 189

5.6.4. Extratos das folhas obtidos em hexano...................................................................... 195

5.6.4.1. Avaliao dos perfis cromatogrficos dos extratos por CCD................................ 195

5.6.4.2. Pr-fracionamento do extrato bruto EHFEglab2..................................................... 196

5.6.5. Extratos das folhas obtidos em acetato de etila.......................................................... 198

5.6.5.1. Avaliao dos perfis cromatogrficos dos extratos por CCD................................ 198

5.6.6. Extratos metanlicos das folhas: Avaliao por RMN 1H......................................... 199

6. CONCLUSO................................................................................................................ 201

7. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ......................................................................... 204

23

1. INTRODUO

24

1. INTRODUO

A utilizao de plantas para tratamento, cura e preveno de doenas uma das mais

antigas formas de prtica medicinal da humanidade. A Organizao Mundial da Sade estima

que 80% da populao mundial utiliza plantas como medicamentos (VEIGA-JUNIOR et al.,

2005). Alm do seu uso na medicina popular com finalidades teraputicas, as plantas tm

contribudo para a obteno de vrios frmacos, at hoje amplamente utilizados, como

exemplo a morfina, a emetina, a vincristina, a colchichina, a rutina, etc (CECHINEL FILHO

& YUNES, 1998). Cerca de 30% dos medicamentos mais prescritos e vendidos no mundo

foram desenvolvidos a partir de produtos naturais (CALIXTO, 2003).

A busca de novas substncias bioativas foi intensificada especialmente nas florestas

tropicais, onde se concentra grande parte da biodiversidade (PINTO et al., 2002). Como

conseqncia, pode-se esperar que as potenciais descobertas de novos produtos naturais

biologicamente ativos ocorrero nas florestas tropicais, como a da Amaznia (GARCIA,

1995).

O Brasil possui cerca de 60.000 espcies de plantas, o que corresponde 20% de toda

flora mundial, porm a flora brasileira praticamente desconhecida em termos qumicos, pois

de toda essa riqueza tm-se estudos qumicos e/ou farmacolgicos de apenas 1% dessas

plantas (BARATA, 2001; GARCIA, 1995). Alm disso, o Brasil considerado o maior pas

do planeta em nmero de espcies endmicas (BARREIRO & BOLZANI, 2009), porm, a

maioria das plantas medicinais comercializadas no pas foram introduzidas de outros pases.

Assim, as plantas medicinais endmicas ainda so pouco conhecidas o que constituem em um

fascinante assunto de pesquisa acadmica e de desenvolvimento (PINTO et al., 2002).

Apesar das doenas tropicais (malria, mal de Chagas, esquistossomose e

leishmaniose), juntamente com a tuberculose, somarem cerca de 5% das doenas do mundo,

25

elas no recebem a ateno que merecem. Dos mais de 1.300 novos medicamentos

introduzidos entre 1975 e 1999, apenas 13 eram para doenas tropicais. Alm disso, no ano de

2000 somente cerca de 0,1% do investimento global em pesquisa em sade foi dedicada

descoberta de medicamentos para as doenas tropicais (PINK et al., 2005). Isto ocorre porque

o desenvolvimento de novas drogas para o tratamento dessas doenas, que afetam sobretudo

populaes de pases em desenvolvimento, pouco interessa indstria farmacutica, pois

embora estes pases renam 80% da populao mundial, correspondem a apenas 20% das

vendas globais de remdios (FUNARI & FERRO, 2005).

Considerando a escassez e a importncia de estudos qumicos das plantas endmicas

e a necessidade de pesquisas por substncias que auxiliem no tratamento de doenas que

afligem a humanidade, o objetivo desse trabalho foi estudar a composio qumica e

atividades biolgicas das espcies Eperua duckeana e Eperua glabriflora que apesar de serem

endmicas e comuns na Amaznia Central no possuem estudo qumico ou farmacolgico.

26

2. REVISO DA LITERATURA

27

2. REVISO DA LITERATURA

2.1. CONSIDERAES GERAIS SOBRE A FAMLIA FABACEAE

A famlia Fabaceae, equivalente Leguminosae, pertence ordem Fabales, classe

Magnoliopsida e diviso Magnoliophyta (ROSKOY et al., 2007) e composta por cerca de

19.000 espcies distribudas em 695 gneros (GIULIETTI et al., 2005). Esta famlia

formada por rvores, arbustos, lianas e ervas e tem distribuio cosmopolita, ou seja,

distribudas mundialmente (DI STASI & HIRUMA-LIMA, 2002). O Brasil possui cerca de

3.200 espcies dessa famlia distribudas em 176 gneros, sendo que aproximadamente 2.144

dessas espcies so endmicas (32 gneros endmicos) (GIULIETTI et al., 2005).

uma das maiores e mais importantes famlias botnicas, visto o grande nmero de

espcies vegetais e a sua importncia como fonte de produtos alimentares, medicinais,

ornamentais, madeireiros e fornecedores de forragem, fibras, corantes, gomas, resinas e leos

(DI STASI & HIRUMA-LIMA, 2002; WATSON & DALLWITZ, 2009). Essa famlia

geralmente dividida em trs subfamlias: Faboideae, Caesalpinioideae e Mimosoideae

(SOUZA & LORENZI, 2008).

A famlia Fabaceae uma das poucas famlias que possui isoflavonas, subclasse de

flavonides conhecida pelas suas propriedades bactericidas, antifngicas e estrognicas

(SIMES et al., 2007).

28

2.2. O GNERO Eperua Aublet

O gnero Eperua Aublet constitudo por 14 espcies distribudas pela Amaznia

Central, principalmente pelo sul do Equador, Venezuela, Guianas e norte do Brasil, em

especial nas reas da cidade de Manaus (COWAN, 1975). Na Tabela 1 encontra-se a posio

taxonmica do gnero Eperua (ROSKOY et al., 2007). Em geral, as espcies desse gnero

so rvores de grande porte, podendo variar de 5 a 70 metros de altura. Apresentam vagens de

colorao esverdeada a tons enegrecidos.

Categoria Taxn Diviso Magnoliophyta

Classe Magnoliopsida

Ordem Fabales Famlia Fabaceae

Subfamlia Caesalpinioideae Gnero Eperua

Segundo Cowan (1975) existe uma relao entre o tipo de solo e as diferentes espcies

de Eperua que eles suportam. Por exemplo, E. glabriflora encontrada apenas em locais com

solos midos e cidos de areia branca e hmus negro, j a E. schomburgkiana encontrada

em solos pantanosos s margens de rios e crregos em pequena florestas.

O principal uso das espcies de Eperua est relacionado com a indstria madeireira,

pois as rvores possuem crescimento e regenerao rpida, cerca de 30 anos de corte a corte,

alm disso, possuem particular resistncia deteriorao em contato com a gua, por esse

motivo so usadas em construes de casas, cercas e telhas e tambm como lenha e carvo

vegetal (COWAN, 1975). As madeiras retiradas de rvores desse gnero so conhecidas

comercialmente como wallaba, mas podem ser encontradas pelos nomes de espadeira,

copaibarana, muirapiranga, yoboko, bois-de-sabre, eperu, wapa, roode walaba, bijlhout e

tamoene (COWAN, 1975; RICHTER & DALLWITZ, 2009).

Tabela 1. Informaes taxonmicas sobre o gnero Eperua

29

As espcies do gnero Eperua encontradas na Amaznia brasileira so conhecidas

popularmente como Muirapiranga (SILVA et al., 2004). Vrias espcies exsudam leo-resina

do tronco, segundo Janzen (1974 apud MEDINA & DE SANTIS, 1981, p. 202) o leo-resina

exsudado da E. purpurea o responsvel pela notvel resistncia ao ataque de insetos ao

tronco da rvore. Alguns dos leos-resinas de Eperua so conhecidos popularmente com

nomes correlatos aos da copaba, como os das espcies E. oleifera e E. purpurea, que so

conhecidas como copaba-jacar e copaibarana, respectivamente. A espcie E.duckeana

recebeu esse nome em homenagem ao Adolpho Ducke, pioneiro na coleo e estudo de

Leguminosas do Brasil (COWAN, 1975) e conhecida vulgarmente por muirapiranga de

folha mida (ou Pau-de-leo). A espcie E. glabriflora tem a sinonmia: Eperua bijuga var.

glabriflora Ducke e conhecida como muirapiranga de folha grande (SILVA et al., 2004). Os

fololos dessa espcie possuem margem revoluta, o que facilita reconhecer os mesmos na

liteira da floresta (MARTINS & SILVA, 1999). Apesar das espcies E. duckeana e E.

glabriflora serem comuns na Amaznia Central, nunca foram estudadas quimicamente e/ou

farmacologicamente.

2.2.1. USOS ETNOFARMACOLGICOS

Muitas das espcies do gnero Eperua so indicadas para o tratamento de lcera e

diarreia e como emtico. H relatos que a infuso de wallaba (Eperua sp.) juntamente com

o suco dos galhos de Saccharum officinarum so usados para o tratamento de

envenenamento por curare pelos ndios Macusi da Guiana. Alm disso, a decoco da parte

interna das cascas de E. grandiflora usada para aliviar dor de dente (DEFILIPPS et al.,

2004).

30

A espcie com mais indicaes etnofarmacolgicas E. falcata. A decoco das

cascas do caule dessa espcie usada como: analgsico dental (HENRY et al., 2007), para

induzir vmito e para tratamento de diarreia (DEFILIPPS et al., 2004). Alm disso, o leo da

espcie E. falcata utilizado na medicina popular de modo anlogo ao da copaba (como

cicatrizante, antifngico e bactericida) (VEIGA-JUNIOR & PINTO, 2002); e usado como

pomada contra reumatismo e na cicatrizao de feridas. A mistura do leo-resina da E. falcata

com a resina da espcie Protium aracouchini usada como emplastro para feridas

(DEFILIPPS et al., 2004).

Apesar das espcies do gnero Eperua apresentarem vrias indicaes

etnofarmacolgicas, nenhuma das atividades descritas para os leos-resinas ou para os

extratos possui comprovao cientfica.

2.2.2. CONSTITUINTES QUMICOS DO GNERO Eperua

Por ser um gnero endmico da Amaznia, grande parte dos estudos fitoqumicos

foram realizados por pesquisadores de pases desta Regio. Destacando-se os estudos

realizados na Venezuela por vila, De Santis, Medina e Maillo. A maioria dos estudos foi

feito nas dcadas de 1980 e 1990.

Dois trabalhos foram realizados no Brasil com a qumica das Eperuas, ambos com E.

bijuga, porm com propsitos diferentes. Um deles, realizado por Braz Filho e colaboradores

(1973) teve como objetivo buscar flavonides em leguminosas, e o outro referente anlise

de leo essencial das folhas da mesma espcie, realizado por Maia e Godoy (1984), este

citado no Banco de Dados de Plantas Aromticas da Regio Amaznica elaborado por Maia e

Andrade (2009).

31

Os poucos trabalhos fitoqumicos encontrados na literatura se concentram nas

espcies: E. purpurea, E. leucantha, E. falcata, E. bijuga e E. grandiflora. As espcies, as

partes das plantas utilizadas, os nmeros de trabalhos e as classes das substncias isoladas nos

estudos fitoqumicos esto expostos na Tabela 2.

As classes de substncias investigadas foram basicamente terpenos (principalmente

diterpenos) e flavonides. A espcie com o maior nmero de estudos a E. falcata, talvez por

ser a espcie com maior nmero de relatos de uso etnofarmacolgico.

Espcie Parte

estudada Classes de substncias Referncias

E. bijuga folhas sesquiterpenos,

triterpenos e flavonoides

BRAZ FILHO et al., 1973

MAIA & ANDRADE, 2009

E. falcata madeira

diterpenos,

cidos fenlicos e flavonoides

KING & JONES, 1955

BLAKE & JONES, 1963

VILLENEUVE et al., 1988

AMUSANT et al., 2007

ROYER et al., 2010

E. grandiflora madeira Diterpenos AMUSANT et al., 2007

E. leucantha resina Diterpenos MAILLO et al., 1987

sementes Diterpenos VILA et al., 1992

E. purpurea

resina Diterpenos

MEDINA & DE SANTIS, 1981

DE SANTIS & MEDINA, 1981

DE SANTIS & MEDINA, 1987

sementes Diterpenos VILA & MEDINA, 1991

VILA & MEDINA, 1993

Tabela 2. Espcies e partes da planta estudadas em trabalhos anteriores

32

2.2.2.1. TERPENOS DE Eperua

Os estudos fitoqumicos com o gnero Eperua relatam diversos terpenos,

principalmente diterpenos. Maia e Godoy (1984 apud MAIA & ANDRADE, 2009, p. 595)

descreveram o componente majoritrio dos leos essenciais das folhas de E. bijuga como

sendo (E)-cariofileno (1). Braz Filho e colaboradores (1973) isolaram o triterpeno friedelano-

3-ol (2) de E. bijuga, o nico identificado no gnero at o momento (Figura 1).

Os leos-resinas exsudados do tronco das espcies do gnero Eperua so conhecidos

por apresentarem uma grande quantidade de cidos diterpnicos. King e Jones (1955) citam

que os leos-resinas de E. falcata e de outras espcies de Eperua da Guiana Inglesa so

constitudas por cerca de 85% de cidos diterpnicos, principalmente o cido eperico, que

recebeu esse nome por ter sido isolado pela primeira vez em espcies do gnero Eperua.

Em geral, os diterpenos relatados para esse gnero so de estruturas labdnicas e

clerodnicas (Figura 2). As diferenas dos esqueletos labdanos para os clerodanos so as

posies das metilas 19 e 20. Em geral os diterpenos de Eperua apresentam estes dois

esqueletos com algumas modificaes.

1

HO

H HH

2

Figura 1. Estruturas do sesquiterpeno e triterpeno encontrados em espcies de Eperua: (E)-cariofileno (1) e friedelano-3-ol (2)

33

As modificaes mais freqentes so: posio e o nmero de insaturaes, as mais

comuns em 8-17 e 13-14; presena de hidroxilas e carboxilas na posio 15 e a ocorrncia de

norditerpenos. A Tabela 3 apresenta os diterpenos identificados no gnero Eperua e as

Figuras 3 e 4 apresentam as estruturas dos diterpenos correspondentes.

Todos os diterpenos clerodnicos foram isolados das sementes das vagens e nenhum

deles foi encontrado em outra parte da planta, o que pode indicar a possibilidade das espcies

do gnero Eperua produzirem diterpenos clerodnicos apenas nas sementes das vagens.

1

2

3 45

6

7

89

10

11

1213

14

15

16

1819

20

17

A B

labdano

1

2

3 45

6

7

8910

11

1213

14

15

16

18

19

20

17

A B

clerodano

Figura 2. Esqueletos e numerao dos diterpenos labdanos e clerodanos

34

N Constituinte Referncias Cetonas

3 14,15-bisnor-labda-13-ona DE SANTIS & MEDINA (1987)c 4 9-metil-14,15,20-trinor-labda-1(10)-eno-13-ona DE SANTIS & MEDINA (1987)c 5 14,15-bisnor-labda-7-eno-13-ona DE SANTIS & MEDINA (1987)c steres 6 eperuato de metila MAIA & GODOY (1984 apud MAIA &

ANDRADE, 2009)a 7 labda-8(17)-eno-15-oato de labda-8(17)-eno-15-ila MEDINA & DE SANTIS (1981)c

MAILLO et al. (1987)d lcoois 8 labda-8(17)-eno-15-ol MEDINA & DE SANTIS (1981)c

MAILLO et al. (1987)d 9 labda-8(17),13E-dieno-15-ol MEDINA & DE SANTIS (1981)c

MAILLO et al. (1987) d cidos (labdanos) 10 cido labda-8(17)-eno-15-ico

(cido eperico) KING & JONES (1955) b

MEDINA & DE SANTIS (1981)c MAILLO et al. (1987)d

AMUSANT et al. (2007)b,e 11 cido labda-8(17),13E-dieno-15-ico

(cido coplico) VILA & MEDINA (1993) c

MEDINA & DE SANTIS (1981)c DE SANTIS & MEDINA (1981)c

AMUSANT et al. (2007)e 12 cido ent-coplico MAILLO et al. (1987)d 13 cido labda-7-eno-15-ico (cido catvico) MAILLO et al. (1987)d AMUSANT et al. (2007)b 14 cido 7-oxo-labda-8-eno-15-ico VILA & MEDINA (1993) c

AMUSANT et al. (2007)e 15 cido (-)-7-oxo-labda-8,13E-dieno-15-ico AMUSANT et al. (2007)e cidos (clerodanos) 16 cido (-)-cleroda-7,13E-dieno-15-ico VILA & MEDINA (1993)c 17 cido (-)-2-oxo-cleroda-3,13E-dieno-15-ico

(cido 2-oxo-covalnico) VILA & MEDINA (1991) c

VILA et al. (1992)d VILA & MEDINA (1993) c

18 cido (-)-7-hidrxicleroda-8(17),13E-dieno-15-ico VILA et al. (1992)d 19 cido nor-hardwkiico VILA et al. (1992)d 20 cido 16-oxo-13,14H-hardwkiico VILA et al. (1992)d

Tabela 3. Diterpenos encontrados em espcies de Eperua

a- Isolado de E. bijuga; b- Isolado de E. falcata; c- Isolado de E. purpurea; d- Isolado de E. leucantha; e- Isolado de E. grandiflora

35

Figura 3. Estruturas de diterpenos labdnicos isolados de espcies de Eperua

1

2

3 45

6

7

89

10

11

1213

14

15

16

1819

20

17

A B

labdano

7

COOCH2R

6 R= COOMe

8 R= CH2OH

10 R= COOH

9 R= CH2OH

11 R= COOH

RCOOH

12

COOH

13

15

COOH

O

COOH

O

14

O

5 4

O

3

O

36

2.2.2.2. COMPOSTOS FENLICOS DE Eperua

Braz e colaboradores (1973) isolaram a flavona tricina (26), das folhas de E. bijuga.

Do cerne de E. falcata foram isoladas a (+)-catequina (23) e a (-)- epicatequina (24)

(VILLENEUVE et al., 1988).

1

2

3 45

6

7

8910

11

1213

14

15

16

18

19

20

17

A B

clerodano

Figura 4. Estruturas de diterpenos clerodnicos isolados de espcies de Eperua

H

COOH

COOH

19

H

COOH

O

O

20

COOH

H

OH

18 16

COOH

H

COOH

H

O

17

37

Em 2007, Henry e colaboradores depositaram uma patente relatando que no extrato

das cascas de E. falcata, os flavonides engeletina e a astilbina so os principais responsveis

pela atividade antiinflamatria.

O trabalho realizado por Royer e colaboradores em 2010 apresentou treze substncias

do extrato metanlico de E. falcata. As molculas foram isoladas por CLAE e identificadas

por comparao dos espectros de RMN 1D e 2D com os dados da literatura, sendo onze

flavonides (23 - 33) e dois cidos fenlicos: o cido glico (21) e cido p-hidroxibenzico

(22). Quatro dos flavonides isolados (23), (24), (27) e (31) j tinham sido isolados

anteriormente.

A Tabela 4 apresenta os compostos fenlicos isolados das espcies de Eperua e a

Figura 5 apresenta a estrutura dos flavonides e cidos fenlicos correspondentes.

N Substncia Referncia cidos fenlicos 21 cido glico ROYER et al. (2010) b 22 cido p-hidroxibenzico ROYER et al. (2010) b

Flavonides 23 (+)-catequina VILLENEUVE et al. (1988)b ROYER et al. (2010) b 24 (-)- epicatequina VILLENEUVE et al. (1988)b ROYER et al. (2010) b 25 (-)-3-(4-hidroxibenzoil)epicatequina ROYER et al. (2010) b 26 tricina BRAZ FILHO et al. (1973)a 27 engeletina ROYER et al. (2010) b 28 isoengelentina ROYER et al. (2010) b 29 neoengelentina ROYER et al. (2010) b 30 neoisoengelentina ROYER et al. (2010) b 31 astilbina ROYER et al. (2010) b 32 neoastilbina ROYER et al. (2010) b 33 (-)-dihidrocampferol ROYER et al. (2010) b

Tabela 4. Compostos fenlicos encontrados em espcies de Eperua

a- Isolado de E. bijuga; b- Isolado de E. falcata.

38

2.2.2. ATIVIDADES BIOLGICAS DO GNERO Eperua

Grande parte dos ensaios biolgicos realizados com extratos ou resinas de Eperua

direcionada para testes com microorganismos que degradam a madeira, pois uma das

principais interessadas nas espcies desse gnero so as indstrias madeireiras. Entretanto, as

Figura 5. cidos fenlicos e flavonides identificados em espcies de Eperua (Rha=-L-raminose)

R1 CO2H

HO

R2

21 R1=OH, R2= OMe 22 R1=R2=H

O

OH

OMe

OOH

HOOMe

26

OHO

OH

OH

OH

O 33

OHO

OH O

O

R

OH

Rha

3

2

27 2R, 3R, R=H 28 2R, 3S, R=H 29 2S, 3S, R=H 30 2S, 3R, R=H 31 2R, 3R, R=OH 32 2S, 3S, R=OH

OHO

OH

R1

OH

OH

3

2

23 2R, 3S, R1=OH 24 2R, 3R, R1=OH 25 2R, 3R, R1=p-hidroxibenzoato

39

indstrias farmacuticas tambm se interessam pelos constituintes sintetizados por espcies de

Eperua, em especial pelos compostos fenlicos.

A resina de E. grandiflora apresentou atividade inseticida contra cupim (DL50: 1,261

g/2 mg) (GOURNELIS et al., 1986). Nos extratos de E. falcata e E. grandiflora foi

observada atividade contra o fungo Coriolus versicolor (AMUSANT et al., 2007) e atribuda

a maior durabilidade da madeira composio de cidos diterpnicos e compostos

polifenlicos. No trabalho de Royer e colaboradores (2010) foi atribuda a estabilidade da

madeira da E. falcata aos polifenis, comprovadas atravs de isolamento e identificao dos

constituintes do extrato metanlico.

O trabalho realizado por Gournelis e colaboradores (1986) comprovou a atividade

bactericida (CIM: 12,5 g/mL) para Staphylococcus aureus e Streptococcus hemolyticus da

resina de Eperua grandiflora.

As propriedades dos extratos de E. falcata so relatadas em patentes na rea de

cosmticos. Pauly e Moretti (2003a,b e 2005) relatam a ao antiradicalar do extrato e

licenciaram um cosmtico com ao anti-rugas. Henry e colaboradores (2007) licenciaram

uma preparao contendo o extrato de E. falcata, que til para inibir a liberao de pro-

mediadores inflamatrios e neuropeptdeos incluindo CGRP e SP, para tratamento de pele e

cabelo e que tambm os protege dos efeitos danosos dos raios UV-A e UV-B.

A mistura dos cidos eperico (10), catvico (13) e cido labda-8-eno-15-ico (34)

usada como acelerador da produo de colgeno (YAMAMOTO et al., 2005), ativador do

crescimento celular (TAMAI et al., 1999) e inibio de melanina (TAMAI et al., 2001). As

mesmas atividades so relatadas para os sais e steres metlicos e etlicos desses cidos. Dois

desses diterpenos, (10) e (13), j foram isolados de espcies de Eperua. Nas patentes geradas

pela utilizao dessas molculas, E. falcata citada como fonte dessas molculas.

40

2.3. DITERPENOS

Os diterpenos so metablitos secundrios formados por 20 tomos de carbonos

derivados biogeneticamente a partir do geranil-geranilpirofosfato (GGPP), que contm quatro

unidades isoprenos ligados no modo cabea-cauda (HANSON, 1991).

As unidades isoprenos so formadas a partir da condensao entre as unidades

difosfato de 3,3-dimetilalila (DMAPP) e o difosfato de 3-isopentenila (IPP). Existem duas

vias biossintticas possveis para a formao do DMAP e do IPP: a via do mevalonato e a via

do fosfato de deoxixilulose (LOBO & LOURENO, 2007).

A condensao cabea-cauda entre as unidades DMAPP e IPP, catalisada pela

enzima prenil-tranferase, forma a cadeia de geranil pirofosfato (GPP), precursora dos

monoterpeno. A condensao desta cadeia com novas unidades de IPP origina sucessivamente

as cadeias de farnesil pirofosfato (C15), geranilgeranil pirofosfato (C20) precursoras dos

sesquiterpenos e diterpenos, respectivamente (DEWICK, 2001; LOBO & LOURENO,

2007). A Figura 7 mostra resumidamente a rota biossinttica dos diterpenos.

COOH

34

Figura 6. Estrutura do cido labda-8-eno-15-ico

41

Figura 7. Rota biossinttica dos diterpenos (FONTE: modificado de LOBO & LOURENO, 2007)

diterpenos tricclicos

diterpenos tetracclicos

diterpenos acclicos

diterpenos bicclicos

diterpenos macrocclicos

OPP

geranil pirofosfato

Via do mevalonato Via do fosfato deoxixilulose

OPP

HSHR

IPP

OPP

DMAPP

IPP

IPP

OPP

farnesil pirofosfato (FPP)

OPP

geranilgeranil pirofosfato (GGPP)

42

Diferentes esqueletos de diterpenos so formados a partir do GGPP: diterpenos

acclicos, bicclicos, tricclicos, tetracclicos e macrocclicos. De modo geral, o GGPP pode se

ciclizar de duas maneiras, para formar os diterpenos bicclicos (e a partir desses os tri- e

tetracclicos) e os macrocclicos (HANSON, 1991).

2.3.1. ATIVIDADES BIOLGICAS DE DITERPENOS

O principal interesse no isolamento de molculas de diterpenos est relacionado sua

ampla rea de atividades biolgicas. Os estudos com essa classe devem-se principalmente ao

diterpeno da classe dos taxanos, taxol (Paclitaxel) (35) que possui atividade antitumoral

comprovada e atualmente utilizado no tratamento do cncer de mama e ovrio (CORRA,

1995; KINGSTON, 2007).

Hanson (1998 e 2000) listou, em dois artigos, cerca de 300 diferentes diterpenos dos

mais variados esqueletos isolados a partir de propriedades relatadas pela medicina popular.

Para os diterpenos labdnicos so descritas diversas atividades biolgicas, tais como:

antibacteriana, antifngica, anti-inflamatria, cardiotnica, antileishmania e citotxica

(SINGH et al., 1999). Dimas e colaboradores (1998) relataram a atividade citotxica in vitro

do diterpeno labda-13(E)-eno-8-15-diol (38) contra 13 linhagens de clulas leucmicas

humanas.

Vrios diterpenos labdnicos e clerodnicos so indicados como sendo os compostos

responsveis pela atividade biolgica de seus extratos brutos. Por exemplo, o diterpeno

clerodnico trans-desidrocrotonina (36), substncia majoritria das cascas do caule de Croton

cajucara, responsvel por grande parte das propriedades teraputicas dessa planta, tais

como: ao antiinflamatria, antinociceptiva, efeito hipoglicemiante, atividade

antiespasmdica e atividade antiulcerognica (MACIEL et al., 2002). Outro exemplo o leo

43

de copaba, que constitudo por uma mistura de sesqui- e diterpenos e nenhuma outra classe

de substncias. Esses leos so amplamente utilizados na medicina popular e possuem

diversas atividades biolgicas comprovadas, tais como: atividade antiinflamatria,

antitumoral, analgsica, antineoplsica, tripanossomicida e entre outras. Dentre os

constituintes diterpnicos dos leos de copaba, encontra-se: covalenol, cido coplico, cido

hardwkiico e o cido caurenico (VEIGA-JUNIOR. & PINTO, 2002).

Os diterpenos clerodnicos tambm so conhecidos por inibirem crescimento fngico

(CAVIN et al., 2006). Por exemplo, os cidos covalnico (37) e o 2-oxo-covalnico (20), o

ltimo j isolado de Eperua, apresentam atividade antifngica contra Phomopsis viticola e

Botrytis cinerea (SALAH et al., 2003).

Figura 8. Diterpenos com atividades biolgicas

O

NH

O

O

O

O

O

OH

O

O OOH

H

OH OO

35 36

O

O

H

H

OO

CH2OH

OH

38

COOH

H

37

44

2.4. FLAVONIDES

Flavonides so metablitos secundrios caracterizados pela presena de 15 tomos

de carbono em seu esqueleto bsico (ncleo flavona) arranjados em trs anis (C6-C3-C6),

designado como A, B e C, como mostrado na Figura 9 (PIETTA, 2000; ZUANAZZI &

MONTANHA, 2007).

As diversas classes de flavonides diferem no nvel de oxidao e padro de

substituio do anel C, enquanto compostos individuais dentro de uma classe diferem no

padro de substituio dos anis A e B. As estruturas das principais classes de flavonides

esto mostradas na Figura 10.

Flavonides desempenham diferentes funes nas plantas, como: proteo contra a

radiao ultravioleta, patgenos e herbvoros, atrao de animais com finalidade de

polinizao, controle da ao de hormnios vegetais e agentes alelopticos (HEIM et al.,

2002; ZUANAZZI & MONTANHA, 2007). Tambm so importantes para a sade humana

devido sua elevada atividade farmacolgica como seqestradores de radicais livres, sendo

relacionados preveno de doenas humanas tais como cncer e doenas cardiovasculares e

algumas patologias de lceras gstricas e duodenais, alergias, doenas vasculares, infeces

virais e bacterianas (YAO et al., 2004).

O

A C

B1

2

3

45

6

7

8

2'

3'

4'

5'

6'

1'9

10

Figura 9. Estrutura bsica dos flavonides: ncleo flavona

45

2.4.1. BIOSSNTESE DOS FLAVONIDES

Os flavonides so compostos de biossntese mista, trs unidades de acetato do

origem ao anel A, enquanto que os trs tomos de carbono que interligam os anis,

juntamente com o anel B, derivam da rota do chiquimato. Durante a biossntese dos

flavonides, o primeiro a ser formado a chalcona e os outros so seus derivados (PIETTA,

2000; LOBO & LOURENO, 2007; DEWICK, 2001). A Figura 10 mostra resumidamente a

biossntese de alguns flavonides, incluindo chalconas, flavanonas, flavonas, isoflavonas,

flavononol e flavonol.

Figura 10. Rota biossinttica dos flavonides- incluindo chalconas, flavanonas, flavonas, isoflavonas, flavanonol e flavonol (FONTE: modificado de DEWICK, 2001)

O

OH

HO

OH O

flavona

O

OH

HO

OH O

flavanona

O

OH

HO

OH O

OH

flavanonol

O

OH

HO

OH O

OH

flavonol isoflavonas

OHO

OH OOH

Acetil-CoA

cido chiqumico

OH

CoAS

O 4-hidrxicinamoil-CoA

Carboidratos

Malonil-CoA

3X SCoA

CO2H

O

SCoA

OH

OO

O

O

OH

OH

HO

OH O

chalcona

Claisen (chalcona sintase)

46

2.5. CONSIDERAES GERAIS SOBRE AS ATIVIDADES QUMI CAS

E BIOLGICAS ESTUDADAS

2.5.1. ATIVIDADE ANTIOXIDANTE

Atualmente existe um grande interesse nos estudos dos antioxidantes devido,

principalmente, s descobertas sobre o efeito dos radicais livres (RL) no organismo. Os RL

so espcies qumicas (tomos, molculas orgnica ou inorgnica) que possuem um ou mais

eltrons desemparelhados. Quando o eltron desemparelhado encontra-se localizado nos

tomos de oxignio ou nitrognio so denominados Espcies Reativas de Oxignio (ERO) ou

Espcies Reativas de Nitrognio (ERN), respectivamente. As principais ERO distribuem-se

em dois grupos, os radicalares: hidroxila (HO), superxido (O2_), peroxila (ROO), alcoxila

(RO); e os no-radicalares: oxignio, perxido de oxignio, cido hipocloroso. Dentre as

ERN incluem-se o xido ntrico (NO), xido nitroso (N2O3), cido nitroso (HNO2) e

peroxinitritos (ONOO-) (BARREIROS et al., 2006).

Espcies reativas so formadas continuamente durante os processos metablicos-

normais ou patognicos- ou so provenientes de fontes exgenas. Porm, quando a

concentrao excede ao normal ocorre o chamado estresse oxidativo, ento esse excesso de

espcies reativas produz danos oxidativos s biomolculas, como por exemplo, peroxidao

dos lipdios das membranas celulares, agresses s protenas dos tecidos e membranas,

enzimas e DNA (OLIVEIRA et al., 2009; BIANCHI & ANTUNES, 1999). Desta forma, os

RL esto relacionados ao envelhecimento e ao desenvolvimento de diversas patologias, tais

como: cncer, doenas cardacas, stress, doenas neurodegenerativas e inflamatrias (CHOI et

al., 2002; LUXIMON-RAMMA et al., 2002; SOLER-RIVAS et al., 2000).

47

Os RLs so controlados pelas substncias antioxidantes que podem ser de origens

endgenas ou exgenas. Porm, os componentes celulares no so totalmente protegidos

pelos antioxidantes endgenos, por isso os antioxidantes obtidos da dieta alimentar so

indispensveis contra as oxidaes (CERQUEIRA et al., 2007 )

As substncias antioxidantes so capazes de retardar ou inibir a oxidao de um

substrato bloqueando a formao dos radicais livres ou interagindo com estes, inativando-os

(SOUSA et al., 2007). Neste contexto, os antioxidantes de origem natural merecem ateno

especial, pois as plantas sintetizam um grande nmero de metablitos capazes de captar os

radicais livres, tais como: vitaminas, carotenides, cidos fenlicos, flavonides, antocianinas,

catequinas e procianidinas (LARSON, 1988).

As principais substncias naturais com atividade antioxidantes so os compostos

polifenlicos, devido ao poder redutor do grupo hidroxila aromtico, que reduz radicais livres

reativos e produz o radical fenoxila estabilizado por ressonncia (CERQUEIRA et al., 2007).

2.5.1.1. FLAVONIDES COMO ANTIOXIDANTES

Segundo Barreiros e colaboradores (2006), a atividade antioxidante dos flavonides

depende da sua estrutura e pode ser determinada por cinco fatores: (1) reatividade como

agente doador de H e eltrons, (2) estabilidade do radical flavonoil formado, (3) reatividade

frente a outros antioxidantes, (4) capacidade de quelar metais de transio e (5) solubilidade e

interao com as membranas.

Entre os principais aspectos responsveis pela capacidade antioxidantes podemos

citar: presena de hidroxila na posio C-7 no anel A e C-3 no heterocclico, hidroxilas na

posio orto (especialmente na posio 3,4-diidroxi- sistema catecol); ligao dupla 2,3

conjugada com o grupo 4-oxo no anel C; conjugao da carbonila em C4 com hidroxilas em

48

C5 do anel A e C3 do anel C; estabilidade do radical flavanoil formado; solubilidade e

interao com as membranas (BARREIROS et al., 2006; PIETTA, 2000; WILLIAMS et al.,

2004). Os principais aspectos esto mostrados na Figura 11.

Em geral, quanto maior o nmero de hidroxilas, maior a atividade como agente doador

de H e de eltrons. A doao do H ocorre principalmente nas posies 7, 4 e 5, sendo maior

na posio 7 e menor na posio 5. Foi constatado a necessidade de no mnimo 2 hidroxilas

fenlicas, preferivelmente orto difenlicas como a apresentada pelo sistema catecol (3,4-

diidroxi).

A estabilidade do radical flavonoil formado depende da habilidade do flavonide em

deslocalizar o eltron desemparelhado. Os radicais aroxil formados podem ter seu eltron

deslocalizado pela estrutura com maior estabilidade devido estabilizao resultante das

ligaes de H (Figura 12).

Figura 11. Estrutura da quercetina. Principais aspectos responsveis pela atividade antioxidantes dos flavonides (FONTE: modificado de WILLIAMS et al., 2004).

O

OH

OH

OH

OOH

HO7

5

2

3

4

3'

4'

49

Para a quelao de metais de transio fundamental a presena de grupos orto-

fenlicos e /ou estruturas cetol como 4-ceto-3-hidroxi e 4-ceto-5-hidroxi (Figura 13).

HO Men+

OH

Men+

OHO

O

OH

Men+

3

45

3'

4'

Figura 13. Estrutura da quercetina. Atribuio dos principais pontos responsveis pela atividade antioxidantes dos flavonides (FONTE: PIETTA, 2000).

Figura 12. Mecanismo da estabilizao eltron desemparelhado (FONTE: BARREIROS et al., 2006)

O H

O

O

H

OO

O

O

H

O H

O