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UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS INSTITUTO DE CIÊNCIAS EXATAS DEPARTAMENTO DE GEOCIÊNCIAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOCIÊNCIAS MORFODINÂMICA DO RIO SOLIMÕES NA REGIÃO ENTRE COARI E ANAMÃ, ESTADO DO AMAZONAS Olivia Leonardi Ribeiro MANAUS 2009

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS INSTITUTO DE CIÊNCIAS EXATAS

DEPARTAMENTO DE GEOCIÊNCIAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOCIÊNCIAS

MORFODINÂMICA DO RIO SOLIMÕES NA REGIÃO ENTRE COARI E

ANAMÃ, ESTADO DO AMAZONAS

Olivia Leonardi Ribeiro

MANAUS

2009

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS INSTITUTO DE CIÊNCIAS EXATAS

DEPARTAMENTO DE GEOCIÊNCIAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOCIÊNCIAS

MORFODINÂMICA DO RIO SOLIMÕES NA REGIÃO ENTRE COARI E

ANAMÃ, ESTADO DO AMAZONAS

Olivia Leonardi Ribeiro

Dissertação de mestrado apresentada ao Programa de Pós-

Graduação em Geociências da Universidade Federal do

Amazonas, como requisito para obtenção do título de

mestre em Geociências.

Orientador: Prof. Dr. Clauzionor Lima da Silva

MANAUS

2009

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Ficha Catalográfica

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OLIVIA LEONARDI RIBEIRO

MORFODINÂMICA DO RIO SOLIMÕES NA REGIÃO ENTRE COARI E

ANAMÃ, ESTADO DO AMAZONAS

Dissertação de mestrado apresentada ao Programa de Pós-

Graduação em Geociências da Universidade Federal do

Amazonas, como requisito para obtenção do título de

mestre em Geociências.

Aprovada em 30 de julho de 2009.

BANCA EXAMINADORA

Prof. Dr. Clauzionor Lima da Silva – Presidente

Universidade Federal do Amazonas

Prof. Dr. Norberto Morales – Membro

Universidade Estadual Paulista

Profa. Dra. Adorea Rebello da Cunha Albuquerque - Membro

Universidade Federal do Amazonas

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Dedicatória

Aos meus pais, Luiz Carlos Ferrar Ribeiro e

Tereza Leonardi Ribeiro, e aos meus irmãos

Matheus e Elisa

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus por iluminar meus passos ao caminhar por essa vida tão cheia de desafios

e obstáculos, e por estar presente, não somente nos momentos difíceis, mas também em todos

aqueles repletos de alegrias e superações.

Aos meus pais, Teresa e Luiz, agradeço pela família maravilhosa e unida, construída com

amor e dedicação incondicionais. Todas as nossas conquistas, minha e de meus irmãos, são fruto do

esforço e da determinação deles. Matheus e Elisa, meus irmãos queridos, obrigada pelo carinho e

afeto.

Agradeço à Universidade Federal do Amazonas pelo curso de mestrado e ao PIATAM pela

oportunidade de participação em vários projetos e pelo apoio financeiro a esta pesquisa. Ao

SIPAM, agradeço pela disponibilização das imagens SAR/SIPAM tão importantes para a realização

deste estudo.

Um agradecimento especial ao Prof. Dr. Clauzionor Lima da Silva por todo o seu apoio,

entusiasmo e incentivo. Pelas inúmeras vezes em que me ajudou e por tudo que me ensinou serei

sempre grata.

Também gostaria de expressar meus sinceros agradecimentos à Petrobras

(Reservatórios/UN-AM) e à Halliburton Serviços Ltda. por me liberarem para o cumprimento dos

créditos obrigatórios, sem os quais não poderia concluir este mestrado.

Aos professores Rutênio, João e Genilson e suas esposas, Ierecê, Dulce e Luana agradeço

pela amizade construída durante esses dois anos de convivência.

Obrigada D. Antonia, e toda a sua família, por me receber tão bem e com tanto carinho em

sua casa desde a primeira vez que estive nesta cidade.

Por fim, não poderia deixar de agradecer aos demais amigos que conheci em Manaus e que

me acolheram e muito me ajudaram nesse período. Lenizi, Flávia e Carlos, Fabíola, Alexandre e

Renata, Edileuza e Fred, Hostília, Eliud, Lorena, Samira, Lilian, Felipe Boy, Renata Teixeira, Bob,

Valcir, Miriã, Pedro Val e Tiago, muito obrigada!!!

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RESUMO

Vários estudos têm mostrado a existência de falhas e feições estruturais que controlam a planície

aluvial do rio Solimões. Essa característica resultou no expressivo controle tectônico que

influenciou a dinâmica desse rio. A área de estudada incluiu as regiões entre Coari até Anamã,

estado do Amazonas. O estudo consistiu na caracterização e mapeamento dos depósitos

sedimentares na planície aluvionar do rio Solimões a partir da interpretação em imagens de satélite

Landsat 7 ETM +, e radar imagens (JERS-1 e SAR/SIPAM). Modelos digitais de elevação SRTM

foram utilizados como suporte às interpretações morfoestruturais, sob a ótica da geomorfologia

tectônica. Tais estudos permitiram a integração do modelo tectônico no quaternário e o

entendimento da paleogeografia do rio Solimões. Um conjunto de falhas normais (NW-SE), com

mergulho para nordeste e sudoeste foi responsáveis pela formação de bacia romboédrica, chamada

de Bacia Pull-Apart de Purus, onde parte da sedimentação aluvial foi condicionada. O papel da

falha transcorrente de Coari, com direção ENE-WSW, foi responsável pelo controle tectônico de

parte do rio Solimões e o processo de avulsão observado. A reconstrução paleogeográfica mostrou

que o antigo curso do rio Solimões se desenvolvia ao longo do paraná do Badajós conectando-se

com o rio Purus, cerca de 70 km a montante da atual posição. O estudo demonstrou a importância

da interação de fatores erosivos, deposicionais e tectônicos no desenvolvimento da Planície

Amazônica durante o Holoceno.

Palavras-chave: Neotectônica, rio Solimões, Quaternário, Paleogeografia.

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ABSTRACT

Several studies have shown the existence of faults and features in areas that controlled parts of the

Solimões river. This characteristic resulted in expressive quaternary tectonic controls with a direct

influence on dynamics of that river. The area studied included the regions of the Coari and Anamã,

in Amazonas state. The study consisted on the characterization and mapping of sedimentary

deposits in the Amazonian lowlands based on Landsat 7 ETM +, JERS-1 and SAR/SIPAM images.

Digital elevation models (SRTM) were used to support the morphostructure interpretation, from the

viewpoint of tectonic geomorphology. Such studies led to the development of an integrated

quaternary tectonic and paleogeographic model of the Solimões River at that sector. Series of

normal faults (NW-SE) dipping to southwest and northeast, are responsible for the formation of the

pull-apart basin, called Purus pull-apart basin, where most of alluvial sediment was deposited. The

role of Coari’s transcurrent fault, with ENE-WSW direction, was responsible for the tectonic

control in part of the Solimões River and the process of avulsion observed. The paleogeographic

rebuilding shows that the old course of the Solimões River was developed along the parana of

Badajós river connecting to the Purus River about 40 km upstream from the actual confluence. This

study demonstrates the important interaction of erosive, deposition and tectonic factors developing

the Amazonian lowlands during the Holocene.

Key-Words: Neotectonics, Solimões river, Quaternary, Paleogeography.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Localização da área de estudo na região de Coari – AM..................................................... 3

Figura 2. Representação gráfica do cálculo da densidade de Kernel. As linhas L1 e L2 representam

o comprimento da porção para cada linha dentro do círculo (Silverman 1986). .......................... 7

Figura 3. Modo de geração de uma superfície para a densidade de Kernel. Os valores aumentam na

direção da linha e diminuem com o afastamento, de acordo com o raio (Silverman, 1986). ....... 7

Figura 4. Feições estruturais da Bacia do Amazonas, segundo Neves (1990).................................. 12

Figura 5. Carta estratigráfica da Bacia do Amazonas, conforme Cunha et al. (1994)...................... 13

Figura 6. Mapa de arcabouço estrutural da bacia do Solimões, subdividida pelo Arco de Carauari

nas sub-bacias do Juruá e Jandiatuba (Silva, 1987). ................................................................... 15

Figura 7. Carta estratigráfica da Bacia do Solimões, segundo Eiras et al. (1994). ........................... 16

Figura 8. Correlação estratigráfica entre as bacias do Solimões e Amazonas, conforme Milani &

Thomas Filho (2000)................................................................................................................... 18

Figura 9. Distribuição de unidades recentes nas bacias do Amazonas e Solimões, conforme Rossetti

et al. (2005). ................................................................................................................................ 23

Figura 10. Mapa geomorfológico conforme Radambrasil (Costa et al, 1978 e Mauro et al., 1978). 25

Figura 11. Mapa de unidades de relevo, segundo IBGE (2006). ...................................................... 26

Figura 12. Modelo de deformação para a Placa Sul Americana em sua deriva para NW,

promovendo binário transcorrente destral EW e o desenvolvimento de falhas normais NW-SE,

falhas de empurrão e dobras NE-SW e falhas transcorrentes EW, de acordo com modelo de

RIEDEL (Hasui 1990)................................................................................................................. 38

Figura 13. Modelos de blocos crustais de Hasui et al. (1984). ......................................................... 38

Figura 14. Lineamentos dos rios afluentes da margem esquerda do rio Amazonas (modificado de

Sternberg 1950). .......................................................................................................................... 40

Figura 15. Modelamento neotectônico da região do baixo rio Negro com pulso predominantemente

distensivo. Modificado de Franzinelli & Igreja (1990)............................................................... 41

Figura 16. Mapa estrutural do Terciário (A) e Quaternário (B) ao longo da calha do rio Amazonas,

modificado de Costa et al. (2001). .............................................................................................. 44

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Figura 17. Falhas e lineamentos quaternários no Amazonas, modificado do Mapa de Falhas do

Quaternário no Brasil de Saadi et al. (2002). As falhas do rio Negro e Barcelos são normais. A

Falha do rio Madeira foi considerada como transcorrente destral e para as demais foi atribuída a

movimentação inversa com componente transcorrente associada. ............................................. 45

Figura 18. Mapa de localização do epicentro do sismo de Codajás (AM), segundo Assumpção et al.

(1983), caracterizando a Zona Sismogênica de Manaus, conforme Mioto (1993). A seta

vermelha próxima ao epicentro indica a direção de compressão. ............................................... 45

Figura 19. Mapa de principais ocorrências de sismos (estrela) no estado do Amazonas (Silva, 2005).

..................................................................................................................................................... 46

Figura 20. Mapa de unidades litológicas da área estudada obtida a partir da interpretação em

imagens de satélite (Landsat 7 ETM+), radar (JERS-1) e SAR/SIPAM. Das sete unidades

diferenciadas, cinco estão situadas na Planície Amazônica. ....................................................... 50

Figura 21. Características morfológicas das unidades mapeadas: Qi – Formação Içá, Qt1 –

Depósitos em terraço 1; Qt2 – Depósito em terraço 2; Qpia – Depósito em planície de inundação

antiga; Qfla – Depósito flúvio-lacustre antigo; Qbr – Depósito em barras recentes................... 54

Figura 22. Características morfológicas das unidades mapeadas: Qi – Formação Içá, Qt1 –

Depósitos em terraço 1; Qt2 – Depósito em terraço 2; Qpia – Depósito em planície de inundação

antiga; Qfla – Depósito flúvio-lacustre antigo; Qt3 – Depósito em terraço 3; Qpisr – Depósito

em planície de inundação sub-recente; Qbr – Depósito em barras recentes; Qa – Aluvião. ...... 55

Figura 23. Mapa de drenagem da área de estudo. ............................................................................. 57

Figura 24. Padrão treliça na área de estudo: (A) no interflúvio entre os rios Piorini e Badajós e

paraná do Piorini (B) Região de Codajás e Anamã, margem esquerda do rio Solimões; (C)

Região dos lagos Aiapuá e do Salsa, sul da área de estudo; (D) Margem direita do rio Purus. . 59

Figura 25. Padrão retilíneo do rio Solimões observado em imagem de radar JERS-1, entre regiões

de Coari e Codajás. As áreas mais claras representam sedimentos quaternários na Planície

Amazônica e a tonalidade cinza escura compreende os sedimentos da Formação Içá (Terra

Firme). ......................................................................................................................................... 60

Figura 26. Planície do rio Purus observadas em imagens Landsat 7 ETM + (RGB 754): (A) Lago

Itaboca, lago do Bacuri, lago Comprido, paraná do Joari, lago da Mira, lago do Arumã e lago

Grande de Paricatuba; (B) Lagos Uauaçu e Aiapuá.................................................................... 62

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Figura 27. Paleocursos do rio Solimões observado em imagem Landsat 7 ETM+ (RGB547). Os

paranás Ipixuna e Cuianã ou Cuiu-Anã correspondem ao antigo curso do rio Solimões, que

também fluía em direção ao paraná da Estopa. Na margem direita e esquerda do paleocanal se

nota a diversidade de lagos, em processo de colmatagem, desse antigo fluxo fluvial................ 63

Figura 28. (A) Paleomeandramento entre os rios Purus e Mamiá observado em modelo SRTM

(NASA). Em (B), detalhe na imagem de satélite Landsat ETM+ (composição RGB 457)........ 65

Figura 29. (A) Paleolagos no interflúvio entre os rios Piorini e Anamã observado em imagem de

radar SAR/SIPAM (polarização HH, VV e HV); (B) Marcas de paleodrenagem na região de

Codajás em imagem Landsat 7 ETM+ (composição RGB 754); C) Detalhe da morfologia do

Paraná do Piorini observado em imagem de radar SAR/SIPAM (polarização VV, VH e X). ... 66

Figura 30. Diversidade morfológica observada na margem esquerda do rio Solimões, em imagem

de satélite Landsat 7 ETM+ (composição RGB 457). As rias fluviais estão representadas pelo

rios Piorini e Badajós. Nesse trecho observam-se marcas lineares de um antigo canal próximo

ao rio Pironi (Paraná do Trocari). Os lagos mostram um processo de colmatagem. Os paranás do

Piorini e Badajós estão interligados e se dirigem rumo ao rio Solimões. Na margem direita do

rio Solimões nota-se que as ilhas apresentam marcas de depósitos de barras de migração

lineares em fase pré-atual. O lago Acará tem seu processo de colmatagem acelerado pela

incursão de sedimentos provenientes do Paraná do Acará.......................................................... 68

Figura 31. Mapas de lineamentos de drenagem (A e B) para as direções N-S e E-W e mapas de

densidade Kernel (C e D) para as respectivas direções............................................................... 70

Figura 32. Mapas de lineamentos de drenagem (A e B) para as direções NE-SW e NW-SE e mapas

de densidade Kernel (C e D) para as respectivas direções. ......................................................... 71

Figura 33. Mapa de drenagem e diagrama de rosetas. ...................................................................... 74

Figura 34. Diagramas de rosetas para os lineamentos de drenagem da área estudada (área total) e

para as respectivas porções norte, sudeste e sudoeste. Os diagramas compreendem o

comprimento total e o número ou freqüência de lineamentos. ................................................... 75

Figura 35. Mapa de curvas de nível obtido a partir de modelos SRTM. .......................................... 77

Figura 36. Modelo topográfico digital (MDT), re-interpolado a partir de modelos SRTM, que indica

elementos morfoestruturais na paisagem: Rebordos erosivos (seta), escarpas (linha com pontas)

e relevo alinhado separando áreas altas e baixas (linha pontilhada A – área alta, B – área baixa).

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A cota mais, da ordem de 70 metros, tem como substrato a unidade Formação Içá. Na planície

amazônica as áreas não são superiores a 35 metros. ................................................................... 80

Figura 37. Perfis topográficos que mostram o caimento geral da área de estudo, obtidos a partir do

modelo SRTM. A-B – perfil topográfico na região do interflúvio dos rios Purus e Coari; C-D –

porção norte de Codajás, E-F – Planície Amazônica. ................................................................. 81

Figura 38. Mapa de lineamentos de relevo com destaque para as feições mais proeminentes na área

estudada. Os diagramas de rosetas foram elaborados para as porções norte, margem esquerda do

rio Solimões (diagrama A), sudeste, margem direita do rio Purus (diagrama B) e sudoeste,

interflúvio entre os rios Purus e Coari (diagrama C). Os diagramas de rosetas foram

confeccionados tanto para comprimento total dos segmentos quanto para a freqüência............ 85

Figura 39. Diagramas de rosetas para os lineamentos de relevo da área estudada (área total) e para

as respectivas porções norte, sudeste e sudoeste. Os diagramas compreendem o comprimento

total e o número ou a freqüência de lineamentos. ....................................................................... 86

Figura 40. Mapas de lineamentos de relevo (A e B) para as direções N-S e E-W e mapas de

densidade Kernel (C e D) para as respectivas direções............................................................... 88

Figura 41. Mapas de lineamentos de relevo (A e B) para as direções NE-SW e NW-SE e mapas de

densidade Kernel (C e D) para as respectivas direções............................................................... 89

Figura 42. Principais lineamentos obtidos a partir da análise em modelos SRTM, imagens de

satélite, mapa de lineamentos de relevo e de drenagem.............................................................. 92

Figura 43. Mapa geológico-estrutural da área de estudo, mostrando as principais feições tectônicas

da região de estudo...................................................................................................................... 96

Figura 44. Paleogeografia do rio Solimões na região entre Coari e Anori (AM) observado em

modelo tridimensional SRTM. O antigo curso desse rio fazia a volta na região hoje ocupada

pelo paraná do rio Badajós. O registro do paleocanal pode ser acompanhado cerca de 30 km a

sul da posição atual. Naquela época o rio Purus desembocava no Solimões a montante de Beruri

(60 km distante da confluência atual). ........................................................................................ 97

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1. Sismos ocorridos na região de estudo com base em Berrocal et al. (1984), Bezerra (2003) e

informações do Observatório Sismológico da UnB. Os sismos que possuem valores das

coordenadas cartográficas (hachura) estão representados no mapa da Figura 19, conforme Silva

2005............................................................................................................................................. 47

Tabela 2. Principais intervalos dos lineamentos de relevo na área estudada. ......................................... 84

Tabela 3. Principais lineamentos mapeados a partir das análises no sistema de drenagem e no relevo da

região e suas correlações. ............................................................................................................ 91

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ÍNDICE

1. Introdução.................................................................................................................................... 1

2. Objetivos ..................................................................................................................................... 2

3. Materiais e Métodos .................................................................................................................... 4

3.1. Levantamento de informações bibliográficas ......................................................... 4

3.2. Análise em imagens de satélite ............................................................................... 4

3.3. Análise Geomorfológica ......................................................................................... 4

3.3.1. Análise do relevo................................................................................................ 5

3.3.2. Análise da drenagem .......................................................................................... 5

3.3.2.1. Determinação da densidade de Kernel para linhas...................................... 6

3.4. Análise morfológica em modelos 3-D SRTM......................................................... 8

3.5. Re-interpolação dos dados SRTM........................................................................... 9

3.6. Diagramas de rosetas............................................................................................... 9

3.7. Análise integrada dos resultados obtidos .............................................................. 10

4. Geologia da região de estudo .................................................................................................... 11

4.1. Bacia do Amazonas............................................................................................... 11

4.2. Bacia do Solimões................................................................................................. 14

4.3. Descrição das unidades aflorantes......................................................................... 19

4.3.1. Formação Solimões .......................................................................................... 19

4.3.2. Formação Içá .................................................................................................... 20

4.3.3. Depósitos Quaternários Aluviais...................................................................... 20

4.4. Breve contexto tectônico da área .......................................................................... 21

5. Geomorfologia Regional: Revisão dos estudos ........................................................................ 24

5.1. Planície Amazônica............................................................................................... 27

5.2. Depressão Solimões – Unini ................................................................................. 29

5.3. Depressão Madeira – Purus................................................................................... 30

5.4. Depressão Ituxi – Jari ............................................................................................ 30

5.5. Depressão Purus – Juruá ....................................................................................... 31

6. Neotectônica: Revisão conceitual ............................................................................................. 33

6.1. Conceituação ......................................................................................................... 33

6.2. Neotectônica no Brasil .......................................................................................... 36

6.3. Neotectônica na Amazônia.................................................................................... 39

7. Resultados ................................................................................................................................. 49

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7.1. Individualização das unidades litológicas na área estudada.................................. 49

7.2. Análise Geomorfológica ....................................................................................... 56

7.2.1. Análise da rede de drenagem............................................................................ 56

7.2.1.1. Análise dos lineamentos de drenagem ...................................................... 69

7.2.2. Análise do relevo.............................................................................................. 76

7.2.2.1. Caracterização dos lineamentos de relevo com a paisagem...................... 82

7.2.2.2. Análise dos lineamentos de relevo ............................................................ 83

7.3. Compartimentação Morfotectônica....................................................................... 91

8. Conclusão .................................................................................................................................. 98

9. Referências .............................................................................................................................. 100

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1. INTRODUÇÃO

O estudo em pauta pretende investigar a morfodinâmica no rio Solimões no trecho que

compreende as cidades de Anamã, Anori, Beruri, Codajás e Coari, todas situadas no setor Centro

Amazonense, na região norte do País. Nessa região, o rio Solimões apresenta um traçado ímpar

com uma série de depósitos e formas de sedimentação meandrante até a confluência com o rio

Purus (Figura 1).

Os trabalhos de geologia existentes ainda remontam aos estudos do projeto Radambrasil,

CPRM e alguns estudos científicos concernentes às unidades quaternárias e sua relação com a

morfologia e dinâmica fluvial (Iriondo, 1982, Latrubesse & Franzinelli, 2002 e Rossetti et al.,

2005). Entretanto, a dificuldade de mapeamento em campo das litologias ao longo da planície

amazônica é um fator que justifica a individualização das unidades através do uso de sensores

remotos, pois o mapa geológico atual da região tem escala pequena e torna difícil a separação e

individualização de depósitos situados na planície do rio Solimões. Portanto, um dos objetivos

do trabalho foi a separação das unidades na planície desse rio, que se mostra bastante importante

devido às implicações que causa na interpretação da dinâmica fluvial na área investigada.

Adicionalmente, os estudos de Bezerra et al. (1999), Silva et al. (2002), Silva et al.

(2003), Bezerra (2003), Silva et al. (2004), Silva et al. (2007) e Ribeiro et al. (2009) têm

mostrado a existência de inúmeras zonas de falhas e bacias quaternárias modernas que

possivelmente controlam trechos do canal do rio Solimões. Tais estudos enfatizam evidentes

processos tectônicos no controle da sedimentação quaternária. Adicionalmente, eventos sísmicos

registrados nessa área, tal como o sismo de Codajás em 1982 (Assumpção et al. 1983) e o do

Parque Nacional do Jaú, em 2005, demonstram que a área tem significância do ponto de vista da

manifestação e ocorrência de falhas de natureza neotectônica em ambiente intracratônico.

Desse modo, o estudo investigou a relação da morfologia fluvial e a sedimentação

quaternária com o quadro neotectônico da região de Coari, a partir do mapeamento de unidades

quaternárias, por meio de sensores remotos orbitais, análise geomorfológica, no âmbito da

geomorfologia tectônica, subsidiada por modelos digitais de elevação (SRTM), e a análise

geológica-estrutural integrada. O estudo mostrou que o relevo e o sistema de drenagem estão

associados ao quadro neotectônico. Um conjunto de falhas normais NW-SE, com mergulhos ora

para nordeste ora para sudoeste, formou bacias quaternárias, onde a sedimentação aluvionar está

sendo depositada. Parte do traçado do rio Solimões, na região de Coari, está condicionada às

falhas de transferências NE-SW, responsáveis pelos processos de migração observados. O rio

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Badajós, segundo essa análise, compreende o antigo percurso do rio Solimões, o qual foi

abandonado devido à conjunção de processos erosivos e tectônicos combinados.

Essa área de estudo, do ponto de vista econômico e ambiental, é muito importante, pois

envolve parte do traçado do gasoduto Coari-Manaus. A importância desse estudo, portanto, na

construção de um cenário acerca da formação da paisagem amazônica a partir da correlação de

processos sedimentares (hidrodinâmicos) e geológicos (tectônicos).

2. OBJETIVOS

O principal objetivo da pesquisa em pauta compreendeu a análise morfotectônica da

região de Coari, estado do Amazonas.

Adicionalmente, os objetivos específicos envolveram:

a) Caracterizar as unidades sedimentares na região, a partir de imagens de satélite;

b) Analisar o sistema do relevo e da drenagem, com base na análise morfoestrutural

e morfotectônica;

c) Elaborar o mapa geológico/estrutural da região de estudo;

d) Descrever o processo geológico da dinâmica do rio Solimões naquele setor.

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Figura 1. Localização da área de estudo na região de Coari – AM.

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3. MATERIAIS E MÉTODOS

3.1. Levantamento de informações bibliográficas

A fase inicial da pesquisa compreendeu o levantamento bibliográfico pertinente, bem

como, a aquisição de dados cartográficos, digitais e analógicos (folhas lago Aiapuá – SB.20-X-

A, Codajás – SA.20-Z.C, Coari – SB.20-Z-B e Rio Piorini – SA.20-Y-D). Além disso, foram

utilizados mapas geológicos existentes produzidos no projeto Radambrasil na década de 1970 e

CPRM (Bizzi et al. 2001).

3.2. Análise em imagens de satélite

Os produtos de sensores remotos utilizados foram imagens do satélite Landsat 7 ETM+

(231/62, 232/62, 232/63, 233/62 e 233/63), JERS-1 e SAR/SIPAM, as quais serviram para o

mapeamento de unidades geológicas e interpretação de lineamentos estruturais na área em

questão. A análise em imagens de satélites foi desenvolvida por meio software específico,

disponível no Laboratório de Geofísica do Departamento de Geociências. O processamento

envolveu o georreferenciamento da imagem, a aplicação de filtros e a elaboração de

composições de bandas nos canais RGB (red, blue e green). Os elementos geológicos

estabelecidos foram exportados para um software do tipo SIG (Sistema de Informações

Georreferenciadas) para elaboração do mapa geológico-estrutural da região de Coari.

3.3. Análise Geomorfológica

Para a análise geomorfológica foram identificados e caracterizados elementos

geomorfológicos na paisagem indicativos de deformações tectônicas modernas. No contexto da

geomorfologia tectônica, as análises do relevo e da drenagem são fundamentais para a

caracterização de domínios geomorfológicos que, quando associados ao quadro geológico

estrutural da região, permitem determinar a compartimentação tectônica. Os dados existentes,

tais como, as unidades geomorfológicas e de relevo levantadas no Projeto Radambrasil (Folha

SA.20 – Manaus e Folha SB.20 – Purus), juntamente com o mapa de unidades de relevo do

IBGE (2006) foram compilados com uniformização de termos. O estudo geomorfológico foi

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desenvolvido principalmente sob a ótica da geomorfologia tectônica (análises morfoestrutural e

morfotectônica), suportada por imagens de satélites e modelos digitais de elevação (DEM).

3.3.1. Análise do relevo

A análise do relevo envolveu a identificação de tipos morfológicos, feições do relevo,

identificação de superfícies geomorfológicas e determinação de lineamentos de relevo, através

da análise em imagens. Esta análise foi baseada nos conceitos de Cotton (1958), Bloom (1978),

Panizza & Piacente (1978), Bull & Wallace (1985), Doorkamp (1986), Cooke (1990),

Summerfield (1993), Stewart & Hancock (1994) e Keller & Pinter (1996). Tais estudos serviram

para a identificação de superfícies geomorfológicas obtidas por intermédio dos modelos SRTM

(Shuttle Radar Topographic Mission). Seções topográficas foram elaboradas para o

reconhecimento das superfícies do relevo e seu grau de dissecação, caracterização dos

compartimentos geomorfológicos (morfoestruturas) e, quando associada ao conjunto de falhas

existentes, para a caracterização de compartimentos morfotectônicos. Mapa de curvas de nível

obtido na base cartográfica existente, na escala 1:250.000, e aquelas extraídas do modelo SRTM

foram analisadas e comparadas. A integração dessas duas bases permitiu a melhoria da resolução

dos dados cartográficos e geração de modelos 3-D (DEM) usados na interpretação tectônica.

Foram extraídas as curvas de nível a partir dos modelos SRTM, com intuito de melhorar

a resolução espacial dos dados cartográficos existentes na área de estudo. Estes servirão par a

elaboração dos mapas de lineamentos de relevo foram elaborados a partir de traços e segmentos

retilíneos nas curvas de nível, nas direções N-S, E-W, NE-SW e NW-SE. Estes mapas foram

utilizados para a determinação do padrão de densidade, segundo o algoritmo de Kernel. A

proposição foi mostrar, para cada direção de lineamento, os locais ou áreas com a maior

concentração e/ou tendência do lineamento.

3.3.2. Análise da drenagem

A análise da rede de drenagem baseou-se em mapas de drenagem obtido a partir das

cartas topográficas digitalizadas nas escalas 1: 250.000 e 1: 100.000 e da extração de drenagem

dos modelos SRTM, resultando em mapas mais completos utilizados para análise das formas,

padrões e lineamentos de drenagem. Os padrões de drenagem foram classificados conforme

Howard (1967) nos tipos básicos e modificados. As formas e geometrias dos canais, tais como

retilinizações na drenagem, feições de afogamento ou alargamento de vales ou canais, curvas

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anômalas, captura de drenagem, assimetria de rios e formação de terraços foram discutidas

segundo as propostas conceituais de Ouchi (1985), Schumm (1986), Phillips & Schumm (1987),

Deffontaines (1989), Summerfield (1993), Stewart & Hancock (1994) e Keller & Pinter (1996).

Mapas da rede de drenagem e de lineamentos de drenagem foram elaborados para dar suporte às

interpretações tectônicas pretendida. As informações do sistema de relevo e da drenagem foram

integradas para auxiliar na interpretação e definição de compartimentos estruturais da região

estudada.

A extração da drenagem a partir dos modelos SRTM foi obtida através do ArcGis,

gerando um mapa correspondente à escala 1:100.000. Procedeu-se a correção de algumas

imperfeições devido à extração automática, tais como vazios e falsas drenagens. Após a

correção, esse mapa foi utilizado como mapa-base para as análises realizadas. Os lineamentos de

drenagem foram elaborados a partir de traços e segmentos retilíneos, os quais foram obtidos

manualmente, separando-os nas direções N-S, E-W, NE-SW e NW-SE. O segundo procedimento

foi a elaboração de mapas de distribuição de densidade de Kernel.

3.3.2.1. Determinação da densidade de Kernel para linhas

A partir dos dados digitais no ArcGis calculou-se a Densidade de Kernel para obtenção

da distribuição de tendências que podem ser obtidas para feições de pontos (localização de

amostras, pontos de coletas, etc.), linhas (lineamentos) e polígonos (unidades, formações e etc.)

(Silverman 1986). Nesse caso, foram obtidos os mapas de densidades tanto para os lineamentos

de relevo quanto para os de drenagem, tendo em vista que esses podem representar importantes

direções estruturais na área. Buscou-se realizar esse procedimento para cada uma das direções

específicas. Assim, obtiveram-se os locais com a maior concentração de estruturas naquela

orientação.

O cálculo da densidade para linhas, segundo a Densidade de Kernel, foi realizado

conforme o comprimento da feição por unidade de área. Conceitualmente, um círculo é

desenhado em cada célula raster automaticamente pelo programa, usando um valor de raio

atribuído (r= 5.000). O comprimento da porção de cada linha, contida no círculo, é multiplicada

pelo valor da população (quantidade existente), conforme Figura 2.

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Figura 2. Representação gráfica do cálculo da densidade de Kernel. As linhas L1 e L2 representam o comprimento da porção para cada linha dentro do círculo (Silverman 1986).

L1 e L2 representam o comprimento da porção de cada linha contida no círculo. O valor

da população correspondente é dado por V1 e V2, conforme a fórmula:

Densidade = ((L1 * V1) + (L2 * V2)) / (área do círculo)

A superfície é definida pelo volume da superfície correspondendo ao produto da linha

pela sua população. A densidade de cada célula raster é realizada pela adição desses valores

como superfícies, como uma função quadrática, conforme descrita por Silverman (1986). A

superfície é criada a partir de um valor estabelecido correspondendo ao raio. As curvas possuem

ordem maior quando estão próximas as linhas e diminuem de valor à medida que estas se

afastam, tendendo a zero para a distância similar ao valor do raio (Figura 3). Para o caso

específico deste estudo, utilizou-se V1 igual a V2 constituindo de uma população única

composta pelos vetores nas direções N-S, E-W, NW-SE e NE-SW.

Figura 3. Modo de geração de uma superfície para a densidade de Kernel. Os valores aumentam na direção da linha e diminuem com o afastamento, de acordo com o raio (Silverman, 1986).

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3.4. Análise morfológica em modelos 3-D SRTM

O estudo de modelo 3-D utilizado foi a partir dos dados da missão Shuttle Radar

Topographic Mission (SRTM). Estes dados foram gerados a partir do consórcio da NASA em

conjunto com as agências espaciais da Alemanha e Itália

(http://www.jpl.nasa.gov/srtm/index.html) que, durante os onze dias que durou a missão,

realizada a partir do ônibus espacial Endeavour em janeiro de 2000, coletou os dados necessários

para mapear a topografia de cerca de 80% da superfície da Terra. A tecnologia utilizada,

conhecida como interferometria por radar, foi aplicada no levantamento de todo o planeta, o que

favoreceu significativamente as aplicações em áreas, tais como na região Amazônica, onde

levantamentos topográficos de detalhe são inexistentes. Informações mais detalhadas sobre o

sistema de operação SRTM pode ser obtidas em Rabus et al. (2003).

Para a melhoria da resolução espacial dos dados SRTM, dever-se-ia ter uma base

cartográfica que pudesse auxiliar nesse processo. Para a região de estudo somente existem cartas

na escala 1:250.000, com exceção de poucas áreas que possuem escala maior (1:100.000). No

entanto, a ausência de variações topográficas, que reflete a pouca abundância de curvas de nível,

resulta em cartas com pouca ou nenhuma informação topográfica.

Os dados gerados pela SRTM, devido a questões político-militares, foram degradados

espacialmente, para uma resolução espacial de 3 arc-segundos, equivalente a 90 m no terreno, ou

seja, as imagens DEM utilizadas têm a dimensão do pixel de 90 m, ao passo que a resolução

integral seria de 30 m no terreno. Outra questão importante inerente aos dados SRTM se refere à

ausência de dados nos modelos, denominados de “gaps” (vazios). Para suprir a questão acerca

dos vazios, foram utilizados os softwares SRTMfill e Blackart, sendo o primeiro para

preenchimento automático dos dados, baseando-se em valores proximais existentes nas cartas

topográficas. Já o segundo software permitiu adicionar manualmente ao modelo valores

altimétricos antes do processamento. Em ambos os procedimentos um novo arquivo corrigido é

gerado.

O emprego de modelo 3-D para análise morfotectônica foi aplicado com sucesso por

Silva et al. (2004), Silva (2005) e Silva et al. (2007) para a região sudoeste de Manaus. Nesse

estudo foi possível fazer a integração dos dados digitais cartográficos com os provenientes da

missão SRTM para a região. Os dados de altimetria foram comparados e se mostraram

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satisfatórios, permitindo a interpretação dos elementos morfoestruturais do setor sudoeste de

Manaus.

Ao modelo 3-D SRTM da área de estudo foi empregada a técnica de sombreamento

sintético para realce de diferentes tipos de feições estruturais em diferentes ângulos de

observação, tendo em vista que se trata de uma imagem de radar. Foram também geradas as

isolinhas das curvas de nível, o que possibilitou uma melhor representação da topografia da

região em um mapa colorido. Além disso, a partir desse modelo é que foi extraída a rede de

drenagem, o que auxiliou na análise da drenagem da área de estudo.

Estes modelos serviram ainda para a análise visual dos elementos morfológicos na

paisagem e identificação de feições estruturais e, quando integrados às imagens de satélites,

foram úteis na identificação de unidades litológicas. Perfis topográficos obtidos a partir dos

modelos SRTM foram elaborados de maneira semi-automática, posteriormente, diagramados. As

seções foram escolhidas após as interpretações conjuntas entre as unidades litológicas e as

feições estruturais observadas no relevo e na drenagem.

3.5. Re-interpolação dos dados SRTM

Com o objetivo de melhorar os dados SRTM, foi aplicada uma interpolação dos dados

em um software para gridagem dos dados (Surfer 8.0). Conforme comentado anteriormente, os

modelos utilizados para área de estudo (arquivos S04W62, S04W63, S04W64, S04W65,

S05W62, S05W63, S05W64, S05W65) foram re-amostrados, corrigidos e preenchidos os vazios

(gaps). Após esse procedimento, extraíram-se os dados em formato XYZ para interpolação,

utilizando o método da krigagem, para uma malha com espaçamento de 1.000 por 1.000. Desse

modo, um novo modelo foi elaborado, o que possibilitou uma melhoria visual da área de

interesse.

3.6. Diagramas de rosetas

Diagramas de rosetas foram elaborados a partir dos lineamentos de relevo obtidos no

mapa de curvas de nível e da rede de drenagem, através do programa Lineaments disponível no

Er-Mapper (7.0). Para ambos os mapas, elaboraram-se diagramas específicos separados por área

(N, S, SE e SW) e para todo o conjunto. Esses diagramas, representados de 10 em 10 graus (de 0

a 90), foram confeccionados tanto para o comprimento total como para a freqüência dos

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segmentos. Uma média de valores dos segmentos também foi gerada para todas as classes de

segmentos.

3.7. Análise integrada dos resultados obtidos

Por fim, os dados e as informações obtidas através das análises em imagens de satélite,

modelos SRTM e os diversos mapas temáticos gerados foram integradas em programas de

sistemas de informações georeferenciadas – SIG para confecção do mapa geológico/estrutural e

da compartimentação morfotectônica da região de estudo. Essa análise culminou com a

interpretação paleogeográfica da área de estudo.

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4. GEOLOGIA DA REGIÃO DE ESTUDO

A área de interesse está inserida em parte das bacias sedimentares do Amazonas e do

Solimões. Dessa forma, este capítulo apresentará as características do empilhamento sedimentar

de bacias com ênfase para as descrições das unidades estratigráficas que afloram na área de

interesse, uma vez que tais informações são relevantes para a proposição desse estudo.

4.1. Bacia do Amazonas

A Bacia Paleozóica do Amazonas é uma bacia do tipo intracratônica que ocupa uma área

de 500.000 km2, englobando parte dos estados do Amazonas e Pará, na região norte do país

(Cunha et al. 1994). Esta unidade geotectônica possui direção do seu eixo principal

aproximadamente E-W, onde as unidades sedimentares se apresentam em onlap sobre as rochas

pré-cambrianas do escudo das Guianas, a norte, e do Brasil Central, a sul. O limite oeste da bacia

é marcado pelo Arco de Purus, ao passo que o Arco de Gurupá define seu limite leste,

separando-a das bacias do Solimões e do Marajó, respectivamente (Figura 4). De acordo com os

dados de subsuperfície estima-se que a espessura do pacote sedimentar no depocentro da bacia

seja superior a 5.000 m.

O embasamento da bacia é constituído principalmente por rochas ígneas e metamórficas

recobertas pelos sistemas aluvio-fluvial tafrogênicos da Formação Prosperança (Cunha et al.

1994, Milani & Zalan 1999). A existência de fortes anomalias gravimétricas positivas

coincidentes com o eixo da sinéclise do Amazonas sugere a presença de corpos ultrabásicos

rasos, enquanto que a análise de estruturas aulacogênicas permitiu a interpretação de um

mecanismo de rifteamento como precursor da subsidência da Bacia do Amazonas (Milani &

Zalán, 1999).

De acordo com Cunha et al. (1994), a evolução da Bacia do Amazonas começa com a

deposição da Superseqüência Ordoviciana-Devoniana composta por folhelhos marinhos, arenitos

e diamictitos das formações Autás-Mirim, Nhamundá, Pitinga e Manacapuru, que compõem o

Grupo Trombetas (Figura 5).

Após a discordância relacionada à Orogenia Caledoniana, no período Devoniano, iniciou-

se um novo ciclo transgressivo-regressivo responsável pela deposição da Superseqüência

Devoniana-Carbonífera (Cunha et al. 1994, Milani & Zalan 1999).

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Figura 4. Feições estruturais da Bacia do Amazonas, segundo Neves (1990).

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Figura 5. Carta estratigráfica da Bacia do Amazonas, conforme Cunha et al. (1994).

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Esta superseqüência é composta pelas formações Maecuru e Ererê, Grupo Urupadi, e

Barreirinha, Cururi, Oriximiná e Faro do Grupo Curuá, representando uma sedimentação flúvio-

deltaica e nerítica. O Grupo Curuá é formado por uma sedimentação glacial seguida por um hiato

deposicional relacionado à Orogenia Eoherciniana, durante o Carbonífero.

O novo ciclo de subsidência e deposição de sedimentos que teve início durante o

Neocarbonífero foi denominado Superseqüência Permo-Carbonífera. Esta sequência é formada

por sedimentos clásticos, carbonatos e evaporitos continentais, de ambiente marinho restrito,

representada pelas formações Monte Alegre, Itaituba, Nova Olinda e Andirá (Grupo Tapajós).

Esta superseqüência é seguida pela Orogênese Gonduanide, que provocou um soerguimento

generalizado na bacia expondo-a a um extenso processo de erosão, e pelo Diastrofismo Juruá

(Cunha et al. 1994, Milani & Zalan 1999). No principio do Jurássico ocorreu amplo magmatismo

basáltico na forma de soleiras e enxames de diques, denominado de magmatismo Penatecaua. A

sedimentação da Bacia do Amazonas foi encerrada com a deposição das formações Alter do

Chão (Cretáceo Superior) e Solimões (Oligoceno-Mioceno) do Grupo Javari, depositadas por

sistemas fluviais e flúvio-lacustres (Cunha et al. 1994).

4.2. Bacia do Solimões

A Bacia Paleozóica do Solimões estende-se por cerca de aproximadamente 400.000 km2

no estado do Amazonas. O limite com a Bacia do Amazonas, a leste, é através do Arco de Purus.

A oeste, o Arco de Iquitos marca o limite com a Bacia do Acre enquanto que a norte e a sul, a

bacia é bordejada pelos escudos das Guianas e do Brasil Central, respectivamente (Eiras et al.,

1994). A Bacia do Solimões, anteriormente designada de Bacia do Alto Amazonas, está dividida

em duas bacias menores designadas de Sub-bacia de Jandiatuba e Sub-bacia do Juruá, ambas

separadas pelo Arco ou Alto de Carauari (Figura 6). O Alto de Carauari é uma estrutura positiva

topograficamente com orientação N-S, cuja influência no controle na sedimentação é

significativa. A Sub-bacia do Juruá, bem mais conhecida do que a Sub-bacia de Jandiatuba, está

situada na porção oriental da Bacia do Solimões.

A seqüência estratigráfica da Bacia do Solimões está constituída por cinco seqüências

deposicionais, do Ordoviciano ao Neógeno, separadas por discordâncias regionais (Eiras et al.,

1994), conforme Figura 7.

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Figura 6. Mapa de arcabouço estrutural da bacia do Solimões, subdividida pelo Arco de Carauari nas sub-bacias do Juruá e Jandiatuba (Silva, 1987).

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A. do Chão

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Arco deIquitos

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Carta Estratigráfica da Bacia do Solimões

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Fluvio-Lacustre

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Pré-Cambriano

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Figura 7. Carta estratigráfica da Bacia do Solimões, segundo Eiras et al. (1994).

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A Seqüência Ordoviciana está constituída por depósitos clásticos neríticos, arenitos

marinhos rasos e folhelhos, cinza-escuro, da Formação Benjamin Constant que representam o

mais antigo registro sedimentar dentre as bacias paleozóicas brasileiras. A Seqüência Siluro-

Devoniana está composta por clásticos e carbonatos neríticos neo-silurianos e eodevonianos da

Formação Jutaí, de ambiente marinho transgressivo, os quais estão restritos à Sub-bacia de

Jandiatuba. Esta unidade se correlaciona com parte do Grupo Trombetas da Bacia do Amazonas

(Figura 8).

A Seqüência Devoniana-Carbonífera é representada por sedimentos clásticos e depósitos

silicosos neríticos e glácio-marinhos do Grupo Marimari, os quais se sobrepõem ao Arco de

Carauari e foram depositados na Bacia do Juruá. O grupo Marimari é composto pelas formações

Uerê, de ambiente marinho raso a transicional, flúvio-eólica a litorânea, e Jandiatuba, de

ambiente marino costeiro, com regime transgressivo e regressivo. Essa seqüência também foi

depositada na Bacia do Amazonas, o que indica que o Arco de Purus não foi atuante nesse

período e permitiu a transgressão marinha nas duas bacias paleozóicas durante o Devoniano.

A Seqüência Carbonífera-Permiana está constituída por sedimentos clásticos, carbonatos

e evaporitos marinhos e continentais (eólico, fluvial e lacustre) representados pelas formações

Juruá, Carauari e Fonte Boa (Grupo Tefé), que marcam estágios de transgressão e regressão

marinhas até um ambiente continental desértico.

A Seqüência Cretácea está representada pela Formação Alter do Chão, unidade inferior

do Grupo Javari, que compreende sedimentos fluviais. Durante o Cretáceo ainda existia a

conexão entre as bacias sedimentares do Solimões e do Amazonas. Posteriormente, no início do

Cenozóico, o Arco de Purus já se comportara como um alto estrutural entre elas. A Seqüência

Terciária (Neógeno ao Quaternário) de Eiras et al. (1994) está representada por duas seqüências

deposicionais: a Formação Solimões, do Neógeno, representada por sedimentos argilosos e

siltosos (pelítica), e a Formação Içá, do Plio-Pleistoceno, que inclui arenitos e conglomerados

também de origem fluvial.

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Figura 8. Correlação estratigráfica entre as bacias do Solimões e Amazonas, conforme Milani & Thomas Filho (2000).

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4.3. Descrição das unidades aflorantes

4.3.1. Formação Solimões

A Formação Solimões corresponde à época de soerguimento da cadeia Andina no

Paleógeno. Esse fato possibilitou a deposição de pelitos com restos de conchas e moluscos e

vegetais por compensação isostática, que mal ultrapassou o Arco de Purus para avançar na Bacia

do Amazonas (Cunha et al. 1994). Conforme Caputo et al. (1971), essa unidade está composta

por argilitos vermelho e cinza, com camadas de conchas e linhito, muito rica em fósseis vegetais

e animais (troncos, folhas, carófitas, ostracodes, escamas, dentes e ossos) que se distribuem

amplamente na Amazônia ocidental, desde o Acre até o limite oeste da Bacia do Amazonas.

Com espessura que pode alcançar 980 m, essa unidade está em discordância com a Formação

Alter do Chão. A partir das associações esporolínicas, Cruz (1984 apud Eiras et al. 1994)

estabeleceu três zonas palinológicas para a deposição Solimões, para as épocas Mioceno,

Mioceno/Plioceno e Plioceno. Predomina o ambiente de deposição do sistema fluvial a fluvial-

lacustrino com característica de estuário influenciado por condições marinhas marginais (Hoorn

1993).

Na região do rio Caquetá, noroeste da Amazônia (região da Bacia do

Solimões/Colômbia), Hoorn (1993, 1994a, 1994b) sugere uma reconstrução paleoambiental e

paleogeográfica para o depósito da Formação Solimões ou Formação Pebas (como essa unidade

é denominada na região da Venezuela e Colômbia), a partir de análise palinológica. Os estudos

revelaram que esses sedimentos foram depositados por um sistema fluvial pouco sinuoso oriundo

do Escudo das Guianas. A assembleia palinológica sugeriu períodos de influência marinha,

inclusive com desenvolvimento de mangue, oriundo da região noroeste da Amazônia. De acordo

com Hoorn et al. (1995), a história deposicional nesse setor da Amazônia foi fortemente

influenciada pelo soerguimento da Cordilheira Andina Oriental durante o Mioceno. O efeito da

edificação dos Andes Orientais, no Mioceno tardio, causou a mudança do curso do paleo-

orinoco, o estabelecimento da conexão do rio Amazonas para o Atlântico e o fechamento da

conexão marinha do rio Amazonas com o mar do Caribe via rio Orinoco.

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4.3.2. Formação Içá

De acordo com o mapa geológico do Brasil, produzido pela CPRM (Bizzi et al. 2001), os

sedimentos distribuídos nas porções a oeste de Manacapuru e ao sul do rio Solimões foram

denominados de Formação Içá por Maia et al. (1977). A designação dessa unidade na região

ainda é alvo de controvérsia, e muitos autores desconsideram o uso desse termo considerando-a

como parte da Formação Solimões (Oligoceno-Mioceno). Essa unidade caracteriza-se,

morfologicamente, por relevo plano, vales abertos e drenagem com baixa densidade distribuída

amplamente na região oriental da Amazônia. Compreende sedimentos arenosos com

intercalações de frações finas, siltosas e argilosas, com baixo ou ausente conteúdo fossilífero,

cujo ambiente possivelmente é fluvial. Esta unidade se sobrepõe, em discordância, com a

Formação Alter do Chão.

4.3.3. Depósitos Quaternários Aluviais

Os depósitos quaternários na região de estudo estão associados ao sistema da planície

aluvial do rio Amazonas e seus afluentes. Consistem de sedimentos arenosos e argilosos

depositados em um complexo sistema e formas fluviais, incluindo, diques marginais, depósitos

de canais e de barras de meandros, barras ativas, depósitos de planície de inundação, depósito de

rompimento de dique, terraços aluviais, depósitos em meandros abandonados e lagos, conforme

Nascimento et al. (1976), Costa et al. (1978), Iriondo (1982) e Latrubesse & Franzinelli (2002),

dentre outros. Ao longo de tributários dos principais rios da região desenvolvem-se sedimentos

aluviais recentes compostos por areias, siltes e argilas.

Iriondo (1982) destaca ao longo dos rios Amazonas e Solimões, duas fases

morfogenéticas na Planície Amazônica: as planícies de barras de meandro, depósitos de

inundação e depósitos de estuário do período Mesoholoceno, e as planícies de barras e meandros

do período presente.

Latrubesse & Franzinelli (2002) identificaram, na planície do rio Solimões, três unidades

com características geomorfológicas e sedimentológicas distintas: a) a planície antiga, dominada

por cristas (older scroll-dominated plain); b) a planície de inundação barrada (impeded

floodplain); e c) a planície de inundação dominada por canais (channel-dominated floodplain),

incluindo um cinturão aluvial abandonado (abandoned alluvial belts). A planície de inundação

dominada por canais compreende os seguintes elementos: i) canais (channel); ii) canais com

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barras arenosas (channel sand bars); iii) cristas de meandro (scrolls); iv) diques (leeves); v) ilhas

(barras arenosas) no canal (channel island); vi) meandros abandonados (abandoned meander

belts). Segundo esses autores, na planície mais antiga ocorrem terraços compostos por silte-

argila, onde são encontradas as barras que indicam meandramento do rio Amazonas.

A planície de inundação barrada caracteriza-se por uma ampla área com lagos de formas

variadas inundada na época de cheias. Predominam sedimentos lamosos cinza a cinza-

esverdeados, mosqueados (alaranjados ou amarelados), com feições de bioturbação e resto de

vegetais modernos, cuja origem deve ser por acresção vertical, mas com contribuição de

depósitos de rompimento de diques e sistema em deltas variados. As idades desses depósitos

variam entre 300 a 1.020 anos. Nas planícies de inundação dominadas por canais, as principais

feições são canais, barras arenosas ativas, diques, planície predominando barras de migração,

ilhas e sistema de canais abandonados constituído basicamente por sedimentos arenosos e finos.

Uma característica morfológica interessante são os depósitos quaternários recentes dos

rios com terminação em delta, mencionados nos levantamentos geomorfológicos no Projeto

Radambrasil (Costa et al. 1978, Nascimento et al. 1976 e Mauro et al. 1978,), e as formas

complexas dos depósitos resultantes desta dinâmica fluvial.

4.4. Breve contexto tectônico da área

Os estudos neotectônicos no sistema do rio Amazonas (Solimões-Amazonas) têm

demonstrado forte controle tectônico dos rios e da sedimentação quaternária por vários autores

(Iriondo 1982, Igreja & Franzinelli 1990, Cunha 1991, Costa 1996, Fernandes Filho et al. 1997,

Bemerguy et al. 1999 e 2002, Costa et al. 2001, Silva et al. 2002, 2003, 2004). O

condicionamento da sedimentação em bacias tectônicas modernas no Quaternário tem sido o

enfoque mais atual, conforme os trabalhos de Bezerra et al. (1999), Bezerra (2003) e Silva et al.

(2002, 2003, 2004 e 2007) e Ribeiro et al. (2009).

Mais recentemente, Rossetti et al. (2005) individualizam inúmeros depósitos cenozóicos

a partir da interpretação dos modelos SRTM. Nesse estudo, as unidades mais recentes foram

comparadas com os depósitos “Barreiras” que são mapeados próximos à região de Belém.

Porém, os depósitos quaternários foram descriminados em Q1 até Q4, sendo que o primeiro

representa o mais antigo, enquanto que o último corresponde a sedimentação atual ao longo da

calha do rio Solimões-Amazonas (Figura 9).

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Segundo os autores, a gênese desses depósitos foi controlada pela interação de processos

tectônicos, climáticos, deposicionais e erosivos, resultando em uma evolução complexa de

paleosuperfícies.

A paleogeografia do rio Solimões na área de estudo pode ser interpretada através da

interação entre a sedimentação fluvial e o controle neotectônico quaternário, conforme Ribeiro et

al. (2009). Somente a partir dessa conotação é possível entender toda a dinâmica fluvial desse rio

e os vários depósitos quaternários que estão associados.

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Figura 9. Distribuição de unidades recentes nas bacias do Amazonas e Solimões, conforme Rossetti et al. (2005).

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5. GEOMORFOLOGIA REGIONAL: REVISÃO DOS ESTUDOS

Os primeiros mapas geomorfológicos regionais realizados na região de estudo resultaram

das campanhas de mapeamento no Projeto Radambrasil durante a década de 1970. Na época, o

modelo proposto adotou a análise da paisagem do ponto de vista morfoestrutural e morfoclimático.

Pode-se afirmar que essa fase corresponde a fase de transição para o predomínio do estudo

morfoestrutural em detrimento da análise puramente morfoclimática.

Na Folha SA.20 – Manaus, as unidades geomorfológicas definidas por Costa et al. (1978)

foram denominadas de Planície Amazônica e Planalto Rebaixado da Amazônia (Ocidental). A

primeira corresponde aos sedimentos quaternários aluvionares, enquanto que a segunda foi

desenvolvida sob depósitos cenozóicos da Formação Içá. O Planalto Rebaixado da Amazônia

(Ocidental) é caracterizado por extensas áreas conservadas com relevos dissecados em interflúvios

tabulares, cuja extensão do topo varia de 750 m a 12.750 m com grau de aprofundamento da

drenagem muito fraco. Os autores dividiram essa unidade nas subunidades: Interflúvio Solimões –

Negro, Sudoeste do rio Solimões e Sudeste do rio Solimões. As duas últimas também foram

denominadas de Subunidade Norte do rio Purus e Subunidade rio Purus – rio Madeira,

respectivamente, segundo a Folha SB.20 – Purus (Mauro et al., 1978) (Figura 10). Conforme

Bezerra (2003), as subunidades definidas por Costa et al. (1978) correspondem a diferentes estágios

na evolução da rede de drenagem, sobre um mesmo sistema de relevos em interflúvios tabulares.

Quanto ao sistema de drenagem, este se faz em função dos rios principais Solimões, Negro,

Purus e Madeira. Tais rios seguem cursos retilíneos com trechos que apresentam fortes anomalias

representadas por meandramentos e padrões retangulares. Como o divisor de águas dos rios

Solimões e Negro está situado nas proximidades do rio Solimões, seus afluentes são de curta

extensão, enquanto os do rio Negro são longos. Os afluentes do rio Negro apresentam um padrão

meândrico, enquanto os afluentes do rio Solimões e do rio Purus mostram cursos meândricos com

retilinizações. Por outro lado, os afluentes do rio Madeira são retilíneos e angulosos. Os rios que

possuem desembocadura com foz afogada, formando lagos, alguns dos quais de grande extensão

como os lagos Anamã, Piorini e Badajós, apresentam-se alongados e seguem as direções estruturais

preferenciais NW-SE e NE-SW.

O mapa mais atualizado que descreve as unidades de relevo da região foi produzido pelo

IBGE (2006). De acordo com esse mapa, as unidades descritas nesse setor são: a Planície

Amazônica, a Depressão Solimões – Unini, a Depressão Madeira – Purus, a Depressão Ituxi – Jari e

a Depressão Purus – Juruá. A Depressão Solimões – Unini e Depressão Madeira – Purus

correlacionam-se, respectivamente, com as subunidades Interflúvio Solimões – Negro e rio Purus –

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rio Madeira da Folha SA.20 – Manaus. Já as unidades Depressão Ituxi – Jari e Depressão Purus –

Juruá representam a Subunidade Norte do rio Purus (Folha SB.20 – Purus) e a Subunidade Sudoeste

do rio Solimões (Folha SA.20 – Manaus). Para evitar essa variedade de designações e descrever as

unidades geomorfológicas mais atuais, este trabalho seguirá as unidades de relevo conforme o mapa

do IBGE (2006) (Figura 11).

Figura 10. Mapa geomorfológico conforme Radambrasil (Costa et al, 1978 e Mauro et al., 1978).

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Figura 11. Mapa de unidades de relevo, segundo IBGE (2006).

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5.1. Planície Amazônica

A Planície Amazônica é representada por planícies e terraços fluviais e flúvio-lacustres

elaborados em sedimentos aluviais recentes e correspondem às várzeas permanentemente

alagadas e/ou inundáveis nas cheias anuais (Bezerra, 2003). Segundo Costa et al. (1978), esta

unidade é caracterizada por apresentar uma colmatagem atual e ativa, onde se destacam lagos,

furos, paranás e depósitos lineares recentes. Bezerra (2003) destaca a presença de diques

arenosos, correspondentes aos depósitos de barra em pontal, bacias de decantação, como

depósitos de transbordamento e lagos de meandro, como aluviões flúvio-lacustres. A drenagem é

complexa com trechos meandrantes e retilíneos devido a um forte controle estrutural (Bezerra,

2003).

Costa et al. (1978) descrevem, sucintamente, o desenvolvimento da Planície Amazônica

na área estudada. Comentam os autores que no limite ocidental da área até próximo a Coari,

faixa de planície fluvial posiciona-se somente ao longo da faixa esquerda do rio Solimões. Deste

ponto para a jusante, a Planície Amazônica posiciona-se principalmente ao longo da margem

direita deste rio. A norte da junção entre estes dois trechos, a planície passa a acompanhar um

antigo curso do rio Solimões dispondo-se de forma arqueada com a convexidade voltada para

norte. A partir daí, o curso do rio descreve longos segmentos retilinizados que se orientam para

nordeste e sudeste, até próximo à cidade de Manacapuru, a leste da área estudada. Entre as

cidades de Codajás e Anori verifica-se um pequeno trecho de terraço na margem esquerda do rio

Solimões. No segmento que se localiza entre as cidades de Anori e Anamã tem-se a foz do rio

Purus. O traçado semi-retilinizado apresentado pelo canal do rio Purus próximo à sua foz foge ao

comportamento normal do rio, que tem no restante de seu percurso um padrão tipicamente

meândrico. Tal anomalia se deve a um forte controle estrutural por zonas de falhas normais,

conforme Silva et al. (2003). Esta descrição apresentada por Costa et al. (1978) é puramente

descritiva e pouco se conhecia na época a respeito da deformação tectônica existente.

Ainda segundo Costa et al. (1978), quatro padrões fisionômicos são distintos para a

Planície Amazônica no rio Solimões (Folha SA.20 – Manaus), que são: o padrão de depósitos

lineares fluviais recentes; o padrão de colmatagem homogênea; o padrão de lagos e o padrão de

depósitos lineares fluviais antigos.

O padrão de depósitos lineares fluviais recentes é composto por diques aluviais, situados

às margens dos principais rios. Possuem forma em feixes paralelos e recurvados e tem relação

com a sedimentação recente ao longo do canal. Lagos alongados, que se distribuem entre os

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segmentos das barras arenosas, foram classificados como lagos de diques. O padrão de

colmatagem homogênea foi caracterizado pela textura fina e lisa quando observado nos mosaicos

de radar, consistindo em lagos e canais que drenagem áreas em processo de colmatagem.

O padrão de lagos corresponde às áreas mais baixas da planície fluvial onde se

desenvolvem principalmente lagos de várzea. Este tipo está situado nas imediações dos maiores

lagos da planície da margem esquerda do rio Solimões como, por exemplo, o lago Acará.

Marginalmente aos paranás do Piorini e do Badajós também são verificados grandes

concentrações lacustres. Os furos e paranás que cruzam estas áreas constantemente alagadas

atuam no sentido de subdividir os grandes lagos em lagos menores, através do efeito de

colmatagem. Já o padrão de depósitos lineares fluviais antigos corresponde a diques fluviais que

se dispõem sob a forma de feixes paralelos com curvatura de grande amplitude e geralmente

comportam entre eles lagos interconectados. Sua ocorrência é observada principalmente sobre as

áreas mapeadas como terraços fluviais, como, por exemplo, a norte do rio Solimões, entre as

cidades de Codajás e Anori, e a norte do paraná Copeá. (Figura 11).

Grande parte da Planície Amazônica no rio Purus foi mapeada por Mauro et al. (1978),

na Folha SB.20 – Purus. Tais autores definiram o canal deste rio como sinuoso com curvas de

padrão meândrico e retilinizações próximo à foz. O posicionamento dos terraços comprova

migrações do leito do rio. A área de planície do rio Purus, no trecho contemplado nesta pesquisa,

é caracterizada pela presença de lagos de meandros, lagos de várzea e grandes furos e paranás.

Os lagos localizados na margem esquerda do rio Purus, no limite inferior da área, no limite entre

a planície fluvial e os relevos pleistocênicos dissecados (Depressão Madeira – Purus) são típicos

de meandro. São observados, ainda, rios com trechos afogados e em processo de colmatagem,

além de vários lagos abertos nos cursos inferiores de rios quando estes atingem a planície fluvial.

Tais lagos, definidos como lagos de barragem, podem ser classificados como “rias fluviais”

(Figura 11). Mauro et al. (1978) classificaram que alguns paranás situados na região do rio Purus

são adaptados tanto à tectônica quanto a diferença litológica.

Próximo à sua desembocadura no rio Solimões, o rio Purus caracteriza-se pelo traçado de

seu curso essencialmente retilinizado com sinuosidades localizadas. A área de planície

correspondente a essa seção do rio particulariza-se por apresentar elevado número de lagos de

várzea, lagos de diques e lagos residuais e de colmatagem. Os lagos de meandro constituem

exceção, segundo Costa et al. (1978). Silva et al. (2003) descrevem que tais associações e

formações lacustres decorrem da combinação de processo tectônico com adaptação da drenagem

à mudança em seu gradiente.

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O rio Purus encontra-se deslocado contra os relevos dissecados tabulares dos sedimentos

pliopleistocênicos (Depressão Madeira – Purus), não construindo assim, planície fluvial pela

margem direita (Mauro et al., 1978). No entanto, a partir da margem esquerda, o rio Purus

expande a planície numa vasta área subtriangular, onde os furos são classificados como furo

ligando lagos. Outro furo encontrado na região, o do paraná do Salsa, aparece interligando os

dois maiores lagos desse trecho da Planície Amazônica no rio Purus – lagos Aiapuã e igarapé do

Salsa (Figura 11). Nessa região, observam-se extensos furos em processo de colmatagem, onde a

drenagem é francamente anastomosada em função do elevado número de lagos de várzea, com

superfícies nunca superiores a 1km2 e unidas entre si por uma complexa rede de furos. Até o rio

Solimões, a drenagem apresenta feição similar, porém, com lagos de várzea mais esparsos.

Alinhamentos de diques são indicativos dos direcionamentos da sedimentação mais recente.

5.2. Depressão Solimões – Unini

Esta unidade é individualizada por apresentar interflúvios tabulares de grandes a médias

dimensões, delimitados por vales rasos, situados em toda porção a norte do rio Solimões.

Antigos níveis de terraços descaracterizados por processos erosivos foram mapeados como

formas de dissecação de topos planos (Bezerra, 2003).

Segundo Costa et al. (1978), os interflúvios tabulares apresentam extensão de topo

diminuindo de NW para SE, de modo que nas proximidades dos lagos Anamã, Piorini e Badajós

destacam-se interflúvios tabulares com as menores extensões de topo encontradas na área. Tal

característica associada à presença de colinas indica uma maior intensidade da dissecação,

conforme afirmam os autores. Os rios que drenam essa unidade apresentam padrão meândrico e

situam-se numa faixa de planície onde se observam furos ligando pequenos lagos ao rio

principal. A grande maioria desses rios possui foz afogada constituindo lagos, cujas principais

características são a grande extensão, as margens recurvadas e escarpadas e as águas escuras. Na

área da pesquisa, os lagos principais associados a esta unidade são o Anamã, o Piorini e o

Badajós, todos eles ligados à drenagem do rio Solimões por furos (Costa et al., 1978).

O Sistema rio Solimões – rio Piorini, definido por Bezerra (2003), abrange o trecho desta

unidade localizado na área estudada. Segundo o autor, tal sistema é representado por baixa

densidade de drenagem, moderadamente organizada e fraco aprofundamento. Os rios principais,

Piorini e Anamã, seccionam terraços de um paleosistema fluvial e correm muito próximos e

paralelamente à planície do rio Solimões até desaguarem nele após um longo percurso. Essa

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característica evidencia um forte soerguimento geral da margem esquerda do rio Solimões,

segundo Bezerra (2003) ou, ainda, um processo de colmatagem, segundo Costa et al. (1978).

Bezerra (2003) identifica dois padrões de drenagem nesse trecho: treliça ou subtreliça e

retangular com forte controle estrutural. O desenvolvimento de lagos com quebras, em ângulo

reto, reflete abatimentos que resultaram, também, no desenvolvimento de extensos terraços.

5.3. Depressão Madeira – Purus

Esta unidade, cuja denominação se refere ao interflúvio entre os rios Madeira e Purus, é

caracterizada por topo plano, conformando interflúvios tabulares de baixa a média densidade e

fraco aprofundamento, desenvolvidos sobre a Formação Içá (Bezerra, 2003).

Mauro et al. (1978) observaram a ocorrência da superfície pediplanada em áreas

descontínuas em meio aos interflúvios tabulares. Segundo Costa et al. (1978), os interflúvios

tabulares apresentam topos com extensão entre 250 m e 750 m e um aprofundamento de

drenagem muito fraco. Áreas de colinas, subordinadas, ocupam faixas contínuas e marginais ao

longo das planícies de determinados rios (Jari, Ipixuna ou Paranapixuna) e são resultantes do

entalhe da drenagem curta que se dirige aos lagos e rios.

A rede de drenagem é bem organizada, conforme Bezerra (2003), com alto grau de

integração e de continuidade, apresentando um padrão retangular, que evidencia o controle

estrutural por lineamentos de direção NE-SW e NW-SE. A existência de um padrão de drenagem

radial centrífugo denuncia a presença de altos estruturais em subsuperfície (Costa et al., 1978 e

Bezerra, 2003).

5.4. Depressão Ituxi – Jari

A unidade denominada Depressão Ituxi – Jari, que representa o compartimento

geomorfológico entre os rios Mamiá (lago Mamiá) e Purus, compreende interflúvios tabulares de

grandes dimensões e fraco entalhe da rede de drenagem (Bezerra, 2003). Mauro et al. (1978)

identificaram a superfície pediplanada, os interflúvios tabulares e as colinas como as formas de

relevo que se destacam nesse setor. A superfície pediplanada corresponde às áreas conservadas

pela erosão e foi interpenetrada pelas colinas e interflúvios tabulares. Trechos descontínuos de

terraços fluviais, posicionados geralmente à margem direita das planícies, também são

observados. Os autores definem o padrão de drenagem como dendrítico, sendo que os cursos dos

rios maiores são meândricos, apresentando retilinizações. Suas planícies são contínuas e

apresentam inúmeros meandros em lago, em processo de colmatagem ou já colmatados.

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5.5. Depressão Purus – Juruá

A Depressão Purus – Juruá compreende interflúvios tabulares de dimensão pequena a

média, fracamente desnivelada que estão posicionados entre os rios Juruá e o Mamiá (lago

Mamiá), a oeste da área de estudo (Figura 11). Topos planos, mapeados como pediplano

retocado em alguns setores interfluviais, são indícios de uma fase de aplainamento (Bezerra,

2003).

Segundo Costa et al. (1978), o maior adensamento da rede de drenagem na unidade, com

a grande proliferação de canais curtos, originou um relevo dissecado em interflúvios tabulares,

onde a extensão dos topos varia de 750 m a 1.750 m e o aprofundamento da drenagem é muito

fraco. A maior intensidade da dissecação é evidenciada pela presença de colinas circundando

lagos e nas proximidades do rio Solimões. Conforme Bezerra (2003), essas formas colinosas

resultaram da dissecação dos interflúvios tabulares em clima úmido, com um ravinamento

incipiente.

O conjunto de relevo que compõe a unidade decai em altitude à medida que se aproxima

da calha do rio Solimões (Costa et al., 1978). Bezerra (2003) afirma que essa superfície,

suavemente basculada para NNE, foi posteriormente dissecada por retomadas erosivas,

resultando em interflúvios tabulares de pequena a média dimensão e moderado aprofundamento,

fracamente desnivelados.

No trecho que se estende nas proximidades de Coari até o lago de Acará, o relevo da

Depressão Purus – Juruá é constituído por interflúvios tabulares e colinas. O limite da depressão

com a Planície Amazônica, no trecho noroeste da faixa, é marcado por desnível como ruptura de

declive (Costa et al., 1978). A rede de drenagem se organizou acompanhando o caimento

topográfico para NNE e seus rios principais apresentam um padrão de drenagem do tipo

paralelo-retangular, associado a um controle estrutural herdado de estágios anteriores ao seu

desenvolvimento (Bezerra 2003). Nos elementos de primeira e segunda ordem, o controle

estrutural é indicado pelo padrão dendrítico, localmente adquirindo uma conformação em treliça,

com vertentes moderadamente assimétricas. Ao longo de alguns rios, como Solimões, Urucu e

Coari, e de alguns lagos, como o Badajós, por exemplo, a dissecação se intensifica, surgindo

áreas de colinas de pequena extensão e muito fraco aprofundamento da drenagem. Distribuída de

forma descontínua entre os interflúvios tabulares e áreas de colinas, encontra-se uma superfície

pediplanada, que pode ser observada na faixa norte a partir do rio Purus e no interflúvio Purus –

Madeira.

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Uma importante feição observada nessa unidade refere-se ao lago de Coari, o qual

desemboca no rio Solimões através de um pequeno canal. O lago de Coari divide-se em três

braços alongados, segundo três orientações: SW-NE, N-S e W-E. Suas margens são recortadas,

com trechos descontínuos de depósitos atuais, chegando a constituírem praias. Em alguns

trechos, afirmaram Mauro et al. (1978), os sedimentos da Formação Solimões (ou Formação Içá)

atingem as margens do lago, caindo sob a forma de escarpas abruptas, tipo falésias. Esse lago

representa um lago de barragem que corresponde à foz afogada dos rios Coari, Urucu e Arauá.

Os terraços dissecados representam, conforme Bezerra (2003), marcas de antigas

planícies fluviais abandonadas e de migração, ou mesmo mudança na posição dos atuais cursos

d’água e de suas planícies aluviais, em face da adaptação às novas condições decorrentes de

variações na posição do nível de base. A característica de dissecação é dada pelo

desenvolvimento de uma rede de drenagem normalmente de primeira ou segunda ordem que, em

geral, ocupa antigas cicatrizes de meandros colmatados ou marcas de paleodrenagem.

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6. NEOTECTÔNICA: REVISÃO CONCEITUAL

6.1. Conceituação

A origem do conceito de neotectônica remonta à década de 1940, quando Hills (1940)

mostrou, pela primeira vez, a existência de falhas condicionando o quadro geomorfológico da

Austrália. Segundo o autor, tais falhas teriam se instalado em coincidência com zonas de

movimentação mais antigas, que apresentavam evidências de uma longa história de

deslocamentos (Hasui, 1990).

Apesar dos estudos de Hills, foi Obruchev (1968) quem reconheceu a importância dos

processos geológicos recentes e/ou ativos e propôs um ramo novo e independente dentro das

Geociências. Assim, o termo “Neotectônica” foi criado para indicar o estudo dos movimentos da

crosta terrestre atuantes durante os períodos Neógeno e início do Quaternário, que assumiram um

papel decisivo na formação da topografia contemporânea. Para o autor, o tempo de ocorrência

desses movimentos marcaria um estágio neotectônico especial de desenvolvimento da Terra,

conectado com a evolução da topografia atual e com a estrutura de continentes e assoalhos

oceânicos. Seguindo este conceito, Nikolaev (1962 apud Fairbridge 1981) afirma que os

processos tectônicos do Cenozóico Superior teriam reativado formas estruturais antigas ou criado

novas formas que apresentam expressões evidentes no relevo da superfície terrestre.

Em 1946, Gerasimov introduziu uma idéia de “Morfoestrutura” para descrever feições

de relevo atuais decorrentes de estruturas tectônicas (Meschericov, 1968), enquanto o termo

“Morfotectônica”, que surgiu no início da década de 1970, resultou da tentativa de combinar o

fenômeno geomorfológico com a neotectônica (Pavlides, 1989).

Basenina et al. (1976) redefinem o termo morfoestrutura como formas da superfície

terrestre de origem tectônica que foram modificadas, até um determinado grau, por processos

exógenos, podendo surgir tanto como conseqüência de movimentos crustais recentes e atuais,

como também antigos (morfoestruturas ativas e passivas, respectivamente). O conceito de

morfoestrutura, na terminologia geomorfológica soviética, abrange todos os elementos

estruturais do relevo vinculados à construção geológica da crosta terrestre e às diferentes

resistências das rochas aos processos de intemperismo (morfoestruturas passivas), além dos

movimentos crustais antigos e recentes que possuem participação direta na gênese das formas de

relevo superficiais (morfotectônica ou morfoestruturas ativas).

Segundo Panizza & Piacente (1978), a morfoestrutura compreende a unidade do relevo

em escala regional cuja origem está relacionada a eventos tectônicos pós-paleozóicos,

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conservando grande linearidade do seu aspecto original, enquanto que a morfotectônica trata a

forma do relevo como conseqüência geomorfológica da movimentação tectônica atual.

Até então, os autores apresentavam evidências da neotectônica apenas nas estruturas de

superfície. Porém, em 1968, Meschericov, através de estudos sísmicos e gravimétricos, observou

que os movimentos neotectônicos também eram revelados em estruturas profundas da crosta

terrestre. O autor também relatou a atuação desses movimentos em regiões intracratônicas tais

como as planícies Norte Americana e do Leste Europeu, os platôs da Sibéria e do Colorado e as

plataformas Africana e Brasileira.

A partir da década de 1970, com o reconhecimento da importância da neotectônica na

evolução da crosta continental, várias propostas de definição foram apresentadas, criando um

amplo leque de termos, tais como: movimentos contemporâneos (dos últimos 6.000 anos),

movimentos novíssimos (Neógeno e Quaternário mais antigo), movimentos jovens (Holoceno),

tectônica ativa e tectônica viva. Estes termos refletiram o problema decorrente das dificuldades

de se tentar generalizar métodos de investigação, época de início na Terra e aplicações (Hasui &

Costa, 1996).

Foi neste contexto, que a INQUA (Association for the Study of the Quaternary Period),

(INQUA 1978) adotou a definição de neotectônica, atualmente em vigor a nível internacional,

como o campo que estuda qualquer movimento da Terra ou deformação do nível geodésico de

referência, seus mecanismos e sua origem geológica, independentemente da sua idade, suas

implicações práticas e extrapolações futuras. A partir daí, estabeleceu-se que os movimentos

neotectônicos não seriam mais atrelados à concepção puramente verticalista e todo o acervo de

deformações de caráter rúptil e/ou dúctil, ocorridos no período dito neotectônico, passou a ser

considerado (Saadi, 1993).

A delimitação deste período neotectônico não é uma tarefa fácil, já que várias partes do

globo estão submetidas a tensões relacionadas com estágios diferentes de evolução tectônica e

estão localizadas em diferentes posições em relação ao arranjo das placas litosféricas (Saadi,

1993). No entanto, há um consenso entre os autores de que o objeto de estudo são os

movimentos tectônicos mais novos, relacionados à última reorganização tectônica regional, cuja

idade de origem depende da região estudada (Hasui & Costa, 1996). Embora as opiniões da

maioria dos autores tenham sido expressas de maneiras diferentes, conseguiu-se o

estabelecimento da relação obrigatória entre neotectônica e configuração da morfologia atual,

independentemente da idade das feições estudadas. Existe uma ausência de limites temporais,

sendo considerados movimentos neotectônicos desde os instantâneos até aqueles de idade

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superior a 107 anos, se isso for necessário ao entendimento da origem dos movimentos

registrados (Saadi, 1993).

De acordo com esta concepção, Pavlides (1989) esclarece que a neotectônica é o estudo

dos movimentos tectônicos recentes que ocorreram ou ainda estão ocorrendo numa região após

sua orogênese final (pelo menos nos casos em que ocorreu orogênese recente) ou, mais

precisamente, depois da sua última reorganização tectônica significativa. Os eventos

neotectônicos estão estritamente conectados com a configuração e evolução da morfologia atual,

e necessitam de uma análise detalhada com resultados diretamente compatíveis com as

observações sismológicas.

Pavlides (1989) ainda acrescenta que os estudos neotectônicos abrangem movimentos

horizontais e verticais de escala local a global, especialmente aqueles associados a tectonismo

regional, arquitetura de zonas de falhas recentes e/ou ativas e sua relação com outras estruturas,

geomorfologia tectônica, sismotectônica, vulcanotectônica, comparação de dados geodésicos

com o registro geológico de deformação e análise dos padrões de stress (strain).

Em 1981, Fairbridge reuniu em seu trabalho as evidências da atuação da neotectônica, em

termos de movimentos crustais verticais e horizontais, documentadas por vários autores na

década de 1970. Para movimentos crustais verticais, tais evidências foram encontradas em

estudos de inundações recorrentes em terras baixas costeiras (Países Baixos, Norte da Alemanha,

sudeste da Inglaterra e o Delta do rio Pó na Itália); flutuações rápidas do nível do mar em regiões

vulcânicas instáveis (Baía de Tóquio e Baía de Nápoles); regiões soerguidas por movimentos

isostáticos pós-glaciais (plataformas Escandinávia e Canadense) e, ainda, amplos cinturões de

subsidência lenta que marcam regiões periglaciais (sul dos mares do Norte e Báltico). Quanto

aos movimentos horizontais, os exemplos mais significativos, onde se pode observar a atuação

da neotectônica extensional são o Gráben Central da Groelândia, o Sistema Transcorrente Mar

Morto/rio Jordão e a Falha de Santo André na Califórnia.

Com base neste estudo, o referido autor subdividiu a susceptibilidade neotectônica da

crosta continental terrestre dentro de seis províncias geotectônicas:

• Plataformas Continentais: RVCMs (Movimentos Crustais Verticais Recentes)

inferiores a 1 mm/ano-3 e movimentos horizontais indetectáveis;

• Cinturões Orogênicos Cenozóicos: RVCMs localmente superior a 20 mm/ano-1 e

movimentos horizontais raramente maiores que 1 mm/ano-1;

• Cinturões Orogênicos mais velhos que o Fanerozóico: RVCMs superiores a 5

mm/ano-1, soerguimentos neotectônicos superiores a 1 mm/ano-3 e movimentos

horizontais indetectáveis;

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• Bacias Intra-Orogênicas: RVCMs superiores a 10 mm/ano-1, neotectônica diferencial

superior a 5 mm/ano-2 e movimentos horizontais superiores a 1 mm/ano-1 (extensional

ou cisalhamento);

• Bacias Intracratônicas: RVCMs superiores a 5 mm/ano-1, neotectônica diferencial

superior a 2 mm/ano-2 e movimentos horizontais superiores a 1 mm/ano-1 (extensional

ou cisalhamento);

• Margens de Placas Rifteadas: RVCMs superiores a 10 mm/ano-1, neotectônica

superior a 1 mm/ano-2 e movimentos horizontais potencialmente catastróficos.

No Brasil, o estudo neotectônico teve um avanço significativo a partir da caracterização

de um modelo tectônico para a intraplaca brasileira, baseada principalmente no trabalho de Hasui

(1990). Diversos estudos foram desenvolvidos e a Amazônia, em especial, mostrou ser uma

importante região onde os fenômenos neotectônicos são notáveis no controle do sistema fluvial.

6.2. Neotectônica no Brasil

Embora alguns movimentos modernos tenham sido observados isoladamente desde 1950,

especialmente por Sternberg (1950) na Amazônia, mas foi Hasui na década de 1990 quem

apresentou a primeira reflexão sobre a Neotectônica no Brasil. Baseando-se no delineamento da

história de reativações das estruturas tectônicas desde o Pré-Cambriano até o Cenozóico, o autor

fez uma modelagem tectônica a partir de dados geológicos, gravimétricos e magnetométricos no

sudeste brasileiro (Hasui, 1990, Hasui & Costa, 1996).

O referido autor mostrou que o início da neotectônica no Brasil está vinculado à mudança

do regime tectônico, de caráter distensivo, relacionado aos processos de abertura do Oceano

Atlântico, para um regime transcorrente, ainda atuante, relacionado à deriva da Placa Sul-

Americana para WNW. O autor considerou as últimas manifestações de magmatismo alcalino no

Nordeste (12 Ma) e o início da deposição da última seqüência das bacias costeiras e da Formação

Barreiras na área emersa como balizadores do início da Neotectônica, que ficou fixado, enfim,

no Mioceno Superior (Neógeno e Quaternário).

Ainda neste trabalho, Hasui defendeu que o início da Neotectônica ocorreu no Neógeno,

pois considerou apenas os processos relacionados à pós deriva do continente Sul-Americano. Tal

escolha, em detrimento daquela que englobava todos os processos que culminaram com a

abertura do Oceano Atlântico (Triássico/Permiano), foi privilegiada porque considera a

movimentação ainda vigente, com manifestações exclusivas de ambiente intraplaca, e exclui as

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manifestações de tectônica distensiva responsável pela abertura do oceano, encerrada no

Paleógeno.

Desse modo, o quadro neotectônico do Brasil apresentado pelo autor em 1990, insere-se

no contexto da intraplaca brasileira que está em movimento para WNW, com processos

epirogenéticos positivos e, menos expressivamente, negativos. As tensões existentes são

induzidas pelos deslocamentos das bordas da placa, envolvendo compressão horizontal WNW-

ESE (Figura 12). A expressão estrutural da movimentação da placa se dá predominantemente por

falhas transcorrentes, de caráter ressurgente, condicionadas pelas zonas de cisalhamento e

suturas ligadas à estruturação antiga da crosta (Figura 13), enquanto que a movimentação

epirogenética manifesta-se por falhas normais. Quanto à expressão morfológica dos movimentos

epirogenéticos, esta se dá pelo condicionamento de extensas áreas de erosão e sedimentação.

Saadi (1993) apresentou uma avaliação geral das informações neotectônicas, apontando

que o território brasileiro é marcado por grandes descontinuidades crustais de direções noroeste e

nordeste, em parte coincidentes com aquelas indicadas por Hasui (1990), que se relacionam com

grandes lineamentos pré-cambrianos, compartimentando-o em blocos que estariam em

movimentação. Além disso, o autor sugeriu que a sismicidade, apontada somente em relação às

zonas colisionais pré-cambrianas, também teria relação com essa compartimentação. Os esforços

predominantes, deduzido geologicamente e por análises de sismos, seriam compressivo

proveniente do quadrante noroeste e distensivo nordeste e os pulsos neotectônicos se

relacionariam com os efeitos orogênicos andinos.

Com base na análise de estudos realizados até a década de 1990, Hasui & Costa (1996)

identificaram os principais problemas encontrados por pesquisadores nos estudos neotectônicos.

Destacam-se a necessidade de caracterização mais precisa do quadro geológico anterior, para

identificar zonas de fraqueza crustal que têm sido reativadas; caracterização regional das feições

estruturais neotectônicas e do regime tectônico que as gerou; caracterização da evolução

geomorfológica, pedogênese e geração de depósitos sedimentares, sob a óptica da

Geomorfologia Tectônica e Estratigrafia; caracterização da sismicidade regional e risco sísmico;

determinação do regime de tensão; e datação dos processos tectônicos, morfogenéticos e de

sedimentação.

A evolução dos estudos neotectônicos em diversas partes do Brasil possibilitou um

avanço significativo no entendimento dos processos neotectônicos atuantes, permitindo a

elaboração das principais descontinuidades e/ou estruturas da Plataforma Brasileira. Um mapa de

compilação de falhas e dobras do Quaternário do Brasil foi apresentado por Saadi et al. (2002),

como parte do mapeamento de falhas ativas proposto pelo Serviço Geológico Americano

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(USGS). A importância deste mapa está em mostrar a localização, idade e taxa de atividade das

principais feições (lineamentos, falhas e dobras) e a atividade sísmica relativa do Brasil.

Figura 12. Modelo de deformação para a Placa Sul Americana em sua deriva para NW, promovendo binário transcorrente destral EW e o desenvolvimento de falhas normais NW-SE, falhas de empurrão e dobras NE-SW e falhas transcorrentes EW, de acordo com modelo de RIEDEL (Hasui 1990).

Figura 13. Modelos de blocos crustais de Hasui et al. (1984).

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6.3. Neotectônica na Amazônia

O mérito da primeira referência sobre eventos tectônicos na região amazônica deve-se à

Sternberg (1950) no trabalho intitulado “Vales tectônicos na Planície Amazônica”. Segundo o

autor, o sistema hidrográfico dessa região está condicionado a lineamentos estruturais com

direções NE-SW e NW-SE. As evidências tectônicas apontadas foram os padrões retilíneos de

rios como, por exemplo, os dos rios Negro, Urubu e Preto da Eva, as inflexões em ângulo reto

(em cotovelo), e a formação de segmentos de drenagens paralelos (Figura 14). O autor apontou

como causa desse fenômeno o desequilíbrio isostático decorrente do processo de subsidência na

foz do rio Amazonas.

Evidências posteriores acerca da manifestação de tectonismo na região Amazônica foram

mencionadas nos levantamentos geológicos executados no Projeto Radambrasil nas folhas SA.22

– Santarém, SA.20 – Manaus e SB.20 – Purus (Nascimento et al., 1976, Costa et al., 1978 e

Mauro et al., 1978). Nestes trabalhos, as idéias de Sternberg (1950) e Tricart (1977) foram

fundamentais para a análise dos processos geomorfológicos recentes.

Na Folha SA.22 – Santarém, Nascimento et al. (1976) descrevem o controle tectônico

dos rios da margem esquerda e direita do rio Amazonas, respectivamente rios Preto da Eva,

Urubu, Anebá, Uatumã, Jatapu, Nhamundá e Trombetas, segundo a direção NW-SE, e a dos rios

Paraconi, Maués-Açu e Mamuru, segundo NE-SW. Vários exemplos de anomalias são

mencionados tais como a existência de furos, rios com foz afogada e lagos “adaptados à

tectônica”, cuja causa foi atribuída ao ajuste tectônico e à reativação no Quaternário de zonas de

fraquezas tectônicas.

Dentre as feições indicativas de neotectonismo notados na Folha Manaus, Costa et al.

(1978) enfatizam a ocorrência de lagos, escarpas fluviais, canais assimétricos, capturas e

barramento de drenagens, rias fluviais, migração de canais (avulsão), desenvolvimento de

terraços assimétricos, meandramentos anômalos e subsidência localizada. Exemplos de rios

encaixados em zonas de falha também foram citados, como, por exemplo, a orientação do rio

Negro. A formação de depósitos anômalos no Arquipélago de Anavilhanas e a migração do canal

desse rio, que ocorre na região de Barcelos, são indicadores de basculamento tectônico

decorrente da ativação tectônica no Holoceno.

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-61 -60 -59

-3

50 100 kilometros500-61 -60 -59

MANACAPURU

MANAUS

Rio

Tar

umã-

Aç u

Rio Urubu

Rio Preto da Eva

Rio Solimões

Rio Amazonas

Rio Negro

Figura 14. Lineamentos dos rios afluentes da margem esquerda do rio Amazonas (modificado de Sternberg 1950).

Segundo Iriondo (1982), a sedimentação quaternária no rio Amazonas mostra uma série

de “indícios indiretos” da manifestação tectônica na geomorfologia. Indicadores como

alargamento da planície aluvial, divagação de canais, abundância de lagos e a grande curvatura

de bancos e de meandros são decorrentes de subsidência tectônica, enquanto que o estreitamento

de planícies, trechos retilíneos ou poucos divagantes de canais, mudanças angulares de direção

dos canais e a ausência de lagos e de bancos com fraca curvatura são devido a soerguimentos

tectônicos. Segundo o autor supracitado, falhas modernas são as causas da formação das rias

fluviais.

A partir da análise da drenagem nos estudos de Cunha (1982) e Miranda (1984), foi

possível o reconhecimento de anomalias morfoestruturais em várias áreas da região amazônica.

Nesses estudos tais anomalias foram interpretadas como resultante de estruturas antigas

reativadas recentemente.

Miranda (1984) apontou vinte e três anomalias morfoestruturais na rede de drenagem na

região da Bacia do Solimões. Estas anomalias estão relacionadas a feições profundas, tais como

domos, depressões estruturais ou falhamentos antigos do embasamento, que se propagaram nas

formações mais novas da bacia.

Na região de Manaus, Franzinelli & Piuci (1988), Piuci & Franzinelli (1989), Igreja &

Franzinelli (1990) mostraram ocorrências de falhas neotectônicas em afloramentos na Formação

Alter do Chão (Grupo Javari da Bacia do Amazonas). O modelo neotectônico apontado por

Igreja & Franzinelli (1990) e Franzinelli & Igreja (1990) para a área do baixo rio Negro, no qual

as falhas normais NW-SE condicionam os rios Baleteiro, Tucumã, Coanã e Negro e as falhas de

transferência NE-SW controlam os rios Apuaú e Cuieiras, se enquadrou no binário transcorrente

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destral proposto para o país por Hasui (1990). A pesquisa conclui que o rio Negro é uma

estrutura do tipo hemigráben escalonado para nordeste (Figura 15).

Feições estruturais que afetam a Formação Alter do Chão têm sido observadas por

diversos pesquisadores em seções sísmicas nas bacias do Amazonas e Solimões. Nesse contexto

juntam-se os trabalhos de Campos & Teixeira (1988), Eiras & Kinoshita (1988, 1990), Barbosa

Filho et al. (1989), Travassos & Barbosa Filho (1990), Wanderley Filho (1991), Wanderley

Filho & Costa (1991), Neves (1990), Costa et al. (1991, 1994), Miranda et al. (1994), Costa

(1996), Costa (2003), Silva (2005) e Silva et al. (2007). As estruturas mapeadas apontam para

um sistema compressivo e/ou transcorrente composto por dobras assimétricas com eixo

orientado NE-SW, associadas a falhas reversas en échelon e por estruturas transpressivas e

transtensivas (estruturas em flor). As hipóteses de halocinese não têm sido muito aceitas como

causa principal, mas sim os processos tectônicos que posteriormente ativam a migração de

camadas de sal.

Figura 15. Modelamento neotectônico da região do baixo rio Negro com pulso predominantemente distensivo. Modificado de Franzinelli & Igreja (1990).

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Segundo Fernandes Filho (1996), as falhas observadas na cidade de Manaus são do tipo

normal, orientadas segundo NW-SE e NE-SW, e transcorrentes destrais NE-SW e E-W. Esse

conjunto de estruturas ligadas ao sistema transcorrente destral possibilitou a formação da bacia

pull-apart de Manaus. Conforme o autor, esse ambiente tectônico foi desenvolvido em três

pulsos: um transpressivo, no Mioceno, um transtensivo no Pleistoceno Médio a Superior e um

transcorrente no Pleistoceno Superior-Holoceno. A sismicidade observada na região se deve a

este último episódio tectônico (Fernandes Filho, 1996, Fernandes Filho et al., 1995, 1997).

Sobre o processo de sismicidade, Miranda et al. (1994), em estudos na região do rio

Uatumã (AM), sugeriram esforços distensivos WNW a NW, que afetaram a Formação Alter do

Chão e os depósitos de colúvio, seguido por esforços compressivos de mesma direção, posterior

à fase extensional. A região do interflúvio dos rios Uatumã-Anebá, cerca de 300 km a oeste de

Manaus, mostra um processo de soerguimento que pode ser notado pelos mecanismos de

aprofundamento e migração do rio Uatumã sobre o seu substrato paleozóico.

O entendimento regional das principais estruturas e feições neotectônicas na Amazônia

está reportado nos estudos de Costa & Hasui (1991), Costa et al. (1991), Hasui (1996) e Costa &

Hasui (1997). O modelo proposto pelos autores mostra a atuação do sistema distensivo,

importante para a sedimentação da Formação Alter do Chão (Cretáceo) e a posterior

predominância do sistema transcorrente destral em concordância com o regime estabelecido por

Hasui (1990). Nesse regime tectônico moderno, o sistema de drenagem foi fortemente

controlado por estruturas transcorrentes compatíveis com as descontinuidades do modelo de

Riedel: eixo do rio Amazonas segundo a componente Y ou D e afluentes orientados em zonas de

fraturas P, R, R’ e T (Bemerguy & Costa 1991, Costa et al, 2001). Junções tríplices, designadas

de Baixo Tapajós e Marajó-Mexiana, respectivamente dos tipos R-R-T e T-T-R, e áreas

transtrativas próximas a Manaus (entre Manaus e Manacapuru) e no litoral norte do Pará

caracterizam o arcabouço neotectônico da Amazônia (Costa et al., 1994, Costa & Hasui, 1997 e

Costa et al., 2001) (Figura 16).

Costa & Hasui (1997) apresentam o arcabouço neotectônico da região centro-oeste do

Amazonas em termos de um segmento transpressivo que se desenvolveu entre dois cinturões

transcorrentes a partir de movimentação direcional destral. Segundo esses autores, a região

situada entre a cidade de Benjamim Constante e o baixo curso do rio Purus, onde a área de

estudo está localiza, é caracterizada por um padrão de drenagem paralelo, controlado por feixes

de lineamentos NNE-SSW a NE-SW, interpretados como falhas inversas, que se conectam às

falhas transcorrentes E-W, freqüentemente encontradas a sul e norte da referida região.

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A compilação de importantes lineamentos do Quaternário do Brasil está sumarizada no

mapa do Serviço Geológico Americano (USGS) e foi apresentado por Saadi et al. (2002). Esse

mapa mostra a localização, idade e taxa de atividade das principais feições (lineamentos, falhas e

dobras), além da atividade sísmica relacionada a cada estrutura (Figura 17). Conforme o citado

mapa, os esforços que provavelmente ocasionaram as estruturas que modelam o quaternário na

Amazônia (stress máximo – SHMÁX) têm direção NW-SE para a região da Bacia do Amazonas.

Isso é concordante com os dados de breakout em poços referidos por Miranda et al. (1994), que

aponta compressão proveniente de noroeste para a região Amazônica.

A ocorrência de importantes eventos sísmicos nas circunvizinhanças de Manaus levou

Mioto (1993) a criar a Zona Sismogênica de Manaus (Figura 19). O principal evento sísmico

ocorrido e que Mioto (1993) tomou como base foi aquele em Codajás em 1983, cuja magnitude

foi da ordem de mb = 5,5 (Assumpção et al., 1983). O registro sísmico mais recente com

epicentro na região Amazônica foi o do Parque Nacional do Jaú, em 8 de fevereiro de 2005,

similar ao de São Gabriel da Cachoeira (região do alto rio Negro) em 15.03.1999, com

magnitude, para ambos, de Mb = 4,4 (Tabela 1, Figura 19). Um quadro dos principais sismos na

Amazônia foi apresentado por Silva (2005).

Na abordagem morfotectônica, alguns trabalhos dão destaques à compartimentação

geomorfológica condicionada por elementos tectônicos. Bemerguy (1997) demonstra uma série

de feições tectônicas controlando o relevo entre Manaus e Belém. Nesse amplo estudo

geomorfológico, a autora identifica que a região próxima a Manaus está situada num importante

compartimento, o qual foi denominado de Compartimento Manaus – Nhamundá.

Bezerra (2003), em sua compartimentação morfotectônica na Folha SA.20 Manaus,

mostra a existência dos seguintes compartimentos morfotectônicos: Compartimento

Transpressivo rio Juruá – rio Purus, Compartimento Transcorrente rio Madeira – rio Purus,

Compartimento Transcorrente rio Negro – rio Japurá, Compartimento Transtensivo rio Negro –

rio Solimões e Compartimento Transtensivo rio Branco – rio Negro. Nos compartimentos

transcorrentes predomina essencialmente feições associadas a falhas transcorrentes, enquanto

que nas áreas transtensivas e transpressivas há a predominância de estruturas extensionais e

compressivas, ambas relacionadas ao sistema transcorrente. A área de estudo está envolvida em

dois compartimentos com natureza tectônica diferenciada, ou seja, no Compartimento

Transpressivo rio Juruá – Purus e no Compartimento Transtensivo rio Negro – rio Solimões.

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Figura 16. Mapa estrutural do Terciário (A) e Quaternário (B) ao longo da calha do rio Amazonas, modificado de Costa et al. (2001).

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Figura 17. Falhas e lineamentos quaternários no Amazonas, modificado do Mapa de Falhas do Quaternário no Brasil de Saadi et al. (2002). As falhas do rio Negro e Barcelos são normais. A Falha do rio Madeira foi considerada como transcorrente destral e para as demais foi atribuída a movimentação inversa com componente transcorrente associada.

Figura 18. Mapa de localização do epicentro do sismo de Codajás (AM), segundo Assumpção et al. (1983), caracterizando a Zona Sismogênica de Manaus, conforme Mioto (1993). A seta vermelha próxima ao epicentro indica a direção de compressão.

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Figura 19. Mapa de principais ocorrências de sismos (estrela) no estado do Amazonas (Silva, 2005).

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Local Data Hora Epicentro (lat/long)

Magnitude

Prof. (km) Observação

01 rio Purus 1785 02 Alto rio Negro 1798 03 rio Purus 1827 04 rio Purus 1840 05 Manaus 29.01.1885 -3.13 -60.00 06 Itacoatiara 1906 07 Lábrea 1917 -7.26 -64.79 Ano incerto 08 Igarapé Perseverança 21.01.1921 -4.10 -59.35 09 Manaus 1922 10 Três Casas 1941 -7.00 -62.70 Ano incerto 11 Benjamin Constant 01.11.1947 11h 58 min 12 Careiro 16.08.1952 -3.20 -59.77 13 Sul do Amazonas 16.04.1957 15h 17min 12s -9.50 -67.00 14 Norte Amazonas 03.10.1961 17h 35min 54 s 0.40 -63.00 4.0 Caracas, Trinidad-Tobago 15 Manaus 13.12.1963 21h 05min 42s -2.30 -61.01 5.1 45 H= 45 (ISS) 16 Manaus 10.02.1967 17 Sudoeste Amazonas 11.05.1967 23h 21min 43s -7.17 -73.30 18 Leste Amazonas 18.05.1975 02h 42min 18s -4.00 -59.00 19 Colômbia/Amazonas 22.06.1975 11h 04min 44s 1.50 -70.30 3.5 (ISS) 20 Hidrelétrica Balbina 08.10.1976 17h 01min 12s -2.00 -59.80 21 Oeste Amazonas 06.03.1980 06h 46min 18s -6.17 -71.16 4.8 H=8(ISC,H=67?) 22 Manaus 02.09.1980 22h 36min 03s -3.30 -60.00 23 Amazonas 17.02.1981 05h 00min 00s -4.40 -70.40 3.4 (UnB) 24 Codajás 05.08.1983 03h 21min 42s -3.59 -62.17 5.5 H=23(UnB,IAG) 25 Codajás 05.08.1983 05h 24min 18s -3.59 -62.17 3.5 (UnB) réplica 26 Codajás 05.08.1983 07h 07min 14s -3.59 -62.17 2.6 (UnB) 27 Amazonas 05.07.1984 3.5 28 rio Tefé 05.03.1986 22h 51min 39s -4.50 -65.90 3.8 (UnB) 29 rio Aripuanã 07.12.1986 3.8 30 Barcelos 28.01.1987 03h 59min 56s -0.04 -63.22 3.9 (UnB) 31 rio Cuiuni 06.06.1988 09h 25min 31s -1.44 -64.82 3.8 (UnB) 32 rio Jatapu 03.09.1988 3.8 33 Amazônia 08.06.1989 12h 26min 00s -1.32 -64.13 3.7 (UnB) 34 Amazonas 09.06.1997 14h 20min 06s -5.58 -71.78 4.7 H=603(UnB,NEIS) 35 São Gabriel da Cachoeira 15.03.1999 4.4 36 Balbina 27.05.2001 09h 50min 00s -1.30 -60.50 3.7 Induzido? 37 Amazonas 20.06.2003 06h 19min 38s -7.54 -71.62 7.1 555,8 USGS(NEIC) 38 Parque Nac. do Jaú 08.02.2005 18h 04min 22s -2,22 -63.62 4.4 18 (UnB)

Tabela 1. Sismos ocorridos na região de estudo com base em Berrocal et al. (1984), Bezerra (2003) e informações do Observatório Sismológico da UnB. Os sismos que

possuem valores das coordenadas cartográficas (hachura) estão representados no mapa da Figura 19, conforme Silva 2005.

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Por fim, os estudos de Silva et al. (2003), Silva (2005) e Silva et al. (2007) têm

apresentado um quadro morfotectônico da região adjacente à Manaus e também na região de

Coari, consistente com o controle de importantes zonas de falhas mapeadas na paisagem

Amazônica. Nesse contexto, a sedimentação aluvionar holocênica está aprisionada em bacias

tectônicas quaternárias. O quadro tectônico apresentado por Silva (2005) mostra que essa

atividade é responsável pelo controle na paisagem atual. O autor apontou quatro etapas de

deformação tectônica. O mais antigo, do Cretáceo, compreende o sistema distensivo que resultou

na deposição da Formação Alter do Chão, o qual foi associado às falhas normais

sindeposicionais NE-SW e NNW-SSE. Posteriormente, as rochas cretáceas foram deformadas

por falhas inversas NE-SW associadas a um regime transpressivo. O quadro final principal da

tectônica cenozóica, principalmente no Quaternário, responde por um conjunto de falhas normais

que interagem com falhas transcorrentes destrais e sinistrais para a formação de bacias

quaternárias, onde a planície aluvionar dos sistemas dos rios Solimões – Amazonas e Negro e a

paisagem da região estão condicionados pelas estruturas. O regime de tensão mostra que os

tensores σ1 e σ3 têm orientação NW-SE e NE-SW, respectivamente, sendo ambos suborizontais,

enquanto que σ2 é subvertical. Essas estruturas foram associadas ao regime tectônico

transcorrente destral E-W da intraplaca brasileira.

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7. RESULTADOS

7.1. Individualização das unidades litológicas na área estudada

De acordo com o mapa geológico do Brasil, produzido pela CPRM (Bizzi et al. 2001),

duas litologias principais se destacam: os sedimentos distribuídos nas áreas mais elevadas (terra-

firme), correspondendo aos depósitos da Formação Içá, de Maia et al., (1977), e os depósitos

quaternários na planície aluvial do rio Solimões. Os depósitos quaternários consistem de

sedimentos arenosos e argilosos depositados em um complexo sistema fluvial, incluindo diques

marginais, depósitos de canais e de barras de meandros, barras ativas, depósitos de planície de

inundação, depósito de rompimento de dique, terraços aluviais, depósitos em meandros

abandonados e lagos (Nascimento et al., 1976, Costa et al., 1978, Mauro et al., 1978, Iriondo,

1982 e Latrubesse & Franzinelli, 2002). No entanto, tais depósitos não foram diferenciados no

mapa produzido pela CPRM (Bizzi et al., 2001).

A ausência dessa diferenciação de unidades se deve, principalmente, à escala do mapa

geológico apresentado, 1:2.500.000, o que dificulta a individualização dos inúmeros depósitos

situados nessa região de planície. Dessa forma, um dos objetivos do trabalho foi a separação das

unidades na planície do rio Solimões, que se mostra bastante importante devido às implicações

que causa na interpretação da dinâmica fluvial na área investigada.

A partir da análise em sensores remotos foi possível diferenciar nove tipos de depósitos

quaternários ao longo do trecho estudado: a) Formação Içá (Qi), b) Depósitos em terraço 1 (Qt1),

c) Depósito em terraço 2 (Qt2), d) Depósito em planície de inundação antiga (Qpia), e) Planície

flúvio-lacustre antiga (Qfla), f) Depósito em terraço 3 (Qt3), g) Depósito em planície de

inundação sub-recente (Qpisr), h) Depósitos em barras recentes (Qbr), i) Aluvião (Qa). A

distribuição destas unidades pode ser observada no mapa geológico apresentado na Figura 20.

A unidade mais antiga está representada pela Formação Içá (Qi). A distribuição na área é

ampla e constitui os interflúvios dos rios Piorini, Badajós e Anamã, na porção norte, e nas

margens altas do rio Purus, Mamiá e Coari, na porção sul (Figura 20). Essa unidade se

caracteriza pelo relevo marcado por interflúvios tabulares dissecados, situados em cotas com no

máximo 80 metros de altitude. Nas imagens observa-se um padrão textural dissecado, com

densidade de drenagem média e rios bem desenvolvidos. As anomalias do tipo rias fluviais se

desenvolvem em canais situados nessa unidade geológica. O contato lateral com as unidades

mais recentes mostra limites abruptos, como aquele observado na Figura 21 B e Figura 22 B.

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Figura 20. Mapa de unidades litológicas da área estudada obtida a partir da interpretação em imagens de satélite (Landsat 7 ETM+), radar (JERS-1) e SAR/SIPAM. Das sete unidades diferenciadas, cinco estão situadas na Planície Amazônica.

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O depósito em terraço 1 (Qt1) se caracteriza por feições de antigos meandramentos e

escavações de canais. Este depósito pode ser notado nas proximidades da margem esquerda do

igarapé Uauaçu (lago Uauaçu) e envolve toda área onde se encontra o lago Aiapuá até próximo à

planície do rio Purus. Tal unidade se sobrepõe à Formação Içá, com limites retilíneos e forma

alongada, cuja superfície topográfica está pouco abaixo, cerca de 20 metros, da unidade mais

antiga situada a 80 metros. A característica principal é a de formas fluviais erosivas,

possivelmente relacionadas ao mecanismo de avulsão de afluentes do rio Purus. Na Figura 21 B

e 22 B observam-se detalhes dos canais e formas erosivas fluviais do antigo terraço nas

proximidades da margem esquerda do rio Purus.

Os depósitos em terraço 2 (Qt2) foram mapeados notadamente na porção norte da área de

estudo (Figura 20). Ocorrem na margem esquerda do rio Solimões a norte da cidade de Coari

(Figura 21 D) e na margem esquerda dos paranás do Piorini (Figura 21 C) e Badajós, onde

desenvolvem marcas de antigas barras de migração de meandros. Na margem esquerda do

paraná do Badajós, estes depósitos compreendem uma estreita área acompanhando o curso deste

rio. Uma característica importante é a formação de antigos canais alongados e colmatados,

conforme pode ser notado na região de Codajás e Anori (Figura 22 A). De modo geral, esta

superfície foi desenvolvida sobre a Formação Içá e é resultante da migração do rio Solimões para

sul.

O depósito em planície de inundação antiga (Qpia) compreende três áreas situadas na

Planície Amazônica (Figura 20). Próximo a Coari, esta unidade se situada abaixo dos terraços

Qt2 (Figura 21 D), onde lagos arredondado e alongado se desenvolve, boa parte colmatados.

Próximo ao lago Acará, esta unidade mostra fortes feições de barras alinhadas e encurvadas

típicos de um grande meandro abandonado (Figura 22 C e D). No entanto, essa unidade é melhor

caracterizada na porção central da área estudada, a sul do rio Solimões (Figura 21 F). Feições do

tipo barras alongadas, diques e barras arenosas e lagos alongados, mostram que esse depósito

está associado a um antigo canal. Marcas de meandros (barras recurvadas) com lagos associados

são bem discriminados nas imagens de satélite e radar e estão limitados por lagos em

colmatagem recentes da unidade Qfla (planície de inundação antiga). Essas barras atingem as

margens do rio Purus, mostrando inflexões para norte, muito bem representadas na Figura 21 E.

O contato, observado em imagem de satélite, é brusco com a Formação Içá e irregular com os

demais depósitos.

A planície flúvio-lacustre antiga (Qfla) se desenvolve amplamente na Planície

Amazônica e ocorre na margem direita dos paranás do Badajós e Piorini (Figuras 21 C e 22 C),

entre o canal do rio Solimões e a unidade Qpia (Figura 21 F) e a norte do lago Aiapuá (Figura 21

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E). Destaca-se por grandes quantidades de lagos fluviais em processo de colmatagem,

entremeados por inúmeros paranás e furos que auxiliam neste processo de assoreamento. A

sedimentação é composta, provavelmente, por sedimentos finos amplamente distribuídos. Esse

aspecto é um diagnóstico muito importante, o qual facilita a interpretação nas imagens utilizadas.

O contato com as demais unidades é irregular, porém bem definido.

Os terraços aluviais sub-recentes (Qt3) correspondem às superfícies de terraços próximas

aos atuais cursos dos rios, pouco acima do nível atual (Figura 20). Estão localizados

prioritariamente às margens dos rios Purus e Solimões e denotam estágios de migração dos rios

em fase pré-atual. Na região entre Coari e o lago Acará, ocorre uma superfície de terraço na

margem esquerda do rio Solimões, resultante da erosão fluvial sobre o relevo da Formação Içá

(Figura 21 D e 22 E). Na área entre as cidades de Codajás e Anori, essa superfície está abaixo

dos terraços mais antigos (Qt2), marcados por feições fluviais características. Essa situação é

bastante similar ao que ocorre na porção nordeste da cidade de Anamã. Associados aos canais

retilíneos, tais como os rios Coari e Purus, também são observados esse tipo de depósito,

conforme observado no mapa geológico elaborado a partir da interpretação nas imagens (Figura

20). Esta unidade parece corresponder a uma fase pré-atual do trabalho fluvial na superfície

geomorfológica em processo de dissecação.

O depósito em planície de inundação sub-recente (Qpisr) está associado aos canais

principais, especialmente no rio Purus (Figura 20). Diferenciam-se dos depósitos de canal pela

presença de sedimentos finos depositados em épocas de transbordamento dos rios. Essa situação

é bem notada na Figura 22 B, que mostra também a distribuição limitada da unidade às margens

do rio Purus. Os limites com os depósitos em terraço (Qt1 e Qt3) são bem marcados enquanto que

com os depósitos em planície de inundação sub-recente (Qpisr) e com a planície flúvio-lacustre

antiga (Qfla) são discretos.

A unidade individualizada como depósito de barras recentes (Qbr) envolve os

sedimentos de barras de migração de meandro, barras em pontal, diques marginais e depósitos de

canal associadas à fase atual dos rios principais. A distribuição dessa unidade segue a orientação

aproximada dos rios Solimões e Purus. No rio Solimões, estes depósitos formam mega feições ao

longo do canal (Figuras 21 D, E e F), que representam as inúmeras ilhas existentes na área, tais

como a da Botija (Figura 22 A) e de Cipotuba (Figura 22 E). Estas ilhas compreendem barras de

migração de meandros alongadas que se destacam em meio à planície de inundação recente e/ou

à planície flúvio-lacustre antiga. Ressalta-se que esta unidade é cortada pelo canal do rio

Solimões, mostrando que se trata de um depósito anterior ao atual curso do rio. Já no rio Purus,

esta unidade desenvolve-se nos trechos onde o rio apresenta significativas faixas de

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meandramento. Nestes locais, os depósitos em barras em pontal e as barras de migração de

meandros são bastante característicos (Figura 22 C e D).

A caracterização morfológica de unidades na planície de inundação do rio Solimões já

havia sido reportada por autores como, por exemplo, Iriondo (1982), Latrubesse & Franzinelli

(2002) e Rossetti et al. (2005). No entanto, destaca-se a individualização detalhada dos depósitos

que só foi possível por intermédio do uso das imagens Landsat 7 ETM+ e radar (JERS-1 e

SAR/SIPAM), cuja utilização permitiu um detalhe significativo, até então não realizado.

Nas cabeceiras das drenagens desenvolvidas sobre a Formação Içá, nos locais de terra-

firme, estão localizados os depósitos aluvionares recentes (Qa), distribuídos amplamente na área,

como por exemplo, no interflúvio entre os rios Piorini – Badajós e Purus – Coari e entre as

cidades de Anori e Anamã (Figuras 20 e 22 F). Por vezes, nessas áreas, ocorrem depressões, sob

a forma de antigos lagos (paleolagos) nas cabeceiras das drenagens. Provavelmente, estes

depósitos correspondem a sedimentos arenosos e argilosos de rios e igarapés atuais.

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Figura 21. Características morfológicas das unidades mapeadas: Qi – Formação Içá, Qt1 – Depósitos em terraço 1; Qt2 – Depósito em terraço 2; Qpia – Depósito em planície de inundação antiga; Qfla – Depósito flúvio-lacustre antigo; Qbr – Depósito em barras recentes.

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Figura 22. Características morfológicas das unidades mapeadas: Qi – Formação Içá, Qt1 – Depósitos em terraço 1; Qt2 – Depósito em terraço 2; Qpia – Depósito em planície de inundação antiga; Qfla – Depósito flúvio-lacustre antigo; Qt3 – Depósito em terraço 3; Qpisr – Depósito em planície de inundação sub-recente; Qbr – Depósito em barras recentes; Qa – Aluvião.

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7.2. Análise Geomorfológica

7.2.1. Análise da rede de drenagem

O sistema de drenagem na área estudada tem sido descrito desde os estudos realizados

nos projetos Radambrasil na década de 1970, por Costa et al. (1978) e Mauro et al. (1978) –

Folha Purus e Manaus, onde a conotação de adaptação tectônica foi considerada. Ressaltam-se os

estudos de Silva et al. (2002), Bezerra (2003) e mais recentemente Ribeiro et al. (2009) que

mostram que alguns padrões estão associados a feições tectônicas, conforme a classificação de

Howard (1967) para os tipos de drenagens ditos básicas e modificados. A análise da rede de

drenagem mostrou que os padrões e feições anômalas observados diferem da classificação

clássica em padrão dendrítico e retangular, descritas por Mauro et al. (1978) e Costa et al.

(1978), sendo, no entanto, correlacionadas às definições de Silva et al. (2002), Bezzera (2003),

Ribeiro et al. (2009).

O mapa de drenagem da Figura 23, obtido a partir da extração automática em modelos

SRTM, apresenta uma densidade de drenagem mais apropriada do que aquelas dispostas na base

cartográfica da região (escalas 1:250.000 e 1:100.000). Isso possibilitou uma análise criteriosa

dos padrões e sistemas de drenagem e a possível correlação com estruturas tectônicas. Notou-se

que o principal padrão de drenagem observado na área corresponde ao tipo treliça e retangular, o

qual pode estar associado ao paralelismo de falhas ou juntas, conforme notado por Silva (2005)

na região de Manaus. Isso é um forte indicador do controle estrutural na região.

Segundo Mauro et al. (1978), na Folha Purus, vários rios com padrão retangular

apresentam adaptações a alinhamentos de falhas e/ou fraturas (p. 181). Complementam os

autores que, se a drenagem se adaptou às litologias mais novas, plio-plestocênicas, tanto o

sistema de drenagem quanto as falhas e fraturas que a condicionaram são de idade holocênica.

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Figura 23. Mapa de drenagem da área de estudo.

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Na região de interesse, dois padrões de drenagens – treliça de falha e retangular – são

nitidamente observados. O sistema em treliça de falha predomina na margem direita do rio

Purus, na região entre os lagos Aiapuá e do Salsa, nas áreas de Codajás e Anamã, no interflúvio

entre os rios Badajós e Piorini e entre o rio Piorini e o paraná Copeá. De modo geral, esse

sistema acompanha duas direções principais – NW-SE e NE-SW – sendo a primeira a mais

marcante (Figura 24). O padrão de drenagem retangular é observado no controle de rios como,

por exemplo, o Anamã, Miuá, Badajós, Piorini, Coari, Mamiá e em partes dos rios Purus e

Solimões, fato este já diagnosticado por Mauro et al. (1978), Silva et al. (2003), Bezerra (2003) e

Ribeiro et al. (2009). Essas drenagens retilíneas obedecem também orientações secundárias N-S

e E-W mostrando um quadro estrutural mais diversificado e abrangente.

Os canais mostram forte caráter retilíneo. O rio Solimões descreve trajetória retilínea e

corta as ilhas existentes em suas margens. Desde a montante de Coari, esse rio tem seu curso

encaixado em sua margem direita, erodindo as escarpas sedimentares da Formação Içá. Próximo

à cidade de Coari, este atravessa uma estreita passagem, com direção N-S, resultando na

formação do lago de Coari. No segmento entre Coari e Codajás, o rio Solimões contorna as ilhas

da Botija, Cipotuba e do Coró em linha reta. Passa, assim, a erodir toda a margem onde estão

situadas as cidades de Codajás, Anori e Anamã, sempre mantendo um traçado retilíneo com

segmentação tipicamente angular (Figura 25).

Os afluentes do rio Solimões na área de estudo são os rios Purus, Mamiá, Coari e Urucu,

pela margem direita, e Piorini, Badajós, Miuá e Anamã, pela esquerda. O rio Purus apresenta a

mais significativa mudança de canal em vários trechos. Mauro et al. (1978) analisou o canal

desse rio, na Folha Purus do Projeto Radambrasil, descrevendo a predominância de meandros

grandes, na proximidade deste rio com os inúmeros lagos da ampla planície do Solimões, e

trechos retilíneos adiante. De fato, do limite sul da área estudada até próximo ao lago Aiapuá,

esse rio mostra um padrão meandrante comprimido, limitado por um vale relativamente estreito.

Os laços desse meandramento aumentam quando o vale se torna mais aberto próximo ao lago

Aiapuá, para posteriormente assumir o padrão retilíneo, por longa distância, até sua foz (Figura

23).

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Figura 24. Padrão treliça na área de estudo: (A) no interflúvio entre os rios Piorini e Badajós e paraná do Piorini (B) Região de Codajás e Anamã, margem esquerda do rio Solimões; (C) Região dos lagos Aiapuá e do Salsa, sul da área de estudo; (D) Margem direita do rio Purus.

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Figura 25. Padrão retilíneo do rio Solimões observado em imagem de radar JERS-1, entre regiões de Coari e Codajás. As áreas mais claras representam sedimentos quaternários na Planície Amazônica e a tonalidade cinza escura compreende os sedimentos da Formação Içá (Terra Firme).

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As formas e feições observadas no trecho meandrante marcam uma fase de migração do

rio Purus, assimetricamente posicionado em relação às suas margens. Os atalhos formados

mostram-se do tipo “em corredeira” ou “em colo”, deixando lagos em arcos em processos de

colmatagem, como, por exemplo, o lago Comprido ou o lago do Sacado, respectivamente (Figura

26 A). Os igarapés que chegam à planície do rio Purus, no geral, são rias fluviais (paraná Joari e

lagos Itaboca, do Bacuri e Comprido, pela margem esquerda:, e, pela margem direita lagos da

Mira, do Arumã e o lago Grande de Paricatuba) que se ligam ao rio principal por meio de furos

ou paranás (Figura 23 A). As interligações do lago do Bacuri e paraná Joari se classificam como

furo em captura, enquanto alguns paranás, como, por exemplo, o paraná do Jarí, configuram

paleodrenagens do rio Purus (Mauro et al., 1978).

No trecho entre o lago do Arumã até os lagos do Matias e do Ipiranga, o rio Purus

desenvolve um único laço meândrico, próximo ao lago Aiapuá. No lago Aiapuá observa-se que o

furo do Aiapuá tem terminação em delta, reportado por Mauro et al. (1978) como uma das

causas da colmatagem do lago Aiapuá. O processo de colmatagem dos lagos fica bastante

evidente no trecho adiante, onde inúmeros lagos e paranás (Uauaçu, Esfola e Itapuru) se formam

e se interligam através de furos.

Destacam-se os lagos Uauaçu e Aiapuá (rios tipicamente com foz afogada com

denominação de lagos) que se interligam pelo paraná Uauaçu em direção ao rio Purus (Figura 26

B). O paraná Uauaçu, a exemplo do paraná do Aiapuá, desemboca no lago Aiapuá como um rio

com terminação em delta e, no o rio Purus, através de um pequeno furo (Furo Pirarara).

Entretanto, os vários furos situados nessa localidade fluem para mais a jusante desse rio

principal, o que denota uma suave inclinação da superfície topográfica para nordeste.

Mais adiante, predomina um longo segmento retilíneo do rio Purus até a sua foz no rio

Solimões, passando pela cidade de Beruri. Notáveis são os paranás Ipixuna e Cuianã ou Cuiu-

Anã que também se classificam como paleocursos, assim como o paraná da Estopa, os quais

fluem para o rio Purus em sua margem esquerda (Figura 27).

Essas mudanças no canal do rio Purus são tão importantes quanto o fato de seu curso

estar inteiramente orientado na direção NE-SW e assimetricamente encaixado, em grande parte,

na margem direita. De acordo com Ouchi (1985), as mudanças significativas ao longo do canal

podem diagnosticar processos tectônicos que alteram a morfologia do rio. Essa questão é

bastante importante, pois o rio Purus muda sua forma radicalmente, sendo meandrante a

montante e retilíneo a jusante da região do lago Aiapuá. Segundo o autor, uma subsidência no

canal pode resultar na configuração de meandramento a montante e retilinização a jusante.

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Figura 26. Planície do rio Purus observadas em imagens Landsat 7 ETM + (RGB 754): (A) Lago Itaboca, lago do Bacuri, lago Comprido, paraná do Joari, lago da Mira, lago do Arumã e lago Grande de Paricatuba; (B) Lagos Uauaçu e Aiapuá.

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Figura 27. Paleocursos do rio Solimões observado em imagem Landsat 7 ETM+ (RGB547). Os paranás Ipixuna e Cuianã ou Cuiu-Anã correspondem ao antigo curso do rio Solimões, que também fluía em direção ao paraná da Estopa. Na margem direita e esquerda do paleocanal se nota a diversidade de lagos, em processo de colmatagem, desse antigo fluxo fluvial.

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Feições anômalas importantes são os rios com forma afogada ou “rias fluviais”,

erroneamente descritos como lagos. Na área de estudo, todos os tributários dos rios principais

apresentam essa característica, destacando-se os lagos Aiapuá, Uauaçu e do Salsa, que se

apresentam alinhados, e os rios maiores que formam grandes lagos de rios, tais como o Anamã,

Miuá, Badajós, Piorini, Coari, Urucu e Mamiá. Até então, pouca consideração tem sido

apresentada para a origem tectônica dessas “rias fluviais”. A interpretação da origem tectônica

tem sido sugerida nos trabalhos de Bezerra et al. (1999), Silva et al. (2001, 2003), Bezerra

(2003) e Ribeiro et al. (2009).

No interflúvio entre os rios Purus e Mamiá, nas bacias dos rios Uauaçu e Aiapuá,

observam-se paleomeandros de um sistema pretérito. Os afluentes desses rios mostram canais

sinuosos, os quais são adaptações à morfologia do terreno (Figura 28). Essa feição está

amplamente desenvolvida numa área retangular na cabeceira do rio Aiapuá, coincidindo com o

depósito em terraço antigo (Qt1), conforme mostrado o mapa geológico da área estudada (Figura

20). Possivelmente, o desenvolvimento desse terraço representa a fase de migração do rio Purus

na direção sudeste. Essa mesma feição (terraços) pode ser observada na porção norte da área,

entre as cidades de Codajás, Anori e Anamã, bem como no interflúvio dos rios Badajós – Piorini

e Piorini – Solimões, e deve estar relacionada com as migrações dos respectivos rios ou mesmo

do rio Solimões. Esses fatos também foram descritos por Costa et al. (1978) e Mauro et al.

(1978) que fizeram associações a basculamentos tectônicos, sem, no entanto, indicar a origem do

mecanismo.

Os rios Mamiá, Coari e Urucu mostram formato retangular, com desembocadura afogada.

No entanto, a montante, tais rios desenvolvem padrão meandrante, com curvas diminutas, em

uma planície larga. Essas características têm relação direta com o barramento hidráulico que

ocorre na foz desses rios no lago de Coari.

Na porção norte da área estudada, os canais dos rios Piorini, Badajós Miuá, Anori e

Anamã também apresentam características de foz afogada e se interligam a planície do rio

Solimões por meio de canais estreitos como paranás e/ou furos. O padrão de drenagem é

retangular, com marcas de migrações divagantes. Outras características marcantes na porção

norte da área é a formação de lagos residuais em zonas interfluviais e as migrações em terraços

próximos ao rio Solimões. Os lagos residuais se associam a paleocursos e/ou abandono de rios

próximo às cabeceiras de rios menores (Figura 29 A), enquanto as migrações em terraços devem

estar associadas à migração do rio Solimões para sudeste, deixando a superfície de terraço. Este

último caso pode ser exemplificado pelas formas encurvadas de depósitos fluviais tipicamente

meandrante, notado em uma faixa que vai desde Codajás até Anamã (Figura 29 B).

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Figura 28. (A) Paleomeandramento entre os rios Purus e Mamiá observado em modelo SRTM (NASA). Em (B), detalhe na imagem de satélite Landsat ETM+ (composição RGB 457).

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Figura 29. (A) Paleolagos no interflúvio entre os rios Piorini e Anamã observado em imagem de radar SAR/SIPAM (polarização HH, VV e HV); (B) Marcas de paleodrenagem na região de Codajás em imagem Landsat 7 ETM+ (composição RGB 754); C) Detalhe da morfologia do Paraná do Piorini observado em imagem de radar SAR/SIPAM (polarização VV, VH e X).

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A planície do Solimões é extensa. A montante da cidade de Coari, o rio Solimões

desenvolve seu curso assimetricamente posicionado em sua margem direita, deixando terraços e

uma ampla planície na porção oposta. Antigos paleocursos desse rio podem estar representados

pelos paranás Copeá e Codajás-Mirim. Indiferente ao curso tomado pelo rio Solimões em

direção à Coari, essa planície contorna toda a área norte, passando pelos rios Piorini e Badajós

ocupando uma extensa região. O afogamento da foz deve-se a essa extensa sedimentação que

ocorre nesse local (Figura 30). O paraná do Piorini se interliga a foz do rio Badajós para formar o

paraná do Badajós, que percorre essa extensa planície até alcançar o canal do rio Solimões na

altura da ilha Cipotuba (Figura 30). Uma complexidade de lagos em colmatagem é notado nesse

trecho. Em alguns casos os paranás e os furos auxiliam nesse processo através do suprimento de

fluviais nas épocas de cheias dos rios. Um bom exemplo desse processo é o paraná do Badajós,

que fornece sedimentos ao lago Acará, através do paraná do Acará.

Além dessas morfologias, observam-se marcas de depósitos lineares fluviais alongados.

Essas feições são observadas na planície do rio Solimões tanto na região do paraná do Trocari e

do igarapé Manaquiri, próxima ao rio Piorini, quanto próximo ao lago Acará (Figura 30). Tais

feições são indicativas de paleocurso de um rio tão poderoso cuja competência não pode ser

associada aos rios Piorini e Badajós. Na primeira área, as feições indicam a direção norte-sul,

enquanto que na segunda parece ter ocorrido um fluxo de noroeste para sudeste (Figura 30). Da

ilha da Botija até a ilha Cipotuba, o rio Solimões secciona essa antiga planície.

Ao longo dessa planície do rio Solimões, que se desenvolve até a margem esquerda do rio

Purus, no limite leste da área estudada, mostra uma diversidade de lagos, paranás, furos e

depósitos fluviais bem descriminados. Mais ao sul, nas proximidades do lago Aiapuá e na

margem esquerda do rio Purus, destacam-se depósitos lineares alongados marcados por barras de

migração de meandros e diques marginais de um antigo rio que fluía em direção ao rio Purus

(Figura 27). Os paranás Ipixuna e Cuianã ou Cuiu-Anã parecem corresponder a esse paleocanal

do rio Solimões, conforme Costa et al. (1978), Mauro et al. (1978) e, mais tarde, denominado

por Latrubesse & Franzinelli (2002), como cinturão de meandro abandonado (abandoned

channel belt). Mais ainda, dois conjuntos de lagos em colmatagem podem ser notados a norte e a

sul desse cinturão de meandro antigo. No entanto, a posição atual do rio Solimões, encaixado na

margem esquerda, margeando as cidades de Codajás, Anori e Anamã, é completamente adversa

a essa morfologia. Tal situação demonstra três características importantes: uma ampla divagação

do canal para norte, abandonando a antiga planície aluvial de um rio fortemente meandrante; um

forte caráter assimétrico do canal e, por fim, um condicionamento certamente estrutural de um

canal com forma retilínea.

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Figura 30. Diversidade morfológica observada na margem esquerda do rio Solimões, em imagem de satélite Landsat 7 ETM+ (composição RGB 457). As rias fluviais estão representadas pelo rios Piorini e Badajós. Nesse trecho observam-se marcas lineares de um antigo canal próximo ao rio Pironi (Paraná do Trocari). Os lagos mostram um processo de colmatagem. Os paranás do Piorini e Badajós estão interligados e se dirigem rumo ao rio Solimões. Na margem direita do rio Solimões nota-se que as ilhas apresentam marcas de depósitos de barras de migração lineares em fase pré-atual. O lago Acará tem seu processo de colmatagem acelerado pela incursão de sedimentos provenientes do Paraná do Acará.

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7.2.1.1. Análise dos lineamentos de drenagem

Com o objetivo de mapear as principais orientações da drenagem e, eventualmente,

correlacioná-las aos padrões e anomalias apresentados pelos rios, foram extraídos os lineamentos

de drenagem a partir do mapa de drenagem obtido do modelo SRTM. Os segmentos foram

traçados na rede de drenagem de modo uniforme, buscando obedecer a características como a

dimensão, de modo que pudessem representar uma feição geológica em subsuperfície (falha ou

fratura).

Os segmentos retilíneos de drenagem foram extraídos para as quatro direções (N-S, E-W,

NE-SW e NW-SE) e cada conjunto foi individualizado, conforme mostrado nas figuras 31 e 32.

Para dar uma conotação mais quantitativa, optou-se pela determinação dos locais com maior ou

menor densidade, utilizando a análise estatística segundo o modelo de Kernel aplicado para

linha. Os mapas elaborados por essa técnica possibilitam a observação de tendências, muito

embora isso não possa corresponder necessariamente à caracterização de zonas de falhas e

fraturas. No entanto, tal determinação pode auxiliar na melhor descrição de locais onde

determinados lineamentos possuem um significado geológico.

Os mapas obtidos para as quatro direções integradas não é um procedimento adequado,

uma vez que pode resultar em falsas tendências. Porém, quando separadas, conforme

apresentado nas figuras 31 e 32, é possível notar áreas com maior ou menor densidade. A direção

N-S, por exemplo, apesar de discreta, está bem representada na porção oeste da área, nas

cercanias da região do lago de Mamiá e em trechos do rio Coari, se estendendo para norte desse

local. Nas demais regiões esta direção é presente mais pouco significativa (Figura 31 A e C).

Cinco importantes lineamentos N-S foram definidos, tais como: a) lineamento de Mamiá; b)

lineamento transversal lago Ajura – lago Acará – Foz do rio Badajós; c) lineamento na

confluência dos rios Luna – Jará – Beruri – Anamã; d) lineamento do baixo curso do rio Coari;

e) lineamento lago Preto. Os segmentos de drenagem E-W, assim como a orientação N-S, são

sutis e mostram-se mais freqüente nas porções norte e sul da área estudada, nas áreas a montante

do lago Aiapuá e cruzando a região de Anamã. Como a freqüência de lineamentos com essa

orientação é baixa, não foi possível estabelecer os locais onde eles são importantes (Figura 31 B

e D).

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Figura 31. Mapas de lineamentos de drenagem (A e B) para as direções N-S e E-W e mapas de densidade Kernel (C e D) para as respectivas direções.

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Figura 32. Mapas de lineamentos de drenagem (A e B) para as direções NE-SW e NW-SE e mapas de densidade Kernel (C e D) para as respectivas direções.

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Um fato curioso, observado nos mapas de densidade de Kernel, é a falsa interpretação

que esses dados podem representar para uma dada direção. Por exemplo, no mapa de

lineamentos E-W observa-se que também ocorre uma distribuição de contornos na direção N-S.

Isso se deve a forma de elaboração dos mapas, pois pode ocorrer uma concentração de

lineamentos E-W alinhados segundo N-S. Tais considerações devem ser observadas para não

induzir caracterização de lineamentos por erro na leitura do mapa.

A Figura 32 mostra as orientações dos lineamentos de drenagem nas direções NE-SW e

NW-SE. Essas são as principais orientações notadas nesse setor. A direção NE-SW mostra

expressivos lineamentos individualizados na porção sul do rio Solimões: lineamento do rio

Purus, lineamento igarapé Uauaçu, lineamento do igarapé Tambaqui, lineamento igarapé do

Salsa, lineamento rio Urucu, lineamento rio Mamiá.

Na porção norte, destaca-se o lineamento do lago Miuá – igarapé Anamã, lineamento

Coari – Codajás e o lineamento Codajás – Anamã (Figura 32 A e C). Os segmentos na direção

NW-SE apresentam maior densidade quando comparados com os demais. A sul do rio Solimões

destacam-se o lineamento dos paranás do Salsa – Uauaçu, lineamento do igarapé Envira e

lineamento do lago Água Fria, enquanto que para norte, temos o lineamento de Codajás,

lineamento Anori, lineamento igarapé Anamã e lineamento do interflúvio Badajós – Piorini

(Figura 32 B e D).

A partir da distribuição dos segmentos de drenagem foi possível elaborar diagramas de

rosetas com a representação das principais direções estruturais para os lineamentos obtidos na

rede de drenagem (Figura 33). A elaboração dos diagramas de rosetas foi confeccionada em

compartimentos específicos, individualizados nas porções norte do rio Solimões, margem direita

do rio Purus e a região entre Coari ao lago Aiapuá (sul do rio Solimões). Essa separação teve o

objetivo de buscar observar áreas que pudessem revelar uma tendência de orientação estrutural,

conforme notada nos diagramas de densidade de Kernel.

Para cada compartimento foi elaborado diagramas de rosetas tanto para o comprimento

total quanto para a freqüência de lineamentos (número de lineamentos). A Figura 33 mostra que

a direção NW-SE (N45W) é predominante na porção norte, seguido das direções E-W, N-S e, de

modo secundário, a direção NE-SW (N45E), conforme Figura 34. Para o total de lineamentos

nota-se que essas direções predominam nessa ordem.

Na área da margem direita do rio Purus notou-se a mesma correlação. A direção NW-SE

é abundante tanto para o comprimento total quanto para o número de lineamentos. Para o

comprimento total a direção N35-55W é marcante. As direções E-W e N-S mostram

equivalência para o comprimento total, mas com diferenças significativas na freqüência de

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lineamentos. Assim como na porção norte, a direção NE-SW foi pouco notada (Figura 34). A

média dos valores para o diagrama dessa porção mostrou, no entanto, que as direções N-S e NE-

SW (N35-75E) predominam (Figura 34).

Já para a porção sudoeste (área entre os rios Coari e o lago Aiapuá), as direções NW-SE

(N45W) e E-W têm maiores comprimentos totais, com importantes segmentos N-S e, mais uma

vez, menos abundante da direção NE-SW (N45E). No entanto, para a freqüência de lineamentos

notou-se que a orientação E-W é mais significativa que a N45W (Figura 34). Os valores médios,

observados nessa figura mostram que a direção NE-SW é importante.

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Figura 33. Mapa de drenagem e diagrama de rosetas.

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Figura 34. Diagramas de rosetas para os lineamentos de drenagem da área estudada (área total) e para as respectivas porções norte, sudeste e sudoeste. Os diagramas compreendem o comprimento total e o número ou freqüência de lineamentos.

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7.2.2. Análise do relevo

A análise do relevo da área estudada foi baseada no reconhecimento de feições

morfoestruturais observadas nas imagens de satélites, modelos digitais de elevação e seções

topográficas. A identificação de formas e unidades de relevo não demonstra, por si só, a

ocorrência de um elemento morfoestrutural. Dessa forma, o mapa de unidades morfoestruturais

(Figura 11 p. 24) apresentado pelo IBGE (2006), não permite tal análise, mas serve como

parâmetro para a discussão do estudo neotectônico.

A Figura 35 apresenta o mapa de curvas de nível extraídas do modelo SRTM. De acordo

com o mapa, observa-se que o relevo predominante na região está em torno de 50 metros de

altura, sendo que as maiores altitudes são encontradas na porção oeste-sudoeste e alcança

altitudes pouco acima de 70 metros. De fato, essa área plana da Amazônia Ocidental é muito

baixa, conforme pode ser notado nas cartas topográficas da área estudada. Os poucos valores de

cotas presentes nas cartas topográficas, na escala 1: 250.000, são pontuais e variam entre 30 a 56

metros, na área de terra-firme, e entre 15 e 27 metros nas várzeas. A falta de contorno

topográfico nessa região é justificada, portanto, pela baixa altitude da área estudada.

A planície fluvial do rio Solimões (conforme a Figura 35) se desenvolve numa superfície

topográfica cujos valores mais elevados não ultrapassam 30 metros. A densidade de contornos,

obtida através do modelo SRTM, permite analisar com maior clareza a distribuição dessa

superfície, comprometida na base cartográfica regional. O mapa de curva de nível obtido

representa, portanto, um excelente documento auxiliar na análise do relevo para áreas como a

Amazônia (Silva et al. 2007). Isso tem permitido a interpretação de feições tectônicas na

paisagem pouco notadas em cartas topográficas da região (Almeida Filho et al. 2005, Rossetti et

al. 2005, Silva et al. 2007).

Na área estudada, é possível observar duas superfícies topográficas bem discriminadas: a

área de terra-firme e a planície fluvial. Daí a conotação planalto rebaixado e depressões

interfluviais, apresentada por diversos estudos, tais como os de Costa et al. (1978), Nascimento

et al. (1976), Mauro et al. (1978), IBGE (2006). Entretanto, tais abordagens permitem apenas

uma análise morfológica sem interpretação dos processos que resultaram na formação e

compartimentação da paisagem.

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Figura 35. Mapa de curvas de nível obtido a partir de modelos SRTM.

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A superfície mais elevada, denominada regionalmente por terra-firme, foi elaborada em

rochas sedimentares da Formação Içá. A pediplanização plio-pleistocênica nessa superfície

resultou na formação de interflúvios tabulares e colinas pouco dissecadas, onde a drenagem foi

instalada. Já a Planície Amazônica, situada em nível topográfico mais baixo, é um sítio amplo de

acumulações de sedimentos e tem sua evolução associada à dinâmica fluvial e flúvio-lacustre.

Essas superfícies se apresentam desniveladas e a maior parte dos seus limites é marcada

por quebras abruptas alinhadas no relevo. O modelo digital de elevação SRTM, apresentado na

Figura 36, mostra superfícies com caimentos diferenciados para as porções norte e sul. Os seus

limites retilinizados são elementos morfotectônicos que têm importante papel na

compartimentação do relevo.

A zona interfluvial entre os rios Purus e Coari tem caimento geral de sudoeste para

nordeste, onde as bacias dos rios e igarapés tributários dos canais principais fluem, no geral, para

nordeste, conforme pode ser observado na Figura 36. Os rios nessa área têm formas retilíneas

(ver item 7.1.1), configurando áreas retangulares, como, por exemplo, na região de Coari. Essa

zona escarpada possui diferença topográfica da ordem de 20 metros (perfis da Figura 37). Tal

situação configura a morfologia em falésias fluviais ou margens escarpadas, muito citado na

literatura por Costa et al. (1978), Mauro et al. (1978) e Iriondo (1982). Exemplos dessa

morfologia estão presentes margeando a cidade de Coari, ao longo dos lagos Aiapuá, Uauaçu e

Salsa e da margem direita do rio Purus até Beruri. A dinâmica de erosão fluvial também

produziu as feições de erosão recurvadas ou reentrâncias, como aquelas observadas nos rios

Mamiá e fortemente notada no rio Purus (Figura 36 e 37). Estas feições representam os rebordos

erosivos descritos por Costa et al. (1978) e Mauro et al. (1978). Ainda no interflúvio entre os

rios Purus e Coari, a região entre a margem esquerda do rio Purus até o lineamento no igarapé

Uauaçu, compreende uma importante área diagnosticada como terraço fluvial. Formas erosivas

recurvadas e marcas de paleomeandros caracterizam essa área retangular e alongada na direção

NE-SW, cujo limite é retilíneo e está marcado por um desnível baixo, porém significativo, de

cerca de 10 metros (figuras 20, 21 B, 28 e 36).

A margem direita do rio Solimões, a norte da cidade de Coari, configura um amplo e

significativo rebordo erosivo, bastante recurvado na área onde estão os paranás do Piorini e

Badajós. Já o furo onde se deu a passagem do rio Solimões no sentido de Coari é marcado como

uma feição retilínea no relevo. Os desníveis topográficos entre essas superfícies chegam a

alcançar valores de 25 a 30 metros (Figura 36).

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A margem direita do rio Purus, no entanto, está suavemente inclinada para sudeste. Boa

parte dos canais que fluem neste sentido faz parte da bacia do rio Madeira, fora da área

pesquisada. Nesse caso, o divisor das bacias desses dois rios está próximo a margem direita do

rio Purus e descreve uma orientação retilínea na direção NE-SW, como também foi

diagnosticado por Costa et al. (1978) e Mauro et al. (1978), conforme as figuras 36 e 37. É

notável observar a assimetria da bacia desse rio, uma vez que apresenta segmentos muito

pequenos na margem direita. A maior parte dos canais não faz parte da bacia hidrográfica do rio

Purus, como pode ser notadas nas figuras 23 e 37 (Perfil A-B).

Na porção norte, a zona entre os rios Piorini e Badajós tem fluxo de noroeste para

sudeste, mas a norte de Codajás a tendência é de oeste para leste. Embora uma pequena área

situada em Codajás, Anori e Anamã tenha inclinação para sul-sudeste, ela representa regiões de

depósitos em terraços fluviais, desnivelados cerca de 10 metros abaixo da área de terra-firme

(Figura 37 Perfil C-D). Nesses locais também ocorrem formas erosivas fluviais, mas as margens

representam feições retilinizadas (Figura 37 Perfil E-F). Os exemplos mais notáveis destas

feições retilinizadas compreendem as margens escarpadas na foz do rio Piorini (com direção N-

S), a margem do lago Acará (NW-SE) e toda a margem do rio Solimões desde a ilha de

Cipotuba, a montante de Codajás, até Anamã. A variação topográfica entre as margens e o nível

dos rios, neste último trecho, pode alcançar 20 metros de altura. As margens esquerdas dos

paranás Piorini e Badajós, entretanto, elaboraram a mais ampla erosão fluvial que se estende até

próximo à ilha Cipotuba, de acordo com as figuras 23, 35 e 36.

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Figura 36. Modelo topográfico digital (MDT), re-interpolado a partir de modelos SRTM, que indica elementos morfoestruturais na paisagem: Rebordos erosivos (seta), escarpas (linha com pontas) e relevo alinhado separando áreas altas e baixas (linha pontilhada A – área alta, B – área baixa). A cota mais, da ordem de 70 metros, tem como substrato a unidade Formação Içá. Na planície amazônica as áreas não são superiores a 35 metros.

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Figura 37. Perfis topográficos que mostram o caimento geral da área de estudo, obtidos a partir do modelo SRTM. A-B – perfil topográfico na região do interflúvio dos rios Purus e Coari; C-D – porção norte de Codajás, E-F – Planície Amazônica.

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7.2.2.1. Caracterização dos lineamentos de relevo com a paisagem

Duas feições principais se destacam na paisagem da área: rebordos erosivos, frutos da

atividade fluvial marcante, e as escarpas de falhas alinhadas que controlam as margens do rio

Solimões, na região de Codajás, paraná do Badajós e Piorini, paraná do Salsa e Uauaçu, nos rios

em Coari, lago Acará e na margem direita do rio Purus.

Os rebordos erosivos e zonas de erosão fluvial descrevem áreas de migração de

segmentos dos rios, que mostram, em alguns casos, uma orientação que obedece a lineamentos

no relevo, como, por exemplo, o lineamento que passa transversalmente o lago Aiapuá e aquele

na região de Codajás. Próximo ao lago Acará, a forma erosiva encurvada sobre a superfície

rebaixada é em decorrência da migração de trechos do rio Solimões para sul-sudeste. As margens

do rio Purus mostram formas erosivas que indicam migrações do canal, assim como no local

onde está situado os paranás do Piorini e Badajós (Figura 36). As extensas formas erosivas

encobrem o alinhamento do relevo com direção N-S e NW-SE que controlam esses rios.

Os terraços antigos e recentes, bem determinados na margem esquerda do rio Purus e

entre Codajás e Anamã na margem esquerda do rio Solimões, representam esses processos de

avulsão desses rios. As demais morfologias associadas à Planície Amazônica demonstram

expressivos processos de migração dos rios Solimões e Purus.

As zonas de escarpas de falhas são evidentes principalmente nas margens do rio Solimões

e em seus afluentes, como, por exemplo, os rios Urucu, Coari, Piorini, Badajós, Miuá, Anamã,

Purus e nos paranás do Salsa e Uauaçu. Essas zonas configuram segmentos retilíneos que

controlam a sedimentação da ampla planície fluvial do rio Solimões. Os desníveis topográficos

produzidos nas zonas escarpadas implicam no desenvolvimento de um forte padrão de

barramento dos canais, sob a forma de “ria fluvial”, no bloco mais alto. Nota-se que a escarpa na

margem direita do rio Solimões, que controla os paranás do Salsa e Uauaçu, tem

correspondência com aquela existente no lago Acará, assim como a escarpa da região de

Codajás, onde o rio Solimões está encaixado, se prolonga no baixo curso do rio Badajós, onde o

paraná homônimo está posicionado. Tal estruturação está mascarada pelo extenso processo de

erosão ao qual essa margem foi submetida. Já na área onde se encontra a cidade de Codajás, esse

trecho é mais retilíneo denotando uma margem erosiva mais recente.

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7.2.2.2. Análise dos lineamentos de relevo

A partir da análise no mapa de curvas de nível (Figura 35) e no modelo SRTM (Figura

36) foi possível identificar importantes feições alinhadas no relevo, apresentadas na Figura 38.

Nessa figura estão representados os segmentos retilíneos obtidos a partir das curvas de nível e

também daqueles observados no modelo SRTM. O mesmo procedimento adotado para os

lineamentos obtidos na rede de drenagem foi realizado para os de relevo. Os lineamentos com

todas as direções estão representado na Figura 38, os quais foram agrupados e separados para as

porções norte do rio Solimões, sudeste (margem direita do rio Purus) e sudoeste (interflúvio

entre os rios Coari e Purus). Os diagramas de rosetas elaborados para essas respectivas porções

estão discriminados em A, B e C.

Na porção norte destacam-se as direções principais NW-SE (N35-55W) e NE-SW (N55-

75E) para o comprimento total de lineamentos (Figura 38 - diagrama de rosetas A). No entanto

para o número de lineamentos a direção NW-SE (intervalo N45-65W) é mais freqüente que a

direção NE-SW (N55-75E). A existência dessas duas direções estruturais já é fato bastante

comentado na literatura por Sternberg (1950), Tricart (1977), Costa et al. (1978) e Mauro et al.

(1978). No entanto, tanto para o número total de lineamentos quanto para a freqüência, as

direções E-W e N-S, respectivamente, surgem como uma feição numerosa, mas a maior

magnitude observada para essa direção se deve a forma como estes foram extraídos e não devem

ser considerados como os mais importantes lineamentos. Claramente, as direções NE-SW e NW-

SE marcam expressivos elementos na paisagem, mais as duas outras são bastante significativas, e

não devem ser desconsideradas. Como pode ser observado para a média dos valores na Figura

39.

Na margem direita do rio Purus, porção sudeste (Figura 38, diagrama de rosetas B), as

direções E-W e NE-SW são mais marcantes, tanto para o comprimento total quanto para a

freqüência de lineamentos, seguida das direções N-S e NW-SE. A orientação NE-SW, com

intervalos de valores de N45-55E, está bem representada, e poucas feições lineares NW-SE

(N45-55W) podem ser reconhecidas. O predomínio da direção NE-SW, ao invés da NW-SE, tem

relação com a forte orientação do relevo onde o rio Purus está encaixado. A região entre o rio

Coari e a margem esquerda do rio Purus, mais uma vez, mostra o predomínio das direções E-W e

N-S para ambos os diagramas, o que é explicado pela quantidade de pequenos segmentos

mapeados no relevo da área estudada. As direções mais visíveis na paisagem dessa região são os

trends NW-SE e NE-SW. Para ambos os diagramas de rosetas (comprimento total e número de

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lineamentos) predominaram o intervalo de medidas N55-65W e N35-55E, conforme Figura 38

C. A tabela 02 apresenta uma síntese das orientações obtidas para os lineamentos de relevo.

Comprimento Total Número de Lineamentos

Área 1º. 2º. 3º. 4º. 1º. 2º. 3º. 4º.

Norte E-W N-S N35-55W N55-75E N-S E-W N45-65W N55-75E

Sudeste E-W N45-55E N-S N45-55W E-W N45-55E N-S N25-45W

Sudoeste E-W N-S N55-65W N35-55E E-W N-S N55-65W N35-55E

Tabela 2. Principais intervalos dos lineamentos de relevo na área estudada.

A Figura 39 mostra todos os diagramas de rosetas e os valores médios para esses

lineamentos. Note que para a média dos lineamentos de relevo de toda a área, a direção NE-SW

predomina em relação NW-SE e as direções E-W e N-S aparecem de forma secundária. Essa

situação se repete para as médias dos lineamentos nas porções norte, sudeste e sudoeste.

Inversões das direções mais proeminentes foram apontadas para as médias dos lineamentos

obtidos para as três áreas. Na porção norte e sudoeste predomina a direção NE-SW, enquanto

que na porção sudeste os lineamentos NW-SE foram mais marcantes (Figura 39). Nos diagramas

de rosetas os valores médios parecem corresponder às orientações mais visíveis na área estudada,

no entanto a ocorrência das direções E-W e N-S denota novas orientações até então pouco

mapeada e descrita apenas por Silva et al. (2002) e, mais recentemente, por Ribeiro et al. (2009).

De fato, quando se observa o mapa de lineamentos de relevo (Figura 38) nota-se trends

preferenciais onde há concentração de determinadas direções. De modo geral, zonas ou faixas de

lineamentos NE-SW são observados na região de Codajás, no interflúvio entre os rios Purus e

Coari e na margem direita do rio Purus. Fortes lineamentos NW-SE são observados na região de

Codajás, se estendendo para margem direita do rio Purus, no lago Acará, acompanhando os

paranás do Salsa e Uauaçu, e atravessando o lago Aiapuá e o rio Purus em sua margem direita. Já

a direção N-S está bem marcada por feixes bem definidos nas regiões de Coari e de Beruri,

enquanto a E-W destaca-se na porção norte, na foz do rio Badajós, no lago de Coari, no médio

curso do rio Mamiá e na área mais ao sul, ao longo dos rios Luna e Jará.

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Figura 38. Mapa de lineamentos de relevo com destaque para as feições mais proeminentes na área estudada. Os diagramas de rosetas foram elaborados para as porções norte, margem esquerda do rio Solimões (diagrama A), sudeste, margem direita do rio Purus (diagrama B) e sudoeste, interflúvio entre os rios Purus e Coari (diagrama C). Os diagramas de rosetas foram confeccionados tanto para comprimento total dos segmentos quanto para a freqüência.

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Figura 39. Diagramas de rosetas para os lineamentos de relevo da área estudada (área total) e para as respectivas porções norte, sudeste e sudoeste. Os diagramas compreendem o comprimento total e o número ou a freqüência de lineamentos.

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Com o objetivo de estabelecer as principais concentrações dos lineamentos de relevo,

foram elaborados diagramas de Kernel, de maneira similar aos mapas elaborados para as feições

lineares na rede de drenagem. As direções N-S, E-W, NE-SW e NW-SE foram separadas e, para

cada direção, estabeleceu-se os locais com maior concentração de um determinado lineamento.

As figuras 40 e 41 representam os melhores resultados para cada direção de lineamentos.

Os mapas obtidos a partir dos diagramas de Kernel mostram similaridades com as

observações descritas nos modelos tridimensionais (DEM). Para os lineamentos de relevo N-S

são notados pelo menos três feixes ou zonas onde esta direção é bem marcada: a) a região desde

o rio Piorini, passando por Coari até a cabeceira do rio Mamiá; b) o segmento que corta o rio

Badajós e o lago Acará, passando pelo lago Ajura até o rio Purus; c) a segmentação de Beruri,

cruzando os canais dos rios Luna e Jará, na porção leste da área de estudo (Figura 40 A e C).

As zonas E-W, realçadas a partir do diagrama de Kernel, são: a) área sul do mapa –

controle dos rios Jará e Luna; b) médio curso do rio Mamiá, passando pelo lago Uauaçu e

cruzando o rio Purus; c) margem da cidade de Coari, cruzando os igarapés Água Branca e

Tambaqui até além do rio Purus; d) porção norte da área de estudo – foz do rio Badajós até a

porção norte de Anamã (Figura 40 B e D).

Quanto às zonas de direção NE-SW que se destacaram nos diagramas de densidade de

Kernel, temos: a) margem direita do rio Purus, b) margem esquerda do rio Solimões entre as

cidades de Anori e Anamã, c) limite do terraço nas cabeceiras dos igarapés Aiapuá e Uauaçu

(zona interfluvial entre os rios Purus e Mamiá), se estendendo para nordeste além da cidade de

Codajás, d) foz do rio Mamiá e paraná do Mamiá, e) baixo curso do rio Piorini, paraná do

Piorini, cruzando o baixo curso do rio Badajós (Figura 41 A e B).

Já para a direção NW-SE, foram destacadas as seguintes zonas no diagrama de densidade

de Kernel: a) zona que passa na cidade de Codajás e cruza o lago Miuá, aparecendo na margem

direita do rio Purus, b) lago Acará, c) zona que acompanha os paranás do Salsa e Uauaçu,

cruzando o rio Purus e os rios Luna e Jará, d) zona sudoeste de Coari, cruzando o igarapé Mamiá

e a zona de meandro comprimido do rio Purus (Figura 41 B e D).

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Figura 40. Mapas de lineamentos de relevo (A e B) para as direções N-S e E-W e mapas de densidade Kernel (C e D) para as respectivas direções.

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Figura 41. Mapas de lineamentos de relevo (A e B) para as direções NE-SW e NW-SE e mapas de densidade Kernel (C e D) para as respectivas direções.

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Desse modo, podem ser destacados os seguintes lineamentos no relevo da área estudada,

os quais mantêm estreita relação com aqueles observados na rede de drenagem, conforme Figura

42:

a) Direção NE-SW: lineamento do rio Purus, lineamento do igarapé Uauaçu,

lineamento do igarapé Tambaqui, lineamento do igarapé do Salsa, lineamento

do paraná do Mamiá, lineamento Anori – Anamã, lineamento Coari – Codajás,

lineamento transversal aos rios Piorini e Badajós.

b) Direção NW-SE: lineamento baixo curso do igarapé Mamiá, lineamento paraná

do Salsa – Uauaçu, lineamento lago Acará, lineamento paraná do Badajós,

lineamento Codajás – Miuá (Arco de Purus).

c) Direção N-S: lineamento do rio Coari, lineamento Coari, lineamento lago Ajura

– lago Acará, lineamento Jará – Luna – Beruri – Anamã.

d) Direção E-W: lineamento do rio Luna, lineamento Mamiá – Uauaçu – lago

Ipiranga, lineamento lago de Coari – lago do Salsa.

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7.3. Compartimentação Morfotectônica

Com base nas análises na drenagem e no relevo da região obteve-se um quadro com os

principais lineamentos observados na paisagem da área estudada, conforme a Tabela 3.

DIREÇÃO LINEAMENTO DE RELEVO LINEAMENTO DE DRENAGEM

NE-SW 1. L. Rio Purus; 2. L. Igarapé Uauaçu; 3. L. Igarapé Tambaqui; 4. L. Igarapé do Salsa; 5. L. Paraná do Mamiá; 6. L. Coari-Codajás; 7. L. Anori-Anamã; 8. L. transversal aos rios Piorini-Badajós.

1. L. Rio Purus; 2. L. Igarapé Uauaçu; 3. L. Igarapé Tambaqui; 4. L. Igarapé do Salsa; 5. L. rio Urucu; 6. L. Paraná do Mamiá 7. L. Coari - Codajás; 8. L. Codajás - Anamã; 9. L. Lago Miuá – Igarapé Anamã.

NW-SE 1. L. Baixo curso do rio Mamiá; 2. L. Paraná do Salsa-Paraná Uauaçu; 3. L. Lago Acará; 4. L. Codajás - Lago Miuá; 5. L. Paraná do Badajós.

1. L. Paraná do Salsa-Paraná Uauaçu; 2. L. Lago Acará; 3. L. Codajás - Lago Miuá; 4. L. Paraná do Badajós; 5. L. Baixo curso do rio Piorini; 6. L. Anori; 7. L. Lago Anamã.

N-S 1. L. Rio Coari; 2. L. Lago Ajura-Lago Acará; 3. L. Rio Jará - Rio Luna - Beruri - Lago Anamã.

1. L. Rio Mamiá; 2. L. Transversal lago Ajura - Lago Acará - Foz do rio Badajós; 3. L. Confluência do rio Luna - Rio Jará - Beruri - Anamã; 4. L. Baixo curso do rio Coari; 5. L. Lago Preto.

E-W 1. L. Rio Luna; 2. L. Rio Mamiá - Lago Uauaçu - Lago Ipiranga; 3. L. Rio Coari - Lago do Salsa.

Poucos lineamentos definidos, ocorrendo apenas nas porções norte de Anamã e sul do rio Purus.

Tabela 3. Principais lineamentos mapeados a partir das análises no sistema de drenagem e no relevo da

região e suas correlações.

Nota-se que os lineamentos representam tanto feições lineares no relevo quanto na

drenagem. Isso representa provavelmente que tais lineamentos são existentes e podem ser

considerados como importantes elementos morfoestruturais. Assim sendo, foi elaborado o mapa

de lineamentos estruturais da área de estudo e, para facilitar a observação, este foi sobreposto ao

modelo SRTM, de acordo com a Figura 42.

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Figura 42. Principais lineamentos obtidos a partir da análise em modelos SRTM, imagens de satélite, mapa de lineamentos de relevo e de drenagem.

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A análise comparativa entre os lineamentos de relevo e drenagem mostra que os

lineamentos mais representativos (com direção NE-SW) e que podem significar estruturas

geológicas são: Lineamento Rio Purus, Lineamento Igarapé Uauaçu, Lineamento Igarapé

Tambaqui, Lineamento Igarapé do Salsa, Lineamento Paraná do Mamiá, Lineamento Coari-

Codajás, Lineamento Anori-Anamã e Lineamento transversal aos rios Piorini-Badajós. Já para

aqueles na direção NW-SE, os mais representativos são: Lineamento Baixo curso do rio Mamiá,

Lineamento Paraná do Salsa-Paraná Uauaçu, Lineamento Lago Acará, Lineamento Codajás -

Lago Miuá e Lineamento Paraná do Badajós. Para a direção N-S: Lineamento Rio Coari,

Lineamento Lago Ajura-Lago Acará e Lineamento Rio Jará - Rio Luna - Beruri - Lago Anamã.

Por fim, para a direção E-W podem ser individualizados os seguintes segmentos: Lineamento

Rio Luna, Lineamento Rio Mamiá - Lago Uauaçu - Lago Ipiranga e Lineamento Rio Coari -

Lago do Salsa.

A interpretação morfotectônica mostra que as estruturas NW-SE correspondem a falhas

normais, com mergulhos para nordeste e sudoeste. A Falha de Codajás e a do paraná do Salsa-

Uauaçu compreendem os limites tectônicos que limita a sedimentação quaternária na Planície

Amazônica. Esses lineamentos controlam a orientação do canal do rio Solimões, a formação de

terraços assimétricos, a distribuição dos lagos afogados (rias fluviais) e a sedimentação aluvionar

quaternária. O desnivelamento causado pela Falha do paraná do Salsa – Uauaçu foi responsável

pela anomalia notada no canal do rio Purus. Na região do Lago Acará, o lineamento homônimo

representa um segmento com as mesmas características, funcionando como falha normal. Essa

mesma correlação pode ser feita com o lineamento Paraná do Badajós que representa a

continuidade do lineamento Codajás e também tem comportamento similar à falha normal.

Entre os lineamentos com direção NE-SW destacam-se o sistema de falhas no rio Purus

(lineamento do rio Purus) e o lineamento do Igarapé Uauaçu que parecem corresponder a um

sistema de falhas de transferências, podendo ter componente direcional importante. O controle

efetivo na orientação do rio Purus, a estreita faixa de sedimentação quaternária aluvial limitada

no vale, a assimetria do canal desse rio na margem direita e as divagações apresentadas na

superfície de terraço situado na margem esquerda são indícios fortes do controle tectônico dessa

área. O lineamento Coari-Codajás e Anori-Anamã, ambos com direção aproximada N70E,

devem representar o mesmo segmento de falha. A análise morfotectônica demonstra que essa

estrutura não apresenta características como desnivelamento de relevo significativo. Nota-se que

essa direção estrutural desloca as falhas normais NW-SE (falha do Lago Acará e Falha do Paraná

do Badajós), em ambas as margens. Isso é sugestivo de falha direcional destral.

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O trend com direção NNW-SSE posicionado na porção leste da área de estudo,

denominado de Lineamento Codajás – Miuá pode representar o Arco de Purus (figuras 38 e 42).

Essa feição estrutural do embasamento teve papel fundamental na evolução da sedimentação ao

longo das bacias do Amazonas e Solimões, sendo considerada inclusive uma feição que limita

essas duas bacias paleozóicas. Recentemente, Almeida Filho et al. (2005) têm mostrado que essa

estrutura mostra ativações tectônicas no cenozóico, influenciando de modo significativo no

condicionamento das bacias de drenagem na porção oeste de Manacapuru.

Os lineamentos com direção N-S estão compartimentados nas áreas leste e oeste da

região pesquisada e possuem controle efetivo na segmentação de canais e drenagens de ordem

variada. Compreendem lineamentos que seccionam a região dos rios Coari e Mamiá

(Lineamento do rio Coari e lineamento do rio Mamiá) e aquele que passa no Lago Acará

(Lineamento Lago Ajurá-Lago Acará). Na porção leste o destaque é para o trend que passa na

região do município de Beruri (Lineamento Jará-Luna-Beruri-Anamã) e controla trechos dos rios

Jará e Luna, na porção mais ao sul, e trechos do rio Anamã, na porção norte da área. Foi através

desse lineamento N-S na região de Coari que o rio Solimões teve seu curso desviado para sul,

criando o Lago de Coari.

Os lineamentos E-W são pouco expressivos, pois aparecem não apresentar um

componente de mergulho no relevo da região, ou seja, não formam desnivelamentos no relevo.

Estão mais discriminados na área sul, os quais estão representados pela orientação de pequenos

segmentos de drenagem, como aquela do rio Luna (Lineamento do rio Luna). Mostram pouca

expressão no relevo e sua caracterização tectônica merece estudo de campo para análise

estrutural. Silva et al. (2002) e Bezerra (2003) descrevem que tais estruturas podem funcionar

como falhas transcorrentes, mas não há descrição de dados de campo. Na cidade de Manaus,

onde é possível a análise estrutural em diversos cortes na área urbana, Oliveira et al. (1995),

Silva (2005) e Silva et al. (2007) descrevem que a direção E-W compreende falhas

transcorrentes destrais mais novas que as direções NE-SW e NW-SE. Silva (2005) comenta que

para o caso das falhas N-S estas são falhas transcorrentes possivelmente sinistrais, cuja

estruturação é a mais nova da região.

Portanto é possível descrever um quadro neotectônico responsável por todo o controle do

sistema de relevo e drenagem, na planície do rio Solimões, que causou importante ajustes na

dinâmica fluvial desse rio. O sistema tectônico mapeado nessa região compreende um sistema de

falhas normais NW-SE, com mergulho ora para nordeste e ora para sudoeste, que representa os

limites da planície aluvionar do rio Solimões. Essa situação possibilitou o condicionamento de

toda a sedimentação na planície do rio Solimões nessa bacia, a qual tem sido determinada com

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uma geometria romboédrica. As falhas NE-SW que atua no limite do rio Purus e desloca as

falhas normais NW-SE, são, portanto, mais jovens, e devem funcionar como um sistema de

transferência. Para o caso do controle no rio Purus, esta bacia é limitada e alongada, muito

similar as bacias transtensivas. As falhas N-S e E-W devem estar associadas a esse regime

tectônico, mas são nitidamente mais jovens.

A paleogeografia dessa área foi elaborada a partir da associação das zonas de falhas

existentes e das unidades sedimentares individualizadas no mapa geológico e estrutural

elaborado (Figura 43). A sedimentação do rio Solimões já era condicionada pela falhas NW-SE.

No entanto, o seu curso era diferente do curso atual e passava ao longo do sistema do paleocanal

situado cerca de 40 km a sul da região de Codajás (Figura 44). Esse antigo curso também se

desenvolvida na região do lago Acará passando a norte do canal atual. A confluência do antigo

rio Solimões com o rio Purus se dava cerca de 70 km a montante da atual confluência. Tal

situação paleogeográfica justifica a extensa planície flúvio-lacustre existente entre o antigo e o

atual curso. Adicionalmente, o desnivelamento de blocos pela ação dessa falhas normais resultou

em fortes anomalias nas drenagens, como por exemplo, as rias fluviais, o lago Aiapuá e a

anomalia do canal do rio Purus, com formas retilíneas e meandrantes ao longo do seu curso. Esse

sistema foi fortemente modificado a partir da atuação da falha transcorrente destral ENE-WSW,

representada pelo Lineamento Coari-Codajás. A atuação dessa falha transcorrente deslocou a

escarpa de falha do lago Acará daquela situada no igarapé do Salsa. Nesse processo houve o

condicionamento do rio Solimões na zona de falha, modificação do padrão do canal de

meandrante para retilíneo, afogamento da região de Coari (lago de Coari), abandono do antigo

curso na região do paraná do rio Badajós e formação do curso atual. A análise tectônica do

sistema de falhas normais (NW-SE), mais antigo, deslocado pela falha transcorrente destral

(ENE-WSW) está enquadrada no modelo neotectônico transcorrente destral para a Amazônia

Ocidental.

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Figura 43. Mapa geológico-estrutural da área de estudo, mostrando as principais feições tectônicas da região de estudo.

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Figura 44. Paleogeografia do rio Solimões na região entre Coari e Anori (AM) observado em modelo tridimensional SRTM. O antigo curso desse rio fazia a volta na região hoje ocupada pelo paraná do rio Badajós. O registro do paleocanal pode ser acompanhado cerca de 30 km a sul da posição atual. Naquela época o rio Purus desembocava no Solimões a montante de Beruri (60 km distante da confluência atual).

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8. CONCLUSÃO

O estudo demonstrou que em qualquer análise acerca da neotectônica de regiões, em

especial na Amazônia, é necessário o uso e integração de diversos produtos para se determinar o

controle tectônico moderno. A individualização e diferenciação de unidades, sobretudo na

Planície Amazônica, é base fundamental para o entendimento e distribuição das unidades

ocorrentes. Nesse aspecto, o uso de diferentes sensores orbitais (imagens Landsat ETM+ e JERS-

1) ou não (SAR/SIPAM) possibilitou a individualização de nove unidades distintas, as quais são

fundamentais para o estabelecimento da evolução geológica e paleogeográfica regional.

A análise morfoestrutural ao longo da planície do rio Solimões revelou inúmeras feições

na paisagem que exercem um controle tectônico/neotectônico significativo na sedimentação e,

por conseguinte, na dinâmica fluvial dos rios da área estudada. O reconhecimento de importantes

feições na rede de drenagem (padrão em treliça de falha, anomalias do tipo ria fluvial,

meandramentos localizados, processos de avulsão, etc.) e no relevo (formas alinhadas,

desnivelamentos de superfícies e escarpas de falhas), em conjunção com os produtos gerados

(mapas de lineamentos de drenagem, diagramas de Kernel, mapas de curvas de nível, modelos

digitais de elevação (SRTM), etc.) permitiu a definição de importantes lineamentos estruturais,

os quais foram associados a zonas de falhas.

Nesse contexto, falhas normais NW-SE provavelmente são as mais antigas e

condicionaram a ampla sedimentação aluvial do rio Solimões na denominada Bacia Pull-Apart

de Purus, cujos limites estão representados pela Falha do Paraná do Salsa – Uauaçu e a Falha de

Codajás. A falha normal que limita o igarapé do Salsa e o lago Aiapuá é responsável pelos

meandramentos notados no rio Purus. O antigo curso do rio Solimões se desenvolvia onde hoje

estão situados os paranás do Piorini e Badajós e se estendia pelo paleocanal do rio Solimões,

cerca de 40 km a sul da atual posição. O encontro entre os rios Solimões e Purus se localizava

cerca de 70 km a montante da confluência atual. A mudança e abandono do antigo leito foi

devido à atuação da Falha Coari – Codajás (ENE-WSW) que funcionou provavelmente como

uma falha transcorrente que deslocou as falhas normais que condicionavam a planície e

controlava o rio Solimões. No processo de migração, o rio Solimões afogou a foz dos rios na

região de Coari e passou a correr ao longo da zona de falha até próximo a Codajás, seccionando

os depósitos anteriores.

O rio Purus, a exemplo do rio Solimões, tem seu curso controlado por falhas NE-SW que

provavelmente correspondem a falhas de transferência. Já as falhas N-S e E-W, pouco

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expressivas, mostram-se compartimentadas e atuam no controle de rios e igarapés como feições

tectônicas mais novas na região.

No entanto, para dar suporte à caracterização do quadro geológico e tectônico

apresentada, há a necessidade de avanços significativos a serem realizados, tais como:

a) Caracterização das unidades mapeadas em campo, por meio de amostragem em

superfície e subsuperfície (furos);

b) Datação das unidades principais e sua correlação temporal;

c) Mapeamento das falhas por meio de reconhecimento em afloramento e através

de métodos indiretos (p. ex. sísmica rasa), para complementação do quadro

geológico estrutural;

d) Análise da sismicidade ocorrente na região e sua correlação com as falhas

existentes na área;

e) Avaliação da atuação do Arco de Purus em tempos modernos.

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