universidade federal do amazonas centro de …livros01.livrosgratis.com.br/cp095186.pdf ·...

111
UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ CENTRO DE PESQUISA LEÔNIDAS E MARIA DEANE / FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ PROGRAMA MULTIINSTITUCIONAL DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SAÚDE SOCIEDADE E ENDEMIAS NA AMAZÔNIA ESTUDO EPIDEMIOLÓGICO EM SAÚDE BUCAL EM UMA COMUNIDADE YANOMAMI DO AMAZONAS SANDRO MAGNO COSTA PEREIRA MANAUS

Upload: nguyenkhue

Post on 30-Nov-2018

213 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • UNIVERSIDADEFEDERALDOAMAZONASUNIVERSIDADEFEDERALDOPAR

    CENTRODEPESQUISALENIDASEMARIADEANE/FUNDAOOSWALDOCRUZ

    PROGRAMAMULTIINSTITUCIONALDEPSGRADUAOEMSADESOCIEDADEEENDEMIASNAAMAZNIA

    ESTUDOEPIDEMIOLGICOEMSADEBUCALEMUMACOMUNIDADEYANOMAMIDOAMAZONAS

    SANDROMAGNOCOSTAPEREIRA

    MANAUS

  • Livros Grtis

    http://www.livrosgratis.com.br

    Milhares de livros grtis para download.

  • 2007

    UNIVERSIDADEFEDERALDOAMAZONASUNIVERSIDADEFEDERALDOPAR

    CENTRODEPESQUISALENIDASEMARIADEANE/FUNDAOOSWALDOCRUZ

    PROGRAMAMULTIINSTITUCIONALDEPSGRADUAOEMSADESOCIEDADEEENDEMIASNAAMAZNIA

    SANDROMAGNOCOSTAPEREIRA

    ESTUDOEPIDEMIOLGICOEMSADEBUCALEMUMACOMUNIDADEYANOMAMIDOAMAZONAS

    Dissertao apresentada ao ProgramaMultiinstitucionaldePsgraduaoemSadeSociedade e Endemias na Amaznia daUniversidade Federal do Amazonas, comorequisitoparcialparaaobtenodottulodeMestre emSociedade Sade e Endemias naAmaznia.

    ORIENTADORA:PROFa.DRa.EVELYNEMARIETHERESEMAINBOURG

    ii

  • MANAUS2007

    FichaCatalogrfica(CatalogaonafonterealizadapelaBibliotecaCentralUFAM)

    P436e

    Pereira,SandroMagnoCosta

    Estudo epidemiolgico em sade bucal em umacomunidadeYanomamidoAmazonas /SandroMagnoCostaPereira.Manaus:UFAM,2007.

    101f.;il.color.

    Dissertao(MestradoemSociedadeSadeeEndemiasnaAmaznia)UniversidadeFederaldoAmazonas,2007.

    Orientadora:Profa.Dra.EvelyneMarieThereseMainbourg

    1.Sadebucal2. Criedentria3. Higieneoral

    I.Ttulo

    CDU616.314084(811.3)(043.3)

    iii

  • SANDROMAGNOCOSTAPEREIRA

    ESTUDOEPIDEMIOLGICOEMSADEBUCALEMUMACOMUNIDADEYANOMAMIDOAMAZONAS

    Dissertao apresentada ao ProgramaMultiinstitucionaldePsgraduaoemSadeSociedade e Endemias na Amaznia daUniversidade Federal do Amazonas, comorequisitoparcialparaaobtenodottulodeMestre emSociedade Sade e Endemias naAmaznia.

    Aprovadoem06desetembrode2007.

    BANCAEXAMINADORA

    Profa.Dra.EvelyneMarieThereseMainbourg,PresidenteCentrodePesquisaLenidaseMariaDeane/

    FundaoOswaldoCruz

    Profa.Dra.AnaLciaEscobar,MembroUniversidadeFederaldeRondnia

    Prof.Dr.RuiArantes,Membro

    iv

  • UniversidadedeSoPauloDEDICATRIA

    DedicoestetrabalhoatodososYanomamidaregiodorioCauaburiseaospovosindgenasdoAltoRioNegro,poiscomvocspasseiporumdosmelhoresaprendizadosda

    minhavida!

    v

  • DEDICATRIA

    LudivineEloy,

    Meuamor,Minhapazeharmonia.Parceriaparaumavida.

    ...PrincesaTodosvosaberQueeuestoumuitobemComvoc...

    (MundoLivre)

    ObrigadoLudportornartudomaisdivertido!

    Teamo!

    vi

  • AGRADECIMENTOS

    Professora Evelyne Marie Therese Mainbourg, pelo exemplo de orientao durante a

    elaboraoerealizaodesteprojeto.Sempreireimeespelharnasuaatitude.

    AoInstitutoBrasileiropeloDesenvolvimentoSanitrio,peloapoioincondicionalduranteo

    desenvolvimentodestapesquisa.

    FiocruzAmaznia/CPqL&MD,UniversidadeFederaldoAmazonaseUniversidadeFederal

    doPar.

    AoprofessorJoaquimAlberto,peladedicaosadecoletiva,pelosvaliososconselhose

    peloaprendizadoduranteosmesesquetrabalhamosnaUniversidadedoEstadodoAmazonas

    (UEA).

    famliaEloy,JeanMichel,BenedicteeAlexiapelagentileza,pelocarinhoefamiliaridade

    comomereceberam.Muitoobrigado.

    Aoamigo Mateo, pelas partidas truncadas de futebol. Havia tempo queno medivertia

    jogandobola.

    Aos amigos Leandro e Luciane, Rodrigo e Karol, pelo carinho, amizade e momentos

    inesquecveisquepassamosemManaus.

    AosamigosPontes,Bulegon,Miranda,Gustavo,FlvioKrauss,Fernando,Marlia,Gunthere

    Peru, pela tranqilidade quesempremepassaramepela memorvel convivncia emSo

    GabrieldaCachoeira.

    vii

  • Ao amigo Clemente, pela demonstrao de liderana e harmonia. Sem voc, no

    conseguiramosrealizarnossodelrio.

    AoamigoMaranho,pelaparceriaeamizade,ondequerqueesteja;eaoamigoCastilho,pela

    ajudanodesenvolvimentodestapesquisa.

    AoprofessorBahia,mestreKakealunosdogrupoCativeiro,pelaalegriadacapoeiraepelos

    encontrosnoAlmirante.

    AosamigosdaturmadoMestradoeaocolegaPiv,pormostraraartedoseutrabalho.

    Yuca,pelospasseiosreveladoresemCastelnauLeLez.

    AosamigosdeMontpellier,IpatingaeSoGabrieldaCachoeira.

    AoInstitutoSocioambiental,emSoGabrieldaCachoeira.

    Rosa e sua famlia, pelo acolhimento e carinho que me passaramemSoGabriel da

    Cachoeira.

    minhafamlia,paisquesempremeapiameacreditamnasminhasescolhas,aosmeus

    irmospelaparceriaecumplicidade,AnaClaraeRachelpelocarinho, tiaDionepela

    alegriaeavDorapeloexemplodevida.

    viii

  • Afloresta

    Emvocomomundodaflorestaprivas!...Todasashermenuticassondagens,

    Anteohierglifoeoenigmadasfolhagens,Soabsolutamentenegativas!

    Araucrias,traandoarcosdeogivas,Bracejamentosdelamosselvagens,

    Comoumconviteparaestranhasviagens,Tornamtodasasalmaspensativas!

    Humaforavencidanessemundo!Todooorganismoflorestalprofundodorviva,trancadanumdisfarce...

    Vivems,nele,oselementosbroncos,Asambiesquesefizeramtroncos,

    Porquenuncapuderamrealizarse!

    (AugustodosAnjos)

    ix

  • RESUMO

    Opresentetrabalhodizrespeitoauminquritoepidemiolgicoemsadebucaleum

    estudosobredeterminantesdacriedentalemumacomunidadeindgenadonortedoBrasil,

    noestadodoAmazonas.OobjetivodapesquisafoiavaliarasadebucaldosYanomamida

    comunidade do Mai atravs de umlevantamento da prevalncia decrie dentria e sua

    relaocomahigieneoraleoconsumodealimentosindustrializados.Osndicesceode

    CPODforamusadosparadeterminaraprevalnciadadoena.Ahigieneoralfoiavaliadaa

    partir do ndice de Higiene Oral Simplificado (OHIS). E o consumo de alimentos

    industrializadosobtidosatravsdaobservaodosprodutosconsumidospelosYanomamiem

    quatrodomicliosduranteumperododetrsdiasnoconsecutivos.Otesteestatsticode

    Pearson foi usado para verificar a correlao entre a prevalncia de crie dental e os

    determinantesinvestigados.Osdadosreferentesaoinquritoepidemiolgicorevelaramquea

    sadebucalnoMaiprecria,apresentandoaltosndicesdecrieparamaioriadasfaixas

    etriasinvestigadas.Osresultadosreferentesaoconsumoalimentarmostramqueoalimento

    industrializadofazpartedadietadosYanomamidoMai.Apartirdosdadosdolevantamento

    do ndice de Higiene Oral Simplificado verificouse que a higiene oral destes ndios

    adequada. No houve correlao significativa entre os ndices de crie e o consumo de

    alimentosindustrializados,eacorrelaoentreosndicesdecrieendicedeHigieneOral

    Simplificadofoialtaesignificativa.

    Palavraschaves:Yanomami,criedentria,alimentoindustrializadoehigieneoral.

    x

  • ABSTRACT

    Thisworkisrelatedtoanepidemiologicalinquiryonoralhealthandastudyondentalcaries

    determinantsinanindigenouscommunityintheNorthofBrazil,intheStateofAmazonas.

    Theresearch objective aimedat assessing the oral health of the Yanomamiof theMaia

    community,throughasurveyastothedentalcarieprevalenceanditsrelationshipwithoral

    hygieneandtheintakeofindustrializedfoodproducts.Thedmft/DMFTindexhasbeenused

    todeterminetheprevalenceofthedisease.TheoralhygienewasassessedasoftheSimplified

    OralHygieneIndex(OHIS).Theconsumptionofindustrializedfoodproductswasobtained

    through theobservation of the foodproducts consumedby the Yanomami in four homes

    duringaperiodofthreenonconsecutivedays.ThePearsonStatisticalTestwasusedinorder

    toverify thecorrelation betweenthedental carie prevalence andthedeterminantsunder

    inquiry.Thedatarelativetotheepidemiologicalinquiryrevealedthattheoralhealthamong

    the Maia community is precarious showing high rates of carie throughout most of the

    investigatedagegroups.Theresultsrelativetofoodconsumptionshowedthatindustrialized

    foodproductsarepartofthedietfromtheMaiaYanomami.Fromthedataobtainedinthe

    surveyoftheSimplifiedOralHygieneIndex,itwasverifiedthattheoralhygieneofthese

    Indiansisadequate.Therewasnosignificantcorrelationbetweentheindexofcarieandthe

    xi

  • consumptionofindustrializedproducts,andthecorrelationbetweentheindexofcarieand

    theSimplifiedOralHygieneIndexwashighandsignificant.

    Keywords:Yanomami;dentalcarie;industrializedfoodproducts;oralhygiene.

    xii

  • SUMRIO

    P436e ..................................................................................................................................... iii CDU616.314084(811.3)(043.3) ................................................ iii Dedicatria..................................................................................................................................vDedicatria.................................................................................................................................viAGRADECIMENTOS.............................................................................................................viiResumo........................................................................................................................................xsumrio....................................................................................................................................xiiilistadetabelasequadros.............................................................................................................1listadegrficosefiguras............................................................................................................3siglas............................................................................................................................................41.APRESENTAO.................................................................................................................62.INTRODUo.........................................................................................................................83.PolticadeSadeIndgena...................................................................................................104.OSYANOMAMI..................................................................................................................16

    4.2sadebucalYanomami..................................................................................................23..............................................................................................................................................254.3regiodoriocauaburis...................................................................................................254.4aCOMUNIDADEyanomamiMAI..............................................................................29

    5.MATERIALEMTODOS..................................................................................................315.1LEVANTAMENTODOSDADOS................................................................................325.2ASPECTOSTICOS.....................................................................................................325.3Populaoinvestigada.....................................................................................................335.4INQURITOEPIDEMILOGICODECRIEDENTAL.............................................345.4.1CALIBRAO............................................................................................................345.4.2EXAMECLNICO......................................................................................................355.5LEVANTAMENTODONDICEDEhigieneoralsimplificado..................................385.6INQURITOALIMENTAR..........................................................................................41

    6.RESULTADOS.....................................................................................................................436.1InquritoEpidemiolgicodecriedental.......................................................................436.2LevantamentodondicedeHigieneOralSimplificado.................................................476.3NecessidadedePrtese..................................................................................................496.4InquritoAlimentar........................................................................................................516.5DeterminantesdacriedentalnoMai...........................................................................55

    7.DISCUSSO........................................................................................................................588.CONCLUSO......................................................................................................................65RefernciaBIBLIOGRFICA.................................................................................................66Anexos.....................................................................................................................................761

    xiii

  • LISTADETABELASEQUADROS

    T abela1 Trabalhosrelacionadossadebucaldaspopulaesindgenas,2007.AdaptadadePose(1993)edeArantes(2003).Pgina13.

    Tabela 2: Total de Yanomami examinados para o levantamento epidemiolgico de criedentalporfaixaetriaesexo.AldeiaMai,TIYanomami,Amazonas2007.Pgina39.

    Tabela3MdiasdosndicesceodeCPODporcomponente(dentescariados,perdidos,obturadosecomextraoindicada)eporfaixaetriaderefernciadaOMS.AldeiaMai,T.IYanomami,Amazonas,2007.Pgina40.

    Tabela4 Mdiadondiceceodporcomponente(dentescariados,perdidos,obturadosecomextrao indicada) e por faixa etria comdesvio padro, coeficiente de variao eintervalodeconfiana.AldeiaMai,T.IYanomami,Amazonas,2007.Pgina40.

    Tabela5MdiadondiceCPODporcomponente(dentescariados,perdidoseobturados)eporfaixaetriacomdesviopadro,coeficientedevariaoeintervalodeconfiana.AldeiaMai,T.IYanomami,Amazonas,2007.Pgina41.

    Tabela 6 Mdias dos ndices ceod e CPODpor sexo. Aldeia Mai, T.I Yanomami,Amazonas,2007.Pgina42.

    Tabela7 MdiadondiceHigieneOralSimplificadoporcomponente(ndicedeIndutoSimplificado e ndice de Calculo Simplificado) e por faixa etria. Aldeia Mai, T.IYanomami,Amazonas,2007.Pgina43.

    Tabela8 MdiadondiceHigieneOralSimplificadoporcomponente(ndicedeIndutoSimplificado endice deClculo Simplificado) e por sexo. Aldeia Mai, T.I Yanomami,Amazonas,2007.Pgina43.

    Tabela9ndiceHigieneOralSimplificadoecomposioabsoluta,porsexoefaixaetria.AldeiaMai,T.IYanomami,Amazonas,2007.Pgina44.

    Tabela10Percentuaisdanecessidadedeprteseestratificadasporsexo.AldeiaMai,T.IYanomami,Amazonas,2007.Pgina45.

    Tabela11Caractersticasdosdomicliosqueintegramoinquritoalimentar.AldeiaMai,T.IYanomami,Amazonas,2007.Pgina48.

    Tabela 12 Relao dos itens alimentares consumidos pelos integrantes dos domiclios.AldeiaMai,T.IYanomami,Amazonas,2007.Pgina49.

    Tabela 13 Teste de correlao de Pearson para OHIS e CPOD. Aldeia Mai, T.IYanomami,Amazonas,2007.Pgina51.

    1

  • Tabela 14 Teste de correlao de Pearson para CPOD e porcentagem de alimentosindustrializadosconsumidospordomicilio. AldeiaMai, T.IYanomami, Amazonas,2007.Pgina52.

    Tabela15ComparaoentreasituaodesadebucalinvestigadanoMaiem2007,osresultadosdoProjetoSadeBucalBrasil(2003)easmetaspropostaspelaOMSparaoano2000comrelaocriedentria.Pgina55.

    QuadroIDistribuioeconfiguraodosPlosbasesnoDSEIYanomami.Pgina72.

    QuadroIIRefernciaparaosvaloresdeKappa.Pgina89.

    QuadroIIICritriosparaclassificarondicedeIndutoSimplificado.Pgina35.

    QuadroIVCritriosparaclassificarondicedeClculoSimplificado.Pgina35.

    QuadroVRefernciaparaosvaloresdondiceHigieneOralSimplificado.Pgina36.

    QuadroVIClassificaodositensalimentares.AldeiaMai,TI.Yanomami,Amazonas,2007.Pgina73.

    2

  • LISTADEGRFICOSEFIGURAS

    GrficoI:Relaodesignificnciaentreosvaloresdeceodporfaixaetria.AldeiaMai,T.IYanomami,Amazonas,2007.Pgina41.

    GrficoII:RelaodesignificnciaentreosvaloresdeCPODporfaixaetria.AldeiaMai,T.IYanomami,Amazonas,2007.Pgina42.

    Grfico III: Composiodondice deHigieneOral Simplificadopor faixaetria e sexo.AldeiaMai,T.IYanomami,Amazonas,2007.Pgina44.

    GrficoIV:Freqnciarelativadanecessidadedeprtesesuperiorporsexo.AldeiaMai,T.IYanomami,Amazonas,2007.Pgina46.

    GrficoV:Freqnciarelativadanecessidadedeprteseinferiorporsexo.AldeiaMai,T.IYanomami,Amazonas,2007.Pgina46.

    GrficoVI:Porcentagemdeprodutosindustrializadosenoindustrializadosconsumidospordomicilio.AldeiaMai,T.IYanomami,Amazonas,2007.Pgina51.

    Grfico VII: Correlaoentre OHISeCPOD.Aldeia Mai, T.I Yanomami, Amazonas,2007.Pgina52.

    Grfico VIII: Correlao entre CPOD e porcentagem de alimentos industrializadosconsumidos.AldeiaMai,T.IYanomami,Amazonas,2007.Pgina53.

    FiguraIMapadadistribuiodossubgruposlingsticosnoterritrioYanomami.Pgina18.

    FiguraIIMapadaTerraIndgenaYanomami.Pgina19.

    FiguraIIIMapamostrandoasobreposioentreaTIYanomamieoParqueNacionaldoPicodaNeblina.Pgina24.

    FiguraIV MapadalocalizaodascomunidadesYanomamidaregiodorioCauaburis,Amazonas.Pgina26.

    3

  • SIGLAS

    AISAgenteIndgenadeSade

    ARTAtraumaticRestaurationTreatment

    CCPYComissoPrYanomami

    ceodNmerodedentesdecduoscariados,perdidoserestaurados

    CEPComitdeticaemPesquisa

    CISSimplifiedCalculusIndex

    CONEPComissoNacionaldeticaemPesquisa

    CPICommunitarianPeriodontalIndex

    CPODNmerodedentespermanentescariados,perdidoserestaurados

    DISSimplifiedDebrisIndex

    DSEIDistritoSanitrioEspecialIndgena

    DSYDistritoSanitrioYanomami

    EMSIEquipeMultidisciplinardeSadeIndgena

    EVSEquipeVolantedeSade

    FOIRNFederaodasOrganizaesIndgenasdoRioNegro

    FUNAIFundaoNacionaldondio

    FUNASAFundaoNacionaldaSade

    IBDSInstitutoBrasileiropeloDesenvolvimentoSanitrio

    IDSTMTInstitutpourleDveloppementSanitaireenMilieuTopical

    ISAInstitutoSocioambiental

    MEVAMissoEvanglica

    MNTBMissoNovasTribos

    4

  • MSMinistriodaSade

    OHISOralHygieneIndexSimplifled

    OMSOrganizaoMundialdaSade

    ONGOrganizaoNoGovernamental

    SECOYAServiodeCooperaocomoPovoYanomami

    SIASISistemadeInformaoemSadeIndgena

    SPIServiodeProteoaosndios

    SPILTNServiodeProteoaosndioseLocalizaodeTrabalhadoresNacionais

    SSLSadeSemLimites

    SUSSistemanicodeSade

    SUSAServiodeUnidadeSanitriaArea

    TITerraIndgena

    UnBUniversidadedeBraslia

    UCUnidadedeConservao

    5

  • 1.APRESENTAO

    Opresente trabalhofoielaboradoapartir dequestionamentos, reflexesedvidas

    sobreaocorrnciadacriedentalentreosYanomamidacomunidadedoMainaregiodo

    rioCauaburis.Asincertezasrelacionadasprevalnciadacriedentaleseusdeterminantes

    entreospovosindgenasmeacompanhamdesde2001,anoemqueiniciei minhaatuao

    comocirurgiodentistajuntoscomunidadesindgenasdoAltoRioNegro,regioconhecida

    como Cabea do Cachorro. Atravs desta pesquisa pude melhor compreender os

    determinantesdacriedentalemumcontextotnicoespecficoeverificaroquoimportante

    soosaspectossocioculturaisnadeterminaodoprocessosadedoena.

    Durante cinco anos participei das EMSI (Equipes Multidisciplinares de Sade

    Indgena)detrsONGs(OrganizaesNoGovernamentais)desenvolvendoaesdesade

    nasregiesdoAltoeMdioRioNegro.NaSSL(SadeSemLimites)duranteumano,na

    FOIRN(FederaodasOrganizaesIndgenasdoRioNegro)cercadetrsanosenoIBDS

    (InstitutoBrasileiropeloDesenvolvimentoSanitrio)duranteumano.ASSLeaFOIRNso

    instituiesqueatuaramnoDSEI(DistritoSanitrioEspecialIndgena)AltoRioNegroeo

    IBDSatende uma parte do DSEI Yanomami no Estado do Amazonas. Essas ONGs se

    localizamnacidadedeSoGabrieldaCachoeira,principalcentrourbanodaregiodoAltoe

    MdioRioNegroesededomunicpiodemesmonome,comumapopulaoestimadaem

    15.000pessoassendoamaioriaindgena(Cabalzar&Ricardo,2006).

    6

  • Nodecorrerdestesanos,pudeconstatarpormeiodosrelatosdaspopulaesindgenas

    doAltoRioNegroedaregiodorioCauaburiseatravsdohistricodasadeindgena,que

    houveavanosnaateno sadedos ndiosnasltimasdcadas, principalmenteapsa

    criao do Subsistemade Ateno Sade Indgena em1999. Entretanto, solues para

    alguns entraves no subsistema como a falta de operacionalidade do SIASI (Sistema de

    InformaoemSadeIndgena),arealizaodeaesemsadeadaptadasspeculiaridades

    socioculturais dasdiversasetnias, asdificuldadesnagestoadministrativaefinanceira do

    processo de terceirizao, a relao custo/eficcia das intervenes, ainda no foram

    encontradas.NosetratadejulgaroSubsistemadeAtenoSadeIndgenaouasaes

    realizadas nos Distritos Sanitrios Especiais Indgenas (DSEIs), mas sim, de reforar a

    necessidadedepriorizaroentendimentodocontextonoqualrealizadaaatenoasade

    paragarantireficciadasaeseaplicaodaatenodiferenciadapropostapelaPoltica

    NacionaldeSadeIndgenadaFundaoNacionaldaSade(FUNASA)edoMinistrioda

    Sade(MS).

    Outraconstataofoidequeainterdisciplinaridadenaatenosadeindgenaainda

    caminhaapassoscurtos.Asadebucal,porexemplo,porestarestreitamenterelacionadacom

    aalimentaonecessitadeumaporteantropolgico,eesteapoionosetemobservadonos

    processosdetrabalhodosDSEIs.ComoexplicaArantes(2003:50):osmeiosdeproduo

    dealimentos epadres deconsumodediferentes sociedades humanasfazemrefletir nas

    condies de sade bucal. Mesmo entre os profissionais de uma mesma Equipe

    MultidisciplinardeSadeIndgenadifcilconstataratrocadeconhecimentoseinformaes

    paraelaboraodeumaestratgiadeinterveno.

    Apesardesercrescenteonmerodetrabalhoscientficospublicadossobrepopulaes

    indgenas, principalmente estudos epidemiolgicos e antropolgicos, existe pouca

    conectividadeentreoconhecimentoproduzidoesuaaplicaonaconstruodenovasaes.

    Grandepartedasdisciplinasproduzseusconhecimentosouplanosdeatuaoisoladamente,

    vemos,porexemplo,quenamaioriadosDSEIsnohumprocessodetrabalhoquecoloque

    oantroplogoouonutricionistacomointegranteounaassessoriadasEMSIs.

    Paraeste estudo, procuramosabordar nos a quantificaodadoena, masseus

    fatores predisponentes no contexto de uma comunidade indgena. Para isso foi feito um

    levantamento epidemiolgico daprevalncia decrie dental utilizandoos ndices ceode

    CPOD,umaavaliaodahigienebucal apartir dondice deHigiene Oral Simplificado

    7

  • (OHIS)eumainvestigaoalimentaratravsdoregistrodositensalimentaresconsumidos

    pelos integrantes de quatro domiclios do Mai, alm da observao de alguns fatores

    relacionadossadebucalespecficosdacomunidade.Portanto,buscamosrelacionaroperfil

    decriedentalcomdoisimportantesfatoresqueinterferemnestadoena,ahigienebucaleo

    consumo alimentar, e obter outras informaes referentes sade bucal da comunidade

    investigada(Pinto,2000).

    Apsaintroduo,dedicaremosumcaptulocontextualizaodasadeindgena

    comumenfoquenasadebucal, apresentandoumbrevehistricodaspolticas desade

    indgenaeocasodoDSEIYanomami,indicandoestudossobreascondiesdesadebucal

    dediferentesgruposindgenasdoBrasil.OcaptuloseguinteabordaraetniaYanomamide

    formageral,focalizandoaregiodorioCauaburiseacomunidadedoMaiondefoirealizada

    apesquisa.Omaterialeosmtodosusadosseroapresentadosnocaptulosubseqente.Os

    resultadoseadiscussoseroobjetoscadaumdeumcaptulo,antesdeconcluiradissertao.

    Dessaforma,esperamosqueesteestudopossaorientarnovasestratgiasdeaesem

    sadebucalnaregiodorioCauaburisecontribuaparaoentendimentodacriedentalentre

    ospovosindgenas.

    2.INTRODUO

    Apoltica desadeindgenaconstitui umdesafio paraosprofissionais queatuam

    nestarea,poisrepresentaumaconcepodiferenciadadesadepblicabaseadanorespeito,

    noentendimentoenaconsideraodasdimensespolticas,sociaiseculturaisligadassade

    edoena(Buchillet,2004).

    Acriaodosubsistemadesadeindgenavinculadoaumprocessodedistritalizao

    facilitouoacessodosindgenasaosserviosdesadeeparaoavanodasdiretrizesdoSUS

    (SistemanicodeSade)(Garnelo&Brando,2003).Entretanto,agarantiadeacessono

    veio acompanhada de um servio diferenciado que levasse emconsiderao os aspectos

    scioculturaisdospovosindgenas.

    No Brasil, a escassez de informaes referentes s condies de sade e s

    peculiaridades dos diversos grupos indgenas dificulta a definio das prioridades dos

    serviosdesadeeaimplantaodeestratgiasdeintervenoqueestejamdeacordocomas

    especificidadeslocais.

    Grandeparte dasaes deateno sadedos ndios nopossuemembasamento

    epidemiolgico, no esto fundamentadas em investigaes cientficas e no priorizamo

    8

  • entendimento dos aspectos culturais dos diferentes povos indgenas (Garnelo &Langdon

    2004;Santos&CoimbraJr2003).

    Dessaforma,aspesquisasquepossibilitamoaprofundamentodoconhecimentoacerca

    damulticausalidadedasdoenasqueacometemosndioseospadresassumidosporessas

    enfermidades contribuempara o planejamento dos servios de sade e a implantao de

    programasadequadossparticularidadesindgenas(Arantesetal,2001).Osaspectosbsicos

    de sobrevivncia e preservao tnicocultural destes povos devem ser levados em

    consideraoparaaformulaodeaesquecontribuamparaagregaosocialemelhores

    indicadores,inclusiveosdesadebucal(Ide,2000).

    Sobre a sade bucal indgena, os dados disponveis tambm so escassos,

    impossibilitando traar umperfil epidemiolgico esclarecedor dasituao. Amaioria dos

    estudossugerequeasmudanasocorridasnasformasdesubsistnciaadvindasdocontato

    comonondioaumentaramaocorrnciadasdoenas,entreelas,acriedental.(Arantes,

    1998; Arantes, 2003; Leite et al., 2003; Escobar et al, 2003; Gugelmim&Santos 2001;

    Silveira,2003;Coimbraetal,2001).

    A ateno odontolgica direcionada aos povos indgenas contemplada emduas

    polticasnacionais, aPolticaNacionaldeSadeBucal,quetemcomoobjetivoampliaro

    acesso, a qualidade e a integralidade dos servios de sade bucal, buscando reverter a

    desigualdadedaatenoodontolgicaoferecidaaosgrupospopulacionaisdesfavorecidos,ea

    PolticaNacionaldeAtenoaSadeIndgenaqueobjetivaasseguraraospovosindgenaso

    acessoatenointegralsade(Ferreira,2004).

    MesmoqueasdiretrizesdoProgramaNacionaldeSadeBucalIndgenacontemplem

    a realizao de aes coletivas e individuais de promoo sade oral que levem em

    considerao os aspectos epidemiolgicos, culturais, sociais, polticos e econmicos das

    populaesindgenas,oqueseobservaaausnciadoconhecimentodestesaspectospor

    parte dos profissionais que atuam nas comunidades e a carncia de informaes

    epidemiolgicasnosDSEIs.

    As aes de interveno odontolgica realizadas na maioria das comunidades

    indgenasseassemelhamaoultrapassadomodelocirrgicorestaurador,contribuindoparaa

    contnuadeterioraodascondiesdesadebucaldessaspopulaes,levandoosndiosa

    9

  • apresentaremosmesmosproblemasdentriosdosgrupospobres1 dapopulao(Langdon,

    2004;Frattucci,2000;Galatti,2003).

    OpresenteestudofoirealizadoemumacomunidadeindgenaYanomaminaregiodo

    rio Cauaburis e teve como principal objetivo avaliar a sade bucal por meio de um

    levantamentodaprevalnciadecriedentriaedeseusdeterminantesemumcontextotnico

    especfico.

    3.POLTICADESADEINDGENA

    AassistnciasadedospovosindgenasdoBrasiliniciouseapartirdacolonizao

    portuguesaatravsdosmissionriosjuntamentecomaspolticasdosgovernos.Aexpanso

    das fronteiras econmicas levoua inmeros massacres indgenas e a elevados ndices de

    mortalidade por doenas transmissveis. Algumas tentativas governamentais de levar

    assistncia sadeparaaspopulaesindgenasforamrealizadas, comoem1910,coma

    criao do Servio de Proteo aos ndios e Localizao de Trabalhadores Nacionais

    (SPILTN)queem1942passouaserchamadoServiodeProteoaosndios(SPI).Outras

    tentativasocorreramnadcadade50comainstituiodoServiodeUnidadesSanitrias

    Areas(SUSA)eem1967comasEquipesVolantes deSade(EVS). A inexistncia de

    11Soconsideradas pobres as pessoas que noconseguemsatisfazer algumas necessidades bemdefinidas,consideradasbsicasemumadeterminadasociedade.AtlasdeDesenvolvimentoHumano,1998.

    10

  • servioscontnuosqueserestringiamasaesespordicasnolevoumelhoriassituaode

    sadedosndios(FUNASA,2002).

    Umimportanteacontecimentoparaconsolidaodaatenosadeindgenafoia

    realizaodaIConfernciaNacionaldeProteoaSadedondiorealizadaem1986eque

    tinhacomopropostaaelaboraodeumapolticapblicadesadevoltadaparaospovos

    indgenas (Langdon,1999). AII, III eIVConfernciaNacional paraosPovosIndgenas

    ocorridasrespectivamentenosanosde1996, 2001e2006visaramestabelecerprojetosque

    oferecessem ateno sade dos ndios que valorizassem as prticas mdicas locais e

    integralidadenasaesdesadedirecionadasaessaspopulaes(Cardoso,2004;Athias&

    Machado,2001).

    AtravsdaConstituiode1988edalei8.080seestabeleceuoSistemanicode

    Sade(SUS)comobjetivodegarantir a todapopulao, incluindoospovosindgenas, o

    direitodereceberatenointegralsade.

    Em1991,combasenoDecretoPresidencialn23,foicriadooprimeiroSistemaLocal

    deSadeIndgenanaformadeDistritoSanitriolocalizadonareaYanomami.EsteDecreto

    tambmestabeleceu a criao dos Distritos Sanitrios Especiais Indgenas2 (DSEI) como

    sendoomodelodeorganizaodosservioseatenoasadeindgena.De1994a1999,as

    aescurativasnosDSEIseramassumidaspelaFundaoNacionaldondio(FUNAI),eas

    aespreventivasedecapacitao,pelaFundaoNacionaldeSade(FUNASA).Atravsdo

    decreton.3.156edalein.9.836/99(LeiArouca),ambasde23desetembrode1999,se

    estabeleceuoSubsistemadeAtenoSadeIndgenanombitodoSUS(FUNASA,2002).

    OmodelodegestonosDSEIsbaseadonaterceirizao3dosservios,atravsde

    aes voltadas para a promoo da sade, continuidade da assistncia, programao da

    demanda emsade e utilizao de estratgias dos programas nacionais de sade para a

    prevenoecontroledosagravos(Garnelo,2003).

    2ODistritoSanitrioEspecialIndgenadefinidopelaFUNASAcomomodelodeorganizaodeservios orientadoparaumespaoetnoculturaldinmico,geogrfico,populacionaleadministrativobemdelimitado, quecontemplaumconjuntodeatividadestcnicas,visandomedidasracionalizadasequalificadasdeatenoa sade, promovendo a reordenao da rede de sadee das prticas sanitrias e desenvolvendo atividades administrativogerenciaisnecessriasprestaodaassistncia,comoocontrolesocial.FUNASA,2002.PolticaNacionaldeAtenoSadedosPovosIndgena.MinistriodaSade.Braslia.33Terceirizaoumprocessopolticoadministrativonoqualocorreumatransferncia,totalouparcial,das atribuiesessenciaisdoEstadoparaasesferaslocais,viabilizadasmedianteacordoscomasentidadesdo chamadoterceirosetor.Garnelo,L.,2003.OspovosindgenaseaconstruodaspolticasdesadenoBrasil/LuizaGarnelo,GuilhermeMacedo,LuizCarlosBrandoBraslia:OrganizaoPanAmericanadaSade.

    11

  • AtravsdasConfernciasNacionaisdeSadeIndgena,ConselhosDistritaiseLocais

    deSadeIndgenaeoutrosrgosdeparticipaopopularqueospovosindgenasbuscam

    garantirrepresentatividadeeparticipaopolticanasdecisesdasaesdesade,afirmando

    opapelfundamentaldocontrolesocial4.

    3.1DSEIYANOMAMI

    Devido ao impacto na sade dos ndios Yanomami causado pelas invases de

    forasteiros nas suas terras, o Ministrio da Sade, em 1990 elaborou o projeto Sade

    Yanomami que apresentava como estratgia de atuao a criao de um Sistema Local

    EspecialdeSade.Esteprojetotinhacomoobjetivogeral:oresgatedointeressepelavidae

    sua preservao, pela gerao de novas vidas e pela proteo da vida indefesa,

    condicionantesdoreequilbriodavidaeconmicaesocialdosYanomami (Ministrioda

    Sade,1990:12).

    Em1992foicriadooprimeirodistritosanitrioindgenadoBrasil,oDistritoSanitrio

    Yanomami(DSY),naformadeSistemaLocaldeSade.

    AtualmenteoDSEIYanomamiabrange234comunidadesindgenassituadasnaTerra

    Indgena Yanomami. Destas, 46 comunidades esto no Estado do Amazonas e 188 em

    Roraima.EntreasinstituiesqueestoatuandonascomunidadesdoDSEIYanomamiesto

    a DIOCESE, a MEVA (Misso Evanglica), a MNTB (Misses Novas Tribos), a

    UniversidadedeBraslia(UnB)eaFUNASA(FundaoNacionaldeSade)noEstadode

    Roraima.ASECOYA(ServiodeCooperaocomoPovoYanomami),oIBDS(Instituto

    BrasileiropeloDesenvolvimentoSanitrio)eaFUNASAnoEstadodoAmazonas,cadauma

    destas instituies responsvel pela ateno sade de determinados Plosbase5. No

    quadroI(anexoA)podemosverificarasubdivisodoDSEIYanomamiemPlosbases,e

    4Controlesocial...atuaodasociedadecivilnagestodaspolticaspblicasnosentidodecontrollasparaqueatendamasdemandaseosinteressesdacoletividade.Langdon,1999.SadeePovosIndgenas:osdesafiosnaviradadosculo.AntropologiaemPrimeiraMo,IlhadeSantaCatarina.55 Plobase adenominaodeumtipodeunidadedesadequecomportaaesmaiscomplexasque aquelas disponveis no posto indgena de sade, ofertando atendimento mdico, de enfermagem e alguns recursoslaboratoriais.Garnelo, L., 2003. Os povos indgenas e a construo das polticas de sade no Brasil. Luiza Garnelo,GuilhermeMacedo,LuizCarlosBrando.Braslia:OrganizaoPanAmericanadaSade.

    12

  • paracadaumdeles,suapopulao,omunicpioeEstadoaoqualpertence,assimcomoa

    instituioqueatuanaassistnciasadedaquelePlobase(FUNASA,2006).

    3.2SADEBUCALINDGENA

    Entendesequeosprincpiosnorteadoresdasaesedosprocessosdetrabalhosem

    sadebucalsocentradosnaorganizaodoservioenadefinioclaradeumaprogramao

    local(Ferreira,2004).

    Mesmo sabendo da dificuldade em traar um perfil da sade bucal dos povos

    indgenasdoBrasil,devidofaltadeinformaesepidemiolgicas,verificamosacrescente

    produodeestudosnestecampo.

    Apesardosdiversosfatoresqueinterferiramnacondiobucaldospovosindgenas,o

    sensocomumsobreasadebucaldosndiosdoBrasilsegundoArantes(2003:49)queos

    impactos decorrentes do contato, sobretudo nas formas de subsistncia, envolvendo

    mudanas na dieta com a entrada de alimentos industrializados e do acar refinado,

    repercutiramnegativamentenasadebucal.

    A tabela I, adaptada de Pose (1993) e de Arantes (2003) apresenta trabalhos

    relacionadossadebucaldaspopulaesindgenas.AsduaspublicaesPose(1993)e

    Arantes(2003)relatamsobreamaiorpartedosestudosdescritosnestatabela,dessaforma,

    iremosabordaraquelesquenoforamcitadospelosautores.Umfatorimportantedescritonos

    trabalhosdePose(1993)edeArantes(2003)adificuldadedecomparaesentreosestudos

    devidosdiferentesmetodologiasutilizadas.

    Tabela1Trabalhosrelacionadossadebucaldaspopulaesindgenas,2007.AdaptadadePose1993eArantes2003.

    Autores Povo EnfoqueOliveira(1948) Karaj MorfologiadentriaLima(1954) Tenetehra MutilaodentriaNeeletal.(1964) Xavnte InquritoepidemiolgicodecriedentalNiswander(1967) Xavante InquritoepidemiolgicodecriedentalNiswander(1967) Bakair InquritoepidemiolgicodecriedentalTumang&Piedade(1968) Xingu Inquritoepidemiolgicodecriedental

    13

  • Baruzzi&Iones(1970) Xingu InquritoepidemiolgicodecriedentalAyreseSalsano(1972) Kayap InquritoepidemiolgicodecriedentalPereira&Evans(1975) Yanomami MorfologiadentriaDonellyetal.(1977) Yanomami InquritoepidemiolgicodecriedentalHirataetal.(1977) Xingu InquritoepidemiolgicodecriedentalTricerri(1985) AltoSolimes InquritoepidemiolgicodecriedentalAndoetal(1986) Xingu MtodospreventivosSantos&CoimbraJr.(1990) TupMond DefeitosdeesmalteDetogni(1995) EnawenNaw InquritoepidemiolgicodecriedentalArantesetal(1998) Xavnte InquritoepidemiolgicodecriedentalArajo(1988) Tikuna AgenteIndgenadeSadePose(1993) Xavnte InquritoepidemiolgicodecriedentalDetogni(1994) Xingu/Kayab InquritoepidemiolgicodecriedentalRigonatoetal.(2001) Xingu InquritoepidemiolgicodecriedentalFratucci(2000) Guarani InquritoepidemiolgicodecriedentalNunes(2003) ServiosemsadebucalLopes&Pontes(2003) Terena InquritoepidemiolgicodecriedentalParizotto(2004) KaiowGuarani InquritoepidemiolgicodecriedentalCarneiro(2005) Baniwa InquritoepidemiolgicodecriedentalDetogni(2005) EnawenNaw Inquritoepidemiolgicodecriedental

    EmseuestudosobreascondiesdesadebucaldosndiosTerenadoMatoGrosso

    doSul,LopesePontes(2003)mostraramqueascrianasapresentavamelevadosndicesde

    criedentaleosadultosumquadrodesfavorvelemrelaosadebucal,oquesegundo

    eles,sugeriaainexistnciaouafaltaderesolutividadedaatenoodontolgica.

    Uma investigao conduzida por Nunes (2003) sobre os servios emsadebucal

    oferecidosspopulaesindgenasdaregiodoAltoRioNegroapontaosseguintesaspectos

    comosendofundamentaisparaaatenosadebucal:entendimentoerespeitosprticas

    sociaiseculturaislocais,desenvolvimentodainterdisciplinaridadenosprocessosdetrabalho

    emelhorianaorganizaodosserviosderefernciaecontrareferncia.

    Parizotto(2004)emseuestudoreferenteprevalnciadecriedentrianascrianas

    daetniaKaiowGuaraniesuaassociaoentresexo,idade,tipodehigieneoral,tempode

    aleitamentomaternoedietaalimentarcariognicaidentificouumatendnciadeassociao

    positivaentreotempodealeitamentomaternosobreaprevalnciadacriedentria.Outra

    importanteconstataofoidequemetadedascrianasinvestigadasconsomepoucoacare

    14

  • derivados, e que a maioria delas (75%) consome acar e derivados somente entre as

    refeies.

    EntreosndiosBaniwaquehabitamascomunidadesdorioIananoDSEIAltoRio

    Negro, a pesquisa de Carneiro (2005) chegou aos seguintes resultados: para a dentio

    decdua,ondiceceodfoide0,9aos2anos,aos5cincoanosoceodiguala6,3e6,1aos6

    anos.Jparaadentiopermanente,ondiceCPODencontradonafaixaetriade12a14

    anosfoiiguala6,0,nafaixaetriade15a19anosoCPODfoide8,2,enafaixaetria

    acimade50anosoCPODapresentouvalorde22,1.

    NosinquritosepidemiolgicosrealizadosporDetogninosanos1995e2005entreos

    ndios EnawenNaw, verificouse que no ltimo inqurito houve um aumento de

    aproximadamente80%dascrianascomidadede5anoslivresdecrie.Comparandoosdois

    levantamentos,observousequeoCPODaos12e13anosdiminuiuem47%em2005,eque

    paraafaixaetriade17a19anosaproporodepessoascomtodososdentesnaturais

    presentesnacavidadebucalaumentoude8%em1995para20%em2005(Detogni,2007).

    Verificamos que, apesar de existir uma carncia de informaes epidemiolgicas

    referentes sadebucaldos ndiosdoBrasil, osestudossobresadebucal indgenatm

    aumentado nos ltimos anos. Alm dessa carncia de informaes epidemiolgicas,

    observamosqueasconcepesindgenasdesadeedoenasopoucoabordadasnosestudos

    e raramente interrelacionadas com a medicina ocidental. A deficincia na

    interdisciplinaridade outra constatao verificada, os cirurgies dentistas como demais

    profissionais das EMSI carecem de aporte antropolgico para desenvolverem a ateno

    diferenciadapropostapelaPolticaNacionaldeAtenoSadeIndgena.

    Segundo Conklin (1994: 161): o mero fornecimento de servios mdicos ser

    insuficiente para garantir um sistema de sade eficaz caso no sejamequacionados os

    conflitosexistentesentreosconceitosocidentaiseindgenasdesadeedoena.

    15

  • 4.OSYANOMAMI

    OsYanomamiconstituemomaiorgrupoindgenadaAmricadoSul,cercade30.000

    ndiosvivendodeacordocompadresculturaisestabelecidoshmilharesdeanosresidindo

    naflorestatropicaldaAmaznia.HabitamumareanafronteirasuldaVenezuelaenortedo

    BrasildeaproximadamenteduzentosmilKm2esuascomunidadespossuemumaorganizao

    socialcomplexa,baseadaemumsistemadeparentescodotipodravidiano6.Algunssugerem

    suadescendnciaapartirdasegundalevadepaleondiosquechegarambaciaAmaznica

    6Sistemadravidianodeparentesco...constituemcorrelatoslingsticosdocostumedecasamentodeprimos. Sistemasdestetipotmcomotraomaissalienteadicotomiaentreconsangneoseafins,fundadanadistinoentreparentesparalelosecruzados.Silva,M.,1999.Linguagemeparentesco.RevistadeAntropologia,v.42n.12SoPaulo.

    16

  • entre 15 e 20 mil anos atrs. Estimativa por meio de datao lingstica relata que os

    YanomamiocupamaregiodoMaciodasGuianash700anos(Ramos&Taylor,1979;

    Good,2004;Albert,1992).

    Oconhecimentosobreopassadodistantedestegrupoindgenaremeteaummistrio,

    poispoucossoosregistrosreferentesorigemdestapopulao,comoacontececomoutros

    gruposindgenas.SupesequeocupavamapartesuperiordabaciaAmaznica,ondeorio

    BrancoseencontracomorioNegro,equedevidoaosconflitoscomospovosArawak7ou

    necessidadedefugirdoscaadoresdeescravoselesteriamserefugiadonaSerradoParima,

    local ondeseestabeleceram. Deacordocomsua tradiooral e documentos antigos que

    mencionamestegrupo,ocentrodeseuterritrioestsituadonaSerradoParima,divisorde

    guasdoaltoOrinoconaVenezuela,ealtoParimanoBrasil(Albert,1992;Good,2004;Lizot

    1984).

    AscomunidadesYanomamisobemdeterminadasemsuaorganizaosocial ese

    mostramrelativamenteestveis,comnomesprprioseterritrioreconhecidodeonderetiram

    quasetodosseusrecursos.DosgruposindgenasdaAmazniaumdosmaisconhecidos,

    tantonospasesondehabitamcomoforadeles,sendoinmerasaspublicaesantropolgicas

    referentesaestegrupo(Lizot,1977;Lizot,1984;Milliken&Albert,1999).

    Embora existam muitas publicaes sobre esta etnia, principalmente sobre os

    YanomamiquehabitamaVenezuelaeoEstadodeRoraimanoBrasil,poucosesabesobre

    algunsgruposespecficos, comoosYanomamiquehabitamaregiodorioCauaburis no

    EstadodoAmazonas.

    OsprimeirosrelatosdaetniaYanomamifeitospelasexpediescientficasdatamda

    segundametadedosculoXVIII.Apsdoissculos,asociedadenacionalestabeleceuum

    contatocontnuoepermanentecomospovosYanomami,sejaatravsdasmissesreligiosas,

    seja na ocasio dos programas de desenvolvimento nacional ou do extrativismo mineral,

    dentreoutrasformasdecontato.Estefatoproporcionoualgumasmudanasnaestruturasocial

    7Arawak(aportuguesadoemAruaque)designaumtroncolingsticonoqualestoincludosvriospovosindgenassituadosnoBrasil:Tariana,Kulina,Palikur,Baniwa,Yawalapiti.Em:http://pt.wikipedia.org/wiki/Aruaques

    17

  • destesgrupos,comosedentarizao,mudanasnoshbitosalimentares,perdasdemogrficas,

    incorporaodeprticasreligiosasedenovasformasdecuraadvindasdaassistnciasanitria

    ocidental(Holmes,1982;Albert,1992;Lobo,1996).

    As epidemias e a escravido ocorridas a partir da metade do sculo XVIII

    contriburamparaadispersogeogrficadosaglomeradosYanomami.Noinciodosculo

    XIX,asguerrascomseusvizinhosArawakculminaramnadispersodogrupoparaasterras

    maisbaixas.Nestecontextoderompimentoentregruposlocais,decrescimentodemogrfico

    apartirdasegundametadedosculoXIXeexpansogeogrficasurgeaatualconfigurao

    doterritrioYanomami(Kopenawa&Albert,2003).

    Segundo Ramirez (1994), os ndios Yanomami formam um conjunto cultural

    composto de quatro subgrupos lingsticos (figura I) divididos em dialetos com

    diferenciaesfonolgicas,lexicaisemorfossintticas.Soeles:

    YanomameYanomami,comodoisdialetosdeumamesmalngua:oorientaleo

    ocidental.Maisde5.000indivduosfalamYanomamiorientalnoBrasil(Albert&Gomes,

    1997).

    NinamYanam;

    Sanma;

    OidiomadasreasdeArajani,Apia,baixoMucajaemdioCatrimani.

    18

  • FiguraIMapadadistribuiodossubgruposlingsticosnoterritrioYanomami

    Fonte:CREDALCNRS

    19

  • Embora haja diferenas entre os subgrupos lingsticos, todos os Yanomami

    conseguemsecomunicarentresicomdiferentesgrausdedificuldades.Estimaseem6a35

    sculosapocaemqueasquatrolnguascomearamasediferenciardeumtroncocomum

    (Ramos,1989).

    Apslongoperododelutas,em1991e1992aTerraIndgena(TI)Yanomami(figura

    II)foioficializadaehomologadapordecretopresidencial,abrangendoumterritriode96.649

    km2,sendo38.723km2 noEstadodoAmazonase57.926km2 noEstadodeRoraima.Esta

    reapossuiumagrandediversidadedebiomas:florestatropicalvirgem,florestatropicalde

    altitudeesavanastropicais.AcomunidadecientficaconsideraaT.IYanomamiprioritria

    paraaproteodabiodiversidadedaAmaznia(Andrello&Ricardo,2004;Kopenawa&

    Albert,2003;PovosIndgenas,2006).

    20

  • .

    FiguraIIMapadaTerraIndgenaYanomami.

    Fonte:ISAGeoprocessamento

    Atualmente,sabesequeototaldapopulaoYanomamicompreendidanoBrasile

    Venezuela representa mais de 30.000 ndios. No Brasil, foi estimada uma populao de

    15.686indivduosvivendoem242comunidades,ocupandoaregiodoaltorioBrancoea

    margemesquerdadorioNegro.DototaldeYanomaminoBrasil,9.501vivemnoEstadode

    Roraima e 6.185 no Amazonas, predominando os falantes da lngua Yanomami oriental

    (Albert,1992;FUNASA,2005).

    4.1RECURSOSNATURAISEDIETA

    Asprticasalimentareshumanasesuasescolhasoriginamsedeinteraesentreos

    maisdiversosfatoresquenoseencontramlimitadosaaspectosestritamentenutricionaisou

    biolgicos(Leite,2004).OusodosrecursosnaturaispelosYanomamisesustentaporuma

    complexainterdependnciaentresistemaprodutivo,espaoterritorialeequilbrionutricional

    (Albert&Gomes,1997).

    A floresta (urihi), reservatrio de recursos essenciais para existncia do povo

    Yanomami,significaparaelesumaentidadeviva,dotadadeumaimagemespritoxamnica

    (urihinari), deumsoprovital (n rope), animadaporumadinmicacomplexa de trocas,

    conflitos e transformaes entre as diferentes categorias de entes que a povoam, sujeitos

    humanosenohumanos,visveiseinvisveis(Kopenawa&Albert,2003).Todososgneros

    alimentcios e matrias primas so extrados do meio natural circundante e o sistema

    econmicopodeteoricamentefuncionaremautarquia(Lizot,1984).

    21

  • OsYanomamisoindiscutivelmenteagricultoresquepraticamalavouradecoivara8e

    ahiptesedequeestegrupotenhaadotadoaagriculturapoucoantesdeserconhecidonose

    sustenta(Lizot,1996).Estaatividadeatendeamaisde75%desuasnecessidadesenergticas,

    constituindoamaisfreqenteparaoprovimentodosrecursosalimentares.Arelaoentre

    produocalricaecustoenergticoparaaagriculturasuperiora20:1,sendoqueamesma

    relaode3:1paraacaa.Aatividadedecoletanaflorestatemumaimportnciarelativa

    em comparao com a agricultura, mas no se deve negligencila, pois permite a

    diversificaodosprodutosalimentares(op.cit.).

    Os Yanomami possuemumprofundo conhecimento sobre as fontes alimentcias

    provenientes dos vegetais que lhes ajudam a manter um contnuo ciclo de explorao,

    permitindo equilbrio entre necessidade fsica e desgaste energtico (Fuentes, 1980). As

    principaisplantascultivadassoosdiversostiposdebananeirasedetubrculos.Sotambm

    cultivados:canadeacar,pupunha,milho,mamo,pimenta,tabaco,algodo,urucu,canas

    deflechas,cabaas,venenosdepescaeplantasmgicas.

    Atravsdasatividadesdecaa,pescaecoleta,osYanomamiadquiremcercade70%a

    75%deprotenasparaoseuequilbrioalimentar.Acaa,atividadeexclusivamentemasculina

    fundamental no equilbrio nutricional do grupo, pois fornece metade das protenas

    consumidas(Albert&Gomes,1997).

    AdietadapopulaoYanomamipossuigrandevariedadedeitensalimentcios,tanto

    deorigemanimalcomovegetal.Abananaeamandioca,alimentosquecompemocerneda

    alimentao Yanomami, fornecem baixo ndice de protena, sendo as frutas selvagens

    responsveispelamelhorianaqualidadedadietadestapopulao(Lizot,1977).

    Atualmente as comunidades Yanomami apresentam condies de subsistncia

    distintas.Em1982,emseuestudosobreEstadonutricionaldeumapopulaoYanomami,

    Holmesrelatavamudanasnasatividadesdesubsistnciaesedentarizaoaps11anosde

    contatodosYanomamicomasmissesreligiosas.Esteperododecontatosereferesituao

    encontradapelapesquisadoraemumaregioespecficaondeocorreuseuestudo.

    88Aagriculturadecoivaraocultivoemparcelasabertasapsderrubaequeimadafloresta. Eloy, L. 2005. Entre ville et fort : le futur de lagriculture amrindienne en question. TransformationsagraireslapriphriedeSoGabrieldaCachoeira,hautRioNegro,Amazonas,Brsil.Tesededoutoradoemgeografia.Paris:UniversidadedeParisIII/IHEAL,408p.

    22

  • Para o preparo dos alimentos, os Yanomami utilizam tcnicas simples como

    moqueado, assadosobre brasas, embrulhado em folhas, s vezes aromticas, cozidos em

    panelascomguaoudiludoemguafresca(Fuentes,1980).SegundoLaudato(1998),os

    Yanomamidesconhecemohbitojantigonanossasociedadedeestocarcomidaparaoutros

    dias, e a comida (principalmente a carne de caa) quando se apresenta em grandes

    quantidadesdistribudaparaparenteseafins.

    Aincorporaodeprodutosindustrializadosnasuadietacomoocafadocicado,o

    arrozeofeijo,representaalteraesnopadroalimentardestapopulao.Almdisso,vrios

    alimentoscoletadosnaflorestaestosendoabandonadospelasnovasgeraes.Emalgumas

    comunidadescomoMaturac,localizadanaregiodorioCauaburis,observaseoconsumo

    freqentedeprodutos industrializadosnadieta. Estasituaoocorredevido escassezde

    produtoslocais,nosuprindoanecessidadedapopulao,almdeoutrosmotivoscomoa

    remunerao de atividades realizadas pelos Yanomami. Muitos desta comunidade j

    incorporaramemsuadietaalgunsprodutosindustrializados.Comoconseqnciadocontato,

    asedentarizaojuntocomoconsumodealimentosindustrializadospassouaserpartedo

    mododevidadessapopulao(Silveira,2003).

    4.2SADEBUCALYANOMAMI

    Os levantamentos epidemiolgicos de crie dental relacionados s populaes

    indgenassofeitosemgruposespecficos,nopermitindotraarumdelineamentoamploda

    situao (Arantes, 2003). Apesar disto, encontramos avanos quanto ao conhecimento do

    perfildasadebucalindgenacomoacrescenteproduocientficarelacionadaprevalncia

    dacriedentalentregruposindgenaseoprojetoSadeBucalBrasil2003queproduziuum

    retratodascondiesdesadebucaldapopulaobrasileira,sendoqueospovosindgenas

    representaram1%dosgrupostnicosabordadosnaamostragemtotal(MinistriodaSade,

    2004).

    Apsanosdecontatopermanentecomasociedadenoindgena,osYanomamicomo

    outrosgruposdendiospassaramportransformaesemseuspadresdeassentamentoque

    repercutiramnascondiesdesadebucaldestaspopulaes(Silveira,2003;CoimbraJretal

    2002).

    23

  • UmimportanteestudorealizadosobreasadebucalYanomamifoifeitoporDonelly

    etal(1977)apartirdeuminquritoepidemiolgicosobreacriedentrianascomunidades

    Iaweitedi,WabutawatedieArataCachoeira,naregiodorioOcamo,situadasnafronteirado

    Brasil comaVenezuela. Nesta pesquisa, o autor relata quea maior prevalncia decrie

    dentriaocorreunacomunidadedeIaweitediondeexisteamissoreligiosaOcamo,indicando

    ainflunciadaocidentalizaodeprticasalimentaresnasadebucal.OCPODencontrado

    emIaweitedi foi iguala2,4nafaixaetria de12a19anoseo ndiceceodapresentou

    resultado igual a 4,4 para faixa etria de 4 a 5 anos. A comunidade Arata Cachoeira,

    localizadanumareamaisisolada,apresentouosvaloresmaisbaixosparaosndicesdeCPO

    Deceod0,3e1,0respectivamenteparaasmesmasfaixasetrias(12a19anose4a5anos).

    Nesteestudo,Donellyetal(1977)realizaramumlevantamentodondicedeHigiene

    OralSimplificado(OHIS)nacomunidadeWabutawatedi eosvaloresencontradosforam:

    OHISiguala3,50paraoshomense3,17paraasmulheres, indicandoumahigieneoral

    deficiente.

    OutroestudodedestaquesobresadebucalYanomamifoirealizadoporPereirae

    Evans (1975) sobre morfologia dentria. O resultado dessa pesquisa revelou que os

    Yanomamicommaiordesgastefisiolgicoemenorquantidadedeplacadental vivemem

    reasdemaiorabundnciadecaa,enquantoosYanomamiqueapresentarammenorabraso

    dentriaemaiorquantidadedeplacadentalestoemreasondepredominaumadietaoriunda

    daagricultura.

    Umrelatrio dasatividades desadenareaYanomamidoToototobi, Balawaue

    Demini elaborado pela CCPY (Comisso PrYanomami) apresentou um inqurito

    epidemiolgicosobrecriedentalutilizandoondiceCPOD.Osresultadosmostraramque

    naregiodoDeminiasituaoeragrave,apresentandoumamdiadeCPODiguala3,7para

    todasasfaixasetriasinvestigadas.NaregiodoBalawa,oCPODmdioencontradofoi

    menorque1,0,resultadoconsideradobaixoemrelaoregiodoDemini.NoToototobi,

    nofoipossvelrealizaroinquritoepidemiolgicoeapenasasurgnciasforamatendidas

    (AlveseEsteves,1995).

    DasconclusesreferentesscondiesdesadebucaldosYanomamitemosacerteza

    de que a crie dentria est presente entre este grupode ndios e emalguns casos com

    24

  • propores avassaladoras, influenciando de forma negativa na qualidade de vida dessa

    populao.

    SomenteapsseteanosdacriaodoProjetoSadeYanomamipeloMinistrioda

    SadeeFundaoNacionaldaSadeecincoanosapsahomologaodaTerraIndgena

    YanomamiforaminiciadasasaesdeatenosadenaregiodorioCauaburisem1997,

    atravs da ONG (Organizao No Governamental) francesa IDSMT (Institut pour le

    DveloppementSanitaireenMilieuTropical).

    Umdiagnsticosituacionaldesadefoirealizadonascomunidadesdaregiodorio

    CauaburiseapartirdesteestudooIDSMTelaborouoProgramadeAesSanitriasparaa

    PopulaoYanomamidoParquedoPicodaNeblinacomoobjetivodepromoversadepara

    ospovosYanomamidorioNegro(Istria,1997;MinistriodaSade,1990).Apartirdeum

    desdobramentodoIDSMTem2001,asaesdeatenosadenestaregiopassaramaser

    de responsabilidade da ONGIBDS(Instituto Brasileiro pelo Desenvolvimento Sanitrio),

    situadaemSoGabrieldaCachoeira.

    4.3REGIODORIOCAUABURIS

    NaregiodorioCauaburis,osYanomamipossuemumahistriadecontatorecente

    quedatadadcadade40e50atravsdoSPI(ServiodeProteoaondio)edamisso

    salesiana respectivamente. A ocupao desta regio pelos Yanomami resulta de vrios

    movimentosmigratriosvindosdaVenezuelaedosgruposquevivemnestaregio,entreeles

    podemoscitarosMasiripiweiterieosWananauweteri(Smiljanic,2002).

    AregiodorioCauaburisconstituipartedaTerraYanomamilocalizadanoEstadodo

    AmazonascompreendidaentreascidadesdeSoGabrieldaCachoeiraedeSantaIsabeldo

    Rio Negro (figura III). Comomostra o mapa, sobreposto a esta parte da terra indgena

    YanomamiseencontraoParqueNacionaldoPicodaNeblina.AsobreposioentreTerras

    IndgenaseUnidadesdeConservaes(UCs)temgeradodiscussessobreaconservaoda

    biodiversidadeeapresenadosgruposindgenasnestasreas(Bensusam,2006).

    25

  • FiguraIIIMapaquemostraasobreposioentreaTIYanomamieoParqueNacionaldoPicodaNeblina

    Fonte:ISAGeoprocessamento

    Cercade2.000YanomamihabitamaregiodorioCauaburis distribudosemsete

    comunidades: Maturac, Ariabu, Auxiliadora, Nazar, Inambu, Mai e Tamaquar. As

    famlias vivememcasas separadas feitas de taipa comcobertura depalha ouzinco. Em

    Maturac,AriabueMai,existeumagrandeconcentraodeindivduos,cercade450a650

    porcomunidade(SIASIIBDS,2007).Estascaractersticasnopadrodeassentamentodos

    habitantes da regio do rio Cauaburis difere de outros aglomerados Yanomami onde os

    indivduosvivememumacasacoletiva, o yano ou xapono, com30a150habitantes em

    mdiaporxapono(Albert&Milliken,1999).

    Deummodogeral,oacessoscomunidadesdoCauaburisocorreporviaterrestree

    fluvialsucessivamente,partindodacidadedeSoGabrieldaCachoeira,situadanaregiode

    trplicefronteiraentreBrasil,VenezuelaeColmbia,passandopelaBR117eindoatokm

    80noIgarap YaMirim. Apartir desteponto, umavoadeira (embarcaocommotorde

    popa)usadaparanavegaremdireoaorioCauaburiseseusafluentesondeselocalizamas

    comunidadesYanomamidessaregio.Oacessoporviaareatambmfeitoeocorrepor

    26

  • meiodeaviesehelicpterosdaForaAreaBrasileiraouparticular.Anicapistadepouso

    destaregioestlocalizadanoPelotodeFronteiranacomunidadedeMaturac.Dacidadede

    Santa Isabel doRio Negro, navegandopelo rio Negro, tambm possvel chegar ao rio

    CauaburiseseusafluentesescomunidadesYanomamidaregiodorioCauaburis.

    Logo,SoGabrieldaCachoeiraeSantaIsabeldoRioNegrosoasduasprincipais

    cidadesfreqentadaspelosYanomamidaregiodorioCauaburis,tendoestedeslocamento

    diversasfinalidades,comoresolverpendnciasrelacionadasaocomrciodecip,depeixe

    ornamentaloudemel,comprarprodutosmanufaturados,venderartesanatos,acompanharum

    parente doente, resolver questes polticas ou bancrias, dentre outras. Somente emSo

    Gabriel da Cachoeira existe uma casa de apoio (em situao precria) para receber os

    YanomamiquechegamdascomunidadesdorioCauaburis.

    AtravsdorecortedeummapadaregiodoAltoeMdioRioNegroelaboradopelo

    ISA (Instituto Socioambiental) possvel identificar a regio do rio Cauaburis e sua

    proximidadecomosdoismaioresplosatrativos,SoGabrieldaCachoeiraeSantaIsabeldo

    RioNegro(figuraIV).

    27

  • 28

  • FiguraIVMapadalocalizaodascomunidadesYanomamidaregiodorioCauaburis,Amazonas.

    Fonte:ISAGeoprocessamento.

    4.4ACOMUNIDADEYANOMAMIMAI

    OMaiumadascomunidadesYanomamidaregiodorioCauaburisepertenceao

    municpio de Santa Isabel do Rio Negro, enquanto as demais comunidades desta regio

    pertencemaomunicpio deSoGabriel daCachoeira. considerada a comunidademais

    isoladaemrelaosoutrascomunidadesdaregiodevidoscachoeirasqueselocalizamno

    percursodorioCauaburisedoseuafluente,orioMai.Almdisto,humacaminhadapela

    floresta deaproximadamente umahoraapschegar aoprimeiro portodacomunidade. O

    segundoportoficaa10minutosdecaminhadadoMai,maschegaratlnumaembarcao

    commotordepoupadifcildurantegrandepartedoano,porcausadasecadorioMai.

    Deacordocomatradiooral,osprimeiroscontatosdoshabitantesdoMaicoma

    sociedadenoindgenaocorreramnadcadade50atravsdosfuncionriosdaFUNAIque

    trabalhavamnoServiodeProteoaondio.NestapocanoexistiaacomunidadedoMai,

    mashaviaumamalocalocalizadaacincoquilmetrosdaatualcomunidade.Cercade20anos

    atrs,osYanomamiabandonaramamalocaeseinstalaramemumnovolocalquerecebeuo

    nomedeMai.AtualmenteoMai(foto1anexoC)estdivididoemCanarinhoeMai,como

    sefossemdoisbairrosdeumamesmalocalidade.

    Segundo Smiljanic (2002), o Mai abriga o grupo Yanomami denominado

    Wawanauweteri.Cercade452YanomamihabitamoMai,ouseja,24%dototaldendios

    YanomamidaregiodorioCauaburis.So95casasdispostasumaaoladodaoutraformando

    doisgrandescrculos(Mai eCanarinho).Almdashabitaes,existenacomunidadeum

    postodesadequeumPlobasedoDSEIequeservetambmdemoradiaparaasequipes

    desade.Nestelocalsofeitososatendimentosodontolgicosemdicos,comonosdemais

    29

  • plosbases da regio. A comunidade tambm possui uma escola salesiana h sete anos

    aproximadamente,oferecendoensinoescolaratasextasrie,almdealimentaoaosalunos

    que freqentama escola. Esta instituio da misso salesiana tambm est presente nas

    demais comunidades da regio do rio Cauaburis, exceto na comunidade de Tamaquar

    (SIASIIBDS,2007).

    O cip, o mel e a piaba (peixe ornamental) so os principais recursos naturais

    explorados pelos Yanomami do Mai para a comercializao. Odinheiro advindodestas

    atividades utilizado para aquisio de produtos manufaturados como redes de algodo,

    panelas,fornosparatorrarfarinha,roupas,calados,ferramentas,relgio,saboembarra,e

    paracompradealimentosindustrializadoscomosal,acar,arroz,caf,leiteemp,bolacha,

    conservas,macarro,feijo,charqueeoutros.

    OMaiapresentacaractersticasquesocomunssdemaiscomunidadeslocalizadas

    naregiodorioCauaburiscomoodifcilacesso,aexistnciadeumaescolaedeumpostode

    sade(Plobase),agrandeconcentraodeindivduos,eoutras,prpriasaopadroscio

    culturaldosYanomamiquehabitamestaregio.

    30

  • 5.MATERIALEMTODOS

    Para este estudo de caso foram utilizadas tcnicas de pesquisa qualitativa e

    quantitativa. Este desenho de estudo possibilita construir o conhecimento a partir da

    singularidade de um caso, que pode ser uma organizao, uma prtica social ou uma

    comunidade(Minayo,2004;Minayoetal,2005).

    Dessaforma,aabordagemquantitativafoiutilizadaparafinsdeduasinvestigaes:o

    levantamentoepidemiolgicodaprevalnciadacriedentaleolevantamentodo ndicede

    31

  • HigieneOralSimplificado.Aabordagemqualitativafoiusadaparaverificaroconsumode

    alimentosemquatrodomicliosduranteumperododetrsdiasnoconsecutivoseaveriguar

    informaesreferentessadebucaldosYanomamidoMai.Logo,apesquisadecampo

    apresentoutrsetapasqueforamfeitasnaseguinteseqncia:naprimeiraetapafoirealizado

    o inqurito de crie dental, na segunda o levantamento do ndice de Higiene Oral

    Simplificado,enaltimaetapadainvestigaofoifeitoolevantamentodositensalimentares

    consumidoseadescriodefatoresrelacionadossadebucaldacomunidade.

    ApopulaoalvodesteestudoogrupoindgenaYanomamidacomunidadedoMai,

    localizada na regio do rio Cauaburis que corresponde a uma parte da Terra Indgena

    YanomaminoEstadodoAmazonas. DeacordocomoSistemadeInformaodoIBDS

    (2007)vivem453pessoasnoMai,representandocercade24%dototaldeYanomamique

    habitamaregiodoCauaburis.

    5.1LEVANTAMENTODOSDADOS

    Osdadosquantitativosequalitativosdesteestudoforamobtidosemdezembrode2006

    ejaneirode2007aodecorrerde30diasdetrabalhonacomunidadedoMai.

    Paraa tabulao, organizaodosdadoseanlisedescritivautilizouseosoftware

    MicrosoftExceleparaasanlisesetestesdecorrelaofoiusadooprograma Statistical

    PackageforSocialSciencesSPSS,verso12.0.

    5.2ASPECTOSTICOS

    Para iniciar a pesquisa seguimos os seguintes critrios ticos: as lideranas da

    comunidadedoMaiassinaramumtermodeanunciaprvia(anexoH)concordandocoma

    32

  • realizaodoprojetoproposto,sendoestedocumentoassinadonacomunidadeduranteuma

    reuniosobresadeentreoscomunitrioserepresentantesdoIBDS.Juntocomestaanuncia

    assinadapelaslideranas, oprojetofoiencaminhadoparaoComit deticaemPesquisa

    (CEP)daUniversidadeFederaldoAmazonasondefoiprotocoladocomonmero041/2006e

    recebeuparecerfavorvel(anexoI)em25demaiode2006.Emseguida,foienviadopelo

    CEPparaaComissoNacionaldeticaemPesquisa(CONEP)noConselhoNacionalde

    Sade,eaprovadocomparecerdenmero1074/2006(anexoJ).AFUNAIdeSoGabrielda

    Cachoeira forneceu uma autorizao (anexo L) para a nossa entrada em rea indgena

    Yanomamiduranteoperodoestipuladonoprojetoparaapesquisadecampo.Nomesmodia

    de nossa chegada comunidade do Mai, apresentamos o projeto de pesquisa para a

    comunidade a fim de discutir o mesmo comos Yanomami com intuito de esclarecer e

    responderaosquestionamentos,almdeorganizarjuntocomacomunidadeasestratgiaspara

    realizao da pesquisa de campo. Todos os sujeitos da pesquisa assinaram o Termo de

    ConsentimentoLivreEsclarecido(TCLE)(anexoP),sendooTCLEparaascrianasassinado

    pelopaiouresponsvel.

    ForamnecessriosdezdiasemSoGabrieldaCachoeiraparaapreparaodaviagem

    aoMai.NossaidaparaacomunidadeocorreujuntocomumadasequipesdesadedoIBDS

    queestavaindoaoMaiparadesenvolveraesdesade.ApsasadadestaequipedoMai,

    aindapermanecemosquinzediasnacomunidade.NossoretornoaSoGabrieldaCachoeira

    ocorreunaocasiodeumaviagemrealizadapelosYanomamidoMaiquandoestavamindo

    para a cidade vender a produo de artesanatos da comunidade e resolver algumas

    pendncias.Viajamosdurantetrsdiaseduasnoitescomotuchaua,seufilhomaisvelhoe

    seunetomaisvelho.

    5.3POPULAOINVESTIGADA

    33

  • ApopulaoYanomamidoMaiacimade5anosdeidadetinhasidodefinidacomoa

    populaoalvoparaolevantamentoepidemiolgicodecriedental.Estaidadefoiescolhida

    devido os dentes decduos estarem todos erupcionados nesta faixa etria e por causa da

    dificuldade relatada peloscirurgies dentistas emexaminar acavidadebucal dascrianas

    Yanomamiabaixodecincoanos.Noentanto,muitascrianascomidadeentre1e5anosse

    apresentaramparaseremexaminadasduranteotrabalhodecampo.Dessaforma,apopulao

    investigadaparaolevantamentoepidemiolgicodecriedentalcompreendeosYanomamida

    comunidadedoMaiacimade1anodeidade.

    5.4INQURITOEPIDEMILOGICODECRIEDENTAL

    Pararealizaodoinquritoepidemiolgicodecriedentalseguimososcritriosda

    OrganizaoMundialdeSadeparalevantamentosbsicosemsadebucal(OMS,1999).

    5.4.1CALIBRAO

    Paraacalibraodoexaminadorforamfeitososprocedimentosdeconcordnciaintra

    examinador9 e o teste estatstico Kappa10. Para a concordncia intraexaminador ser

    consideradaboa,esperaseque85%a90%dosdiagnsticosdecadaelementodentalsejam

    idnticos.Osexamessorealizadosduasvezesparacadaindividuo,ouseja,noprimeirodia

    seexaminamos indivduosselecionadose nodiaconsecutivoosmesmossonovamente

    examinados.ParaotesteKappaadotamosarefernciaporEklundetal(1996)descritano

    quadroII(anexoQ).

    99Testedeconcordnciaintraexaminadortestedecalibraofeito paraestabelecerconsistnciaconsigo prprio, cerca de vinte pessoas devem ser examinadas em dois dias diferentes, efetuandose ento a comparaoderesultadosereexaminandoaquelesparaosquaishouvediferenadediagnstico.Pinto,V.G.,2000.Identificaodeproblemas.Em:SadeBucalColetiva.SoPaulo.EditoraSantos.152156,537p.10TesteKappaMedidadograudeconcordnciainterobservador,almdoqueseriaesperadotosomentepeloacaso.SiegelS,CastellanN.,1998.NonparametricStatisticsfortheBehavioralSciences.2aed.NewYork:McGrawHill.p284285.

    34

  • AcalibraofoirealizadanacomunidadedoMaiapartirdoexameclnicodevinte

    Yanomami, sendo selecionados de forma aleatria e sorteados a partir do censo da

    comunidade.Oprocedimentodeconcordnciaintraexaminadorapresentouresultadode90%

    dosexamesidnticoseotesteestatsticoKappaindicouvaloriguala0,98,representandouma

    excelenteconcordncia.

    5.4.2EXAMECLNICO

    Osexamesclnicosforamfeitosnocentrocomunitriodacomunidade(foto2anexo

    D)atravsdaobservaovisualdassuperfciesdentriascomumespelhoclnicoplano,em

    camposeco(comgaze), sob luznatural eemalguns momentos comauxlio deumaluz

    artificial. AsondadepontarombaCPIeaesptula demadeira tambmforamutilizadas

    duranteoexameclnico.Ossujeitosficavamdeitadosemumacadeiraodontolgicaadaptada

    (foto3anexoE)nomomentoemqueeramexaminados.Acomunidadeparticipounadeciso

    daescolhadolocalondeseriamfeitososexames.

    Osprocedimentosdebiosseguranaforamdevidamenteseguidos,comoaesterilizao

    deinstrumentais,utilizaodemscaras,gorroseluvasdescartveis.Osdadosobtidospelo

    exameclnico foramregistrados emumaficha (anexoM)por umanotador devidamente

    treinadoeasvariveisobservadasforam:

    CondiodentriaapartirdosndicesceodeCPOD

    35

  • Necessidadedeprtesedental

    Os ndices ceod e CPOD propostos em 1937 por Klein e Palmer so os mais

    utilizadosnoslevantamentosepidemiolgicosparamediroataquedacriedental(Narvai,

    1999).Abaseconceitualdestesndicesconsistenahistriadecrieapartirdaexperincia

    individualdadoena,expressapelototal dedentesousuperfciescomlesesdecrieou

    restauraesduranteoexame,ouquandodaperdadoelementodentriopormotivodecrie

    (Ferreira,2002).

    OdiagnsticoparacriedentalseguiuoscritriosdaOrganizaoMundialdaSade

    (OMS,1999),utilizandonmerosparadiagnsticodedentespermanenteseletrasparadentes

    decduos,considerando:

    0(A)dentehgido:semevidnciadecrieclnicatratadaouno.

    1(B)dentecariado:cavidadeevidente,ouseja,esmaltesocavadoouumassoalhoou

    parededetectavelmenteamolecida.

    2 (C) dente restaurado e com crie: quando existir uma ou mais restauraes

    permanenteseumaoumaisreasqueestocariadas.

    3 (D) dente restaurado e sem crie: quando existir uma ou mais restauraes

    permanentesenoexistircrieempartealguma.

    4(E)denteausentedevidocrie:dentesdecduosoupermanentesquetenhamsido

    extradosporcausadacrie.

    5 (F) dente permanente ausente por outra razo: utilizado para os dentes

    permanentescongenitamenteausentes,ouextradosporquestesortodnticas,oupordoena

    periodontal,ouportraumatismos,ououtrasrazes.

    8()coroanoerupcionada/raiznoexposta:usadoparaumespaodentriocom

    umdente permanente noerupcionadoe semo dente decduo, e indica quea superfcie

    radicularnoestaexposta.

    36

  • 9()excludodentesquenopossamserexaminadosporqualquermotivo,como

    bandasortodnticas.

    Paraavarivelnecessidadedeprtesedentaltambmforamutilizadososcritriosda

    OMS(1999),deacordocomosseguintescdigos:

    0nenhumanecessidadedeprtese

    1necessidadedeprteseunitria

    2necessidadedeprtesedemltiploselementos

    3combinaodeprteseunitriaemltipla

    4necessidadedeprtesetotal

    9noinformado

    Osexamesdoinquritodecriedentalenecessidadedeprteseduravamemtornode

    oitominutoseeramrealizadosporordemdechegada,sendoqueosmaisvelhos,mulheres

    grvidas e crianas tinham prioridade. Vale ressaltar a assiduidade dos Yanomami para

    realizar os exames, pois havia uma preocupao em relao participao dos sujeitos.

    Acreditavase que pelo fato de no haver tratamento odontolgico na ocasio emque o

    trabalho de campo desta pesquisa estava sendo desenvolvido, os Yanomami no iriam

    comparecer aos exames. De fato, existe uma cobrana para com os pesquisadores que

    investigamsobresadebucalemreaindgenapararealizaralgumtipodetratamentoclnico

    duranteseutrabalhodepesquisadecampo,poiscasocontrrio,opesquisadorpodersofrer

    represliasdacomunidadeemrelaosuapesquisa.Duranteestapesquisadecampono

    foramoferecidostratamentosodontolgicoscomunidadeesomenteoscasosdeemergncia

    receberamassistncia odontolgica da nossa parte, sendo que este fato no interferiu na

    participaodossujeitosdapesquisa.

    37

  • 5.5 LEVANTAMENTO DO NDICE DE HIGIENE ORALSIMPLIFICADO

    OndicedeHigieneOralSimplificado(OHIS)estabelecidoporGreeneeVermillion

    em1964foi utilizadoneste estudoparaavaliar ahigienebucalnacomunidadedoMai.

    ForamexaminadososYanomaminafaixaetriade7a76anosdeidade.Estafaixaetria

    investigadasedeveaofatodequeparaelaboraodoOHISsomentesoutilizadosseis

    dentesndicespermanentes,sendoassim,estafaixaetriafoiaquelaqueseenquadroudentro

    doscritriosparaarealizaodestelevantamento.

    OOHISconsiste emdoiscomponentesdistintos, ondicedeIndutoSimplificado

    (DIS)eondicedeClculoSimplificado(CIS),registradosapartirdasseguintessuperfcies

    dentrias11(CarranzaeNewman,1998):

    Vestibulardoprimeiromolarsuperiordireito(16)

    Vestibulardoincisivocentralsuperiordireito(11)

    Vestibulardoprimeiromolarsuperioresquerdo(26)

    Vestibulardoincisivocentralinferioresquerdo(31)

    Lingualdoprimeiromolarinferioresquerdo(36)

    Lingualdoprimeiromolarinferiordireito(46)

    No caso de ausncia dos dentes requeridos para o exame ou dos mesmos se

    apresentaremcariadosourestaurados,substituisepelodentesubseqente(GuareFranco,

    1998).

    OcomponentendicedeIndutoSimplificadomedeaextensocoronriadosdepsitos

    molesatosprimeiro,segundoeterceiroterosdafacevestibularoulingualdosdentes.Jo

    ndicedeClculoSimplificadomedeaextensocoronriacorrespondentedoclculosupra

    gengivalouumafaixadeclculosubgengival(Lindhe,1989).

    1111Odentepossuiquatrosuperfcies:vestibular,lingualoupalatina,mesialedistal.Pinto,V.G.,2000.Identificaodeproblemas.Em:SadeBucalColetiva.SoPaulo.EditoraSantos.152156,537p.

    38

  • OsndicesdeIndutoSimplificadoedeClculoSimplificadovaloramde0a3,de

    acordocomoscritriosdescritosporGreeneeVermillion(1964),conformeosquadrosIIIe

    IV:

    QuadroIIICritriosparaclassificarondicedeIndutoSimplificado

    CritriosparaclassificaroDIS0 Ausnciadedepsitosmoles

    1 Depsitos moles que cobrem at um tero da superfcie dentria, ou presena depigmentaoextrnseca

    2 Depsitosmolesquecobremmaisdeumterodasuperfciedentria,podendocobriratosegundotero

    3 Depsitosmolesquecobremmaisdedoisterosdasuperfciedentria

    Fonte:Greene,J.C.;Vermillion,J.R.Simplifiedoralhygieneindex.JAmDentAssoc,v.68,n.1,p.713,Jan.1964.

    QuadroIVCritriosparaclassificarondicedeClculoSimplificado

    CritriosparaclassificarCIS0 Ausnciadeclculo

    1 Clculosupragengivalquecobreatumterodasuperfciedentria

    2 Clculo supragengival quecobremais deumterodasuperfcie dentria, podendocobrirateosegundotero,oupresenadepontosindividuaisdeclculosubgengivalaoredordaporocervicaldodente,ouambos

    3 Clculosupragengivalquecobremaisdedoisterosdasuperfciedentria,oupresenadeumabandagrossacontnuadeclculosubgengivalaoredordaporocervicaldodente,ouambos

    Fonte:Greene,J.C.;Vermillion,J.R.Simplifiedoralhygieneindex. JAmDentAssoc,v.68,n.1,p.713,Jan.1964.

    OndicedeIndutoSimplificadoobtidopelasomadosvaloresencontradosemcada

    superfciedentria,divididopelonmerodesuperfciesexaminadas.Paracalcularondicede

    ClculoSimplificadoseutilizadestemesmocritrio.

    OvalordondicedeHigieneOralSimplificadoasomadosvaloresdeDISeCIS.

    O OHIS pode ser analisado a partir dos seguintes critrios representados no quadro V

    (CarranzaeNewman,1998;Lindhe,1992):

    39

  • QuadroVRefernciaparaondiceHigieneOralSimplificado

    ndicedeHigieneOralSimplificado(OHIS)

    ValoresOHIS Critrio

    0,01,2 Higienebucaladequada

    1,33,0 Higienebucalaceitvel

    3,16,0 Higienebucaldeficiente

    Fontes: Carranza, F.; Newman, G. Periodontia Clnica. 8 ed. Rio de Janeiro: GuanabaraKoogan, 1998. p.458. Lindhe, J. Tratado de Periodontologia Clnica. 2 ed., GuanabaraKoogan,RiodeJaneiro,1992.

    Cadasujeitofoiexaminadodeformasistemticaeordenada,ouseja,numprimeiro

    momento eram analisados todos os elementos dentais em relao crie dental e num

    segundomomentoeramexaminadasassuperfciesdentriasprdeterminadasparaobtero

    ndicedeHigieneOralSimplificado.Osexamesparaavaliaodahigieneoralforamfeitos

    atravsdeobservaovisualsobluznaturaleluzartificialbrancadeumalanternapresa

    cabea.Osdadosforampreenchidosemumaficha(anexoN)porumanotadordevidamente

    treinadoeoexameparaolevantamentodoOHISduravaemtornode5minutos.

    Paramediraextensodosdepsitosmolesedoclculosupragengivalesubgengival,

    foramutilizadosumapinaclinica, algodo,umasondaexploradoradepontarombaCPI,

    umacuretaperiodontaleumespelhobucal.

    Osdepsitosmolesforamidentificadosapartirdaraspagemdassuperfciesdentais

    comumacuretaperiodontal.Paraverificarapresenadeclculosubgengival,foiutilizadaa

    sonda exploradora de ponta rombaCPI, introduzindoa na parte distal do sulco gengival

    percorrendoatapartemesial,verificandoapresenaeaextensodoclculosubgengival.

    Oexameclnicodosindivduosquepassarampelaavaliaodahigieneoraldurava

    em mdia 13 minutos, pois eram usados 8 minutos para o inqurito de crie dental e

    necessidadedeprtesee5minutosparaaavaliaodosdentesndicesparaolevantamento

    doOHIS.

    40

  • 5.6INQURITOALIMENTAR

    Oconhecimentodadietafundamentalparacompreenderasituaodasadebucal

    emumdeterminadocontexto,jqueocomprometimentodasdoenasbucais,emespeciala

    criedental,encontraseintimamenterelacionadaaoconsumoalimentar(Tomitaetal,1999).

    Oestudorealizadopor Leite (2004)sobreprticas alimentares e nutrioentre os

    ndiosWari`(Pakaanova)dosudoesteamaznicofoiusadocomorefernciaparaconstruira

    metodologiadeinvestigaodoconsumoalimentarnacomunidadedoMai.

    Paraoinquritoalimentardestapesquisaforamselecionadosquatrodomicliosapartir

    dosseguintescritrios:recebimentodesalrio(ouno)poralgumapessoadodomiclio,o

    chefe domiciliar ser considerado uma liderana na comunidade (ou no), atividades

    remuneradas(ouno)efreqnciaescolar(ouno).Afamiliaridadedosdomiciliadoscom

    nossapresenatambmfoiumdoscritriosconsideradosnaseleododomiclio.

    Para fins de anlises, distribumos os alimentos em duas categorias:

    industrializados/no industrializados. Esta categorizao foi feita devido o alimento

    industrializado possuir maior potencial cariognico do que os alimentos naturais,

    influenciandonaprevalnciadacriedental(Lzaroetal,1999).Dessaforma,procuramos

    verificarseexistecorrelaoentreoconsumodealimentosindustrializadoseondicedecrie

    dentalentreaspessoasdosdomicliosinvestigados.

    NoperododeumanotrabalhandocomocirurgiodentistanaregiodorioCauaburis,

    fazendopartedaequipemultidisciplinardesadeindgenadoIBDS,tiveaoportunidadede

    conhecerumpoucodalngualocal,deidentificarmuitositensalimentaresconsumidospelos

    Yanomami, de estabelecer certa familiaridade com os habitantes e de um modo geral,

    observaroestilodevidadosYanomami.Portanto,estaexperinciafavoreceuacoletados

    dadosreferentesaoconsumoalimentardaspessoasdosdomicliosinvestigados.

    Oregistrodosdadosqualitativosincluiuadescriodositensalimentaresconsumidos

    duranteumperododetrsdiasnoconsecutivosnoambientedomsticodecadadomicilio

    selecionado.Estaetapadapesquisadecampoocorreuapsoinquritoepidemiolgicode

    criedentaleaavaliaodahigieneoral.

    41

  • As tcnicas de observao direta e conversas informais foram usadas para o

    levantamentodosdadosqualitativos.Opteiporpermaneceremcadamoradiadurantetodoo

    dia. Logo, chegava ao domicilio entre 5h 30min e 6h, geralmente horrio em que os

    Yanomami despertavam e terminava as atividades junto aos domiciliados aps a ltima

    refeiododia,usualmenteentre20h30mine21h.EntreasfamliasYanomamiobservadas,

    asduasprincipaisrefeies(aprimeiraealtimadodia)eramfeitasdentrodosdomicliose

    osdomiciliadossereuniamparacompartilharemdestasduasrefeies.

    Foramtotalizadascercade180horasdeobservaodireta,acompanhando24pessoas

    durante12dias.Oregistrodoconsumoalimentardaspessoasquedeixavamodomiclioeno

    eramacompanhadasfoifeitoatravsdeconversasinformaisquandoestasretornavam.Desse

    modo, o consumo extra domiciliar de todos os indivduos dos domiclios investigados

    tambmfoicontemplado.

    Oregistrodoconsumoalimentarfoifeitoapartirdaaceitaodoschefesdascasase

    dos domiciliados de que essa atividade seria desenvolvida em suas moradias conforme

    previstonoprojetodepesquisa. Apenas umapessoadas25quehabitavamosdomiclios

    selecionadosnoaceitoufazerpartedainvestigao.Nestesdiasquepasseinosdomiclios

    observandooconsumodositensalimentares,semprecompartilhavadasrefeiesfeitaspelos

    Yanomami.

    Apesardetodososesforosdesprendidosparaminimizarasimprecises,identificoa

    limitaodesteestudoparaoregistro dositensalimentares consumidos, poisapenasuma

    partedositensquefazempartedadietaYanomamipodeserlevantada, tendoemvistaa

    variaosazonal,porexemplo,quepodeserumimportantedeterminantenavariabilidadede

    itensalimentaresconsumidospelosYanomamiemdiferentesperodosdoano.

    Entretanto,mesmoqueporumcurtoperododeobservao,foipossvelconstataro

    consumo de alimentos industrializados entre os Yanomami do Mai e procurar a correlao entre o consumo alimentar dos integrantes dos domiclios investigados e os ndices de crie dental. Alm disso, durante as observaes feitas na investigao dos itens alimentares, foi possvel constatar particularidades relacionadas sade bucal em um contexto tnico especifico como horrios de escovao, cuidados com as escovas e cremes dentais, modo como realizam a higiene oral, e outras.

    42

  • 6.RESULTADOS

    No levantamento epidemiolgico de crie dental foram obtidos dados de 367

    Yanomami,oquecorrespondea83%dapopulaodacomunidadedoMai.Destetotal,254

    passarampeloexamedeavaliaodahigieneoral, ouseja, 53%dosYanomamidoMai

    participaram do levantamento do ndice de Higiene Oral Simplificado. Para este ltimo

    levantamentosoconsideradossomenteseisdentesndicespermanentes, noanalisandoa

    dentiodecdua,portanto,onmerodepessoasexaminadasinferioraonmerodepessoas

    que passarampelo inqurito de crie dental. A tabela 2 apresenta o total de Yanomami

    examinadosparaolevantamentoepidemiolgicodecriedentalestratificadoporsexoefaixa

    etria.

    Tabela 2: Total de Yanomami examinados para o levantamento epidemiolgico de criedentalporfaixaetriaesexo.AldeiaMai,TIYanomami,Amazonas2007.

    Yanomamilev.ep.criedentalfxet. masc. fem. totalex.

    1a3anos 20 24 44

    4a11 45 53 98

    12a19 28 31 59

    20a29 31 39 70

    30a39 20 14 34

    Acimade40anos 35 27 62

    Total 179 188 367

    6.1INQURITOEPIDEMIOLGICODECRIEDENTAL

    43

  • Atabela3mostraasmdiasdosndicesceodeCPODesuascomposiesapartirda

    freqnciaabsolutadosdentescariados(c),perdidos(p),obturados(o)edentesdecduoscom

    extraoindicada(ei).Asfaixasetriasusadasnestatabelacorrespondemquelasindicadas

    pelaOMSparalevantamentosbsicosemsadebucal(OMS,1999).Observasequeaos5

    anoseacimade60anostemososmaioresvaloresparaosndicesceodeCPOD,5,67e8,75

    respectivamente. Apenas nas faixas etrias de 35 a 44 e acima de 60 anos de idade o

    componenteperdidoapresentamaiorvaloremrelaoaoscomponentescariadoseobturados.

    Nasdemais idades, osdentes cariados apresentamosmaioresvalores nacomposiodos

    ndicesceodeCPOD.Apartirdos12anosverificasequeoCPODaumentacomaidade,

    2,3aos12anos,2,46dos15aos19anos,3,76dos35a44anose8,75paraasidadesacima

    60anos.

    Tabela3:MdiasdosndicesceodeCPODporcomponente(dentescariados,perdidos,obturadosecomextraoindicada)eporfaixaetriadereferenciadaOMS.AldeiaMai,T.IYanomami,Amazonas,2007.

    faixaetria n cariado(c) perdido(p) obturado(o)

    extrao

    indicada

    (e.i)

    ceod

    (mdia)

    CPOD

    (mdia)

    18a36meses 44 0,93 0,18 0,14 0,05 1,30 5anos 12 2,17 1,92 1,00 0,75 5,67 12anos 10 1,00 1,00 0,50 2,3015a19anos 35 0,89 0,86 0,71 2,4635a44anos 25 0,84 2,52 0,40 3,76Acimade60 16 3,19 5,50 0,06 8,75

    Natabela4estapresentadaacomposiodondiceceodparaasfaixasetriasat4

    anos, 5 anos e 6 a 11 anos, emvalores absolutos e comos respectivos desvio padro,

    coeficientedevariaoeintervalodeconfiana.

    Observasequeamdiadoceoddecrianasat4anosde1,46comumintervalode

    confiana a 95% [0,85 ; 2,06]. Atravs do teste tstudent verificase uma diferena

    estatisticamentesignificantedestaclasseemrelaosclassesde5anose6a11anos,onde

    observamos uma mdia do ceod igual a 5,67 [3,42 ; 7,91] e 4,02 [3,22 ; 4,81]

    respectivamente.

    44

  • Tabela4:Mediadondiceceodporcomponente(dentescariados,perdidos,obturadosecomextraoindicada)eporfaixaetriacomdesviopadro,coeficientedevariaoeintervalodeconfiana.AldeiaMai,T.IYanomamiAmazonas,2007.

    faixaetria n cariado perdido obturadoextra

    oindicada

    ceod

    mdia dp cv IC95%

    at4anos 59 0,95 0,20 0,20 0,14 1,462,36

    6162,3

    %0,85

    2,06

    5anos 12 2,17 1,92 1,00 0,75 5,673,96

    2 69,9%3,42

    7,91

    6a11anos 71 1,79 1,48 0,76 1,30 4,023,43

    5 85,5%3,22

    4,81

    OgrficoIpermitevisualizaressadiferenaestatisticamentesignificante,descritaa

    partirdotestetstudent,entreovalordondiceceodparaascrianasat4anosdeidadeeo

    valordondiceceodnosdemaisgruposetriosinvestigados.

    GrficoI:Relaodesignificnciaentreceodefaixaetria.AldeiaMai,T.IYanomami,Amazonas,2007.

    CEO

    0123456789

    At4anos 5anos 6a11anos

    Natabela5apresentadaacomposiodoCPODparaasfaixasetrias12anos,13a

    19anos,20a39anoseacimados40anosemvaloresabsolutoscomosrespectivosdesvio

    padro,coeficientedevariaoeintervalodeconfiana.

    ObservasequeamdiadoCPODaos12anos2,30comumintervalodeconfiana

    a95%[0,81;3,79]equedos13aos19anosoCPOD iguala2,39[1,84;2,94],dessa

    forma,notaseapartirdoteste tstudent quenohdiferenaestatisticamentesignificante

    entreoCPODdestasidades.Entreafaixaetria20a39anoseacimade40ondeosvalores

    45

  • deCPODencontradosforam4,94[4,20;5,69]e5,05[3,66;6,44],verificaseatravsdo

    teste tstudent quetambmnoexistediferenaestatisticamentesignificanteemrelaoao

    CPODparaestasduasfaixasetrias.Entretanto,osvaloresdeCPODdasfaixasetriasde

    12edos13aos19apresentamdiferenaestatisticamentesignificantesecomparadascomos

    ndicesCPODdasfaixasetriade20a39eacimade40anosdeidade.

    Tabela5:MdiadondiceCPODporcomponente(dentescariados,perdidoseobturados)eporfaixaetriacomdesviopadro,coeficientedevariaoeintervalodeconfiana.AldeiaMai,T.IYanomami,Amazonas,2007.

    faixaetria n cariado perdido obturadoCPOD

    mdia dp cv IC95%12anos 10 1,00 1,00 0,50 2,30 2,41 1,05 0,81 3,7913a19anos 49 0,88 0,84 0,94 2,39 1,96 0,82 1,84 2,9420a39anos 104 1,05 2,88 1,01 4,94 3,88 0,79 4,2 5,69acima40 62 1,29 3,71 0,05 5,05 5,57 1,10 3,66 6,44

    OgrficoIIpermitevisualizaressadiferenaestatisticamentesignificante,confirmada

    apartirdoteste tstudent,entreovalordondiceCPODdasfaixasetriasde12e13a19

    anoseovalordondiceCPODdosgruposetriosde20a39anoseacimade40anos.

    GrficoII:RelaodesignificnciaentreosvaloresdeCPODporfaixaetria.AldeiaMai,T.IYanomami,Amazonas,2007.

    CPO

    0123456789

    12anos 13a19anos 20a39anos acimade40

    Atabela6apresentaumacomparaoentreosresultadosdosndicesceodeCPOD

    porsexo.ObservasequeasmdiasdoceodeCPODparaosexomasculino, 3,3e4,0

    respectivamente,somaioresemrelaosmediasdoceoeCPODdosexofeminino,2,8

    para os dois ndices. A partir do teste tstudent verificouse que existe uma diferena

    46

  • significativaentreosdoissexosparaosvaloresdeCPOD,enquantoqueparaosvaloresdo

    ndiceceodnofoiencontradadiferenasignificativaentreossexos.

    Tabela 6: Mdias dos ndices ceod e CPOD por sexo. Aldeia Mai, T.I Yanomami,Amazonas,2007.

    sexo ceod CPOD

    n mdia dp n mdia dp

    mas. 62 3,3 3,47066 147 4 4,603433

    fem. 76 2,8 3,29047 150 2,8 3,276272

    6.2 LEVANTAMENTO DO NDICE DE HIGIENE ORALSIMPLIFICADO

    Natabela7observamseosvaloresdondicedeHigieneOralSimplificado(OHIS)e

    de seus componentes, o ndice de Induto Simplificado (DIS) e o ndice de Clculo

    Simplificado(CIS)emvaloresabsolutoseporfaixaetria.VerificasequeoOHISaumenta

    comaidade,acompanhandoamesmatendnciadosvaloresdeCPODparaasmesmasfaixas

    etrias.OmaiorvalorencontradoparaondicedeHigieneOralSimplificadofoide1,73para

    afaixaetriaacimados60anosdeidade,indicandoumahigienebucalaceitvel.Asdemais

    faixasetriasapresentaramOHISabaixode1,3indicandoumahigienebucaladequada.

    Tabela7:MdiadondicedeHigieneOralSimplificadoporcomponente(ndicedeIndutoSimplificadoe ndicedeClculo Simplificado) e por faixa etria dereferncia daOMS.AldeiaMai,T.IYanomami,Amazonas,2007.faixaetria n DIS(mdia) CIS(mdia) OHIS(mdia)12anos 10 0,43 0,05 0,4815a19anos 35 0,48 0,25 0,7235a44anos 25 0,39 0,89 1,28Acimade60 16 0,78 0,95 1,73

    Atabela8mostraosvaloresparaondicedeHigieneOralSimplificado(OHIS)eos

    ndices que o compem, o ndice de Induto Simplificado (DIS) e o ndice de Clculo

    Simplificado(CIS),emvalorabsolutoeporsexoparaoconjuntodasfaixasetriasdescritas

    47

  • natabela7.VerificasequeoOHISdosexomasculino1,17maiordoqueoOHISdosexo

    feminino0,74.Mesmoassim,ambosossexosapresentamadequadahigienebucaldeacordo

    comarefernciaparaosvaloresdoOHISutilizadosnesteestudo.

    Tabela8:MdiadondicedeHigieneOralSimplificadoporcomponente(ndicedeIndutoSimplificado endice deClculo Simplificado) e por sexo. Aldeia Mai, T.I Yanomami,Amazonas,2007.

    sexo n DISmdio CISmdio OHISmdiomasc. 45 0,52 0,64 1,17fem. 41 0,40 0,34 0,74

    Atabela9mostraosvaloresdondicedeHigieneOralSimplificado(OHIS)edos

    ndicesqueocompem,osndicesdeIndutoSimplificado(DIS)edeClculoSimplificado

    (CIS)emvalorabsoluto,porfaixaetriaeporsexoparatodaapopulaoinvestigada.Do

    totaldeYanomamiqueparticiparamdestelevantamento,114sodosexomasculinoe111do

    sexofemininoeamdiadoOHISparaestapopulaofoide1,11e0,99respectivamente.

    Dessa forma, a higiene bucal dos Yanomamida comunidade doMai tanto para o sexo

    masculinoquantofemininoconsideradaadequada.

    Tabela9:ComposiodondicedeHigieneOralSimplificadoporsexoefaixaetria.AldeiaMai,T.IYanomami,Amazonas,2007.

    idade sexo n DIS(mdia) CIS(mdia) OHIS(mdia)

    12a19 mas. 28 0,52 0,20 0,72fem. 31 0,52 0,21 0,73

    20a39 mas. 51 0,40 0,55 0,96fem. 53 0,47 0,44 0,91

    Acimade40 mas. 35 0,64 1,03 1,67fem. 27 0,56 0,88 1,44

    Todos mas. 114 0,50 0,61 1,11fem. 111 0,50 0,49 0,99

    O grfico III mostra o ndice de Higiene Oral Simplificado por componente em

    valores absolutos por faixa etria e sexo. O ndice de Induto Simplificado apresentou o

    mesmo valor de 0,50 para ambos os sexos dos Yanomami que fizeram parte deste

    levantamento,eondicedeClculoSimplificadodosexofemi