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UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA MARCELO ZANETTI LEITE MINERAÇÃO DE AREIA NA VÁRZEA DO RIO PARAÍBA DO SUL: QUADRO ATUAL E IMPACTOS SOCIOAMBIENTAIS VIÇOSA MG 2016

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA

MARCELO ZANETTI LEITE

MINERAÇÃO DE AREIA NA VÁRZEA DO RIO PARAÍBA DO SUL: QUADRO

ATUAL E IMPACTOS SOCIOAMBIENTAIS

VIÇOSA – MG 2016

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MARCELO ZANETTI LEITE

MINERAÇÃO DE AREIA NA VÁRZEA DO RIO PARAÍBA DO SUL: QUADRO

ATUAL E IMPACTOS SOCIOAMBIENTAIS

Monografia apresentada a Universidade Federal de Viçosa, como parte das exigências do Curso de Pós-Graduação Lato Sensu em Recuperação de Áreas Degradadas, para a obtenção do título de Especialista em Recuperação de Áreas Degradadas.

Orientador: Igor Rodrigues de Assis

VIÇOSA – MG

2016

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RESUMO

A mineração de areia no Vale do Paraíba tem grande importância para o

desenvolvimento social e econômico do Brasil, sendo praticada desde a década de

50. A intensa exploração, que ocorria de forma desordenada e sem o devido

controle pelo governo até meados dos anos 90, gerou grandes impactos ambientais

e diversos conflitos sociais. Com a edição de normas estaduais relacionadas ao

licenciamento e ao zoneamento ambientais, específicas para a mineração de areia

na várzea do Rio Paraíba do Sul, somados ao aumento da fiscalização, houve uma

melhora no quadro geral em relação a legalização da atividade e restauração

ambiental. Quanto melhor for o planejamento da atividade de exploração e da

definição dos objetivos para o uso futuro das áreas degradadas, menores serão os

custos necessários para sua recuperação ambiental. Destaca-se que as ações de

recuperação ambiental devem ser incentivadas em toda a bacia hidrográfica, visto a

relação entre os diferentes usos dos recursos naturais e seus impactos ambientais.

Devido à importância da bacia hidrográfica do Rio Paraíba do Sul no abastecimento

de água, geração de energia elétrica, agropecuária e mineração, existem diversos

programas e ações do governo que devem ser geridos de forma integrada, visando

o uso racional dos recursos naturais. A importância econômica e social da

exploração dos bens minerais é indiscutível, portanto deve-se buscar a

sustentabilidade da atividade de mineração, que conserve o meio ambiente por meio

da recuperação das áreas degradadas, com maior envolvimento dos setores da

sociedade na gestão dos recursos naturais.

Palavras-chave: Restauração Ecológica, exploração mineral, recuperação de áreas

degradadas.

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ABSTRACT

Sand mining in the Paraíba Valley has great importance for the social and economic

development of Brazil, being practiced since the 1950’s. The intense exploration that

occurred in a disorderly manner and without proper control by the government until

the mid nineties, generated major environmental impacts and various social conflicts.

With the enactment of state standards related to the license and environmental

zoning, specific to the sand mining in the floodplain of the Paraíba do Sul River, in

addition to increased inspections, there was an improvement in the overall framework

in relation to legalization of activity and ecological restoration. The better the planning

of mineral working and the definition of the goals for the future use of degraded

areas, the lower the costs necessary for their environmental recovery. It is important

to note that the environmental recovery actions should be encouraged throughout the

watershed, taking into account the relationship between the different uses of natural

resources and environmental impact. Due to the importance of the watershed of the

Paraíba do Sul River in water supply, power generation, agriculture and mining, there

are various programs and government actions that should be managed in an

integrated manner, to encourage rational use of natural resources. The economic

and social relevance of the mineral working is unquestionable; therefore the

sustainability of the mining must be pursued, to conserve the environment through

recovery of degraded areas, with greater engagement of society in natural resource

management.

Keywords: Ecological restoration, mineral exploration, land reclamation.

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SUMÁRIO

RESUMO ................................................................................................................. 03

ABSTRACT ............................................................................................................. 05

1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 07

2 DESENVOLVIMENTO ......................................................................................... 11

2.1 Aspectos gerais sobre a exploração de areia .................................................... 11

2.2 A bacia hidrográfica do rio Paraíba do Sul ........................................................ 14

2.2.1 Histórico da região do Vale do Paraíba .......................................................... 14

2.2.2 Dados gerais sobre a bacia hidrográfica ........................................................ 16

2.3 Uso dos recursos naturais e seus impactos ambientais .................................... 20

2.3.1 Uso múltiplo dos recursos hídricos ................................................................. 23

2.3.2 Gestão dos recursos hídricos ......................................................................... 25

2.4 A Planície aluvial do Rio Paraíba do Sul ........................................................... 30

2.5 A mineração de areia na várzea do Rio Paraíba do Sul .................................... 33

2.5.1 Aspectos legais e órgãos governamentais relacionados á atividade de

exploração de areia no Vale do Paraíba ....................................................... 37

2.6 Leis relacionadas à mineração e ao meio ambiente ......................................... 39

2.6.1 Legislação estadual relacionada à exploração de areia na várzea do Rio

Paraíba do Sul .............................................................................................. 40

2.7 Impactos ambientais e conflitos socioeconômicos ............................................ 43

2.7.1 Conflitos socioeconômicos ............................................................................. 45

2.8 Recuperação de áreas degradadas pela mineração de areia ........................... 47

2.8.1 Legislação estadual relacionada a recuperação das áreas degradadas pela

mineração ..................................................................................................... 50

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................. 53

4 REFERÊNCIAS .................................................................................................... 55

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1 INTRODUÇÃO

A extração mineral de areia para construção civil no Estado de São Paulo,

especificamente a que ocorre na Bacia do Rio Paraíba do Sul, vem sendo

desenvolvida desde a década de 50 e foi a principal fonte deste recurso mineral para

o desenvolvimento da região, sendo a base do crescimento urbano e industrial das

cidades situadas no Vale do Paraíba e região metropolitana de São Paulo.

Na última década, com as obras do PAC (Plano de Aceleração do

Crescimento, do governo federal) e a economia em crescimento, o setor de

exploração de areia teve aumento expressivo na produção. Porém, com a crise

econômica e política evidenciada em 2015, é esperada uma retração das empresas

no ramo de mineração de agregados para construção civil (areia, brita e argila), já

que são afetadas diretamente pelo desempenho global da economia brasileira.

A exploração de areia só é economicamente viável se for localizada próxima

aos centros urbanos, devido ao alto valor de transporte. Sendo assim, acaba

concorrendo com o crescimento urbano e industrial, gerando conflitos quanto a

ocupação e uso do solo. No Vale do Paraíba, a extração de areia é realizada nas

várzeas do Rio Paraíba do Sul, concorrendo também com a agricultura,

principalmente com a cultura de arroz, amplamente estabelecida na região.

Inicialmente, a exploração no Vale do Paraíba ocorreu no leito do rio e, com o

rápido crescimento na demanda e esgotamento das reservas, passou-se à extração

em cavas submersas na várzea do Rio Paraíba do Sul. Com isso, a alteração na

paisagem se deu de forma mais agressiva, causando maior cobrança por parte da

sociedade para conservação ambiental e recuperação das áreas degradadas.

A atividade de extração de areia, na bacia do Rio Paraíba do Sul, passa pela

aprovação das três estâncias governamentais, sendo o IBAMA (Instituto Brasileiro

do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) e o DNPM (Departamento

Nacional de Produção Mineral) na esfera federal, a CETESB (Companhia Ambiental

do Estado de São Paulo) no âmbito do governo de São Paulo e as prefeituras dos

municípios envolvidos. Neste processo, ocorre excesso de burocracia, onde

cobranças semelhantes são feitas pelos órgãos e a validade das autorizações tem

prazo muito pequeno para atender todas as exigências.

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O IBAMA faz a anuência para pesquisa mineral, atividade de prospecção

anterior a lavra e que possui baixo impacto ambiental. O interessado protocola no

órgão federal um requerimento, junto com o relatório de impactos ambientais,

solicitando a anuência para realizar a pesquisa mineral. Quando o polígono

requerido para lavra incide sobre as unidades de conservação federais, a análise e

anuência da pesquisa mineral fica sob a responsabilidade do ICMBio (Instituto Chico

Mendes de Conservação da Biodiversidade).

A população enxerga a mineração como uma atividade altamente danosa ao

meio ambiente, principalmente em relação aos impactos causados nos cursos

d’água, sendo na maioria das vezes contrária à sua instalação. No município de São

José dos Campos, a extração de areia em cavas não é permitida pela legislação

municipal desde 1994. Seguiu-se assim os anseios da sociedade, em decorrência

dos grandes impactos ambientais causados pela mineração, que ocorria de forma

intensiva e desordenada na época da proibição.

O cenário político e social para o setor não incentiva o empresário a realizar

investimentos mais expressivos e em longo prazo, razão pela qual a maioria das

empresas de extração de areia é de médio e pequeno porte. Embora existam leis

que organizam a atividade de mineração, ainda ocorre a exploração clandestina de

areia na região. A extração é realizada sem o emprego de técnicas que minimizem

os impactos ambientais e sem a execução da restauração ecológica obrigatória,

devido à burocracia e aos elevados custos envolvidos na legalização da atividade e

na recuperação das áreas degradadas.

Os impactos ambientais gerados pela mineração de areia em cavas

submersas são praticamente irreversíveis, uma vez que existe a retirada dos solos e,

após a lavra, ocorre a formação de um lago artificial pelo afloramento do lençol

freático. O que se preconiza na legislação ambiental e no licenciamento ambiental é,

principalmente, a revegetação no entorno do lago, desempenhando a função de

mata ciliar.

Portanto, existem ações que visam diminuir os impactos ambientais e

reintegrar a área na paisagem de forma mais harmoniosa. Outros usos podem ser

dados aos lagos formados, como: recreação, piscicultura, construção de

condomínios, abastecimento e irrigação. Tais atividades dependem de licenciamento

ambiental e da qualidade das águas, determinado pelo monitoramento e análise de

parâmetros previstos na legislação ambiental.

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Vale lembrar que os impactos ambientais no Rio Paraíba do Sul não são

exclusivos das atividades de mineração. Pelo contrário, existem outras fontes de

degradação que são tão ou mais danosas ao meio ambiente e ocorrem em toda a

bacia hidrográfica, refletindo no seu rio principal: desmatamento de matas ciliares e

demais florestas existentes, erosão causada pelas atividades agrícolas e pecuárias

gerando assoreamento dos rios, contaminação dos cursos d’água com agrotóxicos,

produtos químicos das indústrias e esgoto das cidades, obras de engenharia para

retificação do leito do rio, construção de barragens, transposições de bacias

hidrográficas e consumo excessivo de águas superficiais e subterrâneas.

Na atualidade, existe uma grande preocupação social em relação ao uso e à

conservação dos recursos hídricos, principalmente em relação ao abastecimento de

água para consumo nas grandes cidades. O Rio Paraíba do Sul é a fonte mais

importante no abastecimento de água nas cidades do Vale do Paraíba, inclusive de

vários municípios e parte da capital do estado do Rio de janeiro, ocorrendo forte

cobrança de governos e sociedade para sua conservação.

A pressão social tem forçado o governo a realizar ações que visem a

efetividade da recuperação ambiental pelos empreendimentos de mineração de

areia, devido ao importante papel ecológico da vegetação implantada em locais

ambientalmente sensíveis, como a várzea do Rio Paraíba do Sul.

O presente trabalho visa contextualizar o quadro atual da mineração de areia

na região, tratando de seus aspectos legais, dos conflitos sociais e dos impactos

ambientais desencadeados pela atividade. Serão apresentadas diferentes formas de

minimização dos impactos ambientais e de recuperação ambiental, principalmente o

que preconiza a legislação em vigor, e possíveis ações para fortalecimento da

gestão ambiental pelo governo.

O objetivo dessa pesquisa foi realizar uma revisão bibliográfica sobre o tema,

mostrando ainda a experiência de gestão ambiental adotada pelo estado de São

Paulo, em relação à exploração de areia no Vale do Paraíba. O cenário atual

demonstra que existem condições favoráveis para a sustentabilidade da atividade,

conciliando o desenvolvimento econômico com a conservação ambiental, desde que

haja engajamento de todos os setores envolvidos.

A maior presença do governo e a atual legislação ambiental obrigam os

empresários a investirem mais em recuperação ambiental, durante todo processo de

exploração de areia. Com isso, é possível uma convivência mais harmoniosa da

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atividade de exploração de areia com o meio ambiente, além de modificar a visão

negativa da sociedade em relação às empresas de mineração.

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2 DESENVOLVIMENTO

2.1 Aspectos gerais sobre a exploração de areia

A areia é um material de origem mineral, formado basicamente por partículas

de quartzo e faz parte do grupo de agregados para uso direto na construção civil,

que são os materiais granulares usados como preenchimento em argamassa e

concreto nas obras civis. Exemplos de agregados para uso na construção civil são:

areia, cascalho, pedra britada, areia artificial (produzida através da moagem de

resíduos das pedreiras), argilas expandidas, dentre outros (ANEPAC, 2016).

No Brasil, ocorrem basicamente três formas de extração de areia,

dependendo da formação e condições do depósito natural: extração em leito de rio,

extração em cava seca ou submersa e extração por desmonte hidráulico de

barrancos. Na extração em leito de rio e em cavas submersas, a exploração ocorre

por dragagem do material arenoso depositado no fundo dos rios e lagos formados

pelas cavas (ANEPAC, 2016).

A extração de areia em leito de rio é a que causa menor impacto ambiental,

desde que seja considerada a capacidade natural de reposição do banco de areia e

evitado o comprometimento das margens dos rios. Porém, quando praticada de

forma excessiva e sem planejamento, pode causar alteração no regime hídrico do

rio, através do rebaixamento da sua calha e instabilidade das margens, causando

erosão e desbarrancamento, perda de vegetação ciliar e comprometimento de obras

de engenharia, como pontes e barragens (MECHI e SANCHES, 2010).

Importante destacar o caráter benéfico ao meio ambiente proporcionado pela

extração de areia em leito de rios assoreados, objetivando a restauração da vazão

natural na calha do rio. Evitam-se assim as graves consequências ambientais às

áreas marginais dos rios, causadas pelo assoreamento, principalmente em relação

às enchentes e inundações. Essa extração geralmente é realizada pelas prefeituras

dos municípios afetados pelo problema das enchentes, em ações corretivas de

desassoreamento e na prevenção das inundações do rio Paraíba do Sul, sendo que

a areia pode ser utilizada em obras públicas no próprio município.

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As outras formas de exploração envolvem remoção do solo superficial e da

vegetação, com maior potencial para causar assoreamento dos rios, além de gerar

grande alteração na paisagem natural. A mineração de areia em leito de rio deve ser

constantemente monitorada, pois se for praticada de forma muito intensiva poderá

provocar danos ambientais mais graves e de difícil recuperação ambiental.

A extração de areia em encosta de morro consiste na escarificação e

posterior desmonte hidráulico de rochas sedimentares (arenitos), através de jatos de

água de alta pressão, sendo o beneficiamento realizado por peneiramento em meio

aquoso (ANEPAC, 2016). Dependendo das características de drenagem do terreno

e da proximidade com os cursos d’água, este método de extração apresenta grande

potencial para causar assoreamento dos rios.

O processo de extração de areia em cava submersa consiste na retirada

superficial de solo, geralmente formado pela camada argilosa, que é separada para

uso em aterros dentro do empreendimento. Após atingir o nível do lençol freático,

ocorre a formação de um lago, onde é realizada a extração de areia através de

dragagem com balsas flutuantes. A areia extraída é transportada e depositada para

secagem por meio de tubulação, formando montes de areia nas margens do lago.

Dependendo da qualidade da areia e dos equipamentos da empresa, ainda pode ser

feita a lavagem e a classificação da areia através de peneiração, decantação ou com

o uso de hidrociclones (ANEPAC, 2016).

Os principais impactos gerados pela mineração, especialmente em relação à

extração de areia, dependem da forma e intensidade de exploração. Dentre os

principais impactos, pode citar: desmatamento, erosão, desbarrancamento de

margens, assoreamento, destruição de matas ciliares, perda de biodiversidade,

afugentamento de fauna, formação de lagos artificiais nas cavas de areia

encerradas, conflitos com o uso e a ocupação do solo, fluxo intenso de caminhões

nas estradas, poluição sonora, poluição do ar, degradação da paisagem, poluição

das águas com óleos e combustíveis e aumento da turbidez causado pelo acúmulo

de sedimentos (BITAR, 1997).

A atual produção de areia no Vale do Paraíba é realizada, em quase sua

totalidade, através de cavas submersas (Figura 1) localizadas na planície aluvial do

Rio Paraíba do Sul, principalmente entre os meandros abandonados pelo rio,

também denominados de cinturões meândricos. A extração comercial de areia,

licenciada no leito do rio, ainda ocorre em raras exceções, em áreas que possuem

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condições específicas e sujeitas ao assoreamento, definidas através da realização

de estudos e levantamentos sobre o comportamento do banco de areia (SMA,

2008).

Figura 1 - Foto das cavas de areia inativas no trecho próximo a São José dos Campos. Fonte: Jornal O VALE, 14/05/2014 - Foto: Rogério Marques.

Além da areia natural, existe no mercado a areia artificial ou britada,

produzida através da moagem (britagem) de rochas e resíduos da exploração em

pedreiras. O processamento consiste na britagem da rocha até o tamanho desejado

das partículas, geralmente menores que 4,8 mm. Após a lavagem, onde são

retiradas as partículas mais finas, a areia artificial apresenta excelentes qualidades

para uso como agregado, possuindo uma granulometria mais homogênea, formato

mais angular das partículas e livre de resíduos orgânicos (COSTA, 2005). Além

disso, tem importante papel para conservação dos recursos naturais, considerando a

diminuição na pressão exploratória das reservas naturais de areia e otimização da

mineração nas pedreiras.

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2.2 A bacia hidrográfica do rio Paraíba do Sul

Embora o foco deste trabalho seja a extração de areia que ocorre na várzea

do Rio Paraíba do Sul, em sua porção paulista, é importante conhecer a bacia

hidrográfica em sua integridade. Os recursos hídricos da bacia hidrográfica sempre

são considerados os de maior importância e prioridade, visto que são fundamentais

em várias atividades humanas e para sua sobrevivência.

Estando localizada em três estados importantes da região sudeste, em áreas

densamente povoadas, é esperado o uso intensivo dos recursos naturais na bacia

do Rio Paraíba do Sul, com os consequentes danos ambientais gerados pelas

diversas atividades humanas. Também, como reflexo de sua importância regional

em relação ao abastecimento, existe grande quantidade de normas, leis, órgãos

governamentais e entidade civis que atuam no planejamento e monitoramento do

uso dos recursos hídricos.

Os impactos ambientais não ocorrem de forma pontual, mas como uma soma

de causas e efeitos, sendo que suas consequências sempre afetam as áreas

adjacentes a área degradada, em um efeito em cadeia. Portanto, toda degradação

ambiental em solos ou cursos d’água, que ocorre na área da bacia hidrográfica, é

refletida no Rio Paraíba do Sul, visto que é seu principal curso d’água e recebe todo

o fluxo de escoamento das sub-bacias.

Por essas razões, as bacias hidrográficas são consideradas unidades

espaciais de planejamento, delimitando-se assim a abrangência das ações

relacionadas nos planos hidrográficos e na gestão ambiental dos recursos naturais.

2.2.1 Histórico da região do Vale do Paraíba

Durante o século XVI até o final do século XVII, a região era utilizada como

rota para os que se dirigiam do Rio de Janeiro a Minas Gerais e São Paulo,

interligando a fonte de riqueza (ouro de Minas Gerais) até o litoral, com destino a

Portugal. As principais cidades que conhece hoje do Vale do Paraíba: Taubaté,

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Guaratinguetá, Jacareí, Pindamonhangaba, São José dos Campos e Caçapava,

tiveram início antes do fim do século XVIII, como pequenas vilas (TEIXEIRA, 1999).

A cultura de café se instalou no Vale do Paraíba desde o início do século XIX

e prosperou por quase um século. Por volta de 1.840, o Vale do Paraíba produzia

80% do café de todo o estado de São Paulo (TEIXEIRA, 1999). O declínio da

cafeicultura na região deu-se em razão do fim da escravidão no Brasil em 1.888, a

superprodução e a queda dos preços no mercado mundial no início do século XX,

que culminou com a quebra da bolsa de valores de Nova Iorque em 1.929. Ainda

sobre o declínio da cultura cafeeira, Teixeira (1999, p.26) complementa:

As terras cansadas das colinas foram dominadas pelos pastos e a pecuária passou a constituir, desde então, a maior riqueza da região. As plantações passaram a dominar nas várzeas, onde se desenvolveu a produção de arroz a partir de 1.920, passando a principal produto agrícola da região; esta produção, entretanto, estava sujeita às enchentes periódicas do rio Paraíba do Sul.

Com a implantação da cultura cafeeira, houve intensa destruição da Mata

Atlântica presente na região para a instalação das lavouras de café e abertura de

grandes fazendas. A região era dominada pelos “Barões do Café” que detinham o

poder econômico e político da região, onde o monocultivo do café era realizado em

grandes latifúndios, com base no trabalho escravo, visando principalmente à

exportação (TEIXEIRA, 1999).

A riqueza acumulada com a cafeicultura na região foi fundamental para

financiar o desenvolvimento econômico e industrial a partir da década de 40. A

instalação da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) na cidade de Volta

Redonda/RJ, para a produção de aço, foi crucial para o desenvolvimento do Vale do

Paraíba, e do país, possibilitando a instalação de diversas indústrias.

Como a região possuía mão de obra, mercado consumidor, estradas para

escoar a produção, recursos como água, energia elétrica, areia em boa quantidade,

e interligava as duas maiores capitais do país, houve um rápido desenvolvimento

econômico e industrial da região, com a expansão das cidades do Vale do Paraíba,

tornando-se o maior polo industrial do Brasil (TEIXEIRA, 1999).

O rápido crescimento das cidades do Vale do Paraíba a partir da década de

50 gerou diversos impactos ambientais como a poluição do ar, do solo e das águas.

O pouco investimento em recuperação ambiental, por parte do setor produtivo e do

governo, até meados dos anos 80, causou graves danos ao meio ambiente,

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principalmente ao Rio Paraíba do Sul, através da poluição de suas águas com

esgotos e efluentes industriais (TEIXEIRA, 1999).

Dada a importância das questões ambientais na conservação dos recursos

hídricos, tem-se aumentado o debate na sociedade e de ações governamentais,

visando o uso racional dos recursos naturais. Obras de saneamento básico,

planejamento da ocupação urbana, zoneamento econômico e social, controle de

poluição, dentre outros, são exemplos de ações que vêm sendo tomadas na bacia

do Rio Paraíba do Sul, frente ao aumento da demanda por água, em quantidade e

qualidade.

A extração de areia no Vale do Paraíba acompanhou o desenvolvimento das

cidades e, devido à intensa exploração ocorrida nas últimas décadas de forma

desordenada, gerou grandes impactos ambientais ao Rio Paraíba do Sul e sua

várzea, causando alterações radicais na paisagem natural.

Atualmente, a atividade está sob forte controle e fiscalização por parte do

governo, estando sujeita a uma legislação mais rigorosa, com efetiva cobrança da

obrigação do empreendedor de realizar a recuperação ambiental após a lavra. Com

o aumento da pressão dos órgãos de fiscalização, muitas empresas que

trabalhavam de forma clandestina, passaram a cumprir a legislação ou tiveram suas

atividades encerradas.

2.2.2 Dados gerais sobre a bacia hidrográfica

A Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul possui aproximadamente 62.074

Km2 e abrange 184 municípios, sendo 88 em Minas Gerais, 57 no Rio de Janeiro e

39 em São Paulo. Dos 52 municípios que são banhados pelo Rio Paraíba do Sul e

seus reservatórios, 28 fazem a captação de água para abastecimento (ANA, 2016).

A área da bacia hidrográfica abrange 4% do estado de Minas Gerais, 5% do

estado de São Paulo e 63% do estado do Rio de janeiro, sendo o Rio Paraíba do Sul

a principal fonte de recursos hídricos utilizados para abastecimento e geração de

energia no estado do Rio de Janeiro, conforme apresentado na Figura 2. (ANA,

2016).

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Figura 2 - Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul. Fonte: Agência Nacional de Águas.

Fonte: Disponível em:<http://arquivos.ana.gov.br/institucional/sag/CobrancaUso/BaciaPBS/_

img/MapaPBS.jpg>. Acesso em: 04 jan. 2016.

Segundo CEIVAP (2016), em correspondência ao Censo Demográfico

realizado pelo IBGE em 2000, a população em toda bacia hidrográfica era estimada

em 5,5 milhões de habitantes, sendo 1,8 milhão em São Paulo, 2,4 milhões no Rio

de Janeiro e 1,3 milhão em Minas Gerais.

O Rio Paraíba do Sul resulta da confluência dos rios Paraitinga e Paraíbuna,

que nascem no estado de São Paulo, nas regiões da Serra da Bocaina a 1800 m de

altitude e na Serra do Mar a 1200 m de altitude, respectivamente, e se unem na

represa de Paraibuna, na extremidade sudeste da bacia hidrográfica (AGEVAP,

2014).

Da nascente do rio Paraitinga (que é seu principal formador), o Rio Paraíba

do Sul percorre 1.150 Km até sua foz, primeiramente na direção nordeste a

sudoeste até a represa de Paraibuna. A jusante da represa, o rio começa a inverter

a direção e, após o município de Guararema/SP e barrado pela Serra da

Mantiqueira, segue na direção sudoeste a nordeste, até desaguar no Oceano

Atlântico, no município de São João da Barra/RJ (AGEVAP, 2014).

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Os principais afluentes da margem esquerda do Rio Paraíba do Sul são os

rios Jaguari, Paraibuna, Pirapetinga, Pomba e Muriaé e da margem direita, os rios

Una, Bananal, Piraí, Piabinha e Dois Rios (AGEVAP, 2014). Todos os rios da bacia

do Rio Paraíba do Sul apresentam diferentes graus de danos ambientais,

relacionados a cada forma de utilização dos recursos naturais e dos impactos

ambientais gerados, como o assoreamento e a poluição dos rios por esgotos,

efluentes químicos industriais e agrotóxicos.

O clima predominante é o subtropical quente e úmido, com variações

determinadas pela altitude, sendo que as regiões mais elevadas possuem

temperaturas mais baixas, ficando a temperatura média mínima abaixo dos 10 ºC.

As maiores temperaturas ocorrem na região noroeste do Rio de Janeiro, na

confluência dos rios Pomba e Paraíba do Sul, ficando as médias máximas em torno

de 32 ºC. A precipitação anual também é bastante variável, ficando acima de 2.000

mm nas áreas montanhosas e mais elevadas, em torno de 1.350 mm na região do

Vale do Paraíba e abaixo de 1.250 mm no curso inferior da bacia (AGEVAP, 2014).

A bacia hidrográfica do Rio Paraíba do Sul está inserida no bioma Mata

Atlântica, que ocupa hoje cerca de 11% da área, onde os remanescentes mais

expressivos (Figura 3) estão restritos às Unidades de Conservação como o Parque

Nacional (PN) da Serra da Bocaína, PN do Itatiaia, PN da Serra dos Órgãos, Área

de Proteção Ambiental (APA) da Serra da Mantiqueira e APA Mananciais da Bacia

do Rio Paraíba do Sul, geralmente em regiões de difícil acesso e relevo mais

acidentado (AGEVAP, 2014).

Ocorrem na bacia duas categorias de florestas: a floresta ombrófila, sob

influência de um clima mais úmido, e a floresta estacional, nas áreas de clima mais

seco durante o inverno. AGEVAP (2014) acrescenta em relação à cobertura vegetal

presente na bacia do Rio Paraíba do Sul:

Do que resta de florestas na bacia, a floresta ombrófila ocupa maior área (67% dos remanescentes), com 52% no trecho paulista, 46 no trecho fluminense e 2% no trecho mineiro. A floresta estacional, que ocorre em maior parte nas sub-bacias dos rios Pomba e Muriaé, apresenta 51% dos seus remanescentes no trecho mineiro, 47% no trecho fluminense e apenas 2% no trecho paulista da bacia. Além das florestas, há na bacia pequenas áreas de outros ecossistemas integrantes do bioma Mata Atlântica: campos de altitude (acima de 1.500 m), vegetação de várzea (quase completamente destruída pelas ocupações com lavouras, mineração, cidades, estradas e

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indústrias) e as restingas e os manguezais no curso final do rio Paraíba do Sul.

Figura 3 - Remanescentes da Mata Atlântica.

Fonte: AGEVAP, 2014.

O Vale do Paraíba situa-se na depressão formada entre a Serra do Mar e a

Serra da Mantiqueira, onde se formaram as bacias sedimentares de Taubaté e

Resende. O relevo encontrado na bacia hidrográfica é bastante diverso, formado

basicamente pelas seguintes unidades geomorfológicas: as planícies inundacionais,

as colinas e os morrotes, os morros altos e alongados e as serras e escarpas

(AGEVAP, 2014).

O mapa apresentado na Figura 4 ilustra as regiões geomorfológicas

encontradas na bacia do Rio Paraíba do Sul, no trecho paulista, mostrando a região

da planície aluvial, na bacia sedimentar de Taubaté, onde ocorre a mineração de

areia. A área representada no mapa está sob influência do Comitê da Bacia

Hidrográfica do Paraíba do Sul (CBH – PS), e corresponde à porção paulista da

bacia hidrográfica.

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Figura 4 - Regiões geomorfológicas presentes na bacia Paraíba do Sul (SP).

Fonte: AGEVAP, 2014, p. 66.

Considerando os diferentes tipos de relevo presentes na bacia, que

apresentam alto potencial para escorregamentos e enchentes, faz-se necessário um

estudo mais detalhado da geomorfologia do terreno para realização de obras e

intervenções humanas, como loteamentos, estradas, pontes, aterros sanitários,

cemitérios, mineração, dentre outras (AGEVAP, 2014).

2.3 Uso dos recursos naturais e seus impactos ambientais

A bacia hidrográfica do Rio Paraíba do Sul está localizada nos estados de

São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro e, portanto, faz-se necessário que sejam

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tomadas ações conjuntas entre os estados, visando o uso e a conservação dos

recursos naturais. Sendo o Rio Paraíba do Sul utilizado no abastecimento de

grandes cidades e regiões industriais, já foram implantados diversos programas e

ações do governo no sentido de planejar o uso racional e a conservação do mesmo.

Os limites da bacia hidrográfica compreendem as regiões do Vale do Paraíba

Paulista e Fluminense, grande parte da Zona da Mata Mineira e Noroeste

Fluminense, que apresentam alto grau de antropização, sendo que a presença da

Mata Atlântica original está restrita às Unidades de Conservação, principalmente em

locais com relevo mais acidentado.

As principais atividades econômicas encontradas na bacia do Rio Paraíba do

Sul são: indústria, comércio, pecuária, agricultura, mineração, reflorestamento,

turismo e lazer. Essas diferentes atividades econômicas refletem os diversos usos e

ocupações dos solos da bacia hidrográfica.

Outro aspecto importante é a utilização de áreas objetivando a conservação

dos recursos naturais, sendo representada pelos fragmentos florestais e pelas

Unidades de Conservação existentes na bacia. A ocupação urbana também está

bastante presente na bacia hidrográfica, sendo grande causadora de conflitos

sociais e impactos ambientais.

No Plano da Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul, foi realizado o

levantamento dos grupos de uso do solo na bacia hidrográfica, em relação a UGRHI

02 (Unidade de Gerenciamento de Recursos Hídricos 02), correspondente ao trecho

paulista da bacia hidrográfica, sendo descrito a seguir (IPT, 2012, p.8):

Na UGRHI 02 predomina a classe de uso do solo campo antrópico (49,9 %), que corresponde a terrenos com predomínio de pastagens de gramíneas, muitas vezes abandonados; há porções significativas ocupadas por mata (41 % da área total classificada) em remanescentes isolados e que são mais expressivos apenas onde o relevo se torna montanhoso, como nas cristas da Serra do Mar e da Serra da Mantiqueira (...); especificamente as matas ciliares, abrangem 0,3 % da área da UGRHI 02 (...); campos úmidos também correspondem a pequena proporção, apenas 0,4 % da área da bacia; as áreas urbanizadas e o reflorestamento, apresentam a mesma porcentagem em relação a área total da UGRHI 02, com aproximadamente 3 % cada uma; as culturas anuais, perenes e semi-perenes representam apenas uma pequena parcela do uso, totalizando 0,4 % (...); a mineração corresponde a 0,1 % e as atividades industriais ocupam 0,1 % da área da UGRHI 02.

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Através do Plano Integrado da Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul

(AGEVAP, 2014), foi feito um estudo sobre as classes de aptidão agrícola do solo,

onde se obteve as seguintes conclusões:

Com base nos resultados da avaliação da aptidão agrícola, verificou-se que a área da Bacia do Rio Paraíba do Sul apresentou-se com moderada a baixa potencialidade agrícola, onde apenas 17,99 % (10.808,65 km2) de suas terras são adequadas para o uso com lavouras. Essas terras basicamente estão localizadas nos terrenos planos nas antigas planícies de inundação do Rio Paraíba, concentradas principalmente junto ao seu leito no Estado de São Paulo, do município de Jacareí até Cachoeira Paulista; no Rio de Janeiro entre os municípios de Resende a Quatis e na baixada litorânea, próximo a sua foz. Para o Estado de Minas Gerais, as áreas mais aptas estão situadas em estreitas áreas encaixadas no vale do Rio Paraíba. Para o uso com atividades menos intensivas em termos de preparo de solo, encontrou-se um total de 72,61 % da área total da bacia, sendo que dessas, 43,21 % são representadas por terras aptas para pastagem plantada nas classes regular a restrita e 29,4 % para as atividades de silvicultura e/ou pastagem natural também dentro das classes regular a restrita. As áreas sem aptidão agrosilvipastoril, devendo ser destinadas à preservação da fauna e da flora, representam 6,24 %.

Os impactos ambientais frequentemente encontrados na bacia, relacionados

ao uso e à ocupação do solo, são: a poluição das águas por agrotóxicos, esgotos e

efluentes industriais, o assoreamento dos rios, o desmatamento, e a erosão, perda

de fertilidade e compactação dos solos.

A exemplo de governos, que pouco investem em saneamento básico e ações

preventivas contra a degradação ambiental, os setores da indústria e da mineração

também pouco realizam em relação a conservação ambiental, geralmente sempre

visando os maiores lucros e deixando um enorme passivo ambiental, representado

pelas áreas degradadas a serem recuperadas, que será pago por toda a sociedade.

A pecuária, visto que ocupa a maior parte da bacia, é a principal fonte de

degradação dos solos, e consequentemente, dos cursos d’água. O desmatamento,

que inicialmente foi realizado para o plantio de café no século XIX, perpetuou com a

prática da pecuária. Em várias regiões, ocorre o abandono de pastagens devido à

exaustão e à degradação dos solos pela erosão, lixiviação e compactação, frutos de

práticas inadequadas de manejo.

Os principais impactos ambientais gerados pelas grandes obras de

engenharia, realizadas na bacia do Rio Paraíba do Sul, como a formação de

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grandes reservatórios, a retificação do leito do rio e a transposição de água entre

bacias hidrográficas (descritas no próximo tópico), são: a alteração da dinâmica

hídrica e das características físicas, químicas e biológicas do rio, causando grandes

desequilíbrios e transformações no ecossistema aquático. Por outro lado, essas

obras são responsáveis pela geração de energia elétrica, abastecimento, irrigação e

regulação da vazão do rio, fundamentais para o desenvolvimento econômico e social

da região e do país.

Visto que o regime hídrico do Rio Paraíba do Sul e seus afluentes depende do

estado de conservação de sua bacia hidrográfica, nos instrumentos de planejamento

estratégico, são listadas áreas prioritárias para recuperação ambiental, com o

controle da erosão e a revegetação de áreas desmatadas, principalmente em áreas

de preservação permanente. Os reflorestamentos para fins conservacionistas ou

para prevenção de acidentes naturais, devem ser considerados prioritários em

qualquer programa de planejamento de bacias hidrográficas.

2.3.1 Uso múltiplo dos recursos hídricos

Em relação aos diversos usos dos recursos hídricos da bacia do Rio Paraíba

do Sul, os principais usos d’água são: abastecimento, geração de energia, diluição

de esgotos e irrigação. Devido à intensidade de utilização dos recursos hídricos,

ocorrem diversos conflitos em relação aos seus possíveis usos, que devem ser

gerenciados pelos governos e sociedade.

O Rio Paraíba do Sul, e grande parte dos seus afluentes, encontram-se com

sérios problemas ambientais relacionados com a poluição das águas por esgotos

urbanos, efluentes industriais e agrotóxicos, e ao assoreamento dos rios causado

pelo carreamento de sedimentos erodidos da bacia. O desmatamento que ocorre na

bacia, principalmente nas Áreas de Preservação Permanente (APP), é a principal

causa do assoreamento dos rios.

Segundo CEIVAP (2016), aproximadamente 14,2 milhões de pessoas,

incluindo os 8,7 milhões de habitantes da região metropolitana do Rio de Janeiro,

são abastecidas pelas águas da bacia do Rio Paraíba do Sul. Devido à importância

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deste rio para o abastecimento, foram realizados nas últimas décadas, diversos

investimentos pelo governo e indústrias da região, visando sua despoluição.

Através de normas mais rígidas, com maior controle no lançamento e

tratamento de esgotos e efluentes químicos, tem-se realizado esforços nesse

sentido pelos setores que utilizam os recursos hídricos (indústrias, governos,

agricultura, dentre outros). Porém, pouco foi posto em prática nas principais cidades

do Vale do Paraíba, e de forma ampla em toda bacia, principalmente em relação ao

tratamento do esgoto urbano.

Os principais reservatórios (Figura 5) utilizados para geração energética nas

Usinas Hidrelétricas (UHE) construídas são: Paraibuna, Santa Branca e Funil, com

capacidades instaladas para geração de energia estimada em 86 MV, 59 MW e

222 MW, respectivamente (ANA, 2016).

Figura 5 - Esquema do sistema hidráulico do Rio Paraíba do Sul.

Fonte: ANA, 2016.

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Além da geração de energia, os reservatórios são importantes para controlar

a vazão do Rio Paraíba do Sul, a fim de evitar as enchentes que podem ocorrer nas

épocas de maior precipitação.

Outra grande obra de engenharia envolve a transposição das águas do Rio

Paraíba do Sul para a bacia do Rio Guandu, através da Unidade Elevatória (UEL) de

Santa Cecília, sendo o Rio Guandu o principal manancial para o abastecimento

urbano da região metropolitana do Rio de Janeiro. Na bacia do Rio Guandu são

gerados mais de 600 MW de energia elétrica, sendo responsável pelo

abastecimento urbano e industrial da região.

Está em andamento, com previsão de finalização em 2018, a obra de

transposição das águas da bacia hidrográfica do Rio Paraíba do Sul para o Sistema

Cantareira, que é responsável pelo abastecimento de grande parte da cidade de São

Paulo. Essa obra prevê a transposição nos dois sentidos, de acordo com um

planejamento conjunto entre os estados de São Paulo e do Rio de Janeiro, em

relação ao uso dos recursos hídricos e à regulação da vazão desviada para cada

bacia hidrográfica. Tal obra visa amenizar os efeitos de falta d’água para

abastecimento urbano, causada pelos longos períodos de estiagem, como os

ocorridos entre 2014 e 2015 na região sudeste.

2.3.2 Gestão dos recursos hídricos

A bacia hidrográfica do Paraíba do Sul situa-se entre os maiores polos

industriais e populacionais do Brasil, que utilizam os recursos hídricos

principalmente para o abastecimento de cidades e indústrias, geração de energia,

diluição de esgotos e irrigação. Devido ao uso intensivo dos recursos hídricos,

ocorrem diversos conflitos de usos, sendo necessária uma política de gerenciamento

para equacionar a questão.

Devido à grande densidade populacional e industrial presentes na região,

existe a geração de graves danos ambientais causados ao Rio Paraíba do Sul pelo

uso intensivo dos recursos hídricos, sem que ocorram o planejamento e o

monitoramento eficazes por parte do governo.

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Porém, esse quadro vem se alterando positivamente nas últimas décadas,

com a execução dos planos de bacia e devido à maior pressão da sociedade pela

conservação dos recursos naturais, principalmente quanto à estreita relação da

conservação ambiental com a quantidade e qualidade da água para abastecimento.

O Rio Paraíba do Sul e seu principal formador, incluindo também os afluentes

que atravessam mais de um estado da União, são de jurisdição federal, ficando os

demais afluentes das sub-bacias com o domínio estadual. Outra distinção são os

Planos Estaduais de Recursos Hídricos, que são implementados conjuntamente com

o Plano Nacional de Recursos Hídricos. Alguns municípios também fazem a gestão

dos seus recursos hídricos, através dos Planos Diretores.

A Lei 9.433/97 instituiu a Política Nacional de Recursos Hídricos com a

criação do Conselho Nacional de Recursos Hídricos, sendo sua presidência

vinculada ao Ministério do Meio Ambiente. Dentre seus princípios básicos, esta Lei

definiu uma gestão descentralizada e participativa dos recursos hídricos, com a

criação dos Comitês de Bacia Hidrográfica.

Outros aspectos importantes da Lei 9.433/97 foram o reconhecimento do

valor econômico da água, a definição de bacia hidrográfica como unidade de

planejamento e gestão, a criação das Agências de Água, a outorga e cobrança pelo

uso da água (TEIXEIRA, 1999). Em resumo, esse foi um importante marco para

organização da administração pública e da sociedade em relação à gestão dos

recursos hídricos.

Na Figura 6, é apresentada a organização do Sistema nacional de Recursos

Hídricos, criado pela Lei 9.433/97, em relação à bacia do Rio Paraíba do Sul e ao

domínio dos rios que a compõe.

No ano de 1999, foi criada a Agência Nacional de Águas (ANA), vinculada ao

MMA, com a missão de implementar e coordenar a gestão compartilhada e

integrada dos recursos hídricos e regular o acesso a água, promovendo seu uso

sustentável. Além da abrangência sobre os rios de domínio federal, essa agência

participa da integração dos Planos de Recursos Hídricos, em nível estadual,

englobando assim as sub-bacias.

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Figura 6 - Organização do Sistema Nacional de Recursos Hídricos. Fonte: CEIVAP, 2016.

Em relação à bacia do Rio Paraíba do Sul, foi criado o Comitê de Integração

da Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul (CEIVAP), com sua agência executiva

(AGEVAP), visando à integração das políticas e dos comitês de bacias nos estados.

O comitê tem a função de aprovar o Plano da Bacia do Rio Paraíba do Sul,

participando também de sua elaboração e execução.

Definido de acordo com suas atribuições, “... é no parlamento que ocorrem

debates e decisões descentralizadas sobre as questões relacionadas aos usos

múltiplos das águas...inclusive a decisão pela cobrança pelo uso da água na bacia”

(CEIVAP, 2016). O comitê de integração atua em 184 cidades, nos estados de

Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo, integrando os Comitês de Bacia

Hidrográfica da Bacia do Rio Paraíba do Sul (Figura 7).

O CEIVAP é constituído por 60 membros, sendo três da União e 19 de cada

estado envolvido (São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro) e tem a seguinte

composição: 40 % de representantes dos usuários de água (companhias de

abastecimento e saneamento, indústrias, hidrelétricas e outros setores), 35 % do

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poder público (União, estados e municípios) e 25 % de organizações civis ligadas à

conservação e proteção dos recursos hídricos (CEIVAP, 2016).

Figura 7 - Comitês de Bacia Hidrográfica (CBH) da bacia do Rio Paraíba do Sul. Fonte:

Agência Nacional de Águas (ANA).

Fonte: http://arquivos.ana.gov.br/institucional/sag/CobrancaUso/Cobranca/01_ParaibaDoSul.

jpg. Acessado em: 12/01/2016.

A Tabela 1 indica a área de atuação de cada Comitê de Bacia Hidrográfica e

a relação com a área total da bacia hidrográfica do Rio Paraíba do Sul. Importante

identificar a área pertencente ao CBH – Paraíba do Sul (CBH – PS), de maior

abrangência na bacia, e onde ocorre a mineração de areia no Vale do Paraíba.

O Comitê de Bacias Hidrográficas do Rio Paraíba do Sul (CBH-PS), cuja área

de abrangência corresponde a UGRHI 02, no estado de São Paulo, tem a função de

identificar as sub-bacias que têm prioridade para as ações desenvolvidas no Plano

Estadual de Recursos Hídricos. Para facilitar a gestão, a UGRHI 02 foi dividida em 4

compartimentos, sendo estes também subdivididos: Compartimento 1 - Região das

Cabeceiras, Compartimento 2 - Região do Reservatório Jaguari, Compartimento 3 –

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Região do Paraíba do Sul e Compartimento 4 - Região da Serra da Bocaina (IPT,

2012).

Tabela 1 - Áreas dos Comitês da Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul

COMITÊS DE BACIA ÁREA (km2) %

CBH - Paraíba do Sul (SP) 13.934 22,7

CBH - Médio Paraíba do Sul 6.426 10,5

Comitê Guandu-Sub-bacia Piraí 1.017 1,7

CBH - Preto Paraibuna 7.184 11,7

Comitê Piabanha 3.460 5,6

COMPÉ (MG) - Pomba e Muriaé 13.515 22,0

CBH - Rio Dois Rios 4.425 7,2

CBH - Baixo Paraíba do Sul 11.346 18,5

Total 61.307 100,0

Fonte: AGEVAP, 2014, p.194.

No estado de São Paulo, foi implantado o Plano Estadual de Recursos

Hídricos (PERH), que faz o diagnóstico das bacias hidrográficas e enumera as

diretrizes para tratar os problemas enfrentados pelo estado em relação a quantidade

e qualidade das águas para abastecimento, propondo ações de recuperação

ambiental e uso racional dos recursos hídricos (São Paulo, 2006).

Os principais problemas identificados no Plano Estadual de Recursos Hídricos

em relação à bacia do Rio Paraíba do Sul, que envolvem ações corretivas na área

da UGRHI 02 (Unidade de Gerenciamento de Recursos Hídricos 02), são elencados

a seguir (São Paulo, 2006):

Baixo índice de tratamentos de esgotos em cidades importantes; risco de rebaixamento do lençol subterrâneo na área urbana de São José dos Campos; intensa extração de areia no leito do rio Paraíba do Sul; alta suscetibilidade a inundação em alguns afluentes do rio Paraíba do Sul; cerca de 40% dos municípios da UGRHI necessitam de intervenções para adequar sus disposições atuais de resíduos sólidos e também, quando for o caso, recuperação de antigo(s) lixão(ões) e solução para os passivos ambientais existentes.

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Como pode ser observado, os problemas citados anteriormente são

característicos de grandes cidades, como falta de saneamento básico, uso irregular

de aterros para lixão e uso indiscriminado de águas subterrâneas. Em relação às

inundações dos afluentes, o assoreamento dos cursos d’água é a principal causa e

apenas ações de manejo integrado de bacias e recuperação de APP’s podem

solucionar o problema.

Fatores como o crescimento populacional, o aumento da demanda no

consumo de água, os longos períodos de estiagem, a poluição das águas, o

assoreamento dos rios, as enchentes em centros urbanos obrigam os governos a

planejar e executar ações visando a conservação e o uso sustentável dos recursos

hídricos.

A recente crise de abastecimento de água nas cidades da região sudeste nos

últimos dois anos, aumentou a preocupação de governos e sociedade em relação à

conservação dos mananciais e cursos d’água. Questões como reflorestamento,

proteção do solo contra erosão e assoreamento dos rios, poluição das águas,

preservação das nascentes e mananciais, vêm ganhando cada vez mais espaço na

sociedade e nas ações do governo.

Neste contexto, está inserida a mineração de areia na várzea do rio Paraíba

do Sul, região importante no controle de vazão e qualidade das águas do rio.

Portanto, ações de planejamento e recuperação ambiental são fundamentais na

implantação de empreendimentos minerários, a fim de evitar conflitos com os

interesses conservacionistas da sociedade atual, principalmente em relação aos

recursos hídricos.

2.4 A Planície aluvial do Rio Paraíba do Sul

O Vale do Paraíba do Sul situa-se na depressão tectônica formada entre as

Serras do Mar e da Mantiqueira, que possuem relevo muito acidentado, com cadeias

de montanhas e colinas. As bacias sedimentares de Taubaté e Resende localizadas

na depressão e formadoras da planície aluvial existente no vale, têm papel

fundamental na retenção e liberação de água, contribuindo com a vazão perene do

Rio Paraíba do Sul (AGEVAP, 2014).

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A bacia sedimentar de Taubaté é formada por sedimentos intercalados de

diversas composições (argilas, areias e seixos), formada durante o período Terciário

(sedimentos de origem fluvial e lagunar) e parte do período Quaternário, com os

sedimentos aluvionares recentes formando as extensas planícies presentes na

região do Vale do Paraíba (AGEVAP, 2014). Ainda, em relação à sua utilização,

aponta que:

Esta bacia oferece condições positivas e negativas para a sua utilização. Por um lado tem potencial elevado para água subterrânea e exploração de areia para construção civil e, por outro, se caracteriza por uma região de elevada vulnerabilidade aos desastres naturais como inundação restringindo a expansão das áreas urbanas.

As planícies inundacionais no trecho paulista, formadas pela bacia sedimentar

de Taubaté, regiões de ocorrência das várzeas, são apresentadas na Figura 8.

Figura 8 - Planícies inundacionais no trecho paulista da bacia. Fonte: AGEVAP, 2014.

A vegetação presente na várzea é formada por pequenas formações florestais

secundárias, onde a várzea encontra-se excessivamente antropizada pela intensa

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ocupação, disputada pela urbanização, agricultura e mineração. Teixera (1999)

descreve a situação atual da vegetação na várzea do Vale do Paraíba como:

A antiga mata de galeria ou ciliar que se formou ao longo do rio, é constituída agora por árvores de pequeno porte, arbustos e vegetação típica de terrenos alagadiços. Estas poucas manchas estão localizadas entre os municípios de São José dos Campos e Taubaté e entre Aparecida e Guaratinguetá.

Devido a instabilidade do terreno, nível elevado do lençol freático, fragilidade

ambiental e risco de inundação, as áreas de várzea são altamente inadequadas para

a instalação de moradias, ainda assim, são ocupadas com frequência na periferia

das grandes cidades. As áreas de várzea são motivo de conflitos quanto ao uso,

pois são utilizadas principalmente para conservação da vegetação, construção de

moradias, mineração de areia e plantio de arroz irrigado.

No início dos anos 50, foram construídos diques em trechos ao longo do Rio

Paraíba do Sul, para evitar as inundações na várzea e permitir o cultivo de arroz

irrigado, com a instalação de um sistema de canais de drenagem e irrigação. Com

isso, foram criadas as áreas cultiváveis (conhecidas como Polders), em

aproximadamente 14.000 hectares, o que possibilitou o desenvolvimento da cultura

de arroz na região (AGEVAP, 2014).

Conjuntamente, foi realizada a obra de retificação do leito, com o corte de

seus meandros naturais, que também visava disciplinar o escoamento do rio,

evitando as inundações das áreas agricultáveis. Essas obras causaram grande

alteração no ambiente da várzea, bem como no regime hídrico do Rio Paraíba do

Sul.

Em relação à várzea, onde ocorre a mineração de areia, o Plano Integrado de

Recursos Hídricos da Bacia do Rio Paraíba do Sul faz recomendações ao Comitê da

Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul (UGRHI 02 – CBH - PS) quanto à

necessidade de maiores estudos sobre a área (AGEVAP, 2014):

Esta área possui grande diversidade de relevo se caracterizando por possuir uma extensa planície aluvionar, a qual vem sendo ocupada por diferentes usos nem sempre compatíveis com a fragilidade desta área sujeita a inundações frequentes, nível freático próximo a superfície e fragmentos de ecossistemas de áreas ripárias. Recomenda-se que o estudo desta área de planície seja considerado prioritário para ações futuras no sentido de melhorar os levantamentos cartográficos existentes e conhecer as relações

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hidrológicas entre o rio Paraíba do Sul e suas margens, propiciando a criação de mapas de zoneamento econômico e ambiental.

Em resumo, tem os conflitos existentes entre diversos usos e ocupações da

várzea, que são essenciais para suprir as necessidades básicas da sociedade. Cabe

ao zoneamento econômico-ambiental definir as áreas a serem destinadas para cada

uso, de acordo com sua demanda e interações com o meio ambiente.

A mineração de areia não pode ser deixada em segundo plano, pois a

demanda por areia sempre irá crescer na sociedade. Sendo assim, os depósitos

naturais de areia existentes na região devem ser conservados e contemplados em

um planejamento de utilização em longo prazo, evitando-se assim, futuros conflitos

sociais.

2.5 A mineração de areia na várzea do Rio Paraíba do Sul

A importância da mineração para o desenvolvimento do país é indiscutível, já

que fornece os insumos para diversas atividades econômicas, como siderurgia,

agricultura, construção civil, indústria, dentre diversos outros exemplos. De forma

geral, a importância estratégica da mineração para o país, pode ser entendida

segundo Farias (2002):

A mineração é um dos setores básicos da economia do país, contribuindo de forma decisiva para o bem-estar e a melhoria da qualidade de vida das presentes e futuras gerações, sendo fundamental para o desenvolvimento de uma sociedade equânime, desde que seja operada com responsabilidade social, estando sempre presentes os preceitos do desenvolvimento sustentável.

A areia extraída na várzea do Rio Paraíba do Sul, nos municípios do estado

de São Paulo, é fundamental neste sentido, visto a importância das grandes

cidades, obras de infraestrutura e diversos setores da economia que são atendidos

pela produção de areia na região, sendo destinada para a construção civil.

Em relação à mineração, ainda falta no Brasil uma integração maior dos

setores ligados à mineração (sociedade, governos e empresas) na busca de uma

política mineral que conduza a atividade para um uso mais sustentável dos recursos

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minerais, respeitando-se o meio ambiente e considerando a devida importância da

atividade de mineração para o país. Farias (2002) acrescenta sobre a questão:

Nota-se uma falta de uma real integração intergovernamental e, também, um entrosamento com a sociedade civil para a elaboração de uma política mineral no país, que venha estabelecer parâmetros e critérios para o desenvolvimento sustentável da atividade mineral, garantindo a sua permanência e continuidade face a seu papel exercido na construção da sociedade, dentro de normas e condições que permitam a preservação do meio ambiente.

Nesse contexto, o estado de São Paulo tem evoluído muito nos últimos anos,

através de políticas públicas e edição de normas relacionadas com a mineração de

areia na região do Vale do Paraíba, como as Resoluções da Secretaria do Meio

Ambiente editadas na década de 90, que tratavam especificamente do licenciamento

ambiental e do zoneamento da atividade de mineração de areia na várzea do Rio

Paraíba do Sul.

Essas normas representaram um importante marco para a organização e

legalização do setor mineral de areia, bem como para o cumprimento da

recuperação ambiental em áreas degradadas pela mineração e gestão dos conflitos

sociais, gerados pela disputa de áreas adequadas para mineração com a

urbanização e a agricultura.

A extração de areia na região teve início na década de 50, para acompanhar

o crescimento das cidades e indústrias da Grande São Paulo e do Vale do Paraíba.

Iniciou-se no leito do Rio Paraíba do Sul, na cidade de Jacareí, realizada por

pequenas empresas e com baixo impacto ambiental. Segundo Teixeira (1.999):

Devido ao crescimento da demanda por agregados para a construção civil, a exploração de areia no Vale do Paraíba acompanhou-a para atender o mercado regional e da Grande São Paulo, tomando a frente o município de Jacareí por se localizar numa grande jazida de boa qualidade e perto do mercado consumidor. Novas necessidades surgiram na década de 70, esgotando a capacidade de extração de areia no leito do rio, aparecendo, assim, as primeiras cavas às margens do rio Paraíba do Sul, que foram crescendo de maneira desordenada e sem critérios.

Nos anos 70, foram construídos os principais reservatórios para geração de

energia (Santa Branca, Jaguari, Paraibuna-Paraitinga), que alteraram o fluxo hídrico

dos rios da bacia hidrográfica e, consequentemente, diminuindo o aporte de

sedimentos que formam os bancos de areia no leito do Rio Paraíba do Sul.

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Somando-se ao aumento da demanda, a mineração de areia avançou pelos

municípios de São José dos Campos e Caçapava e, nos anos 80 chegou até

Taubaté, sendo praticada em grande parte, na várzea do rio através de cavas

submersas (ANEPAC, 2000). Atualmente, as cavas de areia já estão presentes no

município de Pindamonhangaba, e continuam avançando na região do Vale do

Paraíba.

A areia extraída na várzea do Rio Paraíba do Sul, no estado de São Paulo, é

utilizada pela construção civil e, segundo ANEPAC (2000) é responsável por 25 %

da produção do estado, sendo a maior região produtora de areia no país. Na época

do levantamento, a produção mensal média era estimada em 750.000 m3, com 76

empresas em operação, sendo que 80 % era destinada para abastecer a cidade de

São Paulo e a região da Grande São Paulo. Dados de levantamentos mais recentes,

contabilizavam 61 empreendimentos em operação em 2005 e 50 empreendimentos

em 2007 (SMA, 2008).

Essa queda em número de empresas nos últimos anos, se deve mais por

fusões e fechamento de pequenas extratoras, não significando queda na produção

de areia, pelo contrário. Nos últimos anos, o perfil do setor tem mudado, das

pequenas empresas para grandes empreendimentos, com maior investimento

tecnológico e elevada produção, capazes de suportar os custos operacionais e

ambientais, bem como a grande concorrência de mercado.

A atual produção de areia no Vale do Paraíba é realizada, em quase sua

totalidade, através de cavas submersas localizadas na planície aluvial do Rio

Paraíba do Sul, entre os meandros abandonados pelo rio, também denominados de

cinturões meândricos.

A Figura 9 mostra a atividade de mineração de areia em cava submersa, em

uma empresa localizada na cidade de Pindamonhangaba/SP. Nota-se o lago onde é

feita a exploração de areia, a balsa de dragagem, as tubulações e os montes de

areia na margem do lago. Ao fundo, encontra-se um fragmento florestal implantado

em torno de uma cava encerrada, com idade em torno de 15 anos.

A atividade de extração de areia é fundamental para o desenvolvimento

econômico e social da região, porém traz consequências negativas, principalmente

em relação aos danos ambientais, muitas vezes irreversíveis. A legislação preconiza

a recuperação ambiental nesses empreendimentos, basicamente através da

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revegetação em torno do lago formado após o encerramento da cava, e com a

introdução de alevinos de espécies nativas para povoamento do lago.

Figura 9 - Extração de areia em cava submersa no município de Pindamonhangaba/SP.

Fonte: Marcelo Zanetti Leite. (Dezembro/2015).

A pressão da sociedade em relação aos danos ambientais causados pela

atividade de mineração de areia, principalmente em relação às áreas abandonadas

pelas mineradoras sem a devida recuperação e das empresas que atuam de forma

predatória, tem levado a uma ação mais efetiva do governo no controle da atividade.

Têm crescido também, os investimentos para recuperação ambiental, por

parte das empresas de mineração que buscam trabalhar dentro da legalidade, com

uma visão mais sustentável e em harmonia com o meio ambiente e a comunidade

local.

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37

2.5.1 Aspectos legais e órgãos governamentais relacionados á atividade de

exploração de areia no Vale do Paraíba

A mineração de areia no Brasil está sujeita a um conjunto de normas e

procedimentos relativos à atividade, onde as três esferas de governo (federal,

estadual e municipal) têm competência para planejar, legislar, licenciar e fiscalizar a

atividade de mineração.

Segundo Farias (2002), os órgãos federais que têm atribuições em relação a

mineração e meio ambiente no Brasil, são: Ministério do Meio Ambiente (MMA),

Ministério de Minas e Energia (MME), Secretaria do Minas e Metalurgia (SMM),

Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), Serviço Geológico do Brasil

(CPRM), Agência Nacional de Águas (ANA), Conselho Nacional de Meio Ambiente

(CONAMA), Conselho Nacional de Recursos Hídricos (CNRH), Instituto Brasileiro de

Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) e o Centro Nacional de

Pesquisa e Conservação de Cavernas (ICMBio/CECAV).

Para a atividade de mineração de areia no Vale do Paraíba, o órgão federal

com relação direta junto às empresas mineradoras é o DNPM, que faz a concessão

de lavra mineral, com a emissão dos Alvarás de Pesquisa Mineral e de Lavra

Mineral.

O IBAMA no estado de São Paulo, através de decisão judicial, emite a

anuência para a Pesquisa Mineral (que é a atividade de prospecção interior à lavra,

com baixo impacto ambiental) em empreendimentos de mineração localizados na

bacia hidrográfica do Rio Paraíba do Sul.

Os demais órgãos federais estão ligados a definição de políticas públicas,

elaboração de legislação ambiental e mineral, monitoramento e pesquisa sobre os

recursos naturais, dentre outras funções.

O poder estadual atua principalmente no licenciamento ambiental e na

fiscalização da atividade de mineração em São Paulo. A CETESB (Companhia

Ambiental de São Paulo), é a agência estadual responsável pelo licenciamento

ambiental dos empreendimentos de extração de areia.

Vinculado à Secretaria do Meio ambiente do Estado de são Paulo (SMA),

funciona o Departamento de Proteção de Recursos Naturais (DEPRN), que é

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responsável pelo licenciamento de atividades e obras que impliquem na supressão

da vegetação nativa, que pode ocorrer em alguns casos na mineração de areia.

A SMA ainda é responsável pelo desenvolvimento das políticas públicas,

como o Zoneamento Ambiental para Mineração de Areia na Várzea do Rio Paraíba

do Sul (descrito nos próximos tópicos), e elaboração de leis relacionadas ao

licenciamento ambiental e meio ambiente.

A Polícia Militar Ambiental é responsável pelo controle e fiscalização dos

empreendimentos, em relação ao cumprimento da legislação ambiental e das

exigências constantes no licenciamento ambiental.

Os municípios também contam com instrumentos legais para exercer

atividades de zoneamento, planejamento, licenciamento e fiscalização, através dos

seus Planos Diretores, que mapeiam as áreas passíveis de mineração e definem

critérios para o estabelecimento de tais empreendimentos, e da emissão dos alvarás

de funcionamento para as empresas de mineração.

Citando como exemplo do poder municipal em relação à atividade de

mineração, existe o caso do município de São José dos Campos, onde a exploração

de areia na várzea do Rio Paraíba do Sul não é permitida desde 1994.

Em relação a pesquisa e desenvolvimento de tecnologia na área de

mineração, existe, em nível federal, o Centro de Tecnologia Mineral (CETEM), que

desenvolve importantes estudos sobre mineração. No estado de São Paulo,

merecem destaque na área de pesquisa, o Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT)

e o Instituto Geológico (IG).

Até meados dos anos 90, as empresas que faziam a extração de areia no

Vale do Paraíba, atuavam de forma intensiva e desordenada, gerando diversos

impactos ambientais. Existia ainda, uma grande parcela de empresas informais que

atuavam na região e não faziam parte das estatísticas oficiais. Maior rigor da

legislação, endurecimento da fiscalização e maior pressão social em relação à

degradação ambiental causada pelas extratoras de areia, foram os principais

motivos para o fechamento de várias empresas do setor.

A publicação da Resolução SMA no 42 de 16 de setembro de 1996 e da

Resolução SMA no 28 de 22 de setembro de 1999 (tratadas nos próximos tópicos),

junto com uma rigorosa fiscalização em campo, fez uma “limpeza” das empresas

que não cumpriam a legislação ambiental ou não realizavam a recuperação das

áreas degradadas, funcionavam sem a devida autorização necessária ou que

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possuíam alguma outra situação irregular. Dos 150 empreendimentos que existiam

antes das referidas resoluções, apena 61 estavam em operação no ano de 2005

(SMA, 2008).

2.6 Leis relacionadas à mineração e ao meio ambiente

Existem diversas leis e normas federais em vigor no Brasil, fundamentais para

o disciplinamento e a legalização da atividade mineral e leis que disciplinam o uso

dos recursos naturais, a conservação e a recuperação do meio ambiente.

Dentre estas, pode citar o Decreto-Lei no 227/1967 que estabelece o Código

de Mineração, alterado pela Lei no 7.805/89 que, dentre outros artigos, torna

obrigatório o licenciamento ambiental para mineração; a Lei 6.567/78, que trata

sobre a exploração de substâncias minerais da Classe II, da qual pertencem a areia

e os demais agregados de uso imediato na construção civil e a Lei no 6.938/81, que

estabelece a Política Nacional do Meio Ambiente (Corrêa, 2007).

O CONAMA (Conselho Nacional do Meio Ambiente), como órgão consultivo e

deliberativo, publicou Resoluções que se aplicam ao uso dos recursos naturais e à

conservação ambiental. Dentre as mais importantes, tem a Resolução CONAMA no

01/86, que estabelece a obrigatoriedade do estudo de impacto ambiental (EIA) para

as atividades potencialmente poluidoras, dentre elas a mineração; a Resolução

CONAMA no 10/90, que determina a obrigatoriedade do licenciamento ambiental

estadual para a exploração de substâncias minerais da Classe II e a Resolução

CONAMA no 237/97, que trata sobre o licenciamento ambiental de atividades

poluidoras e, dentre outras exigências, obriga a apresentação de um plano

detalhado visando à reparação dos danos ambientais (Corrêa, 2007).

A Constituição Federal de 1988 menciona, em seu artigo 225, a obrigação em

reparar o meio ambiente degradado, de acordo com solução técnica exigida pelo

órgão público competente, na forma de Lei, para quem explorar recursos minerais.

A Lei nº 12.651 de 25 de maio de 2012, estabelece o Código Florestal e apresenta

normas que os empreendimentos de mineração devem obedecer em relação à proteção da

vegetação nativa, às Áreas de Preservação Permanente, à Reserva Legal e à recuperação

ambiental das áreas degradadas. A Instrução Normativa nº 04 de 13 de abril de 2011

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estabelece as normas e os critérios relacionados com a recuperação de áreas degradadas e

os procedimentos para apresentação do Projeto de Recuperação de área Degradada

(PRAD).

O estado de São Paulo, desde o ano 2001, vem publicando normas

relacionadas à recuperação de áreas degradadas, definindo critérios para a

implantação de vegetação nativa. Atualmente, está em vigor a Resolução SMA nº 32

de 3 de abril de 2014, que estabelece critérios e orientações para a elaboração,

execução e monitoramento de Projetos de Restauração Ecológica.

A mineração de agregados para a construção civil é tratada de forma mais

permissiva pela legislação em relação aos outros minerais, em razão de não

compreender a etapa de beneficiamento e possuir menor potencial de poluição

ambiental. Ainda assim, existem inúmeras exigências legais, somadas a demora dos

trâmites processuais, que dificultam e oneram a atividade de mineração de areia.

Como exemplo da burocracia em projetos de mineração, tem-se a quantidade

de órgãos envolvidos no processo de autorização, o pequeno prazo de validade de

algumas autorizações que são incompatíveis com o tempo da atividade em campo, a

demora na emissão das autorizações e a sobreposição de leis e funções entre

diferentes órgãos do governo.

Nos últimos anos, o estado de São Paulo tem buscado uma maior integração

entre os diferentes órgãos envolvidos no controle e licenciamento da atividade,

ajudando a diminuir os problemas burocráticos. Como pode ser observado, existem

diversas leis que regem a atividade de mineração e a recuperação ambiental, o que

falta é a aplicação das mesmas pelas empresas, aliada a um melhor aparelhamento

das instituições do governo.

2.6.1 Legislação estadual relacionada à exploração de areia na várzea do Rio

Paraíba do Sul

Embora já existissem leis ambientais, até meados dos anos 90, a atividade de

mineração de areia ocorria de forma desordenada na região do Vale do Paraíba,

com muitas empresas funcionando sem o licenciamento ambiental ou sem que

realizassem a recuperação ambiental dos danos causados ao meio ambiente.

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41

Os impactos ambientais gerados foram grandes, considerando a intensidade

da exploração, o alto número de empresas extratoras e a falta de planejamento da

atividade. Havia uma reação em cadeia em relação aos impactos ambientais,

através da interligação das cavas encerradas de empreendimentos vizinhos,

formando imensos lagos abandonados, sem a devida recuperação ambiental (SMA,

2008).

Apenas quando o governo do estado realizou um amplo planejamento da

atividade, com a edição de normas regulamentando o licenciamento ambiental e o

zoneamento ambiental, somadas as ações de fiscalização e, promovendo o

envolvimento de outros órgãos e esferas do governo, o setor de mineração de areia

passou a ser melhor monitorado e as empresas foram forçadas a se enquadrar às

novas exigências do licenciamento ambiental, adotando práticas mais

conservacionistas.

Sobre o licenciamento ambiental das empresas de mineração, Farias (2002)

menciona que “a obtenção do Licenciamento Ambiental (LA) é obrigatória para a

localização, instalação ou ampliação e operação de qualquer atividade de mineração

objeto dos regimes de concessão de lavra e licenciamento”. Lembra ainda que, é

competência dos órgãos estaduais de meio ambiente a emissão da Licença Prévia,

da Licença de Instalação e da Licença de Operação.

A Resolução SMA nº 42 de 16 de setembro de 1996, foi publicada objetivando

o licenciamento ambiental da atividade de extração de areia na Bacia Hidrográfica

do Rio Paraíba do Sul. Trata-se de um conjunto de procedimentos e técnicas a

serem adotados nas atividades de mineração de areia, tratando, por exemplo do

tamanho e da disposição das cavas, das demais obras e acessos e da proteção aos

cursos d’água. Menciona a fiscalização, as licenças ambientais obrigatórias e suas

condicionantes, e prevê também a extração de areia por desmonte hidráulico e no

leito do rio.

Tal Resolução define também critérios e ações visando à recuperação

ambiental e mitigação dos danos, dentre os quais podem ser citados: recuperação

prioritária de áreas de preservação permanente; uso da camada superficial do solo

que foi removida para o preparo da área a ser revegetada; define a densidade de

mudas e a diversidade mínima de espécies; uso de cortina vegetal no entorno do

empreendimento; manutenção da área plantada até as árvores atingirem três metros

de altura e proporcionar o sombreamento total da área; prevê outros usos para as

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áreas a serem recuperadas, mediante aprovação do projeto junto a SMA; dentre

outros.

Outra importante norma publicada foi a Resolução SMA nº 28 de 22 de

setembro de 1999, que define o zoneamento ambiental para mineração de areia na

bacia hidrográfica do Rio Paraíba do Sul, nos municípios de Jacareí, São José dos

Campos, Caçapava, Taubaté, Tremembé e Pindamonhangaba, e define critérios

para execução da atividade.

Os objetivos do zoneamento seriam garantir a proteção da vegetação

remanescente, a conciliação da atividade de extração de areia com a conservação

ambiental da várzea e com as áreas urbanizadas e o aproveitamento racional do

estoque de areia.

O mapeamento das áreas foi realizado com um estudo do Instituto Geológico

sobre a potencialidade de areia do Rio Paraíba do Sul, em 1997, definindo os

cinturões meândricos, onde estão localizados os depósitos de areia. Foram então

definidas pelo zoneamento as seguintes áreas: Zona de Proteção (ZP), a faixa

contígua ao Rio Paraíba do Sul, incluindo as áreas de preservação permanente e

matas remanescentes; Zona de Mineração (ZM), as áreas passíveis de instalação

de novos empreendimentos ou ampliação dos existentes; Zona de Recuperação

(ZR), áreas de antigas explorações, abandonadas ou em esgotamento, sem ter sido

realizada a recuperação ambienta,l e Zona de Conservação da Várzea (ZCV),

planície aluvionar exceto as áreas urbanizadas e as outras zonas descritas (SMA,

2008).

A Resolução SMA 28/99 também define alguns critérios para a extração de

areia na várzea e no leito do Rio Paraíba do Sul, sendo a segunda modalidade

apenas em condições específicas de assoreamento ou comprovação técnica com

batimetria. Dentre outros critérios definidos para a atividade de mineração, podem

ser citados: o monitoramento quantitativo e qualitativo das águas das cavas,

distâncias mínimas das cavas em relação aos diques do DAEE, define condições

para uso das cavas para projetos de piscicultura e condiciona o reenchimento das

cavas ao licenciamento pela CETESB (SÃO PAULO,1999).

Os meios para realizar a gestão ambiental e os instrumentos legais

necessários para o aproveitamento sustentável da areia na região já foram criados,

bem como os esforços do setor empresarial têm aumentado em relação ao

cumprimento das leis e à conservação ambiental. A pressão social obriga que a

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atividade de extração de areia na região seja feita de forma sustentável, com adoção

de práticas conservacionistas.

A presença constante do estado é fundamental para que a legislação

ambiental seja incorporada pelos empreendimentos, não apenas através da

fiscalização, mas fazendo a gestão participativa e o monitoramento da atividade,

com um consequente e necessário aprimoramento da legislação em vigor.

2.7 Impactos ambientais e conflitos socioeconômicos

Em relação aos impactos ambientais e conflitos sociais relacionados à

mineração, (BITAR, 1997 apud Farias, 2002) menciona que:

Em geral, a mineração provoca um conjunto de efeitos não desejados que podem ser denominados de externalidades. Algumas dessas externalidades são: alterações ambientais, conflitos de uso do solo, depreciação de imóveis circunvizinhos, geração de áreas degradadas e transtorno ao tráfego urbano. Estas externalidades geram conflitos com a comunidade, que normalmente têm origem quando da implantação do empreendimento, pois o empreendedor não se informa sobre as expectativas, anseios e preocupações da comunidade que vive nas proximidades da empresa de mineração.

Os principais impactos gerados pela mineração de areia no Vale do Paraíba

são: desmatamento, destruição de matas ciliares, perda de biodiversidade,

afugentamento de fauna, formação de lagos artificiais nas cavas de areia

encerradas, conflito com o uso e a ocupação do solo, fluxo intenso de caminhões

nas estradas, poluição sonora, poluição do ar, degradação da paisagem, poluição

das águas com óleos e combustíveis, aumento da turbidez causado pelo acúmulo de

sedimentos, erosão e assoreamento (BITAR, 1997).

No fim dos anos 90, referindo-se aos impactos causados pela mineração de

areia no Vale do Paraíba, Teixeira, et al. (1999) já mencionavam que “...a mineração

de areia para construção civil tem sido intensa na região, e a degradação ambiental

consequente já é visivelmente agressiva em vários trechos do rio com vários

comprometimentos”.

A recuperação ambiental não era realizada pelas empresas e, a falta de

planejamento da atividade agravava os danos ambientais, com o efeito acumulativo

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dos impactos das cavas de empreendimentos vizinhos. Apenas após a definição do

licenciamento ambiental, o quadro começou a se inverter, mas ainda existem muitas

áreas abandonadas que necessitam ser recuperadas, como define o zoneamento

mineral.

Foi desenvolvido um estudo por Reis et al. (2006), visando quantificar o

impacto da mineração de areia no balanço hídrico da região do vale do Paraíba,

causado pela evaporação de água nas cavas. Através do histórico da área, obtido

através de imagens de satélite, foram mapeadas as cavas abertas na região do vale

do Paraíba. Constatou-se que, entre 1993 a 2003, houve um crescimento de 192%

da área das cavas, passando de 591 hectares em 1993, para 1.726 hectares em

2003. A perda de água por evaporação também aumentou na mesma proporção,

sendo estimada em 19.157.022 m3 no ano de 2003 (suficiente para abastecer uma

cidade com 326.000 habitantes).

O resíduo da exploração é formado por material composto por argila e areia

muito fina, conhecido como “finos”, que acaba voltando para o interior do lago,

misturado com a água de retorno. A extração de areia fina implica na instalação de

outros equipamentos específicos, sendo sua demanda no mercado bem menor que

a areia média e grossa, com uso em revestimento e acabamento de obras.

Geralmente, a exploração de areia fina não é economicamente viável em grande

parte dos empreendimentos.

Dependendo da intensidade de exploração, o acúmulo desses resíduos nos

lagos pode inviabilizar outros usos futuros das cavas (como a piscicultura), bem

como a contaminação das águas do Rio Paraíba do Sul pelo vazamento do material

depositado, devido às contenções realizadas inadequadamente no seu

represamento.

Em 6 de fevereiro do corrente ano, ocorreu o rompimento de uma barragem

de uma lagoa com rejeitos de mineração de areia, no município de Jacareí, afetando

o abastecimento de água de importantes cidades do Vale do Paraíba (Figura 10).

A empresa Rolando Comércio de Areia lançava irregularmente os rejeitos da

extração de areia em uma cava, sem o devido licenciamento, que por excesso e

acúmulo de material, ocasionou o rompimento da barragem. Na foto, pode ser

observada a pouca distância da cava em relação ao Rio Paraíba do Sul, que deveria

ter sido considerada na operação que era realizada irregularmente (G1, 2016).

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Figura 10 - Foto do rompimento de barragem com resíduos da mineração de areia. Fonte: TV Vanguarda. (G1, 2016).

2.7.1 Conflitos socioeconômicos

Diferentemente de outras atividades industriais, a mineração possui rigidez

locacional, ou seja, depende da ocorrência do minério na natureza. Embora a areia

seja relativamente abundante na natureza, sua extração só é viável se for realizada

próxima a centros urbanos, em razão do elevado custo de transporte. Essas

características aumentam a ocorrência de conflitos entre a mineração e outras

atividades desenvolvidas na região do Vale do Paraíba.

Os conflitos sociais e econômicos na área em estudo são gerados com a

disputa pela ocupação da várzea, principalmente entre a mineração, a urbanização e

as atividades agropecuárias. A Resolução SMA 28/1999, que definiu o zoneamento

ambiental para mineração de areia na várzea do Rio Paraíba do Sul, foi publicada

com o objetivo de balizar a gestão desses conflitos, definindo as zonas destinadas

para a mineração e as zonas de conservação e proteção da várzea, sem prejuízo

das atividades agropecuárias e das áreas urbanas consolidadas.

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É importante que o poder municipal contemple o zoneamento mineral em

seus Planos Diretores, minimizando a ocorrência de conflitos econômicos entre as

diferentes atividades desenvolvidas na várzea. A expansão da urbanização também

deve respeitar as reservas minerais dos municípios, evitando a inviabilização de

futuras explorações de areia, que serão necessárias frente ao aumento da demanda

deste recurso em obras de infraestrutura e construção de habitações.

O conflito social entre mineradoras e sociedade, gerado pela degradação

ambiental na região, principalmente em relação às áreas abandonadas pelas

mineradoras sem a devida recuperação ambiental e das empresas que atuam de

forma predatória, vem refletindo no trabalho da fiscalização realizado pelo governo,

ocasionando a paralização de diversos empreendimentos irregulares.

Outra questão importante, que se refere às áreas abandonadas pela

mineração, é a utilização de forma irregular como depósito de lixo doméstico ou

ocupação para construção de moradias, causando graves impactos ambientais e

riscos para a população. Cabe aos proprietários das áreas e as autoridades

ambientais impedirem a invasão dessas áreas abandonadas pela mineração.

Tais áreas devem ser recuperadas de forma planejada, tendo finalidades

mais adequadas para o seu uso, como construção de parques, aterros para

materiais inertes (desde que licenciados), loteamentos, piscicultura, projetos

industriais ou agropecuários, dentre outros.

Um bom exemplo de reabilitação ambiental em cavas de mineração de areia,

é o parque do Ibirapuera, na cidade de São Paulo, construído em harmonia com a

ocupação urbana (Figura 11).

A gestão participativa dos recursos naturais, envolvendo a sociedade e o

setor da mineração de areia, vem sendo adotada pelos municípios da região e

governo do Estado de São Paulo, minimizando assim a geração de conflitos entre a

atividade de mineração e os demais interesses da sociedade. Os Comitês de Bacia

Hidrográfica são um bom exemplo de fóruns onde a participação popular pode

influenciar as decisões sobre o uso e a ocupação dos solos, e na restauração

ambiental das áreas degradadas pela mineração.

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Figura 11: Parque do Ibirapuera, na cidade de São Paulo/SP. Fonte: Disponível em: http://www.parquedoibirapuera.com/sobre-o-parque/galeria-de-fotos/.

Acesso em: 15 fev. 2016.

2.8 Recuperação de áreas degradadas pela mineração de areia

O ponto fundamental em um projeto de recuperação de área degradada é a

definição dos objetivos e do uso futuro previsto para a área impactada. Após isso,

deve ser feito o planejamento das etapas necessárias para a implantação do projeto

e condução das ações previstas, através da elaboração do projeto de restauração

ecológica, como é denominado pela atual legislação estadual.

É importante, para a redução dos impactos ambientais e dos custos da

restauração, que as atividades previstas no projeto de recuperação de área

degradada ocorram conjuntamente com as atividades de exploração. Com isso, a

restauração da área seria facilitada, garantindo recursos financeiros para as

atividades previstas, durante todo o período da atividade de mineração.

Está previsto na legislação a implantação de vegetação nativa, sendo

permitido o plantio intercalado com espécies exóticas, em uma faixa de 50 m ao

redor das áreas de cava e o monitoramento de suas águas, podendo sofrer algumas

alterações conforme o uso futuro determinado no projeto.

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A implantação de florestas de alta diversidade, possui várias vantagens em

relação às florestas homogêneas ou exóticas, que também são permitidas no

entorno das cavas, conforme descreve Barbosa (2006):

...a implantação de florestas com alta diversidade devem desencadear a estabilização e conservação das margens de corpos d’água, a inibição da matocompetição devido ao sombreamento da área, o estabelecimento de indivíduos regenerantes devido à melhoria da qualidade do solo e do estabelecimento de um micro clima adequado ao recrutamento de indivíduos, o aumento da diversidade em decorrência da presença da fauna dispersora e de frutificação logo nos primeiros dois anos de implantação da floresta.

A regeneração natural na região de várzea apresenta grande potencial para

ser utilizada nos projetos de restauração ecológica, visto a grande quantidade de

propágulos, plântulas e fragmentos florestais existentes, além das águas do Rio

Paraíba do Sul, que atraem uma rica fauna ao local, possibilitando a disseminação

de espécies vegetais. O uso de poleiros artificiais, nucleação, plantio com espécies

zoocóricas, são exemplos de boas técnicas que podem ser utilizadas para favorecer

a regeneração natural.

Se existirem condições que causem a erosão dos solos, o uso de espécies

gramíneas e arbustivas deve ser priorizado no plantio, visto que proporcionam uma

rápida cobertura dos solos, conferindo proteção ao processo erosivo. Caso contrário,

o mais indicado é o plantio de espécies florestais lenhosas em covas, e uso de

adubação (CORRÊA, 2007).

Como existem áreas com pastagens na várzea do Rio Paraíba do Sul, em

alguns projetos de restauração ecológica, deve ser prevista a eliminação da

braquiária, visto se tratar de uma espécie agressiva e invasora, competindo com as

espécies plantadas e da regeneração natural.

O monitoramento do projeto e a manutenção da área implantada, previstos na

legislação e descritos no projeto de restauração ecológica, devem ocorrer durante

toda a condução do processo de restauração. O monitoramento é fundamental para

o manejo da vegetação em formação, indicando a necessidade de intervenção ou

manutenção na área.

Em trabalho de avaliação da recuperação das áreas degradadas pela

mineração de areia na várzea do Rio Paraíba do Sul, realizado em 2005, no trecho

entre Jacareí e Pindamonhangaba, a Secretaria do Meio Ambiente concluiu que

houve um aumento significativo da área revegetada. As áreas de APP cobertas com

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vegetação aumentaram de 428,01 hectares em 1997 para 850,03 hectares em 2005,

praticamente o dobro. O perímetro de vegetação implantada em torno das cavas de

mineração, passou de 19.700 metros para 40.973 metros (SMA, 2008).

Embora esses dados representem um avanço da restauração ecológica dos

empreendimentos de mineração na região, o mesmo estudo qualificou a maioria dos

projetos como regulares ou ruins, no ponto de vista ecológico. Isso demonstra que o

maior problema identificado nos projetos, se refere a falta de manutenção e

monitoramento na condução do povoamento.

É importante que os projetos de restauração cumpram seu papel ecológico, e

compete ao Licenciamento Ambiental monitorar a qualidade e o desenvolvimento da

vegetação implantada. Por isso, é fundamental a comparação de dados do

monitoramento com os indicadores ecológicos previstos na atual legislação, visando

o manejo adequado da vegetação em desenvolvimento, para que sejam atingidos os

objetivos da restauração.

O Ministério do Meio Ambiente elaborou recentemente uma proposta de

recuperação da vegetação em larga escala, em fase preliminar, denominado Plano

Nacional de Recuperação da Vegetação Nativa (PLANAVEG), que visa à

recuperação de 12,5 milhões de hectares nos próximos 20 anos, principalmente em

Áreas de Preservação Permanente e Reserva Legal, mas também nas demais áreas

degradadas (MMA, 2016).

O programa, previsto no art. 41º da Lei nº 12.651 (Código Florestal), objetiva a

ampliação e o fortalecimento de políticas públicas, incentivos financeiros, mercados,

boas práticas agropecuárias e outras medidas necessárias à recuperação da

vegetação nativa (MMA, 2016). Quando for implementado, deverá ser executado em

conjunto com os esforços do zoneamento e do licenciamento ambiental que ocorrem

na restauração ecológica das áreas sob mineração, somando-se os resultados

obtidos.

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2.8.1 Legislação estadual relacionada a recuperação das áreas degradadas

pela mineração

A Resolução SMA nº 32, de 3 de abril de 2014, estabelece critérios e

orientações para a elaboração, execução e monitoramento de Projetos de

Restauração Ecológica. Os projetos de mineração de areia se enquadram nesta

norma, quando for realizado o projeto para recuperar a área degradada.

Nas leis anteriores e em grande parte da literatura existente, o instrumento

para realizar a recuperação ambiental é denominado Projeto de Recuperação de

Área Degradada (PRAD), com os mesmos objetivos do Projeto de Restauração

Ecológica.

A Resolução SMA 32/2014, em seu artigo 2º, define restauração ecológica

como “intervenção humana intencional em ecossistemas degradados ou alterados

para desencadear, facilitar ou acelerar o processo natural de sucessão ecológica”.

Ainda, define o projeto de restauração ecológica como “instrumento de

planejamento, execução e monitoramento da restauração ecológica, em áreas rurais

ou urbanas, que deverá ser apresentado pelo restaurador, sendo a recomposição

seu principal objetivo”. A recomposição, no mesmo texto, se refere à mudança de

uma condição degradada para outra não degradada, podendo ser diferente da

condição original, sendo capaz de manter sua estrutura e autossustentabilidade

(SÃO PAULO, 2014).

Tal resolução detalha todo o processo de restauração ecológica, sendo que

as etapas necessárias para execução do projeto são: diagnóstico da área objeto da

restauração, proposta de Projeto de Restauração Ecológica, implantação das ações

previstas no projeto, manutenção, monitoramento e conclusão do projeto de

restauração ecológica. Foi criado o Sistema Informatizado de Apoio à Restauração

Ecológica (SARE), como objetivo de cadastrar, monitorar e atualizar os dados em

todas as etapas dos projetos de restauração ecológica (SÃO PAULO, 2014).

O diagnóstico da área embasará a escolha do método e das ações

apropriadas à restauração ecológica, bem como definirá os possíveis usos futuros

da área a ser restaurada. A etapa de proposta deve prever a metodologia de

restauração ecológica que será utilizada e as ações de proteção contra fatores de

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perturbação, como presença de gado, formigas cortadeiras, risco de incêndios,

secas prolongadas e presença de espécies exóticas invasoras.

Os métodos de restauração ecológica descritos na Resolução SMA 32/2014

são: condução da regeneração natural de espécies nativas, plantio de espécies

nativas, plantio de espécies nativas conjugado com a condução da regeneração

natural e plantio intercalado de espécies exóticas e nativas. A regeneração natural

deve ser favorecida em todos os métodos e não é permitido o uso de espécies

exóticas com potencial de invasão.

A manutenção da área implantada é prevista na Resolução SMA 32/2014,

devendo ocorrer durante todo o projeto. Dentre as atividades de manutenção,

podem ser citadas: a limpeza da área através de roçada ou coroamento, a reposição

de mudas mortas, o controle de pragas e doenças, adubação e irrigação periódica.

O monitoramento também deve ocorrer durante toda a execução do projeto

de restauração ecológica, sendo os prazos para apresentação das informações

definidos em 3, 5, 10, 15 e 20 anos a partir da implantação ou até que a

recomposição tenha sido atingida. Foram definidos indicadores ecológicos para

avaliar o desempenho do projeto durante o monitoramento, indicando possíveis

intervenções ou manutenções necessárias para uma melhor condução das áreas

implantadas, buscando-se o estabelecimento do equilíbrio ecológico ao final da

restauração.

Os atuais indicadores definidos na legislação, que devem constar no

monitoramento dos projetos de restauração ecológica, são: cobertura do solo com

vegetação nativa, em porcentagem; densidade de indivíduos nativos regenerantes,

em indivíduos por hectare; e número de espécies nativas regenerantes. Os

indicadores ecológicos também são usados para definir se o projeto pode ser

considerado concluído, ou seja, se a área foi restaurada para uma condição não

degradada, com capacidade de se autossustentar (SÃO PAULO, 2014). Tal

definição auxilia os trabalhos dos técnicos envolvidos com a restauração ecológica

na região, bem como padroniza os procedimentos das análises e vistorias realizadas

pelos técnicos do governo ligados ao licenciamento ambiental.

Embora os indicadores ecológicos sejam fundamentais para a avaliação dos

projetos de restauração, existe uma lacuna na legislação em relação aos indicadores

do meio físico e biológico (principalmente em relação à qualidade do solo nas áreas

implantadas e o uso de espécies nativas como indicadoras). que não foram

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contemplados pela Resolução SMA 32/2014, porém possuem grande importância na

avaliação da qualidade e efetividade da restauração ecológica.

Lembrando que a Resolução SMA 42/1996 também descreve alguns critérios

técnicos a serem adotados nos projetos de recuperação ambiental, fazendo

distinção entre a vegetação a ser implantada em relação à sua localização,

diferenciando métodos para as áreas de preservação permanente e para as áreas

em torno das cavas, onde pode ser utilizado o plantio com espécies exóticas. O

monitoramento das águas das cavas também deve ser realizado, sendo

condicionante para a aprovação de projetos que definem outros usos às cavas,

como a piscicultura.

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3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os instrumentos legais para ordenamento da atividade de extração de areia e

da restauração ambiental já foram criados, sendo que na atual fase, é necessária a

avaliação sobre a aplicação da legislação, bem como de aprimoramentos nos

dispositivos legais, visando à efetiva restauração ambiental dos empreendimentos

de mineração. Ações de fiscalização também são importantes neste processo, para

que a legislação ambiental seja incorporada pelos empreendimentos de mineração.

O aparelhamento dos órgãos envolvidos no licenciamento ambiental e a

fiscalização devem ser priorizados, visando à qualificação dos técnicos para

realização de análises técnicas e vistorias, bem como a diminuição do tempo e

burocracia dos trâmites processuais. O papel de cada órgão deve ser revisto, para

evitar a sobreposição de funções, gerando excesso de burocracia e exigências

ambíguas para a realização da mineração, onerando e dificultando a legalização dos

empreendimentos.

Atualmente, os órgãos de licenciamento ambiental estão condicionando a

renovação da licença de operação, mediante a comprovação de que o projeto de

restauração está sendo conduzido conforme o cronograma e dentro dos critérios

estabelecidos. Com isso, fica garantido que a empresa de mineração, para continuar

suas atividades, deve fazer os investimentos em recuperação da área, previstos no

projeto de restauração ecológica apresentado ao órgão ambiental.

O zoneamento ambiental também deve ser atualizado e aprimorado,

principalmente em relação aos novos conflitos sociais que surgiram na última

década, como o avanço das áreas urbanizadas. A avaliação da restauração

ambiental das zonas de recuperação (ZR) definidas no zoneamento ambiental,

também é de extrema importância e indicará novas ações a serem tomadas pelo

governo, como fiscalização e maior rigor no licenciamento ambiental. O zoneamento

ambiental, juntamente com uma ampla participação da sociedade, é o caminho mais

viável para equacionar os conflitos sociais gerados pela mineração.

Através de melhores garantias para a continuidade da atividade de

mineração, com relação à redução dos conflitos sociais e de condições mais

favoráveis para o licenciamento ambiental, as empresas deixarão de pensar apenas

no lucro imediato do negócio e passarão a adotar práticas mais conservacionistas,

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visando à sustentabilidade da mineração de areia no Vale do Paraíba do Sul. Com

isso, haverá uma melhora na imagem negativa da sociedade em relação às

empresas mineradoras.

Novas pesquisas sobre os indicadores ecológicos serão importantes para

definição de parâmetros mais adequados para a região e para a atividade de

extração de areia, que serão usados na avaliação e no monitoramento da vegetação

implantada. Pesquisas sobre os indicadores do meio físico e biológico e estudos que

definam espécies mais adaptas para a região da várzea são igualmente importantes

e também buscam uma maior efetividade da restauração ecológica.

O desenvolvimento de novas tecnologias relacionadas à extração de areia,

com equipamentos mais eficientes e melhores técnicas de exploração, bem como o

uso de materiais em substituição a areia natural, também representam um ganho

ambiental, já que visam a racionalização do uso e conservação dos recursos

naturais.

Devido à importância da bacia hidrográfica do Rio Paraíba do Sul no

abastecimento de água, geração de energia elétrica, agropecuária e mineração,

existem diversos programas e ações do governo que devem ser geridos de forma

integrada, visando o uso racional dos recursos naturais. A gestão ambiental

participativa, envolvendo a sociedade e o setor da mineração de areia, deve ser

incentivada pelo governo, minimizando assim a geração de conflitos entre a

atividade de mineração e os demais interesses da sociedade.

Finalmente, é importante destacar que as ações de recuperação ambiental

devem ser realizadas em toda a bacia hidrográfica, visto a relação entre os

diferentes usos dos recursos naturais e seus impactos ambientais. Incentivos

econômicos e assistência técnica para implantação e condução dos projetos de

restauração ecológica são fundamentais para uma recuperação ambiental mais

efetiva e em larga escala.

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4 REFERÊNCIAS

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