universidade federal de uberlÂndia instituto de fÍsica ... · universidade federal de uberlÂndia...

61
UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA INSTITUTO DE FÍSICA ESTUDO DA TRANSIÇÃO DE FASE EM CRISTAIS LÍQUIDOS UTILIZANDO A TÉCNICA DE ELIPSOMETRIA DE EMISSÃO. GILBERTO FERREIRA BORGES JÚNIOR Dezembro de 2010 UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA INSTITUTO DE FÍSICA

Upload: duonganh

Post on 27-Dec-2018

219 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA INSTITUTO DE FÍSICA ... · universidade federal de uberlÂndia instituto de fÍsica estudo da transiÇÃo de fase em cristais lÍquidos utilizando

UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA

INSTITUTO DE FÍSICA

ESTUDO DA TRANSIÇÃO DE FASE EM CRISTAIS

LÍQUIDOS UTILIZANDO A TÉCNICA DE

ELIPSOMETRIA DE EMISSÃO.

GILBERTO FERREIRA BORGES JÚNIOR

Dezembro de 2010

UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA

INSTITUTO DE FÍSICA

Page 2: UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA INSTITUTO DE FÍSICA ... · universidade federal de uberlÂndia instituto de fÍsica estudo da transiÇÃo de fase em cristais lÍquidos utilizando

ESTUDO DA TRANSIÇÃO DE FASE EM CRISTAIS LÍQUIDOS

UTILIZANDO A TÉCNICA DE ELIPSOMETRIA DE EMISSÃO.

Monografia apresentada ao programa de

graduação em Física de Materiais da Universidade

Federal de Uberlândia, como parte dos requisitos

para obtenção do título de BACHAREL EM FÍSICA

DE MATERIAIS

Orientador: Prof.Dr. Newton Martins Barbosa Neto

GILBERTO FERREIRA BORGES JÚNIOR

Dezembro de 2010

GILBERTO FERREIRA BORGES JÚNIOR

Page 3: UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA INSTITUTO DE FÍSICA ... · universidade federal de uberlÂndia instituto de fÍsica estudo da transiÇÃo de fase em cristais lÍquidos utilizando

ESTUDO DA TRANSIÇÃO DE FASE EM CRISTAIS LÍQUIDOS

UTILIZANDO A TÉCNICA DE ELIPSOMETRIA DE EMISSÃO.

Monografia APROVADA pela

Coordenação do curso de Física de

Materiais da Universidade Federal de

Uberlândia.

Área de concentração: Física de

Materiais, Propriedades ópticas de

materiais

Banca Examinadora

Prof. Dr. Newton Martins de Barbosa Neto (Orientador)

Prof. Dr. Adamo Ferreira Gomes do Monte

Prof. Dr. Erick Piovesan

UBERLÂNDIA, 21 de dezembro de 2010

Page 4: UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA INSTITUTO DE FÍSICA ... · universidade federal de uberlÂndia instituto de fÍsica estudo da transiÇÃo de fase em cristais lÍquidos utilizando

DEDICATÓRIA

.

Dedico este trabalho e todo o sucesso que obtive

até esta etapa da minha vida aqueles que

dedicaram parte de suas vidas a mim: meus

amados pais Eliana Aparecida Marques Borges

e Gilberto Ferreira Borges.

Page 5: UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA INSTITUTO DE FÍSICA ... · universidade federal de uberlÂndia instituto de fÍsica estudo da transiÇÃo de fase em cristais lÍquidos utilizando

AGRADECIMENTOS

A meus pais pelo amor, carinho e apoio que nunca deixaram faltar, mesmo em

momentos onde andei errado, por isso amo vocês!

A minha companheira, amada, amiga e conselheira (também ótima professora de

química) Eufrásia de Sousa Pereira, por seu carinho e sua paciência comigo quando me

empolgava no laboratório.

A meu orientador Newton Martins de Barbosa Neto, pelas manhãs de sábado

discutindo oscilador harmônico e por me orientar com muito respeito e sinceridade sempre

levantando problemas e me incentivando a solucioná-los, isto com certeza me fez amadurecer

muito e aumentar meu amor por esta ciência tão linda que é a Física.

Aos demais professores do Grupo de Espectroscopia de Materiais (GEM), Prof. Drª.

Raigna Augusta e prof. Dr. Alexandre Marleta por suas excelentes colaborações, e pelos

esforços em conjunto com meu orientador para que nosso grupo sempre tivesse condições de

fazer pesquisa de qualidade. E também aos meus colegas do GEM (que são muitos) pelo

cafezinho na 1X 09 e as muitas discussões sobre física, futebol, política e conhecimentos

gerais. Assim como os meus colegas e amigos do INFis- UFU.

A todos os professores do INFis- UFU que de alguma forma contribuíram para eu

estruturar o conhecimento adquirido ao longo destes quatro anos.

A quem sempre pagou as contas das viagens para congressos, disponibilizou

equipamentos e locais para fazer pesquisa: Fapemig, CAPES, CNPq e UFU. E também a

quem pagou a bolsa: INEO- CNPq (Instituto Nacional de Eletrônica Orgânica).

Mas acima de tudo quero agradecer a DEUS por permitir que eu tivesse motivos de

fazer uma lista tão grande de coisas boas pelas quais devo demonstrar gratidão e por sempre

estar comigo quando em oração pedi sua ajuda.

Page 6: UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA INSTITUTO DE FÍSICA ... · universidade federal de uberlÂndia instituto de fÍsica estudo da transiÇÃo de fase em cristais lÍquidos utilizando

BORGES JÚNIOR, G.F. Estudo da transição de fase em cristais líquidos utilizando a

técnica de elipsometria de emissão. 2010. 61 f. Monografia (graduação) – Instituto de

Física, Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia 2010.

RESUMO

Este trabalho visa a utilização de uma técnica de baixo custo e ao mesmo tempo eficiente para

a determinação de temperaturas de transições de fase em sistemas que apresentam fases

ordenadas e desordenadas. O material escolhido para este estudo inicial foi um composto

formado a partir da diluição de um emissor de luz recém sintetizado (o 4,7-bis (2–4-dec-

ilpiperazin-1-il)phenil]ethinil}-[2,1,3]-benzothiadiazole) no cristal líquido comercial E7. Uma

vez que estas moléculas de corante são alinhadas com as do cristal líquido a fluorescência do

sistema é altamente polarizada na direção de polarização do laser de excitação (cerca de

92%). Por outro lado, a polarização da fluorescência decresce consideravelmente na fase

anisotrópica (cerca de 40%). Neste contexto, utilizou-se a técnica de elipsometria para a

quantificação do grau de polarização da fluorescência, o qual foi tomado como o parâmetro de

ordem do sistema. O mapeamento deste parâmetro, quando a amostra é submetida a diferentes

temperaturas revela uma descontinuidade abrupta de seus valores, que ocorre em uma

temperatura específica. Este comportamento típico de uma transição de fase de primeira

ordem é uma assinatura da transição de um cristal líquido da fase nemática para a líquida

isotrópica. O sucesso da implementação deste método pode ser confirmado devido a precisão

da temperatura de transição de fase obtida. Desta forma este trabalho mostra uma nova

maneira de determinar transições de fase de sistemas fluorescentes, associando a estes um

parâmetro de ordem mensurável por uma técnica de baixo custo financeiro em comparação

com os métodos usuais.

Palavras Chave: Elipsometria. Transições de fase nemático-isotrópicas. Cristais líquidos.

Fluorescência polarizada.

Page 7: UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA INSTITUTO DE FÍSICA ... · universidade federal de uberlÂndia instituto de fÍsica estudo da transiÇÃo de fase em cristais lÍquidos utilizando

BORGES JÚNIOR, G.F. Phase transitions’ study in liquid crystals used the ellipsometry of emission technique. 2010. 61 f. MONOGRAFIA (GRADUAÇÃO) – INSTITUTO DE FÍSICA, UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA. UBERLÂNDIA, 2010. Uberlândia, 2010

ABSTRACT

This work aim to employ an efficient, low-cost as well as reliable technique to determine

temperature of phase transition for systems that present both ordered and non ordered phases.

The chosen material was a compound formed by a new fluorescent compound (the 4,7-bis (2–

4-dec-ilpiperazin-1-il)phenil]ethinil}-[2,1,3]-benzothiadiazole) guested in a commercial liquid

crystal E7. Since the chromophore molecules are aligned with the liquid crystal their emission

presents a high amount of polarized light at laser excitation direction in the anisotropic phase

(around 92%). On the other hand, the amount of polarized light emitted decrease considerably

in the isotropic phase (around 40%). In this context, the ellipsometry technique was used in

order to quantify the polarized fluorescence degree that was taken as order parameter for the

system. Mapping this parameter for different temperatures we have observed a great slope

variation in these parameters values, which occur in a specific temperature. This is a typical

behavior for a first order phase transitions and is assigned to the liquid crystal phase transition

among neematic and isotropic phases. The success of the implementation of this technique

can be confirmed due the precision in the phase transition temperature obtained. Therefore,

this work show a new method used to determine the phases transitions in fluorescents

systems, assigning to the system an order parameter measurable by a low cost technique.

Keywords: Ellipsometry, Neematic-isotropic phase transitions, Liquid crystals, Polarized

fluorescence.

Page 8: UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA INSTITUTO DE FÍSICA ... · universidade federal de uberlÂndia instituto de fÍsica estudo da transiÇÃo de fase em cristais lÍquidos utilizando

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Molécula de um cristal líquido organometálico. Esta molécula representa uma estrutura

típica de CL com uma parte rígida e outras flexíveis além da presença de grupos aromáticos. Fonte:

Liquid crystals / Iam-Choon Khoo. —2nd ed.pg-2. .............................................................................. 16

Figura 2 – Esquema representando o ordenamento orientacional das moléculas da mesofase e a

distribuição aleatória do centro de massa das mesmas. ......................................................................... 17

Figura 3 - À esquerda são mostrados os padrões de organização moléculas nas fases esméticas A e C.

À direita um padrão da densidade nestas fases. Fonte: Os cristais líquidos, Assis Martins Farinha,

pg.14 (texto de divulgação cientifica). .................................................................................................. 20

Figura 4 - Esquematização da fase colestérica. Fonte: Liquid Crystal / Iam Choom-Khoo 2ª edição-

pg.9 ........................................................................................................................................................ 20

Figura 5 - Representação cartesiana das componentes do campo elétrico de uma onda eletromagnética

propagando na direção z. ....................................................................................................................... 23

Figura 6 - Representação generalizada da elipse de polarização com os eixos inclinados. .................. 25

Figura 7 – Feixe interagindo com um elemento polarizador. ................................................................ 30

Figura 8 - Representação esquemática de um feixe despolarizado interagindo com um polarizador com

eixo óptico na direção vertical, o feixe emergente possui somente uma componente. ......................... 32

Figura 9 - Esquematização de um feixe interagindo com um cristal que apresente birrefringência. .... 32

Figura 10 - Rotação do campo óptico por um rotor. Fonte: (Goldstein, 2003) .................................... 36

Figura 11 - Esquematização da construção de matriz de Mueller para elemento polarizador

rodado.Fonte:(Goldstein, 2003) ............................................................................................................ 37

Figura 12 - À direita é mostrado um esquema da configuração experimental da EE, e à esquerda uma

curva de intensidades típica obtida com este método. ........................................................................... 40

Figura 13 – a) Esquema mostrando a proporção de cada composto que constitui CL comercial E7 da

Merck. ................................................................................................................................................... 47

Figura 15- Esquematização dos experimentos de PL (à esquerda) e de absorção (à direita). ............... 48

Page 9: UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA INSTITUTO DE FÍSICA ... · universidade federal de uberlÂndia instituto de fÍsica estudo da transiÇÃo de fase em cristais lÍquidos utilizando

Figura 14 - Formula estrutural do corante 4,7-bis (2–4-dec-ilpiperazin-1-il)phenil]ethinil}-[2,1,3]-

benzothiadiazole (5A) ........................................................................................................................... 48

Figura 16 - Arranjo experimental da elipsometria de emissão com a amostra acoplada a um termo

controlador. ........................................................................................................................................... 49

Figura 17 - À esquerda são mostrados os espectro de PL para diversas concentrações e à direita os de

absorção destas amostras. ...................................................................................................................... 50

Figura 18 - Nesta figura são mostrados os espectros de absorção de luz polarizada nas direções

verticais e perpendiculares. ................................................................................................................... 51

Figura 19 - Ajuste dos pontos experimentais obtidos com o experimento de elipsometria de emissão na

amostra com concentração molar de 0,25% à temperatura de 30°C. O comprimento de onda analisado

foi o de 633nm. ..................................................................................................................................... 52

Figura 20 – a) O diagrama de pontos experimentais obtidos mapeando o parâmetro P em cada

temperatura. b) O comportamento da derivada ����. O ponto de mínimo nesta curva está relacionado

à temperatura de transição de fase. c) Curva teórica de uma transição de fase do tipo N-I representando

o comportamento do parâmetro de ordem em função da temperatura. ................................................. 52

Page 10: UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA INSTITUTO DE FÍSICA ... · universidade federal de uberlÂndia instituto de fÍsica estudo da transiÇÃo de fase em cristais lÍquidos utilizando

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Parâmetros obtidos do ajuste de dados experimentais da EE em função da

temperatura.

Page 11: UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA INSTITUTO DE FÍSICA ... · universidade federal de uberlÂndia instituto de fÍsica estudo da transiÇÃo de fase em cristais lÍquidos utilizando

ABREVIAÇÕES E SÍMBOLOS

CL C r i s ta l l í qu ido

EB E le t romagné t i ca

N- I Nemat i co - iso t róp i ca

5A 4 ,7 -b i s (2–4 -dec- i lp ipe raz in -1 - i l )phen i l ] e th ini l } -

[ 2 ,1 ,3 ] -benzo th iad iazo le

PL Fo to lum inescênc ia

EE E l i psomet r i a de emissão

S0 , S1 , S2e S3 Parâmet ros de S tokes � �� Lâm ina quar to de onda

P Grau de po lar i zação

ºC g raus Cels ius

PO Parâmet ro de o rdem

Tc Temperatura de t rans i ção de fase

GL G inzburg - Landau

LDDG Landau- Ginzburg-de Gennes . �|| Absorção de Luz po lar i zada ve r t i ca l � Absorção de Luz po lar i zada ho r izon ta l

Page 12: UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA INSTITUTO DE FÍSICA ... · universidade federal de uberlÂndia instituto de fÍsica estudo da transiÇÃo de fase em cristais lÍquidos utilizando

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .................................................................................................... 13

CAPÍTULO I - Os Cristais Líquidos ................................................................... 15

1.1 - A estrutura física e química dos cristais líquidos.......................... 16

1.2 - As diversas fases dos cristais líquidos.............................................. 17

1.2.1 - Fase nemática.................................................................. 18

1.2.2 - As fases esmética............................................................ 19

1.2.3 - A fase colestérica............................................................ 20

CAPÍTULO II - O fenômeno da polarização da luz .......................................... 22

2.1 - A Elipse de polarização......................................................... 22

2.1.1 - Polarização linear horizontal e vertical............................ 24

2.1.2 - Polarização linear +45° e -45°.......................................... . 24

2.1.3 - Polarização circular...................................................... 25

2.1.4 - A descrição da Elipse................................................ .... 25

2.2 - Os Parâmetros de Stokes............................................................. 26

2.2.1 - O vetor de Stokes............................................................ 29

2.3 - O formalismo matricial de Mueller........................................ 30

Page 13: UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA INSTITUTO DE FÍSICA ... · universidade federal de uberlÂndia instituto de fÍsica estudo da transiÇÃo de fase em cristais lÍquidos utilizando

2.3.1 - Matriz de Mueller de um polarizador.............................. 31

2.3.2 - Matriz de Mueller de um retardador ........... ........... ......... 34

2.3.3 - A matriz de Mueller de um Rotor..................................... 36

2.3.4 - A matriz de Mueller para um elemento polarizador rodado.......... 37

CAPÍTULO III - DETERMINAÇÃO DOS PARÂMETROS DE STOKE S E

ELIPSOMETRIA DE EMISSÃO ............................................................ 39

3.1 - Descrições Matemática da Elipsometria de Emissão..................... 39

CAPÍTULO IV - TRANSIÇÕES DE FASE ....................................................... 42

4.1 - Classificação das transições de fase.................................................. 42

4.2 - O modelo fenomenológico de Ginzburg-Landau-de Gennes para transição

Nemática- Isotrópica ............................................................................................. 44

CAPÍTULO V - MATERIAIS E MÉTODOS ..................................................... 47

CAPÍTULO VI - RESULTADOS E DISCUSSÕES DOS DADOS................... 50

CAPÍTULO VII - CONCLUSÕES ...................................................................... 55

APÊNDICE A ....................................................................................................... 56

A.1 – Trabalhos apresentados

A.2 - Artigo Publicado

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS ................................................................ 58

Page 14: UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA INSTITUTO DE FÍSICA ... · universidade federal de uberlÂndia instituto de fÍsica estudo da transiÇÃo de fase em cristais lÍquidos utilizando

13

INTRODUÇÃO

Os cristais líquidos são materiais que desde a sua descoberta em 1888 despertam

grande curiosidade e fascínio no meio cientifico, principalmente devido as peculiaridades de

suas propriedades físicas e químicas.Sendo uma destas propriedades utilizada inclusive para

denominar estes compostos. O termo “cristais líquidos” com certeza sugere um paradoxo, a

julgar pelos conhecimentos comumente difundidos de que a matéria pode ser encontrada ou

na fase sólida, ou líquida ou gasosa, e que a fase sólida possui comportamento justamente

oposto ao da fase líquida, i.e, associa-se a fase sólida a idéia de ordem e a fase líquida a idéia

de desordem molecular. Neste contexto, estes materiais introduzem a noção de que líquidos

podem sim apresentar ordenamento de alguma estrutura constituinte. No caso dos cristais

líquidos a ordem existente é a ordem orientacional das moléculas, conforme será discutido no

texto.

Porém, assim como acontece em qualquer fase da matéria, estes cristais líquidos

podem sofrer modificações em sua estrutura devido à alteração de fatores externos, que

geralmente são variáveis termodinâmicas como temperatura e pressão. A essas mudanças de

estado damos o nome de transições de fase, e elas podem ser previstas ou estudadas definindo

uma variável que seja mensurável e que se comporte de forma diferente nas fases ordenada e

desordenada. A noção intuitiva é que seja possível a definição de um parâmetro que

quantifique o grau do ordenamento molecular no sistema, e este parâmetro é chamado de

parâmetro de ordem.

Tendo em vista que na maioria das aplicações dos cristais líquidos sua propriedade

mais explorada é o ordenamento molecular, então é evidente que a perda desta característica

tem como conseqüência uma série de resultados indesejáveis. Assim, determinar as condições

nas quais ocorrem as transições de fase de um cristal líquido é crucial para se determinar e

restringir suas aplicações. Este fato então justifica o grande número de resultados obtidos nos

últimos anos a respeito destes fenômenos de transição de fase em cristais líquidos

(CZARNIK-MATUSEWICZ; PAJAK; ROSPENK, 2005) (BAUMAN;MORYSON,1997)

(CHEUNG; SCHMID,2006), sendo que a grande maioria está interessado em encontrar as

condições de temperatura onde essas transições ocorrem. Essas são as chamadas temperaturas

de transição de fase ou simplesmente �.

Page 15: UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA INSTITUTO DE FÍSICA ... · universidade federal de uberlÂndia instituto de fÍsica estudo da transiÇÃo de fase em cristais lÍquidos utilizando

14

Este trabalho visa utilizar-se de um método simples para determinar a transição de fase

de um cristal líquido comercial. Tal método consiste na determinação de um parâmetro de

ordem relacionado ao grau de polarização da luz emitida por um composto de cristal líquido

dopado com um corante. Este grau de polarização será mensurado utilizando-se a técnica de

elipsometria de emissão.

Além disso, é abordado neste trabalho uma discussão quantitativa e qualitativa de

forma detalhada sobre os materiais utilizados, os fenômenos físicos estudados e as

ferramentas empregadas no desenvolvimento do mesmo.

No capítulo I são discutidas as características e as propriedades físicas e estruturais

dos cristais líquidos, de forma a explicitar o que são estes materiais. No capítulo II são

abordados o fenômeno de polarização da luz e o formalismo de Stokes, que consegue fornecer

uma descrição completa sobre o estado de polarização de um feixe. Também é apresentado

um formalismo matemático conhecido como formalismo matricial de Mueller que simplifica

o tratamento formal deste fenômeno. No capítulo III é utilizado o formalismo dado no

capítulo II para se chegar a um tratamento matemático da elipsometria de emissão. Para

finalizar a parte de revisão bibliográfica, é discutido no capítulo IV o fenômeno de transição

de fase, e o modelo de transições de fase de primeira ordem em cristais líquidos e sistemas

complexos desenvolvido por Pierre Gilles deGennes (DEGENNES, 1990). Finalmente os

detalhes práticos da parte experimental do trabalho são tratados no capítulo V e no capítulo VI

os resultados e as discussões destes são apresentados.

Page 16: UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA INSTITUTO DE FÍSICA ... · universidade federal de uberlÂndia instituto de fÍsica estudo da transiÇÃo de fase em cristais lÍquidos utilizando

15

CAPÍTULO I

Os Crista is Líquidos

As primeiras observações experimentais destes materiais datam de 1888 feitas pelo

botânico austríaco Friedrich Richard Kornelius Reinitzer (1858-1927). Ele observou que ao

aquecer o benzoato de colesterila (um derivado de colesterol), podia-se observar que a

substancia tinha o seguinte comportamento com o aumento da temperatura: primeiramente o

material transitava do estado sólido cristalino para um estado líquido translúcido;

posteriormente passava desta fase líquida translúcida para uma fase líquida transparente.

Outra propriedade que chamou a atenção de Reinitzer foi a reflexão seletiva de cores com a

variação da temperatura. Ele então apresentou o novo composto para o físico alemão Otto

Lehmann (1855-1922).

Lehmann investigou varias propriedades químicas e físicas deste material chegando

então a conclusão de que estava diante de um novo material que apresentava curiosamente

características tanto da fase sólida da matéria (reflexão seletiva de luz) quanto da fase liquida

(fluidez) (LEHMANN,1889). Desta forma Lehman chegou a conclusão de que estes materiais

estariam em uma fase entre o estado sólido cristalino e o estado líquido isotrópico, este estado

peculiar foi denominado mesofase (meso= intermediário, ou seja, fase intermediaria). As

substâncias que formam esta fase são chamadas de mesogénicas. Atualmente sabe-se que o

tipo de cristal líquido estudado por Reinitzer e Lehmann constitui um caso particular destes

materiais, apenas uma mesofase possível de se encontrar estes materiais.

As características e as estruturas físicas e químicas, além das diversas fases destes

materiais são discutidas neste capítulo.

Page 17: UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA INSTITUTO DE FÍSICA ... · universidade federal de uberlÂndia instituto de fÍsica estudo da transiÇÃo de fase em cristais lÍquidos utilizando

16

1.1 - A estrutura física e química dos cristais líquidos

Cristais líquidos (CL) são em geral derivados de compostos aromáticos, por isto na

maioria destes é comum a presença de um anel benzênico. Porém a presença deste não é

suficiente para caracterizar um CL, a principal característica química destas moléculas é a

presença de uma parte rígida e outra flexível (CHOM-KHOO, 2007). A figura mostra uma

molécula típica mesogênica (que forma a mesofase) neste exemplo a parte rígida da molécula

é a dupla ligação entre o grupo CH e o nitrogênio, todas as demais são ligações flexíveis

(ligações simples), é conveniente notar que não é feita nenhuma alusão à rigidez dos anéis

benzênicos (que são estruturas rígidas), toda análise então é feita sobre as ligações entre os

vários fragmentos da molécula.

Figura 1 - Molécula de um cristal líquido organometálico. Esta molécula representa uma estrutura típica de CL com uma parte rígida e outras flexíveis além da presença de grupos aromáticos. Fonte: Liquid crystals / Iam-Choon Khoo. —2nd ed.pg-2.

Para o entendimento das propriedades físicas dos cristais líquidos, é necessário

entender a diferença entre a mesofase e as demais fases da matéria. Esta diferença se dá

prioritariamente pelo ordenamento dos constituintes da matéria, neste caso as moléculas e os

agregados moleculares. É importante ter em mente que a definição de ordem e desordem na

matéria depende intimamente da escala de comprimento adotada para analisar tal

característica, ou seja, sempre é possível definir uma região no espaço que tenha ordenamento

ou uma repetição periódica de estruturas básicas. Dependendo das dimensões desta região

define-se ordem de longo alcance ou curto alcance. O primeiro caso se referindo a situações

em que a ordem ou a periodicidade espacial das componentes básicas da matéria podem ser

verificadas para uma região muito maior que as dimensões moleculares, enquanto no segundo

caso esta situação só é possível de ser definida para uma região que seja da mesma ordem de

Page 18: UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA INSTITUTO DE FÍSICA ... · universidade federal de uberlÂndia instituto de fÍsica estudo da transiÇÃo de fase em cristais lÍquidos utilizando

17

grandeza das dimensões moleculares, desta forma tal região engloba algumas poucas

unidades.

Na fase sólida cristalina da matéria os átomos possuem posições bem definidas, é dito

então que estes possuem ordenamento posicional de longo alcance, pois a estrutura cristalina

se repete ao longo de uma região do espaço que é muito maior que as dimensões das células

primitivas do cristal. Por outro lado um líquido isotrópico não possui nenhum ordenamento de

longo alcance, i.e, observando o centro de massa das moléculas não é possível perceber

nenhuma ordem quanto a sua distribuição espacial.

Entretanto na mesofase o conceito de ordenamento se difere dos conceitos citados

acima. Nesta fase os centros de massa das moléculas estão dispostos aleatoriamente no

espaço, em contrapartida elas estão orientadas em uma direção preferencial e esta situação é o

que se denomina ordem orientacional. A direção de alinhamento das moléculas é definida

pelo vetor diretor n, conforme mostrado na figura abaixo.

Figura 2 – Esquema representando o ordenamento orientacional das moléculas da mesofase e a distribuição aleatória do centro de massa das mesmas.

É justamente esta ordem orientacional de longo alcance que confere o caráter

cristalino da mesofase enquanto a fluidez desta é, na maioria dos casos, proveniente da

distribuição randômica das moléculas no espaço.

1.2 - As diversas fases dos cristais líquidos.

Os cristais líquidos podem ser divididos em duas grandes classes, os liotrópicos e os

termotrópicos. Esta caracterização é feita de acordo com o método empregado em sua síntese.

Os liotrópicos, são obtidos a partir de soluções com determinadas concentrações de reagentes,

são largamente empregados na indústria de cosméticos e de produtos de limpeza. Por outro

n

Page 19: UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA INSTITUTO DE FÍSICA ... · universidade federal de uberlÂndia instituto de fÍsica estudo da transiÇÃo de fase em cristais lÍquidos utilizando

18

lado os chamados cristais líquidos termotrópicos são obtidos através do tratamento térmico de

determinadas substancias, assim como feito por Reinitzer utilizando o benzoato de colesterila.

As propriedades discutidas no decorrer deste texto são igualmente validas para cristais

líquidos liotrópicos e termotrópicos (STEPHEN; STRALEY, 1974).

Os cristais líquidos podem ser encontrados em diversas fases caracterizadas pela

forma, orientação e simetria das moléculas. As principais fases são: a nemática, a colestérica e

as esméticas.

1.2.1 - Fase nemática

A fase nemática é a fase líquida cristalina mais simples, nela as moléculas apresentam

ordenamento orientacional de longo alcance e aleatoriedade quanto a sua distribuição

espacial. Isto significa que pode ser definida uma região no espaço que tenha em média a

maioria das moléculas alinhadas segundo uma direção, sendo as dimensões desta região

grandes se comparadas com as dimensões moleculares.

O vetor n indica a direção de um eixo de simetria infinita, isto é, todas as propriedades

físicas e químicas destes compostos permanecem invariantes sob qualquer tipo de rotação ao

redor deste eixo. Por exemplo, se for feita uma rotação em torno deste as propriedades físicas

durante esta rotação permanecem constantes. Um bom exemplo de uma propriedade que pode

apresentar esta anisotropia é o índice de refração. Este apresenta um valor ao longo da direção

de alinhamento das moléculas (paralelo a n) e outro diferente para regiões. Este fato confere

ao sistema propriedades birrefringentes que possuem aplicações tecnológicas que serão

discutidas a seguir.

O grau de orientação das moléculas não é perfeito, em outras palavras, existem

flutuações na orientação molecular, por isso é conveniente a definição de uma grandeza

chamada grau de ordem ou parâmetro de ordem. Considerando a simetria da mesofase e

realizando cálculos estatísticos é possível obter diversas formas de representação para tal

parâmetro (Shri, 1996), sendo o mais utilizado destes dado por: S = � ⟨3 cos� θ − 1⟩ eq.1.1

Em que θ é o ângulo formado por uma molécula arbitraria com o vetor diretor.

É importante notar que a eq. 1.1 representa uma média estatística do grau de

alinhamento das moléculas. Tal que na fase isotrópica S=0 enquanto na fase nemática 0<S<1.

Page 20: UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA INSTITUTO DE FÍSICA ... · universidade federal de uberlÂndia instituto de fÍsica estudo da transiÇÃo de fase em cristais lÍquidos utilizando

19

A idéia de se utilizar um parâmetro para expressar o grau de ordenamento molecular

de uma fase é um dos fatores fundamentais na construção da teoria que descreva a transição

entre as fases nemática e isotrópica (NI) de um cristal líquido.

1.2.2 - A fase esmética.

Nesta fase as moléculas estão organizadas em camadas, e dentro de cada camada os

centros de massa das moléculas estão dispostos aleatoriamente. Desta forma cada camada

pode ser tratada como sendo um líquido bidimensional. No entanto observa-se que é possível

definir um ordenamento orientacional das moléculas dentro destas estruturas, ou seja, cada

uma delas é uma estrutura tipo nemática, com flutuações bem menores (maior grau de

ordenamento). A distância entre as camadas é bem definida e pode ser mensurada utilizando-

se a técnica de difração de raios-x.

Uma analise de densidade nestas fases mostra que existe uma periodicidade senusoidal

desta propriedade, ou seja, a densidade apresenta valores máximos e mínimos que se repetem

periodicamente no espaço. A direção espacial que apresenta este comportamento define-se

como a direção “normal às camadas”. Em contrapartida a direção espacial onde a densidade é

constante é definida como sendo paralela às camadas.

O fato de a atração inter-camadas ser mais fraca que a atração entre as moléculas do

mesmo plano confere uma facilidade para as camadas deslizarem umas sobre as outras, dando

assim a propriedade fluídica a estas substâncias, diferentes dos nemáticos onde esta

propriedade é concedida graças à aleatoriedade da distribuição espacial das moléculas.

Existem muitas variações da fase esmética e a diferença entre cada uma destas é a

maneira como as moléculas estão dispostas tanto orientacionalmente quanto posicionalmente

dentro das camadas. Para maiores detalhes sobre cada uma destas fases pode-se consultar a

referencia (CHOM-KHOO, 2007).

A figura abaixo ilustra a estrutura de duas das mais estudadas variações de fase

esmética, denominadas esmética A (SA) e C (Sc).

Page 21: UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA INSTITUTO DE FÍSICA ... · universidade federal de uberlÂndia instituto de fÍsica estudo da transiÇÃo de fase em cristais lÍquidos utilizando

20

Figura 3 - À esquerda são mostrados os padrões de organização moléculas nas fases esméticas A e C. À direita um padrão da densidade nestas fases. Fonte: Os cristais líquidos, Assis Martins Farinha, pg.14 (texto de divulgação cientifica).

1.2.3 - A fase colestérica.

A fase colestérica é assim denominada por motivos históricos, pois o benzoato de

colesterila estudado por Reinitzer é um cristal líquido nesta fase. Estas mesofases são

formadas a partir de moléculas quirais, ou seja, uma molécula é justamente a imagem

espelhada da outra. Esta fase pode ser pensada como um caso geral da fase nemática. Porém,

devido a quiralidade, as moléculas se empacotam de forma a se estabilizarem (Ely, Hamanaka

et al.,2007). Este fenômeno de empacotamento pode ser facilmente visualizado sobrepondo-se

a costa da mão direita com a palma da mão esquerda note que os polegares definirão um eixo,

este é então o diretor da molécula. Este empacotamento forma uma estrutura helicoidal. Esta

estrutura pode também ser pensada como os planos da fase esmética onde o vetor n em cada

plano varia lentamente como ilustrado na figura abaixo:

Figura 4 - Esquematização da fase colestérica. Fonte: Liquid Crystal / Iam Choom-Khoo 2ª edição- pg.9

Page 22: UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA INSTITUTO DE FÍSICA ... · universidade federal de uberlÂndia instituto de fÍsica estudo da transiÇÃo de fase em cristais lÍquidos utilizando

21

Duas propriedades óticas interessantes podem ser observadas nesta fase, a reflexão

seletiva de luz e a birrefringência circular. Para se entender estes dois efeitos é necessário um

conhecimento sobre os fenômenos de polarização da luz, como será apresentado na próxima

seção.

Page 23: UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA INSTITUTO DE FÍSICA ... · universidade federal de uberlÂndia instituto de fÍsica estudo da transiÇÃo de fase em cristais lÍquidos utilizando

22

CAPÍTULO II

O fenômeno da polarização da luz.

Christian Huygens (1629-1695) foi a primeira pessoa a propor que a luz apresentava

um caráter vetorial, chegando a esta conclusão depois de analisar o comportamento da luz

propagando-se em cristais de calcita. Segundo ele “a luz tinha lados”. Depois da consolidação

da teoria eletromagnética de James Clerk Maxwell (1831-1879), começou-se a tratar a

polarização da luz como a direção do plano de oscilação do campo elétrico da onda. E foi

devido a sir George Gabriel Stokes (1819-1903), em seu trabalho datado de aproximadamente

1852 (não publicado por ele), que se obteve um formalismo consistente que permitiu prever

fenômenos relacionados à polarização. Stokes introduz o conceito de observáveis para tratar

este fenômeno.

Nesta seção são discutidos este fenômeno e o formalismo matemático necessário para

seu entendimento.

2.1 - A Elipse de polarização.

Qualquer onda eletromagnética que se propague segundo uma direção z pode ter seu

campo elétrico decomposto em duas componentes perpendiculares nas direções x e y. As

definições de tais orientações são mostradas no esquema abaixo.

Page 24: UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA INSTITUTO DE FÍSICA ... · universidade federal de uberlÂndia instituto de fÍsica estudo da transiÇÃo de fase em cristais lÍquidos utilizando

23

Figura 5 - Representação cartesiana das componentes do campo elétrico de uma onda eletromagnética propagando na direção z.

Estas componentes são representadas pelas seguintes relações: ����, �� = ��� cos� + "�� (eq.2.1a)

�#��, �� = ��# cos$ + "#% (eq. 2.1b)

Em que ��� e ��# representam as amplitudes do campo elétrico da onda nas

respectivas direções e τ é chamado de propagador e é definido por: = &� − '�. As

constantes "� e "# representam as constantes de fase da onda.

As eq. 2.1 podem ser reescritas como: ()(*) = cos cos "� − sen sen "� (eq. 2.2a)

(.(*. = cos cos "# − sen sen "# (eq.2.2b)

Multiplicando a 2.2a por sin "# e a 2.2b por sin "� e posteriormente subtraindo as duas

resulta: ()(*) sin "# − (.(*. sen "� = cos sen$"# − "�% (eq.2.3)

Agora multiplicando 2.2a por cos "# e a 2.2b por cos "�, subtraindo-as obtem-se:

()(*) cos "# − (.(*. cos "� = sin sen$"# − "�% (eq. 2.4)

Manipulando as equações 2.3 e 2.4 finalmente obtêm:

()0(*)0 + (.0(*.0 − 2 ()(*)(.(*. cos " = sen� " (eq. 2.5)

Onde " = "# − "�.

A eq.2.5 representa uma elipse, que é concebida como o estado geral de polarização e

é chamada de elipse de polarização.

z

Ex

Ey

Page 25: UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA INSTITUTO DE FÍSICA ... · universidade federal de uberlÂndia instituto de fÍsica estudo da transiÇÃo de fase em cristais lÍquidos utilizando

24

Para determinados valores de ", ��� e ��# a elipse de polarização se degenera em

alguns casos especiais mostrados a seguir.

2.1.1 Polarização linear horizontal e vertical.

Define-se polarização linear vertical a situação onde o campo elétrico da onda

eletromagnética (EB) oscila segundo a direção aqui definida por y. Neste caso a amplitude da

onda na direção x é nula então as equações 2.1a e 2.1b resultam: ����, �� = 0 eq. 2.6 a �#��, �� = ��# cos$ + "#% eq.2.6 b

Analogamente a polarização linear horizontal é o caso onde só existe oscilação na

direção de x.

2.1.2 - Polarização linear +45° e -45°.

Definindo na eq.2.5 diferença de fase de " = 0 ou " = 3 a equação fica:

()0(*)0 + (.0(*.0 − 2 ()(*)(.(*. = 0 (eq.2.7)

Que pode ser vista como o seguinte quadrado perfeito:

4 ()(*) + (.(*.5� = 0 (eq.2.8)

A solução da eq.2.8 é: �# = ± 7(*.(*)8 �� (eq. 2.9)

A eq.2.9 representa a equação de uma reta cuja inclinação é 7(*.(*)8. Para um caso

especial onde as amplitudes das duas componentes do campo elétrico são iguais temos então: �� = ±�#

Que é a equação de uma reta cuja inclinação é de +45° para o sinal positivo e de -45°

para o sinal negativo. Um campo óptico sobre estas condições é dito ter um estado de

polarização linear plano polarizado +/- 45°.

Page 26: UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA INSTITUTO DE FÍSICA ... · universidade federal de uberlÂndia instituto de fÍsica estudo da transiÇÃo de fase em cristais lÍquidos utilizando

25

2.1.3 - Polarização circular.

Por fim ao se definir uma diferença de fase de " = 9� ou " = :9� e definindo que as

amplitudes das componentes do campo são iguais, ou seja,��� = ��# = �� então a eq. 2.5 se

degenera em um circulo representado pela equação:

(*)0(* + (*.0(* = 1 (eq. 2.10)

A interpretação comumente adotada para explicar este comportamento do campo

elétrico diz que este rotaciona em torno de um eixo definido pela direção de propagação da

luz. Existem dois possíveis estados de polarização onde o campo elétrico apresente este

comportamento e estes são denominados: polarização circular esquerda ou polarização

circular direita.

A definição de um sentido de rotação do campo elétrico pode parecer um conceito

meramente matemático, mas este fenômeno fica explicitado quando a onda se propaga em

meios anisotrópicos, por exemplo, com índices de refração diferentes em direções distintas.

2.1.4 - A descrição da Elipse.

Como dito anteriormente, a eq.2.5 representa uma elipse e para a completa descrição

desta elipse é preciso determinar dois parâmetros. Para torná-los mensuráveis deve-se

relacioná-los com as grandezas ���, ��# e ". O primeiro destes parâmetros diz respeito ao

ângulo formado por um eixo ;�< da elipse com o eixo ;� das coordenadas espaciais. Uma

melhor visualização é mostrada na figura abaixo.

Figura 6 - Representação generalizada da elipse de polarização com os eixos inclinados.

Page 27: UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA INSTITUTO DE FÍSICA ... · universidade federal de uberlÂndia instituto de fÍsica estudo da transiÇÃo de fase em cristais lÍquidos utilizando

26

O referido ângulo é denominado ângulo de orientação da elipse e é representado pela letra grega =. É possível relacionar as componentes ��< e �#< com as componentes �� e �# com o

auxilio da figura 6, obtendo-se: ��< = �� cos = + �# sen = (eq. 2.11) �#< = −�� sen = + �# cos = (eq. 2.12)

Para se obter a equação da elipse inclinada, é conveniente estabelecer uma analogia

com as equações 2.1a e 2.1b e escrever as seguintes equações: ��< = > cos� + "<� (eq. 2.13) �#< = ±? sen� + "<� (eq. 2.14)

Onde "< representa uma fase arbitrária.

As equações 2.13 e 2.14 resultam:

()@0A0 + (.@0B0 = 1 (eq. 2.15)

É interessante notar que a eq.2.15 representa uma elipse inclinada.

Finalmente utilizando o conjunto de equações 2.11, 2.12, 2.13 e 2.14 chega-se a uma

relação para o ângulo de orientação da elipse (Goldstein, 2003). tan 2= = �(*)(*. EFG H(*)0 I(*.0 (eq.2.16)

É importante notar que = = 0 quando " = 90° ou 270°, ou seja, no caso em que se

tem luz linearmente polarizada. Similarmente pensando em termos de amplitude das

componentes do campo, = = 0 quando ��� ou ��# é igual a zero.

O ângulo de elipsidade é definido em termos da razão entre o semi-eixo maior da

elipse e o semi-eixo menor de acordo com a relação (GOLDSTEIN, 2003): tan L = ±BA (eq.2.17)

Com L obedecendo à seguinte relação: I9M ≤ L ≤ 9M·

2.2 - Os Parâmetros de Stokes.

A representação de um campo óptico utilizando o formalismo da elipse de polarização

não fornece uma completa descrição deste na maioria dos casos, pois é possível que em um

campo ótico tenha estados de polarização parciais. Este formalismo ainda carrega consigo um

problema intrínseco no que diz respeito à medida da elipse, uma vez que é impossível de se

Page 28: UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA INSTITUTO DE FÍSICA ... · universidade federal de uberlÂndia instituto de fÍsica estudo da transiÇÃo de fase em cristais lÍquidos utilizando

27

medir o traçado da elipse de polarização, visto que o campo elétrico da luz oscila em um

período de aproximadamente 10-15 s.

Estes fatores levaram Sir George Gabriel Stokes a propor um formalismo baseado na

idéia de observáveis (grandezas mensuráveis) para descrever completamente o estado de

polarização de uma onda EB. A idéia de Stokes é bastante simples e consegue resolver uma

serie de problemas relacionados à descrição do estado de polarização da luz.

Como o ciclo de uma oscilação do campo elétrico é da ordem de 10-15 s, é impossível

para qualquer detector acompanhar o campo elétrico durante um período de oscilação. Desta

forma o que é observado ou medido é de acordo com a interpretação de Stokes uma média

temporal sobre o comportamento do campo. Matematicamente o valor médio é definido

como: ⟨O���⟩ = limR→T R U O�����R� (eq.2.18)

Tomando a média temporal da elipse a eq.3.5 fica:

⟨()0�V�⟩(*)0 + ⟨(.0�V�⟩(*.0 − 2 ⟨()0�V�(.0�V�⟩(*)(*. cos " = sen� " (eq. 2.19)

Usando as equações 2.1a e 2.1b, é possível obter que os valores médios requeridos na

eq.2.19 são eles: ⟨������⟩ = � ���� (eq.2.20a)

⟨�#����⟩ = � ��#� (eq.2.20b)

⟨�������#����⟩ = � �����# cos " (eq.2.20c)

Multiplicando a eq.2.19 por 4���� ��#� e substituindo as eq.2.20 obtém-se:

2���� ��#� + 2���� ��#� − 2$�����# cos "%� = 2$�����# sen "%� (eq.2.21)

Somando e subtraindo ���M + ��#M do lado esquerdo da eq.2.21, finalmente encontra-se

a seguinte relação: $���� + ��#� %� − $���� − ��#� %� − $2���� ��#� cos "%� = $2���� ��#� sen "%� (eq. 2.22)

A eq.2.22 é a equação obtida por Stokes para representar por meio de observáveis a

elipse de polarização. Cada termo desta equação representa um parâmetro de Stokes. Para

simplificação é comum adotar a definição: X� = $���� + ��#� % (eq.2.23a) X = $���� − ��#� % (eq.2.23b) X� = $2���� ��#� cos "% (eq.2.23c)

Page 29: UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA INSTITUTO DE FÍSICA ... · universidade federal de uberlÂndia instituto de fÍsica estudo da transiÇÃo de fase em cristais lÍquidos utilizando

28

X: = $2���� ��#� sen "% (eq.2.23d)

E assim a eq.2.22 pode então se reescrita como: X�� = X � + X�� + X:� (eq.2.24)

Definindo as condições de contorno adequadas para os parâmetros ", ���� , e ��#� pode-

se encontrar o significado físico de cada parâmetro de Stokes definidos na eq.2.23 (Goldstein,

2003). Os resultados mostram que:

S0 é a intensidade total da luz, S1 representa a quantidade de luz polarizada verticalmente

(sinal negativo) e horizontalmente (sinal positivo), S2 descreve a polarização +45° e -45° e por

fim S3 representa a luz polarizada circularmente à direita (sinal positivo) e à esquerda (sinal

negativo).

Os seis estados de polarização apresentados acima são considerados as bases dos

estados de polarização, ou seja, qualquer estado de polarização pode ser expandido nestas

bases. Esta é a uma das razões pela qual a eq.2.21 consegue dar uma descrição completa do

estado de polarização de qualquer campo óptico.

Também é possível relacionar os parâmetros de Stokes, com os parâmetros da elipse

discutidos na seção 2.1.4, analisando a eq.2.16 é imediato que: tan 2= = Y0YZ (eq.2.25)

E da seguinte relação para a elipsidade: sen 2L = �(*)(*. G[\ H(*)0 ](*.0 (eq.2.26)

Pode-se obter que: sen 2L = ^_Y* (eq. 2.27)

Com os quatro parâmetros de Stokes é possível também se definir um parâmetro que

se mostra de grande importância neste trabalho. Tal parâmetro indica o grau de polarização da

luz e é dado pela relação:

� = �YZ]Y0]Y_�Z 0�Y* (eq.2.28)

Desta forma: 0 ≤ � ≤ 1, uma vez que, P = 0 significa luz não polarizada e P = 1 luz

totalmente polarizada.

Outra forma de se representar os parâmetros de Stokes é utilizando a equação de ondas

planas para descrever o campo óptico, nesta representação as eq. 2.1 são escritas da seguinte

forma. �� = ���`aH) (eq.2.29a)

Page 30: UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA INSTITUTO DE FÍSICA ... · universidade federal de uberlÂndia instituto de fÍsica estudo da transiÇÃo de fase em cristais lÍquidos utilizando

29

�# = ��#`aH. (eq.2.29b)

Os parâmetros de Stokes obtidos a partir destas equações ficam: X� = ����∗ + �#�#∗ (eq.2.30a) X = ����∗ − �#�#∗ (eq.2.30b) X� = ���#∗ + �#��∗ (eq.2.30c) X� = c����#∗ + �#��∗� (eq.2.30d)

A representação dos parâmetros de Stokes em termos das amplitudes complexas é bastante

útil em muitas situações, principalmente quando se procura métodos para medidas destes.

2.2.1 - O vetor de Stokes

Uma forma muito útil e prática de se representar os quatro parâmetros de Stokes é

através de uma matriz coluna chamada de vetor de Stokes dada por:

X = dX�X X�X:e (eq.2.31a)

X =fgh ���� + ��#����� − ��#�2���� ��#� cos "2���� ��#� sen "ij

k (eq. 2.31b)

De forma prática o interesse é que se represente estados de polarização através do

vetor de Stokes. Para ilustrar alguns estados, consideram-se os seis estados de polarização que

foram concebidos como as bases dos estados de polarização.

Para luz linearmente polarizada basta definir em 2.30b uma das componentes do

campo nula. Desta forma se obtém:

X = l� d 1±100 e (eq.2.32)

Onde l� é a intensidade total da luz e vale l� = ���� para luz polarizada

horizontalmente ou l� = �m#� para luz polarizada vertical.

Page 31: UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA INSTITUTO DE FÍSICA ... · universidade federal de uberlÂndia instituto de fÍsica estudo da transiÇÃo de fase em cristais lÍquidos utilizando

30

Nas condições em que a intensidade das componentes são iguais e a diferença de fase

entre elas vale: " = 0 ou " = 180°, gera-se luz polarizada +45° e -45° respectivamente,desta

forma pela 2.31b o vetor de Stokes fica:

X = l� d 10±10 e (eq.2.33)

Onde l� = 2��� é a intensidade total.

Por fim se as intensidades das componentes são iguais, mas a diferença de fase é de

+90° ou -90°, a luz é polarizada circularmente à direita ou à esquerda respectivamente. O

vetor de Stokes que representa estes estados de polarização é mostrado a seguir:

X = l� d 100±1e (eq.2.34)

Novamente a intensidade total é l� = 2���.

Na seção seguinte a relevância da representação matricial dos parâmetros de Stokes se

torna mais evidente.

2.3 - O formalismo matricial de Mueller

O formalismo matricial de Mueller é bastante útil na modelagem matemática dos

parâmetros de Stokes de um feixe que interage com um elemento polarizador. A idéia básica

deste formalismo é análoga à representação matricial de um operador em mecânica quântica.

Entende-se por elemento polarizador todo elemento que modifique o estado de polarização da

luz que interage com ele. Mais adiante serão abordados dois elementos polarizadores assim

como os efeitos sofridos pela luz ao interagir com estes. São eles: o retardador de um quarto

de onda (ou simplesmente quarto de onda), e o polaróide (ou polarizador).

Figura 7 – Feixe interagindo com um elemento polarizador.

Page 32: UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA INSTITUTO DE FÍSICA ... · universidade federal de uberlÂndia instituto de fÍsica estudo da transiÇÃo de fase em cristais lÍquidos utilizando

31

A figura 7 representa um feixe interagindo com um elemento polarizador, os vetores op e op<, representam respectivamente os vetores do feixe incidente e do feixe emergente e são

definidos como:

op = dX�X X�X:e op< = fh

X�<X <X�<X:< ik (eq.2.35)

Pode-se representar o vetor op< como uma combinação linear dos quatro parâmetros de

Stokes do feixe incidente desta forma: X�< = q��X� + q� X + q��X� + q�:X: (eq. 2.36a) X < = q �X� + q X + q �X� + q :X: (eq. 2.36b) X�< = q��X� + q� X + q��X� + q�:X: (eq. 2.36c) X:< = q:�X� + q: X + q:�X� + q::X: (eq. 2.36d)

As eq.36 podem ser reescritas na forma matricial:

fhX�<X <X�<X:< ik = dq��q �q��q:�

q� q q� q: q��q �q��q:�

q�:q :q�:q::e dX�X X�X:

e (eq.2.37)

A matriz 4 x 4 da eq.2.37 é a chamada Matriz de Mueller de um elemento polarizador.

Para exemplificar serão discutidos os dois casos importantes citados na introdução desta

seção.

2.3.1 - Matriz de Mueller de um polarizador.

Um polarizador (também chamado de atenuador ou polaróide) é um elemento óptico

que modifica a amplitude das componentes do campo de forma desigual. Em outras palavras

quando um feixe interage com um polarizador uma componente do campo elétrico emergente

têm uma amplitude maior que as demais (Goldstein, 2003)

Estes elementos são meios anisotrópicos que podem polarizar a luz por dois processos

que dependem do meio. Um deles é o dicroísmo e o outro e a birrefringência. O dicroísmo é

muito comum em cristais. Nestes existe uma direção determinada pelo arranjo atômico em

que a componente do campo elétrico da luz não é absorvida. Esta direção é definida como

Page 33: UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA INSTITUTO DE FÍSICA ... · universidade federal de uberlÂndia instituto de fÍsica estudo da transiÇÃo de fase em cristais lÍquidos utilizando

32

eixo ótico (Hecht, 2002). As demais componentes são absorvidas pelo meio o resultado é que

só vai emergir do cristal uma única componente do campo elétrico (no caso ideal). A figura

abaixo é uma representação esquemática para ajudar na visualização deste fenômeno.

Figura 8 - Representação esquemática de um feixe despolarizado interagindo com um polarizador com eixo óptico na direção vertical, o feixe emergente possui somente uma

componente.

O fenômeno da birrefringência ocorre quando a luz interage com um meio que possui

dois índices de refração diferentes em direções distintas. O feixe incidente dá origem a dois

raios chamados de raio ordinário e o raio extraordinário, definidos de acordo com o desvio

sofrido no meio. Enquanto o primeiro está relacionado ao raio que sofre o menor desvio o

segundo é o raio que sofre maior desvio. É observado que estes dois raios possuem estados de

polarização distintos, e um processo de clivagem do cristal pode permitir que somente o raio

ordinário emirja do cristal, como esquematizado na figura 8. Os cristais birrefringentes mais

comuns são os cristais de calcita (CaCO) (Hecht, 2002).

Figura 9 - Esquematização de um feixe interagindo com um cristal que apresente

birrefringência.

Conforme dito anteriormente, um polarizador atenua uma componente do campo

elétrico da luz. Então é conveniente a definição dos fatores de atenuação dos eixos

perpendiculares na direção x e na direção y dados respectivamente por r� e r#. Estes

Page 34: UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA INSTITUTO DE FÍSICA ... · universidade federal de uberlÂndia instituto de fÍsica estudo da transiÇÃo de fase em cristais lÍquidos utilizando

33

coeficientes são usados para relacionar a amplitude das componentes incidentes ( �� e �#)

com as componentes emergentes (��< e �#< ), dadas por: ��< = r� �� 0 ≤ r� ≤ 1 (eq.2.38a) �#< = r# �# 0 ≤ r# ≤ 1 (eq.2.38b)

Usando a representação dos parâmetros de Stokes através das amplitudes complexas

(eq.3.30) pode-se escrever que:

X� = ����∗ + �#�#∗ (eq.2.39a) X = ����∗ − �#�#∗ (eq.2.39b) X� = ���#∗ + �#��∗ (eq.2.39c) X� = c����#∗ + �#��∗� (eq.2.39d)

e X�< = ��< ��<∗ + �#< �#<∗ (eq.2.40a) X < = ��< ��<∗ − �#< �#<∗ (eq.2.40b) X�< = ��< �#<∗ + �#< ��<∗ (eq.2.40c) X:< = c���< �#<∗ + ��< �#<∗� (eq.2.40d)

Substituindo as relações dadas por eq.2.38 nas eq.2.40 e usando as eq.2.39 para

reescrever �� e �# , é encontrada a seguinte relação: X�<X <X�<X:<= � fh

r�� + r#�r�� − r#�00 r�� − r#�r�� + r#�00 002r�r#0 0002r�r#ik dX�X X�X:e (eq.2.41)

Na eq.2.41 temos a matriz 4x4:

s = � fhr�� + r#�r�� − r#�00 r�� − r#�r�� + r#�00 002r�r#0 0002r�r#ik (eq.2.42)

Esta é a forma geral da representação matricial de um atenuador.

Se os fatores de atenuação nos dois eixos são iguais, ou seja, r� = r# = r, a matriz de

Mueller deste polarizador, chamado de filtro de intensidade neutro, fica:

s = r� d1000 0100 0010 0001e (eq.2.43)

Page 35: UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA INSTITUTO DE FÍSICA ... · universidade federal de uberlÂndia instituto de fÍsica estudo da transiÇÃo de fase em cristais lÍquidos utilizando

34

Nesta configuração, as amplitudes das componentes são atenuadas de maneira igual por um

fator de r�.

Outros dois casos de muita utilidade são os de polarizadores com eixo ótico na direção

vertical (polarizador vertical) e na horizontal (polarizador horizontal). Para simplificação é

adotado que apenas uma componente do campo seja transmitida pelo polarizador, ou seja, são

considerados apenas elementos ópticos ideais.

Se a transmissão se dá ao longo do eixo y, pela definição adotada temos um

polarizador vertical, desta forma r� = 0 e r# = 1. Então sua matriz é:

s = � d 1−100 −1100 0000 0000e (eq.2.44)

O polarizador horizontal fica: r# = 0 e r� = 1 então:

s = � d1100 1100 0000 0000e (eq.2.45)

As situações propostas acima, de transmissão total de uma componente e extinção das

demais é puramente uma idealização. Isto significa, para o formalismo aqui apresentado que o

fator 2rart �c, u = v, w�. Nunca é igual a zero, prevendo desta forma o que é observado em

laboratório, ou seja, que a luz emergente de um polarizador sempre tem um caráter levemente

elíptico. Porém isto não é em geral uma fonte de erro muito significativa para um

experimento, tornando desta forma as matrizes de representação dos polarizadores ideais

excelentes ferramentas para o estudo da luz polarizada.

2.3.2 – Matriz de Mueller de um retardador.

Um retardador (também referido como quarto de onda ou defasador) é um elemento

óptico que introduz uma diferença de fase entre as componentes do feixe. Esta diferença de

fase é geralmente causada pela birrefringência de cristais.

Para entender de que forma a birrefringência pode mudar a fase das componentes do

campo elétrico da onda incidente em um meio com esta propriedade, primeiro deve-se

relembrar da definição do índice de refração é dada por:

Page 36: UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA INSTITUTO DE FÍSICA ... · universidade federal de uberlÂndia instituto de fÍsica estudo da transiÇÃo de fase em cristais lÍquidos utilizando

35

x�,# = y),..

Sendo c a velocidade da luz no vácuo e z�,# a velocidade ao longo das direções x e y. Desta

forma uma vez que as componentes x e y que experimentam índices de refração diferentes

terão velocidades também diferentes. Podendo uma componente ser adiantada em relação à

outra no meio. Ao emergir do meio estas componentes terão uma diferença de fase entre si.

O eixo paralelo à componente que emerge do meio com maior velocidade é chamado

de eixo rápido, antagonicamente aquele paralelo a componente de menor velocidade é

definido como eixo lento.

Para gerar uma diferença de fase de { entre as componentes perpendiculares pode-se

imaginar que os eixos rápidos e lentos gerem respectivamente uma fase de |� e

I|� ·. Então as

componentes dos feixes incidente e emergentes podem ser relacionadas por:

��< = `a| �� �� (eq.2.46a)

�#< = `Ia| �� �# (eq. 2.46b)

Substituindo as eq.2.46 nas eq.2.40 e usando a eq.2.39 encontram-se as seguintes

relações: X�< = X� (eq.2.47a) X < = X (eq.2.47b) X�< = X� cos { + X: sen { (eq.2.47c) X:< = −X� sen { + X: cos { (eq.2.47d)

As eq. 2.47podem ser reescritas em forma matricial como se segue:

fhX�<X <X�<X:< ik = d1000 0100 00cos {− sen { 00sen {cos {e dX�X X�X:

e (eq.2.48)

Da equação acima é definida a matriz de um defasador ideal dada por:

s = d1000 0100 00cos {− sen { 00sen {cos {e (eq2.48b)

É interessante notar que o defasador ideal, representado na eq.2.48b, não altera a

intensidade da luz, ou seja, X�< = X�.

Um caso especial de defasadores é o defasador de um quarto de onda. Neste defasador

a diferença de fase total gerada é de 90°, então a matriz de Mueller para este elemento fica:

Page 37: UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA INSTITUTO DE FÍSICA ... · universidade federal de uberlÂndia instituto de fÍsica estudo da transiÇÃo de fase em cristais lÍquidos utilizando

36

s = d1000 0100 000−1 0011e (eq.2.49)

Uma placa de } 4� (defasador de um quarto de onda) possui uma interessante

propriedade que surge quando um feixe com estado de polarização +/- 45° interage com este

elemento. Para este caso luz circular à direita ou a esquerda, respectivamente, é gerada. Além

disso a recíproca é valida, ou seja, quando um feixe com polarização à esquerda ou à direita

incide em um defasador de quarto de onda, este gera luz linearmente polarizada a -45° ou

+45°. Este fenômeno pode ser expresso matematicamente pela multiplicação do vetor de

Stokes para cada estado de polarização referido pela matriz expressa na eq.2.49.

2.3.3 - A matriz de Mueller de um Rotor.

O estado de polarização de um feixe pode ser alterado pela rotação das componentes ����, �� e �#��, �� por um ângulo θ. Um elemento polarizador que atua segundo este principio

é chamado de rotor.

Figura 10 - Rotação do campo óptico por um rotor. Fonte: (Goldstein, 2003)

Na figura 10 o ângulo θ indica a rotação de �� para ��< (pode ser definido também

como a rotação de �# para �#< ), e o ângulo β indica o ângulo entre a componente �� e o

campo elétrico resultante �. O ponto P é escrito em termos das coordenadas ��< , �#< por: ��< = ��cos ~ cos � + sen ~ sen �� (eq.2.50a) ��< = ��sen ~ cos � − sen � cos ~� (eq.2.50b)

Por outro lado pode-se escrever o ponto P no referencial de ��, �#: �� = E cos β (eq.2.51a) �# = E sin β (eq.2.51b)

Page 38: UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA INSTITUTO DE FÍSICA ... · universidade federal de uberlÂndia instituto de fÍsica estudo da transiÇÃo de fase em cristais lÍquidos utilizando

37

Substituindo as eq.2.51 nas eq.2.50 resulta que: ��< = �� cos � + �# sen � (eq.2.52a) ��< = −�� sen � + �# cos � (eq.2.52b)

Novamente substituindo as eq.2.52 nas eq.2.39 e 2.40 encontra-se a seguinte matriz

para representação de um rotor:

s�2�� = d1000 0cos 2�− sen 2�0 0sen 2�cos 2�0 0000e (eq.2.53)

A eq.2.53 mostra que o resultado de rodar o rotor de θ é uma rotação de 2θ nas

componentes do campo incidente.

Analisando os parâmetros elípticos (ângulo de orientação e elipsidade) nota-se que o

rotor só atua mudando a orientação da elipse, não alterando sua elipsidade (Goldstein, 2003).

2.3.4 - A matriz de Mueller para um elemento polarizador rodado.

Considerando as componentes do feixe incidente rodadas por um ângulo θ na direção

de x’ e y’, conforme fig. 10, é possível escrever: X< = s��2��X (eq.2.54)

Figura 11 - Esquematização da construção de matriz de Mueller para elemento polarizador

rodado.Fonte:(Goldstein, 2003)

Onde o e o< são os vetores de Stokes dos feixes incidente e do feixe na direção de x’e

y’, respectivamente. A matriz ������ é a mesma dada por eq.2.53, ou seja, considera-se que

exista um elemento polarizador “virtual” que roda as componentes do feixe incidente.

Page 39: UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA INSTITUTO DE FÍSICA ... · universidade federal de uberlÂndia instituto de fÍsica estudo da transiÇÃo de fase em cristais lÍquidos utilizando

38

O vetor de Stokes emergente (rodado) interage com o elemento polarizador “real”,

representado pela matriz M e o feixe emergente X<< é dado por: X<< = ss��2��X (eq.2.55)

Finalmente, para descrever o feixe emergente nas coordenadas reais x e y, deve-se

fazer uma rotação do vetor X<< no sentido anti-horário (no sentido de -θ), o que equivale a

multiplicar por s��−2�� a eq. 2.55 então fica: X<< = �s��−2��ss��2���X (eq.2.56)

É definida então a matriz de um elemento de polarização rodado como: s�2�� = �s��−2��ss��2��� (eq.2.57)

Desta maneira, expressando na forma angular a matriz de um polarizador linear

(Goldstein, 2003) dada por:

s = �0� d 1cos 2�00 cos 2�100 00sen 2�0 000sen 2�e (eq.2.58)

Em que � é o ângulo formado pelo eixo óptico do polarizador e a horizontal.

Substituindo a eq. 2.57 na eq. 2.58 resulta que: s��2�� =d 1cos 2� cos 2�cos 2� cos 2�0 cos 2� cos 2�cos� 2� + sen 2� sen� 2��1 − sen 2�� sen 2� cos 2�0 cos 2� sen 2��1 − sen 2�� sen 2� cos 2�sen� 2� + sen 2� cos� 2�0 000sen 2�e(eq.2.59)

Utilizando a eq.2.53 na eq.2.56 é obtida a matriz de um compensador rodado de um

ângulo θ esta é expressa por:

s�{, 2�� = d1000 0cos� 2� + cos { sen� 2��1 − cos {� sen 2� cos 2�sen { sen 2� 0�1 − cos {� sen 2� cos 2�sen� 2� + cos { cos� 2�− sen { cos 2� 0− sen { sen 2�sen { cos 2�cos { e

(eq.2.60)

As duas formas de representação matricial apresentadas nesta seção são utilizadas na

determinação dos parâmetros de Stokes de um campo óptico qualquer.

Page 40: UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA INSTITUTO DE FÍSICA ... · universidade federal de uberlÂndia instituto de fÍsica estudo da transiÇÃo de fase em cristais lÍquidos utilizando

39

CAPÍTULO III

DETERMINAÇÃO DOS PARÂMETROS DE STOKES E ELIPSOMETRI A DE

EMISSÃO

Conforme discutido nas seções precedentes, a determinação dos parâmetros de Stokes

consegue descrever de maneira completa a elipse de polarização que represente qualquer

campo óptico. Desta forma, é razoável que qualquer método capaz de mensurar os quatro

parâmetros de Stokes seja denominado de elipsometria (medida da elipse), embora alguns

autores utilizem a denominação polarimetria.

O método apresentado a seguir é conhecido como analise de Fourier de um quarto de

onda rodado ou método do quarto de onda rodado (Goldstein, 2003), porém este método ao

ser utilizado no estudo da fluorescência de materiais orgânicos recebeu o nome de

elipsometria de emissão (E.E) (ALLIPRANDINI, 2007) e será justamente esta a

nomenclatura adotada no decorrer deste texto.

3.1 - Descrição Matemática da Elipsometria de Emissão.

A E.E baseia-se no fato de que ao rodar um quarto de onda pode ser utilizado para

controlar a orientação e a elipsidade de um feixe (ver seções 2.3.3 e 2.3.2).

Tendo em vista este princípio é possível então modular a intensidade da luz em

máximos e mínimos utilizando um quarto de onda e um analisador (polarizador de analise

com eixo óptico fixo em uma direção). Em outras palavras, dependendo do ângulo de rotação

do quarto de onda irá surgir um padrão de intensidade de máximos e mínimos, como é

mostrado na figura 12.

Page 41: UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA INSTITUTO DE FÍSICA ... · universidade federal de uberlÂndia instituto de fÍsica estudo da transiÇÃo de fase em cristais lÍquidos utilizando

40

Nota-se que para a formulação matemática deste método é necessária a construção da

matriz de um quarto de onda rodado. Para isto basta substituir na eq.2.60 o ângulo de fase

gerado por este compensador é { = 90°. Desta forma é encontrada a matriz:

s�90°, 2�� = d1000 0cos� 2�sen 2� cos 2�sen 2� 0sen 2� cos 2�sen� 2�− cos 2� 0− sen 2�cos 2�0 e (eq.3.1)

Sendo o vetor de Stokes X do feixe incidente dado por:

X = dX�X X�X:e (eq.3.2)

Multiplicando a eq.3.2 pela eq.3.1 resulta que:

X< = fhX�X cos� 2� + X� sen 2� cos 2� − X: sen 2�X sen 2� cos 2� + X� sen� 2� + X: cos 2�X sen 2� − X� cos 2� ik (eq.3.3)

Pela figura 12 é possível visualizar que o feixe emergente da placa } 4� , representado

pela eq.3.3, interage com o analisador que será definido com o eixo na direção horizontal.

Logo, multiplicando a eq.3.3 pela a eq.2.45, que representa a matriz de Mueller de um

polarizador horizontal, é obtida a seguinte expressão:

X< = � �X� + X cos� 2� + X� sen 2� cos 2� − X: sen 2�� d1100e (eq.3.4)

Em analogia direta com a eq.2.32, é possível definir a intensidade l��� do feixe que

emerge do polarizador como sendo:

0 2 4 6 8 1 00 , 5

0 , 6

0 , 7

0 , 8

0 , 9

1 , 0

Inte

nsid

ade

A n g u l o ( θθθθ ) ( r a d i a n o s )

Figura 12 - À direita é mostrado um esquema da configuração experimental da EE, e à esquerda uma curva de intensidades típica obtida com este método.

Page 42: UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA INSTITUTO DE FÍSICA ... · universidade federal de uberlÂndia instituto de fÍsica estudo da transiÇÃo de fase em cristais lÍquidos utilizando

41

l��� = � �X� + X cos� 2� + X� sen 2� cos 2� − X: sen 2�� (eq.3.5)

Que pode ainda ser reescrita como: l��� = � �7X� + YZ� 8 + YZ� cos 4� + Y0� sen 4� − X: sen 2�� (eq.3.6)

Da eq. 3.6 podem ser obtidos os seguintes parâmetros: � = 7X� + YZ� 8 (eq.3.7a)

� = YZ� (eq.3.7b)

� = Y0� (eq.3.7c) � = X: (eq.3.7d)

É possível determinar os parâmetros A, B, C e D através de uma interpolação dos

pontos obtidos experimentalmente pela realização deste método. Portanto este método permite

a determinação dos quatro parâmetros de Stokes.

Page 43: UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA INSTITUTO DE FÍSICA ... · universidade federal de uberlÂndia instituto de fÍsica estudo da transiÇÃo de fase em cristais lÍquidos utilizando

42

CAPÍTULO IV

TRANSIÇÕES DE FASE

Como é conhecido, a matéria pode apresentar-se em diversas fases. Na seção 1, por

exemplo, foi discutido o estado líquido cristalino da matéria e também foi mostrado que este

estado pode ser subdividido em diversas fases (esméticas, nemática e colestérica). Além disto

sabe-se que ela pode mudar de uma fase à outra, e.g, o gelo se derretendo e se transforma em

água.

O comportamento macroscópico da matéria pode apresentar diferentes efeitos em

diferentes fases e este fato torna factível a identificação da fase em que a matéria se encontra

observando suas propriedades macro e microscópicas. Porém, na maioria dos casos o mais

interessante é modelar o comportamento da matéria de modo que se possa prever quando e

como ocorrerá a mudança de uma fase para outra. Essas mudanças de fase são chamadas de

transições de fase. As transições de fase acontecem devido a modificações de variáveis

termodinâmicas tais como temperatura e pressão (neste trabalho são abordadas somente

transições devido à mudança de temperatura), e sua conseqüência em geral é a modificação na

estrutura da matéria (transições de fase estruturais).

Nesta seção estas transições de fase são tratadas e classificadas do ponto de vista

termodinâmico sendo também apresentados modelos que visam descrever este fenômeno. Por

fim é feita uma aplicação deste modelo no estudo de transições de fase do tipo nemática –

isotrópica em cristais líquidos.

4.1 - Classificação das transições de fase.

O estudo da termodinâmica mostra que é possível a coexistência de duas ou mais fases

distintas, ou seja, existe alguma condição termodinâmica em que há um equilíbrio destas fases

(Callen, 1985)

Page 44: UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA INSTITUTO DE FÍSICA ... · universidade federal de uberlÂndia instituto de fÍsica estudo da transiÇÃo de fase em cristais lÍquidos utilizando

43

Do ponto de vista do formalismo termodinâmico, o potencial químico associado a

cada fase é dito ser uma função �t��, �, v , … , v�� que depende somente de variáveis

independentes e intensivas quaisquer (que não dependem das dimensões do sistema) ��, �, v , … , v��. Para determinados valores de ��, �, v , … , v��, o sistema pode estar em

equilíbrio e os potencias químicos das fases em equilíbrio nestas condições são iguais, ou

seja, no equilíbrio de duas fases I e II: ����, �, v , … , v�� = �����, �, v , … , v��.

O potencial químico pode ser relacionado com a energia livre de Gibbs do sistema tal que

(Reichl,1998): � = ∑ ��txtt (eq.4.1)

Ou sob a forma diferencial, mantendo constantes � e �:

��t = 4 �����5�, ¡�¢£�¤ (eq.4.2)

Onde ��t é o potencial químico por mol.

A derivada parcial apresentada na eq.4.2 pode ser estendida sem perda de generalidade

para: ¥ = − 7����8 ,¡��¤ e X = 7��� 8�,¡��¤(eq.4.3)

O comportamento destas derivadas é o que determina a classificação para transições

de fase.

Se as derivadas na eq.4.3 forem descontínuas, isto significa que a variável extensiva ¥

e a entropia X possuem diferentes valores em cada fase, uma transição deste tipo é chamada

de transição de fase de primeira ordem. Note que esta transição é assim denominada porque

as primeiras derivadas da energia de Gibbs são descontínuas.

Se as primeiras derivadas de � são contínuas então as transições são chamadas de

transições de fase contínuas ou de n-ésima ordem, ou seja, se a descontinuidade se dá na 2ª

derivada então é uma transição de segunda ordem, na 3ª de terceira ordem e assim

sucessivamente (Reichl, 1998).

Como a energia de Gibbs das duas fases é a mesma então a equação fundamental ¦ =� + �X que representa a entalpia de uma fase, para a transição fica: ¦� − ¦�� = �∆X (eq.4.4)

A variação da entalpia de duas fases para uma transição de primeira ordem, expressa

pela eq.4.4, é chamada de calor latente de transição.

Page 45: UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA INSTITUTO DE FÍSICA ... · universidade federal de uberlÂndia instituto de fÍsica estudo da transiÇÃo de fase em cristais lÍquidos utilizando

44

É comum assumir que as fases existentes a altas temperaturas são menos simétricas,

enquanto as fases a baixas temperaturas apresentam alta simetria. Em uma transição de fase

de primeira ordem há uma quebra abrupta nesta simetria, não havendo necessariamente uma

conexão entre as propriedades referentes à simetria das duas fases.

4.2 - O modelo fenomenológico de Ginzburg-Landau-de Gennes (GLDG) para transição

Nemática- Isotrópica.

O modelo de Ginzburg-Landau foi desenvolvido pelos físicos russos Lev Davidovich

Landau (1908-1968) e Vitaly Lazarevich Ginzburg (1916-2009), para o estudo do fenômeno

da supercondutividade. As idéias contidas no desenvolvimento desta teoria se aplicam as

transições de fase continuas e ainda introduz o conceito de parâmetro de ordem de um sistema

termodinâmico como uma grandeza termodinâmica macroscópica. Porém, foi o físico francês

Pierre Gilles de Gennes (1932-2007), que se baseando nas idéias de Ginzburg e Landau,

estendeu tal teoria para o estudo de transições de primeira ordem de sistemas como cristais

líquidos e polímeros (Gennes, 1993), mais precisamente transições do tipo nemático -

isotrópica.

O parâmetro de ordem (P.O) é uma grandeza que aparece na fase com menor simetria

(fase nemática). Tal parâmetro pode ser representado por um vetor, um escalar, um tensor ou

um número complexo, enfim por qualquer grandeza. Porém, este parâmetro não pode ser

alterado sob uma rotação em torno de um eixo definido pelo vetor diretor.

Para generalizar a idéia de P.O será definido o seguinte tensor:

¨ = ©− 1 2� �v + w�00 0− 1 2� �v − w�0 00v© (eq.4.12)

Uma definição importante a se fazer é considerar que para regiões com temperatura

acima da temperatura de transição (� > �«), a energia livre {��, ¨� é considerada mínima e ¨ = 0; para regiões onde � < �« define-se que ¨ ≠ 0.

Para se entender o comportamento da energia livre na região próxima à transição de

fase é feita uma expansão desta em uma serie de potencias que resulta em: {��� = {� + � ®��¯�¨�� + : ®:�¯�¨:� + M ®M�¯�¨M� + ° ®°��¯�¨���¯�¨:�� ++ ± ®±��¯�¨���: (eq.4.5)

Page 46: UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA INSTITUTO DE FÍSICA ... · universidade federal de uberlÂndia instituto de fÍsica estudo da transiÇÃo de fase em cristais lÍquidos utilizando

45

Onde �¯�¨�� é chamado de traço do tensor ¨�, que nada mais é que a soma dos

elementos da diagonal principal do tensor, portanto é um escalar. Para maiores detalhes sobre

tensores o leitor poderá consultar(Arfken, 2007). {��� e {� são os potencias químicos nas

fases: nemática e isotrópica respectivamente. Na expansão 4.5 são considerados apenas os

termos cujos expoentes gerem escalares, pois estes são definidos como tensores invariantes

perante a rotação.

As funções ®� são na verdade parâmetros que dependem da temperatura. E em

especial a função ²� é escolhida de modo que para regiões onde � > �« ela seja mínima e em

regiões com � < �« tal função seja maximizada e seja nula quando � = �«. Então, é razoável

supor que tal função seja (Singh, 2000): ®� = >�� − �∗� (eq.4.6)

Em que �∗ é uma temperatura próxima a temperatura de transição de fase.

Os traços dos tensores na eq.4.5 ficam:

�¯�¨�� = 12 �3v� + w��

�¯�¨:� = 34 v�v� − w��

Considerando um sistema bi-dimensional onde o diretor esteja ao longo do eixo Oz e

com w = 0, a expansão 4.5 fica: {��� = {� + :M ®�v� + M ®:v: + ³ ± ®MvM + ³M� ®°v° + ³ ± ®±v± (eq.4.7)

Utilizando a 4.6 e adotando por convenção que {� = ®° = ®± = 0 então a 4.7 pode

ser reescrita em função de T, �∗ e de �́� ≡ :� v� como:

{��� = : >�� − �∗��́�� − ��¶ ®:�́�: + ³ ®M�́�M (eq.4.8)

Minimizando a eq.4.8 em relação ao parâmetro �́� são encontrados os seguintes

valores para este parâmetro.

�́� = · 0, na fase isotrópica »_M»¼ ½1 ± �1 − �MA»¼� I ¾∗�»_0 �Z0¿ , na fase nemática À

Desta forma é possível calcular a temperatura de transição � que vale:

Page 47: UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA INSTITUTO DE FÍSICA ... · universidade federal de uberlÂndia instituto de fÍsica estudo da transiÇÃo de fase em cristais lÍquidos utilizando

46

� = �∗ + »_0�MA»¼ (eq.4.9)

Com este modelo torna-se possível também a determinação da entropia de transição

dada por:

∆X = − ��|I|*��  = > »_0�¶»¼0 (eq.4.10)

E o calor latente de transição é dado pela relação:

∆¦ = > »_0 ¾�¶»¼0 (eq.4.11)

Com base nas discussões anteriores, pode-se notar que a teoria de GLDG é um modelo

que possibilita encontrar as principais variáveis termodinâmicas relacionadas às transições de

fase, com base na determinação experimental dos parâmetros ®:, ®M·, > e � (Shri, 1996)

Page 48: UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA INSTITUTO DE FÍSICA ... · universidade federal de uberlÂndia instituto de fÍsica estudo da transiÇÃo de fase em cristais lÍquidos utilizando

47

CAPÍTULO V

MATERIAIS E MÉTODOS

Um artifício comum e muito útil no estudo e na aplicação tecnológica dos cristais

líquidos é a dopagem destes com corantes, a fim de formar sistemas líquidos cristalinos que

tenham propriedades ópticas mais eficientes que as dos CL isoladamente. Sistemas deste tipo

são conhecidos como guest-host e uma propriedade interessante destes é que em geral as

moléculas de corantes podem se alinhar com as moléculas de cristal líquido (Chom-Khoo,

2007)

O cristal líquido utilizado neste trabalho trata-se de uma mistura comercial de vários

cristais líquidos (ver fig. 13), denominado de E7. Uma vez que este composto não apresenta

propriedades ópticas interessantes para a realização deste estudo (fotoluminescência) utilizou-

se então o corante 4,7-bis (2–4-dec-ilpiperazin-1-il)phenil]ethinil}-[2,1,3]-benzothiadiazole

(5A). Para maiores informações sobre este, ver (Vieira, Cristiano et al., 2008). A forma

estrutural do corante é mostrada na figura 14.

Figura 13 – a) Esquema mostrando a proporção de cada composto que constitui CL comercial

E7 da Merck.

Page 49: UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA INSTITUTO DE FÍSICA ... · universidade federal de uberlÂndia instituto de fÍsica estudo da transiÇÃo de fase em cristais lÍquidos utilizando

48

Soluções com os cromóforos diluídos no cristal líquido foram preparadas com

concentrações molares de cromóforo de 0,0125%; 0,025%; 0,075%; 0,25%. Estas foram

introduzidas por capilaridade em células preparadas para garantir o alinhamento das

moléculas de cristal líquido. Estas células são confeccionadas criando-se ranhuras

unidirecionais em um substrato de polivinil álcool (PVA) sobre vidro. Em seguida outro

substrato idêntico é sobreposto ao primeiro a uma distancia de 20µm entre eles. Esta técnica é

amplamente utilizada para se manipular amostras líquidas-cristralinas (Bechtold, 2005).

Foram realizados experimentos para se determinar os espectros de absorção e

fotoluminescência destas amostras, cujos arranjos experimentais são mostrados na figura 15.

Para a realização do experimento de absorção foi utilizada como fonte de luz uma lâmpada de

deutério – tungstênio, modelo DT-mini fabricada pela Ocean Optics, como detector da luz

transmitida pela amostra foi utilizado um espectrômetro portátil de CCD modelo USB 2000

da mesma fabricante. Este foi então acoplado a um sistema de aquisição de dados

computadorizado. No experimento de PL, um laser de íon de Argônio modelo Stabilite 2017

da Spectra Physics Inc., no comprimento de onda de 488 nm, com polarização vertical

incidindo frontalmente na amostra, foi empregado para a excitação destas. As amostras foram

colocadas em um sistema de controle de vácuo homemade e a luz emitida por estas foi

colimada e focalizada pelo conjunto de lentes mostrado na figura 15, sendo que o

espectrômetro USB 2000 foi posicionado no foco da segunda lente.

Figura 15- Esquematização dos experimentos de PL (à esquerda) e de absorção (à direita).

Figura 14 - Formula estrutural do corante 4,7-bis (2–4-dec-ilpiperazin-1-il)phenil]ethinil}-[2,1,3]-benzothiadiazole (5A)

Page 50: UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA INSTITUTO DE FÍSICA ... · universidade federal de uberlÂndia instituto de fÍsica estudo da transiÇÃo de fase em cristais lÍquidos utilizando

49

Para verificar o alinhamento das moléculas de 5A com as de CL, foi realizado o

experimento de absorção polarizada, na amostra com concentração de 0,25%. Este

experimento utiliza a mesma configuração experimental do experimento de absorção, porém

um polarizador de calcita acromático é posicionado em frente à lâmpada gerando assim luz

linearmente polarizada, na horizontal e na vertical, sendo desta forma mensurada a

intensidade de luz transmitida pela amostra imersa verticalmente (direção das ranhuras do

substrato) em cada caso.

Para a realização do experimento de elipsometria, a configuração utilizada para a

determinação da PL foi aproveitada, sendo inseridos um defasador ÁM (para o comprimento de

onda de 633nm) e um polarizador vertical entre a segunda lente e o espectrômetro, conforme

ilustrado na figura 15. O compensador foi acoplado a um goniômetro e girado de 0° a 360°

com passos de 10°, enquanto o polarizador foi mantido na direção vertical. Para a

determinação da temperatura de transição de fase, a amostra foi colocada em um sistema

homemade de aquecimento e controle de temperatura, tendo este precisão de ±1°�. O sistema

líquido cristalino com concentração de 0,25% de corante foi levado às seguintes temperaturas:

25°C, 30°C, 35°C, 40°C, 45°C, 50°C, 53°C, 56°C, 59°C, 61°C, 65°C e 70°C, sendo que para

cada uma destas foi realizado um experimento de E.E e determinado assim o grau de

polarização P da fluorescência.

Figura 16 - Arranjo experimental da elipsometria de emissão com a amostra acoplada a um

termo controlador.

Page 51: UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA INSTITUTO DE FÍSICA ... · universidade federal de uberlÂndia instituto de fÍsica estudo da transiÇÃo de fase em cristais lÍquidos utilizando

50

CAPÍTULO VI

RESULTADOS E DISCUSSÕES DOS DADOS

Sabendo que o grau de polarização da fluorescência está relacionado intimamente com

o alinhamento molecular, a determinação do estado de polarização da PL possibilita inferir a

orientação molecular do emissor (Valeur, 2001) (Lakowicz, 1999). É importante não perder

de vista que todas as propriedades espectroscópicas referidas de agora em diante são

relacionadas ao corante. Este é, portanto uma espécie de sonda, que uma vez alinhado com o

cristal líquido fornece informações sobre o ordenamento deste.

Primeiramente necessita-se verificar se as interações intermoleculares das moléculas

do benzotiadiazol e a interação entre o corante e o cristal líquido não são fortes o suficiente a

ponto de se modificar a estrutura eletrônica do corante, pois se assim ocorrer, a temperatura

de transição de fase do cristal líquido pode ser alterada assim como outras propriedades deste.

Neste contexto são realizados experimentos de PL e absorção das amostras a diversas

concentrações os resultados são mostrados a seguir

Da fig.17 observa-se que a forma espectral tanto da absorção quanto da fluorescência

não apresenta variação comparada com as formas espectrais deste corante diluído em outros

solventes, em nenhuma das concentrações (Vieira, Cristiano et al., 2008). Tal resultado

Figura 17 - À esquerda são mostrados os espectro de PL para diversas concentrações e à direita os de absorção destas amostras.

600 700 8000

300

600

P.L

(un

i.arb

.)

Comprimento de onda (nm)

0,0125% 0,025% 0,075% 0,25%

400 450 500 5500,00

0,25

0,50

0,75

1,00

1,25

1,50

Abs

orba

ncia

Comprimento de onda (nm)

0,25% 0,075% 0,025% 0,0125%

Page 52: UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA INSTITUTO DE FÍSICA ... · universidade federal de uberlÂndia instituto de fÍsica estudo da transiÇÃo de fase em cristais lÍquidos utilizando

51

demonstra que a estrutura eletrônica do cromóforo não é afetada pelas interações

intermoleculares e as interações com as moléculas de cristal líquido. Conseqüentemente

espera-se que estas últimas também não sejam perturbadas fortemente pela presença do

corante.

Assim como a PL, a absorbância de um sistema está relacionada com a orientação de

suas moléculas, i.e, se uma luz polarizada incide em um meio, as componentes absorvidas

mais intensamente serão aquelas na direção de orientação preferencial das moléculas (Valeur,

2001). Então para se estimar o grau de orientação das moléculas do benzotiadiazol na amostra

com concentração molar de 0,25%, foi realizada uma analise dos espectros de absorção

polarizada com a amostra imersa na direção vertical e bombeada com luz polarizada vertical $�||% e horizontal ���

Figura 18 - Nesta figura são mostrados os espectros de absorção de luz polarizada nas

direções verticais e perpendiculares.

Dos espectros de absorção polarizada fica evidente que a absorção de luz polarizada

verticalmente é mais intensa o que demonstra que as moléculas de corante estão

orientacionalmete organizadas nesta direção, que é a mesma do cristal líquido, então é

esperado que haja o alinhamento de tais moléculas com o CL.

Visto que existe um alinhamento do cromóforo com o cristal líquido e que a interações

do sistema não modificam a estrutura eletrônica do corante, então as propriedades ópticas da

fluorescência do corante, mais precisamente o grau de polarização P dado pela eq.2.28, pode

ser relacionado com um parâmetro de ordem macroscópico e, através do mapeamento deste

em função da temperatura, poderá ser encontrada a temperatura de transição de fase NI.

4 0 0 4 2 5 4 5 0 4 7 5 5 0 0 5 2 5 5 5 0 5 7 50 ,0 0

0 ,0 5

0 ,1 0

0 ,1 5

0 ,2 0

0 ,2 5

0 ,3 0

A⊥

A/ /

C o m p r i m e n t o d e o n d a ( n m )

Abs

orba

ncia

(un

i.arb

.)

Page 53: UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA INSTITUTO DE FÍSICA ... · universidade federal de uberlÂndia instituto de fÍsica estudo da transiÇÃo de fase em cristais lÍquidos utilizando

52

Para a determinação dos quatro parâmetros de Stokes e, conseqüentemente do

parâmetro P, foram realizadas medidas de elipsometria de emissão (veja cap.III). A figura 19

mostra uma curva experimental obtida no experimento de E.E a 30°C e o ajuste destes pela

eq. 3.6. Vale ressaltar que a análise destes dados é feita para um comprimento de onda. Neste

trabalho o comprimento de onda escolhido foi de 633nm.

Através do ajuste destes dados experimentais é possível se determinar os parâmetros

A, B, C e D dados pela equação 3.7 e assim determinar os quatro parâmetros de Stokes. A

tabela abaixo mostra a variação dos parâmetros S1, S2 e S3 normalizados por S0 e o parâmetro

P em função da temperatura.

0 1 2 3 4 5 6 71200

1400

1600

1800

2000

2200

2400

2600

2800

Inte

nsid

ade

(arb

.uni

.)

Ângulo (rad.) Pontos experim enta is C uvrva Teórica

Figura 19 - Ajuste dos pontos experimentais obtidos com o experimento de elipsometria de emissão na amostra com concentração molar de 0,25% à temperatura de 30°C. O comprimento de onda analisado foi o de 633nm.

Page 54: UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA INSTITUTO DE FÍSICA ... · universidade federal de uberlÂndia instituto de fÍsica estudo da transiÇÃo de fase em cristais lÍquidos utilizando

53

Tabela 2 - Parâmetros de Stokes normaliza dos e P em função da temperatura.

25°C 30°C 35°C 40°C 45°C 50°C 53°C 56°C 59°C 61°C 65°C 70° ÂÃÂÄ -0,95

-0,91 -0,94

-0,92

-0,90

-0,88

-0,82

-0,82

-0,36

-0,35

-0,34

-0,34

Â�ÂÄ -0,29

-0,18

-0,16

-0,16

-0,17

-0,16 -0,15

-0,20

-0,30

-0,28

-0,28

-0,27

ÂÅÂÄ -0,10

-0,02

-0,01

-0,01

-0,01

-0,01

-0,02

-0,05

-0,01

-0,01

-0,01

-0,01

P 1,00

0,93

0,95

0,94

0,92

0,89

0,83

0,85

0,47

0,45

0,44

0,43

Os diagramas de P x T e da primeira derivada de P em relação à temperatura são

mostrados na figura abaixo.

30 40 50 60 70

0,4

0,5

0,6

0,7

0,8

0,9

1,0

Gra

u de

pol

ariz

ação

(P

) (u

ni.a

rb)

Temperatura (°C)

a)

Figura 20 – a) O diagrama de pontos experimentais obtidos mapeando o parâmetro P em cada temperatura. b) O

comportamento da derivada ÆÇ ÆÈ� . O ponto de mínimo nesta curva está relacionado à temperatura de transição de fase. c) Curva teórica de uma transição de fase do tipo N-I representando o comportamento do parâmetro de ordem em função da temperatura (Fonte: Polarized light in liquid crystals and polimers, Toralf Scharf, 2007)

.

30 36 42 48 54 60 66 72-0,14

-0,12

-0,10

-0,08

-0,06

-0,04

-0,02

0,00

0,02

dP/d

T

Temperatura ºC

b)

c)

Page 55: UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA INSTITUTO DE FÍSICA ... · universidade federal de uberlÂndia instituto de fÍsica estudo da transiÇÃo de fase em cristais lÍquidos utilizando

54

Da fig. 20 observa-se que o grau de polarização da fluorescência deste sistema de fato

pode ser associado como um parâmetro de ordem macroscópico do cristal líquido. Uma

analise da primeira derivada deste parâmetro em função da temperatura da mostra que esta é

aproximadamente constante, porém apresenta uma descontinuidade em uma dada

temperatura, que é associada à temperatura de transição de fase, sendo o valor encontrado

para o E7 igual a � ≅ 57,5°� ± 1°�.

No entanto uma comparação imediata da curva experimental e da curva teórica

(fig.20c) mostra uma grave diferença entre estas. Enquanto na primeira o P.O tem um valor de

aproximadamente 0,45 acima da �, no segundo este valor é nulo para esta região de

temperatura, e realmente este parâmetro de ordem deve se anular na fase isotrópica, haja vista

que esta é a fase onde o cristal líquido se torna um líquido,portanto, não deve existir nenhuma

ordem de longo alcance nesta fase. Entretanto, trabalhos recentes mostram e explicam como é

porque é possível a obtenção de fluorescência polarizada em soluções de polímeros (meio

altamente isotrópico) (Alliprandini, Da Silva et al., 2009). Tal fenômeno se deve basicamente

ao fato de o laser utilizado para a excitação da amostra possui uma polarização (vertical para

este experimento), desta forma as moléculas que possuem componentes de dipolo alinhadas

na direção de polarização do feixe absorvem a radiação e emitem em um período de tempo

menor que o necessário para ela mudar a sua direção de orientação. Deste modo a radiação

emitida tem o mesmo estado de polarização do laser, como se pode observar pelo sinal do

parâmetro S1 dado na tabela 1.

A curva pontilhada na figura 20 não representa uma curva de ajuste dos dados

experimentais, ela é apenas um rascunho de como deveria ser tal função, visto que neste

trabalho não foi possível a determinação desta. A determinação de uma lei para descrever o

comportamento do parâmetro P em função da temperatura viabilizaria a determinação das

constantes fenomenológicas ®:, ®M e >, dadas na teoria de LGDG (ver seção 4.2). Desta

forma a analise termodinâmica do sistema se torna muito mais completa, dado que grandezas

como o calor latente de transição de fase e a entropia de transição do sistema poderiam ser

determinadas.

Page 56: UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA INSTITUTO DE FÍSICA ... · universidade federal de uberlÂndia instituto de fÍsica estudo da transiÇÃo de fase em cristais lÍquidos utilizando

55

CAPÍTULO VI

CONCLUSÕES

Este trabalho mostra que é possível a utilização de sistema guest-host, formado por um

cristal líquido e um cromóforo, onde este seja utilizado como uma sonda no studo de

propriedades espectroscópicas relacionadas à organização das moléculas de CL. Também foi

apresentado o uso da técnica de elipsometria de emissão no estudo de transições de fase

estruturais do tipo N-I, ou seja, transições que resultem em uma mudança da ordem de um

sistema, introduzindo para isto o grau de polarização P como sendo um parâmetro de ordem

macroscópico.

O fato de que dentre todas as grandezas termodinâmicas dadas pela teoria de LGDG

somente a temperatura de transição de fase ser determinada por este método não reduz sua

relevância, visto que na maioria das aplicações tecnológicas é justamente esta a grandeza de

interesse. Por outro lado, considerando as possíveis fases de um CL discutidas no cap.1, nota-

se que a diferença entre elas é basicamente o grau de ordenamento de cada uma. Desta forma

é de se esperar que seja possível por meio da determinação de P, se determinar a fase do CL.

Page 57: UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA INSTITUTO DE FÍSICA ... · universidade federal de uberlÂndia instituto de fÍsica estudo da transiÇÃo de fase em cristais lÍquidos utilizando

56

APÊNDICE A

PRODUÇÃO CIENTÍFICA

A.1 Trabalhos apresentados

1. 11/2009 Apresentação no VII Workshop em Física Molecular e Espectroscopia

intitulado: “Estudo do estado de polarização de fluorescência em cromóforos diluídos em

cristais líquidos”

2. 05/2010 Apresentação no XXIII Encontro Nacional De Física Da Matéria

Condensada intitulado: “Determination of liquid crystal phase transition temperature using

ellipsometry technique”.

A.2 Artigo Publicado

Molecular alignment effects on spectroscopic properties 2,1,3-benzothiadiazole

guested in liquid–crystalline compounds

P. Alliprandini-Filho a, G.F. Borges a, W.B. Calixto a, I.H. Bechtold b, A.A. Vieira c, R.

Cristiano c, H. Gallardo c,R.A. Silva a,d, N.M. Barbosa Neto a,*, Alexandre Marletta a

Page 58: UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA INSTITUTO DE FÍSICA ... · universidade federal de uberlÂndia instituto de fÍsica estudo da transiÇÃo de fase em cristais lÍquidos utilizando

57

a Instituto de Física, Universidade Federal de Uberlândia, Av. João Naves de Ávila 2121,

CEP 38400-902, Uberlândia – MG, Brazil

bDepartamento de Física, Universidade Federal de Santa Catarina, CEP 88040-970,

Florianópolis – SC, Brazil

cDepartamento de Química, Universidade Federal de Santa Catarina, CEP 88040-970,

Florianópolis – SC, Brazil

dDivisão de Metrologia de Materiais – Instituto Nacional de Materologia, Normalização e

Qualidade Industrial, CEP 25250-020, Duque de Caxias – RJ, Brazil

Page 59: UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA INSTITUTO DE FÍSICA ... · universidade federal de uberlÂndia instituto de fÍsica estudo da transiÇÃo de fase em cristais lÍquidos utilizando

58

REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALL IPRANDIN I, P . E fe i t os de o rdenamentos na po la r i zação da luz

emi t i da po r f i lmes de po l ímeros semicondutores .2007 59 f .

D isser taçãode Mes t rado –Un ivers idade Federa l de Uber lând ia ,

Uber lând ia

ALL IPRANDIN I, P . e t a l . Par t i a l l y po lar i zed f luo rescence emi t ted b y

MEHPPV in so lu t ion . Chemica l Ph ys ics Le t te rs [S . I . ], v . 469, n . 1 -3 , p .

94 -98 , Feb 2009.

ARFKEN, G. B . Mathemat i ca l Methods fo r phys i c is ts . R io de Jane i ro :

E lsev ie r Ed i to ra Ltda , 2007 .

B .CZARNIK-MATUSEWICZ,J .PAJAK, M. ROSPENK. The phase

t rans i t ion temperatu res o f a l i qu id c r ys ta l de te rmined f rom FT- IR

spect ra exp lo red by p r i nc ipa l componen t ana l ys i s . Spec t roch im ica Acta

Par t A [S . I ] , v .62 , p .157 – 163.2005 .

BECHTOLD, I . H . C r is ta i s l íqu idos : um s is tema complex o de s imp les

ap l i cação . Rev is ta Bras i l e i ra de Ens ino de F ís i ca [S . I . ] , v . 27 , p . 333 -

342, 2005.

CALLEN, H . B . Thermod ynamics and in t roduct ion to Thermos ta t i s t i cs .

New Jersey: John Wi ley & Sons , 1985 .

Page 60: UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA INSTITUTO DE FÍSICA ... · universidade federal de uberlÂndia instituto de fÍsica estudo da transiÇÃo de fase em cristais lÍquidos utilizando

59

CHOM-KHOO, I . L i qu id C rys ta l s . In : JOHN WILEY & SONS, I . (Ed . ) .

L i qu id C rys ta ls . v . 1 . . New Jersey: John W i ley & Sons , Inc , 2007 . p .

383.

DANUTA BAUMAN, HANKA MORYSON. Guest -hos t i n te rac t i ons i n

d i ch ro i c dye- l i qu id c r ys ta l m ix tu res i nsmec t i c A and nemat i c

phases .Jo rna l o f Mo lecu la r S t ruc tu re .v .404. p .113 -120 .1997.

D .L. Cheung, F . Schmid . Iso t rop i c–nemat i c t rans i t ion i n l i qu id c rys ta ls

confined between rough wa l l s .Chemica l Phys i cs Le t te rs . v .418 .p .392 -

396.2006 .

ELY, F . e t a l . C r is ta is l íqu idos co les tér i cos : a qui ra l idade reve la as

suas co res . Qu ímica Nova , v . 30 , p . 1776-1779 , 2007.

GENNES, P . G. D. The Phys i cs o f L iqu id Crys ta ls . New York : Ox fo rd

Un ive rs i t y P ress , 1993.

GENNES,P .G.D.Nobe lP r ize .Org .h t tp : / /nobe lp r i ze .o rg /nobe l_p r izes /phys

i cs / l aureates /1991/gennes - lec tu re .h tml#

GOLDSTEIN, D . Po lar i zed L igh t . New York : Merce l Decker , Inc , 2003.

HECHT, E . Opt i cs . New York : Pearson Educa t ion , Inc 2002 .

LAKOWICZ, J . R . P r i nc ip les o f F luorescence Spect roscop y. Ba l t imore:

K lawer Academic / P lenum Pub l i sher , 1999 .

LEHMANN, O. Ze i t sch r i f t fü r Ph ys i ka l i sche Chemie,4 , 462 -472 (1889) .

REICHL, L. E . A Modern Course in S ta t i s t i ca l Ph ys i cs . New Jersey:

John W i ley & Sons , 1998 .

SHRI, S . Curvatu re e las t i c i t y i n l i qu id c r ys ta l s . Ph ys ics Repor ts , v .

277, n . 5 -6 , p . 283 -384, 1996 .

S INGH, S . Phase t rans i t ions i n l i qu id c r ys ta l s . Phys i cs Repor ts , v . 324 ,

n . 2 -4 , p . 107 -269, 2000.

Page 61: UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA INSTITUTO DE FÍSICA ... · universidade federal de uberlÂndia instituto de fÍsica estudo da transiÇÃo de fase em cristais lÍquidos utilizando

60

Stephen,M.J ; S t ra ley,J .P .Ph ys i cs o f l i qu id c r ys ta ls. Rev iews o f modern

ph ys i cs , vo l .46 , n . 4 , p . 617-704, 1974.

VALEUR, B. Mo lecu lar F luo rescence . W i ley-VCH, 2001.

V IE IRA, A. A . e t a l . Luminescent 2 ,1 ,3 -benzoth iad iazo le -based l i qu id

c r ys ta l l i ne compounds . Jou rna l o f Mo lecu la r S t ruc ture [S . I . ] , v . 875, n .

1 -3 , p . 364 -371 , Mar 2008 .