universidade federal de uberlândia
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Artigo sobre Direito á Vida.TRANSCRIPT
UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA
FACULDADE DE DIREITO JACY DE ASSIS
Bacharel em Direito
Direito Fundamental
Dr° Rodrigo Vitorino Souza Alves
Direito à Vida
UBERLÂNDIA
2015
ARTHUR VINICIUS SOUTO REZENDE – 11421DIR040
ANILTON ROBERTO TURIBIO JÚNIOR - 11421DIR005
FERNANDO ALCÂNTARA DE OLIVERIRA GUIMARÃES – 11421DIR036
ITACÍ ALVES MARINHO JÚNIOR – 11421DIR034
MAYKON GRACIEROSATIL DE OLIVEIRA 11421DIR031
MAURÍCIO JOÃO FIGUEIREDO 11421DIR042
Direito à Vida
Seminário apresentado à Universidade
Federal de Uberlândia, como exigência
da matéria de Direitos Fundamentais,
do Curso de Direito.
Orientador: Prof. Rodrigo Vitorino Souza
Alvez
UBERLÂNDIA
2015
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO............................................................................................................4
2. A VIDA COMO OBJETO DO DIREITO.......................................................................4
2.1. DOUTRINA E CONSTITUIÇÃO.............................................................................4
2.2. JURISPRUDÊNCIA................................................................................................5
3. DIREITO À EXISTÊNCIA………………………………………………………………….7
3.1. DOUTRINA E CONSTITUIÇÃO……………………………………………………….7
3.2. JURISPRUDÊNCIA…………………………………………………………………….8
4. DIREITO À INTEGRIDADEFÍSICA……………………………………………………….8
5. DIREITO À INTEGRIDADE MORAL…………………………………………………….12
5.1. DIREITO À HONRA……………………………………………………………………12
5.2. DIREITO À IMAGEM… ……………………………………………………………….13
5.3. DIREITO À IDENTIDADE……………………………………………………………..15
6. ABORTO……………………………………………………………………………………16
7. EUTANÁSIA………………………………………………………………………………..18
8. A QUESTÃO DA PENA DE MORTE........................................................................20
8.1. PEQUENO PANORAMA HISTÓRICO DO POSICIONAMENTO DO BRASIL
SOBRE A PENA DE
MORTE....................................................................................20
8.2. PANORAMA MUNDIAL SOBRE OS TIPOS DE PENA DE MORTE...................20
8.3. VIOLAÇÃO DO DIREITO Á VIDA COMO UM DIREITO FUNDAMENTAL E
IMUTÁVEL................................................................................................................
..21
9. TORTURA…………………………………………………………………………………22
10. CONCLUSÃO............................................................................................................23
11. BIBLIOGRÁFIA........................................................................................................23
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1. INTRODUÇÃO
A palavra VIDA é conceituada no Dicionário Houaiss da Língua
Portuguesa, sob diferentes aspectos, no que pertine ao Direito à Vida, são os
seguintes:
“[..] 3 - o período de um ser vivo compreendido entre o
nascimento e a morte; existência [...] 5 - motivação que anima a
existência de um ser vivo, que lhe dá entusiasmo ou prazer; alma,
espírito [...] 8 - o conjunto dos acontecimentos mais relevantes na
existência de alguém; 9 - meio de subsistência ou sustento
necessário para manter a vida [...] p. 2858.
O Direito à vida é algo intrínseco à personalidade de direitos da
pessoa, e desmembra-se em vários tópicos específicos que são regidos pela
constituição, abordados pela doutrina e aplicados na jurisprudência. Nesse
trabalho, procuramos desenvolver esses três eixos e abordar o tema que é um
direito fundamental e garantia constitucional.
2. A VIDA COMO OBJETO DO DIREITO
2.1- DOUTRINA E CONSTITUIÇÃO
O direito à vida constitui a fonte primária de todos os outros direitos, pois
não faria sentido possuir esses direitos se antes não fosse assegurado o direito
de se estar vivo para poder usufrui-los. A vida como objeto do direito não possui
apenas o significado biológico, mas também moral. Ou seja, a pessoa humana
possui o direito de permanecer existente, e de que essa existência seja digna,
que possua um determinado grau de qualidade (Art. 1, III CF).Esse último
sentido é cumprido a partir de um aparato estatal que ofereça os recursos
necessários para a vida saudável da pessoa humana. Logo, o direito à vida
pressupõe, além do dever por parte do Estado de assegurar a inviolabilidade do
direito à vida, (Art. 5, caput CF), o dever estatal de assegurar a saúde (Art.196
CF), a educação (Art. 205 CF: “A educação, direito de todos e dever do estado e
da família, será promovida (...) visando ao PLENO DESENVOLVIMENTO DA
PESSOA...”), o meio ambiente ecologicamente equilibrado (Art. 225 CF: “Todos
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tem direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum e
ESSENCIAL À SADIA QUALIDADE DE VIDA...”). Além disso, a vida digna é
também assegurada pelo art.3, III da Constituição (“erradicar a pobreza e a
marginalização...”), pelo art.3, IV d Carta Magna (“promover o bem de todos,
sem preconceito de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de
discriminação”.), pelo art.182 da Lei Maior (“ A política de desenvolvimento
urbano, executada pelo Poder Público [...] tem por objetivo [...] GARANTIR O
BEM-ESTAR DE SEUS HABITANTES.).
Sob a ótica da bioética, a vida humana funda-se em elementos materiais
(físicos e psíquicos) e imateriais (espirituais), apresentando-se, por conseguinte,
em uma unidade de espírito e corpo. De acordo com José Afonso da Silva
(2015, p.198) “A vida é intimidade conosco mesmo, saber-se e dar-se conta de
si mesmo”. Sendo um direito fundamental, a vida possui uma dimensão objetiva
e uma dimensão subjetiva. Dimensão objetiva porquanto o direito à vida possui
um significado de valor, um bem jurídico protegido, do qual decorrem efeitos
jurídicos com o intuito de proteção e promoção desse direito fundamental.
Dimensão subjetiva, pois implica um direito de defesa do indivíduo contra
intervenções alheias sobre sua vida.
O direito à vida é também assegurado em tratados internacionais. A
Convenção Americana Sobre Direitos Humanos defende o direito à vida em seu
art.4, afirmando em seu inciso um que “Toda pessoa tem o direito de que se
respeite sua vida”. A Declaração Universal de Direitos Humanos regula o direito
à vida em seu art.3, e ,além disso, também regula o direito à vida digna, como
visto em seu art. 25: “ Toda pessoa tem direito a um nível de vida suficiente para
lhe assegurar e à sua família a saúde e o bem-estar...”. A Declaração Universal
serviu como base para o Pacto internacional de Direitos Civis e Políticos, que
declara, em seu art. 6, I, que “O direito à vida é inerente à pessoa humana. Este
direito deve ser protegido pela lei: ninguém pode ser arbitrariamente privado da
vida.”. Deve-se ter em consideração que o direito à vida possui exceções, como
verificado na própria Constituição Federal em seu art. 5, XLVII, a, e no Código
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Penal, que admite o homicídio em caso de necessidade (Art.24) e em legitima
defesa (Art.25).
2.2- JURISPRUDÊNCIA
O Recurso Extraordinário 271.286 AGR-8 Rio Grande do Sul de
12/09/2000
O Recurso em questão foi relatado pelo Ministro Celso de Mello,
na Segunda Turma. Figuram como partes o Município de Porto
Alegre, na condição de agravante, e Diná Rosa Vieira, portadora
do HIV, como agravada.
No caso em questão, o Estado do Rio Grande do Sul recorreu à decisão
proferida pelo Tribunal de Justiça do Rio Grane do Sul, a qual, com base no art.
196 da Constituição Federal obrigouo Município de Porto Alegre e o Estado do
Rio Grande do Sul a fornecer gratuitamente os medicamentos para AIDS, nos
casos em que os pacientes não possuírem recursos financeiros suficientes. As
alegações do Estado do Rio Grande do Sul resumem-se, basicamente, a
questões orçamentárias. Sustenta, em primeiro lugar, que houve violação do art.
167, I da Constituição Federal,ao se obrigar o Município de Porto Alegre a
fornecer remédios aos doentes de AIDS. Alega, ainda, que a Carta
Maiorestabelece, em seu art. 165, § 5º, III, ser de iniciativa do Poder Executivo
criar leis definidoras dos orçamentos anuais, nas quais estará previsto o
orçamento da seguridade social, não podendo o Poder Judiciário interferir neste
assunto. O Ministro Relator rebate a primeira alegação se utilizandodo
argumento de que a licitação é dispensada nos casos de emergência, o que se
configura na situação em questão, pois o atraso na compra do remédio
comprometeria a própria vida do paciente. Além disso, defende que o juiz não
deve se preocupar com a falta de previsão orçamentária, problema a ser
solucionado pelo administrador, ao qual compete atender, de modo equilibrado,
as necessidades dos cidadãos, assegurando a vida destes. Finalmente, o voto
aborda o direito à saúde, que, segundo entendimento do Tribunal, é um direito
público subjetivo e indisponível assegurado a todos, segundo o mandamento do
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art. 196 da Constituição da República.Com isso, o STF entendeu que o direito à
saúde, além de qualificar-se como direito fundamental da pessoa humana, é
entendido como indissociável ao direito à vida, assegurada pela Carta Maior. Em
um juízo de ponderação, aquele direito, quando confrontado com o interesse
financeiro do Estado, deve prevalecer em nome do respeito indeclinável à vida e
à saúde humana. Destarte, o Tribunal considerou improcedente o recurso
extraordinário movido pelo Estado do Rio Grande do Sul, colocando como
argumento o direito à vida, que pressupõe de forma indissociável o direito à
saúde. Desse modo, é obrigação do Estado prover, de forma gratuita, os
medicamentos necessários ao tratamento da doença, pelo fato de que esta
constitui um risco à vida da agravada, que não dispõe de recursos suficientes
para o tratamento.
3. DIREITO À EXISTÊNCIA
3.1DOUTRINA E CONSTITUIÇÃO
Tido como a primeira vertente do direito à vida, o direito à existência é,
como o nome diz, o direito a permanecer existente.O Direito à existência tem
como base o princípio da dignidade da pessoa humana (art. 1º, III) da
Constituição e reforçado pelos demais códigos que atribuem ao indivíduo
direitos substanciais para que este permaneça vivo.O direito a uma existência
digna não está incluso na Constituição, devido a diversas controvérsias que
poderiam surgir a respeito deste direito.Embora tal direito não esteja na
Constituição, esta prevê a proteção do indivíduo com vida (a partir do
nascimento) e garantia da manutenção desta por parte do Estado.Tais contra-
argumentos giram em torno de assuntos a serem abordados pelos demais
membros do grupo. A preservação da existência digna, embora defenda a
prevenção da eutanásia, pode trazer à tona a eliminação de indivíduos com
alguma deficiência, visto que este não teria uma vida humana digna.Considera-
se também a existência digna como um fator base na economia, como é previsto
no artigo 170 da Constituição Federal. Este princípio econômico limita as ações
tributárias do Estado, garantindo um mínimo existencial ao indivíduo.
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3.2JURISPRUDÊNCIA
I - Agravo Regimental. Decisão monocrática do Relator de recurso
considerado manifestamente improcedente. Aplicação do 'caput'
do artigo 557 do Código de Processo Civil. Possibilidade. II
Mandado de Segurança. Fornecimento gratuito de medicamentos.
Portador de 'Diabetes Mellitus tipo I'. Direito à vida e a uma
existência digna. Dever constitucional do Estado. Exegese do
artigo 5º 'caput' e 196 da Constituição Federal. III A União, os
Estados e os Municípios são titulares passivos da competência
constitucional de provimento a favor dos indivíduos de saúde
pública. IV - Ausência de violação da independência dos Poderes.
A previsão orçamentária é feita para as despesas ordinárias. A
Administração Pública deve suportar determinados gastos não
previstos especificamente, mas que constituem sua
responsabilidade. É assim, por exemplo, com relação às
calamidades públicas derivadas de força maior. Neste caso, a vida
e a saúde humana devem ter especial proteção do ente público,
até mesmo porque este é o seu interesse público primário, o bem
social. V - O Sistema Único de Saúde exercido pelas Secretarias
de Estado pressupõe a integralidade da assistência, de forma
individual ou coletiva, para atender cada caso em todos os níveis
de complexidade, razão pela qual, comprovada a necessidade dos
medicamentos e insumos para a garantia da vida dos pacientes,
deverão ser eles fornecidos. VI - Sentença concessiva da ordem.
Negado seguimento aos recursos. VII - Regimental improvido.
4. DIREITO À INTEGRIDADE FÍSICA
O direito à integridade pessoal (física e moral) possui uma forte conexão
com o direito à vida, na medida em que a vida se realiza no corpo humano e nos
valores de cada indivíduo, sendo aquele desdobrado em diversas
manifestações. Porém, a Constituição Federal Brasileira não contemplou de
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maneira expressa nenhum desses direitos, com destaque para a integridade
corporal/física, a qual não foi diretamente um objeto de proteção. Um fato
curioso no entanto é o fato de ela ter assegurado o respeito à integridade física
dos presos no artigo 5°, inciso XLIX. Dessa forma, para que se possa
reconhecer a defesa de tais direitos a todos é necessário a utilização de uma
análise constitucional sistemática, de acordo com os dispositivos da Constituição
e com os tratados internacionais de Direitos Humanos aceitos pelo Brasil.
No que diz respeito ao direito à integridade física no plano
internacional a Declaração dos Direitos Humanos da ONU, de 1948, estabelece
que ninguém será submetidos a tortura, nem a tratamento ou castigo cruel,
desumano ou degradante(artigo V). Já conforme a Constituição Brasileira de
1988, isso também é declarado em seu artigo 5°, inciso III. Além disso, o direito
que mais se aproxima como objeto de tutela da integridade corporal é o direito à
saúde, pelo fato de uma intervenção médica no corpo humano ser sempre uma
manifestação no direito dessa integridade, sendo que este direito protege a
inviolabilidade da pessoal contra toda e qualquer intervenção que careça de
consentimento do titular do direito.
Como a integridade físico-corporal constitui um bem vital do indivíduo
e pode ser considerada como um direito fundamental dele, qualquer pessoa que
provocar lesões corporais à outra está sujeita a punições da lei, abarcadas pela
legislação penal. Outro tipo penal que se relaciona com a alteração de tal
integridade é a conduta de induzir ou instigar alguém ao suicídio, ou prestar
auxílio pra que o faça (artigo 122 do Código Penal). Nesse caso, percebe-se que
não há uma punição direta ao suicídio ou à tentativa dele, na medida em que
sanções a esses atos não possuem nenhum sentido racional, pois seria ilógico
punir o morto e, em se tratando de tentativa, seria injusto punir pessoas
inocentes ou traumatizadas com o auto-extermínio. Então, na busca de se
entender o suicídio e as razões que levam uma pessoa a praticar a morte
intencional de si mesmo, identificou-se diversos fatores gerais, como a influência
do sexo, da estação do ano, da idade, do urbanismo, do estado civil e a
influência profissional e psicofisiológica. Além dessas influências, estudadas
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principalmente por Durkheim, um grande sociólogo francês, há também a
determinação de vários problemas específicos que geralmente são uma forma
de justificativa para que o suicida pratique tal atentado contra à vida e contra sua
integridade pessoal.
Nesse sentido, outra questão amplamente discutida é o ato de
disposição à integridade física na forma de alienação de membros ou órgãos do
seu próprio corpo. Sobre isso é notável que mesmo a integridade física sendo
um direito individual a legislação brasileira, no âmbito constitucional, civil e
penal, faz certas restrições quanto a esse assunto. Assim, a doação de órgãos
sempre foi admitida, visando suprir deficiências e salvar a vida de doentes.
Entretanto, segundo o artigo 199, parágrafo quarto da constituição, “a lei é que
define as condições e requisitos que facilitem a remoção de órgãos, tecidos e
substâncias humanas para fins de transplante, bem como a coleta,
processamento e transfusão de sangue, vedado, porém, todo tipo de
comercialização. Com isso, a lei apenas permite a disposição gratuita de partes
do corpo humano em vida ou após a morte, para fins de transplante ou
tratamento. Dessa maneira, torna-se nítido a preocupação dos mecanismos
legais em preservar a vida e a integridade física das pessoas, à medida que a
alienação é aceita quando se tratar de uma doação de órgãos duplos cuja
retirada não represente grave comprometimento de suas aptidões vitais e saúde
mental e corresponda a uma atividade terapêutica indispensável à pessoa
receptora (artigo 9° da Lei 9.349). No caso de doação após a morte torna-se
necessário a autorização do próprio morto feita em vida ou a autorização do
cônjuge ou parente até segundo grau quando não entrar em desacordo com a
manifestação do falecido em sua ID ou CNH (artigo 4° da Lei 9.349).
Um fator a ser analisado é o de que, na condição de direito subjetivo, o
direito à integridade física e psíquica opera como direito de defesa, ou seja,
como um direito a não intervenção do estado a esse bem jurídico protegido.
Nessa perspectiva, constata-se então que o livre consentimento do titular do
direito justifica intervenções totais, parciais ou temporárias na esfera corporal,
como as realizadas por médicos, corte de cabelo, colocação de brincos e
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piercings, realização de tatuagens, etc. Por outro lado, ao contrário dessa
dimensão negativa, a dimensão positiva do direito, representada por prestações
estatais, mostra-se mais difícil de ser tipificada, mas pode ser notada nos
investimentos à saúde e nas restrições e punições quanto à alienação de
órgãos.
Outro ponto a ser destacado é a questão da titularidade do direito à
integridade física e psíquica, a qual se apresenta ser universal, de modo a
englobar tanto os brasileiros quanto os estrangeiros residente ou não no Brasil.
Já os destinatários desse direito mostram-se ser tanto os órgãos estatais
quantos os particulares, pois a proteção dele é também objeto de concretização
pela legislação cível. Assim, no que concerne à tortura e todo tratamento
desumano, a titularidade de o sujeito não sofrer esse tipos de atos é universal e
essencial à própria dignidade humana, sendo que o destinatário em primeira
linha é majoritariamente o Estado, em função de proibir tal crueldade.
Dessa forma, atualmente se tem um grande âmbito de proteção ao
direito à integridade física e psíquica das pessoas, o que representa um avanço
na garantia dos direitos fundamentais, os quais são reflexos de importantes
tratados internacionais. Um desses tratados que merece destaque é a Carta de
Direitos Fundamentais da Europa, do ano de 2000, cujo artigo 3° assegura o
direito à integridade do ser humano nos seguintes termos: “1 – Todas as
pessoas têm o direito ao respeito pela integridade física e mental. 2 – No
domínio da medicina e da biologia, devem ser respeitados, designadamente: (a)
O consentimento livre e esclarecido da pessoa nos termos da lei; (b) A proibição
das práticas eugênicas, nomeadamente das que têm por finalidade a seleção
das pessoas; (c) A proibição de transformar o corpo humano ou as suas partes,
enquanto tais, numa fonte de lucro; (d) A proibição da clonagem reprodutiva dos
seres humanos. Portanto, como visto, o direito brasileiro se baseou
profundamente nessa convenção internacional, a qual abordou questões e
desafios recentes referentes ao biodireito e proporcionados pelo avanço
tecnológico.
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Devido a isso, um interessante caso de jurisprudência pode ser citado
para ilustra na prática a garantia desse direito fundamental, o qual
especificamente se relaciona com o direito à integridade física e moral dos
presos, que possui proteção constitucional, como dito inicialmente. Em tal
situação julgada pelo Supremo Tribunal Federal há o pedido de transferência do
preso para outro presídio por conta da violação de sua integridade pessoal.
Sustenta-se o argumento de que o preso encontra-se em risco de morte, além
de ter sofrido violências físicas, sexuais e morais pelo fato de denunciar o tráfico
de drogas interno do local. Assim sendo, julgou-se o pedido procedente,
buscando portanto assegurar a integridade da pessoa sob custódia do Estado.
Além disso, a Súmula Vinculante número 11 também trata desse assunto, sendo
que ela coloca que:"Só é lícito o uso de algemas em casos de resistência e de
fundado receito de fuga ou de perigo à integridade física própria ou alheia por
parte do preso ou de terceiros, justificada a excepcionalidade por escrito, sob
pena de responsabilidade disciplinar, civil e penal do agente ou da autoridade e
de nulidade da prisão ou do ato processual a que se refere, sem prejuízo da
responsabilidade civil do Estado".
Por isso, nota-se que o direito à integridade física e psíquica é
garantido a todas as pessoas e que sua proteção, apesar de não ser
expressamente instituída na Constituição Federal de 1988, determina-se de uma
maneira muito ampla, na medida em que tal direito possui uma enorme
importância para que o direito à vida, atrelado à dignidade da pessoa humana,
possa ser mais bem assegurado.
5. DIREITO À INTEGRIDADE MORAL
O princípio da dignidade humana, positivado no ordenamento jurídico
no artigo 1º da Constituição Federal, é o elemento norteador da proteção da
integridade moral. Em face de tamanho destaque à dignidade da pessoa
humana percebe-se a virada que a Constituição Federal de 1988 e,
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principalmente o Código Civil de 2002, promoveram no objeto central do direito.
Antes, o direito protegia primordialmente o patrimônio, deixando em segundo
plano a pessoa humana. Contudo, a partir de tais mudanças, a proteção da
pessoa vem se tornando cada vez mais forte, ligando intimamente a
personalidade à dignidade, tornando-os quase inseparáveis.
Essa mudança no objeto central do direito foi pensada por Immanuel
Kant no século XVIII, porém só ganhou destaque e realmente entrou em vigor na
Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948. Desde então, os
ordenamentos subsequentes passaram a se basear em tal mudança, dotando o
ser humano de dignidade e a coisa de preço.
Maria Helena Diniz elaborou classificação quanto aos direitos da
personalidade e, dentre estes, a integridade moral abrange a honra, o recato, o
segredo profissional e doméstico, a identidade pessoal, familiar e social.
O Código Civil de 2002 abordou os direitos da personalidade, mas não
se encarregou de produzir normas a respeito, adotando o sistema de cláusulas
gerais.
“O direito à integridade moral corresponde à proteção pertinente
à pessoa, no que diz respeito à honra, liberdade, recato, imagem
e nome. Honra é a dignidade pessoal e a consideração que a pes-
soa desfruta no meio em que vive. É o conjunto de predicados
que lhe conferem consideração social e estima própria. É a boa
reputação.” Segundo Samaniego (2000):
5.1DIREITO À HONRA
A honra se refere à dignidade pessoal, ou seja, ao sentimento próprio,
consciência de ser digno somado à estima e consideração moral e dos outros.
Como conceitua De Cupis, é um valor íntimo do homem, a estima dos outros ou
a consideração social, o bom nome ou a boa fama. Dessa forma, por ser um
patrimônio moral da pessoa, possui a natureza jurídica de direito subjetivo.
Parte da doutrina divide a honra em objetiva e subjetiva, porém devido à
dificuldade de se determinar com precisão em um caso concreto já que ao
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infringir uma, consequentemente se infringe a outra, costuma se adotar uma
definição única baseada em De Cupis.
A proteção da honra está positivada na Contituição Federal,
artigo 5º, inciso X:
“ São invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem
das pessoas, assegurando o direito a indenização pelo dano
material ou moral decorrente de sua violação. (BRASIL, 2003,p.
6).”
O Código Civil também faz menção à proteção no seu artigo 20:
“Salvo se autorizados, ou se necessárias à administração da
justiça ou à manutenção da ordem pública, a divulgação de
escritos, a transmissão da palavra ou publicação, a exposição ou
a utilização da imagem de uma pessoa poderão ser proibidas, a
seu requerimento e sem prejuízo ...da indenização que couber, se
lhe atingirem a honra, a boa fama ou a respeitabilidade, ou se se
destinarem a fins comerciais. Parágrafo único: Em se tratando de
morto ou de ausente, são partes legítimas para requerer essa
proteção o cônjuge, os ascendentes ou descendentes. “
Conforme os trechos, a tutela da honra pode se dar independentemente
da tutela penal. A lei penal prevê sanção quem violar a honra, a legislação civil
deixa em aberto a possibilidade de tal sanção. Em casos como este, há a
indenização como se fosse uma ação reparatória, para amenizar os danos.
5.2 . DIREITO À IMAGEM
Com o advento de novas tecnologias, meios de comunicação em massa e
as novas formas de relação profissional baseado na imagem das pessoas
proporcionaram a necessidade de se positivar os direitos relativos à imagem. No
Brasil, tal positivação ocorreu na instância constitucional em 1998, e ganhou
ainda mais destaque no Código Civil de 2002. De fato, as doutrinas nacionais e
estrangeiras sempre reconheceram o direito à imagem, mas não tinha tamanha
importância devido à necessidade e destaque nas relações sociais da anterior
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ao surgimento de novos meios de informação e divulgação, os quais muitas
vezes entram em conflito com a intimidade e a imagem das pessoas.
Há profissiões que necessitam de cuidade especial com a imagem pelo
fato de esta se o produto principal o qual a pessoa oferece em tal atividade.
Nesses casos, há o uso consentido da imagem por tais meios de comunicação.
Porém não há limites específicos para tal consetimento por se tratar de um tema
abstrato, o que gera muitas vezes conflito quando a pessoa acredita que sua
imagem está sendo usada de maneira inadequada ou fora do combinado com o
contratante. Assim, há dois tipos de consentimento: o gratuito, que deve ser
fornecido para um determinado fim; e o mediante pagamento, que é o para uso
expressantementepreviso. Contudo, os tribunais têm enfrentado grandes
dificuldades em casos como este, por se tratar de colisão de valores.
Os tribunais, por sua vez reconhecem o direito à imagem como um
direito autônomo:
“Direito à proteção da própria imagem, diante da utilização de
fotografia, em anúncio com fim lucrativo, sem a devida
autorização da pessoa correspondente. Indenização pelo uso
indevido da imagem. Recurso extraordinário não conhecido.
(BRASIL, 1981, p. 12605)”
Tal decisão deriva de uma ação de reparação de danos em que dois
artistas tiveram suas fotografias usadas em propaganda, sem que tivessem
autorizado.
Pode haver uma relação estreita entre o nome da pessoa jurídica e a
imagem da pessoa física e, caso esta venha a ser atingida moralmente na
sociedade na qual se insere a pessoa jurídica em questão sentirá os efeitos.
Apesar de se reconhecer que tanto as empresas quanto seus produtos são
detentores de imagem, eles não possuem o direito à imagem garantida, pois
esse deriva da personalidade que é adquirida por meio do nascimento, com
vida.
5.3. DIREITO À IDENTIDADE
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Para satisfazer as necessidades sociais o indivíduo tem a necessidade de
se diferenciar das outras pessoas, a ferramenta utilizada para isto é a
identidade. O principal meio de diferenciação que caracteriza a identidade é o
nome, sinal verbal que identifica claramente a pessoa a quem se refere. O
direito ao nome se desenvolveu tardiamente: não estava incluído no Código de
Napoleão e no Código Civil Italiano de 1865 mas incluído nos códigos alemão e
suíço.
Há teorias divergentes que chegam a considerar que o nome é um
direito de propriedade ou outra que sustentava que o direito ao nome é um
direito sobre um bem imaterial ou coisa incorpórea. Entretanto, a mais aceita
afirma que se trata de um direito da personalidade, pois o nome não é algo
exterior à pessoa.
Primitivamente o nome era usado apenas como uma forma simples de
se designar um indivíduo. Com o crescimento das populações, novas relações
sociais, essa simples designação foi ganhando maior complexidade e
características peculiares de diferenciação, até que se tornou necessário a
positivação de tal direito. O Código Civil aborda a proteção à identidade no artigo
17:
“O nome da pessoa não pode ser empregado por outrem em
publicações ou representações que a exponham ao desprezo
público, ainda quando não haja intenção diflematória. (BRASIL,
2002, p. 5).”
Conforme Rita de Cássia Resquetti (2003, p53) o texto contitucional não
traz proteção expressa ao nome da pessoa natural, apesar de fazê-lo em
relação ao nome da pessoa jurídica (artigo 5º, XXXIX). Porém o faz
indiretamente quando tutela o direito de resposta, proporcional ao agravo, além
da indenização cabível (artigo 5º, V), e quando protege ainviolabilidade da
intimidade, da vida privada, da honra e da imagem das pessoas.
O Código Civil de 2002 trouxe avanços quanto ao direito à identidade:
Artigo 16. Toda pessoa tem direito ao nome, nele compreendidos o prenome e o
sobrenome.
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Artigo 18. Sem autorização, não se pode usar o nome alheio em propaganda
comercial.
Artigo 19. O pseudônimo adotado para atividades ilícitas goza da proteção que se dá
ao nome.
6 ABORTO
O aborto é a interrupção da gravidez, decorrida da expulsão de um feto
antes do final do seu desenvolvimento e viabilidade em condições extra-uterinas.
Há uma grande polêmica sobre o tema, que envolve o direito à vida e suas
concepções.
Em seu livro “Domínio da Vida: Aborto, Eutanásia e Liberdades
Individuais”, Ronald Dworkin aprofunda sobre o debate da legalização dessa
prática, e analisa os argumentos de cada setor da sociedade, desde o mais
conservador (Igreja Católica e demais instituições religiosas) até o mais radical
(movimentos feministas). A argumentação conservadora decorre da sacralidade
da vida, que segundo uma análise laica, seria o direito à inviolabilidade da vida
por ser algo consensualmente valioso, sendo portanto comparada à
conservação das obras de arte, à preservação da fauna e flora, dentre outros
temas que são considerados, por consenso prévio, sagrados pela sociedade.
Assim a interrupção de um processo de formação intra-uterina, seria uma
vulgarização da vida. Já os argumentos pró-aborto, decorrem da visão de que a
mulher possui propriedade sobre o próprio corpo, assim, uma proibição do
aborto viola diretamente os direitos de privacidade da mulher. Outro argumento
seria a legitimidade da mulher sob o feto, pois ele é uma semi-parte do seu
corpo, pode-se citar um comentário da poeta AdrienneRich: “A criança que trago
comigo durante nove meses não pode ser definida nem como eu, ou nem como
não eu”, o investimento emocional e físico realizado é todo da mãe, e portanto, a
gravidez é algo intrinsicamente ligado ao desejo da mãe.
A Constituição brasileira proíbe o aborto. O art.5° claramente cita, entre
os cincos direitos mais relevantes, considerados fundamentais, o direito à vida.
Interpreta-se que a ordem de sua enunciação pressupõe a sinalização de
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importância, dos cincos é o mais relevante.
Está o artigo 5° “caput” assimredigido:
“Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer
natureza, garantindo se aos brasileiros e aos estrangeiros
residentes no país a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à
igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
[...]”. BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República
Federativa do Brasil – Art.5. Brasília, DF: Senado Federal: Centro
Gráfico, 1988 p.3
Paulo Gustavo Gonet Branco, em seu manual de direito constitucional, em autoria com
Gilmar Mendes, aborda sobre a visão da Constituição Brasileira em relação ao tema:
“Justifica-se, então, que se incrimine o homicídio, mesmo que o
próprio legislador contemple circunstâncias que devem ser
consideradas com vistas a modular a aplicação da lei penal.
Justifica-se, da mesma forma, que se incrimine o aborto, como
medida indispensável para a proteção da vida humana
intrauterina. A incriminação da conduta não apenas se presta para
reprimir o comportamento contrário ao valor central da vida para o
ordenamento jurídico, como, igualmente, contribui para que se
torne nítida a antijuridicidade do comportamento vedado. A
inequívoca e grave rejeição do aborto pela legislação penal deixa
claro que terceiros não têm o poder de disposição sobre o ainda
não nascido.”
GONET BRANCO, PAULO. Cap.4 Direitos Fundamentais em
Espécie, – São Paulo : Saraiva, 2012 p.378-389
A doutrina jurídica brasileira tipifica o aborto em três tipos: eugenésico,
terapêutico e sentimental. O aborto eugenésico, seria o aborto realizado nos
casos de fetos defeituosos, ou até mesmo com possibilidade de se tornarem
defeituosos no futuro, e o terapêutico ocorre quando a vida da gestante está em
risco, neste caso o médico realiza o aborto com o intuito de salvar a vida da mãe,
já o sentimental, é o aborto nos casos de estupro. Os dois últimos casos são
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admitidos pelo Código Penal, que preceitua em seu art.128, que “Não se pune
aborto praticado por médico: I – se não há outro meio de salvar a gestante; II –
se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento da
gestante ou, quando incapaz, de seu representante legal”.
Existe um caso específico onde o aborto eugenésico é permitido pela
jurisprudência, após a discussão pelo STF sobre a ADPF 54, onde se questionou
a questão dos fetos portadores de anencefalia cerebral. A doença não permite
que o feto desenvolva a parte cerebral do corpo, o que o deixa em um estado de
vegetação e baixa duração de vida pós-parto. Analisando esse caso específico,
a corte decidiu que o princípio da vida digna é ferido ao proibir o aborto em casos
como esse, devido ao desgaste emocional familiar e o sofrimento da criança,
portanto, passou a ser permitido o aborto em casos como esse.
7 EUTANÁSIA
O termo dá-se no sentido de uma morte sem padecimento, uma morte
honrada. Contudo, no atual vocabulário jurídico, a eutanásia é conceituada como
a morte que alguém provoca em um terceiro, a fim de poupá-lo de um estado
agonizante ou pré-agônico, de extremo sofrimento, considerado como um
“homicídio piedoso”. Geralmente, a eutanásia é aplicada sem o consentimento
do doente, pois esse na maioria dos casos está em coma, ou em um estado
delirante, sendo assim, incapaz de responder ao seus atos, e há uma grande
discussão em relação aos direitos violados, e se seria de acordo com a lei e a
moral se o próprio doente autorizasse o médico consumar sua morte, ou seria,
uma espécie de assistência ao suicídio, que configuraria em crime.
Em alguns países a eutanásia é uma prática aceita, por exemplo, em
uma decisão tomada no Canadá em 1992, o juiz Dufour, de Quebec, determinou
que as pessoas têm legitimidade para exigir retirada do suporte vital de seu
corpo, mesmo quando não estão morrendo, mas acham a sua vida intolerável no
modo em que se encontram. Essa decisão foi tomada no caso da enferma
Nancy B., de vinte cinco anos, que sofria de uma doença neurológica chamada
síndrome de Guillan-Barre que a deixou totalmente paralisada, não sendo
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possível qualquer tipo de movimentação. Segundo ela, sua vida consistia em
apenas olhar para as paredes e a televisão, e já tinha vivido dois anos e meio
dessa forma, e preferia morrer do que continuar vivendo assim, e fez um pedido
judicial para desligar os aparelhos, o juiz tentou convencê-la do contrário porém
não teve sucesso, e permitiu sua morte.
A maioria dos países ocidentais proíbe a eutanásia em qualquer
circunstância por considerarem assim como no caso do aborto, o caráter
sagrado e inviolável da vida humana, e o princípio de que o Estado deve usar de
políticas públicas e leis que garantam a conformidade de sua existência desde o
nascimento até a morte. Porém o filósofo norte-americano Ronald Dworkin,
mantém-se contra a proibição da eutanásia em casos em que a própria pessoa
exige sua morte, e em seu livro escreve o seguinte:
“[...] as leis de todos os países ocidentais ainda proíbem que
médicos, ou outros, matem diretamente pessoas que lhe peçam
para fazê-lo, injetando-lhes um veneno letal, por exemplo. Assim
o direito produz o resultado aparentemente irracional: por um
lado, as pessoas podem optar por morrer lentamente, recusando-
se a comer, recusando-se um tratamento capaz de mantê-las
vivas ou pedindo para serem desligadas de aparelhos de
respiração artificial; por outro, não podem optar por uma morte
rápida e indolor que seus médicos poderiam facilmente conseguir-
lhes.” DWORKIN, R. Domínio da vida: Aborto, Eutanásia e
Liberdades individuais. In: ________. Tradução: Jefferson Luiz
Camargo – 2ª ed – São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2009
– p. 259
A Constituição Federal em seu artigo 5º garante a todos brasileiros e a
estrangeiros vivendo no país à inviolabilidade do direito à vida, e o Código Penal
abstém-se a respeito da eutanásia, sendo essa incluída em “matar alguém”
portanto configurando em homicídio.O artigo 4º da Declaração Universal dos
Direitos Humanos diz que “toda pessoa tem direito ao respeito de sua vida. Esse
direito deve ser protegido por lei, em geral, desde o momento da concepção.
22
Ninguém pode ser privado da vida arbitrariamente”. O Conselho Federal de
Medicina dispõe em seu artigo 57 a vedação à prática por qualquer médico,
como se pode observar: “deixar de utilizar todos os meios disponíveis de
diagnóstico e tratamento ao seu alcance em favor do paciente”, que pode ser
interpretado como fazer tudo o que estiver em alcance para manter-se a vida,
mesmo que esteja em estado terminal. Porém o próprio conselho aprovou a
Resolução 1.805/2006, a qual autoriza médicos a praticarem a ortotanásia após
autorização do paciente e na impossibilidade deste, da autorização de seu
responsável.
A respeito da doutrina brasileira em relação à eutanásia o jurista
brasileiro Noronha (1994, p.143), manifestando-se contrário, entende que não
existe direito de matar, nem o de morrer, pois a vida tem função social. A missão
da ciência, segundo o doutor penalista, não é exterminar, mas lutar contra o ex-
termínio. Porém, favorável à eutanásia, o jurista Menezes (1977, p. 132) defende
a isenção de pena daquele que mata devido à piedade ou com consentimento
afirmando: "não nos basta o perdão judicial; queremos que a lei declare expres-
samente a admissão da eutanásia, que não seria um crime, mas, pelo contrário,
um dever de humanidade”. Portanto, a doutrina vê-se dividida em relação ao
tema, e a legislação abstém-se em regular diretamente, porém negativamente
configurada como auxílio ao homicídio, ou o próprio homicídio.
8 A QUESTÃO DA PENA DE MORTE
8.1. PEQUENO PANORAMA HISTÓRICO DO POSICIONAMENTO DO BRASIL
SOBRE A PENA DE MORTE.
Neste tópico iremos partir do pressuposto que a pena de morte foi
proibida pela nossa constituição brasileira de 1988, exceto em caso de guerra
declarada, nos termos do art. 84, XIX (art. 5°, XLVII, a). A última execução
determinada pela justiça para crimes civis realizada no Brasil foi em 1876, do
escravo Francisco, em Alagoas. Desde então, não houve “pena de morte ou
pena capital” registrada no território brasileiro.
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O Brasil faz parte da convenção Americana sobre Direitos humanos,
desde 22 de setembro de 1992, cuja essa convenção foi assinada na
conferência especializada interamericana sobre Direitos Humanos, San José,
Costa Rica, em 22 de novembro de 1969. O importante a ser destacado é que
no art. 4°, da convenção Americana, o direito á vida é mencionado como um
direito fundamental e irrevogável.
Além disso, o art. 4° proibi de forma absoluta a propagação da pena de morte
para todo tipo de caso ilícito. Infelizmente o Brasil não aboliu a pena de morte,
sendo assim, ele se encaixa no inciso II desse artigo, onde os países que não
houverem abolido a pena de morte, esta só poderá ser imposta pelos delitos
mais graves, em cumprimento de sentença final de tribunal competente e em
conformidade com a lei que estabeleça tal pena, promulgada antes de haver o
delito sido cometido. Tampouco se estenderá sua aplicação a delitos aos quais
não se aplique atualmente.
8.2. PANORAMA MUNDIAL SOBRE OS TIPOS DE PENA DE MORTE.
Existe uma organização não governamental que defende os direitos
humanos, denominada Anistia Internacional, na qual foi fundada em 1961, por
um advogado britânico Peter Benenson. Essa organização divulgou em abril de
2013, que o numero de indivíduos executados por pena de morte tinham
permanecido linear, mas que o numero de condenações por pena capital haviam
diminuído no ano de 2012, com relação ao ano de 2011. Talvez isso seja algo
para se comemorar, pois, pode-se pensar que os países devem estar galgando
para a abolição dessa tipicidade penal. No entanto, segundo o relatório
divulgado no ano de 2014, pela Anistia Internacional, sobre a pena de morte,
mostra que houve um aumento significativo nas sentenças. Isto é oriundo
devidamente do resultado de uma tentativa fracassada de combater o crime e ao
terrorismo. Deve-se admitir que a tentativa ou a consumação de excluir a pessoa
permanentemente do espaço social, é concretizar que os poderes públicos são
incapazes de encontrar uma via alternativa para ressocialização do individuo.
Com base nos dados estatísticos da Anistia, no total foram consumadas 2466
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penas de morte no mundo em 2014, 28% a mais que o ano de 2013, os
principais causadores para esse aumento foram EGITO e a NIGÉRIA, onde
ambos vivem em um contexto de conflitos geopolíticos internos.
Ademais, há uma estimativa levanta para organização defensora dos
direito humanos que no mínimo 607 execuções foram realizadas em 22 países.
Os números de execuções penais são liderados por China, Irã, Arábia Saudita,
Iraque e os EUA, onde os métodos para essas execuções geralmente foram
usados a decapitação, enforcamento, injeção letal e fuzilamento. Segundo esses
países, os tipos de crimes que ocasionaram a pena capital foram roubo, tráfico
de drogas, fraudes financeiras, adultérios, e até mesmo alguns casos de
feitiçaria.
8.3. VIOLAÇÃO DO DIREITO Á VIDA COMO UM DIREITO FUNDAMENTAL E
IMUTÁVEL.
A nossa constituição brasileira garante o direito à vida, cabendo ao
estado assegurá-la em dois vieses, sendo o primeiro vinculado ao direito de
permanecer vivo e o segundo ter uma vida digna no âmbito de sua existência
pessoal.
Desta forma, a pena de morte, segundo Miguel Torga, é negativa fornecida aos
homens o direito de morrer as suas próprias mortes. Indo mais além, a pena
capital seria a violação completa do direito de permanecer vivo do individuo,
principalmente um ferimento na constituição brasileira, que trata o direito à vida
como uma clausula pétrea, isto é, esse direito é um dispositivo constitucional
imutável, que não pode ser revogado de forma alguma. Em um país denominado
como um estado democrático de direito deve a todo custo se preocupar
fundamentalmente em garantir os direitos do cidadão, seja esse direito individual
ou social. Portanto, quando se olha para a constituição de 1988, percebe-se um
pequeno, ou grande paradoxo a respeito da garantia do direito à vida no art. 84,
XIX, onde existem exceções para realização da pena de morte. Ora, por mais
que Brasil faça parte da convenção americana de direito humanos e tenha
recentemente votado a favor de uma resolução final das execuções penais por
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parte do estado na ONU, ele ainda se encontra coberto por um véu de
ignorância. Este paradoxo é ainda visto no aspecto em que Anistia Internacional,
na qual o Brasil é parceira, se opõe à pena capital em todos os casos sem
exceções. Portanto cabe discernir neste tópico que a posição do Brasil é
absolutamente neutra, ou talvez seja um abolicionista de mãos atadas.
9. TORTURA
"Entre dois homens, igualmente inocentes ou igualmente culpados, o
mais robusto e corajoso será absolvido; o mais débil, contudo, será condenado"
(BECCARIA, 2000, p.39). Esta é uma situação onde dois indivíduos são
torturados com objetivo de encontrar o culpado para aplicação da sentença. A
tortura é um conjunto de ações destinado a força, assim como os tipos de
coerção física, moral, e emocional, para obter, mediante a confissão do individuo
torturado, a verdade das acusações.
A nossa constituição Brasileira de 1988, condena esse tipo de conduta
no inciso III do art. 5°, no qual afirma que ninguém será submetido à tortura ou
tratamento ou tratamento desumano e degradante, no mesmo artigo no inciso
XLIII, determina que a lei considere crimes inafiançáveis e insuscetíveis de
graça ou anistia a prática da tortura. Por mais que tenhamos esse fato tipificado
e condenado pela nossa constituição, deve-se admitir que diante de todas as
violações de direitos humanos, a tortura é mais conhecida e prática tanto no
Brasil como no mundo.
O “Relatório Azul”, difundido pela Comissão de Direitos Humanos e
Cidadania da Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul, divulgou que pelo
menos 1.918 prisioneiros políticos confessaram terem sido torturados entre 64 e
79, onde 283 formas de torturas foram identificadas em todo o período militar.
Deixando de lado as águas passadas, infelizmente deve-se admitir que perante
um estado democrático de direito, essa prática de tortura para se obter
informações ainda é habitual, apesar dela não ser um grande fator inibidor no
desenvolvimento de investigação criminal, pois se sabe que existem meios
tecnológicos para obtenção de informações de forma rápida e eficaz, mas é
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bastante caro e não possui mão de obra para operar esses meios, assim
impulsionando a prática da tortura, cuja é de ação rápida e barata, mas não
eficaz. Mas voltemos ao caso das águas passadas, só para tratarmos de uma
incoerência do Supremo tribunal federal (STF), onde os togados dos STF não
aceitam a revisão da lei de anistia proposta pela a ordem dos advogados em
2010. Portanto cabe agora questionar a legitimidade dos direitos fundamentais,
direitos humanos e a própria legitimidade da constituição, pois com base na
decisão do STF, se pode concluir que a tortura é algo irrelevante e, sobretudo
lícito.
10. CONCLUSÃO
Após a análise de todos esses temas relacionados ao direito à vida,
pode-se perceber a enorme importância desse direito, no sentido de que ele é
essencial para que os outros direitos fundamentais, como a liberdade, à
integridade pessoal, à dignidade e a segurança sejam garantidos e protegidos
constitucionalmente. Nesse sentido, constata-se que sem a vida não há
personalidade jurídica, sendo assim, não há a capacidade da pessoa ser titular
de direitos e deveres, ou seja, sem a defesa da vida como um direito
fundamental nenhum dos demais direitos poderiam ser concretizados.
11. BIBLIOGRAFIA:
RAMOS, Luciana de Oliveira. O uso dos precedentes pelo Supremo Tribunal
Federal em casos de fornecimento de medicamentos. SOCIEDADE
BRASILEIRA DE DIREITO PÚBLICO. Disponível em: <http:// www.sbdp.org.br/
arquivos/monografia/65_Luciana%20%20Oliveira%20Ramos.pdf>. Acesso em:
04 mai. 2015.
CAVALCANTE, Priscila. A Existência Digna e a Essência do Direito
Fundamental à Moradia
MENDES, Gilmar Ferreira. Curso de Direito Constitucional – Gilmar Ferreira
Mendes e Paulo Gustavo Gonet Branco – 7ª edição, 2012
27
CARVALHO, Kildare Gonçalves. Direito Constitucional Positivo – 20ª edição.
Belo Horizonte, 2013.
SILVA, José Afonso. Curso de Direito Constitucional Positivo - 37ª Ed. 2014
DWORKIN, Ronald. Domínio da vida: Aborto, Eutanásia e Liberdades Individuais
– 2ª Edição – São Paulo, 2009.
Manuais de Direito Constitucional
BENEZEATH, BRUNO. Artigo. O Direito a uma Existência Digna
RESQUETTI TARIFA,Rita de Cássia. Artigo – Direito à integridade moral –
Alguns aspectos dos direitos de personalidade