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Itabaiana, 13 a 15 de agosto de 2018 1 SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE CAMPUS PROF. ALBERTO CARVALHO DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA Itabaiana 13 a 15 de agosto de 2018

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Itabaiana 13 a 15 de agosto de 2018

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SERVICcedilO PUacuteBLICO FEDERAL

MINISTEacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

CAMPUS PROF ALBERTO CARVALHO

DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA

Itabaiana

13 a 15 de agosto de 2018

Itabaiana 13 a 15 de agosto de 2018

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FICHA CATALOGRAacuteFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA BICAMPI UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

S471e

Semana da Geografia (8 2018 Itabaiana SE)

Estado e reformas poliacuteticas em tempos de crise

[recurso eletrocircnico] ANAIS da VIII Semana da

Geografia Estado e reformas poliacuteticas em tempos

de crise de 13 a 15 de agosto organizadores

Ana Rocha dos Santos et al ndash Itabaiana SE

Departamento de Geografia Universidade Federal

de Sergipe 2018

642 p

ISBN 978-85-7822-636-7

1 Geografia ndash Congresso 2 Reformas poliacuteticas

3 Crise I Universidade Federal de Sergipe II

Santos Ana Rocha dos III Tiacutetulo

CDU 911(8137)

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REALIZACcedilAtildeO

APOIO

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SUMAacuteRIO

Apresentaccedilatildeo 04

Comissatildeo Organizadora 05

Comissatildeo Cientiacutefica 06

Eixos de Trabalho 07

Anais 09

Eixo 1 - Espaccedilo Agraacuterio 10

Eixo 2 - Espaccedilo Urbano 284

Eixo 3 - Natureza e Sociedade 353

Eixo 4 - Ensino de Geografia 503

Eixo 5 - Estado Trabalho e Poliacuteticas 500

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APRESENTACcedilAtildeO

A Semana da Geografia do Departamento de Geografia

do Campus Prof Alberto Carvalho eacute um momento particular

na formaccedilatildeo inicial e continuada de professores por reunir os

interessados na produccedilatildeo do conhecimento geograacutefico e

apresentar os resultados de trabalhos e pesquisas

desenvolvidos por docentes alunos e demais pesquisadores

Desde a sua primeira ediccedilatildeo (em 2008) a realizaccedilatildeo da Semana

da Geografia se destaca por evidenciar estudos de natureza

geograacutefica sobre o estado sergipano notadamente sobre a

microrregiatildeo de Itabaiana

Os resultados dos trabalhos apresentados durante a

oitava versatildeo do evento estatildeo reunidos nestes anais que

comportam os temas os debates e a reflexatildeo empreendidos

pelos convidados estudantes e professores que participaram

dos Gts

Desejamos uma boa leitura

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COMISSAtildeO ORGANIZADORA

Profordf Drordf Ana Rocha dos Santos - DGEI

Acadecircmica Andressa Arauacutejo Souza - DGEI

Profa Drordf Diana Mendonccedila de Carvalho - DGEI

Prof Dr Joseacute Hunaldo Lima ndash DGEI

Me Josimar de Souza Lima

Acadecircmico Juacutenio Andrade Menezes - DGEI

Prof Dr Marcelo Alves Mendes - DGEI

Graduado Franklin da Cruz Pereira ndash DGEI

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COMISSAtildeO CIENTIacuteFICA

Andrea Coelho Lastoacuteria - USP

Andreacutea Lourdes Monteiro Scabello - UFPI - Universidade

Federal do Piauiacute

Cristiano Apriacutegio dos Santos - UFS

Daniel Almeida da Silva - UFS

Daniel Rodrigues de Lira - UFS

Fabriacutecia de Oliveira Santos - UFS

Geisedryelli Castro Santos - SEED

Josefa de Lisboa Santos - UFS

Larissa Monteiro Rafael - UFS

Luiz Henrique de Barros Lyra - UPE - Universidade de

Pernambuco

Maacutercia da Silva - UNICENTRO - Universidade Estadual do

Centro Oeste - PR

Marleide Maria Santos Seacutergio - UFS

Oscar Alfredo Sobarzo Mintildeo - UFS

Vanessa Dias de Oliveira ndash UFS

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EIXOS DE TRABALHO

EIXO 1 - ESPACcedilO AGRAacuteRIO

Objetiva promover a discussatildeo sobre as questotildees ligadas

ao campo a natureza da produccedilatildeo agriacutecola e os modelos de

desenvolvimento os movimentos sociais e a relaccedilatildeo campo-

cidade

EIXO 2 - ESPACcedilO URBANO

Objetivo analisar a cidade quanto ao seu conteuacutedo e

formas os processos socioespaciais que permeiam a produccedilatildeo

do espaccedilo urbano a problemaacutetica ambiental que coloca em

evidecircncia os limites impostos pela apropriaccedilatildeo da natureza e

revela os riscos que a loacutegica de produccedilatildeo capitalista impotildee para

a reproduccedilatildeo social

EIXO 3 - NATUREZA E SOCIEDADE

A relaccedilatildeo sociedade-natureza estaacute no cerne nos estudos

da Geografia Este eixo eacute dedicado aos trabalhos e pesquisas

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que abordam a dinacircmica proacutepria da natureza e sua apropriaccedilatildeo

para a (re) produccedilatildeo da sociedade capitalista considerando os

graves problemas que resultam da sua exploraccedilatildeo

EIXO 4 - ENSINO DE GEOGRAFIA

Eixo centrado na anaacutelise da poliacutetica educacional

curriacuteculo praacuteticas pedagoacutegicas metodologias experiecircncias e

vivecircncias de ensino

EIXO 5 - ESTADO TRABALHO E POLIacuteTICAS

PUacuteBLICA

Para compreender e explicar a produccedilatildeo do espaccedilo

geograacutefico eacute necessaacuterio o aprofundamento da leitura e anaacutelise

do trabalho como centralidade para estudar a sociedade

contemporacircnea assim como o Estado e as poliacuteticas puacuteblicas

As transformaccedilotildees ocorridas no campo e na cidade satildeo

resultantes da atuaccedilatildeo do Estado atraveacutes de poliacuteticas de

planejamento e ordenamento territorial assim como de

poliacuteticas sociais e econocircmicas que redesenham o espaccedilo para

atender interesses especiacuteficos

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ANAIS

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EIXO 1 - ESPACcedilO AGRAacuteRIO

CONFLITOS SOCIOESPACIAIS NO CAMPO

AGRONEGOacuteCIO E CONCENTRACcedilAtildeO DE TERRAS

Ana Paula Almeida Silva1 Universidade Federal de Sergipe (Mestranda-PPGEOUFS)

aninha18rodriguez15hotmailcom

Marleide Maria Santos Sergio2 Universidade Federal de Sergipe (DGEI PPGEOUFS)

marleidesergiogmailcom

RESUMO Os antagonismos entre as classes sociais no campo

brasileiro tecircm acirrado as disputas territoriais entre proprietaacuterios de terra e trabalhadores camponeses desterritorializados pelo capital A poliacutetica agriacutecola do paiacutes incentiva a expansatildeo do agronegoacutecio enquanto modelo de desenvolvimento para o campo impregnado por uma ideologia que tem no siacutembolo da modernizaccedilatildeo uma de suas marcas Esse modelo tem gerado desdobramentos perversos como o agravamento da concentraccedilatildeo de terras a precarizaccedilatildeo

1 Membro do Grupo de Pesquisa Relaccedilatildeo Sociedade Natureza e Produccedilatildeo do Espaccedilo Geograacutefico (PROGEOCNPQPPGEO) e do Laboratoacuterio de

Estudos territoriais (LATERPPGEOUFS) 2 Profordf do DGEI PPGEO pesquisador do Grupo de Pesquisa Relaccedilatildeo Sociedade Natureza e Produccedilatildeo do Espaccedilo Geograacutefico (PROGEOCNPQPPGEO) Membro do Laboratoacuterio de Estudos

territoriais (LATERPPGEOUFS)

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das relaccedilotildees de trabalho e o desemprego O presente estudo objetiva fazer uma anaacutelise dos conflitos socioespaciais que se articulam na produccedilatildeo do espaccedilo do municiacutepio de Divina Pastora em Sergipe atraveacutes da atividade canavieira pecuaacuteria e exploraccedilatildeo mineral A metodologia partiu de levantamentos bibliograacuteficos leituras em teses artigos pesquisas de campo com observaccedilatildeo da realidade espacial e tambeacutem no banco de dados do IBGE Esses procedimentos contribuiacuteram para realizar um estudo qualitativo das relaccedilotildees espaciais que se materializam no campo brasileiro na atualidade Desse modo constatamos o agravamento da questatildeo agraacuteria pela expansatildeo do agronegoacutecio no campo legitimada pelo Estado Identificou-se a segregaccedilatildeo espacial promovida pela concentraccedilatildeo da terra trabalhadores desterritorializados no campo e nas periferias urbanas em constante situaccedilatildeo de vulnerabilidade social pela negaccedilatildeo do acesso agrave terra Ao mesmo tempo aponta os laccedilos de solidariedade que marcam as relaccedilotildees camponesas de produccedilatildeo resistecircncia cotidiana frente a segregaccedilatildeo espacial presente em Divina Pastora aleacutem da persistecircncia dos resquiacutecios histoacutericos do modelo escravocrata de produccedilatildeo que sobrevive materializado na paisagem sob a forma do agronegoacutecio Palavras-chave Agronegoacutecio Questatildeo Agraacuteria Vulnerabilidade Social

INTRODUCcedilAtildeO

O sistema de produccedilatildeo presente no espaccedilo agraacuterio brasileiro ligado ao modelo de desenvolvimento agroexportador expotildee a inserccedilatildeo do Brasil no pacto colonial sob a marca do extermiacutenio das populaccedilotildees nativas e do escravismo ao mesmo tempo em que produz diversos conflitos no campo As bases desse sistema foram produzidas ao longo de quatro seacuteculos sendo a terra explorada a partir do

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latifuacutendio presenccedila da monocultura e exploraccedilatildeo do trabalho humano

Essas caracteriacutesticas de utilizaccedilatildeo da terra no campo brasileiro resultaram na formaccedilatildeo de um grave problema agraacuterio A concentraccedilatildeo da terra e seus desdobramentos socioespaciais tecircm suscitado processos conflituosos que tiveram iniacutecio com a escravizaccedilatildeo do trabalho indiacutegena posteriormente dos trabalhadores africanos e exploraccedilatildeo do trabalho assalariado A predominacircncia das grandes propriedades formadas a partir da colonizaccedilatildeo conjuntamente com as oligarquias rurais no campo formou um enorme contingente de trabalhadores sem acesso agrave terra e extremamente explorados Como aponta Andrade (1987 p 6) foi a partir desse momento que ldquoa maioria da populaccedilatildeo perdeu a liberdade na forma mais ampla possiacutevel tornando-se objeto mercadoria e onde a concentraccedilatildeo fundiaacuteria levada ao extremo impedia que pobres livres tivessem acesso agrave terra para cultivaacute- lardquo

Eacute nesse contexto que a questatildeo agraacuteria vai se delineando e de forma crescente a terra passou a servir aos interesses mercantilistas do capitalismo A realidade no espaccedilo agraacuterio brasileiro hoje representa os desdobramentos desse processo histoacuterico que impocircs um modelo de produccedilatildeo agriacutecola de exploraccedilatildeo da terra que ignora a necessidade de reformas estruturais a exemplo da reforma agraacuteria Com isso o papel da terra no Brasil foi produzir mateacuterias primas para a exportaccedilatildeo enriquecendo antigas metroacutepoles de colonizaccedilatildeo com os ganhos da acumulaccedilatildeo primitiva de capital O resultado da poliacutetica agraacuteria instituiacuteda foi a negaccedilatildeo do direito a uma vida digna agrave maioria da populaccedilatildeo que sobrevive agraves margens da sociedade como matildeo de obra disponiacutevel para exploraccedilatildeo

A partir de 1930 os processos econocircmicos direcionam o Brasil para uma integraccedilatildeo agrave ordem econocircmica mundial

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incompatiacutevel com o modelo agroexportador dominante no paiacutes ateacute entatildeo De acordo com Lisboa (2007) a coerecircncia desse processo estava na unidade entre a economia cafeeira e o surgimento da industrializaccedilatildeo em um contexto de realizaccedilatildeo de uma nova divisatildeo internacional do trabalho na qual a dependecircncia do capital industrial em relaccedilatildeo ao capital cafeeiro estava associada agrave posiccedilatildeo subordinada da economia brasileira a economia-mundo

Natildeo obstante essa realidade e a opccedilatildeo do Estado brasileiro por uma modernizaccedilatildeo de base teacutecnica como saiacuteda para os problemas do campo a questatildeo da terra manteve centralidade no Brasil sem alteraccedilatildeo na legitimaccedilatildeo do domiacutenio desse meio de produccedilatildeo pelas oligarquias rurais e amparadas em um pacto de classes que as incluiacutea A luta de classes foi apaziguada pelo poder dominante atraveacutes da repressatildeo uso da forccedila ou com poliacuteticas paliativas eou compensatoacuterias

A modernizaccedilatildeo sustentada com vultosos financiamentos puacuteblicos e embalada com o falso discurso de resolver os problemas no campo estimulou a mecanizaccedilatildeo da agricultura e com isso a concentraccedilatildeo de terra ecircxodo rural reduccedilatildeo do trabalho no campo e desemprego em massa contribuindo para o aumento das desigualdades sociais no campo Esse processo em curso a partir da deacutecada de 1960 atuou em benefiacutecio do latifuacutendio que passou a ser valorizado pelas poliacuteticas puacuteblicas para o pseudo desenvolvimento do campo

Agora com outra denominaccedilatildeo o latifuacutendio assume a condiccedilatildeo de empresa agropecuaacuteria manteacutem a presenccedila da concentraccedilatildeo fundiaacuteria agravada pela compra da terra por grandes grupos empresariais expansatildeo das monoculturas no campo com agravamento das consequecircncias ambientais e exploraccedilatildeo do trabalho humano Assim o latifuacutendio moderno denominado de agronegoacutecio agrava a problemaacutetica agraacuteria no

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cenaacuterio brasileiro trazendo diversos conflitos territoriais que emergem da relaccedilatildeo sociedade natureza

Neste trabalho abordaremos o agravamento da questatildeo agraacuteria pelo agronegoacutecio da cana de accediluacutecar pecuaacuteria e exploraccedilatildeo mineral no territoacuterio do municiacutepio sergipano de Divina Pastora bem como os processos gerados pela concentraccedilatildeo da terra na reproduccedilatildeo dos trabalhadores rurais que por sua vez sobrevivem em situaccedilatildeo de grave vulnerabilidade social condiccedilatildeo essa agravada pela ampliaccedilatildeo dos territoacuterios do capital no campo que retira a terra de subsistecircncia camponesa para os empreendimentos de acumulaccedilatildeo e ampliaccedilatildeo do lucro

Como procedimentos metodoloacutegicos foram realizados estudos em fontes secundaacuterias e primaacuterias para a compreensatildeo da realidade analisada atraveacutes de levantamentos bibliograacuteficos leituras em livros artigos teses e dissertaccedilotildees que contribuiacuteram para a compreensatildeo dos processos espaciais inerentes a este estudo pesquisa no banco de dados do IBGE Aleacutem disso foi fundamental estudos de campo para a observaccedilatildeo das relaccedilotildees socioespaciais que marcam o espaccedilo agraacuterio de Divina Pastora onde realizou-se trabalho de campo com a aplicaccedilatildeo de questionaacuterios (um total de 47) e realizaccedilatildeo de entrevistas com trabalhadores camponeses no espaccedilo rural e urbano Todos esses procedimentos contribuiacuteram para levantar reflexotildees e discussotildees a respeito da concentraccedilatildeo fundiaacuteria e sua relaccedilatildeo com o agronegoacutecio aleacutem das relaccedilotildees socioespaciais presentes no municiacutepio de Divina Pastora situando as desigualdades sociais e vulnerabilidades enfrentadas pelos trabalhadores locais

AGRONEGOacuteCIO E A PERMANEcircNCIA DA QUESTAtildeO AGRAacuteRIA

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A instalaccedilatildeo das grandes empresas agropecuaacuterias no campo tem sido financiada pelas poliacuteticas puacuteblicas brasileiras com o fortalecimento e consolidaccedilatildeo do agronegoacutecio no campo Cavalcante e Fernandes (2008) afirmam que o agronegoacutecio eacute expressatildeo do capitalismo e suas diretrizes neoliberais no campo atraveacutes de forte atuaccedilatildeo das agecircncias de regulaccedilatildeo financeiras internacionais Ainda para os autores esse termo surgiu na deacutecada de 1990 como forma de restabelecer a agricultura comercial exportadora apoacutes uma das grandes crises do capital Na concepccedilatildeo de Campos (2011 p 109) o agronegoacutecio deve ser compreendido como

() uma complexa articulaccedilatildeo de capitais direta e indiretamente vinculados com os processos produtivos agropecuaacuterios que se consolida no contexto neoliberal sob a hegemonia de grupos multinacionais e que em alianccedila com o latifuacutendio e o Estado tem transformado o interior do Brasil em um locus privilegiado de acumulaccedilatildeo capitalista produzindo simultaneamente riqueza para poucos e pobreza para muitos e por conseguinte intensificando as muacuteltiplas desigualdades socioespaciais

Entendemos assim que os novos empreendimentos

articulados pelo agronegoacutecio aumentam as contradiccedilotildees no campo As desigualdades sociais geram cada vez mais pobreza e tambeacutem conflitos entre proprietaacuterios de terras e trabalhadores expropriados Para Ramos Filho (2008) o cenaacuterio de grave desigualdade na estrutura fundiaacuteria a improdutividade da maioria das grandes propriedades associado aos projetos puacuteblicos e privados de modernizaccedilatildeo da agricultura apresentam-se como as causas da expulsatildeo da expropriaccedilatildeo e da exclusatildeo nodo campo De acordo com as

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anaacutelises de Conceiccedilatildeo (2011) o agronegoacutecio possui uma loacutegica concentradora de terras de tecnologia e riquezas expropriando famiacutelias produzindo desemprego e baixa qualidade de alimentos Shimada (2014 p 100) acrescenta que ldquoo agronegoacutecio se estabeleceu pela junccedilatildeo do grande capital agroindustrial da grande propriedade fundiaacuteria do capital financeiro e de creacutedito priorizando o fortalecimento dos grandes proprietaacuterios de terra com a oligopolizaccedilatildeo do espaccedilo agriacutecola e a dinacircmica do mercado de terrasrdquo Lopes (2017 p 96) analisa que o agronegoacutecio eacute ldquoum modelo de desenvolvimento agroexportador e de produtividade em que seus conjuntos de relaccedilotildees praticam a superexploraccedilatildeo do trabalho peonagens e trabalho escravo contemporacircneordquo

Partindo dessas consideraccedilotildees ratificamos que o agronegoacutecio intensifica a pobreza no campo pois centraliza a terra nas matildeos de poucos proprietaacuterios contribuindo para a exclusatildeo social e degradaccedilatildeo ambiental Assim eacute nas aacutereas de expansatildeo das atividades produtivas ligadas ao agronegoacutecio que ocorre simultaneamente a intensificaccedilatildeo da pobreza no campo Essa realidade eacute uma contradiccedilatildeo dos discursos presentes nas propagandas veiculadas pelos meios de comunicaccedilatildeo no Brasil Os mesmos afirmam que o agronegoacutecio diante da grande produtividade eacute o principal meio de produccedilatildeo de alimentos para o consumo humano Entretanto a realidade agraacuteria demonstra que o agronegoacutecio natildeo produz alimentos mas sim mateacuterias primas agrocombustiacuteveis destinados ao mercado externo Aleacutem disso a ideologia presente nesse modelo produtivo se expande destruindo comunidades tradicionais camponesas e suas relaccedilotildees de produccedilatildeo igualmente os recursos naturais Conforme aponta Conceiccedilatildeo (2013 p 94) ldquoa modernizaccedilatildeo do campo natildeo alterou a estrutura de concentraccedilatildeo de terra mas reforccedilou a perda da condiccedilatildeo camponesa na medida em que acentuou o monopoacutelio da

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produccedilatildeo subordinando o trabalho e a terra com o objetivo do lucrordquo

Nesse contexto percebemos a violecircncia gerada pelo avanccedilo do agronegoacutecio concomitante aos problemas e conflitos socioespaciais no campo e nas cidades O resultado eacute a exclusatildeo social inter-relacionada com o processo de desigualdade e de pobreza (LOPES 2017 p101) Nesse sentido afirma-se que o agronegoacutecio brasileiro e as poliacuteticas agraacuterias aprofundam a histoacuterica questatildeo agraacuteria vivenciada no Brasil ao longo de seacuteculos subjugando significativa parcela da populaccedilatildeo brasileira Carvalho (2010 p 399) em suas anaacutelises justifica que a questatildeo agraacuteria ldquodiz respeito ao fato de que a grande maioria da populaccedilatildeo rural brasileira se encontra privada da livre disposiccedilatildeo da mesma terra em quantidade que baste para lhe assegurar um niacutevel adequado de subsistecircnciardquo Essa condiccedilatildeo eacute resultado da estrutura agraacuteria controlada pelo poder das oligarquias rurais dominantes De acordo com os estudos de Azar (2011 p 2)

[] a questatildeo agraacuteria brasileira eacute o reflexo das relaccedilotildees de favorecimento que ao longo do tempo o Estado proporcionou agrave classe dominante promovendo-lhe condiccedilotildees de privileacutegios que tecircm por base a apropriaccedilatildeo da terra atraveacutes de mecanismos de expropriaccedilatildeo a exemplo do arcabouccedilo juriacutedico que foi sendo desenvolvido ao longo da histoacuteria

Compreende-se que a concentraccedilatildeo da terra nas matildeos

de poucos proprietaacuterios encontra respaldo no aparato juriacutedico produzido pelo Estado e a classe dominante com o objetivo de manter a riqueza atraveacutes da exploraccedilatildeo da terra na perspectiva da acumulaccedilatildeo do capital Por isso a terra no Brasil tem em sua histoacuteria de colonizaccedilatildeo a concentraccedilatildeo e expropriaccedilatildeo O relatoacuterio da Oxfam (2016) apresenta as diferenccedilas entre grandes e pequenas propriedades em nuacutemero

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de estabelecimentos e no percentual que representam no total das aacutereas rurais do paiacutes a partir de dados obtidos no censo agropecuaacuterio 2006 As anaacutelises mostram que os grandes estabelecimentos somam apenas 091 do total dos estabelecimentos rurais brasileiros mas concentram 45 de toda a aacuterea rural do paiacutes os estabelecimentos com aacuterea inferior a 10 hectares representam mais de 47 do total de estabelecimentos do paiacutes e ocupam menos de 23 da aacuterea total Essa disparidade eacute uma realidade presente em todos os Estados brasileiros

No contexto do estado de Sergipe mesmo tendo dimensotildees territoriais pequenas em relaccedilatildeo aos demais estados brasileiros a concentraccedilatildeo da terra reflete as desigualdades e as condiccedilotildees de pobreza vividas pelos trabalhadores no campo O iacutendice de Gini responsaacutevel por apresentar indicativos das disparidades sociais mostra que a concentraccedilatildeo de terra no estado ainda eacute um grave problema Em 2006 o iacutendice correspondia segundo dados do IBGE a 0821 Esse dado acompanha a situaccedilatildeo dos demais estados Em Sergipe ocorreu uma pequena queda em relaccedilatildeo aos dois uacuteltimos censos em funccedilatildeo de algumas accedilotildees pontuais de reforma agraacuteria motivadas pela luta dos movimentos camponeses que resultaram no acesso agrave terra principalmente no Sertatildeo do estado

Entretanto nas terras de expansatildeo do agronegoacutecio a histoacuterica concentraccedilatildeo fundiaacuteria se manteacutem com fortes reflexos nos arranjos espaciais produzidos como observa-se nas aacutereas agriacutecolas ocupadas pela cana de accediluacutecar na chamada regiatildeo do Cotinguiba aleacutem das extensas aacutereas de pastagens destinadas a atividade de pecuaacuteria no territoacuterio sergipano e outras culturas como o milho e a laranja Contudo a realidade a ser analisada e discutida nesse trabalho eacute direcionada a entender as relaccedilotildees e conflitos espaciais inerentes ao territoacuterio

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da produccedilatildeo canavieira da pecuaacuteria e exploraccedilatildeo mineral tendo como recorte espacial o municiacutepio de Divina Pastora

PRODUCcedilAtildeO DO ESPACcedilO E CONFLITOS NO TERRITOacuteRIO DE DIVINA PASTORA SERGIPE

O municiacutepio de Divina Pastora tem como atividades econocircmicas principais a cana de accediluacutecar pecuaacuteria e a extraccedilatildeo mineral do petroacuteleo Possui uma extensatildeo territorial de 90 328 Km2 e situa-se na regiatildeo Leste de Sergipe na microrregiatildeo do Cotinguiba Zona da Mata sergipana As terras situadas nesse territoacuterio desde o processo da colonizaccedilatildeo foram destinadas para a exploraccedilatildeo agropecuaacuteria Isso decorre das condiccedilotildees climaacuteticas como pluviosidade solos propiacutecios para o desenvolvimento dessas atividades As aacutereas de terras do municiacutepio satildeo propriedades de grandes fazendeiros empresas de exploraccedilatildeo mineral e poucas aacutereas ocupadas com pequenas propriedades Aleacutem disso no municiacutepio tem a presenccedila de dois assentamentos de reforma agraacuteria (Flor do Mucuri 1 e 2) resultados da luta pela terra Segundo estudos da Emdagro a concentraccedilatildeo de terras eacute algo peculiar no municiacutepio onde a terra eacute tradicionalmente utilizada para o cultivo da cana de accediluacutecar e tambeacutem para pastagens destinadas agrave pecuaacuteria bovina A populaccedilatildeo desse municiacutepio estaacute em torno de 5058 habitantes em 2017 IBGE no uacuteltimo censo de 2010 correspondia a 4326 hab com 2099 na aacuterea urbana e 2227 na rural Eacute importante destacar que grande parte da populaccedilatildeo rural reside em comunidades aglomerados sendo os maiores o Bomfim e a Maniccediloba

Os estudos de Shimada (2014) apontam que no territoacuterio accedilucareiro do agronegoacutecio ocorre a privatizaccedilatildeo das atividades agroindustriais accedilatildeo que eacute regulada pelo Estado de maneira indireta peacutessimas remuneraccedilotildees de trabalho aleacutem de

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desemprego crescente e precarizaccedilatildeo Desse modo essas condiccedilotildees aumentam as desigualdades sociais nas aacutereas de expansatildeo do agronegoacutecio Nessas aacutereas a agricultura eacute praticada sobretudo a partir da perspectiva do lucro para a acumulaccedilatildeo de capital A cana de accediluacutecar principal atividade agriacutecola do municiacutepio eacute realizada em grandes propriedades e tambeacutem em terras arrendadas por usinas que produzem a mateacuteria prima para ser beneficiada em municiacutepios vizinhos Em relaccedilatildeo agraves aacutereas de pastagens essas ocupam grande extensatildeo e servem para o desenvolvimento da pecuaacuteria extensiva com a criaccedilatildeo de gado de corte Assim as terras do municiacutepio em sua maioria satildeo utilizadas para o setor sucroenergeacutetico atividade da pecuaacuteria e exploraccedilatildeo mineral Essa realidade eacute acompanhada por graves disparidades sociais vivenciadas pela populaccedilatildeo que natildeo possui acesso agrave terra

Esse contexto representa as heranccedilas histoacutericas dos latifuacutendios marca da realidade local bem como as relaccedilotildees de trabalho imbricadas no seio da exploraccedilatildeo das relaccedilotildees de trabalho escravas nos antigos engenhos que ainda hoje mesmo como resquiacutecios materializados na paisagem representam poder para as elites locais Por outro lado a populaccedilatildeo negra remanescente de escravos sobrevive em condiccedilatildeo de pobreza nas encostas da cidade marginalizada hoje pelo agronegoacutecio Esse contexto por sua vez tem suas raiacutezes na aboliccedilatildeo da escravidatildeo que mesmo com o discurso de liberdade aos trabalhadores escravizados negou o acesso agrave terra a esse contingente de trabalhadores expropriados A Lei de terras de 1850 representou a legitimaccedilatildeo da estrutura fundiaacuteria quando instituiu um aparato juriacutedico que legalizava o acesso agrave terra somente atraveacutes da compra tornando propriedade privada Miralha (2006) destaca que foi uma soluccedilatildeo encontrada pela elite brasileira para manter inalterada a estrutura agraacuteria impedindo o acesso livre a terra por parte da populaccedilatildeo pobre que era maioria Assim os trabalhadores escravos receacutem

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libertos natildeo tinham capital para adquirir a terra mantendo-se expropriados e marginalizados Mais uma vez ficaram refeacutens da exploraccedilatildeo de seus antigos senhores como uma massa de trabalhadores desempregados e sem terra

Visualiza-se essa realidade no espaccedilo agraacuterio de Divina Pastora o natildeo acesso agrave terra fez com que os afrodescendentes em sua esmagadora maioria na busca por sua reproduccedilatildeo social ou seja sobrevivecircncia natildeo tivessem opccedilatildeo senatildeo as periferias das cidades as encostas de morros Isso para poder exercer alguma atividade agriacutecola para produzir o que comer normalmente desenvolveram suas praacuteticas agriacutecolas nas piores terras que natildeo serviam para o latifuacutendio Nesse espaccedilo geograacutefico a populaccedilatildeo negra foi segregada nas periferias da cidade A anaacutelise da realidade mostra que sobrevive hoje ocupando as terras dos morros da cidade exercendo praacuteticas agriacutecolas como fonte de renda Assim nas periferias da cidade muitas famiacutelias dependem da ocupaccedilatildeo de pequenos espaccedilos para sobreviveram do cultivo de pequenas roccedilas Observa-se a presenccedila do cultivo de alimentos baacutesicos como mandioca batata cana milho horticulturas banana aboacutebora e uma diversidade de alimentos utilizados como principal fonte de reproduccedilatildeo social dessas famiacutelias As praacuteticas agriacutecolas desenvolvidas ocorrem com a utilizaccedilatildeo da forccedila de trabalho da famiacutelia e com poucos instrumentos a exemplos da enxada da foice e do arado O excedente da produccedilatildeo eacute muitas das vezes compartilhado entre os vizinhos e tambeacutem comercializado em pequenas barracas do municiacutepio ou ainda vendido para atravessadores que compram a produccedilatildeo para revender em outros municiacutepios

Percebe-se o quanto a terra representa espaccedilo e condiccedilatildeo de vida para o desenvolvimento das relaccedilotildees de trabalho Mesmo com dificuldades muitas famiacutelias na aacuterea perifeacuterica de Divina Pastora retiram o seu sustento de pequenas roccedilas em terrenos iacutengremes com uma produccedilatildeo de

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mandioca expressiva alimento baacutesico para sobrevivecircncia Assim a resistecircncia das relaccedilotildees camponesas de produccedilatildeo satildeo valores histoacutericos que viabilizam a reproduccedilatildeo social dessas famiacutelias que sobrevivem as margens das grandes plantaccedilotildees de cana de accediluacutecar e pastagens de criaccedilatildeo de gado Entretanto mesmo com essa resistecircncia muitas famiacutelias natildeo possuem terras para produzir e cultivar alimentos sobrevivem do trabalho informal Por isso percebe-se que a concentraccedilatildeo de terra retira a possibilidade do trabalhador rural produzir alimentos E nas aacutereas com a predominacircncia do agronegoacutecio esse problema eacute mais acentuado Destaca-se que a terra eacute condiccedilatildeo de vida e trabalho E o agronegoacutecio retira esse valor pois ocupa grandes espaccedilos aumentando a pobreza e os conflitos no campo ldquoA estrutura fundiaacuteria montada sobre o latifuacutendio eacute estruturalmente violenta no sentido de negar o outro de impedir uma existecircncia digna para a ampla maioriardquo (CARVALHO 2010 p 400)

Diante disso nas aacutereas dominadas pelo agronegoacutecio da cana e pecuaacuteria em Divina Pastora o desemprego eacute uma realidade para a populaccedilatildeo local o percentual da populaccedilatildeo ocupada com empregos formais eacute de 86 segundo dados do IBGE no municiacutepio As poucas possibilidades de ocupaccedilatildeo satildeo trabalhos perioacutedicos e com peacutessimas remuneraccedilotildees ocorrem no corte da cana de accediluacutecar e como caseiro em alguma fazenda A maior parte da populaccedilatildeo na cidade natildeo tem acesso a empregos pois a dinacircmica econocircmica do municiacutepio eacute reduzida a exploraccedilatildeo agropecuaacuteria e mineral que normalmente satildeo exercidas por trabalhadores que natildeo satildeo do municiacutepio aleacutem de natildeo gerar renda para a populaccedilatildeo local Nesse territoacuterio as disputas espaciais satildeo de grande expressatildeo A concentraccedilatildeo de terra eacute um problema graviacutessimo O que corresponde ao fato da maioria da populaccedilatildeo se concentrar em nuacutecleos urbanizados como povoados e na cidade segregados ao acesso agrave terra O conflito de classes sociais no campo

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brasileiro representa a contradiccedilatildeo do agronegoacutecio com famiacutelias camponesas desterritorializadas em grave situaccedilatildeo de vulnerabilidade social

Aleacutem disso no municiacutepio de Divina Pastora a territorializaccedilatildeo do capital situa-se tambeacutem na exploraccedilatildeo mineral do subsolo Na comunidade Maniccediloba povoado com grande concentraccedilatildeo de famiacutelias quase todas as terras nas proximidades foram apropriadas pela Petrobraacutes ou satildeo de domiacutenio de fazendeiros para a instalaccedilatildeo de poccedilos com o objetivo da extraccedilatildeo mineral do petroacuteleo As terras segundo relatos orais de trabalhadores que moram no povoado eram utilizadas para o cultivo de mandioca e o posterior beneficiamento da farinha Ateacute alguns anos atraacutes essa era a principal atividade econocircmica de subsistecircncia da maior parte das famiacutelias A apropriaccedilatildeo da terra pelo capital atraveacutes da mineraccedilatildeo transformou essas terras em aacuterea de instalaccedilatildeo de poccedilos para retirada de petroacuteleo

Assim as famiacutelias foram expropriadas de suas terras bem como as relaccedilotildees e modo de vida alterados diante da perda do territoacuterio de sobrevivecircncia e cultivo de produtos alimentiacutecios Outra questatildeo que atinge a reproduccedilatildeo da comunidade satildeo os impactos ambientais relacionados a contaminaccedilatildeo da aacutegua pela extraccedilatildeo mineral Inicialmente alguns trabalhadores conseguiram emprego na instalaccedilatildeo da atividade mineral relata um trabalhador () ldquodepois que terminou a instalaccedilatildeo dos poccedilos ficamos desempregadosrdquo Assim atualmente os trabalhadores da localidade vivem em constante mobilidade em busca de trabalhos principalmente no corte da cana de accediluacutecar em municiacutepios vizinhos em fazendas ou trabalhando para usinas Pois satildeo poucos moradores que natildeo perderam suas terras ainda alguns resistem com pequenas roccedilas ocupando as terras da mineradora ldquoPara as empresas a preocupaccedilatildeo eacute sua inserccedilatildeo na economia-mundo com sua poliacutetica de espacializaccedilatildeo enquanto que as

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populaccedilotildees locais tecircm como objeto maior de preocupaccedilatildeo a fixaccedilatildeo e a perenidade de seus processos de reproduccedilatildeordquo (HENRIQUES PORTO 2015 p 1366) Esse conflito entre as empresas de exploraccedilatildeo mineral e as comunidades camponesas representa a apropriaccedilatildeo da terra pelo capital e a perda de territoacuterio pela populaccedilatildeo pobre

Constatamos entatildeo a grave situaccedilatildeo de vulnerabilidade social vivenciada pelas comunidades camponesas em Divina Pastora tanto no meio rural como nas periferias urbanas evidecircncia da intriacutenseca relaccedilatildeo entre esses espaccedilos Reconhecemos que a questatildeo agraacuteria no municiacutepio eacute marcada pela segregaccedilatildeo espacial pobreza miseacuteria desemprego e degradaccedilatildeo ambiental Desse modo percebemos o aprofundamento das desigualdades sociais ligado a problemaacutetica da terra apropriada por fazendeiros e empresas de exploraccedilatildeo mineral Assim a terra se torna uma temaacutetica central para a compreensatildeo das relaccedilotildees estabelecidas entre as classes sociais no campo Os conflitos emergem a partir das diferentes perspectivas de utilizaccedilatildeo da terra as elites expropriam os camponeses da terra buscando incessantemente o lucro enquanto as famiacutelias camponesas usam a terra como trabalho moradia e meio de reproduccedilatildeo social CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Compreendemos que as dimensotildees histoacutericas e

geograacuteficas materializadas no espaccedilo geograacutefica estatildeo diretamente relacionadas agrave estrutura fundiaacuteria e as disputas entre as classes sociais refletem os conflitos protagonizados pela expansatildeo do capital no campo

A anaacutelise do espaccedilo agraacuterio de Divina Pastora ilustra o quanto a questatildeo agraacuteria eacute agravada pelo controle histoacuterico exercido pela elite agraacuteria brasileira cujo vieacutes defende e

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viabiliza a poliacutetica agraacuteria consubstanciada no agronegoacutecio enquanto perspectiva de desenvolvimento para o campo A realidade vivenciada pelos trabalhadores no campo aponta a perversidade e a violecircncia acentuadas pela apropriaccedilatildeo dos recursos naturais diante da poliacutetica agriacutecola voltada para atender os interesses empresariais A concentraccedilatildeo de terras pobreza desigualdades sociais precarizaccedilatildeo das relaccedilotildees de trabalho desemprego em massa no campo conflitos ambientais satildeo expressotildees concretas da questatildeo agraacuteria vivenciada pela maioria de trabalhadores camponeses desterritorializados pela acumulaccedilatildeo do capital no campo seja atraveacutes do agronegoacutecio da cana de accediluacutecar da pecuaacuteria ou exploraccedilatildeo mineral

Portanto consideramos de grande urgecircncia a implantaccedilatildeo de uma poliacutetica fundiaacuteria que cumpra a funccedilatildeo social da terra como a Lei juridicamente institui esse direito aos trabalhadores O acesso agrave terra eacute um direito de todos significa lugar de sobrevivecircncia A terra democratizada eacute justiccedila social ocupaccedilatildeo e renda para os trabalhadores camponeses que resistem em uma luta cotidiana no campo e nas periferias urbanas frente a segregaccedilatildeo espacial gerada pelo latifuacutendio realidade presente nas relaccedilotildees entre camponeses historicamente explorados pelos donos de terra em Divina Pastora Por fim ratificamos a compreensatildeo de que a pobreza e a miseacuteria ampliadas na atualidade satildeo produzidas por um modelo de desenvolvimento regido pela loacutegica de mobilidade do capital com destaque para as empresas de mineraccedilatildeo e do agronegoacutecio voltadas para a exportaccedilatildeo e natildeo raro com resquiacutecios do regime escravocrata

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS ANDRADE Manuel Correia de Aboliccedilatildeo e Reforma Agraacuteria Editora Aacutetica Satildeo Paulo 1987

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AZAR Zaira Sabry A concentraccedilatildeo fundiaacuteria como centralidade da questatildeo agraacuteria no Maranhatildeo V Jornada Internacional de poliacuteticas Puacuteblicas Disponiacutevel em wwwjoinppufmabrA_CONCENTRACAO_FUNDIARIA_COMO_CENTRALIDA Acesso em 20 de Abril CAMPOS Christiane Senhorinha Soares A face feminina da pobreza em meio a riqueza do agronegoacutecio trabalho e pobreza das mulheres em territoacuterios do agronegoacutecio no Brasil o caso de Cruz AltaRS mdashBuenos Aires CLACSO 2011 208 p CARVALHO Liacutevia Hernandes A concentraccedilatildeo fundiaacuteria e as poliacuteticas agraacuterias governamentais recentes Revista IDeAS v 4 n 2 p 395-428 2010 Disponiacutevel em httpsdialnetuniriojaesdescargaarticulo4059810pdf Acesso em 23 de Abril de 2018 CAVALCANTE Matuzalem FERNANDES Bernardo Manccedilano Territorializaccedilatildeo do Agronegoacutecio e Concentraccedilatildeo Fundiaacuteria Revista NERA Presidente Prudente Ano 11 nordm 13 pp 16-25 Jul-dez2008 Disponiacutevel em httprevistafctunespbrindexphpneraarticleview1387 Acesso em 20 de Abril de 2018 CONCEICcedilAtildeO Alexandrina Luz Expansatildeo do agronegoacutecio em Sergipe Geonordeste Ano XXII n 2 2011 CONCEICcedilAtildeO Alexandrina Luz Estado Capital e a farsa da expansatildeo do Agronegoacutecio MERIDIANO ndash Revista de Geografiacutea nuacutemero 2 2013 ndash versioacuten digital Disponiacutevel em httpwwwrevistameridianoorg Acesso em 03 de Marccedilo de 2017

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EMDAGRO Informaccedilotildees baacutesicas sobre o municiacutepio de Divina Pastora 2008 Disponiacutevel em wwwemdagrosegovbrmoduleswfdownloadsvisitphpcid=1amplid=316 Acesso em 30 de Abril de 2018 HENRIQUES Alen Batista PORTO Marcelo Firpo de Souza Mineraccedilatildeo agricultura familiar e sauacutede coletiva um estudo de caso na regiatildeo de Itamarati de Minas-MG Physis Revista de Sauacutede Coletiva Rio de Janeiro 25 [4] 1361-1382 2015 LISBOA Josefa de A trajetoacuteria do discurso do desenvolvimento para o Nordeste poliacuteticas puacuteblicas na (dis)simulaccedilatildeo da esperanccedila Tese de doutorado Programa de Poacutes Graduaccedilatildeo em GeografiaUniversidade Federal de Sergipe 2007 LOPES Alberto Pereira A expansatildeo do agronegoacutecio no Brasil as velhas praacuteticas versus as novas praacuteticas nas temporalidades geograacuteficas Novos Cadernos NAEA bull v 20 n 1 bull p 95-109 bull jan-abr 2017 MIRALHA Vagner Questatildeo agraacuteria brasileira origem necessidade e perspectivas de reforma hoje REVISTA NERA ndash Presidente Prudente ANO 9 N 8 ndash JANEIROJUNHO DE 2006 TERRENOS DA DESIGUALDADE-OXFAM BRASIL httpswwwoxfamorgbrsitesdefaultfilesrelatorio-terrenos_desigualdade-brasilp RAMOS FILHO Eraldo da Silva Questatildeo agraacuteria atual Sergipe como referecircncia para um estudo confrontativo das poliacuteticas de reforma agraacuteria e Reforma agraacuteria de mercado

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(2003 ndash 2006) Tese de doutorado- Universidade Estadual Paulista Presidente Prudente Agosto 2008 ROCHA Rosaly Justiniano de Souza CABRAL Joseacute Pedro Cabrera Aspectos histoacutericos da questatildeo agraria no Brasil REVISTA PRODUCcedilAtildeO ACADEcircMICA ndash NUacuteCLEO DE ESTUDOS URBANOS REGIONAIS E AGRAacuteRIOS NURBA ndash Vol 2 N 1 (JUNHO 2016) p 75-86 Disponiacutevel em httpssistemasuftedubrperiodicosindexphpproducaoacademicaarticle9286 SHIMADA Shiziele Oliveira de CONCEICcedilAtildeO Alexandrina Luz O agronegoacutecio da cana e a (des)configuraccedilatildeo do espaccedilo agraacuterio num processo localregionalnacional Disponiacutevel em observatoriogeograficoamericalatinaorgmxegal12Geografiasocioeconomica16p SHIMADA Shiziele de Oliveira Dos ciclos e das crises do capital agraves formas de transvestimento da barbaacuterie no trabalho Tese de doutorado em Geografia (UFS) Satildeo Cristoacutevatildeo 2014

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ATRAVEacuteS DO ROacuteTULO PRESENCcedilA DO AGRONEGOacuteCIO NA FEIRA DE ITABAIANA

SERGIPE

Rafael dos Santos Oliveira Graduando em geografia

Email rafaelstooutlookcom RESUMO

O presente artigo tem como objetivo discutir indiacutecios

da loacutegica o capital na feira livre do municiacutepio de ItabaianaSE que por meio de uma discussatildeo preliminar de uma fonte de pesquisa relacionada agrave propaganda (roacutetulos de embalagens) um estranhamento para uma questatildeo de pesquisa sobre a invasatildeo silenciosa do agronegoacutecio na feira como tambeacutem outros rebatimentos um alerta para a presenccedila do capital estrangeiro na compra de terras no paiacutes Poreacutem as feiras livres costumam ser partes das formas de reproduccedilatildeo camponesa Desta maneira enxergar a feira como forma de reproduccedilatildeo do camponecircs eacute uacutetil para entender como estes sujeitos encontram formas de resistir a esta imposiccedilatildeo do capital mesmo com a presenccedila de marcas do agronegoacutecio Estranhamento obtido a partir das atividades de campo na feira em conjunto com levantamento e anaacutelise bibliograacutefica relativa ao processo visualizado eacute a metodologia empregada na escrita das primeiras impressotildees obtidas Como resultados preliminares procura-se entender para quem e principalmente o porquecirc destas mercadorias no mercado local uma vez que em sua maioria eram destinadas agrave exportaccedilatildeo Palavras-Chave Propaganda Agronegoacutecio Feira INTRODUCcedilAtildeO

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Na perspectiva de ler as contradiccedilotildees da formaccedilatildeo territorial de Itabaiana Sergipe um projeto de pesquisa ldquoSiacutetio e roccedila costumes e trabalho fontes e conhecimento camponecircs para um pensamento geograacutefico e uma geografia histoacuterica da formaccedilatildeo territorial de Itabaiana Sergiperdquo (COPESUFS) O questionamento aqui discutido ocorreu no interior deste projeto a partir da observaccedilatildeo sobre os produtos que satildeo comercializados na feira livre do municiacutepio sergipano de

Itabaiana principalmente a produccedilatildeo camponesa Mas diante da orientaccedilatildeo do meacutetodo que guia o olhar na observaccedilatildeo em campo foram visualizadas contradiccedilotildees Desta feita um refletir tanto a partir da vivecircncia do pesquisador sobre os produtos que chegam agrave feira de Itabaiana quanto a um olhar teoacuterico sobre as marcas de empresas com nomes estrangeiros estampados nas embalagens o que possibilitou a indagaccedilatildeo de entender o porquecirc e para quequem se produz

A sutileza a qual as accedilotildees capitalistas adentram este mercado o estranhamento do fato de caixotes viajarem com roacutetulos com nomes estrangeiros a vivecircncia do pesquisador que aleacutem da pesquisa acadecircmica tambeacutem estaacute em seu campo de trabalho Trabalho aqui entendido como ontoloacutegico ao homem que na loacutegica capitalista ldquoo sujeito eacute o capital e o homem e o seu trabalho transformam-se em predicado destesrdquo (TASSIGNY 2003 p 157) Logo a reflexatildeo eacute inicial e comeccedila a visualizar marcas territoriais do agronegoacutecio ao lado das camponesas Territoriais no sentido de delimitar mas tambeacutem de definir relaccedilotildees de poder Para essa reflexatildeo segue um entendimento inicial sobre a ocorrecircncia das palavras-chave deste artigo propaganda agronegoacutecio feira

Karl Marx alerta para o uso da propaganda como parte do sucesso do capitalismo para Marx (2004 p 80) ldquocom a valorizaccedilatildeo do mundo das coisas aumenta em proporccedilatildeo direta a desvalorizaccedilatildeo do mundo dos homensrdquo Os roacutetulos por sua vez fazem parte da propaganda e de suas ideologias

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capitalistas que propagam eles natildeo apenas informam Assim atraveacutes de roacutetulos observados na feira de Itabaiana Sergipe foram iniciados alguns questionamentos um exerciacutecio teoacuterico-praacutetico sobre o que estaria nas entrelinhas dessas marcas de outras escalas geograacuteficas e de divisatildeo de classes e natildeo camponesas

Segundo dados da Escola Superior de Agricultura Luiacutes de Queiroz ESALQUSP 2215 do PIB1 brasileiro eacute do agronegoacutecio e entende-se como as poliacuteticas puacuteblicas valorizam este modo de se produzir e acima de tudo infere-se que esta produccedilatildeo eacute voltada para o mercado externo natildeo se produz em larga escala mercadorias que fazem parte da cesta baacutesica do brasileiro tem-se em maior quantidade a produccedilatildeo de gratildeos a exemplo da soja do milho dentre outros produtos Deixa-se de lado a produccedilatildeo de alimentos como batata doce macaxeira inhame acompanhados distantes dos recordes de outras lavouras de commodities agriacutecolas

A ascensatildeo do agronegoacutecio no paiacutes deu-se a partir da deacutecada de 1990 natildeo eacute coincidecircncia tambeacutem ser o apogeu do neoliberalismo e a consequente mecanizaccedilatildeo da agricultura assim ldquoo fato teria derivado da presente lsquodominaccedilatildeo triunfal do capitalrsquo na agricultura obtida graccedilas aos padrotildees vigentes de eficiecircncia produtiva e de gestatildeo baseados na lsquoinovaccedilatildeorsquo sob o comando dos lsquooperadores do capitalrdquo (TEIXEIRA 2013 p 15)

O problema do agronegoacutecio brasileiro estaacute impliacutecito em vaacuterios pontos relativos agrave produccedilatildeo do espaccedilo brasileiro contemporacircneo um deles eacute a estrangeirizaccedilatildeo da terra por meio do capital financeiro e a realizaccedilatildeo de compra do terreno para este fim dando assim o entendimento que aleacutem da expropriaccedilatildeo do camponecircs e da relaccedilatildeo de trabalho que se altera em seus conceitos temos a constante desnacionalizaccedilatildeo do territoacuterio nacional

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As argumentaccedilotildees que se seguem ainda que incipientes satildeo de um pesquisador que comeccedila a sua problematizaccedilatildeo sobre a produccedilatildeo do espaccedilo Pensar a chegada destes produtos na feira local representa pensar como o camponecircs pode ser deixado de lado ao longo da histoacuteria do capitalismo Nesta perspectiva acredita-se que esta classe sendo expropriada perde espaccedilo nos locais que eles proacuteprios criaram para relacionarem-se altera-se tambeacutem a sua espacializaccedilatildeo a relaccedilatildeo campo cidade e consequentemente os produtos dos pequenos e meacutedios produtores perdem valor de mercado os consumidores preferenciam os produtos vindos do agronegoacutecio E a feira como um dos locais de reproduccedilatildeo camponesa torna-se um espaccedilo de contradiccedilatildeo entre oferta de um determinado produto que tem uma melhor qualidade para a sauacutede por um outro que apresenta beleza soacute que esconde nesta lsquoboa aparecircnciarsquo um maior uso de agrotoacutexicos o uso de forccedila de trabalho quase escrava e o descarte de parte da produccedilatildeo que vem a lhe dar prejuiacutezo (uma quantidade maior de produtos de baixa qualidade) em relaccedilatildeo ao preccedilo no mercado ou seja a superproduccedilatildeo deve ser descartada

Com o apelo de recursos da oferta raacutepida e esteacutetica adequados ao mercado o agronegoacutecio vem representar um grande prejuiacutezo agrave sociedade apesar de seus apelos contraditoacuterios grande produccedilatildeo conservaccedilatildeo do meio ambiente dentre outras bandeiras levantadas por estas agroinduacutestrias contudo natildeo passam de falaacutecias para impregnar o senso comum e fazer os sujeitos verdadeiramente prejudicados perderem a consciecircncia de classe fazendo-os ficar ao lado dos burgueses e grandes empresaacuterios nas questotildees de luta pela terra

Aleacutem destes fatores o agronegoacutecio conteacutem o problema da desnacionalizaccedilatildeo do agraacuterio no paiacutes e que se reflete tambeacutem na Ameacuterica Latina Os recursos da terra e do subsolo

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estatildeo em constante exploraccedilatildeo a niacutevel mundial Assim as accedilotildees do capital para o agronegoacutecio satildeo a via da espoliaccedilatildeo da monocultura e de um produtivismo sem medir consequecircncias levando a uso intensivo de agrotoacutexicos de hormocircnios herbicidas e de sementes hiacutebridas transgecircnicas e mutagecircnicas aleacutem de exercitarem ordeiramente o desprezo sociocultural pelos povos do campo e a desterritorializaccedilatildeo dos camponeses (CARVALHO 2013) E principalmente garante tambeacutem a desnacionalizaccedilatildeo da terra para fim do capitalismo Uma accedilatildeo sob um modo de produccedilatildeo que oprime e desfaz as relaccedilotildees na terra e com a terra do homem e a natureza negando a humanidade do mesmo homem Somados a essa loacutegica fatores histoacutericos que contribuem para os interesses da burguesia que sempre visaram a pilhagem e a exploraccedilatildeo de novos territoacuterios

DESENVOLVIMENTO

A pesquisa visou obter assim atraveacutes da pesquisa

bibliograacutefica e de trabalho de campo um primeiro olhar da presenccedila do conhecimento camponecircs na feira de Itabaiana E principalmente devido ao meacutetodo de interpretaccedilatildeo contemplar a escala da totalidade das relaccedilotildees que produzem o espaccedilo geograacutefico foi possiacutevel observar algumas contradiccedilotildees como uma diminuiccedilatildeo da presenccedila de mercadorias resultantes da produccedilatildeo camponesa e um aumento daquelas resultantes da poliacutetica do agronegoacutecio E como este se espacializa de forma sutil No caso do lsquoestranhamentorsquo obtido roacutetulos em caixotes (Figura 1)

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Figura 1 ndash Um dos roacutetulos identificados na Feira de Itabaiana - caixas de alho com slogan de famiacutelia estrangeira

Fonte Oliveira 2018

Os roacutetulos do agronegoacutecio satildeo constituiacutedos sob os

pilares de excelecircncia em produccedilatildeo respeito ao meio ambiente e valorizaccedilatildeo do profissional Faz parte da falaacutecia do modo de produccedilatildeo capitalista pois sabe-se que importa eacute produzir bater recordes ampliar a fronteira agriacutecola acima de tudo e de todos desacreditando qualquer zelo pelos fatores sociais mas disfarccedilando em suas bandeiras as suas accedilotildees

Valorizam-se ainda o caraacuteter empreendedor que estes estrangeiros criam aliado agrave imagem da famiacutelia sendo esta a marca de sua empresa o siacutembolo maior de poder econocircmico

O agronegoacutecio-latifundiaacuterio-exportador tem sido considerado como siacutembolo da modernidade no campo pelo uso de alta tecnologia e intensa produtividade mas tambeacutem esconde por traacutes desta aparecircncia moderna a barbaacuterie da exclusatildeo social e

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expropriaccedilatildeo dos povos do campo que sua concentraccedilatildeo de terra e de renda provoca (CAMACHO CUBAS GONCcedilALVES 2011 p 1)

Na feira livre podemos ver o quanto este sistema estaacute

sendo valorizado por seu lado moderno empreendedor lucrativo A roccedila camponesa o seu sentido eacute reinventado define-se agora como grande propriedade capaz de produzir vaacuterias toneladas com grandes tratores tecnologia capaz de substituir o homem como um ser social excluir dele a categoria ontoloacutegica do trabalho o homem natildeo se realiza no trabalho

Partindo deste pressuposto ldquoentre a resistecircncia camponesa e as investidas do agronegoacuteciordquo entende-se que as feiras livres dos municiacutepios sergipanos estatildeo sendo lsquoinvadidasrsquo por mercadorias resultantes de fazendas cujas terras pertencem a famiacutelias estrangeiras como japoneses em sua maioria3 isto eacute de faacutecil percepccedilatildeo ao percorrer a feira livre de Itabaiana nos dias que se realiza a feira voltada para a venda em retalho (nas quartas-feiras e aos saacutebados) como assim eacute chamada e nos dias que se vendem em grosso (nas terccedilas-feiras quartas-feiras quintas-feiras e sextas-feiras) que significa dizer a presenccedila de muitos produtos em sacos caixas destinadas agrave revenda

A especificidade da feira de ItabaianaSE se daacute por sua importacircncia em escala regional sendo a maior do agreste sergipano Mercadorias circulam de diferentes estados para caacute de caacute para os estados de origem a exemplo da Bahia Dos comerciantes que compram mercadoria naquele municiacutepio e as levam para este estado para feiras de municiacutepios como Ribeira do Pombal Siacutetio do Quinto dentre outros E tambeacutem

3 Os roacutetulos satildeo sobrenomes das famiacutelias destes produtores de mercadorias como forma de imposiccedilatildeo do seu nome da sua famiacutelia do poderio financeiro tambeacutem

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abastece as feiras do estado de Sergipe A questatildeo levantada surge justamente a partir dos caixotes os quais carregam em si a marca de mais uma problemaacutetica no campo brasileiro voltado agrave agroinduacutestria e ao poder do capital financeiro consequentemente da desnacionalizaccedilatildeo das terras uma abertura econocircmica que implica na ldquocrenccedila de que o lsquocaminho do campo eacute o da grande empresa e do trabalho assalariadorsquordquo (VEIGA 1998 apud SAUER 2008) Este caminho leva ao subdesenvolvimento do paiacutes

Uma estrangeirizaccedilatildeo de terras brasileiras questionada a partir da observaccedilatildeo teacuteorico-praacutetica sobre produtos embalados de forma diferente do habitual antes condicionados em sacos passam a ser colocados em caixas e estas caixas trazem estampadas a marca do agronegoacutecio com nomes estrangeiros certamente produtos voltados para o mercado externo e revendidos como sobras lucrativas O estranhamento agrega tambeacutem a dinacircmica da escala do agronegoacutecio de que as relaccedilotildees que acontecem neste mercado satildeo de grande importacircncia para a economia regional de Sergipe o que era lsquocomumrsquo passa a se enquadrar contraditoriamente nos sistemas de rede nacionalmundial (uma vez que terras satildeo desnacionalizadas) de forma que satildeo encontrados produtos vindos de Minas Gerais Bahia Goiaacutes dentre outros estes satildeo citados por serem a procedecircncia recorrentes nos roacutetulos

Esse debate pode ter seu iniacutecio a partir do ano de 2007 apoacutes um grande periacuteodo de estabilidade financeira e com o advento da crise mundial o Brasil viu no agronegoacutecio a saiacuteda para natildeo se lsquoafundar nesta crisersquo investindo em poliacuteticas puacuteblicas as quais incentivam as estrateacutegias deste modo de produccedilatildeo O que aponta para uma fragilidade econocircmica que existe desde os primoacuterdios do Brasil uma economia erguida numa base primaacuterio exportadora ldquoA Comissatildeo Econocircmica para a Ameacuterica Latina e Caribe (CEPAL) jaacute na deacutecada de 1940 diagnosticou que a maior causa das dificuldades da Ameacuterica

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Latina no setor externo era que a entrada de divisas dependia das exportaccedilotildees de poucos produtos primaacuteriosrdquo (CARVALHO SILVA 2005)

Parte-se de que a atual desnacionalizaccedilatildeo do campo brasileiro se deve tambeacutem por conta das empresas transnacionais de insumos agriacutecolas pois os grandes capitalistas tornam-se lsquorefeacutensrsquo do proacuteprio sistema Como assinala Assis Moreira (apud CARVALHO 2015 p 36)

A corrida por terras levou investidores estrangeiros a adquirir pelo menos milhotildees de hectares em paiacuteses em desenvolvimento O Brasil eacute um dos alvos da cobiccedila estrangeira liderada por China Bahrein e investidores dos EUA as compras de terras brasileiras somaram 26 milhotildees de hectares no periacuteodo

Este fenocircmeno pode ser explicado pelas commodities

para a agro-exportaccedilatildeo As commodities satildeo a forma que as mercadorias satildeo tratadas no mercado financeiro podem ser definidas como mercadorias principalmente mineacuterios e gecircneros agriacutecolas produzidos em larga escala e comercializados em niacutevel mundial As commodities satildeo negociadas em bolsas de valores de mercadorias O capital financeiro eacute quem define seus preccedilos em niacutevel global pelo mercado internacional Desta maneira a agro-exportaccedilatildeo acontece quase que lsquonaturalmentersquo A produccedilatildeo eacute voltada principalmente para o mercado externo pois a exemplo da soja brasileira a maior parte do gratildeo eacute destinado ao mercado chinecircs para servir a criaccedilatildeo de gado

Desta maneira a expropriaccedilatildeo dos meios de produccedilatildeo pode alterar consciecircncia de classe dos produtores rurais O camponecircs passe a natildeo se reconhecer como tal Passam a se inserir ou natildeo nas poliacuteticas puacuteblicas de Estado Estimula-se inclusive a mudar a sua consciecircncia para Agricultor Familiar levando-o a lsquoentrarrsquo no rol do agronegoacutecio e

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consequentemente do capital financeiro na expropriaccedilatildeo de terras

Deste modo capital financeiro vem ser o elo fundamental para introduzir o estrangeiro nesta jogada de marketing ldquoeacute o discurso do lsquodesenvolvimentorsquo e da teacutecnica como forma de levar a sociedade a um patamar ldquosuperiorrdquo (SOUZA CONCEICcedilAtildeO 2008) Embasado no discurso das potencialidades naturais do paiacutes garantem a apropriaccedilatildeo de novos territoacuterios para os capitalistas Os resultados das revoluccedilotildees que a ideologia deste modo de produccedilatildeo prega natildeo servem a pequenos e meacutedios produtores e sim a uma fatia privilegiada de grandes empresaacuterios com poder poliacutetico sobretudo que regem ainda mais estes discursos a seu favor

O discurso agroindustrial vem como citado anteriormente adentrar aacutereas que desde o princiacutepio eram do ser camponecircs como a feira livre utilizada no princiacutepio como forma de vender os excedentes da produccedilatildeo que o pai a matildee e seus filhos produziram em seus lotes de terra siacutetios eou roccedilas para conseguir adquirir o que da terra eles natildeo podem produzir mas fundamental para sobrevivecircncia

Estranhar os roacutetulos nos faz questionar as lsquosoluccedilotildeesrsquo que este modo de produccedilatildeo faz ressoar em alto e bom som

Da mesma forma os produtos de origem agropecuaacuteria destinam-se crescentemente a agroindustriais especializados no processamento de mateacuterias primas e de alimentos industrializados consumidos no mercado interno urbano e exportadosrdquo (ABAG4 2015)

A contradiccedilatildeo estaacute tambeacutem no incentivo ao aumento

da produccedilatildeo por meio do uso de agrotoacutexico e da transgenia e

4 Associaccedilatildeo Brasileira do Agronegoacutecio Disponiacutevel em lthttpwwwabagcombrgt

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da produccedilatildeo de orgacircnicos que agora faz parte do discurso do capital Reforccedila-se ainda mais as questotildees que abalam o campo e o campesinato brasileiro ldquona monoacutetona e monocolorida paisagem da planiacutecie maacutequinas possantes vencem o tempo e o espaccedilo e diluem da imagem qualquer presenccedila humanardquo (WANDERLEY 2015 p 12)

O discurso neoliberal daacute passagem agraves grandes maacutequinas Na feira natildeo podemos vecirc-las mas os resultados que elas causam vecirc-se na diminuiccedilatildeo da quantidade de mercadorias provenientes do campesinato brasileiro devendo-se isso a luta desigual que eles enfrentam diariamente a feira de Itabaiana registra em suas modalidades de venda atacado ou varejo estes fatos

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS OU CONCLUSOtildeES

O vivenciar a feira como campo de pesquisa nos faz

refletir como as poliacuteticas puacuteblicas brasileiras influenciaram o avanccedilo do agronegoacutecio no paiacutes Podemos perceber a crueldade do capitalismo de suas ideologias as formas pelas quais o sistema vem se modificando para parecer mais suscetiacutevel a todos disfarccedilar a divisatildeo de classes implementar em todos os locais e sobretudo no campo o modo que se deve agir para sobreviver diante das dificuldades

Mas a feira ainda representa um lugar de resistecircncia do camponecircs nela podemos ver as marcas de uma agricultura de base familiar e principalmente comunitaacuteria Basta o olhar atento do pesquisador para ver produtos em pequena quantidade como frutas ciacutetricas a exemplo da laranja as raiacutezes como o inhame que apesar de ter uma cor mais escura pouco lsquochamativo aos olhosrsquo disputa o espaccedilo com o que vem de Rondocircnia mas resistem ao tempo no espaccedilo Vale salientar tambeacutem os pesos e medidas que se visualizam na feira as formas as quais os camponeses se utilizam para vender seus

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produtos como a medida da banana as pencas o lsquopeacutersquo de coentro o peso no uso de balanccedilas antigas revendidas repassadas entre feirantes entre geraccedilotildees Continuam a pesar natildeo soacute as mercadorias mas tambeacutem o valor do trabalho deles da venda de sua mercadoria

Ressaltar assim uma cultura camponesa na feira livre como resistecircncia ao capital com ldquovalores expressotildees tradiccedilotildees transformaccedilotildees que ressignificam a todo instante a memoacuteria dos que as frequentam representando as suas identidades mesmo que de caraacuteter muacuteltiplordquo (ARAUacuteJO 2013)

Deste modo mesmo com a ideologia e a homogeneidade que se infunde pela loacutegica do capital mesmo com a proliferaccedilatildeo de roacutetulos que representam as marcas do agronegoacutecio da desnacionalizaccedilatildeo da terra o camponecircs ainda faz parte da feira resiste REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS ABAG Disponiacutevel em lthttpwwwabagcombrgt Acessado em 19022018 ARAUacuteJO Giovanna de Aquino Fonseca Trajetoacuteria histoacuterica conceitual sobre patrimocircnio imaterial e cultural no Brasil e em Portugal tendo as Feiras como lugar de investigaccedilatildeo In SIMPOacuteSIO NACIONAL DE HISTOacuteRIA 28 2013 Natal Anais Natal Associaccedilatildeo Nacional de Histoacuteria 2013 CAMACHO Rodrigo Simatildeo CUBAS Tiago Agrocombustiacuteveis soberania alimentar e poliacuteticas puacuteblicas as disputas territoriais entre o agronegoacutecio e o campesinato Boletim DATALUTA ndash fev 2011 ISSN 2177-4463

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CARVALHO Horaacutecio Martins de A expansatildeo do capitalismo no campo e a desnacionalizaccedilatildeo do agraacuterio no brasil Boletim DATALUTA ndash Artigo do mecircs dezembro de 2013 ISSN 2177 4463 isponiacutevel em lthttpwww2fctunespbrgruposneraartigodomes12artigodomes_2013pdfgt acessado em 19022018 CARVALHO Maria Auxiliadora de SILVA Ceacutesar Roberto Leite da Vulnerabilidade do comeacutercio agriacutecola brasileiro Rev Econ Sociol Rural vol 43 no1 Brasiacutelia JanMar 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid=S0103-20032005000100001gt Acessado em 21042018 MARX Karl Manuscritos Econocircmico-filosoacuteficos Boitempo Editorial 2004 OLIVEIRA Rafael dos Santos Um dos roacutetulos identificados na Feira de Itabaiana - caixas de alho com slogan de famiacutelia estrangeira1 Foto Color 27042018 SAUER Seacutergio Agricultura familiar versus agronegoacutecio a dinacircmica sociopoliacutetica do campo brasileiro Brasiacutelia DF 2008 EMBRAPA informaccedilatildeo tecnoloacutegica WANDERLEY Maria de Nazareth Baudel O Campesinato Brasileiro uma histoacuteria de resistecircncia RESR Piracicaba-SP Vol 52 Supl 1 p S025-S044 2014 ndash Impressa em fevereiro de 2015

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MEacuteTODOS ESTATIacuteSTICOS PARA A COMPREENSAtildeO DA ESTRUTURA AGRAacuteRIA UM

ESTUDO DE CASO DA CONCENTRACcedilAtildeO DE TERRAS EM LARANJEIRAS

Camila de Jesus Resendesup1

(Universidade Federal de Sergipe) (Graduanda e bolsista do PET Geografia ndash Itabaiana)

E mail camilageo22hotmailcom

Gislaine Santos Oliveirasup2 (Universidade Federal de Sergipe)

(Graduanda e bolsista do PET Geografia ndash Itabaiana) E mail gislaineo458hotmailcom

Joseacute Hunaldo Limasup3

(Professor Doutor do departamento de Geografia - UFS e Tutor do PET Geografia ndash Itabaiana)

E mail hunaldolimahotmailcom RESUMO

Para entender a concentraccedilatildeo de terras no Brasil eacute necessaacuterio compreender o processo da Invasatildeo Portuguesa expropriaccedilatildeo de terra dos nativos e doaccedilatildeo pela Coroa aos portugueses (Capitanias Hereditaacuteria) inaugurando a concentraccedilatildeo de terras no paiacutes e agravada com a Lei de Terra de 1850 e que perdura ateacute os dias atuais a exemplo de Laranjeiras Para a estruturaccedilatildeo do trabalho foi necessaacuterio pesquisas nos Censos Agropecuaacuterios e com base em DINIZ (1982) foram elaborados a Curva de Lorenz e o Iacutendice de Gini e com base em EMBRAPA (2012) foi realizada a classificaccedilatildeo por tamanho das propriedades atraveacutes do moacutedulo fiscal aliados a bibliografias da Questatildeo Agraacuteria Fica

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niacutetida a extrema concentraccedilatildeo de terras em Laranjeiras que desde o Periacuteodo Colonial se destaca na monocultura canavieira que perdura ateacute os dias atuais Esta concentraccedilatildeo se daacute com altiacutessimos iacutendices de Gini para todos os anos As grandes propriedades satildeo ocupadas com a cana que abarca quase os 100 das terras a mandioca o milho e o feijatildeo juntos natildeo alcanccedilam 1 ao se comparar com a produccedilatildeo da cana Esta alta concentraccedilatildeo de terras e monocultura da cana contribui para aumento da pobreza Laranjeiras eacute um dos municiacutepios de maiores arrecadaccedilotildees em Sergipe conta com alta produccedilatildeo de cana e de accediluacutecar e a instalaccedilatildeo da Usina Pinheiros a maior do estado no entanto a populaccedilatildeo camponesa se insere como uma das mais pobres do estado e um dos maiores iacutendices de deacuteficit habitacional em todo Sergipe Palavras-chave Concentraccedilatildeo de terras monocultura Laranjeiras INTRODUCcedilAtildeO

Esse estudo tem como objetivo analisar a concentraccedilatildeo de terras no municiacutepio de LaranjeirasSE O trabalho em curso orientado pela abordagem histoacuterica e geograacutefica que envolve a questatildeo fundiaacuteria brasileira busca analisar os niacuteveis de concentraccedilatildeo de terras em LaranjeirasSE entre os anos de 1970 1985 1995-1996 e 2006 Essa pesquisa parte da hipoacutetese de que a distribuiccedilatildeo de terras no paiacutes permanece com caracteriacutesticas coloniais estabilizada e em altos niacuteveis de concentraccedilatildeo de modo que as poliacuteticas agraacuterias e fundiaacuterias natildeo tecircm sido suficientes no sentido de modificar a estrutura fundiaacuteria brasileira

No caso de Sergipe e em especial na Cotinguiba se caracteriza por diferentes processos de constituiccedilatildeo da estrutura fundiaacuteria concentrada No sertatildeo a concentraccedilatildeo

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segundo ANDRADE (1986) se daacute com o processo de ocupaccedilatildeo do sertatildeo nordestino a partir da Promulgaccedilatildeo da Lei que proibia a criaccedilatildeo bovina nas proximidades dos canaviais Soacute era permitida por esta lei a criaccedilatildeo bovina com distacircncia de 10 leacuteguas dos canaviais favorecendo a expansatildeo da pecuaacuteria e consequentemente da accedilatildeo dos latifundiaacuterios os coroneacuteis por vez no Sul aleacutem da pecuaacuteria recentemente com a citricultura No caso da Cotinguiba a estrutura fundiaacuteria concentrada estaacute intimamente ligada agrave cultura da cana

Para constatar esta realidade que perdura ateacute os dias atuais foram necessaacuterios estudos e coleta de dados extraiacutedos dos Censos Agropecuaacuterios e do SIDRA referentes agrave quantidade de propriedades e tamanho de aacutereas das mesmas no municiacutepio de Laranjeiras Em seguida foram realizados os tratos estatiacutesticos para se elaborar a Curva de Lorenz e o Iacutendice de Gini municipal

Para classificar as denominadas Grandes Meacutedias e Pequenas propriedades no municiacutepio foi necessaacuterio empregar o criteacuterio utilizado pelo IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica que pontua Laranjeiras com Moacutedulo Fiscal de 30 hectares Para ser considerada pequena a propriedade natildeo pode ultrapassar 4 quatros moacutedulos para ser meacutedia tem que ter entre 4 e 15 moacutedulos e grande superior a 15 moacutedulos Em laranjeiras segundo esta determinaccedilatildeo nacional toda e qualquer propriedade com tamanho ateacute 120 hectares satildeo classificadas como pequenas as que forem maiores que 120 ateacute 450 hectares satildeo meacutedias e as que tiverem tamanho maior que 450 hectares satildeo classificados como grandes propriedades

Para demonstrar a alta concentraccedilatildeo na produccedilatildeo de cana que eacute causa e consequecircncias da concentraccedilatildeo de terras em forma de comparativo se elegeu trecircs cultivos para a anaacutelise o feijatildeo a mandioca e o milho devido constarem como os uacutenicos ao lado da cana a ter produccedilatildeo em todos os anos

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analisados por serem os outros de maior impacto no municiacutepio e por ser alimento baacutesico da produccedilatildeo camponesa em Sergipe

A metodologia de elaboraccedilatildeo de graacuteficos mapas e outros aliados a meacutetodos estatiacutesticos eacute de consideraacutevel importacircncia para se observar e analisar natildeo somente de Laranjeiras mais qualquer municiacutepio que se tenha condiccedilotildees de estrutura fundiaacuteria semelhante aleacutem de servir como material que possa oferecer suporte para futuras implantaccedilotildees de poliacuteticas puacuteblicas na esfera municipal estadual e nacional

A escolha por temas que possam desvelar a estrutura fundiaacuteria brasileira se torna importante para detectar quatildeo necessaacuteria e urgente eacute a Reforma Agraacuteria o que possibilitaraacute o acesso de pequenos proprietaacuterios a terra e o aumento da diversificaccedilatildeo na produccedilatildeo agriacutecola municipal aliado ao crescimento da produccedilatildeo de cultivo na regiatildeo para alimentar sua prole e o que sobra poder comercializar nas feiras livres

Tambeacutem fica evidente a necessidade de se debater com maior afinco a concentraccedilatildeo de terras em todo o paiacutes que contribuiraacute para o entendimento do elevando nuacutemeros de trabalhadores sem terras no paiacutes e compreender porque em pleno Seacuteculo XXI a incidecircncia de Conflitos de terras eacute extremamente alta

QUESTAtildeO AGRAacuteRIA NO BRASIL

Por apresentar fortes traccedilos de sua raiz colonial para entender a questatildeo agraacuteria no Brasil eacute necessaacuterio voltar no tempo a fim de compreender como se deu a formaccedilatildeo territorial e sobretudo a divisatildeo de terras neste paiacutes de vasta extensatildeo Neste quadro pode-se perceber que os problemas sociais estaratildeo sempre lado a lado a esse sistema de concentraccedilatildeo de terras devido a distribuiccedilatildeo totalmente desigual e expropriadora que se inicia nesse periacuteodo da

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histoacuteria brasileira e que perdura ateacute os dias atuais (STEDILE 2013)

Considerada como uma das primeiras formas de divisatildeo e concentraccedilatildeo da terra o sistema de Capitanias Hereditaacuterias dividiu as terras do territoacuterio e a Coroa Portuguesa doou a 12 pessoas denominadas como donataacuterios que passariam a tomar conta desses lotes

Dividiu-se a costa brasileira (o interior por enquanto eacute para todos os efeitos desconhecido) em doze setores lineares com extensotildees que variavam entre 30 e 100 leacuteguas Estes setores chamar-se-atildeo capitanias e seratildeo doadas a titulares que gozaratildeo de grandes regalias e poderes soberanos caber-lhes-aacute nomear autoridades administrativas e juiacutezes em seus respectivos territoacuterios receber taxas e impostos distribuir terras etc (PRADO 2006)

O primeiro acesso juriacutedico agrave terra foram as sesmarias os indiviacuteduos podem fazer o que lhes interessassem com a terra como se fosse uma propriedade privada Poreacutem desde que fosse branco ldquopuro de sanguersquorsquo e catoacutelico Ou seja aleacutem de uma forma de divisatildeo foi uma maneira de selecionar e restringir quais pessoas teriam poder Essas terras inicialmente foram marcadas pelo sistema do ldquoplantationrdquo com a monocultura da cana de accediluacutecar o trabalho escravo (primeiramente indiacutegena e logo foi inserida a forccedila de trabalho dos negros) e os grandes latifuacutendios de terras Somente em 1822 foi suspensa a concessatildeo de terras por sesmarias

Posteriormente em 1850 estrategicamente surge a Lei de Terras ateacute entatildeo natildeo existia nenhuma lei que regulamentasse a aquisiccedilatildeo de terras no paiacutes Esta lei instituiacutea que a partir deste momento a compra seria o uacutenico meio de se obter o direito de posse e uso sobre a terra Poreacutem isto se tornaria inviaacutevel para as pessoas sem poder aquisitivo como ex-escravos posseiros e imigrantes Vale lembrar que esta lei foi elaborada por poderosos latifundiaacuterios da eacutepoca pessoas

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que sempre estiveram e continuam como deputados senadores e outros cargos do legislativo executivo e judiciaacuterio no paiacutes sendo uma forma de dificultar o acesso agrave terra as pessoas de baixo poder aquisitivo Sendo assim um dos grandes problemas da desigualdade social refletidos no Brasil atual

Com todo aparato via institucionalizaccedilatildeo da concentraccedilatildeo de terras primeiramente via doaccedilatildeo e depois com a Lei de Terras as aacutereas de maiores interesses econocircmicos passam a ser dominadas por grandes proprietaacuterios que com a ajuda do Estado passa a se manter e dominar grandes extensotildees de terras obrigando os pequenos proprietaacuterios posseiros e trabalhadores sem terras a se submeter a trabalhos precaacuterios e em condiccedilotildees muitas vezes sub-humanas como destaca SHIMADA (2014)

Algumas cidades trazem consigo ateacute a atualidade muitos aspectos desse periacuteodo colonial Em Sergipe se destaca a cidade de Laranjeiras que eacute uma das principais cidades histoacutericas do estado Sua povoaccedilatildeo ocorreu no fim do seacuteculo XVI sendo concedida atraveacutes de sesmaria em 1594 a Tomeacute Fernandes que teve participaccedilatildeo nas lutas pela ldquoconquistardquo de Sergipe

Dentre as cidades que compotildeem a microrregiatildeo do Baixo Cotinguiba se encontra Laranjeiras no centro-leste do estado Segundo dados do IBGE possui uma aacuterea de aproximadamente 163 kmsup2 com uma populaccedilatildeo estimada de 26902 habitantes no uacuteltimo censo demograacutefico e densidade demograacutefica de 16578 habitantes por kmsup2 CONCENTRACcedilAtildeO DE TERRAS EM LARANJEIRAS

O municiacutepio de Laranjeiras se caracteriza por apresentar sua sede municipal como o segundo siacutetio urbano de Sergipe que surge nos primeiros anos de ocupaccedilatildeo

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portuguesa atraveacutes da substituiccedilatildeo da exportaccedilatildeo de Pau Brasil pela implantaccedilatildeo da cultura canavieira que rapidamente se desenvolveu na regiatildeo com solos extremamente feacuterteis (solos denominados de massapeacute) uma formaccedilatildeo geomorfoloacutegica plana e proximidade do rio Cotinguiba principal arteacuteria de transporte de carga em Sergipe agrave eacutepoca

Com todos estes predicados naturais aliados a Invasatildeo Portuguesa com doaccedilatildeo das melhores terras aos donataacuterios em pouco tempo Laranjeira se tornara o mais rentaacutevel polo de atraccedilatildeo canavieira do estado concentrando grande parte do capital com instalaccedilotildees dos maiores engenhos agrave eacutepoca e que ao passar dos anos transformaram-se nas Usinas de accediluacutecar neste caso merece destaque a Usina Pinheiros a maior do estado e atualmente a uacutenica em atividade

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Com o avanccedilo da cana por toda a regiatildeo e posteriormente com a Lei de Terras os menores proprietaacuterios foram expropriados e passaram a exercer sua funccedilatildeo como forccedila de trabalho para os grandes proprietaacuterios Elevando Laranjeiras a patamares jamais alcanccedilados na produccedilatildeo formando o verdadeiro mar de cana

No Graacutefico 01 apresentado anteriormente eacute visiacutevel agrave concentraccedilatildeo de terras ao se observar deve-se levar em conta que quanto mais proacutexima do centro a curva ficar menor seraacute a concentraccedilatildeo e quanto mais proacutexima das extremidades (100 tanto na horizontal como vertical) maior eacute a concentraccedilatildeo

Ainda com relaccedilatildeo ao graacutefico anterior se percebe que os desenhos satildeo bem semelhantes em todos os anos analisados ou seja a concentraccedilatildeo de terras praticamente natildeo alterou nestes mais de 30 anos pelo contraacuterio ocorreu um leve aumento na concentraccedilatildeo de terras No graacutefico que representa o ano de 1970 a curva eacute menos densa que nos demais anos em anaacutelise diminui um pouco no ano de 2006 algo praticamente insignificante estas pequenas diferenccedilas praticamente ficam inexistentes a populaccedilatildeo camponesa continua com as mesmas dificuldades para se reproduzir nas suas unidades

Para complementar estes graacuteficos da curva de Lorenz tambeacutem foram calculados os Iacutendices de Gini com base em (DINIZ 1982) para os mesmos anos em anaacutelise dos graacuteficos anteriores Os Iacutendices de Gini apresentam uma variaccedilatildeo de 0 a 1 sendo que o 0 representa a distribuiccedilatildeo igualitaacuteria ou seja todos tecircm o mesmo tamanho por vez o valor 1 apresenta a concentraccedilatildeo maacutexima eacute quando um uacutenico proprietaacuterio tem todas as terras e o restante natildeo tem nada

A tabela 01 corrobora com a curva de Lorenz mostra que em Laranjeiras a concentraccedilatildeo de terras cresceu principalmente no intervalo entre 1970 e 1985 e se estabilizou nos outros anos seguintes Para DINIZ (1982) quando o

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valor do iacutendice ultrapassa os 09 deve ser classificado como extremamente concentrado caso que ocorre em Laranjeiras desde o segundo ano em anaacutelise (1985) chegando ao extremo de 094 em 2006 Tabela 01 Iacutendice de GINI para o municiacutepio de Laranjeiras - Sergipe 2018

Iacutendice de

Gini 1970 1985 95-96 2006

Laranjeiras 088 092 094 094

Fonte Censos agropecuaacuterios de 1970 85 95-96 e 2006

Dentre os fatores que contribuiacuteram para o aumento da concentraccedilatildeo de terras no municiacutepio destaca-se o Proaacutelcool na deacutecada de 1970 com estiacutemulos governamentais para a produccedilatildeo de cana com a crise do petroacuteleo aliado a incorporaccedilatildeo de novas terras por grandes proprietaacuterios para o plantio da cana e em menor destaque o processo de minifundiarizaccedilatildeo os pequenos proprietaacuterios sem condiccedilotildees de adquirir ldquonovos pedaccedilos de terrasrdquo dividem com os filhos atraveacutes de heranccedila contribuindo para o aumento da disparidade na relaccedilatildeo nuacutemero de estabelecimento e aacuterea total dos estabelecimentos

A compreensatildeo da proporcionalidade de terras de pequenos meacutedios e grandes propriedades eacute importante para se perceber o quanto eacute desigual esta relaccedilatildeo Com a definiccedilatildeo destes trecircs componentes atraveacutes do moacutedulo fiscal foi possiacutevel identificar nos diferentes anos em anaacutelise a disparidade no nuacutemero de propriedades com o nuacutemero da aacuterea ocupada por cada um dos trecircs

No graacutefico de 1970 se observa que as pequenas propriedades alcanccedilam mais de 90 do nuacutemero de estabelecimentos no entanto ocupam somente cerca de 15 das aacutereas agriacutecolas em Laranjeiras no outro polo se observa

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que grandes proprietaacuterios contam com nuacutemero reduzido de propriedades aproximadamente 3 estes abarcam aproximadamente 40 da aacuterea agriacutecola municipal neste predominam propriedades que contam com aacutereas maiores que 1000 hectares

Os meacutedios proprietaacuterios encontram em cerca de 10 do total de estabelecimentos e ocupam aacuterea equivalente a 30 das terras estes em alguns casos ocupam suas terras com a pecuaacuteria e em consideraacutevel quantidade das propriedades usam a terra para o plantio da cana com venda garantida a usina de accediluacutecar no municiacutepio

Nos anos de 1985 e 1995-1996 se observa um aumento do poderio dos grandes proprietaacuterios e uma fragmentaccedilatildeo das pequenas propriedades aumento no nuacutemero de estabelecimentos considerados pequenos mais de 95 e aumento na aacuterea das propriedades mas o que chama a atenccedilatildeo eacute uma leve diminuiccedilatildeo na participaccedilatildeo do nuacutemero de estabelecimentos considerados grandes cerca de 2 e um elevado aumento nas aacutereas com grandes propriedades que nos dois periacuteodos em anaacutelise ultrapassam o valor de 50 das terras ocupadas por grandes proprietaacuteriosCom relaccedilatildeo aos meacutedios proprietaacuterios sua participaccedilatildeo tanto no nuacutemero de estabelecimentos quanto da aacuterea ocupada as mudanccedilas satildeo quase imperceptiacuteveis

No que tange aos graacuteficos que representam o ano de 2006 se observa um maior crescimento do nuacutemero de pequenos estabelecimentos (minifundiarizaccedilatildeo) com mais de 95 de todos os estabelecimentos municipais sendo considerados pequenos e um consideraacutevel aumento no tamanho da aacuterea com mais de 30 por vez ocorreu um decreacutescimo tanto no nuacutemero como na aacuterea ocupada pelas denominadas grandes propriedades O que chama a atenccedilatildeo eacute o aumento da participaccedilatildeo das meacutedias-grandes propriedades

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O graacutefico 02 vem para confirmar o quanto eacute elevada a concentraccedilatildeo de terras em Laranjeiras demonstra que no municiacutepio existem poucos proprietaacuterios que abarcam extensas aacutereas de terra enquanto uma gama elevada de pequenos proprietaacuterios tem iacutenfimas faixas de terras que na sua maioria natildeo consegue produzir o suficiente para alimentar toda a famiacutelia vatildeo agrave busca de trabalho na cidade ou em Aracaju e outra parte vende sua forccedila de trabalho no campo mesmo passam a trabalhar nos canaviais ou ateacute mesmo na Usina Pinheiros

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Como em todo o pais a alta concentraccedilatildeo de terras estaacute intimamente ligada a pecuaacuteria e em parte a monocultura do agronegoacutecio em Laranjeiras natildeo eacute diferente Como dito anteriormente a produccedilatildeo canavieira eacute causa e consequecircncia da concentraccedilatildeo fundiaacuteria o que se constata ao comparar o cultivo da cana como os demais cultivos presentes no campo laranjeirense

A associaccedilatildeo da cana com a concentraccedilatildeo fundiaacuteria em Laranjeiras foi possiacutevel ao se debruccedilar com a coleta de dados da produccedilatildeo agriacutecola dos mesmos anos em anaacutelise da concentraccedilatildeo fundiaacuteria

Na tabela 02 fica niacutetida a forccedila do latifundiaacuterio (grande produtor) no municiacutepio que destina suas terras para a produccedilatildeo do agronegoacutecio da cana por vez o camponecircs (pequeno produtor) destina suas terras para produzir alimentos (milho feijatildeo e mandioca) que se verte para o proacuteprio consumo e o excedente eacute vendido em feiras locais ou destina-se a fabricaccedilatildeo da farinha no caso da mandioca ou para a alimentaccedilatildeo bovina caso do milho

Ainda com relaccedilatildeo agrave tabela se observa que em todos os anos analisados a produccedilatildeo de cana (em destaque) dominou praticamente todas as terras do municiacutepio com uma produccedilatildeo em toneladas que equivalem a quase 100 do total de toneladas produzidas tendo como menor participaccedilatildeo o ano de 1970 como anteriormente dito com a Poliacutetica do Proaacutelcool favoreceu a expansatildeo da cana em Laranjeiras que por vez tambeacutem incorporam terras de meacutedios proprietaacuterios e chegam a alguns casos as unidades camponesas que vendem diretamente sua produccedilatildeo de cana para as usinas

A mandioca plantada em Laranjeiras tem ocorrecircncia em siacutetios e pequenas propriedades em todos os anos analisados foi o segundo cultivo mais plantado no municiacutepio mesmo assim a quantidade eacute iacutenfima se comparada com a produccedilatildeo de cana com destaque para o ano de 1970 uacutenico

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que ultrapassou a margem de 1 que nas deacutecadas seguintes ocorreu uma consideraacutevel diminuiccedilatildeo na participaccedilatildeo o que mais uma vez pocircde constatar que a partir da deacutecada de 1970 alguns camponeses perderam (venderam) suas terras para a expansatildeo do agronegoacutecio da cana e outros foram incorporados pelo setor sucroalcoleiro do municiacutepio

Com relaccedilatildeo aos cultivos de milho e feijatildeo se encontram com uma produccedilatildeo praticamente inexistente no municiacutepio com um percentual em todos os anos natildeo passando de 003 na participaccedilatildeo da produccedilatildeo agriacutecola municipal estas culturas satildeo plantadas nas menores unidades predominam em estabelecimento em ateacute 5 hectares

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Tabela 02 Principais cultivos do municiacutepio de Laranjeiras - Sergipe 2018

Cultivos

1970 1985 1996 2006

Produccedilatildeo (Ton)

Produccedilatildeo (Ton)

Produccedilatildeo (Ton)

Produccedilatildeo (Ton)

Cana 166759 9832 303120 9961 261128 9960 357000 9945

Mandioca 2800 165 1092 035 921 035 1800 050

Milho 32 002 67 003 110 003 144 003

Feijatildeo 5 001 4 001 5 001 25 001

Total 169596 100 304283 100 262164 100 358969 100

Fonte SIDRA-IBGE

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A tabela deixa bem clara qual a funcionalidade do cultivo da cana para o setor agroindustrial que encontra neste municiacutepio as condiccedilotildees ideais para se instalar com o tradicional cultivo da cana extensas aacutereas de domiacutenio dos grandes proprietaacuterios solos feacuterteis geomorfologia plana que facilita o escoamento da produccedilatildeo ateacute as usinas aliadas aos inuacutemeros incentivos dado pelo poder puacuteblico sem esquecer do principal fator de atraccedilatildeo da induacutestria sucroalcoleira o consideraacutevel nuacutemero de forccedila de trabalho barata e disponiacutevel natildeo somente no municiacutepio mas em toda regiatildeo da Cotinguiba

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

O trabalho demonstra o quanto eacute importante o uso de meacutetodos estatiacutesticos e elaboraccedilatildeo de graacuteficos para se compreender uma realidade municipal estadual e nacional aleacutem de facilitar a interpretaccedilatildeo dos diferentes temas abordados na pesquisa em especial destaque para a compreensatildeo da concentraccedilatildeo de terras

O avanccedilo do agronegoacutecio da cana fica evidente na anaacutelise principalmente apoacutes a institucionalizaccedilatildeo do Proaacutelcool na deacutecada de 70 que impulsionou o cultivo da cana no municiacutepio que distanciou cada vez mais o camponecircs do grande produtor

O domiacutenio das terras agriacutecolas pelos usineiros eacute observada a partir do uso do solo para o plantio da cana hora feito pela famiacutelia grande parte das terras de Laranjeiras pertence agrave famiacutelia do dono da maior usina do estado que sempre esteve ligado ao poder puacuteblico seja nas esferas do legislativo (deputados estaduais federais e senado) ou no executivo (prefeituras de Laranjeiras e Riachuelo - municiacutepio vizinho e no Governo do Estado) aliados a grandes proprietaacuterios que tem venda direta da cana para a usina

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Com anaacutelise dos materiais fica evidente a concentraccedilatildeo de terras e a necessidade de se rediscutir a importacircncia da Reforma Agraacuteria e de planos de accedilatildeo visando o camponecircs que vive a margem deste processo econocircmico e luta de todas as formas para se manter na terra e sobreviver na mesma

A cana que sempre foi vista na regiatildeo como uma fonte inesgotaacutevel de riqueza se transveste como o maior contribuinte para a concentraccedilatildeo de terras na regiatildeo e fomentador das desigualdades em Laranjeiras que contraditoriamente se insere como um dos municiacutepios mais ricos do estado e um dos maiores geradores de pobrezas AGRADECIMENTOS Agradecemos ao PET - Programa de Educaccedilatildeo Tutorial PET de Geografia do Campus Professor Alberto Carvalho em Itabaiana pelo apoio que possibilitou a elaboraccedilatildeo deste artigo sem o Programa natildeo seria possiacutevel desenvolver tal trabalho REFEREcircNCIAS ANDRADE Manuel Correia de A terra e o homem no Nordeste contribuiccedilatildeo ao estudo da questatildeo agraacuteria no Nordeste 5ordf ed Satildeo Paulo Editora Atlas 1986 BRASIL IBGE Censo Agropecuaacuterio 1970

_____ IBGE Censo Agropecuaacuterio 1985 _____ IBGE Censo Agropecuaacuterio 1995-1996

_____ IBGE Censo Agropecuaacuterio 2006

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DINIZ Joseacute Alexandre Felizola Geografia da agricultura Satildeo Paulo Difel 1982 EMBRAPA Variaccedilatildeo Geograacutefica do Tamanho dos Moacutedulos Fiscais no Brasil Sete Lagoas-MG 2012 LOPES Eliano Seacutergio Azevedo Lopes CARVALHO Diana Mendonccedila de COSTA Joseacute Eloizio da (Org) Distribuiccedilatildeo dos estabelecimentos agropecuaacuterios e Iacutendice de Gini do estado de Sergipe - 1985 -199596 - 2006 Satildeo Cristoacutevatildeo editora UFS 2015 SHIMADA Shiziele de Oliveira Dos Ciclos e das Crises do Capital agraves Formas de Travestimento da Barbaacuterie no Trabalho Canavieiro (Tese de doutorado) PPGEO-UFS Satildeo Cristoacutevatildeo 2014 STEacuteDILE Joatildeo Pedro (org) A questatildeo agraacuteria no Brasil o debate na deacutecada de 1990 Satildeo Paulo Expressatildeo popular 2013 httpssidraibgegovbrhomepnadcm

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ldquoDESENVOLVIMENTOrdquo DONO CAMPO UMA VISAtildeO A PARTIR DA REALIDADE CAMPONESA EM

ITABAIANA SERGIPE

Joatildeo Pedro Celestino dos Santossup1 (Universidade Federal de Sergipe)

(Graduando em GeografiaLicenciatura) E mail jpedrocelestino_2012hotmailcom

Daniel Menezes Damacenasup2

(Universidade Federal de Sergipe) (Graduando em GeografiaLicenciatura)

E-mail danieelbinho62gmailcom RESUMO

O artigo tem por objetivo discutir a real condiccedilatildeo da terra e do trabalho para os camponeses e a ideia de desenvolvimento dono campo sobremodo no municiacutepio de Itabaiana Sergipe A terra camponesa estaacute para aleacutem da sua condiccedilatildeo de propriedade de mercadoria e de produtividade comercial Do mesmo modo o trabalho camponecircs representa uma forma de reproduccedilatildeo social e de sociabilidade em que os mesmos tecircm o total controle sobre suas jornadas de trabalho As anaacutelises aqui realizadas decorrem de leituras discussotildees e registros de memoacuterias camponesas por meio de entrevistas feitas com camponeses de povoados de ItabaianaSE Nesse vieacutes destaca-se a questatildeo das falaacutecias de ldquodesenvolvimentordquo no campo que eacute visto como algo benevolente sobretudo em funccedilatildeo do poder alienador do capital e dos recursos midiaacuteticos mas que na verdade tem sido nocivo para a vida no campo Diante desses aspectos eacute importante natildeo perder de vista que a realidade camponesa estaacute emaranhada de dificuldades sobretudo em virtude das determinaccedilotildees do modo de

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produccedilatildeo capitalista ndash que se apropria e usufrui de todos os recursos possiacuteveis ndash que visa o acuacutemulo de capital Palavras-chave Terra Trabalho ldquoDesenvolvimentordquo INTRODUCcedilAtildeO

Este artigo tem por objetivo analisar o real valor da terra do trabalho e do ldquodesenvolvimentordquo no ldquomundo camponecircsrdquo no municiacutepio sergipano de Itabaiana Aleacutem de desvelar e elucidar questotildees contraditoacuterias que asseguram a exploraccedilatildeo material e subjetiva dos camponeses imbuiacutedas neste territoacuterio

Portanto eacute pertinente iniciar inquirindo o que eacute a terra para o camponecircs Ateacute que ponto a terra eacute realmente importante O que eacute preciso para desvelar contradiccedilotildees inerentes agrave terra camponesa tendo em vista sua condiccedilatildeo frente o modo de produccedilatildeo capitalista E o trabalho E os discursos de desenvolvimento nopara o campo

Eacute notoacuterio que o campo sobretudo nos dias de hoje vem sendo atacado por diferentes meios ndash como as determinaccedilotildees capitalistas com seus pacotes tecnoloacutegicos de produccedilatildeo agropecuaacuteria e ateacute mesmo o desenfreado ataque midiaacutetico que esses camponeses estatildeo expostos ndash a fim de mascarar sua realidade e existecircncia e ainda ser dimensionado como atrasado e desimportante sobremodo quando natildeo atende aos interesses do capital Tendo em vista essa situaccedilatildeo eacute parte fundamental do presente artigo procurar realccedilar algumas questotildees que povoam a existecircncia do campo diante da ldquocrueldaderdquo capitalista que expropria expulsa e cria novas formas de reproduccedilatildeo conforme suas determinaccedilotildees

Os camponeses se encontram vulneraacuteveis agraves imposiccedilotildees do modo de produccedilatildeo vigente Mas isso natildeo compete afirmar que sua existecircncia tende a ser fadada ao fracasso pois se encontram resistindo e lutando para de

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formas distintas permanecerem na terra Ainda que essas lutas agraves vezes sem muita consciecircncia e negadas no interior da proacutepria academia como se leu em avaliaccedilatildeo de relatoacuterio de iniciaccedilatildeo cientiacutefica do qual esta proposta decorre

Entatildeo o ldquocerco das terrasrdquo ndash como bem discorreu Joseacute de Souza Martins (1986) em ldquoNatildeo haacute terra para plantar nesse veratildeordquondash tem sido pertinente E isso natildeo eacute uma situaccedilatildeo recente remonta meados do seacuteculo XIX no Brasil quando da institucionalizaccedilatildeo da Lei de Terras em 1850 que privou a disposiccedilatildeo de terra somente para aqueles que a pudesse compraacute-la Ou seja a terra passou a ser mercantilizada Com esse processo de mercantilizaccedilatildeo privatizaccedilatildeo da terra o trabalhador do campo ficou diante de uma grande dificuldade pois era preciso ter meios de se reproduzir socialmente e sem a terra natildeo seria possiacutevel

Percebe-se que a terra eacute pois um ldquobemrdquo muito relevante sobretudo para a realizaccedilatildeo do trabalho camponecircs Natildeo o grande latifuacutendio mas a terra para plantar Pois eacute atraveacutes dela que o camponecircs cria suas condiccedilotildees de sobrevivecircncia e de sua famiacutelia e encontra meios de efetivar-se na terra Terra em conjunto com o trabalho satildeo essenciais para a reproduccedilatildeo social e representam condiccedilatildeo ontoloacutegica do ser camponecircs

Aleacutem do trabalho uma outra categoria inerente o tempo do camponecircs com sua famiacutelia ndash mulheres homens e crianccedilas ndash para que a socializaccedilatildeo desse trabalho seja concreta e ainda o saber (que lhe eacute proacuteprio) seja disseminado para geraccedilotildees futuras Eacute claro que este trabalho (no siacutetio camponecircs ou qualquer outro espaccedilo) enfrenta algumas dificuldades para sua realizaccedilatildeo o que leva esses camponeses se submeterem a condiccedilotildees diversas de existecircncia

Muitos camponeses e a populaccedilatildeo do campo no geral diante dessa dificuldade de possuir a terra de exercer seu trabalho tambeacutem enfrenta a ideologia do desenvolvimento

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Esse ideal de desenvolvimento aliena e garante que o progresso dono campo soacute eacute possiacutevel quando da inserccedilatildeo do capital no campo representado pelo agronegoacutecio pela quimificaccedilatildeo pela maquinificaccedilatildeo e ainda pelas melhorias dos aparatos teacutecnicos de urbanizaccedilatildeo (como os calccedilamentos rede de aacutegua encanada ou esgoto) Diante dessa conjuntura a sociedade a comunidade camponesa ldquonatildeo se daacute contardquo de que esse ldquodesenvolvimentordquo eacute fruto de uma necessidade de exploraccedilatildeo sobretudo econocircmica (SANTOS DAMACENA 2018)

A partir disso o municiacutepio de Itabaiana ou melhor seus camponeses possibilitam realizar a anaacutelise apontando os enfrentamentos que os mesmos desempenham para continuar na terra para reproduzir-se socialmente Possibilidade desvelada a partir das anaacutelises que estatildeo sendo realizadas no Projeto de Pesquisa ldquoSitio e roccedila costumes e trabalho fontes e conhecimento camponecircs para um pensamento geograacutefico e geografia histoacuterica da formaccedilatildeo territorial de Itabaiana Sergiperdquo (COPESUFS) em desenvolvimento pelo Departamento de Geografia da Universidade Federal de Sergipe Campus Professor Alberto O Projeto busca analisar as questotildees camponesas (nas memoacuterias nas materialidades dono campo na feira) e esclarecer as contradiccedilotildees que satildeo impostas pelo modo de produccedilatildeo vigente reconhecendo o camponecircs e seu valor enquanto produtor do espaccedilo sobretudo do territoacuterio de Itabaiana

Outra questatildeo importante de destacar eacute que o resultado do presente texto decorre da realizaccedilatildeo de levantamento e discussatildeo de referecircncias bibliograacuteficas aleacutem das socializaccedilotildees com pesquisadores do grupo supracitado e entrevistas a camponeses do municiacutepio de Itabaiana que conferiu a possibilidade de promover uma anaacutelise acerca das questotildees e contradiccedilotildees que permeiam sua realidade

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O ldquoVALORrdquo DA TERRA E DO TRABALHO CAMPONEcircS

Existem vaacuterias discussotildees em relaccedilatildeo a terra o que tem gerado divergecircncias entre pesquisadores devido ao ldquoolharrdquo que eacute lanccedilado sobre a mesma Com este artigo algumas questotildees seratildeo explicadas sobre a terra e o seu valor bem como o valor do trabalho camponecircs pois resistem agraves deliberaccedilotildees do modo de produccedilatildeo vigente Diante de entrevistas realizadas por camponeses por camponeses de alguns povoados de Itabaiana SE foi possiacutevel chegar a estas conclusotildees

De fato a terra para o camponecircs estaacute para aleacutem dos princiacutepios monetaacuterios estabelecidos pelo capital Ele tem uma visatildeo camponesa da terra como algo essencial para sua reproduccedilatildeo seja em caraacuteter comercial ndash pelo fato de estar integrado de certa forma ao capitalismo onde eacute necessaacuterio produzir para aleacutem do proacuteprio consumo no sentido de suprir as demandas do mercado interno e conseguir manter-se na terra e garantir o sustento da famiacutelia Mas a terra para ele estaacute diretamente ligada agrave sua reproduccedilatildeo social pois a veem como algo que faz parte de si ou seja natildeo se enxergam vivendo longe da mesma cultivando-a tendo relaccedilotildees mais intriacutensecas com a comunidade com o trabalho que se materializa sobre ela ndash estes camponeses vivem na terra por vaacuterias geraccedilotildees e seus conhecimentos costumes e tradiccedilotildees satildeo perpassados como heranccedila pelos pais familiares ou camponeses mais velhos que vivem nos povoados certificando a pertinecircncia dessa socializaccedilatildeo

Ao realizar uma leitura histoacuterica sobre a condiccedilatildeo da terra no Brasil ressalta-se que desde o periacuteodo das Grandes Navegaccedilotildees ela exerceu um enorme interesse para os colonizadores da ldquoAmeacutericardquo e do ldquoBrasilrdquo (mais precisamente) onde usufruiacuteram das terras para extrair seus recursos naturais ndash

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mateacuterias-primas para produccedilatildeo de utensiacutelios alimentos e metais preciosos A busca incansaacutevel por metais preciosos como o ouro a prata e os diamantes era o maior atrativo dos colonizadores devido ao alto preccedilo que essas mercadorias valiam no mercado e pelo poder que estes lhes conferiam ndash e tal situaccedilatildeo jaacute faz refletir que a terra brasileira jaacute neste momento comeccedilou a ser explorada economicamente Mesmo assim os povos nativos viam-na como um bem sagrado e de extrema importacircncia para sua reproduccedilatildeo (JUNIOR 2006)

Ainda nesse momento o uso da terra para plantaccedilotildees e demais tarefas foi posto em segundo plano pelo fato da busca por metais preciosos conquistando e dominando territoacuterios a qualquer custo para acumular riquezas para a Metroacutepole europeia Foi a partir daiacute que a terra comeccedilou a representar um grande valor monetaacuterio para os colonizadores

Por possuir terras feacuterteis o Brasil foi de grande importacircncia econocircmica para Metroacutepoles como Portugal Espanha e com alguns relatos de invasotildees francesas e holandesas exploraram o seu territoacuterio e que a terra no periacuteodo da colonizaccedilatildeo portuguesa o Brasil passou por trecircs ciclos econocircmicos Entre eles a agricultura destacou-se pelo fato de que a Ameacuterica possuir terras feacuterteis para a produccedilatildeo de algumas mercadorias que possuiacuteam um alto valor monetaacuterio no mercado Se a agricultura se destaca vale dizer tem sua grande importacircncia para esse desenvolvimento deste ciclo que nada mais nada a menos que percorre um ciclo de produccedilatildeo atualmente Por esses movimentos a terra passou a ser mais que um simples lugar que seria para plantar ou morar mas que despertou olhares ambiciosos que se preocupa apenas com o acuacutemulo de capital sem perceber as causas e consequecircncias que o mau uso do solo causa na natureza

Enfim essa leitura histoacuterica confere a possibilidade de analisar a situaccedilatildeo da terra no Brasil pois desde o processo de ldquocolonizaccedilatildeordquo que sua condiccedilatildeo de bem comum e de

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relevacircncia para a sociedade ganhou importacircncia econocircmica Ela passou a ser ldquoprivadardquo (com a Lei de Terras em 1850) e soacute a possuiacutea quem tivesse poder aquisitivo suficiente para compraacute-la ou seja tornou-se mercadoria e com finalidades lucrativas

A medida que a exploraccedilatildeo das terras avanccedilava deixara para traacutes rastros violentos sobre os trabalhadores do campo que perderam suas terras pela falta de conhecimento na regularizaccedilatildeo de documentos referente a terra na qual criou bases para atender os interesses de uns em detrimento de outros A perda da terra por sua vez corroborou para as vaacuterias ldquofugasrdquo de trabalhadores do campo que saem de seu lugar de origem para outras regiotildees devido a natildeo aceitaccedilatildeo da venda da sua proacutepria forccedila de trabalho e exploraccedilatildeo do mesmo realizado por esses compradores ou mesmo pela dificuldade de se manter na terra diante das imposiccedilotildees capitalistas

Agrave medida que o capitalismo adentra no campo causa diversos rebatimentos socioeconocircmicos devido agraves exigecircncias que satildeo impostas para que suas demandas sejam atendidas E um desses rebatimentos natildeo eacute o que se produz para se comercializar mas sim o valor que esta terra vai apresentar para os ditos capitalistas que almejam lucro com a terra de negoacutecios gerando ldquoconflitosrdquo no campo Diante disso a mercadoria produzida no campo tem um alto significado para os dois polos ndash camponeses para subsistecircncia e os capitalistas que visam o acuacutemulo de capital ndash ldquoa mercadoria tem o poder de subjugar os camponeses devido ao fato de possuir o poder de destruir ou modificar as relaccedilotildees sociais no campordquo (MARTINS 1986 p 16) E essa mercadoria tambeacutem eacute a forccedila de trabalho do camponecircs que a vende como mecanismo para manter-se na terra ldquovendendo seu diardquo nas propriedades daqueles que a podem compraacute-la o que acaba reformulando seus costumes e relaccedilotildees sociais Pois ldquoa terra mercantilizada

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segue os princiacutepios dos avanccedilos capitalistasrdquo (MARTINS 1986 p 18)

Jaacute o trabalho no campo ndash que ganha o mesmo caraacuteter que a terra camponesa ndash segue o sentido de suprir apenas suas necessidades no qual os camponeses interagem entre si na divisatildeo do trabalho que eacute por meio de familiares e pessoas que trabalham em terras vizinhas para ajudar na renda da famiacutelia Dentro dessa loacutegica de trabalho no campo existe uma forma de ldquotroca de trabalhordquo ndash uma cooperaccedilatildeo uma ldquoajudardquo ou um mutiratildeo ndash entre os camponeses Por exemplo um camponecircs A trabalha na terra de um camponecircs B sem receber nada em troca e quando esse camponecircs B for cultivar em suas terras o camponecircs A iraacute retribuir da mesma forma o trabalho exercido pelo camponecircs B em suas terras Eis o que Martins (1986 p 102) chamou de ldquoorganizaccedilatildeo coletiva do trabalho no campordquo aleacutem de reunir no mesmo os integrantes da proacutepria famiacutelia do camponecircs

O trabalho por sua vez eacute definido pelo camponecircs como um trabalho real e que atraveacutes dele ndash associado agrave terra ndash eacute possiacutevel se reproduzir socialmente O trabalho camponecircs eacute sistematizado pelo proacuteprio camponecircs que estabelece seu horaacuterio suas funccedilotildees do dia e em que trabalhar (seja a agricultura ou a criaccedilatildeo direta ou indiretamente) Mas tambeacutem haacute a possibilidade do mesmo camponecircs buscar novos mecanismos que lhe proporcionem a permanecircncia na terra como vender a sua forccedila de trabalho no campo ou na cidade e isso natildeo faz do trabalho camponecircs um trabalho de caraacuteter parcial

Terra e trabalho comungam entre si Eles natildeo estatildeo dissociados e representam grande importacircncia para o camponecircs

Essa anaacutelise associa-se ao territoacuterio em questatildeo ndash ItabaianaSE ndash que por meio de entrevistas realizadas aos camponeses de alguns povoados deste municiacutepio foi

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destacado a ideia do que seria a terra para eles que vai na contramatildeo das ideias capitalistas A terra para os camponeses tem significados maiores que a loacutegica de mercantilizaccedilatildeo ndash do valor monetaacuterio da propriedade privada ndash ou seja a veem como um meio de existecircncia e subsistecircncia e imprimem nessa posiccedilatildeo uma forma de resistecircncia frente o modo de produccedilatildeo capitalista

Eacute possiacutevel compreender a realidade camponesa quando nos trabalhos de campo evidenciam-se relatos e realidades que satildeo enfrentadas por eles bem como os desafios que passam todos os dias E nesses relatos percebe-se que em virtude das dificuldades encontradas no campo ndash como as imposiccedilotildees do capital ou mesmo a violecircncia ndash muitos camponeses ldquoabandonamrdquo suas terras encaram a ideia de irem agrave cidade (a expulsatildeo desses trabalhadores no campo foi um dos principais fatores que auxiliou que a populaccedilatildeo urbana ultrapassa a populaccedilatildeo rural (DAVIS 2004)) em busca de uma melhoria de vida que tambeacutem deve ser questionada pois com a realidade urbana os camponeses perdem ldquosua liberdaderdquo seja no trabalho seja na socializaccedilatildeo

Como em Itabaiana natildeo eacute diferente com a ida dos camponeses para a cidade o capital avanccedila no campo por meio do agronegoacutecio que tem como ideias a larga produccedilatildeo em pequenos periacuteodos de tempo utilizando produtos quiacutemicos que prejudicam tanto o alimento e causa doenccedilas em seus consumidores ao mesmo tempo em que tem gerado discussotildees diversas sobre a (im)pertinecircncia desses produtos Vale ressaltar que a maior parte da produccedilatildeo realizada pelo agronegoacutecio eacute direcionada para a exportaccedilatildeo e no caso de Itabaiana para abastecimento de mercados do municiacutepio de Sergipe e outros estados do Brasil Mas a produccedilatildeo camponesa atende agrave necessidade do proacuteprio camponecircs e de boa parte dos cidadatildeos brasileiros

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Entatildeo dar ouvidos e visibilidade para esses produtores do espaccedilo que representa um papel importante de resistecircncia diante do modo de produccedilatildeo vigente pois os camponeses tecircm a terra como algo que vai aleacutem de um simples ldquopedaccedilo de terrardquo com um mero valor comercial mas que tecircm ldquoa terra como algo necessaacuterio para sobreviver e se reproduzir socialmenterdquo (MARTINS 1986 p 18) e como um ldquotesourordquo que garante o sustento de sua famiacutelia ldquoDESENVOLVIMENTOrdquo NO CAMPO A FALACIOSA IDEIA DO PROGRESSO

A sociedade brasileira no geral o operaacuterio da induacutestria o trabalhador urbano o trabalhador do campo enfim todos eles ldquotecircm em menterdquo que eacute preciso fazer coisas como construir edificaccedilotildees explorar minerais entre outras para se chegar ao progresso

O capitalismo por sua vez tem determinado essas situaccedilotildees agrave medida que monopoliza e territorializa o capital mediante conjuntura possiacutevel de promover a exploraccedilatildeo a acumulaccedilatildeo da mais-valia E ainda que ldquoa tendecircncia do capital a de tomar conta progressivamente de todos os ramos e setores da produccedilatildeo no campo e na cidade na agricultura e na induacutestriardquo (MARTINS 1981 p 152) Essa atuaccedilatildeo se daacute numa escala abrangente em todo o Brasil principalmente para assegurar a condiccedilatildeo de ldquoemergenterdquo e que suas riquezas (sobretudo naturais) satildeo a base para o seu desenvolvimento

Essa ideia de desenvolvimento tambeacutem chega ao campo Atualmente o campo brasileiro recebe grande importacircncia pois tem nele o ldquoseleirordquo de mercadorias para equilibrar a balanccedila comercial do paiacutes Eacute pois grande responsaacutevel por boa parte da participaccedilatildeo do Produto Interno Bruto nacional Eis que ocorre com veemecircncia a ldquopenetraccedilatildeo do capitalismo no campordquo (MARTINS 1981 p 151) e o

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mesmo subjuga o trabalhador camponecircs agraves suas determinaccedilotildees olvidando ao mesmo que ldquoo desenvolvimento do capital acontece de maneira desigual e combinada com a tendecircncia de amaacutelgama entre as formas arcaicas e modernasrdquo (SOUSA 2015 p 352)

A partir dessa perspectiva o que se tem analisado junto aos camponeses no municiacutepio de Itabaiana eacute que haacute uma ldquofalsardquo ilusatildeo de que o campo tem alcanccedilado aos poucos o desenvolvimento sem compreender o seu real significado E essa ideia eacute ratificada sobretudo pelas determinaccedilotildees capitalistas e tambeacutem pela accedilatildeo midiaacutetica quando fornece informaccedilotildees onde contemplam a necessidade de uma nova realidade para o campo

Por quais questotildees esses camponeses satildeo levados a acreditar na ideologia do desenvolvimento Pois bem satildeo questotildees que visam atender as necessidades capitalistas mas que promovem uma seacuterie de empecilhos para que o camponecircs permaneccedila na terra realize seu trabalho e consiga reproduzir-se socialmente Seratildeo em seguida citadas algumas dessas questotildees que os entrevistados apontaram como relevantes para essa situaccedilatildeo

Primeiro a facilidade para a produccedilatildeo de suas culturas sobretudo a facilidade do acesso a sementes ndash mesmo ciente da importacircncia da semente crioula ndash a maacutequinas que aumentam a produccedilatildeo e a demais recursos que motivam a renda para manutenccedilatildeo de suas propriedades Mas vale aqui apontar um adendo quanto a essa questatildeo pois a substituiccedilatildeo da semente crioula por uma semente geneticamente modificada (que eacute mais acessiacutevel economicamente) torna o camponecircs submisso ao mercado pois jaacute que esse tipo de semente natildeo gera sementes feacuterteis ele teraacute a necessidade de sempre compraacute-las e ser consumidor dos insumos de uma grande empresa O mesmo pode acontecer quando da

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utilizaccedilatildeo de agrotoacutexicos (praacutetica que encontra resistecircncia pelos camponeses)

E a maquinificaccedilatildeo tambeacutem configura um empecilho para a manutenccedilatildeo do camponecircs no seu espaccedilo Ela substitui a forccedila de trabalho humana expropriando-o e expulsando o camponecircs da terra Este sai do campo (como eacute comum em Itabaiana natildeo soacute pela questatildeo das maquinas mas por lsquon situaccedilotildeesrsquo) e vai morar na cidade em busca de melhores condiccedilotildees de vida de trabalho Mas quando chegam agrave cidade a sua vivecircncia torna-se diferenciada as socializaccedilotildees natildeo se configuram mais como no campo A violecircncia que haacute no campo haacute em maior intensidade da cidade e aleacutem disso o camponecircs torna-se proletaacuterio pois

[] na sociedade capitalista a reduccedilatildeo da remuneraccedilatildeo dos camponeses significa que a renda do solo (renda imputada agrave propriedade) eacute anulada e que a remuneraccedilatildeo do trabalho ndash a que se reduz o preccedilo dos produtos ndash equipara-se ao valor da forccedila de trabalho proletaacuteria (SOUSA 2015 p 348)

Com isso o camponecircs ndash quando sai do campo para a cidade ndash e vai trabalhar como proletaacuterio acaba natildeo tendo mais a mesma relaccedilatildeo com trabalho que tinha antes Ele natildeo mais conseguiraacute definir seus proacuteprios horaacuterios e nem mesmo definir o que fazer no seu siacutetio Agora ele vai atender agraves determinaccedilotildees daquele que compra sua forccedila de trabalho

Mas isso natildeo eacute exclusivo da cidade No campo muitos camponeses ndash para natildeo saiacuterem de laacute ndash tambeacutem vendem sua forccedila de trabalho para aqueles que a costumam ldquocomprar um dia de trabalhordquo Logo o camponecircs se acha tambeacutem subordinado ao capital Mas

Em meio ao avanccedilo do capital no campo satildeo muitas as alternativas criadas pelos

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trabalhadores para voltarem ou permanecerem na terra por meio da combinaccedilatildeo da mobilidade e permanecircncia por meio da combinaccedilatildeo de trabalhos camponeses e natildeo camponeses e por meio dos processos de resistecircncia e luta pela terra (SOUSA 2015 p 333)

Voltando agrave maquinificaccedilatildeo (que tambeacutem representa desenvolvimento no campo) ela eacute resultado de um grande aperfeiccediloamento teacutecnico (logo depois da Primeira Guerra Mundial) mas sobretudo depois da Segunda Guerra Mundial como ressaltou Campos (2011 p102) que

[] poacutes Segunda Guerra Mundial se difundiu a chamada ldquoRevoluccedilatildeo Verderdquo que consistiu em uma grande mudanccedila na base teacutecnica dos processos agropecuaacuterios tornando-os menos dependentes das condiccedilotildees naturais e mais dependentes de insumos e equipamentos artificiais ampliando muito o mercado de produccedilatildeo e venda desses produtos

Entatildeo a maacutequina no campo aleacutem de promover o aumento da produtividade agriacutecola ou pecuaacuteria estaacute inerente a ela a substituiccedilatildeo da forccedila de trabalho do camponecircs a expropriaccedilatildeo do camponecircs por se ver pressionado por este artifiacutecio teacutecnico Eacute oacutebvio que a maacutequina serviraacute para propor uma maior acumulaccedilatildeo de capital Natildeo perdendo de vista eacute claro a perda da essecircncia do trabalho camponecircs junto agrave sua famiacutelia e agrave comunidade do campo

Segundo o aparato teacutecnico de urbanizaccedilatildeo tambeacutem eacute um dos motivos que proporcionam aos camponeses a noccedilatildeo de que seu povoado eacute tambeacutem desenvolvido Nomeia-se aqui aparato teacutecnico de urbanizaccedilatildeo os calccedilamentos as praccedilas os sistemas de abastecimento de aacutegua e tratamento de esgoto (quando existe) Os camponeses contatados assimilam esses

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aparatos como sendo fatores de desenvolvimento esquecendo que esses fatores satildeo fundamentais para toda a sociedade satildeo considerados serviccedilos baacutesicos Geralmente quando explanam sobre a configuraccedilatildeo dos povoados onde vivem chamam atenccedilatildeo para o ldquoatrasordquo que (segundo eles) apresentavam o que provoca o questionamento do que realmente significa ldquoatrasordquo e mesmo como esse termo eacute interpretado ideoloacutegica e cientificamente

Uma terceira questatildeo eacute a atuaccedilatildeo da miacutedia que transmite informaccedilotildees diversas enfatizando que o desenvolvimento do campo eacute possiacutevel quando haacute sobretudo a inserccedilatildeo e expansatildeo do capital e de suas determinaccedilotildees A miacutedia tem explorado e os camponeses que a acompanha (por meio da televisatildeo ou do raacutedio e do celular) a relevacircncia do uso de um pacote tecnoloacutegico a aquisiccedilatildeo creacuteditos agriacutecolas a necessidade de produzir para participar das relaccedilotildees comerciais o que compete dizer que a partir disso os camponeses que aderem a tais perspectivas se veem submetidos e de certa forma ldquoaprisionadosrdquo ao sistema que usurpa sua liberdade e explora o trabalho e sua socializaccedilatildeo bem como a sua subjetividade

Entatildeo estaacute claro que o ldquodesenvolvimentordquo no campo na verdade serve para mascarar a ideia de crescimento econocircmico As sementes transgecircnicas as maacutequinas bem como os aparatos teacutecnicos de urbanizaccedilatildeo de alguns povoados que certamente satildeo naqueles que contribuem com a produccedilatildeo agriacutecola para a economia do municiacutepio O desenvolvimento no campo eacute e estaacute sendo pautado nas propostas do agronegoacutecio ndash que produz riqueza e assola a pobreza no campo Natildeo se defende aqui que o camponecircs esteja totalmente distante do mundo capitalista pois seria impossiacutevel pois este modo de produccedilatildeo rodeia quase todo o globo

O camponecircs natildeo estaacute imune Ele pode vender o excedente do milho do feijatildeo da batata-doce ele precisa

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comprar mantimentos para sua famiacutelia etc A criacutetica estaacute sobre como esse ldquodesenvolvimentordquo eacute concebido e como o mesmo eacute interpretado Numa palestra sobre a luta pela terra pela aacutegua e pelo territoacuterio foi discutido justamente que eacute preciso sempre indagar como para quecirc e para quem eacute esse desenvolvimento Tanto eacute que Conceiccedilatildeo (2004) discute a ldquoinsustentabilidaderdquo desse conceito na aacuterea ambiental mas pode-se aderir a mesma reflexatildeo quando elucida que o desenvolvimento eacute mais uma tentativa de exploraccedilatildeo do capitalismo sobremodo no campo Ele eacute sem duacutevida uma falaacutecia CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A terra e o trabalho satildeo para o camponecircs a essecircncia da reproduccedilatildeo social da possibilidade de existecircncia e resistecircncia frente agraves determinaccedilotildees do capital que gera riqueza e pobreza na mesma proporccedilatildeo ou mais ainda

Eacute oacutebvio que o camponecircs enfrenta dificuldade de permanecerem na terra como o uso das maacutequinas de agrotoacutexicos do dito desenvolvimento e com isso satildeo obrigados a deixar a terra e migrarem para a cidade na busca de uma melhoria de vida que eacute por ora questionaacutevel Percebe-se portanto que a terra camponesa natildeo se trata de uma ldquoterra de negoacuteciosrdquo mas sim de uma terra que representa condiccedilatildeo de vida

Com o trabalho natildeo eacute diferente Ele representa a materialidade da forccedila do camponecircs em cultivar a sua terra em definir seu tempo e suas funccedilotildees Evidencia-se entatildeo uma autonomia do camponecircs em relaccedilatildeo ao trabalho que lhe confere pois admite-se que tem a liberdade de desempenhar esse exerciacutecio em seu siacutetio com sua famiacutelia de forma coletiva com outros camponeses de sua comunidade Esse trabalho representa a condiccedilatildeo ontoloacutegica para o camponecircs

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A terra e trabalho satildeo sobremodo ameaccedilados por uma falaciosa ideia de desenvolvimento A sociedade alienada vecirc no avanccedilo do capital no campo uma forma de desenvolvimento ndash representado sobretudo pelo agronegoacutecio ndash eacute um fator decisivo para o progresso Eacute loacutegico que o desenvolvimento justo para o camponecircs eacute a autonomia a liberdade a possibilidade de se manter na terra de tirar dela seu sustento de continuar socializando seus costumes e tradiccedilotildees entre outras situaccedilotildees

Entatildeo a partir do momento que os camponeses do municiacutepio de Itabaiana foram ouvidos a partir de entrevistas de registros de memoacuterias que satildeo construiacutedas socialmente possibilitou a presente anaacutelise mostrando como a terra para esses camponeses e como o trabalho satildeo encarados pelos mesmos Entender a importacircncia desses camponeses eacute extremamente relevante pois proporciona a compreensatildeo da formaccedilatildeo territorial de Itabaiana Aleacutem eacute claro de proporcionar clareza das relaccedilotildees sociais espaciais por parte dos pesquisadores que se debruccedilam em averiguar a condiccedilatildeo camponesa valorizando seus costumes tradiccedilotildees o campo e esse sujeito social que eacute histoacuterico e atuante REFEREcircNCIAS CAMPOS Christiane Senhorinha Soares A territorializaccedilatildeo do agronegoacutecio no Brasil In ______ A face feminina da pobreza em meio agrave riqueza do agronegoacutecio Outras Expressotildees Clacso Livros 2011 p 101 - 132 CONCEICcedilAtildeO Alexandrina Luz A Insustentabilidadade do desenvolvimento sustentaacutevel SalvadorBA III Encontro Nacional do Meio Ambiente 2004 p 1 - 13 Disponiacutevel em lt httpsgpectfileswordpresscom201311a-

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insustentabilidadade-do-desenvolvimento-sustentc3a1velpdf gt Acesso em 130617 DAVIS Mike Planeta de Favelas a involuccedilatildeo urbana e o proletariado informal New LeptReview nordm26 abril 2004 Disponiacutevel em lt fileCUsersUsuarioDownloadsMike20Davis20Planeta20de20Favelas20NLR202620March-April202004pdf gt Acesso em 230317 JUacuteNIOR Caio Prado Histoacuteria Econocircmica do Brasil Ed 1a Satildeo Paulo Brasiliense 2006 MARTINS Joseacute de Souza A sujeiccedilatildeo da renda da terra ao capital e o novo sentido da luta pela reforma agraacuteria In ______ Os camponeses e a poliacutetica no Brasil Editora Vozes ed 5 Petroacutepolis 1981 p 151 - 177 ______ Natildeo haacute terra para plantar nesse veratildeo o cerco das terras indiacutegenas e das terras de trabalho no renascimento poliacutetico do campo ndash Petroacutepolis Editora Vozes 1986 SANTOS Joatildeo Pedro Celestino dos DAMACENA Daniel Menezes O ldquovalorrdquo da terra camponesa na contramatildeo do ldquodesenvolvimentordquo Resumo II Congresso Internacional de Educaccedilatildeo (CONEduc-UFS) VII Encontro Nacional de Educaccedilatildeo do Campo e Movimentos Sociais Escola da Terra VII Foacuterum Identidades e Alteridades III Congresso Educaccedilatildeo e Diversidade (CONED-UFS) III Coloacutequio de Estudos Territoriais Mar 2018 SOUSA Ronilson Barboza de A luta pela terra na (contra)matildeo da ordem capitalista uma anaacutelise a partir da realidade do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST)

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In CONCEICcedilAtildeO Alexandrina Luz SANTOS Fabriacutecia de Oliveira (orgs) A natureza imperialista do capital e a falaacutecia do fim da crise Editora UFS Satildeo CristoacutevatildeoSE 2015 p 331 - 356

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O VENENO ESTAacute NA MESA UMA REFLEXAtildeO SOBRE O USO DE VENENOS AGRIacuteCOLAS NOS ALIMENTOS PRODUZIDOS NOS PERIacuteMETROS IRRIGADOS DO MUNICIacutePIO DE ITABAIANASE

Joseacute Davi Ferreira Limasup1

(Graduando em Geografia na Universidade Federal de Sergipe Nuacutecleo de Estudos e Pesquisas em Geografia Filosofia e

Educaccedilatildeo) E mail davi-lima16hotmailcom

Thaiacutes Moura dos Santossup2

(Licenciada em Geografia pela Universidade Federal de Sergipe)

E mail thaissou14hotmailcom

Rosana de Oliveira Santos Batistasup3 (Docente do Departamento de Geografia da Universidade

Federal de Sergipe Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo MPROFCIAMB Nuacutecleo de Estudos e Pesquisas em

Geografia Filosofia e Educaccedilatildeo) E mail rostosgeohotmailcom

RESUMO

O municiacutepio de Itabaiana-Sergipe se apresenta no cenaacuterio estadual como maior produtor de hortaliccedilas no entanto essa produtividade estaacute atrelada aos altos iacutendices de utilizaccedilatildeo dos mais variados tipos de venenos agriacutecolasagrotoacutexicos Nesse contexto objetivou-se analisar a questatildeo agraacuteria em Sergipe procurando compreender a dinacircmica do agronegoacutecio que no estado estaacute ancorado na utilizaccedilatildeo intensiva dos agrotoacutexicos bem como categorizar dados coletados em fontes primaacuterias e secundaacuterias de

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informaccedilotildees sobre morbidade e mortalidade via agrotoacutexicos na produccedilatildeo de alimentos do municiacutepio de Itabaiana Este artigo possui o intento de demostrar a contaminaccedilatildeo por venenos agriacutecolasagrotoacutexicos no municiacutepio de Itabaiana-SE e os processos ideoloacutegicos existentes na produccedilatildeo agriacutecola desse municiacutepio Concluiacutemos que o uso dos venenos agriacutecolasagrotoacutexicos eacute uma constante nos periacutemetros irrigados de Itabaiana-SE Constatamos ainda que existe a utilizaccedilatildeo de venenos dos mais variados graus de toxidade o que resulta em casos de intoxicaccedilotildees e oacutebitos entre os trabalhadores bem como a ocorrecircncia de suiciacutedios O desenvolvimento dessa pesquisa permitiu desvelar problemas ainda pouco conhecidos que eacute a contaminaccedilatildeo humana e do ambiente responsaacutevel por fazer da vivecircncia dos trabalhadores dos periacutemetros irrigados de Itabaiana uma constante problemaacutetica em relaccedilatildeo agrave sauacutede fato que vai aleacutem da realidade local pois os alimentos produzidos nos referidos periacutemetros satildeo comercializados em todo o estado de Sergipe e em mais alguns estados do Nordeste Palavras-chave Alimentos Agrotoacutexicos Sauacutede INTRODUCcedilAtildeO

Segundo (CARSON 1962) desde o surgimento da vida no planeta Terra haacute 45 bilhotildees de anos o ambiente sempre agiu sobre os seres vivos definindo as condiccedilotildees necessaacuterias agrave existecircncia ou natildeo deles Os estudos geoloacutegicos comprovam que as ocorrecircncias de grandes erupccedilotildees vulcacircnicas lanccedilaram no ar grandes quantidades de gases cinzas e vapor de aacutegua gerando uma alteraccedilatildeo na composiccedilatildeo atmosfeacuterica em relaccedilatildeo agrave existente anterior ao evento Os periacuteodos glaciais tambeacutem foram protagonistas na accedilatildeo sobre as formas de vida existentes no planeta Pois associadas a esses dois tipos de eventos geoloacutegicos citados anteriormente estatildeo as extinccedilotildees em massa

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de algumas espeacutecies Continuamente os processos e a dinacircmica da Terra e da atmosfera atuaram e continuam atuando sobre os seres animados residentes no planeta

A partir do seacuteculo XVI houve o rompimento com o paradigma medieval O Medievo ficou conhecido como idade das trevas justamente pelo pouco avanccedilo da produccedilatildeo cientiacutefica devido ao forte domiacutenio ideoloacutegico da Igreja Catoacutelica A partir desse periacuteodo o homem comeccedila a aprofundar os estudos sobre a natureza usando a razatildeo e empiria O avanccedilo da ciecircncia fez com que a relaccedilatildeo entre ser humano e natureza aos poucos comeccedilasse a mudar

A intensificaccedilatildeo da transformaccedilatildeo da natureza em produtos manufaturados fez com que houvesse uma inversatildeo nos papeacuteis a partir daiacute um dentre todos os seres vivos o homem passa a exercer seu domiacutenio ldquoconscienterdquo sobre a natureza Conhecendo a fundo as leis da natureza o grupo detentor da ciecircncia passa a apropriar-se e explorar cada vez mais os recursos naturais transformando-os em mercadorias no modo de produccedilatildeo capitalista

Com a transiccedilatildeo do sistema feudal para o capitalista toda a estrutura da sociedade foi modificada tanto no meio social quanto no poliacutetico e econocircmico A burguesia passa a dominar a poliacutetica e a ciecircncia e todos as instituiccedilotildees do Estado moderno tendo como objetivo favorecer o mercado e acumular capital A estrutura da sociedade capitalista eacute baseada em relaccedilotildees de produccedilatildeo exploraccedilatildeo dos trabalhadores e da natureza e acumulo de capital pela mais-valia ou seja o trabalho natildeo pago Isso promove na sociedade um engessamento das relaccedilotildees e da forma como o homem enxerga a natureza utilizando-a apenas para um fim obter lucro (MARX 2010)

Nesse contexto infere-se que o dualismo presente na relaccedilatildeo sociedade versus natureza eacute

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resultante do processo desigual e combinado do capital Pois a natureza eacute concebida como mercadoria um objeto exterior ao homem e passiacutevel de apropriaccedilatildeo pelo mesmo por meio da teacutecnica (ARAUacuteJO BATISTA p2)

A intensificaccedilatildeo desse processo agora inverso onde o homem age sobre o ambiente de forma muito mais intensa impactando nas diversas formas de vida inclusive na dele mesmo se daacute no seacuteculo XX com a descoberta de substacircncias quiacutemicas que passam a ser usadas para controlar insetos e plantas indesejadas nos campos agriacutecolas do mundo inteiro A induacutestria de agroquiacutemica tem sua gecircnese apoacutes a Primeira Guerra Mundial no momento em que as grandes corporaccedilotildees quiacutemicas internacionais criaram subsidiaacuterias produtoras de agrotoacutexicos que visaram aproveitar as moleacuteculas quiacutemicas desenvolvidas para fins beacutelicos No entanto somente apoacutes a Segunda Guerra Mundial tais produtos passaram a desempenhar papel importante na agricultura com o advento da Revoluccedilatildeo Verde Esta foi a aplicaccedilatildeo de um conjunto de praacuteticas associadas ao uso de insumos agriacutecolas necessaacuterios para assegurar niacuteveis crescentes da produtividade da agricultura baseado no uso intensivo de agrotoacutexicos e fertilizantes sinteacuteticos Os defensores da Revoluccedilatildeo verde pregavam a erradicaccedilatildeo da fome no mundo no entanto infelizmente natildeo resultou nessa falaacutecia Mas serviu para aumentar ainda mais o monopoacutelio burguecircs Os usos em larga escala dessas substacircncias perigosas passaram a contaminar as aacuteguas os solos e os animais e os seres humanos

Em todas as amostras foi detectada a presenccedila de venenos Somente nas caixas drsquoaacutegua puacuteblicas em que a aacutegua jaacute estava armazenada para ser canalizada para as residecircncias foram

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encontrados pelo menos 5 venenos diferentes Em uma delas havia 8 tipos de agrotoacutexico Em alguns pontos de coleta foram detectados mais de 12 agrotoacutexicos diferentes na mesma amostra de aacutegua (LONDRES 2011 p 65)

As consequecircncias de toda essa infecccedilatildeo eacute a movimentaccedilatildeo ilimitada desses materiais mortiacuteferos (Agrotoacutexicos) nos corpos dos seres vivos pois na natureza uns sobrevivem se alimentando dos outros pela cadeia alimentar estando alguns seres contaminados todo o resto estaacute condenado a conviver com a toxidade dentro do proacuteprio corpo A contaminaccedilatildeo vai das plantas agraves entranhas dos animais que se alimentam delas O homem modificou a natureza ao seu modo sem calcular as consequecircncias que isso resultaria O uso de agrotoacutexicos nas plantaccedilotildees contaminou tudo em sua volta e essa contaminaccedilatildeo estaacute se tornando permanentes nos solos aacuteguas e no proacuteprio corpo humano (CARSON 1962)

A agricultura quando voltada para atender as demandas capitalistas de mercado natildeo respeita o tempo da natureza Existe um periacuteodo de desenvolvimento estabelecido para cada coisa por exemplo em algumas espeacutecies de plantas a germinaccedilatildeo da semente o crescimento floraccedilatildeo e frutificaccedilatildeo satildeo fases que demandam certo tempo tudo isso instituiacutedo naturalmente

Como reflete (BOMBARDI 2011) o tempo do capital sobrepotildee o tempo da natureza com a ambiccedilatildeo de acelerar a produccedilatildeo para satisfazer as necessidades criadas pelo mercado e garantir a reproduccedilatildeo capitalista assim mantendo a ordem vigente e transformando os alimentos e trabalhadores em mercadorias Essa eacute a essecircncia do Estado burguecircs que busca sempre a reproduccedilatildeo do capital atraveacutes da grande exploraccedilatildeo

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do trabalho humano e da natureza para dar continuidade ao movimento de seu mecanismo de acumulaccedilatildeo da riqueza produzida consequentemente ocorre a alteraccedilatildeo da relaccedilatildeo sociedadenatureza como condiccedilatildeo sustentadora de sua estrutura

O modo de produccedilatildeo capitalista soacute funciona se houver mercado consumidor e que consuma diariamente mesmo sem necessidade As pessoas satildeo levadas pelo fetiche ou seja o desejo de consumir mesmo sem necessidade que eacute despertado nelas pelas propagandas que satildeo veiculadas nos meios de comunicaccedilatildeo Por isso os bens produzidos satildeo cada vez mais descartaacuteveis para que logo depois que comprado um produto jaacute seja necessaacuterio substitui-lo por outro Assim agrave medida que se produz mais em menos tempo tambeacutem eacute exigido da natureza tal rapidez mesmo ela tendo seu proacuteprio tempo

Foram necessaacuterios centenas de milhotildees de anos para se produzir a vida que agora habita a Terra idades de tempo para que essa vida desenvolvendo-se evoluindo e diversificando-se alcanccedilasse um estado de ajustamento e de equiliacutebrio com o seu meio ambiente O meio ambiente dando conformaccedilatildeo e dirigindo rigorosamente agrave vida que amparava continham elementos que eram ao mesmo tempo hostis e sustentadores (CARSON 1962 p 16)

Ainda para CARSON (1962) ldquoa vida ajustou-se e um equiliacutebrio foi conseguido Porquanto o tempo eacute ingrediente essencial mas no mundo moderno natildeo haacute tempordquo Para que nunca faltem mateacuterias primas provenientes da agricultura as aacutereas de cultivo satildeo aumentadas as sementes modificadas geneticamente e satildeo aplicados venenos para combater as ldquopragasrdquo nas plantaccedilotildees Uma seacuterie de problemas eacute criada a

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partir desse modelo de produccedilatildeo agriacutecola que tem como objetivo contribuir para a fluidez necessaacuteria ao mercado capitalista

O avanccedilo das aacutereas de cultivo destroacutei as florestas no entanto os insetos e plantas que antes viviam naquelas selvas insistem em ficar no local onde sempre viveram agora ocupado pelas grandes plantaccedilotildees Eles passam a serem considerados problemas no desenvolvimento da lavoura (CARSON 1962) essa que eacute destinada ao abastecimento da induacutestria para ser transformada em bens de consumo indo para o mercado gerar lucro para umas poucas pessoas que deteacutem os meios de produccedilatildeo Ou seja problemas satildeo gerados para sustentar uma agricultura que natildeo tem como objetivo alimentar as pessoas com produtos saudaacuteveis e diversificados pois predominam os cultivos de soja milho e cana-de-accediluacutecar e outros commodities para a exportaccedilatildeo Os pequenos produtores tambeacutem entram no jogo do agronegoacutecio natildeo porque queiram mas pelas obrigatoriedades que lhe satildeo impostas Poliacuteticas de creacuteditos rurais satildeo atreladas ao incentivo do uso dos agrotoacutexicos o marketing promovido na miacutedia faz com que os agricultores acreditem no discurso do aumento da produtividade sem que faccedilam anaacutelise alguma das consequecircncias que o uso de tais substacircncias pode provocar Assim passam a serem tambeacutem consumidores dos insumos agriacutecolas gerando mais lucros para as multinacionais do agronegoacutecio

E para que essa produccedilatildeo agriacutecola continue servindo de meio para a acumulaccedilatildeo de capital eacute sustentada a grande problemaacutetica que eacute o uso de substacircncias toacutexicas e letais para expulsar viventes de seus habitats naturais e contaminar os alimentos produzidos Os insetos que sobrevivem agraves cargas de venenos aplicados sobre eles criam resistecircncia aos determinados tipos agrotoacutexicos Deste modo a geraccedilatildeo seguinte natildeo seraacute mais afetada pelos mesmos venenos Assim

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sendo satildeo desenvolvidas novas substacircncias quiacutemicas cada vez mais destrutivas para combater as ldquopragasrdquo que a cada novo borrifo cria nova resistecircncia Eacute a guerra da vida contra a vida (CARSON 1962)

Alguns dos provaacuteveis arquitetos do nosso futuro olham para uma eacutepoca em que seraacute possiacutevel modificar o plasma germinal humano de acordo com planos bem delineados Mas noacutes podemos facilmente estar fazendo isso agora por inadvertecircncia visto que muitas substacircncias quiacutemicas como as radiaccedilotildees provocam mutaccedilotildees nos genes Eacute irocircnico pensar que o Homem possa determinar seu proacuteprio futuro por meio de alguma coisa tatildeo aparentemente trivial como a escolha de um borrifamento contra insetos (CARSON 1962 p 18)

O agronegoacutecio que eacute a representaccedilatildeo do capital na agricultura natildeo deixa a sociedade a par do que estaacute acontecendo do grau de envenenamento de seus produtos que satildeo utilizados na induacutestria alimentiacutecia e que satildeo ingeridos pelas pessoas todos os dias Existem formas de trabalhar a agricultura sem que seja necessaacuterio o uso de substacircncias mortiacuteferas tais como satildeo os agrotoacutexicos Natildeo eacute por falta de conhecimento que se continua a matar a natureza mas por falta de interesse da classe dominante pois eacute destruindo o meio ambiente e escravizando as pessoas que ela manteacutem seu monopoacutelio

Grande parte do conhecimento indispensaacutevel jaacute se encontra disponiacutevel mas noacutes ainda natildeo fazemos uso dele Noacutes treinamos ecologistas nas nossas universidades e ateacute os empregamos nas nossas reparticcedilotildees governamentais mas raramente lhes seguimos os conselhos

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Deixamos que a chuva de morte quiacutemica desabe como se natildeo houvesse alternativa alguma ao passo que a verdade eacute que haacute muitas alternativas ademais o nosso engenho e as nossas aptidotildees logo descobriratildeo muitas alternativas mais desde que se lhes decirc oportunidade para isso (CARSON 1962 p 21)

As poucas pessoas que deteacutem o poder econocircmico e poliacutetico no mundo natildeo se importam com o preccedilo que a Terra e tudo o que nela existe estatildeo pagando pois a ganacircncia pelo acumulo de riquezas parece os deixar ldquocegosrdquo Para eles o que importa eacute o lucro e os recursos naturais que deveriam ser bens comuns agrave toda humanidade aleacutem de estarem sendo muito explorados natildeo satildeo cuidados nem preservados comprometendo o futuro de todas as formas de vida

Todo este risco foi enfrentado ndash para quecirc Os historiadores futuros bem poderatildeo sentir-se admirados em face do nosso distorcido senso das proporccedilotildees Como poderiam seres inteligentes procurar controlar umas poucas espeacutecies natildeo-desejadas por meio de um meacutetodo que pode contaminar todo meio ambiente e que corporifica ameaccedila de enfermidades e de morte ateacute mesmo da sua proacutepria espeacutecie (CARSON 1962 p 19)

Assim o Homem continua a envenenar a natureza pensando talvez que estaacute fora da desgraccedila feita por ele mesmo Envenena-se agrave medida que coloca veneno na terra adoece quando torna as plantas doentias sacrifica o futuro e morre quando mata sua fonte de vida

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USO DE VENENOS AGRIacuteCOLAS NOS PERIacuteMETROS IRRIGADOS DO MUNICIacutePIO DE ITABAIANASE

O municiacutepio de Itabaiana estaacute localizado na regiatildeo central do estado de Sergipe tem uma precipitaccedilatildeo meacutedia anual eacute de 1500 mm quanto agrave temperatura a posiccedilatildeo geograacutefica juntamente com o relevo sem grande expressatildeo em termos altimeacutetricos contribui para que seja regular sem grandes amplitudes oscilando de 24ordm a 25ordmC O municiacutepio estaacute parcialmente inserido no poliacutegono das secas com clima do tipo megateacutermico seco e sub-uacutemido O municiacutepio estaacute inserido em duas bacias hidrograacuteficas a do rio Sergipe e a do rio Vaza Barris Constituem a drenagem principal o rio Jacarecica e os riachos Ribeira e Coqueiro fato que contribui muito para o desenvolvimento das atividades agriacutecolas (CPRM 2002) Sendo que nos uacuteltimos trinta anos Itabaiana foi sede da consolidaccedilatildeo de algumas poliacuteticas territoriais como a construccedilatildeo de trecircs barragens Accedilude da Marcela Jacarecica I e Poccedilatildeo da Ribeira (ver mapa abaixo) Por estas poliacuteticas o municiacutepio tem diversificado sua produccedilatildeo como tambeacutem vem sediando espaccedilos de armazenamento

Eacute o mais importante municiacutepio da microrregiatildeo do Agreste de Itabaiana e apresenta uma das maiores economias do estado com niacutevel elevado de empregos nos setores de serviccedilo induacutestria e comeacutercio A mineraccedilatildeo tambeacutem contribui para a economia com a atividade de lavra de pedreiras Outra atividade importante nesse municiacutepio eacute a fabricaccedilatildeo de blocos e telhas nas olarias A agricultura nesse municiacutepio desempenha um papel fundamental no que se refere a circulaccedilatildeo de alimentos tendo como principais produtos a mandioca batata doce tomate alface coentro quiabo e outras variedades de hortaliccedilas sendo que em quase todos os cultivos haacute a

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utilizaccedilatildeo de agrotoacutexicos Na pecuaacuteria os principais efetivos satildeo os bovinos suiacutenos e ovinos haacute tambeacutem uma criaccedilatildeo muito significativa de galinaacuteceos (CPRM 2002)

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O padratildeo de utilizaccedilatildeo dos agrotoacutexicos eacute disseminado para todas as partes do Brasil e em Sergipe assim como o resto do paiacutes eacute levado a se inserir no modelo atual de produccedilatildeo tanto em velocidade como em forma e por encontrar-se entre os estados que mais utilizam agrotoacutexico seriam necessaacuterias maiores fiscalizaccedilotildees para natildeo permitir o abuso dos venenos poreacutem natildeo eacute isto que acontece (MOURA 2015)

Dentro do contexto do estado de Sergipe o municiacutepio que mais utiliza agrotoacutexico eacute Itabaiana e por ser uma aacuterea de grande exploraccedilatildeo agriacutecola os recursos satildeo muito utilizados permitindo que os solos e plantaccedilotildees sejam ainda mais expostos a produtos nocivos agrave vida humana Assim como existe a dificuldade de no Brasil os alimentos serem produzidos de forma saudaacutevel em Itabaiana esta dificuldade eacute acentuada pelo descaso nas fiscalizaccedilotildees pois aleacutem do trabalho ruinoso que os agricultores vivenciam cotidianamente dos perigos a que estatildeo expostos esses ainda satildeo viacutetimas do modelo de produccedilatildeo dominante (MOURA 2015)

No periacutemetro irrigado do Accedilude da Marcela em Itabaiana os trabalhadores agriacutecolas satildeo constantemente expostos agraves substacircncias quiacutemicas maleacuteficas A necessidade de cumprir a grande demanda por produtos soacute acelera os danos agrave sauacutede deles Apesar dos indiacutecios e sintomas apresentados os trabalhadores natildeo conseguem associa-los aos agrotoacutexicos exatamente pela manipulaccedilatildeo e inibiccedilatildeo das informaccedilotildees que eacute promovida pela miacutedia dominante na sociedade para que as pessoas continuem ignorando os malefiacutecios dessas substacircncias Os trabalhadores se referem aos venenos como se fossem remeacutedios pelo fato de ter sido isto que ouviram refletindo aquilo que lhes foram ensinados e para aleacutem de aprender passarem para outras pessoas a ideia de que os agrotoacutexicos natildeo fazem mal (BATISTA SANTOS 2015) Aleacutem disso muitos dos trabalhadores tecircm uma sensaccedilatildeo de seguranccedila usando os equipamentos de proteccedilatildeo por isso promovem descuidos

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bem como no descarte indevido das embalagens como se o veneno natildeo se espalhasse ou natildeo fosse contamina-los de outras formas sendo ineficaz a utilizaccedilatildeo de equipamentos pois estes natildeo mudam o fato de que aquele veneno vai ser disperso em todo ambiente

No periacutemetro irrigado do Accedilude da Marcela accedilude que fica vizinho agrave sede do municiacutepio haacute a predominacircncia de produtores mais velhos acima de 50 anos estes natildeo datildeo muita importacircncia ao uso do equipamento de proteccedilatildeo individual pois natildeo acreditam que os produtos sejam toacutexicos e perigosos para a sauacutede humana Jaacute alguns dos mais jovens tecircm consciecircncia dos danos poreacutem seguem utilizando de forma inadequada ou natildeo utilizando o Equipamento de Proteccedilatildeo Individual (EPI) assim tambeacutem natildeo datildeo muito creacutedito ao uso da proteccedilatildeo aceitando de maneira consciente as ameaccedilas agrave sauacutede e ao meio ambiente Alguns agricultores tecircm conhecimento dos danos que podem ser causados pela aplicaccedilatildeo dos agrotoacutexicos nas lavouras no entanto natildeo tecircm como fugir da contaminaccedilatildeo pois a atividade agriacutecola representa a renda necessaacuteria agrave sobrevivecircncia da famiacutelia e eles relatam natildeo saberem de outra forma de produzir

Entre as pessoas que trabalham nas plantaccedilotildees do entorno do accedilude da Marcela eacute notoacuterio que a maioria jaacute tem idade acima de 50 anos Associado a isso estaacute tambeacutem a pouca escolaridade dos agricultores sendo um dos motivos que justifica a faacutecil manipulaccedilatildeo de suas opiniotildees em relaccedilatildeo aos venenos agriacutecolas e ldquoaceitaccedilatildeordquo de que natildeo existem perigos no uso desses Pois natildeo tendo acesso a informaccedilotildees verdadeiras sobre os venenos os trabalhadores ficam refeacutens da grande miacutedia (esta que eacute o instrumento de disseminaccedilatildeo das ideias do agronegoacutecio) assim como tambeacutem grande parte das pessoas natildeo ficam a par da nocividade dessas substacircncias

O capital usa de uma estrateacutegia para que os agricultores fiquem refeacutens em toda a cadeia produtiva Essa taacutetica

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materializa-se no Pacote Tecnoloacutegico no qual eacute oferecido aos produtores sementes transgecircnicas fertilizantes quiacutemicos agrotoacutexicos assistecircncia teacutecnica e entre outros produtos que impulsionam a produccedilatildeo e tambeacutem a criaccedilatildeo de leis pelo parlamento por exemplo para que o agricultor acesse poliacuteticas de creacuteditos voltadas para a agricultura nos bancos ele tem que estaacute enquadrado no modelo de produccedilatildeo proposto pelo agronegoacutecio O fetiche da alta produtividade e de lucros maiores faz com que os agricultores se insiram no modelo imposto pelo agronegoacutecio abandonando seus conhecimentos tradicionais que satildeo originalmente de cuidado e respeito ao meio ambiente

O uso de sementes geneticamente modificadas obriga os agricultores a usarem os adubos e venenos que satildeo oferecidos pelo mercado porque existe a dependecircncia por parte das sementes transgecircnicas para com esses componentes quiacutemicos Todo esse processo de dominaccedilatildeo do capital no campo eacute facilitado pelos governantes e principalmente por aqueles que tecircm ligaccedilatildeo com o agronegoacutecio no Brasil (a bancada ruralista no congresso nacional) que atuam pelos proacuteprios interesses e das empresas de agroquiacutemicos que apoiam suas campanhas eleitorais Natildeo haacute outro motivo se natildeo esse para que eles faccedilam uma grande defesa e incentivo ao uso de agrotoacutexicos no paiacutes atacando incessantemente o meio ambiente os povos e comunidades tradicionais Uma das consequecircncias satildeo as intoxicaccedilotildees que satildeo constantes e ao mesmo tempo ignoradas pelo Estado Natildeo existe a perspectiva de que essa populaccedilatildeo estaacute doente pela forma que trabalha natildeo eacute interessante para o Estado o esclarecimento e combate desses problemas mas ao contraacuterio promove o ocultamento tanto das doenccedilas como das causas

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Enquanto isso estaacute ocorrendo os problemas com os

agrotoacutexicos se tornam maiores do que anos atraacutes com relatos de suiciacutedios por consequecircncia destes venenos Como essas substacircncias mexem com o organismo inteiro eacute esperado que acontecessem efeitos neuroloacutegicos tambeacutem mas se o Estado natildeo percebe nem as doenccedilas como o cacircncer pelo uso de agrotoacutexicos eacute suscetiacutevel que ignore os casos de suiciacutedios como fatos isolados e natildeo problema de sauacutede puacuteblica (BATISTA SANTOS p17)

Esses efeitos neuroloacutegicos pelo uso de produtos quiacutemicos ambientais como alumiacutenio mercuacuterio caacutedmio e fluacuteor provocam no organismo uma seacuterie de problemas destrutivos a sauacutede doenccedilas como depressatildeo (que vai influenciar diretamente no suiciacutedio) esquizofrenia transtornos

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de ansiedade insocircnia autismo e entre muitas outras que estatildeo em estados progressivos (SENEFF SWANSON LI 2015)

O aumento de substacircncias nocivas como o glifosato proporciona uma seacuterie de mudanccedilas negativas no organismo mesmo em longo prazo que consolidam ainda mais este adoecimento da populaccedilatildeo que natildeo se restringe apenas a um estado ou paiacutes mas que eacute uma realidade de muitos Estados industrializados Haacute uma interaccedilatildeo do glifosato com o alumiacutenio que suscitam em muitas dessas doenccedilas mas principalmente na insocircnia anemia e o autismo Portanto se apenas uma substacircncia jaacute tem efeitos nocivos no organismo o conjunto de todas as substacircncias utilizadas no ambiente tem um efeito ainda mais pernicioso as reaccedilotildees no organismo com substacircncias toacutexicas provocam reaccedilotildees quiacutemicas principalmente no ceacuterebro e iratildeo se dispersar por todo sistema orgacircnico (SENEFF SWANSON LI 2015)

O efeito agravante acontece na glacircndula Pineal responsaacutevel por secretar a melatonina hormocircnio responsaacutevel pela regulaccedilatildeo dos ritmos do corpo (ciclo circadiano) reloacutegio bioloacutegico e o sono eacute diretamente afetada com relaccedilatildeo agrave insocircnia que o glifosato juntamente com o alumiacutenio provocam esta natildeo consegue cumprir a tarefa de regular o sono e o organismo tem uma seacuterie de reaccedilotildees por falta de um reloacutegio bioloacutegico saudaacutevel o que aleacutem da insocircnia pode promover um quadro depressivo (SENEFF SWANSON LI 2015)

Satildeo a esses riscos que os trabalhadores dos periacutemetros irrigados de Itabaiana estatildeo expostos E no entanto natildeo existe sequer uma accedilatildeo do Estado no tocante a conscientizaccedilatildeo e promoccedilatildeo de cuidados com a sauacutede das pessoas que estatildeo inseridas num contexto de maior contato com os venenos agriacutecolas no referido municiacutepio sergipano RESULTADOS

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Os processos domesticadores que satildeo desenvolvidos pela parcela da sociedade que domina e se beneficia com o comeacutercio dos agrotoacutexicos satildeo notoacuterios nas falas e accedilotildees de muitos dos trabalhadores nas plantaccedilotildees dos periacutemetros irrigados de Itabaiana A maneira como eles pensam falam e agem em relaccedilatildeo aos venenos agriacutecolas mostra como os processos ideoloacutegicos satildeo usados para fazer com que eles tenham uma visatildeo ingecircnua da proacutepria realidade Somente estando sob o julgo de manipulaccedilotildees das informaccedilotildees sobre os agrotoacutexicos eacute que os agricultores de tal municiacutepio podem acreditar que venenos agriacutecolas sejam remeacutedios

Pode-se analisar na fala de um dos trabalhadores que ele demostra conhecer os riscos agrave que os agrotoacutexicos o expotildee mas ao mesmo tempo relata atitudes contraditoacuterias tal como ter o equipamento de proteccedilatildeo individual e natildeo utiliza-lo por completo Outro ponto que se pode observar eacute a natildeo leitura da bula que consta nas embalagens

ldquoEu tenho o EPI neacute Eu utilizo macacatildeo A maacutescara eu natildeo gosto muito natildeo eu natildeo se acostumo mas uso a maacutescara tambeacutem Eacute difiacutecil eacute raro ler a bula eacute porque a gente que peleja com qualquer coisa se vocecirc trabalha com aquilo vocecirc jaacute sabe que tem um limite de colocar Aiacute as vezes vem as pessoas que satildeo estudadas que estuda tal aiacute diz natildeo eacute pra colocar esse tanto Mas a gente peleja aiacute com isso muitos anos sabe que com aquela dose faz efeito aiacute a gente nem procura saber a gente jaacute sabe o jeito da gente trabalhar mesmo que aquela quantidade que a gente utiliza serverdquo ldquonatildeo pra sauacutede natildeo pra sauacutede eu acredito que veneno nenhum Jaacute tem o nome veneno neacute Eu acredito que veneno nenhum eacute bom pra sauacutede Jaacute tem o nome veneno E tem o nome toacutexico neacute Eu acredito

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que veneno nenhum eacute bom pra sauacutede Neacute Mas eu acredito que tem gente que se prejudica mais raacutepido de que outros Porque tem o organismo depende do organismo Por aqui eu natildeo conheccedilo ningueacutem que se prejudicou por aqui natildeo Eu vejo falar no raacutedio que algueacutem jaacute se prejudicou utilizando veneno por causa do veneno porque natildeo se daacute com aquele veneno aiacute passa mal mas aqui nessa regiatildeo nunca vi falar natildeordquo (Entrevistado 10)

Esse agricultor se mostra ciente dos danos que os agrotoacutexicos podem causar a sauacutede mas natildeo acredita que os prejuiacutezos afetam as pessoas de maneira similar para ele depende da singularidade de cada um sendo o que define o grau de risco agrave contaminaccedilatildeo Sobre a utilizaccedilatildeo do EPI temos as informaccedilotildees dispostas no graacutefico abaixo

Muitos dos agricultores do periacutemetro irrigado do accedilude

da Marcela natildeo associam as doenccedilas os mal-estares e os transtornos psicoloacutegicos agrave exposiccedilatildeo e contato com os agrotoacutexicos Sobre casos de suiciacutedios na regiatildeo dos periacutemetros

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irrigados do municiacutepio de Itabaiana alguns dos trabalhadores que foram entrevistados comentaram

ldquoVeneno De vez em quando a gente ver uns querendo tomar veneno Neacute Tem gente que toma Morreu um uns tempos desse aiacute no bairro Bananeirardquo (Entrevistado 5) ldquoJaacute soube do caso laacute da outra barragem o cara tomou mas tomou porque queria mesmordquo (Entrevistado 8) ldquoTomando os venenos neacute Jaacute Natildeo aqui nessa regiatildeo Nunca soube que ningueacutem morreu em tomar veneno mas teve outras regiotildees por aiacute que sim Eu jaacute ouvir falar no raacutedio que jaacute utilizaram o veneno para se matarrdquo (Entrevistado 10)

A maioria dos venenos utilizados nas plantaccedilotildees dos periacutemetros irrigados de Itabaiana apresentam altos niacuteveis de toxidade (apresentados no quadro abaixo) tais como satildeo o Dithane que eacute um fungicidaacaricida produzido pela empresa Dow e estaacute classificado como extremamente toacutexico e o Cypitrin um inseticida produzido pela Sanachen e assim como o veneno anterior apresenta classificaccedilatildeo toxicoloacutegica I ou seja extremamente toacutexico Ainda assim alguns agricultores repetem o discurso de que os venenos satildeo fracos e natildeo satildeo nocivos nem a sauacutede nem ao meio ambiente

ldquoO veneno que utiliza aqui eacute fraco Eacute fraquinho eacute soacute para natildeo queimar a folha do coentrordquo (Entrevistado 2) ldquoAssim quem informa noacutes eacute eles laacute eles laacute tecircm os agrocircnomos laacute pronto Soacute que assim eacute carecircncia baixa sem ser que natildeo prejudica muitordquo (Entrevistado 4)

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Esses problemas satildeo acentuados com as constantes intoxicaccedilotildees que satildeo muito comuns entre os agricultores pois estatildeo muitas vezes em contato direto com as substacircncias desde o preparo da mistura que eacute colocada nos pulverizadores ateacute a aplicaccedilatildeo na lavoura Sobre as intoxicaccedilotildees as falas dos trabalhadores mostradas abaixo revelam o quanto eacute danoso agrave sauacutede o contato dos seres humanos com os venenos agriacutecolas

ldquoQuando eu trabalhava laacute em Propriaacute eu comecei a trabalhar pulverizando milho repolho essas coisas Eacute porque esses venenos de hoje que a gente usa aqui natildeo eacute que nem esses venenos que eu passava laacute em Propriaacute Aquele Politrin na eacutepoca tatildeo forte que ele era na hora que ele batia no coro da pessoa ele queimava Teve uma vez que eu tava passando numas dez tarefas de milho mais meu patratildeo aiacute nisso ele conversando mais eu aiacute o poacute do veneno entrou na boca entrou natildeo sei como

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foi aquilo Mim deu aquela tontura eu caiacute com bomba com tudo eu natildeo morri porque Eu fui pro hospital natildeo tinha nem soro A sorte foi que eu tava com um dinheiro em caixa neacute Eu tava com mil reais emprestado de um colega meu natildeo morri por causa desse dinheiro porque senatildeo eu tinha morrido Porque o patratildeo nem assistecircncia deu E eu com dez anos de trabalha agrave elerdquo (Entrevistado 1) ldquoEu tava ali cortando uma salsinha ali Se eu natildeo mim engano foi numa quinta-feira aiacute tava comeccedilando a chover e eu tava colocando um farelo no coentro farelo desses de daacute raccedilatildeo a gado pra o cachorrinho natildeo comer a semente Aiacute eu usei um veneno chamado Folisuper servia pra matar o cachorrinho pra natildeo comer as sementes do coentro Depois que eu botei o farelo com chuva chonendo neacute Quando cheguei em casa ave Maria mim arriei na hora Fui pro hospital o meacutedico perguntou em que eu trabalhava eu disse trabalho em siacutetio Ele perguntou vocecirc utilizou agrotoacutexico Eu disse Utilizei Depois disso pra caacute eu nunca mais peguei em veneno Hoje a gente usa soacute um veneno baacutesico fraquinho Nesse dia eu senti tontura dor de cabeccedila terriacutevel ave Maria eu passei foi ruim (Entrevistado 2)

No que se refere as embalagens estas satildeo descartadas sem muito cuidado isso associado a outras irregularidades soacute contribui no aumento de intoxicaccedilotildees natildeo soacute em Itabaiana mas em todo o Brasil Apesar de uma pequena maioria dos trabalhadores afirmarem que faz a devoluccedilatildeo das embalagens dos agrotoacutexicos para que sejam descartadas corretamente natildeo eacute bem essa a realidade no periacutemetro irrigado do accedilude da Marcela Eacute corriqueiro ver embalagens jogadas agraves margens das estradas nas aacutereas de cultivo em galpotildees e nos arredores das casas dos agricultores Aleacutem dos descartes indevidos das

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embalagens dos venenos por natildeo compreenderem e natildeo serem alertados da gravidade das consequecircncias que o uso dos agrotoacutexicos provoca na sauacutede e na natureza alguns trabalhadores tambeacutem natildeo datildeo a devida importacircncia ao Equipamento de Proteccedilatildeo Individual (EPI) Percebemos que muitos fatores favorecem o agravamento da situaccedilatildeo que jaacute eacute de risco dos trabalhadores do campo de Itabaiana Embalagens descartadas irregularmente no periacutemetro irrigado do accedilude da Marcela em ItabaianaSE

Fonte Trabalho de campo 02102017 Foto Joseacute Davi Ferreira Lima 2017

Nesse processo eacute perceptiacutevel a violecircncia que o homem do campo sofre desde o descaso com a sauacutede ao descaso em esclarecer e informaacute-lo Sendo essas as realidades dos trabalhadores dos periacutemetros irrigados de Itabaiana bem como de todos do paiacutes vivem sem saber dos riscos que correm e isso vai aleacutem de quem trabalha atingindo todos que consomem os alimentos contaminados pelos produtos toacutexicos que satildeo utilizados na agricultura Enquanto todo esse descaso acontece os iacutendices de suiciacutedios por agrotoacutexicos soacute aumentam

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e os casos de intoxicaccedilotildees se alastram entre os trabalhadores E os indiviacuteduos afetados direta eou indiretamente por consequecircncias do modelo de produccedilatildeo agriacutecola proposto pelo agronegoacutecio tornam-se apenas mais nuacutemeros para as estatiacutesticas CONCLUSAtildeO

Compreender a dinacircmica do agronegoacutecio no estado de Sergipe e os processos ideoloacutegicos impregnados nesse modelo de produccedilatildeo agriacutecola e a forma que a ideologia eacute utilizada para manipular as pessoas desde as que produzem agraves que consomem diariamente os alimentos envenenados eacute a forma mais eficaz de promover mudanccedilas na estrutura do sistema econocircmico este que causa grande degradaccedilatildeo para beneficiar as classes dominantes da sociedade Eacute atraveacutes do conhecimento que se pode ir de encontro aos problemas que satildeo causados aos seres humanos e ao meio ambiente pelo uso intensivo de agrotoacutexicos na produccedilatildeo de alimentos

O grande aparato que eacute montado para que o agronegoacutecio continue a escravizar os povos camponeses degradar o meio ambiente e contaminar com substacircncias perigosas quase que todos os seres do planeta tem o apoio do Estado que natildeo busca o bem estar social mas a manutenccedilatildeo do monopoacutelio burguecircs juntamente com a grande miacutedia que tambeacutem estaacute a serviccedilo da classe dominante Juntos Estado e miacutedia promovem apoio legal e midiaacutetico manipulador respectivamente agraves empresas produtoras de venenos e outros agroquiacutemicos e aos latifundiaacuterios monocultores Os camponeses natildeo ficam fora desse modelo de produccedilatildeo pois para eles satildeo impostos de vaacuterias maneiras os pacotes tecnoloacutegicos para o capital o que importa eacute que eles estejam

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consumindo seus insumos agriacutecolas (fertilizantes agrotoacutexicos e outros)

Assim a problemaacutetica que eacute o uso indiscriminado de agrotoacutexicos nos periacutemetros irrigados de ItabaianaSE e em outras aacutereas de cultivos do Brasil natildeo deve ser somente uma preocupaccedilatildeo dos agricultores sendo estes que satildeo os mais afetados por estarem em contato direto com os agrotoacutexicos mas de toda a sociedade brasileira que estaacute sujeita a consumir alimentos envenenados Pois alimento natildeo deve ser tratado como raccedilatildeo nem como comida envenenada mas como fonte de vida e que gere sauacutede para as pessoas produzidos agroecologicamente e de forma soberana diferente dos oferecidos pelo agronegoacutecio esses que soacute causam doenccedilas e mortes

REFEREcircNCIAS ARAUJO Ronaldo Marcos de Lima A Respeito da Centralidade do Trabalho Universidade Federal de Minas Gerais 200- BATISTA R O S Natureza e Sociedade as contribuiccedilotildees de Rousseau acerca da moral e da eacutetica ambiental Satildeo Cristoacutevatildeo 2009 BOMBARDI Larissa Mies Intoxicaccedilatildeo e morte por agrotoacutexicos no Brasil a nova versatildeo do capitalismo oligopolizado Boletim DATALUTA 2011 CARNEIRO F F ET (org) Dossiecirc ABRASCO um alerta sobre os impactos dos agrotoacutexicos na sauacutede Satildeo Paulo Expessatildeo Popular 2015

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CARSON Raquel Primavera silenciosa Satildeo Paulo Gaia 2010 INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA ndash IBGE IBGE Cidades Brasil 2017 LONDRES Flavia Agrotoacutexicos no Brasil um guia para accedilatildeo em defesa da vida ndash Rio de Janeiro AS-PTA ndash Assessoria e Serviccedilos a Projetos em Agricultura Alternativa 2011 MARX Karl O Capital criacutetica da economia poliacutetica Livro I Vol I Trad Reginaldo SantacuteAnna 27ordf ediccedilatildeo Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 2010 MOURA Thaiacutes dos Santos Dinacircmica espacial do uso de agrotoacutexicos em sergipe e os impactos na sauacutede do trabalhador Programa Institucional de Bolsas de Iniciaccedilatildeo Cientiacutefica ndash PIBIC Universidade Federal de Sergipe 2015 SANTOS Clecircane Oliveira dos Territoacuterios e espaccedilos vividos no municiacutepio de ItabaianaSE Ateliecirc Geograacutefico Goiacircnia-GO v 3 n 3 dez2009 pp152-174 SENEFF Stephenie SWANSON Nancy LI Chen Alumiacutenio and glyphosate iacutendice pineal gland pathology cannection tocirc gut dysbiosis and neurological disease Agricultural Sciences Vol 6 nordm 01 2015 SERVICcedilO GEOLOacuteGICODO BRASIL Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais ndash CPRM Brasil 2002

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OS DESDOBRAMENTOS DA ALIMENTACcedilAtildeO ESCOLAR EM TEMPOS DE GOLPE

Faacutebio Ferreira Santossup1

(Universidade Federal da Paraiacuteba) (Doutorando em Geografia)

E mail fabinhoufsgmailcom

Maria Franco Garciasup2 (Universidade Federal da Paraiacuteba)

(Professora e Orientadora do programa de poacutes-graduaccedilatildeo em Geografia)

E mail mmartillogmailcom RESUMO

As contradiccedilotildees do sistema capitalista nos impotildeem a pensar as transformaccedilotildees no espaccedilo geograacutefico de forma dialeacutetica A conjuntura atual em que vivemos no Brasil nos permite compreender que as poliacuteticas puacuteblicas em especial o Programa Nacional de Alimentaccedilatildeo Escolar (PNAE) insere-se numa fase de extrema delicadeza no que diz respeito ao seu gerenciamento Nesse sentido pensar na produccedilatildeo de alimentos do campesinato para este programa nos permite entender a relaccedilatildeo Estado-camponecircs num momento de incerteza Dessa forma as mudanccedilas no PNAE no decorrer dos seus sessenta e dois anos de existecircncia fazem parte das transformaccedilotildees capitalistas que subordina as relaccedilotildees econocircmicas no territoacuterio Contudo a resistecircncia camponesa e sua loacutegica produtiva vatildeo de encontro a esse modelo de desenvolvimento e nos oferenda a pensar uma sociedade melhor e justa Assim diante do golpe de Temer no paiacutes e os retrocessos na poliacutetica agraacuteria e agriacutecola o camponecircs continua

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resistindo e se recriando nas diferentes lutas pela terra e pela reproduccedilatildeo de sua famiacutelia Palavras-chave Golpe Campesinato poliacuteticas puacuteblicas INTRODUCcedilAtildeO

Este texto traz reflexotildees acerca do Programa nacional de alimentaccedilatildeo escolar nos seus 62 anos de existecircncia destacando se suas transformaccedilotildees ao longo de deacutecadas Todavia a conjuntura poliacutetica atual nos referenda a pensar estrateacutegias de resistecircncias diante o golpe poliacutetico instaurado no paiacutes Nesse aspecto os retrocessos nas poliacuteticas puacuteblicas para o campo atraveacutes da extinccedilatildeo do ministeacuterio do desenvolvimento agraacuterio e da suspensatildeo da assistecircncia teacutecnica rural tiveram rebatimentos significativos na agricultura camponesa

Nesse aspecto o meacutetodo dialeacutetico e as pesquisas bibliograacuteficas nos impulsionaram a explicar as contradiccedilotildees na conjuntura poliacutetica atual e seus desdobramentos para o campo

O PNAE faz parte de um dos eixos de acesso aos alimentos no qual estaacute inserido dentro da poliacutetica nacional de seguranccedila alimentar e nutricional (PNSAN) desde o ano de 2005 Para tal o contexto em que se insere o PNAE no Brasil deve ser posto em evidencia para que fique claro o programa e sua atuaccedilatildeo

Alguns autores no dar suporte teoacuterico nas anaacutelises do PNAE como Carvalho e Castro (2009) Belik (2006) Coimbra (1982) Fialho (1993) Costa (2001) Sturion (2003) entre outros que nos mostram que o programa nacional de alimentaccedilatildeo escolar tem possibilitado aos camponeses a permanecircncia na terra e que o PNAE eacute o mais antigo programa social do Governo Federal na aacuterea de educaccedilatildeo e eacute o maior programa de alimentaccedilatildeo em atividade no Brasil

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Nesse acircmbito a importacircncia do PNAE para a educaccedilatildeo eacute de extrema importacircncia pois visa a merenda escolar Segundo Carvalho e Castro (2009)

O Programa Nacional de Alimentaccedilatildeo Escolar (PNAE) foi criado em 1979 mas somente com a promulgaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo Cidadatilde em 1988 foi assegurado o direito agrave alimentaccedilatildeo escolar a todos os alunos do ensino fundamental como programa suplementar agrave poliacutetica educacional Logo na primeira metade da deacutecada de 1990 os formulados foram totalmente abolidos dos cardaacutepios (CARVALHO CASTRO 2009 p3)

Nesse sentido O PNAE vincula-se como um programa suplementar a poliacutetica educacional uma vez que direciona a produccedilatildeo de alimentos da agricultura para a alimentaccedilatildeo escolar

Historicamente o ano de 2016 foi marcado pelas contradiccedilotildees e resistecircncia na poliacutetica brasileira O golpe poliacutetico que resultou no impeachment de Dilma Rousseff assegurou as elites dominantes deste paiacutes no poder A forjaccedilatildeo de pedaladas fiscais e de irregularidades durante a gestatildeo da presidenta (2011 a 2016) marcaram um cenaacuterio poliacutetico contraditoacuterio de retrocessos significativos para a sociedade

No espaccedilo agraacuterio a tomada de poder pelo Golpista Michel Temer foi aclamada como um retrocesso nas discussotildees das poliacuteticas puacuteblicas para o campo Diante desse contexto os avanccedilos conquistados pelo Programa Nacional de Alimentaccedilatildeo Escolar nos uacuteltimos 10 anos foram rapidamente deteriorados pela bancada ruralista no Congresso Nacional

Nesse acircmbito a contextualizaccedilatildeo do programa ao longo de seus 62 anos de existecircncia e principalmente a partir de 2010 torna-se essencial para entendermos a relaccedilatildeo do

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campesinato com o PNAE Por ser um programa direcionado a aquisiccedilatildeo de alimentos a alimentaccedilatildeo escolar se tornou nos uacuteltimos 7 anos um mercado institucional para o campesinato Dessa forma a aprovaccedilatildeo da lei 11947 em 2009 prevecirc em seu art 14

Do total dos recursos financeiros repassados pelo FNDE no acircmbito do PNAE no miacutenimo de 30 (trinta por cento) deveratildeo ser utilizados na aquisiccedilatildeo de gecircneros alimentiacutecios diretamente da agricultura familiar e do empreendedor familiar rural ou de suas organizaccedilotildees priorizando-se os assentamentos da reforma agraacuteria as comunidades tradicionais indiacutegenas e comunidades quilombolas (BRASIL FNDE 2012)

Observa-se que a lei tem avanccedilos para o campesinato uma vez que objetiva fomentar a aquisiccedilatildeo de alimentos a agricultura camponesa proporcionando aos alunos da rede puacuteblica uma alimentaccedilatildeo saudaacutevel equilibrada Nesse aspecto o PNAE tem como objetivo atender as necessidades nutricionais dos alunos durante sua permanecircncia em sala de aula contribuir para o crescimento o desenvolvimento a aprendizagem e o rendimento escolar dos estudantes aleacutem de promover a formaccedilatildeo de haacutebitos alimentares saudaacuteveis (FNDE 2012)

Apesar disso a partir do golpe de 2016 as poliacuteticas puacuteblicas vecircm sofrendo alteraccedilotildees significavas atraveacutes de medidas provisoacuterias e a extinccedilatildeo do Ministeacuterio do Desenvolvimento Agraacuterio (MDA) Tais medidas contra a agricultura camponesa significam retrocessos para o campo

Dessa forma iremos suscitar o PNAE e suas faces no campo em seu processo histoacuterico de implementaccedilatildeo e consolidaccedilatildeo para que possamos entender a conjuntura atual

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de golpe e desmonte das poliacuteticas puacuteblicas de produccedilatildeo de alimentos pelo campesinato O PNAE E SUAS FACES NO CAMPO

O surgimento da Alimentaccedilatildeo Escolar no territoacuterio brasileiro estaacute ligado a poliacutetica de assistencialismo Surgido no iniacutecio do seacuteculo XX a merenda escolar estava alicerccedilada pelos programas de combate agrave fome e a pobreza no Brasil

As primeiras experiecircncias brasileiras efetivas de oferta de alimentaccedilatildeo escolar eram de caraacuteter beneficente e natildeo constituiacuteam campo de intervenccedilatildeo do Estado Destaca-se como exemplo a Caixa Escolar (embriatildeo da Associaccedilatildeo de Pais Amigos e Mestres-Apams) que passou a mobilizar a atenccedilatildeo para o tema (CARVALHO amp CASTRO 2010 p 2)

A partir de 1930 os movimentos sociais passaram a pressionar o governo com atos puacuteblicos exigindo accedilotildees do Estado para os problemas da fome e pobreza que assolavam o Brasil no qual teve repercussotildees anos seguintes no governo populista de Vargas no qual se iniciava as primeiras accedilotildees relacionadas a alimentaccedilatildeo no pais

Data de 1942 o desenvolvimento de um dos primeiros programas de alimentaccedilatildeo Tratava-se de um programa idealizado pelo Dr Dante Costa que partira de um inqueacuterito nutricional de crianccedilas em idade escolar e resultou no ldquoserviccedilo de desjejum escolarrdquo [] Aberto gratuitamente para mil crianccedilas filhos de trabalhadores requeria o comparecimento da crianccedila para receber a merenda natildeo permitia que a crianccedila tivesse acesso a outro lanche e ainda tinha data regularmente marcada para

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acompanhamento meacutedico O Desjejum consistia em um sanduiche um copo de leite e uma fruta (BITTENCOURT 2007 p63)

Apesar de serem iniciativas isoladas os primeiros programas de alimentaccedilatildeo na escola dariam bases para que o governo populista de Vargas comeccedilasse a se preocupar com a educaccedilatildeo e com a merenda escolar Nesse sentido natildeo podemos deixar de enfatizar que o periacuteodo populista no paiacutes foi influenciado pelas ideias de Josueacute de castro no acircmbito dos programas de combate agrave fome e a pobreza

A frente do SAPS Josueacute de Castro passa a observar os problemas da fome e da maacute distribuiccedilatildeo de alimentos no paiacutes de maneira mais abrangente Para Castro (1977) ldquoO SAPS tinha como objetivo assegurar condiccedilotildees favoraacuteveis e higiecircnicas agrave alimentaccedilatildeo dos segurados dos Institutos e Caixas de Aposentadorias e Pensotildees subordinados ao Ministeacuterio do Trabalho Induacutestria e Comeacuterciordquo (CASTRO 1977 p195)

Apoacutes o fim do Estado Novo (1937-1945) Gaspar Dutra assumi a presidecircncia do Brasil em 1946 e sua poliacutetica alimentar natildeo ocorreu avanccedilos significativos na educaccedilatildeo De acordo com Teixeira (2008)

Sua poliacutetica de alimentaccedilatildeo fazia parte do que se chamou plano SALTE que se constituiu tambeacutem numa tentativa de planejamento governamental Este plano revia um grande investimento em quatro aacutereas Sade Alimentaccedilatildeo Transporte e Energia Os recursos viriam da Receita Federal e de empreacutestimos externos Poreacutem este plano foi logo abandonado por falta de recursos (TEIXEIRA 2008 p19)

Embora o governo de Gaspar Dutra retomasse a democracia no paiacutes sua gestatildeo significou um retrocesso nas

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poliacuteticas puacuteblicas pois prosseguiu o pacto com as classes dominantes mantendo o conservadorismo poliacutetico nas matildeos das elites brasileiras

Na deacutecada de 1950 o paiacutes despunha-se com programas assistencialistas para manipular e alienar a sociedade as oligarquias e elites brasileiras Eacute nesse periacuteodo foi elaborado um abrangente Plano Nacional de Alimentaccedilatildeo e Nutriccedilatildeo denominado Conjuntura Alimentar e o Problema da Nutriccedilatildeo no Brasil Eacute nele que pela primeira vez se estrutura um programa de merenda escolar em acircmbito nacional sob a responsabilidade puacuteblica

No ano de 1965 a CNME foi reformulada atraveacutes do Decreto nordm 56886 de 20091965 no qual altera o nome de CNME para Campanha Nacional de Alimentaccedilatildeo Escolar (CNAE) As alteraccedilotildees previstas no decreto permitiram ao governo brasileiro um elenco de programas atraveacutes da ajuda norte-americana como alimentos para paz financiado pela agencia dos Estados Unidos para o desenvolvimento internacional (USAID) O Programa Mundial de Alimentos (PMA) da organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) para a agricultura e a alimentaccedilatildeo (FAOONU) o Programa de alimentos para o desenvolvimento voltado ao atendimento das populaccedilotildees carentes e a alimentaccedilatildeo de crianccedilas em idade escolar

A deacutecada de 1970 foi marcada pela participaccedilatildeo prioritaacuteria de gecircneros comprados nacionalmente com o consequente crescimento de vaacuterias empresas nacionais fornecedoras de alimentos configurando uma terceira etapa desse processo A partir daiacute os alimentos formulados como sopas e mingaus ndash produzidos pelas induacutestrias alimentiacutecias passam a ter presenccedila marcante na cesta de produtos da alimentaccedilatildeo escolar (PEIXINHO 2013 p911)

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No ano de 1981 eacute criado o Instituto Nacional de Assistecircncia ao educando (INAE) que passa a gerenciar o PNAE ateacute o ano de 1983 quando o governo decreta a lei Nordm 7091 e eacute criado a Fundaccedilatildeo de assistecircncia ao estudante (FAE) resultante da fusatildeo da Fundaccedilatildeo Nacional do Material Escolar (FENAME) com o INAE

Ao longo de deacutecadas os objetivos do PNAE permaneceram os mesmos apesar de algumas mudanccedilas organizacional Somente com a promulgaccedilatildeo da constituiccedilatildeo de 1988 eacute que o PNAE passa a modificar suas accedilotildees e estrateacutegias na distribuiccedilatildeo de alimentos para a escola

CONSTITUICcedilAtildeO DE 1988 TRANSFORMACcedilOtildeES NO PNAE E SEUS REBATIMENTOS NO CAMPO

A deacutecada de 1980 eacute marcada pelas contradiccedilotildees no

territoacuterio brasileiro A efervescecircncia das lutas no campo e na cidade expressam a insatisfaccedilatildeo com o regime militar Esse momento histoacuterico revela que era preciso eleiccedilotildees diretas para que o paiacutes saiacutesse da crise poliacutetico-econocircmica que assolava a sociedade brasileira

Desde o iniacutecio de sua criaccedilatildeo ateacute o ano de 1988 o PNAE manteve sua poliacutetica assistencialista Caracterizado pela centralizaccedilatildeo todas as decisotildees referentes a alimentaccedilatildeo escolar eram tomadas pela esfera federal antes de chegar aos Estados e municiacutepios Esse centralismo administrativo autoritaacuterio natildeo permitia uma participaccedilatildeo efetiva dos que eram favorecidos pela PNAE

A poliacutetica de alimentaccedilatildeo durante a Nova Repuacuteblica (1985-1990) previa os seguintes programas foram previstos para 1986 os seguintes programas PSA - Programa de suplementaccedilatildeo alimentar e o PNAE com o apoio aos programas de creches e ao programa nacional do leite para

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crianccedilas carentes Estas accedilotildees passaram a ser prioridades no que se refere a alimentaccedilatildeo e nutriccedilatildeo no paiacutes

Com a promulgaccedilatildeo da constituiccedilatildeo de 1988 assegurou-se o direito universalizado agrave alimentaccedilatildeo escolar a todos os alunos do ensino fundamental a ser oferecido pelo governo Federal estadual e os municiacutepios

O PNAE tem sua base legal no artigo 205 incisos IV e VII do artigo 208 da constituiccedilatildeo federal assumindo como princiacutepios a universalidade do atendimento e a equidade agrave alimentaccedilatildeo escolar gratuita No inciso IV ldquoeducaccedilatildeo infantil em creche e preacute-escolar agraves crianccedilas ateacute 5 (cinco) anos de idaderdquo (Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil de 1988 ndash art 205)

O governo de Fernando Collor de Mello eacute marcado pelo pioneirismo na introduccedilatildeo das poliacuteticas neoliberais e na abertura do mercado interno obedecendo aos ditames do capital presentes no consenso de Washington Essas medidas aprofundaram as desigualdades sociais aumentando as contradiccedilotildees no territoacuterio brasileiro

Ao assumir a presidecircncia do Brasil Itamar Franco percebe que os movimentos sociais estavam com a bandeira de luta acenando para mudanccedila na conjuntura poliacutetico-econocircmica brasileira No campo da alimentaccedilatildeo

Os movimentos sociais como o da ldquoAccedilatildeo da cidadania contra a fome a miseacuteria e pela vidarsquorsquo liderada pelo socioacutelogo Betinho reforccedilavam a expectativa de os cidadatildeos poderem ter maior poder de influecircncia na implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas incluindo a alimentaccedilatildeo (TEIXEIRA 2008 p40)

As manifestaccedilotildees sociais forcaram o governo de Itamar Franco em 18 de marccedilo de 1993 a assumir o compromisso de implementar uma poliacutetica nacional de seguranccedila alimentar e

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sequentemente constituir um Conselho Nacional de Seguranccedila Alimentar (CONSEA) Embora as accedilotildees do Estado busquem tentativas de suprir as necessidades alimentares da populaccedilatildeo brasileira o modelo de agricultura voltado para o agronegoacutecio sucumbe qualquer projeto de combate agrave fome e a pobreza no paiacutes

Desde sua criaccedilatildeo ateacute o ano de 1993 o PNAE manteve seu sistema de execuccedilatildeo de forma centralizada atrelado ao governo Federal no qual o oacutergatildeo gerenciador do programa planejava os cardaacutepios contratava laboratoacuterios para o controle de qualidade alimentar adquiria gecircneros alimentiacutecios atraveacutes de licitaccedilotildees e responsabilizava pela distribuiccedilatildeo dos alimentos

Essa forma de gerenciamento do PNAE perpetuou ateacute 1994 quando o governo Federal institui a Lei nordm 8913 de 12 de julho de 1994 onde o programa passava a ser descentralizado adquirindo uma nova configuraccedilatildeo no acircmbito alimentar O processo de descentralizaccedilatildeo da alimentaccedilatildeo escolar ocorre atraveacutes do repasse dos recursos do PNAE para os Estados Distrito Federal e Municiacutepios Isso implica num novo arranjo espacial do programa visto as mudanccedilas no gerenciamento e execuccedilatildeo do Programa

O governo de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) eacute mercado pela poliacutetica neoliberal onde a poliacutetica do Estado miacutenimo e a desregulamentaccedilatildeo econocircmica atendessem os interesses do capital Nesse aspecto vaacuterias empresas puacuteblicas e serviccedilos puacuteblicos foram privatizados consolidando o neoliberalismo econocircmico no Brasil

Em relaccedilatildeo ao PNAE vemos uma relaccedilatildeo intriacutenseca com o censo escolar uma vez que eacute a partir dos dados da matriculas dos alunos que o governo federal repassa os recursos financeiros que seratildeo destinados a compra dos gecircneros alimentiacutecios que iratildeo suprir a alimentaccedilatildeo dos alunos

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O periacuteodo que se seguiu entre 1995 e 2002 embora significando um retrocesso na relaccedilatildeo entre governo e sociedade foi rico na elaboraccedilatildeo conceitual sobre o tema da seguranccedila alimentar e nutricional e na organizaccedilatildeo da sociedade civil com a criaccedilatildeo do Foacuterum Brasileiro de Seguranccedila Alimentar e Nutricional (FBSAN) em 1998 (MENEZES 2012 p17)

Percebe-se claramente as contradiccedilotildees na poliacutetica econocircmica de FHC no qual os retrocessos sociais marcaram seu governo Contudo a criaccedilatildeo da FBSAN significou avanccedilos importantes no campo alimentar brasileiro

Em 28 de junho de 2001 o governo FHC aprova a medida provisoacuteria nordm 2178-34 no qual dispotildee os repasses financeiros do PNAE e institui o programa dinheiro direto na escola Essa medida provisoacuteria

determinou que 70 por cento dos recursos do FNDE para alimentaccedilatildeo escolar deveriam ser usados na compra de itens baacutesicos de alimentaccedilatildeo levando em consideraccedilatildeo os haacutebitos alimentares regionais locais e a disponibilidade de culturas locais para promover o desenvolvimento local e reforccedilando a necessidade de comprar produtos alimentares locais para as refeiccedilotildees escolares Aleacutem disso a Resoluccedilatildeo nordm 15 do FNDE (de 16 de junho de 2003) estabeleceu os criteacuterios e as modalidades de transferecircncia de recursos do FNDE para as entidades executoras ndash as secretarias de educaccedilatildeo dos municiacutepios e estados (BRASIL 2013 p22)

Nesse aspecto as compras de alimentos atenderiam a agricultura camponesa local permitindo ao campesinato inserir-se na venda de seus produtos ao PNAE Contudo o

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assistencialismo poliacutetico excluiacutea uma parcela significativa dos camponeses beneficiando apenas os produtores ligados a grupos poliacuteticos locais

A partir de 2003 o PNAE passa por transformaccedilotildees importantes que e repercutiratildeo no campo educacional e alimentar do paiacutes Veremos a seguir o governo de LULA (2003 ndash 2010) que traraacute modificaccedilotildees significativas instaurando uma poliacutetica alimentar visando maior flexibilidade eficiecircncia e eficaacutecia na gestatildeo do Programa nos Estados e municiacutepios e os Governos Dilma e o Governo ilegiacutetimo de Michel Temer

O PNAE NO PERIacuteODO 2003-2017 MUDANCcedilAS SIGNIFICATIVAS NA POLIacuteTICA DE ALIMENTACcedilAtildeO ESCOLAR NO PAIacuteS

A partir de 2003 o PNAE passa a estar na pauta do

governo brasileiro O iniacutecio do governo LULA eacute marcado pela instauraccedilatildeo do programa Fome Zero no qual visava atender as questotildees relativas a fome por meio da integraccedilatildeo dos vaacuterios programas e poliacuteticas relacionadas a assistecircncia social transferecircncia de renda reforma agraacuteria alimentaccedilatildeo escolar e outras No campo alimentar o PNAE sofreu alteraccedilatildeo significativa em seu gerenciamento e na poliacutetica de recursos destinados aos municiacutepios e Estados Esse fato se deve a relaccedilatildeo com o programa fome zero (PFZ) que possibilitou o aceso aos alimentos de forma abrangente em todas as regiotildees do paiacutes

A partir de 2003 pela primeira vez verificou-se a inserccedilatildeo de um nutricionista na coordenaccedilatildeo geral do programa dentro da sua esfera de gestatildeo federal ou seja junto ao FNDE Assim sendo o PNAE passa a reafirmar que a responsabilidade teacutecnica pela

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alimentaccedilatildeo escolar nos Estados no Distrito Federal nos Municiacutepios e nas escolas federais cabe ao nutricionista As atribuiccedilotildees do nutricionista como responsaacutevel teacutecnico do Programa vatildeo desde a anaacutelise do perfil nutricional dos escolares atendidos para elaboraccedilatildeo de cardaacutepios e listas de compras a realizaccedilatildeo de accedilotildees educativas em alimentaccedilatildeo e nutriccedilatildeo que perpassem pelo curriacuteculo escolar (PEIXINHO 2013 p 912)

A inserccedilatildeo de nutricionista no gerenciamento do PNAE reafirmou o compromisso do Governo Lula com a alimentaccedilatildeo escolar Para se ter ideia em 2003 havia 12 de nutricionista atuando no programa nos Estados e municiacutepios Jaacute em 2011 esse nuacutemero foi ampliado para mais de 82 significando uma abrangecircncia do nuacutemero de nutricionista do programa no paiacutes

Nesse contexto O Artigo 14 do PNAE pode ser encarado como uma evoluccedilatildeo do PAA (Programa de Aquisiccedilatildeo de Alimentos da Agricultura Familiar) que propiciou a criaccedilatildeo de um mercado institucional que visa agrave compra de produtos alimentiacutecios da agricultura familiar para formaccedilatildeo de estoques estrateacutegicos ou doaccedilatildeo agrave populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de inseguranccedila alimentar () a merenda escolar acabou por se tornar a maior demandante da modalidade do PAA ldquoCompra com Doaccedilatildeo Simultacircneardquo representando 50 das aquisiccedilotildees (SILVA 2013 p3)

A criaccedilatildeo de um mercado institucional de alimentos

provenientes da agricultura camponesa incentivou os camponeses a produzir alimentos direcionados aos programas Federais Importante frisar que os produtos agriacutecolas do PAA

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passaram a ser consumidos pelo PNAE uma vez que a merenda escolar passou a ser a maior demandante de compras da aquisiccedilatildeo de alimentos Nesse acircmbito observa-se que a ampliaccedilatildeo dos recursos financeiros e do nuacutemero de alunos atendidos pelo PNAE no governo Lula pode ser verificada na tabela 5

Tabela 5 Distribuiccedilatildeo dos recursos financeiros executados (em milhotildees de reais) e do nuacutemero de alunos atendidos pelo Programa Nacional de Alimentaccedilatildeo Escolar (PNAE) no periacuteodo de 2003 a 2010

ANO Recursos financeiros

(Em milhotildees de R$)

Alunos atendidos (Em milhotildees)

2003 9542 373

2004 1025 378

2005 1266 364

2006 1500 363

2007 1520 357

2008 1490 346

2009 2013 470

2010 3034 456 Fonte FNDE dados estatiacutesticos 2017

Organizaccedilatildeo SANTOS 2017

O aumento dos recursos destinados ao PNAE estaacute ligado diretamente ao valor da nutriccedilatildeo por aluno que subiu de R$ 006 em 1996 para R$ 022 em 2003 Esse aumento promoveu ampliaccedilatildeo das verbas federais aos municiacutepios e Estados Percebe-se que em 2009 e 2010 o aumento do nuacutemero de alunos refletiu substancialmente no aumento dos recursos financeiros uma vez que o caacutelculo das verbas destinadas ao PNAE eacute calculado com base no censo escolar do ano anterior

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A ampliaccedilatildeo na oferta de educaccedilatildeo puacuteblica nos uacuteltimos anos impulsionou tambeacutem o aumento dos recursos para o programa Aleacutem do surgimento de outras modalidades de ensino entre elas a mais educaccedilatildeo e a oferta e escola em tempo integral

No periacuteodo de 2003 a 2010 observa-se que houve aumento dos valores per capita transferidos pelo FNDE aos Estados municiacutepios e DF Em 2003 o FNDE passou a assumir a alimentaccedilatildeo escolar no ensino infantil (creches) repassando recursos de forma diferenciada para essa modalidade de ensino Nos anos seguintes os recursos foram aumentando significativamente no qual os valores per capita para creches escolas indiacutegenas e quilombolas tiveram aumento substancialmente

A grande conquista para o PNAE sem duacutevida veio com a publicaccedilatildeo da Lei nordm 11947 de 16 de junho de 2009 Conquista esta fruto de um processo intersetorial no Governo Federal e de ampla participaccedilatildeo da sociedade civil por meio do Conselho Nacional de Seguranccedila Alimentar e Nutricional (CONSEA) Avanccedila quando dispotildee sobre alimentaccedilatildeo escolar e natildeo somente sobre um Programa Universaliza o PNAE para toda educaccedilatildeo baacutesica ou seja da educaccedilatildeo infantil ao ensino meacutedio aleacutem dos jovens e adultos define a educaccedilatildeo alimentar e nutricional como eixo prioritaacuterio para o alcance dos objetivos do Programa fortalece a participaccedilatildeo da comunidade no controle social das accedilotildees desenvolvidas pelos Estados DF e Municiacutepios formaliza a garantia da alimentaccedilatildeo aos alunos mesmo quando houver suspensatildeo do repasse dos recursos por eventuais irregularidades constatadas na execuccedilatildeo do PNAE (PEIXINHO 2013 p913)

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Percebe-se que a universalizaccedilatildeo do PNAE por toda

educaccedilatildeo baacutesica significa avanccedilos no campo educacional e alimentar promovendo rebatimentos significativos na sociedade Assim O Programa tem como objetivo atender as necessidades nutricionais dos alunos durante sua permanecircncia em sala de aula contribuir para o crescimento o desenvolvimento a aprendizagem e o rendimento escolar dos estudantes aleacutem de promover a formaccedilatildeo de haacutebitos alimentares saudaacuteveis (Brasil FNDE 2012)

A partir da Lei nordm 11947 observamos duas grandes inovaccedilotildees o atendimento aos alunos do Ensino Meacutedio e da Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos (EJA) e a aquisiccedilatildeo de gecircneros alimentiacutecios da Agricultura Familiar De acordo com o FNDE (2015)

O PNAE induz e potencializa a afirmaccedilatildeo da identidade a reduccedilatildeo da pobreza e da inseguranccedila alimentar no campo a (re) organizaccedilatildeo de comunidades incluindo povos indiacutegenas e quilombolas o incentivo a organizaccedilatildeo e associaccedilotildees das famiacutelias agricultoras e o fortalecimento do tecido social a dinamizaccedilatildeo das economias locais a ampliaccedilatildeo da oferta de alimentos de qualidade e a valorizaccedilatildeo da produccedilatildeo familiar (FNDE 2015 p 04)

Nesse contexto a lei 119472009 contribui para a comercializaccedilatildeo camponesa e a oferta de alimentos saudaacuteveis nas unidades escolares do paiacutes Para tanto segundo Amaral (2007) a unidade executora do programa PNAE deve obedecer agraves normas para a compra direta nas quais ldquoas formas de compra prevista em lei satildeo as seguintes compra direta carta convite tomada de preccedilos concorrecircncia puacuteblica sistema de registro de preccedilo pregatildeo e pregatildeo eletrocircnicordquo

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No governo Dilma o PNAE continuou seus avanccedilos destacando-se com o aumento da compra de produtos alimentiacutecios oriundo da agricultura familiar Nesse contexto o

FNDE nos oferece subsiacutedios para analisar os valores dos recursos disponiacuteveis por municiacutepios na aquisiccedilatildeo de alimentos da agricultura camponesa Esse fato nos permite compreender a dimensatildeo do mercado institucional na compra de gecircneros alimentiacutecios direcionados aos programas PNAE e PAA

A transferecircncia de recursos do governo Federal para municiacutepios e Estados cresceram nos uacuteltimos anos Em 2011 o total de recursos financeiros disponiacuteveis para o PNAE foi de 3051 bilhotildees de reais para atender 444 milhotildees de alunos matriculados na rede de ensino puacuteblica Jaacute em 2015 os recursos aumentaram para 3762 bilhotildees de reais para atender 415 milhotildees de alunos da educaccedilatildeo puacuteblica

No espaccedilo agraacuterio as atuais medidas entre elas a suspensatildeo por parte do governo golpista de Michel Temer da assistecircncia teacutecnica para os camponeses ldquoA Chamada Puacuteblica estava programada para contratar entidades de assistecircncia teacutecnica e extensatildeo rural (ATER) para apoiar a gestatildeo e a qualificaccedilatildeo de mais de 930 associaccedilotildees e cooperativas da agricultura familiar e da reforma agraacuteria em todo o paiacutes para participarem dos mercados institucionais e privados afirmou o liacuteder da bancada deputado federal Afonso Florence (PTBA)5 foi um retrocesso inexplicaacutevel para a produccedilatildeo de alimentos pelos camponeses

Nesse aspecto esta medida golpista natildeo afeta apenas a contrataccedilatildeo dos serviccedilos de ATER mas promove um desmonte de estrateacutegias em curso para a inserccedilatildeo da agricultura familiar na comercializaccedilatildeo de sua produccedilatildeo seja nos

5wwwbrasil247compt247brasil237594Bancada-do-PT-denuncia-suspensatildeo-de-programa-para-agricultura-familiarhtm

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mercados institucionais das compras puacuteblicas como PAA e o PNAE seja nos negoacutecios privados

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

O avanccedilo das contradiccedilotildees no sistema capitalista tem fortes rebatimentos no mundo do trabalho Nesse aspecto a classe trabalhadora busca diferentes formas para sobreviver a barbaacuterie do capital

As transformaccedilotildees do PNAE ao longo de sua implementaccedilatildeo e consolidaccedilatildeo nos mostraram que o programa se especializou e territorializou abrangendo todos estados e municiacutepios do paiacutes Esse fato foi importante porque a poliacutetica alimentar permitiu ao campesinato inserir-se no mercado institucional na comercializaccedilatildeo agriacutecola contribuindo para a reproduccedilatildeo da unidade familiar camponesa

As poliacuteticas puacuteblicas para o campo em especial o PNAE tecircm sido uma alternativa camponesa de reproduccedilatildeo familiar embora a forma em que estaacute ocorrendo o processo vem sendo alvo de interesses do capital privado no campo que busca subordinar o camponecircs as suas relaccedilotildees desiguais

Os retrocessos nas poliacuteticas puacuteblicas para o campo repercutem diretamente na aquisiccedilatildeo de alimentos do campesinato para os programas de suplementaccedilatildeo alimentar como PAA e PNAE A extinccedilatildeo do MDA e a nomeaccedilatildeo de novos ministros da Educaccedilatildeo e da Agricultura este um expoente do agronegoacutecio no Brasil o ex-senador Blairo Maggi tambeacutem conhecido como Rei da Soja e diversos cortes e flexibilizaccedilotildees trabalhistas satildeo sinais dos retrocessos do governo golpista para o campo

Embora o governo golpista lance propostas de aumento dos recursos do PNAE para este ano as medidas tomadas anteriormente como a extinccedilatildeo da assistecircncia teacutecnica rural - ATER repercutiu diretamente nas estrateacutegias da

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inserccedilatildeo do campesinato na comercializaccedilatildeo de sua produccedilatildeo via PAA PNAE e nos negoacutecios privados dos camponeses

Sendo assim mesmo diante do contexto de golpe a resistecircncia e luta camponesa vai aleacutem da produccedilatildeo de alimentos para o PNAE e as dificuldades enfrentadas pelo desmonte de governo podem servir de incentivo para que a luta na terra possa se especializar em outros campos econocircmicos que permitam o campesinato se reproduzir e recriar-se no espaccedilo agraacuterio

REFEREcircNCIAS ANDRADE M C de Josueacute de Castro o homem o cientista e seu tempo Revista de Estudos Avanccedilados vol11 no29 Satildeo Paulo JanApr 1997 BELIK W CHAIM N A A gestatildeo do Programa Nacional de Alimentaccedilatildeo Escolar e o desenvolvimento local BrasiacuteliaDF Sober jul 2006 p 1-19 BEZERRA Juscelino Eudacircmidas Perspectivas teoacutericas nos estudos da classe trabalhadora apontamentos e reflexotildees Presidente Prudente Revista Pegada ndash vol 14 n1 BITTENCOURT Jaqueline Marcela Villafuerte Uma avaliaccedilatildeo efetiva do programa de alimentaccedilatildeo escolar no municiacutepio de Guaiacuteba Porto Alegre UFRGS 2007 Brasil Portaria Normativa Interministerial ndeg 17 de 24 de abril de 2007 Institui o Programa Mais Educaccedilatildeo que visa fomentar a educaccedilatildeo integral de crianccedilas adolescentes e jovens por meio do apoio a atividades socioeducativas no contraturno escolar Diaacuterio Oficial da Uniatildeo 2007 26 abr

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BRASIL Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educaccedilatildeo ResoluccedilatildeoCDFNDE Nordm 25 de 4 de julho de 2012 Altera a redaccedilatildeo dos artigos 21 e 24 da Resoluccedilatildeo nordm 38 de 16 de julho de 2009 no acircmbito do Programa Nacional de Alimentaccedilatildeo Escolar (PNAE) Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Poder Executivo Brasiacutelia DF 4 de julho de 2012 Disponiacutevel emlthttpportalmdagovbrportalsafarquivosviewalimenta-oescolarResoluC3A7C3A3o_252012_-_Altera_artigo_21_e_24_res_38pdfgt Acesso em 19032017 CARVALHO Daniela Gomes de CASTRO Vanessa Maria de O programa nacional de alimentaccedilatildeo escolar ndash PNAE como poliacutetica puacuteblica de desenvolvimento sustentaacutevel poliacuteticas puacuteblicas e instrumentos de gestatildeo para o desenvolvimento sustentaacutevel In Encontro da sociedade brasileira de economia ecoloacutegica 2009 COIMBRA Marcos (et al) Comer e aprender uma histoacuteria da alimentaccedilatildeo escolar no brasil Belo Horizonte MEC 1982 COSTA EQ et al Programa de alimentaccedilatildeo escolar espaccedilo de aprendizagem e produccedilatildeo de conhecimento Revista de Nutriccedilatildeo Campinas 14(3) 225-229 setdez 2001 FIALHO A M R Merenda escolar no Brasil a ilustraccedilatildeo da assistecircncia como poliacutetica social de loacutegicas contraacuterias Dissertaccedilatildeo Mestrado em Poliacutetica Social-UnB Brasiacutelia 1993 FNDE- Fundo Nacional do Desenvolvimento da Educaccedilatildeo Alimentaccedilatildeo Escolar Disponiacutevel em lthttpwwwfndegovbrcomponentk2itemlisttagPNA

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E2028AlimentaC3A7C3A3o20Escolar29gt Acesso em 19032017 Silva Denise Boito Pereira da Os agentes sociais e o Programa Nacional de Alimentaccedilatildeo Escolar (PNAE) a percepccedilatildeo dos agricultores familiares Rio Claro (SP) Encontro Internacional Participaccedilatildeo Democracia e Poliacuteticas Puacuteblicas aproximando agendas e agentes 2013 SINATORA et al Poliacutetica Agriacutecola Porto Alegre Editora Mercado Aberto 1985 STURION GL et al perfil dos usuaacuterios do programa nacional de alimentaccedilatildeo escolar estudo realizado em 10 municiacutepios brasileiros V Simpoacutesio Latino Americano de Ciecircncia de Alimentos Universidade Estadual de Campinas 2003 TEIXEIRA Eliane de Oliveira Lima A Merenda Escolar e seus aspectos Poliacuteticos Sociais e Nutricionais Satildeo Paulo Centro Federal de Educaccedilatildeo Tecnoloacutegica de Satildeo Paulo 2008 Sites httpwwwfndegovbr wwwbrasil247compt247brasil237594Bancada-do-PT-denuncia-suspensatildeo-de-programa-para-agricultura-familiarhtm httpagenciabrasilebccombrpoliticanoticia2017-02governo-anuncia-reajustes-para-merenda-escolar

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AS FAMIacuteLIAS CAMPONESAS DO POVOADO MANGUEIRA EM ITABAIANASE O PROBLEMA

QUE ENFRENTAM POR CAUSA DA TERRA COM A CONSTRUCcedilAtildeO DA RODOVIA ESTADUAL SE-255

Crisnara dos Santos Bisposup1

(Universidade Federal de Sergipe) (Graduanda em GeografiaLicenciatura)

E mail crisnarahotmailcom

Larissa de Lima Cunha sup2

(Universidade Federal de Sergipe) (Graduanda em GeografiaLicenciatura)

E mail larilimac96gmailcom

RESUMO

A ideia de desenvolvimento e crescimento econocircmico no mundo capitalista estaacute em todos os lugares seja urbano ou rural Natildeo estaacute sendo diferente no povoado Mangueira em ItabaianaSE que vem sofrendo mudanccedilas em seu espaccedilo devido a construccedilatildeo da rodovia estadual que interligaraacute o municiacutepio itabaianense agrave Itaporanga DAjuda a SE-255 Buscamos analisar as questotildees que assolaram as famiacutelias camponesas da comunidade que dependem exclusivamente da terra e como discursos satildeo produzidos para servirem a interesses daqueles que visam a obtenccedilatildeo de lucros em seus setores natildeo levando em consideraccedilatildeo todo o sofrimento do camponecircs ao ter sua fonte de sustento tirada Usamos como metodologia o levantamento de bibliografias que deram a base conceitual aleacutem de uma pesquisa a campo coletando o relato de algumas pessoas que foram atingidas negativamente por essa obra do governo Com isso notou-se que esses impactos ainda natildeo acabaram e deixaratildeo marcas para sempre natildeo soacute no

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territoacuterio como tambeacutem na vida das pessoas que foram obrigadas a aderirem a mudanccedila imposta Palavras-chave Camponecircs sustento mudanccedila INTRODUCcedilAtildeO

O camponecircs possui com a terra uma relaccedilatildeo de extrema parceria pois dela consegue extrair todos os meios essenciais para sua sobrevivecircncia Partindo desse princiacutepio e analisando o que vem ocorrendo em algumas comunidades rurais do municiacutepio de Itabaiana abordaremos neste trabalho a situaccedilatildeo do povoado Mangueira ressaltando os impactos sofridos devido a construccedilatildeo da rodovia para aquelas famiacutelias que satildeo camponesas

A loacutegica capitalista acaba destruindo essa relaccedilatildeo de parceria do homem com a terra de todas as formas visando que esse processo gere lucro E eacute nesse vieacutes que alguns povoados estatildeo sendo utilizados nos uacuteltimos anos para a construccedilatildeo da Rodovia SE-255 Com o discurso de ldquodesenvolvimentordquo o camponecircs vem tendo suas terras ldquoinvadidasrdquo ou seja vem perdendo espaccedilo de trabalho e toda liberdade obtida por eles na terra Santana (2010) escreve ldquoa terra para o camponecircs representa muito mais que o cultivo o labor Ela representa a liberdade Liberdade essa que se fundamenta no poder controlar o tempo de trabalho e o da famiacutelia em manter-se na terrardquo

Foi feito um levantamento bibliograacutefico e leitura de textos para a construccedilatildeo deste artigo assim como notiacutecias jornaliacutesticas Atraveacutes da anaacutelise criacutetica feita sobre a forma que a construccedilatildeo da rodovia era noticiada ficava niacutetido qual lado estava sendo enaltecido que era o econocircmico do desenvolvimento Por essa razatildeo buscamos fazer esse questionamento sobre o desenvolvimento que eacute pregado por parte das instituiccedilotildees e do Estado e que tem o auxiacutelio da

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miacutedia para passar essa ideia a populaccedilatildeo que em sua grande maioria possui uma fragilidade para problematizar esses discursos que ouve e assim natildeo entende para quem interessa esse desenvolvimento falado

Aleacutem disso uma pesquisa de campo foi realizada na comunidade Mangueira a fim de coletar depoimentos de camponeses que foram diretamente afetados de forma negativa por causa da construccedilatildeo da rodovia Os nomes dessas pessoas natildeo seratildeo revelados no trabalho e assim optamos por utilizar nomes fictiacutecios Destacamos algumas falas de trecircs pequenos produtores que foram entrevistados nelas podemos perceber o quanto estatildeo sofrendo e perdendo com toda essa situaccedilatildeo Pois aleacutem da terra que tira o sustento para a sobrevivecircncia de toda a famiacutelia perde-se tambeacutem o bem-estar A indenizaccedilatildeo recebida natildeo traraacute o sossego de volta porque agrave vida dessas pessoas jaacute foram alteradas em todos os aspectos e muitas outras mudanccedilas ainda podem acontecer

Este artigo estaacute dividido em trecircs partes a introduccedilatildeo o desenvolvimento e as consideraccedilotildees finais A introduccedilatildeo de forma sucinta trata dos temas que seratildeo tratados no decorrer do trabalho jaacute no desenvolvimento destacamos o sentido que a terra tem para o camponecircs e sua famiacutelia assim como os depoimentos que foram obtidos com a pesquisa em campo aleacutem do discurso do desenvolvimento que em sua verdadeira face gera transtornos para as pessoas do povoado que foram atingidas por causa da construccedilatildeo da SE-255 Duas figuras foram utilizadas para mostrar como era antes do projeto da obra e como estaacute agora com a construccedilatildeo em andamento estas relacionadas com os depoimentos de trecircs moradores afetados ajudaraacute a entender melhor o que vem acontecendo Nas consideraccedilotildees finais ressaltamos a questatildeo da luta para buscar o sustento pois como forma de buscar o necessaacuterio a sua sobrevivecircncia e dos seus esses camponeses buscaratildeo trabalhar em outros serviccedilos e se manter no campo

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DESENVOLVIMENTO

O povoado Mangueira caracteriza-se pela predominacircncia do campesinato muitas famiacutelias dessa comunidade trabalham principalmente com o cultivo de batata doce macaxeira amendoim coentro pimentatildeo alface e cebolinha Essa produccedilatildeo tem como destino a mesa do proacuteprio produtor pois o sustento da famiacutelia eacute o mais importante e o excedente desses alimentos eacute vendido na feira livre de Itabaiana para comprar aquilo que natildeo produzem em suas terras Eacute o que Silva (2001 p63) destaca

A natureza humana e a natureza terra se relacionam em perfeita simbiose natildeo haacute fetichismo coisificaccedilatildeo O produtor produz para sua sobrevivecircncia e de seus familiares tira da terra o seu sustento vendendo o excedente para comprar o que natildeo produz Ele eacute em princiacutepio um produtor de valores de uso os produtos que ele troca em relaccedilatildeo aos que ele consome satildeo poucos []

Diariamente eacute possiacutevel perceber as mais variadas formas de ocupaccedilatildeo do pequeno produtor que juntamente com a famiacutelia visa trabalhar na terra para garantir sua satisfaccedilatildeo pessoal Seja plantando arando ou mesmo irrigando semanalmente a vida do homem do campo itabaianense vai se reproduzindo

Entretanto se pararmos para analisar as terras ocupadas pelas praacuteticas camponesas vecircm perdendo espaccedilo para tal uso isso pode ser justificado pelo avanccedilo do capital que acaba ldquoexpulsandordquo o ser humano do campo No caso da comunidade Mangueira nos uacuteltimos anos o fato da construccedilatildeo da rodovia estadual que interligaraacute os municiacutepios de Itabaiana agrave Itaporanga DrsquoAjuda vem interferindo de forma negativa e direta na vida das famiacutelias que estatildeo tendo suas

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pequenas propriedades destruiacutedas para dar espaccedilo ao ldquodesenvolvimentordquo pregado pelos que visam interesses com essa obra Os donos das terras que acabam sendo compradas para utilizar na rodovia satildeo indenizados pelo Estado que em parceria com empresas privadas objetivam o lucro e natildeo compreendem o real sentido da terra para o camponecircs

A propriedade camponesa eacute representada pela terra e esta por sua vez simboliza trabalho e vida Eacute com essas palavras de tamanho significado que se pode definir a terra para o camponecircs Se comparado o valor (enquanto significado) da terra para o camponecircs e para o capitalista a diferenccedila seraacute gritante Tendo em vista que o valor dela para o segundo eacute monetaacuterio (maximizaccedilatildeo de lucro) e para o primeiro ela tem o valor da vida do alimento da histoacuteria ndash desta forma cifras natildeo dariam conta de pagar esse valor (SANTANA 2010)

Como eacute possiacutevel perceber nas figuras abaixo as feiccedilotildees da paisagem estatildeo sendo brutalmente modificadas e junto com elas vatildeo sendo levadas todo o sentimento de liberdade e autonomia que o produtor possui na sua relaccedilatildeo iacutentima de parceria e dependecircncia da terra A figura 1 e a figura 2 retratam o mesmo lugar em diferentes anos ou seja a primeira retirada do Google maps evidencia uma pequena parte do povoado Mangueira antes do iniacutecio da construccedilatildeo da rodovia no ano de 2015 Nela eacute possiacutevel perceber ainda a existecircncia de uma casa e a propriedade que mantem-se inteira Jaacute na segunda retirada no ano de 2018 nota-se natildeo mais a existecircncia da casa e o limite do terreno foi diminuiacutedo isto porque para a construccedilatildeo da rodovia foram tomados 30 metros de largura da propriedade evidenciada Isto natildeo foi um caso isolado da mesma forma tantas outras propriedades vatildeo sendo tomadas e apropriadas pela loacutegica do capital e o

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pequeno produtor acaba sendo o mais prejudicado pois a sua voz natildeo eacute ouvida Eacute o que diz Silva (2001 P62) ldquo[] uma legiacutetima feiccedilatildeo de dominaccedilatildeo Pouquiacutessimos determinam decidem mandam e haacute a grande massa de subordinados espoliados e expropriadosrdquo Figura 1 Paisagem anterior ao processo de construccedilatildeo da rodovia SE-255 povoado Mangueira 2015

Foto Google Maps 2015

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Figura 2 Paisagem alterada pelo processo de construccedilatildeo de rodovia povoado Mangueira 2018

Foto BISPO Crisnara dos Santos 2018

Diante deste fato obtivemos o relato da moradora da

casa que desde sempre trabalhou com a terra e tem com o lugar uma relaccedilatildeo de identidade e pertencimento para aleacutem de qualquer dinheiro que recebeu de indenizaccedilatildeo da construccedilatildeo da rodovia Dona Maria eacute uma senhora de 73 anos que viveu a maior parte da sua vida no lugar retratado na imagem Desde os 20 anos de idade ela e o marido utilizaram a terra para realizar suas plantaccedilotildees ldquoque eram poucas mas eram o suficiente para mim e meu esposo Foi desse pedacinho de terra que noacutes comemos da macaxeira batata coentro foi daqui que noacutes sobrevivemosrdquo diz ela em depoimento com tristeza pois perdeu aleacutem da terra a casa em que morava Sendo forccedilada a se retirar desse lugar pelo qual tinha uma ligaccedilatildeo e buscar moradia em outro povoado

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Um outro depoimento que colhemos foi do senhor Joatildeo Ele eacute um dos donos do terreno que aparece agrave direita nas figuras E nos relatou que ldquoaleacutem de ficar sem a minha terra vou ficar sem o dinheiro que eles pagaramrdquo Isso porque o terreno foi cortado ao meio e a propriedade foi deixada de heranccedila pelos pais para ele e os 5 irmatildeos Poreacutem somente Joatildeo e um dos irmatildeos satildeo os quem fazem o uso dessa terra para sobrevivecircncia entretanto todos os irmatildeos querem parte da indenizaccedilatildeo paga pelo Estado Dessa forma seu Joatildeo na sua condiccedilatildeo de camponecircs estaacute prejudicado ateacute porque todo o povoado faz parte do periacutemetro irrigado da Ribeira e um dos lados do terreno (jaacute que houve uma divisatildeo) ficou comprometida por conta da dificuldade que passou a existir para que a irrigaccedilatildeo chegue ateacute a parte que ficara do outro lado da rodovia

Com tudo que foi apresentado ateacute aqui deixa evidente que os pequenos produtores ficam sem saiacuteda Pois o discurso que eacute usado nas miacutedias locais como por exemplo sites de notiacutecias jornais do estado e raacutedios bem como o utilizado diretamente com os camponeses por aqueles que os abordaram para a negociaccedilatildeo da terra eacute o do ldquodesenvolvimentordquo Isso corrobora para que parcela da populaccedilatildeo em virtude da ignoracircncia ldquocomprerdquo o discurso gerado por esses meios chegando por vezes a reproduzi-lo acreditando que de fato essa construccedilatildeo soacute traraacute benefiacutecios e desconsiderem o outro lado o qual existe a parte dos desapropriados e completamente prejudicados ndash os camponeses

Fato como este se encontra em uma notiacutecia divulgada pelo Jornal do Dia de Sergipe disponiacutevel na internet do dia 20 de maio de 2017 quando ainda estava em fase de iniacutecio das obras Trazendo aleacutem desse discurso expliacutecito de desenvolvimento o relato de duas pessoas que falam com apropriaccedilatildeo sobre os benefiacutecios que conseguem enxergar a

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priori sem fazer anaacutelises dos efeitos negativos que podem e vatildeo ser sentidos em longo prazo Visotildees como estas podem ser notadas nesse trecho do jornal

ldquoAleacutem de interligar as duas principais rodovias federais que atravessam o estado a SE-255 facilitaraacute o escoamento da produccedilatildeo agriacutecola e mineral oportunizaraacute melhores condiccedilotildees de vida e seguranccedila para a populaccedilatildeo valorizaraacute as diversas propriedades agraves suas margens e nas proximidades encurtaraacute distacircncias entre as sedes dos povoados e os municiacutepios e sobretudo contribuiraacute para a ampliaccedilatildeo da malha viaacuteria e o desenvolvimento socioeconocircmico de Sergiperdquo

Assim como no site da Secretaria de Estado da Infraestrutura e do Desenvolvimento Urbano do estado de Sergipe quando informa que as obras estatildeo seguindo o cronograma e natildeo parou podemos observar nessa notiacutecia o orccedilamento e a fonte do recurso para as obras Foram R$ 5814059281 que o governo utilizou do Programa de Apoio ao Investimento dos Estados (Proinveste) Com tudo percebe-se que nessa crise tatildeo falada em nosso paiacutes falta dinheiro e qualidade em diversos setores mas natildeo faltou para a construccedilatildeo dessa rodovia Em nome do capital os que deteacutem o poder ditam as regras e absorvem os lucros de um desenvolvimento que natildeo eacute para todos

Desenvolvimento Para quem Como coloca Goacutemez (2007 p43) ldquoos expertos do

desenvolvimento pertencentes a certas instituiccedilotildees (as instituiccedilotildees ldquocertasrdquo) satildeo os detentores da verdade capazes de forjar a realidade ao mesmo tempo em que falam delardquo e eacute dessa forma que representantes das instituiccedilotildees envolvidas na construccedilatildeo dessa rodovia se apropriam da falaacutecia do

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desenvolvimento Nessa tentativa de convencer os moradores de que essas mudanccedilas em suas vidas traratildeo benefiacutecios futuros como por exemplo a valorizaccedilatildeo da terra visam somente seus interesses natildeo levam em consideraccedilatildeo o real ldquovalorrdquo da terra para os camponeses

Isso pode ser constatado na fala de seu Antocircnio que nos contou sobre a visita que recebeu em sua casa do engenheiro responsaacutevel pela obra estadual ldquoO moccedilo me disse pra que eu natildeo me preocupasse porque depois da rodovia construiacuteda eu vou lucrar muito Ele falou que assim que a pista tiver pronta vatildeo construir pousadas e restaurantes aqui pertinho da gente e minha terra seraacute valorizadardquo diz o senhor camponecircs casado e pai de 3 filhas que tem como uacutenica fonte de renda a terra A propriedade dele assim como a de seu Joatildeo citada anteriormente tambeacutem eacute herdada e divide com os irmatildeos e aleacutem disso teraacute uma parte do terreno cortada para a construccedilatildeo da rodovia

Portanto essa perspectiva de desenvolvimento pregada para as famiacutelias daquela comunidade eacute tambeacutem a mesma que podemos encontrar nas notiacutecias divulgadas que informam sobre a construccedilatildeo elas acabam influenciando muitas pessoas a pensarem da mesma forma sem analisar o outro lado da problemaacutetica Falam muito da diminuiccedilatildeo das distacircncias melhores condiccedilotildees de vida para as pessoas e tambeacutem a facilidade do transporte de mercadorias mas natildeo levam em consideraccedilatildeo as mudanccedilas que estatildeo ocorrendo no campo pois as indenizaccedilotildees pagas para os que tiveram seus terrenos ldquoinvadidosrdquo natildeo trazem garantia de que o camponecircs se manteraacute na terra e sustentaraacute sua famiacutelia CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Cada vez mais nos deparamos em todos os espaccedilos

com esses discursos propagados que para obter o

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desenvolvimento e o crescimento econocircmico eacute necessaacuterio modernizar-se Poreacutem tudo isso mascara o fato de que existem outras questotildees No fato abordado neste artigo vemos que a vida camponesa acaba sendo sacrificada em prol de interesses do Estado e de capitalistas E que assim como os camponeses do povoado Mangueira estatildeo sofrendo sabe-se que muitos outros de outras comunidades tambeacutem estatildeo nesse turbulento modo de produccedilatildeo que desconsidera o valor que a terra tem para quem dela retira todo o sustento

Aleacutem disso deve-se ressaltar que os fatos relatados no decorrer desse trabalho natildeo satildeo suficientes pra elucidar todos os aspectos dessa construccedilatildeo por completo porque tem-se a convicccedilatildeo de que muitos outros efeitos negativos seratildeo percebidos posteriormente com o avanccedilo e consequente conclusatildeo da mesma quando muitas outras propriedades forem cortadas ao meio e os proprietaacuterios natildeo tiverem mais o privileacutegio de se reproduzir exclusivamente com o trabalho no campo Conseguir superar os transtornos e consequecircncias dessa construccedilatildeo eacute algo que natildeo parece faacutecil Eacute uma mudanccedila brusca na vida do pequeno produtor Natildeo daacute pra desconsiderar o fato de que as pessoas que moram nessas comunidades jaacute estatildeo acostumadas a ver seus filhos com a liberdade que por eles proacuteprios jaacute foi vivenciada que eacute justamente o fato da liberdade do poder reunir-se com os vizinhos e brincar sem medo na rua Realidade essa que pode e sem duacutevidas vai sendo modificada visto que natildeo daacute pra deixar crianccedilas brincando proacuteximo agrave rodovia por conta do perigo que existe

Os interesses que levaram a construccedilatildeo da rodovia estadual motivaram a retirada de pessoas de suas casas plantaccedilotildees foram destruiacutedas com o passar da retroescavadeira e o pequeno produtor vai perdendo o bem-estar e sofrendo a angustia ao ver essas situaccedilotildees Anos de histoacuteria e muito trabalho sendo desfeitos contra sua vontade Supomos que

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toda essa alteraccedilatildeo que atinge profundamente na forma de subsistecircncia da vida camponesa que para muito aleacutem do sustento momentacircneo almeja poder transferir a cultura que a ele jaacute foi repassada em algum momento pela famiacutelia (como nos casos citados dos camponeses que tem a terra como heranccedila deixada pelos pais e que pretendem aleacutem das terras deixarem os valores Camponeses agraves geraccedilotildees futuras) satildeo algumas das muitas consequecircncias que podem ser observadas Pois a paisagem de uma forma brusca vai tomando outras feiccedilotildees ou seja vai sendo totalmente alterada devastada

Dessa forma temos a convicccedilatildeo de que a busca incessante pelo lucro eacute o foco principal dessa e de tantas outras obras O pequeno produtor eacute o alvo pois existe a necessidade por parte do mercado de coloca-los na situaccedilatildeo de subordinado tentando fazer com que eles tambeacutem se submetam a loacutegica do capital Pagar uma indenizaccedilatildeo para poder se apropriar das suas terras eacute algo completamente perverso e por vezes inacreditaacutevel no entanto eacute uma realidade que assim como podemos especificar com os relatos dos trecircs entrevistados tomou e toma proporccedilotildees inacreditaacuteveis E a questatildeo do desenvolvimento para que e para quem que foi discutida anteriormente deixa evidente que existem dois lados o lado dos que dominam e com esse fato lucram ou seja se desenvolvem e o lado dos que perdem satildeo dominados encurralados e se veem a mercecirc das imposiccedilotildees dos capitalistas e esse ldquodesenvolvimentordquo tatildeo pregado acaba sendo apenas uma grande fachada mascarada de incertezas desafios e mesmo falta de oportunidades e autonomia que eacute a chave do modo de vida desses camponeses

No entanto a partir do momento que natildeo eacute possiacutevel se manter apenas da terra porque foram expropriados ou mesmo porque a terra que possuem natildeo eacute suficiente para sua manutenccedilatildeo entra o trabalho acessoacuterio como uma opccedilatildeo Muitos integrantes dessas famiacutelias acabaratildeo optando por

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buscar outras formas de fonte de renda para que natildeo falte o sustento e nem tenham que sair do campo Dessa forma acabam se sujeitando agrave loacutegica do sistema perdendo sua liberdade e vendendo sua matildeo-de-obra para o capitalista que eacute quem ganha

REFEREcircNCIAS Depoimentos Google maps GOacuteMEZ Jorge Ramograven Montenegro Desenvolvimento em des (construccedilatildeo) provocaccedilotildees e questotildees sobre desenvolvimento em geografiain FERNANDES Bernado Manccedilano MARQUES Marta Inez SUZUKI Juacutelio Ceacutesar (orgs) Geografia Agraacuteria teoria e poder Satildeo Paulo 2007 Parte 1p39-53 JORNAL DO DIA Rodovia que liga Itabaiana a Itaporanga recebe camada de imprimaccedilatildeo Jornal do Dia Aracaju 20 mai 2017 Disponiacutevel em lthttpwwwjornaldodiasecombrnoticias_lerphpid=24116gt Acesso em 27 abr 2018 MELO Amanda Obras da Rodovia SE 255 que ligaraacute Itabaiana agrave Itaporanga natildeo param SEINFRA Aracaju 10 mai 2018 Disponiacutevel em lthttpwwwseinfrasegovbrindexphppag=8ampid=2ampcod=757gt Acesso em 26 abr 2018 SANTANA Gleice Campos As diferentes formas de reproduccedilatildeo do campesinato no municiacutepio de Itabaiana SE Universidade Federal de Sergipe 2010

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SILVA Lenyra Rique A natureza contraditoacuteria do espaccedilo geograacutefico 2 Ed Satildeo Paulo 2001

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A RESISTEcircNCIA CAMPONESA DIANTE DA EXPANSAtildeO DO AGROHIDRONEGOacuteCIO DE

EUCALIPTO NO CAMPO SERGIPANO

Edeacutesio Alves de Jesussup1

PPGEOUFS (Graduado e Mestre em Geografia) E-mailedesio0467yahoocombr

RESUMO

A expansatildeo do agrohidronegoacutecio do eucalipto no campo sergipano mostra os interesses do capital natildeo apenas de explorar a renda da terra e a subordinaccedilatildeo dos trabalhadores camponeses mas de apropriar-se da terra e da aacutegua sob agrave loacutegica dos proprietaacuterios que controlam a produccedilatildeo do monocultivo de eucalipto nos municiacutepios de Estacircncia e Itaporanga drsquoAjuda no estado de Sergipe Nosso principal objetivo neste trabalho eacute analisar e compreender as transformaccedilotildees no campo sergipano e a complexidade expressa no espaccedilo produzido o que afeta diretamente as formas e processos de auto realizaccedilatildeo do homem diante do trabalho Na elaboraccedilatildeo deste trabalho os procedimentos metodoloacutegicos adotados pautaram-se em revisotildees bibliograacuteficas de livros teses dissertaccedilotildees perioacutedicos revistas eletrocircnicas e artigos referentes agrave questatildeo agraacuteria e ao mundo do trabalho Conclui-se que a apropriaccedilatildeo da terra e da aacutegua repercute na renda dos trabalhadores no campo o que os torna submisso a comercializar sua produccedilatildeo a preccedilos inferiores no circuito capitalista Fato que revela a compreensatildeo do processo da reestruturaccedilatildeo produtiva no campo sob a materialidade das transformaccedilotildees e perdas de direitos trabalhistas diante da expansatildeo do agrohidronegoacutecio do eucalipto nos municiacutepios de Estacircncia e Itaporanga drsquoAjuda (SE)

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Palavras-chave Camponecircs Agrohidronegoacutecio Eucalipto INTRODUCcedilAtildeO

Os rebatimentos no mundo do trabalho no campo brasileiro se intensificam a partir da deacutecada de 1990 com a substituiccedilatildeo de culturas tradicionais por aacutereas destinadas para o plantio monocultivo de eucalipto com ampla modernizaccedilatildeo tecnoloacutegica de interesse do agrohidronegoacutecio6 resultando em alta produtividade

A propagaccedilatildeo do monocultivo de eucalipto ocorre em vaacuterios estados e municiacutepios do Brasil desde a deacutecada de 1990 a partir dos investimentos em pesquisas e desenvolvimento do setor florestal pelas empresas que crescem anualmente

Anualmente eacute divulgado pela Induacutestria Brasileira Aacutervores (IBAacute 2015) que priorizaram a manutenccedilatildeo de investimentos em pesquisas e desenvolvimento buscando primordialmente a melhoria da geneacutetica dos plantios e das teacutecnicas de manejo florestal o que faz crescer a produtividade

O melhor exemplo do sucesso dessa estrateacutegia foi o impressionante desenvolvimento da produtividade do eucalipto no Brasil ndash 57 ao ano no periacuteodo de 1970 a 2008 ndash comparativamente aos 26 da Ameacuterica Latina 09 dos paiacuteses desenvolvidos e 19 para o conjunto de paiacuteses em desenvolvimento (p 31)

6 O Agrohidronegoacutecio eacute o padratildeo de produccedilatildeo com especialidades em

monocultivos (soja milho trigo e mais recente eucalipto) sob a concentraccedilatildeo fundiaacuteria e apropriaccedilatildeo dos recursos da natureza (terra e aacutegua) atrelados a grandes grupos econocircmicos nacionais e internacionais (TOMAZ JUNIOR 2008 2010)

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No estado de Sergipe a expansatildeo que acontece devido agraves condiccedilotildees edafoclimaacuteticas favoraacuteveis ao raacutepido crescimento e excelente produtividade de mateacuteria-prima o que se torna uma realidade com aumento da aacuterea total do efetivo destinadas ao plantio de eucalipto que atinge 3129 hectares distribuiacutedos em 19 (dezenove) municiacutepios de acordo com os dados da Produccedilatildeo da Extraccedilatildeo Vegetal e da Silvicultura ndash IBGE do ano de 2014

A pesquisa jaacute consolidada fizemos recorte espacial do municiacutepio de Estacircncia com 336 ha (1073 da aacuterea do efetivo da silvicultura em Sergipe) e o municiacutepio de Itaporanga drsquoAjuda que jaacute foram destinados 1200 ha equivalente a 3835 da aacuterea total existente do efetivo da silvicultura do estado de Sergipe apresentado no mapa 01

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Conforme o mapa 01 a expansatildeo do monocultivo de

eucalipto no estado de Sergipe se configura principalmente na zona de clima quente e uacutemido com meacutedias pluviomeacutetricas que variam entre 2000mm na faixa litoracircnea adentrando ao interior prosseguindo a meacutedia de 1200 mm localizando-se predominantemente sobre as aacutereas da Mesorregiatildeo Leste Sergipano (MACEDO 2014)

Para tanto a centralidade da questatildeo agraacuteria eacute pertinente ao debate das disputas territoriais da concentraccedilatildeo e do monopoacutelio da terra acesso e controle dos recursos hiacutedricos que se redefinem a partir das distintas formas de exploraccedilatildeo da forccedila de trabalho pelo agrohidronegoacutecio (THOMAZ JUNIOR 2010)

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Desse modo a territorializaccedilatildeo e a monopolizaccedilatildeo do territoacuterio pelo capital impotildee aos camponeses e trabalhadores buscar alternativas de resistecircncia para manter o modo de vida e trabalho de caraacuteter heterogecircneo e coletivo com a agriacutecola e produccedilatildeo agraacuteria diversificada e muacutetua absorccedilatildeo de forccedila de trabalho sob a perspectiva da sustentabilidade socioeconocircmica e ambiental TERRA DE TRABALHO CONVERTIDA PARA TERRA DE NEGOacuteCIO PELO AGROHIDRONEGOacuteCIO DO EUCALIPTO

Compreender as transformaccedilotildees no campo brasileiro eacute

analisar a complexidade expressa no espaccedilo produzido o que afeta diretamente as formas e processos de auto realizaccedilatildeo do homem diante do trabalho Nesta perspectiva a expansatildeo do monocultivo de eucalipto implica numa seacuterie de discussotildees que necessitam de amplos debates sobre a concentraccedilatildeo da terra apropriaccedilatildeo dos recursos hiacutedricos oferta de emprego geraccedilatildeo de renda substituiccedilatildeo da produccedilatildeo alimentiacutecia disputas e os conflitos territoriais fato se intensifica no cenaacuterio mundial e brasileiro com a transiccedilatildeo energeacutetica natildeo renovaacutevel para as fontes renovaacuteveis

Para tanto o interesse pelas terras e pela forccedila de trabalho nos municiacutepios de Itaporanga drsquoAjuda e Estacircncia representa o suporte central para reproduccedilatildeo capitalista estes satildeo produtores que integra o circuito capitalista de produccedilatildeo com o controle das terras pelo agrohidronegoacutecio sob o monopoacutelio fundiaacuterio e das disputas pela terra o que amplia e acentua efetivamente o processo de expropriaccedilatildeo dos trabalhadores que vive e tem a terra como meio de trabalho

Paralelo a integraccedilatildeo dos grandes produtores de eucalipto tambeacutem deu a inserccedilatildeo camponesa no circuito produtivo atraveacutes da expansatildeo do monocultivo de eucalipto

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mas dar-se pela sujeiccedilatildeo do trabalho e da renda da terra para os grandes produtores fato que teremos de analisar que ldquo[] a terra sob o capitalismo tem que ser entendida como renda capitalizada [] pois assim ele (o capital) pode subordinar a produccedilatildeo de tipo camponecircs pode especular com a terra comprando-a e vendendo-a e pode por isso sujeitar o trabalho que se daacute na terrardquo (OLIVEIRA 2007 p11)

No estado de Sergipe essa inserccedilatildeo se daacute inicialmente no decorrer da deacutecada de 1990 periacuteodo de reduccedilatildeo de impostos e grandes incentivos fiscais pelo governo estadual em que foram expandidos os distritos industriais que tambeacutem aumentaram paralelo agrave necessidade de mateacuteria-prima energeacutetica para dar suporte ao aceleramento do consumo de mateacuteria-prima pelo setor industrial pela implantaccedilatildeo do Programa Sergipe de Desenvolvimento Industrial - PSDI7 (MATOS e ESPERIDIAtildeO 2011)

Nas pesquisas de campo constatou-se que a expansatildeo do monocultivo de eucalipto nos municiacutepios de Estacircncia e Itaporanga drsquoAjuda segundo os relatos dos pequenos e grandes produtores que haacute mais 20 anos jaacute existem aacutereas com plantios cujos cortes da lenha varia entre o periacuteodo inicial da deacutecada de 1990 com implantaccedilatildeo do PSDI e os incentivo industrial demandando novas fontes energeacuteticas o que permitiu classificar o plantio de cada estabelecimento por etapa cronoloacutegica do cultivo de eucalipto entre o trato da terra e o corte da madeira lenhosa

O avanccedilo dos plantios de monocultivo de eucalipto acirra as disputas entre os camponeses e os proprietaacuterios de

7O Programa Sergipe de Desenvolvimento Industrial foi implantado na

deacutecada de 1990 com o objetivo de incentivar estimular e acelerar o desenvolvimento socioeconocircmico e industrial estadual sergipano mediante a concessatildeo de apoio a investimentos que passou a investir na produccedilatildeo de lenha proveniente do monocultivo de eucalipto como fonte alternativa para suprir a demanda energeacutetica

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terra materializam-se em decorrecircncia da apropriaccedilatildeo da aacutegua e da sua mercantilizaccedilatildeo via comercializaccedilatildeo das mercadorias produzidas em que haacute uma pressatildeo sobre a terra

Os estabelecimentos rurais visitadas destinam a terra exclusivamente para produzir lenha que gera energia para as induacutestrias concentradas nos municiacutepios de Estacircncia e Itaporanga drsquoAjuda com plantios de seis meses a trecircs anos em que o proprietaacuterio tinha disponiacutevel uma produccedilatildeo para efeito de colheita de eucalipto

Em relaccedilatildeo ao destino da terra o plantio de mudas clonais representa entre grande propriedades a pequenos estabelecimentos rurais mais tambeacutem em lotes de assentamentos rurais Ou seja apresentando uma variaccedilatildeo do tamanho do moacutedulo rural8 em que o plantio de eucalipto representa a eficiecircncia produtiva defendida pelos capitalistas com o intenso estiacutemulo aos camponeses que satildeo cooptados agrave produzir eucalipto nas pequenas e meacutedias propriedades

A condiccedilatildeo de extraccedilatildeo tanto da renda da terra e da mais valia se efetiva pela condiccedilatildeo da terra a negar a sua funccedilatildeo social para reproduccedilatildeo socioeconocircmica da sociedade excluindo a condiccedilatildeo como nos relembra Martins (1991) que a terra eacute meio de produccedilatildeo e de vida o que revela a transformaccedilatildeo da terra em terra de negoacutecio

8 Paracircmetro de classificaccedilatildeo das propriedades rurais estaacute de acordo com a

Lei 8629 de 25 de fevereiro de 1993) segundo Landau et al (2012) dos estabelecimentos pesquisados 40 das propriedades possuem menos de um moacutedulo rural classificados como minifuacutendios em que 50 destas unidades visitadas satildeo terras conquistadas pelo processo de reforma agraacuteria considerada como terra de vida e de trabalho com forte relaccedilatildeo de trabalho pelos camponeses 20 satildeo classificados como pequena propriedade 33 tecircm entre 16 a 380 moacutedulos rurais sendo consideradas grandes propriedades Apenas 7 representam as meacutedias propriedades conforme visto no graacutefico 02

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A par da eficiecircncia de extraccedilatildeo da renda da terra os proprietaacuterios produtores vendem mudas clonais de eucalipto no municiacutepio de Itaporanga drsquoAjuda e induzem os assentados de reforma agraacuteria e pequenos proprietaacuterios rurais ao cultivo de eucalipto visto que o entusiasmo dos grandes produtores eacute determinante para que um nuacutemero de pequenos de assentados iniciasse a plantar o monocultivo de eucalipto nos lotes mesmo com o tamanho da terra restrito a poucos hectares O interesse em cultivar eucalipto fez crescer o negoacutecio de mudas clonais na regiatildeo pela demanda em atacado e varejo com retorno de lucro agrave curto prazo sendo tratadas nos hortos das grandes propriedades rurais

O cultivo do monocultivo de eucalipto tornou-se para os camponeses uma alternativa promissora pelo fato de obterem lucro no ciclo final de desenvolvimento poreacutem muitos cultivadores dependem de um comprador intermediaacuterio porque natildeo tem o destino da produccedilatildeo certo

Nos assentamentos rurais visitados os relatos sobre a garantia da venda e a inserccedilatildeo do mercado sendo que para muitos pequenos proprietaacuterios a venda do eucalipto natildeo seria problema porque sempre vatildeo compradores visitaacute-lo com o intuito de negociar a lenha do eucalipto

Estes municiacutepios revelam uma relaccedilatildeo de sujeiccedilatildeo da renda da terra pelo processo de monopolizaccedilatildeo do territoacuterio pelo capital onde o agricultor deteacutem a terra produz nela e depois revende diretamente ao capitalista que eacute quem define o preccedilo fato que se intensifica no Brasil desde a deacutecada de 1990 (OLIVEIRA 1991)

Esse quadro situa uma perspectiva de controle do espaccedilo de produccedilatildeo tornando-o um territoacuterio para o consumo capitalista Enquanto haacute interesse da induacutestria de celulose no eucalipto o camponecircs se torna uacutetil ao sistema ao tempo que se coloca vulneraacutevel no que tange agrave produccedilatildeo de alimentos e a sua autonomia

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Desse modo a transferecircncia da riqueza produzida pelos camponeses se daacute mediante a sujeiccedilatildeo da renda da terra pelo processo de monopolizaccedilatildeo do territoacuterio em que ldquo[] Nestes casos o capitalista natildeo imobiliza dinheiro na compra da terra ele natildeo territorializa-serdquo (PAULINO e ALMEIDA 2010 p 45)

Observa-se uma tendecircncia de disputa territorial posta entre os estabelecimentos rurais com cultivos tradicionais pecuaacuteria e moradia a introduccedilatildeo do monocultivo de eucalipto sob a loacutegica das contradiccedilotildees e antagonismos devido a produccedilatildeo de biomassa via do processo de monopolizaccedilatildeo do territoacuterio camponecircs e a territorializaccedilatildeo do capital (OLIVEIRA 1991 2004) O MODO DE TRABALHO NO CORTE DO MONOCULTIVO DE EUCALIPTO

Os trabalhadores rurais satildeo sujeitos concretos ativos

preocupados com sua reproduccedilatildeo social em meio agraves contradiccedilotildees do processo de modernizaccedilatildeo do campo brasileiro e agem em reciprocidade com as nuances imposta pelo sistema capitalista e que no iniacutecio do seacuteculo XXI intensificam-se a precarizaccedilatildeo e precariedade da forma de organizaccedilatildeo e oferta de emprego no campo

Segundo Harvey (2005) as transformaccedilotildees oriundas do sistema capitalista resultam das inuacutemeras crises de acumulaccedilatildeo do capital que obriga a classe trabalhadora nesta anaacutelise referente ao campo a conviver de forma hostil para sobreviver

Para tanto Harvey (2005) ressalta que haacute uma coordenaccedilatildeo de produccedilatildeo capitalista atrelado ao capital financeiro do preccedilo da forccedila de trabalho nos distintos recortes espaciais

A ascensatildeo do capital financeiro foi resultado do ressurgimento de formas agressivas brutais de

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procurar aumentar a produtividade do capital em niacutevel macro econocircmico a comeccedilar pela produtividade do trabalho tanto dos operaacuterios como das massas de trabalhadores (HARVEY 2005 p 16)

Thomaz Juacutenior (2002) afirma que este periacuteodo eacute decorrente dos impulsos do processo de reestruturaccedilatildeo produtiva que atinge o campo o que cresce o contingente de trabalhadores desempregados a niacutevel nacional

O processo de produccedilatildeo capitalista impotildee a classe trabalhadora uma seacuterie de demanda para suprir as necessidades voltadas para a esfera produtiva excluindo a necessidade de reproduccedilatildeo dos trabalhadores o que Antunes (2007) defenderaacute como uma nova transformaccedilatildeo do metabolismo social destrutiva agrave classe que vive do trabalho

As poliacuteticas econocircmicas do estado de Sergipe no iniacutecio da deacutecada de 1990 com a adoccedilatildeo de poliacuteticas de desenvolvimento regional favoreceram o aumento do PIB estadual e as articulaccedilotildees das diversas cadeias produtivas entre a produccedilatildeo agropecuaacuteria e o capital agroindustrial O esforccedilo do Estado em garantir os benefiacutecios para o setor produtivo industrial reativou o aumento da demanda energeacutetica consolidando o agravamento das condiccedilotildees de trabalho a partir da expansatildeo do monocultivo de eucalipto no campo sergipano

A inserccedilatildeo do monocultivo de eucalipto nos municiacutepios de Itaporanga drsquoAjuda e Estacircncia promove a intensificaccedilatildeo e a substituiccedilatildeo das aacutereas com culturas alimentares e de produccedilatildeo familiar demonstra o aumento e a geraccedilatildeo de emprego em detrimento do aquecimento industrial

Tendo em vista o interesse em ampliar os parques fabris e tornaacute-los competitivos no cenaacuterio regional e nacional a implantaccedilatildeo da induacutestria de celulose e papel tornou justificativa do Estado para legitimar a necessidade de expandir o monocultivo de eucalipto e os investimentos puacuteblicos para

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reforccedilar as vantagens econocircmicas e sociais para a Microrregiatildeo de Estacircncia

Poreacutem a eficaacutecia da promoccedilatildeo do desenvolvimento econocircmico estaacute travestida da eficaacutecia do desenvolvimento social do aumento de emprego geraccedilatildeo de renda e das responsabilidades ambientais pelas induacutestrias instaladas nos municiacutepios de Estacircncia e Itaporanga dAjuda natildeo demonstram os riscos que causam a substituiccedilatildeo da policultura para as famiacutelias que vivem e trabalham no campo

Entretanto no tocante agrave geraccedilatildeo de empregos e a relaccedilatildeo de trabalho constata-se a contrataccedilatildeo temporaacuteria de trabalho que duram de trecircs a quatro meses entre o periacuteodo de preparo da terra e o corte da madeira de eucalipto No periacuteodo de manutenccedilatildeo dos plantios apoacutes seis meses com tratos culturais o nuacutemero de contratados pode chegar a zero em algumas propriedades retornando as contrataccedilotildees apenas para o periacuteodo de corte

O nuacutemero de contratos temporaacuterios pode variar de 20 a 30 trabalhadores no curto periacuteodo de 90 dias do plantio das mudas clonais primeira e segunda adubaccedilatildeo Jaacute as contrataccedilotildees de trabalhadores por um tempo maior variam de 2 a 7 trabalhadores

Os engenheiros florestais agrocircnomos teacutecnicos agriacutecolas motoristas tratoristas satildeo pessoas responsaacuteveis pela manutenccedilatildeo dos talhotildees de eucalipto no controle agraves pragas fazendo a pulverizaccedilatildeo gradeamento e araccedilatildeo da terra Esses uacuteltimos atuam evitando a incidecircncia de ervas daninhas competindo com o plantio de eucalipto

Nas entrevistas do trabalho de campo com a comunidade e os camponeses sitiantes o nuacutemero maior de trabalhadores contratados eacute no periacuteodo de plantio com valor pago a cerca de R$ 4000 diaacuterio com carga horaacuteria exaustiva e de forma verbal A contrataccedilatildeo dos trabalhadores temporaacuterios

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natildeo garante nenhuma condiccedilatildeo de melhoria seja no plantio oue corte do monocultivo de eucalipto

A reduccedilatildeo dos trabalhadores no campo sergipano justifica-se pelo aumento da mecanizaccedilatildeo em todo o processo do monocultivo de eucalipto sendo reflexo da modernizaccedilatildeo no campo sergipano que ocorre com a reduccedilatildeo de empregos e a substituiccedilatildeo da forccedila de trabalho humano pela mecanizaccedilatildeo e isto ocorre nas propriedades com grandes extensotildees de terra

O uso das maacutequinas nas grandes propriedades impotildee aos trabalhadores a subordinaccedilatildeo do trabalho agraves relaccedilotildees de produccedilatildeo que se mostram extremamente precaacuterias em que vaacuterios trabalhadores temporaacuterios vecircm se negando a aceitar trabalhos com niacuteveis de precarizaccedilatildeo relevantes no corte de eucalipto

A inserccedilatildeo tecnoloacutegica na substituiccedilatildeo do trabalho manual nos municiacutepios de Estacircncia e Itaporanga drsquoAjuda eacute uma tendecircncia para todas as etapas do processo produtivo desde o preparo da terra plantio colheita ateacute o transporte da lenha para as faacutebricas da regiatildeo poreacutem natildeo eacute comum em todas as propriedades visitadas

A intensificaccedilatildeo do uso da mecanizaccedilatildeo implica na baixa contrataccedilatildeo de trabalhadores para realizar o serviccedilo de carregamento e quando haacute a contrataccedilatildeo dos trabalhadores eacute temporaacuteria que varia de acordo com a quantidade de aacuterea plantada cujos contratos tecircm duraccedilatildeo de ateacute noventas dias periacuteodo da segunda adubaccedilatildeo

Os salaacuterios pagos variam de acordo com a demanda da lenha de eucalipto com salaacuterios de acordo com cada funccedilatildeo que um trabalhador iraacute exercer No caso dos trabalhadores que fazem o trabalho com motosserra o ganho eacute maior em relaccedilatildeo daqueles que faz arrumaccedilatildeo das toras de madeira para o carregamento dos caminhotildees pelas maacutequinas

A execuccedilatildeo das atividades laborais no campo expotildee o trabalhador agraves condiccedilotildees adversas em situaccedilotildees

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desconfortaacuteveis que comprometem a sua sauacutede bem como a seguranccedila Dentre as situaccedilotildees adversas enfrentadas pelos trabalhadores no corte do eucalipto existem os altos ruiacutedos fuligens vibraccedilatildeo do manuseio das motosserras exaustatildeo por movimentos repetitivos e intensa forccedila braccedilal condiccedilotildees climaacuteticas adversas com altas temperaturas no veratildeo e baixa umidade no inverno sem contar do uso inapropriado dos Equipamentos de Proteccedilatildeo Individual (EPIs) em que apenas alguns acessoacuterios satildeo usados pelos trabalhadores

A utilizaccedilatildeo dos EPIs como capacetes calccedilas jaquetas protetor auricular protetor facial perneira coturno e luvas satildeo recomendados para minimizar riscos de acidentes como ressalta Rodrigues (2004) afirmando que o manuseio da motosserra deve considerar certas precauccedilotildees visto que os acidentes acontecem pelo desconhecimento dos trabalhadores ou falta de preparaccedilatildeo pelas empresas que negligecircncia o fornecimento dos EPIs descumprido a legislaccedilatildeo trabalhista

No entanto entre os trabalhadores que se colocaram a disposiccedilatildeo um esclareceu que a rotina diaacuteria no corte de eucalipto eacute de extrema cautela com trabalho com alta jornada e que a melhor hora para o corte eacute antes das 8 horas em que o vento natildeo atrapalha poreacutem no decorrer o dia eles ficam expostos aos acidentes

Em relaccedilatildeo aos trabalhadores do corte do eucalipto pocircde-se constatar a mobilidade cotidiana de trabalhadores residentes nos municiacutepios circunvizinhos de Boquim e Salgado inclusive trabalhadores dos assentamentos de reforma agraacuteria de Estacircncia e de Itaporanga drsquoAjuda Um dos motivos dessa mobilidade eacute a oportunidade de trabalho pelas baixas condiccedilotildees econocircmicas das famiacutelias que vivem no espaccedilo urbano

O salaacuterio pago eacute um salaacuterio miacutenimo para os trabalhadores envolvidos no plantio e na adubaccedilatildeo Jaacute no corte o salaacuterio pago varia de acordo com a quantidade de

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madeira em tora cortada Haacute diferenccedila entre os donos dos motosserras que podem alcanccedilar R$ 15000 diaacuterios e os contratos firmados entre os trabalhadores e as empresas variam de R$ 600 a R$1000 por metro cuacutebico (m3) de madeira cortada Esse eacute um serviccedilo terceirizado pela empresa responsaacutevel pelos contratos dos trabalhadores que recebem em meacutedia R$ 2800 por metro cuacutebico de madeira cortada

Esse quadro leva os trabalhadores a cumprirem uma determinada meta com corte de eucalipto ao dia sem considerar as perdas de horas extras trabalhadas uma vez que os trabalhadores soacute recebem pela quantidade de metros cuacutebicos por hectare de aacutervores derrubadas combinado com a empresa que terceiriza e contrata os trabalhadores que adotam posturas repetitivas crescendo o risco de doenccedilas e acidentes

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Como produto das contradiccedilotildees dessa reestruturaccedilatildeo produtiva no campo com repercussotildees no mundo do trabalho conforme discutimos a precarizaccedilatildeo a substituiccedilatildeo do trabalho vivo pelo trabalho morto aleacutem de todos os entraves para a vida do camponecircs os conflitos por terras acabam por se constituiacuterem parte do cotidiano do trabalhador rural

A compreensatildeo do processo da reestruturaccedilatildeo produtiva no campo revela a materialidade das transformaccedilotildees e perdas de direitos trabalhistas na expansatildeo do agrohidronegoacutecio do eucalipto nos municiacutepios de Estacircncia e Itaporanga drsquoAjuda em consonacircncia com a Divisatildeo Internacional do Trabalho nas uacuteltimas deacutecadas no Brasil pelo fato de que se exige mais do trabalhador com longa jornada de horas de trabalho precaacuterio com baixos salaacuterios e por meio de contratos temporaacuterios

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Portanto nota-se que o trabalho no monocultivo do eucalipto aparece como uma atividade que daacute esperanccedila pela garantia de renda certa Poreacutem prevalece a escassez de emprego e o aumento da mecanizaccedilatildeo do processo produtivo do monocultivo de eucalipto nos municiacutepios de Estacircncia e Itaporanga drsquoAjuda O que coloca a ideia de empregabilidade como uma falaacutecia do setor florestal quanto ao discurso de geraccedilatildeo de renda e emprego para as famiacutelias que vivem proacuteximas aos estabelecimentos rurais

REFEREcircNCIAS ANTUNES Ricardo Dimensotildees da precarizaccedilatildeo estrutural do trabalho In DRUCK G FRANCO T (Orgs) A perda da razatildeo social do trabalho Terceirizaccedilatildeo e precarizaccedilatildeo Satildeo Paulo Boitempo 2007 FEITOSA Cid Olival A distribuiccedilatildeo espacial das atividades econocircmicas de Sergipe In Cadernos de Ciecircncias Sociais Aplicadas Vitoacuteria da Conquista nordm 17 p 187-206 2014Disponiacutevel em lthttpperiodicosuesbbrindexphpcadernosdecienciasarticleviewFile49244719gt Acesso em 20 jan 2016 HARVEY D Condiccedilatildeo poacutes-moderna 14 ed Satildeo Paulo Ed Loyola 2005 p117-183 INDUacuteSTRIA BRASILEIRA DE AacuteRVORES IBAacute Indicadores de desempenho do setor nacional de aacutervores plantadas referentes ao ano de 2014 Ano 2015 Elaboraccedilatildeo Poumlyry Gestatildeo e Negoacutecios Ltda Brasiacutelia Disponiacutevel em lthttpwwwibaorgimagessharediba_2015pdfgt Acesso em 30 mar 2016

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INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA (IBGE) Produccedilatildeo da Extraccedilatildeo Vegetal e da Silvicultura Ano 2014 Disponiacutevel em lthttpwwwsidraibgegovbrbdatabelalistablaspc=5930ampz=tampo=29gt Acesso em 10 jan 2016 LANDAU Elena Charlotte et al Variaccedilatildeo geograacutefica do tamanho dos moacutedulos fiscais no Brasil Documentos 146 Embrapa Milho e Sorgo Sete Lagoas 2012 199 p Disponiacutevel em lthttpainfocnptiaembrapabrdigitalbitstreamitem775051doc-146pdfgt Acesso em 07 mai 2015 MACEDO Heleno dos Santos Ordenamento territorial - ambiental na Bacia Costeira CaueiraAbais 2014 216 f Dissertaccedilatildeo (Mestrado) ndash Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Geografia-UFS Satildeo Cristoacutevatildeo 2014 MATOS Elmer Nascimento ESPERIDIAtildeO Fernanda Desconcentraccedilatildeo produtiva regional e fluxos migratoacuterios o caso de Sergipe Informe Gepec Toledo v 15 nuacutemero especial p 525-545 2011 Disponiacutevel em lthttpe-revistaunioestebrindexphpgepecarticledownload62994808gt Acesso em 20 dez 2015 MARTINS Joseacute de Souza Os camponeses e a poliacutetica no Brasil as lutas sociais no campo e seu lugar do processo poliacutetico 2 ed Petroacutepolis Vozes 1983 OLIVEIRA Ariovaldo Umbelino A agricultura camponesa no Brasil Satildeo Paulo Editora Contexto 1991 (Coleccedilatildeo Caminhos da geografia)

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OLIVEIRA Ariovaldo Umbelino Geografia agraacuteria perspectivas no iniacutecio do seacuteculo XXI In O campo no seacuteculo XXI territoacuterio de vida de luta e de construccedilatildeo da justiccedila social OLIVEIRA A U e MARQUES M I M (Orgs) Satildeo Paulo Editora Casa Amarela e Editora Paz e Terra 2004 p 29-70 OLIVEIRA Ariovaldo Umbelino Modo de Produccedilatildeo Capitalista Agricultura e Reforma Agraacuteria Satildeo Paulo FFLCH 2007 184 p Disponiacutevel em lthttpwwwgeografiafflchuspbrgraduacaoapoioApoioApoio_ValeriaPdfLivro_aripdfgt Acesso em 28 abr 2014 PAULINO Eliane Tomiasi ALMEIDA Rosemeire Aparecida Terra e territoacuterio a questatildeo camponesa no capitalismo Satildeo Paulo Expressatildeo Popular 2010 THOMAZ JUacuteNIOR Antonio Por uma geografia do trabalho Revista Pegada Presidente Prudente (SP) v 3 Nuacutemero Especial p 4-26 ago 2002 THOMAZ JUNIOR Antonio O agrohidronegoacutecio no centro das disputas territoriais e de classe no Brasil do Seacuteculo XXI Campo Territoacuterio V 5 Ndeg 10 Uberlacircndia 2010 Disponiacutevel em lthttpwwwseerufubrindexphpcampoterritorioarticleview12042gt Acesso em 16 jul 2015

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A QUESTAtildeO DA TERRA E O ENSINO DE GEOGRAFIA A IMPORTAcircNCIA DESSE ESTUDO

PARA A COMPREENSAtildeO DO ESPACcedilO AGRAacuteRIO E AS SUAS CONTRADICcedilOtildeES

Mara Iacuteris Barreto Limasup1

(Universidade Federal de Sergipe) (Graduanda em GeografiaLicenciatura)

E mail mara21irisgmailcom

Joyce Kelly de Jesus Santossup2 (Universidade Federal de Sergipe)

(Graduanda em GeografiaLicenciatura) E mail kellysts17gmailcom

RESUMO

Este artigo tem como finalidade discutir a importacircncia do estudo da questatildeo agraacuteria no Brasil com base nas contradiccedilotildees encontradas na estrutura fundiaacuteria em diferentes eacutepocas assim como adentrar no ensino de Geografia para uma maior compreensatildeo da realidade nacional posto que haacute a necessidade de abordar tais temaacuteticas na Educaccedilatildeo Baacutesica e no Ensino Superior Dessa maneira eacute observar atraveacutes da oficina ldquoMuacutesica e Geografiardquo realizada pelos bolsistas do Pibid na IV Semana Acadecircmico-Cultural da Universidade Federal de Sergipe ndash no Campus Universitaacuterio Prof Alberto Carvalho em Itabaiana com a oacutetica de refutar toda disseminaccedilatildeo da miacutedia que transmite o agronegoacutecio como resoluccedilatildeo do desenvolvimento econocircmico nacional Assim como ressaltar a importacircncia dessas problematizaccedilotildees para desmascarar os ldquobenefiacuteciosrdquo do modelo agroexportador no territoacuterio brasileiro pautando assim na formaccedilatildeo educativa e consciente dos ouvintes que fazem parte dessa dinacircmica alusiva ao espaccedilo

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agraacuterio do paiacutes em diferentes contextos histoacutericos quais marcaram e marcam a questatildeo fundiaacuteria de nossa sociedade as lutas e resistecircncias dos camponeses bem como a discussatildeo com o uso dos agrotoacutexicos que vatildeo parar nas mesas dos brasileiros sem perder de vista ainda todas as contribuiccedilotildees para a compreensatildeo e reflexatildeo da educaccedilatildeo na realidade social estudada Ademais eacute resgatar todos esses elementos que foram encadeados no rol das discussotildees desses processos histoacutericos validando-se tambeacutem na expressatildeo da questatildeo agraacuteria ao ensino de Geografia como indispensaacuteveis para se fazer uma leitura das contradiccedilotildees atuais no espaccedilo agraacuterio brasileiro com o olhar criacutetico e questionador Palavras-chave Geografia Agraacuteria Ensino Agronegoacutecio INTRODUCcedilAtildeO

O debate sobre a questatildeo agraacuteria no Brasil eacute recente surgiu em meados do seacuteculo XX dentro dos partidos de esquerda (STEacuteDILE 2012) Essa discussatildeo se faz de grande relevacircncia no paiacutes pois predomina a concentraccedilatildeo de terra e a criminalizaccedilatildeo dos movimentos sociais que lutam pela reforma agraacuteria Dessa maneira a Geografia eacute uma das ciecircncias que estudam essa questatildeo tatildeo importante para a leitura social e espacial da sociedade

Haja vista o ensino de Geografia deve proporcionar ao aluno uma visatildeo criacutetica da sociedade por conseguinte estudar o espaccedilo agraacuterio brasileiro busca evidenciar suas contradiccedilotildees e desmitificar os estereoacutetipos tornando-o fundamental e imprescindiacutevel para essa ciecircncia Nessa perspectiva foi realizada a oficina de ldquoMuacutesica e Geografiardquo que abordou esses temas atraveacutes da muacutesica ldquoReis do Agronegoacuteciordquo do cantor Chico Ceacutesar apresentando assim as relaccedilotildees de exploraccedilatildeo e expropriaccedilatildeo nas dinacircmicas capitalistas

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A metodologia utilizada para o desenvolvimento dessa oficina foi um levantamento bibliograacutefico sobre a temaacutetica e dramatizaccedilatildeo Constituiu-se como uma pesquisa qualitativa pautada no meacutetodo do materialismo-histoacuterico dialeacutetico uma vez que buscamos resgatar o caraacuteter histoacuterico e a dialeacutetica da ocupaccedilatildeo do espaccedilo agraacuterio e como a terra se estabelece como um elemento essencial para a reproduccedilatildeo do capitalismo legitimando assim a constante apropriaccedilatildeo da Natureza pela accedilatildeo humana

De tal modo ainda dentro do estudo em Geografia e mais especificamente a Geografia Agraacuteria haacute vaacuterias vertentes ao qual nesse artigo trabalhamos com conceito de camponecircs e a sua resistecircncia frente ao capitalismo enfatizando a luta pela terra identificando assim os confrontos e conflitos no campo as lutas sociais como vozes dos grupos oprimidos e dentre outros aspectos que compreendem a leitura do espaccedilo geograacutefico brasileiro UM BREVE HISTOacuteRICO DA ESTRUTURA FUNDIAacuteRIA BRASILEIRA A questatildeo da terra inicia-se com a proacutepria exploraccedilatildeo colonial tendo em vista a loacutegica do Capitalismo Comercial que se originava no bojo das relaccedilotildees de poder e economia em continente europeu Haja vista o paiacutes ainda natildeo tinha a dimensatildeo territorial que se compreende na atualidade e as terras de Pindorama eram as riquezas dos povos nativos que existiram nessa porccedilatildeo da Ameacuterica do Sul Natildeo obstante as relaccedilotildees que se sucederam foram baseadas primordialmente na agricultura tendo como pilares as extensas aacutereas voltadas para a Plantation com a exploraccedilatildeo de matildeo de obra escrava como ressalta Eduardo Galeano a sua configuraccedilatildeo inicial de apropriaccedilatildeo da terra

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[] A plantaccedilatildeo nascida da demanda de accediluacutecar no ultramar era uma empresa movida pelo afatilde do lucro de seu proprietaacuterio e posta a serviccedilo do mercado que a Europa ia articulando internacionalmente Por sua estrutura interna no entanto ndash e considerando que em boa medida bastava-se a si mesma - alguns de seus traccedilos dominantes eram feudais (GALEANO 2017 p 92)

Assim como o ldquoassassinato da terrardquo no Nordeste brasileiro no periacuteodo colonial se legitimou na figura da exploraccedilatildeo que era particular e combinada do capitalismo crescente fazendo surgir novos perfis de ocupaccedilatildeo e uso das terras brasileiras Consoante a isso ldquoAs terras foram cedidas pela Coroa Portuguesa em usufruto aos primeiros e grandes terras-tenentes do Brasil A faccedilanha da conquista deveria correr paralela com a organizaccedilatildeo da produccedilatildeordquo (GALEANO 2017 p 94)

Com o correr do tempo o caraacuteter da exploraccedilatildeo capitalista incorporava novas condiccedilotildees que discriminavam os primeiros camponeses nas aacutereas mais distantes das colocircnias tropicais e subtropicais da Ameacuterica O valor dos escravos jaacute se configurava antes mesmo das terras brasileiras os periacuteodos coloniais e imperiais foram basilares para a construccedilatildeo de estereoacutetipos na cultura nacional na pujanccedila das relaccedilotildees econocircmicas administrativas e poliacuteticas quais se delimitavam nos seacuteculos que sucederam no ldquolongo seacuteculo XVIrdquo (MORAES 2000) Desse modo eacute importante estabelecer uma compreensatildeo referente a grandes e pequenas propriedades de terras em conformidade com Caio Prado Juacutenior em ressaltar

[] O regime de posse da terra foi o da propriedade alodial e plena Entre os

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poderes dos donataacuterios das capitanias estava como vimos o de disporem das terras que se distribuiacuteram entre os colonos As doaccedilotildees foram em regra muito grandes medindo-se os lotes por muitas leacuteguas O que eacute compreensiacutevel sobravam as terras e as ambiccedilotildees daqueles pioneiros recrutados a tanto custo natildeo se contentariam evidentemente com propriedades pequenas natildeo era a posiccedilatildeo de modestos camponeses que aspiravam ao novo mundo mas de grandes senhores e latifundiaacuterios (PRADO JR 2008 p 33)

A concentraccedilatildeo de terras no Brasil eacute de caraacuteter histoacuterico suas influecircncias se remetem aos contextos histoacutericos de outrora A estrutura fundiaacuteria presente atualmente no paiacutes vem desde a colonizaccedilatildeo inicialmente com a divisatildeo das terras em Capitanias Hereditaacuterias e posteriormente com a Lei das Sesmarias Nesse sistema todas as terras pertenciam agrave Coroa e eram distribuiacutedas para os donataacuterios atraveacutes da ldquoconcessatildeo de usordquo que se caracterizava como

[] de direito hereditaacuterio ou seja os herdeiros do fazendeiro-capitalista poderiam continuar com a posse das terras e com a sua exploraccedilatildeo Mas natildeo lhes dava direito de venderem as terras ou mesmo de comprarem terras vizinhas Na essecircncia natildeo havia propriedade privada das terras ou seja as terras ainda natildeo eram mercadorias (STEacuteDILE 2012 p 24)

Com efeito as concentraccedilotildees de terras se consolidaram com o latifuacutendio pautado na matildeo de obra escrava e em extensas aacutereas de produccedilatildeo em 1850 no paiacutes Nesse periacuteodo o governo imperial vivia um impasse visto

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que a Inglaterra pressionava o Brasil para abolir a escravatura Dessa forma para impedir que os ex-escravos se apossassem das terras devolutas foi proclamada a Lei nordm 601 de 18 de setembro de 1850 popularmente conhecida como Lei de Terras Agrave vista disso ldquo[] foi uma soluccedilatildeo encontrada pela elite brasileira para manter inalterada a estrutura agraacuteria impedindo o acesso livre agrave terra por parte da populaccedilatildeo pobre que era maioriardquo (MIRALHA 2006 p 153) Pela primeira vez no paiacutes a terra eacute vista como mercadoria tendo um valor atribuiacutedo agraves aacutereas brasileiras Para Steacutedile a caracteriacutestica principal dessa lei

[] eacute implantar no Brasil a propriedade privada das terras Ou seja a lei proporciona fundamento juriacutedico agrave transformaccedilatildeo da terra ndash que eacute um bem da natureza e portanto natildeo tem valor do ponto de vista da economia poliacutetica ndash em mercadoria em objeto de negoacutecio passando portanto a partir de entatildeo a ter preccedilo A lei normatizou entatildeo a propriedade privada da terra (STEacuteDILE 2012 p 24)

A deacutecada de 1930 marcou um novo periacuteodo na histoacuteria da economia brasileira A Grande Crise de 1929 acarretou a crise do modelo agroexportador obrigando o paiacutes a se industrializar poreacutem surgiu uma induacutestria ligada ao campo e dependente dos paiacuteses centrais em virtude que nesse primeiro momento foram compradas maacutequinas usadas de faacutebricas falidas dos paiacuteses ricos atingidos pela crise econocircmica Como o Brasil natildeo possuiacutea matildeo-de-obra especializada precisou ainda se importar maacutequinas (FURTADO 2007) assim como explorar a matildeo-de-obra ldquodisponiacutevelrdquo em solo brasileiro valendo ressaltar que ldquo[] a importaccedilatildeo dessas maacutequinas soacute era possiacutevel pela continuidade das exportaccedilotildees agriacutecolas que geravam divisas para seu

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pagamento fechando o ciclo da loacutegica da necessidade do capitalismo dependenterdquo (STEacuteDILE 2012 p 30) Nesse contexto agravou-se a contradiccedilatildeo no campo brasileiro dado que

[] os camponeses ao mesmo tempo em que se reproduziam e se multiplicavam enquanto classe tiveram parcelas crescentes de seus membros migrando para as cidades e se transformando em operaacuterios Na estrutura da propriedade da terra [] Por um lado havia a multiplicaccedilatildeo de pequenas propriedades pela compra e venda e reproduccedilatildeo das unidades familiares E por outro lado em vastas regiotildees a grande propriedade capitalista avanccedilava e concentrava mais terra mais recursos (STEacuteDILE 2012 p 32)

A partir de meados do seacuteculo XX surgem os primeiros debates sobre a questatildeo agraacuteria no Brasil dentro dos partidos de esquerda nesse periacuteodo o ecircxodo rural se consolidou no paiacutes devido agrave mecanizaccedilatildeo do campo e uma massa de camponeses comeccedilou a ser expropriada e migrou para a cidade aleacutem de se tornar subordinada ao capital industrial Foi nesse cenaacuterio que surgiram movimentos sociais que lutam por transformaccedilotildees estruturais da sociedade (STEacuteDILE 2012) Dentre os quais podemos destacar As Ligas Camponesas e na deacutecada de 1990 o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) ao qual exerceu e exerce um papel importante na miacutenima distribuiccedilatildeo de terras que haacute no paiacutes na contemporaneidade

Deste modo o novo contexto diante da situaccedilatildeo agraacuteria em todo o paiacutes ganhava novas nuances diante da conjuntura poliacutetico-econocircmica e ideoloacutegica que se formavam no territoacuterio brasileiro Ademais o MST em sua origem de

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formaccedilatildeo passou a desempenhar papel preponderante na luta pela reforma agraacuteria pela equidade de direitos contra a concentraccedilatildeo fundiaacuteria e pela desobediecircncia aos latifundiaacuterios expropriadores das terras brasileiras eou ao proacuteprio Estado tomando-os como reinvindicaccedilotildees na realizaccedilatildeo de poliacuteticas para assentamentos no campo e para a legitimaccedilatildeo desse movimento social no paiacutes Outrossim a maacute distribuiccedilatildeo de terras foi concomitante ao proacuteprio processo de subordinaccedilatildeo das massas populares passando de cenaacuterios histoacutericos a novos contextos soacutecio-poliacuteticos de caraacuteter paulatinamente explorador Nessas circunstacircncias os personagens eram os mesmos o senhor de engenho versus o escravo o latifundiaacuterio versus o camponecircs ambos imbricados na teia de relaccedilotildees de poder e subordinaccedilatildeo constante em diferentes espacializaccedilotildees em territoacuterio nacional Sendo assim a dialeacutetica das relaccedilotildees sociais vai se impondo dentro desses quadros bem como na percepccedilatildeo de entender o espaccedilo geograacutefico a partir de confrontos fundamentados na propriedade privada das terras e nas ideologias que vatildeo se formando em diferentes temporalidades na sociedade A OFICINA DE MUacuteSICA E GEOGRAFIA A Geografia deve propiciar ao aluno um olhar emancipador que seja possiacutevel enxergar as contradiccedilotildees sociais e espaciais e como se estabelecem as relaccedilotildees de poder assim como colocaacute-los como agentes ativos e participativos na produccedilatildeo do espaccedilo a fim de melhor compreendecirc-lo Outro fator importante eacute a aproximaccedilatildeo dos conteuacutedos da realidade do estudante assim haveraacute uma maior motivaccedilatildeo em aprender e permite ainda um diaacutelogo essencial para o estudo geograacutefico Para Oliveira eacute necessaacuterio

[] um ensino que busque incutir nos alunos

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uma postura criacutetica diante da realidade comprometida com o homem e a sociedade natildeo com o homem abstrato mas com o homem concreto com a sociedade tal qual ela se apresenta dividida em classes com conflitos e contradiccedilotildees E contribua para sua transformaccedilatildeo (OLIVEIRA 1989 p 143)

Nesse contexto eacute vaacutelido trabalhar a questatildeo da terra e seus desdobramentos tendo em vista que a estrutura fundiaacuteria do Brasil eacute altamente concentrada e os conflitos que satildeo muito presentes em todo o territoacuterio nacional satildeo relevantes para o entendimento de tais problemaacuteticas e as suas particularidades Nesse sentido essa temaacutetica pode ser abordada tanto na Educaccedilatildeo Baacutesica quanto no Ensino Superior pois permite uma interlocuccedilatildeo entre os sujeitos participativos dessas questotildees sociais no Brasil

Dito isto foi realizada a atividade de extensatildeo Praacutexis Pedagoacutegica o Pibid na formaccedilatildeo de professores de Geografia na IV Semana Acadecircmico-Cultural da Universidade Federal de Sergipe ndash no Campus Universitaacuterio Prof Alberto Carvalho em Itabaiana - SE com a oficina de ldquoMuacutesica e Geografiardquo ministrada por bolsistas do Pibid O principal objetivo dessa oficina foi tratar a questatildeo agraacuteria no espaccedilo geograacutefico brasileiro atraveacutes da muacutesica ldquoReis do Agronegoacuteciordquo de Chico Ceacutesar que mostra os malefiacutecios do agronegoacutecio e os seus rebatimentos na sociedade desmistificando assim toda a propaganda beneacutefica que eacute feita deste por meio da miacutedia e por suas consequentes alienaccedilotildees

O principal recurso da oficina foi a muacutesica jaacute referida A partir dela ocorreu uma problematizaccedilatildeointeraccedilatildeo com os participantes envolvidos revelando nesse vieacutes a sistematizaccedilatildeo do processo de espacializaccedilatildeo das relaccedilotildees capitalistas aos quais exploravam e exploram as terras e as

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forccedilas de trabalho em territoacuterio brasileiro considerando-se a consolidaccedilatildeo dos proacuteprios interesses econocircmicos do agronegoacutecio Concomitantemente os discentes puderam participar da oficina ao debaterem e estarem inseridos na canccedilatildeo por meio das problematizaccedilotildees propostas pelos pibidianos como eacute verificado na figura 1 ao explicitar o envolvimento destes no momento interativo em questatildeo contribuindo ainda na discussatildeo referente aos conhecimentos dos estudantes como forma de abrir espaccedilo para as diferentes oacuteticas e aprendizagens na oficina (ver figura 1) Figura 1 - Dinacircmica envolvendo a participaccedilatildeo de discentes do curso de Geografia de diferentes periacuteodos com grande contribuiccedilatildeo teoacuterica acerca das temaacuteticas trabalhadas durante a oficina

Fonte acervo do Pibid 2017

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Aleacutem disso foram feitos cartazes com frases e dados que mostravam os danos causados por esse sistema tais quais destacaram os domiacutenios do agronegoacutecio em distintas regiotildees do paiacutes Os ministrantes da oficina se caracterizaram com os personagens que satildeo descritos na muacutesica como a exemplos de latifundiaacuterio camponesa representante do MST e entre outros personagens interpretando os muacuteltiplos papeacuteis e as suas resistecircncias sendo de suma importacircncia destacar os esforccedilos dos pibidianos ao elaborarem os materiais para a realizaccedilatildeo da atividade citada e pelas simbologias construiacutedas em todo o periacuteodo proposto na semana acadecircmica referida (ver figura 2) Figura 2 - Bolsistas durante a apresentaccedilatildeo da oficina ldquoMuacutesica e Geografiardquo com a discussatildeo da muacutesica ldquoReis do agronegoacuteciordquo de Chico Ceacutesar

Fonte acervo do Pibid 2017

Paralelamente as caracterizaccedilotildees foram pautadas em

toda a coerecircncia da canccedilatildeo possibilitando ao puacuteblico alvo um

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momento de aproximaccedilatildeo e revelaccedilatildeo de questotildees natildeo abordadas em sala de aula tendo em vista ainda a dinacircmica existente entre todos os sujeitos ao propiciar discussotildees sobre casos proacuteximos de suas experiecircncias com relatos de alguns ouvintes que assistiam agraves encenaccedilotildees Os recursos utilizados na oficina foram primordiais para a realizaccedilatildeo desta com a utilizaccedilatildeo de materiais (cartazes objetos imagens e recursos de viacutedeos) desenvolvidos pelos proacuteprios bolsistas como resultados de intensa labuta e dedicaccedilatildeo para a concretizaccedilatildeo da oficina supracitada (ver figura 3) Figura 3 ndash Apresentaccedilatildeo da oficina ldquoMuacutesica e Geografiardquo com ecircnfase nas questotildees de intoleracircncia o agronegoacutecio a concentraccedilatildeo das terras e outras temaacuteticas abordadas

Fonte acervo do Pibid 2017

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Por conseguinte o puacuteblico se constituiu por discentes

de vaacuterios cursos de graduaccedilatildeo permitindo a estes um debate imprescindiacutevel para uma leitura do espaccedilo agraacuterio brasileiro e as suas contradiccedilotildees atraveacutes de assuntos como a questatildeo agraacuteria o uso de agrotoacutexicos e o agronegoacutecio Desse modo permitiram-se revelar ao puacuteblico os problemas gerados pelo uso dos agroquiacutemicos os derramamentos de sangue de grupos que defendem o campesinato e entre outras questotildees proporcionando assim um momento de autoconhecimento e discussotildees sobre as problemaacuteticas que circulam nossa sociedade

Do mesmo modo eacute ressaltar a importacircncia do diaacutelogo que ocorreu entre o puacuteblico e os ministrantes como uma forma de construccedilatildeo de conhecimentos e autorreflexatildeo desmistificando ainda algumas ideias equiacutevocas dos jovens na tentativa de tornar puacuteblico as atrocidades que estavam e estatildeo nas entrelinhas das relaccedilotildees econocircmico-sociais existentes Bem como questionar a alienaccedilatildeo que a propaganda do agronegoacutecio vem acometendo paulatinamente todas as parcelas da sociedade fazendo destas os seus alvos e consequentemente suas presas CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Diante disso foi perceptiacutevel que a temaacutetica da questatildeo

da terra eacute importante ser debatida na escola e na universidade para desmitificar ideias fundamentadas no que a grande miacutedia propaga Nessa via alguns alunos ainda possuiacuteam uma visatildeo de senso comum a respeito da induacutestria do agronegoacutecio do mesmo modo que havia uma visatildeo marginalizada de movimentos sociais do campo a exemplo do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) sendo possiacutevel destacar a tentativa de reversatildeo dessas concepccedilotildees tatildeo ldquonaturalizadasrdquo

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por parte dos ministrantes Considerou-se ainda a importante questatildeo da terra brasileira possibilitando o debate e a criaccedilatildeo de um momento iacutempar para a formaccedilatildeo de novos conhecimentos sobre a realidade do campo brasileiro O trabalho desenvolvido permitiu a construccedilatildeo e desconstruccedilatildeo de conceitos como por exemplos os conceitos de ocupaccedilatildeo e invasatildeo bem como a reflexatildeo de cada termo usado suas contextualizaccedilotildees e repercussatildeo da realidade fundiaacuteria em terras nacionais transformando o imaginaacuterio dos envolvidos em um momento de diaacutelogo e trocas de experiecircnciasrelatos no acircmbito universitaacuterio assim como para ir aleacutem dos muros da universidade Em conformidade com todos os aspectos explorados eacute plausiacutevel ainda trazer a necessidade de enfatizar a estrutura fundiaacuteria e as suas consequentes desigualdades sociais como leituras de todo esse processo analiacutetico e fazer questionamentos nele apoiados na visatildeo criacutetica-construtiva como foco de revelaacute-las e natildeo reproduzir essas correntes que ainda aprisionam as ideias e os seus sujeitos Assim eacute mister tambeacutem observar as abordagens da questatildeo agraacuteria desde seu contexto histoacuterico ndash com a leitura de outrora ndash ateacute entender o perfil dessa questatildeo fundiaacuteria na atualidade sendo que os malefiacutecios causados pela agroinduacutestria e o uso de agrotoacutexicos que vatildeo para as mesas dos brasileiros satildeo frutos de uma estrutura desigual e exploradora pois fazem parte da loacutegica do capitalismo a desigualdade e todas as contradiccedilotildees nos espaccedilos analisados

Em suma a oficina serviu para descontruir esses estereoacutetipos proporcionou aos ouvintes uma visatildeo mais criacutetica e analiacutetica em relaccedilatildeo agrave questatildeo agraacuteria do paiacutes propiciando ainda uma maior reflexatildeo diante da conjuntura histoacuterica-social em formaccedilatildeo e transformaccedilatildeo no Brasil Com isso a Geografia e particularmente a Geografia Agraacuteria juntamente com o

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ensino dessa ciecircncia reforccedilam tais laccedilos pautados na anaacutelise histoacuterica e dialeacutetica na (re)produccedilatildeo do espaccedilo geograacutefico legitimando assim uma importante temaacutetica que necessita de mais discussotildees e inclusotildees de ideias para se compreender as relaccedilotildees impostas pelo modo de produccedilatildeo capitalista e agraves suas incessantes contradiccedilotildees e discursos de desenvolvimento nacional quais devem ser desmascaradas e reavaliadas em prol de um bem comum propiciado a todos e natildeo a uma minoria

REFEREcircNCIAS FURTADO Celso Formaccedilatildeo Econocircmica do Brasil 34 ed Satildeo Paulo Companhia das Letras 2007 GALEANO Eduardo H As Veias Abertas da Ameacuterica Latina Traduccedilatildeo de Sergio Faraco ndash Porto Alegre RS LampPM POCKET v900 2017 MIRALHA Wagner Questatildeo agraacuteria brasileira origem necessidade e perspectivas de reforma hoje Revista NERA Presidente Prudente Ano 9 n 8 pp 151-172 jan-jun 2006 MORAES Antocircnio Carlos Robert A Europa no ldquoLongordquo Seacuteculo XVI (1460-1640) In MORAES Antocircnio Carlos Robert Bases da Formaccedilatildeo Territorial do Brasil O Territoacuterio Colonial Brasileiro no ldquoLongordquo Seacuteculo XVI 2 ed Satildeo Paulo Hucitec 2000 p 31 a 49 OLIVEIRA Ariovaldo Umbelino de Educaccedilatildeo e Ensino de Geografia na Realidade Brasileira In OLIVEIRA Ariovaldo Umbelino de (Org) Para onde vai o ensino de Geografia Satildeo Paulo Editora Contexto 1989 p 135 a 144

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PRADO JR Caio A Ocupaccedilatildeo Efetiva (1530-1640) In PRADO JR Caio Histoacuteria Econocircmica do Brasil Satildeo Paulo Brasiliense 2008 p 29 a 40 STEacuteDILE Joatildeo Pedro (org) A Questatildeo Agraacuteria no Brasil o debate na esquerda ndash 1960-1980 2 ed Satildeo Paulo Expressatildeo Popular 2012

lsquoNEGAR-SE PARA PERSISTIR-SErsquo INFORMALIDADE DO TRABALHO NO CAMPO

Bruno Andrade Ribeirosup1

(Universidade Federal de Sergipe) (Mestrando em Geografia PPGEOCNPqUFS)

E mail ribeiropensadorgmailcom

RESUMO

O escrito constitui-se em consideraccedilotildees iniciais sobre um objeto analiacutetico de pesquisa em andamento acerca do aumento da informalidade do trabalho no espaccedilo agraacuterio sergipano tendo como recortes espaciais os municiacutepios de Itabaiana e Lagarto A partir do mapeamento de dados secundaacuterios e de observaccedilotildees preacutevias objetiva-se compreender o aumento da informalidade no campo suas causas e impactos na reproduccedilatildeo das famiacutelias camponesas Diante disso o primeiro caminho passa por considerar o campesinato enquanto classe inserida na contramatildeo do desenvolvimento combinado e desigual do capitalismo A crise estrutural do modo de produccedilatildeo vigente trouxe problemaacuteticas a serem pautadas para que se compreenda a situaccedilatildeo atual do campo brasileiro natildeo eacute por simples acaso

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que cada vez mais o camponecircs perpasse pela precarizaccedilatildeo de seu labor tornando-se moacutevel supeacuterfluo e andarilho Nesse sentido o aumento da informalidade do trabalho dono campo se encontra incluso no processo de acumulaccedilatildeo pois rebaixa os custos de produccedilatildeo e assegura a manutenccedilatildeo e reproduccedilatildeo do excedente estrutural de forccedila de trabalho inclusive no campo Uma informalidade difundida enquanto instrumento de autonomia independecircncia e transformaccedilatildeo do trabalhador em lsquopequeno empreendedorrsquo e que em seu movimento de desterritorializaccedilatildeo do camponecircs possibilita essa classe buscar mecanismos de perpetuaccedilatildeo de sua condiccedilatildeo social um negar-se para continuar sendo aquilo que nunca deixaram de ser Palavras-chave Campesinato Reestruturaccedilatildeo Produtiva Informalidade INTRODUCcedilAtildeO percalccedilos de uma classe revolucionaacuteria

O presente escrito constitui-se em um estudo inicial sobre a informalidade do trabalho9 no espaccedilo agraacuterio sergipano considerando as diferentes formas buscadas pelo camponecircs para vencer as revezes da reestruturaccedilatildeo produtiva do capital (THOMAZ JUNIOR 2004) Ao considerar a categoria trabalho enquanto instrumento de autorealizaccedilatildeo da humanidade reconhecendo o metabolismo social do capital possibilita que a Geografia apreenda o movimento dialeacutetico entre sociedade e natureza compreendendo desse modo a polissemia do labor no mundo atual

9 As consideraccedilotildees dados e leituras expressos e detalhados no texto advecircm

da Pesquisa em andamento sobre informalidade dono espaccedilo agraacuterio sergipano empreendida no acircmbito do Mestrado Acadecircmico em Geografia (Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Geografia Universidade Federal de Sergipe) sob orientaccedilatildeo da Professora Dra Josefa de Lisboa Santos

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De acordo com os estudos de Oliveira (2007) e Thomaz Junior (2004) a reestruturaccedilatildeo produtiva do capital no campo brasileiro caracteriza-se por transformaccedilotildees territoriais que se expressam no aumento da concentraccedilatildeo de terra dos conflitos agraacuterios e pelos pacotes tecnoloacutegicos que pregam a modernizaccedilatildeo do campo As imposiccedilotildees do Consenso de Washington por exemplo defendem uma lsquorevalorizaccedilatildeo da agricultura de exportaccedilatildeorsquo juntamente com uma seacuterie de medidas que incluem o ajuste fiscal reduccedilatildeo do tamanho do Estado privatizaccedilatildeo abertura comercial fim das restriccedilotildees ao capital externo abertura financeira desregulamentaccedilatildeo e reestruturaccedilatildeo do sistema previdenciaacuterio (NOVAES 2008) Dentre as consequecircncias para o camponecircs um visiacutevel aumento da informalidade atrelada agrave precarizaccedilatildeo e precariedade do trabalho aprofundado a partir dos anos 1990 e as medidas de flexibilizaccedilatildeo da legislaccedilatildeo trabalhista caracterizada pela vulnerabilidade e inseguranccedila na relaccedilatildeo de trabalho (OLIVEIRA GOMES TARGINO 2011)

No contexto das lsquomarchas e contramarchasrsquo da informalidade a ocupaccedilatildeo agriacutecola tem sido cada vez mais caracterizada pela precariedade e maacute qualidade dos postos de trabalho com um aumento de contratos temporaacuterios e precarizados Ao mesmo tempo a expropriaccedilatildeo da renda da terra atraveacutes da territorializaccedilatildeo e monopolizaccedilatildeo do capital desloca o ser social do campo em direccedilatildeo aos centros urbanos sujeitos a atividades heterogecircneas e complexas a exemplo da camelotagem (loacutecus de comercializaccedilatildeo de mercadorias) (OLIVEIRA GOMES TARGINO 2011)

De acordo com dados do Departamento Intersindical de Estatiacutestica e Estudos Socioeconocircmicos (DIEESE) em

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2013 594 dos trabalhadores natildeo possuiacuteam carteira assinada totalizando 24 milhotildees sob condiccedilotildees de informalidade10

Trata-se de grande retrocesso nas condiccedilotildees de trabalho alcanccediladas em deacutecadas de lutas dos trabalhadores que apenas com a Constituiccedilatildeo de 1988 tiveram seus direitos equiparados ao do trabalhador urbano e que antes disso contaram com o Estatuto do Trabalhador Rural de 1963 conquistado apoacutes os conflitos agraacuterios dos anos 50 (BUZATO PINTO 2017 p1)

Os nuacutemeros revelam que a condiccedilatildeo de informalidade na maioria das vezes associada ao acircmbito urbano configura-se em tendecircncia ascendente no campo brasileiro As formas precaacuterias de trabalho caracterizadas por ofiacutecios de curta duraccedilatildeo acabam sendo aceitas pelos trabalhadores que natildeo conseguem empregos ligados ao cultivo da terra A baixa escolaridade e a remuneraccedilatildeo piacutefia tambeacutem satildeo elementos considerados ao analisarmos a informalidade no campo pois em 2013 os 2383473 milhotildees de empregados rurais sem carteira assinada recebiam em meacutedia R$ 57920 muito abaixo dos R$ 112079 recebidos pelos 1612917 milhotildees de empregados rurais com carteira assinada (DIEESE 2013)

No acircmbito dos trabalhadores rurais sem carteira assinada 276462 de sujeitos estatildeo ligados aos serviccedilos o que pode incluir bicos pequenos favores a exemplo de faxineiros moto-taacutexis bicheiros auxiliares em geral vendedores ambulantes etc Um nuacutecleo amplo e heterogecircneo de pessoas que para resistirem no campo se deslocam diariamente para cumprirem suas funccedilotildees e sobreviverem materializando deslocamentos interurbanos entrecampos e campo-cidade

10 Ver httpwwwmstorgbr20141105pesquisa-revela-aumento-da-informalidade-e-precarizacao-no-campohtml

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(THOMAZ JUNIOR 2004) Estes sujeitos buscam na cidade e no proacuteprio campo estrateacutegias de reproduccedilatildeo social como forma de permanecerem camponeses

No estado de Sergipe o DIEESE calcula que dos 77365 trabalhadores que habitam o campo 70132 (907) correspondem a parcela que integra a Taxa de Ilegalidade ou informalidade (percentual de sem carteira no total de empregados) proporccedilatildeo esta que eacute superada apenas pelos estados do Cearaacute e do Acre Portanto percebe-se a necessidade de estudo sobre tal panorama que tecircm implicaccedilotildees diretas no espaccedilo atraveacutes de reordenamentos territoriais Uma realidade que nos faz resgatar a afirmaccedilatildeo de Thomaz Junior (2004 p 8) quando diz que

[] quase tudo que ateacute meados dos anos 80 era considerado ilegal como viacutenculo de trabalho sem carteira assinada ou sem registro contrato temporaacuterio instabilidade jornada com duraccedilatildeo variaacutevel ganharam natildeo somente a dimensatildeo da legalidade mas tambeacutem a chancela da legitimidade

As formas atuais de valorizaccedilatildeo do valor trazem embutidos novos modos de geraccedilatildeo da mais-valia (em sua forma absoluta) Desse modo o trabalho torna-se sobrante descartaacutevel expandindo o nuacutemero de desempregados deprimindo a remuneraccedilatildeo da forccedila de trabalho retraindo o valor necessaacuterio agrave sobrevivecircncia dos trabalhadores e trabalhadoras (THOMAZ JUNIOR 2004) No campo onde persistem algumas formas natildeo-capitalistas de produccedilatildeo a terra eacute a garantia de sobrevivecircncia tendo um valor de uso atribuiacutedo ao proacuteprio trabalho (OLIVEIRA 2012) contudo no contexto da reestruturaccedilatildeo produtiva do capital o que se assiste eacute um processo de precarizaccedilatildeo do trabalho em todos os acircmbitos

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econocircmico fiacutesico mental emocional etc (DAL ROSSO 2008 TAVARES 2004 THOMAZ JUNIOR 2004)

O modelo de acumulaccedilatildeo flexiacutevel implica em utilizaccedilatildeo de teacutecnicas cada vez mais inovadoras de produccedilatildeo para o encurtamento do ciclo do capital com a modernizaccedilatildeo e aquisiccedilatildeo de novos equipamentos a enxada eacute substituiacuteda pelas tecnologias e venenos Diminuem-se as chances de trabalho camponecircs seja na lavoura temporaacuteria ou permanente e a informalidade atrelada agrave precarizaccedilatildeo torna-se um horizonte de busca de manutenccedilatildeo e realizaccedilatildeo das condiccedilotildees baacutesicas para sobrevivecircncia

Portanto a partir do mapeamento de referecircncias teoacuterico-metodoloacutegicas de dados sobre a situaccedilatildeo do trabalho camponecircs no Brasil e mais especificamente em Sergipe bem como de relatos e observaccedilotildees nos recortes espaciais de anaacutelise emerge a possibilidade de discussatildeo e apreensatildeo sobre como o discurso da informalidade tem se disseminado no campo possibilidade de lsquoautonomiarsquo e status de lsquocapitalistarsquo Instrumento de expropriaccedilatildeo do trabalhador e obtenccedilatildeo de Mais-Valia Ou estrateacutegia re (criativa) de persistecircncia no modo de serviversaber camponecircs

DESENVOLVIMENTO o camponecircs sob o signo dialeacutetico

De acordo com Tavares (2002 p 5) ldquoo novo milecircnio inaugura a era do trabalho informalrdquo o que se leva a indagar o que isso significa ou o que pode significar

A priori considerar a informalidade dono um processo em expansatildeo ndash que tem abarcado natildeo somente o urbano mas tambeacutem o agraacuterio ndash natildeo se faz em mero ponto de vista O lsquolerrsquo e o lsquoverrsquo expressos aqui se fundamentam atraveacutes de argumentos teoacutericos fundamentados em um meacutetodo a

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oacutetica de busca da essecircncia dos fatos valendo-se de um ir aleacutem da aparecircncia

Desse modo o camponecircs eacute considerado um sujeito histoacuterico e contraditoacuterio que se refaz e recria na medida em que a luta de classes o expulsa o expropria e o envenena Enquanto classe revolucionaacuteria resiste em sua coletividade mesmo inserido em tempos e espaccedilos de individualidade autentica-se moderniza-se (natildeo necessariamente em maacutequinas e venenos mas em estrateacutegias de continuar sendo um ser social dentro de um mundo tecnicista)

De acordo com Oliveira (2004) existem algumas concepccedilotildees teoacutericas sobre o campo e o camponecircs a partir de oacuteticas distintas Positivismo Fenomenologia (percepccedilatildeo do modo de ser do camponecircs) o campo enquanto resquiacutecio do Feudalismo e desse modo o sujeito histoacuterico como lsquosobrantersquo fadado ao desaparecimento na sociedade capitalista Em meio a tais concepccedilotildees emerge o pensarsaber contextualizado no pressuposto de produccedilatildeo desigual e combinada do territoacuterio brasileiro ldquo() ao mesmo tempo em que esse desenvolvimento avanccedila reproduzindo relaccedilotildees especificamente capitalistas o capitalismo produz tambeacutem igual e contraditoriamente relaccedilotildees camponesas de produccedilatildeordquo (OLIVEIRA 2004 p 36)

Desse modo sob essa perspectiva afirma-se a centralidade da categoria Trabalho em sua relaccedilatildeo com a Geografia siacutentese contraditoacuteria e totalidade concreta do modo de produccedilatildeo capitalista Nesse sentido o territoacuterio natildeo eacute um lsquoa priorirsquo mas uma contiacutenua luta da sociedade pela socializaccedilatildeo da natureza uma unidade dialeacutetica ndash construccedilatildeo e destruiccedilatildeo valorizaccedilatildeo produccedilatildeo e reproduccedilatildeo

Informalidade dono campo sergipano

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De iniacutecio deve-se atentar e fazer a devida criacutetica para as leituras que consideram a informalidade sinocircnimo de autonomia e emancipaccedilatildeo do trabalhador podendo ateacute chegar ao status de capitalistas (TAVARES 2002) Tal visatildeo acriacutetica traz consigo a ilusatildeo de que o trabalhador adquire independecircncia simplesmente porque natildeo sai de casa e natildeo sofre uma vigilacircncia no trabalho Na verdade o suposto lsquotrabalho independentersquo eacute executado segundo uma obrigaccedilatildeo por resultados portanto sob rigoroso controle e sob maior exploraccedilatildeo Seja qual for a organizaccedilatildeo do trabalho nesta ordem permanece inalterada a lei do valor (MARX 1974 MEacuteSZAacuteROS 2011)

Nesse contexto a expansatildeo da informalidade eacute funcional ao sistema lsquoOs fios invisiacuteveisrsquo podem ser observados quando se ultrapassa o discurso falseado de autonomia Deve-se observar que o trabalho informal natildeo comporta apenas ocupaccedilotildees excluiacutedas do trabalho coletivo e menos ainda que se restringe agraves atividades de estrita sobrevivecircncia Toda relaccedilatildeo entre capital e trabalho na qual a compra da forccedila de trabalho eacute dissimulada por mecanismos que descaracterizam a condiccedilatildeo formal de assalariamento dando a impressatildeo de uma relaccedilatildeo de compra e venda de mercadorias configura-se um trabalho informal (OLIVEIRA TARGINO 2011)

Fica claro portanto que a informalidade deve ser considerada enquanto adaptaccedilatildeo do trabalho agraves novas formas de obtenccedilatildeo de mais-valia articulada agrave produccedilatildeo capitalista Desse modo a tendecircncia eacute que cada vez mais o trabalho formal estaacutevel decirc lugar ao trabalho precarizado parcial temporaacuterio informal fundamental para o sociometabolismo do capital pois os custos de produccedilatildeo satildeo transferidos para o sujeito vendedor de sua forccedila de trabalho

Aleacutem disso as formas precarizadas de trabalho informal se fazem enquanto processo universal perceptiacutevel tanto nos paiacuteses pobres quanto nos paiacuteses ricos Nas grandes

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metroacutepoles nas pequenas cidades e tambeacutem no campo Nessa discussatildeo tornam-se comuns os deslocamentos pendulares para aacutereas urbanas reconfigurando a relaccedilatildeo campo-cidade concomitante ao gradual desaparecimento de praacuteticas de manejo do solo saberes sobre a lavoura e modos de ser e (re) produzir o campo e o camponecircs As perspectivas satildeo obscuras fim do campo enquanto loacutecus de resistecircncia e de haacutebitos que vatildeo na contramatildeo das relaccedilotildees capitalistas de produccedilatildeo que buscam o lucro acima de tudo

O que aparece como expressatildeo dessa questatildeo eacute que haacute um caraacuteter dual na informalidade ora ela se constitui funcional ao capital ora ela eacute instrumento de resistecircncia camponesa Ao argumentar sobre a funcionalidade da informalidade do trabalho na produccedilatildeo capitalista Tavares (2004) aponta que natildeo haacute a anulaccedilatildeo da extraccedilatildeo de mais-valia mas a preservaccedilatildeo e a intensificaccedilatildeo de sua exploraccedilatildeo cancela-se a proteccedilatildeo ao labor e reduzem-se os custos de produccedilatildeo Ao mesmo tempo a informalidade emerge enquanto instrumento de resistecircncia campesina pois a mobilidade territorial do trabalho revela que o camponecircs manteacutem a sua condiccedilatildeo de ser social persistem no locus de realizaccedilatildeo e na maioria das vezes continuam em atividades intriacutensecas com o trato da terra plantam colhem e cultivam Nas palavras de Paulino Almeida (2010) ldquo() os camponeses interferem resistem criam estrateacutegias para escapar das necessidades do capital que tem na sujeiccedilatildeo da renda da terra um filatildeo de produccedilatildeo de capitalrdquo (PAULINO ALMEIDA 2010 p 54)

Portanto emerge a possibilidade de desvelar o papel desse sujeito na produccedilatildeo do espaccedilo agraacuterio que atraveacutes de seu trabalho ato teleoloacutegico apropria-se do espaccedilo e resiste contra as forccedilas contraditoacuterias do modo de produccedilatildeo capitalista no jogo de relaccedilotildees de poder caracteriacutestico de um territoacuterio

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Neste momento as perguntas se enumeram e as respostas necessitam ser buscadas para que se construa uma leitura criacutetica interdisciplinar que possa oferecer argumentos soacutelidos confrontadores da expropriaccedilatildeo do trabalho pelo capital Uma relaccedilatildeo doentia que pode ser comparada com a pintura de Francisco de Goya11 em que Saturno devora o seu proacuteprio filho em uma macabra cena de negaccedilatildeo de tudo o que se considera humano O capital da mesma forma consome a forccedila humana para a sua sobrevivecircncia e persistecircncia na acumulaccedilatildeo de valor e na produccedilatildeo de desigualdades precarizando trabalho informalizando camponeses adoecendo-os matando-os Resta-se portanto que a teoria os relatos as leituras e as anaacutelises sobre o espaccedilo para a luta (em seus vaacuterios sentidos) sejam concretizados e embasados criticamente

Para a compreensatildeo desse objeto delimita-se como recorte espacial os municiacutepios de Lagarto e Itabaiana no estado de Sergipe que aparecem como os dois municiacutepios onde o fenocircmeno da informalidade no campo eacute maior (OIT 2012) O recorte temporal eacute delineado pela reestruturaccedilatildeo produtiva do capital no poacutes-1970 a partir das determinaccedilotildees impostas aos paiacuteses durante o Consenso de Washington No Brasil12 os efeitos mais imediatos datam dos anos de 1990 atraveacutes da poliacutetica neoliberal de Fernando Collor perpetuada pelos seus sucessores barrando as benesses sociais asseguradas

11 FRANCISCO GOYA Saturno Devorando um Filho 1819-1823 Oacuteleo s reboco 146 cm x 83 cm Col Museu do Prado Madrid Espanha 12 No Brasil a flexibilizaccedilatildeo nas relaccedilotildees trabalhistas foi anterior agrave reestruturaccedilatildeo produtiva natildeo se configurando em uma decorrecircncia imediata Poreacutem eacute inegaacutevel que houve a intensificaccedilatildeo da precarizaccedilatildeo que passa a ter um caraacuteter de legalidade O proacuteprio governo sugere que o trabalhador se autosustente incentivando e disseminando o empreendedorismo enquanto emancipaccedilatildeo do ser humano (MALAGUTTI 2000 TAVARES 2004)

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pela Constituiccedilatildeo de 1988 que representava os anseios da populaccedilatildeo incluindo os povos nativos quilombolas e camponeses (THOMAZ JUNIOR 2005) No contexto apontado o campo brasileiro se insere na loacutegica de reestruturaccedilatildeo produtiva na medida em que se observa o avanccedilo do discurso de modernizaccedilatildeo atrelado ao agronegoacutecio desse modo a expropriaccedilatildeo da terra e do trabalho expressa o caraacuteter moacutevel dos camponeses desapropriados de sua fonte de sobrevivecircncia sujeitam-se agrave informalidade

No campo sergipano a reestruturaccedilatildeo significou a ampliaccedilatildeo de vastas aacutereas para a pecuaacuteria e lavouras permanentes com destaque para o latifuacutendio do milho Entre as lavouras temporaacuterias (minifuacutendios de mandioca feijatildeo e milho) mesmo atreladas agrave subsistecircncia e resistecircncia de comunidades camponesas natildeo se encontram isentas do modelo neoliberal e das diretrizes do Consenso ou seja agrotoacutexicos creacutedito rural empreendedorismo e maquinaacuterio (MELO SOUZA 2009)

A informalidade no campo aparece como expressatildeo da acumulaccedilatildeo flexiacutevel Eacute um tipo de atividade relativamente antigo estando presente desde os primoacuterdios da I Revoluccedilatildeo Industrial como uma das formas de sujeiccedilatildeo da populaccedilatildeo excedente natildeo absorvida pelas faacutebricas e complexos industriais (TAVARES 2004) Contudo com o (novo) precaacuterio mundo do trabalho os trabalhadores que fazem bico os terceirizados subcontratados e domiciliares se tornam sujeitos simboacutelicos de um mundo regido sob os ditames do capital em sua fase de barbaacuterie social (ALVES 2007 ANTUNES 1995)

O conceito de informalidade se configura necessaacuterio para uma leitura geograacutefica que considera as relaccedilotildees sociais em sua totalidade Nesse sentido os estudos que enfocam a informalidade no espaccedilo agraacuterio e os seus diversos sujeitos lsquoandarilhosrsquo e lsquosupeacuterfluosrsquo inclui os trabalhos elaborados por pesquisadores de alguns grupos espalhados pelo paiacutes a

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exemplo do Centro de Estudos de Geografia do Trabalho (CEGeTUNESP) economistas geoacutegrafos e socioacutelogos Em relaccedilatildeo ao estado de Sergipe no acircmbito do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Geografia da Universidade Federal de Sergipe (PPGEOUFS) os estudos sobre a informalidade do trabalho ressaltam variadas abordagens a citar a mobilidade do trabalho associada agrave descentralizaccedilatildeo da induacutestria de calccedilados (SANTOS 2015) a resistecircncia camponesa diante da monopolizaccedilatildeo do territoacuterio (NETO 2014) a degradaccedilatildeo humana no trabalho canavieiro (SHIMADA 2014) as poliacuteticas puacuteblicas enquanto instrumentos de expropriaccedilatildeo do trabalho camponecircs (RODRIGUES 2012) e o trabalho na mediaccedilatildeo campo-cidade (LIMA 2012) Em sua dissertaccedilatildeo de mestrado Oliveira (2007) investiga a introduccedilatildeo do discurso de lsquomodernizaccedilatildeorsquo no espaccedilo agraacuterio de Lagarto Sergipe mais especificamente tecnologias atreladas ao agronegoacutecio da laranja do fumo e teacutecnicas de irrigaccedilatildeo que concorrem para a emergecircncia da informalidade Silva (2016) por sua vez discursa sobre a precariedade do trabalho a partir dos Arranjos Produtivos Locais nas ceracircmicas vermelhas e olarias sergipanas

No artigo ldquoPor uma Geografia do Trabalhordquo Thomaz Junior (2004) expotildee que o final do seacuteculo XX e iniacutecio do XXI tem significado uma cada vez maior mobilidade territorial do trabalho para os que habitam o campo vagueando de lugar a lugar ldquo() em busca de novas colocaccedilotildees sendo que para garantir seu sustento se enquadram em diferentes atividades urbanas que exprimem formas assalariadas semi-assalariadas autocircnomas mas todas reunidas no quadro de precarizaccedilatildeo do trabalhordquo (THOMAZ JUNIOR 2004 p 15)

O Departamento Intersindical de Estatiacutestica e Pesquisas Socioeconocircmicas (DIEESE 2013) revelou que 907 dos camponeses do estado de Sergipe vivem sob condiccedilotildees de informalidade em suas formas de se manterem

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Portanto uma realidade agraacuteria marcada por um trabalho cada vez mais reduzido intensificado e explorado sendo a informalidade um caminho utilizado pelo capital para ampliar a acumulaccedilatildeo em escala global atraveacutes da extraccedilatildeo de mais valiamais valor (MENEZES 2007)

Os dados organizados pela Organizaccedilatildeo Internacional do Trabalho (OIT) tendo como base o Censo 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) e o Ministeacuterio do Trabalho e Emprego (MTE) contribuiacuteram para a delimitaccedilatildeo do recorte espacial a ser analisado fornecendo nuacutemeros para cada municiacutepio sergipano cujos temas incluem taxa de participaccedilatildeo da populaccedilatildeo na forccedila de trabalho desemprego informalidade13 e deslocamento de casa para o trabalho

A definiccedilatildeo de informalidade atribuiacuteda pela base de dados pesquisada estaacute vinculada aos trabalhadores que natildeo possuem carteira assinada e natildeo satildeo assalariados14 aleacutem disso a classificaccedilatildeo em setores da economia (agropecuaacuteria induacutestria e serviccedilos) natildeo considera a mobilidade heterogeneidade e o caraacuteter hiacutebrido dessa classe-que-vive-do-trabalho Ou seja natildeo eacute levada em consideraccedilatildeo a complexidade das relaccedilotildees contemporacircneas de trabalho o ser social do campo que eacute terceirizado em uma induacutestria lsquoformalizadarsquo os que trabalham nas feiras municipais como vendedores ambulantes e que plantam e cultivam roccedilas aqueles que prestam serviccedilos

13 A definiccedilatildeo de informalidade atribuiacuteda pela base de dados estaacute vinculada aos trabalhadores que natildeo possuem carteira assinada e natildeo satildeo assalariados aleacutem disso a classificaccedilatildeo em setores da economia (agropecuaacuteria induacutestria e serviccedilos) natildeo considera a mobilidade e heterogeneidade e o caraacuteter hiacutebrido dessa classe-que-vive-do-trabalho 14 De acordo com Malagutti (2000) eacute preciso fazer a devida criacutetica ao conceito de lsquosetor informalrsquo pois na atual configuraccedilatildeo das forccedilas produtivas o formal e o informal se tornam um hiacutebrido em que um se encontra associado ao outro

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variados na proacutepria residecircncia localizada em uma aacuterea caracterizada por atividades agropecuaacuterias Contudo como relata Thomaz Juacutenior (2004) os dados sobre informalidade no campo ainda satildeo rarefeitos de modo que se faz necessaacuterio recorrer aos nuacutemeros da OIT IBGE e MTE mesmo com as limitaccedilotildees da perspectiva de lsquosetorrsquo

Na tabela organizada abaixo (QUADRO 1) encontram-se sistematizados os dados municipais sobre trabalhadores informais no setor agropecuaacuterio sergipano destacando os cinco primeiros colocados

QUADRO 1 ndash Municiacutepios sergipanos com maior nuacutemero de trabalhadores informais no setor agropecuaacuterio 2010

Municiacutepio Nuacutemero de trabalhadores informais

Lagarto 13219

Itabaiana 8394

Nossa Senhora da Gloacuteria

5435

Tobias Barreto 4980

Riachatildeo do Dantas

3818

Fonte OIT IBGE MTE 2010

A anaacutelise dos dados revela que os municiacutepios com mais informais vinculados agrave agropecuaacuteria estatildeo ambos localizados na porccedilatildeo agreste do estado de Sergipe De um lado Lagarto que perpassa ao longo da uacuteltima deacutecada a crise da laranja e do fumo expulsando levas de forccedila de trabalho camponesa De outro Itabaiana municiacutepio com forte tendecircncia agrocomercial ligada ao mercado hortifrutigranjeiro cuja estrutura fundiaacuteria eacute caracterizada pela presenccedila de minifuacutendios A princiacutepio dois recortes aparentemente distintos mas cuja leitura geograacutefica pode oferecer contribuiccedilotildees sobre a informalidade do trabalho no campo

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Aleacutem disso tanto Lagarto quanto Itabaiana apresentam uma intensa mobilidade do trabalho com 29210 e 26986 trabalhadores respectivamente que se deslocam de casa para o local de trabalho A reestruturaccedilatildeo produtiva do capital fortalece o discurso do agronegoacutecio com o uso intensivo de venenos herbicidas e de maacutequinas no trato com a terra e cultivos Desse modo ao ver a renda da terra ser furtada de sua posse o camponecircs busca formas de resistecircncia para se manter enquanto tal direciona-se para centros urbanos a fim de exercerem ofiacutecios diversos ou em alguns casos debruccedilam-se em atividades comerciais no proacuteprio espaccedilo agraacuterio

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS caminhos a se trilharem

Diante da possibilidade de aplicaccedilatildeo de questionaacuterios entre camponeses nos municiacutepios recortados a Pesquisa se encaminha para descortinar lsquoliamesrsquo que o Capital cria em seu curso que se configuram enquanto lsquoamarrasrsquo para o Campesinato

Em relaccedilatildeo agrave informalidade dono trabalho haacute que se desmistificarem os discursos e ideologias geograacuteficos encobridores da intensa mobilidade territorial do trabalho (natildeo soacute urbana mas tambeacutem agraacuteria) da precarizaccedilatildeo e precariedade das formas lsquoatiacutepicasrsquo do labor contemporacircneo - poacutes-modelo toyotista de uma reestruturaccedilatildeo produtiva - pautada na exploraccedilatildeo cada vez mais intensa do trabalho humano mediada pelo Estado como forma de mitigar os efeitos de uma crise estrutural do Capital

Os camponeses se tornam sujeitos sujeitados agraves distintas formas de trabalhos informais bicos domeacutesticos donos de quitandas e mercearias ambulantes etc Jovens adultos idosos e crianccedilas andarilhos e lsquosupeacuterfluosrsquo retornando ao loacutecus de resistecircncia (re-existecircncia) que persiste enquanto

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modo de ser e viver contraditoriamente contraacuterio ao Capital enquanto relaccedilatildeo social

De acordo com Oliveira (2004) natildeo satildeo os nuacutemeros que determinam a realidade mas a realidade que determina os nuacutemeros Portanto em um Brasil com mais de 229 milhotildees de trabalhadores por conta proacutepria 107 milhotildees sem carteira assinada no setor privado 648 milhotildees fora da forccedila de trabalho 62 milhotildees de trabalhadores domeacutesticos e 22 milhotildees de trabalhadores familiares emergem perguntas que o geoacutegrafo necessita objetivar caminhos para dialogar que sujeitos satildeo esses Quais os caminhos e formas de se manterem no espaccedilo agraacuterio Como produzem o espaccedilo sob o vieacutes contraditoacuterio de relaccedilotildees de poder conflitantes

Para finalizar (o escrito natildeo as perspectivas de pesquisa) ressalta-se que o Capital contraditoriamente cria condiccedilotildees para que os camponeses se desenvolvam enquanto classe social a partir do momento em que redefinem as relaccedilotildees de produccedilatildeo Desse modo o discurso de lsquoautonomiarsquo incrustrado na informalidade eacute re-significado enquanto os dominantes se valem em prol da expropriaccedilatildeo da forccedila de trabalho da intensa mobilidade territorial do trabalho os dominados transformam-no em instrumento de manutenccedilatildeo de sua condiccedilatildeo social um negar-se para persistir-se

REFEREcircNCIAS ALVES Giovanni Dimensotildees da Reestruturaccedilatildeo Produtiva Ensaios de Sociologia do Trabalho 2 ed Londrina Praacutexis 2007 288p ANTUNES Ricardo Adeus Ao Trabalho Ensaio sobre as Metamorfoses e a Centralidade do Mundo do Trabalho Satildeo Paulo Editora Cortez 1995

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BUZATO Heldi PINTO Luiacutes Fernando Guedes Fim dos direitos no campo Revista Le Monde Diplomatique Brasil (online) 2017 Disponiacutevel em httpdiplomatiqueorgbrfim-dos-direitos-no-campo Acesso em 09 set 2017 CEGET Centro de Estudos de Geografia do Trabalho (online) UNESP Presidente Prudente Satildeo Paulo Disponiacutevel em httpcegetfctunespbr Acesso em 09 set 2017 DAL ROSSO Sadi Mais trabalho A intensificaccedilatildeo do labor na sociedade contemporacircnea Satildeo Paulo Boitempo 2008 DIEESE Departamento Intersindical de Estatiacutestica e Estudos Socioeconocircmicos O mercado de trabalho assalariado rural brasileiro Estudos amp Pesquisas n 74 out 2014 FRANCISCO GOYA Saturno Devorando um Filho 1819-1823 Oacuteleo s reboco 146 cm x 83 cm Col Museu do Prado Madrid Espanha LIMA Joseacute Renato de Do torratildeo da vida agrave marcha forccedilada rumo ao apito das gaiolas de pedra mobilidade do trabalho na dialeacutetica campo cidade no municiacutepio de RibeiroacutepolisSE Dissertaccedilatildeo de Mestrado Universidade Federal de Sergipe Satildeo Cristoacutevatildeo 2012 MALAGUTI Manoel Luiz Criacutetica agrave razatildeo informal a imaterialidade do salariato Satildeo PauloVitoacuteria BoitempoEDUFES 2000 MARX Karl O Capital Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 1974

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MELO Ricardo Oliveira Lacerda SOUZA Aldemir do Vale Anaacutelise retrospectiva da economia de Sergipe (1970-2002) In MELO Ricardo Oliveira Lacerda HANSEN Dean Lee (Orgs) Ensaios Econocircmicos Conceitos e Impasses do Desenvolvimento Regional Satildeo Cristoacutevatildeo Editora da UFS 2009 MENEZES Soacutecrates Oliveira De supeacuterfluos a sujeitos histoacutericos na contramatildeo do capital a Geografia do (des) trabalho Dissertaccedilatildeo de Mestrado Universidade Federal de Sergipe Satildeo Cristoacutevatildeo Sergipe 2007 MEacuteSZAROacuteS Istvaacuten Para Aleacutem do Capital Satildeo Paulo Boitempo 2011 NETO Raul Marques Da luta na lona preta agrave luta na casa de telha monopolizaccedilatildeo do territoacuterio pelo capital agroenergeacutetico em Capela - SE subordinaccedilatildeo e resistecircncia da classe camponesa Dissertaccedilatildeo de Mestrado Universidade Federal de Sergipe Satildeo Cristoacutevatildeo 2014 OLIVEIRA Ariovaldo Umbelino A geografia agraacuteria e as transformaccedilotildees territoriais recentes no campo brasileiro In CARLOS A F (org) Novos caminhos da geografia Satildeo Paulo Contexto 2002 p 63-110 _________ O campo no seacuteculo XXI territoacuterio de vida de luta e de construccedilatildeo da justiccedila social Satildeo Paulo Editora Casa Amarela e Editora Paz e Terra 2004 372p OLIVEIRA Roberto Veacuteras de GOMES Darcilene TARGINO Ivan (orgs) Marchas e contramarchas da

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informalidade do trabalho das origens agraves novas abordagens Joatildeo Pessoa Editora Universitaacuteria 2011 410p OIT Organizaccedilatildeo Internacional do Trabalho Disponiacutevel em httpwwwbsbiloorgsimtdestadosuf=SE Acesso em 08 out 2017 PAULINO Eliane Tomiasi ALMEIDA Rosemeire Aparecida de Terra e territoacuterio a questatildeo camponesa no capitalismo Satildeo Paulo Expressatildeo Popular 2010 112p RODRIGUES Vanessa Paloma Alves Capital Estado e a loacutegica dissimulativa das poliacuteticas de creacutedito no processo de expropriaccedilatildeo e sujeiccedilatildeo do trabalho no campo Dissertaccedilatildeo de Mestrado Universidade Federal de Sergipe Satildeo Cristoacutevatildeo 2012 SANTOS Maacutercio dos Reis Labirintos do capital a mobilidade do trabalho e a descentralizaccedilatildeo da induacutestria de calccedilados em Sergipe Dissertaccedilatildeo de Mestrado Universidade Federal de Sergipe Satildeo Cristoacutevatildeo 2015 SILVA Genivacircnia Maria O (DES) MASCARAMENTO DO DISCURSO DO DESENVOLVIMENTO LOCALSUSTENTAacuteVEL NO (DES) ENVOLVIMENTO DAS INDUacuteSTRIAS DE CERAcircMICA VERMELHA E OLARIAS NO ESTADO DE SERGIPE Dissertaccedilatildeo de Mestrado Universidade Federal de Sergipe Satildeo Cristoacutevatildeo 2016 SHIMADA Shiziele de Oliveira Dos ciclos e das crises do capital agraves formas de travestimento da barbaacuterie no trabalho canavieiro Tese de Doutorado Universidade Federal de Sergipe Satildeo Cristoacutevatildeo 2014

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THOMAZ JUNIOR Antocircnio A Geografia do mundo do trabalho na viragem do seacuteculo XXI Revista GeoSul Florianoacutepolis v 19 n 37 p 7-26 jan jun 2004 _________ (Des) Realizaccedilatildeo do Trabalho Se Camponecircs se Operaacuterio (Repensar criacutetico sobre a classe trabalhadora no Brasil) Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Educaccedilatildeo no Campo 2005 Disponiacutevel em httpwebcachegoogleusercontentcomsearchq=cachepwY5cBKYmCEJwwwgepecufscarbrpublicacoesruralidadedes-realizacao-do-trabalho-se-campones-se-operariopdfview+ampcd=2amphl=pt-BRampct=clnkampgl=brampclient=firefox-b Acesso em 08 out 2017 _________ Por uma Geografia do Trabalho Revista Tamoios v1 n1 pp 1-18 2005

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CONCENTRACcedilAtildeO FUNDIAacuteRIA E MONOCULTURA

DO MILHO EM CARIRA ndash SE

Tays Almeida dos Santossup1 (Universidade Federal de Sergipe)

(Aluna graduanda em Geografia de Itabaiana e bolsista do PET Geografia - Itabaiana)

E mail taysalmeida02gmailcom

Islane Silva Batistasup2 (Universidade Federal de Sergipe)

(Aluna graduanda em Geografia de Itabaiana e bolsista do PET Geografia ndash Itabaiana)

E mail Islane9815gmailcom

Thainar Almeida dos Santossup3 (Graduada em Geografia ndash UFS Itabaiana)

E mail Thainaralmeida28gmailcom

RESUMO

O presente artigo tem por objetivo analisar a concentraccedilatildeo de terras no municiacutepio de CariraSE entre os anos de 1985 199596 e 2006 atraveacutes da elaboraccedilatildeo da Curva de Lorenz e no caacutelculo do iacutendice de Gini com base em DINIZ (1982) e a consequente monoculturalizaccedilatildeo do milho atraveacutes do agronegoacutecio provocando uma nova dinacircmica produtiva no municiacutepio transformando-lhe atualmente em um dos maiores produtores de milho do estado de Sergipe Como procedimentos metodoloacutegicos foram feitos levantamentos bibliograacuteficos coletas de dados nos censos agropecuaacuterios e estudos exploratoacuterios sobre a temaacutetica a partir de fundamentaccedilatildeo teoacuterica Dessa forma considera-se que a

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expansatildeo do milho no municiacutepio estaacute associada ao pacote tecnoloacutegico inserido na loacutegica produtiva do modelo de desenvolvimento agriacutecola que permite o crescimento e a expansatildeo da produccedilatildeo Essa alta produtividade apesar de transformar Carira num grande produtor de milho em Sergipe traz consigo consequecircncias socioambientais negativas como o uso desenfreado e indiscriminado dos venenos agriacutecolas a compactaccedilatildeo do solo pelo uso intensivo do maquinaacuterio aleacutem da alta concentraccedilatildeo de terras nas matildeos de minorias Palavras-chave Concentraccedilatildeo de terras Agronegoacutecio Monocultura INTRODUCcedilAtildeO

A organizaccedilatildeo da propriedade e a posse das terras no

Brasil sempre foram marcadas pela alta concentraccedilatildeo fundiaacuteria As suas raiacutezes provecircm de um processo histoacuterico antigo desde a doaccedilatildeo de terras pela Coroa Portuguesa ao donataacuterio (Capitanias Hereditaacuterias) passando pela Lei de Terras de 1850 (a terra passa a ser adquirida atraveacutes da compra) e que perpetua ateacute os dias atuais como afirma Oliveira (2003 p 15)

O Brasil caracteriza-se por ser um paiacutes que apresenta elevadiacutessimos iacutendices de concentraccedilatildeo de terra No Brasil estatildeo os maiores latifuacutendios que a histoacuteria da humanidade jaacute registrou A soma das 27 maiores propriedades existentes no paiacutes atinge uma superfiacutecie igual a aquela ocupada pelo Estado de Satildeo Paulo e a soma das 300 maiores atinge uma aacuterea igual agrave de Satildeo Paulo e do Paranaacute

Portanto procurar entender e falar de concentraccedilatildeo de terras hoje no Brasil eacute retornar ao tempo de ocupaccedilatildeo do territoacuterio pelos colonizadores que impuseram um modelo de

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produccedilatildeo agroexportador com o intuito de produzir e comercializar produtos agriacutecolas para Europa esse modelo denominado de Plantation caracterizava-se pela forma de organizar a produccedilatildeo agriacutecola em grandes latifuacutendios com a praacutetica da monocultura e o emprego da forccedila de trabalho escrava O agronegoacutecio possui suas bases nesse modelo visto que estaacute ancorado na grande concentraccedilatildeo de terras e na predominacircncia da monocultura poreacutem no cenaacuterio atual encontra-se integrado agraves novas tecnologias e estas satildeo caracterizadas pela

[] crescente mecanizaccedilatildeo e tecnificaccedilatildeo dos processos produtivos no campo pelo aumento da integraccedilatildeo entre os capitais agropecuaacuterios-industriais-financeiros bem como pela ampliaccedilatildeo das cadeias produtivas agroalimentares e de insumos sob controle de conglomerados econocircmicos via de regra multinacionais que dominam parcelas cada vez mais significativas dos mercados em que atuam (CAMPOS 2011 p 101)

Esse novo modelo de desenvolvimento agriacutecola difunde-se no poacutes II Segunda Guerra Mundial com a chamada Revoluccedilatildeo Verde que representa uma grande mudanccedila na base teacutecnica dos processos agropecuaacuterios causando diversas transformaccedilotildees na dinacircmica agriacutecola do paiacutes adequando a produccedilatildeo agrave loacutegica produtiva do novo modelo de desenvolvimento ldquoO modelo implantado de modernizaccedilatildeo da agricultura no Brasil foi um dos principais fatores da reproduccedilatildeo da desigualdade econocircmica e social no campo A espetacularizaccedilatildeo se pautava no signo da sociedade industrial como condiccedilatildeo uacutenica necessaacuteria para o progresso e desenvolvimentordquo (CONCEICcedilAtildeO 2013 p 92)

Essa modernizaccedilatildeo agriacutecola natildeo chegou de forma uniforme no paiacutes tendo como exemplo o Sudeste e o Sul que em comparaccedilatildeo com as outras regiotildees brasileiras jaacute apresentava

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um processo acelerado enquanto que o restante ainda estava em uma fase recente Os efeitos dessa nova dinacircmica chegaram a regiatildeo Nordeste do Brasil nas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo XX e em Sergipe passou a ser introduzida por volta dos anos 1960 objetivando inserir natildeo soacute Sergipe mais todos os outros estados do Nordeste na loacutegica produtiva do capitalismo mundializado

Em relaccedilatildeo agrave concentraccedilatildeo de terras em Sergipe apesar de ser o menor estado do paiacutes estaacute em 13ordm lugar com a maior concentraccedilatildeo de terras segundo dados do IBGE (2006) contribuindo deste modo para intensificaccedilatildeo das desigualdades sociais no campo e o acirramento dos movimentos sociais pocircr a luta pela terra como declara Filho (2008 p 52)

Esse cenaacuterio de grave desigualdade na estrutura fundiaacuteria a improdutividade da maioria das grandes propriedades associado aos projetos puacuteblicos e privados de modernizaccedilatildeo da agricultura apresentam-se como as causas da expulsatildeo da expropriaccedilatildeo e da exclusatildeo nodo campo Na contramatildeo deste processo o campesinato tem se organizado e resistido mediante diferentes formas de luta Desde meados da deacutecada de 1970 a ocupaccedilatildeo de terras tem sido a principal forma de criaccedilatildeo e recriaccedilatildeo do campesinato em Sergipe

Assim nota-se que aleacutem de grande parte da estrutura fundiaacuteria estaacute sob o domiacutenio de poucos a dita modernizaccedilatildeo teacutecnica no campo eacute um processo que atende os interesses dessas minorias selecionando e beneficiando determinado produto e produtores de acordo com os padrotildees capitalistas de produccedilatildeo Portanto nota-se que o espaccedilo agraacuterio brasileiro se organiza de forma complexa e predominantemente desigual ampliando as disparidades soacutecias existentes como observa Campos (2001 p 109)

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[] o agronegoacutecio deve ser compreendido como uma complexa articulaccedilatildeo de capitais direta e indiretamente vinculados com os processos produtivos agropecuaacuterios que se consolida no contexto neoliberal sob a hegemonia de grupos multinacionais e que em alianccedila com o latifuacutendio e o Estado tem transformado o interior do Brasil em um locus privilegiado de acumulaccedilatildeo de capitalista produzindo simultaneamente riqueza para poucos e pobreza para muitos e por conseguinte intensificando as muacuteltiplas desigualdades socioespaciais

Dessa maneira o objetivo central desse artigo eacute analisar a concentraccedilatildeo de terras no municiacutepio de CariraSE entre os anos de 1985 199596 e 2006 por meio das teacutecnicas da Curva de Lorenz e do Iacutendice de Gini e a recente expansatildeo da monoculturalizaccedilatildeo do milho no municiacutepio possibilitando reflexotildees acerca das mudanccedilas que perpassam natildeo soacute o espaccedilo agraacuterio de Carira mais de todo o Brasil Porquanto como procedimentos metodoloacutegicos foram utilizadas as teacutecnicas jaacute citadas levantamentos bibliograacuteficos coletas de dados e estudos exploratoacuterios sobre a temaacutetica para construccedilatildeo do presente artigo CONCENTRACcedilAtildeO DE TERRAS E MONOCULTURA

Para compreender a expansatildeo da produccedilatildeo e gratildeos em especial do milho eacute necessaacuterio entender o processo de produccedilatildeo do espaccedilo e o avanccedilo do capital no campo atrelados a alta concentraccedilatildeo de terras em todo o paiacutes em Sergipe natildeo eacute diferente e que ao aumentar a produccedilatildeo do agronegoacutecio tambeacutem aumenta a concentraccedilatildeo de terras e as desigualdades tanto no campo como na cidade

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A expansatildeo da produccedilatildeo de milho em Sergipe obteve forccedila e importacircncia nas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo XXI para se ter uma ideia de acordo com anaacutelises dos dados disponibilizados pelo IBGE (2010) a produccedilatildeo de milho no estado em 2010 alcanccedilou 1 milhatildeo de toneladas enquanto que no ano 2000 natildeo atingia nem 100 mil toneladas

Dentre os motivo que contribuiacuteram para essa expansatildeo foi a participaccedilatildeo do Estado na organizaccedilatildeo e espacializaccedilatildeo do capital financeiro natildeo soacute em Sergipe mais em todo o campo brasileiro incorporando mudanccedilas nas relaccedilotildees sociais na estrutura produtiva e espacial agraacuteria como afirma Conceiccedilatildeo (2011 p3) ldquo[] com o avanccedilo da financeirizaccedilatildeo da economia via o compromisso da diacutevida externa o Estado assumiu o papel de gestor e promotor de poliacuteticas agriacutecolas inscrevendo novas formas de expansatildeo capitalistardquo Reforccedilando e intensificando ainda mais as desigualdades sociais e econocircmicas no campo O Municiacutepio de Carira encontra-se localizado no sertatildeo sergipano na regiatildeo oeste limitando-se ao norte com o municiacutepio de Nossa Senhora da Gloria ao sul com Frei Paulo e Pinhatildeo a leste com Nossa Senhora Aparecida e ao oeste com o estado da Bahia O clima eacute o tropical semiaacuterido com regime de chuvas irregulares tendo como vegetaccedilatildeo tiacutepica a caatinga A populaccedilatildeo do municiacutepio segundo dados do IBGE em 2016 era de aproximadamente 21 665 habitantes em uma aacuterea de 634 6 kmsup2 No iniacutecio do seacuteculo XX a principal cultura produzida nas terras de Carira era o algodatildeo chegando a ter 6 faacutebricas de descaroccedilar o produto o periacuteodo foi ateacute chamado de eacutepoca do ouro branco no entanto com o tempo a atividade econocircmica foi sofrendo queda por alguns fatores como a praga do bicudo e a crise do mercado externo proporcionando destaque para a pecuaacuteria extensiva entre as uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo Aleacutem da pecuaacuteria outras atividades tambeacutem eram praticadas

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principalmente pelos camponeses como destaca Cunha (2015 p 29)

O milho era cultivado consociado ao feijatildeo agrave mandioca e ao amendoim garantindo as bases alimentares de subsistecircncia familiar e a oferta de alimentos nos mercados locais Apoacutes os anos 1980 comeccedilou a ganhar destaque entre esses cultivos pois era um cereal que abastecia as necessidades da famiacutelia presente nos principais pratos da culinaacuteria Importante tambeacutem na alimentaccedilatildeo do gado de corte e leiteiro sendo aproveitada tanto a palha quanto o gratildeo para a raccedilatildeo animal

Dessa forma com a inserccedilatildeo do agronegoacutecio no campo carirense natildeo soacute alterou a dinacircmica da produccedilatildeo mas a paisagem rural vem tornando-se homogenia com o milho O gratildeo ganhou destaque pois serve natildeo soacute para o consumo humano como tambeacutem para o mercado da avicultura dos bovinos e suiacutenos sendo utilizado como o proacuteprio cereal ou como componente de raccedilotildees e devido garantir sua conservaccedilatildeo eacute estocado por meio de silos e rolatildeo nos periacuteodos de estiagem quando haacute necessidade do gratildeo

Fator fundamental para a consolidaccedilatildeo da monocultura do milho em Carira eacute o incentivo do Estado agente provedor da expansatildeo capitalista no campo e da dita modernizaccedilatildeo teacutecnica que atraveacutes de diferentes programas de creacutedito para o campo visa o desenvolvimento e consolidaccedilatildeo do agronegoacutecio

Considera-se ainda que a expansatildeo do milho em Carira estaacute associada ao pacote tecnoloacutegico inserido na loacutegica produtiva do modelo de desenvolvimento agriacutecola agrotoacutexicos e sementes transgecircnicos aleacutem das maacutequinas agriacutecolas que permite o crescimento e a expansatildeo da produccedilatildeo Essa alta produtividade apesar de transformar Carira em um dos

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maiores produtores de milho do estado traz consigo consequecircncias socioambientais negativas como o uso desenfreado e indiscriminado dos venenos a compactaccedilatildeo do solo pelo uso intensivo do maquinaacuterio aleacutem de promover ou ampliar a concentraccedilatildeo de terras no municiacutepio

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Para compreender a permanecircncia e ampliaccedilatildeo da

concentraccedilatildeo de terras em Carira se utilizou da Curva de Lorenz com base em DINIZ (1982) Foram elaboradas curvas para os anos de coletas de dados dos censos agropecuaacuterios para os anos de 1985 1995-1996 e o de 2006 como se observa na figura anterior

Ao analisar a curva de Lorenz figura 1 eacute preciso levar em consideraccedilatildeo que quanto mais proacutexima do centro a curva ficar menor seraacute a concentraccedilatildeo e quanto mais proacutexima das extremidades (100 tanto na horizontal como vertical) maior eacute a concentraccedilatildeo

No primeiro graacutefico que se refere ao ano de 1985 a curva estaacute proacutexima da extremidade o que caracteriza uma consideraacutevel concentraccedilatildeo de terras ou seja existia um elevado nuacutemeros de propriedades que com tamanhos reduzido e um pequeno nuacutemero de propriedades que concentra grande parta das terras de Carira jaacute no periacuteodo 1995-1996 se observa um pequeno afastamento da curva indo em direccedilatildeo ao centro ou seja correu uma menor concentraccedilatildeo de terras atraveacutes da fragmentaccedilatildeo os pequenos proprietaacuterios por vez sem condiccedilotildees de adquirir propriedades divide com os filhos que se casam e recebem parcela da propriedade como heranccedila por vez no graacutefico fica niacutetido que em 2006 a curvatura se alonga em direccedilatildeo a extremidade o que caracteriza como aumento da concentraccedilatildeo de terra fator que corroborado a partir da inserccedilatildeo do milho como fonte monocultura do agronegoacutecio Os grandes proprietaacuterios passam a investir cada vez mais natildeo somente no pacote tecnoloacutegico milho transgecircnico mais tambeacutem na aquisiccedilatildeo de terras

Para evidenciar tais consideraccedilotildees foram calculados os iacutendices de Gini dos anos analisados com base em Diniz (1982) o Iacutendice de Gini apresenta uma variaccedilatildeo de 0 a 1 sendo que 0 representa a distribuiccedilatildeo igualitaacuteria ou seja todos

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tecircm o mesmo tamanho de propriedade por vez o valor 1 apresenta a concentraccedilatildeo maacutexima eacute quando um uacutenico proprietaacuterio tem todas as terras e o restante natildeo possui nenhuma

Tabela 01 Iacutendice de GINI para o municiacutepio de Carira - Sergipe 2018

Iacutendice de Gini 1985 95-96 2006

Carira 083 081 085

Fonte Censos agropecuaacuterios para os anos de 85 95-96 e 2006

Na tabela fica evidente o aumento da concentraccedilatildeo de terras como demonstrado da Curva de Lorenz com alta concentraccedilatildeo da deacutecada de 80 uma pequena diminuiccedilatildeo na deacutecada seguinte e retorno do aumento da concentraccedilatildeo na deacutecada de 2000 deacutecada esta que se caracteriza com o aumento da produccedilatildeo de milho nas grandes propriedades e com objetivo de expansatildeo do agronegoacutecio na regiatildeo agora o milho deixa de ser plantado somente pelo camponecircs para o consumo venda do excedente e constituiccedilatildeo do composto alimentar do gado para ser prioritariamente produzido em grandes propriedades com destino a agroinduacutestria a exemplo da Marataacute no municiacutepio de Lagarto e venda tambeacutem para as principais granjas de Sergipe e dos estados vizinhos Para compreender a inter-relaccedilatildeo do aumento da concentraccedilatildeo de terras em Carira com a expansatildeo da produccedilatildeo de milho foi elaborada a prancha 01 que apresenta a produccedilatildeo de milho dos anos que compreende a anaacutelise da estrutura fundiaacuteria que coloca o municiacutepio de Carira entre os principais de Sergipe

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Na prancha 01 se observa que os municiacutepios de maior produccedilatildeo de milho de Sergipe se encontram no Oeste do estado em municiacutepios limiacutetrofes da Bahia que historicamente se caracterizam pela elevada quantidade do rebanho bovino com consideraacutevel concentraccedilatildeo de terras com clima de estaccedilotildees secas bem definidas no maacuteximo 4 meses de chuva

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que favorece o desenvolvimento de plantas de ciclo curto a exemplo do milho

No mapa eacute possiacutevel identificar que a produccedilatildeo de milho em Carira sofre um maior crescimento no interstiacutecio de 1995-1996 para 2006 obtendo o consideraacutevel crescimento jaacute no interstiacutecio de 1985 para 1995-1996 o crescimento eacute praticamente imperceptiacutevel Neste caso se observa que o crescimento da produccedilatildeo de milho em Carira tem certa ligaccedilatildeo com o aumento da concentraccedilatildeo de terras a partir da inserccedilatildeo do agronegoacutecio na regiatildeo com tendecircncia ao aumento exponencial da produccedilatildeo de milho nos uacuteltimos anos o que tambeacutem poderaacute contribuir com o aumento da concentraccedilatildeo de terras natildeo somente no municiacutepio como tambeacutem em toda a regiatildeo afetada pelo avanccedilo do agronegoacutecio do milho CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A partir da anaacutelise da Curva de Lorenz e do Iacutendice de

Gini constatou-se uma forte concentraccedilatildeo de terras no espaccedilo agraacuterio de Carira e a permanecircncia desse quadro devido a introduccedilatildeo do agronegoacutecio no campo modelo de produccedilatildeo que necessita primordialmente de grandes extensotildees de terras para seu desenvolvimento econocircmico como tambeacutem o uso de insumos para obtenccedilatildeo da produccedilatildeo acelerada juntamente com a expansatildeo do monocultivo do milho nos uacuteltimos anos situaccedilatildeo esta que poderaacute se intensificar e dar continuidade a posse desigual da terra

Portanto compreende-se que o avanccedilo do agronegoacutecio em Carira mostra-se cada vez mais excludente e concentrador visto que a estrutura fundiaacuteria permanece intocaacutevel e os problemas sociais soacute aumentam pois a dita modernizaccedilatildeo teacutecnica estaacute totalmente voltada a atender a reproduccedilatildeo do capital que impotildee novas dinacircmicas produtivas contribuindo

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para a subordinaccedilatildeo e expropriaccedilatildeo do camponecircs no campo e o consequente desequiliacutebrio da biodiversidade AGRADECIMENTOS

Agradecemos ao PET - Programa de Educaccedilatildeo Tutorial PET de Geografia do Campus Professor Alberto Carvalho em Itabaiana pelo apoio que possibilitou a elaboraccedilatildeo deste artigo sem o Programa natildeo seria possiacutevel desenvolver tal trabalho REFEREcircNCIAS CAMPOS Christiane Senhorinha Soares A face feminina da pobreza em meio a riqueza do agronegoacutecio Buenos Aires ClacsoOutras Expressotildees 2011 cap IV A territorializaccedilatildeo do Agronegoacutecio no Brasil p 101-132 CONCEICcedilAtildeO Alexandrina Luz Estado Capital e a farsa da expansatildeo do Agronegoacutecio MERIDIANO - Revista de Geografia nuacutemero 2 2013 - versatildeo digital Disponiacutevel em httpwwwrevistameridianoorg Acesso em 10 de marccedilo de 2017 CONCEICcedilAtildeO Alexandrina Luz A expansatildeo do Agronegoacutecio no campo de Sergipe Revista Geonordeste n 2 2011 CUNHA Jacksilene Santana O Agronegoacutecio do Milho Transgecircnico no Oeste Sergipano 2015 175 f Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Geografia) - Universidade Federal de Sergipe Satildeo Cristoacutevatildeo- SE DINIZ Joseacute Alexandre Felizola Geografia da agricultura Satildeo Paulo Difel 1982

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FILHO Eraldo da Silva Ramos Questatildeo agraacuteria atual Sergipe como referecircncia para um estudo confrontativo das poliacuteticas de reforma agraacuteria e reforma agraacuteria de mercado (2003 ndash 2006) 2008 429 f Tese (Doutorado em Geografia) - Faculdade de Ciecircncias e Tecnologias Universidade Estadual Paulista Campus de Presidente Prudente- SP OLIVEIRA Ariovaldo U de Barbaacuterie e Modernidade As transformaccedilotildees no campo e o agronegoacutecio no Brasil Terra Livre Satildeo Paulo v 2 n 21 p 113-156 jul dez 2003 OLIVEIRA Narciso Lima de Modernizaccedilatildeo da Agricultura e Alteraccedilotildees Socioambientais no Municiacutepio de CariraSE sob a Loacutegica de Reproduccedilatildeo Ampliada do Capital 2010 149 f Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Geografia) - Universidade Federal de Sergipe Satildeo Cristoacutevatildeo - SE

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TERRITOacuteRIOS QUILOMBOLAS EM SERGIPE LUTA POR TERRA E ORGANIZACcedilAtildeO POLIacuteTICA

Joseacute Augusto Menezes dos Santossup1

Universidade Federal de Sergipe Laboratoacuterio de Estudos Territoriais (LATER) Mestrando em Geografia

(PPGEOUFS) Professor de Educaccedilatildeo Baacutesica (SEEDSE) E mail augustoptsocorroseyahoocombr

Josefa Lisboa Santossup2

Universidade Federal de Sergipe Professora Doutora do Departamento de Geografia (DGEICampus Itabaiana) e do

Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Geografia (PPGEOUFS liacuteder do Grupo de Pesquisa Relaccedilatildeo Sociedade Natureza e

Produccedilatildeo do Espaccedilo (PROGEO) e Laboratoacuterio de Estudos Territoriais (LATER)

E mail josefalisboauolcombr

RESUMO A presente pesquisa tem como objetivo avaliar o

processo de espacializaccedilatildeo da luta dos remanescentes quilombolas em Sergipe e os desafios para reconhecimento dos territoacuterios Os remanescentes de quilombo constituem-se grupos eacutetnico-raciais definidos pelo requisito da declaraccedilatildeo dos proacuteprios sujeitos e estabelecem relaccedilotildees territoriais proacuteprias A CF de 1988 nas suas Disposiccedilotildees Transitoacuterias reconheceu o direito da propriedade definitiva das terras para os remanescentes dos quilombos que estivessem ocupando suas terras cabendo ao Estado a emissatildeo dos respectivos tiacutetulos Entretanto foi somente em 2003 que o Decreto 4887 regulamentou da identificaccedilatildeo agrave titulaccedilatildeo das terras No quadro atual das relaccedilotildees capitalistas as relaccedilotildees poliacuteticas pautadas pelos interesses dos grupos detentores de terras no Brasil

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ameaccedilam esse direito expondo um cenaacuterio de intensificaccedilatildeo da luta com repercussotildees no acirramento da violecircncia no campo No estado de Sergipe existem 30 processos por titulaccedilatildeo em andamento e 4 territoacuterios titulados das 170 comunidades tituladas no paiacutes Satildeo elas Lagoa dos Campinhos e Mocambo no municiacutepio de Porto da Folha Serra da Guia em Poccedilo Redondo e Pirangi em Capela Nessa pesquisa a partir do olhar para o movimento da histoacuteria e para as contradiccedilotildees dos processos de formaccedilatildeo territorial e luta por terras em Sergipe buscaremos explicar e elucidar os desafios enfrentados pelas comunidades Mussuca e Brejatildeo dos Negros respectivamente nos municiacutepios de Laranjeiras e Brejo Grande para o reconhecimento e formaccedilatildeo dos territoacuterios de quilombos agrave luz da legislaccedilatildeo vigente dos embates e relaccedilotildees de poder e da organizaccedilatildeo dos grupos interessados Palavras-chave Produccedilatildeo do espaccedilo Territoacuterio quilombola Luta pela terra INTRODUCcedilAtildeO

Na formaccedilatildeo dos territoacuterios temos trecircs dimensotildees Na primeira dimensatildeo o territoacuterio eacute apresentado como uma construccedilatildeo beacutelica ndash militar Na segunda dimensatildeo o territoacuterio eacute colocado como uma construccedilatildeo juriacutedica e por uacuteltimo a terceira dimensatildeo onde o territoacuterio eacute apresentado como uma construccedilatildeo ideoloacutegica Nesse sentido a formaccedilatildeo territorial envolve essas trecircs dimensotildees embora natildeo necessariamente nessa sequecircncia Haacute casos de territoacuterios nos quais existia primeiramente um pleito ideoloacutegico depois se fez a conquista militar em seguida inicia-se o processo de legalizaccedilatildeo juriacutedica Todavia percebe-se que haacute casos como o de Israel em que primeiramente se fez a legalizaccedilatildeo poliacutetica e depois a efetivaccedilatildeo da conquista militar Assim como haacute casos em que a dimensatildeo ideoloacutegica vem antes desse processo Existem casos em que o

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processo de ocupaccedilatildeo do territoacuterio acontece da seguinte forma inicialmente ocorre primeiro a conquista e em seguida se impotildee um processo ideoloacutegico de afirmaccedilatildeo da nova identidade territorial ou seja nesse caso a conquista eacute efetivada primeiro e posteriormente ocorre o processo ideoloacutegico A anaacutelise dessas trecircs dimensotildees da formaccedilatildeo territorial eacute de grande importacircncia para podermos entender o processo histoacuterico de constituiccedilatildeo e formaccedilatildeo do territoacuterio e seus diferentes aspectos

Para entender a formaccedilatildeo de uma sociedade numa perspectiva histoacuterica econocircmica cultural e poliacutetica eacute preciso partir do estudo da sua formaccedilatildeo territorial e sobretudo analisar criticamente o processo em que se deu a formaccedilatildeo do espaccedilo agraacuterio No caso do Brasil partindo da leitura do periacuteodo da colonizaccedilatildeo que se inicia no seacuteculo XVI inicialmente com a extraccedilatildeo do pau-brasil e posteriormente ainda na primeira metade do seacuteculo XVI com a introduccedilatildeo e exploraccedilatildeo da cana-de-accediluacutecar Para compreender a formaccedilatildeo do espaccedilo agraacuterio brasileiro temos a necessidade de buscar estudar e pesquisar o que estaacute se passando na Europa naquele contexto e por outro lado fazer uma comparaccedilatildeo com a forma como se deu a acumulaccedilatildeo primitiva do capital na Ameacuterica Latina

A ideia central que se tem eacute que essa histoacuteria territorial eacute reveladora de componentes centrais na formaccedilatildeo de paiacuteses de passado colonial no continente americano Ao fazer um estudo dos paiacuteses de formaccedilatildeo colonial percebe-se que essa dimensatildeo espacial obteacutem um peso maior e mais significativo por uma razatildeo simples a colonizaccedilatildeo eacute em si mesma uma relaccedilatildeo sociedade-espaccedilo Logo eacute colocado algumas questotildees que podem contribuir para o entendimento da obra do processo de colonizaccedilatildeo do Continente Americano e sobretudo no caso da Colonizaccedilatildeo do Brasil Portanto eacute

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importante indagar as seguintes questotildees agrave cerca da Colonizaccedilatildeo

Na verdade o que eacute colonizaccedilatildeo Colonizaccedilatildeo eacute a relaccedilatildeo entre uma sociedade que se expande e os lugares onde ocorre essa expansatildeo A colonizaccedilatildeo em si eacute conquista territorial Ningueacutem fala em colonizar seu proacuteprio espaccedilo Na verdade a colonizaccedilatildeo diz respeito a uma adiccedilatildeo de territoacuterio ao seu patrimocircnio territorial (Moraes 2001)

Na situaccedilatildeo colonial o que se observa eacute que naquele periacuteodo eacute perceptiacutevel a partir de uma anaacutelise mais minuciosa perceber que se apresenta uma relaccedilatildeo intriacutenseca entre a sociedade e o espaccedilo Nesse sentido fica evidente que o que interessa para o colonizador eacute a conquista do espaccedilo Todavia a colocircnia pode ser entendida como a verdadeira efetivaccedilatildeo da conquista do territoacuterio para atender os interesses poliacuteticos e econocircmicos da metroacutepole

De imediato isso traz uma indicaccedilatildeo metodoloacutegica do ponto de vista histoacuterico muito importante que eacute a inadequaccedilatildeo total para se tentar trabalhar a questatildeo colonial em termos de uma oposiccedilatildeo interno-externo A colocircnia eacute a internalizaccedilatildeo do agente externo Percebe-se que os interesses internos da colocircnia ldquoBrasilrdquo estatildeo atrelado aos interesses externos da metroacutepole Portugal Portanto a colocircnia eacute a consolidaccedilatildeo desse domiacutenio territorial a apropriaccedilatildeo das terras a submissatildeo das populaccedilotildees defrontadas e tambeacutem a exploraccedilatildeo dos recursos presentes no territoacuterio colonial A expressatildeo que sintetiza tudo isso eacute a noccedilatildeo de conquista que traz inclusive o traccedilo de violecircncia comum em todo processo colonial (MORAES 2001)

A colonizaccedilatildeo eacute o processo de criaccedilatildeo de uma estrutura nas terras que satildeo incorporadas ao patrimocircnio da sociedade na expansatildeo territorial de forma articulada com os interesses da metroacutepole que eacute o centro de difusatildeo da poliacutetica de expansatildeo colonial De onde parte toda a loacutegica de organizaccedilatildeo desse

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novo empreendimento da poliacutetica de expansatildeo que eacute o empreendimento da colocircnia como extensatildeo da poliacutetica da metroacutepole colonial ou seja a existecircncia da colocircnia deve estar atrelada aos interesses poliacutetico e econocircmico da metroacutepole Nesse sentido o empreendimento colonial deve servir aos interesses poliacuteticos sociais e econocircmicos da Metroacutepole

Segundo Moraes (2005) a colocircnia corresponde a existecircncia de uma metroacutepole que atua como nuacutecleo irradiador do dinamismo que impulsiona a proacutepria consolidaccedilatildeo da colocircnia e o avanccedilo do movimento colonizador Portanto as novas estruturas criadas no solo colonial devem responder funcionalmente aos interesses da metroacutepole aos quais estatildeo subordinadas A colocircnia deve ser um anexo territorial do territoacuterio metropolitano uma adiccedilatildeo de espaccedilo agrave economia do paiacutes colonizador

Na anaacutelise realizada por Ruy Moreira na sua obra lsquoFormaccedilatildeo do espaccedilo agraacuterio brasileiro publicada em 1990 a acumulaccedilatildeo primitiva do capital se realiza na passagem do seacuteculo XIX para o XX onde a cartografia jaacute difere do que era o espaccedilo brasileiro de apenas um seacuteculo atraacutes O mapa desse momento de crise do antigo regime e emergecircncia do novo mostra um arranjo espacial de manchas agraacuterias mais densas e com poucos claros Mais que isso um arranjo de manchas agraacuterias organizadas num novo eixo cidade - campo

A nova configuraccedilatildeo que as relaccedilotildees agraacuterias vatildeo adquirindo e radica-se em pelo menos quatro aspectos essenciais

1- O trabalho escravo se metamorfoseia numa diversidade horizontal de camponeses

2- A divisatildeo de trabalho interna surge na forma tripartite da monocultura policultura e induacutestria

3- A classe senhorial se lsquomolecularizarsquo territorialmente para se transformar nas oligarquias rurais regionais

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4- A relaccedilatildeo cidade ndash campo radicaliza a reorientaccedilatildeo que submete o campo agrave cidade

Compreender esses aspectos na sua forma dialeacutetica torna-se uma tarefa desafiadora que aponta para a possibilidade de se analisar e compreender como se deu o processo de formaccedilatildeo do espaccedilo agraacuterio no Brasil assim como as relaccedilotildees que aqui foram desencadeadas no passado colonial e analisar se houve uma relaccedilatildeo com a formaccedilatildeo do campesinato e da elite agraacuteria e sua relaccedilatildeo com o processo da acumulaccedilatildeo primitiva do capital Contudo eacute importante estudar e buscar compreender o processo de formaccedilatildeo da acumulaccedilatildeo primitiva do capital no Brasil Logo o estudo sobre o seacuteculo XIX e sobretudo a transiccedilatildeo do seacuteculo XIX para seacuteculo XX buscando compreender nesse processo de transiccedilatildeo como se deu o processo de acumulaccedilatildeo primitiva do capital no Brasil eacute fundamental para possibilitar uma melhor compreensatildeo dos acontecimentos desse periacuteodo histoacuterico O seacuteculo XIX apresenta-se como um periacuteodo muito fecundo para realizaccedilatildeo de estudos e pesquisas que demonstre como se deu o processo de acumulaccedilatildeo primitiva do capital Cada aspecto deve ser estudado de forma criteriosa identificando suas caracteriacutesticas peculiaridades e as relaccedilotildees que satildeo estabelecidas entre os diferentes aspectos por exemplo analisar a formaccedilatildeo do campesinato a criaccedilatildeo e efetivaccedilatildeo da Lei de Terras de 1850 e sua relaccedilatildeo com o mercado de terras a aboliccedilatildeo do traacutefico de escravos o papel do Estado e sobretudo buscar compreender como se dar a relaccedilatildeo entre esses aspectos e acontecimentos no decorrer do seacuteculo XIX Nesse sentido eacute importante analisa-los de forma dialeacutetica

Um aspecto importante agrave ser analisado satildeo Relaccedilotildees de trocas e controle do campesinato a fase inicial da acumulaccedilatildeo primitiva

Eacute sobre essa base lsquomolecularizadarsquo do arranjo espacial determinada pelo nascimento do campesinato e pela

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regionalizaccedilatildeo do poder da aristocracia rural que se instaura a acumulaccedilatildeo primitiva do capital com a qual a nova ordem capitalista vai se desenvolvendo No ano de 1850 ocorre a regulaccedilatildeo formal do mercado de trabalho e de terras no Brasil Nesse periacuteodo o capitalismo aparece nessa nova organizaccedilatildeo espacial timidamente sob formas ainda entranhadamente senhoriais e rurais de relaccedilatildeo de trabalho Seus traccedilos mais claros aparecem em 1850 com os decretos que estabelecem por antecipaccedilatildeo as regras do mercado de trabalho e de terras A desagregaccedilatildeo do escravismo conduz agrave valorizaccedilatildeo da terra uma vez que com a crise escravocrata a fonte do poder senhorial deslocandashse do controle dos escravos para o controle da terra Por isso a classe senhorial por intermeacutedio do Estado procura regular juridicamente esta dupla metamorfose em curso a do mercado do trabalho e a do mercado da terra Em 1850 o Estado Imperial proclama juridicamente o estabelecimento de duas das trecircs instituiccedilotildees (a terceira eacute o mercado do dinheiro) que marcam o nascimento do mercado capitalista o surgimento do mercado de forccedila de trabalho surge atraveacutes do decreto da aboliccedilatildeo do traacutefico de escravos e o mercado de terras atraveacutes da lei de terras que substituiu a Lei de Sesmarias

A aboliccedilatildeo oficial do traacutefico de escravos e o surgimento do mercado de terras no mesmo ano natildeo pode ser entendida como uma mera coincidecircncia como se natildeo tivessem relaccedilatildeo entre ambos os acontecimentos Eacute importante perceber que uma lei vem para regular a outra Num anuacutencio puacuteblico do fim do acesso agrave terra por meio de concessotildees pelo Estado a Lei de Terras de 1850 estabelece o mercado como a regra do caminho Logo soacute podem se adquirir a terra mediante a compra Por conseguinte soacute a quem pode comprar Fica ela assim franqueada Portanto Excluindo-se desse acesso quem natildeo tem recursos o que quer dizer a quase totalidade da populaccedilatildeo Dessa forma embora seja um instrumento de

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regulaccedilatildeo mercantil da circulaccedilatildeo da terra a Lei de Terras se combina com a lei da regulaccedilatildeo do mercado de trabalho uma vez que exclui automaticamente do acesso agrave terra a quase totalidade da populaccedilatildeo colonial agrave qual soacute resta oferecer-se em trabalho aos proprietaacuterios fundiaacuterios vendendo a sua forccedila de trabalho Nesse sentido a um soacute tempo a Lei de Terras serve para dois objetivos que satildeo a preservaccedilatildeo do latifuacutendio e a organizaccedilatildeo da nova relaccedilatildeo de trabalho

Outro aspecto importante para ser analisado eacute o nascimento do campesinato e sua relaccedilatildeo com a agroexportaccedilatildeo

A Lei de Terras e sua irmatilde siamesa - a lei da aboliccedilatildeo do traacutefico de escravos- satildeo o anuacutencio do nascimento do campesinato E esse fato eacute o aspecto essencial da relaccedilatildeo de trabalho do regime social Todavia em face da Lei de Terras este campesinato jaacute nasce sob absoluto controle da classe senhorial que por intermeacutedio dele preserva a agroexportaccedilatildeo como base econocircmica da sociedade burguesa e garante para si o poder de organizaacute-la com fins de sua proacutepria transformaccedilatildeo em burguesia agraacuteria (Moreira 1990)

Eacute o desdobramento dessa dupla metamorfose da classe a senhorial e a dos escravos embora o capital mercantil e o trabalho camponecircs natildeo sejam respectivamente os substitutos diretos da classe dos senhores e dos escravos um traccedilo caracteriacutestico do processo que leva a ordem capitalista ao seu desabrochamento a acumulaccedilatildeo primitiva E eacute a accedilatildeo de optar pela metamorfose das relaccedilotildees agraacuterias No lugar da ruptura estrutural o traccedilo que faz o processo da acumulaccedilatildeo primitiva no Brasil uma forma de desenvolvimento capitalista semelhante agrave via prussiana

A forma social do campesinato em surgimento tem uma niacutetida relaccedilatildeo com a espacialidade diferencial herdada do colonial - escravismo Isto eacute com o modo com que no interior de cada espaccedilo da formaccedilatildeo colonial e a metamorfose do

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escravismo desemboca no processo da acumulaccedilatildeo primitiva Por isso trecircs modalidades podem ser encontradas a do campesinato que combina em si a condiccedilatildeo de reproduccedilatildeo do trabalhador assalariado e camponecircs com o morador o colono e o seringueiro a do campesinato familiar autocircnomo como o das colocircnias de imigrantes instaladas no planalto meridional e a do campesinato de ldquofronteirardquo como o posseiro que desde os tempos iniciais da economia colonial se localiza nas aacutereas da linha de frente do espaccedilo ocupado para dedicar-se a uma policultura livre

Considerando o processo de reproduccedilatildeo camponesa e o sistema de trocas Ruy Moreira afirma que

Eacute controlando a reproduccedilatildeo do trabalho desse campesinato que o capital mercantil extrai o excedente e realiza a acumulaccedilatildeo primitiva mediando a metamorfose burguesa da classe senhorial A forma desse controle eacute mercantil diferenciando-se especialmente no sistema de barracatildeo predominante na maior parte do territoacuterio nacional e no sistema mercantil simples nas colocircnias de imigrantes do planalto meridional (Moreira 1990)

DESENVOLVIMENTO

Os quilombos natildeo foram formados apenas no periacuteodo da escravatura no Brasil Mesmo depois da aboliccedilatildeo da escravidatildeo novos quilombos se constituiacuteram Isso ficou provado por estudos e pesquisas ocorridas na segunda metade do seacuteculo passado num momento caracterizado pela descolonizaccedilatildeo do continente africano e pelo debate sobre a identidade nacional no qual vaacuterios historiadores mostraram as experiecircncias de organizaccedilatildeo quilombola sob uma nova perspectiva ou seja natildeo soacute como recurso uacutetil para a sobrevivecircncia fiacutesica e cultural dos quilombolas mas principalmente como instrumento de preservaccedilatildeo da dignidade

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dos descendentes africanos traficados para o Brasil que lutavam para conquistar o direito agrave liberdade e conviver de acordo com a sua cultura tradicional (SEPPIR 2004 )

As comunidades quilombolas mesmo sendo ignoradas e perseguidas neste processo constituiacuteram-se numa rica dinacircmica de ldquodiaacutelogo culturalrdquo de afirmaccedilatildeo da identidade de resistecircncia eacutetnica de luta pela terra de relacionamento peculiar com a natureza que os remete agrave compreensatildeo de sua pertenccedila agrave terra de solidariedade intereacutetnica de sua ancestralidade e de todos os valores civilizatoacuterios ligados agrave Aacutefrica e preservados mediante seacuteculos de tradiccedilatildeo (PASSOS 2007)

Os quilombos continuam sendo sociedades livres igualitaacuterias justas soberanas em busca de felicidade Eram sociedades poliacutetico-militares que nasceram de movimentos de insurreiccedilotildees levantes revoltas armadas proclamando a queda do sistema escravocrata Frequentemente aqueles movimentos tomavam a forma de quilombos agrave semelhanccedila de Palmares Os quilombos existiram em muitos pontos do paiacutes em decorrecircncia das lutas ocorridas em diferentes lugares onde houvesse negaccedilatildeo de liberdade dominaccedilatildeo desrespeito a direitos acrescidas de preconceitos desigualdades e racismo (SIQUEIRA 1995 p3)

Atualmente a ligaccedilatildeo dessas comunidades com o passado natildeo se daacute pelo isolamento geograacutefico e nem pela homogeneidade fiacutesica e bioloacutegica de seus habitantes mas pela manutenccedilatildeo de praacuteticas de resistecircncia e reproduccedilatildeo de seu modo de vida em um local determinado Sendo assim a principal caracteriacutestica que aproxima a dimensatildeo do quilombo do periacuteodo colonial agraves formas de organizaccedilatildeo dos quilombos contemporacircneos estaacute ldquonas praacuteticas econocircmicas desenvolvidas cujos modelos produtivos agriacutecolas estabelecem uma necessaacuteria integraccedilatildeo agrave microeconomia local com vistas agrave consolidaccedilatildeo de um uso comum da terrardquo (SEPPIR 2004)

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As comunidades de remanescentes de quilombos ainda natildeo satildeo em muitos casos conhecidas divulgadas e valorizadas Muitas delas ainda vivem agraves margens da sociedade brasileira construiacuteda a partir do trabalho dos seus ancestrais (CAcircNTIA BOLONI 2004) Mesmo que no imaginaacuterio popular seja comum a associaccedilatildeo dos quilombos a algo apenas ligado ao passado e que teria desaparecido com o fim do regime da escravatura Mas essas comunidades quilombolas existem em grande nuacutemero e se fazem representadas praticamente em todo o territoacuterio brasileiro

A questatildeo fundiaacuteria deve ser lavada em consideraccedilatildeo pois a terra eacute de extrema importacircncia para a continuidade do grupo e condiccedilatildeo exclusiva para sua existecircncia O territoacuterio natildeo estaria restrito ao espaccedilo geograacutefico abarcando objetos atitudes e relacionamentos ou seja tudo o que efetivamente lhe diz respeito (SEPPIR 2004) Desta forma

Territoacuterios e identidades estatildeo inteiramente relacionados enquanto um estilo de vida uma forma de viver fazer e sentir o mundo Um espaccedilo social proacuteprio especiacutefico com formas singulares de transmissatildeo de bens materiais e imateriais para a comunidade Bens esses que transformaratildeo no legado de uma memoacuteria coletiva um patrimocircnio simboacutelico do grupo (SEPPIR 2004 p 11)

Outra dimensatildeo eacute incorporada na questatildeo fundiaacuteria pois enquanto a terra eacute uma necessidade econocircmica e social o territoacuterio enquanto espaccedilo geograacutefico e cultural de uso coletivo eacute uma necessidade cultural e poliacutetica ligado ao direito de autodeterminaccedilatildeo A terra eacute uma necessidade econocircmica e social (SEPPIR 2004)

As comunidades remanescentes de quilombo se caracterizam em sua maioria pelo grande viacutenculo com o meio que ocupam observando-se grande grau de preservaccedilatildeo da biodiversidade Elas sobrevivem da agricultura de subsistecircncia baseada na matildeo- de- obra familiar assegurando os produtos

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baacutesicos para o consumo Para completar a renda satildeo criados animais de pequeno porte como galinhas porcos patos e cabritos (VICENTE 2004) Para Nascimento (1980 apud Siqueira 1995) a memoacuteria dos afro-brasileiros natildeo se inicia com o traacutefico de escravos africanos para o Brasil pois eles jaacute trouxeram consigo saberes englobando as diversas aacutereas do conhecimento (culturas religiotildees liacutenguas artes ciecircncias tecnologias etc)

A presenccedila quilombola eacute ldquoestranha e ameaccediladora pelo olhar oficial e ideoloacutegico que inventa e faz desaparecer o outrordquo O quilombola eacute uma presenccedila marcante na histoacuteria brasileira mas ao mesmo tempo ldquoinviabilizado pelo medordquo desta mesma sociedade (PASSOS 2007 p 5) Essas comunidades ficaram agrave margem do processo de modernizaccedilatildeo durante mais de um seacuteculo de repuacuteblica Frutos do processo de ldquonegaccedilatildeo do Brasilrdquo viveram ameaccediladas e desrespeitadas em suas expressotildees culturais e sem acesso agrave titulaccedilatildeo de suas terras

Atualmente existem vaacuterias ameaccedilas vivenciadas por essas comunidades sendo as principais a falta de titulaccedilatildeo pois sem isto natildeo haacute como as comunidades quilombolas garantirem o domiacutenio e a posse da terra assegurando desse modo alternativas viaacuteveis para sua sobrevivecircncia com dignidade recuperando e renovando sua cultura a falta de reconhecimento dos direitos das populaccedilotildees tradicionais na legislaccedilatildeo ambiental o que muitas vezes favorece tensotildees e conflitos nas aacutereas e frequentemente inviabiliza sua permanecircncia na terra e a educaccedilatildeo que apresenta vaacuterias deficiecircncias sendo que muitas das escolas em funcionamento nas comunidades de remanescentes de quilombos natildeo tecircm a manutenccedilatildeo garantida e nem valorizam a cultura local (SEPPIR 2004)

Um nuacutemero muito grande de quilombos no Brasil vive em situaccedilotildees consideradas alarmantes e em muitos casos

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estatildeo localizados em lugares afastados e sem condiccedilotildees necessaacuterias para desenvolver uma agricultura de maior qualidade Falta documentaccedilatildeo para obter financiamentos empreacutestimos e subsiacutedios para sua produccedilatildeo mesmo com estes fatos denunciados e atestados por organismos internacionais ligados agrave Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) Isso tem de certa forma servido como pressatildeo nos uacuteltimos anos para que o governo brasileiro adote medidas miacutenimas de atenccedilatildeo poliacutetica a essas comunidades (PASSOS 2007)

As 100 famiacutelias de negros do quilombo Mocambo em Sergipe estatildeo em litiacutegio com fazendeiros da regiatildeo Os Kalunga em Goiaacutes espalhados em aacutereas dos municiacutepios de Cavalcanti Terezinha de Goiaacutes e Monte Alegre enfrentam pressatildeo de Furnas que inundaraacute cerca de 50 das terras onde estatildeo as roccedilas dessas comunidades para encher o lago da hidreleacutetrica que estaacute sendo construiacuteda Ateacute pouco tempo atraacutes soacute era possiacutevel chegar aos nuacutecleos onde vivem os Kalungas de Goiaacutes por meio de uma longa viagem em lombo de burro por caminhos difiacuteceis ao longo de um terreno acidentado Algumas pessoas idosas nunca deixaram o antigo quilombo para conhecer a cidade Poreacutem a populaccedilatildeo jovem jaacute comeccedila a se interessar pelo mundo fora do nuacutecleo (FUNDACcedilAtildeO PALMARES 2009)

Mesmo o processo de aquilombamento ocorrendo em todo o territoacuterio brasileiro as comunidades que descendem dos quilombolas ficaram esquecidas Por vaacuterios anos ficando igualmente esquecidas suas lutas para manter seu rico patrimocircnio histoacuterico e cultural Estas comunidades vecircm enfrentando inuacutemeros problemas ao longo dos anos Aleacutem da falta de coleta de lixo de esgoto de escolas e inexistecircncia de accedilotildees puacuteblicas que visem agrave geraccedilatildeo de renda e emprego estas comunidades se defrontam com outros problemas relacionados agrave manutenccedilatildeo de seus territoacuterios accedilotildees de

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grileiros construccedilotildees de hidreleacutetricas que alagam suas terras e ateacute mesmo demora no processo de regularizaccedilatildeo

Estas comunidades por muitas vezes satildeo discriminadas e marginalizadas por segmentos refrataacuterios da sociedade e pela miacutedia As aacutereas dessas comunidades mesmo sendo reconhecidas a partir de 1988 com a promulgaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo Federal somente 15 anos depois foram instituiacutedas as formas legais de regularizaccedilatildeo dos procedimentos administrativos para a identificaccedilatildeo reconhecimento delimitaccedilatildeo e titulaccedilatildeo das terras ocupadas pelos remanescentes de quilombos no Brasil Este processo de reconhecimento dos territoacuterios quilombolas eacute um meio de saldar parte do deacutebito social da sociedade e do Estado para com a populaccedilatildeo negra Portanto mesmo sendo garantido no processo de titulaccedilatildeo e reconhecimento que os quilombolas receberatildeo tratamento preferencial assistecircncia teacutecnica e linhas de financiamento para realizaccedilatildeo de suas atividades produtivas e de infraestrutura esta garantia na praacutetica natildeo eacute confirmada pois o que vemos ainda eacute o descaso com as comunidades em relaccedilatildeo aos bens miacutenimos para sua sobrevivecircncia A COMUNIDADE QUILOMBOLA MUSSUCA

Laranjeiras municiacutepio que o povoado Mussuca pertence possui a populaccedilatildeo estimada em 2015 de 29130 pessoas reunidas em aacuterea territorial de 162280 quilocircmetro quadrado segundo o IBGE O municiacutepio tem o Iacutendice de Desenvolvimento Humano em 2012 de 0642

O Quilombo da Mussuca ainda natildeo adquiriu a titulaccedilatildeo de suas terras certificada de acordo com o livro cadastral L05-RG465-FL73 em 20 de janeiro de 2006- processo nordm 01420003078-2005-11

A Mussuca estaacute localizada no Leste Sergipano na Regiatildeo do Vale Cotinguiba cidade de Laranjeiras Este

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povoado surge ldquodurante o processo de colonizaccedilatildeo mais precisamente no seacuteculo XVIIIrdquo em que foi construiacuteda uma das igrejas mais antigas da cidade de Laranjeiras nas proximidades do Engenho Ilha que fica na proacutepria comunidade em uma aacuterea particular

Lugar de faacutecil acesso pela BR 101 principal eixo viaacuterio de Sergipe distante 19 km de Aracaju capital do Estado De altos e baixos com relevo de tabuleiros com diferenccedilas e composiccedilotildees de morros encaixados em vertentes Sua populaccedilatildeo segundo dados da secretaria de sauacutede eacute de aproximadamente 3043 habitantes sendo que a maior parte da populaccedilatildeo se auto define como negros a qual possui um grau de parentesco muito forte Por isso sempre esteve ligada agrave presenccedila de matildeo de obra escrava e agrave cultura canavieira ateacute os dias atuais As condiccedilotildees geoambientais foram fatores importantes para o cultivo da cana de accediluacutecar o clima chuvoso e o solo forte de massapeacute

A economia local estaacute baseada na pesca na agricultura extraccedilatildeo de mineacuterios nos setores puacuteblicos como prefeitura nas grandes empresas onde a oferta de empregos satildeo bem maiores A falta de uma sustentabilidade na comunidade faz com que a maior parte dos trabalhadores se desloque para a capital e cidades vizinhas e ateacute mesmo para outros estados em busca de oportunidades de empregos A Mussuca dispotildee de duas escolas puacuteblicas uma estadual e uma municipal possui rede telefocircnica e rede eleacutetrica posto de sauacutede cemiteacuterio quadra de esporte academia aacutegua potaacutevel sem tratamento ruas pavimentadas campo de futebol igrejas evangeacutelicas e uma igreja catoacutelica associaccedilotildees comunitaacuterias e de pescadores entre outras Telecentro-digital centros de umbandas uma creche que natildeo funciona e comeacutercios locais Portanto foi atraveacutes do seu autoreconhecimento de Comunidade Quilombola que passou a receber benefiacutecios do Governo Federal como cestas baacutesicas conjunto habitacional entre outros

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Em 2005 dirigentes de Associaccedilotildees se reuniram para o primeiro Encontro Estadual de Comunidades Quilombolas em Aracajuacute Sergipe para discutir sobre o processo de reconhecimento das comunidades Apoacutes o encontro os participantes ficariam responsaacuteveis de transmitir esse conhecimento e de esclarecer a populaccedilatildeo local sobre sua importacircncia

A Mussuca eacute considerada ateacute entatildeo uma das Comunidades Quilombolas mais importantes do Estado de Sergipe definida por sua identidade proacutepria aleacutem das manifestaccedilotildees culturais que resgatam o seu passado natildeo apenas por suas origens histoacutericas mas tambeacutem por sua rica importacircncia cultural Dessa maneira suas manifestaccedilotildees culturais estatildeo sempre presentes no seu dia-a-dia Haacute exemplo da danccedila do Grupo Satildeo Gonccedilalo do Amarante conhecido nacionalmente como grupo pagador de promessa que contempla o Santo Satildeo Gonccedilalo com suas cantorias Este grupo eacute composto por homens com trajes de mulheres e uma mariposa a qual carrega o Santo em sua barca acompanhado de seu violatildeo Aleacutem do Samba de Parelha que tecircm como referecircncia histoacuterica Dona Nadi festa completamente junina composta por homens e mulheres responsaacuteveis por tocar os instrumentos e as mulheres para danccedilar Haacute tambeacutem o Samba de Coco de Dona Maria e o Reisado tambeacutem conduzido por Dona Nadi Assim como o grupo de Teatro Amigos da Cultura Mussuquense que trabalha da cultura local e que eacute passada de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo

No municiacutepio de Brejo Grande-Sergipe localiza-se a Comunidade Quilombola de Brejatildeo dos Negros com uma aacuterea de 469 hectares O imoacutevel rural foi doado recentemente para a comunidade quilombola e que consolida o processo de reintegraccedilatildeo e acesso agraves terras para esta comunidade

A conquista do imoacutevel rural denominado de fazenda Batateiras foi entregue aos quilombolas atraveacutes de um

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documento oficial de emissatildeo de posse entregue pelo superintendente regional do Instituto de Colonizaccedilatildeo e Reforma Agraacuteria-IncraSE Jorge Tadeu Jatobaacute na praccedila do povoado De acordo com Leonardo Goacutees superintendente substituto do Incra a propriedade estaacute localizada bem no centro da aacuterea delimitada para a criaccedilatildeo do territoacuterio quilombola Por isso a sua posse representa um marco no processo de retomada das terras pela comunidade

Apoacutes vistoria realizada em 2006 para fins de reforma agraacuteria foi constatada que a Fazenda Batateiras classificada como improdutiva integra um amplo estudo antropoloacutegico que identificou o local como parte da aacuterea a ser demarcada para a criaccedilatildeo do territoacuterio quilombola de Brejatildeo dos Negros Portanto a fazenda que antes era objeto de disputa judicial e ocupaccedilatildeo irregular seraacute revertida para o desenvolvimento de accedilotildees produtivas pelas famiacutelias quilombolas

A comunidade quilombola de Brejatildeo dos Negros foi reconhecida pela Fundaccedilatildeo Cultural Palmares em 2005 e hoje eacute formada por 410 famiacutelias que vivem em uma aacuterea abrangida por diversos povoados Localizado na regiatildeo da foz do rio Satildeo Francisco o conjunto de terras que deveraacute compor o futuro territoacuterio quilombola eacute considerado um dos principais focos de tensatildeo agraacuteria do estado de Sergipe A tensatildeo na regiatildeo eacute ocasionada devido a ocupaccedilatildeo por fazendeiros e grileiros nas aacutereas que estatildeo sendo identificadas pelo estudo antropoloacutegico para a constituiccedilatildeo do territoacuterio

O IncraSE em parceria com o Ministeacuterio Puacuteblico Federal do Estado (MPFSE) reiniciou os trabalhos de identificaccedilatildeo e delimitaccedilatildeo do territoacuterio quilombola Brejatildeo dos Negros no municiacutepio de Brejo Grande (SE) O anuacutencio ocorreu nesta terccedila-feira (17022009) durante reuniatildeo com representantes dos ministeacuterios Puacuteblicos Federal e Estadual (MPE) da Poliacutecia Federal da Ouvidoria Agraacuteria Regional do Governo do Estado de Sergipe e da Caacuteritas Diocesana

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Tambeacutem participaram membros da comunidade Quilombola Brejatildeo dos Negros da Prefeitura e da Cacircmara Municipal de Brejo Grande

O trabalho do IncraSE consiste na elaboraccedilatildeo do Relatoacuterio Teacutecnico de Identificaccedilatildeo e Delimitaccedilatildeo do Territoacuterio (RTID) e na consequente regularizaccedilatildeo de aacutereas pertencentes a comunidades tradicionais remanescentes de quilombos

Para o superintendente do IncraSE Jorge Tadeu Jatobaacute o objetivo do trabalho eacute beneficiar quem precisa de terras e historicamente faz jus ao territoacuterio de Brejatildeo dos Negros ldquoNoacutes iniciamos esse trabalho em Brejo Grande com a certeza de que ele ajudaraacute a combater as desigualdades fomentando mais justiccedila social na regiatildeordquo

Segundo o procurador da Repuacuteblica Silvio Roberto Oliveira de Amorim Juacutenior aleacutem de fiscalizar e fazer cumprir a lei a atuaccedilatildeo do MPF referenda acordos nacionais e internacionais que objetivam reduzir as desigualdades sociais ldquoEacute uma missatildeo constitucional do MP assegurar a defesa das comunidades tradicionais Este trabalho antes de ser uma obrigaccedilatildeo eacute uma questatildeo de justiccedila social e de poliacutetica puacuteblicardquo

A elaboraccedilatildeo do RTID eacute o primeiro passo para a regularizaccedilatildeo do territoacuterio de Brejatildeo dos Negros As fases posteriores dependem de publicaccedilatildeo de portaria do presidente do INCRA e de assinatura de decreto presidencial Jaacute a uacuteltima fase do processo consiste na titulaccedilatildeo do territoacuterio quilombola A comunidade quilombola de Brejatildeo dos Negros tem hoje 277 famiacutelias cadastradas no INCRASE A principal atividade econocircmica dessa comunidade eacute o extrativismo de coco e mariscos oriundos da aacuterea de manguezal da regiatildeo

O processo de demarcaccedilatildeo das aacutereas quilombolas em Brejo Grande ainda natildeo foi concluiacutedo O INCRA no entanto prevecirc que o Relatoacuterio Teacutecnico de Identificaccedilatildeo e Delimitaccedilatildeo que inclui estudo antropoloacutegico seja finalizado o mais breve

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possiacutevel A comunidade estaacute bastante ansiosa mas eacute um relatoacuterio que tem que ser feito com bastante cuidado Para alguns representantes do movimento quilombola local o avanccedilo no reconhecimento da aacuterea ajuda a apaziguar algumas tensotildees existentes entre os proacuteprios habitantes dos povoados O caminho ateacute aiacute entretanto foi longo

A partir do momento em que o grupo comeccedilou a manifestar interesse pela identificaccedilatildeo quilombola com o apoio do padre Isaias Nascimento hoje afastado da paroacutequia surgiram focos de rejeiccedilatildeo que cresceram com a accedilatildeo de grupos que se identificam como proprietaacuterios de terras ldquoEles diziam que as pessoas iam perder as casas iam voltar a serem escravosrdquo relatou Maria Izaltina Santos presidente da Associaccedilatildeo Santa Cruz entidade ligada a Brejatildeo dos Negros As divergecircncias chegaram a momentos de grande tensatildeo como quando um grupo desfavoraacutevel ao quilombo invadiu uma missa de Isaias aos gritos de ldquofora padrerdquo

ldquoEm determinado momento eles comeccedilaram a perder terreno As pessoas costumam acreditar quando veem acontecerrdquo avaliou o professor Gilvan Pereira tambeacutem envolvido no movimento pela demarcaccedilatildeo Segundo ele no pior momento apenas 20 famiacutelias sustentavam o pleito Hoje satildeo aproximadamente 300 famiacutelias Para ajudar reverter agrave situaccedilatildeo foram realizados diversos trabalhos em Brejatildeo cursos capacitaccedilotildees accedilotildees de resgate cultural ldquoHouve principalmente no comeccedilo do conflito uma tentativa de divisatildeo entre eles muito proacutepria do momento de afirmaccedilatildeo de identidade culturalrdquo comentou a procuradora do MPF Liacutevia Nascimento acrescentando que a alguns dos residentes foram oferecidas casas em outro povoado de Brejo Grande o Sarameacutem Mas eu acho que isso estaacute superado Mesmo aqueles que foram para o Sarameacutem hoje jaacute tecircm uma visatildeo maior de integraccedilatildeo com a comunidaderdquo informou Nascimento Para ela entretanto isso natildeo significa que as accedilotildees de resgate

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devam parar ldquoSem duacutevida nenhuma tendo em vista a grande pressatildeo que eacute feita pelos grupos econocircmicos e poliacuteticos da regiatildeo eacute um trabalho que deve ser realizado permanentemente

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Portanto a presente pesquisa em andamento pretende analisar o processo de formaccedilatildeo das comunidades quilombolas refletindo-se sobre os antecedentes histoacutericos de formaccedilatildeo o processo de luta pela terra e a efetivaccedilatildeo do territoacuterio enquanto loacutecus da reproduccedilatildeo desse grupo social que forma a sociedade brasileira e que muitas das vezes satildeo colocados como indesejaacuteveis e ateacute invisiacuteveis para o Estado e para a Sociedade Para desenvolver melhor a referida pesquisa objetiva-se realizar leituras teoacutericas gerais e especiacuteficas que abordem a temaacutetica no campo das ciecircncias humanas e sobretudo na ciecircncia geograacutefica com foco na abordagem que discute a categoria territoacuterio Como procedimentos metodoloacutegicos encontram-se entrevistas aplicaccedilatildeo de questionaacuterios anaacutelise de dados censitaacuterios visitas teacutecnicas em oacutergatildeos puacuteblicos e associaccedilotildees descriccedilatildeo cartograacutefica das comunidades e mapeamento Enfatiza-se que os instrumentais utilizados tecircm como objetivo contribuir para a realizaccedilatildeo de uma pesquisa qualitativa que possibilite uma anaacutelise criacutetica da temaacutetica abordada Desse modo pretende-se com esse estudo oferecer contribuiccedilotildees para a produccedilatildeo da pesquisa geograacutefica na academia e sobretudo contribuir para o processo de organizaccedilatildeo poliacutetica e luta por territoacuterio e o acesso agrave terra pelas comunidades tradicionais e em especial as comunidades quilombolas na construccedilatildeo de uma sociedade mais justa REFEREcircNCIAS

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ANJOS Rafael Sanzio Arauacutejo Quilombolas tradiccedilotildees e culturas de resistecircncia Satildeo Paulo Aori Comunicaccedilatildeo 2006 ARRUTI Joseacute Mauriacutecio Paiva Andion Mocambo antropologia e histoacuteria do processo de formaccedilatildeo quilombola Bauru SP Edusc 2006 AZANHA G 2001 A lei de Terras de 1850 e as terras dos iacutendios Brasiacutelia Centro de Trabalho Indigenista Disponiacutevel em ltHTTPWWWindiosisoladosorgbr-textos-6-gt Acesso em 12 de janeiro de 2009 BAROacute Dioniacutesio ET al Desigualdade racial e construccedilatildeo institucional a consolidaccedilatildeo da temaacutetica racial no Governo Federal In A CONSTRUCcedilAtildeO de uma poliacutetica de promoccedilatildeo da igualdade racial uma anaacutelise dos uacuteltimos vinte anos Brasiacutelia DF Governo Federal 2008 P 93-146 BRAZIL Maria do Carmo Formaccedilatildeo do Campesinato negro no Brasil Reflexotildees categorial sobre os fenocircmenos ldquoquilombordquo ldquoremanescente de quilombordquo e ldquocomunidade negra ruralrdquo In Encontro de Histoacuteria de Mato Grosso do Sul Dourados-MS AMPUH 2006 CAMPOS Andrelino Do quilombo agrave favela a produccedilatildeo do ldquo espaccedilo criminalizado ldquo no Rio de Janeiro Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2010 CARRIL L de F B Quilombo territoacuterio e Geografia Revista Agraacuteria n 3 Satildeo Paulo 2006 CARVALHO Eduardo Cesar Paredes de O Procedimento de Identificaccedilatildeo Reconhecimento Demarcaccedilatildeo e Titulaccedilatildeo dos Territoacuterios das Comunidades Negras

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Tradicionais no Brasil e na Colocircmbia A Legitimidade Para Atuaccedilatildeo da Defensoria Puacuteblica R Defensoria Puacutebl Uniatildeo Brasiacutelia DF n 5 p 9 ndash 35 out 2012 FIABANI A Mato Palhoccedila e Pilatildeo o quilombo da escravidatildeo agraves comunidades remanescentes (1532-2004) Satildeo Paulo editora Expressatildeo popular 2005 GUSMAtildeO N M ldquo Os Direitos dos Remanescentes de Quilombosrdquo Cultura Vozes nordm 6 Satildeo Paulo Vozes Nov- dez de 1995 HARVEY David A Produccedilatildeo Capitalista do Espaccedilo ndashSatildeo Paulo Annablume 2005 LEITE I B ( Org) Negros no Sul do Brasil invisibilidade e territotialidade Florianoacutepolis Letras Contemporacircneas 1996 MORAES Antocircnio Carlos Robert Bases da Formaccedilatildeo Territorial do Brasil ndash Vitoacuteria Espiacuterito Santo Geografares nordm2 junho de 2001 MORAES Antocircnio Carlos Robert Territoacuterio e Histoacuteria no Brasil ndash Satildeo Paulo Hucitec 2002 MOREIRA Ruy Formaccedilatildeo do Espaccedilo Agraacuterio Brasileiro ndash Satildeo Paulo editora Brasiliense 1990 Presidecircncia da Repuacuteblica-Casa Civil ndash Subchefia Para Assuntos Juriacutedicos Decreto nordm 4887 de 20 de Novembro de 2003 2003 RAMOS A O Negro na Civilizaccedilatildeo Brasileira Rio de Janeiro Casa do Estudante Brasileiro 1953

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SANTOS Alexandra DOULA Sheila Maria Poliacuteticas Puacuteblicas e Quilombolas Questotildees Para Debate e Desafios agrave Praacutetica Extensionista Revista Extensatildeo Rural DEAER-PGExR-CCR-UFSM Ano XV nordm 16 Jul ndash Dez de 2008 SCHMITT Alessandra TURATTI Maria Ceciacutelia Manzoli CARVALHO Maria Celina Pereira Satildeo Paulo ITESP 2002 SEPPIR ndash Secretaria Especial de Poliacuteticas de Promoccedilatildeo da Igualdade Racial Programa Brasil Quilombola Brasiacutelia Abareacute 2004 48 p SILVA Jesiel Souza FERRAZ Joseacute Maria Gusman Questatildeo Fundiaacuteria a terra como necessidade social e econocircmica para a reproduccedilatildeo quilombola ndash Salvador ndash Bahia Geo Textos vol 8n 1 jul 2012 SILVA L O Terras Devolutas e Latifuacutendio ndash Efeitos da Lei de 1850 Campinas Unicamp 1996 SILVA Maria Ester Ferreira da Territoacuterio Poder e as Multiplas Territorialidades nas Terras Indiacutegenas e de Pretos Narrativa e Memoacuteria como mediaccedilatildeo na construccedilatildeo do territoacuterio dos povos tradicionais ndash Tese de Doutorado PPGEO ndash UFS 2010

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FARINHADA SIacuteMBOLO DA CULTURA MATERIAL CAMPONESA EM ITABAIANA - SERGIPE

Juliana Lima da Costa

Graduanda em Geografia pela Universidade Federal de Sergipe

E mail jullianalimatvdgmailcom

RESUMO

O presente texto eacute um dos resultados da execuccedilatildeo de um plano de trabalho referente a um Projeto de Iniciaccedilatildeo Cientifica que busca inventariar a cultura material camponesa a fim de contribuir para a valorizaccedilatildeo dos saberes camponeses Neste sentido a farinhada e a casa de farinha representam uma forma de resistecircncia e trata-se de um saber que eacute passado de geraccedilatildeo para geraccedilatildeo Deste modo o artigo caracteriza e analisa a produccedilatildeo de farinha de mandioca no povoado Flexas no municiacutepio sergipano de Itabaiana a partir de um enfoque etnograacutefico que vincula a vivecircncia do pesquisador com o ambiente pesquisado resultando em uma anaacutelise minuciosa do objeto estudado Palavras-chave campesinato farinhada resistecircncia INTRODUCcedilAtildeO Este artigo eacute resultante da execuccedilatildeo de um Projeto de Iniciaccedilatildeo Cientiacutefica intitulado ldquoSiacutetio roccedila costumes e trabalho fontes e conhecimento camponecircs para um pensamento geograacutefico e uma geografia histoacuterica da formaccedilatildeo territorial de Itabaiana Sergiperdquo que tem como um dos Planos de Trabalho ldquoInventaacuterio de referecircncias materiais do conhecimento camponecircs em Itabaianardquo O objetivo principal do plano eacute levantar e inventariar materialidades relacionadas ao siacutetio a

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roccedila aos costumes e ao trabalho camponecircs em aacutereas rurais de Itabaiana com o propoacutesito de (re)conhecer o conhecimento camponecircs em suas contradiccedilotildees e ressignificaccedilotildees como resistecircncia agraves formas de colonizaccedilatildeo contemporacircneas Desta forma a partir do levantamento e inventaacuterio foi possiacutevel identificar costumes e saberes proacuteprios dos camponeses Dentre as atividades camponesas levantadas destaca-se a produccedilatildeo da farinha de mandioca tema central deste artigo A farinhada eacute uma atividade predominantemente camponesa pois eacute um trabalho realizado com a famiacutelia que resiste ao tempo e ao Capital Pois mesmo com toda a tecnologia existente ainda existem casas de farinha totalmente manuais como eacute o caso da casa de farinha observada no povoado Flexas em Itabaiana O povoado Flexas eacute um dos mais antigos do municiacutepio de Itabaiana (LIMA JUNIOR 2015) e eacute formado por pequenos siacutetios Atualmente o nuacutemero de habitantes do povoado estaacute bem reduzido por causa do ecircxodo rural provocado principalmente pela violecircncia Mas as pessoas que foram morar na cidade continuam com suas propriedades no povoado e vatildeo todos os dias trabalhar Os siacutetios em sua grande maioria possuem casas de farinha ao lado da casa de morada o que nos leva a entender que a produccedilatildeo de farinha era atividade predominante no povoado Desta forma a observaccedilatildeo de caraacuteter participante ou seja aquela em que o pesquisador participa ativamente de todas as atividades (SOUZA 2013) foi realizada no referido povoado A unidade camponesa observada resulta de ocupaccedilatildeo familiar de camponeses haacute quatro geraccedilotildees

A farinhada envolve toda a famiacutelia e ateacute vizinhos que se juntam para ajudar na produccedilatildeo em troca de um ldquobeijurdquo15 Eacute

15 Massa feita com a tapioca que eacute extraiacuteda da mandioca e assada sobre o forno virando uma espeacutecie de panqueca

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um saber que eacute passado de pai para filho e se caracteriza como uma cultura material e imaterial camponesa Apesar da feitura da farinha ser trabalhosa e demandar tempo muitas famiacutelias ainda preferem produzir a farinha para consumo proacuteprio ao inveacutes de compra-la pronta na feira Esse fato demonstra uma resistecircncia ao capital que a todo custo tenta destruir o conhecimento camponecircs (MESZAacuteROS 2008) oferecendo-lhes alternativas que a princiacutepio parecem ser mais ldquovantajosasrdquo Portanto este artigo tem por objetivo analisar a farinhada como uma forma de resistecircncia e conhecimento camponecircs a partir de um enfoque etnograacutefico caracterizando as etapas da produccedilatildeo a divisatildeo do trabalho as ferramentas e os saberes envolvidos a partir da observaccedilatildeo participante e de registros fotograacuteficos DESENVOLVIMENTO O campesinato eacute significativamente responsaacutevel pela produccedilatildeo de alimentos no Brasil dentre os quais proveacutem deste setor 87 da produccedilatildeo de mandioca (WANDERLEY 2015) Eacute a mandioca (Manihot Esculenta Crantz) a mateacuteria prima utilizada para produzir a Farinha que eacute um dos alimentos mais consumidos diariamente pelos camponeses A farinha eacute produzida em um local chamado casa de farinha que tem a estrutura de uma casa como o proacuteprio nome sugere onde estatildeo dispostos os instrumentos utilizados no processo O tiacutetulo de ldquocasardquo tambeacutem pode estar relacionado ao fato de que em dias de farinhada o local se torna a segunda casa da famiacutelia onde todos ficam reunidos inclusive fazendo as refeiccedilotildees no local (SILVA SILVA 2015) Eacute um espaccedilo de sociabilidades troca de informaccedilotildees sobre teacutecnicas e o locus ideal para qualquer anaacutelise que trate de reciprocidade solidariedade e haacutebitos alimentares (COUTINHO 2015)

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As ferramentas de maior porte utilizadas na produccedilatildeo de farinha satildeo a prensa o rodete o coxo e o forno Os demais utensiacutelios utilizados satildeo faca paacute rodo peneira bacias e sacos Vale destacar que na casa de farinha observada no povoado Flexas todas as ferramentas utilizadas satildeo totalmente manuais Uma farinhada dura em meacutedia 16 horas mas a preparaccedilatildeo comeccedila muito antes Pois a mandioca leva no miacutenimo 18 meses para lsquoficar prontarsquo Depois de plantar a mandioca e passado os 18 meses ela jaacute estaacute ldquoboa de arrancarrdquo ou seja jaacute estaacute pronta para ser extraiacuteda O primeiro passo eacute arrancar a mandioca A quantidade a ser arrancada vai depender da finalidade da farinha Por exemplo se a farinha eacute apenas para consumo ldquouma terccedilardquo (30 quilos) satisfaz as necessidades da famiacutelia por mais ou menos dois meses desta forma 02 carreiras satildeo suficientes Mas se o produto seraacute vendido as medidas utilizadas seratildeo ldquomeia quartardquo (60 quilos) ou ldquouma quartardquo (120 quilos) Dessa forma a quantidade de mandioca a ser arrancada aumenta Cabe destacar que as regras de pesos e medidas observados tambeacutem podem ser considerados como fator de resistecircncia camponesa A retirada das raiacutezes da malhada (local onde satildeo produzidos alimentos para a proacutepria subsistecircncia como tambeacutem para serem vendidos nas feiras A malhada diferentemente da roccedila tem uma extensatildeo menor fica proacutexima a casa e tem uma maior rotatividade de cultivos) eacute tarefa realizada por homens por exigir mais forccedila O homem arranca a mandioca e carrega as raiacutezes em carrinhos de matildeo e despeja com cuidado dentro da casa de farinha As mulheres ou os filhos lavam as raiacutezes retirando a terra e colocam em cima de sacos Depois disso eacute a hora de ldquorasparrdquo as mandiocas Utiliza-se a palavra ldquorasparrdquo ao inveacutes de ldquodescascarrdquo pelo fato da camada de casca a ser retirada ser bem fina diferente de quando se descasca a macaxeira que pode ser cozida Essa atividade eacute realizada com uma faca bem amolada e segundo as

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falas observadas eacute preciso ldquodeixar o braccedilo molerdquo para raspar mais raacutepido Raspar as mandiocas eacute tarefa principal da mulher e dos filhos mas o homem tambeacutem participa depois que termina seus afazeres Segundo relatos haacute algum tempo atraacutes as raspagens de mandiocas eram momentos de descontraccedilatildeo onde a famiacutelia e amigos se reuniam ateacute altas horas conversando enquanto realizavam a atividade sob a luz do candeeiro Depois de terminar o trabalho iam todos tomar banho em tanques e jantar retornando para suas casas para no dia seguinte logo cedo retomar o trabalho O ato de raspar a mandioca eacute tambeacutem um momento de aprendizado onde a matildee ensina os filhos o jeito certo de realizar a tarefa Ela por possuir mais habilidade ldquocoloca a meiardquo ou seja raspa a metade da mandioca e o filho ldquotira a meiardquo descascando o resto e colocando a mandioca descascada dentro de bacias ou outros recipientes Raspar a metade aleacutem de ser uma forma de realizar o trabalho mais raacutepido eacute um meio de manter a higiene natildeo pegando na parte descascada da raiz com as matildeos sujas (Figura 01)

Figura 01- Mandiocas raspadas pela metade ldquoa meiardquo

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Esse trabalho geralmente eacute realizado no fim da tarde e

adentra a noite No dia seguinte logo cedo o trabalho eacute retomado Depois de descascadas as mandiocas satildeo ldquoreladasrdquo numa ferramenta chamada rodete Essa tarefa pode ser realizada por um homem ou mulher mas nunca pelos filhos pois pela falta de experiecircncia podem acabar se machucando As mandiocas satildeo inseridas numa espeacutecie de maacutequina que tritura e a massa vai sendo depositada dentro do coxo que eacute colocado embaixo do rodete Apoacutes serem reladas eacute o momento de retirar a tapioca que serve para fazer o beiju que natildeo pode faltar em dia de farinhada Essa atividade eacute feita por uma mulher que coloca a massa numa espeacutecie de coador e espreme ateacute que a aacutegua saia sobrando a tapioca O liacutequido extraiacutedo nesse processo eacute chamado de ldquomandipueirardquo (aacutecido cianiacutedrico) (Figuras 02 e 03)

Figura 02 ndash Mandiocas sendo trituradas no rodete

Fonte COSTA 2018

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Figura 03 ndash retirando a tapioca

Fonte COSTA 2018

O proacuteximo passo eacute ldquoprensarrdquo a massa ou seja espreme-la numa ferramenta chamada Prensa ateacute que saia completamente a mandipueira A massa eacute colocada dentro de um saco e encaixada na prensa a parte superior chamada ldquomasseirardquo eacute abaixada sendo enroscada fazendo com que a massa seja pressionada extraindo o liacutequido Por este motivo a prensa fica afastada no fundo da casa de farinha para que seja mais faacutecil de limpar depois (Figura 04) Figura 04 ndash o ato de prensar

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Fonte COSTA 2018

Depois de prensada a massa precisa passar pelo rodete novamente para que fique solta para depois ser torrada Apoacutes esse procedimento ela eacute colocada sobre o forno jaacute quente para ser ldquomuchadardquo Murchar significa desintegrar a massa separando-a que aos poucos vai ficando seca Feito isso jaacute estaacute pronta para ser mexida Mexer a farinha eacute a tarefa para os mais experientes precisa de forccedila e agilidade pois eacute a etapa mais cansativa Neste processo o forno tem que estaacute bem quente para que a farinha fique boa e os movimentos com o rodo ou a paacute precisam ser raacutepidos para que ela natildeo queime (Figura 05)

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Figura 05 ndash Mexendo a farinha

Fonte COSTA 2018

Depois de mexida o uacuteltimo passo eacute peneirar a farinha para tirar os gratildeos mais grauacutedos chamados de caroccedilos Essa atividade eacute feita pela mulher juntamente com os filhos Depois de peneirada a farinha eacute ensacada e pesada e jaacute estaacute pronta para o consumo ou para ser comercializada Nesse momento final com o forno ainda quente eacute hora de assar os beijus que podem ser apenas de tapioca ou ser acrescentado amendoim

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ou coco Eacute comum distribuir os beijus com os vizinhos ou com algueacutem que tenha participado da farinhada Todo esse processo eacute cansativo e trabalhoso principalmente por que atualmente as famiacutelias natildeo satildeo mais numerosas como haacute alguns anos atraacutes Mas mesmo assim o trabalho natildeo eacute tido como um fardo (MESZAacuteROS 2008) pois representa a autonomia do camponecircs que escolheu produzir o seu proacuteprio alimento e repassa o seu conhecimento para os filhos CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS Thompson (1998 p 17) assinala que ldquoCultura eacute entendida como um sistema de atitudes valores e significados compartilhados e as formas simboacutelicas (desempenhos e artefatos) em que se acham incorporadosrdquo Dessa forma a cultura material camponesa estaacute tambeacutem relacionada aos costumes que satildeo transmitidos de geraccedilatildeo para geraccedilatildeo as formas de lidar com a terra e fazer o trabalho aos objetos e ferramentas proacuteprios de uso camponecircs e a sua forma de enxergar o mundo Portanto a farinhada se caracteriza como expressatildeo da cultura material camponesa Eacute um saber proacuteprio dos camponeses e merece ser reconhecido e valorizado Visto que atualmente a produccedilatildeo da farinha estaacute quase que completamente mecanizada a casa de farinha estudada e as ferramentas utilizadas representam uma resistecircncia ao processo de desenvolvimento do Capital pois satildeo totalmente manuais e por isso merecem ser preservadas A farinhada eacute a representaccedilatildeo da autonomia camponesa que planta a mandioca colhe e produz a farinha sem precisar pagar nada por isso Representa tambeacutem o sentimento de solidariedade e fraternidade dessa classe simbolizado na entrega de beijus e na ajuda na raspagem da

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mandioca Aleacutem disso as ferramentas utilizadas juntamente ao saber fazer satildeo importantes para o entendimento do processo de formaccedilatildeo territorial do municiacutepio pois eacute uma atividade que persistem ao longo do tempo REFEREcircNCIAS COUTINHO Andrea Lima Duarte A ldquofeitura da farinhardquo notas etnograacuteficas de uma farinhada no Alto Sertatildeo da Bahia p 219-243 In DENARDIN Valdir Frigo KOMARCHESKI Rosilene (Orgs) Farinheiras do Brasil Tradiccedilatildeo Cultura e Perspectivas da Produccedilatildeo Familiar de Farinha de Mandioca Matinhos UFPR litoral 2015 297p LIMA JUacuteNIOR F A de Carvalho Monographia Historica do Municipio de Itabayana Revista Trimestral do Instituto Histoacuterico e Geograacutefico de Sergipe Aracaju vol 2 ndeg 4 1914 p 128-149 Disponiacutevel em lthttpwwwihgseorgbrrevistas04pdfgt Acesso em 29 out 2015 MEacuteSZAacuteROS Istvaacuten O desafio e o fardo do tempo histoacuterico o socialismo no seacuteculo XXI Traduccedilatildeo de Ana Cotrim e Vera Cotrim Satildeo Paulo Boitempo 2008 SILVA Cirlene do Socorro Silva da SILVA Maria das Graccedilas da Casas de farinha cenaacuterios de (con)vivecircncias saberes e praacuteticas educativas P 59-81 In DENARDIN Valdir Frigo KOMARCHESKI Rosilene (Orgs) Farinheiras do Brasil Tradiccedilatildeo Cultura e Perspectivas da Produccedilatildeo Familiar de Farinha de Mandioca Matinhos UFPR litoral 2015 297p SOUZA Acircngela Fagna Gomes de Saberes Dinacircmicos o uso da etnografia nas pesquisas geograacuteficas qualitativas In

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MARAFON Glaucio Joseacute et al Pesquisa Qualitativa em Geografia Reflexotildees teoacuterico conceituais e aplicadas Rio de Janeiro- eduerj 2013 p 55-68 THOMPSON E P Costumes em Comum Traduccedilatildeo Rosaura Eichemberg Satildeo Paulo Companhia das Letras 1998 WANDERLEY Maria de Nazareth Baudel O campesinato Brasileiro uma Histoacuteria de resistecircncia RESR Piracicaba-SP vol 52 supl 1 p s025-s044 2014

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A IMPORTAcircNCIA DO CONSOacuteRCIO PECUAacuteRIALAVOURA COMO ESTRATEacuteGIA

CAMPONESA NO AGRESTE DE ITABAIANA ndash SERGIPE

Weverton de Jesus Barbosa sup1

Joyce Almeida Santos sup2 Mayara de Santana Silva Santos sup3

(Universidade federal de Sergipe-Campus Professor Alberto Carvalho)

(Graduandos-Geografia) E mail wevertonfungmailcom

joycealmeida19hotmailcom Lolly_santanhotmailcom

RESUMO

A agricultura camponesa eacute uma atividade milenar mesmo ao passar por diferentes processos de produccedilatildeo do espaccedilo e expropriaccedilatildeo desvalorizaccedilatildeo e ataques constantes do grande capital mostra sua forccedila e importacircncia para o mundo eacute esta atividade que nutre boa porta da populaccedilatildeo no caso especifico do Brasil Diante dos desafios enfrentados pelos camponeses ainda eacute ele que oferece e abastece a populaccedilatildeo com os seus produtos nas feiras livres e pequenos mercados Nesse contexto mesmo com a ocorrecircncia de desajustes econocircmicos diminuiccedilatildeo do preccedilo pela superproduccedilatildeo O camponecircs consegue se sobrepor e boa parte da produccedilatildeo eacute para consumo proacuteprio e algumas culturas satildeo aproveitadas na alimentaccedilatildeo do rebanho em especial o gado bovino No entanto com a modernizaccedilatildeo a princiacutepio nas cidades contribuiu para uma mudanccedila significativa no campo Com a necessidade de se adequar a nova realidade imposta pelo modus operandi da vida citadina transforma radicalmente a vida no

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campo O investimento do grande capital no campo eleva continuamente o aumento exponencial das mobilidades de somas incalculaacutevel de camponeses para a cidade expropriado do campo sem condiccedilotildees de produzir e criar seus rebanhos Poreacutem a acessibilidade agrave modernizaccedilatildeo natildeo estaacute disponiacutevel a todos pois tem um alto custo e necessita de grande soma de investimento e capital tanto em moeda como em forccedila de trabalho especializada Sendo assim a relaccedilatildeo pecuaacuteria e pequena agricultura teve continuidade nas pequenas propriedades camponesas Essa relaccedilatildeo ainda eacute muito presente tendo grandes iacutendices na regiatildeo do Agreste sergipano iniciada seacuteculo XVII Palavras-chave Camponecircs Pecuaacuteria Lavoura INTRODUCcedilAtildeO

A agricultura camponesa eacute caracterizada por uma produccedilatildeo diversificada de alimentos em pequenas propriedades com o envolvimento da famiacutelia eacute considerada a matriz produtiva da agroecologia

No agreste Sergipano essa caracteriacutestica da agricultura camponesa tem uma profunda ligaccedilatildeo com a pecuaacuteria o agricultor camponecircs para manter seu pequeno rebanho bovino usa as sobras ou parte de sua produccedilatildeo o que natildeo serve para o consumo humano (como a ramagem da batata doce o peacute de amendoim a maniccediloba e tamboeira da macaxeira e mandioca e a palha do milho) aliado aos produtos que natildeo consegue vender eacute revertido em composto alimentar na dieta animal

Por outro lado o animal aleacutem de fornecer o leite a carne e o couro fornecem tambeacutem o adubo orgacircnico bovino (esterco) que eacute utilizado na terra para a fertilizaccedilatildeo pois a adubaccedilatildeo orgacircnica proporciona uma reduccedilatildeo de custos na produccedilatildeo menor utilizaccedilatildeo de adubos quiacutemicos Desta forma

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esta ligaccedilatildeo eacute utilizada como forma de reduccedilatildeo de custeios com consumo de insumos agropecuaacuterios pois a regiatildeo natildeo possui um alto padratildeo tecnoloacutegico em maquinaacuterios Aleacutem do fator econocircmico esta forma da agricultura camponesa traz outros benefiacutecios como por exemplo a utilizaccedilatildeo desses subprodutos na alimentaccedilatildeo bovina traz nutrientes importantes para os animais assim como o adubo bovino orgacircnico para a terra

Essa caracteriacutestica da agricultura em conciliaccedilatildeo com a criaccedilatildeo de gado em pequenas propriedades natildeo eacute recente estaacute presente desde a chegada dos portugueses na regiatildeo iniciada no seacuteculo XVII embora nesse periacuteodo a concentraccedilatildeo da terra jaacute se prenunciava como caracteriacutestica marcante atraveacutes das doaccedilotildees de Sesmaria forma pela qual Portugal encontrou para a ocupaccedilatildeo do territoacuterio Apesar possibilitar agrave desconcentraccedilatildeo fundiaacuteria em muitas ocasiotildees a propriedade do agricultor camponecircs eacute tatildeo pequena que natildeo daacute para o sustento familiar a renda eacute baixa devido a minifundializacatildeo da terra uma vez que em maioria a posse da terra eacute por meio da heranccedila sendo desta forma obrigados vender sua forccedila de trabalho em grandes e meacutedia propriedades para conseguir manter o sustento da famiacutelia

Ao analisar dados do IBGE 2016 eacute possiacutevel verificar essas caracteriacutesticas de produccedilatildeo por exemplo no municiacutepio de Itabaiana em 2016 continha 3651 unidades de estabelecimento agropecuaacuterios relacionados agraves terras de ldquoagricultura familiarrdquo dessas unidades 1624 possuiacuteam rebanhos bovinos os nuacutemeros de cabeccedilas se aproxima 11189 Aleacutem das unidades tambeacutem eacute possiacutevel observar que o nuacutemero de trabalhadores nesses estabelecimentos eacute bem expressivo que os da ldquoagricultura natildeo familiarrdquo No municiacutepio de Moita Bonita por exemplo em 2016 continha cerca de 2258 pessoas trabalhando na ldquoagricultura familiarrdquo com apenas 76 na agricultura natildeo familiar

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DESENVOLVIMENTO

A PRODUCcedilAtildeO DO ESPACcedilO AGRAacuteRIO DO AGRESTE DE ITABAIANA

O processo de colonizaccedilatildeo das terras localizada no Agreste sergipano foi iniciado em 1601 segundo citado por (SANTOS 2011) conforme a carta de doaccedilatildeo datada de 10 de marccedilo de 1601 No periacuteodo do seacuteculo XVII ao XVIII a terra estava responsaacutevel por 22 sesmeiros e a principal atividade era desenvolver a criaccedilatildeo de gado embora a populaccedilatildeo tambeacutem se dedica a agricultura

[] No periacuteodo que vai do seacuteculo XVII ao XVIII o espaccedilo agraacuterio do Agreste Sertatildeo de Itabaiana estava ocupado por 22 sesmeiros [] verifica-se que a atividade principal era a criaccedilatildeo de gado [] A carta de doaccedilatildeo citada enfatiza muito bem os objetivos dos requerentes ou seja desenvolver a criaccedilatildeo de gado principalmente apesar da populaccedilatildeo se dedicar tambeacutem a agricultura (SANTOS 2011 p79)

A instalaccedilatildeo na regiatildeo via sesmarias natildeo era a uacutenica

forma de ocupaccedilatildeo havia tambeacutem a presenccedila do pequeno lavrador que ocupava principalmente terras devolutas de grandes proprietaacuterios como informa Jose de Souza Martins

[] A ocupaccedilatildeo da terra obedecia a dois caminhos distintos de um lado o pequeno lavrador que ocupava terras presumivelmente devolutas de outro o grande fazendeiro que por via legal obtinha cartas de sesmarias mesmo em aacutereas onde jaacute existiam posseiros (MARTINS apud SANTOS 2011 p41)

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Com o fim do regime de sesmarias em 1822 no Brasil aleacutem de impulsionar a transformaccedilatildeo de terras puacuteblicas em grandes latifuacutendios tambeacutem impulsiona as ocupaccedilotildees dos pequenos e meacutedios agricultores e tornou o acesso agrave terra mais ldquodemocraacuteticardquo atraveacutes do apossamento como mecanismo de apropriaccedilatildeo

[] Atraveacutes da revoluccedilatildeo de 17 de julho de 1822 teve fim o regime das sesmarias no Brasil A partir dessa data eacute bem verdade sucederam-se demarcaccedilotildees de terras puacuteblicas transformadas em imensos latifuacutendios mas tambeacutem ganharam impulso as ocupaccedilotildees de glebas menores por parte de pequenas e meacutedios agricultores (SANTOS 2011 p41)

A Lei de terras de 1850 tambeacutem traz consequecircncias era ldquonecessaacuteria uma legislaccedilatildeo que tutelasse e legitimasse a propriedade da terrardquo (SANTOS p42) Partindo de interesses dos latifundiaacuterios para que desta forma ldquoimpedisse o acesso agrave terra por parte dos ex-escravos imigrantes e dos homens livres pobresrdquo (SANTOS p42) Desta forma estabelecia a proibiccedilatildeo da aquisiccedilatildeo de terras devolutas a natildeo ser atraveacutes de compra

Embora a regiatildeo do Agreste Sertatildeo de Itabaiana tivesse como atividade criatoacuteria e agriacutecola no iniacutecio do seacuteculo XIX natildeo passava de atividade de subsistecircncia e a regiatildeo natildeo apresentava melhorias ldquoNa vila de Itabaiana principal centro urbano seus novecentos e noventa e nove habitantes eram os mais pobres de toda comarcardquo (SANTOS 2011 p 80 e 81)

De acordo com (Santos 2011 p 122) No censo Agriacutecola de 1920 foram identificadas 1211 propriedades na regiatildeo do Agreste Sertatildeo de Itabaiana As propriedades com menos de 41 hectares (490) ocupavam 100 da aacuterea total a meacutedia propriedade com 278 ocupava 202 e as grandes

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232 concentravam 698 da aacuterea No periacuteodo entre 1920 a 1925 houve um aumento no grau de concentraccedilatildeo o iacutendice de Gini passou de 058 para 063 em decorrecircncia da diminuiccedilatildeo da aacuterea meacutedia das pequenas propriedades e aumento das propriedades entre 41ha a 100ha e estabilidade das grandes propriedades

No censo agraacuterio de 1920 Santos (2011) tambeacutem daacute ecircnfase a produccedilatildeo vegetal do municiacutepio de Itabaiana que pode ser considerada como o celeiro da regiatildeo sendo o maior produtor de milho feijatildeo mandioca cafeacute e algodatildeo este responsaacutevel por 455 da produccedilatildeo da regiatildeo A produccedilatildeo vegetal predominava a em relaccedilatildeo a animal pois o valor no setor chegava a 700 devido ao alto valor do algodatildeo Ele tambeacutem ressalta que desde essa eacutepoca o Agreste Sertatildeo de Itabaiana apresentava um baixo grau de inovaccedilotildees tecnoloacutegicas no total de 1211 propriedades apenas 41 possuiacutea maquinaacuterios e apesar da impotecircncia do algodatildeo (considerada lavoura de pobre e cultivada em consorciamento com o feijatildeo e presente em todos tamanhos de propriedades de pequenas a grandes) na regiatildeo existia apenas 10 descaroccediladores de algodatildeo Na produccedilatildeo de cana de accediluacutecar ldquoutilizavam instrumentos rudimentares como enxada foice e faccedilatildeordquo (SANTOS p127)

Santos (2011) destaca tambeacutem as pequenas propriedades nesse periacuteodo e como alcanccedilou a atual conjuntura caracteriacutestica marcante da regiatildeo

[] No Agreste sertatildeo de Itabaiana as propriedades na faixa de -5ha correspondia a 43 daquelas situadas no estrato de -41ha (594 propriedades) enquanto os de 5-20ha representavam 325 o os de 20-41ha245 Ou seja as propriedades na faixa de -5ha eram propriedades quantitativas nesse periacuteodo provavelmente em face do processo histoacuterico

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de desmembramento das unidades agriacutecolas adquiridas principalmente por heranccedila e no desenvolvimento de culturas alimentares voltadas para o consumo familiar (SANTOS 2011 p177)

Essas propriedades enfrentavam desde essa eacutepoca

seacuterias dificuldades

[] As propriedades de aacuterea de -5 ha (255 estabelecimentos) com aacuterea meacutedia de 034 ha produzem anualmente 4207 Kg de farinha de mandioca por estabelecimento Sendo o consumo anual de 550 Kg necessitavam ainda de 993 Kg que monetarizado rendia um saldo negativo de 9$930 (SANTOS 2011 p177)

Desta forma esse grupo de saldo negativo necessitava do trabalho alugado nas meacutedias e grandes propriedades para atingir o equiliacutebrio de produccedilatildeoconsumo anual Nas meacutedias propriedades de 5-20 haacute a produccedilatildeo de farinha de mandioca do feijatildeo e criaccedilatildeo de bovinos garantia a sua reproduccedilatildeo ldquoAs propriedades de 50-20 ha (194) produzem 16087 Kg anuais de farinha de mandioca que subtraiacutedos do consumo anual necessaacuterio resultariam em 10887 Kg (108$870)rdquo (SANTOS 2011 p178)

Jaacute nas maiores propriedades de 20-41 ha garantiam o consumo anual apenas por ganhos provenientes da produccedilatildeo de farinha de mandioca e aleacutem da mandioca essas propriedades eram produtoras de feijatildeo e criaccedilatildeo de gado

[] As propriedades do grupo de 20-41 ha (145) conseguiam produzir em uma aacuterea meacutedia de 27 haacute por estabelecimentos 33412 Kg de farinha de mandioca com um excedente de 28212 Kg (282$120) Eram produzidos tambeacutem uma meacutedia de 79ha por

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propriedade 9796 Kg de feijatildeo com um excedente de 8236 Kg (164$720) [] Aleacutem disso estas propriedades tinha tambeacutem na pecuaacuteria uma receita meacutedia de 5246$911 (SANTOS 2011 p178)

Eacute notoacuteria a diferenccedila no trato com a terra e na lida da

vida no campo quando se observa as diferentes extensotildees das propriedades Nas menores os proprietaacuterios trabalham com a famiacutelia e precisam diversificar as atividades com o uso de alguns cultivares que ao mesmo tempo serve de fonte de alimentaccedilatildeo para a famiacutelia como para a venda e o que natildeo sobre eacute utilizado na alimentaccedilatildeo do rebanho bovino que aleacutem de fornecer o leite o couro e a carne tambeacutem oferece o adubo orgacircnico

LAVOURA-PECUAacuteRIA COMO ESTRATEacuteGIA CAMPONESA NO AGRESTE DE ITABAIANA

O crescente desenvolvimento tecnoloacutegico na agricultura vem possibilitando o homem transformar o meio ambiente a aumentar a produccedilatildeo mas nem sempre estaacute disponiacutevel a todos Esses recursos em sua maioria concentrados em grandes propriedades natildeo eacute viaacutevel a utilizaccedilatildeo de maquinaacuterios em pequenas propriedades os camponeses natildeo dispotildeem de recursos financeiros nem condiccedilotildees para tal

[] Para administrar com eficiecircncia e eficaacutecia uma unidade produtiva agriacutecola eacute imprescindiacutevel dentre outras variaacuteveis o domiacutenio da tecnologia e do conhecimento dos resultados dos gastos com os insumos e serviccedilos em cada fase produtiva da lavoura que tem no custo um indicador importante das escolhas do produtor [] O

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desenvolvimento tecnoloacutegico das maacutequinas e implementos agriacutecolas as alteraccedilotildees nas relaccedilotildees trabalhistas no meio rural a intensidade e os resultados de pesquisas no ramo agropecuaacuterio e as modificaccedilotildees nos marcos regulatoacuterio de mudas e sementes do uso de recursos hiacutedricos do seguro rural e dos fertilizantes e agrotoacutexicos satildeo fatos que impactam nos custos de produccedilatildeo agriacutecola (Conab 2010 p0809)

Desta forma os maquinaacuterios estatildeo geralmente voltados para grandes propriedades monocultoras e suas produccedilotildees estatildeo voltadas a exportaccedilatildeo e para produccedilatildeo de commodities

[] O agronegoacutecio se caracteriza pela produccedilatildeo baseada na monocultura especialmente de produtos cujos valores satildeo ditados pelas regras do mercado internacional pela utilizaccedilatildeo intensiva de insumos quiacutemicos e de maacutequinas agriacutecolas pela adoccedilatildeo de pacotes tecnoloacutegicos pela padronizaccedilatildeo e uniformizaccedilatildeo dos sistemas produtivos pela artificializaccedilatildeo do ambiente e pela consolidaccedilatildeo de grandes empresas agroindustriais (SANTILLI 2009 apud Conab 2010 p12)

As pequenas propriedades de agricultura camponesa por sua vez aleacutem de possibilitar a desconcentraccedilatildeo fundiaacuteria sua produccedilatildeo agriacutecola eacute diversificada e muitas vezes conciliada com outras atividades como a pecuaacuteria

[] A agricultura camponesa e familiar sempre teve como caracteriacutestica baacutesica a policultura (milho feijatildeo arroz mandioca hortaliccedilas frutiacuteferas etc) e nesse modelo a famiacutelia eacute proprietaacuteria dos meios de produccedilatildeo e assume o trabalho no estabelecimento

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produtivo Na sua diversidade social eacute difiacutecil estabelecer um uacutenico modelo agriacutecola mas sua atuaccedilatildeo eacute fundamental para a seguranccedila alimentar a geraccedilatildeo de emprego e renda e desenvolvimento local em bases sustentaacuteveis e equitativas (SANTILLI 2009 apud Conab 2010 p13)

Essas pequenas propriedades de produccedilotildees diversificadas estatildeo muito presentes no Agreste de Itabaiana com citado no texto da SEADE (Fundaccedilatildeo Sistema Estadual de Anaacutelise de Dados)

[] Esta regiatildeo abriga o maior contingente de unidades familiares do Estado apresentando uma produccedilatildeo agropecuaacuteria diversificada em que se destacam as culturas oleiacutecolas principalmente mandioca batata e inhame (Ribeiroacutepolis e Moita Bonita) frutas pecuaacuteria de corte pecuaacuteria de leite (Frei Paulo e Ribeiroacutepolis) e em menor quantidade milho e feijatildeo (SEADE p158)

A produccedilatildeo diversificada conciliada com a criaccedilatildeo de gado aleacutem do proacuteprio consumo do camponecircs e sua famiacutelia tambeacutem eacute uma forma de adaptaccedilatildeo para provaacuteveis perdas que possam prejudicar a lavoura como por exemplo os reveses do clima pragas e o proacuteprio mercado que as vezes natildeo absorve a produccedilatildeo desta forma para amenizar as perdas com a lavoura

[] Muitos agricultores se adaptam ao clima e ateacute se adaptam a alguma mudanccedila climaacutetica minimizando as perdas das colheitas por meio do plantio de variedades locais tolerantes agrave seca por exemplo aleacutem do manejo orgacircnico do solo policulturas colheitas de aacutegua recolecccedilatildeo de plantas silvestres e outras

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teacutecnicas de sistemas de agricultura tradicionais (BONAMIGO 2016 p2)

O camponecircs mesmo com todas as adversidades seja ela fiacutesica qualidade do solo falta de aacutegua ou humana concentraccedilatildeo de terras falta de maquinaacuterio adequado assistecircncia teacutecnica falta de financiamento e proteccedilatildeo atraveacutes de poliacuteticas puacuteblica entre outros consegue sobreviver e se perpetuar em um meio tatildeo hostil

ALIMENTACcedilAtildeO ALTERNATIVA DE BOVINOS

O agricultor camponecircs utiliza como raccedilatildeo bovina as sobras ou as partes de sua produccedilatildeo que natildeo sevem para o consumo humano (como a ramagem da batata doce o peacute de amendoim a maniccediloba e tamboeira da macaxeira e mandioca e a palha do milho) ou que natildeo conseguiu vender para o mercado ou por natildeo compensar a venda devido ao baixo preccedilo

[] Normalmente os subprodutos entram na dieta em substituiccedilatildeo a algum outro alimento mais tradicional como milho ou soja No entanto qualquer que seja o motivo da utilizaccedilatildeo certamente o principal fator considerado na avaliaccedilatildeo eacute uma possiacutevel vantagem econocircmica seja por uma reduccedilatildeo direta no custo da alimentaccedilatildeo seja por um melhor desempenho animal resultante de aumento na eficiecircncia alimentar (MENEGHETTI 2008 p512)

Desta forma reduz os gastos com insumos pecuaacuterios alimentiacutecios de bovinos e aumenta sua renda de forma complementar com a agricultura

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[] O aproveitamento de resiacuteduos [] na alimentaccedilatildeo animal atualmente aleacutem de ser visto como uma opccedilatildeo econocircmica de grande importacircncia na reduccedilatildeo do impacto ambiental propicia produccedilatildeo de alimentos nobre e de boa qualidade devido as suas caracteriacutesticas nutricionais (MENEGHETTI 2008 p512)

A raccedilatildeo alternativa na pecuaacuteria natildeo traz consigo apenas ganhos financeiros para o camponecircs mais tambeacutem benefiacutecios os animais passam a tem um completo alimentar mais diversificado e um composto de nutrientes que traduz em melhorias na qualidade do rebanho

[] Os alimentos contecircm substacircncias semelhantes embora em proporccedilotildees diferentes Esses componentes satildeo chamados de nutrientes Os nutrientes iratildeo atender as exigecircncias dos animais em crescimento manutenccedilatildeo e produccedilatildeo tanto direta como indiretamente (KIRCHOF 2008 p 6)

Kirchof (2000) em seu artigo ldquoAlimentaccedilatildeo das vacas leiteirasrdquo traz algumas informaccedilotildees sobre a alimentaccedilatildeo alternativa para o rebanho bovino dentre eles a batata doce e rama parte aeacuterea do amendoim maniccediloba e tamboeira de mandioca palha do milho estre outros Satildeo estes as principais plantaccedilotildees da agricultura camponesa da regiatildeo Agreste de Itabaiana

Quanto agrave batata doce o autor fala que eacute rica em amido caroteno vitamina D e traz um aviso ldquobatata-doce mofada pode conter metaboacutelicos toacutexicos potentes capazes de matar o gado que a consome em grandes quantidades um dia apoacutes a ingestatildeo Recomenda-se fornecer ateacute 10 kg por cabeccedila por dia de batata-docerdquo p 20 Jaacute quanto a rama da batata doce ldquoeacute rica

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em proteiacutena (107) e em vitaminas A e C Pode ser fornecido sem restriccedilotildees aos ruminantesrdquo (KIRCHOF 2000 p20)

Quanto agrave casca de amendoim ldquoEacute relativamente palataacutevel para vacas leiteiras ocasionando diminuiccedilatildeo na ingestatildeo de mateacuteria seca Tem efeito estimulador na gordura do leite Possui muito alto teor de fibra bruta (+60)rdquo (KIRCHOF2000 P19)

Com relaccedilatildeo a mandioca (parte aeacuterea)

[] A parte aeacuterea (ramos peciacuteolo e folhas) da mandioca possui alto valor nutritivo principalmente proteiacutena carboidratos vitaminas e minerais aleacutem de excelente aceitabilidade pelos animais Recomenda-se o aproveitamento para alimentaccedilatildeo animal apenas do terccedilo final da planta restando a parte mais grossa e lenhosa geralmente em torno de 40 cm para multiplicaccedilatildeo Este manejo permite tanto o aproveitamento de maior proporccedilatildeo de folhas para a raccedilatildeo animal quanto a seleccedilatildeo das melhores manivas para replantio eacute deficiente em metionina O aacutecido cianiacutedrico da parte aeacuterea da mandioca eacute muito toacutexico O aacutecido cianiacutedrico evapora rapidamente e pocircr isso seu teor comeccedila a baixar logo apoacutes a colheita Em vista disso aconselha-se que antes de ser fornecida aos animais a parte aeacuterea da mandioca brava passe pocircr um processo de murcha durante 24 horas (KIRCHOF 2000 p28)

Quanto sobre Raiz da mandioca

[] Alimento rico em carboidratos facilmente fermentaacuteveis e muito pobre nos outros nutrientes Possui toxicidade atraveacutes do

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glicosiacutedeo cianogecircnico [] Para fornecer a raiz da mandioca fresca aos animais devem ser tomados alguns cuidados Mandioca mansa colher lavar picar e fornecer imediatamente as raiacutezes aos animais pois natildeo se conservam em estado fresco Mandioca brava natildeo se recomenda seu uso fresca Antes deve ser secada ou ensilada (KIRCHOF 2000 p 28)

Em relatos de um feirante no municiacutepio de Macambira nos anos de 20152016 os agricultores camponeses de mandioca enfrestaram problema para encontra ldquomanibardquo (maniva) de mandioca pois devido ao periacuteodo de estiagem e seca destes anos a ldquomanibardquo foi quase totalmente utilizada para a alimentaccedilatildeo animal dificultando a plantaccedilatildeo (OLIVEIRA Rafael dos Santos (2018) depoimento concedido a Weverton de Jesus Barbosa Itabaiana 06 fev 2018)

A palha do milho por sua vez ldquoDeve ser fornecida picada (pedaccedilos nunca menores de 05 cm) O aproveitamento da palha eacute melhorado quando junto com o milho se planta uma leguminosa constituindo-se no que se chama de ldquopalhada verderdquo (KIRCHOF 2000 p30)

Desta forma a utilizaccedilatildeo de alimentaccedilatildeo alternativa pode ser viaacutevel para o agricultor camponecircs mas eacute necessaacuterio tomar cuidado com alguns alimentos pois o mau uso deste pode resultar em perdas irrevogaacuteveis a exemplo da mortandade do rebanho

ADUBACcedilAtildeO ORGAcircNICA

A adubaccedilatildeo orgacircnica eacute tradicionalmente utilizada como

uma forma de repor os nutrientes orgacircnicos do solo seja ele de origem vegetal ou animal ela consiste na decomposiccedilatildeo resultante da degradaccedilatildeo bioloacutegica quiacutemica e atividade dos microrganismos O adubo orgacircnico eacute rico em nutrientes e

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mantem o solo em dinacircmico o que eacute de grande importacircncia para a fertilidade do solo produzindo nutrientes para as plantas aleacutem de melhorar a estrutura fiacutesica quiacutemica e bioloacutegica

A decomposiccedilatildeo eacute lenta liberando lentamente os nutrientes para o solo destra forma em muitos casos ele eacute complementado com adubo quiacutemico que possuem um preccedilo elevado A compra adubo quiacutemico eacute devido a conjuntura econocircmica de produtividade em curto prazo com a utilizaccedilatildeo de agrotoacutexicos e fertilizante e esse modelo de agricultura cientificada globalizada exige demanda de bens cientiacuteficos e de assistecircncia teacutecnica

[] O adubo orgacircnico de origem animal mais conhecido eacute o esterco que eacute formado por excrementos soacutelidos e liacutequidos dos animais e pode estar misturado com restos vegetais Sua composiccedilatildeo eacute muito variada Satildeo bons fornecedores de nutrientes tendo o foacutesforo e o potaacutessio rapidamente disponiacutevel e o N fica na dependecircncia da facilidade de degradaccedilatildeo dos compostos (KORNDOumlRFER 2015 apud LIMA et al 2015)

O adubo orgacircnico (esterco) bovino ou caprino utilizados nas pequenas propriedades do Agreste itabaianense eacute proveniente do proacuteprio rebanho do agricultor camponecircs ou comprado por pecuaristas vizinhos ou ainda trazidas por caminhotildees de outras localidades pois a quantidade de esterco eacute inferior agrave demanda da sua lavoura jaacute que sua propriedade pequena natildeo tem capacidade para criaccedilatildeo de um nuacutemero suficiente de bovinos que atenda sua necessidade e sua propriedade suporta uma quantidade maior de bovinos

Os riscos da adubaccedilatildeo orgacircnica satildeo poucos mas existentes como citado por Lima (2015) alguns adubados

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orgacircnicos mal decompostos ou de origem natildeo controlada podem introduzir ou aumentar o nuacutemero de microrganismos de solo nocivos agraves plantas e introduzir sementes de plantas daninhas (TRANI apud LIMA 2013)

Em um trecho de uma reportagem da Redaccedilatildeo

Nordeste Rural 2015 de tiacutetulo ldquoA importacircncia do uso do esterco bovino para recuperar solos degradadosrdquo eacute citado

[] A teacutecnica de utilizaccedilatildeo de esterco de curral na agricultura eacute simples e possibilita o aproveitamento da matildeo-de-obra familiar A mateacuteria orgacircnica repotildee os nutrientes agrave terra propicia a melhoria da fertilidade e a reduccedilatildeo da acidez do solo favorecendo o aumento da aeraccedilatildeo permeabilidade e infiltraccedilatildeo da aacutegua (Redaccedilatildeo Nordeste Rural 2015)

Em relatos de um agricultorpecuarista do povoado MoitapamMatapoan no municiacutepio de Itabaiana ele ressalta que nunca precisou comprar esterco pois a sua criaccedilatildeo de bovina era suficiente para a sua plantaccedilatildeo mas ele enfrentou dificuldades para declarar sua profissatildeo de agricultor e pecuarista e sua posiccedilatildeo de agricultor camponecircs para conseguir o benefiacutecio do Ponaf (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar) Era necessaacuterio decidir entre agricultor ou pecuarista natildeo podendo declarar as duas atividades e tendo que se declarar ldquoagricultor familiarrdquo natildeo tendo a opccedilatildeo de agricultor camponecircs (ANDRADE Joseacute Eduardo Alves 2018 em depoimento concedido a Weverton de Jesus Barbosa Itabaiana 06 fev 2018) Desta forma aleacutem do ganho econocircmico do camponecircs o esterco traz benefiacutecios para o solo melhorando as propriedades sem produtos quiacutemicos que podem prejudicar o meio ambiente

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CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Compreende-se assim que a agricultura camponesa eacute responsaacutevel pela diversidade de alimentos que se apresenta diariamente na mesa de milhares de pessoas aleacutem de empregar a maior parte dos familiares que circundam essa cultura O Agreste Sergipano tem fortes caracteriacutesticas do campesinato aleacutem de possuir tambeacutem intensa relaccedilatildeo com a pecuaacuteria jaacute que as sobras das colheitas satildeo direcionadas ao alimento do bovino assim ocorre ldquototalrsquo reaproveitamento do plantio

A criaccedilatildeo de bovinos em pequenas propriedades natildeo eacute recente pois desde seacuteculos atraacutes esses animais eram as principais ferramentas de trabalho no campo por exemplo arar a terra transporte e aleacutem de serem fontes de adubaccedilotildees naturais

No entanto essa cultura aos poucos estar se perdendo devido aos avanccedilos tecnoloacutegicos provocando a modernizaccedilatildeo do campo resultando maiores produccedilotildees reduccedilatildeo de tempo e entre outros mas por sua vez acarretaram-se tambeacutem pontos negativos reduccedilatildeo de matildeo-de-obra ( desemprego) solos mais desgastados perca de utilizaccedilatildeo de insumos naturais substituiacutedos por insumos industriais que por sua vez eacute considerados prejudiciais agrave sauacutede dos homens animais meio ambiente corpos hiacutedricos e entre outros

No que concerne a agricultura camponesa eacute responsaacutevel por possibilitar a desconcentraccedilatildeo fundiaacuteria seus cultivos agriacutecolas satildeo bem diversificados e muitas vezes concede uma dinacircmica com outras atividades como eacute o caso da pecuaacuteria REFEREcircNCIAS

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ANDRADE Joseacute Eduardo Alves (2018) em depoimento concedido a Weverton de Jesus Barbosa Itabaiana 06 fev 2018

BONAMIGO C A A agricultura camponesa e a formaccedilatildeo politeacutecnica objetivos eixos e accedilotildees do pronacampo In XI ANPED SUL 2016 Curitiba Reuniatildeo cientifica regional da ANPED 2016 HAAS Jaqueline Mallmann Diversificaccedilatildeo de Produccedilatildeo no Meio Rural como Estrateacutegia de Sobrevivecircncia um estudo de caso da regiatildeo noroeste do Rio Grande do Sul In IV Encontro Nacional da Anppas 2008 Brasiacutelia KHATOUNIAN Carlos Armecircnio A reconstruccedilatildeo ecoloacutegica da agricultura Satildeo Paulo Livraria e Editora Agroecoloacutegica [199-] 345 p v 1 KIRCHOF B Alimentaccedilatildeo da vaca leiteira [sl sn] [entre 1989 e 2000] 62p MENEGHETTI Cristiane De Caacutessia DOMINGUES Joseacute Luiz Caracteriacutesticas nutricionais e uso de subprodutos da agroinduacutestria na alimentaccedilatildeo de bovinos Revista Eletrocircnica Nutritime Satildeo Paulo N52 p 512-536 MarAbr 2008 OLIVEIRA Mauro Maacutercio ARAUJO Joseacute Cordeiro A poliacutetica agriacutecola como mateacuteria constitucional OLIVEIRA Rafael dos Santos (2018) depoimento concedido a Weverton de Jesus Barbosa Itabaiana 06 fev 2018 PEDROSA C E Silagens de ramas e raiacutezes de batata-doce 2012 54f (Dissertaccedilatildeo - Mestrado em Produccedilatildeo

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Vegetal) ndash Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Produccedilatildeo Vegetal Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri Diamantina 2012 REDACcedilAtildeO NORDESTE RURAL A importacircncia do uso do esterco bovino para recuperar solos degradados Disponiacutevel em lthttpnordesteruralcombra-importancia-do-uso-do-esterco-bovino-para-recuperar-solos-degradadosgt Acesso em 13 jan 2018 SAMPAIO EV de S B OLIVEIRA N M B Nascimento PR F Eficiecircncia da adubaccedilatildeo orgacircnica com estercobovino e com egeria densa Pernambuco SANTOS Lorival Santana A produccedilatildeo do espaccedilo agraacuterio sergipano estruturaccedilatildeo e arranjos (1850-1925) 2011 245 p Doutorado (Poacutes-graduaccedilatildeo em Geografia) - Universidade Federal de Sergipe Satildeo Cristoacutevatildeo 2011 SEADE agropecuaacuteria do Estado de Sergipe Satildeo Paulo Agropec [199-] wwwsidraibgegovbr V ENCONTRO CIENTIacuteFICO E SIMPOacuteSIO DE EDUCACcedilAtildeO UNISALESIANO 2015 Satildeo Paulo A adubaccedilatildeo orgacircnica e a sua relaccedilatildeo com a agricultura e o meio ambiente Satildeo Paulo A pesquisa frete agrave inovaccedilatildeo e o desenvolvimento sustentado 2015

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O PROGRAMA NACIONAL DA ALIMENTACcedilAtildeO ESCOLAR NOS MUNICIacutePIOS DE AREIA BRANCA E

MALHADOR UMA ESTRATEacuteGIA PARA O DESENVOLVIMENTO RURAL

Juacutenio Andrade Menezes

Graduando em Geografia -UFS E mail junior-andrade-15hotmailcom

Prof Dr Marcelo Alves Mendes -UFS

E-mail marcelomendesufsgmailcom

RESUMO

O Programa Nacional de Alimentaccedilatildeo Escolar (PNAE) eacute umas das poliacuteticas puacuteblicas mais antigas do paiacutes foi reestruturado no ano de 2009 pela lei nordf 11947 que obriga os gestores municipais e estaduais a utilizarem no miacutenimo 30 dos recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educaccedilatildeo na compra de produtos alimentiacutecios de origem da agricultura familiar Com essa reestruturaccedilatildeo foi possiacutevel criar um mecanismo de fortalecimento da agricultura familiar e proporcionar melhores indicadores nutricionais para jovens em idade escolar O presente trabalho tem como objetivo analisar os entraves do Programa Nacional de Alimentaccedilatildeo Escolar no fortalecimento da agricultura familiar nos municiacutepios de Areia Branca e Malhador localizados no estado de Sergipe Para chegar a este objetivo foram utilizados como procedimento metodoloacutegico levantamento bibliograacutefico participaccedilatildeo em reuniotildees no Grupo de Pesquisa sobre Dinacircmica Rural e Regional (GDRR) produccedilatildeo de fichamentos levantamento de dados empiacutericos e trabalho de campo Este artigo eacute fruto de uma pesquisa que se encontra em andamento entretanto pode-se afirmar que existem entraves na execuccedilatildeo desta

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poliacutetica puacuteblica ou seja o natildeo cumprimento dos 30 exigido em lei e as oscilaccedilotildees de investimentos e acampamento dos principais atores envolvidos na poliacutetica puacuteblica Desta forma eacute necessaacuteria a continuidade do PNAE e sua melhor execuccedilatildeo pois fortalece os agricultores familiares e contribui para uma melhor seguranccedila alimentar e nutricional das crianccedilas e jovens estudantes dos municiacutepios em questatildeo Palavras-chave Agricultura Familiar Poliacuteticas Puacuteblicas Desenvolvimento Rural INTRODUCcedilAtildeO

A agricultura familiar eacute uma atividade que estaacute enraizada na cultura brasileira entretanto por muitos anos o pequeno agricultor familiar natildeo possuiacutea poliacuteticas puacuteblicas especificas que pudesse lhe permitir um mercado forte e uma seguranccedila de cultivar os produtos que garantissem sua alimentaccedilatildeo e reproduccedilatildeo familiar No ano de 2009 atraveacutes da lei nordf 119472009 foi reestruturado o Programa Nacional da Alimentaccedilatildeo Escolar (PNAE) considerada uma das poliacuteticas puacuteblicas mais antigas do paiacutes este fato intensificou a interligaccedilatildeo entre os agricultores familiares e a comunidade escolar

Com as mudanccedilas ocorridas no PNAE em 2009 a que se destaca eacute a obrigaccedilatildeo que os gestores municipais e estaduais passaram a ter isto eacute devem usar no miacutenimo 30 dos recursos da alimentaccedilatildeo escolar na compra de alimentos produzidos no campo dando preferecircncia aos agricultores locais e assentados Esse fato eacute um marco para o fortalecimento dos agricultores locais de cada municiacutepio brasileiro e fortalece os haacutebitos alimentares regionais

Com intuito de compreender o Programa Nacional da Alimentaccedilatildeo Escolar nos municiacutepios de Areia Branca-SE e Malhador-SE e seus rebatimentos no desenvolvimento rural

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desses municiacutepios se fez necessaacuterio um levantamento bibliograacutefico como CASTRO2014 FAVARETO 2015 GRISA e PORTO 2015 TRICHES e SCHNEIDER 2010 entre outros Tambeacutem foi importante as visitas aos oacutergatildeos puacuteblicos para coleta de dados que natildeo estavam disponiacuteveis em meios eletrocircnicos ou impressos e levantamento de dados empiacutericos aleacutem da participaccedilatildeo em reuniotildees no Grupo de Pesquisa sobre Dinacircmica Rural e Regional (GDRR)

Os municiacutepios de Areia Branca e Malhador possuem uma aacuterea de aproximadamente de 128 kmsup2 e 100 kmsup2 respectivamente No ano de 2017 segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) esses municiacutepios contavam com uma populaccedilatildeo de 18489 hab e 12691 hab respectivamente Aleacutem disto de acordo com dados do Censo Agropecuaacuterio 2006 existiam 1413 estabelecimentos agropecuaacuterios em Areia Branca destes 1323 eram de agricultores familiares no municiacutepio de Malhador eram 1300 estabelecimentos sendo 1208 de agricultores familiares Percebe-se portanto que a atividade rural em sua maioria eacute praticada por agricultores rurais que produzem e comercializam seus produtos agriacutecolas com diversas localidades do estado de Sergipe e com outros estados

Nos municiacutepios analisados eacute possiacutevel mencionar um grande entrave que os gestores possuem de executarem os 30 exigido em lei aleacutem disto se analisado a quantidade de agricultores beneficiados com o nuacutemero de estabelecimentos agriacutecolas existentes nos municiacutepios a situaccedilatildeo se agrava Eacute necessaacuterio que as chamadas puacuteblicas possam atender um nuacutemero maior de agricultores familiares e que todos tenham a oportunidade de participar do Programa Nacional da Alimentaccedilatildeo Escolar pois aleacutem de melhorar os iacutendices nutricionais dos jovens o PNAE deste de 2009 estaacute melhorando tambeacutem a vida dos pequenos agricultores familiares

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OS OBSTAacuteCULOS DO PROGRAMA NACIONAL DA ALIMENTACcedilAtildeO ESCOLAR NOS MUNICIacutePIOS DE AREIA BRANCA-SE E MALHADOR-SE

A Agricultura familiar no Brasil sempre foi de multicaracteristicas sendo um fator que natildeo era levado em consideraccedilatildeo no momento das elaboraccedilotildees das poliacuteticas puacuteblicas ldquoEacute aparente seu reconhecimento da existecircncia de uma consideraacutevel heterogeneidade no segmento dos agricultores familiaresrdquo (DELGADO e LEITE 2015 p242) Desde a deacutecada de 90 os gestores criaram novos moldes em relaccedilatildeo as poliacuteticas puacuteblicas destinadas aos Agricultores familiares destacando-se o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF) que foi criado em 28 de junho de 1996 o Programa de Aquisiccedilatildeo de Alimentos (PAA) em 02 de julho de 2003 e a reformulaccedilatildeo do Programa Nacional da Alimentaccedilatildeo Escolar (PNAE) em 16 de junho de 2009

As poliacuteticas puacuteblicas se configuram enquanto um importante espaccedilo de accedilatildeo atraveacutes do qual o Estado consegue chegar ateacute as diferentes instacircncias da sociedade civil no entanto este natildeo eacute um contato direto dada a configuraccedilatildeo federalista da repuacuteblica brasileira Desta forma as poliacuteticas puacuteblicas especialmente as de acircmbito federal acabam percorrendo um extenso caminho desde sua elaboraccedilatildeo ateacute sua operacionalizaccedilatildeo junto aos beneficiaacuterios diretos (FUCHS NEVES ETHUR e LOPES 2015 p 4)

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Ademais Nos anos de 1990 a entrada da ideia de agricultura familiar para o repertorio dos movimentos sociais e dos gestores puacuteblicos foi a principal inovaccedilatildeo nas poliacuteticas para o rural brasileiro Na primeira deacutecada do novo milecircnio o mesmo ocorreu com a ideia de desenvolvimento territorial Natildeo soacute foi criado um programa especiacutefico o Territoacuterio de Identidade mas tambeacutem uma Secretaria de Desenvolvimento Territorial no acircmbito do Ministeacuterio do Desenvolvimento Agraacuterio (FAVARETO 2015 p 261)

O Brasil registrou um avanccedilo relativamente

consideraacutevel em relaccedilatildeo as poliacuteticas puacuteblicas com destino aos agricultores familiares entretanto ainda existem diversos entraves nas execuccedilotildees dessas poliacuteticas puacuteblicas isto eacute na forma que ela eacute vista pelos gestores e na sua extensatildeo de beneficiados ldquoA pobreza a privaccedilatildeo de renda e a vulnerabilidade social continuam a afetar muitos desses produtores e suas famiacutelias da mesma forma como no passadordquo (SCHNEIDER e CASSOL 2014 p 229) A pobreza afetava um nuacutemero maior de agricultores familiares no paiacutes este nuacutemero reduziu nos uacuteltimos anos mas eacute necessaacuterio avanccedilar muito ainda no combate agrave pobreza rural

Para tanto torna-se necessaacuterio a atuaccedilatildeo permanente do Estado e das organizaccedilotildees e movimentos sociais na publicizaccedilatildeo de informaccedilotildees capacitaccedilotildees para o gerenciamento dos projetos apoio da assistecircncia teacutecnica e extensatildeo rural puacuteblica e subsiacutedios em infraestrutura e para governanccedila e

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gestatildeo social dos projetos (GRISA e PORTO 2015 p170)

O Programa Nacional de Alimentaccedilatildeo Escolar (PNAE)

eacute uma das poliacuteticas mais antigas do paiacutes sendo um mecanismo que proporciona a milhares de jovens uma alimentaccedilatildeo razoavelmente satisfatoacuteria em iacutendices nutricionais O Programa foi ldquoImplantado em 1955 contribui para o crescimento o desenvolvimento a aprendizagem o rendimento escolar dos estudantes e a formaccedilatildeo de haacutebitos alimentares saudaacuteveis por meio da oferta da alimentaccedilatildeo escolar e de accedilotildees de educaccedilatildeo alimentar e nutricionalrdquo (FUNDO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO DA EDUCACcedilAtildeO 2016) Ateacute meados da deacutecada de 1990 a compra de alimentos com destino a alimentaccedilatildeo escolar brasileira era feita de forma centralizada ou seja o governo federal possuiacutea um oacutergatildeo responsaacutevel por fazer licitaccedilatildeo e compra Contudo estes alimentos comprados pelo governo federal eram industrializados e com iacutendices nutritivos insuficientes para as crianccedilas nas diversas faixas de idade Com diversas criacuteticas que este sistema teve na eacutepoca o governo de Fernando Henrique Cardoso adotou a descentralizaccedilatildeo desta poliacutetica

Em relaccedilatildeo agrave produccedilatildeo de alimentos a agricultura familiar responde por parte consideraacutevel do abastecimento interno compondo a dieta alimentar baacutesica da populaccedilatildeo e oferecendo uma grande contrapartida agrave produccedilatildeo nacional (TRICHES E SCHNEIDER 2010 p 936)

Os autores DELGADO CONCEICcedilAtildeO E

OLIVEIRA (2005) descrevem que ldquoHaacute casos em que o simples anuacutencio da compra puacuteblica de determinada quantidade

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de produto eacute suficiente para elevar os preccedilos agropecuaacuteriosrdquo Percebe-se portando a necessidade de os gestores proporcionarem espaccedilos e financiamento em cursos de capacitaccedilatildeo aos agricultores familiares para os mesmos poderem entrar no Programa Nacional de Alimentaccedilatildeo escolar (PNAE) e este ciclo faraacute uma transformaccedilatildeo na vida individual e familiar daquele agricultor aleacutem de movimentar a econocircmica local e regional

Com a descentralizaccedilatildeo deste programa os estados e municiacutepios ficam responsaacuteveis pela execuccedilatildeo da alimentaccedilatildeo escolar das suas respectivas unidades de ensino mas mesmo com esta mudanccedila muitos gestores continuaram comprando e distribuindo alimentos industrializados ou poucos nutritivos nas escolas ldquoNo iniacutecio a garantia da alimentaccedilatildeo escolar se dava majoritariamente atraveacutes do fornecimento de produtos formulados tais como sopas mingaus milk shakes e enlatadosrdquo (CASTRO 2014 p51) Aleacutem disto a disputa pelo comercio estatal ocorria de forma desproporcionada entre pequenos e meacutedios agricultores e grandes oligopoacutelios alimentiacutecios

Os agricultores familiares que participaram desse processo o faziam competindo com outros fornecedores como atacadistas e varejistas Ao contraacuterio do que se pensa nem sempre seus preccedilos eram competitivos Primeiro porque seus concorrentes muitas vezes contavam produtos de qualidade inferior (principalmente frutas e verduras) segundo porque sua produccedilatildeo de baixa escada tornava-se onerosa quando feitas exigecircncias estruturais e logiacutesticas (TRICHES E SCHNEIDER 2010 p 940)

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Segundo o autor TRICHES 2015 ldquoEmbora o Programa de Alimentaccedilatildeo Escolar seja uma das poliacuteticas alimentares mais antigas no Brasil eacute somente na uacuteltima deacutecada que ele passa a ser discutido como instrumento de desenvolvimento rural a partir das compras puacuteblicas de pequenos agricultores locaisrdquo (p 186) O PNAE eacute uma poliacutetica com diversos eixos de atuaccedilatildeo alimentaccedilatildeo dos estudantes diminuir taxas de obesidade na juventude e fortalecer a agricultura familiar respectivamente

Em relaccedilatildeo ao consumo a aquisiccedilatildeo de alimentos mais naturais sazonais tradicionais e ecoloacutegicos promoveria qualidade alimentar e sauacutede puacuteblica garantindo o direito ao ato pedagoacutegico Institucionalizando o processo o Estado ainda teria a oportunidade por meio da alimentaccedilatildeo escolar de educar gostos para alimentos locais contrapondo-se ao marketing e a cultura do consumo massificado de produtos industrializados (TRICHES 2015 p185)

O Programa Nacional da Alimentaccedilatildeo Escolar (PNAE)

estaacute sendo executado nos municiacutepios pesquisados entretanto segundo dados do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educaccedilatildeo (FNDE) nos anos de 2012 e 2015 o municiacutepio de malhador (Figura 01) conseguiu atingir o miacutenimo exigido em Lei sendo uma localidade que no ano de 2012 chegou aos 5317 e no ano seguinte aos 29 no percentual da aquisiccedilatildeo de produtos oriundos da agricultura familiar Esse recuo de investimentos nos produtos da agricultura familiar provoca um receio nos produtores pois essa instabilidade pode provocar atrasos no pagamento e uma fragilidade na entrada de novos agricultores familiares nessa poliacutetica puacuteblica aleacutem disto os

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jovens estudantes que estatildeo adaptados com os produtos nativos da sua regiatildeo passam a consumir alimentos industrializados e pouco nutritivos Figura 01- Percentual dos recursos financeiros destinados a produtos oriundos da Agricultura Familiar

Os municiacutepios de Areia Branca e Malhador atraveacutes das

informaccedilotildees pesquisadas satildeo possiacuteveis mencionar que ambos possuem uma dificuldade de atingir o percentual miacutenimo exigido em lei sendo que Areia Branca atingiu os 31 no ano de 2013 (Figura 01) apoacutes este ano sofreu um decliacutenio na aquisiccedilatildeo de alimentos da agricultura familiar Os recursos destinados a aquisiccedilatildeo da agricultura familiar eacute muito pouco se comparado ao recurso geral ou seja os recursos existem mas estatildeo sendo utilizados para comprar outros produtos que natildeo satildeo da agricultura familiar

Nos municiacutepios analisados no ano de 2010 apresentaram uma taxa de analfabetismo de pessoas de 15 anos ou mais em Areia Branca foram 2464 e Malhador 2473

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Cabe ressaltar que essa taxa no Brasil eacute 961 no Nordeste satildeo 191 e em Sergipe 155 (Figura 02) Satildeo taxas relativamente altas fato que demostra a necessidade de intensificar as poliacuteticas puacuteblicas para melhorar a educaccedilatildeo o Programa Nacional da Alimentaccedilatildeo Escolar (PNAE) por exemplo eacute uma das ferramentas que contribui para a permanecircncia dos jovens nas escolas

Esses dados (Figura 02) demostram o quanto a educaccedilatildeo brasileira perpassa diversos entraves estes devem ser superados por uma maior atuaccedilatildeo do Estado atraveacutes de poliacuteticas puacuteblicas e investimentos no trabalho dos docentes Os nuacutemeros refletem que os municiacutepios pesquisados possuem praticamente os mesmos iacutendices de analfabetismo entretanto Areia Branca eacute o que apresenta uma menor porcentagem Desta forma eacute de suma importacircncia a permanecircncia e maiores investimentos no PNAE para que os alunos possam consumir alimentos nutritivos e participem qualitativamente do circuito ensino-aprendizagem

Figura 02 - Taxa de analfabetismo - 15 anos ou mais em 2010

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O Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal

(IDHM) no aspecto Educaccedilatildeo de acordo com o Atlas de Desenvolvimento Humano no Brasil em 2010 satildeo alarmantes pois quanto mais proacuteximo do zero mas critica eacute a situaccedilatildeo educacional do municiacutepio Em Areia Branca o IDHM educaccedilatildeo eacute de 0434 e Malhador 0442 de IDHM educaccedilatildeo no ano de 2010 Esses municiacutepios pesquisados destacam um IDHM educaccedilatildeo na mesma casa decimal 04 sendo nuacutemeros considerados baixos e refletem a necessidade de uma maior atuaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas e tambeacutem proporcionar melhores condiccedilotildees socioeconocircmicas a esses moradores Cabe salientar que o Iacutendice de Desenvolvimento Humano (educaccedilatildeo) no Brasil nesse mesmo ano foi 0637 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

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O Programa Nacional da Alimentaccedilatildeo Escolar (PNAE) eacute uma poliacutetica puacuteblica fundamental para diversos atores sociais pode-se afirmar que atraveacutes desse programa milhares de alunos passaram a ter condiccedilotildees fiacutesicas de participar do circuito ensino-aprendizagem nas escolas puacuteblicas brasileiras Com a reestruturaccedilatildeo do ano de 2009 o programa passa a incluir outras finalidades isto eacute o principal objetivo continuou a de oferecer uma alimentaccedilatildeo aos estudantes entretanto a alimentaccedilatildeo passa a ser focada em produtos oriundos dos agricultores familiares

Os agricultores familiares atraveacutes do PNAE produzem comercializam e melhoram suas condiccedilotildees socioeconocircmicas isto eacute natildeo eacute somente os alunos e os agricultores que recebem os benefiacutecios do Programa Nacional da Alimentaccedilatildeo Escolar (PNAE) mas sim todo o municiacutepio pois movimenta a economia do municiacutepio e consequentemente gera novas oportunidades para os habitantes

Essa poliacutetica puacuteblica necessita de mais recursos e melhor gestatildeo para que possa de fato ter uma alimentaccedilatildeo escolar de qualidade e nutritiva nas escolas puacuteblicas desses municiacutepios aleacutem disto os recursos devem ser ampliados e revertidos para compra de produtos da agricultura familiar ou seja os gestores devem destinar mais recursos para as poliacuteticas puacuteblicas rurais em especial da alimentaccedilatildeo escolar os 30 dos recursos obrigatoacuterios podem ser ultrapassados desde que haja uma accedilatildeo em conjunto com os oacutergatildeos responsaacuteveis para melhor efetivaccedilatildeo e consequentemente melhorias nas sociedades locais REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS Atlas de Desenvolvimento Humano no Brasil 2013 O Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM)

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Disponiacutevel em httpatlasbrasilorgbr Acessado em 06 de janeiro de 2018 CASTRO Terena Peres de PNAE A contribuiccedilatildeo do Programa Nacional de Alimentaccedilatildeo Escolar (PNAE) para reproduccedilatildeo camponesa um estudo de caso da associaccedilatildeo Comunitaacuteria Rural Alvorada (ACRA) Satildeo Paulo-SP 2014 134 p Dissertaccedilatildeo Programa de Poacutes graduaccedilatildeo em geografia humana da faculdade de filosofia letras e ciecircncias humanas Universidade de Satildeo Paulo DELGADO G C CONCEICcedilAtildeO J C P R OLIVEIRA J J Avaliaccedilatildeo do Programa de Aquisiccedilatildeo de Alimentos da Agricultura da Agricultura familiar (PAA) Texto para a discussatildeo nordm 1145 Brasiacutelia (DF) IPEA 2005 DELGADO Nelsonm Giordano e LEITE Sergio Pereira O Pronat e o PTC possibilidades limites e desafios das poliacuteticas territoriais para o desenvolvimento rural In Poliacutetica Puacuteblica de Desenvolvimento Rural no Brasil Editora da UFRGS 2015 parte 3 pag 239 ndash 261 FAVARETO Arilson Uma deacutecada de experimentaccedilotildees e o futuro das poliacuteticas de desenvolvimento territorial rural no Brasil In Poliacutetica Puacuteblica de Desenvolvimento Rural no Brasil Editora da UFRGS 2015 parte 3 pag 261ndash 278 FUCHS Jeacutessica Paola NEYES Jonas Andersoacuten Simocirces ETHUR Luciana Zago e LOPES Alexandre Bernardino O PAA no acircmbito do desenvolvimento mapeando os agricultores familiares de Itaqui-RS Jornada questatildeo Agraacuteria e desenvolvimento III 2015 Curitiba-PR O PAA no acircmbito do desenvolvimento mapeando os agricultores familiares de Itaqui-RS Curitiba ndashPR 2015

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codmun=280390ampsearch=sergipe|malhador Acessado dia 24 de outubro de 2017 SCHNEIDER Sergio e CASSOL Abel Diversidade e heterogeneidade da agricultura familiar no Brasil e algumas implicaccedilotildees para poliacuteticas puacuteblicas Cadernos de Ciecircncia amp Tecnologia Brasiacutelia v 31 n 2 p 227-263 maioago 2014 TRICHES Rozane Marcia Repensando o mercado da alimentaccedilatildeo escolar novas institucionalidades para o desenvolvimento rural In Poliacutetica Puacuteblica de Desenvolvimento Rural no Brasil Editora da UFRGS 2015 parte 2 pag 181ndash 200 TRICHES Rozane Marcia e SCHNEIDER Sergio Alimentaccedilatildeo escolar e agricultura familiar reconectando o consumo agrave produccedilatildeo Revista Sauacutede e Sociedade v 19 n 4 p 933-945 2010 ISSN 0104-1290

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EIXO 2 - ESPACcedilO URBANO

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A PRODUCcedilAtildeO ESPACIAL DOS PARQUES PUacuteBLICOS NA CIDADE DE ARACAJUSE16

Larissa Prado Rodrigues17

Email larissa4912hotmailcom

Cristiane Alcacircntara de Jesus Santos18 Email cristie09uolcombr

RESUMO

Os espaccedilos puacuteblicos de lazer e turismo enquanto espaccedilos urbanos satildeo submetidos aos inuacutemeros processos de produccedilatildeo e consumo das cidades pelos agentes sociais marcados fortemente pela ideologia classista hegemocircnica do capital que geram diversos impactos econocircmicos sociais e ambientais Neste sentido diversas complexidades os envolvem considerando que haacute uma multiplicidade de agentes que designam (contra-)sentidos no acircmbito da produccedilatildeo espacial refletida a posteriori nas dinacircmicas de consumo Assim as estreitas relaccedilotildees entre as formas de lazer e turismo expressas e materializadas no espaccedilo urbano influenciam demasiadamente a organizaccedilatildeo espacial da cidade contribuindo para definiccedilatildeo tipoloacutegica de algumas estruturas espaciais Partindo dos pressupostos supracitados o presente artigo tem por objetivo analisar as formas de produccedilatildeo espacial

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Artigo resultante do Projeto de Iniciaccedilatildeo Cientiacutefica intitulado

ldquoProduccedilatildeo e Consumo nos Espaccedilos Puacuteblicos de Lazer e Turismo da

Cidade de AracajuSErdquo ndash PICVOLUFS 17

Universidade Federal de SergipeUFS Bacharelanda em Turismo 18

Universidade Federal de SergipeUFS Geoacutegrafa Mestre em

GeografiaUFS Doutora em Geografiacutea Planificacioacuten Territorial y

Gestioacuten AmbientalUniversitat de Barcelona Professora do Curso de

Turismo da UFS

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dos parques puacuteblicos tratando empiricamente da cidade de Aracaju Sergipe Metodologicamente a pesquisa estaacute assentada na base quanti-qualitativa que envolveu o levantamento bibliograacutefico teacutecnica de observaccedilatildeo direta natildeo participante e a pesquisa de campo Como principais conclusotildees analisou-se que o fator localizaccedilatildeo atrelado aos interesses privados influenciam por completo as formas de produccedilatildeo (e por conseguinte do consumo) dos espaccedilos puacuteblicos de lazer e turismo na contemporaneidade em que nuances os distinguem considerando que os processos ocorrem de forma desigual no espaccedilo e no tempo Deste modo constatou-se que tais espaccedilos possuem configuraccedilotildees antagocircnicas e por vezes conflituosas nas quais as inuacutemeras contradiccedilotildees que podem existir no urbano ligado (in) diretamente agrave loacutegica do capital satildeo evidenciadas atreladas tambeacutem ao lazer e ao turismo na figura dos parques puacuteblicos PALAVRAS-CHAVE Parques Puacuteblicos Produccedilatildeo Espacial Espaccedilo Urbano INTRODUCcedilAtildeO

Os parques puacuteblicos satildeo espaccedilos de lazeres constituintes da paisagem urbana que se encontram em meio agraves caracteriacutesticas e elementos das cidades contemporacircneas Nesses espaccedilos diversas problemaacuteticas satildeo evidenciadas em decorrecircncia de interesses econocircmicos privativos que impactam fortemente nos muacuteltiplos aspectos sociais

Apesar disso os parques puacuteblicos apresentam grande importacircncia social uma vez que satildeo entendidos como espaccedilos de lazer em meio ao cenaacuterio urbano Estes equipamentos proporcionam agravequeles que os visitam a aproximaccedilatildeo com a natureza agrave praacutetica de atividades fiacutesicas e de sociabilizaccedilatildeo etc tidos pelos usuaacuterios como uma forma eficaz mesmo que temporaacuteria de fuga dos males da modernidade que assolam os

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indiviacuteduos Concomitantemente satildeo espaccedilos com grande potencial para as praacuteticas turiacutesticas tendo em vista que os turistas podem conhecer novos espaccedilos de lazer que caracterizam e revelam aspectos identitaacuterios dos destinos turiacutesticos

Neste sentido cabe destacar que as questotildees acerca dos recortes de usos dados aos parques puacuteblicos pelos moradores da localidade tambeacutem satildeo passiacuteveis de discussatildeo tendo em vista que surge a problemaacutetica da apropriaccedilatildeo dos espaccedilos puacuteblicos de para e por todos fator recorrentemente negligenciado em meio agraves cidades construiacutedas em favor dos interesses do capital contrariamente aos direitos dos cidadatildeos Portanto a (re) produccedilatildeo espacial atual impacta diretamente nos usos destinados e configurados que perpetuam a injusticcedila espacial sendo deste modo a produccedilatildeo e consumo indissociaacuteveis bem como situados em uma relaccedilatildeo dialeacutetica

Tendo por base o exposto torna-se de suma importacircncia analisar as dinacircmicas soacutecio-espaciais dos parques puacuteblicos buscando contribuir para a minimizaccedilatildeo de problemaacuteticas a fim de que estes possam resultar em espaccedilos puacuteblicos de fato democraacuteticos sendo utilizado e apropriado tanto por moradores quanto por turistas Aleacutem disso ressaltamos a importacircncia de que os recursos destinados a esses equipamentos sejam distribuiacutedos uniformemente de acordo com as demandas existentes visando dirimir privileacutegios em decorrecircncia de interesses privados que podem gerar e agravar diversas desigualdades e a subutilizaccedilatildeo de espaccedilos com grande potencial de apropriaccedilatildeo para uso em decorrecircncia dos processos de (re) produccedilatildeo extremamente elitistas discrepantes e excludentes

Sob essa perspectiva o presente estudo objetiva analisar especificamente as formas de produccedilatildeo do espaccedilo urbano a partir dos parques puacuteblicos sob a oacutetica da realidade da cidade de Aracaju Sergipe no qual haacute de se destacar os

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agentes produtores do espaccedilo e seus efeitos no que concerne agrave (des)(re) organizaccedilatildeo tangida no plano soacutecio-espacial Metodologicamente a pesquisa estaacute assentada na base quanti-qualitativa que envolveu o levantamento bibliograacutefico teacutecnica de observaccedilatildeo direta natildeo participante e pesquisa de campo realizada nos parques da Cidade Sementeira e dos Cajueiros localizados na cidade de Aracaju capital do estado de Sergipe

Deste modo o presente artigo estaacute pautado inicialmente em discussotildees acerca da (re) produccedilatildeo espacial urbana destacando aspectos teoacutericos concernentes aos agentes produtores do espaccedilo suas peculiaridades e efeitos decorrentes de suas accedilotildees para posteriormente adentrar especificamente na produccedilatildeo espacial dos parques puacuteblicos direcionando para a realidade da cidade de Aracaju A (RE) PRODUCcedilAtildeO ESPACIAL URBANA

As tendecircncias privatistas que reforccedilam valores como a

livre-iniciativa a meritocracia o individualismo a acumulaccedilatildeo e o consumo desigual estatildeo em constante e crescente efervescecircncia principalmente nos nuacutecleos urbanos espaccedilos em que se concentram os interesses do capital sob a eacutegide da lei do livre-mercado refletindo diretamente na configuraccedilatildeo espacial

Neste contexto os espaccedilos puacuteblicos tornam-se alvo da ideologia classista hegemocircnica do capital oriunda de iniciativas privadas que os transformam atraveacutes dos processos de produccedilatildeo e consumo a fim de obter lucro por meio da expansatildeo da reproduccedilatildeo e acumulaccedilatildeo Em suma convertem esses espaccedilos em mercadorias que exacerbam a desigualdade e portanto geram a (auto) segregaccedilatildeo das classes dominadas agrave mercecirc das benesses produzidas

Imersos nas contradiccedilotildees dos espaccedilos puacuteblicos urbanos contemporacircneos os parques puacuteblicos satildeo

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equipamentos que compotildeem o contexto de produccedilatildeo e consumo capitalista do espaccedilo Deste modo satildeo elementos que estatildeo imersos na paisagem urbana no qual possuem origem na busca e anseio do homem urbano pelo refuacutegio pelas caracteriacutesticas do campo pelo retorno e (re) encontro com a natureza (GOMES 2013)

Enquanto espaccedilos puacuteblicos de lazer e turismo os parques puacuteblicos das grandes cidades vecircm sendo usurpados pelos interesses do capital de diversas formas refletindo e configurando as dinacircmicas de produccedilatildeo e consumo bem como as relaccedilotildees soacutecio-espaciais Nesse sentido os processos de produccedilatildeo difundidos por esses agentes geram diversas repercussotildees sociais veladas e ocultas mas que inegavelmente e simultaneamente revelam de forma clara os valores hegemocircnicos e a classe privilegiada pelas estrateacutegias e accedilotildees delineadas Assim considerando que os parques satildeo equipamentos que compotildeem o contexto de produccedilatildeo e consumo do espaccedilo urbano cabem inicialmente discussotildees acerca deste uacuteltimo tendo em vista a compreensatildeo das circunstacircncias envolta aos parques puacuteblicos das cidades

Para Lefebvre (2008) o fenocircmeno urbano surpreende dada sua magnitude e complexidade pois eacute no espaccedilo urbano que diversas relaccedilotildees espaciais de natureza social ocorrem e satildeo constituiacutedas tendo como cerne a proacutepria sociedade de classes e os processos concernentes a esta que envolvem sobremaneira os conflitos Partindo-se desse pressuposto cabe frisar que o espaccedilo urbano eacute um reflexo da sociedade e por isso revela e ratifica em sua configuraccedilatildeo os conflitos e contradiccedilotildees inerentes agrave loacutegica capitalista hegemocircnica e de mesmo modo apresenta como caracteriacutestica intriacutenseca a desigualdade entre os diferentes indiviacuteduos que compotildeem a dinacircmica das cidades

Diante desse contexto os espaccedilos urbanos das cidades satildeo resultado palco cenaacuterio e objeto da luta de classes

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levando-se em consideraccedilatildeo os interesses antagocircnicos existentes entre os indiviacuteduos na qual de um lado estatildeo aqueles que buscam privileacutegios direcionando a produccedilatildeo e a reproduccedilatildeo com vistas agrave acumulaccedilatildeo que lhes confere poder e do lado oposto os expropriados que demandam (mais) direitos iguais Em suma ldquoeis o que eacute o espaccedilo urbano fragmentado articulado reflexo e condicionante social um conjunto de siacutembolos e campo de lutardquo (CORREcircA 2000 p 9) no qual diversas complexidades o envolvem dentre as quais o seu modo de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo uma vez que satildeo produtos sociais histoacutericos elaborados por determinados agentes

Os produtores do espaccedilo urbano satildeo agentes sociais com ou sem capital formais ou informais que possuem interesse na terra urbana nas quais grandes tensotildees entre os mesmos satildeo estabelecidas com maior ou menor intensidade (CORREcircA 2011) Sob essa perspectiva Correcirca (2000) destaca entre os principais agentes produtores do espaccedilo urbano capitalista os proprietaacuterios dos meios de produccedilatildeo os proprietaacuterios fundiaacuterios os promotores imobiliaacuterios o Estado e os grupos sociais excluiacutedos

Estes atuam ora de modo convergente ora divergentemente Entretanto a loacutegica predominante sobretudo aos dotados de maior poder econocircmico eacute sempre a de reforccedilar a acumulaccedilatildeo do capital atraveacutes da reproduccedilatildeo a fim de perpetuar privileacutegios e a loacutegica dominante A acumulaccedilatildeo do capital segundo Marx (2013) estaacute no centro das coisas para o crescimento do capitalismo E que para reforccedila-la o sistema do capital cria forccedilas incessantes dinacircmicas expansiacuteveis e constantes que refletem na modificaccedilatildeo do mundo revolucionando permanentemente o espaccedilo geograacutefico (HARVEY 2006)

Logo a accedilatildeo desses agentes torna-se complexa pois satildeo baseadas nas necessidades mutaacuteveis do sistema para garantir a reproduccedilatildeo das relaccedilotildees de produccedilatildeo bem como

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baseada nos conflitos de classe que emergem (CORREcircA 2000) Atraveacutes da accedilatildeo de alguns dos agentes supracitados o processo de acumulaccedilatildeo eacute mantido sobretudo atraveacutes da apropriaccedilatildeo e controle do uso da terra urbana (LEFEBVRE 1976) Ademais o espaccedilo urbano eacute constantemente modificado com vistas a atender aos interesses do capital levando-se em consideraccedilatildeo que ldquoa burguesia soacute pode existir com a condiccedilatildeo de revolucionar incessantemente os instrumentos de produccedilatildeo por conseguinte as relaccedilotildees de produccedilatildeo e com isso todas as relaccedilotildees sociaisrdquo (MARX ENGELS 1999 p12) fator que reflete diretamente na (re) produccedilatildeo espacial

Aqui dar-se-aacute ecircnfase a trecircs agentes modeladores e produtores do espaccedilo urbano capitalista levando-se em consideraccedilatildeo a grande influecircncia destes no processo de produccedilatildeo dos parques puacuteblicos objeto de estudo da presente pesquisa Satildeo eles os promotores imobiliaacuterios o Estado e os grupos sociais excluiacutedos

No que concerne aos promotores imobiliaacuterios observa-se que este setor tem por interesse principal produzir o espaccedilo urbano para tornaacute-lo propriedade privada da classe que dispotildee de recursos para o consumo ndash a demanda solvaacutevel As accedilotildees destes agentes se concretizam correlatas ao preccedilo elevado da terra e aos bairros de status associados a faacutecil acessibilidade e eficiecircncia dos equipamentos de suporte aos cidadatildeos amenidades e saneamento baacutesico ndash propiciado em suma pelo Estado (CORREcircA 2000) A partir desse conjunto de fatores a porccedilatildeo do espaccedilo urbano agrega demasiado valor de troca tornando-se localidades-alvo para a accedilatildeo de produccedilatildeo dos promotores imobiliaacuterios

Jaacute o Estado apresenta participaccedilatildeo na produccedilatildeo do espaccedilo urbano em decorrecircncia da implantaccedilatildeo de infraestrutura relacionada aos serviccedilos puacuteblicos fornecidos agrave sociedade civil como calccedilamento sistema viaacuterio saneamento

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baacutesico parques praccedilas coleta de lixo etc Entretanto a partir das estrateacutegias adotadas pelo Estado no que tange ao planejamento urbano das cidades observa-se que esse agente atende a uma loacutegica em seus investimentos para produccedilatildeo do espaccedilo urbano que privilegia determinada classe ndash a dominante detentora do capital ndash em meio aos conflitos de interesses dos diferentes indiviacuteduos (CORREcircA 2000) Desta forma

O Estado que se origina da necessidade de manter os antagonismos de classe sob controle mas que tambeacutem se origina no meio da luta entre as classes eacute normalmente o Estado da classe economicamente dirigente que por seus recursos torna-se tambeacutem a classe politicamente dirigente [] (ENGELS 1975 p157)

Por conseguinte as accedilotildees do Estado que satildeo entendidas (inclusive) legalmente como de todos e para todos com vistas ao bem-estar coletivo em verdade satildeo meros discursos tecnocraacuteticos uma vez que a classe dirigente na figura do Estado exerce seu poder em prol dos seus proacuteprios interesses afirmando por ora a produccedilatildeo de benevolecircncias para o alcance do ldquodesenvolvimentordquo ndash mera ilusatildeo (HARVEY 2006)

Como impacto dessas accedilotildees o Estado reforccedila a reproduccedilatildeo da loacutegica capitalista viabilizando o processo de acumulaccedilatildeo ratificando a segregaccedilatildeo atraveacutes de porccedilotildees do espaccedilo privilegiadas por poliacuteticas puacuteblicas investimentos etc que satildeo especuladas pelos promotores imobiliaacuterios e tornadas privadas com elevado valor de troca Gottdiener (1997 p 131) ao discutir essa ideia afirma que ldquoa hegemonia da classe capitalista eacute renovada atraveacutes da segregaccedilatildeo espacial e atraveacutes dos efeitos da forccedila normatizadora da intervenccedilatildeo estatal no espaccedilordquo Assim o principal resultado desse processo pode ser

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vislumbrado nos espaccedilos que se tornam restritos e o acesso aos equipamentos puacuteblicos exclusivos agrave demanda solvaacutevel que pode arcar com os custos de moradia (valor de troca dos imoacuteveis impostos e taxas prediais entre outros)

Por sua vez os grupos sociais excluiacutedos produzem o espaccedilo urbano capitalista atraveacutes dos contra-usos (LEITE 2007) que datildeo novos sentidos significados e siacutembolos aos equipamentos puacuteblicos que natildeo estatildeo previstos pelas accedilotildees dos agentes de produccedilatildeo supracitados eou indo de encontro aos usos impostos Isso se daacute pois dentro do espaccedilo urbano capitalista

O uso natildeo se daraacute sem conflitos na medida em que satildeo contraditoacuterios os interesses do capital e da sociedade como um todo enquanto o primeiro tem por objetivo sua reproduccedilatildeo atraveacutes do processo de valorizaccedilatildeo a sociedade anseia por condiccedilotildees melhores de reproduccedilatildeo da vida em sua dimensatildeo plena (CARLOS 2008 p51)

A partir disso inuacutemeros conflitos e disputas se estabelecem no espaccedilo urbano fortalecendo as relaccedilotildees de poder e incentivando por exemplo a praacutetica de poliacuteticas higienistas advindas do Estado burguecircs muito embora os novos significados atribuiacutedos ou contra-sentidos que satildeo distintos dos planejados pelas poliacuteticas urbanas de fato contribuem para a diversidade dos sentidos existentes no presente dos lugares (LEITE 2007) Desta forma corroboramos com os escritos de Lojkine (1997 p 217) quando este afirma que ldquose a poliacutetica urbana capitalista natildeo eacute uma planificaccedilatildeo ndash no sentido de um domiacutenio real da urbanizaccedilatildeo ndash nem por isso deixa de responder a uma loacutegica agrave da segregaccedilatildeo socialrdquo

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Diante do exposto ateacute o momento percebe-se que as accedilotildees dos agentes produtores do espaccedilo urbano ndash embora rebatidos atraveacutes dos contra-usos ndash reforccedilam em diversos momentos a segregaccedilatildeo residencial e soacutecio-espacial que se caracteriza pela concentraccedilatildeo de um determinado grupo de indiviacuteduos que apresentam algum tipo de uniformidade ndash seja pelo status socioeconocircmico etnia etc ndash em algum territoacuterio com vistas agrave manutenccedilatildeo de poderes e privileacutegios seculares (CORREcircA 2000)

Por conseguinte pode-se auferir que o espaccedilo urbano em meio aos processos de (re) produccedilatildeo eacute extremamente conflituoso e foge a qualquer perspectiva de harmonia equiliacutebrio e igualdade uma vez que pode se caracterizar como lugar da expressatildeo dos conflitos (LEFEBVRE 2008) Ademais a proacutepria produccedilatildeo espacial carrega em seu processo a luta antagocircnica de classes que envolvem os interesses do capital versus o da sociedade Como resultado as relaccedilotildees sociais entre os homens do espaccedilo urbano se materializam na propriedade privada que fornece distinccedilatildeo conferindo-lhes poder o direito sobre a cidade e a terra (CARLOS 2008)

Neste sentido a (des) organizaccedilatildeo espacial da cidade apresenta como importante funccedilatildeo a reproduccedilatildeo das relaccedilotildees sociais de produccedilatildeo sempre se adaptando estrategicamente para viabilizar o processo especialmente atraveacutes da segregaccedilatildeo pois eacute atraveacutes das aacutereas sociais segregadas que a reproduccedilatildeo pode ocorrer (LEFEBVRE 1976) OS PROCESSOS DE PRODUCcedilAtildeO DOS PARQUES PUacuteBLICOS

Conforme destacado anteriormente a produccedilatildeo e consumo do espaccedilo se expressa pela materializaccedilatildeo territorial e as relaccedilotildees sociais inerentes ao processo em que ldquoos novos valores culturais poliacuteticos e ideoloacutegicos passam a engendrar as

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caracteriacutesticas de produccedilatildeo e do consumo do espaccedilo hojerdquo (SANTOS 2012 p 283) estando os espaccedilos puacuteblicos de lazer e turismo em meio ao urbano e suas contradiccedilotildees envoltos aos processos supracitados ligados ao reforccedilo da propriedade privada e da expansatildeo da ordem neoliberal Assim as formas com as quais o capitalismo e os capitalistas atuam no espaccedilo urbano geram distorccedilotildees econocircmicas e espaciais

Os espaccedilos de lazer nesse contexto satildeo apontados por Carlos (1999) como simulaccedilotildees de um espaccedilo novo simulacros que satildeo consumidos no momento do lazer e turismo mas que na verdade satildeo reduzidos e decorrentes da necessidade de se manter o padratildeo de acumulaccedilatildeo Satildeo mercadorias de uso temporaacuterio levando-se em consideraccedilatildeo que satildeo apropriadas no momento do natildeo-trabalho dos indiviacuteduos O turismo e o lazer apresentam-se como extensatildeo tendecircncia e estrateacutegia de reproduccedilatildeo estendendo-se cada vez mais ao espaccedilo global

Enquanto espaccedilo de lazer imerso nas contradiccedilotildees do espaccedilo urbano e por conseguinte das cidades os parques puacuteblicos satildeo equipamentos apropriados pela loacutegica do capital como elemento de valorizaccedilatildeo da terra para obtenccedilatildeo de renda extra atraveacutes da exacerbaccedilatildeo do valor de troca incorporado ao valor de uso Como principais impactos das implantaccedilotildees dos espaccedilos de lazer e turismo a exemplo dos parques puacuteblicos percebe-se a limitaccedilatildeo do acesso aos lugares e os novos usos configurados a esses espaccedilos tendo como resultado final a mudanccedila nas relaccedilotildees entre os cidadatildeos e a cidade uma vez que a produccedilatildeo destes possui objetivos classistas e privatistas frente ao coletivo e ao pleno exerciacutecio da cidadania Carlos (1994 p 24) se de um lado o espaccedilo eacute condiccedilatildeo tanto da reproduccedilatildeo do capital quanto da vida humana de outro ele eacute produto e nesse sentido trabalho materializado Ao produzir suas condiccedilotildees de vida a partir das relaccedilotildees capital-trabalho a

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sociedade como um todo produz o espaccedilo e com ele um modo de vida de pensar de sentir

Neste sentido os parques puacuteblicos satildeo ferramentas de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo espacial do capital camuflados de espaccedilos verdes que propiciam o encontro com a natureza com o descanso etc atraveacutes do consumo mesmo que sejam espaccedilos verdes repletos de deploraacuteveis representaccedilotildees urbaniacutesticas constituindo um substituto mediacuteocre da natureza ou seja simulacros degradados do espaccedilo livre (LEFEBVRE 2008) Em realidade vende-se satisfaccedilatildeo geram-se desigualdades uma vez que a satisfaccedilatildeo natildeo eacute para todos mas sim para poucos

Sob as lentes da loacutegica capitalista sobretudo frisando a acumulaccedilatildeo do capital os parques puacuteblicos tornaram-se justificativa e estrateacutegia da especulaccedilatildeo imobiliaacuteria para aumento do valor de imoacuteveis nas proximidades desses espaccedilos verdes de encontro agrave natureza constituindo os bairros de status (GOMES 2013) Desta forma podemos afirmar que muitos gestores puacuteblicos natildeo compreendem a importacircncia dos espaccedilos puacuteblicos para a sociedade uma vez que satildeo espaccedilos garantidos aos cidadatildeos atraveacutes da Constituiccedilatildeo Federal Brasileira poreacutem satildeo altamente especulados pelo Estado (ao dotar de infraestrutura) e capital privado sobretudo os promotores imobiliaacuterios Devido a essa especulaccedilatildeo imobiliaacuteria esses espaccedilos acabam por ter seus usos apropriados por aqueles que residem nas proximidades ou seja por classes dotadas de maior poder de compra (e troca) que acabam por possuiacuterem maior acessibilidade

Por conseguinte os parques puacuteblicos estatildeo em sua maioria implantados em locais especiacuteficos das cidades e raramente abrangem periferias subuacuterbios e locais de populaccedilatildeo de baixa renda Os parques puacuteblicos inseridos em aacutereas privilegiadas recebem constantemente assistecircncia do Estado no que concerne a investimentos para manutenccedilatildeo jaacute

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que percebemos a infraestrutura associada agrave instalaccedilatildeo de equipamentos ainda escassos nos espaccedilos puacuteblicos das regiotildees menos valorizadas

A partir desta loacutegica torna-se clarividente a tocircnica de direcionamento dos investimentos puacuteblicos ou seja eacute fatiacutedico que existe uma arbitrariedade excludente na produccedilatildeo e organizaccedilatildeo espacial das cidades para o lazer Como consequecircncia a segregaccedilatildeo soacutecio-espacial eacute gerada juntamente com a ausecircncia do direito ao lazer para os moradores de regiotildees menos favorecidas No entanto a contradiccedilatildeo emerge no ponto em que estes moradores contribuem em impostos igualmente e natildeo possuem direito agrave cidade que ldquopagamrdquo para morar

Diante disso pode-se observar que os parques constituem-se em locais construiacutedos para atender a fins especiacuteficos que nesse sentido reduz o direito de cidadatildeos agrave cidade ndash jaacute precaacuterio e inexistente conforme demonstra a perspectiva lefebvriana ao apresenta-lo enquanto utopia De fato averiacutegua-se que os parques puacuteblicos satildeo elementos que influenciam na produccedilatildeo do espaccedilo e por esses processos satildeo influenciados traduzindo-se os impactos na forma e momento de consumo e nas dinamicidades intriacutensecas a estes e agraves cidades

No que concerne agrave cidade de AracajuSE conforme jaacute explicitado anteriormente a mesma possui trecircs parques puacuteblicos a saber o Parque da Cidade localizado na zona norte o Parque da Sementeira e o Parque dos Cajueiros ambos localizados na zona sul da cidade Os mesmos emergiram a partir de intervenccedilotildees urbanas realizadas na cidade Embora circunscritos na mesma cidade os parques possuem distinccedilotildees dado aos processos de produccedilatildeo dissemelhantes em decorrecircncia dos investimentos altamente desiguais oriundos do setor puacuteblico fortemente influenciado pelos agentes do capital

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privado possuidores de grandes interesses sobre a terra urbana com vistas agrave reproduccedilatildeo

Tornou-se evidente a partir da observaccedilatildeo in loco que os parques puacuteblicos localizados na zona sul da cidade ndash regiatildeo em que haacute maior concentraccedilatildeo de serviccedilos e residecircncias privadas de alto padratildeo ndash satildeo os que mais recebem investimentos e portanto satildeo dotados de melhor infraestrutura para os visitantes no que concerne agraves funccedilotildees destinadas a esses equipamentos como praacutetica de atividades fiacutesicas piqueniques etc Jaacute o Parque da Cidade (mais distante no que concerne aos dois demais parques puacuteblicos) estaacute localizado em uma aacuterea da cidade de grande carecircncia de serviccedilos puacuteblicos de qualidade onde reside uma parcela da populaccedilatildeo com menor poder aquisitivo O parque enfrenta problemas diversos em termos de infraestrutura o que ocasionou discussotildees acerca da possibilidade de fechamento para visitaccedilatildeo em decorrecircncia da insuficiente destinaccedilatildeo de recursos puacuteblicos para a sua devida manutenccedilatildeo

Nota-se que os parques puacuteblicos fundados na cidade foram altamente influenciados pelo espaccedilo jaacute produzido no seu entorno bem como foram responsaacuteveis por delinear sob o discurso do planejamento neoliberal morfologias cada vez mais conectadas com os processos de valorizaccedilatildeo imobiliaacuteria dentro do rol das metamorfoses urbanas Nesse sentido a produccedilatildeo espacial dos parques puacuteblicos advinda da maacutequina estatal ocorre de modo desleal e desigual considerando que a ideologia hegemocircnica perpetua os interesses de determinados agentes em detrimento das reais atribuiccedilotildees e funccedilotildees do Estado que deveria visar sobretudo os desfavorecidos desprivilegiados os vulneraacuteveis e marginalizados pela loacutegica perversa do capital

Diante desse cenaacuterio faz-se necessaacuterio uma criacutetica ao planejamento tecnocraacutetico realizado pelo Estado e suas formas de reducionismo dos espaccedilos puacuteblicos a meros objetos do

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mercado como no caso axiomaacutetico do Parque da Sementeira em que o equipamento eacute entendido como mercadoria e portanto produzido para tal com o objetivo de servir maiormente agrave especulaccedilatildeo imobiliaacuteria e consequentemente agrave loacutegica do capital

O Parque da Cidade apesar de se configurar como um atrativo turiacutestico da cidade de Aracaju e de estar inserido em alguns roteiros turiacutesticos locais percebe-se que haacute necessidade de se estabelecer estrateacutegias e accedilotildees que visem agrave melhoria do espaccedilo natildeo somente para os turistas mas sobretudo para o lazer dos residentes Todavia haacute de se destacar que o bairro Industrial onde estaacute inserido o parque puacuteblico e o proacuteprio Parque da Cidade ainda natildeo satildeo visionados estrategicamente pelos maiores impulsionadores de investimentos puacuteblicos no que tange agrave produccedilatildeo do espaccedilo urbano os promotores imobiliaacuterios fazendo com que os mesmos permaneccedilam desmemoriados e postergados pela gestatildeo puacuteblica em detrimento dos demais parques acobertados e abarcados pelo mercado imobiliaacuterio local

No que concerne aos promotores imobiliaacuterios estes possuem suas estrateacutegias de especulaccedilatildeo com vistas agrave expansatildeo reproduccedilatildeo e acumulaccedilatildeo do capital a partir da exploraccedilatildeo de porccedilotildees do espaccedilo urbano que satildeo convertidas em mercadoria com exacerbado valor de troca haja vista serem aacutereas privilegiadas por oferta de infraestrutura e serviccedilos puacuteblicos e privados A produccedilatildeo do espaccedilo realizada por esses agentes eacute entrelaccedilada com o suporte do Estado que prevecirc accedilotildees prioritariamente e de modo direcionado conforme os anseios do capital privado sobretudo no caso da cidade de Aracaju com base nos apelos das construtoras de grandes edifiacutecios para servir de condomiacutenios residenciais mercado efervescente na localidade

Deste modo diante das apropriaccedilotildees realizadas do Parque da Sementeira e em menor grau do Parque dos

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Cajueiros pelas grandes construtoras com vistas a valorizar os imoacuteveis ofertados no entorno os promotores imobiliaacuterios exercem demasiada pressatildeo para que o Estado invista nestes equipamentos tanto no que tange agrave manutenccedilatildeo constante quanto aos processos de revitalizaccedilotildees Por conseguinte os parques puacuteblicos valorizados e vislumbrados por tais agentes passam a ser entendidos como extensatildeo e aacuterea de lazer semi-privativa dos condomiacutenios localizados ao redor dos mesmos no qual diversas complexidades os envolvem considerando as dinacircmicas de uso natildeo uso e contra-uso e os conflitos surgidos a partir dos territoacuterios estabelecidos e delineados no interior desses espaccedilos puacuteblicos de lazer a partir da construccedilatildeo das residecircncias nas adjacecircncias conforme destacam os estudos de Rodrigues e Santos (2016 2017a 2017b) Segundo as autoras esse fator eacute desencadeado pelas construtoras que ao ofertar apartamentos nas proximidades do Parque da Sementeira e do Parque dos Cajueiros apropriam-se destes espaccedilos de modo promocional para elevar o valor de troca dos imoacuteveis interiorizando ao comprador que o equipamento eacute elemento constituinte da propriedade adquirida e fazendo com que este estabeleccedila domiacutenios territoriais ndash principalmente ideoloacutegicos ndash sobre e nos parques puacuteblicos

Em contraponto aos promotores imobiliaacuterios bem como ao Estado estatildeo os grupos sociais excluiacutedos entendidos aqui como os indiviacuteduos advindos de localidades longiacutenquas da cidade de Aracaju com destino aos parques puacuteblicos da zona sul (Parque da Sementeira e Parque dos Cajueiros) Os grupos sociais excluiacutedos satildeo compostos majoritariamente por jovens de baixa renda19 que utilizam o parque de muacuteltiplas formas atribuindo-lhe diversos (contra-)sentidos Estes tecircm seu deslocamento motivado para outros espaccedilos da cidade em decorrecircncia dos seus locais de origem e de moradia serem

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Trabalho de Campo 2016 2017

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pouco privilegiados com poliacuteticas puacuteblicas urbanas que incentivem o lazer a partir da instalaccedilatildeo de equipamentos bem como arcando com a manutenccedilatildeo destes jaacute existentes resultando em estrutura precaacuteria e decadente

Ademais correspondem a determinados grupos sociais que ao estabelecerem usos distintos daqueles previstos e declarados pela classe dominante ndash ou seja a demanda solvaacutevel residente das adjacecircncias do parque ndash tornam-se elementos indesejaacuteveis do espaccedilo sendo veementes reprimidos por meio de forccedila maior eou pelos gestos velados dos residentes que veem no Parque da Sementeira mais um territoacuterio de lazer (semi-privativo) enquanto extensatildeo dos luxuosos condomiacutenios Todavia haacute de se considerar que os grupos sociais excluiacutedos satildeo igualmente importantes agentes produtores e consumidores do espaccedilo urbano uma vez que agregam perspectivas diversas para os espaccedilos dos parques embora recorrentemente marginalizados pela loacutegica do capital e seus respectivos agentes

Deste modo os grupos sociais excluiacutedos produzem e consomem o espaccedilo urbano capitalista atraveacutes dos contra-usos Isto decorre do fato de que apesar dos espaccedilos puacuteblicos serem entendidos constitucionalmente como depara todos os cidadatildeos valores sociais dominantes se impotildeem sobre a forma de uso do espaccedilo urbano pois uma vez que os mesmos satildeo apropriados dominados e territorializados comportamentos gestos modelos de construccedilatildeo excluemincluem determinando e direcionando os fluxos A partir disso inuacutemeros conflitos e disputas se estabelecem no espaccedilo urbano transparecendo e perpetuando as relaccedilotildees de poder

Assim sendo verificou-se que os parques puacuteblicos inseridos em aacutereas privilegiadas pelo capital privado recebem constantemente assistecircncia do Estado no que concerne a investimentos para manutenccedilatildeo diferentemente dos espaccedilos puacuteblicos das regiotildees menos valorizadas pelos agentes do jogo

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imobiliaacuterio sendo fatiacutedico que existe uma arbitrariedade excludente na produccedilatildeo e organizaccedilatildeo espacial das cidades para o lazer CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Diante do cenaacuterio exposto faz-se necessaacuterio primordialmente uma criacutetica ao planejamento tecnocraacutetico realizado pelo Estado e suas formas de reducionismo dos espaccedilos puacuteblicos a meros objetos do mercado como no caso do Parque da Sementeira mais fortemente ndash quando comparado ao Parque dos Cajueiros ndash em que o equipamento eacute entendido como mercadoria servindo maiormente agrave especulaccedilatildeo imobiliaacuteria e consequentemente agrave loacutegica do capital Neste sentido os parques puacuteblicos se constituem em peccedilas fundamentais no processo de mercantilizaccedilatildeo das cidades regidos por uma ordem obscura e perversa muitas vezes ignorada e travestida como faacutebula pelos discursos hegemocircnicos

Finalmente em anaacutelise comparativa observa-se que as dinacircmicas de produccedilatildeo e apropriaccedilatildeo dos espaccedilos puacuteblicos satildeo distintas ateacute mesmo em equipamentos que apresentem fins similares e estatildeo alocados na mesma cidade como eacute o caso do Parque da Cidade Parque da Sementeira e o Parque dos Cajueiros Aleacutem disso o fator localizaccedilatildeo influencia por completo as formas de produccedilatildeo dos espaccedilos puacuteblicos de lazer e turismo na contemporaneidade pois se pocircde perceber atraveacutes da pesquisa realizada que o Parque da Sementeira e o Parque dos Cajueiros ndash com grande proximidade ndash satildeo muito semelhantes em caracteriacutesticas com algumas nuances que os distinguem levando-se em consideraccedilatildeo que os processos ocorrem de forma desigual no espaccedilo e no tempo Todavia estatildeo em posiccedilatildeo completamente antagocircnica ao Parque da Cidade considerando que este estaacute localizado em uma regiatildeo

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ainda desfavorecida e desprivilegiada pelo capital privado e por conseguinte pelos investimentos puacuteblicos haja vista que ambos sob a loacutegica capitalista neoliberal satildeo indissociaacuteveis

Deste modo constatou-se que os espaccedilos puacuteblicos possuem configuraccedilotildees antagocircnicas e por vezes conflituosas principalmente quando estatildeo localizados em regiotildees distintas nas quais as inuacutemeras contradiccedilotildees que podem existir no urbano ligado (in) diretamente agrave loacutegica do capital satildeo evidenciadas atreladas tambeacutem ao lazer e ao turismo Assim nota-se que haacute a necessidade de se estabelecer accedilotildees que visem agrave melhoria desses espaccedilos natildeo somente visando a arrecadaccedilatildeo de divisas por meio da atividade turiacutestica mas sobretudo para os residentes visando estrateacutegias que possibilitem a apropriaccedilatildeo por turistas e pelos cidadatildeos aracajuanos tendo em vista a multiplicidade de sentidos que estes espaccedilos representam para a sociedade em funccedilatildeo da cultura haacutebitos costumes que natildeo podem ser negligenciados em detrimento de interesses econocircmicos sobrepostos agrave sociabilidade e coletividade REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS CARLOS Ana Fani Alessandri O Consumo do Espaccedilo In CARLOS Ana Fani Alessandri et al Novos Caminhos da Geografia Satildeo Paulo Contexto 1999 CARLOS Ana Fani Alessandri A (re) produccedilatildeo do espaccedilo urbano Satildeo Paulo Edusp 1994 CARLOS Ana Fani Alessandri A (re) produccedilatildeo do Espaccedilo Urbano Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2008 CORREcircA Roberto Lobato O Espaccedilo Urbano 4 ed Satildeo Paulo Editora Aacutetica 2000

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CORREcircA Roberto Lobato Sobre Agentes Sociais Escala e Produccedilatildeo do Espaccedilo um texto para discussatildeo In CARLOS Ana Fani Alessandri SOUZA Marcelo Lopes SPOSITO Maria Encarnaccedilatildeo Beltratildeo (Orgs) A Produccedilatildeo do Espaccedilo Urbano Agentes e Processos Escalas e desafios Satildeo Paulo Contexto 2011 ENGELS Friedrich A Origem da Famiacutelia da Propriedade Privada e do Estado Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 1975 GOMES Marcos Antocircnio Silvestre Os parques urbanos e a produccedilatildeo do espaccedilo urbano Jundiaiacute SP Paco Editorial 2013 GOTTDIENER Mark A produccedilatildeo social do espaccedilo urbano 2 ed Satildeo Paulo Edusp 1997 HARVEY David A Produccedilatildeo Capitalista do Espaccedilo 2 ed Satildeo Paulo Editora Annablume 2006 LEFEBVRE Henri Espacio y poliacutetica Barcelona Ediciones Peniacutensula 1976 LEFEBVRE Henri A Revoluccedilatildeo Urbana 3 ed Belo Horizonte Editora UFMG 2008 LEITE R P Contra-usos da Cidades lugares e espaccedilo puacuteblico na experiecircncia urbana contemporacircnea 2 ed Campinas SP Editora da UNICAMP Aracaju SE Editora UFS 2007 LOJKINE Jean O Estado Capitalista e a Questatildeo Urbana 2ed Satildeo Paulo Martins Fontes 1997

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MARX Karl O capital criacutetica da economia poliacutetica 31 ed Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 2013 MARX Karl ENGELS Friedrich O Manifesto Comunista (1848) 5 ed Rio de Janeiro Paz e Terra 1999 RODRIGUES Larissa Prado SANTOS Cristiane Alcacircntara de Jesus Santos As Dinacircmicas de Uso Natildeo Uso e Contra-Uso dos Parques Puacuteblicos da cidade de AracajuSE In Anais do XV Simpoacutesio Nacional de Geografia Urbana (SIMPURB) Salvador Universidade Federal da Bahia 2017a p 1-21 RODRIGUES Larissa Prado SANTOS Cristiane Alcacircntara de Jesus Santos O Parque da Sementeira como Espaccedilo Puacuteblico de Lazer Turismo e Direito agrave Cidade In Anais do Seminaacuterio Nacional 10 Anos do Curso de Turismo da UFS Satildeo Cristoacutevatildeo Universidade Federal de Sergipe 2016 p 112-122 RODRIGUES Larissa Prado SANTOS Cristiane Alcacircntara de Jesus Santos Produccedilatildeo e Consumo dos Espaccedilos Puacuteblicos de Lazer e Turismo In II Seminaacuterio Nacional de Turismo da UFS Satildeo Cristoacutevatildeo Universidade Federal de Sergipe 2017b No prelo SANTOS Cristiane Alcacircntara de Jesus Produccedilatildeo e Consumo de Espaccedilos Turiacutesticos Apropriaccedilatildeo de Espaccedilos Puacuteblicos de Lazer e Turismo em AracajuSE In CORIOLANO Luzia Neide VASCONCELOS Faacutebio Perdigatildeo (Orgs) Turismo Territoacuterio e Conflitos Imobiliaacuterios Fortaleza Ed UECE 2012

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A FINANCEIRIZACcedilAtildeO DA HABITACcedilAtildeO E AS CONTRADICcedilOtildeES DO PROGRAMA MINHA CASA

MINHA VIDA(PMCMV) NA REGIAtildeO METROPOLITANA DE ARACAJU (RMA)

Maacuterio Jorge Silva Santos

Universidade Federal de Sergipe Laboratoacuterio de Estudos Territoriais(LATER) Doutorando PPGEOUFS

E mail mariojorge33gmailcom

Ana Rocha dos Santos

Universidade Federal de Sergipe Laboratoacuterio de Estudos Territoriais(LATER) Prof Dr PPGEOUFS

E mail anarochaufsgmailcom

RESUMO

O presente artigo tem como objetivo analisar as contradiccedilotildees da poliacutetica de habitaccedilatildeo do Programa Minha Casa Minha Vida(PMCMV) na Regiatildeo metropolitana de Aracaju(RMA) no periacuteodo de 2009 a 2014 Para tanto buscamos reconstituir as accedilotildees deste programa localizando e espacializando os empreendimentos imobiliaacuterios construiacutedos na RMA e analisando como estes reconfiguraram a dinacircmica territorial da regiatildeo Estes procedimentos metodoloacutegicos foram completados com a realizaccedilatildeo de trabalhos de campo e entrevistas com os moradores destes empreendimentos habitacionais com o propoacutesito de desvelar as dificuldades encontradas quanto a permanecircncia nestas unidades habitacionais bem como as formas de acesso ao sistema de produccedilatildeo e financeirizaccedilatildeo uma vez que este acesso eacute controlado pelos agentes construtores e financiadores do espaccedilo tendo como consequecircncia a produccedilatildeo de profundas

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contradiccedilotildees socioespaciais na regiatildeo Desse modo o que propomos neste artigo eacute que atraveacutes do Estado e a poliacutetica de habitaccedilatildeo do PMCMV o processo de produccedilatildeo da Regiatildeo Metropolitana de Aracaju reflete as condiccedilotildees e problemas expostos entre a mercantilizaccedilatildeo do espaccedilo e o consumo coletivo de habitaccedilatildeo que vem se intensificando atraveacutes da financeirizaccedilatildeo da habitaccedilatildeo que acentua a fragmentaccedilatildeo hierarquizaccedilatildeo e segregaccedilatildeo do espaccedilo regional metropolitano PALAVRAS-CHAVE Espaccedilo Financeirizaccedilatildeo Habitaccedilatildeo INTRODUCcedilAtildeO

Diante da crise estrutural do capital que se apresentou a partir de 2008 e tambeacutem em decorrecircncia da proacutepria jaacute vivida pelo setor da construccedilatildeo civil no Brasil apoacutes a abertura dos seus capitais para o mundo20 atraveacutes das bolsas de valores o governo Lula com o objetivo de dinamizar a economia e garantir a reproduccedilatildeo do capital via setor da construccedilatildeo lanccedilou o Programa Minha Casa Minha Vida (PMCMV)

Constituiacutedo em 2008 se dividiu em fases a primeira estabelecida em 2009 por meio da Lei n o 119772009 e a segunda em 2011 com a Lei n o 124242011 Aleacutem desses dois instrumentos legais o programa eacute regido por uma seacuterie de portarias interministeriais e decretos presidenciais Cada uma das duas fases do programa objetivava construir 1 milhatildeo de

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De acordo com Martins (2010) a abertura de capital na bolsa de

valores por parte das grandes e meacutedias empresas de construccedilatildeo no Brasil

a partir de 2007 provocou uma grande captaccedilatildeo de recursos que foram

aplicados na compra de terrenos esse processo ficou conhecido como

nacionalizaccedilatildeo do setor de construccedilatildeo Abrir o capital significa receber

rapidamente um grande montante de dinheiro em adiantamento o que

significa consequentemente quando bem aplicado um avanccedilo de

concorrecircncia frente agraves empresas do setor

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moradias para famiacutelias com renda inferior a 10 salaacuterios miacutenimos (SM) mensais

A estrutura de implementaccedilatildeo criada para o programa foge bastante agrave tradiccedilatildeo do setor habitacional no Brasil A Caixa Econocircmica Federal (CEF) eacute gestora operacional do PMCMV recebendo e aprovando (ou natildeo) as propostas de construccedilatildeo dos empreendimentos apresentadas diretamente por empresas da construccedilatildeo civil Aos governos locais coube principalmente a viabilizaccedilatildeo da questatildeo da terra apoacutes a adesatildeo ao programa junto agrave CEF

O funcionamento do Programa Minha Casa Minha Vida ateacute 2014 foi subdividido em trecircs faixas de renda A faixa 1 que inclui famiacutelias com renda de 0 a 3 salaacuterios miacutenimos e funciona da seguinte forma segundo a cartilha do programa a Uniatildeo aloca recursos por aacuterea do territoacuterio nacional e solicita apresentaccedilatildeo de projetos os estados e municiacutepios realizam cadastramento da demanda e apoacutes triagem indicam famiacutelias para seleccedilatildeo utilizando as informaccedilotildees do cadastro uacutenico

As construtoras apresentam projetos agraves superintendecircncias regionais da Caixa Econocircmica Federal podendo fazecirc-los em parceria com estados municiacutepios cooperativas movimentos sociais ou independentemente Apoacutes anaacutelise simplificada a Caixa Econocircmica Federal contrata a operaccedilatildeo acompanha a execuccedilatildeo da obra pela construtora libera recursos conforme cronograma e concluiacutedo o empreendimento realiza o seu desligamento

Segundo dados do Ministeacuterio das Cidades (2013) o Programa Minha Casa Minha Vida jaacute contratou desde seu periacuteodo de existecircncia a construccedilatildeo de 32 milhotildees de moradias Destas mais de 14 milhotildees jaacute foram entregues e deste total o governo Lula (2003-2010) entregou cerca de 700 mil unidades Entretanto esses nuacutemeros esbarraram na constataccedilatildeo de que a construccedilatildeo de moradia no Brasil funciona como uma soluccedilatildeo para as crises estruturais do capital

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submetendo-se agrave loacutegica de reproduccedilatildeo e do lucro por parte do capital especulativo imobiliaacuterio constatado pela perenidade do deacuteficit habitacional no paiacutes Sendo assim como resultado desse processo grande parte da populaccedilatildeo brasileira continua sem acesso agrave moradia e natildeo eacute atendida pelos programas de financiamento de habitaccedilatildeo resultante de uma poliacutetica que sempre repete interesses ligados agrave movimentaccedilatildeo da economia e da induacutestria de construccedilatildeo mantendo o poder do Estado Neste contexto Campos (2006) indica que embora nos uacuteltimos anos tenha havido tentativas de descentralizar as poliacuteticas de habitaccedilatildeo urbana com um modelo ambiacuteguo de ampliaccedilatildeo de competecircncias e atribuiccedilotildees municipais como no caso do Minha Casa Minha Vida isto vem provocando com mais forccedila a periferizaccedilatildeo das populaccedilotildees mais pobres sejam elas isoladas em favelas ou loteamentos irregulares sejam aquelas de renda um pouco superior que passam a viver nos conjuntos habitacionais segregados socioespacialmente O PROGRAMA MINHA CASA MINHA VIDA PRODUCcedilAtildeO HABITACIONAL E CONTRADICcedilOtildeES SOCIOESPACIAIS NA RMA

A Regiatildeo Metropolitana de Aracaju criada pela Lei

Complementar Estadual nordm 25 de 29 de dezembro de 1995 eacute composta pelos Municiacutepios de Aracaju(SE) Barra dos Coqueiros(SE) Nossa Senhora do Socorro(SE) e Satildeo Cristoacutevatildeo(SE) tendo como sede o municiacutepio de Aracaju Possui populaccedilatildeo estimada de 835654 habitantes (IBGE 2010) A populaccedilatildeo da regiatildeo metropolitana de Aracaju cresce aceleradamente devido agrave imigraccedilatildeo de pessoas provenientes de outros municiacutepios de Sergipe especialmente de aacutereas rurais bem como de outros Estados da Federaccedilatildeo especialmente de cidades do norte da Bahia (FRANCcedilA 1999)

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Na Regiatildeo Metropolitana de Aracaju assim como em outras aglomeraccedilotildees urbanas em seu processo de expansatildeo amplia-se a abrangecircncia dos fluxos do capital mais frequentes seja de pessoas ou de mercadorias e estreita relaccedilotildees com aglomeraccedilotildees vizinhas mesmo localizadas descontinuamente enquanto aumenta seu perfil concentrador e consolida sua importacircncia como elo de inserccedilatildeo do paiacutesregiatildeo na divisatildeo social do trabalho

Neste contexto na RMA o PMCMV foi a partir de 2009 o principal responsaacutevel pela expansatildeo das unidades habitacionais atraveacutes da construccedilatildeo de diversos empreendimentos imobiliaacuterios principalmente na sua periferia Isto porque todos os municiacutepios que compotildeem a RMA aderiram ao PMCMV como uma poliacutetica de construccedilatildeo de habitaccedilatildeo com estrutura centrada no papel do financiamento e subsiacutedio como forma de garantir moradia para a populaccedilatildeo

A tabela 01 apresenta segundo o Ministeacuterio das Cidades o quantitativo de unidades habitacionais entregues no periacuteodo de 2009 a 2014 na RMA Observa-se que em toda regiatildeo foram entregues pelo PMCMV 36209 unidades habitacionais 20639 na cidade se Aracaju 2345 na Barra dos Coqueiros 3313 no municiacutepio de Nossa Senhora do Socorro e por fim 10112 no municiacutepio de Satildeo Cristoacutevatildeo

Essas unidades habitacionais entregues correspondem a todas as modalidades do programa ou seja imoacuteveis da Zona Urbana e Rural nas modalidades de construccedilatildeo executadas por construtoras (FAR Empresas) por Entidades (Associaccedilatildeo de Moradores e outras) sendo que neste caso das entidades as unidades habitacionais devem ser atendidas obrigatoriamente na faixa 01 do programa

Para atender aos objetivos da pesquisa trataremos portanto de identificar e analisar as unidades habitacionais construiacutedas na RMA da modalidade FAR Empresas ou seja aquelas feitas por construtoras e incorporadoras pois

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representam a vertente mais contundente e quantitativa dos imoacuteveis construiacutedos na regiatildeo uma vez que as demais modalidades tecircm pouca representatividade no contexto geral produzido tendo sido excluiacutedas da nossa pesquisa Tabela 01 Unidades habitacionais entregues PMCMV na Regiatildeo Metropolitana de Aracaju (2009-2014)

Ano

Aracajuse Barra dos Coqueiros

Nossa Senhora

do Socorro

Satildeo Cristoacutevatildeo

Total de unidades

habitacionais entregues na

RMA

2014 5366 752 1655 2822 10595

2013 4666 524 461 2624 8275

2012 4261 373 393 1764 6791

2011 3409 360 319 1636 5724

2010 2937 336 285 1266 4824

Total 20639 2345 3113 10112 36209

Fonte Ministeacuterio das Cidades (2016)

Em termos relativos de acordo com os dados do MIC

haacute uma concentraccedilatildeo de unidades entregues na cidade de Aracaju O total neste municiacutepio corresponde a 569 de todas as unidades habitacionais entregues pelo PMCMV na RMA Satildeo Cristoacutevatildeo eacute o municiacutepio que mais vem crescendo proporcionalmente na regiatildeo tanto em unidades habitacionais entregues como em nuacutemero de unidades contratadas

Conforme a tabela 02 que apresenta o nuacutemero de contratos por ano do PMCMV eacute possiacutevel notar essa tendecircncia de crescimento em Satildeo Cristoacutevatildeo(SE) Haacute uma niacutetida vantagem quantitativa locacional de empreendimentos do programa no municiacutepio em comparaccedilatildeo aos outros que fazem parte da regiatildeo mesmo diante de vaacuterias situaccedilotildees deficitaacuterias na infraestrutura saneamento e condiccedilatildeo de vida da populaccedilatildeo

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que vive nas aacutereas que estatildeo recebendo estes empreendimentos do programa

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Tabela 02 Unidades habitacionais contratadas pelo PMCMV na Regiatildeo Metropolitana de Aracaju (2009-20014)

ANO

ARACAJU BARRA DOS COQUEIROS

NOSSA SENHORA

DO SOCORRO

SAtildeO CRISTOacuteVAtildeO

TOTAL DE UNIDADES

HABITACIONAIS CONTRATADAS

NA RMA

2014 15048 2837 3063 4685 25633

2013 13767 1644 3386 5187 23984

2012 9709 1140 1723 3898 16470

2011 7389 919 1222 3141 12671

2010 6090 455 430 2705 9680

2009 2213 443 - 381 3038

TOTAL 54216 7438 9825 19997 91476 Fonte Ministeacuterio das Cidades (2016)

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Jaacute em relaccedilatildeo ao nuacutemero de unidades habitacionais concluiacutedas pelo PMCMV na Regiatildeo Metropolitana de Aracaju eacute importante perceber que pelos dados da tabela 03 haacute um estoque de unidades construiacutedas em toda a regiatildeo Esse nuacutemero eacute explicado pelo caraacuteter do programa que natildeo vincula a construccedilatildeo agrave entrega uma vez que as construtoras que aprovam seus projetos junto agrave Caixa natildeo tecircm garantia de compra imediata nas faixas 02 e 03 do programa

Por isso as incorporadoras passam a ter nesses imoacuteveis uma alternativa de venda mais direcionada a uma determinada parcela da populaccedilatildeo apresentando a compra como uma modalidade vantajosa em comparaccedilatildeo ao preccedilo de mercado tradicional uma vez que o comprador pode obter subsiacutedios de ateacute 25 mil reais na compra aleacutem de taxas de juros no financiamento menores que as cobradas pelo mercado tradicional

Todos esses fatores entretanto natildeo satildeo garantias da venda imediata do imoacutevel por isso uma das estrateacutegias de venda eacute o lanccedilamento do imoacutevel antes mesmo da sua construccedilatildeo Essa taacutetica eacute usada pelo mercado imobiliaacuterio em todos os tipos de construccedilatildeo independente dos programas de habitaccedilatildeo propostos pelo governo

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Tabela 03 Unidades habitacionais concluiacutedas pelo PMCMV na Regiatildeo Metropolitana de Aracaju (2009-20014)

Ano Aracaju Barra dos Coqueiro

Nossa Senhora do

Socorro Satildeo Cristoacutevatildeo

Total de unidades habitacionais concluiacutedas na

RMA

2014 8745 1151 1906 4130 15932

2013 8363 988 1099 4004 14454

2012 5961 484 413 2061 8919

2011 4048 471 160 1143 5822

2010 1414 311 3 134 1862

Total de unidades

28531 3405 3581 11472 46989

Fonte Ministeacuterio das Cidades (2016)

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Essa problemaacutetica da quantidade de unidades habitacionais concluiacutedas precisa ser analisada pela concentraccedilatildeo de imoacuteveis a serem negociados nas faixas 2 e 3 do programa o que acarretou ao longo desses cinco anos uma possiacutevel sobrecarga de produccedilatildeo de imoacuteveis destinados a essa faixa de renda Se junta a isso o fato de que esse estoque pode significar a incapacidade econocircmica de absorver essa quantidade de imoacuteveis por parte dos possiacuteveis compradores

O graacutefico 01 nos remete a essa realidade ao apresentar as caracteriacutesticas do programa a partir do comparativo entre as unidades contratadas as unidades concluiacutedas e as unidades entregues No caso da Regiatildeo Metropolitana de Aracaju no periacuteodo estudado eacute possiacutevel perceber que essa tendecircncia de estoque de unidades habitacionais concluiacutedas comeccedila a ser vista a partir de 2012 e esse eacute um processo que continua crescente nos anos seguintes

Sendo assim pelos dados obtidos e considerando a diferenccedila quantitativa entre o nuacutemero de unidades habitacionais concluiacutedas e o nuacutemero de unidades habitacionais entregues chegamos a conclusatildeo que em toda regiatildeo Metropolitana de Aracaju existe um estoque de unidades concluiacutedas do PMCMV de 10780 unidades habitacionais Em Aracaju esse nuacutemero eacute de 7892 unidades na Barra dos Coqueiros 1236 unidades em Nossa Senhora do Socorro 468 unidades e em Satildeo Cristoacutevatildeo 1360 unidades habitacionais

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Graacutefico 01 Unidades habitacionais contratadas concluiacutedas e entregues pelo PMCMV na Regiatildeo Metropolitana de Aracaju (2009-20014)

Fonte Ministeacuterio das Cidades (2016)

Eacute importante salientar que no caso dos poucos

empreendimentos construiacutedos na faixa 01 do programa na RMA esses como se tratam de imoacuteveis com subsiacutedios do governo com pagamentos que podem chegar a ateacute 96 do preccedilo do imoacutevel seus proprietaacuterios selecionados pelas prefeituras fazem a sua ocupaccedilatildeo imediata natildeo produzindo nenhum tipo de estoque

Isto tem como consequecircncia direta no sistema de financiamento de habitaccedilatildeo a preferecircncia por construccedilatildeo e a grande quantidade de unidades habitacionais oferecidas pelas construtoras e suas incorporadoras dentro das faixas 2 e 3 do Programa Minha Casa Minha Vida com o uso na miacutedia de propagandas que diferencia e qualifica os empreendimentos a partir de sua inserccedilatildeo nesta poliacutetica de habitaccedilatildeo

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Aleacutem disso percebe-se tambeacutem que o niacutevel de comercializaccedilatildeo desses imoacuteveis eacute bastante alto A materializaccedilatildeo mais marcante desse problema eacute a grande quantidade de imoacuteveis com placas de aluga-se e vende-se encontradas nos diversos empreendimentos observados nos trabalhos de campo bem como a venda desses imoacuteveis atraveacutes de corretoras e anuacutencios em sites de internet com uma alta concentraccedilatildeo nas unidades das faixas citadas

Por outro lado a financeirizaccedilatildeo da habitaccedilatildeo locomotiva do PMCMV produz uma contradiccedilatildeo ainda maior o nuacutemero pequeno de contratos na faixa 01 do programa Isto porque as construtoras natildeo se interessam por essa modalidade de construccedilatildeo aleacutem disso os recursos nessa faixa satildeo provenientes do Governo Federal oriundos do Orccedilamento Geral da Uniatildeo e dependem de liberaccedilatildeo poliacutetica

Em entrevista com um diretor comercial de uma das construtoras que atua no mercado de construccedilatildeo da RMA e que jaacute teve projetos aprovados junto agrave CAIXA na faixa 01 foi possiacutevel entender que o lucro e as dificuldades de adequar o custo da construccedilatildeo e o valor maacuteximo por unidade habitacional exigido pelo programa No caso da regiatildeo metropolitana uma variaccedilatildeo maacutexima 76 mil reais por unidade habitacional com prestaccedilatildeo sem comprometer mais de 10 da renda familiar satildeo os grandes problemas apontados

Diante desse quadro as construtoras natildeo se mostram interessadas nesse tipo de construccedilatildeo uma vez que a seleccedilatildeo dos proprietaacuterios eacute feita pelas prefeituras e a margem de lucro apesar dos subsiacutedios pagos pelo governo que pode chegar a 95 do valor do imoacutevel dependendo da renda e do valor final da unidade esse quadro natildeo agrada aos construtores pois a margem de lucro diante do valor da terra e os custos de construccedilatildeo satildeo segundo o entrevistado muito pequena

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- Para garantir o maacuteximo do subsiacutedio eacute necessaacuterio baratear o preccedilo final dos imoacuteveis para essa faixa do programa Por isso a busca por terreno e por formas de diminuir os custos da construccedilatildeo torna-se complicado na realidade da cidade e ateacute dos municiacutepios vizinhos Preferimos a faixa 2 e 3 a natildeo ser que a prefeitura entre com o terreno (Agente construtor)

Aleacutem disso os recursos para pagamento dessas

unidades ainda que possam chegar a 96 do valor total provecircm dos recursos do OGU (Orccedilamento Geral da Uniatildeo) e dependem de fatores poliacuteticos para serem liberados podendo ser cortados ou diminuiacutedos ao longo do exerciacutecio fiscal anual Essa realidade eacute bem significativa ao analisarmos o graacutefico 02 Ele nos mostra a quantidade de contratos por faixas do programa na RMA Apesar de ter havido uma evoluccedilatildeo na quantidade de contratos na faixa 01 esses contratos natildeo se materializaram no nuacutemero unidades entregues nessa faixa do programa

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Graacutefico 02 Unidades habitacionais contratadas por faixas pelo PMCMV na Regiatildeo Metropolitana de Aracaju (2009-2014)

Fonte Ministeacuterio das Cidades (2016)

Por outro lado a faixas 2 e 3 cresceram

vertiginosamente em nuacutemeros de contratos e alcanccedilaram resultados tambeacutem maiores na entrega das unidades habitacionais na regiatildeo Isto posto parece ser melhor negoacutecio vender casas a prover habitaccedilatildeo

Essa realidade pode ser confirmada de acordo com os nuacutemeros do quadro 01 A quase insignificante quantidade de habitaccedilotildees entregues na faixa 01 no periacuteodo de 2009 a 2014 na RMA Apenas 1631 unidades concentradas nos municiacutepios de Aracaju e Satildeo Cristoacutevatildeo

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Quadro 01 Unidades habitacionais entregues pelo PMCMV pela faixa 1 na Regiatildeo Metropolitana de Aracaju de 2009 a 2014

RMA- Municiacutepios

Empreendimentos do PMCMV ndash

faixa 01

Unidades habitacionais

Bairro

ARACAJU

Residencial Jardim Santa Maria

281 Santa Maria

Residencial Santa Maria

468 Santa Maria

Residencial Zilda Arns

144 Cidade Nova

Residencial Jaime Norberto

369 Porto Dantas

SAtildeO CRISTOacuteVAtildeO

Residencial Vila Real

369 Rosa Elze

TOTAL 05 1631 04

Fonte CEF (2016) e trabalho de campo Como se tratam de unidades habitacionais compradas

com subsiacutedios quase que total em relaccedilatildeo ao valor do imoacutevel com recursos financeiros do OGU os dados informativos desses empreendimentos bem como seus beneficiados satildeo puacuteblicos e divulgados na aacuterea virtual do CEF no siacutetio do PMCMV

Esses empreendimentos estatildeo localizados em Bairros perifeacutericos da regiatildeo como os Bairros Santa Maria e Porto Dantas em Aracaju e o Bairro Rosa Elze em Satildeo Cristoacutevatildeo

Analisando essa problemaacutetica do baixo nuacutemero de empreendimentos voltados agrave faixa 01 do PMCMV na cidade de Aracaju FRANCcedilA S (2016) aponta que esses empreendimentos apresentam vaacuterios problemas

Esses empreendimentos voltados para famiacutelias de baixa renda estatildeo em bairros que apresentam condiccedilotildees de

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infraestrutura e serviccedilos puacuteblicos insuficientes e fora do tecido urbano consolidado dificuldade de acesso a transporte puacuteblico com entorno cercado de grandes glebas a exemplo do Residencial Jaime Norberto Silva localizado no bairro Porto Dantas um dos mais carentes e problemaacuteticos no tocante a saneamento baacutesico mobilidade e criminalidade e portanto com baixo

valor da terra (FRANCcedilA S 2016 p85)

Trata-se de empreendimentos que foram construiacutedos e

entregues a famiacutelias de baixa renda na maioria dos casos provenientes de aacutereas de assentamentos subnormais ou de moradores de ocupaccedilotildees de outros lugares da regiatildeo e que receberam os imoacuteveis por satisfazerem os criteacuterios sociais e sorteados por listas puacuteblicas

Grande parte dos moradores desses condomiacutenios natildeo viviam no bairro onde os empreendimentos foram construiacutedos Eles tiveram suas vidas transformadas no seu cotidiano o que acarreta em uma seacuterie de dificuldades de se adaptar agrave nova realidade ainda que tenham adquirido uma casa para morar

Essas dificuldades podem ser analisadas a partir de vaacuterias perspectivas a primeira eacute estruturante trata-se da ruptura com os meios de produccedilatildeo social de vida jaacute que satildeo famiacutelias carentes e que viviam em sua maioria de atividades ligadas a proacutepria localidade onde moravam o que provoca em muitos proprietaacuterios dificuldades de permanecer no imoacutevel recebido Outro problema que detectamos nesta pesquisa em relaccedilatildeo aos empreendimentos construiacutedos nesta faixa na RMA eacute a dificuldade encontrada pelos moradores em relaccedilatildeo a responsabilidade por parte dos construtores no processo de

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manutenccedilatildeo da estrutura fiacutesica dos preacutedios o que acaba por provocar uma raacutepida deterioraccedilatildeo dos imoacuteveis

- Aqui quando a gente tem um problema eacute maior dificuldade pra resolver parece que a gente recebeu a casa de favor a construtora natildeo vem resolver nada parece que quem mora aqui eacute cachorro (Morador do Residencial Zilda Arns)

Quanto ao tipo de imoacuteveis construiacutedos os

empreendimentos satildeo compostos por blocos de apartamentos com aacutereas fechadas por muros ou cercas Os moradores aleacutem da prestaccedilatildeo do imoacutevel satildeo obrigados a pagar a taxa de condomiacutenio aacutegua e luz

No caso desses empreendimentos a existecircncia de muros e cercas natildeo se configura na garantia de seguranccedila Satildeo muitas as reclamaccedilotildees referentes a assaltos e roubos nos apartamentos especialmente em virtude dos primeiros meses em que os imoacuteveis foram ocupados Muitos moradores desses empreendimentos acabam sendo obrigados a vender seu apartamento por total falta de condiccedilatildeo financeira inclusive de pagar taxas e outras obrigaccedilotildees Aleacutem disso haacute tambeacutem um aproveitamento de especuladores que compram esses imoacuteveis e revendem no mercado dentro de uma loacutegica de revalorizaccedilatildeo do espaccedilo obrigando mais uma vez a populaccedilatildeo mais pobre a voltar para aacutereas ainda mais perifeacutericas ou ateacute mesmo para antigas localidades ocupadas

Jaacute os empreendimentos destinados agrave faixa 2 e 3 do PMCMV espalhados pela RMA como se tratam de empreendimentos voltados a famiacutelias com rendimentos superiores a trecircs salaacuterios miacutenimos regido sob a forma de contratos bancaacuterios torna-se difiacutecil a identificaccedilatildeo dos empreendimentos de forma individualizada visto que a sua

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construccedilatildeo natildeo significa a entrega efetiva das unidades habitacionais

Os dados informados pelo Ministeacuterio das Cidades gestor do PMCMV subtraindo-se aqueles que pertencem a faixa 1 ou seja 1631 e aqueles construiacutedos por Entidades que somam 873 nos remete a entender que foram entregues na RMA 33705 unidades habitacionais pelo programa nas faixas 2 e 3 na RMA de 2009 a 2014

Esse nuacutemero eacute conflitante agrave medida em que se busca confirmar na base local de informaccedilotildees (Prefeituras e localizaccedilatildeo via trabalho de campo de empreendimentos construiacutedos pelas faixas 2 e 3 do programa na RMA) e muitas vezes tornam-se ateacute distante da realidade levantada com os oacutergatildeos de licenciamento de obras contrataccedilatildeo e financiamento dessas unidades pois como jaacute exposto trata-se de contratos financeiros

Entretanto os trabalhos de campo com levantamento desses dados bem como as consultas a base de dados dos oacutergatildeos responsaacuteveis pela liberaccedilatildeo de obras nos municiacutepios da regiatildeo metropolitana e em consonacircncia com os dados levantados junto agrave Superintendecircncia local da Caixa Econocircmica Federal apontam para a construccedilatildeo de 17744 unidades habitacionais nas faixas 2 e 3 do PMCMV entre 2009 e 2014 na Regiatildeo Metropolitana de Aracaju (Tabela 04)

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Tabela 04 Comparativo do nuacutemero de unidades habitacionais entregues pelo PMCMV na RMA identificadas com os trabalhos de campo e o nuacutemero de unidades informadas pelo Ministeacuterio das Cidades de 2009 a 2014

RMA- Municiacutepios

Empreendimentos do PMCMV ndash

faixa 02 e 0321

Unidades habitacionais

22

Unidades habitacionais

23 ARACAJU 47 10464 19062

BARRA DOS

COQUEIROS

10 1904 2195

N S DO SOCORRO

08 2136 2762

SAtildeO CRISTOacuteVAtilde

O

15 3240 9686

TOTAL 80 17744 33705

Fonte Ministeacuterio das Cidades e Trabalhos de Campo

O mapa 01 espacializa todos os empreendimentos

construiacutedos pelo PMCMV na RMA sendo possiacutevel notar uma concentraccedilatildeo de empreendimentos da faixa 2 e 3 em determinadas aacutereas da RMA essas aacutereas satildeo

21

Informaccedilotildees levantadas atraveacutes das prefeituras dos municiacutepios

Superintendecircncia da CEF e trabalhos de campo 22 Informaccedilotildees levantadas atraveacutes das prefeituras dos municiacutepios

Superintendecircncia da CEF e trabalhos de campo 23 Informaccedilotildees do Ministeacuterio das Cidades

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1- Em Aracaju na zona oeste no Bairro Jabutiana e na zona sul nos bairros Santa Maria e Zona de Expansatildeo

2- Barra dos Coqueiros na SE 100 e no Centro 3- Nossa Senhora do Socorro no Complexo Taiccediloca 4- Satildeo Cristoacutevatildeo no Bairro Rosa Elze Essa concentraccedilatildeo nos leva a considerar duas grandes

dinacircmicas diferenciadas de expansatildeo urbana a partir do PMCMV com realidades opostas na RMA a primeira satildeo os empreendimentos construiacutedos nas faixas 2 do programa na periferia da regiatildeo e a segunda dinacircmica satildeo empreendimentos habitacionais voltados para a faixa 3 concentrados em Aracaju no Bairro Jabutiana e na Zona de expansatildeo

Estas duas localidades concentram 702 de todas as unidades habitacionais construiacutedas pelo PMCMV nas faixas 2 e 3 na Regiatildeo Metropolitana de Aracaju somando juntas 12314 unidades habitacionais em apenas 5 localidades da regiatildeo Isto significa que haacute uma tendecircncia clara de uma determinada localidade em detrimento de outras A fragmentaccedilatildeo do espaccedilo na regiatildeo eacute estrategicamente pensada como promotora de uma hierarquizaccedilatildeo planejada como o objetivo cada vez mais claro de segregar separando espaccedilos pela condiccedilatildeo social e econocircmica a partir do acesso agrave habitaccedilatildeo

O capital na sua loacutegica de reproduccedilatildeo usa desses empreendimentos como estrateacutegia de revalorizaccedilatildeo do solo urbano da regiatildeo aprimorando ainda mais o processo de fragmentaccedilatildeo e segregaccedilatildeo estabelecendo uma divisatildeo social do espaccedilo uma vez que esses empreendimentos satildeo produzidos dentro de uma loacutegica de separaccedilatildeo entre as condiccedilotildees materiais de existecircncia nas periferias onde satildeo impostos e a condiccedilatildeo social e econocircmica dos moradores locais e aqueles que se tornam proprietaacuterios desses imoacuteveis

Isto porque cada vez mais a regiatildeo eacute ocupada e separada por classe social A elite toma conta das aacutereas mais privilegiadas onde estatildeo disponibilizadas as melhores

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estruturas baacutesicas de equipamentos urbanos infraestrutura saneamento acesso a serviccedilos puacuteblicos equipamentos de lazer transporte e mobilidade todas a formas materializadas do trabalho coletivo e para continuar se reproduzindo a ldquohabitaccedilatildeo mercadoriardquo eacute usada para promover a separar nodo espaccedilo a parcela da populaccedilatildeo mais rica em detrimento dos mais pobres

No nosso caso essa separaccedilatildeo acontece natildeo soacute no espaccedilo intraurbano da cidade que centraliza as funccedilotildees urbanas da regiatildeo ela se espalha por toda regiatildeo A (re)produccedilatildeo da segregaccedilatildeo socioespacial na RMA serve agrave loacutegica da reproduccedilatildeo das desigualdades ela se mostra na oposiccedilatildeo entre o centro e periferia urbana regional e entre proacutepria separaccedilatildeo imposta pelo estado que divide e delimita zonas geograficamente distintas

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Grande parte dos empreendimentos habitacionais do PMCMV vem sendo construiacutedos na RMA proacuteximos a localidades jaacute ocupadas e com adensamento populacional promovido pela existecircncia de conjuntos habitacionais entregues nas deacutecadas de 1980 e 1990 e por ocupaccedilotildees jaacute consolidadas em virtude de loteamentos legais e ilegais proacuteximas a estas aacutereas

Embora distante da aacuterea urbana mais integradas a malha urbana de Aracaju e construiacutedos nas franjas da RMA essas porccedilotildees do espaccedilo foram ao longo do tempo estocadas pelo setor imobiliaacuterio da economia que os reservaram usando-os nos momentos de crise como espaccedilo se pauta pela liquidez do mercado financeiro que eleva a niacuteveis exponenciais a loacutegica da produccedilatildeo da cidade como negoacutecio (ALVAREZ 2015)

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A pequena quantidade de empreendimentos construiacutedos pelo PMCMV na faixa 01 do programa demonstra a dificuldade no acesso agrave terra urbanizada e barata para viabilizar a produccedilatildeo de habitaccedilatildeo de interesse social na RMA frente agrave grande demanda de terra para as faixas 2 e 3 do programa

Outra hipoacutetese e explicaccedilatildeo apontada por Franccedila (2016) eacute de que o principal entrave se encontra na caracteriacutestica do mercado imobiliaacuterio local que visualiza maior rentabilidade para os empreendimentos destinados agraves classes econocircmicas maiores aleacutem disso a falta de articulaccedilatildeo para doaccedilatildeo de terrenos de propriedade puacuteblica pelos governos municipais tambeacutem eacute um dos pontos que dificulta a implantaccedilatildeo de conjuntos para essa faixa de renda

O fato eacute que as diretrizes estabelecidas para implantaccedilatildeo do PMCMV proporcionam ao mercado a livre escolha da localizaccedilatildeo dos empreendimentos em um cenaacuterio de ausecircncia de instrumentos de controle do valor da terra e tambeacutem da ocupaccedilatildeo de aacutereas sem disponibilidade de infraestrutura e serviccedilos puacuteblicos

Isto porque como analisa Volochko (2015)

Se antes a terra possuiacutea um valor de uso ligado muitas vezes agrave especulaccedilatildeo- ou ligado a outras atividades como a industrial - a incorporaccedilatildeo efetiva de trabalho humano que se materializa na edificaccedilatildeo de novos imoacuteveis e suas ligaccedilotildees com o restante do espaccedilo urbano ndash conexatildeo a rede eleacutetrica viaacuteria de saneamento ao comeacutercio agraves centralidades diversas - permite realizar um salto qualitativo em termos de valor de uso desses terrenos o que realiza a valorizaccedilatildeo do solo incorporado a esse

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novo valor de uso que socializa as positividades urbanas Essa valorizaccedilatildeo fundiaacuteria ligada agrave mudanccedila de uso do solo e que estabelece um valor de uso potencializado faz com que no mercado fundiaacuterio esse solo apresente um valor de troca elevado relativamente a outros terrenos que possuem essas articulaccedilotildees agraves infraestruturas e equipamentos urbanos O preccedilo do solo assim se eleva (VOLOCHKO 2015 p115)

Isso vem proporcionando a atenuaccedilatildeo da periferizaccedilatildeo

da produccedilatildeo habitacional na RMA que ocorre intensamente em Aracaju nos bairros Jabotiana e na Zona de Expansatildeo Urbana Em Nossa Senhora do Socorro no complexo Taiccediloca especialmente nos conjuntos Marcos Freire II e em Satildeo Cristoacutevatildeo no bairro Rosa Elze nas proximidades do Conjunto Eduardo Gomes e na Barra dos Coqueiros no litoral sentido Bairro Atalaia Nova

Se existe uma supervalorizaccedilatildeo do preccedilo das terras e dos imoacuteveis nas periferias ela ocorre de forma lenta uma vez que necessita da accedilatildeo do Estado central para realizar de modo pleno a valorizaccedilatildeo do espaccedilo e isso de materializa com a construccedilatildeo de condomiacutenios que natildeo eacute outra coisa que um processo sucessivo de valorizaccedilatildeo necessaacuteria para a lucratividade do empreendimento

No caso da RMA partimos da loacutegica expressa de que a interface do capital e do Estado articula-se na valorizaccedilatildeo imobiliaacuteria e valorizaccedilatildeo do solo atraveacutes da construccedilatildeo efetiva das formas e caracteriacutesticas dessas construccedilotildees e na forma ideoloacutegica desses produtos A questatildeo eacute que o processo de valorizaccedilatildeo imobiliaacuteria das periferias da RMA produz a valorizaccedilatildeo do espaccedilo

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Atraveacutes do PMCMV o Estado viabiliza a reproduccedilatildeo imobiliaacuteria e financeira promovendo a valorizaccedilatildeo e produccedilatildeo de fragmentos espaciais de aacutereas metropolitanas perifeacutericas e assegurando a continuidade das estrateacutegias do capital (VOLOCHKO 2015)

No caso da RMA esse processo se configura em um verdadeiro fracasso quando se trata de contribuir com a diminuiccedilatildeo do deacuteficit habitacional na faixa de famiacutelia com renda mensal de 0 a 3 salaacuterios miacutenimos justamente a parcela que mais necessita de acesso agrave moradia como direito e dignidade

Isso se confirma ao analisarmos os nuacutemeros comparativos entre a quantidade de unidades habitacionais construiacutedas para as famiacutelias com renda de 0 a 3 salaacuterios na RMA Aracaju pelo PMCMV e o deacuteficit total absoluto de moradias nessa mesma faixa de renda o quadro se completa ao apresentar a contradiccedilatildeo expressa na mesma tabela ao se comparar a superioridade do quantitativo de unidades habitacionais construiacutedas pelo PMCMV nas faixas 2 e 3 (famiacutelias com renda de 3 a 10 salaacuterios) em comparaccedilatildeo a necessidade absoluta apresentada pelo deacuteficit total nesta mesma faixa de renda

Tabela 16 Distribuiccedilatildeo das Unidades Habitacionais do PMCMV e o Deacuteficit Habitacional 2015 ndash PMCMV 2009 a 2014 na RMA Regiatildeo Metropolitana

de Aracaju - RMA Ateacute 3

salaacuterios De 3 a

10 SM Total

Deacuteficit habitacional - 2015

24350 7805 32155

Nuacutemero de unidades habitacionais

1631 34290 36209

Fonte Ministeacuterio das Cidades 2017 Fundaccedilatildeo Joatildeo Pinheiro 2017

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Sendo assim os empreendimentos do PMCMV natildeo

satildeo construiacutedos na totalidade do tecido urbano da RMA pois seguem uma loacutegica de produccedilatildeo guiada por estrateacutegias de valorizaccedilatildeo que selecionam e hierarquizam as diferentes aacutereas da regiatildeo metropolitana para concentrar investimentos revelando a seletividade dos capitais e imprimindo uma loacutegica de segregaccedilatildeo socioespacial nos lugares

Todo esse processo eacute marcada pela accedilatildeo do Estado e do capital financeiro imobiliaacuterio que atraveacutes das poliacuteticas de habitaccedilatildeo subordina os interesses sociais transformando o direito agrave moradia em uma mercadoria

A princiacutepio o que podemos concluir eacute que na RMA os empreendimentos do PMCMV tecircm sido usados pelo capital financeiro imobiliaacuterio como estrateacutegia de reproduccedilatildeo do capital e acentuando a segregaccedilatildeo socioespacial e valorizaccedilatildeo fundiaacuteria resultando numa regiatildeo metropolitana cada vez mais excludente e desigual REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS ALVAREZ Isabel Pinto A moradia como negoacutecio e valorizaccedilatildeo do espaccedilo urbano metropolitano In A cidade como negoacutecio Ana Fani Alessadri Carlos Danilo Volochko Isabel Pinto (orgs) Satildeo Paulo Contexto 2015 CAMPOS Antocircnio Carlos A construccedilatildeo da cidade segregada O papel do Estado na urbanizaccedilatildeo de Aracaju In ARAUJO H M et al O ambiente urbano visotildees geograacuteficas de Aracaju Satildeo Cristoacutevatildeo Editora UFS 2006 p 223-245 FRANCcedilA Sarah Luacutecia Alves Estado e mercado na produccedilatildeo contemporacircnea de habitaccedilatildeo em Aracaju - SE

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Tese Doutorado em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal Fluminense 2016 FRANCcedilA Vera Luacutecia Alves Aracaju Estado amp Metropolizaccedilatildeo Satildeo Cristoacutevatildeo Editora UFS 1999 VOLOCHKO Danilo A produccedilatildeo do espaccedilo e as estrateacutegias reprodutivas do capital negoacutecios imobiliaacuterios e financeiros em Satildeo Paulo Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Geografia Humana) - Faculdade de Filosofia Letras e Ciecircncias Humanas Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2015

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AS FACES DO ESTADO E O MARKETING DA CIDADE PARA TODOS

Mariany Steffany de Carvalho Teles 24

Bruno Nascimento Neves Bastos25

Antonio Carlos Campos26

RESUMO

O presente artigo visa analisar a contradiccedilatildeo entre o marketing imobiliaacuterio e os slogans das gestotildees urbanas dos uacuteltimos quinze anos na cidade de Aracaju com vistas nos discursos das poliacuteticas habitacionais frente agrave realidade das construccedilotildees realizadas atraveacutes dos diferentes programas sociais A pesquisa de base qualitativa e do tipo exploratoacuteria envolve levantamentos de dados secundaacuterios atraveacutes dos diferentes planos de governos municipais bem como as anaacutelises dos arquivos dos websites e mateacuterias jornaliacutesticas de 2000 a 2015 para compreender em que medidas podemos comprovar a formulaccedilatildeo de propostas que poderiam ou natildeo garantir uma cidade com qualidade de vida ou mesmo a justiccedila espacial PALAVRAS-CHAVE Agentes Marketing imobiliaacuterio Produccedilatildeo do espaccedilo

24

Graduando DGE UFS- Bolsista PIBICVOL

marianysteffanyteleshotmailcom

25 Graduando em Geografia ndash Licenciatura e Bolsista Voluntaacuterio no

LABERURDGE brunobastos07hotmailcom

26

Prof DGE UFS ndash Doctor en Geografiacutea Planificacioacuten

Territorial y Gestioacuten Ambiental Universitat de Barcelona ndash ES

antonio68gmailcom

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INTRODUCcedilAtildeO

A partir da premissa de o Estado tem assumido o papel de protagonista no processo de produccedilatildeo do espaccedilo urbano de Aracaju buscamos discutir as accedilotildees do poder puacuteblico municipal no sentido da criaccedilatildeo das imagens da cidade e da sociedade urbana que levaram a induzir estrateacutegias de marketing urbano tanto por parte da administraccedilatildeo puacuteblica quanto da iniciativa privada como elemento fundamental de uma poliacutetica de atraccedilatildeo de investimentos empregabilidade e ampliaccedilatildeo da participaccedilatildeo popular pautada sob a ideia de sustentabilidade

Neste sentido analisamos as poliacuteticas de construccedilatildeo de habitaccedilotildees direcionadas a populaccedilatildeo de mais baixos extratos de renda contemplados nos programas de assentamento urbanos Moradia Cidadatilde (2000 - 2008) Programa de Arrendamento Residencial (2001 - 2009) e as iniciativas dos setores mercadoloacutegicos e social do Programa Minha Casa Minha Vida (2009 - 2017) realizadas no municiacutepio de Aracaju

O cerne da pesquisa ressalta o papel contraditoacuterio do Estado que atua das mais diferentes formas possiacuteveis atraveacutes das funccedilotildees de promoccedilatildeo e legitimaccedilatildeo da localizaccedilatildeo diferenciada na cidade Sua accedilatildeo se constitui de duas formas baacutesicas conforme assinala Mark Gottdiener que de um lado precisa intervir a fim de preservar as coerecircncias do espaccedilo social no que diz respeito a manutenccedilatildeo dos valores de uso e de troca no mundo da mercadoria e de outro se revela como patrocinador da dominaccedilatildeo diferenciaccedilatildeo de classes atraveacutes das intervenccedilotildees em favor da acumulaccedilatildeo do grande capital (GOTTDIENER 1997)

Neste contexto de acordo com Carlos (1992) a ideia de cidade e do urbano como espaccedilo de produccedilatildeo do modo de vida urbano com relaccedilotildees tensionadas pela contradiccedilatildeo entre a apropriaccedilatildeo do valor de uso e de troca que se daacute na sociedade

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capitalista produz o espaccedilo mediado pelos conflitos existentes produzidos durante os ciclos de valorizaccedilatildeo desigual do capital e de fraccedilotildees do espaccedilo urbano inseridos no mercado

Assim a paisagem urbana traz elementos que mostram a histoacuteria da cidade como bem patrimonial que fundamenta a produccedilatildeo do espaccedilo como por exemplo a arquitetura do centro de uma cidade e de sua periferia Haacute portanto a produccedilatildeo da diferenccedila entre paisagem e imagem urbana A Paisagem geograacutefica pode reproduzir uma histoacuteria ldquoeacute a analise que o homem pode ter sobre determinado lugar (lugar como identidade ou apropriaccedilatildeo)rdquo (CARLOS 1992 p 17) enquanto que a imagem eacute formada por uma anaacutelise de fora sem retirar o homem pois eacute ele quem produz e faz parte do espaccedilo ou seja a produccedilatildeo humana mediada pelo trabalho estaacute em constante mudanccedila pois o ser humano tem a necessidade de produzir habitar modificar viver

Neste aspecto conforme o ritmo acelerado da vida urbana o que mais eacute percebido e consumido satildeo imagens do que poderia ser ou existir Daiacute se justifica os slogans de cidade disso ou daquilo de acordo com o discurso de cada gestatildeo urbana (administraccedilatildeo puacuteblica) uma vez que cada governo local imprime suas cores formas e ideias para se distanciar do passado e criar novas perspectivas de observaccedilatildeo alienaccedilatildeo da sociedade

Observando tanto a dinacircmica da paisagem quanto as imagens da cidade na histoacuteria de Aracaju verificamos as mudanccedilas comeccedilando pelo centro histoacuterico em que a arquitetura eacute muito diferente do design urbano dos dias atuais que se reproduz nas novas periferias com centralidade que forjam novos centros e novas periferias Ou seja a paisagem urbana natildeo eacute estaacutetica estaacute sempre em transformaccedilatildeo o que para muitos autores se constitui no celeiro da produccedilatildeo novas imagens ou discursos de uma gama de planejadores

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administradores e o proacuteprio mercado imobiliaacuterio (LYNCH 1960)

Assim o uso do solo estaacute diretamente ligado agraves relaccedilotildees capitalistas pois para quem vive no espaccedilo urbano a cidade supre as condiccedilotildees de existecircncia do ser humano Mesmo compreendendo que a forma de ocupaccedilatildeo varia do ponto de vista do produtor (a cidade se materializa como distribuiccedilatildeo circulaccedilatildeo e troca de mercadoria tendo nela tambeacutem o loacutecus de produccedilatildeo onde produz a mais-valia ndash venda do produto e circulaccedilatildeo ndash onde a mais-valia eacute realizada) e do morador que vecirc a cidade como meio de consumo coletivo (onde se encontra escolas assistecircncia meacutedica rede de esgoto aacutegua potaacutevel transporte lazer comprar ndash coisas que natildeo se encontram no campo e que a sociedade capitalista faz com que o ser humano priorize essas condiccedilotildees de vida)

Nesta direccedilatildeo Eacuteliseacutee Reclus jaacute chamava atenccedilatildeo para ldquoa formaccedilatildeo de classes no meio social o que gera aspectos contraditoacuterios agrave ideia de progresso professada pelos Estados como o aumento da populaccedilatildeo o raacutepido processo da urbanizaccedilatildeo nas cidades e a crescente pobreza aleacutem da intensidade industrialrdquo (RECLUS 2010 apud BATISTA 2013 p 2)

Esse geoacutegrafo ao estudar a relaccedilatildeo espaccedilo-tempo traz a ideia do contraste na cidade entre o luxo e a miseacuteria sendo os dois como consequecircncias necessaacuterias para a desigualdade espacial que estava surgindo na sociedade capitalista separando em dois elementos o corpo social visiacutevel ateacute os dias atuais Para ldquoReclus o aumento da cidade eacute progresso jaacute a sua diminuiccedilatildeo regride a barbaacuterierdquo Reclus diz que o sucesso da sociedade capitalista se daacute sobre a injusticcedila e exploraccedilatildeo do ser humano (BATISTA 2013) Neste sentido

A forccedila de atraccedilatildeo do solo que tende a repartir normalmente os homens a distribuiacute-los ritmicamente sobre toda a terra acrescenta-se no mundo moderno uma forccedila completamente oposta em aparecircncia agravequela que agrupa centenas de milhares ou ateacute mesmo milhotildees de

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homens em certos pontos estreitos em torno de um mercado de um palaacutecio ou de um parlamento (RECLUS 2010 p 31)

Como a investigaccedilatildeo estaacute direcionada para compreender o papel do Estado a anaacutelise da contradiccedilatildeo entre o marketing imobiliaacuterio e os slogans das gestotildees urbanas dos uacuteltimos quinze anos na cidade de Aracaju buscamos inserir as poliacuteticas de construccedilatildeo de habitaccedilotildees direcionadas aos diversos extratos de renda realizados ou intermediados pela Prefeitura Municipal de Aracaju atraveacutes dos financiamentos de Programas habitacionais de interesse social

Salientamos que dentre estas poliacuteticas o anseio pela qualidade de vida numa sociedade capitalista estaacute cada vez mais presente na vida do brasileiro Seja como proposta de gestatildeo puacuteblica em nome da busca da sustentabilidade da cidade ou seja como apropriaccedilatildeo pelo capital imobiliaacuterio que objetiva criar diferenciais de renda e qualidade atraveacutes de novas formas de habitar com padrotildees mais elevados de elitizaccedilatildeo e ou segregaccedilatildeo

DA CIDADE REALIZADA AO MARKETING URBANO

Ao se discutir o City Marketing Fernanda Sanchez Garcia surge com o objetivo de discutir as loacutegicas do mercado e do poder puacuteblico em vender a imagem cidade natildeo para qualquer um mas sim para atrair grandes empresaacuterios e pessoas bem sucedidas Pois que a cidade moderna se torna cada vez mais excludente controladora dos comportamentos sociais valorizando as desigualdades da vida coletiva ldquoA cidade incentiva o individualismo com seus muros cercas eleacutetricas cacircmeras Haacute a falta de contato com quem mora ao lado pela falta de tempo pela carga horaacuteria de trabalhordquo (GARCIA 1997 p 23)

Relacionando os programas habitacionais no municiacutepio de Aracaju como os residenciais do PAR e MCMV a

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espetacularizaccedilatildeo da construccedilatildeo de unidades habitacionais para diferentes classes sociais em determinadas partes da cidade natildeo buscou vender apenas moradias com preccedilos mais baixos usando o FGTS como garantia mas sim a inserccedilatildeo de terras urbanas no circuito da mercadoria atraveacutes dos condomiacutenios exclusivos que satildeo criados nas proximidades da infraestrutura criadas pelo Estado

Assim o poder puacuteblico municipal assume a responsabilidade pelo crescimento fragmentado e disperso da cidade com a implantaccedilatildeo dos programas habitacionais que privilegia a dominaccedilatildeo do mercado imobiliaacuterio atraveacutes da promoccedilatildeo dos seus interesses na conduccedilatildeo da expansatildeo urbana

A localizaccedilatildeo dos conjuntos do PAR e condomiacutenios do MCMV aleacutem de induzir a direccedilatildeo da expansatildeo urbana tambeacutem eacute fruto de um processo de marketing imobiliaacuterio que especula obter maiores lucros seja com a venda de terrenos nas suas proximidades ou com a construccedilatildeo de novos empreendimentos que aproveita continuidade da malha urbana para lanccedilar objetos exclusivos no mercado (Figuras 1 e 2)

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Neste sentido a cidade real se afasta muito da cidade

ideal proposta pelos programas e poliacuteticas uma vez que esses

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empreendimentos satildeo construiacutedos em forma de condomiacutenios fechados em que se reproduzem as especificidades de uma sociedade segregada

Associando a loacutegica imobiliaacuteria e a identificaccedilatildeo das transformaccedilotildees recentes na dinacircmica urbana a capital sergipana tem se estruturado nos uacuteltimos anos atraveacutes da intensificaccedilatildeo das produccedilotildees imobiliaacuterias que em virtude de suas localizaccedilotildees entram no circuito da valorizaccedilatildeo mercantil dos desejos simboacutelicos dos consumidores alimentados por um conjunto de novas necessidades impulsionadas de acordo com o apelo utilizado pelas estrateacutegias do City Marketing das grandes empresas imobiliaacuterias e incorporadoras que cada vez mais se caracterizam como principais agentes de alteraccedilatildeo da imagem da cidade A CONSTRUCcedilAtildeO DO MARKETING DA CIDADE DE TODOS

O slogan ldquoUma cidade para todosrdquo aparece como uma ideia de que toda a populaccedilatildeo inclusive os trabalhadores tecircm o direito ao uso da cidade (Figura 3) Segundo Vieira ldquoa apreensatildeo do ldquotodosrdquo pode ser compreendida como o fato de agora com esta nova gestatildeo urbana os desfavorecidos e desassistidos socioeconomicamente poderatildeo fazer parte da cidade e este o vetor acionado na alusatildeo da ldquoimagemrdquo pautada no slogan construiacutedo pelo Poder Puacuteblico da cidade de Aracajurdquo (VIEIRA 2011 p 141)

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Figura 3 Slogan da Gestatildeo do Prefeito Marcelo Deda 2000 ndash 2004

Fonte Disponiacutevel em httpwwwinstitutomarcelodedacombrwp-contentuploads200111foto1422jpg

O que natildeo vemos explicitamente eacute que talvez o

objetivo do marketing de Aracaju possa ser uma maneira de segregar essa populaccedilatildeo desassistida pois por mais que duas classes sociais distintas morem proacuteximas natildeo quer dizer que elas iratildeo conviver juntas se relacionar uma com a outra nessa relaccedilatildeo entra o preconceito Relacionando com o objeto de pesquisa (os programas habitacionais) explicaria tal segregaccedilatildeo agrave escolha de terrenos mais baratos e mais distantes Essa tambeacutem poderia ser estrateacutegia do marketing que traz outros benefiacutecios natildeo soacute ao Estado (com o movimento da economia) mas tambeacutem com ao mercado imobiliaacuterio que se aproveita dessas aacutereas que antes tinham baixa valorizaccedilatildeo e que ningueacutem moraria nessa regiatildeo E que a partir da implantaccedilatildeo das accedilotildees de construccedilatildeo das unidades habitacionais o mercado imobiliaacuterio utiliza para construir tambeacutem utilizando peccedilas de marketing (Figuras 4) condomiacutenios mais caros como eacute o caso do bairro Jabotiana em Aracaju

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Figura 4 Marketing Imobiliaacuterio 2015

Com base no slogan ldquoGoverno de todosrdquo o Estado

tenta atraveacutes dessas poliacuteticas puacuteblicas trazer a ideia de integraccedilatildeo entre as classes passando uma visatildeo para as camadas de baixa renda que vecirc nessas accedilotildees uma oportunidade de alcanccedilar o sonho da casa proacutepria e de uma vida estruturada como afirma Vieira (2011) A inserccedilatildeo desta populaccedilatildeo residente na localidade tambeacutem contribuiria com a consolidaccedilatildeo da mudanccedila quando os indiviacuteduos que outrora

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eram excluiacutedos dos planejamentos e avanccedilos da cidade de Aracaju agora satildeo convocados e inseridos na evoluccedilatildeo da cidade pautada como positiva como eacute retratado no slogan da segunda gestatildeo administrativa do prefeito Edvaldo Nogueira (2008 - 2012) que preconizava a simbologia da Cidade da Qualidade de vida (Figura 5) Figura 5 Slogan das Gestotildees do Prefeito Edvaldo Nogueira 2006 2008 ndash 2008 2012

Fonte PMA ndashhttpwwwaracajusegovbr

A realidade eacute modificada e os antigos locais que

carregavam um estigma negativo da sua populaccedilatildeo se apresenta como processo de mudanccedila siacutembolo do novo Entretanto ao observarmos a concretude desses programas sociais notamos a ausecircncia de infraestrutura e equipamentos puacuteblicos no entorno dos conjuntos vez que poderiam dar condiccedilotildees muito melhores a populaccedilatildeo que reside nestas localidades Logo o marketing feito em cima dessas poliacuteticas puacuteblicas habitacionais assim como a proacutepria efetivaccedilatildeo das suas construccedilotildees disfarccedila os interesses por traacutes da construccedilatildeo dos conjuntos tanto do mercado imobiliaacuterio que vecirc nessa situaccedilatildeo uma forma de expandir seu mercado e valorizar novas aacutereas como consegue abarcar a populaccedilatildeo natildeo solvaacutevel que enxerga naquele determinado governo uma esperanccedila de vida com dignidade e mais oportunidades

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Baseado na subjetividade que os slogans dessas poliacuteticas urbanas carregam nas suas imagens o imaginaacuterio de inclusatildeo dos ldquotrabalhadoresrdquo contemplados pelos programas de habitaccedilatildeo demonstra a noccedilatildeo da contradiccedilatildeo da cidade para todos inclusive trazendo caracteriacutesticas peculiares na espacializaccedilatildeo de condomiacutenios fechados que apresentam o processo de auto segregaccedilatildeo jaacute iniciado pelas classes de alta renda em outras aacutereas cristalizadas da cidade Fato que se reproduz nesses ldquoconjuntosrdquo com o falso ideal de seguranccedila e exclusividade com altos muros construiacutedos no entorno dos preacutedios

Todo o processo de estruturaccedilatildeo e desenvolvimento dos programas habitacionais teve participaccedilatildeo direta de teacutecnicos pesquisadores universitaacuterios e intelectuais que tiveram a responsabilidade de trazer um referencial algo que carregasse identidade proacutepria para o projeto que demonstrava o novo modelo de governo dos partidos ditos de esquerda proacuteximos agrave populaccedilatildeo aleacutem da tentativa de modificar o estigma negativo que os bairros receptores dessas poliacuteticas urbanas

Como corrobora Vieira a dimensatildeo identitaacuteria do ldquoreferencialrdquo se constituiacutea pelo lugar dos intelectuais simpatizantes ao arcabouccedilo ideoloacutegico de esquerda e pelos proacuteprios militantes de esquerda especialmente do Partido dos Trabalhadores (PT) e do Partido Comunista do Brasil (PCdoB) diante de um contexto poliacutetico local anunciado como propiacutecio para uma verdadeira mudanccedila no modo de governar Desta maneira se fazia necessaacuterio representar o ldquopovordquo notadamente os menos favorecidos socioeconomicamente tratava-se dito de outro modo de representar os ldquotrabalhadoresrdquo (VIEIRA 2011 p 143 e 144)

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Nesse contexto de construccedilatildeo de uma identidade

proacutexima a populaccedilatildeo carente atraveacutes do marketing desses programas nota-se que aleacutem da realizaccedilatildeo do desejo da casa proacutepria a presenccedila das palavras ldquopara todosrdquo nos slogans transportam para o imaginaacuterio da sociedade aracajuana um crescimento urbano realmente equilibrado e com condiccedilotildees iguais de acesso disfarccedilando a ausecircncia de fatores preponderantes na cidade e que influenciam diretamente na qualidade de vida dessas pessoas Pensamento este jaacute interpretado por Boacutegus Pessoa (2008) Desta forma o discurso legal faz pensar que se trata de accedilotildees integradas seguindo a loacutegica de desenvolvimento urbano e visando essencialmente a qualidade de vida da populaccedilatildeo com a criaccedilatildeo de novas centralidades CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Neste sentido a moradia estaacute ligada em primeiro lugar ao Estado sendo ele tambeacutem o que planeja executa estrutura e potildee em praacutetica os programas habitacionais em parceria com os governos estadual Federal sendo esse o que sede a terra que seraacute usada para construir as unidades e a infraestrutura ao redor do conjunto habitacional

De acordo com a escala de influencia da poliacutetica Nacional principalmente no acircmbito do programa minha casa minha vida o bocircnus do FGTS serve de entrada para o financiamento sendo que as pessoas que estatildeo aptas a comprar a casa proacutepria satildeo somente agravequelas que trabalham (Figura 6) Neste negoacutecio de espetacularizaccedilatildeo da produccedilatildeo do espaccedilo urbano os agentes podem ser os bancos puacuteblicos ou privados que datildeo um valor determinado ao tipo de casa ou apartamento que seraacute vendido no mercado imobiliaacuterio e a quem seraacute destinado determinada a moradia

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Figura 6 Marketing e Estilo de Vida 2018

Fonte Jornal Cinform 22032017 Neste sentido o marketing se insere em todo o

processo com propagandas direcionadas a determinados grupos sociais e de renda especiacuteficas com frases de efeito para atrair compradores como ldquoMais lazer pra ser Felizrdquo ldquoMore no que eacute seurdquo ou ldquoSaia do aluguelrdquo Desta forma o mercado imobiliaacuterio se aproveita da infraestrutura e da poliacutetica de creacuteditos governamentais para vender seus produtos Fato que evidencia a face do Estado que utiliza o poder que a moradia representa para determinadas classes sociais transformando o cidadatildeo comum em usuaacuterio que se responsabilizaraacute pela retroalimentaccedilatildeo do ciclo do capital pois proporcionaraacute o lucro dos proprietaacuterios dos meios de produccedilatildeo tornando-se um devedor do Estado ou seja mutuaacuterio da casa proacutepria REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

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BATISTA Rosana de Oliveira Santos As afinidades seletivas do pensamento Reclusiano na trilha da confluecircncia das ideias de Rousseau Tese de Doutorado ndash Satildeo Cristoacutevatildeo PPGEO Universidade Federal de Sergipe 2013 BOacuteGUS L M M PESSOA L C R Operaccedilotildees urbanas - nova forma de incorporaccedilatildeo imobiliaacuteria O caso das operaccedilotildees urbanas consorciadas Faria Lima e Aacutegua Espraiada In Cadernos Metroacutepole Satildeo Paulo Educ nordm 20 2ordm Sem 2008 p 125-139 BRASIL Cartilha Programas e accedilotildees Habitaccedilatildeo Programas Urbanos Saneamento ambiental Transporte e mobilidade Capacitaccedilatildeo Ministeacuterio Puacuteblico das cidades CAIXA ECONOMICA FEDERAL Cartilha Minha Casa Minh Vida Disponiacutevel em httpwwwcaixagovbr Acessado em 04 de jul 2017 CALDEIRA Teresa Pires Cidade de Muros crime segregaccedilatildeo e cidadania em Satildeo Paulo Satildeo Paulo 34 ed EDUSP 2000 CAMPOS A C El desarrollo urbano de Aracaju Brasil (1855-2005) un juego de muacuteltiples agentes Tese de Doctorado ndash Universitat de Barcelona 2017 CARDOSO Adauto Lucio (Org) O programa Minha Casa Minha Vida e seus efeitos territoriais Rio de Janeiro Letra Capital 2013 CARLOS A F A A cidade 1deg ed Satildeo Paulo Geografia Contexto 1992

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CEF Caixa Econocircmica Federal Programas habitacionais governamentais Disponiacutevel em httpwww1caixagovbrgovgov_socialmunicipalprograma_des_urbanoprogramas_habitacaoparindexasp acessado em 14012018 CORREcircA Roberto Lobato O espaccedilo urbano Satildeo Paulo Aacutetica 1991 CINFORM Jornal semanal Caderno de Imoacuteveis nordm 24355 23032017 FRANCcedilA Sarah Luacutecia Alves A produccedilatildeo do espaccedilo na Zona de Expansatildeo Urbana de Aracaju dispersatildeo urbana condomiacutenios fechados e poliacuteticas puacuteblicas Niteroacutei Dissertaccedilatildeo de Mestrado Universidade Federal Fluminense 2011 GARCIA FE Saacutenchez Cidade Espetaacuteculo poliacutetica planejamento e City Marketing 1deg ed Curitiba Editora Palavra 1997 GOTTDINIER Mark A produccedilatildeo social do espaccedilo urbano Satildeo Paulo Edusp 1997 HARVEY David A Justiccedila Social e a Cidade - traduccedilatildeo Armando Correcirca da Silva Satildeo Paulo Editora Hucitec 1980 LEFEBVRE H El derecho a la ciudad Barcelona Peniacutensula 4ordf edicioacuten 1978 RECLUS J J E Renovaccedilatildeo de uma cidadeReparticcedilatildeo dos homens Satildeo Paulo Expressatildeo e arte editora 2010

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RUFINO Maria Beatriz Cruz AMORE Caio Santo SHIMBO Luacutecia Zanin Minha casa e a cidade Avaliaccedilatildeo do programa minha casa minha vida em seis estados brasileiros 1 Ed Rio de janeiro Letra Capital 2015 VIEIRA Ewerthon Clauber de Jesus Poliacuteticas urbanas e imagens da cidade da ldquoTerra Durardquo ao bairro de ldquoSanta Mariardquo em Aracaju - SE Satildeo Cristoacutevatildeo Dissertaccedilatildeo de Mestrado UFS 2011

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EIXO 3 - NATUREZA E SOCIEDADE

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ANAacuteLISE MORFOMEacuteTRICA E SEUS REBATIMENTOS SOCIOAMBIENTAIS NA

MICRO BACIA DO RIO DAS PEDRAS

Joyce Almeida Santossup1

Universidade federal de Sergipe-Campus Professor Alberto Carvalho-Itabaiana Sergipe Graduanda-Geografia

joycealmeida19hotmailcom

Daniel Almeida da Silvasup2

Professor Departamento de Geografia Itabaiana Universidade Federal de Sergipe-Campus professor Alberto Carvalho

danielalmeidaufsgmailcom

RESUMO

O presente estudo teve por objetivo caracterizar a morfometria da micro bacia do Rio das Pedras A anaacutelise morfomeacutetrica eacute um conjunto de vaacuterios fatores no qual a presente pesquisa vai observar a drenagem aacuterea e periacutemetro hierarquia comprimento do rio principal e forma da bacia Para se chegar aos resultados Utilizou-se de procedimentos teoacutericos teacutecnicos e praacuteticos Aleacutem de leituras fichamentos busca de dados trabalhos de campo Os dados foram processados e analisados por meio do software ArcGis 101 com licenccedila acadecircmica para estudante De acordo com os resultados a bacia eacute de 4ordf ordem e possui aacuterea de 64283 kmsup2 e periacutemetro de 285 km Tem um padratildeo de drenagem dendriacutetico e o rio principal com 14 km de extensatildeo O valor do iacutendice de circularidade (081) atribui agrave bacia forma arredondada com maior risco de ocorrecircncia de enchentes e inundaccedilotildees PALAVRAS-CHAVE Morfometria Anaacutelise Fluvial e Estudos Morfomeacutetricos

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INTRODUCcedilAtildeO

Cabe traccedilarmos um paralelo sobre os estudos

morfomeacutetricos e sua importacircncia para a anaacutelise fluvial A partir destes caracteriza-se a suscetibilidade da bacia (sub micro mini) estudada a vulnerabilidade ambiental que pode promover o processo de degradaccedilatildeo dos solos da vegetaccedilatildeo assoreamentos e entre outros

Segundo Christofoletti 1980 a anaacutelise morfomeacutetrica de bacias hidrograacuteficas eacute a anaacutelise quantitativa da configuraccedilatildeo dos elementos do modelado superficial que geram sua expressatildeo e configuraccedilatildeo espacial Este sendo composto pelo conjunto das vertentes e canais que compotildeem o relevo caracterizado por valores correspondem aos atributos medidos das bacias hidrograacuteficas

Segundo CHRISTOFOLETTI 1980 os resultados aferidos destas variaacuteveis satildeo considerados importantes insumos para o auxiacutelio na verificaccedilatildeo da produccedilatildeo de sedimentos compreensatildeo do comportamento hidroloacutegico auxiacutelio nas poliacuteticas de gestatildeo ambiental aleacutem de revelar indicadores fiacutesicos especiacuteficos para as bacias analisadas

A micro bacia do Rio das Pedras estaacute localizada na Microrregiatildeo do Agreste de Itabaiana especificamente em um dos seus Povoado que leva o mesmo nome do rio este rio percorrer uma aacuterea de 64283 Kmsup2 sua drenagem eacute perene pois seu curso fluvial possui agua o ano todo (Figura 1)

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Figura 1 Localizaccedilatildeo da Micro Bacia Rio das Pedras

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DESENVOLVIMENTO

Os padrotildees de drenagem referem-se ao arranjo espacial

dos cursos fluviais que podem ser influenciados em sua atividade morfogeneacutetica pela natureza e disposiccedilatildeo das camadas rochosas pela resistecircncia litoloacutegica variaacutevel pelas diferenccedilas de declividade e pela evoluccedilatildeo geomorfoloacutegica da regiatildeo (CHRISTOFOLETTI1980) que iratildeo desenhar o tipo de drenagem da micro-bacia a qual o rio estaacute inserido nos padrotildees de drenagem cabem destacar dendriacutetica treliccedila retangular paralela radial e anelar jaacute no caso do rio das Pedras sua micro bacia se apresenta como dendriacutetica que possui por caracteriacutesticas a semelhanccedila a uma aacutervore cujo o rio principal iraacute ser o tronco para onde os seus afluentes correm Ver (Figura 2) IMAGEM 02 Rio das Pedras

Fonte Trabalho de Campo03jan2018

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Aacuterea e Periacutemetro A aacuterea da bacia tambeacutem designada como aacuterea de

drenagem ou aacuterea de contribuiccedilatildeo corresponde a toda a aacuterea drenada pelo conjunto do sistema fluvial em projeccedilatildeo horizontal inclusa entre seus divisores topograacuteficos ( MACHADO e TORRE 2012) e podem variar de tamanho conforme o tamanho da bacia jaacute no caso de uma micro bacia corresponde ao mesmo sentido soacute que em uma escala menor na micro bacia que foi estudada possui uma aacuterea de 64 283 kmsup2 e o periacutemetro que eacute a linha que a contorna neste caso chega 285 km

Hierarquia Fluvial

A hierarquia fluvial significa dizer que de acordo com a ordem dos canais sendo eles os responsaacuteveis pelo grau de ramificaccedilatildeo ou bifurcaccedilatildeo seraacute o processo de classificaccedilatildeo de um determinado curso de aacutegua (MACHADO e TORRE 2012) nesta micro bacia a sua hierarquia chega a 4ordf ordem que significa dizer que surgem da confluecircncia de dois rios de 3ordf ordem podendo ser tributaacuterios de ordens anteriores Comprimento do rio principal

O comprimento do rio principal compreende como a distacircncia que se estende desde a sua foz ateacute a nascente no caso do rio das Pedras tem 14 km de extensatildeo Forma da Bacia arredondada (081)

De acordo com os meacutetodos utilizados o iacutendice de circularidade corresponde a 081 sendo assim essa micro bacia corresponde a forma arredondada e significa dizer que com as chuvas ela tem maior suscetibilidade a cheias e inundaccedilotildees

A metodologia utilizada nesse estudo foi baseada em procedimentos teoacutericos teacutecnicos e praacuteticos Foram feitas

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leituras fichamentos busca de dados trabalhos de campo Aplicou-se o meacutetodo fisiologia da paisagem de CASSETI 2005 onde o mesmo enfatiza a accedilatildeo antroacutepica como modificadora do meio tem por objetivo compreender a accedilatildeo dos processos morfodinacircmicos atuais inserindo-se na anaacutelise o homem como sujeito modificador

Tambeacutem foram feitos os tratamentos de dados em laboratoacuterio como mapeamento da aacuterea com o software ArcGis 101 com licenccedila acadecircmica para estudante As caracteriacutesticas morfomeacutetricas foram verificadas com base em estudos de grandes autores padrotildees de drenagem CHRISTOFOLETTI 1980 a hierarquia fluvial pelo sistema de STRAHLER 1952 e o iacutendice de circularidade segundo Granell-Peacuterez 2001

A presenccedila humana normalmente tem respondido pela aceleraccedilatildeo dos processos morfogeneacuteticos como as formaccedilotildees denominadas de tectogecircnicas abreviando a atividade evolutiva do modelado Mesmo a accedilatildeo indireta do homem ao eliminar a interface representada pela cobertura vegetal altera de forma substancial as relaccedilotildees entre as forccedilas de accedilatildeo (processos morfogeneacuteticos ou morfodinacircmicos) e de reaccedilatildeo da formaccedilatildeo superficial gerando desequiliacutebrios morfoloacutegicos ou impactos geoambientais como os movimentos de massa boccedilorocamento assoreamento dentre outros chegando a resultados catastroacuteficos a exemplo dos deslizamentos em aacutereas topograficamente movimentadas (CASSETI 2005p-5) Ver (Figura 3)

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Figura 3 Mapa de Geomorfologia da Micro Bacia Rio das Pedras

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Essa regiatildeo possui uma faixa de transiccedilatildeo climaacutetica que

varia do clima sub-uacutemido a semiaacuterido Uma caracteriacutestica marcante do agreste central e a presenccedila de relevos cristalinos residuais A respeito das unidades morfoesculturais da aacuterea de estudo podemos destacar a Planiacutecie Fluvial Relevo Dissecados Superfiacutecie Pediplanada Superfiacutecie Tabular Erosiva Terraccedilo Marinho

A Planiacutecie Fluvial esta constituiacuteda basicamente por uma faixa do vale fluvial composta por sedimentos aluviais que bordeja os cursos de aacutegua e periodicamente eacute inundada pelas aacuteguas de transbordamento Relevos dissecados o relevo desta unidade possui altitudes que varia de 300 a 700 metros antigo Domo batoacutelito que foi dissecado pelo intemperismo fiacutesico e que hoje eacute representado pelas serras (da Miaba com 630 metros terceiro ponto culminante e ainda pelas serras Comprida Cajueiro Capunga) Superfiacutecie Pediplanada eacute um dos processos geomorfoloacutegicos decorrente de climas aacuteridos e semiaacuteridos regressatildeo de aacutereas mais elevadas para aacutereas mais baixas Superfiacutecie Tabular Erosiva

constitui o testemunho de antiga superfiacutecie de cimeira preservada por uma face litoloacutegica mais resistente (arenito grosseiro e conglomeraacutetico) Apresenta altitudes entre 200 e 280m ocupando aacuterea de 386 kmsup2 (46) da sub-bacia com evidente caimento para SE (FONTES p- 42006)

Jaacute o Terraccedilos Marinhos Trata-se das variaccedilotildees do niacutevel

do mar associadas as mudanccedilas paleoclimaacuteticas do litoral brasileiro durante o Quaternaacuterio (BITTECOURT et al 1982)

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Em ralaccedilatildeo aos tipos de solos presente nesta micro regiatildeo do Agreste Sergipano podemos destacar Ver (Figura 4)

Figura 4 Mapa de Solos da Micro Bacia Rio das Pedras

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Tipos de solos presente na aacuterea estudada Solo aluvionar geralmente constituiacutedo de argila silte areia Podzoacutelico Argissolo vermelho- amarelo Aleacutem de apresentar uma superfiacutecie inclinada composta por sedimentos de rochas e minerais formaccedilotildees argilosas composto de argila siacutelica e gratildeo de quartzo Exemplo Neossolo litoacutelicos de textura meacutedia aos depoacutesitos subjacentes Exemplo seriam os solos denominados de regossolos e areias quartzosas (CEacuteSAR K SILVIA R APRIacuteGIO C 2016)

Sendo assim no que diz respeito agraves caracteriacutesticas

gerais dos diversos tipos de solos presente nessa regiatildeo satildeo excessivamente drenados e possui fatores restritivos para sua acumulaccedilatildeo de aacutegua Devido as essas condiccedilotildees naturais o homem vem se adaptando e estudando os fatores geomorfoloacutegicos e pedoloacutegicos a fim de realizar um melhor aproveitamento dos recursos naturais presentes De acordo com

O estudo da Geomorfologia passa a ter um importante papel juntamente com a Pedologia (solo) porque todas ou quase todas as atividades que os seres humanos desenvolvem na superfiacutecie terrestre estatildeo sobre alguma forma de relevo e algum tipo de solo (ARAUacuteJO 2010)

Compreende-se assim que o relevo dessa micro regiatildeo

do agreste sergipano eacute marcada por baixas altitudes no sentido leste-oeste situando-se as maiores elevaccedilotildees na porccedilatildeo central Ver (Figura 5)

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Figura 5 Mapa de Geologia da Micro Bacia Rio das Pedras

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Considerando suas variaccedilotildees reconhecem-se que nessa aacuterea possui unidades predominantes e distintas por exemplo divisores topograacuteficos e diversos processos morfodinacircmicos CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

O presente trabalho teve por finalidade a intenccedilatildeo de

analisar os aspectos morfomeacutetricos e fisiograacuteficos da micro bacia do Rio das Pedras e fazer mapeamento de dados sobre essa aacuterea Sendo assim os resultados obtidos com esta anaacutelise foram de que a micro bacia eacute caracterizada como perene cujo o tipo de drenagem eacute dendriacutetica com uma hierarquia fluvial de 4ordf ordem onde o rio principal tem 14 km de extensatildeo sendo estaacute micro-bacia com forma arredondada com seu iacutendice de circularidade chegando a 081 e seu periacutemetro a 285 km Devido as anaacutelises feitas foi perceptiacutevel que esse rio estaacute sendo assoreado e tambeacutem a presenccedila de mata ciliar eacute muito restrita a alguns trechos desse curso de aacutegua aleacutem da presenccedila de alguns sacos de areia que acabam servindo como barricada para acumular aacutegua e a presenccedila de lixo em suas margens

AGRADECIMENTOS

Agradecemos a execuccedilatildeo deste trabalho agrave Universidade Federal de Sergipe pelo apoio logiacutestico para os trabalhos de campo e de laboratoacuterios

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REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS ARAUacuteJO Heacutelio Maacuterio de O estuaacuterio e sua dinacircmica na bacia inferior do rio Sergipe consideraccedilotildees paleogeograacuteficas e evoluccedilatildeo geomorfoloacutegica Disponiacutevel em httpwwwcesadufscombrORBIpublicuploadCatalago14333816012013Geografia_de_Sergipe_Aula_5pdf BITTENCOURT A C S P MARTIN L DOMINGUEZ J M L FERREIRAY A Dados preliminares sobre a evoluccedilatildeo paleograacutefica do rio Satildeo Francisco durante o Quaternaacuterio influecircncia das variaccedilotildees do niacutevel do mar In Simpoacutesio do Quaternaacuterio no Brasil (4 1982 Rio de Janeiro) AnaisRio de JaneiroABEQUA 1982 p 49-68 DI BIASI M Cartas de declividade de vertentes confecccedilatildeo e utilizaccedilatildeo GeomorfologiaSatildeo Paulo n 21 p 8-13 1970 CASSETI Valter Geomorfologia [ SI] [2005] Disponiacutevel em httpwwwfunapeorgbrgeomorfologia CEacuteSAR DE OLIVEIRA TAVARES K SILVIA SANTOS R RODRIGUES DE LIRA D APRIacuteGIO DOS SANTOS C Mapeamento Geomorfoloacutegico Preliminar da Aacuterea do Agreste Sergipano a partir de aplicaccedilotildees Geotecnoloacutegicas XI SINAGEO 15 a 21 de setembro de 2016 CRISTOFOLETTI Antocircnio Geomorfologia 2ordf ed Satildeo Paulo Edgar Blucher 1980 FONTES A L SANTOS M A LIMA E S CORREIA A L Estudo Geomorfoloacutegico do Sistema Hidrograacutefico betumeaterro uma contribuiccedilatildeo ao ordenamento do

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baixo Satildeo Francisco Sergipano IV Simpoacutesio nacional de Geomorfologia Regional Conference on Geomorphology p 1-10 Goiacircnia setembro de 2006 MACHADO Pedro Joseacute de Oliveira TORRES Filipe Tamiozzo Pereira Introduccedilatildeo a hidrogeografia Textos baacutesicos de geografia Satildeo Paulo Cengage Learning 2012

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A DINAcircMICA SOCIOECONOcircMICA DO PERIacuteMETRO IRRIGADO DA RIBEIRASE UMA ANAacuteLISE DOS

EXTREMOS CLIMAacuteTICOS

Joseacute Eduardo Santos de Britosup1 (Universidade Federal de Sergipe) (Graduando)

E-mail eduardovinkhotmailcom

Lucas Melo Costasup2 (Universidade Federal de Sergipe) (Graduando)

E mail lucasmelo_33hotmailcom

Daniel Almeida Da Silvasup3 (Universidade Federal de Sergipe) (Prof Adjunto DGEI)

E mail danielalmeidaufsgmailcom

RESUMO

O presente trabalho discorre sobre a relaccedilatildeo entre os climaacuteticos extremos e os recursos hiacutedricos tendo como estudo de caso o Periacutemetro irrigado do povoado Ribeira em Itabaiana- SE outorgada pela COHIDRO As questotildees climatoloacutegicas relacionadas as poliacuteticas puacuteblicas do local apresentam-se de formas perioacutedicas constituiacutedas por escassez hiacutedrica ou periacuteodos excessivos de pluviosidade O estudo busca esclarecer alguns dos fatores climaacuteticos globais como locais dos quais interferem na produccedilatildeo agriacutecola da aacuterea repercutindo assim renda do agricultor familiar juntamente como o capital eacute um agente produtor e reprodutor do espaccedilo geograacutefico Analisar as diferentes formas de mitigaccedilatildeo dos extremos climaacuteticos torna-se pertinente pois o estudo climatoloacutegico cada vez mais teacutecnico-cientifico- informacional que de acordo com Milton Santos torna-se uma agricultura de precisatildeo poreacutem tais mecanismos natildeo satildeo encontrados nas poliacuteticas puacuteblicas e sim na agroinduacutestria portanto o trabalho propotildee esclarecer que os

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sujeitos envolvidos natildeo se preocupam do acompanhamento climaacutetico que acontecem de forma ainda insatisfatoacuteria contraditoacuteria e desigual PALAVRAS-CHAVE Produccedilatildeo Agriacutecola Extremos Climaacuteticos Poliacuteticas Puacuteblicas INTRODUCcedilAtildeO

O presente artigo busca elucidar discutir sobre os extremos climaacuteticos influenciam a produccedilatildeo da paisagem relevo e tambeacutem intervir na reproduccedilatildeo do espaccedilo Na obra da Blank 2015 ele discute que alguns especialistas defendem que as mudanccedilas climaacuteticas estatildeo acima da accedilatildeo antroacutepica que a terra tem ciclos de periacuteodos de glaciaccedilatildeo e periacuteodo que consiste em num periacuteodo intermediaacuterio e eacute nesse intervalo de tempo que a humanidade encontra-se Jaacute alguns defendem que accedilatildeo antroacutepica mesmo natildeo sendo a causa de tais mudanccedilas climaacuteticas eacute um fator crucial ao menos para amplificaccedilatildeo ou aceleraccedilatildeo dos distuacuterbios climaacuteticos

O Estado de Sergipe assim como o Brasil tem o predomiacutenio de grandes latifuacutendios e o cultivo de monocultura da cana-de-accediluacutecar e por ser um dos primeiros Estados a serem invadidos foram expostos a impactos antroacutepicos como derrubada da Mata Atlacircntica degradaccedilatildeo hiacutedrica entre outros Aleacutem dos impactos antroacutepicos Sergipe sofre influecircncias dos ventos aliacutesios que favorece para disponibilizaccedilatildeo de umidade para a aacuterea continental ocasionando assim chuvas em determinadas localidades que ao adentrar o continente tem seu indicie pluviomeacutetrico eacute reduzido estando uma parte do estado dentro do poliacutegono da seca como esclarecido em

No estado de Sergipe atuam quatro sistemas meteoroloacutegicos os Aliacutesios de sudeste a Zona de Convergecircncia

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Intertropical o Sistema Equatorial Amazocircnico eou Continental e a Frente Polar Atlacircntica Estes sistemas quando interagem com outros locais fazem predominar no Estado um tipo climaacutetico quente com variaccedilotildees A faixa litoracircnea do Estado corresponde agrave aacuterea em que a precipitaccedilatildeo eacute mais bem distribuiacuteda durante o ano registrando-se os maiores totais pluviomeacutetricos Ao contraacuterio da extremidade noroeste em que predomina o clima semi-aacuterido onde os periacuteodos de estiagem geralmente se estendem por dois a trecircs anos sem haver uma regularidade fixa em termos de tempo atmosfeacuterico (ARAUacuteJO 2007 p28)

Para adentrar na discussatildeo sobre como os extremos

climaacuteticos eacute influente para sociedade humana precisa-se entender quais satildeo alguns fatores que satildeo cruciais para as variaccedilotildees do tempo e do clima que apresentam-se na escala Global Regional Local Existes vaacuterios fatores que relacionam-se entre si para resultar no dinamismo climaacutetico podemos aqui citar alguns como Distacircncia da terra para sol (perieacutelio afeacutelio) movimento da terra de translaccedilatildeo e rotaccedilatildeo que na medida que a terra movimenta-se no seu proacuteprio eixo faz com que a atmosfera (forccedila de fricccedilatildeo Forccedila Inercial de Corioacutelis) esteja tambeacutem em movimento originando assim os ventos ou seja a relaccedilatildeo de vaacuterios fatores satildeo que proporciona o clima na litosfera

A ecircnfase na Circulaccedilatildeo Atmosfeacuterica e os sistemas produtores de tempo que segundo Ayoade 1998 satildeo sistemas de circulaccedilatildeo que proporciona padrotildees e caracteriacutesticas ao tempo prova as Massas de ar e frentes depressotildees fronteais depressotildees natildeo-frontais assim variaccedilotildees diurnas e temporais

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que satildeo denominadas de perturbaccedilotildees atmosfeacutericas ou metodoloacutegicas Dentro das perturbaccedilotildees ele define como os mais importantes os ciclones e os anticiclones que variam em por determinadas latitudes

O municiacutepio de Itabaiana apresenta o comeacutercio e a agricultura como setores principais para economia local o municiacutepio eacute beneficiado por dois periacutemetros Irrigados sob cuidados da COHIDRO (Companhia de Desenvolvimento de Recursos Hiacutedricos de Sergipe) O Jacarecica I tem como cultivos principais que fica na ao leste da sede municipal tem como cultivos como batata-doce alface milho verde quiabo coentro cebolinha tomate pepino feijatildeo vagem maxixe pimenta e amendoim e o Periacutemetro Irrigado da Ribeira sudeste do municiacutepio seus cultivos satildeo a batata-doce coentro cebolinha pimentatildeo tomate couve amendoim berinjela alface feijatildeo vagem quiabo tais produtos com um valor anual de produccedilatildeo estimado em 32 milhotildees de reais(COHIDRO 2017)

Nota-se assim que o municiacutepio tem uma importante produccedilatildeo de hortifrutigranjeiros para economia local e estadual pois aleacutem da produccedilatildeo a comercializaccedilatildeo dos produtos eacute algo marcante no espaccedilo geograacutefico do municiacutepio visto em

O municiacutepio de Itabaiana eacute o maior mercado atacadista de hortifrutigranjeiros de Sergipe O espaccedilo ocupado por esses atores com seus caminhotildees e mercadorias estaacute circunscrito a todo o centro comercial da cidade e ruas adjacentes Deste modo aleacutem dos espaccedilos puacuteblicos com especificaccedilatildeo para o comeacutercio a exemplo dos largos comerciais esse segmento ocupa aproximadamente 10kmsup2 de aacuterea pelas

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ruas Capitatildeo Mendes Antocircnio Dutra General Maynard Sete de Setembro Gumercindo Doacuterea Batista Itajaiacute e Satildeo Paulo travessas Manuel Vieira Joseacute C Melo e Francisco Porto e Avenida Otoniel Doacuterea Nos dias de maior movimento desse segmento eacute possiacutevel se notar ainda uma ocupaccedilatildeo das Praccedilas Fausto Cardoso e Joatildeo Pessoa (CARVALHO 2012 p 3)

Portanto faz-se necessaacuterio para uma elucidaccedilatildeo em

relaccedilatildeo aos desafios enfrentados pelos sujeitos propotildee entatildeo adiante um debate em que apresenta-se as realidades cotidiana da populaccedilatildeo da aacuterea assim como os resultados parciais aqui expostos DESENVOLVIMENTO

Alguns especialistas defendem que as mudanccedilas climaacuteticas estatildeo acima da accedilatildeo antroacutepica que a terra tem ciclos de periacuteodos de glaciaccedilatildeo e periacuteodo que consiste em num periacuteodo intermediaacuterio e eacute nesse intervalo de tempo que a humanidade encontra-se Jaacute alguns defendem que accedilatildeo antroacutepica mesmo natildeo sendo a causa de tais mudanccedilas climaacuteticas eacute um fator crucial ao menos para amplificaccedilatildeo ou aceleraccedilatildeo dos distuacuterbios climaacuteticos proposta pela III conferecircncia regional sobre mudanccedilas globais Ameacuterica do Sul explanada por Marengo 2007 que faz algumas observaccedilotildees pertinentes em

Evidecircncias adicionais tecircm mostrado a influecircncia do ser humano sobre a temperatura da atmosfera livre medida com radiossondas e sateacutelites O aquecimento observado na troposfera e

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estratosfera eacute muito provavelmente devido a influecircncia de forccedilantes naturais A forccedila humana resultou na expansatildeo teacutermica do aquecimento nos oceano e nas geleiras tem contribuiacutedo muito provavelmente para o aumento do niacutevel do mar durante a segunda metade do seacuteculo XXI Eacute provaacutevel que exista uma contribuiccedilatildeo humana substancial para o aumento das temperaturas de todos os continentes exceto a Antaacutertica desde os meados do Seacuteculo XX Eacute altamente provaacutevel que outras forccedilantes aleacutem da antroacutepica tem contribuiacutedo para o aumento de ciclones tropicais mais

intensos (p84)

As mudanccedilas climaacuteticas cada vez mais satildeo percebidas pela sociedade que paulatinamente eacute acrescida em sua quantidade consiste entatildeo numa maior ocupaccedilatildeo do globo aumentando a sensibilidade dos feitos recebidos pois o homem a princiacutepio a natureza era condicionante para produccedilatildeo do espaccedilo e posteriormente o homem foi cada vez se apropriando e aos pouco transformando-a assim antes lugares inoacutespitos para o homem passaram a ser habitaacuteveis e como a relaccedilatildeo entre homem natureza foram apresenta mudanccedilas ao longo do tempo em sua concepccedilatildeo esclarecida em

Especificamente para o conhecimento geograacutefico o entendimento do que eacute Natureza eacute de primordial importacircncia uma vez que ela constitui-se em um dos conceitos fundantes de nossa ciecircncia Ao compreender como as concepccedilotildees de natureza influenciam o pensar o agir sobre a natureza e sobre a proacutepria

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construccedilatildeo do conhecimento eacute possiacutevel inferir como as paisagens e os espaccedilos satildeo organizados (re)estruturados (re)interpretados e (re)construiacutedos Dentro deste contexto considera-se Natureza como um conceito chave dentro de cada cultura (sociedade) sendo possiacutevel atraveacutes dele melhor compreender as relaccedilotildees sociais e soacutecio-naturais que as caracterizam (SPRINGER 2010)

Para adentrar na discussatildeo sobre o tatildeo quanto os

extremos climaacuteticos eacute influente para sociedade humana precisa-se entender quais satildeo alguns fatores que satildeo cruciais para as variaccedilotildees do tempo e do clima que apresentam-se na escala Global Regional Local Existe vaacuterios fatores que relacionam-se entre si para resultar no dinamismo climaacutetico podemos aqui citar alguns como Distacircncia da terra para sol (perieacutelio afeacutelio) movimento da terra de translaccedilatildeo e rotaccedilatildeo que na medida que a terra movimenta-se no seu proacuteprio eixo faz com que a atmosfera (forccedila de fricccedilatildeo Forccedila Inercial de Corioacutelis) esteja tambeacutem em movimento originando assim os ventos ou seja a relaccedilatildeo de n fatores satildeo que proporciona o clima na litosfera

O Artigo daacute ecircnfase na Circulaccedilatildeo Atmosfeacuterica e os sistemas produtores de tempo que segundo Ayoade 1998 satildeo sistemas de circulaccedilatildeo que proporciona padrotildees e caracteriacutesticas ao tempo prova as Massas de ar e frentes depressotildees fronteais depressotildees natildeo-frontais assim variaccedilotildees diurnas e temporais que satildeo denominadas de perturbaccedilotildees atmosfeacutericas ou metodoloacutegicas Dentro das perturbaccedilotildees ele define como os mais importantes os ciclones e os anticiclones que variam em por determinadas latitudes

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O autor tambeacutem esclarece a zona de convergecircncia intertropical que tem caracteriacutestica permanente dos troacutepicos composta por uma faixa de nuvem que se estabelece numa faixa que divisoacuteria entre o hemisfeacuterio norte e o sul que movimenta-se de acordo com a incidecircncia solar na terra esse mecanismo eacute fundamental para entendimento do clima da regiatildeo a ser estudada pois esta estaacute inserida na ldquoregiatildeo nordeste brasileirordquo (localizaccedilatildeo exata) proacuteximo a linha do Equador que com alguns outros mecanismos produzem o clima do Brasil

Faz-se necessaacuterio esclarecer um fenocircmeno de escala local denominado como precipitaccedilatildeo cientificamente e chuva pelo senso comum como esclarece Ayode 1998 como qualquer deposiccedilatildeo em forma liquida ou solida derivada da atmosfera Suas formas variadas proporcionam assim especificas tipos de mediccedilatildeo para determinado estado da aacutegua Esclarecido o que eacute precipitaccedilatildeo eacute necessaacuterio tambeacutem uma breve discussatildeo o que eacute seca pois cientificamente e conceituada como ldquosecardquo quando acontece em um determinado periacuteodo um decreacutescimo no iacutendice de pluviosidade tida como ldquonormalrdquo da aacuterea ou seja quando a distribuiccedilatildeo da quantidade de precipitaccedilatildeo natildeo atinge a meacutedia anual prevista para aquela aacuterea tais secas podem ser consideradas sazonais (estacionaacuterias) ou secas perioacutedicas(moacuteveis) Vaacuterios pesquisadores propotildeem discussotildees sobre os niacuteveis e enumeram ou sistematizam por diferentes caracteriacutesticas e especificaccedilotildees como magnitude periacuteodo de duraccedilatildeo e outros fatores proposto por Engle 2016 Ayoade 1998 Com isso Campos e Studart 2008 que defende e define trecircs tipos de seca a climatoloacutegica edaacutefica hidroloacutegica

A seca climatoloacutegica refere-se agrave ocorrecircncia em um dado espaccedilo e tempo de uma deficiecircncia no total de chuvas em relaccedilatildeo aos padrotildees normais que

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determinaram as necessidades Esse tipo de seca tem como causa natural a circulaccedilatildeo global da atmosfera e pode resultar em reduccedilatildeo na produccedilatildeo agriacutecola e no fornecimento de aacutegua seja para abastecimento seja para outros usos A seca edaacutefica tem como causas baacutesicas a insuficiecircncia ou distribuiccedilatildeo irregular das chuvas e pode ser identificada como uma deficiecircncia da umidade em termos do sistema radicular das plantas que resulta em consideraacutevel reduccedilatildeo da produccedilatildeo agriacutecola Esse tipo de seca associado agrave agricultura de sequeiro eacute a que maiores impactos causa no Nordeste Semi-Aacuterido Os efeitos satildeo conhecidos severas perdas econocircmicas e grandes transtornos sociais como fome migraccedilatildeo e desagregaccedilatildeo familiar Eacute a seca social A seca hidroloacutegica (ou de suprimento de aacuteguas) por sua vez pode ser entendida como a insuficiecircncia de aacuteguas nos rios ou reservatoacuterios para atendimento das demandas de aacuteguas jaacute estabelecidas em uma dada regiatildeo Essa seca pode ser causada por uma sequumlecircncia de anos com deficiecircncia no escoamento superficial ou tambeacutem por um mal gerenciamento dos recursos hiacutedricos acumulados nos accediludes (p3)

Nota-se a importacircncia em saber toda a existecircncia a

dinacircmica dos fenocircmenos podem influenciar a vida social do homem o clima interfere sem duvida nos condicionantes socais eacute certo tambeacutem que o agricultor que maneja diretamente com os produtos (os alimentos) e todo estaacutegio da

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produccedilatildeo agriacutecola exemplificada por radiaccedilatildeo solar temperatura umidade demonstrado em

Apesar dos avanccedilos tecnoloacutegicos e cientiacuteficos o clima eacute ainda a variaacutevel mais importante na produccedilatildeo agriacutecola O fator climaacutetico afeta a agricultura e determina a adequaccedilatildeo dos suprimentos alimentiacutecios de dois modos principais Um eacute atraveacutes do azares(imprevistos) climaacuteticos para as lavouras e o outro eacute atraveacutes do controle exercido pelo clima sobre o tipo de agricultura praticaacutevel ou viaacutevel numa determinada aacuterea Os paracircmetros climaacuteticos exercem influecircncia sobre todos os estaacutegios da cadeia de produccedilatildeo agriacutecola incluindo a preparaccedilatildeo da terra semeadura crescimento dos cultivos colheita armazenagem transporte e comercializaccedilatildeo (AYOADE 1998 p261)

Natildeo eacute atoa que o clima eacute fator fundamental para o

homem pois toma-se novamente a discussatildeo sobre o sistema ambiental o niacutevel de interferecircncia antroacutepica e quanto o clima interfere na vida cotidiana dos indiviacuteduos pois reforccedilado em

O clima talvez seja o mais importante componente do ambiente natural Ele afeta os processo geomorfoloacutegicos os da formaccedilatildeo dos solos e o crescimento e desenvolvimento das plantas Os organismos incluindo o homem satildeo influenciados pelo clima As principais bases da vida para a humanidade principalmente o ar a aacutegua o alimento e

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o abrigo estatildeo da dependecircncia do clima

(p286)

Segundo Prado Junior 1987 em sua obra caracteriza o Brasil com impactos ambientais provenientes desde sua invasatildeo pois o Paiacutes apresenta grandes Latifundiaacuterios na produccedilatildeo de soja (pastagens e outros tipos de monocultura) que muitos antes e por todo o contexto de formaccedilatildeo territorial atraveacutes das capitanias hereditaacuterias e o inicio da agricultura marcada pela cana-de-accediluacutecar e o progresso extensivo da pecuaacuteria fez necessaacuterio o pequeno produtor suprir a necessidade alimentiacutecia da sociedade interna atraveacutes da sua produccedilatildeo Sabemos que V seacuteculos histoacuterico brasileiro natildeo se resume a paragrafo contudo para natildeo perder o foco da pesquisa segue adiante o raciociacutenio Ao analisar a dependecircncia do setor agriacutecola do clima eacute sabido que Brasil eacute um paiacutes exportador de produtos primaacuterios que consiste num mercado agroexportador agregador para a produccedilatildeo de suas riquezas interferindo fortemente no PIB (Produto Interno Bruto) cabe questionar quais os impactos sofridos por um Paiacutes fortemente dependente da agricultura esta por sua vez eacute afetada pelos Extremos Climaacuteticos E isso com jaacute mencionado promove a produccedilatildeo e a reproduccedilatildeo do espaccedilo anteriormente antes das poliacuteticas puacuteblicas voltadas para a mitigaccedilatildeo dos eventuais eventos climaacuteticos o Brasil sofreu natildeo soacute no setor agriacutecola mais tambeacutem a seca proporcionou tambeacutem alguns fenocircmenos sociais como a migraccedilatildeo morte populacional desemprego esclarecidos em

Antes e durante o Seacuteculo XIX natildeo havia estradas nem nenhum sistema de apoio Os refugiados das secas conhecidos como flagelados ou retirantes - migravam a peacute andavam meses e meses e muito

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frequentemente morriam agraves margens dos caminhos O naturalista americano Herbert Smith que visitou o Cearaacute o estado do Nordeste com a maior parte de seu territoacuterio no Semiaacuterido escreveu que soacute no Cearaacute 500000 pessoas morreram por causa da seca de 1877 - 1879 aleacutem de outras 300000 pessoas nas outras partes do Nordeste Poucos anos antes em 1872 o Brasil tinha feito o seu primeiro Censo Demograacutefico No Cearaacute viviam 700 mil pessoas principalmente no interior Isso significa que a grande seca teria causado a morte de mais de 50 da populaccedilatildeo do Cearaacute (SMITH 2012 apud MAGALHAtildeES)

A partir dos meados do seacuteculo XX com melhorias em

relaccedilatildeo aos meios de transportes poliacuteticas puacuteblicas como criaccedilatildeo de reservatoacuterios poliacuteticas sociais aleacutem de outros fatores a incidecircncia desses fenocircmenos foram diminuindo contudo ainda acontecem principalmente em determinadas aacutereas do nordeste que sofre com a falta de disponibilidade dos recursos hiacutedricos tornando-se sensiacuteveis aos extremos climaacuteticos

O desenvolvimento agraacuterio consistiu em vaacuterias fases no nosso Paiacutes contudo foi atraveacutes das poliacuteticas puacuteblicas nos ano 50 com a tecnificaccedilatildeo do campo brasileiro desenvolveu uma seacuteries de implementaccedilotildees propondo maiores lucros isso propotildee abertura do mercado para os agrotoacutexicos (revoluccedilatildeo verde) criaccedilatildeo de barragens no Nordeste a fim de mitigar o contexto climaacutetico sofrido pela populaccedilatildeo e tambeacutem afim de impulsionar cada vez mais o acuacutemulo de capital

Necessaacuterio assim saber algumas caracteriacutesticas do Estado e tambeacutem do municiacutepio em que a aacuterea estudada localiza-se

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O municiacutepio de Itabaiana apresenta-se junto com Aracaju as maiores variabilidade climaacuteticas jaacute em datas anteriores ao periacuteodo aqui analisado neste relatoacuterio que eacute 2010-2016 apresentando secas e periacuteodo com chuvas excessivas exemplificadas em

A variabilidade da precipitaccedilatildeo anual em relaccedilatildeo agrave meacutedia do municiacutepio de Itabaiana constata um pequeno ciclo de desvios negativos antes da deacutecada de 20 que procede com longo periacuteodo nas deacutecadas de 20 a 40 com variaccedilotildees ciacuteclicas de anos de desvios negativos e positivos Nas deacutecadas de 40 ao final de 50 encontra-se longo periacuteodo com desvios positivos caracterizados com precipitaccedilotildees acima da meacutedia normal Entre o final da deacutecada de cinquumlenta ao iniacutecio da de oitenta percebe-se um longo periacuteodo de desvios negativos caracterizados com precipitaccedilotildees abaixo da meacutedia normal Este longo periacuteodo de estiagem encontra referecircncia nas secas oficiais da SUDENE Isto configura-se com expressotildees pluviomeacutetricas negativas explicadas por dois periacuteodos distintos o primeiro a partir da seca de 70 e o outro o periacuteodo de longa estiagem provocadora da seca de 1979 (PLINTO)

O municiacutepio de Itabaiana apresenta o comeacutercio e a

agricultura como setores principais para economia local o municiacutepio eacute beneficiado por dois periacutemetros Irrigados sob cuidados da COHIDRO (Companhia de Desenvolvimento de Recursos Hiacutedricos de Sergipe) O Jacarecica I tem como cultivos principais que fica na ao leste da sede municipal tem

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como cultivos como batata-doce alface milho verde quiabo coentro cebolinha tomate pepino feijatildeo vagem maxixe pimenta e amendoim e o Periacutemetro Irrigado da Ribeira sudeste do municiacutepio seus cultivos satildeo a batata-doce coentro cebolinha pimentatildeo tomate couve amendoim berinjela alface feijatildeo vagem quiabo tais produtos com um valor anual de produccedilatildeo estimado em 32 milhotildees de reais(COHIDRO 2017)

Os diversos textos assim como os livros foram enriquecedor para absorccedilatildeo teoacuterica e metodoloacutegica para realizaccedilatildeo do presente relatoacuterio Alguns dos lidos refere-se agrave agricultura climatologia formaccedilatildeo territorial do Brasil teoria e meacutetodo epistemologia economia poliacuteticas puacuteblicas entre outros

Os estudos realizados por Plinto 2012 traz um breve relato sobre a variabilidade de alguns muniacutecipios do Estado de Sergipe com base a partir da bacia hidrograacutefica do rio Poxim e apresenta resultados esclarecedores sobre as existecircncias de secas e traz dados pluviomeacutetricos do municiacutepio de Itabaiana certificadas em

O perfil pluvial eacute melhor demonstrado atraveacutes da anaacutelise da variabilidade propiciando diagnoacutestico e prognoacutestico da potencialidade local A variabilidade entendida como sendo alteraccedilotildees interanuais e aplicada por amostragem nas localidades das cabeceiras do meacutedio curso e da foz propiciando um entendimento do comportamento e das possibilidades de um eficaz zoneamento agroclimatoloacutegico A sazonalidade das chuvas (variabilidade intraanual) como inconstacircncia temporal tambeacutem eacute mais pronunciada com a continentalidade A

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estaccedilatildeo seca eacute mais severa agrave medida que se interioriza o territoacuterio sergipano(p1)

Campos e Studart 2008

esclarece as diferentes formas de conceito de ldquosecardquo estabelecida e mensurada por variaacuteveis a serem consideradas pelo pesquisador e tambeacutem refletir sobre poliacuteticas puacuteblicas e formas de mitigaccedilatildeo principalmente nas regiotildees semiaacuteridas justificadas em Conceituar seca eacute a primeira dificuldade que enfrenta quem escreve sobre o tema Natildeo haacute uma definiccedilatildeo universalmente aceita O conceito varia segundo o ponto de vista do observador Para o hidroacutelogo uma seca pode ser pensada como uma deficiecircncia da oferta em relaccedilatildeo agraves demandas em termos das aacuteguas correntes dos rios ou acumuladas em reservatoacuterios Para o agricultor a seca pode ser encarada como uma falta de umidade disponiacutevel no solo a niacutevel do sistema radicular das culturas resultando em perdas na produccedilatildeo agriacutecola Por sua vez no lado soacutecio-econocircmico uma seca estaacute relacionada ao campo das atividades humanas afetadas aos problemas sociais e econocircmicos gerados (p9)

Conforme Prado Junior que apresenta em sua obra a

formaccedilatildeo territorial do Brasil estaacute amplamente marcada pela vinda dos europeus para a apropriaccedilatildeo dos recursos naturais aqui encontrados posteriormente o desenvolvimento dos

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latifuacutendios movimentado pelo trabalho escravista que trazem marcas ateacute os dias atuais e prioriza em sua obra a formaccedilatildeo econocircmica brasileira exemplificada em

O plano em suas linhas gerais consistia no seguinte dividiu-se a costa brasileira (o interior por enquanto eacute para todos os efeitos desconhecidos) em doze setores lineares com extensotildees que variavam entre 30 e 100 leacuteguas Esses setores chamar-se-atildeo capitanias e seratildeo doadas a titulares que gozaratildeo de grandes regalias e poderes soberanos caber-lhes-aacute nomear autoridades administrativas juiacutezes em seus respectivos territoacuterios recebe taxas e impostos e distribuir terras etc (p32)

A preocupaccedilatildeo do mundo existente pela continuas mudanccedilas climaacuteticas e quanto eacute necessaacuterio o estudo detalhado sobre os extremos climaacuteticos como forma preventiva para a sociedade Na conferencia existe a atenccedilatildeo principalmente dos pesquisadores cientistas sulamericanos em torno do clima bem como as formas de mitigaccedilatildeo e analises sobre a variabilidade climaacutetica em escala global regional e local eacute esclarecido por

A variabilidade e mudanccedila na tendecircncia da seacuteries climaacuteticas e hidroloacutegicas produzem importantes impactos na sociedade (por exemplo El Nintildeo e La Ninatilde) A variabilidade em escalas interanuais e decadais pode ser natural e a mudanccedila climaacutetica pode ser natural aleacutem de ser ampliada pelas atividades humanas (mudanccedilas no uso do solo queima de combustiacutevel foacutessil) As mudanccedilas naturais sempre existiram e fazem parte do clima

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do planeta como a histoacuteria mostra em diferentes relatos de civilizaccedilotildees que desapareceram ou mudaram devido as estas condiccedilotildees As questotildees prementes satildeo quais os efeitos das mudanccedilas sobre esta variabilidade quais os efeitos sobre os sistemas hidroloacutegicos (uso da aacutegua ecossistemas geraccedilatildeo de energia transporte) quais as incertezas o que se pode dizer quanto agrave previsibilidade etc (MARENGO 2008 p85)

CONCLUSOtildeES

No periacutemetro irrigado da Ribeira os lotes variam entre

03 ateacute 5 hectares natildeo existe homogeneidade os tipos de cultivos satildeo escolhidos pelos proacuteprios produtores estes sofrem por parte do atravessador (demanda do mercado influenciado pelo capital) seria alface bata doce coentro cobre cerca de 400 ha

A COHIDRO (Companhia de Desenvolvimento de Recursos Hiacutedricos e Irrigaccedilatildeo de Sergipe) utiliza de medidor de orifiacutecio para apresentar homogeneidade na distribuiccedilatildeo (entrada de aacutegua de cada lote) contudo acontece por parte de alguns produtores a retirada para disponibilizar uma quantidade maior para seu lote

No periacuteodo de racionamento (entre final de 2016 ateacute marccedilo 2017) a distribuiccedilatildeo ocorria 2 em 2 horas assim houve interrupccedilatildeo da disponibilidade jaacute no periacuteodo em que a barragem apresenta niacuteveis ldquonormaisrdquo a disponibilidade eacute de 12 horas por dia Satildeo atendidos 17 povoados 15 do muniacutecipio de Itabaiana 02 pertencentes ao municiacutepio de Areia Branca

A falta de atenccedilatildeo por parte dos sujeitos responsaacuteveis por prestar assistecircncia teacutecnicas para com os agricultores foi obtido principalmente atraveacutes das entrevistas com os mesmos

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pois relatou que natildeo haacute comunicaccedilatildeo direta com os produtores somente caso isso seja solicitado mesmo assim dados deficitaacuterios pois a estaccedilatildeo pluviomeacutetrica encontra-se deteriorada por falta de manutenccedilatildeo ou sucateamento dos setores puacuteblicos que cada vez recebe menos verbas destinadas para a manutenccedilatildeo de funcionaacuterios

Atraveacutes da entrevista foi relatado que a coleta de dado estaacute sendo realizada dentro da secretaria (O dinamocircmetro) proporcionando a captaccedilatildeo irregular de dado (alterando seus resultados) este necessaacuterio para uma anaacutelise mais profunda em relaccedilatildeo agraves mudanccedilas sofridas na aacuterea ou previsotildees que podem ser realizadas

Portanto a desatenccedilatildeo por parte dos agricultores em relaccedilatildeo agrave previsatildeo do tempo e clima previstos para determinado periacuteodo Aleacutem do sucateamento do material os dados satildeo repassados para outros setores com falta de material aleacutem de outros fatores ocasiona dificuldade na comunicaccedilatildeo entre setores e empresas puacuteblicas satildeo deficitaacuterias por apresentar perda ou alteraccedilatildeo de dados que pode ser crucial aos produtores para a agricultura ou seja tanto produtores quanto gestores estatildeo agrave mercecirc do senso comum do achismo pois os mesmo sem previsatildeo em relaccedilatildeo ao Climatempo estatildeo expostos aos azares climaacuteticos e ou suscetiacuteveis aos extremos climaacuteticos

O periacutemetro incialmente estaria sob o comando de EMDAGRO e posteriormente foi passada a COHIDRO essa transferecircncia de empresas causam transtornos em relaccedilatildeo aos dados colhidos pois estudos realizados para a criaccedilatildeo da barragem levaram em conta dados como evapotranspiraccedilatildeo temperaturas umidade estavam em contextos distintos por isso eacute necessaacuterio a estudo cada vez mais detalhados com pretensatildeo de entender as realidades existentes na aacuterea A criaccedilatildeo da barragem a princiacutepio era apenas para a disponibilizaccedilatildeo para a irrigaccedilatildeo contudo ao passar do tempo

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a DESO comeccedilou a capitalizaccedilatildeo de aacutegua na barragem para a disponibilidade humana o que afeta disponibilidade exata de aacutegua na barragem que por sua vez sofre impactos ambientais como assoreamento maior demanda por atender o abastecimento populacional demonstra assim a fragilidade e a importacircncia climaacutetica para a sociedade pois uma seca prolongada (sazonal) pode afetar tanto economicamente quanto substancialmente o individuo

Os extremos climaacuteticos acontecendo com maior frequecircncia provocam transtornos na produccedilatildeo agriacutecola na sauacutede populacional nos transporte em geral (dependendo da intensidade) sociais tanto para a populaccedilatildeo rural quanto para populaccedilatildeo urbana contudo com a populaccedilatildeo urbana eacute depende dos resultados agriacutecolas para atender as necessidades alimentiacutecias (no caso do Brasil produccedilatildeo exportadora) para o funcionamento econocircmico do Paiacutes

Os gestores sabem das mudanccedilas climaacuteticas cada vez mais presentes no cotidiano poreacutem natildeo sabem detalhar sabem a duraccedilatildeo de cada periacuteodo chuvoso e seco (Laacute Nina e El Nino) periacuteodos de 3 em 3

Faz-se necessaacuterio ressaltar fomento do capital estaacute claro em relaccedilatildeo agrave produtividade pois a produccedilatildeo no periacutemetro eacute intensificada (existe um aumento) na eacutepoca do veratildeo pois a subsistecircncia da barragem supre a demanda hiacutedrica do solo para a produccedilatildeo agriacutecola diferentemente dos produtores que natildeo fazem parte do periacutemetro tem sua produccedilatildeo ainda mais afetada pelas questotildees climaacuteticas ou seja expotildee assim a demanda x disponibilidade pois no inverno com a pluviometria acentuada esta demanda continue em alta a disponibilidade eacute maior jaacute no veratildeo a demanda eacute alta poreacutem por falta de precipitaccedilotildees e suprimento da umidade no solo a disponibilidade eacute reduzida

A importacircncia dos estudos climaacuteticos para a sociedade eacute necessaacuteria pois o climatempo interfere sem duacutevida em

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todos os fenocircmenos existente no planeta mesmo o capitalismo com suas inuacutemeras facetas satildeo interferidos por tais fenocircmenos naturais provocando assim uma metamorfose do capital da sociedade do homem e tambeacutem do meio para a adaptaccedilatildeo das suas caracteriacutesticas

Eacute notoacuterio tambeacutem que o niacutevel de dependecircncia (interferecircncia) vai variando de acordo com as condiccedilotildees econocircmicas (ou estruturais) de cada indiviacuteduos pois os extremos climaacuteticos afetam de forma intensa os produtores natildeo participantes do projeto irrigado (que natildeo tem irrigaccedilatildeo em sua propriedade mesmo de forma privada) do que aqueles que participam do projeto que sofrem de forma amena com os extremos climaacuteticos pois em momentos de deacuteficit hiacutedricos tem a irrigaccedilatildeo o recurso necessaacuterio para a sua produccedilatildeo (como jaacute mencionado o aumento produtivo em relaccedilatildeo aos periacuteodos inverno- veratildeo) A agricultura consiste em num dos principais setores para a renda do Municiacutepio eacute parcialmente influenciado sim pelo clima que por sua vez prova o reordenamento do espaccedilo geograacutefico inter-relacionando os fatores fiacutesicos sociais econocircmicos e culturais para a populaccedilatildeo da aacuterea quando para a populaccedilatildeo do municiacutepio jaacute que essa relaccedilatildeo estaacute ligada a dinacircmica do capital que possibilita sua adaptaccedilatildeo das suas caracteriacutesticas Eacute necessaacuterio o contiacutenuo estudo do clima e atenccedilatildeo por parte do sucateamento dos materiais de captaccedilatildeo de dados atmosfeacutericos pois os mesmo sendo estudados pelos cientistas satildeo o que iratildeo dar um respostas ou previsotildees para as atitudes a serem seguidas afim de amenizar tambeacutem os problemas vividos pelos agricultores pois natildeo eacute somente a Obra (barragem) que pode mitigar as dificuldades os estudos satildeo fundamentais que podem propor o tipo de cultura propicia para aacuterea o periacuteodo propicio a disponibilidade hiacutedrica

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necessaacuteria reduzindo assim os conflitos hiacutedricos da aacuterea esclarecido na pesquisa de BRITO 2017

Dessa forma a presente pesquisa buscou analisar o Povoado Ribeira em ItabaianaSE que apresenta problemaacutetica acerca dos recursos hiacutedricos sobretudo seu uso bem como manutenccedilatildeo e principalmente os conflitos apresentados no periacutemetro irrigado Conflitos que se deparam com a forccedila que agricultura impotildee sobre todos os setores puacuteblicos sendo de escala local e prosseguindo ateacute a escala global A pesquisa procura apresentar um debate sobre as poliacuteticas puacuteblicas que interferem nas contextualidades existentes em relaccedilatildeo aos recursos hiacutedricos (p 2)

Portanto os eventos extremos climaacuteticos consistem

numa priori dos problemas sociais citados anteriormente que interferem desde o humor do ser humano ateacute ocupaccedilatildeo e reproduccedilatildeo dos territoacuterios A influecircncia do clima persiste mesmo com o avanccedilo das tecnologias o homem ainda satildeo sujeitos agraves condiccedilotildees fiacutesicas ambientais e natildeo eacute atoa que a degradaccedilatildeo ambiental reflete de forma desigual pois a sociedade eacute estruturada pelas desigualdades fomentadas pelo capitalismo

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS AYOADE J O Introduccedilatildeo agrave climatologia para os troacutepicos 5 ed Rio de Janeiro Bertrand Brasil 1998 ARAUacuteJO Heacutelio Maacuterio de Relaccedilotildees socioambientais na bacia costeira do rio Sergipe Doutorado em Geografia Satildeo Cristoacutevatildeo NPGEO UFS 2007 298p

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BLANK Dionis Mauri Penning O contexto das mudanccedilas climaacuteticas e as suas viacutetimas Mercator Fortaleza v 14 n 2 p 157-172 maiago 2015 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrpdfmercatorv14n21984-2201-mercator-14-02-0157pdfgt Acessado em 23122017 CARVALHO D M ALCAcircNTARA F V COSTA J E Comercializaccedilatildeo de Hortifrutigranjeiros no segmento atacadista de ItabaianaSergipeBrasil (natildeo tem ano) COMPANHIA DE DESENVOLVIMENTO DE RECURSOS HIacuteDRICOS E IRRIGACcedilAtildeO DE SERGIPE [Internet] Disponiacutevel em lthttpwwwcohidrosegovbrgt Acessado em 10122017 SECRETARIA DE ESTADO DO MEIO AMBIENTE E DOS RECURSOS HIacuteDRICOS [Internet] Disponiacutevel em lthttpwwwsemarhsegovbrplanosderecursoshidricosindexphpperhoplanogt Acessado em 03122017 IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutesticas [Internet] Disponiacutevel em lthttpswwwibgegovbrgt Acessado em 08082017

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EXTREMOS CLIMAacuteTICOS E RECURSOS HIacuteDRICOS ASPECTOS BIOFIacuteSICOS NO

PERIacuteMETRO IRRIGADO DA RIBEIRASE

Lucas Melo Costasup1

(Universidade Federal de Sergipe) (Graduando)

E mail lucasmelo_33hotmailcom

Joseacute Eduardo Santos de Britosup2 (Universidade Federal de Sergipe) (Graduando)

E-mail eduardovinkhotmailcom

Daniel Almeida Da Silvasup3

(Universidade Federal de Sergipe) (Prof Adjunto DGEI)

E mail danielalmeidaufsgmailcom

RESUMO

O periacutemetro irrigado da Ribeira estaacute inserido no municiacutepio de ItabaianaSE e se constitui numa obra de poliacutetica puacuteblica importante para os agricultores dessa aacuterea Os extremos climaacuteticos apresentam-se cada vez mais frequentes portanto o estudo se estabelece no deacuteficit hiacutedrico apresentado entre os anos de 2010 a 2016 periacuteodo de estiagem em todo o Estado de Sergipe Portanto a caracterizaccedilatildeo biofiacutesica da aacuterea permite o conhecimento do funcionamento do sistema ambiental e contribui para accedilotildees a serem tomadas pelos sujeitos envolvidos o que vem a refletir na produccedilatildeo e reproduccedilatildeo nessa parte do espaccedilo geograacutefico Do mesmo modo a anaacutelise climaacutetica mais detalhada e sua correlaccedilatildeo com os fenocircmenos hiacutedricos permitiu concluir que esta aacuterea mesmo sendo abastecido por irrigaccedilatildeo ainda apresenta um grau elevado de dependecircncia dos condicionantes naturais

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PALAVRAS-CHAVE Extremos Climaacuteticos Caracterizaccedilatildeo biofiacutesica Corpos Hiacutedricos INTRODUCcedilAtildeO

A aacutegua como recurso natural vem gerando vaacuterios problemas que tem motivado estudos em diferentes aacutereas do conhecimento E como formador de paisagem o Clima eacute de relevante importacircncia jaacute que influencia o regime dos rios o escoamento fluvial e a disponibilidade hiacutedrica de uma regiatildeo As caracteriacutesticas climaacuteticas do Nordeste brasileiro representadas pela sazonalidade da precipitaccedilatildeo e pela alta variabilidade das chuvas manteacutem uma relaccedilatildeo direta com o comportamento fluvial A distribuiccedilatildeo da chuva no tempo e no espaccedilo associada agraves formaccedilotildees geoloacutegicas dominantemente cristalinas satildeo fatores condicionantes do regime dos rios e das reservas subterracircneas e portanto da disponibilidade dos recursos hiacutedricos superficiais e subterracircneos para a regiatildeo

O Periacutemetro Irrigado Poccedilatildeo da Ribeira eacute um projeto do tipo irrigaccedilatildeo puacuteblica estadual sem intervenccedilatildeo fundiaacuteria Este localizado no municiacutepio de Itabaiana no agreste sergipano e tem como principal fonte a barragem Poccedilatildeo da Ribeira que tem afluentes como o Rio das Pedras Rio Tabocas Vasa Barris e etc A pesquisa justifica-se portanto analisar os rebatimentos ocorridos durante os deacuteficits hiacutedricos de seca prolongada que ocorreu na regiatildeo de estudo no periacuteodo de 2010 a 2016 configurando-se pois num evento extremo climaacutetico repercutindo de forma direta na produccedilatildeo do recorte desse espaccedilo sergipano

O estudo foi baseada nos estudos de AbrsquoSaacuteber (1969) onde seratildeo destacados trecircs niacuteveis de abordagem enfatizando escalas espaciais e temporais e na abordagem geossistecircmica de anaacutelise

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ambiental apresentada por Bertrand (1971) Este meacutetodo possibilitaraacute o levantamento de dados relacionados com a caracterizaccedilatildeo estrutura e funcionalidade da paisagem Paralelamente essa paisagem seraacute considerada como um sistema resultante da combinaccedilatildeo dinacircmica entre os elementos fiacutesicos bioloacutegicos e antroacutepicos Dessa forma seratildeo realizados os estudos na bacia hidrograacutefica considerada como um geossistema

Na confecccedilatildeo de mapas temaacuteticos seratildeo utilizados SIGs-Sistemas de Informaccedilatildeo Geograacutefica fotografias aeacutereas Imagens de Sateacutelite e o banco de dados municipal

A construccedilatildeo dos graacuteficos os dados brutos foram tabulados e tratados no programa Excel for Windows 2013 jaacute para a feitura dos mapas o software utilizado foram o ArcGis 101 e a extensatildeo ArcHydroOs graacuteficos de variabilidade meacutedias anuais e trimestrais foram elaborados de acordo com a metodologia de Ayoade com tratamento matemaacutetico de cada dia e fazendo-se assim as meacutedias mensais para se chegar a conclusatildeo dos graacuteficos DESENVOLVIMENTO

A climatologia eacute a ciecircncia que se preocupa em apresentar os quatro domiacutenios globais a atmosfera a hidrosfera a litosfera e a biosfera que natildeo se superpotildeem uns aos outros mas continuamente permutam mateacuteria e energia entre si

Para medir a precipitaccedilatildeo de chuvas numa determinada aacuterea satildeo usados periacutemetros que ficam localizados em um ponto estrateacutegico para que possa obter dados com exatidatildeo assim haacute vaacuterios fatores que podem interferir numa coleta de

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dados pluviomeacutetricas tais como a altura do pluviomeacutetrico acima do solo velocidade do vento e a taxa de evaporaccedilatildeo

Eacute convencional classificar a precipitaccedilatildeo em trecircs tipos principais tomando-se por base a maneira de elevaccedilatildeo que tenha dado a origem agrave precipitaccedilatildeo Os tipos satildeo 1Tipo convectivo de precipitaccedilatildeo associado com a instabilidade convectiva 2Precipitaccedilatildeo de tipo ciclocircnico associado com convergecircncia em uma depressatildeo 3Precipitaccedilatildeo orograacutefica associadas a aacutereas acidentadas ou montanhosa (AYOADE 1996 p 161)

Conforme Ayoade 1996 a precipitaccedilatildeo ciclocircnica natildeo eacute

tatildeo intensa como a precipitaccedilatildeo do tipo convectiva mas que tem uma duraccedilatildeo mais prolongada dura em torno de 6 a 12 horas frequentemente Torna-se entatildeo este o tipo de precipitaccedilatildeo mais eficaz para aacutereas como do agreste sergipano e mais especificamente na nossa aacuterea de estudos onde percebe-se que a principal atividade eacute a agriacutecola

A importacircncia de preservar os corpos hiacutedricos e seus recursos naturais satildeo de extrema importacircncia para o equiliacutebrio ambiental Alguns estudos como o de Ribeiro 2008 dissertam sobre a problemaacutetica dos recursos hiacutedricos em cidades com diferentes realidades uma delas eacute La Paz na Boliacutevia situada em um siacutetio urbano extremamente irregular cuja altitude oscila entre 4100 e 2000 m ela eacute abastecida pela aacutegua do degelo que ocorre na Cordilheira Real que fica acima de 5000 m Outro caso eacute Satildeo Paulo estaacute situada em um siacutetio cujas altitudes oscilam ente 800 e 400 m e necessita captar aacutegua de outras bacias hidrograacuteficas pra abastecer sua populaccedilatildeo que gira em

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torno de cerca de 20 milhotildees de habitantes Sobre a temaacutetica o mesmo chama atenccedilatildeo que

Para agravar ainda mais a situaccedilatildeo a distribuiccedilatildeo da aacutegua tambeacutem eacute desigual e natildeo obedece a criteacuterios econocircmicos culturais ou poliacuteticos responsaacuteveis pelo consumo desenfreado e pela falta de acesso agrave aacutegua e ao saneamento baacutesico Por isso vivemos a crise da aacutegua resultado do consumismo exagerado do modo de produccedilatildeo capitalista e da distribuiccedilatildeo natural da aacutegua que ao ser dividida pelos paiacuteses introduziu a soberania no uso de seus recursos hiacutedricos Consumo cultura territoacuterio poliacutetica e natureza satildeo elementos necessaacuterios para compreender a crise da aacutegua Eacute dessa combinaccedilatildeo que podem sair alternativas para o abastecimento de toda populaccedilatildeo no planeta (RIBEIRO 2008 p 34)

O periacutemetro irrigado Poccedilatildeo da Ribeira eacute uma aacuterea rica em canais hidrograacuteficos e vaacuterias nascentes onde eacute de grande importacircncia ficar de olho em pequenos detalhes que podem trazer grandes resultados Como por exemplo o uso da Outorga para propriedades que possuem canais fluviais e que sem nenhuma orientaccedilatildeo do Estado fazem barramentos dentro dos rios Como Poleto 2014 alerta

De maneira geral a outorga eacute concebida apoacutes avaliaccedilotildees quanto a compatibilidade entre demandas hiacutedricas e a disponibilidade hiacutedrica do corpo drsquoaacutegua bem como pelas finalidades do uso e os

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impactos causados nos recursos hiacutedricos (2014 p 08)

Para estudos de anaacutelise ambiental o Geoprocessamento

pode ser definido como uma tecnologia um conjunto de conceitos meacutetodos e teacutecnicas erigindo em torno de um instrumental tornado disponiacutevel pela engenhosidade humana Eacute inegaacutevel que o Geoprocessamento criou para a pesquisa ambiental uma dependecircncia para com o processamento automaacutetico de dados De acordo com XAVIER-DA-SILVA apud SILVA et all

As prospecccedilotildees ambientais definem-se atraveacutes da classificaccedilatildeo do espaccedilo geograacutefico baseado nos levantamentos de conjugaccedilotildees de caracteriacutesticas ambientais que estatildeo representadas na base de dados Geocodificados e que satildeo de interesse para o Zoneamento de Aacutereas com necessidades de Proteccedilatildeo Ambiental prevendo portanto o que ocorreraacute onde em que extensatildeo e proacuteximo a quecirc Podem ser estimadas e efeituadas sobre aacutereas problemaacuteticas e tambeacutem sobre aacutereas de Potencial Geoambiental segundo seus recursos econocircmicos hiacutedricos minerais ou florestais (2001 p 43)

Geomorfologia define-se em explicar as formas da

superfiacutecie terrestre significa o estudo da forma da terra como ciecircncia geoloacutegico-geograacutefica estuda o relevo terrestre sua estrutura origem histoacuteria do desenvolvimento e dinacircmica atual O objeto de estudo da Geomorfologia eacute o relevo da superfiacutecie do planeta em seus aspectos geneacuteticos

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cronoloacutegicos morfoloacutegicos morfomeacutetricos e dinacircmicos Portanto

As formas de relevo consistem o objeto da Geomorfologia Mas se as formas existem eacute porque elas foram esculpidas pela accedilatildeo de determinado processo como sedo uma sequecircncia de accedilotildees regulares e contiacutenuas que se desenvolvem de maneira relativamente bem e levando a um resultado determinado (CHRISTOFOLETTI 1980 p 01)

RESULTADOS E DISCUSSOtildeES O Periacutemetro Irrigado Poccedilatildeo da Ribeira eacute um projeto do tipo irrigaccedilatildeo puacuteblica estadual sem intervenccedilatildeo fundiaacuteria Os estudos iniciais e de viabilidade econocircmico-social da aacuterea foram realizados em 1984 O projeto executivo de irrigaccedilatildeo ficou concluiacutedo em 1985 iniciando-se em seguida a implantaccedilatildeo de obra que foi inaugurada em 1987 O projeto de irrigaccedilatildeo Poccedilatildeo da Ribeira estaacute localizado no municiacutepio de Itabaiana e de Areia Branca no agreste sergipano e eacute composto por uma barragem de terra no Rio Traiacuteras com 26 metros de altura 500 metros de comprimento de crista formando um reservatoacuterio de acumulaccedilatildeo normal de 165 milhotildees de metros cuacutebicos de aacutegua e por um sistema de irrigaccedilatildeo por aspersatildeo que atinge 1100 hectares de aacuterea irrigaacutevel (figura 1)

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Figura 1 Mapeamento de localizaccedilatildeo do Periacutemetro Irrigado 2017

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Percebe-se na figura 1 que grande parte da aacuterea irrigada estaacute no municiacutepio de Itabaiana que possui basicamente 12 povoados com aacutereas irrigadas composto por Cajaiacuteba Dendezeiro Forno Gandu I Gandu II Lagoa do Forno Mangabeira Mangueira Rio das Pedras Satildeo Joseacute e Vaacuterzea da Cancela Jaacute no municiacutepio de Areia Branca satildeo contemplados com a irrigaccedilatildeo 5 povoados que satildeo Boqueiratildeo II Canjinha Junco Serra Comprida e Trecircs Bodegas Em entrevista com sujeitos responsaacuteveis do periacutemetro irrigado funcionaacuterios da COHIDRO foi relatado que o projeto de irrigaccedilatildeo natildeo teve alteraccedilatildeo desde de sua criaccedilatildeo continuando assim com estes mesmos povoados A aacuterea irrigada Poccedilatildeo da Ribeira se apresenta por ter uma hidrografia caracterizada com rios perenes e com 8 afluentes e nascentes (figura 2) denominadas de Riachos Saviema Das Moccedilas Do Meio e Do Tronco e os Rios denominados de Tabocas Tapuios Das Pedras e Traiacuteras Todos estes afluentes da bacia hidrograacutefica Rio Vaza Barris Nas nascentes haacute falta de fiscalizaccedilatildeo ou orientaccedilatildeo para o natildeo desmatamento das matas ciliares e aacutereas de preservaccedilatildeo permanente Em alguns casos na aacuterea pesquisada encontra-se pequenas barreiras feitas por proprietaacuterios dentro do canal principal dos rios feitos de sacos e areias para barrar a aacutegua dentro de suas respectivas propriedades (figura 3) Em outros casos encontra-se corpos hiacutedricos secos caracterizados como intermitentes o que pode ocasionar a perda dessa vegetaccedilatildeo o rio acabou perdendo a sua capacidade e sua competecircncia (figura 4)

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Figura 2 Mapeamento da Hidrografia do Periacutemetro irrigado 2017

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Figura 4 Rio Tabocas 2017

Figura 3 Rio das Pedras 2017

No que diz respeito a geologia do Periacutemetro Irrigado Poccedilatildeo da Ribeira em Itabaiana observa-se que a aacuterea estaacute caracterizada como Anfibolito Gabro Metagranito Metagranodiorito e Milonito Assim a pequena parte da aacuterea pesquisada como Filitro Metaconglomerado e Metarenito Da vegetaccedilatildeo pode-se destacar a caatinga do tipo hiporxeroacutefila comum no agreste sergipano por ser moderada e natildeo acentuada como na maior parte do sertatildeo sergipano (figura 5)

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Na aacuterea pesquisada percebe-se que a principal atividade para os moradores eacute a agricultura E o periacutemetro encontra-se dentro de uma aacuterea propiacutecia para a produccedilatildeo agricola com relevos suavemente ondulados ou planos diferente de outros povoados de Itabaiana possui relevos acidentados ou escarpados Caracterizados assim por serras residuais pertencentes Domo Batoacutelito A Superficie Pediplanada caracteriza geomorfologicamente boa parte da aacuterea pesquisada (figura 6) configurando assim esta aacuterea como propiacutecia para a produccedilatildeo agriacutecola e eacute nesta parte que se encontra a maior parte dos hectares irrigados Jaacute uma pequena parte desta aacuterea que fica mais dentro do municiacutepio de Areia Branca eacute caracterizado geomorfologicamente como Relevos Dissecados em Colunas e Interfluacutevios Tabulares Observa-se que esta aacuterea eacute proacuteximo a Serra Comprida e por isso possui relevos acidentados ou fortemente ondulados carecterizando assim poucos hectares irrigados

O periacutemetro irrigado estaacute dividido em trecircs tipos de solos caracterizados por Planosol Podzoacutelico Vermelho Amarelo Equivalente Eutroacutefico e Solos Litoacutelicos Eutroacuteficos Distroacuteficos (figura 7) A primeira e a segunda categoria deste eacute denominado como propiacutecio para aacutereas que predominam atividades agriacutecolas jaacute a terceira categoria estaacute em transiccedilatildeo Assim os solos satildeo normalmente pedregosos eou rochosos moderadamente a excessivamente drenados com horizonte a pouco espesso cascalhento de textura predominantemente meacutedia podendo tambeacutem ocorrer solos de textura arenosa siltosa ou argilosa

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Figura 5 Mapa de Geologia do Periacutemetro Irrigado

2017

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Figura 6 Mapa de Geomorfologia do Periacutemetro Irrigado 2017

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Figura 7 Mapa de solos do periacutemetro irrigado 2017

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Em visita teacutecnica e em entrevistas com funcionaacuterios da COHIDRO responsaacutevel pelo periacutemetro irrigado da aacuterea foram cedidos para nosso grupo de pesquisa (GEASE) dados de pluviosidade do periacuteodo entre 2004 a 2017 mas que utilizamos para observar os periacuteodo entre 2010 a 2016 onde ocorreu um periacuteodo de extremidade climaacutetica caracterizado como estiagem ou seca

O graacutefico (figura 8) de variabilidade eacute um meacutetodo de anaacutelise climatoloacutegica que possibilita analisar o comportamento inter-anual da altura das chuvas ao longo de um periacuteodo o deacuteficit ou superaacutevit pluviomeacutetrico em relaccedilatildeo agrave meacutedia e a tendecircncia positiva ou negativa das chuvas e nota-se que no ano de 2013 houve um periacuteodo de estiagem onde a meacutedia natildeo conseguiu atingir 1000 mm a aacuterea do periacutemetro estaacute localizada no agreste sergipano que por sua vez tem meacutedias anuais esperadas entre 1200 a 1400 mm Eacute importante salientar que esta metodologia eacute uma das que melhor permite a compreensatildeo climatoloacutegica de aacutereas que natildeo tem registros suficientes para o estudo da variaccedilatildeo climatoloacutegica uma vez que a mesma necessita analisar a normal climatoloacutegica que eacute de 30 anos

A aacuterea pesquisada no periacuteodo entre 2010 e 2016 apresentou um extremo climaacutetico ou seja foi periacuteodo de seca onde se caracteriza por ter baixos iacutendices de pluviosidades durante todo o ano E como no agreste sergipano eacute comum chuvas no periacuteodo de inverno que comeccedila desde maio e vai ateacute junho observa-se que os maiores iacutendices de pluviosidade estatildeo neste periacuteodo mas que natildeo atinge uma meacutedia propiacutecia para a agricultura nos anos de estiagem como no ano de 2010 que neste periacuteodo o iacutendice chega 250 mm jaacute o de 2012 natildeo passa de 100 mm (figura 9) Jaacute nas meacutedias anuais (figura 10) observa-se uma linha de tendecircncia de deacuteficit de chuvas onde pode se supor que entre estes anos prevaleceu o periacuteodo de el nintildeo que eacute caracterizado por anos de estiagem Caracterizando assim um

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deacuteficit das chuvas que podem afetar substancialmente os recursos hiacutedricos a agricultura e a pecuaacuteria Quando se trata de clima na regiatildeo agreste sergipano predomina o tipo sub-uacutemido onde satildeo esperados de 1400 a 700 mm a (figura 11) nos apresenta as meacutedias anuais de todo o Estado sergipano e consequentemente do periacutemetro irrigado Percebe-se que as meacutedias do periacutemetro variam entre 1100 mm a 1300 mm Vale salientar que esta base de dados eacute do CD de recursos hiacutedricos e estaacute datado em 2010 pelo IBGE Com esta base do CD podemos concluir que as meacutedias anuais eram de 1100mm a 1300m e comparando com os graacuteficos feitos com base nos dados pluviomeacutetricos cedido pela COHIDRO houve sim um extremo climaacutetico caracterizado como estiagem ou seca jaacute que de 2010 a 2016 as meacutedias natildeo passaram de 400mm ao ano Figura 8 Graacutefico de variabilidade pluviomeacutetrica 2017

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Variabilidade

Fonte Cohidro

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Figura 9 Graacutefico de meacutedias anuais 2017

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2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016

MEacuteDIAS TRIMESTRAIS

JAN-MAR ABR-JUN JUL-SET OUT-DEZ

Fonte Cohidro Figura 10 Graacutefico de meacutedias anuais 2017

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2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016

MEacuteDIAS ANUAIS

MEacuteDIA ANUAL Linear (MEacuteDIA ANUAL)

Fonte Cohidro

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Figura 11 Mapa de clima do periacutemetro irrigado 2017

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Observa-se dentro do periacutemetro irrigado vaacuterios tipos de cultivos agriacutecolas que segundo os sujeitos entrevistados responsaacuteveis da COHIDRO satildeo plantados pelo menos 3 vezes ao ano entendendo assim que o periacutemetro irrigado natildeo depende tanto das chuvas que a aacuterea iraacute receber durante o ano para a agricultura mas que com o longo periacuteodo de estiagem pode influenciar na quantidade de aacutegua para ser liberada durante o dia para cada agricultor Figura 12 Plantaccedilatildeo de batata doce

Fonte trabalho de campo 03012018

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Portanto a necessidade de um estudo contiacutenuo sobre os eventos climaacuteticos na regiatildeo estudada pode mitigar ou prevecirc variaccedilotildees no clima interferindo socioecocircnomicamente na aacuterea estudada REFEREcircNCIAS AYOADE J O Introduccedilatildeo a climatologia para os troacutepicos 5ordf ed Rio de Janeiro Bertrand Brasil 1998 BERTRAND G Paisagem e Geografia Global ndash Esboccedilo Metodoloacutegico (Trad O Cruz) Caderno de Ciecircncias da Terra n 13 Satildeo Paulo IGEOGUSP 1971 CHRISTOFOLETTI Antocircnio Geomorfologia 2ordf ed Satildeo Paulo Edgard Blucher 1980 POLETO Cristiano Bacias hidrograacuteficas e recursos hiacutedricos 1 ed Rio de Janeiro Interciecircncia 2014 RIBEIRO Wagner Costa Geografia Poliacutetica da Aacutegua Coleccedilatildeo Cidadania e Meio Ambiente 1ordm ed Satildeo Paulo Annablume 2008 SILVA Jorge Xavier da ZAIDAN Ricardo Tavares Geoprocessamento amp anaacutelise ambiental 7ordf ed Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2003

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ANAacuteLISE AMBIENTAL URBANA DO RIO GARARU-SE

Caacutessia Lima Barbosasup1

(Universidade Federal de Sergipe) (Graduanda em Geografia) Email cassia_alunahotmailcom

Joyce Almeida dos Santossup2 (Universidade Federal de Sergipe) (Graduanda em Geografia)

Email joycealmeida19hotmailcom Daniel Almeida da Silvasup3

(Universidade Federal de Sergipe) (Prof Adjunto DGEI) Email danielalmeidaufsgmailcom

RESUMO

A aacutegua eacute um recurso natural de grande importacircncia para a humanidade sem ela natildeo haacute vida no planeta desde os primoacuterdios das civilizaccedilotildees as comunidades procuravam se estabelecer perto de locais que dispunham de disponibilidade hiacutedrica por isso eacute perceptiacutevel que esse recurso foi responsaacutevel pelas grandes aglomeraccedilotildees humanas o que consequentemente levou agrave criaccedilatildeo de um grande nuacutemero de cidades perto de um curso de aacutegua O presente trabalho tem como objetivo fazer uma anaacutelise preliminar sobre os problemas sociais e ambientais que estatildeo presentes na micro bacia do Rio Gararu Sergipe especialmente aqueles do trecho urbano que devido ao processo de expansatildeo urbana desta cidade fez crescer em direccedilatildeo ao rio Os procedimentos metodoloacutegicos utilizados para melhor compreender esses problemas foram realizar pesquisas bibliograacuteficas sobre a regiatildeo para melhor compreender seus aspectos socioeconocircmicos e a relaccedilatildeo entre o rio e a cidade Tambeacutem

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foi realizada uma visita teacutecnica para coletar mais informaccedilotildees sobre os aspectos geomorfoloacutegicos a fim de perceber as influecircncias que este rio tem na agricultura pecuaacuteria e outras atividades econocircmicas que dependem desse recurso hiacutedrico Deve-se notar tambeacutem que a influecircncia antroacutepica auxilia na aceleraccedilatildeo dos processos naturais como eacute o caso perceptiacutevel da quantidade de sedimentos presentes no leito deste rio que acaba sendo assoreado Ainda eacute importante ressaltar que se houvesse um interesse maior da parte da administraccedilatildeo puacuteblica em fazer um processo de revitalizaccedilatildeo do rio seria de grande ganho para a populaccedilatildeo PALAVRAS-CHAVE Poluiccedilatildeo hiacutedrica urbana rio Gararu bacia hidrograacutefica INTRODUCcedilAtildeO

Nas uacuteltimas deacutecadas o estudo relacionado aos recursos hiacutedricos tem alcanccedilado um grau de importacircncia em nossa sociedade Devido a isso houve elevado aprofundamento quanto aos estudos sobre bacias hidrograacuteficas sendo assim

a eleiccedilatildeo da bacia hidrograacutefica como unidade territorial preferencial destes estudos o que tem a tornado referecircncia espacial destacada subsidiando tanto o planejamento ambiental e territorial quanto fundamentado boa parte da legislaccedilatildeo ambiental no Brasil e em muitos paiacuteses (MACHADO e TORRE 2012)

Sendo assim eacute essencial enfatizar a bacia hidrograacutefica

do Satildeo Francisco com fundamental importacircncia para

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economia das regiotildees que percorre no entanto vem sofrendo impactos ambientais acarretados pela accedilatildeo antroacutepica

No que diz respeito aos rios compreende-se que satildeo os

principais agentes modeladores da paisagem geomorfoloacutegica sabe-se tambeacutem que a conexatildeo de vaacuterios canais afluentes a um canal principal junto a um determinado tipo de relevo que apresentam desniacuteveis topograacuteficos iratildeo favorecer a formaccedilatildeo de bacias hidrograacuteficas tendo por definiccedilatildeoldquouma bacia hidrograacutefica eacute o conjunto de terras cujo relevo propicia o escoamento de aacuteguas fluviais e pluviais para um determinado curso drsquoaacuteguardquo(BROCANELI ampSTUERMER)

No entanto nas aacutereas urbanas o ciclo hidroloacutegico sofre interferecircncia devido a accedilatildeo antroacutepica como a pavimentaccedilatildeo de ruas canalizaccedilatildeo dos canais e retificaccedilatildeo lixo descartado de maneira inadequada esses satildeo alguns exemplos de interferecircncia prejudicial a trajetoacuteria da aacutegua no ciclo hidrogeomorfoloacutegico chegando ao curso natural dos rios um alto percentual de poluiccedilatildeo difusas e pontuais que acarretam problemas socioambientais

Sob tal enfoque esta pesquisa se debruccedila sobre a realidade do Rio Gararu em especiacutefico em seu trecho urbano na cidade de GararuSergipe a qual se encontra como um dos afluentes da Bacia Hidrograacutefica do Rio Satildeo Francisco O clima presente nessa regiatildeo eacute o semiaacuterido que apresenta caracteriacutesticas predominantes

nas depressotildees entre planaltos do sertatildeo nordestino e no trecho baiano do vale do Rio Satildeo Francisco Suas caracteriacutesticas satildeo temperaturas meacutedias elevadas em torno de 27ordm C e amplitude teacutermica em torno de 5ordm C As chuvas aleacutem de irregulares natildeo excedem os 800 mmano o que leva

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agraves ldquosecas do Nordesterdquo os longos periacuteodos de estiagem (GALVANI)

Devido a esses fatores as chuvas tendem a se

concentrar nos meses de Abril a Julho o que contribui para uma vegetaccedilatildeo resistente a seca como eacute o caso do bioma da Caatinga cuja formaccedilatildeo eacute uma mata rala formada essencialmente por plantas cactaacuteceas espinhosas e arbustos que satildeo capazes de armazenar aacutegua por longo periacuteodo de seca Esses fatores climaacuteticos satildeo predominantes na cidade do Alto Sertatildeo estudada no ambiente urbano as caracteriacutesticas citadas acima atuam diretamente nesse sistema (figura 1) IMAGEM 01 Cidade GararuSE

Fonte Trabalho de Campo 03fev2018

A cidade rebuscada apresenta caracteriacutesticas favoraacuteveis

ao seu crescimento interurbano e econocircmico no entanto

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percebe-se que pouco eacute feito por parte das poliacuteticas puacuteblicas para o seu desenvolvimento mas deixando de lado seus pontos negativos natildeo se pode negar que se trata de uma cidade cujas belezas naturais satildeo marcantes

DESENVOLVIMENTO

A aacuterea analisada primitivamente chamava-se de Curral

de Pedras ldquonome que teve origem nos currais construiacutedos de pedras na regiatildeordquo (IBGE 2017) A invasatildeo holandesa em Sergipe favoreceu a penetraccedilatildeo do territoacuterio no entanto eles foram expulsos pelo

cacique Gararu e sua tribo ocuparam o local fixando-se na desembocadura do riacho do mesmo nome no Rio Satildeo Francisco Com a expulsatildeo dos jesuiacutetas a aldeia foi abandonada e presume-se que a povoaccedilatildeo de Curral de Pedras se originou de sitiantes que ali se estabeleceram O povoado foi elevado agrave condiccedilatildeo de vila em 1877 sendo renomeado como Gararu (IBGE2017)

Sob tal enfoque aborda-se tambeacutem a economia dessa

aacuterea baseada na agropecuaacuteria favorecida pela presenccedila dos dois principais rios que percorrem a cidade o Rio Gararu e o Rio Satildeo Francisco (ver figura 2) outro aspecto econocircmico presente na regiatildeo eacute a pecuaacuteria favorecida tambeacutem pelos rios e seu vasto territoacuterio propicio a pastagem o turismo e a pesca satildeo igualmente outra fonte de renda para a populaccedilatildeo deste municiacutepio

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Figura 2 Mapa de localizaccedilatildeo da Sub-bacia 2018

Dito isto a populaccedilatildeo atual de Gararu caracteriza-se em uma estimativa de 11370 pessoas sendo que 509 satildeo homens e 491 refere-se as mulheres outro ponto importante a se destacar eacute que a maioria dessas pessoas moram na aacuterea rural e a outra pequena minoria reside na aacuterea urbana

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Outros aspectos importantes a se destacar satildeo os fatores naturais presentes nessa regiatildeo Iniciamos pelo clima atuante o semiaacuterido que eacute quente e uacutemido cujas caracteriacutesticas satildeo bem marcantes possui poucas variaccedilotildees de temperatura durante o ano baixo indicie pluviomeacutetrico as chuvas satildeo maacute distribuiacutedas e geralmente se concentram nos meses de janeiro a maio

Detecta-se tambeacutem a formaccedilatildeo geoloacutegica e

geomorfoloacutegica do municiacutepio estudado marcada por tabuleiros de altitudes modestas limitados por escapas abruptas denominadas de barreiras satildeo formados por argilas coloridas e arenito devido a essa formaccedilatildeo de relevo na regiatildeo seus solos satildeo siacutelico-argilosos que natildeo permite o desenvolvimento da vegetaccedilatildeo abundante o que explica a presenccedila da vegetaccedilatildeo arbustiva e herbaacutecea ou seja plantas de porte rasteiro

Eacute oportuno destacar tambeacutem a regiatildeo hidrograacutefica a ser estudada que eacute a Micro bacia Hidrograacutefica do Rio Gararu (SE) estaacute inserida na Bacia Hidrograacutefica do Rio Satildeo Francisco que abrange uma aacuterea de 641000 kmsup2 possui 158 afluentes e dentre eles destaca-se nessa pesquisa o Rio Gararu situado no trecho do baixo curso do Rio Satildeo Francisco

PROCEDIMENTOS METODOLOacuteGICOS

Cabe aqui descrever um pequeno texto sobre o passo-

a- passo desta pesquisa mas antes de qualquer coisa eacute primordial falarmos um pouco sobre a importacircncia da metodologia em qualquer trabalho cientifico a metodologia significa ldquona origem do termo estudo dos caminhos dos instrumentos usados para se fazer ciecircnciardquo (DEMO 1941)

Eacute uma disciplina instrumental a serviccedilo da pesquisa que visa indagar os processos cientiacuteficos e os limites da ciecircncia ldquoseja com referecircncia agrave capacidade de conhecer seja com

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referecircncia agrave capacidade de intervir na realidaderdquo (DEMO 1941) Assim decorre que tudo na ciecircncia eacute discutiacutevel

Natildeo haacute teoria final prova cabal pratica intocaacutevel dado evidente Isto eacute uma caracteriacutestica natildeo uma fraqueza o que funda ademais agrave necessidade inacabaacutevel da pesquisa seja porque a maneira como a tratamos podem sempre ser questionadas(DEMO 1941)

Outros autores foram fundamentais para melhor

compreensatildeo sobre os processos metodoloacutegicos os que mais destacam-se satildeo BOTELHO e CUNHA Um dos livros mais utilizados pelos estudiosos de bacias hidrograacuteficas urbanas de BOTELHO eacute Geomorfologia Urbana e o de CUNHA eacute o livro de Geomorfologia e Meio Ambiente

As etapas metodoloacutegicas tiveram iniacutecio com reuniotildees Em seguida ocorreu um levantamento bibliograacutefico em que foram utilizados livros teses artigos cientiacuteficos entre outros materiais que foram de fundamental importacircncia Foi realizado o trabalho de campo ao municiacutepio estudado com o intuito de conhecer a realidade e obter dados gerais fotos relatos e observaccedilotildees

RESULTADOS E DISCUSSAtildeO

A aacuterea pesquisada rio Gararu estaacute inserido no

contexto da bacia hidrograacutefica dorio Satildeo Francisco onde seu curso inferior estaacute em confluecircncia com o mesmo O que pode-se perceber dos principais problemas ambientais no trabalho de campo localiza-se na margem direita do rio devido a

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presenccedila de residecircncias que despejam dejetos e lixos dentro do curso fluvial (ver figura 3)

IMAGEM 03 Rio Gararu localizado na cidade de GARARUSE

Fonte Trabalho de Campo03fev2018

A ocupaccedilatildeo e desenvolvimento inicial dessa cidade se

deram devido a presenccedila dos rios que favoreceu a economia local atraveacutes da pesca agricultura e pecuaacuteria No entanto com avanccedilo do processo de urbanizaccedilatildeo sem planejamento adequado fez com que a cidade crescesse em direccedilatildeo ao rio causando um processo de degradaccedilatildeo ambiental cujo o qual requer uma urgecircncia de ordenamento

Na observaccedilatildeo do trabalho de campo pode-se perceber que haacute dejetos de esgotos residenciais sendo despejados dentro do rio sem nenhum processo de tratamento constituindo assim uma fonte de poluiccedilatildeo pontual nota-se tambeacutem a

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presenccedila de lixo no leito maior do rio favorecendo a presenccedila de vegetaccedilatildeo inadequada prejudicial aos animais e ao homem

A campanha de saneamento de Sergipe viabiliza o controle da qualidade da aacutegua atraveacutes de etapas do sistema de abastecimento processo no qual ocorre a coleta de aacutegua nos rios barragens poccedilos por meio de bombas eacute transportada por tubulaccedilotildees ateacute a estaccedilotildees de tratamento apoacutes ser trata chega ateacute as residecircncias

Cabe destacar a pouca presenccedila da mata ciliar que

contribuiria de forma positiva para a preservaccedilatildeo do rio que por sua vez em algum de seus trechos natildeo haacute presenccedila de aacutegua mostrando os sedimentos que foram transportados ainda quando estava cheio ou seja o rio estaacute em processo de assoreamento essa accedilatildeo eacute natural no entanto como citado acima com a retirada da cobertura vegetal das margens houve um aceleramento dessa dinacircmica fluvial

Ainda pode-se constatar que devido a existecircncia da atividade pecuarista na aacuterea eacute possiacutevel encontra bovinos equinos e outros animais ao longo do percurso do rio devido a isso haacute uma grande quantidade de excrementos que com as chuvas seratildeo carregados para dentro do rio contribuindo assim com o aumento da concentraccedilatildeo de nutrientes orgacircnicos podendo resultar em uma seacuterie de efeitos colaterais ao meio ambiente como aumento da proliferaccedilatildeo de algas mortalidade dos peixes a aacutegua pode atribuir caracteriacutesticas negativas( odor gosto e cor) que prejudica diretamente o sistema turiacutestico da regiatildeo sem contar com os problemas de sauacutedes que satildeo acarretados para a populaccedilatildeo local ao utilizar essa aacutegua para o consumo direto

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

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A degradaccedilatildeo dos ambientes aquaacuteticos natildeo eacute um problema recente pois desde o processo de formaccedilatildeo das cidades ribeirinhas essa problemaacutetica vem se agravando constantemente a expansatildeo urbana desenfreada eacute a principal causa das mortes dos rios Pouco eacute feito perante a sociedade e o estado para reabilitaccedilatildeo dos cursos drsquoaacutegua acarretando assim diretamente a diminuiccedilatildeo da qualidade da aacutegua doce

Medidas raacutepidas e econocircmicas fazem grandes

diferenccedilas na preservaccedilatildeo ecoloacutegica das massas de aacutegua por exemplo evitar jogar lixo nas margens ou dentro dos rios natildeo despejar esgotos domeacutesticos diretamente nesses cursos evitar desmatar a mata ciliar natildeo canalizar trechos dos rios essas satildeo algumas medidas que contribui para reabilitar e manter a qualidade das aacuteguas dos rios brasileiros

Objetivando realizar uma anaacutelise preliminar do trecho urbano do Rio Gararu foi constatado que a presenccedila humana e suas accedilotildees desenfreadas alteraram o ambiente pois antes era possiacutevel utilizaacute-lo para pesca navegaccedilotildees de pequenos portes lazer e ateacute mesmo o consumo mas infelizmente isso tudo foi perdido devido a poluiccedilatildeo existente Observou-se tambeacutem que natildeo haacute nenhum apoio da sociedade empresas privadas e Estado para construccedilatildeo de oacutergatildeos locais que auxiliem na revitalizaccedilatildeo e preservaccedilatildeo do meio ambiente

Devido a isto eacute previsiacutevel que este problema tende a se agravar conforme o passar do tempo e com ele outros problemas surgiram tambeacutem a economia eacute um bom exemplo pois grande parte da populaccedilatildeo tira o seu sustento e de sua famiacutelia atraveacutes dos benefiacutecios que o rio traacutes (pesca turismo) o sistema pecuaacuterio tambeacutem seraacute afetado diretamente esta aacutegua natildeo seraacute mais propicia futuramente nem para o consumo animal devido ao seu alto teor de poluiccedilatildeo presente a agricultura igualmente teraacute os mesmos impactos negativos ou seja todo sistema social e econocircmico seraacute comprometido

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REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS ANDRADE Aparecido Ribeiro de FELCHAK Ivo Marcelo A poluiccedilatildeo urbana e o impacto na qualidade da aacutegua do Rio das Antas-IratiPR RevBrasGeoambiente v1 n12 p108-132 jan-jun2009 Disponiacutevel em lthttpfileCUsersUsuario Downloads ARTIGO20SOBRE20ANALISE20AMBIENTAL20RIO20URBANO20120(1)pdfgt acessado em 06 fev de 2018 BOTELHO R G M Bacias hidrograacuteficas urbanas In GUERRA A J T (Org) Geomorfologia Urbana Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2011p71-109 COSTA D FS etal Anaacutelise Ambiental do Trecho Urbano do Rio Barra Nova no Municiacutepio de CaicoacuteRN RevISBNv1 p 921-925 jun-jul 2017 Disponiacutevel em lthtppfileCUsersUsuarioDownloadsanalise20ambiental20trecho20urbanopdfgt Acessado em 08 de fev 2018 GALVANIEmersonUnidadesClimaacuteticas Brasileiras Disponiacutevel em lthttpwwwgeografiafflchuspbrgraduacaoapoioApoioApoio_EmersonUnidades_Climaticas_Brasileiraspdfgt Acessado em 05 de fev de 2018 MACHADO Pedro Joseacute de Oliveira TORRES FillipeTamiozzo Pereira Introduccedilatildeo a hidrogeografia Textos baacutesicos de geografia Satildeo Paulo Cengage Learning 2012

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ANAacuteLISE MORFOMEacuteTRICA E SEUS REBATIMENTOS SOCIOAMBIENTAIS NA SUB-

BACIA RIO GARARU

Joseacute Viniacutecius Almeidasup1

(Universidade Federal de Sergipe) (Graduando) E mail jviniciusalmeidagmailcom

Lucas Melo Costasup2 (Universidade Federal de Sergipe) (Graduando)

E mail lucasmelo_33hotmailcom Daniel Almeida Da Silvasup3

(Universidade Federal de Sergipe) (Prof Adjunto DGEI) E mail danielalmeidaufsgmailcom

RESUMO

Este trabalho teve como foco a anaacutelise morfomeacutetrica da sub-bacia do Rio Gararu localizada no Alto Sertatildeo Sergipano Banha municiacutepios como Graccho Cardoso onde estaacute localizada a sua nascente Itabi e Gararu onde estaacute localizada a foz que desaacutegua no Baixo Satildeo Francisco Os estudos morfomeacutetricos eacute de grande importacircncia para a sociedade pois estuda a vulnerabilidade e suscetibilidade de uma determinada aacuterea e isso se justifica fazendo estudos em uma aacuterea pouco pesquisada Para este estudo foram realizadas leituras busca de dados trabalho de campo e mapeamento de aspectos fiacutesicos no software ArcGis 101 com licenccedila acadecircmica A partir da morfometria uma visita teacutecnica foi capaz de observar que a sub-bacia do Rio Gararu possui aproximadamente 540611 kmsup2 de aacuterea como tambeacutem eacute intermitente e eacute caracterizada como de 4ordf ordem na hierarquia fluvial Tem uma forma de bacia alongada pois seu iacutendice de circularidade eacute 025 entatildeo a sub-bacia estudada tem pouca possibilidade de inundaccedilatildeo Tambeacutem eacute possiacutevel observar que nesta aacuterea tecircm poucos estudos e a mesma acaba sendo

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esquecida pelos gestores puacuteblicos o que pode influenciar na natildeo fiscalizaccedilatildeo da accedilatildeo antroacutepica irregular e na poluiccedilatildeo dos recursos hiacutedricos PALAVRAS-CHAVE Sub-bacia morfometria estudos ambientais INTRODUCcedilAtildeO

Os estudos morfomeacutetricos satildeo de grande importacircncia para a anaacutelise fluvial A partir destes caracteriza-se a suscetibilidade da bacia (sub micro mini) estudada a vulnerabilidade ambiental que pode ocorrer atraveacutes de processos erosivos e de inundaccedilotildees Os processos erosivos causam o assoreamento dos rios que vai ter vaacuterias consequecircncias no corpo hiacutedrico como tambeacutem pode intensificar as inundaccedilotildees a qual sofre grande influecircncia tambeacutem dos aspectos morfomeacutetricos da bacia

Segundo Christofoletti 1980 a anaacutelise morfomeacutetrica de bacias hidrograacuteficas eacute a anaacutelise quantitativa da configuraccedilatildeo dos elementos do modelado superficial que geram sua expressatildeo e configuraccedilatildeo espacial Este sendo composto pelo conjunto das vertentes e canais que compotildeem o relevo caracterizado por valores correspondem aos atributos medidos das bacias hidrograacuteficas

Segundo Christofoletti 1980 os resultados aferidos destas variaacuteveis satildeo considerados importantes insumos para o auxiacutelio na verificaccedilatildeo da produccedilatildeo de sedimentos compreensatildeo do comportamento hidroloacutegico auxiacutelio nas poliacuteticas de gestatildeo ambiental aleacutem de revelar indicadores fiacutesicos especiacuteficos para as bacias analisadas

A sub bacia do Rio Gararu estaacute localizada no alto sertatildeo sergipano abrangendo trecircs municiacutepios Tem sua nascente no muniacutecipio de Graccho Cardoso percorre o

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municiacutepio de Itabi e desagua na cidade de Gararu no Rio Satildeo Francisco em seu baixo curso (figura 1)

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Figura 1 Localizaccedilatildeo da Sub-Bacia Rio Gararu

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Essa sub-bacia estaacute caracterizada como intermitente

devido as condiccedilotildees climaacuteticas de semi aridez que segundo Torres 2012 esses cursos drsquoaacutegua em geral escoam durante as estaccedilotildees chuvosas o lenccedilol drsquoaacutegua subterracircneo conserva-se acima do leito fluvial alimentando o curso drsquoaacutegua o que natildeo ocorre na eacutepoca da estiagem quando o lenccedilol freaacutetico se encontra em niacutevel inferior ao leito DESENVOLVIMENTO

Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia Estatiacutestica) a populaccedilatildeo dos municiacutepios banhados pela sub-bacia pesquisada em Graccho Cardoso a estimativa eacute de 5870 pessoas para o ano de 2017 considerada 2332 habkmsup2 de densidade demograacutefica Itabi 4988 pessoas e 2696 habkm de densidade demograacutefica e por uacuteltimo Gararu com estimativa de 11736 pessoas e 1741 habkm para a densidade demograacutefica No que diz respeito a economia as atividades nestes respectivos municiacutepios satildeo semelhantes sendo que a maioria da populaccedilatildeo satildeo pecuaristas e pequena parte da populaccedilatildeo faz uso da agricultura Os principais produtos desses municiacutepios satildeo o milho o leite e o queijo

O clima no alto sertatildeo sergipano eacute caracterizado pela escassez de chuva meacutedias que podem variar de 600mm a 1300mm ao ano e tambeacutem eacute caracterizado por curtas chuvas durante ao ano no periacuteodo de inverno na aacuterea que se localiza sub-bacia Rio Gararu temos a meacutedia que varia de 800mm a 1300mm ao ano (figura 2) com isso percebe-se que haacute um deacuteficit hiacutedrico na regiatildeo que pode influenciar na intermitecircncia da sub-bacia e tambeacutem nos deacuteficit de atividades agriacutecolas jaacute que na regiatildeo natildeo se tem projeto de poliacuteticas puacuteblicas para a instauraccedilatildeo de irrigaccedilatildeo no periacuteodo de seca

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No que diz respeito agraves caracteriacutesticas geoloacutegicas da sub-bacia satildeo consideradas a vegetaccedilatildeo caracterizadas pela caatinga hiperxeroacutefila sendo assim uma caatinga acentuada tambeacutem se observa que a aacuterea eacute caracterizada pelo Metamorfismo Regional Quiacutemica Metamorfismo Regional Plutocircnica e Plutocircnica Metamorfismo Regional (figura 3)

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Figura 2 Mapa de Precipitaccedilatildeo Anual da Sub-bacia Rio Gararu 2018

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Figura 3 Mapa de Precipitaccedilatildeo Anual da Sub-bacia Rio Gararu 2018

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O alto sertatildeo sergipano assim como tambeacutem nessa

aacuterea de pesquisa a caracterizaccedilatildeo geomorfoloacutegica se dar por relevos suavemente ondulados que eacute de predominacircncia do Pediplano Sertanejo (figura 4) Resultado de processo erosivos climaacuteticos e pelo intemperismo seja quiacutemico ou fiacutesico Relacionando com os solos desta aacuterea caracterizados por Solos Litoacutelicos na porccedilatildeo norte da sub-bacia e na porccedilatildeo sul da mesma caracterizados por Podzoacutelico Vermelho Amarelo Equivalente Eutroacutefico (figura 5) percebe-se que esta aacuterea eacute propiacutecia para atividades agriacutecolas mas que por sua vez necessita de chuvas continuas durante o ano ficando assim refeacutem das chuvas de inverno como citado anteriormente

No que diz respeito ao uso do solo desta aacuterea percebe-se uma concentraccedilatildeo de pastagem que satildeo feitos por pequenos e meacutedios proprietaacuterios que por sua vez tendem a fazer uso das atividades pecuaristas Restando do uso do solo nesta aacuterea pequenas concentraccedilotildees da Caatinga Arbustiva Caatinga Arbustiva Arboacuterea e Floresta Estacional (figura 6)

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Figura 4 Mapa de Geomorfologia da Sub-bacia Rio Gararu 2018

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Figura 5 Mapa de Solos da Sub-bacia Rio Gararu 2018

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Figura 6 Mapa do Uso da Terra da Sub-Bacia Rio Gararu 2018

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Em visita de campo observou-se a intermitecircncia dos

rios e afluentes da sub-bacia pesquisada (figura 7 e 8) como tambeacutem a degradaccedilatildeo sofrida pelo mesmo por falta de aacutereas de preservaccedilatildeo permanente e matas ciliares que por sua vez reflete falta de fiscalizaccedilatildeo para o combate a accedilatildeo antroacutepica Figura 7 Foz do Rio Gararu 2018

Figura 8 Intermitecircncia da Sub-bacia Rio Gararu 2018

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Materiais e meacutetodos A metodologia utilizada neste estudo seraacute baseada nos

estudos de AbrsquoSaacuteber (1969) onde seratildeo destacados trecircs niacuteveis de abordagem enfatizando escalas espaciais e temporais e na abordagem geossistecircmica de anaacutelise ambiental apresentada por Bertrand (1971) Este meacutetodo possibilitaraacute o levantamento de dados relacionados com a caracterizaccedilatildeo estrutura e funcionalidade da paisagem

Paralelamente essa paisagem seraacute considerada como um sistema resultante da combinaccedilatildeo dinacircmica entre os elementos fiacutesicos bioloacutegicos e antroacutepicos Dessa forma seratildeo realizados os estudos na bacia hidrograacutefica considerada como um geossistema

As caracteriacutesticas morfomeacutetricas foram verificadas com base em estudos de grandes autores padrotildees de drenagem CHRISTOFOLETTI 1980 a hierarquia fluvial pelo sistema de STRAHLER 1952 e o iacutendice de circularidade segundo Granell-Peacuterez 2001

Foram feitas leituras fichamentos busca de dados trabalhos de campo que foram divididos em 3 etapas o primeiro para reconhecimento da aacuterea pesquisada o segundo para comparar os dados teoacutericos com a realidade e por uacuteltimo para averiguar se havia projetos feitos por poliacuteticas puacuteblicas inseridos nessa aacuterea Tambeacutem foram feitos os tratamentos de dados em laboratoacuterio como mapeamento da aacuterea com o software ArcGis 101 com licenccedila acadecircmica para estudante CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS OU CONCLUSOtildeES

A drenagem fluvial eacute o escoamento das aacuteguas por uma

bacia hidrograacutefica constituiacuteda por um rio e os seus afluentes transportando as aacuteguas das regiotildees mais altas para as mais baixas ateacute outro rio ou mesmo o oceano a drenagem de uma aacuterea eacute fortemente influenciada por alguns fatores entre eles o

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climaacutetico e geoloacutegico originando padrotildees de drenagem distintos na forma e na densidade influenciando no controle estrutural Os padrotildees de drenagem referem-se ao arranjo espacial dos cursos fluviais que podem ser influenciados em sua atividade morfogeneacutetica pela natureza e disposiccedilatildeo das camadas rochosas pela resistecircncia litoloacutegica variaacutevel pelas diferenccedilas de declividade e pela evoluccedilatildeo geomorfoloacutegica da regiatildeo (CHRISTOFOLETTI 1980 P 103) Existem vaacuterios padrotildees de drenagem nos quais se destacam dendriacutetico treliccedila paralelo retangular radial anelar

Com anaacutelises em campo e atraveacutes do software Arcgis 101 a sub-bacia do Rio Gararu foi interpretada com um padratildeo de drenagem dendriacutetica ou arborescente Nesse tipo de drenagem as correntes tributaacuterias ldquose unem formando acircngulos agudos de graduaccedilotildees variadas mas sem chegar nunca ao acircngulo reto A presenccedila de acircngulos retos no padratildeo dendriacutetico ou arborescente constitui anomaliardquo (CHRISTOFOLETTI 1980 P 105)

Aacuterea e Periacutemetro As sub-bacias satildeo aacutereas de drenagem dos tributaacuterios do

curso drsquoaacutegua principal Possuem aacutereas maiores que 100 kmsup2 e menores que 700 kmsup2 (FAUSTINO 1996) Dessa forma afirma-se como uma sub-bacia o campo de estudo jaacute que o mesmo possui uma aacuterea de 540611 kmsup2 e periacutemetro de 164011 km

Hierarquia Essa sub-bacia eacute formada por canais de ateacute 4deg ordem

Para interpretar esse aspecto foi utilizado o sistema de hierarquia fluvial de Strahler 1952 para ele os canais de quarta ordem surgem da confluecircncia de dois canais de terceira ordem podendo receber tributaacuterios das ordens anteriores Essa sub-bacia eacute bem drenada pois haacute uma tendecircncia a serem mais bem drenadas aquelas bacias que tem ordem maior

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Figura 9 Hierarquia Fluvial da Sub-bacia Rio Gararu 2018

Comprimento do rio principal Segundo Tucci 2003 o rio principal eacute aquele que drena

a maior aacuterea no interior da bacia hidrograacutefica Na aacuterea pesquisada o rio principal possui um comprimento de 48107 km desde a sua nascente no municiacutepio de Graccho Cardoso ateacute a sua foz no municiacutepio de Gararu

Forma da Bacia alongada (025) O meacutetodo de anaacutelises morfomeacutetricas se apresentou

adequada para a anaacutelise ambiental da aacuterea estudada e posterior tomadas de decisotildees O iacutendice de circularidade eacute de 025 sendo assim essa sub-bacia eacute considerada alongada tendo menos probabilidade de cheias e inundaccedilotildees

Consideraccedilotildees Finais

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O presente trabalho teve o intuito de analisar as condicionantes fisiograacuteficos e morfomeacutetricos da sub-bacia Rio Gararu bem como mapear e fazer estudos sobre uma aacuterea que tem poucos estudos cientiacuteficos sobre o mesmo Assim dos resultados pode-se observar que a sub-bacia eacute caracterizada como intermitente com um padratildeo de drenagem dendriacutetica ou arborescente com hierarquia fluvial de 4deg ordem e tambeacutem ficou claro que a forma da bacia eacute alongada com o iacutendice de circularidade caracterizado como 025

Pode-se analisar tambeacutem que esta aacuterea eacute esquecida quando se fala em projetos ou fiscalizaccedilotildees de Poliacuteticas Puacuteblicas pois a mesma encontra-se degradada e sem nenhum projeto ou accedilatildeo para combate a accedilatildeo antroacutepica que pode influencia na perda de competecircncia e capacidade da sub-bacia

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS CHRISTOFOLETTI Antocircnio Geomorfologia 2ordf ed Satildeo Paulo Edgard Blucher 1980 MACHADO Pedro Joseacute de Oliveira TORRES Fillipe Tamiozzo Pereira Introduccedilatildeo a hidrogeografia Textos baacutesicos de geografia Satildeo Paulo Cengage Learning 2012 SILVA Jorge Xavier da ZAIDAN Ricardo Tavares Geoprocessamento amp anaacutelise ambiental 7ordf ed Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2003 POLETO Cristiano Bacias hidrograacuteficas e recursos hiacutedricos 1 ed Rio de Janeiro Interciecircncia 2014

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CARSTE EM SERGIPE ANAacuteLISE DA GRUTA DA PEDRA FURADA NO MUNICIacutePIO DE

LARANJEIRAS E DA GRUTA CASA DO CABOCLO NO MUNICIPIO DE JAPARATUBA E A INFLUEcircNCIA DA ACcedilAtildeO ANTROacutePICA

Maciel Santossup1

Universidade Federal de SergipeUFS Graduando Geografia maciel-santos-0hotmailcom

Tais Kalil Rodriguessup2 Universidade Federal de SergipeUFS Doutora em Geologia

tkalilryahoocombr

RESUMO O relevo caacuterstico ocorre predominantemente em

terrenos de rochas calcaacuterias podendo ser encontrado em outras rochas carbonaacuteticas ndash maacutermore e dolomitas ndash tendo como principal caracteriacutestica a dissoluccedilatildeo da rocha atraveacutes da infiltraccedilatildeo da aacutegua Aleacutem da importacircncia dos altos iacutendices de precipitaccedilatildeo o tectonismo a pureza da rocha e a vegetaccedilatildeo existente tecircm grande influecircncia no fluxo de infiltraccedilatildeo No Brasil existem 19 grandes regiotildees caacutersticas possuindo uma das maiores concentraccedilotildees de cavernas do mundo Em Sergipe o iniacutecio do reconhecimento da morfologia caacuterstica ocorreu com as indicaccedilotildees de cavernas realizadas por Brenner em 1888 O ambiente caacuterstico de Sergipe estaacute localizado no supergrupo Canudos constituiacutedo pelos subgrupos Estacircncia e Vaza Barris Para essa pesquisa foi realizado um trabalho de campo para dois ambientes do estado a Gruta da Pedra Furada no municiacutepio de Laranjeiras situado em uma zona carbonaacutetica e a Gruta Casa do Caboclo tambeacutem conhecida como Cipoacute Branco localizada no povoado Satildeo Joseacute da Caatinga no municiacutepio de Japaratuba formada em terreno areniacutetico A ocupaccedilatildeo e o uso indevido dessas cavernas seja como depoacutesito

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de lixos atraveacutes do desmatamento da agricultura exploraccedilatildeo e contaminaccedilatildeo da aacutegua urbanizaccedilatildeo industrializaccedilatildeo e o turismo satildeo os principais fatores dos impactos da accedilatildeo antroacutepica no ambiente Tendo como objetivo apresentar interferecircncia da accedilatildeo antroacutepica no ambiente expondo as feiccedilotildees do processo de degradaccedilatildeo PALAVRAS-CHAVE Carste Cavernas Accedilatildeo Antroacutepica GEOMORFOLOGIA CAacuteRSTICA

Carste eacute o termo utilizado para denominar ambientes da superfiacutecie terrestre o relevo tanto em superfiacutecie como em subsuperficie eacute caracterizado por uma morfologia e hidrologia especiacuteficas resultante da circulaccedilatildeo hiacutedrica

Conforme Karmann (2000) aproximadamente 10 da superfiacutecie do globo terrestre eacute composta por carste Tendo predominacircncia em terrenos constituiacutedos por rochas carbonaacuteticas sendo o calcaacuterio a rocha mais comum por ser acamado maciccedilo puro consolidado duro e cristalino A dolomita tambeacutem apresentam caracteriacutesticas suficientes poreacutem de maior dificuldade de dissoluccedilatildeo O maacutermore arenitos evaporitos entre outros podem apresentar esses aspectos

Christofoletti (1980) afirma que a carstificaccedilatildeo eacute mais raacutepida em regiotildees uacutemida que nas regiotildees secas desde que os demais fatores sejam iguais O relevo carste tem como principal caracteriacutestica a dissoluccedilatildeo quiacutemica das rochas pela infiltraccedilatildeo da aacutegua atraveacutes de fraturas e camadas chamadas de zonas de acamamento Ou seja eacute o tipo de relevo caracteriacutestico de regiotildees com meacutedias altas de pluviosidade natildeo deixando de ocorrer em territoacuterios com baixos iacutendices de precipitaccedilatildeo onde o intemperismo fiacutesico tende a se sobrepor ao quiacutemico Aleacutem do clima o tectonismo a vegetaccedilatildeo local e a pureza das rochas satildeo fatores importantes para que haja o fluxo de infiltraccedilatildeo da aacutegua no carste

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() nas aacutereas uacutemidas a presenccedila de vegetaccedilatildeo densa auxilia a dissoluccedilatildeo pela aacutegua pluvial () nas aacutereas aacuteridas e semiaacuteridas que apresentam terrenos calcaacuterios a morfologia caacutersica eacute pobremente desenvolvida (CHRISTOFOLETTI 1980 p 153)

Em contato com o dioacutexido de carbono a aacutegua que

infiltra nas rochas atraveacutes das chuvas ou dos rios torna-se aacutecida esculpindo de modo consequente as formas desse relevo A porosidade (primaacuteria ou secundaacuteria) da rocha eacute uma das principais justificativas para esse tipo de paisagem A porosidade primaacuteria apresenta uma forma maciccedila dificultando a circulaccedilatildeo da aacutegua atraveacutes de seus gratildeos o que acaba divergindo jaacute a secundaacuteria que conteacutem estruturas descontinuas eacute formada geralmente em poacutes-diagecircnese De acordo com Ford e Williams (1989) a razatildeo principal da gecircnese das cavernas estaacute vinculada ao comportamento estrutural da rocha seu encadeamento geograacutefico e a aacuterea de recarga e descarga hiacutedrica

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Figura 1 ndash Proviacutencias Espeleoloacutegicas do Brasil

Fonte CECAVICMBIO Elaboraccedilatildeo do autor

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Conforme Christofoletti (1980) a hidrologia caacuterstica eacute caracterizada pela ausecircncia de cursos superficiais mas que em algumas aacutereas satildeo niacutetidos os traccedilos deixados por antigos rios A aacutegua subterracircnea natildeo tem um traccedilado estabelecido seguindo sempre os pontos de fraqueza da massa rochosa ateacute achar um ponto em que volte agrave superfiacutecie tendo isso como um fenocircmeno comum do ambiente carste

De acordo com o Centro Nacional de Pesquisas e Conservaccedilatildeo de Cavernas (CECAV) o territoacuterio brasileiro conteacutem 19 grandes proviacutencias espeleoloacutegicas como mostra a figura 1 Em sua obra Karmann (2009) afirma que no Brasil cerca de 3 do territoacuterio brasileiro eacute composto por este relevo onde cerca de 2 eacute composto por carste carbonaacutetico tendo nos grupos Bambuiacute e Una do neoproterozoacuteico a maior aacuterea de rochas carbonaacuteticas como podemos ver na figura 1

No Brasil existem 6652 cavernas 307 desses registros encontram-se no estado de Minas Gerais poreacutem a caverna mais extensa do paiacutes estaacute situada no estado da Bahia no municiacutepio de Campo Formoso e pertence ao Grupo Una a Toca da Boa Vista que tem um padratildeo labiriacutentico e cerca de 100 km de galerias mapeadas No Estado de Satildeo Paulo encontra-se o maior desniacutevel subterracircneo do paiacutes a Casa da Pedra com 350m localizada no alto vale do Ribeira conforme a Sociedade Brasileira de Espeleologia (SBE) Curitiba no estado do Paranaacute e Belo Horizonte em Minas gerais satildeo grandes regiotildees metropolitanas e apresentam um contato limiacutetrofe com aacutereas caacutersticas

No territoacuterio Sergipano os primeiros registros satildeo recentes se compararmos com os demais estados da federaccedilatildeo Segundo Donato (2012)

() pode-se situar o iniacutecio do reconhecimento da morfologia caacuterstica em Sergipe em 1888 com as indicaccedilotildees de cavidades naturais feitas por Branner (1888) nos municiacutepios de Divina

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Pastora (ie Caverna do Urubu) e Laranjeiras (ie Caverna da Pedra Furada) Como registros posteriores podem ser citados a publicaccedilatildeo do IBGE (FERREIRA 1959) e as exploraccedilotildees de Joseacute Augusto Garcez na deacutecada de 1970 (PROUS 1992) (DONATO

2011 p 02) O ambiente caacuterstico em Sergipe estaacute localizado na

regiatildeo do Supergrupo Canudos composto pelos subgrupos Estacircncia e Vaza Barris do periacuteodo Preacute-Cambriano como afirma (AULER et al 2001) O carste sergipano estaacute presente nas trecircs proviacutencias geomorfoloacutegicas da unidade federativa Planiacutecie Litoracircnea Tabuleiros Costeiros e o Pediplano Sertanejo Franccedila (2007) afirma que as aacutereas caacutersticas de Sergipe podem ser concentradas nas faixas Tropical Uacutemido Tropical de Transiccedilatildeo e o Semiaacuterido A figura 2 apresenta a localizaccedilatildeo da zona caacuterstica no estado de Sergipe que contempla o maior numero de cavernas

Em conformidade com Williams (1993) o impacto mais significativo adveacutem do desflorestamento e das atividades agriacutecolas podendo resultar em uma desertificaccedilatildeo rochosa Aleacutem da produccedilatildeo de monoculturas diversas cavernas satildeo utilizadas como depoacutesito de lixo e entulho pelas comunidades do entorno ou apresentam depredaccedilotildees em funccedilatildeo da visitaccedilatildeo desordenada Inuacutemeras obras de infraestrutura voltadas para implantaccedilatildeo de induacutestrias de exploraccedilatildeo mineral ndash como no municiacutepio de Simatildeo Dias para a exploraccedilatildeo da Cal e em Laranjeiras para a produccedilatildeo de cimento ndash progridem sobre as cidades exercendo forte pressatildeo sobre os recursos ambientais

Segundo Hardt (2008) a cobertura vegetal sobre o solo eacute de extrema importacircncia para o desenvolvimento do relevo caacuterstico e todos precisam estar em comum equiliacutebrio Destarte natildeo soacute a existecircncia do solo fica protegida na presenccedila da vegetaccedilatildeo (aacutervores eou presenccedila de folhas e materiais

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bioloacutegicos em decomposiccedilatildeo) servindo de escudo para o impacto direto da chuva sobre o solo como tambeacutem ao fato de possibilitar o estabelecimento de uma fauna e flora de solo responsaacutevel por produzir o dioacutexido de carbono essencial no desenvolvimento caacuterstico Huppert et al (1993) afirma que a atividade turiacutestica acaba sendo uma contraposiccedilatildeo aacute conservaccedilatildeo do ambiente carste pois o solo a cobertura vegetal e o aquiacutefero satildeo totalmente suscetiacuteveis de sofrerem os impactos causados pelas atividades recreativas Aleacutem disso a presenccedila de visitantes ao ambiente interno de uma caverna pode interferir diretamente na alteraccedilatildeo teacutermica fiacutesico-quiacutemica e bioloacutegica do ambiente O impacto direto tambeacutem pode existir devido agrave degradaccedilatildeo fiacutesica do ambiente atraveacutes da quebra de espeleotemas acidentalmente ou deliberadamente

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Figura 2 ndash Localizaccedilatildeo do ambiente Caacuterstico de Sergipe e aacuterea de estudos

Fonte Macedo et al 2012

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Um rio que tenha sua origem em terreno natildeo caacuterstico mas que em um determinado momento do seu percurso acaba penetrando em terreno caacuterstico e em uma cavidade estaraacute trazendo para o interior desta poluentes restos animais e vegetais cascalho sedimentos entulhos entre outros que porventura tenha chegado ateacute este rio Deste modo a proteccedilatildeo da caverna passa necessariamente pela proteccedilatildeo de qualquer recurso hiacutedrico associado natildeo importando o quatildeo distante da cavidade este tenha sua origem

Para a elaboraccedilatildeo do presente artigo foi utilizada a metodologia de estudos atraveacutes de revisotildees bibliograacuteficas reflexivas complementados com consultas feitas aos bancos de dados do CECAVICMBIO e da Sociedade Brasileira de Espeleologia (SBE) buscando informaccedilotildees de vaacuterios autores para formar a ideia do todo partindo de um breve histoacuterico contextualizando o relevo caacuterstico e sua formaccedilatildeo E um trabalho de campo realizado na Gruta da Pedra Furada situada em um ambiente carbonaacutetico no municiacutepio de Laranjeiras-SE e a Gruta Casa do Caboclo formada em terreno areniacutetico na cidade de Japaratuba-SE com o objetivo de realizar registros fotograacuteficos do local observando e apresentando a interferecircncia da accedilatildeo antroacutepica no ambiente expondo as feiccedilotildees e o processo de degradaccedilatildeo gerado pelo homem atraveacutes da exploraccedilatildeo do mineral calcaacuterio ndash principalmente para a produccedilatildeo de cimento ndash e extraccedilatildeo do petroacuteleo por empresas estatais de economia mista CARSTE DE SERGIPE

De acordo com o SBE em Sergipe existem 116 cavernas distribuiacutedas em 35 municiacutepios Mas nove vatildeo concentrar a maior parte da paisagem caacuterstica tendo na cidade

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de Poccedilo verde o maior nuacutemero de cavidades registradas logo em seguida aparecem Canindeacute de Satildeo Francisco e Laranjeiras A maior caverna de Sergipe e que apresenta oportunidades de visitaccedilatildeo eacute a Toca da Raposa em Simatildeo Dias com aproximadamente 400m de desenvolvimento total ndash somando-se todos os condutos da caverna O Abismo de Simatildeo Dias ou Furna do Dorinha eacute o maior no estado possuindo pouco mais de 50m de profundidade Conforme Macedo (2016) o carste tradicional em Sergipe corresponde agrave 145337 Kmsup2 da aacuterea total do estado

Foi observado no trabalho de campo que a Gruta da Pedra Furada no municiacutepio de Laranjeiras-SE eacute assentada em um terreno composto por rocha carbonaacutetica sendo hoje um ambiente natildeo mais ativo denominado um paleocarste27

A gruta fica localizada na comunidade do Machado ndash latitude -10820685 e longitude -37177678 ndash tendo forte influecircncia histoacutericocultural no municiacutepio O local foi utilizado para catequeses e cultos religiosos pelos jesuiacutetas e rituais de religiotildees afro-brasileiras Com o formato de um arco onde os efeitos da accedilatildeo antroacutepica satildeo bastante visiacuteveis o local encontra-se deteriorado o que era vegetaccedilatildeo nativa ndash Floresta Pluvial Atlacircntica ndash virou pastagem e o que era uma imensa gruta natildeo passa de uma faixa de rocha carbonaacutetica erodida A exploraccedilatildeo vem ocasionando a retirada do mineral calcaacuterio gerando a detonaccedilatildeo numa velocidade anormal como mostra na figura 3

A produccedilatildeo de cimento em Sergipe consolidou-se no final do seacuteculo XX e iniacutecio do seacuteculo XXI quando o estado passou a ser o maior polo de produccedilatildeo de cimento da regiatildeo nordeste devido justamente a sua

27 Ainda natildeo possuem dados que definam a idade do paleocarste da aacuterea precisando de estudos mais aprofundados

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riqueza em relaccedilatildeo a sua disponibilidade em suas terras do carbonato de caacutelcio ndash calcaacuterio (MACEDO et al 2012 p 267-272)

Com o trabalho de campo foi possiacutevel observar o

avanccedilado processo de degradaccedilatildeo ambiental causado principalmente pelas mineradoras de calcaacuterio pedreiras e faacutebricas de cimento a poluiccedilatildeo e a dificuldade na drenagem da aacutegua para o lenccedilol freaacutetico tambeacutem satildeo fatores que induzem a esse processo Quanto agrave vegetaccedilatildeo foi possiacutevel identificar o processo de devastaccedilatildeo no entrono da Gruta da Pedra Furada onde as matas originais foram substituiacutedas por culturas de subsistecircncia e da cana-de-accediluacutecar implicando diretamente no ecossistema do relevo caacuterstico Ou seja a ausecircncia da vegetaccedilatildeo nativa da regiatildeo implica diretamente no processo de absorccedilatildeo da aacutegua como tambeacutem na infiltraccedilatildeo do gaacutes carbono A Gruta Casa do Caboclo encontra-se em um local de difiacutecil acesso ndash latitude -10632546 e longitude -36883085 ndash no litoral sergipano no povoado Satildeo Joseacute da Caatinga municiacutepio de Japaratuba-SE sendo de pouco conhecimento da sociedade e mesmo assim ainda eacute possiacutevel encontrar impactos da accedilatildeo humana A gruta fica em um pequeno remanescente da floresta Pluvial Atlacircntica e seu desenvolvimento estaacute associado a processos de abatimento e dissoluccedilatildeo ocorridos em argilito arenoso da Formaccedilatildeo Barreiras que acaba sendo mais propiacutecio aos efeitos da accedilatildeo antroacutepica figura 4

Atualmente existe a forte exploraccedilatildeo de petroacuteleo e gaacutes natural em toda a extensatildeo territorial do municiacutepio De acordo com a Agecircncia Nacional de Petroacuteleo Gaacutes Natural e Biocombustiacuteveis (ANP) Japaratuba possui a maior quantidade de poccedilos terrestres de exploraccedilatildeo do Petroacuteleo satildeo 338 poccedilos o que representa cerca de 40 dos poccedilos no estado Nas redondezas da gruta eacute possiacutevel identificar dutos de gaacutes natural

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e Cavalos-de-pau mecacircnicos para exploraccedilatildeo e extraccedilatildeo do petroacuteleo Figura 3 - Gruta da Pedra Furada municiacutepio de Laranjeiras-Se 2017

Fotos de Iacutetalo Assis da Silva 2017 Fonte Trabalho de Campo 2017

O acesso para a parte interna da gruta soacute existe pela consequecircncia do desabamento de uma Dolina de Colapso ao adentrar eacute possiacutevel identificar um composto de claraboias ndash pequenas aberturas na parte superior do salatildeo ndash facilitando o processo de infiltraccedilatildeo da aacutegua Ainda na parte interna da Casa do Caboclo eacute possiacutevel identificar um coacuterrego que na maior parte do ano permanece perene abaixo temos a figura 4 com imagens da Gruta da Casa do Caboclo CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS De acordo com o que foi abordado natildeo somente os municiacutepios de Laranjeiras e Japaratuba como tambeacutem o estado de Sergipe possuem um consideraacutevel patrimocircnio e

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potencial espeleoloacutegico Contudo o seu reconhecimento eacute de suma importacircncia para a contribuiccedilatildeo que destaque a forma no qual se encontra a espelogecircnese da regiatildeo implicando em uma anaacutelise do reconhecimento baacutesico preliminar do carste sergipano ainda como tema a ser aprofundado em pesquisas futuras Figura 4 ndash Gruta do Caboclo Japaratuba-SE 2017

Fotos de Iacutetalo Assis da Silva 2017 Fonte Trabalho de Campo 2017

A ausecircncia de um manejo especiacutefico nas cavidades subterracircneas visitadas implica em consequecircncias negativas Contudo eacute necessaacuterio haver um planejamento quanto ao uso e acesso de cavernas que sejam devidamente controlados No Brasil e em Sergipe as retiradas dos minerais em destaque a Cal e o Calcaacuterio acabam afetando todo o ciclo gerados principalmente pelos confrontos socioambientais Eacute importante que mais estudos sejam realizados com o intuito de intensificar a elaboraccedilatildeo de instrumentos normativos

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quanto ao uso ocupaccedilatildeo e a retirada dos recursos que esse ambiente proporciona O ambiente caacuterstico eacute um dos mais vulneraacuteveis e a transformaccedilatildeo de uma caverna natural em uma caverna turiacutestica deve ser projetada aplicada e manejada com grande atenccedilatildeo para os problemas de proteccedilatildeo ambiental BIBLIOGRAFIA AULER Augusto Sarreiro RUBBIOLI Ezio BRANDI Roberto As grandes cavernas do Brasil Grupo Bambuiacute de Pesquisas Espeleoloacutegicas 2001 CECAV ldquoCentro Nacional de Pesquisa e Conservaccedilatildeo de Cavernasrdquo Disponiacutevel em lthttpwwwicmbiogovbrcecavgt [Acedido em 09 de Dezembro de 2017] CHRISTOFOLETTI Antocircnio ldquoGeomorfologiardquo Editora Blucher Satildeo Paulo-SP 1980 ______ ldquoModelagem de sistemas ambientaisrdquo Satildeo Paulo Editora Edgard Bluumlcher Ltda 1999 DO BRASIL A Q (2013) Agecircncia Nacional do Petroacuteleo Gaacutes Natural e Biocombustiacuteveis DONATO CR MACEDO HS (2013) ldquoLocalizaccedilatildeo geograacutefica de cavernas a importacircncia de saber manipular instrumentos e analisar os dadosrdquo In RASTEIRO MA MORATO L (orgs) CONGRESSO BRASILEIRO DE ESPELEOLOGIA 32 Barreiras Anais Campinas SP SBE pp267-272

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Disponiacutevelem lthttpwwwcavernasorgbranais32cbe32cbe_267-272pdfgt [Acedido em 05 de DEZ de 2017] DONATO C R ldquoAnaacutelise de impacto sobre as cavernas e seu entorno no Municiacutepio de Laranjeiras Sergiperdquo 2011 198 p Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente) Universidade Federal de Sergipe Satildeo Cristoacutevatildeo 2011 FORD D C WILLIAMS P W (2007) ldquoKarst Geomorphologic and Hydrologyrdquo Chapman and Hall Londres FRANCcedilA VERA LUacuteCIA ALVES CRUZ MARIA TEREZA SOUZA Atlas Escolar Sergipe espaccedilo geohistoacuterico e cultural 1ed Joatildeo Pessoa Editora Grafset 2007 HARDT Rubens ldquoSistema caacuterstico e impactos antroacutepicos consideraccedilotildees sobre o manejordquo Simpoacutesio de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Geografia do Estado de Satildeo Paulo SIMPGEO-SP p 1295-1309 2008HUPPERT G BURRI E FORTI P CIGNA A Effects of Tourist Development on Caves and Karst In WILLIAMS P W (Editor) Karst Terrains Environmental changes and human impact Cremlingen-Destedt Catena-Verlag1993 p 251-268 (Catena Supplement 25) JANSEN DC GALVAtildeO ALCO LIMA MF CAVALCANTI LF NETO JFC ldquoRegiotildees Caacutersticas do Brasilrdquo Disponiacutevel em lthttpwwwicmbiogovbrcecavprojetos-e-atividadesprovincias-espeleologicashtmlgt [Acedido em 03 de Dezembro de 2017]

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JORDAN T GROTZINGER J (2013) ldquoPara Entender a Terra 6rdquo ed Bookman Editora LTDA Satildeo Paulo SP pp 475-501 KARMANN I SAacuteNCHEZ L H (1979) ldquoDistribuiccedilatildeo das rochas carbonaacuteticas e proviacutencias espeleoloacutegicas do Brasilrdquo Espeleotema Monte Siatildeo MG v 13 pp 105-167 KARMANN I (2000) ldquoCiclo da aacutegua aacutegua subterracircnea e sua accedilatildeo geoloacutegicardquo Decifrando a terra 2 191-214 SANTOS DB MENEZES De H J S (2003) ldquoAspectos Histoacutericos e Geograacuteficos sobre a ocorrecircncia de Cavernas em Sergiperdquo CONGRESSO BRASILEIRO DE ESPELEOLOGIA 27 Anais Januaacuteria MG Pp 249-252 Disponiacutevel em httpwwwsbecombranais27cbe27cbe_248-252pdf [Acedido em 03 de Dezembro de 2017) SBE (2017) ldquoSociedade Brasileira de Espeleologia Cadastro Nacional de Cavernasrdquo Disponiacutevel em lthttpwwwcavernasorgbrcncgt [Acedido em 05 de Dezembro de 2017] WILLIAMS P W (Editor) ldquoKarst Terrains Environmental changes and human impactrdquo Cremlingen-Destedt Catena-Verlag 1993 p 251-268 (Catena Supplement 25)

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USO DO SOLO E SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL DO PLANTIO DE BATATA DOCE NO

MUNICIacutePIO DE MOITA BONITA-SE

Helenilson de Jesus Barreto (es) sup1

Departamento de GeografiaUniversidade Federal de Sergipe (Geografia Licenciatura)

E-mail leninhoufsgmailcom

Cristiano Apriacutegio dos Santos (es) 2

Departamento de GeografiaUniversidade Federal de Sergipe ( Doutor em Geografia)

E-mail aprigeogmailcom

Joseacute Lucas Santos (es) 3

Departamento de GeografiaUniversidade Federal de Sergipe (Geografia Licenciatura)

E-mail rtx010203gmailcom

RESUMO

O presente trabalho tem como objetivo analisar a sustentabilidade ambiental do plantio de batata doce no municiacutepio de Moita Bonita em particular no povoado Moita de Cima Inicialmente os estudos foram conduzidos para o diagnoacutestico ambiental sendo utilizados levantamentos bibliograacuteficos O instrumental metodoloacutegico da pesquisa constou de um processo de investigaccedilatildeo mediante a realizaccedilatildeo de entrevistas que contemplaram questotildees relativas ao produtor e a unidade de produccedilatildeo Os resultados e a discussatildeo referentes agrave realizaccedilatildeo da pesquisa direta foram apresentados segundo as sustentabilidades com seus indicadores ecoloacutegicos econocircmicos sociais e culturais Apoacutes as anaacutelises da pesquisa de campo constatou-se que os principais indicadores que tecircm

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levado a uma baixa sustentabilidade ambiental satildeo a praacutetica de um sistema agriacutecola intensivo em insumos externos e na utilizaccedilatildeo da terra o uso excessivo de defensivos agriacutecolas a elevada infestaccedilatildeo de pragas de insetos e de doenccedilas bacterianas a baixa comercializaccedilatildeo da produccedilatildeo em termos de preccedilos justos a contaminaccedilatildeo humana por pesticidas o que dificulta a busca de soluccedilotildees para os problemas existentes entre os produtores familiares PALAVRAS-CHAVE Sustentabilidade ambiental formantes fiacutesicos e socioeconocircmico INTRODUCcedilAtildeO

Desde os primoacuterdios de nossa histoacuteria a degradaccedilatildeo

associada agraves desigualdades sociais estaacute presente como elemento constitutivo do processo de desenvolvimento agriacutecola brasileiro Em grande medida esse fato se deve agrave permanente subordinaccedilatildeo da agricultura nacional agraves loacutegicas econocircmicas externas caracterizando-a como setor de transferecircncia de riquezas agraves expensas da exploraccedilatildeo predatoacuteria dos recursos naturais e da exclusatildeo social No contexto histoacuterico o crescimento de urbanizaccedilatildeo e da industrializaccedilatildeo se superpocircs a uma estrutura agraacuteria essencialmente concentrada e desigual expressa no modelo produtivo conhecido como revoluccedilatildeo verde A proposta essencial desse modelo supunha a substituiccedilatildeo de formas tradicionais baseadas no trabalho humano por um pacote tecnoloacutegico fundado em variedades vegetais geneticamente melhoradas irrigaccedilatildeo agrotoacutexicos com maior poder biocida motomecanizaratildeo e fertilizantes quiacutemicos (GLIESSMAN 2000)

Nesse contexto o presente estudo teve como objetivo analisar o sistema agriacutecola de batata doce na no municiacutepio de Moita Bonita tomando ecircnfase o povoado Moita de Cima na

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perspectiva de compatibilidade entre agricultura e meio ambiente

A atual sede do Municiacutepio de Moita Bonita localizada na regiatildeo central do Estado de Sergipe microrregiatildeo do Agreste de Itabaiana teve suas origens a partir de uma localidade denominada Alto do coqueiro e por influecircncia de outra localidade vizinha denominada Moita de Cima teve seu nome alterado para Moita Bonita Em 1950 a localidade possuiacutea como moradores apenas quatro famiacutelias e foi elevada agrave categoria de vila pela Lei Estadual nordm 823 de 25071957 como sede do 2ordm Distrito de Paz do Municiacutepio de Itabaiana ao qual pertencia Nesta eacutepoca a comunicaccedilatildeo com outras regiotildees se dava por estradas precaacuterias que ficavam quase intransitaacuteveis nos periacuteodos chuvosos o transporte era feito a peacute carro de bois ou atraveacutes de animais pois natildeo existiam veiacuteculos e estradas apropriadas

O primitivo Alto do Coqueiro natildeo passava de uma aglomeraccedilatildeo de siacutetios onde seus primeiros moradores construiacuteram uma capelinha e escolheram Santa Terezinha para padroeira Aos poucos o local foi desenvolvendo-se aumentando o nuacutemero de casas mas como pertencia a Itabaiana tinha sua vida influenciada pelas suas brigas poliacuteticas No iniacutecio da deacutecada de 60 Itabaiana tinha como chefe poliacutetico Euclides Paes Mendonccedila originaacuterio do povoado vizinho Serra do Machado pertencente ao municiacutepio de Ribeiroacutepolis cujo irmatildeo Pedro Paes Mendonccedila seu inimigo poliacutetico tinha muita influecircncia na verdade a regiatildeo era seu curral eleitoral

Como o entatildeo deputado Pedro Paes Mendonccedila natildeo conseguia bater seu irmatildeo em outras regiotildees de Itabaiana decidiu ele lutar pela independecircncia poliacutetica de sua regiatildeo Apoacutes muito jogo de influecircncia a Lei Estadual nordm 1165 de 120363 cria o municiacutepio de Moita Bonita com sede na cidade de Moita Bonita antigo Alto do Coqueiro que

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enfrentou a concorrecircncia de outra localidade denominada Capunga que pleiteava o direito de ser a sede do municiacutepio por ser maior e mais antigo Conta os antigos moradores do capunga que a povoaccedilatildeo foi fundada em 1843 pelo portuguecircs Antocircnio Brito que depois de muitas brigas com os iacutendios possivelmente xocoacutes dominou as terras da regiatildeo O nome Capunga eacute explicado atraveacutes da junccedilatildeo de duas palavras capanga e mapurunga aacutervore comum na localidade embaixo da qual os iacutendios faziam tocaias a Antocircnio Brito e seus comandados No entanto embora o Capunga fosse maior e mais antigo perdeu a possibilidade de ser a sede do municiacutepio por influecircncia de Euclides Paes Mendonccedila

Nas primeiras eleiccedilotildees municipais que aconteceu em 06 de outubro de 1963 Pedro Paes Mendonccedila sai vencedor batendo seu adversaacuterio Josias Costa que futuramente iria ser figura muito importante na regiatildeo Moita Bonita estaacute localizada na regiatildeo central do Estado de Sergipe limitando-se a norte com os municiacutepios de Ribeiroacutepolis e Nossa Senhora das Dores a leste com Santa Rosa de Lima e Malhador e a sul e oeste com Itabaiana A aacuterea do municiacutepio ocupa 957km2 A sede municipal tem uma altitude de 180 metros e coordenadas geograacuteficas de 10deg3440de latitude sul e 37deg2037de longitude oeste

A agricultura moitense a partir da deacutecada de 90 vem passando por mudanccedilas significativas tanto na forma de produzir como nas relaccedilotildees de produccedilatildeo decorrentes principalmente das poliacuteticas agriacutecolas implantadas pelas accedilotildees do governo como o creacutedito rural subsidiado e atraveacutes de investimento na agricultura com a implantaccedilatildeo de projetos de irrigaccedilatildeo Sergipe estaacute entre os quatro estados que mais produzem batata doce no paiacutes Em Moita Bonita quase 80 agricultores fazem parte de uma cooperativa de incentivo agrave agricultura familiar

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DESENVOLVIMENTO

A pesquisa foi desenvolvida em etapas sequenciais que correspondem a dois niacuteveis progressivos das escalas espaciais de anaacutelise Inicialmente foram realizados levantamentos bibliograacuteficos sobre a temaacutetica e dos dados e informaccedilotildees baacutesicas sobre atributos e propriedades dos componentes fiacutesicos e socioeconocircmicos da aacuterea estudada atraveacutes de estudos geoloacutegicos geomorfoloacutegicos pedoloacutegicos climatoloacutegicos e dos indicadores socioeconocircmicos refletidos nas formas de uso e ocupaccedilatildeo do solo

Agrave luz dos indicadores de sustentabilidade ecoloacutegica econocircmica social e cultural foi estudado o cultivo de batata doce no muniacutecipio de Moita Bonita Assim procedeu-se a um levantamento amostral no povoado Moita de Cima referente a 50 produtores As informaccedilotildees foram obtidas atraveacutes de entrevista semiestruturada Na medida do possiacutevel procurou-se tambeacutem estabelecer um diaacutelogo informal com os entrevistados e familiares O objetivo de tal procedimento foi de coletar informaccedilotildees sobre a realidade vivenciada pela experiecircncia de cada entrevistado

Assim foram realizadas entrevistas com 20 produtores que representam 40 de um total de 100 distribuiacutedos em aacutereas irrigadas e de sequeiro (teacutecnica agriacutecola para cultivar terrenos onde a pluviosidade eacute baixa) no municiacutepio de Moita Bonita onde a aacuterea estudada foi o povoado Moita de cima este que pertence ao municiacutepio jaacute citado

ldquoAtraveacutes do conhecimento das potencialidades dos recursos naturais o homem interfere na dinacircmica natural da Terra de maneira raacutepida e agressiva gerando seacuterios problemas ambientais Isso faz com que alguns pesquisadores defendam a ideacuteia de estarmos hoje vivenciando uma nova realidade ambiental onde as derivaccedilotildees antroacutepicas apresentam-se cada

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vez mais influentes e contundentesrdquo (VICENTE e PEREZ FILHO 2003)

O municiacutepio estaacute parcialmente incluiacutedo na aacuterea do poliacutegono da seca com um clima do tipo megateacutermico seco a sub-uacutemido transiccedilatildeo para semi-aacuterido temperatura meacutedia anual de 24degC e precipitaccedilatildeo pluviomeacutetrica meacutedia no ano de 1000mm e periacuteodo chuvoso de marccedilo a agosto O relevo eacute de superfiacutecie pediplanada tabular erosiva e dissecado em forma de colinas com aprofundamento de drenagem fraca Os solos satildeo Podzoacutelicos Vermelho Amarelo Equivalente Eutroacutefico Litoacutelico Eutroacutefico e Planosol que fixam uma vegetaccedilatildeo de Capoeira Caatinga Campos Limpos e Campos Sujos (SERGIPESEPLANTECSUPES 19972000)

O contexto geoloacutegico do municiacutepio (Figura 01) estaacute inserido nos domiacutenios da Faixa de Dobramentos Sergipano (neo a mesoproterozoacuteico) e do Embasamento Gnaacuteissico (Arqueano a Paleoproterozoacuteico) Em mais de 60 do territoacuterio afloram ortognaisses gnaisses bandados e migmatitos integrantes do Complexo Gnaacuteissico Migmatiacutetico do Domo de Itabaiana

Na porccedilatildeo norte e em pequenas aacutereas a oeste afloram rochas da Faixa de Dobramento representadas pelos Grupos Estacircncia (Formaccedilatildeo Lagarto) Simatildeo Dias (Formaccedilatildeo Frei Paulo) e Miaba (Formaccedilatildeo Ribeiroacutepolis) e onde predominam Argilitos Siltitos Arenitos Finos Conglomerados Filitos Siltosos Metarenitos Impuros Metarritimitos Filitos Metacarbonatos Quartzo-Sericita- Clorita-Filitos Metagrauvacas Metavulcanitos Aacutecido-Intermediaacuterio e QuartzoPlagioclaacutesio-Sericita-Clorita-Xisto

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Figura 01 Geologia Simplificada de Moita Bonita

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O podzolicos Vermelho Amarelo Equivalente

Eutrofico se caracteriza pela sua compatibilidade no plantio da batata doce pois ele possui um teor favoravel de nutrientes texturas profundidade presenccedila ou natildeo de cascalhos desta forma torna-se dificil de generalizar suas qualidades Problemas seacuterios de erosatildeo satildeo verificados naqueles solos em que haacute grande diferenccedila de textura entre os horizontes A e B sendo tanto maior o problema quanto maior for a declividade do terreno (Figura 02)

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Figura 02 Mapas de Solos de Moita Bonita- SE

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Os solos Litoacutelicos no plantio na batata doce nao satildeo

utilizados pois satildeo muito pouco desenvolvidos rasos natildeo hidromoacuterficos apresentando horizonte A diretamente sobre a rocha ou horizonte C de pequena espessura Satildeo normalmente pedregosos eou rochosos moderadamente a excessivamente drenados com horizonte A pouco espesso cascalhento de textura predominantemente meacutedia normalmente esses locais onde existem a presenccedila do solo Litolico e aproveitado para a plantaccedilatildeo de capim para o uso na pecuaria pois o capim natildeo requer muito de materia organica do solo Os solos arenoquartizosos profundo (Natildeo Hidromorficos) natildeo obtem produtividade alguma pois sua composiccedilatildeo natildeo possui nutriente ele eacute formada principalmente por gratildeos de quartzo com arredondamento e esfericidade variados podendo conter diversas proporccedilotildees de outros minerais

O Planosol na regiao pesquisada apresenta desargilizaccedilatildeo pela lixiviaccedilatildeo do solo natildeo eacute usado na agricultura por ser um solo encharcado no qual a cultura da batata doce natildeo se adequa por ser um solo de de relevo plano ou suave ondulado onde as condiccedilotildees ambientais e do proacuteprio solo favorecem vigecircncia perioacutedica anual de excesso de aacutegua mesmo que de curta duraccedilatildeo especialmente em regiotildees sujeitas a estiagem prolongada e ateacute mesmo sob condiccedilotildees de clima semiaacuterido

No contexto atual da agricultura a sustentabilidade ambiental refere-se ao conjunto de praacuteticas ecoloacutegicas econocircmicas sociais e culturais desenvolvidas nas atividades agriacutecolas capazes de manterem a permanecircncia da produtividade sem destruiacuterem a base de recursos natildeo renovaacuteveis que utilizam (FRANCISCO 1996)

Dessa forma na verificaccedilatildeo da sustentabilidade ambiental do sistema agriacutecola da batata doce no municiacutepio de

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Moita Bonita foram utilizados indicadores organizados em quatro dimensotildees ndash ecoloacutegica econocircmica social e cultural

A sustentabilidade ambiental inclui tambeacutem os indicadores ligados agraves praacuteticas agriacutecolas policultura ou consorciamento rotaccedilatildeo de culturas cobertura verde cobertura morta manutenccedilatildeo da diversidade geneacutetica e da biodiversidade erosatildeo do solo empobrecimento do solo infestaccedilatildeo de pragas de insetos plantio direto pousio rotaccedilatildeo de terras reposiccedilatildeo natural de nutrientes do solo manejo integrado de pragas e doenccedilas contaminaccedilatildeo quiacutemica do solo e da aacutegua e infestaccedilatildeo de ervas daninhas

Os indicadores de sustentabilidade ambiental do sistema agriacutecola da batata doce apresenta baixa garantia decorrente da infestaccedilatildeo de pragas de insetos e doenccedilas bacterianas que estatildeo entre os principais problemas fitossanitaacuterios das da batata doce contaminaccedilatildeo do homem por pesticidas ausecircncia de controle bioloacutegico e de manejo integrado de pragas baixa manutenccedilatildeo da biodiversidade e a contaminaccedilatildeo quiacutemica do solo e da aacutegua com o uso de agroquiacutemicosre

A sustentabilidade ecoloacutegica entendida como a capacidade do sistema produtivo agriacutecola de produzir sem destruir as bases naturais de produccedilatildeo inclui os indicadores ligados agraves praacuteticas agriacutecolas policultura rotaccedilatildeo de culturas cobertura verde cobertura morta manutenccedilatildeo da diversidade geneacutetica e da biodiversidade erosatildeo do solo empobrecimento do solo infestaccedilatildeo de pragas de insetos plantio direto pousio rotaccedilatildeo de terras reposiccedilatildeo natural de nutrientes do solo manejo integrado de pragas e doenccedilas contaminaccedilatildeo quiacutemica do solo e da aacutegua e infestaccedilatildeo de ervas daninhas

O estudo permitiu concluir que os indicadores de sustentabilidade ecoloacutegica do sistema agriacutecola do plantio de batata doce apresentam baixa sustentabilidade decorrente da infestaccedilatildeo de pragas de insetos e doenccedilas bacterianas que

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estatildeo entre os principais problemas fitossanitaacuterios da plantaccedilatildeo de batata doce contaminaccedilatildeo do homem por pesticidas ausecircncia de controle bioloacutegico e de manejo integrado de pragas baixa manutenccedilatildeo da biodiversidade e a contaminaccedilatildeo quiacutemica do solo e da aacutegua com o uso de agroquiacutemicos neste sistema de produccedilatildeo onde se inclui a poluiccedilatildeo por nitratos dos fertilizantes representando riscos para a sauacutede humana

Os indicadores mais adequados para a sustentabilidade econocircmica considerando a relatividade espacial satildeo mudas selecionadas pesticidas (inseticidas herbicidas e fungicidas) fertilizantes quiacutemicos mecanizaccedilatildeo( uso de tratores para o arado da terra) sistema de irrigaccedilatildeo produtividade do cultivo as relaccedilotildees de trabalho de emprego de matildeo-de-obra familiar voltada para seu consumo e para o mercado por outro lado os agricultores empresariais que buscam na simplificaccedilatildeo do meio natural as condiccedilotildees para desempenharem suas atividades produtivas dispondo de matildeo-de-obra assalariada e de uma produccedilatildeo voltada para o mercado comercializaccedilatildeo da produccedilatildeo (preccedilo justo) custo do transporte de produccedilatildeo geraccedilatildeo de empregos financiamento reinvestimento de capital no sistema agriacutecola dificuldades especiacuteficas na manutenccedilatildeo do sistema agriacutecola e poder de decisatildeo do produtor sobre o sistema agriacutecola

Os principais indicadores responsaacuteveis pela baixa sustentabilidade econocircmica satildeo elevados custos de produccedilatildeo a baixa comercializaccedilatildeo da produccedilatildeo em termos de preccedilos justos dificuldades especiacuteficas na manutenccedilatildeo do sistema agriacutecola poder de decisatildeo do produtor e sistema de irrigaccedilatildeo pois aleacutem da falta de precisatildeo dos sistemas de irrigaccedilatildeo a falta de habilidade dos agricultores para manusearem tais sistemas constitui o fator preponderante de desperdiacutecio de aacutegua no setor Somado a isso a desinformaccedilatildeo do agricultor acerca da necessidade ou natildeo do uso de agroquiacutemicos traz grandes prejuiacutezos para a qualidade da aacutegua e do solo

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Atraveacutes da anaacutelise dos indicadores de sustentabilidade social os principais indicadores que demonstram baixa sustentabilidade foram grau de educaccedilatildeo dos produtores e de seus filhos amparo a sauacutede e organizaccedilatildeo social dos produtores O nuacutecleo familiar natildeo eacute uma soma indivisiacutevel entre trabalho e produccedilatildeo pois parcela significativa dos agricultores do municiacutepio de Moita Bonita mais precisamente na regiatildeo estudada no povoado Moita de Cima pesquisados obteacutem um volume de renda que compotildee o orccedilamento domeacutestico oriundo de atividades agriacutecolas e natildeo-agriacutecolas compatiacuteveis com o baixo niacutevel de escolaridade dos produtores familiares A falta de organizaccedilatildeo social atraveacutes de associativismo dificulta a busca de soluccedilotildees para os problemas existentes entre os produtores CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

caraacuteter desigual da exploraccedilatildeo agriacutecola da terra no povoado estudado consolidou uma estrutura agraacuteria bimodal que corresponde a dois modelos produtivos De um lado os agricultores familiares que em geral satildeo pequenos proprietaacuterios da terra empregando matildeo-de-obra familiar e mantendo o sistema de produccedilatildeo voltado para o autoconsumo e para o mercado Por outro lado os agricultores empresariais que buscam na simplificaccedilatildeo do meio natural as condiccedilotildees para desempenharem suas atividades produtivas dispondo de matildeo-de-obra assalariada e de uma produccedilatildeo voltada para o mercado Vale salientar a importancia que se tem o solo para a cultura da batata onde o solo podzolicos Vermelho Amarelo Equivalente Eutrofico se caracteriza pela sua compatibilidade no plantio da batata docecirc pois ele possui um teor favoravel de nutrientes texturas profundidade presenccedila ou natildeo de cascalhos desta forma torna-se dificil de generalizar suas qualidades o sistema da batata doce na aacuterea estudada eacute

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insustentaacutevel ao niacutevel dos indicadores analisados Assim o uso de agrodefensivos na localidade tem crescido deixando de lado as tecnicas agricolas que eram usadas pelos seus pais e avos deste modo infestaccedilatildeo de pragas de insetos e doenccedilas bacterianas que estatildeo entre os principais problemas fitossanitaacuterios da plantaccedilatildeo de batata doce contaminaccedilatildeo do homem por pesticidas ausecircncia de controle bioloacutegico e de manejo integrado de pragas contaminaccedilatildeo quiacutemica do solo e da aacutegua com o uso de agroquiacutemicos neste sistema de produccedilatildeo onde se inclui a poluiccedilatildeo por nitratos dos fertilizantes representando riscos para a sauacutede humana No que se refere ao social os principais indicadores que demonstram baixa sustentabilidade foram grau de educaccedilatildeo dos produtores e de seus filhos amparo a sauacutede e organizaccedilatildeo social dos produtores percebe-se um nivel baixo de escolaridade a renda das familias satildeo oriundas das atividades agricolas Neste contexto assume papel preponderante a aplicaccedilatildeo do modelo agroecoloacutegico de sustentabilidade que se orienta por um paradigma teacutecnico-cientiacutefico que busca a harmonizaccedilatildeo das atividades agriacutecolas com o meio natural em contraposiccedilatildeo ao modelo quiacutemico mecanizado REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS BOMFIM Luiz Fernando Costa COSTA Ivanaldo Vieira Gomes da BENVENUTI Sara Maria Pinotti Projeto cadastro da infra-estrutura hiacutedrica do Nordeste Estado de Sergipe Diagnoacutestico do municiacutepio de Moita Bonita Aracaju CPRM 2002 laquoDivisatildeo Territorial do Brasilraquo Divisatildeo Territorial do Brasil e Limites Territoriais Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) 1 de julho de 2008 Consultado em 06 de fevereiro de 2018

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laquoAacuterea territorial oficialraquo Resoluccedilatildeo da Presidecircncia do IBGE de ndeg 5 (RPR-502) Consultado em 06 de fevereiro de 2010 FRANCISCO F C Agricultura e meio ambiente um estudo sobre a sustentabilidade ambiental de sistemas agriacutecolas na regiatildeo de Ribeiratildeo preto (SP) 1996 400f Tese (Doutorado em Geografia Aacuterea de Concentraccedilatildeo em Organizaccedilatildeo do Espaccedilo) ndash Instituto de Geociecircncias e Ciecircncias Exatas Universidade Estadual Paulista Rio Claro 1996 FUNDACcedilAtildeO INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA ndash IBGE [Mapa do Estado de Sergipe com limites municipais] [Sergipe2001] 1 CD Autocad Convecircnio IBGESEPLANTEC Ineacutedito FUNDACcedilAtildeO INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA ndash IBGE [Mapas Base dos municiacutepios do Estado de Sergipe] [Sergipe2001] 72 Mapas Escalas variadas Ineacutedito GLIESSMAN Stephen R Agroecologia processos ecoloacutegicos em agricultura sustentaacutevel Traduccedilatildeo de Maria Joseacute Guazelli Rio Grande do Sul UFRGS 2000 FRANCISCO Francisco Carlos de Agricultura e meio ambiente um estudo sobre a sustentabilidade ambiental de sistemas agriacutecolas na regiatildeo de Ribeiratildeo Preto (SP) Rio Claro UNESP 1996 (Tese de Doutorado) ndash Curso de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Geografia SANTOS R A dos MARTINS A A NEVES J P LEAL RA(Orgs) Geologia e Recursos Minerais do Estado de Sergipe Texto Explicativo do Mapa Geoloacutegico do Estado de

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Sergipe Brasiacutelia CPRM 1998 156 p il Mapa color escala 1250000 Convecircnio CPRM ndash CODISE SERGIPESECRETARIA DE ESTADO DO PLANEJAMENTO E DA CIEcircNCIA E TECNOLOGIASEPLANTECSUPERINTENDEcircNCIA DE ESTUDOS E PESQUISAS-SUPES Perfis Municipais Aracaju 1997 75v SERGIPESECRETARIA DE ESTADO DO PLANEJAMENTO E DA CIEcircNCIA E TECNOLOGIASEPLANTECSUPERINTENDEcircNCIA DE ESTUDOS E PESQUISAS-SUPES Informes Municipais Aracaju 2000 75v VICENTE e PEREZ FILHO Abordagem Sistecircmica na Geografia in Revista de Geografia Rio Claro UNESP 2003

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UTILIZACcedilAtildeO DE LIacuteQUENS COMO BIOINDICADORES DA QUALIDADE DO AR

NA CIDADE DE ITABAIANA-SE

Erica Monteiro dos Santos28 Universidade Federal de Sergipe Graduanda em Geografia

ericamonteiro1810outlookcom

Riclauacutedio Silva Santos 29 Universidade Federal de Sergipe Mestre em Geografia

riclauacutediosilvahotmailcom

Cristiano Apriacutegio dos Santos 30 Universidade Federal de Sergipe Doutor em Geografia

aprigeogmailcom RESUMO

Os centros urbanos hoje satildeo aacutereas mais ocupadas e a poluiccedilatildeo atmosfeacuterica passou a ser uma das maiores preocupaccedilotildees a qualidade do ar vai interferir diretamente na qualidade de vida da populaccedilatildeo frequentemente esses efeitos da natildeo satildeo tatildeo visiacuteveis entatildeo para o diagnoacutestico podemos utilizar bioindicadores esses podem dar visibilidade a pureza atmosfeacuterica Para analisar a qualidade do ar do nuacutecleo urbano de Itabaiana-SE foram utilizados liacutequens como bioindicadores pois os mesmos satildeo sensiacuteveis a alguns gases poluentes Foram

28 Membro do Grupo de Pesquisa em Geomorfologia do Quaternaacuterio e modelagem ambiental (QUACOMA) 29 Membro do Grupo de Pesquisa em Geomorfologia do Quaternaacuterio e modelagem ambiental (QUACOMA) 30 Membro do Grupo de Pesquisa em Geomorfologia do Quaternaacuterio e Modelagem ambiental (QUACOMA)

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identificadas aacutereas em condiccedilotildees precaacuterias o que reforccedila o estado de poluiccedilatildeo a principal aacuterea com iacutendices satisfatoacuterios fica no entorno da aacuterea mais arborizada onde a biodiversidade tem maior expressatildeo espacial essa ocorrecircncia demonstra a importante relaccedilatildeo entre a manutenccedilatildeo da cobertura vegetal e suas associaccedilotildees ecoloacutegicas com o niacutevel da qualidade do ar de um determinado local PALAVRAS-CHAVE Bioindicadores Qualidade do ar Itabaiana-

SE INTRODUCcedilAtildeO

A priori sabe-se que a poluiccedilatildeo atmosfeacuterica tem

provocados impactos negativos ambientais e sociais Os primeiros afetam diretamente o solo isto eacute influem na sua composiccedilatildeo fiacutesica quiacutemica e bioloacutegica prejudicando a ciclagem dos nutrientes Na atmosfera causa a descoloraccedilatildeo da mesma a dispersatildeo da luz solar quando haacute grande quantidade de partiacuteculas no ar o aumento da formaccedilatildeo de neblina e precipitaccedilatildeo aleacutem dos seacuterios riscos agrave sustentabilidade ambiental Jaacute os segundos tratam-se das consequecircncias que afetam diretamente a sauacutede da populaccedilatildeo estas que resultam em problemas respiratoacuterios intoxicaccedilatildeo asfixia tosse entre outras

Os liquens satildeo formados a partir da simbiose entre fungos e algas e tem reproduccedilatildeo assexuada Nessa relaccedilatildeo simbioacutetica as algas produzem atraveacutes da fotossiacutentese substacircncias orgacircnicas que satildeo utilizadas pelos fungos que datildeo agraves algas proteccedilatildeo e um ambiente adequado para seu desenvolvimento Os liquens satildeo organismos que resistem a mudanccedilas de temperatura e agrave falta de aacutegua e por isso satildeo seres que habitam as mais diversas regiotildees do planeta Apresenta nutriccedilatildeo independente do substrato Estes podem ser encontrados em rochas folhas no solo troncos e galhos de

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aacutervores dependem do material disperso no ar estando sujeitos aos efeitos dos poluentes dispersos no mesmo assim os liacutequens satildeo extremamente sensiacuteveis agrave poluiccedilatildeo sendo considerados bioindicadores do estado e composiccedilatildeo da baixa atmosfera

A pureza do ar atmosfeacuterico eacute fator crucial agrave sobrevivecircncia dos liacutequens pois estes se alimentam higroscopicamente fixando elementos neles presentes notadamente o nitrogecircnio Os liacutequens absorvem e retecircm elementos radioativos iacuteons metaacutelicos dentre outros poluentes e isto faz com que sejam utilizados como indicadores bioloacutegicos de poluiccedilatildeo atmosfeacuterica (NIOEBOER etal 1972 apud MOTA-FILHO et al 2005 SEAWARD 1977 apud MOTA-FILHO et al 2005)

Itabaiana cidade situada no agreste sergipano localizada na regiatildeo central do estado (FIG01) eacute considerada a quarta maior cidade do mesmo foi fundada no ano de 1675 estaacute a 188m de altitude e a 54 km de distacircncia da capital do estado Aracaju Com populaccedilatildeo de 86967 habitantes (Senso do IBGE 2010) eacute conhecida como a capital do caminhatildeo por possuir um grande percentual de caminhatildeo por pessoa do paiacutes

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Figura 01- Mapa de localizaccedilatildeo do municiacutepio de Itabaiana SE

Fonte Atlas Digital Sobre Recursos Hiacutedricos de Sergipe

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Seu clima eacute semiaacuterido marcado por um periacuteodo entre quatro ou cinco meses de seca com temperaturas que variam entre 20ordm C a 35ordm C Por ser uma regiatildeo de transiccedilatildeo lsquoagrestersquo sua vegetaccedilatildeo eacute formada por plantas caracteriacutesticas do litoral e sertatildeo

Sua economia eacute caracterizada pela forte influecircncia comercial no interior do estado Tem suas atividades econocircmicas variadas que vai desde a agricultura de frutas e verduras com destaque para a mandioca batata-doce tomate e cebola estas que abastece todo o estado No que se refere agrave induacutestria Itabaiana tem uma diversificaccedilatildeo nesse setor (calccedilados bebidas ceracircmicas moacuteveis algodatildeo alumiacutenio carrocerias de caminhotildees) logo nota-se que Itabaiana eacute um dos centros mais dinacircmicos do estado destacando-se pelas atividades comerciais agriacutecolas e industriais

Assim como algumas cidades Itabaiana SE tambeacutem representam uma modernidade industrial como a maioria dos centros econocircmicos sociais e geograacuteficos aglomerando em torno de si a maior parte de investimentos e serviccedilos Este municiacutepio vem tendo um desenvolvimento urbano que se manifesta acompanhado por uma seacuterie de problemas incluindo aqueles de ordem ambiental seguido dos impactos sociais Apesar disso a poluiccedilatildeo nos centros urbanos tornou-se uma das problemaacuteticas mais evidentes a serem enfrentadas nas esferas da qualidade de vida das cidades e tambeacutem na preservaccedilatildeo do meio natural A elevada emissatildeo de poluentes toacutexicos na atmosfera aleacutem da degradaccedilatildeo de recursos naturais florestais e hiacutedricos constitui alguns dos principais desafios a serem superados

Vale ressaltar que a poluiccedilatildeo atmosfeacuterica nos centros urbanos intensificou-se pela remoccedilatildeo da vegetaccedilatildeo no sentido de que aacutereas arborizadas ou grandes reservas satildeo eventualmente substituiacutedas por ruas pavimentadas e infraestruturas de mobilidade Aleacutem das aacutereas de expansatildeo

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urbana que se encontram tambeacutem cada vez mais degradadas em sua paisagem natural Com isso o presente trabalho tem como objetivo avaliar por meio da utilizaccedilatildeo de liacutequens como bioindicadores a qualidade do ar do centro urbano de Itabaiana SE vale destacar que a utilizaccedilatildeo dos liacutequens neste trabalho eacute puramente quantitativa isto eacute natildeo se tem objetivo algum em descobrir quaisquer que seja a espeacutecie de liacutequens encontradas no campo realizado DESENVOLVIMENTO Nessa anaacutelise da qualidade do ar para a cidade de Itabaiana SE foram escolhidas algumas localidades devido agraves mesmas possuiacuterem em comum o traacutefego veicular intenso aleacutem de serem afetadas diretamente com a fuligem da queima da palha da cana de accediluacutecar oriundas dos municiacutepios de Areia Branca Riachuelo e Laranjeiras - tradicionais produtores de cana de accediluacutecar do estado Foram selecionadas as seguintes avenidas Eduardo Magalhatildees Praccedila Fausto Cardoso Chiara Lubic Avenida Otoniel Doacuterea Praccedila Etelvino Mendonccedila Rua Perciacutelio Andrade e Rua Felisbelo Machado de Menezes Para essa anaacutelise foram coletados dados quantitativos atraveacutes das aacutervores - que tivessem comprimento e largura que abrangessem o quadrante (medindo 40x40 cm) existentes no decorrer de cada localidade Para a coleta dos dados fez-se necessaacuterio uso e preenchimento de formulaacuterio aleacutem do uso do GPS Para a realizaccedilatildeo do processamento dos dados trabalhados nesta pesquisa realizada foi utilizado o pacote do software ArcGis a partir da licenccedila acadecircmica obtida pelo site da ESRI lthttpwwwesricomgt disponibilizando de suas ferramentas e acesso ao ArcMap e ao interpolador de KERNEL - que no contexto das geotecnologias faz referecircncia a um meacutetodo estatiacutestico de estimaccedilatildeo de curva de densidade que para a Geografia eacute uma alternativa de anaacutelise do comportamento de padrotildees onde o mapa eacute

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plotado atraveacutes do meacutetodo de interpolaccedilatildeo a intensidade pontual de determinado fenocircmeno na aacuterea de estudo tal que possibilita a observaccedilatildeo do processo no mapa Em campo (FIG 02) foi realizado o preenchimento do formulaacuterio para coletar os dados qualitativos e quantitativos da populaccedilatildeo liquecircnica existente nas avenidas jaacute supracitadas Os quadrantes e os formulaacuterios serviram de subsiacutedio para calcular o IPA (Iacutendice de Pureza Atmosfeacuterica) proposto por Sloover e Leblanc em 1968 ndash que foi utilizado para a elaboraccedilatildeo do mapa Pois o IPA baseia-se fundamentalmente na diversidade de espeacutecies de liacutequens epiacutefitos numa determinada aacuterea que permitem a realizaccedilatildeo de mapas de risco nos quais se marcam diferentes zonas em funccedilatildeo do seu grau de contaminaccedilatildeo atmosfeacuterica englobando dentro da mesma zona locais compreendidos dentro do mesmo intervalo de concentraccedilatildeo de contaminantes Para realizaccedilatildeo do caacutelculo do IPA foi necessaacuterio usar a seguinte equaccedilatildeo Si+Vi Qi 25 100 Onde Si refere-se ao nuacutemero de espeacutecie da aacuterea Vi refere-se agrave frequecircncia de cobertura de cada espeacutecie Qi refere-se ao iacutendice ecoloacutegico da espeacutecie

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Figura 02 ndash Levantamento de dados em campo Fonte a autora

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Para diagnosticar a qualidade do ar eacute preciso considerar que Deserto Liquecircnico corresponde agrave ausecircncia de espeacutecies de liacutequens lt 1 indica um agravamento da poluiccedilatildeo ambiental a Zona de Luta equivale agrave variaccedilatildeo gt1 e lt 3 indica uma zona onde o ar se encontra mais ou menos moderado no que se refere a sua qualidade e a Zona Normal correspondente a variaccedilatildeo gt 3 indicam que os liacutequens crescem normalmente e indicam que o ar apresenta melhor qualidade No que diz respeito agrave anaacutelise realizada no nuacutecleo urbano de Itabaiana SE Avenida Eduardo Magalhatildees Praccedila Fausto Cardoso Chiara Lubic Avenida Otoniel Doacuterea Praccedila Etelvino Mendonccedila Rua Perciacutelio Andrade e Rua Felisbelo Machado de Menezes constatou-se uma quantidade reduzida de liacutequens nas aacutervores analisadas assim como mostra a (FIG 03) De modo geral foi avaliada a comunidade de liacutequens nas localidades jaacute citadas as quais apresentaram quantidade reduzida da populaccedilatildeo liquecircnica que eacute explicada por conta sensibilidade dos liacutequens frente a alguns poluentes como o

Dioacutexido de Nitrogecircnio ( ) Dioacutexido de Enxofre ( )

Trioacutexido de Nitrogecircnio ( ) Oacutexido de Cobre (Cu) Zinco

(Zn) e Chumbo (Pb)

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Figura 03 ndash Presenccedila de Liacutequens na cidade de Itabaiana ndash Se

Fonte A autora

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Na Rua Felisbelo Machado de Menezes haacute

predominacircncia do Deserto Liquecircnico com ressalva para uma pequena aacuterea de Zona de Luta Na Rua Perciacutelio Andrade tambeacutem haacute predominacircncia do Deserto Liquecircnico poreacutem esta apresenta trecircs aacutereas de Zona de Luta Na Avenida Otoniel Doacuterea a presenccedila do Deserto Liquecircnico eacute mediana quando comparado agraves demais zonas evidenciadas em seu percurso pois essa avenida haacute presenccedila de quatro aacutereas de Zona de Luta Na Praccedila Fausto Cardoso haacute a presenccedila do Deserto Liquecircnico reduzida se comparada agraves demais localidades aleacutem de ter uma aacuterea de Zona de Luta e uma aacuterea de extensatildeo consideraacutevel de Zona Normal Praccedila Etelvino Mendonccedila tambeacutem com predominacircncia de Deserto Liquecircnico apresenta ainda uma pequena aacuterea de Zona de Luta Na Avenida Eduardo Magalhatildees apresenta aacuterea de Deserto Liquecircnico e uma extensa

aacuterea de Zona de Luta por fim o Chiara Lubic que assim como as demais localidades tem a presenccedila do Deserto Liquecircnico mas que tambeacutem possuem duas aacutereas de Zona de Luta CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS OU CONCLUSOtildeES

Dos resultados obtidos e discutidos constatou-se que as aacutereas analisadas estatildeo com a qualidade do ar comprometida onde ficou evidente que a uacutenica localidade com a melhor qualidade do ar eacute a Praccedila Fausto Cardoso situada no centro do nuacutecleo urbano de Itabaiana SE aacuterea esta considerada a mais arborizada dentre as demais localidades em anaacutelise

Logo percebe-se que existe a necessidade da execuccedilatildeo de empreendimentos de Poliacuteticas Puacuteblicas Ambientais juntamente com a intensificaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Ambiental para aleacutem das escolas estas poliacuteticas precisam chegar natildeo soacute a populaccedilatildeo mas tambeacutem aos donos de induacutestrias estes que tem

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um papel fundamental no que diz respeito agrave poluiccedilatildeo neste caso a poluiccedilatildeo atmosfeacuterica Aleacutem de projetos de arborizaccedilatildeo que poderia ser executado com parcerias entre as escolas cursos de graduaccedilatildeo de interesse a comunidade local e a prefeitura do municiacutepio para que assim possa vir a recompor a biodiversidade urbana ampliando a cobertura vegetal passiacutevel de colonizaccedilatildeo pelos liacutequens que consequentemente no futuro possa nos indicar uma melhoria na qualidade do ar desse municiacutepio REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS IBGE Cidadesmuniciacutepios Disponiacuteevel em httpwwwcidadesibgegovbrv3cidadesmunicipio2802908 = Arquivo capturado em 19 de dezembro de 2017 MOTA-FILHO F O PEREIRA E C SILVA R A XAVIER-FILHO L Liacutequens Bioindicadores ou biomonitoradores Portal Biomonitor out 2005 Disponiacutevel em lthttp1 9 3 1 3 6 1 4 0 5 2 b i o m o n i t o r indexphpoption=com_contentamptask=viewampid=9ampItemid=2gt Arquivo capturado em 04 novembro 2016 MEDEIROS A M L Mapa de Kernel ndash Conceito e Aplicaccedilotildees - Julho 2015 Disponiacutevel em httpptslidesharenetAndersonMedeirosmapas-de-kernel-conceitos-e-aplicaes = Arquivo capturado em 19 de dezembro de 2017 OLIVEIRA MC MAGANHA M F B Guia teacutecnico ambiental

da induacutestria de ceracircmicas brancas e de revestimento Satildeo Paulo

CETESB 2006 Disponiacutevel em

httprespostatecnicaorgbrdossie-

tecnicodownloadsDTNTcwNQ == Arquivo capturado em 19 de

janeiro 2017

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EIXO 4 - ENSINO DE GEOGRAFIA

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A IMPORTAcircNCIA DE TRABALHAR COM A CARTOGRAFIA DESDE AS SEacuteRIES INICIAIS NAS

AULAS DE GEOGRAFIA O CONTATO COM O MAPA NO 5deg ANO

Roniex da Silveira

Universidade Federal de Sergipe (UFS) Graduando em LicenciaturaGeografia Email roniexsilveiragmailcom

Raimunda Joysse Pereira dos Reis Nascimento

Universidade Federal de Sergipe (UFS) Graduanda em LicenciaturaGeografia Email joyssenetgmailcom

Acaacutessia Cristina Souza

Universidade Federal de Sergipe (UFS) Docente do Departamento de Geografia (DGE) E mail

acassiacsouzahotmailcom RESUMO

A capacidade de localizar-se no espaccedilo eacute uma habilidade indispensaacutevel e em natural uso pelas pessoas Nas escolas a Geografia por meio da Cartografia eacute quem trabalha o desenvolvimento dessa capacidade principalmente com uso dos mapas e plantas Nas aulas desde cedo o professor deve convidar o aluno a estar em contato com a Alfabetizaccedilatildeo Cartograacutefica a fim de que este perceba sua aplicaccedilatildeo e note a proximidade do conhecimento geograacutefico com sua praacutetica diaacuteria O presente trabalho aborda a importacircncia do uso da Cartografia nas aulas de Geografia ainda nas seacuteries iniciais para que o mais cedo possiacutevel o aluno conheccedila e aprenda a utilizar as ferramentas cartograacuteficas percebendo sua importacircncia e uso no dia a dia Aleacutem do mais reconhecer o quanto ela pode ser uma ferramenta de suma importacircncia como atrativo e

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valorizaccedilatildeo da disciplina geograacutefica Como exemplos seratildeo apresentados as experiecircncias vivenciadas na Disciplina de Estaacutegio Supervisionado em Ensino de Geografia I na Escola Municipal de Ensino Fundamental Dr Martinho de Oliveira Bravo31 ndash municiacutepio de Satildeo CristoacutevatildeoSE e na Escola Municipal de Ensino Fundamental Benedito Barreto do Nascimento32 ndash municiacutepio de UmbauacutebaSE ambos em turmas do 5deg ano do ensino fundamental Palavras-Chave Seacuteries iniciais Cartografia escolar Ensino de Geografia INTRODUCcedilAtildeO

Desde o surgimento da espeacutecie de acordo com registros histoacutericos o homem precisa se locomover com seguranccedila no espaccedilo em busca de suprimentos a fim de assegurar sua sobrevivecircncia sendo necessaacuterio para tanto usar da sua capacidade de orientar-se e localizar-se em busca de encontrar o lugar desejado

Isso demonstra que o uso e a necessidade dos saberes cartograacuteficos natildeo satildeo uma atividade recente pois estaacute presente na vida do ser humano desde sua existecircncia bem como na vida de outros animais afinal ainda que pelo instinto as aves que viajam milhares de quilocircmetros nos seus ciclos migratoacuterios fazem uso do potencial de orientaccedilatildeo para determinar os pontos de parada repor energias e por fim alcanccedilar o local de destino

O objetivo deste trabalho eacute discutir a importacircncia do ensino de cartografia nas aulas de Geografia ainda nas seacuteries iniciais da educaccedilatildeo baacutesica considerando a importacircncia da mesma para o desenvolvimento das aptidotildees necessaacuterias nas

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seacuteries posteriores e tambeacutem sua valorizaccedilatildeo como ferramenta com a qual o aluno pode adquirir uma nova forma de apreensatildeo da realidade

A justificativa para tanto parte das experiecircncias vivenciadas na disciplina de Estaacutegio Supervisionado em Ensino de Geografia I (Estaacutegio de Observaccedilatildeo) na Escola Municipal de Ensino Fundamental Dr Martinho de Oliveira Bravo e na Escola Municipal de Ensino Fundamental Benedito Barreto do Nascimento onde ficou evidente para os estagiaacuterios a carecircncia do uso dos saberes cartograacuteficos na aplicaccedilatildeo dos conteuacutedos abordados O ENSINO DE GEOGRAFIA E A CARTOGRAFIA ESCOLAR

Saber para onde ir por qual rua ou estrada que ocircnibus tomar por mais simples e cotidiano que seja - a ponto de jaacute estaacute naturalizado no subconsciente - natildeo eacute uma atividade aleatoacuteria Para isso eacute necessaacuterio o exerciacutecio de todo um conjunto de referenciais e teacutecnicas memorizados de experiecircncias anteriores mas tambeacutem adquiridos a partir da necessidade pontual Tem-se desse modo uma espeacutecie de mapa mental como se fosse construiacutedo no papel no celular ou como uma buacutessola que orienta a trajetoacuteria A atenccedilatildeo a tudo que estaacute no entorno serve de ajuda tanto para ir quanto para voltar do destino desejado Dessa forma fica faacutecil perceber a intensidade com a qual o conhecimento cartograacutefico faz parte do dia a dia do homem ndash e natildeo eacute um exagero ndash em todo lugar que esteja

O ensino de Geografia tem uma participaccedilatildeo especial no que diz respeito a transformar essa simples accedilatildeo diaacuteria em conhecimento criacutetico da realidade e com utilidade escolar para ampliar os horizontes do saber da crianccedila Eacute por meio da Alfabetizaccedilatildeo Cartograacutefica que o aluno vai associar as imagens

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reais com signos graacuteficos e melhor compreender o espaccedilo no qual ele vive e quanto mais cedo ele tiver contato com essas informaccedilotildees mais faacutecil seraacute para ele compreender a utilidade desses conhecimentos e fazer uso adequado possibilitando maior autonomia na compreensatildeo dos processos homemhomem e homemnatureza Ao mesmo tempo ela ajuda na valorizaccedilatildeo e importacircncia da Geografia na vida dos alunos ao possibilitar vaacuterias formas de perceber e agir no ambiente a sua volta Jaacute afirma os PCNs de Geografia sobre a aplicaccedilatildeo dessa linguagem

Contribui natildeo apenas para que os alunos venham a compreender e utilizar uma ferramenta baacutesica da Geografia os mapas como tambeacutem para desenvolver capacidades relativas a representaccedilatildeo do espaccedilo [] Por intermeacutedio dessa linguagem eacute possiacutevel sintetizar informaccedilotildees expressar conhecimentos estudar situaccedilotildees entre outras coisas ndash sempre envolvendo a ideia de produccedilatildeo do espaccedilo sua organizaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo (PCN ndash MEC ndash SEF 2001 p 118)

O ponto principal a ser destacado logo de iniacutecio eacute que

mesmo frente ao esforccedilo de muitos professores de Geografia identifica-se que parte consideraacutevel das aulas ainda obedece ao modelo tradicional limitada ao uso do livro didaacutetico de forma massiva e em aulas que dificilmente ultrapassam as paredes da sala de aula em busca de fatos que contemplem a vida do aluno para aleacutem da teoria Isso se torna ainda mais evidente nos anos iniciais quando a maioria dos professores natildeo possui formaccedilatildeo em Geografia

Frente a tantas linguagens e ferramentas que eles podem aplicar nas aulas para dinamizar os conteuacutedos de Geografia e tornaacute-los mais atraentes e significativos para os

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alunos a Cartografia Escolar eacute uma delas

Cartografia eacute o conjunto de estudos e operaccedilotildees loacutegico-matemaacuteticas teacutecnicas e artiacutesticas que a partir de observaccedilotildees diretas a da investigaccedilatildeo de documentos e dados interveacutem na construccedilatildeo de mapas cartas plantas e outras formas de representaccedilatildeo bem como no seu emprego pelo homem Assim a cartografia eacute uma ciecircncia uma arte e uma teacutecnica (CASTROGIOVANNI 2000 p 38)

Quando se pensa em cartografia no ensino de

Geografia o que vem a mente de imediato satildeo os mapas Mas como observado pelo autor supracitado a Cartografia compreende uma gama de ferramentas para serem aplicadas na representaccedilatildeo e compreensatildeo da organizaccedilatildeo do espaccedilo

Neto e Barbosa a partir de seu trabalho afirmam que

Conforme observa-se a cartografia escolar ainda natildeo eacute vista como um instrumento necessaacuterio para se trabalhar os conteuacutedos geograacuteficos Os mapas satildeo pouco explorados em sala de aula apesar de serem um instrumento didaacutetico importante no ensino de Geografia pois atraveacutes deles o estudante compreende e desenvolve capacidades sobre a representaccedilatildeo espacial (LANDIM NETO BARBOSA 2010 p 166)

De acordo com o resultado do trabalho desenvolvido

pelos autores conclui-se que para muitos professores inclusive de Geografia o uso de mapas tornou-se desnecessaacuterio visto que muitos desses profissionais acreditam ser a Cartografia um conteuacutedo agrave parte e natildeo complementar agrave disciplina

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A Geografia e a Cartografia caminham juntas Sendo a Geografia uma ciecircncia que estuda o espaccedilo geograacutefico e suas relaccedilotildees com o meio a Cartografia vem como uma ferramenta para que o sujeito possa compreender como acontece a ocupaccedilatildeo a organizaccedilatildeo e a reconstruccedilatildeo desse espaccedilo por meio da linguagem cartograacutefica (LIBERRATTI ROSOLEacuteM

2013 p 7)

Por meio do uso dessa ferramenta o aluno comeccedila a

compreender o mundo a sua volta nas diferentes escalas O ponto de partida se daacute pelas representaccedilotildees do espaccedilo vivido ndash onde o indiviacuteduo desenvolve sua rotina da casa do bairro da escola da cidade ou campo e assim por diante Satildeo lugares os quais o discente tem domiacutenio de conhecimento e identidade por assim dizer vontade de explorar Satildeo duas posiccedilotildees importantes o aluno trabalha por meio da fala e ao mesmo tempo pode representar seu espaccedilo eacute um saber com significado

Outra questatildeo que ainda reside na aplicaccedilatildeo dos saberes cartograacuteficos nas aulas de Geografia esta pautado na dificuldade dos professores em associar as ferramentas como mapas atlas imagens de sateacutelite ao conteuacutedo geograacutefico Para Katuta (1997 p 42) eacute preciso natildeo confundir o ensino do mapa com o ensino de Geografia priorizando somente o primeiro e tendo como resultado uma aula de Cartografia mais do que de Geografia Sobre o uso dos mapas eacute recomendaacutevel que os professores de Geografia utilizem mapas sempre que possiacutevel natildeo priorizando apenas um mecircs ou bimestre para o trabalho com esse material (KATUTA 1997 p 42)

O ensino de Geografia pode ganhar novos horizontes e resultados importantes para alunos e professores com a

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Cartografia

Assim em lugar de pensar em ldquoalfabetizarrdquo o aluno com um coacutedigo graacutefico (cartograacutefico) desprovido de conteuacutedo significativo abrem-se amplas possibilidades de praacuteticas com o desenho do espaccedilo por meio do qual satildeo apresentados os conteuacutedos soacutecio-espaciais (a ocupaccedilatildeo urbana avenidas ruas comeacutercio induacutestrias rios pontes favelas etc eacute um exemplo) (ALMEIDA 2003 p 4)

Tambeacutem importante para o sucesso do uso das

ferramentas cartograacuteficas nas aulas eacute considerar primeiro a Cartografia no seu acircmbito de linguagem como jaacute mencionado para que seus elementos natildeo ocupem a noccedilatildeo de simples objetos visuais sem significados e neutros A Cartografia Escolar faz parte de uma construccedilatildeo social e portanto carrega marcas sociais que devem estar esclarecidas Isso se pauta no seu caraacuteter de coacutedigo capaz de transmitir informaccedilotildees como qualquer outra linguagem Almeida (2003 p 4) considera que no caso da linguagem cartograacutefica eacute preciso ensinar como os conteuacutedos espaciais satildeo apresentados ao mesmo tempo em que eacute preciso saber o que eles significam

Katuta (1997) vai aleacutem ao apontar que quando o aluno passa do aprender a fazer para o ler e atribuir significado isso eacute um processo a mais que alfabetizaccedilatildeo leiturizaccedilatildeo cartograacutefica Isso cabe tanto ao aluno quanto ao professor afinal como pode algueacutem que natildeo sabe ler ensinar a outro

Desde a primeira infacircncia o domiacutenio do espaccedilo eacute um desafio (ALMEIDA PASSINI 2010) Os sentidos possibilitam a crianccedila perceber e se relacionar com o meio em que se encontra A partir da observaccedilatildeo espacial ela identifica o lugar agrave medida que o define como diferente ou rotineiro A

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observaccedilatildeo e anaacutelise espacial satildeo portanto ferramentas que permitem ao homem ainda que de maneira sinteacutetica localizar-se Partindo dessa afirmaccedilatildeo observa-se que a orientaccedilatildeo e localizaccedilatildeo ndash princiacutepios cartograacuteficos ndash satildeo inerentes ao aprendizado humano e portanto indispensaacuteveis

A consideraccedilatildeo de Castrogiovanni (2000) eacute que embora o primeiro contato com a cartografia se decirc ainda na primeira infacircncia eacute na escola mais especificamente no ensino baacutesico que a crianccedila adquire capacidades e competecircncias especiacuteficas da linguagem cartograacutefica Eacute a partir do estudo da cartografia escolar que a crianccedila passa a compreender conceitos espaciais ateacute entatildeo incompreendidos

Agrave crianccedila eacute faacutecil identificar quais satildeo seus espaccedilos e territoacuterios ainda que natildeo entenda o sentido mais amplo de tais palavras Todavia a delimitaccedilatildeo espacial eacute complexa ao infante pois requer o conhecimento de vaacuterios outros conceitos que lhe possibilite estruturar e organizar pontos limites entre um lugar e outro

Ver de forma criacutetica a realidade natildeo eacute uma tarefa dissociada da apropriaccedilatildeo das manifestaccedilotildees naturais e sociais presentes na paisagem e a Cartografia pode proporcionar esse contato pois o ensino de Geografia transita do conteuacutedo para a forma ao usar dos saberes cartograacuteficos na apreensatildeo da realidade

Um dos problemas encontrados ainda na educaccedilatildeo principalmente nos anos iniciais quando geralmente os professores natildeo satildeo formados em Geografia eacute a natildeo importacircncia dada a Alfabetizaccedilatildeo Cartograacutefica Em uma educaccedilatildeo onde o Portuguecircs e a Matemaacutetica satildeo consideradas como disciplinas de maior importacircncia a ciecircncia geograacutefica torna-se coadjuvante nesse contexto mesmo que de suma importacircncia para a compreensatildeo da sociedade e da sua conjuntura espacial Todavia nas seacuteries iniciais a Cartografia natildeo eacute respeitada ainda enquanto uma linguagem com a qual o

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aluno desenvolve a capacidade de ver representar como tambeacutem ler o espaccedilo no qual ele vive Haacute sobretudo a necessidade da educaccedilatildeo cartograacutefica e espacial no ensino infantil

Valorizar no ensino de Geografia desde cedo o saber cartograacutefico tem sua importacircncia justificada nas palavras de Ludwig e Nascimento

Estudar a linguagem cartograacutefica desde os primeiros anos escolares possibilita agrave crianccedila desenvolver a percepccedilatildeo do seu espaccedilo de vivecircncia para mais tarde ter capacidades cognitivas mais complexas sobre suas aplicaccedilotildees e possibilidades de entendimento do espaccedilo (LUDWIG NASCIMENTO 2015 p 32)

E ainda citando Passini (1994 p 26) elas acrescentam

o fato de que ldquoa Educaccedilatildeo Cartograacutefica ou alfabetizaccedilatildeo para a leitura de mapas deve ser considerada tatildeo importante quanto agrave alfabetizaccedilatildeo para a leitura da escrita [] significa preparar o aluno para fazer e ler mapasrdquo (LUDWIG NASCIMENTO 2015 p 32) Compreender a realidade por meio de mapas cartas aerofotografias imagens de sateacutelite exige um saber gradual e quanto mais breve buscar desenvolver melhor

Esta claro que a Cartografia Escolar eacute um complemento agraves aulas e seu papel natildeo eacute de protagonista no desenvolvimento do saber geograacutefico Se assim for mantida ela fortaleceraacute ainda mais para o aluno a dissociaccedilatildeo entre a Geografia e a Cartografia ou pior ainda fazer ele entender a

Geografia como Cartografia Contudo se essa associaccedilatildeo for bem feita o efeito pode ser o contraacuterio atraindo a atenccedilatildeo dos alunos e ampliando sua percepccedilatildeo de mundo aleacutem de facilitar a aprendizagem de conteuacutedos geograacuteficos que sem o auxiacutelio da linguagem cartograacutefica seria mais difiacutecil e

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tedioso A ausecircncia dessa praacutetica logo nos anos iniciais acarreta

em dificuldade para compreender por meio da Cartografia espaccedilos ainda natildeo fisicamente conhecidos e os processos que ocorreram e ainda acontece na organizaccedilatildeo dos mesmos causando prejuiacutezos a apreensatildeo intelectual do aluno Dessa forma o que se constroacutei satildeo alunos que natildeo tem domiacutenio dos elementos primordiais da leitura cartograacutefica Para Freire (1987) esse seria um aluno sem autonomia e fruto da educaccedilatildeo bancaacuteria O CONTATO COM O MAPA NA TURMA DO 5deg ANO DA ESCOLA MUNICIPAL DE ENSINO FUNDAMENTAL DR MARTINHO DE OLIVEIRA BRAVO ndash SAtildeO CRISTOacuteVAtildeOSE ndash 2017

A experiecircncia vivenciada na Escola M E F Dr Martinho de Oliveira Bravo foi um exemplo do quanto a Cartografia Escolar mesmo sendo imprescindiacutevel juntamente com a Geografia para a formaccedilatildeo soacutecio-educacional dos alunos tecircm sido negligenciadas A ecircnfase em outras disciplinas leva ao esmaecimento do ensino de Geografia e certa dissociaccedilatildeo de seus conteuacutedos propiciando a desvalorizaccedilatildeo tambeacutem pelos discentes Quando acontecem as aulas de Geografia geralmente os alunos recebem os saberes como um conteuacutedo enfadonho por meio do livro didaacutetico sem aproveitamento e para ldquopassar o tempordquo Como o estaacutegio foi de observaccedilatildeo reverter esse quadro natildeo foi possiacutevel Conveacutem ressaltar que o primeiro contato com o mapa em seu significado de informaccedilotildees fez parte da aula e mostrou que a falta dessas ferramentas provoca um deacuteficit no aprendizado dos alunos

Na disciplina de Estaacutegio Supervisionado em Ensino de Geografia I foi possiacutevel a oportunidade de notar o quanto a

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Geografia e consequentemente a Cartografia natildeo estatildeo ocupando o lugar devido na educaccedilatildeo nos anos iniciais Na E M E F Dr Martinho de Oliveira Bravo tornou-se rotineiro a substituiccedilatildeo das aulas de Geografia por aulas de outras disciplinas como Liacutengua Portuguesa e Matemaacutetica sob a justificativa de privilegiar a alfabetizaccedilatildeo escrita e numeacuterica visto que a maioria dos alunos ainda natildeo possuir habilidade nesse sentido De acordo com a professora regente ndash que tinha formaccedilatildeo em Matemaacutetica e era polivalente33 ndash foi somente durante o periacuteodo do estaacutegio que houve regularidade nos conteuacutedos da disciplina e das aulas Apesar da excelente didaacutetica da professora em conduzir as aulas de Geografia havia limitaccedilatildeo a somente o conteuacutedo do livro didaacutetico constantemente natildeo trazido pelos alunos dificultando o acompanhamento dos conteuacutedos aplicados em sala de aula

No decorrer do estaacutegio por vezes os estagiaacuterios eram indagados por alunos acerca de ferramentas graacuteficas em sala evidenciando que os mesmos demonstram e querem se aprofundar nos conteuacutedos cartograacuteficos apresentados nas aulas de Geografia necessitando da percepccedilatildeo do educador em aproveitar esse interesse

Uma das aulas mais produtivas foi realizada quando a professora resolveu trazer para a turma o mapa do estado de Sergipe (uma escala um tanto distante da compreensatildeo de muitos) para trabalhar a temaacutetica Municiacutepio focando a cidade que eles residiam Ficou niacutetido que muitos natildeo sabiam qual estado brasileiro o mapa representava tendo bastante dificuldade para encontrar seu municiacutepio (Satildeo Cristoacutevatildeo) desconhecendo elementos como rosa-dos-ventos escala legenda dentre outros

Muitos alunos dessa turma natildeo haviam trabalhado com mapas e outras representaccedilotildees cartograacuteficas salvo poucas

33 Qualificaccedilatildeo para ensinar nas seacuteries iniciais da educaccedilatildeo (magisteacuterio)

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exceccedilotildees De iniacutecio a reaccedilatildeo de alguns foi de indiferenccedila e ao final da aula consideraram inuacutetil pois natildeo conseguiam associar a realidade com o mapa apresentado no papel

A abordagem da professora regente em relaccedilatildeo ao conteuacutedo mostrou-se inadequada ao propor uma representaccedilatildeo distante da abstraccedilatildeo dos alunos considerando o niacutevel de entendimento deles acerca de representaccedilotildees cartograacuteficas de orientaccedilatildeo localizaccedilatildeo e dos assuntos relacionados ao proacuteprio estado de Sergipe sendo que esses assuntos natildeo eram frequentemente explorados e concretos para eles Vale destacar que a ausecircncia desses conhecimentos se deu de maneira gradativa desde o contato dos referidos alunos com o ambiente escolar sendo perceptiacutevel a falta de familiaridade com o mapa e seus elementos baacutesicos

Poderia ser mais significativo para os alunos naquele momento se as representaccedilotildees partissem de algo mais proacuteximo da realidade deles como a bairro e suas proximidades alcanccedilando os arredores das casas dos mesmos ou ateacute menos com a construccedilatildeo da planta ou maquete da sala de aula Assim afirma Katuta (1997 p 43) Eacute atraveacutes de mapas de grandes escalas que poderemos trazer a Geografia dos alunos para a sala de aula

Ao fim da aula e na ausecircncia da professora regente quando questionados pelo estagiaacuterio se gostaram do mapa um dos alunos foi sucinto em responder ndash Natildeo gosto de mapas porque natildeo prestam Esta foi a expressividade mais ldquoforterdquo ouvida em meio agraves outras respostas semelhantes de alguns alunos Novamente foi perguntado se jaacute tinham estudado com mapas e outros recursos didaacuteticos afins como maquetes em outras aulas e a resposta foi negativa

O estagiaacuterio tentou motivaacute-los para que percebessem um pouco da utilidade do mapa trabalhado na aula Como no momento natildeo havia outra representaccedilatildeo graacutefica que se aproximasse mais da realidade deles tentou-se com o mesmo

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mais uma vez apresentou-se o mapa poliacutetico do estado de Sergipe identificando o municiacutepio de residecircncia ou localizaccedilatildeo da escola do aluno na tentativa de aproximar ainda mais o estagiaacuterio elaborou um croqui da cidade com pontos relevantes e conhecidos pelo aluno ampliou-se ainda mais para a rua e a casa dele e por fim o trajeto que diariamente eacute realizado para a escola Posterior a toda explicaccedilatildeo do estagiaacuterio (durante o tempo que a professora demorou a retornar) o referido aluno afirmou que usar mapas era muito bom e ndash Se eu quiser posso ir para casa olhando nele (croqui)

Destaca-se nesse sentido o que Castrogiovanni declara ldquoo fundamental no ensino de Geografia eacute que o alunocidadatildeo aprenda a fazer uma leitura criacutetica da representaccedilatildeo cartograacutefica isto eacute decodificaacute-la transpondo suas informaccedilotildees para o uso do cotidianordquo (CASTROGIOVANNI 2000 p 39) A partir do momento em que o aluno consegue enxergar e abstrair a sua realidade nos recursos cartograacuteficos logo ele desenvolveraacute mais interesse pelo conteuacutedo abordado Nas aulas foi possiacutevel compreender que muitos alunos tiveram aversatildeo ao mapa pois natildeo conseguiam transpor com propriedade o conteuacutedo do mapa para o que viam no dia a dia ou vice-versa Simplesmente eles ouviam a professora fazer os comentaacuterios e apresentar o mapa do estado federativo no qual eles moravam e eles concordavam mas sem criar significaccedilatildeo ou seja faltavam-lhes as noccedilotildees necessaacuterias para apreensatildeo dos signos cartograacuteficos e ter uma visatildeo global do que viam

Isso comprovou que os discentes natildeo estavam conseguindo fazer a ligaccedilatildeo do real para o representado havendo entatildeo a necessidade de aplicar mecanismos mais simples e que natildeo gerassem a impressatildeo de que o espaccedilo representado e o real parecessem espaccedilos totalmente distintos O estado de Sergipe no papel natildeo foi apreendido como o espaccedilo habitado por eles pois se apresentou diferente e distante dos ldquoseus mundosrdquo Nas palavras de Castrogiovanni

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(op cit) os alunos natildeo estavam conseguindo fazer a distinccedilatildeo entre o espaccedilo da accedilatildeo e o espaccedilo da representaccedilatildeo

Mesmo com essas dificuldades no geral os alunos gostaram da presenccedila da nova ferramenta pois ela proporcionou a fuga da aula meramente expositiva e muitos tiveram a oportunidade de participar mais ativamente da ldquoconstruccedilatildeordquo do conhecimento OS DESAFIOS DE TRABALHAR COM A CARTOGRAFIA NO 5ordm ANO DA ESCOLA MUNICIPAL DE ENSINO FUNDAMENTAL BENEDITO BARRETO DO NASCIMENTO ndash UMBAUacuteBASE ndash ANO 2016

A experiecircncia do estaacutegio supervisionado possibilita ao graduando vivenciar o ambiente da sala de aula de modo mais significativo eacute de fato a transiccedilatildeo da teoria para a praacutetica Constitui-se portanto a regecircncia pedagoacutegica Partindo dessa afirmaccedilatildeo entende-se que o estaacutegio conforma a observaccedilatildeo que permite ao sujeito ndash estagiaacuterio ndash identificar-se ou natildeo com a praacutetica docente

Nas seacuteries iniciais do ensino baacutesico eacute comum aos estagiaacuterios de Geografia reconhecerem na maioria dos casos o modo como o ensino da ciecircncia geograacutefica tem sido deixado de lado ao longo do tempo O Estaacutegio Supervisionado em Ensino de Geografia I na E M E F Benedito Barreto Do Nascimento possibilitou a confirmaccedilatildeo dessas afirmaccedilotildees

O referido estaacutegio se deu no ano de 2016 com alunos de faixa etaacuteria entre 11-16 anos sendo em sua maioria oriundos de turmas anteriores na mesma escola ou rede de ensino O conteuacutedo proposto pela professora regente formada em Pedagogia e servidora municipal haacute 28 anos foi ldquoO Espaccedilo Regional Brasileirordquo visto as especificidades curriculares da disciplina propostas pelos PCNrsquos de Geografia Conteuacutedo que

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vale destacar torna necessaacuterio o uso de mapas e consequentemente dos conhecimentos cartograacuteficos adquiridos nas seacuteries anteriores

Em um primeiro momento o uso de mapas ndash coloridos ndash se mostrou como uma boa e eficiente ideia natildeo fosse o fato de a estagiaacuteria estar diante de meninos e meninas que desconheciam o modo de uso dessa ferramenta tatildeo pouco o seu significado no ensino de Geografia A inexperiecircncia dos alunos com a Cartografia embora faccedila parte do curriacuteculo das seacuteries anteriores provocou de certo modo um retrocesso na aplicaccedilatildeo dos conteuacutedos em sala de aula pois como explicar sobre regiotildees quando a crianccedila natildeo entende ao menos o que eacute um municiacutepio ou mais ainda natildeo sabe localizar no mapa o municiacutepio onde reside Nesse contexto surge o que se denomina como ldquodesafiordquo no trabalho com a Cartografia

Durante o periacuteodo do estaacutegio tornou-se frequente a elaboraccedilatildeo de atividades e dinacircmicas voltadas para o uso do mapa considerando a necessidade de fazer com que os alunos se apropriassem da ferramenta a fim de utilizar na resoluccedilatildeo de problemas esta compreensatildeo redirecionou o comportamento da estagiaacuteria frente aos mesmos O ponto de partida para tanto foi o estudo do espaccedilo vivido desses alunos partindo da escala local ateacute a escala regional

Mediante a dificuldade de muitos em apreender o que estava sendo trabalhado em sala foi proposta uma oficina pedagoacutegica intitulada Descobrindo o Brasil Essa atividade consistiu na montagem pela turma de um mapa regional do Brasil Cada aluno recebeu uma parte do mapa referente a um estado e cada estado estava agrupado mediante a cor escolhida para representar a regiatildeo a qual pertencia formando desse modo equipes para cada regiatildeo Os grupos deveriam juntar seus estados ateacute compor a regiatildeo para posteriormente formar o Mapa do Brasil Apoacutes a montagem do mapa eles colocaram

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plaquinhas com os nomes dos estados nos seus respectivos lugares

O resultado aguardado com a oficina seria que os alunos diferenciassem estados regiatildeo e paiacutes Todavia mesmo mediante os esforccedilos da professora regente em sanar as duacutevidas e da aluna estagiaacuteria em proporcionar discussotildees sobre a ferramenta mapa a cartografia municiacutepio estado regiatildeo e paiacutes ficou claro que a maioria dos alunos natildeo aprendeu ou desenvolveu interesse pelo conteuacutedo e pela disciplina fato que comprova que nas seacuteries anteriormente cursadas pelos mesmos a Geografia e a cartografia natildeo foram trabalhadas efetivamente com o propoacutesito de capacitaacute-los para as seacuteries seguintes menos ainda para a resoluccedilatildeo de problemas relacionados agrave realidade vivida pelos mesmos CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Foi possiacutevel perceber diante de toda a experiecircncia vivenciada que a Cartografia Escolar pode cumprir um papel importante no conhecimento e na proximidade do discente com a Ciecircncia Geograacutefica tornando as aulas mais atrativas e dinacircmicas e ldquotanto para o uso cotidiano como para o cientiacutefico a figura cartograacutefica tem a princiacutepio uma funccedilatildeo praacuteticardquo (CASTROGIOVANNI 2000 p 38) Aleacutem de tudo com a Alfabetizaccedilatildeo Cartograacutefica o aluno vai desenvolver uma nova forma de entendimento do espaccedilo vivido e acerca de novos lugares modificando sua maneira de agir socialmente frente agraves possibilidades desse conhecimento

Associar o ensino de Geografia com a Cartografia desde as seacuteries iniciais eacute tatildeo importante quanto ensinar qualquer outra linguagem Eacute uma forma de preparar os alunos para abordagens mais complexas no decorrer das fases educacionais e desde jaacute abrir os horizontes deles para novas formas de apreender a realidade potencializando-os para

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compreender e ter mais autonomia na sociedade Considera-se tambeacutem que o acesso mais cedo do aluno

aos citados saberes permite-lhe desenvolver maior arcabouccedilo de conhecimentos Duas satildeo as razotildees para isso a primeira eacute que se o aluno jaacute chega dominando as teacutecnicas de uso e leitura dos recursos cartograacuteficos o professor natildeo precisaraacute atrasar os conteuacutedos predeterminados no planejamento a fim de alfabetizaacute-los na cartografia e a segunda eacute que os alunos podem ampliar ainda mais a qualidade e quantidade dos novos saberes visto que em situaccedilotildees como essas onde o professor tem que retomar ao ensino de conteuacutedos-base aborda o maacuteximo possiacutevel de modo que reduz o conjunto de saberes que seriam apresentados aos alunos obtendo como resultado muitas duacutevidas e falta de interesse por parte dos discentes pelo uso de um recurso o qual os alunos natildeo dominam considerando que o professor abandona a aplicaccedilatildeo de recursos cartograacuteficos adiando e acumulando para seacuteries posteriores essa responsabilidade aumentando cada vez mais a distacircncia entre o aluno e as aulas de Geografia com abordagens cartograacuteficas que sejam plenamente incorporadas pelos discentes

Assim sendo o papel do professor na promoccedilatildeo e convite ao contato com esses saberes de forma plausiacutevel nas aulas de Geografia eacute de suma importacircncia pois eacute ele quem a priori na sala de aula possuideve ter consciecircncia da relevacircncia de se trabalhar com a alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica ainda nas seacuteries iniciais da educaccedilatildeo

Chega-se a concluir portanto que a Cartografia eacute uma linguagem essencial na preparaccedilatildeo dos alunos para uma leitura mais completa do meio em que eles vivem A apropriaccedilatildeo das teacutecnicas e ferramentas do saber-fazer e ler cartograficamente eacute um processo e por assim dizer acontece de forma gradual Nessa perspectiva afirma-se que o aluno necessita nas aulas de Geografia entrar em contato com a Cartografia desde os

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primeiros anos escolares pois como diz Cavicchia (2010) eacute quando as estruturas cognitivas da fase preacute-operatoacuteria e das operaccedilotildees concretas estatildeo se formando

Os recursos cartograacuteficos satildeo diversificados e privilegiam a forma explorando os sentidos sendo importantes e estrateacutegicos para os alunos das seacuteries iniciais A Geografia eacute uma ciecircncia ampla e suas manifestaccedilotildees apresentam-se em todos os lugares desde o mais cotidiano ao de menos contato Para que as pessoas compreendam os vaacuterios sentidos dessas manifestaccedilotildees faz-se necessaacuterio desenvolver o domiacutenio dos diversos campos do conhecimento dos quais essa Ciecircncia faz uso e a Cartografia eacute um deles Sua correta aplicaccedilatildeo nas aulas contribui para a aprendizagem dos discentes melhora a relaccedilatildeo aluno-professor promove e intensifica no docente a sensaccedilatildeo de satisfaccedilatildeo aleacutem de propiciar o desenvolvimento de conteuacutedos da Geografia que sem o auxiacutelio dos recursos cartograacuteficos poderiam natildeo ser promovidos com a mesma dinacircmica e resultados positivos REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS ALMEIDA Rosacircngela Doin de Boletim Cartografia na escola Salto para o FuturoTV Escola Rio de Janeiro RJ Jun2003 (Reproduccedilatildeo de Programa de TV) Disponiacutevel em lthttpscdnbitvescolaorgbrresourcesVMSResourcescontentsdocumentpublicationsSeries110640CartografianaEscolapdf gt Acesso em 18 mar 2018 ALMEIDA Rosacircngela Doin de PASSINI Elza Yasuko O espaccedilo geograacutefico ensino e representaccedilatildeo Satildeo Paulo Contexto 2010 BRASIL Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Secretaria de Educaccedilatildeo Fundamental Paracircmetros curriculares nacionais histoacuteria e

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geografia 3 ed Brasiacutelia MEC 2001 CASTROGIOVANNI Antocircnio Carlos (Org) Ensino de geografia praacuteticas e textualizaccedilotildees no cotidiano Porto Alegre Mediaccedilatildeo 2000 CAVICCHIA Durlei de Carvalho O desenvolvimento da crianccedila nos primeiros anos de vida Araraquara Unesp 2010 Disponiacutevel em lthttpsacervodigitalunespbrbitstream123456789224101d11t01pdfgt Acesso em 15 mar 2018 FREIRE Paulo Pedagogia do oprimido 17 ed Rio de Janeiro Paz e Terra 1987 KATUTA Acircngela Massumi Uso de mapas = alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica eou leiturizaccedilatildeo cartograacutefica In Nuances Presidente Prudente v 3 p 41 ndash 46 1997 LACOSTE Yves A geografia isso serve em primeiro lugar para fazer a guerra Campinas Papirus 1988 LANDIM NETO Francisco Otaacutevio BARBOSA Maria Edivani Silva O ensino de geografia na educaccedilatildeo baacutesica uma anaacutelise da relaccedilatildeo entre a formaccedilatildeo do docente e sua atuaccedilatildeo na Geografia Geosaberes Fortaleza v 1 n 2 p 160-179 2010 LIBERATTI Maria Inecircs da Silva ROSOLEacuteM Nathaacutelia Prado Alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica o mapa como instrumento de leitura do espaccedilo In PARANAacute Secretaria da Educaccedilatildeo Os desafios da escola puacuteblica paranaense na perspectiva do professor PDE Paranaacute SEED v 1 2013

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NASCIMENTO Ederson LUDWIG Aline Beatriz A educaccedilatildeo cartograacutefica no ensino-aprendizagem de Geografia reflexotildees e experiecircncias Geografia Ensino e Pesquisa Santa Maria v 19 n3 p 29 ndash 42 setdez 2015 Disponiacutevel em lthttpsperiodicosufsmbrgeografiaarticleview15535pdfgt Acesso em 26 mar 2018

RELATO DE EXPERIEcircNCIA DE ESTAacuteGIO COM A

UTILIZACcedilAtildeO DE MATERIAL DIDAacuteTICO PARA O

ENSINO DA GEOGRAFIA

Andressa Arauacutejo Souza

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Universidade Federal de Sergipe Discente do curso de Geografia - DGEIUFS ndash Bolsista PET-PROGRAMA DE

EDUCACcedilAtildeO TUTORIAL Integrante do grupo de pesquisa Relaccedilatildeo Sociedade Natureza e Produccedilatildeo do espaccedilo

Geograacutefico- PROGEO E-mail araujoandressa0202gmailcom

Camila Silva Santos

Universidade Federal de Sergipe Discente do curso de Geografia - DGEIUFS ndash Bolsista PET-PROGRAMA DE

EDUCACcedilAtildeO TUTORIAL E-mail Camila-1-2-3livecom

RESUMO

A anaacutelise em pauta decorre de uma experiecircncia de estaacutegio III sobre a elaboraccedilatildeo e execuccedilatildeo de um projeto de ensino intitulado as faces da miacutedia e a formaccedilatildeo do pensamento dos alunos Com objetivo de despertar o senso criacutetico dos estudantes em relaccedilatildeo agrave miacutedia e seu papel na sociedade contemporacircnea compreender quais interesses estatildeo intriacutensecos nas notiacutecias dos meios de comunicaccedilotildees mais acessiacuteveis agrave sociedade e produzir um pensamento criacutetico a respeito de tais notiacutecias Os estudos satildeo realizados atraveacutes da correlaccedilatildeo e confrontaccedilatildeo entre a anaacutelise geograacutefica e os discursos presentes nas reportagens a fim de contribuir para formaccedilatildeo do pensamento criacutetico-reflexivo ao selecionar informaccedilotildees autecircnticas para isso utilizamos imagens muacutesicas e a literatura de cordel que colaborou para a aplicaccedilatildeo da proposta pedagoacutegica Por fim buscamos ter em vista a contribuiccedilatildeo que o pensamento geograacutefico traz sobre uma visatildeo de libertaccedilatildeo e natildeo de aprisionamento nem de alienaccedilatildeo PALAVRAS-CHAVE Recursos Didaacuteticos Miacutedia Ensino de Geografia

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INTRODUCcedilAtildeO

O presente trabalho decorre de uma experiecircncia de estaacutegio desenvolvido na Escola Estadual Vicente Machado Menezes na disciplina de Estaacutegio Supervisionado em ensino de geografia III pelas alunas Andressa Arauacutejo Souza e Camila Silva Santos no qual foi proposta para a turma de 7deg Ano composta por 15 alunos a realizaccedilatildeo de uma atividade que tinha como ponto central de anaacutelise a miacutedia e seus discursos multifacetados Contudo foi necessaacuterio agrave utilizaccedilatildeo de materiais didaacuteticos especiacuteficos como muacutesicas viacutedeos e debates em sala de aula que possibilitaram a construccedilatildeo de um conhecimento acerca do papel da miacutedia A escola fica localizada no centro do municiacutepio de ItabaianaSE na Rua Joseacute Ferreira Lima nuacutemero 739

A miacutedia tem a preponderante funccedilatildeo de influenciar a sociedade a formular opiniotildees e julgar veriacutedico o que favorece seus interesses que estatildeo serviccedilo da expansatildeo do capital fazendo com que uma parcela da populaccedilatildeo seja direcionada a viver sob seus ditames tidos como legiacutetimos

Os objetivos deste artigo eacute apresentar algumas possibilidades de trabalhar um tema relevante na sociedade atual despertar o senso criacutetico dos alunos em relaccedilatildeo agrave miacutedia e seu papel na sociedade contemporacircnea compreender quais interesses estatildeo envolvidos por detraacutes das notiacutecias dos grandes meios de comunicaccedilatildeo e produzir um pensamento criacutetico a respeito do que eacute visto na miacutedia com a ajuda de materiais didaacuteticos que colaborem com a discussatildeo dentro da sala de aula e que permitam desvendar as faces que a miacutedia possui permitindo que os jovens e adolescentes identifiquem as inuacutemeras mensagens que satildeo transmitidas e que nem sempre tem a verdade exposta

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Haacute interesses poliacuteticos e econocircmicos embutidos nas falas e escritas uma vez que ao se estudar o caso do Brasil de acordo com a pesquisa de Monitoramento da Propriedade da Miacutedia (Media Ownership Monitor ou MOM)34 apenas 5 famiacutelias satildeo detentoras dos meios de comunicaccedilatildeo mais acessados pela maioria da populaccedilatildeo isso expotildee um monopoacutelio e controle do que pode ou natildeo ser transmitido Mostrar a verdade para os telespectadores acarretam prejuiacutezos pois iratildeo denunciar falhas e intenccedilotildees poliacuteticas que estatildeo escusas na sociedade retirar a ldquomaquiagemrdquo da miacutedia a fim de alertar os erros que satildeo cometidos pela classe dominante (ANTONELLO 2009 p 87) ldquo[] em seu trabalho nos alerta para entender que o texto jornaliacutestico constitui-se em uma representaccedilatildeo da realidade ou seja se apresenta como um ldquoespelho deformanterdquo uma vez que as miacutedias natildeo apresentam a realidade social mas o que elas constroem dessa realidaderdquo Ou seja a miacutedia por vezes seleciona padrotildees tidos como ideias mas que natildeo estatildeo condizentes com a realidade social poliacutetica e econocircmica

A principiar foram realizadas pesquisas bibliograacuteficas buscamos utilizar fontes secundaacuterias tais como artigos dissertaccedilotildees monografias livros e ainda documentos teacutecnicos Tais fontes foram importantes para a o acreacutescimo de informaccedilotildees que serviram de base para a fundamentaccedilatildeo teoacuterica atraveacutes dos estudos antecedentes sobre a miacutedia e sua atuaccedilatildeo no Brasil no processo de construccedilatildeo de ideias dos sujeitos Como formadoras de opiniatildeo futuras professoras nosso papel eacute desvendar que a principal funccedilatildeo da miacutedia eacute manipular e alienar atraveacutes das informaccedilotildees e reportagens

34 A presente pesquisa completa estaacute disponiacutevel em

httpswwwcartacapitalcombrsociedadecinco-familias-controlam-50-

dos-principais-veiculos-de-midia-do-pais-indica-relatorio

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transmitidas e por isso eacute necessaacuterio que estejamos alerta para natildeo nos deixarmos influenciar

Um dos caminhos a serem seguidos eacute procurar a procedecircncia das informaccedilotildees em miacutedias alternativas por exemplo para ratificar o que estaacute sendo tratado evitar permanecer na acomodaccedilatildeo e natildeo acreditar em tudo que eacute publicado ateacute porque atualmente as pessoas estatildeo cada vez mais sem limites e fazem uso dos meios midiaacuteticos para aleacutem da obtenccedilatildeo de informaccedilotildees Segundo Antonello ldquoAo trabalhar com o discurso da miacutedia eacute necessaacuterio compreender que esse discurso representa um dispositivo de criaccedilatildeo de subjetividade como estrateacutegia de moldar a visatildeo de mundo e o estilo de vida da sociedade por conseguinte fundamenta a moldura da ldquorepresentaccedilatildeo do espaccedilordquo (ANTONELLO 2009 p95)

Incitar a violecircncia fortalecer os preconceitos satildeo atitudes evidentes em consequecircncia da crise social que decorre da conjuntura poliacutetica e econocircmica principalmente nas redes sociais onde muitos jornais e revistas tecircm divulgado as colunas diaacuterias e muitos blogs tecircm postado fakes news em que os leitores sem fazer nenhuma distinccedilatildeo compartilham as informaccedilotildees sem analisar Estaacute praacutetica por vezes contribui para disseminaccedilatildeo de reportagens mentirosas manipuladoras e preconceituosas que precisam ser vetadas para que natildeo sejam naturalizadas Sabendo disso Antonello explica

[] a praacutetica discursiva assume o papel de controle dos enunciados esses por sua vez encontram-se submetidos ao ldquoespaccedilo de raridaderdquo Na esfera das formaccedilotildees discursivas atua a forccedila da raridade tal accedilatildeo subtende a ordem do discurso a qual se materializa na preposiccedilatildeo que ldquopoucas coisas possam ser ditasrdquo entatildeo o efeito de raridade dos enunciados norteia o que pode ser dito e ao

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mesmo tempo o dito torna ausente outros dizeres (ANTONELLO 2009 p 95)

Essa perspectiva torna de fundamental importacircncia trabalhar esse tema em sala de aula uma vez que a escola natildeo estaacute isolada da sociedade Aleacutem de mostrar as facetas negativas da miacutedia interessa tambeacutem identificar que haacute produccedilotildees confiaacuteveis que podem ser acessadas e tem legitimidade nas informaccedilotildees o que se quer mostrar eacute que existem vaacuterias ldquolentesrdquo para enxergar o mundo e cabe a noacutes enquanto sociedade escolher de qual forma almejamos enxergar DESENVOLVIMENTO DO PROJETO

O estaacutegio supervisionado consiste na experiecircncia que os alunos da graduaccedilatildeo possuem ainda durante a formaccedilatildeo e que contribui para o futuro profissional do discente A preparaccedilatildeo e o planejamento se iniciam na sala de aula e parte para aleacutem dos muros da universidade esse processo garante uma importante praacutetica social tendo em vista a importacircncia do retorno positivo do conhecimento agrave sociedade mesmo que o estudante tenha um tempo estipulado para as aulas como foi o caso desse estaacutegio na Escola Estadual Vicente Machado Menezes que totalizou 12 aulas Com o apoio do professor supervisor e do professor regente da sala durante essa fase o estagiaacuterio vai saber se importar adquirir confianccedila e fomentaraacute um pensamento criacutetico-reflexivo que eacute construiacutedo entre o professorestagiaacuterio e os alunos durante a carga horaacuteria do estaacutegio Pimenta salienta que

Melhor seria dizer que colabore para o exerciacutecio da sua atividade docente uma vez que professor natildeo eacute uma atividade burocraacutetica para a qual se adquire conhecimento e habilidades teacutecnico-mecacircnicas Dada agrave

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natureza do trabalho docente que eacute ensinar como contribuiccedilatildeo ao processo de humanizaccedilatildeo dos alunos historicamente situados espera-se da licenciatura que desenvolva nos alunos conhecimento e habilidades atitudes e valores que lhes possibilitem permanentemente irem construindo seus saberes-fazeres docentes a partir das necessidades e desafios que o ensino como praacutetica social lhes coloca no cotidiano (PIMENTA 1999 p19)

O processo teoacuterico-metodoloacutegico consistiu na seleccedilatildeo

de materiais que foram trabalhadas na assimilaccedilatildeo e na construccedilatildeo do aprendizado revistas muacutesicas e viacutedeos com a intenccedilatildeo de motivar a participaccedilatildeo dos alunos durante a execuccedilatildeo das atividades pedagoacutegicas pois atraveacutes das imagens procuramos fazer com que os mesmos pudessem observar de forma objetiva o enfoque do conteuacutedo evidenciando o plano ideoloacutegico presente nas diferentes esferas dos meios midiaacuteticos para o despertar do senso criacutetico e que os alunos procurassem ter condiccedilotildees de filtrar as notiacutecias realizando sua proacutepria interpretaccedilatildeo Trabalhar a geografia de forma transversal e interdisciplinar exigiu esforccedilo compensado com o entusiasmo dos alunos em trazer sua realidade e compartilhar o conhecimento por meio do diaacutelogo (CAVALCANTI 2010 p3) ldquo[] se a Geografia contempla a diversidade da experiecircncia dos homens na produccedilatildeo do espaccedilo as questotildees espaciais estatildeo sempre presentes no cotidiano de todos eles sejam as de dimensotildees globais ou locaisrdquo

No primeiro momento buscamos explanar um pouco sobre o conteuacutedo e em seguida aplicamos uma atividade pedagoacutegica (fotos 1 e 2) a intenccedilatildeo era causar uma problematizaccedilatildeo das ideias preacutevias dos alunos que suscitou em discussotildees e indagaccedilotildees Pesquisamos manchetes de jornais e

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revistas de grande magnitude e levamos para a sala de aula cada uma com diferentes paradigmas posteriormente pedimos para dizerem se concordavam ou natildeo com tal mateacuteria justificando seu posicionamento Os assuntos foram diversos como por exemplo padrotildees de beleza movimentos sociais reformas poliacuteticas o que levou a um diaacutelogo e diferentes anaacutelises A partir disso os alunos perceberam como um mesmo assunto pode ser escrito de maneiras diferentes e que geram diversas interpretaccedilotildees previstas pela proacutepria miacutedia Desta forma

Se a tarefa do ensino eacute tornar os conteuacutedos veiculados objetos de conhecimento para o aluno e se a construccedilatildeo do conhecimento pressupotildee curiosidade pelo saber esse eacute um obstaacuteculo que precisa efetivamente ser superado Para despertar o interesse cognitivo dos alunos o professor deve atuar na mediaccedilatildeo didaacutetica o que implica investir no processo de reflexatildeo sobre a contribuiccedilatildeo da Geografia na vida cotidiana sem perder de vista sua importacircncia para uma anaacutelise criacutetica da realidade social e natural mais ampla Nesse sentido o papel diretivo do professor na conduccedilatildeo do ensino estaacute relacionado agraves suas decisotildees sobre o que ensinar o que eacute prioritaacuterio ensinar em Geografia sobre as bases fundamentais do conhecimento geograacutefico a ser aprendido pelas crianccedilas e jovens reconhecendo esses alunos como sujeitos que tecircm uma histoacuteria e uma cogniccedilatildeo a serem consideradas (CAVALCANTI 2010 p3)

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Foto 1 Anaacutelise das reportagens

Fonte SOUZA Andressa Arauacutejo SANTOS Camila Silva 2017

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Foto 2 Desenvolvimento da atividade pedagoacutegica

Fonte SOUZA Andressa Arauacutejo SANTOS Camila Silva 2017

Ao final de todo o processo introduzimos um pouco da histoacuteria dos cordeacuteis no Nordeste explicamos sobre a forma que eacute estruturada um cordel aleacutem das suas variaccedilotildees Logo apoacutes os alunos ficaram incumbidos de realizar cordeacuteis sobre a influecircncia da miacutedia na sociedade com o intuiacutedo de mostrar a relevacircncia desse gecircnero literaacuterio para o fortalecimento cultural local dos envolvidos O interesse foi notado principalmente pelo fato de os alunos se identificarem com muacutesicas compostas por sequecircncias de rimas

O resultado foi surpreendente os estudantes colocaram em praacutetica toda criatividade e recitaram seus cordeacuteis na uacuteltima aula Pois o cordel faz parte do saber popular e pode ser usado como instrumento de ensino principalmente por ter a possibilidade de retratar a realidade social poliacutetica econocircmica e cultural como vislumbra Linhares

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A literatura de cordel continua um expressivo meio de comunicaccedilatildeo neste seacuteculo XXI apesar da morte tantas vezes anunciada ao longo dos tempos Felizmente enquanto expressatildeo cultural permanece adaptada reinventada no desempenho de suas funccedilotildees sociais Informar formar divertir socializar ou poetizar conforme os diferentes temas que retrata e o enfoque abordado (Linhares 2005 p1)

Foto 3 Confecccedilatildeo dos cordeacuteis

Fonte SOUZA Andressa Arauacutejo SANTOS Camila Silva 2017

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Foto 4 Socializaccedilatildeo dos cordeacuteis

Fonte SOUZA Andressa Arauacutejo SANTOS Camila Silva 2017 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A praacutetica docente nos torna cada vez mais proacuteximas da

realidade encontrada nas escolas essa etapa eacute fundamental para a criaccedilatildeo de uma relaccedilatildeo com o ambiente de trabalho entendendo as dificuldades essa oportunidade de idealizar propostas pedagoacutegicas e aplicaacute-las nas escolas nos ajuda a entender o processo da teoria-praacutetica como algo indissociaacutevel O ensino da geografia com a utilizaccedilatildeo de simples recursos didaacuteticos como o que utilizamos auxilia no entendimento dos

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assuntos referentes agrave atualidade e das mudanccedilas ocorridas no tempoespaccedilo com o advento da tecnologia A desvalorizaccedilatildeo do profissional da educaccedilatildeo e ateacute mesmo a falta de recursos financeiros dificulta o planejamento e os desafios encontrados satildeo inuacutemeros eacute notoacuterio ao adentramos a sala de aula contudo eacute necessaacuterio que se pense em estrateacutegias mesmo sem o apoio governamental

Ao final do projeto foi possiacutevel perceber a contribuiccedilatildeo na formaccedilatildeo de uma sociedade mais criacutetica e politicamente mais justa que sabe diferenciar as reportagens manipuladoras e preconceituosas tendo em vista a educaccedilatildeo e o saber popular como instrumento de libertaccedilatildeo e natildeo de aprisionamento segundo Saviani (1999 p66) ldquoO dominado natildeo se liberta se ele natildeo vier a dominar aquilo que os dominantes dominam Entatildeo dominar aquilo que os dominantes dominam eacute condiccedilatildeo de libertaccedilatildeordquo que auxilia os alunos na formaccedilatildeo de uma consciecircncia enquanto cidadatildeo de uma sociedade classista repleta de contradiccedilotildees e desigualdades REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS ANTONELLO Adeni Terezinha O discurso midiaacutetico sobre a reestruturaccedilatildeo econocircmica e territorial no e do espaccedilo rural norte paranaense In KATUTA Angela Geografia e miacutedia Impresse Londrina PR Moriaacute 2009 p 87-189 CAVALCANTI Lana de Souza A geografia e a realidade escolar contemporacircnea avanccedilos caminhos alternativas Anais do I seminaacuterio nacional curriacuteculo em movimento ndash perspectivas atuais Belo Horizonte 2010 P 1-16 Disponiacutevel em lthttpportalmecgovbrdocmandezembro-2010-pdf7167-3-3-geografia-realidade-escolar-lana-souzafilegt Acesso em 24 de Maio de 2018

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CORREcircA Fabricio O poder da miacutedia sobre as pessoas e sua interferecircncia no mundo do direito Disponiacutevel em lthttpsfabriciocorreajusbrasilcombrartigos121941433o-poder-da-midia-sobre-as-pessoas-e-sua-interferencia-no-mundo-do-direitogt Acesso em 18 de Abril de 2017 LINHARES Thelma Regina Siqueira LITERATURA DE CORDEL uma miacutedia em evoluccedilatildeo Recife 17 de julho de 2005 Disponiacutevel em httpwwwfundajgovbrgeralfolcloreliteratura20cordelpdf Acesso em 30042018 PIMENTA Selma Garrido Formaccedilatildeo de professores identidade e saberes da docecircncia In PIMENTA Selma Garrido (Org) Saberes pedagogicos e atividade docente Satildeo Paulo Cortez Editora 1999 (p15 a 34) Disponiacutevel em lthttpsedisciplinasuspbrpluginfilephp1978920mod_resourcecontent1Texto-20Pimenta-201999-FP-20ID2020e20SDpdfgt Acesso em 24 Maio de 2018 RAMONET Igmacio Propagandas silenciosas massas televisatildeo cinema PetroacutepolesRJ Vozes 2002 SAVIANI D Escola e democracia teorias da educaccedilatildeo curvatura da vara onze teses sobre educaccedilatildeo e poliacutetica 32 ed Satildeo Paulo CortezAutores Associados 1999 SILVA Ellen Fernanda Gomes da SANTOS Suely Emilia de Barros O IMPACTO E A INFLUEcircNCIA DA MIacuteDIA SOBRE A PRODUCcedilAtildeO DA SUBJETIVIDADE Disponiacutevel em httpwwwabrapsoorgbrsiteprincipalimagesAnais_XVE

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NABRAPSO44720o20impacto20e20a20influCAncia20da20mCDdiapdf 2005 Acesso em 24 abr SOUZA Andressa Arauacutejo SANTOS Camila Silva Fotos obtidas na realizaccedilatildeo do projeto de ensino em geografia 2017 (4 fots) color 10x15

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REFLEXAtildeO SOBRE A FORMACcedilAtildeO DE PROFESSORES E O ESTAacuteGIO SUPERVISIONADO

NO ATUAL CONTEXTO DA EDUCACcedilAtildeO BRASILEIRA35

Joyce Kelly de Jesus Santos

Universidade Federal de SergipeCampus Prof Alberto Carvalho Graduanda em Geografia

E-mail kellysts17gmailcom RESUMO

Esse artigo discute a importacircncia do Estaacutegio Supervisionado na formaccedilatildeo do professor de geografia uma vez que eacute nessa disciplina que os graduandos associam teoria e praacutetica no exerciacutecio da docecircncia em sala de aula A reflexatildeo eacute pautada na anaacutelise das experiecircncias vivenciadas e no estudo da educaccedilatildeo brasileira no contexto das reformas neoliberais e seus rebatimentos na formaccedilatildeo docente Palavras-chave Ensino de Geografia Estaacutegio Supervisionado Formaccedilatildeo de professores INTRODUCcedilAtildeO O presente artigo tem como objetivo salientar a importacircncia do Estaacutegio Supervisionado na formaccedilatildeo do professor de geografia e apresentar os resultados deste A anaacutelise do estaacutegio eacute feita considerando a atual situaccedilatildeo da educaccedilatildeo brasileira e do ensino de geografia A disciplina Estaacutegio Supervisionado em Ensino de Geografia I constitui-se como o primeiro estaacutegio do curso de

35 Este texto eacute resultado das experiecircncias vividas na disciplina Estaacutegio Supervisionado em Ensino de Geografia I em 2017

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Geografia do Campus Prof Alberto Carvalho Tem o caraacuteter de observaccedilatildeo e eacute ofertada no quinto periacuteodo do curso sendo de muita relevacircncia para a formaccedilatildeo do futuro profissional docente visto que a experiecircncia proporcionada prepara os licenciandos para os futuros desafios que seratildeo encontrados na sala de aula Aleacutem disso permite uma anaacutelise criacutetica da situaccedilatildeo da escola puacuteblica brasileira Cabe destacar que a disciplina vai aleacutem da observaccedilatildeo uma vez que antes das visitas agrave escola haacute toda uma preparaccedilatildeo satildeo debatidos diversos textos acerca do atual contexto da educaccedilatildeo das reformas educacionais do ensino de geografia da profissatildeo docente anaacutelise do livro didaacutetico e projeto de ensino

Perante o que foi discutido ao longo da disciplina nota-se que analisar a realidade do ensino puacuteblico as reformas educacionais em sua totalidade tecircm muita significacircncia pois isso iraacute definir a postura do futuro professor em sala de aula Desse modo formar profissionais conscientes do conteuacutedo das relaccedilotildees sociais e do espaccedilo como constituinte dessas relaccedilotildees eacute o primeiro passo para a transformaccedilatildeo miacutenima da educaccedilatildeo quebrando o paradigma de reproduccedilatildeo das ideias da classe dominante Aleacutem disso percebeu-se como a geografia como disciplina escolar ainda eacute vista como decorativa e desinteressante pelos alunos da educaccedilatildeo baacutesica Por conseguinte ainda haacute barreiras a serem vencidas nesse campo da ciecircncia geograacutefica visto que ateacute entatildeo restam resquiacutecios do positivismo aleacutem da desvalorizaccedilatildeodesmotivaccedilatildeo do professor natildeo colaborar para essa desmitificaccedilatildeo O texto inicialmente traz uma breve discussatildeo a respeito da importacircncia do estaacutegio supervisionado para a formaccedilatildeo do professor um breve histoacuterico da educaccedilatildeo e da funccedilatildeo da escola Posteriormente eacute feita reflexatildeo sobre a geografia escolar assim como um detalhamento da infraestrutura da escola o contexto que estaacute inserida planejamento e processo avaliativo

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O ESTAacuteGIO SUPERVISIONADO NA FORMACcedilAtildeO DO PROFESSOR DE GEOGRAFIA

O Estaacutegio Supervisionado em Geografia eacute de muita

importacircncia para formaccedilatildeo docente pois faz a mediaccedilatildeo entre a universidade e a escola puacuteblica Eacute nesse momento da graduaccedilatildeo que satildeo colocadas em praacutetica as teorias que satildeo discutidas no ambiente acadecircmico em forma de conhecimento escolar para os alunos da rede puacuteblica Desse modo

[] eacute o momento em que o estudante futuro professor natildeo apenas potildee em praacutetica o que foi discutido nas aulas de formaccedilatildeo de professores mas um momento de aperfeiccediloamento de suas teacutecnicas Deve ter a finalidade de integrar o processo de formaccedilatildeo do aluno de modo que se considere seu campo de atuaccedilatildeo como base de anaacutelise de investigaccedilatildeo e interpretaccedilatildeo criacutetica da realidade escolar (MONTEIRO SILVA 2015 p 20)

Eacute uma forma de apresentar ao licenciando a realidade escolar brasileira aperfeiccediloar conhecimentos aleacutem de fornecer uma aproximaccedilatildeo com seu futuro campo profissional O professor eacute um profissional muito relevante visto que ele eacute formador de opiniatildeo sua atuaccedilatildeo tem um poder emancipador podendo contribuir para a transformaccedilatildeo da sociedade atraveacutes de seus conhecimentos Por seu caraacuteter emancipatoacuterio a formaccedilatildeo desses profissionais eacute prejudicada com o objetivo de formaacute-los sem uma compreensatildeo criacutetica acerca da realidade aleacutem do oficio ser colocado em constante desvalorizaccedilatildeo e precariedade sendo um campo profissional pouco atrativo para quem busca adentrar na universidade

Dentro do pensamento geograacutefico pode-se destacar a existecircncia de duas vertentes uma de caraacuteter mais positivista

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que natildeo se preocupa em fazer uma leitura criacutetica da sociedade e outra de cunho criacutetico com influecircncia do marxismo que trabalha para o desvendamento das contradiccedilotildees nodo espaccedilo Essas concepccedilotildees teoacutericas influenciam a postura que o docente exerceraacute em sala de aula e que traduziraacute sua compreensatildeo e leitura de mundo Consequentemente essa visatildeo de mundo seraacute transmitida para seus alunos Conforme Santos e Silva

O professor de Geografia em seus objetivos deve buscar desenvolver um trabalho com os alunos para dar conta da compreensatildeo da vida social reconhecendo as contradiccedilotildees e conflitos sociais para que estes possam buscar mecanismos para intervenccedilatildeo e transformaccedilatildeo da estrutura social vigente (SANTOS SILVA 2011 p101)

A escola eacute um campo de lutas podendo disseminar ideias dominantes ou antagocircnicas seu papel iraacute mudar durante a histoacuteria sendo vista de modo diferenciado na medida em que a sociedade passa por transformaccedilotildees Segundo Rodrigues e Oliveira

A escola enquanto instituiccedilatildeo social eacute vista a partir de diversas maneiras em diferentes momentos histoacutericos Reflete o projeto de sociedade que se quer produzir e os valores que seratildeo reconhecidos como vaacutelidos socialmente A funccedilatildeo social da escola eacute portanto definida historicamente garantindo a formaccedilatildeo de quadros profissionais e a valorizaccedilatildeo da cultura da sociedade (RODRIGUES OLIVEIRA 2011 p69)

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Segundo Saviani (1986) a escola surge com a propriedade privada e consequentemente com a classe dos proprietaacuterios no modo de produccedilatildeo antigo e no modo de produccedilatildeo feudal Essa classe natildeo trabalhava ociosa ocupava o tempo livre na escola Para o referido autor

Escola em grego significa o lugar do oacutecio O tempo destinado ao oacutecio Aqueles que dispunham de lazer que natildeo precisavam trabalhar para sobreviver tinham que ocupar o tempo livre e esta ocupaccedilatildeo do oacutecio era traduzida pela expressatildeo escola (1986 p 28)

Assim Agrave medida que nesses dois tipos de sociedade antiga ou escravista e medieval ou feudal havia uma diminuta classe de proprietaacuterios e uma grande massa de natildeo proprietaacuterios a escola aparecia como uma modalidade de educaccedilatildeo complementar e secundaacuteria Isto porque a modalidade principal de educaccedilatildeo continuava sendo ainda o trabalho uma vez que a grande massa a maioria natildeo se educava atraveacutes da escola mas atraveacutes da vida ou seja do processo de trabalho (SAVIANI 1986 p 26)

Na Sociedade Moderna haacute necessidade da universalizaccedilatildeo da educaccedilatildeo baacutesica uma vez que a burguesia revolucionou as relaccedilotildees sociais e transferindo o eixo de produccedilatildeo do campo para a cidade exigiu o domiacutenio dos coacutedigos escritos para a vida nessa nova sociedade Dessa forma a escola eacute uma instituiccedilatildeo burguesa que traduz a forma predominante de educaccedilatildeo (SAVIANI 1986)

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Nesse contexto como estamos no modo de produccedilatildeo capitalista a escola de maneira geral iraacute servir aos interesses deste sistema sendo sua principal funccedilatildeo formar trabalhadores para suprir o mercado de trabalho e criar um exeacutercito de matildeo-de-obra reserva Assim

[] a escola contribui para a reproduccedilatildeo do capital habitua os alunos agrave disciplina necessaacuteria ao trabalho na induacutestria moderna a realizar sempre tarefas novas sem discutir para que servem a respeitar a hierarquia moderna e serve como absorvente de parte do exeacutercito reserva segurando contingentes humanos ou jogando-os no mercado de trabalho de acordo com as necessidades do momento (VESENTINI 1989 p 31)

Cabe ressaltar no contexto capitalista que a educaccedilatildeo eacute vista como uma mercadoria ou seja o fracasso da escola puacuteblica eacute necessaacuterio para o sucesso do privado Isso significa que

[] os sistemas educacionais no mundo capitalista contemporacircneo respondem ao modo especifico as necessidades de valorizaccedilatildeo do capital ao mesmo tempo em que se consubstanciam numa demanda popular efetiva de acesso ao saber socialmente produzido (NEVES 1999 p 16)

Segundo Libacircneo (2012) a Conferecircncia Mundial sobre

Educaccedilatildeo para Todos realizada em 1990 em Jomtien Tailacircndia agravou ainda mais o dualismo da escola (escola para ricos X escola para pobres) visto que esta impocircs diretrizes a serem seguidas em paiacuteses subdesenvolvidos A partir daiacute surgiu a escola de acolhimento social apresentando intenccedilotildees humaniacutesticas poreacutem natildeo permitindo a esses alunos uma visatildeo criacutetica da realidade Ademais ocorreu a universalizaccedilatildeo do

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ensino mas natildeo acompanhada da apropriaccedilatildeo do conhecimento Desta maneira as escolas visam apenas resultados quantitativos sempre em busca de bons nuacutemeros isso acaba prejudicando a aprendizagem do aluno

Cabe destacar que na deacutecada de 1980 Dermeval Saviani jaacute discutia que a escola estava perdendo sua principal funccedilatildeo de transmitir conhecimentos sistematizados assumindo assim novas funccedilotildees de caraacuteter social Isto posto

[] certas funccedilotildees claacutessicas da escola que natildeo podem ser perdidas de vista porque do contraacuterio acabamos invertendo o sentido da escola e considerando questotildees secundaacuterias e acidentais como principais passando para o plano secundaacuterio aspectos principais da escola (SAVIANI 1986 p 32)

Diante desse contexto a educaccedilatildeo no Brasil eacute colocada

em plano secundaacuterio seguindo as diretrizes impostas pelo documento da Conferecircncia de Jomtien Isto posto natildeo haacute uma preocupaccedilatildeo no seu melhoramento o que se reflete na infraestrutura das escolas ldquopensar sobre a qualidade de educaccedilatildeo brasileira eacute questionar a proacutepria realidade educacional na sociedade que estaacute em sua essecircnciardquo (MACEDO ANDRADE 2011 p 43)

Dessa forma sem investimentos na educaccedilatildeo esta tende a ficar desqualificada Aleacutem disso na poliacutetica neoliberal os alunos satildeo educados para o individualismo competitividade e mercado de trabalho os tornando cidadatildeos alienados que natildeo lutam por seus direitos Em outras palavras

[] a educaccedilatildeo tornou-se uma peccedila no mecanismo de acumulaccedilatildeo do capital ao estabelecer consensualmente a reproduccedilatildeo do injusto sistema de classes Tornou-se mecanismo de perpetuaccedilatildeo do sistema em

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vez de instrumento da emancipaccedilatildeo do homem (COSTA Jr 2010 p 45)

Diante disso haacute cada vez mais interesse na desvalorizaccedilatildeo do oficio docente pois uma vez que a educaccedilatildeo natildeo tem o poder emancipador ela se torna um instrumento para reproduzir os ideais capitalistas e a sociedade de classes REFLEXAtildeO SOBRE O ENSINO DE GEOGRAFIA NA EDUCACcedilAtildeO BAacuteSICA

A geografia escolar tinha como objetivo formar a

identidade nacionalista sendo os principais conteuacutedos abordados a descriccedilatildeo dos territoacuterios e paisagens Possuiacutea influecircncia positivista e dava prioridade a memorizaccedilatildeo de nomes de lugares se tornava pouco atrativa para os alunos pois estes natildeo viam a utilidade daqueles conteuacutedos trabalhados em sala de aula na sua realidade (SANTOS SOUSA SANTOS 2018)

Em meados do seacuteculo XX a ciecircncia geografia passou por uma crise teoacuterico-metodoloacutegica que mudou sua forma de enxergar o mundo Isso se deu pois as bases da geografia tradicional natildeo davam conta de compreender a realidade visto que poacutes Segunda Guerra Mundial com o novo desenvolvimento do capitalismo a realidade se tornara mais complexa Diante disso essa renovaccedilatildeo tambeacutem chegou agrave geografia escolar O caraacuteter de descriccedilatildeomemorizaccedilatildeo de lugares vai mudando aos poucos poreacutem ainda natildeo foi superado visto que haacute professores que ainda utilizam metodologias tradicionais em sala de aula

Na turma do 8ordm ano observou-se que o professor tenta trabalhar com uma aula mais interativa mas ainda predomina a exposiccedilatildeo do conteuacutedo de maneira sistemaacutetica Isso se daacute por

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vaacuterios fatores dentre eles a falta de tempo de planejamento do professor devido agrave carga horaacuteria de trabalho elevada

Em entrevista os discentes declararam que gostam da geografia e do professor em razatildeo dos bons resultados nas avaliccedilotildees que eles possuem

Diante de um conjunto de fatores dentre quais pode-se destacar a desmotivaccedilatildeo dos alunos a carga horaacuteria de trabalho excessiva do professor falta de infraestrutura e problemas sociais o processo de aprendizagem eacute prejudicado levando o discente a natildeo querer ir agrave escola e se dedicar as disciplinas dentre elas a geografia dificultando o trabalho do professor Dentro desse contexto

[] A geografia que se ensina e se aprende natildeo os motiva mais e seguramente estaacute muito longe das suas necessidades A geografia foi perdendo aquilo que de especial ela sempre teve- discutir a realidade presente dos povos particularmente no que se refere a seu contexto social (OLIVEIRA 1989 p 138)

Descontruir esse estereoacutetipo eacute um desafio a ser vencido em sala de aula pelo o professor Este deve adotar novas metodologias e buscar aproximar os conteuacutedos da realidade do aluno levando-o a querer aprender cada vez mais CONSIDERACcedilOtildeES SOBRE O COLEacuteGIO ESTADUAL DR AUGUSTO CEacuteSAR LEITE O Coleacutegio Estadual Dr Augusto Ceacutesar Leite estaacute localizado na cidade de ItabaianaSergipe no Bairro Porto que hoje estaacute valorizado devido a instituiccedilotildees puacuteblicas de assistecircncia baacutesica como a Delegacia Regional e a Secretaria de Sauacutede que foram instaladas nele Aleacutem disso a proximidade com a Universidade Federal de Sergipe faz com que esses

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alunos desde cedo tenham contato com a instituiccedilatildeo de Ensino Superior A infraestrutura do coleacutegio eacute precaacuteria sua aacuterea eacute ampla mas estaacute deteriorada Iniciou-se uma reforma poreacutem estaacute inacabada o que implica na desmotivaccedilatildeo dos educandos uma vez que a escola jaacute eacute um local pouco atrativo quando natildeo conta com uma boa infraestrutura agrava ainda mais a situaccedilatildeo (ver figura 1 e 2) Figura 1 Coleacutegio Estadual Dr Augusto Ceacutesar Leite

Fonte Arquivo particular Autor Elenilson Santos do Nascimento 2017

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Figura 2 Sala de aula do Coleacutegio Estadual Dr Augusto Ceacutesar Leite

Fonte Arquivo particular Autor Elenilson Santos do Nascimento 2017

Os alunos que frequentam esse coleacutegio em parte moram perto da escola ou seja bairros perifeacutericos pobres da cidade de Itabaiana Esse eacute o principal motivo para estudarem nessa escola Outros residem na zona rural do municiacutepio Muitos desses discentes estatildeo sujeitos agrave violecircncia e ao mundo das drogas alguns jaacute trabalham e grande parte eacute repetente Haacute um transporte puacuteblico escolar mas na eacutepoca que foi realizada a observaccedilatildeo do estaacutegio os motoristas estavam em greve o que levou muitos discentes natildeo irem agrave escola devido a esse problema

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Aleacutem de fornecer a garantia de ensino a escola puacuteblica deve oferecer outras assistecircncias como a merenda escolar Este eacute o segundo programa que mais recebe verba do Governo Federal poreacutem nem sempre chega a escola com qualidade Ao questionar os discentes sobre esse aspecto eles relataram que eacute regular mas natildeo haacute muita variedade A etapa de planejamento eacute de suma importacircncia no processo ensinoaprendizagem Para que ocorra um bom desenvolvimento das aulas eacute fundamental que suceda um planejamento pois natildeo havendo este o professor estar suscetiacutevel a improvisaccedilatildeo Cabe destacar que o plano de aula eacute apenas uma orientaccedilatildeo a ser seguida e deve estar sujeito a alteraccedilotildees de acordo com a necessidade da classe Enfim

[] a construccedilatildeo do planejamento eacute uma etapa que merece atenccedilatildeo e seriedade para que os fracassos e os improvisos prejudiciais sejam evitados Por outro lado no ato de planejar deve haver flexibilidade jaacute que o trabalho docente insere-se em diferentes contextos que estatildeo sempre em constante transformaccedilatildeo Eacute interessante que os planos estejam relacionados com o seu meio escolar e com a realidade dos alunos (SILVA LIMA 2011 p 32-33)

No coleacutegio referido segundo o professor haacute o planejamento anual que eacute feito com todos os docentes Aleacutem disso a escolha do livro didaacutetico eacute feita coletivamente proporcionando uma satisfaccedilatildeo pois o profissional trabalharaacute com o material escolhido por todos Cabe destacar que o professor de geografia regente da turma do 8deg ano possui uma boa formaccedilatildeo que inclui licenciatura em geografia especializaccedilatildeo em geologia e mestrado em Arqueologia O processo avaliativo realizado pelo o professor consiste em quatro provas durante o ano letivo atividades de

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pesquisa a respeito de alguns temas e apresentaccedilotildees orais A participaccedilatildeo dos alunos em projetos realizados na escola tambeacutem faz parte do processo CONCLUSOtildeES O estaacutegio traz inuacutemeros benefiacutecios para a formaccedilatildeo do futuro profissional docente pois eacute a hora de colocar em praacutetica toda a sua carga teoacuterica adquirida dentro da universidade A experiecircncia vivida foi uacutenica em vista disso permitiu um primeiro contato com o ambiente escolar aleacutem de ver mais de perto a realidade dos alunos e o dia a dia do oficio do professor Os graduandos devem sair da universidade com uma visatildeo criacutetica em relaccedilatildeo a educaccedilatildeo Como haacute toda uma discussatildeo sobre esse assunto ao longo da disciplina esta mostra sua relevacircncia dado que possibilita reconhecer como a educaccedilatildeo eacute um campo de lutas de interesses

Em suma diante de toda essa precariedade eacute notoacuterio que o fracasso do ensino puacuteblico eacute planejado pois soacute assim seraacute possiacutevel o sucesso do privado A cada dia ocorre o agravamento do dualismo na educaccedilatildeo sendo uma para os pobres e outra para os ricos As poliacuteticas neoliberais impostas sobretudo pelo Banco Mundial tecircm um papel fundamental uma vez que satildeo elas que direcionam o ensino puacuteblico e com isso sempre iraacute favorecer o ensino privado ajudando a manter a sociedade desigual de classes A educaccedilatildeo eacute a possibilitadora de mudanccedila social poreacutem ela eacute sempre sucateada visto que as propostas de reforma para esse campo satildeo sempre de caraacuteter paliativo ou seja natildeo altera a raiz do problema como comenta Meacuteszaacuteros (2006) eacute necessaacuterio romper com a loacutegica do capital para que haja uma mudanccedila significativa na educaccedilatildeo e consequentemente na sociedade

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REFEREcircNCIAS ANDRADE V C MACEDO MC O papel do professor e a importacircncia da ciecircncia geograacutefica nos curriacuteculos escolares In SANTOS Ana Rocha dos (org) Sobre o pensar e fazer docente na sala de aula de Geografia Satildeo Cristoacutevatildeo Editora UFS 2011 v 1 p41-52 COSTAS JR W R (2010) Poliacutetica Educacional no contexto do Neoliberalismo Revista da Faculdade de Educaccedilatildeo 13(8) 31-49 LIBAcircNEO Joseacute C O dualismo perverso da escola puacuteblica brasileira escola do conhecimento para os ricos escola do acolhimento social para os pobres Educaccedilatildeo e Pesquisa Satildeo Paulo v 38 n 1 mar 2012 MEacuteSZAROS Istvaacuten A educaccedilatildeo para aleacutem do capital Satildeo Paulo Boi Tempo Editorial 2006 MONTEIRO Jeacutessica de Sousa SILVA Diego Pereira da A influecircncia da estrutura escolar no processo ensino-aprendizagem uma anaacutelise baseada nas experiecircncias do estaacutegio supervisionado em geografia Geografia Ensino amp Pesquisa v 19 n3 setdez 2015 MORAES Antocircnio Carlos R Geografia pequena histoacuteria criacutetica 3 ed Satildeo Paulo Hucitec 1984 NEVES L M W Educaccedilatildeo e poliacutetica no Brasil de hoje 2 ed Satildeo Paulo Cortez 1999 (Questotildees de nossa eacutepoca 36) OLIVEIRA Ariovaldo Umbelino de Educaccedilatildeo e ensino de geografia na realidade brasileira In OLIVEIRA Ariovaldo

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Umbelino de (org) Para onde vai o ensino de geografia Satildeo Paulo Contexto 1989 (Repensando o ensino) v 1 p 135-144 RODRIGUES J O OLIVEIRA M F R A geografia e a literatura para a compreensatildeo da totalidade In SANTOS Ana Rocha dos (org) Sobre o pensar e fazer docente na sala de aula de Geografia Satildeo CristoacutevatildeoSE Editora UFS 2011 v 1 p 23-42 SANTOS A M SILVA L A Dimensotildees Do Projeto Poliacutetico Pedagoacutegico E A Geografia NaDa Escola Estadual Vicente Machado Menezes In SANTOS Ana Rocha dos (Org) Sobre o pensar e fazer docente na sala de aula de Geografia Satildeo CristoacutevatildeoSE Editora UFS 2011 v 1 p 81-102 SANTOS J K J SOUSA T S SANTOS Ana Rocha Oficinas Pedagoacutegicas do Pibid no ensino de Geografia transformando realidade em conhecimento Trilhas da formaccedilatildeo docente v 1 p 57-62 2018 SAVIANI Dermeval A pedagogia histoacuterico-criacutetica e a educaccedilatildeo escolar In BERNARDO M V C et al (orgs) Pensando a educaccedilatildeo Satildeo Paulo Ed Unesp 1989 v 1 23-33 SILVA D P O LIMA J P O Papel do Professor de Geografia na Educaccedilatildeo Baacutesica O ensino como caminho que emancipa In SANTOS Ana Rocha dos (org) Sobre o pensar e fazer docente na sala de aula de Geografia Satildeo CristoacutevatildeoSE Editora UFS 2011 v 1 p 23-42

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VESENTINI Joseacute William Geografia Criacutetica e Ensino In OLIVEIRA Ariovaldo Umbelino de (org) Para onde vai o ensino de geografia Satildeo Paulo Contexto 1989 (Repensando o ensino) v 1 p 30-38

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O TEATRO DE FANTOCHES RECURSO DIDAacuteTICO-PEDAGOacuteGICO NO ENSINO NAS SEacuteRIES INICIAIS36

Jeacutessica Elis Silva Eleodoro37

UNIT (Graduada em Licenciatura Plena em Pedagogia) E-mail jessicaeleodorohotmailcom

Edeacutesio Alves de Jesus38

PPGEOUFS (Graduado e Mestre em Geografia) E-mailedesio0467yahoocombr

RESUMO

O presente trabalho versa sobre o uso do teatro de fantoche nas seacuteries iniciais do Ensino Fundamental desenvolvido na Escola Rural Povoado Mangabeira localizada no Povoado Mangabeira no municiacutepio de Itabaiana no estado de Sergipe durante o ano letivo de 2017 O trabalho estaacute fundamentado em revisotildees bibliograacuteficas de autores geograacuteficos pedagoacutegicos e aacutereas afins trazendo agrave tona a necessidade de buscar novos instrumentos paradidaacuteticos que melhorem o niacutevel de proficiecircncia em leitura oralidade e escrita visto que promova mudanccedilas no comportamento dos alunos no processo de ensino aprendizagem Portanto o uso do teatro de fantoche incrementado de forma recreativa e criativa contribui na melhoria das habilidades e no cognitivo elevando o niacutevel de alfabetizaccedilatildeo e letramento dos discentes

36

Trabalho realizado na Escola Rural Povoado Mangabeira no

municiacutepio de Itabaiana (SE) 37

Professora da Rede Estadual de Ensino do Estado de Sergipe 38

Secretaacuterio da Escola Rural Povoado Mangabeira no municiacutepio de

Itabaiana (SE)

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PALAVRAS-CHAVE Teatro de Fantoche Educaccedilatildeo Geografia INTRODUCcedilAtildeO

O presente trabalho eacute resultado das accedilotildees desenvolvidas na Escola Rural Povoado Mangabeira no municiacutepio de Itabaiana no estado de Sergipe no ano letivo de 2017 o que proporciona melhorar o niacutevel de proficiecircncia em leitura oralidade e escrita dos alunos entre o cotidiano e sua realidade

Diante do exposto trouxemos a questatildeo o uso de fantoches como ferramenta indispensaacutevel no processo de ensino aprendizagem para o clico do 1ordm ao 3ordm ano do ensino fundamental o que promove no acircmbito da escola do campo o despertar para a leitura como forma de ampliar o conhecimento no processo de letramento e alfabetizaccedilatildeo

Para Fonseca (2013) o processo de leitura retrata o sentimento de liberdade de escolhas o que pressupotildee o uso da teoria e a praacutetica do luacutedico no processo de ensino aprendizagem infantil visto que ldquo[] a histoacuteria da leitura tem sido um dos mais instigantes objetos de estudo das uacuteltimas deacutecadas por dar voz a personagens ateacute entatildeo silenciadas nas anaacutelises que focavam o texto e natildeo os usos e interpretaccedilotildees dos textosrdquo (FONSECA 2013 p 92)

Para tanto o uso de fantoche propicia aos alunos o despertar do haacutebito da leitura e a possibilidade de aprender novos conceitos e valores usufruindo de sua proacutepria imaginaccedilatildeo por meio de narraccedilatildeo de histoacuterias Para Silva (2011) ldquoO contar histoacuterias pode ser um trabalho permeado pela imaginaccedilatildeo e fantasia que estimula os sujeitos a interagirem e criarem relaccedilotildees afetivas com a histoacuteria levando-os a imaginarem-se no lugar do personagemrdquo (p 69)

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Neste sentido a participaccedilatildeo do aluno no processo de construccedilatildeo da histoacuteria evidencia o prazer atrativo no processo de aprendizagem ligando dessa forma agraves relaccedilotildees cognitivas de sua realidade escolar Para tanto a utilizaccedilatildeo de meacutetodos paradidaacuteticos no caso do uso de fantoche em sala de aula possibilita e instiga a curiosidade dos alunos A EXPERIEcircNCIA DO USO DE FANTOCHES NO ENSINO DE GEOGRAFIA NAS SEacuteRIES INICIAIS NA ESCOLA RURAL POVOADO MANGABEIRA O objetivo central deste trabalho eacute apresentar o uso da teacutecnica do teatro de fantoches no acircmbito escolar voltada para o desenvolvimento da oralidade da leitura escrita e na melhoria psicomotora dos alunos atraveacutes de construccedilatildeo de oficinas Para tanto eacute de extrema relevacircncia conhecer o ambiente escolar nos seus diversos espaccedilos de produccedilatildeo do saber

Desse modo a escola eacute loco do desenvolvimento da aprendizagem e do aperfeiccediloamento das praacuteticas pedagoacutegicas mais ainda local de resgaste da formaccedilatildeo das competecircncias e habilidades capaz de mudanccedilas no ensino de Geografia nas seacuteries iniciais

Para alcanccedilar o objetivo geral deste trabalho foram traccedilados alguns objetivos especiacuteficos a citar Compreender como o teatro de fantoches pode favorecer ao desenvolvimento da praacutetica docente despertar o prazer da leitura pelos alunos possibilitar a melhoria da oralidade escrita e o uso das vaacuterias formas de linguagens pedagoacutegicas otimizando o alargar de horizontes pessoais e culturais dos alunos de forma luacutedica METODOLOGIA

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A animaccedilatildeo teatral com uso de fantoche tem sido aperfeiccediloada pelos distintos cantos do mundo e na Geografia estaacute vinculada agrave vontade dos professores de construir no ambiente da sala de aula praacuteticas pedagoacutegicas que se referem aos sujeitos atraveacutes das relaccedilotildees dentro e fora da escola

Nesta perspectiva a metodologia aplicada na elaboraccedilatildeo deste trabalho pautou-se em buscar fontes basilares em autores que compreendem o uso de teatro de fantoches como ferramenta no ensino aprendizagem aleacutem de conceitos que englobam o espaccedilo rural brasileiro tais como comunidade campesinato produccedilatildeo agraacuteria espaccedilo geograacutefico orientaccedilatildeo espacial e das questotildees ambientais (SILVA 2011)39

Destarte autores como Silva (2011) Reis et al (2014) e Lemes (2009) discutem nos seus trabalhos o uso de teatro de fantoches como meacutetodo de ensino pois apresenta diversos benefiacutecios para a aprendizagem cognitiva do aluno e que tambeacutem contribui na construccedilatildeo de um imaginaacuterio em que os alunos satildeo estimulados entre outras habilidades agrave inclusatildeo social

Nesta perspectiva conhecer alguns autores profissionais que se abastecem das teacutecnicas do uso de fantoches eacute de suma importacircncia pois o domiacutenio de teorias daacute relevacircncia aos fundamentos do tema proposto tanto na elaboraccedilatildeo de projetos pedagoacutegicos quanto na praacutetica docente mais ainda na relaccedilatildeo ensino aprendizagem

Para tanto a formaccedilatildeo do professor neste caso do professor polivalente requer um leque de atribuiccedilotildees atraveacutes da teoria e da praacutetica em que o licenciado vai perceber como se constroem as relaccedilotildees no espaccedilo escolar Desse modo o uso de ferramentas distintas deve estar atrelado agrave teoria e agrave praacutetica

39

Os conteuacutedos foram abordados nas leituras realizadas pelos alunos e

nas apresentaccedilotildees do teatro natildeo sendo discutido no percurso deste

trabalho

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sendo instacircncias articuladoras no processo de alfabetizaccedilatildeo e letramento dos alunos com fins pedagoacutegicos

Saiki e Godoi (2010) afirmam que ocorre uma articulaccedilatildeo praacutetica e teoria e vice-versa sendo na escola o local onde protagoniza a realizaccedilatildeo das concepccedilotildees e das praacuteticas educacionais Para tanto a escola necessita de uma organizaccedilatildeo pedagoacutegica com base na proposta do Projeto Poliacutetico Pedagoacutegico calcado com ecircnfase nas caracteriacutesticas dos alunos assistidos

Dessa forma a utilizaccedilatildeo de diferentes linguagens e praacuteticas na escola configura para o aluno um mecanismo de absorccedilatildeo de conhecimento por meio de diversos recursos metodoloacutegicos o que proporciona aos alunos do ensino fundamental seacuteries iniciais a produccedilatildeo da teacutecnica teatral com uso de bonecos de fantoches

Neste aspecto o processo de alfabetizaccedilatildeo no acircmbito geograacutefico contempla a praacutetica dos distintos saberes em que propicia a inclusatildeo destes sujeitos na vida social atraveacutes dos recursos didaacuteticos de faacutecil acesso sendo que a compreensatildeo e a construccedilatildeo de uma anaacutelise criacutetica perpasse sua realidade mas que deve ser referenciado no PPP da escola

A disciplina Geografia proporcionaraacute ao aluno a compreensatildeo do espaccedilo geograacutefico econocircmico cultural fiacutesico e poliacutetico no qual estaacute inserido Assim teraacute a finalidade de estimular a capacidade de desenvolver raciociacutenios espaciais atraveacutes dos conceitos que vatildeo auxiliar o aluno a conhecer e interpretar a realidade do mundo atual compreendendo desde a escala local ao global (PPP 2017 p 22)

Destarte o uso de fantoches contribui para que o professor apresente o exerciacutecio das transformaccedilotildees que ocorrem nas relaccedilotildees soacutecio educacional e econocircmica do Brasil

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natildeo limitando apenas o conhecimento dos livros didaacuteticos e da memorizaccedilatildeo dos espaccedilos como diz Oliveira (1994) especulando falsas questotildees diante da geografia

Assim indagamos numa leitura geograacutefica o quanto eacute importante interpretarcompreender as formulaccedilotildees que levaram o professor a introduzir no plano de accedilatildeo da escola o contexto social das famiacutelias que trabalham na terra sobre uma produccedilatildeo agraacuteria e do trabalho natildeo agriacutecola

O uso do teatro de fantoches a partir de uma leitura geograacutefica proporcionaraacute aos alunos habilidades e compreensatildeo da sua realidade aleacutem de absorver a importacircncia das atividades agriacutecolas para o desenvolvimento econocircmico da comunidade Desde entatildeo o reconhecimento fundante desta teacutecnica engaja as metas e os objetivos a serem articulados entre professores e discentes sendo relevante a escola e a comunidade uma proposta de caraacuteter educativo promissora a desvendar e salientar importantes transformaccedilotildees para a sociedade

Em siacutentese a experiecircncia do uso do teatro de fantoches visa melhorar a qualidade de ensino dos educandos da Escola Rural Povoado Mangabeira em comunhatildeo ao Projeto Poliacutetico Pedagoacutegico cujo desenvolvimento se atrela de forma flexiacutevel mas coerente ao planejamento pedagoacutegico elaborado no iniacutecio do ano letivo de 2017 que esteve alinhado ao Plano de Accedilatildeo Aleacutem desses instrumentos basilares haacute a relevacircncia do acompanhamento pedagoacutegico pela Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo do Estado de Sergipe (SEED) que passou a contemplar o Projeto Profuturo - Aula Digital da Fundaccedilatildeo Telefocircnica-Vivo40

40

ldquoNo Brasil o projeto deu seu primeiro passo em 2017 na cidade de

Manaus em parceria com a Secretaria Municipal de Educaccedilatildeo ndash e

tambeacutem em 30 cidades do Estado de Sergipe com a colaboraccedilatildeo das

Secretarias de Educaccedilatildeo do Estado e dos Municiacutepios beneficiando mais

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No primeiro momento o desenvolvimento das atividades deu-se com quatorzes alunos do 3ordm ano do ensino fundamental da Escola Rural Povoado Mangabeira localizada na comunidade rural do Povoado Mangabeira no municiacutepio de Itabaiana agreste central sergipano com acompanhamento de um professor orientador da disciplina Polivalente e o coordenador pedagoacutegico de forma metodoloacutegica que abordasse o cotidiano dos discentes com leituras e conceitos geograacuteficos

Em seguida foi feito o roteiro e planejamento das atividades a serem realizados entre os meses de junho a novembro de 2017 definindo as etapas da construccedilatildeo das oficinas e do cenaacuterio satisfatoacuterio a apreensatildeo dos alunos conforme fotos a seguir Foto 01 Cenaacuterio de fantoches

de 1400 educadores e 48500 estudantes brasileirosrdquo Disponiacutevel em

lthttpfundacaotelefonicaorgbrprojetosprofuturo-aula-digitalgt

Acesso em 01 mai 2018

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Fonte JESUS E A (2018)

O cenaacuterio partiu da necessidade de contemplaccedilatildeo dos personagens e das histoacuterias sendo uma proposta agrave compreensatildeo de conceitos geograacuteficos para as seacuteries iniciais neste caso do 3ordm ano do Ensino Fundamental como forma de aproximar com a realidade da comunidade local

Para tanto a construccedilatildeo do cenaacuterio deu-se com aproveitamento de materiais reciclaacuteveis como papel e papelatildeo cabo de vassouras em madeira recorte de tecido que serviu para cortina isopor para evitar umidade na base do cenaacuterio emborrachados de cores variadas a fim de criar um espaccedilo atrativo o que contribui na criatividade dos personagens Aleacutem desses materiais foi utilizada cacircmera fotograacutefica digital computador com softwares (Windows) para auxiliar nos efeitos de som no ato das apresentaccedilotildees

No terceiro momento foram realizadas vaacuterias oficinas na confecccedilatildeo dos bonecos de fantoche conforme foto a seguir criando assim um protoacutetipo com caracteres distintos a fim de que os alunos sentissem parte dos personagens expressando-o a sua identidade

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Foto 02 Materiais usados na construccedilatildeo dos fantoches

Fonte JESUS E A (2018)

A proposta inicial foi estimular os alunos das seacuteries

iniciais do ensino fundamental a produzirem o roteiro cenaacuterio

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e a caracterizaccedilatildeo dos personagens de forma ilustrativa para que tivessem autonomia na confecccedilatildeo dos bonecos

Em outros momentos Lemes (2009) relata que o professor eacute o incentivador da crianccedila a diferenciar texturas formas cores ainda mais estimula o aluno a construir noccedilotildees de tamanhos distacircncia localizaccedilatildeo e lateralidade sendo essencial seguir um roteiro baacutesico No quarto momento da culminacircncia os alunos a partir das leituras e dos conteuacutedos transmitiram por meio da oralidade as histoacuterias contadas vencendo a timidez e a ansiedade

A apropriaccedilatildeo dos conteuacutedos e das histoacuterias contadas pelos alunos ao longo da construccedilatildeo do teatro de fantoches contribui de forma pedagoacutegica para os discentes desenvolverem paracircmetros de aprendizagem e do conhecimento Mas eacute notoacuterio que neste momento ainda eacute forte a influecircncia do professor na alfabetizaccedilatildeo e letramento tornando-os sujeito ponderaacutevel de conhecimento capaz de interpretar a realidade

Diante disto o papel do educador principalmente do pedagogo tem relevacircncia ao conteuacutedo de Geografia sendo fundamental para desconstruir algumas das pujanccedilas usadas e usufruiacutedas pela classe elitista brasileira refletindo na construccedilatildeo de um cidadatildeo criacutetico de sua realidade

Ao aprofundar-se nas leituras dos paracircmetros da educaccedilatildeo brasileira Anselmo (2002) contempla que a poliacutetica educacional do paiacutes ao longo da histoacuteria sempre foi comandada pela elite e cujas classes subalternas teriam de ficar subordinadas as ideologias elitistas em que a educaccedilatildeo tomaria novo direcionamento e orientaccedilatildeo com intuito de criar manobras agrave populaccedilatildeo natildeo para as transformaccedilotildees sociais e econocircmica gerais

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

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A praacutetica pedagoacutegica por meio do uso do teatro com fantoches tornou-se necessaacuteria pois possibilita a compreensatildeo das temaacuteticas e dos conteuacutedos trabalhados pelos docentes no processo ensino aprendizagem Assim as apresentaccedilotildees artiacutesticas satildeo motivadoras decisiva na aprendizagem e tambeacutem na alfabetizaccedilatildeo e letramento dos alunos

Para tanto trabalhar o uso do teatro com fantoches no contexto escolar tornou-se ferramenta de suma importacircncia uma vez que a experiecircncia com os alunos em retratar a sua realidade como um todo faz com que os alunos se sintam estimulados a aprender os conceitos baacutesicos da Geografia

Contar histoacuterias nas seacuteries iniciais constitui-se uma praacutetica relevante no contexto da sala de aula principalmente para os alunos da escola do campo momento pelo qual a crianccedila pode aprender a lecirc de forma prazerosa e dramaacutetica a partir do uso de bonecos construindo um sentimento de forma coletiva Por fim podemos destacar que a encenaccedilatildeo de um teatro de fantoches faz com que os alunos interajam as distintas formas de comunicaccedilotildees e de linguagens de forma luacutedica REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS ANSELMO R C M S A formaccedilatildeo do professor de geografia e o contexto da formaccedilatildeo nacional brasileira In PONTUSCHKA N N OLIVEIRA A U (Orgs) Geografia em perspectiva Satildeo Paulo Contexto 2002 p 347-353 FONSECA Andreacute Dioney A instigante e complexa histoacuteria da leitura apontamentos teoacutericos e metodoloacutegicos In Revista Espaccedilo Acadecircmico n 144 maio de 2013 mensal ano XIII ISSN 1519 - 6186 Disponiacutevel em lthttpwwwperiodicosuembrojsindexphpEspacoAcade

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micoarticleviewFile1996611106gt Acesso em 10 mar 2018 LEMES Nathaacutelia Oliveira O teatro de fantoches na educaccedilatildeo infantil 2009 45f Trabalho de conclusatildeo de curso Curso em Pedagogia Universidade Estadual de Goiaacutes 2009 Disponiacutevel em lthttpwww2unucsehuegbrbibliotecaunucsehacervomonografiasgraduacaopedagogiaanoano_2009tccped_teatrode_fantoches_lemes_2009pdfgt Acesso em 12 abr 2018 OLIVEIRA Ariovaldo Umbelino de Ensino de geografia horizontes no final do seacuteculo In Boletim Paulista de Geografia - BPG n72 1994 Disponiacutevel em lthttpwwwagborgbrpublicacoesindexphpboletim-paulistaissueview74gt Acesso em 15 jan 2018 Projeto Poliacutetico Pedagoacutegico da Escola Rural Povoado Mangabeira 2017 Aprovado pelo Conselho Estadual de Educaccedilatildeo ndash CEE sob parecer nordm 42517CEE em 06092017 REIS Anna Ceciacutelia de Alencar SILVA Tatiana Pereira da PIASSI Luiacutez Paulo de Carvalho O teatro de fantoches nas seacuteries iniciais observaccedilatildeo dos educandos com base no curso de formaccedilatildeo continuada de professores 2014 Disponiacutevel em lthttpsuspdigitaluspbrsiicuspcdOnlineTrabalhoVisualizarResumonumeroInscricaoTrabalho=4142ampnumeroEdicao=22gt Acesso em 15 de abr 2018 SAIKI Kim GODOI Francisco Bueno A praacutetica de ensino e o estaacutegio supervisionado In YASUKO E P PASSINI R MALYSZ S T (Orgs) Praacutetica de ensino de geografia e

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estaacutegio supervisionado 2 ed Satildeo Paulo Contexto 2010 p 27 a 31 SILVA Karen Roberta Soares da Geografar alfabetizar com fantoches eacute soacute comeccedilar FANTOCHES 2011 113f Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Geografia) Curso de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Geografia Faculdade de Geografia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul 2011

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PROJETO DE PESQUISA NA FORMACcedilAtildeO DO PROFESSOR PESQUISADOR RELATO DE

EXPERIEcircNCIA

Franciely Santos Cunha Universidade Federal de Sergipe Graduanda em Geografia

E-mail francielyufshotmailcom

RESUMO

O presente artigo trata-se de um relato de experiecircncia a respeito da elaboraccedilatildeo de projeto de pesquisa Uma atividade acadecircmica foi proposta na disciplina Iniciaccedilatildeo agrave Pesquisa Geograacutefica do curso de licenciatura em Geografia O objetivo geral da disciplina consistiu em analisar o fazer ciecircncia geograacutefica e seus rebatimentos sociais e dentre as muacuteltiplas atividades realizadas na disciplina destaca-se a importacircncia em aprender a elaborar projetos de pesquisa de acordo com as normas acadecircmicas O projeto foi acompanhado pela professora da disciplina desde a escolha do tema os tipos de pesquisa o levantamento bibliograacutefico ateacute as discussotildees sobre orientaccedilatildeo de meacutetodo Toda pesquisa necessita de planejamento este eacute efetivado a partir da elaboraccedilatildeo do projeto de pesquisa Eacute esse projeto que nortearaacute as accedilotildees a serem desenvolvidas ao longo da pesquisa Nesse processo de aprendizagem cada discente escolheu um tema de relevacircncia social O tema escolhido por mim e que seraacute relatado neste artigo consiste na elaboraccedilatildeo de um projeto para analisar a problemaacutetica poluiccedilatildeo das aacuteguas do Accedilude da Marcela em ItabaianaSE numa perspectiva histoacuterico-espacial destacando sua importacircncia utilizaccedilatildeo e finalidade ao longo de deacutecadas PALAVRAS-CHAVE Projeto de Pesquisa Poluiccedilatildeo das aacuteguas Accedilude da Marcela

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INTRODUCcedilAtildeO A pesquisa eacute uma ferramenta essencial no processo de

ensino-aprendizagem Ela permite que os sujeitos histoacutericos despertem para um conhecimento permeado de sabedoria curiosidade criatividade e sensibilidade social Felizmente o processo de ensino-aprendizagem no niacutevel superior encontra-se interligado diretamente com a pesquisa Esta se torna vital pois atraveacutes da busca e verificaccedilatildeo por respostas ao problema proposto o profissional em formaccedilatildeo produz um pensamento criacutetico consequentemente auxiliando a sociedade a combater seus desafios diaacuterios

Ainda natildeo existe um consenso a respeito do conceito sobre pesquisa Satildeo inuacutemeras as definiccedilotildees encontradas para esse termo Gil (2008 p 17) aponta que ldquoPode-se definir pesquisa como o procedimento racional e sistemaacutetico que tem como objetivo proporcionar respostas aos problemas que satildeo propostosrdquo

Se o conceito natildeo consensual a accedilatildeo de pesquisar tambeacutem natildeo eacute tarefa faacutecil escolher o que se pretende investigar e realizar a pesquisa demanda dedicaccedilatildeo paciecircncia e muito esforccedilo do pesquisador Para Marconi e Lakatos (1999) pesquisar carece de planejamento da construccedilatildeo de um esquema Em outras palavras da elaboraccedilatildeo de um projeto que auxilie ao pesquisador uma abordagem objetiva e uma ordem loacutegica na investigaccedilatildeo ao problema proposto Nesse sentido Gil (2008 p 19) tambeacutem afirma

O planejamento da pesquisa concretiza-se mediante a elaboraccedilatildeo de um projeto que eacute o documento explicitador das accedilotildees a serem desenvolvidas ao longo do processo de pesquisa O projeto deve portanto especificar os objetivos da pesquisa apresentar a justificativa de sua realizaccedilatildeo definir a

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modalidade de pesquisa e determinar os procedimentos de coleta e anaacutelise de dados Deve ainda esclarecer acerca do cronograma a ser seguido no desenvolvimento da pesquisa e proporcionar a indicaccedilatildeo dos recursos humanos financeiros e materiais necessaacuterios para assegurar o ecircxito da pesquisa

Natildeo existe lsquoreceitarsquo para elaborar um projeto de

pesquisa mas existem normas estabelecidas para buscar uma certa padronizaccedilatildeo na distribuiccedilatildeo das partes de um projeto (ABNT ndash NBR 152872011) Mas quanto ao conteuacutedo dependeraacute do tipo de problema a ser pesquisado e do proacuteprio pesquisador Diante disso o objetivo desse artigo eacute relatar a experiecircncia na elaboraccedilatildeo de um projeto de pesquisa como atividade acadecircmica na graduaccedilatildeo de Licenciatura em Geografia e sua relevacircncia no processo de ensino-aprendizagem

A elaboraccedilatildeo de um projeto de pesquisa foi proposta na disciplina Iniciaccedilatildeo agrave Pesquisa Geograacutefica no curso de Licenciatura em Geografia Cada aluno ficou responsaacutevel pela formulaccedilatildeo de um problema a ser projetado para pesquisa O relato de experiecircncia inicia a partir do tema escolhido que consistiu na elaboraccedilatildeo de um projeto que propotildee analisar a problemaacutetica da poluiccedilatildeo das aacuteguas do Accedilude da Marcela em ItabaianaSE numa perspectiva histoacuterico-espacial destacando sua importacircncia utilizaccedilatildeo e finalidade ao longo de deacutecadas DESENVOLVIMENTO

Toda ciecircncia eacute capaz de compreender e transformar a realidade Neste sentido considera-se a pesquisa um instrumento fundamental de intervenccedilatildeo da realidade capaz de modificar o espaccedilo e a sociedade Natildeo existe receita para elaborar um projeto de pesquisa dependeraacute do tipo de

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pesquisa e do pesquisador Aqui seratildeo destacadas as fases da construccedilatildeo do projeto de pesquisa jaacute mencionado

Inicialmente foi escolhido o tema de investigaccedilatildeo neste caso a poluiccedilatildeo das aacuteguas Escolher um tema significa estabelecer o assunto que se pretende estudar e pesquisar De acordo com Sousa Neto (2008 p 98) ldquoUm tema deve ser capaz de suscitar debates levantar questotildees despertar preocupaccedilotildees recuperar a tradiccedilatildeo e vislumbrar o futuro Pode ser qualquer coisa assim que aparentemente eacute coisa algumardquo Em poucas palavras deve-se considerar o tema o ponto de partida da pesquisa social

A aacutegua fonte essencial de desenvolvimento e vida na Terra e utilizada para diversos fins sofre as consequecircncias provocadas pela accedilatildeo antroacutepica O homem modifica e destroacutei a natureza em funccedilatildeo exclusiva de seus proacuteprios interesses O uso indiscriminado de agrotoacutexico na agricultura as atividades industriais o crescimento da populaccedilatildeo o despejo de lixo e esgotos domeacutesticos satildeo alguns dos fatores que provocam uma absurda poluiccedilatildeo dos recursos hiacutedricos

De acordo com o que foi supracitado o tema indica uma aacuterea de interesse a ser pesquisada No entanto por ser uma demarcaccedilatildeo ampla eacute necessaacuterio delimitar o problema a ser analisado Diante disso o projeto de pesquisa delimitou-se em estudar acerca da poluiccedilatildeo das aacuteguas do accedilude da Marcela no municiacutepio sergipano de Itabaiana ao questionar como uma accedilatildeo destinada a armazenar aacutegua pode ser poluiacuteda Sobre por que problematizar Deslandes (2002 p 38) afirma ldquoUm problema decorre portanto de um aprofundamento do tema Ele eacute sempre individualizado e especiacuteficordquo

O iniacutecio da construccedilatildeo de accediludes puacuteblicos no Brasil data do iniacutecio do seacuteculo XX Em 1906 foi criada a instituiccedilatildeo responsaacutevel por essa poliacutetica a Inspetoria de Obras contra as Secas (IOCS) a qual desde 1945 passa a ser chamada de Departamento Nacional de Obras contra as secas (DNOCS)

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Os accediludes satildeo reservatoacuterios estrateacutegicos de aacutegua construiacutedos com a finalidade de neutralizar os efeitos da seca no semiaacuterido brasileiro De acordo com Assunccedilatildeo e Livingstone (1993) os grandes accediludes puacuteblicos podem ser utilizados para diversos fins como irrigaccedilatildeo pecuaacuteria abastecimento humano criaccedilatildeo de peixes geraccedilatildeo de energia turismo perenizaccedilatildeo de rios e reserva de aacutegua

Com o tema escolhido e o problema delimitado o projeto necessita de uma justificativa viaacutevel A escolha por esse problema de pesquisa justificou-se por conhecer a aacuterea estudada e reconhecer que o reservatoacuterio de aacutegua que outrora muito ajudou a populaccedilatildeo Itabaianense em eacutepocas de estiagens severas encontra-se hoje esquecido pelo poder puacuteblico e tornou-se um verdadeiro ldquoreservatoacuterio de esgotordquo O intuito do projeto eacute portanto contribuir com sugestotildees que possam modificar para melhor a vida do accedilude da Marcela e da populaccedilatildeo que se utiliza dele para diversos fins aleacutem de alertar para os danos que estatildeo sendo provocados nesse estrateacutegico reservatoacuterio de aacutegua e que pode causar problemas irreversiacuteveis agrave natureza de suas aacuteguas

A escolha do tema a delimitaccedilatildeo do problema e a justificativa do projeto de pesquisa compotildeem a introduccedilatildeo de um projeto de pesquisa

Todo projeto de pesquisa tecircm objetivos bem definidos satildeo eles que explicitam as metas que se quer alcanccedilar ao final da pesquisa Satildeo subdivididos em objetivo geral e objetivos especiacuteficos articulados com o objetivo maior (geral) No caso do estudo proposto acerca do Accedilude da Marcela foram definidos os seguintes objetivos

Objetivo geral - Analisar o processo de construccedilatildeo do accedilude da Marcela numa perspectiva histoacuterico-

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espacial destacando sua importacircncia utilizaccedilatildeo e finalidade ao longo de deacutecadas Objetivos especiacuteficos - Analisar as causas e agravantes da poluiccedilatildeo especialmente o despejo de esgotos domeacutesticos e industriais as atividades agropecuaacuterias e o lixo - Discutir os rebatimentos soacutecio-econocircmico-ambientais - Apresentar propostas de revitalizaccedilatildeo feitas pelo poder puacuteblico e suas contradiccedilotildees (CUNHA 2018 p 7)

Um projeto de pesquisa coerente tem sua base

construiacuteda atraveacutes de um levantamento bibliograacutefico cuidadoso e adequado ao problema proposto Deslandes (2002 p 40) aponta ldquoA definiccedilatildeo teoacuterica e conceitual eacute um momento crucial da investigaccedilatildeo cientiacutefica Eacute sua base de sustentaccedilatildeordquo

Diante disso na disciplina cursada para esta etapa a orientaccedilatildeo de buscar apoio na literatura disponiacutevel para em seguida construir a proacutepria fundamentaccedilatildeo do projeto Dessa forma foram procuradas em dissertaccedilotildees artigos cientiacuteficos livros e outras fontes teorias que dialogassem com o problema proposto

Como resultado foi possiacutevel perceber que nos uacuteltimos anos diversos trabalhos foram escritos com foco nos problemas enfrentados pelo Accedilude da Marcela Essas pesquisas foram feitas por pesquisadores das mais diversas aacutereas como quiacutemicos geoacutegrafos engenheiros ambientais e bioacutelogos

Neste sentido o referencial teoacuterico para esse projeto de pesquisa pode ser amplo Existem dissertaccedilotildees que datam da deacutecada de 1990 como a escrita por Borges (1995) que faz uma relaccedilatildeo entre o uso de agrotoacutexicos e seus rebatimentos para a sociedade e a natureza neste caso o periacutemetro irrigado do

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Accedilude da Marcela ateacute dissertaccedilotildees mais atuais como a de Oliveira (2017) onde a autora destaca a importacircncia da praacutetica agriacutecola para a vida dos seres humanos e indica que o manejo inadequado da atividade agriacutecola atrelado aos demais impactos da accedilatildeo do homem provoca danos irreversiacuteveis ao meio ambiente neste caso satildeo destacados danos de cunho econocircmico social e ambiental em torno da regiatildeo do Accedilude da Marcela em ItabaianaSE

Existem tambeacutem diversos trabalhos publicados em revistas que contemplam natildeo apenas o accedilude estudado mas no interior do tema e problema como o de Santos e Pinto (2013) que destacam os impactos negativos provocados ao meio ambiente e a sauacutede do homem atraveacutes do uso indiscriminado de agrotoacutexicos como tambeacutem pesquisas semelhantes como as de Carvalho Moraes Neto Lima et al (2009) Guedes Filho et al (2012) e Morais et al (2013) que analisam a degradaccedilatildeo ambiental o uso e a ocupaccedilatildeo dos accediludes de BodocongoacutePB e Accedilude Recreio em CaicoacuteRN Estes accediludes vecircm passado por seacuterios problemas semelhantes ao accedilude da Marcela em ItabaianaSE e que necessitam de cuidados e estrateacutegias imediatas e eficazes por conta do seu intenso processo de degradaccedilatildeo Assunccedilatildeo e Livingstone (1993) escreveram a respeito da construccedilatildeo de accediludes puacuteblicos no nordeste brasileiro e seus principais usos potenciais

Diante disso associa-se a ideia desses autores com a problemaacutetica proposta No momento de sua construccedilatildeo o accedilude da Marcela em ItabaianaSE foi de um feito excepcional e contraditoriamente foi perdendo sua notoriedade ao longo de deacutecadas tornando-se um grande reservatoacuterio de esgoto industrial e domiciliar suprimindo a fauna local e colocando em risco a sauacutede de habitantes proacuteximos Torna-se claro portanto que a situaccedilatildeo atual do accedilude da Marcela natildeo permite que o mesmo seja utilizado para realizaccedilotildees de seus principais

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usos potenciais e que se encontra esquecido pelos oacutergatildeos puacuteblicos em funccedilatildeo exclusiva de desencontro de interesses

Atraveacutes da leitura de Daltro Filho (2004) e Fellenberg (1980) foi possiacutevel entender o significado de aacuteguas poluiacutedas e quando estas aacuteguas estatildeo contaminadas Aleacutem disso ambos os escritores sugerem fatores que podem contribuir para essa contaminaccedilatildeo como as fontes de poluiccedilatildeo de origem urbana de origem agropecuaacuteria e de origem industrial Por fim Daltro Filho (2004) ainda traz uma sugestatildeo de controle da poluiccedilatildeo das aacuteguas

Por uacuteltimo a leitura de Carvalho e Costa (2010) possibilitou entender a importacircncia da irrigaccedilatildeo para a produccedilatildeo de hortaliccedilas em ItabaianaSE para tal destacam-se as aacutereas do accedilude da Marcela e os periacutemetros irrigados de Jacarecica I e Ribeira como sendo importantes aacutereas de produccedilatildeo de hortaliccedilas para o mercado Aleacutem de indicar caracteriacutesticas socioeconocircmicas e naturais do municiacutepio o capiacutetulo destaca poliacuteticas puacuteblicas que edificaram essas principais aacutereas de irrigaccedilatildeo mencionadas acima

O referencial teoacuterico pode ainda trazer tiacutetulos que complementem a ideia principal do problema Nesse sentido se fez necessaacuterio um resgate acerca do contexto de criaccedilatildeo de accediludes no Brasil e a construccedilatildeo do accedilude da Marcela em ItabaianaSE e um segundo item indicando processos judiciais relacionados agrave temaacutetica ambiental em torno do accedilude da Marcela

Embora o Brasil seja um paiacutes privilegiado por sua grande disponibilidade de aacutegua este recurso natural natildeo eacute distribuiacutedo igualmente por todo seu territoacuterio A regiatildeo Nordeste por exemplo sempre sofreu muito com os efeitos das estiagens severas em longos periacuteodos do ano Neste sentido no iniacutecio do XX surge a poliacutetica puacuteblica de construccedilatildeo de accediludes puacuteblicos com o objetivo de amenizar os efeitos da seca no semiaacuterido brasileiro

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Inicialmente o oacutergatildeo responsaacutevel pela atuaccedilatildeo dessa poliacutetica puacuteblica era a Inspetoria de Obras contra a Secas (IOCS) que em 1945 passa a ser chamada de Departamento Nacional de Obras contra as Secas (DNOCS)

O accedilude da Marcela decorre de uma poliacutetica desta instituiccedilatildeo estaacute situado no bairro Marcela do municiacutepio sergipano de Itabaiana Atualmente devido agrave intensa urbanizaccedilatildeo este bairro faz parte do periacutemetro urbano do municiacutepio (OLIVEIRA 2017)

A construccedilatildeo do accedilude da Marcela iniciou-se em 1953 e terminou em 1957 Sua construccedilatildeo faz parte de uma poliacutetica puacuteblica que tinha por objetivo neutralizar os efeitos das secas ciacuteclicas no semiaacuterido do Brasil

De acordo com dados do DNOCS o accedilude tem capacidade para armazenar 2710000 msup3 de aacutegua e ocupa uma aacuterea de 14 Kmsup2

A principal funccedilatildeo desenvolvida pelo accedilude desde sua implantaccedilatildeo eacute na utilizaccedilatildeo agriacutecola para irrigaccedilatildeo dos plantios Carvalho e Costa (2010 p 61) afirmam que

No momento de sua implantaccedilatildeo o accedilude gerou prosperidade e transformaccedilotildees no processo de produccedilatildeo agriacutecola do municiacutepio tornando Itabaiana conhecida como uma das mais importantes aacutereas agriacutecolas do Estado de Sergipe Na deacutecada de 1970 com a implantaccedilatildeo do modelo de Revoluccedilatildeo Verde norte-americano no Brasil o municiacutepio de Itabaiana teve a incorporaccedilatildeo de novas teacutecnicas como o uso de novos insumos defensivos agriacutecolas e fertilizantes Fatores que afetaram o ambiente e provocaram seu atual estaacutegio de desequiliacutebrio

Diante da poluiccedilatildeo inuacutemeros processos judiciais giram

em torno do tema do accedilude da Marcela Em 2009 a Secretaria

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da Agricultura e Pecuaacuteria de Itabaiana recebeu uma denuacutencia sobre a mortandade de peixes no accedilude Essa notiacutecia natildeo eacute nova e agentes da Administraccedilatildeo Estadual de Meio Ambiente (ADEMA) foram chamados para averiguar a situaccedilatildeo

Em audiecircncia puacuteblica realizada em 2010 ficou definido que a poluiccedilatildeo das aacuteguas do accedilude eacute consequecircncia da ausecircncia de infraestrutura baacutesica de esgotamento sanitaacuterio na cidade de Itabaiana Como reacuteus desse processo aparecem a Prefeitura Municipal o Governo do Estado a Companhia de Saneamento de Sergipe (DESO) o DNOCS e a ADEMA Cada um destes oacutergatildeos ficaria responsaacutevel por planejar accedilotildees voltadas agrave aacuterea do accedilude da Marcela como exemplos accedilotildees de fiscalizaccedilotildees sobre a ocupaccedilatildeo indevida em torno do accedilude projeto de infraestrutura de esgotamento sanitaacuterio elaboraccedilatildeo de relatoacuterios mensais das condiccedilotildees hiacutedricas do accedilude entre outras medidas

No entanto as inoperacircncias dos oacutergatildeos puacuteblicos atreladas agrave falta de consciecircncia por parte da populaccedilatildeo contribuem para intensificaccedilatildeo dos processos de degradaccedilatildeo deste accedilude Apesar das intervenccedilotildees feitas pelo Ministeacuterio Puacuteblico o desencontro de interesses entre as partes envolvidas contribuem para uma naturalizaccedilatildeo da situaccedilatildeo atual do accedilude da Marcela obrigatoriamente o accedilude deve continuar sendo local de esgoto

O levantamento bibliograacutefico em conjunto com um conhecimento preacutevio da realidade estudada atraveacutes de trabalho de campo foi uma das partes mais importantes na elaboraccedilatildeo desse projeto de pesquisa Os resultados da anaacutelise dos dados obtidos com o levantamento teoacuterico contribuiacuteram para o estudo em questatildeo

Outra parte complexa na elaboraccedilatildeo desse projeto de pesquisa tratou-se da metodologia empregada Os meacutetodos e teacutecnicas devem estaacute adequados com o problema que estaacute

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sendo estudado Moraes e Costa (1984 p 27) diferencia meacutetodo de interpretaccedilatildeo de meacutetodo de pesquisa afirmando que

[] meacutetodo de interpretaccedilatildeo eacute uma concepccedilatildeo de mundo normatizada e orientada para a conduccedilatildeo da pesquisa cientiacutefica eacute a aplicaccedilatildeo de um sistema filosoacutefico ao trabalho da ciecircncia Jaacute o meacutetodo de pesquisa refere-se ao conjunto de teacutecnicas utilizadas em determinado estudo

Mesmo que ainda inconscientemente a escolha do tema e delimitaccedilatildeo do problema satildeo orientados por um meacutetodo Moraes (1997 p 67) afirma que ldquo() todo trabalho cientiacutefico envolve necessariamente posicionamentos metodoloacutegicosrdquo

No projeto de pesquisa os procedimentos expostos seguem a orientaccedilatildeo de meacutetodo do materialismo histoacuterico e dialeacutetico Este meacutetodo guia a escolha do objeto de pesquisa nesse caso a poluiccedilatildeo das aacuteguas do accedilude da Marcela e as accedilotildees de pesquisa em torno do objeto em uma escala ampliada que natildeo considera o todo mas situa a poluiccedilatildeo do Accedilude na totalidade das relaccedilotildees capitalistas Para Moraes (1997 p 74) ldquoO relacionamento do homem com seu ambiente eacute equacionado no bojo de relaccedilotildees sociais historicamente determinadasrdquo

Num primeiro momento o objeto foi ldquocaptado em sua qualidade geralrdquo (TRIVINtildeOS 2013 p74) e a pesquisa foi ancorada numa questatildeo central Reconhecer a importacircncia a utilidade e as transformaccedilotildees ocorridas no accedilude da Marcela em ItabaianaSE numa perspectiva histoacuterico-espacial Atraveacutes da possibilidade de analisar entre tempos uma discussatildeo

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preliminar em torno da hipoacutetese a finalidade do uso e ocupaccedilatildeo do accedilude da Marcela modificou-se entre tempos em torno dos interesses capitalistas

Nesse sentido eacute de fundamental importacircncia agrave revisatildeo de pesquisas escritas anteriormente como exemplos Borges (1995) Oliveira (2017) Carvalho e Costa (2010) A observaccedilatildeo e descriccedilatildeo dos elementos (problemas) que integram o loacutecus da pesquisa em suas muacuteltiplas dimensotildees como O crescimento da populaccedilatildeo as praacuteticas agropecuaacuterias o despejo de esgotos domeacutesticos e industriais o lixo

A leitura do espaccedilo estudado deve ser feita atraveacutes da coleta de dados (Observaccedilotildees entrevistas relatos de moradores) consulta aos sites da ADEMA do DNOCS visita agrave secretaria da agricultura e pecuaacuteria do municiacutepio anaacutelises e sistematizaccedilatildeo dos dados coletados verificaccedilatildeo da hipoacutetese central com a finalidade de ldquoestabelecer a realidade concreta do fenocircmenordquo (TRIVINtildeOS 2013 p74)

Assim destacam-se os seguintes procedimentos metodoloacutegicos qualitativos da pesquisa

- Levantamento bibliograacutefico sobre a construccedilatildeo e importacircncia de accediludes numa perspectiva histoacuterico-espacial questotildees socioambientais de accediludes poluiccedilatildeo das aacuteguas revitalizaccedilatildeo das aacuteguas - Fichamento de textos teoacutericos - Elaboraccedilatildeo de roteiros e organizaccedilatildeo de instrumentos para o trabalho de campo - Visita agrave Secretaria da agricultura pecuaacuteria e Meio Ambiente de ItabaianaSE - Trabalho de campo para a aacuterea de estudo nesse caso o accedilude da Marcela em ItabaianaSE - Sistematizaccedilatildeo e anaacutelise dos dados obtidos atraveacutes das observaccedilotildees entrevistas relatos consultas em sites oficiais

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- Elaboraccedilatildeo de relatoacuterio (CUNHA 2018 p 11)

Eacute fundamental que um projeto de pesquisa contenha um cronograma Neste natildeo foi diferente Atraveacutes do cronograma foram traccedilados o tempo que seria necessaacuterio para realizar cada um dos procedimentos propostos O formato utilizado foi um quadro que pode ser conferido abaixo (Quadro 1)

Quadro 1 ndash Cronograma proposto

ATIVIDADE JUN JUL AGO SET OUT NOV

Levantamento bibliograacutefico sobre o tema e objeto de estudo

X X

Fichamento de textos teoacutericos

X X X

Elaboraccedilatildeo de roteiro e organizaccedilatildeo de instrumentos para o trabalho de campo

X

Visita agrave secretaria de agricultura pecuaacuteria e meio ambiente do municiacutepio

X

Trabalho de campo para aacuterea de estudo

X

Sistematizaccedilatildeo e anaacutelise dos dados obtidos

X X

Elaboraccedilatildeo de relatoacuterio X X

Fonte CUNHA 2018 p 13 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Toda pesquisa tem um compromisso social Toda pesquisa eacute capaz de intervir na realidade consequentemente

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modificando a sociedade e o Espaccedilo geograacutefico A ciecircncia natildeo eacute estaacutetica eacute um processo que dialoga com a realidade social que se quer compreender e transformar (DEMO 2009)

Felizmente o processo de ensino-aprendizagem no niacutevel superior dialoga diretamente com a pesquisa e essa ligaccedilatildeo torna-se fundamental para o profissional em formaccedilatildeo auxiliando-o na produccedilatildeo de um pensamento criacutetico libertando-o das amarras da ideologia e do senso comum

A importacircncia em desenvolver um projeto de pesquisa em uma disciplina explica-se por reconhecer que a pesquisa cientiacutefica desempenha um importante papel na vida acadecircmica e profissional do sujeito em formaccedilatildeo sendo uma ferramenta muito apropriada na obtenccedilatildeo de conhecimento

Diante disso relatar essa experiecircncia na elaboraccedilatildeo de um projeto de pesquisa natildeo pretendeu de modo algum apresentar uma receita mas indicar uma possibilidade de obter conhecimento que vai aleacutem da sala de aula divulgando que tanto um profissional em formaccedilatildeo quanto jaacute formado pode e deve se debruccedilar sobre uma pesquisa cientiacutefica pois ela eacute extremamente importante para a evoluccedilatildeo da humanidade

Projetar uma pesquisa acerca do Accedilude da Marcela em ItabaianaSE foi apenas uma dentre muitas realidades possiacuteveis E embora a aacuterea mencionada tenha motivado preocupaccedilatildeo em tantos pesquisadores nas uacuteltimas deacutecadas este accedilude outrora glorioso apresenta contradiccedilotildees com relaccedilatildeo agraves inoperacircncias dos oacutergatildeos puacuteblicos que insistem em ldquofechar os olhosrdquo para problemaacutetica poluiccedilatildeo da natureza de suas aacuteguas Apesar das intervenccedilotildees feitas pelo Ministeacuterio Puacuteblico o desencontro de interesses entre as partes envolvidas contribui para uma naturalizaccedilatildeo da situaccedilatildeo atual do accedilude da Marcela Dessa forma suscitam sempre novos debates acerca dessa temaacutetica

Por fim torna-se claro que ser pesquisador natildeo eacute tarefa faacutecil mas apesar das muacuteltiplas dificuldades eacute muito proveitoso

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e gratificante A maior contribuiccedilatildeo que o profissional em formaccedilatildeo nesse caso o geoacutegrafo pode dar ao Espaccedilo em que vive consiste nos resultados praacuteticos da pesquisa E essa contribuiccedilatildeo positiva eacute sem duacutevidas alguma a maior gratificaccedilatildeo para o pesquisador REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS ASSUNCcedilAtildeO LM LIVINGSTONE I Desenvolvimento inadequado Construccedilatildeo de accediludes e secas no sertatildeo do Nordeste Revista Brasileira de Economia Rio de Janeiro v 47 n3 p 425- 448 julset 1993 Disponiacutevel em lthttpbibliotecadigitalfgvbrojsindexphprbearticleviewFile5827932gt Acesso em 20 de Janeiro de 2018 BORGES S dos S Agrotoacutexicos sociedade e natureza a problemaacutetica do periacutemetro irrigado da Macela-SE Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Geografia) Nuacutecleo de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Geografia (NPGEOUFS) Satildeo Cristoacutevatildeo 1995 BRASIL Ministeacuterio da Integraccedilatildeo Nacional Departamento de Obras Contra as Secas Histoacuteria Disponiacutevel em lt httpwww2dnocsgovbrhistoriagt Acesso em 08 de Fevereiro de 2018 CARVALHO A de P MORAES NETO JM de LIMA VLA de et al Estudo da degradaccedilatildeo ambiental do accedilude de Bodocongoacute em Campina Grande ndash PB Engenharia Ambiental Espiacuterito Santo do Pinhal v 6 n2 p 293-305 maiago 2009 Disponiacutevel em lt fileCUsersUsuarioDownloadsEA-2009-220pdf gt Acesso em 17 de Janeiro de 2018

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CARVALHO DM de COSTA JE da Cadeia produtiva das hortaliccedilas em ItabaianaSE O caso da produccedilatildeo e da comercializaccedilatildeo nas aacutereas irrigadas In CARVALHO DM de ALCANTARA FV de COSTA JE da (ORGs) Desenvolvimento territorial agricultura e sustentabilidade no Nordeste Satildeo Cristoacutevatildeo Editora UFS 2010 p 45-75 CUNHA FS De um passado grandioso a um futuro duvidoso A problemaacutetica poluiccedilatildeo das aacuteguas do accedilude da Marcela em ItabaianaSE Projeto submetido agrave disciplina Iniciaccedilatildeo agrave Pesquisa Geograacutefica ItabaianaSE UFS Campus Prof Alberto Carvalho 2018 Digitado 15 fl DALTRO FILHO J Poluiccedilatildeo das aacuteguas In ______ Saneamento ambiental doenccedila sauacutede e o saneamento da aacutegua Satildeo Cristoacutevatildeo Editora UFS Aracaju Fundaccedilatildeo Oviecircdo Teixeira 2004 p 281-310 DEMO P Introduccedilatildeo In ______ Metodologia cientiacutefica em ciecircncias soacutecias 3ed Satildeo Paulo Atlas 2009 p 11-14 DESLANDES SF A construccedilatildeo do projeto de pesquisa In DESLANDES SF CRUZ NETO O GOMES R MINAYO MC de S (Org) Pesquisa Social teoria meacutetodo e criatividade 20ed Petroacutepolis Vozes 2002 p 31-50 FELLENBERG G Poluiccedilatildeo das aacuteguas In ______ Introduccedilatildeo aos problemas da poluiccedilatildeo ambiental Traduccedilatildeo de Juergen Heinrich Maar Satildeo Paulo EPU Springer Ed Da Universidade de Satildeo Paulo 1980 p 70-96

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REFLEXAtildeO SOBRE A ESCOLA PUacuteBLICA ESTAacuteGIO E ENSINO DE GEOGRAFIA

Elenilson Santos do Nascimentosup1

Universidade Federal De Sergipe Graduando em Geografia

Joyce Kelly de Jesus Santossup2 Universidade Federal de Sergipe Graduanda em Geografia

E mail elenilsonsnhotmailcomsup1 Email kellysts17gmailcom sup2

RESUMO

O presente artigo eacute fruto dos resultados da experiecircncia do Estaacutegio Supervisionado em Ensino de Geografia I Tem como objetivo apresentar reflexotildees sobre a importacircncia do estaacutegio e sobre a dificuldade dos alunos de associaccedilatildeo dos conteuacutedos geograacuteficos com a sua realidade A partir das visitas agrave escola foi possiacutevel ter o primeiro contato com a realidade educacional com isso visualizar os desafios e a indissociabilidade teoriapraacutetica Para a realizaccedilatildeo deste trabalho foram aplicados questionaacuterios e feita uma revisatildeo da literatura PALAVRAS-CHAVE Estaacutegio formaccedilatildeo de professores Ensino de Geografia INTRODUCcedilAtildeO O Estaacutegio Supervisionado em Ensino de Geografia eacute uma etapa fundamental na formaccedilatildeo docente pois atraveacutes dele eacute possiacutevel conhecer o ambiente escolar articular os conhecimentos aprendidos na universidade com o que seraacute aplicado em sala de aula ou seja fazer a relaccedilatildeo teoria-praacutetica

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Este artigo eacute resultado da disciplina Estaacutegio Supervisionado em Ensino de Geografia I na qual os alunos discutem textos dos mais diversos temas e na etapa final eacute feita uma observaccedilatildeo em escola da Educaccedilatildeo Baacutesica

Vaacuterios foram os temas discutidos durante a disciplina dentre eles podemos destacar a educaccedilatildeo na atualidade a formaccedilatildeo e trabalho docente e o ensino de geografia Pode-se afirmar que as transformaccedilotildees ocorridas na sociedade principalmente com o advento da globalizaccedilatildeo e do neoliberalismo trouxeram grandes impactos negativos no que se refere agrave escola e agrave formaccedilatildeo do professor Esta uacuteltima centrada principalmente na praacutetica deixando de lado a formaccedilatildeo humana com disciplinas isoladas entre si sem articulaccedilatildeo teoria e praacutetica Segundo Giron

[] a poliacutetica educacional referendada pelo modelo neoliberal privilegia uma formaccedilatildeo docente raacutepida superficial e pragmaacutetica preocupada mais com o ldquosaber fazerrdquo do que com o ldquoensinar a pensarrdquo valorizando acima de tudo um saber fragmentado utilitaacuterio e teacutecnico Uma grande quantidade de horas com atividades pedagoacutegicas praacuteticas e com estaacutegios desvinculados de uma reflexatildeo teoacuterica mais aprofundada sobre a accedilatildeo pedagoacutegica daacute uma conotaccedilatildeo de treinamento a essas propostas de formaccedilatildeo de professores o que reduz a capacitaccedilatildeo desse profissional e a qualidade do sistema educativo (GIRON 2014)

No atual contexto da Sociedade Moderna conhecimento e informaccedilatildeo satildeo sinocircnimos de poder desta forma torna-se necessaacuterio desqualificar a profissatildeo docente uma vez que ela tem o poder emancipador Assim ldquo[] a educaccedilatildeo em seu papel singular de destaque no desenvolvimento social cultural natildeo pode ser subjugada

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predominantemente ao domiacutenio da loacutegica de mercado muito menos as diretrizes universais que o modelo neoliberal impotildee principalmente aos paiacuteses perifeacutericos do mundo (NETO CAMPOS 2012 p 10986)

A escola locus do trabalho do professor tambeacutem sofreu impactos negativos com as accedilotildees das poliacuteticas neoliberais implantadas no Brasil Estas estabeleceram grande controle que fez com que a escola tivesse dificuldades de desenvolver seus proacuteprios projetos para seguir cartilhas prontas (ALMEIDA PIMENTA 2015) Aleacutem da readequaccedilatildeo agraves necessidades do capital que transformou a educaccedilatildeo em mercadoria Outra questatildeo se refere agrave funccedilatildeo da escola que segundo Libacircneo

[]o dualismo da escola brasileira em que num extremo estaria a escola assentada no conhecimento na aprendizagem e nas tecnologias voltada aos filhos dos ricos e em outro a escola do acolhimento social da integraccedilatildeo social voltada aos pobres e dedicada primordialmente a missotildees sociais de assistecircncia e apoio agraves crianccedilas (LIBAcircNEO 2012 p16)

Nesse contexto eacute possiacutevel perceber o quanto a educaccedilatildeo puacuteblica tem passado por um processo de perda da sua importacircncia formadora e emancipatoacuteria com a inadequada formaccedilatildeo docente desestruturaccedilatildeo da escola puacuteblica atraveacutes da implantaccedilatildeo de modelos prontos que na maioria das vezes estatildeo distantes da realidade dos alunos

Por fim este artigo estaacute dividido em trecircs partes sendo a primeira a introduccedilatildeo a segunda tratando sobre o estaacutegio e a geografia no contexto escolar abordando temas que foram constatados na observaccedilatildeo e as consideraccedilotildees finais

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ESTAacuteGIO E GEOGRAFIA NO CONTEXTO ESCOLAR

O curso de Graduaccedilatildeo em geografia da UFS oferece aos professores em formaccedilatildeo uma estrutura com componentes curriculares que contemplam o estudo da relaccedilatildeo sociedade-natureza o ensino e as diferentes leituras e representaccedilotildees do espaccedilo geograacutefico Aleacutem do plano teoacuterico estatildeo atreladas atividades praacuteticas assim como a formaccedilatildeo estaacute voltada para um caraacuteter emancipatoacuterio e reflexivo

Nesse sentido como componente curricular do curso haacute Estaacutegio Supervisionado em Ensino de Geografia I que se constitui como uma etapa de grande importacircncia no processo de formaccedilatildeo docente Seraacute atraveacutes deste que o professor em formaccedilatildeo teraacute o primeiro contato com a realidade educacional para visualizar os desafios que a profissatildeo lhe reserva assim como construir sua identidade profissional e explicitar a indissociabilidade entre teoria e praacutetica

Os estaacutegios se constituem em uma atividade balisadora para a formaccedilatildeo de professores na qual os alunos tecircm oportunidade de vivenciar o cotidiano escolar e da sala de aula refletindo a praacutetica do professor regente traccedilando perspectivas que potencializaratildeo o conhecimento do contexto histoacuterico social cultural e organizacional da praacutetica docente (MELLO LINDNER 2012 p1)

Aleacutem disso foram diversas discussotildees acerca da educaccedilatildeo puacuteblica brasileira do ofiacutecio e o lugar social do professor curriacuteculo e formaccedilatildeo de professor Outrossim ocorreu a realizaccedilatildeo de anaacutelise de livro didaacutetico e construccedilatildeo de projetos de ensino A uacuteltima etapa se constituiu como uma

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visita ao ambiente escolar com o objetivo de observar a dinacircmica da sala de aula

O ambiente escolhido para realizaccedilatildeo do estaacutegio supervisionado foi o Coleacutegio Estadual Dr Augusto Ceacutesar Leite ( Ver figura 01) que fica localizado no muniacutecio de ItabaianaSE Tal unidade escolar faz parte da Diretoria Regional de Educaccedilatildeo 03 (DRE03) (ver figura 02) que conta ainda com os municiacutepios de Carira Ribeiroacutepolis Pinhatildeo Pedra Mole Macambira Campo do Brito Satildeo Domingos Nossa Senhora Aparecida Frei Paulo Areia Branca Satildeo Miguel do Aleixo Malhador e Moita Bonita funcionando nos trecircs turnos matutino das 0700h agraves 1115 vespertino das 1300h agraves 1725 e no periacuteodo noturno com o EJA Figura 01 Coleacutegio Estadual Augusto Cesar Leite

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Figura 2 Municiacutepios que fazem parte da DR03

Fonte portal SEED 2018 No quesito estrutura a escola apresenta-se com sua

infraestrutura antiga Algumas salas de aula inadequadas para o

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ensino e o aprendizado do aluno (ver figura 03) em virtude da precariedade Nesta unidade escolar haacute banheiros masculinos e femininos aleacutem de banheiros especiacuteficos para professores uma cantina onde satildeo servidas as refeiccedilotildees um laboratoacuterio de informaacutetica (este se encontra inativo devido os aparelhos apresentarem algum tipo de defeito) Ainda existe uma sala para professores uma sala de leitura um auditoacuterio bem organizado onde com frequecircncia os alunos podem participar de alguma atividade relacionada agrave escola uma sala para secretaria coordenaccedilatildeo e diretoria aleacutem do paacutetio coberto parcialmente (Ver figura 4) Figura 03 Estrutura da sala

Fonte Elenilson Santos do Nascimento 2017

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Figura 4 Paacutetio do Coleacutegio

Fonte Elenilson Santos do Nascimento

Analisando essa questatildeo dentro do contexto neoliberal e da educaccedilatildeo brasileira eacute evidente que natildeo haacute interesse de melhoria na estrutura das escolas visto que a educaccedilatildeo eacute colocada em segundo plano que desde a deacutecada de 1990 segue as diretrizes do Banco Mundial que foram lanccediladas na Conferecircncia de Jomtien na Tailacircndia Assim o dualismo escolar se agrava separando cada vez mais a escola de ricos e pobres sendo a dos uacuteltimos com funccedilotildees sociais (LIBAcircNEO 2012) Ademais uma estrutura precarizada pode interferir na postura do professor ldquoa realidade do meio escolar em parte impede o professor de realizar um trabalho dinacircmico e transformador de futuros cidadatildeos criacuteticos e reflexivosrdquo (SANTOS PASSOS 2011 p 126)

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Aleacutem disso essas diretrizes atingem a profissatildeo docente uma vez que o trabalho do professor eacute cada vez mais precarizado isso iraacute refletir em sua postura em sala de aula e consequentemente na aprendizagem dos alunos (que jaacute vem de um contexto social que pouco contribui para a permanecircncia na escola) tirando a principal funccedilatildeo da escola de fornecer conhecimentos sistematizados

Cabe destacar que os alunos que estudam o 8deg Ano A residem na cidade em bairros perifeacutericos de moradores de baixa renda segundo os discentes a escola eacute a mais proacutexima de suas casas Estatildeo na faixa etaacuteria de 12 a 16 anos

Do ponto de vista da gestatildeo a unidade escolar trabalha de maneira articulada e conjunta para garantir uma gestatildeo participativa e comunicativa com os diversos setores da escola Com isso eacute possiacutevel uma descentralizaccedilatildeo na tomada de decisotildees Isto posto

A descentralizaccedilatildeo e a autonomia poderatildeo liderar a iniciativa criadora da escola permitir que ela se insira mais harmoniosamente no contexto soacutecio- cultural da comunidade e reduzir os controles burocraacuteticos inuacuteteis que a fazem perder tempo (BERALDO PELOZO 2007 p3)

Durante a observaccedilatildeo das aulas foi possiacutevel notar que grande parte dos alunos natildeo consegue associar os conhecimentos geograacuteficos com a sua realidade Para essa situaccedilatildeo contribui a forma como a geografia foi e ainda eacute trabalhada em algumas escolas isto eacute de forma fragmentada distante da realidade e enfadonha (SOUZA 2009) Nesse contexto faz-se necessaacuterio trazer para o ambiente escolar novas praacuteticas metodoloacutegicas para aleacutem de modelos fundados no positivismo Segundo Carvalho

Um dos desafios do processo educativo ainda perpassa por questotildees relacionadas agrave

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associaccedilatildeo conteuacutedo-cotidiano-meacutetodo exigindo a apropriaccedilatildeo de um saber praacutetico que contribua para a formaccedilatildeo de criacutetico e que compreenda as relaccedilotildees existentes em acircmbito local e global (CARVALHO 2013 p 161)

Eacute importante nesse processo a construccedilatildeo do conhecimento junto ao aluno assim como trabalhar os conhecimentos de maneira interdisciplinar uma vez que a anaacutelise de do espaccedilo geograacutefico requer para um melhor entendimento a integraccedilatildeo de diversos campos do conhecimento Santos comenta que

As tentativas de introduzir a interdisciplinaridade no trabalho docente mostram que se inicia um processo de superaccedilatildeo na maneira estanque e fragmentaacuteria de abordar o conhecimento em sala de aula fato que motiva para avanccedilar na perspectiva de desenvolver atividades com docentes e estudantes do curso de geografia (SANTOS 2011 p14)

Atraveacutes da ciecircncia geograacutefica eacute possiacutevel analisar

diversos campos da sociedade assim como seus problemas o desemprego dificuldades da vida no campo planejamento urbano as transformaccedilotildees no espaccedilo com a globalizaccedilatildeo Nesse sentido eacute possiacutevel perceber que a geografia estaacute no cotidiano do aluno fazendo-se necessaacuterio criar situaccedilotildees em que o aluno possa fazer essa relaccedilatildeo Segundo Santos

Agrave disciplina Geografia cabe natildeo somente levar o aluno a um entendimento da dimensatildeo espacial da sociedade como um todo mas encontrar meios de contextualizar esse ensino considerando tambeacutem o espaccedilo vivido dopelo aluno uma vez que eacute relevante que ele entenda sua proacutepria realidade e os fatores

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que influenciam diariamente sua vida Consideramos portanto que o aluno traz consigo para dentro da escola experiecircncias de vida conforme o seu lugar a sua realidade social sendo o lugar um espaccedilo vivenciado possui uma cultura geograacutefica (SANTOS 2012 p2)

Eacute importante oferecer um olhar diferenciado principalmente no que se refere ao ensino de geografia considerando a praacutetica social dos alunos como ponto de partida uma formaccedilatildeo em que o aluno se torna o sujeito de sua aprendizagem (CARVALHO 2013)

Dessa forma eacute um desafio para os profissionais de a geografia romper com esse tipo de ensino que distancia os conteuacutedos geograacuteficos da praacutetica social dos alunos Eacute imprescindiacutevel que esse ensino seja voltado para que o aluno perceba que a geografia da escola eacute a geografia do seu dia a dia aleacutem de formar um cidadatildeo criacutetico e atuando em sua realidade Assim

A atuaccedilatildeo de um professor consciente de uma praacutetica que permita aos alunos se perceberem enquanto agentes participativos na construccedilatildeo do conhecimento escolar torna-se indispensaacutevel no processo educativo pois eacute a partir deste que os alunos satildeo preparados para a participaccedilatildeo na sociedade (CUNHA ANDRADE 2011 p 56)

Isto posto a construccedilatildeo de conceitos se torna uma metodologia fundamental para vencer esse desafio Segundo Oliveira ldquoo professor deve deixar de dar os conceitos prontos para os alunos e sim juntos professores e alunos participarem de um processo de construccedilatildeo do saberrdquo (OLIVEIRA 1989 p 140)

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CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS As transformaccedilotildees na sociedade oriundas da

globalizaccedilatildeo e do neoliberalismo tecircm provocado mudanccedilas negativas na educaccedilatildeo se tratando especificamente da escola puacuteblica e da formaccedilatildeo de professores A escola tem comprometida sua autonomia diante das imposiccedilotildees de modelos adotados e se tratando de formaccedilatildeo docente essa focalizada no desenvolvimento de habilidades e competecircncias de maneira raacutepida e fragmentada

Cabe destacar que o Estaacutegio Supervisionado em Ensino de Geografia I que se constitui como uma etapa de grande relevacircncia no processo de formaccedilatildeo docente foi possiacutevel ter o primeiro contato com a realidade educacional para visualizar os desafios da profissatildeo e com isso refletir sobre a realidade da educaccedilatildeo do ensino da Geografia e do trabalho do professor aleacutem de perceber a indissociabilidade entre teoria e praacutetica

Por fim ficou evidente que eacute possiacutevel um ensino de geografia pautado na unidade teoriapraacutetica e que propicie uma reflexatildeo fazendo com que o aluno perceba que a geografia vista na escola estaacute no seu dia a dia

REFERENCIAS

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EIXO 5 - ESTADO TRABALHO E POLIacuteTICAS

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AS EMENDAS PARLAMENTARES EM SERGIPE

NA (RE) PRODUCcedilAtildeO DA DOMINACcedilAtildeO

POLIacuteTICA

Jayne Maria dos Santos

Universidade Federal de Sergipe- UFS Graduanda em Licenciatura em Geografia

E mail jayne_santos97outlookcom

RESUMO

Este artigo resulta de pesquisa em andamento (projeto PIBIC Edital nordm 022017 POSGRAPCOPESUFS) sobre a relaccedilatildeo entre emendas parlamentares e dominaccedilatildeo poliacutetica em Sergipe durante os anos de 2015 e 2017 cujo objetivo eacute analisar o conteuacutedo espacial do uso privado da coisa puacuteblica atraveacutes das emendas parlamentares A anaacutelise eacute fundamentada na leitura da realidade considerando que as emendas parlamentares satildeo utilizadas pelos legisladores como forma de autopromoccedilatildeo e uso poliacutetico para a manutenccedilatildeo no exerciacutecio do poder executivo ou legislativo A investigaccedilatildeo dessa relaccedilatildeo pautou-se na anaacutelise dos dados sobre a distribuiccedilatildeo das emendas parlamentares no periacuteodo estudado e na pesquisa bibliograacutefica sobre a sociedade brasileira priorizando-se o estudo sobre o patrimonialismo clientelismo e o contexto atual da poliacutetica brasileira A pesquisa tem conduzido para a compreensatildeo de que a distribuiccedilatildeo das emendas parlamentares como moeda de troca obedece a criteacuterios que estatildeo submetidos aos interesses e alianccedilas poliacuteticas locais estaduais e nacionais o que se traduz espacialmente em uma concentraccedilatildeo de accedilotildees e obras nos municiacutepios de maior vinculaccedilatildeo dos legisladores e Aracaju por ser a capital do estado PALAVRAS-CHAVE Patrimonialismo dominaccedilatildeo poliacutetica e emendas parlamentares

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INTRODUCcedilAtildeO

O presente artigo resulta do projeto realizado junto ao Programa de Iniciaccedilatildeo agrave Pesquisa (PIBIC) na Universidade Federal de Sergipe Campus Professor Alberto Carvalho intitulado Estado e emendas parlamentares o domiacutenio privado do puacuteblico e sua expressatildeo espacial em Sergipe com o objetivo de analisar a espacialidade nas relaccedilotildees de poder e dominaccedilatildeo poliacutetica que se traduz pela agudizaccedilatildeo das desigualdades socioespaciais e que produz a falta de serviccedilos essenciais e infraestrutura para os mais pobres

No Brasil haacute uma naturalizaccedilatildeo das barganhas poliacuteticas do uso privado da coisa puacuteblica o que significa uma conformaccedilatildeo da cultura do favor na qual o deacutebito e o creacutedito entre as pessoas e os representantes poliacuteticos se datildeo de maneira que as condutas e praacuteticas constituem a sociabilidade brasileira

As relaccedilotildees poliacuteticas satildeo em grande parte vinculadas para os interesses particulares As emendas fazem parte da consolidaccedilatildeo e permanecircncia de sistema governamental que supre as necessidades da classe que deteacutem o poder jaacute que ldquopara mantecirc-las o grupo social cria ideias e sentimentos valores e siacutembolos aceitos por todos e que justificam ou legitimam as instituiccedilotildeesrdquo (CHAUIacute 2000)

As emendas parlamentares satildeo incluiacutedas nessa sociabilidade na medida em que satildeo instrumentos para a conservaccedilatildeo do poder Satildeo recursos para parlamentares legitimados com a Emenda Constitucional 862015 que torna obrigatoacuteria a execuccedilatildeo da programaccedilatildeo orccedilamentaacuteria Eacute garantido para os parlamentares o uso de 12 da receita corrente liacutequida do orccedilamento da Uniatildeo o que representa uma cota de R$ 15 milhotildees para cada um (POLITIZE 2016)

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Para a anaacutelise dessa temaacutetica foi realizada revisatildeo bibliograacutefica referente agrave construccedilatildeo histoacuterica da sociedade brasileira baseada em Seacutergio Buarque de Holanda (1995) Jesseacute de Souza (2017) e Joseacute Murilo de Carvalho (1997) autores que contribuem para a leitura da dominaccedilatildeo poliacutetica no Brasil Aleacutem disso foi realizada pesquisa em sites como Cacircmara dos Deputados o Sistema Eletrocircnico de Informaccedilatildeo ao Cidadatildeo (Esic) e Contas Abertas para levantamento de dados sobre as emendas parlamentares Os dados coletados fundamentaram a produccedilatildeo de mapas e graacuteficos sobre a distribuiccedilatildeo das emendas em Sergipe o que permitiu analisar os elementos em sua totalidade sendo assim possiacutevel uma melhor compreensatildeo da realidade

O resultado preliminar da pesquisa indicou que os representantes poliacuteticos fazem uso do recurso puacuteblico como meio privado ou seja se promovem para poder permanecer no poder E a forma de distribuiccedilatildeo desses recursos passa a ser efetuada de forma desigual pois contempla os municiacutepios de maior interesse dos parlamentares

A FORMACcedilAtildeO HISTOacuteRICA POLIacuteTICA E SOCIAL BRASILEIRA

O sistema poliacutetico brasileiro estaacute pautado em uma

construccedilatildeo histoacuterica de dominaccedilatildeo no qual a sociedade eacute influenciada por ideias que naturalizam as questotildees sociais O estudo das emendas parlamentares eacute importante para um melhor entendimento sobre o Estado e como as emendas satildeo utilizadas com o intuito de satisfazer os interesses proacuteprios dos parlamentares que se beneficiam delas para a barganha poliacutetica troca de favores e manutenccedilatildeo no poder realidade estaacute que faz parte do cenaacuterio poliacutetico atual

De acordo com Seacutergio Buarque de Holanda (1995) a sociedade brasileira eacute de cunho patrimonialista avessa agraves

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formas que suprimem a possibilidade de conviacutevio mais familiar e movida pelo desejo de logo estabelecer intimidade Uma sociedade do homem cordial contraacuterio ao ritualismo social que supotildee o uso da impessoalidade do tratamento No caso brasileiro Estado e interesses privados se combinam na obtenccedilatildeo de favores para a conservaccedilatildeo e dominaccedilatildeo Sobre a cordialidade Holanda afirma que

a contribuiccedilatildeo brasileira para a civilizaccedilatildeo seraacute a cordialidade ndash daremos ao mundo o lsquohomem cordialrsquo A lanheza no trato a hospitalidade a generosidade virtudes tatildeo gabadas por estrangeiros que nos visitam representam com efeito um traccedilo definido do caraacuteter brasileiro na medida ao menos em que permanece ativa e fecunda a influecircncia ancestral dos padrotildees de conviacutevio humano informados no meio rural e patriarcal (1995 p 146 -147)

Ainda para este autor

ao longo de nossa histoacuteria o predomiacutenio constante das vontades particulares que encontram seu ambiente proacuteprio em ciacuterculos fechados e pouco acessiacuteveis a uma ordenaccedilatildeo impessoal Dentre esses ciacuterculos foi sem duacutevida o da famiacutelia aquele que se exprimiu com mais forccedila e desenvoltura em nossa sociedade (Holanda 1995 p 146)

As relaccedilotildees vivenciadas no meio familiar da intimidade

satildeo constitutivas do Estado e dessa forma diminuindo a distacircncia entre o que eacute de domiacutenio puacuteblico e de domiacutenio privado

Outro autor que explica a sociedade brasileira eacute Jesse de Souza considerando que as mazelas do paiacutes satildeo resultado da

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escravidatildeo na qual nossa sociedade foi pautada Assim ele destaca que este eacute o motivo para os embates e diferenccedilas sociais existentes Conforme Souza

Compreender a escravidatildeo como conceito eacute muito diferente Eacute perceber como ela cria uma singularidade excludente e perversa Uma sociabilidade que tendeu a se perpetuar no tempo precisamente porque nunca foi efetivamente compreendida nem

criticada (SOUZA 2017 p 11)

Toda a sua abordagem estaacute pautada na forma de como a sociedade brasileira ainda vecirc a escravidatildeo a heranccedila culturalista passada de geraccedilatildeo a geraccedilatildeo mostrando os rebatimentos e as diferenccedilas sociais que existem no contexto brasileiro Para ele

No Brasil desde o ano zero a instituiccedilatildeo que englobava todas as outras era a escravidatildeo que natildeo existia em Portugal a natildeo ser de modo muito toacutepico e passageiro Nossa forma de famiacutelia de economia de poliacutetica e de justiccedila foi toda baseada na escravidatildeo Mas nossa autointerpretaccedilatildeo dominante nos vecirc como continuidade perfeita de uma sociedade que jamais conheceu a escravidatildeo a natildeo ser de modo muito datado e localizado (SOUZA 2017 p 28)

A dominaccedilatildeo social estaacute presente nas diferentes

sociedades e para que ela exista eacute necessaacuterio que um grupo exerccedila uma forma de poder sobre os demais buscando maneiras de permanecer no poder por muito tempo Carvalho (1997) trabalha com os conceitos de coronelismo o mandonismo e o clientelismo que satildeo importantes para

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entender como ocorreu o processo de dominaccedilatildeo social ao longo dos anos

Carvalho na obra citada esclarece que no coronelismo (predominante durante a Primeira Repuacuteblica) o coronel possuiacutea todo o poder em determinadas regiotildees contando com o apoio do Estado no qual a intervenccedilatildeo deste dava aos coroneacuteis uma nova posiccedilatildeo nos cargos puacuteblicos e estes retribuiacuteam fazendo com que o povo votasse e dessa forma a permanecircncia do determinado governo no poder jaacute que nesse periacuteodo o voto era tido como de cabresto Sendo assim ldquoum sistema poliacutetico nacional baseado em barganhas entre o governo e os coroneacuteisrdquo (Carvalho 1997) Conforme o autor o coronelismo entrou em decliacutenio ldquoretrata-se com uma curva tipo sino surge atinge o apogeu e cai num periacuteodo de tempo relativamente curtordquo (ibid 1997 p 4)

Sobre o mandonismo podemos descrevecirc-lo como uma relaccedilatildeo de poder na qual sempre iraacute existir uma autoridade maior que dita suas regras e cabe aos demais obedecerem O coronelismo seria uma caracteriacutestica desse conceito que ultrapassa todas as linhas temporais jaacute que estaacute presente em todos os processos histoacutericos

O mandonismo natildeo eacute um sistema eacute uma caracteriacutestica da poliacutetica tradicional Existe desde o iniacutecio da colonizaccedilatildeo e sobrevive ainda hoje em regiotildees isoladas A tendecircncia eacute que desapareccedila completamente agrave medida que os direitos civis e poliacuteticos alcancem todos os cidadatildeos (CARVALHO 2017 p 2 )

Um outro conceito primordial para entender o

exerciacutecio do poder eacute o clientelismo Essa forma de dominaccedilatildeo se daacute de modo mais mascarado ou seja ocorre uma aproximaccedilatildeo entre o que dita o poder e aquele que obedece deixando a relaccedilatildeo mais dissimulada na qual a sociedade sinta

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que estaacute vivendo em uma igualdade social poreacutem os que gozam do poder estatildeo sempre buscando formas de permanecircncia no poder ganhando prestiacutegio e aumentando assim suas barganhas poliacuteticas O USO DAS EMENDAS PARLAMENTARES COMO DOMINACcedilAtildeO SOCIAL

O intuito de buscar entender como ocorreu a formaccedilatildeo

poliacutetica social do Brasil eacute no sentido de uma melhor explicaccedilatildeo de como dominaccedilatildeo poliacutetica eacute exercida na atualidade Como uma forma dessa dominaccedilatildeo temos as emendas parlamentares que satildeo parte do orccedilamento puacuteblico que os legisladores brasileiros tecircm a seu dispor para direcionar recursos oriundos do orccedilamento da Uniatildeo

As emendas podem ser distribuiacutedas individualmente ou por bancada Satildeo propostas no periacuteodo da elaboraccedilatildeo do projeto de lei orccedilamentaacuteria Este orccedilamento eacute distribuiacutedo para os

parlamentares com o argumento de que eles conhecem melhor as necessidades do municiacutepio e do estado que fazem parte

Em Sergipe a distribuiccedilatildeo das emendas nos anos de 2015-2017 foi para os seguintes parlamentares Almeida Lima (PMDB) Andreacute Moura (PSC) Adelson Barreto (PR) Antocircnio Carlos Valadares (PSB) Bosco Costa41(PROS) Eduardo Amorim (PSC) Faacutebio Reis (PMDB) Faacutebio Mitidieri (PSD) Joatildeo Daniel (PT) Jony Marcos (PRB) Laeacutercio Oliveira (PR) Maria do Carmo Alves (DEM) Mendonccedila Prado (DEM)

41Tomou posse do cargo no ano de 2016 assim que o deputado Valadares Filho se afastou do poder para realizar a campanha eleitoral

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Maacutercio Macedo (PT) Valadares Filho (PSB) Rogeacuterio Carvalho (PT) e Viacuterginio Carvalho42 (PSC)

De acordo com o site da Cacircmara dos Deputados no ano de 2015 foi realizada uma grande parte das emendas individuais em Sergipe tendo como maiores beneficiados dessa liberaccedilatildeo de emendas os deputados Andreacute Moura (PSC) e Laeacutercio Oliveira (PR) O nuacutemero de emendas abrangeu o territoacuterio sergipano Foram 103 emendas para os municiacutepios Sergipe fora as de Bancada e as individuais que natildeo registravam o local de destino

Em 2016 esse nuacutemero diminuiu sendo apenas 34 emendas para o estado Assim como a distribuiccedilatildeo abrangeu grande parte dos recursos para a capital sergipana Devemos analisar tambeacutem o contexto poliacutetico que o Brasil atravessou neste periacuteodo como o Impeachment da presidenta Dilma Rousseff (31082016) Em 2017 ocorreu uma diminuiccedilatildeo no nuacutemero de emendas liberadas para todo o estado Sergipe recebeu cerca de 38 emendas individuais conforme mostram os graacuteficos 1 2 e 3 que apresentam o nuacutemero de emendas apresentadas pelos deputados federais

42Segundo suplente da Senadora Maria do Carmo

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Fonte Cacircmara dos Deputados 2015

Fonte Cacircmara dos deputados 2016

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Fonte Cacircmara dos Deputados 2017

Outro fator que merece ser analisado eacute a forma de

distribuiccedilatildeo dessas emendas que ocorre de acordo com a decisatildeo do parlamentar conforme seus interesses e relaccedilotildees com os prefeitos O que se constata eacute a existecircncia de uma concentraccedilatildeo de recursos nos mesmos municiacutepios (Aracaju e Lagarto) e outros que natildeo foram contemplados com nenhuma emenda (ver figuras 1 e 2)

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Figura 01

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Figura 02

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Observa-se que haacute uma maior concentraccedilatildeo de emendas

nos municiacutepios do Centro-sul do estado e alguns municiacutepios que natildeo receberam emendas nenhuma Isto revela a relaccedilatildeo estreita entre as bases eleitorais e os parlamentares que estatildeo no exerciacutecio do poder poliacutetico Aleacutem disso evidencia que deixar a cargo de parlamentares o planejamento e liberaccedilatildeo de recursos para a realizaccedilatildeo de uma poliacutetica de desenvolvimento nos municiacutepios soacute reproduz uma desigualdade territorial jaacute existente

Isso implica na forma de reconhecimento que cada parlamentar representa nos municiacutepios em que eles empregam seus recursos pois ao beneficiar um certo municiacutepio a populaccedilatildeo ali presente ira se sentir grata e retribuir com o voto CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A discussatildeo abordada neste artigo teve o intuito de

analisar como a forma de dominaccedilatildeo poliacutetica vem sendo reproduzida na sociedade brasileira e como mecanismo deste processo atualmente temos as emendas parlamentares Foi apresentado inicialmente a forma como alguns autores interpretam as relaccedilotildees sociais atuais por meio dos fatores histoacutericos da constituiccedilatildeo da sociedade brasileira e como o sistema poliacutetico brasileiro busca maneiras de barganhas perante os direitos da populaccedilatildeo

A dominaccedilatildeo poliacutetica atual estaacute na forma das emendas parlamentares que fortalecem a (re)produccedilatildeo dessa relaccedilatildeo de poder exercida pelos parlamentares A distribuiccedilatildeo de forma irregular eacute um exemplo de grande importacircncia da atuaccedilatildeo desses parlamentares pois a maioria dos recursos liberados para os municiacutepios coincidem com os interesses proacuteprios

Os setores que mais recebem emendas assim como os municiacutepios estatildeo relacionados aos interesses dos

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representantes poliacuteticos pois eles iratildeo se utilizar de um direito social para perpetuar-se no poder alegando que esses recursos satildeo resultado do seu proacuteprio trabalho por isso a utilizaccedilatildeo da expressatildeo uso do puacuteblico como privado Eacute importante destacar tambeacutem que cada parlamentar com seu partido pode ou natildeo obter maiores recursos de acordo com seu poder de influecircncia pelo fato tambeacutem que muitos se aproveitam do cenaacuterio poliacutetico para obter um maior reconhecimento e assim influenciar a populaccedilatildeo para que permaneccedila no poder

Desse modo eacute necessaacuterio mostrar como ocorre o jogo poliacutetico como cada parlamentar recebe pelos seus atos e barganhas porque o fato de retirar um direito social eacute isso um tipo de barganha cada vez mais evidente na sociedade brasileira Os recursos que deveriam ser liberados para a sociedade satildeo de certa forma vendidos para a necessidade de um poder privado para permanecer no governo REFEREcircNCIAS BRASIL Emenda Constitucional nordm 86 de 17 de marccedilo de 2015 BRASIL E-SIC Sistema Eletrocircnico de Informaccedilatildeo ao Cidadatildeo Disponiacutevel em httpsesiccgugovbrsistemasiteindexaspx Acesso em 08122017 BRASIL CAcircMARA DOS DEPUTADOS Disponiacutevel em httpwww9senadogovbrQvAJAXZfcopendochtmdocument=senado2Fsigabrasilpainelcidadaoqvwamphost=QVS40www9ampanonymous=trueampSheet=SH14 Acesso em 1409 2017

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A PRECARIZACcedilAtildeO DO TRABALHO HUMANO UMA ANAacuteLISE EM TORNO DA PRODUCcedilAtildeO DE DOCES EM UMA FAacuteBRICA DO MUNICIacutePIO DE

LAGARTOSE

Brenda Mirely Ribeiro de Souza43 Universidade Federal de Sergipe Graduada em Geografia

brenda_mirelyhotmailcom

Bruno Andrade Ribeiro44 Universidade Federal de Sergipe Mestrando em Geografia

ribeiropensadorgmailcom

Simone dos Santos Silva45 Universidade Federal de Sergipe Graduada em Geografia

simonepatuhotmailcom

RESUMO

O presente trabalho trata-se de um relato de discussotildees e experiecircncias na graduaccedilatildeo em Geografia e discute a importacircncia da abordagem sobre o mundo do trabalho para graduandos desta ciecircncia Com o mais recente processo de

43 Membro associado ao Grupo de Pesquisa Relaccedilatildeo Sociedade Natureza e Produccedilatildeo do Espaccedilo Geograacutefico (PROGEOUFS) coordenado pela Prof Dra Josefa de Lisboa Santos Membro do Laboratoacuterio de Estudos Territoriais (LATERPPGEOUFS) 44 Bolsista do CNPq orientado pela Professora Dra Josefa de Lisboa Santos (PPGEOUFS) Pesquisador do Grupo de Pesquisa Relaccedilatildeo Sociedade Natureza e Produccedilatildeo do Espaccedilo Geograacutefico (PROGEOCNPqUFSPPGEO) Membro do Laboratoacuterio de Estudos Territoriais (LATERPPGEOUFS) 45 Membro do Laboratoacuterio de Estudos Territoriais (LATERPPGEOUFS)

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reestruturaccedilatildeo produtiva do capital o labor condiccedilatildeo essencial para a sobrevivecircncia humana perpassou por ressignificaccedilotildees que por sua vez foram responsaacuteveis pelas muacuteltiplas metamorfoses do trabalho que possuem como principal caracteriacutestica a precarizaccedilatildeoprecariedade das relaccedilotildees trabalhistas Nessa discussatildeo as aulas da disciplina de Geografia e Trabalho e as reuniotildees do Programa de Educaccedilatildeo Tutorial (PET) se constituiacuteram em loacutecus de debate sobre a tendecircncia de negaccedilatildeo do humano e as possiacuteveis implicaccedilotildees na produccedilatildeo do espaccedilo As leituras discussotildees em sala de aula e observaccedilotildees em atividade de campo possibilitaram a compreensatildeo acerca do trabalho e do trabalhador contemporacircneo e suas formas de se manterem vivos em um contexto de contratos temporaacuterios desemprego estrutural subcontrataccedilatildeo privatizaccedilatildeo e terceirizaccedilatildeo Sendo assim trata-se de um artigo que elenca as contribuiccedilotildees da Geografia do trabalho para a formaccedilatildeo inicial de professores de Geografia PALAVRAS-CHAVE Geografia do Trabalho Reestruturaccedilatildeo Produtiva Precarizaccedilatildeo INTRODUCcedilAtildeO

O presente escrito discute a importacircncia de se

compreender geograficamente o metabolismo societaacuterio do trabalho no seacuteculo XXI tendo as contribuiccedilotildees da graduaccedilatildeo em Geografia como suporte para o debate teoacuterico-metodoloacutegico a respeito das implicaccedilotildees da reestruturaccedilatildeo produtiva do capital no trabalho humano mais especificamente nos debates conclusos na disciplina de

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Geografia e Trabalho46 e nas reuniotildees do Programa de Educaccedilatildeo Tutorial (PET ndash DGEIUFS)47

As aulas puderam oferecer aos discentes uma seacuterie de argumentos conceitos e temas associados agraves leituras discussotildees e observaccedilotildees de campo realizadas a uma faacutebrica do municiacutepio de Lagarto na microrregiatildeo do Centro-Sul Sergipano A precarizaccedilatildeo do labor enquanto tendecircncia do mundo do trabalho na contemporaneidade se achou perceptiacutevel atraveacutes das visitas e observaccedilotildees acerca do fazersaber individual e coletivo dos trabalhadores Uma faacutebrica de doces em que se identifica a especificidade das funccedilotildees com homens desempenhando atividades na caldeira e corte dos doces e mulheres coletando-os jaacute cortados repassando-os em esteiras tiacutepicas de um modelo poacutes-fordista e os embalando Jovens em sua maioria sujeitados a contratos de trabalho que natildeo ultrapassam os seis meses de vigecircncia desprotegidos de possiacuteveis acidentes devido agrave ausecircncia de EPIs (Equipamentos de Proteccedilatildeo Individual) cumprindo cargas horaacuterias extenuantes e recebendo em troca valores insignificantes por produccedilatildeo

Destarte objetiva-se abordar a importacircncia das aulas de Geografia enquanto contato inicial com a ideia de precarizaccedilatildeo do trabalho e como esta se materializa no espaccedilo bem como o papel do geoacutegrafo na anaacutelise dos mais recentes processos de exploraccedilatildeo do trabalho em sua condiccedilatildeo abstrata

A disciplina de Geografia e Trabalho presente na grade curricular do Curso de Geografia na Universidade

46 Disciplina optativa inclusa na grade curricular do Curso de Geografia (DGEI) Campus Universitaacuterio ldquoProfessor Alberto Carvalhordquo Universidade Federal de Sergipe (UFS) ministrada pela Professora Vanessa Dias de Oliveira no Semestre 20162 47 O Programa de Educaccedilatildeo Tutorial (PET) do Curso de Geografia atualmente eacute coordenado pelo Professor Joseacute Hunaldo Lima

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Federal de Sergipe ofereceu aos discentes um referencial teoacuterico-metodoloacutegico formado por leituras de geoacutegrafos economistas poliacuteticos e socioacutelogos aleacutem de diaacutelogos atraveacutes de apresentaccedilotildees orais sobre temas e conceitos intriacutensecos ao mundo do trabalho capitalista apoacutes a mais recente reestruturaccedilatildeo produtiva do capital Em relaccedilatildeo ao Programa de Educaccedilatildeo Tutorial os debates estiveram centrados na relaccedilatildeo Trabalho e Pobreza atraveacutes da construccedilatildeo de um estudo criacutetico acerca de publicaccedilotildees a exemplo do Atlas da Questatildeo Agraacuteria Brasileira organizado por Eduardo Paulon Girardi e do Atlas da Extrema Pobreza no Norte e Nordeste do Brasil em 2010 cuja autoria eacute atribuiacuteda a especialistas vinculados ao Instituto de Pesquisas Econocircmicas Aplicadas (IPEA) e agrave ONU (Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas)

Em suma um artigo sobre contribuiccedilotildees epistemoloacutegicas que se configura em socializaccedilatildeo acerca de aulas reuniotildees apresentaccedilotildees e observaccedilotildees de campo para a formaccedilatildeo de geoacutegrafos futuros professores entendedores sobre a condiccedilatildeo espacial mediada pelo trabalho humano que com o advento do modo de produccedilatildeo capitalista tornou-se fonte essencial para extraccedilatildeo de Mais-ValorMais-Valia e desse modo para a acumulaccedilatildeo de capital retirando o valor necessaacuterio agrave sobrevivecircncia dos trabalhadores Nas palavras do escritor de O Capital ldquoEntretanto mais do que outro modo de produccedilatildeo esbanja seres humanos desperdiccedila carne e sangue dilapida nervos e ceacuterebrordquo (MARX 1974 p 97) DESENVOLVIMENTO AULAS DE GEOGRAFIA E SUAS CONTRIBUICcedilOtildeES PARA A COMPREENSAtildeO SOBRE O MUNDO DO TRABALHO48

48 Considera-se o termo Mundo do Trabalho enquanto expressatildeo das recentes transformaccedilotildees objetivas e subjetivas do labor humano no acircmbito de uma sociedade capitalista

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A Geografia enquanto ciecircncia reveladora de maacutescaras sociais tem papel importante na anaacutelise de relaccedilotildees sociais pois elas se realizam enquanto relaccedilotildees espaciais (CARLOS 2016) O espaccedilo geograacutefico possui uma natureza social na medida em que no processo de formaccedilatildeo territorial tem-se a transformaccedilatildeo de uma ldquoprimeira naturezardquo em ldquosegunda naturezardquo atraveacutes do trabalholabor humano categoria central para a compreensatildeo do fenocircmeno humano-social (NETTO BRAZ 2009)

Com essas palavras iniciais pode-se discutir o interesse desse artigo as aulas de Geografia enquanto construto de um entendimento sobre as recentes mutaccedilotildees na organizaccedilatildeo social do trabalho no contexto de barbaacuterie da recente ofensiva neoliberal no Brasil tendo como plano de fundo a reestruturaccedilatildeo produtiva do capital no seacuteculo XXI Aliaacutes termos como lsquoreestruturaccedilatildeo produtivarsquo lsquocrise estruturalrsquo lsquoDivisatildeo Internacional do Trabalhorsquo lsquorelaccedilatildeo capitaltrabalhorsquo lsquoEstadorsquo lsquoneoliberalismorsquo lsquomundializaccedilatildeorsquo comeccedilam a fazer parte do vocabulaacuterio dos graduandos com as discussotildees empreendidas em disciplinas como Produccedilatildeo e Organizaccedilatildeo do Espaccedilo Geograacutefico Mundial Geografia Econocircmica Geografia e Trabalho Geografia Regional e Geografia Poliacutetica49 As leituras de geoacutegrafos socioacutelogos economistas e cientistas poliacuteticos embasaram as ideias aqui expostas no sentido de tecerem argumentos sobre o papel do trabalho na mediaccedilatildeo sociedadenatureza e os sentidos atribuiacutedos a esta categoria nas uacuteltimas deacutecadas Desse modo os planos de curso das disciplinas natildeo devem ser subestimados pelos graduandos mestrandos doutorandos e demais profissionais vinculados agrave ciecircncia que serve em primeiro lugar para fazer a guerra A bibliografia os procedimentos metodoloacutegicos (discussotildees de

49 Disciplinas da grade curricular do curso de Geografia Departamento de Geografia do Campus de Itabaiana (DGEIUFS)

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textos trabalhos de campo apresentaccedilotildees orais transmissatildeo de documentaacuterios e filmes) e os conteuacutedos programaacuteticos considerados em seu conjunto configuram-se em importante exerciacutecio de se analisar as recentes transformaccedilotildees da principal forma de realizaccedilatildeo do ser humano o trabalho

Na disciplina de Geografia e Trabalho os discentes entraram em contato com o debate sobre o Trabalho e as suas muacuteltiplas determinaccedilotildees na produccedilatildeo do espaccediloterritoacuterio A categoria foi compreendida a partir de seu significado histoacuterico-ontoloacutegico o homem se fezfaz ser humano tendo o seu labor (capacidade de transformar algo) como modo de satisfazer suas necessidades Um intercacircmbio consciente que eacute teleoloacutegicopensado atraveacutes de finalidades teacutecnico exigindo instrumentos especiacuteficos e interativo-social intriacutenseco agrave cooperaccedilatildeo entre os homens (ALVES 2012) E ao analisar alguns estudiosos que ancoram suas pesquisas no mundo do trabalho Nota-se que os mesmos relatam que o trabalho eacute o grande mediador da relaccedilatildeo dialeacutetica entre sociedade-natureza E que o mesmo constitui-se em uma condiccedilatildeo essencial para a existecircncia humana

O trabalho eacute categoria fundante do mundo dos homens ao atender simultaneamente as necessidades de toda sociabilidade produccedilatildeo e reproduccedilatildeo da subsistecircncia sem a qual nenhum ser humano sobreviveria e na medida em que os homens ao transformarem esse mundo natural transformam a sua natureza social esta transformaccedilatildeo se processa objetivamente e subjetivamente Entende-se o capital como uma relaccedilatildeo social que subordina estruturalmente o trabalho e o subjuga de forma radical no modo de produccedilatildeo capitalista Compreende-se o trabalho em sua condiccedilatildeo ontoloacutegica na unidade valor de uso e valor de troca

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mediador universal da relaccedilatildeo homem-natureza e que no modo de produccedilatildeo capitalista assume a forma plena de mercadoria (OIVEIRA 2011p 182)

Sendo assim com base nas leituras de Alves (2012)

Oliveira (2012) e Thomaz Junior (2004) compreendeu-se que o trabalho contemporacircneo se insere na loacutegica de acumulaccedilatildeo de capital baseada na extraccedilatildeo de Mais-Valia Ou seja o trabalho emerge enquanto mercadoria sob o regime do salariato com todas as formas de transformaccedilatildeo da natureza articuladas em um sistema de produccedilatildeo o mundo do trabalho O trabalho perde sua essecircncia e torna-se alienaccedilatildeo na medida em que o trabalhador natildeo se enxerga enquanto explorado caminhando-se para o avanccedilo das forccedilas produtivas sob formas sociais estranhadas espaccedilos de barbaacuterie social

De acordo com Oliveira (2012) no atual modo de produccedilatildeo a transformaccedilatildeo da natureza pelo trabalho eacute um valor de troca retirando-se seu sentido concreto e transformando-o em abstrato Uma vez que por estarmos inseridos no modo de produccedilatildeo capitalista o trabalho deixa de ser um trabalho uacutetil (vivoconcreto) e passa a ser um trabalho alienado (mortoalienado) Que na execuccedilatildeo desse uacuteltimo haacute uma perda total ou parcial da consciecircncia do seu criador o qual passa por um processo de alienaccedilatildeo que retira a essecircncia do ser e o coisifica

Enquanto o trabalho uacutetil-concreto eacute qualitativo e cria valores de uso necessaacuterio ao ser humano para satisfazer socialmente as suas necessidades fiacutesicas e espirituais o trabalho abstrato eacute pura e simplesmente qualitativo a substacircncia e a grandeza do valor e produz mais-valia (valor excedente para o capital) (CHAGAS 20012 p 04)

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Nessa discussatildeo pode-se falar em precarizaccedilatildeo do trabalho enquanto caracteriacutestica inerente ao Capitalismo mais especificamente no poacutes-1973 com a mais recente reestruturaccedilatildeo produtiva do capital A lsquocondiccedilatildeo poacutes-modernarsquo soacute pode ser compreendida levando-se em consideraccedilatildeo a transiccedilatildeo de um modelo fordista-taylorista para um modelo baseado na acumulaccedilatildeo flexiacutevel tendo o emblemaacutetico ano de 1973 como resultante de uma seacuterie de fatores adversos ao longo da deacutecada de 1960 no centro capitalista (HARVEY 2006 2012)

Os discentes compreenderam embasados pela leitura de Harvey (2012) que a crise estrutural que precede os ldquo30 anos gloriososrdquo eacute resultante de um contexto de grande capacidade excedente sem uso pelas corporaccedilotildees e induacutestrias bem como intensa competiccedilatildeo entre paiacuteses A saiacuteda encontrada para que o sistema natildeo ruiacutesse foi a da reestruturaccedilatildeo e intensificaccedilatildeo do controle do trabalho tecnologia automaccedilatildeo novas linhas e nichos de mercado dispersatildeo geograacutefica Com isso os patrotildees tiravam proveito do enfraquecimento do poder sindical e da grande quantidade de forccedila de trabalho excedente para impor regimes de contratos mais flexiacuteveis Reduz-se o emprego formal regular em favor do crescente uso do trabalho em tempo parcial temporaacuterio ou subcontratado (HARVEY 2012) Argumenta Alves (2012) que

[] o novo complexo de reestruturaccedilatildeo produtiva surge no interior da III Revoluccedilatildeo Industrial que impulsionou a revoluccedilatildeo tecnoloacutegica da microeletrocircnica e das redes telemaacuteticas e informacionais e sob a mundializaccedilatildeo do capital e do soacutecio-metabolismo da barbaacuterie com a constituiccedilatildeo do precaacuterio mundo do trabalho (ALVES 2012 p 155)

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Desde que se existe Capitalismo perpassou-se por

reestruturaccedilotildees produtivas no seacuteculo XX com o modelo fordista-taylorista e a partir da crise estrutural do capital em 1973 com a universalizaccedilatildeo do toyotismo Modelo este a priori localmente japonecircs (ateacute os anos de 1970) transfigurando-se na lsquoideologia orgacircnicarsquo do atual processo de reestruturaccedilatildeo caracterizado por variadas inovaccedilotildees nos mais distintos acircmbitos organizacionais tecnoloacutegicas soacutecio-metaboacutelicas econocircmicas geoeconocircmicas poliacutetico-institucionais e culturais (ALVES 2012)

As consequecircncias para a classe-que-vive-do-trabalho satildeo diversas para natildeo dizer desumanas a citar desproletarizaccedilatildeo ampliaccedilatildeo da informalidade subproletarizaccedilatildeo (trabalhos parciais terceirizados temporaacuterios precaacuterios) feminizaccedilatildeo superexploraccedilatildeo exclusatildeo dos jovens e idosos e expansatildeo do trabalho infantil (THOMAZ JUNIOR 2004) Nas palavras do coordenador do CEGeT50

Por outro lado o mais importante aspecto do ponto de vista da regulaccedilatildeo social eacute que quase tudo que ateacute meados dos anos 80 era considerado ilegal como viacutenculo de trabalho sem carteira assinada ou sem registro contrato temporaacuterio instabilidade jornada com duraccedilatildeo variaacutevel ganharam natildeo somente dimensatildeo da legalidade mas tambeacutem da chancela de legitimidade (THOMAZ JUNIOR 2004 p 8)

Portanto a precarizaccedilatildeo do labor humano se coloca

enquanto tendecircncia da organizaccedilatildeo social contemporacircnea com

50 Centro de Estudos de Geografia do Trabalho [httpcegetfctunespbr]

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implicaccedilotildees diretas nas concepccedilotildees de espaccedilo e territoacuterio outros coacutedigos e arranjos espaciais se apresentam para serem decifrados (natildeo eacute somente uma faacutebrica da mesma forma natildeo eacute somente o trabalhador que vende sua forccedila de trabalho)

PRECARIZACcedilAtildeOPRECARIEDADE DO TRABALHO ANAacuteLISE REFERENTE Agrave FAacuteBRICA

Tais fundamentaccedilotildees puderam ser visualizadas tanto

nas discussotildees realizadas no ambiente acadecircmico atreladas ao mundo do trabalho quanto nas observaccedilotildees de campo na faacutebrica visitada Ao longo das discussotildees efetivaram-se diaacutelogos sobre a relaccedilatildeo entre a produccedilatildeo do espaccedilo e temas abordados as metamorfoses do trabalho implicam em reordenamentos territoriais - faacutebricas menores que sustentam a demanda por mercadorias descentralizadas em porccedilotildees do espaccedilo deslocamentos pendulares da classe trabalhadora pelo territoacuterio (interurbano intercampo ou campo-cidade) tendecircncia agrave expansatildeo da camelotagem e da terceirizaccedilatildeo e a consequente desterritorializaccedilatildeo dos trabalhadores (THOMAZ JUNIOR 2004)

Estes satildeo somente alguns exemplos de materializaccedilotildees espaciais que espelham a retirada da concha de seu caracol ou seja a alienaccedilatildeo do trabalhador atraveacutes da separaccedilatildeo de seu saberfazer do produto final de seu esforccedilo Para Antunes (2005) no mundo contemporacircneo percebe-se uma lsquoexplosatildeorsquo do chamado lsquonatildeo-trabalhorsquo (quase um terccedilo da forccedila humana disponiacutevel para o ato laboral se encontra exercendo trabalhos parciais precaacuterios temporaacuterios ou jaacute vivencia os efeitos do desemprego estrutural) Seja no Centro ou na Periferia presenciam-se as vicissitudes da precarizaccedilatildeo do trabalho o aumento do desemprego em paiacuteses como Alemanha e Franccedila as condiccedilotildees degradantes de trabalho na Iacutendia e na Ruacutessia poacutes-sovieacutetica o modelo japonecircs de intensa

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exploraccedilatildeo trabalhista marcada por cargas horaacuterias extenuantes e suiciacutedios em massa (ANTUNES 2005) No Brasil a deacutecada de 1990 configurou-se determinante para a consolidaccedilatildeo de uma conjuntura de transformaccedilotildees territoriais o inchaccedilo do mercado financeiro e uma reestruturaccedilatildeo produtiva que implicou na generalizaccedilatildeo do trabalho precaacuterio Tal realidade se fez em poderoso instrumento de desorganizaccedilatildeo e fragilizaccedilatildeo da classe trabalhadora com o esvaziamento do sentimento de pertencimento de classe Uma plasticidade do trabalho aos moldes dos interesses capitalistas encolhem-se os trabalhadores formais e expandem-se o subemprego a terceirizaccedilatildeo o trabalho temporaacuterio e o trabalho domiciliar (THOMAZ JUNIOR 2004)

O trabalho de campo organizado agrave faacutebrica Unibom no municiacutepio de Lagarto no Centro-Sul Sergipano (figura 1) ofereceu mostras dessa precarizaccedilatildeoprecariedade

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FIGURA 1ndash Mapa de Localizaccedilatildeo Lagarto Sergipe

Fonte SOUZA B M R (2018)

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A princiacutepio tem-se doces conhecidos popularmente

como lsquoquebra-queixorsquo enquanto mercadoria produzida no circuito de realizaccedilatildeo de mais-valia destinadas para os consumos localregionalnacional Desse modo trata-se a priori de uma pequena faacutebrica sem uma demanda expressiva e ao mesmo tempo sem exigecircncia de forccedila de trabalho qualificada pois a proacutepria mercadoria determina pouco investimento em Capital Constante (maquinaacuterio ferramentas em geral infraestrutura) Com isso a organizaccedilatildeo social do trabalho apresenta-se precarizada em um espaccedilo insalubre caracterizado pela falta de ventilaccedilatildeo e equipamentos de proteccedilatildeo individual que possam prevenir os trabalhadores de possiacuteveis acidentes

A maior parcela dos trabalhadores eacute formada por mulheres com idades entre 20 e 35 anos sendo habitantes do proacuteprio municiacutepio que interromperam os estudos para conseguir algum tipo de remuneraccedilatildeo Os homens por sua vez satildeo responsaacuteveis pelo trabalho braccedilal vinculado agrave caldeira e ao corte dos doces retirados em forma de placas quadriculadas

Os discentes observaram que a presenccedila da esteira possibilita uma leitura sobre a complexidade das relaccedilotildees de produccedilatildeo baseadas na acumulaccedilatildeo flexiacutevel mesclando caracteriacutesticas de modelos como o Fordismo-Taylorismo Poreacutem ao contraacuterio do trabalhador formal industrial tiacutepico do modelo fordista durante o Estado de Bem-Estar percebeu-se uma forccedila de trabalho descartaacutevel desumanizada que adentram o acircmbito da faacutebrica agraves 06h30min com pausa para almoccedilo entre as 12h00min e 13h00min indo ateacute as 17h00min realidade esta que contraria os relatos dos proacuteprios trabalhadores que apontam uma carga horaacuteria de oito horas diaacuterias Ou seja formas de trabalho baseadas na acumulaccedilatildeo flexiacutevel toyotista

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O trabalho repetitivo comparado ao que faz o personagem principal de Tempos Modernos (Estados Unidos 1936 83 min) associado agrave uma carga horaacuteria extenuante agrave falta de equipamentos de proteccedilatildeo (natildeo existem instrumentos para proteccedilatildeo contra cortes ou possiacuteveis acidentes com maacutequinas empacotadeiras) nos faz repensar a ideia de lsquoglobalizaccedilatildeorsquo eou o discurso de modernizaccedilatildeo de todas as coisas que conhecemos pois conforme Meacuteszaacuteros (2011 p 111) ldquoAssim a lsquoglobalizaccedilatildeorsquo muito idealizada em nossos dias na realidade significa o desenvolvimento necessaacuterio de um sistema internacional de dominaccedilatildeo e subordinaccedilatildeordquo

O coco servido para a produccedilatildeo dos doces tem como procedecircncia o municiacutepio sergipano de Estacircncia enquanto as mercadorias satildeo comercializadas para os estados de Satildeo Paulo Piauiacute e Maranhatildeo realizando desse modo o capital enquanto relaccedilatildeo social penetrando no domiacutenio da circulaccedilatildeo (MEacuteSZAacuteROS 2011) Os contratos de trabalho variam entre 15 dias e 9 meses no maacuteximo com salaacuterios calculados por produccedilatildeo a cada 200 caixas de doces ganha-se 1 real somando-se ao mecircs em torno de 60000 reais Portanto a face mais desumana de uma fase de reestruturaccedilatildeo produtiva marcada pela barbaacuterie social com o retrocesso nas condiccedilotildees de trabalho CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Em siacutentese faz-se necessaacuterio salientar a importacircncia que a

graduaccedilatildeo em Geografia possui no desvelar as metamorfoses do mundo do trabalho no seacuteculo XXI Desse modo percebe-se que os textos e discussotildees realizadas em sala de aula e o trabalho de campo realizado agrave faacutebrica de doces Unibom configuram-se em praacuteticas teoacuterico-metodoloacutegicas reveladoras acerca de relaccedilotildees precarizadas de trabalho A condiccedilatildeo

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espacial que se faz em condiccedilatildeo social expressa os dinamismos humanos que tambeacutem abarca o trabalho e suas ressignificaccedilotildees a partir do desenvolvimento e avanccedilo das forccedilas produtivas na atual sociedade do capital Sendo que o trabalhotransformaccedilatildeo das coisas em prol da satisfaccedilatildeo das necessidades caracteriacutestica que difere o ser humano dos demais seres vivos eacute alvo da reificaccedilatildeo e alienaccedilatildeo marcada pela extraccedilatildeo de valor atraveacutes de um excedente de trabalho A forccedila humana da mesma forma que tudo no mundo transforma-se em mercadoria paga com um salaacuterio e elemento fundamental para a acumulaccedilatildeo de capital

Visto que cada vez mais o que se assiste eacute um processo de fragmentaccedilatildeo do sentido concreto do trabalho que o distorce dando-lhe plasticidade e flexibilidade trabalhos temporaacuterios informais subcontratados domiciliares e terceirizados sinocircnimos da negaccedilatildeo dos direitos trabalhistas e de um miacutenimo bem-estar para a sobrevivecircncia PRECARIZACcedilAtildeO REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS ALVES Giovanni Dimensotildees da Reestruturaccedilatildeo Produtiva Ensaios de Sociologia do Trabalho 2 ed Londrina Praacutexis 2007 288p ANTUNES Ricardo O Caracol e a sua Concha 1 ed Satildeo Paulo Editora Boitempo 2005 135p CHAGAS Eduardo F A determinaccedilatildeo duacutepla do trabalho em marx trabalho concreto e trabalho abstrato Disponiacutevel em httpmarxismo21orgwp-contentuploads201208A-determinaC3A7C3A3o-dupla-Ed-Chagaspdf Acesso em 21032018

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OLIVEIRA Vanessa Dias A informalidade dono mundo do trabalho e os trabalhadores informais precarizados em Itabaianase Revista Geonordeste Ano XXII n2 p179-197 2011 Disponiacutevel em httpwwwseerufsbrindexphpgeonordestearticleview2421 Acesso em 10032018 OLIVEIRA Vanessa Dias de O trabalho na mediaccedilatildeo homem-natureza In CARVALHO Maacutercia Eliane Silva SANTOS Ana Rocha dos (orgs) O fazer geograacutefico teoria e praacutetica Satildeo Cristoacutevatildeo Editora da UFS 2013 HARVEY David A produccedilatildeo capitalista do espaccedilo Satildeo Paulo Annablume 2005 p 129-162 _________ Condiccedilatildeo Poacutes-Moderna uma pesquisa sobre as origens da mudanccedila cultural Satildeo Paulo Editora Loyola 2012 23ordf ed 326p MARX Karl O Capital Livro I Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 1974 MEacuteSZAacuteROS Istvaacuten Para Aleacutem do Capital Satildeo Paulo Boitempo 2011 NETTO Joseacute Paulo BRAZ Marcelo Economia Poliacutetica Uma Introduccedilatildeo Satildeo Paulo Cortez 2009 THOMAZ JUNIOR Antocircnio A Geografia do mundo do trabalho na viragem do seacuteculo XXI Geosul v19 n37 2004

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BOLSA FAMIacuteLIA NA COMPOSICcedilAtildeO DA RENDA CAMPONESA UMA ANAacuteLISE DO MUNICIacutePIO DE

JAPOATAtildeSE51

Lucas Feitosa dos Santos Universidade Federal de SergipeUFS

Graduando em Geografia lucasgeografia1gmailcom

Nuacutebia Dias dos Santos

Universidade Federal de SergipeUFS Doutora em Geografia

nubisantos85gmailcom

RESUMO

O presente trabalho faz uma anaacutelise do programa de distribuiccedilatildeo de renda Bolsa Famiacutelia e seus rebatimentos no municiacutepio de JapoatatildeSE e na comunidade de camponeses de Ladeirinhas ldquoArdquo Essa poliacutetica puacuteblica de distribuiccedilatildeo de renda mesmo natildeo sendo uma poliacutetica voltada para o desenvolvimento das atividades agriacutecolas auxilia para a reproduccedilatildeo social do camponecircs complementando a renda proveniente da lavoura e da venda da forccedila de trabalho Nesse sentindo o programa Bolsa Famiacutelia auxilia e retarda a saiacuteda do camponecircs do campo colaborando para o aumento da renda onde consequentemente as famiacutelias camponesas beneficiadas obteacutem acesso a bens e produtos natildeo produzidos por eles acessando o mercado de bens e serviccedilos retirando milhares de famiacutelias da pobreza e da extrema pobreza no campo e na cidade Os processos metodoloacutegicos utilizados para a coleta de dados foram trabalhos de campo realizados na comunidade

51 Pesquisa realizada com bolsa de iniciaccedilatildeo cientiacutefica da COPESUFS

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por meio da aplicaccedilatildeo de formulaacuterios aos camponeses entrevistados obtenccedilatildeo de dados secundaacuterios obtidos nos oacutergatildeos oficiais como o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica Ministeacuterio do Desenvolvimento Social e Caixa Econocircmica Federal aleacutem de revisatildeo bibliograacutefica sobre o tema PALAVRAS-CHAVE campesinato poliacutetica puacuteblica Bolsa Famiacutelia INTRODUCcedilAtildeO

Apesar do Programa Bolsa Famiacutelia - PBF natildeo ser uma poliacutetica voltada para o desenvolvimento das atividades agriacutecolas dos camponeses essa eacute uma fonte de renda que auxilia a fixaccedilatildeo do camponecircs no espaccedilo rural A partir da anaacutelise dos dados obtidos em campo e dados obtidos junto a oacutergatildeos governamentais contatou-se que o Bolsa Famiacutelia eacute uma das poliacuteticas puacuteblicas junto a Seguridade Social Rural que mais tem acesso os camponeses e que auxilia a permanecircncia do homem camponecircs no seu lugar (SANTOS 2012)

Os Programas de Transferecircncia de Renda foram implantados primeiramente em paiacuteses da Europa a partir dos anos 1930 nos anos de 1980 ganhou destaque no acircmbito internacional e no Brasil comeccedilou a se discutir programas de renda miacutenima somente em 1975 Esses programas visam agrave reduccedilatildeo das desigualdades sociais e a distribuiccedilatildeo monetaacuteria e tambeacutem a melhoria das condiccedilotildees de vida do puacuteblico beneficiado para que tenham acesso ao mercado de bens e serviccedilos e consigam se reproduzir

O Bolsa Famiacutelia eacute um desses Programas de Transferecircncia de Renda que visam a reduccedilatildeo da pobreza tanto na cidade como no campo por meio do repasse monetaacuterio para famiacutelias que vivem na pobreza e na extrema pobreza O PBF nos uacuteltimos anos passou por uma ampliaccedilatildeo e chegou a

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todos os municiacutepios do paiacutes Por intermeacutedio do Programa Bolsa Famiacutelia buscou-se unificar programas jaacute existentes e tambeacutem sua ampliaccedilatildeo pelo territoacuterio nacional expandindo seu acesso e o alcance das famiacutelias

Nesse sentido o presente trabalho visa analisar o repasse do PBF no municiacutepio de Japoatatilde e na Comunidade de Ladeirinhas ldquoArdquo bem como analisar se o programa pode auxiliar o homem camponecircs a continuar no campo como mais uma fonte de renda No Territoacuterio de Planejamento do Baixo Satildeo Francisco Sergipano no qual se localiza o municiacutepio de Japoatatilde encontram-se os municiacutepios que possuem os menores - Iacutendice Desenvolvimento Humano - IDHM (0500 e 0599) do Estado de Sergipe esse iacutendice eacute estipulado pela ONU para avaliar a qualidade de vida e o desenvolvimento econocircmico de uma populaccedilatildeo Nesse sentido o Bolsa Famiacutelia eacute importante fonte de distribuiccedilatildeo de renda no municiacutepio e tambeacutem no territoacuterio de Planejamento (Mapa 1)

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Mapa 1 ndash Localizaccedilatildeo do Municiacutepio de estudo e dos Territoacuterios de

Planejamento de Sergipe

Elaboraccedilatildeo Yarin de Almeida Fonte IBGE 2017

Este trabalho estaacute estruturado da seguinte forma

introduccedilatildeo os programas de transferecircncia de renda no Brasil o alcance da distribuiccedilatildeo do Bolsa Famiacutelia no Municiacutepio de JapoatatildeSE e na comunidade de Ladeirinhas ldquoArdquo e as consideraccedilotildees finais Para essa anaacutelise foram coletados dados em sites como o IBGE e do Ministeacuterio do Desenvolvimento Social aleacutem de dados primaacuterios coletados atraveacutes da aplicaccedilatildeo de formulaacuterios aos entrevistados e a leitura de bibliografias sobre o tema

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OS PROGRAMAS DE TRANSFEREcircNCIA DE RENDA NO BRASIL

Os primeiros Programas de Transferecircncia de Renda remotam a Europa da deacutecada de 1930 mas somente nas deacutecadas de 1970 e 1980 esses programas se espalharam pelo mundo incluindo o Brasil No Brasil as poliacuteticas de distribuiccedilatildeo de renda visavam conciliar o crescimento econocircmico e o bem-estar das populaccedilotildees principalmente pobres atraveacutes da intervenccedilatildeo do Estado que garantiria a transferecircncia monetaacuteria para a subsistecircncia da populaccedilatildeo pobre (SILVA 2004)

Mas eacute somente a partir de 1991 que a ideia de instituiccedilatildeo de Programas de Transferecircncia de Renda comeccedila a fazer parte dos debates poliacuteticos Nesse primeiro momento os programas satildeo pensados e realizados em escala municipal e estadual necessitando haver a unificaccedilatildeo desses programas a niacutevel federal Aleacutem disso o fato de o acircmbito municipal natildeo ter competecircncia legal para o enfrentamento aos grandes poderes constitutivos como a complexidade e coaccedilatildeo do modelo de acumulaccedilatildeo capitalista da miacutedia e os interesses corporativos empresariais (FONSECA 2013 SILVA 2004)

Contudo mesmo nessa conjuntura foram criados os Programas de Garantia de Renda MiacutenimaBolsa Escola em 1991

No Brasil a ideacuteia de instituiccedilatildeo de Programas de Transferecircncia de Renda comeccedila a fazer parte da agenda puacuteblica a partir de 1991 quando eacute apresentado e aprovado no Senado Federal o Projeto de Lei do senador petista Eduardo Suplicy propondo o Programa de Garantia de Renda Miacutenima - PGRM para beneficiar todos os brasileiros residentes no paiacutes maiores de 25 anos de idade com uma renda de ateacute 225 salaacuterios miacutenimos nos valores atuais Inaugura-se entatildeo um processo de

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desenvolvimento desses Programas partindo de Programas de Renda MiacutenimaBolsa Escola em niacutevel municipal chegando agrave recente proposta de unificaccedilatildeo dos inuacutemeros programas criados por governos municipais estaduais e pelo Governo Federal e aprovaccedilatildeo de uma Renda de Cidadania incondicional para todos os brasileiros (SILVA 2004 p 3)

A partir de entatildeo o debate e efetivaccedilatildeo dos Programas

de Transferecircncia de Renda passam a se expandir aleacutem de tudo pelos problemas socioeconocircmicos que o paiacutes enfrentava Dentre o mais agravante o crescimento da pobreza que afetavam fortemente as crianccedilas e adolescentes problemas oriundos do modelo de acumulaccedilatildeo capitalista flexiacutevel receacutem instaurado no Brasil e no mundo Aleacutem dessas problemaacuteticas o modelo poliacutetico do paiacutes brasileiro nesse periacuteodo natildeo favorecia (e ateacute hoje natildeo favorece) o desenvolvimento de poliacuteticas puacuteblicas para uma total transformaccedilatildeo da realidade e disparidade entre ricos e pobres no paiacutes A conjuntura do modelo de acumulaccedilatildeo capitalista nesse periacuteodo fez crescer as desigualdades sociais causando um desemprego estrutural que afetava principalmente os mais pobres ldquoPara diversos analistas e agentes estatais as ldquopoliacuteticas puacuteblicasrdquo seriam um antiacutedoto eficaz por justamente mobilizar as forccedilas do Estado no sentido de impedir a ldquobarbaacuterie do Capitalrdquordquo (FONSECA 2013 p 406)

Contudo apesar dos conflitos de interesses existentes entre as classes mais subalternas e das grandes corporaccedilotildees e interesses poliacuteticos eacute a partir de 2003 sob o entatildeo Governo do Presidente Luiz Inaacutecio Lula da Silva que ocorrem mudanccedilas quantitativas e qualitativas nas Poliacuteticas Puacuteblicas de Transferecircncia de Renda no acircmbito nacional Com crescimento no seu alcance e tambeacutem nos repasses destinados aos programas sociais (FONSECA 2013 SILVA 2004)

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Buscou-se articular os programas desenvolvidos pelos municiacutepios e estados que enfrentavam duas problemaacuteticas muitos dos estados e municiacutepios que implementavam os programas natildeo obtinham de receitas orccedilamentaacuterias para continuaccedilatildeo dos programas e grande parcela dos grupos vulneraacuteveis a serem atingidos pelos programas natildeo estavam incluiacutedos nos Programas de Distribuiccedilatildeo de Renda o que necessitava da intervenccedilatildeo do Poder Federal para a manutenccedilatildeo dos programas e a sua ampliaccedilatildeo a niacutevel nacional aleacutem disso somente o poder Federal a niacutevel do Estado seria capaz mesmo que de forma debilitada barrar de certa medida os ldquopoderes constituiacutedosrdquo52 (FONSECA 2013

Nesse sentido o Bolsa Famiacutelia foi lanccedilado no governo Lula em outubro de 2003 com o intuito de unificar os Programas de Transferecircncia de Renda como Cartatildeo Alimentaccedilatildeo Auxiacutelio Gaacutes Programa Bolsa Alimentaccedilatildeo e o Bolsa Escola A unificaccedilatildeo desses programas no Programa Bolsa Famiacutelia visava o combate agrave fome e a pobreza em articulaccedilatildeo com os Estados Municiacutepios e a Uniatildeo buscando garantir a essas famiacutelias o direito agrave alimentaccedilatildeo o acesso agrave sauacutede e a educaccedilatildeo O Bolsa Famiacutelia foi instituiacutedo pela Lei 1083604 de 09 de janeiro de 2004 e institucionalizado pelo Decreto nordm 5209 de 17 de setembro de 2004 (SILVA 2004 CAIXA 2018 MDS 2017)

Aleacutem da descentralizaccedilatildeo dos programas dos municiacutepios e a articulaccedilatildeo entre Estados Municiacutepios e Uniatildeo visando agrave reduccedilatildeo da fome e da miseacuteria para as populaccedilotildees da cidade e do campo o novo programa objetivava facilitar o acesso aos benefiacutecios sob a regecircncia de uma Secretaacuteria

52

O modelo de acumulaccedilatildeo capitalista o sistema poliacutetico brasileiro e o

poder de veto da miacutedia e de outros atores devem ser repensados para o

efeito da criaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas no Brasil

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Executiva descentralizando os Programas de Transferecircncia de Renda dos municiacutepios

O Ministeacuterio do Desenvolvimento Social e Combate agrave Fome ndash MDS (2017) coloca que aleacutem do repasse monetaacuterio o Programa Bolsa Famiacutelia visa melhoria tambeacutem de programas como a alfabetizaccedilatildeo o acesso agrave educaccedilatildeo e a sauacutede Objetivando esforccedilos para a sobrevivecircncia das famiacutelias com a prerrogativa que os filhos com idade escolar estejam na escola agrave frequecircncia regular aos postos de sauacutede entre as crianccedilas de 0 a 6 anos de idade manter atualizado o cartatildeo de vacinas frequecircncia de mulheres gestantes aos exames de rotina retorno de adultos analfabetos agrave escola devendo todas as famiacutelias participar de accedilotildees de educaccedilatildeo alimentar que devem ser oferecidas pelo Governo

O Bolsa Famiacutelia eacute um benefiacutecio da assistecircncia social amparado pelo Ministeacuterio do Desenvolvimento Social e combate agrave fome O Cadastro Uacutenico - CAD para Programas Sociais reuacutene informaccedilotildees socioeconocircmicas das famiacutelias brasileiras de baixa renda ndash aquelas com renda mensal de ateacute meio salaacuterio miacutenimo por pessoa Essas informaccedilotildees permitem ao governo conhecer as reais condiccedilotildees de vida da populaccedilatildeo e a partir dessas informaccedilotildees selecionar as famiacutelias para diversos programas sociais

O programa Bolsa Famiacutelia eacute constituiacutedo por famiacutelias em situaccedilatildeo de pobreza e de extrema pobreza As famiacutelias extremamente pobres satildeo aquelas que tecircm renda mensal de ateacute R$ 8500 por pessoa Jaacute as famiacutelias pobres satildeo aquelas que possuem renda mensal entre R$ 8501 e R$ 17000 por pessoa Para fazer parte do programa as famiacutelias pobres participam desde que tenham em sua composiccedilatildeo gestantes e crianccedilas ou adolescentes entre 0 e 17 anos (MDS 2017)

Para se candidatar ao programa eacute necessaacuterio que a famiacutelia esteja inscrita no Cadastro Uacutenico para Programas Sociais do Governo Federal com seus dados atualizados haacute

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menos de dois anos O cadastramento eacute um preacute-requisito mas natildeo implica na entrada imediata das famiacutelias no programa nem no recebimento do benefiacutecio Mensalmente o MDS seleciona de forma automatizada as famiacutelias que seratildeo incluiacutedas para receber o benefiacutecio A seleccedilatildeo das famiacutelias eacute feita pelo Ministeacuterio do Desenvolvimento Social e Combate agrave Fome com base nos dados inseridos pelas prefeituras no Cadastro Uacutenico dos Programas Sociais do Governo Federal A seleccedilatildeo eacute mensal e os criteacuterios usados satildeo a composiccedilatildeo familiar e a renda de cada integrante da famiacutelia (CAIXA 2018) Jaacute os tipos de benefiacutecios vatildeo aleacutem do Benefiacutecio Baacutesico que eacute concedido agraves famiacutelias em situaccedilatildeo de extrema pobreza (com renda mensal de ateacute R$ 8500 por pessoa) no qual o auxiacutelio eacute de R$ 8500 mensais Aleacutem desse haacute o Benefiacutecio Variaacutevel destinado para as famiacutelias pobres e extremamente pobres que tenham em sua composiccedilatildeo gestantes nutrizes (matildees que amamentam) crianccedilas e adolescentes de 0 a 16 anos incompletos O valor de cada benefiacutecio eacute de R$ 3900 e cada famiacutelia pode acumular ateacute cinco benefiacutecios por mecircs chegando a R$ 19500 O Benefiacutecio Variaacutevel de 0 a 15 anos eacute destinado a famiacutelias que tenham em sua composiccedilatildeo crianccedilas e adolescentes de 0 a 15 anos de idade (MDS 2017)

Aleacutem desses existe tambeacutem o Benefiacutecio Variaacutevel Jovem que eacute destinado agraves famiacutelias que se encontram em situaccedilatildeo de pobreza ou extrema pobreza e que tenham em sua composiccedilatildeo familiar adolescentes entre 16 e 17 anos O valor do benefiacutecio eacute de R$ 4600 por mecircs e cada famiacutelia pode acumular ateacute dois benefiacutecios ou seja R$ 9200 Haacute tambeacutem o Benefiacutecio para Superaccedilatildeo da Extrema Pobreza que eacute destinado agraves famiacutelias que se encontrem em situaccedilatildeo de extrema pobreza Cada famiacutelia pode receber um benefiacutecio por mecircs O valor do benefiacutecio varia em razatildeo do caacutelculo realizado a partir da renda por pessoa da

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famiacutelia e do benefiacutecio jaacute recebido no Programa Bolsa Famiacutelia (CAIXA 2018)

O valor do benefiacutecio varia em razatildeo do caacutelculo realizado a partir da renda por pessoa da famiacutelia e do benefiacutecio jaacute recebido no Programa Bolsa Famiacutelia Vale salientar que as famiacutelias em situaccedilatildeo de extrema pobreza podem acumular o benefiacutecio Baacutesico o Variaacutevel e o Variaacutevel Jovem ateacute o maacuteximo de R$ 37200 por mecircs Como tambeacutem podem acumular 1 (um) benefiacutecio para Superaccedilatildeo da Extrema Pobreza (MDS 2017)

Em todo o Brasil mais de 139 milhotildees de famiacutelias satildeo atendidas pelo Bolsa Famiacutelia (CAIXA 2018) Isso foi possiacutevel a partir da ampliaccedilatildeo e unificaccedilatildeo dos Programas de Distribuiccedilatildeo de Renda que no governo Lula foram unificados no Bolsa Famiacutelia e implantado em todo o territoacuterio Nacional chegando a municiacutepios como Japoatatilde e tambeacutem nos demais municiacutepios do Territoacuterio de Planejamento do Baixo Satildeo Francisco Sergipano onde se encontram os menores IDH-M do Estado Esse avanccedilo demonstra a importacircncia dos Programas de Distribuiccedilatildeo de Renda para os habitantes do municiacutepio que vivem tanto na cidade e no caso em anaacutelise no campo na comunidade de Ladeirinhas ldquoArdquo auxiliando na permanecircncia do homem no campo aliando-se a outras estrateacutegias de reproduccedilatildeo social do camponecircs no seu lugar

O ALCANCE DA DISTRIBUICcedilAtildeO DO BOLSA FAMIacuteLIA NO MUNICIacutePIO DE JAPOATAtildeSE E NA COMUNIDADE DE LADEIRINHAS ldquoArdquo

O municiacutepio de Japoatatilde localiza-se no Territoacuterio de Planejamento do Baixo Satildeo Francisco Sergipano que serve de base para o desenvolvimento e aplicaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas Conta com uma populaccedilatildeo predominante pobre onde mais da metade da populaccedilatildeo residem na zona rural (6667) cerca de

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8626 habitantes e (3333) cerca de 4312 habitantes na zona urbana (IBGE 2010) Os dados mostram a superioridade do nuacutemero de moradores residentes na zona rural comparando com os da zona urbana

Segundo a EMDAGRO (2008) o municiacutepio se caracteriza por uma economia que assim como os demais municiacutepios do Territoacuterio de Planejamento do Baixo Satildeo Francisco tem se comportado de maneira tiacutemida apresentando uma populaccedilatildeo predominantemente pobre com acessos irregulares ao mercado de produtos e serviccedilos assim como havendo oscilaccedilotildees econocircmicas em funccedilatildeo da sazonalidade da produccedilatildeo rural

Devido agraves sazonalidades da produccedilatildeo agriacutecola e da falta de investimento do Estado em poliacuteticas puacuteblicas para o desenvolvimento de atividades agriacutecolas para a agricultura familiar camponesa o Bolsa Famiacutelia se caracteriza como forte componente que auxilia o homem do campo a permanecer na zona rural do municiacutepio A composiccedilatildeo da renda do camponecircs eacute fundamentada em trecircs aspectos fundamentais satildeo eles a produccedilatildeo proacutepria na terra agrave venda da forccedila de trabalho e o recurso oriundos dos instrumentos das poliacuteticas puacuteblicas como o Bolsa Famiacutelia

O Bolsa Famiacutelia como uma poliacutetica puacuteblica de distribuiccedilatildeo de renda foi pensado para unificar os programas de distribuiccedilatildeo de renda com o intuito de diminuir as desigualdades sociais e retirar crianccedilas de trabalhos penosos nas diferentes regiotildees do Brasil tanto na cidade como no campo Nesse intuito a anaacutelise feita demonstra como o Bolsa Famiacutelia tem rebatimentos no campo e auxilia junto a outras estrateacutegias a permanecircncia da unidade familiar camponesa nos diferentes espaccedilos rurais do Brasil

Nesse sentido o PBF eacute um dos programas sociais mais acessados por parte das populaccedilotildees a que satildeo destinadas inclusive nos espaccedilos rurais Este programa tem contribuiacutedo

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em certa medida para a distribuiccedilatildeo de renda no campo e para a consequente diminuiccedilatildeo das desigualdades sociais O Bolsa Famiacutelia apresentou expansatildeo nos uacuteltimos dez anos chegando de fato a todos os municiacutepios brasileiros sobretudo os da Regiatildeo Nordeste do Paiacutes incluindo o municiacutepio Japoatatilde localizado no Territoacuterio de Planejamento do Baixo Satildeo Francisco Sergipano com IDH-M mais baixos do Estado de Sergipe (Graacutefico 1)

Fonte IBGECenso demograacutefico PNUDAtlas do desenvolvimento humano Nota Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal Meacutedia geomeacutetrica dos iacutendices das dimensotildees Renda Educaccedilatildeo e Longevidade com pesos iguais

Eacute impossiacutevel falar de poliacuteticas puacuteblicas de distribuiccedilatildeo

de renda direcionadas a famiacutelia do campo e da cidade sem mencionar o Programa Bolsa Famiacutelia E no Municiacutepio de JapoatatildeSE o total de famiacutelias inscritas no Cadastro Uacutenico em junho de 2017 era de 4207 dentre as quais 3159 com renda per capita familiar de ateacute R$ 8500 322 com renda per capita familiar entre R$ 8501 e R$ 17000 440 com renda per capita familiar entre R$ 17001 e meio salaacuterio miacutenimo 286 com renda

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per capita acima de meio salaacuterio miacutenimo O PBF beneficiou jaacute no ano de 2017 cerca de 2627 famiacutelias representando uma cobertura de 1278 da estimativa de famiacutelias pobres no municiacutepio de Japoatatilde (MDS 2017)

Graacutefico 2 - Renda Per Capta por Famiacutelias Beneficiadas pelo Programa Bolsa Famiacutelia JapoatatildeSE- 2017

Fonte Ministeacuterio do Desenvolvimento e Social Organizaccedilatildeo Feitoza D S 2017

Diante disto as famiacutelias recebem benefiacutecios com valor

meacutedio de R$ 17183 e o valor total transferido pelo Governo Federal em benefiacutecios agraves famiacutelias atendidas alcanccedilou R$ 45139100 no mecircs de junho Em relaccedilatildeo agraves condicionalidades o acompanhamento da frequecircncia escolar com base no bimestre de marccedilo de 2017 atingiu o percentual de 930 para crianccedilas e adolescentes entre 6 e 15 anos o que equivale a 1912 alunos acompanhados em relaccedilatildeo ao puacuteblico no perfil equivalente a 2056 Para os jovens entre 16 e 17 anos o percentual atingido foi de 861 resultando em 359 jovens acompanhados de um total de 417 Jaacute o acompanhamento da

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sauacutede das famiacutelias na vigecircncia de dezembro de 2016 atingiu 580 percentual equivalente a 1218 (MDS 2017)

Os rebatimentos no municiacutepio de Japoatatilde e na comunidade de Ladeirinhas ldquoArdquo abarcam famiacutelias de um total de 2100 que compunham o puacuteblico no perfil para acompanhamento da aacuterea de sauacutede do municiacutepio (MDS 2017) Com diferentes quantitativos de Renda Familiar que eacute um dos componentes para o recebimento do Bolsa Famiacutelia (Quadro 1)

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Tabela 1 Acesso ao Bolsa Famiacutelia como componente da renda segundo a faixa etaacuteria Ladeirinhas ldquoArdquo 20162017

Ndeg Total da Composiccedilatildeo

Familiar

Faixa Etaacuteria

Menos de 1

Salaacuterio Miacutenimo

Ateacute 1 Salaacuterio

Miacutenimo

Ateacute 2

Salaacuterios Miacutenimos

Natildeo possuem

renda

79

0 a 19 34 - - 966

20 a 59 386 138 26 450

Acima de 59 90 728 182 -

Fonte Trabalho de campo 20162017

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Observa-se que na Faixa Etaacuteria de 0 a 19 anos 966 natildeo possuem renda isso demonstra que uma grande demanda do programa Bolsa Famiacutelia que eacute destinado para crianccedilas e jovens consideradas aptos a acessarem o programa Em contra partida na faixa etaacuteria acima de 59 anos os dados mostram que 72 8 possuem renda de ateacute 1 salaacuterio miacutenimomecircs revelando a presenccedila da Previdecircncia Rural ligada a poliacutetica de Seguridade Social como fator positivo para o camponecircs a fim de dar continuidade a sua reproduccedilatildeo social e de suas famiacutelias no campo

O Programa Bolsa Famiacutelia como poliacutetica puacuteblica de distribuiccedilatildeo de renda e diminuiccedilatildeo da desigualdade eacute uma das poliacuteticas mais acessadas pelos camponeses residentes no municiacutepio o que demonstra sua importacircncia para a permanecircncia dos campesinos nos espaccedilo rurais de Sergipe e do Brasil Esse programa inclusive eacute uma importante fonte de renda que auxilia para que essas populaccedilotildees tenham acesso ao mercado de bens e produtos Nesse sentido tornando-se importante fator estrateacutegico para a reproduccedilatildeo campesina nos espaccedilos rurais do paiacutes retardando assim a desapropriaccedilatildeo e a saiacuteda do campo CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A partir dos formulaacuterios aplicados in loco nota-se que as poliacuteticas puacuteblicas que mais agem para a permanecircncia do homem camponecircs no campo satildeo as poliacuteticas de distribuiccedilatildeo de renda como o Bolsa Famiacutelia Cerca de 966 dos entrevistados natildeo possuem renda em contrapartida recebem auxiacutelio do programa jaacute a Seguridade Social Rural eacute acessada por 100 dos entrevistados Nesse sentido por via da coleta de dados e em seguida sua tabulaccedilatildeo foi notoacuterio que esses programas tecircm rebatimentos na comunidade no municiacutepio e acabam por

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dinamizar a economia do estado ao tempo em que essas famiacutelias tem acesso ao mercado de produtos e bens de consum auxiliando o camponecircs a continuar no campo complementando a renda do trabalho agriacutecola por meio dessas poliacuteticas

Tem-se uma dualidade quanto ao acesso e aos efeitos das poliacuteticas puacuteblicas pelos camponeses pesquisados De um lado as poliacuteticas como PRONAF e PAA quando acessadas contribuem para auxiliar na melhoria dos processos produtivos onde em alguns casos auxiliam no aumento dos ganhos com a lavoura mas que no entanto satildeo ganhos sazonais Em contrapartida a esse contexto o Bolsa Famiacutelia a Previdecircncia Social Rural tornam-se mais singulares na medida em que tem-se rendimentos fixos e mensais enquanto os rendimentos do trabalho na atividade agriacutecola satildeo esporaacutedicos e indefinidos

Mesmo com os limites e os efeitos das poliacuteticas puacuteblicas o Programa Bolsa Famiacutelia teve grandes avanccedilos principalmente no governo Lula de 2003 a 2007 como a poliacutetica puacuteblica de distribuiccedilatildeo de renda mais acessada pela populaccedilatildeo brasileira repercutindo no municiacutepio de Japoatatilde e como contatado in loco na comunidade de Ladeirinhas ldquoArdquo Por meio da aplicaccedilatildeo de formulaacuterios aos entrevistados fica claro como essa poliacutetica puacuteblica contribui para que a populaccedilatildeo japoatanense e tambeacutem os camponeses na sua reproduccedilatildeo e da sua famiacutelia tornando-se a poliacutetica puacuteblica mais acessada por esses sujeitos Com isso a venda da forccedila de trabalho aliados ao Bolsa Famiacutelia e a Seguridade Social acessado pelos apresentados satildeo importantes componentes estrateacutegicos para os camponeses permaneceram no campo complementando nesse sentido a renda obtida por meio das atividades com a terra que satildeo sazonais

Aleacutem disso eacute necessaacuterio enfrentar os grandes poderes constitutivos para alcanccedilar assim uma sociedade mais

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igualitaacuteria enfrentando a pobreza natildeo somente no sentido de bens materiais mas como coloca Pedro Demo (2006) retirar os pobres da subalternidade para que sejam sujeitos ativos das suas proacuteprias realidades e natildeo aguardem sempre por ajuda de terceiros e do proacuteprio Estado Consequentemente a naccedilatildeo seraacute constituiacuteda por indicadores sociais mais intensos com igualdade e justiccedila social para todos

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS BRASILMESA Cartilha do Programa Bolsa Famiacutelia Brasiacutelia 2003 ______BRASIL Ministeacuterio do Desenvolvimento Social Disponiacutevel em httpmdsgovbr Acessado em 03 de novembro de 2017 CAIXA ECONOMICA FEDERAL Bolsa Famiacutelia Disponiacutevel em httpwwwcaixagovbrprogramas-sociaisbolsa-familiaPaginasdefaultaspx Acessado em 03 de novembro de 2017 DEMO Pedro Pobreza poliacutetica a pobreza mais intensa da pobreza brasileira Autores Associados 2006 FONSECA Francisco Dimensotildees criacuteticas das poliacuteticas puacuteblicas Cadernos EBAPEBR (FGV) v 11 p 402-418 2013 GOVERNO DE SERGIPE Secretaria de Estado da Agricultura e do Desenvolvimento Rural e Agraacuterio Empresa de Desenvolvimento Agropecuaacuterio de Sergipe Informaccedilotildees Baacutesicas Municipais Municiacutepio de Japoatatilde 2008

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IBGE Censo Demograacutefico ndash Nuacutemero de habitantes por sexo e aacuterea de domicilio Disponiacutevel emlt httpwwwsidraibgegovbrbdatabelaprotablaspc=202ampz=tampo=25ampi=Pgt Acessado em 03 de novembro de 2017 PROGRAMA DE TRANSFEREcircNCIA DE RENDA BOLSA FAMILIA Disponiacutevel em wwwmdsgovbrbolsafamilia Acesso em 03 de novembro de 2017 SANTOS N D dos Pelo Espaccedilo do Homem Camponecircs Estrateacutegias de Reproduccedilatildeo Social no Sertatildeo dos Estados de Sergipe e Alagoas Satildeo Cristoacutevatildeo UFSNPGEO 2012 (Tese de Doutorado em Geografia) SILVA C B de C e SCHNEIDER S Pobreza rural e o Programa Bolsa Famiacutelia ndash desafios para o desenvolvimento rural no Brasil In GRISA C SCHNEIDER S (Org) Poliacuteticas Puacuteblicas de Desenvolvimento Rural no Brasil Porto Alegre Editora da UFRGS 2015 SILVA Ladja Maria de Lima Caracterizaccedilatildeo do Espaccedilo Geograacutefico do Povoado Ladeirinhas ldquoArdquo Trabalho de Conclusatildeo de Curso (licenciatura em Geografia) - Polo Regional de Propriaacute Programa de Qualificaccedilatildeo Docente II Departamento de Geografia Centro de Educaccedilatildeo e Ciecircncias Humana Universidade Federal de Sergipe 2003 SILVA Maria Ozanira da Silva e Os Programas de Transferecircncia de Renda na Poliacutetica Social Brasileira seu desenvolvimento possibilidades e limites Revista de Poliacuteticas Puacuteblicas Satildeo Luiacutes v 8 n2 p 113-133 2004

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PMCMV E SUAS CONTRADICcedilOtildeES NA EXPANSAtildeO DO

CAPITAL

Vanilza da Costa Andrade

Doutoranda em Geografia PPGEOUFS

E mail Vanilza_geohotmailcom

RESUMO

O eixo social e urbano do PAC com o Programa

Minha Casa Minha Vida (PMCMV) ganhou evidecircncia nos investimentos do governo brasileiro sendo considerado um importante instrumento para amenizar os efeitos da crise econocircmica internacional de 2008 atraveacutes do discurso ideoloacutegico de resolver o problema do deacuteficit habitacional no paiacutes O PMCMV ganhou destaque na loacutegica da mundializaccedilatildeo do capital no Brasil pois se tornou um instrumento capaz de permitir a abertura de novos espaccedilos para a acumulaccedilatildeo ampliada do capital sobretudo com a ampliaccedilatildeo do creacutedito imobiliaacuterio individual Desse modo o objetivo desse texto eacute explicar como os interesses privados foram relevantes para a criaccedilatildeo do PMCMV no Brasil e como este serve para inserir a classe trabalhadora no circuito internacional de financeirizaccedilatildeo PALAVRAS-CHAVE Poliacutetica habitacional ndash Estado ndash financeirizaccedilatildeo INTRODUCcedilAtildeO

Em 2007 o governo brasileiro criou o Programa de

Aceleraccedilatildeo do Crescimento (PAC) com o objetivo de promover a retomada do planejamento e execuccedilatildeo de grandes obras de infraestrutura social urbana logiacutestica e energeacutetica no intuito de contribuir para o desenvolvimento acelerado e

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sustentaacutevel do paiacutes53 Para isso foram adotadas rapidamente ldquo[] medidas de expansatildeo do creacutedito pelos bancos puacuteblicos (Banco do Brasil BNDES e Caixa Econocircmica) [] Como medida de caraacuteter anticiacuteclico o governo manteve os investimentos em infraestrutura previstos no acircmbito do PACrdquo (CARDOSO ARAGAtildeO 2013 p 35) A expansatildeo do creacutedito foi uma ferramenta necessaacuteria para ldquoabrandarrdquo os efeitos da crise que se instalou no mundo capitalista

O eixo social e urbano do PAC com o Programa Minha Casa Minha Vida (PMCMV)54 ganhou evidecircncia nos investimentos sendo considerado um importante instrumento para amenizar os efeitos da crise econocircmica internacional de 200855 atraveacutes do discurso ideoloacutegico de resolver o problema do deacuteficit habitacional no paiacutes

Conforme destaca Rolnik (2015)

[] o aumento exponencial da disponibilidade de creacutedito ndash inclusive de creacutedito imobiliaacuterio uma das medidas centrais do econocircmico desenvolvimentista ndash incidiu de forma intensa sobre os preccedilos dos imoacuteveis Isso se deu particularmente apoacutes 2009 quando jaacute vigorava a crise financeira internacional detonada pela derrocada do creacutedito subprime no mercado hipotecaacuterio norte-americano Nesse contexto um programa de estiacutemulo agrave produccedilatildeo de casas ndash o Minha Casa Minha Vida ndash lanccedilou 100 bilhotildees de reais em creacutedito imobiliaacuterio residencial em dois anos articulado a um programa de subsiacutedios para a compra de 1 milhatildeo de unidades residenciais produzidas

53

httpwwwpacgovbrsobre-o-pac 54 O PMCMV foi criado atraveacutes da Medida Provisoacuteria 4592009

transformada na Lei 119772009 que por sua vez foi alterada pela

medida provisoacuteria 5142010 e por fim foi convertida na Lei 124242011 55

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pelo mercado privado Essa mesma conjuntura coincide com a preparaccedilatildeo de doze cidades brasileiras para recepcionar a Copa do Mundo de 2014 e no caso do Rio de Janeiro tambeacutem as Olimpiacuteadas de 2016 potencializando a expansatildeo do complexo imobiliaacuterio-financeiro no Brasil e agudizando a financeirizaccedilatildeo da terra urbana e da moradia (p 279)

O PMCMV ganhou destaque na loacutegica da

mundializaccedilatildeo do capital no Brasil pois se tornou um instrumento capaz de permitir a abertura de novos espaccedilos eou territoacuterios para a acumulaccedilatildeo ampliada do capital sobretudo com a ampliaccedilatildeo do creacutedito imobiliaacuterio sendo o ldquo[] PAC II e o programa habitacional Minha Casa Minha Vida desenhado por empresaacuterios da construccedilatildeo e do mercado imobiliaacuterio em parceria com o governo federal Teve entatildeo iniacutecio um boom imobiliaacuterio de enormes proporccedilotildees nas grandes cidadesrdquo (MARICATO 2013 p 23)

Nesse contexto o objetivo desse texto eacute explicar como os interesses privados foram relevantes para a criaccedilatildeo do PMCMV no Brasil e como este serve para inserir a classe trabalhadora no circuito internacional de financeirizaccedilatildeo Para atender tal objetivo utilizou-se como metodologia uma revisatildeo bibliografia e anaacutelise de discursos de cerimonias oficiais de lanccedilamentos do programa O meacutetodo utilizado foi o materialismo histoacuterico e dialeacutetico porque permite ir aleacutem da aparecircncia aleacutem de constitui em um meacutetodo que visa compreender a totalidade e de fazer a relaccedilatildeo teoriapraacutetica PMCMV E SUAS CONTRADICcedilOtildeES NA EXPANSAtildeO DO CAPITAL

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Compreender a ldquoteiardquo na qual o PMCMV foi criado faz-se necessaacuterio pois mediante o entendimento dessa eacute possiacutevel verificar as contradiccedilotildees e interesses que perpassam essa poliacutetica social Nessa perspectiva o PMCMV tem em essecircncia interesses econocircmicos e poliacuteticos pois antes mesmo da divulgaccedilatildeo oficial do Programa em marccedilo de 2009 ldquo[] a entatildeo ministra Dilma Rousseff jaacute havia se reunido com empresaacuterios do setor da construccedilatildeo civil tais como Cyrela Rossi MRV WTorre Rodobens e jaacute se falava na construccedilatildeo de 1 milhatildeo de casas para a faixa de renda ateacute dez SMsrdquo (LOUREIRO MACAacuteRIO GUERRA 2013 p 16) o que evidencia interesses privados na criaccedilatildeo do PMCMV caracterizando uma poliacutetica de caraacuteter econocircmico

No lanccedilamento do PMCMV 2 em 2011 Paulo Simatildeo ndash Presidente da Cacircmara brasileira da induacutestria da construccedilatildeo (CBIC) afirmou como se deu a criaccedilatildeo deste programa habitacional destacando que o setor da construccedilatildeo foi procurado para criar o Programa destacando a parceria feita entre o este setor e o Estado

Eacute com muita alegria que participamos da solenidade de lanccedilamento da segunda etapa do programa Minha Casa Minha Vida aproximadamente haacute dois anos em marccedilo de 2009 tivemos a oportunidade de participar do lanccedilamento da primeira etapa em meio de muitas duacutevidas e criacuteticas sobre o projeto que na eacutepoca parecia ousado demais e em meio agrave crise econocircmica mundial muita gente desconfiava das metas propostas e das condiccedilotildees estabelecidas Lembro muito bem a presidenta Dilma Rousseff no dia 9 de Janeiro de 2009 quando vossa excelecircncia na ocasiatildeo ministra-chefe da casa civil reuniu-se conosco e com a secretaacuteria executiva do PAC e nos comunicou um grande desafio feito pelo entatildeo presidente Lula construir ateacute o final do

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governo um milhatildeo de novas unidades habitacionais direcionadas agraves famiacutelias com renda de ateacute 10 salaacuterios miacutenimos [] Para o desenvolvimento de um programa com um grande desafio o certo eacute que na quarta-feira seguinte noacutes levamos a vossa excelecircncia uma lista de accedilotildees que noacutes entendiacuteamos como necessaacuterias e suficientes para um programa dessa magnitude Seguiu entatildeo um periacuteodo de negociaccedilotildees e ajustes que reuniu em contribuiccedilotildees de vaacuterios outros segmentos e parceiros e que resultaria lanccedilamento do programa Minha Casa Minha Vida em 25 de marccedilo de 2009 O governo soube encontrar a um soacute tempo o caminho para equacionar em alguns anos o grau do deacuteficit habitacional Brasil em um conjunto de medidas anticiacuteclicas para enfrentar a crise financeira que o mundo vivia naquele momento Desse modo senhora presidente quero saudar vossa excelecircncia pelo lanccedilamento de mais um programa de estimaacutevel valor social e econocircmico quero afirmar que a induacutestria da construccedilatildeo no mercado imobiliaacuterio representado por todas as entidades que compotildeem a cadeia produtiva busca se aliar com seu governo na busca dos melhores resultados em mais uma parceria que estaacute predestinada ao sucesso temos a convicccedilatildeo que sobre seu comando o programa manteraacute a sua trajetoacuteria (PAULO SIMAtildeO 2011)56

O discurso do presidente da CBIC eacute esclarecedor pois

eacute possiacutevel verificar em quais condiccedilotildees o PMCMV foi criado permitindo que empresaacuterios da construccedilatildeo civil ditassem regras e normas do Programa o que denota que os anseios da

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Disponiacutevel em httpswwwyoutubecomwatchv=Td0gxLKtaP4

acessado em 24102016

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esfera privada foram postos como prioritaacuterios neste programa embora tenha sido lanccedilado com a poliacutetica de combate ao deacuteficit habitacional do Brasil

O PMCMV formalizou os preceitos do Sistema de Financiamento Imobiliaacuterio efetivando ldquo[] o ldquoespiacuteritordquo jaacute corrente desde meados dos anos 1990 de incentivo agrave provisatildeo privada de habitaccedilatildeo por meio de medidas regulatoacuterias e do aumento de recursos destinados ao financiamento habitacional empreendidos recentementerdquo (SHIMBO 2011 p 44 ndash 45) Nessa concepccedilatildeo o programa foi ldquo[] concebido pelo setor imobiliaacuterio o programa foi estruturado de forma a que viesse a ser executado pela iniciativa privada indo ao encontro dos interesses da induacutestria da construccedilatildeo civilrdquo (CARDOSO ARAGAtildeO 2011 p 88)

Para Braga (2016) o programa apoia-se no subsiacutedio governamental do creacutedito para a aquisiccedilatildeo da casa proacutepria Trata-se de uma poliacutetica que reproduz o padratildeo tradicional de articulaccedilatildeo entre o Estado e os interesses privados que tem prevalecido historicamente no paiacutes isto eacute a espoliaccedilatildeo dos fundos puacuteblicos em benefiacutecio da acumulaccedilatildeo privada

Desse modo o PMCMV foi criado em 2009 direcionado a famiacutelias que natildeo tecircm rendimentos ateacute famiacutelias com dez salaacuterios miacutenimos tendo como finalidade ldquo[] criar mecanismos de incentivo agrave produccedilatildeo e aquisiccedilatildeo de novas unidades habitacionais ou requalificaccedilatildeo de imoacuteveis urbanos e produccedilatildeo ou reforma de habitaccedilotildees ruraisrdquo (Art1ordm - Lei 124242011)57 O Programa natildeo eacute uma poliacutetica criada exclusivamente para habitaccedilatildeo de interesse social (0 ndash 3 salaacuterios miacutenimos) visou tambeacutem criar mecanismos para

57 Altera a Lei no 11977 de 7 de julho de 2009 que dispotildee sobre o

Programa Minha Casa Minha Vida PMCMV e a regularizaccedilatildeo fundiaacuteria de assentamentos localizados em aacutereas urbanas

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movimentar a economia do Brasil atraveacutes do incentivo agrave construccedilatildeo civil e ao creacutedito imobiliaacuterio

O Programa Minha Casa Minha Vida eacute dividido em faixas de renda sendo a primeira denominada Faixa 1 para famiacutelias com renda bruta mensal de ateacute R$ 180000 conforme estabelecido na Portaria nordm 99 de 30 de marccedilo de 2016 mantidos com recursos do Orccedilamento Geral da Uniatildeo (OGU) mais retorno do beneficiaacuterio a Faixa 1558 (ateacute R$ 235000) e a Faixa 2 (ateacute R$ 360000) satildeo mantidas pelo OGU mais o FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviccedilo) atraveacutes de subsiacutedios e financiamento e a Faixa 3 (ateacute R$ 650000) eacute lastreada com recursos do FGTS e por meio de financiamento No entanto em 6 de fevereiro de 2017 o governo federal anunciou novas regras para o Programa incluindo novos valores para as faixas 15 (R$260000) 2 (R$400000) e 3 (R$ 900000)

Cardoso e Aragatildeo (2013) apresentam duas contradiccedilotildees baacutesicas do Programa Minha Casa Minha Vida e que se articulam ldquo[] uma primeira contradiccedilatildeo ocorre entre os objetivos de combater a crise estimulando a economia e os objetivos de combater o deacuteficit habitacional uma segunda decorrente do privileacutegio concedido ao setor privado como o agente fundamental para efetivar a produccedilatildeo habitacionalrdquo (p 44 ndash 45) Nesse sentido torna-se necessaacuterio questionar como uma poliacutetica de caraacuteter anticiacuteclico pode resolver a problemaacutetica habitacional no Brasil

Bonduki (2009) destaca que o ldquo[] Minha Casa Minha Vida fixou-se na produccedilatildeo de unidades prontas mais ao gosto do setor da construccedilatildeo civilrdquo (p 13) permitindo o incremento dos financiamentos imobiliaacuterios e da expansatildeo de construtoras pois em nenhum momento houve ldquo[] estiacutemulo agrave ocupaccedilatildeo de

58 Faixa incluiacuteda na terceira fase do PMCMV lanccedilado em 30032016

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imoacuteveis construiacutedos vagos59 apesar dos inuacutemeros edifiacutecios vazios existentes nos centros urbanos [] Prevalece assim a loacutegica de produccedilatildeo que interessa ao setor da construccedilatildeordquo (FIX 2011 p 143) A loacutegica dessa poliacutetica eacute pautada no atendimento das necessidades da esfera privada pois priorizouprioriza o estiacutemulo a construccedilatildeo de novas unidades habitacionais incentivando o crescimento do setor da construccedilatildeo civil e do capital financeiro atraveacutes do financiamento imobiliaacuterio

Desse modo em 2007 ocorreu no Brasil um ldquoboomrdquo imobiliaacuterio no qual grandes construtoras e incorporadoras abriram seu capital na Bolsa de Valores no entanto natildeo foi possiacutevel sustentar por muito tempo o lucro entrando em decliacutenio A crise mundial de 2008 agravou ainda mais essa decadecircncia como demonstram Arantes e Fix

A partir de 2006 as principais empresas construtoras e incorporadoras abriram seu capital na Bolsa de Valores capturando bilhotildees de reais em poucos meses Ao que tudo indica gastaram grande parte na aquisiccedilatildeo de bancos de terra As trecircs maiores empresas somam hoje cerca de cinco bilhotildees de reais em terras Todos esses fatores somados produziram o boom imobiliaacuterio brasileiro a partir de 2007 O crescimento repentino com a capitalizaccedilatildeo e a ampliaccedilatildeo do rendimento no setor foi contudo insustentaacutevel Produziu-se em 2008 um pico de inflaccedilatildeo na construccedilatildeo (122 o dobro do iacutendice geral) (2009 p 14)

59 Em 2014 os domiciacutelios vagos somam 7241 milhotildees de unidades 6354

milhotildees das quais em condiccedilotildees de serem ocupados e 886 mil em construccedilatildeo ou reforma Jaacute em 2014 79 dos domiciacutelios vagos estatildeo na aacuterea urbana e 21 na aacuterea rural (FUNDACcedilAtildeO JOAtildeO PINHEIRO p 39 2016)

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Agrave medida que grandes construtoras abriram o capital

para a Bolsa de Valores houve ldquo[] a aproximaccedilatildeo entre mercado financeiro e setor imobiliaacuterio portanto potencializou-se com a abertura de capital de empresas construtoras e incorporadoras na Bolsa de Valoresrdquo (SHIMBO 2012 p 63) O setor da construccedilatildeo realizou ldquo[] grandes investimentos lanccedilando accedilotildees na bolsa e aumentando seus estoques de terrenosrdquo (LOUREIRO MACAacuteRIO GUERRA 2013 p 16 ndash 17) mas com a crise de 2008 haveria uma paralisaccedilatildeo de produccedilatildeo imobiliaacuteria do financiamento imobiliaacuterio e consequentemente de mercado consumidor

O PMCMV ldquo[] surge como salvaccedilatildeo para o setor que estava entrando em crise profunda por fatores internos e externos No primeiro semestre de 2009 o setor da construccedilatildeo liderou disparado (58 acima do segundo colocado) a alta na Bolsa de Valores impulsionado pelo anuacutencio do pacote habitacionalrdquo (ARANTES FIX 2009 p 15) Foi perceptiacutevel a expansatildeo das grandes construtoras no Brasil com a criaccedilatildeo desta poliacutetica social por exemplo a MRV engenharia em 2006 estava presente em 26 cidades e em 2011 a empresa jaacute estava instalada e consolidada em mais de 100 municiacutepios espalhados pelo Brasil60

A poliacutetica habitacional foi uma das principais medidas de combate ao impacto de crise e a instabilidade poliacutetica e econocircmica O aquecimento da construccedilatildeo civil proporciona oferta de empregos renda e a movimentaccedilatildeo raacutepida da economia aleacutem de atingir diretamente outros setores que vatildeo desde a induacutestria de cimento e ceracircmica para a de torneiras e portas por exemplo

60 Disponiacutevel em lthttpwwwmrvcombrhistoriaaspxgt acessado em 18092013

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Outro fator que levou a induacutestria da construccedilatildeo civil a ter funccedilatildeo de minorar os efeitos da crise econocircmica no Brasil diz respeito ao salaacuterioconsumo Ou seja o consumo das pessoas desempregadas eacute relativamente baixo contudo as pessoas empregadas consomem desde produtos pereciacuteveis ateacute bens de consumo duraacuteveis pois a ideologia do consumo torna esta parte fundamental para a concretude do ciclo do capital ndash a miacutedia tem papel fundamental na disseminaccedilatildeo desta

O fomento agrave construccedilatildeo civil em periacuteodos de crise serve para que o sistema capitalista continue a gerar lucro jaacute que o consumo finaliza e daacute iniacutecio do ciclo do capital (produccedilatildeo distribuiccedilatildeo circulaccedilatildeo e consumo) Sem o consumo das mercadorias o capitalismo natildeo consegue gerar o lucro necessaacuterio para sua reproduccedilatildeo Por esse motivo o PMCMV foi criado tendo como uma das finalidades ldquo[] criar um ambiente econocircmico confiaacutevel que estimule o crescimento do mercado formal de habitaccedilatildeo e creacutedito bem como a geraccedilatildeo de empregordquo (BRASIL 2009 p 192)

Nesse contexto agrave medida que houve expansatildeo das grandes construtoras a partir do PMCMV o creacutedito imobiliaacuterio no Brasil apoacutes 2009 tambeacutem teve um sobressalto ano de lanccedilamento do PMCMV destacando assim que ldquo[] natildeo se trata apenas do binocircmio Estado-mercado mas sobretudo de uma articulaccedilatildeo especiacutefica entre ambos que existe quando se opera a partir da loacutegica privada de produccedilatildeo e quando se encara a moradia como ldquomercadoriardquordquo (SHIMBO 2012 p 26) Esse binocircmio comprova que historicamente o Estado salvaguarda os interesses privados e mediante poliacuteticas puacuteblicas permite a continuidade de reproduccedilatildeo do sistema sociometaboacutelico do capital

Com a diminuiccedilatildeo do creacutedito imobiliaacuterio e da quantidade de financiamentos a partir de 2015 o presidente Michel Temer juntamente com a Cacircmara Brasileira da Induacutestria da Construccedilatildeo (CBIC) e a Associaccedilatildeo de

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Incorporadoras Imobiliaacuterias (ABRAINC) reelaboram novas regras para o PMCMV focando na necessidade de ampliaccedilatildeo do nuacutemero de empregos que devem ser gerados e aumento exponencial do nuacutemero de creacutedito imobiliaacuterio e de quantidades de financiamentos Conforme Rubens Menin ndash presidente da associaccedilatildeo de incorporadoras imobiliaacuterias (ABRAINC) afirmou na cerimocircnia de lanccedilamento das novas regras PMCMV

Hoje eacute um momento muito importante para noacutes Eu digo ao senhor presidente que isto estaacute sendo possiacutevel por conta do trabalho em equipe da CEBIC e ABRAINC com Ministeacuterio Planejamento Caixa Econocircmica Federal Banco do Brasil Ministeacuterio das Cidades Trabalhamos juntos haacute bastante tempo e estamos entrando numa nova fase a promessa do setor eacute criar mais de 800000 empregos Parece muito mas eacute possiacutevel Noacutes temos que construir mais 200000 unidades para faixa 2 e 100000 para faixa 1 [] O Brasil tem que construir nos proacuteximos 20 anos trinta e cinco milhotildees de moradias Nosso setor estaacute ocioso temos feito 500000 unidades por ano noacutes estamos com um iacutendice de ociosidade muito grande e as empresas tecircm condiccedilotildees de reagir e esse passo que estaacute sendo dado agora eacute o passo inicial tenho certeza caminharemos muito para frente61 (RUBENS MENIN 2017)62

61 Disponiacutevel em lt httpswwwfacebookcommincidadesvideos1327196893992574 gt acessado em 08 de fevereiro de 2017 62 Disponiacutevel em lt httpswwwfacebookcommincidadesvideos1327196893992574gt acessado em 08 de fevereiro de 2017

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Eacute interessante destacar que o discurso na cerimocircnia de lanccedilamento das novas regras do PMCMV dos presidentes tanto do CBIC quanto da ABRAINC traz agrave tona a responsabilizaccedilatildeo uma espeacutecie de acordo entre o governo e essas instituiccedilotildees Agrave medida que o Estado muda as regras para atender aos interesses do setor privado estas associaccedilotildees se comprometem em ampliar o nuacutemero de emprego ou seja um jogo de interesses no qual o que estaacute em jogo eacute permitir que o setor da construccedilatildeo volte a crescer em termos de financiamentos e creacutedito imobiliaacuterio

A figura 1 destaca as novas metas para o PMCMV em 2017 Eacute notoacuterio que o Governo Federal e setor da construccedilatildeo iratildeo favorecer as faixas de renda 2 e 3 justamente as que tem o menor deacuteficit habitacional do paiacutes

Figura 1 Brasil PMCMV ndash metas para 2017

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Nesta perspectiva na cerimocircnia de anuacutencio das novas regras do PMCMV em fevereiro de 2017 foi colocada a importacircncia dessa poliacutetica para tirar o Brasil da crise a qual se encontra o setor da construccedilatildeo O ministro das cidades Bruno Arauacutejo afirmou que ldquoas accedilotildees prometem impulsionar o setor da construccedilatildeo civil aleacutem de impactar a economia gerar emprego e sem duacutevida conceder a oportunidade de incluir novas famiacutelias brasileiras ao programardquo63 jaacute Ronaldo Nogueira ministro do Trabalho e Emprego afirmou que ldquoo governo do presidente Michel Temer busca alternativa para oferecer dois endereccedilos dignos para o cidadatildeo um endereccedilo para morar e um para trabalhar Iniciativas como essas precisam ser louvadasrdquo64

Fix (2011) destacou que o PMCMV ldquo[] buscou responder a um soacute tempo a problemas de acumulaccedilatildeo por meio da injeccedilatildeo de recursos no circuito imobiliaacuterio [] e legitimaccedilatildeo ao responder agrave pressatildeo das lutas sociais do ponto de vista da demanda por habitaccedilatildeo e por empregordquo (p 141) Em 2017 o Estado brasileiro mais uma vez busca responder as demandas do circuito imobiliaacuterio exaltando o quatildeo importante eacute o setor imobiliaacuterio para resolver as ldquoanguacutestiasrdquo do paiacutes que eacute desemprego conforme afirmou o Presidente da Repuacuteblica Michel Temer no discurso de lanccedilamento das novas regras do PMCMV

Houve uma interaccedilatildeo de diferentes Ministeacuterios para fazer uma espeacutecie de reformulaccedilatildeo do Minha Casa Minha Vida

63 Disponiacutevel em lt httpswwwfacebookcommincidadesvideos1327196893992574gt acessado em 08 de fevereiro de 2017 64 Disponiacutevel em lt httpswwwfacebookcommincidadesvideos1327196893992574gt acessado em 08 de fevereiro de 2017

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mas sempre pensando que essa alteraccedilatildeo eacute uma formulaccedilatildeo no intuito de resolver a alma das anguacutestias do nosso sistema que eacute exatamente o desemprego Tenho dito com frequecircncia que eacute um dos setores que mais facilmente e coletivamente pode empregar exata precisamente o setor da construccedilatildeo civil A construccedilatildeo civil eacute uma das peccedilas-chave para a economia brasileira O que vemos hoje eacute a combinaccedilatildeo virtuosa de estiacutemulo ao setor com o fortalecimento de um programa social da maior relevacircncia que eacute o Minha Casa Minha Vida portanto que se de um lado prestigiamos setor produtivo do paiacutes que eacute a iniciativa privada de outro lado estamos tambeacutem apontando para responsabilidade social do governo65 (MICHEL TEMER 2017)

A importacircncia do Estado eacute notoacuteria pois ao criar eou

estimular poliacuteticas habitacionais institui a ideologia de que estaacute enfrentando a problemaacutetica da falta de moradia para os trabalhadores e resolvendo o problema da falta de emprego para o brasileiro ao mesmo tempo em que estimula a induacutestria da construccedilatildeo civil proporcionando a expansatildeo de grandes construtoras para novos espaccedilos gerando demanda e com essa o aumento do creacutedito imobiliaacuterio alimentando a esfera financeira Conforme afirmou o presidente da CIBIC no lanccedilamento das novas regras do PMCMV

A gente sempre brinca que o setor da construccedilatildeo eacute um intermediaacuterio entre o sonho da Maria e o emprego do Joatildeo Hoje noacutes estamos aqui viabilizando o sonho de muitas

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famiacutelias chegarem ateacute a sua casa proacutepria66 (JOSEacute CARLOS MARTINS 2017)

O financiamento habitacional ganhou importacircncia consideraacutevel na atual etapa do capitalismo que se nutre das transaccedilotildees financeiras pois este financiamento mediante subsiacutedios do Estado gera um volume grandioso de creacutedito movimentando o sistema financeiro com os juros cobrados

Desse modo ldquo[] Os uacuteltimos dez anos a partir de 2005 poderiam ser chamados sem exagero de a deacutecada do capital imobiliaacuteriordquo (BOULOS 2015 p 11) no qual ldquoem 2005 o montante total de creacutedito para a construccedilatildeo e financiamento imobiliaacuterio no paiacutes era de R$ 48 bilhotildees Em 2014 foi para R$ 102 bilhotildees Isso mesmo crescimento de mais de 2000 em dez anosrdquo (BOULOS 2015 p11) Esse crescimento foi possiacutevel graccedilas agrave intervenccedilatildeo do Estado brasileiro

No Artigo 18 da Lei 124242011 que rege o PMCMV faixa 1 eacute posto que a Uniatildeo autorizou a transferecircncia de recursos para o Fundo de Arrendamento Residencial FAR ateacute o limite de R$ 1650000000000 (dezesseis bilhotildees e quinhentos milhotildees de reais) e para o Fundo de Desenvolvimento Social FDS ateacute o limite de R$ 50000000000 (quinhentos milhotildees de reais)

O Estado aleacutem de procurar atraveacutes do PMCMV ldquosalvarrdquo o setor da construccedilatildeo civil lanccedila um quantitativo muito grande de capital no sistema financeiro Como a faixa 1 natildeo se daacute diretamente um financiamento individual (5 da sua renda mensal) o Estado atraveacutes do subsiacutedios alimenta o capital financeiro mediante aplicaccedilatildeo dos fundos e garante a expansatildeo do setor da construccedilatildeo Outro fator que chama muita atenccedilatildeo

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eacute o Estado garantir o pagamento das prestaccedilotildees mensais em alguns casos o que denota a accedilatildeo deste para que o setor privado lucre sem precisar se preocupar com a inadimplecircncia por exemplo dos mutuaacuterios Conforme eacute possiacutevel atestar no Artigo 20 da Lei 124242011

Garantir o pagamento aos agentes financeiros de prestaccedilatildeo mensal de financiamento habitacional no acircmbito do Sistema Financeiro da Habitaccedilatildeo devida por mutuaacuterio final em caso de desemprego e reduccedilatildeo temporaacuteria da capacidade de pagamento para famiacutelias com renda mensal de ateacute R$ 465000 (quatro mil seiscentos e cinquenta reais) e assumir o saldo devedor do financiamento imobiliaacuterio em caso de morte e invalidez permanente e as despesas de recuperaccedilatildeo relativas a danos fiacutesicos ao imoacutevel para mutuaacuterios (capitulo 1 do artigo 20 da Lei 124242011)

O Estado passou a assumir por meio dos subsiacutedios o

risco das construtoras lanccedilarem empreendimentos pois seratildeo subsidiadas e ainda o mercado financeiro tem a garantia que o Estado assumiraacute as diacutevidas em alguns casos especiacuteficos conforme consta no capiacutetulo 1 do Artigo 20 da Lei 124242011

Harvey (2016) afirmou que a participaccedilatildeo do Estado na provisatildeo habitacional obviamente aumentou e diminuiu com o passar dos anos assim como o interesse pela habitaccedilatildeo social Mas as consideraccedilotildees do valor de troca muitas vezes ressurgem na medida em que a capacidade fiscal do Estado eacute colocada agrave prova pela necessidade de subsidiar moradias acessiacuteveis com cofres puacuteblicos cada vez mais escassos

O Estado lanccedilou uma gama de dinheiro no mercado financeiro mundial Com os subsiacutedios dados o Estado conseguiu inserir indiviacuteduos que compotildeem as faixas 1 15 e 2

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ao PMCMV ampliando a demanda das construtoras e inserindo-os na loacutegica mundial de financeirizaccedilatildeo pois os mutuaacuterios mesmo com os subsiacutedios total no caso da faixa 1 teratildeo que pagar mensalmente 5 de sua renda Shimbo (2011) destaca que a habitaccedilatildeo de interesse social tornou-se um nicho de mercado

Uma forma ineacutedita de empresariamento da produccedilatildeo habitacional se constituiu a partir do momento em que a habitaccedilatildeo social transformou-se de fato num mercado Ou em outras palavras o mercado imobiliaacuterio descobriu e constituiu um nicho bastante lucrativo a incorporaccedilatildeo e a construccedilatildeo de unidades habitacionais com valores ateacute duzentos mil reais (ou cem mil doacutelares aproximadamente) destinadas para famiacutelias que podem acessar os subsiacutedios puacuteblicos ou natildeo ndash mas que necessariamente acessam o creacutedito imobiliaacuterio (SHIMBO 2011 p 41 ndash grifo do autor)

Os mutuaacuterios inseridos na loacutegica de financeirizaccedilatildeo

atraveacutes do PMCMV em muitos casos natildeo conseguem pagar as parcelas e em outros pagam mas comprometem muito a renda familiar A faixa 1 do programa tem um iacutendice de inadimplecircncia que passa dos 30 Nas outras faixas tambeacutem ocorre a inadimplecircncia mas o iacutendice eacute menor (CAIXA ECONOcircMICA FEDERAL 2016)

Royer (2014) afirma que o cidadatildeo beneficiaacuterio de um direito transforma-se em um cliente do sistema bancaacuterio incluiacutedo ou excluiacutedo das modalidades de financiamento O risco do financiamento as garantias pessoais e reais oferecidas o nome limpo na praccedila viram um problema de quem demanda a mercadoria

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Para Harvey (2016) os trabalhadores que podem ter obtido ganhos salariais significativos com lutas travadas no mercado de trabalho e nos pontos de produccedilatildeo talvez precisem sacrificar quase todos os ganhos para adquirir uma moradia como valor de uso sob condiccedilotildees do mercado habitacional orientadas pela especulaccedilatildeo e depois de confrontos inevitaacuteveis com praacuteticas predatoacuterias

Desse modo a Estado cria poliacuteticas puacuteblicas como eacute o caso do PMCMV facilitando a inserccedilatildeo da classe trabalhadora no circuito financeiro internacional e financiando essa expansatildeo atraveacutes dos subsiacutedios CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

O PMCMV foi criado em 2009 com o intuito de

amenizar os efeitos da crise de 2008 no Brasil ao mesmo tempo o programa foi elaborado junto com os empresaacuterios da construccedilatildeo civil pois este setor temia a queda de investimentos e crescimento com a crise Entre 2009 e 2014 o setor da construccedilatildeo teve altos iacutendices de crescimento no entanto entre 2015 e 2016 a produccedilatildeo imobiliaacuteria comeccedila a decair e o governo interfere mais uma vez com novas regras para o Programa em 2017 objetivando atender as demandas do setor O PMCMV reproduz o padratildeo tradicional de articulaccedilatildeo entre o Estado e as demandas do setor privado que historicamente tem se prevalecido no Brasil

O PMCMV permitiu introduzir indiviacuteduos cada vez mais na loacutegica mundial de financeirizaccedilatildeo Braga (2016) destaca que o PMCMV aleacutem de permitir a acumulaccedilatildeo rentista permite atraveacutes dos subsiacutedios os creacuteditos necessaacuterios para o crescimento das grandes construtoras e incorporadoras

[] Em suma trata-se de uma poliacutetica de financiamento de casa proacutepria desenhada para

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fortalecer um tipo de acumulaccedilatildeo rentista apoiada na espoliaccedilatildeo da economia das famiacutelias trabalhadoras O subsiacutedio federal ao creacutedito para a construccedilatildeo civil eacute a chave do oacutetimo desempenho das grandes construtoras e incorporadoras e a consequecircncia mais notaacutevel para as cidades foi o aumento da especulaccedilatildeo imobiliaacuteria (BRAGA 2016 p 83)

A ascensatildeo do capital financeiro ldquo[] requer a

interferecircncia do Estado exatamente como Marx imaginou As poliacuteticas estatais forjadas em resposta agraves exigecircncias do capital financeiro fazem da exportaccedilatildeo do capital mais que mercadorias uma preocupaccedilatildeo fundamentalrdquo (HARVEY 2013 p382) ou seja as poliacuteticas criadas nesse periacuteodo servem para auxiliar a expansatildeo do capital financeiro como eacute o caso do PMCMV

Desse modo o governo do Brasil ao criar o PMCMV natildeo teve como objetivo resolver a problemaacutetica habitacional do paiacutes Este eacute mais uma poliacutetica puacuteblica na qual os interesses do setor privado se sobressaem aos interesses da classe trabalhadora mas isso natildeo eacute uma novidade jaacute que o Estado na sociedade capitalista historicamente eacute o catalisador que garante o funcionamento do setor privado mudando de feiccedilatildeo de acordo com as necessidades estabelecidas pelo sistema REFERENCIAS ARANTES Pedro Fiori FIX Mariana de Azevedo Barreto Como o governo lula pretende resolver o problema da habitaccedilatildeo Correio da cidadania v 30 jul2009 BONDUKI Nabil Do projeto Moradia ao Programa Minha Casa Minha Vida Revista teoria e debate Ed 82 maio de 2009

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BOULOS Guilherme De que lado vocecirc estaacute reflexotildees sobre a conjuntura poliacutetica e urbana no Brasil 1ed Satildeo Paulo Boitempo 2015 BRAGA Ruy Terra em transe o fim do lulismo e o retorno da luta de classes In SINGER Andreacute LOUREIRO Isabel As contradiccedilotildees do lulismo a que ponto chegamos 1 ed Satildeo Paulo Boitempo 2016 BRASIL Plano Nacional de Habitaccedilatildeo Ministeacuterio das Cidades Brasiacutelia 2009 CAIXA ECONOcircMICA FEDERAL Inadimplecircncia do PMCMV 2016 Cerimocircnia de lanccedilamento do Programa Minha Casa Minha Vida 2 Disponiacutevel em lt

httpswwwyoutubecomwatchv=Td0gxLKtaP4gt acessado em 24102016

Cerimocircnia de anuacutencio de novas medidas para o Programa Minha Casa Minha Vida Disponiacutevel em lt httpswwwfacebookcommincidadesvideos1327196893992574gt acessado em 08 de fevereiro de 2017 CARDOSO Adauto Luacutecio ARAGAtildeO Thecircmis Amorim A reestruturaccedilatildeo do setor imobiliaacuterio e o Programa Minha Casa Minha Vida In MENDONCcedilA Jupira Gomes de COSTA Heloisa Soares de Moura (Org) Estado e capital imobiliaacuterio convergecircncias atuais na produccedilatildeo do espaccedilo urbano brasileiro Belo Horizonte C Arte 2011 CARDOSO Adauto Luacutecio ARAGAtildeO Thecircmis Amorim Do fim do BNH ao Programa Minha Casa Minha Vida 25 anos da

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poliacutetica habitacional no Brasil In CARDOSO Adauto Luacutecio (org) O programa Minha Casa Minha Vida e seus efeitos territoriais Rio de Janeiro Letra Capital 2013 ndash Seacuterie Habitaccedilatildeo e cidade FIX Mariana de Azevedo Barreto Financeirizaccedilatildeo e transformaccedilotildees recentes no circuito imobiliaacuterio no Brasil 2011 288 f (Tese de Doutorado) Instituto de Economia da UNICAMP Campinas ndash SP 2011 HARVEY David 17 contradiccedilotildees e o fim do capitalismo 1 ed Satildeo Paulo Boitempo 2016 HARVEY David Os limites do capital 1 ed Satildeo Paulo Boitempo 2013 LOUREIRO Maria Rita MACAacuteRIO Vinicius GUERRA Pedro Democracia arenas decisoacuterias e poliacuteticas puacuteblicas o Programa Minha Casa Minha Vida Rio de Janeiro IPEA 2013 Texto para discussatildeo MARICATO Ermiacutenia Eacute a questatildeo urbana estuacutepido In MARICATO Ermiacutenia Cidades rebeldes passe livre e as manifestaccedilotildees que tomaram as ruas no Brasil 1 ed Satildeo Paulo Boitempo 2013 ROLNIK Raquel Guerra dos lugares a colonizaccedilatildeo da terra e da moradia na era das financcedilas 1 ed Satildeo Paulo Boitempo 2015 ROYER Luciana de Oliveira Financeirizaccedilatildeo da poliacutetica habitacional limites e perspectivas Satildeo Paulo Annablume 2014

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SHIMBO Luacutecia Zanin Habitaccedilatildeo social de mercado a confluecircncia entre Estado empresas construtoras e capital financeiro Belo Horizonte CArte 2012

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FICHA CATALOGRAacuteFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA BICAMPI UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

S471e

Semana da Geografia (8 2018 Itabaiana SE)

Estado e reformas poliacuteticas em tempos de crise

[recurso eletrocircnico] ANAIS da VIII Semana da

Geografia Estado e reformas poliacuteticas em tempos

de crise de 13 a 15 de agosto organizadores

Ana Rocha dos Santos et al ndash Itabaiana SE

Departamento de Geografia Universidade Federal

de Sergipe 2018

642 p

ISBN 978-85-7822-636-7

1 Geografia ndash Congresso 2 Reformas poliacuteticas

3 Crise I Universidade Federal de Sergipe II

Santos Ana Rocha dos III Tiacutetulo

CDU 911(8137)

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REALIZACcedilAtildeO

APOIO

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SUMAacuteRIO

Apresentaccedilatildeo 04

Comissatildeo Organizadora 05

Comissatildeo Cientiacutefica 06

Eixos de Trabalho 07

Anais 09

Eixo 1 - Espaccedilo Agraacuterio 10

Eixo 2 - Espaccedilo Urbano 284

Eixo 3 - Natureza e Sociedade 353

Eixo 4 - Ensino de Geografia 503

Eixo 5 - Estado Trabalho e Poliacuteticas 500

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APRESENTACcedilAtildeO

A Semana da Geografia do Departamento de Geografia

do Campus Prof Alberto Carvalho eacute um momento particular

na formaccedilatildeo inicial e continuada de professores por reunir os

interessados na produccedilatildeo do conhecimento geograacutefico e

apresentar os resultados de trabalhos e pesquisas

desenvolvidos por docentes alunos e demais pesquisadores

Desde a sua primeira ediccedilatildeo (em 2008) a realizaccedilatildeo da Semana

da Geografia se destaca por evidenciar estudos de natureza

geograacutefica sobre o estado sergipano notadamente sobre a

microrregiatildeo de Itabaiana

Os resultados dos trabalhos apresentados durante a

oitava versatildeo do evento estatildeo reunidos nestes anais que

comportam os temas os debates e a reflexatildeo empreendidos

pelos convidados estudantes e professores que participaram

dos Gts

Desejamos uma boa leitura

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COMISSAtildeO ORGANIZADORA

Profordf Drordf Ana Rocha dos Santos - DGEI

Acadecircmica Andressa Arauacutejo Souza - DGEI

Profa Drordf Diana Mendonccedila de Carvalho - DGEI

Prof Dr Joseacute Hunaldo Lima ndash DGEI

Me Josimar de Souza Lima

Acadecircmico Juacutenio Andrade Menezes - DGEI

Prof Dr Marcelo Alves Mendes - DGEI

Graduado Franklin da Cruz Pereira ndash DGEI

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COMISSAtildeO CIENTIacuteFICA

Andrea Coelho Lastoacuteria - USP

Andreacutea Lourdes Monteiro Scabello - UFPI - Universidade

Federal do Piauiacute

Cristiano Apriacutegio dos Santos - UFS

Daniel Almeida da Silva - UFS

Daniel Rodrigues de Lira - UFS

Fabriacutecia de Oliveira Santos - UFS

Geisedryelli Castro Santos - SEED

Josefa de Lisboa Santos - UFS

Larissa Monteiro Rafael - UFS

Luiz Henrique de Barros Lyra - UPE - Universidade de

Pernambuco

Maacutercia da Silva - UNICENTRO - Universidade Estadual do

Centro Oeste - PR

Marleide Maria Santos Seacutergio - UFS

Oscar Alfredo Sobarzo Mintildeo - UFS

Vanessa Dias de Oliveira ndash UFS

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EIXOS DE TRABALHO

EIXO 1 - ESPACcedilO AGRAacuteRIO

Objetiva promover a discussatildeo sobre as questotildees ligadas

ao campo a natureza da produccedilatildeo agriacutecola e os modelos de

desenvolvimento os movimentos sociais e a relaccedilatildeo campo-

cidade

EIXO 2 - ESPACcedilO URBANO

Objetivo analisar a cidade quanto ao seu conteuacutedo e

formas os processos socioespaciais que permeiam a produccedilatildeo

do espaccedilo urbano a problemaacutetica ambiental que coloca em

evidecircncia os limites impostos pela apropriaccedilatildeo da natureza e

revela os riscos que a loacutegica de produccedilatildeo capitalista impotildee para

a reproduccedilatildeo social

EIXO 3 - NATUREZA E SOCIEDADE

A relaccedilatildeo sociedade-natureza estaacute no cerne nos estudos

da Geografia Este eixo eacute dedicado aos trabalhos e pesquisas

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que abordam a dinacircmica proacutepria da natureza e sua apropriaccedilatildeo

para a (re) produccedilatildeo da sociedade capitalista considerando os

graves problemas que resultam da sua exploraccedilatildeo

EIXO 4 - ENSINO DE GEOGRAFIA

Eixo centrado na anaacutelise da poliacutetica educacional

curriacuteculo praacuteticas pedagoacutegicas metodologias experiecircncias e

vivecircncias de ensino

EIXO 5 - ESTADO TRABALHO E POLIacuteTICAS

PUacuteBLICA

Para compreender e explicar a produccedilatildeo do espaccedilo

geograacutefico eacute necessaacuterio o aprofundamento da leitura e anaacutelise

do trabalho como centralidade para estudar a sociedade

contemporacircnea assim como o Estado e as poliacuteticas puacuteblicas

As transformaccedilotildees ocorridas no campo e na cidade satildeo

resultantes da atuaccedilatildeo do Estado atraveacutes de poliacuteticas de

planejamento e ordenamento territorial assim como de

poliacuteticas sociais e econocircmicas que redesenham o espaccedilo para

atender interesses especiacuteficos

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ANAIS

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EIXO 1 - ESPACcedilO AGRAacuteRIO

CONFLITOS SOCIOESPACIAIS NO CAMPO

AGRONEGOacuteCIO E CONCENTRACcedilAtildeO DE TERRAS

Ana Paula Almeida Silva1 Universidade Federal de Sergipe (Mestranda-PPGEOUFS)

aninha18rodriguez15hotmailcom

Marleide Maria Santos Sergio2 Universidade Federal de Sergipe (DGEI PPGEOUFS)

marleidesergiogmailcom

RESUMO Os antagonismos entre as classes sociais no campo

brasileiro tecircm acirrado as disputas territoriais entre proprietaacuterios de terra e trabalhadores camponeses desterritorializados pelo capital A poliacutetica agriacutecola do paiacutes incentiva a expansatildeo do agronegoacutecio enquanto modelo de desenvolvimento para o campo impregnado por uma ideologia que tem no siacutembolo da modernizaccedilatildeo uma de suas marcas Esse modelo tem gerado desdobramentos perversos como o agravamento da concentraccedilatildeo de terras a precarizaccedilatildeo

1 Membro do Grupo de Pesquisa Relaccedilatildeo Sociedade Natureza e Produccedilatildeo do Espaccedilo Geograacutefico (PROGEOCNPQPPGEO) e do Laboratoacuterio de

Estudos territoriais (LATERPPGEOUFS) 2 Profordf do DGEI PPGEO pesquisador do Grupo de Pesquisa Relaccedilatildeo Sociedade Natureza e Produccedilatildeo do Espaccedilo Geograacutefico (PROGEOCNPQPPGEO) Membro do Laboratoacuterio de Estudos

territoriais (LATERPPGEOUFS)

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das relaccedilotildees de trabalho e o desemprego O presente estudo objetiva fazer uma anaacutelise dos conflitos socioespaciais que se articulam na produccedilatildeo do espaccedilo do municiacutepio de Divina Pastora em Sergipe atraveacutes da atividade canavieira pecuaacuteria e exploraccedilatildeo mineral A metodologia partiu de levantamentos bibliograacuteficos leituras em teses artigos pesquisas de campo com observaccedilatildeo da realidade espacial e tambeacutem no banco de dados do IBGE Esses procedimentos contribuiacuteram para realizar um estudo qualitativo das relaccedilotildees espaciais que se materializam no campo brasileiro na atualidade Desse modo constatamos o agravamento da questatildeo agraacuteria pela expansatildeo do agronegoacutecio no campo legitimada pelo Estado Identificou-se a segregaccedilatildeo espacial promovida pela concentraccedilatildeo da terra trabalhadores desterritorializados no campo e nas periferias urbanas em constante situaccedilatildeo de vulnerabilidade social pela negaccedilatildeo do acesso agrave terra Ao mesmo tempo aponta os laccedilos de solidariedade que marcam as relaccedilotildees camponesas de produccedilatildeo resistecircncia cotidiana frente a segregaccedilatildeo espacial presente em Divina Pastora aleacutem da persistecircncia dos resquiacutecios histoacutericos do modelo escravocrata de produccedilatildeo que sobrevive materializado na paisagem sob a forma do agronegoacutecio Palavras-chave Agronegoacutecio Questatildeo Agraacuteria Vulnerabilidade Social

INTRODUCcedilAtildeO

O sistema de produccedilatildeo presente no espaccedilo agraacuterio brasileiro ligado ao modelo de desenvolvimento agroexportador expotildee a inserccedilatildeo do Brasil no pacto colonial sob a marca do extermiacutenio das populaccedilotildees nativas e do escravismo ao mesmo tempo em que produz diversos conflitos no campo As bases desse sistema foram produzidas ao longo de quatro seacuteculos sendo a terra explorada a partir do

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latifuacutendio presenccedila da monocultura e exploraccedilatildeo do trabalho humano

Essas caracteriacutesticas de utilizaccedilatildeo da terra no campo brasileiro resultaram na formaccedilatildeo de um grave problema agraacuterio A concentraccedilatildeo da terra e seus desdobramentos socioespaciais tecircm suscitado processos conflituosos que tiveram iniacutecio com a escravizaccedilatildeo do trabalho indiacutegena posteriormente dos trabalhadores africanos e exploraccedilatildeo do trabalho assalariado A predominacircncia das grandes propriedades formadas a partir da colonizaccedilatildeo conjuntamente com as oligarquias rurais no campo formou um enorme contingente de trabalhadores sem acesso agrave terra e extremamente explorados Como aponta Andrade (1987 p 6) foi a partir desse momento que ldquoa maioria da populaccedilatildeo perdeu a liberdade na forma mais ampla possiacutevel tornando-se objeto mercadoria e onde a concentraccedilatildeo fundiaacuteria levada ao extremo impedia que pobres livres tivessem acesso agrave terra para cultivaacute- lardquo

Eacute nesse contexto que a questatildeo agraacuteria vai se delineando e de forma crescente a terra passou a servir aos interesses mercantilistas do capitalismo A realidade no espaccedilo agraacuterio brasileiro hoje representa os desdobramentos desse processo histoacuterico que impocircs um modelo de produccedilatildeo agriacutecola de exploraccedilatildeo da terra que ignora a necessidade de reformas estruturais a exemplo da reforma agraacuteria Com isso o papel da terra no Brasil foi produzir mateacuterias primas para a exportaccedilatildeo enriquecendo antigas metroacutepoles de colonizaccedilatildeo com os ganhos da acumulaccedilatildeo primitiva de capital O resultado da poliacutetica agraacuteria instituiacuteda foi a negaccedilatildeo do direito a uma vida digna agrave maioria da populaccedilatildeo que sobrevive agraves margens da sociedade como matildeo de obra disponiacutevel para exploraccedilatildeo

A partir de 1930 os processos econocircmicos direcionam o Brasil para uma integraccedilatildeo agrave ordem econocircmica mundial

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incompatiacutevel com o modelo agroexportador dominante no paiacutes ateacute entatildeo De acordo com Lisboa (2007) a coerecircncia desse processo estava na unidade entre a economia cafeeira e o surgimento da industrializaccedilatildeo em um contexto de realizaccedilatildeo de uma nova divisatildeo internacional do trabalho na qual a dependecircncia do capital industrial em relaccedilatildeo ao capital cafeeiro estava associada agrave posiccedilatildeo subordinada da economia brasileira a economia-mundo

Natildeo obstante essa realidade e a opccedilatildeo do Estado brasileiro por uma modernizaccedilatildeo de base teacutecnica como saiacuteda para os problemas do campo a questatildeo da terra manteve centralidade no Brasil sem alteraccedilatildeo na legitimaccedilatildeo do domiacutenio desse meio de produccedilatildeo pelas oligarquias rurais e amparadas em um pacto de classes que as incluiacutea A luta de classes foi apaziguada pelo poder dominante atraveacutes da repressatildeo uso da forccedila ou com poliacuteticas paliativas eou compensatoacuterias

A modernizaccedilatildeo sustentada com vultosos financiamentos puacuteblicos e embalada com o falso discurso de resolver os problemas no campo estimulou a mecanizaccedilatildeo da agricultura e com isso a concentraccedilatildeo de terra ecircxodo rural reduccedilatildeo do trabalho no campo e desemprego em massa contribuindo para o aumento das desigualdades sociais no campo Esse processo em curso a partir da deacutecada de 1960 atuou em benefiacutecio do latifuacutendio que passou a ser valorizado pelas poliacuteticas puacuteblicas para o pseudo desenvolvimento do campo

Agora com outra denominaccedilatildeo o latifuacutendio assume a condiccedilatildeo de empresa agropecuaacuteria manteacutem a presenccedila da concentraccedilatildeo fundiaacuteria agravada pela compra da terra por grandes grupos empresariais expansatildeo das monoculturas no campo com agravamento das consequecircncias ambientais e exploraccedilatildeo do trabalho humano Assim o latifuacutendio moderno denominado de agronegoacutecio agrava a problemaacutetica agraacuteria no

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cenaacuterio brasileiro trazendo diversos conflitos territoriais que emergem da relaccedilatildeo sociedade natureza

Neste trabalho abordaremos o agravamento da questatildeo agraacuteria pelo agronegoacutecio da cana de accediluacutecar pecuaacuteria e exploraccedilatildeo mineral no territoacuterio do municiacutepio sergipano de Divina Pastora bem como os processos gerados pela concentraccedilatildeo da terra na reproduccedilatildeo dos trabalhadores rurais que por sua vez sobrevivem em situaccedilatildeo de grave vulnerabilidade social condiccedilatildeo essa agravada pela ampliaccedilatildeo dos territoacuterios do capital no campo que retira a terra de subsistecircncia camponesa para os empreendimentos de acumulaccedilatildeo e ampliaccedilatildeo do lucro

Como procedimentos metodoloacutegicos foram realizados estudos em fontes secundaacuterias e primaacuterias para a compreensatildeo da realidade analisada atraveacutes de levantamentos bibliograacuteficos leituras em livros artigos teses e dissertaccedilotildees que contribuiacuteram para a compreensatildeo dos processos espaciais inerentes a este estudo pesquisa no banco de dados do IBGE Aleacutem disso foi fundamental estudos de campo para a observaccedilatildeo das relaccedilotildees socioespaciais que marcam o espaccedilo agraacuterio de Divina Pastora onde realizou-se trabalho de campo com a aplicaccedilatildeo de questionaacuterios (um total de 47) e realizaccedilatildeo de entrevistas com trabalhadores camponeses no espaccedilo rural e urbano Todos esses procedimentos contribuiacuteram para levantar reflexotildees e discussotildees a respeito da concentraccedilatildeo fundiaacuteria e sua relaccedilatildeo com o agronegoacutecio aleacutem das relaccedilotildees socioespaciais presentes no municiacutepio de Divina Pastora situando as desigualdades sociais e vulnerabilidades enfrentadas pelos trabalhadores locais

AGRONEGOacuteCIO E A PERMANEcircNCIA DA QUESTAtildeO AGRAacuteRIA

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A instalaccedilatildeo das grandes empresas agropecuaacuterias no campo tem sido financiada pelas poliacuteticas puacuteblicas brasileiras com o fortalecimento e consolidaccedilatildeo do agronegoacutecio no campo Cavalcante e Fernandes (2008) afirmam que o agronegoacutecio eacute expressatildeo do capitalismo e suas diretrizes neoliberais no campo atraveacutes de forte atuaccedilatildeo das agecircncias de regulaccedilatildeo financeiras internacionais Ainda para os autores esse termo surgiu na deacutecada de 1990 como forma de restabelecer a agricultura comercial exportadora apoacutes uma das grandes crises do capital Na concepccedilatildeo de Campos (2011 p 109) o agronegoacutecio deve ser compreendido como

() uma complexa articulaccedilatildeo de capitais direta e indiretamente vinculados com os processos produtivos agropecuaacuterios que se consolida no contexto neoliberal sob a hegemonia de grupos multinacionais e que em alianccedila com o latifuacutendio e o Estado tem transformado o interior do Brasil em um locus privilegiado de acumulaccedilatildeo capitalista produzindo simultaneamente riqueza para poucos e pobreza para muitos e por conseguinte intensificando as muacuteltiplas desigualdades socioespaciais

Entendemos assim que os novos empreendimentos

articulados pelo agronegoacutecio aumentam as contradiccedilotildees no campo As desigualdades sociais geram cada vez mais pobreza e tambeacutem conflitos entre proprietaacuterios de terras e trabalhadores expropriados Para Ramos Filho (2008) o cenaacuterio de grave desigualdade na estrutura fundiaacuteria a improdutividade da maioria das grandes propriedades associado aos projetos puacuteblicos e privados de modernizaccedilatildeo da agricultura apresentam-se como as causas da expulsatildeo da expropriaccedilatildeo e da exclusatildeo nodo campo De acordo com as

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anaacutelises de Conceiccedilatildeo (2011) o agronegoacutecio possui uma loacutegica concentradora de terras de tecnologia e riquezas expropriando famiacutelias produzindo desemprego e baixa qualidade de alimentos Shimada (2014 p 100) acrescenta que ldquoo agronegoacutecio se estabeleceu pela junccedilatildeo do grande capital agroindustrial da grande propriedade fundiaacuteria do capital financeiro e de creacutedito priorizando o fortalecimento dos grandes proprietaacuterios de terra com a oligopolizaccedilatildeo do espaccedilo agriacutecola e a dinacircmica do mercado de terrasrdquo Lopes (2017 p 96) analisa que o agronegoacutecio eacute ldquoum modelo de desenvolvimento agroexportador e de produtividade em que seus conjuntos de relaccedilotildees praticam a superexploraccedilatildeo do trabalho peonagens e trabalho escravo contemporacircneordquo

Partindo dessas consideraccedilotildees ratificamos que o agronegoacutecio intensifica a pobreza no campo pois centraliza a terra nas matildeos de poucos proprietaacuterios contribuindo para a exclusatildeo social e degradaccedilatildeo ambiental Assim eacute nas aacutereas de expansatildeo das atividades produtivas ligadas ao agronegoacutecio que ocorre simultaneamente a intensificaccedilatildeo da pobreza no campo Essa realidade eacute uma contradiccedilatildeo dos discursos presentes nas propagandas veiculadas pelos meios de comunicaccedilatildeo no Brasil Os mesmos afirmam que o agronegoacutecio diante da grande produtividade eacute o principal meio de produccedilatildeo de alimentos para o consumo humano Entretanto a realidade agraacuteria demonstra que o agronegoacutecio natildeo produz alimentos mas sim mateacuterias primas agrocombustiacuteveis destinados ao mercado externo Aleacutem disso a ideologia presente nesse modelo produtivo se expande destruindo comunidades tradicionais camponesas e suas relaccedilotildees de produccedilatildeo igualmente os recursos naturais Conforme aponta Conceiccedilatildeo (2013 p 94) ldquoa modernizaccedilatildeo do campo natildeo alterou a estrutura de concentraccedilatildeo de terra mas reforccedilou a perda da condiccedilatildeo camponesa na medida em que acentuou o monopoacutelio da

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produccedilatildeo subordinando o trabalho e a terra com o objetivo do lucrordquo

Nesse contexto percebemos a violecircncia gerada pelo avanccedilo do agronegoacutecio concomitante aos problemas e conflitos socioespaciais no campo e nas cidades O resultado eacute a exclusatildeo social inter-relacionada com o processo de desigualdade e de pobreza (LOPES 2017 p101) Nesse sentido afirma-se que o agronegoacutecio brasileiro e as poliacuteticas agraacuterias aprofundam a histoacuterica questatildeo agraacuteria vivenciada no Brasil ao longo de seacuteculos subjugando significativa parcela da populaccedilatildeo brasileira Carvalho (2010 p 399) em suas anaacutelises justifica que a questatildeo agraacuteria ldquodiz respeito ao fato de que a grande maioria da populaccedilatildeo rural brasileira se encontra privada da livre disposiccedilatildeo da mesma terra em quantidade que baste para lhe assegurar um niacutevel adequado de subsistecircnciardquo Essa condiccedilatildeo eacute resultado da estrutura agraacuteria controlada pelo poder das oligarquias rurais dominantes De acordo com os estudos de Azar (2011 p 2)

[] a questatildeo agraacuteria brasileira eacute o reflexo das relaccedilotildees de favorecimento que ao longo do tempo o Estado proporcionou agrave classe dominante promovendo-lhe condiccedilotildees de privileacutegios que tecircm por base a apropriaccedilatildeo da terra atraveacutes de mecanismos de expropriaccedilatildeo a exemplo do arcabouccedilo juriacutedico que foi sendo desenvolvido ao longo da histoacuteria

Compreende-se que a concentraccedilatildeo da terra nas matildeos

de poucos proprietaacuterios encontra respaldo no aparato juriacutedico produzido pelo Estado e a classe dominante com o objetivo de manter a riqueza atraveacutes da exploraccedilatildeo da terra na perspectiva da acumulaccedilatildeo do capital Por isso a terra no Brasil tem em sua histoacuteria de colonizaccedilatildeo a concentraccedilatildeo e expropriaccedilatildeo O relatoacuterio da Oxfam (2016) apresenta as diferenccedilas entre grandes e pequenas propriedades em nuacutemero

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de estabelecimentos e no percentual que representam no total das aacutereas rurais do paiacutes a partir de dados obtidos no censo agropecuaacuterio 2006 As anaacutelises mostram que os grandes estabelecimentos somam apenas 091 do total dos estabelecimentos rurais brasileiros mas concentram 45 de toda a aacuterea rural do paiacutes os estabelecimentos com aacuterea inferior a 10 hectares representam mais de 47 do total de estabelecimentos do paiacutes e ocupam menos de 23 da aacuterea total Essa disparidade eacute uma realidade presente em todos os Estados brasileiros

No contexto do estado de Sergipe mesmo tendo dimensotildees territoriais pequenas em relaccedilatildeo aos demais estados brasileiros a concentraccedilatildeo da terra reflete as desigualdades e as condiccedilotildees de pobreza vividas pelos trabalhadores no campo O iacutendice de Gini responsaacutevel por apresentar indicativos das disparidades sociais mostra que a concentraccedilatildeo de terra no estado ainda eacute um grave problema Em 2006 o iacutendice correspondia segundo dados do IBGE a 0821 Esse dado acompanha a situaccedilatildeo dos demais estados Em Sergipe ocorreu uma pequena queda em relaccedilatildeo aos dois uacuteltimos censos em funccedilatildeo de algumas accedilotildees pontuais de reforma agraacuteria motivadas pela luta dos movimentos camponeses que resultaram no acesso agrave terra principalmente no Sertatildeo do estado

Entretanto nas terras de expansatildeo do agronegoacutecio a histoacuterica concentraccedilatildeo fundiaacuteria se manteacutem com fortes reflexos nos arranjos espaciais produzidos como observa-se nas aacutereas agriacutecolas ocupadas pela cana de accediluacutecar na chamada regiatildeo do Cotinguiba aleacutem das extensas aacutereas de pastagens destinadas a atividade de pecuaacuteria no territoacuterio sergipano e outras culturas como o milho e a laranja Contudo a realidade a ser analisada e discutida nesse trabalho eacute direcionada a entender as relaccedilotildees e conflitos espaciais inerentes ao territoacuterio

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da produccedilatildeo canavieira da pecuaacuteria e exploraccedilatildeo mineral tendo como recorte espacial o municiacutepio de Divina Pastora

PRODUCcedilAtildeO DO ESPACcedilO E CONFLITOS NO TERRITOacuteRIO DE DIVINA PASTORA SERGIPE

O municiacutepio de Divina Pastora tem como atividades econocircmicas principais a cana de accediluacutecar pecuaacuteria e a extraccedilatildeo mineral do petroacuteleo Possui uma extensatildeo territorial de 90 328 Km2 e situa-se na regiatildeo Leste de Sergipe na microrregiatildeo do Cotinguiba Zona da Mata sergipana As terras situadas nesse territoacuterio desde o processo da colonizaccedilatildeo foram destinadas para a exploraccedilatildeo agropecuaacuteria Isso decorre das condiccedilotildees climaacuteticas como pluviosidade solos propiacutecios para o desenvolvimento dessas atividades As aacutereas de terras do municiacutepio satildeo propriedades de grandes fazendeiros empresas de exploraccedilatildeo mineral e poucas aacutereas ocupadas com pequenas propriedades Aleacutem disso no municiacutepio tem a presenccedila de dois assentamentos de reforma agraacuteria (Flor do Mucuri 1 e 2) resultados da luta pela terra Segundo estudos da Emdagro a concentraccedilatildeo de terras eacute algo peculiar no municiacutepio onde a terra eacute tradicionalmente utilizada para o cultivo da cana de accediluacutecar e tambeacutem para pastagens destinadas agrave pecuaacuteria bovina A populaccedilatildeo desse municiacutepio estaacute em torno de 5058 habitantes em 2017 IBGE no uacuteltimo censo de 2010 correspondia a 4326 hab com 2099 na aacuterea urbana e 2227 na rural Eacute importante destacar que grande parte da populaccedilatildeo rural reside em comunidades aglomerados sendo os maiores o Bomfim e a Maniccediloba

Os estudos de Shimada (2014) apontam que no territoacuterio accedilucareiro do agronegoacutecio ocorre a privatizaccedilatildeo das atividades agroindustriais accedilatildeo que eacute regulada pelo Estado de maneira indireta peacutessimas remuneraccedilotildees de trabalho aleacutem de

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desemprego crescente e precarizaccedilatildeo Desse modo essas condiccedilotildees aumentam as desigualdades sociais nas aacutereas de expansatildeo do agronegoacutecio Nessas aacutereas a agricultura eacute praticada sobretudo a partir da perspectiva do lucro para a acumulaccedilatildeo de capital A cana de accediluacutecar principal atividade agriacutecola do municiacutepio eacute realizada em grandes propriedades e tambeacutem em terras arrendadas por usinas que produzem a mateacuteria prima para ser beneficiada em municiacutepios vizinhos Em relaccedilatildeo agraves aacutereas de pastagens essas ocupam grande extensatildeo e servem para o desenvolvimento da pecuaacuteria extensiva com a criaccedilatildeo de gado de corte Assim as terras do municiacutepio em sua maioria satildeo utilizadas para o setor sucroenergeacutetico atividade da pecuaacuteria e exploraccedilatildeo mineral Essa realidade eacute acompanhada por graves disparidades sociais vivenciadas pela populaccedilatildeo que natildeo possui acesso agrave terra

Esse contexto representa as heranccedilas histoacutericas dos latifuacutendios marca da realidade local bem como as relaccedilotildees de trabalho imbricadas no seio da exploraccedilatildeo das relaccedilotildees de trabalho escravas nos antigos engenhos que ainda hoje mesmo como resquiacutecios materializados na paisagem representam poder para as elites locais Por outro lado a populaccedilatildeo negra remanescente de escravos sobrevive em condiccedilatildeo de pobreza nas encostas da cidade marginalizada hoje pelo agronegoacutecio Esse contexto por sua vez tem suas raiacutezes na aboliccedilatildeo da escravidatildeo que mesmo com o discurso de liberdade aos trabalhadores escravizados negou o acesso agrave terra a esse contingente de trabalhadores expropriados A Lei de terras de 1850 representou a legitimaccedilatildeo da estrutura fundiaacuteria quando instituiu um aparato juriacutedico que legalizava o acesso agrave terra somente atraveacutes da compra tornando propriedade privada Miralha (2006) destaca que foi uma soluccedilatildeo encontrada pela elite brasileira para manter inalterada a estrutura agraacuteria impedindo o acesso livre a terra por parte da populaccedilatildeo pobre que era maioria Assim os trabalhadores escravos receacutem

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libertos natildeo tinham capital para adquirir a terra mantendo-se expropriados e marginalizados Mais uma vez ficaram refeacutens da exploraccedilatildeo de seus antigos senhores como uma massa de trabalhadores desempregados e sem terra

Visualiza-se essa realidade no espaccedilo agraacuterio de Divina Pastora o natildeo acesso agrave terra fez com que os afrodescendentes em sua esmagadora maioria na busca por sua reproduccedilatildeo social ou seja sobrevivecircncia natildeo tivessem opccedilatildeo senatildeo as periferias das cidades as encostas de morros Isso para poder exercer alguma atividade agriacutecola para produzir o que comer normalmente desenvolveram suas praacuteticas agriacutecolas nas piores terras que natildeo serviam para o latifuacutendio Nesse espaccedilo geograacutefico a populaccedilatildeo negra foi segregada nas periferias da cidade A anaacutelise da realidade mostra que sobrevive hoje ocupando as terras dos morros da cidade exercendo praacuteticas agriacutecolas como fonte de renda Assim nas periferias da cidade muitas famiacutelias dependem da ocupaccedilatildeo de pequenos espaccedilos para sobreviveram do cultivo de pequenas roccedilas Observa-se a presenccedila do cultivo de alimentos baacutesicos como mandioca batata cana milho horticulturas banana aboacutebora e uma diversidade de alimentos utilizados como principal fonte de reproduccedilatildeo social dessas famiacutelias As praacuteticas agriacutecolas desenvolvidas ocorrem com a utilizaccedilatildeo da forccedila de trabalho da famiacutelia e com poucos instrumentos a exemplos da enxada da foice e do arado O excedente da produccedilatildeo eacute muitas das vezes compartilhado entre os vizinhos e tambeacutem comercializado em pequenas barracas do municiacutepio ou ainda vendido para atravessadores que compram a produccedilatildeo para revender em outros municiacutepios

Percebe-se o quanto a terra representa espaccedilo e condiccedilatildeo de vida para o desenvolvimento das relaccedilotildees de trabalho Mesmo com dificuldades muitas famiacutelias na aacuterea perifeacuterica de Divina Pastora retiram o seu sustento de pequenas roccedilas em terrenos iacutengremes com uma produccedilatildeo de

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mandioca expressiva alimento baacutesico para sobrevivecircncia Assim a resistecircncia das relaccedilotildees camponesas de produccedilatildeo satildeo valores histoacutericos que viabilizam a reproduccedilatildeo social dessas famiacutelias que sobrevivem as margens das grandes plantaccedilotildees de cana de accediluacutecar e pastagens de criaccedilatildeo de gado Entretanto mesmo com essa resistecircncia muitas famiacutelias natildeo possuem terras para produzir e cultivar alimentos sobrevivem do trabalho informal Por isso percebe-se que a concentraccedilatildeo de terra retira a possibilidade do trabalhador rural produzir alimentos E nas aacutereas com a predominacircncia do agronegoacutecio esse problema eacute mais acentuado Destaca-se que a terra eacute condiccedilatildeo de vida e trabalho E o agronegoacutecio retira esse valor pois ocupa grandes espaccedilos aumentando a pobreza e os conflitos no campo ldquoA estrutura fundiaacuteria montada sobre o latifuacutendio eacute estruturalmente violenta no sentido de negar o outro de impedir uma existecircncia digna para a ampla maioriardquo (CARVALHO 2010 p 400)

Diante disso nas aacutereas dominadas pelo agronegoacutecio da cana e pecuaacuteria em Divina Pastora o desemprego eacute uma realidade para a populaccedilatildeo local o percentual da populaccedilatildeo ocupada com empregos formais eacute de 86 segundo dados do IBGE no municiacutepio As poucas possibilidades de ocupaccedilatildeo satildeo trabalhos perioacutedicos e com peacutessimas remuneraccedilotildees ocorrem no corte da cana de accediluacutecar e como caseiro em alguma fazenda A maior parte da populaccedilatildeo na cidade natildeo tem acesso a empregos pois a dinacircmica econocircmica do municiacutepio eacute reduzida a exploraccedilatildeo agropecuaacuteria e mineral que normalmente satildeo exercidas por trabalhadores que natildeo satildeo do municiacutepio aleacutem de natildeo gerar renda para a populaccedilatildeo local Nesse territoacuterio as disputas espaciais satildeo de grande expressatildeo A concentraccedilatildeo de terra eacute um problema graviacutessimo O que corresponde ao fato da maioria da populaccedilatildeo se concentrar em nuacutecleos urbanizados como povoados e na cidade segregados ao acesso agrave terra O conflito de classes sociais no campo

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brasileiro representa a contradiccedilatildeo do agronegoacutecio com famiacutelias camponesas desterritorializadas em grave situaccedilatildeo de vulnerabilidade social

Aleacutem disso no municiacutepio de Divina Pastora a territorializaccedilatildeo do capital situa-se tambeacutem na exploraccedilatildeo mineral do subsolo Na comunidade Maniccediloba povoado com grande concentraccedilatildeo de famiacutelias quase todas as terras nas proximidades foram apropriadas pela Petrobraacutes ou satildeo de domiacutenio de fazendeiros para a instalaccedilatildeo de poccedilos com o objetivo da extraccedilatildeo mineral do petroacuteleo As terras segundo relatos orais de trabalhadores que moram no povoado eram utilizadas para o cultivo de mandioca e o posterior beneficiamento da farinha Ateacute alguns anos atraacutes essa era a principal atividade econocircmica de subsistecircncia da maior parte das famiacutelias A apropriaccedilatildeo da terra pelo capital atraveacutes da mineraccedilatildeo transformou essas terras em aacuterea de instalaccedilatildeo de poccedilos para retirada de petroacuteleo

Assim as famiacutelias foram expropriadas de suas terras bem como as relaccedilotildees e modo de vida alterados diante da perda do territoacuterio de sobrevivecircncia e cultivo de produtos alimentiacutecios Outra questatildeo que atinge a reproduccedilatildeo da comunidade satildeo os impactos ambientais relacionados a contaminaccedilatildeo da aacutegua pela extraccedilatildeo mineral Inicialmente alguns trabalhadores conseguiram emprego na instalaccedilatildeo da atividade mineral relata um trabalhador () ldquodepois que terminou a instalaccedilatildeo dos poccedilos ficamos desempregadosrdquo Assim atualmente os trabalhadores da localidade vivem em constante mobilidade em busca de trabalhos principalmente no corte da cana de accediluacutecar em municiacutepios vizinhos em fazendas ou trabalhando para usinas Pois satildeo poucos moradores que natildeo perderam suas terras ainda alguns resistem com pequenas roccedilas ocupando as terras da mineradora ldquoPara as empresas a preocupaccedilatildeo eacute sua inserccedilatildeo na economia-mundo com sua poliacutetica de espacializaccedilatildeo enquanto que as

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populaccedilotildees locais tecircm como objeto maior de preocupaccedilatildeo a fixaccedilatildeo e a perenidade de seus processos de reproduccedilatildeordquo (HENRIQUES PORTO 2015 p 1366) Esse conflito entre as empresas de exploraccedilatildeo mineral e as comunidades camponesas representa a apropriaccedilatildeo da terra pelo capital e a perda de territoacuterio pela populaccedilatildeo pobre

Constatamos entatildeo a grave situaccedilatildeo de vulnerabilidade social vivenciada pelas comunidades camponesas em Divina Pastora tanto no meio rural como nas periferias urbanas evidecircncia da intriacutenseca relaccedilatildeo entre esses espaccedilos Reconhecemos que a questatildeo agraacuteria no municiacutepio eacute marcada pela segregaccedilatildeo espacial pobreza miseacuteria desemprego e degradaccedilatildeo ambiental Desse modo percebemos o aprofundamento das desigualdades sociais ligado a problemaacutetica da terra apropriada por fazendeiros e empresas de exploraccedilatildeo mineral Assim a terra se torna uma temaacutetica central para a compreensatildeo das relaccedilotildees estabelecidas entre as classes sociais no campo Os conflitos emergem a partir das diferentes perspectivas de utilizaccedilatildeo da terra as elites expropriam os camponeses da terra buscando incessantemente o lucro enquanto as famiacutelias camponesas usam a terra como trabalho moradia e meio de reproduccedilatildeo social CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Compreendemos que as dimensotildees histoacutericas e

geograacuteficas materializadas no espaccedilo geograacutefica estatildeo diretamente relacionadas agrave estrutura fundiaacuteria e as disputas entre as classes sociais refletem os conflitos protagonizados pela expansatildeo do capital no campo

A anaacutelise do espaccedilo agraacuterio de Divina Pastora ilustra o quanto a questatildeo agraacuteria eacute agravada pelo controle histoacuterico exercido pela elite agraacuteria brasileira cujo vieacutes defende e

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viabiliza a poliacutetica agraacuteria consubstanciada no agronegoacutecio enquanto perspectiva de desenvolvimento para o campo A realidade vivenciada pelos trabalhadores no campo aponta a perversidade e a violecircncia acentuadas pela apropriaccedilatildeo dos recursos naturais diante da poliacutetica agriacutecola voltada para atender os interesses empresariais A concentraccedilatildeo de terras pobreza desigualdades sociais precarizaccedilatildeo das relaccedilotildees de trabalho desemprego em massa no campo conflitos ambientais satildeo expressotildees concretas da questatildeo agraacuteria vivenciada pela maioria de trabalhadores camponeses desterritorializados pela acumulaccedilatildeo do capital no campo seja atraveacutes do agronegoacutecio da cana de accediluacutecar da pecuaacuteria ou exploraccedilatildeo mineral

Portanto consideramos de grande urgecircncia a implantaccedilatildeo de uma poliacutetica fundiaacuteria que cumpra a funccedilatildeo social da terra como a Lei juridicamente institui esse direito aos trabalhadores O acesso agrave terra eacute um direito de todos significa lugar de sobrevivecircncia A terra democratizada eacute justiccedila social ocupaccedilatildeo e renda para os trabalhadores camponeses que resistem em uma luta cotidiana no campo e nas periferias urbanas frente a segregaccedilatildeo espacial gerada pelo latifuacutendio realidade presente nas relaccedilotildees entre camponeses historicamente explorados pelos donos de terra em Divina Pastora Por fim ratificamos a compreensatildeo de que a pobreza e a miseacuteria ampliadas na atualidade satildeo produzidas por um modelo de desenvolvimento regido pela loacutegica de mobilidade do capital com destaque para as empresas de mineraccedilatildeo e do agronegoacutecio voltadas para a exportaccedilatildeo e natildeo raro com resquiacutecios do regime escravocrata

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS ANDRADE Manuel Correia de Aboliccedilatildeo e Reforma Agraacuteria Editora Aacutetica Satildeo Paulo 1987

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AZAR Zaira Sabry A concentraccedilatildeo fundiaacuteria como centralidade da questatildeo agraacuteria no Maranhatildeo V Jornada Internacional de poliacuteticas Puacuteblicas Disponiacutevel em wwwjoinppufmabrA_CONCENTRACAO_FUNDIARIA_COMO_CENTRALIDA Acesso em 20 de Abril CAMPOS Christiane Senhorinha Soares A face feminina da pobreza em meio a riqueza do agronegoacutecio trabalho e pobreza das mulheres em territoacuterios do agronegoacutecio no Brasil o caso de Cruz AltaRS mdashBuenos Aires CLACSO 2011 208 p CARVALHO Liacutevia Hernandes A concentraccedilatildeo fundiaacuteria e as poliacuteticas agraacuterias governamentais recentes Revista IDeAS v 4 n 2 p 395-428 2010 Disponiacutevel em httpsdialnetuniriojaesdescargaarticulo4059810pdf Acesso em 23 de Abril de 2018 CAVALCANTE Matuzalem FERNANDES Bernardo Manccedilano Territorializaccedilatildeo do Agronegoacutecio e Concentraccedilatildeo Fundiaacuteria Revista NERA Presidente Prudente Ano 11 nordm 13 pp 16-25 Jul-dez2008 Disponiacutevel em httprevistafctunespbrindexphpneraarticleview1387 Acesso em 20 de Abril de 2018 CONCEICcedilAtildeO Alexandrina Luz Expansatildeo do agronegoacutecio em Sergipe Geonordeste Ano XXII n 2 2011 CONCEICcedilAtildeO Alexandrina Luz Estado Capital e a farsa da expansatildeo do Agronegoacutecio MERIDIANO ndash Revista de Geografiacutea nuacutemero 2 2013 ndash versioacuten digital Disponiacutevel em httpwwwrevistameridianoorg Acesso em 03 de Marccedilo de 2017

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EMDAGRO Informaccedilotildees baacutesicas sobre o municiacutepio de Divina Pastora 2008 Disponiacutevel em wwwemdagrosegovbrmoduleswfdownloadsvisitphpcid=1amplid=316 Acesso em 30 de Abril de 2018 HENRIQUES Alen Batista PORTO Marcelo Firpo de Souza Mineraccedilatildeo agricultura familiar e sauacutede coletiva um estudo de caso na regiatildeo de Itamarati de Minas-MG Physis Revista de Sauacutede Coletiva Rio de Janeiro 25 [4] 1361-1382 2015 LISBOA Josefa de A trajetoacuteria do discurso do desenvolvimento para o Nordeste poliacuteticas puacuteblicas na (dis)simulaccedilatildeo da esperanccedila Tese de doutorado Programa de Poacutes Graduaccedilatildeo em GeografiaUniversidade Federal de Sergipe 2007 LOPES Alberto Pereira A expansatildeo do agronegoacutecio no Brasil as velhas praacuteticas versus as novas praacuteticas nas temporalidades geograacuteficas Novos Cadernos NAEA bull v 20 n 1 bull p 95-109 bull jan-abr 2017 MIRALHA Vagner Questatildeo agraacuteria brasileira origem necessidade e perspectivas de reforma hoje REVISTA NERA ndash Presidente Prudente ANO 9 N 8 ndash JANEIROJUNHO DE 2006 TERRENOS DA DESIGUALDADE-OXFAM BRASIL httpswwwoxfamorgbrsitesdefaultfilesrelatorio-terrenos_desigualdade-brasilp RAMOS FILHO Eraldo da Silva Questatildeo agraacuteria atual Sergipe como referecircncia para um estudo confrontativo das poliacuteticas de reforma agraacuteria e Reforma agraacuteria de mercado

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(2003 ndash 2006) Tese de doutorado- Universidade Estadual Paulista Presidente Prudente Agosto 2008 ROCHA Rosaly Justiniano de Souza CABRAL Joseacute Pedro Cabrera Aspectos histoacutericos da questatildeo agraria no Brasil REVISTA PRODUCcedilAtildeO ACADEcircMICA ndash NUacuteCLEO DE ESTUDOS URBANOS REGIONAIS E AGRAacuteRIOS NURBA ndash Vol 2 N 1 (JUNHO 2016) p 75-86 Disponiacutevel em httpssistemasuftedubrperiodicosindexphpproducaoacademicaarticle9286 SHIMADA Shiziele Oliveira de CONCEICcedilAtildeO Alexandrina Luz O agronegoacutecio da cana e a (des)configuraccedilatildeo do espaccedilo agraacuterio num processo localregionalnacional Disponiacutevel em observatoriogeograficoamericalatinaorgmxegal12Geografiasocioeconomica16p SHIMADA Shiziele de Oliveira Dos ciclos e das crises do capital agraves formas de transvestimento da barbaacuterie no trabalho Tese de doutorado em Geografia (UFS) Satildeo Cristoacutevatildeo 2014

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ATRAVEacuteS DO ROacuteTULO PRESENCcedilA DO AGRONEGOacuteCIO NA FEIRA DE ITABAIANA

SERGIPE

Rafael dos Santos Oliveira Graduando em geografia

Email rafaelstooutlookcom RESUMO

O presente artigo tem como objetivo discutir indiacutecios

da loacutegica o capital na feira livre do municiacutepio de ItabaianaSE que por meio de uma discussatildeo preliminar de uma fonte de pesquisa relacionada agrave propaganda (roacutetulos de embalagens) um estranhamento para uma questatildeo de pesquisa sobre a invasatildeo silenciosa do agronegoacutecio na feira como tambeacutem outros rebatimentos um alerta para a presenccedila do capital estrangeiro na compra de terras no paiacutes Poreacutem as feiras livres costumam ser partes das formas de reproduccedilatildeo camponesa Desta maneira enxergar a feira como forma de reproduccedilatildeo do camponecircs eacute uacutetil para entender como estes sujeitos encontram formas de resistir a esta imposiccedilatildeo do capital mesmo com a presenccedila de marcas do agronegoacutecio Estranhamento obtido a partir das atividades de campo na feira em conjunto com levantamento e anaacutelise bibliograacutefica relativa ao processo visualizado eacute a metodologia empregada na escrita das primeiras impressotildees obtidas Como resultados preliminares procura-se entender para quem e principalmente o porquecirc destas mercadorias no mercado local uma vez que em sua maioria eram destinadas agrave exportaccedilatildeo Palavras-Chave Propaganda Agronegoacutecio Feira INTRODUCcedilAtildeO

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Na perspectiva de ler as contradiccedilotildees da formaccedilatildeo territorial de Itabaiana Sergipe um projeto de pesquisa ldquoSiacutetio e roccedila costumes e trabalho fontes e conhecimento camponecircs para um pensamento geograacutefico e uma geografia histoacuterica da formaccedilatildeo territorial de Itabaiana Sergiperdquo (COPESUFS) O questionamento aqui discutido ocorreu no interior deste projeto a partir da observaccedilatildeo sobre os produtos que satildeo comercializados na feira livre do municiacutepio sergipano de

Itabaiana principalmente a produccedilatildeo camponesa Mas diante da orientaccedilatildeo do meacutetodo que guia o olhar na observaccedilatildeo em campo foram visualizadas contradiccedilotildees Desta feita um refletir tanto a partir da vivecircncia do pesquisador sobre os produtos que chegam agrave feira de Itabaiana quanto a um olhar teoacuterico sobre as marcas de empresas com nomes estrangeiros estampados nas embalagens o que possibilitou a indagaccedilatildeo de entender o porquecirc e para quequem se produz

A sutileza a qual as accedilotildees capitalistas adentram este mercado o estranhamento do fato de caixotes viajarem com roacutetulos com nomes estrangeiros a vivecircncia do pesquisador que aleacutem da pesquisa acadecircmica tambeacutem estaacute em seu campo de trabalho Trabalho aqui entendido como ontoloacutegico ao homem que na loacutegica capitalista ldquoo sujeito eacute o capital e o homem e o seu trabalho transformam-se em predicado destesrdquo (TASSIGNY 2003 p 157) Logo a reflexatildeo eacute inicial e comeccedila a visualizar marcas territoriais do agronegoacutecio ao lado das camponesas Territoriais no sentido de delimitar mas tambeacutem de definir relaccedilotildees de poder Para essa reflexatildeo segue um entendimento inicial sobre a ocorrecircncia das palavras-chave deste artigo propaganda agronegoacutecio feira

Karl Marx alerta para o uso da propaganda como parte do sucesso do capitalismo para Marx (2004 p 80) ldquocom a valorizaccedilatildeo do mundo das coisas aumenta em proporccedilatildeo direta a desvalorizaccedilatildeo do mundo dos homensrdquo Os roacutetulos por sua vez fazem parte da propaganda e de suas ideologias

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capitalistas que propagam eles natildeo apenas informam Assim atraveacutes de roacutetulos observados na feira de Itabaiana Sergipe foram iniciados alguns questionamentos um exerciacutecio teoacuterico-praacutetico sobre o que estaria nas entrelinhas dessas marcas de outras escalas geograacuteficas e de divisatildeo de classes e natildeo camponesas

Segundo dados da Escola Superior de Agricultura Luiacutes de Queiroz ESALQUSP 2215 do PIB1 brasileiro eacute do agronegoacutecio e entende-se como as poliacuteticas puacuteblicas valorizam este modo de se produzir e acima de tudo infere-se que esta produccedilatildeo eacute voltada para o mercado externo natildeo se produz em larga escala mercadorias que fazem parte da cesta baacutesica do brasileiro tem-se em maior quantidade a produccedilatildeo de gratildeos a exemplo da soja do milho dentre outros produtos Deixa-se de lado a produccedilatildeo de alimentos como batata doce macaxeira inhame acompanhados distantes dos recordes de outras lavouras de commodities agriacutecolas

A ascensatildeo do agronegoacutecio no paiacutes deu-se a partir da deacutecada de 1990 natildeo eacute coincidecircncia tambeacutem ser o apogeu do neoliberalismo e a consequente mecanizaccedilatildeo da agricultura assim ldquoo fato teria derivado da presente lsquodominaccedilatildeo triunfal do capitalrsquo na agricultura obtida graccedilas aos padrotildees vigentes de eficiecircncia produtiva e de gestatildeo baseados na lsquoinovaccedilatildeorsquo sob o comando dos lsquooperadores do capitalrdquo (TEIXEIRA 2013 p 15)

O problema do agronegoacutecio brasileiro estaacute impliacutecito em vaacuterios pontos relativos agrave produccedilatildeo do espaccedilo brasileiro contemporacircneo um deles eacute a estrangeirizaccedilatildeo da terra por meio do capital financeiro e a realizaccedilatildeo de compra do terreno para este fim dando assim o entendimento que aleacutem da expropriaccedilatildeo do camponecircs e da relaccedilatildeo de trabalho que se altera em seus conceitos temos a constante desnacionalizaccedilatildeo do territoacuterio nacional

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As argumentaccedilotildees que se seguem ainda que incipientes satildeo de um pesquisador que comeccedila a sua problematizaccedilatildeo sobre a produccedilatildeo do espaccedilo Pensar a chegada destes produtos na feira local representa pensar como o camponecircs pode ser deixado de lado ao longo da histoacuteria do capitalismo Nesta perspectiva acredita-se que esta classe sendo expropriada perde espaccedilo nos locais que eles proacuteprios criaram para relacionarem-se altera-se tambeacutem a sua espacializaccedilatildeo a relaccedilatildeo campo cidade e consequentemente os produtos dos pequenos e meacutedios produtores perdem valor de mercado os consumidores preferenciam os produtos vindos do agronegoacutecio E a feira como um dos locais de reproduccedilatildeo camponesa torna-se um espaccedilo de contradiccedilatildeo entre oferta de um determinado produto que tem uma melhor qualidade para a sauacutede por um outro que apresenta beleza soacute que esconde nesta lsquoboa aparecircnciarsquo um maior uso de agrotoacutexicos o uso de forccedila de trabalho quase escrava e o descarte de parte da produccedilatildeo que vem a lhe dar prejuiacutezo (uma quantidade maior de produtos de baixa qualidade) em relaccedilatildeo ao preccedilo no mercado ou seja a superproduccedilatildeo deve ser descartada

Com o apelo de recursos da oferta raacutepida e esteacutetica adequados ao mercado o agronegoacutecio vem representar um grande prejuiacutezo agrave sociedade apesar de seus apelos contraditoacuterios grande produccedilatildeo conservaccedilatildeo do meio ambiente dentre outras bandeiras levantadas por estas agroinduacutestrias contudo natildeo passam de falaacutecias para impregnar o senso comum e fazer os sujeitos verdadeiramente prejudicados perderem a consciecircncia de classe fazendo-os ficar ao lado dos burgueses e grandes empresaacuterios nas questotildees de luta pela terra

Aleacutem destes fatores o agronegoacutecio conteacutem o problema da desnacionalizaccedilatildeo do agraacuterio no paiacutes e que se reflete tambeacutem na Ameacuterica Latina Os recursos da terra e do subsolo

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estatildeo em constante exploraccedilatildeo a niacutevel mundial Assim as accedilotildees do capital para o agronegoacutecio satildeo a via da espoliaccedilatildeo da monocultura e de um produtivismo sem medir consequecircncias levando a uso intensivo de agrotoacutexicos de hormocircnios herbicidas e de sementes hiacutebridas transgecircnicas e mutagecircnicas aleacutem de exercitarem ordeiramente o desprezo sociocultural pelos povos do campo e a desterritorializaccedilatildeo dos camponeses (CARVALHO 2013) E principalmente garante tambeacutem a desnacionalizaccedilatildeo da terra para fim do capitalismo Uma accedilatildeo sob um modo de produccedilatildeo que oprime e desfaz as relaccedilotildees na terra e com a terra do homem e a natureza negando a humanidade do mesmo homem Somados a essa loacutegica fatores histoacutericos que contribuem para os interesses da burguesia que sempre visaram a pilhagem e a exploraccedilatildeo de novos territoacuterios

DESENVOLVIMENTO

A pesquisa visou obter assim atraveacutes da pesquisa

bibliograacutefica e de trabalho de campo um primeiro olhar da presenccedila do conhecimento camponecircs na feira de Itabaiana E principalmente devido ao meacutetodo de interpretaccedilatildeo contemplar a escala da totalidade das relaccedilotildees que produzem o espaccedilo geograacutefico foi possiacutevel observar algumas contradiccedilotildees como uma diminuiccedilatildeo da presenccedila de mercadorias resultantes da produccedilatildeo camponesa e um aumento daquelas resultantes da poliacutetica do agronegoacutecio E como este se espacializa de forma sutil No caso do lsquoestranhamentorsquo obtido roacutetulos em caixotes (Figura 1)

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Figura 1 ndash Um dos roacutetulos identificados na Feira de Itabaiana - caixas de alho com slogan de famiacutelia estrangeira

Fonte Oliveira 2018

Os roacutetulos do agronegoacutecio satildeo constituiacutedos sob os

pilares de excelecircncia em produccedilatildeo respeito ao meio ambiente e valorizaccedilatildeo do profissional Faz parte da falaacutecia do modo de produccedilatildeo capitalista pois sabe-se que importa eacute produzir bater recordes ampliar a fronteira agriacutecola acima de tudo e de todos desacreditando qualquer zelo pelos fatores sociais mas disfarccedilando em suas bandeiras as suas accedilotildees

Valorizam-se ainda o caraacuteter empreendedor que estes estrangeiros criam aliado agrave imagem da famiacutelia sendo esta a marca de sua empresa o siacutembolo maior de poder econocircmico

O agronegoacutecio-latifundiaacuterio-exportador tem sido considerado como siacutembolo da modernidade no campo pelo uso de alta tecnologia e intensa produtividade mas tambeacutem esconde por traacutes desta aparecircncia moderna a barbaacuterie da exclusatildeo social e

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expropriaccedilatildeo dos povos do campo que sua concentraccedilatildeo de terra e de renda provoca (CAMACHO CUBAS GONCcedilALVES 2011 p 1)

Na feira livre podemos ver o quanto este sistema estaacute

sendo valorizado por seu lado moderno empreendedor lucrativo A roccedila camponesa o seu sentido eacute reinventado define-se agora como grande propriedade capaz de produzir vaacuterias toneladas com grandes tratores tecnologia capaz de substituir o homem como um ser social excluir dele a categoria ontoloacutegica do trabalho o homem natildeo se realiza no trabalho

Partindo deste pressuposto ldquoentre a resistecircncia camponesa e as investidas do agronegoacuteciordquo entende-se que as feiras livres dos municiacutepios sergipanos estatildeo sendo lsquoinvadidasrsquo por mercadorias resultantes de fazendas cujas terras pertencem a famiacutelias estrangeiras como japoneses em sua maioria3 isto eacute de faacutecil percepccedilatildeo ao percorrer a feira livre de Itabaiana nos dias que se realiza a feira voltada para a venda em retalho (nas quartas-feiras e aos saacutebados) como assim eacute chamada e nos dias que se vendem em grosso (nas terccedilas-feiras quartas-feiras quintas-feiras e sextas-feiras) que significa dizer a presenccedila de muitos produtos em sacos caixas destinadas agrave revenda

A especificidade da feira de ItabaianaSE se daacute por sua importacircncia em escala regional sendo a maior do agreste sergipano Mercadorias circulam de diferentes estados para caacute de caacute para os estados de origem a exemplo da Bahia Dos comerciantes que compram mercadoria naquele municiacutepio e as levam para este estado para feiras de municiacutepios como Ribeira do Pombal Siacutetio do Quinto dentre outros E tambeacutem

3 Os roacutetulos satildeo sobrenomes das famiacutelias destes produtores de mercadorias como forma de imposiccedilatildeo do seu nome da sua famiacutelia do poderio financeiro tambeacutem

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abastece as feiras do estado de Sergipe A questatildeo levantada surge justamente a partir dos caixotes os quais carregam em si a marca de mais uma problemaacutetica no campo brasileiro voltado agrave agroinduacutestria e ao poder do capital financeiro consequentemente da desnacionalizaccedilatildeo das terras uma abertura econocircmica que implica na ldquocrenccedila de que o lsquocaminho do campo eacute o da grande empresa e do trabalho assalariadorsquordquo (VEIGA 1998 apud SAUER 2008) Este caminho leva ao subdesenvolvimento do paiacutes

Uma estrangeirizaccedilatildeo de terras brasileiras questionada a partir da observaccedilatildeo teacuteorico-praacutetica sobre produtos embalados de forma diferente do habitual antes condicionados em sacos passam a ser colocados em caixas e estas caixas trazem estampadas a marca do agronegoacutecio com nomes estrangeiros certamente produtos voltados para o mercado externo e revendidos como sobras lucrativas O estranhamento agrega tambeacutem a dinacircmica da escala do agronegoacutecio de que as relaccedilotildees que acontecem neste mercado satildeo de grande importacircncia para a economia regional de Sergipe o que era lsquocomumrsquo passa a se enquadrar contraditoriamente nos sistemas de rede nacionalmundial (uma vez que terras satildeo desnacionalizadas) de forma que satildeo encontrados produtos vindos de Minas Gerais Bahia Goiaacutes dentre outros estes satildeo citados por serem a procedecircncia recorrentes nos roacutetulos

Esse debate pode ter seu iniacutecio a partir do ano de 2007 apoacutes um grande periacuteodo de estabilidade financeira e com o advento da crise mundial o Brasil viu no agronegoacutecio a saiacuteda para natildeo se lsquoafundar nesta crisersquo investindo em poliacuteticas puacuteblicas as quais incentivam as estrateacutegias deste modo de produccedilatildeo O que aponta para uma fragilidade econocircmica que existe desde os primoacuterdios do Brasil uma economia erguida numa base primaacuterio exportadora ldquoA Comissatildeo Econocircmica para a Ameacuterica Latina e Caribe (CEPAL) jaacute na deacutecada de 1940 diagnosticou que a maior causa das dificuldades da Ameacuterica

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Latina no setor externo era que a entrada de divisas dependia das exportaccedilotildees de poucos produtos primaacuteriosrdquo (CARVALHO SILVA 2005)

Parte-se de que a atual desnacionalizaccedilatildeo do campo brasileiro se deve tambeacutem por conta das empresas transnacionais de insumos agriacutecolas pois os grandes capitalistas tornam-se lsquorefeacutensrsquo do proacuteprio sistema Como assinala Assis Moreira (apud CARVALHO 2015 p 36)

A corrida por terras levou investidores estrangeiros a adquirir pelo menos milhotildees de hectares em paiacuteses em desenvolvimento O Brasil eacute um dos alvos da cobiccedila estrangeira liderada por China Bahrein e investidores dos EUA as compras de terras brasileiras somaram 26 milhotildees de hectares no periacuteodo

Este fenocircmeno pode ser explicado pelas commodities

para a agro-exportaccedilatildeo As commodities satildeo a forma que as mercadorias satildeo tratadas no mercado financeiro podem ser definidas como mercadorias principalmente mineacuterios e gecircneros agriacutecolas produzidos em larga escala e comercializados em niacutevel mundial As commodities satildeo negociadas em bolsas de valores de mercadorias O capital financeiro eacute quem define seus preccedilos em niacutevel global pelo mercado internacional Desta maneira a agro-exportaccedilatildeo acontece quase que lsquonaturalmentersquo A produccedilatildeo eacute voltada principalmente para o mercado externo pois a exemplo da soja brasileira a maior parte do gratildeo eacute destinado ao mercado chinecircs para servir a criaccedilatildeo de gado

Desta maneira a expropriaccedilatildeo dos meios de produccedilatildeo pode alterar consciecircncia de classe dos produtores rurais O camponecircs passe a natildeo se reconhecer como tal Passam a se inserir ou natildeo nas poliacuteticas puacuteblicas de Estado Estimula-se inclusive a mudar a sua consciecircncia para Agricultor Familiar levando-o a lsquoentrarrsquo no rol do agronegoacutecio e

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consequentemente do capital financeiro na expropriaccedilatildeo de terras

Deste modo capital financeiro vem ser o elo fundamental para introduzir o estrangeiro nesta jogada de marketing ldquoeacute o discurso do lsquodesenvolvimentorsquo e da teacutecnica como forma de levar a sociedade a um patamar ldquosuperiorrdquo (SOUZA CONCEICcedilAtildeO 2008) Embasado no discurso das potencialidades naturais do paiacutes garantem a apropriaccedilatildeo de novos territoacuterios para os capitalistas Os resultados das revoluccedilotildees que a ideologia deste modo de produccedilatildeo prega natildeo servem a pequenos e meacutedios produtores e sim a uma fatia privilegiada de grandes empresaacuterios com poder poliacutetico sobretudo que regem ainda mais estes discursos a seu favor

O discurso agroindustrial vem como citado anteriormente adentrar aacutereas que desde o princiacutepio eram do ser camponecircs como a feira livre utilizada no princiacutepio como forma de vender os excedentes da produccedilatildeo que o pai a matildee e seus filhos produziram em seus lotes de terra siacutetios eou roccedilas para conseguir adquirir o que da terra eles natildeo podem produzir mas fundamental para sobrevivecircncia

Estranhar os roacutetulos nos faz questionar as lsquosoluccedilotildeesrsquo que este modo de produccedilatildeo faz ressoar em alto e bom som

Da mesma forma os produtos de origem agropecuaacuteria destinam-se crescentemente a agroindustriais especializados no processamento de mateacuterias primas e de alimentos industrializados consumidos no mercado interno urbano e exportadosrdquo (ABAG4 2015)

A contradiccedilatildeo estaacute tambeacutem no incentivo ao aumento

da produccedilatildeo por meio do uso de agrotoacutexico e da transgenia e

4 Associaccedilatildeo Brasileira do Agronegoacutecio Disponiacutevel em lthttpwwwabagcombrgt

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da produccedilatildeo de orgacircnicos que agora faz parte do discurso do capital Reforccedila-se ainda mais as questotildees que abalam o campo e o campesinato brasileiro ldquona monoacutetona e monocolorida paisagem da planiacutecie maacutequinas possantes vencem o tempo e o espaccedilo e diluem da imagem qualquer presenccedila humanardquo (WANDERLEY 2015 p 12)

O discurso neoliberal daacute passagem agraves grandes maacutequinas Na feira natildeo podemos vecirc-las mas os resultados que elas causam vecirc-se na diminuiccedilatildeo da quantidade de mercadorias provenientes do campesinato brasileiro devendo-se isso a luta desigual que eles enfrentam diariamente a feira de Itabaiana registra em suas modalidades de venda atacado ou varejo estes fatos

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS OU CONCLUSOtildeES

O vivenciar a feira como campo de pesquisa nos faz

refletir como as poliacuteticas puacuteblicas brasileiras influenciaram o avanccedilo do agronegoacutecio no paiacutes Podemos perceber a crueldade do capitalismo de suas ideologias as formas pelas quais o sistema vem se modificando para parecer mais suscetiacutevel a todos disfarccedilar a divisatildeo de classes implementar em todos os locais e sobretudo no campo o modo que se deve agir para sobreviver diante das dificuldades

Mas a feira ainda representa um lugar de resistecircncia do camponecircs nela podemos ver as marcas de uma agricultura de base familiar e principalmente comunitaacuteria Basta o olhar atento do pesquisador para ver produtos em pequena quantidade como frutas ciacutetricas a exemplo da laranja as raiacutezes como o inhame que apesar de ter uma cor mais escura pouco lsquochamativo aos olhosrsquo disputa o espaccedilo com o que vem de Rondocircnia mas resistem ao tempo no espaccedilo Vale salientar tambeacutem os pesos e medidas que se visualizam na feira as formas as quais os camponeses se utilizam para vender seus

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produtos como a medida da banana as pencas o lsquopeacutersquo de coentro o peso no uso de balanccedilas antigas revendidas repassadas entre feirantes entre geraccedilotildees Continuam a pesar natildeo soacute as mercadorias mas tambeacutem o valor do trabalho deles da venda de sua mercadoria

Ressaltar assim uma cultura camponesa na feira livre como resistecircncia ao capital com ldquovalores expressotildees tradiccedilotildees transformaccedilotildees que ressignificam a todo instante a memoacuteria dos que as frequentam representando as suas identidades mesmo que de caraacuteter muacuteltiplordquo (ARAUacuteJO 2013)

Deste modo mesmo com a ideologia e a homogeneidade que se infunde pela loacutegica do capital mesmo com a proliferaccedilatildeo de roacutetulos que representam as marcas do agronegoacutecio da desnacionalizaccedilatildeo da terra o camponecircs ainda faz parte da feira resiste REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS ABAG Disponiacutevel em lthttpwwwabagcombrgt Acessado em 19022018 ARAUacuteJO Giovanna de Aquino Fonseca Trajetoacuteria histoacuterica conceitual sobre patrimocircnio imaterial e cultural no Brasil e em Portugal tendo as Feiras como lugar de investigaccedilatildeo In SIMPOacuteSIO NACIONAL DE HISTOacuteRIA 28 2013 Natal Anais Natal Associaccedilatildeo Nacional de Histoacuteria 2013 CAMACHO Rodrigo Simatildeo CUBAS Tiago Agrocombustiacuteveis soberania alimentar e poliacuteticas puacuteblicas as disputas territoriais entre o agronegoacutecio e o campesinato Boletim DATALUTA ndash fev 2011 ISSN 2177-4463

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CARVALHO Horaacutecio Martins de A expansatildeo do capitalismo no campo e a desnacionalizaccedilatildeo do agraacuterio no brasil Boletim DATALUTA ndash Artigo do mecircs dezembro de 2013 ISSN 2177 4463 isponiacutevel em lthttpwww2fctunespbrgruposneraartigodomes12artigodomes_2013pdfgt acessado em 19022018 CARVALHO Maria Auxiliadora de SILVA Ceacutesar Roberto Leite da Vulnerabilidade do comeacutercio agriacutecola brasileiro Rev Econ Sociol Rural vol 43 no1 Brasiacutelia JanMar 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid=S0103-20032005000100001gt Acessado em 21042018 MARX Karl Manuscritos Econocircmico-filosoacuteficos Boitempo Editorial 2004 OLIVEIRA Rafael dos Santos Um dos roacutetulos identificados na Feira de Itabaiana - caixas de alho com slogan de famiacutelia estrangeira1 Foto Color 27042018 SAUER Seacutergio Agricultura familiar versus agronegoacutecio a dinacircmica sociopoliacutetica do campo brasileiro Brasiacutelia DF 2008 EMBRAPA informaccedilatildeo tecnoloacutegica WANDERLEY Maria de Nazareth Baudel O Campesinato Brasileiro uma histoacuteria de resistecircncia RESR Piracicaba-SP Vol 52 Supl 1 p S025-S044 2014 ndash Impressa em fevereiro de 2015

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MEacuteTODOS ESTATIacuteSTICOS PARA A COMPREENSAtildeO DA ESTRUTURA AGRAacuteRIA UM

ESTUDO DE CASO DA CONCENTRACcedilAtildeO DE TERRAS EM LARANJEIRAS

Camila de Jesus Resendesup1

(Universidade Federal de Sergipe) (Graduanda e bolsista do PET Geografia ndash Itabaiana)

E mail camilageo22hotmailcom

Gislaine Santos Oliveirasup2 (Universidade Federal de Sergipe)

(Graduanda e bolsista do PET Geografia ndash Itabaiana) E mail gislaineo458hotmailcom

Joseacute Hunaldo Limasup3

(Professor Doutor do departamento de Geografia - UFS e Tutor do PET Geografia ndash Itabaiana)

E mail hunaldolimahotmailcom RESUMO

Para entender a concentraccedilatildeo de terras no Brasil eacute necessaacuterio compreender o processo da Invasatildeo Portuguesa expropriaccedilatildeo de terra dos nativos e doaccedilatildeo pela Coroa aos portugueses (Capitanias Hereditaacuteria) inaugurando a concentraccedilatildeo de terras no paiacutes e agravada com a Lei de Terra de 1850 e que perdura ateacute os dias atuais a exemplo de Laranjeiras Para a estruturaccedilatildeo do trabalho foi necessaacuterio pesquisas nos Censos Agropecuaacuterios e com base em DINIZ (1982) foram elaborados a Curva de Lorenz e o Iacutendice de Gini e com base em EMBRAPA (2012) foi realizada a classificaccedilatildeo por tamanho das propriedades atraveacutes do moacutedulo fiscal aliados a bibliografias da Questatildeo Agraacuteria Fica

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niacutetida a extrema concentraccedilatildeo de terras em Laranjeiras que desde o Periacuteodo Colonial se destaca na monocultura canavieira que perdura ateacute os dias atuais Esta concentraccedilatildeo se daacute com altiacutessimos iacutendices de Gini para todos os anos As grandes propriedades satildeo ocupadas com a cana que abarca quase os 100 das terras a mandioca o milho e o feijatildeo juntos natildeo alcanccedilam 1 ao se comparar com a produccedilatildeo da cana Esta alta concentraccedilatildeo de terras e monocultura da cana contribui para aumento da pobreza Laranjeiras eacute um dos municiacutepios de maiores arrecadaccedilotildees em Sergipe conta com alta produccedilatildeo de cana e de accediluacutecar e a instalaccedilatildeo da Usina Pinheiros a maior do estado no entanto a populaccedilatildeo camponesa se insere como uma das mais pobres do estado e um dos maiores iacutendices de deacuteficit habitacional em todo Sergipe Palavras-chave Concentraccedilatildeo de terras monocultura Laranjeiras INTRODUCcedilAtildeO

Esse estudo tem como objetivo analisar a concentraccedilatildeo de terras no municiacutepio de LaranjeirasSE O trabalho em curso orientado pela abordagem histoacuterica e geograacutefica que envolve a questatildeo fundiaacuteria brasileira busca analisar os niacuteveis de concentraccedilatildeo de terras em LaranjeirasSE entre os anos de 1970 1985 1995-1996 e 2006 Essa pesquisa parte da hipoacutetese de que a distribuiccedilatildeo de terras no paiacutes permanece com caracteriacutesticas coloniais estabilizada e em altos niacuteveis de concentraccedilatildeo de modo que as poliacuteticas agraacuterias e fundiaacuterias natildeo tecircm sido suficientes no sentido de modificar a estrutura fundiaacuteria brasileira

No caso de Sergipe e em especial na Cotinguiba se caracteriza por diferentes processos de constituiccedilatildeo da estrutura fundiaacuteria concentrada No sertatildeo a concentraccedilatildeo

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segundo ANDRADE (1986) se daacute com o processo de ocupaccedilatildeo do sertatildeo nordestino a partir da Promulgaccedilatildeo da Lei que proibia a criaccedilatildeo bovina nas proximidades dos canaviais Soacute era permitida por esta lei a criaccedilatildeo bovina com distacircncia de 10 leacuteguas dos canaviais favorecendo a expansatildeo da pecuaacuteria e consequentemente da accedilatildeo dos latifundiaacuterios os coroneacuteis por vez no Sul aleacutem da pecuaacuteria recentemente com a citricultura No caso da Cotinguiba a estrutura fundiaacuteria concentrada estaacute intimamente ligada agrave cultura da cana

Para constatar esta realidade que perdura ateacute os dias atuais foram necessaacuterios estudos e coleta de dados extraiacutedos dos Censos Agropecuaacuterios e do SIDRA referentes agrave quantidade de propriedades e tamanho de aacutereas das mesmas no municiacutepio de Laranjeiras Em seguida foram realizados os tratos estatiacutesticos para se elaborar a Curva de Lorenz e o Iacutendice de Gini municipal

Para classificar as denominadas Grandes Meacutedias e Pequenas propriedades no municiacutepio foi necessaacuterio empregar o criteacuterio utilizado pelo IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica que pontua Laranjeiras com Moacutedulo Fiscal de 30 hectares Para ser considerada pequena a propriedade natildeo pode ultrapassar 4 quatros moacutedulos para ser meacutedia tem que ter entre 4 e 15 moacutedulos e grande superior a 15 moacutedulos Em laranjeiras segundo esta determinaccedilatildeo nacional toda e qualquer propriedade com tamanho ateacute 120 hectares satildeo classificadas como pequenas as que forem maiores que 120 ateacute 450 hectares satildeo meacutedias e as que tiverem tamanho maior que 450 hectares satildeo classificados como grandes propriedades

Para demonstrar a alta concentraccedilatildeo na produccedilatildeo de cana que eacute causa e consequecircncias da concentraccedilatildeo de terras em forma de comparativo se elegeu trecircs cultivos para a anaacutelise o feijatildeo a mandioca e o milho devido constarem como os uacutenicos ao lado da cana a ter produccedilatildeo em todos os anos

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analisados por serem os outros de maior impacto no municiacutepio e por ser alimento baacutesico da produccedilatildeo camponesa em Sergipe

A metodologia de elaboraccedilatildeo de graacuteficos mapas e outros aliados a meacutetodos estatiacutesticos eacute de consideraacutevel importacircncia para se observar e analisar natildeo somente de Laranjeiras mais qualquer municiacutepio que se tenha condiccedilotildees de estrutura fundiaacuteria semelhante aleacutem de servir como material que possa oferecer suporte para futuras implantaccedilotildees de poliacuteticas puacuteblicas na esfera municipal estadual e nacional

A escolha por temas que possam desvelar a estrutura fundiaacuteria brasileira se torna importante para detectar quatildeo necessaacuteria e urgente eacute a Reforma Agraacuteria o que possibilitaraacute o acesso de pequenos proprietaacuterios a terra e o aumento da diversificaccedilatildeo na produccedilatildeo agriacutecola municipal aliado ao crescimento da produccedilatildeo de cultivo na regiatildeo para alimentar sua prole e o que sobra poder comercializar nas feiras livres

Tambeacutem fica evidente a necessidade de se debater com maior afinco a concentraccedilatildeo de terras em todo o paiacutes que contribuiraacute para o entendimento do elevando nuacutemeros de trabalhadores sem terras no paiacutes e compreender porque em pleno Seacuteculo XXI a incidecircncia de Conflitos de terras eacute extremamente alta

QUESTAtildeO AGRAacuteRIA NO BRASIL

Por apresentar fortes traccedilos de sua raiz colonial para entender a questatildeo agraacuteria no Brasil eacute necessaacuterio voltar no tempo a fim de compreender como se deu a formaccedilatildeo territorial e sobretudo a divisatildeo de terras neste paiacutes de vasta extensatildeo Neste quadro pode-se perceber que os problemas sociais estaratildeo sempre lado a lado a esse sistema de concentraccedilatildeo de terras devido a distribuiccedilatildeo totalmente desigual e expropriadora que se inicia nesse periacuteodo da

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histoacuteria brasileira e que perdura ateacute os dias atuais (STEDILE 2013)

Considerada como uma das primeiras formas de divisatildeo e concentraccedilatildeo da terra o sistema de Capitanias Hereditaacuterias dividiu as terras do territoacuterio e a Coroa Portuguesa doou a 12 pessoas denominadas como donataacuterios que passariam a tomar conta desses lotes

Dividiu-se a costa brasileira (o interior por enquanto eacute para todos os efeitos desconhecido) em doze setores lineares com extensotildees que variavam entre 30 e 100 leacuteguas Estes setores chamar-se-atildeo capitanias e seratildeo doadas a titulares que gozaratildeo de grandes regalias e poderes soberanos caber-lhes-aacute nomear autoridades administrativas e juiacutezes em seus respectivos territoacuterios receber taxas e impostos distribuir terras etc (PRADO 2006)

O primeiro acesso juriacutedico agrave terra foram as sesmarias os indiviacuteduos podem fazer o que lhes interessassem com a terra como se fosse uma propriedade privada Poreacutem desde que fosse branco ldquopuro de sanguersquorsquo e catoacutelico Ou seja aleacutem de uma forma de divisatildeo foi uma maneira de selecionar e restringir quais pessoas teriam poder Essas terras inicialmente foram marcadas pelo sistema do ldquoplantationrdquo com a monocultura da cana de accediluacutecar o trabalho escravo (primeiramente indiacutegena e logo foi inserida a forccedila de trabalho dos negros) e os grandes latifuacutendios de terras Somente em 1822 foi suspensa a concessatildeo de terras por sesmarias

Posteriormente em 1850 estrategicamente surge a Lei de Terras ateacute entatildeo natildeo existia nenhuma lei que regulamentasse a aquisiccedilatildeo de terras no paiacutes Esta lei instituiacutea que a partir deste momento a compra seria o uacutenico meio de se obter o direito de posse e uso sobre a terra Poreacutem isto se tornaria inviaacutevel para as pessoas sem poder aquisitivo como ex-escravos posseiros e imigrantes Vale lembrar que esta lei foi elaborada por poderosos latifundiaacuterios da eacutepoca pessoas

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que sempre estiveram e continuam como deputados senadores e outros cargos do legislativo executivo e judiciaacuterio no paiacutes sendo uma forma de dificultar o acesso agrave terra as pessoas de baixo poder aquisitivo Sendo assim um dos grandes problemas da desigualdade social refletidos no Brasil atual

Com todo aparato via institucionalizaccedilatildeo da concentraccedilatildeo de terras primeiramente via doaccedilatildeo e depois com a Lei de Terras as aacutereas de maiores interesses econocircmicos passam a ser dominadas por grandes proprietaacuterios que com a ajuda do Estado passa a se manter e dominar grandes extensotildees de terras obrigando os pequenos proprietaacuterios posseiros e trabalhadores sem terras a se submeter a trabalhos precaacuterios e em condiccedilotildees muitas vezes sub-humanas como destaca SHIMADA (2014)

Algumas cidades trazem consigo ateacute a atualidade muitos aspectos desse periacuteodo colonial Em Sergipe se destaca a cidade de Laranjeiras que eacute uma das principais cidades histoacutericas do estado Sua povoaccedilatildeo ocorreu no fim do seacuteculo XVI sendo concedida atraveacutes de sesmaria em 1594 a Tomeacute Fernandes que teve participaccedilatildeo nas lutas pela ldquoconquistardquo de Sergipe

Dentre as cidades que compotildeem a microrregiatildeo do Baixo Cotinguiba se encontra Laranjeiras no centro-leste do estado Segundo dados do IBGE possui uma aacuterea de aproximadamente 163 kmsup2 com uma populaccedilatildeo estimada de 26902 habitantes no uacuteltimo censo demograacutefico e densidade demograacutefica de 16578 habitantes por kmsup2 CONCENTRACcedilAtildeO DE TERRAS EM LARANJEIRAS

O municiacutepio de Laranjeiras se caracteriza por apresentar sua sede municipal como o segundo siacutetio urbano de Sergipe que surge nos primeiros anos de ocupaccedilatildeo

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portuguesa atraveacutes da substituiccedilatildeo da exportaccedilatildeo de Pau Brasil pela implantaccedilatildeo da cultura canavieira que rapidamente se desenvolveu na regiatildeo com solos extremamente feacuterteis (solos denominados de massapeacute) uma formaccedilatildeo geomorfoloacutegica plana e proximidade do rio Cotinguiba principal arteacuteria de transporte de carga em Sergipe agrave eacutepoca

Com todos estes predicados naturais aliados a Invasatildeo Portuguesa com doaccedilatildeo das melhores terras aos donataacuterios em pouco tempo Laranjeira se tornara o mais rentaacutevel polo de atraccedilatildeo canavieira do estado concentrando grande parte do capital com instalaccedilotildees dos maiores engenhos agrave eacutepoca e que ao passar dos anos transformaram-se nas Usinas de accediluacutecar neste caso merece destaque a Usina Pinheiros a maior do estado e atualmente a uacutenica em atividade

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Com o avanccedilo da cana por toda a regiatildeo e posteriormente com a Lei de Terras os menores proprietaacuterios foram expropriados e passaram a exercer sua funccedilatildeo como forccedila de trabalho para os grandes proprietaacuterios Elevando Laranjeiras a patamares jamais alcanccedilados na produccedilatildeo formando o verdadeiro mar de cana

No Graacutefico 01 apresentado anteriormente eacute visiacutevel agrave concentraccedilatildeo de terras ao se observar deve-se levar em conta que quanto mais proacutexima do centro a curva ficar menor seraacute a concentraccedilatildeo e quanto mais proacutexima das extremidades (100 tanto na horizontal como vertical) maior eacute a concentraccedilatildeo

Ainda com relaccedilatildeo ao graacutefico anterior se percebe que os desenhos satildeo bem semelhantes em todos os anos analisados ou seja a concentraccedilatildeo de terras praticamente natildeo alterou nestes mais de 30 anos pelo contraacuterio ocorreu um leve aumento na concentraccedilatildeo de terras No graacutefico que representa o ano de 1970 a curva eacute menos densa que nos demais anos em anaacutelise diminui um pouco no ano de 2006 algo praticamente insignificante estas pequenas diferenccedilas praticamente ficam inexistentes a populaccedilatildeo camponesa continua com as mesmas dificuldades para se reproduzir nas suas unidades

Para complementar estes graacuteficos da curva de Lorenz tambeacutem foram calculados os Iacutendices de Gini com base em (DINIZ 1982) para os mesmos anos em anaacutelise dos graacuteficos anteriores Os Iacutendices de Gini apresentam uma variaccedilatildeo de 0 a 1 sendo que o 0 representa a distribuiccedilatildeo igualitaacuteria ou seja todos tecircm o mesmo tamanho por vez o valor 1 apresenta a concentraccedilatildeo maacutexima eacute quando um uacutenico proprietaacuterio tem todas as terras e o restante natildeo tem nada

A tabela 01 corrobora com a curva de Lorenz mostra que em Laranjeiras a concentraccedilatildeo de terras cresceu principalmente no intervalo entre 1970 e 1985 e se estabilizou nos outros anos seguintes Para DINIZ (1982) quando o

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valor do iacutendice ultrapassa os 09 deve ser classificado como extremamente concentrado caso que ocorre em Laranjeiras desde o segundo ano em anaacutelise (1985) chegando ao extremo de 094 em 2006 Tabela 01 Iacutendice de GINI para o municiacutepio de Laranjeiras - Sergipe 2018

Iacutendice de

Gini 1970 1985 95-96 2006

Laranjeiras 088 092 094 094

Fonte Censos agropecuaacuterios de 1970 85 95-96 e 2006

Dentre os fatores que contribuiacuteram para o aumento da concentraccedilatildeo de terras no municiacutepio destaca-se o Proaacutelcool na deacutecada de 1970 com estiacutemulos governamentais para a produccedilatildeo de cana com a crise do petroacuteleo aliado a incorporaccedilatildeo de novas terras por grandes proprietaacuterios para o plantio da cana e em menor destaque o processo de minifundiarizaccedilatildeo os pequenos proprietaacuterios sem condiccedilotildees de adquirir ldquonovos pedaccedilos de terrasrdquo dividem com os filhos atraveacutes de heranccedila contribuindo para o aumento da disparidade na relaccedilatildeo nuacutemero de estabelecimento e aacuterea total dos estabelecimentos

A compreensatildeo da proporcionalidade de terras de pequenos meacutedios e grandes propriedades eacute importante para se perceber o quanto eacute desigual esta relaccedilatildeo Com a definiccedilatildeo destes trecircs componentes atraveacutes do moacutedulo fiscal foi possiacutevel identificar nos diferentes anos em anaacutelise a disparidade no nuacutemero de propriedades com o nuacutemero da aacuterea ocupada por cada um dos trecircs

No graacutefico de 1970 se observa que as pequenas propriedades alcanccedilam mais de 90 do nuacutemero de estabelecimentos no entanto ocupam somente cerca de 15 das aacutereas agriacutecolas em Laranjeiras no outro polo se observa

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que grandes proprietaacuterios contam com nuacutemero reduzido de propriedades aproximadamente 3 estes abarcam aproximadamente 40 da aacuterea agriacutecola municipal neste predominam propriedades que contam com aacutereas maiores que 1000 hectares

Os meacutedios proprietaacuterios encontram em cerca de 10 do total de estabelecimentos e ocupam aacuterea equivalente a 30 das terras estes em alguns casos ocupam suas terras com a pecuaacuteria e em consideraacutevel quantidade das propriedades usam a terra para o plantio da cana com venda garantida a usina de accediluacutecar no municiacutepio

Nos anos de 1985 e 1995-1996 se observa um aumento do poderio dos grandes proprietaacuterios e uma fragmentaccedilatildeo das pequenas propriedades aumento no nuacutemero de estabelecimentos considerados pequenos mais de 95 e aumento na aacuterea das propriedades mas o que chama a atenccedilatildeo eacute uma leve diminuiccedilatildeo na participaccedilatildeo do nuacutemero de estabelecimentos considerados grandes cerca de 2 e um elevado aumento nas aacutereas com grandes propriedades que nos dois periacuteodos em anaacutelise ultrapassam o valor de 50 das terras ocupadas por grandes proprietaacuteriosCom relaccedilatildeo aos meacutedios proprietaacuterios sua participaccedilatildeo tanto no nuacutemero de estabelecimentos quanto da aacuterea ocupada as mudanccedilas satildeo quase imperceptiacuteveis

No que tange aos graacuteficos que representam o ano de 2006 se observa um maior crescimento do nuacutemero de pequenos estabelecimentos (minifundiarizaccedilatildeo) com mais de 95 de todos os estabelecimentos municipais sendo considerados pequenos e um consideraacutevel aumento no tamanho da aacuterea com mais de 30 por vez ocorreu um decreacutescimo tanto no nuacutemero como na aacuterea ocupada pelas denominadas grandes propriedades O que chama a atenccedilatildeo eacute o aumento da participaccedilatildeo das meacutedias-grandes propriedades

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O graacutefico 02 vem para confirmar o quanto eacute elevada a concentraccedilatildeo de terras em Laranjeiras demonstra que no municiacutepio existem poucos proprietaacuterios que abarcam extensas aacutereas de terra enquanto uma gama elevada de pequenos proprietaacuterios tem iacutenfimas faixas de terras que na sua maioria natildeo consegue produzir o suficiente para alimentar toda a famiacutelia vatildeo agrave busca de trabalho na cidade ou em Aracaju e outra parte vende sua forccedila de trabalho no campo mesmo passam a trabalhar nos canaviais ou ateacute mesmo na Usina Pinheiros

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Como em todo o pais a alta concentraccedilatildeo de terras estaacute intimamente ligada a pecuaacuteria e em parte a monocultura do agronegoacutecio em Laranjeiras natildeo eacute diferente Como dito anteriormente a produccedilatildeo canavieira eacute causa e consequecircncia da concentraccedilatildeo fundiaacuteria o que se constata ao comparar o cultivo da cana como os demais cultivos presentes no campo laranjeirense

A associaccedilatildeo da cana com a concentraccedilatildeo fundiaacuteria em Laranjeiras foi possiacutevel ao se debruccedilar com a coleta de dados da produccedilatildeo agriacutecola dos mesmos anos em anaacutelise da concentraccedilatildeo fundiaacuteria

Na tabela 02 fica niacutetida a forccedila do latifundiaacuterio (grande produtor) no municiacutepio que destina suas terras para a produccedilatildeo do agronegoacutecio da cana por vez o camponecircs (pequeno produtor) destina suas terras para produzir alimentos (milho feijatildeo e mandioca) que se verte para o proacuteprio consumo e o excedente eacute vendido em feiras locais ou destina-se a fabricaccedilatildeo da farinha no caso da mandioca ou para a alimentaccedilatildeo bovina caso do milho

Ainda com relaccedilatildeo agrave tabela se observa que em todos os anos analisados a produccedilatildeo de cana (em destaque) dominou praticamente todas as terras do municiacutepio com uma produccedilatildeo em toneladas que equivalem a quase 100 do total de toneladas produzidas tendo como menor participaccedilatildeo o ano de 1970 como anteriormente dito com a Poliacutetica do Proaacutelcool favoreceu a expansatildeo da cana em Laranjeiras que por vez tambeacutem incorporam terras de meacutedios proprietaacuterios e chegam a alguns casos as unidades camponesas que vendem diretamente sua produccedilatildeo de cana para as usinas

A mandioca plantada em Laranjeiras tem ocorrecircncia em siacutetios e pequenas propriedades em todos os anos analisados foi o segundo cultivo mais plantado no municiacutepio mesmo assim a quantidade eacute iacutenfima se comparada com a produccedilatildeo de cana com destaque para o ano de 1970 uacutenico

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que ultrapassou a margem de 1 que nas deacutecadas seguintes ocorreu uma consideraacutevel diminuiccedilatildeo na participaccedilatildeo o que mais uma vez pocircde constatar que a partir da deacutecada de 1970 alguns camponeses perderam (venderam) suas terras para a expansatildeo do agronegoacutecio da cana e outros foram incorporados pelo setor sucroalcoleiro do municiacutepio

Com relaccedilatildeo aos cultivos de milho e feijatildeo se encontram com uma produccedilatildeo praticamente inexistente no municiacutepio com um percentual em todos os anos natildeo passando de 003 na participaccedilatildeo da produccedilatildeo agriacutecola municipal estas culturas satildeo plantadas nas menores unidades predominam em estabelecimento em ateacute 5 hectares

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Tabela 02 Principais cultivos do municiacutepio de Laranjeiras - Sergipe 2018

Cultivos

1970 1985 1996 2006

Produccedilatildeo (Ton)

Produccedilatildeo (Ton)

Produccedilatildeo (Ton)

Produccedilatildeo (Ton)

Cana 166759 9832 303120 9961 261128 9960 357000 9945

Mandioca 2800 165 1092 035 921 035 1800 050

Milho 32 002 67 003 110 003 144 003

Feijatildeo 5 001 4 001 5 001 25 001

Total 169596 100 304283 100 262164 100 358969 100

Fonte SIDRA-IBGE

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A tabela deixa bem clara qual a funcionalidade do cultivo da cana para o setor agroindustrial que encontra neste municiacutepio as condiccedilotildees ideais para se instalar com o tradicional cultivo da cana extensas aacutereas de domiacutenio dos grandes proprietaacuterios solos feacuterteis geomorfologia plana que facilita o escoamento da produccedilatildeo ateacute as usinas aliadas aos inuacutemeros incentivos dado pelo poder puacuteblico sem esquecer do principal fator de atraccedilatildeo da induacutestria sucroalcoleira o consideraacutevel nuacutemero de forccedila de trabalho barata e disponiacutevel natildeo somente no municiacutepio mas em toda regiatildeo da Cotinguiba

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

O trabalho demonstra o quanto eacute importante o uso de meacutetodos estatiacutesticos e elaboraccedilatildeo de graacuteficos para se compreender uma realidade municipal estadual e nacional aleacutem de facilitar a interpretaccedilatildeo dos diferentes temas abordados na pesquisa em especial destaque para a compreensatildeo da concentraccedilatildeo de terras

O avanccedilo do agronegoacutecio da cana fica evidente na anaacutelise principalmente apoacutes a institucionalizaccedilatildeo do Proaacutelcool na deacutecada de 70 que impulsionou o cultivo da cana no municiacutepio que distanciou cada vez mais o camponecircs do grande produtor

O domiacutenio das terras agriacutecolas pelos usineiros eacute observada a partir do uso do solo para o plantio da cana hora feito pela famiacutelia grande parte das terras de Laranjeiras pertence agrave famiacutelia do dono da maior usina do estado que sempre esteve ligado ao poder puacuteblico seja nas esferas do legislativo (deputados estaduais federais e senado) ou no executivo (prefeituras de Laranjeiras e Riachuelo - municiacutepio vizinho e no Governo do Estado) aliados a grandes proprietaacuterios que tem venda direta da cana para a usina

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Com anaacutelise dos materiais fica evidente a concentraccedilatildeo de terras e a necessidade de se rediscutir a importacircncia da Reforma Agraacuteria e de planos de accedilatildeo visando o camponecircs que vive a margem deste processo econocircmico e luta de todas as formas para se manter na terra e sobreviver na mesma

A cana que sempre foi vista na regiatildeo como uma fonte inesgotaacutevel de riqueza se transveste como o maior contribuinte para a concentraccedilatildeo de terras na regiatildeo e fomentador das desigualdades em Laranjeiras que contraditoriamente se insere como um dos municiacutepios mais ricos do estado e um dos maiores geradores de pobrezas AGRADECIMENTOS Agradecemos ao PET - Programa de Educaccedilatildeo Tutorial PET de Geografia do Campus Professor Alberto Carvalho em Itabaiana pelo apoio que possibilitou a elaboraccedilatildeo deste artigo sem o Programa natildeo seria possiacutevel desenvolver tal trabalho REFEREcircNCIAS ANDRADE Manuel Correia de A terra e o homem no Nordeste contribuiccedilatildeo ao estudo da questatildeo agraacuteria no Nordeste 5ordf ed Satildeo Paulo Editora Atlas 1986 BRASIL IBGE Censo Agropecuaacuterio 1970

_____ IBGE Censo Agropecuaacuterio 1985 _____ IBGE Censo Agropecuaacuterio 1995-1996

_____ IBGE Censo Agropecuaacuterio 2006

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DINIZ Joseacute Alexandre Felizola Geografia da agricultura Satildeo Paulo Difel 1982 EMBRAPA Variaccedilatildeo Geograacutefica do Tamanho dos Moacutedulos Fiscais no Brasil Sete Lagoas-MG 2012 LOPES Eliano Seacutergio Azevedo Lopes CARVALHO Diana Mendonccedila de COSTA Joseacute Eloizio da (Org) Distribuiccedilatildeo dos estabelecimentos agropecuaacuterios e Iacutendice de Gini do estado de Sergipe - 1985 -199596 - 2006 Satildeo Cristoacutevatildeo editora UFS 2015 SHIMADA Shiziele de Oliveira Dos Ciclos e das Crises do Capital agraves Formas de Travestimento da Barbaacuterie no Trabalho Canavieiro (Tese de doutorado) PPGEO-UFS Satildeo Cristoacutevatildeo 2014 STEacuteDILE Joatildeo Pedro (org) A questatildeo agraacuteria no Brasil o debate na deacutecada de 1990 Satildeo Paulo Expressatildeo popular 2013 httpssidraibgegovbrhomepnadcm

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ldquoDESENVOLVIMENTOrdquo DONO CAMPO UMA VISAtildeO A PARTIR DA REALIDADE CAMPONESA EM

ITABAIANA SERGIPE

Joatildeo Pedro Celestino dos Santossup1 (Universidade Federal de Sergipe)

(Graduando em GeografiaLicenciatura) E mail jpedrocelestino_2012hotmailcom

Daniel Menezes Damacenasup2

(Universidade Federal de Sergipe) (Graduando em GeografiaLicenciatura)

E-mail danieelbinho62gmailcom RESUMO

O artigo tem por objetivo discutir a real condiccedilatildeo da terra e do trabalho para os camponeses e a ideia de desenvolvimento dono campo sobremodo no municiacutepio de Itabaiana Sergipe A terra camponesa estaacute para aleacutem da sua condiccedilatildeo de propriedade de mercadoria e de produtividade comercial Do mesmo modo o trabalho camponecircs representa uma forma de reproduccedilatildeo social e de sociabilidade em que os mesmos tecircm o total controle sobre suas jornadas de trabalho As anaacutelises aqui realizadas decorrem de leituras discussotildees e registros de memoacuterias camponesas por meio de entrevistas feitas com camponeses de povoados de ItabaianaSE Nesse vieacutes destaca-se a questatildeo das falaacutecias de ldquodesenvolvimentordquo no campo que eacute visto como algo benevolente sobretudo em funccedilatildeo do poder alienador do capital e dos recursos midiaacuteticos mas que na verdade tem sido nocivo para a vida no campo Diante desses aspectos eacute importante natildeo perder de vista que a realidade camponesa estaacute emaranhada de dificuldades sobretudo em virtude das determinaccedilotildees do modo de

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produccedilatildeo capitalista ndash que se apropria e usufrui de todos os recursos possiacuteveis ndash que visa o acuacutemulo de capital Palavras-chave Terra Trabalho ldquoDesenvolvimentordquo INTRODUCcedilAtildeO

Este artigo tem por objetivo analisar o real valor da terra do trabalho e do ldquodesenvolvimentordquo no ldquomundo camponecircsrdquo no municiacutepio sergipano de Itabaiana Aleacutem de desvelar e elucidar questotildees contraditoacuterias que asseguram a exploraccedilatildeo material e subjetiva dos camponeses imbuiacutedas neste territoacuterio

Portanto eacute pertinente iniciar inquirindo o que eacute a terra para o camponecircs Ateacute que ponto a terra eacute realmente importante O que eacute preciso para desvelar contradiccedilotildees inerentes agrave terra camponesa tendo em vista sua condiccedilatildeo frente o modo de produccedilatildeo capitalista E o trabalho E os discursos de desenvolvimento nopara o campo

Eacute notoacuterio que o campo sobretudo nos dias de hoje vem sendo atacado por diferentes meios ndash como as determinaccedilotildees capitalistas com seus pacotes tecnoloacutegicos de produccedilatildeo agropecuaacuteria e ateacute mesmo o desenfreado ataque midiaacutetico que esses camponeses estatildeo expostos ndash a fim de mascarar sua realidade e existecircncia e ainda ser dimensionado como atrasado e desimportante sobremodo quando natildeo atende aos interesses do capital Tendo em vista essa situaccedilatildeo eacute parte fundamental do presente artigo procurar realccedilar algumas questotildees que povoam a existecircncia do campo diante da ldquocrueldaderdquo capitalista que expropria expulsa e cria novas formas de reproduccedilatildeo conforme suas determinaccedilotildees

Os camponeses se encontram vulneraacuteveis agraves imposiccedilotildees do modo de produccedilatildeo vigente Mas isso natildeo compete afirmar que sua existecircncia tende a ser fadada ao fracasso pois se encontram resistindo e lutando para de

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formas distintas permanecerem na terra Ainda que essas lutas agraves vezes sem muita consciecircncia e negadas no interior da proacutepria academia como se leu em avaliaccedilatildeo de relatoacuterio de iniciaccedilatildeo cientiacutefica do qual esta proposta decorre

Entatildeo o ldquocerco das terrasrdquo ndash como bem discorreu Joseacute de Souza Martins (1986) em ldquoNatildeo haacute terra para plantar nesse veratildeordquondash tem sido pertinente E isso natildeo eacute uma situaccedilatildeo recente remonta meados do seacuteculo XIX no Brasil quando da institucionalizaccedilatildeo da Lei de Terras em 1850 que privou a disposiccedilatildeo de terra somente para aqueles que a pudesse compraacute-la Ou seja a terra passou a ser mercantilizada Com esse processo de mercantilizaccedilatildeo privatizaccedilatildeo da terra o trabalhador do campo ficou diante de uma grande dificuldade pois era preciso ter meios de se reproduzir socialmente e sem a terra natildeo seria possiacutevel

Percebe-se que a terra eacute pois um ldquobemrdquo muito relevante sobretudo para a realizaccedilatildeo do trabalho camponecircs Natildeo o grande latifuacutendio mas a terra para plantar Pois eacute atraveacutes dela que o camponecircs cria suas condiccedilotildees de sobrevivecircncia e de sua famiacutelia e encontra meios de efetivar-se na terra Terra em conjunto com o trabalho satildeo essenciais para a reproduccedilatildeo social e representam condiccedilatildeo ontoloacutegica do ser camponecircs

Aleacutem do trabalho uma outra categoria inerente o tempo do camponecircs com sua famiacutelia ndash mulheres homens e crianccedilas ndash para que a socializaccedilatildeo desse trabalho seja concreta e ainda o saber (que lhe eacute proacuteprio) seja disseminado para geraccedilotildees futuras Eacute claro que este trabalho (no siacutetio camponecircs ou qualquer outro espaccedilo) enfrenta algumas dificuldades para sua realizaccedilatildeo o que leva esses camponeses se submeterem a condiccedilotildees diversas de existecircncia

Muitos camponeses e a populaccedilatildeo do campo no geral diante dessa dificuldade de possuir a terra de exercer seu trabalho tambeacutem enfrenta a ideologia do desenvolvimento

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Esse ideal de desenvolvimento aliena e garante que o progresso dono campo soacute eacute possiacutevel quando da inserccedilatildeo do capital no campo representado pelo agronegoacutecio pela quimificaccedilatildeo pela maquinificaccedilatildeo e ainda pelas melhorias dos aparatos teacutecnicos de urbanizaccedilatildeo (como os calccedilamentos rede de aacutegua encanada ou esgoto) Diante dessa conjuntura a sociedade a comunidade camponesa ldquonatildeo se daacute contardquo de que esse ldquodesenvolvimentordquo eacute fruto de uma necessidade de exploraccedilatildeo sobretudo econocircmica (SANTOS DAMACENA 2018)

A partir disso o municiacutepio de Itabaiana ou melhor seus camponeses possibilitam realizar a anaacutelise apontando os enfrentamentos que os mesmos desempenham para continuar na terra para reproduzir-se socialmente Possibilidade desvelada a partir das anaacutelises que estatildeo sendo realizadas no Projeto de Pesquisa ldquoSitio e roccedila costumes e trabalho fontes e conhecimento camponecircs para um pensamento geograacutefico e geografia histoacuterica da formaccedilatildeo territorial de Itabaiana Sergiperdquo (COPESUFS) em desenvolvimento pelo Departamento de Geografia da Universidade Federal de Sergipe Campus Professor Alberto O Projeto busca analisar as questotildees camponesas (nas memoacuterias nas materialidades dono campo na feira) e esclarecer as contradiccedilotildees que satildeo impostas pelo modo de produccedilatildeo vigente reconhecendo o camponecircs e seu valor enquanto produtor do espaccedilo sobretudo do territoacuterio de Itabaiana

Outra questatildeo importante de destacar eacute que o resultado do presente texto decorre da realizaccedilatildeo de levantamento e discussatildeo de referecircncias bibliograacuteficas aleacutem das socializaccedilotildees com pesquisadores do grupo supracitado e entrevistas a camponeses do municiacutepio de Itabaiana que conferiu a possibilidade de promover uma anaacutelise acerca das questotildees e contradiccedilotildees que permeiam sua realidade

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O ldquoVALORrdquo DA TERRA E DO TRABALHO CAMPONEcircS

Existem vaacuterias discussotildees em relaccedilatildeo a terra o que tem gerado divergecircncias entre pesquisadores devido ao ldquoolharrdquo que eacute lanccedilado sobre a mesma Com este artigo algumas questotildees seratildeo explicadas sobre a terra e o seu valor bem como o valor do trabalho camponecircs pois resistem agraves deliberaccedilotildees do modo de produccedilatildeo vigente Diante de entrevistas realizadas por camponeses por camponeses de alguns povoados de Itabaiana SE foi possiacutevel chegar a estas conclusotildees

De fato a terra para o camponecircs estaacute para aleacutem dos princiacutepios monetaacuterios estabelecidos pelo capital Ele tem uma visatildeo camponesa da terra como algo essencial para sua reproduccedilatildeo seja em caraacuteter comercial ndash pelo fato de estar integrado de certa forma ao capitalismo onde eacute necessaacuterio produzir para aleacutem do proacuteprio consumo no sentido de suprir as demandas do mercado interno e conseguir manter-se na terra e garantir o sustento da famiacutelia Mas a terra para ele estaacute diretamente ligada agrave sua reproduccedilatildeo social pois a veem como algo que faz parte de si ou seja natildeo se enxergam vivendo longe da mesma cultivando-a tendo relaccedilotildees mais intriacutensecas com a comunidade com o trabalho que se materializa sobre ela ndash estes camponeses vivem na terra por vaacuterias geraccedilotildees e seus conhecimentos costumes e tradiccedilotildees satildeo perpassados como heranccedila pelos pais familiares ou camponeses mais velhos que vivem nos povoados certificando a pertinecircncia dessa socializaccedilatildeo

Ao realizar uma leitura histoacuterica sobre a condiccedilatildeo da terra no Brasil ressalta-se que desde o periacuteodo das Grandes Navegaccedilotildees ela exerceu um enorme interesse para os colonizadores da ldquoAmeacutericardquo e do ldquoBrasilrdquo (mais precisamente) onde usufruiacuteram das terras para extrair seus recursos naturais ndash

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mateacuterias-primas para produccedilatildeo de utensiacutelios alimentos e metais preciosos A busca incansaacutevel por metais preciosos como o ouro a prata e os diamantes era o maior atrativo dos colonizadores devido ao alto preccedilo que essas mercadorias valiam no mercado e pelo poder que estes lhes conferiam ndash e tal situaccedilatildeo jaacute faz refletir que a terra brasileira jaacute neste momento comeccedilou a ser explorada economicamente Mesmo assim os povos nativos viam-na como um bem sagrado e de extrema importacircncia para sua reproduccedilatildeo (JUNIOR 2006)

Ainda nesse momento o uso da terra para plantaccedilotildees e demais tarefas foi posto em segundo plano pelo fato da busca por metais preciosos conquistando e dominando territoacuterios a qualquer custo para acumular riquezas para a Metroacutepole europeia Foi a partir daiacute que a terra comeccedilou a representar um grande valor monetaacuterio para os colonizadores

Por possuir terras feacuterteis o Brasil foi de grande importacircncia econocircmica para Metroacutepoles como Portugal Espanha e com alguns relatos de invasotildees francesas e holandesas exploraram o seu territoacuterio e que a terra no periacuteodo da colonizaccedilatildeo portuguesa o Brasil passou por trecircs ciclos econocircmicos Entre eles a agricultura destacou-se pelo fato de que a Ameacuterica possuir terras feacuterteis para a produccedilatildeo de algumas mercadorias que possuiacuteam um alto valor monetaacuterio no mercado Se a agricultura se destaca vale dizer tem sua grande importacircncia para esse desenvolvimento deste ciclo que nada mais nada a menos que percorre um ciclo de produccedilatildeo atualmente Por esses movimentos a terra passou a ser mais que um simples lugar que seria para plantar ou morar mas que despertou olhares ambiciosos que se preocupa apenas com o acuacutemulo de capital sem perceber as causas e consequecircncias que o mau uso do solo causa na natureza

Enfim essa leitura histoacuterica confere a possibilidade de analisar a situaccedilatildeo da terra no Brasil pois desde o processo de ldquocolonizaccedilatildeordquo que sua condiccedilatildeo de bem comum e de

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relevacircncia para a sociedade ganhou importacircncia econocircmica Ela passou a ser ldquoprivadardquo (com a Lei de Terras em 1850) e soacute a possuiacutea quem tivesse poder aquisitivo suficiente para compraacute-la ou seja tornou-se mercadoria e com finalidades lucrativas

A medida que a exploraccedilatildeo das terras avanccedilava deixara para traacutes rastros violentos sobre os trabalhadores do campo que perderam suas terras pela falta de conhecimento na regularizaccedilatildeo de documentos referente a terra na qual criou bases para atender os interesses de uns em detrimento de outros A perda da terra por sua vez corroborou para as vaacuterias ldquofugasrdquo de trabalhadores do campo que saem de seu lugar de origem para outras regiotildees devido a natildeo aceitaccedilatildeo da venda da sua proacutepria forccedila de trabalho e exploraccedilatildeo do mesmo realizado por esses compradores ou mesmo pela dificuldade de se manter na terra diante das imposiccedilotildees capitalistas

Agrave medida que o capitalismo adentra no campo causa diversos rebatimentos socioeconocircmicos devido agraves exigecircncias que satildeo impostas para que suas demandas sejam atendidas E um desses rebatimentos natildeo eacute o que se produz para se comercializar mas sim o valor que esta terra vai apresentar para os ditos capitalistas que almejam lucro com a terra de negoacutecios gerando ldquoconflitosrdquo no campo Diante disso a mercadoria produzida no campo tem um alto significado para os dois polos ndash camponeses para subsistecircncia e os capitalistas que visam o acuacutemulo de capital ndash ldquoa mercadoria tem o poder de subjugar os camponeses devido ao fato de possuir o poder de destruir ou modificar as relaccedilotildees sociais no campordquo (MARTINS 1986 p 16) E essa mercadoria tambeacutem eacute a forccedila de trabalho do camponecircs que a vende como mecanismo para manter-se na terra ldquovendendo seu diardquo nas propriedades daqueles que a podem compraacute-la o que acaba reformulando seus costumes e relaccedilotildees sociais Pois ldquoa terra mercantilizada

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segue os princiacutepios dos avanccedilos capitalistasrdquo (MARTINS 1986 p 18)

Jaacute o trabalho no campo ndash que ganha o mesmo caraacuteter que a terra camponesa ndash segue o sentido de suprir apenas suas necessidades no qual os camponeses interagem entre si na divisatildeo do trabalho que eacute por meio de familiares e pessoas que trabalham em terras vizinhas para ajudar na renda da famiacutelia Dentro dessa loacutegica de trabalho no campo existe uma forma de ldquotroca de trabalhordquo ndash uma cooperaccedilatildeo uma ldquoajudardquo ou um mutiratildeo ndash entre os camponeses Por exemplo um camponecircs A trabalha na terra de um camponecircs B sem receber nada em troca e quando esse camponecircs B for cultivar em suas terras o camponecircs A iraacute retribuir da mesma forma o trabalho exercido pelo camponecircs B em suas terras Eis o que Martins (1986 p 102) chamou de ldquoorganizaccedilatildeo coletiva do trabalho no campordquo aleacutem de reunir no mesmo os integrantes da proacutepria famiacutelia do camponecircs

O trabalho por sua vez eacute definido pelo camponecircs como um trabalho real e que atraveacutes dele ndash associado agrave terra ndash eacute possiacutevel se reproduzir socialmente O trabalho camponecircs eacute sistematizado pelo proacuteprio camponecircs que estabelece seu horaacuterio suas funccedilotildees do dia e em que trabalhar (seja a agricultura ou a criaccedilatildeo direta ou indiretamente) Mas tambeacutem haacute a possibilidade do mesmo camponecircs buscar novos mecanismos que lhe proporcionem a permanecircncia na terra como vender a sua forccedila de trabalho no campo ou na cidade e isso natildeo faz do trabalho camponecircs um trabalho de caraacuteter parcial

Terra e trabalho comungam entre si Eles natildeo estatildeo dissociados e representam grande importacircncia para o camponecircs

Essa anaacutelise associa-se ao territoacuterio em questatildeo ndash ItabaianaSE ndash que por meio de entrevistas realizadas aos camponeses de alguns povoados deste municiacutepio foi

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destacado a ideia do que seria a terra para eles que vai na contramatildeo das ideias capitalistas A terra para os camponeses tem significados maiores que a loacutegica de mercantilizaccedilatildeo ndash do valor monetaacuterio da propriedade privada ndash ou seja a veem como um meio de existecircncia e subsistecircncia e imprimem nessa posiccedilatildeo uma forma de resistecircncia frente o modo de produccedilatildeo capitalista

Eacute possiacutevel compreender a realidade camponesa quando nos trabalhos de campo evidenciam-se relatos e realidades que satildeo enfrentadas por eles bem como os desafios que passam todos os dias E nesses relatos percebe-se que em virtude das dificuldades encontradas no campo ndash como as imposiccedilotildees do capital ou mesmo a violecircncia ndash muitos camponeses ldquoabandonamrdquo suas terras encaram a ideia de irem agrave cidade (a expulsatildeo desses trabalhadores no campo foi um dos principais fatores que auxiliou que a populaccedilatildeo urbana ultrapassa a populaccedilatildeo rural (DAVIS 2004)) em busca de uma melhoria de vida que tambeacutem deve ser questionada pois com a realidade urbana os camponeses perdem ldquosua liberdaderdquo seja no trabalho seja na socializaccedilatildeo

Como em Itabaiana natildeo eacute diferente com a ida dos camponeses para a cidade o capital avanccedila no campo por meio do agronegoacutecio que tem como ideias a larga produccedilatildeo em pequenos periacuteodos de tempo utilizando produtos quiacutemicos que prejudicam tanto o alimento e causa doenccedilas em seus consumidores ao mesmo tempo em que tem gerado discussotildees diversas sobre a (im)pertinecircncia desses produtos Vale ressaltar que a maior parte da produccedilatildeo realizada pelo agronegoacutecio eacute direcionada para a exportaccedilatildeo e no caso de Itabaiana para abastecimento de mercados do municiacutepio de Sergipe e outros estados do Brasil Mas a produccedilatildeo camponesa atende agrave necessidade do proacuteprio camponecircs e de boa parte dos cidadatildeos brasileiros

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Entatildeo dar ouvidos e visibilidade para esses produtores do espaccedilo que representa um papel importante de resistecircncia diante do modo de produccedilatildeo vigente pois os camponeses tecircm a terra como algo que vai aleacutem de um simples ldquopedaccedilo de terrardquo com um mero valor comercial mas que tecircm ldquoa terra como algo necessaacuterio para sobreviver e se reproduzir socialmenterdquo (MARTINS 1986 p 18) e como um ldquotesourordquo que garante o sustento de sua famiacutelia ldquoDESENVOLVIMENTOrdquo NO CAMPO A FALACIOSA IDEIA DO PROGRESSO

A sociedade brasileira no geral o operaacuterio da induacutestria o trabalhador urbano o trabalhador do campo enfim todos eles ldquotecircm em menterdquo que eacute preciso fazer coisas como construir edificaccedilotildees explorar minerais entre outras para se chegar ao progresso

O capitalismo por sua vez tem determinado essas situaccedilotildees agrave medida que monopoliza e territorializa o capital mediante conjuntura possiacutevel de promover a exploraccedilatildeo a acumulaccedilatildeo da mais-valia E ainda que ldquoa tendecircncia do capital a de tomar conta progressivamente de todos os ramos e setores da produccedilatildeo no campo e na cidade na agricultura e na induacutestriardquo (MARTINS 1981 p 152) Essa atuaccedilatildeo se daacute numa escala abrangente em todo o Brasil principalmente para assegurar a condiccedilatildeo de ldquoemergenterdquo e que suas riquezas (sobretudo naturais) satildeo a base para o seu desenvolvimento

Essa ideia de desenvolvimento tambeacutem chega ao campo Atualmente o campo brasileiro recebe grande importacircncia pois tem nele o ldquoseleirordquo de mercadorias para equilibrar a balanccedila comercial do paiacutes Eacute pois grande responsaacutevel por boa parte da participaccedilatildeo do Produto Interno Bruto nacional Eis que ocorre com veemecircncia a ldquopenetraccedilatildeo do capitalismo no campordquo (MARTINS 1981 p 151) e o

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mesmo subjuga o trabalhador camponecircs agraves suas determinaccedilotildees olvidando ao mesmo que ldquoo desenvolvimento do capital acontece de maneira desigual e combinada com a tendecircncia de amaacutelgama entre as formas arcaicas e modernasrdquo (SOUSA 2015 p 352)

A partir dessa perspectiva o que se tem analisado junto aos camponeses no municiacutepio de Itabaiana eacute que haacute uma ldquofalsardquo ilusatildeo de que o campo tem alcanccedilado aos poucos o desenvolvimento sem compreender o seu real significado E essa ideia eacute ratificada sobretudo pelas determinaccedilotildees capitalistas e tambeacutem pela accedilatildeo midiaacutetica quando fornece informaccedilotildees onde contemplam a necessidade de uma nova realidade para o campo

Por quais questotildees esses camponeses satildeo levados a acreditar na ideologia do desenvolvimento Pois bem satildeo questotildees que visam atender as necessidades capitalistas mas que promovem uma seacuterie de empecilhos para que o camponecircs permaneccedila na terra realize seu trabalho e consiga reproduzir-se socialmente Seratildeo em seguida citadas algumas dessas questotildees que os entrevistados apontaram como relevantes para essa situaccedilatildeo

Primeiro a facilidade para a produccedilatildeo de suas culturas sobretudo a facilidade do acesso a sementes ndash mesmo ciente da importacircncia da semente crioula ndash a maacutequinas que aumentam a produccedilatildeo e a demais recursos que motivam a renda para manutenccedilatildeo de suas propriedades Mas vale aqui apontar um adendo quanto a essa questatildeo pois a substituiccedilatildeo da semente crioula por uma semente geneticamente modificada (que eacute mais acessiacutevel economicamente) torna o camponecircs submisso ao mercado pois jaacute que esse tipo de semente natildeo gera sementes feacuterteis ele teraacute a necessidade de sempre compraacute-las e ser consumidor dos insumos de uma grande empresa O mesmo pode acontecer quando da

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utilizaccedilatildeo de agrotoacutexicos (praacutetica que encontra resistecircncia pelos camponeses)

E a maquinificaccedilatildeo tambeacutem configura um empecilho para a manutenccedilatildeo do camponecircs no seu espaccedilo Ela substitui a forccedila de trabalho humana expropriando-o e expulsando o camponecircs da terra Este sai do campo (como eacute comum em Itabaiana natildeo soacute pela questatildeo das maquinas mas por lsquon situaccedilotildeesrsquo) e vai morar na cidade em busca de melhores condiccedilotildees de vida de trabalho Mas quando chegam agrave cidade a sua vivecircncia torna-se diferenciada as socializaccedilotildees natildeo se configuram mais como no campo A violecircncia que haacute no campo haacute em maior intensidade da cidade e aleacutem disso o camponecircs torna-se proletaacuterio pois

[] na sociedade capitalista a reduccedilatildeo da remuneraccedilatildeo dos camponeses significa que a renda do solo (renda imputada agrave propriedade) eacute anulada e que a remuneraccedilatildeo do trabalho ndash a que se reduz o preccedilo dos produtos ndash equipara-se ao valor da forccedila de trabalho proletaacuteria (SOUSA 2015 p 348)

Com isso o camponecircs ndash quando sai do campo para a cidade ndash e vai trabalhar como proletaacuterio acaba natildeo tendo mais a mesma relaccedilatildeo com trabalho que tinha antes Ele natildeo mais conseguiraacute definir seus proacuteprios horaacuterios e nem mesmo definir o que fazer no seu siacutetio Agora ele vai atender agraves determinaccedilotildees daquele que compra sua forccedila de trabalho

Mas isso natildeo eacute exclusivo da cidade No campo muitos camponeses ndash para natildeo saiacuterem de laacute ndash tambeacutem vendem sua forccedila de trabalho para aqueles que a costumam ldquocomprar um dia de trabalhordquo Logo o camponecircs se acha tambeacutem subordinado ao capital Mas

Em meio ao avanccedilo do capital no campo satildeo muitas as alternativas criadas pelos

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trabalhadores para voltarem ou permanecerem na terra por meio da combinaccedilatildeo da mobilidade e permanecircncia por meio da combinaccedilatildeo de trabalhos camponeses e natildeo camponeses e por meio dos processos de resistecircncia e luta pela terra (SOUSA 2015 p 333)

Voltando agrave maquinificaccedilatildeo (que tambeacutem representa desenvolvimento no campo) ela eacute resultado de um grande aperfeiccediloamento teacutecnico (logo depois da Primeira Guerra Mundial) mas sobretudo depois da Segunda Guerra Mundial como ressaltou Campos (2011 p102) que

[] poacutes Segunda Guerra Mundial se difundiu a chamada ldquoRevoluccedilatildeo Verderdquo que consistiu em uma grande mudanccedila na base teacutecnica dos processos agropecuaacuterios tornando-os menos dependentes das condiccedilotildees naturais e mais dependentes de insumos e equipamentos artificiais ampliando muito o mercado de produccedilatildeo e venda desses produtos

Entatildeo a maacutequina no campo aleacutem de promover o aumento da produtividade agriacutecola ou pecuaacuteria estaacute inerente a ela a substituiccedilatildeo da forccedila de trabalho do camponecircs a expropriaccedilatildeo do camponecircs por se ver pressionado por este artifiacutecio teacutecnico Eacute oacutebvio que a maacutequina serviraacute para propor uma maior acumulaccedilatildeo de capital Natildeo perdendo de vista eacute claro a perda da essecircncia do trabalho camponecircs junto agrave sua famiacutelia e agrave comunidade do campo

Segundo o aparato teacutecnico de urbanizaccedilatildeo tambeacutem eacute um dos motivos que proporcionam aos camponeses a noccedilatildeo de que seu povoado eacute tambeacutem desenvolvido Nomeia-se aqui aparato teacutecnico de urbanizaccedilatildeo os calccedilamentos as praccedilas os sistemas de abastecimento de aacutegua e tratamento de esgoto (quando existe) Os camponeses contatados assimilam esses

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aparatos como sendo fatores de desenvolvimento esquecendo que esses fatores satildeo fundamentais para toda a sociedade satildeo considerados serviccedilos baacutesicos Geralmente quando explanam sobre a configuraccedilatildeo dos povoados onde vivem chamam atenccedilatildeo para o ldquoatrasordquo que (segundo eles) apresentavam o que provoca o questionamento do que realmente significa ldquoatrasordquo e mesmo como esse termo eacute interpretado ideoloacutegica e cientificamente

Uma terceira questatildeo eacute a atuaccedilatildeo da miacutedia que transmite informaccedilotildees diversas enfatizando que o desenvolvimento do campo eacute possiacutevel quando haacute sobretudo a inserccedilatildeo e expansatildeo do capital e de suas determinaccedilotildees A miacutedia tem explorado e os camponeses que a acompanha (por meio da televisatildeo ou do raacutedio e do celular) a relevacircncia do uso de um pacote tecnoloacutegico a aquisiccedilatildeo creacuteditos agriacutecolas a necessidade de produzir para participar das relaccedilotildees comerciais o que compete dizer que a partir disso os camponeses que aderem a tais perspectivas se veem submetidos e de certa forma ldquoaprisionadosrdquo ao sistema que usurpa sua liberdade e explora o trabalho e sua socializaccedilatildeo bem como a sua subjetividade

Entatildeo estaacute claro que o ldquodesenvolvimentordquo no campo na verdade serve para mascarar a ideia de crescimento econocircmico As sementes transgecircnicas as maacutequinas bem como os aparatos teacutecnicos de urbanizaccedilatildeo de alguns povoados que certamente satildeo naqueles que contribuem com a produccedilatildeo agriacutecola para a economia do municiacutepio O desenvolvimento no campo eacute e estaacute sendo pautado nas propostas do agronegoacutecio ndash que produz riqueza e assola a pobreza no campo Natildeo se defende aqui que o camponecircs esteja totalmente distante do mundo capitalista pois seria impossiacutevel pois este modo de produccedilatildeo rodeia quase todo o globo

O camponecircs natildeo estaacute imune Ele pode vender o excedente do milho do feijatildeo da batata-doce ele precisa

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comprar mantimentos para sua famiacutelia etc A criacutetica estaacute sobre como esse ldquodesenvolvimentordquo eacute concebido e como o mesmo eacute interpretado Numa palestra sobre a luta pela terra pela aacutegua e pelo territoacuterio foi discutido justamente que eacute preciso sempre indagar como para quecirc e para quem eacute esse desenvolvimento Tanto eacute que Conceiccedilatildeo (2004) discute a ldquoinsustentabilidaderdquo desse conceito na aacuterea ambiental mas pode-se aderir a mesma reflexatildeo quando elucida que o desenvolvimento eacute mais uma tentativa de exploraccedilatildeo do capitalismo sobremodo no campo Ele eacute sem duacutevida uma falaacutecia CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A terra e o trabalho satildeo para o camponecircs a essecircncia da reproduccedilatildeo social da possibilidade de existecircncia e resistecircncia frente agraves determinaccedilotildees do capital que gera riqueza e pobreza na mesma proporccedilatildeo ou mais ainda

Eacute oacutebvio que o camponecircs enfrenta dificuldade de permanecerem na terra como o uso das maacutequinas de agrotoacutexicos do dito desenvolvimento e com isso satildeo obrigados a deixar a terra e migrarem para a cidade na busca de uma melhoria de vida que eacute por ora questionaacutevel Percebe-se portanto que a terra camponesa natildeo se trata de uma ldquoterra de negoacuteciosrdquo mas sim de uma terra que representa condiccedilatildeo de vida

Com o trabalho natildeo eacute diferente Ele representa a materialidade da forccedila do camponecircs em cultivar a sua terra em definir seu tempo e suas funccedilotildees Evidencia-se entatildeo uma autonomia do camponecircs em relaccedilatildeo ao trabalho que lhe confere pois admite-se que tem a liberdade de desempenhar esse exerciacutecio em seu siacutetio com sua famiacutelia de forma coletiva com outros camponeses de sua comunidade Esse trabalho representa a condiccedilatildeo ontoloacutegica para o camponecircs

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A terra e trabalho satildeo sobremodo ameaccedilados por uma falaciosa ideia de desenvolvimento A sociedade alienada vecirc no avanccedilo do capital no campo uma forma de desenvolvimento ndash representado sobretudo pelo agronegoacutecio ndash eacute um fator decisivo para o progresso Eacute loacutegico que o desenvolvimento justo para o camponecircs eacute a autonomia a liberdade a possibilidade de se manter na terra de tirar dela seu sustento de continuar socializando seus costumes e tradiccedilotildees entre outras situaccedilotildees

Entatildeo a partir do momento que os camponeses do municiacutepio de Itabaiana foram ouvidos a partir de entrevistas de registros de memoacuterias que satildeo construiacutedas socialmente possibilitou a presente anaacutelise mostrando como a terra para esses camponeses e como o trabalho satildeo encarados pelos mesmos Entender a importacircncia desses camponeses eacute extremamente relevante pois proporciona a compreensatildeo da formaccedilatildeo territorial de Itabaiana Aleacutem eacute claro de proporcionar clareza das relaccedilotildees sociais espaciais por parte dos pesquisadores que se debruccedilam em averiguar a condiccedilatildeo camponesa valorizando seus costumes tradiccedilotildees o campo e esse sujeito social que eacute histoacuterico e atuante REFEREcircNCIAS CAMPOS Christiane Senhorinha Soares A territorializaccedilatildeo do agronegoacutecio no Brasil In ______ A face feminina da pobreza em meio agrave riqueza do agronegoacutecio Outras Expressotildees Clacso Livros 2011 p 101 - 132 CONCEICcedilAtildeO Alexandrina Luz A Insustentabilidadade do desenvolvimento sustentaacutevel SalvadorBA III Encontro Nacional do Meio Ambiente 2004 p 1 - 13 Disponiacutevel em lt httpsgpectfileswordpresscom201311a-

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insustentabilidadade-do-desenvolvimento-sustentc3a1velpdf gt Acesso em 130617 DAVIS Mike Planeta de Favelas a involuccedilatildeo urbana e o proletariado informal New LeptReview nordm26 abril 2004 Disponiacutevel em lt fileCUsersUsuarioDownloadsMike20Davis20Planeta20de20Favelas20NLR202620March-April202004pdf gt Acesso em 230317 JUacuteNIOR Caio Prado Histoacuteria Econocircmica do Brasil Ed 1a Satildeo Paulo Brasiliense 2006 MARTINS Joseacute de Souza A sujeiccedilatildeo da renda da terra ao capital e o novo sentido da luta pela reforma agraacuteria In ______ Os camponeses e a poliacutetica no Brasil Editora Vozes ed 5 Petroacutepolis 1981 p 151 - 177 ______ Natildeo haacute terra para plantar nesse veratildeo o cerco das terras indiacutegenas e das terras de trabalho no renascimento poliacutetico do campo ndash Petroacutepolis Editora Vozes 1986 SANTOS Joatildeo Pedro Celestino dos DAMACENA Daniel Menezes O ldquovalorrdquo da terra camponesa na contramatildeo do ldquodesenvolvimentordquo Resumo II Congresso Internacional de Educaccedilatildeo (CONEduc-UFS) VII Encontro Nacional de Educaccedilatildeo do Campo e Movimentos Sociais Escola da Terra VII Foacuterum Identidades e Alteridades III Congresso Educaccedilatildeo e Diversidade (CONED-UFS) III Coloacutequio de Estudos Territoriais Mar 2018 SOUSA Ronilson Barboza de A luta pela terra na (contra)matildeo da ordem capitalista uma anaacutelise a partir da realidade do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST)

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In CONCEICcedilAtildeO Alexandrina Luz SANTOS Fabriacutecia de Oliveira (orgs) A natureza imperialista do capital e a falaacutecia do fim da crise Editora UFS Satildeo CristoacutevatildeoSE 2015 p 331 - 356

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O VENENO ESTAacute NA MESA UMA REFLEXAtildeO SOBRE O USO DE VENENOS AGRIacuteCOLAS NOS ALIMENTOS PRODUZIDOS NOS PERIacuteMETROS IRRIGADOS DO MUNICIacutePIO DE ITABAIANASE

Joseacute Davi Ferreira Limasup1

(Graduando em Geografia na Universidade Federal de Sergipe Nuacutecleo de Estudos e Pesquisas em Geografia Filosofia e

Educaccedilatildeo) E mail davi-lima16hotmailcom

Thaiacutes Moura dos Santossup2

(Licenciada em Geografia pela Universidade Federal de Sergipe)

E mail thaissou14hotmailcom

Rosana de Oliveira Santos Batistasup3 (Docente do Departamento de Geografia da Universidade

Federal de Sergipe Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo MPROFCIAMB Nuacutecleo de Estudos e Pesquisas em

Geografia Filosofia e Educaccedilatildeo) E mail rostosgeohotmailcom

RESUMO

O municiacutepio de Itabaiana-Sergipe se apresenta no cenaacuterio estadual como maior produtor de hortaliccedilas no entanto essa produtividade estaacute atrelada aos altos iacutendices de utilizaccedilatildeo dos mais variados tipos de venenos agriacutecolasagrotoacutexicos Nesse contexto objetivou-se analisar a questatildeo agraacuteria em Sergipe procurando compreender a dinacircmica do agronegoacutecio que no estado estaacute ancorado na utilizaccedilatildeo intensiva dos agrotoacutexicos bem como categorizar dados coletados em fontes primaacuterias e secundaacuterias de

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informaccedilotildees sobre morbidade e mortalidade via agrotoacutexicos na produccedilatildeo de alimentos do municiacutepio de Itabaiana Este artigo possui o intento de demostrar a contaminaccedilatildeo por venenos agriacutecolasagrotoacutexicos no municiacutepio de Itabaiana-SE e os processos ideoloacutegicos existentes na produccedilatildeo agriacutecola desse municiacutepio Concluiacutemos que o uso dos venenos agriacutecolasagrotoacutexicos eacute uma constante nos periacutemetros irrigados de Itabaiana-SE Constatamos ainda que existe a utilizaccedilatildeo de venenos dos mais variados graus de toxidade o que resulta em casos de intoxicaccedilotildees e oacutebitos entre os trabalhadores bem como a ocorrecircncia de suiciacutedios O desenvolvimento dessa pesquisa permitiu desvelar problemas ainda pouco conhecidos que eacute a contaminaccedilatildeo humana e do ambiente responsaacutevel por fazer da vivecircncia dos trabalhadores dos periacutemetros irrigados de Itabaiana uma constante problemaacutetica em relaccedilatildeo agrave sauacutede fato que vai aleacutem da realidade local pois os alimentos produzidos nos referidos periacutemetros satildeo comercializados em todo o estado de Sergipe e em mais alguns estados do Nordeste Palavras-chave Alimentos Agrotoacutexicos Sauacutede INTRODUCcedilAtildeO

Segundo (CARSON 1962) desde o surgimento da vida no planeta Terra haacute 45 bilhotildees de anos o ambiente sempre agiu sobre os seres vivos definindo as condiccedilotildees necessaacuterias agrave existecircncia ou natildeo deles Os estudos geoloacutegicos comprovam que as ocorrecircncias de grandes erupccedilotildees vulcacircnicas lanccedilaram no ar grandes quantidades de gases cinzas e vapor de aacutegua gerando uma alteraccedilatildeo na composiccedilatildeo atmosfeacuterica em relaccedilatildeo agrave existente anterior ao evento Os periacuteodos glaciais tambeacutem foram protagonistas na accedilatildeo sobre as formas de vida existentes no planeta Pois associadas a esses dois tipos de eventos geoloacutegicos citados anteriormente estatildeo as extinccedilotildees em massa

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de algumas espeacutecies Continuamente os processos e a dinacircmica da Terra e da atmosfera atuaram e continuam atuando sobre os seres animados residentes no planeta

A partir do seacuteculo XVI houve o rompimento com o paradigma medieval O Medievo ficou conhecido como idade das trevas justamente pelo pouco avanccedilo da produccedilatildeo cientiacutefica devido ao forte domiacutenio ideoloacutegico da Igreja Catoacutelica A partir desse periacuteodo o homem comeccedila a aprofundar os estudos sobre a natureza usando a razatildeo e empiria O avanccedilo da ciecircncia fez com que a relaccedilatildeo entre ser humano e natureza aos poucos comeccedilasse a mudar

A intensificaccedilatildeo da transformaccedilatildeo da natureza em produtos manufaturados fez com que houvesse uma inversatildeo nos papeacuteis a partir daiacute um dentre todos os seres vivos o homem passa a exercer seu domiacutenio ldquoconscienterdquo sobre a natureza Conhecendo a fundo as leis da natureza o grupo detentor da ciecircncia passa a apropriar-se e explorar cada vez mais os recursos naturais transformando-os em mercadorias no modo de produccedilatildeo capitalista

Com a transiccedilatildeo do sistema feudal para o capitalista toda a estrutura da sociedade foi modificada tanto no meio social quanto no poliacutetico e econocircmico A burguesia passa a dominar a poliacutetica e a ciecircncia e todos as instituiccedilotildees do Estado moderno tendo como objetivo favorecer o mercado e acumular capital A estrutura da sociedade capitalista eacute baseada em relaccedilotildees de produccedilatildeo exploraccedilatildeo dos trabalhadores e da natureza e acumulo de capital pela mais-valia ou seja o trabalho natildeo pago Isso promove na sociedade um engessamento das relaccedilotildees e da forma como o homem enxerga a natureza utilizando-a apenas para um fim obter lucro (MARX 2010)

Nesse contexto infere-se que o dualismo presente na relaccedilatildeo sociedade versus natureza eacute

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resultante do processo desigual e combinado do capital Pois a natureza eacute concebida como mercadoria um objeto exterior ao homem e passiacutevel de apropriaccedilatildeo pelo mesmo por meio da teacutecnica (ARAUacuteJO BATISTA p2)

A intensificaccedilatildeo desse processo agora inverso onde o homem age sobre o ambiente de forma muito mais intensa impactando nas diversas formas de vida inclusive na dele mesmo se daacute no seacuteculo XX com a descoberta de substacircncias quiacutemicas que passam a ser usadas para controlar insetos e plantas indesejadas nos campos agriacutecolas do mundo inteiro A induacutestria de agroquiacutemica tem sua gecircnese apoacutes a Primeira Guerra Mundial no momento em que as grandes corporaccedilotildees quiacutemicas internacionais criaram subsidiaacuterias produtoras de agrotoacutexicos que visaram aproveitar as moleacuteculas quiacutemicas desenvolvidas para fins beacutelicos No entanto somente apoacutes a Segunda Guerra Mundial tais produtos passaram a desempenhar papel importante na agricultura com o advento da Revoluccedilatildeo Verde Esta foi a aplicaccedilatildeo de um conjunto de praacuteticas associadas ao uso de insumos agriacutecolas necessaacuterios para assegurar niacuteveis crescentes da produtividade da agricultura baseado no uso intensivo de agrotoacutexicos e fertilizantes sinteacuteticos Os defensores da Revoluccedilatildeo verde pregavam a erradicaccedilatildeo da fome no mundo no entanto infelizmente natildeo resultou nessa falaacutecia Mas serviu para aumentar ainda mais o monopoacutelio burguecircs Os usos em larga escala dessas substacircncias perigosas passaram a contaminar as aacuteguas os solos e os animais e os seres humanos

Em todas as amostras foi detectada a presenccedila de venenos Somente nas caixas drsquoaacutegua puacuteblicas em que a aacutegua jaacute estava armazenada para ser canalizada para as residecircncias foram

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encontrados pelo menos 5 venenos diferentes Em uma delas havia 8 tipos de agrotoacutexico Em alguns pontos de coleta foram detectados mais de 12 agrotoacutexicos diferentes na mesma amostra de aacutegua (LONDRES 2011 p 65)

As consequecircncias de toda essa infecccedilatildeo eacute a movimentaccedilatildeo ilimitada desses materiais mortiacuteferos (Agrotoacutexicos) nos corpos dos seres vivos pois na natureza uns sobrevivem se alimentando dos outros pela cadeia alimentar estando alguns seres contaminados todo o resto estaacute condenado a conviver com a toxidade dentro do proacuteprio corpo A contaminaccedilatildeo vai das plantas agraves entranhas dos animais que se alimentam delas O homem modificou a natureza ao seu modo sem calcular as consequecircncias que isso resultaria O uso de agrotoacutexicos nas plantaccedilotildees contaminou tudo em sua volta e essa contaminaccedilatildeo estaacute se tornando permanentes nos solos aacuteguas e no proacuteprio corpo humano (CARSON 1962)

A agricultura quando voltada para atender as demandas capitalistas de mercado natildeo respeita o tempo da natureza Existe um periacuteodo de desenvolvimento estabelecido para cada coisa por exemplo em algumas espeacutecies de plantas a germinaccedilatildeo da semente o crescimento floraccedilatildeo e frutificaccedilatildeo satildeo fases que demandam certo tempo tudo isso instituiacutedo naturalmente

Como reflete (BOMBARDI 2011) o tempo do capital sobrepotildee o tempo da natureza com a ambiccedilatildeo de acelerar a produccedilatildeo para satisfazer as necessidades criadas pelo mercado e garantir a reproduccedilatildeo capitalista assim mantendo a ordem vigente e transformando os alimentos e trabalhadores em mercadorias Essa eacute a essecircncia do Estado burguecircs que busca sempre a reproduccedilatildeo do capital atraveacutes da grande exploraccedilatildeo

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do trabalho humano e da natureza para dar continuidade ao movimento de seu mecanismo de acumulaccedilatildeo da riqueza produzida consequentemente ocorre a alteraccedilatildeo da relaccedilatildeo sociedadenatureza como condiccedilatildeo sustentadora de sua estrutura

O modo de produccedilatildeo capitalista soacute funciona se houver mercado consumidor e que consuma diariamente mesmo sem necessidade As pessoas satildeo levadas pelo fetiche ou seja o desejo de consumir mesmo sem necessidade que eacute despertado nelas pelas propagandas que satildeo veiculadas nos meios de comunicaccedilatildeo Por isso os bens produzidos satildeo cada vez mais descartaacuteveis para que logo depois que comprado um produto jaacute seja necessaacuterio substitui-lo por outro Assim agrave medida que se produz mais em menos tempo tambeacutem eacute exigido da natureza tal rapidez mesmo ela tendo seu proacuteprio tempo

Foram necessaacuterios centenas de milhotildees de anos para se produzir a vida que agora habita a Terra idades de tempo para que essa vida desenvolvendo-se evoluindo e diversificando-se alcanccedilasse um estado de ajustamento e de equiliacutebrio com o seu meio ambiente O meio ambiente dando conformaccedilatildeo e dirigindo rigorosamente agrave vida que amparava continham elementos que eram ao mesmo tempo hostis e sustentadores (CARSON 1962 p 16)

Ainda para CARSON (1962) ldquoa vida ajustou-se e um equiliacutebrio foi conseguido Porquanto o tempo eacute ingrediente essencial mas no mundo moderno natildeo haacute tempordquo Para que nunca faltem mateacuterias primas provenientes da agricultura as aacutereas de cultivo satildeo aumentadas as sementes modificadas geneticamente e satildeo aplicados venenos para combater as ldquopragasrdquo nas plantaccedilotildees Uma seacuterie de problemas eacute criada a

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partir desse modelo de produccedilatildeo agriacutecola que tem como objetivo contribuir para a fluidez necessaacuteria ao mercado capitalista

O avanccedilo das aacutereas de cultivo destroacutei as florestas no entanto os insetos e plantas que antes viviam naquelas selvas insistem em ficar no local onde sempre viveram agora ocupado pelas grandes plantaccedilotildees Eles passam a serem considerados problemas no desenvolvimento da lavoura (CARSON 1962) essa que eacute destinada ao abastecimento da induacutestria para ser transformada em bens de consumo indo para o mercado gerar lucro para umas poucas pessoas que deteacutem os meios de produccedilatildeo Ou seja problemas satildeo gerados para sustentar uma agricultura que natildeo tem como objetivo alimentar as pessoas com produtos saudaacuteveis e diversificados pois predominam os cultivos de soja milho e cana-de-accediluacutecar e outros commodities para a exportaccedilatildeo Os pequenos produtores tambeacutem entram no jogo do agronegoacutecio natildeo porque queiram mas pelas obrigatoriedades que lhe satildeo impostas Poliacuteticas de creacuteditos rurais satildeo atreladas ao incentivo do uso dos agrotoacutexicos o marketing promovido na miacutedia faz com que os agricultores acreditem no discurso do aumento da produtividade sem que faccedilam anaacutelise alguma das consequecircncias que o uso de tais substacircncias pode provocar Assim passam a serem tambeacutem consumidores dos insumos agriacutecolas gerando mais lucros para as multinacionais do agronegoacutecio

E para que essa produccedilatildeo agriacutecola continue servindo de meio para a acumulaccedilatildeo de capital eacute sustentada a grande problemaacutetica que eacute o uso de substacircncias toacutexicas e letais para expulsar viventes de seus habitats naturais e contaminar os alimentos produzidos Os insetos que sobrevivem agraves cargas de venenos aplicados sobre eles criam resistecircncia aos determinados tipos agrotoacutexicos Deste modo a geraccedilatildeo seguinte natildeo seraacute mais afetada pelos mesmos venenos Assim

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sendo satildeo desenvolvidas novas substacircncias quiacutemicas cada vez mais destrutivas para combater as ldquopragasrdquo que a cada novo borrifo cria nova resistecircncia Eacute a guerra da vida contra a vida (CARSON 1962)

Alguns dos provaacuteveis arquitetos do nosso futuro olham para uma eacutepoca em que seraacute possiacutevel modificar o plasma germinal humano de acordo com planos bem delineados Mas noacutes podemos facilmente estar fazendo isso agora por inadvertecircncia visto que muitas substacircncias quiacutemicas como as radiaccedilotildees provocam mutaccedilotildees nos genes Eacute irocircnico pensar que o Homem possa determinar seu proacuteprio futuro por meio de alguma coisa tatildeo aparentemente trivial como a escolha de um borrifamento contra insetos (CARSON 1962 p 18)

O agronegoacutecio que eacute a representaccedilatildeo do capital na agricultura natildeo deixa a sociedade a par do que estaacute acontecendo do grau de envenenamento de seus produtos que satildeo utilizados na induacutestria alimentiacutecia e que satildeo ingeridos pelas pessoas todos os dias Existem formas de trabalhar a agricultura sem que seja necessaacuterio o uso de substacircncias mortiacuteferas tais como satildeo os agrotoacutexicos Natildeo eacute por falta de conhecimento que se continua a matar a natureza mas por falta de interesse da classe dominante pois eacute destruindo o meio ambiente e escravizando as pessoas que ela manteacutem seu monopoacutelio

Grande parte do conhecimento indispensaacutevel jaacute se encontra disponiacutevel mas noacutes ainda natildeo fazemos uso dele Noacutes treinamos ecologistas nas nossas universidades e ateacute os empregamos nas nossas reparticcedilotildees governamentais mas raramente lhes seguimos os conselhos

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Deixamos que a chuva de morte quiacutemica desabe como se natildeo houvesse alternativa alguma ao passo que a verdade eacute que haacute muitas alternativas ademais o nosso engenho e as nossas aptidotildees logo descobriratildeo muitas alternativas mais desde que se lhes decirc oportunidade para isso (CARSON 1962 p 21)

As poucas pessoas que deteacutem o poder econocircmico e poliacutetico no mundo natildeo se importam com o preccedilo que a Terra e tudo o que nela existe estatildeo pagando pois a ganacircncia pelo acumulo de riquezas parece os deixar ldquocegosrdquo Para eles o que importa eacute o lucro e os recursos naturais que deveriam ser bens comuns agrave toda humanidade aleacutem de estarem sendo muito explorados natildeo satildeo cuidados nem preservados comprometendo o futuro de todas as formas de vida

Todo este risco foi enfrentado ndash para quecirc Os historiadores futuros bem poderatildeo sentir-se admirados em face do nosso distorcido senso das proporccedilotildees Como poderiam seres inteligentes procurar controlar umas poucas espeacutecies natildeo-desejadas por meio de um meacutetodo que pode contaminar todo meio ambiente e que corporifica ameaccedila de enfermidades e de morte ateacute mesmo da sua proacutepria espeacutecie (CARSON 1962 p 19)

Assim o Homem continua a envenenar a natureza pensando talvez que estaacute fora da desgraccedila feita por ele mesmo Envenena-se agrave medida que coloca veneno na terra adoece quando torna as plantas doentias sacrifica o futuro e morre quando mata sua fonte de vida

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USO DE VENENOS AGRIacuteCOLAS NOS PERIacuteMETROS IRRIGADOS DO MUNICIacutePIO DE ITABAIANASE

O municiacutepio de Itabaiana estaacute localizado na regiatildeo central do estado de Sergipe tem uma precipitaccedilatildeo meacutedia anual eacute de 1500 mm quanto agrave temperatura a posiccedilatildeo geograacutefica juntamente com o relevo sem grande expressatildeo em termos altimeacutetricos contribui para que seja regular sem grandes amplitudes oscilando de 24ordm a 25ordmC O municiacutepio estaacute parcialmente inserido no poliacutegono das secas com clima do tipo megateacutermico seco e sub-uacutemido O municiacutepio estaacute inserido em duas bacias hidrograacuteficas a do rio Sergipe e a do rio Vaza Barris Constituem a drenagem principal o rio Jacarecica e os riachos Ribeira e Coqueiro fato que contribui muito para o desenvolvimento das atividades agriacutecolas (CPRM 2002) Sendo que nos uacuteltimos trinta anos Itabaiana foi sede da consolidaccedilatildeo de algumas poliacuteticas territoriais como a construccedilatildeo de trecircs barragens Accedilude da Marcela Jacarecica I e Poccedilatildeo da Ribeira (ver mapa abaixo) Por estas poliacuteticas o municiacutepio tem diversificado sua produccedilatildeo como tambeacutem vem sediando espaccedilos de armazenamento

Eacute o mais importante municiacutepio da microrregiatildeo do Agreste de Itabaiana e apresenta uma das maiores economias do estado com niacutevel elevado de empregos nos setores de serviccedilo induacutestria e comeacutercio A mineraccedilatildeo tambeacutem contribui para a economia com a atividade de lavra de pedreiras Outra atividade importante nesse municiacutepio eacute a fabricaccedilatildeo de blocos e telhas nas olarias A agricultura nesse municiacutepio desempenha um papel fundamental no que se refere a circulaccedilatildeo de alimentos tendo como principais produtos a mandioca batata doce tomate alface coentro quiabo e outras variedades de hortaliccedilas sendo que em quase todos os cultivos haacute a

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utilizaccedilatildeo de agrotoacutexicos Na pecuaacuteria os principais efetivos satildeo os bovinos suiacutenos e ovinos haacute tambeacutem uma criaccedilatildeo muito significativa de galinaacuteceos (CPRM 2002)

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O padratildeo de utilizaccedilatildeo dos agrotoacutexicos eacute disseminado para todas as partes do Brasil e em Sergipe assim como o resto do paiacutes eacute levado a se inserir no modelo atual de produccedilatildeo tanto em velocidade como em forma e por encontrar-se entre os estados que mais utilizam agrotoacutexico seriam necessaacuterias maiores fiscalizaccedilotildees para natildeo permitir o abuso dos venenos poreacutem natildeo eacute isto que acontece (MOURA 2015)

Dentro do contexto do estado de Sergipe o municiacutepio que mais utiliza agrotoacutexico eacute Itabaiana e por ser uma aacuterea de grande exploraccedilatildeo agriacutecola os recursos satildeo muito utilizados permitindo que os solos e plantaccedilotildees sejam ainda mais expostos a produtos nocivos agrave vida humana Assim como existe a dificuldade de no Brasil os alimentos serem produzidos de forma saudaacutevel em Itabaiana esta dificuldade eacute acentuada pelo descaso nas fiscalizaccedilotildees pois aleacutem do trabalho ruinoso que os agricultores vivenciam cotidianamente dos perigos a que estatildeo expostos esses ainda satildeo viacutetimas do modelo de produccedilatildeo dominante (MOURA 2015)

No periacutemetro irrigado do Accedilude da Marcela em Itabaiana os trabalhadores agriacutecolas satildeo constantemente expostos agraves substacircncias quiacutemicas maleacuteficas A necessidade de cumprir a grande demanda por produtos soacute acelera os danos agrave sauacutede deles Apesar dos indiacutecios e sintomas apresentados os trabalhadores natildeo conseguem associa-los aos agrotoacutexicos exatamente pela manipulaccedilatildeo e inibiccedilatildeo das informaccedilotildees que eacute promovida pela miacutedia dominante na sociedade para que as pessoas continuem ignorando os malefiacutecios dessas substacircncias Os trabalhadores se referem aos venenos como se fossem remeacutedios pelo fato de ter sido isto que ouviram refletindo aquilo que lhes foram ensinados e para aleacutem de aprender passarem para outras pessoas a ideia de que os agrotoacutexicos natildeo fazem mal (BATISTA SANTOS 2015) Aleacutem disso muitos dos trabalhadores tecircm uma sensaccedilatildeo de seguranccedila usando os equipamentos de proteccedilatildeo por isso promovem descuidos

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bem como no descarte indevido das embalagens como se o veneno natildeo se espalhasse ou natildeo fosse contamina-los de outras formas sendo ineficaz a utilizaccedilatildeo de equipamentos pois estes natildeo mudam o fato de que aquele veneno vai ser disperso em todo ambiente

No periacutemetro irrigado do Accedilude da Marcela accedilude que fica vizinho agrave sede do municiacutepio haacute a predominacircncia de produtores mais velhos acima de 50 anos estes natildeo datildeo muita importacircncia ao uso do equipamento de proteccedilatildeo individual pois natildeo acreditam que os produtos sejam toacutexicos e perigosos para a sauacutede humana Jaacute alguns dos mais jovens tecircm consciecircncia dos danos poreacutem seguem utilizando de forma inadequada ou natildeo utilizando o Equipamento de Proteccedilatildeo Individual (EPI) assim tambeacutem natildeo datildeo muito creacutedito ao uso da proteccedilatildeo aceitando de maneira consciente as ameaccedilas agrave sauacutede e ao meio ambiente Alguns agricultores tecircm conhecimento dos danos que podem ser causados pela aplicaccedilatildeo dos agrotoacutexicos nas lavouras no entanto natildeo tecircm como fugir da contaminaccedilatildeo pois a atividade agriacutecola representa a renda necessaacuteria agrave sobrevivecircncia da famiacutelia e eles relatam natildeo saberem de outra forma de produzir

Entre as pessoas que trabalham nas plantaccedilotildees do entorno do accedilude da Marcela eacute notoacuterio que a maioria jaacute tem idade acima de 50 anos Associado a isso estaacute tambeacutem a pouca escolaridade dos agricultores sendo um dos motivos que justifica a faacutecil manipulaccedilatildeo de suas opiniotildees em relaccedilatildeo aos venenos agriacutecolas e ldquoaceitaccedilatildeordquo de que natildeo existem perigos no uso desses Pois natildeo tendo acesso a informaccedilotildees verdadeiras sobre os venenos os trabalhadores ficam refeacutens da grande miacutedia (esta que eacute o instrumento de disseminaccedilatildeo das ideias do agronegoacutecio) assim como tambeacutem grande parte das pessoas natildeo ficam a par da nocividade dessas substacircncias

O capital usa de uma estrateacutegia para que os agricultores fiquem refeacutens em toda a cadeia produtiva Essa taacutetica

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materializa-se no Pacote Tecnoloacutegico no qual eacute oferecido aos produtores sementes transgecircnicas fertilizantes quiacutemicos agrotoacutexicos assistecircncia teacutecnica e entre outros produtos que impulsionam a produccedilatildeo e tambeacutem a criaccedilatildeo de leis pelo parlamento por exemplo para que o agricultor acesse poliacuteticas de creacuteditos voltadas para a agricultura nos bancos ele tem que estaacute enquadrado no modelo de produccedilatildeo proposto pelo agronegoacutecio O fetiche da alta produtividade e de lucros maiores faz com que os agricultores se insiram no modelo imposto pelo agronegoacutecio abandonando seus conhecimentos tradicionais que satildeo originalmente de cuidado e respeito ao meio ambiente

O uso de sementes geneticamente modificadas obriga os agricultores a usarem os adubos e venenos que satildeo oferecidos pelo mercado porque existe a dependecircncia por parte das sementes transgecircnicas para com esses componentes quiacutemicos Todo esse processo de dominaccedilatildeo do capital no campo eacute facilitado pelos governantes e principalmente por aqueles que tecircm ligaccedilatildeo com o agronegoacutecio no Brasil (a bancada ruralista no congresso nacional) que atuam pelos proacuteprios interesses e das empresas de agroquiacutemicos que apoiam suas campanhas eleitorais Natildeo haacute outro motivo se natildeo esse para que eles faccedilam uma grande defesa e incentivo ao uso de agrotoacutexicos no paiacutes atacando incessantemente o meio ambiente os povos e comunidades tradicionais Uma das consequecircncias satildeo as intoxicaccedilotildees que satildeo constantes e ao mesmo tempo ignoradas pelo Estado Natildeo existe a perspectiva de que essa populaccedilatildeo estaacute doente pela forma que trabalha natildeo eacute interessante para o Estado o esclarecimento e combate desses problemas mas ao contraacuterio promove o ocultamento tanto das doenccedilas como das causas

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Enquanto isso estaacute ocorrendo os problemas com os

agrotoacutexicos se tornam maiores do que anos atraacutes com relatos de suiciacutedios por consequecircncia destes venenos Como essas substacircncias mexem com o organismo inteiro eacute esperado que acontecessem efeitos neuroloacutegicos tambeacutem mas se o Estado natildeo percebe nem as doenccedilas como o cacircncer pelo uso de agrotoacutexicos eacute suscetiacutevel que ignore os casos de suiciacutedios como fatos isolados e natildeo problema de sauacutede puacuteblica (BATISTA SANTOS p17)

Esses efeitos neuroloacutegicos pelo uso de produtos quiacutemicos ambientais como alumiacutenio mercuacuterio caacutedmio e fluacuteor provocam no organismo uma seacuterie de problemas destrutivos a sauacutede doenccedilas como depressatildeo (que vai influenciar diretamente no suiciacutedio) esquizofrenia transtornos

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de ansiedade insocircnia autismo e entre muitas outras que estatildeo em estados progressivos (SENEFF SWANSON LI 2015)

O aumento de substacircncias nocivas como o glifosato proporciona uma seacuterie de mudanccedilas negativas no organismo mesmo em longo prazo que consolidam ainda mais este adoecimento da populaccedilatildeo que natildeo se restringe apenas a um estado ou paiacutes mas que eacute uma realidade de muitos Estados industrializados Haacute uma interaccedilatildeo do glifosato com o alumiacutenio que suscitam em muitas dessas doenccedilas mas principalmente na insocircnia anemia e o autismo Portanto se apenas uma substacircncia jaacute tem efeitos nocivos no organismo o conjunto de todas as substacircncias utilizadas no ambiente tem um efeito ainda mais pernicioso as reaccedilotildees no organismo com substacircncias toacutexicas provocam reaccedilotildees quiacutemicas principalmente no ceacuterebro e iratildeo se dispersar por todo sistema orgacircnico (SENEFF SWANSON LI 2015)

O efeito agravante acontece na glacircndula Pineal responsaacutevel por secretar a melatonina hormocircnio responsaacutevel pela regulaccedilatildeo dos ritmos do corpo (ciclo circadiano) reloacutegio bioloacutegico e o sono eacute diretamente afetada com relaccedilatildeo agrave insocircnia que o glifosato juntamente com o alumiacutenio provocam esta natildeo consegue cumprir a tarefa de regular o sono e o organismo tem uma seacuterie de reaccedilotildees por falta de um reloacutegio bioloacutegico saudaacutevel o que aleacutem da insocircnia pode promover um quadro depressivo (SENEFF SWANSON LI 2015)

Satildeo a esses riscos que os trabalhadores dos periacutemetros irrigados de Itabaiana estatildeo expostos E no entanto natildeo existe sequer uma accedilatildeo do Estado no tocante a conscientizaccedilatildeo e promoccedilatildeo de cuidados com a sauacutede das pessoas que estatildeo inseridas num contexto de maior contato com os venenos agriacutecolas no referido municiacutepio sergipano RESULTADOS

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Os processos domesticadores que satildeo desenvolvidos pela parcela da sociedade que domina e se beneficia com o comeacutercio dos agrotoacutexicos satildeo notoacuterios nas falas e accedilotildees de muitos dos trabalhadores nas plantaccedilotildees dos periacutemetros irrigados de Itabaiana A maneira como eles pensam falam e agem em relaccedilatildeo aos venenos agriacutecolas mostra como os processos ideoloacutegicos satildeo usados para fazer com que eles tenham uma visatildeo ingecircnua da proacutepria realidade Somente estando sob o julgo de manipulaccedilotildees das informaccedilotildees sobre os agrotoacutexicos eacute que os agricultores de tal municiacutepio podem acreditar que venenos agriacutecolas sejam remeacutedios

Pode-se analisar na fala de um dos trabalhadores que ele demostra conhecer os riscos agrave que os agrotoacutexicos o expotildee mas ao mesmo tempo relata atitudes contraditoacuterias tal como ter o equipamento de proteccedilatildeo individual e natildeo utiliza-lo por completo Outro ponto que se pode observar eacute a natildeo leitura da bula que consta nas embalagens

ldquoEu tenho o EPI neacute Eu utilizo macacatildeo A maacutescara eu natildeo gosto muito natildeo eu natildeo se acostumo mas uso a maacutescara tambeacutem Eacute difiacutecil eacute raro ler a bula eacute porque a gente que peleja com qualquer coisa se vocecirc trabalha com aquilo vocecirc jaacute sabe que tem um limite de colocar Aiacute as vezes vem as pessoas que satildeo estudadas que estuda tal aiacute diz natildeo eacute pra colocar esse tanto Mas a gente peleja aiacute com isso muitos anos sabe que com aquela dose faz efeito aiacute a gente nem procura saber a gente jaacute sabe o jeito da gente trabalhar mesmo que aquela quantidade que a gente utiliza serverdquo ldquonatildeo pra sauacutede natildeo pra sauacutede eu acredito que veneno nenhum Jaacute tem o nome veneno neacute Eu acredito que veneno nenhum eacute bom pra sauacutede Jaacute tem o nome veneno E tem o nome toacutexico neacute Eu acredito

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que veneno nenhum eacute bom pra sauacutede Neacute Mas eu acredito que tem gente que se prejudica mais raacutepido de que outros Porque tem o organismo depende do organismo Por aqui eu natildeo conheccedilo ningueacutem que se prejudicou por aqui natildeo Eu vejo falar no raacutedio que algueacutem jaacute se prejudicou utilizando veneno por causa do veneno porque natildeo se daacute com aquele veneno aiacute passa mal mas aqui nessa regiatildeo nunca vi falar natildeordquo (Entrevistado 10)

Esse agricultor se mostra ciente dos danos que os agrotoacutexicos podem causar a sauacutede mas natildeo acredita que os prejuiacutezos afetam as pessoas de maneira similar para ele depende da singularidade de cada um sendo o que define o grau de risco agrave contaminaccedilatildeo Sobre a utilizaccedilatildeo do EPI temos as informaccedilotildees dispostas no graacutefico abaixo

Muitos dos agricultores do periacutemetro irrigado do accedilude

da Marcela natildeo associam as doenccedilas os mal-estares e os transtornos psicoloacutegicos agrave exposiccedilatildeo e contato com os agrotoacutexicos Sobre casos de suiciacutedios na regiatildeo dos periacutemetros

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irrigados do municiacutepio de Itabaiana alguns dos trabalhadores que foram entrevistados comentaram

ldquoVeneno De vez em quando a gente ver uns querendo tomar veneno Neacute Tem gente que toma Morreu um uns tempos desse aiacute no bairro Bananeirardquo (Entrevistado 5) ldquoJaacute soube do caso laacute da outra barragem o cara tomou mas tomou porque queria mesmordquo (Entrevistado 8) ldquoTomando os venenos neacute Jaacute Natildeo aqui nessa regiatildeo Nunca soube que ningueacutem morreu em tomar veneno mas teve outras regiotildees por aiacute que sim Eu jaacute ouvir falar no raacutedio que jaacute utilizaram o veneno para se matarrdquo (Entrevistado 10)

A maioria dos venenos utilizados nas plantaccedilotildees dos periacutemetros irrigados de Itabaiana apresentam altos niacuteveis de toxidade (apresentados no quadro abaixo) tais como satildeo o Dithane que eacute um fungicidaacaricida produzido pela empresa Dow e estaacute classificado como extremamente toacutexico e o Cypitrin um inseticida produzido pela Sanachen e assim como o veneno anterior apresenta classificaccedilatildeo toxicoloacutegica I ou seja extremamente toacutexico Ainda assim alguns agricultores repetem o discurso de que os venenos satildeo fracos e natildeo satildeo nocivos nem a sauacutede nem ao meio ambiente

ldquoO veneno que utiliza aqui eacute fraco Eacute fraquinho eacute soacute para natildeo queimar a folha do coentrordquo (Entrevistado 2) ldquoAssim quem informa noacutes eacute eles laacute eles laacute tecircm os agrocircnomos laacute pronto Soacute que assim eacute carecircncia baixa sem ser que natildeo prejudica muitordquo (Entrevistado 4)

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Esses problemas satildeo acentuados com as constantes intoxicaccedilotildees que satildeo muito comuns entre os agricultores pois estatildeo muitas vezes em contato direto com as substacircncias desde o preparo da mistura que eacute colocada nos pulverizadores ateacute a aplicaccedilatildeo na lavoura Sobre as intoxicaccedilotildees as falas dos trabalhadores mostradas abaixo revelam o quanto eacute danoso agrave sauacutede o contato dos seres humanos com os venenos agriacutecolas

ldquoQuando eu trabalhava laacute em Propriaacute eu comecei a trabalhar pulverizando milho repolho essas coisas Eacute porque esses venenos de hoje que a gente usa aqui natildeo eacute que nem esses venenos que eu passava laacute em Propriaacute Aquele Politrin na eacutepoca tatildeo forte que ele era na hora que ele batia no coro da pessoa ele queimava Teve uma vez que eu tava passando numas dez tarefas de milho mais meu patratildeo aiacute nisso ele conversando mais eu aiacute o poacute do veneno entrou na boca entrou natildeo sei como

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foi aquilo Mim deu aquela tontura eu caiacute com bomba com tudo eu natildeo morri porque Eu fui pro hospital natildeo tinha nem soro A sorte foi que eu tava com um dinheiro em caixa neacute Eu tava com mil reais emprestado de um colega meu natildeo morri por causa desse dinheiro porque senatildeo eu tinha morrido Porque o patratildeo nem assistecircncia deu E eu com dez anos de trabalha agrave elerdquo (Entrevistado 1) ldquoEu tava ali cortando uma salsinha ali Se eu natildeo mim engano foi numa quinta-feira aiacute tava comeccedilando a chover e eu tava colocando um farelo no coentro farelo desses de daacute raccedilatildeo a gado pra o cachorrinho natildeo comer a semente Aiacute eu usei um veneno chamado Folisuper servia pra matar o cachorrinho pra natildeo comer as sementes do coentro Depois que eu botei o farelo com chuva chonendo neacute Quando cheguei em casa ave Maria mim arriei na hora Fui pro hospital o meacutedico perguntou em que eu trabalhava eu disse trabalho em siacutetio Ele perguntou vocecirc utilizou agrotoacutexico Eu disse Utilizei Depois disso pra caacute eu nunca mais peguei em veneno Hoje a gente usa soacute um veneno baacutesico fraquinho Nesse dia eu senti tontura dor de cabeccedila terriacutevel ave Maria eu passei foi ruim (Entrevistado 2)

No que se refere as embalagens estas satildeo descartadas sem muito cuidado isso associado a outras irregularidades soacute contribui no aumento de intoxicaccedilotildees natildeo soacute em Itabaiana mas em todo o Brasil Apesar de uma pequena maioria dos trabalhadores afirmarem que faz a devoluccedilatildeo das embalagens dos agrotoacutexicos para que sejam descartadas corretamente natildeo eacute bem essa a realidade no periacutemetro irrigado do accedilude da Marcela Eacute corriqueiro ver embalagens jogadas agraves margens das estradas nas aacutereas de cultivo em galpotildees e nos arredores das casas dos agricultores Aleacutem dos descartes indevidos das

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embalagens dos venenos por natildeo compreenderem e natildeo serem alertados da gravidade das consequecircncias que o uso dos agrotoacutexicos provoca na sauacutede e na natureza alguns trabalhadores tambeacutem natildeo datildeo a devida importacircncia ao Equipamento de Proteccedilatildeo Individual (EPI) Percebemos que muitos fatores favorecem o agravamento da situaccedilatildeo que jaacute eacute de risco dos trabalhadores do campo de Itabaiana Embalagens descartadas irregularmente no periacutemetro irrigado do accedilude da Marcela em ItabaianaSE

Fonte Trabalho de campo 02102017 Foto Joseacute Davi Ferreira Lima 2017

Nesse processo eacute perceptiacutevel a violecircncia que o homem do campo sofre desde o descaso com a sauacutede ao descaso em esclarecer e informaacute-lo Sendo essas as realidades dos trabalhadores dos periacutemetros irrigados de Itabaiana bem como de todos do paiacutes vivem sem saber dos riscos que correm e isso vai aleacutem de quem trabalha atingindo todos que consomem os alimentos contaminados pelos produtos toacutexicos que satildeo utilizados na agricultura Enquanto todo esse descaso acontece os iacutendices de suiciacutedios por agrotoacutexicos soacute aumentam

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e os casos de intoxicaccedilotildees se alastram entre os trabalhadores E os indiviacuteduos afetados direta eou indiretamente por consequecircncias do modelo de produccedilatildeo agriacutecola proposto pelo agronegoacutecio tornam-se apenas mais nuacutemeros para as estatiacutesticas CONCLUSAtildeO

Compreender a dinacircmica do agronegoacutecio no estado de Sergipe e os processos ideoloacutegicos impregnados nesse modelo de produccedilatildeo agriacutecola e a forma que a ideologia eacute utilizada para manipular as pessoas desde as que produzem agraves que consomem diariamente os alimentos envenenados eacute a forma mais eficaz de promover mudanccedilas na estrutura do sistema econocircmico este que causa grande degradaccedilatildeo para beneficiar as classes dominantes da sociedade Eacute atraveacutes do conhecimento que se pode ir de encontro aos problemas que satildeo causados aos seres humanos e ao meio ambiente pelo uso intensivo de agrotoacutexicos na produccedilatildeo de alimentos

O grande aparato que eacute montado para que o agronegoacutecio continue a escravizar os povos camponeses degradar o meio ambiente e contaminar com substacircncias perigosas quase que todos os seres do planeta tem o apoio do Estado que natildeo busca o bem estar social mas a manutenccedilatildeo do monopoacutelio burguecircs juntamente com a grande miacutedia que tambeacutem estaacute a serviccedilo da classe dominante Juntos Estado e miacutedia promovem apoio legal e midiaacutetico manipulador respectivamente agraves empresas produtoras de venenos e outros agroquiacutemicos e aos latifundiaacuterios monocultores Os camponeses natildeo ficam fora desse modelo de produccedilatildeo pois para eles satildeo impostos de vaacuterias maneiras os pacotes tecnoloacutegicos para o capital o que importa eacute que eles estejam

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consumindo seus insumos agriacutecolas (fertilizantes agrotoacutexicos e outros)

Assim a problemaacutetica que eacute o uso indiscriminado de agrotoacutexicos nos periacutemetros irrigados de ItabaianaSE e em outras aacutereas de cultivos do Brasil natildeo deve ser somente uma preocupaccedilatildeo dos agricultores sendo estes que satildeo os mais afetados por estarem em contato direto com os agrotoacutexicos mas de toda a sociedade brasileira que estaacute sujeita a consumir alimentos envenenados Pois alimento natildeo deve ser tratado como raccedilatildeo nem como comida envenenada mas como fonte de vida e que gere sauacutede para as pessoas produzidos agroecologicamente e de forma soberana diferente dos oferecidos pelo agronegoacutecio esses que soacute causam doenccedilas e mortes

REFEREcircNCIAS ARAUJO Ronaldo Marcos de Lima A Respeito da Centralidade do Trabalho Universidade Federal de Minas Gerais 200- BATISTA R O S Natureza e Sociedade as contribuiccedilotildees de Rousseau acerca da moral e da eacutetica ambiental Satildeo Cristoacutevatildeo 2009 BOMBARDI Larissa Mies Intoxicaccedilatildeo e morte por agrotoacutexicos no Brasil a nova versatildeo do capitalismo oligopolizado Boletim DATALUTA 2011 CARNEIRO F F ET (org) Dossiecirc ABRASCO um alerta sobre os impactos dos agrotoacutexicos na sauacutede Satildeo Paulo Expessatildeo Popular 2015

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CARSON Raquel Primavera silenciosa Satildeo Paulo Gaia 2010 INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA ndash IBGE IBGE Cidades Brasil 2017 LONDRES Flavia Agrotoacutexicos no Brasil um guia para accedilatildeo em defesa da vida ndash Rio de Janeiro AS-PTA ndash Assessoria e Serviccedilos a Projetos em Agricultura Alternativa 2011 MARX Karl O Capital criacutetica da economia poliacutetica Livro I Vol I Trad Reginaldo SantacuteAnna 27ordf ediccedilatildeo Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 2010 MOURA Thaiacutes dos Santos Dinacircmica espacial do uso de agrotoacutexicos em sergipe e os impactos na sauacutede do trabalhador Programa Institucional de Bolsas de Iniciaccedilatildeo Cientiacutefica ndash PIBIC Universidade Federal de Sergipe 2015 SANTOS Clecircane Oliveira dos Territoacuterios e espaccedilos vividos no municiacutepio de ItabaianaSE Ateliecirc Geograacutefico Goiacircnia-GO v 3 n 3 dez2009 pp152-174 SENEFF Stephenie SWANSON Nancy LI Chen Alumiacutenio and glyphosate iacutendice pineal gland pathology cannection tocirc gut dysbiosis and neurological disease Agricultural Sciences Vol 6 nordm 01 2015 SERVICcedilO GEOLOacuteGICODO BRASIL Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais ndash CPRM Brasil 2002

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OS DESDOBRAMENTOS DA ALIMENTACcedilAtildeO ESCOLAR EM TEMPOS DE GOLPE

Faacutebio Ferreira Santossup1

(Universidade Federal da Paraiacuteba) (Doutorando em Geografia)

E mail fabinhoufsgmailcom

Maria Franco Garciasup2 (Universidade Federal da Paraiacuteba)

(Professora e Orientadora do programa de poacutes-graduaccedilatildeo em Geografia)

E mail mmartillogmailcom RESUMO

As contradiccedilotildees do sistema capitalista nos impotildeem a pensar as transformaccedilotildees no espaccedilo geograacutefico de forma dialeacutetica A conjuntura atual em que vivemos no Brasil nos permite compreender que as poliacuteticas puacuteblicas em especial o Programa Nacional de Alimentaccedilatildeo Escolar (PNAE) insere-se numa fase de extrema delicadeza no que diz respeito ao seu gerenciamento Nesse sentido pensar na produccedilatildeo de alimentos do campesinato para este programa nos permite entender a relaccedilatildeo Estado-camponecircs num momento de incerteza Dessa forma as mudanccedilas no PNAE no decorrer dos seus sessenta e dois anos de existecircncia fazem parte das transformaccedilotildees capitalistas que subordina as relaccedilotildees econocircmicas no territoacuterio Contudo a resistecircncia camponesa e sua loacutegica produtiva vatildeo de encontro a esse modelo de desenvolvimento e nos oferenda a pensar uma sociedade melhor e justa Assim diante do golpe de Temer no paiacutes e os retrocessos na poliacutetica agraacuteria e agriacutecola o camponecircs continua

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resistindo e se recriando nas diferentes lutas pela terra e pela reproduccedilatildeo de sua famiacutelia Palavras-chave Golpe Campesinato poliacuteticas puacuteblicas INTRODUCcedilAtildeO

Este texto traz reflexotildees acerca do Programa nacional de alimentaccedilatildeo escolar nos seus 62 anos de existecircncia destacando se suas transformaccedilotildees ao longo de deacutecadas Todavia a conjuntura poliacutetica atual nos referenda a pensar estrateacutegias de resistecircncias diante o golpe poliacutetico instaurado no paiacutes Nesse aspecto os retrocessos nas poliacuteticas puacuteblicas para o campo atraveacutes da extinccedilatildeo do ministeacuterio do desenvolvimento agraacuterio e da suspensatildeo da assistecircncia teacutecnica rural tiveram rebatimentos significativos na agricultura camponesa

Nesse aspecto o meacutetodo dialeacutetico e as pesquisas bibliograacuteficas nos impulsionaram a explicar as contradiccedilotildees na conjuntura poliacutetica atual e seus desdobramentos para o campo

O PNAE faz parte de um dos eixos de acesso aos alimentos no qual estaacute inserido dentro da poliacutetica nacional de seguranccedila alimentar e nutricional (PNSAN) desde o ano de 2005 Para tal o contexto em que se insere o PNAE no Brasil deve ser posto em evidencia para que fique claro o programa e sua atuaccedilatildeo

Alguns autores no dar suporte teoacuterico nas anaacutelises do PNAE como Carvalho e Castro (2009) Belik (2006) Coimbra (1982) Fialho (1993) Costa (2001) Sturion (2003) entre outros que nos mostram que o programa nacional de alimentaccedilatildeo escolar tem possibilitado aos camponeses a permanecircncia na terra e que o PNAE eacute o mais antigo programa social do Governo Federal na aacuterea de educaccedilatildeo e eacute o maior programa de alimentaccedilatildeo em atividade no Brasil

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Nesse acircmbito a importacircncia do PNAE para a educaccedilatildeo eacute de extrema importacircncia pois visa a merenda escolar Segundo Carvalho e Castro (2009)

O Programa Nacional de Alimentaccedilatildeo Escolar (PNAE) foi criado em 1979 mas somente com a promulgaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo Cidadatilde em 1988 foi assegurado o direito agrave alimentaccedilatildeo escolar a todos os alunos do ensino fundamental como programa suplementar agrave poliacutetica educacional Logo na primeira metade da deacutecada de 1990 os formulados foram totalmente abolidos dos cardaacutepios (CARVALHO CASTRO 2009 p3)

Nesse sentido O PNAE vincula-se como um programa suplementar a poliacutetica educacional uma vez que direciona a produccedilatildeo de alimentos da agricultura para a alimentaccedilatildeo escolar

Historicamente o ano de 2016 foi marcado pelas contradiccedilotildees e resistecircncia na poliacutetica brasileira O golpe poliacutetico que resultou no impeachment de Dilma Rousseff assegurou as elites dominantes deste paiacutes no poder A forjaccedilatildeo de pedaladas fiscais e de irregularidades durante a gestatildeo da presidenta (2011 a 2016) marcaram um cenaacuterio poliacutetico contraditoacuterio de retrocessos significativos para a sociedade

No espaccedilo agraacuterio a tomada de poder pelo Golpista Michel Temer foi aclamada como um retrocesso nas discussotildees das poliacuteticas puacuteblicas para o campo Diante desse contexto os avanccedilos conquistados pelo Programa Nacional de Alimentaccedilatildeo Escolar nos uacuteltimos 10 anos foram rapidamente deteriorados pela bancada ruralista no Congresso Nacional

Nesse acircmbito a contextualizaccedilatildeo do programa ao longo de seus 62 anos de existecircncia e principalmente a partir de 2010 torna-se essencial para entendermos a relaccedilatildeo do

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campesinato com o PNAE Por ser um programa direcionado a aquisiccedilatildeo de alimentos a alimentaccedilatildeo escolar se tornou nos uacuteltimos 7 anos um mercado institucional para o campesinato Dessa forma a aprovaccedilatildeo da lei 11947 em 2009 prevecirc em seu art 14

Do total dos recursos financeiros repassados pelo FNDE no acircmbito do PNAE no miacutenimo de 30 (trinta por cento) deveratildeo ser utilizados na aquisiccedilatildeo de gecircneros alimentiacutecios diretamente da agricultura familiar e do empreendedor familiar rural ou de suas organizaccedilotildees priorizando-se os assentamentos da reforma agraacuteria as comunidades tradicionais indiacutegenas e comunidades quilombolas (BRASIL FNDE 2012)

Observa-se que a lei tem avanccedilos para o campesinato uma vez que objetiva fomentar a aquisiccedilatildeo de alimentos a agricultura camponesa proporcionando aos alunos da rede puacuteblica uma alimentaccedilatildeo saudaacutevel equilibrada Nesse aspecto o PNAE tem como objetivo atender as necessidades nutricionais dos alunos durante sua permanecircncia em sala de aula contribuir para o crescimento o desenvolvimento a aprendizagem e o rendimento escolar dos estudantes aleacutem de promover a formaccedilatildeo de haacutebitos alimentares saudaacuteveis (FNDE 2012)

Apesar disso a partir do golpe de 2016 as poliacuteticas puacuteblicas vecircm sofrendo alteraccedilotildees significavas atraveacutes de medidas provisoacuterias e a extinccedilatildeo do Ministeacuterio do Desenvolvimento Agraacuterio (MDA) Tais medidas contra a agricultura camponesa significam retrocessos para o campo

Dessa forma iremos suscitar o PNAE e suas faces no campo em seu processo histoacuterico de implementaccedilatildeo e consolidaccedilatildeo para que possamos entender a conjuntura atual

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de golpe e desmonte das poliacuteticas puacuteblicas de produccedilatildeo de alimentos pelo campesinato O PNAE E SUAS FACES NO CAMPO

O surgimento da Alimentaccedilatildeo Escolar no territoacuterio brasileiro estaacute ligado a poliacutetica de assistencialismo Surgido no iniacutecio do seacuteculo XX a merenda escolar estava alicerccedilada pelos programas de combate agrave fome e a pobreza no Brasil

As primeiras experiecircncias brasileiras efetivas de oferta de alimentaccedilatildeo escolar eram de caraacuteter beneficente e natildeo constituiacuteam campo de intervenccedilatildeo do Estado Destaca-se como exemplo a Caixa Escolar (embriatildeo da Associaccedilatildeo de Pais Amigos e Mestres-Apams) que passou a mobilizar a atenccedilatildeo para o tema (CARVALHO amp CASTRO 2010 p 2)

A partir de 1930 os movimentos sociais passaram a pressionar o governo com atos puacuteblicos exigindo accedilotildees do Estado para os problemas da fome e pobreza que assolavam o Brasil no qual teve repercussotildees anos seguintes no governo populista de Vargas no qual se iniciava as primeiras accedilotildees relacionadas a alimentaccedilatildeo no pais

Data de 1942 o desenvolvimento de um dos primeiros programas de alimentaccedilatildeo Tratava-se de um programa idealizado pelo Dr Dante Costa que partira de um inqueacuterito nutricional de crianccedilas em idade escolar e resultou no ldquoserviccedilo de desjejum escolarrdquo [] Aberto gratuitamente para mil crianccedilas filhos de trabalhadores requeria o comparecimento da crianccedila para receber a merenda natildeo permitia que a crianccedila tivesse acesso a outro lanche e ainda tinha data regularmente marcada para

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acompanhamento meacutedico O Desjejum consistia em um sanduiche um copo de leite e uma fruta (BITTENCOURT 2007 p63)

Apesar de serem iniciativas isoladas os primeiros programas de alimentaccedilatildeo na escola dariam bases para que o governo populista de Vargas comeccedilasse a se preocupar com a educaccedilatildeo e com a merenda escolar Nesse sentido natildeo podemos deixar de enfatizar que o periacuteodo populista no paiacutes foi influenciado pelas ideias de Josueacute de castro no acircmbito dos programas de combate agrave fome e a pobreza

A frente do SAPS Josueacute de Castro passa a observar os problemas da fome e da maacute distribuiccedilatildeo de alimentos no paiacutes de maneira mais abrangente Para Castro (1977) ldquoO SAPS tinha como objetivo assegurar condiccedilotildees favoraacuteveis e higiecircnicas agrave alimentaccedilatildeo dos segurados dos Institutos e Caixas de Aposentadorias e Pensotildees subordinados ao Ministeacuterio do Trabalho Induacutestria e Comeacuterciordquo (CASTRO 1977 p195)

Apoacutes o fim do Estado Novo (1937-1945) Gaspar Dutra assumi a presidecircncia do Brasil em 1946 e sua poliacutetica alimentar natildeo ocorreu avanccedilos significativos na educaccedilatildeo De acordo com Teixeira (2008)

Sua poliacutetica de alimentaccedilatildeo fazia parte do que se chamou plano SALTE que se constituiu tambeacutem numa tentativa de planejamento governamental Este plano revia um grande investimento em quatro aacutereas Sade Alimentaccedilatildeo Transporte e Energia Os recursos viriam da Receita Federal e de empreacutestimos externos Poreacutem este plano foi logo abandonado por falta de recursos (TEIXEIRA 2008 p19)

Embora o governo de Gaspar Dutra retomasse a democracia no paiacutes sua gestatildeo significou um retrocesso nas

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poliacuteticas puacuteblicas pois prosseguiu o pacto com as classes dominantes mantendo o conservadorismo poliacutetico nas matildeos das elites brasileiras

Na deacutecada de 1950 o paiacutes despunha-se com programas assistencialistas para manipular e alienar a sociedade as oligarquias e elites brasileiras Eacute nesse periacuteodo foi elaborado um abrangente Plano Nacional de Alimentaccedilatildeo e Nutriccedilatildeo denominado Conjuntura Alimentar e o Problema da Nutriccedilatildeo no Brasil Eacute nele que pela primeira vez se estrutura um programa de merenda escolar em acircmbito nacional sob a responsabilidade puacuteblica

No ano de 1965 a CNME foi reformulada atraveacutes do Decreto nordm 56886 de 20091965 no qual altera o nome de CNME para Campanha Nacional de Alimentaccedilatildeo Escolar (CNAE) As alteraccedilotildees previstas no decreto permitiram ao governo brasileiro um elenco de programas atraveacutes da ajuda norte-americana como alimentos para paz financiado pela agencia dos Estados Unidos para o desenvolvimento internacional (USAID) O Programa Mundial de Alimentos (PMA) da organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) para a agricultura e a alimentaccedilatildeo (FAOONU) o Programa de alimentos para o desenvolvimento voltado ao atendimento das populaccedilotildees carentes e a alimentaccedilatildeo de crianccedilas em idade escolar

A deacutecada de 1970 foi marcada pela participaccedilatildeo prioritaacuteria de gecircneros comprados nacionalmente com o consequente crescimento de vaacuterias empresas nacionais fornecedoras de alimentos configurando uma terceira etapa desse processo A partir daiacute os alimentos formulados como sopas e mingaus ndash produzidos pelas induacutestrias alimentiacutecias passam a ter presenccedila marcante na cesta de produtos da alimentaccedilatildeo escolar (PEIXINHO 2013 p911)

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No ano de 1981 eacute criado o Instituto Nacional de Assistecircncia ao educando (INAE) que passa a gerenciar o PNAE ateacute o ano de 1983 quando o governo decreta a lei Nordm 7091 e eacute criado a Fundaccedilatildeo de assistecircncia ao estudante (FAE) resultante da fusatildeo da Fundaccedilatildeo Nacional do Material Escolar (FENAME) com o INAE

Ao longo de deacutecadas os objetivos do PNAE permaneceram os mesmos apesar de algumas mudanccedilas organizacional Somente com a promulgaccedilatildeo da constituiccedilatildeo de 1988 eacute que o PNAE passa a modificar suas accedilotildees e estrateacutegias na distribuiccedilatildeo de alimentos para a escola

CONSTITUICcedilAtildeO DE 1988 TRANSFORMACcedilOtildeES NO PNAE E SEUS REBATIMENTOS NO CAMPO

A deacutecada de 1980 eacute marcada pelas contradiccedilotildees no

territoacuterio brasileiro A efervescecircncia das lutas no campo e na cidade expressam a insatisfaccedilatildeo com o regime militar Esse momento histoacuterico revela que era preciso eleiccedilotildees diretas para que o paiacutes saiacutesse da crise poliacutetico-econocircmica que assolava a sociedade brasileira

Desde o iniacutecio de sua criaccedilatildeo ateacute o ano de 1988 o PNAE manteve sua poliacutetica assistencialista Caracterizado pela centralizaccedilatildeo todas as decisotildees referentes a alimentaccedilatildeo escolar eram tomadas pela esfera federal antes de chegar aos Estados e municiacutepios Esse centralismo administrativo autoritaacuterio natildeo permitia uma participaccedilatildeo efetiva dos que eram favorecidos pela PNAE

A poliacutetica de alimentaccedilatildeo durante a Nova Repuacuteblica (1985-1990) previa os seguintes programas foram previstos para 1986 os seguintes programas PSA - Programa de suplementaccedilatildeo alimentar e o PNAE com o apoio aos programas de creches e ao programa nacional do leite para

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crianccedilas carentes Estas accedilotildees passaram a ser prioridades no que se refere a alimentaccedilatildeo e nutriccedilatildeo no paiacutes

Com a promulgaccedilatildeo da constituiccedilatildeo de 1988 assegurou-se o direito universalizado agrave alimentaccedilatildeo escolar a todos os alunos do ensino fundamental a ser oferecido pelo governo Federal estadual e os municiacutepios

O PNAE tem sua base legal no artigo 205 incisos IV e VII do artigo 208 da constituiccedilatildeo federal assumindo como princiacutepios a universalidade do atendimento e a equidade agrave alimentaccedilatildeo escolar gratuita No inciso IV ldquoeducaccedilatildeo infantil em creche e preacute-escolar agraves crianccedilas ateacute 5 (cinco) anos de idaderdquo (Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil de 1988 ndash art 205)

O governo de Fernando Collor de Mello eacute marcado pelo pioneirismo na introduccedilatildeo das poliacuteticas neoliberais e na abertura do mercado interno obedecendo aos ditames do capital presentes no consenso de Washington Essas medidas aprofundaram as desigualdades sociais aumentando as contradiccedilotildees no territoacuterio brasileiro

Ao assumir a presidecircncia do Brasil Itamar Franco percebe que os movimentos sociais estavam com a bandeira de luta acenando para mudanccedila na conjuntura poliacutetico-econocircmica brasileira No campo da alimentaccedilatildeo

Os movimentos sociais como o da ldquoAccedilatildeo da cidadania contra a fome a miseacuteria e pela vidarsquorsquo liderada pelo socioacutelogo Betinho reforccedilavam a expectativa de os cidadatildeos poderem ter maior poder de influecircncia na implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas incluindo a alimentaccedilatildeo (TEIXEIRA 2008 p40)

As manifestaccedilotildees sociais forcaram o governo de Itamar Franco em 18 de marccedilo de 1993 a assumir o compromisso de implementar uma poliacutetica nacional de seguranccedila alimentar e

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sequentemente constituir um Conselho Nacional de Seguranccedila Alimentar (CONSEA) Embora as accedilotildees do Estado busquem tentativas de suprir as necessidades alimentares da populaccedilatildeo brasileira o modelo de agricultura voltado para o agronegoacutecio sucumbe qualquer projeto de combate agrave fome e a pobreza no paiacutes

Desde sua criaccedilatildeo ateacute o ano de 1993 o PNAE manteve seu sistema de execuccedilatildeo de forma centralizada atrelado ao governo Federal no qual o oacutergatildeo gerenciador do programa planejava os cardaacutepios contratava laboratoacuterios para o controle de qualidade alimentar adquiria gecircneros alimentiacutecios atraveacutes de licitaccedilotildees e responsabilizava pela distribuiccedilatildeo dos alimentos

Essa forma de gerenciamento do PNAE perpetuou ateacute 1994 quando o governo Federal institui a Lei nordm 8913 de 12 de julho de 1994 onde o programa passava a ser descentralizado adquirindo uma nova configuraccedilatildeo no acircmbito alimentar O processo de descentralizaccedilatildeo da alimentaccedilatildeo escolar ocorre atraveacutes do repasse dos recursos do PNAE para os Estados Distrito Federal e Municiacutepios Isso implica num novo arranjo espacial do programa visto as mudanccedilas no gerenciamento e execuccedilatildeo do Programa

O governo de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) eacute mercado pela poliacutetica neoliberal onde a poliacutetica do Estado miacutenimo e a desregulamentaccedilatildeo econocircmica atendessem os interesses do capital Nesse aspecto vaacuterias empresas puacuteblicas e serviccedilos puacuteblicos foram privatizados consolidando o neoliberalismo econocircmico no Brasil

Em relaccedilatildeo ao PNAE vemos uma relaccedilatildeo intriacutenseca com o censo escolar uma vez que eacute a partir dos dados da matriculas dos alunos que o governo federal repassa os recursos financeiros que seratildeo destinados a compra dos gecircneros alimentiacutecios que iratildeo suprir a alimentaccedilatildeo dos alunos

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O periacuteodo que se seguiu entre 1995 e 2002 embora significando um retrocesso na relaccedilatildeo entre governo e sociedade foi rico na elaboraccedilatildeo conceitual sobre o tema da seguranccedila alimentar e nutricional e na organizaccedilatildeo da sociedade civil com a criaccedilatildeo do Foacuterum Brasileiro de Seguranccedila Alimentar e Nutricional (FBSAN) em 1998 (MENEZES 2012 p17)

Percebe-se claramente as contradiccedilotildees na poliacutetica econocircmica de FHC no qual os retrocessos sociais marcaram seu governo Contudo a criaccedilatildeo da FBSAN significou avanccedilos importantes no campo alimentar brasileiro

Em 28 de junho de 2001 o governo FHC aprova a medida provisoacuteria nordm 2178-34 no qual dispotildee os repasses financeiros do PNAE e institui o programa dinheiro direto na escola Essa medida provisoacuteria

determinou que 70 por cento dos recursos do FNDE para alimentaccedilatildeo escolar deveriam ser usados na compra de itens baacutesicos de alimentaccedilatildeo levando em consideraccedilatildeo os haacutebitos alimentares regionais locais e a disponibilidade de culturas locais para promover o desenvolvimento local e reforccedilando a necessidade de comprar produtos alimentares locais para as refeiccedilotildees escolares Aleacutem disso a Resoluccedilatildeo nordm 15 do FNDE (de 16 de junho de 2003) estabeleceu os criteacuterios e as modalidades de transferecircncia de recursos do FNDE para as entidades executoras ndash as secretarias de educaccedilatildeo dos municiacutepios e estados (BRASIL 2013 p22)

Nesse aspecto as compras de alimentos atenderiam a agricultura camponesa local permitindo ao campesinato inserir-se na venda de seus produtos ao PNAE Contudo o

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assistencialismo poliacutetico excluiacutea uma parcela significativa dos camponeses beneficiando apenas os produtores ligados a grupos poliacuteticos locais

A partir de 2003 o PNAE passa por transformaccedilotildees importantes que e repercutiratildeo no campo educacional e alimentar do paiacutes Veremos a seguir o governo de LULA (2003 ndash 2010) que traraacute modificaccedilotildees significativas instaurando uma poliacutetica alimentar visando maior flexibilidade eficiecircncia e eficaacutecia na gestatildeo do Programa nos Estados e municiacutepios e os Governos Dilma e o Governo ilegiacutetimo de Michel Temer

O PNAE NO PERIacuteODO 2003-2017 MUDANCcedilAS SIGNIFICATIVAS NA POLIacuteTICA DE ALIMENTACcedilAtildeO ESCOLAR NO PAIacuteS

A partir de 2003 o PNAE passa a estar na pauta do

governo brasileiro O iniacutecio do governo LULA eacute marcado pela instauraccedilatildeo do programa Fome Zero no qual visava atender as questotildees relativas a fome por meio da integraccedilatildeo dos vaacuterios programas e poliacuteticas relacionadas a assistecircncia social transferecircncia de renda reforma agraacuteria alimentaccedilatildeo escolar e outras No campo alimentar o PNAE sofreu alteraccedilatildeo significativa em seu gerenciamento e na poliacutetica de recursos destinados aos municiacutepios e Estados Esse fato se deve a relaccedilatildeo com o programa fome zero (PFZ) que possibilitou o aceso aos alimentos de forma abrangente em todas as regiotildees do paiacutes

A partir de 2003 pela primeira vez verificou-se a inserccedilatildeo de um nutricionista na coordenaccedilatildeo geral do programa dentro da sua esfera de gestatildeo federal ou seja junto ao FNDE Assim sendo o PNAE passa a reafirmar que a responsabilidade teacutecnica pela

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alimentaccedilatildeo escolar nos Estados no Distrito Federal nos Municiacutepios e nas escolas federais cabe ao nutricionista As atribuiccedilotildees do nutricionista como responsaacutevel teacutecnico do Programa vatildeo desde a anaacutelise do perfil nutricional dos escolares atendidos para elaboraccedilatildeo de cardaacutepios e listas de compras a realizaccedilatildeo de accedilotildees educativas em alimentaccedilatildeo e nutriccedilatildeo que perpassem pelo curriacuteculo escolar (PEIXINHO 2013 p 912)

A inserccedilatildeo de nutricionista no gerenciamento do PNAE reafirmou o compromisso do Governo Lula com a alimentaccedilatildeo escolar Para se ter ideia em 2003 havia 12 de nutricionista atuando no programa nos Estados e municiacutepios Jaacute em 2011 esse nuacutemero foi ampliado para mais de 82 significando uma abrangecircncia do nuacutemero de nutricionista do programa no paiacutes

Nesse contexto O Artigo 14 do PNAE pode ser encarado como uma evoluccedilatildeo do PAA (Programa de Aquisiccedilatildeo de Alimentos da Agricultura Familiar) que propiciou a criaccedilatildeo de um mercado institucional que visa agrave compra de produtos alimentiacutecios da agricultura familiar para formaccedilatildeo de estoques estrateacutegicos ou doaccedilatildeo agrave populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de inseguranccedila alimentar () a merenda escolar acabou por se tornar a maior demandante da modalidade do PAA ldquoCompra com Doaccedilatildeo Simultacircneardquo representando 50 das aquisiccedilotildees (SILVA 2013 p3)

A criaccedilatildeo de um mercado institucional de alimentos

provenientes da agricultura camponesa incentivou os camponeses a produzir alimentos direcionados aos programas Federais Importante frisar que os produtos agriacutecolas do PAA

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passaram a ser consumidos pelo PNAE uma vez que a merenda escolar passou a ser a maior demandante de compras da aquisiccedilatildeo de alimentos Nesse acircmbito observa-se que a ampliaccedilatildeo dos recursos financeiros e do nuacutemero de alunos atendidos pelo PNAE no governo Lula pode ser verificada na tabela 5

Tabela 5 Distribuiccedilatildeo dos recursos financeiros executados (em milhotildees de reais) e do nuacutemero de alunos atendidos pelo Programa Nacional de Alimentaccedilatildeo Escolar (PNAE) no periacuteodo de 2003 a 2010

ANO Recursos financeiros

(Em milhotildees de R$)

Alunos atendidos (Em milhotildees)

2003 9542 373

2004 1025 378

2005 1266 364

2006 1500 363

2007 1520 357

2008 1490 346

2009 2013 470

2010 3034 456 Fonte FNDE dados estatiacutesticos 2017

Organizaccedilatildeo SANTOS 2017

O aumento dos recursos destinados ao PNAE estaacute ligado diretamente ao valor da nutriccedilatildeo por aluno que subiu de R$ 006 em 1996 para R$ 022 em 2003 Esse aumento promoveu ampliaccedilatildeo das verbas federais aos municiacutepios e Estados Percebe-se que em 2009 e 2010 o aumento do nuacutemero de alunos refletiu substancialmente no aumento dos recursos financeiros uma vez que o caacutelculo das verbas destinadas ao PNAE eacute calculado com base no censo escolar do ano anterior

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A ampliaccedilatildeo na oferta de educaccedilatildeo puacuteblica nos uacuteltimos anos impulsionou tambeacutem o aumento dos recursos para o programa Aleacutem do surgimento de outras modalidades de ensino entre elas a mais educaccedilatildeo e a oferta e escola em tempo integral

No periacuteodo de 2003 a 2010 observa-se que houve aumento dos valores per capita transferidos pelo FNDE aos Estados municiacutepios e DF Em 2003 o FNDE passou a assumir a alimentaccedilatildeo escolar no ensino infantil (creches) repassando recursos de forma diferenciada para essa modalidade de ensino Nos anos seguintes os recursos foram aumentando significativamente no qual os valores per capita para creches escolas indiacutegenas e quilombolas tiveram aumento substancialmente

A grande conquista para o PNAE sem duacutevida veio com a publicaccedilatildeo da Lei nordm 11947 de 16 de junho de 2009 Conquista esta fruto de um processo intersetorial no Governo Federal e de ampla participaccedilatildeo da sociedade civil por meio do Conselho Nacional de Seguranccedila Alimentar e Nutricional (CONSEA) Avanccedila quando dispotildee sobre alimentaccedilatildeo escolar e natildeo somente sobre um Programa Universaliza o PNAE para toda educaccedilatildeo baacutesica ou seja da educaccedilatildeo infantil ao ensino meacutedio aleacutem dos jovens e adultos define a educaccedilatildeo alimentar e nutricional como eixo prioritaacuterio para o alcance dos objetivos do Programa fortalece a participaccedilatildeo da comunidade no controle social das accedilotildees desenvolvidas pelos Estados DF e Municiacutepios formaliza a garantia da alimentaccedilatildeo aos alunos mesmo quando houver suspensatildeo do repasse dos recursos por eventuais irregularidades constatadas na execuccedilatildeo do PNAE (PEIXINHO 2013 p913)

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Percebe-se que a universalizaccedilatildeo do PNAE por toda

educaccedilatildeo baacutesica significa avanccedilos no campo educacional e alimentar promovendo rebatimentos significativos na sociedade Assim O Programa tem como objetivo atender as necessidades nutricionais dos alunos durante sua permanecircncia em sala de aula contribuir para o crescimento o desenvolvimento a aprendizagem e o rendimento escolar dos estudantes aleacutem de promover a formaccedilatildeo de haacutebitos alimentares saudaacuteveis (Brasil FNDE 2012)

A partir da Lei nordm 11947 observamos duas grandes inovaccedilotildees o atendimento aos alunos do Ensino Meacutedio e da Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos (EJA) e a aquisiccedilatildeo de gecircneros alimentiacutecios da Agricultura Familiar De acordo com o FNDE (2015)

O PNAE induz e potencializa a afirmaccedilatildeo da identidade a reduccedilatildeo da pobreza e da inseguranccedila alimentar no campo a (re) organizaccedilatildeo de comunidades incluindo povos indiacutegenas e quilombolas o incentivo a organizaccedilatildeo e associaccedilotildees das famiacutelias agricultoras e o fortalecimento do tecido social a dinamizaccedilatildeo das economias locais a ampliaccedilatildeo da oferta de alimentos de qualidade e a valorizaccedilatildeo da produccedilatildeo familiar (FNDE 2015 p 04)

Nesse contexto a lei 119472009 contribui para a comercializaccedilatildeo camponesa e a oferta de alimentos saudaacuteveis nas unidades escolares do paiacutes Para tanto segundo Amaral (2007) a unidade executora do programa PNAE deve obedecer agraves normas para a compra direta nas quais ldquoas formas de compra prevista em lei satildeo as seguintes compra direta carta convite tomada de preccedilos concorrecircncia puacuteblica sistema de registro de preccedilo pregatildeo e pregatildeo eletrocircnicordquo

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No governo Dilma o PNAE continuou seus avanccedilos destacando-se com o aumento da compra de produtos alimentiacutecios oriundo da agricultura familiar Nesse contexto o

FNDE nos oferece subsiacutedios para analisar os valores dos recursos disponiacuteveis por municiacutepios na aquisiccedilatildeo de alimentos da agricultura camponesa Esse fato nos permite compreender a dimensatildeo do mercado institucional na compra de gecircneros alimentiacutecios direcionados aos programas PNAE e PAA

A transferecircncia de recursos do governo Federal para municiacutepios e Estados cresceram nos uacuteltimos anos Em 2011 o total de recursos financeiros disponiacuteveis para o PNAE foi de 3051 bilhotildees de reais para atender 444 milhotildees de alunos matriculados na rede de ensino puacuteblica Jaacute em 2015 os recursos aumentaram para 3762 bilhotildees de reais para atender 415 milhotildees de alunos da educaccedilatildeo puacuteblica

No espaccedilo agraacuterio as atuais medidas entre elas a suspensatildeo por parte do governo golpista de Michel Temer da assistecircncia teacutecnica para os camponeses ldquoA Chamada Puacuteblica estava programada para contratar entidades de assistecircncia teacutecnica e extensatildeo rural (ATER) para apoiar a gestatildeo e a qualificaccedilatildeo de mais de 930 associaccedilotildees e cooperativas da agricultura familiar e da reforma agraacuteria em todo o paiacutes para participarem dos mercados institucionais e privados afirmou o liacuteder da bancada deputado federal Afonso Florence (PTBA)5 foi um retrocesso inexplicaacutevel para a produccedilatildeo de alimentos pelos camponeses

Nesse aspecto esta medida golpista natildeo afeta apenas a contrataccedilatildeo dos serviccedilos de ATER mas promove um desmonte de estrateacutegias em curso para a inserccedilatildeo da agricultura familiar na comercializaccedilatildeo de sua produccedilatildeo seja nos

5wwwbrasil247compt247brasil237594Bancada-do-PT-denuncia-suspensatildeo-de-programa-para-agricultura-familiarhtm

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mercados institucionais das compras puacuteblicas como PAA e o PNAE seja nos negoacutecios privados

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

O avanccedilo das contradiccedilotildees no sistema capitalista tem fortes rebatimentos no mundo do trabalho Nesse aspecto a classe trabalhadora busca diferentes formas para sobreviver a barbaacuterie do capital

As transformaccedilotildees do PNAE ao longo de sua implementaccedilatildeo e consolidaccedilatildeo nos mostraram que o programa se especializou e territorializou abrangendo todos estados e municiacutepios do paiacutes Esse fato foi importante porque a poliacutetica alimentar permitiu ao campesinato inserir-se no mercado institucional na comercializaccedilatildeo agriacutecola contribuindo para a reproduccedilatildeo da unidade familiar camponesa

As poliacuteticas puacuteblicas para o campo em especial o PNAE tecircm sido uma alternativa camponesa de reproduccedilatildeo familiar embora a forma em que estaacute ocorrendo o processo vem sendo alvo de interesses do capital privado no campo que busca subordinar o camponecircs as suas relaccedilotildees desiguais

Os retrocessos nas poliacuteticas puacuteblicas para o campo repercutem diretamente na aquisiccedilatildeo de alimentos do campesinato para os programas de suplementaccedilatildeo alimentar como PAA e PNAE A extinccedilatildeo do MDA e a nomeaccedilatildeo de novos ministros da Educaccedilatildeo e da Agricultura este um expoente do agronegoacutecio no Brasil o ex-senador Blairo Maggi tambeacutem conhecido como Rei da Soja e diversos cortes e flexibilizaccedilotildees trabalhistas satildeo sinais dos retrocessos do governo golpista para o campo

Embora o governo golpista lance propostas de aumento dos recursos do PNAE para este ano as medidas tomadas anteriormente como a extinccedilatildeo da assistecircncia teacutecnica rural - ATER repercutiu diretamente nas estrateacutegias da

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inserccedilatildeo do campesinato na comercializaccedilatildeo de sua produccedilatildeo via PAA PNAE e nos negoacutecios privados dos camponeses

Sendo assim mesmo diante do contexto de golpe a resistecircncia e luta camponesa vai aleacutem da produccedilatildeo de alimentos para o PNAE e as dificuldades enfrentadas pelo desmonte de governo podem servir de incentivo para que a luta na terra possa se especializar em outros campos econocircmicos que permitam o campesinato se reproduzir e recriar-se no espaccedilo agraacuterio

REFEREcircNCIAS ANDRADE M C de Josueacute de Castro o homem o cientista e seu tempo Revista de Estudos Avanccedilados vol11 no29 Satildeo Paulo JanApr 1997 BELIK W CHAIM N A A gestatildeo do Programa Nacional de Alimentaccedilatildeo Escolar e o desenvolvimento local BrasiacuteliaDF Sober jul 2006 p 1-19 BEZERRA Juscelino Eudacircmidas Perspectivas teoacutericas nos estudos da classe trabalhadora apontamentos e reflexotildees Presidente Prudente Revista Pegada ndash vol 14 n1 BITTENCOURT Jaqueline Marcela Villafuerte Uma avaliaccedilatildeo efetiva do programa de alimentaccedilatildeo escolar no municiacutepio de Guaiacuteba Porto Alegre UFRGS 2007 Brasil Portaria Normativa Interministerial ndeg 17 de 24 de abril de 2007 Institui o Programa Mais Educaccedilatildeo que visa fomentar a educaccedilatildeo integral de crianccedilas adolescentes e jovens por meio do apoio a atividades socioeducativas no contraturno escolar Diaacuterio Oficial da Uniatildeo 2007 26 abr

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BRASIL Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educaccedilatildeo ResoluccedilatildeoCDFNDE Nordm 25 de 4 de julho de 2012 Altera a redaccedilatildeo dos artigos 21 e 24 da Resoluccedilatildeo nordm 38 de 16 de julho de 2009 no acircmbito do Programa Nacional de Alimentaccedilatildeo Escolar (PNAE) Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Poder Executivo Brasiacutelia DF 4 de julho de 2012 Disponiacutevel emlthttpportalmdagovbrportalsafarquivosviewalimenta-oescolarResoluC3A7C3A3o_252012_-_Altera_artigo_21_e_24_res_38pdfgt Acesso em 19032017 CARVALHO Daniela Gomes de CASTRO Vanessa Maria de O programa nacional de alimentaccedilatildeo escolar ndash PNAE como poliacutetica puacuteblica de desenvolvimento sustentaacutevel poliacuteticas puacuteblicas e instrumentos de gestatildeo para o desenvolvimento sustentaacutevel In Encontro da sociedade brasileira de economia ecoloacutegica 2009 COIMBRA Marcos (et al) Comer e aprender uma histoacuteria da alimentaccedilatildeo escolar no brasil Belo Horizonte MEC 1982 COSTA EQ et al Programa de alimentaccedilatildeo escolar espaccedilo de aprendizagem e produccedilatildeo de conhecimento Revista de Nutriccedilatildeo Campinas 14(3) 225-229 setdez 2001 FIALHO A M R Merenda escolar no Brasil a ilustraccedilatildeo da assistecircncia como poliacutetica social de loacutegicas contraacuterias Dissertaccedilatildeo Mestrado em Poliacutetica Social-UnB Brasiacutelia 1993 FNDE- Fundo Nacional do Desenvolvimento da Educaccedilatildeo Alimentaccedilatildeo Escolar Disponiacutevel em lthttpwwwfndegovbrcomponentk2itemlisttagPNA

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E2028AlimentaC3A7C3A3o20Escolar29gt Acesso em 19032017 Silva Denise Boito Pereira da Os agentes sociais e o Programa Nacional de Alimentaccedilatildeo Escolar (PNAE) a percepccedilatildeo dos agricultores familiares Rio Claro (SP) Encontro Internacional Participaccedilatildeo Democracia e Poliacuteticas Puacuteblicas aproximando agendas e agentes 2013 SINATORA et al Poliacutetica Agriacutecola Porto Alegre Editora Mercado Aberto 1985 STURION GL et al perfil dos usuaacuterios do programa nacional de alimentaccedilatildeo escolar estudo realizado em 10 municiacutepios brasileiros V Simpoacutesio Latino Americano de Ciecircncia de Alimentos Universidade Estadual de Campinas 2003 TEIXEIRA Eliane de Oliveira Lima A Merenda Escolar e seus aspectos Poliacuteticos Sociais e Nutricionais Satildeo Paulo Centro Federal de Educaccedilatildeo Tecnoloacutegica de Satildeo Paulo 2008 Sites httpwwwfndegovbr wwwbrasil247compt247brasil237594Bancada-do-PT-denuncia-suspensatildeo-de-programa-para-agricultura-familiarhtm httpagenciabrasilebccombrpoliticanoticia2017-02governo-anuncia-reajustes-para-merenda-escolar

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AS FAMIacuteLIAS CAMPONESAS DO POVOADO MANGUEIRA EM ITABAIANASE O PROBLEMA

QUE ENFRENTAM POR CAUSA DA TERRA COM A CONSTRUCcedilAtildeO DA RODOVIA ESTADUAL SE-255

Crisnara dos Santos Bisposup1

(Universidade Federal de Sergipe) (Graduanda em GeografiaLicenciatura)

E mail crisnarahotmailcom

Larissa de Lima Cunha sup2

(Universidade Federal de Sergipe) (Graduanda em GeografiaLicenciatura)

E mail larilimac96gmailcom

RESUMO

A ideia de desenvolvimento e crescimento econocircmico no mundo capitalista estaacute em todos os lugares seja urbano ou rural Natildeo estaacute sendo diferente no povoado Mangueira em ItabaianaSE que vem sofrendo mudanccedilas em seu espaccedilo devido a construccedilatildeo da rodovia estadual que interligaraacute o municiacutepio itabaianense agrave Itaporanga DAjuda a SE-255 Buscamos analisar as questotildees que assolaram as famiacutelias camponesas da comunidade que dependem exclusivamente da terra e como discursos satildeo produzidos para servirem a interesses daqueles que visam a obtenccedilatildeo de lucros em seus setores natildeo levando em consideraccedilatildeo todo o sofrimento do camponecircs ao ter sua fonte de sustento tirada Usamos como metodologia o levantamento de bibliografias que deram a base conceitual aleacutem de uma pesquisa a campo coletando o relato de algumas pessoas que foram atingidas negativamente por essa obra do governo Com isso notou-se que esses impactos ainda natildeo acabaram e deixaratildeo marcas para sempre natildeo soacute no

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territoacuterio como tambeacutem na vida das pessoas que foram obrigadas a aderirem a mudanccedila imposta Palavras-chave Camponecircs sustento mudanccedila INTRODUCcedilAtildeO

O camponecircs possui com a terra uma relaccedilatildeo de extrema parceria pois dela consegue extrair todos os meios essenciais para sua sobrevivecircncia Partindo desse princiacutepio e analisando o que vem ocorrendo em algumas comunidades rurais do municiacutepio de Itabaiana abordaremos neste trabalho a situaccedilatildeo do povoado Mangueira ressaltando os impactos sofridos devido a construccedilatildeo da rodovia para aquelas famiacutelias que satildeo camponesas

A loacutegica capitalista acaba destruindo essa relaccedilatildeo de parceria do homem com a terra de todas as formas visando que esse processo gere lucro E eacute nesse vieacutes que alguns povoados estatildeo sendo utilizados nos uacuteltimos anos para a construccedilatildeo da Rodovia SE-255 Com o discurso de ldquodesenvolvimentordquo o camponecircs vem tendo suas terras ldquoinvadidasrdquo ou seja vem perdendo espaccedilo de trabalho e toda liberdade obtida por eles na terra Santana (2010) escreve ldquoa terra para o camponecircs representa muito mais que o cultivo o labor Ela representa a liberdade Liberdade essa que se fundamenta no poder controlar o tempo de trabalho e o da famiacutelia em manter-se na terrardquo

Foi feito um levantamento bibliograacutefico e leitura de textos para a construccedilatildeo deste artigo assim como notiacutecias jornaliacutesticas Atraveacutes da anaacutelise criacutetica feita sobre a forma que a construccedilatildeo da rodovia era noticiada ficava niacutetido qual lado estava sendo enaltecido que era o econocircmico do desenvolvimento Por essa razatildeo buscamos fazer esse questionamento sobre o desenvolvimento que eacute pregado por parte das instituiccedilotildees e do Estado e que tem o auxiacutelio da

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miacutedia para passar essa ideia a populaccedilatildeo que em sua grande maioria possui uma fragilidade para problematizar esses discursos que ouve e assim natildeo entende para quem interessa esse desenvolvimento falado

Aleacutem disso uma pesquisa de campo foi realizada na comunidade Mangueira a fim de coletar depoimentos de camponeses que foram diretamente afetados de forma negativa por causa da construccedilatildeo da rodovia Os nomes dessas pessoas natildeo seratildeo revelados no trabalho e assim optamos por utilizar nomes fictiacutecios Destacamos algumas falas de trecircs pequenos produtores que foram entrevistados nelas podemos perceber o quanto estatildeo sofrendo e perdendo com toda essa situaccedilatildeo Pois aleacutem da terra que tira o sustento para a sobrevivecircncia de toda a famiacutelia perde-se tambeacutem o bem-estar A indenizaccedilatildeo recebida natildeo traraacute o sossego de volta porque agrave vida dessas pessoas jaacute foram alteradas em todos os aspectos e muitas outras mudanccedilas ainda podem acontecer

Este artigo estaacute dividido em trecircs partes a introduccedilatildeo o desenvolvimento e as consideraccedilotildees finais A introduccedilatildeo de forma sucinta trata dos temas que seratildeo tratados no decorrer do trabalho jaacute no desenvolvimento destacamos o sentido que a terra tem para o camponecircs e sua famiacutelia assim como os depoimentos que foram obtidos com a pesquisa em campo aleacutem do discurso do desenvolvimento que em sua verdadeira face gera transtornos para as pessoas do povoado que foram atingidas por causa da construccedilatildeo da SE-255 Duas figuras foram utilizadas para mostrar como era antes do projeto da obra e como estaacute agora com a construccedilatildeo em andamento estas relacionadas com os depoimentos de trecircs moradores afetados ajudaraacute a entender melhor o que vem acontecendo Nas consideraccedilotildees finais ressaltamos a questatildeo da luta para buscar o sustento pois como forma de buscar o necessaacuterio a sua sobrevivecircncia e dos seus esses camponeses buscaratildeo trabalhar em outros serviccedilos e se manter no campo

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DESENVOLVIMENTO

O povoado Mangueira caracteriza-se pela predominacircncia do campesinato muitas famiacutelias dessa comunidade trabalham principalmente com o cultivo de batata doce macaxeira amendoim coentro pimentatildeo alface e cebolinha Essa produccedilatildeo tem como destino a mesa do proacuteprio produtor pois o sustento da famiacutelia eacute o mais importante e o excedente desses alimentos eacute vendido na feira livre de Itabaiana para comprar aquilo que natildeo produzem em suas terras Eacute o que Silva (2001 p63) destaca

A natureza humana e a natureza terra se relacionam em perfeita simbiose natildeo haacute fetichismo coisificaccedilatildeo O produtor produz para sua sobrevivecircncia e de seus familiares tira da terra o seu sustento vendendo o excedente para comprar o que natildeo produz Ele eacute em princiacutepio um produtor de valores de uso os produtos que ele troca em relaccedilatildeo aos que ele consome satildeo poucos []

Diariamente eacute possiacutevel perceber as mais variadas formas de ocupaccedilatildeo do pequeno produtor que juntamente com a famiacutelia visa trabalhar na terra para garantir sua satisfaccedilatildeo pessoal Seja plantando arando ou mesmo irrigando semanalmente a vida do homem do campo itabaianense vai se reproduzindo

Entretanto se pararmos para analisar as terras ocupadas pelas praacuteticas camponesas vecircm perdendo espaccedilo para tal uso isso pode ser justificado pelo avanccedilo do capital que acaba ldquoexpulsandordquo o ser humano do campo No caso da comunidade Mangueira nos uacuteltimos anos o fato da construccedilatildeo da rodovia estadual que interligaraacute os municiacutepios de Itabaiana agrave Itaporanga DrsquoAjuda vem interferindo de forma negativa e direta na vida das famiacutelias que estatildeo tendo suas

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pequenas propriedades destruiacutedas para dar espaccedilo ao ldquodesenvolvimentordquo pregado pelos que visam interesses com essa obra Os donos das terras que acabam sendo compradas para utilizar na rodovia satildeo indenizados pelo Estado que em parceria com empresas privadas objetivam o lucro e natildeo compreendem o real sentido da terra para o camponecircs

A propriedade camponesa eacute representada pela terra e esta por sua vez simboliza trabalho e vida Eacute com essas palavras de tamanho significado que se pode definir a terra para o camponecircs Se comparado o valor (enquanto significado) da terra para o camponecircs e para o capitalista a diferenccedila seraacute gritante Tendo em vista que o valor dela para o segundo eacute monetaacuterio (maximizaccedilatildeo de lucro) e para o primeiro ela tem o valor da vida do alimento da histoacuteria ndash desta forma cifras natildeo dariam conta de pagar esse valor (SANTANA 2010)

Como eacute possiacutevel perceber nas figuras abaixo as feiccedilotildees da paisagem estatildeo sendo brutalmente modificadas e junto com elas vatildeo sendo levadas todo o sentimento de liberdade e autonomia que o produtor possui na sua relaccedilatildeo iacutentima de parceria e dependecircncia da terra A figura 1 e a figura 2 retratam o mesmo lugar em diferentes anos ou seja a primeira retirada do Google maps evidencia uma pequena parte do povoado Mangueira antes do iniacutecio da construccedilatildeo da rodovia no ano de 2015 Nela eacute possiacutevel perceber ainda a existecircncia de uma casa e a propriedade que mantem-se inteira Jaacute na segunda retirada no ano de 2018 nota-se natildeo mais a existecircncia da casa e o limite do terreno foi diminuiacutedo isto porque para a construccedilatildeo da rodovia foram tomados 30 metros de largura da propriedade evidenciada Isto natildeo foi um caso isolado da mesma forma tantas outras propriedades vatildeo sendo tomadas e apropriadas pela loacutegica do capital e o

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pequeno produtor acaba sendo o mais prejudicado pois a sua voz natildeo eacute ouvida Eacute o que diz Silva (2001 P62) ldquo[] uma legiacutetima feiccedilatildeo de dominaccedilatildeo Pouquiacutessimos determinam decidem mandam e haacute a grande massa de subordinados espoliados e expropriadosrdquo Figura 1 Paisagem anterior ao processo de construccedilatildeo da rodovia SE-255 povoado Mangueira 2015

Foto Google Maps 2015

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Figura 2 Paisagem alterada pelo processo de construccedilatildeo de rodovia povoado Mangueira 2018

Foto BISPO Crisnara dos Santos 2018

Diante deste fato obtivemos o relato da moradora da

casa que desde sempre trabalhou com a terra e tem com o lugar uma relaccedilatildeo de identidade e pertencimento para aleacutem de qualquer dinheiro que recebeu de indenizaccedilatildeo da construccedilatildeo da rodovia Dona Maria eacute uma senhora de 73 anos que viveu a maior parte da sua vida no lugar retratado na imagem Desde os 20 anos de idade ela e o marido utilizaram a terra para realizar suas plantaccedilotildees ldquoque eram poucas mas eram o suficiente para mim e meu esposo Foi desse pedacinho de terra que noacutes comemos da macaxeira batata coentro foi daqui que noacutes sobrevivemosrdquo diz ela em depoimento com tristeza pois perdeu aleacutem da terra a casa em que morava Sendo forccedilada a se retirar desse lugar pelo qual tinha uma ligaccedilatildeo e buscar moradia em outro povoado

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Um outro depoimento que colhemos foi do senhor Joatildeo Ele eacute um dos donos do terreno que aparece agrave direita nas figuras E nos relatou que ldquoaleacutem de ficar sem a minha terra vou ficar sem o dinheiro que eles pagaramrdquo Isso porque o terreno foi cortado ao meio e a propriedade foi deixada de heranccedila pelos pais para ele e os 5 irmatildeos Poreacutem somente Joatildeo e um dos irmatildeos satildeo os quem fazem o uso dessa terra para sobrevivecircncia entretanto todos os irmatildeos querem parte da indenizaccedilatildeo paga pelo Estado Dessa forma seu Joatildeo na sua condiccedilatildeo de camponecircs estaacute prejudicado ateacute porque todo o povoado faz parte do periacutemetro irrigado da Ribeira e um dos lados do terreno (jaacute que houve uma divisatildeo) ficou comprometida por conta da dificuldade que passou a existir para que a irrigaccedilatildeo chegue ateacute a parte que ficara do outro lado da rodovia

Com tudo que foi apresentado ateacute aqui deixa evidente que os pequenos produtores ficam sem saiacuteda Pois o discurso que eacute usado nas miacutedias locais como por exemplo sites de notiacutecias jornais do estado e raacutedios bem como o utilizado diretamente com os camponeses por aqueles que os abordaram para a negociaccedilatildeo da terra eacute o do ldquodesenvolvimentordquo Isso corrobora para que parcela da populaccedilatildeo em virtude da ignoracircncia ldquocomprerdquo o discurso gerado por esses meios chegando por vezes a reproduzi-lo acreditando que de fato essa construccedilatildeo soacute traraacute benefiacutecios e desconsiderem o outro lado o qual existe a parte dos desapropriados e completamente prejudicados ndash os camponeses

Fato como este se encontra em uma notiacutecia divulgada pelo Jornal do Dia de Sergipe disponiacutevel na internet do dia 20 de maio de 2017 quando ainda estava em fase de iniacutecio das obras Trazendo aleacutem desse discurso expliacutecito de desenvolvimento o relato de duas pessoas que falam com apropriaccedilatildeo sobre os benefiacutecios que conseguem enxergar a

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priori sem fazer anaacutelises dos efeitos negativos que podem e vatildeo ser sentidos em longo prazo Visotildees como estas podem ser notadas nesse trecho do jornal

ldquoAleacutem de interligar as duas principais rodovias federais que atravessam o estado a SE-255 facilitaraacute o escoamento da produccedilatildeo agriacutecola e mineral oportunizaraacute melhores condiccedilotildees de vida e seguranccedila para a populaccedilatildeo valorizaraacute as diversas propriedades agraves suas margens e nas proximidades encurtaraacute distacircncias entre as sedes dos povoados e os municiacutepios e sobretudo contribuiraacute para a ampliaccedilatildeo da malha viaacuteria e o desenvolvimento socioeconocircmico de Sergiperdquo

Assim como no site da Secretaria de Estado da Infraestrutura e do Desenvolvimento Urbano do estado de Sergipe quando informa que as obras estatildeo seguindo o cronograma e natildeo parou podemos observar nessa notiacutecia o orccedilamento e a fonte do recurso para as obras Foram R$ 5814059281 que o governo utilizou do Programa de Apoio ao Investimento dos Estados (Proinveste) Com tudo percebe-se que nessa crise tatildeo falada em nosso paiacutes falta dinheiro e qualidade em diversos setores mas natildeo faltou para a construccedilatildeo dessa rodovia Em nome do capital os que deteacutem o poder ditam as regras e absorvem os lucros de um desenvolvimento que natildeo eacute para todos

Desenvolvimento Para quem Como coloca Goacutemez (2007 p43) ldquoos expertos do

desenvolvimento pertencentes a certas instituiccedilotildees (as instituiccedilotildees ldquocertasrdquo) satildeo os detentores da verdade capazes de forjar a realidade ao mesmo tempo em que falam delardquo e eacute dessa forma que representantes das instituiccedilotildees envolvidas na construccedilatildeo dessa rodovia se apropriam da falaacutecia do

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desenvolvimento Nessa tentativa de convencer os moradores de que essas mudanccedilas em suas vidas traratildeo benefiacutecios futuros como por exemplo a valorizaccedilatildeo da terra visam somente seus interesses natildeo levam em consideraccedilatildeo o real ldquovalorrdquo da terra para os camponeses

Isso pode ser constatado na fala de seu Antocircnio que nos contou sobre a visita que recebeu em sua casa do engenheiro responsaacutevel pela obra estadual ldquoO moccedilo me disse pra que eu natildeo me preocupasse porque depois da rodovia construiacuteda eu vou lucrar muito Ele falou que assim que a pista tiver pronta vatildeo construir pousadas e restaurantes aqui pertinho da gente e minha terra seraacute valorizadardquo diz o senhor camponecircs casado e pai de 3 filhas que tem como uacutenica fonte de renda a terra A propriedade dele assim como a de seu Joatildeo citada anteriormente tambeacutem eacute herdada e divide com os irmatildeos e aleacutem disso teraacute uma parte do terreno cortada para a construccedilatildeo da rodovia

Portanto essa perspectiva de desenvolvimento pregada para as famiacutelias daquela comunidade eacute tambeacutem a mesma que podemos encontrar nas notiacutecias divulgadas que informam sobre a construccedilatildeo elas acabam influenciando muitas pessoas a pensarem da mesma forma sem analisar o outro lado da problemaacutetica Falam muito da diminuiccedilatildeo das distacircncias melhores condiccedilotildees de vida para as pessoas e tambeacutem a facilidade do transporte de mercadorias mas natildeo levam em consideraccedilatildeo as mudanccedilas que estatildeo ocorrendo no campo pois as indenizaccedilotildees pagas para os que tiveram seus terrenos ldquoinvadidosrdquo natildeo trazem garantia de que o camponecircs se manteraacute na terra e sustentaraacute sua famiacutelia CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Cada vez mais nos deparamos em todos os espaccedilos

com esses discursos propagados que para obter o

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desenvolvimento e o crescimento econocircmico eacute necessaacuterio modernizar-se Poreacutem tudo isso mascara o fato de que existem outras questotildees No fato abordado neste artigo vemos que a vida camponesa acaba sendo sacrificada em prol de interesses do Estado e de capitalistas E que assim como os camponeses do povoado Mangueira estatildeo sofrendo sabe-se que muitos outros de outras comunidades tambeacutem estatildeo nesse turbulento modo de produccedilatildeo que desconsidera o valor que a terra tem para quem dela retira todo o sustento

Aleacutem disso deve-se ressaltar que os fatos relatados no decorrer desse trabalho natildeo satildeo suficientes pra elucidar todos os aspectos dessa construccedilatildeo por completo porque tem-se a convicccedilatildeo de que muitos outros efeitos negativos seratildeo percebidos posteriormente com o avanccedilo e consequente conclusatildeo da mesma quando muitas outras propriedades forem cortadas ao meio e os proprietaacuterios natildeo tiverem mais o privileacutegio de se reproduzir exclusivamente com o trabalho no campo Conseguir superar os transtornos e consequecircncias dessa construccedilatildeo eacute algo que natildeo parece faacutecil Eacute uma mudanccedila brusca na vida do pequeno produtor Natildeo daacute pra desconsiderar o fato de que as pessoas que moram nessas comunidades jaacute estatildeo acostumadas a ver seus filhos com a liberdade que por eles proacuteprios jaacute foi vivenciada que eacute justamente o fato da liberdade do poder reunir-se com os vizinhos e brincar sem medo na rua Realidade essa que pode e sem duacutevidas vai sendo modificada visto que natildeo daacute pra deixar crianccedilas brincando proacuteximo agrave rodovia por conta do perigo que existe

Os interesses que levaram a construccedilatildeo da rodovia estadual motivaram a retirada de pessoas de suas casas plantaccedilotildees foram destruiacutedas com o passar da retroescavadeira e o pequeno produtor vai perdendo o bem-estar e sofrendo a angustia ao ver essas situaccedilotildees Anos de histoacuteria e muito trabalho sendo desfeitos contra sua vontade Supomos que

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toda essa alteraccedilatildeo que atinge profundamente na forma de subsistecircncia da vida camponesa que para muito aleacutem do sustento momentacircneo almeja poder transferir a cultura que a ele jaacute foi repassada em algum momento pela famiacutelia (como nos casos citados dos camponeses que tem a terra como heranccedila deixada pelos pais e que pretendem aleacutem das terras deixarem os valores Camponeses agraves geraccedilotildees futuras) satildeo algumas das muitas consequecircncias que podem ser observadas Pois a paisagem de uma forma brusca vai tomando outras feiccedilotildees ou seja vai sendo totalmente alterada devastada

Dessa forma temos a convicccedilatildeo de que a busca incessante pelo lucro eacute o foco principal dessa e de tantas outras obras O pequeno produtor eacute o alvo pois existe a necessidade por parte do mercado de coloca-los na situaccedilatildeo de subordinado tentando fazer com que eles tambeacutem se submetam a loacutegica do capital Pagar uma indenizaccedilatildeo para poder se apropriar das suas terras eacute algo completamente perverso e por vezes inacreditaacutevel no entanto eacute uma realidade que assim como podemos especificar com os relatos dos trecircs entrevistados tomou e toma proporccedilotildees inacreditaacuteveis E a questatildeo do desenvolvimento para que e para quem que foi discutida anteriormente deixa evidente que existem dois lados o lado dos que dominam e com esse fato lucram ou seja se desenvolvem e o lado dos que perdem satildeo dominados encurralados e se veem a mercecirc das imposiccedilotildees dos capitalistas e esse ldquodesenvolvimentordquo tatildeo pregado acaba sendo apenas uma grande fachada mascarada de incertezas desafios e mesmo falta de oportunidades e autonomia que eacute a chave do modo de vida desses camponeses

No entanto a partir do momento que natildeo eacute possiacutevel se manter apenas da terra porque foram expropriados ou mesmo porque a terra que possuem natildeo eacute suficiente para sua manutenccedilatildeo entra o trabalho acessoacuterio como uma opccedilatildeo Muitos integrantes dessas famiacutelias acabaratildeo optando por

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buscar outras formas de fonte de renda para que natildeo falte o sustento e nem tenham que sair do campo Dessa forma acabam se sujeitando agrave loacutegica do sistema perdendo sua liberdade e vendendo sua matildeo-de-obra para o capitalista que eacute quem ganha

REFEREcircNCIAS Depoimentos Google maps GOacuteMEZ Jorge Ramograven Montenegro Desenvolvimento em des (construccedilatildeo) provocaccedilotildees e questotildees sobre desenvolvimento em geografiain FERNANDES Bernado Manccedilano MARQUES Marta Inez SUZUKI Juacutelio Ceacutesar (orgs) Geografia Agraacuteria teoria e poder Satildeo Paulo 2007 Parte 1p39-53 JORNAL DO DIA Rodovia que liga Itabaiana a Itaporanga recebe camada de imprimaccedilatildeo Jornal do Dia Aracaju 20 mai 2017 Disponiacutevel em lthttpwwwjornaldodiasecombrnoticias_lerphpid=24116gt Acesso em 27 abr 2018 MELO Amanda Obras da Rodovia SE 255 que ligaraacute Itabaiana agrave Itaporanga natildeo param SEINFRA Aracaju 10 mai 2018 Disponiacutevel em lthttpwwwseinfrasegovbrindexphppag=8ampid=2ampcod=757gt Acesso em 26 abr 2018 SANTANA Gleice Campos As diferentes formas de reproduccedilatildeo do campesinato no municiacutepio de Itabaiana SE Universidade Federal de Sergipe 2010

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SILVA Lenyra Rique A natureza contraditoacuteria do espaccedilo geograacutefico 2 Ed Satildeo Paulo 2001

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A RESISTEcircNCIA CAMPONESA DIANTE DA EXPANSAtildeO DO AGROHIDRONEGOacuteCIO DE

EUCALIPTO NO CAMPO SERGIPANO

Edeacutesio Alves de Jesussup1

PPGEOUFS (Graduado e Mestre em Geografia) E-mailedesio0467yahoocombr

RESUMO

A expansatildeo do agrohidronegoacutecio do eucalipto no campo sergipano mostra os interesses do capital natildeo apenas de explorar a renda da terra e a subordinaccedilatildeo dos trabalhadores camponeses mas de apropriar-se da terra e da aacutegua sob agrave loacutegica dos proprietaacuterios que controlam a produccedilatildeo do monocultivo de eucalipto nos municiacutepios de Estacircncia e Itaporanga drsquoAjuda no estado de Sergipe Nosso principal objetivo neste trabalho eacute analisar e compreender as transformaccedilotildees no campo sergipano e a complexidade expressa no espaccedilo produzido o que afeta diretamente as formas e processos de auto realizaccedilatildeo do homem diante do trabalho Na elaboraccedilatildeo deste trabalho os procedimentos metodoloacutegicos adotados pautaram-se em revisotildees bibliograacuteficas de livros teses dissertaccedilotildees perioacutedicos revistas eletrocircnicas e artigos referentes agrave questatildeo agraacuteria e ao mundo do trabalho Conclui-se que a apropriaccedilatildeo da terra e da aacutegua repercute na renda dos trabalhadores no campo o que os torna submisso a comercializar sua produccedilatildeo a preccedilos inferiores no circuito capitalista Fato que revela a compreensatildeo do processo da reestruturaccedilatildeo produtiva no campo sob a materialidade das transformaccedilotildees e perdas de direitos trabalhistas diante da expansatildeo do agrohidronegoacutecio do eucalipto nos municiacutepios de Estacircncia e Itaporanga drsquoAjuda (SE)

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Palavras-chave Camponecircs Agrohidronegoacutecio Eucalipto INTRODUCcedilAtildeO

Os rebatimentos no mundo do trabalho no campo brasileiro se intensificam a partir da deacutecada de 1990 com a substituiccedilatildeo de culturas tradicionais por aacutereas destinadas para o plantio monocultivo de eucalipto com ampla modernizaccedilatildeo tecnoloacutegica de interesse do agrohidronegoacutecio6 resultando em alta produtividade

A propagaccedilatildeo do monocultivo de eucalipto ocorre em vaacuterios estados e municiacutepios do Brasil desde a deacutecada de 1990 a partir dos investimentos em pesquisas e desenvolvimento do setor florestal pelas empresas que crescem anualmente

Anualmente eacute divulgado pela Induacutestria Brasileira Aacutervores (IBAacute 2015) que priorizaram a manutenccedilatildeo de investimentos em pesquisas e desenvolvimento buscando primordialmente a melhoria da geneacutetica dos plantios e das teacutecnicas de manejo florestal o que faz crescer a produtividade

O melhor exemplo do sucesso dessa estrateacutegia foi o impressionante desenvolvimento da produtividade do eucalipto no Brasil ndash 57 ao ano no periacuteodo de 1970 a 2008 ndash comparativamente aos 26 da Ameacuterica Latina 09 dos paiacuteses desenvolvidos e 19 para o conjunto de paiacuteses em desenvolvimento (p 31)

6 O Agrohidronegoacutecio eacute o padratildeo de produccedilatildeo com especialidades em

monocultivos (soja milho trigo e mais recente eucalipto) sob a concentraccedilatildeo fundiaacuteria e apropriaccedilatildeo dos recursos da natureza (terra e aacutegua) atrelados a grandes grupos econocircmicos nacionais e internacionais (TOMAZ JUNIOR 2008 2010)

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No estado de Sergipe a expansatildeo que acontece devido agraves condiccedilotildees edafoclimaacuteticas favoraacuteveis ao raacutepido crescimento e excelente produtividade de mateacuteria-prima o que se torna uma realidade com aumento da aacuterea total do efetivo destinadas ao plantio de eucalipto que atinge 3129 hectares distribuiacutedos em 19 (dezenove) municiacutepios de acordo com os dados da Produccedilatildeo da Extraccedilatildeo Vegetal e da Silvicultura ndash IBGE do ano de 2014

A pesquisa jaacute consolidada fizemos recorte espacial do municiacutepio de Estacircncia com 336 ha (1073 da aacuterea do efetivo da silvicultura em Sergipe) e o municiacutepio de Itaporanga drsquoAjuda que jaacute foram destinados 1200 ha equivalente a 3835 da aacuterea total existente do efetivo da silvicultura do estado de Sergipe apresentado no mapa 01

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Conforme o mapa 01 a expansatildeo do monocultivo de

eucalipto no estado de Sergipe se configura principalmente na zona de clima quente e uacutemido com meacutedias pluviomeacutetricas que variam entre 2000mm na faixa litoracircnea adentrando ao interior prosseguindo a meacutedia de 1200 mm localizando-se predominantemente sobre as aacutereas da Mesorregiatildeo Leste Sergipano (MACEDO 2014)

Para tanto a centralidade da questatildeo agraacuteria eacute pertinente ao debate das disputas territoriais da concentraccedilatildeo e do monopoacutelio da terra acesso e controle dos recursos hiacutedricos que se redefinem a partir das distintas formas de exploraccedilatildeo da forccedila de trabalho pelo agrohidronegoacutecio (THOMAZ JUNIOR 2010)

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Desse modo a territorializaccedilatildeo e a monopolizaccedilatildeo do territoacuterio pelo capital impotildee aos camponeses e trabalhadores buscar alternativas de resistecircncia para manter o modo de vida e trabalho de caraacuteter heterogecircneo e coletivo com a agriacutecola e produccedilatildeo agraacuteria diversificada e muacutetua absorccedilatildeo de forccedila de trabalho sob a perspectiva da sustentabilidade socioeconocircmica e ambiental TERRA DE TRABALHO CONVERTIDA PARA TERRA DE NEGOacuteCIO PELO AGROHIDRONEGOacuteCIO DO EUCALIPTO

Compreender as transformaccedilotildees no campo brasileiro eacute

analisar a complexidade expressa no espaccedilo produzido o que afeta diretamente as formas e processos de auto realizaccedilatildeo do homem diante do trabalho Nesta perspectiva a expansatildeo do monocultivo de eucalipto implica numa seacuterie de discussotildees que necessitam de amplos debates sobre a concentraccedilatildeo da terra apropriaccedilatildeo dos recursos hiacutedricos oferta de emprego geraccedilatildeo de renda substituiccedilatildeo da produccedilatildeo alimentiacutecia disputas e os conflitos territoriais fato se intensifica no cenaacuterio mundial e brasileiro com a transiccedilatildeo energeacutetica natildeo renovaacutevel para as fontes renovaacuteveis

Para tanto o interesse pelas terras e pela forccedila de trabalho nos municiacutepios de Itaporanga drsquoAjuda e Estacircncia representa o suporte central para reproduccedilatildeo capitalista estes satildeo produtores que integra o circuito capitalista de produccedilatildeo com o controle das terras pelo agrohidronegoacutecio sob o monopoacutelio fundiaacuterio e das disputas pela terra o que amplia e acentua efetivamente o processo de expropriaccedilatildeo dos trabalhadores que vive e tem a terra como meio de trabalho

Paralelo a integraccedilatildeo dos grandes produtores de eucalipto tambeacutem deu a inserccedilatildeo camponesa no circuito produtivo atraveacutes da expansatildeo do monocultivo de eucalipto

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mas dar-se pela sujeiccedilatildeo do trabalho e da renda da terra para os grandes produtores fato que teremos de analisar que ldquo[] a terra sob o capitalismo tem que ser entendida como renda capitalizada [] pois assim ele (o capital) pode subordinar a produccedilatildeo de tipo camponecircs pode especular com a terra comprando-a e vendendo-a e pode por isso sujeitar o trabalho que se daacute na terrardquo (OLIVEIRA 2007 p11)

No estado de Sergipe essa inserccedilatildeo se daacute inicialmente no decorrer da deacutecada de 1990 periacuteodo de reduccedilatildeo de impostos e grandes incentivos fiscais pelo governo estadual em que foram expandidos os distritos industriais que tambeacutem aumentaram paralelo agrave necessidade de mateacuteria-prima energeacutetica para dar suporte ao aceleramento do consumo de mateacuteria-prima pelo setor industrial pela implantaccedilatildeo do Programa Sergipe de Desenvolvimento Industrial - PSDI7 (MATOS e ESPERIDIAtildeO 2011)

Nas pesquisas de campo constatou-se que a expansatildeo do monocultivo de eucalipto nos municiacutepios de Estacircncia e Itaporanga drsquoAjuda segundo os relatos dos pequenos e grandes produtores que haacute mais 20 anos jaacute existem aacutereas com plantios cujos cortes da lenha varia entre o periacuteodo inicial da deacutecada de 1990 com implantaccedilatildeo do PSDI e os incentivo industrial demandando novas fontes energeacuteticas o que permitiu classificar o plantio de cada estabelecimento por etapa cronoloacutegica do cultivo de eucalipto entre o trato da terra e o corte da madeira lenhosa

O avanccedilo dos plantios de monocultivo de eucalipto acirra as disputas entre os camponeses e os proprietaacuterios de

7O Programa Sergipe de Desenvolvimento Industrial foi implantado na

deacutecada de 1990 com o objetivo de incentivar estimular e acelerar o desenvolvimento socioeconocircmico e industrial estadual sergipano mediante a concessatildeo de apoio a investimentos que passou a investir na produccedilatildeo de lenha proveniente do monocultivo de eucalipto como fonte alternativa para suprir a demanda energeacutetica

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terra materializam-se em decorrecircncia da apropriaccedilatildeo da aacutegua e da sua mercantilizaccedilatildeo via comercializaccedilatildeo das mercadorias produzidas em que haacute uma pressatildeo sobre a terra

Os estabelecimentos rurais visitadas destinam a terra exclusivamente para produzir lenha que gera energia para as induacutestrias concentradas nos municiacutepios de Estacircncia e Itaporanga drsquoAjuda com plantios de seis meses a trecircs anos em que o proprietaacuterio tinha disponiacutevel uma produccedilatildeo para efeito de colheita de eucalipto

Em relaccedilatildeo ao destino da terra o plantio de mudas clonais representa entre grande propriedades a pequenos estabelecimentos rurais mais tambeacutem em lotes de assentamentos rurais Ou seja apresentando uma variaccedilatildeo do tamanho do moacutedulo rural8 em que o plantio de eucalipto representa a eficiecircncia produtiva defendida pelos capitalistas com o intenso estiacutemulo aos camponeses que satildeo cooptados agrave produzir eucalipto nas pequenas e meacutedias propriedades

A condiccedilatildeo de extraccedilatildeo tanto da renda da terra e da mais valia se efetiva pela condiccedilatildeo da terra a negar a sua funccedilatildeo social para reproduccedilatildeo socioeconocircmica da sociedade excluindo a condiccedilatildeo como nos relembra Martins (1991) que a terra eacute meio de produccedilatildeo e de vida o que revela a transformaccedilatildeo da terra em terra de negoacutecio

8 Paracircmetro de classificaccedilatildeo das propriedades rurais estaacute de acordo com a

Lei 8629 de 25 de fevereiro de 1993) segundo Landau et al (2012) dos estabelecimentos pesquisados 40 das propriedades possuem menos de um moacutedulo rural classificados como minifuacutendios em que 50 destas unidades visitadas satildeo terras conquistadas pelo processo de reforma agraacuteria considerada como terra de vida e de trabalho com forte relaccedilatildeo de trabalho pelos camponeses 20 satildeo classificados como pequena propriedade 33 tecircm entre 16 a 380 moacutedulos rurais sendo consideradas grandes propriedades Apenas 7 representam as meacutedias propriedades conforme visto no graacutefico 02

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A par da eficiecircncia de extraccedilatildeo da renda da terra os proprietaacuterios produtores vendem mudas clonais de eucalipto no municiacutepio de Itaporanga drsquoAjuda e induzem os assentados de reforma agraacuteria e pequenos proprietaacuterios rurais ao cultivo de eucalipto visto que o entusiasmo dos grandes produtores eacute determinante para que um nuacutemero de pequenos de assentados iniciasse a plantar o monocultivo de eucalipto nos lotes mesmo com o tamanho da terra restrito a poucos hectares O interesse em cultivar eucalipto fez crescer o negoacutecio de mudas clonais na regiatildeo pela demanda em atacado e varejo com retorno de lucro agrave curto prazo sendo tratadas nos hortos das grandes propriedades rurais

O cultivo do monocultivo de eucalipto tornou-se para os camponeses uma alternativa promissora pelo fato de obterem lucro no ciclo final de desenvolvimento poreacutem muitos cultivadores dependem de um comprador intermediaacuterio porque natildeo tem o destino da produccedilatildeo certo

Nos assentamentos rurais visitados os relatos sobre a garantia da venda e a inserccedilatildeo do mercado sendo que para muitos pequenos proprietaacuterios a venda do eucalipto natildeo seria problema porque sempre vatildeo compradores visitaacute-lo com o intuito de negociar a lenha do eucalipto

Estes municiacutepios revelam uma relaccedilatildeo de sujeiccedilatildeo da renda da terra pelo processo de monopolizaccedilatildeo do territoacuterio pelo capital onde o agricultor deteacutem a terra produz nela e depois revende diretamente ao capitalista que eacute quem define o preccedilo fato que se intensifica no Brasil desde a deacutecada de 1990 (OLIVEIRA 1991)

Esse quadro situa uma perspectiva de controle do espaccedilo de produccedilatildeo tornando-o um territoacuterio para o consumo capitalista Enquanto haacute interesse da induacutestria de celulose no eucalipto o camponecircs se torna uacutetil ao sistema ao tempo que se coloca vulneraacutevel no que tange agrave produccedilatildeo de alimentos e a sua autonomia

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Desse modo a transferecircncia da riqueza produzida pelos camponeses se daacute mediante a sujeiccedilatildeo da renda da terra pelo processo de monopolizaccedilatildeo do territoacuterio em que ldquo[] Nestes casos o capitalista natildeo imobiliza dinheiro na compra da terra ele natildeo territorializa-serdquo (PAULINO e ALMEIDA 2010 p 45)

Observa-se uma tendecircncia de disputa territorial posta entre os estabelecimentos rurais com cultivos tradicionais pecuaacuteria e moradia a introduccedilatildeo do monocultivo de eucalipto sob a loacutegica das contradiccedilotildees e antagonismos devido a produccedilatildeo de biomassa via do processo de monopolizaccedilatildeo do territoacuterio camponecircs e a territorializaccedilatildeo do capital (OLIVEIRA 1991 2004) O MODO DE TRABALHO NO CORTE DO MONOCULTIVO DE EUCALIPTO

Os trabalhadores rurais satildeo sujeitos concretos ativos

preocupados com sua reproduccedilatildeo social em meio agraves contradiccedilotildees do processo de modernizaccedilatildeo do campo brasileiro e agem em reciprocidade com as nuances imposta pelo sistema capitalista e que no iniacutecio do seacuteculo XXI intensificam-se a precarizaccedilatildeo e precariedade da forma de organizaccedilatildeo e oferta de emprego no campo

Segundo Harvey (2005) as transformaccedilotildees oriundas do sistema capitalista resultam das inuacutemeras crises de acumulaccedilatildeo do capital que obriga a classe trabalhadora nesta anaacutelise referente ao campo a conviver de forma hostil para sobreviver

Para tanto Harvey (2005) ressalta que haacute uma coordenaccedilatildeo de produccedilatildeo capitalista atrelado ao capital financeiro do preccedilo da forccedila de trabalho nos distintos recortes espaciais

A ascensatildeo do capital financeiro foi resultado do ressurgimento de formas agressivas brutais de

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procurar aumentar a produtividade do capital em niacutevel macro econocircmico a comeccedilar pela produtividade do trabalho tanto dos operaacuterios como das massas de trabalhadores (HARVEY 2005 p 16)

Thomaz Juacutenior (2002) afirma que este periacuteodo eacute decorrente dos impulsos do processo de reestruturaccedilatildeo produtiva que atinge o campo o que cresce o contingente de trabalhadores desempregados a niacutevel nacional

O processo de produccedilatildeo capitalista impotildee a classe trabalhadora uma seacuterie de demanda para suprir as necessidades voltadas para a esfera produtiva excluindo a necessidade de reproduccedilatildeo dos trabalhadores o que Antunes (2007) defenderaacute como uma nova transformaccedilatildeo do metabolismo social destrutiva agrave classe que vive do trabalho

As poliacuteticas econocircmicas do estado de Sergipe no iniacutecio da deacutecada de 1990 com a adoccedilatildeo de poliacuteticas de desenvolvimento regional favoreceram o aumento do PIB estadual e as articulaccedilotildees das diversas cadeias produtivas entre a produccedilatildeo agropecuaacuteria e o capital agroindustrial O esforccedilo do Estado em garantir os benefiacutecios para o setor produtivo industrial reativou o aumento da demanda energeacutetica consolidando o agravamento das condiccedilotildees de trabalho a partir da expansatildeo do monocultivo de eucalipto no campo sergipano

A inserccedilatildeo do monocultivo de eucalipto nos municiacutepios de Itaporanga drsquoAjuda e Estacircncia promove a intensificaccedilatildeo e a substituiccedilatildeo das aacutereas com culturas alimentares e de produccedilatildeo familiar demonstra o aumento e a geraccedilatildeo de emprego em detrimento do aquecimento industrial

Tendo em vista o interesse em ampliar os parques fabris e tornaacute-los competitivos no cenaacuterio regional e nacional a implantaccedilatildeo da induacutestria de celulose e papel tornou justificativa do Estado para legitimar a necessidade de expandir o monocultivo de eucalipto e os investimentos puacuteblicos para

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reforccedilar as vantagens econocircmicas e sociais para a Microrregiatildeo de Estacircncia

Poreacutem a eficaacutecia da promoccedilatildeo do desenvolvimento econocircmico estaacute travestida da eficaacutecia do desenvolvimento social do aumento de emprego geraccedilatildeo de renda e das responsabilidades ambientais pelas induacutestrias instaladas nos municiacutepios de Estacircncia e Itaporanga dAjuda natildeo demonstram os riscos que causam a substituiccedilatildeo da policultura para as famiacutelias que vivem e trabalham no campo

Entretanto no tocante agrave geraccedilatildeo de empregos e a relaccedilatildeo de trabalho constata-se a contrataccedilatildeo temporaacuteria de trabalho que duram de trecircs a quatro meses entre o periacuteodo de preparo da terra e o corte da madeira de eucalipto No periacuteodo de manutenccedilatildeo dos plantios apoacutes seis meses com tratos culturais o nuacutemero de contratados pode chegar a zero em algumas propriedades retornando as contrataccedilotildees apenas para o periacuteodo de corte

O nuacutemero de contratos temporaacuterios pode variar de 20 a 30 trabalhadores no curto periacuteodo de 90 dias do plantio das mudas clonais primeira e segunda adubaccedilatildeo Jaacute as contrataccedilotildees de trabalhadores por um tempo maior variam de 2 a 7 trabalhadores

Os engenheiros florestais agrocircnomos teacutecnicos agriacutecolas motoristas tratoristas satildeo pessoas responsaacuteveis pela manutenccedilatildeo dos talhotildees de eucalipto no controle agraves pragas fazendo a pulverizaccedilatildeo gradeamento e araccedilatildeo da terra Esses uacuteltimos atuam evitando a incidecircncia de ervas daninhas competindo com o plantio de eucalipto

Nas entrevistas do trabalho de campo com a comunidade e os camponeses sitiantes o nuacutemero maior de trabalhadores contratados eacute no periacuteodo de plantio com valor pago a cerca de R$ 4000 diaacuterio com carga horaacuteria exaustiva e de forma verbal A contrataccedilatildeo dos trabalhadores temporaacuterios

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natildeo garante nenhuma condiccedilatildeo de melhoria seja no plantio oue corte do monocultivo de eucalipto

A reduccedilatildeo dos trabalhadores no campo sergipano justifica-se pelo aumento da mecanizaccedilatildeo em todo o processo do monocultivo de eucalipto sendo reflexo da modernizaccedilatildeo no campo sergipano que ocorre com a reduccedilatildeo de empregos e a substituiccedilatildeo da forccedila de trabalho humano pela mecanizaccedilatildeo e isto ocorre nas propriedades com grandes extensotildees de terra

O uso das maacutequinas nas grandes propriedades impotildee aos trabalhadores a subordinaccedilatildeo do trabalho agraves relaccedilotildees de produccedilatildeo que se mostram extremamente precaacuterias em que vaacuterios trabalhadores temporaacuterios vecircm se negando a aceitar trabalhos com niacuteveis de precarizaccedilatildeo relevantes no corte de eucalipto

A inserccedilatildeo tecnoloacutegica na substituiccedilatildeo do trabalho manual nos municiacutepios de Estacircncia e Itaporanga drsquoAjuda eacute uma tendecircncia para todas as etapas do processo produtivo desde o preparo da terra plantio colheita ateacute o transporte da lenha para as faacutebricas da regiatildeo poreacutem natildeo eacute comum em todas as propriedades visitadas

A intensificaccedilatildeo do uso da mecanizaccedilatildeo implica na baixa contrataccedilatildeo de trabalhadores para realizar o serviccedilo de carregamento e quando haacute a contrataccedilatildeo dos trabalhadores eacute temporaacuteria que varia de acordo com a quantidade de aacuterea plantada cujos contratos tecircm duraccedilatildeo de ateacute noventas dias periacuteodo da segunda adubaccedilatildeo

Os salaacuterios pagos variam de acordo com a demanda da lenha de eucalipto com salaacuterios de acordo com cada funccedilatildeo que um trabalhador iraacute exercer No caso dos trabalhadores que fazem o trabalho com motosserra o ganho eacute maior em relaccedilatildeo daqueles que faz arrumaccedilatildeo das toras de madeira para o carregamento dos caminhotildees pelas maacutequinas

A execuccedilatildeo das atividades laborais no campo expotildee o trabalhador agraves condiccedilotildees adversas em situaccedilotildees

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desconfortaacuteveis que comprometem a sua sauacutede bem como a seguranccedila Dentre as situaccedilotildees adversas enfrentadas pelos trabalhadores no corte do eucalipto existem os altos ruiacutedos fuligens vibraccedilatildeo do manuseio das motosserras exaustatildeo por movimentos repetitivos e intensa forccedila braccedilal condiccedilotildees climaacuteticas adversas com altas temperaturas no veratildeo e baixa umidade no inverno sem contar do uso inapropriado dos Equipamentos de Proteccedilatildeo Individual (EPIs) em que apenas alguns acessoacuterios satildeo usados pelos trabalhadores

A utilizaccedilatildeo dos EPIs como capacetes calccedilas jaquetas protetor auricular protetor facial perneira coturno e luvas satildeo recomendados para minimizar riscos de acidentes como ressalta Rodrigues (2004) afirmando que o manuseio da motosserra deve considerar certas precauccedilotildees visto que os acidentes acontecem pelo desconhecimento dos trabalhadores ou falta de preparaccedilatildeo pelas empresas que negligecircncia o fornecimento dos EPIs descumprido a legislaccedilatildeo trabalhista

No entanto entre os trabalhadores que se colocaram a disposiccedilatildeo um esclareceu que a rotina diaacuteria no corte de eucalipto eacute de extrema cautela com trabalho com alta jornada e que a melhor hora para o corte eacute antes das 8 horas em que o vento natildeo atrapalha poreacutem no decorrer o dia eles ficam expostos aos acidentes

Em relaccedilatildeo aos trabalhadores do corte do eucalipto pocircde-se constatar a mobilidade cotidiana de trabalhadores residentes nos municiacutepios circunvizinhos de Boquim e Salgado inclusive trabalhadores dos assentamentos de reforma agraacuteria de Estacircncia e de Itaporanga drsquoAjuda Um dos motivos dessa mobilidade eacute a oportunidade de trabalho pelas baixas condiccedilotildees econocircmicas das famiacutelias que vivem no espaccedilo urbano

O salaacuterio pago eacute um salaacuterio miacutenimo para os trabalhadores envolvidos no plantio e na adubaccedilatildeo Jaacute no corte o salaacuterio pago varia de acordo com a quantidade de

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madeira em tora cortada Haacute diferenccedila entre os donos dos motosserras que podem alcanccedilar R$ 15000 diaacuterios e os contratos firmados entre os trabalhadores e as empresas variam de R$ 600 a R$1000 por metro cuacutebico (m3) de madeira cortada Esse eacute um serviccedilo terceirizado pela empresa responsaacutevel pelos contratos dos trabalhadores que recebem em meacutedia R$ 2800 por metro cuacutebico de madeira cortada

Esse quadro leva os trabalhadores a cumprirem uma determinada meta com corte de eucalipto ao dia sem considerar as perdas de horas extras trabalhadas uma vez que os trabalhadores soacute recebem pela quantidade de metros cuacutebicos por hectare de aacutervores derrubadas combinado com a empresa que terceiriza e contrata os trabalhadores que adotam posturas repetitivas crescendo o risco de doenccedilas e acidentes

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Como produto das contradiccedilotildees dessa reestruturaccedilatildeo produtiva no campo com repercussotildees no mundo do trabalho conforme discutimos a precarizaccedilatildeo a substituiccedilatildeo do trabalho vivo pelo trabalho morto aleacutem de todos os entraves para a vida do camponecircs os conflitos por terras acabam por se constituiacuterem parte do cotidiano do trabalhador rural

A compreensatildeo do processo da reestruturaccedilatildeo produtiva no campo revela a materialidade das transformaccedilotildees e perdas de direitos trabalhistas na expansatildeo do agrohidronegoacutecio do eucalipto nos municiacutepios de Estacircncia e Itaporanga drsquoAjuda em consonacircncia com a Divisatildeo Internacional do Trabalho nas uacuteltimas deacutecadas no Brasil pelo fato de que se exige mais do trabalhador com longa jornada de horas de trabalho precaacuterio com baixos salaacuterios e por meio de contratos temporaacuterios

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Portanto nota-se que o trabalho no monocultivo do eucalipto aparece como uma atividade que daacute esperanccedila pela garantia de renda certa Poreacutem prevalece a escassez de emprego e o aumento da mecanizaccedilatildeo do processo produtivo do monocultivo de eucalipto nos municiacutepios de Estacircncia e Itaporanga drsquoAjuda O que coloca a ideia de empregabilidade como uma falaacutecia do setor florestal quanto ao discurso de geraccedilatildeo de renda e emprego para as famiacutelias que vivem proacuteximas aos estabelecimentos rurais

REFEREcircNCIAS ANTUNES Ricardo Dimensotildees da precarizaccedilatildeo estrutural do trabalho In DRUCK G FRANCO T (Orgs) A perda da razatildeo social do trabalho Terceirizaccedilatildeo e precarizaccedilatildeo Satildeo Paulo Boitempo 2007 FEITOSA Cid Olival A distribuiccedilatildeo espacial das atividades econocircmicas de Sergipe In Cadernos de Ciecircncias Sociais Aplicadas Vitoacuteria da Conquista nordm 17 p 187-206 2014Disponiacutevel em lthttpperiodicosuesbbrindexphpcadernosdecienciasarticleviewFile49244719gt Acesso em 20 jan 2016 HARVEY D Condiccedilatildeo poacutes-moderna 14 ed Satildeo Paulo Ed Loyola 2005 p117-183 INDUacuteSTRIA BRASILEIRA DE AacuteRVORES IBAacute Indicadores de desempenho do setor nacional de aacutervores plantadas referentes ao ano de 2014 Ano 2015 Elaboraccedilatildeo Poumlyry Gestatildeo e Negoacutecios Ltda Brasiacutelia Disponiacutevel em lthttpwwwibaorgimagessharediba_2015pdfgt Acesso em 30 mar 2016

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INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA (IBGE) Produccedilatildeo da Extraccedilatildeo Vegetal e da Silvicultura Ano 2014 Disponiacutevel em lthttpwwwsidraibgegovbrbdatabelalistablaspc=5930ampz=tampo=29gt Acesso em 10 jan 2016 LANDAU Elena Charlotte et al Variaccedilatildeo geograacutefica do tamanho dos moacutedulos fiscais no Brasil Documentos 146 Embrapa Milho e Sorgo Sete Lagoas 2012 199 p Disponiacutevel em lthttpainfocnptiaembrapabrdigitalbitstreamitem775051doc-146pdfgt Acesso em 07 mai 2015 MACEDO Heleno dos Santos Ordenamento territorial - ambiental na Bacia Costeira CaueiraAbais 2014 216 f Dissertaccedilatildeo (Mestrado) ndash Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Geografia-UFS Satildeo Cristoacutevatildeo 2014 MATOS Elmer Nascimento ESPERIDIAtildeO Fernanda Desconcentraccedilatildeo produtiva regional e fluxos migratoacuterios o caso de Sergipe Informe Gepec Toledo v 15 nuacutemero especial p 525-545 2011 Disponiacutevel em lthttpe-revistaunioestebrindexphpgepecarticledownload62994808gt Acesso em 20 dez 2015 MARTINS Joseacute de Souza Os camponeses e a poliacutetica no Brasil as lutas sociais no campo e seu lugar do processo poliacutetico 2 ed Petroacutepolis Vozes 1983 OLIVEIRA Ariovaldo Umbelino A agricultura camponesa no Brasil Satildeo Paulo Editora Contexto 1991 (Coleccedilatildeo Caminhos da geografia)

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OLIVEIRA Ariovaldo Umbelino Geografia agraacuteria perspectivas no iniacutecio do seacuteculo XXI In O campo no seacuteculo XXI territoacuterio de vida de luta e de construccedilatildeo da justiccedila social OLIVEIRA A U e MARQUES M I M (Orgs) Satildeo Paulo Editora Casa Amarela e Editora Paz e Terra 2004 p 29-70 OLIVEIRA Ariovaldo Umbelino Modo de Produccedilatildeo Capitalista Agricultura e Reforma Agraacuteria Satildeo Paulo FFLCH 2007 184 p Disponiacutevel em lthttpwwwgeografiafflchuspbrgraduacaoapoioApoioApoio_ValeriaPdfLivro_aripdfgt Acesso em 28 abr 2014 PAULINO Eliane Tomiasi ALMEIDA Rosemeire Aparecida Terra e territoacuterio a questatildeo camponesa no capitalismo Satildeo Paulo Expressatildeo Popular 2010 THOMAZ JUacuteNIOR Antonio Por uma geografia do trabalho Revista Pegada Presidente Prudente (SP) v 3 Nuacutemero Especial p 4-26 ago 2002 THOMAZ JUNIOR Antonio O agrohidronegoacutecio no centro das disputas territoriais e de classe no Brasil do Seacuteculo XXI Campo Territoacuterio V 5 Ndeg 10 Uberlacircndia 2010 Disponiacutevel em lthttpwwwseerufubrindexphpcampoterritorioarticleview12042gt Acesso em 16 jul 2015

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A QUESTAtildeO DA TERRA E O ENSINO DE GEOGRAFIA A IMPORTAcircNCIA DESSE ESTUDO

PARA A COMPREENSAtildeO DO ESPACcedilO AGRAacuteRIO E AS SUAS CONTRADICcedilOtildeES

Mara Iacuteris Barreto Limasup1

(Universidade Federal de Sergipe) (Graduanda em GeografiaLicenciatura)

E mail mara21irisgmailcom

Joyce Kelly de Jesus Santossup2 (Universidade Federal de Sergipe)

(Graduanda em GeografiaLicenciatura) E mail kellysts17gmailcom

RESUMO

Este artigo tem como finalidade discutir a importacircncia do estudo da questatildeo agraacuteria no Brasil com base nas contradiccedilotildees encontradas na estrutura fundiaacuteria em diferentes eacutepocas assim como adentrar no ensino de Geografia para uma maior compreensatildeo da realidade nacional posto que haacute a necessidade de abordar tais temaacuteticas na Educaccedilatildeo Baacutesica e no Ensino Superior Dessa maneira eacute observar atraveacutes da oficina ldquoMuacutesica e Geografiardquo realizada pelos bolsistas do Pibid na IV Semana Acadecircmico-Cultural da Universidade Federal de Sergipe ndash no Campus Universitaacuterio Prof Alberto Carvalho em Itabaiana com a oacutetica de refutar toda disseminaccedilatildeo da miacutedia que transmite o agronegoacutecio como resoluccedilatildeo do desenvolvimento econocircmico nacional Assim como ressaltar a importacircncia dessas problematizaccedilotildees para desmascarar os ldquobenefiacuteciosrdquo do modelo agroexportador no territoacuterio brasileiro pautando assim na formaccedilatildeo educativa e consciente dos ouvintes que fazem parte dessa dinacircmica alusiva ao espaccedilo

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agraacuterio do paiacutes em diferentes contextos histoacutericos quais marcaram e marcam a questatildeo fundiaacuteria de nossa sociedade as lutas e resistecircncias dos camponeses bem como a discussatildeo com o uso dos agrotoacutexicos que vatildeo parar nas mesas dos brasileiros sem perder de vista ainda todas as contribuiccedilotildees para a compreensatildeo e reflexatildeo da educaccedilatildeo na realidade social estudada Ademais eacute resgatar todos esses elementos que foram encadeados no rol das discussotildees desses processos histoacutericos validando-se tambeacutem na expressatildeo da questatildeo agraacuteria ao ensino de Geografia como indispensaacuteveis para se fazer uma leitura das contradiccedilotildees atuais no espaccedilo agraacuterio brasileiro com o olhar criacutetico e questionador Palavras-chave Geografia Agraacuteria Ensino Agronegoacutecio INTRODUCcedilAtildeO

O debate sobre a questatildeo agraacuteria no Brasil eacute recente surgiu em meados do seacuteculo XX dentro dos partidos de esquerda (STEacuteDILE 2012) Essa discussatildeo se faz de grande relevacircncia no paiacutes pois predomina a concentraccedilatildeo de terra e a criminalizaccedilatildeo dos movimentos sociais que lutam pela reforma agraacuteria Dessa maneira a Geografia eacute uma das ciecircncias que estudam essa questatildeo tatildeo importante para a leitura social e espacial da sociedade

Haja vista o ensino de Geografia deve proporcionar ao aluno uma visatildeo criacutetica da sociedade por conseguinte estudar o espaccedilo agraacuterio brasileiro busca evidenciar suas contradiccedilotildees e desmitificar os estereoacutetipos tornando-o fundamental e imprescindiacutevel para essa ciecircncia Nessa perspectiva foi realizada a oficina de ldquoMuacutesica e Geografiardquo que abordou esses temas atraveacutes da muacutesica ldquoReis do Agronegoacuteciordquo do cantor Chico Ceacutesar apresentando assim as relaccedilotildees de exploraccedilatildeo e expropriaccedilatildeo nas dinacircmicas capitalistas

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A metodologia utilizada para o desenvolvimento dessa oficina foi um levantamento bibliograacutefico sobre a temaacutetica e dramatizaccedilatildeo Constituiu-se como uma pesquisa qualitativa pautada no meacutetodo do materialismo-histoacuterico dialeacutetico uma vez que buscamos resgatar o caraacuteter histoacuterico e a dialeacutetica da ocupaccedilatildeo do espaccedilo agraacuterio e como a terra se estabelece como um elemento essencial para a reproduccedilatildeo do capitalismo legitimando assim a constante apropriaccedilatildeo da Natureza pela accedilatildeo humana

De tal modo ainda dentro do estudo em Geografia e mais especificamente a Geografia Agraacuteria haacute vaacuterias vertentes ao qual nesse artigo trabalhamos com conceito de camponecircs e a sua resistecircncia frente ao capitalismo enfatizando a luta pela terra identificando assim os confrontos e conflitos no campo as lutas sociais como vozes dos grupos oprimidos e dentre outros aspectos que compreendem a leitura do espaccedilo geograacutefico brasileiro UM BREVE HISTOacuteRICO DA ESTRUTURA FUNDIAacuteRIA BRASILEIRA A questatildeo da terra inicia-se com a proacutepria exploraccedilatildeo colonial tendo em vista a loacutegica do Capitalismo Comercial que se originava no bojo das relaccedilotildees de poder e economia em continente europeu Haja vista o paiacutes ainda natildeo tinha a dimensatildeo territorial que se compreende na atualidade e as terras de Pindorama eram as riquezas dos povos nativos que existiram nessa porccedilatildeo da Ameacuterica do Sul Natildeo obstante as relaccedilotildees que se sucederam foram baseadas primordialmente na agricultura tendo como pilares as extensas aacutereas voltadas para a Plantation com a exploraccedilatildeo de matildeo de obra escrava como ressalta Eduardo Galeano a sua configuraccedilatildeo inicial de apropriaccedilatildeo da terra

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[] A plantaccedilatildeo nascida da demanda de accediluacutecar no ultramar era uma empresa movida pelo afatilde do lucro de seu proprietaacuterio e posta a serviccedilo do mercado que a Europa ia articulando internacionalmente Por sua estrutura interna no entanto ndash e considerando que em boa medida bastava-se a si mesma - alguns de seus traccedilos dominantes eram feudais (GALEANO 2017 p 92)

Assim como o ldquoassassinato da terrardquo no Nordeste brasileiro no periacuteodo colonial se legitimou na figura da exploraccedilatildeo que era particular e combinada do capitalismo crescente fazendo surgir novos perfis de ocupaccedilatildeo e uso das terras brasileiras Consoante a isso ldquoAs terras foram cedidas pela Coroa Portuguesa em usufruto aos primeiros e grandes terras-tenentes do Brasil A faccedilanha da conquista deveria correr paralela com a organizaccedilatildeo da produccedilatildeordquo (GALEANO 2017 p 94)

Com o correr do tempo o caraacuteter da exploraccedilatildeo capitalista incorporava novas condiccedilotildees que discriminavam os primeiros camponeses nas aacutereas mais distantes das colocircnias tropicais e subtropicais da Ameacuterica O valor dos escravos jaacute se configurava antes mesmo das terras brasileiras os periacuteodos coloniais e imperiais foram basilares para a construccedilatildeo de estereoacutetipos na cultura nacional na pujanccedila das relaccedilotildees econocircmicas administrativas e poliacuteticas quais se delimitavam nos seacuteculos que sucederam no ldquolongo seacuteculo XVIrdquo (MORAES 2000) Desse modo eacute importante estabelecer uma compreensatildeo referente a grandes e pequenas propriedades de terras em conformidade com Caio Prado Juacutenior em ressaltar

[] O regime de posse da terra foi o da propriedade alodial e plena Entre os

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poderes dos donataacuterios das capitanias estava como vimos o de disporem das terras que se distribuiacuteram entre os colonos As doaccedilotildees foram em regra muito grandes medindo-se os lotes por muitas leacuteguas O que eacute compreensiacutevel sobravam as terras e as ambiccedilotildees daqueles pioneiros recrutados a tanto custo natildeo se contentariam evidentemente com propriedades pequenas natildeo era a posiccedilatildeo de modestos camponeses que aspiravam ao novo mundo mas de grandes senhores e latifundiaacuterios (PRADO JR 2008 p 33)

A concentraccedilatildeo de terras no Brasil eacute de caraacuteter histoacuterico suas influecircncias se remetem aos contextos histoacutericos de outrora A estrutura fundiaacuteria presente atualmente no paiacutes vem desde a colonizaccedilatildeo inicialmente com a divisatildeo das terras em Capitanias Hereditaacuterias e posteriormente com a Lei das Sesmarias Nesse sistema todas as terras pertenciam agrave Coroa e eram distribuiacutedas para os donataacuterios atraveacutes da ldquoconcessatildeo de usordquo que se caracterizava como

[] de direito hereditaacuterio ou seja os herdeiros do fazendeiro-capitalista poderiam continuar com a posse das terras e com a sua exploraccedilatildeo Mas natildeo lhes dava direito de venderem as terras ou mesmo de comprarem terras vizinhas Na essecircncia natildeo havia propriedade privada das terras ou seja as terras ainda natildeo eram mercadorias (STEacuteDILE 2012 p 24)

Com efeito as concentraccedilotildees de terras se consolidaram com o latifuacutendio pautado na matildeo de obra escrava e em extensas aacutereas de produccedilatildeo em 1850 no paiacutes Nesse periacuteodo o governo imperial vivia um impasse visto

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que a Inglaterra pressionava o Brasil para abolir a escravatura Dessa forma para impedir que os ex-escravos se apossassem das terras devolutas foi proclamada a Lei nordm 601 de 18 de setembro de 1850 popularmente conhecida como Lei de Terras Agrave vista disso ldquo[] foi uma soluccedilatildeo encontrada pela elite brasileira para manter inalterada a estrutura agraacuteria impedindo o acesso livre agrave terra por parte da populaccedilatildeo pobre que era maioriardquo (MIRALHA 2006 p 153) Pela primeira vez no paiacutes a terra eacute vista como mercadoria tendo um valor atribuiacutedo agraves aacutereas brasileiras Para Steacutedile a caracteriacutestica principal dessa lei

[] eacute implantar no Brasil a propriedade privada das terras Ou seja a lei proporciona fundamento juriacutedico agrave transformaccedilatildeo da terra ndash que eacute um bem da natureza e portanto natildeo tem valor do ponto de vista da economia poliacutetica ndash em mercadoria em objeto de negoacutecio passando portanto a partir de entatildeo a ter preccedilo A lei normatizou entatildeo a propriedade privada da terra (STEacuteDILE 2012 p 24)

A deacutecada de 1930 marcou um novo periacuteodo na histoacuteria da economia brasileira A Grande Crise de 1929 acarretou a crise do modelo agroexportador obrigando o paiacutes a se industrializar poreacutem surgiu uma induacutestria ligada ao campo e dependente dos paiacuteses centrais em virtude que nesse primeiro momento foram compradas maacutequinas usadas de faacutebricas falidas dos paiacuteses ricos atingidos pela crise econocircmica Como o Brasil natildeo possuiacutea matildeo-de-obra especializada precisou ainda se importar maacutequinas (FURTADO 2007) assim como explorar a matildeo-de-obra ldquodisponiacutevelrdquo em solo brasileiro valendo ressaltar que ldquo[] a importaccedilatildeo dessas maacutequinas soacute era possiacutevel pela continuidade das exportaccedilotildees agriacutecolas que geravam divisas para seu

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pagamento fechando o ciclo da loacutegica da necessidade do capitalismo dependenterdquo (STEacuteDILE 2012 p 30) Nesse contexto agravou-se a contradiccedilatildeo no campo brasileiro dado que

[] os camponeses ao mesmo tempo em que se reproduziam e se multiplicavam enquanto classe tiveram parcelas crescentes de seus membros migrando para as cidades e se transformando em operaacuterios Na estrutura da propriedade da terra [] Por um lado havia a multiplicaccedilatildeo de pequenas propriedades pela compra e venda e reproduccedilatildeo das unidades familiares E por outro lado em vastas regiotildees a grande propriedade capitalista avanccedilava e concentrava mais terra mais recursos (STEacuteDILE 2012 p 32)

A partir de meados do seacuteculo XX surgem os primeiros debates sobre a questatildeo agraacuteria no Brasil dentro dos partidos de esquerda nesse periacuteodo o ecircxodo rural se consolidou no paiacutes devido agrave mecanizaccedilatildeo do campo e uma massa de camponeses comeccedilou a ser expropriada e migrou para a cidade aleacutem de se tornar subordinada ao capital industrial Foi nesse cenaacuterio que surgiram movimentos sociais que lutam por transformaccedilotildees estruturais da sociedade (STEacuteDILE 2012) Dentre os quais podemos destacar As Ligas Camponesas e na deacutecada de 1990 o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) ao qual exerceu e exerce um papel importante na miacutenima distribuiccedilatildeo de terras que haacute no paiacutes na contemporaneidade

Deste modo o novo contexto diante da situaccedilatildeo agraacuteria em todo o paiacutes ganhava novas nuances diante da conjuntura poliacutetico-econocircmica e ideoloacutegica que se formavam no territoacuterio brasileiro Ademais o MST em sua origem de

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formaccedilatildeo passou a desempenhar papel preponderante na luta pela reforma agraacuteria pela equidade de direitos contra a concentraccedilatildeo fundiaacuteria e pela desobediecircncia aos latifundiaacuterios expropriadores das terras brasileiras eou ao proacuteprio Estado tomando-os como reinvindicaccedilotildees na realizaccedilatildeo de poliacuteticas para assentamentos no campo e para a legitimaccedilatildeo desse movimento social no paiacutes Outrossim a maacute distribuiccedilatildeo de terras foi concomitante ao proacuteprio processo de subordinaccedilatildeo das massas populares passando de cenaacuterios histoacutericos a novos contextos soacutecio-poliacuteticos de caraacuteter paulatinamente explorador Nessas circunstacircncias os personagens eram os mesmos o senhor de engenho versus o escravo o latifundiaacuterio versus o camponecircs ambos imbricados na teia de relaccedilotildees de poder e subordinaccedilatildeo constante em diferentes espacializaccedilotildees em territoacuterio nacional Sendo assim a dialeacutetica das relaccedilotildees sociais vai se impondo dentro desses quadros bem como na percepccedilatildeo de entender o espaccedilo geograacutefico a partir de confrontos fundamentados na propriedade privada das terras e nas ideologias que vatildeo se formando em diferentes temporalidades na sociedade A OFICINA DE MUacuteSICA E GEOGRAFIA A Geografia deve propiciar ao aluno um olhar emancipador que seja possiacutevel enxergar as contradiccedilotildees sociais e espaciais e como se estabelecem as relaccedilotildees de poder assim como colocaacute-los como agentes ativos e participativos na produccedilatildeo do espaccedilo a fim de melhor compreendecirc-lo Outro fator importante eacute a aproximaccedilatildeo dos conteuacutedos da realidade do estudante assim haveraacute uma maior motivaccedilatildeo em aprender e permite ainda um diaacutelogo essencial para o estudo geograacutefico Para Oliveira eacute necessaacuterio

[] um ensino que busque incutir nos alunos

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uma postura criacutetica diante da realidade comprometida com o homem e a sociedade natildeo com o homem abstrato mas com o homem concreto com a sociedade tal qual ela se apresenta dividida em classes com conflitos e contradiccedilotildees E contribua para sua transformaccedilatildeo (OLIVEIRA 1989 p 143)

Nesse contexto eacute vaacutelido trabalhar a questatildeo da terra e seus desdobramentos tendo em vista que a estrutura fundiaacuteria do Brasil eacute altamente concentrada e os conflitos que satildeo muito presentes em todo o territoacuterio nacional satildeo relevantes para o entendimento de tais problemaacuteticas e as suas particularidades Nesse sentido essa temaacutetica pode ser abordada tanto na Educaccedilatildeo Baacutesica quanto no Ensino Superior pois permite uma interlocuccedilatildeo entre os sujeitos participativos dessas questotildees sociais no Brasil

Dito isto foi realizada a atividade de extensatildeo Praacutexis Pedagoacutegica o Pibid na formaccedilatildeo de professores de Geografia na IV Semana Acadecircmico-Cultural da Universidade Federal de Sergipe ndash no Campus Universitaacuterio Prof Alberto Carvalho em Itabaiana - SE com a oficina de ldquoMuacutesica e Geografiardquo ministrada por bolsistas do Pibid O principal objetivo dessa oficina foi tratar a questatildeo agraacuteria no espaccedilo geograacutefico brasileiro atraveacutes da muacutesica ldquoReis do Agronegoacuteciordquo de Chico Ceacutesar que mostra os malefiacutecios do agronegoacutecio e os seus rebatimentos na sociedade desmistificando assim toda a propaganda beneacutefica que eacute feita deste por meio da miacutedia e por suas consequentes alienaccedilotildees

O principal recurso da oficina foi a muacutesica jaacute referida A partir dela ocorreu uma problematizaccedilatildeointeraccedilatildeo com os participantes envolvidos revelando nesse vieacutes a sistematizaccedilatildeo do processo de espacializaccedilatildeo das relaccedilotildees capitalistas aos quais exploravam e exploram as terras e as

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forccedilas de trabalho em territoacuterio brasileiro considerando-se a consolidaccedilatildeo dos proacuteprios interesses econocircmicos do agronegoacutecio Concomitantemente os discentes puderam participar da oficina ao debaterem e estarem inseridos na canccedilatildeo por meio das problematizaccedilotildees propostas pelos pibidianos como eacute verificado na figura 1 ao explicitar o envolvimento destes no momento interativo em questatildeo contribuindo ainda na discussatildeo referente aos conhecimentos dos estudantes como forma de abrir espaccedilo para as diferentes oacuteticas e aprendizagens na oficina (ver figura 1) Figura 1 - Dinacircmica envolvendo a participaccedilatildeo de discentes do curso de Geografia de diferentes periacuteodos com grande contribuiccedilatildeo teoacuterica acerca das temaacuteticas trabalhadas durante a oficina

Fonte acervo do Pibid 2017

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Aleacutem disso foram feitos cartazes com frases e dados que mostravam os danos causados por esse sistema tais quais destacaram os domiacutenios do agronegoacutecio em distintas regiotildees do paiacutes Os ministrantes da oficina se caracterizaram com os personagens que satildeo descritos na muacutesica como a exemplos de latifundiaacuterio camponesa representante do MST e entre outros personagens interpretando os muacuteltiplos papeacuteis e as suas resistecircncias sendo de suma importacircncia destacar os esforccedilos dos pibidianos ao elaborarem os materiais para a realizaccedilatildeo da atividade citada e pelas simbologias construiacutedas em todo o periacuteodo proposto na semana acadecircmica referida (ver figura 2) Figura 2 - Bolsistas durante a apresentaccedilatildeo da oficina ldquoMuacutesica e Geografiardquo com a discussatildeo da muacutesica ldquoReis do agronegoacuteciordquo de Chico Ceacutesar

Fonte acervo do Pibid 2017

Paralelamente as caracterizaccedilotildees foram pautadas em

toda a coerecircncia da canccedilatildeo possibilitando ao puacuteblico alvo um

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momento de aproximaccedilatildeo e revelaccedilatildeo de questotildees natildeo abordadas em sala de aula tendo em vista ainda a dinacircmica existente entre todos os sujeitos ao propiciar discussotildees sobre casos proacuteximos de suas experiecircncias com relatos de alguns ouvintes que assistiam agraves encenaccedilotildees Os recursos utilizados na oficina foram primordiais para a realizaccedilatildeo desta com a utilizaccedilatildeo de materiais (cartazes objetos imagens e recursos de viacutedeos) desenvolvidos pelos proacuteprios bolsistas como resultados de intensa labuta e dedicaccedilatildeo para a concretizaccedilatildeo da oficina supracitada (ver figura 3) Figura 3 ndash Apresentaccedilatildeo da oficina ldquoMuacutesica e Geografiardquo com ecircnfase nas questotildees de intoleracircncia o agronegoacutecio a concentraccedilatildeo das terras e outras temaacuteticas abordadas

Fonte acervo do Pibid 2017

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Por conseguinte o puacuteblico se constituiu por discentes

de vaacuterios cursos de graduaccedilatildeo permitindo a estes um debate imprescindiacutevel para uma leitura do espaccedilo agraacuterio brasileiro e as suas contradiccedilotildees atraveacutes de assuntos como a questatildeo agraacuteria o uso de agrotoacutexicos e o agronegoacutecio Desse modo permitiram-se revelar ao puacuteblico os problemas gerados pelo uso dos agroquiacutemicos os derramamentos de sangue de grupos que defendem o campesinato e entre outras questotildees proporcionando assim um momento de autoconhecimento e discussotildees sobre as problemaacuteticas que circulam nossa sociedade

Do mesmo modo eacute ressaltar a importacircncia do diaacutelogo que ocorreu entre o puacuteblico e os ministrantes como uma forma de construccedilatildeo de conhecimentos e autorreflexatildeo desmistificando ainda algumas ideias equiacutevocas dos jovens na tentativa de tornar puacuteblico as atrocidades que estavam e estatildeo nas entrelinhas das relaccedilotildees econocircmico-sociais existentes Bem como questionar a alienaccedilatildeo que a propaganda do agronegoacutecio vem acometendo paulatinamente todas as parcelas da sociedade fazendo destas os seus alvos e consequentemente suas presas CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Diante disso foi perceptiacutevel que a temaacutetica da questatildeo

da terra eacute importante ser debatida na escola e na universidade para desmitificar ideias fundamentadas no que a grande miacutedia propaga Nessa via alguns alunos ainda possuiacuteam uma visatildeo de senso comum a respeito da induacutestria do agronegoacutecio do mesmo modo que havia uma visatildeo marginalizada de movimentos sociais do campo a exemplo do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) sendo possiacutevel destacar a tentativa de reversatildeo dessas concepccedilotildees tatildeo ldquonaturalizadasrdquo

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por parte dos ministrantes Considerou-se ainda a importante questatildeo da terra brasileira possibilitando o debate e a criaccedilatildeo de um momento iacutempar para a formaccedilatildeo de novos conhecimentos sobre a realidade do campo brasileiro O trabalho desenvolvido permitiu a construccedilatildeo e desconstruccedilatildeo de conceitos como por exemplos os conceitos de ocupaccedilatildeo e invasatildeo bem como a reflexatildeo de cada termo usado suas contextualizaccedilotildees e repercussatildeo da realidade fundiaacuteria em terras nacionais transformando o imaginaacuterio dos envolvidos em um momento de diaacutelogo e trocas de experiecircnciasrelatos no acircmbito universitaacuterio assim como para ir aleacutem dos muros da universidade Em conformidade com todos os aspectos explorados eacute plausiacutevel ainda trazer a necessidade de enfatizar a estrutura fundiaacuteria e as suas consequentes desigualdades sociais como leituras de todo esse processo analiacutetico e fazer questionamentos nele apoiados na visatildeo criacutetica-construtiva como foco de revelaacute-las e natildeo reproduzir essas correntes que ainda aprisionam as ideias e os seus sujeitos Assim eacute mister tambeacutem observar as abordagens da questatildeo agraacuteria desde seu contexto histoacuterico ndash com a leitura de outrora ndash ateacute entender o perfil dessa questatildeo fundiaacuteria na atualidade sendo que os malefiacutecios causados pela agroinduacutestria e o uso de agrotoacutexicos que vatildeo para as mesas dos brasileiros satildeo frutos de uma estrutura desigual e exploradora pois fazem parte da loacutegica do capitalismo a desigualdade e todas as contradiccedilotildees nos espaccedilos analisados

Em suma a oficina serviu para descontruir esses estereoacutetipos proporcionou aos ouvintes uma visatildeo mais criacutetica e analiacutetica em relaccedilatildeo agrave questatildeo agraacuteria do paiacutes propiciando ainda uma maior reflexatildeo diante da conjuntura histoacuterica-social em formaccedilatildeo e transformaccedilatildeo no Brasil Com isso a Geografia e particularmente a Geografia Agraacuteria juntamente com o

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ensino dessa ciecircncia reforccedilam tais laccedilos pautados na anaacutelise histoacuterica e dialeacutetica na (re)produccedilatildeo do espaccedilo geograacutefico legitimando assim uma importante temaacutetica que necessita de mais discussotildees e inclusotildees de ideias para se compreender as relaccedilotildees impostas pelo modo de produccedilatildeo capitalista e agraves suas incessantes contradiccedilotildees e discursos de desenvolvimento nacional quais devem ser desmascaradas e reavaliadas em prol de um bem comum propiciado a todos e natildeo a uma minoria

REFEREcircNCIAS FURTADO Celso Formaccedilatildeo Econocircmica do Brasil 34 ed Satildeo Paulo Companhia das Letras 2007 GALEANO Eduardo H As Veias Abertas da Ameacuterica Latina Traduccedilatildeo de Sergio Faraco ndash Porto Alegre RS LampPM POCKET v900 2017 MIRALHA Wagner Questatildeo agraacuteria brasileira origem necessidade e perspectivas de reforma hoje Revista NERA Presidente Prudente Ano 9 n 8 pp 151-172 jan-jun 2006 MORAES Antocircnio Carlos Robert A Europa no ldquoLongordquo Seacuteculo XVI (1460-1640) In MORAES Antocircnio Carlos Robert Bases da Formaccedilatildeo Territorial do Brasil O Territoacuterio Colonial Brasileiro no ldquoLongordquo Seacuteculo XVI 2 ed Satildeo Paulo Hucitec 2000 p 31 a 49 OLIVEIRA Ariovaldo Umbelino de Educaccedilatildeo e Ensino de Geografia na Realidade Brasileira In OLIVEIRA Ariovaldo Umbelino de (Org) Para onde vai o ensino de Geografia Satildeo Paulo Editora Contexto 1989 p 135 a 144

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PRADO JR Caio A Ocupaccedilatildeo Efetiva (1530-1640) In PRADO JR Caio Histoacuteria Econocircmica do Brasil Satildeo Paulo Brasiliense 2008 p 29 a 40 STEacuteDILE Joatildeo Pedro (org) A Questatildeo Agraacuteria no Brasil o debate na esquerda ndash 1960-1980 2 ed Satildeo Paulo Expressatildeo Popular 2012

lsquoNEGAR-SE PARA PERSISTIR-SErsquo INFORMALIDADE DO TRABALHO NO CAMPO

Bruno Andrade Ribeirosup1

(Universidade Federal de Sergipe) (Mestrando em Geografia PPGEOCNPqUFS)

E mail ribeiropensadorgmailcom

RESUMO

O escrito constitui-se em consideraccedilotildees iniciais sobre um objeto analiacutetico de pesquisa em andamento acerca do aumento da informalidade do trabalho no espaccedilo agraacuterio sergipano tendo como recortes espaciais os municiacutepios de Itabaiana e Lagarto A partir do mapeamento de dados secundaacuterios e de observaccedilotildees preacutevias objetiva-se compreender o aumento da informalidade no campo suas causas e impactos na reproduccedilatildeo das famiacutelias camponesas Diante disso o primeiro caminho passa por considerar o campesinato enquanto classe inserida na contramatildeo do desenvolvimento combinado e desigual do capitalismo A crise estrutural do modo de produccedilatildeo vigente trouxe problemaacuteticas a serem pautadas para que se compreenda a situaccedilatildeo atual do campo brasileiro natildeo eacute por simples acaso

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que cada vez mais o camponecircs perpasse pela precarizaccedilatildeo de seu labor tornando-se moacutevel supeacuterfluo e andarilho Nesse sentido o aumento da informalidade do trabalho dono campo se encontra incluso no processo de acumulaccedilatildeo pois rebaixa os custos de produccedilatildeo e assegura a manutenccedilatildeo e reproduccedilatildeo do excedente estrutural de forccedila de trabalho inclusive no campo Uma informalidade difundida enquanto instrumento de autonomia independecircncia e transformaccedilatildeo do trabalhador em lsquopequeno empreendedorrsquo e que em seu movimento de desterritorializaccedilatildeo do camponecircs possibilita essa classe buscar mecanismos de perpetuaccedilatildeo de sua condiccedilatildeo social um negar-se para continuar sendo aquilo que nunca deixaram de ser Palavras-chave Campesinato Reestruturaccedilatildeo Produtiva Informalidade INTRODUCcedilAtildeO percalccedilos de uma classe revolucionaacuteria

O presente escrito constitui-se em um estudo inicial sobre a informalidade do trabalho9 no espaccedilo agraacuterio sergipano considerando as diferentes formas buscadas pelo camponecircs para vencer as revezes da reestruturaccedilatildeo produtiva do capital (THOMAZ JUNIOR 2004) Ao considerar a categoria trabalho enquanto instrumento de autorealizaccedilatildeo da humanidade reconhecendo o metabolismo social do capital possibilita que a Geografia apreenda o movimento dialeacutetico entre sociedade e natureza compreendendo desse modo a polissemia do labor no mundo atual

9 As consideraccedilotildees dados e leituras expressos e detalhados no texto advecircm

da Pesquisa em andamento sobre informalidade dono espaccedilo agraacuterio sergipano empreendida no acircmbito do Mestrado Acadecircmico em Geografia (Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Geografia Universidade Federal de Sergipe) sob orientaccedilatildeo da Professora Dra Josefa de Lisboa Santos

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De acordo com os estudos de Oliveira (2007) e Thomaz Junior (2004) a reestruturaccedilatildeo produtiva do capital no campo brasileiro caracteriza-se por transformaccedilotildees territoriais que se expressam no aumento da concentraccedilatildeo de terra dos conflitos agraacuterios e pelos pacotes tecnoloacutegicos que pregam a modernizaccedilatildeo do campo As imposiccedilotildees do Consenso de Washington por exemplo defendem uma lsquorevalorizaccedilatildeo da agricultura de exportaccedilatildeorsquo juntamente com uma seacuterie de medidas que incluem o ajuste fiscal reduccedilatildeo do tamanho do Estado privatizaccedilatildeo abertura comercial fim das restriccedilotildees ao capital externo abertura financeira desregulamentaccedilatildeo e reestruturaccedilatildeo do sistema previdenciaacuterio (NOVAES 2008) Dentre as consequecircncias para o camponecircs um visiacutevel aumento da informalidade atrelada agrave precarizaccedilatildeo e precariedade do trabalho aprofundado a partir dos anos 1990 e as medidas de flexibilizaccedilatildeo da legislaccedilatildeo trabalhista caracterizada pela vulnerabilidade e inseguranccedila na relaccedilatildeo de trabalho (OLIVEIRA GOMES TARGINO 2011)

No contexto das lsquomarchas e contramarchasrsquo da informalidade a ocupaccedilatildeo agriacutecola tem sido cada vez mais caracterizada pela precariedade e maacute qualidade dos postos de trabalho com um aumento de contratos temporaacuterios e precarizados Ao mesmo tempo a expropriaccedilatildeo da renda da terra atraveacutes da territorializaccedilatildeo e monopolizaccedilatildeo do capital desloca o ser social do campo em direccedilatildeo aos centros urbanos sujeitos a atividades heterogecircneas e complexas a exemplo da camelotagem (loacutecus de comercializaccedilatildeo de mercadorias) (OLIVEIRA GOMES TARGINO 2011)

De acordo com dados do Departamento Intersindical de Estatiacutestica e Estudos Socioeconocircmicos (DIEESE) em

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2013 594 dos trabalhadores natildeo possuiacuteam carteira assinada totalizando 24 milhotildees sob condiccedilotildees de informalidade10

Trata-se de grande retrocesso nas condiccedilotildees de trabalho alcanccediladas em deacutecadas de lutas dos trabalhadores que apenas com a Constituiccedilatildeo de 1988 tiveram seus direitos equiparados ao do trabalhador urbano e que antes disso contaram com o Estatuto do Trabalhador Rural de 1963 conquistado apoacutes os conflitos agraacuterios dos anos 50 (BUZATO PINTO 2017 p1)

Os nuacutemeros revelam que a condiccedilatildeo de informalidade na maioria das vezes associada ao acircmbito urbano configura-se em tendecircncia ascendente no campo brasileiro As formas precaacuterias de trabalho caracterizadas por ofiacutecios de curta duraccedilatildeo acabam sendo aceitas pelos trabalhadores que natildeo conseguem empregos ligados ao cultivo da terra A baixa escolaridade e a remuneraccedilatildeo piacutefia tambeacutem satildeo elementos considerados ao analisarmos a informalidade no campo pois em 2013 os 2383473 milhotildees de empregados rurais sem carteira assinada recebiam em meacutedia R$ 57920 muito abaixo dos R$ 112079 recebidos pelos 1612917 milhotildees de empregados rurais com carteira assinada (DIEESE 2013)

No acircmbito dos trabalhadores rurais sem carteira assinada 276462 de sujeitos estatildeo ligados aos serviccedilos o que pode incluir bicos pequenos favores a exemplo de faxineiros moto-taacutexis bicheiros auxiliares em geral vendedores ambulantes etc Um nuacutecleo amplo e heterogecircneo de pessoas que para resistirem no campo se deslocam diariamente para cumprirem suas funccedilotildees e sobreviverem materializando deslocamentos interurbanos entrecampos e campo-cidade

10 Ver httpwwwmstorgbr20141105pesquisa-revela-aumento-da-informalidade-e-precarizacao-no-campohtml

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(THOMAZ JUNIOR 2004) Estes sujeitos buscam na cidade e no proacuteprio campo estrateacutegias de reproduccedilatildeo social como forma de permanecerem camponeses

No estado de Sergipe o DIEESE calcula que dos 77365 trabalhadores que habitam o campo 70132 (907) correspondem a parcela que integra a Taxa de Ilegalidade ou informalidade (percentual de sem carteira no total de empregados) proporccedilatildeo esta que eacute superada apenas pelos estados do Cearaacute e do Acre Portanto percebe-se a necessidade de estudo sobre tal panorama que tecircm implicaccedilotildees diretas no espaccedilo atraveacutes de reordenamentos territoriais Uma realidade que nos faz resgatar a afirmaccedilatildeo de Thomaz Junior (2004 p 8) quando diz que

[] quase tudo que ateacute meados dos anos 80 era considerado ilegal como viacutenculo de trabalho sem carteira assinada ou sem registro contrato temporaacuterio instabilidade jornada com duraccedilatildeo variaacutevel ganharam natildeo somente a dimensatildeo da legalidade mas tambeacutem a chancela da legitimidade

As formas atuais de valorizaccedilatildeo do valor trazem embutidos novos modos de geraccedilatildeo da mais-valia (em sua forma absoluta) Desse modo o trabalho torna-se sobrante descartaacutevel expandindo o nuacutemero de desempregados deprimindo a remuneraccedilatildeo da forccedila de trabalho retraindo o valor necessaacuterio agrave sobrevivecircncia dos trabalhadores e trabalhadoras (THOMAZ JUNIOR 2004) No campo onde persistem algumas formas natildeo-capitalistas de produccedilatildeo a terra eacute a garantia de sobrevivecircncia tendo um valor de uso atribuiacutedo ao proacuteprio trabalho (OLIVEIRA 2012) contudo no contexto da reestruturaccedilatildeo produtiva do capital o que se assiste eacute um processo de precarizaccedilatildeo do trabalho em todos os acircmbitos

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econocircmico fiacutesico mental emocional etc (DAL ROSSO 2008 TAVARES 2004 THOMAZ JUNIOR 2004)

O modelo de acumulaccedilatildeo flexiacutevel implica em utilizaccedilatildeo de teacutecnicas cada vez mais inovadoras de produccedilatildeo para o encurtamento do ciclo do capital com a modernizaccedilatildeo e aquisiccedilatildeo de novos equipamentos a enxada eacute substituiacuteda pelas tecnologias e venenos Diminuem-se as chances de trabalho camponecircs seja na lavoura temporaacuteria ou permanente e a informalidade atrelada agrave precarizaccedilatildeo torna-se um horizonte de busca de manutenccedilatildeo e realizaccedilatildeo das condiccedilotildees baacutesicas para sobrevivecircncia

Portanto a partir do mapeamento de referecircncias teoacuterico-metodoloacutegicas de dados sobre a situaccedilatildeo do trabalho camponecircs no Brasil e mais especificamente em Sergipe bem como de relatos e observaccedilotildees nos recortes espaciais de anaacutelise emerge a possibilidade de discussatildeo e apreensatildeo sobre como o discurso da informalidade tem se disseminado no campo possibilidade de lsquoautonomiarsquo e status de lsquocapitalistarsquo Instrumento de expropriaccedilatildeo do trabalhador e obtenccedilatildeo de Mais-Valia Ou estrateacutegia re (criativa) de persistecircncia no modo de serviversaber camponecircs

DESENVOLVIMENTO o camponecircs sob o signo dialeacutetico

De acordo com Tavares (2002 p 5) ldquoo novo milecircnio inaugura a era do trabalho informalrdquo o que se leva a indagar o que isso significa ou o que pode significar

A priori considerar a informalidade dono um processo em expansatildeo ndash que tem abarcado natildeo somente o urbano mas tambeacutem o agraacuterio ndash natildeo se faz em mero ponto de vista O lsquolerrsquo e o lsquoverrsquo expressos aqui se fundamentam atraveacutes de argumentos teoacutericos fundamentados em um meacutetodo a

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oacutetica de busca da essecircncia dos fatos valendo-se de um ir aleacutem da aparecircncia

Desse modo o camponecircs eacute considerado um sujeito histoacuterico e contraditoacuterio que se refaz e recria na medida em que a luta de classes o expulsa o expropria e o envenena Enquanto classe revolucionaacuteria resiste em sua coletividade mesmo inserido em tempos e espaccedilos de individualidade autentica-se moderniza-se (natildeo necessariamente em maacutequinas e venenos mas em estrateacutegias de continuar sendo um ser social dentro de um mundo tecnicista)

De acordo com Oliveira (2004) existem algumas concepccedilotildees teoacutericas sobre o campo e o camponecircs a partir de oacuteticas distintas Positivismo Fenomenologia (percepccedilatildeo do modo de ser do camponecircs) o campo enquanto resquiacutecio do Feudalismo e desse modo o sujeito histoacuterico como lsquosobrantersquo fadado ao desaparecimento na sociedade capitalista Em meio a tais concepccedilotildees emerge o pensarsaber contextualizado no pressuposto de produccedilatildeo desigual e combinada do territoacuterio brasileiro ldquo() ao mesmo tempo em que esse desenvolvimento avanccedila reproduzindo relaccedilotildees especificamente capitalistas o capitalismo produz tambeacutem igual e contraditoriamente relaccedilotildees camponesas de produccedilatildeordquo (OLIVEIRA 2004 p 36)

Desse modo sob essa perspectiva afirma-se a centralidade da categoria Trabalho em sua relaccedilatildeo com a Geografia siacutentese contraditoacuteria e totalidade concreta do modo de produccedilatildeo capitalista Nesse sentido o territoacuterio natildeo eacute um lsquoa priorirsquo mas uma contiacutenua luta da sociedade pela socializaccedilatildeo da natureza uma unidade dialeacutetica ndash construccedilatildeo e destruiccedilatildeo valorizaccedilatildeo produccedilatildeo e reproduccedilatildeo

Informalidade dono campo sergipano

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De iniacutecio deve-se atentar e fazer a devida criacutetica para as leituras que consideram a informalidade sinocircnimo de autonomia e emancipaccedilatildeo do trabalhador podendo ateacute chegar ao status de capitalistas (TAVARES 2002) Tal visatildeo acriacutetica traz consigo a ilusatildeo de que o trabalhador adquire independecircncia simplesmente porque natildeo sai de casa e natildeo sofre uma vigilacircncia no trabalho Na verdade o suposto lsquotrabalho independentersquo eacute executado segundo uma obrigaccedilatildeo por resultados portanto sob rigoroso controle e sob maior exploraccedilatildeo Seja qual for a organizaccedilatildeo do trabalho nesta ordem permanece inalterada a lei do valor (MARX 1974 MEacuteSZAacuteROS 2011)

Nesse contexto a expansatildeo da informalidade eacute funcional ao sistema lsquoOs fios invisiacuteveisrsquo podem ser observados quando se ultrapassa o discurso falseado de autonomia Deve-se observar que o trabalho informal natildeo comporta apenas ocupaccedilotildees excluiacutedas do trabalho coletivo e menos ainda que se restringe agraves atividades de estrita sobrevivecircncia Toda relaccedilatildeo entre capital e trabalho na qual a compra da forccedila de trabalho eacute dissimulada por mecanismos que descaracterizam a condiccedilatildeo formal de assalariamento dando a impressatildeo de uma relaccedilatildeo de compra e venda de mercadorias configura-se um trabalho informal (OLIVEIRA TARGINO 2011)

Fica claro portanto que a informalidade deve ser considerada enquanto adaptaccedilatildeo do trabalho agraves novas formas de obtenccedilatildeo de mais-valia articulada agrave produccedilatildeo capitalista Desse modo a tendecircncia eacute que cada vez mais o trabalho formal estaacutevel decirc lugar ao trabalho precarizado parcial temporaacuterio informal fundamental para o sociometabolismo do capital pois os custos de produccedilatildeo satildeo transferidos para o sujeito vendedor de sua forccedila de trabalho

Aleacutem disso as formas precarizadas de trabalho informal se fazem enquanto processo universal perceptiacutevel tanto nos paiacuteses pobres quanto nos paiacuteses ricos Nas grandes

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metroacutepoles nas pequenas cidades e tambeacutem no campo Nessa discussatildeo tornam-se comuns os deslocamentos pendulares para aacutereas urbanas reconfigurando a relaccedilatildeo campo-cidade concomitante ao gradual desaparecimento de praacuteticas de manejo do solo saberes sobre a lavoura e modos de ser e (re) produzir o campo e o camponecircs As perspectivas satildeo obscuras fim do campo enquanto loacutecus de resistecircncia e de haacutebitos que vatildeo na contramatildeo das relaccedilotildees capitalistas de produccedilatildeo que buscam o lucro acima de tudo

O que aparece como expressatildeo dessa questatildeo eacute que haacute um caraacuteter dual na informalidade ora ela se constitui funcional ao capital ora ela eacute instrumento de resistecircncia camponesa Ao argumentar sobre a funcionalidade da informalidade do trabalho na produccedilatildeo capitalista Tavares (2004) aponta que natildeo haacute a anulaccedilatildeo da extraccedilatildeo de mais-valia mas a preservaccedilatildeo e a intensificaccedilatildeo de sua exploraccedilatildeo cancela-se a proteccedilatildeo ao labor e reduzem-se os custos de produccedilatildeo Ao mesmo tempo a informalidade emerge enquanto instrumento de resistecircncia campesina pois a mobilidade territorial do trabalho revela que o camponecircs manteacutem a sua condiccedilatildeo de ser social persistem no locus de realizaccedilatildeo e na maioria das vezes continuam em atividades intriacutensecas com o trato da terra plantam colhem e cultivam Nas palavras de Paulino Almeida (2010) ldquo() os camponeses interferem resistem criam estrateacutegias para escapar das necessidades do capital que tem na sujeiccedilatildeo da renda da terra um filatildeo de produccedilatildeo de capitalrdquo (PAULINO ALMEIDA 2010 p 54)

Portanto emerge a possibilidade de desvelar o papel desse sujeito na produccedilatildeo do espaccedilo agraacuterio que atraveacutes de seu trabalho ato teleoloacutegico apropria-se do espaccedilo e resiste contra as forccedilas contraditoacuterias do modo de produccedilatildeo capitalista no jogo de relaccedilotildees de poder caracteriacutestico de um territoacuterio

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Neste momento as perguntas se enumeram e as respostas necessitam ser buscadas para que se construa uma leitura criacutetica interdisciplinar que possa oferecer argumentos soacutelidos confrontadores da expropriaccedilatildeo do trabalho pelo capital Uma relaccedilatildeo doentia que pode ser comparada com a pintura de Francisco de Goya11 em que Saturno devora o seu proacuteprio filho em uma macabra cena de negaccedilatildeo de tudo o que se considera humano O capital da mesma forma consome a forccedila humana para a sua sobrevivecircncia e persistecircncia na acumulaccedilatildeo de valor e na produccedilatildeo de desigualdades precarizando trabalho informalizando camponeses adoecendo-os matando-os Resta-se portanto que a teoria os relatos as leituras e as anaacutelises sobre o espaccedilo para a luta (em seus vaacuterios sentidos) sejam concretizados e embasados criticamente

Para a compreensatildeo desse objeto delimita-se como recorte espacial os municiacutepios de Lagarto e Itabaiana no estado de Sergipe que aparecem como os dois municiacutepios onde o fenocircmeno da informalidade no campo eacute maior (OIT 2012) O recorte temporal eacute delineado pela reestruturaccedilatildeo produtiva do capital no poacutes-1970 a partir das determinaccedilotildees impostas aos paiacuteses durante o Consenso de Washington No Brasil12 os efeitos mais imediatos datam dos anos de 1990 atraveacutes da poliacutetica neoliberal de Fernando Collor perpetuada pelos seus sucessores barrando as benesses sociais asseguradas

11 FRANCISCO GOYA Saturno Devorando um Filho 1819-1823 Oacuteleo s reboco 146 cm x 83 cm Col Museu do Prado Madrid Espanha 12 No Brasil a flexibilizaccedilatildeo nas relaccedilotildees trabalhistas foi anterior agrave reestruturaccedilatildeo produtiva natildeo se configurando em uma decorrecircncia imediata Poreacutem eacute inegaacutevel que houve a intensificaccedilatildeo da precarizaccedilatildeo que passa a ter um caraacuteter de legalidade O proacuteprio governo sugere que o trabalhador se autosustente incentivando e disseminando o empreendedorismo enquanto emancipaccedilatildeo do ser humano (MALAGUTTI 2000 TAVARES 2004)

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pela Constituiccedilatildeo de 1988 que representava os anseios da populaccedilatildeo incluindo os povos nativos quilombolas e camponeses (THOMAZ JUNIOR 2005) No contexto apontado o campo brasileiro se insere na loacutegica de reestruturaccedilatildeo produtiva na medida em que se observa o avanccedilo do discurso de modernizaccedilatildeo atrelado ao agronegoacutecio desse modo a expropriaccedilatildeo da terra e do trabalho expressa o caraacuteter moacutevel dos camponeses desapropriados de sua fonte de sobrevivecircncia sujeitam-se agrave informalidade

No campo sergipano a reestruturaccedilatildeo significou a ampliaccedilatildeo de vastas aacutereas para a pecuaacuteria e lavouras permanentes com destaque para o latifuacutendio do milho Entre as lavouras temporaacuterias (minifuacutendios de mandioca feijatildeo e milho) mesmo atreladas agrave subsistecircncia e resistecircncia de comunidades camponesas natildeo se encontram isentas do modelo neoliberal e das diretrizes do Consenso ou seja agrotoacutexicos creacutedito rural empreendedorismo e maquinaacuterio (MELO SOUZA 2009)

A informalidade no campo aparece como expressatildeo da acumulaccedilatildeo flexiacutevel Eacute um tipo de atividade relativamente antigo estando presente desde os primoacuterdios da I Revoluccedilatildeo Industrial como uma das formas de sujeiccedilatildeo da populaccedilatildeo excedente natildeo absorvida pelas faacutebricas e complexos industriais (TAVARES 2004) Contudo com o (novo) precaacuterio mundo do trabalho os trabalhadores que fazem bico os terceirizados subcontratados e domiciliares se tornam sujeitos simboacutelicos de um mundo regido sob os ditames do capital em sua fase de barbaacuterie social (ALVES 2007 ANTUNES 1995)

O conceito de informalidade se configura necessaacuterio para uma leitura geograacutefica que considera as relaccedilotildees sociais em sua totalidade Nesse sentido os estudos que enfocam a informalidade no espaccedilo agraacuterio e os seus diversos sujeitos lsquoandarilhosrsquo e lsquosupeacuterfluosrsquo inclui os trabalhos elaborados por pesquisadores de alguns grupos espalhados pelo paiacutes a

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exemplo do Centro de Estudos de Geografia do Trabalho (CEGeTUNESP) economistas geoacutegrafos e socioacutelogos Em relaccedilatildeo ao estado de Sergipe no acircmbito do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Geografia da Universidade Federal de Sergipe (PPGEOUFS) os estudos sobre a informalidade do trabalho ressaltam variadas abordagens a citar a mobilidade do trabalho associada agrave descentralizaccedilatildeo da induacutestria de calccedilados (SANTOS 2015) a resistecircncia camponesa diante da monopolizaccedilatildeo do territoacuterio (NETO 2014) a degradaccedilatildeo humana no trabalho canavieiro (SHIMADA 2014) as poliacuteticas puacuteblicas enquanto instrumentos de expropriaccedilatildeo do trabalho camponecircs (RODRIGUES 2012) e o trabalho na mediaccedilatildeo campo-cidade (LIMA 2012) Em sua dissertaccedilatildeo de mestrado Oliveira (2007) investiga a introduccedilatildeo do discurso de lsquomodernizaccedilatildeorsquo no espaccedilo agraacuterio de Lagarto Sergipe mais especificamente tecnologias atreladas ao agronegoacutecio da laranja do fumo e teacutecnicas de irrigaccedilatildeo que concorrem para a emergecircncia da informalidade Silva (2016) por sua vez discursa sobre a precariedade do trabalho a partir dos Arranjos Produtivos Locais nas ceracircmicas vermelhas e olarias sergipanas

No artigo ldquoPor uma Geografia do Trabalhordquo Thomaz Junior (2004) expotildee que o final do seacuteculo XX e iniacutecio do XXI tem significado uma cada vez maior mobilidade territorial do trabalho para os que habitam o campo vagueando de lugar a lugar ldquo() em busca de novas colocaccedilotildees sendo que para garantir seu sustento se enquadram em diferentes atividades urbanas que exprimem formas assalariadas semi-assalariadas autocircnomas mas todas reunidas no quadro de precarizaccedilatildeo do trabalhordquo (THOMAZ JUNIOR 2004 p 15)

O Departamento Intersindical de Estatiacutestica e Pesquisas Socioeconocircmicas (DIEESE 2013) revelou que 907 dos camponeses do estado de Sergipe vivem sob condiccedilotildees de informalidade em suas formas de se manterem

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Portanto uma realidade agraacuteria marcada por um trabalho cada vez mais reduzido intensificado e explorado sendo a informalidade um caminho utilizado pelo capital para ampliar a acumulaccedilatildeo em escala global atraveacutes da extraccedilatildeo de mais valiamais valor (MENEZES 2007)

Os dados organizados pela Organizaccedilatildeo Internacional do Trabalho (OIT) tendo como base o Censo 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) e o Ministeacuterio do Trabalho e Emprego (MTE) contribuiacuteram para a delimitaccedilatildeo do recorte espacial a ser analisado fornecendo nuacutemeros para cada municiacutepio sergipano cujos temas incluem taxa de participaccedilatildeo da populaccedilatildeo na forccedila de trabalho desemprego informalidade13 e deslocamento de casa para o trabalho

A definiccedilatildeo de informalidade atribuiacuteda pela base de dados pesquisada estaacute vinculada aos trabalhadores que natildeo possuem carteira assinada e natildeo satildeo assalariados14 aleacutem disso a classificaccedilatildeo em setores da economia (agropecuaacuteria induacutestria e serviccedilos) natildeo considera a mobilidade heterogeneidade e o caraacuteter hiacutebrido dessa classe-que-vive-do-trabalho Ou seja natildeo eacute levada em consideraccedilatildeo a complexidade das relaccedilotildees contemporacircneas de trabalho o ser social do campo que eacute terceirizado em uma induacutestria lsquoformalizadarsquo os que trabalham nas feiras municipais como vendedores ambulantes e que plantam e cultivam roccedilas aqueles que prestam serviccedilos

13 A definiccedilatildeo de informalidade atribuiacuteda pela base de dados estaacute vinculada aos trabalhadores que natildeo possuem carteira assinada e natildeo satildeo assalariados aleacutem disso a classificaccedilatildeo em setores da economia (agropecuaacuteria induacutestria e serviccedilos) natildeo considera a mobilidade e heterogeneidade e o caraacuteter hiacutebrido dessa classe-que-vive-do-trabalho 14 De acordo com Malagutti (2000) eacute preciso fazer a devida criacutetica ao conceito de lsquosetor informalrsquo pois na atual configuraccedilatildeo das forccedilas produtivas o formal e o informal se tornam um hiacutebrido em que um se encontra associado ao outro

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variados na proacutepria residecircncia localizada em uma aacuterea caracterizada por atividades agropecuaacuterias Contudo como relata Thomaz Juacutenior (2004) os dados sobre informalidade no campo ainda satildeo rarefeitos de modo que se faz necessaacuterio recorrer aos nuacutemeros da OIT IBGE e MTE mesmo com as limitaccedilotildees da perspectiva de lsquosetorrsquo

Na tabela organizada abaixo (QUADRO 1) encontram-se sistematizados os dados municipais sobre trabalhadores informais no setor agropecuaacuterio sergipano destacando os cinco primeiros colocados

QUADRO 1 ndash Municiacutepios sergipanos com maior nuacutemero de trabalhadores informais no setor agropecuaacuterio 2010

Municiacutepio Nuacutemero de trabalhadores informais

Lagarto 13219

Itabaiana 8394

Nossa Senhora da Gloacuteria

5435

Tobias Barreto 4980

Riachatildeo do Dantas

3818

Fonte OIT IBGE MTE 2010

A anaacutelise dos dados revela que os municiacutepios com mais informais vinculados agrave agropecuaacuteria estatildeo ambos localizados na porccedilatildeo agreste do estado de Sergipe De um lado Lagarto que perpassa ao longo da uacuteltima deacutecada a crise da laranja e do fumo expulsando levas de forccedila de trabalho camponesa De outro Itabaiana municiacutepio com forte tendecircncia agrocomercial ligada ao mercado hortifrutigranjeiro cuja estrutura fundiaacuteria eacute caracterizada pela presenccedila de minifuacutendios A princiacutepio dois recortes aparentemente distintos mas cuja leitura geograacutefica pode oferecer contribuiccedilotildees sobre a informalidade do trabalho no campo

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Aleacutem disso tanto Lagarto quanto Itabaiana apresentam uma intensa mobilidade do trabalho com 29210 e 26986 trabalhadores respectivamente que se deslocam de casa para o local de trabalho A reestruturaccedilatildeo produtiva do capital fortalece o discurso do agronegoacutecio com o uso intensivo de venenos herbicidas e de maacutequinas no trato com a terra e cultivos Desse modo ao ver a renda da terra ser furtada de sua posse o camponecircs busca formas de resistecircncia para se manter enquanto tal direciona-se para centros urbanos a fim de exercerem ofiacutecios diversos ou em alguns casos debruccedilam-se em atividades comerciais no proacuteprio espaccedilo agraacuterio

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS caminhos a se trilharem

Diante da possibilidade de aplicaccedilatildeo de questionaacuterios entre camponeses nos municiacutepios recortados a Pesquisa se encaminha para descortinar lsquoliamesrsquo que o Capital cria em seu curso que se configuram enquanto lsquoamarrasrsquo para o Campesinato

Em relaccedilatildeo agrave informalidade dono trabalho haacute que se desmistificarem os discursos e ideologias geograacuteficos encobridores da intensa mobilidade territorial do trabalho (natildeo soacute urbana mas tambeacutem agraacuteria) da precarizaccedilatildeo e precariedade das formas lsquoatiacutepicasrsquo do labor contemporacircneo - poacutes-modelo toyotista de uma reestruturaccedilatildeo produtiva - pautada na exploraccedilatildeo cada vez mais intensa do trabalho humano mediada pelo Estado como forma de mitigar os efeitos de uma crise estrutural do Capital

Os camponeses se tornam sujeitos sujeitados agraves distintas formas de trabalhos informais bicos domeacutesticos donos de quitandas e mercearias ambulantes etc Jovens adultos idosos e crianccedilas andarilhos e lsquosupeacuterfluosrsquo retornando ao loacutecus de resistecircncia (re-existecircncia) que persiste enquanto

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modo de ser e viver contraditoriamente contraacuterio ao Capital enquanto relaccedilatildeo social

De acordo com Oliveira (2004) natildeo satildeo os nuacutemeros que determinam a realidade mas a realidade que determina os nuacutemeros Portanto em um Brasil com mais de 229 milhotildees de trabalhadores por conta proacutepria 107 milhotildees sem carteira assinada no setor privado 648 milhotildees fora da forccedila de trabalho 62 milhotildees de trabalhadores domeacutesticos e 22 milhotildees de trabalhadores familiares emergem perguntas que o geoacutegrafo necessita objetivar caminhos para dialogar que sujeitos satildeo esses Quais os caminhos e formas de se manterem no espaccedilo agraacuterio Como produzem o espaccedilo sob o vieacutes contraditoacuterio de relaccedilotildees de poder conflitantes

Para finalizar (o escrito natildeo as perspectivas de pesquisa) ressalta-se que o Capital contraditoriamente cria condiccedilotildees para que os camponeses se desenvolvam enquanto classe social a partir do momento em que redefinem as relaccedilotildees de produccedilatildeo Desse modo o discurso de lsquoautonomiarsquo incrustrado na informalidade eacute re-significado enquanto os dominantes se valem em prol da expropriaccedilatildeo da forccedila de trabalho da intensa mobilidade territorial do trabalho os dominados transformam-no em instrumento de manutenccedilatildeo de sua condiccedilatildeo social um negar-se para persistir-se

REFEREcircNCIAS ALVES Giovanni Dimensotildees da Reestruturaccedilatildeo Produtiva Ensaios de Sociologia do Trabalho 2 ed Londrina Praacutexis 2007 288p ANTUNES Ricardo Adeus Ao Trabalho Ensaio sobre as Metamorfoses e a Centralidade do Mundo do Trabalho Satildeo Paulo Editora Cortez 1995

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BUZATO Heldi PINTO Luiacutes Fernando Guedes Fim dos direitos no campo Revista Le Monde Diplomatique Brasil (online) 2017 Disponiacutevel em httpdiplomatiqueorgbrfim-dos-direitos-no-campo Acesso em 09 set 2017 CEGET Centro de Estudos de Geografia do Trabalho (online) UNESP Presidente Prudente Satildeo Paulo Disponiacutevel em httpcegetfctunespbr Acesso em 09 set 2017 DAL ROSSO Sadi Mais trabalho A intensificaccedilatildeo do labor na sociedade contemporacircnea Satildeo Paulo Boitempo 2008 DIEESE Departamento Intersindical de Estatiacutestica e Estudos Socioeconocircmicos O mercado de trabalho assalariado rural brasileiro Estudos amp Pesquisas n 74 out 2014 FRANCISCO GOYA Saturno Devorando um Filho 1819-1823 Oacuteleo s reboco 146 cm x 83 cm Col Museu do Prado Madrid Espanha LIMA Joseacute Renato de Do torratildeo da vida agrave marcha forccedilada rumo ao apito das gaiolas de pedra mobilidade do trabalho na dialeacutetica campo cidade no municiacutepio de RibeiroacutepolisSE Dissertaccedilatildeo de Mestrado Universidade Federal de Sergipe Satildeo Cristoacutevatildeo 2012 MALAGUTI Manoel Luiz Criacutetica agrave razatildeo informal a imaterialidade do salariato Satildeo PauloVitoacuteria BoitempoEDUFES 2000 MARX Karl O Capital Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 1974

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MELO Ricardo Oliveira Lacerda SOUZA Aldemir do Vale Anaacutelise retrospectiva da economia de Sergipe (1970-2002) In MELO Ricardo Oliveira Lacerda HANSEN Dean Lee (Orgs) Ensaios Econocircmicos Conceitos e Impasses do Desenvolvimento Regional Satildeo Cristoacutevatildeo Editora da UFS 2009 MENEZES Soacutecrates Oliveira De supeacuterfluos a sujeitos histoacutericos na contramatildeo do capital a Geografia do (des) trabalho Dissertaccedilatildeo de Mestrado Universidade Federal de Sergipe Satildeo Cristoacutevatildeo Sergipe 2007 MEacuteSZAROacuteS Istvaacuten Para Aleacutem do Capital Satildeo Paulo Boitempo 2011 NETO Raul Marques Da luta na lona preta agrave luta na casa de telha monopolizaccedilatildeo do territoacuterio pelo capital agroenergeacutetico em Capela - SE subordinaccedilatildeo e resistecircncia da classe camponesa Dissertaccedilatildeo de Mestrado Universidade Federal de Sergipe Satildeo Cristoacutevatildeo 2014 OLIVEIRA Ariovaldo Umbelino A geografia agraacuteria e as transformaccedilotildees territoriais recentes no campo brasileiro In CARLOS A F (org) Novos caminhos da geografia Satildeo Paulo Contexto 2002 p 63-110 _________ O campo no seacuteculo XXI territoacuterio de vida de luta e de construccedilatildeo da justiccedila social Satildeo Paulo Editora Casa Amarela e Editora Paz e Terra 2004 372p OLIVEIRA Roberto Veacuteras de GOMES Darcilene TARGINO Ivan (orgs) Marchas e contramarchas da

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informalidade do trabalho das origens agraves novas abordagens Joatildeo Pessoa Editora Universitaacuteria 2011 410p OIT Organizaccedilatildeo Internacional do Trabalho Disponiacutevel em httpwwwbsbiloorgsimtdestadosuf=SE Acesso em 08 out 2017 PAULINO Eliane Tomiasi ALMEIDA Rosemeire Aparecida de Terra e territoacuterio a questatildeo camponesa no capitalismo Satildeo Paulo Expressatildeo Popular 2010 112p RODRIGUES Vanessa Paloma Alves Capital Estado e a loacutegica dissimulativa das poliacuteticas de creacutedito no processo de expropriaccedilatildeo e sujeiccedilatildeo do trabalho no campo Dissertaccedilatildeo de Mestrado Universidade Federal de Sergipe Satildeo Cristoacutevatildeo 2012 SANTOS Maacutercio dos Reis Labirintos do capital a mobilidade do trabalho e a descentralizaccedilatildeo da induacutestria de calccedilados em Sergipe Dissertaccedilatildeo de Mestrado Universidade Federal de Sergipe Satildeo Cristoacutevatildeo 2015 SILVA Genivacircnia Maria O (DES) MASCARAMENTO DO DISCURSO DO DESENVOLVIMENTO LOCALSUSTENTAacuteVEL NO (DES) ENVOLVIMENTO DAS INDUacuteSTRIAS DE CERAcircMICA VERMELHA E OLARIAS NO ESTADO DE SERGIPE Dissertaccedilatildeo de Mestrado Universidade Federal de Sergipe Satildeo Cristoacutevatildeo 2016 SHIMADA Shiziele de Oliveira Dos ciclos e das crises do capital agraves formas de travestimento da barbaacuterie no trabalho canavieiro Tese de Doutorado Universidade Federal de Sergipe Satildeo Cristoacutevatildeo 2014

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THOMAZ JUNIOR Antocircnio A Geografia do mundo do trabalho na viragem do seacuteculo XXI Revista GeoSul Florianoacutepolis v 19 n 37 p 7-26 jan jun 2004 _________ (Des) Realizaccedilatildeo do Trabalho Se Camponecircs se Operaacuterio (Repensar criacutetico sobre a classe trabalhadora no Brasil) Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Educaccedilatildeo no Campo 2005 Disponiacutevel em httpwebcachegoogleusercontentcomsearchq=cachepwY5cBKYmCEJwwwgepecufscarbrpublicacoesruralidadedes-realizacao-do-trabalho-se-campones-se-operariopdfview+ampcd=2amphl=pt-BRampct=clnkampgl=brampclient=firefox-b Acesso em 08 out 2017 _________ Por uma Geografia do Trabalho Revista Tamoios v1 n1 pp 1-18 2005

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CONCENTRACcedilAtildeO FUNDIAacuteRIA E MONOCULTURA

DO MILHO EM CARIRA ndash SE

Tays Almeida dos Santossup1 (Universidade Federal de Sergipe)

(Aluna graduanda em Geografia de Itabaiana e bolsista do PET Geografia - Itabaiana)

E mail taysalmeida02gmailcom

Islane Silva Batistasup2 (Universidade Federal de Sergipe)

(Aluna graduanda em Geografia de Itabaiana e bolsista do PET Geografia ndash Itabaiana)

E mail Islane9815gmailcom

Thainar Almeida dos Santossup3 (Graduada em Geografia ndash UFS Itabaiana)

E mail Thainaralmeida28gmailcom

RESUMO

O presente artigo tem por objetivo analisar a concentraccedilatildeo de terras no municiacutepio de CariraSE entre os anos de 1985 199596 e 2006 atraveacutes da elaboraccedilatildeo da Curva de Lorenz e no caacutelculo do iacutendice de Gini com base em DINIZ (1982) e a consequente monoculturalizaccedilatildeo do milho atraveacutes do agronegoacutecio provocando uma nova dinacircmica produtiva no municiacutepio transformando-lhe atualmente em um dos maiores produtores de milho do estado de Sergipe Como procedimentos metodoloacutegicos foram feitos levantamentos bibliograacuteficos coletas de dados nos censos agropecuaacuterios e estudos exploratoacuterios sobre a temaacutetica a partir de fundamentaccedilatildeo teoacuterica Dessa forma considera-se que a

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expansatildeo do milho no municiacutepio estaacute associada ao pacote tecnoloacutegico inserido na loacutegica produtiva do modelo de desenvolvimento agriacutecola que permite o crescimento e a expansatildeo da produccedilatildeo Essa alta produtividade apesar de transformar Carira num grande produtor de milho em Sergipe traz consigo consequecircncias socioambientais negativas como o uso desenfreado e indiscriminado dos venenos agriacutecolas a compactaccedilatildeo do solo pelo uso intensivo do maquinaacuterio aleacutem da alta concentraccedilatildeo de terras nas matildeos de minorias Palavras-chave Concentraccedilatildeo de terras Agronegoacutecio Monocultura INTRODUCcedilAtildeO

A organizaccedilatildeo da propriedade e a posse das terras no

Brasil sempre foram marcadas pela alta concentraccedilatildeo fundiaacuteria As suas raiacutezes provecircm de um processo histoacuterico antigo desde a doaccedilatildeo de terras pela Coroa Portuguesa ao donataacuterio (Capitanias Hereditaacuterias) passando pela Lei de Terras de 1850 (a terra passa a ser adquirida atraveacutes da compra) e que perpetua ateacute os dias atuais como afirma Oliveira (2003 p 15)

O Brasil caracteriza-se por ser um paiacutes que apresenta elevadiacutessimos iacutendices de concentraccedilatildeo de terra No Brasil estatildeo os maiores latifuacutendios que a histoacuteria da humanidade jaacute registrou A soma das 27 maiores propriedades existentes no paiacutes atinge uma superfiacutecie igual a aquela ocupada pelo Estado de Satildeo Paulo e a soma das 300 maiores atinge uma aacuterea igual agrave de Satildeo Paulo e do Paranaacute

Portanto procurar entender e falar de concentraccedilatildeo de terras hoje no Brasil eacute retornar ao tempo de ocupaccedilatildeo do territoacuterio pelos colonizadores que impuseram um modelo de

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produccedilatildeo agroexportador com o intuito de produzir e comercializar produtos agriacutecolas para Europa esse modelo denominado de Plantation caracterizava-se pela forma de organizar a produccedilatildeo agriacutecola em grandes latifuacutendios com a praacutetica da monocultura e o emprego da forccedila de trabalho escrava O agronegoacutecio possui suas bases nesse modelo visto que estaacute ancorado na grande concentraccedilatildeo de terras e na predominacircncia da monocultura poreacutem no cenaacuterio atual encontra-se integrado agraves novas tecnologias e estas satildeo caracterizadas pela

[] crescente mecanizaccedilatildeo e tecnificaccedilatildeo dos processos produtivos no campo pelo aumento da integraccedilatildeo entre os capitais agropecuaacuterios-industriais-financeiros bem como pela ampliaccedilatildeo das cadeias produtivas agroalimentares e de insumos sob controle de conglomerados econocircmicos via de regra multinacionais que dominam parcelas cada vez mais significativas dos mercados em que atuam (CAMPOS 2011 p 101)

Esse novo modelo de desenvolvimento agriacutecola difunde-se no poacutes II Segunda Guerra Mundial com a chamada Revoluccedilatildeo Verde que representa uma grande mudanccedila na base teacutecnica dos processos agropecuaacuterios causando diversas transformaccedilotildees na dinacircmica agriacutecola do paiacutes adequando a produccedilatildeo agrave loacutegica produtiva do novo modelo de desenvolvimento ldquoO modelo implantado de modernizaccedilatildeo da agricultura no Brasil foi um dos principais fatores da reproduccedilatildeo da desigualdade econocircmica e social no campo A espetacularizaccedilatildeo se pautava no signo da sociedade industrial como condiccedilatildeo uacutenica necessaacuteria para o progresso e desenvolvimentordquo (CONCEICcedilAtildeO 2013 p 92)

Essa modernizaccedilatildeo agriacutecola natildeo chegou de forma uniforme no paiacutes tendo como exemplo o Sudeste e o Sul que em comparaccedilatildeo com as outras regiotildees brasileiras jaacute apresentava

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um processo acelerado enquanto que o restante ainda estava em uma fase recente Os efeitos dessa nova dinacircmica chegaram a regiatildeo Nordeste do Brasil nas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo XX e em Sergipe passou a ser introduzida por volta dos anos 1960 objetivando inserir natildeo soacute Sergipe mais todos os outros estados do Nordeste na loacutegica produtiva do capitalismo mundializado

Em relaccedilatildeo agrave concentraccedilatildeo de terras em Sergipe apesar de ser o menor estado do paiacutes estaacute em 13ordm lugar com a maior concentraccedilatildeo de terras segundo dados do IBGE (2006) contribuindo deste modo para intensificaccedilatildeo das desigualdades sociais no campo e o acirramento dos movimentos sociais pocircr a luta pela terra como declara Filho (2008 p 52)

Esse cenaacuterio de grave desigualdade na estrutura fundiaacuteria a improdutividade da maioria das grandes propriedades associado aos projetos puacuteblicos e privados de modernizaccedilatildeo da agricultura apresentam-se como as causas da expulsatildeo da expropriaccedilatildeo e da exclusatildeo nodo campo Na contramatildeo deste processo o campesinato tem se organizado e resistido mediante diferentes formas de luta Desde meados da deacutecada de 1970 a ocupaccedilatildeo de terras tem sido a principal forma de criaccedilatildeo e recriaccedilatildeo do campesinato em Sergipe

Assim nota-se que aleacutem de grande parte da estrutura fundiaacuteria estaacute sob o domiacutenio de poucos a dita modernizaccedilatildeo teacutecnica no campo eacute um processo que atende os interesses dessas minorias selecionando e beneficiando determinado produto e produtores de acordo com os padrotildees capitalistas de produccedilatildeo Portanto nota-se que o espaccedilo agraacuterio brasileiro se organiza de forma complexa e predominantemente desigual ampliando as disparidades soacutecias existentes como observa Campos (2001 p 109)

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[] o agronegoacutecio deve ser compreendido como uma complexa articulaccedilatildeo de capitais direta e indiretamente vinculados com os processos produtivos agropecuaacuterios que se consolida no contexto neoliberal sob a hegemonia de grupos multinacionais e que em alianccedila com o latifuacutendio e o Estado tem transformado o interior do Brasil em um locus privilegiado de acumulaccedilatildeo de capitalista produzindo simultaneamente riqueza para poucos e pobreza para muitos e por conseguinte intensificando as muacuteltiplas desigualdades socioespaciais

Dessa maneira o objetivo central desse artigo eacute analisar a concentraccedilatildeo de terras no municiacutepio de CariraSE entre os anos de 1985 199596 e 2006 por meio das teacutecnicas da Curva de Lorenz e do Iacutendice de Gini e a recente expansatildeo da monoculturalizaccedilatildeo do milho no municiacutepio possibilitando reflexotildees acerca das mudanccedilas que perpassam natildeo soacute o espaccedilo agraacuterio de Carira mais de todo o Brasil Porquanto como procedimentos metodoloacutegicos foram utilizadas as teacutecnicas jaacute citadas levantamentos bibliograacuteficos coletas de dados e estudos exploratoacuterios sobre a temaacutetica para construccedilatildeo do presente artigo CONCENTRACcedilAtildeO DE TERRAS E MONOCULTURA

Para compreender a expansatildeo da produccedilatildeo e gratildeos em especial do milho eacute necessaacuterio entender o processo de produccedilatildeo do espaccedilo e o avanccedilo do capital no campo atrelados a alta concentraccedilatildeo de terras em todo o paiacutes em Sergipe natildeo eacute diferente e que ao aumentar a produccedilatildeo do agronegoacutecio tambeacutem aumenta a concentraccedilatildeo de terras e as desigualdades tanto no campo como na cidade

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A expansatildeo da produccedilatildeo de milho em Sergipe obteve forccedila e importacircncia nas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo XXI para se ter uma ideia de acordo com anaacutelises dos dados disponibilizados pelo IBGE (2010) a produccedilatildeo de milho no estado em 2010 alcanccedilou 1 milhatildeo de toneladas enquanto que no ano 2000 natildeo atingia nem 100 mil toneladas

Dentre os motivo que contribuiacuteram para essa expansatildeo foi a participaccedilatildeo do Estado na organizaccedilatildeo e espacializaccedilatildeo do capital financeiro natildeo soacute em Sergipe mais em todo o campo brasileiro incorporando mudanccedilas nas relaccedilotildees sociais na estrutura produtiva e espacial agraacuteria como afirma Conceiccedilatildeo (2011 p3) ldquo[] com o avanccedilo da financeirizaccedilatildeo da economia via o compromisso da diacutevida externa o Estado assumiu o papel de gestor e promotor de poliacuteticas agriacutecolas inscrevendo novas formas de expansatildeo capitalistardquo Reforccedilando e intensificando ainda mais as desigualdades sociais e econocircmicas no campo O Municiacutepio de Carira encontra-se localizado no sertatildeo sergipano na regiatildeo oeste limitando-se ao norte com o municiacutepio de Nossa Senhora da Gloria ao sul com Frei Paulo e Pinhatildeo a leste com Nossa Senhora Aparecida e ao oeste com o estado da Bahia O clima eacute o tropical semiaacuterido com regime de chuvas irregulares tendo como vegetaccedilatildeo tiacutepica a caatinga A populaccedilatildeo do municiacutepio segundo dados do IBGE em 2016 era de aproximadamente 21 665 habitantes em uma aacuterea de 634 6 kmsup2 No iniacutecio do seacuteculo XX a principal cultura produzida nas terras de Carira era o algodatildeo chegando a ter 6 faacutebricas de descaroccedilar o produto o periacuteodo foi ateacute chamado de eacutepoca do ouro branco no entanto com o tempo a atividade econocircmica foi sofrendo queda por alguns fatores como a praga do bicudo e a crise do mercado externo proporcionando destaque para a pecuaacuteria extensiva entre as uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo Aleacutem da pecuaacuteria outras atividades tambeacutem eram praticadas

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principalmente pelos camponeses como destaca Cunha (2015 p 29)

O milho era cultivado consociado ao feijatildeo agrave mandioca e ao amendoim garantindo as bases alimentares de subsistecircncia familiar e a oferta de alimentos nos mercados locais Apoacutes os anos 1980 comeccedilou a ganhar destaque entre esses cultivos pois era um cereal que abastecia as necessidades da famiacutelia presente nos principais pratos da culinaacuteria Importante tambeacutem na alimentaccedilatildeo do gado de corte e leiteiro sendo aproveitada tanto a palha quanto o gratildeo para a raccedilatildeo animal

Dessa forma com a inserccedilatildeo do agronegoacutecio no campo carirense natildeo soacute alterou a dinacircmica da produccedilatildeo mas a paisagem rural vem tornando-se homogenia com o milho O gratildeo ganhou destaque pois serve natildeo soacute para o consumo humano como tambeacutem para o mercado da avicultura dos bovinos e suiacutenos sendo utilizado como o proacuteprio cereal ou como componente de raccedilotildees e devido garantir sua conservaccedilatildeo eacute estocado por meio de silos e rolatildeo nos periacuteodos de estiagem quando haacute necessidade do gratildeo

Fator fundamental para a consolidaccedilatildeo da monocultura do milho em Carira eacute o incentivo do Estado agente provedor da expansatildeo capitalista no campo e da dita modernizaccedilatildeo teacutecnica que atraveacutes de diferentes programas de creacutedito para o campo visa o desenvolvimento e consolidaccedilatildeo do agronegoacutecio

Considera-se ainda que a expansatildeo do milho em Carira estaacute associada ao pacote tecnoloacutegico inserido na loacutegica produtiva do modelo de desenvolvimento agriacutecola agrotoacutexicos e sementes transgecircnicos aleacutem das maacutequinas agriacutecolas que permite o crescimento e a expansatildeo da produccedilatildeo Essa alta produtividade apesar de transformar Carira em um dos

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maiores produtores de milho do estado traz consigo consequecircncias socioambientais negativas como o uso desenfreado e indiscriminado dos venenos a compactaccedilatildeo do solo pelo uso intensivo do maquinaacuterio aleacutem de promover ou ampliar a concentraccedilatildeo de terras no municiacutepio

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Para compreender a permanecircncia e ampliaccedilatildeo da

concentraccedilatildeo de terras em Carira se utilizou da Curva de Lorenz com base em DINIZ (1982) Foram elaboradas curvas para os anos de coletas de dados dos censos agropecuaacuterios para os anos de 1985 1995-1996 e o de 2006 como se observa na figura anterior

Ao analisar a curva de Lorenz figura 1 eacute preciso levar em consideraccedilatildeo que quanto mais proacutexima do centro a curva ficar menor seraacute a concentraccedilatildeo e quanto mais proacutexima das extremidades (100 tanto na horizontal como vertical) maior eacute a concentraccedilatildeo

No primeiro graacutefico que se refere ao ano de 1985 a curva estaacute proacutexima da extremidade o que caracteriza uma consideraacutevel concentraccedilatildeo de terras ou seja existia um elevado nuacutemeros de propriedades que com tamanhos reduzido e um pequeno nuacutemero de propriedades que concentra grande parta das terras de Carira jaacute no periacuteodo 1995-1996 se observa um pequeno afastamento da curva indo em direccedilatildeo ao centro ou seja correu uma menor concentraccedilatildeo de terras atraveacutes da fragmentaccedilatildeo os pequenos proprietaacuterios por vez sem condiccedilotildees de adquirir propriedades divide com os filhos que se casam e recebem parcela da propriedade como heranccedila por vez no graacutefico fica niacutetido que em 2006 a curvatura se alonga em direccedilatildeo a extremidade o que caracteriza como aumento da concentraccedilatildeo de terra fator que corroborado a partir da inserccedilatildeo do milho como fonte monocultura do agronegoacutecio Os grandes proprietaacuterios passam a investir cada vez mais natildeo somente no pacote tecnoloacutegico milho transgecircnico mais tambeacutem na aquisiccedilatildeo de terras

Para evidenciar tais consideraccedilotildees foram calculados os iacutendices de Gini dos anos analisados com base em Diniz (1982) o Iacutendice de Gini apresenta uma variaccedilatildeo de 0 a 1 sendo que 0 representa a distribuiccedilatildeo igualitaacuteria ou seja todos

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tecircm o mesmo tamanho de propriedade por vez o valor 1 apresenta a concentraccedilatildeo maacutexima eacute quando um uacutenico proprietaacuterio tem todas as terras e o restante natildeo possui nenhuma

Tabela 01 Iacutendice de GINI para o municiacutepio de Carira - Sergipe 2018

Iacutendice de Gini 1985 95-96 2006

Carira 083 081 085

Fonte Censos agropecuaacuterios para os anos de 85 95-96 e 2006

Na tabela fica evidente o aumento da concentraccedilatildeo de terras como demonstrado da Curva de Lorenz com alta concentraccedilatildeo da deacutecada de 80 uma pequena diminuiccedilatildeo na deacutecada seguinte e retorno do aumento da concentraccedilatildeo na deacutecada de 2000 deacutecada esta que se caracteriza com o aumento da produccedilatildeo de milho nas grandes propriedades e com objetivo de expansatildeo do agronegoacutecio na regiatildeo agora o milho deixa de ser plantado somente pelo camponecircs para o consumo venda do excedente e constituiccedilatildeo do composto alimentar do gado para ser prioritariamente produzido em grandes propriedades com destino a agroinduacutestria a exemplo da Marataacute no municiacutepio de Lagarto e venda tambeacutem para as principais granjas de Sergipe e dos estados vizinhos Para compreender a inter-relaccedilatildeo do aumento da concentraccedilatildeo de terras em Carira com a expansatildeo da produccedilatildeo de milho foi elaborada a prancha 01 que apresenta a produccedilatildeo de milho dos anos que compreende a anaacutelise da estrutura fundiaacuteria que coloca o municiacutepio de Carira entre os principais de Sergipe

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Na prancha 01 se observa que os municiacutepios de maior produccedilatildeo de milho de Sergipe se encontram no Oeste do estado em municiacutepios limiacutetrofes da Bahia que historicamente se caracterizam pela elevada quantidade do rebanho bovino com consideraacutevel concentraccedilatildeo de terras com clima de estaccedilotildees secas bem definidas no maacuteximo 4 meses de chuva

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que favorece o desenvolvimento de plantas de ciclo curto a exemplo do milho

No mapa eacute possiacutevel identificar que a produccedilatildeo de milho em Carira sofre um maior crescimento no interstiacutecio de 1995-1996 para 2006 obtendo o consideraacutevel crescimento jaacute no interstiacutecio de 1985 para 1995-1996 o crescimento eacute praticamente imperceptiacutevel Neste caso se observa que o crescimento da produccedilatildeo de milho em Carira tem certa ligaccedilatildeo com o aumento da concentraccedilatildeo de terras a partir da inserccedilatildeo do agronegoacutecio na regiatildeo com tendecircncia ao aumento exponencial da produccedilatildeo de milho nos uacuteltimos anos o que tambeacutem poderaacute contribuir com o aumento da concentraccedilatildeo de terras natildeo somente no municiacutepio como tambeacutem em toda a regiatildeo afetada pelo avanccedilo do agronegoacutecio do milho CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A partir da anaacutelise da Curva de Lorenz e do Iacutendice de

Gini constatou-se uma forte concentraccedilatildeo de terras no espaccedilo agraacuterio de Carira e a permanecircncia desse quadro devido a introduccedilatildeo do agronegoacutecio no campo modelo de produccedilatildeo que necessita primordialmente de grandes extensotildees de terras para seu desenvolvimento econocircmico como tambeacutem o uso de insumos para obtenccedilatildeo da produccedilatildeo acelerada juntamente com a expansatildeo do monocultivo do milho nos uacuteltimos anos situaccedilatildeo esta que poderaacute se intensificar e dar continuidade a posse desigual da terra

Portanto compreende-se que o avanccedilo do agronegoacutecio em Carira mostra-se cada vez mais excludente e concentrador visto que a estrutura fundiaacuteria permanece intocaacutevel e os problemas sociais soacute aumentam pois a dita modernizaccedilatildeo teacutecnica estaacute totalmente voltada a atender a reproduccedilatildeo do capital que impotildee novas dinacircmicas produtivas contribuindo

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para a subordinaccedilatildeo e expropriaccedilatildeo do camponecircs no campo e o consequente desequiliacutebrio da biodiversidade AGRADECIMENTOS

Agradecemos ao PET - Programa de Educaccedilatildeo Tutorial PET de Geografia do Campus Professor Alberto Carvalho em Itabaiana pelo apoio que possibilitou a elaboraccedilatildeo deste artigo sem o Programa natildeo seria possiacutevel desenvolver tal trabalho REFEREcircNCIAS CAMPOS Christiane Senhorinha Soares A face feminina da pobreza em meio a riqueza do agronegoacutecio Buenos Aires ClacsoOutras Expressotildees 2011 cap IV A territorializaccedilatildeo do Agronegoacutecio no Brasil p 101-132 CONCEICcedilAtildeO Alexandrina Luz Estado Capital e a farsa da expansatildeo do Agronegoacutecio MERIDIANO - Revista de Geografia nuacutemero 2 2013 - versatildeo digital Disponiacutevel em httpwwwrevistameridianoorg Acesso em 10 de marccedilo de 2017 CONCEICcedilAtildeO Alexandrina Luz A expansatildeo do Agronegoacutecio no campo de Sergipe Revista Geonordeste n 2 2011 CUNHA Jacksilene Santana O Agronegoacutecio do Milho Transgecircnico no Oeste Sergipano 2015 175 f Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Geografia) - Universidade Federal de Sergipe Satildeo Cristoacutevatildeo- SE DINIZ Joseacute Alexandre Felizola Geografia da agricultura Satildeo Paulo Difel 1982

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FILHO Eraldo da Silva Ramos Questatildeo agraacuteria atual Sergipe como referecircncia para um estudo confrontativo das poliacuteticas de reforma agraacuteria e reforma agraacuteria de mercado (2003 ndash 2006) 2008 429 f Tese (Doutorado em Geografia) - Faculdade de Ciecircncias e Tecnologias Universidade Estadual Paulista Campus de Presidente Prudente- SP OLIVEIRA Ariovaldo U de Barbaacuterie e Modernidade As transformaccedilotildees no campo e o agronegoacutecio no Brasil Terra Livre Satildeo Paulo v 2 n 21 p 113-156 jul dez 2003 OLIVEIRA Narciso Lima de Modernizaccedilatildeo da Agricultura e Alteraccedilotildees Socioambientais no Municiacutepio de CariraSE sob a Loacutegica de Reproduccedilatildeo Ampliada do Capital 2010 149 f Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Geografia) - Universidade Federal de Sergipe Satildeo Cristoacutevatildeo - SE

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TERRITOacuteRIOS QUILOMBOLAS EM SERGIPE LUTA POR TERRA E ORGANIZACcedilAtildeO POLIacuteTICA

Joseacute Augusto Menezes dos Santossup1

Universidade Federal de Sergipe Laboratoacuterio de Estudos Territoriais (LATER) Mestrando em Geografia

(PPGEOUFS) Professor de Educaccedilatildeo Baacutesica (SEEDSE) E mail augustoptsocorroseyahoocombr

Josefa Lisboa Santossup2

Universidade Federal de Sergipe Professora Doutora do Departamento de Geografia (DGEICampus Itabaiana) e do

Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Geografia (PPGEOUFS liacuteder do Grupo de Pesquisa Relaccedilatildeo Sociedade Natureza e

Produccedilatildeo do Espaccedilo (PROGEO) e Laboratoacuterio de Estudos Territoriais (LATER)

E mail josefalisboauolcombr

RESUMO A presente pesquisa tem como objetivo avaliar o

processo de espacializaccedilatildeo da luta dos remanescentes quilombolas em Sergipe e os desafios para reconhecimento dos territoacuterios Os remanescentes de quilombo constituem-se grupos eacutetnico-raciais definidos pelo requisito da declaraccedilatildeo dos proacuteprios sujeitos e estabelecem relaccedilotildees territoriais proacuteprias A CF de 1988 nas suas Disposiccedilotildees Transitoacuterias reconheceu o direito da propriedade definitiva das terras para os remanescentes dos quilombos que estivessem ocupando suas terras cabendo ao Estado a emissatildeo dos respectivos tiacutetulos Entretanto foi somente em 2003 que o Decreto 4887 regulamentou da identificaccedilatildeo agrave titulaccedilatildeo das terras No quadro atual das relaccedilotildees capitalistas as relaccedilotildees poliacuteticas pautadas pelos interesses dos grupos detentores de terras no Brasil

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ameaccedilam esse direito expondo um cenaacuterio de intensificaccedilatildeo da luta com repercussotildees no acirramento da violecircncia no campo No estado de Sergipe existem 30 processos por titulaccedilatildeo em andamento e 4 territoacuterios titulados das 170 comunidades tituladas no paiacutes Satildeo elas Lagoa dos Campinhos e Mocambo no municiacutepio de Porto da Folha Serra da Guia em Poccedilo Redondo e Pirangi em Capela Nessa pesquisa a partir do olhar para o movimento da histoacuteria e para as contradiccedilotildees dos processos de formaccedilatildeo territorial e luta por terras em Sergipe buscaremos explicar e elucidar os desafios enfrentados pelas comunidades Mussuca e Brejatildeo dos Negros respectivamente nos municiacutepios de Laranjeiras e Brejo Grande para o reconhecimento e formaccedilatildeo dos territoacuterios de quilombos agrave luz da legislaccedilatildeo vigente dos embates e relaccedilotildees de poder e da organizaccedilatildeo dos grupos interessados Palavras-chave Produccedilatildeo do espaccedilo Territoacuterio quilombola Luta pela terra INTRODUCcedilAtildeO

Na formaccedilatildeo dos territoacuterios temos trecircs dimensotildees Na primeira dimensatildeo o territoacuterio eacute apresentado como uma construccedilatildeo beacutelica ndash militar Na segunda dimensatildeo o territoacuterio eacute colocado como uma construccedilatildeo juriacutedica e por uacuteltimo a terceira dimensatildeo onde o territoacuterio eacute apresentado como uma construccedilatildeo ideoloacutegica Nesse sentido a formaccedilatildeo territorial envolve essas trecircs dimensotildees embora natildeo necessariamente nessa sequecircncia Haacute casos de territoacuterios nos quais existia primeiramente um pleito ideoloacutegico depois se fez a conquista militar em seguida inicia-se o processo de legalizaccedilatildeo juriacutedica Todavia percebe-se que haacute casos como o de Israel em que primeiramente se fez a legalizaccedilatildeo poliacutetica e depois a efetivaccedilatildeo da conquista militar Assim como haacute casos em que a dimensatildeo ideoloacutegica vem antes desse processo Existem casos em que o

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processo de ocupaccedilatildeo do territoacuterio acontece da seguinte forma inicialmente ocorre primeiro a conquista e em seguida se impotildee um processo ideoloacutegico de afirmaccedilatildeo da nova identidade territorial ou seja nesse caso a conquista eacute efetivada primeiro e posteriormente ocorre o processo ideoloacutegico A anaacutelise dessas trecircs dimensotildees da formaccedilatildeo territorial eacute de grande importacircncia para podermos entender o processo histoacuterico de constituiccedilatildeo e formaccedilatildeo do territoacuterio e seus diferentes aspectos

Para entender a formaccedilatildeo de uma sociedade numa perspectiva histoacuterica econocircmica cultural e poliacutetica eacute preciso partir do estudo da sua formaccedilatildeo territorial e sobretudo analisar criticamente o processo em que se deu a formaccedilatildeo do espaccedilo agraacuterio No caso do Brasil partindo da leitura do periacuteodo da colonizaccedilatildeo que se inicia no seacuteculo XVI inicialmente com a extraccedilatildeo do pau-brasil e posteriormente ainda na primeira metade do seacuteculo XVI com a introduccedilatildeo e exploraccedilatildeo da cana-de-accediluacutecar Para compreender a formaccedilatildeo do espaccedilo agraacuterio brasileiro temos a necessidade de buscar estudar e pesquisar o que estaacute se passando na Europa naquele contexto e por outro lado fazer uma comparaccedilatildeo com a forma como se deu a acumulaccedilatildeo primitiva do capital na Ameacuterica Latina

A ideia central que se tem eacute que essa histoacuteria territorial eacute reveladora de componentes centrais na formaccedilatildeo de paiacuteses de passado colonial no continente americano Ao fazer um estudo dos paiacuteses de formaccedilatildeo colonial percebe-se que essa dimensatildeo espacial obteacutem um peso maior e mais significativo por uma razatildeo simples a colonizaccedilatildeo eacute em si mesma uma relaccedilatildeo sociedade-espaccedilo Logo eacute colocado algumas questotildees que podem contribuir para o entendimento da obra do processo de colonizaccedilatildeo do Continente Americano e sobretudo no caso da Colonizaccedilatildeo do Brasil Portanto eacute

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importante indagar as seguintes questotildees agrave cerca da Colonizaccedilatildeo

Na verdade o que eacute colonizaccedilatildeo Colonizaccedilatildeo eacute a relaccedilatildeo entre uma sociedade que se expande e os lugares onde ocorre essa expansatildeo A colonizaccedilatildeo em si eacute conquista territorial Ningueacutem fala em colonizar seu proacuteprio espaccedilo Na verdade a colonizaccedilatildeo diz respeito a uma adiccedilatildeo de territoacuterio ao seu patrimocircnio territorial (Moraes 2001)

Na situaccedilatildeo colonial o que se observa eacute que naquele periacuteodo eacute perceptiacutevel a partir de uma anaacutelise mais minuciosa perceber que se apresenta uma relaccedilatildeo intriacutenseca entre a sociedade e o espaccedilo Nesse sentido fica evidente que o que interessa para o colonizador eacute a conquista do espaccedilo Todavia a colocircnia pode ser entendida como a verdadeira efetivaccedilatildeo da conquista do territoacuterio para atender os interesses poliacuteticos e econocircmicos da metroacutepole

De imediato isso traz uma indicaccedilatildeo metodoloacutegica do ponto de vista histoacuterico muito importante que eacute a inadequaccedilatildeo total para se tentar trabalhar a questatildeo colonial em termos de uma oposiccedilatildeo interno-externo A colocircnia eacute a internalizaccedilatildeo do agente externo Percebe-se que os interesses internos da colocircnia ldquoBrasilrdquo estatildeo atrelado aos interesses externos da metroacutepole Portugal Portanto a colocircnia eacute a consolidaccedilatildeo desse domiacutenio territorial a apropriaccedilatildeo das terras a submissatildeo das populaccedilotildees defrontadas e tambeacutem a exploraccedilatildeo dos recursos presentes no territoacuterio colonial A expressatildeo que sintetiza tudo isso eacute a noccedilatildeo de conquista que traz inclusive o traccedilo de violecircncia comum em todo processo colonial (MORAES 2001)

A colonizaccedilatildeo eacute o processo de criaccedilatildeo de uma estrutura nas terras que satildeo incorporadas ao patrimocircnio da sociedade na expansatildeo territorial de forma articulada com os interesses da metroacutepole que eacute o centro de difusatildeo da poliacutetica de expansatildeo colonial De onde parte toda a loacutegica de organizaccedilatildeo desse

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novo empreendimento da poliacutetica de expansatildeo que eacute o empreendimento da colocircnia como extensatildeo da poliacutetica da metroacutepole colonial ou seja a existecircncia da colocircnia deve estar atrelada aos interesses poliacutetico e econocircmico da metroacutepole Nesse sentido o empreendimento colonial deve servir aos interesses poliacuteticos sociais e econocircmicos da Metroacutepole

Segundo Moraes (2005) a colocircnia corresponde a existecircncia de uma metroacutepole que atua como nuacutecleo irradiador do dinamismo que impulsiona a proacutepria consolidaccedilatildeo da colocircnia e o avanccedilo do movimento colonizador Portanto as novas estruturas criadas no solo colonial devem responder funcionalmente aos interesses da metroacutepole aos quais estatildeo subordinadas A colocircnia deve ser um anexo territorial do territoacuterio metropolitano uma adiccedilatildeo de espaccedilo agrave economia do paiacutes colonizador

Na anaacutelise realizada por Ruy Moreira na sua obra lsquoFormaccedilatildeo do espaccedilo agraacuterio brasileiro publicada em 1990 a acumulaccedilatildeo primitiva do capital se realiza na passagem do seacuteculo XIX para o XX onde a cartografia jaacute difere do que era o espaccedilo brasileiro de apenas um seacuteculo atraacutes O mapa desse momento de crise do antigo regime e emergecircncia do novo mostra um arranjo espacial de manchas agraacuterias mais densas e com poucos claros Mais que isso um arranjo de manchas agraacuterias organizadas num novo eixo cidade - campo

A nova configuraccedilatildeo que as relaccedilotildees agraacuterias vatildeo adquirindo e radica-se em pelo menos quatro aspectos essenciais

1- O trabalho escravo se metamorfoseia numa diversidade horizontal de camponeses

2- A divisatildeo de trabalho interna surge na forma tripartite da monocultura policultura e induacutestria

3- A classe senhorial se lsquomolecularizarsquo territorialmente para se transformar nas oligarquias rurais regionais

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4- A relaccedilatildeo cidade ndash campo radicaliza a reorientaccedilatildeo que submete o campo agrave cidade

Compreender esses aspectos na sua forma dialeacutetica torna-se uma tarefa desafiadora que aponta para a possibilidade de se analisar e compreender como se deu o processo de formaccedilatildeo do espaccedilo agraacuterio no Brasil assim como as relaccedilotildees que aqui foram desencadeadas no passado colonial e analisar se houve uma relaccedilatildeo com a formaccedilatildeo do campesinato e da elite agraacuteria e sua relaccedilatildeo com o processo da acumulaccedilatildeo primitiva do capital Contudo eacute importante estudar e buscar compreender o processo de formaccedilatildeo da acumulaccedilatildeo primitiva do capital no Brasil Logo o estudo sobre o seacuteculo XIX e sobretudo a transiccedilatildeo do seacuteculo XIX para seacuteculo XX buscando compreender nesse processo de transiccedilatildeo como se deu o processo de acumulaccedilatildeo primitiva do capital no Brasil eacute fundamental para possibilitar uma melhor compreensatildeo dos acontecimentos desse periacuteodo histoacuterico O seacuteculo XIX apresenta-se como um periacuteodo muito fecundo para realizaccedilatildeo de estudos e pesquisas que demonstre como se deu o processo de acumulaccedilatildeo primitiva do capital Cada aspecto deve ser estudado de forma criteriosa identificando suas caracteriacutesticas peculiaridades e as relaccedilotildees que satildeo estabelecidas entre os diferentes aspectos por exemplo analisar a formaccedilatildeo do campesinato a criaccedilatildeo e efetivaccedilatildeo da Lei de Terras de 1850 e sua relaccedilatildeo com o mercado de terras a aboliccedilatildeo do traacutefico de escravos o papel do Estado e sobretudo buscar compreender como se dar a relaccedilatildeo entre esses aspectos e acontecimentos no decorrer do seacuteculo XIX Nesse sentido eacute importante analisa-los de forma dialeacutetica

Um aspecto importante agrave ser analisado satildeo Relaccedilotildees de trocas e controle do campesinato a fase inicial da acumulaccedilatildeo primitiva

Eacute sobre essa base lsquomolecularizadarsquo do arranjo espacial determinada pelo nascimento do campesinato e pela

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regionalizaccedilatildeo do poder da aristocracia rural que se instaura a acumulaccedilatildeo primitiva do capital com a qual a nova ordem capitalista vai se desenvolvendo No ano de 1850 ocorre a regulaccedilatildeo formal do mercado de trabalho e de terras no Brasil Nesse periacuteodo o capitalismo aparece nessa nova organizaccedilatildeo espacial timidamente sob formas ainda entranhadamente senhoriais e rurais de relaccedilatildeo de trabalho Seus traccedilos mais claros aparecem em 1850 com os decretos que estabelecem por antecipaccedilatildeo as regras do mercado de trabalho e de terras A desagregaccedilatildeo do escravismo conduz agrave valorizaccedilatildeo da terra uma vez que com a crise escravocrata a fonte do poder senhorial deslocandashse do controle dos escravos para o controle da terra Por isso a classe senhorial por intermeacutedio do Estado procura regular juridicamente esta dupla metamorfose em curso a do mercado do trabalho e a do mercado da terra Em 1850 o Estado Imperial proclama juridicamente o estabelecimento de duas das trecircs instituiccedilotildees (a terceira eacute o mercado do dinheiro) que marcam o nascimento do mercado capitalista o surgimento do mercado de forccedila de trabalho surge atraveacutes do decreto da aboliccedilatildeo do traacutefico de escravos e o mercado de terras atraveacutes da lei de terras que substituiu a Lei de Sesmarias

A aboliccedilatildeo oficial do traacutefico de escravos e o surgimento do mercado de terras no mesmo ano natildeo pode ser entendida como uma mera coincidecircncia como se natildeo tivessem relaccedilatildeo entre ambos os acontecimentos Eacute importante perceber que uma lei vem para regular a outra Num anuacutencio puacuteblico do fim do acesso agrave terra por meio de concessotildees pelo Estado a Lei de Terras de 1850 estabelece o mercado como a regra do caminho Logo soacute podem se adquirir a terra mediante a compra Por conseguinte soacute a quem pode comprar Fica ela assim franqueada Portanto Excluindo-se desse acesso quem natildeo tem recursos o que quer dizer a quase totalidade da populaccedilatildeo Dessa forma embora seja um instrumento de

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regulaccedilatildeo mercantil da circulaccedilatildeo da terra a Lei de Terras se combina com a lei da regulaccedilatildeo do mercado de trabalho uma vez que exclui automaticamente do acesso agrave terra a quase totalidade da populaccedilatildeo colonial agrave qual soacute resta oferecer-se em trabalho aos proprietaacuterios fundiaacuterios vendendo a sua forccedila de trabalho Nesse sentido a um soacute tempo a Lei de Terras serve para dois objetivos que satildeo a preservaccedilatildeo do latifuacutendio e a organizaccedilatildeo da nova relaccedilatildeo de trabalho

Outro aspecto importante para ser analisado eacute o nascimento do campesinato e sua relaccedilatildeo com a agroexportaccedilatildeo

A Lei de Terras e sua irmatilde siamesa - a lei da aboliccedilatildeo do traacutefico de escravos- satildeo o anuacutencio do nascimento do campesinato E esse fato eacute o aspecto essencial da relaccedilatildeo de trabalho do regime social Todavia em face da Lei de Terras este campesinato jaacute nasce sob absoluto controle da classe senhorial que por intermeacutedio dele preserva a agroexportaccedilatildeo como base econocircmica da sociedade burguesa e garante para si o poder de organizaacute-la com fins de sua proacutepria transformaccedilatildeo em burguesia agraacuteria (Moreira 1990)

Eacute o desdobramento dessa dupla metamorfose da classe a senhorial e a dos escravos embora o capital mercantil e o trabalho camponecircs natildeo sejam respectivamente os substitutos diretos da classe dos senhores e dos escravos um traccedilo caracteriacutestico do processo que leva a ordem capitalista ao seu desabrochamento a acumulaccedilatildeo primitiva E eacute a accedilatildeo de optar pela metamorfose das relaccedilotildees agraacuterias No lugar da ruptura estrutural o traccedilo que faz o processo da acumulaccedilatildeo primitiva no Brasil uma forma de desenvolvimento capitalista semelhante agrave via prussiana

A forma social do campesinato em surgimento tem uma niacutetida relaccedilatildeo com a espacialidade diferencial herdada do colonial - escravismo Isto eacute com o modo com que no interior de cada espaccedilo da formaccedilatildeo colonial e a metamorfose do

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escravismo desemboca no processo da acumulaccedilatildeo primitiva Por isso trecircs modalidades podem ser encontradas a do campesinato que combina em si a condiccedilatildeo de reproduccedilatildeo do trabalhador assalariado e camponecircs com o morador o colono e o seringueiro a do campesinato familiar autocircnomo como o das colocircnias de imigrantes instaladas no planalto meridional e a do campesinato de ldquofronteirardquo como o posseiro que desde os tempos iniciais da economia colonial se localiza nas aacutereas da linha de frente do espaccedilo ocupado para dedicar-se a uma policultura livre

Considerando o processo de reproduccedilatildeo camponesa e o sistema de trocas Ruy Moreira afirma que

Eacute controlando a reproduccedilatildeo do trabalho desse campesinato que o capital mercantil extrai o excedente e realiza a acumulaccedilatildeo primitiva mediando a metamorfose burguesa da classe senhorial A forma desse controle eacute mercantil diferenciando-se especialmente no sistema de barracatildeo predominante na maior parte do territoacuterio nacional e no sistema mercantil simples nas colocircnias de imigrantes do planalto meridional (Moreira 1990)

DESENVOLVIMENTO

Os quilombos natildeo foram formados apenas no periacuteodo da escravatura no Brasil Mesmo depois da aboliccedilatildeo da escravidatildeo novos quilombos se constituiacuteram Isso ficou provado por estudos e pesquisas ocorridas na segunda metade do seacuteculo passado num momento caracterizado pela descolonizaccedilatildeo do continente africano e pelo debate sobre a identidade nacional no qual vaacuterios historiadores mostraram as experiecircncias de organizaccedilatildeo quilombola sob uma nova perspectiva ou seja natildeo soacute como recurso uacutetil para a sobrevivecircncia fiacutesica e cultural dos quilombolas mas principalmente como instrumento de preservaccedilatildeo da dignidade

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dos descendentes africanos traficados para o Brasil que lutavam para conquistar o direito agrave liberdade e conviver de acordo com a sua cultura tradicional (SEPPIR 2004 )

As comunidades quilombolas mesmo sendo ignoradas e perseguidas neste processo constituiacuteram-se numa rica dinacircmica de ldquodiaacutelogo culturalrdquo de afirmaccedilatildeo da identidade de resistecircncia eacutetnica de luta pela terra de relacionamento peculiar com a natureza que os remete agrave compreensatildeo de sua pertenccedila agrave terra de solidariedade intereacutetnica de sua ancestralidade e de todos os valores civilizatoacuterios ligados agrave Aacutefrica e preservados mediante seacuteculos de tradiccedilatildeo (PASSOS 2007)

Os quilombos continuam sendo sociedades livres igualitaacuterias justas soberanas em busca de felicidade Eram sociedades poliacutetico-militares que nasceram de movimentos de insurreiccedilotildees levantes revoltas armadas proclamando a queda do sistema escravocrata Frequentemente aqueles movimentos tomavam a forma de quilombos agrave semelhanccedila de Palmares Os quilombos existiram em muitos pontos do paiacutes em decorrecircncia das lutas ocorridas em diferentes lugares onde houvesse negaccedilatildeo de liberdade dominaccedilatildeo desrespeito a direitos acrescidas de preconceitos desigualdades e racismo (SIQUEIRA 1995 p3)

Atualmente a ligaccedilatildeo dessas comunidades com o passado natildeo se daacute pelo isolamento geograacutefico e nem pela homogeneidade fiacutesica e bioloacutegica de seus habitantes mas pela manutenccedilatildeo de praacuteticas de resistecircncia e reproduccedilatildeo de seu modo de vida em um local determinado Sendo assim a principal caracteriacutestica que aproxima a dimensatildeo do quilombo do periacuteodo colonial agraves formas de organizaccedilatildeo dos quilombos contemporacircneos estaacute ldquonas praacuteticas econocircmicas desenvolvidas cujos modelos produtivos agriacutecolas estabelecem uma necessaacuteria integraccedilatildeo agrave microeconomia local com vistas agrave consolidaccedilatildeo de um uso comum da terrardquo (SEPPIR 2004)

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As comunidades de remanescentes de quilombos ainda natildeo satildeo em muitos casos conhecidas divulgadas e valorizadas Muitas delas ainda vivem agraves margens da sociedade brasileira construiacuteda a partir do trabalho dos seus ancestrais (CAcircNTIA BOLONI 2004) Mesmo que no imaginaacuterio popular seja comum a associaccedilatildeo dos quilombos a algo apenas ligado ao passado e que teria desaparecido com o fim do regime da escravatura Mas essas comunidades quilombolas existem em grande nuacutemero e se fazem representadas praticamente em todo o territoacuterio brasileiro

A questatildeo fundiaacuteria deve ser lavada em consideraccedilatildeo pois a terra eacute de extrema importacircncia para a continuidade do grupo e condiccedilatildeo exclusiva para sua existecircncia O territoacuterio natildeo estaria restrito ao espaccedilo geograacutefico abarcando objetos atitudes e relacionamentos ou seja tudo o que efetivamente lhe diz respeito (SEPPIR 2004) Desta forma

Territoacuterios e identidades estatildeo inteiramente relacionados enquanto um estilo de vida uma forma de viver fazer e sentir o mundo Um espaccedilo social proacuteprio especiacutefico com formas singulares de transmissatildeo de bens materiais e imateriais para a comunidade Bens esses que transformaratildeo no legado de uma memoacuteria coletiva um patrimocircnio simboacutelico do grupo (SEPPIR 2004 p 11)

Outra dimensatildeo eacute incorporada na questatildeo fundiaacuteria pois enquanto a terra eacute uma necessidade econocircmica e social o territoacuterio enquanto espaccedilo geograacutefico e cultural de uso coletivo eacute uma necessidade cultural e poliacutetica ligado ao direito de autodeterminaccedilatildeo A terra eacute uma necessidade econocircmica e social (SEPPIR 2004)

As comunidades remanescentes de quilombo se caracterizam em sua maioria pelo grande viacutenculo com o meio que ocupam observando-se grande grau de preservaccedilatildeo da biodiversidade Elas sobrevivem da agricultura de subsistecircncia baseada na matildeo- de- obra familiar assegurando os produtos

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baacutesicos para o consumo Para completar a renda satildeo criados animais de pequeno porte como galinhas porcos patos e cabritos (VICENTE 2004) Para Nascimento (1980 apud Siqueira 1995) a memoacuteria dos afro-brasileiros natildeo se inicia com o traacutefico de escravos africanos para o Brasil pois eles jaacute trouxeram consigo saberes englobando as diversas aacutereas do conhecimento (culturas religiotildees liacutenguas artes ciecircncias tecnologias etc)

A presenccedila quilombola eacute ldquoestranha e ameaccediladora pelo olhar oficial e ideoloacutegico que inventa e faz desaparecer o outrordquo O quilombola eacute uma presenccedila marcante na histoacuteria brasileira mas ao mesmo tempo ldquoinviabilizado pelo medordquo desta mesma sociedade (PASSOS 2007 p 5) Essas comunidades ficaram agrave margem do processo de modernizaccedilatildeo durante mais de um seacuteculo de repuacuteblica Frutos do processo de ldquonegaccedilatildeo do Brasilrdquo viveram ameaccediladas e desrespeitadas em suas expressotildees culturais e sem acesso agrave titulaccedilatildeo de suas terras

Atualmente existem vaacuterias ameaccedilas vivenciadas por essas comunidades sendo as principais a falta de titulaccedilatildeo pois sem isto natildeo haacute como as comunidades quilombolas garantirem o domiacutenio e a posse da terra assegurando desse modo alternativas viaacuteveis para sua sobrevivecircncia com dignidade recuperando e renovando sua cultura a falta de reconhecimento dos direitos das populaccedilotildees tradicionais na legislaccedilatildeo ambiental o que muitas vezes favorece tensotildees e conflitos nas aacutereas e frequentemente inviabiliza sua permanecircncia na terra e a educaccedilatildeo que apresenta vaacuterias deficiecircncias sendo que muitas das escolas em funcionamento nas comunidades de remanescentes de quilombos natildeo tecircm a manutenccedilatildeo garantida e nem valorizam a cultura local (SEPPIR 2004)

Um nuacutemero muito grande de quilombos no Brasil vive em situaccedilotildees consideradas alarmantes e em muitos casos

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estatildeo localizados em lugares afastados e sem condiccedilotildees necessaacuterias para desenvolver uma agricultura de maior qualidade Falta documentaccedilatildeo para obter financiamentos empreacutestimos e subsiacutedios para sua produccedilatildeo mesmo com estes fatos denunciados e atestados por organismos internacionais ligados agrave Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) Isso tem de certa forma servido como pressatildeo nos uacuteltimos anos para que o governo brasileiro adote medidas miacutenimas de atenccedilatildeo poliacutetica a essas comunidades (PASSOS 2007)

As 100 famiacutelias de negros do quilombo Mocambo em Sergipe estatildeo em litiacutegio com fazendeiros da regiatildeo Os Kalunga em Goiaacutes espalhados em aacutereas dos municiacutepios de Cavalcanti Terezinha de Goiaacutes e Monte Alegre enfrentam pressatildeo de Furnas que inundaraacute cerca de 50 das terras onde estatildeo as roccedilas dessas comunidades para encher o lago da hidreleacutetrica que estaacute sendo construiacuteda Ateacute pouco tempo atraacutes soacute era possiacutevel chegar aos nuacutecleos onde vivem os Kalungas de Goiaacutes por meio de uma longa viagem em lombo de burro por caminhos difiacuteceis ao longo de um terreno acidentado Algumas pessoas idosas nunca deixaram o antigo quilombo para conhecer a cidade Poreacutem a populaccedilatildeo jovem jaacute comeccedila a se interessar pelo mundo fora do nuacutecleo (FUNDACcedilAtildeO PALMARES 2009)

Mesmo o processo de aquilombamento ocorrendo em todo o territoacuterio brasileiro as comunidades que descendem dos quilombolas ficaram esquecidas Por vaacuterios anos ficando igualmente esquecidas suas lutas para manter seu rico patrimocircnio histoacuterico e cultural Estas comunidades vecircm enfrentando inuacutemeros problemas ao longo dos anos Aleacutem da falta de coleta de lixo de esgoto de escolas e inexistecircncia de accedilotildees puacuteblicas que visem agrave geraccedilatildeo de renda e emprego estas comunidades se defrontam com outros problemas relacionados agrave manutenccedilatildeo de seus territoacuterios accedilotildees de

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grileiros construccedilotildees de hidreleacutetricas que alagam suas terras e ateacute mesmo demora no processo de regularizaccedilatildeo

Estas comunidades por muitas vezes satildeo discriminadas e marginalizadas por segmentos refrataacuterios da sociedade e pela miacutedia As aacutereas dessas comunidades mesmo sendo reconhecidas a partir de 1988 com a promulgaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo Federal somente 15 anos depois foram instituiacutedas as formas legais de regularizaccedilatildeo dos procedimentos administrativos para a identificaccedilatildeo reconhecimento delimitaccedilatildeo e titulaccedilatildeo das terras ocupadas pelos remanescentes de quilombos no Brasil Este processo de reconhecimento dos territoacuterios quilombolas eacute um meio de saldar parte do deacutebito social da sociedade e do Estado para com a populaccedilatildeo negra Portanto mesmo sendo garantido no processo de titulaccedilatildeo e reconhecimento que os quilombolas receberatildeo tratamento preferencial assistecircncia teacutecnica e linhas de financiamento para realizaccedilatildeo de suas atividades produtivas e de infraestrutura esta garantia na praacutetica natildeo eacute confirmada pois o que vemos ainda eacute o descaso com as comunidades em relaccedilatildeo aos bens miacutenimos para sua sobrevivecircncia A COMUNIDADE QUILOMBOLA MUSSUCA

Laranjeiras municiacutepio que o povoado Mussuca pertence possui a populaccedilatildeo estimada em 2015 de 29130 pessoas reunidas em aacuterea territorial de 162280 quilocircmetro quadrado segundo o IBGE O municiacutepio tem o Iacutendice de Desenvolvimento Humano em 2012 de 0642

O Quilombo da Mussuca ainda natildeo adquiriu a titulaccedilatildeo de suas terras certificada de acordo com o livro cadastral L05-RG465-FL73 em 20 de janeiro de 2006- processo nordm 01420003078-2005-11

A Mussuca estaacute localizada no Leste Sergipano na Regiatildeo do Vale Cotinguiba cidade de Laranjeiras Este

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povoado surge ldquodurante o processo de colonizaccedilatildeo mais precisamente no seacuteculo XVIIIrdquo em que foi construiacuteda uma das igrejas mais antigas da cidade de Laranjeiras nas proximidades do Engenho Ilha que fica na proacutepria comunidade em uma aacuterea particular

Lugar de faacutecil acesso pela BR 101 principal eixo viaacuterio de Sergipe distante 19 km de Aracaju capital do Estado De altos e baixos com relevo de tabuleiros com diferenccedilas e composiccedilotildees de morros encaixados em vertentes Sua populaccedilatildeo segundo dados da secretaria de sauacutede eacute de aproximadamente 3043 habitantes sendo que a maior parte da populaccedilatildeo se auto define como negros a qual possui um grau de parentesco muito forte Por isso sempre esteve ligada agrave presenccedila de matildeo de obra escrava e agrave cultura canavieira ateacute os dias atuais As condiccedilotildees geoambientais foram fatores importantes para o cultivo da cana de accediluacutecar o clima chuvoso e o solo forte de massapeacute

A economia local estaacute baseada na pesca na agricultura extraccedilatildeo de mineacuterios nos setores puacuteblicos como prefeitura nas grandes empresas onde a oferta de empregos satildeo bem maiores A falta de uma sustentabilidade na comunidade faz com que a maior parte dos trabalhadores se desloque para a capital e cidades vizinhas e ateacute mesmo para outros estados em busca de oportunidades de empregos A Mussuca dispotildee de duas escolas puacuteblicas uma estadual e uma municipal possui rede telefocircnica e rede eleacutetrica posto de sauacutede cemiteacuterio quadra de esporte academia aacutegua potaacutevel sem tratamento ruas pavimentadas campo de futebol igrejas evangeacutelicas e uma igreja catoacutelica associaccedilotildees comunitaacuterias e de pescadores entre outras Telecentro-digital centros de umbandas uma creche que natildeo funciona e comeacutercios locais Portanto foi atraveacutes do seu autoreconhecimento de Comunidade Quilombola que passou a receber benefiacutecios do Governo Federal como cestas baacutesicas conjunto habitacional entre outros

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Em 2005 dirigentes de Associaccedilotildees se reuniram para o primeiro Encontro Estadual de Comunidades Quilombolas em Aracajuacute Sergipe para discutir sobre o processo de reconhecimento das comunidades Apoacutes o encontro os participantes ficariam responsaacuteveis de transmitir esse conhecimento e de esclarecer a populaccedilatildeo local sobre sua importacircncia

A Mussuca eacute considerada ateacute entatildeo uma das Comunidades Quilombolas mais importantes do Estado de Sergipe definida por sua identidade proacutepria aleacutem das manifestaccedilotildees culturais que resgatam o seu passado natildeo apenas por suas origens histoacutericas mas tambeacutem por sua rica importacircncia cultural Dessa maneira suas manifestaccedilotildees culturais estatildeo sempre presentes no seu dia-a-dia Haacute exemplo da danccedila do Grupo Satildeo Gonccedilalo do Amarante conhecido nacionalmente como grupo pagador de promessa que contempla o Santo Satildeo Gonccedilalo com suas cantorias Este grupo eacute composto por homens com trajes de mulheres e uma mariposa a qual carrega o Santo em sua barca acompanhado de seu violatildeo Aleacutem do Samba de Parelha que tecircm como referecircncia histoacuterica Dona Nadi festa completamente junina composta por homens e mulheres responsaacuteveis por tocar os instrumentos e as mulheres para danccedilar Haacute tambeacutem o Samba de Coco de Dona Maria e o Reisado tambeacutem conduzido por Dona Nadi Assim como o grupo de Teatro Amigos da Cultura Mussuquense que trabalha da cultura local e que eacute passada de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo

No municiacutepio de Brejo Grande-Sergipe localiza-se a Comunidade Quilombola de Brejatildeo dos Negros com uma aacuterea de 469 hectares O imoacutevel rural foi doado recentemente para a comunidade quilombola e que consolida o processo de reintegraccedilatildeo e acesso agraves terras para esta comunidade

A conquista do imoacutevel rural denominado de fazenda Batateiras foi entregue aos quilombolas atraveacutes de um

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documento oficial de emissatildeo de posse entregue pelo superintendente regional do Instituto de Colonizaccedilatildeo e Reforma Agraacuteria-IncraSE Jorge Tadeu Jatobaacute na praccedila do povoado De acordo com Leonardo Goacutees superintendente substituto do Incra a propriedade estaacute localizada bem no centro da aacuterea delimitada para a criaccedilatildeo do territoacuterio quilombola Por isso a sua posse representa um marco no processo de retomada das terras pela comunidade

Apoacutes vistoria realizada em 2006 para fins de reforma agraacuteria foi constatada que a Fazenda Batateiras classificada como improdutiva integra um amplo estudo antropoloacutegico que identificou o local como parte da aacuterea a ser demarcada para a criaccedilatildeo do territoacuterio quilombola de Brejatildeo dos Negros Portanto a fazenda que antes era objeto de disputa judicial e ocupaccedilatildeo irregular seraacute revertida para o desenvolvimento de accedilotildees produtivas pelas famiacutelias quilombolas

A comunidade quilombola de Brejatildeo dos Negros foi reconhecida pela Fundaccedilatildeo Cultural Palmares em 2005 e hoje eacute formada por 410 famiacutelias que vivem em uma aacuterea abrangida por diversos povoados Localizado na regiatildeo da foz do rio Satildeo Francisco o conjunto de terras que deveraacute compor o futuro territoacuterio quilombola eacute considerado um dos principais focos de tensatildeo agraacuteria do estado de Sergipe A tensatildeo na regiatildeo eacute ocasionada devido a ocupaccedilatildeo por fazendeiros e grileiros nas aacutereas que estatildeo sendo identificadas pelo estudo antropoloacutegico para a constituiccedilatildeo do territoacuterio

O IncraSE em parceria com o Ministeacuterio Puacuteblico Federal do Estado (MPFSE) reiniciou os trabalhos de identificaccedilatildeo e delimitaccedilatildeo do territoacuterio quilombola Brejatildeo dos Negros no municiacutepio de Brejo Grande (SE) O anuacutencio ocorreu nesta terccedila-feira (17022009) durante reuniatildeo com representantes dos ministeacuterios Puacuteblicos Federal e Estadual (MPE) da Poliacutecia Federal da Ouvidoria Agraacuteria Regional do Governo do Estado de Sergipe e da Caacuteritas Diocesana

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Tambeacutem participaram membros da comunidade Quilombola Brejatildeo dos Negros da Prefeitura e da Cacircmara Municipal de Brejo Grande

O trabalho do IncraSE consiste na elaboraccedilatildeo do Relatoacuterio Teacutecnico de Identificaccedilatildeo e Delimitaccedilatildeo do Territoacuterio (RTID) e na consequente regularizaccedilatildeo de aacutereas pertencentes a comunidades tradicionais remanescentes de quilombos

Para o superintendente do IncraSE Jorge Tadeu Jatobaacute o objetivo do trabalho eacute beneficiar quem precisa de terras e historicamente faz jus ao territoacuterio de Brejatildeo dos Negros ldquoNoacutes iniciamos esse trabalho em Brejo Grande com a certeza de que ele ajudaraacute a combater as desigualdades fomentando mais justiccedila social na regiatildeordquo

Segundo o procurador da Repuacuteblica Silvio Roberto Oliveira de Amorim Juacutenior aleacutem de fiscalizar e fazer cumprir a lei a atuaccedilatildeo do MPF referenda acordos nacionais e internacionais que objetivam reduzir as desigualdades sociais ldquoEacute uma missatildeo constitucional do MP assegurar a defesa das comunidades tradicionais Este trabalho antes de ser uma obrigaccedilatildeo eacute uma questatildeo de justiccedila social e de poliacutetica puacuteblicardquo

A elaboraccedilatildeo do RTID eacute o primeiro passo para a regularizaccedilatildeo do territoacuterio de Brejatildeo dos Negros As fases posteriores dependem de publicaccedilatildeo de portaria do presidente do INCRA e de assinatura de decreto presidencial Jaacute a uacuteltima fase do processo consiste na titulaccedilatildeo do territoacuterio quilombola A comunidade quilombola de Brejatildeo dos Negros tem hoje 277 famiacutelias cadastradas no INCRASE A principal atividade econocircmica dessa comunidade eacute o extrativismo de coco e mariscos oriundos da aacuterea de manguezal da regiatildeo

O processo de demarcaccedilatildeo das aacutereas quilombolas em Brejo Grande ainda natildeo foi concluiacutedo O INCRA no entanto prevecirc que o Relatoacuterio Teacutecnico de Identificaccedilatildeo e Delimitaccedilatildeo que inclui estudo antropoloacutegico seja finalizado o mais breve

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possiacutevel A comunidade estaacute bastante ansiosa mas eacute um relatoacuterio que tem que ser feito com bastante cuidado Para alguns representantes do movimento quilombola local o avanccedilo no reconhecimento da aacuterea ajuda a apaziguar algumas tensotildees existentes entre os proacuteprios habitantes dos povoados O caminho ateacute aiacute entretanto foi longo

A partir do momento em que o grupo comeccedilou a manifestar interesse pela identificaccedilatildeo quilombola com o apoio do padre Isaias Nascimento hoje afastado da paroacutequia surgiram focos de rejeiccedilatildeo que cresceram com a accedilatildeo de grupos que se identificam como proprietaacuterios de terras ldquoEles diziam que as pessoas iam perder as casas iam voltar a serem escravosrdquo relatou Maria Izaltina Santos presidente da Associaccedilatildeo Santa Cruz entidade ligada a Brejatildeo dos Negros As divergecircncias chegaram a momentos de grande tensatildeo como quando um grupo desfavoraacutevel ao quilombo invadiu uma missa de Isaias aos gritos de ldquofora padrerdquo

ldquoEm determinado momento eles comeccedilaram a perder terreno As pessoas costumam acreditar quando veem acontecerrdquo avaliou o professor Gilvan Pereira tambeacutem envolvido no movimento pela demarcaccedilatildeo Segundo ele no pior momento apenas 20 famiacutelias sustentavam o pleito Hoje satildeo aproximadamente 300 famiacutelias Para ajudar reverter agrave situaccedilatildeo foram realizados diversos trabalhos em Brejatildeo cursos capacitaccedilotildees accedilotildees de resgate cultural ldquoHouve principalmente no comeccedilo do conflito uma tentativa de divisatildeo entre eles muito proacutepria do momento de afirmaccedilatildeo de identidade culturalrdquo comentou a procuradora do MPF Liacutevia Nascimento acrescentando que a alguns dos residentes foram oferecidas casas em outro povoado de Brejo Grande o Sarameacutem Mas eu acho que isso estaacute superado Mesmo aqueles que foram para o Sarameacutem hoje jaacute tecircm uma visatildeo maior de integraccedilatildeo com a comunidaderdquo informou Nascimento Para ela entretanto isso natildeo significa que as accedilotildees de resgate

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devam parar ldquoSem duacutevida nenhuma tendo em vista a grande pressatildeo que eacute feita pelos grupos econocircmicos e poliacuteticos da regiatildeo eacute um trabalho que deve ser realizado permanentemente

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Portanto a presente pesquisa em andamento pretende analisar o processo de formaccedilatildeo das comunidades quilombolas refletindo-se sobre os antecedentes histoacutericos de formaccedilatildeo o processo de luta pela terra e a efetivaccedilatildeo do territoacuterio enquanto loacutecus da reproduccedilatildeo desse grupo social que forma a sociedade brasileira e que muitas das vezes satildeo colocados como indesejaacuteveis e ateacute invisiacuteveis para o Estado e para a Sociedade Para desenvolver melhor a referida pesquisa objetiva-se realizar leituras teoacutericas gerais e especiacuteficas que abordem a temaacutetica no campo das ciecircncias humanas e sobretudo na ciecircncia geograacutefica com foco na abordagem que discute a categoria territoacuterio Como procedimentos metodoloacutegicos encontram-se entrevistas aplicaccedilatildeo de questionaacuterios anaacutelise de dados censitaacuterios visitas teacutecnicas em oacutergatildeos puacuteblicos e associaccedilotildees descriccedilatildeo cartograacutefica das comunidades e mapeamento Enfatiza-se que os instrumentais utilizados tecircm como objetivo contribuir para a realizaccedilatildeo de uma pesquisa qualitativa que possibilite uma anaacutelise criacutetica da temaacutetica abordada Desse modo pretende-se com esse estudo oferecer contribuiccedilotildees para a produccedilatildeo da pesquisa geograacutefica na academia e sobretudo contribuir para o processo de organizaccedilatildeo poliacutetica e luta por territoacuterio e o acesso agrave terra pelas comunidades tradicionais e em especial as comunidades quilombolas na construccedilatildeo de uma sociedade mais justa REFEREcircNCIAS

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ANJOS Rafael Sanzio Arauacutejo Quilombolas tradiccedilotildees e culturas de resistecircncia Satildeo Paulo Aori Comunicaccedilatildeo 2006 ARRUTI Joseacute Mauriacutecio Paiva Andion Mocambo antropologia e histoacuteria do processo de formaccedilatildeo quilombola Bauru SP Edusc 2006 AZANHA G 2001 A lei de Terras de 1850 e as terras dos iacutendios Brasiacutelia Centro de Trabalho Indigenista Disponiacutevel em ltHTTPWWWindiosisoladosorgbr-textos-6-gt Acesso em 12 de janeiro de 2009 BAROacute Dioniacutesio ET al Desigualdade racial e construccedilatildeo institucional a consolidaccedilatildeo da temaacutetica racial no Governo Federal In A CONSTRUCcedilAtildeO de uma poliacutetica de promoccedilatildeo da igualdade racial uma anaacutelise dos uacuteltimos vinte anos Brasiacutelia DF Governo Federal 2008 P 93-146 BRAZIL Maria do Carmo Formaccedilatildeo do Campesinato negro no Brasil Reflexotildees categorial sobre os fenocircmenos ldquoquilombordquo ldquoremanescente de quilombordquo e ldquocomunidade negra ruralrdquo In Encontro de Histoacuteria de Mato Grosso do Sul Dourados-MS AMPUH 2006 CAMPOS Andrelino Do quilombo agrave favela a produccedilatildeo do ldquo espaccedilo criminalizado ldquo no Rio de Janeiro Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2010 CARRIL L de F B Quilombo territoacuterio e Geografia Revista Agraacuteria n 3 Satildeo Paulo 2006 CARVALHO Eduardo Cesar Paredes de O Procedimento de Identificaccedilatildeo Reconhecimento Demarcaccedilatildeo e Titulaccedilatildeo dos Territoacuterios das Comunidades Negras

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Tradicionais no Brasil e na Colocircmbia A Legitimidade Para Atuaccedilatildeo da Defensoria Puacuteblica R Defensoria Puacutebl Uniatildeo Brasiacutelia DF n 5 p 9 ndash 35 out 2012 FIABANI A Mato Palhoccedila e Pilatildeo o quilombo da escravidatildeo agraves comunidades remanescentes (1532-2004) Satildeo Paulo editora Expressatildeo popular 2005 GUSMAtildeO N M ldquo Os Direitos dos Remanescentes de Quilombosrdquo Cultura Vozes nordm 6 Satildeo Paulo Vozes Nov- dez de 1995 HARVEY David A Produccedilatildeo Capitalista do Espaccedilo ndashSatildeo Paulo Annablume 2005 LEITE I B ( Org) Negros no Sul do Brasil invisibilidade e territotialidade Florianoacutepolis Letras Contemporacircneas 1996 MORAES Antocircnio Carlos Robert Bases da Formaccedilatildeo Territorial do Brasil ndash Vitoacuteria Espiacuterito Santo Geografares nordm2 junho de 2001 MORAES Antocircnio Carlos Robert Territoacuterio e Histoacuteria no Brasil ndash Satildeo Paulo Hucitec 2002 MOREIRA Ruy Formaccedilatildeo do Espaccedilo Agraacuterio Brasileiro ndash Satildeo Paulo editora Brasiliense 1990 Presidecircncia da Repuacuteblica-Casa Civil ndash Subchefia Para Assuntos Juriacutedicos Decreto nordm 4887 de 20 de Novembro de 2003 2003 RAMOS A O Negro na Civilizaccedilatildeo Brasileira Rio de Janeiro Casa do Estudante Brasileiro 1953

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SANTOS Alexandra DOULA Sheila Maria Poliacuteticas Puacuteblicas e Quilombolas Questotildees Para Debate e Desafios agrave Praacutetica Extensionista Revista Extensatildeo Rural DEAER-PGExR-CCR-UFSM Ano XV nordm 16 Jul ndash Dez de 2008 SCHMITT Alessandra TURATTI Maria Ceciacutelia Manzoli CARVALHO Maria Celina Pereira Satildeo Paulo ITESP 2002 SEPPIR ndash Secretaria Especial de Poliacuteticas de Promoccedilatildeo da Igualdade Racial Programa Brasil Quilombola Brasiacutelia Abareacute 2004 48 p SILVA Jesiel Souza FERRAZ Joseacute Maria Gusman Questatildeo Fundiaacuteria a terra como necessidade social e econocircmica para a reproduccedilatildeo quilombola ndash Salvador ndash Bahia Geo Textos vol 8n 1 jul 2012 SILVA L O Terras Devolutas e Latifuacutendio ndash Efeitos da Lei de 1850 Campinas Unicamp 1996 SILVA Maria Ester Ferreira da Territoacuterio Poder e as Multiplas Territorialidades nas Terras Indiacutegenas e de Pretos Narrativa e Memoacuteria como mediaccedilatildeo na construccedilatildeo do territoacuterio dos povos tradicionais ndash Tese de Doutorado PPGEO ndash UFS 2010

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FARINHADA SIacuteMBOLO DA CULTURA MATERIAL CAMPONESA EM ITABAIANA - SERGIPE

Juliana Lima da Costa

Graduanda em Geografia pela Universidade Federal de Sergipe

E mail jullianalimatvdgmailcom

RESUMO

O presente texto eacute um dos resultados da execuccedilatildeo de um plano de trabalho referente a um Projeto de Iniciaccedilatildeo Cientifica que busca inventariar a cultura material camponesa a fim de contribuir para a valorizaccedilatildeo dos saberes camponeses Neste sentido a farinhada e a casa de farinha representam uma forma de resistecircncia e trata-se de um saber que eacute passado de geraccedilatildeo para geraccedilatildeo Deste modo o artigo caracteriza e analisa a produccedilatildeo de farinha de mandioca no povoado Flexas no municiacutepio sergipano de Itabaiana a partir de um enfoque etnograacutefico que vincula a vivecircncia do pesquisador com o ambiente pesquisado resultando em uma anaacutelise minuciosa do objeto estudado Palavras-chave campesinato farinhada resistecircncia INTRODUCcedilAtildeO Este artigo eacute resultante da execuccedilatildeo de um Projeto de Iniciaccedilatildeo Cientiacutefica intitulado ldquoSiacutetio roccedila costumes e trabalho fontes e conhecimento camponecircs para um pensamento geograacutefico e uma geografia histoacuterica da formaccedilatildeo territorial de Itabaiana Sergiperdquo que tem como um dos Planos de Trabalho ldquoInventaacuterio de referecircncias materiais do conhecimento camponecircs em Itabaianardquo O objetivo principal do plano eacute levantar e inventariar materialidades relacionadas ao siacutetio a

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roccedila aos costumes e ao trabalho camponecircs em aacutereas rurais de Itabaiana com o propoacutesito de (re)conhecer o conhecimento camponecircs em suas contradiccedilotildees e ressignificaccedilotildees como resistecircncia agraves formas de colonizaccedilatildeo contemporacircneas Desta forma a partir do levantamento e inventaacuterio foi possiacutevel identificar costumes e saberes proacuteprios dos camponeses Dentre as atividades camponesas levantadas destaca-se a produccedilatildeo da farinha de mandioca tema central deste artigo A farinhada eacute uma atividade predominantemente camponesa pois eacute um trabalho realizado com a famiacutelia que resiste ao tempo e ao Capital Pois mesmo com toda a tecnologia existente ainda existem casas de farinha totalmente manuais como eacute o caso da casa de farinha observada no povoado Flexas em Itabaiana O povoado Flexas eacute um dos mais antigos do municiacutepio de Itabaiana (LIMA JUNIOR 2015) e eacute formado por pequenos siacutetios Atualmente o nuacutemero de habitantes do povoado estaacute bem reduzido por causa do ecircxodo rural provocado principalmente pela violecircncia Mas as pessoas que foram morar na cidade continuam com suas propriedades no povoado e vatildeo todos os dias trabalhar Os siacutetios em sua grande maioria possuem casas de farinha ao lado da casa de morada o que nos leva a entender que a produccedilatildeo de farinha era atividade predominante no povoado Desta forma a observaccedilatildeo de caraacuteter participante ou seja aquela em que o pesquisador participa ativamente de todas as atividades (SOUZA 2013) foi realizada no referido povoado A unidade camponesa observada resulta de ocupaccedilatildeo familiar de camponeses haacute quatro geraccedilotildees

A farinhada envolve toda a famiacutelia e ateacute vizinhos que se juntam para ajudar na produccedilatildeo em troca de um ldquobeijurdquo15 Eacute

15 Massa feita com a tapioca que eacute extraiacuteda da mandioca e assada sobre o forno virando uma espeacutecie de panqueca

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um saber que eacute passado de pai para filho e se caracteriza como uma cultura material e imaterial camponesa Apesar da feitura da farinha ser trabalhosa e demandar tempo muitas famiacutelias ainda preferem produzir a farinha para consumo proacuteprio ao inveacutes de compra-la pronta na feira Esse fato demonstra uma resistecircncia ao capital que a todo custo tenta destruir o conhecimento camponecircs (MESZAacuteROS 2008) oferecendo-lhes alternativas que a princiacutepio parecem ser mais ldquovantajosasrdquo Portanto este artigo tem por objetivo analisar a farinhada como uma forma de resistecircncia e conhecimento camponecircs a partir de um enfoque etnograacutefico caracterizando as etapas da produccedilatildeo a divisatildeo do trabalho as ferramentas e os saberes envolvidos a partir da observaccedilatildeo participante e de registros fotograacuteficos DESENVOLVIMENTO O campesinato eacute significativamente responsaacutevel pela produccedilatildeo de alimentos no Brasil dentre os quais proveacutem deste setor 87 da produccedilatildeo de mandioca (WANDERLEY 2015) Eacute a mandioca (Manihot Esculenta Crantz) a mateacuteria prima utilizada para produzir a Farinha que eacute um dos alimentos mais consumidos diariamente pelos camponeses A farinha eacute produzida em um local chamado casa de farinha que tem a estrutura de uma casa como o proacuteprio nome sugere onde estatildeo dispostos os instrumentos utilizados no processo O tiacutetulo de ldquocasardquo tambeacutem pode estar relacionado ao fato de que em dias de farinhada o local se torna a segunda casa da famiacutelia onde todos ficam reunidos inclusive fazendo as refeiccedilotildees no local (SILVA SILVA 2015) Eacute um espaccedilo de sociabilidades troca de informaccedilotildees sobre teacutecnicas e o locus ideal para qualquer anaacutelise que trate de reciprocidade solidariedade e haacutebitos alimentares (COUTINHO 2015)

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As ferramentas de maior porte utilizadas na produccedilatildeo de farinha satildeo a prensa o rodete o coxo e o forno Os demais utensiacutelios utilizados satildeo faca paacute rodo peneira bacias e sacos Vale destacar que na casa de farinha observada no povoado Flexas todas as ferramentas utilizadas satildeo totalmente manuais Uma farinhada dura em meacutedia 16 horas mas a preparaccedilatildeo comeccedila muito antes Pois a mandioca leva no miacutenimo 18 meses para lsquoficar prontarsquo Depois de plantar a mandioca e passado os 18 meses ela jaacute estaacute ldquoboa de arrancarrdquo ou seja jaacute estaacute pronta para ser extraiacuteda O primeiro passo eacute arrancar a mandioca A quantidade a ser arrancada vai depender da finalidade da farinha Por exemplo se a farinha eacute apenas para consumo ldquouma terccedilardquo (30 quilos) satisfaz as necessidades da famiacutelia por mais ou menos dois meses desta forma 02 carreiras satildeo suficientes Mas se o produto seraacute vendido as medidas utilizadas seratildeo ldquomeia quartardquo (60 quilos) ou ldquouma quartardquo (120 quilos) Dessa forma a quantidade de mandioca a ser arrancada aumenta Cabe destacar que as regras de pesos e medidas observados tambeacutem podem ser considerados como fator de resistecircncia camponesa A retirada das raiacutezes da malhada (local onde satildeo produzidos alimentos para a proacutepria subsistecircncia como tambeacutem para serem vendidos nas feiras A malhada diferentemente da roccedila tem uma extensatildeo menor fica proacutexima a casa e tem uma maior rotatividade de cultivos) eacute tarefa realizada por homens por exigir mais forccedila O homem arranca a mandioca e carrega as raiacutezes em carrinhos de matildeo e despeja com cuidado dentro da casa de farinha As mulheres ou os filhos lavam as raiacutezes retirando a terra e colocam em cima de sacos Depois disso eacute a hora de ldquorasparrdquo as mandiocas Utiliza-se a palavra ldquorasparrdquo ao inveacutes de ldquodescascarrdquo pelo fato da camada de casca a ser retirada ser bem fina diferente de quando se descasca a macaxeira que pode ser cozida Essa atividade eacute realizada com uma faca bem amolada e segundo as

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falas observadas eacute preciso ldquodeixar o braccedilo molerdquo para raspar mais raacutepido Raspar as mandiocas eacute tarefa principal da mulher e dos filhos mas o homem tambeacutem participa depois que termina seus afazeres Segundo relatos haacute algum tempo atraacutes as raspagens de mandiocas eram momentos de descontraccedilatildeo onde a famiacutelia e amigos se reuniam ateacute altas horas conversando enquanto realizavam a atividade sob a luz do candeeiro Depois de terminar o trabalho iam todos tomar banho em tanques e jantar retornando para suas casas para no dia seguinte logo cedo retomar o trabalho O ato de raspar a mandioca eacute tambeacutem um momento de aprendizado onde a matildee ensina os filhos o jeito certo de realizar a tarefa Ela por possuir mais habilidade ldquocoloca a meiardquo ou seja raspa a metade da mandioca e o filho ldquotira a meiardquo descascando o resto e colocando a mandioca descascada dentro de bacias ou outros recipientes Raspar a metade aleacutem de ser uma forma de realizar o trabalho mais raacutepido eacute um meio de manter a higiene natildeo pegando na parte descascada da raiz com as matildeos sujas (Figura 01)

Figura 01- Mandiocas raspadas pela metade ldquoa meiardquo

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Fonte COSTA 2018

Esse trabalho geralmente eacute realizado no fim da tarde e

adentra a noite No dia seguinte logo cedo o trabalho eacute retomado Depois de descascadas as mandiocas satildeo ldquoreladasrdquo numa ferramenta chamada rodete Essa tarefa pode ser realizada por um homem ou mulher mas nunca pelos filhos pois pela falta de experiecircncia podem acabar se machucando As mandiocas satildeo inseridas numa espeacutecie de maacutequina que tritura e a massa vai sendo depositada dentro do coxo que eacute colocado embaixo do rodete Apoacutes serem reladas eacute o momento de retirar a tapioca que serve para fazer o beiju que natildeo pode faltar em dia de farinhada Essa atividade eacute feita por uma mulher que coloca a massa numa espeacutecie de coador e espreme ateacute que a aacutegua saia sobrando a tapioca O liacutequido extraiacutedo nesse processo eacute chamado de ldquomandipueirardquo (aacutecido cianiacutedrico) (Figuras 02 e 03)

Figura 02 ndash Mandiocas sendo trituradas no rodete

Fonte COSTA 2018

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Figura 03 ndash retirando a tapioca

Fonte COSTA 2018

O proacuteximo passo eacute ldquoprensarrdquo a massa ou seja espreme-la numa ferramenta chamada Prensa ateacute que saia completamente a mandipueira A massa eacute colocada dentro de um saco e encaixada na prensa a parte superior chamada ldquomasseirardquo eacute abaixada sendo enroscada fazendo com que a massa seja pressionada extraindo o liacutequido Por este motivo a prensa fica afastada no fundo da casa de farinha para que seja mais faacutecil de limpar depois (Figura 04) Figura 04 ndash o ato de prensar

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Fonte COSTA 2018

Depois de prensada a massa precisa passar pelo rodete novamente para que fique solta para depois ser torrada Apoacutes esse procedimento ela eacute colocada sobre o forno jaacute quente para ser ldquomuchadardquo Murchar significa desintegrar a massa separando-a que aos poucos vai ficando seca Feito isso jaacute estaacute pronta para ser mexida Mexer a farinha eacute a tarefa para os mais experientes precisa de forccedila e agilidade pois eacute a etapa mais cansativa Neste processo o forno tem que estaacute bem quente para que a farinha fique boa e os movimentos com o rodo ou a paacute precisam ser raacutepidos para que ela natildeo queime (Figura 05)

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Figura 05 ndash Mexendo a farinha

Fonte COSTA 2018

Depois de mexida o uacuteltimo passo eacute peneirar a farinha para tirar os gratildeos mais grauacutedos chamados de caroccedilos Essa atividade eacute feita pela mulher juntamente com os filhos Depois de peneirada a farinha eacute ensacada e pesada e jaacute estaacute pronta para o consumo ou para ser comercializada Nesse momento final com o forno ainda quente eacute hora de assar os beijus que podem ser apenas de tapioca ou ser acrescentado amendoim

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ou coco Eacute comum distribuir os beijus com os vizinhos ou com algueacutem que tenha participado da farinhada Todo esse processo eacute cansativo e trabalhoso principalmente por que atualmente as famiacutelias natildeo satildeo mais numerosas como haacute alguns anos atraacutes Mas mesmo assim o trabalho natildeo eacute tido como um fardo (MESZAacuteROS 2008) pois representa a autonomia do camponecircs que escolheu produzir o seu proacuteprio alimento e repassa o seu conhecimento para os filhos CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS Thompson (1998 p 17) assinala que ldquoCultura eacute entendida como um sistema de atitudes valores e significados compartilhados e as formas simboacutelicas (desempenhos e artefatos) em que se acham incorporadosrdquo Dessa forma a cultura material camponesa estaacute tambeacutem relacionada aos costumes que satildeo transmitidos de geraccedilatildeo para geraccedilatildeo as formas de lidar com a terra e fazer o trabalho aos objetos e ferramentas proacuteprios de uso camponecircs e a sua forma de enxergar o mundo Portanto a farinhada se caracteriza como expressatildeo da cultura material camponesa Eacute um saber proacuteprio dos camponeses e merece ser reconhecido e valorizado Visto que atualmente a produccedilatildeo da farinha estaacute quase que completamente mecanizada a casa de farinha estudada e as ferramentas utilizadas representam uma resistecircncia ao processo de desenvolvimento do Capital pois satildeo totalmente manuais e por isso merecem ser preservadas A farinhada eacute a representaccedilatildeo da autonomia camponesa que planta a mandioca colhe e produz a farinha sem precisar pagar nada por isso Representa tambeacutem o sentimento de solidariedade e fraternidade dessa classe simbolizado na entrega de beijus e na ajuda na raspagem da

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mandioca Aleacutem disso as ferramentas utilizadas juntamente ao saber fazer satildeo importantes para o entendimento do processo de formaccedilatildeo territorial do municiacutepio pois eacute uma atividade que persistem ao longo do tempo REFEREcircNCIAS COUTINHO Andrea Lima Duarte A ldquofeitura da farinhardquo notas etnograacuteficas de uma farinhada no Alto Sertatildeo da Bahia p 219-243 In DENARDIN Valdir Frigo KOMARCHESKI Rosilene (Orgs) Farinheiras do Brasil Tradiccedilatildeo Cultura e Perspectivas da Produccedilatildeo Familiar de Farinha de Mandioca Matinhos UFPR litoral 2015 297p LIMA JUacuteNIOR F A de Carvalho Monographia Historica do Municipio de Itabayana Revista Trimestral do Instituto Histoacuterico e Geograacutefico de Sergipe Aracaju vol 2 ndeg 4 1914 p 128-149 Disponiacutevel em lthttpwwwihgseorgbrrevistas04pdfgt Acesso em 29 out 2015 MEacuteSZAacuteROS Istvaacuten O desafio e o fardo do tempo histoacuterico o socialismo no seacuteculo XXI Traduccedilatildeo de Ana Cotrim e Vera Cotrim Satildeo Paulo Boitempo 2008 SILVA Cirlene do Socorro Silva da SILVA Maria das Graccedilas da Casas de farinha cenaacuterios de (con)vivecircncias saberes e praacuteticas educativas P 59-81 In DENARDIN Valdir Frigo KOMARCHESKI Rosilene (Orgs) Farinheiras do Brasil Tradiccedilatildeo Cultura e Perspectivas da Produccedilatildeo Familiar de Farinha de Mandioca Matinhos UFPR litoral 2015 297p SOUZA Acircngela Fagna Gomes de Saberes Dinacircmicos o uso da etnografia nas pesquisas geograacuteficas qualitativas In

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MARAFON Glaucio Joseacute et al Pesquisa Qualitativa em Geografia Reflexotildees teoacuterico conceituais e aplicadas Rio de Janeiro- eduerj 2013 p 55-68 THOMPSON E P Costumes em Comum Traduccedilatildeo Rosaura Eichemberg Satildeo Paulo Companhia das Letras 1998 WANDERLEY Maria de Nazareth Baudel O campesinato Brasileiro uma Histoacuteria de resistecircncia RESR Piracicaba-SP vol 52 supl 1 p s025-s044 2014

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A IMPORTAcircNCIA DO CONSOacuteRCIO PECUAacuteRIALAVOURA COMO ESTRATEacuteGIA

CAMPONESA NO AGRESTE DE ITABAIANA ndash SERGIPE

Weverton de Jesus Barbosa sup1

Joyce Almeida Santos sup2 Mayara de Santana Silva Santos sup3

(Universidade federal de Sergipe-Campus Professor Alberto Carvalho)

(Graduandos-Geografia) E mail wevertonfungmailcom

joycealmeida19hotmailcom Lolly_santanhotmailcom

RESUMO

A agricultura camponesa eacute uma atividade milenar mesmo ao passar por diferentes processos de produccedilatildeo do espaccedilo e expropriaccedilatildeo desvalorizaccedilatildeo e ataques constantes do grande capital mostra sua forccedila e importacircncia para o mundo eacute esta atividade que nutre boa porta da populaccedilatildeo no caso especifico do Brasil Diante dos desafios enfrentados pelos camponeses ainda eacute ele que oferece e abastece a populaccedilatildeo com os seus produtos nas feiras livres e pequenos mercados Nesse contexto mesmo com a ocorrecircncia de desajustes econocircmicos diminuiccedilatildeo do preccedilo pela superproduccedilatildeo O camponecircs consegue se sobrepor e boa parte da produccedilatildeo eacute para consumo proacuteprio e algumas culturas satildeo aproveitadas na alimentaccedilatildeo do rebanho em especial o gado bovino No entanto com a modernizaccedilatildeo a princiacutepio nas cidades contribuiu para uma mudanccedila significativa no campo Com a necessidade de se adequar a nova realidade imposta pelo modus operandi da vida citadina transforma radicalmente a vida no

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campo O investimento do grande capital no campo eleva continuamente o aumento exponencial das mobilidades de somas incalculaacutevel de camponeses para a cidade expropriado do campo sem condiccedilotildees de produzir e criar seus rebanhos Poreacutem a acessibilidade agrave modernizaccedilatildeo natildeo estaacute disponiacutevel a todos pois tem um alto custo e necessita de grande soma de investimento e capital tanto em moeda como em forccedila de trabalho especializada Sendo assim a relaccedilatildeo pecuaacuteria e pequena agricultura teve continuidade nas pequenas propriedades camponesas Essa relaccedilatildeo ainda eacute muito presente tendo grandes iacutendices na regiatildeo do Agreste sergipano iniciada seacuteculo XVII Palavras-chave Camponecircs Pecuaacuteria Lavoura INTRODUCcedilAtildeO

A agricultura camponesa eacute caracterizada por uma produccedilatildeo diversificada de alimentos em pequenas propriedades com o envolvimento da famiacutelia eacute considerada a matriz produtiva da agroecologia

No agreste Sergipano essa caracteriacutestica da agricultura camponesa tem uma profunda ligaccedilatildeo com a pecuaacuteria o agricultor camponecircs para manter seu pequeno rebanho bovino usa as sobras ou parte de sua produccedilatildeo o que natildeo serve para o consumo humano (como a ramagem da batata doce o peacute de amendoim a maniccediloba e tamboeira da macaxeira e mandioca e a palha do milho) aliado aos produtos que natildeo consegue vender eacute revertido em composto alimentar na dieta animal

Por outro lado o animal aleacutem de fornecer o leite a carne e o couro fornecem tambeacutem o adubo orgacircnico bovino (esterco) que eacute utilizado na terra para a fertilizaccedilatildeo pois a adubaccedilatildeo orgacircnica proporciona uma reduccedilatildeo de custos na produccedilatildeo menor utilizaccedilatildeo de adubos quiacutemicos Desta forma

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esta ligaccedilatildeo eacute utilizada como forma de reduccedilatildeo de custeios com consumo de insumos agropecuaacuterios pois a regiatildeo natildeo possui um alto padratildeo tecnoloacutegico em maquinaacuterios Aleacutem do fator econocircmico esta forma da agricultura camponesa traz outros benefiacutecios como por exemplo a utilizaccedilatildeo desses subprodutos na alimentaccedilatildeo bovina traz nutrientes importantes para os animais assim como o adubo bovino orgacircnico para a terra

Essa caracteriacutestica da agricultura em conciliaccedilatildeo com a criaccedilatildeo de gado em pequenas propriedades natildeo eacute recente estaacute presente desde a chegada dos portugueses na regiatildeo iniciada no seacuteculo XVII embora nesse periacuteodo a concentraccedilatildeo da terra jaacute se prenunciava como caracteriacutestica marcante atraveacutes das doaccedilotildees de Sesmaria forma pela qual Portugal encontrou para a ocupaccedilatildeo do territoacuterio Apesar possibilitar agrave desconcentraccedilatildeo fundiaacuteria em muitas ocasiotildees a propriedade do agricultor camponecircs eacute tatildeo pequena que natildeo daacute para o sustento familiar a renda eacute baixa devido a minifundializacatildeo da terra uma vez que em maioria a posse da terra eacute por meio da heranccedila sendo desta forma obrigados vender sua forccedila de trabalho em grandes e meacutedia propriedades para conseguir manter o sustento da famiacutelia

Ao analisar dados do IBGE 2016 eacute possiacutevel verificar essas caracteriacutesticas de produccedilatildeo por exemplo no municiacutepio de Itabaiana em 2016 continha 3651 unidades de estabelecimento agropecuaacuterios relacionados agraves terras de ldquoagricultura familiarrdquo dessas unidades 1624 possuiacuteam rebanhos bovinos os nuacutemeros de cabeccedilas se aproxima 11189 Aleacutem das unidades tambeacutem eacute possiacutevel observar que o nuacutemero de trabalhadores nesses estabelecimentos eacute bem expressivo que os da ldquoagricultura natildeo familiarrdquo No municiacutepio de Moita Bonita por exemplo em 2016 continha cerca de 2258 pessoas trabalhando na ldquoagricultura familiarrdquo com apenas 76 na agricultura natildeo familiar

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DESENVOLVIMENTO

A PRODUCcedilAtildeO DO ESPACcedilO AGRAacuteRIO DO AGRESTE DE ITABAIANA

O processo de colonizaccedilatildeo das terras localizada no Agreste sergipano foi iniciado em 1601 segundo citado por (SANTOS 2011) conforme a carta de doaccedilatildeo datada de 10 de marccedilo de 1601 No periacuteodo do seacuteculo XVII ao XVIII a terra estava responsaacutevel por 22 sesmeiros e a principal atividade era desenvolver a criaccedilatildeo de gado embora a populaccedilatildeo tambeacutem se dedica a agricultura

[] No periacuteodo que vai do seacuteculo XVII ao XVIII o espaccedilo agraacuterio do Agreste Sertatildeo de Itabaiana estava ocupado por 22 sesmeiros [] verifica-se que a atividade principal era a criaccedilatildeo de gado [] A carta de doaccedilatildeo citada enfatiza muito bem os objetivos dos requerentes ou seja desenvolver a criaccedilatildeo de gado principalmente apesar da populaccedilatildeo se dedicar tambeacutem a agricultura (SANTOS 2011 p79)

A instalaccedilatildeo na regiatildeo via sesmarias natildeo era a uacutenica

forma de ocupaccedilatildeo havia tambeacutem a presenccedila do pequeno lavrador que ocupava principalmente terras devolutas de grandes proprietaacuterios como informa Jose de Souza Martins

[] A ocupaccedilatildeo da terra obedecia a dois caminhos distintos de um lado o pequeno lavrador que ocupava terras presumivelmente devolutas de outro o grande fazendeiro que por via legal obtinha cartas de sesmarias mesmo em aacutereas onde jaacute existiam posseiros (MARTINS apud SANTOS 2011 p41)

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Com o fim do regime de sesmarias em 1822 no Brasil aleacutem de impulsionar a transformaccedilatildeo de terras puacuteblicas em grandes latifuacutendios tambeacutem impulsiona as ocupaccedilotildees dos pequenos e meacutedios agricultores e tornou o acesso agrave terra mais ldquodemocraacuteticardquo atraveacutes do apossamento como mecanismo de apropriaccedilatildeo

[] Atraveacutes da revoluccedilatildeo de 17 de julho de 1822 teve fim o regime das sesmarias no Brasil A partir dessa data eacute bem verdade sucederam-se demarcaccedilotildees de terras puacuteblicas transformadas em imensos latifuacutendios mas tambeacutem ganharam impulso as ocupaccedilotildees de glebas menores por parte de pequenas e meacutedios agricultores (SANTOS 2011 p41)

A Lei de terras de 1850 tambeacutem traz consequecircncias era ldquonecessaacuteria uma legislaccedilatildeo que tutelasse e legitimasse a propriedade da terrardquo (SANTOS p42) Partindo de interesses dos latifundiaacuterios para que desta forma ldquoimpedisse o acesso agrave terra por parte dos ex-escravos imigrantes e dos homens livres pobresrdquo (SANTOS p42) Desta forma estabelecia a proibiccedilatildeo da aquisiccedilatildeo de terras devolutas a natildeo ser atraveacutes de compra

Embora a regiatildeo do Agreste Sertatildeo de Itabaiana tivesse como atividade criatoacuteria e agriacutecola no iniacutecio do seacuteculo XIX natildeo passava de atividade de subsistecircncia e a regiatildeo natildeo apresentava melhorias ldquoNa vila de Itabaiana principal centro urbano seus novecentos e noventa e nove habitantes eram os mais pobres de toda comarcardquo (SANTOS 2011 p 80 e 81)

De acordo com (Santos 2011 p 122) No censo Agriacutecola de 1920 foram identificadas 1211 propriedades na regiatildeo do Agreste Sertatildeo de Itabaiana As propriedades com menos de 41 hectares (490) ocupavam 100 da aacuterea total a meacutedia propriedade com 278 ocupava 202 e as grandes

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232 concentravam 698 da aacuterea No periacuteodo entre 1920 a 1925 houve um aumento no grau de concentraccedilatildeo o iacutendice de Gini passou de 058 para 063 em decorrecircncia da diminuiccedilatildeo da aacuterea meacutedia das pequenas propriedades e aumento das propriedades entre 41ha a 100ha e estabilidade das grandes propriedades

No censo agraacuterio de 1920 Santos (2011) tambeacutem daacute ecircnfase a produccedilatildeo vegetal do municiacutepio de Itabaiana que pode ser considerada como o celeiro da regiatildeo sendo o maior produtor de milho feijatildeo mandioca cafeacute e algodatildeo este responsaacutevel por 455 da produccedilatildeo da regiatildeo A produccedilatildeo vegetal predominava a em relaccedilatildeo a animal pois o valor no setor chegava a 700 devido ao alto valor do algodatildeo Ele tambeacutem ressalta que desde essa eacutepoca o Agreste Sertatildeo de Itabaiana apresentava um baixo grau de inovaccedilotildees tecnoloacutegicas no total de 1211 propriedades apenas 41 possuiacutea maquinaacuterios e apesar da impotecircncia do algodatildeo (considerada lavoura de pobre e cultivada em consorciamento com o feijatildeo e presente em todos tamanhos de propriedades de pequenas a grandes) na regiatildeo existia apenas 10 descaroccediladores de algodatildeo Na produccedilatildeo de cana de accediluacutecar ldquoutilizavam instrumentos rudimentares como enxada foice e faccedilatildeordquo (SANTOS p127)

Santos (2011) destaca tambeacutem as pequenas propriedades nesse periacuteodo e como alcanccedilou a atual conjuntura caracteriacutestica marcante da regiatildeo

[] No Agreste sertatildeo de Itabaiana as propriedades na faixa de -5ha correspondia a 43 daquelas situadas no estrato de -41ha (594 propriedades) enquanto os de 5-20ha representavam 325 o os de 20-41ha245 Ou seja as propriedades na faixa de -5ha eram propriedades quantitativas nesse periacuteodo provavelmente em face do processo histoacuterico

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de desmembramento das unidades agriacutecolas adquiridas principalmente por heranccedila e no desenvolvimento de culturas alimentares voltadas para o consumo familiar (SANTOS 2011 p177)

Essas propriedades enfrentavam desde essa eacutepoca

seacuterias dificuldades

[] As propriedades de aacuterea de -5 ha (255 estabelecimentos) com aacuterea meacutedia de 034 ha produzem anualmente 4207 Kg de farinha de mandioca por estabelecimento Sendo o consumo anual de 550 Kg necessitavam ainda de 993 Kg que monetarizado rendia um saldo negativo de 9$930 (SANTOS 2011 p177)

Desta forma esse grupo de saldo negativo necessitava do trabalho alugado nas meacutedias e grandes propriedades para atingir o equiliacutebrio de produccedilatildeoconsumo anual Nas meacutedias propriedades de 5-20 haacute a produccedilatildeo de farinha de mandioca do feijatildeo e criaccedilatildeo de bovinos garantia a sua reproduccedilatildeo ldquoAs propriedades de 50-20 ha (194) produzem 16087 Kg anuais de farinha de mandioca que subtraiacutedos do consumo anual necessaacuterio resultariam em 10887 Kg (108$870)rdquo (SANTOS 2011 p178)

Jaacute nas maiores propriedades de 20-41 ha garantiam o consumo anual apenas por ganhos provenientes da produccedilatildeo de farinha de mandioca e aleacutem da mandioca essas propriedades eram produtoras de feijatildeo e criaccedilatildeo de gado

[] As propriedades do grupo de 20-41 ha (145) conseguiam produzir em uma aacuterea meacutedia de 27 haacute por estabelecimentos 33412 Kg de farinha de mandioca com um excedente de 28212 Kg (282$120) Eram produzidos tambeacutem uma meacutedia de 79ha por

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propriedade 9796 Kg de feijatildeo com um excedente de 8236 Kg (164$720) [] Aleacutem disso estas propriedades tinha tambeacutem na pecuaacuteria uma receita meacutedia de 5246$911 (SANTOS 2011 p178)

Eacute notoacuteria a diferenccedila no trato com a terra e na lida da

vida no campo quando se observa as diferentes extensotildees das propriedades Nas menores os proprietaacuterios trabalham com a famiacutelia e precisam diversificar as atividades com o uso de alguns cultivares que ao mesmo tempo serve de fonte de alimentaccedilatildeo para a famiacutelia como para a venda e o que natildeo sobre eacute utilizado na alimentaccedilatildeo do rebanho bovino que aleacutem de fornecer o leite o couro e a carne tambeacutem oferece o adubo orgacircnico

LAVOURA-PECUAacuteRIA COMO ESTRATEacuteGIA CAMPONESA NO AGRESTE DE ITABAIANA

O crescente desenvolvimento tecnoloacutegico na agricultura vem possibilitando o homem transformar o meio ambiente a aumentar a produccedilatildeo mas nem sempre estaacute disponiacutevel a todos Esses recursos em sua maioria concentrados em grandes propriedades natildeo eacute viaacutevel a utilizaccedilatildeo de maquinaacuterios em pequenas propriedades os camponeses natildeo dispotildeem de recursos financeiros nem condiccedilotildees para tal

[] Para administrar com eficiecircncia e eficaacutecia uma unidade produtiva agriacutecola eacute imprescindiacutevel dentre outras variaacuteveis o domiacutenio da tecnologia e do conhecimento dos resultados dos gastos com os insumos e serviccedilos em cada fase produtiva da lavoura que tem no custo um indicador importante das escolhas do produtor [] O

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desenvolvimento tecnoloacutegico das maacutequinas e implementos agriacutecolas as alteraccedilotildees nas relaccedilotildees trabalhistas no meio rural a intensidade e os resultados de pesquisas no ramo agropecuaacuterio e as modificaccedilotildees nos marcos regulatoacuterio de mudas e sementes do uso de recursos hiacutedricos do seguro rural e dos fertilizantes e agrotoacutexicos satildeo fatos que impactam nos custos de produccedilatildeo agriacutecola (Conab 2010 p0809)

Desta forma os maquinaacuterios estatildeo geralmente voltados para grandes propriedades monocultoras e suas produccedilotildees estatildeo voltadas a exportaccedilatildeo e para produccedilatildeo de commodities

[] O agronegoacutecio se caracteriza pela produccedilatildeo baseada na monocultura especialmente de produtos cujos valores satildeo ditados pelas regras do mercado internacional pela utilizaccedilatildeo intensiva de insumos quiacutemicos e de maacutequinas agriacutecolas pela adoccedilatildeo de pacotes tecnoloacutegicos pela padronizaccedilatildeo e uniformizaccedilatildeo dos sistemas produtivos pela artificializaccedilatildeo do ambiente e pela consolidaccedilatildeo de grandes empresas agroindustriais (SANTILLI 2009 apud Conab 2010 p12)

As pequenas propriedades de agricultura camponesa por sua vez aleacutem de possibilitar a desconcentraccedilatildeo fundiaacuteria sua produccedilatildeo agriacutecola eacute diversificada e muitas vezes conciliada com outras atividades como a pecuaacuteria

[] A agricultura camponesa e familiar sempre teve como caracteriacutestica baacutesica a policultura (milho feijatildeo arroz mandioca hortaliccedilas frutiacuteferas etc) e nesse modelo a famiacutelia eacute proprietaacuteria dos meios de produccedilatildeo e assume o trabalho no estabelecimento

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produtivo Na sua diversidade social eacute difiacutecil estabelecer um uacutenico modelo agriacutecola mas sua atuaccedilatildeo eacute fundamental para a seguranccedila alimentar a geraccedilatildeo de emprego e renda e desenvolvimento local em bases sustentaacuteveis e equitativas (SANTILLI 2009 apud Conab 2010 p13)

Essas pequenas propriedades de produccedilotildees diversificadas estatildeo muito presentes no Agreste de Itabaiana com citado no texto da SEADE (Fundaccedilatildeo Sistema Estadual de Anaacutelise de Dados)

[] Esta regiatildeo abriga o maior contingente de unidades familiares do Estado apresentando uma produccedilatildeo agropecuaacuteria diversificada em que se destacam as culturas oleiacutecolas principalmente mandioca batata e inhame (Ribeiroacutepolis e Moita Bonita) frutas pecuaacuteria de corte pecuaacuteria de leite (Frei Paulo e Ribeiroacutepolis) e em menor quantidade milho e feijatildeo (SEADE p158)

A produccedilatildeo diversificada conciliada com a criaccedilatildeo de gado aleacutem do proacuteprio consumo do camponecircs e sua famiacutelia tambeacutem eacute uma forma de adaptaccedilatildeo para provaacuteveis perdas que possam prejudicar a lavoura como por exemplo os reveses do clima pragas e o proacuteprio mercado que as vezes natildeo absorve a produccedilatildeo desta forma para amenizar as perdas com a lavoura

[] Muitos agricultores se adaptam ao clima e ateacute se adaptam a alguma mudanccedila climaacutetica minimizando as perdas das colheitas por meio do plantio de variedades locais tolerantes agrave seca por exemplo aleacutem do manejo orgacircnico do solo policulturas colheitas de aacutegua recolecccedilatildeo de plantas silvestres e outras

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teacutecnicas de sistemas de agricultura tradicionais (BONAMIGO 2016 p2)

O camponecircs mesmo com todas as adversidades seja ela fiacutesica qualidade do solo falta de aacutegua ou humana concentraccedilatildeo de terras falta de maquinaacuterio adequado assistecircncia teacutecnica falta de financiamento e proteccedilatildeo atraveacutes de poliacuteticas puacuteblica entre outros consegue sobreviver e se perpetuar em um meio tatildeo hostil

ALIMENTACcedilAtildeO ALTERNATIVA DE BOVINOS

O agricultor camponecircs utiliza como raccedilatildeo bovina as sobras ou as partes de sua produccedilatildeo que natildeo sevem para o consumo humano (como a ramagem da batata doce o peacute de amendoim a maniccediloba e tamboeira da macaxeira e mandioca e a palha do milho) ou que natildeo conseguiu vender para o mercado ou por natildeo compensar a venda devido ao baixo preccedilo

[] Normalmente os subprodutos entram na dieta em substituiccedilatildeo a algum outro alimento mais tradicional como milho ou soja No entanto qualquer que seja o motivo da utilizaccedilatildeo certamente o principal fator considerado na avaliaccedilatildeo eacute uma possiacutevel vantagem econocircmica seja por uma reduccedilatildeo direta no custo da alimentaccedilatildeo seja por um melhor desempenho animal resultante de aumento na eficiecircncia alimentar (MENEGHETTI 2008 p512)

Desta forma reduz os gastos com insumos pecuaacuterios alimentiacutecios de bovinos e aumenta sua renda de forma complementar com a agricultura

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[] O aproveitamento de resiacuteduos [] na alimentaccedilatildeo animal atualmente aleacutem de ser visto como uma opccedilatildeo econocircmica de grande importacircncia na reduccedilatildeo do impacto ambiental propicia produccedilatildeo de alimentos nobre e de boa qualidade devido as suas caracteriacutesticas nutricionais (MENEGHETTI 2008 p512)

A raccedilatildeo alternativa na pecuaacuteria natildeo traz consigo apenas ganhos financeiros para o camponecircs mais tambeacutem benefiacutecios os animais passam a tem um completo alimentar mais diversificado e um composto de nutrientes que traduz em melhorias na qualidade do rebanho

[] Os alimentos contecircm substacircncias semelhantes embora em proporccedilotildees diferentes Esses componentes satildeo chamados de nutrientes Os nutrientes iratildeo atender as exigecircncias dos animais em crescimento manutenccedilatildeo e produccedilatildeo tanto direta como indiretamente (KIRCHOF 2008 p 6)

Kirchof (2000) em seu artigo ldquoAlimentaccedilatildeo das vacas leiteirasrdquo traz algumas informaccedilotildees sobre a alimentaccedilatildeo alternativa para o rebanho bovino dentre eles a batata doce e rama parte aeacuterea do amendoim maniccediloba e tamboeira de mandioca palha do milho estre outros Satildeo estes as principais plantaccedilotildees da agricultura camponesa da regiatildeo Agreste de Itabaiana

Quanto agrave batata doce o autor fala que eacute rica em amido caroteno vitamina D e traz um aviso ldquobatata-doce mofada pode conter metaboacutelicos toacutexicos potentes capazes de matar o gado que a consome em grandes quantidades um dia apoacutes a ingestatildeo Recomenda-se fornecer ateacute 10 kg por cabeccedila por dia de batata-docerdquo p 20 Jaacute quanto a rama da batata doce ldquoeacute rica

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em proteiacutena (107) e em vitaminas A e C Pode ser fornecido sem restriccedilotildees aos ruminantesrdquo (KIRCHOF 2000 p20)

Quanto agrave casca de amendoim ldquoEacute relativamente palataacutevel para vacas leiteiras ocasionando diminuiccedilatildeo na ingestatildeo de mateacuteria seca Tem efeito estimulador na gordura do leite Possui muito alto teor de fibra bruta (+60)rdquo (KIRCHOF2000 P19)

Com relaccedilatildeo a mandioca (parte aeacuterea)

[] A parte aeacuterea (ramos peciacuteolo e folhas) da mandioca possui alto valor nutritivo principalmente proteiacutena carboidratos vitaminas e minerais aleacutem de excelente aceitabilidade pelos animais Recomenda-se o aproveitamento para alimentaccedilatildeo animal apenas do terccedilo final da planta restando a parte mais grossa e lenhosa geralmente em torno de 40 cm para multiplicaccedilatildeo Este manejo permite tanto o aproveitamento de maior proporccedilatildeo de folhas para a raccedilatildeo animal quanto a seleccedilatildeo das melhores manivas para replantio eacute deficiente em metionina O aacutecido cianiacutedrico da parte aeacuterea da mandioca eacute muito toacutexico O aacutecido cianiacutedrico evapora rapidamente e pocircr isso seu teor comeccedila a baixar logo apoacutes a colheita Em vista disso aconselha-se que antes de ser fornecida aos animais a parte aeacuterea da mandioca brava passe pocircr um processo de murcha durante 24 horas (KIRCHOF 2000 p28)

Quanto sobre Raiz da mandioca

[] Alimento rico em carboidratos facilmente fermentaacuteveis e muito pobre nos outros nutrientes Possui toxicidade atraveacutes do

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glicosiacutedeo cianogecircnico [] Para fornecer a raiz da mandioca fresca aos animais devem ser tomados alguns cuidados Mandioca mansa colher lavar picar e fornecer imediatamente as raiacutezes aos animais pois natildeo se conservam em estado fresco Mandioca brava natildeo se recomenda seu uso fresca Antes deve ser secada ou ensilada (KIRCHOF 2000 p 28)

Em relatos de um feirante no municiacutepio de Macambira nos anos de 20152016 os agricultores camponeses de mandioca enfrestaram problema para encontra ldquomanibardquo (maniva) de mandioca pois devido ao periacuteodo de estiagem e seca destes anos a ldquomanibardquo foi quase totalmente utilizada para a alimentaccedilatildeo animal dificultando a plantaccedilatildeo (OLIVEIRA Rafael dos Santos (2018) depoimento concedido a Weverton de Jesus Barbosa Itabaiana 06 fev 2018)

A palha do milho por sua vez ldquoDeve ser fornecida picada (pedaccedilos nunca menores de 05 cm) O aproveitamento da palha eacute melhorado quando junto com o milho se planta uma leguminosa constituindo-se no que se chama de ldquopalhada verderdquo (KIRCHOF 2000 p30)

Desta forma a utilizaccedilatildeo de alimentaccedilatildeo alternativa pode ser viaacutevel para o agricultor camponecircs mas eacute necessaacuterio tomar cuidado com alguns alimentos pois o mau uso deste pode resultar em perdas irrevogaacuteveis a exemplo da mortandade do rebanho

ADUBACcedilAtildeO ORGAcircNICA

A adubaccedilatildeo orgacircnica eacute tradicionalmente utilizada como

uma forma de repor os nutrientes orgacircnicos do solo seja ele de origem vegetal ou animal ela consiste na decomposiccedilatildeo resultante da degradaccedilatildeo bioloacutegica quiacutemica e atividade dos microrganismos O adubo orgacircnico eacute rico em nutrientes e

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mantem o solo em dinacircmico o que eacute de grande importacircncia para a fertilidade do solo produzindo nutrientes para as plantas aleacutem de melhorar a estrutura fiacutesica quiacutemica e bioloacutegica

A decomposiccedilatildeo eacute lenta liberando lentamente os nutrientes para o solo destra forma em muitos casos ele eacute complementado com adubo quiacutemico que possuem um preccedilo elevado A compra adubo quiacutemico eacute devido a conjuntura econocircmica de produtividade em curto prazo com a utilizaccedilatildeo de agrotoacutexicos e fertilizante e esse modelo de agricultura cientificada globalizada exige demanda de bens cientiacuteficos e de assistecircncia teacutecnica

[] O adubo orgacircnico de origem animal mais conhecido eacute o esterco que eacute formado por excrementos soacutelidos e liacutequidos dos animais e pode estar misturado com restos vegetais Sua composiccedilatildeo eacute muito variada Satildeo bons fornecedores de nutrientes tendo o foacutesforo e o potaacutessio rapidamente disponiacutevel e o N fica na dependecircncia da facilidade de degradaccedilatildeo dos compostos (KORNDOumlRFER 2015 apud LIMA et al 2015)

O adubo orgacircnico (esterco) bovino ou caprino utilizados nas pequenas propriedades do Agreste itabaianense eacute proveniente do proacuteprio rebanho do agricultor camponecircs ou comprado por pecuaristas vizinhos ou ainda trazidas por caminhotildees de outras localidades pois a quantidade de esterco eacute inferior agrave demanda da sua lavoura jaacute que sua propriedade pequena natildeo tem capacidade para criaccedilatildeo de um nuacutemero suficiente de bovinos que atenda sua necessidade e sua propriedade suporta uma quantidade maior de bovinos

Os riscos da adubaccedilatildeo orgacircnica satildeo poucos mas existentes como citado por Lima (2015) alguns adubados

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orgacircnicos mal decompostos ou de origem natildeo controlada podem introduzir ou aumentar o nuacutemero de microrganismos de solo nocivos agraves plantas e introduzir sementes de plantas daninhas (TRANI apud LIMA 2013)

Em um trecho de uma reportagem da Redaccedilatildeo

Nordeste Rural 2015 de tiacutetulo ldquoA importacircncia do uso do esterco bovino para recuperar solos degradadosrdquo eacute citado

[] A teacutecnica de utilizaccedilatildeo de esterco de curral na agricultura eacute simples e possibilita o aproveitamento da matildeo-de-obra familiar A mateacuteria orgacircnica repotildee os nutrientes agrave terra propicia a melhoria da fertilidade e a reduccedilatildeo da acidez do solo favorecendo o aumento da aeraccedilatildeo permeabilidade e infiltraccedilatildeo da aacutegua (Redaccedilatildeo Nordeste Rural 2015)

Em relatos de um agricultorpecuarista do povoado MoitapamMatapoan no municiacutepio de Itabaiana ele ressalta que nunca precisou comprar esterco pois a sua criaccedilatildeo de bovina era suficiente para a sua plantaccedilatildeo mas ele enfrentou dificuldades para declarar sua profissatildeo de agricultor e pecuarista e sua posiccedilatildeo de agricultor camponecircs para conseguir o benefiacutecio do Ponaf (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar) Era necessaacuterio decidir entre agricultor ou pecuarista natildeo podendo declarar as duas atividades e tendo que se declarar ldquoagricultor familiarrdquo natildeo tendo a opccedilatildeo de agricultor camponecircs (ANDRADE Joseacute Eduardo Alves 2018 em depoimento concedido a Weverton de Jesus Barbosa Itabaiana 06 fev 2018) Desta forma aleacutem do ganho econocircmico do camponecircs o esterco traz benefiacutecios para o solo melhorando as propriedades sem produtos quiacutemicos que podem prejudicar o meio ambiente

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CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Compreende-se assim que a agricultura camponesa eacute responsaacutevel pela diversidade de alimentos que se apresenta diariamente na mesa de milhares de pessoas aleacutem de empregar a maior parte dos familiares que circundam essa cultura O Agreste Sergipano tem fortes caracteriacutesticas do campesinato aleacutem de possuir tambeacutem intensa relaccedilatildeo com a pecuaacuteria jaacute que as sobras das colheitas satildeo direcionadas ao alimento do bovino assim ocorre ldquototalrsquo reaproveitamento do plantio

A criaccedilatildeo de bovinos em pequenas propriedades natildeo eacute recente pois desde seacuteculos atraacutes esses animais eram as principais ferramentas de trabalho no campo por exemplo arar a terra transporte e aleacutem de serem fontes de adubaccedilotildees naturais

No entanto essa cultura aos poucos estar se perdendo devido aos avanccedilos tecnoloacutegicos provocando a modernizaccedilatildeo do campo resultando maiores produccedilotildees reduccedilatildeo de tempo e entre outros mas por sua vez acarretaram-se tambeacutem pontos negativos reduccedilatildeo de matildeo-de-obra ( desemprego) solos mais desgastados perca de utilizaccedilatildeo de insumos naturais substituiacutedos por insumos industriais que por sua vez eacute considerados prejudiciais agrave sauacutede dos homens animais meio ambiente corpos hiacutedricos e entre outros

No que concerne a agricultura camponesa eacute responsaacutevel por possibilitar a desconcentraccedilatildeo fundiaacuteria seus cultivos agriacutecolas satildeo bem diversificados e muitas vezes concede uma dinacircmica com outras atividades como eacute o caso da pecuaacuteria REFEREcircNCIAS

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ANDRADE Joseacute Eduardo Alves (2018) em depoimento concedido a Weverton de Jesus Barbosa Itabaiana 06 fev 2018

BONAMIGO C A A agricultura camponesa e a formaccedilatildeo politeacutecnica objetivos eixos e accedilotildees do pronacampo In XI ANPED SUL 2016 Curitiba Reuniatildeo cientifica regional da ANPED 2016 HAAS Jaqueline Mallmann Diversificaccedilatildeo de Produccedilatildeo no Meio Rural como Estrateacutegia de Sobrevivecircncia um estudo de caso da regiatildeo noroeste do Rio Grande do Sul In IV Encontro Nacional da Anppas 2008 Brasiacutelia KHATOUNIAN Carlos Armecircnio A reconstruccedilatildeo ecoloacutegica da agricultura Satildeo Paulo Livraria e Editora Agroecoloacutegica [199-] 345 p v 1 KIRCHOF B Alimentaccedilatildeo da vaca leiteira [sl sn] [entre 1989 e 2000] 62p MENEGHETTI Cristiane De Caacutessia DOMINGUES Joseacute Luiz Caracteriacutesticas nutricionais e uso de subprodutos da agroinduacutestria na alimentaccedilatildeo de bovinos Revista Eletrocircnica Nutritime Satildeo Paulo N52 p 512-536 MarAbr 2008 OLIVEIRA Mauro Maacutercio ARAUJO Joseacute Cordeiro A poliacutetica agriacutecola como mateacuteria constitucional OLIVEIRA Rafael dos Santos (2018) depoimento concedido a Weverton de Jesus Barbosa Itabaiana 06 fev 2018 PEDROSA C E Silagens de ramas e raiacutezes de batata-doce 2012 54f (Dissertaccedilatildeo - Mestrado em Produccedilatildeo

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Vegetal) ndash Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Produccedilatildeo Vegetal Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri Diamantina 2012 REDACcedilAtildeO NORDESTE RURAL A importacircncia do uso do esterco bovino para recuperar solos degradados Disponiacutevel em lthttpnordesteruralcombra-importancia-do-uso-do-esterco-bovino-para-recuperar-solos-degradadosgt Acesso em 13 jan 2018 SAMPAIO EV de S B OLIVEIRA N M B Nascimento PR F Eficiecircncia da adubaccedilatildeo orgacircnica com estercobovino e com egeria densa Pernambuco SANTOS Lorival Santana A produccedilatildeo do espaccedilo agraacuterio sergipano estruturaccedilatildeo e arranjos (1850-1925) 2011 245 p Doutorado (Poacutes-graduaccedilatildeo em Geografia) - Universidade Federal de Sergipe Satildeo Cristoacutevatildeo 2011 SEADE agropecuaacuteria do Estado de Sergipe Satildeo Paulo Agropec [199-] wwwsidraibgegovbr V ENCONTRO CIENTIacuteFICO E SIMPOacuteSIO DE EDUCACcedilAtildeO UNISALESIANO 2015 Satildeo Paulo A adubaccedilatildeo orgacircnica e a sua relaccedilatildeo com a agricultura e o meio ambiente Satildeo Paulo A pesquisa frete agrave inovaccedilatildeo e o desenvolvimento sustentado 2015

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O PROGRAMA NACIONAL DA ALIMENTACcedilAtildeO ESCOLAR NOS MUNICIacutePIOS DE AREIA BRANCA E

MALHADOR UMA ESTRATEacuteGIA PARA O DESENVOLVIMENTO RURAL

Juacutenio Andrade Menezes

Graduando em Geografia -UFS E mail junior-andrade-15hotmailcom

Prof Dr Marcelo Alves Mendes -UFS

E-mail marcelomendesufsgmailcom

RESUMO

O Programa Nacional de Alimentaccedilatildeo Escolar (PNAE) eacute umas das poliacuteticas puacuteblicas mais antigas do paiacutes foi reestruturado no ano de 2009 pela lei nordf 11947 que obriga os gestores municipais e estaduais a utilizarem no miacutenimo 30 dos recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educaccedilatildeo na compra de produtos alimentiacutecios de origem da agricultura familiar Com essa reestruturaccedilatildeo foi possiacutevel criar um mecanismo de fortalecimento da agricultura familiar e proporcionar melhores indicadores nutricionais para jovens em idade escolar O presente trabalho tem como objetivo analisar os entraves do Programa Nacional de Alimentaccedilatildeo Escolar no fortalecimento da agricultura familiar nos municiacutepios de Areia Branca e Malhador localizados no estado de Sergipe Para chegar a este objetivo foram utilizados como procedimento metodoloacutegico levantamento bibliograacutefico participaccedilatildeo em reuniotildees no Grupo de Pesquisa sobre Dinacircmica Rural e Regional (GDRR) produccedilatildeo de fichamentos levantamento de dados empiacutericos e trabalho de campo Este artigo eacute fruto de uma pesquisa que se encontra em andamento entretanto pode-se afirmar que existem entraves na execuccedilatildeo desta

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poliacutetica puacuteblica ou seja o natildeo cumprimento dos 30 exigido em lei e as oscilaccedilotildees de investimentos e acampamento dos principais atores envolvidos na poliacutetica puacuteblica Desta forma eacute necessaacuteria a continuidade do PNAE e sua melhor execuccedilatildeo pois fortalece os agricultores familiares e contribui para uma melhor seguranccedila alimentar e nutricional das crianccedilas e jovens estudantes dos municiacutepios em questatildeo Palavras-chave Agricultura Familiar Poliacuteticas Puacuteblicas Desenvolvimento Rural INTRODUCcedilAtildeO

A agricultura familiar eacute uma atividade que estaacute enraizada na cultura brasileira entretanto por muitos anos o pequeno agricultor familiar natildeo possuiacutea poliacuteticas puacuteblicas especificas que pudesse lhe permitir um mercado forte e uma seguranccedila de cultivar os produtos que garantissem sua alimentaccedilatildeo e reproduccedilatildeo familiar No ano de 2009 atraveacutes da lei nordf 119472009 foi reestruturado o Programa Nacional da Alimentaccedilatildeo Escolar (PNAE) considerada uma das poliacuteticas puacuteblicas mais antigas do paiacutes este fato intensificou a interligaccedilatildeo entre os agricultores familiares e a comunidade escolar

Com as mudanccedilas ocorridas no PNAE em 2009 a que se destaca eacute a obrigaccedilatildeo que os gestores municipais e estaduais passaram a ter isto eacute devem usar no miacutenimo 30 dos recursos da alimentaccedilatildeo escolar na compra de alimentos produzidos no campo dando preferecircncia aos agricultores locais e assentados Esse fato eacute um marco para o fortalecimento dos agricultores locais de cada municiacutepio brasileiro e fortalece os haacutebitos alimentares regionais

Com intuito de compreender o Programa Nacional da Alimentaccedilatildeo Escolar nos municiacutepios de Areia Branca-SE e Malhador-SE e seus rebatimentos no desenvolvimento rural

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desses municiacutepios se fez necessaacuterio um levantamento bibliograacutefico como CASTRO2014 FAVARETO 2015 GRISA e PORTO 2015 TRICHES e SCHNEIDER 2010 entre outros Tambeacutem foi importante as visitas aos oacutergatildeos puacuteblicos para coleta de dados que natildeo estavam disponiacuteveis em meios eletrocircnicos ou impressos e levantamento de dados empiacutericos aleacutem da participaccedilatildeo em reuniotildees no Grupo de Pesquisa sobre Dinacircmica Rural e Regional (GDRR)

Os municiacutepios de Areia Branca e Malhador possuem uma aacuterea de aproximadamente de 128 kmsup2 e 100 kmsup2 respectivamente No ano de 2017 segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) esses municiacutepios contavam com uma populaccedilatildeo de 18489 hab e 12691 hab respectivamente Aleacutem disto de acordo com dados do Censo Agropecuaacuterio 2006 existiam 1413 estabelecimentos agropecuaacuterios em Areia Branca destes 1323 eram de agricultores familiares no municiacutepio de Malhador eram 1300 estabelecimentos sendo 1208 de agricultores familiares Percebe-se portanto que a atividade rural em sua maioria eacute praticada por agricultores rurais que produzem e comercializam seus produtos agriacutecolas com diversas localidades do estado de Sergipe e com outros estados

Nos municiacutepios analisados eacute possiacutevel mencionar um grande entrave que os gestores possuem de executarem os 30 exigido em lei aleacutem disto se analisado a quantidade de agricultores beneficiados com o nuacutemero de estabelecimentos agriacutecolas existentes nos municiacutepios a situaccedilatildeo se agrava Eacute necessaacuterio que as chamadas puacuteblicas possam atender um nuacutemero maior de agricultores familiares e que todos tenham a oportunidade de participar do Programa Nacional da Alimentaccedilatildeo Escolar pois aleacutem de melhorar os iacutendices nutricionais dos jovens o PNAE deste de 2009 estaacute melhorando tambeacutem a vida dos pequenos agricultores familiares

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OS OBSTAacuteCULOS DO PROGRAMA NACIONAL DA ALIMENTACcedilAtildeO ESCOLAR NOS MUNICIacutePIOS DE AREIA BRANCA-SE E MALHADOR-SE

A Agricultura familiar no Brasil sempre foi de multicaracteristicas sendo um fator que natildeo era levado em consideraccedilatildeo no momento das elaboraccedilotildees das poliacuteticas puacuteblicas ldquoEacute aparente seu reconhecimento da existecircncia de uma consideraacutevel heterogeneidade no segmento dos agricultores familiaresrdquo (DELGADO e LEITE 2015 p242) Desde a deacutecada de 90 os gestores criaram novos moldes em relaccedilatildeo as poliacuteticas puacuteblicas destinadas aos Agricultores familiares destacando-se o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF) que foi criado em 28 de junho de 1996 o Programa de Aquisiccedilatildeo de Alimentos (PAA) em 02 de julho de 2003 e a reformulaccedilatildeo do Programa Nacional da Alimentaccedilatildeo Escolar (PNAE) em 16 de junho de 2009

As poliacuteticas puacuteblicas se configuram enquanto um importante espaccedilo de accedilatildeo atraveacutes do qual o Estado consegue chegar ateacute as diferentes instacircncias da sociedade civil no entanto este natildeo eacute um contato direto dada a configuraccedilatildeo federalista da repuacuteblica brasileira Desta forma as poliacuteticas puacuteblicas especialmente as de acircmbito federal acabam percorrendo um extenso caminho desde sua elaboraccedilatildeo ateacute sua operacionalizaccedilatildeo junto aos beneficiaacuterios diretos (FUCHS NEVES ETHUR e LOPES 2015 p 4)

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Ademais Nos anos de 1990 a entrada da ideia de agricultura familiar para o repertorio dos movimentos sociais e dos gestores puacuteblicos foi a principal inovaccedilatildeo nas poliacuteticas para o rural brasileiro Na primeira deacutecada do novo milecircnio o mesmo ocorreu com a ideia de desenvolvimento territorial Natildeo soacute foi criado um programa especiacutefico o Territoacuterio de Identidade mas tambeacutem uma Secretaria de Desenvolvimento Territorial no acircmbito do Ministeacuterio do Desenvolvimento Agraacuterio (FAVARETO 2015 p 261)

O Brasil registrou um avanccedilo relativamente

consideraacutevel em relaccedilatildeo as poliacuteticas puacuteblicas com destino aos agricultores familiares entretanto ainda existem diversos entraves nas execuccedilotildees dessas poliacuteticas puacuteblicas isto eacute na forma que ela eacute vista pelos gestores e na sua extensatildeo de beneficiados ldquoA pobreza a privaccedilatildeo de renda e a vulnerabilidade social continuam a afetar muitos desses produtores e suas famiacutelias da mesma forma como no passadordquo (SCHNEIDER e CASSOL 2014 p 229) A pobreza afetava um nuacutemero maior de agricultores familiares no paiacutes este nuacutemero reduziu nos uacuteltimos anos mas eacute necessaacuterio avanccedilar muito ainda no combate agrave pobreza rural

Para tanto torna-se necessaacuterio a atuaccedilatildeo permanente do Estado e das organizaccedilotildees e movimentos sociais na publicizaccedilatildeo de informaccedilotildees capacitaccedilotildees para o gerenciamento dos projetos apoio da assistecircncia teacutecnica e extensatildeo rural puacuteblica e subsiacutedios em infraestrutura e para governanccedila e

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gestatildeo social dos projetos (GRISA e PORTO 2015 p170)

O Programa Nacional de Alimentaccedilatildeo Escolar (PNAE)

eacute uma das poliacuteticas mais antigas do paiacutes sendo um mecanismo que proporciona a milhares de jovens uma alimentaccedilatildeo razoavelmente satisfatoacuteria em iacutendices nutricionais O Programa foi ldquoImplantado em 1955 contribui para o crescimento o desenvolvimento a aprendizagem o rendimento escolar dos estudantes e a formaccedilatildeo de haacutebitos alimentares saudaacuteveis por meio da oferta da alimentaccedilatildeo escolar e de accedilotildees de educaccedilatildeo alimentar e nutricionalrdquo (FUNDO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO DA EDUCACcedilAtildeO 2016) Ateacute meados da deacutecada de 1990 a compra de alimentos com destino a alimentaccedilatildeo escolar brasileira era feita de forma centralizada ou seja o governo federal possuiacutea um oacutergatildeo responsaacutevel por fazer licitaccedilatildeo e compra Contudo estes alimentos comprados pelo governo federal eram industrializados e com iacutendices nutritivos insuficientes para as crianccedilas nas diversas faixas de idade Com diversas criacuteticas que este sistema teve na eacutepoca o governo de Fernando Henrique Cardoso adotou a descentralizaccedilatildeo desta poliacutetica

Em relaccedilatildeo agrave produccedilatildeo de alimentos a agricultura familiar responde por parte consideraacutevel do abastecimento interno compondo a dieta alimentar baacutesica da populaccedilatildeo e oferecendo uma grande contrapartida agrave produccedilatildeo nacional (TRICHES E SCHNEIDER 2010 p 936)

Os autores DELGADO CONCEICcedilAtildeO E

OLIVEIRA (2005) descrevem que ldquoHaacute casos em que o simples anuacutencio da compra puacuteblica de determinada quantidade

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de produto eacute suficiente para elevar os preccedilos agropecuaacuteriosrdquo Percebe-se portando a necessidade de os gestores proporcionarem espaccedilos e financiamento em cursos de capacitaccedilatildeo aos agricultores familiares para os mesmos poderem entrar no Programa Nacional de Alimentaccedilatildeo escolar (PNAE) e este ciclo faraacute uma transformaccedilatildeo na vida individual e familiar daquele agricultor aleacutem de movimentar a econocircmica local e regional

Com a descentralizaccedilatildeo deste programa os estados e municiacutepios ficam responsaacuteveis pela execuccedilatildeo da alimentaccedilatildeo escolar das suas respectivas unidades de ensino mas mesmo com esta mudanccedila muitos gestores continuaram comprando e distribuindo alimentos industrializados ou poucos nutritivos nas escolas ldquoNo iniacutecio a garantia da alimentaccedilatildeo escolar se dava majoritariamente atraveacutes do fornecimento de produtos formulados tais como sopas mingaus milk shakes e enlatadosrdquo (CASTRO 2014 p51) Aleacutem disto a disputa pelo comercio estatal ocorria de forma desproporcionada entre pequenos e meacutedios agricultores e grandes oligopoacutelios alimentiacutecios

Os agricultores familiares que participaram desse processo o faziam competindo com outros fornecedores como atacadistas e varejistas Ao contraacuterio do que se pensa nem sempre seus preccedilos eram competitivos Primeiro porque seus concorrentes muitas vezes contavam produtos de qualidade inferior (principalmente frutas e verduras) segundo porque sua produccedilatildeo de baixa escada tornava-se onerosa quando feitas exigecircncias estruturais e logiacutesticas (TRICHES E SCHNEIDER 2010 p 940)

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Segundo o autor TRICHES 2015 ldquoEmbora o Programa de Alimentaccedilatildeo Escolar seja uma das poliacuteticas alimentares mais antigas no Brasil eacute somente na uacuteltima deacutecada que ele passa a ser discutido como instrumento de desenvolvimento rural a partir das compras puacuteblicas de pequenos agricultores locaisrdquo (p 186) O PNAE eacute uma poliacutetica com diversos eixos de atuaccedilatildeo alimentaccedilatildeo dos estudantes diminuir taxas de obesidade na juventude e fortalecer a agricultura familiar respectivamente

Em relaccedilatildeo ao consumo a aquisiccedilatildeo de alimentos mais naturais sazonais tradicionais e ecoloacutegicos promoveria qualidade alimentar e sauacutede puacuteblica garantindo o direito ao ato pedagoacutegico Institucionalizando o processo o Estado ainda teria a oportunidade por meio da alimentaccedilatildeo escolar de educar gostos para alimentos locais contrapondo-se ao marketing e a cultura do consumo massificado de produtos industrializados (TRICHES 2015 p185)

O Programa Nacional da Alimentaccedilatildeo Escolar (PNAE)

estaacute sendo executado nos municiacutepios pesquisados entretanto segundo dados do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educaccedilatildeo (FNDE) nos anos de 2012 e 2015 o municiacutepio de malhador (Figura 01) conseguiu atingir o miacutenimo exigido em Lei sendo uma localidade que no ano de 2012 chegou aos 5317 e no ano seguinte aos 29 no percentual da aquisiccedilatildeo de produtos oriundos da agricultura familiar Esse recuo de investimentos nos produtos da agricultura familiar provoca um receio nos produtores pois essa instabilidade pode provocar atrasos no pagamento e uma fragilidade na entrada de novos agricultores familiares nessa poliacutetica puacuteblica aleacutem disto os

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jovens estudantes que estatildeo adaptados com os produtos nativos da sua regiatildeo passam a consumir alimentos industrializados e pouco nutritivos Figura 01- Percentual dos recursos financeiros destinados a produtos oriundos da Agricultura Familiar

Os municiacutepios de Areia Branca e Malhador atraveacutes das

informaccedilotildees pesquisadas satildeo possiacuteveis mencionar que ambos possuem uma dificuldade de atingir o percentual miacutenimo exigido em lei sendo que Areia Branca atingiu os 31 no ano de 2013 (Figura 01) apoacutes este ano sofreu um decliacutenio na aquisiccedilatildeo de alimentos da agricultura familiar Os recursos destinados a aquisiccedilatildeo da agricultura familiar eacute muito pouco se comparado ao recurso geral ou seja os recursos existem mas estatildeo sendo utilizados para comprar outros produtos que natildeo satildeo da agricultura familiar

Nos municiacutepios analisados no ano de 2010 apresentaram uma taxa de analfabetismo de pessoas de 15 anos ou mais em Areia Branca foram 2464 e Malhador 2473

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Cabe ressaltar que essa taxa no Brasil eacute 961 no Nordeste satildeo 191 e em Sergipe 155 (Figura 02) Satildeo taxas relativamente altas fato que demostra a necessidade de intensificar as poliacuteticas puacuteblicas para melhorar a educaccedilatildeo o Programa Nacional da Alimentaccedilatildeo Escolar (PNAE) por exemplo eacute uma das ferramentas que contribui para a permanecircncia dos jovens nas escolas

Esses dados (Figura 02) demostram o quanto a educaccedilatildeo brasileira perpassa diversos entraves estes devem ser superados por uma maior atuaccedilatildeo do Estado atraveacutes de poliacuteticas puacuteblicas e investimentos no trabalho dos docentes Os nuacutemeros refletem que os municiacutepios pesquisados possuem praticamente os mesmos iacutendices de analfabetismo entretanto Areia Branca eacute o que apresenta uma menor porcentagem Desta forma eacute de suma importacircncia a permanecircncia e maiores investimentos no PNAE para que os alunos possam consumir alimentos nutritivos e participem qualitativamente do circuito ensino-aprendizagem

Figura 02 - Taxa de analfabetismo - 15 anos ou mais em 2010

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O Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal

(IDHM) no aspecto Educaccedilatildeo de acordo com o Atlas de Desenvolvimento Humano no Brasil em 2010 satildeo alarmantes pois quanto mais proacuteximo do zero mas critica eacute a situaccedilatildeo educacional do municiacutepio Em Areia Branca o IDHM educaccedilatildeo eacute de 0434 e Malhador 0442 de IDHM educaccedilatildeo no ano de 2010 Esses municiacutepios pesquisados destacam um IDHM educaccedilatildeo na mesma casa decimal 04 sendo nuacutemeros considerados baixos e refletem a necessidade de uma maior atuaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas e tambeacutem proporcionar melhores condiccedilotildees socioeconocircmicas a esses moradores Cabe salientar que o Iacutendice de Desenvolvimento Humano (educaccedilatildeo) no Brasil nesse mesmo ano foi 0637 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

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O Programa Nacional da Alimentaccedilatildeo Escolar (PNAE) eacute uma poliacutetica puacuteblica fundamental para diversos atores sociais pode-se afirmar que atraveacutes desse programa milhares de alunos passaram a ter condiccedilotildees fiacutesicas de participar do circuito ensino-aprendizagem nas escolas puacuteblicas brasileiras Com a reestruturaccedilatildeo do ano de 2009 o programa passa a incluir outras finalidades isto eacute o principal objetivo continuou a de oferecer uma alimentaccedilatildeo aos estudantes entretanto a alimentaccedilatildeo passa a ser focada em produtos oriundos dos agricultores familiares

Os agricultores familiares atraveacutes do PNAE produzem comercializam e melhoram suas condiccedilotildees socioeconocircmicas isto eacute natildeo eacute somente os alunos e os agricultores que recebem os benefiacutecios do Programa Nacional da Alimentaccedilatildeo Escolar (PNAE) mas sim todo o municiacutepio pois movimenta a economia do municiacutepio e consequentemente gera novas oportunidades para os habitantes

Essa poliacutetica puacuteblica necessita de mais recursos e melhor gestatildeo para que possa de fato ter uma alimentaccedilatildeo escolar de qualidade e nutritiva nas escolas puacuteblicas desses municiacutepios aleacutem disto os recursos devem ser ampliados e revertidos para compra de produtos da agricultura familiar ou seja os gestores devem destinar mais recursos para as poliacuteticas puacuteblicas rurais em especial da alimentaccedilatildeo escolar os 30 dos recursos obrigatoacuterios podem ser ultrapassados desde que haja uma accedilatildeo em conjunto com os oacutergatildeos responsaacuteveis para melhor efetivaccedilatildeo e consequentemente melhorias nas sociedades locais REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS Atlas de Desenvolvimento Humano no Brasil 2013 O Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM)

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Disponiacutevel em httpatlasbrasilorgbr Acessado em 06 de janeiro de 2018 CASTRO Terena Peres de PNAE A contribuiccedilatildeo do Programa Nacional de Alimentaccedilatildeo Escolar (PNAE) para reproduccedilatildeo camponesa um estudo de caso da associaccedilatildeo Comunitaacuteria Rural Alvorada (ACRA) Satildeo Paulo-SP 2014 134 p Dissertaccedilatildeo Programa de Poacutes graduaccedilatildeo em geografia humana da faculdade de filosofia letras e ciecircncias humanas Universidade de Satildeo Paulo DELGADO G C CONCEICcedilAtildeO J C P R OLIVEIRA J J Avaliaccedilatildeo do Programa de Aquisiccedilatildeo de Alimentos da Agricultura da Agricultura familiar (PAA) Texto para a discussatildeo nordm 1145 Brasiacutelia (DF) IPEA 2005 DELGADO Nelsonm Giordano e LEITE Sergio Pereira O Pronat e o PTC possibilidades limites e desafios das poliacuteticas territoriais para o desenvolvimento rural In Poliacutetica Puacuteblica de Desenvolvimento Rural no Brasil Editora da UFRGS 2015 parte 3 pag 239 ndash 261 FAVARETO Arilson Uma deacutecada de experimentaccedilotildees e o futuro das poliacuteticas de desenvolvimento territorial rural no Brasil In Poliacutetica Puacuteblica de Desenvolvimento Rural no Brasil Editora da UFRGS 2015 parte 3 pag 261ndash 278 FUCHS Jeacutessica Paola NEYES Jonas Andersoacuten Simocirces ETHUR Luciana Zago e LOPES Alexandre Bernardino O PAA no acircmbito do desenvolvimento mapeando os agricultores familiares de Itaqui-RS Jornada questatildeo Agraacuteria e desenvolvimento III 2015 Curitiba-PR O PAA no acircmbito do desenvolvimento mapeando os agricultores familiares de Itaqui-RS Curitiba ndashPR 2015

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FUNDO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO DA EDUCACcedilAtildeO Dados da Agricultura Familiar de 2011 ndash 2015 Disponiacutevel em httpwwwfndegovbrprogramaspnaepnae-consultaspnae-dados-da-agricultura-familiar Acessado em 24 de outubro de 2017 GRISA Catia e PORTO Silvio Isopo Dez anos de PAA As contribuiccedilotildees e os desafios para o desenvolvimento rural In In Poliacutetica Puacuteblica de Desenvolvimento Rural no Brasil Editora da UFRGS 2015 parte 2 pag 155ndash 180 INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA (IBGE) O Censo Demograacutefico de 2010 Disponiacutevel em httpscenso2010ibgegovbr Acessado dia 24 de outubro de 2017 INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA (IBGE) Censo Agropecuaacuterio Rio de Janeiro ISSN 0103-6157 p1-777 2006 INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA (IBGE) O municiacutepio de Areia Branca - SE Disponiacutevel em httpscidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=amp codmun=280050ampsearch=sergipe|areia-branca Acessado dia 24 de outubro de 2017 INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA (IBGE) O municiacutepio de Malhador - SE Disponiacutevel em httpscidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=amp

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codmun=280390ampsearch=sergipe|malhador Acessado dia 24 de outubro de 2017 SCHNEIDER Sergio e CASSOL Abel Diversidade e heterogeneidade da agricultura familiar no Brasil e algumas implicaccedilotildees para poliacuteticas puacuteblicas Cadernos de Ciecircncia amp Tecnologia Brasiacutelia v 31 n 2 p 227-263 maioago 2014 TRICHES Rozane Marcia Repensando o mercado da alimentaccedilatildeo escolar novas institucionalidades para o desenvolvimento rural In Poliacutetica Puacuteblica de Desenvolvimento Rural no Brasil Editora da UFRGS 2015 parte 2 pag 181ndash 200 TRICHES Rozane Marcia e SCHNEIDER Sergio Alimentaccedilatildeo escolar e agricultura familiar reconectando o consumo agrave produccedilatildeo Revista Sauacutede e Sociedade v 19 n 4 p 933-945 2010 ISSN 0104-1290

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EIXO 2 - ESPACcedilO URBANO

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A PRODUCcedilAtildeO ESPACIAL DOS PARQUES PUacuteBLICOS NA CIDADE DE ARACAJUSE16

Larissa Prado Rodrigues17

Email larissa4912hotmailcom

Cristiane Alcacircntara de Jesus Santos18 Email cristie09uolcombr

RESUMO

Os espaccedilos puacuteblicos de lazer e turismo enquanto espaccedilos urbanos satildeo submetidos aos inuacutemeros processos de produccedilatildeo e consumo das cidades pelos agentes sociais marcados fortemente pela ideologia classista hegemocircnica do capital que geram diversos impactos econocircmicos sociais e ambientais Neste sentido diversas complexidades os envolvem considerando que haacute uma multiplicidade de agentes que designam (contra-)sentidos no acircmbito da produccedilatildeo espacial refletida a posteriori nas dinacircmicas de consumo Assim as estreitas relaccedilotildees entre as formas de lazer e turismo expressas e materializadas no espaccedilo urbano influenciam demasiadamente a organizaccedilatildeo espacial da cidade contribuindo para definiccedilatildeo tipoloacutegica de algumas estruturas espaciais Partindo dos pressupostos supracitados o presente artigo tem por objetivo analisar as formas de produccedilatildeo espacial

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Artigo resultante do Projeto de Iniciaccedilatildeo Cientiacutefica intitulado

ldquoProduccedilatildeo e Consumo nos Espaccedilos Puacuteblicos de Lazer e Turismo da

Cidade de AracajuSErdquo ndash PICVOLUFS 17

Universidade Federal de SergipeUFS Bacharelanda em Turismo 18

Universidade Federal de SergipeUFS Geoacutegrafa Mestre em

GeografiaUFS Doutora em Geografiacutea Planificacioacuten Territorial y

Gestioacuten AmbientalUniversitat de Barcelona Professora do Curso de

Turismo da UFS

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dos parques puacuteblicos tratando empiricamente da cidade de Aracaju Sergipe Metodologicamente a pesquisa estaacute assentada na base quanti-qualitativa que envolveu o levantamento bibliograacutefico teacutecnica de observaccedilatildeo direta natildeo participante e a pesquisa de campo Como principais conclusotildees analisou-se que o fator localizaccedilatildeo atrelado aos interesses privados influenciam por completo as formas de produccedilatildeo (e por conseguinte do consumo) dos espaccedilos puacuteblicos de lazer e turismo na contemporaneidade em que nuances os distinguem considerando que os processos ocorrem de forma desigual no espaccedilo e no tempo Deste modo constatou-se que tais espaccedilos possuem configuraccedilotildees antagocircnicas e por vezes conflituosas nas quais as inuacutemeras contradiccedilotildees que podem existir no urbano ligado (in) diretamente agrave loacutegica do capital satildeo evidenciadas atreladas tambeacutem ao lazer e ao turismo na figura dos parques puacuteblicos PALAVRAS-CHAVE Parques Puacuteblicos Produccedilatildeo Espacial Espaccedilo Urbano INTRODUCcedilAtildeO

Os parques puacuteblicos satildeo espaccedilos de lazeres constituintes da paisagem urbana que se encontram em meio agraves caracteriacutesticas e elementos das cidades contemporacircneas Nesses espaccedilos diversas problemaacuteticas satildeo evidenciadas em decorrecircncia de interesses econocircmicos privativos que impactam fortemente nos muacuteltiplos aspectos sociais

Apesar disso os parques puacuteblicos apresentam grande importacircncia social uma vez que satildeo entendidos como espaccedilos de lazer em meio ao cenaacuterio urbano Estes equipamentos proporcionam agravequeles que os visitam a aproximaccedilatildeo com a natureza agrave praacutetica de atividades fiacutesicas e de sociabilizaccedilatildeo etc tidos pelos usuaacuterios como uma forma eficaz mesmo que temporaacuteria de fuga dos males da modernidade que assolam os

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indiviacuteduos Concomitantemente satildeo espaccedilos com grande potencial para as praacuteticas turiacutesticas tendo em vista que os turistas podem conhecer novos espaccedilos de lazer que caracterizam e revelam aspectos identitaacuterios dos destinos turiacutesticos

Neste sentido cabe destacar que as questotildees acerca dos recortes de usos dados aos parques puacuteblicos pelos moradores da localidade tambeacutem satildeo passiacuteveis de discussatildeo tendo em vista que surge a problemaacutetica da apropriaccedilatildeo dos espaccedilos puacuteblicos de para e por todos fator recorrentemente negligenciado em meio agraves cidades construiacutedas em favor dos interesses do capital contrariamente aos direitos dos cidadatildeos Portanto a (re) produccedilatildeo espacial atual impacta diretamente nos usos destinados e configurados que perpetuam a injusticcedila espacial sendo deste modo a produccedilatildeo e consumo indissociaacuteveis bem como situados em uma relaccedilatildeo dialeacutetica

Tendo por base o exposto torna-se de suma importacircncia analisar as dinacircmicas soacutecio-espaciais dos parques puacuteblicos buscando contribuir para a minimizaccedilatildeo de problemaacuteticas a fim de que estes possam resultar em espaccedilos puacuteblicos de fato democraacuteticos sendo utilizado e apropriado tanto por moradores quanto por turistas Aleacutem disso ressaltamos a importacircncia de que os recursos destinados a esses equipamentos sejam distribuiacutedos uniformemente de acordo com as demandas existentes visando dirimir privileacutegios em decorrecircncia de interesses privados que podem gerar e agravar diversas desigualdades e a subutilizaccedilatildeo de espaccedilos com grande potencial de apropriaccedilatildeo para uso em decorrecircncia dos processos de (re) produccedilatildeo extremamente elitistas discrepantes e excludentes

Sob essa perspectiva o presente estudo objetiva analisar especificamente as formas de produccedilatildeo do espaccedilo urbano a partir dos parques puacuteblicos sob a oacutetica da realidade da cidade de Aracaju Sergipe no qual haacute de se destacar os

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agentes produtores do espaccedilo e seus efeitos no que concerne agrave (des)(re) organizaccedilatildeo tangida no plano soacutecio-espacial Metodologicamente a pesquisa estaacute assentada na base quanti-qualitativa que envolveu o levantamento bibliograacutefico teacutecnica de observaccedilatildeo direta natildeo participante e pesquisa de campo realizada nos parques da Cidade Sementeira e dos Cajueiros localizados na cidade de Aracaju capital do estado de Sergipe

Deste modo o presente artigo estaacute pautado inicialmente em discussotildees acerca da (re) produccedilatildeo espacial urbana destacando aspectos teoacutericos concernentes aos agentes produtores do espaccedilo suas peculiaridades e efeitos decorrentes de suas accedilotildees para posteriormente adentrar especificamente na produccedilatildeo espacial dos parques puacuteblicos direcionando para a realidade da cidade de Aracaju A (RE) PRODUCcedilAtildeO ESPACIAL URBANA

As tendecircncias privatistas que reforccedilam valores como a

livre-iniciativa a meritocracia o individualismo a acumulaccedilatildeo e o consumo desigual estatildeo em constante e crescente efervescecircncia principalmente nos nuacutecleos urbanos espaccedilos em que se concentram os interesses do capital sob a eacutegide da lei do livre-mercado refletindo diretamente na configuraccedilatildeo espacial

Neste contexto os espaccedilos puacuteblicos tornam-se alvo da ideologia classista hegemocircnica do capital oriunda de iniciativas privadas que os transformam atraveacutes dos processos de produccedilatildeo e consumo a fim de obter lucro por meio da expansatildeo da reproduccedilatildeo e acumulaccedilatildeo Em suma convertem esses espaccedilos em mercadorias que exacerbam a desigualdade e portanto geram a (auto) segregaccedilatildeo das classes dominadas agrave mercecirc das benesses produzidas

Imersos nas contradiccedilotildees dos espaccedilos puacuteblicos urbanos contemporacircneos os parques puacuteblicos satildeo

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equipamentos que compotildeem o contexto de produccedilatildeo e consumo capitalista do espaccedilo Deste modo satildeo elementos que estatildeo imersos na paisagem urbana no qual possuem origem na busca e anseio do homem urbano pelo refuacutegio pelas caracteriacutesticas do campo pelo retorno e (re) encontro com a natureza (GOMES 2013)

Enquanto espaccedilos puacuteblicos de lazer e turismo os parques puacuteblicos das grandes cidades vecircm sendo usurpados pelos interesses do capital de diversas formas refletindo e configurando as dinacircmicas de produccedilatildeo e consumo bem como as relaccedilotildees soacutecio-espaciais Nesse sentido os processos de produccedilatildeo difundidos por esses agentes geram diversas repercussotildees sociais veladas e ocultas mas que inegavelmente e simultaneamente revelam de forma clara os valores hegemocircnicos e a classe privilegiada pelas estrateacutegias e accedilotildees delineadas Assim considerando que os parques satildeo equipamentos que compotildeem o contexto de produccedilatildeo e consumo do espaccedilo urbano cabem inicialmente discussotildees acerca deste uacuteltimo tendo em vista a compreensatildeo das circunstacircncias envolta aos parques puacuteblicos das cidades

Para Lefebvre (2008) o fenocircmeno urbano surpreende dada sua magnitude e complexidade pois eacute no espaccedilo urbano que diversas relaccedilotildees espaciais de natureza social ocorrem e satildeo constituiacutedas tendo como cerne a proacutepria sociedade de classes e os processos concernentes a esta que envolvem sobremaneira os conflitos Partindo-se desse pressuposto cabe frisar que o espaccedilo urbano eacute um reflexo da sociedade e por isso revela e ratifica em sua configuraccedilatildeo os conflitos e contradiccedilotildees inerentes agrave loacutegica capitalista hegemocircnica e de mesmo modo apresenta como caracteriacutestica intriacutenseca a desigualdade entre os diferentes indiviacuteduos que compotildeem a dinacircmica das cidades

Diante desse contexto os espaccedilos urbanos das cidades satildeo resultado palco cenaacuterio e objeto da luta de classes

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levando-se em consideraccedilatildeo os interesses antagocircnicos existentes entre os indiviacuteduos na qual de um lado estatildeo aqueles que buscam privileacutegios direcionando a produccedilatildeo e a reproduccedilatildeo com vistas agrave acumulaccedilatildeo que lhes confere poder e do lado oposto os expropriados que demandam (mais) direitos iguais Em suma ldquoeis o que eacute o espaccedilo urbano fragmentado articulado reflexo e condicionante social um conjunto de siacutembolos e campo de lutardquo (CORREcircA 2000 p 9) no qual diversas complexidades o envolvem dentre as quais o seu modo de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo uma vez que satildeo produtos sociais histoacutericos elaborados por determinados agentes

Os produtores do espaccedilo urbano satildeo agentes sociais com ou sem capital formais ou informais que possuem interesse na terra urbana nas quais grandes tensotildees entre os mesmos satildeo estabelecidas com maior ou menor intensidade (CORREcircA 2011) Sob essa perspectiva Correcirca (2000) destaca entre os principais agentes produtores do espaccedilo urbano capitalista os proprietaacuterios dos meios de produccedilatildeo os proprietaacuterios fundiaacuterios os promotores imobiliaacuterios o Estado e os grupos sociais excluiacutedos

Estes atuam ora de modo convergente ora divergentemente Entretanto a loacutegica predominante sobretudo aos dotados de maior poder econocircmico eacute sempre a de reforccedilar a acumulaccedilatildeo do capital atraveacutes da reproduccedilatildeo a fim de perpetuar privileacutegios e a loacutegica dominante A acumulaccedilatildeo do capital segundo Marx (2013) estaacute no centro das coisas para o crescimento do capitalismo E que para reforccedila-la o sistema do capital cria forccedilas incessantes dinacircmicas expansiacuteveis e constantes que refletem na modificaccedilatildeo do mundo revolucionando permanentemente o espaccedilo geograacutefico (HARVEY 2006)

Logo a accedilatildeo desses agentes torna-se complexa pois satildeo baseadas nas necessidades mutaacuteveis do sistema para garantir a reproduccedilatildeo das relaccedilotildees de produccedilatildeo bem como

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baseada nos conflitos de classe que emergem (CORREcircA 2000) Atraveacutes da accedilatildeo de alguns dos agentes supracitados o processo de acumulaccedilatildeo eacute mantido sobretudo atraveacutes da apropriaccedilatildeo e controle do uso da terra urbana (LEFEBVRE 1976) Ademais o espaccedilo urbano eacute constantemente modificado com vistas a atender aos interesses do capital levando-se em consideraccedilatildeo que ldquoa burguesia soacute pode existir com a condiccedilatildeo de revolucionar incessantemente os instrumentos de produccedilatildeo por conseguinte as relaccedilotildees de produccedilatildeo e com isso todas as relaccedilotildees sociaisrdquo (MARX ENGELS 1999 p12) fator que reflete diretamente na (re) produccedilatildeo espacial

Aqui dar-se-aacute ecircnfase a trecircs agentes modeladores e produtores do espaccedilo urbano capitalista levando-se em consideraccedilatildeo a grande influecircncia destes no processo de produccedilatildeo dos parques puacuteblicos objeto de estudo da presente pesquisa Satildeo eles os promotores imobiliaacuterios o Estado e os grupos sociais excluiacutedos

No que concerne aos promotores imobiliaacuterios observa-se que este setor tem por interesse principal produzir o espaccedilo urbano para tornaacute-lo propriedade privada da classe que dispotildee de recursos para o consumo ndash a demanda solvaacutevel As accedilotildees destes agentes se concretizam correlatas ao preccedilo elevado da terra e aos bairros de status associados a faacutecil acessibilidade e eficiecircncia dos equipamentos de suporte aos cidadatildeos amenidades e saneamento baacutesico ndash propiciado em suma pelo Estado (CORREcircA 2000) A partir desse conjunto de fatores a porccedilatildeo do espaccedilo urbano agrega demasiado valor de troca tornando-se localidades-alvo para a accedilatildeo de produccedilatildeo dos promotores imobiliaacuterios

Jaacute o Estado apresenta participaccedilatildeo na produccedilatildeo do espaccedilo urbano em decorrecircncia da implantaccedilatildeo de infraestrutura relacionada aos serviccedilos puacuteblicos fornecidos agrave sociedade civil como calccedilamento sistema viaacuterio saneamento

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baacutesico parques praccedilas coleta de lixo etc Entretanto a partir das estrateacutegias adotadas pelo Estado no que tange ao planejamento urbano das cidades observa-se que esse agente atende a uma loacutegica em seus investimentos para produccedilatildeo do espaccedilo urbano que privilegia determinada classe ndash a dominante detentora do capital ndash em meio aos conflitos de interesses dos diferentes indiviacuteduos (CORREcircA 2000) Desta forma

O Estado que se origina da necessidade de manter os antagonismos de classe sob controle mas que tambeacutem se origina no meio da luta entre as classes eacute normalmente o Estado da classe economicamente dirigente que por seus recursos torna-se tambeacutem a classe politicamente dirigente [] (ENGELS 1975 p157)

Por conseguinte as accedilotildees do Estado que satildeo entendidas (inclusive) legalmente como de todos e para todos com vistas ao bem-estar coletivo em verdade satildeo meros discursos tecnocraacuteticos uma vez que a classe dirigente na figura do Estado exerce seu poder em prol dos seus proacuteprios interesses afirmando por ora a produccedilatildeo de benevolecircncias para o alcance do ldquodesenvolvimentordquo ndash mera ilusatildeo (HARVEY 2006)

Como impacto dessas accedilotildees o Estado reforccedila a reproduccedilatildeo da loacutegica capitalista viabilizando o processo de acumulaccedilatildeo ratificando a segregaccedilatildeo atraveacutes de porccedilotildees do espaccedilo privilegiadas por poliacuteticas puacuteblicas investimentos etc que satildeo especuladas pelos promotores imobiliaacuterios e tornadas privadas com elevado valor de troca Gottdiener (1997 p 131) ao discutir essa ideia afirma que ldquoa hegemonia da classe capitalista eacute renovada atraveacutes da segregaccedilatildeo espacial e atraveacutes dos efeitos da forccedila normatizadora da intervenccedilatildeo estatal no espaccedilordquo Assim o principal resultado desse processo pode ser

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vislumbrado nos espaccedilos que se tornam restritos e o acesso aos equipamentos puacuteblicos exclusivos agrave demanda solvaacutevel que pode arcar com os custos de moradia (valor de troca dos imoacuteveis impostos e taxas prediais entre outros)

Por sua vez os grupos sociais excluiacutedos produzem o espaccedilo urbano capitalista atraveacutes dos contra-usos (LEITE 2007) que datildeo novos sentidos significados e siacutembolos aos equipamentos puacuteblicos que natildeo estatildeo previstos pelas accedilotildees dos agentes de produccedilatildeo supracitados eou indo de encontro aos usos impostos Isso se daacute pois dentro do espaccedilo urbano capitalista

O uso natildeo se daraacute sem conflitos na medida em que satildeo contraditoacuterios os interesses do capital e da sociedade como um todo enquanto o primeiro tem por objetivo sua reproduccedilatildeo atraveacutes do processo de valorizaccedilatildeo a sociedade anseia por condiccedilotildees melhores de reproduccedilatildeo da vida em sua dimensatildeo plena (CARLOS 2008 p51)

A partir disso inuacutemeros conflitos e disputas se estabelecem no espaccedilo urbano fortalecendo as relaccedilotildees de poder e incentivando por exemplo a praacutetica de poliacuteticas higienistas advindas do Estado burguecircs muito embora os novos significados atribuiacutedos ou contra-sentidos que satildeo distintos dos planejados pelas poliacuteticas urbanas de fato contribuem para a diversidade dos sentidos existentes no presente dos lugares (LEITE 2007) Desta forma corroboramos com os escritos de Lojkine (1997 p 217) quando este afirma que ldquose a poliacutetica urbana capitalista natildeo eacute uma planificaccedilatildeo ndash no sentido de um domiacutenio real da urbanizaccedilatildeo ndash nem por isso deixa de responder a uma loacutegica agrave da segregaccedilatildeo socialrdquo

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Diante do exposto ateacute o momento percebe-se que as accedilotildees dos agentes produtores do espaccedilo urbano ndash embora rebatidos atraveacutes dos contra-usos ndash reforccedilam em diversos momentos a segregaccedilatildeo residencial e soacutecio-espacial que se caracteriza pela concentraccedilatildeo de um determinado grupo de indiviacuteduos que apresentam algum tipo de uniformidade ndash seja pelo status socioeconocircmico etnia etc ndash em algum territoacuterio com vistas agrave manutenccedilatildeo de poderes e privileacutegios seculares (CORREcircA 2000)

Por conseguinte pode-se auferir que o espaccedilo urbano em meio aos processos de (re) produccedilatildeo eacute extremamente conflituoso e foge a qualquer perspectiva de harmonia equiliacutebrio e igualdade uma vez que pode se caracterizar como lugar da expressatildeo dos conflitos (LEFEBVRE 2008) Ademais a proacutepria produccedilatildeo espacial carrega em seu processo a luta antagocircnica de classes que envolvem os interesses do capital versus o da sociedade Como resultado as relaccedilotildees sociais entre os homens do espaccedilo urbano se materializam na propriedade privada que fornece distinccedilatildeo conferindo-lhes poder o direito sobre a cidade e a terra (CARLOS 2008)

Neste sentido a (des) organizaccedilatildeo espacial da cidade apresenta como importante funccedilatildeo a reproduccedilatildeo das relaccedilotildees sociais de produccedilatildeo sempre se adaptando estrategicamente para viabilizar o processo especialmente atraveacutes da segregaccedilatildeo pois eacute atraveacutes das aacutereas sociais segregadas que a reproduccedilatildeo pode ocorrer (LEFEBVRE 1976) OS PROCESSOS DE PRODUCcedilAtildeO DOS PARQUES PUacuteBLICOS

Conforme destacado anteriormente a produccedilatildeo e consumo do espaccedilo se expressa pela materializaccedilatildeo territorial e as relaccedilotildees sociais inerentes ao processo em que ldquoos novos valores culturais poliacuteticos e ideoloacutegicos passam a engendrar as

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caracteriacutesticas de produccedilatildeo e do consumo do espaccedilo hojerdquo (SANTOS 2012 p 283) estando os espaccedilos puacuteblicos de lazer e turismo em meio ao urbano e suas contradiccedilotildees envoltos aos processos supracitados ligados ao reforccedilo da propriedade privada e da expansatildeo da ordem neoliberal Assim as formas com as quais o capitalismo e os capitalistas atuam no espaccedilo urbano geram distorccedilotildees econocircmicas e espaciais

Os espaccedilos de lazer nesse contexto satildeo apontados por Carlos (1999) como simulaccedilotildees de um espaccedilo novo simulacros que satildeo consumidos no momento do lazer e turismo mas que na verdade satildeo reduzidos e decorrentes da necessidade de se manter o padratildeo de acumulaccedilatildeo Satildeo mercadorias de uso temporaacuterio levando-se em consideraccedilatildeo que satildeo apropriadas no momento do natildeo-trabalho dos indiviacuteduos O turismo e o lazer apresentam-se como extensatildeo tendecircncia e estrateacutegia de reproduccedilatildeo estendendo-se cada vez mais ao espaccedilo global

Enquanto espaccedilo de lazer imerso nas contradiccedilotildees do espaccedilo urbano e por conseguinte das cidades os parques puacuteblicos satildeo equipamentos apropriados pela loacutegica do capital como elemento de valorizaccedilatildeo da terra para obtenccedilatildeo de renda extra atraveacutes da exacerbaccedilatildeo do valor de troca incorporado ao valor de uso Como principais impactos das implantaccedilotildees dos espaccedilos de lazer e turismo a exemplo dos parques puacuteblicos percebe-se a limitaccedilatildeo do acesso aos lugares e os novos usos configurados a esses espaccedilos tendo como resultado final a mudanccedila nas relaccedilotildees entre os cidadatildeos e a cidade uma vez que a produccedilatildeo destes possui objetivos classistas e privatistas frente ao coletivo e ao pleno exerciacutecio da cidadania Carlos (1994 p 24) se de um lado o espaccedilo eacute condiccedilatildeo tanto da reproduccedilatildeo do capital quanto da vida humana de outro ele eacute produto e nesse sentido trabalho materializado Ao produzir suas condiccedilotildees de vida a partir das relaccedilotildees capital-trabalho a

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sociedade como um todo produz o espaccedilo e com ele um modo de vida de pensar de sentir

Neste sentido os parques puacuteblicos satildeo ferramentas de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo espacial do capital camuflados de espaccedilos verdes que propiciam o encontro com a natureza com o descanso etc atraveacutes do consumo mesmo que sejam espaccedilos verdes repletos de deploraacuteveis representaccedilotildees urbaniacutesticas constituindo um substituto mediacuteocre da natureza ou seja simulacros degradados do espaccedilo livre (LEFEBVRE 2008) Em realidade vende-se satisfaccedilatildeo geram-se desigualdades uma vez que a satisfaccedilatildeo natildeo eacute para todos mas sim para poucos

Sob as lentes da loacutegica capitalista sobretudo frisando a acumulaccedilatildeo do capital os parques puacuteblicos tornaram-se justificativa e estrateacutegia da especulaccedilatildeo imobiliaacuteria para aumento do valor de imoacuteveis nas proximidades desses espaccedilos verdes de encontro agrave natureza constituindo os bairros de status (GOMES 2013) Desta forma podemos afirmar que muitos gestores puacuteblicos natildeo compreendem a importacircncia dos espaccedilos puacuteblicos para a sociedade uma vez que satildeo espaccedilos garantidos aos cidadatildeos atraveacutes da Constituiccedilatildeo Federal Brasileira poreacutem satildeo altamente especulados pelo Estado (ao dotar de infraestrutura) e capital privado sobretudo os promotores imobiliaacuterios Devido a essa especulaccedilatildeo imobiliaacuteria esses espaccedilos acabam por ter seus usos apropriados por aqueles que residem nas proximidades ou seja por classes dotadas de maior poder de compra (e troca) que acabam por possuiacuterem maior acessibilidade

Por conseguinte os parques puacuteblicos estatildeo em sua maioria implantados em locais especiacuteficos das cidades e raramente abrangem periferias subuacuterbios e locais de populaccedilatildeo de baixa renda Os parques puacuteblicos inseridos em aacutereas privilegiadas recebem constantemente assistecircncia do Estado no que concerne a investimentos para manutenccedilatildeo jaacute

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que percebemos a infraestrutura associada agrave instalaccedilatildeo de equipamentos ainda escassos nos espaccedilos puacuteblicos das regiotildees menos valorizadas

A partir desta loacutegica torna-se clarividente a tocircnica de direcionamento dos investimentos puacuteblicos ou seja eacute fatiacutedico que existe uma arbitrariedade excludente na produccedilatildeo e organizaccedilatildeo espacial das cidades para o lazer Como consequecircncia a segregaccedilatildeo soacutecio-espacial eacute gerada juntamente com a ausecircncia do direito ao lazer para os moradores de regiotildees menos favorecidas No entanto a contradiccedilatildeo emerge no ponto em que estes moradores contribuem em impostos igualmente e natildeo possuem direito agrave cidade que ldquopagamrdquo para morar

Diante disso pode-se observar que os parques constituem-se em locais construiacutedos para atender a fins especiacuteficos que nesse sentido reduz o direito de cidadatildeos agrave cidade ndash jaacute precaacuterio e inexistente conforme demonstra a perspectiva lefebvriana ao apresenta-lo enquanto utopia De fato averiacutegua-se que os parques puacuteblicos satildeo elementos que influenciam na produccedilatildeo do espaccedilo e por esses processos satildeo influenciados traduzindo-se os impactos na forma e momento de consumo e nas dinamicidades intriacutensecas a estes e agraves cidades

No que concerne agrave cidade de AracajuSE conforme jaacute explicitado anteriormente a mesma possui trecircs parques puacuteblicos a saber o Parque da Cidade localizado na zona norte o Parque da Sementeira e o Parque dos Cajueiros ambos localizados na zona sul da cidade Os mesmos emergiram a partir de intervenccedilotildees urbanas realizadas na cidade Embora circunscritos na mesma cidade os parques possuem distinccedilotildees dado aos processos de produccedilatildeo dissemelhantes em decorrecircncia dos investimentos altamente desiguais oriundos do setor puacuteblico fortemente influenciado pelos agentes do capital

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privado possuidores de grandes interesses sobre a terra urbana com vistas agrave reproduccedilatildeo

Tornou-se evidente a partir da observaccedilatildeo in loco que os parques puacuteblicos localizados na zona sul da cidade ndash regiatildeo em que haacute maior concentraccedilatildeo de serviccedilos e residecircncias privadas de alto padratildeo ndash satildeo os que mais recebem investimentos e portanto satildeo dotados de melhor infraestrutura para os visitantes no que concerne agraves funccedilotildees destinadas a esses equipamentos como praacutetica de atividades fiacutesicas piqueniques etc Jaacute o Parque da Cidade (mais distante no que concerne aos dois demais parques puacuteblicos) estaacute localizado em uma aacuterea da cidade de grande carecircncia de serviccedilos puacuteblicos de qualidade onde reside uma parcela da populaccedilatildeo com menor poder aquisitivo O parque enfrenta problemas diversos em termos de infraestrutura o que ocasionou discussotildees acerca da possibilidade de fechamento para visitaccedilatildeo em decorrecircncia da insuficiente destinaccedilatildeo de recursos puacuteblicos para a sua devida manutenccedilatildeo

Nota-se que os parques puacuteblicos fundados na cidade foram altamente influenciados pelo espaccedilo jaacute produzido no seu entorno bem como foram responsaacuteveis por delinear sob o discurso do planejamento neoliberal morfologias cada vez mais conectadas com os processos de valorizaccedilatildeo imobiliaacuteria dentro do rol das metamorfoses urbanas Nesse sentido a produccedilatildeo espacial dos parques puacuteblicos advinda da maacutequina estatal ocorre de modo desleal e desigual considerando que a ideologia hegemocircnica perpetua os interesses de determinados agentes em detrimento das reais atribuiccedilotildees e funccedilotildees do Estado que deveria visar sobretudo os desfavorecidos desprivilegiados os vulneraacuteveis e marginalizados pela loacutegica perversa do capital

Diante desse cenaacuterio faz-se necessaacuterio uma criacutetica ao planejamento tecnocraacutetico realizado pelo Estado e suas formas de reducionismo dos espaccedilos puacuteblicos a meros objetos do

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mercado como no caso axiomaacutetico do Parque da Sementeira em que o equipamento eacute entendido como mercadoria e portanto produzido para tal com o objetivo de servir maiormente agrave especulaccedilatildeo imobiliaacuteria e consequentemente agrave loacutegica do capital

O Parque da Cidade apesar de se configurar como um atrativo turiacutestico da cidade de Aracaju e de estar inserido em alguns roteiros turiacutesticos locais percebe-se que haacute necessidade de se estabelecer estrateacutegias e accedilotildees que visem agrave melhoria do espaccedilo natildeo somente para os turistas mas sobretudo para o lazer dos residentes Todavia haacute de se destacar que o bairro Industrial onde estaacute inserido o parque puacuteblico e o proacuteprio Parque da Cidade ainda natildeo satildeo visionados estrategicamente pelos maiores impulsionadores de investimentos puacuteblicos no que tange agrave produccedilatildeo do espaccedilo urbano os promotores imobiliaacuterios fazendo com que os mesmos permaneccedilam desmemoriados e postergados pela gestatildeo puacuteblica em detrimento dos demais parques acobertados e abarcados pelo mercado imobiliaacuterio local

No que concerne aos promotores imobiliaacuterios estes possuem suas estrateacutegias de especulaccedilatildeo com vistas agrave expansatildeo reproduccedilatildeo e acumulaccedilatildeo do capital a partir da exploraccedilatildeo de porccedilotildees do espaccedilo urbano que satildeo convertidas em mercadoria com exacerbado valor de troca haja vista serem aacutereas privilegiadas por oferta de infraestrutura e serviccedilos puacuteblicos e privados A produccedilatildeo do espaccedilo realizada por esses agentes eacute entrelaccedilada com o suporte do Estado que prevecirc accedilotildees prioritariamente e de modo direcionado conforme os anseios do capital privado sobretudo no caso da cidade de Aracaju com base nos apelos das construtoras de grandes edifiacutecios para servir de condomiacutenios residenciais mercado efervescente na localidade

Deste modo diante das apropriaccedilotildees realizadas do Parque da Sementeira e em menor grau do Parque dos

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Cajueiros pelas grandes construtoras com vistas a valorizar os imoacuteveis ofertados no entorno os promotores imobiliaacuterios exercem demasiada pressatildeo para que o Estado invista nestes equipamentos tanto no que tange agrave manutenccedilatildeo constante quanto aos processos de revitalizaccedilotildees Por conseguinte os parques puacuteblicos valorizados e vislumbrados por tais agentes passam a ser entendidos como extensatildeo e aacuterea de lazer semi-privativa dos condomiacutenios localizados ao redor dos mesmos no qual diversas complexidades os envolvem considerando as dinacircmicas de uso natildeo uso e contra-uso e os conflitos surgidos a partir dos territoacuterios estabelecidos e delineados no interior desses espaccedilos puacuteblicos de lazer a partir da construccedilatildeo das residecircncias nas adjacecircncias conforme destacam os estudos de Rodrigues e Santos (2016 2017a 2017b) Segundo as autoras esse fator eacute desencadeado pelas construtoras que ao ofertar apartamentos nas proximidades do Parque da Sementeira e do Parque dos Cajueiros apropriam-se destes espaccedilos de modo promocional para elevar o valor de troca dos imoacuteveis interiorizando ao comprador que o equipamento eacute elemento constituinte da propriedade adquirida e fazendo com que este estabeleccedila domiacutenios territoriais ndash principalmente ideoloacutegicos ndash sobre e nos parques puacuteblicos

Em contraponto aos promotores imobiliaacuterios bem como ao Estado estatildeo os grupos sociais excluiacutedos entendidos aqui como os indiviacuteduos advindos de localidades longiacutenquas da cidade de Aracaju com destino aos parques puacuteblicos da zona sul (Parque da Sementeira e Parque dos Cajueiros) Os grupos sociais excluiacutedos satildeo compostos majoritariamente por jovens de baixa renda19 que utilizam o parque de muacuteltiplas formas atribuindo-lhe diversos (contra-)sentidos Estes tecircm seu deslocamento motivado para outros espaccedilos da cidade em decorrecircncia dos seus locais de origem e de moradia serem

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Trabalho de Campo 2016 2017

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pouco privilegiados com poliacuteticas puacuteblicas urbanas que incentivem o lazer a partir da instalaccedilatildeo de equipamentos bem como arcando com a manutenccedilatildeo destes jaacute existentes resultando em estrutura precaacuteria e decadente

Ademais correspondem a determinados grupos sociais que ao estabelecerem usos distintos daqueles previstos e declarados pela classe dominante ndash ou seja a demanda solvaacutevel residente das adjacecircncias do parque ndash tornam-se elementos indesejaacuteveis do espaccedilo sendo veementes reprimidos por meio de forccedila maior eou pelos gestos velados dos residentes que veem no Parque da Sementeira mais um territoacuterio de lazer (semi-privativo) enquanto extensatildeo dos luxuosos condomiacutenios Todavia haacute de se considerar que os grupos sociais excluiacutedos satildeo igualmente importantes agentes produtores e consumidores do espaccedilo urbano uma vez que agregam perspectivas diversas para os espaccedilos dos parques embora recorrentemente marginalizados pela loacutegica do capital e seus respectivos agentes

Deste modo os grupos sociais excluiacutedos produzem e consomem o espaccedilo urbano capitalista atraveacutes dos contra-usos Isto decorre do fato de que apesar dos espaccedilos puacuteblicos serem entendidos constitucionalmente como depara todos os cidadatildeos valores sociais dominantes se impotildeem sobre a forma de uso do espaccedilo urbano pois uma vez que os mesmos satildeo apropriados dominados e territorializados comportamentos gestos modelos de construccedilatildeo excluemincluem determinando e direcionando os fluxos A partir disso inuacutemeros conflitos e disputas se estabelecem no espaccedilo urbano transparecendo e perpetuando as relaccedilotildees de poder

Assim sendo verificou-se que os parques puacuteblicos inseridos em aacutereas privilegiadas pelo capital privado recebem constantemente assistecircncia do Estado no que concerne a investimentos para manutenccedilatildeo diferentemente dos espaccedilos puacuteblicos das regiotildees menos valorizadas pelos agentes do jogo

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imobiliaacuterio sendo fatiacutedico que existe uma arbitrariedade excludente na produccedilatildeo e organizaccedilatildeo espacial das cidades para o lazer CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Diante do cenaacuterio exposto faz-se necessaacuterio primordialmente uma criacutetica ao planejamento tecnocraacutetico realizado pelo Estado e suas formas de reducionismo dos espaccedilos puacuteblicos a meros objetos do mercado como no caso do Parque da Sementeira mais fortemente ndash quando comparado ao Parque dos Cajueiros ndash em que o equipamento eacute entendido como mercadoria servindo maiormente agrave especulaccedilatildeo imobiliaacuteria e consequentemente agrave loacutegica do capital Neste sentido os parques puacuteblicos se constituem em peccedilas fundamentais no processo de mercantilizaccedilatildeo das cidades regidos por uma ordem obscura e perversa muitas vezes ignorada e travestida como faacutebula pelos discursos hegemocircnicos

Finalmente em anaacutelise comparativa observa-se que as dinacircmicas de produccedilatildeo e apropriaccedilatildeo dos espaccedilos puacuteblicos satildeo distintas ateacute mesmo em equipamentos que apresentem fins similares e estatildeo alocados na mesma cidade como eacute o caso do Parque da Cidade Parque da Sementeira e o Parque dos Cajueiros Aleacutem disso o fator localizaccedilatildeo influencia por completo as formas de produccedilatildeo dos espaccedilos puacuteblicos de lazer e turismo na contemporaneidade pois se pocircde perceber atraveacutes da pesquisa realizada que o Parque da Sementeira e o Parque dos Cajueiros ndash com grande proximidade ndash satildeo muito semelhantes em caracteriacutesticas com algumas nuances que os distinguem levando-se em consideraccedilatildeo que os processos ocorrem de forma desigual no espaccedilo e no tempo Todavia estatildeo em posiccedilatildeo completamente antagocircnica ao Parque da Cidade considerando que este estaacute localizado em uma regiatildeo

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ainda desfavorecida e desprivilegiada pelo capital privado e por conseguinte pelos investimentos puacuteblicos haja vista que ambos sob a loacutegica capitalista neoliberal satildeo indissociaacuteveis

Deste modo constatou-se que os espaccedilos puacuteblicos possuem configuraccedilotildees antagocircnicas e por vezes conflituosas principalmente quando estatildeo localizados em regiotildees distintas nas quais as inuacutemeras contradiccedilotildees que podem existir no urbano ligado (in) diretamente agrave loacutegica do capital satildeo evidenciadas atreladas tambeacutem ao lazer e ao turismo Assim nota-se que haacute a necessidade de se estabelecer accedilotildees que visem agrave melhoria desses espaccedilos natildeo somente visando a arrecadaccedilatildeo de divisas por meio da atividade turiacutestica mas sobretudo para os residentes visando estrateacutegias que possibilitem a apropriaccedilatildeo por turistas e pelos cidadatildeos aracajuanos tendo em vista a multiplicidade de sentidos que estes espaccedilos representam para a sociedade em funccedilatildeo da cultura haacutebitos costumes que natildeo podem ser negligenciados em detrimento de interesses econocircmicos sobrepostos agrave sociabilidade e coletividade REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS CARLOS Ana Fani Alessandri O Consumo do Espaccedilo In CARLOS Ana Fani Alessandri et al Novos Caminhos da Geografia Satildeo Paulo Contexto 1999 CARLOS Ana Fani Alessandri A (re) produccedilatildeo do espaccedilo urbano Satildeo Paulo Edusp 1994 CARLOS Ana Fani Alessandri A (re) produccedilatildeo do Espaccedilo Urbano Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2008 CORREcircA Roberto Lobato O Espaccedilo Urbano 4 ed Satildeo Paulo Editora Aacutetica 2000

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CORREcircA Roberto Lobato Sobre Agentes Sociais Escala e Produccedilatildeo do Espaccedilo um texto para discussatildeo In CARLOS Ana Fani Alessandri SOUZA Marcelo Lopes SPOSITO Maria Encarnaccedilatildeo Beltratildeo (Orgs) A Produccedilatildeo do Espaccedilo Urbano Agentes e Processos Escalas e desafios Satildeo Paulo Contexto 2011 ENGELS Friedrich A Origem da Famiacutelia da Propriedade Privada e do Estado Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 1975 GOMES Marcos Antocircnio Silvestre Os parques urbanos e a produccedilatildeo do espaccedilo urbano Jundiaiacute SP Paco Editorial 2013 GOTTDIENER Mark A produccedilatildeo social do espaccedilo urbano 2 ed Satildeo Paulo Edusp 1997 HARVEY David A Produccedilatildeo Capitalista do Espaccedilo 2 ed Satildeo Paulo Editora Annablume 2006 LEFEBVRE Henri Espacio y poliacutetica Barcelona Ediciones Peniacutensula 1976 LEFEBVRE Henri A Revoluccedilatildeo Urbana 3 ed Belo Horizonte Editora UFMG 2008 LEITE R P Contra-usos da Cidades lugares e espaccedilo puacuteblico na experiecircncia urbana contemporacircnea 2 ed Campinas SP Editora da UNICAMP Aracaju SE Editora UFS 2007 LOJKINE Jean O Estado Capitalista e a Questatildeo Urbana 2ed Satildeo Paulo Martins Fontes 1997

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MARX Karl O capital criacutetica da economia poliacutetica 31 ed Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 2013 MARX Karl ENGELS Friedrich O Manifesto Comunista (1848) 5 ed Rio de Janeiro Paz e Terra 1999 RODRIGUES Larissa Prado SANTOS Cristiane Alcacircntara de Jesus Santos As Dinacircmicas de Uso Natildeo Uso e Contra-Uso dos Parques Puacuteblicos da cidade de AracajuSE In Anais do XV Simpoacutesio Nacional de Geografia Urbana (SIMPURB) Salvador Universidade Federal da Bahia 2017a p 1-21 RODRIGUES Larissa Prado SANTOS Cristiane Alcacircntara de Jesus Santos O Parque da Sementeira como Espaccedilo Puacuteblico de Lazer Turismo e Direito agrave Cidade In Anais do Seminaacuterio Nacional 10 Anos do Curso de Turismo da UFS Satildeo Cristoacutevatildeo Universidade Federal de Sergipe 2016 p 112-122 RODRIGUES Larissa Prado SANTOS Cristiane Alcacircntara de Jesus Santos Produccedilatildeo e Consumo dos Espaccedilos Puacuteblicos de Lazer e Turismo In II Seminaacuterio Nacional de Turismo da UFS Satildeo Cristoacutevatildeo Universidade Federal de Sergipe 2017b No prelo SANTOS Cristiane Alcacircntara de Jesus Produccedilatildeo e Consumo de Espaccedilos Turiacutesticos Apropriaccedilatildeo de Espaccedilos Puacuteblicos de Lazer e Turismo em AracajuSE In CORIOLANO Luzia Neide VASCONCELOS Faacutebio Perdigatildeo (Orgs) Turismo Territoacuterio e Conflitos Imobiliaacuterios Fortaleza Ed UECE 2012

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A FINANCEIRIZACcedilAtildeO DA HABITACcedilAtildeO E AS CONTRADICcedilOtildeES DO PROGRAMA MINHA CASA

MINHA VIDA(PMCMV) NA REGIAtildeO METROPOLITANA DE ARACAJU (RMA)

Maacuterio Jorge Silva Santos

Universidade Federal de Sergipe Laboratoacuterio de Estudos Territoriais(LATER) Doutorando PPGEOUFS

E mail mariojorge33gmailcom

Ana Rocha dos Santos

Universidade Federal de Sergipe Laboratoacuterio de Estudos Territoriais(LATER) Prof Dr PPGEOUFS

E mail anarochaufsgmailcom

RESUMO

O presente artigo tem como objetivo analisar as contradiccedilotildees da poliacutetica de habitaccedilatildeo do Programa Minha Casa Minha Vida(PMCMV) na Regiatildeo metropolitana de Aracaju(RMA) no periacuteodo de 2009 a 2014 Para tanto buscamos reconstituir as accedilotildees deste programa localizando e espacializando os empreendimentos imobiliaacuterios construiacutedos na RMA e analisando como estes reconfiguraram a dinacircmica territorial da regiatildeo Estes procedimentos metodoloacutegicos foram completados com a realizaccedilatildeo de trabalhos de campo e entrevistas com os moradores destes empreendimentos habitacionais com o propoacutesito de desvelar as dificuldades encontradas quanto a permanecircncia nestas unidades habitacionais bem como as formas de acesso ao sistema de produccedilatildeo e financeirizaccedilatildeo uma vez que este acesso eacute controlado pelos agentes construtores e financiadores do espaccedilo tendo como consequecircncia a produccedilatildeo de profundas

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contradiccedilotildees socioespaciais na regiatildeo Desse modo o que propomos neste artigo eacute que atraveacutes do Estado e a poliacutetica de habitaccedilatildeo do PMCMV o processo de produccedilatildeo da Regiatildeo Metropolitana de Aracaju reflete as condiccedilotildees e problemas expostos entre a mercantilizaccedilatildeo do espaccedilo e o consumo coletivo de habitaccedilatildeo que vem se intensificando atraveacutes da financeirizaccedilatildeo da habitaccedilatildeo que acentua a fragmentaccedilatildeo hierarquizaccedilatildeo e segregaccedilatildeo do espaccedilo regional metropolitano PALAVRAS-CHAVE Espaccedilo Financeirizaccedilatildeo Habitaccedilatildeo INTRODUCcedilAtildeO

Diante da crise estrutural do capital que se apresentou a partir de 2008 e tambeacutem em decorrecircncia da proacutepria jaacute vivida pelo setor da construccedilatildeo civil no Brasil apoacutes a abertura dos seus capitais para o mundo20 atraveacutes das bolsas de valores o governo Lula com o objetivo de dinamizar a economia e garantir a reproduccedilatildeo do capital via setor da construccedilatildeo lanccedilou o Programa Minha Casa Minha Vida (PMCMV)

Constituiacutedo em 2008 se dividiu em fases a primeira estabelecida em 2009 por meio da Lei n o 119772009 e a segunda em 2011 com a Lei n o 124242011 Aleacutem desses dois instrumentos legais o programa eacute regido por uma seacuterie de portarias interministeriais e decretos presidenciais Cada uma das duas fases do programa objetivava construir 1 milhatildeo de

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De acordo com Martins (2010) a abertura de capital na bolsa de

valores por parte das grandes e meacutedias empresas de construccedilatildeo no Brasil

a partir de 2007 provocou uma grande captaccedilatildeo de recursos que foram

aplicados na compra de terrenos esse processo ficou conhecido como

nacionalizaccedilatildeo do setor de construccedilatildeo Abrir o capital significa receber

rapidamente um grande montante de dinheiro em adiantamento o que

significa consequentemente quando bem aplicado um avanccedilo de

concorrecircncia frente agraves empresas do setor

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moradias para famiacutelias com renda inferior a 10 salaacuterios miacutenimos (SM) mensais

A estrutura de implementaccedilatildeo criada para o programa foge bastante agrave tradiccedilatildeo do setor habitacional no Brasil A Caixa Econocircmica Federal (CEF) eacute gestora operacional do PMCMV recebendo e aprovando (ou natildeo) as propostas de construccedilatildeo dos empreendimentos apresentadas diretamente por empresas da construccedilatildeo civil Aos governos locais coube principalmente a viabilizaccedilatildeo da questatildeo da terra apoacutes a adesatildeo ao programa junto agrave CEF

O funcionamento do Programa Minha Casa Minha Vida ateacute 2014 foi subdividido em trecircs faixas de renda A faixa 1 que inclui famiacutelias com renda de 0 a 3 salaacuterios miacutenimos e funciona da seguinte forma segundo a cartilha do programa a Uniatildeo aloca recursos por aacuterea do territoacuterio nacional e solicita apresentaccedilatildeo de projetos os estados e municiacutepios realizam cadastramento da demanda e apoacutes triagem indicam famiacutelias para seleccedilatildeo utilizando as informaccedilotildees do cadastro uacutenico

As construtoras apresentam projetos agraves superintendecircncias regionais da Caixa Econocircmica Federal podendo fazecirc-los em parceria com estados municiacutepios cooperativas movimentos sociais ou independentemente Apoacutes anaacutelise simplificada a Caixa Econocircmica Federal contrata a operaccedilatildeo acompanha a execuccedilatildeo da obra pela construtora libera recursos conforme cronograma e concluiacutedo o empreendimento realiza o seu desligamento

Segundo dados do Ministeacuterio das Cidades (2013) o Programa Minha Casa Minha Vida jaacute contratou desde seu periacuteodo de existecircncia a construccedilatildeo de 32 milhotildees de moradias Destas mais de 14 milhotildees jaacute foram entregues e deste total o governo Lula (2003-2010) entregou cerca de 700 mil unidades Entretanto esses nuacutemeros esbarraram na constataccedilatildeo de que a construccedilatildeo de moradia no Brasil funciona como uma soluccedilatildeo para as crises estruturais do capital

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submetendo-se agrave loacutegica de reproduccedilatildeo e do lucro por parte do capital especulativo imobiliaacuterio constatado pela perenidade do deacuteficit habitacional no paiacutes Sendo assim como resultado desse processo grande parte da populaccedilatildeo brasileira continua sem acesso agrave moradia e natildeo eacute atendida pelos programas de financiamento de habitaccedilatildeo resultante de uma poliacutetica que sempre repete interesses ligados agrave movimentaccedilatildeo da economia e da induacutestria de construccedilatildeo mantendo o poder do Estado Neste contexto Campos (2006) indica que embora nos uacuteltimos anos tenha havido tentativas de descentralizar as poliacuteticas de habitaccedilatildeo urbana com um modelo ambiacuteguo de ampliaccedilatildeo de competecircncias e atribuiccedilotildees municipais como no caso do Minha Casa Minha Vida isto vem provocando com mais forccedila a periferizaccedilatildeo das populaccedilotildees mais pobres sejam elas isoladas em favelas ou loteamentos irregulares sejam aquelas de renda um pouco superior que passam a viver nos conjuntos habitacionais segregados socioespacialmente O PROGRAMA MINHA CASA MINHA VIDA PRODUCcedilAtildeO HABITACIONAL E CONTRADICcedilOtildeES SOCIOESPACIAIS NA RMA

A Regiatildeo Metropolitana de Aracaju criada pela Lei

Complementar Estadual nordm 25 de 29 de dezembro de 1995 eacute composta pelos Municiacutepios de Aracaju(SE) Barra dos Coqueiros(SE) Nossa Senhora do Socorro(SE) e Satildeo Cristoacutevatildeo(SE) tendo como sede o municiacutepio de Aracaju Possui populaccedilatildeo estimada de 835654 habitantes (IBGE 2010) A populaccedilatildeo da regiatildeo metropolitana de Aracaju cresce aceleradamente devido agrave imigraccedilatildeo de pessoas provenientes de outros municiacutepios de Sergipe especialmente de aacutereas rurais bem como de outros Estados da Federaccedilatildeo especialmente de cidades do norte da Bahia (FRANCcedilA 1999)

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Na Regiatildeo Metropolitana de Aracaju assim como em outras aglomeraccedilotildees urbanas em seu processo de expansatildeo amplia-se a abrangecircncia dos fluxos do capital mais frequentes seja de pessoas ou de mercadorias e estreita relaccedilotildees com aglomeraccedilotildees vizinhas mesmo localizadas descontinuamente enquanto aumenta seu perfil concentrador e consolida sua importacircncia como elo de inserccedilatildeo do paiacutesregiatildeo na divisatildeo social do trabalho

Neste contexto na RMA o PMCMV foi a partir de 2009 o principal responsaacutevel pela expansatildeo das unidades habitacionais atraveacutes da construccedilatildeo de diversos empreendimentos imobiliaacuterios principalmente na sua periferia Isto porque todos os municiacutepios que compotildeem a RMA aderiram ao PMCMV como uma poliacutetica de construccedilatildeo de habitaccedilatildeo com estrutura centrada no papel do financiamento e subsiacutedio como forma de garantir moradia para a populaccedilatildeo

A tabela 01 apresenta segundo o Ministeacuterio das Cidades o quantitativo de unidades habitacionais entregues no periacuteodo de 2009 a 2014 na RMA Observa-se que em toda regiatildeo foram entregues pelo PMCMV 36209 unidades habitacionais 20639 na cidade se Aracaju 2345 na Barra dos Coqueiros 3313 no municiacutepio de Nossa Senhora do Socorro e por fim 10112 no municiacutepio de Satildeo Cristoacutevatildeo

Essas unidades habitacionais entregues correspondem a todas as modalidades do programa ou seja imoacuteveis da Zona Urbana e Rural nas modalidades de construccedilatildeo executadas por construtoras (FAR Empresas) por Entidades (Associaccedilatildeo de Moradores e outras) sendo que neste caso das entidades as unidades habitacionais devem ser atendidas obrigatoriamente na faixa 01 do programa

Para atender aos objetivos da pesquisa trataremos portanto de identificar e analisar as unidades habitacionais construiacutedas na RMA da modalidade FAR Empresas ou seja aquelas feitas por construtoras e incorporadoras pois

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representam a vertente mais contundente e quantitativa dos imoacuteveis construiacutedos na regiatildeo uma vez que as demais modalidades tecircm pouca representatividade no contexto geral produzido tendo sido excluiacutedas da nossa pesquisa Tabela 01 Unidades habitacionais entregues PMCMV na Regiatildeo Metropolitana de Aracaju (2009-2014)

Ano

Aracajuse Barra dos Coqueiros

Nossa Senhora

do Socorro

Satildeo Cristoacutevatildeo

Total de unidades

habitacionais entregues na

RMA

2014 5366 752 1655 2822 10595

2013 4666 524 461 2624 8275

2012 4261 373 393 1764 6791

2011 3409 360 319 1636 5724

2010 2937 336 285 1266 4824

Total 20639 2345 3113 10112 36209

Fonte Ministeacuterio das Cidades (2016)

Em termos relativos de acordo com os dados do MIC

haacute uma concentraccedilatildeo de unidades entregues na cidade de Aracaju O total neste municiacutepio corresponde a 569 de todas as unidades habitacionais entregues pelo PMCMV na RMA Satildeo Cristoacutevatildeo eacute o municiacutepio que mais vem crescendo proporcionalmente na regiatildeo tanto em unidades habitacionais entregues como em nuacutemero de unidades contratadas

Conforme a tabela 02 que apresenta o nuacutemero de contratos por ano do PMCMV eacute possiacutevel notar essa tendecircncia de crescimento em Satildeo Cristoacutevatildeo(SE) Haacute uma niacutetida vantagem quantitativa locacional de empreendimentos do programa no municiacutepio em comparaccedilatildeo aos outros que fazem parte da regiatildeo mesmo diante de vaacuterias situaccedilotildees deficitaacuterias na infraestrutura saneamento e condiccedilatildeo de vida da populaccedilatildeo

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que vive nas aacutereas que estatildeo recebendo estes empreendimentos do programa

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Tabela 02 Unidades habitacionais contratadas pelo PMCMV na Regiatildeo Metropolitana de Aracaju (2009-20014)

ANO

ARACAJU BARRA DOS COQUEIROS

NOSSA SENHORA

DO SOCORRO

SAtildeO CRISTOacuteVAtildeO

TOTAL DE UNIDADES

HABITACIONAIS CONTRATADAS

NA RMA

2014 15048 2837 3063 4685 25633

2013 13767 1644 3386 5187 23984

2012 9709 1140 1723 3898 16470

2011 7389 919 1222 3141 12671

2010 6090 455 430 2705 9680

2009 2213 443 - 381 3038

TOTAL 54216 7438 9825 19997 91476 Fonte Ministeacuterio das Cidades (2016)

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Jaacute em relaccedilatildeo ao nuacutemero de unidades habitacionais concluiacutedas pelo PMCMV na Regiatildeo Metropolitana de Aracaju eacute importante perceber que pelos dados da tabela 03 haacute um estoque de unidades construiacutedas em toda a regiatildeo Esse nuacutemero eacute explicado pelo caraacuteter do programa que natildeo vincula a construccedilatildeo agrave entrega uma vez que as construtoras que aprovam seus projetos junto agrave Caixa natildeo tecircm garantia de compra imediata nas faixas 02 e 03 do programa

Por isso as incorporadoras passam a ter nesses imoacuteveis uma alternativa de venda mais direcionada a uma determinada parcela da populaccedilatildeo apresentando a compra como uma modalidade vantajosa em comparaccedilatildeo ao preccedilo de mercado tradicional uma vez que o comprador pode obter subsiacutedios de ateacute 25 mil reais na compra aleacutem de taxas de juros no financiamento menores que as cobradas pelo mercado tradicional

Todos esses fatores entretanto natildeo satildeo garantias da venda imediata do imoacutevel por isso uma das estrateacutegias de venda eacute o lanccedilamento do imoacutevel antes mesmo da sua construccedilatildeo Essa taacutetica eacute usada pelo mercado imobiliaacuterio em todos os tipos de construccedilatildeo independente dos programas de habitaccedilatildeo propostos pelo governo

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Tabela 03 Unidades habitacionais concluiacutedas pelo PMCMV na Regiatildeo Metropolitana de Aracaju (2009-20014)

Ano Aracaju Barra dos Coqueiro

Nossa Senhora do

Socorro Satildeo Cristoacutevatildeo

Total de unidades habitacionais concluiacutedas na

RMA

2014 8745 1151 1906 4130 15932

2013 8363 988 1099 4004 14454

2012 5961 484 413 2061 8919

2011 4048 471 160 1143 5822

2010 1414 311 3 134 1862

Total de unidades

28531 3405 3581 11472 46989

Fonte Ministeacuterio das Cidades (2016)

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Essa problemaacutetica da quantidade de unidades habitacionais concluiacutedas precisa ser analisada pela concentraccedilatildeo de imoacuteveis a serem negociados nas faixas 2 e 3 do programa o que acarretou ao longo desses cinco anos uma possiacutevel sobrecarga de produccedilatildeo de imoacuteveis destinados a essa faixa de renda Se junta a isso o fato de que esse estoque pode significar a incapacidade econocircmica de absorver essa quantidade de imoacuteveis por parte dos possiacuteveis compradores

O graacutefico 01 nos remete a essa realidade ao apresentar as caracteriacutesticas do programa a partir do comparativo entre as unidades contratadas as unidades concluiacutedas e as unidades entregues No caso da Regiatildeo Metropolitana de Aracaju no periacuteodo estudado eacute possiacutevel perceber que essa tendecircncia de estoque de unidades habitacionais concluiacutedas comeccedila a ser vista a partir de 2012 e esse eacute um processo que continua crescente nos anos seguintes

Sendo assim pelos dados obtidos e considerando a diferenccedila quantitativa entre o nuacutemero de unidades habitacionais concluiacutedas e o nuacutemero de unidades habitacionais entregues chegamos a conclusatildeo que em toda regiatildeo Metropolitana de Aracaju existe um estoque de unidades concluiacutedas do PMCMV de 10780 unidades habitacionais Em Aracaju esse nuacutemero eacute de 7892 unidades na Barra dos Coqueiros 1236 unidades em Nossa Senhora do Socorro 468 unidades e em Satildeo Cristoacutevatildeo 1360 unidades habitacionais

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Graacutefico 01 Unidades habitacionais contratadas concluiacutedas e entregues pelo PMCMV na Regiatildeo Metropolitana de Aracaju (2009-20014)

Fonte Ministeacuterio das Cidades (2016)

Eacute importante salientar que no caso dos poucos

empreendimentos construiacutedos na faixa 01 do programa na RMA esses como se tratam de imoacuteveis com subsiacutedios do governo com pagamentos que podem chegar a ateacute 96 do preccedilo do imoacutevel seus proprietaacuterios selecionados pelas prefeituras fazem a sua ocupaccedilatildeo imediata natildeo produzindo nenhum tipo de estoque

Isto tem como consequecircncia direta no sistema de financiamento de habitaccedilatildeo a preferecircncia por construccedilatildeo e a grande quantidade de unidades habitacionais oferecidas pelas construtoras e suas incorporadoras dentro das faixas 2 e 3 do Programa Minha Casa Minha Vida com o uso na miacutedia de propagandas que diferencia e qualifica os empreendimentos a partir de sua inserccedilatildeo nesta poliacutetica de habitaccedilatildeo

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Aleacutem disso percebe-se tambeacutem que o niacutevel de comercializaccedilatildeo desses imoacuteveis eacute bastante alto A materializaccedilatildeo mais marcante desse problema eacute a grande quantidade de imoacuteveis com placas de aluga-se e vende-se encontradas nos diversos empreendimentos observados nos trabalhos de campo bem como a venda desses imoacuteveis atraveacutes de corretoras e anuacutencios em sites de internet com uma alta concentraccedilatildeo nas unidades das faixas citadas

Por outro lado a financeirizaccedilatildeo da habitaccedilatildeo locomotiva do PMCMV produz uma contradiccedilatildeo ainda maior o nuacutemero pequeno de contratos na faixa 01 do programa Isto porque as construtoras natildeo se interessam por essa modalidade de construccedilatildeo aleacutem disso os recursos nessa faixa satildeo provenientes do Governo Federal oriundos do Orccedilamento Geral da Uniatildeo e dependem de liberaccedilatildeo poliacutetica

Em entrevista com um diretor comercial de uma das construtoras que atua no mercado de construccedilatildeo da RMA e que jaacute teve projetos aprovados junto agrave CAIXA na faixa 01 foi possiacutevel entender que o lucro e as dificuldades de adequar o custo da construccedilatildeo e o valor maacuteximo por unidade habitacional exigido pelo programa No caso da regiatildeo metropolitana uma variaccedilatildeo maacutexima 76 mil reais por unidade habitacional com prestaccedilatildeo sem comprometer mais de 10 da renda familiar satildeo os grandes problemas apontados

Diante desse quadro as construtoras natildeo se mostram interessadas nesse tipo de construccedilatildeo uma vez que a seleccedilatildeo dos proprietaacuterios eacute feita pelas prefeituras e a margem de lucro apesar dos subsiacutedios pagos pelo governo que pode chegar a 95 do valor do imoacutevel dependendo da renda e do valor final da unidade esse quadro natildeo agrada aos construtores pois a margem de lucro diante do valor da terra e os custos de construccedilatildeo satildeo segundo o entrevistado muito pequena

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- Para garantir o maacuteximo do subsiacutedio eacute necessaacuterio baratear o preccedilo final dos imoacuteveis para essa faixa do programa Por isso a busca por terreno e por formas de diminuir os custos da construccedilatildeo torna-se complicado na realidade da cidade e ateacute dos municiacutepios vizinhos Preferimos a faixa 2 e 3 a natildeo ser que a prefeitura entre com o terreno (Agente construtor)

Aleacutem disso os recursos para pagamento dessas

unidades ainda que possam chegar a 96 do valor total provecircm dos recursos do OGU (Orccedilamento Geral da Uniatildeo) e dependem de fatores poliacuteticos para serem liberados podendo ser cortados ou diminuiacutedos ao longo do exerciacutecio fiscal anual Essa realidade eacute bem significativa ao analisarmos o graacutefico 02 Ele nos mostra a quantidade de contratos por faixas do programa na RMA Apesar de ter havido uma evoluccedilatildeo na quantidade de contratos na faixa 01 esses contratos natildeo se materializaram no nuacutemero unidades entregues nessa faixa do programa

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Graacutefico 02 Unidades habitacionais contratadas por faixas pelo PMCMV na Regiatildeo Metropolitana de Aracaju (2009-2014)

Fonte Ministeacuterio das Cidades (2016)

Por outro lado a faixas 2 e 3 cresceram

vertiginosamente em nuacutemeros de contratos e alcanccedilaram resultados tambeacutem maiores na entrega das unidades habitacionais na regiatildeo Isto posto parece ser melhor negoacutecio vender casas a prover habitaccedilatildeo

Essa realidade pode ser confirmada de acordo com os nuacutemeros do quadro 01 A quase insignificante quantidade de habitaccedilotildees entregues na faixa 01 no periacuteodo de 2009 a 2014 na RMA Apenas 1631 unidades concentradas nos municiacutepios de Aracaju e Satildeo Cristoacutevatildeo

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Quadro 01 Unidades habitacionais entregues pelo PMCMV pela faixa 1 na Regiatildeo Metropolitana de Aracaju de 2009 a 2014

RMA- Municiacutepios

Empreendimentos do PMCMV ndash

faixa 01

Unidades habitacionais

Bairro

ARACAJU

Residencial Jardim Santa Maria

281 Santa Maria

Residencial Santa Maria

468 Santa Maria

Residencial Zilda Arns

144 Cidade Nova

Residencial Jaime Norberto

369 Porto Dantas

SAtildeO CRISTOacuteVAtildeO

Residencial Vila Real

369 Rosa Elze

TOTAL 05 1631 04

Fonte CEF (2016) e trabalho de campo Como se tratam de unidades habitacionais compradas

com subsiacutedios quase que total em relaccedilatildeo ao valor do imoacutevel com recursos financeiros do OGU os dados informativos desses empreendimentos bem como seus beneficiados satildeo puacuteblicos e divulgados na aacuterea virtual do CEF no siacutetio do PMCMV

Esses empreendimentos estatildeo localizados em Bairros perifeacutericos da regiatildeo como os Bairros Santa Maria e Porto Dantas em Aracaju e o Bairro Rosa Elze em Satildeo Cristoacutevatildeo

Analisando essa problemaacutetica do baixo nuacutemero de empreendimentos voltados agrave faixa 01 do PMCMV na cidade de Aracaju FRANCcedilA S (2016) aponta que esses empreendimentos apresentam vaacuterios problemas

Esses empreendimentos voltados para famiacutelias de baixa renda estatildeo em bairros que apresentam condiccedilotildees de

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infraestrutura e serviccedilos puacuteblicos insuficientes e fora do tecido urbano consolidado dificuldade de acesso a transporte puacuteblico com entorno cercado de grandes glebas a exemplo do Residencial Jaime Norberto Silva localizado no bairro Porto Dantas um dos mais carentes e problemaacuteticos no tocante a saneamento baacutesico mobilidade e criminalidade e portanto com baixo

valor da terra (FRANCcedilA S 2016 p85)

Trata-se de empreendimentos que foram construiacutedos e

entregues a famiacutelias de baixa renda na maioria dos casos provenientes de aacutereas de assentamentos subnormais ou de moradores de ocupaccedilotildees de outros lugares da regiatildeo e que receberam os imoacuteveis por satisfazerem os criteacuterios sociais e sorteados por listas puacuteblicas

Grande parte dos moradores desses condomiacutenios natildeo viviam no bairro onde os empreendimentos foram construiacutedos Eles tiveram suas vidas transformadas no seu cotidiano o que acarreta em uma seacuterie de dificuldades de se adaptar agrave nova realidade ainda que tenham adquirido uma casa para morar

Essas dificuldades podem ser analisadas a partir de vaacuterias perspectivas a primeira eacute estruturante trata-se da ruptura com os meios de produccedilatildeo social de vida jaacute que satildeo famiacutelias carentes e que viviam em sua maioria de atividades ligadas a proacutepria localidade onde moravam o que provoca em muitos proprietaacuterios dificuldades de permanecer no imoacutevel recebido Outro problema que detectamos nesta pesquisa em relaccedilatildeo aos empreendimentos construiacutedos nesta faixa na RMA eacute a dificuldade encontrada pelos moradores em relaccedilatildeo a responsabilidade por parte dos construtores no processo de

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manutenccedilatildeo da estrutura fiacutesica dos preacutedios o que acaba por provocar uma raacutepida deterioraccedilatildeo dos imoacuteveis

- Aqui quando a gente tem um problema eacute maior dificuldade pra resolver parece que a gente recebeu a casa de favor a construtora natildeo vem resolver nada parece que quem mora aqui eacute cachorro (Morador do Residencial Zilda Arns)

Quanto ao tipo de imoacuteveis construiacutedos os

empreendimentos satildeo compostos por blocos de apartamentos com aacutereas fechadas por muros ou cercas Os moradores aleacutem da prestaccedilatildeo do imoacutevel satildeo obrigados a pagar a taxa de condomiacutenio aacutegua e luz

No caso desses empreendimentos a existecircncia de muros e cercas natildeo se configura na garantia de seguranccedila Satildeo muitas as reclamaccedilotildees referentes a assaltos e roubos nos apartamentos especialmente em virtude dos primeiros meses em que os imoacuteveis foram ocupados Muitos moradores desses empreendimentos acabam sendo obrigados a vender seu apartamento por total falta de condiccedilatildeo financeira inclusive de pagar taxas e outras obrigaccedilotildees Aleacutem disso haacute tambeacutem um aproveitamento de especuladores que compram esses imoacuteveis e revendem no mercado dentro de uma loacutegica de revalorizaccedilatildeo do espaccedilo obrigando mais uma vez a populaccedilatildeo mais pobre a voltar para aacutereas ainda mais perifeacutericas ou ateacute mesmo para antigas localidades ocupadas

Jaacute os empreendimentos destinados agrave faixa 2 e 3 do PMCMV espalhados pela RMA como se tratam de empreendimentos voltados a famiacutelias com rendimentos superiores a trecircs salaacuterios miacutenimos regido sob a forma de contratos bancaacuterios torna-se difiacutecil a identificaccedilatildeo dos empreendimentos de forma individualizada visto que a sua

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construccedilatildeo natildeo significa a entrega efetiva das unidades habitacionais

Os dados informados pelo Ministeacuterio das Cidades gestor do PMCMV subtraindo-se aqueles que pertencem a faixa 1 ou seja 1631 e aqueles construiacutedos por Entidades que somam 873 nos remete a entender que foram entregues na RMA 33705 unidades habitacionais pelo programa nas faixas 2 e 3 na RMA de 2009 a 2014

Esse nuacutemero eacute conflitante agrave medida em que se busca confirmar na base local de informaccedilotildees (Prefeituras e localizaccedilatildeo via trabalho de campo de empreendimentos construiacutedos pelas faixas 2 e 3 do programa na RMA) e muitas vezes tornam-se ateacute distante da realidade levantada com os oacutergatildeos de licenciamento de obras contrataccedilatildeo e financiamento dessas unidades pois como jaacute exposto trata-se de contratos financeiros

Entretanto os trabalhos de campo com levantamento desses dados bem como as consultas a base de dados dos oacutergatildeos responsaacuteveis pela liberaccedilatildeo de obras nos municiacutepios da regiatildeo metropolitana e em consonacircncia com os dados levantados junto agrave Superintendecircncia local da Caixa Econocircmica Federal apontam para a construccedilatildeo de 17744 unidades habitacionais nas faixas 2 e 3 do PMCMV entre 2009 e 2014 na Regiatildeo Metropolitana de Aracaju (Tabela 04)

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Tabela 04 Comparativo do nuacutemero de unidades habitacionais entregues pelo PMCMV na RMA identificadas com os trabalhos de campo e o nuacutemero de unidades informadas pelo Ministeacuterio das Cidades de 2009 a 2014

RMA- Municiacutepios

Empreendimentos do PMCMV ndash

faixa 02 e 0321

Unidades habitacionais

22

Unidades habitacionais

23 ARACAJU 47 10464 19062

BARRA DOS

COQUEIROS

10 1904 2195

N S DO SOCORRO

08 2136 2762

SAtildeO CRISTOacuteVAtilde

O

15 3240 9686

TOTAL 80 17744 33705

Fonte Ministeacuterio das Cidades e Trabalhos de Campo

O mapa 01 espacializa todos os empreendimentos

construiacutedos pelo PMCMV na RMA sendo possiacutevel notar uma concentraccedilatildeo de empreendimentos da faixa 2 e 3 em determinadas aacutereas da RMA essas aacutereas satildeo

21

Informaccedilotildees levantadas atraveacutes das prefeituras dos municiacutepios

Superintendecircncia da CEF e trabalhos de campo 22 Informaccedilotildees levantadas atraveacutes das prefeituras dos municiacutepios

Superintendecircncia da CEF e trabalhos de campo 23 Informaccedilotildees do Ministeacuterio das Cidades

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1- Em Aracaju na zona oeste no Bairro Jabutiana e na zona sul nos bairros Santa Maria e Zona de Expansatildeo

2- Barra dos Coqueiros na SE 100 e no Centro 3- Nossa Senhora do Socorro no Complexo Taiccediloca 4- Satildeo Cristoacutevatildeo no Bairro Rosa Elze Essa concentraccedilatildeo nos leva a considerar duas grandes

dinacircmicas diferenciadas de expansatildeo urbana a partir do PMCMV com realidades opostas na RMA a primeira satildeo os empreendimentos construiacutedos nas faixas 2 do programa na periferia da regiatildeo e a segunda dinacircmica satildeo empreendimentos habitacionais voltados para a faixa 3 concentrados em Aracaju no Bairro Jabutiana e na Zona de expansatildeo

Estas duas localidades concentram 702 de todas as unidades habitacionais construiacutedas pelo PMCMV nas faixas 2 e 3 na Regiatildeo Metropolitana de Aracaju somando juntas 12314 unidades habitacionais em apenas 5 localidades da regiatildeo Isto significa que haacute uma tendecircncia clara de uma determinada localidade em detrimento de outras A fragmentaccedilatildeo do espaccedilo na regiatildeo eacute estrategicamente pensada como promotora de uma hierarquizaccedilatildeo planejada como o objetivo cada vez mais claro de segregar separando espaccedilos pela condiccedilatildeo social e econocircmica a partir do acesso agrave habitaccedilatildeo

O capital na sua loacutegica de reproduccedilatildeo usa desses empreendimentos como estrateacutegia de revalorizaccedilatildeo do solo urbano da regiatildeo aprimorando ainda mais o processo de fragmentaccedilatildeo e segregaccedilatildeo estabelecendo uma divisatildeo social do espaccedilo uma vez que esses empreendimentos satildeo produzidos dentro de uma loacutegica de separaccedilatildeo entre as condiccedilotildees materiais de existecircncia nas periferias onde satildeo impostos e a condiccedilatildeo social e econocircmica dos moradores locais e aqueles que se tornam proprietaacuterios desses imoacuteveis

Isto porque cada vez mais a regiatildeo eacute ocupada e separada por classe social A elite toma conta das aacutereas mais privilegiadas onde estatildeo disponibilizadas as melhores

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estruturas baacutesicas de equipamentos urbanos infraestrutura saneamento acesso a serviccedilos puacuteblicos equipamentos de lazer transporte e mobilidade todas a formas materializadas do trabalho coletivo e para continuar se reproduzindo a ldquohabitaccedilatildeo mercadoriardquo eacute usada para promover a separar nodo espaccedilo a parcela da populaccedilatildeo mais rica em detrimento dos mais pobres

No nosso caso essa separaccedilatildeo acontece natildeo soacute no espaccedilo intraurbano da cidade que centraliza as funccedilotildees urbanas da regiatildeo ela se espalha por toda regiatildeo A (re)produccedilatildeo da segregaccedilatildeo socioespacial na RMA serve agrave loacutegica da reproduccedilatildeo das desigualdades ela se mostra na oposiccedilatildeo entre o centro e periferia urbana regional e entre proacutepria separaccedilatildeo imposta pelo estado que divide e delimita zonas geograficamente distintas

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Grande parte dos empreendimentos habitacionais do PMCMV vem sendo construiacutedos na RMA proacuteximos a localidades jaacute ocupadas e com adensamento populacional promovido pela existecircncia de conjuntos habitacionais entregues nas deacutecadas de 1980 e 1990 e por ocupaccedilotildees jaacute consolidadas em virtude de loteamentos legais e ilegais proacuteximas a estas aacutereas

Embora distante da aacuterea urbana mais integradas a malha urbana de Aracaju e construiacutedos nas franjas da RMA essas porccedilotildees do espaccedilo foram ao longo do tempo estocadas pelo setor imobiliaacuterio da economia que os reservaram usando-os nos momentos de crise como espaccedilo se pauta pela liquidez do mercado financeiro que eleva a niacuteveis exponenciais a loacutegica da produccedilatildeo da cidade como negoacutecio (ALVAREZ 2015)

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A pequena quantidade de empreendimentos construiacutedos pelo PMCMV na faixa 01 do programa demonstra a dificuldade no acesso agrave terra urbanizada e barata para viabilizar a produccedilatildeo de habitaccedilatildeo de interesse social na RMA frente agrave grande demanda de terra para as faixas 2 e 3 do programa

Outra hipoacutetese e explicaccedilatildeo apontada por Franccedila (2016) eacute de que o principal entrave se encontra na caracteriacutestica do mercado imobiliaacuterio local que visualiza maior rentabilidade para os empreendimentos destinados agraves classes econocircmicas maiores aleacutem disso a falta de articulaccedilatildeo para doaccedilatildeo de terrenos de propriedade puacuteblica pelos governos municipais tambeacutem eacute um dos pontos que dificulta a implantaccedilatildeo de conjuntos para essa faixa de renda

O fato eacute que as diretrizes estabelecidas para implantaccedilatildeo do PMCMV proporcionam ao mercado a livre escolha da localizaccedilatildeo dos empreendimentos em um cenaacuterio de ausecircncia de instrumentos de controle do valor da terra e tambeacutem da ocupaccedilatildeo de aacutereas sem disponibilidade de infraestrutura e serviccedilos puacuteblicos

Isto porque como analisa Volochko (2015)

Se antes a terra possuiacutea um valor de uso ligado muitas vezes agrave especulaccedilatildeo- ou ligado a outras atividades como a industrial - a incorporaccedilatildeo efetiva de trabalho humano que se materializa na edificaccedilatildeo de novos imoacuteveis e suas ligaccedilotildees com o restante do espaccedilo urbano ndash conexatildeo a rede eleacutetrica viaacuteria de saneamento ao comeacutercio agraves centralidades diversas - permite realizar um salto qualitativo em termos de valor de uso desses terrenos o que realiza a valorizaccedilatildeo do solo incorporado a esse

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novo valor de uso que socializa as positividades urbanas Essa valorizaccedilatildeo fundiaacuteria ligada agrave mudanccedila de uso do solo e que estabelece um valor de uso potencializado faz com que no mercado fundiaacuterio esse solo apresente um valor de troca elevado relativamente a outros terrenos que possuem essas articulaccedilotildees agraves infraestruturas e equipamentos urbanos O preccedilo do solo assim se eleva (VOLOCHKO 2015 p115)

Isso vem proporcionando a atenuaccedilatildeo da periferizaccedilatildeo

da produccedilatildeo habitacional na RMA que ocorre intensamente em Aracaju nos bairros Jabotiana e na Zona de Expansatildeo Urbana Em Nossa Senhora do Socorro no complexo Taiccediloca especialmente nos conjuntos Marcos Freire II e em Satildeo Cristoacutevatildeo no bairro Rosa Elze nas proximidades do Conjunto Eduardo Gomes e na Barra dos Coqueiros no litoral sentido Bairro Atalaia Nova

Se existe uma supervalorizaccedilatildeo do preccedilo das terras e dos imoacuteveis nas periferias ela ocorre de forma lenta uma vez que necessita da accedilatildeo do Estado central para realizar de modo pleno a valorizaccedilatildeo do espaccedilo e isso de materializa com a construccedilatildeo de condomiacutenios que natildeo eacute outra coisa que um processo sucessivo de valorizaccedilatildeo necessaacuteria para a lucratividade do empreendimento

No caso da RMA partimos da loacutegica expressa de que a interface do capital e do Estado articula-se na valorizaccedilatildeo imobiliaacuteria e valorizaccedilatildeo do solo atraveacutes da construccedilatildeo efetiva das formas e caracteriacutesticas dessas construccedilotildees e na forma ideoloacutegica desses produtos A questatildeo eacute que o processo de valorizaccedilatildeo imobiliaacuteria das periferias da RMA produz a valorizaccedilatildeo do espaccedilo

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Atraveacutes do PMCMV o Estado viabiliza a reproduccedilatildeo imobiliaacuteria e financeira promovendo a valorizaccedilatildeo e produccedilatildeo de fragmentos espaciais de aacutereas metropolitanas perifeacutericas e assegurando a continuidade das estrateacutegias do capital (VOLOCHKO 2015)

No caso da RMA esse processo se configura em um verdadeiro fracasso quando se trata de contribuir com a diminuiccedilatildeo do deacuteficit habitacional na faixa de famiacutelia com renda mensal de 0 a 3 salaacuterios miacutenimos justamente a parcela que mais necessita de acesso agrave moradia como direito e dignidade

Isso se confirma ao analisarmos os nuacutemeros comparativos entre a quantidade de unidades habitacionais construiacutedas para as famiacutelias com renda de 0 a 3 salaacuterios na RMA Aracaju pelo PMCMV e o deacuteficit total absoluto de moradias nessa mesma faixa de renda o quadro se completa ao apresentar a contradiccedilatildeo expressa na mesma tabela ao se comparar a superioridade do quantitativo de unidades habitacionais construiacutedas pelo PMCMV nas faixas 2 e 3 (famiacutelias com renda de 3 a 10 salaacuterios) em comparaccedilatildeo a necessidade absoluta apresentada pelo deacuteficit total nesta mesma faixa de renda

Tabela 16 Distribuiccedilatildeo das Unidades Habitacionais do PMCMV e o Deacuteficit Habitacional 2015 ndash PMCMV 2009 a 2014 na RMA Regiatildeo Metropolitana

de Aracaju - RMA Ateacute 3

salaacuterios De 3 a

10 SM Total

Deacuteficit habitacional - 2015

24350 7805 32155

Nuacutemero de unidades habitacionais

1631 34290 36209

Fonte Ministeacuterio das Cidades 2017 Fundaccedilatildeo Joatildeo Pinheiro 2017

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Sendo assim os empreendimentos do PMCMV natildeo

satildeo construiacutedos na totalidade do tecido urbano da RMA pois seguem uma loacutegica de produccedilatildeo guiada por estrateacutegias de valorizaccedilatildeo que selecionam e hierarquizam as diferentes aacutereas da regiatildeo metropolitana para concentrar investimentos revelando a seletividade dos capitais e imprimindo uma loacutegica de segregaccedilatildeo socioespacial nos lugares

Todo esse processo eacute marcada pela accedilatildeo do Estado e do capital financeiro imobiliaacuterio que atraveacutes das poliacuteticas de habitaccedilatildeo subordina os interesses sociais transformando o direito agrave moradia em uma mercadoria

A princiacutepio o que podemos concluir eacute que na RMA os empreendimentos do PMCMV tecircm sido usados pelo capital financeiro imobiliaacuterio como estrateacutegia de reproduccedilatildeo do capital e acentuando a segregaccedilatildeo socioespacial e valorizaccedilatildeo fundiaacuteria resultando numa regiatildeo metropolitana cada vez mais excludente e desigual REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS ALVAREZ Isabel Pinto A moradia como negoacutecio e valorizaccedilatildeo do espaccedilo urbano metropolitano In A cidade como negoacutecio Ana Fani Alessadri Carlos Danilo Volochko Isabel Pinto (orgs) Satildeo Paulo Contexto 2015 CAMPOS Antocircnio Carlos A construccedilatildeo da cidade segregada O papel do Estado na urbanizaccedilatildeo de Aracaju In ARAUJO H M et al O ambiente urbano visotildees geograacuteficas de Aracaju Satildeo Cristoacutevatildeo Editora UFS 2006 p 223-245 FRANCcedilA Sarah Luacutecia Alves Estado e mercado na produccedilatildeo contemporacircnea de habitaccedilatildeo em Aracaju - SE

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Tese Doutorado em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal Fluminense 2016 FRANCcedilA Vera Luacutecia Alves Aracaju Estado amp Metropolizaccedilatildeo Satildeo Cristoacutevatildeo Editora UFS 1999 VOLOCHKO Danilo A produccedilatildeo do espaccedilo e as estrateacutegias reprodutivas do capital negoacutecios imobiliaacuterios e financeiros em Satildeo Paulo Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Geografia Humana) - Faculdade de Filosofia Letras e Ciecircncias Humanas Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2015

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AS FACES DO ESTADO E O MARKETING DA CIDADE PARA TODOS

Mariany Steffany de Carvalho Teles 24

Bruno Nascimento Neves Bastos25

Antonio Carlos Campos26

RESUMO

O presente artigo visa analisar a contradiccedilatildeo entre o marketing imobiliaacuterio e os slogans das gestotildees urbanas dos uacuteltimos quinze anos na cidade de Aracaju com vistas nos discursos das poliacuteticas habitacionais frente agrave realidade das construccedilotildees realizadas atraveacutes dos diferentes programas sociais A pesquisa de base qualitativa e do tipo exploratoacuteria envolve levantamentos de dados secundaacuterios atraveacutes dos diferentes planos de governos municipais bem como as anaacutelises dos arquivos dos websites e mateacuterias jornaliacutesticas de 2000 a 2015 para compreender em que medidas podemos comprovar a formulaccedilatildeo de propostas que poderiam ou natildeo garantir uma cidade com qualidade de vida ou mesmo a justiccedila espacial PALAVRAS-CHAVE Agentes Marketing imobiliaacuterio Produccedilatildeo do espaccedilo

24

Graduando DGE UFS- Bolsista PIBICVOL

marianysteffanyteleshotmailcom

25 Graduando em Geografia ndash Licenciatura e Bolsista Voluntaacuterio no

LABERURDGE brunobastos07hotmailcom

26

Prof DGE UFS ndash Doctor en Geografiacutea Planificacioacuten

Territorial y Gestioacuten Ambiental Universitat de Barcelona ndash ES

antonio68gmailcom

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INTRODUCcedilAtildeO

A partir da premissa de o Estado tem assumido o papel de protagonista no processo de produccedilatildeo do espaccedilo urbano de Aracaju buscamos discutir as accedilotildees do poder puacuteblico municipal no sentido da criaccedilatildeo das imagens da cidade e da sociedade urbana que levaram a induzir estrateacutegias de marketing urbano tanto por parte da administraccedilatildeo puacuteblica quanto da iniciativa privada como elemento fundamental de uma poliacutetica de atraccedilatildeo de investimentos empregabilidade e ampliaccedilatildeo da participaccedilatildeo popular pautada sob a ideia de sustentabilidade

Neste sentido analisamos as poliacuteticas de construccedilatildeo de habitaccedilotildees direcionadas a populaccedilatildeo de mais baixos extratos de renda contemplados nos programas de assentamento urbanos Moradia Cidadatilde (2000 - 2008) Programa de Arrendamento Residencial (2001 - 2009) e as iniciativas dos setores mercadoloacutegicos e social do Programa Minha Casa Minha Vida (2009 - 2017) realizadas no municiacutepio de Aracaju

O cerne da pesquisa ressalta o papel contraditoacuterio do Estado que atua das mais diferentes formas possiacuteveis atraveacutes das funccedilotildees de promoccedilatildeo e legitimaccedilatildeo da localizaccedilatildeo diferenciada na cidade Sua accedilatildeo se constitui de duas formas baacutesicas conforme assinala Mark Gottdiener que de um lado precisa intervir a fim de preservar as coerecircncias do espaccedilo social no que diz respeito a manutenccedilatildeo dos valores de uso e de troca no mundo da mercadoria e de outro se revela como patrocinador da dominaccedilatildeo diferenciaccedilatildeo de classes atraveacutes das intervenccedilotildees em favor da acumulaccedilatildeo do grande capital (GOTTDIENER 1997)

Neste contexto de acordo com Carlos (1992) a ideia de cidade e do urbano como espaccedilo de produccedilatildeo do modo de vida urbano com relaccedilotildees tensionadas pela contradiccedilatildeo entre a apropriaccedilatildeo do valor de uso e de troca que se daacute na sociedade

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capitalista produz o espaccedilo mediado pelos conflitos existentes produzidos durante os ciclos de valorizaccedilatildeo desigual do capital e de fraccedilotildees do espaccedilo urbano inseridos no mercado

Assim a paisagem urbana traz elementos que mostram a histoacuteria da cidade como bem patrimonial que fundamenta a produccedilatildeo do espaccedilo como por exemplo a arquitetura do centro de uma cidade e de sua periferia Haacute portanto a produccedilatildeo da diferenccedila entre paisagem e imagem urbana A Paisagem geograacutefica pode reproduzir uma histoacuteria ldquoeacute a analise que o homem pode ter sobre determinado lugar (lugar como identidade ou apropriaccedilatildeo)rdquo (CARLOS 1992 p 17) enquanto que a imagem eacute formada por uma anaacutelise de fora sem retirar o homem pois eacute ele quem produz e faz parte do espaccedilo ou seja a produccedilatildeo humana mediada pelo trabalho estaacute em constante mudanccedila pois o ser humano tem a necessidade de produzir habitar modificar viver

Neste aspecto conforme o ritmo acelerado da vida urbana o que mais eacute percebido e consumido satildeo imagens do que poderia ser ou existir Daiacute se justifica os slogans de cidade disso ou daquilo de acordo com o discurso de cada gestatildeo urbana (administraccedilatildeo puacuteblica) uma vez que cada governo local imprime suas cores formas e ideias para se distanciar do passado e criar novas perspectivas de observaccedilatildeo alienaccedilatildeo da sociedade

Observando tanto a dinacircmica da paisagem quanto as imagens da cidade na histoacuteria de Aracaju verificamos as mudanccedilas comeccedilando pelo centro histoacuterico em que a arquitetura eacute muito diferente do design urbano dos dias atuais que se reproduz nas novas periferias com centralidade que forjam novos centros e novas periferias Ou seja a paisagem urbana natildeo eacute estaacutetica estaacute sempre em transformaccedilatildeo o que para muitos autores se constitui no celeiro da produccedilatildeo novas imagens ou discursos de uma gama de planejadores

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administradores e o proacuteprio mercado imobiliaacuterio (LYNCH 1960)

Assim o uso do solo estaacute diretamente ligado agraves relaccedilotildees capitalistas pois para quem vive no espaccedilo urbano a cidade supre as condiccedilotildees de existecircncia do ser humano Mesmo compreendendo que a forma de ocupaccedilatildeo varia do ponto de vista do produtor (a cidade se materializa como distribuiccedilatildeo circulaccedilatildeo e troca de mercadoria tendo nela tambeacutem o loacutecus de produccedilatildeo onde produz a mais-valia ndash venda do produto e circulaccedilatildeo ndash onde a mais-valia eacute realizada) e do morador que vecirc a cidade como meio de consumo coletivo (onde se encontra escolas assistecircncia meacutedica rede de esgoto aacutegua potaacutevel transporte lazer comprar ndash coisas que natildeo se encontram no campo e que a sociedade capitalista faz com que o ser humano priorize essas condiccedilotildees de vida)

Nesta direccedilatildeo Eacuteliseacutee Reclus jaacute chamava atenccedilatildeo para ldquoa formaccedilatildeo de classes no meio social o que gera aspectos contraditoacuterios agrave ideia de progresso professada pelos Estados como o aumento da populaccedilatildeo o raacutepido processo da urbanizaccedilatildeo nas cidades e a crescente pobreza aleacutem da intensidade industrialrdquo (RECLUS 2010 apud BATISTA 2013 p 2)

Esse geoacutegrafo ao estudar a relaccedilatildeo espaccedilo-tempo traz a ideia do contraste na cidade entre o luxo e a miseacuteria sendo os dois como consequecircncias necessaacuterias para a desigualdade espacial que estava surgindo na sociedade capitalista separando em dois elementos o corpo social visiacutevel ateacute os dias atuais Para ldquoReclus o aumento da cidade eacute progresso jaacute a sua diminuiccedilatildeo regride a barbaacuterierdquo Reclus diz que o sucesso da sociedade capitalista se daacute sobre a injusticcedila e exploraccedilatildeo do ser humano (BATISTA 2013) Neste sentido

A forccedila de atraccedilatildeo do solo que tende a repartir normalmente os homens a distribuiacute-los ritmicamente sobre toda a terra acrescenta-se no mundo moderno uma forccedila completamente oposta em aparecircncia agravequela que agrupa centenas de milhares ou ateacute mesmo milhotildees de

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homens em certos pontos estreitos em torno de um mercado de um palaacutecio ou de um parlamento (RECLUS 2010 p 31)

Como a investigaccedilatildeo estaacute direcionada para compreender o papel do Estado a anaacutelise da contradiccedilatildeo entre o marketing imobiliaacuterio e os slogans das gestotildees urbanas dos uacuteltimos quinze anos na cidade de Aracaju buscamos inserir as poliacuteticas de construccedilatildeo de habitaccedilotildees direcionadas aos diversos extratos de renda realizados ou intermediados pela Prefeitura Municipal de Aracaju atraveacutes dos financiamentos de Programas habitacionais de interesse social

Salientamos que dentre estas poliacuteticas o anseio pela qualidade de vida numa sociedade capitalista estaacute cada vez mais presente na vida do brasileiro Seja como proposta de gestatildeo puacuteblica em nome da busca da sustentabilidade da cidade ou seja como apropriaccedilatildeo pelo capital imobiliaacuterio que objetiva criar diferenciais de renda e qualidade atraveacutes de novas formas de habitar com padrotildees mais elevados de elitizaccedilatildeo e ou segregaccedilatildeo

DA CIDADE REALIZADA AO MARKETING URBANO

Ao se discutir o City Marketing Fernanda Sanchez Garcia surge com o objetivo de discutir as loacutegicas do mercado e do poder puacuteblico em vender a imagem cidade natildeo para qualquer um mas sim para atrair grandes empresaacuterios e pessoas bem sucedidas Pois que a cidade moderna se torna cada vez mais excludente controladora dos comportamentos sociais valorizando as desigualdades da vida coletiva ldquoA cidade incentiva o individualismo com seus muros cercas eleacutetricas cacircmeras Haacute a falta de contato com quem mora ao lado pela falta de tempo pela carga horaacuteria de trabalhordquo (GARCIA 1997 p 23)

Relacionando os programas habitacionais no municiacutepio de Aracaju como os residenciais do PAR e MCMV a

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espetacularizaccedilatildeo da construccedilatildeo de unidades habitacionais para diferentes classes sociais em determinadas partes da cidade natildeo buscou vender apenas moradias com preccedilos mais baixos usando o FGTS como garantia mas sim a inserccedilatildeo de terras urbanas no circuito da mercadoria atraveacutes dos condomiacutenios exclusivos que satildeo criados nas proximidades da infraestrutura criadas pelo Estado

Assim o poder puacuteblico municipal assume a responsabilidade pelo crescimento fragmentado e disperso da cidade com a implantaccedilatildeo dos programas habitacionais que privilegia a dominaccedilatildeo do mercado imobiliaacuterio atraveacutes da promoccedilatildeo dos seus interesses na conduccedilatildeo da expansatildeo urbana

A localizaccedilatildeo dos conjuntos do PAR e condomiacutenios do MCMV aleacutem de induzir a direccedilatildeo da expansatildeo urbana tambeacutem eacute fruto de um processo de marketing imobiliaacuterio que especula obter maiores lucros seja com a venda de terrenos nas suas proximidades ou com a construccedilatildeo de novos empreendimentos que aproveita continuidade da malha urbana para lanccedilar objetos exclusivos no mercado (Figuras 1 e 2)

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Neste sentido a cidade real se afasta muito da cidade

ideal proposta pelos programas e poliacuteticas uma vez que esses

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empreendimentos satildeo construiacutedos em forma de condomiacutenios fechados em que se reproduzem as especificidades de uma sociedade segregada

Associando a loacutegica imobiliaacuteria e a identificaccedilatildeo das transformaccedilotildees recentes na dinacircmica urbana a capital sergipana tem se estruturado nos uacuteltimos anos atraveacutes da intensificaccedilatildeo das produccedilotildees imobiliaacuterias que em virtude de suas localizaccedilotildees entram no circuito da valorizaccedilatildeo mercantil dos desejos simboacutelicos dos consumidores alimentados por um conjunto de novas necessidades impulsionadas de acordo com o apelo utilizado pelas estrateacutegias do City Marketing das grandes empresas imobiliaacuterias e incorporadoras que cada vez mais se caracterizam como principais agentes de alteraccedilatildeo da imagem da cidade A CONSTRUCcedilAtildeO DO MARKETING DA CIDADE DE TODOS

O slogan ldquoUma cidade para todosrdquo aparece como uma ideia de que toda a populaccedilatildeo inclusive os trabalhadores tecircm o direito ao uso da cidade (Figura 3) Segundo Vieira ldquoa apreensatildeo do ldquotodosrdquo pode ser compreendida como o fato de agora com esta nova gestatildeo urbana os desfavorecidos e desassistidos socioeconomicamente poderatildeo fazer parte da cidade e este o vetor acionado na alusatildeo da ldquoimagemrdquo pautada no slogan construiacutedo pelo Poder Puacuteblico da cidade de Aracajurdquo (VIEIRA 2011 p 141)

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Figura 3 Slogan da Gestatildeo do Prefeito Marcelo Deda 2000 ndash 2004

Fonte Disponiacutevel em httpwwwinstitutomarcelodedacombrwp-contentuploads200111foto1422jpg

O que natildeo vemos explicitamente eacute que talvez o

objetivo do marketing de Aracaju possa ser uma maneira de segregar essa populaccedilatildeo desassistida pois por mais que duas classes sociais distintas morem proacuteximas natildeo quer dizer que elas iratildeo conviver juntas se relacionar uma com a outra nessa relaccedilatildeo entra o preconceito Relacionando com o objeto de pesquisa (os programas habitacionais) explicaria tal segregaccedilatildeo agrave escolha de terrenos mais baratos e mais distantes Essa tambeacutem poderia ser estrateacutegia do marketing que traz outros benefiacutecios natildeo soacute ao Estado (com o movimento da economia) mas tambeacutem com ao mercado imobiliaacuterio que se aproveita dessas aacutereas que antes tinham baixa valorizaccedilatildeo e que ningueacutem moraria nessa regiatildeo E que a partir da implantaccedilatildeo das accedilotildees de construccedilatildeo das unidades habitacionais o mercado imobiliaacuterio utiliza para construir tambeacutem utilizando peccedilas de marketing (Figuras 4) condomiacutenios mais caros como eacute o caso do bairro Jabotiana em Aracaju

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Figura 4 Marketing Imobiliaacuterio 2015

Com base no slogan ldquoGoverno de todosrdquo o Estado

tenta atraveacutes dessas poliacuteticas puacuteblicas trazer a ideia de integraccedilatildeo entre as classes passando uma visatildeo para as camadas de baixa renda que vecirc nessas accedilotildees uma oportunidade de alcanccedilar o sonho da casa proacutepria e de uma vida estruturada como afirma Vieira (2011) A inserccedilatildeo desta populaccedilatildeo residente na localidade tambeacutem contribuiria com a consolidaccedilatildeo da mudanccedila quando os indiviacuteduos que outrora

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eram excluiacutedos dos planejamentos e avanccedilos da cidade de Aracaju agora satildeo convocados e inseridos na evoluccedilatildeo da cidade pautada como positiva como eacute retratado no slogan da segunda gestatildeo administrativa do prefeito Edvaldo Nogueira (2008 - 2012) que preconizava a simbologia da Cidade da Qualidade de vida (Figura 5) Figura 5 Slogan das Gestotildees do Prefeito Edvaldo Nogueira 2006 2008 ndash 2008 2012

Fonte PMA ndashhttpwwwaracajusegovbr

A realidade eacute modificada e os antigos locais que

carregavam um estigma negativo da sua populaccedilatildeo se apresenta como processo de mudanccedila siacutembolo do novo Entretanto ao observarmos a concretude desses programas sociais notamos a ausecircncia de infraestrutura e equipamentos puacuteblicos no entorno dos conjuntos vez que poderiam dar condiccedilotildees muito melhores a populaccedilatildeo que reside nestas localidades Logo o marketing feito em cima dessas poliacuteticas puacuteblicas habitacionais assim como a proacutepria efetivaccedilatildeo das suas construccedilotildees disfarccedila os interesses por traacutes da construccedilatildeo dos conjuntos tanto do mercado imobiliaacuterio que vecirc nessa situaccedilatildeo uma forma de expandir seu mercado e valorizar novas aacutereas como consegue abarcar a populaccedilatildeo natildeo solvaacutevel que enxerga naquele determinado governo uma esperanccedila de vida com dignidade e mais oportunidades

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Baseado na subjetividade que os slogans dessas poliacuteticas urbanas carregam nas suas imagens o imaginaacuterio de inclusatildeo dos ldquotrabalhadoresrdquo contemplados pelos programas de habitaccedilatildeo demonstra a noccedilatildeo da contradiccedilatildeo da cidade para todos inclusive trazendo caracteriacutesticas peculiares na espacializaccedilatildeo de condomiacutenios fechados que apresentam o processo de auto segregaccedilatildeo jaacute iniciado pelas classes de alta renda em outras aacutereas cristalizadas da cidade Fato que se reproduz nesses ldquoconjuntosrdquo com o falso ideal de seguranccedila e exclusividade com altos muros construiacutedos no entorno dos preacutedios

Todo o processo de estruturaccedilatildeo e desenvolvimento dos programas habitacionais teve participaccedilatildeo direta de teacutecnicos pesquisadores universitaacuterios e intelectuais que tiveram a responsabilidade de trazer um referencial algo que carregasse identidade proacutepria para o projeto que demonstrava o novo modelo de governo dos partidos ditos de esquerda proacuteximos agrave populaccedilatildeo aleacutem da tentativa de modificar o estigma negativo que os bairros receptores dessas poliacuteticas urbanas

Como corrobora Vieira a dimensatildeo identitaacuteria do ldquoreferencialrdquo se constituiacutea pelo lugar dos intelectuais simpatizantes ao arcabouccedilo ideoloacutegico de esquerda e pelos proacuteprios militantes de esquerda especialmente do Partido dos Trabalhadores (PT) e do Partido Comunista do Brasil (PCdoB) diante de um contexto poliacutetico local anunciado como propiacutecio para uma verdadeira mudanccedila no modo de governar Desta maneira se fazia necessaacuterio representar o ldquopovordquo notadamente os menos favorecidos socioeconomicamente tratava-se dito de outro modo de representar os ldquotrabalhadoresrdquo (VIEIRA 2011 p 143 e 144)

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Nesse contexto de construccedilatildeo de uma identidade

proacutexima a populaccedilatildeo carente atraveacutes do marketing desses programas nota-se que aleacutem da realizaccedilatildeo do desejo da casa proacutepria a presenccedila das palavras ldquopara todosrdquo nos slogans transportam para o imaginaacuterio da sociedade aracajuana um crescimento urbano realmente equilibrado e com condiccedilotildees iguais de acesso disfarccedilando a ausecircncia de fatores preponderantes na cidade e que influenciam diretamente na qualidade de vida dessas pessoas Pensamento este jaacute interpretado por Boacutegus Pessoa (2008) Desta forma o discurso legal faz pensar que se trata de accedilotildees integradas seguindo a loacutegica de desenvolvimento urbano e visando essencialmente a qualidade de vida da populaccedilatildeo com a criaccedilatildeo de novas centralidades CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Neste sentido a moradia estaacute ligada em primeiro lugar ao Estado sendo ele tambeacutem o que planeja executa estrutura e potildee em praacutetica os programas habitacionais em parceria com os governos estadual Federal sendo esse o que sede a terra que seraacute usada para construir as unidades e a infraestrutura ao redor do conjunto habitacional

De acordo com a escala de influencia da poliacutetica Nacional principalmente no acircmbito do programa minha casa minha vida o bocircnus do FGTS serve de entrada para o financiamento sendo que as pessoas que estatildeo aptas a comprar a casa proacutepria satildeo somente agravequelas que trabalham (Figura 6) Neste negoacutecio de espetacularizaccedilatildeo da produccedilatildeo do espaccedilo urbano os agentes podem ser os bancos puacuteblicos ou privados que datildeo um valor determinado ao tipo de casa ou apartamento que seraacute vendido no mercado imobiliaacuterio e a quem seraacute destinado determinada a moradia

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Figura 6 Marketing e Estilo de Vida 2018

Fonte Jornal Cinform 22032017 Neste sentido o marketing se insere em todo o

processo com propagandas direcionadas a determinados grupos sociais e de renda especiacuteficas com frases de efeito para atrair compradores como ldquoMais lazer pra ser Felizrdquo ldquoMore no que eacute seurdquo ou ldquoSaia do aluguelrdquo Desta forma o mercado imobiliaacuterio se aproveita da infraestrutura e da poliacutetica de creacuteditos governamentais para vender seus produtos Fato que evidencia a face do Estado que utiliza o poder que a moradia representa para determinadas classes sociais transformando o cidadatildeo comum em usuaacuterio que se responsabilizaraacute pela retroalimentaccedilatildeo do ciclo do capital pois proporcionaraacute o lucro dos proprietaacuterios dos meios de produccedilatildeo tornando-se um devedor do Estado ou seja mutuaacuterio da casa proacutepria REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

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BATISTA Rosana de Oliveira Santos As afinidades seletivas do pensamento Reclusiano na trilha da confluecircncia das ideias de Rousseau Tese de Doutorado ndash Satildeo Cristoacutevatildeo PPGEO Universidade Federal de Sergipe 2013 BOacuteGUS L M M PESSOA L C R Operaccedilotildees urbanas - nova forma de incorporaccedilatildeo imobiliaacuteria O caso das operaccedilotildees urbanas consorciadas Faria Lima e Aacutegua Espraiada In Cadernos Metroacutepole Satildeo Paulo Educ nordm 20 2ordm Sem 2008 p 125-139 BRASIL Cartilha Programas e accedilotildees Habitaccedilatildeo Programas Urbanos Saneamento ambiental Transporte e mobilidade Capacitaccedilatildeo Ministeacuterio Puacuteblico das cidades CAIXA ECONOMICA FEDERAL Cartilha Minha Casa Minh Vida Disponiacutevel em httpwwwcaixagovbr Acessado em 04 de jul 2017 CALDEIRA Teresa Pires Cidade de Muros crime segregaccedilatildeo e cidadania em Satildeo Paulo Satildeo Paulo 34 ed EDUSP 2000 CAMPOS A C El desarrollo urbano de Aracaju Brasil (1855-2005) un juego de muacuteltiples agentes Tese de Doctorado ndash Universitat de Barcelona 2017 CARDOSO Adauto Lucio (Org) O programa Minha Casa Minha Vida e seus efeitos territoriais Rio de Janeiro Letra Capital 2013 CARLOS A F A A cidade 1deg ed Satildeo Paulo Geografia Contexto 1992

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CEF Caixa Econocircmica Federal Programas habitacionais governamentais Disponiacutevel em httpwww1caixagovbrgovgov_socialmunicipalprograma_des_urbanoprogramas_habitacaoparindexasp acessado em 14012018 CORREcircA Roberto Lobato O espaccedilo urbano Satildeo Paulo Aacutetica 1991 CINFORM Jornal semanal Caderno de Imoacuteveis nordm 24355 23032017 FRANCcedilA Sarah Luacutecia Alves A produccedilatildeo do espaccedilo na Zona de Expansatildeo Urbana de Aracaju dispersatildeo urbana condomiacutenios fechados e poliacuteticas puacuteblicas Niteroacutei Dissertaccedilatildeo de Mestrado Universidade Federal Fluminense 2011 GARCIA FE Saacutenchez Cidade Espetaacuteculo poliacutetica planejamento e City Marketing 1deg ed Curitiba Editora Palavra 1997 GOTTDINIER Mark A produccedilatildeo social do espaccedilo urbano Satildeo Paulo Edusp 1997 HARVEY David A Justiccedila Social e a Cidade - traduccedilatildeo Armando Correcirca da Silva Satildeo Paulo Editora Hucitec 1980 LEFEBVRE H El derecho a la ciudad Barcelona Peniacutensula 4ordf edicioacuten 1978 RECLUS J J E Renovaccedilatildeo de uma cidadeReparticcedilatildeo dos homens Satildeo Paulo Expressatildeo e arte editora 2010

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RUFINO Maria Beatriz Cruz AMORE Caio Santo SHIMBO Luacutecia Zanin Minha casa e a cidade Avaliaccedilatildeo do programa minha casa minha vida em seis estados brasileiros 1 Ed Rio de janeiro Letra Capital 2015 VIEIRA Ewerthon Clauber de Jesus Poliacuteticas urbanas e imagens da cidade da ldquoTerra Durardquo ao bairro de ldquoSanta Mariardquo em Aracaju - SE Satildeo Cristoacutevatildeo Dissertaccedilatildeo de Mestrado UFS 2011

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EIXO 3 - NATUREZA E SOCIEDADE

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ANAacuteLISE MORFOMEacuteTRICA E SEUS REBATIMENTOS SOCIOAMBIENTAIS NA

MICRO BACIA DO RIO DAS PEDRAS

Joyce Almeida Santossup1

Universidade federal de Sergipe-Campus Professor Alberto Carvalho-Itabaiana Sergipe Graduanda-Geografia

joycealmeida19hotmailcom

Daniel Almeida da Silvasup2

Professor Departamento de Geografia Itabaiana Universidade Federal de Sergipe-Campus professor Alberto Carvalho

danielalmeidaufsgmailcom

RESUMO

O presente estudo teve por objetivo caracterizar a morfometria da micro bacia do Rio das Pedras A anaacutelise morfomeacutetrica eacute um conjunto de vaacuterios fatores no qual a presente pesquisa vai observar a drenagem aacuterea e periacutemetro hierarquia comprimento do rio principal e forma da bacia Para se chegar aos resultados Utilizou-se de procedimentos teoacutericos teacutecnicos e praacuteticos Aleacutem de leituras fichamentos busca de dados trabalhos de campo Os dados foram processados e analisados por meio do software ArcGis 101 com licenccedila acadecircmica para estudante De acordo com os resultados a bacia eacute de 4ordf ordem e possui aacuterea de 64283 kmsup2 e periacutemetro de 285 km Tem um padratildeo de drenagem dendriacutetico e o rio principal com 14 km de extensatildeo O valor do iacutendice de circularidade (081) atribui agrave bacia forma arredondada com maior risco de ocorrecircncia de enchentes e inundaccedilotildees PALAVRAS-CHAVE Morfometria Anaacutelise Fluvial e Estudos Morfomeacutetricos

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INTRODUCcedilAtildeO

Cabe traccedilarmos um paralelo sobre os estudos

morfomeacutetricos e sua importacircncia para a anaacutelise fluvial A partir destes caracteriza-se a suscetibilidade da bacia (sub micro mini) estudada a vulnerabilidade ambiental que pode promover o processo de degradaccedilatildeo dos solos da vegetaccedilatildeo assoreamentos e entre outros

Segundo Christofoletti 1980 a anaacutelise morfomeacutetrica de bacias hidrograacuteficas eacute a anaacutelise quantitativa da configuraccedilatildeo dos elementos do modelado superficial que geram sua expressatildeo e configuraccedilatildeo espacial Este sendo composto pelo conjunto das vertentes e canais que compotildeem o relevo caracterizado por valores correspondem aos atributos medidos das bacias hidrograacuteficas

Segundo CHRISTOFOLETTI 1980 os resultados aferidos destas variaacuteveis satildeo considerados importantes insumos para o auxiacutelio na verificaccedilatildeo da produccedilatildeo de sedimentos compreensatildeo do comportamento hidroloacutegico auxiacutelio nas poliacuteticas de gestatildeo ambiental aleacutem de revelar indicadores fiacutesicos especiacuteficos para as bacias analisadas

A micro bacia do Rio das Pedras estaacute localizada na Microrregiatildeo do Agreste de Itabaiana especificamente em um dos seus Povoado que leva o mesmo nome do rio este rio percorrer uma aacuterea de 64283 Kmsup2 sua drenagem eacute perene pois seu curso fluvial possui agua o ano todo (Figura 1)

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Figura 1 Localizaccedilatildeo da Micro Bacia Rio das Pedras

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DESENVOLVIMENTO

Os padrotildees de drenagem referem-se ao arranjo espacial

dos cursos fluviais que podem ser influenciados em sua atividade morfogeneacutetica pela natureza e disposiccedilatildeo das camadas rochosas pela resistecircncia litoloacutegica variaacutevel pelas diferenccedilas de declividade e pela evoluccedilatildeo geomorfoloacutegica da regiatildeo (CHRISTOFOLETTI1980) que iratildeo desenhar o tipo de drenagem da micro-bacia a qual o rio estaacute inserido nos padrotildees de drenagem cabem destacar dendriacutetica treliccedila retangular paralela radial e anelar jaacute no caso do rio das Pedras sua micro bacia se apresenta como dendriacutetica que possui por caracteriacutesticas a semelhanccedila a uma aacutervore cujo o rio principal iraacute ser o tronco para onde os seus afluentes correm Ver (Figura 2) IMAGEM 02 Rio das Pedras

Fonte Trabalho de Campo03jan2018

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Aacuterea e Periacutemetro A aacuterea da bacia tambeacutem designada como aacuterea de

drenagem ou aacuterea de contribuiccedilatildeo corresponde a toda a aacuterea drenada pelo conjunto do sistema fluvial em projeccedilatildeo horizontal inclusa entre seus divisores topograacuteficos ( MACHADO e TORRE 2012) e podem variar de tamanho conforme o tamanho da bacia jaacute no caso de uma micro bacia corresponde ao mesmo sentido soacute que em uma escala menor na micro bacia que foi estudada possui uma aacuterea de 64 283 kmsup2 e o periacutemetro que eacute a linha que a contorna neste caso chega 285 km

Hierarquia Fluvial

A hierarquia fluvial significa dizer que de acordo com a ordem dos canais sendo eles os responsaacuteveis pelo grau de ramificaccedilatildeo ou bifurcaccedilatildeo seraacute o processo de classificaccedilatildeo de um determinado curso de aacutegua (MACHADO e TORRE 2012) nesta micro bacia a sua hierarquia chega a 4ordf ordem que significa dizer que surgem da confluecircncia de dois rios de 3ordf ordem podendo ser tributaacuterios de ordens anteriores Comprimento do rio principal

O comprimento do rio principal compreende como a distacircncia que se estende desde a sua foz ateacute a nascente no caso do rio das Pedras tem 14 km de extensatildeo Forma da Bacia arredondada (081)

De acordo com os meacutetodos utilizados o iacutendice de circularidade corresponde a 081 sendo assim essa micro bacia corresponde a forma arredondada e significa dizer que com as chuvas ela tem maior suscetibilidade a cheias e inundaccedilotildees

A metodologia utilizada nesse estudo foi baseada em procedimentos teoacutericos teacutecnicos e praacuteticos Foram feitas

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leituras fichamentos busca de dados trabalhos de campo Aplicou-se o meacutetodo fisiologia da paisagem de CASSETI 2005 onde o mesmo enfatiza a accedilatildeo antroacutepica como modificadora do meio tem por objetivo compreender a accedilatildeo dos processos morfodinacircmicos atuais inserindo-se na anaacutelise o homem como sujeito modificador

Tambeacutem foram feitos os tratamentos de dados em laboratoacuterio como mapeamento da aacuterea com o software ArcGis 101 com licenccedila acadecircmica para estudante As caracteriacutesticas morfomeacutetricas foram verificadas com base em estudos de grandes autores padrotildees de drenagem CHRISTOFOLETTI 1980 a hierarquia fluvial pelo sistema de STRAHLER 1952 e o iacutendice de circularidade segundo Granell-Peacuterez 2001

A presenccedila humana normalmente tem respondido pela aceleraccedilatildeo dos processos morfogeneacuteticos como as formaccedilotildees denominadas de tectogecircnicas abreviando a atividade evolutiva do modelado Mesmo a accedilatildeo indireta do homem ao eliminar a interface representada pela cobertura vegetal altera de forma substancial as relaccedilotildees entre as forccedilas de accedilatildeo (processos morfogeneacuteticos ou morfodinacircmicos) e de reaccedilatildeo da formaccedilatildeo superficial gerando desequiliacutebrios morfoloacutegicos ou impactos geoambientais como os movimentos de massa boccedilorocamento assoreamento dentre outros chegando a resultados catastroacuteficos a exemplo dos deslizamentos em aacutereas topograficamente movimentadas (CASSETI 2005p-5) Ver (Figura 3)

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Figura 3 Mapa de Geomorfologia da Micro Bacia Rio das Pedras

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Essa regiatildeo possui uma faixa de transiccedilatildeo climaacutetica que

varia do clima sub-uacutemido a semiaacuterido Uma caracteriacutestica marcante do agreste central e a presenccedila de relevos cristalinos residuais A respeito das unidades morfoesculturais da aacuterea de estudo podemos destacar a Planiacutecie Fluvial Relevo Dissecados Superfiacutecie Pediplanada Superfiacutecie Tabular Erosiva Terraccedilo Marinho

A Planiacutecie Fluvial esta constituiacuteda basicamente por uma faixa do vale fluvial composta por sedimentos aluviais que bordeja os cursos de aacutegua e periodicamente eacute inundada pelas aacuteguas de transbordamento Relevos dissecados o relevo desta unidade possui altitudes que varia de 300 a 700 metros antigo Domo batoacutelito que foi dissecado pelo intemperismo fiacutesico e que hoje eacute representado pelas serras (da Miaba com 630 metros terceiro ponto culminante e ainda pelas serras Comprida Cajueiro Capunga) Superfiacutecie Pediplanada eacute um dos processos geomorfoloacutegicos decorrente de climas aacuteridos e semiaacuteridos regressatildeo de aacutereas mais elevadas para aacutereas mais baixas Superfiacutecie Tabular Erosiva

constitui o testemunho de antiga superfiacutecie de cimeira preservada por uma face litoloacutegica mais resistente (arenito grosseiro e conglomeraacutetico) Apresenta altitudes entre 200 e 280m ocupando aacuterea de 386 kmsup2 (46) da sub-bacia com evidente caimento para SE (FONTES p- 42006)

Jaacute o Terraccedilos Marinhos Trata-se das variaccedilotildees do niacutevel

do mar associadas as mudanccedilas paleoclimaacuteticas do litoral brasileiro durante o Quaternaacuterio (BITTECOURT et al 1982)

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Em ralaccedilatildeo aos tipos de solos presente nesta micro regiatildeo do Agreste Sergipano podemos destacar Ver (Figura 4)

Figura 4 Mapa de Solos da Micro Bacia Rio das Pedras

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Tipos de solos presente na aacuterea estudada Solo aluvionar geralmente constituiacutedo de argila silte areia Podzoacutelico Argissolo vermelho- amarelo Aleacutem de apresentar uma superfiacutecie inclinada composta por sedimentos de rochas e minerais formaccedilotildees argilosas composto de argila siacutelica e gratildeo de quartzo Exemplo Neossolo litoacutelicos de textura meacutedia aos depoacutesitos subjacentes Exemplo seriam os solos denominados de regossolos e areias quartzosas (CEacuteSAR K SILVIA R APRIacuteGIO C 2016)

Sendo assim no que diz respeito agraves caracteriacutesticas

gerais dos diversos tipos de solos presente nessa regiatildeo satildeo excessivamente drenados e possui fatores restritivos para sua acumulaccedilatildeo de aacutegua Devido as essas condiccedilotildees naturais o homem vem se adaptando e estudando os fatores geomorfoloacutegicos e pedoloacutegicos a fim de realizar um melhor aproveitamento dos recursos naturais presentes De acordo com

O estudo da Geomorfologia passa a ter um importante papel juntamente com a Pedologia (solo) porque todas ou quase todas as atividades que os seres humanos desenvolvem na superfiacutecie terrestre estatildeo sobre alguma forma de relevo e algum tipo de solo (ARAUacuteJO 2010)

Compreende-se assim que o relevo dessa micro regiatildeo

do agreste sergipano eacute marcada por baixas altitudes no sentido leste-oeste situando-se as maiores elevaccedilotildees na porccedilatildeo central Ver (Figura 5)

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Figura 5 Mapa de Geologia da Micro Bacia Rio das Pedras

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Considerando suas variaccedilotildees reconhecem-se que nessa aacuterea possui unidades predominantes e distintas por exemplo divisores topograacuteficos e diversos processos morfodinacircmicos CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

O presente trabalho teve por finalidade a intenccedilatildeo de

analisar os aspectos morfomeacutetricos e fisiograacuteficos da micro bacia do Rio das Pedras e fazer mapeamento de dados sobre essa aacuterea Sendo assim os resultados obtidos com esta anaacutelise foram de que a micro bacia eacute caracterizada como perene cujo o tipo de drenagem eacute dendriacutetica com uma hierarquia fluvial de 4ordf ordem onde o rio principal tem 14 km de extensatildeo sendo estaacute micro-bacia com forma arredondada com seu iacutendice de circularidade chegando a 081 e seu periacutemetro a 285 km Devido as anaacutelises feitas foi perceptiacutevel que esse rio estaacute sendo assoreado e tambeacutem a presenccedila de mata ciliar eacute muito restrita a alguns trechos desse curso de aacutegua aleacutem da presenccedila de alguns sacos de areia que acabam servindo como barricada para acumular aacutegua e a presenccedila de lixo em suas margens

AGRADECIMENTOS

Agradecemos a execuccedilatildeo deste trabalho agrave Universidade Federal de Sergipe pelo apoio logiacutestico para os trabalhos de campo e de laboratoacuterios

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REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS ARAUacuteJO Heacutelio Maacuterio de O estuaacuterio e sua dinacircmica na bacia inferior do rio Sergipe consideraccedilotildees paleogeograacuteficas e evoluccedilatildeo geomorfoloacutegica Disponiacutevel em httpwwwcesadufscombrORBIpublicuploadCatalago14333816012013Geografia_de_Sergipe_Aula_5pdf BITTENCOURT A C S P MARTIN L DOMINGUEZ J M L FERREIRAY A Dados preliminares sobre a evoluccedilatildeo paleograacutefica do rio Satildeo Francisco durante o Quaternaacuterio influecircncia das variaccedilotildees do niacutevel do mar In Simpoacutesio do Quaternaacuterio no Brasil (4 1982 Rio de Janeiro) AnaisRio de JaneiroABEQUA 1982 p 49-68 DI BIASI M Cartas de declividade de vertentes confecccedilatildeo e utilizaccedilatildeo GeomorfologiaSatildeo Paulo n 21 p 8-13 1970 CASSETI Valter Geomorfologia [ SI] [2005] Disponiacutevel em httpwwwfunapeorgbrgeomorfologia CEacuteSAR DE OLIVEIRA TAVARES K SILVIA SANTOS R RODRIGUES DE LIRA D APRIacuteGIO DOS SANTOS C Mapeamento Geomorfoloacutegico Preliminar da Aacuterea do Agreste Sergipano a partir de aplicaccedilotildees Geotecnoloacutegicas XI SINAGEO 15 a 21 de setembro de 2016 CRISTOFOLETTI Antocircnio Geomorfologia 2ordf ed Satildeo Paulo Edgar Blucher 1980 FONTES A L SANTOS M A LIMA E S CORREIA A L Estudo Geomorfoloacutegico do Sistema Hidrograacutefico betumeaterro uma contribuiccedilatildeo ao ordenamento do

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baixo Satildeo Francisco Sergipano IV Simpoacutesio nacional de Geomorfologia Regional Conference on Geomorphology p 1-10 Goiacircnia setembro de 2006 MACHADO Pedro Joseacute de Oliveira TORRES Filipe Tamiozzo Pereira Introduccedilatildeo a hidrogeografia Textos baacutesicos de geografia Satildeo Paulo Cengage Learning 2012

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A DINAcircMICA SOCIOECONOcircMICA DO PERIacuteMETRO IRRIGADO DA RIBEIRASE UMA ANAacuteLISE DOS

EXTREMOS CLIMAacuteTICOS

Joseacute Eduardo Santos de Britosup1 (Universidade Federal de Sergipe) (Graduando)

E-mail eduardovinkhotmailcom

Lucas Melo Costasup2 (Universidade Federal de Sergipe) (Graduando)

E mail lucasmelo_33hotmailcom

Daniel Almeida Da Silvasup3 (Universidade Federal de Sergipe) (Prof Adjunto DGEI)

E mail danielalmeidaufsgmailcom

RESUMO

O presente trabalho discorre sobre a relaccedilatildeo entre os climaacuteticos extremos e os recursos hiacutedricos tendo como estudo de caso o Periacutemetro irrigado do povoado Ribeira em Itabaiana- SE outorgada pela COHIDRO As questotildees climatoloacutegicas relacionadas as poliacuteticas puacuteblicas do local apresentam-se de formas perioacutedicas constituiacutedas por escassez hiacutedrica ou periacuteodos excessivos de pluviosidade O estudo busca esclarecer alguns dos fatores climaacuteticos globais como locais dos quais interferem na produccedilatildeo agriacutecola da aacuterea repercutindo assim renda do agricultor familiar juntamente como o capital eacute um agente produtor e reprodutor do espaccedilo geograacutefico Analisar as diferentes formas de mitigaccedilatildeo dos extremos climaacuteticos torna-se pertinente pois o estudo climatoloacutegico cada vez mais teacutecnico-cientifico- informacional que de acordo com Milton Santos torna-se uma agricultura de precisatildeo poreacutem tais mecanismos natildeo satildeo encontrados nas poliacuteticas puacuteblicas e sim na agroinduacutestria portanto o trabalho propotildee esclarecer que os

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sujeitos envolvidos natildeo se preocupam do acompanhamento climaacutetico que acontecem de forma ainda insatisfatoacuteria contraditoacuteria e desigual PALAVRAS-CHAVE Produccedilatildeo Agriacutecola Extremos Climaacuteticos Poliacuteticas Puacuteblicas INTRODUCcedilAtildeO

O presente artigo busca elucidar discutir sobre os extremos climaacuteticos influenciam a produccedilatildeo da paisagem relevo e tambeacutem intervir na reproduccedilatildeo do espaccedilo Na obra da Blank 2015 ele discute que alguns especialistas defendem que as mudanccedilas climaacuteticas estatildeo acima da accedilatildeo antroacutepica que a terra tem ciclos de periacuteodos de glaciaccedilatildeo e periacuteodo que consiste em num periacuteodo intermediaacuterio e eacute nesse intervalo de tempo que a humanidade encontra-se Jaacute alguns defendem que accedilatildeo antroacutepica mesmo natildeo sendo a causa de tais mudanccedilas climaacuteticas eacute um fator crucial ao menos para amplificaccedilatildeo ou aceleraccedilatildeo dos distuacuterbios climaacuteticos

O Estado de Sergipe assim como o Brasil tem o predomiacutenio de grandes latifuacutendios e o cultivo de monocultura da cana-de-accediluacutecar e por ser um dos primeiros Estados a serem invadidos foram expostos a impactos antroacutepicos como derrubada da Mata Atlacircntica degradaccedilatildeo hiacutedrica entre outros Aleacutem dos impactos antroacutepicos Sergipe sofre influecircncias dos ventos aliacutesios que favorece para disponibilizaccedilatildeo de umidade para a aacuterea continental ocasionando assim chuvas em determinadas localidades que ao adentrar o continente tem seu indicie pluviomeacutetrico eacute reduzido estando uma parte do estado dentro do poliacutegono da seca como esclarecido em

No estado de Sergipe atuam quatro sistemas meteoroloacutegicos os Aliacutesios de sudeste a Zona de Convergecircncia

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Intertropical o Sistema Equatorial Amazocircnico eou Continental e a Frente Polar Atlacircntica Estes sistemas quando interagem com outros locais fazem predominar no Estado um tipo climaacutetico quente com variaccedilotildees A faixa litoracircnea do Estado corresponde agrave aacuterea em que a precipitaccedilatildeo eacute mais bem distribuiacuteda durante o ano registrando-se os maiores totais pluviomeacutetricos Ao contraacuterio da extremidade noroeste em que predomina o clima semi-aacuterido onde os periacuteodos de estiagem geralmente se estendem por dois a trecircs anos sem haver uma regularidade fixa em termos de tempo atmosfeacuterico (ARAUacuteJO 2007 p28)

Para adentrar na discussatildeo sobre como os extremos

climaacuteticos eacute influente para sociedade humana precisa-se entender quais satildeo alguns fatores que satildeo cruciais para as variaccedilotildees do tempo e do clima que apresentam-se na escala Global Regional Local Existes vaacuterios fatores que relacionam-se entre si para resultar no dinamismo climaacutetico podemos aqui citar alguns como Distacircncia da terra para sol (perieacutelio afeacutelio) movimento da terra de translaccedilatildeo e rotaccedilatildeo que na medida que a terra movimenta-se no seu proacuteprio eixo faz com que a atmosfera (forccedila de fricccedilatildeo Forccedila Inercial de Corioacutelis) esteja tambeacutem em movimento originando assim os ventos ou seja a relaccedilatildeo de vaacuterios fatores satildeo que proporciona o clima na litosfera

A ecircnfase na Circulaccedilatildeo Atmosfeacuterica e os sistemas produtores de tempo que segundo Ayoade 1998 satildeo sistemas de circulaccedilatildeo que proporciona padrotildees e caracteriacutesticas ao tempo prova as Massas de ar e frentes depressotildees fronteais depressotildees natildeo-frontais assim variaccedilotildees diurnas e temporais

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que satildeo denominadas de perturbaccedilotildees atmosfeacutericas ou metodoloacutegicas Dentro das perturbaccedilotildees ele define como os mais importantes os ciclones e os anticiclones que variam em por determinadas latitudes

O municiacutepio de Itabaiana apresenta o comeacutercio e a agricultura como setores principais para economia local o municiacutepio eacute beneficiado por dois periacutemetros Irrigados sob cuidados da COHIDRO (Companhia de Desenvolvimento de Recursos Hiacutedricos de Sergipe) O Jacarecica I tem como cultivos principais que fica na ao leste da sede municipal tem como cultivos como batata-doce alface milho verde quiabo coentro cebolinha tomate pepino feijatildeo vagem maxixe pimenta e amendoim e o Periacutemetro Irrigado da Ribeira sudeste do municiacutepio seus cultivos satildeo a batata-doce coentro cebolinha pimentatildeo tomate couve amendoim berinjela alface feijatildeo vagem quiabo tais produtos com um valor anual de produccedilatildeo estimado em 32 milhotildees de reais(COHIDRO 2017)

Nota-se assim que o municiacutepio tem uma importante produccedilatildeo de hortifrutigranjeiros para economia local e estadual pois aleacutem da produccedilatildeo a comercializaccedilatildeo dos produtos eacute algo marcante no espaccedilo geograacutefico do municiacutepio visto em

O municiacutepio de Itabaiana eacute o maior mercado atacadista de hortifrutigranjeiros de Sergipe O espaccedilo ocupado por esses atores com seus caminhotildees e mercadorias estaacute circunscrito a todo o centro comercial da cidade e ruas adjacentes Deste modo aleacutem dos espaccedilos puacuteblicos com especificaccedilatildeo para o comeacutercio a exemplo dos largos comerciais esse segmento ocupa aproximadamente 10kmsup2 de aacuterea pelas

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ruas Capitatildeo Mendes Antocircnio Dutra General Maynard Sete de Setembro Gumercindo Doacuterea Batista Itajaiacute e Satildeo Paulo travessas Manuel Vieira Joseacute C Melo e Francisco Porto e Avenida Otoniel Doacuterea Nos dias de maior movimento desse segmento eacute possiacutevel se notar ainda uma ocupaccedilatildeo das Praccedilas Fausto Cardoso e Joatildeo Pessoa (CARVALHO 2012 p 3)

Portanto faz-se necessaacuterio para uma elucidaccedilatildeo em

relaccedilatildeo aos desafios enfrentados pelos sujeitos propotildee entatildeo adiante um debate em que apresenta-se as realidades cotidiana da populaccedilatildeo da aacuterea assim como os resultados parciais aqui expostos DESENVOLVIMENTO

Alguns especialistas defendem que as mudanccedilas climaacuteticas estatildeo acima da accedilatildeo antroacutepica que a terra tem ciclos de periacuteodos de glaciaccedilatildeo e periacuteodo que consiste em num periacuteodo intermediaacuterio e eacute nesse intervalo de tempo que a humanidade encontra-se Jaacute alguns defendem que accedilatildeo antroacutepica mesmo natildeo sendo a causa de tais mudanccedilas climaacuteticas eacute um fator crucial ao menos para amplificaccedilatildeo ou aceleraccedilatildeo dos distuacuterbios climaacuteticos proposta pela III conferecircncia regional sobre mudanccedilas globais Ameacuterica do Sul explanada por Marengo 2007 que faz algumas observaccedilotildees pertinentes em

Evidecircncias adicionais tecircm mostrado a influecircncia do ser humano sobre a temperatura da atmosfera livre medida com radiossondas e sateacutelites O aquecimento observado na troposfera e

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estratosfera eacute muito provavelmente devido a influecircncia de forccedilantes naturais A forccedila humana resultou na expansatildeo teacutermica do aquecimento nos oceano e nas geleiras tem contribuiacutedo muito provavelmente para o aumento do niacutevel do mar durante a segunda metade do seacuteculo XXI Eacute provaacutevel que exista uma contribuiccedilatildeo humana substancial para o aumento das temperaturas de todos os continentes exceto a Antaacutertica desde os meados do Seacuteculo XX Eacute altamente provaacutevel que outras forccedilantes aleacutem da antroacutepica tem contribuiacutedo para o aumento de ciclones tropicais mais

intensos (p84)

As mudanccedilas climaacuteticas cada vez mais satildeo percebidas pela sociedade que paulatinamente eacute acrescida em sua quantidade consiste entatildeo numa maior ocupaccedilatildeo do globo aumentando a sensibilidade dos feitos recebidos pois o homem a princiacutepio a natureza era condicionante para produccedilatildeo do espaccedilo e posteriormente o homem foi cada vez se apropriando e aos pouco transformando-a assim antes lugares inoacutespitos para o homem passaram a ser habitaacuteveis e como a relaccedilatildeo entre homem natureza foram apresenta mudanccedilas ao longo do tempo em sua concepccedilatildeo esclarecida em

Especificamente para o conhecimento geograacutefico o entendimento do que eacute Natureza eacute de primordial importacircncia uma vez que ela constitui-se em um dos conceitos fundantes de nossa ciecircncia Ao compreender como as concepccedilotildees de natureza influenciam o pensar o agir sobre a natureza e sobre a proacutepria

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construccedilatildeo do conhecimento eacute possiacutevel inferir como as paisagens e os espaccedilos satildeo organizados (re)estruturados (re)interpretados e (re)construiacutedos Dentro deste contexto considera-se Natureza como um conceito chave dentro de cada cultura (sociedade) sendo possiacutevel atraveacutes dele melhor compreender as relaccedilotildees sociais e soacutecio-naturais que as caracterizam (SPRINGER 2010)

Para adentrar na discussatildeo sobre o tatildeo quanto os

extremos climaacuteticos eacute influente para sociedade humana precisa-se entender quais satildeo alguns fatores que satildeo cruciais para as variaccedilotildees do tempo e do clima que apresentam-se na escala Global Regional Local Existe vaacuterios fatores que relacionam-se entre si para resultar no dinamismo climaacutetico podemos aqui citar alguns como Distacircncia da terra para sol (perieacutelio afeacutelio) movimento da terra de translaccedilatildeo e rotaccedilatildeo que na medida que a terra movimenta-se no seu proacuteprio eixo faz com que a atmosfera (forccedila de fricccedilatildeo Forccedila Inercial de Corioacutelis) esteja tambeacutem em movimento originando assim os ventos ou seja a relaccedilatildeo de n fatores satildeo que proporciona o clima na litosfera

O Artigo daacute ecircnfase na Circulaccedilatildeo Atmosfeacuterica e os sistemas produtores de tempo que segundo Ayoade 1998 satildeo sistemas de circulaccedilatildeo que proporciona padrotildees e caracteriacutesticas ao tempo prova as Massas de ar e frentes depressotildees fronteais depressotildees natildeo-frontais assim variaccedilotildees diurnas e temporais que satildeo denominadas de perturbaccedilotildees atmosfeacutericas ou metodoloacutegicas Dentro das perturbaccedilotildees ele define como os mais importantes os ciclones e os anticiclones que variam em por determinadas latitudes

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O autor tambeacutem esclarece a zona de convergecircncia intertropical que tem caracteriacutestica permanente dos troacutepicos composta por uma faixa de nuvem que se estabelece numa faixa que divisoacuteria entre o hemisfeacuterio norte e o sul que movimenta-se de acordo com a incidecircncia solar na terra esse mecanismo eacute fundamental para entendimento do clima da regiatildeo a ser estudada pois esta estaacute inserida na ldquoregiatildeo nordeste brasileirordquo (localizaccedilatildeo exata) proacuteximo a linha do Equador que com alguns outros mecanismos produzem o clima do Brasil

Faz-se necessaacuterio esclarecer um fenocircmeno de escala local denominado como precipitaccedilatildeo cientificamente e chuva pelo senso comum como esclarece Ayode 1998 como qualquer deposiccedilatildeo em forma liquida ou solida derivada da atmosfera Suas formas variadas proporcionam assim especificas tipos de mediccedilatildeo para determinado estado da aacutegua Esclarecido o que eacute precipitaccedilatildeo eacute necessaacuterio tambeacutem uma breve discussatildeo o que eacute seca pois cientificamente e conceituada como ldquosecardquo quando acontece em um determinado periacuteodo um decreacutescimo no iacutendice de pluviosidade tida como ldquonormalrdquo da aacuterea ou seja quando a distribuiccedilatildeo da quantidade de precipitaccedilatildeo natildeo atinge a meacutedia anual prevista para aquela aacuterea tais secas podem ser consideradas sazonais (estacionaacuterias) ou secas perioacutedicas(moacuteveis) Vaacuterios pesquisadores propotildeem discussotildees sobre os niacuteveis e enumeram ou sistematizam por diferentes caracteriacutesticas e especificaccedilotildees como magnitude periacuteodo de duraccedilatildeo e outros fatores proposto por Engle 2016 Ayoade 1998 Com isso Campos e Studart 2008 que defende e define trecircs tipos de seca a climatoloacutegica edaacutefica hidroloacutegica

A seca climatoloacutegica refere-se agrave ocorrecircncia em um dado espaccedilo e tempo de uma deficiecircncia no total de chuvas em relaccedilatildeo aos padrotildees normais que

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determinaram as necessidades Esse tipo de seca tem como causa natural a circulaccedilatildeo global da atmosfera e pode resultar em reduccedilatildeo na produccedilatildeo agriacutecola e no fornecimento de aacutegua seja para abastecimento seja para outros usos A seca edaacutefica tem como causas baacutesicas a insuficiecircncia ou distribuiccedilatildeo irregular das chuvas e pode ser identificada como uma deficiecircncia da umidade em termos do sistema radicular das plantas que resulta em consideraacutevel reduccedilatildeo da produccedilatildeo agriacutecola Esse tipo de seca associado agrave agricultura de sequeiro eacute a que maiores impactos causa no Nordeste Semi-Aacuterido Os efeitos satildeo conhecidos severas perdas econocircmicas e grandes transtornos sociais como fome migraccedilatildeo e desagregaccedilatildeo familiar Eacute a seca social A seca hidroloacutegica (ou de suprimento de aacuteguas) por sua vez pode ser entendida como a insuficiecircncia de aacuteguas nos rios ou reservatoacuterios para atendimento das demandas de aacuteguas jaacute estabelecidas em uma dada regiatildeo Essa seca pode ser causada por uma sequumlecircncia de anos com deficiecircncia no escoamento superficial ou tambeacutem por um mal gerenciamento dos recursos hiacutedricos acumulados nos accediludes (p3)

Nota-se a importacircncia em saber toda a existecircncia a

dinacircmica dos fenocircmenos podem influenciar a vida social do homem o clima interfere sem duvida nos condicionantes socais eacute certo tambeacutem que o agricultor que maneja diretamente com os produtos (os alimentos) e todo estaacutegio da

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produccedilatildeo agriacutecola exemplificada por radiaccedilatildeo solar temperatura umidade demonstrado em

Apesar dos avanccedilos tecnoloacutegicos e cientiacuteficos o clima eacute ainda a variaacutevel mais importante na produccedilatildeo agriacutecola O fator climaacutetico afeta a agricultura e determina a adequaccedilatildeo dos suprimentos alimentiacutecios de dois modos principais Um eacute atraveacutes do azares(imprevistos) climaacuteticos para as lavouras e o outro eacute atraveacutes do controle exercido pelo clima sobre o tipo de agricultura praticaacutevel ou viaacutevel numa determinada aacuterea Os paracircmetros climaacuteticos exercem influecircncia sobre todos os estaacutegios da cadeia de produccedilatildeo agriacutecola incluindo a preparaccedilatildeo da terra semeadura crescimento dos cultivos colheita armazenagem transporte e comercializaccedilatildeo (AYOADE 1998 p261)

Natildeo eacute atoa que o clima eacute fator fundamental para o

homem pois toma-se novamente a discussatildeo sobre o sistema ambiental o niacutevel de interferecircncia antroacutepica e quanto o clima interfere na vida cotidiana dos indiviacuteduos pois reforccedilado em

O clima talvez seja o mais importante componente do ambiente natural Ele afeta os processo geomorfoloacutegicos os da formaccedilatildeo dos solos e o crescimento e desenvolvimento das plantas Os organismos incluindo o homem satildeo influenciados pelo clima As principais bases da vida para a humanidade principalmente o ar a aacutegua o alimento e

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o abrigo estatildeo da dependecircncia do clima

(p286)

Segundo Prado Junior 1987 em sua obra caracteriza o Brasil com impactos ambientais provenientes desde sua invasatildeo pois o Paiacutes apresenta grandes Latifundiaacuterios na produccedilatildeo de soja (pastagens e outros tipos de monocultura) que muitos antes e por todo o contexto de formaccedilatildeo territorial atraveacutes das capitanias hereditaacuterias e o inicio da agricultura marcada pela cana-de-accediluacutecar e o progresso extensivo da pecuaacuteria fez necessaacuterio o pequeno produtor suprir a necessidade alimentiacutecia da sociedade interna atraveacutes da sua produccedilatildeo Sabemos que V seacuteculos histoacuterico brasileiro natildeo se resume a paragrafo contudo para natildeo perder o foco da pesquisa segue adiante o raciociacutenio Ao analisar a dependecircncia do setor agriacutecola do clima eacute sabido que Brasil eacute um paiacutes exportador de produtos primaacuterios que consiste num mercado agroexportador agregador para a produccedilatildeo de suas riquezas interferindo fortemente no PIB (Produto Interno Bruto) cabe questionar quais os impactos sofridos por um Paiacutes fortemente dependente da agricultura esta por sua vez eacute afetada pelos Extremos Climaacuteticos E isso com jaacute mencionado promove a produccedilatildeo e a reproduccedilatildeo do espaccedilo anteriormente antes das poliacuteticas puacuteblicas voltadas para a mitigaccedilatildeo dos eventuais eventos climaacuteticos o Brasil sofreu natildeo soacute no setor agriacutecola mais tambeacutem a seca proporcionou tambeacutem alguns fenocircmenos sociais como a migraccedilatildeo morte populacional desemprego esclarecidos em

Antes e durante o Seacuteculo XIX natildeo havia estradas nem nenhum sistema de apoio Os refugiados das secas conhecidos como flagelados ou retirantes - migravam a peacute andavam meses e meses e muito

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frequentemente morriam agraves margens dos caminhos O naturalista americano Herbert Smith que visitou o Cearaacute o estado do Nordeste com a maior parte de seu territoacuterio no Semiaacuterido escreveu que soacute no Cearaacute 500000 pessoas morreram por causa da seca de 1877 - 1879 aleacutem de outras 300000 pessoas nas outras partes do Nordeste Poucos anos antes em 1872 o Brasil tinha feito o seu primeiro Censo Demograacutefico No Cearaacute viviam 700 mil pessoas principalmente no interior Isso significa que a grande seca teria causado a morte de mais de 50 da populaccedilatildeo do Cearaacute (SMITH 2012 apud MAGALHAtildeES)

A partir dos meados do seacuteculo XX com melhorias em

relaccedilatildeo aos meios de transportes poliacuteticas puacuteblicas como criaccedilatildeo de reservatoacuterios poliacuteticas sociais aleacutem de outros fatores a incidecircncia desses fenocircmenos foram diminuindo contudo ainda acontecem principalmente em determinadas aacutereas do nordeste que sofre com a falta de disponibilidade dos recursos hiacutedricos tornando-se sensiacuteveis aos extremos climaacuteticos

O desenvolvimento agraacuterio consistiu em vaacuterias fases no nosso Paiacutes contudo foi atraveacutes das poliacuteticas puacuteblicas nos ano 50 com a tecnificaccedilatildeo do campo brasileiro desenvolveu uma seacuteries de implementaccedilotildees propondo maiores lucros isso propotildee abertura do mercado para os agrotoacutexicos (revoluccedilatildeo verde) criaccedilatildeo de barragens no Nordeste a fim de mitigar o contexto climaacutetico sofrido pela populaccedilatildeo e tambeacutem afim de impulsionar cada vez mais o acuacutemulo de capital

Necessaacuterio assim saber algumas caracteriacutesticas do Estado e tambeacutem do municiacutepio em que a aacuterea estudada localiza-se

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O municiacutepio de Itabaiana apresenta-se junto com Aracaju as maiores variabilidade climaacuteticas jaacute em datas anteriores ao periacuteodo aqui analisado neste relatoacuterio que eacute 2010-2016 apresentando secas e periacuteodo com chuvas excessivas exemplificadas em

A variabilidade da precipitaccedilatildeo anual em relaccedilatildeo agrave meacutedia do municiacutepio de Itabaiana constata um pequeno ciclo de desvios negativos antes da deacutecada de 20 que procede com longo periacuteodo nas deacutecadas de 20 a 40 com variaccedilotildees ciacuteclicas de anos de desvios negativos e positivos Nas deacutecadas de 40 ao final de 50 encontra-se longo periacuteodo com desvios positivos caracterizados com precipitaccedilotildees acima da meacutedia normal Entre o final da deacutecada de cinquumlenta ao iniacutecio da de oitenta percebe-se um longo periacuteodo de desvios negativos caracterizados com precipitaccedilotildees abaixo da meacutedia normal Este longo periacuteodo de estiagem encontra referecircncia nas secas oficiais da SUDENE Isto configura-se com expressotildees pluviomeacutetricas negativas explicadas por dois periacuteodos distintos o primeiro a partir da seca de 70 e o outro o periacuteodo de longa estiagem provocadora da seca de 1979 (PLINTO)

O municiacutepio de Itabaiana apresenta o comeacutercio e a

agricultura como setores principais para economia local o municiacutepio eacute beneficiado por dois periacutemetros Irrigados sob cuidados da COHIDRO (Companhia de Desenvolvimento de Recursos Hiacutedricos de Sergipe) O Jacarecica I tem como cultivos principais que fica na ao leste da sede municipal tem

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como cultivos como batata-doce alface milho verde quiabo coentro cebolinha tomate pepino feijatildeo vagem maxixe pimenta e amendoim e o Periacutemetro Irrigado da Ribeira sudeste do municiacutepio seus cultivos satildeo a batata-doce coentro cebolinha pimentatildeo tomate couve amendoim berinjela alface feijatildeo vagem quiabo tais produtos com um valor anual de produccedilatildeo estimado em 32 milhotildees de reais(COHIDRO 2017)

Os diversos textos assim como os livros foram enriquecedor para absorccedilatildeo teoacuterica e metodoloacutegica para realizaccedilatildeo do presente relatoacuterio Alguns dos lidos refere-se agrave agricultura climatologia formaccedilatildeo territorial do Brasil teoria e meacutetodo epistemologia economia poliacuteticas puacuteblicas entre outros

Os estudos realizados por Plinto 2012 traz um breve relato sobre a variabilidade de alguns muniacutecipios do Estado de Sergipe com base a partir da bacia hidrograacutefica do rio Poxim e apresenta resultados esclarecedores sobre as existecircncias de secas e traz dados pluviomeacutetricos do municiacutepio de Itabaiana certificadas em

O perfil pluvial eacute melhor demonstrado atraveacutes da anaacutelise da variabilidade propiciando diagnoacutestico e prognoacutestico da potencialidade local A variabilidade entendida como sendo alteraccedilotildees interanuais e aplicada por amostragem nas localidades das cabeceiras do meacutedio curso e da foz propiciando um entendimento do comportamento e das possibilidades de um eficaz zoneamento agroclimatoloacutegico A sazonalidade das chuvas (variabilidade intraanual) como inconstacircncia temporal tambeacutem eacute mais pronunciada com a continentalidade A

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estaccedilatildeo seca eacute mais severa agrave medida que se interioriza o territoacuterio sergipano(p1)

Campos e Studart 2008

esclarece as diferentes formas de conceito de ldquosecardquo estabelecida e mensurada por variaacuteveis a serem consideradas pelo pesquisador e tambeacutem refletir sobre poliacuteticas puacuteblicas e formas de mitigaccedilatildeo principalmente nas regiotildees semiaacuteridas justificadas em Conceituar seca eacute a primeira dificuldade que enfrenta quem escreve sobre o tema Natildeo haacute uma definiccedilatildeo universalmente aceita O conceito varia segundo o ponto de vista do observador Para o hidroacutelogo uma seca pode ser pensada como uma deficiecircncia da oferta em relaccedilatildeo agraves demandas em termos das aacuteguas correntes dos rios ou acumuladas em reservatoacuterios Para o agricultor a seca pode ser encarada como uma falta de umidade disponiacutevel no solo a niacutevel do sistema radicular das culturas resultando em perdas na produccedilatildeo agriacutecola Por sua vez no lado soacutecio-econocircmico uma seca estaacute relacionada ao campo das atividades humanas afetadas aos problemas sociais e econocircmicos gerados (p9)

Conforme Prado Junior que apresenta em sua obra a

formaccedilatildeo territorial do Brasil estaacute amplamente marcada pela vinda dos europeus para a apropriaccedilatildeo dos recursos naturais aqui encontrados posteriormente o desenvolvimento dos

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latifuacutendios movimentado pelo trabalho escravista que trazem marcas ateacute os dias atuais e prioriza em sua obra a formaccedilatildeo econocircmica brasileira exemplificada em

O plano em suas linhas gerais consistia no seguinte dividiu-se a costa brasileira (o interior por enquanto eacute para todos os efeitos desconhecidos) em doze setores lineares com extensotildees que variavam entre 30 e 100 leacuteguas Esses setores chamar-se-atildeo capitanias e seratildeo doadas a titulares que gozaratildeo de grandes regalias e poderes soberanos caber-lhes-aacute nomear autoridades administrativas juiacutezes em seus respectivos territoacuterios recebe taxas e impostos e distribuir terras etc (p32)

A preocupaccedilatildeo do mundo existente pela continuas mudanccedilas climaacuteticas e quanto eacute necessaacuterio o estudo detalhado sobre os extremos climaacuteticos como forma preventiva para a sociedade Na conferencia existe a atenccedilatildeo principalmente dos pesquisadores cientistas sulamericanos em torno do clima bem como as formas de mitigaccedilatildeo e analises sobre a variabilidade climaacutetica em escala global regional e local eacute esclarecido por

A variabilidade e mudanccedila na tendecircncia da seacuteries climaacuteticas e hidroloacutegicas produzem importantes impactos na sociedade (por exemplo El Nintildeo e La Ninatilde) A variabilidade em escalas interanuais e decadais pode ser natural e a mudanccedila climaacutetica pode ser natural aleacutem de ser ampliada pelas atividades humanas (mudanccedilas no uso do solo queima de combustiacutevel foacutessil) As mudanccedilas naturais sempre existiram e fazem parte do clima

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do planeta como a histoacuteria mostra em diferentes relatos de civilizaccedilotildees que desapareceram ou mudaram devido as estas condiccedilotildees As questotildees prementes satildeo quais os efeitos das mudanccedilas sobre esta variabilidade quais os efeitos sobre os sistemas hidroloacutegicos (uso da aacutegua ecossistemas geraccedilatildeo de energia transporte) quais as incertezas o que se pode dizer quanto agrave previsibilidade etc (MARENGO 2008 p85)

CONCLUSOtildeES

No periacutemetro irrigado da Ribeira os lotes variam entre

03 ateacute 5 hectares natildeo existe homogeneidade os tipos de cultivos satildeo escolhidos pelos proacuteprios produtores estes sofrem por parte do atravessador (demanda do mercado influenciado pelo capital) seria alface bata doce coentro cobre cerca de 400 ha

A COHIDRO (Companhia de Desenvolvimento de Recursos Hiacutedricos e Irrigaccedilatildeo de Sergipe) utiliza de medidor de orifiacutecio para apresentar homogeneidade na distribuiccedilatildeo (entrada de aacutegua de cada lote) contudo acontece por parte de alguns produtores a retirada para disponibilizar uma quantidade maior para seu lote

No periacuteodo de racionamento (entre final de 2016 ateacute marccedilo 2017) a distribuiccedilatildeo ocorria 2 em 2 horas assim houve interrupccedilatildeo da disponibilidade jaacute no periacuteodo em que a barragem apresenta niacuteveis ldquonormaisrdquo a disponibilidade eacute de 12 horas por dia Satildeo atendidos 17 povoados 15 do muniacutecipio de Itabaiana 02 pertencentes ao municiacutepio de Areia Branca

A falta de atenccedilatildeo por parte dos sujeitos responsaacuteveis por prestar assistecircncia teacutecnicas para com os agricultores foi obtido principalmente atraveacutes das entrevistas com os mesmos

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pois relatou que natildeo haacute comunicaccedilatildeo direta com os produtores somente caso isso seja solicitado mesmo assim dados deficitaacuterios pois a estaccedilatildeo pluviomeacutetrica encontra-se deteriorada por falta de manutenccedilatildeo ou sucateamento dos setores puacuteblicos que cada vez recebe menos verbas destinadas para a manutenccedilatildeo de funcionaacuterios

Atraveacutes da entrevista foi relatado que a coleta de dado estaacute sendo realizada dentro da secretaria (O dinamocircmetro) proporcionando a captaccedilatildeo irregular de dado (alterando seus resultados) este necessaacuterio para uma anaacutelise mais profunda em relaccedilatildeo agraves mudanccedilas sofridas na aacuterea ou previsotildees que podem ser realizadas

Portanto a desatenccedilatildeo por parte dos agricultores em relaccedilatildeo agrave previsatildeo do tempo e clima previstos para determinado periacuteodo Aleacutem do sucateamento do material os dados satildeo repassados para outros setores com falta de material aleacutem de outros fatores ocasiona dificuldade na comunicaccedilatildeo entre setores e empresas puacuteblicas satildeo deficitaacuterias por apresentar perda ou alteraccedilatildeo de dados que pode ser crucial aos produtores para a agricultura ou seja tanto produtores quanto gestores estatildeo agrave mercecirc do senso comum do achismo pois os mesmo sem previsatildeo em relaccedilatildeo ao Climatempo estatildeo expostos aos azares climaacuteticos e ou suscetiacuteveis aos extremos climaacuteticos

O periacutemetro incialmente estaria sob o comando de EMDAGRO e posteriormente foi passada a COHIDRO essa transferecircncia de empresas causam transtornos em relaccedilatildeo aos dados colhidos pois estudos realizados para a criaccedilatildeo da barragem levaram em conta dados como evapotranspiraccedilatildeo temperaturas umidade estavam em contextos distintos por isso eacute necessaacuterio a estudo cada vez mais detalhados com pretensatildeo de entender as realidades existentes na aacuterea A criaccedilatildeo da barragem a princiacutepio era apenas para a disponibilizaccedilatildeo para a irrigaccedilatildeo contudo ao passar do tempo

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a DESO comeccedilou a capitalizaccedilatildeo de aacutegua na barragem para a disponibilidade humana o que afeta disponibilidade exata de aacutegua na barragem que por sua vez sofre impactos ambientais como assoreamento maior demanda por atender o abastecimento populacional demonstra assim a fragilidade e a importacircncia climaacutetica para a sociedade pois uma seca prolongada (sazonal) pode afetar tanto economicamente quanto substancialmente o individuo

Os extremos climaacuteticos acontecendo com maior frequecircncia provocam transtornos na produccedilatildeo agriacutecola na sauacutede populacional nos transporte em geral (dependendo da intensidade) sociais tanto para a populaccedilatildeo rural quanto para populaccedilatildeo urbana contudo com a populaccedilatildeo urbana eacute depende dos resultados agriacutecolas para atender as necessidades alimentiacutecias (no caso do Brasil produccedilatildeo exportadora) para o funcionamento econocircmico do Paiacutes

Os gestores sabem das mudanccedilas climaacuteticas cada vez mais presentes no cotidiano poreacutem natildeo sabem detalhar sabem a duraccedilatildeo de cada periacuteodo chuvoso e seco (Laacute Nina e El Nino) periacuteodos de 3 em 3

Faz-se necessaacuterio ressaltar fomento do capital estaacute claro em relaccedilatildeo agrave produtividade pois a produccedilatildeo no periacutemetro eacute intensificada (existe um aumento) na eacutepoca do veratildeo pois a subsistecircncia da barragem supre a demanda hiacutedrica do solo para a produccedilatildeo agriacutecola diferentemente dos produtores que natildeo fazem parte do periacutemetro tem sua produccedilatildeo ainda mais afetada pelas questotildees climaacuteticas ou seja expotildee assim a demanda x disponibilidade pois no inverno com a pluviometria acentuada esta demanda continue em alta a disponibilidade eacute maior jaacute no veratildeo a demanda eacute alta poreacutem por falta de precipitaccedilotildees e suprimento da umidade no solo a disponibilidade eacute reduzida

A importacircncia dos estudos climaacuteticos para a sociedade eacute necessaacuteria pois o climatempo interfere sem duacutevida em

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todos os fenocircmenos existente no planeta mesmo o capitalismo com suas inuacutemeras facetas satildeo interferidos por tais fenocircmenos naturais provocando assim uma metamorfose do capital da sociedade do homem e tambeacutem do meio para a adaptaccedilatildeo das suas caracteriacutesticas

Eacute notoacuterio tambeacutem que o niacutevel de dependecircncia (interferecircncia) vai variando de acordo com as condiccedilotildees econocircmicas (ou estruturais) de cada indiviacuteduos pois os extremos climaacuteticos afetam de forma intensa os produtores natildeo participantes do projeto irrigado (que natildeo tem irrigaccedilatildeo em sua propriedade mesmo de forma privada) do que aqueles que participam do projeto que sofrem de forma amena com os extremos climaacuteticos pois em momentos de deacuteficit hiacutedricos tem a irrigaccedilatildeo o recurso necessaacuterio para a sua produccedilatildeo (como jaacute mencionado o aumento produtivo em relaccedilatildeo aos periacuteodos inverno- veratildeo) A agricultura consiste em num dos principais setores para a renda do Municiacutepio eacute parcialmente influenciado sim pelo clima que por sua vez prova o reordenamento do espaccedilo geograacutefico inter-relacionando os fatores fiacutesicos sociais econocircmicos e culturais para a populaccedilatildeo da aacuterea quando para a populaccedilatildeo do municiacutepio jaacute que essa relaccedilatildeo estaacute ligada a dinacircmica do capital que possibilita sua adaptaccedilatildeo das suas caracteriacutesticas Eacute necessaacuterio o contiacutenuo estudo do clima e atenccedilatildeo por parte do sucateamento dos materiais de captaccedilatildeo de dados atmosfeacutericos pois os mesmo sendo estudados pelos cientistas satildeo o que iratildeo dar um respostas ou previsotildees para as atitudes a serem seguidas afim de amenizar tambeacutem os problemas vividos pelos agricultores pois natildeo eacute somente a Obra (barragem) que pode mitigar as dificuldades os estudos satildeo fundamentais que podem propor o tipo de cultura propicia para aacuterea o periacuteodo propicio a disponibilidade hiacutedrica

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necessaacuteria reduzindo assim os conflitos hiacutedricos da aacuterea esclarecido na pesquisa de BRITO 2017

Dessa forma a presente pesquisa buscou analisar o Povoado Ribeira em ItabaianaSE que apresenta problemaacutetica acerca dos recursos hiacutedricos sobretudo seu uso bem como manutenccedilatildeo e principalmente os conflitos apresentados no periacutemetro irrigado Conflitos que se deparam com a forccedila que agricultura impotildee sobre todos os setores puacuteblicos sendo de escala local e prosseguindo ateacute a escala global A pesquisa procura apresentar um debate sobre as poliacuteticas puacuteblicas que interferem nas contextualidades existentes em relaccedilatildeo aos recursos hiacutedricos (p 2)

Portanto os eventos extremos climaacuteticos consistem

numa priori dos problemas sociais citados anteriormente que interferem desde o humor do ser humano ateacute ocupaccedilatildeo e reproduccedilatildeo dos territoacuterios A influecircncia do clima persiste mesmo com o avanccedilo das tecnologias o homem ainda satildeo sujeitos agraves condiccedilotildees fiacutesicas ambientais e natildeo eacute atoa que a degradaccedilatildeo ambiental reflete de forma desigual pois a sociedade eacute estruturada pelas desigualdades fomentadas pelo capitalismo

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS AYOADE J O Introduccedilatildeo agrave climatologia para os troacutepicos 5 ed Rio de Janeiro Bertrand Brasil 1998 ARAUacuteJO Heacutelio Maacuterio de Relaccedilotildees socioambientais na bacia costeira do rio Sergipe Doutorado em Geografia Satildeo Cristoacutevatildeo NPGEO UFS 2007 298p

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BLANK Dionis Mauri Penning O contexto das mudanccedilas climaacuteticas e as suas viacutetimas Mercator Fortaleza v 14 n 2 p 157-172 maiago 2015 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrpdfmercatorv14n21984-2201-mercator-14-02-0157pdfgt Acessado em 23122017 CARVALHO D M ALCAcircNTARA F V COSTA J E Comercializaccedilatildeo de Hortifrutigranjeiros no segmento atacadista de ItabaianaSergipeBrasil (natildeo tem ano) COMPANHIA DE DESENVOLVIMENTO DE RECURSOS HIacuteDRICOS E IRRIGACcedilAtildeO DE SERGIPE [Internet] Disponiacutevel em lthttpwwwcohidrosegovbrgt Acessado em 10122017 SECRETARIA DE ESTADO DO MEIO AMBIENTE E DOS RECURSOS HIacuteDRICOS [Internet] Disponiacutevel em lthttpwwwsemarhsegovbrplanosderecursoshidricosindexphpperhoplanogt Acessado em 03122017 IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutesticas [Internet] Disponiacutevel em lthttpswwwibgegovbrgt Acessado em 08082017

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EXTREMOS CLIMAacuteTICOS E RECURSOS HIacuteDRICOS ASPECTOS BIOFIacuteSICOS NO

PERIacuteMETRO IRRIGADO DA RIBEIRASE

Lucas Melo Costasup1

(Universidade Federal de Sergipe) (Graduando)

E mail lucasmelo_33hotmailcom

Joseacute Eduardo Santos de Britosup2 (Universidade Federal de Sergipe) (Graduando)

E-mail eduardovinkhotmailcom

Daniel Almeida Da Silvasup3

(Universidade Federal de Sergipe) (Prof Adjunto DGEI)

E mail danielalmeidaufsgmailcom

RESUMO

O periacutemetro irrigado da Ribeira estaacute inserido no municiacutepio de ItabaianaSE e se constitui numa obra de poliacutetica puacuteblica importante para os agricultores dessa aacuterea Os extremos climaacuteticos apresentam-se cada vez mais frequentes portanto o estudo se estabelece no deacuteficit hiacutedrico apresentado entre os anos de 2010 a 2016 periacuteodo de estiagem em todo o Estado de Sergipe Portanto a caracterizaccedilatildeo biofiacutesica da aacuterea permite o conhecimento do funcionamento do sistema ambiental e contribui para accedilotildees a serem tomadas pelos sujeitos envolvidos o que vem a refletir na produccedilatildeo e reproduccedilatildeo nessa parte do espaccedilo geograacutefico Do mesmo modo a anaacutelise climaacutetica mais detalhada e sua correlaccedilatildeo com os fenocircmenos hiacutedricos permitiu concluir que esta aacuterea mesmo sendo abastecido por irrigaccedilatildeo ainda apresenta um grau elevado de dependecircncia dos condicionantes naturais

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PALAVRAS-CHAVE Extremos Climaacuteticos Caracterizaccedilatildeo biofiacutesica Corpos Hiacutedricos INTRODUCcedilAtildeO

A aacutegua como recurso natural vem gerando vaacuterios problemas que tem motivado estudos em diferentes aacutereas do conhecimento E como formador de paisagem o Clima eacute de relevante importacircncia jaacute que influencia o regime dos rios o escoamento fluvial e a disponibilidade hiacutedrica de uma regiatildeo As caracteriacutesticas climaacuteticas do Nordeste brasileiro representadas pela sazonalidade da precipitaccedilatildeo e pela alta variabilidade das chuvas manteacutem uma relaccedilatildeo direta com o comportamento fluvial A distribuiccedilatildeo da chuva no tempo e no espaccedilo associada agraves formaccedilotildees geoloacutegicas dominantemente cristalinas satildeo fatores condicionantes do regime dos rios e das reservas subterracircneas e portanto da disponibilidade dos recursos hiacutedricos superficiais e subterracircneos para a regiatildeo

O Periacutemetro Irrigado Poccedilatildeo da Ribeira eacute um projeto do tipo irrigaccedilatildeo puacuteblica estadual sem intervenccedilatildeo fundiaacuteria Este localizado no municiacutepio de Itabaiana no agreste sergipano e tem como principal fonte a barragem Poccedilatildeo da Ribeira que tem afluentes como o Rio das Pedras Rio Tabocas Vasa Barris e etc A pesquisa justifica-se portanto analisar os rebatimentos ocorridos durante os deacuteficits hiacutedricos de seca prolongada que ocorreu na regiatildeo de estudo no periacuteodo de 2010 a 2016 configurando-se pois num evento extremo climaacutetico repercutindo de forma direta na produccedilatildeo do recorte desse espaccedilo sergipano

O estudo foi baseada nos estudos de AbrsquoSaacuteber (1969) onde seratildeo destacados trecircs niacuteveis de abordagem enfatizando escalas espaciais e temporais e na abordagem geossistecircmica de anaacutelise

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ambiental apresentada por Bertrand (1971) Este meacutetodo possibilitaraacute o levantamento de dados relacionados com a caracterizaccedilatildeo estrutura e funcionalidade da paisagem Paralelamente essa paisagem seraacute considerada como um sistema resultante da combinaccedilatildeo dinacircmica entre os elementos fiacutesicos bioloacutegicos e antroacutepicos Dessa forma seratildeo realizados os estudos na bacia hidrograacutefica considerada como um geossistema

Na confecccedilatildeo de mapas temaacuteticos seratildeo utilizados SIGs-Sistemas de Informaccedilatildeo Geograacutefica fotografias aeacutereas Imagens de Sateacutelite e o banco de dados municipal

A construccedilatildeo dos graacuteficos os dados brutos foram tabulados e tratados no programa Excel for Windows 2013 jaacute para a feitura dos mapas o software utilizado foram o ArcGis 101 e a extensatildeo ArcHydroOs graacuteficos de variabilidade meacutedias anuais e trimestrais foram elaborados de acordo com a metodologia de Ayoade com tratamento matemaacutetico de cada dia e fazendo-se assim as meacutedias mensais para se chegar a conclusatildeo dos graacuteficos DESENVOLVIMENTO

A climatologia eacute a ciecircncia que se preocupa em apresentar os quatro domiacutenios globais a atmosfera a hidrosfera a litosfera e a biosfera que natildeo se superpotildeem uns aos outros mas continuamente permutam mateacuteria e energia entre si

Para medir a precipitaccedilatildeo de chuvas numa determinada aacuterea satildeo usados periacutemetros que ficam localizados em um ponto estrateacutegico para que possa obter dados com exatidatildeo assim haacute vaacuterios fatores que podem interferir numa coleta de

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dados pluviomeacutetricas tais como a altura do pluviomeacutetrico acima do solo velocidade do vento e a taxa de evaporaccedilatildeo

Eacute convencional classificar a precipitaccedilatildeo em trecircs tipos principais tomando-se por base a maneira de elevaccedilatildeo que tenha dado a origem agrave precipitaccedilatildeo Os tipos satildeo 1Tipo convectivo de precipitaccedilatildeo associado com a instabilidade convectiva 2Precipitaccedilatildeo de tipo ciclocircnico associado com convergecircncia em uma depressatildeo 3Precipitaccedilatildeo orograacutefica associadas a aacutereas acidentadas ou montanhosa (AYOADE 1996 p 161)

Conforme Ayoade 1996 a precipitaccedilatildeo ciclocircnica natildeo eacute

tatildeo intensa como a precipitaccedilatildeo do tipo convectiva mas que tem uma duraccedilatildeo mais prolongada dura em torno de 6 a 12 horas frequentemente Torna-se entatildeo este o tipo de precipitaccedilatildeo mais eficaz para aacutereas como do agreste sergipano e mais especificamente na nossa aacuterea de estudos onde percebe-se que a principal atividade eacute a agriacutecola

A importacircncia de preservar os corpos hiacutedricos e seus recursos naturais satildeo de extrema importacircncia para o equiliacutebrio ambiental Alguns estudos como o de Ribeiro 2008 dissertam sobre a problemaacutetica dos recursos hiacutedricos em cidades com diferentes realidades uma delas eacute La Paz na Boliacutevia situada em um siacutetio urbano extremamente irregular cuja altitude oscila entre 4100 e 2000 m ela eacute abastecida pela aacutegua do degelo que ocorre na Cordilheira Real que fica acima de 5000 m Outro caso eacute Satildeo Paulo estaacute situada em um siacutetio cujas altitudes oscilam ente 800 e 400 m e necessita captar aacutegua de outras bacias hidrograacuteficas pra abastecer sua populaccedilatildeo que gira em

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torno de cerca de 20 milhotildees de habitantes Sobre a temaacutetica o mesmo chama atenccedilatildeo que

Para agravar ainda mais a situaccedilatildeo a distribuiccedilatildeo da aacutegua tambeacutem eacute desigual e natildeo obedece a criteacuterios econocircmicos culturais ou poliacuteticos responsaacuteveis pelo consumo desenfreado e pela falta de acesso agrave aacutegua e ao saneamento baacutesico Por isso vivemos a crise da aacutegua resultado do consumismo exagerado do modo de produccedilatildeo capitalista e da distribuiccedilatildeo natural da aacutegua que ao ser dividida pelos paiacuteses introduziu a soberania no uso de seus recursos hiacutedricos Consumo cultura territoacuterio poliacutetica e natureza satildeo elementos necessaacuterios para compreender a crise da aacutegua Eacute dessa combinaccedilatildeo que podem sair alternativas para o abastecimento de toda populaccedilatildeo no planeta (RIBEIRO 2008 p 34)

O periacutemetro irrigado Poccedilatildeo da Ribeira eacute uma aacuterea rica em canais hidrograacuteficos e vaacuterias nascentes onde eacute de grande importacircncia ficar de olho em pequenos detalhes que podem trazer grandes resultados Como por exemplo o uso da Outorga para propriedades que possuem canais fluviais e que sem nenhuma orientaccedilatildeo do Estado fazem barramentos dentro dos rios Como Poleto 2014 alerta

De maneira geral a outorga eacute concebida apoacutes avaliaccedilotildees quanto a compatibilidade entre demandas hiacutedricas e a disponibilidade hiacutedrica do corpo drsquoaacutegua bem como pelas finalidades do uso e os

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impactos causados nos recursos hiacutedricos (2014 p 08)

Para estudos de anaacutelise ambiental o Geoprocessamento

pode ser definido como uma tecnologia um conjunto de conceitos meacutetodos e teacutecnicas erigindo em torno de um instrumental tornado disponiacutevel pela engenhosidade humana Eacute inegaacutevel que o Geoprocessamento criou para a pesquisa ambiental uma dependecircncia para com o processamento automaacutetico de dados De acordo com XAVIER-DA-SILVA apud SILVA et all

As prospecccedilotildees ambientais definem-se atraveacutes da classificaccedilatildeo do espaccedilo geograacutefico baseado nos levantamentos de conjugaccedilotildees de caracteriacutesticas ambientais que estatildeo representadas na base de dados Geocodificados e que satildeo de interesse para o Zoneamento de Aacutereas com necessidades de Proteccedilatildeo Ambiental prevendo portanto o que ocorreraacute onde em que extensatildeo e proacuteximo a quecirc Podem ser estimadas e efeituadas sobre aacutereas problemaacuteticas e tambeacutem sobre aacutereas de Potencial Geoambiental segundo seus recursos econocircmicos hiacutedricos minerais ou florestais (2001 p 43)

Geomorfologia define-se em explicar as formas da

superfiacutecie terrestre significa o estudo da forma da terra como ciecircncia geoloacutegico-geograacutefica estuda o relevo terrestre sua estrutura origem histoacuteria do desenvolvimento e dinacircmica atual O objeto de estudo da Geomorfologia eacute o relevo da superfiacutecie do planeta em seus aspectos geneacuteticos

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cronoloacutegicos morfoloacutegicos morfomeacutetricos e dinacircmicos Portanto

As formas de relevo consistem o objeto da Geomorfologia Mas se as formas existem eacute porque elas foram esculpidas pela accedilatildeo de determinado processo como sedo uma sequecircncia de accedilotildees regulares e contiacutenuas que se desenvolvem de maneira relativamente bem e levando a um resultado determinado (CHRISTOFOLETTI 1980 p 01)

RESULTADOS E DISCUSSOtildeES O Periacutemetro Irrigado Poccedilatildeo da Ribeira eacute um projeto do tipo irrigaccedilatildeo puacuteblica estadual sem intervenccedilatildeo fundiaacuteria Os estudos iniciais e de viabilidade econocircmico-social da aacuterea foram realizados em 1984 O projeto executivo de irrigaccedilatildeo ficou concluiacutedo em 1985 iniciando-se em seguida a implantaccedilatildeo de obra que foi inaugurada em 1987 O projeto de irrigaccedilatildeo Poccedilatildeo da Ribeira estaacute localizado no municiacutepio de Itabaiana e de Areia Branca no agreste sergipano e eacute composto por uma barragem de terra no Rio Traiacuteras com 26 metros de altura 500 metros de comprimento de crista formando um reservatoacuterio de acumulaccedilatildeo normal de 165 milhotildees de metros cuacutebicos de aacutegua e por um sistema de irrigaccedilatildeo por aspersatildeo que atinge 1100 hectares de aacuterea irrigaacutevel (figura 1)

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Figura 1 Mapeamento de localizaccedilatildeo do Periacutemetro Irrigado 2017

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Percebe-se na figura 1 que grande parte da aacuterea irrigada estaacute no municiacutepio de Itabaiana que possui basicamente 12 povoados com aacutereas irrigadas composto por Cajaiacuteba Dendezeiro Forno Gandu I Gandu II Lagoa do Forno Mangabeira Mangueira Rio das Pedras Satildeo Joseacute e Vaacuterzea da Cancela Jaacute no municiacutepio de Areia Branca satildeo contemplados com a irrigaccedilatildeo 5 povoados que satildeo Boqueiratildeo II Canjinha Junco Serra Comprida e Trecircs Bodegas Em entrevista com sujeitos responsaacuteveis do periacutemetro irrigado funcionaacuterios da COHIDRO foi relatado que o projeto de irrigaccedilatildeo natildeo teve alteraccedilatildeo desde de sua criaccedilatildeo continuando assim com estes mesmos povoados A aacuterea irrigada Poccedilatildeo da Ribeira se apresenta por ter uma hidrografia caracterizada com rios perenes e com 8 afluentes e nascentes (figura 2) denominadas de Riachos Saviema Das Moccedilas Do Meio e Do Tronco e os Rios denominados de Tabocas Tapuios Das Pedras e Traiacuteras Todos estes afluentes da bacia hidrograacutefica Rio Vaza Barris Nas nascentes haacute falta de fiscalizaccedilatildeo ou orientaccedilatildeo para o natildeo desmatamento das matas ciliares e aacutereas de preservaccedilatildeo permanente Em alguns casos na aacuterea pesquisada encontra-se pequenas barreiras feitas por proprietaacuterios dentro do canal principal dos rios feitos de sacos e areias para barrar a aacutegua dentro de suas respectivas propriedades (figura 3) Em outros casos encontra-se corpos hiacutedricos secos caracterizados como intermitentes o que pode ocasionar a perda dessa vegetaccedilatildeo o rio acabou perdendo a sua capacidade e sua competecircncia (figura 4)

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Figura 2 Mapeamento da Hidrografia do Periacutemetro irrigado 2017

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Figura 4 Rio Tabocas 2017

Figura 3 Rio das Pedras 2017

No que diz respeito a geologia do Periacutemetro Irrigado Poccedilatildeo da Ribeira em Itabaiana observa-se que a aacuterea estaacute caracterizada como Anfibolito Gabro Metagranito Metagranodiorito e Milonito Assim a pequena parte da aacuterea pesquisada como Filitro Metaconglomerado e Metarenito Da vegetaccedilatildeo pode-se destacar a caatinga do tipo hiporxeroacutefila comum no agreste sergipano por ser moderada e natildeo acentuada como na maior parte do sertatildeo sergipano (figura 5)

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Na aacuterea pesquisada percebe-se que a principal atividade para os moradores eacute a agricultura E o periacutemetro encontra-se dentro de uma aacuterea propiacutecia para a produccedilatildeo agricola com relevos suavemente ondulados ou planos diferente de outros povoados de Itabaiana possui relevos acidentados ou escarpados Caracterizados assim por serras residuais pertencentes Domo Batoacutelito A Superficie Pediplanada caracteriza geomorfologicamente boa parte da aacuterea pesquisada (figura 6) configurando assim esta aacuterea como propiacutecia para a produccedilatildeo agriacutecola e eacute nesta parte que se encontra a maior parte dos hectares irrigados Jaacute uma pequena parte desta aacuterea que fica mais dentro do municiacutepio de Areia Branca eacute caracterizado geomorfologicamente como Relevos Dissecados em Colunas e Interfluacutevios Tabulares Observa-se que esta aacuterea eacute proacuteximo a Serra Comprida e por isso possui relevos acidentados ou fortemente ondulados carecterizando assim poucos hectares irrigados

O periacutemetro irrigado estaacute dividido em trecircs tipos de solos caracterizados por Planosol Podzoacutelico Vermelho Amarelo Equivalente Eutroacutefico e Solos Litoacutelicos Eutroacuteficos Distroacuteficos (figura 7) A primeira e a segunda categoria deste eacute denominado como propiacutecio para aacutereas que predominam atividades agriacutecolas jaacute a terceira categoria estaacute em transiccedilatildeo Assim os solos satildeo normalmente pedregosos eou rochosos moderadamente a excessivamente drenados com horizonte a pouco espesso cascalhento de textura predominantemente meacutedia podendo tambeacutem ocorrer solos de textura arenosa siltosa ou argilosa

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Figura 5 Mapa de Geologia do Periacutemetro Irrigado

2017

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Figura 6 Mapa de Geomorfologia do Periacutemetro Irrigado 2017

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Figura 7 Mapa de solos do periacutemetro irrigado 2017

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Em visita teacutecnica e em entrevistas com funcionaacuterios da COHIDRO responsaacutevel pelo periacutemetro irrigado da aacuterea foram cedidos para nosso grupo de pesquisa (GEASE) dados de pluviosidade do periacuteodo entre 2004 a 2017 mas que utilizamos para observar os periacuteodo entre 2010 a 2016 onde ocorreu um periacuteodo de extremidade climaacutetica caracterizado como estiagem ou seca

O graacutefico (figura 8) de variabilidade eacute um meacutetodo de anaacutelise climatoloacutegica que possibilita analisar o comportamento inter-anual da altura das chuvas ao longo de um periacuteodo o deacuteficit ou superaacutevit pluviomeacutetrico em relaccedilatildeo agrave meacutedia e a tendecircncia positiva ou negativa das chuvas e nota-se que no ano de 2013 houve um periacuteodo de estiagem onde a meacutedia natildeo conseguiu atingir 1000 mm a aacuterea do periacutemetro estaacute localizada no agreste sergipano que por sua vez tem meacutedias anuais esperadas entre 1200 a 1400 mm Eacute importante salientar que esta metodologia eacute uma das que melhor permite a compreensatildeo climatoloacutegica de aacutereas que natildeo tem registros suficientes para o estudo da variaccedilatildeo climatoloacutegica uma vez que a mesma necessita analisar a normal climatoloacutegica que eacute de 30 anos

A aacuterea pesquisada no periacuteodo entre 2010 e 2016 apresentou um extremo climaacutetico ou seja foi periacuteodo de seca onde se caracteriza por ter baixos iacutendices de pluviosidades durante todo o ano E como no agreste sergipano eacute comum chuvas no periacuteodo de inverno que comeccedila desde maio e vai ateacute junho observa-se que os maiores iacutendices de pluviosidade estatildeo neste periacuteodo mas que natildeo atinge uma meacutedia propiacutecia para a agricultura nos anos de estiagem como no ano de 2010 que neste periacuteodo o iacutendice chega 250 mm jaacute o de 2012 natildeo passa de 100 mm (figura 9) Jaacute nas meacutedias anuais (figura 10) observa-se uma linha de tendecircncia de deacuteficit de chuvas onde pode se supor que entre estes anos prevaleceu o periacuteodo de el nintildeo que eacute caracterizado por anos de estiagem Caracterizando assim um

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deacuteficit das chuvas que podem afetar substancialmente os recursos hiacutedricos a agricultura e a pecuaacuteria Quando se trata de clima na regiatildeo agreste sergipano predomina o tipo sub-uacutemido onde satildeo esperados de 1400 a 700 mm a (figura 11) nos apresenta as meacutedias anuais de todo o Estado sergipano e consequentemente do periacutemetro irrigado Percebe-se que as meacutedias do periacutemetro variam entre 1100 mm a 1300 mm Vale salientar que esta base de dados eacute do CD de recursos hiacutedricos e estaacute datado em 2010 pelo IBGE Com esta base do CD podemos concluir que as meacutedias anuais eram de 1100mm a 1300m e comparando com os graacuteficos feitos com base nos dados pluviomeacutetricos cedido pela COHIDRO houve sim um extremo climaacutetico caracterizado como estiagem ou seca jaacute que de 2010 a 2016 as meacutedias natildeo passaram de 400mm ao ano Figura 8 Graacutefico de variabilidade pluviomeacutetrica 2017

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Variabilidade

Fonte Cohidro

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Figura 9 Graacutefico de meacutedias anuais 2017

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MEacuteDIAS TRIMESTRAIS

JAN-MAR ABR-JUN JUL-SET OUT-DEZ

Fonte Cohidro Figura 10 Graacutefico de meacutedias anuais 2017

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MEacuteDIAS ANUAIS

MEacuteDIA ANUAL Linear (MEacuteDIA ANUAL)

Fonte Cohidro

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Figura 11 Mapa de clima do periacutemetro irrigado 2017

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Observa-se dentro do periacutemetro irrigado vaacuterios tipos de cultivos agriacutecolas que segundo os sujeitos entrevistados responsaacuteveis da COHIDRO satildeo plantados pelo menos 3 vezes ao ano entendendo assim que o periacutemetro irrigado natildeo depende tanto das chuvas que a aacuterea iraacute receber durante o ano para a agricultura mas que com o longo periacuteodo de estiagem pode influenciar na quantidade de aacutegua para ser liberada durante o dia para cada agricultor Figura 12 Plantaccedilatildeo de batata doce

Fonte trabalho de campo 03012018

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Portanto a necessidade de um estudo contiacutenuo sobre os eventos climaacuteticos na regiatildeo estudada pode mitigar ou prevecirc variaccedilotildees no clima interferindo socioecocircnomicamente na aacuterea estudada REFEREcircNCIAS AYOADE J O Introduccedilatildeo a climatologia para os troacutepicos 5ordf ed Rio de Janeiro Bertrand Brasil 1998 BERTRAND G Paisagem e Geografia Global ndash Esboccedilo Metodoloacutegico (Trad O Cruz) Caderno de Ciecircncias da Terra n 13 Satildeo Paulo IGEOGUSP 1971 CHRISTOFOLETTI Antocircnio Geomorfologia 2ordf ed Satildeo Paulo Edgard Blucher 1980 POLETO Cristiano Bacias hidrograacuteficas e recursos hiacutedricos 1 ed Rio de Janeiro Interciecircncia 2014 RIBEIRO Wagner Costa Geografia Poliacutetica da Aacutegua Coleccedilatildeo Cidadania e Meio Ambiente 1ordm ed Satildeo Paulo Annablume 2008 SILVA Jorge Xavier da ZAIDAN Ricardo Tavares Geoprocessamento amp anaacutelise ambiental 7ordf ed Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2003

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ANAacuteLISE AMBIENTAL URBANA DO RIO GARARU-SE

Caacutessia Lima Barbosasup1

(Universidade Federal de Sergipe) (Graduanda em Geografia) Email cassia_alunahotmailcom

Joyce Almeida dos Santossup2 (Universidade Federal de Sergipe) (Graduanda em Geografia)

Email joycealmeida19hotmailcom Daniel Almeida da Silvasup3

(Universidade Federal de Sergipe) (Prof Adjunto DGEI) Email danielalmeidaufsgmailcom

RESUMO

A aacutegua eacute um recurso natural de grande importacircncia para a humanidade sem ela natildeo haacute vida no planeta desde os primoacuterdios das civilizaccedilotildees as comunidades procuravam se estabelecer perto de locais que dispunham de disponibilidade hiacutedrica por isso eacute perceptiacutevel que esse recurso foi responsaacutevel pelas grandes aglomeraccedilotildees humanas o que consequentemente levou agrave criaccedilatildeo de um grande nuacutemero de cidades perto de um curso de aacutegua O presente trabalho tem como objetivo fazer uma anaacutelise preliminar sobre os problemas sociais e ambientais que estatildeo presentes na micro bacia do Rio Gararu Sergipe especialmente aqueles do trecho urbano que devido ao processo de expansatildeo urbana desta cidade fez crescer em direccedilatildeo ao rio Os procedimentos metodoloacutegicos utilizados para melhor compreender esses problemas foram realizar pesquisas bibliograacuteficas sobre a regiatildeo para melhor compreender seus aspectos socioeconocircmicos e a relaccedilatildeo entre o rio e a cidade Tambeacutem

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foi realizada uma visita teacutecnica para coletar mais informaccedilotildees sobre os aspectos geomorfoloacutegicos a fim de perceber as influecircncias que este rio tem na agricultura pecuaacuteria e outras atividades econocircmicas que dependem desse recurso hiacutedrico Deve-se notar tambeacutem que a influecircncia antroacutepica auxilia na aceleraccedilatildeo dos processos naturais como eacute o caso perceptiacutevel da quantidade de sedimentos presentes no leito deste rio que acaba sendo assoreado Ainda eacute importante ressaltar que se houvesse um interesse maior da parte da administraccedilatildeo puacuteblica em fazer um processo de revitalizaccedilatildeo do rio seria de grande ganho para a populaccedilatildeo PALAVRAS-CHAVE Poluiccedilatildeo hiacutedrica urbana rio Gararu bacia hidrograacutefica INTRODUCcedilAtildeO

Nas uacuteltimas deacutecadas o estudo relacionado aos recursos hiacutedricos tem alcanccedilado um grau de importacircncia em nossa sociedade Devido a isso houve elevado aprofundamento quanto aos estudos sobre bacias hidrograacuteficas sendo assim

a eleiccedilatildeo da bacia hidrograacutefica como unidade territorial preferencial destes estudos o que tem a tornado referecircncia espacial destacada subsidiando tanto o planejamento ambiental e territorial quanto fundamentado boa parte da legislaccedilatildeo ambiental no Brasil e em muitos paiacuteses (MACHADO e TORRE 2012)

Sendo assim eacute essencial enfatizar a bacia hidrograacutefica

do Satildeo Francisco com fundamental importacircncia para

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economia das regiotildees que percorre no entanto vem sofrendo impactos ambientais acarretados pela accedilatildeo antroacutepica

No que diz respeito aos rios compreende-se que satildeo os

principais agentes modeladores da paisagem geomorfoloacutegica sabe-se tambeacutem que a conexatildeo de vaacuterios canais afluentes a um canal principal junto a um determinado tipo de relevo que apresentam desniacuteveis topograacuteficos iratildeo favorecer a formaccedilatildeo de bacias hidrograacuteficas tendo por definiccedilatildeoldquouma bacia hidrograacutefica eacute o conjunto de terras cujo relevo propicia o escoamento de aacuteguas fluviais e pluviais para um determinado curso drsquoaacuteguardquo(BROCANELI ampSTUERMER)

No entanto nas aacutereas urbanas o ciclo hidroloacutegico sofre interferecircncia devido a accedilatildeo antroacutepica como a pavimentaccedilatildeo de ruas canalizaccedilatildeo dos canais e retificaccedilatildeo lixo descartado de maneira inadequada esses satildeo alguns exemplos de interferecircncia prejudicial a trajetoacuteria da aacutegua no ciclo hidrogeomorfoloacutegico chegando ao curso natural dos rios um alto percentual de poluiccedilatildeo difusas e pontuais que acarretam problemas socioambientais

Sob tal enfoque esta pesquisa se debruccedila sobre a realidade do Rio Gararu em especiacutefico em seu trecho urbano na cidade de GararuSergipe a qual se encontra como um dos afluentes da Bacia Hidrograacutefica do Rio Satildeo Francisco O clima presente nessa regiatildeo eacute o semiaacuterido que apresenta caracteriacutesticas predominantes

nas depressotildees entre planaltos do sertatildeo nordestino e no trecho baiano do vale do Rio Satildeo Francisco Suas caracteriacutesticas satildeo temperaturas meacutedias elevadas em torno de 27ordm C e amplitude teacutermica em torno de 5ordm C As chuvas aleacutem de irregulares natildeo excedem os 800 mmano o que leva

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agraves ldquosecas do Nordesterdquo os longos periacuteodos de estiagem (GALVANI)

Devido a esses fatores as chuvas tendem a se

concentrar nos meses de Abril a Julho o que contribui para uma vegetaccedilatildeo resistente a seca como eacute o caso do bioma da Caatinga cuja formaccedilatildeo eacute uma mata rala formada essencialmente por plantas cactaacuteceas espinhosas e arbustos que satildeo capazes de armazenar aacutegua por longo periacuteodo de seca Esses fatores climaacuteticos satildeo predominantes na cidade do Alto Sertatildeo estudada no ambiente urbano as caracteriacutesticas citadas acima atuam diretamente nesse sistema (figura 1) IMAGEM 01 Cidade GararuSE

Fonte Trabalho de Campo 03fev2018

A cidade rebuscada apresenta caracteriacutesticas favoraacuteveis

ao seu crescimento interurbano e econocircmico no entanto

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percebe-se que pouco eacute feito por parte das poliacuteticas puacuteblicas para o seu desenvolvimento mas deixando de lado seus pontos negativos natildeo se pode negar que se trata de uma cidade cujas belezas naturais satildeo marcantes

DESENVOLVIMENTO

A aacuterea analisada primitivamente chamava-se de Curral

de Pedras ldquonome que teve origem nos currais construiacutedos de pedras na regiatildeordquo (IBGE 2017) A invasatildeo holandesa em Sergipe favoreceu a penetraccedilatildeo do territoacuterio no entanto eles foram expulsos pelo

cacique Gararu e sua tribo ocuparam o local fixando-se na desembocadura do riacho do mesmo nome no Rio Satildeo Francisco Com a expulsatildeo dos jesuiacutetas a aldeia foi abandonada e presume-se que a povoaccedilatildeo de Curral de Pedras se originou de sitiantes que ali se estabeleceram O povoado foi elevado agrave condiccedilatildeo de vila em 1877 sendo renomeado como Gararu (IBGE2017)

Sob tal enfoque aborda-se tambeacutem a economia dessa

aacuterea baseada na agropecuaacuteria favorecida pela presenccedila dos dois principais rios que percorrem a cidade o Rio Gararu e o Rio Satildeo Francisco (ver figura 2) outro aspecto econocircmico presente na regiatildeo eacute a pecuaacuteria favorecida tambeacutem pelos rios e seu vasto territoacuterio propicio a pastagem o turismo e a pesca satildeo igualmente outra fonte de renda para a populaccedilatildeo deste municiacutepio

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Figura 2 Mapa de localizaccedilatildeo da Sub-bacia 2018

Dito isto a populaccedilatildeo atual de Gararu caracteriza-se em uma estimativa de 11370 pessoas sendo que 509 satildeo homens e 491 refere-se as mulheres outro ponto importante a se destacar eacute que a maioria dessas pessoas moram na aacuterea rural e a outra pequena minoria reside na aacuterea urbana

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Outros aspectos importantes a se destacar satildeo os fatores naturais presentes nessa regiatildeo Iniciamos pelo clima atuante o semiaacuterido que eacute quente e uacutemido cujas caracteriacutesticas satildeo bem marcantes possui poucas variaccedilotildees de temperatura durante o ano baixo indicie pluviomeacutetrico as chuvas satildeo maacute distribuiacutedas e geralmente se concentram nos meses de janeiro a maio

Detecta-se tambeacutem a formaccedilatildeo geoloacutegica e

geomorfoloacutegica do municiacutepio estudado marcada por tabuleiros de altitudes modestas limitados por escapas abruptas denominadas de barreiras satildeo formados por argilas coloridas e arenito devido a essa formaccedilatildeo de relevo na regiatildeo seus solos satildeo siacutelico-argilosos que natildeo permite o desenvolvimento da vegetaccedilatildeo abundante o que explica a presenccedila da vegetaccedilatildeo arbustiva e herbaacutecea ou seja plantas de porte rasteiro

Eacute oportuno destacar tambeacutem a regiatildeo hidrograacutefica a ser estudada que eacute a Micro bacia Hidrograacutefica do Rio Gararu (SE) estaacute inserida na Bacia Hidrograacutefica do Rio Satildeo Francisco que abrange uma aacuterea de 641000 kmsup2 possui 158 afluentes e dentre eles destaca-se nessa pesquisa o Rio Gararu situado no trecho do baixo curso do Rio Satildeo Francisco

PROCEDIMENTOS METODOLOacuteGICOS

Cabe aqui descrever um pequeno texto sobre o passo-

a- passo desta pesquisa mas antes de qualquer coisa eacute primordial falarmos um pouco sobre a importacircncia da metodologia em qualquer trabalho cientifico a metodologia significa ldquona origem do termo estudo dos caminhos dos instrumentos usados para se fazer ciecircnciardquo (DEMO 1941)

Eacute uma disciplina instrumental a serviccedilo da pesquisa que visa indagar os processos cientiacuteficos e os limites da ciecircncia ldquoseja com referecircncia agrave capacidade de conhecer seja com

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referecircncia agrave capacidade de intervir na realidaderdquo (DEMO 1941) Assim decorre que tudo na ciecircncia eacute discutiacutevel

Natildeo haacute teoria final prova cabal pratica intocaacutevel dado evidente Isto eacute uma caracteriacutestica natildeo uma fraqueza o que funda ademais agrave necessidade inacabaacutevel da pesquisa seja porque a maneira como a tratamos podem sempre ser questionadas(DEMO 1941)

Outros autores foram fundamentais para melhor

compreensatildeo sobre os processos metodoloacutegicos os que mais destacam-se satildeo BOTELHO e CUNHA Um dos livros mais utilizados pelos estudiosos de bacias hidrograacuteficas urbanas de BOTELHO eacute Geomorfologia Urbana e o de CUNHA eacute o livro de Geomorfologia e Meio Ambiente

As etapas metodoloacutegicas tiveram iniacutecio com reuniotildees Em seguida ocorreu um levantamento bibliograacutefico em que foram utilizados livros teses artigos cientiacuteficos entre outros materiais que foram de fundamental importacircncia Foi realizado o trabalho de campo ao municiacutepio estudado com o intuito de conhecer a realidade e obter dados gerais fotos relatos e observaccedilotildees

RESULTADOS E DISCUSSAtildeO

A aacuterea pesquisada rio Gararu estaacute inserido no

contexto da bacia hidrograacutefica dorio Satildeo Francisco onde seu curso inferior estaacute em confluecircncia com o mesmo O que pode-se perceber dos principais problemas ambientais no trabalho de campo localiza-se na margem direita do rio devido a

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presenccedila de residecircncias que despejam dejetos e lixos dentro do curso fluvial (ver figura 3)

IMAGEM 03 Rio Gararu localizado na cidade de GARARUSE

Fonte Trabalho de Campo03fev2018

A ocupaccedilatildeo e desenvolvimento inicial dessa cidade se

deram devido a presenccedila dos rios que favoreceu a economia local atraveacutes da pesca agricultura e pecuaacuteria No entanto com avanccedilo do processo de urbanizaccedilatildeo sem planejamento adequado fez com que a cidade crescesse em direccedilatildeo ao rio causando um processo de degradaccedilatildeo ambiental cujo o qual requer uma urgecircncia de ordenamento

Na observaccedilatildeo do trabalho de campo pode-se perceber que haacute dejetos de esgotos residenciais sendo despejados dentro do rio sem nenhum processo de tratamento constituindo assim uma fonte de poluiccedilatildeo pontual nota-se tambeacutem a

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presenccedila de lixo no leito maior do rio favorecendo a presenccedila de vegetaccedilatildeo inadequada prejudicial aos animais e ao homem

A campanha de saneamento de Sergipe viabiliza o controle da qualidade da aacutegua atraveacutes de etapas do sistema de abastecimento processo no qual ocorre a coleta de aacutegua nos rios barragens poccedilos por meio de bombas eacute transportada por tubulaccedilotildees ateacute a estaccedilotildees de tratamento apoacutes ser trata chega ateacute as residecircncias

Cabe destacar a pouca presenccedila da mata ciliar que

contribuiria de forma positiva para a preservaccedilatildeo do rio que por sua vez em algum de seus trechos natildeo haacute presenccedila de aacutegua mostrando os sedimentos que foram transportados ainda quando estava cheio ou seja o rio estaacute em processo de assoreamento essa accedilatildeo eacute natural no entanto como citado acima com a retirada da cobertura vegetal das margens houve um aceleramento dessa dinacircmica fluvial

Ainda pode-se constatar que devido a existecircncia da atividade pecuarista na aacuterea eacute possiacutevel encontra bovinos equinos e outros animais ao longo do percurso do rio devido a isso haacute uma grande quantidade de excrementos que com as chuvas seratildeo carregados para dentro do rio contribuindo assim com o aumento da concentraccedilatildeo de nutrientes orgacircnicos podendo resultar em uma seacuterie de efeitos colaterais ao meio ambiente como aumento da proliferaccedilatildeo de algas mortalidade dos peixes a aacutegua pode atribuir caracteriacutesticas negativas( odor gosto e cor) que prejudica diretamente o sistema turiacutestico da regiatildeo sem contar com os problemas de sauacutedes que satildeo acarretados para a populaccedilatildeo local ao utilizar essa aacutegua para o consumo direto

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

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A degradaccedilatildeo dos ambientes aquaacuteticos natildeo eacute um problema recente pois desde o processo de formaccedilatildeo das cidades ribeirinhas essa problemaacutetica vem se agravando constantemente a expansatildeo urbana desenfreada eacute a principal causa das mortes dos rios Pouco eacute feito perante a sociedade e o estado para reabilitaccedilatildeo dos cursos drsquoaacutegua acarretando assim diretamente a diminuiccedilatildeo da qualidade da aacutegua doce

Medidas raacutepidas e econocircmicas fazem grandes

diferenccedilas na preservaccedilatildeo ecoloacutegica das massas de aacutegua por exemplo evitar jogar lixo nas margens ou dentro dos rios natildeo despejar esgotos domeacutesticos diretamente nesses cursos evitar desmatar a mata ciliar natildeo canalizar trechos dos rios essas satildeo algumas medidas que contribui para reabilitar e manter a qualidade das aacuteguas dos rios brasileiros

Objetivando realizar uma anaacutelise preliminar do trecho urbano do Rio Gararu foi constatado que a presenccedila humana e suas accedilotildees desenfreadas alteraram o ambiente pois antes era possiacutevel utilizaacute-lo para pesca navegaccedilotildees de pequenos portes lazer e ateacute mesmo o consumo mas infelizmente isso tudo foi perdido devido a poluiccedilatildeo existente Observou-se tambeacutem que natildeo haacute nenhum apoio da sociedade empresas privadas e Estado para construccedilatildeo de oacutergatildeos locais que auxiliem na revitalizaccedilatildeo e preservaccedilatildeo do meio ambiente

Devido a isto eacute previsiacutevel que este problema tende a se agravar conforme o passar do tempo e com ele outros problemas surgiram tambeacutem a economia eacute um bom exemplo pois grande parte da populaccedilatildeo tira o seu sustento e de sua famiacutelia atraveacutes dos benefiacutecios que o rio traacutes (pesca turismo) o sistema pecuaacuterio tambeacutem seraacute afetado diretamente esta aacutegua natildeo seraacute mais propicia futuramente nem para o consumo animal devido ao seu alto teor de poluiccedilatildeo presente a agricultura igualmente teraacute os mesmos impactos negativos ou seja todo sistema social e econocircmico seraacute comprometido

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REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS ANDRADE Aparecido Ribeiro de FELCHAK Ivo Marcelo A poluiccedilatildeo urbana e o impacto na qualidade da aacutegua do Rio das Antas-IratiPR RevBrasGeoambiente v1 n12 p108-132 jan-jun2009 Disponiacutevel em lthttpfileCUsersUsuario Downloads ARTIGO20SOBRE20ANALISE20AMBIENTAL20RIO20URBANO20120(1)pdfgt acessado em 06 fev de 2018 BOTELHO R G M Bacias hidrograacuteficas urbanas In GUERRA A J T (Org) Geomorfologia Urbana Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2011p71-109 COSTA D FS etal Anaacutelise Ambiental do Trecho Urbano do Rio Barra Nova no Municiacutepio de CaicoacuteRN RevISBNv1 p 921-925 jun-jul 2017 Disponiacutevel em lthtppfileCUsersUsuarioDownloadsanalise20ambiental20trecho20urbanopdfgt Acessado em 08 de fev 2018 GALVANIEmersonUnidadesClimaacuteticas Brasileiras Disponiacutevel em lthttpwwwgeografiafflchuspbrgraduacaoapoioApoioApoio_EmersonUnidades_Climaticas_Brasileiraspdfgt Acessado em 05 de fev de 2018 MACHADO Pedro Joseacute de Oliveira TORRES FillipeTamiozzo Pereira Introduccedilatildeo a hidrogeografia Textos baacutesicos de geografia Satildeo Paulo Cengage Learning 2012

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ANAacuteLISE MORFOMEacuteTRICA E SEUS REBATIMENTOS SOCIOAMBIENTAIS NA SUB-

BACIA RIO GARARU

Joseacute Viniacutecius Almeidasup1

(Universidade Federal de Sergipe) (Graduando) E mail jviniciusalmeidagmailcom

Lucas Melo Costasup2 (Universidade Federal de Sergipe) (Graduando)

E mail lucasmelo_33hotmailcom Daniel Almeida Da Silvasup3

(Universidade Federal de Sergipe) (Prof Adjunto DGEI) E mail danielalmeidaufsgmailcom

RESUMO

Este trabalho teve como foco a anaacutelise morfomeacutetrica da sub-bacia do Rio Gararu localizada no Alto Sertatildeo Sergipano Banha municiacutepios como Graccho Cardoso onde estaacute localizada a sua nascente Itabi e Gararu onde estaacute localizada a foz que desaacutegua no Baixo Satildeo Francisco Os estudos morfomeacutetricos eacute de grande importacircncia para a sociedade pois estuda a vulnerabilidade e suscetibilidade de uma determinada aacuterea e isso se justifica fazendo estudos em uma aacuterea pouco pesquisada Para este estudo foram realizadas leituras busca de dados trabalho de campo e mapeamento de aspectos fiacutesicos no software ArcGis 101 com licenccedila acadecircmica A partir da morfometria uma visita teacutecnica foi capaz de observar que a sub-bacia do Rio Gararu possui aproximadamente 540611 kmsup2 de aacuterea como tambeacutem eacute intermitente e eacute caracterizada como de 4ordf ordem na hierarquia fluvial Tem uma forma de bacia alongada pois seu iacutendice de circularidade eacute 025 entatildeo a sub-bacia estudada tem pouca possibilidade de inundaccedilatildeo Tambeacutem eacute possiacutevel observar que nesta aacuterea tecircm poucos estudos e a mesma acaba sendo

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esquecida pelos gestores puacuteblicos o que pode influenciar na natildeo fiscalizaccedilatildeo da accedilatildeo antroacutepica irregular e na poluiccedilatildeo dos recursos hiacutedricos PALAVRAS-CHAVE Sub-bacia morfometria estudos ambientais INTRODUCcedilAtildeO

Os estudos morfomeacutetricos satildeo de grande importacircncia para a anaacutelise fluvial A partir destes caracteriza-se a suscetibilidade da bacia (sub micro mini) estudada a vulnerabilidade ambiental que pode ocorrer atraveacutes de processos erosivos e de inundaccedilotildees Os processos erosivos causam o assoreamento dos rios que vai ter vaacuterias consequecircncias no corpo hiacutedrico como tambeacutem pode intensificar as inundaccedilotildees a qual sofre grande influecircncia tambeacutem dos aspectos morfomeacutetricos da bacia

Segundo Christofoletti 1980 a anaacutelise morfomeacutetrica de bacias hidrograacuteficas eacute a anaacutelise quantitativa da configuraccedilatildeo dos elementos do modelado superficial que geram sua expressatildeo e configuraccedilatildeo espacial Este sendo composto pelo conjunto das vertentes e canais que compotildeem o relevo caracterizado por valores correspondem aos atributos medidos das bacias hidrograacuteficas

Segundo Christofoletti 1980 os resultados aferidos destas variaacuteveis satildeo considerados importantes insumos para o auxiacutelio na verificaccedilatildeo da produccedilatildeo de sedimentos compreensatildeo do comportamento hidroloacutegico auxiacutelio nas poliacuteticas de gestatildeo ambiental aleacutem de revelar indicadores fiacutesicos especiacuteficos para as bacias analisadas

A sub bacia do Rio Gararu estaacute localizada no alto sertatildeo sergipano abrangendo trecircs municiacutepios Tem sua nascente no muniacutecipio de Graccho Cardoso percorre o

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municiacutepio de Itabi e desagua na cidade de Gararu no Rio Satildeo Francisco em seu baixo curso (figura 1)

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Figura 1 Localizaccedilatildeo da Sub-Bacia Rio Gararu

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Essa sub-bacia estaacute caracterizada como intermitente

devido as condiccedilotildees climaacuteticas de semi aridez que segundo Torres 2012 esses cursos drsquoaacutegua em geral escoam durante as estaccedilotildees chuvosas o lenccedilol drsquoaacutegua subterracircneo conserva-se acima do leito fluvial alimentando o curso drsquoaacutegua o que natildeo ocorre na eacutepoca da estiagem quando o lenccedilol freaacutetico se encontra em niacutevel inferior ao leito DESENVOLVIMENTO

Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia Estatiacutestica) a populaccedilatildeo dos municiacutepios banhados pela sub-bacia pesquisada em Graccho Cardoso a estimativa eacute de 5870 pessoas para o ano de 2017 considerada 2332 habkmsup2 de densidade demograacutefica Itabi 4988 pessoas e 2696 habkm de densidade demograacutefica e por uacuteltimo Gararu com estimativa de 11736 pessoas e 1741 habkm para a densidade demograacutefica No que diz respeito a economia as atividades nestes respectivos municiacutepios satildeo semelhantes sendo que a maioria da populaccedilatildeo satildeo pecuaristas e pequena parte da populaccedilatildeo faz uso da agricultura Os principais produtos desses municiacutepios satildeo o milho o leite e o queijo

O clima no alto sertatildeo sergipano eacute caracterizado pela escassez de chuva meacutedias que podem variar de 600mm a 1300mm ao ano e tambeacutem eacute caracterizado por curtas chuvas durante ao ano no periacuteodo de inverno na aacuterea que se localiza sub-bacia Rio Gararu temos a meacutedia que varia de 800mm a 1300mm ao ano (figura 2) com isso percebe-se que haacute um deacuteficit hiacutedrico na regiatildeo que pode influenciar na intermitecircncia da sub-bacia e tambeacutem nos deacuteficit de atividades agriacutecolas jaacute que na regiatildeo natildeo se tem projeto de poliacuteticas puacuteblicas para a instauraccedilatildeo de irrigaccedilatildeo no periacuteodo de seca

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No que diz respeito agraves caracteriacutesticas geoloacutegicas da sub-bacia satildeo consideradas a vegetaccedilatildeo caracterizadas pela caatinga hiperxeroacutefila sendo assim uma caatinga acentuada tambeacutem se observa que a aacuterea eacute caracterizada pelo Metamorfismo Regional Quiacutemica Metamorfismo Regional Plutocircnica e Plutocircnica Metamorfismo Regional (figura 3)

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Figura 2 Mapa de Precipitaccedilatildeo Anual da Sub-bacia Rio Gararu 2018

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Figura 3 Mapa de Precipitaccedilatildeo Anual da Sub-bacia Rio Gararu 2018

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O alto sertatildeo sergipano assim como tambeacutem nessa

aacuterea de pesquisa a caracterizaccedilatildeo geomorfoloacutegica se dar por relevos suavemente ondulados que eacute de predominacircncia do Pediplano Sertanejo (figura 4) Resultado de processo erosivos climaacuteticos e pelo intemperismo seja quiacutemico ou fiacutesico Relacionando com os solos desta aacuterea caracterizados por Solos Litoacutelicos na porccedilatildeo norte da sub-bacia e na porccedilatildeo sul da mesma caracterizados por Podzoacutelico Vermelho Amarelo Equivalente Eutroacutefico (figura 5) percebe-se que esta aacuterea eacute propiacutecia para atividades agriacutecolas mas que por sua vez necessita de chuvas continuas durante o ano ficando assim refeacutem das chuvas de inverno como citado anteriormente

No que diz respeito ao uso do solo desta aacuterea percebe-se uma concentraccedilatildeo de pastagem que satildeo feitos por pequenos e meacutedios proprietaacuterios que por sua vez tendem a fazer uso das atividades pecuaristas Restando do uso do solo nesta aacuterea pequenas concentraccedilotildees da Caatinga Arbustiva Caatinga Arbustiva Arboacuterea e Floresta Estacional (figura 6)

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Figura 4 Mapa de Geomorfologia da Sub-bacia Rio Gararu 2018

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Figura 5 Mapa de Solos da Sub-bacia Rio Gararu 2018

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Figura 6 Mapa do Uso da Terra da Sub-Bacia Rio Gararu 2018

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Em visita de campo observou-se a intermitecircncia dos

rios e afluentes da sub-bacia pesquisada (figura 7 e 8) como tambeacutem a degradaccedilatildeo sofrida pelo mesmo por falta de aacutereas de preservaccedilatildeo permanente e matas ciliares que por sua vez reflete falta de fiscalizaccedilatildeo para o combate a accedilatildeo antroacutepica Figura 7 Foz do Rio Gararu 2018

Figura 8 Intermitecircncia da Sub-bacia Rio Gararu 2018

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Materiais e meacutetodos A metodologia utilizada neste estudo seraacute baseada nos

estudos de AbrsquoSaacuteber (1969) onde seratildeo destacados trecircs niacuteveis de abordagem enfatizando escalas espaciais e temporais e na abordagem geossistecircmica de anaacutelise ambiental apresentada por Bertrand (1971) Este meacutetodo possibilitaraacute o levantamento de dados relacionados com a caracterizaccedilatildeo estrutura e funcionalidade da paisagem

Paralelamente essa paisagem seraacute considerada como um sistema resultante da combinaccedilatildeo dinacircmica entre os elementos fiacutesicos bioloacutegicos e antroacutepicos Dessa forma seratildeo realizados os estudos na bacia hidrograacutefica considerada como um geossistema

As caracteriacutesticas morfomeacutetricas foram verificadas com base em estudos de grandes autores padrotildees de drenagem CHRISTOFOLETTI 1980 a hierarquia fluvial pelo sistema de STRAHLER 1952 e o iacutendice de circularidade segundo Granell-Peacuterez 2001

Foram feitas leituras fichamentos busca de dados trabalhos de campo que foram divididos em 3 etapas o primeiro para reconhecimento da aacuterea pesquisada o segundo para comparar os dados teoacutericos com a realidade e por uacuteltimo para averiguar se havia projetos feitos por poliacuteticas puacuteblicas inseridos nessa aacuterea Tambeacutem foram feitos os tratamentos de dados em laboratoacuterio como mapeamento da aacuterea com o software ArcGis 101 com licenccedila acadecircmica para estudante CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS OU CONCLUSOtildeES

A drenagem fluvial eacute o escoamento das aacuteguas por uma

bacia hidrograacutefica constituiacuteda por um rio e os seus afluentes transportando as aacuteguas das regiotildees mais altas para as mais baixas ateacute outro rio ou mesmo o oceano a drenagem de uma aacuterea eacute fortemente influenciada por alguns fatores entre eles o

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climaacutetico e geoloacutegico originando padrotildees de drenagem distintos na forma e na densidade influenciando no controle estrutural Os padrotildees de drenagem referem-se ao arranjo espacial dos cursos fluviais que podem ser influenciados em sua atividade morfogeneacutetica pela natureza e disposiccedilatildeo das camadas rochosas pela resistecircncia litoloacutegica variaacutevel pelas diferenccedilas de declividade e pela evoluccedilatildeo geomorfoloacutegica da regiatildeo (CHRISTOFOLETTI 1980 P 103) Existem vaacuterios padrotildees de drenagem nos quais se destacam dendriacutetico treliccedila paralelo retangular radial anelar

Com anaacutelises em campo e atraveacutes do software Arcgis 101 a sub-bacia do Rio Gararu foi interpretada com um padratildeo de drenagem dendriacutetica ou arborescente Nesse tipo de drenagem as correntes tributaacuterias ldquose unem formando acircngulos agudos de graduaccedilotildees variadas mas sem chegar nunca ao acircngulo reto A presenccedila de acircngulos retos no padratildeo dendriacutetico ou arborescente constitui anomaliardquo (CHRISTOFOLETTI 1980 P 105)

Aacuterea e Periacutemetro As sub-bacias satildeo aacutereas de drenagem dos tributaacuterios do

curso drsquoaacutegua principal Possuem aacutereas maiores que 100 kmsup2 e menores que 700 kmsup2 (FAUSTINO 1996) Dessa forma afirma-se como uma sub-bacia o campo de estudo jaacute que o mesmo possui uma aacuterea de 540611 kmsup2 e periacutemetro de 164011 km

Hierarquia Essa sub-bacia eacute formada por canais de ateacute 4deg ordem

Para interpretar esse aspecto foi utilizado o sistema de hierarquia fluvial de Strahler 1952 para ele os canais de quarta ordem surgem da confluecircncia de dois canais de terceira ordem podendo receber tributaacuterios das ordens anteriores Essa sub-bacia eacute bem drenada pois haacute uma tendecircncia a serem mais bem drenadas aquelas bacias que tem ordem maior

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Figura 9 Hierarquia Fluvial da Sub-bacia Rio Gararu 2018

Comprimento do rio principal Segundo Tucci 2003 o rio principal eacute aquele que drena

a maior aacuterea no interior da bacia hidrograacutefica Na aacuterea pesquisada o rio principal possui um comprimento de 48107 km desde a sua nascente no municiacutepio de Graccho Cardoso ateacute a sua foz no municiacutepio de Gararu

Forma da Bacia alongada (025) O meacutetodo de anaacutelises morfomeacutetricas se apresentou

adequada para a anaacutelise ambiental da aacuterea estudada e posterior tomadas de decisotildees O iacutendice de circularidade eacute de 025 sendo assim essa sub-bacia eacute considerada alongada tendo menos probabilidade de cheias e inundaccedilotildees

Consideraccedilotildees Finais

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O presente trabalho teve o intuito de analisar as condicionantes fisiograacuteficos e morfomeacutetricos da sub-bacia Rio Gararu bem como mapear e fazer estudos sobre uma aacuterea que tem poucos estudos cientiacuteficos sobre o mesmo Assim dos resultados pode-se observar que a sub-bacia eacute caracterizada como intermitente com um padratildeo de drenagem dendriacutetica ou arborescente com hierarquia fluvial de 4deg ordem e tambeacutem ficou claro que a forma da bacia eacute alongada com o iacutendice de circularidade caracterizado como 025

Pode-se analisar tambeacutem que esta aacuterea eacute esquecida quando se fala em projetos ou fiscalizaccedilotildees de Poliacuteticas Puacuteblicas pois a mesma encontra-se degradada e sem nenhum projeto ou accedilatildeo para combate a accedilatildeo antroacutepica que pode influencia na perda de competecircncia e capacidade da sub-bacia

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS CHRISTOFOLETTI Antocircnio Geomorfologia 2ordf ed Satildeo Paulo Edgard Blucher 1980 MACHADO Pedro Joseacute de Oliveira TORRES Fillipe Tamiozzo Pereira Introduccedilatildeo a hidrogeografia Textos baacutesicos de geografia Satildeo Paulo Cengage Learning 2012 SILVA Jorge Xavier da ZAIDAN Ricardo Tavares Geoprocessamento amp anaacutelise ambiental 7ordf ed Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2003 POLETO Cristiano Bacias hidrograacuteficas e recursos hiacutedricos 1 ed Rio de Janeiro Interciecircncia 2014

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CARSTE EM SERGIPE ANAacuteLISE DA GRUTA DA PEDRA FURADA NO MUNICIacutePIO DE

LARANJEIRAS E DA GRUTA CASA DO CABOCLO NO MUNICIPIO DE JAPARATUBA E A INFLUEcircNCIA DA ACcedilAtildeO ANTROacutePICA

Maciel Santossup1

Universidade Federal de SergipeUFS Graduando Geografia maciel-santos-0hotmailcom

Tais Kalil Rodriguessup2 Universidade Federal de SergipeUFS Doutora em Geologia

tkalilryahoocombr

RESUMO O relevo caacuterstico ocorre predominantemente em

terrenos de rochas calcaacuterias podendo ser encontrado em outras rochas carbonaacuteticas ndash maacutermore e dolomitas ndash tendo como principal caracteriacutestica a dissoluccedilatildeo da rocha atraveacutes da infiltraccedilatildeo da aacutegua Aleacutem da importacircncia dos altos iacutendices de precipitaccedilatildeo o tectonismo a pureza da rocha e a vegetaccedilatildeo existente tecircm grande influecircncia no fluxo de infiltraccedilatildeo No Brasil existem 19 grandes regiotildees caacutersticas possuindo uma das maiores concentraccedilotildees de cavernas do mundo Em Sergipe o iniacutecio do reconhecimento da morfologia caacuterstica ocorreu com as indicaccedilotildees de cavernas realizadas por Brenner em 1888 O ambiente caacuterstico de Sergipe estaacute localizado no supergrupo Canudos constituiacutedo pelos subgrupos Estacircncia e Vaza Barris Para essa pesquisa foi realizado um trabalho de campo para dois ambientes do estado a Gruta da Pedra Furada no municiacutepio de Laranjeiras situado em uma zona carbonaacutetica e a Gruta Casa do Caboclo tambeacutem conhecida como Cipoacute Branco localizada no povoado Satildeo Joseacute da Caatinga no municiacutepio de Japaratuba formada em terreno areniacutetico A ocupaccedilatildeo e o uso indevido dessas cavernas seja como depoacutesito

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de lixos atraveacutes do desmatamento da agricultura exploraccedilatildeo e contaminaccedilatildeo da aacutegua urbanizaccedilatildeo industrializaccedilatildeo e o turismo satildeo os principais fatores dos impactos da accedilatildeo antroacutepica no ambiente Tendo como objetivo apresentar interferecircncia da accedilatildeo antroacutepica no ambiente expondo as feiccedilotildees do processo de degradaccedilatildeo PALAVRAS-CHAVE Carste Cavernas Accedilatildeo Antroacutepica GEOMORFOLOGIA CAacuteRSTICA

Carste eacute o termo utilizado para denominar ambientes da superfiacutecie terrestre o relevo tanto em superfiacutecie como em subsuperficie eacute caracterizado por uma morfologia e hidrologia especiacuteficas resultante da circulaccedilatildeo hiacutedrica

Conforme Karmann (2000) aproximadamente 10 da superfiacutecie do globo terrestre eacute composta por carste Tendo predominacircncia em terrenos constituiacutedos por rochas carbonaacuteticas sendo o calcaacuterio a rocha mais comum por ser acamado maciccedilo puro consolidado duro e cristalino A dolomita tambeacutem apresentam caracteriacutesticas suficientes poreacutem de maior dificuldade de dissoluccedilatildeo O maacutermore arenitos evaporitos entre outros podem apresentar esses aspectos

Christofoletti (1980) afirma que a carstificaccedilatildeo eacute mais raacutepida em regiotildees uacutemida que nas regiotildees secas desde que os demais fatores sejam iguais O relevo carste tem como principal caracteriacutestica a dissoluccedilatildeo quiacutemica das rochas pela infiltraccedilatildeo da aacutegua atraveacutes de fraturas e camadas chamadas de zonas de acamamento Ou seja eacute o tipo de relevo caracteriacutestico de regiotildees com meacutedias altas de pluviosidade natildeo deixando de ocorrer em territoacuterios com baixos iacutendices de precipitaccedilatildeo onde o intemperismo fiacutesico tende a se sobrepor ao quiacutemico Aleacutem do clima o tectonismo a vegetaccedilatildeo local e a pureza das rochas satildeo fatores importantes para que haja o fluxo de infiltraccedilatildeo da aacutegua no carste

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() nas aacutereas uacutemidas a presenccedila de vegetaccedilatildeo densa auxilia a dissoluccedilatildeo pela aacutegua pluvial () nas aacutereas aacuteridas e semiaacuteridas que apresentam terrenos calcaacuterios a morfologia caacutersica eacute pobremente desenvolvida (CHRISTOFOLETTI 1980 p 153)

Em contato com o dioacutexido de carbono a aacutegua que

infiltra nas rochas atraveacutes das chuvas ou dos rios torna-se aacutecida esculpindo de modo consequente as formas desse relevo A porosidade (primaacuteria ou secundaacuteria) da rocha eacute uma das principais justificativas para esse tipo de paisagem A porosidade primaacuteria apresenta uma forma maciccedila dificultando a circulaccedilatildeo da aacutegua atraveacutes de seus gratildeos o que acaba divergindo jaacute a secundaacuteria que conteacutem estruturas descontinuas eacute formada geralmente em poacutes-diagecircnese De acordo com Ford e Williams (1989) a razatildeo principal da gecircnese das cavernas estaacute vinculada ao comportamento estrutural da rocha seu encadeamento geograacutefico e a aacuterea de recarga e descarga hiacutedrica

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Figura 1 ndash Proviacutencias Espeleoloacutegicas do Brasil

Fonte CECAVICMBIO Elaboraccedilatildeo do autor

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Conforme Christofoletti (1980) a hidrologia caacuterstica eacute caracterizada pela ausecircncia de cursos superficiais mas que em algumas aacutereas satildeo niacutetidos os traccedilos deixados por antigos rios A aacutegua subterracircnea natildeo tem um traccedilado estabelecido seguindo sempre os pontos de fraqueza da massa rochosa ateacute achar um ponto em que volte agrave superfiacutecie tendo isso como um fenocircmeno comum do ambiente carste

De acordo com o Centro Nacional de Pesquisas e Conservaccedilatildeo de Cavernas (CECAV) o territoacuterio brasileiro conteacutem 19 grandes proviacutencias espeleoloacutegicas como mostra a figura 1 Em sua obra Karmann (2009) afirma que no Brasil cerca de 3 do territoacuterio brasileiro eacute composto por este relevo onde cerca de 2 eacute composto por carste carbonaacutetico tendo nos grupos Bambuiacute e Una do neoproterozoacuteico a maior aacuterea de rochas carbonaacuteticas como podemos ver na figura 1

No Brasil existem 6652 cavernas 307 desses registros encontram-se no estado de Minas Gerais poreacutem a caverna mais extensa do paiacutes estaacute situada no estado da Bahia no municiacutepio de Campo Formoso e pertence ao Grupo Una a Toca da Boa Vista que tem um padratildeo labiriacutentico e cerca de 100 km de galerias mapeadas No Estado de Satildeo Paulo encontra-se o maior desniacutevel subterracircneo do paiacutes a Casa da Pedra com 350m localizada no alto vale do Ribeira conforme a Sociedade Brasileira de Espeleologia (SBE) Curitiba no estado do Paranaacute e Belo Horizonte em Minas gerais satildeo grandes regiotildees metropolitanas e apresentam um contato limiacutetrofe com aacutereas caacutersticas

No territoacuterio Sergipano os primeiros registros satildeo recentes se compararmos com os demais estados da federaccedilatildeo Segundo Donato (2012)

() pode-se situar o iniacutecio do reconhecimento da morfologia caacuterstica em Sergipe em 1888 com as indicaccedilotildees de cavidades naturais feitas por Branner (1888) nos municiacutepios de Divina

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Pastora (ie Caverna do Urubu) e Laranjeiras (ie Caverna da Pedra Furada) Como registros posteriores podem ser citados a publicaccedilatildeo do IBGE (FERREIRA 1959) e as exploraccedilotildees de Joseacute Augusto Garcez na deacutecada de 1970 (PROUS 1992) (DONATO

2011 p 02) O ambiente caacuterstico em Sergipe estaacute localizado na

regiatildeo do Supergrupo Canudos composto pelos subgrupos Estacircncia e Vaza Barris do periacuteodo Preacute-Cambriano como afirma (AULER et al 2001) O carste sergipano estaacute presente nas trecircs proviacutencias geomorfoloacutegicas da unidade federativa Planiacutecie Litoracircnea Tabuleiros Costeiros e o Pediplano Sertanejo Franccedila (2007) afirma que as aacutereas caacutersticas de Sergipe podem ser concentradas nas faixas Tropical Uacutemido Tropical de Transiccedilatildeo e o Semiaacuterido A figura 2 apresenta a localizaccedilatildeo da zona caacuterstica no estado de Sergipe que contempla o maior numero de cavernas

Em conformidade com Williams (1993) o impacto mais significativo adveacutem do desflorestamento e das atividades agriacutecolas podendo resultar em uma desertificaccedilatildeo rochosa Aleacutem da produccedilatildeo de monoculturas diversas cavernas satildeo utilizadas como depoacutesito de lixo e entulho pelas comunidades do entorno ou apresentam depredaccedilotildees em funccedilatildeo da visitaccedilatildeo desordenada Inuacutemeras obras de infraestrutura voltadas para implantaccedilatildeo de induacutestrias de exploraccedilatildeo mineral ndash como no municiacutepio de Simatildeo Dias para a exploraccedilatildeo da Cal e em Laranjeiras para a produccedilatildeo de cimento ndash progridem sobre as cidades exercendo forte pressatildeo sobre os recursos ambientais

Segundo Hardt (2008) a cobertura vegetal sobre o solo eacute de extrema importacircncia para o desenvolvimento do relevo caacuterstico e todos precisam estar em comum equiliacutebrio Destarte natildeo soacute a existecircncia do solo fica protegida na presenccedila da vegetaccedilatildeo (aacutervores eou presenccedila de folhas e materiais

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bioloacutegicos em decomposiccedilatildeo) servindo de escudo para o impacto direto da chuva sobre o solo como tambeacutem ao fato de possibilitar o estabelecimento de uma fauna e flora de solo responsaacutevel por produzir o dioacutexido de carbono essencial no desenvolvimento caacuterstico Huppert et al (1993) afirma que a atividade turiacutestica acaba sendo uma contraposiccedilatildeo aacute conservaccedilatildeo do ambiente carste pois o solo a cobertura vegetal e o aquiacutefero satildeo totalmente suscetiacuteveis de sofrerem os impactos causados pelas atividades recreativas Aleacutem disso a presenccedila de visitantes ao ambiente interno de uma caverna pode interferir diretamente na alteraccedilatildeo teacutermica fiacutesico-quiacutemica e bioloacutegica do ambiente O impacto direto tambeacutem pode existir devido agrave degradaccedilatildeo fiacutesica do ambiente atraveacutes da quebra de espeleotemas acidentalmente ou deliberadamente

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Figura 2 ndash Localizaccedilatildeo do ambiente Caacuterstico de Sergipe e aacuterea de estudos

Fonte Macedo et al 2012

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Um rio que tenha sua origem em terreno natildeo caacuterstico mas que em um determinado momento do seu percurso acaba penetrando em terreno caacuterstico e em uma cavidade estaraacute trazendo para o interior desta poluentes restos animais e vegetais cascalho sedimentos entulhos entre outros que porventura tenha chegado ateacute este rio Deste modo a proteccedilatildeo da caverna passa necessariamente pela proteccedilatildeo de qualquer recurso hiacutedrico associado natildeo importando o quatildeo distante da cavidade este tenha sua origem

Para a elaboraccedilatildeo do presente artigo foi utilizada a metodologia de estudos atraveacutes de revisotildees bibliograacuteficas reflexivas complementados com consultas feitas aos bancos de dados do CECAVICMBIO e da Sociedade Brasileira de Espeleologia (SBE) buscando informaccedilotildees de vaacuterios autores para formar a ideia do todo partindo de um breve histoacuterico contextualizando o relevo caacuterstico e sua formaccedilatildeo E um trabalho de campo realizado na Gruta da Pedra Furada situada em um ambiente carbonaacutetico no municiacutepio de Laranjeiras-SE e a Gruta Casa do Caboclo formada em terreno areniacutetico na cidade de Japaratuba-SE com o objetivo de realizar registros fotograacuteficos do local observando e apresentando a interferecircncia da accedilatildeo antroacutepica no ambiente expondo as feiccedilotildees e o processo de degradaccedilatildeo gerado pelo homem atraveacutes da exploraccedilatildeo do mineral calcaacuterio ndash principalmente para a produccedilatildeo de cimento ndash e extraccedilatildeo do petroacuteleo por empresas estatais de economia mista CARSTE DE SERGIPE

De acordo com o SBE em Sergipe existem 116 cavernas distribuiacutedas em 35 municiacutepios Mas nove vatildeo concentrar a maior parte da paisagem caacuterstica tendo na cidade

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de Poccedilo verde o maior nuacutemero de cavidades registradas logo em seguida aparecem Canindeacute de Satildeo Francisco e Laranjeiras A maior caverna de Sergipe e que apresenta oportunidades de visitaccedilatildeo eacute a Toca da Raposa em Simatildeo Dias com aproximadamente 400m de desenvolvimento total ndash somando-se todos os condutos da caverna O Abismo de Simatildeo Dias ou Furna do Dorinha eacute o maior no estado possuindo pouco mais de 50m de profundidade Conforme Macedo (2016) o carste tradicional em Sergipe corresponde agrave 145337 Kmsup2 da aacuterea total do estado

Foi observado no trabalho de campo que a Gruta da Pedra Furada no municiacutepio de Laranjeiras-SE eacute assentada em um terreno composto por rocha carbonaacutetica sendo hoje um ambiente natildeo mais ativo denominado um paleocarste27

A gruta fica localizada na comunidade do Machado ndash latitude -10820685 e longitude -37177678 ndash tendo forte influecircncia histoacutericocultural no municiacutepio O local foi utilizado para catequeses e cultos religiosos pelos jesuiacutetas e rituais de religiotildees afro-brasileiras Com o formato de um arco onde os efeitos da accedilatildeo antroacutepica satildeo bastante visiacuteveis o local encontra-se deteriorado o que era vegetaccedilatildeo nativa ndash Floresta Pluvial Atlacircntica ndash virou pastagem e o que era uma imensa gruta natildeo passa de uma faixa de rocha carbonaacutetica erodida A exploraccedilatildeo vem ocasionando a retirada do mineral calcaacuterio gerando a detonaccedilatildeo numa velocidade anormal como mostra na figura 3

A produccedilatildeo de cimento em Sergipe consolidou-se no final do seacuteculo XX e iniacutecio do seacuteculo XXI quando o estado passou a ser o maior polo de produccedilatildeo de cimento da regiatildeo nordeste devido justamente a sua

27 Ainda natildeo possuem dados que definam a idade do paleocarste da aacuterea precisando de estudos mais aprofundados

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riqueza em relaccedilatildeo a sua disponibilidade em suas terras do carbonato de caacutelcio ndash calcaacuterio (MACEDO et al 2012 p 267-272)

Com o trabalho de campo foi possiacutevel observar o

avanccedilado processo de degradaccedilatildeo ambiental causado principalmente pelas mineradoras de calcaacuterio pedreiras e faacutebricas de cimento a poluiccedilatildeo e a dificuldade na drenagem da aacutegua para o lenccedilol freaacutetico tambeacutem satildeo fatores que induzem a esse processo Quanto agrave vegetaccedilatildeo foi possiacutevel identificar o processo de devastaccedilatildeo no entrono da Gruta da Pedra Furada onde as matas originais foram substituiacutedas por culturas de subsistecircncia e da cana-de-accediluacutecar implicando diretamente no ecossistema do relevo caacuterstico Ou seja a ausecircncia da vegetaccedilatildeo nativa da regiatildeo implica diretamente no processo de absorccedilatildeo da aacutegua como tambeacutem na infiltraccedilatildeo do gaacutes carbono A Gruta Casa do Caboclo encontra-se em um local de difiacutecil acesso ndash latitude -10632546 e longitude -36883085 ndash no litoral sergipano no povoado Satildeo Joseacute da Caatinga municiacutepio de Japaratuba-SE sendo de pouco conhecimento da sociedade e mesmo assim ainda eacute possiacutevel encontrar impactos da accedilatildeo humana A gruta fica em um pequeno remanescente da floresta Pluvial Atlacircntica e seu desenvolvimento estaacute associado a processos de abatimento e dissoluccedilatildeo ocorridos em argilito arenoso da Formaccedilatildeo Barreiras que acaba sendo mais propiacutecio aos efeitos da accedilatildeo antroacutepica figura 4

Atualmente existe a forte exploraccedilatildeo de petroacuteleo e gaacutes natural em toda a extensatildeo territorial do municiacutepio De acordo com a Agecircncia Nacional de Petroacuteleo Gaacutes Natural e Biocombustiacuteveis (ANP) Japaratuba possui a maior quantidade de poccedilos terrestres de exploraccedilatildeo do Petroacuteleo satildeo 338 poccedilos o que representa cerca de 40 dos poccedilos no estado Nas redondezas da gruta eacute possiacutevel identificar dutos de gaacutes natural

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e Cavalos-de-pau mecacircnicos para exploraccedilatildeo e extraccedilatildeo do petroacuteleo Figura 3 - Gruta da Pedra Furada municiacutepio de Laranjeiras-Se 2017

Fotos de Iacutetalo Assis da Silva 2017 Fonte Trabalho de Campo 2017

O acesso para a parte interna da gruta soacute existe pela consequecircncia do desabamento de uma Dolina de Colapso ao adentrar eacute possiacutevel identificar um composto de claraboias ndash pequenas aberturas na parte superior do salatildeo ndash facilitando o processo de infiltraccedilatildeo da aacutegua Ainda na parte interna da Casa do Caboclo eacute possiacutevel identificar um coacuterrego que na maior parte do ano permanece perene abaixo temos a figura 4 com imagens da Gruta da Casa do Caboclo CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS De acordo com o que foi abordado natildeo somente os municiacutepios de Laranjeiras e Japaratuba como tambeacutem o estado de Sergipe possuem um consideraacutevel patrimocircnio e

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potencial espeleoloacutegico Contudo o seu reconhecimento eacute de suma importacircncia para a contribuiccedilatildeo que destaque a forma no qual se encontra a espelogecircnese da regiatildeo implicando em uma anaacutelise do reconhecimento baacutesico preliminar do carste sergipano ainda como tema a ser aprofundado em pesquisas futuras Figura 4 ndash Gruta do Caboclo Japaratuba-SE 2017

Fotos de Iacutetalo Assis da Silva 2017 Fonte Trabalho de Campo 2017

A ausecircncia de um manejo especiacutefico nas cavidades subterracircneas visitadas implica em consequecircncias negativas Contudo eacute necessaacuterio haver um planejamento quanto ao uso e acesso de cavernas que sejam devidamente controlados No Brasil e em Sergipe as retiradas dos minerais em destaque a Cal e o Calcaacuterio acabam afetando todo o ciclo gerados principalmente pelos confrontos socioambientais Eacute importante que mais estudos sejam realizados com o intuito de intensificar a elaboraccedilatildeo de instrumentos normativos

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quanto ao uso ocupaccedilatildeo e a retirada dos recursos que esse ambiente proporciona O ambiente caacuterstico eacute um dos mais vulneraacuteveis e a transformaccedilatildeo de uma caverna natural em uma caverna turiacutestica deve ser projetada aplicada e manejada com grande atenccedilatildeo para os problemas de proteccedilatildeo ambiental BIBLIOGRAFIA AULER Augusto Sarreiro RUBBIOLI Ezio BRANDI Roberto As grandes cavernas do Brasil Grupo Bambuiacute de Pesquisas Espeleoloacutegicas 2001 CECAV ldquoCentro Nacional de Pesquisa e Conservaccedilatildeo de Cavernasrdquo Disponiacutevel em lthttpwwwicmbiogovbrcecavgt [Acedido em 09 de Dezembro de 2017] CHRISTOFOLETTI Antocircnio ldquoGeomorfologiardquo Editora Blucher Satildeo Paulo-SP 1980 ______ ldquoModelagem de sistemas ambientaisrdquo Satildeo Paulo Editora Edgard Bluumlcher Ltda 1999 DO BRASIL A Q (2013) Agecircncia Nacional do Petroacuteleo Gaacutes Natural e Biocombustiacuteveis DONATO CR MACEDO HS (2013) ldquoLocalizaccedilatildeo geograacutefica de cavernas a importacircncia de saber manipular instrumentos e analisar os dadosrdquo In RASTEIRO MA MORATO L (orgs) CONGRESSO BRASILEIRO DE ESPELEOLOGIA 32 Barreiras Anais Campinas SP SBE pp267-272

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Disponiacutevelem lthttpwwwcavernasorgbranais32cbe32cbe_267-272pdfgt [Acedido em 05 de DEZ de 2017] DONATO C R ldquoAnaacutelise de impacto sobre as cavernas e seu entorno no Municiacutepio de Laranjeiras Sergiperdquo 2011 198 p Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente) Universidade Federal de Sergipe Satildeo Cristoacutevatildeo 2011 FORD D C WILLIAMS P W (2007) ldquoKarst Geomorphologic and Hydrologyrdquo Chapman and Hall Londres FRANCcedilA VERA LUacuteCIA ALVES CRUZ MARIA TEREZA SOUZA Atlas Escolar Sergipe espaccedilo geohistoacuterico e cultural 1ed Joatildeo Pessoa Editora Grafset 2007 HARDT Rubens ldquoSistema caacuterstico e impactos antroacutepicos consideraccedilotildees sobre o manejordquo Simpoacutesio de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Geografia do Estado de Satildeo Paulo SIMPGEO-SP p 1295-1309 2008HUPPERT G BURRI E FORTI P CIGNA A Effects of Tourist Development on Caves and Karst In WILLIAMS P W (Editor) Karst Terrains Environmental changes and human impact Cremlingen-Destedt Catena-Verlag1993 p 251-268 (Catena Supplement 25) JANSEN DC GALVAtildeO ALCO LIMA MF CAVALCANTI LF NETO JFC ldquoRegiotildees Caacutersticas do Brasilrdquo Disponiacutevel em lthttpwwwicmbiogovbrcecavprojetos-e-atividadesprovincias-espeleologicashtmlgt [Acedido em 03 de Dezembro de 2017]

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JORDAN T GROTZINGER J (2013) ldquoPara Entender a Terra 6rdquo ed Bookman Editora LTDA Satildeo Paulo SP pp 475-501 KARMANN I SAacuteNCHEZ L H (1979) ldquoDistribuiccedilatildeo das rochas carbonaacuteticas e proviacutencias espeleoloacutegicas do Brasilrdquo Espeleotema Monte Siatildeo MG v 13 pp 105-167 KARMANN I (2000) ldquoCiclo da aacutegua aacutegua subterracircnea e sua accedilatildeo geoloacutegicardquo Decifrando a terra 2 191-214 SANTOS DB MENEZES De H J S (2003) ldquoAspectos Histoacutericos e Geograacuteficos sobre a ocorrecircncia de Cavernas em Sergiperdquo CONGRESSO BRASILEIRO DE ESPELEOLOGIA 27 Anais Januaacuteria MG Pp 249-252 Disponiacutevel em httpwwwsbecombranais27cbe27cbe_248-252pdf [Acedido em 03 de Dezembro de 2017) SBE (2017) ldquoSociedade Brasileira de Espeleologia Cadastro Nacional de Cavernasrdquo Disponiacutevel em lthttpwwwcavernasorgbrcncgt [Acedido em 05 de Dezembro de 2017] WILLIAMS P W (Editor) ldquoKarst Terrains Environmental changes and human impactrdquo Cremlingen-Destedt Catena-Verlag 1993 p 251-268 (Catena Supplement 25)

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USO DO SOLO E SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL DO PLANTIO DE BATATA DOCE NO

MUNICIacutePIO DE MOITA BONITA-SE

Helenilson de Jesus Barreto (es) sup1

Departamento de GeografiaUniversidade Federal de Sergipe (Geografia Licenciatura)

E-mail leninhoufsgmailcom

Cristiano Apriacutegio dos Santos (es) 2

Departamento de GeografiaUniversidade Federal de Sergipe ( Doutor em Geografia)

E-mail aprigeogmailcom

Joseacute Lucas Santos (es) 3

Departamento de GeografiaUniversidade Federal de Sergipe (Geografia Licenciatura)

E-mail rtx010203gmailcom

RESUMO

O presente trabalho tem como objetivo analisar a sustentabilidade ambiental do plantio de batata doce no municiacutepio de Moita Bonita em particular no povoado Moita de Cima Inicialmente os estudos foram conduzidos para o diagnoacutestico ambiental sendo utilizados levantamentos bibliograacuteficos O instrumental metodoloacutegico da pesquisa constou de um processo de investigaccedilatildeo mediante a realizaccedilatildeo de entrevistas que contemplaram questotildees relativas ao produtor e a unidade de produccedilatildeo Os resultados e a discussatildeo referentes agrave realizaccedilatildeo da pesquisa direta foram apresentados segundo as sustentabilidades com seus indicadores ecoloacutegicos econocircmicos sociais e culturais Apoacutes as anaacutelises da pesquisa de campo constatou-se que os principais indicadores que tecircm

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levado a uma baixa sustentabilidade ambiental satildeo a praacutetica de um sistema agriacutecola intensivo em insumos externos e na utilizaccedilatildeo da terra o uso excessivo de defensivos agriacutecolas a elevada infestaccedilatildeo de pragas de insetos e de doenccedilas bacterianas a baixa comercializaccedilatildeo da produccedilatildeo em termos de preccedilos justos a contaminaccedilatildeo humana por pesticidas o que dificulta a busca de soluccedilotildees para os problemas existentes entre os produtores familiares PALAVRAS-CHAVE Sustentabilidade ambiental formantes fiacutesicos e socioeconocircmico INTRODUCcedilAtildeO

Desde os primoacuterdios de nossa histoacuteria a degradaccedilatildeo

associada agraves desigualdades sociais estaacute presente como elemento constitutivo do processo de desenvolvimento agriacutecola brasileiro Em grande medida esse fato se deve agrave permanente subordinaccedilatildeo da agricultura nacional agraves loacutegicas econocircmicas externas caracterizando-a como setor de transferecircncia de riquezas agraves expensas da exploraccedilatildeo predatoacuteria dos recursos naturais e da exclusatildeo social No contexto histoacuterico o crescimento de urbanizaccedilatildeo e da industrializaccedilatildeo se superpocircs a uma estrutura agraacuteria essencialmente concentrada e desigual expressa no modelo produtivo conhecido como revoluccedilatildeo verde A proposta essencial desse modelo supunha a substituiccedilatildeo de formas tradicionais baseadas no trabalho humano por um pacote tecnoloacutegico fundado em variedades vegetais geneticamente melhoradas irrigaccedilatildeo agrotoacutexicos com maior poder biocida motomecanizaratildeo e fertilizantes quiacutemicos (GLIESSMAN 2000)

Nesse contexto o presente estudo teve como objetivo analisar o sistema agriacutecola de batata doce na no municiacutepio de Moita Bonita tomando ecircnfase o povoado Moita de Cima na

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perspectiva de compatibilidade entre agricultura e meio ambiente

A atual sede do Municiacutepio de Moita Bonita localizada na regiatildeo central do Estado de Sergipe microrregiatildeo do Agreste de Itabaiana teve suas origens a partir de uma localidade denominada Alto do coqueiro e por influecircncia de outra localidade vizinha denominada Moita de Cima teve seu nome alterado para Moita Bonita Em 1950 a localidade possuiacutea como moradores apenas quatro famiacutelias e foi elevada agrave categoria de vila pela Lei Estadual nordm 823 de 25071957 como sede do 2ordm Distrito de Paz do Municiacutepio de Itabaiana ao qual pertencia Nesta eacutepoca a comunicaccedilatildeo com outras regiotildees se dava por estradas precaacuterias que ficavam quase intransitaacuteveis nos periacuteodos chuvosos o transporte era feito a peacute carro de bois ou atraveacutes de animais pois natildeo existiam veiacuteculos e estradas apropriadas

O primitivo Alto do Coqueiro natildeo passava de uma aglomeraccedilatildeo de siacutetios onde seus primeiros moradores construiacuteram uma capelinha e escolheram Santa Terezinha para padroeira Aos poucos o local foi desenvolvendo-se aumentando o nuacutemero de casas mas como pertencia a Itabaiana tinha sua vida influenciada pelas suas brigas poliacuteticas No iniacutecio da deacutecada de 60 Itabaiana tinha como chefe poliacutetico Euclides Paes Mendonccedila originaacuterio do povoado vizinho Serra do Machado pertencente ao municiacutepio de Ribeiroacutepolis cujo irmatildeo Pedro Paes Mendonccedila seu inimigo poliacutetico tinha muita influecircncia na verdade a regiatildeo era seu curral eleitoral

Como o entatildeo deputado Pedro Paes Mendonccedila natildeo conseguia bater seu irmatildeo em outras regiotildees de Itabaiana decidiu ele lutar pela independecircncia poliacutetica de sua regiatildeo Apoacutes muito jogo de influecircncia a Lei Estadual nordm 1165 de 120363 cria o municiacutepio de Moita Bonita com sede na cidade de Moita Bonita antigo Alto do Coqueiro que

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enfrentou a concorrecircncia de outra localidade denominada Capunga que pleiteava o direito de ser a sede do municiacutepio por ser maior e mais antigo Conta os antigos moradores do capunga que a povoaccedilatildeo foi fundada em 1843 pelo portuguecircs Antocircnio Brito que depois de muitas brigas com os iacutendios possivelmente xocoacutes dominou as terras da regiatildeo O nome Capunga eacute explicado atraveacutes da junccedilatildeo de duas palavras capanga e mapurunga aacutervore comum na localidade embaixo da qual os iacutendios faziam tocaias a Antocircnio Brito e seus comandados No entanto embora o Capunga fosse maior e mais antigo perdeu a possibilidade de ser a sede do municiacutepio por influecircncia de Euclides Paes Mendonccedila

Nas primeiras eleiccedilotildees municipais que aconteceu em 06 de outubro de 1963 Pedro Paes Mendonccedila sai vencedor batendo seu adversaacuterio Josias Costa que futuramente iria ser figura muito importante na regiatildeo Moita Bonita estaacute localizada na regiatildeo central do Estado de Sergipe limitando-se a norte com os municiacutepios de Ribeiroacutepolis e Nossa Senhora das Dores a leste com Santa Rosa de Lima e Malhador e a sul e oeste com Itabaiana A aacuterea do municiacutepio ocupa 957km2 A sede municipal tem uma altitude de 180 metros e coordenadas geograacuteficas de 10deg3440de latitude sul e 37deg2037de longitude oeste

A agricultura moitense a partir da deacutecada de 90 vem passando por mudanccedilas significativas tanto na forma de produzir como nas relaccedilotildees de produccedilatildeo decorrentes principalmente das poliacuteticas agriacutecolas implantadas pelas accedilotildees do governo como o creacutedito rural subsidiado e atraveacutes de investimento na agricultura com a implantaccedilatildeo de projetos de irrigaccedilatildeo Sergipe estaacute entre os quatro estados que mais produzem batata doce no paiacutes Em Moita Bonita quase 80 agricultores fazem parte de uma cooperativa de incentivo agrave agricultura familiar

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DESENVOLVIMENTO

A pesquisa foi desenvolvida em etapas sequenciais que correspondem a dois niacuteveis progressivos das escalas espaciais de anaacutelise Inicialmente foram realizados levantamentos bibliograacuteficos sobre a temaacutetica e dos dados e informaccedilotildees baacutesicas sobre atributos e propriedades dos componentes fiacutesicos e socioeconocircmicos da aacuterea estudada atraveacutes de estudos geoloacutegicos geomorfoloacutegicos pedoloacutegicos climatoloacutegicos e dos indicadores socioeconocircmicos refletidos nas formas de uso e ocupaccedilatildeo do solo

Agrave luz dos indicadores de sustentabilidade ecoloacutegica econocircmica social e cultural foi estudado o cultivo de batata doce no muniacutecipio de Moita Bonita Assim procedeu-se a um levantamento amostral no povoado Moita de Cima referente a 50 produtores As informaccedilotildees foram obtidas atraveacutes de entrevista semiestruturada Na medida do possiacutevel procurou-se tambeacutem estabelecer um diaacutelogo informal com os entrevistados e familiares O objetivo de tal procedimento foi de coletar informaccedilotildees sobre a realidade vivenciada pela experiecircncia de cada entrevistado

Assim foram realizadas entrevistas com 20 produtores que representam 40 de um total de 100 distribuiacutedos em aacutereas irrigadas e de sequeiro (teacutecnica agriacutecola para cultivar terrenos onde a pluviosidade eacute baixa) no municiacutepio de Moita Bonita onde a aacuterea estudada foi o povoado Moita de cima este que pertence ao municiacutepio jaacute citado

ldquoAtraveacutes do conhecimento das potencialidades dos recursos naturais o homem interfere na dinacircmica natural da Terra de maneira raacutepida e agressiva gerando seacuterios problemas ambientais Isso faz com que alguns pesquisadores defendam a ideacuteia de estarmos hoje vivenciando uma nova realidade ambiental onde as derivaccedilotildees antroacutepicas apresentam-se cada

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vez mais influentes e contundentesrdquo (VICENTE e PEREZ FILHO 2003)

O municiacutepio estaacute parcialmente incluiacutedo na aacuterea do poliacutegono da seca com um clima do tipo megateacutermico seco a sub-uacutemido transiccedilatildeo para semi-aacuterido temperatura meacutedia anual de 24degC e precipitaccedilatildeo pluviomeacutetrica meacutedia no ano de 1000mm e periacuteodo chuvoso de marccedilo a agosto O relevo eacute de superfiacutecie pediplanada tabular erosiva e dissecado em forma de colinas com aprofundamento de drenagem fraca Os solos satildeo Podzoacutelicos Vermelho Amarelo Equivalente Eutroacutefico Litoacutelico Eutroacutefico e Planosol que fixam uma vegetaccedilatildeo de Capoeira Caatinga Campos Limpos e Campos Sujos (SERGIPESEPLANTECSUPES 19972000)

O contexto geoloacutegico do municiacutepio (Figura 01) estaacute inserido nos domiacutenios da Faixa de Dobramentos Sergipano (neo a mesoproterozoacuteico) e do Embasamento Gnaacuteissico (Arqueano a Paleoproterozoacuteico) Em mais de 60 do territoacuterio afloram ortognaisses gnaisses bandados e migmatitos integrantes do Complexo Gnaacuteissico Migmatiacutetico do Domo de Itabaiana

Na porccedilatildeo norte e em pequenas aacutereas a oeste afloram rochas da Faixa de Dobramento representadas pelos Grupos Estacircncia (Formaccedilatildeo Lagarto) Simatildeo Dias (Formaccedilatildeo Frei Paulo) e Miaba (Formaccedilatildeo Ribeiroacutepolis) e onde predominam Argilitos Siltitos Arenitos Finos Conglomerados Filitos Siltosos Metarenitos Impuros Metarritimitos Filitos Metacarbonatos Quartzo-Sericita- Clorita-Filitos Metagrauvacas Metavulcanitos Aacutecido-Intermediaacuterio e QuartzoPlagioclaacutesio-Sericita-Clorita-Xisto

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Figura 01 Geologia Simplificada de Moita Bonita

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O podzolicos Vermelho Amarelo Equivalente

Eutrofico se caracteriza pela sua compatibilidade no plantio da batata doce pois ele possui um teor favoravel de nutrientes texturas profundidade presenccedila ou natildeo de cascalhos desta forma torna-se dificil de generalizar suas qualidades Problemas seacuterios de erosatildeo satildeo verificados naqueles solos em que haacute grande diferenccedila de textura entre os horizontes A e B sendo tanto maior o problema quanto maior for a declividade do terreno (Figura 02)

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Figura 02 Mapas de Solos de Moita Bonita- SE

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Os solos Litoacutelicos no plantio na batata doce nao satildeo

utilizados pois satildeo muito pouco desenvolvidos rasos natildeo hidromoacuterficos apresentando horizonte A diretamente sobre a rocha ou horizonte C de pequena espessura Satildeo normalmente pedregosos eou rochosos moderadamente a excessivamente drenados com horizonte A pouco espesso cascalhento de textura predominantemente meacutedia normalmente esses locais onde existem a presenccedila do solo Litolico e aproveitado para a plantaccedilatildeo de capim para o uso na pecuaria pois o capim natildeo requer muito de materia organica do solo Os solos arenoquartizosos profundo (Natildeo Hidromorficos) natildeo obtem produtividade alguma pois sua composiccedilatildeo natildeo possui nutriente ele eacute formada principalmente por gratildeos de quartzo com arredondamento e esfericidade variados podendo conter diversas proporccedilotildees de outros minerais

O Planosol na regiao pesquisada apresenta desargilizaccedilatildeo pela lixiviaccedilatildeo do solo natildeo eacute usado na agricultura por ser um solo encharcado no qual a cultura da batata doce natildeo se adequa por ser um solo de de relevo plano ou suave ondulado onde as condiccedilotildees ambientais e do proacuteprio solo favorecem vigecircncia perioacutedica anual de excesso de aacutegua mesmo que de curta duraccedilatildeo especialmente em regiotildees sujeitas a estiagem prolongada e ateacute mesmo sob condiccedilotildees de clima semiaacuterido

No contexto atual da agricultura a sustentabilidade ambiental refere-se ao conjunto de praacuteticas ecoloacutegicas econocircmicas sociais e culturais desenvolvidas nas atividades agriacutecolas capazes de manterem a permanecircncia da produtividade sem destruiacuterem a base de recursos natildeo renovaacuteveis que utilizam (FRANCISCO 1996)

Dessa forma na verificaccedilatildeo da sustentabilidade ambiental do sistema agriacutecola da batata doce no municiacutepio de

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Moita Bonita foram utilizados indicadores organizados em quatro dimensotildees ndash ecoloacutegica econocircmica social e cultural

A sustentabilidade ambiental inclui tambeacutem os indicadores ligados agraves praacuteticas agriacutecolas policultura ou consorciamento rotaccedilatildeo de culturas cobertura verde cobertura morta manutenccedilatildeo da diversidade geneacutetica e da biodiversidade erosatildeo do solo empobrecimento do solo infestaccedilatildeo de pragas de insetos plantio direto pousio rotaccedilatildeo de terras reposiccedilatildeo natural de nutrientes do solo manejo integrado de pragas e doenccedilas contaminaccedilatildeo quiacutemica do solo e da aacutegua e infestaccedilatildeo de ervas daninhas

Os indicadores de sustentabilidade ambiental do sistema agriacutecola da batata doce apresenta baixa garantia decorrente da infestaccedilatildeo de pragas de insetos e doenccedilas bacterianas que estatildeo entre os principais problemas fitossanitaacuterios das da batata doce contaminaccedilatildeo do homem por pesticidas ausecircncia de controle bioloacutegico e de manejo integrado de pragas baixa manutenccedilatildeo da biodiversidade e a contaminaccedilatildeo quiacutemica do solo e da aacutegua com o uso de agroquiacutemicosre

A sustentabilidade ecoloacutegica entendida como a capacidade do sistema produtivo agriacutecola de produzir sem destruir as bases naturais de produccedilatildeo inclui os indicadores ligados agraves praacuteticas agriacutecolas policultura rotaccedilatildeo de culturas cobertura verde cobertura morta manutenccedilatildeo da diversidade geneacutetica e da biodiversidade erosatildeo do solo empobrecimento do solo infestaccedilatildeo de pragas de insetos plantio direto pousio rotaccedilatildeo de terras reposiccedilatildeo natural de nutrientes do solo manejo integrado de pragas e doenccedilas contaminaccedilatildeo quiacutemica do solo e da aacutegua e infestaccedilatildeo de ervas daninhas

O estudo permitiu concluir que os indicadores de sustentabilidade ecoloacutegica do sistema agriacutecola do plantio de batata doce apresentam baixa sustentabilidade decorrente da infestaccedilatildeo de pragas de insetos e doenccedilas bacterianas que

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estatildeo entre os principais problemas fitossanitaacuterios da plantaccedilatildeo de batata doce contaminaccedilatildeo do homem por pesticidas ausecircncia de controle bioloacutegico e de manejo integrado de pragas baixa manutenccedilatildeo da biodiversidade e a contaminaccedilatildeo quiacutemica do solo e da aacutegua com o uso de agroquiacutemicos neste sistema de produccedilatildeo onde se inclui a poluiccedilatildeo por nitratos dos fertilizantes representando riscos para a sauacutede humana

Os indicadores mais adequados para a sustentabilidade econocircmica considerando a relatividade espacial satildeo mudas selecionadas pesticidas (inseticidas herbicidas e fungicidas) fertilizantes quiacutemicos mecanizaccedilatildeo( uso de tratores para o arado da terra) sistema de irrigaccedilatildeo produtividade do cultivo as relaccedilotildees de trabalho de emprego de matildeo-de-obra familiar voltada para seu consumo e para o mercado por outro lado os agricultores empresariais que buscam na simplificaccedilatildeo do meio natural as condiccedilotildees para desempenharem suas atividades produtivas dispondo de matildeo-de-obra assalariada e de uma produccedilatildeo voltada para o mercado comercializaccedilatildeo da produccedilatildeo (preccedilo justo) custo do transporte de produccedilatildeo geraccedilatildeo de empregos financiamento reinvestimento de capital no sistema agriacutecola dificuldades especiacuteficas na manutenccedilatildeo do sistema agriacutecola e poder de decisatildeo do produtor sobre o sistema agriacutecola

Os principais indicadores responsaacuteveis pela baixa sustentabilidade econocircmica satildeo elevados custos de produccedilatildeo a baixa comercializaccedilatildeo da produccedilatildeo em termos de preccedilos justos dificuldades especiacuteficas na manutenccedilatildeo do sistema agriacutecola poder de decisatildeo do produtor e sistema de irrigaccedilatildeo pois aleacutem da falta de precisatildeo dos sistemas de irrigaccedilatildeo a falta de habilidade dos agricultores para manusearem tais sistemas constitui o fator preponderante de desperdiacutecio de aacutegua no setor Somado a isso a desinformaccedilatildeo do agricultor acerca da necessidade ou natildeo do uso de agroquiacutemicos traz grandes prejuiacutezos para a qualidade da aacutegua e do solo

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Atraveacutes da anaacutelise dos indicadores de sustentabilidade social os principais indicadores que demonstram baixa sustentabilidade foram grau de educaccedilatildeo dos produtores e de seus filhos amparo a sauacutede e organizaccedilatildeo social dos produtores O nuacutecleo familiar natildeo eacute uma soma indivisiacutevel entre trabalho e produccedilatildeo pois parcela significativa dos agricultores do municiacutepio de Moita Bonita mais precisamente na regiatildeo estudada no povoado Moita de Cima pesquisados obteacutem um volume de renda que compotildee o orccedilamento domeacutestico oriundo de atividades agriacutecolas e natildeo-agriacutecolas compatiacuteveis com o baixo niacutevel de escolaridade dos produtores familiares A falta de organizaccedilatildeo social atraveacutes de associativismo dificulta a busca de soluccedilotildees para os problemas existentes entre os produtores CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

caraacuteter desigual da exploraccedilatildeo agriacutecola da terra no povoado estudado consolidou uma estrutura agraacuteria bimodal que corresponde a dois modelos produtivos De um lado os agricultores familiares que em geral satildeo pequenos proprietaacuterios da terra empregando matildeo-de-obra familiar e mantendo o sistema de produccedilatildeo voltado para o autoconsumo e para o mercado Por outro lado os agricultores empresariais que buscam na simplificaccedilatildeo do meio natural as condiccedilotildees para desempenharem suas atividades produtivas dispondo de matildeo-de-obra assalariada e de uma produccedilatildeo voltada para o mercado Vale salientar a importancia que se tem o solo para a cultura da batata onde o solo podzolicos Vermelho Amarelo Equivalente Eutrofico se caracteriza pela sua compatibilidade no plantio da batata docecirc pois ele possui um teor favoravel de nutrientes texturas profundidade presenccedila ou natildeo de cascalhos desta forma torna-se dificil de generalizar suas qualidades o sistema da batata doce na aacuterea estudada eacute

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insustentaacutevel ao niacutevel dos indicadores analisados Assim o uso de agrodefensivos na localidade tem crescido deixando de lado as tecnicas agricolas que eram usadas pelos seus pais e avos deste modo infestaccedilatildeo de pragas de insetos e doenccedilas bacterianas que estatildeo entre os principais problemas fitossanitaacuterios da plantaccedilatildeo de batata doce contaminaccedilatildeo do homem por pesticidas ausecircncia de controle bioloacutegico e de manejo integrado de pragas contaminaccedilatildeo quiacutemica do solo e da aacutegua com o uso de agroquiacutemicos neste sistema de produccedilatildeo onde se inclui a poluiccedilatildeo por nitratos dos fertilizantes representando riscos para a sauacutede humana No que se refere ao social os principais indicadores que demonstram baixa sustentabilidade foram grau de educaccedilatildeo dos produtores e de seus filhos amparo a sauacutede e organizaccedilatildeo social dos produtores percebe-se um nivel baixo de escolaridade a renda das familias satildeo oriundas das atividades agricolas Neste contexto assume papel preponderante a aplicaccedilatildeo do modelo agroecoloacutegico de sustentabilidade que se orienta por um paradigma teacutecnico-cientiacutefico que busca a harmonizaccedilatildeo das atividades agriacutecolas com o meio natural em contraposiccedilatildeo ao modelo quiacutemico mecanizado REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS BOMFIM Luiz Fernando Costa COSTA Ivanaldo Vieira Gomes da BENVENUTI Sara Maria Pinotti Projeto cadastro da infra-estrutura hiacutedrica do Nordeste Estado de Sergipe Diagnoacutestico do municiacutepio de Moita Bonita Aracaju CPRM 2002 laquoDivisatildeo Territorial do Brasilraquo Divisatildeo Territorial do Brasil e Limites Territoriais Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) 1 de julho de 2008 Consultado em 06 de fevereiro de 2018

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laquoAacuterea territorial oficialraquo Resoluccedilatildeo da Presidecircncia do IBGE de ndeg 5 (RPR-502) Consultado em 06 de fevereiro de 2010 FRANCISCO F C Agricultura e meio ambiente um estudo sobre a sustentabilidade ambiental de sistemas agriacutecolas na regiatildeo de Ribeiratildeo preto (SP) 1996 400f Tese (Doutorado em Geografia Aacuterea de Concentraccedilatildeo em Organizaccedilatildeo do Espaccedilo) ndash Instituto de Geociecircncias e Ciecircncias Exatas Universidade Estadual Paulista Rio Claro 1996 FUNDACcedilAtildeO INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA ndash IBGE [Mapa do Estado de Sergipe com limites municipais] [Sergipe2001] 1 CD Autocad Convecircnio IBGESEPLANTEC Ineacutedito FUNDACcedilAtildeO INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA ndash IBGE [Mapas Base dos municiacutepios do Estado de Sergipe] [Sergipe2001] 72 Mapas Escalas variadas Ineacutedito GLIESSMAN Stephen R Agroecologia processos ecoloacutegicos em agricultura sustentaacutevel Traduccedilatildeo de Maria Joseacute Guazelli Rio Grande do Sul UFRGS 2000 FRANCISCO Francisco Carlos de Agricultura e meio ambiente um estudo sobre a sustentabilidade ambiental de sistemas agriacutecolas na regiatildeo de Ribeiratildeo Preto (SP) Rio Claro UNESP 1996 (Tese de Doutorado) ndash Curso de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Geografia SANTOS R A dos MARTINS A A NEVES J P LEAL RA(Orgs) Geologia e Recursos Minerais do Estado de Sergipe Texto Explicativo do Mapa Geoloacutegico do Estado de

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Sergipe Brasiacutelia CPRM 1998 156 p il Mapa color escala 1250000 Convecircnio CPRM ndash CODISE SERGIPESECRETARIA DE ESTADO DO PLANEJAMENTO E DA CIEcircNCIA E TECNOLOGIASEPLANTECSUPERINTENDEcircNCIA DE ESTUDOS E PESQUISAS-SUPES Perfis Municipais Aracaju 1997 75v SERGIPESECRETARIA DE ESTADO DO PLANEJAMENTO E DA CIEcircNCIA E TECNOLOGIASEPLANTECSUPERINTENDEcircNCIA DE ESTUDOS E PESQUISAS-SUPES Informes Municipais Aracaju 2000 75v VICENTE e PEREZ FILHO Abordagem Sistecircmica na Geografia in Revista de Geografia Rio Claro UNESP 2003

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UTILIZACcedilAtildeO DE LIacuteQUENS COMO BIOINDICADORES DA QUALIDADE DO AR

NA CIDADE DE ITABAIANA-SE

Erica Monteiro dos Santos28 Universidade Federal de Sergipe Graduanda em Geografia

ericamonteiro1810outlookcom

Riclauacutedio Silva Santos 29 Universidade Federal de Sergipe Mestre em Geografia

riclauacutediosilvahotmailcom

Cristiano Apriacutegio dos Santos 30 Universidade Federal de Sergipe Doutor em Geografia

aprigeogmailcom RESUMO

Os centros urbanos hoje satildeo aacutereas mais ocupadas e a poluiccedilatildeo atmosfeacuterica passou a ser uma das maiores preocupaccedilotildees a qualidade do ar vai interferir diretamente na qualidade de vida da populaccedilatildeo frequentemente esses efeitos da natildeo satildeo tatildeo visiacuteveis entatildeo para o diagnoacutestico podemos utilizar bioindicadores esses podem dar visibilidade a pureza atmosfeacuterica Para analisar a qualidade do ar do nuacutecleo urbano de Itabaiana-SE foram utilizados liacutequens como bioindicadores pois os mesmos satildeo sensiacuteveis a alguns gases poluentes Foram

28 Membro do Grupo de Pesquisa em Geomorfologia do Quaternaacuterio e modelagem ambiental (QUACOMA) 29 Membro do Grupo de Pesquisa em Geomorfologia do Quaternaacuterio e modelagem ambiental (QUACOMA) 30 Membro do Grupo de Pesquisa em Geomorfologia do Quaternaacuterio e Modelagem ambiental (QUACOMA)

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identificadas aacutereas em condiccedilotildees precaacuterias o que reforccedila o estado de poluiccedilatildeo a principal aacuterea com iacutendices satisfatoacuterios fica no entorno da aacuterea mais arborizada onde a biodiversidade tem maior expressatildeo espacial essa ocorrecircncia demonstra a importante relaccedilatildeo entre a manutenccedilatildeo da cobertura vegetal e suas associaccedilotildees ecoloacutegicas com o niacutevel da qualidade do ar de um determinado local PALAVRAS-CHAVE Bioindicadores Qualidade do ar Itabaiana-

SE INTRODUCcedilAtildeO

A priori sabe-se que a poluiccedilatildeo atmosfeacuterica tem

provocados impactos negativos ambientais e sociais Os primeiros afetam diretamente o solo isto eacute influem na sua composiccedilatildeo fiacutesica quiacutemica e bioloacutegica prejudicando a ciclagem dos nutrientes Na atmosfera causa a descoloraccedilatildeo da mesma a dispersatildeo da luz solar quando haacute grande quantidade de partiacuteculas no ar o aumento da formaccedilatildeo de neblina e precipitaccedilatildeo aleacutem dos seacuterios riscos agrave sustentabilidade ambiental Jaacute os segundos tratam-se das consequecircncias que afetam diretamente a sauacutede da populaccedilatildeo estas que resultam em problemas respiratoacuterios intoxicaccedilatildeo asfixia tosse entre outras

Os liquens satildeo formados a partir da simbiose entre fungos e algas e tem reproduccedilatildeo assexuada Nessa relaccedilatildeo simbioacutetica as algas produzem atraveacutes da fotossiacutentese substacircncias orgacircnicas que satildeo utilizadas pelos fungos que datildeo agraves algas proteccedilatildeo e um ambiente adequado para seu desenvolvimento Os liquens satildeo organismos que resistem a mudanccedilas de temperatura e agrave falta de aacutegua e por isso satildeo seres que habitam as mais diversas regiotildees do planeta Apresenta nutriccedilatildeo independente do substrato Estes podem ser encontrados em rochas folhas no solo troncos e galhos de

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aacutervores dependem do material disperso no ar estando sujeitos aos efeitos dos poluentes dispersos no mesmo assim os liacutequens satildeo extremamente sensiacuteveis agrave poluiccedilatildeo sendo considerados bioindicadores do estado e composiccedilatildeo da baixa atmosfera

A pureza do ar atmosfeacuterico eacute fator crucial agrave sobrevivecircncia dos liacutequens pois estes se alimentam higroscopicamente fixando elementos neles presentes notadamente o nitrogecircnio Os liacutequens absorvem e retecircm elementos radioativos iacuteons metaacutelicos dentre outros poluentes e isto faz com que sejam utilizados como indicadores bioloacutegicos de poluiccedilatildeo atmosfeacuterica (NIOEBOER etal 1972 apud MOTA-FILHO et al 2005 SEAWARD 1977 apud MOTA-FILHO et al 2005)

Itabaiana cidade situada no agreste sergipano localizada na regiatildeo central do estado (FIG01) eacute considerada a quarta maior cidade do mesmo foi fundada no ano de 1675 estaacute a 188m de altitude e a 54 km de distacircncia da capital do estado Aracaju Com populaccedilatildeo de 86967 habitantes (Senso do IBGE 2010) eacute conhecida como a capital do caminhatildeo por possuir um grande percentual de caminhatildeo por pessoa do paiacutes

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Figura 01- Mapa de localizaccedilatildeo do municiacutepio de Itabaiana SE

Fonte Atlas Digital Sobre Recursos Hiacutedricos de Sergipe

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Seu clima eacute semiaacuterido marcado por um periacuteodo entre quatro ou cinco meses de seca com temperaturas que variam entre 20ordm C a 35ordm C Por ser uma regiatildeo de transiccedilatildeo lsquoagrestersquo sua vegetaccedilatildeo eacute formada por plantas caracteriacutesticas do litoral e sertatildeo

Sua economia eacute caracterizada pela forte influecircncia comercial no interior do estado Tem suas atividades econocircmicas variadas que vai desde a agricultura de frutas e verduras com destaque para a mandioca batata-doce tomate e cebola estas que abastece todo o estado No que se refere agrave induacutestria Itabaiana tem uma diversificaccedilatildeo nesse setor (calccedilados bebidas ceracircmicas moacuteveis algodatildeo alumiacutenio carrocerias de caminhotildees) logo nota-se que Itabaiana eacute um dos centros mais dinacircmicos do estado destacando-se pelas atividades comerciais agriacutecolas e industriais

Assim como algumas cidades Itabaiana SE tambeacutem representam uma modernidade industrial como a maioria dos centros econocircmicos sociais e geograacuteficos aglomerando em torno de si a maior parte de investimentos e serviccedilos Este municiacutepio vem tendo um desenvolvimento urbano que se manifesta acompanhado por uma seacuterie de problemas incluindo aqueles de ordem ambiental seguido dos impactos sociais Apesar disso a poluiccedilatildeo nos centros urbanos tornou-se uma das problemaacuteticas mais evidentes a serem enfrentadas nas esferas da qualidade de vida das cidades e tambeacutem na preservaccedilatildeo do meio natural A elevada emissatildeo de poluentes toacutexicos na atmosfera aleacutem da degradaccedilatildeo de recursos naturais florestais e hiacutedricos constitui alguns dos principais desafios a serem superados

Vale ressaltar que a poluiccedilatildeo atmosfeacuterica nos centros urbanos intensificou-se pela remoccedilatildeo da vegetaccedilatildeo no sentido de que aacutereas arborizadas ou grandes reservas satildeo eventualmente substituiacutedas por ruas pavimentadas e infraestruturas de mobilidade Aleacutem das aacutereas de expansatildeo

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urbana que se encontram tambeacutem cada vez mais degradadas em sua paisagem natural Com isso o presente trabalho tem como objetivo avaliar por meio da utilizaccedilatildeo de liacutequens como bioindicadores a qualidade do ar do centro urbano de Itabaiana SE vale destacar que a utilizaccedilatildeo dos liacutequens neste trabalho eacute puramente quantitativa isto eacute natildeo se tem objetivo algum em descobrir quaisquer que seja a espeacutecie de liacutequens encontradas no campo realizado DESENVOLVIMENTO Nessa anaacutelise da qualidade do ar para a cidade de Itabaiana SE foram escolhidas algumas localidades devido agraves mesmas possuiacuterem em comum o traacutefego veicular intenso aleacutem de serem afetadas diretamente com a fuligem da queima da palha da cana de accediluacutecar oriundas dos municiacutepios de Areia Branca Riachuelo e Laranjeiras - tradicionais produtores de cana de accediluacutecar do estado Foram selecionadas as seguintes avenidas Eduardo Magalhatildees Praccedila Fausto Cardoso Chiara Lubic Avenida Otoniel Doacuterea Praccedila Etelvino Mendonccedila Rua Perciacutelio Andrade e Rua Felisbelo Machado de Menezes Para essa anaacutelise foram coletados dados quantitativos atraveacutes das aacutervores - que tivessem comprimento e largura que abrangessem o quadrante (medindo 40x40 cm) existentes no decorrer de cada localidade Para a coleta dos dados fez-se necessaacuterio uso e preenchimento de formulaacuterio aleacutem do uso do GPS Para a realizaccedilatildeo do processamento dos dados trabalhados nesta pesquisa realizada foi utilizado o pacote do software ArcGis a partir da licenccedila acadecircmica obtida pelo site da ESRI lthttpwwwesricomgt disponibilizando de suas ferramentas e acesso ao ArcMap e ao interpolador de KERNEL - que no contexto das geotecnologias faz referecircncia a um meacutetodo estatiacutestico de estimaccedilatildeo de curva de densidade que para a Geografia eacute uma alternativa de anaacutelise do comportamento de padrotildees onde o mapa eacute

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plotado atraveacutes do meacutetodo de interpolaccedilatildeo a intensidade pontual de determinado fenocircmeno na aacuterea de estudo tal que possibilita a observaccedilatildeo do processo no mapa Em campo (FIG 02) foi realizado o preenchimento do formulaacuterio para coletar os dados qualitativos e quantitativos da populaccedilatildeo liquecircnica existente nas avenidas jaacute supracitadas Os quadrantes e os formulaacuterios serviram de subsiacutedio para calcular o IPA (Iacutendice de Pureza Atmosfeacuterica) proposto por Sloover e Leblanc em 1968 ndash que foi utilizado para a elaboraccedilatildeo do mapa Pois o IPA baseia-se fundamentalmente na diversidade de espeacutecies de liacutequens epiacutefitos numa determinada aacuterea que permitem a realizaccedilatildeo de mapas de risco nos quais se marcam diferentes zonas em funccedilatildeo do seu grau de contaminaccedilatildeo atmosfeacuterica englobando dentro da mesma zona locais compreendidos dentro do mesmo intervalo de concentraccedilatildeo de contaminantes Para realizaccedilatildeo do caacutelculo do IPA foi necessaacuterio usar a seguinte equaccedilatildeo Si+Vi Qi 25 100 Onde Si refere-se ao nuacutemero de espeacutecie da aacuterea Vi refere-se agrave frequecircncia de cobertura de cada espeacutecie Qi refere-se ao iacutendice ecoloacutegico da espeacutecie

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Figura 02 ndash Levantamento de dados em campo Fonte a autora

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Para diagnosticar a qualidade do ar eacute preciso considerar que Deserto Liquecircnico corresponde agrave ausecircncia de espeacutecies de liacutequens lt 1 indica um agravamento da poluiccedilatildeo ambiental a Zona de Luta equivale agrave variaccedilatildeo gt1 e lt 3 indica uma zona onde o ar se encontra mais ou menos moderado no que se refere a sua qualidade e a Zona Normal correspondente a variaccedilatildeo gt 3 indicam que os liacutequens crescem normalmente e indicam que o ar apresenta melhor qualidade No que diz respeito agrave anaacutelise realizada no nuacutecleo urbano de Itabaiana SE Avenida Eduardo Magalhatildees Praccedila Fausto Cardoso Chiara Lubic Avenida Otoniel Doacuterea Praccedila Etelvino Mendonccedila Rua Perciacutelio Andrade e Rua Felisbelo Machado de Menezes constatou-se uma quantidade reduzida de liacutequens nas aacutervores analisadas assim como mostra a (FIG 03) De modo geral foi avaliada a comunidade de liacutequens nas localidades jaacute citadas as quais apresentaram quantidade reduzida da populaccedilatildeo liquecircnica que eacute explicada por conta sensibilidade dos liacutequens frente a alguns poluentes como o

Dioacutexido de Nitrogecircnio ( ) Dioacutexido de Enxofre ( )

Trioacutexido de Nitrogecircnio ( ) Oacutexido de Cobre (Cu) Zinco

(Zn) e Chumbo (Pb)

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Figura 03 ndash Presenccedila de Liacutequens na cidade de Itabaiana ndash Se

Fonte A autora

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Na Rua Felisbelo Machado de Menezes haacute

predominacircncia do Deserto Liquecircnico com ressalva para uma pequena aacuterea de Zona de Luta Na Rua Perciacutelio Andrade tambeacutem haacute predominacircncia do Deserto Liquecircnico poreacutem esta apresenta trecircs aacutereas de Zona de Luta Na Avenida Otoniel Doacuterea a presenccedila do Deserto Liquecircnico eacute mediana quando comparado agraves demais zonas evidenciadas em seu percurso pois essa avenida haacute presenccedila de quatro aacutereas de Zona de Luta Na Praccedila Fausto Cardoso haacute a presenccedila do Deserto Liquecircnico reduzida se comparada agraves demais localidades aleacutem de ter uma aacuterea de Zona de Luta e uma aacuterea de extensatildeo consideraacutevel de Zona Normal Praccedila Etelvino Mendonccedila tambeacutem com predominacircncia de Deserto Liquecircnico apresenta ainda uma pequena aacuterea de Zona de Luta Na Avenida Eduardo Magalhatildees apresenta aacuterea de Deserto Liquecircnico e uma extensa

aacuterea de Zona de Luta por fim o Chiara Lubic que assim como as demais localidades tem a presenccedila do Deserto Liquecircnico mas que tambeacutem possuem duas aacutereas de Zona de Luta CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS OU CONCLUSOtildeES

Dos resultados obtidos e discutidos constatou-se que as aacutereas analisadas estatildeo com a qualidade do ar comprometida onde ficou evidente que a uacutenica localidade com a melhor qualidade do ar eacute a Praccedila Fausto Cardoso situada no centro do nuacutecleo urbano de Itabaiana SE aacuterea esta considerada a mais arborizada dentre as demais localidades em anaacutelise

Logo percebe-se que existe a necessidade da execuccedilatildeo de empreendimentos de Poliacuteticas Puacuteblicas Ambientais juntamente com a intensificaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Ambiental para aleacutem das escolas estas poliacuteticas precisam chegar natildeo soacute a populaccedilatildeo mas tambeacutem aos donos de induacutestrias estes que tem

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um papel fundamental no que diz respeito agrave poluiccedilatildeo neste caso a poluiccedilatildeo atmosfeacuterica Aleacutem de projetos de arborizaccedilatildeo que poderia ser executado com parcerias entre as escolas cursos de graduaccedilatildeo de interesse a comunidade local e a prefeitura do municiacutepio para que assim possa vir a recompor a biodiversidade urbana ampliando a cobertura vegetal passiacutevel de colonizaccedilatildeo pelos liacutequens que consequentemente no futuro possa nos indicar uma melhoria na qualidade do ar desse municiacutepio REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS IBGE Cidadesmuniciacutepios Disponiacuteevel em httpwwwcidadesibgegovbrv3cidadesmunicipio2802908 = Arquivo capturado em 19 de dezembro de 2017 MOTA-FILHO F O PEREIRA E C SILVA R A XAVIER-FILHO L Liacutequens Bioindicadores ou biomonitoradores Portal Biomonitor out 2005 Disponiacutevel em lthttp1 9 3 1 3 6 1 4 0 5 2 b i o m o n i t o r indexphpoption=com_contentamptask=viewampid=9ampItemid=2gt Arquivo capturado em 04 novembro 2016 MEDEIROS A M L Mapa de Kernel ndash Conceito e Aplicaccedilotildees - Julho 2015 Disponiacutevel em httpptslidesharenetAndersonMedeirosmapas-de-kernel-conceitos-e-aplicaes = Arquivo capturado em 19 de dezembro de 2017 OLIVEIRA MC MAGANHA M F B Guia teacutecnico ambiental

da induacutestria de ceracircmicas brancas e de revestimento Satildeo Paulo

CETESB 2006 Disponiacutevel em

httprespostatecnicaorgbrdossie-

tecnicodownloadsDTNTcwNQ == Arquivo capturado em 19 de

janeiro 2017

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EIXO 4 - ENSINO DE GEOGRAFIA

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A IMPORTAcircNCIA DE TRABALHAR COM A CARTOGRAFIA DESDE AS SEacuteRIES INICIAIS NAS

AULAS DE GEOGRAFIA O CONTATO COM O MAPA NO 5deg ANO

Roniex da Silveira

Universidade Federal de Sergipe (UFS) Graduando em LicenciaturaGeografia Email roniexsilveiragmailcom

Raimunda Joysse Pereira dos Reis Nascimento

Universidade Federal de Sergipe (UFS) Graduanda em LicenciaturaGeografia Email joyssenetgmailcom

Acaacutessia Cristina Souza

Universidade Federal de Sergipe (UFS) Docente do Departamento de Geografia (DGE) E mail

acassiacsouzahotmailcom RESUMO

A capacidade de localizar-se no espaccedilo eacute uma habilidade indispensaacutevel e em natural uso pelas pessoas Nas escolas a Geografia por meio da Cartografia eacute quem trabalha o desenvolvimento dessa capacidade principalmente com uso dos mapas e plantas Nas aulas desde cedo o professor deve convidar o aluno a estar em contato com a Alfabetizaccedilatildeo Cartograacutefica a fim de que este perceba sua aplicaccedilatildeo e note a proximidade do conhecimento geograacutefico com sua praacutetica diaacuteria O presente trabalho aborda a importacircncia do uso da Cartografia nas aulas de Geografia ainda nas seacuteries iniciais para que o mais cedo possiacutevel o aluno conheccedila e aprenda a utilizar as ferramentas cartograacuteficas percebendo sua importacircncia e uso no dia a dia Aleacutem do mais reconhecer o quanto ela pode ser uma ferramenta de suma importacircncia como atrativo e

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valorizaccedilatildeo da disciplina geograacutefica Como exemplos seratildeo apresentados as experiecircncias vivenciadas na Disciplina de Estaacutegio Supervisionado em Ensino de Geografia I na Escola Municipal de Ensino Fundamental Dr Martinho de Oliveira Bravo31 ndash municiacutepio de Satildeo CristoacutevatildeoSE e na Escola Municipal de Ensino Fundamental Benedito Barreto do Nascimento32 ndash municiacutepio de UmbauacutebaSE ambos em turmas do 5deg ano do ensino fundamental Palavras-Chave Seacuteries iniciais Cartografia escolar Ensino de Geografia INTRODUCcedilAtildeO

Desde o surgimento da espeacutecie de acordo com registros histoacutericos o homem precisa se locomover com seguranccedila no espaccedilo em busca de suprimentos a fim de assegurar sua sobrevivecircncia sendo necessaacuterio para tanto usar da sua capacidade de orientar-se e localizar-se em busca de encontrar o lugar desejado

Isso demonstra que o uso e a necessidade dos saberes cartograacuteficos natildeo satildeo uma atividade recente pois estaacute presente na vida do ser humano desde sua existecircncia bem como na vida de outros animais afinal ainda que pelo instinto as aves que viajam milhares de quilocircmetros nos seus ciclos migratoacuterios fazem uso do potencial de orientaccedilatildeo para determinar os pontos de parada repor energias e por fim alcanccedilar o local de destino

O objetivo deste trabalho eacute discutir a importacircncia do ensino de cartografia nas aulas de Geografia ainda nas seacuteries iniciais da educaccedilatildeo baacutesica considerando a importacircncia da mesma para o desenvolvimento das aptidotildees necessaacuterias nas

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seacuteries posteriores e tambeacutem sua valorizaccedilatildeo como ferramenta com a qual o aluno pode adquirir uma nova forma de apreensatildeo da realidade

A justificativa para tanto parte das experiecircncias vivenciadas na disciplina de Estaacutegio Supervisionado em Ensino de Geografia I (Estaacutegio de Observaccedilatildeo) na Escola Municipal de Ensino Fundamental Dr Martinho de Oliveira Bravo e na Escola Municipal de Ensino Fundamental Benedito Barreto do Nascimento onde ficou evidente para os estagiaacuterios a carecircncia do uso dos saberes cartograacuteficos na aplicaccedilatildeo dos conteuacutedos abordados O ENSINO DE GEOGRAFIA E A CARTOGRAFIA ESCOLAR

Saber para onde ir por qual rua ou estrada que ocircnibus tomar por mais simples e cotidiano que seja - a ponto de jaacute estaacute naturalizado no subconsciente - natildeo eacute uma atividade aleatoacuteria Para isso eacute necessaacuterio o exerciacutecio de todo um conjunto de referenciais e teacutecnicas memorizados de experiecircncias anteriores mas tambeacutem adquiridos a partir da necessidade pontual Tem-se desse modo uma espeacutecie de mapa mental como se fosse construiacutedo no papel no celular ou como uma buacutessola que orienta a trajetoacuteria A atenccedilatildeo a tudo que estaacute no entorno serve de ajuda tanto para ir quanto para voltar do destino desejado Dessa forma fica faacutecil perceber a intensidade com a qual o conhecimento cartograacutefico faz parte do dia a dia do homem ndash e natildeo eacute um exagero ndash em todo lugar que esteja

O ensino de Geografia tem uma participaccedilatildeo especial no que diz respeito a transformar essa simples accedilatildeo diaacuteria em conhecimento criacutetico da realidade e com utilidade escolar para ampliar os horizontes do saber da crianccedila Eacute por meio da Alfabetizaccedilatildeo Cartograacutefica que o aluno vai associar as imagens

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reais com signos graacuteficos e melhor compreender o espaccedilo no qual ele vive e quanto mais cedo ele tiver contato com essas informaccedilotildees mais faacutecil seraacute para ele compreender a utilidade desses conhecimentos e fazer uso adequado possibilitando maior autonomia na compreensatildeo dos processos homemhomem e homemnatureza Ao mesmo tempo ela ajuda na valorizaccedilatildeo e importacircncia da Geografia na vida dos alunos ao possibilitar vaacuterias formas de perceber e agir no ambiente a sua volta Jaacute afirma os PCNs de Geografia sobre a aplicaccedilatildeo dessa linguagem

Contribui natildeo apenas para que os alunos venham a compreender e utilizar uma ferramenta baacutesica da Geografia os mapas como tambeacutem para desenvolver capacidades relativas a representaccedilatildeo do espaccedilo [] Por intermeacutedio dessa linguagem eacute possiacutevel sintetizar informaccedilotildees expressar conhecimentos estudar situaccedilotildees entre outras coisas ndash sempre envolvendo a ideia de produccedilatildeo do espaccedilo sua organizaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo (PCN ndash MEC ndash SEF 2001 p 118)

O ponto principal a ser destacado logo de iniacutecio eacute que

mesmo frente ao esforccedilo de muitos professores de Geografia identifica-se que parte consideraacutevel das aulas ainda obedece ao modelo tradicional limitada ao uso do livro didaacutetico de forma massiva e em aulas que dificilmente ultrapassam as paredes da sala de aula em busca de fatos que contemplem a vida do aluno para aleacutem da teoria Isso se torna ainda mais evidente nos anos iniciais quando a maioria dos professores natildeo possui formaccedilatildeo em Geografia

Frente a tantas linguagens e ferramentas que eles podem aplicar nas aulas para dinamizar os conteuacutedos de Geografia e tornaacute-los mais atraentes e significativos para os

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alunos a Cartografia Escolar eacute uma delas

Cartografia eacute o conjunto de estudos e operaccedilotildees loacutegico-matemaacuteticas teacutecnicas e artiacutesticas que a partir de observaccedilotildees diretas a da investigaccedilatildeo de documentos e dados interveacutem na construccedilatildeo de mapas cartas plantas e outras formas de representaccedilatildeo bem como no seu emprego pelo homem Assim a cartografia eacute uma ciecircncia uma arte e uma teacutecnica (CASTROGIOVANNI 2000 p 38)

Quando se pensa em cartografia no ensino de

Geografia o que vem a mente de imediato satildeo os mapas Mas como observado pelo autor supracitado a Cartografia compreende uma gama de ferramentas para serem aplicadas na representaccedilatildeo e compreensatildeo da organizaccedilatildeo do espaccedilo

Neto e Barbosa a partir de seu trabalho afirmam que

Conforme observa-se a cartografia escolar ainda natildeo eacute vista como um instrumento necessaacuterio para se trabalhar os conteuacutedos geograacuteficos Os mapas satildeo pouco explorados em sala de aula apesar de serem um instrumento didaacutetico importante no ensino de Geografia pois atraveacutes deles o estudante compreende e desenvolve capacidades sobre a representaccedilatildeo espacial (LANDIM NETO BARBOSA 2010 p 166)

De acordo com o resultado do trabalho desenvolvido

pelos autores conclui-se que para muitos professores inclusive de Geografia o uso de mapas tornou-se desnecessaacuterio visto que muitos desses profissionais acreditam ser a Cartografia um conteuacutedo agrave parte e natildeo complementar agrave disciplina

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A Geografia e a Cartografia caminham juntas Sendo a Geografia uma ciecircncia que estuda o espaccedilo geograacutefico e suas relaccedilotildees com o meio a Cartografia vem como uma ferramenta para que o sujeito possa compreender como acontece a ocupaccedilatildeo a organizaccedilatildeo e a reconstruccedilatildeo desse espaccedilo por meio da linguagem cartograacutefica (LIBERRATTI ROSOLEacuteM

2013 p 7)

Por meio do uso dessa ferramenta o aluno comeccedila a

compreender o mundo a sua volta nas diferentes escalas O ponto de partida se daacute pelas representaccedilotildees do espaccedilo vivido ndash onde o indiviacuteduo desenvolve sua rotina da casa do bairro da escola da cidade ou campo e assim por diante Satildeo lugares os quais o discente tem domiacutenio de conhecimento e identidade por assim dizer vontade de explorar Satildeo duas posiccedilotildees importantes o aluno trabalha por meio da fala e ao mesmo tempo pode representar seu espaccedilo eacute um saber com significado

Outra questatildeo que ainda reside na aplicaccedilatildeo dos saberes cartograacuteficos nas aulas de Geografia esta pautado na dificuldade dos professores em associar as ferramentas como mapas atlas imagens de sateacutelite ao conteuacutedo geograacutefico Para Katuta (1997 p 42) eacute preciso natildeo confundir o ensino do mapa com o ensino de Geografia priorizando somente o primeiro e tendo como resultado uma aula de Cartografia mais do que de Geografia Sobre o uso dos mapas eacute recomendaacutevel que os professores de Geografia utilizem mapas sempre que possiacutevel natildeo priorizando apenas um mecircs ou bimestre para o trabalho com esse material (KATUTA 1997 p 42)

O ensino de Geografia pode ganhar novos horizontes e resultados importantes para alunos e professores com a

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Cartografia

Assim em lugar de pensar em ldquoalfabetizarrdquo o aluno com um coacutedigo graacutefico (cartograacutefico) desprovido de conteuacutedo significativo abrem-se amplas possibilidades de praacuteticas com o desenho do espaccedilo por meio do qual satildeo apresentados os conteuacutedos soacutecio-espaciais (a ocupaccedilatildeo urbana avenidas ruas comeacutercio induacutestrias rios pontes favelas etc eacute um exemplo) (ALMEIDA 2003 p 4)

Tambeacutem importante para o sucesso do uso das

ferramentas cartograacuteficas nas aulas eacute considerar primeiro a Cartografia no seu acircmbito de linguagem como jaacute mencionado para que seus elementos natildeo ocupem a noccedilatildeo de simples objetos visuais sem significados e neutros A Cartografia Escolar faz parte de uma construccedilatildeo social e portanto carrega marcas sociais que devem estar esclarecidas Isso se pauta no seu caraacuteter de coacutedigo capaz de transmitir informaccedilotildees como qualquer outra linguagem Almeida (2003 p 4) considera que no caso da linguagem cartograacutefica eacute preciso ensinar como os conteuacutedos espaciais satildeo apresentados ao mesmo tempo em que eacute preciso saber o que eles significam

Katuta (1997) vai aleacutem ao apontar que quando o aluno passa do aprender a fazer para o ler e atribuir significado isso eacute um processo a mais que alfabetizaccedilatildeo leiturizaccedilatildeo cartograacutefica Isso cabe tanto ao aluno quanto ao professor afinal como pode algueacutem que natildeo sabe ler ensinar a outro

Desde a primeira infacircncia o domiacutenio do espaccedilo eacute um desafio (ALMEIDA PASSINI 2010) Os sentidos possibilitam a crianccedila perceber e se relacionar com o meio em que se encontra A partir da observaccedilatildeo espacial ela identifica o lugar agrave medida que o define como diferente ou rotineiro A

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observaccedilatildeo e anaacutelise espacial satildeo portanto ferramentas que permitem ao homem ainda que de maneira sinteacutetica localizar-se Partindo dessa afirmaccedilatildeo observa-se que a orientaccedilatildeo e localizaccedilatildeo ndash princiacutepios cartograacuteficos ndash satildeo inerentes ao aprendizado humano e portanto indispensaacuteveis

A consideraccedilatildeo de Castrogiovanni (2000) eacute que embora o primeiro contato com a cartografia se decirc ainda na primeira infacircncia eacute na escola mais especificamente no ensino baacutesico que a crianccedila adquire capacidades e competecircncias especiacuteficas da linguagem cartograacutefica Eacute a partir do estudo da cartografia escolar que a crianccedila passa a compreender conceitos espaciais ateacute entatildeo incompreendidos

Agrave crianccedila eacute faacutecil identificar quais satildeo seus espaccedilos e territoacuterios ainda que natildeo entenda o sentido mais amplo de tais palavras Todavia a delimitaccedilatildeo espacial eacute complexa ao infante pois requer o conhecimento de vaacuterios outros conceitos que lhe possibilite estruturar e organizar pontos limites entre um lugar e outro

Ver de forma criacutetica a realidade natildeo eacute uma tarefa dissociada da apropriaccedilatildeo das manifestaccedilotildees naturais e sociais presentes na paisagem e a Cartografia pode proporcionar esse contato pois o ensino de Geografia transita do conteuacutedo para a forma ao usar dos saberes cartograacuteficos na apreensatildeo da realidade

Um dos problemas encontrados ainda na educaccedilatildeo principalmente nos anos iniciais quando geralmente os professores natildeo satildeo formados em Geografia eacute a natildeo importacircncia dada a Alfabetizaccedilatildeo Cartograacutefica Em uma educaccedilatildeo onde o Portuguecircs e a Matemaacutetica satildeo consideradas como disciplinas de maior importacircncia a ciecircncia geograacutefica torna-se coadjuvante nesse contexto mesmo que de suma importacircncia para a compreensatildeo da sociedade e da sua conjuntura espacial Todavia nas seacuteries iniciais a Cartografia natildeo eacute respeitada ainda enquanto uma linguagem com a qual o

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aluno desenvolve a capacidade de ver representar como tambeacutem ler o espaccedilo no qual ele vive Haacute sobretudo a necessidade da educaccedilatildeo cartograacutefica e espacial no ensino infantil

Valorizar no ensino de Geografia desde cedo o saber cartograacutefico tem sua importacircncia justificada nas palavras de Ludwig e Nascimento

Estudar a linguagem cartograacutefica desde os primeiros anos escolares possibilita agrave crianccedila desenvolver a percepccedilatildeo do seu espaccedilo de vivecircncia para mais tarde ter capacidades cognitivas mais complexas sobre suas aplicaccedilotildees e possibilidades de entendimento do espaccedilo (LUDWIG NASCIMENTO 2015 p 32)

E ainda citando Passini (1994 p 26) elas acrescentam

o fato de que ldquoa Educaccedilatildeo Cartograacutefica ou alfabetizaccedilatildeo para a leitura de mapas deve ser considerada tatildeo importante quanto agrave alfabetizaccedilatildeo para a leitura da escrita [] significa preparar o aluno para fazer e ler mapasrdquo (LUDWIG NASCIMENTO 2015 p 32) Compreender a realidade por meio de mapas cartas aerofotografias imagens de sateacutelite exige um saber gradual e quanto mais breve buscar desenvolver melhor

Esta claro que a Cartografia Escolar eacute um complemento agraves aulas e seu papel natildeo eacute de protagonista no desenvolvimento do saber geograacutefico Se assim for mantida ela fortaleceraacute ainda mais para o aluno a dissociaccedilatildeo entre a Geografia e a Cartografia ou pior ainda fazer ele entender a

Geografia como Cartografia Contudo se essa associaccedilatildeo for bem feita o efeito pode ser o contraacuterio atraindo a atenccedilatildeo dos alunos e ampliando sua percepccedilatildeo de mundo aleacutem de facilitar a aprendizagem de conteuacutedos geograacuteficos que sem o auxiacutelio da linguagem cartograacutefica seria mais difiacutecil e

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tedioso A ausecircncia dessa praacutetica logo nos anos iniciais acarreta

em dificuldade para compreender por meio da Cartografia espaccedilos ainda natildeo fisicamente conhecidos e os processos que ocorreram e ainda acontece na organizaccedilatildeo dos mesmos causando prejuiacutezos a apreensatildeo intelectual do aluno Dessa forma o que se constroacutei satildeo alunos que natildeo tem domiacutenio dos elementos primordiais da leitura cartograacutefica Para Freire (1987) esse seria um aluno sem autonomia e fruto da educaccedilatildeo bancaacuteria O CONTATO COM O MAPA NA TURMA DO 5deg ANO DA ESCOLA MUNICIPAL DE ENSINO FUNDAMENTAL DR MARTINHO DE OLIVEIRA BRAVO ndash SAtildeO CRISTOacuteVAtildeOSE ndash 2017

A experiecircncia vivenciada na Escola M E F Dr Martinho de Oliveira Bravo foi um exemplo do quanto a Cartografia Escolar mesmo sendo imprescindiacutevel juntamente com a Geografia para a formaccedilatildeo soacutecio-educacional dos alunos tecircm sido negligenciadas A ecircnfase em outras disciplinas leva ao esmaecimento do ensino de Geografia e certa dissociaccedilatildeo de seus conteuacutedos propiciando a desvalorizaccedilatildeo tambeacutem pelos discentes Quando acontecem as aulas de Geografia geralmente os alunos recebem os saberes como um conteuacutedo enfadonho por meio do livro didaacutetico sem aproveitamento e para ldquopassar o tempordquo Como o estaacutegio foi de observaccedilatildeo reverter esse quadro natildeo foi possiacutevel Conveacutem ressaltar que o primeiro contato com o mapa em seu significado de informaccedilotildees fez parte da aula e mostrou que a falta dessas ferramentas provoca um deacuteficit no aprendizado dos alunos

Na disciplina de Estaacutegio Supervisionado em Ensino de Geografia I foi possiacutevel a oportunidade de notar o quanto a

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Geografia e consequentemente a Cartografia natildeo estatildeo ocupando o lugar devido na educaccedilatildeo nos anos iniciais Na E M E F Dr Martinho de Oliveira Bravo tornou-se rotineiro a substituiccedilatildeo das aulas de Geografia por aulas de outras disciplinas como Liacutengua Portuguesa e Matemaacutetica sob a justificativa de privilegiar a alfabetizaccedilatildeo escrita e numeacuterica visto que a maioria dos alunos ainda natildeo possuir habilidade nesse sentido De acordo com a professora regente ndash que tinha formaccedilatildeo em Matemaacutetica e era polivalente33 ndash foi somente durante o periacuteodo do estaacutegio que houve regularidade nos conteuacutedos da disciplina e das aulas Apesar da excelente didaacutetica da professora em conduzir as aulas de Geografia havia limitaccedilatildeo a somente o conteuacutedo do livro didaacutetico constantemente natildeo trazido pelos alunos dificultando o acompanhamento dos conteuacutedos aplicados em sala de aula

No decorrer do estaacutegio por vezes os estagiaacuterios eram indagados por alunos acerca de ferramentas graacuteficas em sala evidenciando que os mesmos demonstram e querem se aprofundar nos conteuacutedos cartograacuteficos apresentados nas aulas de Geografia necessitando da percepccedilatildeo do educador em aproveitar esse interesse

Uma das aulas mais produtivas foi realizada quando a professora resolveu trazer para a turma o mapa do estado de Sergipe (uma escala um tanto distante da compreensatildeo de muitos) para trabalhar a temaacutetica Municiacutepio focando a cidade que eles residiam Ficou niacutetido que muitos natildeo sabiam qual estado brasileiro o mapa representava tendo bastante dificuldade para encontrar seu municiacutepio (Satildeo Cristoacutevatildeo) desconhecendo elementos como rosa-dos-ventos escala legenda dentre outros

Muitos alunos dessa turma natildeo haviam trabalhado com mapas e outras representaccedilotildees cartograacuteficas salvo poucas

33 Qualificaccedilatildeo para ensinar nas seacuteries iniciais da educaccedilatildeo (magisteacuterio)

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exceccedilotildees De iniacutecio a reaccedilatildeo de alguns foi de indiferenccedila e ao final da aula consideraram inuacutetil pois natildeo conseguiam associar a realidade com o mapa apresentado no papel

A abordagem da professora regente em relaccedilatildeo ao conteuacutedo mostrou-se inadequada ao propor uma representaccedilatildeo distante da abstraccedilatildeo dos alunos considerando o niacutevel de entendimento deles acerca de representaccedilotildees cartograacuteficas de orientaccedilatildeo localizaccedilatildeo e dos assuntos relacionados ao proacuteprio estado de Sergipe sendo que esses assuntos natildeo eram frequentemente explorados e concretos para eles Vale destacar que a ausecircncia desses conhecimentos se deu de maneira gradativa desde o contato dos referidos alunos com o ambiente escolar sendo perceptiacutevel a falta de familiaridade com o mapa e seus elementos baacutesicos

Poderia ser mais significativo para os alunos naquele momento se as representaccedilotildees partissem de algo mais proacuteximo da realidade deles como a bairro e suas proximidades alcanccedilando os arredores das casas dos mesmos ou ateacute menos com a construccedilatildeo da planta ou maquete da sala de aula Assim afirma Katuta (1997 p 43) Eacute atraveacutes de mapas de grandes escalas que poderemos trazer a Geografia dos alunos para a sala de aula

Ao fim da aula e na ausecircncia da professora regente quando questionados pelo estagiaacuterio se gostaram do mapa um dos alunos foi sucinto em responder ndash Natildeo gosto de mapas porque natildeo prestam Esta foi a expressividade mais ldquoforterdquo ouvida em meio agraves outras respostas semelhantes de alguns alunos Novamente foi perguntado se jaacute tinham estudado com mapas e outros recursos didaacuteticos afins como maquetes em outras aulas e a resposta foi negativa

O estagiaacuterio tentou motivaacute-los para que percebessem um pouco da utilidade do mapa trabalhado na aula Como no momento natildeo havia outra representaccedilatildeo graacutefica que se aproximasse mais da realidade deles tentou-se com o mesmo

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mais uma vez apresentou-se o mapa poliacutetico do estado de Sergipe identificando o municiacutepio de residecircncia ou localizaccedilatildeo da escola do aluno na tentativa de aproximar ainda mais o estagiaacuterio elaborou um croqui da cidade com pontos relevantes e conhecidos pelo aluno ampliou-se ainda mais para a rua e a casa dele e por fim o trajeto que diariamente eacute realizado para a escola Posterior a toda explicaccedilatildeo do estagiaacuterio (durante o tempo que a professora demorou a retornar) o referido aluno afirmou que usar mapas era muito bom e ndash Se eu quiser posso ir para casa olhando nele (croqui)

Destaca-se nesse sentido o que Castrogiovanni declara ldquoo fundamental no ensino de Geografia eacute que o alunocidadatildeo aprenda a fazer uma leitura criacutetica da representaccedilatildeo cartograacutefica isto eacute decodificaacute-la transpondo suas informaccedilotildees para o uso do cotidianordquo (CASTROGIOVANNI 2000 p 39) A partir do momento em que o aluno consegue enxergar e abstrair a sua realidade nos recursos cartograacuteficos logo ele desenvolveraacute mais interesse pelo conteuacutedo abordado Nas aulas foi possiacutevel compreender que muitos alunos tiveram aversatildeo ao mapa pois natildeo conseguiam transpor com propriedade o conteuacutedo do mapa para o que viam no dia a dia ou vice-versa Simplesmente eles ouviam a professora fazer os comentaacuterios e apresentar o mapa do estado federativo no qual eles moravam e eles concordavam mas sem criar significaccedilatildeo ou seja faltavam-lhes as noccedilotildees necessaacuterias para apreensatildeo dos signos cartograacuteficos e ter uma visatildeo global do que viam

Isso comprovou que os discentes natildeo estavam conseguindo fazer a ligaccedilatildeo do real para o representado havendo entatildeo a necessidade de aplicar mecanismos mais simples e que natildeo gerassem a impressatildeo de que o espaccedilo representado e o real parecessem espaccedilos totalmente distintos O estado de Sergipe no papel natildeo foi apreendido como o espaccedilo habitado por eles pois se apresentou diferente e distante dos ldquoseus mundosrdquo Nas palavras de Castrogiovanni

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(op cit) os alunos natildeo estavam conseguindo fazer a distinccedilatildeo entre o espaccedilo da accedilatildeo e o espaccedilo da representaccedilatildeo

Mesmo com essas dificuldades no geral os alunos gostaram da presenccedila da nova ferramenta pois ela proporcionou a fuga da aula meramente expositiva e muitos tiveram a oportunidade de participar mais ativamente da ldquoconstruccedilatildeordquo do conhecimento OS DESAFIOS DE TRABALHAR COM A CARTOGRAFIA NO 5ordm ANO DA ESCOLA MUNICIPAL DE ENSINO FUNDAMENTAL BENEDITO BARRETO DO NASCIMENTO ndash UMBAUacuteBASE ndash ANO 2016

A experiecircncia do estaacutegio supervisionado possibilita ao graduando vivenciar o ambiente da sala de aula de modo mais significativo eacute de fato a transiccedilatildeo da teoria para a praacutetica Constitui-se portanto a regecircncia pedagoacutegica Partindo dessa afirmaccedilatildeo entende-se que o estaacutegio conforma a observaccedilatildeo que permite ao sujeito ndash estagiaacuterio ndash identificar-se ou natildeo com a praacutetica docente

Nas seacuteries iniciais do ensino baacutesico eacute comum aos estagiaacuterios de Geografia reconhecerem na maioria dos casos o modo como o ensino da ciecircncia geograacutefica tem sido deixado de lado ao longo do tempo O Estaacutegio Supervisionado em Ensino de Geografia I na E M E F Benedito Barreto Do Nascimento possibilitou a confirmaccedilatildeo dessas afirmaccedilotildees

O referido estaacutegio se deu no ano de 2016 com alunos de faixa etaacuteria entre 11-16 anos sendo em sua maioria oriundos de turmas anteriores na mesma escola ou rede de ensino O conteuacutedo proposto pela professora regente formada em Pedagogia e servidora municipal haacute 28 anos foi ldquoO Espaccedilo Regional Brasileirordquo visto as especificidades curriculares da disciplina propostas pelos PCNrsquos de Geografia Conteuacutedo que

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vale destacar torna necessaacuterio o uso de mapas e consequentemente dos conhecimentos cartograacuteficos adquiridos nas seacuteries anteriores

Em um primeiro momento o uso de mapas ndash coloridos ndash se mostrou como uma boa e eficiente ideia natildeo fosse o fato de a estagiaacuteria estar diante de meninos e meninas que desconheciam o modo de uso dessa ferramenta tatildeo pouco o seu significado no ensino de Geografia A inexperiecircncia dos alunos com a Cartografia embora faccedila parte do curriacuteculo das seacuteries anteriores provocou de certo modo um retrocesso na aplicaccedilatildeo dos conteuacutedos em sala de aula pois como explicar sobre regiotildees quando a crianccedila natildeo entende ao menos o que eacute um municiacutepio ou mais ainda natildeo sabe localizar no mapa o municiacutepio onde reside Nesse contexto surge o que se denomina como ldquodesafiordquo no trabalho com a Cartografia

Durante o periacuteodo do estaacutegio tornou-se frequente a elaboraccedilatildeo de atividades e dinacircmicas voltadas para o uso do mapa considerando a necessidade de fazer com que os alunos se apropriassem da ferramenta a fim de utilizar na resoluccedilatildeo de problemas esta compreensatildeo redirecionou o comportamento da estagiaacuteria frente aos mesmos O ponto de partida para tanto foi o estudo do espaccedilo vivido desses alunos partindo da escala local ateacute a escala regional

Mediante a dificuldade de muitos em apreender o que estava sendo trabalhado em sala foi proposta uma oficina pedagoacutegica intitulada Descobrindo o Brasil Essa atividade consistiu na montagem pela turma de um mapa regional do Brasil Cada aluno recebeu uma parte do mapa referente a um estado e cada estado estava agrupado mediante a cor escolhida para representar a regiatildeo a qual pertencia formando desse modo equipes para cada regiatildeo Os grupos deveriam juntar seus estados ateacute compor a regiatildeo para posteriormente formar o Mapa do Brasil Apoacutes a montagem do mapa eles colocaram

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plaquinhas com os nomes dos estados nos seus respectivos lugares

O resultado aguardado com a oficina seria que os alunos diferenciassem estados regiatildeo e paiacutes Todavia mesmo mediante os esforccedilos da professora regente em sanar as duacutevidas e da aluna estagiaacuteria em proporcionar discussotildees sobre a ferramenta mapa a cartografia municiacutepio estado regiatildeo e paiacutes ficou claro que a maioria dos alunos natildeo aprendeu ou desenvolveu interesse pelo conteuacutedo e pela disciplina fato que comprova que nas seacuteries anteriormente cursadas pelos mesmos a Geografia e a cartografia natildeo foram trabalhadas efetivamente com o propoacutesito de capacitaacute-los para as seacuteries seguintes menos ainda para a resoluccedilatildeo de problemas relacionados agrave realidade vivida pelos mesmos CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Foi possiacutevel perceber diante de toda a experiecircncia vivenciada que a Cartografia Escolar pode cumprir um papel importante no conhecimento e na proximidade do discente com a Ciecircncia Geograacutefica tornando as aulas mais atrativas e dinacircmicas e ldquotanto para o uso cotidiano como para o cientiacutefico a figura cartograacutefica tem a princiacutepio uma funccedilatildeo praacuteticardquo (CASTROGIOVANNI 2000 p 38) Aleacutem de tudo com a Alfabetizaccedilatildeo Cartograacutefica o aluno vai desenvolver uma nova forma de entendimento do espaccedilo vivido e acerca de novos lugares modificando sua maneira de agir socialmente frente agraves possibilidades desse conhecimento

Associar o ensino de Geografia com a Cartografia desde as seacuteries iniciais eacute tatildeo importante quanto ensinar qualquer outra linguagem Eacute uma forma de preparar os alunos para abordagens mais complexas no decorrer das fases educacionais e desde jaacute abrir os horizontes deles para novas formas de apreender a realidade potencializando-os para

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compreender e ter mais autonomia na sociedade Considera-se tambeacutem que o acesso mais cedo do aluno

aos citados saberes permite-lhe desenvolver maior arcabouccedilo de conhecimentos Duas satildeo as razotildees para isso a primeira eacute que se o aluno jaacute chega dominando as teacutecnicas de uso e leitura dos recursos cartograacuteficos o professor natildeo precisaraacute atrasar os conteuacutedos predeterminados no planejamento a fim de alfabetizaacute-los na cartografia e a segunda eacute que os alunos podem ampliar ainda mais a qualidade e quantidade dos novos saberes visto que em situaccedilotildees como essas onde o professor tem que retomar ao ensino de conteuacutedos-base aborda o maacuteximo possiacutevel de modo que reduz o conjunto de saberes que seriam apresentados aos alunos obtendo como resultado muitas duacutevidas e falta de interesse por parte dos discentes pelo uso de um recurso o qual os alunos natildeo dominam considerando que o professor abandona a aplicaccedilatildeo de recursos cartograacuteficos adiando e acumulando para seacuteries posteriores essa responsabilidade aumentando cada vez mais a distacircncia entre o aluno e as aulas de Geografia com abordagens cartograacuteficas que sejam plenamente incorporadas pelos discentes

Assim sendo o papel do professor na promoccedilatildeo e convite ao contato com esses saberes de forma plausiacutevel nas aulas de Geografia eacute de suma importacircncia pois eacute ele quem a priori na sala de aula possuideve ter consciecircncia da relevacircncia de se trabalhar com a alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica ainda nas seacuteries iniciais da educaccedilatildeo

Chega-se a concluir portanto que a Cartografia eacute uma linguagem essencial na preparaccedilatildeo dos alunos para uma leitura mais completa do meio em que eles vivem A apropriaccedilatildeo das teacutecnicas e ferramentas do saber-fazer e ler cartograficamente eacute um processo e por assim dizer acontece de forma gradual Nessa perspectiva afirma-se que o aluno necessita nas aulas de Geografia entrar em contato com a Cartografia desde os

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primeiros anos escolares pois como diz Cavicchia (2010) eacute quando as estruturas cognitivas da fase preacute-operatoacuteria e das operaccedilotildees concretas estatildeo se formando

Os recursos cartograacuteficos satildeo diversificados e privilegiam a forma explorando os sentidos sendo importantes e estrateacutegicos para os alunos das seacuteries iniciais A Geografia eacute uma ciecircncia ampla e suas manifestaccedilotildees apresentam-se em todos os lugares desde o mais cotidiano ao de menos contato Para que as pessoas compreendam os vaacuterios sentidos dessas manifestaccedilotildees faz-se necessaacuterio desenvolver o domiacutenio dos diversos campos do conhecimento dos quais essa Ciecircncia faz uso e a Cartografia eacute um deles Sua correta aplicaccedilatildeo nas aulas contribui para a aprendizagem dos discentes melhora a relaccedilatildeo aluno-professor promove e intensifica no docente a sensaccedilatildeo de satisfaccedilatildeo aleacutem de propiciar o desenvolvimento de conteuacutedos da Geografia que sem o auxiacutelio dos recursos cartograacuteficos poderiam natildeo ser promovidos com a mesma dinacircmica e resultados positivos REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS ALMEIDA Rosacircngela Doin de Boletim Cartografia na escola Salto para o FuturoTV Escola Rio de Janeiro RJ Jun2003 (Reproduccedilatildeo de Programa de TV) Disponiacutevel em lthttpscdnbitvescolaorgbrresourcesVMSResourcescontentsdocumentpublicationsSeries110640CartografianaEscolapdf gt Acesso em 18 mar 2018 ALMEIDA Rosacircngela Doin de PASSINI Elza Yasuko O espaccedilo geograacutefico ensino e representaccedilatildeo Satildeo Paulo Contexto 2010 BRASIL Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Secretaria de Educaccedilatildeo Fundamental Paracircmetros curriculares nacionais histoacuteria e

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geografia 3 ed Brasiacutelia MEC 2001 CASTROGIOVANNI Antocircnio Carlos (Org) Ensino de geografia praacuteticas e textualizaccedilotildees no cotidiano Porto Alegre Mediaccedilatildeo 2000 CAVICCHIA Durlei de Carvalho O desenvolvimento da crianccedila nos primeiros anos de vida Araraquara Unesp 2010 Disponiacutevel em lthttpsacervodigitalunespbrbitstream123456789224101d11t01pdfgt Acesso em 15 mar 2018 FREIRE Paulo Pedagogia do oprimido 17 ed Rio de Janeiro Paz e Terra 1987 KATUTA Acircngela Massumi Uso de mapas = alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica eou leiturizaccedilatildeo cartograacutefica In Nuances Presidente Prudente v 3 p 41 ndash 46 1997 LACOSTE Yves A geografia isso serve em primeiro lugar para fazer a guerra Campinas Papirus 1988 LANDIM NETO Francisco Otaacutevio BARBOSA Maria Edivani Silva O ensino de geografia na educaccedilatildeo baacutesica uma anaacutelise da relaccedilatildeo entre a formaccedilatildeo do docente e sua atuaccedilatildeo na Geografia Geosaberes Fortaleza v 1 n 2 p 160-179 2010 LIBERATTI Maria Inecircs da Silva ROSOLEacuteM Nathaacutelia Prado Alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica o mapa como instrumento de leitura do espaccedilo In PARANAacute Secretaria da Educaccedilatildeo Os desafios da escola puacuteblica paranaense na perspectiva do professor PDE Paranaacute SEED v 1 2013

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NASCIMENTO Ederson LUDWIG Aline Beatriz A educaccedilatildeo cartograacutefica no ensino-aprendizagem de Geografia reflexotildees e experiecircncias Geografia Ensino e Pesquisa Santa Maria v 19 n3 p 29 ndash 42 setdez 2015 Disponiacutevel em lthttpsperiodicosufsmbrgeografiaarticleview15535pdfgt Acesso em 26 mar 2018

RELATO DE EXPERIEcircNCIA DE ESTAacuteGIO COM A

UTILIZACcedilAtildeO DE MATERIAL DIDAacuteTICO PARA O

ENSINO DA GEOGRAFIA

Andressa Arauacutejo Souza

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Universidade Federal de Sergipe Discente do curso de Geografia - DGEIUFS ndash Bolsista PET-PROGRAMA DE

EDUCACcedilAtildeO TUTORIAL Integrante do grupo de pesquisa Relaccedilatildeo Sociedade Natureza e Produccedilatildeo do espaccedilo

Geograacutefico- PROGEO E-mail araujoandressa0202gmailcom

Camila Silva Santos

Universidade Federal de Sergipe Discente do curso de Geografia - DGEIUFS ndash Bolsista PET-PROGRAMA DE

EDUCACcedilAtildeO TUTORIAL E-mail Camila-1-2-3livecom

RESUMO

A anaacutelise em pauta decorre de uma experiecircncia de estaacutegio III sobre a elaboraccedilatildeo e execuccedilatildeo de um projeto de ensino intitulado as faces da miacutedia e a formaccedilatildeo do pensamento dos alunos Com objetivo de despertar o senso criacutetico dos estudantes em relaccedilatildeo agrave miacutedia e seu papel na sociedade contemporacircnea compreender quais interesses estatildeo intriacutensecos nas notiacutecias dos meios de comunicaccedilotildees mais acessiacuteveis agrave sociedade e produzir um pensamento criacutetico a respeito de tais notiacutecias Os estudos satildeo realizados atraveacutes da correlaccedilatildeo e confrontaccedilatildeo entre a anaacutelise geograacutefica e os discursos presentes nas reportagens a fim de contribuir para formaccedilatildeo do pensamento criacutetico-reflexivo ao selecionar informaccedilotildees autecircnticas para isso utilizamos imagens muacutesicas e a literatura de cordel que colaborou para a aplicaccedilatildeo da proposta pedagoacutegica Por fim buscamos ter em vista a contribuiccedilatildeo que o pensamento geograacutefico traz sobre uma visatildeo de libertaccedilatildeo e natildeo de aprisionamento nem de alienaccedilatildeo PALAVRAS-CHAVE Recursos Didaacuteticos Miacutedia Ensino de Geografia

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INTRODUCcedilAtildeO

O presente trabalho decorre de uma experiecircncia de estaacutegio desenvolvido na Escola Estadual Vicente Machado Menezes na disciplina de Estaacutegio Supervisionado em ensino de geografia III pelas alunas Andressa Arauacutejo Souza e Camila Silva Santos no qual foi proposta para a turma de 7deg Ano composta por 15 alunos a realizaccedilatildeo de uma atividade que tinha como ponto central de anaacutelise a miacutedia e seus discursos multifacetados Contudo foi necessaacuterio agrave utilizaccedilatildeo de materiais didaacuteticos especiacuteficos como muacutesicas viacutedeos e debates em sala de aula que possibilitaram a construccedilatildeo de um conhecimento acerca do papel da miacutedia A escola fica localizada no centro do municiacutepio de ItabaianaSE na Rua Joseacute Ferreira Lima nuacutemero 739

A miacutedia tem a preponderante funccedilatildeo de influenciar a sociedade a formular opiniotildees e julgar veriacutedico o que favorece seus interesses que estatildeo serviccedilo da expansatildeo do capital fazendo com que uma parcela da populaccedilatildeo seja direcionada a viver sob seus ditames tidos como legiacutetimos

Os objetivos deste artigo eacute apresentar algumas possibilidades de trabalhar um tema relevante na sociedade atual despertar o senso criacutetico dos alunos em relaccedilatildeo agrave miacutedia e seu papel na sociedade contemporacircnea compreender quais interesses estatildeo envolvidos por detraacutes das notiacutecias dos grandes meios de comunicaccedilatildeo e produzir um pensamento criacutetico a respeito do que eacute visto na miacutedia com a ajuda de materiais didaacuteticos que colaborem com a discussatildeo dentro da sala de aula e que permitam desvendar as faces que a miacutedia possui permitindo que os jovens e adolescentes identifiquem as inuacutemeras mensagens que satildeo transmitidas e que nem sempre tem a verdade exposta

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Haacute interesses poliacuteticos e econocircmicos embutidos nas falas e escritas uma vez que ao se estudar o caso do Brasil de acordo com a pesquisa de Monitoramento da Propriedade da Miacutedia (Media Ownership Monitor ou MOM)34 apenas 5 famiacutelias satildeo detentoras dos meios de comunicaccedilatildeo mais acessados pela maioria da populaccedilatildeo isso expotildee um monopoacutelio e controle do que pode ou natildeo ser transmitido Mostrar a verdade para os telespectadores acarretam prejuiacutezos pois iratildeo denunciar falhas e intenccedilotildees poliacuteticas que estatildeo escusas na sociedade retirar a ldquomaquiagemrdquo da miacutedia a fim de alertar os erros que satildeo cometidos pela classe dominante (ANTONELLO 2009 p 87) ldquo[] em seu trabalho nos alerta para entender que o texto jornaliacutestico constitui-se em uma representaccedilatildeo da realidade ou seja se apresenta como um ldquoespelho deformanterdquo uma vez que as miacutedias natildeo apresentam a realidade social mas o que elas constroem dessa realidaderdquo Ou seja a miacutedia por vezes seleciona padrotildees tidos como ideias mas que natildeo estatildeo condizentes com a realidade social poliacutetica e econocircmica

A principiar foram realizadas pesquisas bibliograacuteficas buscamos utilizar fontes secundaacuterias tais como artigos dissertaccedilotildees monografias livros e ainda documentos teacutecnicos Tais fontes foram importantes para a o acreacutescimo de informaccedilotildees que serviram de base para a fundamentaccedilatildeo teoacuterica atraveacutes dos estudos antecedentes sobre a miacutedia e sua atuaccedilatildeo no Brasil no processo de construccedilatildeo de ideias dos sujeitos Como formadoras de opiniatildeo futuras professoras nosso papel eacute desvendar que a principal funccedilatildeo da miacutedia eacute manipular e alienar atraveacutes das informaccedilotildees e reportagens

34 A presente pesquisa completa estaacute disponiacutevel em

httpswwwcartacapitalcombrsociedadecinco-familias-controlam-50-

dos-principais-veiculos-de-midia-do-pais-indica-relatorio

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transmitidas e por isso eacute necessaacuterio que estejamos alerta para natildeo nos deixarmos influenciar

Um dos caminhos a serem seguidos eacute procurar a procedecircncia das informaccedilotildees em miacutedias alternativas por exemplo para ratificar o que estaacute sendo tratado evitar permanecer na acomodaccedilatildeo e natildeo acreditar em tudo que eacute publicado ateacute porque atualmente as pessoas estatildeo cada vez mais sem limites e fazem uso dos meios midiaacuteticos para aleacutem da obtenccedilatildeo de informaccedilotildees Segundo Antonello ldquoAo trabalhar com o discurso da miacutedia eacute necessaacuterio compreender que esse discurso representa um dispositivo de criaccedilatildeo de subjetividade como estrateacutegia de moldar a visatildeo de mundo e o estilo de vida da sociedade por conseguinte fundamenta a moldura da ldquorepresentaccedilatildeo do espaccedilordquo (ANTONELLO 2009 p95)

Incitar a violecircncia fortalecer os preconceitos satildeo atitudes evidentes em consequecircncia da crise social que decorre da conjuntura poliacutetica e econocircmica principalmente nas redes sociais onde muitos jornais e revistas tecircm divulgado as colunas diaacuterias e muitos blogs tecircm postado fakes news em que os leitores sem fazer nenhuma distinccedilatildeo compartilham as informaccedilotildees sem analisar Estaacute praacutetica por vezes contribui para disseminaccedilatildeo de reportagens mentirosas manipuladoras e preconceituosas que precisam ser vetadas para que natildeo sejam naturalizadas Sabendo disso Antonello explica

[] a praacutetica discursiva assume o papel de controle dos enunciados esses por sua vez encontram-se submetidos ao ldquoespaccedilo de raridaderdquo Na esfera das formaccedilotildees discursivas atua a forccedila da raridade tal accedilatildeo subtende a ordem do discurso a qual se materializa na preposiccedilatildeo que ldquopoucas coisas possam ser ditasrdquo entatildeo o efeito de raridade dos enunciados norteia o que pode ser dito e ao

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mesmo tempo o dito torna ausente outros dizeres (ANTONELLO 2009 p 95)

Essa perspectiva torna de fundamental importacircncia trabalhar esse tema em sala de aula uma vez que a escola natildeo estaacute isolada da sociedade Aleacutem de mostrar as facetas negativas da miacutedia interessa tambeacutem identificar que haacute produccedilotildees confiaacuteveis que podem ser acessadas e tem legitimidade nas informaccedilotildees o que se quer mostrar eacute que existem vaacuterias ldquolentesrdquo para enxergar o mundo e cabe a noacutes enquanto sociedade escolher de qual forma almejamos enxergar DESENVOLVIMENTO DO PROJETO

O estaacutegio supervisionado consiste na experiecircncia que os alunos da graduaccedilatildeo possuem ainda durante a formaccedilatildeo e que contribui para o futuro profissional do discente A preparaccedilatildeo e o planejamento se iniciam na sala de aula e parte para aleacutem dos muros da universidade esse processo garante uma importante praacutetica social tendo em vista a importacircncia do retorno positivo do conhecimento agrave sociedade mesmo que o estudante tenha um tempo estipulado para as aulas como foi o caso desse estaacutegio na Escola Estadual Vicente Machado Menezes que totalizou 12 aulas Com o apoio do professor supervisor e do professor regente da sala durante essa fase o estagiaacuterio vai saber se importar adquirir confianccedila e fomentaraacute um pensamento criacutetico-reflexivo que eacute construiacutedo entre o professorestagiaacuterio e os alunos durante a carga horaacuteria do estaacutegio Pimenta salienta que

Melhor seria dizer que colabore para o exerciacutecio da sua atividade docente uma vez que professor natildeo eacute uma atividade burocraacutetica para a qual se adquire conhecimento e habilidades teacutecnico-mecacircnicas Dada agrave

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natureza do trabalho docente que eacute ensinar como contribuiccedilatildeo ao processo de humanizaccedilatildeo dos alunos historicamente situados espera-se da licenciatura que desenvolva nos alunos conhecimento e habilidades atitudes e valores que lhes possibilitem permanentemente irem construindo seus saberes-fazeres docentes a partir das necessidades e desafios que o ensino como praacutetica social lhes coloca no cotidiano (PIMENTA 1999 p19)

O processo teoacuterico-metodoloacutegico consistiu na seleccedilatildeo

de materiais que foram trabalhadas na assimilaccedilatildeo e na construccedilatildeo do aprendizado revistas muacutesicas e viacutedeos com a intenccedilatildeo de motivar a participaccedilatildeo dos alunos durante a execuccedilatildeo das atividades pedagoacutegicas pois atraveacutes das imagens procuramos fazer com que os mesmos pudessem observar de forma objetiva o enfoque do conteuacutedo evidenciando o plano ideoloacutegico presente nas diferentes esferas dos meios midiaacuteticos para o despertar do senso criacutetico e que os alunos procurassem ter condiccedilotildees de filtrar as notiacutecias realizando sua proacutepria interpretaccedilatildeo Trabalhar a geografia de forma transversal e interdisciplinar exigiu esforccedilo compensado com o entusiasmo dos alunos em trazer sua realidade e compartilhar o conhecimento por meio do diaacutelogo (CAVALCANTI 2010 p3) ldquo[] se a Geografia contempla a diversidade da experiecircncia dos homens na produccedilatildeo do espaccedilo as questotildees espaciais estatildeo sempre presentes no cotidiano de todos eles sejam as de dimensotildees globais ou locaisrdquo

No primeiro momento buscamos explanar um pouco sobre o conteuacutedo e em seguida aplicamos uma atividade pedagoacutegica (fotos 1 e 2) a intenccedilatildeo era causar uma problematizaccedilatildeo das ideias preacutevias dos alunos que suscitou em discussotildees e indagaccedilotildees Pesquisamos manchetes de jornais e

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revistas de grande magnitude e levamos para a sala de aula cada uma com diferentes paradigmas posteriormente pedimos para dizerem se concordavam ou natildeo com tal mateacuteria justificando seu posicionamento Os assuntos foram diversos como por exemplo padrotildees de beleza movimentos sociais reformas poliacuteticas o que levou a um diaacutelogo e diferentes anaacutelises A partir disso os alunos perceberam como um mesmo assunto pode ser escrito de maneiras diferentes e que geram diversas interpretaccedilotildees previstas pela proacutepria miacutedia Desta forma

Se a tarefa do ensino eacute tornar os conteuacutedos veiculados objetos de conhecimento para o aluno e se a construccedilatildeo do conhecimento pressupotildee curiosidade pelo saber esse eacute um obstaacuteculo que precisa efetivamente ser superado Para despertar o interesse cognitivo dos alunos o professor deve atuar na mediaccedilatildeo didaacutetica o que implica investir no processo de reflexatildeo sobre a contribuiccedilatildeo da Geografia na vida cotidiana sem perder de vista sua importacircncia para uma anaacutelise criacutetica da realidade social e natural mais ampla Nesse sentido o papel diretivo do professor na conduccedilatildeo do ensino estaacute relacionado agraves suas decisotildees sobre o que ensinar o que eacute prioritaacuterio ensinar em Geografia sobre as bases fundamentais do conhecimento geograacutefico a ser aprendido pelas crianccedilas e jovens reconhecendo esses alunos como sujeitos que tecircm uma histoacuteria e uma cogniccedilatildeo a serem consideradas (CAVALCANTI 2010 p3)

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Foto 1 Anaacutelise das reportagens

Fonte SOUZA Andressa Arauacutejo SANTOS Camila Silva 2017

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Foto 2 Desenvolvimento da atividade pedagoacutegica

Fonte SOUZA Andressa Arauacutejo SANTOS Camila Silva 2017

Ao final de todo o processo introduzimos um pouco da histoacuteria dos cordeacuteis no Nordeste explicamos sobre a forma que eacute estruturada um cordel aleacutem das suas variaccedilotildees Logo apoacutes os alunos ficaram incumbidos de realizar cordeacuteis sobre a influecircncia da miacutedia na sociedade com o intuiacutedo de mostrar a relevacircncia desse gecircnero literaacuterio para o fortalecimento cultural local dos envolvidos O interesse foi notado principalmente pelo fato de os alunos se identificarem com muacutesicas compostas por sequecircncias de rimas

O resultado foi surpreendente os estudantes colocaram em praacutetica toda criatividade e recitaram seus cordeacuteis na uacuteltima aula Pois o cordel faz parte do saber popular e pode ser usado como instrumento de ensino principalmente por ter a possibilidade de retratar a realidade social poliacutetica econocircmica e cultural como vislumbra Linhares

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A literatura de cordel continua um expressivo meio de comunicaccedilatildeo neste seacuteculo XXI apesar da morte tantas vezes anunciada ao longo dos tempos Felizmente enquanto expressatildeo cultural permanece adaptada reinventada no desempenho de suas funccedilotildees sociais Informar formar divertir socializar ou poetizar conforme os diferentes temas que retrata e o enfoque abordado (Linhares 2005 p1)

Foto 3 Confecccedilatildeo dos cordeacuteis

Fonte SOUZA Andressa Arauacutejo SANTOS Camila Silva 2017

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Foto 4 Socializaccedilatildeo dos cordeacuteis

Fonte SOUZA Andressa Arauacutejo SANTOS Camila Silva 2017 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A praacutetica docente nos torna cada vez mais proacuteximas da

realidade encontrada nas escolas essa etapa eacute fundamental para a criaccedilatildeo de uma relaccedilatildeo com o ambiente de trabalho entendendo as dificuldades essa oportunidade de idealizar propostas pedagoacutegicas e aplicaacute-las nas escolas nos ajuda a entender o processo da teoria-praacutetica como algo indissociaacutevel O ensino da geografia com a utilizaccedilatildeo de simples recursos didaacuteticos como o que utilizamos auxilia no entendimento dos

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assuntos referentes agrave atualidade e das mudanccedilas ocorridas no tempoespaccedilo com o advento da tecnologia A desvalorizaccedilatildeo do profissional da educaccedilatildeo e ateacute mesmo a falta de recursos financeiros dificulta o planejamento e os desafios encontrados satildeo inuacutemeros eacute notoacuterio ao adentramos a sala de aula contudo eacute necessaacuterio que se pense em estrateacutegias mesmo sem o apoio governamental

Ao final do projeto foi possiacutevel perceber a contribuiccedilatildeo na formaccedilatildeo de uma sociedade mais criacutetica e politicamente mais justa que sabe diferenciar as reportagens manipuladoras e preconceituosas tendo em vista a educaccedilatildeo e o saber popular como instrumento de libertaccedilatildeo e natildeo de aprisionamento segundo Saviani (1999 p66) ldquoO dominado natildeo se liberta se ele natildeo vier a dominar aquilo que os dominantes dominam Entatildeo dominar aquilo que os dominantes dominam eacute condiccedilatildeo de libertaccedilatildeordquo que auxilia os alunos na formaccedilatildeo de uma consciecircncia enquanto cidadatildeo de uma sociedade classista repleta de contradiccedilotildees e desigualdades REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS ANTONELLO Adeni Terezinha O discurso midiaacutetico sobre a reestruturaccedilatildeo econocircmica e territorial no e do espaccedilo rural norte paranaense In KATUTA Angela Geografia e miacutedia Impresse Londrina PR Moriaacute 2009 p 87-189 CAVALCANTI Lana de Souza A geografia e a realidade escolar contemporacircnea avanccedilos caminhos alternativas Anais do I seminaacuterio nacional curriacuteculo em movimento ndash perspectivas atuais Belo Horizonte 2010 P 1-16 Disponiacutevel em lthttpportalmecgovbrdocmandezembro-2010-pdf7167-3-3-geografia-realidade-escolar-lana-souzafilegt Acesso em 24 de Maio de 2018

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CORREcircA Fabricio O poder da miacutedia sobre as pessoas e sua interferecircncia no mundo do direito Disponiacutevel em lthttpsfabriciocorreajusbrasilcombrartigos121941433o-poder-da-midia-sobre-as-pessoas-e-sua-interferencia-no-mundo-do-direitogt Acesso em 18 de Abril de 2017 LINHARES Thelma Regina Siqueira LITERATURA DE CORDEL uma miacutedia em evoluccedilatildeo Recife 17 de julho de 2005 Disponiacutevel em httpwwwfundajgovbrgeralfolcloreliteratura20cordelpdf Acesso em 30042018 PIMENTA Selma Garrido Formaccedilatildeo de professores identidade e saberes da docecircncia In PIMENTA Selma Garrido (Org) Saberes pedagogicos e atividade docente Satildeo Paulo Cortez Editora 1999 (p15 a 34) Disponiacutevel em lthttpsedisciplinasuspbrpluginfilephp1978920mod_resourcecontent1Texto-20Pimenta-201999-FP-20ID2020e20SDpdfgt Acesso em 24 Maio de 2018 RAMONET Igmacio Propagandas silenciosas massas televisatildeo cinema PetroacutepolesRJ Vozes 2002 SAVIANI D Escola e democracia teorias da educaccedilatildeo curvatura da vara onze teses sobre educaccedilatildeo e poliacutetica 32 ed Satildeo Paulo CortezAutores Associados 1999 SILVA Ellen Fernanda Gomes da SANTOS Suely Emilia de Barros O IMPACTO E A INFLUEcircNCIA DA MIacuteDIA SOBRE A PRODUCcedilAtildeO DA SUBJETIVIDADE Disponiacutevel em httpwwwabrapsoorgbrsiteprincipalimagesAnais_XVE

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NABRAPSO44720o20impacto20e20a20influCAncia20da20mCDdiapdf 2005 Acesso em 24 abr SOUZA Andressa Arauacutejo SANTOS Camila Silva Fotos obtidas na realizaccedilatildeo do projeto de ensino em geografia 2017 (4 fots) color 10x15

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REFLEXAtildeO SOBRE A FORMACcedilAtildeO DE PROFESSORES E O ESTAacuteGIO SUPERVISIONADO

NO ATUAL CONTEXTO DA EDUCACcedilAtildeO BRASILEIRA35

Joyce Kelly de Jesus Santos

Universidade Federal de SergipeCampus Prof Alberto Carvalho Graduanda em Geografia

E-mail kellysts17gmailcom RESUMO

Esse artigo discute a importacircncia do Estaacutegio Supervisionado na formaccedilatildeo do professor de geografia uma vez que eacute nessa disciplina que os graduandos associam teoria e praacutetica no exerciacutecio da docecircncia em sala de aula A reflexatildeo eacute pautada na anaacutelise das experiecircncias vivenciadas e no estudo da educaccedilatildeo brasileira no contexto das reformas neoliberais e seus rebatimentos na formaccedilatildeo docente Palavras-chave Ensino de Geografia Estaacutegio Supervisionado Formaccedilatildeo de professores INTRODUCcedilAtildeO O presente artigo tem como objetivo salientar a importacircncia do Estaacutegio Supervisionado na formaccedilatildeo do professor de geografia e apresentar os resultados deste A anaacutelise do estaacutegio eacute feita considerando a atual situaccedilatildeo da educaccedilatildeo brasileira e do ensino de geografia A disciplina Estaacutegio Supervisionado em Ensino de Geografia I constitui-se como o primeiro estaacutegio do curso de

35 Este texto eacute resultado das experiecircncias vividas na disciplina Estaacutegio Supervisionado em Ensino de Geografia I em 2017

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Geografia do Campus Prof Alberto Carvalho Tem o caraacuteter de observaccedilatildeo e eacute ofertada no quinto periacuteodo do curso sendo de muita relevacircncia para a formaccedilatildeo do futuro profissional docente visto que a experiecircncia proporcionada prepara os licenciandos para os futuros desafios que seratildeo encontrados na sala de aula Aleacutem disso permite uma anaacutelise criacutetica da situaccedilatildeo da escola puacuteblica brasileira Cabe destacar que a disciplina vai aleacutem da observaccedilatildeo uma vez que antes das visitas agrave escola haacute toda uma preparaccedilatildeo satildeo debatidos diversos textos acerca do atual contexto da educaccedilatildeo das reformas educacionais do ensino de geografia da profissatildeo docente anaacutelise do livro didaacutetico e projeto de ensino

Perante o que foi discutido ao longo da disciplina nota-se que analisar a realidade do ensino puacuteblico as reformas educacionais em sua totalidade tecircm muita significacircncia pois isso iraacute definir a postura do futuro professor em sala de aula Desse modo formar profissionais conscientes do conteuacutedo das relaccedilotildees sociais e do espaccedilo como constituinte dessas relaccedilotildees eacute o primeiro passo para a transformaccedilatildeo miacutenima da educaccedilatildeo quebrando o paradigma de reproduccedilatildeo das ideias da classe dominante Aleacutem disso percebeu-se como a geografia como disciplina escolar ainda eacute vista como decorativa e desinteressante pelos alunos da educaccedilatildeo baacutesica Por conseguinte ainda haacute barreiras a serem vencidas nesse campo da ciecircncia geograacutefica visto que ateacute entatildeo restam resquiacutecios do positivismo aleacutem da desvalorizaccedilatildeodesmotivaccedilatildeo do professor natildeo colaborar para essa desmitificaccedilatildeo O texto inicialmente traz uma breve discussatildeo a respeito da importacircncia do estaacutegio supervisionado para a formaccedilatildeo do professor um breve histoacuterico da educaccedilatildeo e da funccedilatildeo da escola Posteriormente eacute feita reflexatildeo sobre a geografia escolar assim como um detalhamento da infraestrutura da escola o contexto que estaacute inserida planejamento e processo avaliativo

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O ESTAacuteGIO SUPERVISIONADO NA FORMACcedilAtildeO DO PROFESSOR DE GEOGRAFIA

O Estaacutegio Supervisionado em Geografia eacute de muita

importacircncia para formaccedilatildeo docente pois faz a mediaccedilatildeo entre a universidade e a escola puacuteblica Eacute nesse momento da graduaccedilatildeo que satildeo colocadas em praacutetica as teorias que satildeo discutidas no ambiente acadecircmico em forma de conhecimento escolar para os alunos da rede puacuteblica Desse modo

[] eacute o momento em que o estudante futuro professor natildeo apenas potildee em praacutetica o que foi discutido nas aulas de formaccedilatildeo de professores mas um momento de aperfeiccediloamento de suas teacutecnicas Deve ter a finalidade de integrar o processo de formaccedilatildeo do aluno de modo que se considere seu campo de atuaccedilatildeo como base de anaacutelise de investigaccedilatildeo e interpretaccedilatildeo criacutetica da realidade escolar (MONTEIRO SILVA 2015 p 20)

Eacute uma forma de apresentar ao licenciando a realidade escolar brasileira aperfeiccediloar conhecimentos aleacutem de fornecer uma aproximaccedilatildeo com seu futuro campo profissional O professor eacute um profissional muito relevante visto que ele eacute formador de opiniatildeo sua atuaccedilatildeo tem um poder emancipador podendo contribuir para a transformaccedilatildeo da sociedade atraveacutes de seus conhecimentos Por seu caraacuteter emancipatoacuterio a formaccedilatildeo desses profissionais eacute prejudicada com o objetivo de formaacute-los sem uma compreensatildeo criacutetica acerca da realidade aleacutem do oficio ser colocado em constante desvalorizaccedilatildeo e precariedade sendo um campo profissional pouco atrativo para quem busca adentrar na universidade

Dentro do pensamento geograacutefico pode-se destacar a existecircncia de duas vertentes uma de caraacuteter mais positivista

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que natildeo se preocupa em fazer uma leitura criacutetica da sociedade e outra de cunho criacutetico com influecircncia do marxismo que trabalha para o desvendamento das contradiccedilotildees nodo espaccedilo Essas concepccedilotildees teoacutericas influenciam a postura que o docente exerceraacute em sala de aula e que traduziraacute sua compreensatildeo e leitura de mundo Consequentemente essa visatildeo de mundo seraacute transmitida para seus alunos Conforme Santos e Silva

O professor de Geografia em seus objetivos deve buscar desenvolver um trabalho com os alunos para dar conta da compreensatildeo da vida social reconhecendo as contradiccedilotildees e conflitos sociais para que estes possam buscar mecanismos para intervenccedilatildeo e transformaccedilatildeo da estrutura social vigente (SANTOS SILVA 2011 p101)

A escola eacute um campo de lutas podendo disseminar ideias dominantes ou antagocircnicas seu papel iraacute mudar durante a histoacuteria sendo vista de modo diferenciado na medida em que a sociedade passa por transformaccedilotildees Segundo Rodrigues e Oliveira

A escola enquanto instituiccedilatildeo social eacute vista a partir de diversas maneiras em diferentes momentos histoacutericos Reflete o projeto de sociedade que se quer produzir e os valores que seratildeo reconhecidos como vaacutelidos socialmente A funccedilatildeo social da escola eacute portanto definida historicamente garantindo a formaccedilatildeo de quadros profissionais e a valorizaccedilatildeo da cultura da sociedade (RODRIGUES OLIVEIRA 2011 p69)

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Segundo Saviani (1986) a escola surge com a propriedade privada e consequentemente com a classe dos proprietaacuterios no modo de produccedilatildeo antigo e no modo de produccedilatildeo feudal Essa classe natildeo trabalhava ociosa ocupava o tempo livre na escola Para o referido autor

Escola em grego significa o lugar do oacutecio O tempo destinado ao oacutecio Aqueles que dispunham de lazer que natildeo precisavam trabalhar para sobreviver tinham que ocupar o tempo livre e esta ocupaccedilatildeo do oacutecio era traduzida pela expressatildeo escola (1986 p 28)

Assim Agrave medida que nesses dois tipos de sociedade antiga ou escravista e medieval ou feudal havia uma diminuta classe de proprietaacuterios e uma grande massa de natildeo proprietaacuterios a escola aparecia como uma modalidade de educaccedilatildeo complementar e secundaacuteria Isto porque a modalidade principal de educaccedilatildeo continuava sendo ainda o trabalho uma vez que a grande massa a maioria natildeo se educava atraveacutes da escola mas atraveacutes da vida ou seja do processo de trabalho (SAVIANI 1986 p 26)

Na Sociedade Moderna haacute necessidade da universalizaccedilatildeo da educaccedilatildeo baacutesica uma vez que a burguesia revolucionou as relaccedilotildees sociais e transferindo o eixo de produccedilatildeo do campo para a cidade exigiu o domiacutenio dos coacutedigos escritos para a vida nessa nova sociedade Dessa forma a escola eacute uma instituiccedilatildeo burguesa que traduz a forma predominante de educaccedilatildeo (SAVIANI 1986)

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Nesse contexto como estamos no modo de produccedilatildeo capitalista a escola de maneira geral iraacute servir aos interesses deste sistema sendo sua principal funccedilatildeo formar trabalhadores para suprir o mercado de trabalho e criar um exeacutercito de matildeo-de-obra reserva Assim

[] a escola contribui para a reproduccedilatildeo do capital habitua os alunos agrave disciplina necessaacuteria ao trabalho na induacutestria moderna a realizar sempre tarefas novas sem discutir para que servem a respeitar a hierarquia moderna e serve como absorvente de parte do exeacutercito reserva segurando contingentes humanos ou jogando-os no mercado de trabalho de acordo com as necessidades do momento (VESENTINI 1989 p 31)

Cabe ressaltar no contexto capitalista que a educaccedilatildeo eacute vista como uma mercadoria ou seja o fracasso da escola puacuteblica eacute necessaacuterio para o sucesso do privado Isso significa que

[] os sistemas educacionais no mundo capitalista contemporacircneo respondem ao modo especifico as necessidades de valorizaccedilatildeo do capital ao mesmo tempo em que se consubstanciam numa demanda popular efetiva de acesso ao saber socialmente produzido (NEVES 1999 p 16)

Segundo Libacircneo (2012) a Conferecircncia Mundial sobre

Educaccedilatildeo para Todos realizada em 1990 em Jomtien Tailacircndia agravou ainda mais o dualismo da escola (escola para ricos X escola para pobres) visto que esta impocircs diretrizes a serem seguidas em paiacuteses subdesenvolvidos A partir daiacute surgiu a escola de acolhimento social apresentando intenccedilotildees humaniacutesticas poreacutem natildeo permitindo a esses alunos uma visatildeo criacutetica da realidade Ademais ocorreu a universalizaccedilatildeo do

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ensino mas natildeo acompanhada da apropriaccedilatildeo do conhecimento Desta maneira as escolas visam apenas resultados quantitativos sempre em busca de bons nuacutemeros isso acaba prejudicando a aprendizagem do aluno

Cabe destacar que na deacutecada de 1980 Dermeval Saviani jaacute discutia que a escola estava perdendo sua principal funccedilatildeo de transmitir conhecimentos sistematizados assumindo assim novas funccedilotildees de caraacuteter social Isto posto

[] certas funccedilotildees claacutessicas da escola que natildeo podem ser perdidas de vista porque do contraacuterio acabamos invertendo o sentido da escola e considerando questotildees secundaacuterias e acidentais como principais passando para o plano secundaacuterio aspectos principais da escola (SAVIANI 1986 p 32)

Diante desse contexto a educaccedilatildeo no Brasil eacute colocada

em plano secundaacuterio seguindo as diretrizes impostas pelo documento da Conferecircncia de Jomtien Isto posto natildeo haacute uma preocupaccedilatildeo no seu melhoramento o que se reflete na infraestrutura das escolas ldquopensar sobre a qualidade de educaccedilatildeo brasileira eacute questionar a proacutepria realidade educacional na sociedade que estaacute em sua essecircnciardquo (MACEDO ANDRADE 2011 p 43)

Dessa forma sem investimentos na educaccedilatildeo esta tende a ficar desqualificada Aleacutem disso na poliacutetica neoliberal os alunos satildeo educados para o individualismo competitividade e mercado de trabalho os tornando cidadatildeos alienados que natildeo lutam por seus direitos Em outras palavras

[] a educaccedilatildeo tornou-se uma peccedila no mecanismo de acumulaccedilatildeo do capital ao estabelecer consensualmente a reproduccedilatildeo do injusto sistema de classes Tornou-se mecanismo de perpetuaccedilatildeo do sistema em

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vez de instrumento da emancipaccedilatildeo do homem (COSTA Jr 2010 p 45)

Diante disso haacute cada vez mais interesse na desvalorizaccedilatildeo do oficio docente pois uma vez que a educaccedilatildeo natildeo tem o poder emancipador ela se torna um instrumento para reproduzir os ideais capitalistas e a sociedade de classes REFLEXAtildeO SOBRE O ENSINO DE GEOGRAFIA NA EDUCACcedilAtildeO BAacuteSICA

A geografia escolar tinha como objetivo formar a

identidade nacionalista sendo os principais conteuacutedos abordados a descriccedilatildeo dos territoacuterios e paisagens Possuiacutea influecircncia positivista e dava prioridade a memorizaccedilatildeo de nomes de lugares se tornava pouco atrativa para os alunos pois estes natildeo viam a utilidade daqueles conteuacutedos trabalhados em sala de aula na sua realidade (SANTOS SOUSA SANTOS 2018)

Em meados do seacuteculo XX a ciecircncia geografia passou por uma crise teoacuterico-metodoloacutegica que mudou sua forma de enxergar o mundo Isso se deu pois as bases da geografia tradicional natildeo davam conta de compreender a realidade visto que poacutes Segunda Guerra Mundial com o novo desenvolvimento do capitalismo a realidade se tornara mais complexa Diante disso essa renovaccedilatildeo tambeacutem chegou agrave geografia escolar O caraacuteter de descriccedilatildeomemorizaccedilatildeo de lugares vai mudando aos poucos poreacutem ainda natildeo foi superado visto que haacute professores que ainda utilizam metodologias tradicionais em sala de aula

Na turma do 8ordm ano observou-se que o professor tenta trabalhar com uma aula mais interativa mas ainda predomina a exposiccedilatildeo do conteuacutedo de maneira sistemaacutetica Isso se daacute por

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vaacuterios fatores dentre eles a falta de tempo de planejamento do professor devido agrave carga horaacuteria de trabalho elevada

Em entrevista os discentes declararam que gostam da geografia e do professor em razatildeo dos bons resultados nas avaliccedilotildees que eles possuem

Diante de um conjunto de fatores dentre quais pode-se destacar a desmotivaccedilatildeo dos alunos a carga horaacuteria de trabalho excessiva do professor falta de infraestrutura e problemas sociais o processo de aprendizagem eacute prejudicado levando o discente a natildeo querer ir agrave escola e se dedicar as disciplinas dentre elas a geografia dificultando o trabalho do professor Dentro desse contexto

[] A geografia que se ensina e se aprende natildeo os motiva mais e seguramente estaacute muito longe das suas necessidades A geografia foi perdendo aquilo que de especial ela sempre teve- discutir a realidade presente dos povos particularmente no que se refere a seu contexto social (OLIVEIRA 1989 p 138)

Descontruir esse estereoacutetipo eacute um desafio a ser vencido em sala de aula pelo o professor Este deve adotar novas metodologias e buscar aproximar os conteuacutedos da realidade do aluno levando-o a querer aprender cada vez mais CONSIDERACcedilOtildeES SOBRE O COLEacuteGIO ESTADUAL DR AUGUSTO CEacuteSAR LEITE O Coleacutegio Estadual Dr Augusto Ceacutesar Leite estaacute localizado na cidade de ItabaianaSergipe no Bairro Porto que hoje estaacute valorizado devido a instituiccedilotildees puacuteblicas de assistecircncia baacutesica como a Delegacia Regional e a Secretaria de Sauacutede que foram instaladas nele Aleacutem disso a proximidade com a Universidade Federal de Sergipe faz com que esses

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alunos desde cedo tenham contato com a instituiccedilatildeo de Ensino Superior A infraestrutura do coleacutegio eacute precaacuteria sua aacuterea eacute ampla mas estaacute deteriorada Iniciou-se uma reforma poreacutem estaacute inacabada o que implica na desmotivaccedilatildeo dos educandos uma vez que a escola jaacute eacute um local pouco atrativo quando natildeo conta com uma boa infraestrutura agrava ainda mais a situaccedilatildeo (ver figura 1 e 2) Figura 1 Coleacutegio Estadual Dr Augusto Ceacutesar Leite

Fonte Arquivo particular Autor Elenilson Santos do Nascimento 2017

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Figura 2 Sala de aula do Coleacutegio Estadual Dr Augusto Ceacutesar Leite

Fonte Arquivo particular Autor Elenilson Santos do Nascimento 2017

Os alunos que frequentam esse coleacutegio em parte moram perto da escola ou seja bairros perifeacutericos pobres da cidade de Itabaiana Esse eacute o principal motivo para estudarem nessa escola Outros residem na zona rural do municiacutepio Muitos desses discentes estatildeo sujeitos agrave violecircncia e ao mundo das drogas alguns jaacute trabalham e grande parte eacute repetente Haacute um transporte puacuteblico escolar mas na eacutepoca que foi realizada a observaccedilatildeo do estaacutegio os motoristas estavam em greve o que levou muitos discentes natildeo irem agrave escola devido a esse problema

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Aleacutem de fornecer a garantia de ensino a escola puacuteblica deve oferecer outras assistecircncias como a merenda escolar Este eacute o segundo programa que mais recebe verba do Governo Federal poreacutem nem sempre chega a escola com qualidade Ao questionar os discentes sobre esse aspecto eles relataram que eacute regular mas natildeo haacute muita variedade A etapa de planejamento eacute de suma importacircncia no processo ensinoaprendizagem Para que ocorra um bom desenvolvimento das aulas eacute fundamental que suceda um planejamento pois natildeo havendo este o professor estar suscetiacutevel a improvisaccedilatildeo Cabe destacar que o plano de aula eacute apenas uma orientaccedilatildeo a ser seguida e deve estar sujeito a alteraccedilotildees de acordo com a necessidade da classe Enfim

[] a construccedilatildeo do planejamento eacute uma etapa que merece atenccedilatildeo e seriedade para que os fracassos e os improvisos prejudiciais sejam evitados Por outro lado no ato de planejar deve haver flexibilidade jaacute que o trabalho docente insere-se em diferentes contextos que estatildeo sempre em constante transformaccedilatildeo Eacute interessante que os planos estejam relacionados com o seu meio escolar e com a realidade dos alunos (SILVA LIMA 2011 p 32-33)

No coleacutegio referido segundo o professor haacute o planejamento anual que eacute feito com todos os docentes Aleacutem disso a escolha do livro didaacutetico eacute feita coletivamente proporcionando uma satisfaccedilatildeo pois o profissional trabalharaacute com o material escolhido por todos Cabe destacar que o professor de geografia regente da turma do 8deg ano possui uma boa formaccedilatildeo que inclui licenciatura em geografia especializaccedilatildeo em geologia e mestrado em Arqueologia O processo avaliativo realizado pelo o professor consiste em quatro provas durante o ano letivo atividades de

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pesquisa a respeito de alguns temas e apresentaccedilotildees orais A participaccedilatildeo dos alunos em projetos realizados na escola tambeacutem faz parte do processo CONCLUSOtildeES O estaacutegio traz inuacutemeros benefiacutecios para a formaccedilatildeo do futuro profissional docente pois eacute a hora de colocar em praacutetica toda a sua carga teoacuterica adquirida dentro da universidade A experiecircncia vivida foi uacutenica em vista disso permitiu um primeiro contato com o ambiente escolar aleacutem de ver mais de perto a realidade dos alunos e o dia a dia do oficio do professor Os graduandos devem sair da universidade com uma visatildeo criacutetica em relaccedilatildeo a educaccedilatildeo Como haacute toda uma discussatildeo sobre esse assunto ao longo da disciplina esta mostra sua relevacircncia dado que possibilita reconhecer como a educaccedilatildeo eacute um campo de lutas de interesses

Em suma diante de toda essa precariedade eacute notoacuterio que o fracasso do ensino puacuteblico eacute planejado pois soacute assim seraacute possiacutevel o sucesso do privado A cada dia ocorre o agravamento do dualismo na educaccedilatildeo sendo uma para os pobres e outra para os ricos As poliacuteticas neoliberais impostas sobretudo pelo Banco Mundial tecircm um papel fundamental uma vez que satildeo elas que direcionam o ensino puacuteblico e com isso sempre iraacute favorecer o ensino privado ajudando a manter a sociedade desigual de classes A educaccedilatildeo eacute a possibilitadora de mudanccedila social poreacutem ela eacute sempre sucateada visto que as propostas de reforma para esse campo satildeo sempre de caraacuteter paliativo ou seja natildeo altera a raiz do problema como comenta Meacuteszaacuteros (2006) eacute necessaacuterio romper com a loacutegica do capital para que haja uma mudanccedila significativa na educaccedilatildeo e consequentemente na sociedade

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REFEREcircNCIAS ANDRADE V C MACEDO MC O papel do professor e a importacircncia da ciecircncia geograacutefica nos curriacuteculos escolares In SANTOS Ana Rocha dos (org) Sobre o pensar e fazer docente na sala de aula de Geografia Satildeo Cristoacutevatildeo Editora UFS 2011 v 1 p41-52 COSTAS JR W R (2010) Poliacutetica Educacional no contexto do Neoliberalismo Revista da Faculdade de Educaccedilatildeo 13(8) 31-49 LIBAcircNEO Joseacute C O dualismo perverso da escola puacuteblica brasileira escola do conhecimento para os ricos escola do acolhimento social para os pobres Educaccedilatildeo e Pesquisa Satildeo Paulo v 38 n 1 mar 2012 MEacuteSZAROS Istvaacuten A educaccedilatildeo para aleacutem do capital Satildeo Paulo Boi Tempo Editorial 2006 MONTEIRO Jeacutessica de Sousa SILVA Diego Pereira da A influecircncia da estrutura escolar no processo ensino-aprendizagem uma anaacutelise baseada nas experiecircncias do estaacutegio supervisionado em geografia Geografia Ensino amp Pesquisa v 19 n3 setdez 2015 MORAES Antocircnio Carlos R Geografia pequena histoacuteria criacutetica 3 ed Satildeo Paulo Hucitec 1984 NEVES L M W Educaccedilatildeo e poliacutetica no Brasil de hoje 2 ed Satildeo Paulo Cortez 1999 (Questotildees de nossa eacutepoca 36) OLIVEIRA Ariovaldo Umbelino de Educaccedilatildeo e ensino de geografia na realidade brasileira In OLIVEIRA Ariovaldo

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Umbelino de (org) Para onde vai o ensino de geografia Satildeo Paulo Contexto 1989 (Repensando o ensino) v 1 p 135-144 RODRIGUES J O OLIVEIRA M F R A geografia e a literatura para a compreensatildeo da totalidade In SANTOS Ana Rocha dos (org) Sobre o pensar e fazer docente na sala de aula de Geografia Satildeo CristoacutevatildeoSE Editora UFS 2011 v 1 p 23-42 SANTOS A M SILVA L A Dimensotildees Do Projeto Poliacutetico Pedagoacutegico E A Geografia NaDa Escola Estadual Vicente Machado Menezes In SANTOS Ana Rocha dos (Org) Sobre o pensar e fazer docente na sala de aula de Geografia Satildeo CristoacutevatildeoSE Editora UFS 2011 v 1 p 81-102 SANTOS J K J SOUSA T S SANTOS Ana Rocha Oficinas Pedagoacutegicas do Pibid no ensino de Geografia transformando realidade em conhecimento Trilhas da formaccedilatildeo docente v 1 p 57-62 2018 SAVIANI Dermeval A pedagogia histoacuterico-criacutetica e a educaccedilatildeo escolar In BERNARDO M V C et al (orgs) Pensando a educaccedilatildeo Satildeo Paulo Ed Unesp 1989 v 1 23-33 SILVA D P O LIMA J P O Papel do Professor de Geografia na Educaccedilatildeo Baacutesica O ensino como caminho que emancipa In SANTOS Ana Rocha dos (org) Sobre o pensar e fazer docente na sala de aula de Geografia Satildeo CristoacutevatildeoSE Editora UFS 2011 v 1 p 23-42

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VESENTINI Joseacute William Geografia Criacutetica e Ensino In OLIVEIRA Ariovaldo Umbelino de (org) Para onde vai o ensino de geografia Satildeo Paulo Contexto 1989 (Repensando o ensino) v 1 p 30-38

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O TEATRO DE FANTOCHES RECURSO DIDAacuteTICO-PEDAGOacuteGICO NO ENSINO NAS SEacuteRIES INICIAIS36

Jeacutessica Elis Silva Eleodoro37

UNIT (Graduada em Licenciatura Plena em Pedagogia) E-mail jessicaeleodorohotmailcom

Edeacutesio Alves de Jesus38

PPGEOUFS (Graduado e Mestre em Geografia) E-mailedesio0467yahoocombr

RESUMO

O presente trabalho versa sobre o uso do teatro de fantoche nas seacuteries iniciais do Ensino Fundamental desenvolvido na Escola Rural Povoado Mangabeira localizada no Povoado Mangabeira no municiacutepio de Itabaiana no estado de Sergipe durante o ano letivo de 2017 O trabalho estaacute fundamentado em revisotildees bibliograacuteficas de autores geograacuteficos pedagoacutegicos e aacutereas afins trazendo agrave tona a necessidade de buscar novos instrumentos paradidaacuteticos que melhorem o niacutevel de proficiecircncia em leitura oralidade e escrita visto que promova mudanccedilas no comportamento dos alunos no processo de ensino aprendizagem Portanto o uso do teatro de fantoche incrementado de forma recreativa e criativa contribui na melhoria das habilidades e no cognitivo elevando o niacutevel de alfabetizaccedilatildeo e letramento dos discentes

36

Trabalho realizado na Escola Rural Povoado Mangabeira no

municiacutepio de Itabaiana (SE) 37

Professora da Rede Estadual de Ensino do Estado de Sergipe 38

Secretaacuterio da Escola Rural Povoado Mangabeira no municiacutepio de

Itabaiana (SE)

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PALAVRAS-CHAVE Teatro de Fantoche Educaccedilatildeo Geografia INTRODUCcedilAtildeO

O presente trabalho eacute resultado das accedilotildees desenvolvidas na Escola Rural Povoado Mangabeira no municiacutepio de Itabaiana no estado de Sergipe no ano letivo de 2017 o que proporciona melhorar o niacutevel de proficiecircncia em leitura oralidade e escrita dos alunos entre o cotidiano e sua realidade

Diante do exposto trouxemos a questatildeo o uso de fantoches como ferramenta indispensaacutevel no processo de ensino aprendizagem para o clico do 1ordm ao 3ordm ano do ensino fundamental o que promove no acircmbito da escola do campo o despertar para a leitura como forma de ampliar o conhecimento no processo de letramento e alfabetizaccedilatildeo

Para Fonseca (2013) o processo de leitura retrata o sentimento de liberdade de escolhas o que pressupotildee o uso da teoria e a praacutetica do luacutedico no processo de ensino aprendizagem infantil visto que ldquo[] a histoacuteria da leitura tem sido um dos mais instigantes objetos de estudo das uacuteltimas deacutecadas por dar voz a personagens ateacute entatildeo silenciadas nas anaacutelises que focavam o texto e natildeo os usos e interpretaccedilotildees dos textosrdquo (FONSECA 2013 p 92)

Para tanto o uso de fantoche propicia aos alunos o despertar do haacutebito da leitura e a possibilidade de aprender novos conceitos e valores usufruindo de sua proacutepria imaginaccedilatildeo por meio de narraccedilatildeo de histoacuterias Para Silva (2011) ldquoO contar histoacuterias pode ser um trabalho permeado pela imaginaccedilatildeo e fantasia que estimula os sujeitos a interagirem e criarem relaccedilotildees afetivas com a histoacuteria levando-os a imaginarem-se no lugar do personagemrdquo (p 69)

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Neste sentido a participaccedilatildeo do aluno no processo de construccedilatildeo da histoacuteria evidencia o prazer atrativo no processo de aprendizagem ligando dessa forma agraves relaccedilotildees cognitivas de sua realidade escolar Para tanto a utilizaccedilatildeo de meacutetodos paradidaacuteticos no caso do uso de fantoche em sala de aula possibilita e instiga a curiosidade dos alunos A EXPERIEcircNCIA DO USO DE FANTOCHES NO ENSINO DE GEOGRAFIA NAS SEacuteRIES INICIAIS NA ESCOLA RURAL POVOADO MANGABEIRA O objetivo central deste trabalho eacute apresentar o uso da teacutecnica do teatro de fantoches no acircmbito escolar voltada para o desenvolvimento da oralidade da leitura escrita e na melhoria psicomotora dos alunos atraveacutes de construccedilatildeo de oficinas Para tanto eacute de extrema relevacircncia conhecer o ambiente escolar nos seus diversos espaccedilos de produccedilatildeo do saber

Desse modo a escola eacute loco do desenvolvimento da aprendizagem e do aperfeiccediloamento das praacuteticas pedagoacutegicas mais ainda local de resgaste da formaccedilatildeo das competecircncias e habilidades capaz de mudanccedilas no ensino de Geografia nas seacuteries iniciais

Para alcanccedilar o objetivo geral deste trabalho foram traccedilados alguns objetivos especiacuteficos a citar Compreender como o teatro de fantoches pode favorecer ao desenvolvimento da praacutetica docente despertar o prazer da leitura pelos alunos possibilitar a melhoria da oralidade escrita e o uso das vaacuterias formas de linguagens pedagoacutegicas otimizando o alargar de horizontes pessoais e culturais dos alunos de forma luacutedica METODOLOGIA

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A animaccedilatildeo teatral com uso de fantoche tem sido aperfeiccediloada pelos distintos cantos do mundo e na Geografia estaacute vinculada agrave vontade dos professores de construir no ambiente da sala de aula praacuteticas pedagoacutegicas que se referem aos sujeitos atraveacutes das relaccedilotildees dentro e fora da escola

Nesta perspectiva a metodologia aplicada na elaboraccedilatildeo deste trabalho pautou-se em buscar fontes basilares em autores que compreendem o uso de teatro de fantoches como ferramenta no ensino aprendizagem aleacutem de conceitos que englobam o espaccedilo rural brasileiro tais como comunidade campesinato produccedilatildeo agraacuteria espaccedilo geograacutefico orientaccedilatildeo espacial e das questotildees ambientais (SILVA 2011)39

Destarte autores como Silva (2011) Reis et al (2014) e Lemes (2009) discutem nos seus trabalhos o uso de teatro de fantoches como meacutetodo de ensino pois apresenta diversos benefiacutecios para a aprendizagem cognitiva do aluno e que tambeacutem contribui na construccedilatildeo de um imaginaacuterio em que os alunos satildeo estimulados entre outras habilidades agrave inclusatildeo social

Nesta perspectiva conhecer alguns autores profissionais que se abastecem das teacutecnicas do uso de fantoches eacute de suma importacircncia pois o domiacutenio de teorias daacute relevacircncia aos fundamentos do tema proposto tanto na elaboraccedilatildeo de projetos pedagoacutegicos quanto na praacutetica docente mais ainda na relaccedilatildeo ensino aprendizagem

Para tanto a formaccedilatildeo do professor neste caso do professor polivalente requer um leque de atribuiccedilotildees atraveacutes da teoria e da praacutetica em que o licenciado vai perceber como se constroem as relaccedilotildees no espaccedilo escolar Desse modo o uso de ferramentas distintas deve estar atrelado agrave teoria e agrave praacutetica

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Os conteuacutedos foram abordados nas leituras realizadas pelos alunos e

nas apresentaccedilotildees do teatro natildeo sendo discutido no percurso deste

trabalho

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sendo instacircncias articuladoras no processo de alfabetizaccedilatildeo e letramento dos alunos com fins pedagoacutegicos

Saiki e Godoi (2010) afirmam que ocorre uma articulaccedilatildeo praacutetica e teoria e vice-versa sendo na escola o local onde protagoniza a realizaccedilatildeo das concepccedilotildees e das praacuteticas educacionais Para tanto a escola necessita de uma organizaccedilatildeo pedagoacutegica com base na proposta do Projeto Poliacutetico Pedagoacutegico calcado com ecircnfase nas caracteriacutesticas dos alunos assistidos

Dessa forma a utilizaccedilatildeo de diferentes linguagens e praacuteticas na escola configura para o aluno um mecanismo de absorccedilatildeo de conhecimento por meio de diversos recursos metodoloacutegicos o que proporciona aos alunos do ensino fundamental seacuteries iniciais a produccedilatildeo da teacutecnica teatral com uso de bonecos de fantoches

Neste aspecto o processo de alfabetizaccedilatildeo no acircmbito geograacutefico contempla a praacutetica dos distintos saberes em que propicia a inclusatildeo destes sujeitos na vida social atraveacutes dos recursos didaacuteticos de faacutecil acesso sendo que a compreensatildeo e a construccedilatildeo de uma anaacutelise criacutetica perpasse sua realidade mas que deve ser referenciado no PPP da escola

A disciplina Geografia proporcionaraacute ao aluno a compreensatildeo do espaccedilo geograacutefico econocircmico cultural fiacutesico e poliacutetico no qual estaacute inserido Assim teraacute a finalidade de estimular a capacidade de desenvolver raciociacutenios espaciais atraveacutes dos conceitos que vatildeo auxiliar o aluno a conhecer e interpretar a realidade do mundo atual compreendendo desde a escala local ao global (PPP 2017 p 22)

Destarte o uso de fantoches contribui para que o professor apresente o exerciacutecio das transformaccedilotildees que ocorrem nas relaccedilotildees soacutecio educacional e econocircmica do Brasil

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natildeo limitando apenas o conhecimento dos livros didaacuteticos e da memorizaccedilatildeo dos espaccedilos como diz Oliveira (1994) especulando falsas questotildees diante da geografia

Assim indagamos numa leitura geograacutefica o quanto eacute importante interpretarcompreender as formulaccedilotildees que levaram o professor a introduzir no plano de accedilatildeo da escola o contexto social das famiacutelias que trabalham na terra sobre uma produccedilatildeo agraacuteria e do trabalho natildeo agriacutecola

O uso do teatro de fantoches a partir de uma leitura geograacutefica proporcionaraacute aos alunos habilidades e compreensatildeo da sua realidade aleacutem de absorver a importacircncia das atividades agriacutecolas para o desenvolvimento econocircmico da comunidade Desde entatildeo o reconhecimento fundante desta teacutecnica engaja as metas e os objetivos a serem articulados entre professores e discentes sendo relevante a escola e a comunidade uma proposta de caraacuteter educativo promissora a desvendar e salientar importantes transformaccedilotildees para a sociedade

Em siacutentese a experiecircncia do uso do teatro de fantoches visa melhorar a qualidade de ensino dos educandos da Escola Rural Povoado Mangabeira em comunhatildeo ao Projeto Poliacutetico Pedagoacutegico cujo desenvolvimento se atrela de forma flexiacutevel mas coerente ao planejamento pedagoacutegico elaborado no iniacutecio do ano letivo de 2017 que esteve alinhado ao Plano de Accedilatildeo Aleacutem desses instrumentos basilares haacute a relevacircncia do acompanhamento pedagoacutegico pela Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo do Estado de Sergipe (SEED) que passou a contemplar o Projeto Profuturo - Aula Digital da Fundaccedilatildeo Telefocircnica-Vivo40

40

ldquoNo Brasil o projeto deu seu primeiro passo em 2017 na cidade de

Manaus em parceria com a Secretaria Municipal de Educaccedilatildeo ndash e

tambeacutem em 30 cidades do Estado de Sergipe com a colaboraccedilatildeo das

Secretarias de Educaccedilatildeo do Estado e dos Municiacutepios beneficiando mais

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No primeiro momento o desenvolvimento das atividades deu-se com quatorzes alunos do 3ordm ano do ensino fundamental da Escola Rural Povoado Mangabeira localizada na comunidade rural do Povoado Mangabeira no municiacutepio de Itabaiana agreste central sergipano com acompanhamento de um professor orientador da disciplina Polivalente e o coordenador pedagoacutegico de forma metodoloacutegica que abordasse o cotidiano dos discentes com leituras e conceitos geograacuteficos

Em seguida foi feito o roteiro e planejamento das atividades a serem realizados entre os meses de junho a novembro de 2017 definindo as etapas da construccedilatildeo das oficinas e do cenaacuterio satisfatoacuterio a apreensatildeo dos alunos conforme fotos a seguir Foto 01 Cenaacuterio de fantoches

de 1400 educadores e 48500 estudantes brasileirosrdquo Disponiacutevel em

lthttpfundacaotelefonicaorgbrprojetosprofuturo-aula-digitalgt

Acesso em 01 mai 2018

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Fonte JESUS E A (2018)

O cenaacuterio partiu da necessidade de contemplaccedilatildeo dos personagens e das histoacuterias sendo uma proposta agrave compreensatildeo de conceitos geograacuteficos para as seacuteries iniciais neste caso do 3ordm ano do Ensino Fundamental como forma de aproximar com a realidade da comunidade local

Para tanto a construccedilatildeo do cenaacuterio deu-se com aproveitamento de materiais reciclaacuteveis como papel e papelatildeo cabo de vassouras em madeira recorte de tecido que serviu para cortina isopor para evitar umidade na base do cenaacuterio emborrachados de cores variadas a fim de criar um espaccedilo atrativo o que contribui na criatividade dos personagens Aleacutem desses materiais foi utilizada cacircmera fotograacutefica digital computador com softwares (Windows) para auxiliar nos efeitos de som no ato das apresentaccedilotildees

No terceiro momento foram realizadas vaacuterias oficinas na confecccedilatildeo dos bonecos de fantoche conforme foto a seguir criando assim um protoacutetipo com caracteres distintos a fim de que os alunos sentissem parte dos personagens expressando-o a sua identidade

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Foto 02 Materiais usados na construccedilatildeo dos fantoches

Fonte JESUS E A (2018)

A proposta inicial foi estimular os alunos das seacuteries

iniciais do ensino fundamental a produzirem o roteiro cenaacuterio

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e a caracterizaccedilatildeo dos personagens de forma ilustrativa para que tivessem autonomia na confecccedilatildeo dos bonecos

Em outros momentos Lemes (2009) relata que o professor eacute o incentivador da crianccedila a diferenciar texturas formas cores ainda mais estimula o aluno a construir noccedilotildees de tamanhos distacircncia localizaccedilatildeo e lateralidade sendo essencial seguir um roteiro baacutesico No quarto momento da culminacircncia os alunos a partir das leituras e dos conteuacutedos transmitiram por meio da oralidade as histoacuterias contadas vencendo a timidez e a ansiedade

A apropriaccedilatildeo dos conteuacutedos e das histoacuterias contadas pelos alunos ao longo da construccedilatildeo do teatro de fantoches contribui de forma pedagoacutegica para os discentes desenvolverem paracircmetros de aprendizagem e do conhecimento Mas eacute notoacuterio que neste momento ainda eacute forte a influecircncia do professor na alfabetizaccedilatildeo e letramento tornando-os sujeito ponderaacutevel de conhecimento capaz de interpretar a realidade

Diante disto o papel do educador principalmente do pedagogo tem relevacircncia ao conteuacutedo de Geografia sendo fundamental para desconstruir algumas das pujanccedilas usadas e usufruiacutedas pela classe elitista brasileira refletindo na construccedilatildeo de um cidadatildeo criacutetico de sua realidade

Ao aprofundar-se nas leituras dos paracircmetros da educaccedilatildeo brasileira Anselmo (2002) contempla que a poliacutetica educacional do paiacutes ao longo da histoacuteria sempre foi comandada pela elite e cujas classes subalternas teriam de ficar subordinadas as ideologias elitistas em que a educaccedilatildeo tomaria novo direcionamento e orientaccedilatildeo com intuito de criar manobras agrave populaccedilatildeo natildeo para as transformaccedilotildees sociais e econocircmica gerais

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

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A praacutetica pedagoacutegica por meio do uso do teatro com fantoches tornou-se necessaacuteria pois possibilita a compreensatildeo das temaacuteticas e dos conteuacutedos trabalhados pelos docentes no processo ensino aprendizagem Assim as apresentaccedilotildees artiacutesticas satildeo motivadoras decisiva na aprendizagem e tambeacutem na alfabetizaccedilatildeo e letramento dos alunos

Para tanto trabalhar o uso do teatro com fantoches no contexto escolar tornou-se ferramenta de suma importacircncia uma vez que a experiecircncia com os alunos em retratar a sua realidade como um todo faz com que os alunos se sintam estimulados a aprender os conceitos baacutesicos da Geografia

Contar histoacuterias nas seacuteries iniciais constitui-se uma praacutetica relevante no contexto da sala de aula principalmente para os alunos da escola do campo momento pelo qual a crianccedila pode aprender a lecirc de forma prazerosa e dramaacutetica a partir do uso de bonecos construindo um sentimento de forma coletiva Por fim podemos destacar que a encenaccedilatildeo de um teatro de fantoches faz com que os alunos interajam as distintas formas de comunicaccedilotildees e de linguagens de forma luacutedica REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS ANSELMO R C M S A formaccedilatildeo do professor de geografia e o contexto da formaccedilatildeo nacional brasileira In PONTUSCHKA N N OLIVEIRA A U (Orgs) Geografia em perspectiva Satildeo Paulo Contexto 2002 p 347-353 FONSECA Andreacute Dioney A instigante e complexa histoacuteria da leitura apontamentos teoacutericos e metodoloacutegicos In Revista Espaccedilo Acadecircmico n 144 maio de 2013 mensal ano XIII ISSN 1519 - 6186 Disponiacutevel em lthttpwwwperiodicosuembrojsindexphpEspacoAcade

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micoarticleviewFile1996611106gt Acesso em 10 mar 2018 LEMES Nathaacutelia Oliveira O teatro de fantoches na educaccedilatildeo infantil 2009 45f Trabalho de conclusatildeo de curso Curso em Pedagogia Universidade Estadual de Goiaacutes 2009 Disponiacutevel em lthttpwww2unucsehuegbrbibliotecaunucsehacervomonografiasgraduacaopedagogiaanoano_2009tccped_teatrode_fantoches_lemes_2009pdfgt Acesso em 12 abr 2018 OLIVEIRA Ariovaldo Umbelino de Ensino de geografia horizontes no final do seacuteculo In Boletim Paulista de Geografia - BPG n72 1994 Disponiacutevel em lthttpwwwagborgbrpublicacoesindexphpboletim-paulistaissueview74gt Acesso em 15 jan 2018 Projeto Poliacutetico Pedagoacutegico da Escola Rural Povoado Mangabeira 2017 Aprovado pelo Conselho Estadual de Educaccedilatildeo ndash CEE sob parecer nordm 42517CEE em 06092017 REIS Anna Ceciacutelia de Alencar SILVA Tatiana Pereira da PIASSI Luiacutez Paulo de Carvalho O teatro de fantoches nas seacuteries iniciais observaccedilatildeo dos educandos com base no curso de formaccedilatildeo continuada de professores 2014 Disponiacutevel em lthttpsuspdigitaluspbrsiicuspcdOnlineTrabalhoVisualizarResumonumeroInscricaoTrabalho=4142ampnumeroEdicao=22gt Acesso em 15 de abr 2018 SAIKI Kim GODOI Francisco Bueno A praacutetica de ensino e o estaacutegio supervisionado In YASUKO E P PASSINI R MALYSZ S T (Orgs) Praacutetica de ensino de geografia e

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estaacutegio supervisionado 2 ed Satildeo Paulo Contexto 2010 p 27 a 31 SILVA Karen Roberta Soares da Geografar alfabetizar com fantoches eacute soacute comeccedilar FANTOCHES 2011 113f Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Geografia) Curso de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Geografia Faculdade de Geografia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul 2011

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PROJETO DE PESQUISA NA FORMACcedilAtildeO DO PROFESSOR PESQUISADOR RELATO DE

EXPERIEcircNCIA

Franciely Santos Cunha Universidade Federal de Sergipe Graduanda em Geografia

E-mail francielyufshotmailcom

RESUMO

O presente artigo trata-se de um relato de experiecircncia a respeito da elaboraccedilatildeo de projeto de pesquisa Uma atividade acadecircmica foi proposta na disciplina Iniciaccedilatildeo agrave Pesquisa Geograacutefica do curso de licenciatura em Geografia O objetivo geral da disciplina consistiu em analisar o fazer ciecircncia geograacutefica e seus rebatimentos sociais e dentre as muacuteltiplas atividades realizadas na disciplina destaca-se a importacircncia em aprender a elaborar projetos de pesquisa de acordo com as normas acadecircmicas O projeto foi acompanhado pela professora da disciplina desde a escolha do tema os tipos de pesquisa o levantamento bibliograacutefico ateacute as discussotildees sobre orientaccedilatildeo de meacutetodo Toda pesquisa necessita de planejamento este eacute efetivado a partir da elaboraccedilatildeo do projeto de pesquisa Eacute esse projeto que nortearaacute as accedilotildees a serem desenvolvidas ao longo da pesquisa Nesse processo de aprendizagem cada discente escolheu um tema de relevacircncia social O tema escolhido por mim e que seraacute relatado neste artigo consiste na elaboraccedilatildeo de um projeto para analisar a problemaacutetica poluiccedilatildeo das aacuteguas do Accedilude da Marcela em ItabaianaSE numa perspectiva histoacuterico-espacial destacando sua importacircncia utilizaccedilatildeo e finalidade ao longo de deacutecadas PALAVRAS-CHAVE Projeto de Pesquisa Poluiccedilatildeo das aacuteguas Accedilude da Marcela

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INTRODUCcedilAtildeO A pesquisa eacute uma ferramenta essencial no processo de

ensino-aprendizagem Ela permite que os sujeitos histoacutericos despertem para um conhecimento permeado de sabedoria curiosidade criatividade e sensibilidade social Felizmente o processo de ensino-aprendizagem no niacutevel superior encontra-se interligado diretamente com a pesquisa Esta se torna vital pois atraveacutes da busca e verificaccedilatildeo por respostas ao problema proposto o profissional em formaccedilatildeo produz um pensamento criacutetico consequentemente auxiliando a sociedade a combater seus desafios diaacuterios

Ainda natildeo existe um consenso a respeito do conceito sobre pesquisa Satildeo inuacutemeras as definiccedilotildees encontradas para esse termo Gil (2008 p 17) aponta que ldquoPode-se definir pesquisa como o procedimento racional e sistemaacutetico que tem como objetivo proporcionar respostas aos problemas que satildeo propostosrdquo

Se o conceito natildeo consensual a accedilatildeo de pesquisar tambeacutem natildeo eacute tarefa faacutecil escolher o que se pretende investigar e realizar a pesquisa demanda dedicaccedilatildeo paciecircncia e muito esforccedilo do pesquisador Para Marconi e Lakatos (1999) pesquisar carece de planejamento da construccedilatildeo de um esquema Em outras palavras da elaboraccedilatildeo de um projeto que auxilie ao pesquisador uma abordagem objetiva e uma ordem loacutegica na investigaccedilatildeo ao problema proposto Nesse sentido Gil (2008 p 19) tambeacutem afirma

O planejamento da pesquisa concretiza-se mediante a elaboraccedilatildeo de um projeto que eacute o documento explicitador das accedilotildees a serem desenvolvidas ao longo do processo de pesquisa O projeto deve portanto especificar os objetivos da pesquisa apresentar a justificativa de sua realizaccedilatildeo definir a

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modalidade de pesquisa e determinar os procedimentos de coleta e anaacutelise de dados Deve ainda esclarecer acerca do cronograma a ser seguido no desenvolvimento da pesquisa e proporcionar a indicaccedilatildeo dos recursos humanos financeiros e materiais necessaacuterios para assegurar o ecircxito da pesquisa

Natildeo existe lsquoreceitarsquo para elaborar um projeto de

pesquisa mas existem normas estabelecidas para buscar uma certa padronizaccedilatildeo na distribuiccedilatildeo das partes de um projeto (ABNT ndash NBR 152872011) Mas quanto ao conteuacutedo dependeraacute do tipo de problema a ser pesquisado e do proacuteprio pesquisador Diante disso o objetivo desse artigo eacute relatar a experiecircncia na elaboraccedilatildeo de um projeto de pesquisa como atividade acadecircmica na graduaccedilatildeo de Licenciatura em Geografia e sua relevacircncia no processo de ensino-aprendizagem

A elaboraccedilatildeo de um projeto de pesquisa foi proposta na disciplina Iniciaccedilatildeo agrave Pesquisa Geograacutefica no curso de Licenciatura em Geografia Cada aluno ficou responsaacutevel pela formulaccedilatildeo de um problema a ser projetado para pesquisa O relato de experiecircncia inicia a partir do tema escolhido que consistiu na elaboraccedilatildeo de um projeto que propotildee analisar a problemaacutetica da poluiccedilatildeo das aacuteguas do Accedilude da Marcela em ItabaianaSE numa perspectiva histoacuterico-espacial destacando sua importacircncia utilizaccedilatildeo e finalidade ao longo de deacutecadas DESENVOLVIMENTO

Toda ciecircncia eacute capaz de compreender e transformar a realidade Neste sentido considera-se a pesquisa um instrumento fundamental de intervenccedilatildeo da realidade capaz de modificar o espaccedilo e a sociedade Natildeo existe receita para elaborar um projeto de pesquisa dependeraacute do tipo de

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pesquisa e do pesquisador Aqui seratildeo destacadas as fases da construccedilatildeo do projeto de pesquisa jaacute mencionado

Inicialmente foi escolhido o tema de investigaccedilatildeo neste caso a poluiccedilatildeo das aacuteguas Escolher um tema significa estabelecer o assunto que se pretende estudar e pesquisar De acordo com Sousa Neto (2008 p 98) ldquoUm tema deve ser capaz de suscitar debates levantar questotildees despertar preocupaccedilotildees recuperar a tradiccedilatildeo e vislumbrar o futuro Pode ser qualquer coisa assim que aparentemente eacute coisa algumardquo Em poucas palavras deve-se considerar o tema o ponto de partida da pesquisa social

A aacutegua fonte essencial de desenvolvimento e vida na Terra e utilizada para diversos fins sofre as consequecircncias provocadas pela accedilatildeo antroacutepica O homem modifica e destroacutei a natureza em funccedilatildeo exclusiva de seus proacuteprios interesses O uso indiscriminado de agrotoacutexico na agricultura as atividades industriais o crescimento da populaccedilatildeo o despejo de lixo e esgotos domeacutesticos satildeo alguns dos fatores que provocam uma absurda poluiccedilatildeo dos recursos hiacutedricos

De acordo com o que foi supracitado o tema indica uma aacuterea de interesse a ser pesquisada No entanto por ser uma demarcaccedilatildeo ampla eacute necessaacuterio delimitar o problema a ser analisado Diante disso o projeto de pesquisa delimitou-se em estudar acerca da poluiccedilatildeo das aacuteguas do accedilude da Marcela no municiacutepio sergipano de Itabaiana ao questionar como uma accedilatildeo destinada a armazenar aacutegua pode ser poluiacuteda Sobre por que problematizar Deslandes (2002 p 38) afirma ldquoUm problema decorre portanto de um aprofundamento do tema Ele eacute sempre individualizado e especiacuteficordquo

O iniacutecio da construccedilatildeo de accediludes puacuteblicos no Brasil data do iniacutecio do seacuteculo XX Em 1906 foi criada a instituiccedilatildeo responsaacutevel por essa poliacutetica a Inspetoria de Obras contra as Secas (IOCS) a qual desde 1945 passa a ser chamada de Departamento Nacional de Obras contra as secas (DNOCS)

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Os accediludes satildeo reservatoacuterios estrateacutegicos de aacutegua construiacutedos com a finalidade de neutralizar os efeitos da seca no semiaacuterido brasileiro De acordo com Assunccedilatildeo e Livingstone (1993) os grandes accediludes puacuteblicos podem ser utilizados para diversos fins como irrigaccedilatildeo pecuaacuteria abastecimento humano criaccedilatildeo de peixes geraccedilatildeo de energia turismo perenizaccedilatildeo de rios e reserva de aacutegua

Com o tema escolhido e o problema delimitado o projeto necessita de uma justificativa viaacutevel A escolha por esse problema de pesquisa justificou-se por conhecer a aacuterea estudada e reconhecer que o reservatoacuterio de aacutegua que outrora muito ajudou a populaccedilatildeo Itabaianense em eacutepocas de estiagens severas encontra-se hoje esquecido pelo poder puacuteblico e tornou-se um verdadeiro ldquoreservatoacuterio de esgotordquo O intuito do projeto eacute portanto contribuir com sugestotildees que possam modificar para melhor a vida do accedilude da Marcela e da populaccedilatildeo que se utiliza dele para diversos fins aleacutem de alertar para os danos que estatildeo sendo provocados nesse estrateacutegico reservatoacuterio de aacutegua e que pode causar problemas irreversiacuteveis agrave natureza de suas aacuteguas

A escolha do tema a delimitaccedilatildeo do problema e a justificativa do projeto de pesquisa compotildeem a introduccedilatildeo de um projeto de pesquisa

Todo projeto de pesquisa tecircm objetivos bem definidos satildeo eles que explicitam as metas que se quer alcanccedilar ao final da pesquisa Satildeo subdivididos em objetivo geral e objetivos especiacuteficos articulados com o objetivo maior (geral) No caso do estudo proposto acerca do Accedilude da Marcela foram definidos os seguintes objetivos

Objetivo geral - Analisar o processo de construccedilatildeo do accedilude da Marcela numa perspectiva histoacuterico-

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espacial destacando sua importacircncia utilizaccedilatildeo e finalidade ao longo de deacutecadas Objetivos especiacuteficos - Analisar as causas e agravantes da poluiccedilatildeo especialmente o despejo de esgotos domeacutesticos e industriais as atividades agropecuaacuterias e o lixo - Discutir os rebatimentos soacutecio-econocircmico-ambientais - Apresentar propostas de revitalizaccedilatildeo feitas pelo poder puacuteblico e suas contradiccedilotildees (CUNHA 2018 p 7)

Um projeto de pesquisa coerente tem sua base

construiacuteda atraveacutes de um levantamento bibliograacutefico cuidadoso e adequado ao problema proposto Deslandes (2002 p 40) aponta ldquoA definiccedilatildeo teoacuterica e conceitual eacute um momento crucial da investigaccedilatildeo cientiacutefica Eacute sua base de sustentaccedilatildeordquo

Diante disso na disciplina cursada para esta etapa a orientaccedilatildeo de buscar apoio na literatura disponiacutevel para em seguida construir a proacutepria fundamentaccedilatildeo do projeto Dessa forma foram procuradas em dissertaccedilotildees artigos cientiacuteficos livros e outras fontes teorias que dialogassem com o problema proposto

Como resultado foi possiacutevel perceber que nos uacuteltimos anos diversos trabalhos foram escritos com foco nos problemas enfrentados pelo Accedilude da Marcela Essas pesquisas foram feitas por pesquisadores das mais diversas aacutereas como quiacutemicos geoacutegrafos engenheiros ambientais e bioacutelogos

Neste sentido o referencial teoacuterico para esse projeto de pesquisa pode ser amplo Existem dissertaccedilotildees que datam da deacutecada de 1990 como a escrita por Borges (1995) que faz uma relaccedilatildeo entre o uso de agrotoacutexicos e seus rebatimentos para a sociedade e a natureza neste caso o periacutemetro irrigado do

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Accedilude da Marcela ateacute dissertaccedilotildees mais atuais como a de Oliveira (2017) onde a autora destaca a importacircncia da praacutetica agriacutecola para a vida dos seres humanos e indica que o manejo inadequado da atividade agriacutecola atrelado aos demais impactos da accedilatildeo do homem provoca danos irreversiacuteveis ao meio ambiente neste caso satildeo destacados danos de cunho econocircmico social e ambiental em torno da regiatildeo do Accedilude da Marcela em ItabaianaSE

Existem tambeacutem diversos trabalhos publicados em revistas que contemplam natildeo apenas o accedilude estudado mas no interior do tema e problema como o de Santos e Pinto (2013) que destacam os impactos negativos provocados ao meio ambiente e a sauacutede do homem atraveacutes do uso indiscriminado de agrotoacutexicos como tambeacutem pesquisas semelhantes como as de Carvalho Moraes Neto Lima et al (2009) Guedes Filho et al (2012) e Morais et al (2013) que analisam a degradaccedilatildeo ambiental o uso e a ocupaccedilatildeo dos accediludes de BodocongoacutePB e Accedilude Recreio em CaicoacuteRN Estes accediludes vecircm passado por seacuterios problemas semelhantes ao accedilude da Marcela em ItabaianaSE e que necessitam de cuidados e estrateacutegias imediatas e eficazes por conta do seu intenso processo de degradaccedilatildeo Assunccedilatildeo e Livingstone (1993) escreveram a respeito da construccedilatildeo de accediludes puacuteblicos no nordeste brasileiro e seus principais usos potenciais

Diante disso associa-se a ideia desses autores com a problemaacutetica proposta No momento de sua construccedilatildeo o accedilude da Marcela em ItabaianaSE foi de um feito excepcional e contraditoriamente foi perdendo sua notoriedade ao longo de deacutecadas tornando-se um grande reservatoacuterio de esgoto industrial e domiciliar suprimindo a fauna local e colocando em risco a sauacutede de habitantes proacuteximos Torna-se claro portanto que a situaccedilatildeo atual do accedilude da Marcela natildeo permite que o mesmo seja utilizado para realizaccedilotildees de seus principais

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usos potenciais e que se encontra esquecido pelos oacutergatildeos puacuteblicos em funccedilatildeo exclusiva de desencontro de interesses

Atraveacutes da leitura de Daltro Filho (2004) e Fellenberg (1980) foi possiacutevel entender o significado de aacuteguas poluiacutedas e quando estas aacuteguas estatildeo contaminadas Aleacutem disso ambos os escritores sugerem fatores que podem contribuir para essa contaminaccedilatildeo como as fontes de poluiccedilatildeo de origem urbana de origem agropecuaacuteria e de origem industrial Por fim Daltro Filho (2004) ainda traz uma sugestatildeo de controle da poluiccedilatildeo das aacuteguas

Por uacuteltimo a leitura de Carvalho e Costa (2010) possibilitou entender a importacircncia da irrigaccedilatildeo para a produccedilatildeo de hortaliccedilas em ItabaianaSE para tal destacam-se as aacutereas do accedilude da Marcela e os periacutemetros irrigados de Jacarecica I e Ribeira como sendo importantes aacutereas de produccedilatildeo de hortaliccedilas para o mercado Aleacutem de indicar caracteriacutesticas socioeconocircmicas e naturais do municiacutepio o capiacutetulo destaca poliacuteticas puacuteblicas que edificaram essas principais aacutereas de irrigaccedilatildeo mencionadas acima

O referencial teoacuterico pode ainda trazer tiacutetulos que complementem a ideia principal do problema Nesse sentido se fez necessaacuterio um resgate acerca do contexto de criaccedilatildeo de accediludes no Brasil e a construccedilatildeo do accedilude da Marcela em ItabaianaSE e um segundo item indicando processos judiciais relacionados agrave temaacutetica ambiental em torno do accedilude da Marcela

Embora o Brasil seja um paiacutes privilegiado por sua grande disponibilidade de aacutegua este recurso natural natildeo eacute distribuiacutedo igualmente por todo seu territoacuterio A regiatildeo Nordeste por exemplo sempre sofreu muito com os efeitos das estiagens severas em longos periacuteodos do ano Neste sentido no iniacutecio do XX surge a poliacutetica puacuteblica de construccedilatildeo de accediludes puacuteblicos com o objetivo de amenizar os efeitos da seca no semiaacuterido brasileiro

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Inicialmente o oacutergatildeo responsaacutevel pela atuaccedilatildeo dessa poliacutetica puacuteblica era a Inspetoria de Obras contra a Secas (IOCS) que em 1945 passa a ser chamada de Departamento Nacional de Obras contra as Secas (DNOCS)

O accedilude da Marcela decorre de uma poliacutetica desta instituiccedilatildeo estaacute situado no bairro Marcela do municiacutepio sergipano de Itabaiana Atualmente devido agrave intensa urbanizaccedilatildeo este bairro faz parte do periacutemetro urbano do municiacutepio (OLIVEIRA 2017)

A construccedilatildeo do accedilude da Marcela iniciou-se em 1953 e terminou em 1957 Sua construccedilatildeo faz parte de uma poliacutetica puacuteblica que tinha por objetivo neutralizar os efeitos das secas ciacuteclicas no semiaacuterido do Brasil

De acordo com dados do DNOCS o accedilude tem capacidade para armazenar 2710000 msup3 de aacutegua e ocupa uma aacuterea de 14 Kmsup2

A principal funccedilatildeo desenvolvida pelo accedilude desde sua implantaccedilatildeo eacute na utilizaccedilatildeo agriacutecola para irrigaccedilatildeo dos plantios Carvalho e Costa (2010 p 61) afirmam que

No momento de sua implantaccedilatildeo o accedilude gerou prosperidade e transformaccedilotildees no processo de produccedilatildeo agriacutecola do municiacutepio tornando Itabaiana conhecida como uma das mais importantes aacutereas agriacutecolas do Estado de Sergipe Na deacutecada de 1970 com a implantaccedilatildeo do modelo de Revoluccedilatildeo Verde norte-americano no Brasil o municiacutepio de Itabaiana teve a incorporaccedilatildeo de novas teacutecnicas como o uso de novos insumos defensivos agriacutecolas e fertilizantes Fatores que afetaram o ambiente e provocaram seu atual estaacutegio de desequiliacutebrio

Diante da poluiccedilatildeo inuacutemeros processos judiciais giram

em torno do tema do accedilude da Marcela Em 2009 a Secretaria

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da Agricultura e Pecuaacuteria de Itabaiana recebeu uma denuacutencia sobre a mortandade de peixes no accedilude Essa notiacutecia natildeo eacute nova e agentes da Administraccedilatildeo Estadual de Meio Ambiente (ADEMA) foram chamados para averiguar a situaccedilatildeo

Em audiecircncia puacuteblica realizada em 2010 ficou definido que a poluiccedilatildeo das aacuteguas do accedilude eacute consequecircncia da ausecircncia de infraestrutura baacutesica de esgotamento sanitaacuterio na cidade de Itabaiana Como reacuteus desse processo aparecem a Prefeitura Municipal o Governo do Estado a Companhia de Saneamento de Sergipe (DESO) o DNOCS e a ADEMA Cada um destes oacutergatildeos ficaria responsaacutevel por planejar accedilotildees voltadas agrave aacuterea do accedilude da Marcela como exemplos accedilotildees de fiscalizaccedilotildees sobre a ocupaccedilatildeo indevida em torno do accedilude projeto de infraestrutura de esgotamento sanitaacuterio elaboraccedilatildeo de relatoacuterios mensais das condiccedilotildees hiacutedricas do accedilude entre outras medidas

No entanto as inoperacircncias dos oacutergatildeos puacuteblicos atreladas agrave falta de consciecircncia por parte da populaccedilatildeo contribuem para intensificaccedilatildeo dos processos de degradaccedilatildeo deste accedilude Apesar das intervenccedilotildees feitas pelo Ministeacuterio Puacuteblico o desencontro de interesses entre as partes envolvidas contribuem para uma naturalizaccedilatildeo da situaccedilatildeo atual do accedilude da Marcela obrigatoriamente o accedilude deve continuar sendo local de esgoto

O levantamento bibliograacutefico em conjunto com um conhecimento preacutevio da realidade estudada atraveacutes de trabalho de campo foi uma das partes mais importantes na elaboraccedilatildeo desse projeto de pesquisa Os resultados da anaacutelise dos dados obtidos com o levantamento teoacuterico contribuiacuteram para o estudo em questatildeo

Outra parte complexa na elaboraccedilatildeo desse projeto de pesquisa tratou-se da metodologia empregada Os meacutetodos e teacutecnicas devem estaacute adequados com o problema que estaacute

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sendo estudado Moraes e Costa (1984 p 27) diferencia meacutetodo de interpretaccedilatildeo de meacutetodo de pesquisa afirmando que

[] meacutetodo de interpretaccedilatildeo eacute uma concepccedilatildeo de mundo normatizada e orientada para a conduccedilatildeo da pesquisa cientiacutefica eacute a aplicaccedilatildeo de um sistema filosoacutefico ao trabalho da ciecircncia Jaacute o meacutetodo de pesquisa refere-se ao conjunto de teacutecnicas utilizadas em determinado estudo

Mesmo que ainda inconscientemente a escolha do tema e delimitaccedilatildeo do problema satildeo orientados por um meacutetodo Moraes (1997 p 67) afirma que ldquo() todo trabalho cientiacutefico envolve necessariamente posicionamentos metodoloacutegicosrdquo

No projeto de pesquisa os procedimentos expostos seguem a orientaccedilatildeo de meacutetodo do materialismo histoacuterico e dialeacutetico Este meacutetodo guia a escolha do objeto de pesquisa nesse caso a poluiccedilatildeo das aacuteguas do accedilude da Marcela e as accedilotildees de pesquisa em torno do objeto em uma escala ampliada que natildeo considera o todo mas situa a poluiccedilatildeo do Accedilude na totalidade das relaccedilotildees capitalistas Para Moraes (1997 p 74) ldquoO relacionamento do homem com seu ambiente eacute equacionado no bojo de relaccedilotildees sociais historicamente determinadasrdquo

Num primeiro momento o objeto foi ldquocaptado em sua qualidade geralrdquo (TRIVINtildeOS 2013 p74) e a pesquisa foi ancorada numa questatildeo central Reconhecer a importacircncia a utilidade e as transformaccedilotildees ocorridas no accedilude da Marcela em ItabaianaSE numa perspectiva histoacuterico-espacial Atraveacutes da possibilidade de analisar entre tempos uma discussatildeo

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preliminar em torno da hipoacutetese a finalidade do uso e ocupaccedilatildeo do accedilude da Marcela modificou-se entre tempos em torno dos interesses capitalistas

Nesse sentido eacute de fundamental importacircncia agrave revisatildeo de pesquisas escritas anteriormente como exemplos Borges (1995) Oliveira (2017) Carvalho e Costa (2010) A observaccedilatildeo e descriccedilatildeo dos elementos (problemas) que integram o loacutecus da pesquisa em suas muacuteltiplas dimensotildees como O crescimento da populaccedilatildeo as praacuteticas agropecuaacuterias o despejo de esgotos domeacutesticos e industriais o lixo

A leitura do espaccedilo estudado deve ser feita atraveacutes da coleta de dados (Observaccedilotildees entrevistas relatos de moradores) consulta aos sites da ADEMA do DNOCS visita agrave secretaria da agricultura e pecuaacuteria do municiacutepio anaacutelises e sistematizaccedilatildeo dos dados coletados verificaccedilatildeo da hipoacutetese central com a finalidade de ldquoestabelecer a realidade concreta do fenocircmenordquo (TRIVINtildeOS 2013 p74)

Assim destacam-se os seguintes procedimentos metodoloacutegicos qualitativos da pesquisa

- Levantamento bibliograacutefico sobre a construccedilatildeo e importacircncia de accediludes numa perspectiva histoacuterico-espacial questotildees socioambientais de accediludes poluiccedilatildeo das aacuteguas revitalizaccedilatildeo das aacuteguas - Fichamento de textos teoacutericos - Elaboraccedilatildeo de roteiros e organizaccedilatildeo de instrumentos para o trabalho de campo - Visita agrave Secretaria da agricultura pecuaacuteria e Meio Ambiente de ItabaianaSE - Trabalho de campo para a aacuterea de estudo nesse caso o accedilude da Marcela em ItabaianaSE - Sistematizaccedilatildeo e anaacutelise dos dados obtidos atraveacutes das observaccedilotildees entrevistas relatos consultas em sites oficiais

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- Elaboraccedilatildeo de relatoacuterio (CUNHA 2018 p 11)

Eacute fundamental que um projeto de pesquisa contenha um cronograma Neste natildeo foi diferente Atraveacutes do cronograma foram traccedilados o tempo que seria necessaacuterio para realizar cada um dos procedimentos propostos O formato utilizado foi um quadro que pode ser conferido abaixo (Quadro 1)

Quadro 1 ndash Cronograma proposto

ATIVIDADE JUN JUL AGO SET OUT NOV

Levantamento bibliograacutefico sobre o tema e objeto de estudo

X X

Fichamento de textos teoacutericos

X X X

Elaboraccedilatildeo de roteiro e organizaccedilatildeo de instrumentos para o trabalho de campo

X

Visita agrave secretaria de agricultura pecuaacuteria e meio ambiente do municiacutepio

X

Trabalho de campo para aacuterea de estudo

X

Sistematizaccedilatildeo e anaacutelise dos dados obtidos

X X

Elaboraccedilatildeo de relatoacuterio X X

Fonte CUNHA 2018 p 13 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Toda pesquisa tem um compromisso social Toda pesquisa eacute capaz de intervir na realidade consequentemente

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modificando a sociedade e o Espaccedilo geograacutefico A ciecircncia natildeo eacute estaacutetica eacute um processo que dialoga com a realidade social que se quer compreender e transformar (DEMO 2009)

Felizmente o processo de ensino-aprendizagem no niacutevel superior dialoga diretamente com a pesquisa e essa ligaccedilatildeo torna-se fundamental para o profissional em formaccedilatildeo auxiliando-o na produccedilatildeo de um pensamento criacutetico libertando-o das amarras da ideologia e do senso comum

A importacircncia em desenvolver um projeto de pesquisa em uma disciplina explica-se por reconhecer que a pesquisa cientiacutefica desempenha um importante papel na vida acadecircmica e profissional do sujeito em formaccedilatildeo sendo uma ferramenta muito apropriada na obtenccedilatildeo de conhecimento

Diante disso relatar essa experiecircncia na elaboraccedilatildeo de um projeto de pesquisa natildeo pretendeu de modo algum apresentar uma receita mas indicar uma possibilidade de obter conhecimento que vai aleacutem da sala de aula divulgando que tanto um profissional em formaccedilatildeo quanto jaacute formado pode e deve se debruccedilar sobre uma pesquisa cientiacutefica pois ela eacute extremamente importante para a evoluccedilatildeo da humanidade

Projetar uma pesquisa acerca do Accedilude da Marcela em ItabaianaSE foi apenas uma dentre muitas realidades possiacuteveis E embora a aacuterea mencionada tenha motivado preocupaccedilatildeo em tantos pesquisadores nas uacuteltimas deacutecadas este accedilude outrora glorioso apresenta contradiccedilotildees com relaccedilatildeo agraves inoperacircncias dos oacutergatildeos puacuteblicos que insistem em ldquofechar os olhosrdquo para problemaacutetica poluiccedilatildeo da natureza de suas aacuteguas Apesar das intervenccedilotildees feitas pelo Ministeacuterio Puacuteblico o desencontro de interesses entre as partes envolvidas contribui para uma naturalizaccedilatildeo da situaccedilatildeo atual do accedilude da Marcela Dessa forma suscitam sempre novos debates acerca dessa temaacutetica

Por fim torna-se claro que ser pesquisador natildeo eacute tarefa faacutecil mas apesar das muacuteltiplas dificuldades eacute muito proveitoso

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e gratificante A maior contribuiccedilatildeo que o profissional em formaccedilatildeo nesse caso o geoacutegrafo pode dar ao Espaccedilo em que vive consiste nos resultados praacuteticos da pesquisa E essa contribuiccedilatildeo positiva eacute sem duacutevidas alguma a maior gratificaccedilatildeo para o pesquisador REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS ASSUNCcedilAtildeO LM LIVINGSTONE I Desenvolvimento inadequado Construccedilatildeo de accediludes e secas no sertatildeo do Nordeste Revista Brasileira de Economia Rio de Janeiro v 47 n3 p 425- 448 julset 1993 Disponiacutevel em lthttpbibliotecadigitalfgvbrojsindexphprbearticleviewFile5827932gt Acesso em 20 de Janeiro de 2018 BORGES S dos S Agrotoacutexicos sociedade e natureza a problemaacutetica do periacutemetro irrigado da Macela-SE Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Geografia) Nuacutecleo de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Geografia (NPGEOUFS) Satildeo Cristoacutevatildeo 1995 BRASIL Ministeacuterio da Integraccedilatildeo Nacional Departamento de Obras Contra as Secas Histoacuteria Disponiacutevel em lt httpwww2dnocsgovbrhistoriagt Acesso em 08 de Fevereiro de 2018 CARVALHO A de P MORAES NETO JM de LIMA VLA de et al Estudo da degradaccedilatildeo ambiental do accedilude de Bodocongoacute em Campina Grande ndash PB Engenharia Ambiental Espiacuterito Santo do Pinhal v 6 n2 p 293-305 maiago 2009 Disponiacutevel em lt fileCUsersUsuarioDownloadsEA-2009-220pdf gt Acesso em 17 de Janeiro de 2018

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REFLEXAtildeO SOBRE A ESCOLA PUacuteBLICA ESTAacuteGIO E ENSINO DE GEOGRAFIA

Elenilson Santos do Nascimentosup1

Universidade Federal De Sergipe Graduando em Geografia

Joyce Kelly de Jesus Santossup2 Universidade Federal de Sergipe Graduanda em Geografia

E mail elenilsonsnhotmailcomsup1 Email kellysts17gmailcom sup2

RESUMO

O presente artigo eacute fruto dos resultados da experiecircncia do Estaacutegio Supervisionado em Ensino de Geografia I Tem como objetivo apresentar reflexotildees sobre a importacircncia do estaacutegio e sobre a dificuldade dos alunos de associaccedilatildeo dos conteuacutedos geograacuteficos com a sua realidade A partir das visitas agrave escola foi possiacutevel ter o primeiro contato com a realidade educacional com isso visualizar os desafios e a indissociabilidade teoriapraacutetica Para a realizaccedilatildeo deste trabalho foram aplicados questionaacuterios e feita uma revisatildeo da literatura PALAVRAS-CHAVE Estaacutegio formaccedilatildeo de professores Ensino de Geografia INTRODUCcedilAtildeO O Estaacutegio Supervisionado em Ensino de Geografia eacute uma etapa fundamental na formaccedilatildeo docente pois atraveacutes dele eacute possiacutevel conhecer o ambiente escolar articular os conhecimentos aprendidos na universidade com o que seraacute aplicado em sala de aula ou seja fazer a relaccedilatildeo teoria-praacutetica

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Este artigo eacute resultado da disciplina Estaacutegio Supervisionado em Ensino de Geografia I na qual os alunos discutem textos dos mais diversos temas e na etapa final eacute feita uma observaccedilatildeo em escola da Educaccedilatildeo Baacutesica

Vaacuterios foram os temas discutidos durante a disciplina dentre eles podemos destacar a educaccedilatildeo na atualidade a formaccedilatildeo e trabalho docente e o ensino de geografia Pode-se afirmar que as transformaccedilotildees ocorridas na sociedade principalmente com o advento da globalizaccedilatildeo e do neoliberalismo trouxeram grandes impactos negativos no que se refere agrave escola e agrave formaccedilatildeo do professor Esta uacuteltima centrada principalmente na praacutetica deixando de lado a formaccedilatildeo humana com disciplinas isoladas entre si sem articulaccedilatildeo teoria e praacutetica Segundo Giron

[] a poliacutetica educacional referendada pelo modelo neoliberal privilegia uma formaccedilatildeo docente raacutepida superficial e pragmaacutetica preocupada mais com o ldquosaber fazerrdquo do que com o ldquoensinar a pensarrdquo valorizando acima de tudo um saber fragmentado utilitaacuterio e teacutecnico Uma grande quantidade de horas com atividades pedagoacutegicas praacuteticas e com estaacutegios desvinculados de uma reflexatildeo teoacuterica mais aprofundada sobre a accedilatildeo pedagoacutegica daacute uma conotaccedilatildeo de treinamento a essas propostas de formaccedilatildeo de professores o que reduz a capacitaccedilatildeo desse profissional e a qualidade do sistema educativo (GIRON 2014)

No atual contexto da Sociedade Moderna conhecimento e informaccedilatildeo satildeo sinocircnimos de poder desta forma torna-se necessaacuterio desqualificar a profissatildeo docente uma vez que ela tem o poder emancipador Assim ldquo[] a educaccedilatildeo em seu papel singular de destaque no desenvolvimento social cultural natildeo pode ser subjugada

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predominantemente ao domiacutenio da loacutegica de mercado muito menos as diretrizes universais que o modelo neoliberal impotildee principalmente aos paiacuteses perifeacutericos do mundo (NETO CAMPOS 2012 p 10986)

A escola locus do trabalho do professor tambeacutem sofreu impactos negativos com as accedilotildees das poliacuteticas neoliberais implantadas no Brasil Estas estabeleceram grande controle que fez com que a escola tivesse dificuldades de desenvolver seus proacuteprios projetos para seguir cartilhas prontas (ALMEIDA PIMENTA 2015) Aleacutem da readequaccedilatildeo agraves necessidades do capital que transformou a educaccedilatildeo em mercadoria Outra questatildeo se refere agrave funccedilatildeo da escola que segundo Libacircneo

[]o dualismo da escola brasileira em que num extremo estaria a escola assentada no conhecimento na aprendizagem e nas tecnologias voltada aos filhos dos ricos e em outro a escola do acolhimento social da integraccedilatildeo social voltada aos pobres e dedicada primordialmente a missotildees sociais de assistecircncia e apoio agraves crianccedilas (LIBAcircNEO 2012 p16)

Nesse contexto eacute possiacutevel perceber o quanto a educaccedilatildeo puacuteblica tem passado por um processo de perda da sua importacircncia formadora e emancipatoacuteria com a inadequada formaccedilatildeo docente desestruturaccedilatildeo da escola puacuteblica atraveacutes da implantaccedilatildeo de modelos prontos que na maioria das vezes estatildeo distantes da realidade dos alunos

Por fim este artigo estaacute dividido em trecircs partes sendo a primeira a introduccedilatildeo a segunda tratando sobre o estaacutegio e a geografia no contexto escolar abordando temas que foram constatados na observaccedilatildeo e as consideraccedilotildees finais

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ESTAacuteGIO E GEOGRAFIA NO CONTEXTO ESCOLAR

O curso de Graduaccedilatildeo em geografia da UFS oferece aos professores em formaccedilatildeo uma estrutura com componentes curriculares que contemplam o estudo da relaccedilatildeo sociedade-natureza o ensino e as diferentes leituras e representaccedilotildees do espaccedilo geograacutefico Aleacutem do plano teoacuterico estatildeo atreladas atividades praacuteticas assim como a formaccedilatildeo estaacute voltada para um caraacuteter emancipatoacuterio e reflexivo

Nesse sentido como componente curricular do curso haacute Estaacutegio Supervisionado em Ensino de Geografia I que se constitui como uma etapa de grande importacircncia no processo de formaccedilatildeo docente Seraacute atraveacutes deste que o professor em formaccedilatildeo teraacute o primeiro contato com a realidade educacional para visualizar os desafios que a profissatildeo lhe reserva assim como construir sua identidade profissional e explicitar a indissociabilidade entre teoria e praacutetica

Os estaacutegios se constituem em uma atividade balisadora para a formaccedilatildeo de professores na qual os alunos tecircm oportunidade de vivenciar o cotidiano escolar e da sala de aula refletindo a praacutetica do professor regente traccedilando perspectivas que potencializaratildeo o conhecimento do contexto histoacuterico social cultural e organizacional da praacutetica docente (MELLO LINDNER 2012 p1)

Aleacutem disso foram diversas discussotildees acerca da educaccedilatildeo puacuteblica brasileira do ofiacutecio e o lugar social do professor curriacuteculo e formaccedilatildeo de professor Outrossim ocorreu a realizaccedilatildeo de anaacutelise de livro didaacutetico e construccedilatildeo de projetos de ensino A uacuteltima etapa se constituiu como uma

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visita ao ambiente escolar com o objetivo de observar a dinacircmica da sala de aula

O ambiente escolhido para realizaccedilatildeo do estaacutegio supervisionado foi o Coleacutegio Estadual Dr Augusto Ceacutesar Leite ( Ver figura 01) que fica localizado no muniacutecio de ItabaianaSE Tal unidade escolar faz parte da Diretoria Regional de Educaccedilatildeo 03 (DRE03) (ver figura 02) que conta ainda com os municiacutepios de Carira Ribeiroacutepolis Pinhatildeo Pedra Mole Macambira Campo do Brito Satildeo Domingos Nossa Senhora Aparecida Frei Paulo Areia Branca Satildeo Miguel do Aleixo Malhador e Moita Bonita funcionando nos trecircs turnos matutino das 0700h agraves 1115 vespertino das 1300h agraves 1725 e no periacuteodo noturno com o EJA Figura 01 Coleacutegio Estadual Augusto Cesar Leite

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Figura 2 Municiacutepios que fazem parte da DR03

Fonte portal SEED 2018 No quesito estrutura a escola apresenta-se com sua

infraestrutura antiga Algumas salas de aula inadequadas para o

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ensino e o aprendizado do aluno (ver figura 03) em virtude da precariedade Nesta unidade escolar haacute banheiros masculinos e femininos aleacutem de banheiros especiacuteficos para professores uma cantina onde satildeo servidas as refeiccedilotildees um laboratoacuterio de informaacutetica (este se encontra inativo devido os aparelhos apresentarem algum tipo de defeito) Ainda existe uma sala para professores uma sala de leitura um auditoacuterio bem organizado onde com frequecircncia os alunos podem participar de alguma atividade relacionada agrave escola uma sala para secretaria coordenaccedilatildeo e diretoria aleacutem do paacutetio coberto parcialmente (Ver figura 4) Figura 03 Estrutura da sala

Fonte Elenilson Santos do Nascimento 2017

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Figura 4 Paacutetio do Coleacutegio

Fonte Elenilson Santos do Nascimento

Analisando essa questatildeo dentro do contexto neoliberal e da educaccedilatildeo brasileira eacute evidente que natildeo haacute interesse de melhoria na estrutura das escolas visto que a educaccedilatildeo eacute colocada em segundo plano que desde a deacutecada de 1990 segue as diretrizes do Banco Mundial que foram lanccediladas na Conferecircncia de Jomtien na Tailacircndia Assim o dualismo escolar se agrava separando cada vez mais a escola de ricos e pobres sendo a dos uacuteltimos com funccedilotildees sociais (LIBAcircNEO 2012) Ademais uma estrutura precarizada pode interferir na postura do professor ldquoa realidade do meio escolar em parte impede o professor de realizar um trabalho dinacircmico e transformador de futuros cidadatildeos criacuteticos e reflexivosrdquo (SANTOS PASSOS 2011 p 126)

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Aleacutem disso essas diretrizes atingem a profissatildeo docente uma vez que o trabalho do professor eacute cada vez mais precarizado isso iraacute refletir em sua postura em sala de aula e consequentemente na aprendizagem dos alunos (que jaacute vem de um contexto social que pouco contribui para a permanecircncia na escola) tirando a principal funccedilatildeo da escola de fornecer conhecimentos sistematizados

Cabe destacar que os alunos que estudam o 8deg Ano A residem na cidade em bairros perifeacutericos de moradores de baixa renda segundo os discentes a escola eacute a mais proacutexima de suas casas Estatildeo na faixa etaacuteria de 12 a 16 anos

Do ponto de vista da gestatildeo a unidade escolar trabalha de maneira articulada e conjunta para garantir uma gestatildeo participativa e comunicativa com os diversos setores da escola Com isso eacute possiacutevel uma descentralizaccedilatildeo na tomada de decisotildees Isto posto

A descentralizaccedilatildeo e a autonomia poderatildeo liderar a iniciativa criadora da escola permitir que ela se insira mais harmoniosamente no contexto soacutecio- cultural da comunidade e reduzir os controles burocraacuteticos inuacuteteis que a fazem perder tempo (BERALDO PELOZO 2007 p3)

Durante a observaccedilatildeo das aulas foi possiacutevel notar que grande parte dos alunos natildeo consegue associar os conhecimentos geograacuteficos com a sua realidade Para essa situaccedilatildeo contribui a forma como a geografia foi e ainda eacute trabalhada em algumas escolas isto eacute de forma fragmentada distante da realidade e enfadonha (SOUZA 2009) Nesse contexto faz-se necessaacuterio trazer para o ambiente escolar novas praacuteticas metodoloacutegicas para aleacutem de modelos fundados no positivismo Segundo Carvalho

Um dos desafios do processo educativo ainda perpassa por questotildees relacionadas agrave

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associaccedilatildeo conteuacutedo-cotidiano-meacutetodo exigindo a apropriaccedilatildeo de um saber praacutetico que contribua para a formaccedilatildeo de criacutetico e que compreenda as relaccedilotildees existentes em acircmbito local e global (CARVALHO 2013 p 161)

Eacute importante nesse processo a construccedilatildeo do conhecimento junto ao aluno assim como trabalhar os conhecimentos de maneira interdisciplinar uma vez que a anaacutelise de do espaccedilo geograacutefico requer para um melhor entendimento a integraccedilatildeo de diversos campos do conhecimento Santos comenta que

As tentativas de introduzir a interdisciplinaridade no trabalho docente mostram que se inicia um processo de superaccedilatildeo na maneira estanque e fragmentaacuteria de abordar o conhecimento em sala de aula fato que motiva para avanccedilar na perspectiva de desenvolver atividades com docentes e estudantes do curso de geografia (SANTOS 2011 p14)

Atraveacutes da ciecircncia geograacutefica eacute possiacutevel analisar

diversos campos da sociedade assim como seus problemas o desemprego dificuldades da vida no campo planejamento urbano as transformaccedilotildees no espaccedilo com a globalizaccedilatildeo Nesse sentido eacute possiacutevel perceber que a geografia estaacute no cotidiano do aluno fazendo-se necessaacuterio criar situaccedilotildees em que o aluno possa fazer essa relaccedilatildeo Segundo Santos

Agrave disciplina Geografia cabe natildeo somente levar o aluno a um entendimento da dimensatildeo espacial da sociedade como um todo mas encontrar meios de contextualizar esse ensino considerando tambeacutem o espaccedilo vivido dopelo aluno uma vez que eacute relevante que ele entenda sua proacutepria realidade e os fatores

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que influenciam diariamente sua vida Consideramos portanto que o aluno traz consigo para dentro da escola experiecircncias de vida conforme o seu lugar a sua realidade social sendo o lugar um espaccedilo vivenciado possui uma cultura geograacutefica (SANTOS 2012 p2)

Eacute importante oferecer um olhar diferenciado principalmente no que se refere ao ensino de geografia considerando a praacutetica social dos alunos como ponto de partida uma formaccedilatildeo em que o aluno se torna o sujeito de sua aprendizagem (CARVALHO 2013)

Dessa forma eacute um desafio para os profissionais de a geografia romper com esse tipo de ensino que distancia os conteuacutedos geograacuteficos da praacutetica social dos alunos Eacute imprescindiacutevel que esse ensino seja voltado para que o aluno perceba que a geografia da escola eacute a geografia do seu dia a dia aleacutem de formar um cidadatildeo criacutetico e atuando em sua realidade Assim

A atuaccedilatildeo de um professor consciente de uma praacutetica que permita aos alunos se perceberem enquanto agentes participativos na construccedilatildeo do conhecimento escolar torna-se indispensaacutevel no processo educativo pois eacute a partir deste que os alunos satildeo preparados para a participaccedilatildeo na sociedade (CUNHA ANDRADE 2011 p 56)

Isto posto a construccedilatildeo de conceitos se torna uma metodologia fundamental para vencer esse desafio Segundo Oliveira ldquoo professor deve deixar de dar os conceitos prontos para os alunos e sim juntos professores e alunos participarem de um processo de construccedilatildeo do saberrdquo (OLIVEIRA 1989 p 140)

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CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS As transformaccedilotildees na sociedade oriundas da

globalizaccedilatildeo e do neoliberalismo tecircm provocado mudanccedilas negativas na educaccedilatildeo se tratando especificamente da escola puacuteblica e da formaccedilatildeo de professores A escola tem comprometida sua autonomia diante das imposiccedilotildees de modelos adotados e se tratando de formaccedilatildeo docente essa focalizada no desenvolvimento de habilidades e competecircncias de maneira raacutepida e fragmentada

Cabe destacar que o Estaacutegio Supervisionado em Ensino de Geografia I que se constitui como uma etapa de grande relevacircncia no processo de formaccedilatildeo docente foi possiacutevel ter o primeiro contato com a realidade educacional para visualizar os desafios da profissatildeo e com isso refletir sobre a realidade da educaccedilatildeo do ensino da Geografia e do trabalho do professor aleacutem de perceber a indissociabilidade entre teoria e praacutetica

Por fim ficou evidente que eacute possiacutevel um ensino de geografia pautado na unidade teoriapraacutetica e que propicie uma reflexatildeo fazendo com que o aluno perceba que a geografia vista na escola estaacute no seu dia a dia

REFERENCIAS

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MELLO Simone Portella Teixeira de LINDNER Luciana Martins Teixeira A contribuiccedilatildeo dos estaacutegios na formaccedilatildeo docente observaccedilotildees de alunos e professores Rio Grande do Sul2012 Disponiacutevel emlt httpwwwucsbretcconferenciasindexphpanpedsul9anpedsulpaperviewFile362978gtAcesso em 01 fev 2018

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NETO Filinto Jorge Eisenbach CAMPOS Gabriela Ribeirode O impacto Do Neoliberalismo Na Educaccedilatildeo Brasileira 2012 Disponiacutevel emlt

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PIMENTA Selma garrido ALMEIDA Maria Isabel de Estagio supervisionado na formaccedilatildeo docente Educaccedilatildeo baacutesica e educaccedilatildeo de jovens e adultos Satildeo Paulo Cortez Editora 2015

SANTOS Laudenides Pontes dos A relaccedilatildeo da Geografia e o conhecimento cotidiano vivido no Lugar Geografia Ensino amp Pesquisa vol 16 n 3 set dez 2012 Disponiacutevel emlthttpsperiodicosufsmbrindexphpgeografiaarticleviewFile7574pdfgt Acesso em 01 fev 2018 SANTOS Ana Rocha dos Formaccedilatildeo docente e praacutetica interdisciplinar aproximando saberes para explicar a geografia In SANTOS Ana Rocha dos (Org) Sobre o pensar e fazer docente na sala de aula de Geografia Satildeo CristoacutevatildeoSE Editora UFS 2011 v 1 p 9-22

SANTOS M J C PASSOS G S O uso das novas tecnologias e o desafio das praacuteticas pedagoacutegicas para o ensino de geografia na sociedade atual In SANTOS Ana Rocha dos (Org) Sobre o pensar e fazer docente na sala de aula de Geografia Satildeo CristoacutevatildeoSE Editora UFS 2011 v 1 p 121-135

SOUZA Hanilton Ribeiro de O cotidiano na geografia a

geografia no cotidiano Porto Alegre 2009

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EIXO 5 - ESTADO TRABALHO E POLIacuteTICAS

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AS EMENDAS PARLAMENTARES EM SERGIPE

NA (RE) PRODUCcedilAtildeO DA DOMINACcedilAtildeO

POLIacuteTICA

Jayne Maria dos Santos

Universidade Federal de Sergipe- UFS Graduanda em Licenciatura em Geografia

E mail jayne_santos97outlookcom

RESUMO

Este artigo resulta de pesquisa em andamento (projeto PIBIC Edital nordm 022017 POSGRAPCOPESUFS) sobre a relaccedilatildeo entre emendas parlamentares e dominaccedilatildeo poliacutetica em Sergipe durante os anos de 2015 e 2017 cujo objetivo eacute analisar o conteuacutedo espacial do uso privado da coisa puacuteblica atraveacutes das emendas parlamentares A anaacutelise eacute fundamentada na leitura da realidade considerando que as emendas parlamentares satildeo utilizadas pelos legisladores como forma de autopromoccedilatildeo e uso poliacutetico para a manutenccedilatildeo no exerciacutecio do poder executivo ou legislativo A investigaccedilatildeo dessa relaccedilatildeo pautou-se na anaacutelise dos dados sobre a distribuiccedilatildeo das emendas parlamentares no periacuteodo estudado e na pesquisa bibliograacutefica sobre a sociedade brasileira priorizando-se o estudo sobre o patrimonialismo clientelismo e o contexto atual da poliacutetica brasileira A pesquisa tem conduzido para a compreensatildeo de que a distribuiccedilatildeo das emendas parlamentares como moeda de troca obedece a criteacuterios que estatildeo submetidos aos interesses e alianccedilas poliacuteticas locais estaduais e nacionais o que se traduz espacialmente em uma concentraccedilatildeo de accedilotildees e obras nos municiacutepios de maior vinculaccedilatildeo dos legisladores e Aracaju por ser a capital do estado PALAVRAS-CHAVE Patrimonialismo dominaccedilatildeo poliacutetica e emendas parlamentares

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INTRODUCcedilAtildeO

O presente artigo resulta do projeto realizado junto ao Programa de Iniciaccedilatildeo agrave Pesquisa (PIBIC) na Universidade Federal de Sergipe Campus Professor Alberto Carvalho intitulado Estado e emendas parlamentares o domiacutenio privado do puacuteblico e sua expressatildeo espacial em Sergipe com o objetivo de analisar a espacialidade nas relaccedilotildees de poder e dominaccedilatildeo poliacutetica que se traduz pela agudizaccedilatildeo das desigualdades socioespaciais e que produz a falta de serviccedilos essenciais e infraestrutura para os mais pobres

No Brasil haacute uma naturalizaccedilatildeo das barganhas poliacuteticas do uso privado da coisa puacuteblica o que significa uma conformaccedilatildeo da cultura do favor na qual o deacutebito e o creacutedito entre as pessoas e os representantes poliacuteticos se datildeo de maneira que as condutas e praacuteticas constituem a sociabilidade brasileira

As relaccedilotildees poliacuteticas satildeo em grande parte vinculadas para os interesses particulares As emendas fazem parte da consolidaccedilatildeo e permanecircncia de sistema governamental que supre as necessidades da classe que deteacutem o poder jaacute que ldquopara mantecirc-las o grupo social cria ideias e sentimentos valores e siacutembolos aceitos por todos e que justificam ou legitimam as instituiccedilotildeesrdquo (CHAUIacute 2000)

As emendas parlamentares satildeo incluiacutedas nessa sociabilidade na medida em que satildeo instrumentos para a conservaccedilatildeo do poder Satildeo recursos para parlamentares legitimados com a Emenda Constitucional 862015 que torna obrigatoacuteria a execuccedilatildeo da programaccedilatildeo orccedilamentaacuteria Eacute garantido para os parlamentares o uso de 12 da receita corrente liacutequida do orccedilamento da Uniatildeo o que representa uma cota de R$ 15 milhotildees para cada um (POLITIZE 2016)

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Para a anaacutelise dessa temaacutetica foi realizada revisatildeo bibliograacutefica referente agrave construccedilatildeo histoacuterica da sociedade brasileira baseada em Seacutergio Buarque de Holanda (1995) Jesseacute de Souza (2017) e Joseacute Murilo de Carvalho (1997) autores que contribuem para a leitura da dominaccedilatildeo poliacutetica no Brasil Aleacutem disso foi realizada pesquisa em sites como Cacircmara dos Deputados o Sistema Eletrocircnico de Informaccedilatildeo ao Cidadatildeo (Esic) e Contas Abertas para levantamento de dados sobre as emendas parlamentares Os dados coletados fundamentaram a produccedilatildeo de mapas e graacuteficos sobre a distribuiccedilatildeo das emendas em Sergipe o que permitiu analisar os elementos em sua totalidade sendo assim possiacutevel uma melhor compreensatildeo da realidade

O resultado preliminar da pesquisa indicou que os representantes poliacuteticos fazem uso do recurso puacuteblico como meio privado ou seja se promovem para poder permanecer no poder E a forma de distribuiccedilatildeo desses recursos passa a ser efetuada de forma desigual pois contempla os municiacutepios de maior interesse dos parlamentares

A FORMACcedilAtildeO HISTOacuteRICA POLIacuteTICA E SOCIAL BRASILEIRA

O sistema poliacutetico brasileiro estaacute pautado em uma

construccedilatildeo histoacuterica de dominaccedilatildeo no qual a sociedade eacute influenciada por ideias que naturalizam as questotildees sociais O estudo das emendas parlamentares eacute importante para um melhor entendimento sobre o Estado e como as emendas satildeo utilizadas com o intuito de satisfazer os interesses proacuteprios dos parlamentares que se beneficiam delas para a barganha poliacutetica troca de favores e manutenccedilatildeo no poder realidade estaacute que faz parte do cenaacuterio poliacutetico atual

De acordo com Seacutergio Buarque de Holanda (1995) a sociedade brasileira eacute de cunho patrimonialista avessa agraves

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formas que suprimem a possibilidade de conviacutevio mais familiar e movida pelo desejo de logo estabelecer intimidade Uma sociedade do homem cordial contraacuterio ao ritualismo social que supotildee o uso da impessoalidade do tratamento No caso brasileiro Estado e interesses privados se combinam na obtenccedilatildeo de favores para a conservaccedilatildeo e dominaccedilatildeo Sobre a cordialidade Holanda afirma que

a contribuiccedilatildeo brasileira para a civilizaccedilatildeo seraacute a cordialidade ndash daremos ao mundo o lsquohomem cordialrsquo A lanheza no trato a hospitalidade a generosidade virtudes tatildeo gabadas por estrangeiros que nos visitam representam com efeito um traccedilo definido do caraacuteter brasileiro na medida ao menos em que permanece ativa e fecunda a influecircncia ancestral dos padrotildees de conviacutevio humano informados no meio rural e patriarcal (1995 p 146 -147)

Ainda para este autor

ao longo de nossa histoacuteria o predomiacutenio constante das vontades particulares que encontram seu ambiente proacuteprio em ciacuterculos fechados e pouco acessiacuteveis a uma ordenaccedilatildeo impessoal Dentre esses ciacuterculos foi sem duacutevida o da famiacutelia aquele que se exprimiu com mais forccedila e desenvoltura em nossa sociedade (Holanda 1995 p 146)

As relaccedilotildees vivenciadas no meio familiar da intimidade

satildeo constitutivas do Estado e dessa forma diminuindo a distacircncia entre o que eacute de domiacutenio puacuteblico e de domiacutenio privado

Outro autor que explica a sociedade brasileira eacute Jesse de Souza considerando que as mazelas do paiacutes satildeo resultado da

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escravidatildeo na qual nossa sociedade foi pautada Assim ele destaca que este eacute o motivo para os embates e diferenccedilas sociais existentes Conforme Souza

Compreender a escravidatildeo como conceito eacute muito diferente Eacute perceber como ela cria uma singularidade excludente e perversa Uma sociabilidade que tendeu a se perpetuar no tempo precisamente porque nunca foi efetivamente compreendida nem

criticada (SOUZA 2017 p 11)

Toda a sua abordagem estaacute pautada na forma de como a sociedade brasileira ainda vecirc a escravidatildeo a heranccedila culturalista passada de geraccedilatildeo a geraccedilatildeo mostrando os rebatimentos e as diferenccedilas sociais que existem no contexto brasileiro Para ele

No Brasil desde o ano zero a instituiccedilatildeo que englobava todas as outras era a escravidatildeo que natildeo existia em Portugal a natildeo ser de modo muito toacutepico e passageiro Nossa forma de famiacutelia de economia de poliacutetica e de justiccedila foi toda baseada na escravidatildeo Mas nossa autointerpretaccedilatildeo dominante nos vecirc como continuidade perfeita de uma sociedade que jamais conheceu a escravidatildeo a natildeo ser de modo muito datado e localizado (SOUZA 2017 p 28)

A dominaccedilatildeo social estaacute presente nas diferentes

sociedades e para que ela exista eacute necessaacuterio que um grupo exerccedila uma forma de poder sobre os demais buscando maneiras de permanecer no poder por muito tempo Carvalho (1997) trabalha com os conceitos de coronelismo o mandonismo e o clientelismo que satildeo importantes para

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entender como ocorreu o processo de dominaccedilatildeo social ao longo dos anos

Carvalho na obra citada esclarece que no coronelismo (predominante durante a Primeira Repuacuteblica) o coronel possuiacutea todo o poder em determinadas regiotildees contando com o apoio do Estado no qual a intervenccedilatildeo deste dava aos coroneacuteis uma nova posiccedilatildeo nos cargos puacuteblicos e estes retribuiacuteam fazendo com que o povo votasse e dessa forma a permanecircncia do determinado governo no poder jaacute que nesse periacuteodo o voto era tido como de cabresto Sendo assim ldquoum sistema poliacutetico nacional baseado em barganhas entre o governo e os coroneacuteisrdquo (Carvalho 1997) Conforme o autor o coronelismo entrou em decliacutenio ldquoretrata-se com uma curva tipo sino surge atinge o apogeu e cai num periacuteodo de tempo relativamente curtordquo (ibid 1997 p 4)

Sobre o mandonismo podemos descrevecirc-lo como uma relaccedilatildeo de poder na qual sempre iraacute existir uma autoridade maior que dita suas regras e cabe aos demais obedecerem O coronelismo seria uma caracteriacutestica desse conceito que ultrapassa todas as linhas temporais jaacute que estaacute presente em todos os processos histoacutericos

O mandonismo natildeo eacute um sistema eacute uma caracteriacutestica da poliacutetica tradicional Existe desde o iniacutecio da colonizaccedilatildeo e sobrevive ainda hoje em regiotildees isoladas A tendecircncia eacute que desapareccedila completamente agrave medida que os direitos civis e poliacuteticos alcancem todos os cidadatildeos (CARVALHO 2017 p 2 )

Um outro conceito primordial para entender o

exerciacutecio do poder eacute o clientelismo Essa forma de dominaccedilatildeo se daacute de modo mais mascarado ou seja ocorre uma aproximaccedilatildeo entre o que dita o poder e aquele que obedece deixando a relaccedilatildeo mais dissimulada na qual a sociedade sinta

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que estaacute vivendo em uma igualdade social poreacutem os que gozam do poder estatildeo sempre buscando formas de permanecircncia no poder ganhando prestiacutegio e aumentando assim suas barganhas poliacuteticas O USO DAS EMENDAS PARLAMENTARES COMO DOMINACcedilAtildeO SOCIAL

O intuito de buscar entender como ocorreu a formaccedilatildeo

poliacutetica social do Brasil eacute no sentido de uma melhor explicaccedilatildeo de como dominaccedilatildeo poliacutetica eacute exercida na atualidade Como uma forma dessa dominaccedilatildeo temos as emendas parlamentares que satildeo parte do orccedilamento puacuteblico que os legisladores brasileiros tecircm a seu dispor para direcionar recursos oriundos do orccedilamento da Uniatildeo

As emendas podem ser distribuiacutedas individualmente ou por bancada Satildeo propostas no periacuteodo da elaboraccedilatildeo do projeto de lei orccedilamentaacuteria Este orccedilamento eacute distribuiacutedo para os

parlamentares com o argumento de que eles conhecem melhor as necessidades do municiacutepio e do estado que fazem parte

Em Sergipe a distribuiccedilatildeo das emendas nos anos de 2015-2017 foi para os seguintes parlamentares Almeida Lima (PMDB) Andreacute Moura (PSC) Adelson Barreto (PR) Antocircnio Carlos Valadares (PSB) Bosco Costa41(PROS) Eduardo Amorim (PSC) Faacutebio Reis (PMDB) Faacutebio Mitidieri (PSD) Joatildeo Daniel (PT) Jony Marcos (PRB) Laeacutercio Oliveira (PR) Maria do Carmo Alves (DEM) Mendonccedila Prado (DEM)

41Tomou posse do cargo no ano de 2016 assim que o deputado Valadares Filho se afastou do poder para realizar a campanha eleitoral

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Maacutercio Macedo (PT) Valadares Filho (PSB) Rogeacuterio Carvalho (PT) e Viacuterginio Carvalho42 (PSC)

De acordo com o site da Cacircmara dos Deputados no ano de 2015 foi realizada uma grande parte das emendas individuais em Sergipe tendo como maiores beneficiados dessa liberaccedilatildeo de emendas os deputados Andreacute Moura (PSC) e Laeacutercio Oliveira (PR) O nuacutemero de emendas abrangeu o territoacuterio sergipano Foram 103 emendas para os municiacutepios Sergipe fora as de Bancada e as individuais que natildeo registravam o local de destino

Em 2016 esse nuacutemero diminuiu sendo apenas 34 emendas para o estado Assim como a distribuiccedilatildeo abrangeu grande parte dos recursos para a capital sergipana Devemos analisar tambeacutem o contexto poliacutetico que o Brasil atravessou neste periacuteodo como o Impeachment da presidenta Dilma Rousseff (31082016) Em 2017 ocorreu uma diminuiccedilatildeo no nuacutemero de emendas liberadas para todo o estado Sergipe recebeu cerca de 38 emendas individuais conforme mostram os graacuteficos 1 2 e 3 que apresentam o nuacutemero de emendas apresentadas pelos deputados federais

42Segundo suplente da Senadora Maria do Carmo

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Fonte Cacircmara dos Deputados 2015

Fonte Cacircmara dos deputados 2016

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Fonte Cacircmara dos Deputados 2017

Outro fator que merece ser analisado eacute a forma de

distribuiccedilatildeo dessas emendas que ocorre de acordo com a decisatildeo do parlamentar conforme seus interesses e relaccedilotildees com os prefeitos O que se constata eacute a existecircncia de uma concentraccedilatildeo de recursos nos mesmos municiacutepios (Aracaju e Lagarto) e outros que natildeo foram contemplados com nenhuma emenda (ver figuras 1 e 2)

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Figura 01

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Figura 02

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Observa-se que haacute uma maior concentraccedilatildeo de emendas

nos municiacutepios do Centro-sul do estado e alguns municiacutepios que natildeo receberam emendas nenhuma Isto revela a relaccedilatildeo estreita entre as bases eleitorais e os parlamentares que estatildeo no exerciacutecio do poder poliacutetico Aleacutem disso evidencia que deixar a cargo de parlamentares o planejamento e liberaccedilatildeo de recursos para a realizaccedilatildeo de uma poliacutetica de desenvolvimento nos municiacutepios soacute reproduz uma desigualdade territorial jaacute existente

Isso implica na forma de reconhecimento que cada parlamentar representa nos municiacutepios em que eles empregam seus recursos pois ao beneficiar um certo municiacutepio a populaccedilatildeo ali presente ira se sentir grata e retribuir com o voto CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A discussatildeo abordada neste artigo teve o intuito de

analisar como a forma de dominaccedilatildeo poliacutetica vem sendo reproduzida na sociedade brasileira e como mecanismo deste processo atualmente temos as emendas parlamentares Foi apresentado inicialmente a forma como alguns autores interpretam as relaccedilotildees sociais atuais por meio dos fatores histoacutericos da constituiccedilatildeo da sociedade brasileira e como o sistema poliacutetico brasileiro busca maneiras de barganhas perante os direitos da populaccedilatildeo

A dominaccedilatildeo poliacutetica atual estaacute na forma das emendas parlamentares que fortalecem a (re)produccedilatildeo dessa relaccedilatildeo de poder exercida pelos parlamentares A distribuiccedilatildeo de forma irregular eacute um exemplo de grande importacircncia da atuaccedilatildeo desses parlamentares pois a maioria dos recursos liberados para os municiacutepios coincidem com os interesses proacuteprios

Os setores que mais recebem emendas assim como os municiacutepios estatildeo relacionados aos interesses dos

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representantes poliacuteticos pois eles iratildeo se utilizar de um direito social para perpetuar-se no poder alegando que esses recursos satildeo resultado do seu proacuteprio trabalho por isso a utilizaccedilatildeo da expressatildeo uso do puacuteblico como privado Eacute importante destacar tambeacutem que cada parlamentar com seu partido pode ou natildeo obter maiores recursos de acordo com seu poder de influecircncia pelo fato tambeacutem que muitos se aproveitam do cenaacuterio poliacutetico para obter um maior reconhecimento e assim influenciar a populaccedilatildeo para que permaneccedila no poder

Desse modo eacute necessaacuterio mostrar como ocorre o jogo poliacutetico como cada parlamentar recebe pelos seus atos e barganhas porque o fato de retirar um direito social eacute isso um tipo de barganha cada vez mais evidente na sociedade brasileira Os recursos que deveriam ser liberados para a sociedade satildeo de certa forma vendidos para a necessidade de um poder privado para permanecer no governo REFEREcircNCIAS BRASIL Emenda Constitucional nordm 86 de 17 de marccedilo de 2015 BRASIL E-SIC Sistema Eletrocircnico de Informaccedilatildeo ao Cidadatildeo Disponiacutevel em httpsesiccgugovbrsistemasiteindexaspx Acesso em 08122017 BRASIL CAcircMARA DOS DEPUTADOS Disponiacutevel em httpwww9senadogovbrQvAJAXZfcopendochtmdocument=senado2Fsigabrasilpainelcidadaoqvwamphost=QVS40www9ampanonymous=trueampSheet=SH14 Acesso em 1409 2017

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CARVALHO Joseacute Murilo Mandonismo Coronelismo Clientelismo Uma Discussatildeo Conceitual Revista Dados v 40 n 2 Rio de Janeiro 1997 Disponiacutevel em httpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid=S0011-52581997000200003 Acesso em 1008 2017 CHAUI Marilena Convite agrave filosofia Satildeo Paulo Aacutetica 2000 HOLANDA Seacutergio Buarque Raiacutezes do Brasil 26ed Satildeo Paulo Companhia das Letras1995 SOUZA Jesseacute A Elite do Atraso da Escravidatildeo agrave Lava-Jato Rio de Janeiro Casa das Palavras 2017 CONTAS ABERTAS Disponivel em lthttpwwwcontasabertascombrsitegt Acesso em 14072017

POLITIZE O que satildeo emendas parlamentares ndash e por que satildeo tatildeo polecircmicas Disponiacutevel em httpwwwpolitizecombremenda-parlamentar-o-que-e Acesso 21092017

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A PRECARIZACcedilAtildeO DO TRABALHO HUMANO UMA ANAacuteLISE EM TORNO DA PRODUCcedilAtildeO DE DOCES EM UMA FAacuteBRICA DO MUNICIacutePIO DE

LAGARTOSE

Brenda Mirely Ribeiro de Souza43 Universidade Federal de Sergipe Graduada em Geografia

brenda_mirelyhotmailcom

Bruno Andrade Ribeiro44 Universidade Federal de Sergipe Mestrando em Geografia

ribeiropensadorgmailcom

Simone dos Santos Silva45 Universidade Federal de Sergipe Graduada em Geografia

simonepatuhotmailcom

RESUMO

O presente trabalho trata-se de um relato de discussotildees e experiecircncias na graduaccedilatildeo em Geografia e discute a importacircncia da abordagem sobre o mundo do trabalho para graduandos desta ciecircncia Com o mais recente processo de

43 Membro associado ao Grupo de Pesquisa Relaccedilatildeo Sociedade Natureza e Produccedilatildeo do Espaccedilo Geograacutefico (PROGEOUFS) coordenado pela Prof Dra Josefa de Lisboa Santos Membro do Laboratoacuterio de Estudos Territoriais (LATERPPGEOUFS) 44 Bolsista do CNPq orientado pela Professora Dra Josefa de Lisboa Santos (PPGEOUFS) Pesquisador do Grupo de Pesquisa Relaccedilatildeo Sociedade Natureza e Produccedilatildeo do Espaccedilo Geograacutefico (PROGEOCNPqUFSPPGEO) Membro do Laboratoacuterio de Estudos Territoriais (LATERPPGEOUFS) 45 Membro do Laboratoacuterio de Estudos Territoriais (LATERPPGEOUFS)

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reestruturaccedilatildeo produtiva do capital o labor condiccedilatildeo essencial para a sobrevivecircncia humana perpassou por ressignificaccedilotildees que por sua vez foram responsaacuteveis pelas muacuteltiplas metamorfoses do trabalho que possuem como principal caracteriacutestica a precarizaccedilatildeoprecariedade das relaccedilotildees trabalhistas Nessa discussatildeo as aulas da disciplina de Geografia e Trabalho e as reuniotildees do Programa de Educaccedilatildeo Tutorial (PET) se constituiacuteram em loacutecus de debate sobre a tendecircncia de negaccedilatildeo do humano e as possiacuteveis implicaccedilotildees na produccedilatildeo do espaccedilo As leituras discussotildees em sala de aula e observaccedilotildees em atividade de campo possibilitaram a compreensatildeo acerca do trabalho e do trabalhador contemporacircneo e suas formas de se manterem vivos em um contexto de contratos temporaacuterios desemprego estrutural subcontrataccedilatildeo privatizaccedilatildeo e terceirizaccedilatildeo Sendo assim trata-se de um artigo que elenca as contribuiccedilotildees da Geografia do trabalho para a formaccedilatildeo inicial de professores de Geografia PALAVRAS-CHAVE Geografia do Trabalho Reestruturaccedilatildeo Produtiva Precarizaccedilatildeo INTRODUCcedilAtildeO

O presente escrito discute a importacircncia de se

compreender geograficamente o metabolismo societaacuterio do trabalho no seacuteculo XXI tendo as contribuiccedilotildees da graduaccedilatildeo em Geografia como suporte para o debate teoacuterico-metodoloacutegico a respeito das implicaccedilotildees da reestruturaccedilatildeo produtiva do capital no trabalho humano mais especificamente nos debates conclusos na disciplina de

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Geografia e Trabalho46 e nas reuniotildees do Programa de Educaccedilatildeo Tutorial (PET ndash DGEIUFS)47

As aulas puderam oferecer aos discentes uma seacuterie de argumentos conceitos e temas associados agraves leituras discussotildees e observaccedilotildees de campo realizadas a uma faacutebrica do municiacutepio de Lagarto na microrregiatildeo do Centro-Sul Sergipano A precarizaccedilatildeo do labor enquanto tendecircncia do mundo do trabalho na contemporaneidade se achou perceptiacutevel atraveacutes das visitas e observaccedilotildees acerca do fazersaber individual e coletivo dos trabalhadores Uma faacutebrica de doces em que se identifica a especificidade das funccedilotildees com homens desempenhando atividades na caldeira e corte dos doces e mulheres coletando-os jaacute cortados repassando-os em esteiras tiacutepicas de um modelo poacutes-fordista e os embalando Jovens em sua maioria sujeitados a contratos de trabalho que natildeo ultrapassam os seis meses de vigecircncia desprotegidos de possiacuteveis acidentes devido agrave ausecircncia de EPIs (Equipamentos de Proteccedilatildeo Individual) cumprindo cargas horaacuterias extenuantes e recebendo em troca valores insignificantes por produccedilatildeo

Destarte objetiva-se abordar a importacircncia das aulas de Geografia enquanto contato inicial com a ideia de precarizaccedilatildeo do trabalho e como esta se materializa no espaccedilo bem como o papel do geoacutegrafo na anaacutelise dos mais recentes processos de exploraccedilatildeo do trabalho em sua condiccedilatildeo abstrata

A disciplina de Geografia e Trabalho presente na grade curricular do Curso de Geografia na Universidade

46 Disciplina optativa inclusa na grade curricular do Curso de Geografia (DGEI) Campus Universitaacuterio ldquoProfessor Alberto Carvalhordquo Universidade Federal de Sergipe (UFS) ministrada pela Professora Vanessa Dias de Oliveira no Semestre 20162 47 O Programa de Educaccedilatildeo Tutorial (PET) do Curso de Geografia atualmente eacute coordenado pelo Professor Joseacute Hunaldo Lima

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Federal de Sergipe ofereceu aos discentes um referencial teoacuterico-metodoloacutegico formado por leituras de geoacutegrafos economistas poliacuteticos e socioacutelogos aleacutem de diaacutelogos atraveacutes de apresentaccedilotildees orais sobre temas e conceitos intriacutensecos ao mundo do trabalho capitalista apoacutes a mais recente reestruturaccedilatildeo produtiva do capital Em relaccedilatildeo ao Programa de Educaccedilatildeo Tutorial os debates estiveram centrados na relaccedilatildeo Trabalho e Pobreza atraveacutes da construccedilatildeo de um estudo criacutetico acerca de publicaccedilotildees a exemplo do Atlas da Questatildeo Agraacuteria Brasileira organizado por Eduardo Paulon Girardi e do Atlas da Extrema Pobreza no Norte e Nordeste do Brasil em 2010 cuja autoria eacute atribuiacuteda a especialistas vinculados ao Instituto de Pesquisas Econocircmicas Aplicadas (IPEA) e agrave ONU (Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas)

Em suma um artigo sobre contribuiccedilotildees epistemoloacutegicas que se configura em socializaccedilatildeo acerca de aulas reuniotildees apresentaccedilotildees e observaccedilotildees de campo para a formaccedilatildeo de geoacutegrafos futuros professores entendedores sobre a condiccedilatildeo espacial mediada pelo trabalho humano que com o advento do modo de produccedilatildeo capitalista tornou-se fonte essencial para extraccedilatildeo de Mais-ValorMais-Valia e desse modo para a acumulaccedilatildeo de capital retirando o valor necessaacuterio agrave sobrevivecircncia dos trabalhadores Nas palavras do escritor de O Capital ldquoEntretanto mais do que outro modo de produccedilatildeo esbanja seres humanos desperdiccedila carne e sangue dilapida nervos e ceacuterebrordquo (MARX 1974 p 97) DESENVOLVIMENTO AULAS DE GEOGRAFIA E SUAS CONTRIBUICcedilOtildeES PARA A COMPREENSAtildeO SOBRE O MUNDO DO TRABALHO48

48 Considera-se o termo Mundo do Trabalho enquanto expressatildeo das recentes transformaccedilotildees objetivas e subjetivas do labor humano no acircmbito de uma sociedade capitalista

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A Geografia enquanto ciecircncia reveladora de maacutescaras sociais tem papel importante na anaacutelise de relaccedilotildees sociais pois elas se realizam enquanto relaccedilotildees espaciais (CARLOS 2016) O espaccedilo geograacutefico possui uma natureza social na medida em que no processo de formaccedilatildeo territorial tem-se a transformaccedilatildeo de uma ldquoprimeira naturezardquo em ldquosegunda naturezardquo atraveacutes do trabalholabor humano categoria central para a compreensatildeo do fenocircmeno humano-social (NETTO BRAZ 2009)

Com essas palavras iniciais pode-se discutir o interesse desse artigo as aulas de Geografia enquanto construto de um entendimento sobre as recentes mutaccedilotildees na organizaccedilatildeo social do trabalho no contexto de barbaacuterie da recente ofensiva neoliberal no Brasil tendo como plano de fundo a reestruturaccedilatildeo produtiva do capital no seacuteculo XXI Aliaacutes termos como lsquoreestruturaccedilatildeo produtivarsquo lsquocrise estruturalrsquo lsquoDivisatildeo Internacional do Trabalhorsquo lsquorelaccedilatildeo capitaltrabalhorsquo lsquoEstadorsquo lsquoneoliberalismorsquo lsquomundializaccedilatildeorsquo comeccedilam a fazer parte do vocabulaacuterio dos graduandos com as discussotildees empreendidas em disciplinas como Produccedilatildeo e Organizaccedilatildeo do Espaccedilo Geograacutefico Mundial Geografia Econocircmica Geografia e Trabalho Geografia Regional e Geografia Poliacutetica49 As leituras de geoacutegrafos socioacutelogos economistas e cientistas poliacuteticos embasaram as ideias aqui expostas no sentido de tecerem argumentos sobre o papel do trabalho na mediaccedilatildeo sociedadenatureza e os sentidos atribuiacutedos a esta categoria nas uacuteltimas deacutecadas Desse modo os planos de curso das disciplinas natildeo devem ser subestimados pelos graduandos mestrandos doutorandos e demais profissionais vinculados agrave ciecircncia que serve em primeiro lugar para fazer a guerra A bibliografia os procedimentos metodoloacutegicos (discussotildees de

49 Disciplinas da grade curricular do curso de Geografia Departamento de Geografia do Campus de Itabaiana (DGEIUFS)

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textos trabalhos de campo apresentaccedilotildees orais transmissatildeo de documentaacuterios e filmes) e os conteuacutedos programaacuteticos considerados em seu conjunto configuram-se em importante exerciacutecio de se analisar as recentes transformaccedilotildees da principal forma de realizaccedilatildeo do ser humano o trabalho

Na disciplina de Geografia e Trabalho os discentes entraram em contato com o debate sobre o Trabalho e as suas muacuteltiplas determinaccedilotildees na produccedilatildeo do espaccediloterritoacuterio A categoria foi compreendida a partir de seu significado histoacuterico-ontoloacutegico o homem se fezfaz ser humano tendo o seu labor (capacidade de transformar algo) como modo de satisfazer suas necessidades Um intercacircmbio consciente que eacute teleoloacutegicopensado atraveacutes de finalidades teacutecnico exigindo instrumentos especiacuteficos e interativo-social intriacutenseco agrave cooperaccedilatildeo entre os homens (ALVES 2012) E ao analisar alguns estudiosos que ancoram suas pesquisas no mundo do trabalho Nota-se que os mesmos relatam que o trabalho eacute o grande mediador da relaccedilatildeo dialeacutetica entre sociedade-natureza E que o mesmo constitui-se em uma condiccedilatildeo essencial para a existecircncia humana

O trabalho eacute categoria fundante do mundo dos homens ao atender simultaneamente as necessidades de toda sociabilidade produccedilatildeo e reproduccedilatildeo da subsistecircncia sem a qual nenhum ser humano sobreviveria e na medida em que os homens ao transformarem esse mundo natural transformam a sua natureza social esta transformaccedilatildeo se processa objetivamente e subjetivamente Entende-se o capital como uma relaccedilatildeo social que subordina estruturalmente o trabalho e o subjuga de forma radical no modo de produccedilatildeo capitalista Compreende-se o trabalho em sua condiccedilatildeo ontoloacutegica na unidade valor de uso e valor de troca

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mediador universal da relaccedilatildeo homem-natureza e que no modo de produccedilatildeo capitalista assume a forma plena de mercadoria (OIVEIRA 2011p 182)

Sendo assim com base nas leituras de Alves (2012)

Oliveira (2012) e Thomaz Junior (2004) compreendeu-se que o trabalho contemporacircneo se insere na loacutegica de acumulaccedilatildeo de capital baseada na extraccedilatildeo de Mais-Valia Ou seja o trabalho emerge enquanto mercadoria sob o regime do salariato com todas as formas de transformaccedilatildeo da natureza articuladas em um sistema de produccedilatildeo o mundo do trabalho O trabalho perde sua essecircncia e torna-se alienaccedilatildeo na medida em que o trabalhador natildeo se enxerga enquanto explorado caminhando-se para o avanccedilo das forccedilas produtivas sob formas sociais estranhadas espaccedilos de barbaacuterie social

De acordo com Oliveira (2012) no atual modo de produccedilatildeo a transformaccedilatildeo da natureza pelo trabalho eacute um valor de troca retirando-se seu sentido concreto e transformando-o em abstrato Uma vez que por estarmos inseridos no modo de produccedilatildeo capitalista o trabalho deixa de ser um trabalho uacutetil (vivoconcreto) e passa a ser um trabalho alienado (mortoalienado) Que na execuccedilatildeo desse uacuteltimo haacute uma perda total ou parcial da consciecircncia do seu criador o qual passa por um processo de alienaccedilatildeo que retira a essecircncia do ser e o coisifica

Enquanto o trabalho uacutetil-concreto eacute qualitativo e cria valores de uso necessaacuterio ao ser humano para satisfazer socialmente as suas necessidades fiacutesicas e espirituais o trabalho abstrato eacute pura e simplesmente qualitativo a substacircncia e a grandeza do valor e produz mais-valia (valor excedente para o capital) (CHAGAS 20012 p 04)

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Nessa discussatildeo pode-se falar em precarizaccedilatildeo do trabalho enquanto caracteriacutestica inerente ao Capitalismo mais especificamente no poacutes-1973 com a mais recente reestruturaccedilatildeo produtiva do capital A lsquocondiccedilatildeo poacutes-modernarsquo soacute pode ser compreendida levando-se em consideraccedilatildeo a transiccedilatildeo de um modelo fordista-taylorista para um modelo baseado na acumulaccedilatildeo flexiacutevel tendo o emblemaacutetico ano de 1973 como resultante de uma seacuterie de fatores adversos ao longo da deacutecada de 1960 no centro capitalista (HARVEY 2006 2012)

Os discentes compreenderam embasados pela leitura de Harvey (2012) que a crise estrutural que precede os ldquo30 anos gloriososrdquo eacute resultante de um contexto de grande capacidade excedente sem uso pelas corporaccedilotildees e induacutestrias bem como intensa competiccedilatildeo entre paiacuteses A saiacuteda encontrada para que o sistema natildeo ruiacutesse foi a da reestruturaccedilatildeo e intensificaccedilatildeo do controle do trabalho tecnologia automaccedilatildeo novas linhas e nichos de mercado dispersatildeo geograacutefica Com isso os patrotildees tiravam proveito do enfraquecimento do poder sindical e da grande quantidade de forccedila de trabalho excedente para impor regimes de contratos mais flexiacuteveis Reduz-se o emprego formal regular em favor do crescente uso do trabalho em tempo parcial temporaacuterio ou subcontratado (HARVEY 2012) Argumenta Alves (2012) que

[] o novo complexo de reestruturaccedilatildeo produtiva surge no interior da III Revoluccedilatildeo Industrial que impulsionou a revoluccedilatildeo tecnoloacutegica da microeletrocircnica e das redes telemaacuteticas e informacionais e sob a mundializaccedilatildeo do capital e do soacutecio-metabolismo da barbaacuterie com a constituiccedilatildeo do precaacuterio mundo do trabalho (ALVES 2012 p 155)

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Desde que se existe Capitalismo perpassou-se por

reestruturaccedilotildees produtivas no seacuteculo XX com o modelo fordista-taylorista e a partir da crise estrutural do capital em 1973 com a universalizaccedilatildeo do toyotismo Modelo este a priori localmente japonecircs (ateacute os anos de 1970) transfigurando-se na lsquoideologia orgacircnicarsquo do atual processo de reestruturaccedilatildeo caracterizado por variadas inovaccedilotildees nos mais distintos acircmbitos organizacionais tecnoloacutegicas soacutecio-metaboacutelicas econocircmicas geoeconocircmicas poliacutetico-institucionais e culturais (ALVES 2012)

As consequecircncias para a classe-que-vive-do-trabalho satildeo diversas para natildeo dizer desumanas a citar desproletarizaccedilatildeo ampliaccedilatildeo da informalidade subproletarizaccedilatildeo (trabalhos parciais terceirizados temporaacuterios precaacuterios) feminizaccedilatildeo superexploraccedilatildeo exclusatildeo dos jovens e idosos e expansatildeo do trabalho infantil (THOMAZ JUNIOR 2004) Nas palavras do coordenador do CEGeT50

Por outro lado o mais importante aspecto do ponto de vista da regulaccedilatildeo social eacute que quase tudo que ateacute meados dos anos 80 era considerado ilegal como viacutenculo de trabalho sem carteira assinada ou sem registro contrato temporaacuterio instabilidade jornada com duraccedilatildeo variaacutevel ganharam natildeo somente dimensatildeo da legalidade mas tambeacutem da chancela de legitimidade (THOMAZ JUNIOR 2004 p 8)

Portanto a precarizaccedilatildeo do labor humano se coloca

enquanto tendecircncia da organizaccedilatildeo social contemporacircnea com

50 Centro de Estudos de Geografia do Trabalho [httpcegetfctunespbr]

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implicaccedilotildees diretas nas concepccedilotildees de espaccedilo e territoacuterio outros coacutedigos e arranjos espaciais se apresentam para serem decifrados (natildeo eacute somente uma faacutebrica da mesma forma natildeo eacute somente o trabalhador que vende sua forccedila de trabalho)

PRECARIZACcedilAtildeOPRECARIEDADE DO TRABALHO ANAacuteLISE REFERENTE Agrave FAacuteBRICA

Tais fundamentaccedilotildees puderam ser visualizadas tanto

nas discussotildees realizadas no ambiente acadecircmico atreladas ao mundo do trabalho quanto nas observaccedilotildees de campo na faacutebrica visitada Ao longo das discussotildees efetivaram-se diaacutelogos sobre a relaccedilatildeo entre a produccedilatildeo do espaccedilo e temas abordados as metamorfoses do trabalho implicam em reordenamentos territoriais - faacutebricas menores que sustentam a demanda por mercadorias descentralizadas em porccedilotildees do espaccedilo deslocamentos pendulares da classe trabalhadora pelo territoacuterio (interurbano intercampo ou campo-cidade) tendecircncia agrave expansatildeo da camelotagem e da terceirizaccedilatildeo e a consequente desterritorializaccedilatildeo dos trabalhadores (THOMAZ JUNIOR 2004)

Estes satildeo somente alguns exemplos de materializaccedilotildees espaciais que espelham a retirada da concha de seu caracol ou seja a alienaccedilatildeo do trabalhador atraveacutes da separaccedilatildeo de seu saberfazer do produto final de seu esforccedilo Para Antunes (2005) no mundo contemporacircneo percebe-se uma lsquoexplosatildeorsquo do chamado lsquonatildeo-trabalhorsquo (quase um terccedilo da forccedila humana disponiacutevel para o ato laboral se encontra exercendo trabalhos parciais precaacuterios temporaacuterios ou jaacute vivencia os efeitos do desemprego estrutural) Seja no Centro ou na Periferia presenciam-se as vicissitudes da precarizaccedilatildeo do trabalho o aumento do desemprego em paiacuteses como Alemanha e Franccedila as condiccedilotildees degradantes de trabalho na Iacutendia e na Ruacutessia poacutes-sovieacutetica o modelo japonecircs de intensa

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exploraccedilatildeo trabalhista marcada por cargas horaacuterias extenuantes e suiciacutedios em massa (ANTUNES 2005) No Brasil a deacutecada de 1990 configurou-se determinante para a consolidaccedilatildeo de uma conjuntura de transformaccedilotildees territoriais o inchaccedilo do mercado financeiro e uma reestruturaccedilatildeo produtiva que implicou na generalizaccedilatildeo do trabalho precaacuterio Tal realidade se fez em poderoso instrumento de desorganizaccedilatildeo e fragilizaccedilatildeo da classe trabalhadora com o esvaziamento do sentimento de pertencimento de classe Uma plasticidade do trabalho aos moldes dos interesses capitalistas encolhem-se os trabalhadores formais e expandem-se o subemprego a terceirizaccedilatildeo o trabalho temporaacuterio e o trabalho domiciliar (THOMAZ JUNIOR 2004)

O trabalho de campo organizado agrave faacutebrica Unibom no municiacutepio de Lagarto no Centro-Sul Sergipano (figura 1) ofereceu mostras dessa precarizaccedilatildeoprecariedade

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FIGURA 1ndash Mapa de Localizaccedilatildeo Lagarto Sergipe

Fonte SOUZA B M R (2018)

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A princiacutepio tem-se doces conhecidos popularmente

como lsquoquebra-queixorsquo enquanto mercadoria produzida no circuito de realizaccedilatildeo de mais-valia destinadas para os consumos localregionalnacional Desse modo trata-se a priori de uma pequena faacutebrica sem uma demanda expressiva e ao mesmo tempo sem exigecircncia de forccedila de trabalho qualificada pois a proacutepria mercadoria determina pouco investimento em Capital Constante (maquinaacuterio ferramentas em geral infraestrutura) Com isso a organizaccedilatildeo social do trabalho apresenta-se precarizada em um espaccedilo insalubre caracterizado pela falta de ventilaccedilatildeo e equipamentos de proteccedilatildeo individual que possam prevenir os trabalhadores de possiacuteveis acidentes

A maior parcela dos trabalhadores eacute formada por mulheres com idades entre 20 e 35 anos sendo habitantes do proacuteprio municiacutepio que interromperam os estudos para conseguir algum tipo de remuneraccedilatildeo Os homens por sua vez satildeo responsaacuteveis pelo trabalho braccedilal vinculado agrave caldeira e ao corte dos doces retirados em forma de placas quadriculadas

Os discentes observaram que a presenccedila da esteira possibilita uma leitura sobre a complexidade das relaccedilotildees de produccedilatildeo baseadas na acumulaccedilatildeo flexiacutevel mesclando caracteriacutesticas de modelos como o Fordismo-Taylorismo Poreacutem ao contraacuterio do trabalhador formal industrial tiacutepico do modelo fordista durante o Estado de Bem-Estar percebeu-se uma forccedila de trabalho descartaacutevel desumanizada que adentram o acircmbito da faacutebrica agraves 06h30min com pausa para almoccedilo entre as 12h00min e 13h00min indo ateacute as 17h00min realidade esta que contraria os relatos dos proacuteprios trabalhadores que apontam uma carga horaacuteria de oito horas diaacuterias Ou seja formas de trabalho baseadas na acumulaccedilatildeo flexiacutevel toyotista

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O trabalho repetitivo comparado ao que faz o personagem principal de Tempos Modernos (Estados Unidos 1936 83 min) associado agrave uma carga horaacuteria extenuante agrave falta de equipamentos de proteccedilatildeo (natildeo existem instrumentos para proteccedilatildeo contra cortes ou possiacuteveis acidentes com maacutequinas empacotadeiras) nos faz repensar a ideia de lsquoglobalizaccedilatildeorsquo eou o discurso de modernizaccedilatildeo de todas as coisas que conhecemos pois conforme Meacuteszaacuteros (2011 p 111) ldquoAssim a lsquoglobalizaccedilatildeorsquo muito idealizada em nossos dias na realidade significa o desenvolvimento necessaacuterio de um sistema internacional de dominaccedilatildeo e subordinaccedilatildeordquo

O coco servido para a produccedilatildeo dos doces tem como procedecircncia o municiacutepio sergipano de Estacircncia enquanto as mercadorias satildeo comercializadas para os estados de Satildeo Paulo Piauiacute e Maranhatildeo realizando desse modo o capital enquanto relaccedilatildeo social penetrando no domiacutenio da circulaccedilatildeo (MEacuteSZAacuteROS 2011) Os contratos de trabalho variam entre 15 dias e 9 meses no maacuteximo com salaacuterios calculados por produccedilatildeo a cada 200 caixas de doces ganha-se 1 real somando-se ao mecircs em torno de 60000 reais Portanto a face mais desumana de uma fase de reestruturaccedilatildeo produtiva marcada pela barbaacuterie social com o retrocesso nas condiccedilotildees de trabalho CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Em siacutentese faz-se necessaacuterio salientar a importacircncia que a

graduaccedilatildeo em Geografia possui no desvelar as metamorfoses do mundo do trabalho no seacuteculo XXI Desse modo percebe-se que os textos e discussotildees realizadas em sala de aula e o trabalho de campo realizado agrave faacutebrica de doces Unibom configuram-se em praacuteticas teoacuterico-metodoloacutegicas reveladoras acerca de relaccedilotildees precarizadas de trabalho A condiccedilatildeo

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espacial que se faz em condiccedilatildeo social expressa os dinamismos humanos que tambeacutem abarca o trabalho e suas ressignificaccedilotildees a partir do desenvolvimento e avanccedilo das forccedilas produtivas na atual sociedade do capital Sendo que o trabalhotransformaccedilatildeo das coisas em prol da satisfaccedilatildeo das necessidades caracteriacutestica que difere o ser humano dos demais seres vivos eacute alvo da reificaccedilatildeo e alienaccedilatildeo marcada pela extraccedilatildeo de valor atraveacutes de um excedente de trabalho A forccedila humana da mesma forma que tudo no mundo transforma-se em mercadoria paga com um salaacuterio e elemento fundamental para a acumulaccedilatildeo de capital

Visto que cada vez mais o que se assiste eacute um processo de fragmentaccedilatildeo do sentido concreto do trabalho que o distorce dando-lhe plasticidade e flexibilidade trabalhos temporaacuterios informais subcontratados domiciliares e terceirizados sinocircnimos da negaccedilatildeo dos direitos trabalhistas e de um miacutenimo bem-estar para a sobrevivecircncia PRECARIZACcedilAtildeO REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS ALVES Giovanni Dimensotildees da Reestruturaccedilatildeo Produtiva Ensaios de Sociologia do Trabalho 2 ed Londrina Praacutexis 2007 288p ANTUNES Ricardo O Caracol e a sua Concha 1 ed Satildeo Paulo Editora Boitempo 2005 135p CHAGAS Eduardo F A determinaccedilatildeo duacutepla do trabalho em marx trabalho concreto e trabalho abstrato Disponiacutevel em httpmarxismo21orgwp-contentuploads201208A-determinaC3A7C3A3o-dupla-Ed-Chagaspdf Acesso em 21032018

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OLIVEIRA Vanessa Dias A informalidade dono mundo do trabalho e os trabalhadores informais precarizados em Itabaianase Revista Geonordeste Ano XXII n2 p179-197 2011 Disponiacutevel em httpwwwseerufsbrindexphpgeonordestearticleview2421 Acesso em 10032018 OLIVEIRA Vanessa Dias de O trabalho na mediaccedilatildeo homem-natureza In CARVALHO Maacutercia Eliane Silva SANTOS Ana Rocha dos (orgs) O fazer geograacutefico teoria e praacutetica Satildeo Cristoacutevatildeo Editora da UFS 2013 HARVEY David A produccedilatildeo capitalista do espaccedilo Satildeo Paulo Annablume 2005 p 129-162 _________ Condiccedilatildeo Poacutes-Moderna uma pesquisa sobre as origens da mudanccedila cultural Satildeo Paulo Editora Loyola 2012 23ordf ed 326p MARX Karl O Capital Livro I Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 1974 MEacuteSZAacuteROS Istvaacuten Para Aleacutem do Capital Satildeo Paulo Boitempo 2011 NETTO Joseacute Paulo BRAZ Marcelo Economia Poliacutetica Uma Introduccedilatildeo Satildeo Paulo Cortez 2009 THOMAZ JUNIOR Antocircnio A Geografia do mundo do trabalho na viragem do seacuteculo XXI Geosul v19 n37 2004

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BOLSA FAMIacuteLIA NA COMPOSICcedilAtildeO DA RENDA CAMPONESA UMA ANAacuteLISE DO MUNICIacutePIO DE

JAPOATAtildeSE51

Lucas Feitosa dos Santos Universidade Federal de SergipeUFS

Graduando em Geografia lucasgeografia1gmailcom

Nuacutebia Dias dos Santos

Universidade Federal de SergipeUFS Doutora em Geografia

nubisantos85gmailcom

RESUMO

O presente trabalho faz uma anaacutelise do programa de distribuiccedilatildeo de renda Bolsa Famiacutelia e seus rebatimentos no municiacutepio de JapoatatildeSE e na comunidade de camponeses de Ladeirinhas ldquoArdquo Essa poliacutetica puacuteblica de distribuiccedilatildeo de renda mesmo natildeo sendo uma poliacutetica voltada para o desenvolvimento das atividades agriacutecolas auxilia para a reproduccedilatildeo social do camponecircs complementando a renda proveniente da lavoura e da venda da forccedila de trabalho Nesse sentindo o programa Bolsa Famiacutelia auxilia e retarda a saiacuteda do camponecircs do campo colaborando para o aumento da renda onde consequentemente as famiacutelias camponesas beneficiadas obteacutem acesso a bens e produtos natildeo produzidos por eles acessando o mercado de bens e serviccedilos retirando milhares de famiacutelias da pobreza e da extrema pobreza no campo e na cidade Os processos metodoloacutegicos utilizados para a coleta de dados foram trabalhos de campo realizados na comunidade

51 Pesquisa realizada com bolsa de iniciaccedilatildeo cientiacutefica da COPESUFS

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por meio da aplicaccedilatildeo de formulaacuterios aos camponeses entrevistados obtenccedilatildeo de dados secundaacuterios obtidos nos oacutergatildeos oficiais como o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica Ministeacuterio do Desenvolvimento Social e Caixa Econocircmica Federal aleacutem de revisatildeo bibliograacutefica sobre o tema PALAVRAS-CHAVE campesinato poliacutetica puacuteblica Bolsa Famiacutelia INTRODUCcedilAtildeO

Apesar do Programa Bolsa Famiacutelia - PBF natildeo ser uma poliacutetica voltada para o desenvolvimento das atividades agriacutecolas dos camponeses essa eacute uma fonte de renda que auxilia a fixaccedilatildeo do camponecircs no espaccedilo rural A partir da anaacutelise dos dados obtidos em campo e dados obtidos junto a oacutergatildeos governamentais contatou-se que o Bolsa Famiacutelia eacute uma das poliacuteticas puacuteblicas junto a Seguridade Social Rural que mais tem acesso os camponeses e que auxilia a permanecircncia do homem camponecircs no seu lugar (SANTOS 2012)

Os Programas de Transferecircncia de Renda foram implantados primeiramente em paiacuteses da Europa a partir dos anos 1930 nos anos de 1980 ganhou destaque no acircmbito internacional e no Brasil comeccedilou a se discutir programas de renda miacutenima somente em 1975 Esses programas visam agrave reduccedilatildeo das desigualdades sociais e a distribuiccedilatildeo monetaacuteria e tambeacutem a melhoria das condiccedilotildees de vida do puacuteblico beneficiado para que tenham acesso ao mercado de bens e serviccedilos e consigam se reproduzir

O Bolsa Famiacutelia eacute um desses Programas de Transferecircncia de Renda que visam a reduccedilatildeo da pobreza tanto na cidade como no campo por meio do repasse monetaacuterio para famiacutelias que vivem na pobreza e na extrema pobreza O PBF nos uacuteltimos anos passou por uma ampliaccedilatildeo e chegou a

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todos os municiacutepios do paiacutes Por intermeacutedio do Programa Bolsa Famiacutelia buscou-se unificar programas jaacute existentes e tambeacutem sua ampliaccedilatildeo pelo territoacuterio nacional expandindo seu acesso e o alcance das famiacutelias

Nesse sentido o presente trabalho visa analisar o repasse do PBF no municiacutepio de Japoatatilde e na Comunidade de Ladeirinhas ldquoArdquo bem como analisar se o programa pode auxiliar o homem camponecircs a continuar no campo como mais uma fonte de renda No Territoacuterio de Planejamento do Baixo Satildeo Francisco Sergipano no qual se localiza o municiacutepio de Japoatatilde encontram-se os municiacutepios que possuem os menores - Iacutendice Desenvolvimento Humano - IDHM (0500 e 0599) do Estado de Sergipe esse iacutendice eacute estipulado pela ONU para avaliar a qualidade de vida e o desenvolvimento econocircmico de uma populaccedilatildeo Nesse sentido o Bolsa Famiacutelia eacute importante fonte de distribuiccedilatildeo de renda no municiacutepio e tambeacutem no territoacuterio de Planejamento (Mapa 1)

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Mapa 1 ndash Localizaccedilatildeo do Municiacutepio de estudo e dos Territoacuterios de

Planejamento de Sergipe

Elaboraccedilatildeo Yarin de Almeida Fonte IBGE 2017

Este trabalho estaacute estruturado da seguinte forma

introduccedilatildeo os programas de transferecircncia de renda no Brasil o alcance da distribuiccedilatildeo do Bolsa Famiacutelia no Municiacutepio de JapoatatildeSE e na comunidade de Ladeirinhas ldquoArdquo e as consideraccedilotildees finais Para essa anaacutelise foram coletados dados em sites como o IBGE e do Ministeacuterio do Desenvolvimento Social aleacutem de dados primaacuterios coletados atraveacutes da aplicaccedilatildeo de formulaacuterios aos entrevistados e a leitura de bibliografias sobre o tema

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OS PROGRAMAS DE TRANSFEREcircNCIA DE RENDA NO BRASIL

Os primeiros Programas de Transferecircncia de Renda remotam a Europa da deacutecada de 1930 mas somente nas deacutecadas de 1970 e 1980 esses programas se espalharam pelo mundo incluindo o Brasil No Brasil as poliacuteticas de distribuiccedilatildeo de renda visavam conciliar o crescimento econocircmico e o bem-estar das populaccedilotildees principalmente pobres atraveacutes da intervenccedilatildeo do Estado que garantiria a transferecircncia monetaacuteria para a subsistecircncia da populaccedilatildeo pobre (SILVA 2004)

Mas eacute somente a partir de 1991 que a ideia de instituiccedilatildeo de Programas de Transferecircncia de Renda comeccedila a fazer parte dos debates poliacuteticos Nesse primeiro momento os programas satildeo pensados e realizados em escala municipal e estadual necessitando haver a unificaccedilatildeo desses programas a niacutevel federal Aleacutem disso o fato de o acircmbito municipal natildeo ter competecircncia legal para o enfrentamento aos grandes poderes constitutivos como a complexidade e coaccedilatildeo do modelo de acumulaccedilatildeo capitalista da miacutedia e os interesses corporativos empresariais (FONSECA 2013 SILVA 2004)

Contudo mesmo nessa conjuntura foram criados os Programas de Garantia de Renda MiacutenimaBolsa Escola em 1991

No Brasil a ideacuteia de instituiccedilatildeo de Programas de Transferecircncia de Renda comeccedila a fazer parte da agenda puacuteblica a partir de 1991 quando eacute apresentado e aprovado no Senado Federal o Projeto de Lei do senador petista Eduardo Suplicy propondo o Programa de Garantia de Renda Miacutenima - PGRM para beneficiar todos os brasileiros residentes no paiacutes maiores de 25 anos de idade com uma renda de ateacute 225 salaacuterios miacutenimos nos valores atuais Inaugura-se entatildeo um processo de

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desenvolvimento desses Programas partindo de Programas de Renda MiacutenimaBolsa Escola em niacutevel municipal chegando agrave recente proposta de unificaccedilatildeo dos inuacutemeros programas criados por governos municipais estaduais e pelo Governo Federal e aprovaccedilatildeo de uma Renda de Cidadania incondicional para todos os brasileiros (SILVA 2004 p 3)

A partir de entatildeo o debate e efetivaccedilatildeo dos Programas

de Transferecircncia de Renda passam a se expandir aleacutem de tudo pelos problemas socioeconocircmicos que o paiacutes enfrentava Dentre o mais agravante o crescimento da pobreza que afetavam fortemente as crianccedilas e adolescentes problemas oriundos do modelo de acumulaccedilatildeo capitalista flexiacutevel receacutem instaurado no Brasil e no mundo Aleacutem dessas problemaacuteticas o modelo poliacutetico do paiacutes brasileiro nesse periacuteodo natildeo favorecia (e ateacute hoje natildeo favorece) o desenvolvimento de poliacuteticas puacuteblicas para uma total transformaccedilatildeo da realidade e disparidade entre ricos e pobres no paiacutes A conjuntura do modelo de acumulaccedilatildeo capitalista nesse periacuteodo fez crescer as desigualdades sociais causando um desemprego estrutural que afetava principalmente os mais pobres ldquoPara diversos analistas e agentes estatais as ldquopoliacuteticas puacuteblicasrdquo seriam um antiacutedoto eficaz por justamente mobilizar as forccedilas do Estado no sentido de impedir a ldquobarbaacuterie do Capitalrdquordquo (FONSECA 2013 p 406)

Contudo apesar dos conflitos de interesses existentes entre as classes mais subalternas e das grandes corporaccedilotildees e interesses poliacuteticos eacute a partir de 2003 sob o entatildeo Governo do Presidente Luiz Inaacutecio Lula da Silva que ocorrem mudanccedilas quantitativas e qualitativas nas Poliacuteticas Puacuteblicas de Transferecircncia de Renda no acircmbito nacional Com crescimento no seu alcance e tambeacutem nos repasses destinados aos programas sociais (FONSECA 2013 SILVA 2004)

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Buscou-se articular os programas desenvolvidos pelos municiacutepios e estados que enfrentavam duas problemaacuteticas muitos dos estados e municiacutepios que implementavam os programas natildeo obtinham de receitas orccedilamentaacuterias para continuaccedilatildeo dos programas e grande parcela dos grupos vulneraacuteveis a serem atingidos pelos programas natildeo estavam incluiacutedos nos Programas de Distribuiccedilatildeo de Renda o que necessitava da intervenccedilatildeo do Poder Federal para a manutenccedilatildeo dos programas e a sua ampliaccedilatildeo a niacutevel nacional aleacutem disso somente o poder Federal a niacutevel do Estado seria capaz mesmo que de forma debilitada barrar de certa medida os ldquopoderes constituiacutedosrdquo52 (FONSECA 2013

Nesse sentido o Bolsa Famiacutelia foi lanccedilado no governo Lula em outubro de 2003 com o intuito de unificar os Programas de Transferecircncia de Renda como Cartatildeo Alimentaccedilatildeo Auxiacutelio Gaacutes Programa Bolsa Alimentaccedilatildeo e o Bolsa Escola A unificaccedilatildeo desses programas no Programa Bolsa Famiacutelia visava o combate agrave fome e a pobreza em articulaccedilatildeo com os Estados Municiacutepios e a Uniatildeo buscando garantir a essas famiacutelias o direito agrave alimentaccedilatildeo o acesso agrave sauacutede e a educaccedilatildeo O Bolsa Famiacutelia foi instituiacutedo pela Lei 1083604 de 09 de janeiro de 2004 e institucionalizado pelo Decreto nordm 5209 de 17 de setembro de 2004 (SILVA 2004 CAIXA 2018 MDS 2017)

Aleacutem da descentralizaccedilatildeo dos programas dos municiacutepios e a articulaccedilatildeo entre Estados Municiacutepios e Uniatildeo visando agrave reduccedilatildeo da fome e da miseacuteria para as populaccedilotildees da cidade e do campo o novo programa objetivava facilitar o acesso aos benefiacutecios sob a regecircncia de uma Secretaacuteria

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O modelo de acumulaccedilatildeo capitalista o sistema poliacutetico brasileiro e o

poder de veto da miacutedia e de outros atores devem ser repensados para o

efeito da criaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas no Brasil

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Executiva descentralizando os Programas de Transferecircncia de Renda dos municiacutepios

O Ministeacuterio do Desenvolvimento Social e Combate agrave Fome ndash MDS (2017) coloca que aleacutem do repasse monetaacuterio o Programa Bolsa Famiacutelia visa melhoria tambeacutem de programas como a alfabetizaccedilatildeo o acesso agrave educaccedilatildeo e a sauacutede Objetivando esforccedilos para a sobrevivecircncia das famiacutelias com a prerrogativa que os filhos com idade escolar estejam na escola agrave frequecircncia regular aos postos de sauacutede entre as crianccedilas de 0 a 6 anos de idade manter atualizado o cartatildeo de vacinas frequecircncia de mulheres gestantes aos exames de rotina retorno de adultos analfabetos agrave escola devendo todas as famiacutelias participar de accedilotildees de educaccedilatildeo alimentar que devem ser oferecidas pelo Governo

O Bolsa Famiacutelia eacute um benefiacutecio da assistecircncia social amparado pelo Ministeacuterio do Desenvolvimento Social e combate agrave fome O Cadastro Uacutenico - CAD para Programas Sociais reuacutene informaccedilotildees socioeconocircmicas das famiacutelias brasileiras de baixa renda ndash aquelas com renda mensal de ateacute meio salaacuterio miacutenimo por pessoa Essas informaccedilotildees permitem ao governo conhecer as reais condiccedilotildees de vida da populaccedilatildeo e a partir dessas informaccedilotildees selecionar as famiacutelias para diversos programas sociais

O programa Bolsa Famiacutelia eacute constituiacutedo por famiacutelias em situaccedilatildeo de pobreza e de extrema pobreza As famiacutelias extremamente pobres satildeo aquelas que tecircm renda mensal de ateacute R$ 8500 por pessoa Jaacute as famiacutelias pobres satildeo aquelas que possuem renda mensal entre R$ 8501 e R$ 17000 por pessoa Para fazer parte do programa as famiacutelias pobres participam desde que tenham em sua composiccedilatildeo gestantes e crianccedilas ou adolescentes entre 0 e 17 anos (MDS 2017)

Para se candidatar ao programa eacute necessaacuterio que a famiacutelia esteja inscrita no Cadastro Uacutenico para Programas Sociais do Governo Federal com seus dados atualizados haacute

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menos de dois anos O cadastramento eacute um preacute-requisito mas natildeo implica na entrada imediata das famiacutelias no programa nem no recebimento do benefiacutecio Mensalmente o MDS seleciona de forma automatizada as famiacutelias que seratildeo incluiacutedas para receber o benefiacutecio A seleccedilatildeo das famiacutelias eacute feita pelo Ministeacuterio do Desenvolvimento Social e Combate agrave Fome com base nos dados inseridos pelas prefeituras no Cadastro Uacutenico dos Programas Sociais do Governo Federal A seleccedilatildeo eacute mensal e os criteacuterios usados satildeo a composiccedilatildeo familiar e a renda de cada integrante da famiacutelia (CAIXA 2018) Jaacute os tipos de benefiacutecios vatildeo aleacutem do Benefiacutecio Baacutesico que eacute concedido agraves famiacutelias em situaccedilatildeo de extrema pobreza (com renda mensal de ateacute R$ 8500 por pessoa) no qual o auxiacutelio eacute de R$ 8500 mensais Aleacutem desse haacute o Benefiacutecio Variaacutevel destinado para as famiacutelias pobres e extremamente pobres que tenham em sua composiccedilatildeo gestantes nutrizes (matildees que amamentam) crianccedilas e adolescentes de 0 a 16 anos incompletos O valor de cada benefiacutecio eacute de R$ 3900 e cada famiacutelia pode acumular ateacute cinco benefiacutecios por mecircs chegando a R$ 19500 O Benefiacutecio Variaacutevel de 0 a 15 anos eacute destinado a famiacutelias que tenham em sua composiccedilatildeo crianccedilas e adolescentes de 0 a 15 anos de idade (MDS 2017)

Aleacutem desses existe tambeacutem o Benefiacutecio Variaacutevel Jovem que eacute destinado agraves famiacutelias que se encontram em situaccedilatildeo de pobreza ou extrema pobreza e que tenham em sua composiccedilatildeo familiar adolescentes entre 16 e 17 anos O valor do benefiacutecio eacute de R$ 4600 por mecircs e cada famiacutelia pode acumular ateacute dois benefiacutecios ou seja R$ 9200 Haacute tambeacutem o Benefiacutecio para Superaccedilatildeo da Extrema Pobreza que eacute destinado agraves famiacutelias que se encontrem em situaccedilatildeo de extrema pobreza Cada famiacutelia pode receber um benefiacutecio por mecircs O valor do benefiacutecio varia em razatildeo do caacutelculo realizado a partir da renda por pessoa da

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famiacutelia e do benefiacutecio jaacute recebido no Programa Bolsa Famiacutelia (CAIXA 2018)

O valor do benefiacutecio varia em razatildeo do caacutelculo realizado a partir da renda por pessoa da famiacutelia e do benefiacutecio jaacute recebido no Programa Bolsa Famiacutelia Vale salientar que as famiacutelias em situaccedilatildeo de extrema pobreza podem acumular o benefiacutecio Baacutesico o Variaacutevel e o Variaacutevel Jovem ateacute o maacuteximo de R$ 37200 por mecircs Como tambeacutem podem acumular 1 (um) benefiacutecio para Superaccedilatildeo da Extrema Pobreza (MDS 2017)

Em todo o Brasil mais de 139 milhotildees de famiacutelias satildeo atendidas pelo Bolsa Famiacutelia (CAIXA 2018) Isso foi possiacutevel a partir da ampliaccedilatildeo e unificaccedilatildeo dos Programas de Distribuiccedilatildeo de Renda que no governo Lula foram unificados no Bolsa Famiacutelia e implantado em todo o territoacuterio Nacional chegando a municiacutepios como Japoatatilde e tambeacutem nos demais municiacutepios do Territoacuterio de Planejamento do Baixo Satildeo Francisco Sergipano onde se encontram os menores IDH-M do Estado Esse avanccedilo demonstra a importacircncia dos Programas de Distribuiccedilatildeo de Renda para os habitantes do municiacutepio que vivem tanto na cidade e no caso em anaacutelise no campo na comunidade de Ladeirinhas ldquoArdquo auxiliando na permanecircncia do homem no campo aliando-se a outras estrateacutegias de reproduccedilatildeo social do camponecircs no seu lugar

O ALCANCE DA DISTRIBUICcedilAtildeO DO BOLSA FAMIacuteLIA NO MUNICIacutePIO DE JAPOATAtildeSE E NA COMUNIDADE DE LADEIRINHAS ldquoArdquo

O municiacutepio de Japoatatilde localiza-se no Territoacuterio de Planejamento do Baixo Satildeo Francisco Sergipano que serve de base para o desenvolvimento e aplicaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas Conta com uma populaccedilatildeo predominante pobre onde mais da metade da populaccedilatildeo residem na zona rural (6667) cerca de

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8626 habitantes e (3333) cerca de 4312 habitantes na zona urbana (IBGE 2010) Os dados mostram a superioridade do nuacutemero de moradores residentes na zona rural comparando com os da zona urbana

Segundo a EMDAGRO (2008) o municiacutepio se caracteriza por uma economia que assim como os demais municiacutepios do Territoacuterio de Planejamento do Baixo Satildeo Francisco tem se comportado de maneira tiacutemida apresentando uma populaccedilatildeo predominantemente pobre com acessos irregulares ao mercado de produtos e serviccedilos assim como havendo oscilaccedilotildees econocircmicas em funccedilatildeo da sazonalidade da produccedilatildeo rural

Devido agraves sazonalidades da produccedilatildeo agriacutecola e da falta de investimento do Estado em poliacuteticas puacuteblicas para o desenvolvimento de atividades agriacutecolas para a agricultura familiar camponesa o Bolsa Famiacutelia se caracteriza como forte componente que auxilia o homem do campo a permanecer na zona rural do municiacutepio A composiccedilatildeo da renda do camponecircs eacute fundamentada em trecircs aspectos fundamentais satildeo eles a produccedilatildeo proacutepria na terra agrave venda da forccedila de trabalho e o recurso oriundos dos instrumentos das poliacuteticas puacuteblicas como o Bolsa Famiacutelia

O Bolsa Famiacutelia como uma poliacutetica puacuteblica de distribuiccedilatildeo de renda foi pensado para unificar os programas de distribuiccedilatildeo de renda com o intuito de diminuir as desigualdades sociais e retirar crianccedilas de trabalhos penosos nas diferentes regiotildees do Brasil tanto na cidade como no campo Nesse intuito a anaacutelise feita demonstra como o Bolsa Famiacutelia tem rebatimentos no campo e auxilia junto a outras estrateacutegias a permanecircncia da unidade familiar camponesa nos diferentes espaccedilos rurais do Brasil

Nesse sentido o PBF eacute um dos programas sociais mais acessados por parte das populaccedilotildees a que satildeo destinadas inclusive nos espaccedilos rurais Este programa tem contribuiacutedo

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em certa medida para a distribuiccedilatildeo de renda no campo e para a consequente diminuiccedilatildeo das desigualdades sociais O Bolsa Famiacutelia apresentou expansatildeo nos uacuteltimos dez anos chegando de fato a todos os municiacutepios brasileiros sobretudo os da Regiatildeo Nordeste do Paiacutes incluindo o municiacutepio Japoatatilde localizado no Territoacuterio de Planejamento do Baixo Satildeo Francisco Sergipano com IDH-M mais baixos do Estado de Sergipe (Graacutefico 1)

Fonte IBGECenso demograacutefico PNUDAtlas do desenvolvimento humano Nota Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal Meacutedia geomeacutetrica dos iacutendices das dimensotildees Renda Educaccedilatildeo e Longevidade com pesos iguais

Eacute impossiacutevel falar de poliacuteticas puacuteblicas de distribuiccedilatildeo

de renda direcionadas a famiacutelia do campo e da cidade sem mencionar o Programa Bolsa Famiacutelia E no Municiacutepio de JapoatatildeSE o total de famiacutelias inscritas no Cadastro Uacutenico em junho de 2017 era de 4207 dentre as quais 3159 com renda per capita familiar de ateacute R$ 8500 322 com renda per capita familiar entre R$ 8501 e R$ 17000 440 com renda per capita familiar entre R$ 17001 e meio salaacuterio miacutenimo 286 com renda

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per capita acima de meio salaacuterio miacutenimo O PBF beneficiou jaacute no ano de 2017 cerca de 2627 famiacutelias representando uma cobertura de 1278 da estimativa de famiacutelias pobres no municiacutepio de Japoatatilde (MDS 2017)

Graacutefico 2 - Renda Per Capta por Famiacutelias Beneficiadas pelo Programa Bolsa Famiacutelia JapoatatildeSE- 2017

Fonte Ministeacuterio do Desenvolvimento e Social Organizaccedilatildeo Feitoza D S 2017

Diante disto as famiacutelias recebem benefiacutecios com valor

meacutedio de R$ 17183 e o valor total transferido pelo Governo Federal em benefiacutecios agraves famiacutelias atendidas alcanccedilou R$ 45139100 no mecircs de junho Em relaccedilatildeo agraves condicionalidades o acompanhamento da frequecircncia escolar com base no bimestre de marccedilo de 2017 atingiu o percentual de 930 para crianccedilas e adolescentes entre 6 e 15 anos o que equivale a 1912 alunos acompanhados em relaccedilatildeo ao puacuteblico no perfil equivalente a 2056 Para os jovens entre 16 e 17 anos o percentual atingido foi de 861 resultando em 359 jovens acompanhados de um total de 417 Jaacute o acompanhamento da

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sauacutede das famiacutelias na vigecircncia de dezembro de 2016 atingiu 580 percentual equivalente a 1218 (MDS 2017)

Os rebatimentos no municiacutepio de Japoatatilde e na comunidade de Ladeirinhas ldquoArdquo abarcam famiacutelias de um total de 2100 que compunham o puacuteblico no perfil para acompanhamento da aacuterea de sauacutede do municiacutepio (MDS 2017) Com diferentes quantitativos de Renda Familiar que eacute um dos componentes para o recebimento do Bolsa Famiacutelia (Quadro 1)

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Tabela 1 Acesso ao Bolsa Famiacutelia como componente da renda segundo a faixa etaacuteria Ladeirinhas ldquoArdquo 20162017

Ndeg Total da Composiccedilatildeo

Familiar

Faixa Etaacuteria

Menos de 1

Salaacuterio Miacutenimo

Ateacute 1 Salaacuterio

Miacutenimo

Ateacute 2

Salaacuterios Miacutenimos

Natildeo possuem

renda

79

0 a 19 34 - - 966

20 a 59 386 138 26 450

Acima de 59 90 728 182 -

Fonte Trabalho de campo 20162017

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Observa-se que na Faixa Etaacuteria de 0 a 19 anos 966 natildeo possuem renda isso demonstra que uma grande demanda do programa Bolsa Famiacutelia que eacute destinado para crianccedilas e jovens consideradas aptos a acessarem o programa Em contra partida na faixa etaacuteria acima de 59 anos os dados mostram que 72 8 possuem renda de ateacute 1 salaacuterio miacutenimomecircs revelando a presenccedila da Previdecircncia Rural ligada a poliacutetica de Seguridade Social como fator positivo para o camponecircs a fim de dar continuidade a sua reproduccedilatildeo social e de suas famiacutelias no campo

O Programa Bolsa Famiacutelia como poliacutetica puacuteblica de distribuiccedilatildeo de renda e diminuiccedilatildeo da desigualdade eacute uma das poliacuteticas mais acessadas pelos camponeses residentes no municiacutepio o que demonstra sua importacircncia para a permanecircncia dos campesinos nos espaccedilo rurais de Sergipe e do Brasil Esse programa inclusive eacute uma importante fonte de renda que auxilia para que essas populaccedilotildees tenham acesso ao mercado de bens e produtos Nesse sentido tornando-se importante fator estrateacutegico para a reproduccedilatildeo campesina nos espaccedilos rurais do paiacutes retardando assim a desapropriaccedilatildeo e a saiacuteda do campo CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A partir dos formulaacuterios aplicados in loco nota-se que as poliacuteticas puacuteblicas que mais agem para a permanecircncia do homem camponecircs no campo satildeo as poliacuteticas de distribuiccedilatildeo de renda como o Bolsa Famiacutelia Cerca de 966 dos entrevistados natildeo possuem renda em contrapartida recebem auxiacutelio do programa jaacute a Seguridade Social Rural eacute acessada por 100 dos entrevistados Nesse sentido por via da coleta de dados e em seguida sua tabulaccedilatildeo foi notoacuterio que esses programas tecircm rebatimentos na comunidade no municiacutepio e acabam por

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dinamizar a economia do estado ao tempo em que essas famiacutelias tem acesso ao mercado de produtos e bens de consum auxiliando o camponecircs a continuar no campo complementando a renda do trabalho agriacutecola por meio dessas poliacuteticas

Tem-se uma dualidade quanto ao acesso e aos efeitos das poliacuteticas puacuteblicas pelos camponeses pesquisados De um lado as poliacuteticas como PRONAF e PAA quando acessadas contribuem para auxiliar na melhoria dos processos produtivos onde em alguns casos auxiliam no aumento dos ganhos com a lavoura mas que no entanto satildeo ganhos sazonais Em contrapartida a esse contexto o Bolsa Famiacutelia a Previdecircncia Social Rural tornam-se mais singulares na medida em que tem-se rendimentos fixos e mensais enquanto os rendimentos do trabalho na atividade agriacutecola satildeo esporaacutedicos e indefinidos

Mesmo com os limites e os efeitos das poliacuteticas puacuteblicas o Programa Bolsa Famiacutelia teve grandes avanccedilos principalmente no governo Lula de 2003 a 2007 como a poliacutetica puacuteblica de distribuiccedilatildeo de renda mais acessada pela populaccedilatildeo brasileira repercutindo no municiacutepio de Japoatatilde e como contatado in loco na comunidade de Ladeirinhas ldquoArdquo Por meio da aplicaccedilatildeo de formulaacuterios aos entrevistados fica claro como essa poliacutetica puacuteblica contribui para que a populaccedilatildeo japoatanense e tambeacutem os camponeses na sua reproduccedilatildeo e da sua famiacutelia tornando-se a poliacutetica puacuteblica mais acessada por esses sujeitos Com isso a venda da forccedila de trabalho aliados ao Bolsa Famiacutelia e a Seguridade Social acessado pelos apresentados satildeo importantes componentes estrateacutegicos para os camponeses permaneceram no campo complementando nesse sentido a renda obtida por meio das atividades com a terra que satildeo sazonais

Aleacutem disso eacute necessaacuterio enfrentar os grandes poderes constitutivos para alcanccedilar assim uma sociedade mais

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igualitaacuteria enfrentando a pobreza natildeo somente no sentido de bens materiais mas como coloca Pedro Demo (2006) retirar os pobres da subalternidade para que sejam sujeitos ativos das suas proacuteprias realidades e natildeo aguardem sempre por ajuda de terceiros e do proacuteprio Estado Consequentemente a naccedilatildeo seraacute constituiacuteda por indicadores sociais mais intensos com igualdade e justiccedila social para todos

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS BRASILMESA Cartilha do Programa Bolsa Famiacutelia Brasiacutelia 2003 ______BRASIL Ministeacuterio do Desenvolvimento Social Disponiacutevel em httpmdsgovbr Acessado em 03 de novembro de 2017 CAIXA ECONOMICA FEDERAL Bolsa Famiacutelia Disponiacutevel em httpwwwcaixagovbrprogramas-sociaisbolsa-familiaPaginasdefaultaspx Acessado em 03 de novembro de 2017 DEMO Pedro Pobreza poliacutetica a pobreza mais intensa da pobreza brasileira Autores Associados 2006 FONSECA Francisco Dimensotildees criacuteticas das poliacuteticas puacuteblicas Cadernos EBAPEBR (FGV) v 11 p 402-418 2013 GOVERNO DE SERGIPE Secretaria de Estado da Agricultura e do Desenvolvimento Rural e Agraacuterio Empresa de Desenvolvimento Agropecuaacuterio de Sergipe Informaccedilotildees Baacutesicas Municipais Municiacutepio de Japoatatilde 2008

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IBGE Censo Demograacutefico ndash Nuacutemero de habitantes por sexo e aacuterea de domicilio Disponiacutevel emlt httpwwwsidraibgegovbrbdatabelaprotablaspc=202ampz=tampo=25ampi=Pgt Acessado em 03 de novembro de 2017 PROGRAMA DE TRANSFEREcircNCIA DE RENDA BOLSA FAMILIA Disponiacutevel em wwwmdsgovbrbolsafamilia Acesso em 03 de novembro de 2017 SANTOS N D dos Pelo Espaccedilo do Homem Camponecircs Estrateacutegias de Reproduccedilatildeo Social no Sertatildeo dos Estados de Sergipe e Alagoas Satildeo Cristoacutevatildeo UFSNPGEO 2012 (Tese de Doutorado em Geografia) SILVA C B de C e SCHNEIDER S Pobreza rural e o Programa Bolsa Famiacutelia ndash desafios para o desenvolvimento rural no Brasil In GRISA C SCHNEIDER S (Org) Poliacuteticas Puacuteblicas de Desenvolvimento Rural no Brasil Porto Alegre Editora da UFRGS 2015 SILVA Ladja Maria de Lima Caracterizaccedilatildeo do Espaccedilo Geograacutefico do Povoado Ladeirinhas ldquoArdquo Trabalho de Conclusatildeo de Curso (licenciatura em Geografia) - Polo Regional de Propriaacute Programa de Qualificaccedilatildeo Docente II Departamento de Geografia Centro de Educaccedilatildeo e Ciecircncias Humana Universidade Federal de Sergipe 2003 SILVA Maria Ozanira da Silva e Os Programas de Transferecircncia de Renda na Poliacutetica Social Brasileira seu desenvolvimento possibilidades e limites Revista de Poliacuteticas Puacuteblicas Satildeo Luiacutes v 8 n2 p 113-133 2004

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PMCMV E SUAS CONTRADICcedilOtildeES NA EXPANSAtildeO DO

CAPITAL

Vanilza da Costa Andrade

Doutoranda em Geografia PPGEOUFS

E mail Vanilza_geohotmailcom

RESUMO

O eixo social e urbano do PAC com o Programa

Minha Casa Minha Vida (PMCMV) ganhou evidecircncia nos investimentos do governo brasileiro sendo considerado um importante instrumento para amenizar os efeitos da crise econocircmica internacional de 2008 atraveacutes do discurso ideoloacutegico de resolver o problema do deacuteficit habitacional no paiacutes O PMCMV ganhou destaque na loacutegica da mundializaccedilatildeo do capital no Brasil pois se tornou um instrumento capaz de permitir a abertura de novos espaccedilos para a acumulaccedilatildeo ampliada do capital sobretudo com a ampliaccedilatildeo do creacutedito imobiliaacuterio individual Desse modo o objetivo desse texto eacute explicar como os interesses privados foram relevantes para a criaccedilatildeo do PMCMV no Brasil e como este serve para inserir a classe trabalhadora no circuito internacional de financeirizaccedilatildeo PALAVRAS-CHAVE Poliacutetica habitacional ndash Estado ndash financeirizaccedilatildeo INTRODUCcedilAtildeO

Em 2007 o governo brasileiro criou o Programa de

Aceleraccedilatildeo do Crescimento (PAC) com o objetivo de promover a retomada do planejamento e execuccedilatildeo de grandes obras de infraestrutura social urbana logiacutestica e energeacutetica no intuito de contribuir para o desenvolvimento acelerado e

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sustentaacutevel do paiacutes53 Para isso foram adotadas rapidamente ldquo[] medidas de expansatildeo do creacutedito pelos bancos puacuteblicos (Banco do Brasil BNDES e Caixa Econocircmica) [] Como medida de caraacuteter anticiacuteclico o governo manteve os investimentos em infraestrutura previstos no acircmbito do PACrdquo (CARDOSO ARAGAtildeO 2013 p 35) A expansatildeo do creacutedito foi uma ferramenta necessaacuteria para ldquoabrandarrdquo os efeitos da crise que se instalou no mundo capitalista

O eixo social e urbano do PAC com o Programa Minha Casa Minha Vida (PMCMV)54 ganhou evidecircncia nos investimentos sendo considerado um importante instrumento para amenizar os efeitos da crise econocircmica internacional de 200855 atraveacutes do discurso ideoloacutegico de resolver o problema do deacuteficit habitacional no paiacutes

Conforme destaca Rolnik (2015)

[] o aumento exponencial da disponibilidade de creacutedito ndash inclusive de creacutedito imobiliaacuterio uma das medidas centrais do econocircmico desenvolvimentista ndash incidiu de forma intensa sobre os preccedilos dos imoacuteveis Isso se deu particularmente apoacutes 2009 quando jaacute vigorava a crise financeira internacional detonada pela derrocada do creacutedito subprime no mercado hipotecaacuterio norte-americano Nesse contexto um programa de estiacutemulo agrave produccedilatildeo de casas ndash o Minha Casa Minha Vida ndash lanccedilou 100 bilhotildees de reais em creacutedito imobiliaacuterio residencial em dois anos articulado a um programa de subsiacutedios para a compra de 1 milhatildeo de unidades residenciais produzidas

53

httpwwwpacgovbrsobre-o-pac 54 O PMCMV foi criado atraveacutes da Medida Provisoacuteria 4592009

transformada na Lei 119772009 que por sua vez foi alterada pela

medida provisoacuteria 5142010 e por fim foi convertida na Lei 124242011 55

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pelo mercado privado Essa mesma conjuntura coincide com a preparaccedilatildeo de doze cidades brasileiras para recepcionar a Copa do Mundo de 2014 e no caso do Rio de Janeiro tambeacutem as Olimpiacuteadas de 2016 potencializando a expansatildeo do complexo imobiliaacuterio-financeiro no Brasil e agudizando a financeirizaccedilatildeo da terra urbana e da moradia (p 279)

O PMCMV ganhou destaque na loacutegica da

mundializaccedilatildeo do capital no Brasil pois se tornou um instrumento capaz de permitir a abertura de novos espaccedilos eou territoacuterios para a acumulaccedilatildeo ampliada do capital sobretudo com a ampliaccedilatildeo do creacutedito imobiliaacuterio sendo o ldquo[] PAC II e o programa habitacional Minha Casa Minha Vida desenhado por empresaacuterios da construccedilatildeo e do mercado imobiliaacuterio em parceria com o governo federal Teve entatildeo iniacutecio um boom imobiliaacuterio de enormes proporccedilotildees nas grandes cidadesrdquo (MARICATO 2013 p 23)

Nesse contexto o objetivo desse texto eacute explicar como os interesses privados foram relevantes para a criaccedilatildeo do PMCMV no Brasil e como este serve para inserir a classe trabalhadora no circuito internacional de financeirizaccedilatildeo Para atender tal objetivo utilizou-se como metodologia uma revisatildeo bibliografia e anaacutelise de discursos de cerimonias oficiais de lanccedilamentos do programa O meacutetodo utilizado foi o materialismo histoacuterico e dialeacutetico porque permite ir aleacutem da aparecircncia aleacutem de constitui em um meacutetodo que visa compreender a totalidade e de fazer a relaccedilatildeo teoriapraacutetica PMCMV E SUAS CONTRADICcedilOtildeES NA EXPANSAtildeO DO CAPITAL

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Compreender a ldquoteiardquo na qual o PMCMV foi criado faz-se necessaacuterio pois mediante o entendimento dessa eacute possiacutevel verificar as contradiccedilotildees e interesses que perpassam essa poliacutetica social Nessa perspectiva o PMCMV tem em essecircncia interesses econocircmicos e poliacuteticos pois antes mesmo da divulgaccedilatildeo oficial do Programa em marccedilo de 2009 ldquo[] a entatildeo ministra Dilma Rousseff jaacute havia se reunido com empresaacuterios do setor da construccedilatildeo civil tais como Cyrela Rossi MRV WTorre Rodobens e jaacute se falava na construccedilatildeo de 1 milhatildeo de casas para a faixa de renda ateacute dez SMsrdquo (LOUREIRO MACAacuteRIO GUERRA 2013 p 16) o que evidencia interesses privados na criaccedilatildeo do PMCMV caracterizando uma poliacutetica de caraacuteter econocircmico

No lanccedilamento do PMCMV 2 em 2011 Paulo Simatildeo ndash Presidente da Cacircmara brasileira da induacutestria da construccedilatildeo (CBIC) afirmou como se deu a criaccedilatildeo deste programa habitacional destacando que o setor da construccedilatildeo foi procurado para criar o Programa destacando a parceria feita entre o este setor e o Estado

Eacute com muita alegria que participamos da solenidade de lanccedilamento da segunda etapa do programa Minha Casa Minha Vida aproximadamente haacute dois anos em marccedilo de 2009 tivemos a oportunidade de participar do lanccedilamento da primeira etapa em meio de muitas duacutevidas e criacuteticas sobre o projeto que na eacutepoca parecia ousado demais e em meio agrave crise econocircmica mundial muita gente desconfiava das metas propostas e das condiccedilotildees estabelecidas Lembro muito bem a presidenta Dilma Rousseff no dia 9 de Janeiro de 2009 quando vossa excelecircncia na ocasiatildeo ministra-chefe da casa civil reuniu-se conosco e com a secretaacuteria executiva do PAC e nos comunicou um grande desafio feito pelo entatildeo presidente Lula construir ateacute o final do

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governo um milhatildeo de novas unidades habitacionais direcionadas agraves famiacutelias com renda de ateacute 10 salaacuterios miacutenimos [] Para o desenvolvimento de um programa com um grande desafio o certo eacute que na quarta-feira seguinte noacutes levamos a vossa excelecircncia uma lista de accedilotildees que noacutes entendiacuteamos como necessaacuterias e suficientes para um programa dessa magnitude Seguiu entatildeo um periacuteodo de negociaccedilotildees e ajustes que reuniu em contribuiccedilotildees de vaacuterios outros segmentos e parceiros e que resultaria lanccedilamento do programa Minha Casa Minha Vida em 25 de marccedilo de 2009 O governo soube encontrar a um soacute tempo o caminho para equacionar em alguns anos o grau do deacuteficit habitacional Brasil em um conjunto de medidas anticiacuteclicas para enfrentar a crise financeira que o mundo vivia naquele momento Desse modo senhora presidente quero saudar vossa excelecircncia pelo lanccedilamento de mais um programa de estimaacutevel valor social e econocircmico quero afirmar que a induacutestria da construccedilatildeo no mercado imobiliaacuterio representado por todas as entidades que compotildeem a cadeia produtiva busca se aliar com seu governo na busca dos melhores resultados em mais uma parceria que estaacute predestinada ao sucesso temos a convicccedilatildeo que sobre seu comando o programa manteraacute a sua trajetoacuteria (PAULO SIMAtildeO 2011)56

O discurso do presidente da CBIC eacute esclarecedor pois

eacute possiacutevel verificar em quais condiccedilotildees o PMCMV foi criado permitindo que empresaacuterios da construccedilatildeo civil ditassem regras e normas do Programa o que denota que os anseios da

56

Disponiacutevel em httpswwwyoutubecomwatchv=Td0gxLKtaP4

acessado em 24102016

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esfera privada foram postos como prioritaacuterios neste programa embora tenha sido lanccedilado com a poliacutetica de combate ao deacuteficit habitacional do Brasil

O PMCMV formalizou os preceitos do Sistema de Financiamento Imobiliaacuterio efetivando ldquo[] o ldquoespiacuteritordquo jaacute corrente desde meados dos anos 1990 de incentivo agrave provisatildeo privada de habitaccedilatildeo por meio de medidas regulatoacuterias e do aumento de recursos destinados ao financiamento habitacional empreendidos recentementerdquo (SHIMBO 2011 p 44 ndash 45) Nessa concepccedilatildeo o programa foi ldquo[] concebido pelo setor imobiliaacuterio o programa foi estruturado de forma a que viesse a ser executado pela iniciativa privada indo ao encontro dos interesses da induacutestria da construccedilatildeo civilrdquo (CARDOSO ARAGAtildeO 2011 p 88)

Para Braga (2016) o programa apoia-se no subsiacutedio governamental do creacutedito para a aquisiccedilatildeo da casa proacutepria Trata-se de uma poliacutetica que reproduz o padratildeo tradicional de articulaccedilatildeo entre o Estado e os interesses privados que tem prevalecido historicamente no paiacutes isto eacute a espoliaccedilatildeo dos fundos puacuteblicos em benefiacutecio da acumulaccedilatildeo privada

Desse modo o PMCMV foi criado em 2009 direcionado a famiacutelias que natildeo tecircm rendimentos ateacute famiacutelias com dez salaacuterios miacutenimos tendo como finalidade ldquo[] criar mecanismos de incentivo agrave produccedilatildeo e aquisiccedilatildeo de novas unidades habitacionais ou requalificaccedilatildeo de imoacuteveis urbanos e produccedilatildeo ou reforma de habitaccedilotildees ruraisrdquo (Art1ordm - Lei 124242011)57 O Programa natildeo eacute uma poliacutetica criada exclusivamente para habitaccedilatildeo de interesse social (0 ndash 3 salaacuterios miacutenimos) visou tambeacutem criar mecanismos para

57 Altera a Lei no 11977 de 7 de julho de 2009 que dispotildee sobre o

Programa Minha Casa Minha Vida PMCMV e a regularizaccedilatildeo fundiaacuteria de assentamentos localizados em aacutereas urbanas

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movimentar a economia do Brasil atraveacutes do incentivo agrave construccedilatildeo civil e ao creacutedito imobiliaacuterio

O Programa Minha Casa Minha Vida eacute dividido em faixas de renda sendo a primeira denominada Faixa 1 para famiacutelias com renda bruta mensal de ateacute R$ 180000 conforme estabelecido na Portaria nordm 99 de 30 de marccedilo de 2016 mantidos com recursos do Orccedilamento Geral da Uniatildeo (OGU) mais retorno do beneficiaacuterio a Faixa 1558 (ateacute R$ 235000) e a Faixa 2 (ateacute R$ 360000) satildeo mantidas pelo OGU mais o FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviccedilo) atraveacutes de subsiacutedios e financiamento e a Faixa 3 (ateacute R$ 650000) eacute lastreada com recursos do FGTS e por meio de financiamento No entanto em 6 de fevereiro de 2017 o governo federal anunciou novas regras para o Programa incluindo novos valores para as faixas 15 (R$260000) 2 (R$400000) e 3 (R$ 900000)

Cardoso e Aragatildeo (2013) apresentam duas contradiccedilotildees baacutesicas do Programa Minha Casa Minha Vida e que se articulam ldquo[] uma primeira contradiccedilatildeo ocorre entre os objetivos de combater a crise estimulando a economia e os objetivos de combater o deacuteficit habitacional uma segunda decorrente do privileacutegio concedido ao setor privado como o agente fundamental para efetivar a produccedilatildeo habitacionalrdquo (p 44 ndash 45) Nesse sentido torna-se necessaacuterio questionar como uma poliacutetica de caraacuteter anticiacuteclico pode resolver a problemaacutetica habitacional no Brasil

Bonduki (2009) destaca que o ldquo[] Minha Casa Minha Vida fixou-se na produccedilatildeo de unidades prontas mais ao gosto do setor da construccedilatildeo civilrdquo (p 13) permitindo o incremento dos financiamentos imobiliaacuterios e da expansatildeo de construtoras pois em nenhum momento houve ldquo[] estiacutemulo agrave ocupaccedilatildeo de

58 Faixa incluiacuteda na terceira fase do PMCMV lanccedilado em 30032016

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imoacuteveis construiacutedos vagos59 apesar dos inuacutemeros edifiacutecios vazios existentes nos centros urbanos [] Prevalece assim a loacutegica de produccedilatildeo que interessa ao setor da construccedilatildeordquo (FIX 2011 p 143) A loacutegica dessa poliacutetica eacute pautada no atendimento das necessidades da esfera privada pois priorizouprioriza o estiacutemulo a construccedilatildeo de novas unidades habitacionais incentivando o crescimento do setor da construccedilatildeo civil e do capital financeiro atraveacutes do financiamento imobiliaacuterio

Desse modo em 2007 ocorreu no Brasil um ldquoboomrdquo imobiliaacuterio no qual grandes construtoras e incorporadoras abriram seu capital na Bolsa de Valores no entanto natildeo foi possiacutevel sustentar por muito tempo o lucro entrando em decliacutenio A crise mundial de 2008 agravou ainda mais essa decadecircncia como demonstram Arantes e Fix

A partir de 2006 as principais empresas construtoras e incorporadoras abriram seu capital na Bolsa de Valores capturando bilhotildees de reais em poucos meses Ao que tudo indica gastaram grande parte na aquisiccedilatildeo de bancos de terra As trecircs maiores empresas somam hoje cerca de cinco bilhotildees de reais em terras Todos esses fatores somados produziram o boom imobiliaacuterio brasileiro a partir de 2007 O crescimento repentino com a capitalizaccedilatildeo e a ampliaccedilatildeo do rendimento no setor foi contudo insustentaacutevel Produziu-se em 2008 um pico de inflaccedilatildeo na construccedilatildeo (122 o dobro do iacutendice geral) (2009 p 14)

59 Em 2014 os domiciacutelios vagos somam 7241 milhotildees de unidades 6354

milhotildees das quais em condiccedilotildees de serem ocupados e 886 mil em construccedilatildeo ou reforma Jaacute em 2014 79 dos domiciacutelios vagos estatildeo na aacuterea urbana e 21 na aacuterea rural (FUNDACcedilAtildeO JOAtildeO PINHEIRO p 39 2016)

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Agrave medida que grandes construtoras abriram o capital

para a Bolsa de Valores houve ldquo[] a aproximaccedilatildeo entre mercado financeiro e setor imobiliaacuterio portanto potencializou-se com a abertura de capital de empresas construtoras e incorporadoras na Bolsa de Valoresrdquo (SHIMBO 2012 p 63) O setor da construccedilatildeo realizou ldquo[] grandes investimentos lanccedilando accedilotildees na bolsa e aumentando seus estoques de terrenosrdquo (LOUREIRO MACAacuteRIO GUERRA 2013 p 16 ndash 17) mas com a crise de 2008 haveria uma paralisaccedilatildeo de produccedilatildeo imobiliaacuteria do financiamento imobiliaacuterio e consequentemente de mercado consumidor

O PMCMV ldquo[] surge como salvaccedilatildeo para o setor que estava entrando em crise profunda por fatores internos e externos No primeiro semestre de 2009 o setor da construccedilatildeo liderou disparado (58 acima do segundo colocado) a alta na Bolsa de Valores impulsionado pelo anuacutencio do pacote habitacionalrdquo (ARANTES FIX 2009 p 15) Foi perceptiacutevel a expansatildeo das grandes construtoras no Brasil com a criaccedilatildeo desta poliacutetica social por exemplo a MRV engenharia em 2006 estava presente em 26 cidades e em 2011 a empresa jaacute estava instalada e consolidada em mais de 100 municiacutepios espalhados pelo Brasil60

A poliacutetica habitacional foi uma das principais medidas de combate ao impacto de crise e a instabilidade poliacutetica e econocircmica O aquecimento da construccedilatildeo civil proporciona oferta de empregos renda e a movimentaccedilatildeo raacutepida da economia aleacutem de atingir diretamente outros setores que vatildeo desde a induacutestria de cimento e ceracircmica para a de torneiras e portas por exemplo

60 Disponiacutevel em lthttpwwwmrvcombrhistoriaaspxgt acessado em 18092013

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Outro fator que levou a induacutestria da construccedilatildeo civil a ter funccedilatildeo de minorar os efeitos da crise econocircmica no Brasil diz respeito ao salaacuterioconsumo Ou seja o consumo das pessoas desempregadas eacute relativamente baixo contudo as pessoas empregadas consomem desde produtos pereciacuteveis ateacute bens de consumo duraacuteveis pois a ideologia do consumo torna esta parte fundamental para a concretude do ciclo do capital ndash a miacutedia tem papel fundamental na disseminaccedilatildeo desta

O fomento agrave construccedilatildeo civil em periacuteodos de crise serve para que o sistema capitalista continue a gerar lucro jaacute que o consumo finaliza e daacute iniacutecio do ciclo do capital (produccedilatildeo distribuiccedilatildeo circulaccedilatildeo e consumo) Sem o consumo das mercadorias o capitalismo natildeo consegue gerar o lucro necessaacuterio para sua reproduccedilatildeo Por esse motivo o PMCMV foi criado tendo como uma das finalidades ldquo[] criar um ambiente econocircmico confiaacutevel que estimule o crescimento do mercado formal de habitaccedilatildeo e creacutedito bem como a geraccedilatildeo de empregordquo (BRASIL 2009 p 192)

Nesse contexto agrave medida que houve expansatildeo das grandes construtoras a partir do PMCMV o creacutedito imobiliaacuterio no Brasil apoacutes 2009 tambeacutem teve um sobressalto ano de lanccedilamento do PMCMV destacando assim que ldquo[] natildeo se trata apenas do binocircmio Estado-mercado mas sobretudo de uma articulaccedilatildeo especiacutefica entre ambos que existe quando se opera a partir da loacutegica privada de produccedilatildeo e quando se encara a moradia como ldquomercadoriardquordquo (SHIMBO 2012 p 26) Esse binocircmio comprova que historicamente o Estado salvaguarda os interesses privados e mediante poliacuteticas puacuteblicas permite a continuidade de reproduccedilatildeo do sistema sociometaboacutelico do capital

Com a diminuiccedilatildeo do creacutedito imobiliaacuterio e da quantidade de financiamentos a partir de 2015 o presidente Michel Temer juntamente com a Cacircmara Brasileira da Induacutestria da Construccedilatildeo (CBIC) e a Associaccedilatildeo de

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Incorporadoras Imobiliaacuterias (ABRAINC) reelaboram novas regras para o PMCMV focando na necessidade de ampliaccedilatildeo do nuacutemero de empregos que devem ser gerados e aumento exponencial do nuacutemero de creacutedito imobiliaacuterio e de quantidades de financiamentos Conforme Rubens Menin ndash presidente da associaccedilatildeo de incorporadoras imobiliaacuterias (ABRAINC) afirmou na cerimocircnia de lanccedilamento das novas regras PMCMV

Hoje eacute um momento muito importante para noacutes Eu digo ao senhor presidente que isto estaacute sendo possiacutevel por conta do trabalho em equipe da CEBIC e ABRAINC com Ministeacuterio Planejamento Caixa Econocircmica Federal Banco do Brasil Ministeacuterio das Cidades Trabalhamos juntos haacute bastante tempo e estamos entrando numa nova fase a promessa do setor eacute criar mais de 800000 empregos Parece muito mas eacute possiacutevel Noacutes temos que construir mais 200000 unidades para faixa 2 e 100000 para faixa 1 [] O Brasil tem que construir nos proacuteximos 20 anos trinta e cinco milhotildees de moradias Nosso setor estaacute ocioso temos feito 500000 unidades por ano noacutes estamos com um iacutendice de ociosidade muito grande e as empresas tecircm condiccedilotildees de reagir e esse passo que estaacute sendo dado agora eacute o passo inicial tenho certeza caminharemos muito para frente61 (RUBENS MENIN 2017)62

61 Disponiacutevel em lt httpswwwfacebookcommincidadesvideos1327196893992574 gt acessado em 08 de fevereiro de 2017 62 Disponiacutevel em lt httpswwwfacebookcommincidadesvideos1327196893992574gt acessado em 08 de fevereiro de 2017

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Eacute interessante destacar que o discurso na cerimocircnia de lanccedilamento das novas regras do PMCMV dos presidentes tanto do CBIC quanto da ABRAINC traz agrave tona a responsabilizaccedilatildeo uma espeacutecie de acordo entre o governo e essas instituiccedilotildees Agrave medida que o Estado muda as regras para atender aos interesses do setor privado estas associaccedilotildees se comprometem em ampliar o nuacutemero de emprego ou seja um jogo de interesses no qual o que estaacute em jogo eacute permitir que o setor da construccedilatildeo volte a crescer em termos de financiamentos e creacutedito imobiliaacuterio

A figura 1 destaca as novas metas para o PMCMV em 2017 Eacute notoacuterio que o Governo Federal e setor da construccedilatildeo iratildeo favorecer as faixas de renda 2 e 3 justamente as que tem o menor deacuteficit habitacional do paiacutes

Figura 1 Brasil PMCMV ndash metas para 2017

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Nesta perspectiva na cerimocircnia de anuacutencio das novas regras do PMCMV em fevereiro de 2017 foi colocada a importacircncia dessa poliacutetica para tirar o Brasil da crise a qual se encontra o setor da construccedilatildeo O ministro das cidades Bruno Arauacutejo afirmou que ldquoas accedilotildees prometem impulsionar o setor da construccedilatildeo civil aleacutem de impactar a economia gerar emprego e sem duacutevida conceder a oportunidade de incluir novas famiacutelias brasileiras ao programardquo63 jaacute Ronaldo Nogueira ministro do Trabalho e Emprego afirmou que ldquoo governo do presidente Michel Temer busca alternativa para oferecer dois endereccedilos dignos para o cidadatildeo um endereccedilo para morar e um para trabalhar Iniciativas como essas precisam ser louvadasrdquo64

Fix (2011) destacou que o PMCMV ldquo[] buscou responder a um soacute tempo a problemas de acumulaccedilatildeo por meio da injeccedilatildeo de recursos no circuito imobiliaacuterio [] e legitimaccedilatildeo ao responder agrave pressatildeo das lutas sociais do ponto de vista da demanda por habitaccedilatildeo e por empregordquo (p 141) Em 2017 o Estado brasileiro mais uma vez busca responder as demandas do circuito imobiliaacuterio exaltando o quatildeo importante eacute o setor imobiliaacuterio para resolver as ldquoanguacutestiasrdquo do paiacutes que eacute desemprego conforme afirmou o Presidente da Repuacuteblica Michel Temer no discurso de lanccedilamento das novas regras do PMCMV

Houve uma interaccedilatildeo de diferentes Ministeacuterios para fazer uma espeacutecie de reformulaccedilatildeo do Minha Casa Minha Vida

63 Disponiacutevel em lt httpswwwfacebookcommincidadesvideos1327196893992574gt acessado em 08 de fevereiro de 2017 64 Disponiacutevel em lt httpswwwfacebookcommincidadesvideos1327196893992574gt acessado em 08 de fevereiro de 2017

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mas sempre pensando que essa alteraccedilatildeo eacute uma formulaccedilatildeo no intuito de resolver a alma das anguacutestias do nosso sistema que eacute exatamente o desemprego Tenho dito com frequecircncia que eacute um dos setores que mais facilmente e coletivamente pode empregar exata precisamente o setor da construccedilatildeo civil A construccedilatildeo civil eacute uma das peccedilas-chave para a economia brasileira O que vemos hoje eacute a combinaccedilatildeo virtuosa de estiacutemulo ao setor com o fortalecimento de um programa social da maior relevacircncia que eacute o Minha Casa Minha Vida portanto que se de um lado prestigiamos setor produtivo do paiacutes que eacute a iniciativa privada de outro lado estamos tambeacutem apontando para responsabilidade social do governo65 (MICHEL TEMER 2017)

A importacircncia do Estado eacute notoacuteria pois ao criar eou

estimular poliacuteticas habitacionais institui a ideologia de que estaacute enfrentando a problemaacutetica da falta de moradia para os trabalhadores e resolvendo o problema da falta de emprego para o brasileiro ao mesmo tempo em que estimula a induacutestria da construccedilatildeo civil proporcionando a expansatildeo de grandes construtoras para novos espaccedilos gerando demanda e com essa o aumento do creacutedito imobiliaacuterio alimentando a esfera financeira Conforme afirmou o presidente da CIBIC no lanccedilamento das novas regras do PMCMV

A gente sempre brinca que o setor da construccedilatildeo eacute um intermediaacuterio entre o sonho da Maria e o emprego do Joatildeo Hoje noacutes estamos aqui viabilizando o sonho de muitas

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famiacutelias chegarem ateacute a sua casa proacutepria66 (JOSEacute CARLOS MARTINS 2017)

O financiamento habitacional ganhou importacircncia consideraacutevel na atual etapa do capitalismo que se nutre das transaccedilotildees financeiras pois este financiamento mediante subsiacutedios do Estado gera um volume grandioso de creacutedito movimentando o sistema financeiro com os juros cobrados

Desse modo ldquo[] Os uacuteltimos dez anos a partir de 2005 poderiam ser chamados sem exagero de a deacutecada do capital imobiliaacuteriordquo (BOULOS 2015 p 11) no qual ldquoem 2005 o montante total de creacutedito para a construccedilatildeo e financiamento imobiliaacuterio no paiacutes era de R$ 48 bilhotildees Em 2014 foi para R$ 102 bilhotildees Isso mesmo crescimento de mais de 2000 em dez anosrdquo (BOULOS 2015 p11) Esse crescimento foi possiacutevel graccedilas agrave intervenccedilatildeo do Estado brasileiro

No Artigo 18 da Lei 124242011 que rege o PMCMV faixa 1 eacute posto que a Uniatildeo autorizou a transferecircncia de recursos para o Fundo de Arrendamento Residencial FAR ateacute o limite de R$ 1650000000000 (dezesseis bilhotildees e quinhentos milhotildees de reais) e para o Fundo de Desenvolvimento Social FDS ateacute o limite de R$ 50000000000 (quinhentos milhotildees de reais)

O Estado aleacutem de procurar atraveacutes do PMCMV ldquosalvarrdquo o setor da construccedilatildeo civil lanccedila um quantitativo muito grande de capital no sistema financeiro Como a faixa 1 natildeo se daacute diretamente um financiamento individual (5 da sua renda mensal) o Estado atraveacutes do subsiacutedios alimenta o capital financeiro mediante aplicaccedilatildeo dos fundos e garante a expansatildeo do setor da construccedilatildeo Outro fator que chama muita atenccedilatildeo

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eacute o Estado garantir o pagamento das prestaccedilotildees mensais em alguns casos o que denota a accedilatildeo deste para que o setor privado lucre sem precisar se preocupar com a inadimplecircncia por exemplo dos mutuaacuterios Conforme eacute possiacutevel atestar no Artigo 20 da Lei 124242011

Garantir o pagamento aos agentes financeiros de prestaccedilatildeo mensal de financiamento habitacional no acircmbito do Sistema Financeiro da Habitaccedilatildeo devida por mutuaacuterio final em caso de desemprego e reduccedilatildeo temporaacuteria da capacidade de pagamento para famiacutelias com renda mensal de ateacute R$ 465000 (quatro mil seiscentos e cinquenta reais) e assumir o saldo devedor do financiamento imobiliaacuterio em caso de morte e invalidez permanente e as despesas de recuperaccedilatildeo relativas a danos fiacutesicos ao imoacutevel para mutuaacuterios (capitulo 1 do artigo 20 da Lei 124242011)

O Estado passou a assumir por meio dos subsiacutedios o

risco das construtoras lanccedilarem empreendimentos pois seratildeo subsidiadas e ainda o mercado financeiro tem a garantia que o Estado assumiraacute as diacutevidas em alguns casos especiacuteficos conforme consta no capiacutetulo 1 do Artigo 20 da Lei 124242011

Harvey (2016) afirmou que a participaccedilatildeo do Estado na provisatildeo habitacional obviamente aumentou e diminuiu com o passar dos anos assim como o interesse pela habitaccedilatildeo social Mas as consideraccedilotildees do valor de troca muitas vezes ressurgem na medida em que a capacidade fiscal do Estado eacute colocada agrave prova pela necessidade de subsidiar moradias acessiacuteveis com cofres puacuteblicos cada vez mais escassos

O Estado lanccedilou uma gama de dinheiro no mercado financeiro mundial Com os subsiacutedios dados o Estado conseguiu inserir indiviacuteduos que compotildeem as faixas 1 15 e 2

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ao PMCMV ampliando a demanda das construtoras e inserindo-os na loacutegica mundial de financeirizaccedilatildeo pois os mutuaacuterios mesmo com os subsiacutedios total no caso da faixa 1 teratildeo que pagar mensalmente 5 de sua renda Shimbo (2011) destaca que a habitaccedilatildeo de interesse social tornou-se um nicho de mercado

Uma forma ineacutedita de empresariamento da produccedilatildeo habitacional se constituiu a partir do momento em que a habitaccedilatildeo social transformou-se de fato num mercado Ou em outras palavras o mercado imobiliaacuterio descobriu e constituiu um nicho bastante lucrativo a incorporaccedilatildeo e a construccedilatildeo de unidades habitacionais com valores ateacute duzentos mil reais (ou cem mil doacutelares aproximadamente) destinadas para famiacutelias que podem acessar os subsiacutedios puacuteblicos ou natildeo ndash mas que necessariamente acessam o creacutedito imobiliaacuterio (SHIMBO 2011 p 41 ndash grifo do autor)

Os mutuaacuterios inseridos na loacutegica de financeirizaccedilatildeo

atraveacutes do PMCMV em muitos casos natildeo conseguem pagar as parcelas e em outros pagam mas comprometem muito a renda familiar A faixa 1 do programa tem um iacutendice de inadimplecircncia que passa dos 30 Nas outras faixas tambeacutem ocorre a inadimplecircncia mas o iacutendice eacute menor (CAIXA ECONOcircMICA FEDERAL 2016)

Royer (2014) afirma que o cidadatildeo beneficiaacuterio de um direito transforma-se em um cliente do sistema bancaacuterio incluiacutedo ou excluiacutedo das modalidades de financiamento O risco do financiamento as garantias pessoais e reais oferecidas o nome limpo na praccedila viram um problema de quem demanda a mercadoria

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Para Harvey (2016) os trabalhadores que podem ter obtido ganhos salariais significativos com lutas travadas no mercado de trabalho e nos pontos de produccedilatildeo talvez precisem sacrificar quase todos os ganhos para adquirir uma moradia como valor de uso sob condiccedilotildees do mercado habitacional orientadas pela especulaccedilatildeo e depois de confrontos inevitaacuteveis com praacuteticas predatoacuterias

Desse modo a Estado cria poliacuteticas puacuteblicas como eacute o caso do PMCMV facilitando a inserccedilatildeo da classe trabalhadora no circuito financeiro internacional e financiando essa expansatildeo atraveacutes dos subsiacutedios CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

O PMCMV foi criado em 2009 com o intuito de

amenizar os efeitos da crise de 2008 no Brasil ao mesmo tempo o programa foi elaborado junto com os empresaacuterios da construccedilatildeo civil pois este setor temia a queda de investimentos e crescimento com a crise Entre 2009 e 2014 o setor da construccedilatildeo teve altos iacutendices de crescimento no entanto entre 2015 e 2016 a produccedilatildeo imobiliaacuteria comeccedila a decair e o governo interfere mais uma vez com novas regras para o Programa em 2017 objetivando atender as demandas do setor O PMCMV reproduz o padratildeo tradicional de articulaccedilatildeo entre o Estado e as demandas do setor privado que historicamente tem se prevalecido no Brasil

O PMCMV permitiu introduzir indiviacuteduos cada vez mais na loacutegica mundial de financeirizaccedilatildeo Braga (2016) destaca que o PMCMV aleacutem de permitir a acumulaccedilatildeo rentista permite atraveacutes dos subsiacutedios os creacuteditos necessaacuterios para o crescimento das grandes construtoras e incorporadoras

[] Em suma trata-se de uma poliacutetica de financiamento de casa proacutepria desenhada para

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fortalecer um tipo de acumulaccedilatildeo rentista apoiada na espoliaccedilatildeo da economia das famiacutelias trabalhadoras O subsiacutedio federal ao creacutedito para a construccedilatildeo civil eacute a chave do oacutetimo desempenho das grandes construtoras e incorporadoras e a consequecircncia mais notaacutevel para as cidades foi o aumento da especulaccedilatildeo imobiliaacuteria (BRAGA 2016 p 83)

A ascensatildeo do capital financeiro ldquo[] requer a

interferecircncia do Estado exatamente como Marx imaginou As poliacuteticas estatais forjadas em resposta agraves exigecircncias do capital financeiro fazem da exportaccedilatildeo do capital mais que mercadorias uma preocupaccedilatildeo fundamentalrdquo (HARVEY 2013 p382) ou seja as poliacuteticas criadas nesse periacuteodo servem para auxiliar a expansatildeo do capital financeiro como eacute o caso do PMCMV

Desse modo o governo do Brasil ao criar o PMCMV natildeo teve como objetivo resolver a problemaacutetica habitacional do paiacutes Este eacute mais uma poliacutetica puacuteblica na qual os interesses do setor privado se sobressaem aos interesses da classe trabalhadora mas isso natildeo eacute uma novidade jaacute que o Estado na sociedade capitalista historicamente eacute o catalisador que garante o funcionamento do setor privado mudando de feiccedilatildeo de acordo com as necessidades estabelecidas pelo sistema REFERENCIAS ARANTES Pedro Fiori FIX Mariana de Azevedo Barreto Como o governo lula pretende resolver o problema da habitaccedilatildeo Correio da cidadania v 30 jul2009 BONDUKI Nabil Do projeto Moradia ao Programa Minha Casa Minha Vida Revista teoria e debate Ed 82 maio de 2009

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BOULOS Guilherme De que lado vocecirc estaacute reflexotildees sobre a conjuntura poliacutetica e urbana no Brasil 1ed Satildeo Paulo Boitempo 2015 BRAGA Ruy Terra em transe o fim do lulismo e o retorno da luta de classes In SINGER Andreacute LOUREIRO Isabel As contradiccedilotildees do lulismo a que ponto chegamos 1 ed Satildeo Paulo Boitempo 2016 BRASIL Plano Nacional de Habitaccedilatildeo Ministeacuterio das Cidades Brasiacutelia 2009 CAIXA ECONOcircMICA FEDERAL Inadimplecircncia do PMCMV 2016 Cerimocircnia de lanccedilamento do Programa Minha Casa Minha Vida 2 Disponiacutevel em lt

httpswwwyoutubecomwatchv=Td0gxLKtaP4gt acessado em 24102016

Cerimocircnia de anuacutencio de novas medidas para o Programa Minha Casa Minha Vida Disponiacutevel em lt httpswwwfacebookcommincidadesvideos1327196893992574gt acessado em 08 de fevereiro de 2017 CARDOSO Adauto Luacutecio ARAGAtildeO Thecircmis Amorim A reestruturaccedilatildeo do setor imobiliaacuterio e o Programa Minha Casa Minha Vida In MENDONCcedilA Jupira Gomes de COSTA Heloisa Soares de Moura (Org) Estado e capital imobiliaacuterio convergecircncias atuais na produccedilatildeo do espaccedilo urbano brasileiro Belo Horizonte C Arte 2011 CARDOSO Adauto Luacutecio ARAGAtildeO Thecircmis Amorim Do fim do BNH ao Programa Minha Casa Minha Vida 25 anos da

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poliacutetica habitacional no Brasil In CARDOSO Adauto Luacutecio (org) O programa Minha Casa Minha Vida e seus efeitos territoriais Rio de Janeiro Letra Capital 2013 ndash Seacuterie Habitaccedilatildeo e cidade FIX Mariana de Azevedo Barreto Financeirizaccedilatildeo e transformaccedilotildees recentes no circuito imobiliaacuterio no Brasil 2011 288 f (Tese de Doutorado) Instituto de Economia da UNICAMP Campinas ndash SP 2011 HARVEY David 17 contradiccedilotildees e o fim do capitalismo 1 ed Satildeo Paulo Boitempo 2016 HARVEY David Os limites do capital 1 ed Satildeo Paulo Boitempo 2013 LOUREIRO Maria Rita MACAacuteRIO Vinicius GUERRA Pedro Democracia arenas decisoacuterias e poliacuteticas puacuteblicas o Programa Minha Casa Minha Vida Rio de Janeiro IPEA 2013 Texto para discussatildeo MARICATO Ermiacutenia Eacute a questatildeo urbana estuacutepido In MARICATO Ermiacutenia Cidades rebeldes passe livre e as manifestaccedilotildees que tomaram as ruas no Brasil 1 ed Satildeo Paulo Boitempo 2013 ROLNIK Raquel Guerra dos lugares a colonizaccedilatildeo da terra e da moradia na era das financcedilas 1 ed Satildeo Paulo Boitempo 2015 ROYER Luciana de Oliveira Financeirizaccedilatildeo da poliacutetica habitacional limites e perspectivas Satildeo Paulo Annablume 2014

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SHIMBO Luacutecia Zanin Habitaccedilatildeo social de mercado a confluecircncia entre Estado empresas construtoras e capital financeiro Belo Horizonte CArte 2012

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