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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUEOLOGIA PATRIMÔNIO ARQUEOLÓGICO MUSEALIZADO EM SERGIPE: UM ESTUDO DE CASO SOBRE A RELAÇÃO DOCUMENTAÇÃO MUSEOLÓGICA E INFORMAÇÃO ARQUEOLÓGICA COMO PROCEDIMENTO ESSENCIAL DE GESTÃO DE COLEÇÕES Discente: Heide Roviene Santana dos Santos Laranjeiras/SE 2015

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUEOLOGIA

PATRIMÔNIO ARQUEOLÓGICO MUSEALIZADO EM SERGIPE: UM ESTUDO DE

CASO SOBRE A RELAÇÃO DOCUMENTAÇÃO MUSEOLÓGICA E INF ORMAÇÃO

ARQUEOLÓGICA COMO PROCEDIMENTO ESSENCIAL DE GESTÃO DE

COLEÇÕES

Discente: Heide Roviene Santana dos Santos

Laranjeiras/SE

2015

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUEOLOGIA

HEIDE ROVIENE SANTANA DOS SANTOS

PATRIMÔNIO ARQUEOLÓGICO MUSEALIZADO EM SERGIPE: UM ESTUDO DE

CASO SOBRE A RELAÇÃO DOCUMENTAÇÃO MUSEOLÓGICA E INF ORMAÇÃO

ARQUEOLÓGICA COMO PROCEDIMENTO ESSENCIAL DE GESTÃO DE

COLEÇÕES

Dissertação apresentada como requisito para obtenção do Título de Mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Arqueologia da Universidade Federal de Sergipe (Campus de Laranjeiras), sob a orientação da Profa. Drª. Elizabete de Castro Mendonça - PROARQ/UFS

Laranjeiras/SE

2015

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HEIDE ROVIENE SANTANA DOS SANTOS

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Arqueologia da Universidade Federal de Sergipe em: 25 de junho de 2015, sob a orientação da Profª. Drª. Elizabete de Castro Mendonça.

BANCA EXAMINADORA

________________________________________

Prof. Drª. Elizabete de Castro Mendonça Orientadora/Presidente

________________________________________

Prof. Dr. Gilson Rambelli

________________________________________ Prof. Dr. Diego Lemos Ribeiro

Membros Suplentes

________________________________________

Profª Dra. Luisa Maria Gomes de Mattos Rocha

________________________________________

Prof. Dr. Paulo Jobim de Campos Mello

Laranjeiras/SE 2015

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Dedico este trabalho a todos que de forma direta e indireta colaboraram para a sua

realização. Professores; Familiares; Amigos e as pessoas que atuam nos órgãos

que pesquisei, contribuindo valorosamente para o meu crescimento profissional e

pessoal.

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Agradecimentos

Ao meu Senhor por ser “a minha luz, a minha fortaleza, o meu DEUS em quem confio” (Salmos, 18:02).

Nessa ocasião, citarei poucos nomes, apenas os essenciais, não só pela sua importância, mas para não correr o risco de ser injusta com os muitos, que também são muito importantes e que me auxiliaram, com uma dica, ou com uma informação de grande valor, por isso, muito obrigada a todos os envolvidos!

OBRIGADA,

Ao Museu de Arqueologia de Xingó – MAX, pelas portas sempre abertas, aos que compõem o museu, como: o Professor Gilson Rambelli (Diretor do MAX), a Railda Nascimento (Coordenadora de Exposições do MAX), ao Professor Dr. José Roberto Pellini, e a todos os integrantes do museu. A minha vida acadêmica cresceu bastante, depois que passei a frequentar essa casa, contato iniciado ainda na gestão do Professor Albérico Nogueira, muito obrigada.

A todo o corpo docente do Programa de Pós – Graduação em Arqueologia (PROARQ), pelo auxílio, comprometimento e respeito. Profissionais dignos de inspiração para um(a) aluno(a) que faz a Graduação ou uma Pós junto com eles.

Ao Departamento de Arqueologia da UFS e aos seus técnicos, que possibilitaram as minhas investigações nas coleções. Em especial ao Elton Mateus, amigo e Técnico de Laboratório de Arqueologia, que sempre me deu dicas importantíssimas sobre as coleções que fazem parte da minha pesquisa, e que estão sob a guarda do laboratório de Arqueologia.

A Pró-Reitora Professora Dra. Maria da Conceição Almeida Vasconcelos e ao corpo técnico que compõe a Pró – Reitoria de Extensão e Assuntos Comunitários da Universidade Federal de Sergipe – UFS pela ajuda quando precisei ter acesso a documentos e informações sobre o Museu do Homem Sergipano – MUHSE, inclusive ao Senhor Francisco Belém e a Professora Verônica Nunes, profissionais importantes que vivenciaram o cotidiano nos diversos momentos daquela casa.

A banca,

Composta por alguns dos grandes profissionais que conheço. Pessoas de grande coração e merecedoras de todo o meu respeito, por isso o convite para compor a banca, como: o Professor Gilson Rambelli, foi meu professor na graduação quando fiz uma matéria de teoria arqueológica, e daí me incentivou e aconselhou em alguns passos que dei no Campus de Laranjeiras, como ingressar no Mestrado em

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Arqueologia. O Professor Diego Ribeiro, profissional engajado no amadurecimento e fortalecimento do dialogo Museologia e Arqueologia, com o seu trabalho nos mostra um pouco da extensão que abrange a interface entre essas áreas do conhecimento. A Professora Luisa Rocha, profissional atuante na área da Museologia, que confiou em meu trabalho aceitando fazer parte desta banca. O Professor Paulo Jobim, profissional dedicado, aprendi muito em suas aulas.

A minha Professora e orientadora (a mãe da Helena) Elizabete de Castro Mendonça, pessoa que tenho muita admiração, já disse e reafirmo: “quando crescer” quero ser igual a ela, mas como não dá, bem parecida será suficiente (risos), para mim, profissional que transborda qualidades, ser humano exemplar. Sempre muito presente (manhã, tarde, noite), o mínimo que posso falar de coração aberto é... Muito Obrigada!

Ao Núcleo do Curso de Bacharelado em Museologia da Universidade Federal de Sergipe, os seus professores e alunos fizeram e fazem parte da minha caminhada (muitos trago no coração), não sei se esse momento faria parte da minha vida acadêmica se não tivesse passado por lá, e encontrado essas pessoas.

A minha querida mamãe Maria de Fátima, não tenho palavras para dizer o que sinto e o que representa para mim, ao meu papai Everaldo Bispo, também não (risos).

Aos meus irmãos, Evebia, Ingrid e Junior pelas brincadeiras, conflitos, e sobre tudo, união, carinho e amizade.

Aos meus avôs maternos (in memorian) Erundina Batista Santana & Genésio Santana; aos meus avôs paternos Francisca Rosa dos Santos & José Bispo dos Santos (in memorian), que Deus os abençoe, para mim, exemplo de seres humanos.

Aos meus familiares: tias & tios, alguns desses são como pai e mãe – pessoas que além de admirar fazem parte do meu viver. As primas & primos - quase irmãos, um pouco bagunceiros, mas verdadeiros amigos, (risos).

Aos meus amigos - são poucos, contudo os números não importam, pois são especiais e grandiosos nas suas atitudes. Aos colegas, e as pessoas que deram a sua contribuição para o meu crescimento pessoal, profissional e até mesmo espiritual, reforço que não citarei nomes para não cometer injustiças, Muito Obrigada!

Heide Roviene Santana dos Santos

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“Educação não transforma o mundo. Educação muda pessoas. Pessoas transformam o mundo.”

Paulo Freire

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“De tudo ficaram três coisas... A certeza de que estamos começando... A certeza de que é preciso continuar...

A certeza de que podemos ser interrompidos antes de terminar... Façamos da interrupção um caminho novo...

Da queda, um paço de dança... Do medo, uma escada... Do sonho, uma ponte...

Da procura, um encontro!” Fernando Sabino

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“Você nunca sabe que resultados virão da sua ação. Mas se você não

fizer nada, não existirão resultados.” Mahatma Gandhi

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Patrimônio Arqueológico Musealizado em Sergipe: um estudo de caso sobre a relação Documentação Museológica e Informação Arque ológica como

procedimento essencial de Gestão de Coleções

RESUMO O presente estudo trata da gestão do patrimônio arqueológico, especificamente, o gerenciamento de informações referente às coleções que receberam endosso das instituições museológicas vinculadas a Universidade Federal de Sergipe (UFS), a saber: Museu de Arqueologia de Xingó (MAX) e as coleções provenientes do Museu do Homem Sergipano (MUHSE). Ao conceder o endosso institucional aos projetos de arqueologia por contrato, essas instituições tornaram-se responsáveis por vasta quantidade de coleções. Pensando no patrimônio arqueológico como fonte de informação, o objetivo deste trabalho é analisar os mecanismos realizados para o gerenciamento de informações relativas às coleções do campo arqueológico coletadas no âmbito da arqueologia por contrato, e sob a guarda dos museus da Universidade Federal de Sergipe, bem como verificar se estes procedimentos – se é que existem – interagem com as diretrizes das áreas de Arqueologia e Museologia no que tange a gestão de coleções. Diante das coleções sob a guarda da UFS, e da necessidade de realização dos procedimentos de gestão para o patrimônio arqueológico, este estudo parte da premissa que é impreterível a estruturação de mecanismos que permeiem desde o ato de aquisição até a disseminação de informação relativa as coleções. Um planejamento estruturado visa evitar que informações sejam perdidas diante de várias ações que impedem a gestão de coleções, principalmente, durante o “salvamento” arqueológico. Por fim, reflete-se também sobre o papel social das instituições museológicas para o conhecimento das informações no que se refere ao patrimônio arqueológico, ressaltando a necessidade da execução do procedimento de documentação museológica sobre as coleções arqueológicas, tanto pelas instituições museológicas, bem como nos trabalhos de campo. Onde, esses mecanismos de gestão, possibilitarão a disseminação de informações pertencentes a esses bens culturais que são passíveis de serem interpretados como atos e vozes de povos do passado para a compreensão das práticas sociais do presente. Palavras - chave: Patrimônio Arqueológico; Gestão de Coleções; Documentação Museológica; Disseminação de Informação; Museus da Universidade Federal de Sergipe.

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Musealized Archaeological Heritage in Sergipe: a ca se study on the relationship Museology Documentation and Archaeolog ical Information as an

essential Collections Management Procedure

ABSTRACT This study deals with the archaeological heritage management, specifically the management of information related to collections that received endorsement of museum institutions linked to Federal University of Sergipe (UFS), namely: Archaeology Museum of Xingó (MAX) and collections from Museum of Man of Sergipe (MUHSE). In granting the institutional endorsement to archaeology projects under contract, these institutions became responsible for vast amount of collections. Thinking about the archaeological heritage as a source of information, the objective of this study is to analyze the mechanisms made for information management concerning the collections of archaeological field collected under contract archaeology, and under the custody of museums in the Federal University of Sergipe, as well how to check if these procedures - if any - interact with the guidelines of the areas of Archaeology and Museology in relation to collections management. In front of the collections in the custody of the UFS, and the need for realization of management procedures for the archaeological heritage, this study assumes that it is imperative structuring mechanisms that permeate from the act of acquisition to the dissemination of information collections. This planning will be more complicated under the absence of several actions that prevent the collections management, especially if it occurs during the archaeological “rescue”. Lastly, the social role of museum institutions for knowledge of information in relation with archaeological heritage is consider, highlighting the necessity of implementing the museum documentation procedure on the archaeological collections, both by museum institutions as in field work, where these management mechanisms will enable the dissemination of information belonging to these cultural objects that are liable to be interpreted as acts and voices of past people to understand the social practices of present. Keywords: Archaeological Heritage; Collections Management; Museology documentation; Dissemination of information; Museum of the Federal University of Sergipe.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Gráfico 01 - representa as instituições cederam endosso institucional no Brasil, p.59.

Gráfico 02 - Representa a concessão de endosso institucional no estado de Sergipe no período de 1988 a 2010, p.92.

Gráfico 03 - Representa a concessão de endosso institucional no estado de Sergipe no período de 1988 a 2014, p.92.

Diagrama – Representa o Sistema Spectrum 4.0 sobre Missão Organizacional, p.75.

Quadro ampliado - Representa a concessão de endosso institucional no estado de Sergipe no período de 1988 a 2014, p.93.

Imagem 01 - Museu de Arqueologia de Xingó/UFS, p.99.

Imagem 02 - Museu do Homem Sergipano/UFS, p.101.

Imagem 03 - Espaço expositivo do MUHSE/UFS, p.102.

Imagem 04 - Prédio do MUHSE/UFS, p.103.

Imagem 05 - Coleção proveniente do MUHSE/UFS, p.104.

Imagem 06 - Coleção proveniente do MUHSE/UFS, p.105.

Imagem 07 - Reserva técnica e laboratório, material cerâmico – MAX/UFS, p.107.

Imagem 08 - Área expositiva do MAX/UFS, p.109.

Imagem 09 - Antiga “Reserva técnica” do MAX/UFS, p.109.

Imagem 10 – Ficha extraída do “Manual de Normas. Documentando Acervos Africanos” - AFRICOM/ICOM, p.140.

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AID - Área de Influência Direta

AFRICOM – Conselho Internacional de Museus Africanos

BPA – Banco de Portarias de Arqueologia

CDBP – Centro de Documentación de Bienes Patrimoniales

CIDOC – Comitê Internacional para Documentação do ICOM.

CHESF – Companhia Hidro Elétrica do São Francisco

CNA – Centro Nacional de Arqueologia

CNM – Cadastro Nacional de Museus

CNSA - Cadastro Nacional de Sítios Arqueológicos

CULTART - Centro de Cultura e Arte

DIBAM – Direccíon de Bibliotecas, Archivos y Museos

DOU – Diário Oficial da União

Eletrobrás – Centrais Elétricas Brasileira S.A.

IBAMA - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis

IBRAM - Instituto Brasileiro de Museus

IBM – Instituto Brasileiro de Museus

ICAHM - Comitê Internacional de Gestão do Patrimônio Arqueológico

ICOM – Conselho Internacional de Museus

ICOMOS - Conselho Internacional dos Monumentos e Sítios

ICOFOM – Comitê Internacional para Museologia

ICP – Inquérito Civil Público

IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional

FAPITEC/SE - Fundação de Apoio à Pesquisa e a Inovação Tecnológica do Estado

de Sergipe

FCA - Ficha de Caracterização da Atividade

FCP - Fundação Cultural Palmares

FUNAI - Fundação Nacional do Índio

MAX – Museu de Arqueologia de Xingó

MNBA – Museu Nacional de Belas Artes

MP/SE - Ministério Público de Sergipe

MPF - Ministério Público Federal

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MUHSE – Museu do Homem Sergipano

PAC - Programa de Aceleração do Crescimento

PAX - Programa Arqueológico de Xingó

SAB – Sociedade de Arqueologia Brasileira

SIMBA - Sistema de Informação do Acervo do Museu Nacional de Belas Artes

SGPA – Serviço de Gerenciamento do Patrimônio Arqueológico

SURDOC – Sistema Unificado de Registros

UFS – Universidade Federal de Sergipe

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SUMÁRIO Banca Examinadora ................................. ............................................................... 03 Agradecimentos .................................... .................................................................. 06 Resumo ............................................ ........................................................................ 11 Abstract .......................................... .......................................................................... 12 Lista de Ilustrações .............................. ................................................................... 13 Lista de Abreviatura e Siglas ..................... ............................................................. 14 INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 17 CAPITULO 1 – Arqueologia e Museologia: um “terreno” de possibilidades para o Patrimônio Arqueológico ......................... ........................................................... 30

1.1 – Conexões para a disseminação da Informação sobre o Patrimônio Arqueológico .......................................................................................................... 31 1.2 – A Legislação Brasileira para a Proteção do Patrimônio Arqueológico: a sua ação sobre as Coleções ......................................................................................... 39 1.3 – A Concessão de Portarias de Permissão ou Autorização: o “campo” da Arqueologia por Contrato. ...................................................................................... 48

CAPITULO 2 – O Patrimônio Arqueológico e os Procedi mentos de Salvaguarda ................................................................................................................................. 54

2.1 – O Endosso Institucional como Procedimento de Proteção para o Patrimônio Arqueológico .......................................................................................................... 55 2.2 – A Gestão da Informação Relativa ao Patrimônio Arqueológico Musealizado ............................................................................................................................... 62 2.3 – A Documentação Museológica como Procedimento de Gestão da Informação para o Patrimônio Arqueológico. ............................................................................ 70

CAPITULO 3 – O Caso de Sergipe: as Instituições de Guarda e o Compromisso com as Coleções Arqueológicas .................... ...................................................... 86

3.1 – A Pesquisa Arqueológica e os Dados Coletados em Sergipe ....................... 87 3.2 – O Panorama Museológico: o Caso das Coleções Arqueológicas nos Museus Pertencentes à Universidade Federal de Sergipe ................................................. 97 3.3 – O Patrimônio Arqueológico e a sua Musealização: Premissas para uma melhor Gestão de Coleções. ................................................................................ 112

CONSIDERAÇÕES ................................................................................................. 121 REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 128 ANEXO ................................................................................................................... 140

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INTRODUÇÃO

Shanks e Tilley no livro “Re-constructing Archaeology Theory and Practice”

(1992) refletem sobre as várias maneiras de estudar as ações pertencentes à

Arqueologia, bem como os seus objetos, as interpretações construídas em volta

deles e as relações desses com o ambiente que lhes acolheu e que agora, irá

acolhê-los (como, por exemplo, os museus). Eles veem a Arqueologia como uma

prática no presente, onde essa produz textos sobre o passado. Enfatizam que

mesmo a Arqueologia possuindo diversas possibilidades dialéticas, variando

basicamente de acordo com o seu contexto, na sua maneira principal de estudo ela

é indelével principalmente no que consiste a sua forma de interpretar. Argumentam

que o passado não é idêntico a sua representação e mostram a sua contrariedade a

ideia de que a realidade pode ser observada de forma objetiva, definida com base

em formulações de medidas e dimensões. Ao contrário disso, pensam que a

realidade deve ser compreendida como um campo polissêmico constituído na

prática, dependente das formulações dos indivíduos que a examinam, formulações

implícitas, porém, presente nas suas escolhas, ideias, e formações, que influenciam

a própria produção de significados sobre os objetos.

Em mais um dos capítulos deste livro (Social archaeology: the object of

study), Shanks e Tilley examinam a concepção da prática e da ideologia com o foco

no objeto da arqueologia, investigando as relações de um determinado grupo em

conjunto com as suas potencialidades. Os autores chamam a atenção para o estudo

social do objeto, e dessa forma convida-o a relatar a sua trajetória, verificando vários

tipos de situações, como: a gênese, a sua constituição técnica, e inclusive as

políticas que envolviam esses objetos, como as de domínio e subordinação, dentre

outras ações. Eles, assim como o Hodder em seu livro “Archaeological Theory

Today” (2009), enfatizam a arqueologia como uma disciplina carregada de valor

interpretativo e extremamente relacionada ao contexto social em que é produzida

destacando a sua importância social. Defendem que as práticas sociais caracterizam

sistemas, e estes devem ser percebidos por meio da sua atuação no espaço e

tempo; os modos e as relações que tratam dos fatos da história, das políticas, e da

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economia, dentre outras ações importantes e significativas para as abordagens

arqueológicas.

Estes autores estudam e ressaltam os comportamentos advindos dessas

práticas e, buscam descrições e explicações com sentido e significância. Eles

enfatizam o cuidado a respeito das diferentes posições sobre a leitura dos dados

arqueológicos, onde essa ação é capaz de levar a conhecimentos específicos, ou a

determinados pesquisadores a cair em searas que podem ser interpretadas como

ideológica e, se relacionada com estruturas contemporâneas de desigualdade,

podem dessa maneira, usar o passado para exercer uma hegemonia ideológica no

presente. As leituras arqueológicas precisam ser efetivas, elas trazem a substância

viva presente nos objetos, e essas, permitem evocar a essência de cada localidade

e/ou grupo estudado, possibilitando compreender por meio dos fragmentos as

interações sociais ali presente. Os resultados dessas leituras chamam atenção

desde o momento da coleta desses objetos até a disseminação da informação1

sobre o bem pesquisado. Além de importantes para a interpretação das práticas

cotidianas de vários grupos sociais do presente, os resultados dessas manifestações

das estruturas sociais do passado, depois de trabalhadas, precisam ser

disseminados de forma clara.

Os autores citados anteriormente ponderam que a Arqueologia é

inevitavelmente social não só no sentido de que ela é produzida por homens, dentro

e fora das instituições [ou nos diversos ambientes que abrigam a cultura material2,

como os museus], mas porque seus dados são produtos de práticas sociais. E, é

justamente o trabalho realizado pelos diferentes agentes (pesquisadores e

entidades) sobre os vestígios das práticas sociais de diversos povos, inclusive o

momento do contato (resgate arqueológico), uma das preocupações deste estudo.

Ao pensar nas leituras dos vestígios arqueológicos, e os ideais expressos nos

resultados dos estudos sobre um objeto, e as suas funções, é possível ver expresso

1 A informação, segundo Buckland (1991), é o conjunto organizado e estruturado de dados que se pode obter de determinado objeto ou acontecimento. Por sua vez, a disseminação da informação compreende, segundo Barros (2003), importantes mecanismos que envolvem a coleta, organização e distribuição da informação para gerar o conhecimento essencial ao sucesso na vida pessoal e profissional dos usuários. 2 A cultura material segundo Lima (2011, p.21) retrata a dimensão concreta das relações sociais, ela é produzida para desempenhar um papel ativo, é usada tanto para afirmar identidades quanto para dissimulá-las, para promover mudança social, marcar diferenças sociais, reforçar a dominação e reafirmar resistências, negociar posições, demarcar fronteiras sociais.

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a sua relevância como possibilitador de conhecimento. Tal abordagem é uma prática

arqueológica importante, caracterizada como fundamental para explicar os sentidos

no uso do objeto como cultura material.

Ao se debruçar sobre o pensamento que envolve as coleções arqueológicas,

não se pode deixar de pensar no futuro que acolherá os vestígios das culturas

materiais, e para isto, é preciso observar além de tudo a forma como foram

“resgatados”. Este conhecimento, normalmente, é percebido quando são verificadas

nas coleções, informações relativas à pesquisa, e nos dados documentais que a

acompanha. São aspectos a serem considerados, pois, é no momento da realização

do salvamento e da interpretação dos objetos, que é percebido como toda a ação foi

planejada e como realmente ela se deu. São os resultados do trabalho arqueológico

que relatam como o resgate ocorreu e quais as medidas desenvolvidas para que um

bom trabalho fosse feito.

Segundo Lima e Rabello (2007, p. 245) a “atividade arqueológica quando

desenvolvida pela academia, já estava se desenvolvendo em larga escala e, com o

advento dos licenciamentos ambientais realizados por profissionais autônomos e/ou

por empresas particulares, a situação real das coleções nas instituições que cedem

endosso institucional para realizar o contrato arqueológico veio à tona”.

Consequentemente, grandes contingentes de coleções começaram a chegar aos

museus e com eles, procedimentos realizados ou não, ações que influem

diretamente sobre a gestão de coleções3 arqueológicas, por isso, o interesse deste

estudo sobre os artefatos provenientes, principalmente, da atividade arqueológica

por contrato.

As ações ligadas ao salvamento arqueológico por contrato são caracterizadas

por diferentes agentes e mecanismos que influenciam em como o processo de

salvamento arqueológico pode acontecer. Um grande impulsionador destas ações

advém com as negociações para o inicio do trabalho arqueológico. A depender do

tamanho da ação, será necessário um bom quantitativo de profissionais e de

equipamentos, além de um trabalho que vise agilidade, pois normalmente há um

empreendimento a ser realizado. Consequentemente, essas ações influem sobre as

3 Gestão de coleções é um conjunto de tarefas que, por meio de um método específico, garantem que todos os recursos disponibilizados por um museu serão otimizados (SPECTRUM 4.0, 2014, p.19). Este segundo Ladkin (2004, p. 17) foca-se na preservação das coleções, preocupando-se pelo seu bem-estar físico e segurança, em longo prazo.

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informações pertencentes aos objetos resgatados, e sobre a salvaguarda, visto que,

quanto mais coleções, mais logística, e mais tempo para atender a demanda e as

especificidades de cada coleção, até estas chegarem nas “reservas técnicas” de

alguma instituição, que cedeu o endosso. O registro realizado pelos agentes sociais

que compõem as diferentes áreas do conhecimento, como a Arqueologia,

Museologia, História, entre outros, permitem que o estudo dos vestígios e das ações

humanas, aconteça. São encontros, para pensar sobre a importância do patrimônio

arqueológico e, que visam evitar distorções sobre a leitura de um mesmo objeto.

Inclusive, buscam nas relações entre as áreas do conhecimento, complementar

informações.

Portanto, para este momento, trataremos o termo “patrimônio arqueológico”

de acordo com o sentido destacado na Carta de Lausanne onde esta retrata “aquela

parte do material arqueológico a partir da qual os métodos arqueológicos

proporcionam informação primária. Ele compreende todos os vestígios da existência

humana e consiste em sítios relacionados com todas as manifestações da atividade

humana, estruturas abandonadas, e vestígios de todos os tipos (incluindo sítios

subterrâneos e subaquáticos), bem como todos os materiais culturais transportáveis

que lhes estão associados”. (Carta de Lausanne - ICOMOS/ICAHM,1990, p.03).

Dessa forma, pensando no patrimônio arqueológico como possibilitador de

informações, o objetivo geral desse estudo é analisar os mecanismos realizados

para o gerenciamento das informações relativas às coleções do campo arqueológico

coletadas no âmbito da arqueologia por contrato e sob a guarda dos museus da

Universidade Federal de Sergipe. Contudo, focaremos nos procedimentos de gestão

de coleções que podem ser aplicados aos museus federais de Sergipe que

salvaguardam coleções arqueológicas e na sua potencialidade na cadeia operatória

da musealização4 para atender as especificidades das coleções sob a tutela dessas

instituições.

4 De um ponto de vista mais estritamente museológico, a musealização é a operação de extração, física e conceitual, de uma coisa de seu meio natural ou cultural de origem, conferindo a ela um estatuto museal – isto é, transformando-a em musealium ou musealia, em um “objeto de museu” que se integre no campo museal (Desvallées & Mairesse, 2013). Dessa maneira, “musealia (objetos de museu) são objetos autênticos móveis que, como testemunhos irrefutáveis, revelam os desenvolvimentos da natureza ou da sociedade” (Schreiner, 1985; Desvallées & Mairesse, 2013). Ou seja, são os objetos que já passaram por um processo de pesquisa, entre outros procedimentos que os possibilitem referenciar a cultura de um determinado grupo social, não sendo necessária, a sua permanência em uma unidade física de um museu, já que este extrapola essas paredes, bastando que os objetos musealizados sejam preservados e comuniquem (testemunhem) sobre uma realidade.

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Assim, pretendeu-se com os objetivos específicos: a) Identificar o panorama

do processamento técnico das coleções arqueológicas coletadas por meio de

arqueologia por contrato, no que tange a relação documentação museológica5 e

informação arqueológica, nos museus universitários do estado de Sergipe;

b) Analisar como o conteúdo informacional presente no processo de gestão de

coleções (documentação museológica) interage - verificando esta ação junto às

coleções estudadas - com os resultados das pesquisas arqueológicas mais atuais;

c) Avaliar em que medida a gestão de coleções, em especial os procedimentos de

documentação museológica, podem potencializar a disseminação do conhecimento

arqueológico em consenso com a interface das áreas de Arqueologia e Museologia.

Deste modo, para uma análise sobre a situação das coleções arqueológicas,

em conjunto com o olhar mais largo e possibilitador para compreender a cultural

material advinda dos diversos grupos humanos, disponibilizado pela arqueologia

pós-processual6, este estudo de caso se dará sobre as coleções arqueológicas do

“Museu de Arqueologia de Xingó” (MAX/UFS) e do “Museu do Homem Sergipano”

(MUHSE/UFS), ambos, órgãos suplementares pertencentes à Universidade Federal

de Sergipe (UFS), mas não de forma particular, a contribuição deles tem grande

importância para este estudo, no entanto, serão retratados de forma alusiva,

relatando o caso das coleções pertencentes aos museus federais de Sergipe.

5 A documentação museológica é o conjunto de informações sobre cada um dos seus itens e, por conseguinte, a preservação e a representação destes por meio da palavra e da imagem (fotografia). Ao mesmo tempo, é um sistema de recuperação de informação capaz de transformar, as coleções dos museus de fontes de informação em fontes de pesquisa científica ou em instrumentos de transmissão de conhecimento (FERREZ, 1994) 6 Também conhecida como Arqueologia Contextual, Arqueologia Interpretativa, Arqueologia Pós-positivista, segundo Lima (2011, p.18), este modelo teórico é baseado “sob a influência de uma diversidade de perspectivas teóricas – nomeadamente, segundo Tilley (2008a), marxismo, estruturalismo e semiótica, em suas várias combinações – esvaziaram algumas das principais bandeiras da arqueologia positivista. Sem negar o sistema e a função adaptativa, entenderam que ambos são controlados pelas idéias dos indivíduos, fundadas não em modelos universais, mas no particularismo de suas culturas. Negociadores ativos das regras sociais, os indivíduos trabalham constantemente na criação e recriação da ordenação social. Mais que o sistema propriamente, o que é de interesse, de fato, são níveis mais profundos de análise, no caso, as estruturas por meio das quais ele assume a sua forma, que podem incorporar conflitos, tensões e contradições (Hodder, 1995, p. 85). A variabilidade formal do registro arqueológico é devida, ao menos em parte, a mecanismos estruturadores que operam em nível cognitivo e ideacional. Refutando as dicotomias produzidas pelo processualismo – como sistema x estrutura, materialismo x idealismo, sociedade x indivíduo, geral x particular, sujeito x objeto – eles procuraram ver, mais que uma oposição radical entre essas categorias, as relações entre elas, especialmente entre as últimas, de interesse central para os estudos de cultura material, na medida em que objeto e sujeito, constituído e constituinte, estão associados indelevelmente em uma relação dialética, são parte um do outro, são a mesma coisa, embora diferentes (Tilley, 2008b, p. 61)”.

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Inclusive, tratando de questões pertencentes a estes museus, que interferem

diretamente na gestão da informação referente ao patrimônio arqueológico sob a sua

tutela, a saber: o momento de reestruturação pelo o qual o MAX esta passando; a

transferência de responsabilidade sobre as coleções arqueológicas do MUHSE para

o Laboratório do Departamento de Arqueologia da UFS, entre outros. Situação que

envolve a importância da estruturação de um processo de documentação

museológica, ou, ao menos de catalogação7, devido a lacunas informacionais8

encontradas nas coleções. Dessa maneira, já que a catalogação, é um dos “braços”

da documentação museológica, permitirá a instituição que tem a tutela de coleções

arqueológicas ter dados, como: sítio arqueológico (procedência); projetos ao qual

pertenceu; quem realizou o resgate e estudo primário da coleção; tipo e quantitativo

de coleção (patrimônio arqueológico que possui), entre outros dados.

Nesse sentido, abordaremos esse patrimônio arqueológico como cultura

material de um povo, que “simboliza práticas culturais que não são estanques, mas

sim, atos e vozes9 de um grupo que não pode ser acessado” (Lima, 2007A), no

entanto, produziu relatos de sua existência em distintos ambientes. Por isso, precisa

ser enfatizada a presença e a atuação dos indivíduos (os grupos) na formulação

dessa cultura material que segundo Hodder e Hutson (2003) não pode ser

observada como algo a parte ou anexo, a cultura material tem participação ativa na

estruturação da sociedade, não são meros reflexos de uma sociedade, são

atividades direta e ativa que influenciaram nossas atitudes e comportamentos na

forma pela qual construímos nossas relações sociais.

Nesse âmbito, ao ver a importância dada aos indivíduos pretéritos e o estudo

da sua cultura material como parte estruturante de uma sociedade, imediatamente

procuramos identificar nas ações de gestão para o patrimônio arqueológico gerado a

7 Procedimento técnico-conceitual no âmbito da documentação em museus, muitas vezes identificado também pelo título de inventário. Cabe distinguir: o processamento de dados intrínsecos e extrínsecos dos itens musealizados, e a informação especializada gerada pela catalogação, permitem fornecer, sob um conjunto quantitativo extenso e de maneira descritiva, os elementos qualitativos sobre cada item interpretado. O inventário usa de menor número de indicadores e se formaliza como um arrolamento para atender, em escala quantitativa, a demanda de dados, cuja finalidade é verificar situações pontuais dos acervos (CIDOC-ICOM, 2007, apud Lima, 2012). 8 Segundo Lima (2012), lacuna informacional é a “ausência ou dúvida acerca dos dados registrados nos campos de informação das fichas catalográficas”. 9 Alguns autores colocam que as coleções, os acervos ou o patrimônio “falam”, contudo este estudo pauta-se na perspectiva de que eles são passíveis de interpretação.

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partir desses projetos arqueológicos, que tiveram coleções coletadas, se estes

ambientes possuem algum tipo de problema envolvendo a documentação desses

vestígios devido a contextos sociais ausentes ou não percebidos. Logo, vemos o

enfoque contextual como mais um possibilitador para um trabalho mais eficiente nos

sítios e laboratórios. Onde neste enfoque, segundo Trigger (2004) em consenso de

opiniões com o Hodder, o contexto pertencente às coleções no momento do

“salvamento” deveria ser analisado em todas as suas possibilidades, envolvendo os

diversos aspectos culturais de um grupo, para que as interpretações compreendam

todas as partes.

Os vestígios por ser o resultado de ações de grupos humanos em uma

determinada época, além de refletir uma sociedade, ele produzem oportunidade de

interação entre diversas áreas do conhecimento. Um exemplo disso é o trabalho

realizado em interface pelas áreas da Arqueologia e Museologia, quando elas atuam

em conjunto sobre as manifestações da diversidade de um povo, procurando

evidenciá-la. A Arqueologia por meio da pesquisa sobre os vestígios faz a

interpretação dos dados, produzindo informações, e em conjunto com a Museologia

esses elementos serão tratados e poderão ser disseminados a qualquer público

interessado, permitindo a essas coleções desempenharem o seu papel social10. Por

conseguinte, vemos que esse tipo de ação possibilitaria aos museus, ou a qualquer

outro local que se comprometeu com a salvaguarda dessas coleções, disseminá-las

da forma menos equivocada possível, fazendo menção a De Blasis apud Ribeiro

(2012, p.16) quando diz que a “informação arqueológica é valiosa e mal utilizada”,

expressão importantíssima a ser refletida e, que delineia vários estudos envolvendo

o patrimônio arqueológico, principalmente aquele a ser musealizado.

Sendo assim, nos propusemos no primeiro capitulo a identificar o panorama

do processamento técnico das coleções arqueológicas coletados via arqueologia por

contrato, observando o conhecimento adquirido sobre a informação arqueológica, e

10 Segundo o “Conceitos-chave de museologia” de modo geral, uma coleção pode ser definida como um conjunto de objetos materiais ou imateriais (obras, artefatos, mentefatos, espécimes, documentos arquivísticos, testemunhos, [vestígios], etc.) que um indivíduo, ou um estabelecimento, se responsabilizou por reunir, classificar, selecionar e conservar em um contexto seguro e que, com frequência, é comunicada a um público mais ou menos vasto, seja esta uma coleção pública ou privada. Dessa maneira, este estudo vê a importância de uma coleção pelo que ela pode representar, pensando no seu “valor simbólico” fazendo referência a Pomian, e sendo assim, as coleções trazem consigo um caráter social, pois, por meio delas é possível perceber relações e adicionar-lhes características que as farão portadoras de informações pertencentes a um determinado grupo ou sociedade.

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as leis brasileiras que tratam da proteção do patrimônio arqueológico. Para este

momento, buscamos compreender as particularidades provenientes de cada área do

conhecimento, onde será abordado o processo de interface entre a Arqueologia e

Museologia. O processo de interface é visto aqui como uma ferramenta

possibilitadora para um trabalho mais abrangente entre duas áreas do conhecimento

que se preocupam com a análise das coleções e a disseminação da informação.

A ação conjunta entre Arqueologia e Museologia, por exemplo, possibilita

melhorias sobre a maneira de como o “objeto social” será pensado e interpretado,

pelos pesquisadores, e na forma como estes diagnosticarão as práticas

arqueológicas dos diversos grupos, em prol de compreender o presente. Neste

contexto, pensando na melhoria dos trabalhos arqueológicos, vê-se que as ações

desenvolvidas pela área da Museologia, como: a pesquisa, salvaguarda e a

disseminação das informações em um objeto, é um bom caminho para a

compreensão e proteção das coleções arqueológicas já pesquisadas. Por isso,

chamamos a atenção sobre o trabalho em interface, onde este dificulta

interpretações equivocadas a cerca dos dados sobre as coleções arqueológicas,

evitando assim, que o produto das práticas sociais seja analisado fora da sua

estrutura espacial e temporal.

Esta abrangência se dá, pelo simples fato das coleções arqueológicas

representarem funções sociais relevantes, que sem a troca de informações e

complementação de dados por parte de diversos profissionais, particularidades

podem ser perdidas. Sendo assim, chamamos a atenção para a pesquisa e a

disseminação das informações relativa às coleções arqueológicas que são

fundamentadas pelas duas áreas do conhecimento de forma elucidativa, visando

ampliar o grau de entendimento sobre como se davam as relações sociais desses

grupos. Este tipo de atuação permite ao profissional pesquisador desenvolver

metodologias que facilitem a compreensão de como se davam os fenômenos

culturais em um determinado meio, pensando em todas as etapas do estudo, que vai

desde o resgate, até o momento do contato com esse conhecimento, que será

exposto por meio das ações museológicas.

Dessa forma, e diante da situação das coleções aqui abordadas, destacamos

que o trabalho (Arqueologia e Museologia), auxiliará os pesquisadores nos

processos que envolvem a gestão de coleções arqueológicas. Esse processo se faz

pertinente, primeiro devido à necessidade de trocas de informações entre as duas

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áreas do conhecimento. E depois, devido à especificidade dos materiais, conforme

procedimentos a ser empregado para realizar a interpretação das coleções

(arqueólogo) nos processos de salvaguarda para o trato museológico (museólogo).

Em outro momento do primeiro capítulo, trabalharemos “A legislação brasileira

para a proteção do patrimônio arqueológico”, esse buscará tratar a necessidade de

entendimento e proteção sobre essa ação no Brasil, visto que o material

arqueológico é considerado bem da União, portanto, amparado por leis, decretos e

resoluções em nível também federal, estadual e municipal. Apoiaremos-nos

principalmente na Constituição Federal Brasileira (1988) e na Lei 3.924/61, que

dispõe sobre os bens arqueológicos e a atuação do IPHAN. O Decreto 8.124/13, que

regulamenta os dispositivos da Lei 11.904/09, que instituiu o Estatuto dos Museus, e

da Lei 11.906/09, que instituiu o Instituto Brasileiro de Museus (IBRAM), autarquia

federal, onde esse se detém sobre as ações e relações museus e coleções de

diversas procedências. Como já especificado, o nosso objetivo gira em torno de

coleções arqueológicas sob a tutela de entidades como os museus, que pertencem

a Universidade Federal de Sergipe, então procuraremos sempre focar nas questões

relativas a isso.

Vendo a relação das coleções arqueológicas e museus como algo importante

para a disseminação das informações, é imprescindível que as ações para o início

dos projetos com a arqueologia por contrato, se debrucem também sobre as

consequências da concessão de portarias de permissão ou autorização. Vendo essa

ação como um processo de gestão de coleções, lançaremos o olhar sobre como

essa prática se deu e vem se dando na atualidade, por ela ser um ponto chave para

a nossa análise, já que as coleções estudadas aqui partem em sua maioria, dessa

prática.

No segundo capítulo será trabalhado, “O patrimônio arqueológico

musealizado e os procedimentos de salvaguarda”. Faz-se necessário para melhor

compreensão, dividir o referido capítulo em subitens, onde no primeiro é lançado um

olhar sobre o “impacto do endosso institucional no museu e como esse

procedimento pode ser útil à proteção do patrimônio arqueológico.” A pretensão, é a

de analisar como o conteúdo informacional está presente no processo de gestão de

coleções, pautando-se principalmente sobre a proposta de disseminação das

informações contidas nos projetos arqueológicos que são entregues ao Instituto do

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Patrimônio Histórico e Artístico Nacional11 (IPHAN), quando esses, solicitam

permissão para o início de suas atividades. O processo envolvendo o endosso

institucional também é visto por esse estudo como sendo um procedimento de

salvaguarda, consequentemente, de gestão de coleções.

Sendo assim, as instituições de guarda também possuem responsabilidades

fundamentais e importantíssimas com as coleções. De tal modo, buscamos discutir

no segundo subitem “A Gestão da Informação relativa ao Patrimônio Arqueológico

musealizado”, o panorama museológico das coleções arqueológicas. Ao longo da

atuação das instituições museológicas, a prática de ceder endosso institucional se

torna uma ação cujo resultado tem proporções bem variáveis, e do mesmo modo, os

museus tornam-se responsáveis por grande quantitativo de coleções, tão quanto os

outros agentes envolvidos na mesma ação.

No terceiro subitem, “A documentação museológica como procedimento de

gestão da informação e do patrimônio arqueológico”, aqui evidenciamos esse

procedimento como uma ação pertencente à gestão de coleções. Neste subitem a

documentação museológica é retratada como um instrumento que ampliará e

possibilitará melhorias no diálogo instituição – pesquisa – informação. Foi descrita

por Loureiro (1998) apud Yassuda (p.18) como ferramenta de grande utilidade para

localização e controle de itens da coleção, além de ser fonte de pesquisa, auxiliando

no desenvolvimento de exposições e outras atividades do museu. Por assim vê-la,

destacamos dentre os vários procedimentos desenvolvidos, aqueles organizados

pelo sistema Spectrum para potencializar a documentação museológica nos

museus.

Neste capitulo, ainda é correlacionada à situação das coleções estudadas nas

suas respectivas entidades cedentes do apoio institucional. É importante destacar

que o processo de interface proposto, não é apenas trabalhado aqui como um

elemento isolado, apenas no primeiro capítulo. Esse processo permeia toda a

pesquisa desde que era um projeto de iniciação cientifica na área de Museologia12.

11 Ao longo de sua trajetória desde 1937, até se tornar instituto o IPHAN foi denominado de: serviço, diretoria, instituto, secretaria, subsecretaria e novamente instituto. 12 A discente Heide Roviene Santana participou em um primeiro momento do projeto intitulado “A musealização do patrimônio arqueológico: estudo de caso sobre o processo de documentação no Museu de Arqueologia de Xingó - MAX”, no período de 2010/2011; Consequentemente, participou do projeto “A Musealização do Patrimônio Arqueológico em Sergipe: mapeamento das permissões/autorização de pesquisa arqueológicas e endossos institucionais (1970-2010)”, no período de 2011/2012. E, durante o mestrado participou do projeto intitulado “A Musealização do

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Nesse momento, ele se intensifica por ser uma ação mais detalhada para um

trabalho de dissertação. A todo o momento, os autores de ambas as áreas do

conhecimento (Arqueologia e Museologia), são elencados no texto, visando

contribuir para uma compreensão mais efetiva sobre as questões pertencentes aos

processos de gestão que vão se delineando durante a pesquisa.

No terceiro capítulo, “O Caso de Sergipe: as Instituições de guarda e a

Responsabilidade sobre as Coleções Arqueológicas” foram trazidas informações

sobre “A pesquisa arqueológica e os dados coletados em Sergipe”. Buscamos

avaliar em que medida a gestão de coleções, potencializou ou não, a disseminação

do conhecimento arqueológico com o auxilio da interface das áreas de Arqueologia e

Museologia. Durante a pesquisa, trabalhamos com os dados coletados sobre o

quantitativo de endossos institucionais e portarias de permissão ou autorização

emitidas pelo: Banco de Portarias de Arqueologia do Serviço de Gerenciamento do

Patrimônio Arqueológico – (BPA/SGPA/IPHAN); Cadastro Nacional de Sítios

Arqueológicos do Serviço de Gerenciamento do Patrimônio Arqueológico –

(CNSA/SGPA/IPHAN); no site do Diário Oficial da União – DOU; e junto com os

dados disponibilizados pelo setor de Arqueologia da 8ª Superintendência do

IPHAN/SE, em um recorte se faz para Sergipe no período de 1998 até 2014, e que

outras localidades ou regiões do Brasil, poderão ser citadas, mas, com o intuito de

fazer breves comparações, devido ao quantitativo de trabalhos realizados,

instituições que podem fazer a guarda das coleções, ou por dimensão territorial.

No subitem “O panorama museológico: o caso das coleções arqueológicas

nos museus pertencentes à Universidade Federal de Sergipe”, além de focar nas

ações desenvolvidas pelas atividades nas áreas de Arqueologia e Museologia sobre

a documentação museológica como um processo de gestão de coleções

arqueológicas musealizadas em Sergipe, buscamos traçar o panorama atual das

coleções do MAX e as provenientes do MUHSE. Relatamos ações que foram

idealizadas por esses museus, no intuito de melhorar e ampliar as suas atuações

institucionais; seus problemas; o que fizeram ou o que está sendo realizado.

No terceiro subitem, temos “As Coleções Arqueológicas e a sua

Patrimônio Arqueológico em Sergipe: mapeamento das permissões/autorização de pesquisa arqueológicas e endossos institucionais (1979-2010)”, no período de 2013/2014. Ambos voltados para a musealização do patrimônio arqueológico com o foco na gestão dessas coleções, sob a condução e orientação da Profª. Drª Elizabete de Castro Mendonça.

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musealização: questões para uma melhor gestão dessas coleções”, nesse momento,

foram destacadas a importância de um museu em conjunto com os procedimentos

de gestão de coleções para a musealização e proteção do patrimônio arqueológico.

Aqui é chamada a atenção sobre a necessidade de revisão e analise das ações

frente ao tratamento dado as coleções, e sobre a importância das relações mutuas

que devem ser efetiva entre todos os envolvidos. A intenção é de proteger as

coleções, estando nesse corpo os usuários, voluntários, pessoal da instituição, todos

buscando o melhor tratamento e a valorização das coleções.

Por fim, para dá fundamentação teórica aos principais conceitos que integram

todo esse estudo, iremos trabalhar com a Documentação Museológica e a Gestão

de Coleções - Ferrez (1994) uma leitura clássica pertencente à ciência da

informação, bastante utilizada na área da Museologia e Ladkin (2004); Musealização

– Desvallées e Mairesse (2013); Musealização do Patrimônio Arqueológico e

Endosso Institucional – Bruno (1995; 1996; 2007); Museologia e Musealização -

Guarnieri (1990); Mensch (1994); Lima (2007, 2008, 2012). E, como base

fundamental, sempre buscando cruzar dados com a linha para a área de fomento do

Programa de Pós-Graduação em Arqueologia: Childe (1977); Shanks e Tilley (1992);

Ian Hodder – (1999, 2003, 2009); Ranfrew e Bahn (2004); Trigger (2004); Funari

(2010); Lima (2013), esses importantes autores vão nos conduzindo sobre a prática

arqueológica e as maneiras de trabalhar os sentidos dados aos objetos de estudo da

Arqueologia, que é a cultura material.

Dessa forma, as respostas as nossas indagações são conduzidas pelas

pesquisas e pelos autores que nos dão suporte para compreender um pouco desse

extenso campo que envolve a gestão de coleções arqueológicas. As coleções nos

instigam a ver a Arqueologia como uma área que estuda a ação proveniente das

práticas dos grupos humanos observados nos diversos momentos e ambientes em

que atuaram, possibilitando interpretações por meio desses contextos. A

Museologia, por sua vez, contribui com autores no entendimento das “relações do

homem sobre a sua realidade” (Stránský, 1980), tendo o objeto como um

possibilitador dessas relações, casando com a perspectiva de Ian Hodder, Shanks e

Tilley quando falam do objeto de estudo da Arqueologia e da sua função social.

Destarte, procurar retirar daí considerações acerca do que observamos e

analisarmos nesses momentos, referente à gestão de coleções arqueológicas e na

sua salvaguarda, por meio da documentação museológica. Portanto, procuraremos

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em conjunto com todas essas ponderações delinear sobre os mecanismos de

gestão das informações empregadas nas coleções arqueológicas coletadas por meio

de projetos de arqueologia por contrato e sob a tutela dos museus da Universidade

Federal de Sergipe e, em especial, se estes interagem com as diretrizes atuais das

áreas de Arqueologia e Museologia no que tange a gestão de coleções.

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CAPÍTULO 1 –

Arqueologia e Museologia: um “terreno” de possibili dades para o Patrimônio Arqueológico

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1.1. Conexões para a disseminação da Informação sob re o Patrimônio

Arqueológico

De acordo com o Banco de Portarias Arqueológica – BPA do Instituto do

Patrimônio Histórico e Artístico Nacional e a 8ª Superintendência Regional do IPHAN

foram expedidas 59 (cinquenta e nove) portarias para Sergipe do ano de 1998 até

201413. Consequentemente, com base nos trabalhos arqueológicos realizados no

estado, verificamos vários objetos identificados como de cunho arqueológico que

formam as coleções em geral, depositadas em museus do mesmo Estado. A maior

parte destas coleções são frutos de arqueologia por contrato (hoje comumente

chamado de arqueologia preventiva), que por sua vez, receberam endosso

institucional da Universidade Federal de Sergipe e estão sob a tutela do Museu de

Arqueologia de Xingó (MAX) e do Museu do Homem Sergipano14 (MUHSE).

Cabe destacar, que ambos os museus são órgãos suplementar da

Universidade Federal de Sergipe (UFS) e, responsáveis por coleções arqueológicas

provenientes das portarias expedidas para projetos de salvamento arqueológico em

Sergipe. Compete ressaltar também, que o MUHSE foi criado em 1976, com a

finalidade de ser um museu de antropologia. Já o MAX15, criado em 2000, foi

pensado a partir do salvamento arqueológico por contrato, em função de um

13 De acordo com a última atualização do site do Banco de Portarias Arqueológica – BPA do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional realizado em 2010 há 34 portarias para Sergipe e, foram levantadas mais 25 portarias junto a SR/Iphan entre 2011 e 2014. A análise sobre as 59 portaria será realizada no 3º capítulo deste estudo. 14 O museu foi fechado para visitação pública, por determinação da Pró-Reitoria de Extensão (PROEX) do Campus da Universidade Federal de Sergipe (UFS) no ano de 2011, em virtude de problemas estruturais no edifício que abrigava o museu. Esse problema levou o museu a realizar a desmontagem da exposição permanente, e como medida de salvaguarda dos objetos museológicos, precisou transferir a tutela de suas coleções para o Laboratório do Departamento de Arqueologia da UFS, no Campus de Laranjeiras/SE em maio de 2013, permanecendo lá até o momento. Contudo, segundo a Pró-reitora de extensão a professora Dra. Maria da Conceição Almeida Vasconcelos, o MUHSE recebeu por meio do concurso público realizado em 2014 um museólogo, e há um projeto que visa reabrir as suas portas, porém, não como museu, a busca é por reorganizar as bases metodológicas para a implantação de um novo modelo de gestão e de musealização, embora ainda não determinado, mas com uma perspectiva bem diferenciada da anterior. 15 O Museu comporta duas unidades: a primeira, denominada Unidade Museológica, está localizada em Canindé do São Francisco e é composta por áreas expositivas,laboratórios e salas para guarda das coleções; a segunda, Unidade Administrativa, está instalada no Campus da UFS em São Cristóvão.

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empreendimento desenvolvimentista16 realizado na região do Baixo São Francisco

(na divisa entre Sergipe, Bahia e Alagoas), para a implantação da Usina Hidrelétrica

de Xingó, gerida pela Companhia Hidrelétrica do São Francisco (CHESF) - empresa

que administra várias Usinas Hidrelétricas na extensão do Rio São Francisco. Só

nesse salvamento foi coletada uma vasta coleção, cerca de 50/60 mil objetos17

constituído por cerâmicas, líticos e materiais biológicos (faunísticos e esqueletos

humanos), isso sem contabilizar as outras ações arqueológicas que o museu cede

apoio.

Com esses dados, chamamos a atenção sobre os problemas relativos à

gestão do patrimônio arqueológico móvel musealizado, destacando o caso de

Sergipe. Casos como estes, sugerem a importância de um processo de interface

entre as áreas de Arqueologia e Museologia, visando conexões para a salvaguarda

e disseminação do conhecimento produzido a partir do patrimônio arqueológico.

Primeiro, porque as instituições que conferem endosso institucional muitas vezes,

não são propriamente instituições que tenham a missão de salvaguardar e

disseminar o patrimônio arqueológico ou, em outras circunstâncias, até foram

entidades criadas com a finalidade de preservar as coleções arqueológicas, mas

possuem limitações no processo de gestão dessas coleções. Por fim, a ausência de

um quantitativo de profissionais que possam auxiliar no processo de musealização e

processamento da informação arqueológica é outro ponto a ser pensado,

principalmente, no que se refere à interpretação e ao manuseio das coleções de

arqueologia em museus.

Ao investigar a “vida social das coisas”/dos objetos (APPARDURAI, 2008),

remetendo aqui a especificidade do nosso objeto de estudo - em particular os

objetos arqueológicos, é possível perceber que a relação entre patrimônio

arqueológico e as instituições museológicas é histórica. Os vestígios arqueológicos

16 Neste trabalho refiro-me a empreendimentos desenvolvimentistas, segundo (BRUNO, 2014: 04), como “os caminhos contemporâneos do desenvolvimento econômico do Brasil, impregnados de delimitações referentes à construção de hidroelétricas, estradas de rodagem, portos, linhas de transmissão, metrôs e outras tantas modalidades de ações que exigem a intervenção em territórios, alterando as paisagens culturais do presente e impedindo uma adequada leitura e compreensão em relação às paisagens culturais do passado”. 17 Devido ao trabalho incipiente de catalogação das coleções arqueológicas, alguns problemas envolvendo a documentação institucional, não há um número exato dos objetos sob a responsabilidade do MAX. Situação não muito diferente ocorre nas coleções provenientes do MUHSE que atualmente se encontra sob a tutela do Laboratório do Departamento de Arqueologia da UFS, Campus de Laranjeiras/SE, não há um consenso do quantitativo exato de coleções nessas entidades.

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estiveram associados ao colecionismo, aos gabinetes de curiosidades e aos

primeiros museus de arte e de história natural. Lima (2007, p. 5) os inclui nos

conjuntos do que considera “a ‘proto-história’ dos componentes de

coleções/acervos18 museológicos”.

Os séculos XX e XXI foram marcados pelo aumento do número de instituições museológicas e consequentemente as que abrigam acervos arqueológicos. É no âmbito desse crescimento que, em meados do século XX, a interação deixa de ser apenas entre “patrimônio arqueológico e museu” ou entre “Arqueologia e museu” e passa a enfrentar novos desafios na interação entre “Arqueologia e Museologia”, já que ambas enquanto campo de conhecimento se solidificam em termos teórico-metodológicos. (Ribeiro, apud Mendonça, 2014: 61)

As coleções de cunho arqueológico que compõem as coleções museológicas

são um dos principais elementos que configuram a existência humana, eles nos

ajudam a ver que a noção de patrimônio arqueológico é ampla, e relacionada “a

porção do patrimônio [cultural] material para a qual os métodos da arqueologia

fornecem os conhecimentos primários”, [permitem compreender] assim todos os

vestígios da existência e indícios das atividades humanas (ICOMOS/ICAHM: 1990,

p. 2), bem como, dos diversos momentos da atuação de um grupo em seu meio, e

como produtor de documento social.

Dessa maneira, os profissionais que investigam os vestígios da cultura

material precisam garantir um diálogo que possibilitem as coleções recolhidas,

serem pesquisadas e trabalhadas como elementos mediadores das relações

passado/presente. Se não ocorrer a troca dos resultados não existirá interface entre

os campos de conhecimento acadêmicos, e não serão preenchidas as lacunas

informacionais, nenhum dos mecanismos (pesquisa e disseminação do

conhecimento associado à interpretação da cultura dos diversos povos) empregados

por cada uma dessas áreas do conhecimento será efetivamente apropriado no

processo de musealização ou de disseminação do patrimônio e de interface entre a

18“Acervo” é um termo usualmente utilizado no Brasil. No artigo em francês da Nicola Ladkin, Professor Adjunto da Texas Tech University, Lubbock/Texas, têm-se gestion des collections e ao ser traduzido para o português, veio como gestão de acervos. Este estudo se apoiará na definição dessa autora, onde ela diz que: “a gestão do acervo é o termo aplicado aos vários métodos legais, éticos, técnicos e práticos pelos quais as coleções do museu são formadas, organizadas, recolhidas, interpretadas e preservadas. Preocupa-se com a preservação, utilização do acervo, registro de dados, e em que medida o acervo apoia a missão e o propósito do museu” (2004:17). Contudo, utilizaremos o termo gestão de coleções, buscando uma padronização de terminologias, com os conceitos internacionais.

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Museologia e a Arqueologia, como áreas que trabalham as relações sociais

humanas. Sendo assim, o intercâmbio entre as áreas do conhecimento, permitirá à

instituição museológica a possibilidade de alimentar ações futuras sobre as suas

coleções de Arqueologia.

O que deveria acontecer cotidianamente nas instituições museológicas para

diminuir as lesões nas informações sobre as coleções, consistiria na ocorrência das

ações de interface e assim, seria possível perceber que “os desdobramentos destas

disciplinas [Arqueologia e Museologia] têm evidenciado a complexidade do estudo

dos fenômenos humanos ao longo do tempo e do espaço” (BRUNO, 1997:14)

possibilitando a ampliação da forma como ocorre a transmutação19 da informação

arqueológica em museológica. Visto que, as suas ações não diferem totalmente

como áreas do conhecimento, posto que, ambas atuam em meio às relações

humanas em seus diversos momentos, analisando diretamente os vestígios desses

grupos humanos. Logo vemos que:

Os dados arqueológicos são documentos históricos por direito próprio e não meras confirmações de textos escritos. Exatamente como qualquer outro historiador, um arqueólogo estuda e procura reconstruir o processo pelo qual se criou o mundo em que vivemos – e nós próprios na medida em que somos criaturas do nosso tempo e do nosso ambiente social (CHILDE, apud FUNARI, 2010:22)

O arqueólogo australiano Childe que teve importante participação nos estudos

da área da Arqueologia no início do século XX relata que: “os dados arqueológicos

são constituídos por todas as alterações no mundo material resultantes da acção

humana, ou melhor, são os restos da conduta humana, e o seu conjunto constitui os

testemunhos arqueológicos20” (1977: 09). É importante frisar, que a Arqueologia e a

Museologia possuem o compromisso em dialogar e trabalhar com os “dados

arqueológicos” em favor das sociedades, visando transformações em benefício das

19 Essa pesquisa vê a transmutação da informação arqueológica em museológica como uma ferramenta capaz de tornar uma informação técnica (informação arqueológica) em uma informação fluída, de fácil compreensão (informação museológica) a qualquer tipo de público, como: alunos das diversas áreas acadêmicas, de escolas de diversos níveis de ensino, a comunidade, o turista, dentre outras categorias de visitantes interessados na informação sobre as coleções.

20 Segundo Childe (1977: 11) “Todos os dados arqueológicos constituem expressões de pensamentos e de finalidades humanas e só tem interesse como tal”. Apesar de ser um arqueólogo que atuou nos primeiros decenários do século XX suas pesquisas são relevantes para a compreensão do fazer arqueológico e sobre a interpretação dos achados humanos.

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mesmas, por serem áreas voltadas para as relações sociais humanas. Sendo assim,

a proposta de interface se dará a favor do dialogo entre essas áreas do

conhecimento na busca por ampliar o entendimento sobre seus campos de

abrangência, e sobre a forma como cada uma das áreas seguirão para a otimização

de um trabalho em conjunto.

De acordo com Tilley (1998) e Lima (2007) a Arqueologia é uma relação entre

o passado e o presente mediada por indivíduos, grupos e instituições, a tarefa da

sua preservação21 cabe indistintamente a todos esses mediadores. Portanto, os

estudos realizados sobre os testemunhos de uma sociedade, são relatos e vozes

que foram deixados como herança e precisam ser tratados e evidenciados como tal.

A responsabilidade cabe a todos aqueles que entram em contato com os bens

arqueológicos. O seu enfoque, além de ser pertencente à Arqueologia, não é apenas

trabalhado por ela. A sua abrangência se dá por meio de pesquisas e interpretações

da cultural material vinculada às práticas e teorias, que podem conjuntamente ser

desenvolvidas por outras áreas do conhecimento, como a Museologia.

Nesse âmbito, buscando melhores maneiras no trato do patrimônio

arqueológico por meio do processo de interface, caracterizaremos a Museologia

conforme é reconhecida pelo Comitê Internacional para Museologia (ICOFOM),

diretamente ligado ao Conselho Internacional de Museus (ICOM), como uma área:

Preocupada com a abordagem teórica para qualquer atividade individual ou coletiva humana relacionada com a preservação, interpretação e comunicação do nosso patrimônio cultural e natural, e com o contexto social em que uma relação homem/objeto específico ocorre.

Sendo assim, as duas áreas, como citou Funari sobre a Arqueologia, buscam

[...] “compreender as relações sociais e as transformações da sociedade” (FUNARI,

21

Segundo a definição dos “Conceitos-chave de Museologia”, p.79, Preservar significa proteger uma coisa ou um conjunto de coisas de diferentes pe rigos, tais como a destruição, a degradação, a dissociação ou mesmo o roubo; essa pr oteção é assegurada especialmente pela reunião, o inventário, o acondicionamento, a s egurança e a reparação. Na Museologia, a preservação engloba todas as operações envolvidas quando um objeto entra no museu, isto é, todas as operações de aquisição, entrada em inventário, catalogação, acondicionamento, conservação e, se necessário, restauração. Em geral, a preservação do patrimônio conduz a uma política que começa com o estabelecimento de um procedimento e critérios de a quisição do patrimônio material e imaterial da humanidade e seu meio, cuja continuidade é assegurada com a gestão das coisas que se tornaram objetos de museu, e finalmente com sua conservação. Neste sentido, o conceito de preservação representa aquilo que é fundamental para os museus, pois a construção das coleções estrutura o seu desenvolvimento e a missão do museu. A preservação constitui-se em um eixo da ação museal, sendo o outro eixo o da difusão aos públicos.

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2010:15). Estas relações se dão sobre a reflexão conjunta entre Arqueologia e

Museologia, e nas suas inquietações a respeito da preservação do objeto, visando a

relação que este teve e terá com a sociedade, ao ser retratado em um ambiente

propício a ele – o museu.

[logo vemos que] A relação entre Arqueologia e Museu, que outrora era apenas do ponto de vista da organização e exibição de acervos, ganha novos contornos a partir do instante que novos paradigmas emergem e quando as áreas [Museologia e Arqueologia] incorporam a dimensão humana e social, em detrimento do olhar civilizatório e taxonômico. No que se refere aos Museus, podemos afirmar que é nesse momento que a relação entre as áreas começa a ser de fato interdisciplinar, visto que a Museologia inicia o seu processo de reflexão epistemológica. [...] os Museus deixam de ser coadjuvantes e passam a ser atores principais dos processos de gerenciamento do patrimônio arqueológico. (Ribeiro, 2012: 07)

A partir dessa relação, o processo de interface direciona sua conduta sobre

como o patrimônio arqueológico poderá ser trabalhado/estudado, em virtude do

efetivo cuidado sobre os procedimentos realizados tanto nos sítios quanto nos

laboratórios de pesquisa, e nas reservas técnicas – nos museus. Ambas as áreas do

conhecimento, também pautam suas ações no fato desses bens patrimoniais serem

reconhecidos juridicamente como patrimônio cultural da União, conforme a Carta

Magna de 1988 (Constituição Federal do Brasil).

Pensando nesses bens patrimoniais, autores como: Bruno & Zanettini (2007);

Costa (2007B); Saladino (2010B); Moraes Wichers (2010); Mendonça (2014); e

Ribeiro (2013) falam sobre a necessidade de interface das áreas de Arqueologia e

de Museologia e, nos processos de gerenciamento. Além disso, eles focam um

pouco das suas inúmeras preocupações, sobre os bens arqueológicos serem

considerados: inalienáveis, indisponíveis e imprescritíveis, bem como de interesse

público, segundo a constituição e legislação. Eles também chamam a atenção para a

existência de portarias do Instituto do Patrimônio Histórico Artístico Nacional (IPHAN)

para regular a pesquisa, a coleta e o destino institucional destes bens - “já que o

conhecimento e a fruição do patrimônio arqueológico pela sociedade constituem

inclusive um direito difuso” (MENDONÇA, 2014). Nessas falas, ainda assim, vê-se

que a preocupação parte da forma como se delineiam os atos em volta desses bens,

tornando a situação insustentável em alguns museus, devido o excesso de

exigências e a falta de condições para uma ação de musealização - por exemplo. De

tal modo, é possível perceber que essas atuações depositam nas unidades

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museológicas uma forte carga no que se refere à responsabilidade sobre o processo

de gerenciamento para o patrimônio arqueológico.

Ao auxiliar as coleções arqueológicas a tornarem-se patrimônio cultural de um

povo por meio da importância dada a ela pela musealização desses “bens”, é

preciso fortalecer os organismos envolvidos. É importante observar que processos,

como a interface, estão atrelados ao cuidado com a procedência e destino dado as

referências culturais22 (materiais e imateriais), e ao acesso as informações atribuídas

a elas, bem como os mecanismos de atuação para com o seu papel na sociedade e

como perpetuadora de memória. Estreitando essas relações é possível observar que

ambas possuem “cadeia operatória de procedimentos técnicos e científicos”

(BRUNO, 2009:22)23 de musealização (no caso da Museologia), com funções

pertinentes à pesquisa, salvaguarda e a comunicação museológica.

No caso da Arqueologia, a sua cadeia operatória age com especificações

mais voltadas a cada categoria de artefato analisado (lítico, cerâmico, osteológico,

faunístico...), mas, com o foco em conhecer o máximo da base epistemológica do

material pesquisado para a compreensão desses bens. Dessa forma, ao observar os

trabalhos do Ian Hodder (2003), vê-se uma arqueologia chamando a atenção para a

compreensão de todo o contexto pertencente a cada artefato estudado, incluído os

objetos associados a ele. Essas observações e interpretações acerca de um

possível patrimônio arqueológico são enfatizadas por Hodder quando diz que: no

decorrer de uma pesquisa em um projeto de escavação arqueológica, devem ser

analisadas as particularidades que envolvem os artefatos in loco. As especificidades

pertencentes às sociedades também precisam ser levadas em consideração, em

22 Segundo Arantes (2001), o termo referência designa a realidade em relação à qual se identifica, baliza ou esclarece algo. No caso do processo cultural, referências são práticas e os objetos por meio dos quais os grupos representam, realimentam a sua territoriedade. São referências os marcos e monumentos edificados ou naturais, assim como as artes, ofícios, festas, lugares a que a vida social atribui reiteradamente sentido diferenciado e especial: são aqueles considerados os mais belos, os mais lembrados, etc. Sendo, portanto, sentidos atribuídos a suportes tangíveis ou não. Podendo esta ser em objetos ou práticas, espaços físicos ou lugares socialmente construídos. São com referências que se constrói tanto proximidade quanto distância social, a continuidade da tradição assim como a ruptura com uma condição passada ou a diferença em relação a outrem. 23 Segundo Bruno, “a cadeia operatória de procedimentos técnicos e científicos” de musealização possui como funções a Pesquisa, a Salvaguarda, e a Comunicação em Museus. Da mesma forma identificamos em (Desvallées & Mairesse, 2013:58), que essas “funções” citadas acima, seriam itens pertencentes a “administração de museus” - salvaguarda (conservação preventiva, restauração e documentação) e à comunicação (exposição e educação); ou “conjunto de atividades do museu” – um trabalho de preservação (seleção, aquisição, gestão, conservação), de pesquisa (e, portanto, de catalogação) e de comunicação (por meio da exposição, das publicações, etc.), entre outras formas de contato com o público e disseminação das informações pertencentes às coleções.

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vista do não detrimento de seus valores, valores esses que serão fortalecidos por

meio de investigações criteriosas e responsáveis.

A divulgação dos achados arqueológicos e dos conhecimentos associados a

eles é uma ação que só se dará satisfatoriamente, quando, os profissionais de

museus em conjunto com aqueles que tratam os artefatos no momento de sua

recolha e durante a sua pesquisa, abordarem as coleções como um [...] “elemento

aglutinante, fator de coesão social” (SALADINO, 2010A:39). E assim, buscar

compreender todo o contexto local, e não permitir que se façam explanações

deturpadas acerca de um material arqueológico só pela semelhança a algo já

pesquisado, porém, em contexto e ambientes bem diferentes. Isso nos induz a

perceber uma aceitação por parte do Hodder no que diz respeito ao diálogo com

outros profissionais que auxiliem nas interpretações de um artefato em seu contexto

arqueológico. E desse modo, a busca por eficácia no planejamento de um trabalho

em interface, onde cada área do conhecimento em conformidade com os seus

valores e sentidos caminharão em prol de despertar conhecimentos.

O fato é que, para a valoração do conhecimento adquirido por meio dos

trabalhos com coleções arqueológicas, principalmente quando essas chegam aos

museus, independentemente do país, região ou estado, é preciso passar por um

processo de documentação museológica. Esse procedimento, que visa o diagnóstico

e o registro de todos os dados referentes à vida dessa coleção, precisa ser feito, ou

ao menos inicializado, por qualquer que seja a área do conhecimento que inicie o

estudo desse objeto. E, se, o material base a ser pesquisado for um “produto”

arqueológico, logo que fora recolhido, e ao ser alvo de interpretações, precisa

urgentemente que os seus dados sejam registrados.

Assim sendo, reforça-se a necessidade de um trabalho em conjunto

(Arqueologia e Museologia) na intenção de disseminar o conhecimento, e garantir a

integridade informacional do mesmo, para colaborar na construção ou fortalecimento

da sociedade. Logo, é importante ressaltar que o processo de interface além de

“desenvolver processos de socialização e democratização das coleções e narrativas

arqueológicas, que compõem o patrimônio arqueológico” (MORAES WICHERS,

2011:28), agirá na valoração das coleções por meio da musealização, atribuindo ao

patrimônio arqueológico mais sentido e importância.

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1.2. A Legislação Brasileira para a Proteção do Pat rimônio Arqueológico: a

sua ação sobre as coleções

A legislação deve fundar-se no conceito de que o patrimônio arqueológico constitui herança de toda a humanidade e de grupos humanos, e não de indivíduos ou de nações. (Carta de Lausanne - ICOMOS/ICAHM, 1990)24.

Infelizmente, ainda hoje, não é muito difícil saber que algum tipo de

patrimônio (histórico, cultural, turístico ou paisagístico) foi ou está sendo alvo de

algum impacto negativo, seja degradação, depredação, desmatamento ou por ação

referente a projetos com contrato para empreendimentos desenvolvimentista ou

licenciamento ambiental (no caso do patrimônio arqueológico).

A importância dada ao patrimônio cultural no Brasil começou a se fortalecer

por volta das décadas de 1920, por meio de um grupo25 de pensadores inquietos, e

com olhares atentos para o Brasil. Esses pensadores “modernos” se voltavam para

a arte, a cultura e a educação, eles buscavam as particularidades, e incentivavam a

reflexão sobre o que possuía cada região de um mesmo Brasil - apesar da sua

extensão. Eles não queriam apenas enfatizar a cultura nacional, queriam que essa

riqueza emanasse das diversas regiões pertencentes ao Brasil. No texto “Os

desafios da proteção legal: uma arqueologia da Lei nº 3.924/61”, Silva, declara que:

24 Mesmo sabendo que o tópico em questão pauta-se sobre a legislação brasileira, e que a Carta de Lausanne é um ato internacional pertencente a UNESCO, destaquei como ponto de referencia um breve trecho da Carta para ressaltar a sua importância no cenário nacional e internacional. Visto que, a política de preservação do patrimônio arqueológico nacional dialoga diretamente com algumas indicações descrita na Carta de Lausanne, assim como as decisões acerca da conduta e modos de punição a favor do patrimônio. Que segundo Caldarelli e Santos (2000:56) “o Brasil é signatário”, sendo assim, teve participação ativa na criação desse documento. 25 Ver a importância dos modernistas na semana de arte moderna de 1922, e a sequencia de atuação deles. Observar também as ações de Rodrigo Melo Franco, Mario de Andrade em conjunto com Paulo Duarte para o crescimento da cultura, educação e o fortalecimento do sentimento de pertencimento dos brasileiros para a proteção do patrimônio cultural nacional. Em 1936, Mário de Andrade e Paulo Duarte elaboraram um projeto de lei que dispunha sobre a criação do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, no âmbito do Ministério da Educação e Saúde. Em 1937, criou a Sociedade de Etnografia e Folclore de São Paulo dentre outras ações altamente importante para o desenvolvimento do patrimônio cultural do Brasil, sem deixar de citar que ações respeitáveis foram organizadas no âmbito de vários museus como o Nacional no Rio de Janeiro e o de Arqueologia e Etnologia da USP - São Paulo, entre outras instituições pelo Brasil. (http://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/AEraVargas1/biografias/mario_de_andrade) acesso: 22/04/2014

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Uma das maiores conquistas na área de preservação arqueológica no Brasil foi a obtenção de uma legislação própria, conseguida à custa do grande empenho de um grupo pioneiro de intelectuais, que não mediram esforços para ver aprovada uma norma capaz de barrar a destruição sistemática de sítios, imposta por pesados interesses econômicos.(SILVA, 2007: 59)

Apesar de ser algo imprescindível para um país tão grande e com tanta

cultura a ser preservada no Brasil, essa ação louvável, ainda precisa estender um

pouco mais o seu “braço forte”, a outras categorias de patrimônio arqueológico,

como o subaquático. Mesmo assim, possuir leis que se pautem no respeito ao

patrimônio nacional, e ter como base uma legislação em favor desse patrimônio é

um fato memorável. A necessidade de proteger e preservar os bens culturais

aclamava pela criação de um órgão que apoiasse a cultura em sua forma mais larga,

e que estabelecesse direitos, deveres e respeito para o patrimônio cultural do Brasil.

Em 1937, o patrimônio começava a ser pensado e, foi instituído o SPHAN – Serviço

do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, hoje IPHAN, desde sua instalação

sempre teve um papel relevante para a proteção do patrimônio nacional, sendo ele

um órgão fundamental, sobre a atuação do arqueólogo em campo até a chegada

das coleções a instituição que apoiará o salvamento dessas peças.

Em consonância para a proteção do patrimônio quando esse chega aos

museus, foi criado em 2009, o “Instituto Brasileiro de Museus (IBRAM), autarquia

também federal, dotada de personalidade jurídica de direito público, com autonomia

administrativa e financeira, vinculada ao Ministério da Cultura” (site: IBRAM). Sua

atuação chega às várias instituições museais brasileira, buscando potencializar os

seus desempenhos frente à disseminação do conhecimento, sendo ele

arqueológico, etnográfico, histórico, paleontológico, artístico, enfim, de várias

categorias de patrimônio. No entanto, de acordo com Saladino; Costa e Mendonça

(2013), as ações direcionadas ao patrimônio arqueológico não avançaram. Segundo

eles há muitas pendências frente à ausência e/ou definições sobre diretrizes,

protocolos, atribuições e competências para uma melhor atuação dos órgãos

envolvidos para a proteção das coleções arqueológicas, ainda são evidentes e

deveras prejudicial e/ou beneficiador a vários agentes. Contudo, ainda segundo o

texto dos autores acima, “embora reconheçamos que o patrimônio cultural

ultrapassa os limites das ações e instrumentos do Estado, compreendemos ser

fundamental o fortalecimento e o cumprimento de suas recomendações”. Assim,

exigindo que as diversas esferas governamentais de proteção ao patrimônio

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auxiliem nos processos de gestão, preservação, relativos, principalmente, aos

campos econômicos e jurídicos.

Dessa forma, ao pensar em pesquisa, disseminação e proteção do patrimônio

arqueológico, se pensa também na importância de aprimorar a estrutura jurídica que

precisa legislar sobre todo o aparato cultural brasileiro existente. Mesmo porque,

também consideramos com um dos pontos mais conflituosos de um trabalho

envolvendo bens culturais e a sua proteção, as ações desenvolvidas frente à

Arqueologia por contrato que representa uma grande “complexificação na produção

de conhecimento científico decorrente da confluência das demandas político-

econômico-sociais em outro patamar, mais tenso e disputado” (SALADINO; COSTA;

MENDONCA, 2013: 09). Portanto, vemos que a proteção aos bens culturais do

Brasil fora pensado como um item de necessidade social. Dessa forma, mais uma

“conquista na área da preservação arqueológica” ocorreu em 30 de novembro de

1937, quando foi assinado o decreto - Lei nº 25/37 que trata da proteção legal aos

Bens Arqueológicos do Brasil. Ele também organiza a proteção do patrimônio

histórico e artístico nacional, com uma advertência (art.1º§1º) esses deveriam estar

inscritos em grupos ou separados em um dos quatro livros de tombo (art.4º da lei º

25/37), que em cujo art.1º diz:

Constituem o patrimônio histórico e artístico nacional o conjunto dos bens moveis e imóveis existentes no país e cuja conservação seja de interesse público, quer por sua vinculação a fatos memoráveis da história do Brasil, quer por seu excepcional valor arqueológico ou etnográfico, bibliográfico ou artístico. (grifo nosso)

Ao pensar a proteção dos diversos bens culturais brasileiros por meio de leis,

decretos ou resoluções, configurou para o Brasil um importante amadurecimento do

pensamento preservacionista sobre seus bens, que foi refletido na sua organização

constitucional. Da mesma forma que a preocupação em conhecer esses bens, e

criar mecanismos para a sua proteção, também configura esse amadurecimento.

Para a área da Arqueologia em conformidade com a sua prática efetiva e cotidiana,

essas ações preservacionistas serviram para apontar e diminuir falhas irreparáveis

de algumas ações de degradação ao patrimônio, ocasionada por diversos trabalhos

nos sítios arqueológicos, situação encontrada em diversas partes do mundo26.

26 Maria Lucia Franco Pardi (2002:34) em seu estudo para o mestrado profissional relata um pouco da

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Com base em Costa (2014), destacamos a relação IBRAM e IPHAN para a

proteção e responsabilidade sobre o patrimônio arqueológico e a guarda desses

pelos museus. Dessa maneira tem-se, o Decreto 8.124 de 17 de outubro de 2013,

que regulamenta os dispositivos da Lei nº 11.904 de 14 de janeiro de 2009, que

instituiu o Estatuto dos Museus27, e da Lei 11.906 de 20 de janeiro de 2009, que

instituiu o Instituto Brasileiro de Museus (IBRAM), autarquia federal. Esse decreto

comunica que o IBRAM teria como uma de suas finalidades, promover e assegurar a

implementação de políticas públicas para o setor museológico, com vista em

contribuir para a organização, gestão e desenvolvimento de instituições

museológicas e seus acervos (art. 3º §1º). Assim sendo, segundo o mesmo autor,

isso nos induz a ver que seria uma forma de “dividir” atribuições, o IPHAN seria

basicamente responsável pelas coleções arqueológicas, referente aos trabalhos em

campo, e o IBRAM responderia sobre as coleções nos museus, e ambas zelariam,

nesse caso, pelo patrimônio arqueológico – Bens da União, mas parece que eles

ainda não entraram em um consenso.

Para ampliar o amparo ao estudo e manuseio do patrimônio arqueológico foi

promulgada em julho de 1960, a Lei nº 3.924 - que possui como ponto fundamental a

proteção dos monumentos arqueológicos e pré-históricos. Essa lei foi mais um item

positivo sobre a necessidade de conhecer, nomear e proteger o patrimônio

arqueológico do Brasil. Nela, foram conceituados os monumentos arqueológicos e

pré-históricos; a responsabilidade sobre escavações arqueológicas realizadas por

particulares e por instituições cientifica pertencente à União, aos Estados e aos

Municípios (cap. II e III); sobre as descobertas fortuitas (cap. IV, art. 17º) como: a

posse e a salvaguarda dos bens de natureza arqueológica ou pré-histórica [...];

situação do patrimônio arqueológico nos Estados Unidos. Lá “os bens arqueológicos são propriedades privadas dos proprietários dos terreno s e o comércio de bens é permitido . Em função disso o panorama da arqueologia norte americana sempre será falho, por ausência de dados, inclusive porque as melhores regiões para assentamento são privadas, restando ao governo, (que tem a obrigação de pesquisar) as montanhas e desertos. Os bens são chamados de recursos e não de patrimônio” . Pardi chama a atenção para uma discussão mais aprofundada sobre esse assunto, visto que, essa situação possui outro lado, daqueles que preservam e dialogam com uma Arqueologia mais científica e consciente. Contudo, o exemplo serve para que percebamos que, por meio deste relato existem diferencias acentuadas sobre as formas de tratar o patrimônio. Vê-se também que a situação brasileira mesmo com leis, decretos, e com órgão do governo federal para regular e fiscalizar ações, o nosso patrimônio ainda assim, encontra-se em perigo constante, pois, “a maioria dos brasileiros não tem ainda a cultura da preservação” (Pardi, 2002). 27 O estatuto de museus define o que é um museu, (segundo o ICOM), as suas finalidades, e colabora com as instituições acerca dos processos museológicos e com os trabalhos voltados para o patrimônio cultural, visando o desenvolvimento social, econômico e cultural das comunidades.

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sobre a remessa, para o exterior, de objetos de interesse arqueológico ou pré-

histórico, histórico, numismático ou artístico (cap. V); entre outras disposições gerais

acerca do tratamento, manuseio e salvaguarda de monumentos arqueológicos e pré-

históricos do Brasil.

Focando no patrimônio arqueológico por ser alvo deste trabalho, a Lei

3.924/61 em seu art. 27 constitui a exigência sobre um “Cadastro dos Monumentos

Arqueológicos do Brasil”, onde nele contém segundo Silva (2007:65),

O somatório de todas as fichas de registro de sítios arqueológicos existentes em território nacional. As fichas de registro constituem para a arqueologia, a forma de acautelamento prevista no parágrafo primeiro do artigo 216 da Constituição Federal. Entretanto, a proteção dos sítios não se encontra restrita unicamente àqueles cujas fichas constem do referido cadastro. Por força da lei, todos estão sob a guarda do poder público, mesmo aqueles ainda não conhecidos, registrados ou cadastrados.

Dessa maneira, configura-se a possibilidade de ter em um mesmo banco

sistematizado de dados, informações pertencentes às pesquisas, sobretudo, aquelas

realizadas em campo. Desse modo, a realização do cadastro de monumentos

arqueológicos, consolida mais uma ação de grande valia para a gestão do

patrimônio arqueológico nacional. Ou seja, tudo que for caracterizado como

patrimônio cultural do Brasil, mesmo ainda não “conhecido registrado ou

cadastrado”, como os artefatos ainda em solo e não resgatados, são por lei federal,

protegidos. E assim, consiste também em fazer uma “espécie” de atividade de

fiscalização sobre a liberação de portarias para permissões (art.8º, 9º, 10º, 11º §1º,

2º, 3º e art. 12º - Lei. 3.924/61) e autorizações de pesquisas (art. 13º, 14º§ 1º e 2º e

art.15º e 16º - Lei. 3.924/61), que devem ser rigidamente controladas pelo IPHAN -

que em determinados momentos por está “assoberbado” com muitas atividades,

algumas vezes deixa por fazê-las.

Entretanto, de acordo com a Constituição Federal de 1988, no artigo 215 está

previsto o direito a cultura, sendo esta uma garantia oferecida a todo brasileiro. E no

artigo 216 cita os sítios arqueológicos como elementos de construção do patrimônio

cultural do Brasil, para isso, o patrimônio precisa de políticas que o possibilite ser

disseminado e popularizado. Em consonância, pensando no patrimônio a ser

musealizado, a Lei 8.124/13 instituiu diretrizes sobre a organização política e,

finalidade das ações pertencentes aos museus brasileiros. A sua efetivação foi

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estabelecida na intenção de pensar em melhores formas de relacionamento entre as

instituições, as coleções e o público, e o porquê não, destes com outras autarquias e

órgãos federais, estaduais, municipais e privados. Por meio dessas relações,

também compete às entidades das diversas esferas governamentais do Brasil, bem

como ao IPHAN, ao IBRAM, ao Ministério Público, e com a colaboração da

sociedade, a proteção e salvaguarda desse patrimônio.

Contudo, mesmo com leis e medidas para a preservação do patrimônio

arqueológico, comumente, encontram-se pendências em relação à efetiva

responsabilidade sobre os materiais arqueológicos gerados por vários meios,

principalmente pela arqueologia por contrato no decorrer dos empreendimentos

desenvolvimentistas. O fato é que, após as décadas de 1970/80, houve um grande

número de projetos desenvolvimentistas e de obras de licenciamento ambiental28, e

consequentemente, o aumento do quantitativo de coleções arqueológicas com

problemas de salvaguarda (sendo essa uma das justificativas para estudar as

coleções sob a tutela do MAX e MUHSE). Para minimizar os choques de

degradação ou desmatamento ocasionados por esses projetos, deverá ocorrer uma

análise sobre o impacto ambiental, esses são ancorados pela Lei 6.938/81 e pela

Resolução CONAMA nº 001/86 – onde estes estabelecem diretrizes gerais de uso e

responsabilidade sobre o patrimônio ambiental.

No que se refere aos procedimentos administrativos que disciplinam a

atuação dos órgãos e entidades da administração pública federal em processos de

licenciamento ambiental de competência do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e

dos Recursos Naturais Renováveis – IBAMA foi promulgada a Portaria

Interministerial nº 60, de 24 de março de 2015. Esta portaria segundo o art.1º

“estabelece procedimentos administrativos que disciplinam a atuação da Fundação

Nacional do Índio - FUNAI, da Fundação Cultural Palmares - FCP, do Instituto do

Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - IPHAN e do Ministério da Saúde nos

processos de licenciamento ambiental de competência do Instituto Brasileiro do Meio

Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – IBAMA”.

E, para regulamentar os procedimentos administrativos a serem observados

28 Segundo as normas do IPHAN todos os projetos que envolvam o trabalho com a arqueologia, podendo ele ser realizado por empresas ou entidades cientificas, devem respeitar as seguintes etapas: diagnóstico, prospecção, resgate, monitoramento e educação patrimonial – essa ação devendo está presente entre todas as demais etapas, inclusive obter várias licenças, dentre elas a ambiental.

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pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - IPHAN nos processos de

licenciamento ambiental dos quais participe, foi estabelecida a Instrução Normativa

nº 001, de 25 de março de 2015. Esta por sua vez, no art. 1º estabelece

procedimentos administrativos a serem observados pelo IPHAN, quando instado a

se manifestar nos processos de licenciamento ambiental federal, estadual e

municipal em razão da existência de intervenção na Área de Influência Direta - AID

do empreendimento em bens culturais acautelados em âmbito federal. Sendo assim,

o IPHAN se manifestará nos processos de licenciamento ambiental a partir da

solicitação formal do órgão ambiental licenciador, e terá como base a Ficha de

Caracterização da Atividade - FCA ou documento equivalente, disponibilizada

eletronicamente ou encaminhada, conforme o caso, pelos órgãos licenciadores

competentes.

Sendo assim, no capitulo IV da publicação de autorizações do IPHAN e das

responsabilidades dos profissionais, no art. 46. o empreendedor e o arqueólogo

coordenador são responsáveis solidariamente pela fiel execução das atividades

autorizadas pelo IPHAN. Consequentemente, no art. 48 está diz que será revogada

a autorização cedida pelo IPHAN quando: constatada a má conservação ou guarda

inadequada dos bens arqueológicos durante as etapas de campo e laboratório.

Portanto, é o IPHAN que emite a licença para o estudo arqueológico

necessário aos projetos que compreendem os empreendimentos de nível I, II, III e

IV, sendo esse apoio essencial para que se façam os trabalhos de campo. “No

entanto, essa autoridade pública [IPHAN] precisa fazer valer as suas prerrogativas

no que tange a documentação primária de arqueologia e sua preservação” (SILVA &

LIMA, 2007: 276). O órgão por sua vez, mesmo enfrentando uma “avalanche” de

atribuições que partilhada com as superintendências regionais e sub-regionais, ainda

não porta de corpo técnico suficiente para suprir com as pendências na fiscalização

de documentação – exigência estabelecida nas normas para a concessão de

portarias de liberações para os projetos arqueológicos, entre outras ações como:

A portaria nº 07/88, detalha as informações necessárias para compor a instrução dos projetos de pesquisa/planos de trabalho (art. 5º) e os relatórios parciais e final, (art.11 e 12), prevê apenas a entrega, juntamente com o relatório final, entre outras informações, de uma “relação definitiva do material arqueológico recolhido em campo e informações sobre seu acondicionamento e estocagem, assim como indicação precisa do responsável pela guarda e manutenção desse material” (art.11)”. (SILVA & LIMA, 2007: 276).

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Sendo assim, além de todas essas exigências feitas pelo IPHAN para a

concessão de licenças, vários são os problemas envolvendo o patrimônio

arqueológico e as instituições museológicas. Por exemplo, o endosso institucional

conferido pelas instituições museológicas aos projetos desenvolvimentistas que

necessitam de uma ação arqueológica, é um dos responsáveis pela grande

quantidade de coleções com problemas na gestão do patrimônio. As instituições

museológicas cedem esse tipo de apoio aos projetos de arqueologia, já que os

mesmos necessitam desse apoio, como pré-requisito para a obtenção da licença

expedida pelo IPHAN, para que assim iniciem as suas atividades em campo.

Só que, da forma intensa com que essas atividades vêm acontecendo, o

museu ou qualquer instituição de guarda que não possua fins lucrativos, não terá

condições de realizar os processos mínimo/essenciais da cadeia operatória de

procedimentos técnicos e científicos29. E assim, a pesquisa e a disseminação de

informações valiosas para todas as comunidades são prejudicadas quando há: um

distanciamento no que diz respeito entre às áreas acadêmicas; falta da

documentação arqueológica que acompanharia a coleção; interesses econômicos

que sopram a favor de políticos e empresas; a falta de agilidade nos atos

administrativos que envolvem as pesquisas e os processos de salvaguarda das

coleções; entre outros pontos.

É importante destacar que os projetos de empreendimentos

desenvolvimentistas, por exemplo, fazem parte da estruturação das cidades para a

criação de loteamentos, bairros, estradas, pontes, hidrelétricas, etc. todos em prol de

beneficiar as sociedades e o desenvolvimento nacional, sendo assim, as portarias

contendo licenças para as obras se fazem necessárias. Um pouco mais adiante,

têm-se outros órgãos, agentes (pesquisadores) e instituições que possibilitam que

esses empreendimentos se façam, um bom exemplo é o museu. O apoio dessa

instituição é de fundamental importância para que aconteça o trabalho arqueológico,

pois se houver coleções, elas terão que ser acondicionadas em um ambiente que

possa dar continuidade a sua pesquisa, documente-a e proteja-a cuidando do

potencial de suas informações. Desse modo, os museus precisam aprender a se

resguardar, e apenas conceder endosso institucional, se tiver a garantia de que ao

29 Ver os procedimentos pertencentes a “cadeia operatória de procedimentos técnicos e científicos” de musealização no ponto 1.1 “Conexões para a disseminação do conhecimento arqueológico”, na página 37.

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menos, os procedimentos mínimos30 para uma boa gestão de coleções, com

informações básicas, porém, precisas sobre o patrimônio, deverão vir em conjunto

com as coleções. No entanto, como agir para que a ausência dessas ações não

deturpe o patrimônio arqueológico que será gerado e entregue nas instituições

museológicas por meio dessa arqueologia por contrato tão sedenta?

Foram observadas questões que precisam ser tocadas, ou seja, “a pesquisa é

o ponto de partida na gestão do patrimônio arqueológico” (MENESES, 2007:40),

logo, o procedimento de salvaguarda desse bem cultural, precisa ser iniciado em

campo. O IPHAN como o órgão federal regulador e fiscalizador, foi investido pela lei

para cobrar e aplicar multas severas sobre quaisquer atos que envolvam o mau uso

do patrimônio cultural brasileiro – por esse viés, ele precisa fazer valer a sua

autoridade. Posto isso, ele é o responsável pela emissão de portarias de autorização

e permissão de pesquisa, além, de ter o dever de realizar o acompanhamento sobre

as mesmas. Embora o IPHAN seja a autoridade sobre os procedimentos de

manuseio, tratamento e formas de salvaguarda do patrimônio arqueológico, é ele

também, que está encarregado de liberar os sítios para uma eventual destruição -

com o seu aval de unidade protetora. Consequentemente, a ação de gestão do

patrimônio como um procedimento essencial, em alguns projetos fica ameaçada, e

isso, reflete sobre as várias instituições que não conseguem ao menos, descobrir o

potencial das coleções que agora está sob a sua tutela.

Nesta perspectiva, deve-se compreender que os contextos políticos do

presente e dados do passado devem ser entendidos como intrinsecamente

relacionados. A política do presente é, portanto, parte da investigação arqueológica

(HODDER, 2003:207). Não há aqui, o interesse em fazer discurso para “barrar o

progresso”... Ele é bem-vindo, mas atitudes responsáveis devem ser pensadas a

todo o momento. Isso envolve o compromisso com os registros arqueológicos, além,

de potencializar os aspectos científicos do conhecimento arqueológico, procurando o

amparo das leis e decretos federais, estaduais e municipais vigentes para a melhor

forma de interpretar e disseminar a informação arqueológica.

30 Ver alguns procedimentos no 2º Capítulo “O Endosso Institucional como procedimento de proteção para o Patrimônio Arqueológico” na página 58.

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1.3. A concessão de Portarias de Permissão ou Autor ização: o “campo” da

Arqueologia por contrato

A “Arqueologia de contrato é uma denominação utilizada para as pesquisas

arqueológicas desenvolvidas no licenciamento de empreendimentos, atualmente

menos frequente, deu lugar para o termo arqueologia preventiva” (Moraes Wichers,

2010:50). Também, são conhecidas como arqueologia de salvamento,

arqueobusiness, arqueologia empresarial, várias são as suas denominações para

uma ação que envolve o “resgate” de sítios arqueológicos ameaçados por trabalhos

no decorrer de projetos desenvolvimentistas entre empresas privadas ou órgãos

estatais. Estas atividades incidem sobre qualquer vestígio humano encontrado no

solo, subsolo ou submergido, que poderão se tornar patrimônio arqueológico (bens

culturais) se esse refletir o convívio de grupos sociais.

A atividade arqueológica possui algumas faces, uma é o advento dos projetos

de arqueologia por contrato, que começou a se intensificar por volta das décadas de

1970/80, quando os empreendimentos desenvolvimentistas para a criação de usinas

hidrelétricas, estavam tomando força. A outra anda em conjunto com a arqueologia

que está nas academias, voltada para uma compreensão mais ampla do que seriam

os vestígios das relações humanas pretéritas e/ou históricas para a sociedade

contemporânea. Este trabalho ater-se-á sobre a primeira atividade arqueológica

citada.

Segundo Caldarelli & Santos, no exórdio da década de 1960, as ações

arqueológicas, eram denominadas de arqueologia de salvamento, sem

financiamento para o pesquisador, e apenas ônus para os sítios arqueológicos. Com

o elevado desenvolvimento ocorrido no setor elétrico, esse departamento percebeu

durante as suas atividades, que vários danos estavam sendo causados à cultura dos

povos do passado, devido ao vasto contingente de materiais que eram encontrados

nesses locais, e não era realizado nenhum tipo de tratamento, ainda segundo as

autoras,

Foi o setor hidrelétrico que primeiro inseriu em suas diretrizes a necessidade de os sítios arqueológicos existentes nas áreas de inundação

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de seus empreendimentos serem objeto de salvamento anteriormente ao enchimento dos reservatórios. Assim, a partir de meados da década de 70, foram feitos convênios entre empreendedores do sistema hidrelétrico nacional e instituições regionais, para a implantação de projetos arqueológicos de resgate em larga escala. (2000:56)

Diante do impacto ocasionado pela grandiosa organização estrutural que se

fazia para a implantação de uma usina hidrelétrica, houve também a necessidade de

normatizar e regular essas atuações. Foram pensados mecanismos que em

conjunto com as disposições ditadas na Lei. 3.924/61 e apoiada pela constituição de

1988 regularam ações para a prática de “salvamento”, realizada na implantação das

usinas hidrelétricas. Devido à ocorrência de destruição ou mutilação dos

monumentos arqueológicos ou pré-históricos, e do patrimônio paisagístico e

ambiental, foram definidas as normas e os órgãos fiscalizadores, como: o Instituto

do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - IPHAN e o Instituto Brasileiro do Meio

Ambiente e dos Recursos Naturais - IBAMA. Foram também organizadas: a Lei

6.938/81 – (dispõe sobre a política nacional do meio ambiente, seus fins e

mecanismos de formulação); Resolução 001/86 do Conselho Nacional do Meio

Ambiente – CONAMA (dispõe sobre a escolha de estratégias e técnicas para a

localização de sítios arqueológicos); Resolução 006/87 - (fala da necessidade dos

empreendimentos, prestar informações aos órgãos ambientais); Lei 7.542/86 -

(dispõe sobre os bens arqueológicos submersos), entre outros dispositivos legais em

favor do patrimônio nacional.

Dessa forma, a partir dos trabalhos iniciados para a implantação das “usinas

hidrelétricas”, começou-se a pensar nas diretrizes sobre o patrimônio arqueológico,

entretanto, são as ações desencadeadas para a sua fundação, uma das maiores

produtoras de coleções sem documentação, conservação e, consecutivamente, sem

gestão para o patrimônio arqueológico. Visto que, para tal ação, as empresas

responsáveis pelos empreendimentos, necessitam cumprir algumas normas e

regras, como obter portarias de licenças (permissões/ autorizações), para o efetivo

trabalho a ser desenvolvido. A Lei (3.924/61 cap. II, art. 8º) é bem clara quando diz:

“o direito de realizar escavações para fins arqueológicos, em terras de domínio

público ou particular, constitui-se mediante permissão do Governo da União, através

da diretoria do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional [...]”. A portaria de

permissão é dada quando solicitada por entidades particulares para o início dos

“salvamentos arqueológico” para a execução de um empreendimento. Da mesma

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forma, segundo a Lei. 3.924/61 cap. III, art. 13º, “A união, bem como os estados e

municípios mediante autorização federal, poderão proceder a escavações e

pesquisas, no interesse da Arqueologia e da Pré-história [...]”. Assim, é necessária

uma portaria de autorização para os empreendimentos pertencentes aos órgãos da

União, dos Estados, e dos Municípios.

Então, para qualquer atividade que envolva os monumentos históricos,

arqueológicos ou pré-históricos, ambas as licenças de permissão ou autorização

federal, precisam ser solicitadas ao IPHAN. As ações de pesquisa por meio da

Arqueologia acadêmica ou preventiva acontecem em larga escala, e assim, com o

grande número de coletas de materiais, estão diretamente ligadas a impactos

arqueológicos e ambientais, por normalmente serem obras de empreendimentos

desenvolvimentistas, do mesmo modo, os órgãos (IPHAN e IBAMA) investidos pela

lei federal e, em conjunto com a sociedade precisam fiscalizar tais ações. Nenhuma

entidade privada ou pública pode receber permissão ou autorização, se não tiver em

seu projeto um arqueólogo com competência técnica e científica comprovada. Além

das portarias, os projetos precisam conter um arqueólogo como fiel depositário pelos

materiais, até a chegada desses, à instituição científica que concedeu endosso

institucional. Ele será o responsável pela equipe e pelo material arqueológico

quando recolhido. Sem contar com outros itens essenciais para a portaria de

licença31, a idoneidade sobre o financiamento de apoio ao projeto deve ser

comprovada. E, contudo, o nome da instituição cientifica que apoiará o projeto com a

respectiva declaração do endosso institucional.

De acordo com Pardi (2002), um assunto a ser pensado, que é correlato e

decorrente, é a da guarda de material, que necessita ser efetuado por uma

instituição pública, aspecto que extrapola os interesses de uma empresa, mas não o

de uma instituição de pesquisa. Visto que, para tal ação, as empresas (aquelas que

contratam o arqueólogo), por serem empresas, possuem prazos, e esses prazos

refletem no quanto elas ganham ou deixam de ganhar. Problema esse, que

repercute sobre o patrimônio arqueológico, que em alguns casos, esses bens são

“convidados” a tornarem-se produtos de mercado, e o contratante, não tem interesse

no material, o objetivo dele é outro, o seu empreendimento. Pardi (2002) explica que

31 Todas as exigências estão documentadas na Lei 3.924/61, na Lei 6.938/81 que dispõe sobre o meio ambiente, além da Resolução CONAMA 001/86, da Portaria Interministerial nº60/15 e da Instrução Normativa nº001/15 do IPHAN.

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uma empresa objetiva lucro financeiro e, em virtude deste aspecto, sua função junto

à Arqueologia deve ser sempre subsidiária, para execução de ações específicas,

como:

Promover levantamentos e pesquisas sobre dados secundários, avaliações de potencial, análises de laboratório e até levantamentos de campo, sempre em parceria com instituições de pesquisa. Uma intervenção maior necessita do escopo e estrutura mais consolidados e estáveis, que forneçam guarda, curadoria e dinamização ad eternum aos acervos arqueológicos, que tenham condições de reflexão prévia sobre a produção de acervo e a devolução dos produtos, que tenham autonomia de negociação de forma a garantir equilíbrio entre os interesses do contratante e os compromissos com a qualidade e com a produção de conhecimento e com a memória e identidade do país. (PARDI, 2002:33)

Neste setor se encontram os museus, que em inúmeras vezes se envolvem

em procedimentos que dialogam em conjunto com a arqueologia por contrato, por

meio da ação de endosso, no que se refere à salvaguarda do patrimônio

arqueológico. Por ser uma entidade sem fins lucrativos e que possui o

comprometimento de pesquisar, disseminar e proteger o patrimônio, fica refém de

diversas condições que lhes são inerentes, ficando em vários momentos de “mãos

atadas”, contudo, a instituição não pode assumir um papel passivo, devendo

estipular um protocolo de endosso, listando critérios para receber as coleções. E

assim, diante de problemas na estrutura básica do museu e/ou das informações que

são passadas para a instituição em conjunto com as coleções, não permitir

descumprimentos de acordos firmados no ato da concessão de endosso, negando-

se inclusive, a receber as coleções diante de algum problema que os impeçam de

realizar o processo de interpretação do conhecimento sobre o patrimônio

arqueológico.

Desse modo, vê-se como um bom procedimento para organizar um pouco da

estrutura básica de um museu, a interface entre as áreas do conhecimento

Arqueologia e Museologia, para potencializar as relações entre o homem e os

objetos produzidos por ele, buscando aguçar as sensações emanadas da cultura

material resgatada e trazendo possibilidades para as ações museológicas frente à

coleção adquirida. O outro modo é no protocolo de endosso institucional, firmado

entre o museu e o empreendedor, constar critérios a respeito da documentação

arqueológica que acompanhará as coleções; sanções possíveis diante do não

cumprimento de algum item listado no protocolo; possibilidades do museu se

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resguardar em não receber tais coleções devido a problemas na qualidade da

informação associada à coleção entregue, entre outros termos.

Em muitos casos, a problemática gerada em consonância com os projetos de

arqueologia por contrato não se encerram por aí, vai além da capacidade de

“arranjar um lugar” para acondicionar as coleções, mas, da necessidade em

compreender qual o tipo de “pedagogia museológica32”, está se pensando, e em

quais mecanismos de gestão a instituição terá condições de trabalhar. Ian Hodder

em The archaeological process, em um dos momentos do seu trabalho chama a

atenção sobre a globalização e os processos envolvendo as culturas e os indivíduos.

Ele nos instiga a perceber que há algum tempo atrás as pessoas tinham como seus

o patrimônio e a cultura construída por eles, mas com o processo de globalização, o

indivíduo hoje, escolhe a qual cultura pretende se inserir, consequentemente,

escolhem como se relacionar com as culturas vindas de povos do passado. Dessa

forma, a entidade que será responsável por aquele passado, além de compreender

nas entre linhas o que os grupos humanos deixaram, precisa perceber o que a

sociedade contemporânea quer ter como seu, ou, como aquilo que lhe representa.

As instituições que dialogam com os vestígios dos remanescentes humanos

precisam evidenciá-los na sua integralidade (no que há do seu melhor), porque

certamente, as sociedades contemporâneas não escolherão um passado sem

perspectivas, e sim aquele que é forte e com princípios bem estruturados.

Portanto, diante desses dados e de tantas portarias e concessões de endosso

emitidas na atualidade, a infraestrutura exigida para a realização da “pesquisa

arqueológica de contrato está relacionada diretamente com problemas de gestão

dos bens arqueológicos (envolvendo decisões sobre o que preservar, o que salvar e

o que sacrificar)” (Caldarelli & Santos, 2000:59). No entanto, é uma área em extremo

crescimento, tão intenso, que a sua produção em alguns momentos está sendo

negociada como um produto de mercado - só que bens culturais não são renováveis

e nem comercializáveis, tão pouco podem ser instruídos a representar o que de fato

não são. Eles precisam ser valorizados e disseminados, mas as sociedades

contemporâneas tornam-se cada vez mais seletivas e exigentes, e isso está

repercutindo na forma como estes grupos veem os resultados dos vestígios

32 De acordo com Bruno (2006) a pedagogia museológica, envolve a “observação, seleção, valorização, exposição e guarda de objetos, que distinguem as sociedades humanas desde milênios de anos, estariam na origem das ações de colecionismo que levaram ao surgimento dos museus”.

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humanos. A possibilidade de observação de um indivíduo sobre outra cultura

diferente da sua lhe possibilita ter uma visão holística acerca de um estudo mais

detalhado e sistemático da estrutura espacial do meio que o cerca, e

consequentemente, uma visão compartilhada daquilo que melhor lhe convém.

Não obstante, cultura não é como roupas que são provadas, e se não couber,

são ajustadas a cada individuo, região ou grupo, cultura é um ato social e deve ser

respeitada por todos. De acordo com a Lei 3.924/61 os monumentos arqueológicos

ou pré-históricos são bens patrimoniais da União, assim sendo, são de

responsabilidade de todos os brasileiros e não podem ser vendidos ou ajustados,

precisam ser tratados com o seu devido valor – de referência cultural. Porém, o que

se observa é uma “avalanche” de projetos sendo desenvolvidos em todo o Brasil, e

alguns trabalhos com consequências fatídicas para o patrimônio. No entanto, “a

preservação é sempre a melhor alternativa no que concerne ao patrimônio

arqueológico nacional, sendo o salvamento um mal necessário, ao qual se deve

recorrer unicamente na ausência de qualquer outra opção que salvaguarde o bem”

(King apud Caldarelli, 2007:153). Dessa forma, a utilização dos processos de coleta

referente ao patrimônio arqueológico por meio de projetos de “salvamento”, precisa

ser bem estudada, principalmente no que se concerne o impacto sobre as coleções

no momento do projeto e posteriormente a ele. Pensando sempre no bem estar das

coleções e na representação que estas terão frente a cada grupo pesquisado e para

a região em que foram encontradas.

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CAPÍTULO 2 –

O Patrimônio Arqueológico e os Procedimentos de Sal vaguarda

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2.1. O Endosso Institucional como Procedimento de P roteção para o

Patrimônio Arqueológico

Ao ceder o endosso institucional (apoio institucional), a entidade passa a ser

guardiã incondicional de toda a coleção advinda do projeto solicitante do apoio,

inclusive passa a responder se vierem a existir deficiências nos mecanismos de

salvaguarda da coleção após sua entrada na instituição. Tendo como obrigação

zelar pelo bem estar dessas coleções e, sendo responsabilizada frente a qualquer

instancia jurídica sobre o uso, pesquisa, conservação, documentação, disseminação

da informação. Com o considerável aumento de projetos arqueológicos envolvendo

principalmente, a Arqueologia por contrato, esta ação, é destacada por ser de suma

importância para o campo da Arqueologia bem como para a proteção do patrimônio

cultural material.

Com base nos trabalhos arqueológicos realizados em várias partes do Brasil

(e no Estado de Sergipe, local dessa pesquisa), e nos estudos de autores como:

Bruno (1995, 2009, 2014); Pardi (2002); Moraes Wichers (2010, 2011); Saladino,

Costa, Mendonça (2013); entre outros importantes pesquisadores, fora observado

que as ações arqueológicas apesar de serem defendidas em leis e decretos,

passam constantemente por percalços que inúmeras vezes provocam a perda de

dados que contribuirão na identificação de culturas e, dentre outros problemas, o

aumento significativo das mazelas ao patrimônio arqueológico. Estes autores nos

falam sobre objetos identificados como de cunho arqueológico que formam as

coleções, principalmente aquelas alocadas nos diversos museus do Brasil. Eles

destacam a necessidade dessas instituições, no ato da concessão do endosso

institucional, criar condições que visem melhorias para a unidade que terá a tutela

dessas coleções, propondo evitar problemas futuros quanto, aos vestígios dos

remanescentes humanos, por meio da gestão das suas coleções.

Dessa maneira, a entidade cedente do apoio institucional possui o encargo de

pesquisar, salvaguardar, comunicar entre outras ações, os bens culturais sob a sua

tutela. No entanto, a entidade cedente do endosso institucional precisa pensar em

gestão de coleções, esse item reflete em responsabilidades, direitos e deveres que

passam a configurar o campo de atuação dessa instituição e dos seus profissionais.

Assim, busca-se evitar, que a maior parte das coleções fruto de Arqueologia por

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contrato, sofram com a ausência do item salvaguarda para a manutenção das

coleções arqueológicas. Essa prática institucional, no seu escopo deve fortalecer o

crescimento da entidade cedente do apoio institucional, não contribuindo para a

diminuição da sua capacidade técnica, científica, como também a transformando em

possibilitadora de lazer por meio do conhecimento.

As pesquisas arqueológicas, sempre foram motivadoras de muito “interesse,”

devido o seu relevante poder cultural e econômico. Portanto, as coleções geradas

principalmente, por trabalhos com o “salvamento arqueológico” cujo preceito

emergencial “era escavar sítios arqueológicos e deles preservar ao menos alguns

dados e vestígios” (Caldarelli,2007,p.155), em momentos, como afirma

McManamon33 apud Caldarelli (2007,p.155) o maior problema com tais pesquisas foi

exatamente falhar em evitar a destruição de sítios arqueológicos promovida por

projetos desenvolvimentistas. Dessa maneira, pode-se considerar que, se há falhas

na “proteção dos sítios” poderá existir pendências frente à gestão de coleções

arqueológicas, caso enfrentado em diversas instituições museológicas.

As instituições quando cedem endosso institucional a um projeto

arqueológico, muitas vezes desconhecem totalmente a quantidade e a tipologia da

coleção da qual será guardiã. Simplesmente, receberá uma coleção que se

comprometeu em salvaguardar, contudo, isso implica em responsabilidades frente

essa coleção. Mesmo concordando com o projeto arqueológico e tornando-se

parceiros, com base em Bruno (2014), Costa (2014) e Mendonça (2014) a instituição

que cedeu o endosso institucional torna-se o item mais frágil e com grande

responsabilidade dentro dessa ação arqueológica, sendo ela por contrato ou

acadêmica. Isso se dá devido a vários fatores, inclusive às regras estipuladas pelo

IPHAN no que tange as negociações para a concessão de portarias de

permissões/autorizações para o início dos trabalhos de campo, onde “as instituições

que concederão o endosso não são consultadas em quase toda a extensão do

processo” (COSTA, 2014). Logo, vê-se que:

O único momento em que a instituição museal aparece nos processos legais para a guarda de materiais arqueológicos, bens da União, é no instante de conferir o endosso institucional para o projeto de pedido de

33 Francis p.McManamon. “The protection of archaeological resources in the United States: reconciling preservation with contemporary society”. Londres e Nova Iorque: Routledge, 2000, p.40-54.

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portaria, antes da execução dos trabalhos. Nos outros momentos, durante a execução e depois de finalizados os trabalhos, ela aparece citada, mas não se representando como instituição. (COSTA, 2007A: 04)

Portanto, ainda segundo Costa, e reforçado com os diversos casos presente

em várias entidades do Brasil, no qual podemos incluir MAX e MUHSE “as

instituições museais têm o ônus da guarda, mas não o controle sobre aquilo que

receberão para guarda”. Assim sendo, “o processo de guarda” tornar-se um fato

lamentável, por ser possibilitador de problemas referente à gestão de coleções,

embora, seja uma honra para um museu ser o responsável pela preservação, e

disseminador de culturas tão importantes para a sociedade, já que essa é uma das

suas funções vitais.

Contudo, um dos grandes percalços é justamente a ausência de

procedimentos específicos de gestão, sem eles as instituições não possuem o

controle sobre problemas pontuais pertencentes às coleções, aumentando a

possibilidade de perdas de vestígios. Assim, vê-se que as incumbências ao que se

refere à concessão de endosso institucional e ações futuras, cabem a todos os

agentes envolvidos com as coleções arqueológicas/museológico. O seu enfoque, vai

além de um simples “acordo” firmado entre instituições, empreendedor IPHAN e

arqueólogo. O envolvimento efetivo de qualquer um dos agentes com as coleções

arqueológicas exigem, que sejam tomadas medidas de prevenção cabíveis as mais

diversas ações que deverão compor a trajetória dessas coleções. As pesquisas e

interpretações sobre a cultural material, conjuntamente com mecanismos que se

preocupem com o bem estar físico em médio, curto e longo prazo, precisa compor a

estrutura das concessões de endosso institucional e, dialogar com as funções das

instituições que terão a tutela das coleções. As ações deverão incidir diretamente

sobre a imprecisão de dados que não foram referenciados, e que por sua ausência,

causam transtornos ao profissional e a instituição que irá trabalhá-lo.

Consequentemente é preciso que a declaração de endosso institucional

componha não só os tramites legais para a efetiva ação do projeto arqueológico,

mas que ela possa ser pensada como um aliado na resolução de entraves que não

comprometam à proteção do patrimônio arqueológico. Esses bens precisam

percorrer caminhos estruturados que deverão ser compostos por bons

procedimentos de gerenciamento, mesmo que seja algo simples, porém efetivo e

abrangente para as coleções arqueológicas/museológicas, sendo assim, sugerimos

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alguns caminhos na relação instituições museológicas e concessão de endosso

institucional, a saber:

• No caso de museus, observar a missão da instituição e ver se ela vai de acordo

com o propósito do museu – organizando a estrutura administrativa da

instituição;

• Ceder endosso institucional observando sempre a necessidade que as

coleções arqueológicas implicam (pesquisa, conservação, profissionais para a

sua manutenção), e as possibilidades de trabalho da instituição;

• A instituição cedente do endosso poderá solicitar ao responsável pela

interpretação dos objetos que preencha uma planilha, por exemplo, na qual

conterá dados que julgue relevante, e que também poderá ser conforme a

tipologia do material a ser preservado, pensando na complementação das

pesquisas futuras;

• Processar e disseminar as informações por meio da documentação

arqueológica com o auxilio da documentação museológica, pensando no

detalhamento de informações pertencentes a essas coleções, inclusive as

provenientes do estudo no ato do salvamento e, levá-las para o museu;

• Ver meios de viabilizar o acondicionamento das coleções no museu, pensar na

aquisição e manutenção de equipamentos para laboratórios e processos de

salvaguarda, entre outros.

• Pensar no processo de comunicação em uma unidade museológica como algo

que permite compreender o estado e a qualidade do trabalho do

pesquisador/arqueólogo em conjunto com a instituição, frente à comunidade

que o cerca e das relações que se fazem, não apenas com uma exposição

estagnada em suas coleções.

Devendo esses e outros procedimentos, serem efetivos e cotidianos, analisados

segundo interesse do público, e da instituição e, agir conforme a Constituição e a

Legislação. Dessa maneira, vemos que as ações a serem desenvolvidas para as

coleções precisam partir da noção de que a entidade de guarda tem o dever de

saber particularidades da procedência de suas coleções. Pensando no futuro, essas

entidades necessitam de dados relevantes e contundentes, a fim de que se possa

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dar continuidade e/ou iniciar um trabalho de documentação da sua coleção, visando

à disseminação das informações para garantir a potencialidade das coleções

arqueológicas/museológicas.

Nesse contexto reflexivo, destacamos a pesquisa34 realizada por Moraes

Wichers (2011), acerca das “concessões de endosso institucional” sobre o

patrimônio arqueológico brasileiro. É possível perceber que de acordo com os

inúmeros casos de concessão de endosso institucional, as instituições museológicas

não são as que mais cedem esse tipo de apoio aos projetos arqueológicos por

contrato ou acadêmico.

Gráfico 01 – Heide Roviene. O gráfico representa as instituições que mais cedem endosso institucional no Brasil, de acordo com dados obtidos na

pesquisa de MoraesWichers (2011).

Em sua pesquisa, a autora demonstra o perfil tipológico das instituições que

mais forneceram endossos institucionais no Brasil em 201135, a saber: Museus de

tipologias diferenciadas (30,04%); Laboratórios, institutos e centros de pesquisa

(28,07%); Fundações e casas de cultura (10,34%); Museus de Arqueologia (8,4%) e

outras (23,15%). Sendo destas 28,07% municipais, 26,6% federais, 20,19%

estaduais e 22,16% privadas. Então o que vemos são instituições e coleções cada

uma com suas particularidades. Vê-se também, coleções que certamente possuem

a obrigação de propiciar condições para pesquisas imediatas ou futuras. Mas

34 Tese de doutorado em Arqueologia - Patrimônio Arqueológico Paulista: proposições e provocações museológicas. Universidade de São Paulo, USP, Brasil. 2011. 35 A pesar do estudo ser de 2011, ele traz dados relevantes e abrangentes sobre a realidade brasileira e do cenário sobre a concessão de endosso institucionais em nível de Brasil, além de mapear o panorama das instituições e as suas coleções.

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também, há coleções que sofrem “vícios de atuação” de alguns projetos que

possuem muito o interesse em “salvar” de forma artificial. Dessa maneira vemos

que,

O “mercado arqueológico” é uma criação artificial p orque existe apenas porque o Estado quer informação arqueológica e cria uma legislação que os empreendedores precisam atender para obter a realização de um projeto. O comprador não tem interesse inerente no produto adquirido, ainda mais porque ele tem que ser entregue ao Estado. Por isso, não há interesse implícito na qualidade do produto. Quanto mais barato, melhor. É por isso que o Estado precisa providenciar mecanismos regulatórios que contrabalancem os efeit os indesejáveis do mercado (Caldarelli, 2010).

Portanto, para a guarda do patrimônio arqueológico provindo de vários meios

de coleta ou salvamento, é sugestivo, que se faça a todo o momento reflexão sobre

o estado em que essas coleções foram e serão acondicionadas. Criar e gerir uma

coleção de cunho científico, acerca do uso e ocupação do solo, da pré-história aos

tempos atuais e, que seja de referencia para os diversos grupos sociais atuantes,

exige um bom grau de conhecimento sobre as coleções, cuidados que precisam ser

validados em todos os níveis da pesquisa. Nesse sentido, as instituições que terão a

tutela dessas coleções possuem papel relevante nessa ação. Não basta apenas ter

um local que acondicione, é importante lembrar que em inúmeras ocasiões, no

ambiente em que essas coleções estavam alocadas antes do seu salvamento, eles

estavam acondicionados, às vezes, muito melhor do que no novo ambiente no qual

será depositado, é preciso pensar na utilidade real que essas coleções têm para a

sociedade atual, para a sua compreensão e para o seu desenvolvimento.

Com base no estudo de Moraes Wichers (2011), nem sempre uma instituição

de Arqueologia é a que fará a guarda dessas coleções, tão pouco a guarda é feita

apenas por instituições com “elevado” poder cientifico, como as pertencentes às

universidades, mas que também possuem seus problemas. Muitas dessas coleções

ficam em instituições do próprio município (28,07%) onde houve o salvamento

arqueológico, ação importante e estimulada pela Lei 3.924/61 no art. 17 que diz: “A

posse e a salvaguarda dos bens de natureza arqueológica ou pré-histórica

constituem, em princípio, direito imanente ao Estado”. Contudo, é preciso que haja

alguns cuidados devido a limitações que as instituições podem enfrentar,

principalmente, no que se refere à gestão da informação sobre essas coleções.

Então, os projetos para salvamento arqueológico, devem ser basicamente

minuciosos no que consiste em informações e dados de pesquisas que deverão

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acompanhar as coleções que ficarão nas instituições, que segundo a pesquisa

mencionada acima, apenas (8,4%) dos Museus são de Arqueologia, sendo que

(23,15%) são de outras tipologias. Apesar de ser um ponto negativo, ele contribui

para se pensar no ato da concessão de endosso institucional e no fomento do

projeto, onde as instituições indicadas para a guarda devem conter condições

mínimas de tratar as coleções. As medidas cabíveis devem ser tomadas em acordo

com o grau de operacionalidade do projeto, para que as coleções e as instituições

possam colaborar com o desenvolvimento social local, sem que ambos fiquem

prejudicados.

E, no caso das instituições que concederam o endosso institucional, e ficaram

com o ônus por ad æternum, precisam rever as ações de concessão desse apoio,

na busca por reduzir as dificuldades com o gerenciamento e manutenção das

coleções, visando perder o mínimo de informação possível. A exigência de uma

cláusula para a concessão do endosso no que se refere à documentação de campo

sobre a análise das coleções, deve ser um início para minimizar os danos

informacionais, além de ser um ato político do presente para manutenção do

passado. Dessa forma, um dos meios é ver possibilidades e alternativas, de como

consolidar e estruturar os ambientes museológicos (salas para exposição,

laboratórios e reservas técnicas), em que será acondicionado, pesquisado e

documentado o patrimônio arqueológico que ficará sob sua responsabilidade.

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2.2. A Gestão da Informação relativa ao Patrimônio Arqueológico

Musealizado

O termo “patrimônio” vem do Latim (patri - pai) e (monium – recebido), em

francês: patrimoine, em inglês: heritage, ele traz consigo uma forte carga de

responsabilidade e, está vinculado a “herança”. E estando a arqueologia engajada

no “estudo dos objetos das civilizações passadas” (Renfrew & Bahn, 2004), o

patrimônio arqueológico, conjunto de bens culturais produzidos e deixados pelos

seres humanos, configura, se a esses forem dada importância pelas sociedades

contemporâneas, como heranças culturais. Para um bom manuseio e tratamento

tem-se a “gestão”, de acordo com o “caderno” de Conceitos-chave de Museologia, o

termo gestão “s. f (do latim gerere: encarregar-se de, administrar) – Equivalente em

francês: gestion; inglês: management; espanhol: gestión” (2013:45).

Esse termo pode englobar várias atividades a ser desenvolvida em um

ambiente museológico, refere-se a: financeiro; recursos humanos; diretrizes sobre

os processos estratégicos e de planejamentos gerais das suas atividades, incluindo

as ações sobre os serviços prestados ao público. Voltando o olhar para os serviços

prestados as coleções e, para as instituições que farão a guarda destas, vê-se em

sua maioria museus que possuem muitas finalidades, como: pesquisar, salvaguardar

e disseminar informações, e assim sendo,

As políticas do museu devem assegurar que as coleções (permanentes e temporárias) e a informação relacionada, sejam devidamente registradas e estejam disponíveis para utilização corrente e possam ser transmitidas às gerações vindouras, nas melhores condições possíveis, levando em consideração o conhecimento e recursos atuais disponíveis (LEWIS, 2004:10)

No entanto, a política de gestão de cada museu precisa garantir que os

objetos e as informações correlacionadas fluam em direção a um público alvo,

podendo ser ele, aquele que frequenta a instituição na busca por interpretações

acerca das coleções ali preservadas (ex.: pesquisador). Ou, nessa mesma linha, se

forem aqueles que visitam a instituição a procura das informações disponibilizadas e

acessíveis a qualquer público (ex.: turistas, comunidade, estudantes). Neste

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contexto, para que ocorra o mínimo possível de lacunas informacionais, faz-se

necessária a atuação de diferentes agentes, como o arqueólogo, o museólogo, o

documentalista, pedagogo, entre outros.

“Portanto, podemos definir o território museológico como um espaço

multidisciplinar, onde especialistas de diferentes áreas se encontram para que as

leituras do objeto sejam feitas, sejam elas do ponto de vista morfológico ou temático”

(YASSUDA, 2009:24). No caso da interface Arqueologia com a Museologia, a

primeira disponibilizará as informações resultantes das pesquisas de cunho

arqueológico e as nomenclaturas específicas de sua área, e a segunda trabalhará à

maneira de ampliar o tempo de “vida social” dos objetos, por meio dos

procedimentos técnico e cientifico da cadeia operatória de musealização – pesquisa,

seleção; documentação (inventário, catalogação36); disseminação do conhecimento

(exposição; ação educativa). Todas trabalhando sobre a cultura material das

sociedades, em prol da proteção das coleções e da produção de interpretações e

sentidos.

Uma maneira básica, porém, eficiente para a proteção e disseminação das

informações contidas nas coleções de Arqueologia é o trabalho efetivo com o

procedimento de gestão de coleções. Este possibilita que as coleções que chegam à

entidade museológica sejam inventariadas para que após o processo de registro, as

informações possam ainda ser inseridas em uma base de dados, que é um

instrumento para a catalogação das coleções, auxiliando a instituição na

recuperação da informação de forma ágil e eficiente. Para este fim, torna-se

importante tanto a existência de um profissional com experiência em documentação

museológica nos projetos de salvaguarda (ou pelo menos no momento prévio a

entrada das coleções nos museus), quanto um com conhecimento em coleções

arqueológicas específicas para as ações de documentação realizadas na instituição

de guarda, possibilitando assim, o bom desenvolvimento das pesquisas e para o

gerenciamento das informações.

Buscando trabalhar a ação integrada entre essas áreas do conhecimento,

inicialmente vemos que “A responsabilidade profissional que envolve a preservação

das coleções deve ser atribuída às pessoas com conhecimento e competências

compatíveis, ou que sejam, supervisionados de forma adequada” (LEWIS, 2004:10).

36 O procedimento de catalogação segundo o sistema SPECTRUM 4.0 (p.55) é a compilação e manutenção de informações-chave, que identificam e descrevem formalmente os objetos.

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E, em sequência, vemos também que no caso das coleções arqueológicas, seria

adequado que desde o momento em que a instituição concede o endosso

institucional, ocorresse a etapa da documentação museológica que deve ser

pensada como parte integrante de cada projeto de salvamento arqueológico. Sendo

assim, seria interessante que a instituição estabelecesse um protocolo de endosso

institucional que a resguardasse sobre o recebimento da documentação

arqueológica em conjunto com os objetos coletados e entregues ao museu.

Para documentar os objetos de uma instituição, não se deve restringir apenas

a organizá-los em prateleiras e acondicionar o material em caixas. O inventário e a

catalogação das coleções exigem critérios que são necessários a qualquer tipo de

coleção para que essas possibilitem a disseminação do conhecimento desse

material. Hoje é possível ver que inúmeras são as instituições que buscam adaptar-

se aos mecanismos da tecnologia para o desenvolvimento da comunicação e da

gestão dessas informações. Lima e Rabello (2007: 245) em seu texto publicado na

Revista do IPHAN, falam das “coleções arqueológicas em perigo” e a sua

experiência com a mesma coleção no Museu Nacional da Quinta da Boa Vista.

Neste texto, as autoras falam, sobre:

A destruição silenciosa, pouco visível, porém igualmente implacável: aquela produzida pelas más condições de conservação de coleções depositadas em museus, em instituições de pesquisa ou simplesmente na guarda de materiais arqueológicos.

Nesse caso, as autoras falam da sua experiência no museu e na tutela do

patrimônio arqueológico, ressaltando as várias dificuldades encontradas para a

salvaguarda e manutenção dessas coleções. Foi percebida a grande necessidade

na melhoria das atividades desenvolvidas desde o momento que envolve o resgate

desses materiais. Fora destacado também a importância do envolvimento de

diversos profissionais, estes poderão contribuir tanto para a pesquisa quanto para a

preservação da informação e do patrimônio arqueológico, ação apontada por este

estudo como importantíssima, principalmente, porque é um procedimento de

salvaguarda para as coleções. Destaca-se aqui, a indispensabilidade de todos os

procedimentos da cadeia operatória de musealização, que auxiliarão o museu e os

seus colaboradores na tarefa de proteger o material que foi “resgatado da

destruição” sistemática que envolve um licenciamento ambiental. Dentre esses

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procedimentos, vemos a salvaguarda, como mecanismo essencial de gestão, nos

apoiando no relato de Lima e a Rabello, acima, sobre o procedimento de

preservação realizado por elas no museu. Essa ação possibilitou ao Museu Nacional

da Quinta da Boa Vista compreender o que possui, pois foram investigaram as

condições e os dados pertencentes às coleções, indo além da sua aparência física

e, consequentemente, proporcionou-lhes buscar meios de organizar e ampliar a

informação sobre o conhecimento adquirido.

A crescente necessidade de organizar os procedimentos de gestão para

garantir a preservação, instiga que os gestores comecem a pensar métodos

eficientes para a manutenção das suas atividades cotidianas. A disseminação do

conhecimento; a pesquisa; a salvaguarda (documentação museológica e

conservação), por exemplo, é igualmente vista, como um meio de preservação, e

começou-se a perceber nas diversas instituições que abrigam o patrimônio

arqueológico, a importância da precisão destas ações. Mudanças nas bases

epistemológicas dos museus são necessárias, visto que, a diversidade de artefatos

exige a implantação de mecanismos de segurança, controle e gestão para a

divulgação da cultura material dos diversos povos.

Ao analisar os artefatos como cultura material que são passíveis de serem

interpretados como atos e vozes de povos do passado para a compreensão das

práticas sociais do presente, Beaudry; Cook; Mrozowski (2007: 77) comentam que a

cultura material é “vista como um meio de comunicação e expressão que pode

condicionar e, eventualmente, controlar, a ação social”. Ela deve interagir com o seu

ambiente, e não reagir a ele. Ela precisa ser parte significante, símbolo de um grupo

social e de uma região. Em correlação a essa propriedade, e levando para o campo

museológico, Horta (1990:79) comenta que a cultura material interage como signos

da seguinte forma:

As unidades de significados ou signos utilizados pela linguagem museológica são os objetos da cultura material, preservados e coletados ao longo das gerações, assim como todos os “fenômenos” de natureza cultural, biológica ou natural apresentados e demonstrados ao público para sua instrução, educação, entretenimento e sua compreensão.

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Na busca por ampliar o conhecimento vinculado aos diferentes signos37 que

caracterizam um processo comunicativo, algumas instituições38 no Brasil já

disponibilizaram a visualização de algumas peças ou fragmentos de suas coleções

por meio de sistemas informatizados que estão em conexão com as suas bases de

dados. Porém, a ação de integrar atividades e a de proporcionar informações sobre

os distintos fenômenos, precisa entrar em um consenso, para que as partes que

subdividem uma instituição caminhem para um mesmo fim – disseminar a

informação do patrimônio arqueológico sob a tutela do museu.

Nesse sentido, em nível internacional destacamos o “Museo Regional de

Atacama” no Chile, voltado para investigações históricas, arqueológicas e

antropológicas. Este, assim, como muitos outros museus chilenos ligados ao

DIBAM39- “Dirección de Bibliotecas, Archivos y Museos”, possuem um trabalho

37 Segundo Horta, Um signo é simplesmente uma coisa – objeto, palavra ou imagem – que tem um significado especial para uma pessoa, ou um determinado grupo de pessoas. Cada objeto numa coleção é um signo porque tem um significado especial para o colecionador. Os objetos de museu são signos, já que foram coletados e preservados por seu significado especial para a História, a Arte, a Ciência ou a Cultura em geral. Eles são significativos para a sociedade – aquela que os produziu, aquela que os coletou e, aquelas que os usa para diferentes finalidades (1990:79). E, segundo Hodder, 1987; Shanks e Tilley, 1982; Shennan, 1982; citados por Beaudry; Cook; Mrozowski (2007), os signos são baseados nos papéis universais que a relação entre ação simbólica e objetos-símbolos desempenha na interação social, principalmente se estes forem para identificar símbolos e domínios simbólicos na cultura material das populações que não possuíam escrita. 38 De acordo com o site do Museu Nacional de Belas Artes - MNBA, localizado no Rio de Janeiro, “em 1992, foi criado o projeto SIMBA com o objetivo de organizar as informações do acervo do MNBA, de forma a garantir o seu maior controle e ampliar o acesso e a divulgação dos dados nele contidos. Com o apoio financeiro da Fundação VITAE foram adquiridos equipamentos, criada uma nova ficha catalográfica, recatalogadas as obras de acordo com regras definidas em um Manual, publicado em 1995, e os dados foram informatizados. Neste contexto, foi desenvolvido o Donato, programa gerenciador do banco de dados”, uma das mais completas bases de dados de documentação museológica de coleções até então constituído no Brasil (DONATO). Inclusive durante a vigência do Projeto de Iniciação Cientifica “A musealização do patrimônio arqueológica: estudo de caso sobre o processo de documentação no Museu de Arqueologia de Xingó - MAX” (2010/2011) coordenado pela Profª. Drª. Elizabete de Castro Mendonça e como aluna/bolsista de Museologia Heide Roviene Santana e, com o apoio da FAPITEC/SE foi estabelecido contato para uma possível implantação desse sistema no MAX/UFS. Porém, como a instituição aqui referida ainda não possui a documentação museológica de pelo menos uma boa parte da sua coleção, naquele momento não seria possível à utilização desse mecanismo. Hoje, o Donato está presente em 15 estados brasileiros e é utilizado por 73 museus. http://www.mnba.gov.br/2_colecoes/simba/donato_0.htm acesso em 17/05/2015. 39 Segundo o site, a Direção de Bibliotecas, Arquivos e Museus (Dibam) é um organismo público que se relaciona com o governo chileno, através do Ministério da Educação; com personalidade jurídica e patrimônio próprio e, foi fundada em 18 de novembro de 1929 pelo Decreto-Lei nº 5.200 do mesmo país. Ver mais detalhes no tópico 2.3. sobre “Documentação Museológica como Procedimento de Gestão da Informação para o Patrimônio Arqueológico”, p.82, bem como no site: http://www.dibam.cl/614/w3-channel.html Acesso em 12/05/2015.

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respeitável frente às ações voltadas para a gestão de coleções. Segundo o site40 do

museu, são desenvolvidos procedimentos técnicos aplicados aos objetos

patrimoniais que compõem as suas coleções, compreendem: registro,

documentação, diagnóstico sobre o estado de conservação e aplicação de medidas

básicas de conservação preventiva. Por último, o museu desenvolve ao longo do

ano, exposições temporárias sobre diversas temáticas referentes à história local e

nacional.

Desse modo, lembramos que uma instituição (museu; laboratório; centro de

pesquisa...), para ter sempre sob o domínio os processos de gestão da informação

de suas coleções, necessita ter e rever a sua “Missão41”, que vinculada ao seu

“Regimento Interno42”, em breves períodos, e em conjunto com ela preparar e decidir

os seus objetivos. As diretrizes que envolvem uma instituição de guarda de um

patrimônio precisam dialogar com a declaração da missão43 da instituição. A

“declaração da missão” de um museu prestará depoimento de todas as funções que

a instituição se comprometeu quando foi criado e subsequentemente a ela serão

dados passos referentes à gestão desse museu.

Essas informações guiam a entidade a não cair em caminhos que não lhe

possibilita condições de tratar e manusear determinadas coleções. Para tanto, “uma

gestão de coleções eficaz, é vital para ter a maior parte dos (sempre limitados)

recursos de tempo, dinheiro, equipamento, materiais, espaço físico e pessoal” [sob

controle]. De igual modo, “a gestão do acervo requer uma política e procedimentos

estabelecidos, claros e definidos que [reflitam] as atividades e tomadas de decisão

quotidianas” (LADKIN, 2004: 18). Isso dialoga diretamente com a pesquisa descrita

por MoraesWichers (2011), no subitem anterior, quando esta fala sobre as tipologias

de instituições que mais tem a guarda de coleções arqueológicas e, que não são os

40 Site do Museu do Atacama no Chile. http://www.museodeatacama.cl/631/w3-propertyvalue-41942.html Acesso em 12/05/2015. 41 Missão: é o conjunto de palavras que contém de forma resumida as finalidades, valores, m etas, estratégia e público-alvo da instituição , de forma informativa e, preferencialmente inspiradora (Sec. da Cult. de Curitiba/PR) 42 No Regimento Interno estão contidas todas as obriga ções, deveres e direitos que uma instituição que é mantenedora de qualquer tipo de coleção alberga. 43 Segundo Edson (2004:151) “a missão do museu precisa ser definida e publicada mais explicitamente, sob a forma de Declaração de Missão que, entre muitas outras coisas, define as limitações do acervo e delineia o papel e a identidade pública da instituição. A declaração de missão deve ser simples, mas escrita cuidadosamente, descrever o que o museu é, o que faz, como opera, como coleciona, onde coleciona e por que razão coleciona”.

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museus de arqueologia. É preciso elaborar um organograma e pontuar quais as

atividades exercidas e quais os profissionais que as desenvolverão, e assim, cada

um honrará o seu compromisso permitindo que ocorra um sincronismo de ações e

consequentemente um desempenho favorável às atribuições que cabem ao museu.

E só a partir daí, e que será possível disponibilizar boa parte das obras por meio de

um sistema informatizado, que é por sua vez, uma ferramenta a mais para a gestão

e disseminação do patrimônio.

Só que para tal ação, todos aqueles que estão envolvidos com as atividades

da instituição precisam assumir o compromisso de atuar em multidisciplinaridade,

“promover o intercâmbio de informação entre as equipes da documentação e de

outras áreas que se ocupem da geração e do uso dos recursos informacionais, e a

cooperação deve ser de mão dupla” (ALMEIDA, 2006:151). A partir daí, gerar

conhecimento “Fluido precioso, continuamente produzido e renovado, [onde] a

informação só interessa se circula, e, sobretudo, se circula livremente” (Le Coadic

apud RIBEIRO, 2007: 23), mas para tal, uma equipe deve auxiliar a outra pelo

menos no que concerne a sua função, para que ambas se completem e assim possa

ocorrer um sincronismo de dados sobre as culturas materiais presente na instituição.

De qualquer forma, para ter um sistema eficiente de gestão de coleções e

consequentemente de gerenciamento da informação é preciso, desenvolvimento

técnico e profissional e envolvimento de todos que trabalham com as coleções,

desde a sua procedência até o local que fará a sua salvaguarda.

É pertinente, que para cada atividade além da instituição ter a sua

organização interna, buscar apoio junto aos órgãos do governo44 para estruturar as

suas ações quanto aos mecanismos de desenvolvimento para a gestão da

informação das coleções. Assim, permite-se que dados sejam informatizados para

que a documentação museológica que já foi realizada, e que tem como principio

básico atualizar informações e preservar a memória contida nas coleções, possa ser

alimentado ou complementado. Seguramente esse tipo de procedimento facilita e

44 Ver a possibilidade de atuação conjunta com o IPHAN, visto que o órgão não trabalha apenas com material arqueológico, e pensando nesses materiais, o órgão por meio do SGPA busca regular: termos e nomenclaturas para uma melhor compreensão das coleções arqueológicas. Em 2009, o Instituto Brasileiro de Museus - IBRAM e o Instituto de Museus e da Conservação – IMC, apresentaram ao IBERMUSEUS em Brasília e Lisboa um projeto para o acesso digital ao Patrimônio Museológico dos Países de Língua Portuguesa. Justamente pensando na conexão de alguns museus por meio do sistema informatizado de gerenciamento de dados. Um dos exemplos dessa proposta esta disponível no endereço: www.matriznet.imc-ip.pt

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auxilia o pesquisador a interagir com a coleção em reserva técnica. Permite a

localização da ficha catalográfica de uma determinada coleção sem precisar

danificar ou perder tempo na procura dos documentos em um arquivo45manual (não

dispensando a sua relevância). Contribui com ferramentas de acesso as informações

quando, por exemplo, precisar fazer uma divulgação de certo objeto. Enfim, se os

itens forem bem estruturados só irão contribuir com o desenvolvimento das

atividades ligadas ao acesso dessas informações.

É certo que um sistema de gestão de coleções arqueológicas ou não, exige

mais que um gestor, um arqueólogo e um museólogo na instituição. É preciso, aliado

a isso, conhecer procedimentos e consequentemente saber incorporá-los a

realidade da instituição e das coleções. Infelizmente a realidade nacional (Brasil),

dos museus não é muito simples, a necessidade de adequação de procedimentos é

um fato, mas antes da sua implantação vem às dificuldades com o orçamento,

suporte científico, técnico e estrutural. Esses são alguns dos problemas encontrados

e desencadeados nas mais importantes entidades museológicas, contudo, a

organização e aplicação dos processos de gestão devem ser inicializadas. O

procedimento de coleta/procedência/aquisição item primordial, facilitará a

manipulação da coleção na instituição sendo esse o primeiro passo para começar a

documentação museológica nas coleções.

Se houver a possibilidade de criar um sistema preferencialmente

informatizado, este deverá ser confiável e seguro, principalmente em se tratando de

bens culturais, pois irá auxiliar ao museu a não se tornar vítima de algum tipo de

ameaça, como: a perda de dados e a dificuldade de acessar informações de forma

célere sobre o bem seria, de grande importância para o museu. Deve-se ter no

mínimo um técnico em informática cuidando da parte operacional no museu, e

quando a coleção estiver disponível via internet, permitir acesso do público a

informações das fichas catalográfica que não coloquem em risco a segurança do

mesmo. Fazer sempre revisão da segurança do site e dos programas e assim, em

conjunto com os procedimentos apropriados o processo de gestão contribuirá para o

fortalecimento do sistema de gerenciamento sobre as coleções.

45 A organização das informações por meio de sistemas informatizados de base de dados é uma ação que permite uma maior agilidade na busca d as informações . Porém, precisa ser pensada na segurança e consequentemente deve-se, salvar esses elementos em vários outros meios digitais para que se algum equivoco aconteça com a base principal, tenha-se um auxiliar e não se percam todos os dados.

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2.3. Documentação Museológica como Procedimento de Gestão da

Informação para o Patrimônio Arqueológico

Ao adentrar o “mundo” no qual um objeto está imbuído, é possível perceber

que esse faz parte de um sistema de signos, que permitem àqueles que se

aproximam dele, usufruir de seus atributos. Aprender poderia ser o termo mais

indicado quando se trabalha uma determinada coleção e dela se cria possibilidades

para a construção do conhecimento para o deleite daqueles que entram em contato

com ela (visitam uma instituição). Essas coleções por sua vez, podem ser retiradas

de um ambiente e ser readaptadas em outro, ganhando novos atributos, assim, vê-

se que,

Um objeto, ao longo de sua vida, perde e ganha informações em consequência do uso, manutenção, reparos, deterioração. Perdas e ganhos esses que se tornam mais acentuados quando há mudanças de um contexto para outro. Podem mudar de lugar, de proprietário, de função e suas propriedades físicas, também se modificam. E é esse conjunto de informações sobre um objeto que estabelece seu lugar e importância dentro de uma cultura e que o torna um “testemunho”, sem o qual seu valor histórico, estético, econômico, científico, simbólico e outros é fortemente diminuído (FERRREZ, 1994:03)

Nesse sentido, buscaremos um instrumento que possibilita a uma instituição

ter condições de conhecer a sua coleção, destacamos a documentação museológica

como procedimento que integra a cadeia operatória de procedimentos técnicos e

científicos de musealização relacionado à salvaguarda, sendo este um item

pertencente ao mecanismo da gestão de coleções. Buscando compreender esses

procedimentos de gestão, vemos que existem outras perspectivas sobre o

entendimento dos métodos práticos que circundam as coleções. De acordo com a

análise de Gisele Marques Leite Paixão46 apud Ceravolo e Tálamo (2007:06), “a

documentação em museus47 é uma das etapas da musealização, [igualmente como

46“Notas de aula da disciplina de Documentação em Museus, ministrada pela museóloga Gisele Marques Leite Paixão em 1986 e 1987, no antigo Instituto de Museologia da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (CERAVOLO e TÁLAMO, 2007:06)”. 47 E importante destacar que o termo Documentação em Museus é utilizado por alguns autores, como: Ceravolo e Tálamo (2000:246). No entanto, este estudo cita Documentação Museológica, devido ao embasamento teórico é prático adquirido em autores como Ferrez; Desvallées; Mairesse e

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prega a documentação museológica], só que é compreendida como o processo que

se inicia com a retirada do objeto do circuito de uso e sua entrada no museu, onde,

ao longo do mesmo se faz a coleta de dados para o registro”. Que como Ceravolo e

Tálamo (2000, p. 246) optaram por essa denominação por verem este procedimento,

como uma ação dissociável entre si, onde cada etapa varia conforme o objetivo

documental, da pesquisa, e da administração. Não podendo ser confundidos,

mesmo que compartilhem de atividades correlatas.

Já a documentação museológica, por ser um procedimento coerente entre si e

unitário, enquanto sistema de recuperação da informação busca, segundo Ferrez

(1991):

� Clareza e exatidão dos dados;

� Definição dos campos de Informação que irão compor a base de dados de

entrada no sistema;

� Normas e procedimentos;

� Controle de terminologia;

� Catálogos/Índices;

� Numeração dos Objetos;

� Segurança da Documentação;

Sendo assim, são as informações recolhidas que vão caracterizando de forma

crescente o objeto, assegurando-lhe a condição de testemunho e fidedignidade

(GUARNIERI, 1990). Nessa perspectiva registrar e pesquisar se mesclam para

assegurar a identidade particular daquele(s) artefato(s). São detalhes que mesmo

mínimos, necessitam de atenção para que então possam ser atribuídas às coleções,

condições de serem propagadoras de conhecimento.

Dessa forma, é possível perceber que a proteção e o tratamento da

informação se iniciam por meio de questionamentos sobre os “testemunhos” da

vivência humana, relativos aos objetos - quando sabiamente interrogados - nos

permitem perceber uma “construção detalhada do contexto histórico e cultural do

uso do artefato, por meio de uma leitura crítica dos textos culturais” Beaudry; Cook;

Mrozowski (2007: 78). Assim sendo, e vinculando essas interrogações às práticas de

Mensch, que veem a Documentação Museológica como um sistema composto de partes inter-relacionadas, coerente na sua função e objetivos.

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uma instituição museológica, é possível descobrir objetos que podem referenciar

vestígios da experiência humana em diversos ambientes. E, se essa entidade

possuir uma organização documental das coleções com o máximo de detalhes,

referente desde o seu contexto original, assim será ampliado o campo de atuação do

objeto, e por meio de diversos olhares a sua reelaboração no cenário museológico.

Portanto,

A documentação museológica representa um dos aspect os da gestão dos museus destinada ao tratamento da informação em todos os âmbitos, desde a entrada do objeto no museu até a e xposição. Neste processo estão envolvidas tarefas direcionadas à coleta, armazenamento, tratamento, organização, disseminação e recuperação da informação (YASSUDA, 2009: 22)

As instituições que irão acolher “as vozes sociais” dos grupos humanos, além,

de serem espaços privilegiados, precisam possibilitar um diálogo entre novas

investigações e disseminação dessas informações. Esses espaços também são

responsáveis por caracterizar e revestir com novos significados esses objetos. Assim

sendo, segundo Le Goff (1983) os objetos (como as coleções arqueológicas, por

exemplo) são evocados, e assim, passíveis de interpretação, e deste modo, eles

testemunham sobre uma realidade e uso, que na verdade em muitos casos, é

delineada por aqueles que nele se debruçou, no momento das pesquisas. Mas, para

ele,

O documento não é qualquer coisa que fica por conta do passado, é um produto da sociedade que o fabricou segundo as relações de forças que aí detinham o poder. Só a análise do documento enquanto monumento permite à memória coletiva recuperá-lo e ao historiador; [ao arqueólogo e ao museólogo] usá-lo cientificamente com propriedade de causa (LE GOFF, 1983:91).

O termo documento é tratado como “aquilo que ensina”, “doccere”, onde ele

por meio da palavra e imagem, atesta a ação de um grupo, frente aquele que o

criou, o acolheu e lhe acrescentou várias perspectivas. Esse

“documento/testemunho” (LE GOFF, 1983) ao chegar a uma instituição museológica,

vem despido de funções, apenas lhe acompanha as similaridades que este tem com

as peças que permeiam a atualidade ou que possuíram características semelhantes

às dele. Dessa maneira, já que os objetos apresentam similitudes típicas, eles

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precisam ser interrogados, principalmente no que concerne a sua atuação em

determinado contexto ao qual estava inserido, para assim, ser revestido de novas

possibilidades, e dar o seu testemunho sobre uma época e um povo.

Consequentemente,

A vida dos objetos está intimamente ligada ao trabalho humano, revelando usos, costumes, técnicas, práticas e valores de diferentes épocas e culturas. Socialmente produzidos, os objetos materiais, usando um vocabulário diverso, podem nos falar sobre as várias formas de presença do homem em seu meio ambiente (CÂNDIDO, 2006:43)

Assim sendo, os objetos além de serem produtos de um grupo social em uma

determinada região, e alvo de diversos olhares, eles precisam dar o seu testemunho

e serem documentos de uma realidade pertencente a um grupo, e não somente a

um indivíduo, ou ficarem estagnados em algum espaço que só tenha a pretensão ou

condição de guardá-lo. Esses objetos apresentam “informações intrínsecas e

extrínsecas a ser identificada” (MENSCH, 1989), situação que irá permitir uma

melhor elaboração das informações pertencentes ao procedimento de

documentação, quando esses compuserem um espaço museológico que possa lhes

atribuir reais funções sociais.

A pesquisa realizada nos objetos/artefatos deve ser encarada como atividade

extensiva e complementar, que precisa ser desempenhada de forma continuada por

aqueles que fazem uma instituição. São atribuições que buscam o resgate de

informações e elevam o grau de intimidade que um centro detentor do

conhecimento, por meio de um trabalho em conjunto com aqueles (pesquisador) que

estudam essas coleções necessita ter, sendo esse um dos caminhos para uma

documentação museológica eficaz das coleções. Partindo daí, a instituição

visualizará meios de atuação em prol de uma melhor qualificação institucional que

abarca dois campos, segundo Lima (2008, p.35): as Práticas - conotarão em ações e

atitudes; e as Representações – exprimem as formas de interpretar e expor

(discursos – Chartier, 1990).

Ainda segundo Lima, em consenso de opiniões com Falcon (1992), referente

às ações de Práticas e Representações Culturais, temos: “Práticas – as diversas

maneiras sociais/culturais de expressar e exercer este conhecimento;

Representações - as interpretações/explicações acerca do conhecimento da

realidade, o mesmo que os pensamentos/saberes”. Seguindo ainda na linha de

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interpretação dada por Lima (2008), as ações de Prática e Representação, sugere

que a instituição elabore ações em seu ambiente de trabalho, que possibilite

condições de melhorar o grau de abrangência e conhecimento referente às

coleções. Vê-se aqui, como uma dessas ações de trabalho o procedimento de

documentação museológica, sendo a documentação a “prática”, e o resultado dessa

ação uma possibilidade de “representação”, onde ambas instigam a instituição a

cumprir um dos seus papéis básicos, porém, primordiais de maneira significativa -

disseminar conhecimento, amparado por documentos e dados pertencentes à

pesquisa da vida da coleção.

A necessidade de estruturação é percebida nas diversas formas como as

instituições lidam com as suas coleções. O que precisa ser implementado é mais do

que um conjugado de regularidades e procedimentos para captar informações, deve

haver, aliado a isso, um conjunto de boas práticas proveniente de cada uma dessas

ações. Cada instituição/museu trabalhará os procedimentos de “Prática e

Representação” conforme o que estipula o seu Plano Museológico (Missão e

Regimento interno). Esse tipo de regularidade traz para os museus a potencialização

na criação de instrumentos essenciais como as políticas de gestão de coleções,

baseadas na missão dos museus, e/ou nos planos de documentação delas

derivados.

A gestão de coleções, que possui como um dos seus desdobramentos, a

documentação museológica, sendo esse, um assunto debatido, tanto em

congressos, quanto em seminários e mesas-redondas, instiga que essa ação

precisa efetivamente adentrar os espaços museológicos. A gestão de coleções tem

na norma SPECTRUM 4.0 (p.19) que é um sistema de gestão de coleções

produzido pelo Reino Unido, uma ferramenta que permite o desenvolvimento de

atividades de planejamento, implantação de processos, supervisão e controle das

coleções de museus, de forma a colaborar para que a organização museológica

cumpra seus objetivos institucionais pré-determinados a partir de critérios de

excelência. Sendo assim, embasado nas instruções de um sistema de normas com

padrões internacionais sobre gestão de coleções que vem sendo bastante utilizado

em muitos museus da Europa, nos debruçaremos, um pouco, sobre esse

procedimento que tem a pretensão de auxiliar a um museu, por exemplo, a cuidar da

sua estrutura organizacional.

Neste sentido, é destacado o diagrama abaixo como mais uma possibilidade

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que as instituições museológicas poderão ter para fundamentar as suas ações, em

comum acordo com as suas necessidades. O diagrama mostra como esses

procedimentos são usados e, onde se situa cada item no arcabouço organizacional

do museu frente às políticas de gestão de coleções, cabendo a instituição que o

utilizar, ver quais procedimentos pode ser adequado a sua necessidade.

Diagrama Spectrum 4.0 sobre Missão Organizacional (2014:23).

Neste âmbito, são elencadas as possíveis ações a ser desenvolvidas dentro

de uma estrutura que busca organizar o acesso informacional, para a preservação e

salvaguarda, tudo em uma base que deixará sempre que necessário à

documentação museológica das coleções disponíveis aos seus usuários. De acordo

com esse diagrama, e se não forem tomadas medidas de gestão, não há como

resolver problemas mesmo que diagnosticados e/ou evitá-los, conseguintemente,

não adianta apenas falar que as instituições possuem quantidades exacerbadas de

materiais, não importando de qual natureza sejam (arqueológica, etnográfica,

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histórico, etc.) a situação é: coleções precisam de pesquisa, de local para

acondicionamento, técnicas eficientes de salvaguarda (documentação e

conservação).

Baseado no quadro sobre a “Missão Organizacional e na Política de Gestão

Coleções” acima descrito vê-se que as políticas e os procedimentos devem está em

conformidade dentro de um museu. Deve-se ter bem definida a função que cada

processo desempenhará e o quanto este fará falta se não inserido nessa instituição.

No quadro, é organizado exatamente o procedimento que cada museu poderá

adotar quando for pensar:

� No desenvolvimento das coleções;

� Na informação sobre as coleções – documentação museológica;

� Acesso às coleções;

� Preservação e conservação das coleções, entre outros.

Pensando em todos esses procedimentos vemos que, se não houver uma

organização institucional, estes museus passarão a não dialogar entre os seus

colaboradores, e tão pouco entre seus pares, pois não terão condições de declarar a

situação das suas coleções e pesquisa. Sendo assim, de acordo com os “Princípios

de documentação em Museus”, 2014, o Comitê Internacional para Documentação

ligada ao Conselho Internacional de Museus - CIDOC/ICOM (entidade que trata das

normas e técnicas para a documentação de coleções) acredita que a aquisição sem

documentação adequada não pode ser considerada como verdadeiras as coleções

de museus. Eles acreditam que essas coleções não podem ser adequadamente

salvaguardadas e bem cuidadas, se o museu não pode demonstrar responsabilidade

legal, frente a uma coleção sem uma política de gestão – aquisição. E, assim sendo,

o valor informacional daquela aquisição, para a pesquisa e interpretação é reduzido

significativamente. Então, como especificado no sistema Spectrum 4.0, que também

é parte integrante do CIDOC, com as perdas de informações sobre as coleções,

estas por sua vez não completam os procedimentos de controle de inventário,

catalogação, avaliação e do procedimento completo de documentação museológica

das coleções, dentre outras importantes ações.

Deve-se manter o foco de que coleções precisam gerar informação, dialogar

como o visitante, ser exposto, e garantir que “o entendimento, não basta a sua

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simples transmissão ‘via única’ de um polo a outro, mas, sim, a necessidade de

identificação ou negociação de significados entre fontes e o receptor” (RIBEIRO,

2007: 25), ou seja, uma informação para se transformar em conhecimento precisa

ser trabalhada, deve chegar a um receptor e este devolver com a interpretação do

que foi dito para que se faça a disseminação desses elementos.

Nesse sentido, a documentação museológica se dá em diversos ambientes de

uma mesma instituição, no que diz respeito a essa gestão, ela atua sobre o corpo

técnico, administrativo, exposições e visitações. Contudo, o nosso foco recai sobre

as atividades relacionadas à gestão de coleções, pensando nas coleções

arqueológicas, que são documentos culturais de um povo, e que possam propagar e

evidenciar os testemunhos materiais das diversas sociedades. Dessa maneira,

vemos que o objeto já não faz parte de um sistema isolado no qual foi criado. No

momento em que chega a uma instituição museológica ele é reelaborado, não para

deixar de ser o que ele sempre foi, mas para recarrega-se de novas possibilidades e

abordagens.

A intenção do momento é que por meio da documentação museológica as

coleções arqueológicas possam, além de permitir ao pesquisador avançar em seus

estudos interpretativos e científicos, colaborar para a ampliação do conhecimento

sobre a cultura e a sociedade, a vida daqueles que entram em contato com as

coleções. Dessa maneira, a vida do objeto/artefato dialogará diretamente com as

indicações do profissional/pesquisador que trabalha o significado do

documento/testemunho para a sociedade atual. E os museus por serem “espaços de

memória, de esquecimento, de poder e de resistência” (CHAGAS, 2009: 60), ofertam

a possibilidade de uma nova roupagem, que poderá ser exercida via documentação

museológica, que é um procedimento que instiga buscas sobre a vida e trajetória

das coleções, pautando-se sobre as políticas de coleções do museu.

Essa organização, por meio da documentação museológica se dará sobre

diversos campos que fazem parte da instituição, que vai desde o recebimento de

objetos (aquisição), aqui poderíamos incluir os procedimentos básicos para a

concessão de endosso institucional como um item pertencente à gestão de

coleções. Esse tipo de prática fomenta a análise da coleção, incluindo a

documentação museológica como conduta usada para evitar danos ao material

recebido, pensado também no seu acondicionamento e disseminação do

conhecimento, abordando também a coleções em reserva técnica.

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A documentação museológica instiga que informações referentes ao

objeto/artefato sejam adicionadas sempre que houver pesquisa ou tratamento, que

por sua vez, além de compor o processo de gestão de coleções contribuirá com a

qualidade das informações a serem disseminadas. Esta é uma fase que permite a

estruturação da pesquisa; averiguação do estado de acondicionamento das

coleções; identificando-as para uma posterior consulta, entre outras importantes

contribuições. Pode-se dizer que esses são detalhes, que fazem a diferença em uma

unidade museológica que busca além de cuidar, reelaborar para compartilhar. Em

vista disso, percebe-se que:

A documentação exerce ou deveria exercer, nos museus, um papel primordial e, em alguns países sua importância vem sendo gradativamente reconhecida na medida em que o corpo prático - teórico da Museologia se torna menos empírico e os museus passam a atuar mais como instituições sociais, criadas para prestar serviços a uma comunidade por ela legitimadas (FERREZ, 1994:01)

Um museu quando pensado, precisa dialogar com estruturas que garanta a

sua estabilidade como intermediadora entre a coleção, o pesquisador e o visitante.

Mais adiante existem também os direitos, e os deveres que essa mesma instituição

possui, além do compromisso firmado principalmente com o público e a própria

coleção (poderíamos pensar aqui nas concessões de apoio institucional a um projeto

arqueológico, com os seus sem números de variedade de objetos). A gestão de

coleções chama à atenção por ser de extrema importância e, principalmente, por

elucidar a responsabilidade conjunta de cada órgão ou autarquia envolvida no

usufruto desse bem cultural material ou imaterial de um povo.

É preciso reiterar que o processo de gestão de coleções em um museu deve

ser analisado cotidianamente, visto que, corpo técnico amplia-se ou reduz-se; a

direção pode mudar; os métodos de trabalhos podem ser alterados. Enfim,

diariamente acontecem situações que podem modificar um quadro já existente, e, se

houver a necessidade de (re)organização das coleções, essa ação não será

reiniciada, partindo-se do princípio de que na instituição, há um processo de

documentação museológica eficiente, ou seja, uma espécie de “árvore genealógica”

que possibilitará saber os componentes da vida dessas coleções.

Como princípio básico para uma boa gestão “Os museus [precisam]

documentam as suas coleções com o fim de administrar, conservar e explorar as

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suas possibilidades. Trata-se, portanto, de criar um conjunto de fichas48

(manuscritos e informatizados) de documentação de objetos” (AFRICOM, 2009: 13)

que possibilite as instituições que tratam dessas coleções um bom usufruto. O

correto seria que houvesse nas instituições, além do compromisso de realizar a

documentação museológica da coleção um parâmetro exigindo relatórios sobre toda

a sua procedência, para que essas informações possam ajudar na complementação

de dados. Infelizmente, não se pode afirmar que mesmo com a documentação

realizada em todos os objetos/coleções de uma instituição os problemas referentes à

gestão dessas informações serão sanados. Mas o que as práticas demonstram é

que por meio da documentação museológica e dos seus subitens (inventário,

catalogação...), uma instituição que é detentora e formadora de opiniões, como é o

caso dos museus, centros de pesquisas ou até mesmo laboratórios, passam a

conhecer o que de fato possuem, e, a atuar de forma mais atraente e diversificada

para ações posteriores.

Com o procedimento de documentação museológica, a instituição tem o

domínio sobre diversos aspectos referente às coleções, e conseguem dessa

maneira controlar: a quantidade, movimentação, catalogação, avaliação técnica do

estado de conservação e preservação, dentre outros itens sob de sua

responsabilidade. O Comitê Internacional para Documentação ligada ao Conselho

Internacional de Museus - CIDOC/ICOM49 instiga a busca por implantação de termos

48 Ver em anexo (p.140) uma das fichas utilizada pelos museus africanos. Em uma das estruturas do “Manual de normas. Documentando Acervos Africanos” é possível perceber que os pesquisadores que atuaram na fabricação desse processo metodológico, tiveram a preocupação em averiguar as necessidades básicas das suas instituições e de suas coleções. Mas, sem deixar de adicionar campos que possibilitam que outras instituições e coleções fora de seu ciclo territorial, também pudessem usar e modificar algumas estruturas se assim convier.

49 Vários trabalhos em conjunto com instituições de diversos países africanos, europeus, latino-americanos, dentre outros são desenvolvidos pelo CIDOC/ICOM na intenção de criar e melhorar as normas e técnicas sobre os processos de documentação para as coleções, a saber: O sistema Spectrum foi criado pelo Reino Unido em 1994. Em 2011, teve a sua versão atualizada e lançada em português em 2014. Nele contém a “descrição dos procedimentos usados na gestão de coleções e, os requisitos de informação necessários para registrar todos os dados relevantes decorrentes da sua aplicação prática, organizados em unidades de informação e grupos ou categorias de informação” (2014:14). Outra ação bem expressiva foi realizada em 1996, quando foi publicado o “Manual de normas. Documentando Acervos Africanos”. Fruto de quatro anos de pesquisa realizado por profissionais de 07 (sete) museus africanos, com a intenção de estimular o dialogo entre os museus, e solicitando deles uma constante atualização dos seus inventários. Implementar práticas profissionais padronizadas e organização na luta contra o tráfico ilícito de bens culturais, também foi uma prerrogativa dessa ação. E, O Manual Prático – Como gerir um museu publicado em português em 2004. Também um importante instrumento de organização que busca promover padrões profissionais de formação e prática profissional em conjunto com abordagens de colaboração no trabalho, definindo termos utilizados no cotidiano das ações museológicas.

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padronizados de dados para as diversas coleções, reforça a ideia de que

padronizando, esta ação diminuirá a possibilidade de duplicidade de informações

sobre um mesmo item de uma coleção. Esta ação facilita o intercâmbio das

instituições e o diálogo entre os diversos profissionais que tem a preocupação com o

tratamento da informação sobre as coleções.

Seguindo nesse caminho, fora observado pelo Professor Peter Van Mensch

(1989) de Teoria Museológica da Reinwardt Academy - Museology Department

abordagens museológicas a serem pesquisadas sobre os objetos. Ele elaborou

etapas que visam o (re)dimensionamento das atividades sobre a documentação

museológica, onde a busca é por conscientizar todos os atores envolvidos na prática

de gestão de coleções em uma instituição, para o seu papel fundamental nessas

ações. Principalmente, frente às possíveis políticas de salvaguarda e difusão de

conhecimentos sobre os bens culturais materiais, que referenciam questões sobre a

gestão de coleções. Ele distingue três aspectos básicos sobre as categorias de

informação a serem identificadas a partir dos próprios objetos ou de outras fontes de

pesquisa, que ele denomina de “matrizes tridimensionais50”, a saber:

� Propriedades físicas (descrição física);

� Funções e significados (interpretação);

� História.

Ferrez (1994) em consonância de diálogo com Mensch traça estruturas que

caminham no mesmo sentido, para ações de salvaguarda, pesquisa, e

disseminação. Assim, ela destrinchou o que seria o “Sistema de Documentação

Museológica” de acordo com a sua experiência e com as das áreas da

50 Essas são as matrizes tridimensionais destacadas por Mensch, citação na integra:

1. Propriedades físicas 1.1 Composição material 1.2 Construção técnica 1.3 Morfologia 2. Funções e significados 2.1 Significado primário 2.2 Significado secundário 3. História 3.1 Gênese 3.2 Uso 3.3 Deterioração 3.4 Conservação e Restauração

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Biblioteconomia e ciências da Informação, o que em linhas gerais e denominado de

“sistemas de recuperação de informação”. O Sistema de Documentação

Museológica delineado por Ferrez possibilita as instituições e àqueles que nelas

trabalham (complementar as fases de arrolamento,) inventário ou catalogação que

levam a uma documentação museológica das coleções mais abrangente, tendo

como pontos fundamentais:

- Objetivos * conservar os itens da coleção

* maximizar o acesso aos itens

* maximizar o uso da informação contido nos itens

- Função * estabelecer contato efetivo entre as fontes de

informação (itens) e os usuários, isto é, fazer com que

estes, através de informação relevante, transformem suas

estruturas cognitivas ou os conjuntos de conhecimento acumulado.

- Componentes· * Entradas: seleção·

aquisição

* Organização

e Controle: registro

número de identificação/marcação

armazenagem/localização

classificação/catalogação

indexação

* Saídas: recuperação

Disseminação

O esquema acima descrito serve para auxiliar no dimensionamento das

atividades utilizadas para estruturar métodos de gestão que poderão ser adequados

a qualquer tipologia de coleção, bem como os arqueológicos, bastando à instituição

que faz a guarda, definir as estruturas que melhor lhe auxilie.

Por meio da experiência da Helena Dobb Ferrez com o Peter Van Mensch

surgiram relevantes atividades, como, por exemplo, a planilha de inventário

desenvolvida por Maria Inez Cândido, para a superintendência do governo de Minas

Gerais publicado no “Caderno de Diretrizes Museológicas (2006)” com o texto

denominado de “Documentação Museológica”. Que apesar de algumas adaptações,

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baseia-se nos mesmos princípios estruturais básicos citados nos estudos dos dois

professores, aqui, já mencionados. Só que para tal ação, ela (mais uma vez

influenciada por Ferrez) também utilizou uma importante estrutura denominada

“thesaurus51”, onde a consulta deste por uma instituição deve ser uma prática

relevante. Esse por sua vez, é visto como um esquema classificatório de coleções

que contribui para a sistematização da documentação museológica, onde os dados

angariados resultarão em bons sistemas de gestão da informação52 sobre as

coleções, quando nesses forem realizados um processo completo de investigação.

Nesse sentido, citaremos o “Centro de Documentación de Bienes Patrimoniales”-

CDBP53” que é uma agencia do governo de natureza técnica vinculada a “Dirección

de Bibliotecas, Archivos y Museos - DIBAM”, cuja razão é contribuir para o

desenvolvimento de políticas de documentação para museus do Chile. O CDBP tem

atualmente duas áreas de trabalho: o vocabulário padrão (Tesauro e o Tesauro

Regional), e o programa SurDoc. Este último, por ser um Sistema Unificado de

Registros, tornou-se uma ferramenta padronizada para gerenciamento de

informações das coleções dos museus, desenvolvidas e aplicadas pelo DIBAM.

Segundo o site54 o programa permitiu

El ingresso normalizado de información de las colecciones de los museos DIBAM, caracterizados por tener una variada gama de tipologias de colecciones. Permitió también La implementación de equipamiento computacional para los museus DIBAM. Fue el inicio del desarollo de bases de datos referidas a colecciones de museos, incorporado información em

51 “Um instrumento de controle de terminologia utilizado para designar os documentos/objetos, funcionando como um sistema internamente consistente de classificação e denominação de artefatos. Trata-se, portanto, de um recurso metodológico fundamental para o processamento técnico de acervos museológicos”. (2006:40) 52 Segundo Loureiro (2008:26) “A criação e/ou inserção em sistemas de recuperação da informação, [...] e muitas outras “leituras” do objeto musealizado exigem a participação permanente de uma equipe multidisciplinar destinada à atualização permanente da documentação” 53 O CDBP é proveniente da Oficina de Inventário para o Patrimônio Cultural ocorrido em 1997, este órgão foi criado em 1982 para resolver diversos problemas envolvendo a documentação de coleções detectada por meio do diagnóstico nos museus do Chile, realizado entre 1980 e 1981. Este programa é resultante do trabalho em conjunto dos profissionais da CDBP com a equipe especializada em informática, tudo pautado no Tesauros para as descrições da Arte, da Arquitetura, de História, da Arqueologia e da Antropologia, com o apoio do Getty Information Institute. Site: http://www.cdbp.cl/652/w3-propertyvalue-43870.html 54 Site do SURDOC/CDBP/DIBAM, (www.surdoc.cl) ou http://www.cdbp.cl/652/w3-propertyvalue-43872.html Acesso em 12/05/2015.

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texto e imágenes de los objeto registrados. Su adopción permitió tener un acceso rápido a la información, mejorar la calidad de la información y agilizar su recuperación. (www.surdoc.cl)

Assim, a missão do SURDOC continua afirmando o seu propósito quando diz:

que o sistema de documentação das coleções é uma das principais funções do

museu, de qualquer que seja o seu tamanho e especialidade, este procedimento

deve ser cumprido, e diz mais,

La documentación es un sistema que abarca toda la información acumulada sobre los objetos de un museo. Esta información debe estar registrada en forma escrita y/o digital en un sistema de documentación que sea accesible tanto para el equipo del museo, los investigadores y el público en general.

É importante frisar, que as coleções quando chegam a um museu ela vai com

as características daquele que nela trabalhou e a incorporou algum valor. Dessa

forma, vê-se que a gestão de coleções precisa ser realizada tanto pelo museu (que

será o responsável pelo material recebido), quanto pelo pesquisador e/ou qualquer

outro agente que entregará o material na instituição, é importante que ambas as

partes pensem na salvaguarda das coleções. Considerando a relevância de um

trabalho em conjunto entre profissionais de diversas áreas do conhecimento dentro

de uma instituição, é preciso alertar, a todo o momento, quanto à necessidade de

uma documentação museológica eficiente, que deverá comportar uma pesquisa

advinda de um bom corpo técnico/científico, para os diversos tipos de coleções

(patrimônio arqueológico) que serão incorporados a um museu.

Visto que, para as coleções serem tratadas, e/ou documentadas, precisam

incluir normas e controles de aquisição (coleta, doação, legado, empréstimo e

permuta); classificação; registro; inventário; catalogação; controle de movimentação,

pesquisa, e se preciso descarte. Esse procedimento poderá acontecer por meio de

doação, transferência, troca, repatriação, ou destruição. Segundo a Comissão

Permanente de Aquisição e Descarte de Acervo – COPAD (2011, p.11), os itens das

coleções museológicas poderão ser descartados se:

� Apresentarem deteriorações que possam representar perigo para os

profissionais do museu, visitantes, coleções ou instalações;

� Consistirem de pedaços ou fragmentos que não possam ser identificados;

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� Existir ausência de informações relacionadas à procedência dos objetos;

� O [museu] não possuir condições adequadas de conservação ou seu custo for

muito alto para a instituição;

� Estiverem fora da área de interesse da instituição.

Dessa forma, o procedimento de descarte e tão importante quanto o

procedimento de aquisição ou qualquer outra ação que precisa está inserida em um

museu. Contudo, o descarte é um ato ético, deve ser acompanhado pelo

gestor/diretor, o museólogo, o curador e por um profissional de conhecimento

específico com a tipologia da coleção a ser descartada.

É importante levar em consideração que toda ação de descarte de um objeto museológico necessita de cautela. Trata-se de um tipo de ação que pode gerar muitas interpretações e complicações com relação às questões éticas e técnicas , e, por isso, os profissionais de museu precisam adotar uma base sustentável para a escolha feita (PADILHA, 2014, p.31)

Consequentemente, todas as ações envolvendo esse bem cultural, devem ser

registradas e anexadas à ficha documental das coleções, sendo todos os dados

inseridos no procedimento de documentação museológica pertencente a esse objeto

em particular. Segundo Costa55 (2007B, p.05), a “documentação museológica tem

três campos de abrangência: Administrativo (controle); Físico (descrição dos

objetos); Produção de conhecimento”. Para cada tipo de coleção, normalmente é

preciso observar as suas especificidades, pois as coleções podem exigir um diálogo

complementar para que a disseminação da informação contida na coleção se faça.

Sendo assim, e levando em consideração as coleções de cunho arqueológico e a

descrição de dados referente a eles, perceberemos que:

Em alguns momentos, deveras particulares para entendimento e explicação de contextos pretéritos nem sempre será exclusivo do museólogo o preenchimento da ficha [documental], mas deverá contar com o auxílio de um arqueólogo, em decorrência da especificidade do acervo. Da mesma forma, a elaboração de tal instrumento deverá ter a consultoria de

55 Este pesquisador abordou itens sobre a pesquisa arqueológica em museus e os processos de gestão destas coleções, em a “Proposta de Instrumento Documental Museológico Complementar para as Coleções Arqueológicas do MAE/UFBA”

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profissionais que atuam na área, para que jargões e procedimentos sejam adequados às situações que deverão ser documentadas (COSTA, 2007B, p.09)

Portanto, a partir do que foi exposto e do trabalho que necessita ser

desenvolvido para a proteção das coleções, é pertinente que as instituições

estimulem o trabalho em conjunto, a troca de informações, e o respeito mutuo sobre

as ações museológicas para qualquer tipologia de coleção, inclusive as de

arqueologia. Estas atividades referenciam a gestão de coleções em um museu, que

possui em suas bases diretrizes organizacionais, onde elas serão subdivididas em

várias gestões, que também servem para descrever as atividades específicas que

englobam os processos administrativos.

Logo, todas as ações museológicas realizadas sobre as coleções

arqueológicas, são de estrema importância para que o ciclo

instituição/coleção/receptor aconteça sem barreiras. Assim, o museu saberá de onde

a sua coleção veio, e quais perspectivas poderá realizar para a complementação de

dados. Dessa maneira, vemos a preservação do patrimônio arqueológico como um

item de relevância para a formação das sociedades, frente à construção de um

futuro pautado nas ações do passado. Passado esse que não é estanque, ele possui

sentido, lugar e pertence ao meio que o incorporou como seu. Lima (2013, p. 06) vê

“a preservação arqueológica como um pé no passado e outro no futuro, é antes de

tudo uma produção do seu próprio tempo, com um caráter ideológico e político”.

Contudo, ela é uma “ferramenta social e politicamente relevante, na medida em que

essa noção, se bem construída, é capaz de promover o pluralismo, [...], reavivar

esquecimentos coletivos e dar voz aos que foram silenciados pela sua circunstância

histórica”.

Sendo assim, é importante fortalecer as práticas arqueológicas para a sua

preservação, que poderá ser multiplicada “por meio de versões sobre um passado,

construídas a partir de interesses e valores étnicos, culturais, políticos, sociais, de

gênero, entre outros” (LIMA, 2013, p.05), fortalecida periodicamente com o auxílio da

cadeia operatória de musealização para que esta seja revestida com novas

possibilidades de disseminação da informação. Além disso, garantir que o

patrimônio arqueológico ocupe o seu lugar de importância dentro das instituições

acadêmicas e museológicas, com participação mais efetiva para a divulgação de seu

comportamento cultural e científico.

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CAPITULO 3 –

O Caso de Sergipe: as Instituições de Guarda e o Co mpromisso com as Coleções Arqueológicas

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3.1. A Pesquisa Arqueológica e os Dados Coletados e m Sergipe

Diante de todo o panorama apresentado nos capítulos e subitens anteriores

destaca-se nesse momento, um levantamento do cenário das pesquisas

arqueológicas realizadas em Sergipe, no período de 1998 a 2014. Os seguintes

dados foram disponibilizados pelo IPHAN, diante de um momento de grande impulso

no que se refere às pesquisas arqueológicas por contrato em todo o Brasil, em

especial Sergipe, por ser o ambiente desta pesquisa. Daí, buscamos compreender

um pouco do caso das coleções arqueológicas neste Estado. Para tanto, foi preciso

analisar dados pertencentes a alguns instrumentos de importância vital, que detém o

quantitativo e controle dessas ações, são eles: Centro Nacional de Sítios

Arqueológicos - CNSA/SGPA/IPHAN; Banco de Portarias Arqueológicas -

BPA/SGPA/IPHAN; Diário Oficial da União – DOU e a Superintendência Regional do

Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - IPHAN em Sergipe.

Sendo assim, de acordo com o Centro Nacional de Sítios Arqueológicos -

CNSA/SGPA/IPHAN56, existe em seu banco de dados, cadastrado até 2010 (período

em que ocorreu a última atualização dos cadastros do CNSA no site do IPHAN), um

número de 20.487 (vinte mil quatrocentos e oitenta e sete) sítios arqueológicos em

todo o Brasil. No nordeste, região onde está situado o estado da pesquisa deste

estudo, encontra-se cadastrados 4.767 (quatro mil setecentos e sessenta e sete)

sítios arqueológicos, e em Sergipe 155 (cento e cinquenta e cinco) sítios

arqueológicos cadastrados.

Da mesma forma, de acordo com o Banco de Portarias Arqueológicas -

BPA/SGPA/IPHAN57 a quantidade de portarias expedidas pelo IPHAN em todo o

56 O Cadastro Nacional de Sítios Arqueológicos – CNSA, pertence ao Sistema de Gerenciamento do Patrimônio Arqueológico Brasileiro – SGPA é o primeiro sistema de informações criado para o cadastramento de sítios arqueológicos no Brasil, foi distribuído para as regionais e colocado na página do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - IPHAN em 1998, com cerca de 10.000 fichas de sítios. Até o ano de 2010 (período em que ocorreu a última atualização dos cadastros do CNSA), conta com mais de 17.500. (fonte: site do IPHAN, acesso 06/05/2014). 57 O Banco de Portarias de Arqueologia – BPA vinculado ao Serviço de Gerenciamento do Patrimônio Arqueológico – SGPA/IPHAN foi criado em 2003. A data do primeiro projetos de salvamento em Sergipe cadastrado no BPA é de 30/03/1998 (portaria de autorização para Projeto Arqueológico de Xingó), e o ultimo cadastro disponível no site, foi realizado em 02/07/2010 (portaria de permissão para o Projeto Estudos Arqueológicos na Obra da Adutora do Povoado Pedra Branca - Laranjeiras/SE). (fonte: site do IPHAN, acesso em 06/05/2014 às 19h: 38m).

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Brasil até o ano de 2010 (período em que ocorreu a última atualização dos cadastros

do BPA) é de 6.003 (seis mil e três) permissões/autorizações. Em nível de nordeste

são 873 (oitocentas e setenta e três) portarias, e em Sergipe 34 (trinta e quatro)

portarias. Salientamos que de janeiro de 2011 até dezembro de 2014, passaram-se

04 (quatro) anos e consequentemente, muitos outros sítios e portarias foram aferidos

pelo IPHAN-SE e endossos institucionais foram cedidos pelas instituições de

Sergipe, contudo, esses dados ainda não estão disponibilizados no site do CNSA e

BPA/SGPA/IPHAN.

Há neste momento o empenho dos arqueólogos58 da 8ª superintendência

regional em organizar os dados existentes sobre o quantitativo de

permissões/autorizações e de sítios ainda a serem vistoriados para ser cadastrados

sob os seus cuidados. O IPHAN-SE destaca que há sítios que ainda não foram

vistoriados ou confirmados; sítios que já estão cadastrados e/ou que necessitam de

correção, bem como os já vistoriados que ainda estão em vias de cadastro. Neste

momento, trata-se de um apanhado geral para atualização e acompanhamento do

patrimônio arqueológico de Sergipe.

Em conformidade com esses elementos, analisamos os números que

aparecem destrinchados nas páginas dos sites consultados, a priori, algo que parece

pouco, mas quando contabilizadas e observadas às coleções coletadas, e o seu

estado de conservação, se tem um panorama bastante diferenciado. Da mesma

forma, ao visitar as entidades cedentes do endosso institucional, são observadas as

condições das coleções, “condições” essas, às vezes, não muito favorável à

pesquisa e salvaguarda dessas coleções. Em todas as instituições do Brasil

algumas circunstâncias se repetem, estas recebem coleções de diferentes tipologias

(osteológico, cerâmico, lítico...) que chegam de variadas formas (catalogados, não

catalogados, com e sem pesquisa, etc.), e alguns destes atos implicam,

especialmente, no tratamento das coleções em seus vários níveis. Mas, por ventura,

também é possível encontrar coleções que chegam em condições de pesquisa e

salvaguarda referente a coleta em campo, e as instituições enfrentam outro tipo de

problema, não possuem logística para efetuar toda a cadeia operatória de

procedimentos técnicos e científicos, os quais tem a incumbência de fazer. Portanto,

58 Informações referentes ao período de 2011 a 2014 cedidas por Ademir Ribeiro dos Santos e André Esteves, arqueólogos da 8ª superintendência regional do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - IPHAN em Sergipe.

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há uma gama de situações que envolvem as coleções, neste caso, as

arqueológicas, pensando desde a sua trajetória até uma unidade museológica, com

destaque para a existência ou ausência de documentação museológica, pesquisa e

o acondicionamento, ações que influem diretamente na gestão de coleções.

Buscando ampliar a análise do campo das pesquisas arqueológicas em

Sergipe, de acordo com os dados cedidos pelo IPHAN/SE no período que vai de

2011 a 2014, apesar de estarem em fase de atualização do quantitativo de sítios e

portarias, tem-se: 25 (vinte e cinco) portarias de permissão/autorização e,

consequentemente de endossos institucionais emitidos pelos museus ou outros

locais que poderão fazer a tutela dessas coleções, como os laboratórios de

Arqueologia, por exemplo. Desse quantitativo, destaco um número de 10 (dez)

portarias de permissão/autorização emitidas, só em 2010 para Sergipe praticamente

01 (uma) a cada mês. O quantitativo demonstra uma fase realmente de expansão

das ações referente ao trabalho arqueológico, apesar de parecer pouco.

A situação é: no sistema do BPA, existem 34 (trinta e quatro) portarias de

permissão/autorização em uma faixa de 10 (dez) anos de trabalho, e só nos últimos

04 (quatro) anos são 25 (vinte e cinco) portarias. É importante dizer que o trabalho

arqueológico, quando preciso, deve acontecer, é uma ação respeitável, mas o que

chama a atenção deste estudo é: o quantitativo de coleções quando geradas; a

qualidade das ações realizadas; e o “futuro dos acervos”, fazendo alusão a Bruno e

Zanettini (2007).

Da mesma forma, no período entre 2011 e 2014 têm-se uma margem de 95

(noventa e cinco) sítios a cadastrar, que conforme dados cedidos pela 8ª

Superintendência Regional do IPHAN/SE, estes ainda serão confirmados, pois, falta

conferir coordenadas, tudo para que o devido processo de vistoria e confirmação

como sítios arqueológicos, seja realizado. Em uma conta bem simples, se destes

forem confirmados 90 (noventa) sítios arqueológicos em Sergipe e se cada um gerar

1000 (mil) objetos, assim existirá 90.000 (noventa mil) objetos a ser pesquisado,

identificado, salvaguardado e acondicionado, em que local? E, se forem materiais

osteológicos, ferroviários, dentre outros, que precisam de cuidados maiores, com

custos mais elevados para o tratamento, e profissionais especializados, o que fazer?

Se for um museu, um laboratório ou qualquer que seja o ambiente é preciso

condições técnicas e de infraestrutura para o hoje e o amanhã, mas quem será

responsável pela gestão dessas coleções? Será apenas aquele que fez o resgate ou

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aquele que cedeu o endosso institucional, ou, aquele que permitiu que o trabalho

arqueológico fosse feito? Todos possuem responsabilidades, inclusive o Município,

Estado e União, já que o patrimônio e de todos. E, quando pensado, esses números

de portarias individualmente por mês ou por ano, parece um nada, mas se cada uma

destas gerar coleções, com quantitativo irrisório ou não, de tipologia condizente com

o local que cedeu endosso ou não, é percebida o grau de importância e

preocupação que se deve ter sobre uma ação de “salvamento” e o que ela irá

desencadear.

Em Sergipe, o mapa não é diferente do resto do Brasil, o patrimônio

arqueológico passou e passa por muitas ações fortuitas. Certamente, eles são:

propícios à pesquisa, portadores de identidade cultural, considerados bens, mas, em

inúmeras vezes são depredados, e afastados das memórias e da convivência

daqueles que poderiam lhes reconhecer como seu. Essas coleções por lei são de

todos, mas, ao mesmo tempo não pertencente a ninguém, pois em inúmeras vezes

continuam desconhecidos, engavetados ou simplesmente em caixas dentro de

“reservas técnicas” sem um ato mínimo de salvaguarda, devido a situações infinitas

que acometem as instituições museológicas e as condições em que ocorreu o

salvamento.

Mas, como estimular a pesquisa, a interpretação e a documentação realizada

nessa gama vertiginosa de artefatos que são coletados em uma única portaria de

autorização/permissão cedida há tantos projetos arqueológicos? Sabemos da

importância de um ato de resgate/salvamento de coleções, que envolve o trabalho

Arqueológico, que possui como princípio fundamental, estudar os vestígios das

ações humanas, ato sério e carregado de muitas responsabilidades, prerrogativa

básica para a proteção das culturas. Contudo, vários são os desafios, sendo um dos

maiores a forte influência que, principalmente, os grandes empreendimentos

desenvolvimentistas (um forte exemplo é o Programa de Aceleração do Crescimento

– PAC do Governo Federal, iniciado em 2007), exercem sobre a economia nacional

e/ou regional, sendo esse é um dos vilões deste tipo de trabalho. De acordo com

Najjar, J. (2012) dentre os 15 (quinze) maiores projetos para o setor energético no

mundo, 06 (seis) são brasileiros e pertencem ao PAC. Da mesma forma, dos 16

(dezesseis) maiores projetos de investimento relacionados ao transporte no mundo,

o Brasil possui 04 (quatro) . O Porto de Açu, localizado no estado do Rio de

Janeiro, obra pertencente ao PAC, é o maior empreendimento portuário da América

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Latina, dentre outras grandes obras que estão sendo realizadas ou que ainda não

foram concluídas.

Nesse mesmo caminho, tocando no panorama sergipano, temos vários

empreendimentos sendo realizados, são pontes, viadutos, mergulhões, condomínios

gigantescos, entre outras obras. Mais adiante, temos os museus; as suas

obrigações; o seu orçamento; seus espaços e, as coleções coletadas para que os

empreendimentos sejam erguidos. Cada coleção compõe aspectos diferenciados de

como foram tratadas desde o seu resgate, porém, nas instituições cedentes do

endosso são refletidas as particularidades do salvamento arqueológico. E, pensando

no potencial dessas coleções, é que a lei principalmente a 3.924/61 exige que essas

tenham local adequado para a sua salvaguarda.

Daí destaca-se a potencialidade, no caso de Sergipe, das 36 (trinta e seis)

instituições museais Sergipanas registradas no Cadastro Nacional de Museus -

CNM/IBRAM59 - fora observado que dessas apenas 02 (duas) instituições

universitárias federais (MAX e MUHSE), segundo o Diário Oficial da União - DOU,

possuem a guarda da maior parte das coleções arqueológicas coletadas que ficaram

no estado de Sergipe, outra pequena parte dessas coleções está em centros de

cultura; laboratórios ou outros museus. Mas, isto não que dizer que essas coleções

por estarem sob a guarda de uma instituição pertencente a uma universidade

federal, estão livres de problemas ou ausências de procedimentos para a gestão das

informações referente às coleções arqueológicas.

Mendonça (2014) em seu artigo “Endosso Institucional e Gestão de Coleções:

um debate fundamental para a musealização do patrimônio arqueológico em

Sergipe” traz dados sobre as coleções arqueológicas na região nordeste,

principalmente sobre a emissão de portarias em Sergipe, (2014, p. 73). No gráfico é

representada as instituições que cederam endosso institucional que estão

localizadas em Sergipe. Ele faz um traçado no período de 1988 a 2010 e, destaca o

apoio dado pela Universidade Federal de Sergipe; a Superintendência Regional do

IPHAN/SE; a Secretaria de Cultura da Prefeitura de Laranjeira/SE; e o Museu

Histórico de Sergipe, pertencente ao Estado.

59 Segundo o Cadastro Nacional de Museus - CNM/IBRAM, o estado de Sergipe possui 36 instituições registradas alocadas em apenas 11 municípios do estado – Aracaju (19), Areia Branca (1), Boquim (1), Canindé do são Francisco (1), Estância (1), Frei Paulo (1), Indiaroba (1), Itabaiana (2), Laranjeiras (4), Pirambu (1), São Cristóvão (4). (Fonte: Instituto Brasileiro de Museus - IBM, acesso 02/05/14).

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Instituições de Endosso localizadas

no Estado de SergipeUniversidade Federal de

Sergipe

Superintendência

Regional do IPHAN em

Sergipe

Secretaria de Cultura da

Prefeitura Municipal de

Laranjeiras

Museu Histórico de

Sergipe

Gráfico 02 - Segundo Mendonça o gráfico representa a concessão de

endosso institucional no estado de Sergipe no período de 1988 a 2010.

Sendo assim, a pesquisa foi ampliada e o gráfico abaixo foi expandido, e

agora representa as instituições que cederam endosso institucional em Sergipe no

período de 1988 a 2014.

Gráfico 03 – o gráfico expandido representa a concessão de

endosso institucional no estado de Sergipe no período de 1988 a 2014.

Diante dos 02 (dois) gráficos vemos aqui uma alta concentração de endossos

institucionais emitidos por uma única instituição, a Universidade Federal de Sergipe,

que por sua vez fica com um grande contingente de coleções e as distribui, quando

estas são geradas60, no MUHSE e MAX, e nos laboratórios, a saber: Laboratório do

60 É Importante dizer que nem sempre uma ação na área da arqueologia gera coleção, em alguns casos uma instituição cede o endosso institucional, mas está não receberá coleção, pois não foi encontrado nenhum tipo de artefato caracterizado como de cunho arqueológico.

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Departamento de Arqueologia; Laboratório de Arqueologia e da Paisagem Cultural;

Laboratório de Arqueologia de Ambientes Aquáticos. Seguida pela superintendência

regional do IPHAN, Secretaria de Cultura de um município sergipano e, um museu

estadual. Hoje, o MAX/UFS é única instituição museológica da UFS e de Sergipe

altamente voltada para a guarda de coleções arqueológicas. Ao adicionar as 25

portarias emitidas de 2011 até 2014, é possível ver o quanto a responsabilidade da

UFS, com as concessões de endosso institucional, aumentou. No quadro abaixo é

possível obesevar esses dados por instituição, de acordo com a concessão de

endosso institucional.

Instituições de Endosso localizadas no Estado de Se rgipe Instituição Unidade institucional citada nas portarias Número de

projetos endossados

Universidade Federal de Sergipe

Própria instituição (Universidade Federal de Sergipe) 4 Campus de Laranjeiras 2 Laboratório do Departamento de Arqueologia 7 Laboratório de Arqueologia de Ambientes Aquáticos 1 Laboratório de Arqueologia e da Paisagem Cultural 6 Museu de Arqueologia de Xingó 10 Museu do Homem Sergipano 3

Superintendência Regional do IPHAN em Sergipe

8º Superintendência do IPHAN 1

Secretaria de Cultura da Prefeitura Municipal de Laranjeiras

--- 1

Museu Histórico de Sergipe

--- 2

Quadro ampliado e organizado segundo pesquisa feita junto ao IPHAN; DOU; e projeto de pesquisa “A musealização do patrimônio arqueológico em Sergipe” 61.

Dessa forma, destacamos a amplitude da atuação da Universidade Federal

de Sergipe como a maior entidade na concessão de endosso institucional no Estado.

E, é chamada a atenção sobre o papel político e social de um museu pertencente a

uma universidade e, no ato da concessão de endosso institucional para projetos

arqueológicos, no que diz respeito ao estado de Sergipe. Assim, é destacado

61 O projeto “A musealização do patrimônio arqueológico em Sergipe: um estudo sobre endosso institucional e gestão de acervos coletados (1970-2010)”. Vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Arqueologia da Universidade Federal de Sergipe e ao Grupo de Estudos e Pesquisas em Museologia, Conhecimentos Tradicionais e Ação Social (GEMCTAS) da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, foi financiado com recursos da Fundação de Apoio à Pesquisa e à Inovação Tecnológica do Estado de Sergipe - FAPITEC/SE.

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também o Projeto Arqueológico de Xingó62, o qual proporcionou o salvamento de um

número, até o momento, incerto de objetos artefatos. Este projeto recebeu endosso

institucional da UFS e, em consequência dele foi criado o Museu de Arqueologia de

Xingó - MAX. Com esse grande projeto, quase toda a coleção resgatada está sob a

sua tutela, infelizmente, a maioria apresenta problemas na gestão de coleções,

desde o momento do “salvamento” e, consequentemente, na aquisição, dificultando

a possibilidade de disseminação das informações, problema que o museu busca

contornar realizando um inventário para conhecimento do quantitativo e qualidade

de suas coleções.

Situação não muito diferente ocorre nas coleções provenientes do MUHSE,

estes, por sua vez, foram realocados no Laboratório do Departamento de

Arqueologia (UFS) e, igualmente, não possuem um quantitativo de coleções

definido. Contudo, essa ausência de procedimentos técnicos como os de

salvaguarda e pesquisa implicam no desenvolvimento científico da entidade que faz

a guarda das coleções. Problemas esses que incidem sobre a capacidade de

acomodação das coleções nas unidades museológicas interferindo até na simples

identificação das utilidades do patrimônio cultural. Esses problemas além de

acometer a instituição, a torna limitada principalmente, sobre os mecanismos de

gestão, que podem envolver: a segurança; o tratamento responsável da sua

informação; o cruzamento e disponibilização de informação para posterior consulta,

entre outras ações. Por isso, esse estudo chama tanto a atenção para a ajuda

ofertada pela gestão de coleções, que consiste entre outras ações, na estruturação

para acomodação e tratamento da informação proveniente da pesquisa nas

coleções, e com a existência da documentação primária as perspectivas sobre

essas coleções são ampliadas.

Pensando nas coleções, no tratamento e manuseio de uma gama cada vez

maior, referenciamos os museus de arqueologia, como instituição indicada para

realizar ações correspondentes à cadeia operatória museológica, isso, se o museu

se propuser e/ou tiver condições em realizar os procedimentos de gestão, como:

origem/procedência, pesquisa, documentação, até os atos de disseminação das

informações para que as coleções sejam preservadas e conhecidas pelos diversos

62 O Projeto Arqueológico de Xingó (PAX/UFS), empreendimento realizado nas décadas de 1980 para a implantação da Usina Hidrelétrica de Xingó, envolvendo os estados de Sergipe, Bahia e Alagoas.

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grupos sociais interessados. Neste contexto, têm-se alguns laboratórios63, que

conseguem extrapolar as suas paredes, e firmaram parcerias com outras instituições

que poderão lhes auxiliar na manutenção das coleções. Estes laboratórios, em

consonância de ações com um centro cultural, por exemplo, conseguem formular

não só a pesquisa, mas a documentação museológica, salvaguarda e a

disseminação das informações.

Contudo, infelizmente, nem todas as instituições que são chamadas a fazer a

guarda das coleções, seja ela de Arqueologia ou de qualquer outra tipologia,

possuem boas parcerias, investimentos e condições propícias. Nesse ínterim, há

instituições, centros de pesquisas e laboratórios, que possuem dedicação, quase

que exclusiva a pesquisa em Arqueologia, formulando duas importantes ações, a

saber: um aumento nas pesquisas científica no campo da Arqueologia e também um

afastamento das coleções na sua relação com outros vestígios materiais (Moraes

Wichers, 2010: 209), e, como conseqüência o acesso a essas informações fica

restrita a um pequeno grupo de acadêmico-pesquisadores. A prática inflamada na

concessão de endossos institucional nas várias regiões do Brasil tem formulado um

campo muitas vezes minado, e em outras circunstâncias fértil, porém, o cuidado

deve ser reformulado e repensado, sobretudo no que diz as leis, normas; decretos; e

procedimentos para o trato arqueológico.

É preciso pensar no que realmente consiste a concessão de endosso

institucional para uma instituição, principalmente, um museu. Bruno (2014, p.04)

destaca a forma de como alguns impactos, no que se refere à concessão do

endosso institucional, tem incidido sobre as coleções, ela enfatiza que “a sua

63 O Instituto Goiano de Pré – História e Antropologia – IGPA da Pontifícia Universidade Católica - PUC/Goiás, possui coleções arqueológicas e “é composto por peças resgatadas em trabalhos de campo realizados por professores e pesquisadores do Instituto desde a década de 1970 até os dias atuais. As peças, provenientes dessas pesquisas, são compostas por fragmentos de vasilhames, material cerâmico e lítico (objetos líticos, como instrumentos, detritos de produção e adornos) e remanescentes ósseos humanos de pesquisas realizadas na década de 1980 e início de 1990. Todas as peças passam por um processo de higienização, acondicionamento e catalogação, trabalhos que são realizados no Laboratório de Arqueologia do IGPA”. A coleção arqueológica do IGPA está abrigado no Centro Cultural Jesco von Puttkamer, que é uma unidade de extensão do IGPA e contribui para a preservação, conservação e divulgação do patrimônio cultural dos povos pré-coloniais e indígenas brasileiro. O público visitante é diversificado, incluindo pesquisadores, turistas, comunidade indígena e, particularmente, professores e alunos de escolas públicas e privadas dos 3 níveis de ensino. Assim, contribuindo com o desenvolvimento cultural da região, divulgando o patrimônio e as manifestações culturais, abrangendo: Exposições semipermanentes, temporárias e itinerantes; Mostras de vídeos; Palestras; Minicursos; Oficinas; entre outros Eventos culturais. Ver site: http://sites.pucgoias.edu.br/pesquisa/igpa/acervos/acervo-de-arqueologiaAcesso em: 19/11/2014.

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aplicação em diferentes regiões do Brasil tem evidenciado descaminhos que não

têm favorecido a preservação patrimonial e têm causado problemas consideráveis

para a Musealização [das coleções de] Arqueologia”. E assim, esses “descaminhos”,

têm sido bem sugestivos para a problemática que envolve a leitura dos vestígios

arqueológicos, dificultando a interpretação e disseminação do patrimônio

arqueológico dentro e fora das instituições museológicas.

As coleções por serem bens culturais, agregam a sua estrutura física a

possibilidade de reconstrução de ideais, essas configuram valores que podem ser

acrescentados aos bens materiais como parte indispensável para a manutenção de

sua estabilidade. Assim sendo, estes bens culturais deverão ser reconhecidas como

algo que possibilita a transformação ou a reorganização de práticas sociais dentro

das instituições de guarda. Esta estrutura organizacional que envolve a concessão

de endosso deve trabalhar intimamente com os procedimentos de gestão para o

patrimônio arqueológico.

As coleções obtidas, na sua grande maioria, pelo viés do endosso

institucional deverão adicionar a memória associada ao objeto um caráter

excepcional de valor histórico para que elementos suprimidos por algum ato limitado

na gestão, não contribua com a sua degradação. Essa preocupação provém em

respeitar as contribuições ofertadas pelo patrimônio arqueológico que foi testemunho

de uma época existente e que não pode ser representado em sua estrutura fiel, mas

podem ser preservadas por meio de suas características interpretativas, aquelas que

não foram suprimidas.

Por tanto, o endosso institucional é pensado como mecanismo de gestão da

informação para o patrimônio arqueológico, onde este possibilita que pontos

fundamentais, como: a falta de materiais de apoio (informática, papelaria, etc.),

pesquisa e a criação de laboratórios, sejam pensadas e, os seus problemas

minimizados. A estruturação dessas ações, fundamentadas no ato da concessão de

endosso institucional se torna um importante aliado para o desenvolvimento das

futuras pesquisas nas coleções. Assim, todos os procedimentos que fazem parte da

gestão de coleções são de importância vital para que uma instituição que se tornou

responsável por um número de coleções, consiga desenvolvimento e organização

para cumprir a sua função social, que é pesquisar e disseminar as informações

contidas nas coleções.

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3.2. O Panorama Museológico: o caso das Coleções Arqueol ógicas nos

Museus pertencentes à Universidade Federal de Sergi pe

Ao destrinchar a palavra Arqueologia “arque” - antigo e “logos” - estudo, é

possível perceber que ela preconiza em sua síntese, o estudo do antigo, daquilo que

aconteceu no passado, e se reforçada pela idéia de poder dada por Shanks e Tilley

tornar-se uma área que possui o poder de interpretar e justificar as ações humanas.

De maneira mais acentuada a Arqueologia tem “poder” e a capacidade de estudar

os vestígios da cultura material dos povos. Hoje, a Arqueologia não mais está tão

engessada, ela busca explicação complementar nas ações de uma sociedade

contemporânea, a partir da compreensão das relações dos povos sobre os diversos

ambientes. Dessa forma, a Arqueologia é uma ciência social que se destina ao

estudo das sociedades humanas, utilizando como documentos para apreensão

destas sociedades a sua produção simbólico/material (Lumbreras, 1974; Funari,

2006; Costa, 2014).

Segundo Hodder (1999), a cultura material é criada a partir de ações dos

indivíduos ou por um grupo, ela cria e reflete a sociedade. Em sua análise o autor

ainda chama a atenção sobre uma característica que até parece óbvia, porém,

fundamental, a cultura material é feita por alguém, para fazer parte de alguma coisa.

Ela não reflete passivamente a sociedade, ela cria a sociedade a partir das ações

dos indivíduos. Ela não apenas existe, ela produz um ser social, uma sociedade

ativa e não algo passivo ou inanimado. Isso permite lembrar o cuidado que deve ser

assegurado a um bem cultural por meio de alguns mecanismos de gestão, como: o

tratamento da informação; a sua coleta; as formas de pesquisa; as interpretações

dessas descrições; os cruzamentos de dados; as formas preventivas de

conservação e acondicionamento; a instituição que fará a guarda dessa cultura

material; entre outras ações.

Nessas circunstâncias, para salvaguardar uma coleção arqueológica advinda

de qualquer ação de “salvamento”, seja ela proveniente de projeto de arqueologia

por contrato ou acadêmica, esse material vai precisar de um ambiente propício para

a sua análise e interpretação, visando as suas condições atuais e possibilidades de

diálogos. Assim sendo, a pesquisa desenvolvida por este estudo aborda um dos

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pontos fundamentais quando se fala de coleções arqueológicas, focaremos na

gestão de coleções proveniente dos projetos desenvolvidos por meio da arqueologia

por contrato que estão sob a guarda dos museus da Universidade Federal de

Sergipe, que cedeu endosso institucional a esses projetos. Dessa maneira, o olhar

inicial recairá sobre o panorama encontrado logo de imediato a respeito da atual

situação dos artefatos. Consequentemente, a pretensão é de aprofundamento sobre

as questões de salvaguarda, focando nos processos pertinentes a documentação

museológica das coleções, levando-se em conta a análise da documentação

primária e a gestão da informação arqueológica.

Para uma análise mais criteriosa da situação, o estudo de caso se dará sobre

as coleções arqueológicas do “Museu de Arqueologia de Xingó” (MAX/UFS) e do

“Museu do Homem Sergipano” (MUHSE/UFS), ambos, órgão suplementar

pertencente à Universidade Federal de Sergipe (UFS). Estes por sua vez, integram a

estrutura organizacional da UFS, que por ser uma instituição pública de ensino,

possui o compromisso social de formar opiniões e possibilitar o acesso a todos os

interessados em entender os diversos componentes que integram e/ou integraram

as sociedades. Desse modo, tanto os museus quanto a UFS devem instigar a

compreensão sobre a diversidade existente no país, permitindo análises e olhares

sobre as várias faces da cultura material e imaterial.

Na imagem 01, mais a frente, tem-se a fachada do Museu de Arqueologia de

Xingó - MAX/UFS, criado em 2000 a partir de um salvamento arqueológico realizado

nas décadas de 1988, região do Baixo São Francisco, na divisa entre Sergipe, Bahia

e Alagoas. Nessa região, aconteceu à implantação da Usina Hidrelétrica de Xingó,

administrada pela Companhia Hidrelétrica do São Francisco (CHESF).

Consequentemente houve um salvamento que resultou em um quantitativo de

aproximadamente “50 mil objetos/artefatos, de acordo com alguns documentos, em

outros, um valor de 60 mil, descompasso de 10 mil objetos/artefatos que ainda não

possibilitou ao MAX ter um bom conhecimento do potencial de seu acervo”

(MENDONÇA, 2014).

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Imagem 01 - Museu de Arqueologia de Xingó. Foto: Heide Roviene – março 2015

O museu mesmo antes de sua institucionalização sempre foi propagador de

conhecimento arqueológico por meio de pesquisas e exposições, possuindo uma

vasta coleção constituída por cerâmicas, líticos e materiais biológicos – faunísticos,

esqueletos humanos e materiais associados. As atividades foram fomentadas com

trabalhos desenvolvidos por profissionais de variados locais, não só do Brasil como

de outras universidades de diferentes países. Todos engajados por desvendar o

conhecimento contido na região do Baixo São Francisco, situado no nordeste

brasileiro.

No âmbito da Museologia, durante os dez primeiros anos do MAX/UFS após a

inauguração da unidade museológica, o foco esteve direcionado para ações

pertencentes ao viés da comunicação museológica64, mais especificamente

exposições e ações educativas. Neste período, o museu atuou dentro e fora das

suas dependências com relevantes ações de difusão de conhecimento, como por

exemplo, o projeto de ação educativa “O Museu vai a Escola a Escola vai ao

Museu65” que abordava a cultura de povos que viveram na região do baixo São

64 Segundo Bruno (1995:28) a comunicação museológica é um suporte fundamental para a transmissão de ideias, elaboração de conceitos, construção de imagem e apresentação de objetos, contextualizando o ser humano em seu meio natural e cultural, viabilizador de um processo de preservação, que, por sua vez, proporciona a extroversão do conhecimento produzido por meio das investigações. 65 Nesse projeto haviam oficinas direcionadas as práticas arqueológicas onde o aluno tinha contato com réplicas de peças que lembram as que estão expostas no museu e agiam como se fossem o pesquisador no momento de resgate. Dessa maneira este aluno tinha o contato com as ações

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Francisco.

No mesmo contexto, é possível perceber a importância dessa instituição por

meio da sua exposição de longa duração, ainda que com um único tema desde a

sua inauguração. O MAX recebeu 20.049 (vinte mil quarenta e nove) visitantes só

em 201366, o que equivale a cerca de 1.670 (mil seiscentos e setenta) visitantes ao

mês trabalhado pela instituição nesse período. No ano de 2014 o MAX recebeu

18.471 (dezoito mil quatrocentos e setenta e um) visitantes, uma média de 1.539 (mil

quinhentos e trinta e nove) visitantes ao mês. Já no período de janeiro a março de

2015 o MAX recebeu 2.474 (dois mil quatrocentos e setenta e quatro) visitantes em

sua unidade museológica situado em Canindé do São Francisco. Apesar da queda

no número de visitantes (turistas) e do período de “baixa estação” para as escolas, é

uma média considerável para um museu localizado no interior do estado e distante

da capital. Dessa maneira, os números de visitante relatam a importância do MAX no

cenário sergipano e até mesmo nacional e, a sua responsabilidade frente às

coleções e informações de que é detentor.

No que tange a Arqueologia, a maior parte de suas ações foram

desenvolvidas antes mesmo da instauração do museu. Tendo como ponto de partida

o Projeto Arqueológico de Xingó - PAX (vinculado ao empreendimento

desenvolvimentista para a implantação da Usina Hidrelétrica de Xingó), e o

responsável pelo grande quantitativo de coleções coletadas nos sítios arqueológicos

ameaçados pela inundação daquele espaço. Diante dessa gama de artefatos, várias

são as pesquisas, congressos, atividades científicas (monografias, dissertações,

teses e projetos) realizadas para melhor compreender os vestígios do homem que

viveu na região de Xingó.

O desenvolvimento da área arqueológica por meio do estudo dos grupos

humanos que viveram na região do baixo são Francisco, foi intenso, muitos

pesquisadores, estudos e inclusive patrocínios. Tal ação configurou a possibilidade

de fazer do MAX um centro de pesquisa na área de Arqueologia, visando à

estruturação do seu espaço com laboratórios, salas para análise e

desenvolvidas pelo arqueólogo e conhecia mais a fundo as possibilidades de trabalho desse profissional e de sua área de atuação, desvinculando a ideia de apenas caçadores de tesouros e de dinossauros. 66 Dados fornecidos segundo o controle de visitantes feito pela Unidade Administrativa do Museu de Arqueologia de Xingó – MAX/UFS situado na Cidade Universitária Prof. José Aloísio de Campus, em São Cristovão/SE.

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acondicionamento das coleções, e uma exposição de longa duração.

No que se refere ao Museu do Homem Sergipano, esta instituição

museológica foi criada em 1976, com o nome de Museu de Antropologia, passando a

ter a nomenclatura atual em 1996. A imagem 02 retrata a fachada do MUHSE, a sua

arquitetura e o atual estado de sua conservação.

Imagem 02 - Museu do Homem Sergipano. Foto: Heide Roviene – fev.de 2015.

Embora tendo o nome de museu, não possuía espaço físico para as suas

ações, instalando-se em várias localidades, quando em 2004, firmou “moradia” onde

hoje se encontra o prédio67 designado para abrigar a coleção do museu.

No âmbito da Museologia, a exposição sempre foi uma característica do

MUHSE/UFS mesmo quando não possuía um espaço próprio, sempre procurou

disseminar a informação da sua coleção por meio da comunicação. Dessa maneira,

segundo os relatórios de gestão da UFS o MUHSE recebeu em sua unidade

museológica por volta de 6.933 (seis mil novecentos e trinta e três) visitantes no ano

de 2009; 4.760 (quatro mil setecentos e sessenta) visitantes em 2010 e, no ano de

2011, até o primeiro trimestre, período em que manteve as suas atividades recebeu

1.792 (mil setecentos e noventa e dois) visitantes.

67 O prédio do Museu do Homem Sergipano (MUHSE/UFS), situado a Rua Estância, no centro da capital sergipana (Aracaju), antes de ser museu a casa pertenceu à família Sr. Manuel Correia Dantas (1874-1937), usineiro e político sergipano, que governou o Estado de1927-1930. A casa foi Escola de Serviço Social, e em 2004, foi cedida ao museu. (Fonte: www.muhse.ufs.br acesso em 05/06/2014).

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Imagem 03 - Espaço expositivo do MUHSE/UFS. Foto: Ingrid Batista

Os Projetos envolvendo ações educativas, também compõem o histórico de

atuações dessa instituição, como os projetos: “Museu – Escola68”, “ O Museu é o

Palco69” e o “Museu também é lugar de Criança”. Todas essas ações baseadas nas

exposições de longa e curta duração que visavam abordar a cultura material e

imaterial de povos Sergipanos.

Assim, com a pretensão de salvaguardar os registros e testemunhos da trajetória humana existente em Sergipe, desde a pré-história até os dias atuais, o Museu vinha cumprindo função socioeducativa e cultural propondo a disseminação do conhecimento produzido dentro ou fora da UFS, e contribuindo para a formação da consciência dos atores construtores da história, fortalecendo assim questões relacionadas à cidadania e a identidade sergipana. (Fonte: www.muhse.ufs.br acesso: 05/06/2014)

No que tange a Arqueologia, a instituição cedia endossos institucionais a

projetos arqueológicos e consequentemente em alguns momentos de sua atuação

colocava algumas peças em exposição. Possui um número de artefatos ainda

indefinido, porém, com considerável material arqueológico resgatado nesses

projetos, mas infelizmente, com alguns problemas em sua identificação. Segundo

68 Esta ação educativa buscava promover a divulgação do conhecimento, priorizando aqueles relacionados com o Estado de Sergipe. Através de mostras temporárias, itinerantes e de longa duração. (Fonte: www.muhse.ufs.br acesso em 05/06/2014 as 18:09) 69Esta ação educativa era realizada por meio de Teatro de Bonecos, vinculados às Exposições Temporárias. (Fonte: www.muhse.ufs.br acesso em 05/06/2014 as 18:25)

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dados informados em documentos institucionais e no site da própria instituição,

havia em suas bases projetos voltados para a “Documentação e Memória70” e

“Restauração e Preservação da Herança Cultural71”, onde eram realizadas

identificação, catalogação das fontes documentais relacionadas a temas sergipanos

e questões da Museologia, resultando em coleções sobre memórias, transformadas

em inventários e publicações. Entretanto, a instituição passou e passa por muitos

percalços.

Imagem 04 - Prédio do MUHSE. Foto: Heide Roviene – Fev. de 2015.

Na imagem 04, foram destacados alguns dos problemas na sua estrutura

física (rachaduras e infiltrações) que não permitiam a entidade, condições de

salvaguardar as coleções sob sua responsabilidade, assim em 2011, o museu

precisou fechar as portas e realocar as suas coleções em outros ambientes. O

material arqueológico, destacado na imagem 05 e 06, foram para o Laboratório do

Departamento de Arqueologia da UFS (Campus de Laranjeiras/SE), e as outras

coleções, que rememoravam a cultura e religião de regiões de Sergipe foram para o

Centro de Cultura e Arte – CULTART/UFS, conforme ofício expedido em 2013.

70 No projeto de Documentação e Memória compreendia as seguintes etapas: Inventário do acervo museológico; organização do arquivo sobre o Museu Homem Sergipano; organização do arquivo de documentação arqueológica. (Fonte: www.muhse.ufs.br acesso em 05/06/2014 as 20:32) 71 No projeto Restauração e Preservação da Herança Cultural era realizada a salvaguarda de peças arqueológicas e históricas, incorporando-as as exposições, evitando assim o seu desaparecimento. (Fonte: www.muhse.ufs.br acesso em 05/06/2014 as 20:09).

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Imagem 05 - Coleção proveniente do MUHSE e, realocada no lab. do Dep.

de Arqueologia /UFS. Foto: Heide Roviene (agosto de 2014)

Apesar de projetos e ações que visam a organizar e estruturar o museu, no

que consiste a gestão da informação para o patrimônio arqueológico, muitas são as

limitações para essas coleções, principalmente, no que se refere aos dados

primários, que dessa forma, afetaram o desenvolvimento cientifico tanto do MUHSE

quanto do MAX, ponto em comum nesses museus.

Neste âmbito, as entidades museológicas pertencentes à Universidade

Federal de Sergipe não são muito diferentes entre si, e nem entre outras entidades

do Brasil. Problemas envolvendo poucos profissionais ou falta de diálogo entre os

mesmos, não estimulam novas interpretações sobre as coleções; espaços não

condizentes ou superlotados para acondicionar as coleções não possibilitam um

controle mais efetivo sobre o potencial delas; dentre outras situações que interferem

na cadeia operatória de procedimentos técnicos e científicos. O procedimento de

aquisição referente a determinados tipos de coleções, torna-se um fator

determinante dos vários momentos de como será a relação museu/coleção/

informação sobre o patrimônio.

Ao analisar as entidades MAX e MUHSE percebemos que ambos os museus

apesar de pertencerem a uma Universidade Federal, os diálogos com as áreas do

conhecimento que possibilitem uma melhor estruturação desses espaços não são

bem definidos. Por exemplo, em relação ao corpo técnico, mesmo com a

possibilidade de possuir estagiários e profissionais de diversas áreas do

conhecimento trabalhando junto em um processo de interface, não é isso que a

situação atual dessas coleções relata. Ambas as entidades (MAX e MUHSE)

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possuem problemas nas ações de gestão de coleções. Mesmo diante da intenção

em criar projetos como os já citados pelas instituições, as dificuldades em manter as

regularidades das ações, principalmente por questões que envolvem a estrutura

organizacional desses museus foi algo determinante.

Problemas envolvendo a não atualização e/ou complementação das

informações sobre as muitas coleções que possuem, repercute diretamente nas

suas exposições de longa, média, curta duração e na itinerante. É imprescindível

que os museus renovem as suas exposições, e para isso, os procedimentos

pertencentes à gestão de coleções, como a pesquisa e a documentação

museológica, que buscam evitar que o retrocesso ou a estagnação chegue a essas

instituições. A ausência desses procedimentos em conjunto com a insuficiência

financeira, pequenos número de profissionais e de manutenção do espaço físico de

um museu, também pode levar uma instituição a fechar as suas portas e, ser

obrigada a passar a tutela de suas coleções para outra entidade (caso do MUHSE).

Imagem 06 - Coleção proveniente do MUHSE, realocada no lab. do Dep. de

Arqueologia/UFS. Foto: Heide Roviene - agosto de 2014.

Na imagem 06, é possível ver alguns objetos de tipologias diferenciadas que

foram transferidos do MUHSE para o Laboratório do Departamento de Arqueologia.

Essas coleções por sua vez, possuem como documentação primária, pouquíssimos

dados, como essas etiquetas informando a tipologia do material e o projeto que fez a

sua coleta. Esse é o caso de muitos museus, laboratórios ou instituições, eles

sofrem com ausência de perspectiva, de procedimentos de gestão de coleções que

não foram realizados e, precisará praticamente recomeçar, devido à falta de

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condição de saber o básico sobre o material que agora irá salvaguardar – o

quantitativo de coleções.

Só que, de acordo com determinadas ações, como no caso da Arqueologia,

não existe recomeço quando a informação associada é perdida. Segundo Lima

(2007, p.10), peças arqueológicas, uma vez perdidas as informações sobre sua

origem – ou seja, as referências estratigráficas, espaciais e cronológicas, bem como

as associações com objetos e estruturas no solo escavado, deixam de ter qualquer

valor para a Arqueologia . E, Lima continua:

Torna-se impossível recuperar o contexto da sua pro dução, utilização e deposição, justo o que permite entender o funcion amento de sistemas socioculturais extintos . Só escavações cientificamente controladas permitem resgatar esses dados, fundamentais para que se extraia deles algum sentido. Perdas de contextos, como dizem Brodie & Gill, é perda de conhecimento científico. No caso, irrecuperável .

Posto isso, não há como voltar e refazer a escavação e reconstruir as

camadas estratigráficas em que as coleções foram encontradas. Toda a ação frente

a esse tipo de trabalho tem que ser pensada e organizada, visando evitar problemas

futuro.

Da mesma forma, após algum tempo e devido à ausência de auxílios

financeiros importantes (patrocínios), o MAX também foi acometido por momentos

difíceis. As dificuldades em realizar algumas ações, inclusive as museológicas,

como: a salvaguarda das coleções foi um dos maiores problemas enfrentados até o

momento. Desde o ano de 2010, o museu está tentando ultrapassar barreiras e

realizar um processo de reformulação, ação que teve inicio ainda na gestão do

Professor Dr. Albérico Nogueira de Queiroz e com apoio da Professora Drª. Elizabete

de Castro Mendonça, em uma atuação em interface entre as áreas de Arqueologia e

Museologia, que visava analisar o procedimento referente à gestão de coleções

dentro do MAX.

Sendo assim, foi realizado o projeto de pesquisa no período de 2009 - 2012:

“A musealização do patrimônio arqueológico em Sergipe: estudo de caso sobre os

processos de documentação no Museu de Arqueologia de Xingó72” que tinha como

72 Este projeto contou com uma bolsa remunerada PIBIC/FAPITEC/UFS no período de agosto de 2010 a julho de 2011, uma voluntária PICVOL/UFS no período de agosto de 2011 a fevereiro de 2012 e uma bolsa remunerada do Programa de Inclusão à Iniciação Científica (PIIC/UFS) de setembro de 2011 a julho de 2012 para o sub-projeto "Musealização do acervo do Museu de Arqueologia do Xingó:

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proposta analisar a cadeia operatória de procedimentos museológicos de

salvaguarda aplicada ao acervo deste Museu. O foco central era a reflexão sobre

estratégias, métodos e processos de documentação que poderiam ser estruturados

pela instituição como modelo para o gerenciamento das informações arqueológicas

e museológicas relativas aos objetos/coleções que formam seu acervo.

Estas preocupações dialogam diretamente com a temática desse estudo,

porque, apesar do MAX/UFS ser um museu de referência no cenário nacional no

que tange a comunicação museológica, durante anos, a ausência de ações diretas

de salvaguarda (documentação e conservação) das coleções resultou em um

Inquérito Civil Público (ICP), como bem relata a disposição e o ambiente que acolhia

as coleções na imagem 07.

Imagem 07 - “Reserva técnica” do MAX/UFS (Canindé do São Francisco/SE).

Foto: Heide Roviene - março de 2014

Tais inquéritos foram movidos pelo Ministério Público de Sergipe (MP-SE), em

ação que se faz presente também no Ministério Público Federal (MPF), visto que

estamos falando de patrimônio arqueológico, caracterizado pela Lei 3.924/61 com

bens da União e a entidade envolvida pertencente a uma instituição federal, e

ambos os processos contestam a atuação da UFS e da Eletrobrás Chesf frente ao

manuseio, tratamento, salvaguarda, resumindo, gestão de coleções.

Em sequência, visando atender as exigências do Ministério Público Federal

documentação museológica dos materiais cerâmicos". Tendo como integrantes: Elizabete de Castro Mendonça – Coordenador, Albérico Nogueira de Queiroz, Olivia Alexandre de Carvalho, Heide Roviene Santana dos Santos, Vitória Bispo Carvalho, Neverton da Cruz Santos. E, como agencia Financiadora: Universidade Federal de Sergipe - Bolsa / Fundação de Apoio à Pesquisa e à Inovação Tecnológica do Estado de Sergipe - Bolsa.

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(MPF) frente à necessidade em organizar procedimentos para a gestão de coleções,

foi idealizado o projeto de extensão: “A musealização do patrimônio arqueológico em

Sergipe: arrolamento dos achados arqueológicos que constituem a coleção do

Museu de Arqueologia de Xingó”. Este projeto tinha o objetivo de inventariar o

acervo em Reserva Técnica do Museu de Arqueologia de Xingó, possibilitando

definir o quantitativo e a tipologia dos objetos existentes. O projeto contava com dois

professores de Arqueologia (Albérico Nogueira de Queiroz e Olivia Alexandre de

Carvalho), uma professora de Museologia (Elizabete Mendonça), cinco alunos de

Arqueologia e cinco alunos bolsistas de Museologia73, tendo vigorado no período de

novembro de 2011 a abril de 2013.

Infelizmente, a gestão da Universidade não conseguiu arcar com a estrutura

mínima solicitada para o desenvolvimento dos trabalhos (translado e hospedagem

dos bolsistas em Canindé do São Francisco, local no qual se encontra o espaço de

guarda das coleções do museu), tal fato comprometeu o cronograma do projeto.

Como mediação, foi realizado inventário do acervo do MAX que estava em fase de

análise pelos professores do Departamento de Arqueologia e por isto localizados no

Campus de Laranjeiras.

Ainda na busca para atender as exigências do MPF, em 2014, houve um

concurso público para preenchimento de três vagas de arqueólogo e uma de

museólogo. Contar com estes profissionais lotados na Unidade de Canindé de São

Francisco possibilitou a ação de inventário ser retomada e ganhar força. Com

algumas reformas na sua unidade museológica, em Canindé do São Francisco,

como mostra a imagem 08, o MAX está buscando estruturar os espaços

denominados pelo museu como: Reserva técnica e Laboratório para material Lítico,

Cerâmico e Osteológico, todos em processo de organização.

Anteriormente, esses espaços como bem mostra a imagem 07, era um local

que não condizia com a estrutura básica para realizar a salvaguarda de coleções

(controle de temperatura e umidade, imobiliário, documentação museológica de

coleções, entre outros itens), hoje se busca a possibilidade de estruturar esse

quadro, embora as ações estejam no principio, ver imagem 08.

73 Durante o período de vigência desse projeto de extensão, atuaram como bolsista de extensão da UFS os seguintes alunos de Museologia: Vitória Bispo Carvalho, Iara Amandha Rocha, Avilane Santos Cruz, Tuanny Meira Dias, Marina de Castro Novena Corrêa, Laelze Santos Oliveira, Gerlandia Dias dos Santos, Patrícia Aparecida dos Santos. Cabe destacar que as bolsas não foram renovadas a partir do primeiro semestre de 2013 e por isto a ação foi encerrada.

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Imagem 08 - Reserva técnica e laboratório, material cerâmico – MAX.

Foto: Heide Roviene – março de 2015.

Com a chegada dos novos profissionais, o momento de reestruturação no

MAX/UFS se intensifica. Após a sua inauguração em 2000, não houve mudanças na

sua exposição, e hoje está procurando reorganizar a forma como o dialogo entre as

coleções e os visitantes acontecem. Com novas perspectivas, esta procura instigar

os seus visitantes a um contato mais próximo com as coleções expostas, fazendo

com que o público toque os objetos arqueológicos, assim, provocando neles novas

sensações, olhares e até novas interpretações sobre algum objeto ou fato

arqueológico. Na imagem 09, os visitantes estão tendo contato com uma peça em

material lítico, assim são provocas sensações e curiosidades sobre a sua utilidade.

Imagem 09 - Área expositiva do MAX. (Canindé do São Francisco/SE)

Foto: Heide Roviene – março de 2015.

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Consequentemente, esse redimensionamento na sua exposição de longa

duração também está dando um novo impulso no “olhar” museológico do MAX, ação

fundamental, e importante nas atividades do museu. No entanto, quando realizado o

processo de gestão de coleções, a exposição terá sempre ao seu alcance novos

itens e dados para fazer a sua alimentação. É imprescindível destacar que esforços

para a melhoria das ações institucionais, científicas e para a comunicação por meio

da exposição estão sendo feitas, contudo, é preciso que o MAX/UFS adentre as

estruturas da sua missão organizacional, e assim, reforme a forma como o museu vê

a sua política de gestão de coleções. É preciso que diante dessa nova perspectiva

“o museu [reveja] a sua estrutura de funcionamento por meio de distintos modelos

de gestão jurídica, administrativa e, sobretudo de gestão interna dos processos e

programas de ação” (SPECTRUM 4.0, 2014: 20).

Diante da situação das coleções e da necessidade de procedimentos de

gestão, tem-se a UFS, por ter concedido o endosso institucional e tornar-se a

responsável pela tutela do patrimônio, e a Chesf pelo fato do material ser resultante

de impactos ambientais causados por um projeto desenvolvimentista de sua

responsabilidade - PAX. Contudo, o MPF cobra ações diretas em reserva técnica

que possibilitem a salvaguarda (documentação e conservação) do patrimônio

arqueológico. Sendo a responsabilidade da UFS pela guarda de todo o material sob

a tutela do MAX. As cobranças pertencentes à segurança, disseminação, pesquisa,

salvaguarda e local apropriado para o acondicionamento das coleções, recaem

sobre ele, não importando tanto sobre quais ações foram realizadas, já que é

obrigação daquele que cedeu o endosso institucional em conjunto com os seus

parceiros realizar, mas quais ações deixaram de ser feitas, “ausências” que no

momento implicam sobre o atual estado das coleções arqueológicas.

Situação não menos importante é a enfrentada pelo MUHSE/UFS, a

instituição, está com suas portas fechadas devido a vários problemas, sendo um dos

mais agravantes a impossibilidade de acondicionar as coleções de variadas

tipologias (Arqueologia, Antropologia...), pois, a sua unidade museológica precisa

urgentemente de reparos na sua estrutura física. Caixas foram alocadas no

Laboratório do Departamento de Arqueologia da própria UFS. As coleções precisam

ser organizadas (lítico, cerâmico,...), e os estagiários que atuam no laboratório

precisam realizar a identificação por tipo, classe ou qualquer que seja a forma,

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apesar dessa ação ter o apoio de alguns professores interessados, essa

abrangência precisa chegar a todo o material ali guardado.

O MUHSE enquanto entidade de guarda, devido a várias dificuldades, que

envolvem o seu corpo técnico, e a ausência de documentação primária das

coleções, não conseguiu ampliar a pesquisa sobre elas. E, mesmo que as

informações que acompanharam as coleções permitissem o fato, o museu já vivia

em condições econômicas complicadas. Assim, a procedência documental dessas

coleções não oferece muitas condições e informações para o Laboratório de

Arqueologia, dificultando um pouco dos seus trabalhos.

Cada ato desenvolvido sobre um bem arqueológico proporciona a este mais

uma forma de interpretação, e, consequentemente, esse mesmo bem terá a

“oportunidade” de ativar vozes que por meio do tempo ficaram caladas. Da mesma

forma, se não houver os atos que instiguem a interpretação do patrimônio

arqueológico, as perdas de informações serão indiscutíveis e incontestáveis. As

diferentes abordagens sejam elas de pequeno, médio, ou grande porte sobre as

coleções, podem evidenciar o comportamento cultural e o cotidiano referente à

produção cultural de uma sociedade.

Portanto, como mencionou Hodder (1999) “a cultura material é resultante de

ações humanas e foi criada para fazer parte de algo, de uma sociedade ativa”, não

podendo permanecer da forma como está em várias entidades museológicas de

Sergipe, estagnadas. Os museus quando se tornam guardiões, possuem o

comprometimento com as coleções e, não podem permitir que “a grande tarefa do

museu” contemporâneo, “que é a de fazer [uma leitura clara] de modo a aguçar e

possibilitar a emergência (onde ela não exista) de uma consciência crítica, de tal

sorte que a informação passada pelo museu facilite a ação transformadora do

homem” (Guarnieri, 1990:07), e o ajude a compreender o quão importante é no seu

meio, através de elementos existentes pertencente a cultura material de diversos

grupos sociais.

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3.3 O Patrimônio Arqueológico e a sua Musealização: Premissas para uma

melhor Gestão de Coleções.

Os problemas e as soluções envolvendo coleções arqueológicas e/ou

museológicas não é um caso específico de uma única entidade museológica,

município, estado, região ou país. Coleções auxiliam na produção de conhecimento;

trazem responsabilidades; caos quando não são pensadas as suas “necessidades”;

memórias que se tornam esquecidas ou jamais reveladas; lazer; benefícios ou ate

mesmo malefícios para comunidades ou instituições; dentre outras ações. É

importante pensar que uma entidade museológica recebe coleções de variadas

procedências, como: doações, trocas,... e, coletas que, por meio de diversos

projetos de salvamento arqueológico, é uma ação que leva para uma instituição um

grande número de coleções, que ela não tem o conhecimento da tipologia, estado

de conservação e pesquisa, quando cede o apoio institucional – endosso, caso de

uma considerável parte das coleções sob a guarda do MAX/UFS e as provenientes

do MUHSE/UFS.

Quando essas coleções passam a integrar um espaço museológico, a

perspectiva é que a instituição apresente um local propício para o

acondicionamento, tenha condições de criar diálogos que possibilite o conhecimento

das suas particularidades. Sem esses preceitos básicos, leva a uma preocupação

considerável sobre os próximos passos para a manutenção e gestão dessas

coleções como vestígio arqueológico. Dessa maneira, se a instituição não se

resguardar buscando meios que lhe possibilite tratar as coleções quando ceder o

endosso institucional, poderá colocar os “processos museológicos em rotas

labirínticas” (Bruno, 2014, p.04). Consequentemente, vê-se que algumas instituições

que possuem um grande contingente de coleções passam por problemas na

documentação museológica das suas coleções, ação que caracteriza limitação do

conhecimento, e dificuldades em dialogar com o patrimônio arqueológico.

Neste contexto, há várias problemáticas que envolvem as coleções, ou seria

apenas a ausência da gestão destas quando são entregues as instituições

museológicas a única responsável pela confusão, inúmeras vezes instaladas nesses

ambientes? De acordo com Renfrew & Bahn, (2004: 487), há indagações que

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precisam ser pensadas, eles perguntam, de quem é o passado? Da Arqueologia ou

do público? Eles colocam uma série de questões gerais, mas que nos permitem

pensar que, além das responsabilidades, do arqueólogo por este ter o primeiro

contato com o artefato e, consequentemente, dos seus parceiros de ações, é preciso

pensar nas questões éticas que envolvem essas coleções, a saber: De quem é o

passado? De quem é a posse? Os descendentes desse patrimônio, quem são?

Quem deve cuidar desse patrimônio, o arqueólogo ou um grande museu de algum

país? Segundo a reflexão dos autores “o passado é um grande negócio: para o

turismo e para as casas de leilão. Possuem uma enorme carga política, é poderoso

e é significativo desde o plano ideológico”. Sendo assim, é preciso ter cuidado com

as estratégias que estão se dando em cima desse bem, com as explanações. Estes

objetos são passíveis de interpretações, consequentemente possibilitam construir

momentos da atividade humana, eles representam grupos, mas que a depender da

ausência de uma boa pesquisa, poderá cair em uma destruição sistemática,

justamente por não ser um “bem renovável”.

Seriam também os museus os melhores ambientes para a sua guarda, ou

seriam apenas as características que os rodeiam que disseram serem eles a melhor

opção? Há momentos, em que as instituições não conseguem fazer os

procedimentos de salvaguarda que as coleções necessitam por ausência de

condições técnicas, administrativas e financeiras, ações que levam um museu a não

cumprir com as suas funções de guardião das coleções. Um ponto bem nítido

provém do conceito do que é museu, definido pelo Conselho Internacional de

Museus, “ICOM” onde este o caracteriza como:

Uma instituição de caráter permanente, sem fins lucrativos, ao serviço da comunidade e do seu desenvolvimento , aberto ao público e que adquire, conserva, divulga e expõe, com objetivos científicos, educativos e lúdicos, testemunhos tangíveis e intangíveis do homem e do seu meio ambiente.

Sem dúvidas, o museu é uma entidade social que se habilita a contribuir de

variadas formas com a segurança das coleções e de seus colaboradores, por isso,

precisa que aqueles que tendem a fazer parcerias com ele, o ajudem a cumprir a

sua função básica – preservar. Mas, quando estes, devido a algumas razões

expostas na sua definição oficial, não podem ou não conseguem se manter, as

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coleções são (re)alocadas em outros ambientes, que poderão ou não fazer com que

o patrimônio arqueológico seja disseminado.

Um exemplo de caso é o das coleções pertencentes ao Museu do Homem

Sergipano (MUHSE/UFS), essa unidade museológica precisou fechar as suas portas

e consequentemente as suas coleções realocadas em outro ambiente, um

laboratório, mesmo esse sendo de Arqueologia, ponto importante para o tratamento

eficiente das coleções, mas não o único. O outro caso é o do Museu de Arqueologia

de Xingó (MAX/UFS), instituição que é alvo de muitas pesquisas, porém uma parte

considerável das suas coleções ainda encontra-se sem documentação, e estas

ainda não foram colocadas em exposição. Isso porque não basta apenas um local

para acondicionamento, mesmo que este seja da mesma tipologia das coleções

(apesar de ser um ponto forte para o processo de salvaguarda), o principal é uma

instituição conhecedora das especificidades das suas coleções, em conjunto com

um trabalho consciente e integrado entre todos os atores e procedimentos que

poderão fortalecer a sua estrutura museológica.

Paulo Fogolari (2009) em seu livro “Gestão em Projetos de Arqueologia”, fala

sobre vários pontos que envolvem a Arqueologia, os empreendedores, os

arqueólogos e os responsáveis pelo salvamento do patrimônio arqueológico. Ele em

um desses momentos, fala sobre o acesso ao conhecimento científico e técnico

pertencente às coleções, chamando a atenção para o processo de gestão e também

as implicações decorridas pela ausência de clarezas durante esse procedimento,

discorre:

A ação dos pesquisadores sobre os bens arqueológicos encontra não uma lacuna entre palavras e atos, mas uma inversão de sentido: o que deveria ser público, em larga escala torna-se privado, e pode ser medido pela prática enraizada de alguns pesquisadores da arqueologia em omitir dados em relação ao patrimônio arqueológico, que vão desde o não registro dos sítios arqueológicos, conforme norma legal, até a resistência em tornar transparente ao órgão normalizador e fiscalizador os custos financeiros envolvidos na pesquisa de contrato de um bem público, como o é o bem arqueológico. (Bastos apud Fogolari, 2009: 90)

Diante deste pensamento mais arrojado, e de todas as ações que ajudam a

inviabilizar a gestão de coleções, vê-se que mesmo com avanços nos estudos

arqueológicos para aperfeiçoar o seu trabalho, principalmente, frente aos órgãos que

atuam em conjunto, pouco ainda é fundamentado para garantir efetivamente os

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processos de gestão, esse que é apenas um pequeno item, no meio de tantos

outros comportamentos. Dai fica a incógnita, o que fazer e como agir diante de todo

esse achado arqueológico que foi resgatado e depositado em diversos locais, frente

a tantas condutas?

Uma das grandes dificuldades observadas nas ações pertencentes às

coleções arqueológicas que são depositadas em museus é justamente a prática, a

ausência ou a limitação dos procedimentos de gestão para as mesmas. As coleções

são resultados de relações, trocas e influências que resistiram ao tempo e

permaneceram com a finalidade de fazer ecoar as práticas enraizadas de

determinados grupos, assim sendo, precisam relatar a sua resistência e o seu

caminho, são as culturas materiais de um povo. E assim, mesmo entre entraves,

ainda hoje, um dos locais mais indicados para a salvaguarda das diversificadas

coleções são os museus. Isso se dá, em especial, por desenvolver ações de

pesquisa e salvaguarda, estimuladas por via da cadeia operatória, relacionadas ao

patrimônio em questão. Eles são os responsáveis, por muitas informações

divulgadas para os diferentes públicos, e sobre os resultados nos processos de

comparação ou (re)interpretação a respeito do significado comportamental dos

dados arqueológicos, por vários séculos.

Quando esses achados ficam acondicionados em laboratórios, o

conhecimento sobre essas coleções são amortecidos. Ou seja, em um laboratório ou

qualquer que seja o ambiente que não tenha condições, pretensões ou não tenha

como prática efetiva de trabalhar com a exposição das idéias pertencente às

coleções, estará diminuindo a possibilidade de conhecimento, interpretações e até

mesmo análises precisas, ou não, sobre essas coleções. Mesmo com todas as

limitações pertencente a um museu, esse sempre busca trabalhar e levar o

conhecimento pertencente a essas coleções para um público variado e com diversos

níveis de aprendizado. Os espaços não museológicos, mesmo que bem planejados,

delimitam a interação das coleções com qualquer que seja o interlocutor, e no caso

dos laboratórios, os achados arqueológicos ficam praticamente, apenas, aos

cuidados da comunidade acadêmica, bem como a circulação das suas informações.

Uma forma de modificar essa situação é incluir uma base de dados on line que

também é reconhecida como uma ação de comunicação museológica. Esta por sua

vez, estimula que o pesquisador consulte diferentes bases de dados, ao mesmo

tempo ele poderá ter acesso a informações e contribuir para a atualização destas,

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ou ampliando a correção de dados – desde que estes dados sejam repassados para

a instituição que complementará as informações na base.

Dessa forma, vê-se que o patrimônio arqueológico exige diversas ações

estratégicas e convida ao planejamento, porém, o grau de exigência é nítido e

diferenciado quanto ao tempo e aos resultados. Contudo, o item qualidade

determina que os méritos devam ser atribuídos a forma como o trabalho será

desenvolvido, buscando resultados definidos conforme o estado das coleções. Não

se pode e nem se deve dizer que todos trabalham da mesma forma e, que toda a

problemática envolvendo a ausência ou falha na gestão de coleções é de

responsabilidade apenas daqueles que atuaram nos projetos de arqueologia ou nos

museus, por exemplo, só é pertinente lembrar que todos os envolvidos dividem a

mesma parcela de bônus ou ônus.

Mas, o que será que está faltando para que todas as partes cumpram as suas

funções? Seria condições técnicas e de pessoal para fazer cumprir todos os

comprometimentos que lhes são inerentes? Muitas são as indagações, entretanto, é

preciso pensar nos parâmetros já utilizados, e, se as questões existentes no que se

refere à gestão de coleções por parte daquele que está cedendo o endosso, precisa

ser redirecionado ou novamente definido. Nunca ter medo de decidir ou repensar,

antes, durante e logo depois do desenvolvimento dos projetos arqueológicos, as

ações para a melhoria nos procedimentos de gestão de coleções. Sempre pensar

que as coleções não podem se tornar meros objetos sem vida em espaços

museológicos, laboratório ou qualquer que seja o ambiente.

No mínimo é preciso garantir a disseminação das coleções como fonte de

informação. A instituição deve exigir a cópia do projeto e do relatório final entregue

ao IPHAN – previsto na Portaria IPHAN 7/1988 (Art. 12, III). Outro aspecto relevante

a ser abarcado no protocolo é a indicação de recursos financeiros mínimos para

atividade de salvaguarda a ser custeada no âmbito do projeto endossado. É

pertinente dizer que cada portaria de autorização/permissão expedida não possui

um número definido de artefatos que serão “salvos de uma destruição” e nem

poderia, como escolher o que será ou quantos serão “resgatados”? Mas, certamente

essas ações devem refletir maneiras de trabalhar as coleções para uma posterior

forma de comunicação sobre elas, principalmente, no momento da concessão do

endosso institucional, no qual as entidades cedentes terão responsabilidades sobre

as coleções ad æternum.

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Dessa maneira, vê-se a necessidade de sempre pensar em mecanismos e

procedimentos que possam contribuir para uma melhor gestão de coleções em

museus. Assim, chamamos a atenção para alguns detalhes elencados nos itens

pertencentes ao Sistema Spectrum 4.0. De acordo com esse sistema, foi

estabelecido um padrão com normas para as suas coleções, instigando ser de

impreterível valor, que uma unidade museológica trace a sua política de gestão de

coleções, onde nesta deverá está descrito os requisitos do contexto legal (legislação

pertinente, convenções internacionais e códigos de ética), como forma de orientação

básica e complementar para atividades a ser desenvolvida no museu.

Em sua estrutura, o Spectrum 4.0 adquire a responsabilidade de destrinchar

mecanismos que podem ser assumidos por diversas unidades museológicas. A sua

experiência em mais de 100 museus europeus, permite que outros museus, em

qualquer outra localidade, possam ser adequados as suas necessidades. Diante

disso, destacamos segundo o Spectrum 4.0 oito procedimentos primários, que foram

organizados tendo em vista, uma melhor visão sobre os itens que compõem a

estrutura básica para a gestão de coleções, a saber:

• Entrada do objeto74;

• Aquisição75;

• Controle de localização e de movimentação76;

• Catalogação77;

• Saída do objeto78;

• Empréstimo – entrada79;

74 Este procedimento, segundo o Spectrum 4.0 permite a avaliação de potenciais de aquisições antes da sua chegada à organização (museu). Informações a ele associado que ainda não fazem parte das coleções, inclusive um número atribuído para a sua organização dentro da instituição (2014:31). 75 Este procedimento, segundo o Spectrum 4.0 permite Documentar e gerenciar a adição de objetos e informações a eles associadas às coleções da organização e a sua eventual incorporação nas coleções permanentes (2014:40). 76 Permite localizar qualquer objeto a qualquer momento. A localização é o lugar específico onde um objeto, ou grupo de objetos, se encontra dentro da instituição (armazenado ou exposto), (2014:48). 77 Este procedimento permite a compilação e manutenção de informações-chave, que identificam e descrevem formalmente os objetos. Pode incluir informações sobre a procedência dos objetos e também da documentação de gestão de coleções, por exemplo, detalhes da aquisição, conservação, exposição e histórico de empréstimos e de localização. Não é necessário reunir toda a informação conhecida sobre um objeto num local, mas deve fornecer referências cruzadas para qualquer outra fonte de informação relevante conhecida da organização, (2014:55). 78 Nesse procedimento, deve-se garantir que sejam respeitados ao menos, os requisitos legais e a política organizacional quando os objetos deixam as suas instalações, (2014:90).

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• Empréstimo – saída80;

• Documentação retrospectiva81.

Dentre esses procedimentos, destacamos a importância de todos, mas vemos

como peça fundamental, critérios extras no item “procedimento de uso das

coleções”. Nesse item, vê-se que a documentação e o gerenciamento de todas as

formas de uso e serviços pautam-se na organização das coleções e objetos. Estes

incluem “exposição, manuseio de coleções educativas e funcionamento dos objetos,

pesquisas e investigações, reprodução e uso comercial dos objetos e de arquivos

documentais associados” (Spectrum 4.0, 2014:83). Esse procedimento chama a

atenção sobre a necessidade de revisão e analise periódica das ações

desenvolvidas nas coleções e a relação de todos os envolvidos como: os usuários,

voluntários, pessoal da instituição, buscando a valorização das coleções e o melhor

tratamento.

A instituição deve ter em suas bases vários procedimentos técnicos82

organizados para que as suas coleções possam doar muito mais do que se é

79 Neste momento o ato de gerir e documentar o empréstimo de objetos pelos quais a organização é responsável durante um período de tempo específico e para uma finalidade especifica que é habitualmente a exposição, mas também pode ser a pesquisa, a conservação, a ação educativa ou o registro fotográfico (2014:34). 80 A documentação e gerenciamento do empréstimo de objetos a instituições, ou indivíduos, por um período de tempo e finalidade específicos, habitualmente exposição, mas também pesquisa, conservação, fotografia e educação, (2014:93). 81 A melhoria do nível de informação sobre objetos e coleções para satisfazer as Normas Mínimas do SPECTRUM por meio da documentação de novas informações relacionadas. A finalidade principal deve ser a atribuição de responsabilidades e o estabelecimento das condições de acesso, (2014:108). 82 São procedimentos técnicos definidos pelo Sistema Spectrum 4.0, a saber:

• Procedimento de pré e entrada do objeto; • Procedimento de empréstimo; • Procedimento de aquisição; • Procedimento de controle de inventário; • Procedimento de controle de localização e de movimentação; • Procedimento de transporte; • Procedimento de catalogação; • Procedimento de verificação e avaliação técnica do estado de conservação; • Procedimento de conservação e preservação das coleções; • Procedimento de gestão de riscos; • Procedimento de gestão de seguro e indenização; • Procedimento de controle de avaliação; • Procedimento de auditoria; • Procedimento de gestão de direitos;

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possível ver, apenas por suas atribuições intrínsecas, e, estes devem entrar em

consenso com as reais necessidades da instituição. A noção sobre os itens, como:

controle de inventário; localização e movimentação; catalogação; gestão de riscos

ou até mesmo de perdas de objetos ou danos sofridos, são cuidados de inteira

responsabilidade da instituição.

Assim sendo, nesse momento, a instituição “precisa tomar medidas para

evitar/prevenir perdas ou danos; e garantir que todas as decisões e ações de

resposta da organização aos danos ou perdas sejam totalmente documentadas”

(Spectrum 4.0, 2014: 99). Tudo faz parte de um campo maior que abrange o

procedimento de gestão de coleções, no caso do patrimônio arqueológico que não

podem ser reconstruídos, ou seja, não são renováveis, a parcela de

responsabilidade, ainda se estende a contextos mais gerais, como as leis e portarias

que atuam nessa preocupação.

A instituição museológica que irá fazer a guarda dessas coleções é a mola

propulsora para o procedimento de gestão de coleções de Arqueologia, garantindo

assim, a importância da disseminação das informações de que é responsável.

Segundo Roberts (2004, p.42), em artigo sobre Inventário e Documentação, afirma

que um dos recursos essenciais para gestão de coleções é a existência de uma

documentação precisa e acessível. Essa ação é uma grande arma que as

instituições têm ao seu favor, principalmente quando contestadas se são a melhor

opção para a manutenção e salvaguarda das coleções. Tendo em sua estrutura

básica de administração, o processo de gestão de suas coleções bem definido,

certamente ela saberá até aonde poderá ir para a obtenção de coleções e,

consequentemente na concessão de endossos institucionais.

A musealização do patrimônio arqueológico que é uma consequência de atos

e procedimentos frente às coleções é uma ação que lhe confere potencialidade. As

coleções arqueológicas, quando inseridas em um museu, lhe é acrescido o título de

“bem cultural material musealizado”, isso se dá por seu valor próprio, pelo

significado que lhe é atribuído e, por sua “fundamental importância para a memória,

• Procedimento de uso das coleções; • Procedimento de saída do objeto; • Procedimento de empréstimo; • Procedimento de perdas e danos; • Procedimento de desincorporação e alienação; • Procedimento de documentação retrospectiva.

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a identidade e a criatividade dos povos e a riqueza das culturas” (UNESCO). O

processo de musealização, que é visto aqui como mais um importante fator que

integra a gestão de coleções, só se dá em uma instituição museológica, que traz em

suas bases diárias esses comportamentos técnicos e científicos (pesquisa,

documentação, conservação, disseminação das informações,...), para uma boa

execução de suas atividades cotidianas.

Por fim, a gestão de coleções é de importância vital para que uma instituição

que protege o patrimônio arqueológico consiga desenvolvimento e organização para

cumprir a sua função básica. Ela deve ser pensada como algo essencial, e que

contribui para o fortalecimento da área arqueológica, e para que a coleção seja

musealizada e compreendida em sua totalidade. A gestão possibilita que a

disseminação da informação aconteça de forma fluida e contínua, permitindo à

população da atualidade conhecer processos culturais de determinados grupos

sociais, e conseguintemente, fortalecendo e preservando identidades culturais.

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CONSIDERAÇÕES

Neste momento, onde as considerações sempre são parciais e os olhares

podem ser cada vez mais refinados, este trabalho se detém sobre a perspectiva de

analisar os mecanismos empregados para o gerenciamento das informações

relativas às coleções do campo arqueológico coletadas no âmbito da arqueologia por

contrato via Universidade Federal de Sergipe. Dessa maneira, buscou-se averiguar

os procedimentos de gestão e se estes interagem com as diretrizes das áreas de

Arqueologia e Museologia no que tange a documentação museológica das coleções.

Nesse sentido, um dos primeiros passos foi identificar o panorama do

processamento técnico das coleções arqueológicas coletadas por meio da

arqueologia por contrato no que tange a relação documentação museológica e

informação arqueológica, nos museus universitários federal do estado de Sergipe.

Aliado a essa ação, buscou-se também analisar como o conteúdo informacional

presente no processo de gestão de coleções (documentação museológica) interage

com as pesquisas arqueológicas. Daí procurou-se com essa pesquisa, compreender

quais os mecanismos de gestão das informações empregadas nas coleções

arqueológicas coletadas por meio de projetos de arqueologia por contrato e sob a

tutela dos museus da Universidade Federal de Sergipe, no que tange a

documentação museológica das coleções.

Nesse âmbito, desde a escolha sobre o objeto de estudo, procuramos

referenciar o processo de interface entre as áreas da Arqueologia com a

Museologia, visto que, o nosso olhar recai sobre coleções arqueológicas em um

ambiente museológico, daí, a importância do diálogo entre as áreas. Buscamos

apoio em importantes autores do ramo da Museologia, principalmente aqueles que

trabalham gestão e musealização de coleções arqueológicas, e da Arqueologia para

que estes nos norteiem sobre os princípios base dessa área do conhecimento.

Apoiamos-nos no Shanks e Tilley, Trigger e no Ian Hodder onde estes nos instigam

a compreender as relações entre os pesquisadores e a cultura material dos

indivíduos. Nesta perspectiva, vemos a complexidade que envolve a organização

para uma boa interpretação dos vestígios quando esses são pertencentes a um

projeto de “salvamento” arqueológico, visto que a compreensão dessas coleções

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sofre diretamente a influência do pesquisador, do meio no qual foi resgatado, as

condições de laboratório, profissionais e do tempo restrito para a execução do

projeto arqueológico.

Pensando nessas coleções, foi percebida a importância de adentrar o

universo museológico dos museus que possuem a tutela desse patrimônio cultural, e

no caso desse estudo da instituição que mais cedeu endosso institucional no Estado

de Sergipe, a UFS e consequentemente os seus dois museus, a saber: Museu de

Arqueologia de Xingó (MAX/UFS) e Museu do Homem Sergipano (MUHSE/UFS).

Foi possível observar problemas referentes à gestão de coleções arqueológicas

nessas instituições, problemas esses que partiram desde o momento que os museus

receberam as coleções, e em muitas coleções, mesmo antes de chegarem ao

museu. No decorrer de toda a análise nos deparamos com questões desafiadoras,

como a distância percorrida de Aracaju até a cidade de Canindé do São Francisco

onde são mais de 200 km para ter acesso as coleções pertencentes ao MAX, por

exemplo. No caso do MUHSE, apesar da distância não ter influenciado a pesquisa,

nos deparamos com uma situação inusitada, problemas envolvendo a estrutura

física do prédio que acomodava o museu, fez com que esse fosse desativado e as

coleções transferidas para o Laboratório do Departamento de Arqueologia da

Universidade Federal de Sergipe (UFS), em Laranjeiras/SE.

Porém, o desafio maior estava em ter acesso aos instrumentos que foram

organizados na intenção de realizar algum dos procedimentos de gestão dessas

coleções, como algo envolvendo a identificação do quantitativo e da tipologia das

coleções pertencentes à UFS. Mesmo por ser uma universidade, e a possibilidade

de diálogo com profissionais das mais variadas especialidades, inclusive com outras

universidades, essa ação também não foi muito desenvolvida, apesar disto ter

acontecido em inúmeros trabalhos arqueológicos, dos quais a UFS cedeu o endosso

institucional – tendo também a instituição em muitos casos sido a responsável pelo

próprio projeto de arqueologia.

Para analisar a gestão de coleções arqueológicas nos museus da

Universidade Federal de Sergipe, e sobre as ações que compreendem esse

momento buscou-se na relação Arqueologia e Museologia, possibilidades para a

compreensão e gestão do patrimônio arqueológico, e defendemos a necessidade de

trabalhar a interface entre essas áreas do conhecimento, procurando conexões para

a disseminação da informação arqueológica. Nesse momento, além de ver o

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processo de interface com algo importante, nos amparamos nesse processo para

que a abordagem frente às coleções possa ser compreendida e, diminua a

possibilidade de interpretações equivocadas.

Nesse sentido, para elucidar nosso olhar sobre as coleções arqueológicas e

as suas particularidades, buscamos amparo sobre alguns aspectos da legislação

brasileira para a proteção do patrimônio arqueológico. Percebemos o quão é

importante conhecer e se utilizar de uma legislação própria a respeito do patrimônio

arqueológico. Problemas há, entretanto, é preciso permanecer atento aos muitos

casos que permitem brechas e que poderão fragilizar ações para a salvaguarda dos

vestígios arqueológicos. Um dos elementos pertencentes à legislação brasileira que

merece muita atenção e foi destacado nesse estudo é a concessão de Portarias de

permissão ou autorização, sendo essa igualmente compreendida aqui, como um

item do processo de proteção ao patrimônio arqueológico. Esse componente legal

por sua vez, contribui para o trabalho de “salvamento” arqueológico, e assim, vemos

como esse item de segurança também pode ser “destrutivo” ao patrimônio

arqueológico, a depender da forma como o resgate se dá e das ações posteriores a

ele.

Referenciamos a arqueologia por contrato, devido ao grande contingente de

coleções que normalmente advém dessas empreitadas. Ação vista também nos

museus pertencentes à UFS, chamando a atenção para Sergipe. É possível ver que

em apenas uma única portaria de permissão ou autorização, que pretende “salvar”

as coleções, quando não pensados os mecanismos de gestão, isso se transforma

em um problema maior. As concessões de endosso institucional complementam a

nossa análise sobre os procedimentos de salvaguarda referente aos componentes

legais para as coleções, e nos faz ver que essa ação, ainda precisa ser mais

organizada pela instituição que cede o apoio e que a mesma deve elaborar um

protocolo mínimo da concessão de endosso.

Cabe também ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional -

IPHAN, como autarquia federal e órgão responsável pela proteção do patrimônio

nacional, instruir, organizar e providenciar punição aos descasos com o patrimônio.

Assim, além da Lei federal 3.924/61, tem-se dentre outras leis, normas, portarias,

decretos e, instrução normativa, como a: nº001 de 2015 que recentemente foi

estabelecida como mais um meio de organizar os trabalhos com o patrimônio

arqueológico. Esta Instrução Normativa chama atenção sobre os procedimentos

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administrativos a serem observados pelo IPHAN, quando instado a se manifestar

nos processos de licenciamento ambiental federal, estadual e municipal em razão da

existência de intervenção na Área de Influência Direta - AID do empreendimento em

bens culturais acautelados em âmbito federal. Estando o endosso institucional como

um desses componentes legais para o andamento dos trabalhos arqueológicos em

campo, e para a emissão das portarias de permissão ou autorização que são

cedidas pelo IPHAN.

Frente a tudo isto, fora observado também o panorama museológico de

Sergipe, destacando a situação das coleções arqueológicas nos museus

pertencentes à Universidade Federal de Sergipe. Nesse momento, os olhares

recaem sobre um procedimento de gestão mais especifico, sobre a documentação

museológica das coleções arqueológicas, que estão nas unidades museológicas da

UFS. Ou seja, a documentação museológica é compreendida como um

procedimento essencial de gestão da informação e do patrimônio arqueológico, que

por meio de suas ferramentas, possibilitam aos museus, aos laboratórios, centro de

pesquisas ou qualquer que seja o ambiente comprometido com a salvaguarda e

disseminação dessas coleções, um conhecimento mais abrangente da vida antes e

pós-entrada desse material nas instituições. Reforçarmos a ideia do trabalho da

Arqueologia e da Museologia para uma ação eficiente na gestão de coleções

arqueológicas a ser musealizada. Sempre com a perspectiva de que se faça nas

coleções a identificação, pesquisa, salvaguarda e disseminação das informações,

visando a sua preservação.

Já que o patrimônio arqueológico é um vestígio de um grupo ou sociedade, e

que é passível de interpretação, e sendo, justamente a gestão desses “relatos” que

configuram a necessidade de realizar o salvamento, a pesquisa, e a salvaguarda

das coleções de Arqueologia, pertencente ao MAX e os provenientes do MUHSE.

Devido à complexidade de trabalhar com coleções arqueológicas, pois, cada

tipologia de material é bastante especifica, exigindo grande conhecimento,

buscamos nos familiarizar com as melhores possibilidades para trabalhar esses

desafios, e perceber a existência ou ausência dos procedimentos de gestão.

Atualmente, o MAX passa por um momento de reestruturação de seus

espaços físicos e da maneira de atuação sobre os procedimentos de gestão. Apesar

do esforço por parte daqueles que fazem essa instituição a situação na qual essas

coleções foram acondicionadas, e pela perda de informações no momento do

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resgate, não retirou as suas coleções de um perigo iminente. É preciso constante

cuidado até com o local que irá acomodar essas coleções, devido a instabilidades de

alguns componentes que fazem esses materiais.

Situação muito parecida envolve a coleção advinda do MUHSE e realocadas

no Laboratório do Departamento de Arqueologia da UFS. As coleções não possuem

um inventário, e consequentemente essas não estão identificadas, não se tem

muitas informações sobre ao menos, um quantitativo exato dos materiais

pertencentes a um projeto ou sítio arqueológico. Situação pertencente ao MAX

também, sendo que, este vem tentando reverter com o inventário de suas coleções

essa situação. Mas o inventário é só o primeiro momento para que seja realizada a

catalogação e a documentação museológica das informações arqueológicas e,

consequentemente a padronização dos dados, informatização e disseminação da

informação.

Por conseguinte, com o intuito por compreender a situação das coleções

arqueológicas nos museus da universidade federal de Sergipe, esse estudo buscou

trabalhar os dados coletados com as pesquisas realizadas sobre o quantitativo de

endossos institucionais e portarias de permissão ou autorização emitidas pelo Banco

de Portarias de Arqueologia do Serviço de Gerenciamento do Patrimônio

Arqueológico – (BPA/SGPA/IPHAN); Cadastro Nacional de Sítios Arqueológicos do

Serviço de Gerenciamento do Patrimônio Arqueológico – (CNSA/SGPA/IPHAN); e no

site do Diário Oficial da União – DOU, e com a superintendência regional do IPHAN

de Sergipe.

Nesse momento, além de focar nas ações desenvolvidas pelas atividades nas

áreas de Arqueologia e de Museologia, sobre a documentação museológica como

um procedimento de gestão de coleções arqueológicas musealizadas em Sergipe,

buscamos traçar o panorama atual das coleções do MAX e as provenientes do

MUHSE em relação aos dados alcançados com a pesquisa desenvolvida junto ao

BPA, CNSA e, DOU. Consequentemente, igual a muitos outros Estados da região

nordeste e do Brasil, vimos o crescente número de projetos arqueológicos se

fazendo, e vimos também que as condições das instituições de guarda em Sergipe

passam por muitos momentos fortuitos. Problemas que passam por várias etapas e

chegam aos museus, como: a deficiência na estrutura organizacional dos projetos e

por parte dos museus no momento da concessão de endosso; o quantitativo de

permissões/autorizações se a instituição não tiver condição de tutelar essas

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coleções; os sítios ainda a serem vistoriados por parte do IPHAN e problemas

envolvendo a localização destes, ou seja, não foram cadastrados por não terem sido

vistoriados e confirmados, dentre outros casos, todos influenciam nas pesquisas

futuras dessas coleções e na complementação de dados a ser organizada pelos

museus.

As coleções arqueológicas, de acordo com esse estudo, além da necessidade

de passarem por um processo de documentação museológica, como parte

fundamental para a gestão e musealização dessas coleções, precisam que as

instituições que cedem o endosso incluam normas e controles de aquisição (coleta,

doação, legado, empréstimo e permuta); classificação; registro; inventário;

catalogação; controle de movimentação; pesquisa; e se preciso descarte. Como já

destacado no corpo da dissertação, esses procedimentos são importantíssimos para

que um museu, ou qualquer que seja a instituição que terá a tutela dessas coleções,

se comprometa com uma gestão de coleções eficiente. Ações que auxiliarão essas

instituições na melhoria dos seus registros documentais, situação que precisa ser

pensada e colocada em prática.

Nesse sentido, vimos que muitos são os desafios no que diz respeito ao

trabalho arqueológico em conjunto com o museológico. Procedimentos e normas

precisam ser discutidos e ponderados. Os desafios estão por toda a parte,

principalmente dentro das “reservas técnicas” de muitas instituições, onde as

coleções “sofrem” com ausências dos processos de gestão. Sem conhecer o

passado, as sociedades de hoje, não compreenderão muito o amanhã e,

desconhecerão a cultura material dos povos pretéritos.

Para tanto, este estudo vê a necessidade de inclusão dos procedimentos de

gestão de coleções em todas as unidades museológicas que acondicionam o

patrimônio arqueológico. Pois, a ausência das atividades de gestão ligadas aos

objetos, é uma ação que traz grande preocupação sobre a forma como alguns

trabalhos são realizados, principalmente, quando essa ausência de procedimentos

de gestão, impede que as coleções cumpram o seu papel social. Infelizmente,

muitas são as ações (econômica, política e até cultural) que impedem uma gestão

de coleções eficiente, mas já que todos os agentes envolvidos nessas ações

arqueológicas - estão envolvidos – é preciso que eles encontrem a melhor forma

para preservar as coleções resgatadas, que estão sob a sua tutela.

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É preciso ter consciência que os objetos arqueológicos só vão para os

museus, centros de pesquisas, laboratórios ou outros ambientes, se conduzidos por

algum agente do processo de patrimonialização, no entanto, eles não falam por si

só, precisam que os pesquisadores arqueólogos e museólogos façam as suas

análises e as façam ser conhecidas. Dessa maneira, mais uma vez reforçamos a

necessidade de atuação conjunta entre as diversas áreas do conhecimento

comprometidas com a salvaguarda das coleções arqueológicas, principalmente a

Arqueologia, por ser aquela que faz o salvamento e é detentora do primeiro contato

com as coleções, e a Museologia por tornar-se normalmente, a responsável pela

disseminação das informações arqueológicas nos museus.

Por fim, destacamos ainda, a necessidade de atuação compartilhada, visto

que, ambos os profissionais que atuam nesse meio, devem se preocupar com “o

futuro dos acervos” empenhando-se na gestão e documentação relativa às coleções

arqueológicas. Portanto, discussões sobre aspectos técnicos, descritivos, práticos,

interpretativos e metodológicos devem ser pertinentes aos mais variados casos

envolvendo as coleções arqueológicas, antes, durante e depois de serem iniciados

os trabalhos museológicos.

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ANEXO

Imagem 10 – Ficha extraída do “Manual de Normas. Documentando Acervos Africanos” -

AFRICOM/ICOM