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1 Universidade Federal de Sergipe Campus Universitário Prof. José Aluízio de Campos Núcleo de Pós-Graduação em Ensino de Ciências e Matemática Concepções dos Licenciandos em Química da Universidade Federal de Sergipe (UFS) sobre a contextualização crítica numa perspectiva de ensino CTS Éverton da Paz Santos São Cristovão, SE. 2015

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Universidade Federal de Sergipe

Campus Universitário Prof. José Aluízio de Campos

Núcleo de Pós-Graduação em Ensino de Ciências e Matemática

Concepções dos Licenciandos em Química da Universidade

Federal de Sergipe (UFS) sobre a contextualização crítica numa

perspectiva de ensino CTS

Éverton da Paz Santos

São Cristovão, SE.

2015

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FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA CENTRAL

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

S237c

Santos, Éverton da Paz

Concepções dos licenciandos em Química da Universidade Federal de Sergipe (UFS) sobre a contextualização crítica numa perspectiva de Ensino CTS / Éverton da Paz Santos; orientadora Marlene Rios Melo . – São Cristóvão, 2015.

78 f.

Dissertação (mestrado em Ensino de Ciências Naturais e Matemática)– Universidade Federal de Sergipe, 2015.

1. Professores - Formação. 2. Química – Estudo e ensino. 3. Pedagogia crítica. I. Melo, Marlene Rios, orient. II. Título.

CDU 371.13:54

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Éverton da Paz Santos

Concepções dos Licenciandos em Química da Universidade

Federal de Sergipe (UFS) sobre a contextualização crítica numa

perspectiva de ensino CTS

Dissertação apresentada à banca examinadora do

programa de pós-graduação em Ensino de

Ciências e Matemática da Universidade Federal

de Sergipe como requisito para a obtenção do

título de mestre.

Orientadora Prof a. Dr

a. Marlene Rios Melo.

São Cristovão-SE.

2015

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DEDICATÓRIA

Dedico a produção deste trabalho à minha querida e admirável orientadora Profª. Drª.

Marlene Rios Melo que acreditou em mim, recebeu-me com muita dedicação e afeto, e

mostrou-me caminhos para que eu pudesse trilhar, e por me fazer refletir sempre sobre os

valores humanos e o respeito a todos os seres vivos. Sou muito grato pela sua humildade,

respeito, carinho e determinação, o que me fez ser e o que sou até o momento na minha vida

acadêmica. Muito obrigado por confiar em mim e no meu caráter, e por me fazer entender

qual a importância do meu papel enquanto pesquisador com o compromisso com a

cidadania.

Aos meus pais José Aldo dos Santos (im memoriam), e minha mãe Everalda da Paz, pela

educação e princípios transmitidos desde a minha infância, me ensinando os valores morais

que carrego e sempre levarei comigo. Aos meus irmãos Flávia e Flaviane, Aldo Júnior e

Carlos André, por acreditarem em mim e entenderem a minha ausência em alguns momentos

na construção deste trabalho. Amo vocês, meus manos.

Aos meus irmãos e família na Fé da Igreja Pentecostal Unida do Brasil, a qual faço parte

desde a minha adolescência, obrigado pelas orações e cuidados, sobretudo, pelos momentos

maravilhosos de socorro e de incentivo que pude receber de cada um de vocês. Aos meus

líderes Pr. José Ribamar e Miss. Rosa Cleide.

Aos meus colegas de turma do NPGECIMA-UFS (2013-2015), pelos momentos de

discussão em cada disciplina cursada, e pelas trocas de experiências e desabafos.

À família Soares, na pessoa de Dona Adelice Santos, “minha outra mãe”, desde 1996,

quando a conheci, pelo incentivo aos estudos ainda no Ensino Fundamental, juntamente com

George Soares, seu filho, meu professor de estágio, pelo respeito e carinho dado até hoje.

E por fim, aos meus amigos Ablene e Laudelino, Everton Debas e Joelma Ramos, João

Marcos, Vanessa, Janaína, Bruna e Gezyel, por contribuírem com o meu crescimento

pessoal, com as discussões de vários assuntos quando eu mais precisava, principalmente por

entender e acreditar no meu sonho. Obrigado pelos momentos de alegrias e reencontros,

pelos trabalhos apresentados em congressos, pela companhia nas viagens, pelo respeito e

atenção.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço ao meu Deus por conceder-me a saúde e a coragem para lutar a cada dia na

construção de um mundo melhor, pelo dom da vida e por me permitir aprender com os

outros. Pela proteção e direcionamento nas minhas decisões e escolhas pessoais. Pelo

encorajamento nos momentos difíceis, erguendo-me quando mais precisava.

Incansavelmente, sou grato ao meu DEUS que, por mim tudo executa, e por me

proporcionar este momento maravilhoso em minha vida.

Ao programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências e Matemática da Universidade

Federal de Sergipe, especificamente ao DQI-Departamento de Química, aos licenciandos, os

quais foram sujeitos desta pesquisa, que me receberam com seriedade e empenho nos

momentos incansáveis da coleta de dados desta pesquisa.

A todos os professores do NPGECIMA, pelas experiências partilhadas e contribuições para a

pesquisa durante o período de cursos das disciplinas.

À FAPITEC-SE, pela concessão da bolsa de estudo durante um ano.

Ao professor Drº Edson José Wartha e a professora Dra. Maria Inez Oliveira Araújo por

participarem da minha qualificação e defesa, pelas valiosas contribuições para o

melhoramento desta pesquisa.

A todos que contribuíram de alguma forma para a realização e conclusão desta pesquisa.

Muito Obrigado a todos!

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Conheço as tuas obras; eis que diante de ti pus uma porta aberta, e ninguém a

pode fechar; tendo pouca força, guardaste a minha palavra, e não negaste o

meu nome.

Apocalipse 3:8

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RESUMO

Este trabalho se propõe a investigar as manifestações interpretativas de um grupo de

licenciandos em Química da Universidade Federal de Sergipe, sobre contextualização crítica

na perspectiva educacional CTS, a partir de uma leitura de referenciais teóricos que se

comprometem com esta abordagem. Além disso, avaliar o que ficou destas leituras

realizadas, a partir da análise e leitura da produção textual dos licenciandos, diante das

concepções manifestadas e dos discursos escritos, apoiados na Análise Textual Discursiva.

Para tanto, foram selecionados três artigos que se complementavam, tendo o mesmo autor

principal. Após as leituras dos artigos, os licenciandos produziram um texto e responderam

um questionário que discorria sobre a contextualização crítica e abordagem CTS. Os

resultados obtidos possibilitaram a criação de categorias, a priori, e categorias emergentes a

partir da análise dos dados coletados por meio das manifestações discursivas dos

licenciandos, sendo possível enquadrar e categorizar estes discursos, que se distanciaram do

conceito de contextualização crítica, defendida pelo autor e por nós, apontando um avanço

ainda muito tímido diante da intervenção realizada, uma vez que, a prática da leitura e

escrita é pouco valorizada na formação destes licenciandos.

Palavras Chaves: Contextualização Crítica, CTS, Formação de Professores;

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ABSTRACT

This study aims to investigate the interpretive demonstrations of a group of undergraduates

in chemistry at the Federal University of Sergipe, on the critical context within the Science

Technology and Society (STS) educational perspective, using a reading of theoretical

frameworks that are committed to this approach. Also, this study aims to evaluate what was

absorbed from these readings by reading and analysing textual production of

undergraduates, given the expressed views and written speeches, supported by the Textual

Analysis Discourse. To this end, three articles were selected that were complementary, with

the same lead author.. After reading the articles, the undergraduates produced a text and

answered a questionnaire that discussed the critical context and the STS approach. The

results enabled the creation of categories and emerging categories from the analysis of data

collected through the discursive manifestations of undergraduates, which can frame and

categorize these speeches, which distanced themselves from the concept of critical

contextualization, championed by the author of the text and by the author of this study,

pointing to a still very timid advance on the intervention performed, as reading and writing

practice is undervalued in the education of these undergraduates.

Key words: Context Criticism, STS, Teacher Training;

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SUMÁRIO

1 Introdução....................................................................................................12

2 A leitura científica na formação de Professores de Ciências..................20

3 Contextualização: Conceito, Implicações e Problemas.............................28

3.1 Contextualização crítica numa perspectiva CTS........................................ 42

4 Metodologia...................................................................................................50

4.1 Contexto da Pesquisa...................................................................................50

4.2 Caráter da Pesquisa..............................................................................52

4.3 Caracterização dos sujeitos da pesquisa...............................................53

4.4 Instrumentos de Coleta de dados.................................................................53

4.5 Categorias a priori da leitura dos artigos.....................................................53

5 Análise e Discussão dos Resultados............................................................55

5.1 Resultados da 1ª etapa.................................................................................55

5.2 Análise dos discursos das produções textuais dos licenciandos..................57

5.3 Resultados da 2ª etapa.................................................................................63

6 Considerações e Indicações da pesquisa.....................................................69

Referências.......................................................................................................72

Anexos...............................................................................................................76

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Lista de Abreviaturas

SBQ- Sociedade Brasileira de Química

SBPC- Sociedade Brasileira Para o Progresso da Ciência.

RASBQ – Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Química.

ENFOPE – Encontro de Formação de Professores

UNIT- Universidade Tiradentes

EDUCON- Encontro de Educação e Contemporaneidade.

UFS- Universidade Federal de Sergipe.

CTS- Ciência-Tecnologia-Sociedade.

CTSA- Ciência-Tecnologia-Sociedade-Ambiente.

EA- Educação Ambiental.

DCNEM- Diretrizes Curriculares Nacional para o Ensino Médio.

OCEM- Orientações Curriculares Nacional para o Ensino Médio.

ATD- Análise Textual Discursiva.

ENEQ- Encontro Nacional em Ensino de Química.

PCN- Parâmetros Curriculares Nacionais.

PEQUIS – Pesquisa Química e Sociedade

UNB-Universidade de Brasília

Lista Quadros:

Quadro 01: Análise das Aproximações e complementações dos artigos utilizados na coleta

de dados. Página 56

Quadro 02: Análise dos discursos das respostas dos licenciandos a partir dos questionários.

Página 64.

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1 Introdução

Discutir a contextualização no ensino de ciências, particularmente, no ensino de

química, não é algo tão inovador. Isso não significa dizer que não seja relevante continuar

discutindo e pesquisando sobre esta temática. Observa-se que muitos pesquisadores tem

despertado o interesse em entender como e de que forma podem contribuir com a melhoria

da qualidade do ensino em todos os seus níveis, Lutfi (1988,1992), Wartha e Alário (2005);

Santos e Mortimer (1999); Lopes (2002); Silva e Marcondes (2007); Santos (1992; 2007;

200) Santos et al (2010), buscando a contextualização como uma ferramenta de ensino,

capaz de ser utilizada durante a abordagem dos conteúdos disciplinares.

No entanto, é percepcível críticas que muitos autores fazem ao entendimento

simplista por parte dos professores a partir do que se lê e entende por contextualizar. Muitas

vezes, esse entendimento compromete a sua vida enquanto docente, visto que, as

dificuldades em adaptar uma mediação de um conteúdo nem sempre torna-se possível. Um

exemplo muito presente nos discursos de professores de várias áreas é o conceito de

“Contextualização”. Esses professores entendem a necessidade de contextualizar o ensino

em sua prática docente, mas, na maioria das vezes, não entendem qual a relevância ou a

finalidade de utilizar o conceito, e de contextualizar um conteúdo, visto que, o que se faz é

uma mera ilustração com exemplos do cotidiano dos alunos.

Santos (2007) faz uma crítica de como a abordagem contextualizada no ensino de

ciências tem sido discutida nas escolas, uma vez que, os alunos, são treinados para a

resolução de questões que envolvem cálculos e memorização, com classificação de nomes

complexos e fenômenos químicos, apontando assim, uma visão restrita ao “cotidiano escolar

dos alunos”.

Muitos professores consideram o princípio da contextualização como

sinônimo de abordagem de situações do cotidiano, no sentido de descrever,

nominalmente, o fenômeno com a linguagem científica. Essa abordagem é

desenvolvida, em geral, sem explorar as dimensões sociais nas quais os

fenômenos estão inseridos [...] Da mesma forma, se ilustra exemplos do

cotidiano de processos de separação de materiais como catação, mas não se

discute os determinantes e as consequências do trabalho desumano de

catadores em lixões do Brasil. (SANTOS, p.4, 2007).

Esse entedimento simplista era utilizado nas minhas aulas enquanto aluno de

graduação, durante o período dos estágios supervisonados em Química, em escolas públicas

de Aracaju-SE, onde tive a oportunidade de vivenciar esta realidade no Ensino Fundamental

e no Ensino Médio. Durante o planejamento e execução das minhas aulas, buscava

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aproximar sempre o conteúdo a ser ministrado com materiais encontrados no cotidiano dos

alunos, isso porque, já tinha em mente muitos discursos ouvidos em palestras e congressos

de educação e ensino, sobretudo de formação de professores, que o professor sempre deve

estar preparado para alcançar o aluno diante do conteúdo a ser ensinado de alguma forma.

Essa preocupação, na minha visão, apontava para um ensino contextualizado, o que

me levou a escrever os meus primeiros trabalhos desenvolvidos neste campo envolvendo a

contextualização. Nesta perspectiva simplista muito questionada no ensino de Ciências

destaco, dentre eles, os trabalhos: “A contribuição de Recursos Didáticos para o

aprendizado de alunos do 9º Ano (EJAEF): Associação entre Experimentação e Palavras

Cruzadas”.(Santos et al, 2010) publicado na forma de pôster, nos anais da Reunião Regional

da SBPC-Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência. No ano seguinte,desenvolvi um

outro trabalho também publicado como pôster, na 34ª Reunião Anual da Sociedade

Brasileira de Química(SBQ), o trabalho “Elaboração de Produtos de Limpeza: Uma

proposta para o Ensino de Funções Químicas” (Santos et al; 2011). O primeiro trabalho

citado foi fruto das atividades desenvolvidas no estágio curricular em Ciências no Ensino

Fundamental, especificamente numa turma de 8ª série ( 9º ano) de uma escola pública. O

segundo trabalho foi oriundo do estágio em Química no Ensino Médio, também numa escola

pública estadual.

Esse contato com a sala de aula e a proposta inovadora, vista assim pelos professores

da escola, bem como pelos alunos, me fez mais interessado em trilhar por este caminho:

ensinar a Química de maneira diferente do que os alunos já haviam estudado. Fazendo-me

repensar sobre as diferentes formas de abordar os conteúdos químicos, buscando, sobretudo,

uma postura também diferenciada na vida deles. Ainda neste contexto vivido, outros

trabalhos surgiram, os quais, continuava apontando indícios de uma abordagem

contextualizada, sendo, portanto: A contextualização no ensino de química no Ensino

Médio: um estudo de caso no Colégio Estadual Presidente Costa e Silva (Santos, Aquino e

Guedes, 2011) publicado no 4º Encontro de Formação de Professores na Universidade

Tiradentes(ENFOPE-UNIT) e A contextualização como ferramenta didática no ensino de

química (Santos; Silva França e Silva, 2012) publicado no VI Colóquio Internacional de

Educação e Contemporaneidade da Universidade Federal de Sergipe (Educon-UFS).

Através destas experiências com a produção dos trabalhos publicados e participação

dos eventos da área de ensino de Química e afins, pude perceber que o conceito de

contextualização reproduzido no meu discurso estava diretamente relacionado com a

utilização de exemplos e materiais do cotidiano dos alunos e com enfoques experimentais,

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de modo que, a atenção destes, fosse direcionada para as aulas, às quais, especificamente,

estava ministrando durante o período de estágio. Embora pudesse alcançar um resultado

relativamente satisfatório com os alunos durante as aulas, pois, estava apresentando uma

nova forma de expor o conteúdo, diferente do modelo tradicional de ensino visto nas

escolas, e que boa parte dos professores, os quais conheci, não se utilizavam de tais recursos

em suas aulas, ou queixavam-se do tempo destinado a elaboração e utilização de materiais

didáticos, apropriando-se apenas do livro didático em sala de aula.

Através das leituras constantes de teóricos como Santos (1992); Santos e Mortimer

(1999); Santos (2007; 2008), pude perceber o quanto as minhas concepções, até aquele

momento, defendidas e difundidas, impregnadas nos trabalhos sobre a temática

contextualização voltada para o ensino de química, era apenas uma visão simplista e

superficial sem aprofundamento, apontando apenas alguns indícios possíveis de várias

discussões para realização de futuras investigações de pesquisa. Foi a partir destas questões

que fiquei inquieto; de como este conceito e discurso é visto no ensino Superior, uma vez

que, na minha formação, a discussão sobre a importância da contextualização no ensino ou

para o ensino não ficou muito clara.

Especificamente passei a questionar, como seria possível abordar esta temática na

formação de professores de química na universidade? Qual o conceito de Contextualização

ensinado pelos professores formadores de professores de Química? Assim, busquei dividir

essas inquietações com a professora formadora e orientadora na ocasião, para mim oportuna,

uma vez que, ela já havia refletido sobre a sua própria experiência praticada nos cursos de

vestibulares, principalmente na formação docente nos cursos de Bacharelado e Licenciatura

em Química nas universidades nas quais atuou, sempre buscou apresentar e utilizar novas

possibilidades e recursos durante as aulas e avaliá-las sobre o quanto tem contribuído para

formação de novos profissionais.

Considerando isso, sugeri a professora formadora que utilizasse em uma de suas

turmas de Estágio Supervisionado um livro didático titulado “Química Cidadã” (Santos et al

2010), tendo como autor principal um dos referenciais que eu havia lido, o qual aponta a

contextualização com enfoque voltado ao ensino da Ciência-Tecnologia-Sociedade(CTS), o

meu objetivo era entender como os licenciandos lidavam com a proposta utilizada pelo

autor durante a abordagem dos conteúdos químicos, diante da mediação de aulas realizadas

por eles com alunos do Ensino Médio, o que nos rendeu a produção de um trabalho: A

utilização do livro didático química cidadã na formação inicial de professores: um relato de

experiência do Estágio Supervisionado (Santos, Melo e Santos, 2014), o qual foi

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apresentado no Encontro de Educação e Contemporaneidade da Universidade Federal de

Sergipe (Educon-UFS). Através da realização deste trabalho pude perceber, de forma clara,

que os licenciandos apresentaram os mesmos problemas enfrentados por mim durante a

minha formação, ao entendimento e abordagem contextualizada, apontando dificuldades em

entender a proposta contida no livro.

Ainda inquieto e sem resposta, percebi que a abordagem metodológica, por mim

utilizada, precisava de uma contribuição científica um pouco mais relevante para a pesquisa

realizada até aquele momento, visto que não apresentava um caráter investigativo, uma vez

que, os licenciandos não estavam preparados para entender e acompanhar o livro didático

indicado, assim como, apontaram para um entendimento também simplista sobre a

contextualização e a abordagem CTS em seus discursos. Diante desta busca e inquietação

constante, e com várias discussões junto à professora formadora, produzimos mais um

trabalho envolvendo a formação de licenciandos em Química numa outra turma, porém, na

universidade, titulado por: A evolução das concepções de um grupo de licenciandos em

Química sobre contextualização através da análise de livros didáticos (Santos e Melo,

2014) publicado no Encontro Nacional do Ensino de Química (ENEQ) em Ouro Preto-MG.

Com a realização deste último trabalho, ficou claro para mim que não bastava incluir

diferentes propostas e materiais didáticos voltados ao ensino de forma contextualizada, se os

nossos alunos não estão acostumados com esse modelo de ensino, uma vez que, são

direcionados a uma formação fragmentada com diferentes conteúdos curriculares, que

priorizam a memorização e reprodução, não apresentando uma visão crítica do que está

sendo ensinado, ou seja, o licenciando deve ser preparado para “ensinar Química”, como e

de que forma ele irá ensinar, não é uma preocupação prioritária no pensar de muitos

professores formadores.

Freire (1987, 2002) discute e propõe a importância do ensino por meio de temas

geradores a partir das relações sociais do aluno, de modo que seja valorizada a fala do

educando, e as relações professor/aluno, contrapondo uma educação bancária, ou seja,

aquela em que o aluno seja um depósito de informações e o professor aquele que transmite o

conhecimento. Além disso, as relações sociais e realidade do indivíduo, são de suma

importância na construção do seu mundo, através da transformação dessa realidade,

mediante as suas atitudes e capacidade de criação e decisão, logo, aponta para uma formação

do cidadão crítico, por meio de uma educação transformadora e libertária, a qual defende Paulo

Freire.

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A partir das relações do homem com a realidade resultantes de estar com

ela e de estar nela, pelos atos de criação, recriação e decisão, vai ele

dinamizando o seu mundo. Vai dominando a realidade. Vai humanizando.

Vai acrescentando a ela algo de que ele mesmo é o fazedor. Vai

temporalizando os espaços geográficos. Faz cultura. (FREIRE, 1999, p.51).

Esse entendimento tornou-se mais claro diante das realizações dos trabalhos, nos

quais, os licenciandos precisavam entender primeiramente o que é contextualizar e como

seria uma abordagem contexualizada no ensino de química, além de entender qual a

relevância desta temática na sua formação, consequentemente na formação do aluno

enquanto cidadão que vive num ambiente cercado de mudanças e transformações, sobretudo,

situações reais que estão diretamente relacionadas com o ensino de Ciências,

especificamente no ensino de química.

Acredito que uma forma de entender situações reais envolvidas no ensino de química

e em área afins, é que se faça leituras, interpretações e posicionamentos diante da realidade

vivida, uma vez que, a leitura é um processo de obtenção de informação e incorporação de

ideias, que apresentam diferentes interpretações diante o que se lê. Entendo que a partir do

momento que o licenciando entende e interpreta o que lê, busca escrever as suas

compreensões e expõe o que sabe ou entende sobre aquilo que se lê, e esse leitura deve ser

entendida com uma visão de mundo. De acordo com Freire (1997,p. 9) “a leitura do mundo

precede a leitura da palavra, daí que, a posterior leitura desta, não possa prescindir da

continuidade da leitura daquele. Linguagem e realidade se prendem dinamicamente”. Desta

forma, o ato de ler envolve mais do que a decodificação de palavras, um vez que, essas

compreensões se refletem em concepções construídas em sua vida acadêmica, desde o

processo de alfabetização até ingressar na universidade.

Contribuindo com este entendimento, Moraes e Galizzi (2011) discutem a

importância da análise textual como forma de compreender o que se lê e escreve, a qual

pode ser entendida como um processo auto organizado de construção de novos significados

em relação a determinados objetos de estudo, a partir de materiais textuais referentes a esses

fenômenos. Foi neste sentido que pude entender que, foi necessário passar por um processo

de desconstrução das concepções alternativas impregnadas na minha formação e na pouca

atuação docente e, consequentemente, no meu discurso nos trabalhos publicados nos eventos

e congressos, entendendo também que não é tão simples ser pesquisador e fazer pesquisa.

Assim, a partir deste processo que chamo de descontrução, mais precisamente,

através das buscas e leituras incansáveis que me fizeram refletir sobre a contextualização

como foco de pesquisa, debrucei-me um pouco mais nos teóricos e nas pesquisas já

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realizadas, afim de traçar um objetivo claro e conciso que fizesse sentido para mim e,

principalmente, para a comunidade científica. Daí, pude encontrar caminhos e possibilidades

para tecer esta discussão com mais afinco nas leituras sobre a contextualização crítica no

ensino de Ciências com enfoque CTS, com base nas ideias de Santos (2007;2008) e Santos

(2011), e assim buscar entender e pesquisar sobre a temática.

Entendo que, uma forma de contribuir para atenuar os problemas enfrentados no

ensino, principalmente da memorização e fragmentação dos conteúdos disciplinares, é a

utilização da contextualização crítica no ensino de ciências, que vai além da formação da

cidadania, cosncientização e humanização do indivíduo, contrapondo o modelo de ensino

transmissivo receptivo que ainda pode ser visto diversos níveis de ensino, contribuindo com

o desenvolvimento intelectual dos licenciandos favorecendo o fortalecimento de valores

como cooperação e o respeito à diversidade, com o confronto de pensamentos e formação de

conceitos, oportunizando, ainda, uma visão mais ampla de situações que os cerca.

Assim, visão e concepção de contextualização defendida, que se propõe discutir esta

pesquisa, é aquela em que o aluno possa tornar-se o protagonista no cenário atual na

sociedade, à qual estejam relacionados aos princípios curriculares, a fim de assumir um

compromisso tanto do desenvolvimento de tomada de decisão dos alunos numa perspectiva

crítica (Santos, 2007), e não apenas a mera ilustração ou exemplificação do cotidiano.

Uma tomada de decisão, é quando um ser humano consegue manifestar de forma

consciente um posicionamento diante de uma situação real que pode comprometer de forma

positiva ou negativa o ambiente que o cerca, e esse poder de decisão numa perspectiva

crítica requer o entendimento de processos tecnológicos, o funcionamento de equipamentos

eletroeletrônicos, a leitura das informações contidas em tais processos, a fim de avaliar os

riscos e os benefícios vinculados às necessidades básicas dos seres humanos, sobretudo,

relacionar os aspectos sociais e econômicos perante um mundo capitalista o qual fazemos

parte e, assim, tomar decisões de aquisição ou não, assim como, melhores condições e

estilos de vida. Essa reflexões são defendidas por Santos (2007) , quando afirma:

[...] pretende-se promover competências e habilidades que sirvam para o

exercício de intervenções e julgamentos práticos. Isso significa, por

exemplo, o entendimento de equipamentos e de procedimentos técnicos, a

obtenção e análise de informações, a avaliação de riscos e benefícios em

processos tecnológicos, de um significado amplo para a cidadania e

também para a vida profissional.(SANTOS, 2007, p.2).

Ainda neste contexto, é necessário o indivíduo desenvolver habilidades e construir

valores, a fim de exercer a sua cidadania, no que tange à busca de ações e atitudes que

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contribuam para a minimização ou solução de problemas sociais, de interesses coletivos,

manifestando, portanto, os valores de fraternidade, generosidade, respeito ao próximo,

consciência ambiental dentre outros, imprescindíveis à sua vida social.

Esses valores estão vinculados aos interesses coletivos, como os de

solidariedade, de fraternidade, de consciência do compromisso social, de

reciprocidade, de respeito ao próximo e de generosidade. Tais valores, na

perspectiva desses movimentos, se relacionam às necessidades humanas,

em uma perspectiva de questionamento à ordem capitalista, na qual os

valores econômicos se impõem aos demais. (SANTOS, 2007, p.2).

Compreendo, portanto, que estas questões, nos leva a uma educação autônoma e

transformadora, e de extrema importância para a formação do professor, que está

diretamente relacionada com questões socioambientais e políticas de forma geral, no sentido

de contribuir com a sua prática docente no ensino de ciências, especificamente no ensino de

química, uma vez que, essa disciplina é vista como uma ciência muito abstrata e de difícil

compreensão. Entendo ainda que, através da contextualização crítica, é possível minimizar a

visão simplista e de senso comum dos conceitos científicos impregnados na mente dos

professores e alunos, bem como na comunidade escolar. Ou seja, é possível que seja

atenuado o distanciamento entre o conhecimento popular e o conceito científico. Este

último, importante para pesquisa no ensino de ciências. O contexto em que está situado o

aluno, a escola e o professor é de suma importância para que ocorra uma abordagem

contextualizada, pois, é a partir do contexto da situação real que o ensino deve ter sentido

para o aluno na discussão dos conteúdos químicos.

Assim, a partir dessas reflexões e apontamentos, chegamos às seguintes questões da

pesquisa:

Como e de que forma discutir a leitura sobre a contextualização numa perspectiva

crítica na formação de professores de química?

Quais as dificuldades e avanços de licenciandos em química em ler e produzir um texto

na academia a partir da leitura?

Quais os níveis de interpretações manifestadas por eles, frente a um texto que discute a

contextualização crítica com enfoque CTS no ensino de ciências?

Quais as aproximações e distanciamentos que os licenciandos apresentam após leituras

de teóricos que discutem a contextualização crítica?

Partindo das questões da pesquisa, o trabalho tem como objetivos investigar as

manifestações interpretativas de um grupo de licenciandos em Química da Universidade

Federal de Sergipe, sobre contextualização crítica numa perspectiva CTS. Primeiramente a

partir de uma leitura de referenciais que se comprometem com esta abordagem, sobretudo,

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“avaliar o que ficou”, destas leituras a partir da análise do discurso presente na produção

escrita dos licenciandos.

Julgamos relevante a realização desta pesquisa com os licenciandos em química,

considerando que estes estão iniciando o contato com a produção escrita, a seleção e análise

de materiais instrucionais tais como livros, textos e artigos servirão de embasamentos

teóricos e de estímulo ao posicionamento crítico na escolha e uso em sua prática docente ou

não. Assim, considerando a discussão tecida até aqui, temos como objetivos específicos da

pesquisa:

Identificar o que os licenciandos em Química entendem sobre contextualização no

ensino de química;

Discutir a importância da leitura científica da formação de professores de Química;

Apontar as dificuldades e os avanços em discutir a temática Contextualização crítica

numa abordagem CTS na formação de professores de química, através da leitura e

produção escrita.

Para tanto, a pesquisa está dividida em 6 (seis) capítulos, descritos a seguir: na

introdução, apresento as inquietações que me levaram a realizar esta pesquisa, mostrando a

justificativa e a relevância em discutir o trabalho, sobretudo, as questões e os objetivos da

pesquisa. No segundo capítulo, apresento a importância da leitura científica na formação de

professores de Ciências, uma vez que o ato de ler, é imprescindível para formação de

conceitos. No terceiro capítulo, apresento o conceito didático de contextualização levantado

a partir dos trabalhos pesquisados, a evolução deste conceito de acordo com as pesquisas

realizadas sobre o tema, e a contextualização crítica numa perspectiva educacional CTS. No

quarto capítulo são apontados os caminhos e procedimentos metodológicos da pesquisa e

seu contexto, a caracterização do objeto de estudo, as etapas da pesquisa. No quinto capítulo,

apresento as discussões e resultados da proposta confrontando com os referenciais teóricos

defendidos na pesquisa em cada uma das etapas. Por fim, no sexto capítulo, apresento as

considerações e os resultados encontrados com a mediação realizada, os pontos relevantes

encontrados e as sugestões para o desenvolvimento de novas pesquisas.

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2 A leitura científica na formação de Professores de Ciências

A atuação de professores durante as suas aulas requer uma compreensão de conceitos

teóricos fundamentais na elaboração, organização e seleção de materiais didáticos, que mais

se aproximem da realidade, os quais são defendidos por eles, avaliados por meio da leitura.

Patindo deste princípio, a leitura passa a ser um requisito básico de comunicação

fundamental na formação dos docentes de várias áreas. Assim, o professor de Ciências é

também um professor de leitura, ou seja, devem assumir o papel de mediador para que os

alunos exerçam a leitura em sala de aula, uma vez que todas as disciplinas escolares estão

embasadas na linguagem escrita.

A leitura é uma forma de comunicação, é um ato para compreender inúmeras

informações presentes na realidade do ser humano. O leitor consegue caracterizar um

segmento de um texto a partir de habilidades que são desenvolvidas durante o seu processo

de formação, considerado muito complexo e contínuo, visto que, quanto mais ele reflete

sobre o que lê, mais estabelece a relação com o texto lido.

De acordo com Leffa (1996, p.24) o ato de ler:

É um fenômeno que ocorre quando o leitor, que possui uma série de

habilidades de alta sofisticação, entra em contato com o texto,

essencialmente um segmento da realidade que se caracteriza por refletir

outro segmento. Trata-se de um processo extremamente complexo,

composto de inúmeros subprocessos que se encadeiam de modo a

estabelecer canais de comunicação por onde, em via dupla, passam

inúmeras informações entre o leitor e o texto.

À medida que o leitor compreende os processos envolvidos na leitura, há uma troca

ou um melhor entendimento do texto, diante das habilidades por ele adquiridas em formar

novos canais de comunicação a partir do que se lê ou entende. Esse envolvimento permite a

formação de um conjunto de sentidos, diante de leituras anteriores e do contexto social que

permite ao leitor se colocar diante de um texto, por meio do seu discurso ou fala. Para Rojo

(2004, p.3) a leitura pode ser definida como:

[...] um ato de se colocar em relação um discurso (texto) com outros

discursos anteriores a ele, emaranhados nele e posteriores a ele, como

possibilidades infinitas de réplica, gerando novos discursos/textos. Esse

discurso/texto é visto como conjunto de sentidos e apreciações de valor das

pessoas e coisas do mundo, dependentes do lugar social do autor e do leitor

e da situação de interação entre eles.

Desta forma, assumir o papel de leitor neste âmbito é fazer algo como se ainda não

soubesse, sendo necessário atentar para os conhecimentos e estímulos presentes no meio

social diante dos significados compreendidos a partir da leitura e da comunicação com uma

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visão de mundo. Concordando com isso, na concepção de Francisco Junior et al (2008) o ato

de ler e escrever são habilidades que devem ser trabalhadas nas aulas de Ciências, uma vez

que, muitos estudantes apresentam dificuldades de interpretar questões e problemas

envolvendo Física, Química, Matemática etc., devido às deficiências na capacidade de

interpretação de enunciados, sobretudo, em virtude da formação que estes tiveram como

afirma Queiroz (2001, p.143):

Indubitavelmente, a capacidade de escrever bem é extremamente

importante para uma carreira de sucesso em ciências e em outras

profissões. Assim, esta dificuldade que alguns alunos de química

apresentam, em parte como um reflexo da formação recebida na

universidade, pode ser limitante para o seu futuro.

Especificamente no ensino de Ciências, são poucos os trabalhos que discutem a

utilização da leitura e da escrita como estratégias para o ensino, a fim de contribuir com a

fornação de conceitos científicos em todos os níveis de ensino, a discussão desta temática no

ensino Superior, sobretudo, na formação de professores de Ciências. Teixeira Júnior e Silva

(2007) apontam que muitos professores de Ciências parecem não conhecer, de forma

satisfatória, o modelo de ensino construtivista de leitura, no qual, o leitor constrói de forma

ativa, alguns significados por meio da interação com o texto a fim de construir críticas e

sugestões a respeito do que se lê. De acordo com Queiroz (2001), nos currículos do ensino

Superior, a disciplina Química é dotada de habilidades quantitativas sendo a leitura e a

escrita pouco valorizada. Essa afirmação pode ser vista no trecho a seguir:

Como o campo da química é potencialmente quantitativo, os currículos dos

cursos de química no ensino superior, de uma forma geral, enfatizam o

desenvolvimento de habilidades quantitativas, como a efetuação de

cálculos e resolução de problemas, em prejuízo do desenvolvimento de

habilidades qualitativas, como a escrita. Além disto, o uso frequente da

linguagem matemática por parte dos alunos conspira para que esta situação

se fortaleça. (QUEIROZ, 2001, p.143).

Desta forma, torna-se relevante entender o que dizem os trabalhos realizados com

esta abordagem, a fim de evidenciar os problemas relacionados à falta de habilidades no

exercício da leitura, interpretação e compreensão de enunciados e conceitos no campo das

Ciências, especificamente no ensino de Química, dentre os trabalho levantados temos:

Queiroz (2001), Queiroz (2004), Santos, Sá e Queiroz (2006), Teixeira Júnior e Silva

(2007), Francisco Júnior et al (2008); Francisco Júnior (2010); Andrade et al (2013);

Andrade (2014).

Queiroz (2001) fez alguns apontamentos relacionados às estratégias de leitura na

graduação em Química, com o objetivo de usar a linguagem escrita como ferramenta para a

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melhor compreensão dos conceitos pelos alunos e/ou como recurso para facilitar a

comunicação entre os alunos e o professor. A autora, em sua pesquisa, faz um levantamento

bibliográfico, em periódicos, sobre o uso da linguagem e escrita nos cursos de graduação em

Química em um período de seis anos, especificamente, de 1993 a 1998.

Queiroz (2001) conclui, de forma geral, que o professor de química apresenta mais

afinidade em utilizar e avaliar o nível de entendimento dos alunos sobre o que é ensinado

mediante ao uso que questões usuais de múltipla escolha ou do tipo "falso ou verdadeiro".

Enfatiza ainda que o “ato de escrever envolve muito mais do que simplesmente expor ideias

armazenadas na cabeça. Nesse sentido, faz-se necessário que as ideias sejam repensadas e

organizadas para, finalmente, serem expostas”. (QUEIROZ, 2001, p.146).

No trabalho de Santos, Sá, e Queiroz (2006) foi realizada uma intervenção no ensino

Superior em Química, numa disciplina predominantemente quatitativa com a utilização de

leituras de artigos científicos, por meio de percepções dos licenciandos em manifestarem

suas impressões sobre os artigos lidos, no discurso oral e escrito destes, mediante a proposta

utilizada, a fim de avaliar capacidade de expressão e linguagem escrita e a busca de

referências bibliográficas.

De acordo com os autores, os licenciandos afirmaram que estes momentos de leituras

foram pouco discutidos durante a formação deles até aquele momento, o que permitiu o

estabelecimento de vários aspectos a serem avaliados com a realização da pesquisa, dentre

os quais: a relação existente entre os problemas encontrados nos artigos apontados pelos

autores das pesquisas e os conteúdos químicos destacados nos artigos.

A proposta de leitura e escrita de um resumo sobre o artigo científico foi

apontada como uma das poucas oportunidades por eles encontradas, até

aquele momento, no curso de Química, para aperfeiçoarem esta habilidade.

Os depoimentos seguintes falam sobre a preocupação dos estudantes

quanto a este aspecto e procuram resgatar as experiências de escrita que

identificam como emblemáticas no ensino superior (SANTOS; SÁ;

QUEIROZ, 2006, p.1125).

Os autores concluem em seu trabalho que, a proposta de leitura de artigos científicos

pode ser utilizada e adaptada a qualquer disciplina regular do curso de Química, desde que

permitam a leitura direcionada a disciplina que se pretende trabalhar.

A condição primordial para a sua adoção é a existência de artigos

científicos que apresentem, de forma contextualizada, conteúdos de

Química contemplados nas disciplinas dos cursos regulares e que a forma

de apresentação destes conteúdos esteja ao alcance do entendimento dos

alunos. Esta condição pode ser atendida com maior ou menor facilidade,

dependendo da disciplina em que se pretende trabalhar. (SANTOS; SÁ;

QUEIROZ, 2006, p.1125).

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Teixeira Júnior e Silva, (2007) investigaram e analisaram as práticas de leitura de

futuros professores de Química de uma universidade pública, a partir de alguns

questionamentos, tais como: Qual é o perfil de leitores de alunos de um curso de

Licenciatura em Química? Quais são as experiências de leitura que tiveram os estudantes de

um curso de Licenciatura em Química?.

A partir destas questões os autores buscaram mostrar o perfil de leitores, mediante a

investigação de hábitos de leitura, experiências e significações dadas à leitura pelos alunos

de um curso de Licenciatura em Química. Desta forma, concluíram que é preciso uma

ampliação no processo de leitura dos licenciandos em Química analisados, atribuindo a

necessidade da formação de novos professores de Química no sentido de “formar e produzir

leitores com responsabilidade social e política e com capacidade de julgar, avaliar e decidir

no campo do domínio técnico e científico”.(TEIXEIRA JÚNIOR; SILVA, 2007, p.1368).

Os autores defendem a prática da leitura na formação de professores de Ciências e

orientam ainda que não é muito vista como uma estratégia de ensino e aprendizagem de

Ciências, mas que é necessária a criação de espaços com esta finalidade para que, os futuros

professores, possam fazer as suas escolhas na mediação do conteúdo, sendo este, um desafio

permamente na condição de professor.

[...] a leitura não é considerada como estratégia de aprendizagem em

ciências. Isso supõe, ponderando que estamos formando professores,

mostrar que se torna necessário criar espaços e tempos em que o futuro

professor possa discutir e questionar a pertinência de tal estratégia para que

possa fazer suas opções educacionais. (TEIXEIRA JÚNIOR ; SILVA,

2007, p.1368).

Com objetivos semelhantes ao dos autores Teixeira Júnior e Silva (2007), Andrade

(2014) realizou uma pesquisa com licenciandos em Química de uma universidade de

Sergipe, a fim de classificar o perfil de leitura destes, e criou momentos de leitura com

alunos de duas turmas de disciplinas regulares do curso, especificamente Pesquisa em

Ensino de Química e Metodologia e Instrumentação para o Ensino de Química,

proporcionou um aporte teórico-metodológico sobre a leitura de acordo com as indicações

de Solé (2008). Na oportunidade foram utilizados textos que discutiam sobre a pesquisa em

Ensino de Química e a sua importância diante das pesquisas na atualidade, a fim de avaliar o

discurso destes alunos através da escrita de resumos. Sobre os momentos e estratégias de

leitura na formação inicial de professores, Andrade (2014, p.34) afirma que:

Quando o aluno lê para aprender, sua leitura permeia características

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diferentes das formas de ler com objetivos variados, isto é, quando se

estuda por meio da leitura, pode-se realizar uma leitura geral do texto para

situá-lo em seu conjunto, e depois suas ideias são aprofundadas. Nesse

caso, o leitor encontra-se imerso em um processo que o faz levantar

questionamentos sobre o que se lê e relações com o que se sabe, rever os

novos termos, sublinhar, anotar [...]

Através das estratégias de leitura utilizadas por Andrade (2014), pode-se concluir

que os licenciandos compreendem a importância da leitura. Em contrapartida, não possuem

aportes teórico-metodológicos suficientes que os mesmos sintam-se capazes de utilizar tal

proposta de ensino em suas aulas. Entretanto, a proposta tornou-se relevante e contribuiu

com alguns avanços no que tange à leitura e escrita, sobretudo, o aprimoramento dos

discursos dos licenciandos.

[...] a utilização de textos científicos aliados às estratégias de leitura de

Solé, proporcionou a evolução e/ou o aprimoramento do gênero de

discurso, do primário para o secundário, em grande parte dos nossos

pesquisados, sendo apontado que uma pequena parcela dos participantes da

pesquisa não demonstrou em seus resumos essa evolução, isso nos remete a

repensar as formas de compreensão desses discursos, que precisam ir além

da escrita do resumo. (ANDRADE; 2014, p.135).

Francisco Junior (2010) fez apontamentos acerca do papel da leitura no ensino de

química e de ciências, considerando a importância das estratégias de leitura no ensino da

Química; um estudo crítico de trabalhos concernentes à leitura e à Educação Química

publicados em periódicos brasileiros da área, e a apresentação de algumas estratégias de

leitura arroladas em aulas de Química. Defende a ideia de que o leitor precisa entender os

diferentes contextos que um texto é escrito, levando em conta o aspecto histórico e social, de

modo que, possa se posicionar diante dele e não apenas com uma leitura inicial e primária

que é muito vista no ambiente escolar. Essa afirmação pode ser entendida no trecho a seguir:

O texto deve propiciar ao educando não só a leitura da palavra a partir de

sua experiência histórico-social (leitura de mundo) como também a

possibilidade de reescrever seu mundo, transformando, ao mesmo tempo,

sua leitura da palavra inicial. Nesse sentido, a leitura escolar precisa ser

modificada, sobretudo em termos da relação dos educandos com o texto.

(FRANCISCO JUNIOR, 2010, p.221).

Essa modificação compreendida a partir da leitura com uma visão de mundo ocorre à

medida que o leitor lê e escreve, e não ocorre de maneira instantânea ou imediata, a

realização de atividades que valorizem esta mediação afirma que, “a evolução de habilidades

relacionadas à leitura e à escrita não ocorre de forma imediata, é de suma importância a

realização periódica desses tipos de atividades didático-pedagógicas” (FRANCISCO

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JUNIOR, 2010, p.225). O autor conclui que é necessário estimular professores e

pesquisadores a discutirem sobre a questão da leitura na formação de conceitos científicos.

É necessário modificar tal situação, caso professores e pesquisadores

queiram caminhar rumo a novos horizontes educacionais, providos de

melhor aprendizagem, maior criticidade, assim como mudanças

socioeconômicas e políticas. Novos estudos que abarquem a relação da

leitura com a formulação de conceitos científicos precisam ser

direcionados, sendo este um campo fértil ainda pouco

explorado.(FRANCISCO JUNIOR, 2010, p.225).

Reinaldo e Santana (2005) apontam como hipótese que um aluno-professor constrói

melhor um pensamento teórico metodológico quando reflete sobre o seu próprio objeto,

neste caso a produção do seu próprio texto, levando em consideração a relação existente

entre a linguagem, a sociedade envolvida e as inúmeras reflexões realizadas a partir da

leitura.

Nesse sentido, um saber necessário ao profissional de ensino de produção

de texto escrito, no atual estágio dos estudos da área, é a compreensão da

natureza enunciativa da escrita, presente em numerosas reflexões teóricas

que tematizam a relação entre a linguagem, a sociedade e a interação, do

que tem resultado um conjunto de noções necessárias à explicação do ato

de produzir texto. (REINALDO; SANTANA, 2005, p.101).

Contribuindo ainda com a relevância da temática sobre a leitura e escrita, sobretudo

da interpretação de textos. Feres (2002) aponta que a elaboração de atividades que envolvam

as estratégias de leitura e de interpretação textual, contribui com o amadurecimento e

autonomia do leitor em formação, uma vez que, o sujeito precisa construir um sentido

indireto ou implícito no discurso, a fim de construir sua identidade discursiva em diferentes

campos e áreas do conhecimento. Como afirma a proposta de mediação adotada por Teixeira

Júnior e Silva, (2007, p.1368).

Trata-se de mediar o ato de ler promovendo a mediação de textos. Tal

mediação pode contribuir para familiarizar futuros professores com textos

científicos, aproximando-os das pesquisas realizadas nos diferentes campos

de conhecimento.

A mediação de um texto requer a interpretação e identificação do leitor por meio de

fragmentos, impregnados através de várias leituras. Desta forma, são construídas unidades

de análise que podem gerar um novo sentido para o leitor, à medida que, o mesmo, consegue

manifestar a sua opinião diante do texto lido. Moraes (2003, p.195) explica que:

A fragmentação dos textos é concretizada por uma ou mais leituras,

identificando-se e codificando-se cada fragmento destacado, resultando daí

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as unidades de análise. Cada unidade constitui um elemento de significado

referente ao fenômeno que está sendo investigado.

O processo de leitura e interpretação torna-se necessário na formação do leitor, pois

expressam uma multiplicidade de sentidos que são construídos ao longo da vida do

indivíduo, diante das teorias e significados que são atribuídos em diferentes momentos no

exercício prático da leitura. Essa diversidade de sentidos também determina diferentes focos

de análise que, no entendimento, requer uma leitura aprofundada do texto.

Exercitar uma leitura aprofundada é explorar uma diversidade de

significados que podem ser construídos com base em um conjunto de

significantes. É ainda explorar significados em diferentes perspectivas,

valendo-se de diferentes focos de análise. Essa diversidade de sentidos que

podem ser construídos a partir de um conjunto de textos está estreitamente

ligada às teorias que os leitores utilizam em suas interpretações textuais.

Por mais sentidos que se consiga mostrar, sempre haverá mais sentidos.

(MORAES, 2003, p.196).

Desta forma, o ato de ler, escrever e o que foi compreendido de um texto é um

caminho que leva a novos significados e requer um aporte teórico, ou seja, uma teoria, uma

concepção construída a partir de um sentido simbólico do que se pretende investigar com

esta leitura, como aponta Moraes e Galiazzi (20111):

Toda leitura é feita a partir de alguma perspectiva teórica, seja esta

consciente ou não. Ainda que se possa admitir o esforço em pôr entre

parênteses essas teorias, qualquer leitura implica ou exige algum tipo de

teoria para poder concretizar-se. É impossível vê sem teorias, é impossível

ler e interpretar sem ela. (MORAES; GALIAZZI, 2011, p.15).

Queiroz (2004) afirma que, o ato de ler e escrever no campo das ciências é uma

tarefa fundamental, especificamente no ensino de química, uma vez que, muitos professores

de Química não possuem um aporte teórico-metodológico necessários à mediação da leitura,

pois não foram apresentados em sua formação a tais conhecimentos. Andrade et al (2014)

também aponta que momentos de leitura devem ser utilizados nas aulas de ciências e na

formação inicial de professores. Orienta que estes precisam ter o domínio da leitura, pois, é

fundamental para formação de conceitos científicos envolvidos no ambiente e no mundo que

os cerca.

Para que momentos de leitura sejam concretizados em aulas de ciências é

necessário que o professor tenha domínio de leitura e de interpretação, e

que este tenha sido orientado em sua formação inicial em como trabalhar

esses momentos em sala, mostrando aos alunos que a prática da leitura é

importante para a compreensão dos saberes científicos e a utilização destes

na leitura do mundo que o cerca, sendo a mobilização e a motivação para a

leitura um fator importante nesse processo. (ANDRADE et al; 2014).

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Concordamos com os autores acima citados que utilizaram momentos e estratégias

de leitura com professores em formação, uma vez que, também defendemos a ideia desta

proposta neste trabalho. Assim, o uso da leitura na formação inicial de professores é, sem

dúvida, uma necessidade inquestionável. Não pretendemos avaliar o perfil de leitores ou

atribuir aspectos qualitativos aos textos. Buscamos estabelecer mediações de leituras de

artigos com a finalidade de estudar e compreender o conceito de contextualização crítica

defendido por Santos (2007), estimular aos licenciandos para uma leitura crítica e interagir

com um texto lido, de modo que possam se colocar diante do texto, promovendo um

momento de leitura que possa ir além de recortes e comentários pessoais, como defende

Francisco Junior (2010, p.224).

Em geral, não obstante a presença de reflexões pessoais, não se observa um

diálogo e uma reflexão crítica com o texto, caracterizada não apenas pelos

comentários pessoais de natureza reflexiva, mas por ideias trazidas de

discussões, leituras e vivências anteriores, capazes de engendrar novas

reflexões pessoais. Além de interagir, no entanto, o leitor precisa agir sobre

o texto para poder interagir.

Defendemos a ideia de que a partir da leitura, o leitor contribui com o seu espírito

crítico, visto que, precisa entender os aspectos históricos, sociais, políticos e econômicos, e

a partir deste entendimento se posicionar diante de uma situação real, o que que converge

com a concepção de contextualização que pretendemos discutir. Entretanto, para utilizarmos

a proposta de mediação de leitura e escrita, é necessário entender primeiramente o conceito

de contextualização, e como este conceito tem sido discutido em pesquisas no campo das

Ciências, sobretudo, a sua evolução diante destas pesquisas e entender o que é uma

contextualização crítica na formação do aluno cidadão, assim como na formação de

professores de química.

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3 Contextualização: Conceito, Implicações e Problemas

De acordo com o dicionário eletrônico Aurélio1 da Língua Portuguesa, a palavra

contexto, significa o que se constitiu no seu todo, uma composição, um conjunto de uma

totatilidade; um argumento diante do ambiente. Partindo dessa definição, observamos que

várias interpretações podem emergir a partir da utilização frequente do uso do termo. No

entendimento de Machado (2005), do ponto de vista etimológico, a palavra contextuar

significa estar enraizado ou fundamentado a um texto, considerando a sua origem e valores

culturais que são apreendidos durante a vida. Contextuar nesse sentido, pode ser definido

como um significado enraizado, dotado de valores e relações existentes frente a um

contexto, ou uma realidade vivida.

Tal enraizamento na construção dos significados constitui-se por meio do

aproveitamento e da incorporação de relações vivenciadas e valorizadas no

contexto em que se originam, na trama de relações em que a realidade é

tecida; em outras palavras, trata-se de uma contextualização.

Etimologicamente, contextuar significa enraizar uma referência em um

texto, de onde fora extraída, e longe do qual perde parte substancial de seu

significado. Analogamente, no sentido em que aqui se utiliza, contextuar é

uma estratégia fundamental para a construção de significações. À medida

que incorpora relações tacitamente percebidas, a contextualização

enriquece os canais de comunicação entre a bagagem cultural, quase

sempre essencialmente tácita, e as formas explícitas ou explicitáveis de

manifestação do conhecimento. (MACHADO, 2005 p. 53).

A partir do conceito de contextuar, entende-se que a vivência cultural e as relações

sociais são fatores relevantes para introduzir este conceito no discurso de pessoas que se

apropriam do uso da palavra, contribuindo, portanto como veículo de comunicação entre os

indivíduos, levando em consideração a sua realidade. É uma forma de expressar um

conhecimento sobre algo. Na visão de Silva (2007) a contextualização é entendida como a

relação existente entre o que o aluno sabe, ou seja, as concepções prévias e a sua relação

com o contexto e o conteúdo a ser estudado, de modo que possa transformar a sua realidade

que, na maioria das vezes, é desfavorável.

[...] a contextualização no ensino de Ciências que privilegia o estudo de

contextos sociais com aspectos políticos, econômicos e ambientais,

fundamentado em conhecimentos das ciências e tecnologia, é fundamental

para desenvolver um ensino que venha a contribuir para a formação de um

aluno crítico, atuante e, sempre que possível, transformador de sua

realidade desfavorável. Para se realizar um ensino dito contextualizado é

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revista e atualizada do Aurélio Século XXI, O Dicionário da Língua Portuguesa, contendo 435 mil verbetes,

locuções e definições.

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necessário discuti-lo nos âmbitos das formações inicial e continuada de

professores, de modo a problematizar e sistematizar os conhecimentos

teóricos pertinentes ao ensino contextualizado. (SILVA; MARCONDES,

2010 p.105).

Considerando este aspecto, é importante que o aluno entenda de forma clara e

objetiva o que é ensinado em sala de aula durante a sua formação básica, de modo que possa

relacionar o que é ensinado com a sua vida fora do ambiente escolar. Além disso, possa

compreender situações específicas no ambiente que o cerca na condição de cidadão.

Observa-se, fazendo parte desse contexto, há uma divergência no entendimento por parte

dos professores ao planejarem suas aulas, em consonância com as recomendações apontadas

nos documentos legais, e que na maioria das vezes, não é condizente com as suas práticas de

ensino, sobretudo, no que é entendido por ciências.

De fato, desde que houve a reforma dos PCNEM em 2002, a contextualização tem

sido uma temática de grande discussão no meio acadêmico, além da formação inicial e

continuada de professores com esta preocupação, de modo que, o professor formado pós

essas mudanças possam, de fato, assumir uma postura diferenciada da que geralmente é vista

por professores tidos como tradicionais, os quais receberam uma formação fragmentada e,

hoje, estão propensos a desenvolver trabalhos que envolvam a participação voluntária dos

alunos, ensinando o que realmente tem sentido para ele. Especificamente sobre o ensino de

Química, esses documentos apontam que:

[...] utilizando-se a vivência dos alunos e os fatos do dia-a-dia, a tradição

cultural, a mídia e a vida escolar, busca-se construir os conhecimentos

químicos que permitam refazer essas leituras de mundo, agora com

fundamentação também na ciência. (BRASIL, 1999, p. 242).

Dessa forma, os documentos oficiais, tais como os Parâmetros Curriculares

Nacionais para o Ensino Médio (PCN e PCN+) orienta os professores no que tange a

abordagem dos conteúdos e temas relacionados ao cotidiano dos alunos no Ensino Médio:

Os conteúdos nessa fase devem ser abordados a partir de temas que

permitam a contextualização do conhecimento. Nesse sentido, podem ser

explorados, por exemplo, temas como metalurgia, solos e sua fertilização,

combustíveis e combustão, obtenção, conservação e uso dos alimentos,

chuva ácida, tratamento de água etc. Não se pretende que esses temas

sejam esgotados, mesmo porque as interrelações conceituais e fatuais

podem ser muitas e complexas. Esses temas, mais do que fontes

desencadeadoras de conhecimentos específicos, devem ser vistos como

instrumentos para uma primeira leitura integrada do mundo com as lentes

da Química. (BRASIL, 1999, p. 34).

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Observa-se, destacadamente, que os termos, vivência e fatos do dia a dia, aparecem nos

PCNEM, como ponto de partida para abordagem de temas e da construção do conhecimento

químico. Ainda nessa perspectiva, em 2006, as Orientações Curriculares para o Ensino Médio

(OCEM) foram publicadas com o objetivo de contribuir com a utilização de temas sociais no

ensino de ciências e sua relação com as aplicações tecnológicas, sobretudo o contexto real do

indivíduo.

Defende-se uma abordagem de temas sociais (do cotidiano) e uma

experimentação que, não dissociados da teoria, não sejam pretensos ou

meros elementos de motivação ou de ilustração, mas efetivas possibilidades

de contextualização dos conhecimentos químicos, tornando-os socialmente

mais relevantes [...](BRASIL, 2006, p. 117)

A atenção dos professores dada aos documentos oficiais, na maioria das vezes, é o

enfoque nos temas sociais que estão presentes no cotidiano dos alunos e, sem dúvida, é uma

abertura primordial para uma interpretação polissêmica do conceito contextualização, sendo

este mais valorizado na atuação dos professores em sala de aula, apresentando, portanto,

possibilidades para mediar aulas assim como uma mera ilustração diante da realização de suas

atividades, buscando motivar os alunos de alguma forma.

Entretanto, as considerações da comunidade científica e acadêmica em relação a esses

documentos são subjetivas e mal interpretadas, conforme discutem Ricardo e Zylbersztajn

(2007, p.340), “pouco se conhece sobre o que pensam e como agem, com relação aos PCN e

PCN+, os profissionais que trabalham com a formação inicial de professores nos cursos de

licenciatura”, em especial, nas disciplinas voltadas para a formação didático-pedagógica. É

exatamente o entendimento do que aprender e do que ensinar diante do que é proposto nos

documentos que tem sido o alvo de grandes discussões em pesquisas e no ensino de forma

geral, não só no ensino de ciências, mas de outras áreas que contribuem nesse processo

coletivo da construção do conhecimento científico.

Observa-se que, tanto alunos quanto professores, apresentam uma visão simplista do

que é ciências e apontam dificuldades de aprendizagem nos conteúdos específicos,

principalmente na área de ciências naturais e matemática. Lopes (2002) discute

contextualização no discurso curricular híbrido presente nos Parâmetros Curriculares

Nacionais para o Ensino Médio e a sua relação com a inserção social no mundo produtivo, e

defende a ideia que esse discurso apresenta ambiguidades e a postura crítica envolvidas nestes

parâmetros frente aos diferentes grupos sociais.

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Marcondes e Peixoto (2007) apontam como os principais problemas no ensino de

Química: a deficiência de aprendizagem com baixos níveis cognitivos, a falta do uso da

experimentação durante as aulas, as aulas meramente expositivas e a falta de relação do

conteúdo com o cotidiano dos alunos. Partindo desse pressuposto, a Química pode ser

estruturada com relações existentes em três eixos fundamentais: as transformações químicas,

os materiais e suas propriedades e os modelos explicativos. Machado e Mortimer (2007)

defendem que a organização curricular está diretamente ligada ao conhecimento químico com

base nos eixos citados, apresentando assim, uma inter-relação com focos de interesse da

Química, por meio das transformações dos diversos materiais e substâncias encontradas no

meio ambiente.

Nesse contexto, é visto um esforço pelos professores em adotar ou incluir tais

discussões durante o planejamento e execução das aulas, da mesma forma, estimular o aluno a

entender o conteúdo e relacionar com questões relacionadas ao convívio social enquanto

cidadão. Fato é que, os próprios professores, são dotados de concepções alternativas sobre

como deve ser o processo de ensino e aprendizagem em ciências envolvendo as questões

relacionadas à ciência. Ainda nessa perspectiva, é notável a contextualização como eixo

fundamental no processo de ensino e aprendizagem, sobretudo, na abordagem dos conteúdos

relacionados às ciências da natureza e suas tecnologias envolvendo questões que valorizem o

desenvolvimento social, político, econômico, tecnológico e cultural dentro da sociedade. De

acordo com os PCNEM (1999, p. 86):

O aprendizado de Química no ensino médio [...] deve possibilitar ao aluno a

compreensão tanto dos processos químicos em si, quanto da construção de um

conhecimento científico em estreita relação com as aplicações tecnológicas e

suas implicações ambientais, sociais, políticas e econômicas. Dessa forma, os

estudantes podem [...] julgar com fundamentos, as informações advindas da

tradição cultural, da mídia e da própria escola e tomar decisões

autonomamente, enquanto indivíduos e cidadãos.(BRASIL, 1999, p.86).

É evidente a existência de problemas relacionados com a descontextualização no ensino,

tanto para os professores que enfrentam cenários distintos em sala de aula, quanto para os

alunos, que buscam entender o que é ensinado na escola e tentar relacionar com a sua vida

cotidiana. Para Costa-Beber e Maldaner (2011) a contextualização é fundamental no cenário

educacional escolar, a fim de que os alunos possam agir de forma consciente no mundo,

conforme a afirmação abaixo:

A contextualização do ensino é defendida como princípio organizativo de

currículo para melhorar o cenário educacional, por facilitar o desenvolvimento

de competências gerais e específicas junto aos estudantes. O desenvolvimento

de determinadas competências básicas é considerado essencial para formar as

novas gerações mais capacitadas para que possam pensar e agir num mundo

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sempre mais complexo que lhes é apresentado, constituindo cidadãos mais

conscientes e responsáveis. (COSTA-BEBER; MALDANER; 2011 p.2).

Observa-se dessa forma, que a organização curricular e as orientações no

desenvolvimento de materiais que valorizem a contextualização no ensino, é de suma

importância no desenvolvimento de habilidades nos alunos e na capacidade de formar opiniões

diante do entendimento dos fenômenos que os cercam. Além disso, pode atenuar as

dificuldades envolvidas no processo de ensino e aprendizagem, visto que, busca-se uma nova

forma de ensinar, utilizando ferramentas didáticas, mesmo que se torne apenas um momento de

motivação e aguçamento de curiosidade do aluno, frente ao currículo desenhado e os materiais

disponíveis a serem utilizados.

Ainda nesse contexto, a autora Lopes (2002), ao avaliar o conceito de contextualização

presentes nos PCNEM, aponta que:

O conceito de contextualização foi desenvolvido pelo MEC por apropriação

de múltiplos discursos curriculares nacionais e internacionais, oriundos de

contextos acadêmicos, oficiais e das agências multilaterais. Analiso

especialmente a apropriação de discursos acadêmicos, mas é preciso

considerar que essa apropriação, tanto pode ter sido realizada por influência

direta dos textos acadêmicos sobre os elaboradores dos parâmetros, quanto por

intermédio de uma mediação realizada em reformas educacionais de outros

países que influenciaram a reforma brasileira e/ou pelas agências

financiadoras multilaterais. (LOPES; 2002, p.390).

Ricardo (2005) aponta uma análise crítica sobre as relações das competências

interdisciplinaridade e contextualização, presentes nos documentos DCNEM, PCN e PCN+. O

autor discute que há diferentes entendimentos sobre a contextualização de acordo com os

professores formadores e autores responsáveis pela elaboração desses documentos, concluindo

que, o termo contextualização é polissêmico, visto que é dotado de concepções distintas,

conforme é colocado pelos elaboradores dos documentos.

Sabe-se, no entanto, que nem sempre esta discussão chega à sala de aula, visto que, a

polissemia do conceito contextualização propicia um espaço para o professor utilizar a proposta

de maneira que lhe faça melhor sentido, em diferentes temas de forma superficial, ao invés de

fomentar esta discussão com os alunos. É importante que os professores apliquem o conceito

de forma clara, objetiva e faça sentido primeiramente para o aluno, de modo que o contexto do

aluno seja valorizado, ou seja, as condições de trabalho, os problemas de saúde enfrentados na

sociedade, as questões ambientais e sociais. O autor destaca alguns contextos principais que

são criticados nos documentos, e afirma que, a maior prioridade do uso da contextualização é

preparar o aluno para o mundo do trabalho.

A contextualização está associada a uma aprendizagem que tenha sentido para

o aluno e se recomenda o trabalho, a cidadania, o corpo, a saúde e o meio

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ambiente como contextos principais, embora maior ênfase seja dada ao

trabalho. (RICARDO, 2005, p.78).

Buscando ainda discutir uma origem do conceito de contextualização, Costa-Beber e

Maldaner (2011) acreditam que esta discussão é histórica e o sentido da palavra “cotidiano” foi

ocupado pela terminologia “contextualização”. Além disso, é dotado de diferentes significados,

mas que, ambos caminham para o mesmo objetivo, como uma nova forma de pensar no mundo,

conforme pode ser visto na citação a seguir:

O conceito é histórico e o significado antes atribuído ao trabalho com o

cotidiano foi, parcialmente, transferido a outra palavra que pode representá-lo

melhor, que é contextualização. Uma palavra sempre aponta uma direção para

os significados já existentes, a palavra que apontava para a ideia de

conhecimento situado era cotidiano, agora é contextualização. Ambas dizem

respeito a propostas curriculares que buscam superar uma educação que não

permite pensar o mundo vivido. (COSTA-BEBER; MALDANER; 2011 p.8).

Os autores Wartha e Alário (2005); Ricardo (2005) e Costa-beber e Maldaner (2011),

discutem que há várias concepções presentes nos discursos dos professores sobre a

contextualização no ensino de Química, e apontam a hipótese de que essa interpretação é

híbrida e polissêmica, foi criada através da leitura dos documentos oficiais direcionados ao

Ensino Básico, os Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN e dos trabalhos já realizados que

discutem o cotidiano. É exatamente sob esse caminho que, muitos autores, têm discutido sobre

a questão da contextualização de diferentes formas, tais como: Lutfi (1988,1992), Wartha e

Alário (2005); Santos e Mortimer (1999); Lopes (2002); Silva e Marcondes (2007); Silva et al

(2009); Costa-Beber e Maldaner (2011); Halmenschlage e Souza (2012) e Wartha, Silva e

Berjarano (2013).

Um dos primeiros trabalhos que discutem a contextualização como proposta no ensino

de química e a sua relação com o cotidiano de forma inovadora é o de Lutfi (1988).

Especificamente na obra “Cotidiano e educação em química: os aditivos em alimentos como

proposta para o ensino de química no 2º grau” de Lutfi (1988), o autor aponta uma abordagem

contextualizada no ensino de Química Orgânica, considerando os fatos e processos do

cotidiano, quando discute as questões relacionadas aos aditivos presentes nos alimentos

industrializados e enfatizando que, conhecer a composição dos alimentos, assim como técnicas

de conservação, pode contribuir com a mudança de hábitos alimentares e o consumo de

alimentos. O autor descreve com afinco a sua experiência em realizar projetos em escolas

públicas considerando os aspectos sociais e políticos relacionando-os com o tema.

Na segunda obra, titulada por “Os ferrados e os cromados: produção social e

apropriação privada do conhecimento químico”, de Lutfi (1992) o autor faz uma valorização

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ao contexto da indústria e ao trabalho, propondo a realização de atividades experimentais e

visitas técnicas dos alunos às indústrias, de modo que eles entendam a situação dos

trabalhadores neste contexto, com questões voltadas ao processo de galvanização das fábricas

metalúrgicas. Este trabalho, passou a ser utilizado como material alternativo durante as aulas de

química de muitos professores e pesquisadores naquela época.

Nos casos estudados por Mansur Lutfi, é perceptível a valorização do aspecto social e

ambiental, e o entendimento do autor sobre cotidiano, convergindo com a definição

inicialmente apontada neste capítulo, do dicionário de Aurélio, destacando neste caso o

contexto, o ambiente, ou um todo quando se trata da indústria metalúrgica e seus trabalhadores

e da composição química dos alimentos, e a relação da conservação dos alimentos pelos

aditivos presentes, relacionando portanto a uma abordagem de conteúdos químicos de forma

contextualizada.

Lutfi (1988, 1992), em seus trabalhos, defende o aspecto social no ensino de Química e

suas relações com os aspectos políticos, econômicos e tecnológicos, na construção do

conhecimento científico a partir do conhecimento químico desenvolvido no aluno. O autor

considera o cotidiano do aluno e a sua relação com outras áreas do conhecimento, de modo que

o conhecimento não seja condicionado de forma alienada ou fragmentada, propondo uma visão

mais ampla do mundo, a fim de transformá-lo, como nos orienta Freire (1997).

Anos mais tarde, o cotidiano e a contextualização passaram a aparecer nos Parâmetros

Curriculares Nacionais (1999) como orientações metodológicas para o professor, sendo que,

essas orientações sofreram reformulações em 2002, e tanto a temática contextualização e a

interdisciplinaridade aparecem como eixos fundamentais no processo de ensino e aprendizagem

no diálogo disciplinar, sobretudo, na abordagem dos conteúdos relacionados a ciências da

natureza e suas tecnologias, considerando as questões relacionadas ao desenvolvimento social,

político, econômico, tecnológico e cultural dentro da sociedade, apontando assim, uma

discussão da Ciência, Tecnologia e Sociedade na escola através da reformulação curricular.

Wartha e Alário (2005) discutiram a contextualização através do livro didático e

acreditam que todo educador tem concepções próprias sobre processos de abordagem didático-

metodológica. Discutem, ainda, que as concepções de contextualização presente nos livros

didáticos analisados em sua pesquisa foram incorporadas dos PCNEM, destacando fatos e

processos presentes no cotidiano do aluno. Os autores definem contextualização da seguinte

forma:

Contextualizar o conhecimento no seu próprio processo de produção é criar

condições para que o aluno experimente a curiosidade, o encantamento da

descoberta e a satisfação de construir o conhecimento com autonomia,

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construir uma visão de mundo e um projeto com identidade própria.

(WARTHA; ALÁRIO, 2005, p.44).

A autonomia neste contexto é apontada de forma relevante, uma vez que o aluno deve

ser estimulado a formular questões e refletir sobre o mundo a partir do seu ambiente, o qual faz

parte da construção da sua própria identidade. Ainda no tocante a contextualização, os autores

afirmam que a contextualização no ensino acontece quando existe uma relação entre sujeito e

objeto, através da incorporação de valores e vivências concretas a todo instante, promovendo o

surgimento de novas vivências, não apenas exemplificando as situações de ensino, conforme

pode ser visto na afirmação a seguir:

Acreditamos que a contextualização deva centrar-se na abordagem de temas

sociais, onde são trabalhadas a integração entre os conceitos científicos e a

discussão dos aspectos sociais para que o estudante entenda o contexto em que

está inserido e, por sua vez, exigindo deste, um posicionamento crítico quanto

à sua solução. (WARTHA; ALÁRIO, 2005, p.46).

Os autores concluem em seu trabalho que, não foram identificadas abordagens nos

livros didáticos, o uso de terminologias que abordassem o conteúdo químico a partir de

questões sociais, ambientais, tecnológicas e econômicas e que tratassem os valores éticos,

sobretudo, situações que proporcionassem ao estudante uma tomada de decisão mediante a sua

leitura. Observa-se neste contexto, a necessidade de contextualizar os conteúdos químicos a

partir de temas de caráter social, os quais estejam vinculados às questões socioambientais e

científicas, afim de que o aluno possa fazer julgamentos e dar opiniões.

Desta forma, é perceptível que não basta apenas a abordagem de temas relacionados aos

fenômenos e transformações químicas que ocorrem na dia a dia como exemplificação, ou seja,

um mero exemplo que não tem influência de decisão na vida dos alunos, muito menos em se

posicionar criticamente neste contexto. É recomendável, primeiramente, que o professor

conheça o perfil histórico e cultural dos alunos e as concepções prévias destes, com os quais irá

trabalhar.

Mostrando ainda as várias discussões sobre o entendimento do conceito

“Contextualização”, Silva e Marcondes (2007) com o objetivo de investigar as ideias e

proposições de um grupo de professores a respeito da contextualização no ensino de química, a

fim de entender quais as concepções sobre essa temática e frente à formação de novos

conceitos, realizaram uma oficina temática por meio de um curso de formação continuada com

um grupo de professores atuantes em escolas públicas e particulares do estado de São Paulo.

Estes professores, após várias discussões e leituras sobre a contextualização no ensino de

Química com enfoque CTS, elaboraram materiais didáticos instrucionais, especificamente

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unidades didáticas, os quais manifestaram as suas compreensões sobre contextualização,

conforme descreve o recorte a seguir:

Esses materiais didáticos apresentavam as características da contextualização

como: exemplificação e curiosidades; descrição científica de fatos e processos;

fundamentos CTS e transformação social. Para coleta de dados, nessa etapa,

adotou-se um questionário aberto em que se procurava verificar as relações

que os professores estabeleciam entre materiais didáticos produzidos por

outros professores e as concepções de contextualização apresentadas ao longo

do curso. (SILVA; MARCONDES; 2010, p.106).

Os autores utilizaram como ponto de partida de discussão de sua pesquisa, a elaboração

destes materiais instrucionais desenvolvidos pelos professores, e avaliaram a partir da análise,

na forma de oficinas e abordagem temática no ensino de química, o quanto estavam

impregnados com uma abordagem contextualizada valorizando as questões sociais. Após a

análise dos materiais, observaram que houve uma ampliação das concepções dos professores

que caracterizavam inicialmente o ensino de Química contextualizado como simples

exemplificação e descrição de fatos ou situações do cotidiano com o intuito de ensinar química,

e passaram a compreender ideias de contextualização como a abordagem de questões sociais,

com vistas a desenvolver atitudes e valores e à transformação da realidade social conforme

pode ser visto no recorte a seguir:

A análise das unidades didáticas desvelou um pequeno número de professores

que mostraram ter ampliado seu entendimento de contextualização e

construíram materiais em que esses elementos puderam ser reconhecidos;

outros professores que pareciam ter ampliado seus entendimentos, não os

refletiram na construção de suas unidades didáticas e, finalmente, uma

pequena parte dos professores que não manifestaram ter ampliado seus

entendimentos de contextualização, o que se refletiu na construção das suas

unidades didáticas. (SILVA; MARCONDES, 2010, p.115).

Silva et al (2009) investigaram a relação da contextualização e da experimentação no

ensino de Química a partir de uma análise de artigos publicados na seção “Experimentação no

Ensino de química” da Revista Química Nova na Escola entre 2000 e 2008. Os resultados do

estudo indicaram que, os autores dos artigos publicados na revista e analisados dentro do

recorte temporal pretendido, têm dificuldades em conceituar, de forma real, o sentido da

contextualização para o ensino e entendem de forma recorrente nos trabalhos como a

“exemplificação de fatos do cotidiano”.

Halmenschlager e Souza (2012) investigaram aspectos que interferem na seleção de

temas para a elaboração da proposta de ensino, sendo eles: a contextualização, a

interdisciplinaridade, a significação conceitual e a problematização. Sendo possível apontar

significativos avanços em relação ao ensino de Ciências tradicionalmente ministrado na

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maioria das escolas brasileiras, a partir das quais é possível romper, pelo menos de forma

parcial, com a linearidade e com a fragmentação dos conteúdos.

Diante dos vários conceitos discutidos sobre a contextualização observa-se que, grande

parte dos professores em seus discursos, são enraizados com diferentes concepções do que seja

contextualizar um conteúdo. Além disso, apresentam resistência em trabalhar temas sociais

contextualizados, ministrando aulas de forma tradicional fazendo o uso apenas dos livros

didáticos que, muitas vezes, apontam de forma superficial a contextualização. (Santos, 2007).

Com base no conceito de contextualização defendido pelos autores discutidos até aqui, e

que convergem com o nosso entendimento, um exemplo de contextualização como

exemplificação do cotidiano seria discutir sobre as Funções Inorgânicas: Ácidos e Bases, e

mostrar simples exemplos de bases e ácidos comuns tais como: Soda Cáustica e Ácido Acético,

encontrados no cotidiano do aluno e utilizados nas indústrias e e não informar ao aluno sobre

como e de que forma a utilização destes produtos podem contribuir ou prejudicar à sua saúde

enquanto consumidor.

Por outro lado, um exemplo de contextualização crítica, para situar o contexto seria da

seguinte forma: pense que um aluno mora próximo a um lixão, e que as ruas do seu bairro não

são providas de saneamento básico e, consequentemente, a população sofre por conta das

necessidades básicas em questão. Na condição de um professor com o compromisso com a

cidadania, poderia abordar um conteúdo que apresentasse alguma relação com a situação vivida

pelo aluno, de modo que esse aluno possa compreender o conteúdo e ao mesmo tempo possa

identificar como poderá modificar a realidade do seu bairro, tornando-se, assim, um aluno

crítico, e tomar uma decisão em continuar ou não morando naquele bairro ou região.

Esse conhecimento é importante, pois, além de permitir uma melhor relação entre o

professor-aluno dentro e fora do ambiente escolar, possibilitando desta forma, o entendimento

dos alunos frente ao conteúdo a ser abordado. Vale lembrar que há uma gama de contextos, que

são fundamentais como um marco para o levantamento de uma discussão que permita a criação

de uma situação problema, que pode ser útil durante a aula do professor, principalmente para a

compreensão significativa do aluno, a fim de desenvolver valores e atitudes e que estejam

comprometidos com a cidadania.

Corroborando para construção deste conceito, Santos e Mortimer (1999, p.6) fazem uma

diferenciação sobre a contextualização no ensino e a relação com o cotidiano conforme pode

ser visto:

Enquanto a contextualização aborda a ciência no seu contexto social com as

suas inter-relações econômicas, ambientais, culturais etc., o ensino de ciências

do cotidiano trata dos conceitos científicos relacionados aos fenômenos do

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cotidiano. No segundo caso, a abordagem continua centrada nos conceitos

científicos e não necessariamente são explicitadas as relações entre ciência e

tecnologia, bem como o desenvolvimento de atitudes e valores em relação à

ciência e suas implicações na sociedade. (SANTOS e MORTIMER, p.6,

1999).

O exemplo de contextualização como exemplificação de situações cotidianas é muito

encontrado nos livros didáticos de química, os quais abordam, de forma superficial, fatos

históricos ou até mesmo quando mencionam um personagem relevante para o conteúdo

discutido em questão, buscando relacionar um contexto, a exemplo da forma como são

apresentados os modelos atômicos: Dalton, Rutherford, Bohr dentre outros, na qual o

conhecimento sobre a ciência é apontado como algo pronto e acabado.

Muitos livros didáticos ainda propõem que os sujeitos ainda não iniciados em

Química sejam apresentados a ela a partir dos modelos atômicos. Entretanto,

parece ainda mais problemático pensar que, ainda hoje, um significativo

contingente de professores segue insistente na tentativa de seguir a sequência,

que tinha lógica no contexto em que fora proposta, com a expectativa de seus

estudantes formarem a visão do “todo”; o que pode, possivelmente, contribuir

com uma concepção de conhecimento científico acabado, pronto, finito.

(COSTA-BEBER; MALDANER; 2011 p.8).

A partir de várias discussões sobre a temática contextualização no ensino de ciências,

tanto nas pesquisas empíricas, artigos científicos, periódicos, trabalhos monográficos,

dissertações e teses. É notável a necessidade de refletir sobre o sentido real e satisfatório desse

eixo, sendo este de grande importância no ensino de ciências.

Um dos grandes avanços da educação nesta discussão, que nos parece não ter uma

definição pronta e acabada, é a formulação de enunciados contextualizados que são avaliados

no ENEM – Exame Nacional do Ensino Médio, nos últimos anos traz à tona problemas reais

vivenciados pelas pessoas, assim como presente nos processos industriais e tecnológicos em

diversas áreas, seja na alimentação, saúde, agricultura, medicina, cosméticos dentre outras.

Nesse sentido, os alunos são estimulados à prática da leitura e interpretação do mundo real

diante dos problemas apontados, além de serem desafiados a expor seus argumentos mediante a

resolução de tais problemas mesmo, que na maioria das vezes, o problema não seja solucionado

de forma satisfatória e imediata.

Como já citado, além dos problemas no entendimento de pesquisadores e professores

por contextualização, observa-se que, grande parte desses alunos, interpretam o conceito e/ou

significado do que seja contextualizar de forma simplificada da visão que estamos propondo.

Corroborando com esta discussão, Wartha e Alário (2005, p.46) afirmam que: “Não somos

contra o uso de ilustrações, notícias, temas ambientais, etc. Eles devem e precisam ser

utilizados como forma de o aluno perceber a Química no seu dia-a-dia”. Embora defendam a

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contextualização como processo de construção de identidade e tomada de decisão do aluno com

o compromisso com a cidadania. Para Lopes (2002, p.392):

[...] a ideia de contextualização também aparece associada à valorização do

cotidiano: os saberes escolares devem ter relação intrínseca com questões

concretas da vida dos alunos. Falta um sentido mais político ao conceito de

cotidiano. Seu entendimento, entretanto, não é restrito como em algumas

perspectivas construtivistas que analisam os saberes prévios dissociados de

uma interpretação mais ampla do conhecimento escolar.

Conforme o entendimento da autora, a contextualização, portanto, está diretamente

associada aos saberes escolares do aluno, desde as séries iniciais, sobretudo, as suas vivências

cotidianas e que é visto que há falhas no modelo de ensino, quando este está dissociado do

conhecimendo científico que deve ser valorizado e aprendido na escola. Ainda neste contexto,

Santos e Mortimer (1999, p.1) justificando a escolha de sua pesquisa apontam que:

Temos presenciado o uso do termo contextualização com diferentes

significados. Diante do destaque dado ao tema nas Diretrizes Curriculares e da

diversidade de significados atribuídos ao termo, consideramos importante

investigar o que os professores entendem por contextualização.

Ainda nesta perspectiva, os autores apontam que o entendimento do significado da

contextualização social é fundamental para que o professor possa desenvolver estratégias de

ensino que favoreçam o preparo para o exercício da cidadania. Como forma de compreender as

concepções de professores sobre a temática contextualização social no ensino de química, uma

pesquisa realizada com 24 professores de Belo Horizonte e do Distrito Federal, por Santos e

Mortimer (1999, p.1-2) apontaram que:

[...] Após a análise das categorias levantadas, sintetizamos as mesmas em três

categorias genéricas: contextualização como estratégia de ensino-

aprendizagem para facilitar a aprendizagem; contextualização como descrição

científica de fatos e processos do cotidiano do aluno; e contextualização como

desenvolvimento de atitudes e valores para a formação de um cidadão crítico.

As categorias sobre contextualização definidas por Santos e Mortimer (1999) são: 1-

Contextualização como estratégia de ensino-aprendizagem para facilitar a aprendizagem:

esta categoria se configura por meio da abordagem do conteúdo químico através da

exemplificação e ilustração de fatos cotidianos, não apresentando um enfoque nos problemas

sociais e a sua relação com o meio ambiente. 2-Contextualização como descrição científica de

fatos e processos do cotidiano do aluno: esta categoria é entendida através da explicação e/ou

descrição de processos físicos e químicos presentes no cotidiano do aluno, apresentando uma

relação direta ou indiretamente do conteúdo químico. Ainda nesta categoria discute questões

tecnológicas envolvidas nestes processos. 3-Contextualização como desenvolvimento de

atitudes e valores para a formação de um cidadão crítico: nesta categoria se discute situações

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ou problemas reais presentes no cotidiano dos alunos, apresentando uma relação com os aspectos

sociais, políticos, econômicos e ambientais, com o intuito de contribuir com a construção de uma

postura crítica dos alunos enquanto cidadãos na sociedade onde vivem.

Nessa mesma intenção, o autor González (2004, p.215) destaca prováveis tipos ou

considerações que apontem para a contextualização. Dentre elas citamos: contextualização

histórica, contextualização Metodológica e Contextualização Socioambiental.

1: Contextualização histórica: como uma forma de mostrar como e por que

surgem ideias e teorias científicas, se opondo à visão aproblemática que

costuma aparecer no ensino de Ciências na maioria das vezes.2:

Contextualização Metodológica: como uma forma de influenciar não só nos

conteúdos como objetos terminais, mas também nas formas em que isso pode

ser gerado. Em oposição à visão dogmática de senso comum que tende a ser

oferecida através de uma ciência acabada e pré-fabricada na qual o aluno é um

mero receptor e consumidor. 3: Contextualização Socioambiental: como

forma de ver a utilidade da ciência em nosso modo de ver o mundo e de

interagir com ele, se opondo à visão teoricista e descontextualizada que concebe

a ciência como algo puramente abstrato e sem relação com a realidade que nos

rodeia (GONZÁLEZ, 2004, p.215) (tradução nossa).

A contextualização histórica apontada por González (2004) está relacionada com à visão

de como surgiram as teorias científicas, ou seja, apresentar a ciência considerando o contexto

histórico da época e o sujeito local, mostrando como e o porquê foi construído os conceitos

científicos, uma vez que a história da ciência é vista, na maioria das vezes, como se os cientistas

dedicassem a maior parte do seu tempo isolados, fora do contexto da sociedade.

Com relação à contextualização metodológica, é apresentada ao aluno como forma de

discutir um problema real, sendo que este pode sofrer influências desde o seu princípio, diante

das diversas áreas do conhecimento humano. Tratando-se da contextualização socioambiental, a

ciência é apresentada ao aluno diante das questões socioambientais, considerando o seu papel na

vida cotidiana desse aluno, a fim de entender qual a importância da ciência em nosso entorno e

sua interação com o mundo.

Entendemos, dessa forma, que há uma complementação nos tipos de abordagens

relacionadas à contextualização. Uma depende da outra no processo de ensino aprendizagem e, a

partir desses referenciais, percebemos uma semelhança nas descrições dos conceitos de

contextualização definidos por estes autores, diante das categorias criadas. Costa-Beber e

Maldaner (2011 p.11) defendem em seu trabalho sobre Cotidiano e Contextualização no ensino

de Química que:

[...] o cotidiano é precursor dos pensamentos contemporâneos que envolvem a

contextualização do ensino na medida em que a proposta constitui-se em

mudança radical, contrapondo-se ao ensino escolar descolado da realidade dos

estudantes, fragmentado e disciplinar. Evidencia-se o avanço da proposta de

trabalho com o cotidiano ao relacionar Ciência, Tecnologia e Sociedade[...].

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Sendo assim, entendemos que contextualizar é construir significados, incorporando

valores que explicitem o cotidiano, com uma abordagem social e cultural que facilitem o

processo da descoberta. É levar o aluno a entender a importância do conhecimento e aplicá-lo na

compreensão dos fatos que o cercam. Ainda nesta perspectiva, Wartha, Silva e Berjarano (2013,

p. 90), ao discutir em seu artigo sobre contextualização e cotidiano, afirmam que:

Falar em contextualização, portanto, também requer cuidados dos pesquisadores

e professores. Aponta-se que há diversas perspectivas colocadas quando se fala

em contextualização: a contextualização não redutiva, a partir do cotidiano;

a contextualização a partir da abordagem CTS; e a contextualização a

partir de aportes da história e da filosofia das ciências.

Uma abordagem contextualizada crítica no ensino de ciências seria aquela em que o

aluno sinta-se estimulado e desperte o interesse pelo conteúdo abordado, bem como a busca de

novos conhecimentos relacionados à temática discutida em sala, de modo que construa seu

próprio conceito e, assim, poder posicionar-se frente a um problema real presente no meio em

que esteja envolvido, relacionando as questões sociais, políticas e econômicas, bem como o uso

de tecnologias e criação de novos produtos.

A partir da realização de várias pesquisas envolvendo o conceito de contextualização, e

suas implicações envolvidas na academia, observa-se que a valorização do cotidiano e das

questões sociais, estão presentes desde as primeiras pesquisas realizadas com os trabalhos de

Lutfi (1988;1992). É possível perceber que, de fato, há várias interpretações e visões

polissêmicas no conceito de contextualização. Entretanto, o cotidiano foi substituído no discurso

de professores de forma híbrida dos parâmetros curriculares, mas que, na verdade, seria o próprio

contexto. Entretanto, defendo que uma contextualização crítica com uma perspectiva educacional

CTS é aquela que leve em conta as questões socioculturais, econômicas, políticas e

sociocientíficas, que estejam envolvidas com situações reais no cotidiano dos alunos, de modo

que, os mesmos, possam tomar posições e dar opiniões de acordo com os conhecimentos

científicos adquiridos humanisticamente e, assim, tomar decisões conscientes contribuindo

coletivamente com os interesses.

Diante os levantamentos dos trabalhos e das diferentes perspectivas sobre a

contextualização com base nos autores lidos, chegamos a hipótese de que é relevante levar esta

discussão para o campo da formação inicial de professores de química, uma vez que, esta

temática, é pouco ou quase não é contemplada no currículo destes. Entendemos que esta proposta

como abordagem é um caminho complexo e que estão envolvidas questões políticas, culturais e

principalmente da atuação dos professores formadores.

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Além disso, é possível que haja um encaminhamento dos futuros professores, para as

salas de aula, com argumentos e diálogos relativos aos problemas sociais, em detrimento do

desenvolvimento da ciência e da tecnologia, criando condições necessárias para a

problematização no ensino de ciências, sobretudo, a difusão e promoção de valores coletivos dos

alunos, enquanto cidadãos críticos na sociedade.

3.1 Contextualização crítica numa perspectiva CTS na visão de Santos

(2007; 2008) e Santos et al (2010).

A busca por uma contextualização crítica é defendida pelo autor Wildson Luiz Pereira dos

Santos, um dos coordenadores do grupo de pesquisa em “Química e Sociedade” – PEQUIS da

Universidade de Brasília e considerado um dos percursores do movimento educacional CTS no

Brasil. Tem refletido em suas pesquisas sobre questões relacionadas ao desenvolvimento

tecnológico e suas relações e interações com a sociedade, sobretudo, com as mudanças cotidianas

na vida das pessoas, numa perspectiva humanística.

Santos (2008) discute a necessidade de incorporar ao ensino de Química e de Ciências

questões relacionadas à ciência, à tecnologia e a sociedade, devido a recorrência e o descontrole

dos problemas ambientais no mundo, de modo a despertar o entendimento crítico dos alunos

diante dos conteúdos abordados em sala de aula, visando o julgamento do conhecimento

científico.

Com o agravamento dos problemas ambientais e diante de discussões sobre a

natureza do conhecimento científico e seu papel na sociedade, cresceu, no mundo

inteiro, um movimento que passou a refletir criticamente sobre as relações entre

ciência, tecnologia e sociedade. Esse movimento levou a proposição, a partir da

década de 1970, de novos currículos de ensino de ciências que buscaram

incorporar conteúdos de CTS. (SANTOS, 2008, p.111).

Essas inquietações intensificaram-se ainda mais quando se começou a discutir a relação

dos problemas ambientais, com o desenvolvimento tecnológico e suas implicações na sociedade

com o crescimento populacional e o consumo desenfreado de artefados tecnológicos, bens de

consumo, alimentos e medicamentos.

Santos et al (2010) também apontam um contexto histórico dos movimentos CTS e EA

(Educação Ambiental), destacando a visão da Ciência e Tecnologia como modelo de progresso na

sociedade, e reforça o conceito de EA crítica numa visão ambientalista, tendo como princípios a

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preocupação com o meio ambiente e manutenção de todos os seres vivos, sobretudo, dos recursos

naturais.

O movimento CTS e a EA tiveram trajetórias muito próximas na segunda metade

do século passado. O movimento CTS ganhou um impulso mais significativo

quando a sociedade começou a questionar os discursos sobre o progresso e o

desenvolvimento advindos da Ciência e Tecnologia (C&T) sem uma análise

crítica das relações de seus conhecimentos. Nesse mesmo período, o movimento

ambientalista se intensificou com a crítica ao desenvolvimento econômico e com

o uso desenfreado dos recursos naturais (SANTOS, et al, 2010, p.132).

Observa-se que os movimentos CTS e EA se complementam, visto que, ambos, estão

diretamente relacionados com o desenvolviemento da ciência e da tecnologia, sobreudo, a

sociedade de consumo e uso desenfreado dos recursos naturais fundamentais à vida no planeta,

despertanto o interesse de pesquisadores e escritores publicarem artigos e livros que mostram esta

preocupação e fato marcante para estas discussões como mostra a seguir a preocupação dos riscos

quanto ao uso de agrotóxicos na agricultura.

Outro fato marcante foi a publicação do livro Primavera Silenciosa (Silent

Spring) de Rachel Carson, em 1962, denunciando os riscos associados ao uso de

inseticidas como DDT. O crescimento de movimentos sociais (e.g.

ambientalistas, pacifistas, contraculturais) também propiciou condições para o

surgimento de uma nova visão sobre os impactos da C&T na sociedade.

(SANTOS, et al, 2010, p.134).

Neste contexto, passou-se a discutir e relacionar a contextualização não só com o

cotidiano, mas com as questões voltadas à Ciência-Tecnologia-Sociedade. Através da

contextualização crítica para tomada de decisões, defendida por Santos (2007, 2008); Santos et al

(2010), mostrando que é possível recontextualizar a visão simplista e de senso comum de

conceitos científicos impregnados e embutidos na mente dos alunos, bem como da sociedade.

O contexto em que está situado o aluno, a escola e o professor é de suma importância para

que ocorra uma abordagem contextualizada, pois é a partir do contexto guiado por um problema

real. Acreditamos que este seja um caminho possível para que haja uma discussão desta temática

no meio acadêmico, com mais afinco, de modo que os novos professores possam assumir um

compromisso com a formação do aluno enquanto cidadão, não somente atuando com um pano de

fundo na sua prática docente.

O objetivo central desse ensino na educação básica é promover a educação

científica e tecnológica dos cidadãos, auxiliando o aluno a construir

conhecimentos, habilidades e valores necessários para tomar decisões

responsáveis sobre questões de ciência e tecnologia na sociedade e atuar na

solução de tais questões. (SANTOS, 2007, p. 2).

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A visão humanística citada pelo autor está centrada na capacidade de homens e mulheres

em transformar o seu mundo, por meio do processo educativo e do exercício dos valores humanos

e sociais, como o desenvolvimento do espírito fraterno, em que um não explora o outro,

exercitando a compaixão pelo semelhante, a necessidade de se colocar no lugar do outro e o amor

nas relações sociais e interpessoais. Isso porque, a visão predominante na ciência está centralizada

na “lógica da maximização do lucro e a minimização dos custos. Essa lógica mantém a prioridade

do capital sobre valores humanos”. (SANTOS, 2008, p.125).

Concordamos com a concepção de contex,tualização crítica no ensino de ciências

conforme propõe Santos (2007; 2008) e Santos et al (2010) em suas pesquisas. Essa concepção

está apoiada em uma perspectiva humanística fundamentada nas idéias de Paulo Freire, por meio

de uma abordagem social com implicações e interrelações do ensino CTS no ensino de ciências,

sobretudo, um modelo de ensino voltado para a justiça e igualdade social.

O conceito de contextualização crítica é apontado pelo autor no artigo: Contextualização

no ensino de ciências Por meio de temas CTS em uma perspectiva crítica (Santos, 2007). Neste

artigo são discutidos os movimentos CTS por meio de uma abordagem contextualizada numa

perspectiva crítica para tomada de decisão, tendo como exemplo, o modelo curricular

desenvolvido no projeto PEQUIS da Universidade de Brasília, apontando concepções de

contextualização de ensino CTS e das orientações curriculares presentes nos PNC.

Neste artigo o autor apresenta a diferença de contexto histórico cultural dos movimentos

CTS e CTSA no ensino de ciências e suas implicações na sociedade.

Esse movimento levou a proposição, a partir da década de 1970, de novos

currículos no ensino de ciências que buscaram incorporar conteúdos de ciência-

tecnologia-sociedade – CTS. Considerando que essas propostas incorporam uma

perspectiva de reflexão sobre conseqüências ambientais (ANGOTTI; AUTH,

2001), posteriormente, elas passaram a ser denominadas também ciência-

tecnologia-sociedade-ambiente – CTSA quando se incluíam obrigatoriamente na

cadeia das interrelações CTS as implicações ambientais. Em tese, pode-se dizer

que, pela sua origem, todo movimento CTS incorpora a vertente ambiental à

tríade CTS. (SANTOS, 2007, p.1).

Defendemos que as relações das questões sócioambientais estão presentes na perspectiva

educacional CTS e devem ser esclarecidas na formação de professores de ciências, uma vez que o

autor faz uma crítica de como os professores têm conduzido a abordagem contextualizada no

ensino de ciências, e como esta tem sido discutida nas escolas, pois, na maioria das vezes, os

alunos são treinados para a resolução de questões que envolvem cálculos e memorização, com

classificação de nomes complexos e fenômenos químicos, apontando assim, uma visão restrita do

cotidiano escolar dos alunos.

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A contextualização é imprescindível na formação e construção da cidadania, sobretudo, no

desenvolvimento de atitudes e valores dos alunos apresentando objetivos relevantes conforme

pode ser visto a seguir:

[...] a contextualização pode ser vista com os seguintes objetivos: 1) desenvolver

atitudes e valores em uma perspectiva humanística diante das questões sociais

relativas à ciência e à tecnologia; 2) auxiliar na aprendizagem de conceitos

científicos e de aspectos relativos à natureza da ciência; e 3) encorajar os alunos a

relacionar suas experiências escolares em ciências com problemas do cotidiano.

(SANTOS, p.5, 2007).

Observa-se ainda, neste mesmo sentido, que é importante o professor entender os objetivos

fundamentais da contextualização para o ensino, sobretudo, compreender como e de que forma

esta contextualização está presente em seu discurso e nos materiais didáticos que são utilizados em

sala de aula.

Com o intuito de contribuir com o trabalho do professor e proporcionar diferentes formas de

abordagem de conteúdos químicos, (Santos; Mol et al., 2005) produziram o livro diático “Química e

Sociedade”, por intermédio do projeto PEQUIS-UnB, apresentando temas sociais por meio da

contextualização temática numa perspectiva crítica educacional CTS, como pode ser visto nos

recortes a seguir:

Na Universidade de Brasília temos desenvolvido o Projeto Ensino de Química e

Sociedade – Pequis, no qual têm sido produzidos materiais didáticos para o

ensino médio de Química, dentre os quais podemos destacar o livro “Química e

Sociedade” (SANTOS; MÓL, 2005). Com esses materiais procuramos, por meio

da contextualização temática, desenvolver valores e atitudes comprometidos com

a cidadania (SANTOS et al., 2004). Dessa forma, ao tratarmos dos conteúdos

químicos, os associamos com temas sociais e, ao abordar esses temas, discutimos

aspectos sociais, econômicos, ambientais e éticos. (SANTOS, 2007, p.8).

Ainda defendendo a contextualização crítica numa perspectiva educacional CTS, no artigo:

“Educação Científica Humanística em Uma Perspectiva Freireana: Resgatando a Função do

Ensino de CTS” (Santos, 2008), apresenta uma visão histórica e contextual sobre o movimento

CTS e concepção humanística na educação defendida por Paulo Freire, o autor aponta a

necessidade de uma recontextualização no ensino, uma vez que, é fundamental entender as

questões centrais do movimento e sua relação com o processo de ensino e aprendizagem das

ciências, além do desenvolvimento tecnológico e suas aplicações de forma positiva e negativa para

a sociedade como um todo.

[...] o que se espera é que o cidadão letrado possa participar das decisões

democráticas sobre ciência e tecnologia, que questione a ideologia dominante do

desenvolvimento tecnológico. Não se trata de simplesmente preparar o cidadão

para saber lidar com essa ou aquela ferramenta tecnológica ou desenvolver no

aluno representações que o preparem a absorver novas tecnologias.(SANTOS,

2008, p.114).

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O autor aponta, de forma clara, a questão da ciência e da tecnologia e seu impacto na

sociedade, com uma educação defendida e proposta por Paulo Freire, observa-se a relação dos

sujeitos na sociedade como ponto de partida para entendimento destas relações de poder, e o

entendimento sobre o opressor e o oprimido.

De acordo com a teoria de ação dialógica de Paulo Freire, enquanto no processo

de dominação o sujeito conquista a outra pessoa e a transforma em “coisa”, no

processo dialógico, a característica central é o fato de que uma pessoa não anula a

outra. No processo dialógico, os sujeitos encontram-se em cooperação para

transformar o mundo. Seria a práxis dialógica que permitiria o desvelamento,

pelos oprimidos, da sua situação de opressão. (SANTOS, 2008, p.115).

Observa-se que os desafios enfrentados pelo ser humano na sociedade, além das diferenças

das classes sociais, a desvalorização do cidadão, o qual não usufrui dos benefícios a serem

destinados a ele, é cercado pela opressão sofrida no país, com sérios problemas de saúde pública,

trabalho escravo nas lavouras e canaviais, falta de saneamento básico em muitas cidades, a falta de

emprego e, quando estas existem, são em más condições de trabalho, com jornadas de trabalho

exaustivas, dentre outras situações agravantes envolvidas neste contexto. Entretanto, nos países

ricos é valorizado o acúmulo de bens assim como o lucro da alta tecnologia aplicada em seus

processos.

No caso do Brasil e dos países do chamado Terceiro Mundo, ele é caracterizado

por um processo de exclusão social em que apenas uma parcela da população

usufrui seus benefícios, enquanto a maioria fica na marginalidade. Na perspectiva

global, ele é caracterizado pela divisão desigual do trabalho, do lucro e da

exploração ambiental. Enquanto aos países pobres são destinados serviços

produtivos de extração de matéria-prima em que muitas vezes há exploração de

mão-de-obra e de recursos naturais; aos países ricos concedem-se condições

favoráveis para o acúmulo de bens de serviços e do lucro do controle da alta

tecnologia e do capital sob a custa dos marginalizados e excluídos. (SANTOS,

2008, p.117-118).

De alguma forma, o cidadão busca sair da situação de oprimido que é posta pelo sistema

capitalista do país, reproduzido pelas pessoas em vários seguimentos, afetando, também, o

ambiente escolar. Busca-se então desenvolver uma postura diferenciada com diálogos claros,

diferente da “educação bancária”, como aponta Freire, promovendo situações problematizadoras e

debates durante suas aulas, de modo que o aluno possa construir e formar suas concepções saindo

da situação de oprimido, apontando para uma educação para cidadania, de forma igualitária a

partir de valores humanos.

Para Freire (1970), problematizar é exercer uma análise crítica sobre a realidade

problema. Para que isso ocorra, os sujeitos precisam voltar-se dialogicamente

para a realidade mediatizadora, a fim de transformá-la. Esse processo não se dá

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por imposição, como é feito na educação “bancária”. Ele se dá por meio da

colaboração e da comunhão de idéias que, para Freire, implica um processo de fé

nos homens, de confiança mútua, que se instaura a partir de uma ação com amor,

humildade e solidariedade (FREIRE, 1970) apud (SANTOS, 2008, p.115).

Santos (2008) faz uma crítica quanto ao modelo de ensino de ciências que é visto nas

escolas, mostrando a relação opressora de ensinar discutida por Paulo Freire, no sentido de impor

aos alunos um conhecimento pronto e acabado, valorizando o papel da tecnologia nas

necessidades humanas.

Podemos considerar a educação de ciências que se faz na maioria das escolas com

memorização de termos científicos, sistemas classificatórios e algoritmos como

sendo uma educação bancária na concepção freireana. Essa educação neutra, não

problematizadora, carrega consigo valores dominantes da tecnologia que têm

submetido os interesses humanos àqueles puramente de mercado. Essa educação

acaba sendo opressora, na medida em que reproduz um valor de ciência como um

bem em si mesmo a ser consumido e aceito sem questionamentos (SANTOS,

2008, p.116-117).

Sendo assim, o autor destaca a proposta da educação libertadora de Paulo Freire a partir de

temas geradores como forma de lê, escrever e enxergar o mundo, uma vez que apresentam

diferentes sentidos para os alunos, os quais podem ser alfabetizados cientificamente, com o

objetivo de repensar o mundo e transformar a sua realidade.

A sua proposta é uma nova forma de práxis educativa ,que em vez de reproduzir

o mundo, vai transformá-lo. As palavras geradoras, repletas de sentido para os

educandos, são instrumentos de repensar o mundo. Nesse sentido, a sua proposta

é de uma educação para a conscientização, que vai além do ato de ensinar a ler e

a escrever. O educando usaria a leitura e a escrita para desencadear um processo

social de transformação de sua realidade. (SANTOS, 2008, p.116).

Em outro artigo titulado por: O Enfoque CTS e a Educação Ambiental: Possibilidade de

“ambientalização” da sala de aula de Ciências. In: Ensino de Química em Foco (Santos; et al

2010), tendo como Wildson Santos o autor principal, destaca-se uma possível articulação entre o

enfoque CTS e uma perspectiva crítica de Educação Ambiental no ensino de Ciências.

Ressaltando que, no ensino de Ciências, o enfoque CTS na perspectiva freireana possibilita a

“ambientalização” da sala de aula, por meio de Unidades de Aprendizagem (UA), intensificando

aprendizagens tanto dos alunos como dos professores, para uma leitura mais crítica da realidade.

Diferentes visões sobre o ensino CTS e Educação Ambiental tem sido expressas

nos currículos escolares, muitas vezes, contradizendo os fins desses movimentos.

Tomando como referência as propostas de educação libertadora de Paulo Freire,

nesse texto apresentamos uma possível articulação entre o enfoque CTS e uma

perspectiva crítica de Educação Ambiental no ensino de Ciências (SANTOS, et

al, 2010, p.132).

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Os autores apontam, no texto, as diferenças existentes entre os cursos que contemplam a

abordagem educacional CTS e EA, apresentando a origem e a discussão destes movimentos no

ensino de ciências, sobretudo, nos currículos, como pode ser visto nos recortes a seguir:

[...] pode-se dizer que muitos cursos de CTS acabaram por não contemplar

questões ambientais inerentes às discussões iniciais. Com isso, começaram a

surgir denominações de Ciência-Tecnologia-Sociedade-Ambiente (CTSA) para

os cursos que incluíam na cadeia das inter-relações CTS as implicações

ambientais. (SANTOS, et al, 2010, p.137).

Entendemos que ao discutir as questões sociais e suas implicações ao ensino CTS, as

questões ambientais já estão inseridas neste contexto, visto que não estão dissociadas da

sociedade. Os autores apontam os objetivos centrais do ensino com enfoque CTS conforme o

recorte abaixo:

Podemos afirmar assim que, o enfoque CTS pretende: a) a análise e a

desmitificação do papel da ciência e da tecnologia como conhecimento

hierarquizado e que leva ao desenvolvimento; b) a aprendizagem social da

participação pública nas decisões relacionadas com os temas tecnocientíficos e c)

uma renovação da estrutura curricular dos conteúdos, de forma a colocar a C&T

em concepções vinculadas ao contexto social. (SANTOS, et al, 2010, p.140).

Nesse contexto, também é visto uma relação direta dos autores com a perspectiva

humanística freireana e o enfoque no ensino CTS (santos, 2008), assim como uma

contextualização crítica (Santos, 2007) discutidos nos artigos anteriores, conforme os autores

descrevem como seria a educação com esse enfoque:

Nesse sentido, a educação com enfoque CTS na perspectiva freireana buscaria

incorporar ao currículo, discussões de valores e reflexões críticas que possibilitem

desvelar a condição humana. Não se trata de uma educação contra o uso da

tecnologia e nem uma educação para o uso, mas, uma educação em que os alunos

possam refletir sobre sua condição no mundo frente aos desafios postos pela

ciência e tecnologia (p.122). (SANTOS, et al, 2010, p.145).

Os autores ainda discutem a importância do enfoque CTS e a EA em uma perspectiva

crítica e progressista no Ensino de Ciências, no ambiente escolar envolvendo a formação de

educadores, conforme pode ser visto no trecho a seguir:

[...] é importante que os educadores coerentes com os princípios de CTS e da EA

propiciem a interpretação das questões socioambientais cotidianas, no sentido do

encaminhamento de abordagens problematizadoras, tais como as necessidades e

desejos na nossa sociedade de consumo; insustentabilidade de um modelo de

“desenvolvimento” que gera uma legião de excluídos, uma das piores faces da

degradação ambiental; os conflitos e/ou confortos que envolvam poderosos

interesses econômicos em jogo, como a exploração de recursos minerais ou o uso

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da água enquanto recurso finito e indispensável à vida. (SANTOS, et al, 2010,

p.146).

Os princípios envolvidos no contexto CTS e EA relacionados à sociedade de consumo e a

preservação do meio ambiente, podem ser tratados e discutidos na proposta pedagógica do

professor de Ciências em sua “Formação em Rede”, ou seja, por meio de Rodas de Formação que

são espaços em que os professores em formação e professores formadores escrevem, leem e

contam suas experiências e histórias vividas, a fim de “ambientalizar” a escola.

“Ambientalizar” a escola envolve assumi-la como espaço privilegiado para a

problematização das relações CTS, tal como foram destacadas anteriormente, e

para a discussão de questões que contribuam para uma melhor compreensão e

apropriação de significados a respeito das relações entre ser humano e ambiente,

numa perspectiva local, mas sem perder de vista seus significados numa

perspectiva global. (SANTOS, et al, 2010, p.148).

Nesse sentido, é proposto pelos autores a produção de Unidades de Aprendizagem (UA)

articuladas ao ensino CTS e a EA, a fim de contribuir com a formação e produção de um currículo

“ambientalizado”, ou seja, um ambiente em que o aluno possa aprender a aprender, a pesquisar e

refletir numa visão de mundo.

Ao articular a UA com enfoque CTS e a EA é possível pensar em um trabalho em

sala de aula que problematize a produção da ciência enquanto conhecimento

neutro e superior, a capacidade técnica de desenvolvimento social e de resolver

problemas ambientais, a superioridade técnica na tomada de decisão aliadas à

crítica ao modelo societário hegemônico, que pretende produzir mais

consumidores, em que o individualismo se apresenta como condição necessária

de êxito. (SANTOS, et al, 2010, p.151).

Os autores concluem a discussão do artigo orientando o professor de Ciências a assumir

uma atitude crítica diante da sociedade da qual faz parte, de modo que possa “ambientalizar-se”,

ambientalizando o currículo, sobretudo, a escola. Essa ambientalização está centrada nos grupos

de formação continuada de professores, os quais contam, escrevem e leem as suas histórias,

valorizando as produções de UA com enfoque no ensino CTS.

Em síntese, diante das questões apontadas nos artigos de Santos (2007; 2008) e Santos et al

(2010) concluímos e tomamos como ponto de partida que uma contextualização crítica numa

perspectiva de ensino CTS, está relacionada com as questões e implicações tecnocientíficas,

socais, políticas, econômicas, ambientais. Desta forma, o licenciando deve compreender estas

questões e, consequentemente, se posicionar criticamente numa visão humanística global,

manifestando as suas opiniões e conhecimento científico para a tomada de decisão, diante dos

problemas reais envolvidos na sociedade de forma coletiva, buscando sempre o exercício e a

promoção de valores humanísticos tais como: ética, bondade, fraternidade, solidariedade e respeito

ao próximo e ao meio ambiente.

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4 Metodologia da pesquisa

4.1 Contexto da pesquisa

Realizamos uma intervenção e mediação de leitura com a utilização de artigos que

discutem a contexualização no ensino de Ciências numa perspectiva crítica com enfoque CTS,

com licenciandos em química da Universidade Federal de Sergipe. Os licenciandos produziam um

texto referente ao assunto discutido nos artigos, a fim de apontar as suas compreensões sobre a

leitura e análise, com um total de 03 produções. A professora formadora da turma, retirava alguns

trechos e frases dos artigos, os quais julgava relevante discutir junto com os licenciandos. Essa

discussão foi realizada de forma dialogada.

Após esta etapa, o licenciando realizava a análise e leitura solitária do artigo, em casa, e

produzia um texto sobre as suas compreensões realizadas diante da leitura, após a produção textual

e entrega deste texto. Uma nova discussão era realizada pela professora formadora, ampliando a

discussão diante das observações da turma, consequentemente para cada leitura. O nível de

exigência da produção textual era exigido a cada artigo solicitado e lido, da mesma forma exigia-

se a análise das compreensões dos licenciandos no contexto desta discussão.

Os artigos discutidos nesta análise foram: 1) Educação Científica Humanística em Uma

Perspectiva Freireana: Resgatando a Função do Ensino de CTS (Santos, 2008); 2) O Enfoque

CTS e a Educação Ambiental: Possibilidade de “ambientalização” da sala de aula de Ciências.

In: Ensino de Química em Foco (Santos; et al 2010), e 3) Contextualização no ensino de ciências

Por meio de temas CTS em uma perspectiva crítica (Santos, 2007).

O motivo da escolha desses artigos partiu do princípio de que através das nossas

interpretações proveniente das leituras, há uma complementação na discussão envolvida em cada

um deles sobre a contextualização no ensino de ciências e a sua relação com o movimento

educacional CTS, numa perspectiva crítica, levando em consideração uma educação para a tomada

de decisão e exercício da cidadania.

A análise das produções textuais dos licenciandos foi realizada através dos discursos dos

artigos selecionados, afim de criar categorias a priori. Essa análise foi realizada pelo pesquisador,

considerando os pontos e focos de interesse discutidos nos artigos, atribuindo as complementações

e enfoques sobre a contextualização crítica numa perspectiva educacional CTS. Essa análise foi

realizada com base na Análise Textual Discursiva (ATD) apontada por Moraes e Galiazzi (2011),

os quais defendem que a análise textual pode ser compreendida como um processo auto

organizado de construção de novos significados em relação a determinados objetos de estudo, a

partir de materiais textuais referentes a esses fenômenos.

A análise textual propõe-se a descrever e interpretar alguns dos sentidos que a

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leitura de um conjunto de textos pode suscitar. Sempre parte do pressuposto de

que, toda leitura já é uma interpretação e que não existe uma leitura única e

objetiva. [...] os textos são assumidos como significantes em relação aos quais é

possível exprimir sentidos simbólicos. Pretende-se construir compreensões a

partir de um conjunto de textos, analisando-os e expressando a partir dessa

investigação alguns dos sentidos e significados que possibilitam ler. Os resultados

obtidos dependem tanto dos autores dos textos quanto do pesquisador. (MORAES

e GALIAZZI, p. 14, 2011).

Assim, compreendemos a necessidade da criação de categorias provenientes, tanto da

leitura dos artigos, quanto das produções textuais dos licenciandos de acordo com as etapas da

ATD proposta por Moraes e Galiazzi (2011, p. 11-12).

1- Desmontagem dos textos: esta etapa é considerada como processo de unitarização. Implica

examinar os textos em seus detalhes, fragmentando-os no sentido de atingir unidades constituintes,

enunciados referentes aos fenômenos estudados. Nesta etapa, os textos produzidos e os discursos

dos licenciandos foram transcritos, em seguida, foram retirados fragmentos compostos por

enunciados e terminologias relacionadas ao conceito de contextualização.

2- Estabelecimento de relações: este processo é denominado de categorização. Consiste em

construir relações entre unidades de base, combinando e classificando-os, reunindo esses

elementos próximos, resultando daí sistemas de categorias. Nesta etapa, os textos e discursos

foram analisados, sendo, portanto, enquadrados quando apresentam aproximações e semelhanças

entre si, considerando os recortes e expressões com sentidos.

3- Captando o novo emergente: a análise desencadeada dos processos anteriores possibilita a

emergência de uma compreensão renovada do todo. O investimento na comunicação dessa nova

compreensão, assim como o de sua crítica e validação, constituem o último elemento do ciclo de

análise proposto. O metatexto resultante desse processo representa um esforço de explicar a

compreensão que se apresenta como produto de uma nova combinação dos elementos

construídos ao longo dos passos anteriores. Nesta etapa, foram criadas as categorias a partir da

leitura dos artigos teóricos, os quais serviram para comparar com as categorias que emergiram das

produções textuais dos licenciandos, a fim de identificar as aproximações dos mesmos com o

conceito relevante discutido e defendido pelo autor.

4: Um processo de auto organizado: o ciclo de análise, ainda que composto de elementos

racionalizados e em certa medida planejados em seu todo, pode ser compreendido como um

processo auto organizado do qual emergem novas compreensões. Os resultados finais, criativos e

originais, não podem ser previstos. Mesmo assim, é essencial o esforço de preparação e

impregnação para que a emergência do novo possa concretizar-se. Nesta etapa, comparamos a

produção textual em grupos, uma vez que os discursos foram organizados de acordo com as

categorias a princípio criadas. Partindo da ideia de que, a partir das leituras teóricas, é possível

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admitir a concretização ou compreensão de uma teoria.

Toda leitura é feita a partir de alguma perspectiva teórica, seja esta consciente ou

não. Ainda que se possa admitir o esforço em pôr entre parênteses essas teorias,

qualquer leitura implica ou exige algum tipo de teoria para poder concretizar-se.

É impossível ver sem teorias, é impossível ler e interpretar sem ela. (MORAES;

GALIAZZI, 2011, p.15).

Concordamos com os autores e acreditamos que os licenciandos são dotados de teorias ou,

neste caso, concepções que, de alguma forma, foram construídas durante a sua vida acadêmica, às

quais, podem ser entendidas para eles como verdade absoluta. No entanto, é necessário entender

até que ponto estas concepções convergem ou não, ou até mesmo até que ponto elas são

modificadas frente aos aportes teóricos lidos e analisados.

4.2 Caráter da pesquisa

A metodologia utilizada nesta pesquisa é de cunho subjetivo, qualitativo, discursivo e

descritivo, uma vez que conhecemos as limitações e os enfoques da pesquisa, frente aos nossos

sujeitos, e nos apegamos em avaliar os discursos escritos dos licenciandos sobre a

contextualização crítica no ensino de ciências com enfoque CTS, a partir das ideias de Santos

(2007; 2008) Santos et al (2010) apoiados na Análise Textual Discursiva de Moras e Galiazzi

(2011,p.113).

[...] assume-se que toda leitura de um texto é uma interpretação. Não há

possibilidade de uma leitura objetiva e neutra. Fazer análises qualitativas de

materiais textuais implica assumir interpretações de enunciados dos discursos, a

partir dos quais os textos são produzidos, tendo consciência de que isso envolve a

própria subjetividade.

Assim, analisamos e categorizamos as interpretações dos licenciandos sobre

contextualização de acordo com as compreensões que defendemos, com base nos autores lidos, e

acreditamos que, a partir da transcrição e análise dos discursos originais coletados, foi possível

avaliar e identificar as concepções dos professores em formação sobre a contextualização crítica,

sobretudo, a visão a qual sugerimos e defendemos com base nos autores estudados e através da

ATD, conforme a seguir:

[...] a análise textual discursiva parte de um conjunto de pressupostos em relação

à leitura dos textos que examinamos. Os materiais analisados constituem um

conjunto de significantes. O pesquisador atribui a eles significados a partir de

seus conhecimentos, intenções e teorias. A emergência e comunicação desses

novos sentidos e significados são os objetivos da análise. (MORAES;

GALIAZZI, 2011, p.16)

Desta forma, a partir dos pressupostos teóricos adotados, atribuímos a leitura de artigos,

das produções textuais e das concepções levantadas novos significados, os quais apontam um

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sentido para as nossas intenções.

4.3 Caracterização dos sujeitos da pesquisa

Participaram desta pesquisa 22 licenciandos em Química da Universidade Federal de

Sergipe (UFS), matriculados na disciplina de Estágio Supervisionado I, do segundo semestre

2014/1, tendo como professora formadora Dra Marlene Rios Melo. Sendo que, dentre eles ,9

(nove) são do sexo feminino e 13 (treze) do sexo masculino. Além disso, 2 (dois) deles

lecionavam no período da formação inicial, com uma experiência do Ensino Básico de Química no

mínimo 6 (seis) meses e no máximo 4(quatro) anos.

4.4 Instrumentos de coleta de dados

Como instrumento de coleta de dados, além dos artigos anteriomente citados, tivemos um

questionário para levantar das concepções com 03 questões, uma fechada e duas abertas, as quais

foram de maior interesse como hipótese de resposta para a pesquisa. As perguntas avaliadas

foram: 1- Você já leciona? Se sim, há quanto tempo? Que série? 2- O que você entende por

Contextualização? 3- Como seria uma abordagem de um conteúdo químico de forma

contextualizada?

4.5 Categorias a priori de análises

Consideramos os objetivos da contextualização de acordo com as ideias do autor, para

nomearmos as categorias a priori estabelecidas, conforme pode ser visto no recorte a seguir:

[...] a contextualização pode ser vista com os seguintes objetivos: 1) desenvolver

atitudes e valores em uma perspectiva humanística diante das questões sociais

relativas à ciência e à tecnologia; 2) auxiliar na aprendizagem de conceitos

científicos e de aspectos relativos à natureza da ciência; e 3) encorajar os alunos a

relacionar suas experiências escolares em ciências com problemas do cotidiano.

(SANTOS, p.5, 2007).

Nomeamos, a partir da análise dos artigos utilizados, as seguintes categorias a priori:

1-Contextualização humanística freireana com enfoque CTS (CSHF): essa contextualização

busca incorporar o ensino CTS na perspectiva da educação defendida por Freire, sobretudo,

valores humanos, tais como fraternidade, igualdade, equidade. Possibilitando uma educação além

do uso consciente da tecnologia diante dos desafios provenientes do desenvolvimento da ciência.

(SANTOS, 2007; 2008); SANTOS et al, 2010).

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2- Contextualização crítica CTS para tomada de decisão a partir de temas sociais (CSTD):

esta abordagem contextualizada apresenta o CTS com a função social a partir de temas, os quais

estão envolvidos no desenvolvimento científico e tecnológico em nossa sociedade. Possibilitando

que o indivíduo tenha habilidade para julgar os benefícios e malefícios do uso da tecnologia,

sobretudo, se posicionar criticamente frente às questões políticas e sociais e as relações de poder.

(SANTOS, 2007; 2008; SANTOS et al, 2010).

3-Contextualização com menção e ilustração do cotidiano (CMIC): essa abordagem

contextualizada faz menção dos problemas sociais vividos pelos indivíduos, porém, não discute os

fenômenos nos quais estão inseridos e suas relações com o ensino CTS. Além disso, faz ilustração

de exemplos cotidianos, na vida dos alunos não apresentando as causas ou consequências de tais

situações (SANTOS,2007).

4-Contextualização como método de ensino (CMEN): essa abordagem contextualizada está

relacionada com a simples inclusão de questões do cotidiano com a finalidade de despertar o

interesse dos alunos, aumentar a motivação destes ou não pelo ensino de ciências, e facilitar a

aprendizagem. (SANTOS, 2007).

É importante retomar e destacar que as categorias criadas a partir dos artigos serviram de

análise para o estabelecimento de categorias que surgiram das produções textuais e do

levantamento das concepções dos licenciandos por meio do questionário, uma vez que, emergiram

da análise dos dados, que se aproximaram ou distanciaram, das categorias “a priori” criadas de

acordo com a análise textual discursiva.

Quando se focaliza pesquisas em educação é possível conceber dois modos de

trabalhar com a teoria: teorias a priori e teorias emergentes. No primeiro modo de

lidar com a teoria, o pesquisador explicita, desde o início, seu olhar teórico,

servindo a teoria ou teorias selecionadas para direcionar toda a pesquisa. É o que

denominamos “teorias a priori”. No segundo modo, o pesquisador pretende

construir a teoria a partir da pesquisa. (MORAES; GALIAZZI, 2011, p.157).

Entendemos que a teoria apontada pelo autor, em nosso caso, foi o discurso de Santos

(2007; 2008) e Santos (2010) sobre a contextualização numa perspectiva crítica no ensino de

Ciências, o que resultou de categorias a priori de suma importância para nossa análise. No tocante

às teorias emergentes, estão relacionadas manifestações e nos discursos dos licenciandos sobre

contextualização nas produções textuais e nas concepções levantadas pelo questionário, o que

resultou em categorias emergentes através da análise dos dados. Ainda neste contexto, no tocante

à fomação das categorias, Moraes e Galiazzi (2011, p.28) afirmam que:

[...] quando as teorias são definidas e assumidas “a priori”, classificando-se os

materiais textuais com base em teorias escolhidas com antecedência, as categorias

construídas são denominadas “a priori”. São “caixas” em que os dados serão

colocados.

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5 Análise e Discussão dos Resultados

A seguir estão os dados coletados nas duas etapas que compõem a pesquisa: Na primeira

etapa - resultados da intervenção e da mediação das leituras dos artigos utilizados e as produções

textuais dos licenciandos no instrumento 1, aproximações e complementações dos artigos

utilizados, análise dos discursos dos licenciandos frente às compreensões sobre os textos. Na

segunda etapa - resultados da aplicação do questionário para levantamento das concepções sobre

contextualização no instrumento 2.

5.1 Resultados da Primeira etapa: O momento da mediação da leitura do Instrumento 1.

O primeiro artigo discutido e analisado considerando os nossos objetivos foi: Educação

Científica Humanística em Uma Perspectiva Freireana: Resgatando a Função do Ensino de CTS

(Santos, 2008) para leitura e produção. Na sala de aula, a professora formadora, apontava alguns

trechos presentes no artigo, os quais julgava relevante para a compreensão dos licenciandos

durante a leitura do texto. Através desta decodificação, era iniciada uma discussão e uma leitura de

forma dialogada, de modo que os licenciandos apontavam as suas interpretações e inquietações

sobre a temática discutida no texto utilizado, de acordo com os níveis de entendimento destes,

através da fala e da escrita.

Observou-se de forma clara e pontual que, durante as primeiras leituras, os licenciandos

estavam apreensivos e tímidos quanto à participação em sala de aula. Alguns sujeitos não

interagiam muito com a leitura dialogada pela professora formadora e poucas vezes expressavam,

através da fala, as suas compreensões sobre a discussão em questão. Pude notar que um pequeno

grupo manifestava-se durante as aulas.

O segundo e terceiro artigo utilizados, respectivamente, foram: O Enfoque CTS e a

Educação Ambiental: Possibilidade de “ambientalização” da sala de aula de Ciências. In: Ensino

de Química em Foco (Santos et al, 2010) e Contextualização no ensino de ciências por meio de

temas CTS em uma perspectiva crítica (Santos 2007). A mediação também foi realizada de forma

dialogada, semelhantemente ao primeiro artigo. No entanto, no terceiro artigo foi perceptível uma

pequena mudança na postura dos licenciandos, uma vez, que boa parte dos mesmos, já

conseguiam expressar suas opiniões através da fala, contribuindo, portanto, com a mediação e

intervenção realizada na turma.

Atribuímos a dificuldade dos licenciandos em ler e compreender os artigos lidos, ao fato de

que estes, estão acostumados com o modelo tradicional de ensino transmissivo-receptivo que

valoriza apenas a memorização e reprodução do que se lê e escreve. Esta característica do ensino é

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muito comum aparecer nos discursos e na prática docente de professores formadores na

universidade, que também foram formados e instruídos nesta perspectiva. De forma contrária a

este modelo, defendemos o modelo de ensino apoiado nas ideias construtivistas, que valoriza a

construção do conhecimento mediado pelo professor formador, o que implica positivamente em

saber ler, falar, escrever e discutir ciência. (MORAES; GALIAZZI,2011).

Com relação a análise dos artigos pelo pesquisador, afim de entender o discurso do autor

sobre a contextualização crítica com enfoque CTS, ficou evidente as aproximações e

complementações nos artigos, tendo como autor principal Wildson Luiz Pereira dos Santos,

conforme pode ser visto quadro 01 a seguir. Observa-se que o autor deixa claro a sua visão sobre o

ensino CTS numa perspectiva crítica e, ainda nesse contexto, apresenta uma abordagem histórica

do ensino CTS para o ensino de ciências, as contribuições de Freire dentro desse processo, o

desenvolvimento tecnológico e científico e suas implicações na sociedade, considerando os

valores éticos e aspectos políticos, sociais, econômicos e ambientais. Em todos os textos dos

artigos discutidos, o autor faz a divulgação e promoção do seu material. Neste caso, o livro

didático “Química e Sociedade”, desenvolvido no projeto de pesquisa PEQUIS por professores e

pesquisadores, tendo ele, como um dos organizadores do projeto.

Quadro 01: Análise das Aproximações e complementações dos artigos utilizados na coleta

de dados.

Artigo 1 Santos (2008) Artigo 2 Santos (2010) Artigo 3 Santos (2007)

- Defende o aspecto social no

ensino de Ciências;

- Defende as interrelações do ensino

CTS;

-Perspectiva humanística freireana;

-Tomada de decisão;

-Enfoque político;

-Alfabetização e letramento

científico;

- Critica o ensino tradicional no

campo das ciências.

- Recontextualização e incorporação de

conteúdos com enfoque CTS;

- Incorporações e discussões dos

PCN;

- Menciona o PEQUIS-Unb e os

Materiais didáticos (Livro

Química e Sociedade);

-Utilização de temas sociais em foco;

-Experiências de professores da

Educação Básica;

- Defende questões socioambientais;

- Articulação enfoque CTS e EA;

-Visão Ambientalista;

- Desenvolvimento de atitudes e

valores para a formação do

cidadão crítico.

- Unidade de aprendizagem;

-Ambientalização da escola;

-Relação ser humano e ambiente;

- Menciona o PEQUIS-Unb e os

Materiais didáticos (Livro

Química e Sociedade);

-Experiências de professores com

rodas de formação.

- Defende o aspecto social;

- Defende e diferencia as

relações de ensino CTS-CTSA;

-Aponta os objetivos da

contextualização:Desevolvimento de

atitudes e valores humanísticos;

-Tomada de decisão;

-Aprendizagem dos conceitos

científicos;

-Relação do cotidiano com as

experiências escolares;

- Critica a ilustração de relações

CTS.

-Incorporações e discussões dos

PCN;

-Menciona o PEQUIS-Unb e os

Materiais didáticos (Livro

Química e Sociedade);

-Utilização de temas sociais em

Foco.

Artigo 1: Educação Científica Humanística em Uma Perspectiva Freireana: Resgatando a Função do

Ensino de CTS (Santos, 2008). Artigo 2: O Enfoque CTS e a Educação Ambiental: Possibilidade de

“ambientalização” da sala de aula de Ciências. In: Ensino de Química em Foco (Santos et al, 2010).

Artigo 3: Contextualização no ensino de ciências por meio de temas CTS em uma perspectiva crítica

(Santos 2007).

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Analisando o quadro 01, identificamos os trechos ou pontos de interesse discutidos nos

artigos, buscando relacionar o nosso enfoque para uma busca de tomada de decisão a partir das

compreensões da análise e leitura dos artigos. Acreditamos que uma tomada de decisão acontece

quando o indivíduo consegue se posicionar frente a um problema real, apresentando

conhecimentos científicos suficientes para julgar até que ponto deve tomar uma decisão,

esclarecendo os pontos positivos e negativos envolvidos neste problema. Vale lembrar que esta

decisão não está relacionada ao seu próprio interesse, mas, à busca por uma educação igualitária

de forma consciente, a fim de obter melhores condições e estilos de vida a todos os envolvidos

neste processo.

Em suma, as questões apontadas nos artigos de Santos (2007; 2008) e Santos et al (2010),

estão relacionadas com as questões e implicações tecnocientíficas, socais, políticas, econômicas,

ambientais. Esperamos que os licenciandos compreendam estas questões, consequentemente, se

posicionem criticamente numa visão humanística global, manifestando as suas opiniões, buscando

sempre o exercício e a promoção de valores humanísticos tais como: ética, bondade, fraternidade,

solidariedade e respeito ao próximo e ao meio ambiente.

A seguir estão alguns recortes dos textos produzidos pelos licenciandos a partir dos artigos

utilizados nessa etapa. Os licenciandos foram identificados por um número qualquer, apenas para

identificação dos dados do pesquisador, sobretudo, para não divulgar a identidade dos mesmos, ou

seja, chamaremos a partir de então Licenciandos (LIC). A análise do discurso destes foi realizada

por meio de várias leituras dos textos produzidos mediante as transcrições na íntegra, embora

destacamos os recortes que, na nossa visão, foram considerados como corpus dos discursos, os

quais atribuímos as nossas intenções e novos sentidos e significados como nos orienta a ATD de

Moraes e Galiazzi (2011).

5.2 A análise dos discursos das produções textuais dos licenciandos

Dos 22 participantes, 19 produziram o texto após a leitura dos artigos, anteriormente

citados, por meio destas produções, novas categorias emergiram, às quais chamamos de categorias

emergentes, sendo estas, comparadas com as categorias a priori proveniente da leitura e análise

dos artigos. Alguns recortes a seguir foram selecionados para evidenciar a análise textual realizada

pelo pesquisador, mediante a análise e leitura dos textos produzidos.

LIC 18: Essa contextualização, em volta dos temas de ciência, tecnologia e sociedade forma um

cidadão crítico que possa dar opiniões dentro da sociedade em que vive, a partir do conteúdo

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que ele aprende dentro da sala de aula. Além disso, se tem a possibilidadde de abordar temas

atuais, como vemos no livro “Química e Sociedade”. Esses temas não são meros exemplos, mas

um instrumento para verdadeira contextualização.

LIC 19: O enfoque CTS visa envolver conhecimento científico, conhecimento tecnológico para

aplicar esses conhecimentos na sociedade, ou seja, fazer com que o aluno tenha uma

perspectiva social do que o desenvolvimento científico e tecnológico causa de bom ou ruim na

sociedade e no ambiente. Logo, essa metodologia faz com que o aluno tenha capacidade de

tomar decisões.

Um grupo de quatro licenciandos, demostraram semelhanças em seus discursos, os quais

podem ser observados respectivamente nos recortes do LIC 18 e LIC19. Observa-se que ambos

licenciandos entendem as relações e inter-relações existentes no ensino CTS a partir de temas, é

um caminho para formar cidadãos críticos na sociedade. Essa observação pode ser vista quando o

LIC18 diz: “Essa contextualização, em volta dos temas de ciência, tecnologia e sociedade forma

um cidadão crítico que possa dar opiniões dentro da sociedade em que vive, a partir do

conteúdo que ele aprende dentro da sala de aula”. Com a mesma intenção e ideia no discurso do

LIC19, observa-se que o mesmo apresenta o ensino CTS como possibilidade de conhecimento

científico para que possa julgar criticamente o que é bom ou ruim na sociedade e dar opiniões, a

fim de promover a tomada de decisão, quando o licencenciando diz: “O enfoque CTS visa

envolver conhecimento científico[...] fazer com que o aluno tenha uma perspectiva social do

que o desenvolvimento científico e tecnológico causa de bom ou ruim na sociedade e no

ambiente”.

No entanto, ambos licenciandos não evidenciam como e de que forma é possível o aluno

tomar uma decisão, diante dos argumentos e situações colocadas, o que nos leva a entender que

discursos podem ser configurados como uma categoria emergente, a qual chamamos de:

Contextualização a partir do entendimento das interrrelações CTS e impactos na sociedade.

Entretanto, a visão de Santos (2007) sobre a capacidade de tomada de decisão está relacionada ao

processo de formação de cidadania como princípio norteador da contextualização à discussão de

aspectos sóciocientíficos(ASC), conforme pode ser visto a seguir:

Nesse sentido, assumir o papel central do princípio da contextualização na

formação da cidadania implicará a necessidade da reflexão crítica e interativa

sobre situações reais e existenciais para os estudantes.[...] A discussão de ASC,

articulada aos conteúdos científicos e aos contextos é fundamental, pois propicia

que os alunos compreendam o mundo social em que estão inseridos e

desenvolvam a capacidade de tomada de decisão com maior responsabilidade, na

qualidade de cidadãos, sobre questões relativas à ciência e à

tecnologia.(SANTOS, 2007, p.5-6).

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Pode-se inferir que as concepções manifestadas por este grupo de licenciandos, se distancia

da categoria a priori Contextualização social crítica CTS para tomada de decisão a partir de

temas sociais (CSTD) Santos (2007; 2008); Santos et al, (2010).

Assim, uma pessoa letrada tecnologicamente teria o poder e a liberdade de usar

os seus conhecimentos para examinar e questionar os temas de importância na

sociotecnologia. Isso implica ser crítico no uso da tecnologia, ou seja, ter a

habilidade intelectual de examinar os prós e contras do desenvolvimento

tecnológico, examinar seus benefícios e seus custos e perceber o que está por trás

das forças políticas e sociais que orientam esse desenvolvimento. (SANTOS,

2007, p. 7).

Analisando os discursos de um outro grupo de seis licenciandos, configuramos os dicursos

destes como categoria emergente: Contextualização para a formação de valores a partir do

ensino CTS, conforme pode ser visto nos recortes dos LIC07 e LIC10 abaixo:

LIC07: No Brasil, o movimento CTS surgiu nos anos 90 com os cursos CTS com a inclusão dos

CTS e CTSA nos parâmetros curriculares nacionais, sendo que a proposta é de promover

competência e habilidades no exercício e valores, é visto que é feito apenas ilustração dos

problemas relacionando no dia a dia e vai ser apenas a menção do CTS no ensino.

LIC 10: Com o conhecimento do ensino CTS, fica visível que não basta aprender ciências pela

ciência. Mas, sim, dar significados e valores para que se possa ter uma aprendizagem

significativa, uma vez que, o ensino CTS busca desenvolver valores éticos, políticos e

sociocultural através da contextualização do ensino.

No discurso do LIC07, o mesmo tenta esclarecer as relações existentes entre o ensino CTS

e CTSA no ensino de ciências, porém, não deixa claro em seu discurso, a defesa central do autor

perante a temática. É notável que o licenciando descreve de forma simplificada o marco histórico

das discussões relacionadas ao ensino CTS e CTSA quando diz: “No Brasil, o movimento CTS

surgiu nos anos 90...com a inclusão dos CTS e CTSA nos parâmetros curriculares nacionais,

sendo que a proposta é de promover competência e habilidades no exercício e valores, visto que

é feito apenas ilustração dos problemas relacionando no dia a dia e vai ser apenas a menção do

CTS no ensino”. Nesta mesma perspectiva, o LIC 10, demonstra entendimento da importância do

ensino CTS na formação de valores, porém não deixa claro que valores são esses. Essa observação

pode ser vista quando ele diz: “Mas, sim, dar significados e valores para que se possa ter uma

aprendizagem significativa, uma vez que, o ensino CTS busca desenvolver valores éticos,

políticos e sociocultural através da contextualização do ensino.

Observa-se que, em ambos os discursos, os licenciandos repetem algumas terminologias

do artigo, e não se posicionam quanto aos valores defendidos por Santos (2007). Esses valores

estão relacionados com a formação do indivíduo frente a sua postura ética e igualitária, buscando a

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justiça, a equidade e a forma consciente de ver e ler o mundo, buscando também, o espírito de

fraterninade e humano nas suas relações sociais conforme pode ser visto a seguir:

Esses valores estão vinculados aos interesses coletivos, como os de solidariedade,

de fraternidade, de consciência do compromisso social, de reciprocidade, de

respeito ao próximo e de generosidade. Tais valores, na perspectiva desses

movimentos, se relacionam às necessidades humanas, em uma perspectiva de

questionamento à ordem capitalista, na qual os valores econômicos se impõem

aos demais. (SANTOS, 2007, p. 7).

Este grupo de licenciandos se distanciaram do entendimento do autor quando comparados

à categoria a priori: Contextualização humanística freireana com enfoque CTS (CSHF) Santos

(2007; 2008) Santos et al, (2010) fazendo apenas uma reprodução do que consta no artigo lido.

Uma vez que, não basta apenas fazer menção ou citar propostas voltadas ao ensino CTS, mas,

destacar as suas implicações reais na sociedade. Ainda nesta perspectiva, Freire (1997) defende a

ideia de que a educação é uma forma de intervir no mundo. Afirmando que esta postura, de

intervenção no mundo, deve partir primeiramente do professor por meio de uma ruptura, uma

tomada de decisão de modo que almeje as mudanças sociais no campo da economia, das relações

humanas, no direito do trabalho, à educação, saúde e lazer.

Um grupo de seis licenciandos tiveram os seus discursos configurados na categoria

emergente: Contextualização como menção do ensino CTS, conforme pode ser visto nos

recortes selecionados dos LIC04 e LIC06 abaixo:

LIC04: O movimento CTS surgiu na décdada de 1970, com o objetivo de correlacionar as

questões envolvendo três eixos: ciência, tecnologia e sociedade. No Brasil, as inovações na área

de ensino de Ciências surgiram na década de 1950, porém foi apenas na década de 1990 que os

currículos começaram a fazer menção às ideias CTS.

LIC06: O artigo discute basicamente o ensino CTS e CTSA, que ao se preocupar também com a

educação ambiental o enfoque (ensino) sobre ciência, tecnologia e sociedade inclui a palavra

ambiente.[...]

No discurso do LIC04, o mesmo aponta a origem do movimento CTS e menciona quando

os currículos iniciam as discussões sobre a temática, porém, não deixa claro em seu discurso o

objetivo central do movimento CTS e suas implicações na sociedade, quando o mesmo diz: O

movimento CTS surgiu na décdada de 1970, com o objetivo de correlacionar as questões

envolvendo três eixos: ciência, tecnologia e sociedade.[...] porém, foi apenas na década de 1990

que os currículos começaram a fazer menção às ideias CTS. De forma semelhante, o LIC06

demonstra entendimento do objetivo que se propõe o autor em discutir os movinetos CTS-CTSA,

porém, faz apenas menção em seu discurso que, o professor junto aos alunos, deve buscar

soluções para os problemas encontrados na sociedade e nas questões envolvidas nestes

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movimentos quando o licenciando 06 diz: O artigo discute, basicamente, o ensino CTS e CTSA,

que ao se preocupar também com a educação ambiental o enfoque (ensino) sobre ciência,

tecnologia e sociedade inclui a palavra ambiente.[...]. Observamos, portanto, que os discursos

dos licenciandos enquadrados nessa categoria são dotados de muitas expressões e terminologias

que foram retiradas na íntegra do artigo analisado, com a tentativa de dar um sentido à leitura

realizada por eles. Entretanto, a visão de Santos (2007) sobre os objetivos centrais da

contextualização numa perspectiva educacional CTS no ensino de ciências pode ser vista no

recorte a seguir:

[...] a contextualização pode ser vista com os seguintes objetivos: 1) desenvolver

atitudes e valores em uma perspectiva humanística diante das questões sociais

relativas à ciência e à tecnologia; 2) auxiliar na aprendizagem de conceitos

científicos e de aspectos relativos à natureza da ciência; e 3) encorajar os alunos a

relacionar suas experiências escolares em ciências com problemas do cotidiano.

(SANTOS, p.5, 2007).

Entendemos que este grupo de licenciandos se distancia do conceito defendido pelo autor,

quanto à contextualização crítica, e se aproximam da categoria a priori Contextualização com

menção e ilustração do cotidiano (CMIC). Santos (2007), a qual é criticada pelo autor conforme

pode ser visto nos recortes a seguir:

Deve-se considerar, todavia, que muitos cursos têm sido denominados CTS,

quando na verdade, eles apenas mencionam relações CTS de forma pontual no

currículo sem desenvolverem de forma sistemática os objetivos acima citados.

(SANTOS, 2007, p. 2).

Analisando os discursos deste grupo de licenciandos, observa-se que ambos fazem uma

mera ilustração das questões relacionadas ao ensino CTS, porém não se posicionam criticamente

frente às questões principais presentes no artigo. Essa mesma crítica é apontada por Santos (2007)

quando diz:

Para muitos, a simples menção do cotidiano já significa contextualização[...]

Muitas vezes, essa aparente contextualização é colocada apenas como um pano

de fundo para encobrir a abstração excessiva de um ensino puramente conceitual

enciclopédico de cultura de almanaque. Nessa visão, são adicionados cada vez

mais conteúdos ao currículo, como se o conhecimento isolado por, si só, fosse a

condição de preparar os estudantes para a vida social. (SANTOS, 2007, p.4- 5).

Um grupo de três licenciandos, foram configurados na categoria emergente: Não entende

a relação da contextualização com a proposta de ensino CTS, conforme podem ser vistos nos

recortes dos dicursos dos LIC01e LIC16 selecionados abaixo:

LIC 01: Os PCN´s tem sido estruturado a fim de organizar a educação voltada aos CTSA, para

que haja o uso desse sistema em sala de aula, porque somente a contextualização não ajudará

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formar um cidadão crítico, que saiba buscar o conhecimento. O texto fala que se tem que

acabar com os mitos do cientificismo. Que a população humana só irá desenvolver se houver o

desenvolvimento da ciência.

LIC03: O movimento da ciência-tecnologia-sociedade, o CTS tem como abordagem uma

contextualização em ensino de ciências, fazendo com que possa refletir criticamente sobre os

assuntos abordados, incorporando novos currículos no ensino de ciências, propondo incorporar

conteúdos de ciências-tecnologia-sociedade-ambiental que é CTSA, promovendo a ênfase nas

questões ambientais, buscando a educação ambiental.

Analisando os discursos deste grupo de licenciandos, observa-se que, estes, não

conseguiram entender a proposta do texto, no sentido de discutir a contextualização numa

perspectiva crítica para formar cidadãos críticos. Conforme pode ser visto no recorte do discurso

LIC01, quando diz: “Os PCN´s tem sido estruturado a fim de organizar a educação voltada aos

CTSA, para que haja a empregação desses sistemas em sala de aula, porque somente a

contextualização, não ajudará formar um cidadão crítico, que saiba buscar o

conhecimento.[...]. Apesar de citar algumas expressões e palavras do texto, em ambos os

discursos, não é visto o posicionamento e as interpretações destes sobre o texto discutido.

Semelhantemente analisando o discurso do LIC03, observa-se que não há coerência no discursos

quando o licenciando 03 diz: “[...]incorporando novos currículos no ensino de ciências,

propondo incorporar conteúdos de ciências-tecnologia-sociedade-ambiental que é CTSA,

promovendo a ênfase nas questões ambientais, buscando a educação ambiental”. Diante das

nossas interpretações e da análise dos discursos, observa-se que os licenciandos apresentam

problemas de leitura e dificuldade de argumentação-compreensão. Além disso, se distanciam e vai

contra as ideias e visão de Santos (2007; 2008) e Santos et al (2010), consequentemente, do

conceito de contextualização crítica com enfoque CTS, defendido pelo autor e que estamos

buscando. Nesse sentido, os licenciandos permanecem com visões simplistas e pessoais, ou seja,

não conseguem incorporar as ideias dos artigos em seus discursos. A hipótese para justificar o

porquê destes três licenciandos não conseguirem entender a mediação da leitura realizada, pode

estar centrada no fato de que os mesmos não realizarem a leitura dos textos anteriores, assim

como, não possuírem o hábito de leitura e escrita ou são analfabetos funcionais.

Essas indicações nos discursos podem ser justificadas como unidades de análises, como

indicam Moraes e Galiazzi (2011,p.18) [...] é importante que o pesquisador proceda as suas

análises de modo que saiba, em cada momento, quais as unidades de contexto, geralmente os

documentos, que deram origem a cada unidade de análise. Para isso, utilizam-se códigos que

indicam a origem de cada unidade. Ainda neste contexto, Freire (2001) destaca que a leitura e a

escrita estão associados às formas de expressão do educando, buscando compreender a sua prática

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social de maneira correta. Esta dificuldade também foi identificada por Francisco Junior (2010,

p.224) ao propor a leitura de artigos seguidos da produção textual conforme o recorte a seguir:

Além de interagir, no entanto, o leitor precisa agir sobre o texto para poder

interagir. Entretanto, essa é outra atividade que os estudantes, em geral,

demonstram dificuldades. Em boa parte dos casos, os trechos são apenas

destacados, sem a emissão de comentários ou de opiniões. Muitos estudantes

argumentam que acham o trecho importante, mas não conseguem refletir por

escrito.

Em nosso caso ficou evidente, nos discursos por eles manifestados, o problema de falta de

leitura e escrita, a partir da hipótese que, estes licenciandos, não tiveram uma formação anterior ao

ingresso na graduação com hábitos de leitura. Como aponta Santos, Sá e Queiroz (2006) que há

dificuldades na linguagem escrita dos licenciandos e um agravamento considerável no grau destas

dificuldades.

5.3 Resultados da segunda etapa – a análise dos discursos nas respostas dos licenciandos.

A seguir, apresentamos o levantamento das concepções sobre contextualização numa

perspectiva de ensino CTS, a partir da aplicação de um questionário com questões abertas e

fechadas. Os resultados dos dados coletados, descritos no quadro 02, com os discursos que foram

transcritos e recortados. Dentre os 22 licenciandos, apenas (2) dois já lecionavam, sendo um há 6

(seis) meses no 9º, 1º e 2º anos. O outro, lecionava há 04(quatro) anos nas turmas de Multiseriado

do pré-escolar ao 4º ano; Ensino Médio no 1º, 2º e 3º anos. O contexto vivido por estes

licenciandos é relevante, uma vez que, a atuação na sala de aula contribuiu com a formação do

professor, no que diz respeito à dedicação em preparar e ministrar as aulas.

Vale lembrar que, participaram nesta etapa 22 licenciandos, sendo que, todos eles,

responderam à pergunta formulada a seguir: O que você entende por Contextualização? Como

seria uma abordagem de um conteúdo químico de forma contextualizada?

Através das respostas obtidas, agrupamos os discursos dos licenciandos mediante a

resposta, conforme anteriormente citado, classificamos nas categorias emergentes criadas a partir

da análise dos dados as quais podemos citar: Contextualização além dos exemplos cotidianos;

Contextualização a partir de temas sociais; Contextualização metodologia de esnino e

Contextualização com exemplos e situações do cotidiano, conforme podem ser vista no quadro

02 a seguir.

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Quadro 02: Análise dos discursos das respostas dos licenciandos a partir dos questionários

De acordo com o quadro 02, na categoria Contextualização além dos exemplos

cotidianos, selecionamos os discursos de três licenciandos, os quais apontaram em suas respostas

o entendimento defendido pelo autor sobre a contextualização, apontando que uma abordagem

contextualizada vai além de citar exemplos cotidianos, e compreende as relações envolvidas na

Categorias emergentes Nº de licenciandos Recortes dos discursos

Contextualização além dos

exemplos cotidianos

03

LIC01: A contextualização vai além de citar

exemplos da química no nosso dia a dia. Ela

deve levar o aluno a um constante processo de

reflexão, de modo que, o conhecimento

adquirido, possa mudar suas concepções sobre

determinados assuntos e adotar uma postura

diferente diante de alguns problemas que estão

presente no nosso cotidiano. A abordagem de

um conteúdo químico de forma contextualizada

deve estar mais próxima do cotidiano do aluno,

que deve destacar o papel da ciência, como ela

influencia a tecnologia, além dos aspectos

positivos e negativos que podem trazer para a

sociedade. É importante saber que o avanço

tecnológico é fundamental para a sociedade,

porém, o uso impróprio do mesmo pode gerar

riscos ao meio ambiente e a saúde.

Contextualização a partir de

temas sociais

06

LIC 05: É inserir de um tema social relevante

dentro do cotidiano do aluno ou sociedade. Uma abordagem explicando a importância do

conteúdo, a utilidade, o uso correto, o

problema que pode causar quando utilizado de

forma inadequada ao ser humano e ao meio

ambiente, a sustentabilidade[...].

Contextualização como

metodologia de ensino

06

LIC10: É a forma de ensino onde o

conhecimento químico é utilizado para explicar

situações do cotidiano dos alunos. Esta

abordagem mostra a presença da química no

dia-a-dia dos alunos e como ele pode utilizar.

Cotextualização com

exemplos e situações do cotidano

07

LIC20: Contextualizar para mim significa

relacionar o conteúdo químico com o cotidiano

ou a vivência do aluno. O ensino de química

contextualizado é para mim, mediar o

conhecimento químico de forma a demonstrar a

importância desta disciplina para a vida do

aluno.

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abordagem de ensino CTS e suas implicações na sociedade, contribuindo para o indivíduo se

posicionar criticamente, sabendo avaliar os pontos positivos e negativos relativos à ciência e a

tecnologia. Esse entendimento ficou claro no recorte apontado quando o licenciando 01 diz: “A

contextualização vai além de citar exemplos da química no nosso dia a dia [...] A abordagem de

um conteúdo químico de forma contextualizada deve estar mais próxima do cotidiano do aluno,

que deve destacar o papel da ciência, como ela influencia a tecnologia, além dos aspectos

positivos e negativos que podem trazer para a sociedade”. Essa categoria emergente pode ser

comparada com a categoria criada a partir da leitura e análise dos artigos a Contextualização

humanística freireana com enfoque CTS (CSHF) SANTOS; 2007; 2008; SANTOS et al, 2010).

Algumas indicações retiradas dos discursos evidenciam as expressões e compreensões dos

licenciandos tais como: questões sociais, aspectos sociocientíficos, processos tecnológicos e

industriais, relação da ciência, tecnologia e sociedade, em busca da tomada de decisão. Essas

concepções de contextualização manifestadas por esse pequeno grupo de licenciandos, também

podem ser comparadas com a categoria discutida e criada por Santos e Mortimer (1999)

Contextualização como desenvolvimento de atitudes e valores para a formação de um

cidadão crítico, na qual discute situações ou problemas reais presentes no cotidiano dos alunos,

apresentando uma relação com os aspectos sociais, políticos, econômicos e ambientais, com o

intuito de contribuir com a construção de uma postura crítica dos alunos enquanto cidadãos na

sociedade onde vivem. Contribuindo com esta visão Costa-Beber e Maldaner (2011) apontam que

o cotidiano é um percursor que fundamenta a contextualização e que evidencia um avanço nesta

discussão a relação da Ciência, Tecnologia e a Sociedade.

Na categoria Contextualização a partir de temas sociais, selecionamos os discursos de

seis licenciandos, os quais manisfestaram em suas respostas, a utilização de temas sociais como

possibilidade de contextualizar o ensino. Observa-se que no recorte do discurso selecionado, o

licenciando 05 diz: “É inserir de um tema social relevante dentro do cotidiano do aluno ou

sociedade”. Uma abordagem explicando a importância do conteúdo, a utilidade, o uso correto,

o problema que pode causar quando utilizado de forma inadequada ao ser humano e ao meio

ambiente[...]. Além disso, nestes discursos apareceram terminologias recorrentes, tais como:

relacionar o conteúdo químico com o cotidiano do aluno; dia a dia dos alunos; vida cotidiana

dos alunos; realidade do aluno, tema social, tema em foco, relacionar a vida das pessoas; o

que nos remete a esta ideia, discursos com uma visão próxima ao conceito relevante defendido

pelo autor, Santos (2008), uma perspectiva de CTS requer uma problematização a partir de temas

sociais, de modo a assegurar um comprometimento social dos educandos para tomada de decisão,

destacando ainda trabalhar temas de caráter social de forma problematizadora. Wartha e Alário

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(2005) compartilham com essa perspectiva, pois afirmam que a contextualização deve ser centrada

na abordagem de temas sociais, integrando os conceitos científicos ao contexto no qual está

inserido o aluno. Essa categoria emergente também pode ser comparada com a categoria a priori

Contextualização crítica CTS para tomada de decisão a partir de temas sociais (CSTD)

(SANTOS 2007; 2008; SANTOS et al, 2010). Entendemos que as concepções apontadas foram

provenientes das leituras dos textos realizados, uma vez que, terminologias e expressões que estão

presentes nos artigos se repetiram na fala dos licenciandos. Apesar que não foi identificado na

unitarização em nenhum dos recortes dos licenciandos a compreensão sobre a tomada de decisão.

A sua proposta é uma nova forma de práxis educativa que, em vez de reproduzir

o mundo, vai transformá-lo. As palavras geradoras, repletas de sentido para os

educandos, são instrumentos de repensar o mundo. Nesse sentido, a sua proposta

é de uma educação para a conscientização, que vai além do ato de ensinar a ler e

a escrever. O educando usaria a leitura e a escrita para desencadear um processo

social de transformação de sua realidade. (SANTOS, 2008, p.116).

Essa afirmação é justificada partindo da ideia defendida por Moraes e Galiazzi (2011, p.159)

afirmando que a ATD se insere das teorias emergentes, nos movimentos de teorização que se

originam as manifestações discursivas dos sujeitos das pesquisas.

Configurados na Contextualização como metodologia de ensino, selecionamos os

discursos de seis licenciandos, os quais acreditam que a contextualização é vista como uma

ferramenta ou um método de ensino que contribui com a forma de ensinar o conteúdo.

Especificamente no recorte analisado, o licenciando 10 diz que contextualzar: “É a forma de

ensino onde o conhecimento químico é utilizado para explicar situações do cotidiano dos

alunos”. Esta abordagem mostra a presença da química no dia-a-dia dos alunos e como ele pode

utilizar.

Observa-se que nos discursos selecionados, apareceram terminologias recorrentes, tais

como: forma de ensino; método de ensino; maneira de abordar; relacionar o tema em foco

com o cotidiano; remetendo-nos a ideia de que este grupo de licenciandos entende que a

contextualização, como método de ensino, indo contra a visão discutida pelo autor.

Essas concepções de contextualização manifestadas por este grupo de licenciandos podem,

também, ser configuradas na categoria a priori Contextualização como método de ensino

(CMEN)(SANTOS,2007). Além disso, pode ser comparada com a categoria discutida por Santos

e Mortimer (1999) Contextualização como estratégia de ensino-aprendizagem para facilitar a

aprendizagem, não apresentando um enfoque nos problemas sociais e a sua relação com o meio

ambiente.

Na categoria Contextualização com exemplos e situações do cotidiano, selecionamos os

discursos de sete licenciandos, os quais manifestaram suas concepções sobre contextualização,

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relacionando ou citando exemplos de situações cotidianas relacionadas ao ensino de química. No

recorte do discurso lecionado, observa-se que o licenciando 20 diz: “Contextualizar para mim

significa relacionar o conteúdo químico com o cotidiano ou a vivência do aluno. O ensino de

química contextualizado é para mim, mediar o conhecimento químico de forma a demonstrar a

importância desta disciplina para a vida do aluno”. Observa-se que há um senso comum nos

discursos dos licencenciandos em associarem a contextualização com o cotidiano do aluno, de

forma recorrente, esta terminologia se repete nos discursos, tais como: relacionar o conteúdo

com o cotidiano do aluno; aspectos do cotidiano; conteúdos simples do cotidiano; produtos

químicos os quais usamos no cotidiano, apresentando assim, uma visão genérica e simplista do

conceito, distanciando-se do conceito relevante proposto pelo autor, o qual faz uma crítica a este

tipo de concepção, apresentada de forma neutra para o aluno conforme o recorte a seguir:

Essa educação neutra, não problematizadora, carrega consigo valores dominantes

da tecnologia que têm submetido os interesses humanos àqueles puramente de

mercado. Essa educação acaba sendo opressora, na medida em que reproduz um

valor de ciência como um bem em si mesmo a ser consumido e aceito sem

questionamentos (SANTOS, 2008, p.116-117).

Este grupo de licenciandos também pode ser configurado na categoria a priori

Contextualização com menção e ilustração do cotidiano (CMIC) (SANTOS,2007), além disso,

essa concepção de contextualização como exemplificação do cotidiano está diretamente

relacionada com a categoria também apontada no trabalho de Santos e Mortimer (1999)

Contextualização como descrição científica de fatos e processos do cotidiano do aluno, que é

entendida através da explicação e/ou descrição de processos físicos e químicos presentes no

cotidiano do aluno, apresentando uma relação direta ou indiretamente do conteúdo químico. Ainda

nessa categoria discute questões tecnológicas envolvidas nestes processos. Estes autores ainda

fazem uma diferenciação sobre a contextualização no ensino e a relação com o cotidiano,

conforme pode ser visto:

Enquanto a contextualização aborda a ciência no seu contexto social com as suas

inter-relações econômicas, ambientais, culturais etc., o ensino de ciências do

cotidiano trata dos conceitos científicos relacionados aos fenômenos do cotidiano.

No segundo caso, a abordagem continua centrada nos conceitos científicos e não

necessariamente são explicitadas as relações entre ciência e tecnologia, bem

como o desenvolvimento de atitudes e valores em relação à ciência e suas

implicações na sociedade. (SANTOS; MORTIMER, 1999, p.6).

Nesse contexto, destaca-se que as propostas curriculares com essa visão precisam levar em

consideração o contexto da sociedade tecnológica atual, caracterizado de forma geral por um

processo de dominação dos sistemas tecnológicos que impõem valores culturais e oferecem riscos

para a vida no planeta. (SANTOS, p.8, 2007).

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[...] o que se espera é que o cidadão letrado possa participar das decisões

democráticas sobre ciência e tecnologia, que questione a ideologia dominante do

desenvolvimento tecnológico. Não se trata de simplesmente preparar o cidadão

para saber lidar com essa ou aquela ferramenta tecnológica ou desenvolver no

aluno representações que o preparem a absorver novas tecnologias.(SANTOS,

2008, p.114).

Através dos discursos dos licenciandos percebemos uma tensão da parte deles em tentar

definir, de forma relevante, o conceito de contextualização, buscando de alguma maneira alcançar

o aluno frente aos conteúdos químicos a serem ministrados em sala de aula. Dessa forma,

entendemos a necessidade de aprofundar a discussão da contextualização crítica do ensino CTS,

que acreditamos ser mais interessante na formação do aluno enquanto cidadão crítico.

Contribuindo ainda para esta análise, Wartha, Silva e Berjarano (2013, p. 90) afirmam que,

“pesquisas que se utilizam dessas perspectivas de cotidiano e contextualização, precisam avançar a

um patamar em que a comunidade tenha um entendimento mais homogêneo e uma formulação

mais elaborada do que é ensino de química fundamentado no cotidiano e ensino de química

contextualizado”.

Isso porque, um pequeno grupo de licenciandos, ou seja, três conseguiram manifestar suas

interpretações muito próximo à visão defendida pelo autor sobre a temática, à qual também

achamos relevante. Esse resultado foi muito semelhante ao encontrado por Silva e Marcondes

(2010, p.115) ao levantar as concepções de contextualização de um grupo de professores a partir

da elaboração de unidades didáticas. Com esta abordagem concluíram que, o estudo e reflexões

sobre concepções de contextualização e análise de materiais didáticos parecem ter contribuído

para certa ampliação das suas visões. Apesar da discussão da temática com os referenciais

teóricos, ou seja, com a utilização dos artigos, diante das nossas interpretações e da análise dos

discursos, observa-se que grande parte dos licenciandos apresentam problemas em definir o

conceito sobre contextualização crítica, relevante para Santos (2007; 2008) e Santos et al (2010)

consequentemente para nós, apresentando um visão simplista e genérica do conceito.

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6 Considerações e indicações da pesquisa

Através do estudo realizado sobre as concepções de contextualização crítica numa

perspectiva de ensino CTS, com os licenciandos em Química da Universidade de Sergipe,

matriculados na disciplina Estágio Supervisionado I (turma 2014-2), foi possível identificar que,

grande parte destes, apresentou uma visão simplista do conceito de contextualização crítica com

enfoque CTS defendido pelo Wildson Luiz Pereira dos Santos, estudado como referencial teórico

e de análise mediante a análise e leitura o dos artigos: Educação Científica Humanística em Uma

Perspectiva Freireana: Resgatando a Função do Ensino de CTS (Santos, 2008); O Enfoque CTS e

a Educação Ambiental: Possibilidade de “ambientalização” da sala de aula de Ciências. In:

Ensino de Química em Foco (Santos; et al 2010), Contextualização no ensino de ciências Por

meio de temas CTS em uma perspectiva crítica (Santos, 2007).

A discussão da temática contextualização crítica na perspectiva do ensino CTS, foi

possível ser mediada a partir da leitura de textos e dos pressupostos teóricos de Santos (2007;

2008) e Santos et al (2010) e fundamentados na Análise Textual Discursiva - ATD propostas por

Moraes e Galiazzi (2011). Esta mediação apontou para o surgimento de categorias a priori de

análise, as quais foram criadas por meio do discurso do referencial teórico dos textos,

considerando as indicações principais sobre o conceito de contextualização crítica, as

aproximações e as complementações dos mesmos, o que permitiu a categorização do discurso

sobre vários tipos de contextualização, presente nos artigos, possibilitando a criação de quatro

categorias a priori: 1-Contextualização humanística freireana com enfoque CTS (CSHF)

(SANTOS, 2007; 2008); SANTOS et al, 2010); 2- Contextualização crítica CTS para tomada

de decisão a partir de temas sociais (CSTD); 3-Contextualização com menção e ilustração do

cotidiano (CMIC) e 4-Contextualização como metodologia de ensino (CMEN) (SANTOS,

2007).

A partir das produções textuais dos licenciandos foi possível identificar novas categorias

emergentes e enquadrar os discursos dos licenciandos, as quais podemos citar: Contextualização

a partir do entendimento das interrrelações CTS e impactos na sociedade (quatro discursos

dos licenciandos); Contextualização como formação de valores a partir do ensino CTS (seis

discursos dos licenciandos); Contextualização como menção do ensino CTS (seis discursos dos

licenciandos); Não entende a relação da contextualização com a proposta de ensino CTS (três

discursos dos licenciandos).

Além disso, foi possível perceber que a intervenção com a mediação da leitura dos artigos,

como proposta para entender referenciais teóricos que se preocupam com uma abordagem

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curricular contextualizada, numa perspectiva crítica, com enfoque CTS, contribuiu para um

avanço ainda muito tímido na formação destes licenciandos, uma vez que, dez licenciandos

apresentaram um entendimento das relações do ensino CTS e a fomação de valores na

sociedade, embora não manisfestaram de forma crítica as suas concepções, houve diferentes

interpretações e falta de compreensão por parte dos licenciandos em química, sobre o conceito

defendido pelo autor, consequentemente, proposto também por nós. Visto que permaneceram com

visões simplistas e pessoais, não conseguindo incorporar as principais ideias discutidas nos

artigos, sobretudo, em seus discursos não aparecendo a compreensão do que seja a tomada de

decisão.

Retomo, neste sentido, a atribuição de que essa dificuldade dos licenciandos em ler e

compreender os artigos analisados, está relacionada com o modelo tradicional de ensino

transmissivo-receptivo, impregnado no discurso de muitos professores nas universidades, os quais

são transmitidos aos alunos, que memorizam e reproduzem o que se ler, apresentando desta forma,

dificuldades de aceitação de ideias construtivistas que valorizam a produção do conhecimento

através da leitura e do entendimento da ciência. Francisco Junior (2010, p.225), corrobora com

este resultado e avaliação da mediação apontando que o papel da leitura é irrevogável na formação

do educador e que estratégias de leituras devem ser fomentadas na formação dos mesmos, até que

haja uma melhoria contínua da comunicação entre a linguagem escrita e da reflexão crítica do

leitor professor.

[...] a organização pedagógica da leitura, função do educador, tem papel

irrevogável. Essa organização deve fomentar o desenvolvimento de recursos que

facilitem os educandos a assumirem a dialogicidade necessária frente ao texto.

Insistir e, acima de tudo, orientar os estudantes a argumentarem sobre a leitura do

texto, promove, gradativamente, a aquisição de posicionamentos pessoais e

críticos. À medida que essas atividades forem propaladas e propagadas em

diferentes disciplinas e, quiçá, por diferentes professores, poder-se-ão promover

qualidades como a capacidade de comunicação, análise e reflexão crítica,

argumentação, entre outras, cada vez em maior grau.

Este resultado tornou-se evidente ao analisar os discursos manifestados nas concepções dos

licenciandos, diante das questões: O que você entende por Contextualização? Como seria uma

abordagem de um conteúdo químico de forma contextualizada?. A partir da análise das respostas,

as mesmas apontaram para as seguintes categorias emergentes com os respectivos discursos de

licenciandos categorizados: Contextualização além dos exemplos cotidianos (três licenciandos);

Contextualização a partir de temas sociais (seis licenciandos); Contextualização como forma

de ensinar (seis licenciandos) e Contextualização com exemplos e situações do cotidiano (sete

licenciandos). Observa-se, de forma tímida, que apenas três licenciandos entendem que a

contextualização vai além de citar exemplos e situações do cotidiano.

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Assim, apontamos como principais problemas e dificuldades na mediação e intervenção

realizada: a desvalorização da leitura e escrita, dificuldades de interpretação de textos,

dificuldades de fazer críticas diante uma leitura mediada. Além disso, através dos discursos

analisados percebemos que houve uma tensão da parte deles em tentar definir de forma relevante o

conceito de contextualização crítica, buscando de alguma maneira alcançar o discurso do autor,

frente aos conteúdos químicos a serem ministrados em sala de aula, relacionando as questões

sociais ao cotidiano, o que nos parece é que este conceito está impregnado no contexto no qual

estes licenciandos estão inseridos, em especial, a sala de aula na universidade, sobretudo, a

participação em encontros, palestras e atividades realizadas de outros disciplinas durante o

processo de formação.

Acredito que a realização deste trabalho, fomenta uma discussão mais complexa, para a

realizaão de novas pesquisas sobre a temática contextualização e o ensino CTS, possibilitando o

acompanhamento dos sujeitos da pesquisa em outros momentos de sua formação, ou seja, nos

períodos adiante, a fim de que, avalie o seu discurso de forma contínua, pois acredito que estas

concepções ainda sofrerão evolução frente ao que foi discutido até aqui. Além disso, fomentar

possbilidades e estratégias de leitura com momentos de discussão e análise crítica, não só com

licenciandos em química, mas de áreas correlatas ao ensino de Ciências, em todos os níveis de

ensino.

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Anexos:

Anexo1: Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA

MESTRADO EM ENSINO DE CIÊNCIAS E MATEMÁTICA

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Convidamos o (a) Sr (a) para participar da Pesquisa: A Contextualização com

enfoque de ensino CTS na formação inicial de professores de Química, sob a

responsabilidade do Mestrando Éverton da Paz Santos e da Profa. Dra. Marlene Rios Melo,

ambos vinculados ao NPGECIMA. Essa pesquisa pretende analisar como ocorre a

contextualização com enfoque em CTS, a partir da análise de um livro didático de Química

que se comprometem com essa perspectiva curricular.

Sua participação é voluntária e se dará por meio de uma intervenção, através da

gravação em áudio e vídeo, durante a realização do Estágio Supervisionado em ensino de

Química I, durante as aulas na Universidade Federal de Sergipe. Sua aceitação contribuirá

para a melhoria da formação de professores de Química, pois contribuirá para a

compreensão das dificuldades e avanços da mediação de material didático com perspectiva

curricular CTS.

O (a) Sr (a) não terá nenhuma despesa e também não receberá nenhuma

remuneração. Os resultados da pesquisa serão analisados e publicados, mas sua identidade

não será divulgada, sendo guardada em sigilo. Para qualquer outra informação o (a) Sr (a)

poderá entrar em contato com os pesquisadores responsáveis tanto na Universidade Federal

de Sergipe, quanto pelos telefones: (79) 9939-5311 (Mestrando Éverton da Paz Santos) /

9955-3757 (Profa. Dra. Marlene Rios Melo).

Foi também esclarecido que o uso das informações por mim oferecidas estão submetidas às

normas éticas destinadas à pesquisa envolvendo seres humanos, da Comissão Nacional de

Ética e Pesquisa (CONEP). Minha colaboração se fará de forma anônima, [a ser gravada a

partir da assinatura desta autorização]. O acesso e a análise dos dados coletados se farão

apenas pela pesquisadora e a sua orientadora. Foi ainda informado (a) de que posso me

retirar desse estudo/pesquisa a qualquer momento, sem prejuízo para o meu

acompanhamento ou sofrer quaisquer sansões ou constrangimentos.

Atesto o recebimento de uma cópia assinada deste Termo, conforme recomendações da

CONEP.

Consentimento Pós–Informação:

Eu,___________________________________________________________, fui informado

sobre o que o pesquisador quer fazer e porque precisa da minha colaboração e entendi a

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explicação. Por isso, eu concordo em participar do projeto, sabendo que não vou ganhar

nada e que posso solicitar minha exclusão do processo quando desejar. Este documento é

emitido em duas vias que serão ambas assinadas por mim e pelos pesquisadores

responsáveis, ficando uma via com cada um de nós.

São Cristóvão, 21 de Julho de 2014

________________________________ _____________________________________

Assinatura do participante Profa. Dra. Marlene Rios Melo

________________________________

Mestrando Éverton da Paz Santos

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Anexo 2: Questionário aplicado

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

CAMPUS UNIVERSITÁRIO PROF. JOSÉ ALOISIO DE CAMPOS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENSINO DE CIÊNCIAS

NATURAIS E MATEMÁTICA (NPGECIMA)

QUESTIONÁRIO-LEVANTAMENTO DE CONCEPÇÕES SOBRE

CONTEXTUALIZAÇÃO

1) Você já leciona? Se sim, há quanto tempo? Que série?

( ) Sim ( )Não

Tempo/série:_______________________________________________________________

_________________________________________________________________

2) O que você entende por Contextualização?

3) Como seria uma abordagem de um conteúdo químico de forma contextualizada?