universidade federal de santa maria - ufsm

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA - UFSM CENTRO DE EDUCAÇÃO SUPERIOR NORTE DO RS - CESNORS CURSO DE PÓS-GRADUAÇAO LATO SENSU EM GESTÃO DE ORGANIZAÇÃO PÚBLICA EM SAÚDE EaD TENDÊNCIA DAS PESQUISAS SOBRE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA AS MULHERES ENTRE OS ANOS DE 2000- 2009 NO BRASIL MONOGRAFIA DE CONCLUSÃO DE CURSO Claudia Fernanda Grun Três de Maio, RS, Brasil 2011

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA - UFSM CENTRO DE EDUCACcedilAtildeO SUPERIOR NORTE DO RS - CESNORS

CURSO DE POacuteS-GRADUACcedilAO LATO SENSU EM GESTAtildeO DE ORGANIZACcedilAtildeO PUacuteBLICA EM SAUacuteDE ndash EaD

TENDEcircNCIA DAS PESQUISAS SOBRE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA

CONTRA AS MULHERES ENTRE OS ANOS DE 2000- 2009 NO

BRASIL

MONOGRAFIA DE CONCLUSAtildeO DE CURSO

Claudia Fernanda Grun

Trecircs de Maio RS Brasil

2011

2

TENDEcircNCIA DAS PESQUISAS SOBRE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA CONTRA AS MULHERES ENTRE OS ANOS DE 2000- 2009 NO

BRASIL

Claudia Fernanda Grun

Monografia apresentada ao Curso de Poacutes-Graduaccedilatildeo Lato Sensu em Gestatildeo de Organizaccedilatildeo Puacuteblica em Sauacutede EaD da UFSMCESNORS

como requisito parcial para obtenccedilatildeo do grau de Especialista em Gestatildeo de Organizaccedilatildeo Puacuteblica em Sauacutede

Orientadora Profordf Msc Fernanda Beheregray Cabral

Trecircs de Maio RS Brasil

2011

3

Universidade Federal de Santa Maria - UFSM

Centro de Educaccedilatildeo Superior Norte do RS - CESNORS Curso de Poacutes-Graduaccedilatildeo Lato Sensu em Gestatildeo de Organizaccedilatildeo

Puacuteblica em Sauacutede EaD

A Comissatildeo Examinadora abaixo assinada aprova a Monografia de Conclusatildeo de Curso

TENDEcircNCIA DAS PESQUISAS SOBRE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA

CONTRA AS MULHERES ENTRE OS ANOS DE 2000- 2009 NO

BRASIL

elaborada por Claudia Fernanda Grun

como requisito parcial para obtenccedilatildeo do grau de

Especialista

Comissatildeo Examinadora

___________________________________________ Fernanda Beheregaray Cabral Msc

(PresidenteOrientadora ndash UFSM CESNORS)

___________________________________________ Liane Beatriz Righi Dra

(Membro da Banca - UFSMCESNORS)

____________________________________________ Loiva Dallepiane Dra

(Membro da Banca - UFSMCESNORS)

Trecircs de Maio 2 de julho de 2011

4

RESUMO

Monografia de Especializaccedilatildeo

Curso de Poacutes-Graduaccedilatildeo Lato Sensu em Gestatildeo de Organizaccedilatildeo Puacuteblica em Sauacutede

Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) Centro de Educaccedilatildeo Superior Norte

do Rio Grande do Sul (CESNORS)

TENDEcircNCIA DAS PESQUISAS SOBRE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA CONTRA AS

MULHERES ENTRE OS ANOS DE 2000- 2009 NO BRASIL

AUTORA Claudia Fernanda Grun ORIENTADORA Fernanda Beheregray Cabral

Data e Local da Defesa Trecircs de Maio 2 de julho de 2011

A violecircncia contra a mulher eacute um fenocircmeno mundial complexo que tem

ganhado maior visibilidade social nos uacuteltimos anos sendo considerada como

problema de sauacutede publica Trata-se de uma pesquisa bibliograacutefica cujos dados

foram coletados mediante consulta na Biblioteca Virtual de Sauacutede ndash BVSBireme

nas bases de dados da Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciecircncias da

Sauacutede (LILACS) e Scientific Eletronic Library On line (SCIELO) O objetivo da

pesquisa foi conhecer o que a literatura especializada em sauacutede dos uacuteltimos dez

anos disponiacutevel on line traz a respeito da violecircncia domeacutestica contra a mulher no

periacuteodo de 2000 a 2009 Utilizaram-se os termos violecircncia domeacutestica contra a

mulher e sauacutede publica como descritores para o levantamento de dados os quais

foram submetidos agrave anaacutelise temaacutetica de Minayo Verificou-se que essas produccedilotildees

tecircm como foco a violecircncia domeacutestica e de gecircnero o perfil das viacutetimas que sofreram

essas violecircncias e a percepccedilatildeo destas e dos profissionais de sauacutede sobre a

temaacutetica Estudos sobre o perfil dessas mulheres revelaram que a faixa etaacuteria variou

entre 20 e 39 anos sendo que a dependecircncia econocircmica agrave renda do marido implica

na necessidade de permanecer junto ao agressor apesar das situaccedilotildees de

violecircncia Por ser um tema recente os serviccedilos de sauacutede nem sempre estatildeo

equipados e preparados para a identificaccedilatildeo de situaccedilotildees de violecircncia contra a

mulher acompanhamento e resoluccedilatildeo do problema As accedilotildees dos profissionais de

sauacutede foram caracterizadas pelo natildeo-acolhimento dessas demandas e por respostas

inadequadas agraves mesmas

Descritores Violecircncia domeacutestica contra a mulher Sauacutede publica

5

ABSTRACT

Monografia de Especializaccedilatildeo

Curso de Poacutes-Graduaccedilatildeo Lato Sensu em Gestatildeo de Organizaccedilatildeo Puacuteblica em Sauacutede

Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) Centro de Educaccedilatildeo Superior Norte

do Rio Grande do Sul (CESNORS)

RESEARCHrsquoS TENDENCY ABOUT DOMESTIC VIOLENCE AGAINST WOMEN

BETWEEN 2000 and 2009 IN BRAZIL

AUTORA Claudia Fernanda Grun ORIENTADORA Fernanda Beheregray Cabral

Data e Local da Defesa Trecircs de Maio 2 de julho de 2011

The violence against women is a complex world phenomenon that has won a

bigger social visibility in the last years being considered as a public health problem

This paper is about a bibliographic research whose data were collected by a

consultation at the Health Visual Library (ldquoBiblioteca Virtual de Sauacutede-BVSBirenerdquo)

in the database of Latin America Literature of Caribbean in Health Science (LILACS)

and Scientific Electronic Library On Line (SCIELO) The objective of the research

was to know what the health specialized literature from the last ten years available on

line brings in respect of domestic violence against women between the years 2000

and 2009 It makes use of the term domestic violence against women and public

health as descriptors for the data entry that was submitted into a thematic analyze

from Minayo It was found that these productions have as focus the domestic

violence and of gender the characteristic of the victims that suffered this violence

and the perception of them and of the health professionals about the subject Studies

about the profile of these women show up that the age group varies from 20 to 39

years old and that economic dependence and the husband income implies on the

necessity of maintaining together the aggressor besides the violence situation

Because itrsquos a recent subject the health services not always are equipped and

prepared for the identification of the violence situation against women the

attendance and the solution of the problem The actions of the health professionals

were characterized by the non-welcome of these demands and for the inadequate

answers for them

6

Descriptors Domestic violence against women Public health

7

RESUacuteMEN

Monografiacutea de Especializacioacuten

Curso de Posgrado Lato Sensu en Gestioacuten de Organizacioacuten Puacuteblica en Salud

Universidad Federal de Santa Mariacutea (UFSM) Centro de Educacioacuten Superior Norte

del Riacuteo Grande del Sur (CESNORS)

Tendencia de la investigacioacuten sobre la violencia domeacutestica contra las mujeres entre los antildeos 2000-2009 em Brasil

AUTORA Claudia Fernanda Grun

ORIENTADORA Fernanda Beheregray Cabral

Fecha y Local de la Defensa Trecircs de Maio 2 de julho de 2011

La violencia contra La mujer ES um fenoacutemeno mundial complejo que recebioacute

mayor visibilidad social em los uacuteltimos antildeos pues ES considerada como problema

de La salud publica Si refere de uma pesquisa bibliograacutefica cuyos datos colectados

em La Licteratura Latinoamericana y Caribe em Ciecircncias de La Salud (LILACS) y

Scientific Eletronic Library on line (SCIELO) El objetivo de l investigacioacuten es conocer

el que hay em la licteratura especializada em salud de los uacuteltimos diez antildeos A La

disposicioacutenon line respecto a La violecircncia domeacutestica contra La mujer em periacuteodo de

2000 hasta 2009 Si haacute utilizado los teacuterminos violencia contra La mujer e salud

puacuteblica como descriptores para um examen de datos los cuales han sido

submetidos a la anaacutelisis temaacutetica de Minayio Si haacute verificado que esas producciones

tienen como foco La violecircncia domeacutestica e de gecircnero el perfil de las viacutectimas que

han sufrido eses violecircncias y La percepcioacuten de latildes mismas y de los profisionales de

La salud sobre La temaacutetica Estuacutedios sobre el perfil de latildes mujeres han revelado que

La edad promedio haacute variado dentre 20 y 39 antildeos siendo que La dependecircncia

econocircmica al marido es de gran importacircncia de permanecer AL agresor apesarde

latildes situaciones de violecircncia Por ser um tema muy atctual los servicios de salud

poccedilo o no estaacuten equipados y preparados para La uma investigacioacuten de situaciones

de violecircncia em mujeres acompantildeamiento y resolucioacuten del problema Las acciones

de los profesionales de La salud han sido caracrezados por lo no acogimento de latildes

demandas y por respuestas inadecuadas a las mismas

8

Palabras-llaveviolencia domeacutestica contra La mujer Salud Puacuteblica

9

SUMAacuteRIO

TENDEcircNCIA DAS PESQUISAS SOBRE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA CONTRA AS

MULHERES ENTRE OS ANOS DE 2000- 2009 NO BRASIL10

INTRODUCcedilAtildeO 10

METODOLOGIA13

APRESENTACcedilAtildeO E DISCUSSAtildeO DOS RESULTADOS15

VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E DE GEcircNERO PRAacuteTICAS DISCURSIVAS16

PERFIL DAS MULHERES QUE SOFRERAM VIOLEcircNCIA18

A VIOLEcircNCIA CONTRA A MULHER NA OacuteTICA DAS VITIMAS E DOS PROFISSIONAIS

DE SAUacuteDE22

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS25

REFERENCIAS28

ANEXO 30

Anexo 1 ndash Quadro analiacutetico ndash Violecircncia domestica contra a mulher e sauacutede publica ndash 2000-2009 30

10

TENDEcircNCIA DAS PESQUISAS SOBRE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA CONTRA AS

MULHERES ENTRE OS ANOS DE 2000- 2009 NO BRASIL

INTRODUCcedilAtildeO

Ao longo da histoacuteria a conquista dos direitos humanos ndash como garantia de

justiccedila social e dignidade humana ndash fez e faz parte de um processo de consciecircncia

dos diferentes povos Respeitar os direitos humanos eacute promover a vida em

sociedade sem discriminaccedilatildeo de classe social cultura religiatildeo raccedila orientaccedilatildeo

sexual ou de qualquer outro tipo O respeito agrave integridade corporal viver a

sexualidade sem culpas medos ou discriminaccedilatildeo e viver numa famiacutelia livre de

violecircncia tambeacutem fazem parte dos direitos humanos (BRASIL 2002)

Durante muito tempo a violecircncia baseada na desigualdade de gecircnero1 foi

praticamente invisiacutevel e tolerada Atualmente a complacecircncia social em torno das

agressotildees por questotildees de poder e dominaccedilatildeo estaacute se diluindo aos poucos visto

que governos sociedade civil organizada Naccedilotildees Unidas e outras organizaccedilotildees

internacionais estatildeo se envolvendo cada vez mais com atividades voltadas agrave

promoccedilatildeo da igualdade entre os sexos e ao fim da violecircncia domeacutestica contra as

mulheres

Para Tavares (2008 p14) ldquoa violecircncia domeacutestica contra a mulher eacute fruto de

uma construccedilatildeo social que demarca espaccedilos de poder privilegiando os homens e

oprimindo as mulheresrdquo Nesta loacutegica a sociedade reproduz a desigualdade social

existente no que se refere agraves expectativas geradas sobre os comportamentos de

homens e mulheres na medida em que se espera das mulheres delicadeza

obediecircncia e subordinaccedilatildeo e responsabilizaccedilatildeo pelo cuidado com o marido e com o

lar Da mesma forma em que as mulheres estatildeo legitimadas pela cultura linguagem

e discurso ndash como cuidadoras dos filhos (CABRAL OLIVEIRA CECCIM 2008)

1 No presente estudo o termo gecircnero fundamenta-se como [] todas as formas de construccedilatildeo

social cultural e linguumliacutestica implicadas com processos que diferenciam mulheres e homens incluindo aqueles processos que produzem seus corpos distinguindo-os e nomeando-os como corpos dotados de sexo gecircnero e sexualidade (MEYER 2004 p 15)

11

Em relaccedilatildeo aos serviccedilos de sauacutede foi apenas no iniacutecio dos anos 90 que a

temaacutetica em estudo passou a fazer parte e a realizar novas accedilotildees e abordagens

para o problema da violecircncia domeacutestica contra as mulheres Camargo e Aquino

(2003) esclarecem que foi somente a partir deste momento que os serviccedilos de

sauacutede passaram a adotar poliacuteticas visando agrave identificaccedilatildeo e enfrentamento dessa

problemaacutetica mediante accedilotildees no campo da sauacutede direcionadas aos casos de

violecircncia sexual violecircncia contra as crianccedilas e outros agravos

Nesse sentido a violecircncia contra as mulheres passa a ser tema de estudo e

intervenccedilatildeo no campo da sauacutede ao mesmo tempo em que se firma

internacionalmente como questatildeo de direitos humanos

Decorridos alguns anos do relatoacuterio da OMS sobre violecircncia e sauacutede2 torna-

se conhecido para os profissionais de sauacutede o fato de que a violecircncia contra as

mulheres tem alta magnitude e relevacircncia no campo da sauacutede Tal situaccedilatildeo tem sido

evidenciada no acircmbito dos serviccedilos de sauacutede pois mulheres que

vivenciamvivenciaram situaccedilotildees de violecircncia domeacutestica e sexual utilizam esses

serviccedilos com maior frequumlecircncia por apresentam mais queixas de ordem fiacutesica

mental e ou emocional (DrsquoOliveira et al 2009)

Estudo no acircmbito da atenccedilatildeo primaacuteria constatou que a frequumlecircncia de

mulheres que relataram ter vivenciado situaccedilotildees de violecircncia domeacutestica a partir dos

18 anos foi de 214 enquanto que em serviccedilos de emergecircncia essas ocorrecircncias

variaram de 22 a 35 (DrsquoOLIVEIRA SCHRAIBER et al 2002) Tambeacutem por essa

razatildeo os serviccedilos de sauacutede satildeo importantes dispositivos para a identificaccedilatildeo e

enfrentamento dessa problemaacutetica pois sua ampla cobertura na atenccedilatildeo baacutesica

favorece a vinculaccedilatildeo dessas mulheres a uma equipe de sauacutede em um dado

territoacuterio o que favorece o acolhimento e a possibilidade de identificaccedilatildeo de

situaccedilotildees de violecircncia domeacutestica contra mulheres ainda que subjetivadas por outras

queixas de origem bioloacutegica ou ainda mediante o proacuteprio relato da vitima em um

atendimento de sauacutede (DrsquoOliveira et al 2009)

2 Desde 1996 a Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede reconhece a violecircncia como um problema de sauacutede puacuteblica

(WHO 2002)

12

Entende-se que a violecircncia domeacutestica contra as mulheres eacute um fenocircmeno

complexo que requer accedilotildees intersetoriais para aleacutem do campo juriacutedico na medida

em que eacute reconhecida como um problema de sauacutede puacuteblica Para tanto o

enfrentamento de situaccedilotildees dessa natureza requer accedilotildees no campo dos direitos

humanos e de cidadania na perspectiva da humanizaccedilatildeo e da integralidade em

sauacutede pautadas na eacutetica e no entendimento de que um viver saudaacutevel implica

tambeacutem no direito a uma vida sem violecircncia (DrsquoOliveira et al 2009)

Ante estas consideraccedilotildees este estudo teve a seguinte questatildeo norteadora ldquoo

que a literatura especializada em sauacutede dos uacuteltimos dez anos disponiacutevel on line

traz a respeito da violecircncia domestica contra a mulher no periacuteodo de 2000 a 2009rdquo

O objetivo da pesquisa foi ldquoconhecer o que a literatura especializada em sauacutede dos

uacuteltimos dez anos disponiacutevel on line traz a respeito da violecircncia domestica contra a

mulher no periacuteodo de 2000 a 2009rdquo

13

METODOLOGIA

Trata-se de uma pesquisa bibliograacutefica de natureza qualitativa que segundo

Gil (2009) eacute o estudo desenvolvido com base em material jaacute elaborado constituiacutedo

principalmente de livros e artigos Segundo Minayo (2002) ldquoa pesquisa qualitativa

trabalha com o universo de significados motivos aspiraccedilotildees crenccedilas valores e

atitudes o que corresponde a um espaccedilo mais profundo das relaccedilotildees dos

processos e dos fenocircmenos que natildeo podem ser reduzidos agrave operacionalizaccedilatildeo de

variaacuteveisrdquo

Os dados foram coletados mediante consulta na Biblioteca Virtual de Sauacutede ndash

BVSBireme nas bases de dados de dados da Literatura Latino-Americana e do

Caribe em Ciecircncias da Sauacutede (LILACS) e Scientific Eletronic Library On line

(SCIELO) Foram utilizados os termos violecircncia contra a mulher e sauacutede publica

como descritores para o levantamento de dados nos uacuteltimos dez anos Este

processo envolveu atividades de busca identificaccedilatildeo fichamento de estudos

mapeamento e anaacutelise O recorte temporal justifica-se pelo fato de que em dez

anos a prodccedilatildeo de conhecimento se renova substancialmente especialmente no

que tange ao conhecimento veiculado em miacutedias informatizadas

O levantamento bibliograacutefico foi realizado no periacuteodo de vinte e trecircs a vinte e

seis de maio de dois mil e onze cujos dados coletados atenderam aos seguintes

criteacuterios de inclusatildeo artigos cientiacuteficos disponiacuteveis na iacutentegra online e em idioma

da lingua portuguesa no periacuteodo de 2000 a 2009 com os descritores violecircncia

domeacutestica contra a mulher e sauacutede publica

Inicialmente foram encontradas noventa e trecircs (93) produccedilotildees cientiacuteficas com

o descritor violecircncia domeacutestica contra a mulher e sauacutede puacuteblica Dessas foram

selecionados vinte e oito (28) artigos cientiacuteficos que apresentavam o texto na

iacutentegra sendo que apenas quinze (15) atendiam o criteacuterio de inclusatildeo relativo ao

idioma que era a liacutengua portuguesa Dos quinze (15) artigos selecionados trecircs (3)

natildeo atenderam ao enquadre temporal pois uma datava do ano de 1999 e duas do

ano de 2010 motivo pelo qual as mesmas foram excluiacutedas totalizando doze (12)

artigos que passaram a compor o corpus dos dados a serem analisados

14

A anaacutelise dos dados se deu pela teacutecnica de anaacutelise temaacutetica de Minayo

(2002) definida como a descoberta dos nuacutecleos de sentidos que constituem uma

comunicaccedilatildeo acerca da frequumlecircncia ou da presenccedila de algum significado para o

objeto que seraacute analisado Este meacutetodo de anaacutelise eacute constituiacutedo por trecircs etapas a

preacute-anaacutelise em que ocorre a ordenaccedilatildeo dos dados obtidos a exploraccedilatildeo do

material em que os dados satildeo classificados de forma a alcanccedilar o nuacutecleo de

compreensatildeo do texto por meio da formulaccedilatildeo de categorias e o tratamento dos

resultados obtidos e interpretaccedilatildeo em que se articulam os dados apreendidos ao

referencial teoacuterico visando responder as questotildees da pesquisa

15

APRESENTACcedilAtildeO E DISCUSSAtildeO DOS RESULTADOS

Para a categorizaccedilatildeo e anaacutelise dos doze artigos cientiacuteficos selecionados foi

elaborado um quadro analiacutetico (Anexo 1) composto pelas variaacuteveis titulo origem

subaacuterea de conhecimento tipo natureza ano de publicaccedilatildeo regiatildeo da pesquisa

O mapeamento das produccedilotildees apontou a subaacuterea multiprofissional como de

maior concentraccedilatildeo na produccedilatildeo de artigos cientiacuteficos sendo que a maioria foi de

produccedilotildees socioculturais e apenas um artigo de natureza clinica se mostrando

convergente agrave aacuterea de odontologia

Com relaccedilatildeo ao tipo de pesquisa a abordagem mais utilizada foi do tipo

qualitativa Quanto ao recorte temporal adotado a primeira produccedilatildeo selecionada foi

do ano de 2004 sendo que a maior concentraccedilatildeo se deu no ano de 2007 com cinco

(5) artigos

Quanto agraves regiotildees do paiacutes em que esses artigos foram produzidos observou-

se maior concentraccedilatildeo dessas publicaccedilotildees na regiatildeo Sudeste com seis (6) artigos

cinco (5) artigos na regiatildeo Sul e apenas um (1) artigo na regiatildeo nordeste Ainda

com relaccedilatildeo agrave regionalidade desses artigos destaca-se que trecircs dos artigos

produzidos na regiatildeo sudeste do paiacutes foram desenvolvidos na cidade de Ribeiratildeo

PretoSP dos quais dois abordavam a perspectiva dos profissionais de sauacutede em

relaccedilatildeo e violecircncia domestica e o outro o perfil das vitimas de violecircncia

Do processo de anaacutelise dos achados da pesquisa emergiram trecircs categorias

sendo que os doze artigos foram categorizados em Violecircncia domeacutestica e de

gecircnero praacuteticas discursivas Perfil das mulheres que sofreram violecircncia e A violecircncia

na oacutetica dos profissionais de sauacutede

VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E DE GEcircNERO PRAacuteTICAS DISCURSIVAS

Medina e Penna (2008) em estudo bibliograacutefico que analisou quatorze (14)

produccedilotildees entre os anos de 2000 e 2005 destacaram o contexto soacutecio-cultural da

violecircncia domeacutestica no periacuteodo gestacional como um fator importante no

desenvolvimento desta no acircmbito da famiacutelia Tambeacutem ressaltam que a violecircncia

vivenciada pela gestante ainda eacute uma situaccedilatildeo de difiacutecil abordagem nas relaccedilotildees

16

pessoais e profissionais O estudo indicou ainda que mulheres que vivenciam

situaccedilotildees de violecircncia na gestaccedilatildeo se sentem coibidas em denunciar agressotildees

sofridas pelos parceiros ou familiares Da mesma forma em que evidenciou

processos de naturalizaccedilatildeo e de invisibilidade da violecircncia na gestaccedilatildeo na medida

em que muitas situaccedilotildees dessa natureza nem sempre satildeo percebidas e

reconhecidas como atos violentos pelas mulheres que a vivenciam como tambeacutem

pelos profissionais de sauacutede que as assistem

Pesquisa realizada por Silva et al (2007) que analisou os tipos de violecircncia

domeacutestica indicou que a violecircncia psicoloacutegica eacute o ponto inicial que deflagra a

violecircncia Para os autores a prevenccedilatildeo de qualquer tipo de situaccedilatildeo de violecircncia

vivida no acircmbito domeacutestico deve passar pela compreensatildeo de que estrateacutegias que

visem coibir situaccedilotildees de violecircncia psicoloacutegica implicam diretamente na minimizaccedilatildeo

dos demais tipos de violecircncias Destacam ainda que outras accedilotildees importantes

como palestras e maior discussatildeo sobre a temaacutetica em escolas de ensino

fundamental e meacutedio da rede puacuteblica e universidades que abordem a temaacutetica da

violecircncia na perspectiva dos direitos humanos bem como sobre serviccedilos de apoio

existentes e possibilidades de enfrentamento desta demanda devem ser

incentivadas

Estudo publicado por Meneghel e Intildeiguez (2007) que analisou oficina de

contadores de histoacuterias realizada no Centro Ecumecircnico de Assessoria e

Capacitaccedilatildeo de Satildeo Leopoldo (CECA-SL) a qual teve como tema gerador das

discussotildees as questotildees de gecircnero Dessas discussotildees foram escolhidas histoacuterias

para comporem essas narrativas nas quais as mulheres contavam episoacutedios de

violecircncia ligados agraves suas trajetoacuterias pessoais e afirmavam que a violecircncia de gecircnero

acontece em qualquer classe social escolaridade ou raccedila Na medida em que se

posicionavam criticamente em relaccedilatildeo ao sexismomachismo essas mulheres

afirmavam que eram obrigadas a abdicar de si mesmas natildeo podiam construir

projetos de vida mais autocircnomos devendo sempre ceder agraves vontades do homem

(maridocompanheiro) permanecendo submissas a ele Essa subordinaccedilatildeo agrave

autoridade masculina poderia ser potencializada ou minimizada na medida em que

essas mulheres dispusessem ou natildeo de acesso a informaccedilotildees que favoreccedilam o

17

entendimento de sua posiccedilatildeo como sujeito de direitos dentre os quais o de uma

vida sem violecircncia

Com base nos estudos analisados percebeu-se que a violecircncia domeacutestica

contra as mulheres envolve questotildees culturais e de gecircnero Nesse sentido a

prevenccedilatildeo ou minimizaccedilatildeo de situaccedilotildees relativas agrave violecircncia domeacutestica requer accedilotildees

intersetoriais que mobilizem os diversos segmentos da sociedade para que

conjuntamente atuem de forma proacute-ativa no enfrentamento desta problemaacutetica

Uma estrateacutegia importante seria a inclusatildeo da temaacutetica como um tema

transversal nas escolas a ser abordado natildeo apenas com alunos e professores mas

tambeacutem com as famiacutelias que integram a comunidade escolar

Para aleacutem da organizaccedilatildeo de serviccedilos para o enfrentamento da violecircncia

contra as mulheres e apoio a essas viacutetimas evidencia-se tambeacutem a necessidade de

maior qualificaccedilatildeo sobre a temaacutetica de profissionais que atuam no campo da sauacutede

e do serviccedilo social para que possam atender esta demanda com eacutetica competecircncia

e de forma mais humanizada Atuaccedilatildeo esta pautada em valores societaacuterios em que

homens e mulheres tenham os mesmos direitos de cidadania buscando a

superaccedilatildeo de todas as formas de violecircncia preconceitos discriminaccedilotildees e

desigualdades

18

PERFIL DAS MULHERES QUE SOFRERAM VIOLEcircNCIA

A maioria das produccedilotildees traccedilou o perfil das mulheres vitimas de violecircncia

domeacutestica que procuram atendimento em serviccedilos de sauacutede tendo como variaacuteveis a

faixa etaacuteria profissatildeo estado civil escolaridade dentre outros

Galvatildeo e Andrade (2004) pesquisaram o perfil de mulheres em situaccedilatildeo de

violecircncia atendidas em um Centro de Atendimento agrave Mulher (CAM) em Londrina

Paranaacute a partir de informaccedilotildees extraiacutedas das fichas desses atendimentos A faixa

etaacuteria que predominou entre as mulheres atendidas no CAM foi agrave de 30 a 39 anos

seguida da faixa etaacuteria de 20 a 29 anos sendo que a meacutedia de idade foi de 34 anos

Com relaccedilatildeo ao estado civil 472 das mulheres declararam-se casadas 266

dos casos as mulheres que conviviam com um companheiro fixo numa relaccedilatildeo

consensual e 54 possuem um ou dois filhos Quanto agrave escolaridade 581 dessas

mulheres natildeo concluiacuteram o ensino fundamental 128 concluiacuteram o ensino meacutedio e

a taxa de analfabetismo foi de 21 sendo que 558 desenvolvia algum tipo de

trabalho remunerado Os principais agressores satildeo os atuais maridos ou

companheiros das mulheres (734) e quase a totalidade dos casos (974)

ocorreu no ambiente domeacutestico Quanto agrave caracterizaccedilatildeo dos casos de violecircncia

prevalece a violecircncia emocional com 564 dos casos seguida pela violecircncia fiacutesica

com 321 Quanto ao tempo em que vivenciam situaccedilotildees de violecircncia 33 das

mulheres vecircm sofrendo agressotildees por periacuteodos de ateacute um ano e 204 dos casos

refere-se a mulheres que sofrem agressotildees haacute mais de 10 anos

Estudo realizado por Monteiro et al (2006) sobre o perfil de mulheres que

sofreram violecircncia atendidas em uma unidade de urgecircncia em Teresina Piauiacute

indicou que 78 encontrava-se na faixa etaacuteria entre 18 e 40 anos e que 40 delas

natildeo trabalhavam fora de casa desempenhando exclusivamente as tarefas

domeacutesticas relativas ao cuidado coma casa e filhos As agressotildees nos membros

superiores ocorreram com maior frequumlecircncia (44) seguida das agressotildees na face

(33) Revelou ainda que a maioria dessas mulheres natildeo relatou os motivos pelos

quais foram agredidas ainda que o aacutelcool tenha sido apontado em 19 dos casos

como o principal motivo desencadeador das agressotildees seguido do ciuacutemes

Tambeacutem haacute um grande nuacutemero de subnotificaccedilatildeo em relaccedilatildeo ao agressor (80)

19

possivelmente em funccedilatildeo da dependecircncia econocircmica e por medo de vinganccedila do

companheiro Quanto agraves condutas adotadas pelos profissionais de sauacutede a grande

maioria (83) limita-se ao atendimento de queixas de menor complexidade como

aquelas que exigiram sutura simples ou consulta meacutedica Recomendam ainda que o

apoio as viacutetimas de violecircncia deve ter iniacutecio no serviccedilo de urgecircncia de forma

articulada com outros serviccedilos que tratam da mesma questatildeo como as Delegacias

Especiais de Atendimento agrave Mulher (DEAM) os Conselhos de Direitos da Mulher

Abrigos e outras instituiccedilotildees

Mota Vasconcelos e Assis (2007) analisaram as informaccedilotildees das fichas de

atendimento de um centro especializado no atendimento a mulheres viacutetimas de

violecircncia no municiacutepio do Rio de Janeiro totalizando 684 fichas de atendimento

dessas mulheres Dessa anaacutelise os autores traccedilaram o perfil dessas mulheres as

quais apresentaram idade meacutedia de 37 anos Para os autores o baixo status

econocircmico a baixa escolaridade e consequumlentemente o acesso agrave informaccedilatildeo

podem ter sido condiccedilotildees facilitadoras para a ocorrecircncia de situaccedilotildees de violecircncia

domeacutestica contra mulheres pelo cocircnjuge na populaccedilatildeo analisada Por outro lado as

agressotildees fiacutesicas mais graves que ocorreram com mulheres que possuiacuteam maior

niacutevel de escolaridade podem ter sido potencializadas pelo fato de as mesmas natildeo

terem aceitado essa violecircncia de modo passivo implicando em um conflito ainda

maior e em agressotildees fiacutesicas mais graves O estudo evidenciou ainda que a

violecircncia domeacutestica contra a mulher envolve questotildees culturais e de gecircnero com

implicaccedilotildees nas questotildees relativas agrave conjugalidade Assim a violecircncia domeacutestica

contra a mulher estaacute vinculada ao tradicional controle masculino baseado no papel

de provedor cuja desigualdade de gecircnero potencializa conflitos e colabora para a

ocorrecircncia de situaccedilotildees de violecircncia de ordem fiacutesica psicoloacutegica ou moral

Pesquisa retrospectiva e documental desenvolvida por Leonsio et al (2008)

analisou 446 boletins de ocorrecircncia em uma Delegacia de Defesa da Mulher em

Ribeiratildeo Preto Satildeo Paulo Em seus resultados os autores destacaram que 3408 das

mulheres estavam em faixa etaacuteria acima de 35 anos 7578 eram da raccedila branca e

4417 delas eram solteiras Quanto agrave ocupaccedilatildeo 5874 dessas mulheres

exerciam algum tipo de trabalho remunerado formal ou informal e 3722 possuiacuteam

o ensino fundamental completo Outro aspecto importante evidenciado pelo estudo foi

20

que 5471 das mulheres agredidas demoraram de 1 a 15 dias entre a agressatildeo e o tempo

da denuacutencia formal e 4215 registraram a ocorrecircncia no mesmo dia na delegacia Em

7691 dos casos o ambiente domeacutestico foi o local em que essas agressotildees ocorreram

Quanto ao agressor foi observado nos boletins de ocorrecircncia investigados que em 4910

dos casos os parceiros foram os principais denunciados seguidos de ex-parceiros com

1816 das ocorrecircncias Dentre os motivos desencadeantes da agressatildeo 4462

corresponderam agrave recusa da separaccedilatildeo conjugal 1435 ciuacutemes e 1996 por outros

motivos como bebidasdrogas

Estudo realizado por Resende et al (2007) analisou registros e laudos

encaminhados ao setor de Odontologia do IML de Belo Horizonte sobre as lesotildees

bucomaxilares sofridas por mulheres vitimas de violecircncia domeacutestica A faixa etaacuteria

predominante das mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia foi de 20 a 39 anos

representando 704 do total sendo a idade meacutedia correspondente a 303 anos

Quanto agrave ocupaccedilatildeo 241 das mulheres realizavam trabalhos domeacutesticos 213

se intitulavam ldquodonas-de-casardquo e 14 trabalhavam no comeacutercio A maioria das

mulheres que sofreu agressotildees declarou-se solteira perfazendo um total de 63

enquanto que o percentual de casadas foi menor correspondendo apenas 204

Foi constatado o elevado percentual de 611 dos casos em que o agressor natildeo foi

identificado (611) em 25 o sujeito agressor foi o companheiro em 37 foram

familiares e em 74 foram conhecidos perfazendo um total de 361 contra 28

de violecircncia realizada por estranhos

A complexidade da problemaacutetica da violecircncia domeacutestica contra as mulheres

tem implicaccedilotildees em questotildees culturais e de gecircnero vinculada a construccedilatildeo social

de papeacuteis desiguais entre homens e mulheres que potencializa conflitos e colabora

para a ocorrecircncia de situaccedilotildees de violecircncia de ordem fiacutesica psicoloacutegica ou moral

Ainda nesse sentido costuma ser difiacutecil para a maioria das mulheres tomarem a

atitude de denunciar seus companheiros agressores e romper com a situaccedilatildeo de

violecircncia principalmente em funccedilatildeo do medo de vinganccedila e da dependecircncia

econocircmica agrave renda do marido

21

A VIOLEcircNCIA CONTRA A MULHER NA OacuteTICA DAS VITIMAS E DOS

PROFISSIONAIS DE SAUacuteDE

Estudo desenvolvido por Vieira et al (2009) sobre o conhecimento e atitudes

dos profissionais de sauacutede em relaccedilatildeo agrave violecircncia de gecircnero destaca a importacircncia

do atendimento de mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia nos serviccedilos de sauacutede jaacute que

este eacute muitas vezes o uacutenico local procurado pelas viacutetimas A maioria dos

profissionais que participou do estudo demonstrou bom conhecimento sobre a

definiccedilatildeo de violecircncia contra a mulher aleacutem de reconhecer como seu papel

profissional perguntar sobre violecircncia para as pacientes Indicou ainda que esses

profissionais acreditam que para uma melhor atenccedilatildeo agrave violecircncia deveria ser

implantado em sua rotina de trabalho um protocolo de enfrentamento da violecircncia

Os autores tambeacutem evidenciaram a necessidade maiores investimentos na

capacitaccedilatildeo e qualificaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede que devem estar aptos para

reconhecer e manejar os casos de violecircncia

Pesquisa realizada por De Ferrant Santos e Vieira (2009) sobre a percepccedilatildeo

dos meacutedicos de uma unidade baacutesica de Ribeiratildeo Preto Satildeo Paulo em relaccedilatildeo agrave

violecircncia domeacutestica contra a mulher revelou que a maior parte deles acredita que a

violecircncia psicoloacutegica eacute a mais grave pois a proacutepria mulher apresenta dificuldade em

reconhececirc-la como algo prejudicial agrave sua sauacutede a ponto de frequentemente

permanecer exposta agrave situaccedilatildeo durante anos a fio Os resultados indicam que os

meacutedicos detecircm alguns conhecimentos acerca dos tipos de violecircncia de gecircnero e satildeo

capazes de identificar e muitas vezes acolher as mulheres que estatildeo expostas agrave

situaccedilatildeo Contudo destacam uma seacuterie de dificuldades para atuarem frente a uma

usuaacuteria que apresenta essa problemaacutetica e reconhecem a falta de capacitaccedilatildeo

profissional uma vez que muitos deles reforccedilam a necessidade de um treinamento

voltado especificamente para os casos de violecircncia de gecircnero Da mesma forma que

apontam outras barreiras pessoais e institucionais que limitam sua atuaccedilatildeo tanto

em niacutevel preventivo como interventivo que muitas vezes os impedem de agir

adequadamente frente a uma situaccedilatildeo de violecircncia Entre elas destacam-se os

meacutedicos sentem-se impotentes frente agraves atitudes que a mulher possa vir a tomar

mesmo depois de orientada afirmam que temem tomar qualquer atitude por medo

22

da reaccedilatildeo do agressor Os autores sugerem a necessidade de um trabalho integrado

e em rede que ofereccedila uma resposta efetiva para o problema da violecircncia de

gecircnero Aleacutem disso eacute preciso investir na qualificaccedilatildeo dos outros profissionais de

sauacutede aleacutem dos meacutedicos para que se viabilize um atendimento multidisciplinar

para que os serviccedilos de sauacutede se constituam em espaccedilos de acolhimento e apoio

integrando-se efetivamente agrave rede de atendimento

Wilhelm e Tonet (2007) em seu estudo sobre a percepccedilatildeo de mulheres que

sofreram violecircncia domeacutestica em um municiacutepio do interior de Santa Catarina indicou

a ocorrecircncia de depressatildeo ansiedade medo e sentimento de baixa auto-estima Na

oacutetica dessas mulheres parte das agressotildees acontece somente no momento em que

seus companheiros estatildeo alcoolizados Aleacutem da violecircncia fiacutesica (tais como socos

arranhotildees puxotildees de cabelo arremesso de objetos chutes tapas e beliscotildees)

ocorrem as humilhaccedilotildees e a desqualificaccedilatildeo sendo ridicularizadas perante os

amigos do agressor sua famiacutelia e desautorizada perante os filhos Quanto ao

comportamento violento do companheiro este eacute justificado por fatores externos

deste modo desresponsabilizando-o como por exemplo as dificuldades

financeiras desemprego e uso de drogas dentre outros Muitos satildeo os motivos

pelos quais a mulher natildeo denuncia seu marido agressor passando a viver muitos

anos neste contexto de violecircncia dentre os quais destaca-se dependecircncia

financeira filhos fator cultural e ameaccedilas Da mesma forma todas demonstraram a

esperanccedila de que o companheiro mudasse em relaccedilatildeo ao seu comportamento

violento Aleacutem de poliacuteticas puacuteblicas mais efetivas par ao enfrentamento da violecircncia

domeacutestica Eacute necessaacuterio promover poliacuteticas puacuteblicas mais efetivas em relaccedilatildeo ao

enfrentamento da violecircncia domeacutestica bem como maiores investimentos em redes

de apoio social efetiva para a mulher e seus filhos as quais muitas vezes estatildeo

subjugadas ao seu agressor devido agrave dependecircncia econocircmica Em relaccedilatildeo a este eacute

importante promover grupos de homens com a finalidade de propiciar a discussatildeo

sobre violecircncia relaccedilotildees e gecircnero e formas alternativas de resoluccedilatildeo de conflitos

Estudo de Scaranto Biazevic e Michel (2007) sobre a percepccedilatildeo dos Agentes

Comunitaacuterios de Sauacutede (ACS) sobre a Violecircncia Domeacutestica contra a Mulher em um

municiacutepio do interior do Rio Grande do Sul identificou relatos de situaccedilotildees de

violecircncia domeacutestica contra a mulher cometida por seu companheiro seja fiacutesica

23

sexual psicoloacutegica ou econocircmica A obediecircncia aos maridoscompanheiros vai

desde o cuidado pessoal ateacute o desempenho sexual A vergonha pela violecircncia

sofrida eacute infinitamente maior do que a coragem da mulher para denunciar

Constatou-se que o ACS pode ser o elo entre a vergonha e a coragem para a

mulher denunciar o problema da violecircncia o que significa que ele parece ser de

fundamental importacircncia no acolhimento das anguacutestias dessas mulheres no

encorajamento para o relato de sofrimento na detecccedilatildeo da questatildeo da violecircncia

que pode estar acompanhada pela depressatildeo ansiedade ou ateacute mascarada por

algum tipo de queixa vaga e em consequumlecircncia fazer o encaminhamento de

referecircncia correto e eficiente na denuacutencia Eacute preciso dar subsiacutedios teoacuterico-praacuteticos

aos profissionais para que em seu trabalho cotidiano possam detectar situaccedilotildees de

violecircncia encontrar a forma de abordar as famiacutelias e dar encaminhamento tanto aos

casos de violecircncia quanto de uso de aacutelcooldrogas A violecircncia contra a mulher deve

ser considerada como questatildeo de sauacutede puacuteblica a partir do conceito ampliado de

sauacutede motivo pelo qual necessita ser alvo de poliacuteticas puacuteblicas efetivas e

consistentes assim como mecanismos de proteccedilatildeo agrave mulher viacutetima de violecircncia

tambeacutem precisam ser criados

Com base nos artigos analisados constatou-se que muitos profissionais tecircm

dificuldades em reconhecer a violecircncia como um problema de sauacutede devido agrave falta

de subsiacutedios teoacuterico-praacuteticos para a detecccedilatildeo de situaccedilotildees de violecircncia abordagem

adequada agraves viacutetimas e os devidos encaminhamentos para o atendimento desta

demanda

24

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Este estudo teve se propocircs a conhecer o que a literatura especializada em

sauacutede dos uacuteltimos dez anos disponiacutevel on line traz a respeito da violecircncia

domestica contra a mulher no periacuteodo de 2000 a 2009

Com base nos artigos analisados percebe-se que o baixo status econocircmico

o niacutevel de instruccedilatildeo e consequumlentemente o acesso agrave informaccedilatildeo podem ser

considerados como condiccedilotildees facilitadoras para a ocorrecircncia de situaccedilotildees de

violecircncia domeacutestica

Em muitos casos a dependecircncia econocircmica da mulher agrave renda do marido

impotildee a necessidade desta em ter de permanecer com ele mesmo diante de

situaccedilotildees de violecircncia

De modo geral os estudos analisadas indicaram os maridos ou companheiros

atuais das mulheres ou ainda seus ex-companheiros como os principais

agressores sendo o ambiente domeacutestico o local predominate destas agressotildees

Outro aspecto evidenciado nos achados desta pesquisa se refere ao fato de

que a maioria dessas mulheres natildeo relatou os motivos pelos quais foram agredidas

ainda que o aacutelcool tenha sido apontado como o principal motivo desencadeador das

agressotildees seguido do sentimento de ciuacutemes Tambeacutem se verificou o grande

nuacutemero de sub-notificaccedilatildeo dos casos de violecircncia contra as mulheres Assim infere-

se que possivelmente isto ocorra em funccedilatildeo da dependecircncia econocircmica e por

medo de vinganccedila

A natureza soacutecio-cultural e a subaacuterea multiprofissional prevalente nas

produccedilotildees analisadas evidenciaram a multiplicidade de aspectos relevantes a

temaacutetica da violecircncia como um complexo problema de sauacutede puacuteblica sinalizando

para a urgecircncia de um movimento reflexivo seja no acircmbito da formaccedilatildeo de

profissionais de sauacutede seja na praacutetica profissional para o enfrentamento desta

questatildeo

Destaca-se a importacircncia de pesquisa bibliograacuteficas para a sistematizaccedilatildeo

das produccedilotildees cientiacuteficas nacionais na temaacutetica violecircncia domestica contra a mulher

para o (re)conhecimento do estado da arte sobre a temaacutetica em anaacutelise fato este

25

fundamental para subsidiar futuras intervenccedilotildees no acircmbito das praacuteticas e serviccedilos

de sauacutede e da accedilatildeo social

A complexidade que envolve as questotildees relativas agrave violecircncia contra a mulher

exige accedilotildees capazes de dar conta das inuacutemeras demandas apresentadas o que

implica na articulaccedilatildeo entre as diferentes aacutereas de conhecimento e de atuaccedilatildeo

multiprofissional

Nessa loacutegica faz-se necessaacuterio maior investimento na qualificaccedilatildeo de

profissionais de sauacutede do serviccedilo social do direito entre outros para o

reconhecimento e identificaccedilatildeo dos sinais que possam indicar situaccedilotildees de violecircncia

contra as mulheres visando o acolhimento das mesmas natildeo apenas nos serviccedilos de

sauacutede mas em outros setores da sociedade Da mesma forma a criaccedilatildeo e

organizaccedilatildeo de serviccedilos multiprofissionais de atendimento agraves mulheres em situaccedilatildeo

de violecircncia para seu devido enfrentamento de modo que os mesmos estejam

articulados na loacutegica da intersetorialidade com os campos da sauacutede do serviccedilo

social e do direito no desenvolvimento de accedilotildees preventivas e assistenciais na

perspectiva da atenccedilatildeo integral agraves mulheres

Para aleacutem da organizaccedilatildeo de serviccedilos para o enfrentamento da violecircncia

contra as mulheres e apoio a essas viacutetimas evidencia-se tambeacutem a urgecircncia de

maior qualificaccedilatildeo sobre a temaacutetica de profissionais que atuam nesses campos para

que possam atender demandas dessa natureza de modo mais solidaacuterio

respeitando-se as subjetividades e singularidades implicadas nessas situaccedilotildees

Os Assistentes Sociais tecircm atuado como mediadores proporcionando a

escolha para as mulheres do que melhor lhes conveacutem Tal direcionamento vai ao

encontro da proposta aqui formulada na qual considera o profissional como sendo

um facilitador que em nome de valores como liberdade individual independecircncia e

autonomia fornece suporte ao processo de fortalecimento destas usuaacuterias ou seja

eacute o profissional que vecirc aleacutem do aparente (TAVARES 2008)

Sabe-se que jaacute existem leis especiacuteficas para o enfrentamento da violecircncia

contra as mulheres poreacutem ainda eacute preciso que as mesmas sejam incorporadas pela

sociedade como cultura poliacutetica para que accedilotildees mais efetivas sejam de fato

implementadas

26

Como estrateacutegia para a ampliaccedilatildeo do escopo das praacuteticas dessa natureza no

acircmbito das poliacuteticas puacuteblicas destaca-se a criaccedilatildeo de accedilotildees intersetoriais com

movimentos organizados de mulheres organizaccedilotildees governamentais e natildeo

governamentais de defesa aos direitos das mulheres serviccedilos de sauacutede e da accedilatildeo

social delegacias de policia organizaccedilotildees de bairros escolas dentre outros

segmentos sociais

Outra importante accedilatildeo se refere agrave incorporaccedilatildeo das questotildees relativas agrave

violecircncia e mais especificamente contra as mulheres foco deste estudo como um

tema transversal nas escolas o qual deve ser abordado natildeo apenas com alunos e

professores mas tambeacutem com as famiacutelias que integram a comunidade escolar

Para tanto a interlocuccedilatildeo do Serviccedilo Social com essa questatildeo se faz

necessaacuteria uma vez que a violecircncia domestica eacute um fenocircmeno social e portanto

deve ser enfrentada mediante o conjunto de estrateacutegias poliacuteticas e de intervenccedilatildeo

social direta

Desde esta perspectiva os profissionais do Serviccedilo Social devem intervir

diretamente na realidade social dos sujeitos tendo como pressuposto de atuaccedilatildeo a

articulaccedilatildeo do trabalho em redes promovendo a co-participaccedilatildeo e co-

responsabilizaccedilatildeo dos atores envolvidos nessa problemaacutetica desde a tomada de

decisotildees ateacute os encaminhamentos que se fizerem necessaacuterios para o enfrentamento

positivo e superaccedilatildeo de situaccedilotildees de violecircncia contra as mulheres

A partir de accedilotildees mais efetivas e da conscientizaccedilatildeo dos atores sociais de

que a violecircncia eacute hoje um problema de relevacircncia mundial e de sauacutede puacuteblica no

cenaacuterio brasileiro almeja-se a detecccedilatildeo precoce de situaccedilotildees de violecircncia

abordagem adequada e qualificada agraves viacutetimas e os devidos encaminhamento para o

atendimento desta demanda com eacutetica competecircncia e de forma mais humanizada

Atuaccedilatildeo esta pautada em valores societaacuterios em que homens e mulheres tenham

os mesmos direitos de cidadania buscando a superaccedilatildeo de todas as formas de

violecircncia preconceitos discriminaccedilotildees e desigualdades

27

REFEREcircNCIAS

BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Violecircncia intrafamiliar orientaccedilotildees para a praacutetica em serviccedilos Cadernos de Atenccedilatildeo Baacutesica n 8 BrasiacuteliaDF 2002 CABRAL F B OLIVEIRA D LL C de CECCIM R B O puerpeacuterio e a sauacutede da mulher vulnerabilidade e atenccedilatildeo baacutesica agrave sauacutede In Ensino e atenccedilatildeo agrave sauacutede da mulher aprendizados da integraccedilatildeo da educaccedilatildeo superior com a rede assistencial edCaxias do Sul EDUCS Editora da Universidade de Caxias do Sul 2008 p 137-157 CAMARGO M AQUINO S de (2003) Redes de cidadania e parcerias- Enfrentando a rota criacutetica Secretaria Especial de Poliacuteticas para as Mulheres Programa de prevenccedilatildeo assistecircncia e combate agrave violecircncia contra a mulher- plano nacional Brasiacutelia 2003 DrsquoOLIVEIRA A F SCHRAIBER L B Violecircncia Contra a Mulher a pesquisa e a intervenccedilatildeo Revista Promoccedilatildeo da Sauacutede n 6 80- 8 2002 DE FERRANTE FG SANTOS MA VIEIRA EM Violecircncia contra a mulher percepccedilatildeo dos meacutedicos das unidades baacutesicas de sauacutede da cidade de Ribeiratildeo Preto Satildeo Paulo Satildeo Paulo Interface - Comunic Saude Educ 13(31)287-99 outdez 2009

DOLIVEIRA AFPL SCHREIBER LB HANADA H DURANDJ Atenccedilatildeo integral agrave sauacutede de mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia de gecircnero ndash uma alternativa para a atenccedilatildeo primaacuteria em sauacutede Rio de Janeiro Ciecircnc Sauacutede Coletiva 14(4) julhoago 2009

GALVAtildeOFEANDRADESM Violecircncia contra a mulher anaacutelise de casos atendidos em serviccedilo de atenccedilatildeo agrave mulher em municiacutepio do Sul do Brasil Sauacutede e Sociedade 13(2)p89-99 maio-ago 2004 GIL A C Como Elaborar Projetos de Pesquisa 4 ed Satildeo Paulo Atlas 2009

LEONCIO LK ET AL O perfil das mulheres vitimizadas e seus agressores Rev enferm UERJ Rio de Janeiro 16(3)307-12 julset 2008 MEDINA ABC PENNA LHG Violecircncia na gestaccedilatildeo um estudo da produccedilatildeo cientiacutefica de 2000 a 2005 Esc Anna Nery 12(4)793-98 dez 2008 MENEGHEL ST INtildeIGUEZ L Contadores de histoacuterias praacuteticas discursivas e violecircncia de gecircnero Cad Sauacutede Puacuteblica Rio de Janeiro 23(8)1815-1824 ago 2007 MEYER D E Teorias e poliacuteticas de gecircnero fragmentos histoacutericos e desafios atuais Revista Brasileira de Enfermagem Brasiacutelia v57 n1 p13-8 janfev 2004

28

MINAYO M C et al Pesquisa social teoria meacutetodo criatividade Petroacutepolis Vozes 2002 MONTEIROCFS Arauacutejo TME NunesBMV LustosaAR BezerraCMJ A Violecircncia contra a mulher atendida em uma unidade de urgecircncia uma contribuiccedilatildeo da enfermagem Esc Anna Nery 10(2)273-9 ago 2006 MOTA JCMVASCONCELOS AGG ASSIS SG Anaacutelise de correspondecircncia como estrateacutegia para descriccedilatildeo do perfil da mulher viacutetima do parceiro atendida em serviccedilo especializado Ciecircncia e Sauacutede coletiva 12 (3)799890 2007 REZENDE EJC ET AL Lesotildees buco-dentais em mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia um estudo piloto de casos periciados no IML de Belo Horizonte MG Rev Bras Epidemiol 10(2) 202-14 2007 SCARANTO CAA BIAZEVICMGH MICHEL-CROSATOE Percepccedilatildeo dos Agentes Comunitaacuterios de Sauacutede sobre a Violecircncia Domeacutestica contra a Mulher Psicol ciecircnc Prof 27(4)694-705 2007 SCHRAIBER L B DOLIVEIRA A F L P Violecircncia contra mulheres interfaces com a Sauacutede Comunicaccedilatildeo Sauacutede Educaccedilatildeo v3 n5 1999 SILVA LL ET AL Violecircncia silenciosa violecircncia psicoloacutegica como condiccedilatildeo da violecircncia fiacutesica domeacutestica Interface - Comunic Sauacutede Educ v11 n21 p93-103 janabr 2007 SILVA LL ET AL Violecircncia silenciosa violecircncia psicoloacutegica como condiccedilatildeo da violecircncia fiacutesica domeacutestica Interface - Comunic Sauacutede Educ v11 n21 p93-103 janabr 2007 TAVARES F A Daacutes Laacutegrimas agrave Esperanccedila o processo de fortalecimento das mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia domeacutestica 2008 Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Serviccedilo Social Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica do Rio Grande do Sul Porto Alegre 2008 VIEIRAMEET AL Conhecimento e atitudes dos profissionais de sauacutede em relaccedilatildeo agrave violecircncia de gecircnero Rev Bras Epidemiol 12(4) 566-77 2009 WILHEL FA TONET J Percepccedilatildeo sobre a violecircncia domeacutestica na perspectiva de mulheres vitimadas Psicol Argum Curitiba 25 (51)401-412 outdez 2007

29

ANEXO 1 - Quadro analiacutetico ndash Violecircncia domestica contra a mulher e sauacutede publica ndash 2000-2009

Titulo Revista

Origem Subaacuterea de

conhecimento

Tipo Natureza Ano de

publicaccedilatildeo

Regiatildeo da

pesquisa

Violecircncia contra a mulher anaacutelise de casos atendidos em serviccedilo de atenccedilatildeo agrave mulher em municiacutepio do sul do Brasil Rev Sauacutede e Sociedade v13 n2 p89-99 maio-ago 2004

GALVAtildeOFEANDRADESM

Artigo Sociologia Pesquisa

investigaccedilatildeo

Qualitativo

sociocultural 2004 Regiatildeo Sul

A violecircncia contra a mulher atendida em unidade de urgecircncia uma contribuiccedilatildeo da enfermagem Esc Anna Nery R Enferm 2006 ago 10 (2) 273-9

MONTEIROCFS Arauacutejo TME NunesBMV LustosaAR BezerraCMJ

Artigo Enfermagem Pesquisa

Investigaccedilatildeo

Quantitativo

sociocultural 2006 Regiatildeo

Norte

Percepccedilatildeo dos Agentes Comunitaacuterios de Sauacutede sobre a Violecircncia Domeacutestica contra a Mulher Psicol ciecircnc prof27(4)694-705 2007

SCARANTO CAA BIAZEVICMGH MICHEL-CROSATOE

Artigo Psicologia Pesquisa

Investigaccedilatildeo

Qualitativo

sociocultural 2007 Regiatildeo Sul

Violecircncia silenciosa violecircncia psicoloacutegica como condiccedilatildeo da violecircncia fiacutesica domeacutestica

Artigo Psicologia Revisatildeo sociocultural 2007 Regiatildeo Sul

30

Interface-Comunic Sauacutede Educ v11 n21 p93-103 janabr 2007

SILVA LL ET AL

Qualitativa

Anaacutelise de correspondecircncia como estrateacutegia para descriccedilatildeo do perfil da mulher viacutetima do parceiro atendida em serviccedilo especializado Ciecircncia e Sauacutede coletiva12 (3)799890 2007

MOTA JCMVASCONCELOS AGG ASSIS SG

Artigo multiprofissional Pesquisa Qualiquanti

epidemioloacutegi

co

2007 Centro

Contadores de histoacuterias praacuteticas discursivas e violecircncia de gecircnero Cad Sauacutede Puacuteblica Rio de Janeiro 23(8)1815-1824 ago 2007

MENEGHEL ST INtildeIGUEZ L

Artigo multiprofissional Pesquisa Qualitativa

Sociocultural 2007 Regiatildeo sul

Lesotildees buccedilo-dentais em mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia um estudo piloto de casos periciados no IML de Belo Horizonte MG Rev Bras Epidemiol 2007 10(2) 202-14

REZENDE EJC ET AL

Artigo Odontologia Pesquisa

Documental

Clinico 2007 Regiatildeo

sudeste

Percepccedilatildeo sobre a violecircncia domeacutestica na perspectiva de mulheres vitimadas Psicol Argum Curitiba v 25 n 51 p 401-412 outdez 2007

WILHEL FA TONET J

Artigo Psicologia Pesquisa

qualitativa

Sociocultural 2007 Regiatildeo Sul

O perfil de mulheres vitimizadas e de seus agressores Rev enferm UERJ Rio de Janeiro 2008 julset

Artigo Enfermagem Pesquisa Sociocultural 2008 Regiatildeo

31

16(3)307-12

LEONCIO LK ET AL documental

quantitativa

sudeste

Violecircncia na gestaccedilatildeo um estudo da produccedilatildeo cientiacutefica de 2000 a 2005 Esc Anna Nery Rev Enferm 2008 dez 12 (4) 793-98

MEDINA ABC PENNA LHG

Artigo Enfermagem Pesquisa

qualitativa

Sociocultural 2008 Regiatildeo

Sudeste

Conhecimento e atitudes dos profissionais de sauacutede em relaccedilatildeo agrave violecircncia de gecircnero Rev Bras Epidemiol 2009 12(4) 566-77

VIEIRAMEET AL

Artigo Multidisciplinar Pesquisa Qualitativa

Sociocultural 2009 Regiatildeo Sudeste

Violecircncia contra a mulher percepccedilatildeo dos meacutedicos das unidades baacutesicas de sauacutede da cidade de Ribeiratildeo Preto Satildeo Paulo Interface - Comunic Saude Educ v13 n31 p287-99 outdez 2009

DE FERRANTE FG SANTOS MA VIEIRA EM

Artigo Multidisciplinar Pesquisa Qualitativa

Sociocultural 2009 Regiatildeo Sudeste

32

33

2

TENDEcircNCIA DAS PESQUISAS SOBRE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA CONTRA AS MULHERES ENTRE OS ANOS DE 2000- 2009 NO

BRASIL

Claudia Fernanda Grun

Monografia apresentada ao Curso de Poacutes-Graduaccedilatildeo Lato Sensu em Gestatildeo de Organizaccedilatildeo Puacuteblica em Sauacutede EaD da UFSMCESNORS

como requisito parcial para obtenccedilatildeo do grau de Especialista em Gestatildeo de Organizaccedilatildeo Puacuteblica em Sauacutede

Orientadora Profordf Msc Fernanda Beheregray Cabral

Trecircs de Maio RS Brasil

2011

3

Universidade Federal de Santa Maria - UFSM

Centro de Educaccedilatildeo Superior Norte do RS - CESNORS Curso de Poacutes-Graduaccedilatildeo Lato Sensu em Gestatildeo de Organizaccedilatildeo

Puacuteblica em Sauacutede EaD

A Comissatildeo Examinadora abaixo assinada aprova a Monografia de Conclusatildeo de Curso

TENDEcircNCIA DAS PESQUISAS SOBRE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA

CONTRA AS MULHERES ENTRE OS ANOS DE 2000- 2009 NO

BRASIL

elaborada por Claudia Fernanda Grun

como requisito parcial para obtenccedilatildeo do grau de

Especialista

Comissatildeo Examinadora

___________________________________________ Fernanda Beheregaray Cabral Msc

(PresidenteOrientadora ndash UFSM CESNORS)

___________________________________________ Liane Beatriz Righi Dra

(Membro da Banca - UFSMCESNORS)

____________________________________________ Loiva Dallepiane Dra

(Membro da Banca - UFSMCESNORS)

Trecircs de Maio 2 de julho de 2011

4

RESUMO

Monografia de Especializaccedilatildeo

Curso de Poacutes-Graduaccedilatildeo Lato Sensu em Gestatildeo de Organizaccedilatildeo Puacuteblica em Sauacutede

Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) Centro de Educaccedilatildeo Superior Norte

do Rio Grande do Sul (CESNORS)

TENDEcircNCIA DAS PESQUISAS SOBRE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA CONTRA AS

MULHERES ENTRE OS ANOS DE 2000- 2009 NO BRASIL

AUTORA Claudia Fernanda Grun ORIENTADORA Fernanda Beheregray Cabral

Data e Local da Defesa Trecircs de Maio 2 de julho de 2011

A violecircncia contra a mulher eacute um fenocircmeno mundial complexo que tem

ganhado maior visibilidade social nos uacuteltimos anos sendo considerada como

problema de sauacutede publica Trata-se de uma pesquisa bibliograacutefica cujos dados

foram coletados mediante consulta na Biblioteca Virtual de Sauacutede ndash BVSBireme

nas bases de dados da Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciecircncias da

Sauacutede (LILACS) e Scientific Eletronic Library On line (SCIELO) O objetivo da

pesquisa foi conhecer o que a literatura especializada em sauacutede dos uacuteltimos dez

anos disponiacutevel on line traz a respeito da violecircncia domeacutestica contra a mulher no

periacuteodo de 2000 a 2009 Utilizaram-se os termos violecircncia domeacutestica contra a

mulher e sauacutede publica como descritores para o levantamento de dados os quais

foram submetidos agrave anaacutelise temaacutetica de Minayo Verificou-se que essas produccedilotildees

tecircm como foco a violecircncia domeacutestica e de gecircnero o perfil das viacutetimas que sofreram

essas violecircncias e a percepccedilatildeo destas e dos profissionais de sauacutede sobre a

temaacutetica Estudos sobre o perfil dessas mulheres revelaram que a faixa etaacuteria variou

entre 20 e 39 anos sendo que a dependecircncia econocircmica agrave renda do marido implica

na necessidade de permanecer junto ao agressor apesar das situaccedilotildees de

violecircncia Por ser um tema recente os serviccedilos de sauacutede nem sempre estatildeo

equipados e preparados para a identificaccedilatildeo de situaccedilotildees de violecircncia contra a

mulher acompanhamento e resoluccedilatildeo do problema As accedilotildees dos profissionais de

sauacutede foram caracterizadas pelo natildeo-acolhimento dessas demandas e por respostas

inadequadas agraves mesmas

Descritores Violecircncia domeacutestica contra a mulher Sauacutede publica

5

ABSTRACT

Monografia de Especializaccedilatildeo

Curso de Poacutes-Graduaccedilatildeo Lato Sensu em Gestatildeo de Organizaccedilatildeo Puacuteblica em Sauacutede

Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) Centro de Educaccedilatildeo Superior Norte

do Rio Grande do Sul (CESNORS)

RESEARCHrsquoS TENDENCY ABOUT DOMESTIC VIOLENCE AGAINST WOMEN

BETWEEN 2000 and 2009 IN BRAZIL

AUTORA Claudia Fernanda Grun ORIENTADORA Fernanda Beheregray Cabral

Data e Local da Defesa Trecircs de Maio 2 de julho de 2011

The violence against women is a complex world phenomenon that has won a

bigger social visibility in the last years being considered as a public health problem

This paper is about a bibliographic research whose data were collected by a

consultation at the Health Visual Library (ldquoBiblioteca Virtual de Sauacutede-BVSBirenerdquo)

in the database of Latin America Literature of Caribbean in Health Science (LILACS)

and Scientific Electronic Library On Line (SCIELO) The objective of the research

was to know what the health specialized literature from the last ten years available on

line brings in respect of domestic violence against women between the years 2000

and 2009 It makes use of the term domestic violence against women and public

health as descriptors for the data entry that was submitted into a thematic analyze

from Minayo It was found that these productions have as focus the domestic

violence and of gender the characteristic of the victims that suffered this violence

and the perception of them and of the health professionals about the subject Studies

about the profile of these women show up that the age group varies from 20 to 39

years old and that economic dependence and the husband income implies on the

necessity of maintaining together the aggressor besides the violence situation

Because itrsquos a recent subject the health services not always are equipped and

prepared for the identification of the violence situation against women the

attendance and the solution of the problem The actions of the health professionals

were characterized by the non-welcome of these demands and for the inadequate

answers for them

6

Descriptors Domestic violence against women Public health

7

RESUacuteMEN

Monografiacutea de Especializacioacuten

Curso de Posgrado Lato Sensu en Gestioacuten de Organizacioacuten Puacuteblica en Salud

Universidad Federal de Santa Mariacutea (UFSM) Centro de Educacioacuten Superior Norte

del Riacuteo Grande del Sur (CESNORS)

Tendencia de la investigacioacuten sobre la violencia domeacutestica contra las mujeres entre los antildeos 2000-2009 em Brasil

AUTORA Claudia Fernanda Grun

ORIENTADORA Fernanda Beheregray Cabral

Fecha y Local de la Defensa Trecircs de Maio 2 de julho de 2011

La violencia contra La mujer ES um fenoacutemeno mundial complejo que recebioacute

mayor visibilidad social em los uacuteltimos antildeos pues ES considerada como problema

de La salud publica Si refere de uma pesquisa bibliograacutefica cuyos datos colectados

em La Licteratura Latinoamericana y Caribe em Ciecircncias de La Salud (LILACS) y

Scientific Eletronic Library on line (SCIELO) El objetivo de l investigacioacuten es conocer

el que hay em la licteratura especializada em salud de los uacuteltimos diez antildeos A La

disposicioacutenon line respecto a La violecircncia domeacutestica contra La mujer em periacuteodo de

2000 hasta 2009 Si haacute utilizado los teacuterminos violencia contra La mujer e salud

puacuteblica como descriptores para um examen de datos los cuales han sido

submetidos a la anaacutelisis temaacutetica de Minayio Si haacute verificado que esas producciones

tienen como foco La violecircncia domeacutestica e de gecircnero el perfil de las viacutectimas que

han sufrido eses violecircncias y La percepcioacuten de latildes mismas y de los profisionales de

La salud sobre La temaacutetica Estuacutedios sobre el perfil de latildes mujeres han revelado que

La edad promedio haacute variado dentre 20 y 39 antildeos siendo que La dependecircncia

econocircmica al marido es de gran importacircncia de permanecer AL agresor apesarde

latildes situaciones de violecircncia Por ser um tema muy atctual los servicios de salud

poccedilo o no estaacuten equipados y preparados para La uma investigacioacuten de situaciones

de violecircncia em mujeres acompantildeamiento y resolucioacuten del problema Las acciones

de los profesionales de La salud han sido caracrezados por lo no acogimento de latildes

demandas y por respuestas inadecuadas a las mismas

8

Palabras-llaveviolencia domeacutestica contra La mujer Salud Puacuteblica

9

SUMAacuteRIO

TENDEcircNCIA DAS PESQUISAS SOBRE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA CONTRA AS

MULHERES ENTRE OS ANOS DE 2000- 2009 NO BRASIL10

INTRODUCcedilAtildeO 10

METODOLOGIA13

APRESENTACcedilAtildeO E DISCUSSAtildeO DOS RESULTADOS15

VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E DE GEcircNERO PRAacuteTICAS DISCURSIVAS16

PERFIL DAS MULHERES QUE SOFRERAM VIOLEcircNCIA18

A VIOLEcircNCIA CONTRA A MULHER NA OacuteTICA DAS VITIMAS E DOS PROFISSIONAIS

DE SAUacuteDE22

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS25

REFERENCIAS28

ANEXO 30

Anexo 1 ndash Quadro analiacutetico ndash Violecircncia domestica contra a mulher e sauacutede publica ndash 2000-2009 30

10

TENDEcircNCIA DAS PESQUISAS SOBRE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA CONTRA AS

MULHERES ENTRE OS ANOS DE 2000- 2009 NO BRASIL

INTRODUCcedilAtildeO

Ao longo da histoacuteria a conquista dos direitos humanos ndash como garantia de

justiccedila social e dignidade humana ndash fez e faz parte de um processo de consciecircncia

dos diferentes povos Respeitar os direitos humanos eacute promover a vida em

sociedade sem discriminaccedilatildeo de classe social cultura religiatildeo raccedila orientaccedilatildeo

sexual ou de qualquer outro tipo O respeito agrave integridade corporal viver a

sexualidade sem culpas medos ou discriminaccedilatildeo e viver numa famiacutelia livre de

violecircncia tambeacutem fazem parte dos direitos humanos (BRASIL 2002)

Durante muito tempo a violecircncia baseada na desigualdade de gecircnero1 foi

praticamente invisiacutevel e tolerada Atualmente a complacecircncia social em torno das

agressotildees por questotildees de poder e dominaccedilatildeo estaacute se diluindo aos poucos visto

que governos sociedade civil organizada Naccedilotildees Unidas e outras organizaccedilotildees

internacionais estatildeo se envolvendo cada vez mais com atividades voltadas agrave

promoccedilatildeo da igualdade entre os sexos e ao fim da violecircncia domeacutestica contra as

mulheres

Para Tavares (2008 p14) ldquoa violecircncia domeacutestica contra a mulher eacute fruto de

uma construccedilatildeo social que demarca espaccedilos de poder privilegiando os homens e

oprimindo as mulheresrdquo Nesta loacutegica a sociedade reproduz a desigualdade social

existente no que se refere agraves expectativas geradas sobre os comportamentos de

homens e mulheres na medida em que se espera das mulheres delicadeza

obediecircncia e subordinaccedilatildeo e responsabilizaccedilatildeo pelo cuidado com o marido e com o

lar Da mesma forma em que as mulheres estatildeo legitimadas pela cultura linguagem

e discurso ndash como cuidadoras dos filhos (CABRAL OLIVEIRA CECCIM 2008)

1 No presente estudo o termo gecircnero fundamenta-se como [] todas as formas de construccedilatildeo

social cultural e linguumliacutestica implicadas com processos que diferenciam mulheres e homens incluindo aqueles processos que produzem seus corpos distinguindo-os e nomeando-os como corpos dotados de sexo gecircnero e sexualidade (MEYER 2004 p 15)

11

Em relaccedilatildeo aos serviccedilos de sauacutede foi apenas no iniacutecio dos anos 90 que a

temaacutetica em estudo passou a fazer parte e a realizar novas accedilotildees e abordagens

para o problema da violecircncia domeacutestica contra as mulheres Camargo e Aquino

(2003) esclarecem que foi somente a partir deste momento que os serviccedilos de

sauacutede passaram a adotar poliacuteticas visando agrave identificaccedilatildeo e enfrentamento dessa

problemaacutetica mediante accedilotildees no campo da sauacutede direcionadas aos casos de

violecircncia sexual violecircncia contra as crianccedilas e outros agravos

Nesse sentido a violecircncia contra as mulheres passa a ser tema de estudo e

intervenccedilatildeo no campo da sauacutede ao mesmo tempo em que se firma

internacionalmente como questatildeo de direitos humanos

Decorridos alguns anos do relatoacuterio da OMS sobre violecircncia e sauacutede2 torna-

se conhecido para os profissionais de sauacutede o fato de que a violecircncia contra as

mulheres tem alta magnitude e relevacircncia no campo da sauacutede Tal situaccedilatildeo tem sido

evidenciada no acircmbito dos serviccedilos de sauacutede pois mulheres que

vivenciamvivenciaram situaccedilotildees de violecircncia domeacutestica e sexual utilizam esses

serviccedilos com maior frequumlecircncia por apresentam mais queixas de ordem fiacutesica

mental e ou emocional (DrsquoOliveira et al 2009)

Estudo no acircmbito da atenccedilatildeo primaacuteria constatou que a frequumlecircncia de

mulheres que relataram ter vivenciado situaccedilotildees de violecircncia domeacutestica a partir dos

18 anos foi de 214 enquanto que em serviccedilos de emergecircncia essas ocorrecircncias

variaram de 22 a 35 (DrsquoOLIVEIRA SCHRAIBER et al 2002) Tambeacutem por essa

razatildeo os serviccedilos de sauacutede satildeo importantes dispositivos para a identificaccedilatildeo e

enfrentamento dessa problemaacutetica pois sua ampla cobertura na atenccedilatildeo baacutesica

favorece a vinculaccedilatildeo dessas mulheres a uma equipe de sauacutede em um dado

territoacuterio o que favorece o acolhimento e a possibilidade de identificaccedilatildeo de

situaccedilotildees de violecircncia domeacutestica contra mulheres ainda que subjetivadas por outras

queixas de origem bioloacutegica ou ainda mediante o proacuteprio relato da vitima em um

atendimento de sauacutede (DrsquoOliveira et al 2009)

2 Desde 1996 a Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede reconhece a violecircncia como um problema de sauacutede puacuteblica

(WHO 2002)

12

Entende-se que a violecircncia domeacutestica contra as mulheres eacute um fenocircmeno

complexo que requer accedilotildees intersetoriais para aleacutem do campo juriacutedico na medida

em que eacute reconhecida como um problema de sauacutede puacuteblica Para tanto o

enfrentamento de situaccedilotildees dessa natureza requer accedilotildees no campo dos direitos

humanos e de cidadania na perspectiva da humanizaccedilatildeo e da integralidade em

sauacutede pautadas na eacutetica e no entendimento de que um viver saudaacutevel implica

tambeacutem no direito a uma vida sem violecircncia (DrsquoOliveira et al 2009)

Ante estas consideraccedilotildees este estudo teve a seguinte questatildeo norteadora ldquoo

que a literatura especializada em sauacutede dos uacuteltimos dez anos disponiacutevel on line

traz a respeito da violecircncia domestica contra a mulher no periacuteodo de 2000 a 2009rdquo

O objetivo da pesquisa foi ldquoconhecer o que a literatura especializada em sauacutede dos

uacuteltimos dez anos disponiacutevel on line traz a respeito da violecircncia domestica contra a

mulher no periacuteodo de 2000 a 2009rdquo

13

METODOLOGIA

Trata-se de uma pesquisa bibliograacutefica de natureza qualitativa que segundo

Gil (2009) eacute o estudo desenvolvido com base em material jaacute elaborado constituiacutedo

principalmente de livros e artigos Segundo Minayo (2002) ldquoa pesquisa qualitativa

trabalha com o universo de significados motivos aspiraccedilotildees crenccedilas valores e

atitudes o que corresponde a um espaccedilo mais profundo das relaccedilotildees dos

processos e dos fenocircmenos que natildeo podem ser reduzidos agrave operacionalizaccedilatildeo de

variaacuteveisrdquo

Os dados foram coletados mediante consulta na Biblioteca Virtual de Sauacutede ndash

BVSBireme nas bases de dados de dados da Literatura Latino-Americana e do

Caribe em Ciecircncias da Sauacutede (LILACS) e Scientific Eletronic Library On line

(SCIELO) Foram utilizados os termos violecircncia contra a mulher e sauacutede publica

como descritores para o levantamento de dados nos uacuteltimos dez anos Este

processo envolveu atividades de busca identificaccedilatildeo fichamento de estudos

mapeamento e anaacutelise O recorte temporal justifica-se pelo fato de que em dez

anos a prodccedilatildeo de conhecimento se renova substancialmente especialmente no

que tange ao conhecimento veiculado em miacutedias informatizadas

O levantamento bibliograacutefico foi realizado no periacuteodo de vinte e trecircs a vinte e

seis de maio de dois mil e onze cujos dados coletados atenderam aos seguintes

criteacuterios de inclusatildeo artigos cientiacuteficos disponiacuteveis na iacutentegra online e em idioma

da lingua portuguesa no periacuteodo de 2000 a 2009 com os descritores violecircncia

domeacutestica contra a mulher e sauacutede publica

Inicialmente foram encontradas noventa e trecircs (93) produccedilotildees cientiacuteficas com

o descritor violecircncia domeacutestica contra a mulher e sauacutede puacuteblica Dessas foram

selecionados vinte e oito (28) artigos cientiacuteficos que apresentavam o texto na

iacutentegra sendo que apenas quinze (15) atendiam o criteacuterio de inclusatildeo relativo ao

idioma que era a liacutengua portuguesa Dos quinze (15) artigos selecionados trecircs (3)

natildeo atenderam ao enquadre temporal pois uma datava do ano de 1999 e duas do

ano de 2010 motivo pelo qual as mesmas foram excluiacutedas totalizando doze (12)

artigos que passaram a compor o corpus dos dados a serem analisados

14

A anaacutelise dos dados se deu pela teacutecnica de anaacutelise temaacutetica de Minayo

(2002) definida como a descoberta dos nuacutecleos de sentidos que constituem uma

comunicaccedilatildeo acerca da frequumlecircncia ou da presenccedila de algum significado para o

objeto que seraacute analisado Este meacutetodo de anaacutelise eacute constituiacutedo por trecircs etapas a

preacute-anaacutelise em que ocorre a ordenaccedilatildeo dos dados obtidos a exploraccedilatildeo do

material em que os dados satildeo classificados de forma a alcanccedilar o nuacutecleo de

compreensatildeo do texto por meio da formulaccedilatildeo de categorias e o tratamento dos

resultados obtidos e interpretaccedilatildeo em que se articulam os dados apreendidos ao

referencial teoacuterico visando responder as questotildees da pesquisa

15

APRESENTACcedilAtildeO E DISCUSSAtildeO DOS RESULTADOS

Para a categorizaccedilatildeo e anaacutelise dos doze artigos cientiacuteficos selecionados foi

elaborado um quadro analiacutetico (Anexo 1) composto pelas variaacuteveis titulo origem

subaacuterea de conhecimento tipo natureza ano de publicaccedilatildeo regiatildeo da pesquisa

O mapeamento das produccedilotildees apontou a subaacuterea multiprofissional como de

maior concentraccedilatildeo na produccedilatildeo de artigos cientiacuteficos sendo que a maioria foi de

produccedilotildees socioculturais e apenas um artigo de natureza clinica se mostrando

convergente agrave aacuterea de odontologia

Com relaccedilatildeo ao tipo de pesquisa a abordagem mais utilizada foi do tipo

qualitativa Quanto ao recorte temporal adotado a primeira produccedilatildeo selecionada foi

do ano de 2004 sendo que a maior concentraccedilatildeo se deu no ano de 2007 com cinco

(5) artigos

Quanto agraves regiotildees do paiacutes em que esses artigos foram produzidos observou-

se maior concentraccedilatildeo dessas publicaccedilotildees na regiatildeo Sudeste com seis (6) artigos

cinco (5) artigos na regiatildeo Sul e apenas um (1) artigo na regiatildeo nordeste Ainda

com relaccedilatildeo agrave regionalidade desses artigos destaca-se que trecircs dos artigos

produzidos na regiatildeo sudeste do paiacutes foram desenvolvidos na cidade de Ribeiratildeo

PretoSP dos quais dois abordavam a perspectiva dos profissionais de sauacutede em

relaccedilatildeo e violecircncia domestica e o outro o perfil das vitimas de violecircncia

Do processo de anaacutelise dos achados da pesquisa emergiram trecircs categorias

sendo que os doze artigos foram categorizados em Violecircncia domeacutestica e de

gecircnero praacuteticas discursivas Perfil das mulheres que sofreram violecircncia e A violecircncia

na oacutetica dos profissionais de sauacutede

VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E DE GEcircNERO PRAacuteTICAS DISCURSIVAS

Medina e Penna (2008) em estudo bibliograacutefico que analisou quatorze (14)

produccedilotildees entre os anos de 2000 e 2005 destacaram o contexto soacutecio-cultural da

violecircncia domeacutestica no periacuteodo gestacional como um fator importante no

desenvolvimento desta no acircmbito da famiacutelia Tambeacutem ressaltam que a violecircncia

vivenciada pela gestante ainda eacute uma situaccedilatildeo de difiacutecil abordagem nas relaccedilotildees

16

pessoais e profissionais O estudo indicou ainda que mulheres que vivenciam

situaccedilotildees de violecircncia na gestaccedilatildeo se sentem coibidas em denunciar agressotildees

sofridas pelos parceiros ou familiares Da mesma forma em que evidenciou

processos de naturalizaccedilatildeo e de invisibilidade da violecircncia na gestaccedilatildeo na medida

em que muitas situaccedilotildees dessa natureza nem sempre satildeo percebidas e

reconhecidas como atos violentos pelas mulheres que a vivenciam como tambeacutem

pelos profissionais de sauacutede que as assistem

Pesquisa realizada por Silva et al (2007) que analisou os tipos de violecircncia

domeacutestica indicou que a violecircncia psicoloacutegica eacute o ponto inicial que deflagra a

violecircncia Para os autores a prevenccedilatildeo de qualquer tipo de situaccedilatildeo de violecircncia

vivida no acircmbito domeacutestico deve passar pela compreensatildeo de que estrateacutegias que

visem coibir situaccedilotildees de violecircncia psicoloacutegica implicam diretamente na minimizaccedilatildeo

dos demais tipos de violecircncias Destacam ainda que outras accedilotildees importantes

como palestras e maior discussatildeo sobre a temaacutetica em escolas de ensino

fundamental e meacutedio da rede puacuteblica e universidades que abordem a temaacutetica da

violecircncia na perspectiva dos direitos humanos bem como sobre serviccedilos de apoio

existentes e possibilidades de enfrentamento desta demanda devem ser

incentivadas

Estudo publicado por Meneghel e Intildeiguez (2007) que analisou oficina de

contadores de histoacuterias realizada no Centro Ecumecircnico de Assessoria e

Capacitaccedilatildeo de Satildeo Leopoldo (CECA-SL) a qual teve como tema gerador das

discussotildees as questotildees de gecircnero Dessas discussotildees foram escolhidas histoacuterias

para comporem essas narrativas nas quais as mulheres contavam episoacutedios de

violecircncia ligados agraves suas trajetoacuterias pessoais e afirmavam que a violecircncia de gecircnero

acontece em qualquer classe social escolaridade ou raccedila Na medida em que se

posicionavam criticamente em relaccedilatildeo ao sexismomachismo essas mulheres

afirmavam que eram obrigadas a abdicar de si mesmas natildeo podiam construir

projetos de vida mais autocircnomos devendo sempre ceder agraves vontades do homem

(maridocompanheiro) permanecendo submissas a ele Essa subordinaccedilatildeo agrave

autoridade masculina poderia ser potencializada ou minimizada na medida em que

essas mulheres dispusessem ou natildeo de acesso a informaccedilotildees que favoreccedilam o

17

entendimento de sua posiccedilatildeo como sujeito de direitos dentre os quais o de uma

vida sem violecircncia

Com base nos estudos analisados percebeu-se que a violecircncia domeacutestica

contra as mulheres envolve questotildees culturais e de gecircnero Nesse sentido a

prevenccedilatildeo ou minimizaccedilatildeo de situaccedilotildees relativas agrave violecircncia domeacutestica requer accedilotildees

intersetoriais que mobilizem os diversos segmentos da sociedade para que

conjuntamente atuem de forma proacute-ativa no enfrentamento desta problemaacutetica

Uma estrateacutegia importante seria a inclusatildeo da temaacutetica como um tema

transversal nas escolas a ser abordado natildeo apenas com alunos e professores mas

tambeacutem com as famiacutelias que integram a comunidade escolar

Para aleacutem da organizaccedilatildeo de serviccedilos para o enfrentamento da violecircncia

contra as mulheres e apoio a essas viacutetimas evidencia-se tambeacutem a necessidade de

maior qualificaccedilatildeo sobre a temaacutetica de profissionais que atuam no campo da sauacutede

e do serviccedilo social para que possam atender esta demanda com eacutetica competecircncia

e de forma mais humanizada Atuaccedilatildeo esta pautada em valores societaacuterios em que

homens e mulheres tenham os mesmos direitos de cidadania buscando a

superaccedilatildeo de todas as formas de violecircncia preconceitos discriminaccedilotildees e

desigualdades

18

PERFIL DAS MULHERES QUE SOFRERAM VIOLEcircNCIA

A maioria das produccedilotildees traccedilou o perfil das mulheres vitimas de violecircncia

domeacutestica que procuram atendimento em serviccedilos de sauacutede tendo como variaacuteveis a

faixa etaacuteria profissatildeo estado civil escolaridade dentre outros

Galvatildeo e Andrade (2004) pesquisaram o perfil de mulheres em situaccedilatildeo de

violecircncia atendidas em um Centro de Atendimento agrave Mulher (CAM) em Londrina

Paranaacute a partir de informaccedilotildees extraiacutedas das fichas desses atendimentos A faixa

etaacuteria que predominou entre as mulheres atendidas no CAM foi agrave de 30 a 39 anos

seguida da faixa etaacuteria de 20 a 29 anos sendo que a meacutedia de idade foi de 34 anos

Com relaccedilatildeo ao estado civil 472 das mulheres declararam-se casadas 266

dos casos as mulheres que conviviam com um companheiro fixo numa relaccedilatildeo

consensual e 54 possuem um ou dois filhos Quanto agrave escolaridade 581 dessas

mulheres natildeo concluiacuteram o ensino fundamental 128 concluiacuteram o ensino meacutedio e

a taxa de analfabetismo foi de 21 sendo que 558 desenvolvia algum tipo de

trabalho remunerado Os principais agressores satildeo os atuais maridos ou

companheiros das mulheres (734) e quase a totalidade dos casos (974)

ocorreu no ambiente domeacutestico Quanto agrave caracterizaccedilatildeo dos casos de violecircncia

prevalece a violecircncia emocional com 564 dos casos seguida pela violecircncia fiacutesica

com 321 Quanto ao tempo em que vivenciam situaccedilotildees de violecircncia 33 das

mulheres vecircm sofrendo agressotildees por periacuteodos de ateacute um ano e 204 dos casos

refere-se a mulheres que sofrem agressotildees haacute mais de 10 anos

Estudo realizado por Monteiro et al (2006) sobre o perfil de mulheres que

sofreram violecircncia atendidas em uma unidade de urgecircncia em Teresina Piauiacute

indicou que 78 encontrava-se na faixa etaacuteria entre 18 e 40 anos e que 40 delas

natildeo trabalhavam fora de casa desempenhando exclusivamente as tarefas

domeacutesticas relativas ao cuidado coma casa e filhos As agressotildees nos membros

superiores ocorreram com maior frequumlecircncia (44) seguida das agressotildees na face

(33) Revelou ainda que a maioria dessas mulheres natildeo relatou os motivos pelos

quais foram agredidas ainda que o aacutelcool tenha sido apontado em 19 dos casos

como o principal motivo desencadeador das agressotildees seguido do ciuacutemes

Tambeacutem haacute um grande nuacutemero de subnotificaccedilatildeo em relaccedilatildeo ao agressor (80)

19

possivelmente em funccedilatildeo da dependecircncia econocircmica e por medo de vinganccedila do

companheiro Quanto agraves condutas adotadas pelos profissionais de sauacutede a grande

maioria (83) limita-se ao atendimento de queixas de menor complexidade como

aquelas que exigiram sutura simples ou consulta meacutedica Recomendam ainda que o

apoio as viacutetimas de violecircncia deve ter iniacutecio no serviccedilo de urgecircncia de forma

articulada com outros serviccedilos que tratam da mesma questatildeo como as Delegacias

Especiais de Atendimento agrave Mulher (DEAM) os Conselhos de Direitos da Mulher

Abrigos e outras instituiccedilotildees

Mota Vasconcelos e Assis (2007) analisaram as informaccedilotildees das fichas de

atendimento de um centro especializado no atendimento a mulheres viacutetimas de

violecircncia no municiacutepio do Rio de Janeiro totalizando 684 fichas de atendimento

dessas mulheres Dessa anaacutelise os autores traccedilaram o perfil dessas mulheres as

quais apresentaram idade meacutedia de 37 anos Para os autores o baixo status

econocircmico a baixa escolaridade e consequumlentemente o acesso agrave informaccedilatildeo

podem ter sido condiccedilotildees facilitadoras para a ocorrecircncia de situaccedilotildees de violecircncia

domeacutestica contra mulheres pelo cocircnjuge na populaccedilatildeo analisada Por outro lado as

agressotildees fiacutesicas mais graves que ocorreram com mulheres que possuiacuteam maior

niacutevel de escolaridade podem ter sido potencializadas pelo fato de as mesmas natildeo

terem aceitado essa violecircncia de modo passivo implicando em um conflito ainda

maior e em agressotildees fiacutesicas mais graves O estudo evidenciou ainda que a

violecircncia domeacutestica contra a mulher envolve questotildees culturais e de gecircnero com

implicaccedilotildees nas questotildees relativas agrave conjugalidade Assim a violecircncia domeacutestica

contra a mulher estaacute vinculada ao tradicional controle masculino baseado no papel

de provedor cuja desigualdade de gecircnero potencializa conflitos e colabora para a

ocorrecircncia de situaccedilotildees de violecircncia de ordem fiacutesica psicoloacutegica ou moral

Pesquisa retrospectiva e documental desenvolvida por Leonsio et al (2008)

analisou 446 boletins de ocorrecircncia em uma Delegacia de Defesa da Mulher em

Ribeiratildeo Preto Satildeo Paulo Em seus resultados os autores destacaram que 3408 das

mulheres estavam em faixa etaacuteria acima de 35 anos 7578 eram da raccedila branca e

4417 delas eram solteiras Quanto agrave ocupaccedilatildeo 5874 dessas mulheres

exerciam algum tipo de trabalho remunerado formal ou informal e 3722 possuiacuteam

o ensino fundamental completo Outro aspecto importante evidenciado pelo estudo foi

20

que 5471 das mulheres agredidas demoraram de 1 a 15 dias entre a agressatildeo e o tempo

da denuacutencia formal e 4215 registraram a ocorrecircncia no mesmo dia na delegacia Em

7691 dos casos o ambiente domeacutestico foi o local em que essas agressotildees ocorreram

Quanto ao agressor foi observado nos boletins de ocorrecircncia investigados que em 4910

dos casos os parceiros foram os principais denunciados seguidos de ex-parceiros com

1816 das ocorrecircncias Dentre os motivos desencadeantes da agressatildeo 4462

corresponderam agrave recusa da separaccedilatildeo conjugal 1435 ciuacutemes e 1996 por outros

motivos como bebidasdrogas

Estudo realizado por Resende et al (2007) analisou registros e laudos

encaminhados ao setor de Odontologia do IML de Belo Horizonte sobre as lesotildees

bucomaxilares sofridas por mulheres vitimas de violecircncia domeacutestica A faixa etaacuteria

predominante das mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia foi de 20 a 39 anos

representando 704 do total sendo a idade meacutedia correspondente a 303 anos

Quanto agrave ocupaccedilatildeo 241 das mulheres realizavam trabalhos domeacutesticos 213

se intitulavam ldquodonas-de-casardquo e 14 trabalhavam no comeacutercio A maioria das

mulheres que sofreu agressotildees declarou-se solteira perfazendo um total de 63

enquanto que o percentual de casadas foi menor correspondendo apenas 204

Foi constatado o elevado percentual de 611 dos casos em que o agressor natildeo foi

identificado (611) em 25 o sujeito agressor foi o companheiro em 37 foram

familiares e em 74 foram conhecidos perfazendo um total de 361 contra 28

de violecircncia realizada por estranhos

A complexidade da problemaacutetica da violecircncia domeacutestica contra as mulheres

tem implicaccedilotildees em questotildees culturais e de gecircnero vinculada a construccedilatildeo social

de papeacuteis desiguais entre homens e mulheres que potencializa conflitos e colabora

para a ocorrecircncia de situaccedilotildees de violecircncia de ordem fiacutesica psicoloacutegica ou moral

Ainda nesse sentido costuma ser difiacutecil para a maioria das mulheres tomarem a

atitude de denunciar seus companheiros agressores e romper com a situaccedilatildeo de

violecircncia principalmente em funccedilatildeo do medo de vinganccedila e da dependecircncia

econocircmica agrave renda do marido

21

A VIOLEcircNCIA CONTRA A MULHER NA OacuteTICA DAS VITIMAS E DOS

PROFISSIONAIS DE SAUacuteDE

Estudo desenvolvido por Vieira et al (2009) sobre o conhecimento e atitudes

dos profissionais de sauacutede em relaccedilatildeo agrave violecircncia de gecircnero destaca a importacircncia

do atendimento de mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia nos serviccedilos de sauacutede jaacute que

este eacute muitas vezes o uacutenico local procurado pelas viacutetimas A maioria dos

profissionais que participou do estudo demonstrou bom conhecimento sobre a

definiccedilatildeo de violecircncia contra a mulher aleacutem de reconhecer como seu papel

profissional perguntar sobre violecircncia para as pacientes Indicou ainda que esses

profissionais acreditam que para uma melhor atenccedilatildeo agrave violecircncia deveria ser

implantado em sua rotina de trabalho um protocolo de enfrentamento da violecircncia

Os autores tambeacutem evidenciaram a necessidade maiores investimentos na

capacitaccedilatildeo e qualificaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede que devem estar aptos para

reconhecer e manejar os casos de violecircncia

Pesquisa realizada por De Ferrant Santos e Vieira (2009) sobre a percepccedilatildeo

dos meacutedicos de uma unidade baacutesica de Ribeiratildeo Preto Satildeo Paulo em relaccedilatildeo agrave

violecircncia domeacutestica contra a mulher revelou que a maior parte deles acredita que a

violecircncia psicoloacutegica eacute a mais grave pois a proacutepria mulher apresenta dificuldade em

reconhececirc-la como algo prejudicial agrave sua sauacutede a ponto de frequentemente

permanecer exposta agrave situaccedilatildeo durante anos a fio Os resultados indicam que os

meacutedicos detecircm alguns conhecimentos acerca dos tipos de violecircncia de gecircnero e satildeo

capazes de identificar e muitas vezes acolher as mulheres que estatildeo expostas agrave

situaccedilatildeo Contudo destacam uma seacuterie de dificuldades para atuarem frente a uma

usuaacuteria que apresenta essa problemaacutetica e reconhecem a falta de capacitaccedilatildeo

profissional uma vez que muitos deles reforccedilam a necessidade de um treinamento

voltado especificamente para os casos de violecircncia de gecircnero Da mesma forma que

apontam outras barreiras pessoais e institucionais que limitam sua atuaccedilatildeo tanto

em niacutevel preventivo como interventivo que muitas vezes os impedem de agir

adequadamente frente a uma situaccedilatildeo de violecircncia Entre elas destacam-se os

meacutedicos sentem-se impotentes frente agraves atitudes que a mulher possa vir a tomar

mesmo depois de orientada afirmam que temem tomar qualquer atitude por medo

22

da reaccedilatildeo do agressor Os autores sugerem a necessidade de um trabalho integrado

e em rede que ofereccedila uma resposta efetiva para o problema da violecircncia de

gecircnero Aleacutem disso eacute preciso investir na qualificaccedilatildeo dos outros profissionais de

sauacutede aleacutem dos meacutedicos para que se viabilize um atendimento multidisciplinar

para que os serviccedilos de sauacutede se constituam em espaccedilos de acolhimento e apoio

integrando-se efetivamente agrave rede de atendimento

Wilhelm e Tonet (2007) em seu estudo sobre a percepccedilatildeo de mulheres que

sofreram violecircncia domeacutestica em um municiacutepio do interior de Santa Catarina indicou

a ocorrecircncia de depressatildeo ansiedade medo e sentimento de baixa auto-estima Na

oacutetica dessas mulheres parte das agressotildees acontece somente no momento em que

seus companheiros estatildeo alcoolizados Aleacutem da violecircncia fiacutesica (tais como socos

arranhotildees puxotildees de cabelo arremesso de objetos chutes tapas e beliscotildees)

ocorrem as humilhaccedilotildees e a desqualificaccedilatildeo sendo ridicularizadas perante os

amigos do agressor sua famiacutelia e desautorizada perante os filhos Quanto ao

comportamento violento do companheiro este eacute justificado por fatores externos

deste modo desresponsabilizando-o como por exemplo as dificuldades

financeiras desemprego e uso de drogas dentre outros Muitos satildeo os motivos

pelos quais a mulher natildeo denuncia seu marido agressor passando a viver muitos

anos neste contexto de violecircncia dentre os quais destaca-se dependecircncia

financeira filhos fator cultural e ameaccedilas Da mesma forma todas demonstraram a

esperanccedila de que o companheiro mudasse em relaccedilatildeo ao seu comportamento

violento Aleacutem de poliacuteticas puacuteblicas mais efetivas par ao enfrentamento da violecircncia

domeacutestica Eacute necessaacuterio promover poliacuteticas puacuteblicas mais efetivas em relaccedilatildeo ao

enfrentamento da violecircncia domeacutestica bem como maiores investimentos em redes

de apoio social efetiva para a mulher e seus filhos as quais muitas vezes estatildeo

subjugadas ao seu agressor devido agrave dependecircncia econocircmica Em relaccedilatildeo a este eacute

importante promover grupos de homens com a finalidade de propiciar a discussatildeo

sobre violecircncia relaccedilotildees e gecircnero e formas alternativas de resoluccedilatildeo de conflitos

Estudo de Scaranto Biazevic e Michel (2007) sobre a percepccedilatildeo dos Agentes

Comunitaacuterios de Sauacutede (ACS) sobre a Violecircncia Domeacutestica contra a Mulher em um

municiacutepio do interior do Rio Grande do Sul identificou relatos de situaccedilotildees de

violecircncia domeacutestica contra a mulher cometida por seu companheiro seja fiacutesica

23

sexual psicoloacutegica ou econocircmica A obediecircncia aos maridoscompanheiros vai

desde o cuidado pessoal ateacute o desempenho sexual A vergonha pela violecircncia

sofrida eacute infinitamente maior do que a coragem da mulher para denunciar

Constatou-se que o ACS pode ser o elo entre a vergonha e a coragem para a

mulher denunciar o problema da violecircncia o que significa que ele parece ser de

fundamental importacircncia no acolhimento das anguacutestias dessas mulheres no

encorajamento para o relato de sofrimento na detecccedilatildeo da questatildeo da violecircncia

que pode estar acompanhada pela depressatildeo ansiedade ou ateacute mascarada por

algum tipo de queixa vaga e em consequumlecircncia fazer o encaminhamento de

referecircncia correto e eficiente na denuacutencia Eacute preciso dar subsiacutedios teoacuterico-praacuteticos

aos profissionais para que em seu trabalho cotidiano possam detectar situaccedilotildees de

violecircncia encontrar a forma de abordar as famiacutelias e dar encaminhamento tanto aos

casos de violecircncia quanto de uso de aacutelcooldrogas A violecircncia contra a mulher deve

ser considerada como questatildeo de sauacutede puacuteblica a partir do conceito ampliado de

sauacutede motivo pelo qual necessita ser alvo de poliacuteticas puacuteblicas efetivas e

consistentes assim como mecanismos de proteccedilatildeo agrave mulher viacutetima de violecircncia

tambeacutem precisam ser criados

Com base nos artigos analisados constatou-se que muitos profissionais tecircm

dificuldades em reconhecer a violecircncia como um problema de sauacutede devido agrave falta

de subsiacutedios teoacuterico-praacuteticos para a detecccedilatildeo de situaccedilotildees de violecircncia abordagem

adequada agraves viacutetimas e os devidos encaminhamentos para o atendimento desta

demanda

24

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Este estudo teve se propocircs a conhecer o que a literatura especializada em

sauacutede dos uacuteltimos dez anos disponiacutevel on line traz a respeito da violecircncia

domestica contra a mulher no periacuteodo de 2000 a 2009

Com base nos artigos analisados percebe-se que o baixo status econocircmico

o niacutevel de instruccedilatildeo e consequumlentemente o acesso agrave informaccedilatildeo podem ser

considerados como condiccedilotildees facilitadoras para a ocorrecircncia de situaccedilotildees de

violecircncia domeacutestica

Em muitos casos a dependecircncia econocircmica da mulher agrave renda do marido

impotildee a necessidade desta em ter de permanecer com ele mesmo diante de

situaccedilotildees de violecircncia

De modo geral os estudos analisadas indicaram os maridos ou companheiros

atuais das mulheres ou ainda seus ex-companheiros como os principais

agressores sendo o ambiente domeacutestico o local predominate destas agressotildees

Outro aspecto evidenciado nos achados desta pesquisa se refere ao fato de

que a maioria dessas mulheres natildeo relatou os motivos pelos quais foram agredidas

ainda que o aacutelcool tenha sido apontado como o principal motivo desencadeador das

agressotildees seguido do sentimento de ciuacutemes Tambeacutem se verificou o grande

nuacutemero de sub-notificaccedilatildeo dos casos de violecircncia contra as mulheres Assim infere-

se que possivelmente isto ocorra em funccedilatildeo da dependecircncia econocircmica e por

medo de vinganccedila

A natureza soacutecio-cultural e a subaacuterea multiprofissional prevalente nas

produccedilotildees analisadas evidenciaram a multiplicidade de aspectos relevantes a

temaacutetica da violecircncia como um complexo problema de sauacutede puacuteblica sinalizando

para a urgecircncia de um movimento reflexivo seja no acircmbito da formaccedilatildeo de

profissionais de sauacutede seja na praacutetica profissional para o enfrentamento desta

questatildeo

Destaca-se a importacircncia de pesquisa bibliograacuteficas para a sistematizaccedilatildeo

das produccedilotildees cientiacuteficas nacionais na temaacutetica violecircncia domestica contra a mulher

para o (re)conhecimento do estado da arte sobre a temaacutetica em anaacutelise fato este

25

fundamental para subsidiar futuras intervenccedilotildees no acircmbito das praacuteticas e serviccedilos

de sauacutede e da accedilatildeo social

A complexidade que envolve as questotildees relativas agrave violecircncia contra a mulher

exige accedilotildees capazes de dar conta das inuacutemeras demandas apresentadas o que

implica na articulaccedilatildeo entre as diferentes aacutereas de conhecimento e de atuaccedilatildeo

multiprofissional

Nessa loacutegica faz-se necessaacuterio maior investimento na qualificaccedilatildeo de

profissionais de sauacutede do serviccedilo social do direito entre outros para o

reconhecimento e identificaccedilatildeo dos sinais que possam indicar situaccedilotildees de violecircncia

contra as mulheres visando o acolhimento das mesmas natildeo apenas nos serviccedilos de

sauacutede mas em outros setores da sociedade Da mesma forma a criaccedilatildeo e

organizaccedilatildeo de serviccedilos multiprofissionais de atendimento agraves mulheres em situaccedilatildeo

de violecircncia para seu devido enfrentamento de modo que os mesmos estejam

articulados na loacutegica da intersetorialidade com os campos da sauacutede do serviccedilo

social e do direito no desenvolvimento de accedilotildees preventivas e assistenciais na

perspectiva da atenccedilatildeo integral agraves mulheres

Para aleacutem da organizaccedilatildeo de serviccedilos para o enfrentamento da violecircncia

contra as mulheres e apoio a essas viacutetimas evidencia-se tambeacutem a urgecircncia de

maior qualificaccedilatildeo sobre a temaacutetica de profissionais que atuam nesses campos para

que possam atender demandas dessa natureza de modo mais solidaacuterio

respeitando-se as subjetividades e singularidades implicadas nessas situaccedilotildees

Os Assistentes Sociais tecircm atuado como mediadores proporcionando a

escolha para as mulheres do que melhor lhes conveacutem Tal direcionamento vai ao

encontro da proposta aqui formulada na qual considera o profissional como sendo

um facilitador que em nome de valores como liberdade individual independecircncia e

autonomia fornece suporte ao processo de fortalecimento destas usuaacuterias ou seja

eacute o profissional que vecirc aleacutem do aparente (TAVARES 2008)

Sabe-se que jaacute existem leis especiacuteficas para o enfrentamento da violecircncia

contra as mulheres poreacutem ainda eacute preciso que as mesmas sejam incorporadas pela

sociedade como cultura poliacutetica para que accedilotildees mais efetivas sejam de fato

implementadas

26

Como estrateacutegia para a ampliaccedilatildeo do escopo das praacuteticas dessa natureza no

acircmbito das poliacuteticas puacuteblicas destaca-se a criaccedilatildeo de accedilotildees intersetoriais com

movimentos organizados de mulheres organizaccedilotildees governamentais e natildeo

governamentais de defesa aos direitos das mulheres serviccedilos de sauacutede e da accedilatildeo

social delegacias de policia organizaccedilotildees de bairros escolas dentre outros

segmentos sociais

Outra importante accedilatildeo se refere agrave incorporaccedilatildeo das questotildees relativas agrave

violecircncia e mais especificamente contra as mulheres foco deste estudo como um

tema transversal nas escolas o qual deve ser abordado natildeo apenas com alunos e

professores mas tambeacutem com as famiacutelias que integram a comunidade escolar

Para tanto a interlocuccedilatildeo do Serviccedilo Social com essa questatildeo se faz

necessaacuteria uma vez que a violecircncia domestica eacute um fenocircmeno social e portanto

deve ser enfrentada mediante o conjunto de estrateacutegias poliacuteticas e de intervenccedilatildeo

social direta

Desde esta perspectiva os profissionais do Serviccedilo Social devem intervir

diretamente na realidade social dos sujeitos tendo como pressuposto de atuaccedilatildeo a

articulaccedilatildeo do trabalho em redes promovendo a co-participaccedilatildeo e co-

responsabilizaccedilatildeo dos atores envolvidos nessa problemaacutetica desde a tomada de

decisotildees ateacute os encaminhamentos que se fizerem necessaacuterios para o enfrentamento

positivo e superaccedilatildeo de situaccedilotildees de violecircncia contra as mulheres

A partir de accedilotildees mais efetivas e da conscientizaccedilatildeo dos atores sociais de

que a violecircncia eacute hoje um problema de relevacircncia mundial e de sauacutede puacuteblica no

cenaacuterio brasileiro almeja-se a detecccedilatildeo precoce de situaccedilotildees de violecircncia

abordagem adequada e qualificada agraves viacutetimas e os devidos encaminhamento para o

atendimento desta demanda com eacutetica competecircncia e de forma mais humanizada

Atuaccedilatildeo esta pautada em valores societaacuterios em que homens e mulheres tenham

os mesmos direitos de cidadania buscando a superaccedilatildeo de todas as formas de

violecircncia preconceitos discriminaccedilotildees e desigualdades

27

REFEREcircNCIAS

BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Violecircncia intrafamiliar orientaccedilotildees para a praacutetica em serviccedilos Cadernos de Atenccedilatildeo Baacutesica n 8 BrasiacuteliaDF 2002 CABRAL F B OLIVEIRA D LL C de CECCIM R B O puerpeacuterio e a sauacutede da mulher vulnerabilidade e atenccedilatildeo baacutesica agrave sauacutede In Ensino e atenccedilatildeo agrave sauacutede da mulher aprendizados da integraccedilatildeo da educaccedilatildeo superior com a rede assistencial edCaxias do Sul EDUCS Editora da Universidade de Caxias do Sul 2008 p 137-157 CAMARGO M AQUINO S de (2003) Redes de cidadania e parcerias- Enfrentando a rota criacutetica Secretaria Especial de Poliacuteticas para as Mulheres Programa de prevenccedilatildeo assistecircncia e combate agrave violecircncia contra a mulher- plano nacional Brasiacutelia 2003 DrsquoOLIVEIRA A F SCHRAIBER L B Violecircncia Contra a Mulher a pesquisa e a intervenccedilatildeo Revista Promoccedilatildeo da Sauacutede n 6 80- 8 2002 DE FERRANTE FG SANTOS MA VIEIRA EM Violecircncia contra a mulher percepccedilatildeo dos meacutedicos das unidades baacutesicas de sauacutede da cidade de Ribeiratildeo Preto Satildeo Paulo Satildeo Paulo Interface - Comunic Saude Educ 13(31)287-99 outdez 2009

DOLIVEIRA AFPL SCHREIBER LB HANADA H DURANDJ Atenccedilatildeo integral agrave sauacutede de mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia de gecircnero ndash uma alternativa para a atenccedilatildeo primaacuteria em sauacutede Rio de Janeiro Ciecircnc Sauacutede Coletiva 14(4) julhoago 2009

GALVAtildeOFEANDRADESM Violecircncia contra a mulher anaacutelise de casos atendidos em serviccedilo de atenccedilatildeo agrave mulher em municiacutepio do Sul do Brasil Sauacutede e Sociedade 13(2)p89-99 maio-ago 2004 GIL A C Como Elaborar Projetos de Pesquisa 4 ed Satildeo Paulo Atlas 2009

LEONCIO LK ET AL O perfil das mulheres vitimizadas e seus agressores Rev enferm UERJ Rio de Janeiro 16(3)307-12 julset 2008 MEDINA ABC PENNA LHG Violecircncia na gestaccedilatildeo um estudo da produccedilatildeo cientiacutefica de 2000 a 2005 Esc Anna Nery 12(4)793-98 dez 2008 MENEGHEL ST INtildeIGUEZ L Contadores de histoacuterias praacuteticas discursivas e violecircncia de gecircnero Cad Sauacutede Puacuteblica Rio de Janeiro 23(8)1815-1824 ago 2007 MEYER D E Teorias e poliacuteticas de gecircnero fragmentos histoacutericos e desafios atuais Revista Brasileira de Enfermagem Brasiacutelia v57 n1 p13-8 janfev 2004

28

MINAYO M C et al Pesquisa social teoria meacutetodo criatividade Petroacutepolis Vozes 2002 MONTEIROCFS Arauacutejo TME NunesBMV LustosaAR BezerraCMJ A Violecircncia contra a mulher atendida em uma unidade de urgecircncia uma contribuiccedilatildeo da enfermagem Esc Anna Nery 10(2)273-9 ago 2006 MOTA JCMVASCONCELOS AGG ASSIS SG Anaacutelise de correspondecircncia como estrateacutegia para descriccedilatildeo do perfil da mulher viacutetima do parceiro atendida em serviccedilo especializado Ciecircncia e Sauacutede coletiva 12 (3)799890 2007 REZENDE EJC ET AL Lesotildees buco-dentais em mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia um estudo piloto de casos periciados no IML de Belo Horizonte MG Rev Bras Epidemiol 10(2) 202-14 2007 SCARANTO CAA BIAZEVICMGH MICHEL-CROSATOE Percepccedilatildeo dos Agentes Comunitaacuterios de Sauacutede sobre a Violecircncia Domeacutestica contra a Mulher Psicol ciecircnc Prof 27(4)694-705 2007 SCHRAIBER L B DOLIVEIRA A F L P Violecircncia contra mulheres interfaces com a Sauacutede Comunicaccedilatildeo Sauacutede Educaccedilatildeo v3 n5 1999 SILVA LL ET AL Violecircncia silenciosa violecircncia psicoloacutegica como condiccedilatildeo da violecircncia fiacutesica domeacutestica Interface - Comunic Sauacutede Educ v11 n21 p93-103 janabr 2007 SILVA LL ET AL Violecircncia silenciosa violecircncia psicoloacutegica como condiccedilatildeo da violecircncia fiacutesica domeacutestica Interface - Comunic Sauacutede Educ v11 n21 p93-103 janabr 2007 TAVARES F A Daacutes Laacutegrimas agrave Esperanccedila o processo de fortalecimento das mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia domeacutestica 2008 Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Serviccedilo Social Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica do Rio Grande do Sul Porto Alegre 2008 VIEIRAMEET AL Conhecimento e atitudes dos profissionais de sauacutede em relaccedilatildeo agrave violecircncia de gecircnero Rev Bras Epidemiol 12(4) 566-77 2009 WILHEL FA TONET J Percepccedilatildeo sobre a violecircncia domeacutestica na perspectiva de mulheres vitimadas Psicol Argum Curitiba 25 (51)401-412 outdez 2007

29

ANEXO 1 - Quadro analiacutetico ndash Violecircncia domestica contra a mulher e sauacutede publica ndash 2000-2009

Titulo Revista

Origem Subaacuterea de

conhecimento

Tipo Natureza Ano de

publicaccedilatildeo

Regiatildeo da

pesquisa

Violecircncia contra a mulher anaacutelise de casos atendidos em serviccedilo de atenccedilatildeo agrave mulher em municiacutepio do sul do Brasil Rev Sauacutede e Sociedade v13 n2 p89-99 maio-ago 2004

GALVAtildeOFEANDRADESM

Artigo Sociologia Pesquisa

investigaccedilatildeo

Qualitativo

sociocultural 2004 Regiatildeo Sul

A violecircncia contra a mulher atendida em unidade de urgecircncia uma contribuiccedilatildeo da enfermagem Esc Anna Nery R Enferm 2006 ago 10 (2) 273-9

MONTEIROCFS Arauacutejo TME NunesBMV LustosaAR BezerraCMJ

Artigo Enfermagem Pesquisa

Investigaccedilatildeo

Quantitativo

sociocultural 2006 Regiatildeo

Norte

Percepccedilatildeo dos Agentes Comunitaacuterios de Sauacutede sobre a Violecircncia Domeacutestica contra a Mulher Psicol ciecircnc prof27(4)694-705 2007

SCARANTO CAA BIAZEVICMGH MICHEL-CROSATOE

Artigo Psicologia Pesquisa

Investigaccedilatildeo

Qualitativo

sociocultural 2007 Regiatildeo Sul

Violecircncia silenciosa violecircncia psicoloacutegica como condiccedilatildeo da violecircncia fiacutesica domeacutestica

Artigo Psicologia Revisatildeo sociocultural 2007 Regiatildeo Sul

30

Interface-Comunic Sauacutede Educ v11 n21 p93-103 janabr 2007

SILVA LL ET AL

Qualitativa

Anaacutelise de correspondecircncia como estrateacutegia para descriccedilatildeo do perfil da mulher viacutetima do parceiro atendida em serviccedilo especializado Ciecircncia e Sauacutede coletiva12 (3)799890 2007

MOTA JCMVASCONCELOS AGG ASSIS SG

Artigo multiprofissional Pesquisa Qualiquanti

epidemioloacutegi

co

2007 Centro

Contadores de histoacuterias praacuteticas discursivas e violecircncia de gecircnero Cad Sauacutede Puacuteblica Rio de Janeiro 23(8)1815-1824 ago 2007

MENEGHEL ST INtildeIGUEZ L

Artigo multiprofissional Pesquisa Qualitativa

Sociocultural 2007 Regiatildeo sul

Lesotildees buccedilo-dentais em mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia um estudo piloto de casos periciados no IML de Belo Horizonte MG Rev Bras Epidemiol 2007 10(2) 202-14

REZENDE EJC ET AL

Artigo Odontologia Pesquisa

Documental

Clinico 2007 Regiatildeo

sudeste

Percepccedilatildeo sobre a violecircncia domeacutestica na perspectiva de mulheres vitimadas Psicol Argum Curitiba v 25 n 51 p 401-412 outdez 2007

WILHEL FA TONET J

Artigo Psicologia Pesquisa

qualitativa

Sociocultural 2007 Regiatildeo Sul

O perfil de mulheres vitimizadas e de seus agressores Rev enferm UERJ Rio de Janeiro 2008 julset

Artigo Enfermagem Pesquisa Sociocultural 2008 Regiatildeo

31

16(3)307-12

LEONCIO LK ET AL documental

quantitativa

sudeste

Violecircncia na gestaccedilatildeo um estudo da produccedilatildeo cientiacutefica de 2000 a 2005 Esc Anna Nery Rev Enferm 2008 dez 12 (4) 793-98

MEDINA ABC PENNA LHG

Artigo Enfermagem Pesquisa

qualitativa

Sociocultural 2008 Regiatildeo

Sudeste

Conhecimento e atitudes dos profissionais de sauacutede em relaccedilatildeo agrave violecircncia de gecircnero Rev Bras Epidemiol 2009 12(4) 566-77

VIEIRAMEET AL

Artigo Multidisciplinar Pesquisa Qualitativa

Sociocultural 2009 Regiatildeo Sudeste

Violecircncia contra a mulher percepccedilatildeo dos meacutedicos das unidades baacutesicas de sauacutede da cidade de Ribeiratildeo Preto Satildeo Paulo Interface - Comunic Saude Educ v13 n31 p287-99 outdez 2009

DE FERRANTE FG SANTOS MA VIEIRA EM

Artigo Multidisciplinar Pesquisa Qualitativa

Sociocultural 2009 Regiatildeo Sudeste

32

33

3

Universidade Federal de Santa Maria - UFSM

Centro de Educaccedilatildeo Superior Norte do RS - CESNORS Curso de Poacutes-Graduaccedilatildeo Lato Sensu em Gestatildeo de Organizaccedilatildeo

Puacuteblica em Sauacutede EaD

A Comissatildeo Examinadora abaixo assinada aprova a Monografia de Conclusatildeo de Curso

TENDEcircNCIA DAS PESQUISAS SOBRE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA

CONTRA AS MULHERES ENTRE OS ANOS DE 2000- 2009 NO

BRASIL

elaborada por Claudia Fernanda Grun

como requisito parcial para obtenccedilatildeo do grau de

Especialista

Comissatildeo Examinadora

___________________________________________ Fernanda Beheregaray Cabral Msc

(PresidenteOrientadora ndash UFSM CESNORS)

___________________________________________ Liane Beatriz Righi Dra

(Membro da Banca - UFSMCESNORS)

____________________________________________ Loiva Dallepiane Dra

(Membro da Banca - UFSMCESNORS)

Trecircs de Maio 2 de julho de 2011

4

RESUMO

Monografia de Especializaccedilatildeo

Curso de Poacutes-Graduaccedilatildeo Lato Sensu em Gestatildeo de Organizaccedilatildeo Puacuteblica em Sauacutede

Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) Centro de Educaccedilatildeo Superior Norte

do Rio Grande do Sul (CESNORS)

TENDEcircNCIA DAS PESQUISAS SOBRE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA CONTRA AS

MULHERES ENTRE OS ANOS DE 2000- 2009 NO BRASIL

AUTORA Claudia Fernanda Grun ORIENTADORA Fernanda Beheregray Cabral

Data e Local da Defesa Trecircs de Maio 2 de julho de 2011

A violecircncia contra a mulher eacute um fenocircmeno mundial complexo que tem

ganhado maior visibilidade social nos uacuteltimos anos sendo considerada como

problema de sauacutede publica Trata-se de uma pesquisa bibliograacutefica cujos dados

foram coletados mediante consulta na Biblioteca Virtual de Sauacutede ndash BVSBireme

nas bases de dados da Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciecircncias da

Sauacutede (LILACS) e Scientific Eletronic Library On line (SCIELO) O objetivo da

pesquisa foi conhecer o que a literatura especializada em sauacutede dos uacuteltimos dez

anos disponiacutevel on line traz a respeito da violecircncia domeacutestica contra a mulher no

periacuteodo de 2000 a 2009 Utilizaram-se os termos violecircncia domeacutestica contra a

mulher e sauacutede publica como descritores para o levantamento de dados os quais

foram submetidos agrave anaacutelise temaacutetica de Minayo Verificou-se que essas produccedilotildees

tecircm como foco a violecircncia domeacutestica e de gecircnero o perfil das viacutetimas que sofreram

essas violecircncias e a percepccedilatildeo destas e dos profissionais de sauacutede sobre a

temaacutetica Estudos sobre o perfil dessas mulheres revelaram que a faixa etaacuteria variou

entre 20 e 39 anos sendo que a dependecircncia econocircmica agrave renda do marido implica

na necessidade de permanecer junto ao agressor apesar das situaccedilotildees de

violecircncia Por ser um tema recente os serviccedilos de sauacutede nem sempre estatildeo

equipados e preparados para a identificaccedilatildeo de situaccedilotildees de violecircncia contra a

mulher acompanhamento e resoluccedilatildeo do problema As accedilotildees dos profissionais de

sauacutede foram caracterizadas pelo natildeo-acolhimento dessas demandas e por respostas

inadequadas agraves mesmas

Descritores Violecircncia domeacutestica contra a mulher Sauacutede publica

5

ABSTRACT

Monografia de Especializaccedilatildeo

Curso de Poacutes-Graduaccedilatildeo Lato Sensu em Gestatildeo de Organizaccedilatildeo Puacuteblica em Sauacutede

Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) Centro de Educaccedilatildeo Superior Norte

do Rio Grande do Sul (CESNORS)

RESEARCHrsquoS TENDENCY ABOUT DOMESTIC VIOLENCE AGAINST WOMEN

BETWEEN 2000 and 2009 IN BRAZIL

AUTORA Claudia Fernanda Grun ORIENTADORA Fernanda Beheregray Cabral

Data e Local da Defesa Trecircs de Maio 2 de julho de 2011

The violence against women is a complex world phenomenon that has won a

bigger social visibility in the last years being considered as a public health problem

This paper is about a bibliographic research whose data were collected by a

consultation at the Health Visual Library (ldquoBiblioteca Virtual de Sauacutede-BVSBirenerdquo)

in the database of Latin America Literature of Caribbean in Health Science (LILACS)

and Scientific Electronic Library On Line (SCIELO) The objective of the research

was to know what the health specialized literature from the last ten years available on

line brings in respect of domestic violence against women between the years 2000

and 2009 It makes use of the term domestic violence against women and public

health as descriptors for the data entry that was submitted into a thematic analyze

from Minayo It was found that these productions have as focus the domestic

violence and of gender the characteristic of the victims that suffered this violence

and the perception of them and of the health professionals about the subject Studies

about the profile of these women show up that the age group varies from 20 to 39

years old and that economic dependence and the husband income implies on the

necessity of maintaining together the aggressor besides the violence situation

Because itrsquos a recent subject the health services not always are equipped and

prepared for the identification of the violence situation against women the

attendance and the solution of the problem The actions of the health professionals

were characterized by the non-welcome of these demands and for the inadequate

answers for them

6

Descriptors Domestic violence against women Public health

7

RESUacuteMEN

Monografiacutea de Especializacioacuten

Curso de Posgrado Lato Sensu en Gestioacuten de Organizacioacuten Puacuteblica en Salud

Universidad Federal de Santa Mariacutea (UFSM) Centro de Educacioacuten Superior Norte

del Riacuteo Grande del Sur (CESNORS)

Tendencia de la investigacioacuten sobre la violencia domeacutestica contra las mujeres entre los antildeos 2000-2009 em Brasil

AUTORA Claudia Fernanda Grun

ORIENTADORA Fernanda Beheregray Cabral

Fecha y Local de la Defensa Trecircs de Maio 2 de julho de 2011

La violencia contra La mujer ES um fenoacutemeno mundial complejo que recebioacute

mayor visibilidad social em los uacuteltimos antildeos pues ES considerada como problema

de La salud publica Si refere de uma pesquisa bibliograacutefica cuyos datos colectados

em La Licteratura Latinoamericana y Caribe em Ciecircncias de La Salud (LILACS) y

Scientific Eletronic Library on line (SCIELO) El objetivo de l investigacioacuten es conocer

el que hay em la licteratura especializada em salud de los uacuteltimos diez antildeos A La

disposicioacutenon line respecto a La violecircncia domeacutestica contra La mujer em periacuteodo de

2000 hasta 2009 Si haacute utilizado los teacuterminos violencia contra La mujer e salud

puacuteblica como descriptores para um examen de datos los cuales han sido

submetidos a la anaacutelisis temaacutetica de Minayio Si haacute verificado que esas producciones

tienen como foco La violecircncia domeacutestica e de gecircnero el perfil de las viacutectimas que

han sufrido eses violecircncias y La percepcioacuten de latildes mismas y de los profisionales de

La salud sobre La temaacutetica Estuacutedios sobre el perfil de latildes mujeres han revelado que

La edad promedio haacute variado dentre 20 y 39 antildeos siendo que La dependecircncia

econocircmica al marido es de gran importacircncia de permanecer AL agresor apesarde

latildes situaciones de violecircncia Por ser um tema muy atctual los servicios de salud

poccedilo o no estaacuten equipados y preparados para La uma investigacioacuten de situaciones

de violecircncia em mujeres acompantildeamiento y resolucioacuten del problema Las acciones

de los profesionales de La salud han sido caracrezados por lo no acogimento de latildes

demandas y por respuestas inadecuadas a las mismas

8

Palabras-llaveviolencia domeacutestica contra La mujer Salud Puacuteblica

9

SUMAacuteRIO

TENDEcircNCIA DAS PESQUISAS SOBRE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA CONTRA AS

MULHERES ENTRE OS ANOS DE 2000- 2009 NO BRASIL10

INTRODUCcedilAtildeO 10

METODOLOGIA13

APRESENTACcedilAtildeO E DISCUSSAtildeO DOS RESULTADOS15

VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E DE GEcircNERO PRAacuteTICAS DISCURSIVAS16

PERFIL DAS MULHERES QUE SOFRERAM VIOLEcircNCIA18

A VIOLEcircNCIA CONTRA A MULHER NA OacuteTICA DAS VITIMAS E DOS PROFISSIONAIS

DE SAUacuteDE22

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS25

REFERENCIAS28

ANEXO 30

Anexo 1 ndash Quadro analiacutetico ndash Violecircncia domestica contra a mulher e sauacutede publica ndash 2000-2009 30

10

TENDEcircNCIA DAS PESQUISAS SOBRE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA CONTRA AS

MULHERES ENTRE OS ANOS DE 2000- 2009 NO BRASIL

INTRODUCcedilAtildeO

Ao longo da histoacuteria a conquista dos direitos humanos ndash como garantia de

justiccedila social e dignidade humana ndash fez e faz parte de um processo de consciecircncia

dos diferentes povos Respeitar os direitos humanos eacute promover a vida em

sociedade sem discriminaccedilatildeo de classe social cultura religiatildeo raccedila orientaccedilatildeo

sexual ou de qualquer outro tipo O respeito agrave integridade corporal viver a

sexualidade sem culpas medos ou discriminaccedilatildeo e viver numa famiacutelia livre de

violecircncia tambeacutem fazem parte dos direitos humanos (BRASIL 2002)

Durante muito tempo a violecircncia baseada na desigualdade de gecircnero1 foi

praticamente invisiacutevel e tolerada Atualmente a complacecircncia social em torno das

agressotildees por questotildees de poder e dominaccedilatildeo estaacute se diluindo aos poucos visto

que governos sociedade civil organizada Naccedilotildees Unidas e outras organizaccedilotildees

internacionais estatildeo se envolvendo cada vez mais com atividades voltadas agrave

promoccedilatildeo da igualdade entre os sexos e ao fim da violecircncia domeacutestica contra as

mulheres

Para Tavares (2008 p14) ldquoa violecircncia domeacutestica contra a mulher eacute fruto de

uma construccedilatildeo social que demarca espaccedilos de poder privilegiando os homens e

oprimindo as mulheresrdquo Nesta loacutegica a sociedade reproduz a desigualdade social

existente no que se refere agraves expectativas geradas sobre os comportamentos de

homens e mulheres na medida em que se espera das mulheres delicadeza

obediecircncia e subordinaccedilatildeo e responsabilizaccedilatildeo pelo cuidado com o marido e com o

lar Da mesma forma em que as mulheres estatildeo legitimadas pela cultura linguagem

e discurso ndash como cuidadoras dos filhos (CABRAL OLIVEIRA CECCIM 2008)

1 No presente estudo o termo gecircnero fundamenta-se como [] todas as formas de construccedilatildeo

social cultural e linguumliacutestica implicadas com processos que diferenciam mulheres e homens incluindo aqueles processos que produzem seus corpos distinguindo-os e nomeando-os como corpos dotados de sexo gecircnero e sexualidade (MEYER 2004 p 15)

11

Em relaccedilatildeo aos serviccedilos de sauacutede foi apenas no iniacutecio dos anos 90 que a

temaacutetica em estudo passou a fazer parte e a realizar novas accedilotildees e abordagens

para o problema da violecircncia domeacutestica contra as mulheres Camargo e Aquino

(2003) esclarecem que foi somente a partir deste momento que os serviccedilos de

sauacutede passaram a adotar poliacuteticas visando agrave identificaccedilatildeo e enfrentamento dessa

problemaacutetica mediante accedilotildees no campo da sauacutede direcionadas aos casos de

violecircncia sexual violecircncia contra as crianccedilas e outros agravos

Nesse sentido a violecircncia contra as mulheres passa a ser tema de estudo e

intervenccedilatildeo no campo da sauacutede ao mesmo tempo em que se firma

internacionalmente como questatildeo de direitos humanos

Decorridos alguns anos do relatoacuterio da OMS sobre violecircncia e sauacutede2 torna-

se conhecido para os profissionais de sauacutede o fato de que a violecircncia contra as

mulheres tem alta magnitude e relevacircncia no campo da sauacutede Tal situaccedilatildeo tem sido

evidenciada no acircmbito dos serviccedilos de sauacutede pois mulheres que

vivenciamvivenciaram situaccedilotildees de violecircncia domeacutestica e sexual utilizam esses

serviccedilos com maior frequumlecircncia por apresentam mais queixas de ordem fiacutesica

mental e ou emocional (DrsquoOliveira et al 2009)

Estudo no acircmbito da atenccedilatildeo primaacuteria constatou que a frequumlecircncia de

mulheres que relataram ter vivenciado situaccedilotildees de violecircncia domeacutestica a partir dos

18 anos foi de 214 enquanto que em serviccedilos de emergecircncia essas ocorrecircncias

variaram de 22 a 35 (DrsquoOLIVEIRA SCHRAIBER et al 2002) Tambeacutem por essa

razatildeo os serviccedilos de sauacutede satildeo importantes dispositivos para a identificaccedilatildeo e

enfrentamento dessa problemaacutetica pois sua ampla cobertura na atenccedilatildeo baacutesica

favorece a vinculaccedilatildeo dessas mulheres a uma equipe de sauacutede em um dado

territoacuterio o que favorece o acolhimento e a possibilidade de identificaccedilatildeo de

situaccedilotildees de violecircncia domeacutestica contra mulheres ainda que subjetivadas por outras

queixas de origem bioloacutegica ou ainda mediante o proacuteprio relato da vitima em um

atendimento de sauacutede (DrsquoOliveira et al 2009)

2 Desde 1996 a Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede reconhece a violecircncia como um problema de sauacutede puacuteblica

(WHO 2002)

12

Entende-se que a violecircncia domeacutestica contra as mulheres eacute um fenocircmeno

complexo que requer accedilotildees intersetoriais para aleacutem do campo juriacutedico na medida

em que eacute reconhecida como um problema de sauacutede puacuteblica Para tanto o

enfrentamento de situaccedilotildees dessa natureza requer accedilotildees no campo dos direitos

humanos e de cidadania na perspectiva da humanizaccedilatildeo e da integralidade em

sauacutede pautadas na eacutetica e no entendimento de que um viver saudaacutevel implica

tambeacutem no direito a uma vida sem violecircncia (DrsquoOliveira et al 2009)

Ante estas consideraccedilotildees este estudo teve a seguinte questatildeo norteadora ldquoo

que a literatura especializada em sauacutede dos uacuteltimos dez anos disponiacutevel on line

traz a respeito da violecircncia domestica contra a mulher no periacuteodo de 2000 a 2009rdquo

O objetivo da pesquisa foi ldquoconhecer o que a literatura especializada em sauacutede dos

uacuteltimos dez anos disponiacutevel on line traz a respeito da violecircncia domestica contra a

mulher no periacuteodo de 2000 a 2009rdquo

13

METODOLOGIA

Trata-se de uma pesquisa bibliograacutefica de natureza qualitativa que segundo

Gil (2009) eacute o estudo desenvolvido com base em material jaacute elaborado constituiacutedo

principalmente de livros e artigos Segundo Minayo (2002) ldquoa pesquisa qualitativa

trabalha com o universo de significados motivos aspiraccedilotildees crenccedilas valores e

atitudes o que corresponde a um espaccedilo mais profundo das relaccedilotildees dos

processos e dos fenocircmenos que natildeo podem ser reduzidos agrave operacionalizaccedilatildeo de

variaacuteveisrdquo

Os dados foram coletados mediante consulta na Biblioteca Virtual de Sauacutede ndash

BVSBireme nas bases de dados de dados da Literatura Latino-Americana e do

Caribe em Ciecircncias da Sauacutede (LILACS) e Scientific Eletronic Library On line

(SCIELO) Foram utilizados os termos violecircncia contra a mulher e sauacutede publica

como descritores para o levantamento de dados nos uacuteltimos dez anos Este

processo envolveu atividades de busca identificaccedilatildeo fichamento de estudos

mapeamento e anaacutelise O recorte temporal justifica-se pelo fato de que em dez

anos a prodccedilatildeo de conhecimento se renova substancialmente especialmente no

que tange ao conhecimento veiculado em miacutedias informatizadas

O levantamento bibliograacutefico foi realizado no periacuteodo de vinte e trecircs a vinte e

seis de maio de dois mil e onze cujos dados coletados atenderam aos seguintes

criteacuterios de inclusatildeo artigos cientiacuteficos disponiacuteveis na iacutentegra online e em idioma

da lingua portuguesa no periacuteodo de 2000 a 2009 com os descritores violecircncia

domeacutestica contra a mulher e sauacutede publica

Inicialmente foram encontradas noventa e trecircs (93) produccedilotildees cientiacuteficas com

o descritor violecircncia domeacutestica contra a mulher e sauacutede puacuteblica Dessas foram

selecionados vinte e oito (28) artigos cientiacuteficos que apresentavam o texto na

iacutentegra sendo que apenas quinze (15) atendiam o criteacuterio de inclusatildeo relativo ao

idioma que era a liacutengua portuguesa Dos quinze (15) artigos selecionados trecircs (3)

natildeo atenderam ao enquadre temporal pois uma datava do ano de 1999 e duas do

ano de 2010 motivo pelo qual as mesmas foram excluiacutedas totalizando doze (12)

artigos que passaram a compor o corpus dos dados a serem analisados

14

A anaacutelise dos dados se deu pela teacutecnica de anaacutelise temaacutetica de Minayo

(2002) definida como a descoberta dos nuacutecleos de sentidos que constituem uma

comunicaccedilatildeo acerca da frequumlecircncia ou da presenccedila de algum significado para o

objeto que seraacute analisado Este meacutetodo de anaacutelise eacute constituiacutedo por trecircs etapas a

preacute-anaacutelise em que ocorre a ordenaccedilatildeo dos dados obtidos a exploraccedilatildeo do

material em que os dados satildeo classificados de forma a alcanccedilar o nuacutecleo de

compreensatildeo do texto por meio da formulaccedilatildeo de categorias e o tratamento dos

resultados obtidos e interpretaccedilatildeo em que se articulam os dados apreendidos ao

referencial teoacuterico visando responder as questotildees da pesquisa

15

APRESENTACcedilAtildeO E DISCUSSAtildeO DOS RESULTADOS

Para a categorizaccedilatildeo e anaacutelise dos doze artigos cientiacuteficos selecionados foi

elaborado um quadro analiacutetico (Anexo 1) composto pelas variaacuteveis titulo origem

subaacuterea de conhecimento tipo natureza ano de publicaccedilatildeo regiatildeo da pesquisa

O mapeamento das produccedilotildees apontou a subaacuterea multiprofissional como de

maior concentraccedilatildeo na produccedilatildeo de artigos cientiacuteficos sendo que a maioria foi de

produccedilotildees socioculturais e apenas um artigo de natureza clinica se mostrando

convergente agrave aacuterea de odontologia

Com relaccedilatildeo ao tipo de pesquisa a abordagem mais utilizada foi do tipo

qualitativa Quanto ao recorte temporal adotado a primeira produccedilatildeo selecionada foi

do ano de 2004 sendo que a maior concentraccedilatildeo se deu no ano de 2007 com cinco

(5) artigos

Quanto agraves regiotildees do paiacutes em que esses artigos foram produzidos observou-

se maior concentraccedilatildeo dessas publicaccedilotildees na regiatildeo Sudeste com seis (6) artigos

cinco (5) artigos na regiatildeo Sul e apenas um (1) artigo na regiatildeo nordeste Ainda

com relaccedilatildeo agrave regionalidade desses artigos destaca-se que trecircs dos artigos

produzidos na regiatildeo sudeste do paiacutes foram desenvolvidos na cidade de Ribeiratildeo

PretoSP dos quais dois abordavam a perspectiva dos profissionais de sauacutede em

relaccedilatildeo e violecircncia domestica e o outro o perfil das vitimas de violecircncia

Do processo de anaacutelise dos achados da pesquisa emergiram trecircs categorias

sendo que os doze artigos foram categorizados em Violecircncia domeacutestica e de

gecircnero praacuteticas discursivas Perfil das mulheres que sofreram violecircncia e A violecircncia

na oacutetica dos profissionais de sauacutede

VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E DE GEcircNERO PRAacuteTICAS DISCURSIVAS

Medina e Penna (2008) em estudo bibliograacutefico que analisou quatorze (14)

produccedilotildees entre os anos de 2000 e 2005 destacaram o contexto soacutecio-cultural da

violecircncia domeacutestica no periacuteodo gestacional como um fator importante no

desenvolvimento desta no acircmbito da famiacutelia Tambeacutem ressaltam que a violecircncia

vivenciada pela gestante ainda eacute uma situaccedilatildeo de difiacutecil abordagem nas relaccedilotildees

16

pessoais e profissionais O estudo indicou ainda que mulheres que vivenciam

situaccedilotildees de violecircncia na gestaccedilatildeo se sentem coibidas em denunciar agressotildees

sofridas pelos parceiros ou familiares Da mesma forma em que evidenciou

processos de naturalizaccedilatildeo e de invisibilidade da violecircncia na gestaccedilatildeo na medida

em que muitas situaccedilotildees dessa natureza nem sempre satildeo percebidas e

reconhecidas como atos violentos pelas mulheres que a vivenciam como tambeacutem

pelos profissionais de sauacutede que as assistem

Pesquisa realizada por Silva et al (2007) que analisou os tipos de violecircncia

domeacutestica indicou que a violecircncia psicoloacutegica eacute o ponto inicial que deflagra a

violecircncia Para os autores a prevenccedilatildeo de qualquer tipo de situaccedilatildeo de violecircncia

vivida no acircmbito domeacutestico deve passar pela compreensatildeo de que estrateacutegias que

visem coibir situaccedilotildees de violecircncia psicoloacutegica implicam diretamente na minimizaccedilatildeo

dos demais tipos de violecircncias Destacam ainda que outras accedilotildees importantes

como palestras e maior discussatildeo sobre a temaacutetica em escolas de ensino

fundamental e meacutedio da rede puacuteblica e universidades que abordem a temaacutetica da

violecircncia na perspectiva dos direitos humanos bem como sobre serviccedilos de apoio

existentes e possibilidades de enfrentamento desta demanda devem ser

incentivadas

Estudo publicado por Meneghel e Intildeiguez (2007) que analisou oficina de

contadores de histoacuterias realizada no Centro Ecumecircnico de Assessoria e

Capacitaccedilatildeo de Satildeo Leopoldo (CECA-SL) a qual teve como tema gerador das

discussotildees as questotildees de gecircnero Dessas discussotildees foram escolhidas histoacuterias

para comporem essas narrativas nas quais as mulheres contavam episoacutedios de

violecircncia ligados agraves suas trajetoacuterias pessoais e afirmavam que a violecircncia de gecircnero

acontece em qualquer classe social escolaridade ou raccedila Na medida em que se

posicionavam criticamente em relaccedilatildeo ao sexismomachismo essas mulheres

afirmavam que eram obrigadas a abdicar de si mesmas natildeo podiam construir

projetos de vida mais autocircnomos devendo sempre ceder agraves vontades do homem

(maridocompanheiro) permanecendo submissas a ele Essa subordinaccedilatildeo agrave

autoridade masculina poderia ser potencializada ou minimizada na medida em que

essas mulheres dispusessem ou natildeo de acesso a informaccedilotildees que favoreccedilam o

17

entendimento de sua posiccedilatildeo como sujeito de direitos dentre os quais o de uma

vida sem violecircncia

Com base nos estudos analisados percebeu-se que a violecircncia domeacutestica

contra as mulheres envolve questotildees culturais e de gecircnero Nesse sentido a

prevenccedilatildeo ou minimizaccedilatildeo de situaccedilotildees relativas agrave violecircncia domeacutestica requer accedilotildees

intersetoriais que mobilizem os diversos segmentos da sociedade para que

conjuntamente atuem de forma proacute-ativa no enfrentamento desta problemaacutetica

Uma estrateacutegia importante seria a inclusatildeo da temaacutetica como um tema

transversal nas escolas a ser abordado natildeo apenas com alunos e professores mas

tambeacutem com as famiacutelias que integram a comunidade escolar

Para aleacutem da organizaccedilatildeo de serviccedilos para o enfrentamento da violecircncia

contra as mulheres e apoio a essas viacutetimas evidencia-se tambeacutem a necessidade de

maior qualificaccedilatildeo sobre a temaacutetica de profissionais que atuam no campo da sauacutede

e do serviccedilo social para que possam atender esta demanda com eacutetica competecircncia

e de forma mais humanizada Atuaccedilatildeo esta pautada em valores societaacuterios em que

homens e mulheres tenham os mesmos direitos de cidadania buscando a

superaccedilatildeo de todas as formas de violecircncia preconceitos discriminaccedilotildees e

desigualdades

18

PERFIL DAS MULHERES QUE SOFRERAM VIOLEcircNCIA

A maioria das produccedilotildees traccedilou o perfil das mulheres vitimas de violecircncia

domeacutestica que procuram atendimento em serviccedilos de sauacutede tendo como variaacuteveis a

faixa etaacuteria profissatildeo estado civil escolaridade dentre outros

Galvatildeo e Andrade (2004) pesquisaram o perfil de mulheres em situaccedilatildeo de

violecircncia atendidas em um Centro de Atendimento agrave Mulher (CAM) em Londrina

Paranaacute a partir de informaccedilotildees extraiacutedas das fichas desses atendimentos A faixa

etaacuteria que predominou entre as mulheres atendidas no CAM foi agrave de 30 a 39 anos

seguida da faixa etaacuteria de 20 a 29 anos sendo que a meacutedia de idade foi de 34 anos

Com relaccedilatildeo ao estado civil 472 das mulheres declararam-se casadas 266

dos casos as mulheres que conviviam com um companheiro fixo numa relaccedilatildeo

consensual e 54 possuem um ou dois filhos Quanto agrave escolaridade 581 dessas

mulheres natildeo concluiacuteram o ensino fundamental 128 concluiacuteram o ensino meacutedio e

a taxa de analfabetismo foi de 21 sendo que 558 desenvolvia algum tipo de

trabalho remunerado Os principais agressores satildeo os atuais maridos ou

companheiros das mulheres (734) e quase a totalidade dos casos (974)

ocorreu no ambiente domeacutestico Quanto agrave caracterizaccedilatildeo dos casos de violecircncia

prevalece a violecircncia emocional com 564 dos casos seguida pela violecircncia fiacutesica

com 321 Quanto ao tempo em que vivenciam situaccedilotildees de violecircncia 33 das

mulheres vecircm sofrendo agressotildees por periacuteodos de ateacute um ano e 204 dos casos

refere-se a mulheres que sofrem agressotildees haacute mais de 10 anos

Estudo realizado por Monteiro et al (2006) sobre o perfil de mulheres que

sofreram violecircncia atendidas em uma unidade de urgecircncia em Teresina Piauiacute

indicou que 78 encontrava-se na faixa etaacuteria entre 18 e 40 anos e que 40 delas

natildeo trabalhavam fora de casa desempenhando exclusivamente as tarefas

domeacutesticas relativas ao cuidado coma casa e filhos As agressotildees nos membros

superiores ocorreram com maior frequumlecircncia (44) seguida das agressotildees na face

(33) Revelou ainda que a maioria dessas mulheres natildeo relatou os motivos pelos

quais foram agredidas ainda que o aacutelcool tenha sido apontado em 19 dos casos

como o principal motivo desencadeador das agressotildees seguido do ciuacutemes

Tambeacutem haacute um grande nuacutemero de subnotificaccedilatildeo em relaccedilatildeo ao agressor (80)

19

possivelmente em funccedilatildeo da dependecircncia econocircmica e por medo de vinganccedila do

companheiro Quanto agraves condutas adotadas pelos profissionais de sauacutede a grande

maioria (83) limita-se ao atendimento de queixas de menor complexidade como

aquelas que exigiram sutura simples ou consulta meacutedica Recomendam ainda que o

apoio as viacutetimas de violecircncia deve ter iniacutecio no serviccedilo de urgecircncia de forma

articulada com outros serviccedilos que tratam da mesma questatildeo como as Delegacias

Especiais de Atendimento agrave Mulher (DEAM) os Conselhos de Direitos da Mulher

Abrigos e outras instituiccedilotildees

Mota Vasconcelos e Assis (2007) analisaram as informaccedilotildees das fichas de

atendimento de um centro especializado no atendimento a mulheres viacutetimas de

violecircncia no municiacutepio do Rio de Janeiro totalizando 684 fichas de atendimento

dessas mulheres Dessa anaacutelise os autores traccedilaram o perfil dessas mulheres as

quais apresentaram idade meacutedia de 37 anos Para os autores o baixo status

econocircmico a baixa escolaridade e consequumlentemente o acesso agrave informaccedilatildeo

podem ter sido condiccedilotildees facilitadoras para a ocorrecircncia de situaccedilotildees de violecircncia

domeacutestica contra mulheres pelo cocircnjuge na populaccedilatildeo analisada Por outro lado as

agressotildees fiacutesicas mais graves que ocorreram com mulheres que possuiacuteam maior

niacutevel de escolaridade podem ter sido potencializadas pelo fato de as mesmas natildeo

terem aceitado essa violecircncia de modo passivo implicando em um conflito ainda

maior e em agressotildees fiacutesicas mais graves O estudo evidenciou ainda que a

violecircncia domeacutestica contra a mulher envolve questotildees culturais e de gecircnero com

implicaccedilotildees nas questotildees relativas agrave conjugalidade Assim a violecircncia domeacutestica

contra a mulher estaacute vinculada ao tradicional controle masculino baseado no papel

de provedor cuja desigualdade de gecircnero potencializa conflitos e colabora para a

ocorrecircncia de situaccedilotildees de violecircncia de ordem fiacutesica psicoloacutegica ou moral

Pesquisa retrospectiva e documental desenvolvida por Leonsio et al (2008)

analisou 446 boletins de ocorrecircncia em uma Delegacia de Defesa da Mulher em

Ribeiratildeo Preto Satildeo Paulo Em seus resultados os autores destacaram que 3408 das

mulheres estavam em faixa etaacuteria acima de 35 anos 7578 eram da raccedila branca e

4417 delas eram solteiras Quanto agrave ocupaccedilatildeo 5874 dessas mulheres

exerciam algum tipo de trabalho remunerado formal ou informal e 3722 possuiacuteam

o ensino fundamental completo Outro aspecto importante evidenciado pelo estudo foi

20

que 5471 das mulheres agredidas demoraram de 1 a 15 dias entre a agressatildeo e o tempo

da denuacutencia formal e 4215 registraram a ocorrecircncia no mesmo dia na delegacia Em

7691 dos casos o ambiente domeacutestico foi o local em que essas agressotildees ocorreram

Quanto ao agressor foi observado nos boletins de ocorrecircncia investigados que em 4910

dos casos os parceiros foram os principais denunciados seguidos de ex-parceiros com

1816 das ocorrecircncias Dentre os motivos desencadeantes da agressatildeo 4462

corresponderam agrave recusa da separaccedilatildeo conjugal 1435 ciuacutemes e 1996 por outros

motivos como bebidasdrogas

Estudo realizado por Resende et al (2007) analisou registros e laudos

encaminhados ao setor de Odontologia do IML de Belo Horizonte sobre as lesotildees

bucomaxilares sofridas por mulheres vitimas de violecircncia domeacutestica A faixa etaacuteria

predominante das mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia foi de 20 a 39 anos

representando 704 do total sendo a idade meacutedia correspondente a 303 anos

Quanto agrave ocupaccedilatildeo 241 das mulheres realizavam trabalhos domeacutesticos 213

se intitulavam ldquodonas-de-casardquo e 14 trabalhavam no comeacutercio A maioria das

mulheres que sofreu agressotildees declarou-se solteira perfazendo um total de 63

enquanto que o percentual de casadas foi menor correspondendo apenas 204

Foi constatado o elevado percentual de 611 dos casos em que o agressor natildeo foi

identificado (611) em 25 o sujeito agressor foi o companheiro em 37 foram

familiares e em 74 foram conhecidos perfazendo um total de 361 contra 28

de violecircncia realizada por estranhos

A complexidade da problemaacutetica da violecircncia domeacutestica contra as mulheres

tem implicaccedilotildees em questotildees culturais e de gecircnero vinculada a construccedilatildeo social

de papeacuteis desiguais entre homens e mulheres que potencializa conflitos e colabora

para a ocorrecircncia de situaccedilotildees de violecircncia de ordem fiacutesica psicoloacutegica ou moral

Ainda nesse sentido costuma ser difiacutecil para a maioria das mulheres tomarem a

atitude de denunciar seus companheiros agressores e romper com a situaccedilatildeo de

violecircncia principalmente em funccedilatildeo do medo de vinganccedila e da dependecircncia

econocircmica agrave renda do marido

21

A VIOLEcircNCIA CONTRA A MULHER NA OacuteTICA DAS VITIMAS E DOS

PROFISSIONAIS DE SAUacuteDE

Estudo desenvolvido por Vieira et al (2009) sobre o conhecimento e atitudes

dos profissionais de sauacutede em relaccedilatildeo agrave violecircncia de gecircnero destaca a importacircncia

do atendimento de mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia nos serviccedilos de sauacutede jaacute que

este eacute muitas vezes o uacutenico local procurado pelas viacutetimas A maioria dos

profissionais que participou do estudo demonstrou bom conhecimento sobre a

definiccedilatildeo de violecircncia contra a mulher aleacutem de reconhecer como seu papel

profissional perguntar sobre violecircncia para as pacientes Indicou ainda que esses

profissionais acreditam que para uma melhor atenccedilatildeo agrave violecircncia deveria ser

implantado em sua rotina de trabalho um protocolo de enfrentamento da violecircncia

Os autores tambeacutem evidenciaram a necessidade maiores investimentos na

capacitaccedilatildeo e qualificaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede que devem estar aptos para

reconhecer e manejar os casos de violecircncia

Pesquisa realizada por De Ferrant Santos e Vieira (2009) sobre a percepccedilatildeo

dos meacutedicos de uma unidade baacutesica de Ribeiratildeo Preto Satildeo Paulo em relaccedilatildeo agrave

violecircncia domeacutestica contra a mulher revelou que a maior parte deles acredita que a

violecircncia psicoloacutegica eacute a mais grave pois a proacutepria mulher apresenta dificuldade em

reconhececirc-la como algo prejudicial agrave sua sauacutede a ponto de frequentemente

permanecer exposta agrave situaccedilatildeo durante anos a fio Os resultados indicam que os

meacutedicos detecircm alguns conhecimentos acerca dos tipos de violecircncia de gecircnero e satildeo

capazes de identificar e muitas vezes acolher as mulheres que estatildeo expostas agrave

situaccedilatildeo Contudo destacam uma seacuterie de dificuldades para atuarem frente a uma

usuaacuteria que apresenta essa problemaacutetica e reconhecem a falta de capacitaccedilatildeo

profissional uma vez que muitos deles reforccedilam a necessidade de um treinamento

voltado especificamente para os casos de violecircncia de gecircnero Da mesma forma que

apontam outras barreiras pessoais e institucionais que limitam sua atuaccedilatildeo tanto

em niacutevel preventivo como interventivo que muitas vezes os impedem de agir

adequadamente frente a uma situaccedilatildeo de violecircncia Entre elas destacam-se os

meacutedicos sentem-se impotentes frente agraves atitudes que a mulher possa vir a tomar

mesmo depois de orientada afirmam que temem tomar qualquer atitude por medo

22

da reaccedilatildeo do agressor Os autores sugerem a necessidade de um trabalho integrado

e em rede que ofereccedila uma resposta efetiva para o problema da violecircncia de

gecircnero Aleacutem disso eacute preciso investir na qualificaccedilatildeo dos outros profissionais de

sauacutede aleacutem dos meacutedicos para que se viabilize um atendimento multidisciplinar

para que os serviccedilos de sauacutede se constituam em espaccedilos de acolhimento e apoio

integrando-se efetivamente agrave rede de atendimento

Wilhelm e Tonet (2007) em seu estudo sobre a percepccedilatildeo de mulheres que

sofreram violecircncia domeacutestica em um municiacutepio do interior de Santa Catarina indicou

a ocorrecircncia de depressatildeo ansiedade medo e sentimento de baixa auto-estima Na

oacutetica dessas mulheres parte das agressotildees acontece somente no momento em que

seus companheiros estatildeo alcoolizados Aleacutem da violecircncia fiacutesica (tais como socos

arranhotildees puxotildees de cabelo arremesso de objetos chutes tapas e beliscotildees)

ocorrem as humilhaccedilotildees e a desqualificaccedilatildeo sendo ridicularizadas perante os

amigos do agressor sua famiacutelia e desautorizada perante os filhos Quanto ao

comportamento violento do companheiro este eacute justificado por fatores externos

deste modo desresponsabilizando-o como por exemplo as dificuldades

financeiras desemprego e uso de drogas dentre outros Muitos satildeo os motivos

pelos quais a mulher natildeo denuncia seu marido agressor passando a viver muitos

anos neste contexto de violecircncia dentre os quais destaca-se dependecircncia

financeira filhos fator cultural e ameaccedilas Da mesma forma todas demonstraram a

esperanccedila de que o companheiro mudasse em relaccedilatildeo ao seu comportamento

violento Aleacutem de poliacuteticas puacuteblicas mais efetivas par ao enfrentamento da violecircncia

domeacutestica Eacute necessaacuterio promover poliacuteticas puacuteblicas mais efetivas em relaccedilatildeo ao

enfrentamento da violecircncia domeacutestica bem como maiores investimentos em redes

de apoio social efetiva para a mulher e seus filhos as quais muitas vezes estatildeo

subjugadas ao seu agressor devido agrave dependecircncia econocircmica Em relaccedilatildeo a este eacute

importante promover grupos de homens com a finalidade de propiciar a discussatildeo

sobre violecircncia relaccedilotildees e gecircnero e formas alternativas de resoluccedilatildeo de conflitos

Estudo de Scaranto Biazevic e Michel (2007) sobre a percepccedilatildeo dos Agentes

Comunitaacuterios de Sauacutede (ACS) sobre a Violecircncia Domeacutestica contra a Mulher em um

municiacutepio do interior do Rio Grande do Sul identificou relatos de situaccedilotildees de

violecircncia domeacutestica contra a mulher cometida por seu companheiro seja fiacutesica

23

sexual psicoloacutegica ou econocircmica A obediecircncia aos maridoscompanheiros vai

desde o cuidado pessoal ateacute o desempenho sexual A vergonha pela violecircncia

sofrida eacute infinitamente maior do que a coragem da mulher para denunciar

Constatou-se que o ACS pode ser o elo entre a vergonha e a coragem para a

mulher denunciar o problema da violecircncia o que significa que ele parece ser de

fundamental importacircncia no acolhimento das anguacutestias dessas mulheres no

encorajamento para o relato de sofrimento na detecccedilatildeo da questatildeo da violecircncia

que pode estar acompanhada pela depressatildeo ansiedade ou ateacute mascarada por

algum tipo de queixa vaga e em consequumlecircncia fazer o encaminhamento de

referecircncia correto e eficiente na denuacutencia Eacute preciso dar subsiacutedios teoacuterico-praacuteticos

aos profissionais para que em seu trabalho cotidiano possam detectar situaccedilotildees de

violecircncia encontrar a forma de abordar as famiacutelias e dar encaminhamento tanto aos

casos de violecircncia quanto de uso de aacutelcooldrogas A violecircncia contra a mulher deve

ser considerada como questatildeo de sauacutede puacuteblica a partir do conceito ampliado de

sauacutede motivo pelo qual necessita ser alvo de poliacuteticas puacuteblicas efetivas e

consistentes assim como mecanismos de proteccedilatildeo agrave mulher viacutetima de violecircncia

tambeacutem precisam ser criados

Com base nos artigos analisados constatou-se que muitos profissionais tecircm

dificuldades em reconhecer a violecircncia como um problema de sauacutede devido agrave falta

de subsiacutedios teoacuterico-praacuteticos para a detecccedilatildeo de situaccedilotildees de violecircncia abordagem

adequada agraves viacutetimas e os devidos encaminhamentos para o atendimento desta

demanda

24

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Este estudo teve se propocircs a conhecer o que a literatura especializada em

sauacutede dos uacuteltimos dez anos disponiacutevel on line traz a respeito da violecircncia

domestica contra a mulher no periacuteodo de 2000 a 2009

Com base nos artigos analisados percebe-se que o baixo status econocircmico

o niacutevel de instruccedilatildeo e consequumlentemente o acesso agrave informaccedilatildeo podem ser

considerados como condiccedilotildees facilitadoras para a ocorrecircncia de situaccedilotildees de

violecircncia domeacutestica

Em muitos casos a dependecircncia econocircmica da mulher agrave renda do marido

impotildee a necessidade desta em ter de permanecer com ele mesmo diante de

situaccedilotildees de violecircncia

De modo geral os estudos analisadas indicaram os maridos ou companheiros

atuais das mulheres ou ainda seus ex-companheiros como os principais

agressores sendo o ambiente domeacutestico o local predominate destas agressotildees

Outro aspecto evidenciado nos achados desta pesquisa se refere ao fato de

que a maioria dessas mulheres natildeo relatou os motivos pelos quais foram agredidas

ainda que o aacutelcool tenha sido apontado como o principal motivo desencadeador das

agressotildees seguido do sentimento de ciuacutemes Tambeacutem se verificou o grande

nuacutemero de sub-notificaccedilatildeo dos casos de violecircncia contra as mulheres Assim infere-

se que possivelmente isto ocorra em funccedilatildeo da dependecircncia econocircmica e por

medo de vinganccedila

A natureza soacutecio-cultural e a subaacuterea multiprofissional prevalente nas

produccedilotildees analisadas evidenciaram a multiplicidade de aspectos relevantes a

temaacutetica da violecircncia como um complexo problema de sauacutede puacuteblica sinalizando

para a urgecircncia de um movimento reflexivo seja no acircmbito da formaccedilatildeo de

profissionais de sauacutede seja na praacutetica profissional para o enfrentamento desta

questatildeo

Destaca-se a importacircncia de pesquisa bibliograacuteficas para a sistematizaccedilatildeo

das produccedilotildees cientiacuteficas nacionais na temaacutetica violecircncia domestica contra a mulher

para o (re)conhecimento do estado da arte sobre a temaacutetica em anaacutelise fato este

25

fundamental para subsidiar futuras intervenccedilotildees no acircmbito das praacuteticas e serviccedilos

de sauacutede e da accedilatildeo social

A complexidade que envolve as questotildees relativas agrave violecircncia contra a mulher

exige accedilotildees capazes de dar conta das inuacutemeras demandas apresentadas o que

implica na articulaccedilatildeo entre as diferentes aacutereas de conhecimento e de atuaccedilatildeo

multiprofissional

Nessa loacutegica faz-se necessaacuterio maior investimento na qualificaccedilatildeo de

profissionais de sauacutede do serviccedilo social do direito entre outros para o

reconhecimento e identificaccedilatildeo dos sinais que possam indicar situaccedilotildees de violecircncia

contra as mulheres visando o acolhimento das mesmas natildeo apenas nos serviccedilos de

sauacutede mas em outros setores da sociedade Da mesma forma a criaccedilatildeo e

organizaccedilatildeo de serviccedilos multiprofissionais de atendimento agraves mulheres em situaccedilatildeo

de violecircncia para seu devido enfrentamento de modo que os mesmos estejam

articulados na loacutegica da intersetorialidade com os campos da sauacutede do serviccedilo

social e do direito no desenvolvimento de accedilotildees preventivas e assistenciais na

perspectiva da atenccedilatildeo integral agraves mulheres

Para aleacutem da organizaccedilatildeo de serviccedilos para o enfrentamento da violecircncia

contra as mulheres e apoio a essas viacutetimas evidencia-se tambeacutem a urgecircncia de

maior qualificaccedilatildeo sobre a temaacutetica de profissionais que atuam nesses campos para

que possam atender demandas dessa natureza de modo mais solidaacuterio

respeitando-se as subjetividades e singularidades implicadas nessas situaccedilotildees

Os Assistentes Sociais tecircm atuado como mediadores proporcionando a

escolha para as mulheres do que melhor lhes conveacutem Tal direcionamento vai ao

encontro da proposta aqui formulada na qual considera o profissional como sendo

um facilitador que em nome de valores como liberdade individual independecircncia e

autonomia fornece suporte ao processo de fortalecimento destas usuaacuterias ou seja

eacute o profissional que vecirc aleacutem do aparente (TAVARES 2008)

Sabe-se que jaacute existem leis especiacuteficas para o enfrentamento da violecircncia

contra as mulheres poreacutem ainda eacute preciso que as mesmas sejam incorporadas pela

sociedade como cultura poliacutetica para que accedilotildees mais efetivas sejam de fato

implementadas

26

Como estrateacutegia para a ampliaccedilatildeo do escopo das praacuteticas dessa natureza no

acircmbito das poliacuteticas puacuteblicas destaca-se a criaccedilatildeo de accedilotildees intersetoriais com

movimentos organizados de mulheres organizaccedilotildees governamentais e natildeo

governamentais de defesa aos direitos das mulheres serviccedilos de sauacutede e da accedilatildeo

social delegacias de policia organizaccedilotildees de bairros escolas dentre outros

segmentos sociais

Outra importante accedilatildeo se refere agrave incorporaccedilatildeo das questotildees relativas agrave

violecircncia e mais especificamente contra as mulheres foco deste estudo como um

tema transversal nas escolas o qual deve ser abordado natildeo apenas com alunos e

professores mas tambeacutem com as famiacutelias que integram a comunidade escolar

Para tanto a interlocuccedilatildeo do Serviccedilo Social com essa questatildeo se faz

necessaacuteria uma vez que a violecircncia domestica eacute um fenocircmeno social e portanto

deve ser enfrentada mediante o conjunto de estrateacutegias poliacuteticas e de intervenccedilatildeo

social direta

Desde esta perspectiva os profissionais do Serviccedilo Social devem intervir

diretamente na realidade social dos sujeitos tendo como pressuposto de atuaccedilatildeo a

articulaccedilatildeo do trabalho em redes promovendo a co-participaccedilatildeo e co-

responsabilizaccedilatildeo dos atores envolvidos nessa problemaacutetica desde a tomada de

decisotildees ateacute os encaminhamentos que se fizerem necessaacuterios para o enfrentamento

positivo e superaccedilatildeo de situaccedilotildees de violecircncia contra as mulheres

A partir de accedilotildees mais efetivas e da conscientizaccedilatildeo dos atores sociais de

que a violecircncia eacute hoje um problema de relevacircncia mundial e de sauacutede puacuteblica no

cenaacuterio brasileiro almeja-se a detecccedilatildeo precoce de situaccedilotildees de violecircncia

abordagem adequada e qualificada agraves viacutetimas e os devidos encaminhamento para o

atendimento desta demanda com eacutetica competecircncia e de forma mais humanizada

Atuaccedilatildeo esta pautada em valores societaacuterios em que homens e mulheres tenham

os mesmos direitos de cidadania buscando a superaccedilatildeo de todas as formas de

violecircncia preconceitos discriminaccedilotildees e desigualdades

27

REFEREcircNCIAS

BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Violecircncia intrafamiliar orientaccedilotildees para a praacutetica em serviccedilos Cadernos de Atenccedilatildeo Baacutesica n 8 BrasiacuteliaDF 2002 CABRAL F B OLIVEIRA D LL C de CECCIM R B O puerpeacuterio e a sauacutede da mulher vulnerabilidade e atenccedilatildeo baacutesica agrave sauacutede In Ensino e atenccedilatildeo agrave sauacutede da mulher aprendizados da integraccedilatildeo da educaccedilatildeo superior com a rede assistencial edCaxias do Sul EDUCS Editora da Universidade de Caxias do Sul 2008 p 137-157 CAMARGO M AQUINO S de (2003) Redes de cidadania e parcerias- Enfrentando a rota criacutetica Secretaria Especial de Poliacuteticas para as Mulheres Programa de prevenccedilatildeo assistecircncia e combate agrave violecircncia contra a mulher- plano nacional Brasiacutelia 2003 DrsquoOLIVEIRA A F SCHRAIBER L B Violecircncia Contra a Mulher a pesquisa e a intervenccedilatildeo Revista Promoccedilatildeo da Sauacutede n 6 80- 8 2002 DE FERRANTE FG SANTOS MA VIEIRA EM Violecircncia contra a mulher percepccedilatildeo dos meacutedicos das unidades baacutesicas de sauacutede da cidade de Ribeiratildeo Preto Satildeo Paulo Satildeo Paulo Interface - Comunic Saude Educ 13(31)287-99 outdez 2009

DOLIVEIRA AFPL SCHREIBER LB HANADA H DURANDJ Atenccedilatildeo integral agrave sauacutede de mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia de gecircnero ndash uma alternativa para a atenccedilatildeo primaacuteria em sauacutede Rio de Janeiro Ciecircnc Sauacutede Coletiva 14(4) julhoago 2009

GALVAtildeOFEANDRADESM Violecircncia contra a mulher anaacutelise de casos atendidos em serviccedilo de atenccedilatildeo agrave mulher em municiacutepio do Sul do Brasil Sauacutede e Sociedade 13(2)p89-99 maio-ago 2004 GIL A C Como Elaborar Projetos de Pesquisa 4 ed Satildeo Paulo Atlas 2009

LEONCIO LK ET AL O perfil das mulheres vitimizadas e seus agressores Rev enferm UERJ Rio de Janeiro 16(3)307-12 julset 2008 MEDINA ABC PENNA LHG Violecircncia na gestaccedilatildeo um estudo da produccedilatildeo cientiacutefica de 2000 a 2005 Esc Anna Nery 12(4)793-98 dez 2008 MENEGHEL ST INtildeIGUEZ L Contadores de histoacuterias praacuteticas discursivas e violecircncia de gecircnero Cad Sauacutede Puacuteblica Rio de Janeiro 23(8)1815-1824 ago 2007 MEYER D E Teorias e poliacuteticas de gecircnero fragmentos histoacutericos e desafios atuais Revista Brasileira de Enfermagem Brasiacutelia v57 n1 p13-8 janfev 2004

28

MINAYO M C et al Pesquisa social teoria meacutetodo criatividade Petroacutepolis Vozes 2002 MONTEIROCFS Arauacutejo TME NunesBMV LustosaAR BezerraCMJ A Violecircncia contra a mulher atendida em uma unidade de urgecircncia uma contribuiccedilatildeo da enfermagem Esc Anna Nery 10(2)273-9 ago 2006 MOTA JCMVASCONCELOS AGG ASSIS SG Anaacutelise de correspondecircncia como estrateacutegia para descriccedilatildeo do perfil da mulher viacutetima do parceiro atendida em serviccedilo especializado Ciecircncia e Sauacutede coletiva 12 (3)799890 2007 REZENDE EJC ET AL Lesotildees buco-dentais em mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia um estudo piloto de casos periciados no IML de Belo Horizonte MG Rev Bras Epidemiol 10(2) 202-14 2007 SCARANTO CAA BIAZEVICMGH MICHEL-CROSATOE Percepccedilatildeo dos Agentes Comunitaacuterios de Sauacutede sobre a Violecircncia Domeacutestica contra a Mulher Psicol ciecircnc Prof 27(4)694-705 2007 SCHRAIBER L B DOLIVEIRA A F L P Violecircncia contra mulheres interfaces com a Sauacutede Comunicaccedilatildeo Sauacutede Educaccedilatildeo v3 n5 1999 SILVA LL ET AL Violecircncia silenciosa violecircncia psicoloacutegica como condiccedilatildeo da violecircncia fiacutesica domeacutestica Interface - Comunic Sauacutede Educ v11 n21 p93-103 janabr 2007 SILVA LL ET AL Violecircncia silenciosa violecircncia psicoloacutegica como condiccedilatildeo da violecircncia fiacutesica domeacutestica Interface - Comunic Sauacutede Educ v11 n21 p93-103 janabr 2007 TAVARES F A Daacutes Laacutegrimas agrave Esperanccedila o processo de fortalecimento das mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia domeacutestica 2008 Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Serviccedilo Social Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica do Rio Grande do Sul Porto Alegre 2008 VIEIRAMEET AL Conhecimento e atitudes dos profissionais de sauacutede em relaccedilatildeo agrave violecircncia de gecircnero Rev Bras Epidemiol 12(4) 566-77 2009 WILHEL FA TONET J Percepccedilatildeo sobre a violecircncia domeacutestica na perspectiva de mulheres vitimadas Psicol Argum Curitiba 25 (51)401-412 outdez 2007

29

ANEXO 1 - Quadro analiacutetico ndash Violecircncia domestica contra a mulher e sauacutede publica ndash 2000-2009

Titulo Revista

Origem Subaacuterea de

conhecimento

Tipo Natureza Ano de

publicaccedilatildeo

Regiatildeo da

pesquisa

Violecircncia contra a mulher anaacutelise de casos atendidos em serviccedilo de atenccedilatildeo agrave mulher em municiacutepio do sul do Brasil Rev Sauacutede e Sociedade v13 n2 p89-99 maio-ago 2004

GALVAtildeOFEANDRADESM

Artigo Sociologia Pesquisa

investigaccedilatildeo

Qualitativo

sociocultural 2004 Regiatildeo Sul

A violecircncia contra a mulher atendida em unidade de urgecircncia uma contribuiccedilatildeo da enfermagem Esc Anna Nery R Enferm 2006 ago 10 (2) 273-9

MONTEIROCFS Arauacutejo TME NunesBMV LustosaAR BezerraCMJ

Artigo Enfermagem Pesquisa

Investigaccedilatildeo

Quantitativo

sociocultural 2006 Regiatildeo

Norte

Percepccedilatildeo dos Agentes Comunitaacuterios de Sauacutede sobre a Violecircncia Domeacutestica contra a Mulher Psicol ciecircnc prof27(4)694-705 2007

SCARANTO CAA BIAZEVICMGH MICHEL-CROSATOE

Artigo Psicologia Pesquisa

Investigaccedilatildeo

Qualitativo

sociocultural 2007 Regiatildeo Sul

Violecircncia silenciosa violecircncia psicoloacutegica como condiccedilatildeo da violecircncia fiacutesica domeacutestica

Artigo Psicologia Revisatildeo sociocultural 2007 Regiatildeo Sul

30

Interface-Comunic Sauacutede Educ v11 n21 p93-103 janabr 2007

SILVA LL ET AL

Qualitativa

Anaacutelise de correspondecircncia como estrateacutegia para descriccedilatildeo do perfil da mulher viacutetima do parceiro atendida em serviccedilo especializado Ciecircncia e Sauacutede coletiva12 (3)799890 2007

MOTA JCMVASCONCELOS AGG ASSIS SG

Artigo multiprofissional Pesquisa Qualiquanti

epidemioloacutegi

co

2007 Centro

Contadores de histoacuterias praacuteticas discursivas e violecircncia de gecircnero Cad Sauacutede Puacuteblica Rio de Janeiro 23(8)1815-1824 ago 2007

MENEGHEL ST INtildeIGUEZ L

Artigo multiprofissional Pesquisa Qualitativa

Sociocultural 2007 Regiatildeo sul

Lesotildees buccedilo-dentais em mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia um estudo piloto de casos periciados no IML de Belo Horizonte MG Rev Bras Epidemiol 2007 10(2) 202-14

REZENDE EJC ET AL

Artigo Odontologia Pesquisa

Documental

Clinico 2007 Regiatildeo

sudeste

Percepccedilatildeo sobre a violecircncia domeacutestica na perspectiva de mulheres vitimadas Psicol Argum Curitiba v 25 n 51 p 401-412 outdez 2007

WILHEL FA TONET J

Artigo Psicologia Pesquisa

qualitativa

Sociocultural 2007 Regiatildeo Sul

O perfil de mulheres vitimizadas e de seus agressores Rev enferm UERJ Rio de Janeiro 2008 julset

Artigo Enfermagem Pesquisa Sociocultural 2008 Regiatildeo

31

16(3)307-12

LEONCIO LK ET AL documental

quantitativa

sudeste

Violecircncia na gestaccedilatildeo um estudo da produccedilatildeo cientiacutefica de 2000 a 2005 Esc Anna Nery Rev Enferm 2008 dez 12 (4) 793-98

MEDINA ABC PENNA LHG

Artigo Enfermagem Pesquisa

qualitativa

Sociocultural 2008 Regiatildeo

Sudeste

Conhecimento e atitudes dos profissionais de sauacutede em relaccedilatildeo agrave violecircncia de gecircnero Rev Bras Epidemiol 2009 12(4) 566-77

VIEIRAMEET AL

Artigo Multidisciplinar Pesquisa Qualitativa

Sociocultural 2009 Regiatildeo Sudeste

Violecircncia contra a mulher percepccedilatildeo dos meacutedicos das unidades baacutesicas de sauacutede da cidade de Ribeiratildeo Preto Satildeo Paulo Interface - Comunic Saude Educ v13 n31 p287-99 outdez 2009

DE FERRANTE FG SANTOS MA VIEIRA EM

Artigo Multidisciplinar Pesquisa Qualitativa

Sociocultural 2009 Regiatildeo Sudeste

32

33

4

RESUMO

Monografia de Especializaccedilatildeo

Curso de Poacutes-Graduaccedilatildeo Lato Sensu em Gestatildeo de Organizaccedilatildeo Puacuteblica em Sauacutede

Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) Centro de Educaccedilatildeo Superior Norte

do Rio Grande do Sul (CESNORS)

TENDEcircNCIA DAS PESQUISAS SOBRE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA CONTRA AS

MULHERES ENTRE OS ANOS DE 2000- 2009 NO BRASIL

AUTORA Claudia Fernanda Grun ORIENTADORA Fernanda Beheregray Cabral

Data e Local da Defesa Trecircs de Maio 2 de julho de 2011

A violecircncia contra a mulher eacute um fenocircmeno mundial complexo que tem

ganhado maior visibilidade social nos uacuteltimos anos sendo considerada como

problema de sauacutede publica Trata-se de uma pesquisa bibliograacutefica cujos dados

foram coletados mediante consulta na Biblioteca Virtual de Sauacutede ndash BVSBireme

nas bases de dados da Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciecircncias da

Sauacutede (LILACS) e Scientific Eletronic Library On line (SCIELO) O objetivo da

pesquisa foi conhecer o que a literatura especializada em sauacutede dos uacuteltimos dez

anos disponiacutevel on line traz a respeito da violecircncia domeacutestica contra a mulher no

periacuteodo de 2000 a 2009 Utilizaram-se os termos violecircncia domeacutestica contra a

mulher e sauacutede publica como descritores para o levantamento de dados os quais

foram submetidos agrave anaacutelise temaacutetica de Minayo Verificou-se que essas produccedilotildees

tecircm como foco a violecircncia domeacutestica e de gecircnero o perfil das viacutetimas que sofreram

essas violecircncias e a percepccedilatildeo destas e dos profissionais de sauacutede sobre a

temaacutetica Estudos sobre o perfil dessas mulheres revelaram que a faixa etaacuteria variou

entre 20 e 39 anos sendo que a dependecircncia econocircmica agrave renda do marido implica

na necessidade de permanecer junto ao agressor apesar das situaccedilotildees de

violecircncia Por ser um tema recente os serviccedilos de sauacutede nem sempre estatildeo

equipados e preparados para a identificaccedilatildeo de situaccedilotildees de violecircncia contra a

mulher acompanhamento e resoluccedilatildeo do problema As accedilotildees dos profissionais de

sauacutede foram caracterizadas pelo natildeo-acolhimento dessas demandas e por respostas

inadequadas agraves mesmas

Descritores Violecircncia domeacutestica contra a mulher Sauacutede publica

5

ABSTRACT

Monografia de Especializaccedilatildeo

Curso de Poacutes-Graduaccedilatildeo Lato Sensu em Gestatildeo de Organizaccedilatildeo Puacuteblica em Sauacutede

Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) Centro de Educaccedilatildeo Superior Norte

do Rio Grande do Sul (CESNORS)

RESEARCHrsquoS TENDENCY ABOUT DOMESTIC VIOLENCE AGAINST WOMEN

BETWEEN 2000 and 2009 IN BRAZIL

AUTORA Claudia Fernanda Grun ORIENTADORA Fernanda Beheregray Cabral

Data e Local da Defesa Trecircs de Maio 2 de julho de 2011

The violence against women is a complex world phenomenon that has won a

bigger social visibility in the last years being considered as a public health problem

This paper is about a bibliographic research whose data were collected by a

consultation at the Health Visual Library (ldquoBiblioteca Virtual de Sauacutede-BVSBirenerdquo)

in the database of Latin America Literature of Caribbean in Health Science (LILACS)

and Scientific Electronic Library On Line (SCIELO) The objective of the research

was to know what the health specialized literature from the last ten years available on

line brings in respect of domestic violence against women between the years 2000

and 2009 It makes use of the term domestic violence against women and public

health as descriptors for the data entry that was submitted into a thematic analyze

from Minayo It was found that these productions have as focus the domestic

violence and of gender the characteristic of the victims that suffered this violence

and the perception of them and of the health professionals about the subject Studies

about the profile of these women show up that the age group varies from 20 to 39

years old and that economic dependence and the husband income implies on the

necessity of maintaining together the aggressor besides the violence situation

Because itrsquos a recent subject the health services not always are equipped and

prepared for the identification of the violence situation against women the

attendance and the solution of the problem The actions of the health professionals

were characterized by the non-welcome of these demands and for the inadequate

answers for them

6

Descriptors Domestic violence against women Public health

7

RESUacuteMEN

Monografiacutea de Especializacioacuten

Curso de Posgrado Lato Sensu en Gestioacuten de Organizacioacuten Puacuteblica en Salud

Universidad Federal de Santa Mariacutea (UFSM) Centro de Educacioacuten Superior Norte

del Riacuteo Grande del Sur (CESNORS)

Tendencia de la investigacioacuten sobre la violencia domeacutestica contra las mujeres entre los antildeos 2000-2009 em Brasil

AUTORA Claudia Fernanda Grun

ORIENTADORA Fernanda Beheregray Cabral

Fecha y Local de la Defensa Trecircs de Maio 2 de julho de 2011

La violencia contra La mujer ES um fenoacutemeno mundial complejo que recebioacute

mayor visibilidad social em los uacuteltimos antildeos pues ES considerada como problema

de La salud publica Si refere de uma pesquisa bibliograacutefica cuyos datos colectados

em La Licteratura Latinoamericana y Caribe em Ciecircncias de La Salud (LILACS) y

Scientific Eletronic Library on line (SCIELO) El objetivo de l investigacioacuten es conocer

el que hay em la licteratura especializada em salud de los uacuteltimos diez antildeos A La

disposicioacutenon line respecto a La violecircncia domeacutestica contra La mujer em periacuteodo de

2000 hasta 2009 Si haacute utilizado los teacuterminos violencia contra La mujer e salud

puacuteblica como descriptores para um examen de datos los cuales han sido

submetidos a la anaacutelisis temaacutetica de Minayio Si haacute verificado que esas producciones

tienen como foco La violecircncia domeacutestica e de gecircnero el perfil de las viacutectimas que

han sufrido eses violecircncias y La percepcioacuten de latildes mismas y de los profisionales de

La salud sobre La temaacutetica Estuacutedios sobre el perfil de latildes mujeres han revelado que

La edad promedio haacute variado dentre 20 y 39 antildeos siendo que La dependecircncia

econocircmica al marido es de gran importacircncia de permanecer AL agresor apesarde

latildes situaciones de violecircncia Por ser um tema muy atctual los servicios de salud

poccedilo o no estaacuten equipados y preparados para La uma investigacioacuten de situaciones

de violecircncia em mujeres acompantildeamiento y resolucioacuten del problema Las acciones

de los profesionales de La salud han sido caracrezados por lo no acogimento de latildes

demandas y por respuestas inadecuadas a las mismas

8

Palabras-llaveviolencia domeacutestica contra La mujer Salud Puacuteblica

9

SUMAacuteRIO

TENDEcircNCIA DAS PESQUISAS SOBRE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA CONTRA AS

MULHERES ENTRE OS ANOS DE 2000- 2009 NO BRASIL10

INTRODUCcedilAtildeO 10

METODOLOGIA13

APRESENTACcedilAtildeO E DISCUSSAtildeO DOS RESULTADOS15

VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E DE GEcircNERO PRAacuteTICAS DISCURSIVAS16

PERFIL DAS MULHERES QUE SOFRERAM VIOLEcircNCIA18

A VIOLEcircNCIA CONTRA A MULHER NA OacuteTICA DAS VITIMAS E DOS PROFISSIONAIS

DE SAUacuteDE22

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS25

REFERENCIAS28

ANEXO 30

Anexo 1 ndash Quadro analiacutetico ndash Violecircncia domestica contra a mulher e sauacutede publica ndash 2000-2009 30

10

TENDEcircNCIA DAS PESQUISAS SOBRE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA CONTRA AS

MULHERES ENTRE OS ANOS DE 2000- 2009 NO BRASIL

INTRODUCcedilAtildeO

Ao longo da histoacuteria a conquista dos direitos humanos ndash como garantia de

justiccedila social e dignidade humana ndash fez e faz parte de um processo de consciecircncia

dos diferentes povos Respeitar os direitos humanos eacute promover a vida em

sociedade sem discriminaccedilatildeo de classe social cultura religiatildeo raccedila orientaccedilatildeo

sexual ou de qualquer outro tipo O respeito agrave integridade corporal viver a

sexualidade sem culpas medos ou discriminaccedilatildeo e viver numa famiacutelia livre de

violecircncia tambeacutem fazem parte dos direitos humanos (BRASIL 2002)

Durante muito tempo a violecircncia baseada na desigualdade de gecircnero1 foi

praticamente invisiacutevel e tolerada Atualmente a complacecircncia social em torno das

agressotildees por questotildees de poder e dominaccedilatildeo estaacute se diluindo aos poucos visto

que governos sociedade civil organizada Naccedilotildees Unidas e outras organizaccedilotildees

internacionais estatildeo se envolvendo cada vez mais com atividades voltadas agrave

promoccedilatildeo da igualdade entre os sexos e ao fim da violecircncia domeacutestica contra as

mulheres

Para Tavares (2008 p14) ldquoa violecircncia domeacutestica contra a mulher eacute fruto de

uma construccedilatildeo social que demarca espaccedilos de poder privilegiando os homens e

oprimindo as mulheresrdquo Nesta loacutegica a sociedade reproduz a desigualdade social

existente no que se refere agraves expectativas geradas sobre os comportamentos de

homens e mulheres na medida em que se espera das mulheres delicadeza

obediecircncia e subordinaccedilatildeo e responsabilizaccedilatildeo pelo cuidado com o marido e com o

lar Da mesma forma em que as mulheres estatildeo legitimadas pela cultura linguagem

e discurso ndash como cuidadoras dos filhos (CABRAL OLIVEIRA CECCIM 2008)

1 No presente estudo o termo gecircnero fundamenta-se como [] todas as formas de construccedilatildeo

social cultural e linguumliacutestica implicadas com processos que diferenciam mulheres e homens incluindo aqueles processos que produzem seus corpos distinguindo-os e nomeando-os como corpos dotados de sexo gecircnero e sexualidade (MEYER 2004 p 15)

11

Em relaccedilatildeo aos serviccedilos de sauacutede foi apenas no iniacutecio dos anos 90 que a

temaacutetica em estudo passou a fazer parte e a realizar novas accedilotildees e abordagens

para o problema da violecircncia domeacutestica contra as mulheres Camargo e Aquino

(2003) esclarecem que foi somente a partir deste momento que os serviccedilos de

sauacutede passaram a adotar poliacuteticas visando agrave identificaccedilatildeo e enfrentamento dessa

problemaacutetica mediante accedilotildees no campo da sauacutede direcionadas aos casos de

violecircncia sexual violecircncia contra as crianccedilas e outros agravos

Nesse sentido a violecircncia contra as mulheres passa a ser tema de estudo e

intervenccedilatildeo no campo da sauacutede ao mesmo tempo em que se firma

internacionalmente como questatildeo de direitos humanos

Decorridos alguns anos do relatoacuterio da OMS sobre violecircncia e sauacutede2 torna-

se conhecido para os profissionais de sauacutede o fato de que a violecircncia contra as

mulheres tem alta magnitude e relevacircncia no campo da sauacutede Tal situaccedilatildeo tem sido

evidenciada no acircmbito dos serviccedilos de sauacutede pois mulheres que

vivenciamvivenciaram situaccedilotildees de violecircncia domeacutestica e sexual utilizam esses

serviccedilos com maior frequumlecircncia por apresentam mais queixas de ordem fiacutesica

mental e ou emocional (DrsquoOliveira et al 2009)

Estudo no acircmbito da atenccedilatildeo primaacuteria constatou que a frequumlecircncia de

mulheres que relataram ter vivenciado situaccedilotildees de violecircncia domeacutestica a partir dos

18 anos foi de 214 enquanto que em serviccedilos de emergecircncia essas ocorrecircncias

variaram de 22 a 35 (DrsquoOLIVEIRA SCHRAIBER et al 2002) Tambeacutem por essa

razatildeo os serviccedilos de sauacutede satildeo importantes dispositivos para a identificaccedilatildeo e

enfrentamento dessa problemaacutetica pois sua ampla cobertura na atenccedilatildeo baacutesica

favorece a vinculaccedilatildeo dessas mulheres a uma equipe de sauacutede em um dado

territoacuterio o que favorece o acolhimento e a possibilidade de identificaccedilatildeo de

situaccedilotildees de violecircncia domeacutestica contra mulheres ainda que subjetivadas por outras

queixas de origem bioloacutegica ou ainda mediante o proacuteprio relato da vitima em um

atendimento de sauacutede (DrsquoOliveira et al 2009)

2 Desde 1996 a Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede reconhece a violecircncia como um problema de sauacutede puacuteblica

(WHO 2002)

12

Entende-se que a violecircncia domeacutestica contra as mulheres eacute um fenocircmeno

complexo que requer accedilotildees intersetoriais para aleacutem do campo juriacutedico na medida

em que eacute reconhecida como um problema de sauacutede puacuteblica Para tanto o

enfrentamento de situaccedilotildees dessa natureza requer accedilotildees no campo dos direitos

humanos e de cidadania na perspectiva da humanizaccedilatildeo e da integralidade em

sauacutede pautadas na eacutetica e no entendimento de que um viver saudaacutevel implica

tambeacutem no direito a uma vida sem violecircncia (DrsquoOliveira et al 2009)

Ante estas consideraccedilotildees este estudo teve a seguinte questatildeo norteadora ldquoo

que a literatura especializada em sauacutede dos uacuteltimos dez anos disponiacutevel on line

traz a respeito da violecircncia domestica contra a mulher no periacuteodo de 2000 a 2009rdquo

O objetivo da pesquisa foi ldquoconhecer o que a literatura especializada em sauacutede dos

uacuteltimos dez anos disponiacutevel on line traz a respeito da violecircncia domestica contra a

mulher no periacuteodo de 2000 a 2009rdquo

13

METODOLOGIA

Trata-se de uma pesquisa bibliograacutefica de natureza qualitativa que segundo

Gil (2009) eacute o estudo desenvolvido com base em material jaacute elaborado constituiacutedo

principalmente de livros e artigos Segundo Minayo (2002) ldquoa pesquisa qualitativa

trabalha com o universo de significados motivos aspiraccedilotildees crenccedilas valores e

atitudes o que corresponde a um espaccedilo mais profundo das relaccedilotildees dos

processos e dos fenocircmenos que natildeo podem ser reduzidos agrave operacionalizaccedilatildeo de

variaacuteveisrdquo

Os dados foram coletados mediante consulta na Biblioteca Virtual de Sauacutede ndash

BVSBireme nas bases de dados de dados da Literatura Latino-Americana e do

Caribe em Ciecircncias da Sauacutede (LILACS) e Scientific Eletronic Library On line

(SCIELO) Foram utilizados os termos violecircncia contra a mulher e sauacutede publica

como descritores para o levantamento de dados nos uacuteltimos dez anos Este

processo envolveu atividades de busca identificaccedilatildeo fichamento de estudos

mapeamento e anaacutelise O recorte temporal justifica-se pelo fato de que em dez

anos a prodccedilatildeo de conhecimento se renova substancialmente especialmente no

que tange ao conhecimento veiculado em miacutedias informatizadas

O levantamento bibliograacutefico foi realizado no periacuteodo de vinte e trecircs a vinte e

seis de maio de dois mil e onze cujos dados coletados atenderam aos seguintes

criteacuterios de inclusatildeo artigos cientiacuteficos disponiacuteveis na iacutentegra online e em idioma

da lingua portuguesa no periacuteodo de 2000 a 2009 com os descritores violecircncia

domeacutestica contra a mulher e sauacutede publica

Inicialmente foram encontradas noventa e trecircs (93) produccedilotildees cientiacuteficas com

o descritor violecircncia domeacutestica contra a mulher e sauacutede puacuteblica Dessas foram

selecionados vinte e oito (28) artigos cientiacuteficos que apresentavam o texto na

iacutentegra sendo que apenas quinze (15) atendiam o criteacuterio de inclusatildeo relativo ao

idioma que era a liacutengua portuguesa Dos quinze (15) artigos selecionados trecircs (3)

natildeo atenderam ao enquadre temporal pois uma datava do ano de 1999 e duas do

ano de 2010 motivo pelo qual as mesmas foram excluiacutedas totalizando doze (12)

artigos que passaram a compor o corpus dos dados a serem analisados

14

A anaacutelise dos dados se deu pela teacutecnica de anaacutelise temaacutetica de Minayo

(2002) definida como a descoberta dos nuacutecleos de sentidos que constituem uma

comunicaccedilatildeo acerca da frequumlecircncia ou da presenccedila de algum significado para o

objeto que seraacute analisado Este meacutetodo de anaacutelise eacute constituiacutedo por trecircs etapas a

preacute-anaacutelise em que ocorre a ordenaccedilatildeo dos dados obtidos a exploraccedilatildeo do

material em que os dados satildeo classificados de forma a alcanccedilar o nuacutecleo de

compreensatildeo do texto por meio da formulaccedilatildeo de categorias e o tratamento dos

resultados obtidos e interpretaccedilatildeo em que se articulam os dados apreendidos ao

referencial teoacuterico visando responder as questotildees da pesquisa

15

APRESENTACcedilAtildeO E DISCUSSAtildeO DOS RESULTADOS

Para a categorizaccedilatildeo e anaacutelise dos doze artigos cientiacuteficos selecionados foi

elaborado um quadro analiacutetico (Anexo 1) composto pelas variaacuteveis titulo origem

subaacuterea de conhecimento tipo natureza ano de publicaccedilatildeo regiatildeo da pesquisa

O mapeamento das produccedilotildees apontou a subaacuterea multiprofissional como de

maior concentraccedilatildeo na produccedilatildeo de artigos cientiacuteficos sendo que a maioria foi de

produccedilotildees socioculturais e apenas um artigo de natureza clinica se mostrando

convergente agrave aacuterea de odontologia

Com relaccedilatildeo ao tipo de pesquisa a abordagem mais utilizada foi do tipo

qualitativa Quanto ao recorte temporal adotado a primeira produccedilatildeo selecionada foi

do ano de 2004 sendo que a maior concentraccedilatildeo se deu no ano de 2007 com cinco

(5) artigos

Quanto agraves regiotildees do paiacutes em que esses artigos foram produzidos observou-

se maior concentraccedilatildeo dessas publicaccedilotildees na regiatildeo Sudeste com seis (6) artigos

cinco (5) artigos na regiatildeo Sul e apenas um (1) artigo na regiatildeo nordeste Ainda

com relaccedilatildeo agrave regionalidade desses artigos destaca-se que trecircs dos artigos

produzidos na regiatildeo sudeste do paiacutes foram desenvolvidos na cidade de Ribeiratildeo

PretoSP dos quais dois abordavam a perspectiva dos profissionais de sauacutede em

relaccedilatildeo e violecircncia domestica e o outro o perfil das vitimas de violecircncia

Do processo de anaacutelise dos achados da pesquisa emergiram trecircs categorias

sendo que os doze artigos foram categorizados em Violecircncia domeacutestica e de

gecircnero praacuteticas discursivas Perfil das mulheres que sofreram violecircncia e A violecircncia

na oacutetica dos profissionais de sauacutede

VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E DE GEcircNERO PRAacuteTICAS DISCURSIVAS

Medina e Penna (2008) em estudo bibliograacutefico que analisou quatorze (14)

produccedilotildees entre os anos de 2000 e 2005 destacaram o contexto soacutecio-cultural da

violecircncia domeacutestica no periacuteodo gestacional como um fator importante no

desenvolvimento desta no acircmbito da famiacutelia Tambeacutem ressaltam que a violecircncia

vivenciada pela gestante ainda eacute uma situaccedilatildeo de difiacutecil abordagem nas relaccedilotildees

16

pessoais e profissionais O estudo indicou ainda que mulheres que vivenciam

situaccedilotildees de violecircncia na gestaccedilatildeo se sentem coibidas em denunciar agressotildees

sofridas pelos parceiros ou familiares Da mesma forma em que evidenciou

processos de naturalizaccedilatildeo e de invisibilidade da violecircncia na gestaccedilatildeo na medida

em que muitas situaccedilotildees dessa natureza nem sempre satildeo percebidas e

reconhecidas como atos violentos pelas mulheres que a vivenciam como tambeacutem

pelos profissionais de sauacutede que as assistem

Pesquisa realizada por Silva et al (2007) que analisou os tipos de violecircncia

domeacutestica indicou que a violecircncia psicoloacutegica eacute o ponto inicial que deflagra a

violecircncia Para os autores a prevenccedilatildeo de qualquer tipo de situaccedilatildeo de violecircncia

vivida no acircmbito domeacutestico deve passar pela compreensatildeo de que estrateacutegias que

visem coibir situaccedilotildees de violecircncia psicoloacutegica implicam diretamente na minimizaccedilatildeo

dos demais tipos de violecircncias Destacam ainda que outras accedilotildees importantes

como palestras e maior discussatildeo sobre a temaacutetica em escolas de ensino

fundamental e meacutedio da rede puacuteblica e universidades que abordem a temaacutetica da

violecircncia na perspectiva dos direitos humanos bem como sobre serviccedilos de apoio

existentes e possibilidades de enfrentamento desta demanda devem ser

incentivadas

Estudo publicado por Meneghel e Intildeiguez (2007) que analisou oficina de

contadores de histoacuterias realizada no Centro Ecumecircnico de Assessoria e

Capacitaccedilatildeo de Satildeo Leopoldo (CECA-SL) a qual teve como tema gerador das

discussotildees as questotildees de gecircnero Dessas discussotildees foram escolhidas histoacuterias

para comporem essas narrativas nas quais as mulheres contavam episoacutedios de

violecircncia ligados agraves suas trajetoacuterias pessoais e afirmavam que a violecircncia de gecircnero

acontece em qualquer classe social escolaridade ou raccedila Na medida em que se

posicionavam criticamente em relaccedilatildeo ao sexismomachismo essas mulheres

afirmavam que eram obrigadas a abdicar de si mesmas natildeo podiam construir

projetos de vida mais autocircnomos devendo sempre ceder agraves vontades do homem

(maridocompanheiro) permanecendo submissas a ele Essa subordinaccedilatildeo agrave

autoridade masculina poderia ser potencializada ou minimizada na medida em que

essas mulheres dispusessem ou natildeo de acesso a informaccedilotildees que favoreccedilam o

17

entendimento de sua posiccedilatildeo como sujeito de direitos dentre os quais o de uma

vida sem violecircncia

Com base nos estudos analisados percebeu-se que a violecircncia domeacutestica

contra as mulheres envolve questotildees culturais e de gecircnero Nesse sentido a

prevenccedilatildeo ou minimizaccedilatildeo de situaccedilotildees relativas agrave violecircncia domeacutestica requer accedilotildees

intersetoriais que mobilizem os diversos segmentos da sociedade para que

conjuntamente atuem de forma proacute-ativa no enfrentamento desta problemaacutetica

Uma estrateacutegia importante seria a inclusatildeo da temaacutetica como um tema

transversal nas escolas a ser abordado natildeo apenas com alunos e professores mas

tambeacutem com as famiacutelias que integram a comunidade escolar

Para aleacutem da organizaccedilatildeo de serviccedilos para o enfrentamento da violecircncia

contra as mulheres e apoio a essas viacutetimas evidencia-se tambeacutem a necessidade de

maior qualificaccedilatildeo sobre a temaacutetica de profissionais que atuam no campo da sauacutede

e do serviccedilo social para que possam atender esta demanda com eacutetica competecircncia

e de forma mais humanizada Atuaccedilatildeo esta pautada em valores societaacuterios em que

homens e mulheres tenham os mesmos direitos de cidadania buscando a

superaccedilatildeo de todas as formas de violecircncia preconceitos discriminaccedilotildees e

desigualdades

18

PERFIL DAS MULHERES QUE SOFRERAM VIOLEcircNCIA

A maioria das produccedilotildees traccedilou o perfil das mulheres vitimas de violecircncia

domeacutestica que procuram atendimento em serviccedilos de sauacutede tendo como variaacuteveis a

faixa etaacuteria profissatildeo estado civil escolaridade dentre outros

Galvatildeo e Andrade (2004) pesquisaram o perfil de mulheres em situaccedilatildeo de

violecircncia atendidas em um Centro de Atendimento agrave Mulher (CAM) em Londrina

Paranaacute a partir de informaccedilotildees extraiacutedas das fichas desses atendimentos A faixa

etaacuteria que predominou entre as mulheres atendidas no CAM foi agrave de 30 a 39 anos

seguida da faixa etaacuteria de 20 a 29 anos sendo que a meacutedia de idade foi de 34 anos

Com relaccedilatildeo ao estado civil 472 das mulheres declararam-se casadas 266

dos casos as mulheres que conviviam com um companheiro fixo numa relaccedilatildeo

consensual e 54 possuem um ou dois filhos Quanto agrave escolaridade 581 dessas

mulheres natildeo concluiacuteram o ensino fundamental 128 concluiacuteram o ensino meacutedio e

a taxa de analfabetismo foi de 21 sendo que 558 desenvolvia algum tipo de

trabalho remunerado Os principais agressores satildeo os atuais maridos ou

companheiros das mulheres (734) e quase a totalidade dos casos (974)

ocorreu no ambiente domeacutestico Quanto agrave caracterizaccedilatildeo dos casos de violecircncia

prevalece a violecircncia emocional com 564 dos casos seguida pela violecircncia fiacutesica

com 321 Quanto ao tempo em que vivenciam situaccedilotildees de violecircncia 33 das

mulheres vecircm sofrendo agressotildees por periacuteodos de ateacute um ano e 204 dos casos

refere-se a mulheres que sofrem agressotildees haacute mais de 10 anos

Estudo realizado por Monteiro et al (2006) sobre o perfil de mulheres que

sofreram violecircncia atendidas em uma unidade de urgecircncia em Teresina Piauiacute

indicou que 78 encontrava-se na faixa etaacuteria entre 18 e 40 anos e que 40 delas

natildeo trabalhavam fora de casa desempenhando exclusivamente as tarefas

domeacutesticas relativas ao cuidado coma casa e filhos As agressotildees nos membros

superiores ocorreram com maior frequumlecircncia (44) seguida das agressotildees na face

(33) Revelou ainda que a maioria dessas mulheres natildeo relatou os motivos pelos

quais foram agredidas ainda que o aacutelcool tenha sido apontado em 19 dos casos

como o principal motivo desencadeador das agressotildees seguido do ciuacutemes

Tambeacutem haacute um grande nuacutemero de subnotificaccedilatildeo em relaccedilatildeo ao agressor (80)

19

possivelmente em funccedilatildeo da dependecircncia econocircmica e por medo de vinganccedila do

companheiro Quanto agraves condutas adotadas pelos profissionais de sauacutede a grande

maioria (83) limita-se ao atendimento de queixas de menor complexidade como

aquelas que exigiram sutura simples ou consulta meacutedica Recomendam ainda que o

apoio as viacutetimas de violecircncia deve ter iniacutecio no serviccedilo de urgecircncia de forma

articulada com outros serviccedilos que tratam da mesma questatildeo como as Delegacias

Especiais de Atendimento agrave Mulher (DEAM) os Conselhos de Direitos da Mulher

Abrigos e outras instituiccedilotildees

Mota Vasconcelos e Assis (2007) analisaram as informaccedilotildees das fichas de

atendimento de um centro especializado no atendimento a mulheres viacutetimas de

violecircncia no municiacutepio do Rio de Janeiro totalizando 684 fichas de atendimento

dessas mulheres Dessa anaacutelise os autores traccedilaram o perfil dessas mulheres as

quais apresentaram idade meacutedia de 37 anos Para os autores o baixo status

econocircmico a baixa escolaridade e consequumlentemente o acesso agrave informaccedilatildeo

podem ter sido condiccedilotildees facilitadoras para a ocorrecircncia de situaccedilotildees de violecircncia

domeacutestica contra mulheres pelo cocircnjuge na populaccedilatildeo analisada Por outro lado as

agressotildees fiacutesicas mais graves que ocorreram com mulheres que possuiacuteam maior

niacutevel de escolaridade podem ter sido potencializadas pelo fato de as mesmas natildeo

terem aceitado essa violecircncia de modo passivo implicando em um conflito ainda

maior e em agressotildees fiacutesicas mais graves O estudo evidenciou ainda que a

violecircncia domeacutestica contra a mulher envolve questotildees culturais e de gecircnero com

implicaccedilotildees nas questotildees relativas agrave conjugalidade Assim a violecircncia domeacutestica

contra a mulher estaacute vinculada ao tradicional controle masculino baseado no papel

de provedor cuja desigualdade de gecircnero potencializa conflitos e colabora para a

ocorrecircncia de situaccedilotildees de violecircncia de ordem fiacutesica psicoloacutegica ou moral

Pesquisa retrospectiva e documental desenvolvida por Leonsio et al (2008)

analisou 446 boletins de ocorrecircncia em uma Delegacia de Defesa da Mulher em

Ribeiratildeo Preto Satildeo Paulo Em seus resultados os autores destacaram que 3408 das

mulheres estavam em faixa etaacuteria acima de 35 anos 7578 eram da raccedila branca e

4417 delas eram solteiras Quanto agrave ocupaccedilatildeo 5874 dessas mulheres

exerciam algum tipo de trabalho remunerado formal ou informal e 3722 possuiacuteam

o ensino fundamental completo Outro aspecto importante evidenciado pelo estudo foi

20

que 5471 das mulheres agredidas demoraram de 1 a 15 dias entre a agressatildeo e o tempo

da denuacutencia formal e 4215 registraram a ocorrecircncia no mesmo dia na delegacia Em

7691 dos casos o ambiente domeacutestico foi o local em que essas agressotildees ocorreram

Quanto ao agressor foi observado nos boletins de ocorrecircncia investigados que em 4910

dos casos os parceiros foram os principais denunciados seguidos de ex-parceiros com

1816 das ocorrecircncias Dentre os motivos desencadeantes da agressatildeo 4462

corresponderam agrave recusa da separaccedilatildeo conjugal 1435 ciuacutemes e 1996 por outros

motivos como bebidasdrogas

Estudo realizado por Resende et al (2007) analisou registros e laudos

encaminhados ao setor de Odontologia do IML de Belo Horizonte sobre as lesotildees

bucomaxilares sofridas por mulheres vitimas de violecircncia domeacutestica A faixa etaacuteria

predominante das mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia foi de 20 a 39 anos

representando 704 do total sendo a idade meacutedia correspondente a 303 anos

Quanto agrave ocupaccedilatildeo 241 das mulheres realizavam trabalhos domeacutesticos 213

se intitulavam ldquodonas-de-casardquo e 14 trabalhavam no comeacutercio A maioria das

mulheres que sofreu agressotildees declarou-se solteira perfazendo um total de 63

enquanto que o percentual de casadas foi menor correspondendo apenas 204

Foi constatado o elevado percentual de 611 dos casos em que o agressor natildeo foi

identificado (611) em 25 o sujeito agressor foi o companheiro em 37 foram

familiares e em 74 foram conhecidos perfazendo um total de 361 contra 28

de violecircncia realizada por estranhos

A complexidade da problemaacutetica da violecircncia domeacutestica contra as mulheres

tem implicaccedilotildees em questotildees culturais e de gecircnero vinculada a construccedilatildeo social

de papeacuteis desiguais entre homens e mulheres que potencializa conflitos e colabora

para a ocorrecircncia de situaccedilotildees de violecircncia de ordem fiacutesica psicoloacutegica ou moral

Ainda nesse sentido costuma ser difiacutecil para a maioria das mulheres tomarem a

atitude de denunciar seus companheiros agressores e romper com a situaccedilatildeo de

violecircncia principalmente em funccedilatildeo do medo de vinganccedila e da dependecircncia

econocircmica agrave renda do marido

21

A VIOLEcircNCIA CONTRA A MULHER NA OacuteTICA DAS VITIMAS E DOS

PROFISSIONAIS DE SAUacuteDE

Estudo desenvolvido por Vieira et al (2009) sobre o conhecimento e atitudes

dos profissionais de sauacutede em relaccedilatildeo agrave violecircncia de gecircnero destaca a importacircncia

do atendimento de mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia nos serviccedilos de sauacutede jaacute que

este eacute muitas vezes o uacutenico local procurado pelas viacutetimas A maioria dos

profissionais que participou do estudo demonstrou bom conhecimento sobre a

definiccedilatildeo de violecircncia contra a mulher aleacutem de reconhecer como seu papel

profissional perguntar sobre violecircncia para as pacientes Indicou ainda que esses

profissionais acreditam que para uma melhor atenccedilatildeo agrave violecircncia deveria ser

implantado em sua rotina de trabalho um protocolo de enfrentamento da violecircncia

Os autores tambeacutem evidenciaram a necessidade maiores investimentos na

capacitaccedilatildeo e qualificaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede que devem estar aptos para

reconhecer e manejar os casos de violecircncia

Pesquisa realizada por De Ferrant Santos e Vieira (2009) sobre a percepccedilatildeo

dos meacutedicos de uma unidade baacutesica de Ribeiratildeo Preto Satildeo Paulo em relaccedilatildeo agrave

violecircncia domeacutestica contra a mulher revelou que a maior parte deles acredita que a

violecircncia psicoloacutegica eacute a mais grave pois a proacutepria mulher apresenta dificuldade em

reconhececirc-la como algo prejudicial agrave sua sauacutede a ponto de frequentemente

permanecer exposta agrave situaccedilatildeo durante anos a fio Os resultados indicam que os

meacutedicos detecircm alguns conhecimentos acerca dos tipos de violecircncia de gecircnero e satildeo

capazes de identificar e muitas vezes acolher as mulheres que estatildeo expostas agrave

situaccedilatildeo Contudo destacam uma seacuterie de dificuldades para atuarem frente a uma

usuaacuteria que apresenta essa problemaacutetica e reconhecem a falta de capacitaccedilatildeo

profissional uma vez que muitos deles reforccedilam a necessidade de um treinamento

voltado especificamente para os casos de violecircncia de gecircnero Da mesma forma que

apontam outras barreiras pessoais e institucionais que limitam sua atuaccedilatildeo tanto

em niacutevel preventivo como interventivo que muitas vezes os impedem de agir

adequadamente frente a uma situaccedilatildeo de violecircncia Entre elas destacam-se os

meacutedicos sentem-se impotentes frente agraves atitudes que a mulher possa vir a tomar

mesmo depois de orientada afirmam que temem tomar qualquer atitude por medo

22

da reaccedilatildeo do agressor Os autores sugerem a necessidade de um trabalho integrado

e em rede que ofereccedila uma resposta efetiva para o problema da violecircncia de

gecircnero Aleacutem disso eacute preciso investir na qualificaccedilatildeo dos outros profissionais de

sauacutede aleacutem dos meacutedicos para que se viabilize um atendimento multidisciplinar

para que os serviccedilos de sauacutede se constituam em espaccedilos de acolhimento e apoio

integrando-se efetivamente agrave rede de atendimento

Wilhelm e Tonet (2007) em seu estudo sobre a percepccedilatildeo de mulheres que

sofreram violecircncia domeacutestica em um municiacutepio do interior de Santa Catarina indicou

a ocorrecircncia de depressatildeo ansiedade medo e sentimento de baixa auto-estima Na

oacutetica dessas mulheres parte das agressotildees acontece somente no momento em que

seus companheiros estatildeo alcoolizados Aleacutem da violecircncia fiacutesica (tais como socos

arranhotildees puxotildees de cabelo arremesso de objetos chutes tapas e beliscotildees)

ocorrem as humilhaccedilotildees e a desqualificaccedilatildeo sendo ridicularizadas perante os

amigos do agressor sua famiacutelia e desautorizada perante os filhos Quanto ao

comportamento violento do companheiro este eacute justificado por fatores externos

deste modo desresponsabilizando-o como por exemplo as dificuldades

financeiras desemprego e uso de drogas dentre outros Muitos satildeo os motivos

pelos quais a mulher natildeo denuncia seu marido agressor passando a viver muitos

anos neste contexto de violecircncia dentre os quais destaca-se dependecircncia

financeira filhos fator cultural e ameaccedilas Da mesma forma todas demonstraram a

esperanccedila de que o companheiro mudasse em relaccedilatildeo ao seu comportamento

violento Aleacutem de poliacuteticas puacuteblicas mais efetivas par ao enfrentamento da violecircncia

domeacutestica Eacute necessaacuterio promover poliacuteticas puacuteblicas mais efetivas em relaccedilatildeo ao

enfrentamento da violecircncia domeacutestica bem como maiores investimentos em redes

de apoio social efetiva para a mulher e seus filhos as quais muitas vezes estatildeo

subjugadas ao seu agressor devido agrave dependecircncia econocircmica Em relaccedilatildeo a este eacute

importante promover grupos de homens com a finalidade de propiciar a discussatildeo

sobre violecircncia relaccedilotildees e gecircnero e formas alternativas de resoluccedilatildeo de conflitos

Estudo de Scaranto Biazevic e Michel (2007) sobre a percepccedilatildeo dos Agentes

Comunitaacuterios de Sauacutede (ACS) sobre a Violecircncia Domeacutestica contra a Mulher em um

municiacutepio do interior do Rio Grande do Sul identificou relatos de situaccedilotildees de

violecircncia domeacutestica contra a mulher cometida por seu companheiro seja fiacutesica

23

sexual psicoloacutegica ou econocircmica A obediecircncia aos maridoscompanheiros vai

desde o cuidado pessoal ateacute o desempenho sexual A vergonha pela violecircncia

sofrida eacute infinitamente maior do que a coragem da mulher para denunciar

Constatou-se que o ACS pode ser o elo entre a vergonha e a coragem para a

mulher denunciar o problema da violecircncia o que significa que ele parece ser de

fundamental importacircncia no acolhimento das anguacutestias dessas mulheres no

encorajamento para o relato de sofrimento na detecccedilatildeo da questatildeo da violecircncia

que pode estar acompanhada pela depressatildeo ansiedade ou ateacute mascarada por

algum tipo de queixa vaga e em consequumlecircncia fazer o encaminhamento de

referecircncia correto e eficiente na denuacutencia Eacute preciso dar subsiacutedios teoacuterico-praacuteticos

aos profissionais para que em seu trabalho cotidiano possam detectar situaccedilotildees de

violecircncia encontrar a forma de abordar as famiacutelias e dar encaminhamento tanto aos

casos de violecircncia quanto de uso de aacutelcooldrogas A violecircncia contra a mulher deve

ser considerada como questatildeo de sauacutede puacuteblica a partir do conceito ampliado de

sauacutede motivo pelo qual necessita ser alvo de poliacuteticas puacuteblicas efetivas e

consistentes assim como mecanismos de proteccedilatildeo agrave mulher viacutetima de violecircncia

tambeacutem precisam ser criados

Com base nos artigos analisados constatou-se que muitos profissionais tecircm

dificuldades em reconhecer a violecircncia como um problema de sauacutede devido agrave falta

de subsiacutedios teoacuterico-praacuteticos para a detecccedilatildeo de situaccedilotildees de violecircncia abordagem

adequada agraves viacutetimas e os devidos encaminhamentos para o atendimento desta

demanda

24

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Este estudo teve se propocircs a conhecer o que a literatura especializada em

sauacutede dos uacuteltimos dez anos disponiacutevel on line traz a respeito da violecircncia

domestica contra a mulher no periacuteodo de 2000 a 2009

Com base nos artigos analisados percebe-se que o baixo status econocircmico

o niacutevel de instruccedilatildeo e consequumlentemente o acesso agrave informaccedilatildeo podem ser

considerados como condiccedilotildees facilitadoras para a ocorrecircncia de situaccedilotildees de

violecircncia domeacutestica

Em muitos casos a dependecircncia econocircmica da mulher agrave renda do marido

impotildee a necessidade desta em ter de permanecer com ele mesmo diante de

situaccedilotildees de violecircncia

De modo geral os estudos analisadas indicaram os maridos ou companheiros

atuais das mulheres ou ainda seus ex-companheiros como os principais

agressores sendo o ambiente domeacutestico o local predominate destas agressotildees

Outro aspecto evidenciado nos achados desta pesquisa se refere ao fato de

que a maioria dessas mulheres natildeo relatou os motivos pelos quais foram agredidas

ainda que o aacutelcool tenha sido apontado como o principal motivo desencadeador das

agressotildees seguido do sentimento de ciuacutemes Tambeacutem se verificou o grande

nuacutemero de sub-notificaccedilatildeo dos casos de violecircncia contra as mulheres Assim infere-

se que possivelmente isto ocorra em funccedilatildeo da dependecircncia econocircmica e por

medo de vinganccedila

A natureza soacutecio-cultural e a subaacuterea multiprofissional prevalente nas

produccedilotildees analisadas evidenciaram a multiplicidade de aspectos relevantes a

temaacutetica da violecircncia como um complexo problema de sauacutede puacuteblica sinalizando

para a urgecircncia de um movimento reflexivo seja no acircmbito da formaccedilatildeo de

profissionais de sauacutede seja na praacutetica profissional para o enfrentamento desta

questatildeo

Destaca-se a importacircncia de pesquisa bibliograacuteficas para a sistematizaccedilatildeo

das produccedilotildees cientiacuteficas nacionais na temaacutetica violecircncia domestica contra a mulher

para o (re)conhecimento do estado da arte sobre a temaacutetica em anaacutelise fato este

25

fundamental para subsidiar futuras intervenccedilotildees no acircmbito das praacuteticas e serviccedilos

de sauacutede e da accedilatildeo social

A complexidade que envolve as questotildees relativas agrave violecircncia contra a mulher

exige accedilotildees capazes de dar conta das inuacutemeras demandas apresentadas o que

implica na articulaccedilatildeo entre as diferentes aacutereas de conhecimento e de atuaccedilatildeo

multiprofissional

Nessa loacutegica faz-se necessaacuterio maior investimento na qualificaccedilatildeo de

profissionais de sauacutede do serviccedilo social do direito entre outros para o

reconhecimento e identificaccedilatildeo dos sinais que possam indicar situaccedilotildees de violecircncia

contra as mulheres visando o acolhimento das mesmas natildeo apenas nos serviccedilos de

sauacutede mas em outros setores da sociedade Da mesma forma a criaccedilatildeo e

organizaccedilatildeo de serviccedilos multiprofissionais de atendimento agraves mulheres em situaccedilatildeo

de violecircncia para seu devido enfrentamento de modo que os mesmos estejam

articulados na loacutegica da intersetorialidade com os campos da sauacutede do serviccedilo

social e do direito no desenvolvimento de accedilotildees preventivas e assistenciais na

perspectiva da atenccedilatildeo integral agraves mulheres

Para aleacutem da organizaccedilatildeo de serviccedilos para o enfrentamento da violecircncia

contra as mulheres e apoio a essas viacutetimas evidencia-se tambeacutem a urgecircncia de

maior qualificaccedilatildeo sobre a temaacutetica de profissionais que atuam nesses campos para

que possam atender demandas dessa natureza de modo mais solidaacuterio

respeitando-se as subjetividades e singularidades implicadas nessas situaccedilotildees

Os Assistentes Sociais tecircm atuado como mediadores proporcionando a

escolha para as mulheres do que melhor lhes conveacutem Tal direcionamento vai ao

encontro da proposta aqui formulada na qual considera o profissional como sendo

um facilitador que em nome de valores como liberdade individual independecircncia e

autonomia fornece suporte ao processo de fortalecimento destas usuaacuterias ou seja

eacute o profissional que vecirc aleacutem do aparente (TAVARES 2008)

Sabe-se que jaacute existem leis especiacuteficas para o enfrentamento da violecircncia

contra as mulheres poreacutem ainda eacute preciso que as mesmas sejam incorporadas pela

sociedade como cultura poliacutetica para que accedilotildees mais efetivas sejam de fato

implementadas

26

Como estrateacutegia para a ampliaccedilatildeo do escopo das praacuteticas dessa natureza no

acircmbito das poliacuteticas puacuteblicas destaca-se a criaccedilatildeo de accedilotildees intersetoriais com

movimentos organizados de mulheres organizaccedilotildees governamentais e natildeo

governamentais de defesa aos direitos das mulheres serviccedilos de sauacutede e da accedilatildeo

social delegacias de policia organizaccedilotildees de bairros escolas dentre outros

segmentos sociais

Outra importante accedilatildeo se refere agrave incorporaccedilatildeo das questotildees relativas agrave

violecircncia e mais especificamente contra as mulheres foco deste estudo como um

tema transversal nas escolas o qual deve ser abordado natildeo apenas com alunos e

professores mas tambeacutem com as famiacutelias que integram a comunidade escolar

Para tanto a interlocuccedilatildeo do Serviccedilo Social com essa questatildeo se faz

necessaacuteria uma vez que a violecircncia domestica eacute um fenocircmeno social e portanto

deve ser enfrentada mediante o conjunto de estrateacutegias poliacuteticas e de intervenccedilatildeo

social direta

Desde esta perspectiva os profissionais do Serviccedilo Social devem intervir

diretamente na realidade social dos sujeitos tendo como pressuposto de atuaccedilatildeo a

articulaccedilatildeo do trabalho em redes promovendo a co-participaccedilatildeo e co-

responsabilizaccedilatildeo dos atores envolvidos nessa problemaacutetica desde a tomada de

decisotildees ateacute os encaminhamentos que se fizerem necessaacuterios para o enfrentamento

positivo e superaccedilatildeo de situaccedilotildees de violecircncia contra as mulheres

A partir de accedilotildees mais efetivas e da conscientizaccedilatildeo dos atores sociais de

que a violecircncia eacute hoje um problema de relevacircncia mundial e de sauacutede puacuteblica no

cenaacuterio brasileiro almeja-se a detecccedilatildeo precoce de situaccedilotildees de violecircncia

abordagem adequada e qualificada agraves viacutetimas e os devidos encaminhamento para o

atendimento desta demanda com eacutetica competecircncia e de forma mais humanizada

Atuaccedilatildeo esta pautada em valores societaacuterios em que homens e mulheres tenham

os mesmos direitos de cidadania buscando a superaccedilatildeo de todas as formas de

violecircncia preconceitos discriminaccedilotildees e desigualdades

27

REFEREcircNCIAS

BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Violecircncia intrafamiliar orientaccedilotildees para a praacutetica em serviccedilos Cadernos de Atenccedilatildeo Baacutesica n 8 BrasiacuteliaDF 2002 CABRAL F B OLIVEIRA D LL C de CECCIM R B O puerpeacuterio e a sauacutede da mulher vulnerabilidade e atenccedilatildeo baacutesica agrave sauacutede In Ensino e atenccedilatildeo agrave sauacutede da mulher aprendizados da integraccedilatildeo da educaccedilatildeo superior com a rede assistencial edCaxias do Sul EDUCS Editora da Universidade de Caxias do Sul 2008 p 137-157 CAMARGO M AQUINO S de (2003) Redes de cidadania e parcerias- Enfrentando a rota criacutetica Secretaria Especial de Poliacuteticas para as Mulheres Programa de prevenccedilatildeo assistecircncia e combate agrave violecircncia contra a mulher- plano nacional Brasiacutelia 2003 DrsquoOLIVEIRA A F SCHRAIBER L B Violecircncia Contra a Mulher a pesquisa e a intervenccedilatildeo Revista Promoccedilatildeo da Sauacutede n 6 80- 8 2002 DE FERRANTE FG SANTOS MA VIEIRA EM Violecircncia contra a mulher percepccedilatildeo dos meacutedicos das unidades baacutesicas de sauacutede da cidade de Ribeiratildeo Preto Satildeo Paulo Satildeo Paulo Interface - Comunic Saude Educ 13(31)287-99 outdez 2009

DOLIVEIRA AFPL SCHREIBER LB HANADA H DURANDJ Atenccedilatildeo integral agrave sauacutede de mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia de gecircnero ndash uma alternativa para a atenccedilatildeo primaacuteria em sauacutede Rio de Janeiro Ciecircnc Sauacutede Coletiva 14(4) julhoago 2009

GALVAtildeOFEANDRADESM Violecircncia contra a mulher anaacutelise de casos atendidos em serviccedilo de atenccedilatildeo agrave mulher em municiacutepio do Sul do Brasil Sauacutede e Sociedade 13(2)p89-99 maio-ago 2004 GIL A C Como Elaborar Projetos de Pesquisa 4 ed Satildeo Paulo Atlas 2009

LEONCIO LK ET AL O perfil das mulheres vitimizadas e seus agressores Rev enferm UERJ Rio de Janeiro 16(3)307-12 julset 2008 MEDINA ABC PENNA LHG Violecircncia na gestaccedilatildeo um estudo da produccedilatildeo cientiacutefica de 2000 a 2005 Esc Anna Nery 12(4)793-98 dez 2008 MENEGHEL ST INtildeIGUEZ L Contadores de histoacuterias praacuteticas discursivas e violecircncia de gecircnero Cad Sauacutede Puacuteblica Rio de Janeiro 23(8)1815-1824 ago 2007 MEYER D E Teorias e poliacuteticas de gecircnero fragmentos histoacutericos e desafios atuais Revista Brasileira de Enfermagem Brasiacutelia v57 n1 p13-8 janfev 2004

28

MINAYO M C et al Pesquisa social teoria meacutetodo criatividade Petroacutepolis Vozes 2002 MONTEIROCFS Arauacutejo TME NunesBMV LustosaAR BezerraCMJ A Violecircncia contra a mulher atendida em uma unidade de urgecircncia uma contribuiccedilatildeo da enfermagem Esc Anna Nery 10(2)273-9 ago 2006 MOTA JCMVASCONCELOS AGG ASSIS SG Anaacutelise de correspondecircncia como estrateacutegia para descriccedilatildeo do perfil da mulher viacutetima do parceiro atendida em serviccedilo especializado Ciecircncia e Sauacutede coletiva 12 (3)799890 2007 REZENDE EJC ET AL Lesotildees buco-dentais em mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia um estudo piloto de casos periciados no IML de Belo Horizonte MG Rev Bras Epidemiol 10(2) 202-14 2007 SCARANTO CAA BIAZEVICMGH MICHEL-CROSATOE Percepccedilatildeo dos Agentes Comunitaacuterios de Sauacutede sobre a Violecircncia Domeacutestica contra a Mulher Psicol ciecircnc Prof 27(4)694-705 2007 SCHRAIBER L B DOLIVEIRA A F L P Violecircncia contra mulheres interfaces com a Sauacutede Comunicaccedilatildeo Sauacutede Educaccedilatildeo v3 n5 1999 SILVA LL ET AL Violecircncia silenciosa violecircncia psicoloacutegica como condiccedilatildeo da violecircncia fiacutesica domeacutestica Interface - Comunic Sauacutede Educ v11 n21 p93-103 janabr 2007 SILVA LL ET AL Violecircncia silenciosa violecircncia psicoloacutegica como condiccedilatildeo da violecircncia fiacutesica domeacutestica Interface - Comunic Sauacutede Educ v11 n21 p93-103 janabr 2007 TAVARES F A Daacutes Laacutegrimas agrave Esperanccedila o processo de fortalecimento das mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia domeacutestica 2008 Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Serviccedilo Social Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica do Rio Grande do Sul Porto Alegre 2008 VIEIRAMEET AL Conhecimento e atitudes dos profissionais de sauacutede em relaccedilatildeo agrave violecircncia de gecircnero Rev Bras Epidemiol 12(4) 566-77 2009 WILHEL FA TONET J Percepccedilatildeo sobre a violecircncia domeacutestica na perspectiva de mulheres vitimadas Psicol Argum Curitiba 25 (51)401-412 outdez 2007

29

ANEXO 1 - Quadro analiacutetico ndash Violecircncia domestica contra a mulher e sauacutede publica ndash 2000-2009

Titulo Revista

Origem Subaacuterea de

conhecimento

Tipo Natureza Ano de

publicaccedilatildeo

Regiatildeo da

pesquisa

Violecircncia contra a mulher anaacutelise de casos atendidos em serviccedilo de atenccedilatildeo agrave mulher em municiacutepio do sul do Brasil Rev Sauacutede e Sociedade v13 n2 p89-99 maio-ago 2004

GALVAtildeOFEANDRADESM

Artigo Sociologia Pesquisa

investigaccedilatildeo

Qualitativo

sociocultural 2004 Regiatildeo Sul

A violecircncia contra a mulher atendida em unidade de urgecircncia uma contribuiccedilatildeo da enfermagem Esc Anna Nery R Enferm 2006 ago 10 (2) 273-9

MONTEIROCFS Arauacutejo TME NunesBMV LustosaAR BezerraCMJ

Artigo Enfermagem Pesquisa

Investigaccedilatildeo

Quantitativo

sociocultural 2006 Regiatildeo

Norte

Percepccedilatildeo dos Agentes Comunitaacuterios de Sauacutede sobre a Violecircncia Domeacutestica contra a Mulher Psicol ciecircnc prof27(4)694-705 2007

SCARANTO CAA BIAZEVICMGH MICHEL-CROSATOE

Artigo Psicologia Pesquisa

Investigaccedilatildeo

Qualitativo

sociocultural 2007 Regiatildeo Sul

Violecircncia silenciosa violecircncia psicoloacutegica como condiccedilatildeo da violecircncia fiacutesica domeacutestica

Artigo Psicologia Revisatildeo sociocultural 2007 Regiatildeo Sul

30

Interface-Comunic Sauacutede Educ v11 n21 p93-103 janabr 2007

SILVA LL ET AL

Qualitativa

Anaacutelise de correspondecircncia como estrateacutegia para descriccedilatildeo do perfil da mulher viacutetima do parceiro atendida em serviccedilo especializado Ciecircncia e Sauacutede coletiva12 (3)799890 2007

MOTA JCMVASCONCELOS AGG ASSIS SG

Artigo multiprofissional Pesquisa Qualiquanti

epidemioloacutegi

co

2007 Centro

Contadores de histoacuterias praacuteticas discursivas e violecircncia de gecircnero Cad Sauacutede Puacuteblica Rio de Janeiro 23(8)1815-1824 ago 2007

MENEGHEL ST INtildeIGUEZ L

Artigo multiprofissional Pesquisa Qualitativa

Sociocultural 2007 Regiatildeo sul

Lesotildees buccedilo-dentais em mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia um estudo piloto de casos periciados no IML de Belo Horizonte MG Rev Bras Epidemiol 2007 10(2) 202-14

REZENDE EJC ET AL

Artigo Odontologia Pesquisa

Documental

Clinico 2007 Regiatildeo

sudeste

Percepccedilatildeo sobre a violecircncia domeacutestica na perspectiva de mulheres vitimadas Psicol Argum Curitiba v 25 n 51 p 401-412 outdez 2007

WILHEL FA TONET J

Artigo Psicologia Pesquisa

qualitativa

Sociocultural 2007 Regiatildeo Sul

O perfil de mulheres vitimizadas e de seus agressores Rev enferm UERJ Rio de Janeiro 2008 julset

Artigo Enfermagem Pesquisa Sociocultural 2008 Regiatildeo

31

16(3)307-12

LEONCIO LK ET AL documental

quantitativa

sudeste

Violecircncia na gestaccedilatildeo um estudo da produccedilatildeo cientiacutefica de 2000 a 2005 Esc Anna Nery Rev Enferm 2008 dez 12 (4) 793-98

MEDINA ABC PENNA LHG

Artigo Enfermagem Pesquisa

qualitativa

Sociocultural 2008 Regiatildeo

Sudeste

Conhecimento e atitudes dos profissionais de sauacutede em relaccedilatildeo agrave violecircncia de gecircnero Rev Bras Epidemiol 2009 12(4) 566-77

VIEIRAMEET AL

Artigo Multidisciplinar Pesquisa Qualitativa

Sociocultural 2009 Regiatildeo Sudeste

Violecircncia contra a mulher percepccedilatildeo dos meacutedicos das unidades baacutesicas de sauacutede da cidade de Ribeiratildeo Preto Satildeo Paulo Interface - Comunic Saude Educ v13 n31 p287-99 outdez 2009

DE FERRANTE FG SANTOS MA VIEIRA EM

Artigo Multidisciplinar Pesquisa Qualitativa

Sociocultural 2009 Regiatildeo Sudeste

32

33

5

ABSTRACT

Monografia de Especializaccedilatildeo

Curso de Poacutes-Graduaccedilatildeo Lato Sensu em Gestatildeo de Organizaccedilatildeo Puacuteblica em Sauacutede

Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) Centro de Educaccedilatildeo Superior Norte

do Rio Grande do Sul (CESNORS)

RESEARCHrsquoS TENDENCY ABOUT DOMESTIC VIOLENCE AGAINST WOMEN

BETWEEN 2000 and 2009 IN BRAZIL

AUTORA Claudia Fernanda Grun ORIENTADORA Fernanda Beheregray Cabral

Data e Local da Defesa Trecircs de Maio 2 de julho de 2011

The violence against women is a complex world phenomenon that has won a

bigger social visibility in the last years being considered as a public health problem

This paper is about a bibliographic research whose data were collected by a

consultation at the Health Visual Library (ldquoBiblioteca Virtual de Sauacutede-BVSBirenerdquo)

in the database of Latin America Literature of Caribbean in Health Science (LILACS)

and Scientific Electronic Library On Line (SCIELO) The objective of the research

was to know what the health specialized literature from the last ten years available on

line brings in respect of domestic violence against women between the years 2000

and 2009 It makes use of the term domestic violence against women and public

health as descriptors for the data entry that was submitted into a thematic analyze

from Minayo It was found that these productions have as focus the domestic

violence and of gender the characteristic of the victims that suffered this violence

and the perception of them and of the health professionals about the subject Studies

about the profile of these women show up that the age group varies from 20 to 39

years old and that economic dependence and the husband income implies on the

necessity of maintaining together the aggressor besides the violence situation

Because itrsquos a recent subject the health services not always are equipped and

prepared for the identification of the violence situation against women the

attendance and the solution of the problem The actions of the health professionals

were characterized by the non-welcome of these demands and for the inadequate

answers for them

6

Descriptors Domestic violence against women Public health

7

RESUacuteMEN

Monografiacutea de Especializacioacuten

Curso de Posgrado Lato Sensu en Gestioacuten de Organizacioacuten Puacuteblica en Salud

Universidad Federal de Santa Mariacutea (UFSM) Centro de Educacioacuten Superior Norte

del Riacuteo Grande del Sur (CESNORS)

Tendencia de la investigacioacuten sobre la violencia domeacutestica contra las mujeres entre los antildeos 2000-2009 em Brasil

AUTORA Claudia Fernanda Grun

ORIENTADORA Fernanda Beheregray Cabral

Fecha y Local de la Defensa Trecircs de Maio 2 de julho de 2011

La violencia contra La mujer ES um fenoacutemeno mundial complejo que recebioacute

mayor visibilidad social em los uacuteltimos antildeos pues ES considerada como problema

de La salud publica Si refere de uma pesquisa bibliograacutefica cuyos datos colectados

em La Licteratura Latinoamericana y Caribe em Ciecircncias de La Salud (LILACS) y

Scientific Eletronic Library on line (SCIELO) El objetivo de l investigacioacuten es conocer

el que hay em la licteratura especializada em salud de los uacuteltimos diez antildeos A La

disposicioacutenon line respecto a La violecircncia domeacutestica contra La mujer em periacuteodo de

2000 hasta 2009 Si haacute utilizado los teacuterminos violencia contra La mujer e salud

puacuteblica como descriptores para um examen de datos los cuales han sido

submetidos a la anaacutelisis temaacutetica de Minayio Si haacute verificado que esas producciones

tienen como foco La violecircncia domeacutestica e de gecircnero el perfil de las viacutectimas que

han sufrido eses violecircncias y La percepcioacuten de latildes mismas y de los profisionales de

La salud sobre La temaacutetica Estuacutedios sobre el perfil de latildes mujeres han revelado que

La edad promedio haacute variado dentre 20 y 39 antildeos siendo que La dependecircncia

econocircmica al marido es de gran importacircncia de permanecer AL agresor apesarde

latildes situaciones de violecircncia Por ser um tema muy atctual los servicios de salud

poccedilo o no estaacuten equipados y preparados para La uma investigacioacuten de situaciones

de violecircncia em mujeres acompantildeamiento y resolucioacuten del problema Las acciones

de los profesionales de La salud han sido caracrezados por lo no acogimento de latildes

demandas y por respuestas inadecuadas a las mismas

8

Palabras-llaveviolencia domeacutestica contra La mujer Salud Puacuteblica

9

SUMAacuteRIO

TENDEcircNCIA DAS PESQUISAS SOBRE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA CONTRA AS

MULHERES ENTRE OS ANOS DE 2000- 2009 NO BRASIL10

INTRODUCcedilAtildeO 10

METODOLOGIA13

APRESENTACcedilAtildeO E DISCUSSAtildeO DOS RESULTADOS15

VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E DE GEcircNERO PRAacuteTICAS DISCURSIVAS16

PERFIL DAS MULHERES QUE SOFRERAM VIOLEcircNCIA18

A VIOLEcircNCIA CONTRA A MULHER NA OacuteTICA DAS VITIMAS E DOS PROFISSIONAIS

DE SAUacuteDE22

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS25

REFERENCIAS28

ANEXO 30

Anexo 1 ndash Quadro analiacutetico ndash Violecircncia domestica contra a mulher e sauacutede publica ndash 2000-2009 30

10

TENDEcircNCIA DAS PESQUISAS SOBRE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA CONTRA AS

MULHERES ENTRE OS ANOS DE 2000- 2009 NO BRASIL

INTRODUCcedilAtildeO

Ao longo da histoacuteria a conquista dos direitos humanos ndash como garantia de

justiccedila social e dignidade humana ndash fez e faz parte de um processo de consciecircncia

dos diferentes povos Respeitar os direitos humanos eacute promover a vida em

sociedade sem discriminaccedilatildeo de classe social cultura religiatildeo raccedila orientaccedilatildeo

sexual ou de qualquer outro tipo O respeito agrave integridade corporal viver a

sexualidade sem culpas medos ou discriminaccedilatildeo e viver numa famiacutelia livre de

violecircncia tambeacutem fazem parte dos direitos humanos (BRASIL 2002)

Durante muito tempo a violecircncia baseada na desigualdade de gecircnero1 foi

praticamente invisiacutevel e tolerada Atualmente a complacecircncia social em torno das

agressotildees por questotildees de poder e dominaccedilatildeo estaacute se diluindo aos poucos visto

que governos sociedade civil organizada Naccedilotildees Unidas e outras organizaccedilotildees

internacionais estatildeo se envolvendo cada vez mais com atividades voltadas agrave

promoccedilatildeo da igualdade entre os sexos e ao fim da violecircncia domeacutestica contra as

mulheres

Para Tavares (2008 p14) ldquoa violecircncia domeacutestica contra a mulher eacute fruto de

uma construccedilatildeo social que demarca espaccedilos de poder privilegiando os homens e

oprimindo as mulheresrdquo Nesta loacutegica a sociedade reproduz a desigualdade social

existente no que se refere agraves expectativas geradas sobre os comportamentos de

homens e mulheres na medida em que se espera das mulheres delicadeza

obediecircncia e subordinaccedilatildeo e responsabilizaccedilatildeo pelo cuidado com o marido e com o

lar Da mesma forma em que as mulheres estatildeo legitimadas pela cultura linguagem

e discurso ndash como cuidadoras dos filhos (CABRAL OLIVEIRA CECCIM 2008)

1 No presente estudo o termo gecircnero fundamenta-se como [] todas as formas de construccedilatildeo

social cultural e linguumliacutestica implicadas com processos que diferenciam mulheres e homens incluindo aqueles processos que produzem seus corpos distinguindo-os e nomeando-os como corpos dotados de sexo gecircnero e sexualidade (MEYER 2004 p 15)

11

Em relaccedilatildeo aos serviccedilos de sauacutede foi apenas no iniacutecio dos anos 90 que a

temaacutetica em estudo passou a fazer parte e a realizar novas accedilotildees e abordagens

para o problema da violecircncia domeacutestica contra as mulheres Camargo e Aquino

(2003) esclarecem que foi somente a partir deste momento que os serviccedilos de

sauacutede passaram a adotar poliacuteticas visando agrave identificaccedilatildeo e enfrentamento dessa

problemaacutetica mediante accedilotildees no campo da sauacutede direcionadas aos casos de

violecircncia sexual violecircncia contra as crianccedilas e outros agravos

Nesse sentido a violecircncia contra as mulheres passa a ser tema de estudo e

intervenccedilatildeo no campo da sauacutede ao mesmo tempo em que se firma

internacionalmente como questatildeo de direitos humanos

Decorridos alguns anos do relatoacuterio da OMS sobre violecircncia e sauacutede2 torna-

se conhecido para os profissionais de sauacutede o fato de que a violecircncia contra as

mulheres tem alta magnitude e relevacircncia no campo da sauacutede Tal situaccedilatildeo tem sido

evidenciada no acircmbito dos serviccedilos de sauacutede pois mulheres que

vivenciamvivenciaram situaccedilotildees de violecircncia domeacutestica e sexual utilizam esses

serviccedilos com maior frequumlecircncia por apresentam mais queixas de ordem fiacutesica

mental e ou emocional (DrsquoOliveira et al 2009)

Estudo no acircmbito da atenccedilatildeo primaacuteria constatou que a frequumlecircncia de

mulheres que relataram ter vivenciado situaccedilotildees de violecircncia domeacutestica a partir dos

18 anos foi de 214 enquanto que em serviccedilos de emergecircncia essas ocorrecircncias

variaram de 22 a 35 (DrsquoOLIVEIRA SCHRAIBER et al 2002) Tambeacutem por essa

razatildeo os serviccedilos de sauacutede satildeo importantes dispositivos para a identificaccedilatildeo e

enfrentamento dessa problemaacutetica pois sua ampla cobertura na atenccedilatildeo baacutesica

favorece a vinculaccedilatildeo dessas mulheres a uma equipe de sauacutede em um dado

territoacuterio o que favorece o acolhimento e a possibilidade de identificaccedilatildeo de

situaccedilotildees de violecircncia domeacutestica contra mulheres ainda que subjetivadas por outras

queixas de origem bioloacutegica ou ainda mediante o proacuteprio relato da vitima em um

atendimento de sauacutede (DrsquoOliveira et al 2009)

2 Desde 1996 a Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede reconhece a violecircncia como um problema de sauacutede puacuteblica

(WHO 2002)

12

Entende-se que a violecircncia domeacutestica contra as mulheres eacute um fenocircmeno

complexo que requer accedilotildees intersetoriais para aleacutem do campo juriacutedico na medida

em que eacute reconhecida como um problema de sauacutede puacuteblica Para tanto o

enfrentamento de situaccedilotildees dessa natureza requer accedilotildees no campo dos direitos

humanos e de cidadania na perspectiva da humanizaccedilatildeo e da integralidade em

sauacutede pautadas na eacutetica e no entendimento de que um viver saudaacutevel implica

tambeacutem no direito a uma vida sem violecircncia (DrsquoOliveira et al 2009)

Ante estas consideraccedilotildees este estudo teve a seguinte questatildeo norteadora ldquoo

que a literatura especializada em sauacutede dos uacuteltimos dez anos disponiacutevel on line

traz a respeito da violecircncia domestica contra a mulher no periacuteodo de 2000 a 2009rdquo

O objetivo da pesquisa foi ldquoconhecer o que a literatura especializada em sauacutede dos

uacuteltimos dez anos disponiacutevel on line traz a respeito da violecircncia domestica contra a

mulher no periacuteodo de 2000 a 2009rdquo

13

METODOLOGIA

Trata-se de uma pesquisa bibliograacutefica de natureza qualitativa que segundo

Gil (2009) eacute o estudo desenvolvido com base em material jaacute elaborado constituiacutedo

principalmente de livros e artigos Segundo Minayo (2002) ldquoa pesquisa qualitativa

trabalha com o universo de significados motivos aspiraccedilotildees crenccedilas valores e

atitudes o que corresponde a um espaccedilo mais profundo das relaccedilotildees dos

processos e dos fenocircmenos que natildeo podem ser reduzidos agrave operacionalizaccedilatildeo de

variaacuteveisrdquo

Os dados foram coletados mediante consulta na Biblioteca Virtual de Sauacutede ndash

BVSBireme nas bases de dados de dados da Literatura Latino-Americana e do

Caribe em Ciecircncias da Sauacutede (LILACS) e Scientific Eletronic Library On line

(SCIELO) Foram utilizados os termos violecircncia contra a mulher e sauacutede publica

como descritores para o levantamento de dados nos uacuteltimos dez anos Este

processo envolveu atividades de busca identificaccedilatildeo fichamento de estudos

mapeamento e anaacutelise O recorte temporal justifica-se pelo fato de que em dez

anos a prodccedilatildeo de conhecimento se renova substancialmente especialmente no

que tange ao conhecimento veiculado em miacutedias informatizadas

O levantamento bibliograacutefico foi realizado no periacuteodo de vinte e trecircs a vinte e

seis de maio de dois mil e onze cujos dados coletados atenderam aos seguintes

criteacuterios de inclusatildeo artigos cientiacuteficos disponiacuteveis na iacutentegra online e em idioma

da lingua portuguesa no periacuteodo de 2000 a 2009 com os descritores violecircncia

domeacutestica contra a mulher e sauacutede publica

Inicialmente foram encontradas noventa e trecircs (93) produccedilotildees cientiacuteficas com

o descritor violecircncia domeacutestica contra a mulher e sauacutede puacuteblica Dessas foram

selecionados vinte e oito (28) artigos cientiacuteficos que apresentavam o texto na

iacutentegra sendo que apenas quinze (15) atendiam o criteacuterio de inclusatildeo relativo ao

idioma que era a liacutengua portuguesa Dos quinze (15) artigos selecionados trecircs (3)

natildeo atenderam ao enquadre temporal pois uma datava do ano de 1999 e duas do

ano de 2010 motivo pelo qual as mesmas foram excluiacutedas totalizando doze (12)

artigos que passaram a compor o corpus dos dados a serem analisados

14

A anaacutelise dos dados se deu pela teacutecnica de anaacutelise temaacutetica de Minayo

(2002) definida como a descoberta dos nuacutecleos de sentidos que constituem uma

comunicaccedilatildeo acerca da frequumlecircncia ou da presenccedila de algum significado para o

objeto que seraacute analisado Este meacutetodo de anaacutelise eacute constituiacutedo por trecircs etapas a

preacute-anaacutelise em que ocorre a ordenaccedilatildeo dos dados obtidos a exploraccedilatildeo do

material em que os dados satildeo classificados de forma a alcanccedilar o nuacutecleo de

compreensatildeo do texto por meio da formulaccedilatildeo de categorias e o tratamento dos

resultados obtidos e interpretaccedilatildeo em que se articulam os dados apreendidos ao

referencial teoacuterico visando responder as questotildees da pesquisa

15

APRESENTACcedilAtildeO E DISCUSSAtildeO DOS RESULTADOS

Para a categorizaccedilatildeo e anaacutelise dos doze artigos cientiacuteficos selecionados foi

elaborado um quadro analiacutetico (Anexo 1) composto pelas variaacuteveis titulo origem

subaacuterea de conhecimento tipo natureza ano de publicaccedilatildeo regiatildeo da pesquisa

O mapeamento das produccedilotildees apontou a subaacuterea multiprofissional como de

maior concentraccedilatildeo na produccedilatildeo de artigos cientiacuteficos sendo que a maioria foi de

produccedilotildees socioculturais e apenas um artigo de natureza clinica se mostrando

convergente agrave aacuterea de odontologia

Com relaccedilatildeo ao tipo de pesquisa a abordagem mais utilizada foi do tipo

qualitativa Quanto ao recorte temporal adotado a primeira produccedilatildeo selecionada foi

do ano de 2004 sendo que a maior concentraccedilatildeo se deu no ano de 2007 com cinco

(5) artigos

Quanto agraves regiotildees do paiacutes em que esses artigos foram produzidos observou-

se maior concentraccedilatildeo dessas publicaccedilotildees na regiatildeo Sudeste com seis (6) artigos

cinco (5) artigos na regiatildeo Sul e apenas um (1) artigo na regiatildeo nordeste Ainda

com relaccedilatildeo agrave regionalidade desses artigos destaca-se que trecircs dos artigos

produzidos na regiatildeo sudeste do paiacutes foram desenvolvidos na cidade de Ribeiratildeo

PretoSP dos quais dois abordavam a perspectiva dos profissionais de sauacutede em

relaccedilatildeo e violecircncia domestica e o outro o perfil das vitimas de violecircncia

Do processo de anaacutelise dos achados da pesquisa emergiram trecircs categorias

sendo que os doze artigos foram categorizados em Violecircncia domeacutestica e de

gecircnero praacuteticas discursivas Perfil das mulheres que sofreram violecircncia e A violecircncia

na oacutetica dos profissionais de sauacutede

VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E DE GEcircNERO PRAacuteTICAS DISCURSIVAS

Medina e Penna (2008) em estudo bibliograacutefico que analisou quatorze (14)

produccedilotildees entre os anos de 2000 e 2005 destacaram o contexto soacutecio-cultural da

violecircncia domeacutestica no periacuteodo gestacional como um fator importante no

desenvolvimento desta no acircmbito da famiacutelia Tambeacutem ressaltam que a violecircncia

vivenciada pela gestante ainda eacute uma situaccedilatildeo de difiacutecil abordagem nas relaccedilotildees

16

pessoais e profissionais O estudo indicou ainda que mulheres que vivenciam

situaccedilotildees de violecircncia na gestaccedilatildeo se sentem coibidas em denunciar agressotildees

sofridas pelos parceiros ou familiares Da mesma forma em que evidenciou

processos de naturalizaccedilatildeo e de invisibilidade da violecircncia na gestaccedilatildeo na medida

em que muitas situaccedilotildees dessa natureza nem sempre satildeo percebidas e

reconhecidas como atos violentos pelas mulheres que a vivenciam como tambeacutem

pelos profissionais de sauacutede que as assistem

Pesquisa realizada por Silva et al (2007) que analisou os tipos de violecircncia

domeacutestica indicou que a violecircncia psicoloacutegica eacute o ponto inicial que deflagra a

violecircncia Para os autores a prevenccedilatildeo de qualquer tipo de situaccedilatildeo de violecircncia

vivida no acircmbito domeacutestico deve passar pela compreensatildeo de que estrateacutegias que

visem coibir situaccedilotildees de violecircncia psicoloacutegica implicam diretamente na minimizaccedilatildeo

dos demais tipos de violecircncias Destacam ainda que outras accedilotildees importantes

como palestras e maior discussatildeo sobre a temaacutetica em escolas de ensino

fundamental e meacutedio da rede puacuteblica e universidades que abordem a temaacutetica da

violecircncia na perspectiva dos direitos humanos bem como sobre serviccedilos de apoio

existentes e possibilidades de enfrentamento desta demanda devem ser

incentivadas

Estudo publicado por Meneghel e Intildeiguez (2007) que analisou oficina de

contadores de histoacuterias realizada no Centro Ecumecircnico de Assessoria e

Capacitaccedilatildeo de Satildeo Leopoldo (CECA-SL) a qual teve como tema gerador das

discussotildees as questotildees de gecircnero Dessas discussotildees foram escolhidas histoacuterias

para comporem essas narrativas nas quais as mulheres contavam episoacutedios de

violecircncia ligados agraves suas trajetoacuterias pessoais e afirmavam que a violecircncia de gecircnero

acontece em qualquer classe social escolaridade ou raccedila Na medida em que se

posicionavam criticamente em relaccedilatildeo ao sexismomachismo essas mulheres

afirmavam que eram obrigadas a abdicar de si mesmas natildeo podiam construir

projetos de vida mais autocircnomos devendo sempre ceder agraves vontades do homem

(maridocompanheiro) permanecendo submissas a ele Essa subordinaccedilatildeo agrave

autoridade masculina poderia ser potencializada ou minimizada na medida em que

essas mulheres dispusessem ou natildeo de acesso a informaccedilotildees que favoreccedilam o

17

entendimento de sua posiccedilatildeo como sujeito de direitos dentre os quais o de uma

vida sem violecircncia

Com base nos estudos analisados percebeu-se que a violecircncia domeacutestica

contra as mulheres envolve questotildees culturais e de gecircnero Nesse sentido a

prevenccedilatildeo ou minimizaccedilatildeo de situaccedilotildees relativas agrave violecircncia domeacutestica requer accedilotildees

intersetoriais que mobilizem os diversos segmentos da sociedade para que

conjuntamente atuem de forma proacute-ativa no enfrentamento desta problemaacutetica

Uma estrateacutegia importante seria a inclusatildeo da temaacutetica como um tema

transversal nas escolas a ser abordado natildeo apenas com alunos e professores mas

tambeacutem com as famiacutelias que integram a comunidade escolar

Para aleacutem da organizaccedilatildeo de serviccedilos para o enfrentamento da violecircncia

contra as mulheres e apoio a essas viacutetimas evidencia-se tambeacutem a necessidade de

maior qualificaccedilatildeo sobre a temaacutetica de profissionais que atuam no campo da sauacutede

e do serviccedilo social para que possam atender esta demanda com eacutetica competecircncia

e de forma mais humanizada Atuaccedilatildeo esta pautada em valores societaacuterios em que

homens e mulheres tenham os mesmos direitos de cidadania buscando a

superaccedilatildeo de todas as formas de violecircncia preconceitos discriminaccedilotildees e

desigualdades

18

PERFIL DAS MULHERES QUE SOFRERAM VIOLEcircNCIA

A maioria das produccedilotildees traccedilou o perfil das mulheres vitimas de violecircncia

domeacutestica que procuram atendimento em serviccedilos de sauacutede tendo como variaacuteveis a

faixa etaacuteria profissatildeo estado civil escolaridade dentre outros

Galvatildeo e Andrade (2004) pesquisaram o perfil de mulheres em situaccedilatildeo de

violecircncia atendidas em um Centro de Atendimento agrave Mulher (CAM) em Londrina

Paranaacute a partir de informaccedilotildees extraiacutedas das fichas desses atendimentos A faixa

etaacuteria que predominou entre as mulheres atendidas no CAM foi agrave de 30 a 39 anos

seguida da faixa etaacuteria de 20 a 29 anos sendo que a meacutedia de idade foi de 34 anos

Com relaccedilatildeo ao estado civil 472 das mulheres declararam-se casadas 266

dos casos as mulheres que conviviam com um companheiro fixo numa relaccedilatildeo

consensual e 54 possuem um ou dois filhos Quanto agrave escolaridade 581 dessas

mulheres natildeo concluiacuteram o ensino fundamental 128 concluiacuteram o ensino meacutedio e

a taxa de analfabetismo foi de 21 sendo que 558 desenvolvia algum tipo de

trabalho remunerado Os principais agressores satildeo os atuais maridos ou

companheiros das mulheres (734) e quase a totalidade dos casos (974)

ocorreu no ambiente domeacutestico Quanto agrave caracterizaccedilatildeo dos casos de violecircncia

prevalece a violecircncia emocional com 564 dos casos seguida pela violecircncia fiacutesica

com 321 Quanto ao tempo em que vivenciam situaccedilotildees de violecircncia 33 das

mulheres vecircm sofrendo agressotildees por periacuteodos de ateacute um ano e 204 dos casos

refere-se a mulheres que sofrem agressotildees haacute mais de 10 anos

Estudo realizado por Monteiro et al (2006) sobre o perfil de mulheres que

sofreram violecircncia atendidas em uma unidade de urgecircncia em Teresina Piauiacute

indicou que 78 encontrava-se na faixa etaacuteria entre 18 e 40 anos e que 40 delas

natildeo trabalhavam fora de casa desempenhando exclusivamente as tarefas

domeacutesticas relativas ao cuidado coma casa e filhos As agressotildees nos membros

superiores ocorreram com maior frequumlecircncia (44) seguida das agressotildees na face

(33) Revelou ainda que a maioria dessas mulheres natildeo relatou os motivos pelos

quais foram agredidas ainda que o aacutelcool tenha sido apontado em 19 dos casos

como o principal motivo desencadeador das agressotildees seguido do ciuacutemes

Tambeacutem haacute um grande nuacutemero de subnotificaccedilatildeo em relaccedilatildeo ao agressor (80)

19

possivelmente em funccedilatildeo da dependecircncia econocircmica e por medo de vinganccedila do

companheiro Quanto agraves condutas adotadas pelos profissionais de sauacutede a grande

maioria (83) limita-se ao atendimento de queixas de menor complexidade como

aquelas que exigiram sutura simples ou consulta meacutedica Recomendam ainda que o

apoio as viacutetimas de violecircncia deve ter iniacutecio no serviccedilo de urgecircncia de forma

articulada com outros serviccedilos que tratam da mesma questatildeo como as Delegacias

Especiais de Atendimento agrave Mulher (DEAM) os Conselhos de Direitos da Mulher

Abrigos e outras instituiccedilotildees

Mota Vasconcelos e Assis (2007) analisaram as informaccedilotildees das fichas de

atendimento de um centro especializado no atendimento a mulheres viacutetimas de

violecircncia no municiacutepio do Rio de Janeiro totalizando 684 fichas de atendimento

dessas mulheres Dessa anaacutelise os autores traccedilaram o perfil dessas mulheres as

quais apresentaram idade meacutedia de 37 anos Para os autores o baixo status

econocircmico a baixa escolaridade e consequumlentemente o acesso agrave informaccedilatildeo

podem ter sido condiccedilotildees facilitadoras para a ocorrecircncia de situaccedilotildees de violecircncia

domeacutestica contra mulheres pelo cocircnjuge na populaccedilatildeo analisada Por outro lado as

agressotildees fiacutesicas mais graves que ocorreram com mulheres que possuiacuteam maior

niacutevel de escolaridade podem ter sido potencializadas pelo fato de as mesmas natildeo

terem aceitado essa violecircncia de modo passivo implicando em um conflito ainda

maior e em agressotildees fiacutesicas mais graves O estudo evidenciou ainda que a

violecircncia domeacutestica contra a mulher envolve questotildees culturais e de gecircnero com

implicaccedilotildees nas questotildees relativas agrave conjugalidade Assim a violecircncia domeacutestica

contra a mulher estaacute vinculada ao tradicional controle masculino baseado no papel

de provedor cuja desigualdade de gecircnero potencializa conflitos e colabora para a

ocorrecircncia de situaccedilotildees de violecircncia de ordem fiacutesica psicoloacutegica ou moral

Pesquisa retrospectiva e documental desenvolvida por Leonsio et al (2008)

analisou 446 boletins de ocorrecircncia em uma Delegacia de Defesa da Mulher em

Ribeiratildeo Preto Satildeo Paulo Em seus resultados os autores destacaram que 3408 das

mulheres estavam em faixa etaacuteria acima de 35 anos 7578 eram da raccedila branca e

4417 delas eram solteiras Quanto agrave ocupaccedilatildeo 5874 dessas mulheres

exerciam algum tipo de trabalho remunerado formal ou informal e 3722 possuiacuteam

o ensino fundamental completo Outro aspecto importante evidenciado pelo estudo foi

20

que 5471 das mulheres agredidas demoraram de 1 a 15 dias entre a agressatildeo e o tempo

da denuacutencia formal e 4215 registraram a ocorrecircncia no mesmo dia na delegacia Em

7691 dos casos o ambiente domeacutestico foi o local em que essas agressotildees ocorreram

Quanto ao agressor foi observado nos boletins de ocorrecircncia investigados que em 4910

dos casos os parceiros foram os principais denunciados seguidos de ex-parceiros com

1816 das ocorrecircncias Dentre os motivos desencadeantes da agressatildeo 4462

corresponderam agrave recusa da separaccedilatildeo conjugal 1435 ciuacutemes e 1996 por outros

motivos como bebidasdrogas

Estudo realizado por Resende et al (2007) analisou registros e laudos

encaminhados ao setor de Odontologia do IML de Belo Horizonte sobre as lesotildees

bucomaxilares sofridas por mulheres vitimas de violecircncia domeacutestica A faixa etaacuteria

predominante das mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia foi de 20 a 39 anos

representando 704 do total sendo a idade meacutedia correspondente a 303 anos

Quanto agrave ocupaccedilatildeo 241 das mulheres realizavam trabalhos domeacutesticos 213

se intitulavam ldquodonas-de-casardquo e 14 trabalhavam no comeacutercio A maioria das

mulheres que sofreu agressotildees declarou-se solteira perfazendo um total de 63

enquanto que o percentual de casadas foi menor correspondendo apenas 204

Foi constatado o elevado percentual de 611 dos casos em que o agressor natildeo foi

identificado (611) em 25 o sujeito agressor foi o companheiro em 37 foram

familiares e em 74 foram conhecidos perfazendo um total de 361 contra 28

de violecircncia realizada por estranhos

A complexidade da problemaacutetica da violecircncia domeacutestica contra as mulheres

tem implicaccedilotildees em questotildees culturais e de gecircnero vinculada a construccedilatildeo social

de papeacuteis desiguais entre homens e mulheres que potencializa conflitos e colabora

para a ocorrecircncia de situaccedilotildees de violecircncia de ordem fiacutesica psicoloacutegica ou moral

Ainda nesse sentido costuma ser difiacutecil para a maioria das mulheres tomarem a

atitude de denunciar seus companheiros agressores e romper com a situaccedilatildeo de

violecircncia principalmente em funccedilatildeo do medo de vinganccedila e da dependecircncia

econocircmica agrave renda do marido

21

A VIOLEcircNCIA CONTRA A MULHER NA OacuteTICA DAS VITIMAS E DOS

PROFISSIONAIS DE SAUacuteDE

Estudo desenvolvido por Vieira et al (2009) sobre o conhecimento e atitudes

dos profissionais de sauacutede em relaccedilatildeo agrave violecircncia de gecircnero destaca a importacircncia

do atendimento de mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia nos serviccedilos de sauacutede jaacute que

este eacute muitas vezes o uacutenico local procurado pelas viacutetimas A maioria dos

profissionais que participou do estudo demonstrou bom conhecimento sobre a

definiccedilatildeo de violecircncia contra a mulher aleacutem de reconhecer como seu papel

profissional perguntar sobre violecircncia para as pacientes Indicou ainda que esses

profissionais acreditam que para uma melhor atenccedilatildeo agrave violecircncia deveria ser

implantado em sua rotina de trabalho um protocolo de enfrentamento da violecircncia

Os autores tambeacutem evidenciaram a necessidade maiores investimentos na

capacitaccedilatildeo e qualificaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede que devem estar aptos para

reconhecer e manejar os casos de violecircncia

Pesquisa realizada por De Ferrant Santos e Vieira (2009) sobre a percepccedilatildeo

dos meacutedicos de uma unidade baacutesica de Ribeiratildeo Preto Satildeo Paulo em relaccedilatildeo agrave

violecircncia domeacutestica contra a mulher revelou que a maior parte deles acredita que a

violecircncia psicoloacutegica eacute a mais grave pois a proacutepria mulher apresenta dificuldade em

reconhececirc-la como algo prejudicial agrave sua sauacutede a ponto de frequentemente

permanecer exposta agrave situaccedilatildeo durante anos a fio Os resultados indicam que os

meacutedicos detecircm alguns conhecimentos acerca dos tipos de violecircncia de gecircnero e satildeo

capazes de identificar e muitas vezes acolher as mulheres que estatildeo expostas agrave

situaccedilatildeo Contudo destacam uma seacuterie de dificuldades para atuarem frente a uma

usuaacuteria que apresenta essa problemaacutetica e reconhecem a falta de capacitaccedilatildeo

profissional uma vez que muitos deles reforccedilam a necessidade de um treinamento

voltado especificamente para os casos de violecircncia de gecircnero Da mesma forma que

apontam outras barreiras pessoais e institucionais que limitam sua atuaccedilatildeo tanto

em niacutevel preventivo como interventivo que muitas vezes os impedem de agir

adequadamente frente a uma situaccedilatildeo de violecircncia Entre elas destacam-se os

meacutedicos sentem-se impotentes frente agraves atitudes que a mulher possa vir a tomar

mesmo depois de orientada afirmam que temem tomar qualquer atitude por medo

22

da reaccedilatildeo do agressor Os autores sugerem a necessidade de um trabalho integrado

e em rede que ofereccedila uma resposta efetiva para o problema da violecircncia de

gecircnero Aleacutem disso eacute preciso investir na qualificaccedilatildeo dos outros profissionais de

sauacutede aleacutem dos meacutedicos para que se viabilize um atendimento multidisciplinar

para que os serviccedilos de sauacutede se constituam em espaccedilos de acolhimento e apoio

integrando-se efetivamente agrave rede de atendimento

Wilhelm e Tonet (2007) em seu estudo sobre a percepccedilatildeo de mulheres que

sofreram violecircncia domeacutestica em um municiacutepio do interior de Santa Catarina indicou

a ocorrecircncia de depressatildeo ansiedade medo e sentimento de baixa auto-estima Na

oacutetica dessas mulheres parte das agressotildees acontece somente no momento em que

seus companheiros estatildeo alcoolizados Aleacutem da violecircncia fiacutesica (tais como socos

arranhotildees puxotildees de cabelo arremesso de objetos chutes tapas e beliscotildees)

ocorrem as humilhaccedilotildees e a desqualificaccedilatildeo sendo ridicularizadas perante os

amigos do agressor sua famiacutelia e desautorizada perante os filhos Quanto ao

comportamento violento do companheiro este eacute justificado por fatores externos

deste modo desresponsabilizando-o como por exemplo as dificuldades

financeiras desemprego e uso de drogas dentre outros Muitos satildeo os motivos

pelos quais a mulher natildeo denuncia seu marido agressor passando a viver muitos

anos neste contexto de violecircncia dentre os quais destaca-se dependecircncia

financeira filhos fator cultural e ameaccedilas Da mesma forma todas demonstraram a

esperanccedila de que o companheiro mudasse em relaccedilatildeo ao seu comportamento

violento Aleacutem de poliacuteticas puacuteblicas mais efetivas par ao enfrentamento da violecircncia

domeacutestica Eacute necessaacuterio promover poliacuteticas puacuteblicas mais efetivas em relaccedilatildeo ao

enfrentamento da violecircncia domeacutestica bem como maiores investimentos em redes

de apoio social efetiva para a mulher e seus filhos as quais muitas vezes estatildeo

subjugadas ao seu agressor devido agrave dependecircncia econocircmica Em relaccedilatildeo a este eacute

importante promover grupos de homens com a finalidade de propiciar a discussatildeo

sobre violecircncia relaccedilotildees e gecircnero e formas alternativas de resoluccedilatildeo de conflitos

Estudo de Scaranto Biazevic e Michel (2007) sobre a percepccedilatildeo dos Agentes

Comunitaacuterios de Sauacutede (ACS) sobre a Violecircncia Domeacutestica contra a Mulher em um

municiacutepio do interior do Rio Grande do Sul identificou relatos de situaccedilotildees de

violecircncia domeacutestica contra a mulher cometida por seu companheiro seja fiacutesica

23

sexual psicoloacutegica ou econocircmica A obediecircncia aos maridoscompanheiros vai

desde o cuidado pessoal ateacute o desempenho sexual A vergonha pela violecircncia

sofrida eacute infinitamente maior do que a coragem da mulher para denunciar

Constatou-se que o ACS pode ser o elo entre a vergonha e a coragem para a

mulher denunciar o problema da violecircncia o que significa que ele parece ser de

fundamental importacircncia no acolhimento das anguacutestias dessas mulheres no

encorajamento para o relato de sofrimento na detecccedilatildeo da questatildeo da violecircncia

que pode estar acompanhada pela depressatildeo ansiedade ou ateacute mascarada por

algum tipo de queixa vaga e em consequumlecircncia fazer o encaminhamento de

referecircncia correto e eficiente na denuacutencia Eacute preciso dar subsiacutedios teoacuterico-praacuteticos

aos profissionais para que em seu trabalho cotidiano possam detectar situaccedilotildees de

violecircncia encontrar a forma de abordar as famiacutelias e dar encaminhamento tanto aos

casos de violecircncia quanto de uso de aacutelcooldrogas A violecircncia contra a mulher deve

ser considerada como questatildeo de sauacutede puacuteblica a partir do conceito ampliado de

sauacutede motivo pelo qual necessita ser alvo de poliacuteticas puacuteblicas efetivas e

consistentes assim como mecanismos de proteccedilatildeo agrave mulher viacutetima de violecircncia

tambeacutem precisam ser criados

Com base nos artigos analisados constatou-se que muitos profissionais tecircm

dificuldades em reconhecer a violecircncia como um problema de sauacutede devido agrave falta

de subsiacutedios teoacuterico-praacuteticos para a detecccedilatildeo de situaccedilotildees de violecircncia abordagem

adequada agraves viacutetimas e os devidos encaminhamentos para o atendimento desta

demanda

24

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Este estudo teve se propocircs a conhecer o que a literatura especializada em

sauacutede dos uacuteltimos dez anos disponiacutevel on line traz a respeito da violecircncia

domestica contra a mulher no periacuteodo de 2000 a 2009

Com base nos artigos analisados percebe-se que o baixo status econocircmico

o niacutevel de instruccedilatildeo e consequumlentemente o acesso agrave informaccedilatildeo podem ser

considerados como condiccedilotildees facilitadoras para a ocorrecircncia de situaccedilotildees de

violecircncia domeacutestica

Em muitos casos a dependecircncia econocircmica da mulher agrave renda do marido

impotildee a necessidade desta em ter de permanecer com ele mesmo diante de

situaccedilotildees de violecircncia

De modo geral os estudos analisadas indicaram os maridos ou companheiros

atuais das mulheres ou ainda seus ex-companheiros como os principais

agressores sendo o ambiente domeacutestico o local predominate destas agressotildees

Outro aspecto evidenciado nos achados desta pesquisa se refere ao fato de

que a maioria dessas mulheres natildeo relatou os motivos pelos quais foram agredidas

ainda que o aacutelcool tenha sido apontado como o principal motivo desencadeador das

agressotildees seguido do sentimento de ciuacutemes Tambeacutem se verificou o grande

nuacutemero de sub-notificaccedilatildeo dos casos de violecircncia contra as mulheres Assim infere-

se que possivelmente isto ocorra em funccedilatildeo da dependecircncia econocircmica e por

medo de vinganccedila

A natureza soacutecio-cultural e a subaacuterea multiprofissional prevalente nas

produccedilotildees analisadas evidenciaram a multiplicidade de aspectos relevantes a

temaacutetica da violecircncia como um complexo problema de sauacutede puacuteblica sinalizando

para a urgecircncia de um movimento reflexivo seja no acircmbito da formaccedilatildeo de

profissionais de sauacutede seja na praacutetica profissional para o enfrentamento desta

questatildeo

Destaca-se a importacircncia de pesquisa bibliograacuteficas para a sistematizaccedilatildeo

das produccedilotildees cientiacuteficas nacionais na temaacutetica violecircncia domestica contra a mulher

para o (re)conhecimento do estado da arte sobre a temaacutetica em anaacutelise fato este

25

fundamental para subsidiar futuras intervenccedilotildees no acircmbito das praacuteticas e serviccedilos

de sauacutede e da accedilatildeo social

A complexidade que envolve as questotildees relativas agrave violecircncia contra a mulher

exige accedilotildees capazes de dar conta das inuacutemeras demandas apresentadas o que

implica na articulaccedilatildeo entre as diferentes aacutereas de conhecimento e de atuaccedilatildeo

multiprofissional

Nessa loacutegica faz-se necessaacuterio maior investimento na qualificaccedilatildeo de

profissionais de sauacutede do serviccedilo social do direito entre outros para o

reconhecimento e identificaccedilatildeo dos sinais que possam indicar situaccedilotildees de violecircncia

contra as mulheres visando o acolhimento das mesmas natildeo apenas nos serviccedilos de

sauacutede mas em outros setores da sociedade Da mesma forma a criaccedilatildeo e

organizaccedilatildeo de serviccedilos multiprofissionais de atendimento agraves mulheres em situaccedilatildeo

de violecircncia para seu devido enfrentamento de modo que os mesmos estejam

articulados na loacutegica da intersetorialidade com os campos da sauacutede do serviccedilo

social e do direito no desenvolvimento de accedilotildees preventivas e assistenciais na

perspectiva da atenccedilatildeo integral agraves mulheres

Para aleacutem da organizaccedilatildeo de serviccedilos para o enfrentamento da violecircncia

contra as mulheres e apoio a essas viacutetimas evidencia-se tambeacutem a urgecircncia de

maior qualificaccedilatildeo sobre a temaacutetica de profissionais que atuam nesses campos para

que possam atender demandas dessa natureza de modo mais solidaacuterio

respeitando-se as subjetividades e singularidades implicadas nessas situaccedilotildees

Os Assistentes Sociais tecircm atuado como mediadores proporcionando a

escolha para as mulheres do que melhor lhes conveacutem Tal direcionamento vai ao

encontro da proposta aqui formulada na qual considera o profissional como sendo

um facilitador que em nome de valores como liberdade individual independecircncia e

autonomia fornece suporte ao processo de fortalecimento destas usuaacuterias ou seja

eacute o profissional que vecirc aleacutem do aparente (TAVARES 2008)

Sabe-se que jaacute existem leis especiacuteficas para o enfrentamento da violecircncia

contra as mulheres poreacutem ainda eacute preciso que as mesmas sejam incorporadas pela

sociedade como cultura poliacutetica para que accedilotildees mais efetivas sejam de fato

implementadas

26

Como estrateacutegia para a ampliaccedilatildeo do escopo das praacuteticas dessa natureza no

acircmbito das poliacuteticas puacuteblicas destaca-se a criaccedilatildeo de accedilotildees intersetoriais com

movimentos organizados de mulheres organizaccedilotildees governamentais e natildeo

governamentais de defesa aos direitos das mulheres serviccedilos de sauacutede e da accedilatildeo

social delegacias de policia organizaccedilotildees de bairros escolas dentre outros

segmentos sociais

Outra importante accedilatildeo se refere agrave incorporaccedilatildeo das questotildees relativas agrave

violecircncia e mais especificamente contra as mulheres foco deste estudo como um

tema transversal nas escolas o qual deve ser abordado natildeo apenas com alunos e

professores mas tambeacutem com as famiacutelias que integram a comunidade escolar

Para tanto a interlocuccedilatildeo do Serviccedilo Social com essa questatildeo se faz

necessaacuteria uma vez que a violecircncia domestica eacute um fenocircmeno social e portanto

deve ser enfrentada mediante o conjunto de estrateacutegias poliacuteticas e de intervenccedilatildeo

social direta

Desde esta perspectiva os profissionais do Serviccedilo Social devem intervir

diretamente na realidade social dos sujeitos tendo como pressuposto de atuaccedilatildeo a

articulaccedilatildeo do trabalho em redes promovendo a co-participaccedilatildeo e co-

responsabilizaccedilatildeo dos atores envolvidos nessa problemaacutetica desde a tomada de

decisotildees ateacute os encaminhamentos que se fizerem necessaacuterios para o enfrentamento

positivo e superaccedilatildeo de situaccedilotildees de violecircncia contra as mulheres

A partir de accedilotildees mais efetivas e da conscientizaccedilatildeo dos atores sociais de

que a violecircncia eacute hoje um problema de relevacircncia mundial e de sauacutede puacuteblica no

cenaacuterio brasileiro almeja-se a detecccedilatildeo precoce de situaccedilotildees de violecircncia

abordagem adequada e qualificada agraves viacutetimas e os devidos encaminhamento para o

atendimento desta demanda com eacutetica competecircncia e de forma mais humanizada

Atuaccedilatildeo esta pautada em valores societaacuterios em que homens e mulheres tenham

os mesmos direitos de cidadania buscando a superaccedilatildeo de todas as formas de

violecircncia preconceitos discriminaccedilotildees e desigualdades

27

REFEREcircNCIAS

BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Violecircncia intrafamiliar orientaccedilotildees para a praacutetica em serviccedilos Cadernos de Atenccedilatildeo Baacutesica n 8 BrasiacuteliaDF 2002 CABRAL F B OLIVEIRA D LL C de CECCIM R B O puerpeacuterio e a sauacutede da mulher vulnerabilidade e atenccedilatildeo baacutesica agrave sauacutede In Ensino e atenccedilatildeo agrave sauacutede da mulher aprendizados da integraccedilatildeo da educaccedilatildeo superior com a rede assistencial edCaxias do Sul EDUCS Editora da Universidade de Caxias do Sul 2008 p 137-157 CAMARGO M AQUINO S de (2003) Redes de cidadania e parcerias- Enfrentando a rota criacutetica Secretaria Especial de Poliacuteticas para as Mulheres Programa de prevenccedilatildeo assistecircncia e combate agrave violecircncia contra a mulher- plano nacional Brasiacutelia 2003 DrsquoOLIVEIRA A F SCHRAIBER L B Violecircncia Contra a Mulher a pesquisa e a intervenccedilatildeo Revista Promoccedilatildeo da Sauacutede n 6 80- 8 2002 DE FERRANTE FG SANTOS MA VIEIRA EM Violecircncia contra a mulher percepccedilatildeo dos meacutedicos das unidades baacutesicas de sauacutede da cidade de Ribeiratildeo Preto Satildeo Paulo Satildeo Paulo Interface - Comunic Saude Educ 13(31)287-99 outdez 2009

DOLIVEIRA AFPL SCHREIBER LB HANADA H DURANDJ Atenccedilatildeo integral agrave sauacutede de mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia de gecircnero ndash uma alternativa para a atenccedilatildeo primaacuteria em sauacutede Rio de Janeiro Ciecircnc Sauacutede Coletiva 14(4) julhoago 2009

GALVAtildeOFEANDRADESM Violecircncia contra a mulher anaacutelise de casos atendidos em serviccedilo de atenccedilatildeo agrave mulher em municiacutepio do Sul do Brasil Sauacutede e Sociedade 13(2)p89-99 maio-ago 2004 GIL A C Como Elaborar Projetos de Pesquisa 4 ed Satildeo Paulo Atlas 2009

LEONCIO LK ET AL O perfil das mulheres vitimizadas e seus agressores Rev enferm UERJ Rio de Janeiro 16(3)307-12 julset 2008 MEDINA ABC PENNA LHG Violecircncia na gestaccedilatildeo um estudo da produccedilatildeo cientiacutefica de 2000 a 2005 Esc Anna Nery 12(4)793-98 dez 2008 MENEGHEL ST INtildeIGUEZ L Contadores de histoacuterias praacuteticas discursivas e violecircncia de gecircnero Cad Sauacutede Puacuteblica Rio de Janeiro 23(8)1815-1824 ago 2007 MEYER D E Teorias e poliacuteticas de gecircnero fragmentos histoacutericos e desafios atuais Revista Brasileira de Enfermagem Brasiacutelia v57 n1 p13-8 janfev 2004

28

MINAYO M C et al Pesquisa social teoria meacutetodo criatividade Petroacutepolis Vozes 2002 MONTEIROCFS Arauacutejo TME NunesBMV LustosaAR BezerraCMJ A Violecircncia contra a mulher atendida em uma unidade de urgecircncia uma contribuiccedilatildeo da enfermagem Esc Anna Nery 10(2)273-9 ago 2006 MOTA JCMVASCONCELOS AGG ASSIS SG Anaacutelise de correspondecircncia como estrateacutegia para descriccedilatildeo do perfil da mulher viacutetima do parceiro atendida em serviccedilo especializado Ciecircncia e Sauacutede coletiva 12 (3)799890 2007 REZENDE EJC ET AL Lesotildees buco-dentais em mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia um estudo piloto de casos periciados no IML de Belo Horizonte MG Rev Bras Epidemiol 10(2) 202-14 2007 SCARANTO CAA BIAZEVICMGH MICHEL-CROSATOE Percepccedilatildeo dos Agentes Comunitaacuterios de Sauacutede sobre a Violecircncia Domeacutestica contra a Mulher Psicol ciecircnc Prof 27(4)694-705 2007 SCHRAIBER L B DOLIVEIRA A F L P Violecircncia contra mulheres interfaces com a Sauacutede Comunicaccedilatildeo Sauacutede Educaccedilatildeo v3 n5 1999 SILVA LL ET AL Violecircncia silenciosa violecircncia psicoloacutegica como condiccedilatildeo da violecircncia fiacutesica domeacutestica Interface - Comunic Sauacutede Educ v11 n21 p93-103 janabr 2007 SILVA LL ET AL Violecircncia silenciosa violecircncia psicoloacutegica como condiccedilatildeo da violecircncia fiacutesica domeacutestica Interface - Comunic Sauacutede Educ v11 n21 p93-103 janabr 2007 TAVARES F A Daacutes Laacutegrimas agrave Esperanccedila o processo de fortalecimento das mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia domeacutestica 2008 Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Serviccedilo Social Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica do Rio Grande do Sul Porto Alegre 2008 VIEIRAMEET AL Conhecimento e atitudes dos profissionais de sauacutede em relaccedilatildeo agrave violecircncia de gecircnero Rev Bras Epidemiol 12(4) 566-77 2009 WILHEL FA TONET J Percepccedilatildeo sobre a violecircncia domeacutestica na perspectiva de mulheres vitimadas Psicol Argum Curitiba 25 (51)401-412 outdez 2007

29

ANEXO 1 - Quadro analiacutetico ndash Violecircncia domestica contra a mulher e sauacutede publica ndash 2000-2009

Titulo Revista

Origem Subaacuterea de

conhecimento

Tipo Natureza Ano de

publicaccedilatildeo

Regiatildeo da

pesquisa

Violecircncia contra a mulher anaacutelise de casos atendidos em serviccedilo de atenccedilatildeo agrave mulher em municiacutepio do sul do Brasil Rev Sauacutede e Sociedade v13 n2 p89-99 maio-ago 2004

GALVAtildeOFEANDRADESM

Artigo Sociologia Pesquisa

investigaccedilatildeo

Qualitativo

sociocultural 2004 Regiatildeo Sul

A violecircncia contra a mulher atendida em unidade de urgecircncia uma contribuiccedilatildeo da enfermagem Esc Anna Nery R Enferm 2006 ago 10 (2) 273-9

MONTEIROCFS Arauacutejo TME NunesBMV LustosaAR BezerraCMJ

Artigo Enfermagem Pesquisa

Investigaccedilatildeo

Quantitativo

sociocultural 2006 Regiatildeo

Norte

Percepccedilatildeo dos Agentes Comunitaacuterios de Sauacutede sobre a Violecircncia Domeacutestica contra a Mulher Psicol ciecircnc prof27(4)694-705 2007

SCARANTO CAA BIAZEVICMGH MICHEL-CROSATOE

Artigo Psicologia Pesquisa

Investigaccedilatildeo

Qualitativo

sociocultural 2007 Regiatildeo Sul

Violecircncia silenciosa violecircncia psicoloacutegica como condiccedilatildeo da violecircncia fiacutesica domeacutestica

Artigo Psicologia Revisatildeo sociocultural 2007 Regiatildeo Sul

30

Interface-Comunic Sauacutede Educ v11 n21 p93-103 janabr 2007

SILVA LL ET AL

Qualitativa

Anaacutelise de correspondecircncia como estrateacutegia para descriccedilatildeo do perfil da mulher viacutetima do parceiro atendida em serviccedilo especializado Ciecircncia e Sauacutede coletiva12 (3)799890 2007

MOTA JCMVASCONCELOS AGG ASSIS SG

Artigo multiprofissional Pesquisa Qualiquanti

epidemioloacutegi

co

2007 Centro

Contadores de histoacuterias praacuteticas discursivas e violecircncia de gecircnero Cad Sauacutede Puacuteblica Rio de Janeiro 23(8)1815-1824 ago 2007

MENEGHEL ST INtildeIGUEZ L

Artigo multiprofissional Pesquisa Qualitativa

Sociocultural 2007 Regiatildeo sul

Lesotildees buccedilo-dentais em mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia um estudo piloto de casos periciados no IML de Belo Horizonte MG Rev Bras Epidemiol 2007 10(2) 202-14

REZENDE EJC ET AL

Artigo Odontologia Pesquisa

Documental

Clinico 2007 Regiatildeo

sudeste

Percepccedilatildeo sobre a violecircncia domeacutestica na perspectiva de mulheres vitimadas Psicol Argum Curitiba v 25 n 51 p 401-412 outdez 2007

WILHEL FA TONET J

Artigo Psicologia Pesquisa

qualitativa

Sociocultural 2007 Regiatildeo Sul

O perfil de mulheres vitimizadas e de seus agressores Rev enferm UERJ Rio de Janeiro 2008 julset

Artigo Enfermagem Pesquisa Sociocultural 2008 Regiatildeo

31

16(3)307-12

LEONCIO LK ET AL documental

quantitativa

sudeste

Violecircncia na gestaccedilatildeo um estudo da produccedilatildeo cientiacutefica de 2000 a 2005 Esc Anna Nery Rev Enferm 2008 dez 12 (4) 793-98

MEDINA ABC PENNA LHG

Artigo Enfermagem Pesquisa

qualitativa

Sociocultural 2008 Regiatildeo

Sudeste

Conhecimento e atitudes dos profissionais de sauacutede em relaccedilatildeo agrave violecircncia de gecircnero Rev Bras Epidemiol 2009 12(4) 566-77

VIEIRAMEET AL

Artigo Multidisciplinar Pesquisa Qualitativa

Sociocultural 2009 Regiatildeo Sudeste

Violecircncia contra a mulher percepccedilatildeo dos meacutedicos das unidades baacutesicas de sauacutede da cidade de Ribeiratildeo Preto Satildeo Paulo Interface - Comunic Saude Educ v13 n31 p287-99 outdez 2009

DE FERRANTE FG SANTOS MA VIEIRA EM

Artigo Multidisciplinar Pesquisa Qualitativa

Sociocultural 2009 Regiatildeo Sudeste

32

33

6

Descriptors Domestic violence against women Public health

7

RESUacuteMEN

Monografiacutea de Especializacioacuten

Curso de Posgrado Lato Sensu en Gestioacuten de Organizacioacuten Puacuteblica en Salud

Universidad Federal de Santa Mariacutea (UFSM) Centro de Educacioacuten Superior Norte

del Riacuteo Grande del Sur (CESNORS)

Tendencia de la investigacioacuten sobre la violencia domeacutestica contra las mujeres entre los antildeos 2000-2009 em Brasil

AUTORA Claudia Fernanda Grun

ORIENTADORA Fernanda Beheregray Cabral

Fecha y Local de la Defensa Trecircs de Maio 2 de julho de 2011

La violencia contra La mujer ES um fenoacutemeno mundial complejo que recebioacute

mayor visibilidad social em los uacuteltimos antildeos pues ES considerada como problema

de La salud publica Si refere de uma pesquisa bibliograacutefica cuyos datos colectados

em La Licteratura Latinoamericana y Caribe em Ciecircncias de La Salud (LILACS) y

Scientific Eletronic Library on line (SCIELO) El objetivo de l investigacioacuten es conocer

el que hay em la licteratura especializada em salud de los uacuteltimos diez antildeos A La

disposicioacutenon line respecto a La violecircncia domeacutestica contra La mujer em periacuteodo de

2000 hasta 2009 Si haacute utilizado los teacuterminos violencia contra La mujer e salud

puacuteblica como descriptores para um examen de datos los cuales han sido

submetidos a la anaacutelisis temaacutetica de Minayio Si haacute verificado que esas producciones

tienen como foco La violecircncia domeacutestica e de gecircnero el perfil de las viacutectimas que

han sufrido eses violecircncias y La percepcioacuten de latildes mismas y de los profisionales de

La salud sobre La temaacutetica Estuacutedios sobre el perfil de latildes mujeres han revelado que

La edad promedio haacute variado dentre 20 y 39 antildeos siendo que La dependecircncia

econocircmica al marido es de gran importacircncia de permanecer AL agresor apesarde

latildes situaciones de violecircncia Por ser um tema muy atctual los servicios de salud

poccedilo o no estaacuten equipados y preparados para La uma investigacioacuten de situaciones

de violecircncia em mujeres acompantildeamiento y resolucioacuten del problema Las acciones

de los profesionales de La salud han sido caracrezados por lo no acogimento de latildes

demandas y por respuestas inadecuadas a las mismas

8

Palabras-llaveviolencia domeacutestica contra La mujer Salud Puacuteblica

9

SUMAacuteRIO

TENDEcircNCIA DAS PESQUISAS SOBRE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA CONTRA AS

MULHERES ENTRE OS ANOS DE 2000- 2009 NO BRASIL10

INTRODUCcedilAtildeO 10

METODOLOGIA13

APRESENTACcedilAtildeO E DISCUSSAtildeO DOS RESULTADOS15

VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E DE GEcircNERO PRAacuteTICAS DISCURSIVAS16

PERFIL DAS MULHERES QUE SOFRERAM VIOLEcircNCIA18

A VIOLEcircNCIA CONTRA A MULHER NA OacuteTICA DAS VITIMAS E DOS PROFISSIONAIS

DE SAUacuteDE22

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS25

REFERENCIAS28

ANEXO 30

Anexo 1 ndash Quadro analiacutetico ndash Violecircncia domestica contra a mulher e sauacutede publica ndash 2000-2009 30

10

TENDEcircNCIA DAS PESQUISAS SOBRE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA CONTRA AS

MULHERES ENTRE OS ANOS DE 2000- 2009 NO BRASIL

INTRODUCcedilAtildeO

Ao longo da histoacuteria a conquista dos direitos humanos ndash como garantia de

justiccedila social e dignidade humana ndash fez e faz parte de um processo de consciecircncia

dos diferentes povos Respeitar os direitos humanos eacute promover a vida em

sociedade sem discriminaccedilatildeo de classe social cultura religiatildeo raccedila orientaccedilatildeo

sexual ou de qualquer outro tipo O respeito agrave integridade corporal viver a

sexualidade sem culpas medos ou discriminaccedilatildeo e viver numa famiacutelia livre de

violecircncia tambeacutem fazem parte dos direitos humanos (BRASIL 2002)

Durante muito tempo a violecircncia baseada na desigualdade de gecircnero1 foi

praticamente invisiacutevel e tolerada Atualmente a complacecircncia social em torno das

agressotildees por questotildees de poder e dominaccedilatildeo estaacute se diluindo aos poucos visto

que governos sociedade civil organizada Naccedilotildees Unidas e outras organizaccedilotildees

internacionais estatildeo se envolvendo cada vez mais com atividades voltadas agrave

promoccedilatildeo da igualdade entre os sexos e ao fim da violecircncia domeacutestica contra as

mulheres

Para Tavares (2008 p14) ldquoa violecircncia domeacutestica contra a mulher eacute fruto de

uma construccedilatildeo social que demarca espaccedilos de poder privilegiando os homens e

oprimindo as mulheresrdquo Nesta loacutegica a sociedade reproduz a desigualdade social

existente no que se refere agraves expectativas geradas sobre os comportamentos de

homens e mulheres na medida em que se espera das mulheres delicadeza

obediecircncia e subordinaccedilatildeo e responsabilizaccedilatildeo pelo cuidado com o marido e com o

lar Da mesma forma em que as mulheres estatildeo legitimadas pela cultura linguagem

e discurso ndash como cuidadoras dos filhos (CABRAL OLIVEIRA CECCIM 2008)

1 No presente estudo o termo gecircnero fundamenta-se como [] todas as formas de construccedilatildeo

social cultural e linguumliacutestica implicadas com processos que diferenciam mulheres e homens incluindo aqueles processos que produzem seus corpos distinguindo-os e nomeando-os como corpos dotados de sexo gecircnero e sexualidade (MEYER 2004 p 15)

11

Em relaccedilatildeo aos serviccedilos de sauacutede foi apenas no iniacutecio dos anos 90 que a

temaacutetica em estudo passou a fazer parte e a realizar novas accedilotildees e abordagens

para o problema da violecircncia domeacutestica contra as mulheres Camargo e Aquino

(2003) esclarecem que foi somente a partir deste momento que os serviccedilos de

sauacutede passaram a adotar poliacuteticas visando agrave identificaccedilatildeo e enfrentamento dessa

problemaacutetica mediante accedilotildees no campo da sauacutede direcionadas aos casos de

violecircncia sexual violecircncia contra as crianccedilas e outros agravos

Nesse sentido a violecircncia contra as mulheres passa a ser tema de estudo e

intervenccedilatildeo no campo da sauacutede ao mesmo tempo em que se firma

internacionalmente como questatildeo de direitos humanos

Decorridos alguns anos do relatoacuterio da OMS sobre violecircncia e sauacutede2 torna-

se conhecido para os profissionais de sauacutede o fato de que a violecircncia contra as

mulheres tem alta magnitude e relevacircncia no campo da sauacutede Tal situaccedilatildeo tem sido

evidenciada no acircmbito dos serviccedilos de sauacutede pois mulheres que

vivenciamvivenciaram situaccedilotildees de violecircncia domeacutestica e sexual utilizam esses

serviccedilos com maior frequumlecircncia por apresentam mais queixas de ordem fiacutesica

mental e ou emocional (DrsquoOliveira et al 2009)

Estudo no acircmbito da atenccedilatildeo primaacuteria constatou que a frequumlecircncia de

mulheres que relataram ter vivenciado situaccedilotildees de violecircncia domeacutestica a partir dos

18 anos foi de 214 enquanto que em serviccedilos de emergecircncia essas ocorrecircncias

variaram de 22 a 35 (DrsquoOLIVEIRA SCHRAIBER et al 2002) Tambeacutem por essa

razatildeo os serviccedilos de sauacutede satildeo importantes dispositivos para a identificaccedilatildeo e

enfrentamento dessa problemaacutetica pois sua ampla cobertura na atenccedilatildeo baacutesica

favorece a vinculaccedilatildeo dessas mulheres a uma equipe de sauacutede em um dado

territoacuterio o que favorece o acolhimento e a possibilidade de identificaccedilatildeo de

situaccedilotildees de violecircncia domeacutestica contra mulheres ainda que subjetivadas por outras

queixas de origem bioloacutegica ou ainda mediante o proacuteprio relato da vitima em um

atendimento de sauacutede (DrsquoOliveira et al 2009)

2 Desde 1996 a Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede reconhece a violecircncia como um problema de sauacutede puacuteblica

(WHO 2002)

12

Entende-se que a violecircncia domeacutestica contra as mulheres eacute um fenocircmeno

complexo que requer accedilotildees intersetoriais para aleacutem do campo juriacutedico na medida

em que eacute reconhecida como um problema de sauacutede puacuteblica Para tanto o

enfrentamento de situaccedilotildees dessa natureza requer accedilotildees no campo dos direitos

humanos e de cidadania na perspectiva da humanizaccedilatildeo e da integralidade em

sauacutede pautadas na eacutetica e no entendimento de que um viver saudaacutevel implica

tambeacutem no direito a uma vida sem violecircncia (DrsquoOliveira et al 2009)

Ante estas consideraccedilotildees este estudo teve a seguinte questatildeo norteadora ldquoo

que a literatura especializada em sauacutede dos uacuteltimos dez anos disponiacutevel on line

traz a respeito da violecircncia domestica contra a mulher no periacuteodo de 2000 a 2009rdquo

O objetivo da pesquisa foi ldquoconhecer o que a literatura especializada em sauacutede dos

uacuteltimos dez anos disponiacutevel on line traz a respeito da violecircncia domestica contra a

mulher no periacuteodo de 2000 a 2009rdquo

13

METODOLOGIA

Trata-se de uma pesquisa bibliograacutefica de natureza qualitativa que segundo

Gil (2009) eacute o estudo desenvolvido com base em material jaacute elaborado constituiacutedo

principalmente de livros e artigos Segundo Minayo (2002) ldquoa pesquisa qualitativa

trabalha com o universo de significados motivos aspiraccedilotildees crenccedilas valores e

atitudes o que corresponde a um espaccedilo mais profundo das relaccedilotildees dos

processos e dos fenocircmenos que natildeo podem ser reduzidos agrave operacionalizaccedilatildeo de

variaacuteveisrdquo

Os dados foram coletados mediante consulta na Biblioteca Virtual de Sauacutede ndash

BVSBireme nas bases de dados de dados da Literatura Latino-Americana e do

Caribe em Ciecircncias da Sauacutede (LILACS) e Scientific Eletronic Library On line

(SCIELO) Foram utilizados os termos violecircncia contra a mulher e sauacutede publica

como descritores para o levantamento de dados nos uacuteltimos dez anos Este

processo envolveu atividades de busca identificaccedilatildeo fichamento de estudos

mapeamento e anaacutelise O recorte temporal justifica-se pelo fato de que em dez

anos a prodccedilatildeo de conhecimento se renova substancialmente especialmente no

que tange ao conhecimento veiculado em miacutedias informatizadas

O levantamento bibliograacutefico foi realizado no periacuteodo de vinte e trecircs a vinte e

seis de maio de dois mil e onze cujos dados coletados atenderam aos seguintes

criteacuterios de inclusatildeo artigos cientiacuteficos disponiacuteveis na iacutentegra online e em idioma

da lingua portuguesa no periacuteodo de 2000 a 2009 com os descritores violecircncia

domeacutestica contra a mulher e sauacutede publica

Inicialmente foram encontradas noventa e trecircs (93) produccedilotildees cientiacuteficas com

o descritor violecircncia domeacutestica contra a mulher e sauacutede puacuteblica Dessas foram

selecionados vinte e oito (28) artigos cientiacuteficos que apresentavam o texto na

iacutentegra sendo que apenas quinze (15) atendiam o criteacuterio de inclusatildeo relativo ao

idioma que era a liacutengua portuguesa Dos quinze (15) artigos selecionados trecircs (3)

natildeo atenderam ao enquadre temporal pois uma datava do ano de 1999 e duas do

ano de 2010 motivo pelo qual as mesmas foram excluiacutedas totalizando doze (12)

artigos que passaram a compor o corpus dos dados a serem analisados

14

A anaacutelise dos dados se deu pela teacutecnica de anaacutelise temaacutetica de Minayo

(2002) definida como a descoberta dos nuacutecleos de sentidos que constituem uma

comunicaccedilatildeo acerca da frequumlecircncia ou da presenccedila de algum significado para o

objeto que seraacute analisado Este meacutetodo de anaacutelise eacute constituiacutedo por trecircs etapas a

preacute-anaacutelise em que ocorre a ordenaccedilatildeo dos dados obtidos a exploraccedilatildeo do

material em que os dados satildeo classificados de forma a alcanccedilar o nuacutecleo de

compreensatildeo do texto por meio da formulaccedilatildeo de categorias e o tratamento dos

resultados obtidos e interpretaccedilatildeo em que se articulam os dados apreendidos ao

referencial teoacuterico visando responder as questotildees da pesquisa

15

APRESENTACcedilAtildeO E DISCUSSAtildeO DOS RESULTADOS

Para a categorizaccedilatildeo e anaacutelise dos doze artigos cientiacuteficos selecionados foi

elaborado um quadro analiacutetico (Anexo 1) composto pelas variaacuteveis titulo origem

subaacuterea de conhecimento tipo natureza ano de publicaccedilatildeo regiatildeo da pesquisa

O mapeamento das produccedilotildees apontou a subaacuterea multiprofissional como de

maior concentraccedilatildeo na produccedilatildeo de artigos cientiacuteficos sendo que a maioria foi de

produccedilotildees socioculturais e apenas um artigo de natureza clinica se mostrando

convergente agrave aacuterea de odontologia

Com relaccedilatildeo ao tipo de pesquisa a abordagem mais utilizada foi do tipo

qualitativa Quanto ao recorte temporal adotado a primeira produccedilatildeo selecionada foi

do ano de 2004 sendo que a maior concentraccedilatildeo se deu no ano de 2007 com cinco

(5) artigos

Quanto agraves regiotildees do paiacutes em que esses artigos foram produzidos observou-

se maior concentraccedilatildeo dessas publicaccedilotildees na regiatildeo Sudeste com seis (6) artigos

cinco (5) artigos na regiatildeo Sul e apenas um (1) artigo na regiatildeo nordeste Ainda

com relaccedilatildeo agrave regionalidade desses artigos destaca-se que trecircs dos artigos

produzidos na regiatildeo sudeste do paiacutes foram desenvolvidos na cidade de Ribeiratildeo

PretoSP dos quais dois abordavam a perspectiva dos profissionais de sauacutede em

relaccedilatildeo e violecircncia domestica e o outro o perfil das vitimas de violecircncia

Do processo de anaacutelise dos achados da pesquisa emergiram trecircs categorias

sendo que os doze artigos foram categorizados em Violecircncia domeacutestica e de

gecircnero praacuteticas discursivas Perfil das mulheres que sofreram violecircncia e A violecircncia

na oacutetica dos profissionais de sauacutede

VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E DE GEcircNERO PRAacuteTICAS DISCURSIVAS

Medina e Penna (2008) em estudo bibliograacutefico que analisou quatorze (14)

produccedilotildees entre os anos de 2000 e 2005 destacaram o contexto soacutecio-cultural da

violecircncia domeacutestica no periacuteodo gestacional como um fator importante no

desenvolvimento desta no acircmbito da famiacutelia Tambeacutem ressaltam que a violecircncia

vivenciada pela gestante ainda eacute uma situaccedilatildeo de difiacutecil abordagem nas relaccedilotildees

16

pessoais e profissionais O estudo indicou ainda que mulheres que vivenciam

situaccedilotildees de violecircncia na gestaccedilatildeo se sentem coibidas em denunciar agressotildees

sofridas pelos parceiros ou familiares Da mesma forma em que evidenciou

processos de naturalizaccedilatildeo e de invisibilidade da violecircncia na gestaccedilatildeo na medida

em que muitas situaccedilotildees dessa natureza nem sempre satildeo percebidas e

reconhecidas como atos violentos pelas mulheres que a vivenciam como tambeacutem

pelos profissionais de sauacutede que as assistem

Pesquisa realizada por Silva et al (2007) que analisou os tipos de violecircncia

domeacutestica indicou que a violecircncia psicoloacutegica eacute o ponto inicial que deflagra a

violecircncia Para os autores a prevenccedilatildeo de qualquer tipo de situaccedilatildeo de violecircncia

vivida no acircmbito domeacutestico deve passar pela compreensatildeo de que estrateacutegias que

visem coibir situaccedilotildees de violecircncia psicoloacutegica implicam diretamente na minimizaccedilatildeo

dos demais tipos de violecircncias Destacam ainda que outras accedilotildees importantes

como palestras e maior discussatildeo sobre a temaacutetica em escolas de ensino

fundamental e meacutedio da rede puacuteblica e universidades que abordem a temaacutetica da

violecircncia na perspectiva dos direitos humanos bem como sobre serviccedilos de apoio

existentes e possibilidades de enfrentamento desta demanda devem ser

incentivadas

Estudo publicado por Meneghel e Intildeiguez (2007) que analisou oficina de

contadores de histoacuterias realizada no Centro Ecumecircnico de Assessoria e

Capacitaccedilatildeo de Satildeo Leopoldo (CECA-SL) a qual teve como tema gerador das

discussotildees as questotildees de gecircnero Dessas discussotildees foram escolhidas histoacuterias

para comporem essas narrativas nas quais as mulheres contavam episoacutedios de

violecircncia ligados agraves suas trajetoacuterias pessoais e afirmavam que a violecircncia de gecircnero

acontece em qualquer classe social escolaridade ou raccedila Na medida em que se

posicionavam criticamente em relaccedilatildeo ao sexismomachismo essas mulheres

afirmavam que eram obrigadas a abdicar de si mesmas natildeo podiam construir

projetos de vida mais autocircnomos devendo sempre ceder agraves vontades do homem

(maridocompanheiro) permanecendo submissas a ele Essa subordinaccedilatildeo agrave

autoridade masculina poderia ser potencializada ou minimizada na medida em que

essas mulheres dispusessem ou natildeo de acesso a informaccedilotildees que favoreccedilam o

17

entendimento de sua posiccedilatildeo como sujeito de direitos dentre os quais o de uma

vida sem violecircncia

Com base nos estudos analisados percebeu-se que a violecircncia domeacutestica

contra as mulheres envolve questotildees culturais e de gecircnero Nesse sentido a

prevenccedilatildeo ou minimizaccedilatildeo de situaccedilotildees relativas agrave violecircncia domeacutestica requer accedilotildees

intersetoriais que mobilizem os diversos segmentos da sociedade para que

conjuntamente atuem de forma proacute-ativa no enfrentamento desta problemaacutetica

Uma estrateacutegia importante seria a inclusatildeo da temaacutetica como um tema

transversal nas escolas a ser abordado natildeo apenas com alunos e professores mas

tambeacutem com as famiacutelias que integram a comunidade escolar

Para aleacutem da organizaccedilatildeo de serviccedilos para o enfrentamento da violecircncia

contra as mulheres e apoio a essas viacutetimas evidencia-se tambeacutem a necessidade de

maior qualificaccedilatildeo sobre a temaacutetica de profissionais que atuam no campo da sauacutede

e do serviccedilo social para que possam atender esta demanda com eacutetica competecircncia

e de forma mais humanizada Atuaccedilatildeo esta pautada em valores societaacuterios em que

homens e mulheres tenham os mesmos direitos de cidadania buscando a

superaccedilatildeo de todas as formas de violecircncia preconceitos discriminaccedilotildees e

desigualdades

18

PERFIL DAS MULHERES QUE SOFRERAM VIOLEcircNCIA

A maioria das produccedilotildees traccedilou o perfil das mulheres vitimas de violecircncia

domeacutestica que procuram atendimento em serviccedilos de sauacutede tendo como variaacuteveis a

faixa etaacuteria profissatildeo estado civil escolaridade dentre outros

Galvatildeo e Andrade (2004) pesquisaram o perfil de mulheres em situaccedilatildeo de

violecircncia atendidas em um Centro de Atendimento agrave Mulher (CAM) em Londrina

Paranaacute a partir de informaccedilotildees extraiacutedas das fichas desses atendimentos A faixa

etaacuteria que predominou entre as mulheres atendidas no CAM foi agrave de 30 a 39 anos

seguida da faixa etaacuteria de 20 a 29 anos sendo que a meacutedia de idade foi de 34 anos

Com relaccedilatildeo ao estado civil 472 das mulheres declararam-se casadas 266

dos casos as mulheres que conviviam com um companheiro fixo numa relaccedilatildeo

consensual e 54 possuem um ou dois filhos Quanto agrave escolaridade 581 dessas

mulheres natildeo concluiacuteram o ensino fundamental 128 concluiacuteram o ensino meacutedio e

a taxa de analfabetismo foi de 21 sendo que 558 desenvolvia algum tipo de

trabalho remunerado Os principais agressores satildeo os atuais maridos ou

companheiros das mulheres (734) e quase a totalidade dos casos (974)

ocorreu no ambiente domeacutestico Quanto agrave caracterizaccedilatildeo dos casos de violecircncia

prevalece a violecircncia emocional com 564 dos casos seguida pela violecircncia fiacutesica

com 321 Quanto ao tempo em que vivenciam situaccedilotildees de violecircncia 33 das

mulheres vecircm sofrendo agressotildees por periacuteodos de ateacute um ano e 204 dos casos

refere-se a mulheres que sofrem agressotildees haacute mais de 10 anos

Estudo realizado por Monteiro et al (2006) sobre o perfil de mulheres que

sofreram violecircncia atendidas em uma unidade de urgecircncia em Teresina Piauiacute

indicou que 78 encontrava-se na faixa etaacuteria entre 18 e 40 anos e que 40 delas

natildeo trabalhavam fora de casa desempenhando exclusivamente as tarefas

domeacutesticas relativas ao cuidado coma casa e filhos As agressotildees nos membros

superiores ocorreram com maior frequumlecircncia (44) seguida das agressotildees na face

(33) Revelou ainda que a maioria dessas mulheres natildeo relatou os motivos pelos

quais foram agredidas ainda que o aacutelcool tenha sido apontado em 19 dos casos

como o principal motivo desencadeador das agressotildees seguido do ciuacutemes

Tambeacutem haacute um grande nuacutemero de subnotificaccedilatildeo em relaccedilatildeo ao agressor (80)

19

possivelmente em funccedilatildeo da dependecircncia econocircmica e por medo de vinganccedila do

companheiro Quanto agraves condutas adotadas pelos profissionais de sauacutede a grande

maioria (83) limita-se ao atendimento de queixas de menor complexidade como

aquelas que exigiram sutura simples ou consulta meacutedica Recomendam ainda que o

apoio as viacutetimas de violecircncia deve ter iniacutecio no serviccedilo de urgecircncia de forma

articulada com outros serviccedilos que tratam da mesma questatildeo como as Delegacias

Especiais de Atendimento agrave Mulher (DEAM) os Conselhos de Direitos da Mulher

Abrigos e outras instituiccedilotildees

Mota Vasconcelos e Assis (2007) analisaram as informaccedilotildees das fichas de

atendimento de um centro especializado no atendimento a mulheres viacutetimas de

violecircncia no municiacutepio do Rio de Janeiro totalizando 684 fichas de atendimento

dessas mulheres Dessa anaacutelise os autores traccedilaram o perfil dessas mulheres as

quais apresentaram idade meacutedia de 37 anos Para os autores o baixo status

econocircmico a baixa escolaridade e consequumlentemente o acesso agrave informaccedilatildeo

podem ter sido condiccedilotildees facilitadoras para a ocorrecircncia de situaccedilotildees de violecircncia

domeacutestica contra mulheres pelo cocircnjuge na populaccedilatildeo analisada Por outro lado as

agressotildees fiacutesicas mais graves que ocorreram com mulheres que possuiacuteam maior

niacutevel de escolaridade podem ter sido potencializadas pelo fato de as mesmas natildeo

terem aceitado essa violecircncia de modo passivo implicando em um conflito ainda

maior e em agressotildees fiacutesicas mais graves O estudo evidenciou ainda que a

violecircncia domeacutestica contra a mulher envolve questotildees culturais e de gecircnero com

implicaccedilotildees nas questotildees relativas agrave conjugalidade Assim a violecircncia domeacutestica

contra a mulher estaacute vinculada ao tradicional controle masculino baseado no papel

de provedor cuja desigualdade de gecircnero potencializa conflitos e colabora para a

ocorrecircncia de situaccedilotildees de violecircncia de ordem fiacutesica psicoloacutegica ou moral

Pesquisa retrospectiva e documental desenvolvida por Leonsio et al (2008)

analisou 446 boletins de ocorrecircncia em uma Delegacia de Defesa da Mulher em

Ribeiratildeo Preto Satildeo Paulo Em seus resultados os autores destacaram que 3408 das

mulheres estavam em faixa etaacuteria acima de 35 anos 7578 eram da raccedila branca e

4417 delas eram solteiras Quanto agrave ocupaccedilatildeo 5874 dessas mulheres

exerciam algum tipo de trabalho remunerado formal ou informal e 3722 possuiacuteam

o ensino fundamental completo Outro aspecto importante evidenciado pelo estudo foi

20

que 5471 das mulheres agredidas demoraram de 1 a 15 dias entre a agressatildeo e o tempo

da denuacutencia formal e 4215 registraram a ocorrecircncia no mesmo dia na delegacia Em

7691 dos casos o ambiente domeacutestico foi o local em que essas agressotildees ocorreram

Quanto ao agressor foi observado nos boletins de ocorrecircncia investigados que em 4910

dos casos os parceiros foram os principais denunciados seguidos de ex-parceiros com

1816 das ocorrecircncias Dentre os motivos desencadeantes da agressatildeo 4462

corresponderam agrave recusa da separaccedilatildeo conjugal 1435 ciuacutemes e 1996 por outros

motivos como bebidasdrogas

Estudo realizado por Resende et al (2007) analisou registros e laudos

encaminhados ao setor de Odontologia do IML de Belo Horizonte sobre as lesotildees

bucomaxilares sofridas por mulheres vitimas de violecircncia domeacutestica A faixa etaacuteria

predominante das mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia foi de 20 a 39 anos

representando 704 do total sendo a idade meacutedia correspondente a 303 anos

Quanto agrave ocupaccedilatildeo 241 das mulheres realizavam trabalhos domeacutesticos 213

se intitulavam ldquodonas-de-casardquo e 14 trabalhavam no comeacutercio A maioria das

mulheres que sofreu agressotildees declarou-se solteira perfazendo um total de 63

enquanto que o percentual de casadas foi menor correspondendo apenas 204

Foi constatado o elevado percentual de 611 dos casos em que o agressor natildeo foi

identificado (611) em 25 o sujeito agressor foi o companheiro em 37 foram

familiares e em 74 foram conhecidos perfazendo um total de 361 contra 28

de violecircncia realizada por estranhos

A complexidade da problemaacutetica da violecircncia domeacutestica contra as mulheres

tem implicaccedilotildees em questotildees culturais e de gecircnero vinculada a construccedilatildeo social

de papeacuteis desiguais entre homens e mulheres que potencializa conflitos e colabora

para a ocorrecircncia de situaccedilotildees de violecircncia de ordem fiacutesica psicoloacutegica ou moral

Ainda nesse sentido costuma ser difiacutecil para a maioria das mulheres tomarem a

atitude de denunciar seus companheiros agressores e romper com a situaccedilatildeo de

violecircncia principalmente em funccedilatildeo do medo de vinganccedila e da dependecircncia

econocircmica agrave renda do marido

21

A VIOLEcircNCIA CONTRA A MULHER NA OacuteTICA DAS VITIMAS E DOS

PROFISSIONAIS DE SAUacuteDE

Estudo desenvolvido por Vieira et al (2009) sobre o conhecimento e atitudes

dos profissionais de sauacutede em relaccedilatildeo agrave violecircncia de gecircnero destaca a importacircncia

do atendimento de mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia nos serviccedilos de sauacutede jaacute que

este eacute muitas vezes o uacutenico local procurado pelas viacutetimas A maioria dos

profissionais que participou do estudo demonstrou bom conhecimento sobre a

definiccedilatildeo de violecircncia contra a mulher aleacutem de reconhecer como seu papel

profissional perguntar sobre violecircncia para as pacientes Indicou ainda que esses

profissionais acreditam que para uma melhor atenccedilatildeo agrave violecircncia deveria ser

implantado em sua rotina de trabalho um protocolo de enfrentamento da violecircncia

Os autores tambeacutem evidenciaram a necessidade maiores investimentos na

capacitaccedilatildeo e qualificaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede que devem estar aptos para

reconhecer e manejar os casos de violecircncia

Pesquisa realizada por De Ferrant Santos e Vieira (2009) sobre a percepccedilatildeo

dos meacutedicos de uma unidade baacutesica de Ribeiratildeo Preto Satildeo Paulo em relaccedilatildeo agrave

violecircncia domeacutestica contra a mulher revelou que a maior parte deles acredita que a

violecircncia psicoloacutegica eacute a mais grave pois a proacutepria mulher apresenta dificuldade em

reconhececirc-la como algo prejudicial agrave sua sauacutede a ponto de frequentemente

permanecer exposta agrave situaccedilatildeo durante anos a fio Os resultados indicam que os

meacutedicos detecircm alguns conhecimentos acerca dos tipos de violecircncia de gecircnero e satildeo

capazes de identificar e muitas vezes acolher as mulheres que estatildeo expostas agrave

situaccedilatildeo Contudo destacam uma seacuterie de dificuldades para atuarem frente a uma

usuaacuteria que apresenta essa problemaacutetica e reconhecem a falta de capacitaccedilatildeo

profissional uma vez que muitos deles reforccedilam a necessidade de um treinamento

voltado especificamente para os casos de violecircncia de gecircnero Da mesma forma que

apontam outras barreiras pessoais e institucionais que limitam sua atuaccedilatildeo tanto

em niacutevel preventivo como interventivo que muitas vezes os impedem de agir

adequadamente frente a uma situaccedilatildeo de violecircncia Entre elas destacam-se os

meacutedicos sentem-se impotentes frente agraves atitudes que a mulher possa vir a tomar

mesmo depois de orientada afirmam que temem tomar qualquer atitude por medo

22

da reaccedilatildeo do agressor Os autores sugerem a necessidade de um trabalho integrado

e em rede que ofereccedila uma resposta efetiva para o problema da violecircncia de

gecircnero Aleacutem disso eacute preciso investir na qualificaccedilatildeo dos outros profissionais de

sauacutede aleacutem dos meacutedicos para que se viabilize um atendimento multidisciplinar

para que os serviccedilos de sauacutede se constituam em espaccedilos de acolhimento e apoio

integrando-se efetivamente agrave rede de atendimento

Wilhelm e Tonet (2007) em seu estudo sobre a percepccedilatildeo de mulheres que

sofreram violecircncia domeacutestica em um municiacutepio do interior de Santa Catarina indicou

a ocorrecircncia de depressatildeo ansiedade medo e sentimento de baixa auto-estima Na

oacutetica dessas mulheres parte das agressotildees acontece somente no momento em que

seus companheiros estatildeo alcoolizados Aleacutem da violecircncia fiacutesica (tais como socos

arranhotildees puxotildees de cabelo arremesso de objetos chutes tapas e beliscotildees)

ocorrem as humilhaccedilotildees e a desqualificaccedilatildeo sendo ridicularizadas perante os

amigos do agressor sua famiacutelia e desautorizada perante os filhos Quanto ao

comportamento violento do companheiro este eacute justificado por fatores externos

deste modo desresponsabilizando-o como por exemplo as dificuldades

financeiras desemprego e uso de drogas dentre outros Muitos satildeo os motivos

pelos quais a mulher natildeo denuncia seu marido agressor passando a viver muitos

anos neste contexto de violecircncia dentre os quais destaca-se dependecircncia

financeira filhos fator cultural e ameaccedilas Da mesma forma todas demonstraram a

esperanccedila de que o companheiro mudasse em relaccedilatildeo ao seu comportamento

violento Aleacutem de poliacuteticas puacuteblicas mais efetivas par ao enfrentamento da violecircncia

domeacutestica Eacute necessaacuterio promover poliacuteticas puacuteblicas mais efetivas em relaccedilatildeo ao

enfrentamento da violecircncia domeacutestica bem como maiores investimentos em redes

de apoio social efetiva para a mulher e seus filhos as quais muitas vezes estatildeo

subjugadas ao seu agressor devido agrave dependecircncia econocircmica Em relaccedilatildeo a este eacute

importante promover grupos de homens com a finalidade de propiciar a discussatildeo

sobre violecircncia relaccedilotildees e gecircnero e formas alternativas de resoluccedilatildeo de conflitos

Estudo de Scaranto Biazevic e Michel (2007) sobre a percepccedilatildeo dos Agentes

Comunitaacuterios de Sauacutede (ACS) sobre a Violecircncia Domeacutestica contra a Mulher em um

municiacutepio do interior do Rio Grande do Sul identificou relatos de situaccedilotildees de

violecircncia domeacutestica contra a mulher cometida por seu companheiro seja fiacutesica

23

sexual psicoloacutegica ou econocircmica A obediecircncia aos maridoscompanheiros vai

desde o cuidado pessoal ateacute o desempenho sexual A vergonha pela violecircncia

sofrida eacute infinitamente maior do que a coragem da mulher para denunciar

Constatou-se que o ACS pode ser o elo entre a vergonha e a coragem para a

mulher denunciar o problema da violecircncia o que significa que ele parece ser de

fundamental importacircncia no acolhimento das anguacutestias dessas mulheres no

encorajamento para o relato de sofrimento na detecccedilatildeo da questatildeo da violecircncia

que pode estar acompanhada pela depressatildeo ansiedade ou ateacute mascarada por

algum tipo de queixa vaga e em consequumlecircncia fazer o encaminhamento de

referecircncia correto e eficiente na denuacutencia Eacute preciso dar subsiacutedios teoacuterico-praacuteticos

aos profissionais para que em seu trabalho cotidiano possam detectar situaccedilotildees de

violecircncia encontrar a forma de abordar as famiacutelias e dar encaminhamento tanto aos

casos de violecircncia quanto de uso de aacutelcooldrogas A violecircncia contra a mulher deve

ser considerada como questatildeo de sauacutede puacuteblica a partir do conceito ampliado de

sauacutede motivo pelo qual necessita ser alvo de poliacuteticas puacuteblicas efetivas e

consistentes assim como mecanismos de proteccedilatildeo agrave mulher viacutetima de violecircncia

tambeacutem precisam ser criados

Com base nos artigos analisados constatou-se que muitos profissionais tecircm

dificuldades em reconhecer a violecircncia como um problema de sauacutede devido agrave falta

de subsiacutedios teoacuterico-praacuteticos para a detecccedilatildeo de situaccedilotildees de violecircncia abordagem

adequada agraves viacutetimas e os devidos encaminhamentos para o atendimento desta

demanda

24

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Este estudo teve se propocircs a conhecer o que a literatura especializada em

sauacutede dos uacuteltimos dez anos disponiacutevel on line traz a respeito da violecircncia

domestica contra a mulher no periacuteodo de 2000 a 2009

Com base nos artigos analisados percebe-se que o baixo status econocircmico

o niacutevel de instruccedilatildeo e consequumlentemente o acesso agrave informaccedilatildeo podem ser

considerados como condiccedilotildees facilitadoras para a ocorrecircncia de situaccedilotildees de

violecircncia domeacutestica

Em muitos casos a dependecircncia econocircmica da mulher agrave renda do marido

impotildee a necessidade desta em ter de permanecer com ele mesmo diante de

situaccedilotildees de violecircncia

De modo geral os estudos analisadas indicaram os maridos ou companheiros

atuais das mulheres ou ainda seus ex-companheiros como os principais

agressores sendo o ambiente domeacutestico o local predominate destas agressotildees

Outro aspecto evidenciado nos achados desta pesquisa se refere ao fato de

que a maioria dessas mulheres natildeo relatou os motivos pelos quais foram agredidas

ainda que o aacutelcool tenha sido apontado como o principal motivo desencadeador das

agressotildees seguido do sentimento de ciuacutemes Tambeacutem se verificou o grande

nuacutemero de sub-notificaccedilatildeo dos casos de violecircncia contra as mulheres Assim infere-

se que possivelmente isto ocorra em funccedilatildeo da dependecircncia econocircmica e por

medo de vinganccedila

A natureza soacutecio-cultural e a subaacuterea multiprofissional prevalente nas

produccedilotildees analisadas evidenciaram a multiplicidade de aspectos relevantes a

temaacutetica da violecircncia como um complexo problema de sauacutede puacuteblica sinalizando

para a urgecircncia de um movimento reflexivo seja no acircmbito da formaccedilatildeo de

profissionais de sauacutede seja na praacutetica profissional para o enfrentamento desta

questatildeo

Destaca-se a importacircncia de pesquisa bibliograacuteficas para a sistematizaccedilatildeo

das produccedilotildees cientiacuteficas nacionais na temaacutetica violecircncia domestica contra a mulher

para o (re)conhecimento do estado da arte sobre a temaacutetica em anaacutelise fato este

25

fundamental para subsidiar futuras intervenccedilotildees no acircmbito das praacuteticas e serviccedilos

de sauacutede e da accedilatildeo social

A complexidade que envolve as questotildees relativas agrave violecircncia contra a mulher

exige accedilotildees capazes de dar conta das inuacutemeras demandas apresentadas o que

implica na articulaccedilatildeo entre as diferentes aacutereas de conhecimento e de atuaccedilatildeo

multiprofissional

Nessa loacutegica faz-se necessaacuterio maior investimento na qualificaccedilatildeo de

profissionais de sauacutede do serviccedilo social do direito entre outros para o

reconhecimento e identificaccedilatildeo dos sinais que possam indicar situaccedilotildees de violecircncia

contra as mulheres visando o acolhimento das mesmas natildeo apenas nos serviccedilos de

sauacutede mas em outros setores da sociedade Da mesma forma a criaccedilatildeo e

organizaccedilatildeo de serviccedilos multiprofissionais de atendimento agraves mulheres em situaccedilatildeo

de violecircncia para seu devido enfrentamento de modo que os mesmos estejam

articulados na loacutegica da intersetorialidade com os campos da sauacutede do serviccedilo

social e do direito no desenvolvimento de accedilotildees preventivas e assistenciais na

perspectiva da atenccedilatildeo integral agraves mulheres

Para aleacutem da organizaccedilatildeo de serviccedilos para o enfrentamento da violecircncia

contra as mulheres e apoio a essas viacutetimas evidencia-se tambeacutem a urgecircncia de

maior qualificaccedilatildeo sobre a temaacutetica de profissionais que atuam nesses campos para

que possam atender demandas dessa natureza de modo mais solidaacuterio

respeitando-se as subjetividades e singularidades implicadas nessas situaccedilotildees

Os Assistentes Sociais tecircm atuado como mediadores proporcionando a

escolha para as mulheres do que melhor lhes conveacutem Tal direcionamento vai ao

encontro da proposta aqui formulada na qual considera o profissional como sendo

um facilitador que em nome de valores como liberdade individual independecircncia e

autonomia fornece suporte ao processo de fortalecimento destas usuaacuterias ou seja

eacute o profissional que vecirc aleacutem do aparente (TAVARES 2008)

Sabe-se que jaacute existem leis especiacuteficas para o enfrentamento da violecircncia

contra as mulheres poreacutem ainda eacute preciso que as mesmas sejam incorporadas pela

sociedade como cultura poliacutetica para que accedilotildees mais efetivas sejam de fato

implementadas

26

Como estrateacutegia para a ampliaccedilatildeo do escopo das praacuteticas dessa natureza no

acircmbito das poliacuteticas puacuteblicas destaca-se a criaccedilatildeo de accedilotildees intersetoriais com

movimentos organizados de mulheres organizaccedilotildees governamentais e natildeo

governamentais de defesa aos direitos das mulheres serviccedilos de sauacutede e da accedilatildeo

social delegacias de policia organizaccedilotildees de bairros escolas dentre outros

segmentos sociais

Outra importante accedilatildeo se refere agrave incorporaccedilatildeo das questotildees relativas agrave

violecircncia e mais especificamente contra as mulheres foco deste estudo como um

tema transversal nas escolas o qual deve ser abordado natildeo apenas com alunos e

professores mas tambeacutem com as famiacutelias que integram a comunidade escolar

Para tanto a interlocuccedilatildeo do Serviccedilo Social com essa questatildeo se faz

necessaacuteria uma vez que a violecircncia domestica eacute um fenocircmeno social e portanto

deve ser enfrentada mediante o conjunto de estrateacutegias poliacuteticas e de intervenccedilatildeo

social direta

Desde esta perspectiva os profissionais do Serviccedilo Social devem intervir

diretamente na realidade social dos sujeitos tendo como pressuposto de atuaccedilatildeo a

articulaccedilatildeo do trabalho em redes promovendo a co-participaccedilatildeo e co-

responsabilizaccedilatildeo dos atores envolvidos nessa problemaacutetica desde a tomada de

decisotildees ateacute os encaminhamentos que se fizerem necessaacuterios para o enfrentamento

positivo e superaccedilatildeo de situaccedilotildees de violecircncia contra as mulheres

A partir de accedilotildees mais efetivas e da conscientizaccedilatildeo dos atores sociais de

que a violecircncia eacute hoje um problema de relevacircncia mundial e de sauacutede puacuteblica no

cenaacuterio brasileiro almeja-se a detecccedilatildeo precoce de situaccedilotildees de violecircncia

abordagem adequada e qualificada agraves viacutetimas e os devidos encaminhamento para o

atendimento desta demanda com eacutetica competecircncia e de forma mais humanizada

Atuaccedilatildeo esta pautada em valores societaacuterios em que homens e mulheres tenham

os mesmos direitos de cidadania buscando a superaccedilatildeo de todas as formas de

violecircncia preconceitos discriminaccedilotildees e desigualdades

27

REFEREcircNCIAS

BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Violecircncia intrafamiliar orientaccedilotildees para a praacutetica em serviccedilos Cadernos de Atenccedilatildeo Baacutesica n 8 BrasiacuteliaDF 2002 CABRAL F B OLIVEIRA D LL C de CECCIM R B O puerpeacuterio e a sauacutede da mulher vulnerabilidade e atenccedilatildeo baacutesica agrave sauacutede In Ensino e atenccedilatildeo agrave sauacutede da mulher aprendizados da integraccedilatildeo da educaccedilatildeo superior com a rede assistencial edCaxias do Sul EDUCS Editora da Universidade de Caxias do Sul 2008 p 137-157 CAMARGO M AQUINO S de (2003) Redes de cidadania e parcerias- Enfrentando a rota criacutetica Secretaria Especial de Poliacuteticas para as Mulheres Programa de prevenccedilatildeo assistecircncia e combate agrave violecircncia contra a mulher- plano nacional Brasiacutelia 2003 DrsquoOLIVEIRA A F SCHRAIBER L B Violecircncia Contra a Mulher a pesquisa e a intervenccedilatildeo Revista Promoccedilatildeo da Sauacutede n 6 80- 8 2002 DE FERRANTE FG SANTOS MA VIEIRA EM Violecircncia contra a mulher percepccedilatildeo dos meacutedicos das unidades baacutesicas de sauacutede da cidade de Ribeiratildeo Preto Satildeo Paulo Satildeo Paulo Interface - Comunic Saude Educ 13(31)287-99 outdez 2009

DOLIVEIRA AFPL SCHREIBER LB HANADA H DURANDJ Atenccedilatildeo integral agrave sauacutede de mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia de gecircnero ndash uma alternativa para a atenccedilatildeo primaacuteria em sauacutede Rio de Janeiro Ciecircnc Sauacutede Coletiva 14(4) julhoago 2009

GALVAtildeOFEANDRADESM Violecircncia contra a mulher anaacutelise de casos atendidos em serviccedilo de atenccedilatildeo agrave mulher em municiacutepio do Sul do Brasil Sauacutede e Sociedade 13(2)p89-99 maio-ago 2004 GIL A C Como Elaborar Projetos de Pesquisa 4 ed Satildeo Paulo Atlas 2009

LEONCIO LK ET AL O perfil das mulheres vitimizadas e seus agressores Rev enferm UERJ Rio de Janeiro 16(3)307-12 julset 2008 MEDINA ABC PENNA LHG Violecircncia na gestaccedilatildeo um estudo da produccedilatildeo cientiacutefica de 2000 a 2005 Esc Anna Nery 12(4)793-98 dez 2008 MENEGHEL ST INtildeIGUEZ L Contadores de histoacuterias praacuteticas discursivas e violecircncia de gecircnero Cad Sauacutede Puacuteblica Rio de Janeiro 23(8)1815-1824 ago 2007 MEYER D E Teorias e poliacuteticas de gecircnero fragmentos histoacutericos e desafios atuais Revista Brasileira de Enfermagem Brasiacutelia v57 n1 p13-8 janfev 2004

28

MINAYO M C et al Pesquisa social teoria meacutetodo criatividade Petroacutepolis Vozes 2002 MONTEIROCFS Arauacutejo TME NunesBMV LustosaAR BezerraCMJ A Violecircncia contra a mulher atendida em uma unidade de urgecircncia uma contribuiccedilatildeo da enfermagem Esc Anna Nery 10(2)273-9 ago 2006 MOTA JCMVASCONCELOS AGG ASSIS SG Anaacutelise de correspondecircncia como estrateacutegia para descriccedilatildeo do perfil da mulher viacutetima do parceiro atendida em serviccedilo especializado Ciecircncia e Sauacutede coletiva 12 (3)799890 2007 REZENDE EJC ET AL Lesotildees buco-dentais em mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia um estudo piloto de casos periciados no IML de Belo Horizonte MG Rev Bras Epidemiol 10(2) 202-14 2007 SCARANTO CAA BIAZEVICMGH MICHEL-CROSATOE Percepccedilatildeo dos Agentes Comunitaacuterios de Sauacutede sobre a Violecircncia Domeacutestica contra a Mulher Psicol ciecircnc Prof 27(4)694-705 2007 SCHRAIBER L B DOLIVEIRA A F L P Violecircncia contra mulheres interfaces com a Sauacutede Comunicaccedilatildeo Sauacutede Educaccedilatildeo v3 n5 1999 SILVA LL ET AL Violecircncia silenciosa violecircncia psicoloacutegica como condiccedilatildeo da violecircncia fiacutesica domeacutestica Interface - Comunic Sauacutede Educ v11 n21 p93-103 janabr 2007 SILVA LL ET AL Violecircncia silenciosa violecircncia psicoloacutegica como condiccedilatildeo da violecircncia fiacutesica domeacutestica Interface - Comunic Sauacutede Educ v11 n21 p93-103 janabr 2007 TAVARES F A Daacutes Laacutegrimas agrave Esperanccedila o processo de fortalecimento das mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia domeacutestica 2008 Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Serviccedilo Social Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica do Rio Grande do Sul Porto Alegre 2008 VIEIRAMEET AL Conhecimento e atitudes dos profissionais de sauacutede em relaccedilatildeo agrave violecircncia de gecircnero Rev Bras Epidemiol 12(4) 566-77 2009 WILHEL FA TONET J Percepccedilatildeo sobre a violecircncia domeacutestica na perspectiva de mulheres vitimadas Psicol Argum Curitiba 25 (51)401-412 outdez 2007

29

ANEXO 1 - Quadro analiacutetico ndash Violecircncia domestica contra a mulher e sauacutede publica ndash 2000-2009

Titulo Revista

Origem Subaacuterea de

conhecimento

Tipo Natureza Ano de

publicaccedilatildeo

Regiatildeo da

pesquisa

Violecircncia contra a mulher anaacutelise de casos atendidos em serviccedilo de atenccedilatildeo agrave mulher em municiacutepio do sul do Brasil Rev Sauacutede e Sociedade v13 n2 p89-99 maio-ago 2004

GALVAtildeOFEANDRADESM

Artigo Sociologia Pesquisa

investigaccedilatildeo

Qualitativo

sociocultural 2004 Regiatildeo Sul

A violecircncia contra a mulher atendida em unidade de urgecircncia uma contribuiccedilatildeo da enfermagem Esc Anna Nery R Enferm 2006 ago 10 (2) 273-9

MONTEIROCFS Arauacutejo TME NunesBMV LustosaAR BezerraCMJ

Artigo Enfermagem Pesquisa

Investigaccedilatildeo

Quantitativo

sociocultural 2006 Regiatildeo

Norte

Percepccedilatildeo dos Agentes Comunitaacuterios de Sauacutede sobre a Violecircncia Domeacutestica contra a Mulher Psicol ciecircnc prof27(4)694-705 2007

SCARANTO CAA BIAZEVICMGH MICHEL-CROSATOE

Artigo Psicologia Pesquisa

Investigaccedilatildeo

Qualitativo

sociocultural 2007 Regiatildeo Sul

Violecircncia silenciosa violecircncia psicoloacutegica como condiccedilatildeo da violecircncia fiacutesica domeacutestica

Artigo Psicologia Revisatildeo sociocultural 2007 Regiatildeo Sul

30

Interface-Comunic Sauacutede Educ v11 n21 p93-103 janabr 2007

SILVA LL ET AL

Qualitativa

Anaacutelise de correspondecircncia como estrateacutegia para descriccedilatildeo do perfil da mulher viacutetima do parceiro atendida em serviccedilo especializado Ciecircncia e Sauacutede coletiva12 (3)799890 2007

MOTA JCMVASCONCELOS AGG ASSIS SG

Artigo multiprofissional Pesquisa Qualiquanti

epidemioloacutegi

co

2007 Centro

Contadores de histoacuterias praacuteticas discursivas e violecircncia de gecircnero Cad Sauacutede Puacuteblica Rio de Janeiro 23(8)1815-1824 ago 2007

MENEGHEL ST INtildeIGUEZ L

Artigo multiprofissional Pesquisa Qualitativa

Sociocultural 2007 Regiatildeo sul

Lesotildees buccedilo-dentais em mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia um estudo piloto de casos periciados no IML de Belo Horizonte MG Rev Bras Epidemiol 2007 10(2) 202-14

REZENDE EJC ET AL

Artigo Odontologia Pesquisa

Documental

Clinico 2007 Regiatildeo

sudeste

Percepccedilatildeo sobre a violecircncia domeacutestica na perspectiva de mulheres vitimadas Psicol Argum Curitiba v 25 n 51 p 401-412 outdez 2007

WILHEL FA TONET J

Artigo Psicologia Pesquisa

qualitativa

Sociocultural 2007 Regiatildeo Sul

O perfil de mulheres vitimizadas e de seus agressores Rev enferm UERJ Rio de Janeiro 2008 julset

Artigo Enfermagem Pesquisa Sociocultural 2008 Regiatildeo

31

16(3)307-12

LEONCIO LK ET AL documental

quantitativa

sudeste

Violecircncia na gestaccedilatildeo um estudo da produccedilatildeo cientiacutefica de 2000 a 2005 Esc Anna Nery Rev Enferm 2008 dez 12 (4) 793-98

MEDINA ABC PENNA LHG

Artigo Enfermagem Pesquisa

qualitativa

Sociocultural 2008 Regiatildeo

Sudeste

Conhecimento e atitudes dos profissionais de sauacutede em relaccedilatildeo agrave violecircncia de gecircnero Rev Bras Epidemiol 2009 12(4) 566-77

VIEIRAMEET AL

Artigo Multidisciplinar Pesquisa Qualitativa

Sociocultural 2009 Regiatildeo Sudeste

Violecircncia contra a mulher percepccedilatildeo dos meacutedicos das unidades baacutesicas de sauacutede da cidade de Ribeiratildeo Preto Satildeo Paulo Interface - Comunic Saude Educ v13 n31 p287-99 outdez 2009

DE FERRANTE FG SANTOS MA VIEIRA EM

Artigo Multidisciplinar Pesquisa Qualitativa

Sociocultural 2009 Regiatildeo Sudeste

32

33

7

RESUacuteMEN

Monografiacutea de Especializacioacuten

Curso de Posgrado Lato Sensu en Gestioacuten de Organizacioacuten Puacuteblica en Salud

Universidad Federal de Santa Mariacutea (UFSM) Centro de Educacioacuten Superior Norte

del Riacuteo Grande del Sur (CESNORS)

Tendencia de la investigacioacuten sobre la violencia domeacutestica contra las mujeres entre los antildeos 2000-2009 em Brasil

AUTORA Claudia Fernanda Grun

ORIENTADORA Fernanda Beheregray Cabral

Fecha y Local de la Defensa Trecircs de Maio 2 de julho de 2011

La violencia contra La mujer ES um fenoacutemeno mundial complejo que recebioacute

mayor visibilidad social em los uacuteltimos antildeos pues ES considerada como problema

de La salud publica Si refere de uma pesquisa bibliograacutefica cuyos datos colectados

em La Licteratura Latinoamericana y Caribe em Ciecircncias de La Salud (LILACS) y

Scientific Eletronic Library on line (SCIELO) El objetivo de l investigacioacuten es conocer

el que hay em la licteratura especializada em salud de los uacuteltimos diez antildeos A La

disposicioacutenon line respecto a La violecircncia domeacutestica contra La mujer em periacuteodo de

2000 hasta 2009 Si haacute utilizado los teacuterminos violencia contra La mujer e salud

puacuteblica como descriptores para um examen de datos los cuales han sido

submetidos a la anaacutelisis temaacutetica de Minayio Si haacute verificado que esas producciones

tienen como foco La violecircncia domeacutestica e de gecircnero el perfil de las viacutectimas que

han sufrido eses violecircncias y La percepcioacuten de latildes mismas y de los profisionales de

La salud sobre La temaacutetica Estuacutedios sobre el perfil de latildes mujeres han revelado que

La edad promedio haacute variado dentre 20 y 39 antildeos siendo que La dependecircncia

econocircmica al marido es de gran importacircncia de permanecer AL agresor apesarde

latildes situaciones de violecircncia Por ser um tema muy atctual los servicios de salud

poccedilo o no estaacuten equipados y preparados para La uma investigacioacuten de situaciones

de violecircncia em mujeres acompantildeamiento y resolucioacuten del problema Las acciones

de los profesionales de La salud han sido caracrezados por lo no acogimento de latildes

demandas y por respuestas inadecuadas a las mismas

8

Palabras-llaveviolencia domeacutestica contra La mujer Salud Puacuteblica

9

SUMAacuteRIO

TENDEcircNCIA DAS PESQUISAS SOBRE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA CONTRA AS

MULHERES ENTRE OS ANOS DE 2000- 2009 NO BRASIL10

INTRODUCcedilAtildeO 10

METODOLOGIA13

APRESENTACcedilAtildeO E DISCUSSAtildeO DOS RESULTADOS15

VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E DE GEcircNERO PRAacuteTICAS DISCURSIVAS16

PERFIL DAS MULHERES QUE SOFRERAM VIOLEcircNCIA18

A VIOLEcircNCIA CONTRA A MULHER NA OacuteTICA DAS VITIMAS E DOS PROFISSIONAIS

DE SAUacuteDE22

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS25

REFERENCIAS28

ANEXO 30

Anexo 1 ndash Quadro analiacutetico ndash Violecircncia domestica contra a mulher e sauacutede publica ndash 2000-2009 30

10

TENDEcircNCIA DAS PESQUISAS SOBRE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA CONTRA AS

MULHERES ENTRE OS ANOS DE 2000- 2009 NO BRASIL

INTRODUCcedilAtildeO

Ao longo da histoacuteria a conquista dos direitos humanos ndash como garantia de

justiccedila social e dignidade humana ndash fez e faz parte de um processo de consciecircncia

dos diferentes povos Respeitar os direitos humanos eacute promover a vida em

sociedade sem discriminaccedilatildeo de classe social cultura religiatildeo raccedila orientaccedilatildeo

sexual ou de qualquer outro tipo O respeito agrave integridade corporal viver a

sexualidade sem culpas medos ou discriminaccedilatildeo e viver numa famiacutelia livre de

violecircncia tambeacutem fazem parte dos direitos humanos (BRASIL 2002)

Durante muito tempo a violecircncia baseada na desigualdade de gecircnero1 foi

praticamente invisiacutevel e tolerada Atualmente a complacecircncia social em torno das

agressotildees por questotildees de poder e dominaccedilatildeo estaacute se diluindo aos poucos visto

que governos sociedade civil organizada Naccedilotildees Unidas e outras organizaccedilotildees

internacionais estatildeo se envolvendo cada vez mais com atividades voltadas agrave

promoccedilatildeo da igualdade entre os sexos e ao fim da violecircncia domeacutestica contra as

mulheres

Para Tavares (2008 p14) ldquoa violecircncia domeacutestica contra a mulher eacute fruto de

uma construccedilatildeo social que demarca espaccedilos de poder privilegiando os homens e

oprimindo as mulheresrdquo Nesta loacutegica a sociedade reproduz a desigualdade social

existente no que se refere agraves expectativas geradas sobre os comportamentos de

homens e mulheres na medida em que se espera das mulheres delicadeza

obediecircncia e subordinaccedilatildeo e responsabilizaccedilatildeo pelo cuidado com o marido e com o

lar Da mesma forma em que as mulheres estatildeo legitimadas pela cultura linguagem

e discurso ndash como cuidadoras dos filhos (CABRAL OLIVEIRA CECCIM 2008)

1 No presente estudo o termo gecircnero fundamenta-se como [] todas as formas de construccedilatildeo

social cultural e linguumliacutestica implicadas com processos que diferenciam mulheres e homens incluindo aqueles processos que produzem seus corpos distinguindo-os e nomeando-os como corpos dotados de sexo gecircnero e sexualidade (MEYER 2004 p 15)

11

Em relaccedilatildeo aos serviccedilos de sauacutede foi apenas no iniacutecio dos anos 90 que a

temaacutetica em estudo passou a fazer parte e a realizar novas accedilotildees e abordagens

para o problema da violecircncia domeacutestica contra as mulheres Camargo e Aquino

(2003) esclarecem que foi somente a partir deste momento que os serviccedilos de

sauacutede passaram a adotar poliacuteticas visando agrave identificaccedilatildeo e enfrentamento dessa

problemaacutetica mediante accedilotildees no campo da sauacutede direcionadas aos casos de

violecircncia sexual violecircncia contra as crianccedilas e outros agravos

Nesse sentido a violecircncia contra as mulheres passa a ser tema de estudo e

intervenccedilatildeo no campo da sauacutede ao mesmo tempo em que se firma

internacionalmente como questatildeo de direitos humanos

Decorridos alguns anos do relatoacuterio da OMS sobre violecircncia e sauacutede2 torna-

se conhecido para os profissionais de sauacutede o fato de que a violecircncia contra as

mulheres tem alta magnitude e relevacircncia no campo da sauacutede Tal situaccedilatildeo tem sido

evidenciada no acircmbito dos serviccedilos de sauacutede pois mulheres que

vivenciamvivenciaram situaccedilotildees de violecircncia domeacutestica e sexual utilizam esses

serviccedilos com maior frequumlecircncia por apresentam mais queixas de ordem fiacutesica

mental e ou emocional (DrsquoOliveira et al 2009)

Estudo no acircmbito da atenccedilatildeo primaacuteria constatou que a frequumlecircncia de

mulheres que relataram ter vivenciado situaccedilotildees de violecircncia domeacutestica a partir dos

18 anos foi de 214 enquanto que em serviccedilos de emergecircncia essas ocorrecircncias

variaram de 22 a 35 (DrsquoOLIVEIRA SCHRAIBER et al 2002) Tambeacutem por essa

razatildeo os serviccedilos de sauacutede satildeo importantes dispositivos para a identificaccedilatildeo e

enfrentamento dessa problemaacutetica pois sua ampla cobertura na atenccedilatildeo baacutesica

favorece a vinculaccedilatildeo dessas mulheres a uma equipe de sauacutede em um dado

territoacuterio o que favorece o acolhimento e a possibilidade de identificaccedilatildeo de

situaccedilotildees de violecircncia domeacutestica contra mulheres ainda que subjetivadas por outras

queixas de origem bioloacutegica ou ainda mediante o proacuteprio relato da vitima em um

atendimento de sauacutede (DrsquoOliveira et al 2009)

2 Desde 1996 a Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede reconhece a violecircncia como um problema de sauacutede puacuteblica

(WHO 2002)

12

Entende-se que a violecircncia domeacutestica contra as mulheres eacute um fenocircmeno

complexo que requer accedilotildees intersetoriais para aleacutem do campo juriacutedico na medida

em que eacute reconhecida como um problema de sauacutede puacuteblica Para tanto o

enfrentamento de situaccedilotildees dessa natureza requer accedilotildees no campo dos direitos

humanos e de cidadania na perspectiva da humanizaccedilatildeo e da integralidade em

sauacutede pautadas na eacutetica e no entendimento de que um viver saudaacutevel implica

tambeacutem no direito a uma vida sem violecircncia (DrsquoOliveira et al 2009)

Ante estas consideraccedilotildees este estudo teve a seguinte questatildeo norteadora ldquoo

que a literatura especializada em sauacutede dos uacuteltimos dez anos disponiacutevel on line

traz a respeito da violecircncia domestica contra a mulher no periacuteodo de 2000 a 2009rdquo

O objetivo da pesquisa foi ldquoconhecer o que a literatura especializada em sauacutede dos

uacuteltimos dez anos disponiacutevel on line traz a respeito da violecircncia domestica contra a

mulher no periacuteodo de 2000 a 2009rdquo

13

METODOLOGIA

Trata-se de uma pesquisa bibliograacutefica de natureza qualitativa que segundo

Gil (2009) eacute o estudo desenvolvido com base em material jaacute elaborado constituiacutedo

principalmente de livros e artigos Segundo Minayo (2002) ldquoa pesquisa qualitativa

trabalha com o universo de significados motivos aspiraccedilotildees crenccedilas valores e

atitudes o que corresponde a um espaccedilo mais profundo das relaccedilotildees dos

processos e dos fenocircmenos que natildeo podem ser reduzidos agrave operacionalizaccedilatildeo de

variaacuteveisrdquo

Os dados foram coletados mediante consulta na Biblioteca Virtual de Sauacutede ndash

BVSBireme nas bases de dados de dados da Literatura Latino-Americana e do

Caribe em Ciecircncias da Sauacutede (LILACS) e Scientific Eletronic Library On line

(SCIELO) Foram utilizados os termos violecircncia contra a mulher e sauacutede publica

como descritores para o levantamento de dados nos uacuteltimos dez anos Este

processo envolveu atividades de busca identificaccedilatildeo fichamento de estudos

mapeamento e anaacutelise O recorte temporal justifica-se pelo fato de que em dez

anos a prodccedilatildeo de conhecimento se renova substancialmente especialmente no

que tange ao conhecimento veiculado em miacutedias informatizadas

O levantamento bibliograacutefico foi realizado no periacuteodo de vinte e trecircs a vinte e

seis de maio de dois mil e onze cujos dados coletados atenderam aos seguintes

criteacuterios de inclusatildeo artigos cientiacuteficos disponiacuteveis na iacutentegra online e em idioma

da lingua portuguesa no periacuteodo de 2000 a 2009 com os descritores violecircncia

domeacutestica contra a mulher e sauacutede publica

Inicialmente foram encontradas noventa e trecircs (93) produccedilotildees cientiacuteficas com

o descritor violecircncia domeacutestica contra a mulher e sauacutede puacuteblica Dessas foram

selecionados vinte e oito (28) artigos cientiacuteficos que apresentavam o texto na

iacutentegra sendo que apenas quinze (15) atendiam o criteacuterio de inclusatildeo relativo ao

idioma que era a liacutengua portuguesa Dos quinze (15) artigos selecionados trecircs (3)

natildeo atenderam ao enquadre temporal pois uma datava do ano de 1999 e duas do

ano de 2010 motivo pelo qual as mesmas foram excluiacutedas totalizando doze (12)

artigos que passaram a compor o corpus dos dados a serem analisados

14

A anaacutelise dos dados se deu pela teacutecnica de anaacutelise temaacutetica de Minayo

(2002) definida como a descoberta dos nuacutecleos de sentidos que constituem uma

comunicaccedilatildeo acerca da frequumlecircncia ou da presenccedila de algum significado para o

objeto que seraacute analisado Este meacutetodo de anaacutelise eacute constituiacutedo por trecircs etapas a

preacute-anaacutelise em que ocorre a ordenaccedilatildeo dos dados obtidos a exploraccedilatildeo do

material em que os dados satildeo classificados de forma a alcanccedilar o nuacutecleo de

compreensatildeo do texto por meio da formulaccedilatildeo de categorias e o tratamento dos

resultados obtidos e interpretaccedilatildeo em que se articulam os dados apreendidos ao

referencial teoacuterico visando responder as questotildees da pesquisa

15

APRESENTACcedilAtildeO E DISCUSSAtildeO DOS RESULTADOS

Para a categorizaccedilatildeo e anaacutelise dos doze artigos cientiacuteficos selecionados foi

elaborado um quadro analiacutetico (Anexo 1) composto pelas variaacuteveis titulo origem

subaacuterea de conhecimento tipo natureza ano de publicaccedilatildeo regiatildeo da pesquisa

O mapeamento das produccedilotildees apontou a subaacuterea multiprofissional como de

maior concentraccedilatildeo na produccedilatildeo de artigos cientiacuteficos sendo que a maioria foi de

produccedilotildees socioculturais e apenas um artigo de natureza clinica se mostrando

convergente agrave aacuterea de odontologia

Com relaccedilatildeo ao tipo de pesquisa a abordagem mais utilizada foi do tipo

qualitativa Quanto ao recorte temporal adotado a primeira produccedilatildeo selecionada foi

do ano de 2004 sendo que a maior concentraccedilatildeo se deu no ano de 2007 com cinco

(5) artigos

Quanto agraves regiotildees do paiacutes em que esses artigos foram produzidos observou-

se maior concentraccedilatildeo dessas publicaccedilotildees na regiatildeo Sudeste com seis (6) artigos

cinco (5) artigos na regiatildeo Sul e apenas um (1) artigo na regiatildeo nordeste Ainda

com relaccedilatildeo agrave regionalidade desses artigos destaca-se que trecircs dos artigos

produzidos na regiatildeo sudeste do paiacutes foram desenvolvidos na cidade de Ribeiratildeo

PretoSP dos quais dois abordavam a perspectiva dos profissionais de sauacutede em

relaccedilatildeo e violecircncia domestica e o outro o perfil das vitimas de violecircncia

Do processo de anaacutelise dos achados da pesquisa emergiram trecircs categorias

sendo que os doze artigos foram categorizados em Violecircncia domeacutestica e de

gecircnero praacuteticas discursivas Perfil das mulheres que sofreram violecircncia e A violecircncia

na oacutetica dos profissionais de sauacutede

VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E DE GEcircNERO PRAacuteTICAS DISCURSIVAS

Medina e Penna (2008) em estudo bibliograacutefico que analisou quatorze (14)

produccedilotildees entre os anos de 2000 e 2005 destacaram o contexto soacutecio-cultural da

violecircncia domeacutestica no periacuteodo gestacional como um fator importante no

desenvolvimento desta no acircmbito da famiacutelia Tambeacutem ressaltam que a violecircncia

vivenciada pela gestante ainda eacute uma situaccedilatildeo de difiacutecil abordagem nas relaccedilotildees

16

pessoais e profissionais O estudo indicou ainda que mulheres que vivenciam

situaccedilotildees de violecircncia na gestaccedilatildeo se sentem coibidas em denunciar agressotildees

sofridas pelos parceiros ou familiares Da mesma forma em que evidenciou

processos de naturalizaccedilatildeo e de invisibilidade da violecircncia na gestaccedilatildeo na medida

em que muitas situaccedilotildees dessa natureza nem sempre satildeo percebidas e

reconhecidas como atos violentos pelas mulheres que a vivenciam como tambeacutem

pelos profissionais de sauacutede que as assistem

Pesquisa realizada por Silva et al (2007) que analisou os tipos de violecircncia

domeacutestica indicou que a violecircncia psicoloacutegica eacute o ponto inicial que deflagra a

violecircncia Para os autores a prevenccedilatildeo de qualquer tipo de situaccedilatildeo de violecircncia

vivida no acircmbito domeacutestico deve passar pela compreensatildeo de que estrateacutegias que

visem coibir situaccedilotildees de violecircncia psicoloacutegica implicam diretamente na minimizaccedilatildeo

dos demais tipos de violecircncias Destacam ainda que outras accedilotildees importantes

como palestras e maior discussatildeo sobre a temaacutetica em escolas de ensino

fundamental e meacutedio da rede puacuteblica e universidades que abordem a temaacutetica da

violecircncia na perspectiva dos direitos humanos bem como sobre serviccedilos de apoio

existentes e possibilidades de enfrentamento desta demanda devem ser

incentivadas

Estudo publicado por Meneghel e Intildeiguez (2007) que analisou oficina de

contadores de histoacuterias realizada no Centro Ecumecircnico de Assessoria e

Capacitaccedilatildeo de Satildeo Leopoldo (CECA-SL) a qual teve como tema gerador das

discussotildees as questotildees de gecircnero Dessas discussotildees foram escolhidas histoacuterias

para comporem essas narrativas nas quais as mulheres contavam episoacutedios de

violecircncia ligados agraves suas trajetoacuterias pessoais e afirmavam que a violecircncia de gecircnero

acontece em qualquer classe social escolaridade ou raccedila Na medida em que se

posicionavam criticamente em relaccedilatildeo ao sexismomachismo essas mulheres

afirmavam que eram obrigadas a abdicar de si mesmas natildeo podiam construir

projetos de vida mais autocircnomos devendo sempre ceder agraves vontades do homem

(maridocompanheiro) permanecendo submissas a ele Essa subordinaccedilatildeo agrave

autoridade masculina poderia ser potencializada ou minimizada na medida em que

essas mulheres dispusessem ou natildeo de acesso a informaccedilotildees que favoreccedilam o

17

entendimento de sua posiccedilatildeo como sujeito de direitos dentre os quais o de uma

vida sem violecircncia

Com base nos estudos analisados percebeu-se que a violecircncia domeacutestica

contra as mulheres envolve questotildees culturais e de gecircnero Nesse sentido a

prevenccedilatildeo ou minimizaccedilatildeo de situaccedilotildees relativas agrave violecircncia domeacutestica requer accedilotildees

intersetoriais que mobilizem os diversos segmentos da sociedade para que

conjuntamente atuem de forma proacute-ativa no enfrentamento desta problemaacutetica

Uma estrateacutegia importante seria a inclusatildeo da temaacutetica como um tema

transversal nas escolas a ser abordado natildeo apenas com alunos e professores mas

tambeacutem com as famiacutelias que integram a comunidade escolar

Para aleacutem da organizaccedilatildeo de serviccedilos para o enfrentamento da violecircncia

contra as mulheres e apoio a essas viacutetimas evidencia-se tambeacutem a necessidade de

maior qualificaccedilatildeo sobre a temaacutetica de profissionais que atuam no campo da sauacutede

e do serviccedilo social para que possam atender esta demanda com eacutetica competecircncia

e de forma mais humanizada Atuaccedilatildeo esta pautada em valores societaacuterios em que

homens e mulheres tenham os mesmos direitos de cidadania buscando a

superaccedilatildeo de todas as formas de violecircncia preconceitos discriminaccedilotildees e

desigualdades

18

PERFIL DAS MULHERES QUE SOFRERAM VIOLEcircNCIA

A maioria das produccedilotildees traccedilou o perfil das mulheres vitimas de violecircncia

domeacutestica que procuram atendimento em serviccedilos de sauacutede tendo como variaacuteveis a

faixa etaacuteria profissatildeo estado civil escolaridade dentre outros

Galvatildeo e Andrade (2004) pesquisaram o perfil de mulheres em situaccedilatildeo de

violecircncia atendidas em um Centro de Atendimento agrave Mulher (CAM) em Londrina

Paranaacute a partir de informaccedilotildees extraiacutedas das fichas desses atendimentos A faixa

etaacuteria que predominou entre as mulheres atendidas no CAM foi agrave de 30 a 39 anos

seguida da faixa etaacuteria de 20 a 29 anos sendo que a meacutedia de idade foi de 34 anos

Com relaccedilatildeo ao estado civil 472 das mulheres declararam-se casadas 266

dos casos as mulheres que conviviam com um companheiro fixo numa relaccedilatildeo

consensual e 54 possuem um ou dois filhos Quanto agrave escolaridade 581 dessas

mulheres natildeo concluiacuteram o ensino fundamental 128 concluiacuteram o ensino meacutedio e

a taxa de analfabetismo foi de 21 sendo que 558 desenvolvia algum tipo de

trabalho remunerado Os principais agressores satildeo os atuais maridos ou

companheiros das mulheres (734) e quase a totalidade dos casos (974)

ocorreu no ambiente domeacutestico Quanto agrave caracterizaccedilatildeo dos casos de violecircncia

prevalece a violecircncia emocional com 564 dos casos seguida pela violecircncia fiacutesica

com 321 Quanto ao tempo em que vivenciam situaccedilotildees de violecircncia 33 das

mulheres vecircm sofrendo agressotildees por periacuteodos de ateacute um ano e 204 dos casos

refere-se a mulheres que sofrem agressotildees haacute mais de 10 anos

Estudo realizado por Monteiro et al (2006) sobre o perfil de mulheres que

sofreram violecircncia atendidas em uma unidade de urgecircncia em Teresina Piauiacute

indicou que 78 encontrava-se na faixa etaacuteria entre 18 e 40 anos e que 40 delas

natildeo trabalhavam fora de casa desempenhando exclusivamente as tarefas

domeacutesticas relativas ao cuidado coma casa e filhos As agressotildees nos membros

superiores ocorreram com maior frequumlecircncia (44) seguida das agressotildees na face

(33) Revelou ainda que a maioria dessas mulheres natildeo relatou os motivos pelos

quais foram agredidas ainda que o aacutelcool tenha sido apontado em 19 dos casos

como o principal motivo desencadeador das agressotildees seguido do ciuacutemes

Tambeacutem haacute um grande nuacutemero de subnotificaccedilatildeo em relaccedilatildeo ao agressor (80)

19

possivelmente em funccedilatildeo da dependecircncia econocircmica e por medo de vinganccedila do

companheiro Quanto agraves condutas adotadas pelos profissionais de sauacutede a grande

maioria (83) limita-se ao atendimento de queixas de menor complexidade como

aquelas que exigiram sutura simples ou consulta meacutedica Recomendam ainda que o

apoio as viacutetimas de violecircncia deve ter iniacutecio no serviccedilo de urgecircncia de forma

articulada com outros serviccedilos que tratam da mesma questatildeo como as Delegacias

Especiais de Atendimento agrave Mulher (DEAM) os Conselhos de Direitos da Mulher

Abrigos e outras instituiccedilotildees

Mota Vasconcelos e Assis (2007) analisaram as informaccedilotildees das fichas de

atendimento de um centro especializado no atendimento a mulheres viacutetimas de

violecircncia no municiacutepio do Rio de Janeiro totalizando 684 fichas de atendimento

dessas mulheres Dessa anaacutelise os autores traccedilaram o perfil dessas mulheres as

quais apresentaram idade meacutedia de 37 anos Para os autores o baixo status

econocircmico a baixa escolaridade e consequumlentemente o acesso agrave informaccedilatildeo

podem ter sido condiccedilotildees facilitadoras para a ocorrecircncia de situaccedilotildees de violecircncia

domeacutestica contra mulheres pelo cocircnjuge na populaccedilatildeo analisada Por outro lado as

agressotildees fiacutesicas mais graves que ocorreram com mulheres que possuiacuteam maior

niacutevel de escolaridade podem ter sido potencializadas pelo fato de as mesmas natildeo

terem aceitado essa violecircncia de modo passivo implicando em um conflito ainda

maior e em agressotildees fiacutesicas mais graves O estudo evidenciou ainda que a

violecircncia domeacutestica contra a mulher envolve questotildees culturais e de gecircnero com

implicaccedilotildees nas questotildees relativas agrave conjugalidade Assim a violecircncia domeacutestica

contra a mulher estaacute vinculada ao tradicional controle masculino baseado no papel

de provedor cuja desigualdade de gecircnero potencializa conflitos e colabora para a

ocorrecircncia de situaccedilotildees de violecircncia de ordem fiacutesica psicoloacutegica ou moral

Pesquisa retrospectiva e documental desenvolvida por Leonsio et al (2008)

analisou 446 boletins de ocorrecircncia em uma Delegacia de Defesa da Mulher em

Ribeiratildeo Preto Satildeo Paulo Em seus resultados os autores destacaram que 3408 das

mulheres estavam em faixa etaacuteria acima de 35 anos 7578 eram da raccedila branca e

4417 delas eram solteiras Quanto agrave ocupaccedilatildeo 5874 dessas mulheres

exerciam algum tipo de trabalho remunerado formal ou informal e 3722 possuiacuteam

o ensino fundamental completo Outro aspecto importante evidenciado pelo estudo foi

20

que 5471 das mulheres agredidas demoraram de 1 a 15 dias entre a agressatildeo e o tempo

da denuacutencia formal e 4215 registraram a ocorrecircncia no mesmo dia na delegacia Em

7691 dos casos o ambiente domeacutestico foi o local em que essas agressotildees ocorreram

Quanto ao agressor foi observado nos boletins de ocorrecircncia investigados que em 4910

dos casos os parceiros foram os principais denunciados seguidos de ex-parceiros com

1816 das ocorrecircncias Dentre os motivos desencadeantes da agressatildeo 4462

corresponderam agrave recusa da separaccedilatildeo conjugal 1435 ciuacutemes e 1996 por outros

motivos como bebidasdrogas

Estudo realizado por Resende et al (2007) analisou registros e laudos

encaminhados ao setor de Odontologia do IML de Belo Horizonte sobre as lesotildees

bucomaxilares sofridas por mulheres vitimas de violecircncia domeacutestica A faixa etaacuteria

predominante das mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia foi de 20 a 39 anos

representando 704 do total sendo a idade meacutedia correspondente a 303 anos

Quanto agrave ocupaccedilatildeo 241 das mulheres realizavam trabalhos domeacutesticos 213

se intitulavam ldquodonas-de-casardquo e 14 trabalhavam no comeacutercio A maioria das

mulheres que sofreu agressotildees declarou-se solteira perfazendo um total de 63

enquanto que o percentual de casadas foi menor correspondendo apenas 204

Foi constatado o elevado percentual de 611 dos casos em que o agressor natildeo foi

identificado (611) em 25 o sujeito agressor foi o companheiro em 37 foram

familiares e em 74 foram conhecidos perfazendo um total de 361 contra 28

de violecircncia realizada por estranhos

A complexidade da problemaacutetica da violecircncia domeacutestica contra as mulheres

tem implicaccedilotildees em questotildees culturais e de gecircnero vinculada a construccedilatildeo social

de papeacuteis desiguais entre homens e mulheres que potencializa conflitos e colabora

para a ocorrecircncia de situaccedilotildees de violecircncia de ordem fiacutesica psicoloacutegica ou moral

Ainda nesse sentido costuma ser difiacutecil para a maioria das mulheres tomarem a

atitude de denunciar seus companheiros agressores e romper com a situaccedilatildeo de

violecircncia principalmente em funccedilatildeo do medo de vinganccedila e da dependecircncia

econocircmica agrave renda do marido

21

A VIOLEcircNCIA CONTRA A MULHER NA OacuteTICA DAS VITIMAS E DOS

PROFISSIONAIS DE SAUacuteDE

Estudo desenvolvido por Vieira et al (2009) sobre o conhecimento e atitudes

dos profissionais de sauacutede em relaccedilatildeo agrave violecircncia de gecircnero destaca a importacircncia

do atendimento de mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia nos serviccedilos de sauacutede jaacute que

este eacute muitas vezes o uacutenico local procurado pelas viacutetimas A maioria dos

profissionais que participou do estudo demonstrou bom conhecimento sobre a

definiccedilatildeo de violecircncia contra a mulher aleacutem de reconhecer como seu papel

profissional perguntar sobre violecircncia para as pacientes Indicou ainda que esses

profissionais acreditam que para uma melhor atenccedilatildeo agrave violecircncia deveria ser

implantado em sua rotina de trabalho um protocolo de enfrentamento da violecircncia

Os autores tambeacutem evidenciaram a necessidade maiores investimentos na

capacitaccedilatildeo e qualificaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede que devem estar aptos para

reconhecer e manejar os casos de violecircncia

Pesquisa realizada por De Ferrant Santos e Vieira (2009) sobre a percepccedilatildeo

dos meacutedicos de uma unidade baacutesica de Ribeiratildeo Preto Satildeo Paulo em relaccedilatildeo agrave

violecircncia domeacutestica contra a mulher revelou que a maior parte deles acredita que a

violecircncia psicoloacutegica eacute a mais grave pois a proacutepria mulher apresenta dificuldade em

reconhececirc-la como algo prejudicial agrave sua sauacutede a ponto de frequentemente

permanecer exposta agrave situaccedilatildeo durante anos a fio Os resultados indicam que os

meacutedicos detecircm alguns conhecimentos acerca dos tipos de violecircncia de gecircnero e satildeo

capazes de identificar e muitas vezes acolher as mulheres que estatildeo expostas agrave

situaccedilatildeo Contudo destacam uma seacuterie de dificuldades para atuarem frente a uma

usuaacuteria que apresenta essa problemaacutetica e reconhecem a falta de capacitaccedilatildeo

profissional uma vez que muitos deles reforccedilam a necessidade de um treinamento

voltado especificamente para os casos de violecircncia de gecircnero Da mesma forma que

apontam outras barreiras pessoais e institucionais que limitam sua atuaccedilatildeo tanto

em niacutevel preventivo como interventivo que muitas vezes os impedem de agir

adequadamente frente a uma situaccedilatildeo de violecircncia Entre elas destacam-se os

meacutedicos sentem-se impotentes frente agraves atitudes que a mulher possa vir a tomar

mesmo depois de orientada afirmam que temem tomar qualquer atitude por medo

22

da reaccedilatildeo do agressor Os autores sugerem a necessidade de um trabalho integrado

e em rede que ofereccedila uma resposta efetiva para o problema da violecircncia de

gecircnero Aleacutem disso eacute preciso investir na qualificaccedilatildeo dos outros profissionais de

sauacutede aleacutem dos meacutedicos para que se viabilize um atendimento multidisciplinar

para que os serviccedilos de sauacutede se constituam em espaccedilos de acolhimento e apoio

integrando-se efetivamente agrave rede de atendimento

Wilhelm e Tonet (2007) em seu estudo sobre a percepccedilatildeo de mulheres que

sofreram violecircncia domeacutestica em um municiacutepio do interior de Santa Catarina indicou

a ocorrecircncia de depressatildeo ansiedade medo e sentimento de baixa auto-estima Na

oacutetica dessas mulheres parte das agressotildees acontece somente no momento em que

seus companheiros estatildeo alcoolizados Aleacutem da violecircncia fiacutesica (tais como socos

arranhotildees puxotildees de cabelo arremesso de objetos chutes tapas e beliscotildees)

ocorrem as humilhaccedilotildees e a desqualificaccedilatildeo sendo ridicularizadas perante os

amigos do agressor sua famiacutelia e desautorizada perante os filhos Quanto ao

comportamento violento do companheiro este eacute justificado por fatores externos

deste modo desresponsabilizando-o como por exemplo as dificuldades

financeiras desemprego e uso de drogas dentre outros Muitos satildeo os motivos

pelos quais a mulher natildeo denuncia seu marido agressor passando a viver muitos

anos neste contexto de violecircncia dentre os quais destaca-se dependecircncia

financeira filhos fator cultural e ameaccedilas Da mesma forma todas demonstraram a

esperanccedila de que o companheiro mudasse em relaccedilatildeo ao seu comportamento

violento Aleacutem de poliacuteticas puacuteblicas mais efetivas par ao enfrentamento da violecircncia

domeacutestica Eacute necessaacuterio promover poliacuteticas puacuteblicas mais efetivas em relaccedilatildeo ao

enfrentamento da violecircncia domeacutestica bem como maiores investimentos em redes

de apoio social efetiva para a mulher e seus filhos as quais muitas vezes estatildeo

subjugadas ao seu agressor devido agrave dependecircncia econocircmica Em relaccedilatildeo a este eacute

importante promover grupos de homens com a finalidade de propiciar a discussatildeo

sobre violecircncia relaccedilotildees e gecircnero e formas alternativas de resoluccedilatildeo de conflitos

Estudo de Scaranto Biazevic e Michel (2007) sobre a percepccedilatildeo dos Agentes

Comunitaacuterios de Sauacutede (ACS) sobre a Violecircncia Domeacutestica contra a Mulher em um

municiacutepio do interior do Rio Grande do Sul identificou relatos de situaccedilotildees de

violecircncia domeacutestica contra a mulher cometida por seu companheiro seja fiacutesica

23

sexual psicoloacutegica ou econocircmica A obediecircncia aos maridoscompanheiros vai

desde o cuidado pessoal ateacute o desempenho sexual A vergonha pela violecircncia

sofrida eacute infinitamente maior do que a coragem da mulher para denunciar

Constatou-se que o ACS pode ser o elo entre a vergonha e a coragem para a

mulher denunciar o problema da violecircncia o que significa que ele parece ser de

fundamental importacircncia no acolhimento das anguacutestias dessas mulheres no

encorajamento para o relato de sofrimento na detecccedilatildeo da questatildeo da violecircncia

que pode estar acompanhada pela depressatildeo ansiedade ou ateacute mascarada por

algum tipo de queixa vaga e em consequumlecircncia fazer o encaminhamento de

referecircncia correto e eficiente na denuacutencia Eacute preciso dar subsiacutedios teoacuterico-praacuteticos

aos profissionais para que em seu trabalho cotidiano possam detectar situaccedilotildees de

violecircncia encontrar a forma de abordar as famiacutelias e dar encaminhamento tanto aos

casos de violecircncia quanto de uso de aacutelcooldrogas A violecircncia contra a mulher deve

ser considerada como questatildeo de sauacutede puacuteblica a partir do conceito ampliado de

sauacutede motivo pelo qual necessita ser alvo de poliacuteticas puacuteblicas efetivas e

consistentes assim como mecanismos de proteccedilatildeo agrave mulher viacutetima de violecircncia

tambeacutem precisam ser criados

Com base nos artigos analisados constatou-se que muitos profissionais tecircm

dificuldades em reconhecer a violecircncia como um problema de sauacutede devido agrave falta

de subsiacutedios teoacuterico-praacuteticos para a detecccedilatildeo de situaccedilotildees de violecircncia abordagem

adequada agraves viacutetimas e os devidos encaminhamentos para o atendimento desta

demanda

24

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Este estudo teve se propocircs a conhecer o que a literatura especializada em

sauacutede dos uacuteltimos dez anos disponiacutevel on line traz a respeito da violecircncia

domestica contra a mulher no periacuteodo de 2000 a 2009

Com base nos artigos analisados percebe-se que o baixo status econocircmico

o niacutevel de instruccedilatildeo e consequumlentemente o acesso agrave informaccedilatildeo podem ser

considerados como condiccedilotildees facilitadoras para a ocorrecircncia de situaccedilotildees de

violecircncia domeacutestica

Em muitos casos a dependecircncia econocircmica da mulher agrave renda do marido

impotildee a necessidade desta em ter de permanecer com ele mesmo diante de

situaccedilotildees de violecircncia

De modo geral os estudos analisadas indicaram os maridos ou companheiros

atuais das mulheres ou ainda seus ex-companheiros como os principais

agressores sendo o ambiente domeacutestico o local predominate destas agressotildees

Outro aspecto evidenciado nos achados desta pesquisa se refere ao fato de

que a maioria dessas mulheres natildeo relatou os motivos pelos quais foram agredidas

ainda que o aacutelcool tenha sido apontado como o principal motivo desencadeador das

agressotildees seguido do sentimento de ciuacutemes Tambeacutem se verificou o grande

nuacutemero de sub-notificaccedilatildeo dos casos de violecircncia contra as mulheres Assim infere-

se que possivelmente isto ocorra em funccedilatildeo da dependecircncia econocircmica e por

medo de vinganccedila

A natureza soacutecio-cultural e a subaacuterea multiprofissional prevalente nas

produccedilotildees analisadas evidenciaram a multiplicidade de aspectos relevantes a

temaacutetica da violecircncia como um complexo problema de sauacutede puacuteblica sinalizando

para a urgecircncia de um movimento reflexivo seja no acircmbito da formaccedilatildeo de

profissionais de sauacutede seja na praacutetica profissional para o enfrentamento desta

questatildeo

Destaca-se a importacircncia de pesquisa bibliograacuteficas para a sistematizaccedilatildeo

das produccedilotildees cientiacuteficas nacionais na temaacutetica violecircncia domestica contra a mulher

para o (re)conhecimento do estado da arte sobre a temaacutetica em anaacutelise fato este

25

fundamental para subsidiar futuras intervenccedilotildees no acircmbito das praacuteticas e serviccedilos

de sauacutede e da accedilatildeo social

A complexidade que envolve as questotildees relativas agrave violecircncia contra a mulher

exige accedilotildees capazes de dar conta das inuacutemeras demandas apresentadas o que

implica na articulaccedilatildeo entre as diferentes aacutereas de conhecimento e de atuaccedilatildeo

multiprofissional

Nessa loacutegica faz-se necessaacuterio maior investimento na qualificaccedilatildeo de

profissionais de sauacutede do serviccedilo social do direito entre outros para o

reconhecimento e identificaccedilatildeo dos sinais que possam indicar situaccedilotildees de violecircncia

contra as mulheres visando o acolhimento das mesmas natildeo apenas nos serviccedilos de

sauacutede mas em outros setores da sociedade Da mesma forma a criaccedilatildeo e

organizaccedilatildeo de serviccedilos multiprofissionais de atendimento agraves mulheres em situaccedilatildeo

de violecircncia para seu devido enfrentamento de modo que os mesmos estejam

articulados na loacutegica da intersetorialidade com os campos da sauacutede do serviccedilo

social e do direito no desenvolvimento de accedilotildees preventivas e assistenciais na

perspectiva da atenccedilatildeo integral agraves mulheres

Para aleacutem da organizaccedilatildeo de serviccedilos para o enfrentamento da violecircncia

contra as mulheres e apoio a essas viacutetimas evidencia-se tambeacutem a urgecircncia de

maior qualificaccedilatildeo sobre a temaacutetica de profissionais que atuam nesses campos para

que possam atender demandas dessa natureza de modo mais solidaacuterio

respeitando-se as subjetividades e singularidades implicadas nessas situaccedilotildees

Os Assistentes Sociais tecircm atuado como mediadores proporcionando a

escolha para as mulheres do que melhor lhes conveacutem Tal direcionamento vai ao

encontro da proposta aqui formulada na qual considera o profissional como sendo

um facilitador que em nome de valores como liberdade individual independecircncia e

autonomia fornece suporte ao processo de fortalecimento destas usuaacuterias ou seja

eacute o profissional que vecirc aleacutem do aparente (TAVARES 2008)

Sabe-se que jaacute existem leis especiacuteficas para o enfrentamento da violecircncia

contra as mulheres poreacutem ainda eacute preciso que as mesmas sejam incorporadas pela

sociedade como cultura poliacutetica para que accedilotildees mais efetivas sejam de fato

implementadas

26

Como estrateacutegia para a ampliaccedilatildeo do escopo das praacuteticas dessa natureza no

acircmbito das poliacuteticas puacuteblicas destaca-se a criaccedilatildeo de accedilotildees intersetoriais com

movimentos organizados de mulheres organizaccedilotildees governamentais e natildeo

governamentais de defesa aos direitos das mulheres serviccedilos de sauacutede e da accedilatildeo

social delegacias de policia organizaccedilotildees de bairros escolas dentre outros

segmentos sociais

Outra importante accedilatildeo se refere agrave incorporaccedilatildeo das questotildees relativas agrave

violecircncia e mais especificamente contra as mulheres foco deste estudo como um

tema transversal nas escolas o qual deve ser abordado natildeo apenas com alunos e

professores mas tambeacutem com as famiacutelias que integram a comunidade escolar

Para tanto a interlocuccedilatildeo do Serviccedilo Social com essa questatildeo se faz

necessaacuteria uma vez que a violecircncia domestica eacute um fenocircmeno social e portanto

deve ser enfrentada mediante o conjunto de estrateacutegias poliacuteticas e de intervenccedilatildeo

social direta

Desde esta perspectiva os profissionais do Serviccedilo Social devem intervir

diretamente na realidade social dos sujeitos tendo como pressuposto de atuaccedilatildeo a

articulaccedilatildeo do trabalho em redes promovendo a co-participaccedilatildeo e co-

responsabilizaccedilatildeo dos atores envolvidos nessa problemaacutetica desde a tomada de

decisotildees ateacute os encaminhamentos que se fizerem necessaacuterios para o enfrentamento

positivo e superaccedilatildeo de situaccedilotildees de violecircncia contra as mulheres

A partir de accedilotildees mais efetivas e da conscientizaccedilatildeo dos atores sociais de

que a violecircncia eacute hoje um problema de relevacircncia mundial e de sauacutede puacuteblica no

cenaacuterio brasileiro almeja-se a detecccedilatildeo precoce de situaccedilotildees de violecircncia

abordagem adequada e qualificada agraves viacutetimas e os devidos encaminhamento para o

atendimento desta demanda com eacutetica competecircncia e de forma mais humanizada

Atuaccedilatildeo esta pautada em valores societaacuterios em que homens e mulheres tenham

os mesmos direitos de cidadania buscando a superaccedilatildeo de todas as formas de

violecircncia preconceitos discriminaccedilotildees e desigualdades

27

REFEREcircNCIAS

BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Violecircncia intrafamiliar orientaccedilotildees para a praacutetica em serviccedilos Cadernos de Atenccedilatildeo Baacutesica n 8 BrasiacuteliaDF 2002 CABRAL F B OLIVEIRA D LL C de CECCIM R B O puerpeacuterio e a sauacutede da mulher vulnerabilidade e atenccedilatildeo baacutesica agrave sauacutede In Ensino e atenccedilatildeo agrave sauacutede da mulher aprendizados da integraccedilatildeo da educaccedilatildeo superior com a rede assistencial edCaxias do Sul EDUCS Editora da Universidade de Caxias do Sul 2008 p 137-157 CAMARGO M AQUINO S de (2003) Redes de cidadania e parcerias- Enfrentando a rota criacutetica Secretaria Especial de Poliacuteticas para as Mulheres Programa de prevenccedilatildeo assistecircncia e combate agrave violecircncia contra a mulher- plano nacional Brasiacutelia 2003 DrsquoOLIVEIRA A F SCHRAIBER L B Violecircncia Contra a Mulher a pesquisa e a intervenccedilatildeo Revista Promoccedilatildeo da Sauacutede n 6 80- 8 2002 DE FERRANTE FG SANTOS MA VIEIRA EM Violecircncia contra a mulher percepccedilatildeo dos meacutedicos das unidades baacutesicas de sauacutede da cidade de Ribeiratildeo Preto Satildeo Paulo Satildeo Paulo Interface - Comunic Saude Educ 13(31)287-99 outdez 2009

DOLIVEIRA AFPL SCHREIBER LB HANADA H DURANDJ Atenccedilatildeo integral agrave sauacutede de mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia de gecircnero ndash uma alternativa para a atenccedilatildeo primaacuteria em sauacutede Rio de Janeiro Ciecircnc Sauacutede Coletiva 14(4) julhoago 2009

GALVAtildeOFEANDRADESM Violecircncia contra a mulher anaacutelise de casos atendidos em serviccedilo de atenccedilatildeo agrave mulher em municiacutepio do Sul do Brasil Sauacutede e Sociedade 13(2)p89-99 maio-ago 2004 GIL A C Como Elaborar Projetos de Pesquisa 4 ed Satildeo Paulo Atlas 2009

LEONCIO LK ET AL O perfil das mulheres vitimizadas e seus agressores Rev enferm UERJ Rio de Janeiro 16(3)307-12 julset 2008 MEDINA ABC PENNA LHG Violecircncia na gestaccedilatildeo um estudo da produccedilatildeo cientiacutefica de 2000 a 2005 Esc Anna Nery 12(4)793-98 dez 2008 MENEGHEL ST INtildeIGUEZ L Contadores de histoacuterias praacuteticas discursivas e violecircncia de gecircnero Cad Sauacutede Puacuteblica Rio de Janeiro 23(8)1815-1824 ago 2007 MEYER D E Teorias e poliacuteticas de gecircnero fragmentos histoacutericos e desafios atuais Revista Brasileira de Enfermagem Brasiacutelia v57 n1 p13-8 janfev 2004

28

MINAYO M C et al Pesquisa social teoria meacutetodo criatividade Petroacutepolis Vozes 2002 MONTEIROCFS Arauacutejo TME NunesBMV LustosaAR BezerraCMJ A Violecircncia contra a mulher atendida em uma unidade de urgecircncia uma contribuiccedilatildeo da enfermagem Esc Anna Nery 10(2)273-9 ago 2006 MOTA JCMVASCONCELOS AGG ASSIS SG Anaacutelise de correspondecircncia como estrateacutegia para descriccedilatildeo do perfil da mulher viacutetima do parceiro atendida em serviccedilo especializado Ciecircncia e Sauacutede coletiva 12 (3)799890 2007 REZENDE EJC ET AL Lesotildees buco-dentais em mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia um estudo piloto de casos periciados no IML de Belo Horizonte MG Rev Bras Epidemiol 10(2) 202-14 2007 SCARANTO CAA BIAZEVICMGH MICHEL-CROSATOE Percepccedilatildeo dos Agentes Comunitaacuterios de Sauacutede sobre a Violecircncia Domeacutestica contra a Mulher Psicol ciecircnc Prof 27(4)694-705 2007 SCHRAIBER L B DOLIVEIRA A F L P Violecircncia contra mulheres interfaces com a Sauacutede Comunicaccedilatildeo Sauacutede Educaccedilatildeo v3 n5 1999 SILVA LL ET AL Violecircncia silenciosa violecircncia psicoloacutegica como condiccedilatildeo da violecircncia fiacutesica domeacutestica Interface - Comunic Sauacutede Educ v11 n21 p93-103 janabr 2007 SILVA LL ET AL Violecircncia silenciosa violecircncia psicoloacutegica como condiccedilatildeo da violecircncia fiacutesica domeacutestica Interface - Comunic Sauacutede Educ v11 n21 p93-103 janabr 2007 TAVARES F A Daacutes Laacutegrimas agrave Esperanccedila o processo de fortalecimento das mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia domeacutestica 2008 Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Serviccedilo Social Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica do Rio Grande do Sul Porto Alegre 2008 VIEIRAMEET AL Conhecimento e atitudes dos profissionais de sauacutede em relaccedilatildeo agrave violecircncia de gecircnero Rev Bras Epidemiol 12(4) 566-77 2009 WILHEL FA TONET J Percepccedilatildeo sobre a violecircncia domeacutestica na perspectiva de mulheres vitimadas Psicol Argum Curitiba 25 (51)401-412 outdez 2007

29

ANEXO 1 - Quadro analiacutetico ndash Violecircncia domestica contra a mulher e sauacutede publica ndash 2000-2009

Titulo Revista

Origem Subaacuterea de

conhecimento

Tipo Natureza Ano de

publicaccedilatildeo

Regiatildeo da

pesquisa

Violecircncia contra a mulher anaacutelise de casos atendidos em serviccedilo de atenccedilatildeo agrave mulher em municiacutepio do sul do Brasil Rev Sauacutede e Sociedade v13 n2 p89-99 maio-ago 2004

GALVAtildeOFEANDRADESM

Artigo Sociologia Pesquisa

investigaccedilatildeo

Qualitativo

sociocultural 2004 Regiatildeo Sul

A violecircncia contra a mulher atendida em unidade de urgecircncia uma contribuiccedilatildeo da enfermagem Esc Anna Nery R Enferm 2006 ago 10 (2) 273-9

MONTEIROCFS Arauacutejo TME NunesBMV LustosaAR BezerraCMJ

Artigo Enfermagem Pesquisa

Investigaccedilatildeo

Quantitativo

sociocultural 2006 Regiatildeo

Norte

Percepccedilatildeo dos Agentes Comunitaacuterios de Sauacutede sobre a Violecircncia Domeacutestica contra a Mulher Psicol ciecircnc prof27(4)694-705 2007

SCARANTO CAA BIAZEVICMGH MICHEL-CROSATOE

Artigo Psicologia Pesquisa

Investigaccedilatildeo

Qualitativo

sociocultural 2007 Regiatildeo Sul

Violecircncia silenciosa violecircncia psicoloacutegica como condiccedilatildeo da violecircncia fiacutesica domeacutestica

Artigo Psicologia Revisatildeo sociocultural 2007 Regiatildeo Sul

30

Interface-Comunic Sauacutede Educ v11 n21 p93-103 janabr 2007

SILVA LL ET AL

Qualitativa

Anaacutelise de correspondecircncia como estrateacutegia para descriccedilatildeo do perfil da mulher viacutetima do parceiro atendida em serviccedilo especializado Ciecircncia e Sauacutede coletiva12 (3)799890 2007

MOTA JCMVASCONCELOS AGG ASSIS SG

Artigo multiprofissional Pesquisa Qualiquanti

epidemioloacutegi

co

2007 Centro

Contadores de histoacuterias praacuteticas discursivas e violecircncia de gecircnero Cad Sauacutede Puacuteblica Rio de Janeiro 23(8)1815-1824 ago 2007

MENEGHEL ST INtildeIGUEZ L

Artigo multiprofissional Pesquisa Qualitativa

Sociocultural 2007 Regiatildeo sul

Lesotildees buccedilo-dentais em mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia um estudo piloto de casos periciados no IML de Belo Horizonte MG Rev Bras Epidemiol 2007 10(2) 202-14

REZENDE EJC ET AL

Artigo Odontologia Pesquisa

Documental

Clinico 2007 Regiatildeo

sudeste

Percepccedilatildeo sobre a violecircncia domeacutestica na perspectiva de mulheres vitimadas Psicol Argum Curitiba v 25 n 51 p 401-412 outdez 2007

WILHEL FA TONET J

Artigo Psicologia Pesquisa

qualitativa

Sociocultural 2007 Regiatildeo Sul

O perfil de mulheres vitimizadas e de seus agressores Rev enferm UERJ Rio de Janeiro 2008 julset

Artigo Enfermagem Pesquisa Sociocultural 2008 Regiatildeo

31

16(3)307-12

LEONCIO LK ET AL documental

quantitativa

sudeste

Violecircncia na gestaccedilatildeo um estudo da produccedilatildeo cientiacutefica de 2000 a 2005 Esc Anna Nery Rev Enferm 2008 dez 12 (4) 793-98

MEDINA ABC PENNA LHG

Artigo Enfermagem Pesquisa

qualitativa

Sociocultural 2008 Regiatildeo

Sudeste

Conhecimento e atitudes dos profissionais de sauacutede em relaccedilatildeo agrave violecircncia de gecircnero Rev Bras Epidemiol 2009 12(4) 566-77

VIEIRAMEET AL

Artigo Multidisciplinar Pesquisa Qualitativa

Sociocultural 2009 Regiatildeo Sudeste

Violecircncia contra a mulher percepccedilatildeo dos meacutedicos das unidades baacutesicas de sauacutede da cidade de Ribeiratildeo Preto Satildeo Paulo Interface - Comunic Saude Educ v13 n31 p287-99 outdez 2009

DE FERRANTE FG SANTOS MA VIEIRA EM

Artigo Multidisciplinar Pesquisa Qualitativa

Sociocultural 2009 Regiatildeo Sudeste

32

33

8

Palabras-llaveviolencia domeacutestica contra La mujer Salud Puacuteblica

9

SUMAacuteRIO

TENDEcircNCIA DAS PESQUISAS SOBRE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA CONTRA AS

MULHERES ENTRE OS ANOS DE 2000- 2009 NO BRASIL10

INTRODUCcedilAtildeO 10

METODOLOGIA13

APRESENTACcedilAtildeO E DISCUSSAtildeO DOS RESULTADOS15

VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E DE GEcircNERO PRAacuteTICAS DISCURSIVAS16

PERFIL DAS MULHERES QUE SOFRERAM VIOLEcircNCIA18

A VIOLEcircNCIA CONTRA A MULHER NA OacuteTICA DAS VITIMAS E DOS PROFISSIONAIS

DE SAUacuteDE22

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS25

REFERENCIAS28

ANEXO 30

Anexo 1 ndash Quadro analiacutetico ndash Violecircncia domestica contra a mulher e sauacutede publica ndash 2000-2009 30

10

TENDEcircNCIA DAS PESQUISAS SOBRE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA CONTRA AS

MULHERES ENTRE OS ANOS DE 2000- 2009 NO BRASIL

INTRODUCcedilAtildeO

Ao longo da histoacuteria a conquista dos direitos humanos ndash como garantia de

justiccedila social e dignidade humana ndash fez e faz parte de um processo de consciecircncia

dos diferentes povos Respeitar os direitos humanos eacute promover a vida em

sociedade sem discriminaccedilatildeo de classe social cultura religiatildeo raccedila orientaccedilatildeo

sexual ou de qualquer outro tipo O respeito agrave integridade corporal viver a

sexualidade sem culpas medos ou discriminaccedilatildeo e viver numa famiacutelia livre de

violecircncia tambeacutem fazem parte dos direitos humanos (BRASIL 2002)

Durante muito tempo a violecircncia baseada na desigualdade de gecircnero1 foi

praticamente invisiacutevel e tolerada Atualmente a complacecircncia social em torno das

agressotildees por questotildees de poder e dominaccedilatildeo estaacute se diluindo aos poucos visto

que governos sociedade civil organizada Naccedilotildees Unidas e outras organizaccedilotildees

internacionais estatildeo se envolvendo cada vez mais com atividades voltadas agrave

promoccedilatildeo da igualdade entre os sexos e ao fim da violecircncia domeacutestica contra as

mulheres

Para Tavares (2008 p14) ldquoa violecircncia domeacutestica contra a mulher eacute fruto de

uma construccedilatildeo social que demarca espaccedilos de poder privilegiando os homens e

oprimindo as mulheresrdquo Nesta loacutegica a sociedade reproduz a desigualdade social

existente no que se refere agraves expectativas geradas sobre os comportamentos de

homens e mulheres na medida em que se espera das mulheres delicadeza

obediecircncia e subordinaccedilatildeo e responsabilizaccedilatildeo pelo cuidado com o marido e com o

lar Da mesma forma em que as mulheres estatildeo legitimadas pela cultura linguagem

e discurso ndash como cuidadoras dos filhos (CABRAL OLIVEIRA CECCIM 2008)

1 No presente estudo o termo gecircnero fundamenta-se como [] todas as formas de construccedilatildeo

social cultural e linguumliacutestica implicadas com processos que diferenciam mulheres e homens incluindo aqueles processos que produzem seus corpos distinguindo-os e nomeando-os como corpos dotados de sexo gecircnero e sexualidade (MEYER 2004 p 15)

11

Em relaccedilatildeo aos serviccedilos de sauacutede foi apenas no iniacutecio dos anos 90 que a

temaacutetica em estudo passou a fazer parte e a realizar novas accedilotildees e abordagens

para o problema da violecircncia domeacutestica contra as mulheres Camargo e Aquino

(2003) esclarecem que foi somente a partir deste momento que os serviccedilos de

sauacutede passaram a adotar poliacuteticas visando agrave identificaccedilatildeo e enfrentamento dessa

problemaacutetica mediante accedilotildees no campo da sauacutede direcionadas aos casos de

violecircncia sexual violecircncia contra as crianccedilas e outros agravos

Nesse sentido a violecircncia contra as mulheres passa a ser tema de estudo e

intervenccedilatildeo no campo da sauacutede ao mesmo tempo em que se firma

internacionalmente como questatildeo de direitos humanos

Decorridos alguns anos do relatoacuterio da OMS sobre violecircncia e sauacutede2 torna-

se conhecido para os profissionais de sauacutede o fato de que a violecircncia contra as

mulheres tem alta magnitude e relevacircncia no campo da sauacutede Tal situaccedilatildeo tem sido

evidenciada no acircmbito dos serviccedilos de sauacutede pois mulheres que

vivenciamvivenciaram situaccedilotildees de violecircncia domeacutestica e sexual utilizam esses

serviccedilos com maior frequumlecircncia por apresentam mais queixas de ordem fiacutesica

mental e ou emocional (DrsquoOliveira et al 2009)

Estudo no acircmbito da atenccedilatildeo primaacuteria constatou que a frequumlecircncia de

mulheres que relataram ter vivenciado situaccedilotildees de violecircncia domeacutestica a partir dos

18 anos foi de 214 enquanto que em serviccedilos de emergecircncia essas ocorrecircncias

variaram de 22 a 35 (DrsquoOLIVEIRA SCHRAIBER et al 2002) Tambeacutem por essa

razatildeo os serviccedilos de sauacutede satildeo importantes dispositivos para a identificaccedilatildeo e

enfrentamento dessa problemaacutetica pois sua ampla cobertura na atenccedilatildeo baacutesica

favorece a vinculaccedilatildeo dessas mulheres a uma equipe de sauacutede em um dado

territoacuterio o que favorece o acolhimento e a possibilidade de identificaccedilatildeo de

situaccedilotildees de violecircncia domeacutestica contra mulheres ainda que subjetivadas por outras

queixas de origem bioloacutegica ou ainda mediante o proacuteprio relato da vitima em um

atendimento de sauacutede (DrsquoOliveira et al 2009)

2 Desde 1996 a Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede reconhece a violecircncia como um problema de sauacutede puacuteblica

(WHO 2002)

12

Entende-se que a violecircncia domeacutestica contra as mulheres eacute um fenocircmeno

complexo que requer accedilotildees intersetoriais para aleacutem do campo juriacutedico na medida

em que eacute reconhecida como um problema de sauacutede puacuteblica Para tanto o

enfrentamento de situaccedilotildees dessa natureza requer accedilotildees no campo dos direitos

humanos e de cidadania na perspectiva da humanizaccedilatildeo e da integralidade em

sauacutede pautadas na eacutetica e no entendimento de que um viver saudaacutevel implica

tambeacutem no direito a uma vida sem violecircncia (DrsquoOliveira et al 2009)

Ante estas consideraccedilotildees este estudo teve a seguinte questatildeo norteadora ldquoo

que a literatura especializada em sauacutede dos uacuteltimos dez anos disponiacutevel on line

traz a respeito da violecircncia domestica contra a mulher no periacuteodo de 2000 a 2009rdquo

O objetivo da pesquisa foi ldquoconhecer o que a literatura especializada em sauacutede dos

uacuteltimos dez anos disponiacutevel on line traz a respeito da violecircncia domestica contra a

mulher no periacuteodo de 2000 a 2009rdquo

13

METODOLOGIA

Trata-se de uma pesquisa bibliograacutefica de natureza qualitativa que segundo

Gil (2009) eacute o estudo desenvolvido com base em material jaacute elaborado constituiacutedo

principalmente de livros e artigos Segundo Minayo (2002) ldquoa pesquisa qualitativa

trabalha com o universo de significados motivos aspiraccedilotildees crenccedilas valores e

atitudes o que corresponde a um espaccedilo mais profundo das relaccedilotildees dos

processos e dos fenocircmenos que natildeo podem ser reduzidos agrave operacionalizaccedilatildeo de

variaacuteveisrdquo

Os dados foram coletados mediante consulta na Biblioteca Virtual de Sauacutede ndash

BVSBireme nas bases de dados de dados da Literatura Latino-Americana e do

Caribe em Ciecircncias da Sauacutede (LILACS) e Scientific Eletronic Library On line

(SCIELO) Foram utilizados os termos violecircncia contra a mulher e sauacutede publica

como descritores para o levantamento de dados nos uacuteltimos dez anos Este

processo envolveu atividades de busca identificaccedilatildeo fichamento de estudos

mapeamento e anaacutelise O recorte temporal justifica-se pelo fato de que em dez

anos a prodccedilatildeo de conhecimento se renova substancialmente especialmente no

que tange ao conhecimento veiculado em miacutedias informatizadas

O levantamento bibliograacutefico foi realizado no periacuteodo de vinte e trecircs a vinte e

seis de maio de dois mil e onze cujos dados coletados atenderam aos seguintes

criteacuterios de inclusatildeo artigos cientiacuteficos disponiacuteveis na iacutentegra online e em idioma

da lingua portuguesa no periacuteodo de 2000 a 2009 com os descritores violecircncia

domeacutestica contra a mulher e sauacutede publica

Inicialmente foram encontradas noventa e trecircs (93) produccedilotildees cientiacuteficas com

o descritor violecircncia domeacutestica contra a mulher e sauacutede puacuteblica Dessas foram

selecionados vinte e oito (28) artigos cientiacuteficos que apresentavam o texto na

iacutentegra sendo que apenas quinze (15) atendiam o criteacuterio de inclusatildeo relativo ao

idioma que era a liacutengua portuguesa Dos quinze (15) artigos selecionados trecircs (3)

natildeo atenderam ao enquadre temporal pois uma datava do ano de 1999 e duas do

ano de 2010 motivo pelo qual as mesmas foram excluiacutedas totalizando doze (12)

artigos que passaram a compor o corpus dos dados a serem analisados

14

A anaacutelise dos dados se deu pela teacutecnica de anaacutelise temaacutetica de Minayo

(2002) definida como a descoberta dos nuacutecleos de sentidos que constituem uma

comunicaccedilatildeo acerca da frequumlecircncia ou da presenccedila de algum significado para o

objeto que seraacute analisado Este meacutetodo de anaacutelise eacute constituiacutedo por trecircs etapas a

preacute-anaacutelise em que ocorre a ordenaccedilatildeo dos dados obtidos a exploraccedilatildeo do

material em que os dados satildeo classificados de forma a alcanccedilar o nuacutecleo de

compreensatildeo do texto por meio da formulaccedilatildeo de categorias e o tratamento dos

resultados obtidos e interpretaccedilatildeo em que se articulam os dados apreendidos ao

referencial teoacuterico visando responder as questotildees da pesquisa

15

APRESENTACcedilAtildeO E DISCUSSAtildeO DOS RESULTADOS

Para a categorizaccedilatildeo e anaacutelise dos doze artigos cientiacuteficos selecionados foi

elaborado um quadro analiacutetico (Anexo 1) composto pelas variaacuteveis titulo origem

subaacuterea de conhecimento tipo natureza ano de publicaccedilatildeo regiatildeo da pesquisa

O mapeamento das produccedilotildees apontou a subaacuterea multiprofissional como de

maior concentraccedilatildeo na produccedilatildeo de artigos cientiacuteficos sendo que a maioria foi de

produccedilotildees socioculturais e apenas um artigo de natureza clinica se mostrando

convergente agrave aacuterea de odontologia

Com relaccedilatildeo ao tipo de pesquisa a abordagem mais utilizada foi do tipo

qualitativa Quanto ao recorte temporal adotado a primeira produccedilatildeo selecionada foi

do ano de 2004 sendo que a maior concentraccedilatildeo se deu no ano de 2007 com cinco

(5) artigos

Quanto agraves regiotildees do paiacutes em que esses artigos foram produzidos observou-

se maior concentraccedilatildeo dessas publicaccedilotildees na regiatildeo Sudeste com seis (6) artigos

cinco (5) artigos na regiatildeo Sul e apenas um (1) artigo na regiatildeo nordeste Ainda

com relaccedilatildeo agrave regionalidade desses artigos destaca-se que trecircs dos artigos

produzidos na regiatildeo sudeste do paiacutes foram desenvolvidos na cidade de Ribeiratildeo

PretoSP dos quais dois abordavam a perspectiva dos profissionais de sauacutede em

relaccedilatildeo e violecircncia domestica e o outro o perfil das vitimas de violecircncia

Do processo de anaacutelise dos achados da pesquisa emergiram trecircs categorias

sendo que os doze artigos foram categorizados em Violecircncia domeacutestica e de

gecircnero praacuteticas discursivas Perfil das mulheres que sofreram violecircncia e A violecircncia

na oacutetica dos profissionais de sauacutede

VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E DE GEcircNERO PRAacuteTICAS DISCURSIVAS

Medina e Penna (2008) em estudo bibliograacutefico que analisou quatorze (14)

produccedilotildees entre os anos de 2000 e 2005 destacaram o contexto soacutecio-cultural da

violecircncia domeacutestica no periacuteodo gestacional como um fator importante no

desenvolvimento desta no acircmbito da famiacutelia Tambeacutem ressaltam que a violecircncia

vivenciada pela gestante ainda eacute uma situaccedilatildeo de difiacutecil abordagem nas relaccedilotildees

16

pessoais e profissionais O estudo indicou ainda que mulheres que vivenciam

situaccedilotildees de violecircncia na gestaccedilatildeo se sentem coibidas em denunciar agressotildees

sofridas pelos parceiros ou familiares Da mesma forma em que evidenciou

processos de naturalizaccedilatildeo e de invisibilidade da violecircncia na gestaccedilatildeo na medida

em que muitas situaccedilotildees dessa natureza nem sempre satildeo percebidas e

reconhecidas como atos violentos pelas mulheres que a vivenciam como tambeacutem

pelos profissionais de sauacutede que as assistem

Pesquisa realizada por Silva et al (2007) que analisou os tipos de violecircncia

domeacutestica indicou que a violecircncia psicoloacutegica eacute o ponto inicial que deflagra a

violecircncia Para os autores a prevenccedilatildeo de qualquer tipo de situaccedilatildeo de violecircncia

vivida no acircmbito domeacutestico deve passar pela compreensatildeo de que estrateacutegias que

visem coibir situaccedilotildees de violecircncia psicoloacutegica implicam diretamente na minimizaccedilatildeo

dos demais tipos de violecircncias Destacam ainda que outras accedilotildees importantes

como palestras e maior discussatildeo sobre a temaacutetica em escolas de ensino

fundamental e meacutedio da rede puacuteblica e universidades que abordem a temaacutetica da

violecircncia na perspectiva dos direitos humanos bem como sobre serviccedilos de apoio

existentes e possibilidades de enfrentamento desta demanda devem ser

incentivadas

Estudo publicado por Meneghel e Intildeiguez (2007) que analisou oficina de

contadores de histoacuterias realizada no Centro Ecumecircnico de Assessoria e

Capacitaccedilatildeo de Satildeo Leopoldo (CECA-SL) a qual teve como tema gerador das

discussotildees as questotildees de gecircnero Dessas discussotildees foram escolhidas histoacuterias

para comporem essas narrativas nas quais as mulheres contavam episoacutedios de

violecircncia ligados agraves suas trajetoacuterias pessoais e afirmavam que a violecircncia de gecircnero

acontece em qualquer classe social escolaridade ou raccedila Na medida em que se

posicionavam criticamente em relaccedilatildeo ao sexismomachismo essas mulheres

afirmavam que eram obrigadas a abdicar de si mesmas natildeo podiam construir

projetos de vida mais autocircnomos devendo sempre ceder agraves vontades do homem

(maridocompanheiro) permanecendo submissas a ele Essa subordinaccedilatildeo agrave

autoridade masculina poderia ser potencializada ou minimizada na medida em que

essas mulheres dispusessem ou natildeo de acesso a informaccedilotildees que favoreccedilam o

17

entendimento de sua posiccedilatildeo como sujeito de direitos dentre os quais o de uma

vida sem violecircncia

Com base nos estudos analisados percebeu-se que a violecircncia domeacutestica

contra as mulheres envolve questotildees culturais e de gecircnero Nesse sentido a

prevenccedilatildeo ou minimizaccedilatildeo de situaccedilotildees relativas agrave violecircncia domeacutestica requer accedilotildees

intersetoriais que mobilizem os diversos segmentos da sociedade para que

conjuntamente atuem de forma proacute-ativa no enfrentamento desta problemaacutetica

Uma estrateacutegia importante seria a inclusatildeo da temaacutetica como um tema

transversal nas escolas a ser abordado natildeo apenas com alunos e professores mas

tambeacutem com as famiacutelias que integram a comunidade escolar

Para aleacutem da organizaccedilatildeo de serviccedilos para o enfrentamento da violecircncia

contra as mulheres e apoio a essas viacutetimas evidencia-se tambeacutem a necessidade de

maior qualificaccedilatildeo sobre a temaacutetica de profissionais que atuam no campo da sauacutede

e do serviccedilo social para que possam atender esta demanda com eacutetica competecircncia

e de forma mais humanizada Atuaccedilatildeo esta pautada em valores societaacuterios em que

homens e mulheres tenham os mesmos direitos de cidadania buscando a

superaccedilatildeo de todas as formas de violecircncia preconceitos discriminaccedilotildees e

desigualdades

18

PERFIL DAS MULHERES QUE SOFRERAM VIOLEcircNCIA

A maioria das produccedilotildees traccedilou o perfil das mulheres vitimas de violecircncia

domeacutestica que procuram atendimento em serviccedilos de sauacutede tendo como variaacuteveis a

faixa etaacuteria profissatildeo estado civil escolaridade dentre outros

Galvatildeo e Andrade (2004) pesquisaram o perfil de mulheres em situaccedilatildeo de

violecircncia atendidas em um Centro de Atendimento agrave Mulher (CAM) em Londrina

Paranaacute a partir de informaccedilotildees extraiacutedas das fichas desses atendimentos A faixa

etaacuteria que predominou entre as mulheres atendidas no CAM foi agrave de 30 a 39 anos

seguida da faixa etaacuteria de 20 a 29 anos sendo que a meacutedia de idade foi de 34 anos

Com relaccedilatildeo ao estado civil 472 das mulheres declararam-se casadas 266

dos casos as mulheres que conviviam com um companheiro fixo numa relaccedilatildeo

consensual e 54 possuem um ou dois filhos Quanto agrave escolaridade 581 dessas

mulheres natildeo concluiacuteram o ensino fundamental 128 concluiacuteram o ensino meacutedio e

a taxa de analfabetismo foi de 21 sendo que 558 desenvolvia algum tipo de

trabalho remunerado Os principais agressores satildeo os atuais maridos ou

companheiros das mulheres (734) e quase a totalidade dos casos (974)

ocorreu no ambiente domeacutestico Quanto agrave caracterizaccedilatildeo dos casos de violecircncia

prevalece a violecircncia emocional com 564 dos casos seguida pela violecircncia fiacutesica

com 321 Quanto ao tempo em que vivenciam situaccedilotildees de violecircncia 33 das

mulheres vecircm sofrendo agressotildees por periacuteodos de ateacute um ano e 204 dos casos

refere-se a mulheres que sofrem agressotildees haacute mais de 10 anos

Estudo realizado por Monteiro et al (2006) sobre o perfil de mulheres que

sofreram violecircncia atendidas em uma unidade de urgecircncia em Teresina Piauiacute

indicou que 78 encontrava-se na faixa etaacuteria entre 18 e 40 anos e que 40 delas

natildeo trabalhavam fora de casa desempenhando exclusivamente as tarefas

domeacutesticas relativas ao cuidado coma casa e filhos As agressotildees nos membros

superiores ocorreram com maior frequumlecircncia (44) seguida das agressotildees na face

(33) Revelou ainda que a maioria dessas mulheres natildeo relatou os motivos pelos

quais foram agredidas ainda que o aacutelcool tenha sido apontado em 19 dos casos

como o principal motivo desencadeador das agressotildees seguido do ciuacutemes

Tambeacutem haacute um grande nuacutemero de subnotificaccedilatildeo em relaccedilatildeo ao agressor (80)

19

possivelmente em funccedilatildeo da dependecircncia econocircmica e por medo de vinganccedila do

companheiro Quanto agraves condutas adotadas pelos profissionais de sauacutede a grande

maioria (83) limita-se ao atendimento de queixas de menor complexidade como

aquelas que exigiram sutura simples ou consulta meacutedica Recomendam ainda que o

apoio as viacutetimas de violecircncia deve ter iniacutecio no serviccedilo de urgecircncia de forma

articulada com outros serviccedilos que tratam da mesma questatildeo como as Delegacias

Especiais de Atendimento agrave Mulher (DEAM) os Conselhos de Direitos da Mulher

Abrigos e outras instituiccedilotildees

Mota Vasconcelos e Assis (2007) analisaram as informaccedilotildees das fichas de

atendimento de um centro especializado no atendimento a mulheres viacutetimas de

violecircncia no municiacutepio do Rio de Janeiro totalizando 684 fichas de atendimento

dessas mulheres Dessa anaacutelise os autores traccedilaram o perfil dessas mulheres as

quais apresentaram idade meacutedia de 37 anos Para os autores o baixo status

econocircmico a baixa escolaridade e consequumlentemente o acesso agrave informaccedilatildeo

podem ter sido condiccedilotildees facilitadoras para a ocorrecircncia de situaccedilotildees de violecircncia

domeacutestica contra mulheres pelo cocircnjuge na populaccedilatildeo analisada Por outro lado as

agressotildees fiacutesicas mais graves que ocorreram com mulheres que possuiacuteam maior

niacutevel de escolaridade podem ter sido potencializadas pelo fato de as mesmas natildeo

terem aceitado essa violecircncia de modo passivo implicando em um conflito ainda

maior e em agressotildees fiacutesicas mais graves O estudo evidenciou ainda que a

violecircncia domeacutestica contra a mulher envolve questotildees culturais e de gecircnero com

implicaccedilotildees nas questotildees relativas agrave conjugalidade Assim a violecircncia domeacutestica

contra a mulher estaacute vinculada ao tradicional controle masculino baseado no papel

de provedor cuja desigualdade de gecircnero potencializa conflitos e colabora para a

ocorrecircncia de situaccedilotildees de violecircncia de ordem fiacutesica psicoloacutegica ou moral

Pesquisa retrospectiva e documental desenvolvida por Leonsio et al (2008)

analisou 446 boletins de ocorrecircncia em uma Delegacia de Defesa da Mulher em

Ribeiratildeo Preto Satildeo Paulo Em seus resultados os autores destacaram que 3408 das

mulheres estavam em faixa etaacuteria acima de 35 anos 7578 eram da raccedila branca e

4417 delas eram solteiras Quanto agrave ocupaccedilatildeo 5874 dessas mulheres

exerciam algum tipo de trabalho remunerado formal ou informal e 3722 possuiacuteam

o ensino fundamental completo Outro aspecto importante evidenciado pelo estudo foi

20

que 5471 das mulheres agredidas demoraram de 1 a 15 dias entre a agressatildeo e o tempo

da denuacutencia formal e 4215 registraram a ocorrecircncia no mesmo dia na delegacia Em

7691 dos casos o ambiente domeacutestico foi o local em que essas agressotildees ocorreram

Quanto ao agressor foi observado nos boletins de ocorrecircncia investigados que em 4910

dos casos os parceiros foram os principais denunciados seguidos de ex-parceiros com

1816 das ocorrecircncias Dentre os motivos desencadeantes da agressatildeo 4462

corresponderam agrave recusa da separaccedilatildeo conjugal 1435 ciuacutemes e 1996 por outros

motivos como bebidasdrogas

Estudo realizado por Resende et al (2007) analisou registros e laudos

encaminhados ao setor de Odontologia do IML de Belo Horizonte sobre as lesotildees

bucomaxilares sofridas por mulheres vitimas de violecircncia domeacutestica A faixa etaacuteria

predominante das mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia foi de 20 a 39 anos

representando 704 do total sendo a idade meacutedia correspondente a 303 anos

Quanto agrave ocupaccedilatildeo 241 das mulheres realizavam trabalhos domeacutesticos 213

se intitulavam ldquodonas-de-casardquo e 14 trabalhavam no comeacutercio A maioria das

mulheres que sofreu agressotildees declarou-se solteira perfazendo um total de 63

enquanto que o percentual de casadas foi menor correspondendo apenas 204

Foi constatado o elevado percentual de 611 dos casos em que o agressor natildeo foi

identificado (611) em 25 o sujeito agressor foi o companheiro em 37 foram

familiares e em 74 foram conhecidos perfazendo um total de 361 contra 28

de violecircncia realizada por estranhos

A complexidade da problemaacutetica da violecircncia domeacutestica contra as mulheres

tem implicaccedilotildees em questotildees culturais e de gecircnero vinculada a construccedilatildeo social

de papeacuteis desiguais entre homens e mulheres que potencializa conflitos e colabora

para a ocorrecircncia de situaccedilotildees de violecircncia de ordem fiacutesica psicoloacutegica ou moral

Ainda nesse sentido costuma ser difiacutecil para a maioria das mulheres tomarem a

atitude de denunciar seus companheiros agressores e romper com a situaccedilatildeo de

violecircncia principalmente em funccedilatildeo do medo de vinganccedila e da dependecircncia

econocircmica agrave renda do marido

21

A VIOLEcircNCIA CONTRA A MULHER NA OacuteTICA DAS VITIMAS E DOS

PROFISSIONAIS DE SAUacuteDE

Estudo desenvolvido por Vieira et al (2009) sobre o conhecimento e atitudes

dos profissionais de sauacutede em relaccedilatildeo agrave violecircncia de gecircnero destaca a importacircncia

do atendimento de mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia nos serviccedilos de sauacutede jaacute que

este eacute muitas vezes o uacutenico local procurado pelas viacutetimas A maioria dos

profissionais que participou do estudo demonstrou bom conhecimento sobre a

definiccedilatildeo de violecircncia contra a mulher aleacutem de reconhecer como seu papel

profissional perguntar sobre violecircncia para as pacientes Indicou ainda que esses

profissionais acreditam que para uma melhor atenccedilatildeo agrave violecircncia deveria ser

implantado em sua rotina de trabalho um protocolo de enfrentamento da violecircncia

Os autores tambeacutem evidenciaram a necessidade maiores investimentos na

capacitaccedilatildeo e qualificaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede que devem estar aptos para

reconhecer e manejar os casos de violecircncia

Pesquisa realizada por De Ferrant Santos e Vieira (2009) sobre a percepccedilatildeo

dos meacutedicos de uma unidade baacutesica de Ribeiratildeo Preto Satildeo Paulo em relaccedilatildeo agrave

violecircncia domeacutestica contra a mulher revelou que a maior parte deles acredita que a

violecircncia psicoloacutegica eacute a mais grave pois a proacutepria mulher apresenta dificuldade em

reconhececirc-la como algo prejudicial agrave sua sauacutede a ponto de frequentemente

permanecer exposta agrave situaccedilatildeo durante anos a fio Os resultados indicam que os

meacutedicos detecircm alguns conhecimentos acerca dos tipos de violecircncia de gecircnero e satildeo

capazes de identificar e muitas vezes acolher as mulheres que estatildeo expostas agrave

situaccedilatildeo Contudo destacam uma seacuterie de dificuldades para atuarem frente a uma

usuaacuteria que apresenta essa problemaacutetica e reconhecem a falta de capacitaccedilatildeo

profissional uma vez que muitos deles reforccedilam a necessidade de um treinamento

voltado especificamente para os casos de violecircncia de gecircnero Da mesma forma que

apontam outras barreiras pessoais e institucionais que limitam sua atuaccedilatildeo tanto

em niacutevel preventivo como interventivo que muitas vezes os impedem de agir

adequadamente frente a uma situaccedilatildeo de violecircncia Entre elas destacam-se os

meacutedicos sentem-se impotentes frente agraves atitudes que a mulher possa vir a tomar

mesmo depois de orientada afirmam que temem tomar qualquer atitude por medo

22

da reaccedilatildeo do agressor Os autores sugerem a necessidade de um trabalho integrado

e em rede que ofereccedila uma resposta efetiva para o problema da violecircncia de

gecircnero Aleacutem disso eacute preciso investir na qualificaccedilatildeo dos outros profissionais de

sauacutede aleacutem dos meacutedicos para que se viabilize um atendimento multidisciplinar

para que os serviccedilos de sauacutede se constituam em espaccedilos de acolhimento e apoio

integrando-se efetivamente agrave rede de atendimento

Wilhelm e Tonet (2007) em seu estudo sobre a percepccedilatildeo de mulheres que

sofreram violecircncia domeacutestica em um municiacutepio do interior de Santa Catarina indicou

a ocorrecircncia de depressatildeo ansiedade medo e sentimento de baixa auto-estima Na

oacutetica dessas mulheres parte das agressotildees acontece somente no momento em que

seus companheiros estatildeo alcoolizados Aleacutem da violecircncia fiacutesica (tais como socos

arranhotildees puxotildees de cabelo arremesso de objetos chutes tapas e beliscotildees)

ocorrem as humilhaccedilotildees e a desqualificaccedilatildeo sendo ridicularizadas perante os

amigos do agressor sua famiacutelia e desautorizada perante os filhos Quanto ao

comportamento violento do companheiro este eacute justificado por fatores externos

deste modo desresponsabilizando-o como por exemplo as dificuldades

financeiras desemprego e uso de drogas dentre outros Muitos satildeo os motivos

pelos quais a mulher natildeo denuncia seu marido agressor passando a viver muitos

anos neste contexto de violecircncia dentre os quais destaca-se dependecircncia

financeira filhos fator cultural e ameaccedilas Da mesma forma todas demonstraram a

esperanccedila de que o companheiro mudasse em relaccedilatildeo ao seu comportamento

violento Aleacutem de poliacuteticas puacuteblicas mais efetivas par ao enfrentamento da violecircncia

domeacutestica Eacute necessaacuterio promover poliacuteticas puacuteblicas mais efetivas em relaccedilatildeo ao

enfrentamento da violecircncia domeacutestica bem como maiores investimentos em redes

de apoio social efetiva para a mulher e seus filhos as quais muitas vezes estatildeo

subjugadas ao seu agressor devido agrave dependecircncia econocircmica Em relaccedilatildeo a este eacute

importante promover grupos de homens com a finalidade de propiciar a discussatildeo

sobre violecircncia relaccedilotildees e gecircnero e formas alternativas de resoluccedilatildeo de conflitos

Estudo de Scaranto Biazevic e Michel (2007) sobre a percepccedilatildeo dos Agentes

Comunitaacuterios de Sauacutede (ACS) sobre a Violecircncia Domeacutestica contra a Mulher em um

municiacutepio do interior do Rio Grande do Sul identificou relatos de situaccedilotildees de

violecircncia domeacutestica contra a mulher cometida por seu companheiro seja fiacutesica

23

sexual psicoloacutegica ou econocircmica A obediecircncia aos maridoscompanheiros vai

desde o cuidado pessoal ateacute o desempenho sexual A vergonha pela violecircncia

sofrida eacute infinitamente maior do que a coragem da mulher para denunciar

Constatou-se que o ACS pode ser o elo entre a vergonha e a coragem para a

mulher denunciar o problema da violecircncia o que significa que ele parece ser de

fundamental importacircncia no acolhimento das anguacutestias dessas mulheres no

encorajamento para o relato de sofrimento na detecccedilatildeo da questatildeo da violecircncia

que pode estar acompanhada pela depressatildeo ansiedade ou ateacute mascarada por

algum tipo de queixa vaga e em consequumlecircncia fazer o encaminhamento de

referecircncia correto e eficiente na denuacutencia Eacute preciso dar subsiacutedios teoacuterico-praacuteticos

aos profissionais para que em seu trabalho cotidiano possam detectar situaccedilotildees de

violecircncia encontrar a forma de abordar as famiacutelias e dar encaminhamento tanto aos

casos de violecircncia quanto de uso de aacutelcooldrogas A violecircncia contra a mulher deve

ser considerada como questatildeo de sauacutede puacuteblica a partir do conceito ampliado de

sauacutede motivo pelo qual necessita ser alvo de poliacuteticas puacuteblicas efetivas e

consistentes assim como mecanismos de proteccedilatildeo agrave mulher viacutetima de violecircncia

tambeacutem precisam ser criados

Com base nos artigos analisados constatou-se que muitos profissionais tecircm

dificuldades em reconhecer a violecircncia como um problema de sauacutede devido agrave falta

de subsiacutedios teoacuterico-praacuteticos para a detecccedilatildeo de situaccedilotildees de violecircncia abordagem

adequada agraves viacutetimas e os devidos encaminhamentos para o atendimento desta

demanda

24

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Este estudo teve se propocircs a conhecer o que a literatura especializada em

sauacutede dos uacuteltimos dez anos disponiacutevel on line traz a respeito da violecircncia

domestica contra a mulher no periacuteodo de 2000 a 2009

Com base nos artigos analisados percebe-se que o baixo status econocircmico

o niacutevel de instruccedilatildeo e consequumlentemente o acesso agrave informaccedilatildeo podem ser

considerados como condiccedilotildees facilitadoras para a ocorrecircncia de situaccedilotildees de

violecircncia domeacutestica

Em muitos casos a dependecircncia econocircmica da mulher agrave renda do marido

impotildee a necessidade desta em ter de permanecer com ele mesmo diante de

situaccedilotildees de violecircncia

De modo geral os estudos analisadas indicaram os maridos ou companheiros

atuais das mulheres ou ainda seus ex-companheiros como os principais

agressores sendo o ambiente domeacutestico o local predominate destas agressotildees

Outro aspecto evidenciado nos achados desta pesquisa se refere ao fato de

que a maioria dessas mulheres natildeo relatou os motivos pelos quais foram agredidas

ainda que o aacutelcool tenha sido apontado como o principal motivo desencadeador das

agressotildees seguido do sentimento de ciuacutemes Tambeacutem se verificou o grande

nuacutemero de sub-notificaccedilatildeo dos casos de violecircncia contra as mulheres Assim infere-

se que possivelmente isto ocorra em funccedilatildeo da dependecircncia econocircmica e por

medo de vinganccedila

A natureza soacutecio-cultural e a subaacuterea multiprofissional prevalente nas

produccedilotildees analisadas evidenciaram a multiplicidade de aspectos relevantes a

temaacutetica da violecircncia como um complexo problema de sauacutede puacuteblica sinalizando

para a urgecircncia de um movimento reflexivo seja no acircmbito da formaccedilatildeo de

profissionais de sauacutede seja na praacutetica profissional para o enfrentamento desta

questatildeo

Destaca-se a importacircncia de pesquisa bibliograacuteficas para a sistematizaccedilatildeo

das produccedilotildees cientiacuteficas nacionais na temaacutetica violecircncia domestica contra a mulher

para o (re)conhecimento do estado da arte sobre a temaacutetica em anaacutelise fato este

25

fundamental para subsidiar futuras intervenccedilotildees no acircmbito das praacuteticas e serviccedilos

de sauacutede e da accedilatildeo social

A complexidade que envolve as questotildees relativas agrave violecircncia contra a mulher

exige accedilotildees capazes de dar conta das inuacutemeras demandas apresentadas o que

implica na articulaccedilatildeo entre as diferentes aacutereas de conhecimento e de atuaccedilatildeo

multiprofissional

Nessa loacutegica faz-se necessaacuterio maior investimento na qualificaccedilatildeo de

profissionais de sauacutede do serviccedilo social do direito entre outros para o

reconhecimento e identificaccedilatildeo dos sinais que possam indicar situaccedilotildees de violecircncia

contra as mulheres visando o acolhimento das mesmas natildeo apenas nos serviccedilos de

sauacutede mas em outros setores da sociedade Da mesma forma a criaccedilatildeo e

organizaccedilatildeo de serviccedilos multiprofissionais de atendimento agraves mulheres em situaccedilatildeo

de violecircncia para seu devido enfrentamento de modo que os mesmos estejam

articulados na loacutegica da intersetorialidade com os campos da sauacutede do serviccedilo

social e do direito no desenvolvimento de accedilotildees preventivas e assistenciais na

perspectiva da atenccedilatildeo integral agraves mulheres

Para aleacutem da organizaccedilatildeo de serviccedilos para o enfrentamento da violecircncia

contra as mulheres e apoio a essas viacutetimas evidencia-se tambeacutem a urgecircncia de

maior qualificaccedilatildeo sobre a temaacutetica de profissionais que atuam nesses campos para

que possam atender demandas dessa natureza de modo mais solidaacuterio

respeitando-se as subjetividades e singularidades implicadas nessas situaccedilotildees

Os Assistentes Sociais tecircm atuado como mediadores proporcionando a

escolha para as mulheres do que melhor lhes conveacutem Tal direcionamento vai ao

encontro da proposta aqui formulada na qual considera o profissional como sendo

um facilitador que em nome de valores como liberdade individual independecircncia e

autonomia fornece suporte ao processo de fortalecimento destas usuaacuterias ou seja

eacute o profissional que vecirc aleacutem do aparente (TAVARES 2008)

Sabe-se que jaacute existem leis especiacuteficas para o enfrentamento da violecircncia

contra as mulheres poreacutem ainda eacute preciso que as mesmas sejam incorporadas pela

sociedade como cultura poliacutetica para que accedilotildees mais efetivas sejam de fato

implementadas

26

Como estrateacutegia para a ampliaccedilatildeo do escopo das praacuteticas dessa natureza no

acircmbito das poliacuteticas puacuteblicas destaca-se a criaccedilatildeo de accedilotildees intersetoriais com

movimentos organizados de mulheres organizaccedilotildees governamentais e natildeo

governamentais de defesa aos direitos das mulheres serviccedilos de sauacutede e da accedilatildeo

social delegacias de policia organizaccedilotildees de bairros escolas dentre outros

segmentos sociais

Outra importante accedilatildeo se refere agrave incorporaccedilatildeo das questotildees relativas agrave

violecircncia e mais especificamente contra as mulheres foco deste estudo como um

tema transversal nas escolas o qual deve ser abordado natildeo apenas com alunos e

professores mas tambeacutem com as famiacutelias que integram a comunidade escolar

Para tanto a interlocuccedilatildeo do Serviccedilo Social com essa questatildeo se faz

necessaacuteria uma vez que a violecircncia domestica eacute um fenocircmeno social e portanto

deve ser enfrentada mediante o conjunto de estrateacutegias poliacuteticas e de intervenccedilatildeo

social direta

Desde esta perspectiva os profissionais do Serviccedilo Social devem intervir

diretamente na realidade social dos sujeitos tendo como pressuposto de atuaccedilatildeo a

articulaccedilatildeo do trabalho em redes promovendo a co-participaccedilatildeo e co-

responsabilizaccedilatildeo dos atores envolvidos nessa problemaacutetica desde a tomada de

decisotildees ateacute os encaminhamentos que se fizerem necessaacuterios para o enfrentamento

positivo e superaccedilatildeo de situaccedilotildees de violecircncia contra as mulheres

A partir de accedilotildees mais efetivas e da conscientizaccedilatildeo dos atores sociais de

que a violecircncia eacute hoje um problema de relevacircncia mundial e de sauacutede puacuteblica no

cenaacuterio brasileiro almeja-se a detecccedilatildeo precoce de situaccedilotildees de violecircncia

abordagem adequada e qualificada agraves viacutetimas e os devidos encaminhamento para o

atendimento desta demanda com eacutetica competecircncia e de forma mais humanizada

Atuaccedilatildeo esta pautada em valores societaacuterios em que homens e mulheres tenham

os mesmos direitos de cidadania buscando a superaccedilatildeo de todas as formas de

violecircncia preconceitos discriminaccedilotildees e desigualdades

27

REFEREcircNCIAS

BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Violecircncia intrafamiliar orientaccedilotildees para a praacutetica em serviccedilos Cadernos de Atenccedilatildeo Baacutesica n 8 BrasiacuteliaDF 2002 CABRAL F B OLIVEIRA D LL C de CECCIM R B O puerpeacuterio e a sauacutede da mulher vulnerabilidade e atenccedilatildeo baacutesica agrave sauacutede In Ensino e atenccedilatildeo agrave sauacutede da mulher aprendizados da integraccedilatildeo da educaccedilatildeo superior com a rede assistencial edCaxias do Sul EDUCS Editora da Universidade de Caxias do Sul 2008 p 137-157 CAMARGO M AQUINO S de (2003) Redes de cidadania e parcerias- Enfrentando a rota criacutetica Secretaria Especial de Poliacuteticas para as Mulheres Programa de prevenccedilatildeo assistecircncia e combate agrave violecircncia contra a mulher- plano nacional Brasiacutelia 2003 DrsquoOLIVEIRA A F SCHRAIBER L B Violecircncia Contra a Mulher a pesquisa e a intervenccedilatildeo Revista Promoccedilatildeo da Sauacutede n 6 80- 8 2002 DE FERRANTE FG SANTOS MA VIEIRA EM Violecircncia contra a mulher percepccedilatildeo dos meacutedicos das unidades baacutesicas de sauacutede da cidade de Ribeiratildeo Preto Satildeo Paulo Satildeo Paulo Interface - Comunic Saude Educ 13(31)287-99 outdez 2009

DOLIVEIRA AFPL SCHREIBER LB HANADA H DURANDJ Atenccedilatildeo integral agrave sauacutede de mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia de gecircnero ndash uma alternativa para a atenccedilatildeo primaacuteria em sauacutede Rio de Janeiro Ciecircnc Sauacutede Coletiva 14(4) julhoago 2009

GALVAtildeOFEANDRADESM Violecircncia contra a mulher anaacutelise de casos atendidos em serviccedilo de atenccedilatildeo agrave mulher em municiacutepio do Sul do Brasil Sauacutede e Sociedade 13(2)p89-99 maio-ago 2004 GIL A C Como Elaborar Projetos de Pesquisa 4 ed Satildeo Paulo Atlas 2009

LEONCIO LK ET AL O perfil das mulheres vitimizadas e seus agressores Rev enferm UERJ Rio de Janeiro 16(3)307-12 julset 2008 MEDINA ABC PENNA LHG Violecircncia na gestaccedilatildeo um estudo da produccedilatildeo cientiacutefica de 2000 a 2005 Esc Anna Nery 12(4)793-98 dez 2008 MENEGHEL ST INtildeIGUEZ L Contadores de histoacuterias praacuteticas discursivas e violecircncia de gecircnero Cad Sauacutede Puacuteblica Rio de Janeiro 23(8)1815-1824 ago 2007 MEYER D E Teorias e poliacuteticas de gecircnero fragmentos histoacutericos e desafios atuais Revista Brasileira de Enfermagem Brasiacutelia v57 n1 p13-8 janfev 2004

28

MINAYO M C et al Pesquisa social teoria meacutetodo criatividade Petroacutepolis Vozes 2002 MONTEIROCFS Arauacutejo TME NunesBMV LustosaAR BezerraCMJ A Violecircncia contra a mulher atendida em uma unidade de urgecircncia uma contribuiccedilatildeo da enfermagem Esc Anna Nery 10(2)273-9 ago 2006 MOTA JCMVASCONCELOS AGG ASSIS SG Anaacutelise de correspondecircncia como estrateacutegia para descriccedilatildeo do perfil da mulher viacutetima do parceiro atendida em serviccedilo especializado Ciecircncia e Sauacutede coletiva 12 (3)799890 2007 REZENDE EJC ET AL Lesotildees buco-dentais em mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia um estudo piloto de casos periciados no IML de Belo Horizonte MG Rev Bras Epidemiol 10(2) 202-14 2007 SCARANTO CAA BIAZEVICMGH MICHEL-CROSATOE Percepccedilatildeo dos Agentes Comunitaacuterios de Sauacutede sobre a Violecircncia Domeacutestica contra a Mulher Psicol ciecircnc Prof 27(4)694-705 2007 SCHRAIBER L B DOLIVEIRA A F L P Violecircncia contra mulheres interfaces com a Sauacutede Comunicaccedilatildeo Sauacutede Educaccedilatildeo v3 n5 1999 SILVA LL ET AL Violecircncia silenciosa violecircncia psicoloacutegica como condiccedilatildeo da violecircncia fiacutesica domeacutestica Interface - Comunic Sauacutede Educ v11 n21 p93-103 janabr 2007 SILVA LL ET AL Violecircncia silenciosa violecircncia psicoloacutegica como condiccedilatildeo da violecircncia fiacutesica domeacutestica Interface - Comunic Sauacutede Educ v11 n21 p93-103 janabr 2007 TAVARES F A Daacutes Laacutegrimas agrave Esperanccedila o processo de fortalecimento das mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia domeacutestica 2008 Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Serviccedilo Social Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica do Rio Grande do Sul Porto Alegre 2008 VIEIRAMEET AL Conhecimento e atitudes dos profissionais de sauacutede em relaccedilatildeo agrave violecircncia de gecircnero Rev Bras Epidemiol 12(4) 566-77 2009 WILHEL FA TONET J Percepccedilatildeo sobre a violecircncia domeacutestica na perspectiva de mulheres vitimadas Psicol Argum Curitiba 25 (51)401-412 outdez 2007

29

ANEXO 1 - Quadro analiacutetico ndash Violecircncia domestica contra a mulher e sauacutede publica ndash 2000-2009

Titulo Revista

Origem Subaacuterea de

conhecimento

Tipo Natureza Ano de

publicaccedilatildeo

Regiatildeo da

pesquisa

Violecircncia contra a mulher anaacutelise de casos atendidos em serviccedilo de atenccedilatildeo agrave mulher em municiacutepio do sul do Brasil Rev Sauacutede e Sociedade v13 n2 p89-99 maio-ago 2004

GALVAtildeOFEANDRADESM

Artigo Sociologia Pesquisa

investigaccedilatildeo

Qualitativo

sociocultural 2004 Regiatildeo Sul

A violecircncia contra a mulher atendida em unidade de urgecircncia uma contribuiccedilatildeo da enfermagem Esc Anna Nery R Enferm 2006 ago 10 (2) 273-9

MONTEIROCFS Arauacutejo TME NunesBMV LustosaAR BezerraCMJ

Artigo Enfermagem Pesquisa

Investigaccedilatildeo

Quantitativo

sociocultural 2006 Regiatildeo

Norte

Percepccedilatildeo dos Agentes Comunitaacuterios de Sauacutede sobre a Violecircncia Domeacutestica contra a Mulher Psicol ciecircnc prof27(4)694-705 2007

SCARANTO CAA BIAZEVICMGH MICHEL-CROSATOE

Artigo Psicologia Pesquisa

Investigaccedilatildeo

Qualitativo

sociocultural 2007 Regiatildeo Sul

Violecircncia silenciosa violecircncia psicoloacutegica como condiccedilatildeo da violecircncia fiacutesica domeacutestica

Artigo Psicologia Revisatildeo sociocultural 2007 Regiatildeo Sul

30

Interface-Comunic Sauacutede Educ v11 n21 p93-103 janabr 2007

SILVA LL ET AL

Qualitativa

Anaacutelise de correspondecircncia como estrateacutegia para descriccedilatildeo do perfil da mulher viacutetima do parceiro atendida em serviccedilo especializado Ciecircncia e Sauacutede coletiva12 (3)799890 2007

MOTA JCMVASCONCELOS AGG ASSIS SG

Artigo multiprofissional Pesquisa Qualiquanti

epidemioloacutegi

co

2007 Centro

Contadores de histoacuterias praacuteticas discursivas e violecircncia de gecircnero Cad Sauacutede Puacuteblica Rio de Janeiro 23(8)1815-1824 ago 2007

MENEGHEL ST INtildeIGUEZ L

Artigo multiprofissional Pesquisa Qualitativa

Sociocultural 2007 Regiatildeo sul

Lesotildees buccedilo-dentais em mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia um estudo piloto de casos periciados no IML de Belo Horizonte MG Rev Bras Epidemiol 2007 10(2) 202-14

REZENDE EJC ET AL

Artigo Odontologia Pesquisa

Documental

Clinico 2007 Regiatildeo

sudeste

Percepccedilatildeo sobre a violecircncia domeacutestica na perspectiva de mulheres vitimadas Psicol Argum Curitiba v 25 n 51 p 401-412 outdez 2007

WILHEL FA TONET J

Artigo Psicologia Pesquisa

qualitativa

Sociocultural 2007 Regiatildeo Sul

O perfil de mulheres vitimizadas e de seus agressores Rev enferm UERJ Rio de Janeiro 2008 julset

Artigo Enfermagem Pesquisa Sociocultural 2008 Regiatildeo

31

16(3)307-12

LEONCIO LK ET AL documental

quantitativa

sudeste

Violecircncia na gestaccedilatildeo um estudo da produccedilatildeo cientiacutefica de 2000 a 2005 Esc Anna Nery Rev Enferm 2008 dez 12 (4) 793-98

MEDINA ABC PENNA LHG

Artigo Enfermagem Pesquisa

qualitativa

Sociocultural 2008 Regiatildeo

Sudeste

Conhecimento e atitudes dos profissionais de sauacutede em relaccedilatildeo agrave violecircncia de gecircnero Rev Bras Epidemiol 2009 12(4) 566-77

VIEIRAMEET AL

Artigo Multidisciplinar Pesquisa Qualitativa

Sociocultural 2009 Regiatildeo Sudeste

Violecircncia contra a mulher percepccedilatildeo dos meacutedicos das unidades baacutesicas de sauacutede da cidade de Ribeiratildeo Preto Satildeo Paulo Interface - Comunic Saude Educ v13 n31 p287-99 outdez 2009

DE FERRANTE FG SANTOS MA VIEIRA EM

Artigo Multidisciplinar Pesquisa Qualitativa

Sociocultural 2009 Regiatildeo Sudeste

32

33

9

SUMAacuteRIO

TENDEcircNCIA DAS PESQUISAS SOBRE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA CONTRA AS

MULHERES ENTRE OS ANOS DE 2000- 2009 NO BRASIL10

INTRODUCcedilAtildeO 10

METODOLOGIA13

APRESENTACcedilAtildeO E DISCUSSAtildeO DOS RESULTADOS15

VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E DE GEcircNERO PRAacuteTICAS DISCURSIVAS16

PERFIL DAS MULHERES QUE SOFRERAM VIOLEcircNCIA18

A VIOLEcircNCIA CONTRA A MULHER NA OacuteTICA DAS VITIMAS E DOS PROFISSIONAIS

DE SAUacuteDE22

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS25

REFERENCIAS28

ANEXO 30

Anexo 1 ndash Quadro analiacutetico ndash Violecircncia domestica contra a mulher e sauacutede publica ndash 2000-2009 30

10

TENDEcircNCIA DAS PESQUISAS SOBRE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA CONTRA AS

MULHERES ENTRE OS ANOS DE 2000- 2009 NO BRASIL

INTRODUCcedilAtildeO

Ao longo da histoacuteria a conquista dos direitos humanos ndash como garantia de

justiccedila social e dignidade humana ndash fez e faz parte de um processo de consciecircncia

dos diferentes povos Respeitar os direitos humanos eacute promover a vida em

sociedade sem discriminaccedilatildeo de classe social cultura religiatildeo raccedila orientaccedilatildeo

sexual ou de qualquer outro tipo O respeito agrave integridade corporal viver a

sexualidade sem culpas medos ou discriminaccedilatildeo e viver numa famiacutelia livre de

violecircncia tambeacutem fazem parte dos direitos humanos (BRASIL 2002)

Durante muito tempo a violecircncia baseada na desigualdade de gecircnero1 foi

praticamente invisiacutevel e tolerada Atualmente a complacecircncia social em torno das

agressotildees por questotildees de poder e dominaccedilatildeo estaacute se diluindo aos poucos visto

que governos sociedade civil organizada Naccedilotildees Unidas e outras organizaccedilotildees

internacionais estatildeo se envolvendo cada vez mais com atividades voltadas agrave

promoccedilatildeo da igualdade entre os sexos e ao fim da violecircncia domeacutestica contra as

mulheres

Para Tavares (2008 p14) ldquoa violecircncia domeacutestica contra a mulher eacute fruto de

uma construccedilatildeo social que demarca espaccedilos de poder privilegiando os homens e

oprimindo as mulheresrdquo Nesta loacutegica a sociedade reproduz a desigualdade social

existente no que se refere agraves expectativas geradas sobre os comportamentos de

homens e mulheres na medida em que se espera das mulheres delicadeza

obediecircncia e subordinaccedilatildeo e responsabilizaccedilatildeo pelo cuidado com o marido e com o

lar Da mesma forma em que as mulheres estatildeo legitimadas pela cultura linguagem

e discurso ndash como cuidadoras dos filhos (CABRAL OLIVEIRA CECCIM 2008)

1 No presente estudo o termo gecircnero fundamenta-se como [] todas as formas de construccedilatildeo

social cultural e linguumliacutestica implicadas com processos que diferenciam mulheres e homens incluindo aqueles processos que produzem seus corpos distinguindo-os e nomeando-os como corpos dotados de sexo gecircnero e sexualidade (MEYER 2004 p 15)

11

Em relaccedilatildeo aos serviccedilos de sauacutede foi apenas no iniacutecio dos anos 90 que a

temaacutetica em estudo passou a fazer parte e a realizar novas accedilotildees e abordagens

para o problema da violecircncia domeacutestica contra as mulheres Camargo e Aquino

(2003) esclarecem que foi somente a partir deste momento que os serviccedilos de

sauacutede passaram a adotar poliacuteticas visando agrave identificaccedilatildeo e enfrentamento dessa

problemaacutetica mediante accedilotildees no campo da sauacutede direcionadas aos casos de

violecircncia sexual violecircncia contra as crianccedilas e outros agravos

Nesse sentido a violecircncia contra as mulheres passa a ser tema de estudo e

intervenccedilatildeo no campo da sauacutede ao mesmo tempo em que se firma

internacionalmente como questatildeo de direitos humanos

Decorridos alguns anos do relatoacuterio da OMS sobre violecircncia e sauacutede2 torna-

se conhecido para os profissionais de sauacutede o fato de que a violecircncia contra as

mulheres tem alta magnitude e relevacircncia no campo da sauacutede Tal situaccedilatildeo tem sido

evidenciada no acircmbito dos serviccedilos de sauacutede pois mulheres que

vivenciamvivenciaram situaccedilotildees de violecircncia domeacutestica e sexual utilizam esses

serviccedilos com maior frequumlecircncia por apresentam mais queixas de ordem fiacutesica

mental e ou emocional (DrsquoOliveira et al 2009)

Estudo no acircmbito da atenccedilatildeo primaacuteria constatou que a frequumlecircncia de

mulheres que relataram ter vivenciado situaccedilotildees de violecircncia domeacutestica a partir dos

18 anos foi de 214 enquanto que em serviccedilos de emergecircncia essas ocorrecircncias

variaram de 22 a 35 (DrsquoOLIVEIRA SCHRAIBER et al 2002) Tambeacutem por essa

razatildeo os serviccedilos de sauacutede satildeo importantes dispositivos para a identificaccedilatildeo e

enfrentamento dessa problemaacutetica pois sua ampla cobertura na atenccedilatildeo baacutesica

favorece a vinculaccedilatildeo dessas mulheres a uma equipe de sauacutede em um dado

territoacuterio o que favorece o acolhimento e a possibilidade de identificaccedilatildeo de

situaccedilotildees de violecircncia domeacutestica contra mulheres ainda que subjetivadas por outras

queixas de origem bioloacutegica ou ainda mediante o proacuteprio relato da vitima em um

atendimento de sauacutede (DrsquoOliveira et al 2009)

2 Desde 1996 a Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede reconhece a violecircncia como um problema de sauacutede puacuteblica

(WHO 2002)

12

Entende-se que a violecircncia domeacutestica contra as mulheres eacute um fenocircmeno

complexo que requer accedilotildees intersetoriais para aleacutem do campo juriacutedico na medida

em que eacute reconhecida como um problema de sauacutede puacuteblica Para tanto o

enfrentamento de situaccedilotildees dessa natureza requer accedilotildees no campo dos direitos

humanos e de cidadania na perspectiva da humanizaccedilatildeo e da integralidade em

sauacutede pautadas na eacutetica e no entendimento de que um viver saudaacutevel implica

tambeacutem no direito a uma vida sem violecircncia (DrsquoOliveira et al 2009)

Ante estas consideraccedilotildees este estudo teve a seguinte questatildeo norteadora ldquoo

que a literatura especializada em sauacutede dos uacuteltimos dez anos disponiacutevel on line

traz a respeito da violecircncia domestica contra a mulher no periacuteodo de 2000 a 2009rdquo

O objetivo da pesquisa foi ldquoconhecer o que a literatura especializada em sauacutede dos

uacuteltimos dez anos disponiacutevel on line traz a respeito da violecircncia domestica contra a

mulher no periacuteodo de 2000 a 2009rdquo

13

METODOLOGIA

Trata-se de uma pesquisa bibliograacutefica de natureza qualitativa que segundo

Gil (2009) eacute o estudo desenvolvido com base em material jaacute elaborado constituiacutedo

principalmente de livros e artigos Segundo Minayo (2002) ldquoa pesquisa qualitativa

trabalha com o universo de significados motivos aspiraccedilotildees crenccedilas valores e

atitudes o que corresponde a um espaccedilo mais profundo das relaccedilotildees dos

processos e dos fenocircmenos que natildeo podem ser reduzidos agrave operacionalizaccedilatildeo de

variaacuteveisrdquo

Os dados foram coletados mediante consulta na Biblioteca Virtual de Sauacutede ndash

BVSBireme nas bases de dados de dados da Literatura Latino-Americana e do

Caribe em Ciecircncias da Sauacutede (LILACS) e Scientific Eletronic Library On line

(SCIELO) Foram utilizados os termos violecircncia contra a mulher e sauacutede publica

como descritores para o levantamento de dados nos uacuteltimos dez anos Este

processo envolveu atividades de busca identificaccedilatildeo fichamento de estudos

mapeamento e anaacutelise O recorte temporal justifica-se pelo fato de que em dez

anos a prodccedilatildeo de conhecimento se renova substancialmente especialmente no

que tange ao conhecimento veiculado em miacutedias informatizadas

O levantamento bibliograacutefico foi realizado no periacuteodo de vinte e trecircs a vinte e

seis de maio de dois mil e onze cujos dados coletados atenderam aos seguintes

criteacuterios de inclusatildeo artigos cientiacuteficos disponiacuteveis na iacutentegra online e em idioma

da lingua portuguesa no periacuteodo de 2000 a 2009 com os descritores violecircncia

domeacutestica contra a mulher e sauacutede publica

Inicialmente foram encontradas noventa e trecircs (93) produccedilotildees cientiacuteficas com

o descritor violecircncia domeacutestica contra a mulher e sauacutede puacuteblica Dessas foram

selecionados vinte e oito (28) artigos cientiacuteficos que apresentavam o texto na

iacutentegra sendo que apenas quinze (15) atendiam o criteacuterio de inclusatildeo relativo ao

idioma que era a liacutengua portuguesa Dos quinze (15) artigos selecionados trecircs (3)

natildeo atenderam ao enquadre temporal pois uma datava do ano de 1999 e duas do

ano de 2010 motivo pelo qual as mesmas foram excluiacutedas totalizando doze (12)

artigos que passaram a compor o corpus dos dados a serem analisados

14

A anaacutelise dos dados se deu pela teacutecnica de anaacutelise temaacutetica de Minayo

(2002) definida como a descoberta dos nuacutecleos de sentidos que constituem uma

comunicaccedilatildeo acerca da frequumlecircncia ou da presenccedila de algum significado para o

objeto que seraacute analisado Este meacutetodo de anaacutelise eacute constituiacutedo por trecircs etapas a

preacute-anaacutelise em que ocorre a ordenaccedilatildeo dos dados obtidos a exploraccedilatildeo do

material em que os dados satildeo classificados de forma a alcanccedilar o nuacutecleo de

compreensatildeo do texto por meio da formulaccedilatildeo de categorias e o tratamento dos

resultados obtidos e interpretaccedilatildeo em que se articulam os dados apreendidos ao

referencial teoacuterico visando responder as questotildees da pesquisa

15

APRESENTACcedilAtildeO E DISCUSSAtildeO DOS RESULTADOS

Para a categorizaccedilatildeo e anaacutelise dos doze artigos cientiacuteficos selecionados foi

elaborado um quadro analiacutetico (Anexo 1) composto pelas variaacuteveis titulo origem

subaacuterea de conhecimento tipo natureza ano de publicaccedilatildeo regiatildeo da pesquisa

O mapeamento das produccedilotildees apontou a subaacuterea multiprofissional como de

maior concentraccedilatildeo na produccedilatildeo de artigos cientiacuteficos sendo que a maioria foi de

produccedilotildees socioculturais e apenas um artigo de natureza clinica se mostrando

convergente agrave aacuterea de odontologia

Com relaccedilatildeo ao tipo de pesquisa a abordagem mais utilizada foi do tipo

qualitativa Quanto ao recorte temporal adotado a primeira produccedilatildeo selecionada foi

do ano de 2004 sendo que a maior concentraccedilatildeo se deu no ano de 2007 com cinco

(5) artigos

Quanto agraves regiotildees do paiacutes em que esses artigos foram produzidos observou-

se maior concentraccedilatildeo dessas publicaccedilotildees na regiatildeo Sudeste com seis (6) artigos

cinco (5) artigos na regiatildeo Sul e apenas um (1) artigo na regiatildeo nordeste Ainda

com relaccedilatildeo agrave regionalidade desses artigos destaca-se que trecircs dos artigos

produzidos na regiatildeo sudeste do paiacutes foram desenvolvidos na cidade de Ribeiratildeo

PretoSP dos quais dois abordavam a perspectiva dos profissionais de sauacutede em

relaccedilatildeo e violecircncia domestica e o outro o perfil das vitimas de violecircncia

Do processo de anaacutelise dos achados da pesquisa emergiram trecircs categorias

sendo que os doze artigos foram categorizados em Violecircncia domeacutestica e de

gecircnero praacuteticas discursivas Perfil das mulheres que sofreram violecircncia e A violecircncia

na oacutetica dos profissionais de sauacutede

VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E DE GEcircNERO PRAacuteTICAS DISCURSIVAS

Medina e Penna (2008) em estudo bibliograacutefico que analisou quatorze (14)

produccedilotildees entre os anos de 2000 e 2005 destacaram o contexto soacutecio-cultural da

violecircncia domeacutestica no periacuteodo gestacional como um fator importante no

desenvolvimento desta no acircmbito da famiacutelia Tambeacutem ressaltam que a violecircncia

vivenciada pela gestante ainda eacute uma situaccedilatildeo de difiacutecil abordagem nas relaccedilotildees

16

pessoais e profissionais O estudo indicou ainda que mulheres que vivenciam

situaccedilotildees de violecircncia na gestaccedilatildeo se sentem coibidas em denunciar agressotildees

sofridas pelos parceiros ou familiares Da mesma forma em que evidenciou

processos de naturalizaccedilatildeo e de invisibilidade da violecircncia na gestaccedilatildeo na medida

em que muitas situaccedilotildees dessa natureza nem sempre satildeo percebidas e

reconhecidas como atos violentos pelas mulheres que a vivenciam como tambeacutem

pelos profissionais de sauacutede que as assistem

Pesquisa realizada por Silva et al (2007) que analisou os tipos de violecircncia

domeacutestica indicou que a violecircncia psicoloacutegica eacute o ponto inicial que deflagra a

violecircncia Para os autores a prevenccedilatildeo de qualquer tipo de situaccedilatildeo de violecircncia

vivida no acircmbito domeacutestico deve passar pela compreensatildeo de que estrateacutegias que

visem coibir situaccedilotildees de violecircncia psicoloacutegica implicam diretamente na minimizaccedilatildeo

dos demais tipos de violecircncias Destacam ainda que outras accedilotildees importantes

como palestras e maior discussatildeo sobre a temaacutetica em escolas de ensino

fundamental e meacutedio da rede puacuteblica e universidades que abordem a temaacutetica da

violecircncia na perspectiva dos direitos humanos bem como sobre serviccedilos de apoio

existentes e possibilidades de enfrentamento desta demanda devem ser

incentivadas

Estudo publicado por Meneghel e Intildeiguez (2007) que analisou oficina de

contadores de histoacuterias realizada no Centro Ecumecircnico de Assessoria e

Capacitaccedilatildeo de Satildeo Leopoldo (CECA-SL) a qual teve como tema gerador das

discussotildees as questotildees de gecircnero Dessas discussotildees foram escolhidas histoacuterias

para comporem essas narrativas nas quais as mulheres contavam episoacutedios de

violecircncia ligados agraves suas trajetoacuterias pessoais e afirmavam que a violecircncia de gecircnero

acontece em qualquer classe social escolaridade ou raccedila Na medida em que se

posicionavam criticamente em relaccedilatildeo ao sexismomachismo essas mulheres

afirmavam que eram obrigadas a abdicar de si mesmas natildeo podiam construir

projetos de vida mais autocircnomos devendo sempre ceder agraves vontades do homem

(maridocompanheiro) permanecendo submissas a ele Essa subordinaccedilatildeo agrave

autoridade masculina poderia ser potencializada ou minimizada na medida em que

essas mulheres dispusessem ou natildeo de acesso a informaccedilotildees que favoreccedilam o

17

entendimento de sua posiccedilatildeo como sujeito de direitos dentre os quais o de uma

vida sem violecircncia

Com base nos estudos analisados percebeu-se que a violecircncia domeacutestica

contra as mulheres envolve questotildees culturais e de gecircnero Nesse sentido a

prevenccedilatildeo ou minimizaccedilatildeo de situaccedilotildees relativas agrave violecircncia domeacutestica requer accedilotildees

intersetoriais que mobilizem os diversos segmentos da sociedade para que

conjuntamente atuem de forma proacute-ativa no enfrentamento desta problemaacutetica

Uma estrateacutegia importante seria a inclusatildeo da temaacutetica como um tema

transversal nas escolas a ser abordado natildeo apenas com alunos e professores mas

tambeacutem com as famiacutelias que integram a comunidade escolar

Para aleacutem da organizaccedilatildeo de serviccedilos para o enfrentamento da violecircncia

contra as mulheres e apoio a essas viacutetimas evidencia-se tambeacutem a necessidade de

maior qualificaccedilatildeo sobre a temaacutetica de profissionais que atuam no campo da sauacutede

e do serviccedilo social para que possam atender esta demanda com eacutetica competecircncia

e de forma mais humanizada Atuaccedilatildeo esta pautada em valores societaacuterios em que

homens e mulheres tenham os mesmos direitos de cidadania buscando a

superaccedilatildeo de todas as formas de violecircncia preconceitos discriminaccedilotildees e

desigualdades

18

PERFIL DAS MULHERES QUE SOFRERAM VIOLEcircNCIA

A maioria das produccedilotildees traccedilou o perfil das mulheres vitimas de violecircncia

domeacutestica que procuram atendimento em serviccedilos de sauacutede tendo como variaacuteveis a

faixa etaacuteria profissatildeo estado civil escolaridade dentre outros

Galvatildeo e Andrade (2004) pesquisaram o perfil de mulheres em situaccedilatildeo de

violecircncia atendidas em um Centro de Atendimento agrave Mulher (CAM) em Londrina

Paranaacute a partir de informaccedilotildees extraiacutedas das fichas desses atendimentos A faixa

etaacuteria que predominou entre as mulheres atendidas no CAM foi agrave de 30 a 39 anos

seguida da faixa etaacuteria de 20 a 29 anos sendo que a meacutedia de idade foi de 34 anos

Com relaccedilatildeo ao estado civil 472 das mulheres declararam-se casadas 266

dos casos as mulheres que conviviam com um companheiro fixo numa relaccedilatildeo

consensual e 54 possuem um ou dois filhos Quanto agrave escolaridade 581 dessas

mulheres natildeo concluiacuteram o ensino fundamental 128 concluiacuteram o ensino meacutedio e

a taxa de analfabetismo foi de 21 sendo que 558 desenvolvia algum tipo de

trabalho remunerado Os principais agressores satildeo os atuais maridos ou

companheiros das mulheres (734) e quase a totalidade dos casos (974)

ocorreu no ambiente domeacutestico Quanto agrave caracterizaccedilatildeo dos casos de violecircncia

prevalece a violecircncia emocional com 564 dos casos seguida pela violecircncia fiacutesica

com 321 Quanto ao tempo em que vivenciam situaccedilotildees de violecircncia 33 das

mulheres vecircm sofrendo agressotildees por periacuteodos de ateacute um ano e 204 dos casos

refere-se a mulheres que sofrem agressotildees haacute mais de 10 anos

Estudo realizado por Monteiro et al (2006) sobre o perfil de mulheres que

sofreram violecircncia atendidas em uma unidade de urgecircncia em Teresina Piauiacute

indicou que 78 encontrava-se na faixa etaacuteria entre 18 e 40 anos e que 40 delas

natildeo trabalhavam fora de casa desempenhando exclusivamente as tarefas

domeacutesticas relativas ao cuidado coma casa e filhos As agressotildees nos membros

superiores ocorreram com maior frequumlecircncia (44) seguida das agressotildees na face

(33) Revelou ainda que a maioria dessas mulheres natildeo relatou os motivos pelos

quais foram agredidas ainda que o aacutelcool tenha sido apontado em 19 dos casos

como o principal motivo desencadeador das agressotildees seguido do ciuacutemes

Tambeacutem haacute um grande nuacutemero de subnotificaccedilatildeo em relaccedilatildeo ao agressor (80)

19

possivelmente em funccedilatildeo da dependecircncia econocircmica e por medo de vinganccedila do

companheiro Quanto agraves condutas adotadas pelos profissionais de sauacutede a grande

maioria (83) limita-se ao atendimento de queixas de menor complexidade como

aquelas que exigiram sutura simples ou consulta meacutedica Recomendam ainda que o

apoio as viacutetimas de violecircncia deve ter iniacutecio no serviccedilo de urgecircncia de forma

articulada com outros serviccedilos que tratam da mesma questatildeo como as Delegacias

Especiais de Atendimento agrave Mulher (DEAM) os Conselhos de Direitos da Mulher

Abrigos e outras instituiccedilotildees

Mota Vasconcelos e Assis (2007) analisaram as informaccedilotildees das fichas de

atendimento de um centro especializado no atendimento a mulheres viacutetimas de

violecircncia no municiacutepio do Rio de Janeiro totalizando 684 fichas de atendimento

dessas mulheres Dessa anaacutelise os autores traccedilaram o perfil dessas mulheres as

quais apresentaram idade meacutedia de 37 anos Para os autores o baixo status

econocircmico a baixa escolaridade e consequumlentemente o acesso agrave informaccedilatildeo

podem ter sido condiccedilotildees facilitadoras para a ocorrecircncia de situaccedilotildees de violecircncia

domeacutestica contra mulheres pelo cocircnjuge na populaccedilatildeo analisada Por outro lado as

agressotildees fiacutesicas mais graves que ocorreram com mulheres que possuiacuteam maior

niacutevel de escolaridade podem ter sido potencializadas pelo fato de as mesmas natildeo

terem aceitado essa violecircncia de modo passivo implicando em um conflito ainda

maior e em agressotildees fiacutesicas mais graves O estudo evidenciou ainda que a

violecircncia domeacutestica contra a mulher envolve questotildees culturais e de gecircnero com

implicaccedilotildees nas questotildees relativas agrave conjugalidade Assim a violecircncia domeacutestica

contra a mulher estaacute vinculada ao tradicional controle masculino baseado no papel

de provedor cuja desigualdade de gecircnero potencializa conflitos e colabora para a

ocorrecircncia de situaccedilotildees de violecircncia de ordem fiacutesica psicoloacutegica ou moral

Pesquisa retrospectiva e documental desenvolvida por Leonsio et al (2008)

analisou 446 boletins de ocorrecircncia em uma Delegacia de Defesa da Mulher em

Ribeiratildeo Preto Satildeo Paulo Em seus resultados os autores destacaram que 3408 das

mulheres estavam em faixa etaacuteria acima de 35 anos 7578 eram da raccedila branca e

4417 delas eram solteiras Quanto agrave ocupaccedilatildeo 5874 dessas mulheres

exerciam algum tipo de trabalho remunerado formal ou informal e 3722 possuiacuteam

o ensino fundamental completo Outro aspecto importante evidenciado pelo estudo foi

20

que 5471 das mulheres agredidas demoraram de 1 a 15 dias entre a agressatildeo e o tempo

da denuacutencia formal e 4215 registraram a ocorrecircncia no mesmo dia na delegacia Em

7691 dos casos o ambiente domeacutestico foi o local em que essas agressotildees ocorreram

Quanto ao agressor foi observado nos boletins de ocorrecircncia investigados que em 4910

dos casos os parceiros foram os principais denunciados seguidos de ex-parceiros com

1816 das ocorrecircncias Dentre os motivos desencadeantes da agressatildeo 4462

corresponderam agrave recusa da separaccedilatildeo conjugal 1435 ciuacutemes e 1996 por outros

motivos como bebidasdrogas

Estudo realizado por Resende et al (2007) analisou registros e laudos

encaminhados ao setor de Odontologia do IML de Belo Horizonte sobre as lesotildees

bucomaxilares sofridas por mulheres vitimas de violecircncia domeacutestica A faixa etaacuteria

predominante das mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia foi de 20 a 39 anos

representando 704 do total sendo a idade meacutedia correspondente a 303 anos

Quanto agrave ocupaccedilatildeo 241 das mulheres realizavam trabalhos domeacutesticos 213

se intitulavam ldquodonas-de-casardquo e 14 trabalhavam no comeacutercio A maioria das

mulheres que sofreu agressotildees declarou-se solteira perfazendo um total de 63

enquanto que o percentual de casadas foi menor correspondendo apenas 204

Foi constatado o elevado percentual de 611 dos casos em que o agressor natildeo foi

identificado (611) em 25 o sujeito agressor foi o companheiro em 37 foram

familiares e em 74 foram conhecidos perfazendo um total de 361 contra 28

de violecircncia realizada por estranhos

A complexidade da problemaacutetica da violecircncia domeacutestica contra as mulheres

tem implicaccedilotildees em questotildees culturais e de gecircnero vinculada a construccedilatildeo social

de papeacuteis desiguais entre homens e mulheres que potencializa conflitos e colabora

para a ocorrecircncia de situaccedilotildees de violecircncia de ordem fiacutesica psicoloacutegica ou moral

Ainda nesse sentido costuma ser difiacutecil para a maioria das mulheres tomarem a

atitude de denunciar seus companheiros agressores e romper com a situaccedilatildeo de

violecircncia principalmente em funccedilatildeo do medo de vinganccedila e da dependecircncia

econocircmica agrave renda do marido

21

A VIOLEcircNCIA CONTRA A MULHER NA OacuteTICA DAS VITIMAS E DOS

PROFISSIONAIS DE SAUacuteDE

Estudo desenvolvido por Vieira et al (2009) sobre o conhecimento e atitudes

dos profissionais de sauacutede em relaccedilatildeo agrave violecircncia de gecircnero destaca a importacircncia

do atendimento de mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia nos serviccedilos de sauacutede jaacute que

este eacute muitas vezes o uacutenico local procurado pelas viacutetimas A maioria dos

profissionais que participou do estudo demonstrou bom conhecimento sobre a

definiccedilatildeo de violecircncia contra a mulher aleacutem de reconhecer como seu papel

profissional perguntar sobre violecircncia para as pacientes Indicou ainda que esses

profissionais acreditam que para uma melhor atenccedilatildeo agrave violecircncia deveria ser

implantado em sua rotina de trabalho um protocolo de enfrentamento da violecircncia

Os autores tambeacutem evidenciaram a necessidade maiores investimentos na

capacitaccedilatildeo e qualificaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede que devem estar aptos para

reconhecer e manejar os casos de violecircncia

Pesquisa realizada por De Ferrant Santos e Vieira (2009) sobre a percepccedilatildeo

dos meacutedicos de uma unidade baacutesica de Ribeiratildeo Preto Satildeo Paulo em relaccedilatildeo agrave

violecircncia domeacutestica contra a mulher revelou que a maior parte deles acredita que a

violecircncia psicoloacutegica eacute a mais grave pois a proacutepria mulher apresenta dificuldade em

reconhececirc-la como algo prejudicial agrave sua sauacutede a ponto de frequentemente

permanecer exposta agrave situaccedilatildeo durante anos a fio Os resultados indicam que os

meacutedicos detecircm alguns conhecimentos acerca dos tipos de violecircncia de gecircnero e satildeo

capazes de identificar e muitas vezes acolher as mulheres que estatildeo expostas agrave

situaccedilatildeo Contudo destacam uma seacuterie de dificuldades para atuarem frente a uma

usuaacuteria que apresenta essa problemaacutetica e reconhecem a falta de capacitaccedilatildeo

profissional uma vez que muitos deles reforccedilam a necessidade de um treinamento

voltado especificamente para os casos de violecircncia de gecircnero Da mesma forma que

apontam outras barreiras pessoais e institucionais que limitam sua atuaccedilatildeo tanto

em niacutevel preventivo como interventivo que muitas vezes os impedem de agir

adequadamente frente a uma situaccedilatildeo de violecircncia Entre elas destacam-se os

meacutedicos sentem-se impotentes frente agraves atitudes que a mulher possa vir a tomar

mesmo depois de orientada afirmam que temem tomar qualquer atitude por medo

22

da reaccedilatildeo do agressor Os autores sugerem a necessidade de um trabalho integrado

e em rede que ofereccedila uma resposta efetiva para o problema da violecircncia de

gecircnero Aleacutem disso eacute preciso investir na qualificaccedilatildeo dos outros profissionais de

sauacutede aleacutem dos meacutedicos para que se viabilize um atendimento multidisciplinar

para que os serviccedilos de sauacutede se constituam em espaccedilos de acolhimento e apoio

integrando-se efetivamente agrave rede de atendimento

Wilhelm e Tonet (2007) em seu estudo sobre a percepccedilatildeo de mulheres que

sofreram violecircncia domeacutestica em um municiacutepio do interior de Santa Catarina indicou

a ocorrecircncia de depressatildeo ansiedade medo e sentimento de baixa auto-estima Na

oacutetica dessas mulheres parte das agressotildees acontece somente no momento em que

seus companheiros estatildeo alcoolizados Aleacutem da violecircncia fiacutesica (tais como socos

arranhotildees puxotildees de cabelo arremesso de objetos chutes tapas e beliscotildees)

ocorrem as humilhaccedilotildees e a desqualificaccedilatildeo sendo ridicularizadas perante os

amigos do agressor sua famiacutelia e desautorizada perante os filhos Quanto ao

comportamento violento do companheiro este eacute justificado por fatores externos

deste modo desresponsabilizando-o como por exemplo as dificuldades

financeiras desemprego e uso de drogas dentre outros Muitos satildeo os motivos

pelos quais a mulher natildeo denuncia seu marido agressor passando a viver muitos

anos neste contexto de violecircncia dentre os quais destaca-se dependecircncia

financeira filhos fator cultural e ameaccedilas Da mesma forma todas demonstraram a

esperanccedila de que o companheiro mudasse em relaccedilatildeo ao seu comportamento

violento Aleacutem de poliacuteticas puacuteblicas mais efetivas par ao enfrentamento da violecircncia

domeacutestica Eacute necessaacuterio promover poliacuteticas puacuteblicas mais efetivas em relaccedilatildeo ao

enfrentamento da violecircncia domeacutestica bem como maiores investimentos em redes

de apoio social efetiva para a mulher e seus filhos as quais muitas vezes estatildeo

subjugadas ao seu agressor devido agrave dependecircncia econocircmica Em relaccedilatildeo a este eacute

importante promover grupos de homens com a finalidade de propiciar a discussatildeo

sobre violecircncia relaccedilotildees e gecircnero e formas alternativas de resoluccedilatildeo de conflitos

Estudo de Scaranto Biazevic e Michel (2007) sobre a percepccedilatildeo dos Agentes

Comunitaacuterios de Sauacutede (ACS) sobre a Violecircncia Domeacutestica contra a Mulher em um

municiacutepio do interior do Rio Grande do Sul identificou relatos de situaccedilotildees de

violecircncia domeacutestica contra a mulher cometida por seu companheiro seja fiacutesica

23

sexual psicoloacutegica ou econocircmica A obediecircncia aos maridoscompanheiros vai

desde o cuidado pessoal ateacute o desempenho sexual A vergonha pela violecircncia

sofrida eacute infinitamente maior do que a coragem da mulher para denunciar

Constatou-se que o ACS pode ser o elo entre a vergonha e a coragem para a

mulher denunciar o problema da violecircncia o que significa que ele parece ser de

fundamental importacircncia no acolhimento das anguacutestias dessas mulheres no

encorajamento para o relato de sofrimento na detecccedilatildeo da questatildeo da violecircncia

que pode estar acompanhada pela depressatildeo ansiedade ou ateacute mascarada por

algum tipo de queixa vaga e em consequumlecircncia fazer o encaminhamento de

referecircncia correto e eficiente na denuacutencia Eacute preciso dar subsiacutedios teoacuterico-praacuteticos

aos profissionais para que em seu trabalho cotidiano possam detectar situaccedilotildees de

violecircncia encontrar a forma de abordar as famiacutelias e dar encaminhamento tanto aos

casos de violecircncia quanto de uso de aacutelcooldrogas A violecircncia contra a mulher deve

ser considerada como questatildeo de sauacutede puacuteblica a partir do conceito ampliado de

sauacutede motivo pelo qual necessita ser alvo de poliacuteticas puacuteblicas efetivas e

consistentes assim como mecanismos de proteccedilatildeo agrave mulher viacutetima de violecircncia

tambeacutem precisam ser criados

Com base nos artigos analisados constatou-se que muitos profissionais tecircm

dificuldades em reconhecer a violecircncia como um problema de sauacutede devido agrave falta

de subsiacutedios teoacuterico-praacuteticos para a detecccedilatildeo de situaccedilotildees de violecircncia abordagem

adequada agraves viacutetimas e os devidos encaminhamentos para o atendimento desta

demanda

24

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Este estudo teve se propocircs a conhecer o que a literatura especializada em

sauacutede dos uacuteltimos dez anos disponiacutevel on line traz a respeito da violecircncia

domestica contra a mulher no periacuteodo de 2000 a 2009

Com base nos artigos analisados percebe-se que o baixo status econocircmico

o niacutevel de instruccedilatildeo e consequumlentemente o acesso agrave informaccedilatildeo podem ser

considerados como condiccedilotildees facilitadoras para a ocorrecircncia de situaccedilotildees de

violecircncia domeacutestica

Em muitos casos a dependecircncia econocircmica da mulher agrave renda do marido

impotildee a necessidade desta em ter de permanecer com ele mesmo diante de

situaccedilotildees de violecircncia

De modo geral os estudos analisadas indicaram os maridos ou companheiros

atuais das mulheres ou ainda seus ex-companheiros como os principais

agressores sendo o ambiente domeacutestico o local predominate destas agressotildees

Outro aspecto evidenciado nos achados desta pesquisa se refere ao fato de

que a maioria dessas mulheres natildeo relatou os motivos pelos quais foram agredidas

ainda que o aacutelcool tenha sido apontado como o principal motivo desencadeador das

agressotildees seguido do sentimento de ciuacutemes Tambeacutem se verificou o grande

nuacutemero de sub-notificaccedilatildeo dos casos de violecircncia contra as mulheres Assim infere-

se que possivelmente isto ocorra em funccedilatildeo da dependecircncia econocircmica e por

medo de vinganccedila

A natureza soacutecio-cultural e a subaacuterea multiprofissional prevalente nas

produccedilotildees analisadas evidenciaram a multiplicidade de aspectos relevantes a

temaacutetica da violecircncia como um complexo problema de sauacutede puacuteblica sinalizando

para a urgecircncia de um movimento reflexivo seja no acircmbito da formaccedilatildeo de

profissionais de sauacutede seja na praacutetica profissional para o enfrentamento desta

questatildeo

Destaca-se a importacircncia de pesquisa bibliograacuteficas para a sistematizaccedilatildeo

das produccedilotildees cientiacuteficas nacionais na temaacutetica violecircncia domestica contra a mulher

para o (re)conhecimento do estado da arte sobre a temaacutetica em anaacutelise fato este

25

fundamental para subsidiar futuras intervenccedilotildees no acircmbito das praacuteticas e serviccedilos

de sauacutede e da accedilatildeo social

A complexidade que envolve as questotildees relativas agrave violecircncia contra a mulher

exige accedilotildees capazes de dar conta das inuacutemeras demandas apresentadas o que

implica na articulaccedilatildeo entre as diferentes aacutereas de conhecimento e de atuaccedilatildeo

multiprofissional

Nessa loacutegica faz-se necessaacuterio maior investimento na qualificaccedilatildeo de

profissionais de sauacutede do serviccedilo social do direito entre outros para o

reconhecimento e identificaccedilatildeo dos sinais que possam indicar situaccedilotildees de violecircncia

contra as mulheres visando o acolhimento das mesmas natildeo apenas nos serviccedilos de

sauacutede mas em outros setores da sociedade Da mesma forma a criaccedilatildeo e

organizaccedilatildeo de serviccedilos multiprofissionais de atendimento agraves mulheres em situaccedilatildeo

de violecircncia para seu devido enfrentamento de modo que os mesmos estejam

articulados na loacutegica da intersetorialidade com os campos da sauacutede do serviccedilo

social e do direito no desenvolvimento de accedilotildees preventivas e assistenciais na

perspectiva da atenccedilatildeo integral agraves mulheres

Para aleacutem da organizaccedilatildeo de serviccedilos para o enfrentamento da violecircncia

contra as mulheres e apoio a essas viacutetimas evidencia-se tambeacutem a urgecircncia de

maior qualificaccedilatildeo sobre a temaacutetica de profissionais que atuam nesses campos para

que possam atender demandas dessa natureza de modo mais solidaacuterio

respeitando-se as subjetividades e singularidades implicadas nessas situaccedilotildees

Os Assistentes Sociais tecircm atuado como mediadores proporcionando a

escolha para as mulheres do que melhor lhes conveacutem Tal direcionamento vai ao

encontro da proposta aqui formulada na qual considera o profissional como sendo

um facilitador que em nome de valores como liberdade individual independecircncia e

autonomia fornece suporte ao processo de fortalecimento destas usuaacuterias ou seja

eacute o profissional que vecirc aleacutem do aparente (TAVARES 2008)

Sabe-se que jaacute existem leis especiacuteficas para o enfrentamento da violecircncia

contra as mulheres poreacutem ainda eacute preciso que as mesmas sejam incorporadas pela

sociedade como cultura poliacutetica para que accedilotildees mais efetivas sejam de fato

implementadas

26

Como estrateacutegia para a ampliaccedilatildeo do escopo das praacuteticas dessa natureza no

acircmbito das poliacuteticas puacuteblicas destaca-se a criaccedilatildeo de accedilotildees intersetoriais com

movimentos organizados de mulheres organizaccedilotildees governamentais e natildeo

governamentais de defesa aos direitos das mulheres serviccedilos de sauacutede e da accedilatildeo

social delegacias de policia organizaccedilotildees de bairros escolas dentre outros

segmentos sociais

Outra importante accedilatildeo se refere agrave incorporaccedilatildeo das questotildees relativas agrave

violecircncia e mais especificamente contra as mulheres foco deste estudo como um

tema transversal nas escolas o qual deve ser abordado natildeo apenas com alunos e

professores mas tambeacutem com as famiacutelias que integram a comunidade escolar

Para tanto a interlocuccedilatildeo do Serviccedilo Social com essa questatildeo se faz

necessaacuteria uma vez que a violecircncia domestica eacute um fenocircmeno social e portanto

deve ser enfrentada mediante o conjunto de estrateacutegias poliacuteticas e de intervenccedilatildeo

social direta

Desde esta perspectiva os profissionais do Serviccedilo Social devem intervir

diretamente na realidade social dos sujeitos tendo como pressuposto de atuaccedilatildeo a

articulaccedilatildeo do trabalho em redes promovendo a co-participaccedilatildeo e co-

responsabilizaccedilatildeo dos atores envolvidos nessa problemaacutetica desde a tomada de

decisotildees ateacute os encaminhamentos que se fizerem necessaacuterios para o enfrentamento

positivo e superaccedilatildeo de situaccedilotildees de violecircncia contra as mulheres

A partir de accedilotildees mais efetivas e da conscientizaccedilatildeo dos atores sociais de

que a violecircncia eacute hoje um problema de relevacircncia mundial e de sauacutede puacuteblica no

cenaacuterio brasileiro almeja-se a detecccedilatildeo precoce de situaccedilotildees de violecircncia

abordagem adequada e qualificada agraves viacutetimas e os devidos encaminhamento para o

atendimento desta demanda com eacutetica competecircncia e de forma mais humanizada

Atuaccedilatildeo esta pautada em valores societaacuterios em que homens e mulheres tenham

os mesmos direitos de cidadania buscando a superaccedilatildeo de todas as formas de

violecircncia preconceitos discriminaccedilotildees e desigualdades

27

REFEREcircNCIAS

BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Violecircncia intrafamiliar orientaccedilotildees para a praacutetica em serviccedilos Cadernos de Atenccedilatildeo Baacutesica n 8 BrasiacuteliaDF 2002 CABRAL F B OLIVEIRA D LL C de CECCIM R B O puerpeacuterio e a sauacutede da mulher vulnerabilidade e atenccedilatildeo baacutesica agrave sauacutede In Ensino e atenccedilatildeo agrave sauacutede da mulher aprendizados da integraccedilatildeo da educaccedilatildeo superior com a rede assistencial edCaxias do Sul EDUCS Editora da Universidade de Caxias do Sul 2008 p 137-157 CAMARGO M AQUINO S de (2003) Redes de cidadania e parcerias- Enfrentando a rota criacutetica Secretaria Especial de Poliacuteticas para as Mulheres Programa de prevenccedilatildeo assistecircncia e combate agrave violecircncia contra a mulher- plano nacional Brasiacutelia 2003 DrsquoOLIVEIRA A F SCHRAIBER L B Violecircncia Contra a Mulher a pesquisa e a intervenccedilatildeo Revista Promoccedilatildeo da Sauacutede n 6 80- 8 2002 DE FERRANTE FG SANTOS MA VIEIRA EM Violecircncia contra a mulher percepccedilatildeo dos meacutedicos das unidades baacutesicas de sauacutede da cidade de Ribeiratildeo Preto Satildeo Paulo Satildeo Paulo Interface - Comunic Saude Educ 13(31)287-99 outdez 2009

DOLIVEIRA AFPL SCHREIBER LB HANADA H DURANDJ Atenccedilatildeo integral agrave sauacutede de mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia de gecircnero ndash uma alternativa para a atenccedilatildeo primaacuteria em sauacutede Rio de Janeiro Ciecircnc Sauacutede Coletiva 14(4) julhoago 2009

GALVAtildeOFEANDRADESM Violecircncia contra a mulher anaacutelise de casos atendidos em serviccedilo de atenccedilatildeo agrave mulher em municiacutepio do Sul do Brasil Sauacutede e Sociedade 13(2)p89-99 maio-ago 2004 GIL A C Como Elaborar Projetos de Pesquisa 4 ed Satildeo Paulo Atlas 2009

LEONCIO LK ET AL O perfil das mulheres vitimizadas e seus agressores Rev enferm UERJ Rio de Janeiro 16(3)307-12 julset 2008 MEDINA ABC PENNA LHG Violecircncia na gestaccedilatildeo um estudo da produccedilatildeo cientiacutefica de 2000 a 2005 Esc Anna Nery 12(4)793-98 dez 2008 MENEGHEL ST INtildeIGUEZ L Contadores de histoacuterias praacuteticas discursivas e violecircncia de gecircnero Cad Sauacutede Puacuteblica Rio de Janeiro 23(8)1815-1824 ago 2007 MEYER D E Teorias e poliacuteticas de gecircnero fragmentos histoacutericos e desafios atuais Revista Brasileira de Enfermagem Brasiacutelia v57 n1 p13-8 janfev 2004

28

MINAYO M C et al Pesquisa social teoria meacutetodo criatividade Petroacutepolis Vozes 2002 MONTEIROCFS Arauacutejo TME NunesBMV LustosaAR BezerraCMJ A Violecircncia contra a mulher atendida em uma unidade de urgecircncia uma contribuiccedilatildeo da enfermagem Esc Anna Nery 10(2)273-9 ago 2006 MOTA JCMVASCONCELOS AGG ASSIS SG Anaacutelise de correspondecircncia como estrateacutegia para descriccedilatildeo do perfil da mulher viacutetima do parceiro atendida em serviccedilo especializado Ciecircncia e Sauacutede coletiva 12 (3)799890 2007 REZENDE EJC ET AL Lesotildees buco-dentais em mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia um estudo piloto de casos periciados no IML de Belo Horizonte MG Rev Bras Epidemiol 10(2) 202-14 2007 SCARANTO CAA BIAZEVICMGH MICHEL-CROSATOE Percepccedilatildeo dos Agentes Comunitaacuterios de Sauacutede sobre a Violecircncia Domeacutestica contra a Mulher Psicol ciecircnc Prof 27(4)694-705 2007 SCHRAIBER L B DOLIVEIRA A F L P Violecircncia contra mulheres interfaces com a Sauacutede Comunicaccedilatildeo Sauacutede Educaccedilatildeo v3 n5 1999 SILVA LL ET AL Violecircncia silenciosa violecircncia psicoloacutegica como condiccedilatildeo da violecircncia fiacutesica domeacutestica Interface - Comunic Sauacutede Educ v11 n21 p93-103 janabr 2007 SILVA LL ET AL Violecircncia silenciosa violecircncia psicoloacutegica como condiccedilatildeo da violecircncia fiacutesica domeacutestica Interface - Comunic Sauacutede Educ v11 n21 p93-103 janabr 2007 TAVARES F A Daacutes Laacutegrimas agrave Esperanccedila o processo de fortalecimento das mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia domeacutestica 2008 Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Serviccedilo Social Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica do Rio Grande do Sul Porto Alegre 2008 VIEIRAMEET AL Conhecimento e atitudes dos profissionais de sauacutede em relaccedilatildeo agrave violecircncia de gecircnero Rev Bras Epidemiol 12(4) 566-77 2009 WILHEL FA TONET J Percepccedilatildeo sobre a violecircncia domeacutestica na perspectiva de mulheres vitimadas Psicol Argum Curitiba 25 (51)401-412 outdez 2007

29

ANEXO 1 - Quadro analiacutetico ndash Violecircncia domestica contra a mulher e sauacutede publica ndash 2000-2009

Titulo Revista

Origem Subaacuterea de

conhecimento

Tipo Natureza Ano de

publicaccedilatildeo

Regiatildeo da

pesquisa

Violecircncia contra a mulher anaacutelise de casos atendidos em serviccedilo de atenccedilatildeo agrave mulher em municiacutepio do sul do Brasil Rev Sauacutede e Sociedade v13 n2 p89-99 maio-ago 2004

GALVAtildeOFEANDRADESM

Artigo Sociologia Pesquisa

investigaccedilatildeo

Qualitativo

sociocultural 2004 Regiatildeo Sul

A violecircncia contra a mulher atendida em unidade de urgecircncia uma contribuiccedilatildeo da enfermagem Esc Anna Nery R Enferm 2006 ago 10 (2) 273-9

MONTEIROCFS Arauacutejo TME NunesBMV LustosaAR BezerraCMJ

Artigo Enfermagem Pesquisa

Investigaccedilatildeo

Quantitativo

sociocultural 2006 Regiatildeo

Norte

Percepccedilatildeo dos Agentes Comunitaacuterios de Sauacutede sobre a Violecircncia Domeacutestica contra a Mulher Psicol ciecircnc prof27(4)694-705 2007

SCARANTO CAA BIAZEVICMGH MICHEL-CROSATOE

Artigo Psicologia Pesquisa

Investigaccedilatildeo

Qualitativo

sociocultural 2007 Regiatildeo Sul

Violecircncia silenciosa violecircncia psicoloacutegica como condiccedilatildeo da violecircncia fiacutesica domeacutestica

Artigo Psicologia Revisatildeo sociocultural 2007 Regiatildeo Sul

30

Interface-Comunic Sauacutede Educ v11 n21 p93-103 janabr 2007

SILVA LL ET AL

Qualitativa

Anaacutelise de correspondecircncia como estrateacutegia para descriccedilatildeo do perfil da mulher viacutetima do parceiro atendida em serviccedilo especializado Ciecircncia e Sauacutede coletiva12 (3)799890 2007

MOTA JCMVASCONCELOS AGG ASSIS SG

Artigo multiprofissional Pesquisa Qualiquanti

epidemioloacutegi

co

2007 Centro

Contadores de histoacuterias praacuteticas discursivas e violecircncia de gecircnero Cad Sauacutede Puacuteblica Rio de Janeiro 23(8)1815-1824 ago 2007

MENEGHEL ST INtildeIGUEZ L

Artigo multiprofissional Pesquisa Qualitativa

Sociocultural 2007 Regiatildeo sul

Lesotildees buccedilo-dentais em mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia um estudo piloto de casos periciados no IML de Belo Horizonte MG Rev Bras Epidemiol 2007 10(2) 202-14

REZENDE EJC ET AL

Artigo Odontologia Pesquisa

Documental

Clinico 2007 Regiatildeo

sudeste

Percepccedilatildeo sobre a violecircncia domeacutestica na perspectiva de mulheres vitimadas Psicol Argum Curitiba v 25 n 51 p 401-412 outdez 2007

WILHEL FA TONET J

Artigo Psicologia Pesquisa

qualitativa

Sociocultural 2007 Regiatildeo Sul

O perfil de mulheres vitimizadas e de seus agressores Rev enferm UERJ Rio de Janeiro 2008 julset

Artigo Enfermagem Pesquisa Sociocultural 2008 Regiatildeo

31

16(3)307-12

LEONCIO LK ET AL documental

quantitativa

sudeste

Violecircncia na gestaccedilatildeo um estudo da produccedilatildeo cientiacutefica de 2000 a 2005 Esc Anna Nery Rev Enferm 2008 dez 12 (4) 793-98

MEDINA ABC PENNA LHG

Artigo Enfermagem Pesquisa

qualitativa

Sociocultural 2008 Regiatildeo

Sudeste

Conhecimento e atitudes dos profissionais de sauacutede em relaccedilatildeo agrave violecircncia de gecircnero Rev Bras Epidemiol 2009 12(4) 566-77

VIEIRAMEET AL

Artigo Multidisciplinar Pesquisa Qualitativa

Sociocultural 2009 Regiatildeo Sudeste

Violecircncia contra a mulher percepccedilatildeo dos meacutedicos das unidades baacutesicas de sauacutede da cidade de Ribeiratildeo Preto Satildeo Paulo Interface - Comunic Saude Educ v13 n31 p287-99 outdez 2009

DE FERRANTE FG SANTOS MA VIEIRA EM

Artigo Multidisciplinar Pesquisa Qualitativa

Sociocultural 2009 Regiatildeo Sudeste

32

33

10

TENDEcircNCIA DAS PESQUISAS SOBRE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA CONTRA AS

MULHERES ENTRE OS ANOS DE 2000- 2009 NO BRASIL

INTRODUCcedilAtildeO

Ao longo da histoacuteria a conquista dos direitos humanos ndash como garantia de

justiccedila social e dignidade humana ndash fez e faz parte de um processo de consciecircncia

dos diferentes povos Respeitar os direitos humanos eacute promover a vida em

sociedade sem discriminaccedilatildeo de classe social cultura religiatildeo raccedila orientaccedilatildeo

sexual ou de qualquer outro tipo O respeito agrave integridade corporal viver a

sexualidade sem culpas medos ou discriminaccedilatildeo e viver numa famiacutelia livre de

violecircncia tambeacutem fazem parte dos direitos humanos (BRASIL 2002)

Durante muito tempo a violecircncia baseada na desigualdade de gecircnero1 foi

praticamente invisiacutevel e tolerada Atualmente a complacecircncia social em torno das

agressotildees por questotildees de poder e dominaccedilatildeo estaacute se diluindo aos poucos visto

que governos sociedade civil organizada Naccedilotildees Unidas e outras organizaccedilotildees

internacionais estatildeo se envolvendo cada vez mais com atividades voltadas agrave

promoccedilatildeo da igualdade entre os sexos e ao fim da violecircncia domeacutestica contra as

mulheres

Para Tavares (2008 p14) ldquoa violecircncia domeacutestica contra a mulher eacute fruto de

uma construccedilatildeo social que demarca espaccedilos de poder privilegiando os homens e

oprimindo as mulheresrdquo Nesta loacutegica a sociedade reproduz a desigualdade social

existente no que se refere agraves expectativas geradas sobre os comportamentos de

homens e mulheres na medida em que se espera das mulheres delicadeza

obediecircncia e subordinaccedilatildeo e responsabilizaccedilatildeo pelo cuidado com o marido e com o

lar Da mesma forma em que as mulheres estatildeo legitimadas pela cultura linguagem

e discurso ndash como cuidadoras dos filhos (CABRAL OLIVEIRA CECCIM 2008)

1 No presente estudo o termo gecircnero fundamenta-se como [] todas as formas de construccedilatildeo

social cultural e linguumliacutestica implicadas com processos que diferenciam mulheres e homens incluindo aqueles processos que produzem seus corpos distinguindo-os e nomeando-os como corpos dotados de sexo gecircnero e sexualidade (MEYER 2004 p 15)

11

Em relaccedilatildeo aos serviccedilos de sauacutede foi apenas no iniacutecio dos anos 90 que a

temaacutetica em estudo passou a fazer parte e a realizar novas accedilotildees e abordagens

para o problema da violecircncia domeacutestica contra as mulheres Camargo e Aquino

(2003) esclarecem que foi somente a partir deste momento que os serviccedilos de

sauacutede passaram a adotar poliacuteticas visando agrave identificaccedilatildeo e enfrentamento dessa

problemaacutetica mediante accedilotildees no campo da sauacutede direcionadas aos casos de

violecircncia sexual violecircncia contra as crianccedilas e outros agravos

Nesse sentido a violecircncia contra as mulheres passa a ser tema de estudo e

intervenccedilatildeo no campo da sauacutede ao mesmo tempo em que se firma

internacionalmente como questatildeo de direitos humanos

Decorridos alguns anos do relatoacuterio da OMS sobre violecircncia e sauacutede2 torna-

se conhecido para os profissionais de sauacutede o fato de que a violecircncia contra as

mulheres tem alta magnitude e relevacircncia no campo da sauacutede Tal situaccedilatildeo tem sido

evidenciada no acircmbito dos serviccedilos de sauacutede pois mulheres que

vivenciamvivenciaram situaccedilotildees de violecircncia domeacutestica e sexual utilizam esses

serviccedilos com maior frequumlecircncia por apresentam mais queixas de ordem fiacutesica

mental e ou emocional (DrsquoOliveira et al 2009)

Estudo no acircmbito da atenccedilatildeo primaacuteria constatou que a frequumlecircncia de

mulheres que relataram ter vivenciado situaccedilotildees de violecircncia domeacutestica a partir dos

18 anos foi de 214 enquanto que em serviccedilos de emergecircncia essas ocorrecircncias

variaram de 22 a 35 (DrsquoOLIVEIRA SCHRAIBER et al 2002) Tambeacutem por essa

razatildeo os serviccedilos de sauacutede satildeo importantes dispositivos para a identificaccedilatildeo e

enfrentamento dessa problemaacutetica pois sua ampla cobertura na atenccedilatildeo baacutesica

favorece a vinculaccedilatildeo dessas mulheres a uma equipe de sauacutede em um dado

territoacuterio o que favorece o acolhimento e a possibilidade de identificaccedilatildeo de

situaccedilotildees de violecircncia domeacutestica contra mulheres ainda que subjetivadas por outras

queixas de origem bioloacutegica ou ainda mediante o proacuteprio relato da vitima em um

atendimento de sauacutede (DrsquoOliveira et al 2009)

2 Desde 1996 a Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede reconhece a violecircncia como um problema de sauacutede puacuteblica

(WHO 2002)

12

Entende-se que a violecircncia domeacutestica contra as mulheres eacute um fenocircmeno

complexo que requer accedilotildees intersetoriais para aleacutem do campo juriacutedico na medida

em que eacute reconhecida como um problema de sauacutede puacuteblica Para tanto o

enfrentamento de situaccedilotildees dessa natureza requer accedilotildees no campo dos direitos

humanos e de cidadania na perspectiva da humanizaccedilatildeo e da integralidade em

sauacutede pautadas na eacutetica e no entendimento de que um viver saudaacutevel implica

tambeacutem no direito a uma vida sem violecircncia (DrsquoOliveira et al 2009)

Ante estas consideraccedilotildees este estudo teve a seguinte questatildeo norteadora ldquoo

que a literatura especializada em sauacutede dos uacuteltimos dez anos disponiacutevel on line

traz a respeito da violecircncia domestica contra a mulher no periacuteodo de 2000 a 2009rdquo

O objetivo da pesquisa foi ldquoconhecer o que a literatura especializada em sauacutede dos

uacuteltimos dez anos disponiacutevel on line traz a respeito da violecircncia domestica contra a

mulher no periacuteodo de 2000 a 2009rdquo

13

METODOLOGIA

Trata-se de uma pesquisa bibliograacutefica de natureza qualitativa que segundo

Gil (2009) eacute o estudo desenvolvido com base em material jaacute elaborado constituiacutedo

principalmente de livros e artigos Segundo Minayo (2002) ldquoa pesquisa qualitativa

trabalha com o universo de significados motivos aspiraccedilotildees crenccedilas valores e

atitudes o que corresponde a um espaccedilo mais profundo das relaccedilotildees dos

processos e dos fenocircmenos que natildeo podem ser reduzidos agrave operacionalizaccedilatildeo de

variaacuteveisrdquo

Os dados foram coletados mediante consulta na Biblioteca Virtual de Sauacutede ndash

BVSBireme nas bases de dados de dados da Literatura Latino-Americana e do

Caribe em Ciecircncias da Sauacutede (LILACS) e Scientific Eletronic Library On line

(SCIELO) Foram utilizados os termos violecircncia contra a mulher e sauacutede publica

como descritores para o levantamento de dados nos uacuteltimos dez anos Este

processo envolveu atividades de busca identificaccedilatildeo fichamento de estudos

mapeamento e anaacutelise O recorte temporal justifica-se pelo fato de que em dez

anos a prodccedilatildeo de conhecimento se renova substancialmente especialmente no

que tange ao conhecimento veiculado em miacutedias informatizadas

O levantamento bibliograacutefico foi realizado no periacuteodo de vinte e trecircs a vinte e

seis de maio de dois mil e onze cujos dados coletados atenderam aos seguintes

criteacuterios de inclusatildeo artigos cientiacuteficos disponiacuteveis na iacutentegra online e em idioma

da lingua portuguesa no periacuteodo de 2000 a 2009 com os descritores violecircncia

domeacutestica contra a mulher e sauacutede publica

Inicialmente foram encontradas noventa e trecircs (93) produccedilotildees cientiacuteficas com

o descritor violecircncia domeacutestica contra a mulher e sauacutede puacuteblica Dessas foram

selecionados vinte e oito (28) artigos cientiacuteficos que apresentavam o texto na

iacutentegra sendo que apenas quinze (15) atendiam o criteacuterio de inclusatildeo relativo ao

idioma que era a liacutengua portuguesa Dos quinze (15) artigos selecionados trecircs (3)

natildeo atenderam ao enquadre temporal pois uma datava do ano de 1999 e duas do

ano de 2010 motivo pelo qual as mesmas foram excluiacutedas totalizando doze (12)

artigos que passaram a compor o corpus dos dados a serem analisados

14

A anaacutelise dos dados se deu pela teacutecnica de anaacutelise temaacutetica de Minayo

(2002) definida como a descoberta dos nuacutecleos de sentidos que constituem uma

comunicaccedilatildeo acerca da frequumlecircncia ou da presenccedila de algum significado para o

objeto que seraacute analisado Este meacutetodo de anaacutelise eacute constituiacutedo por trecircs etapas a

preacute-anaacutelise em que ocorre a ordenaccedilatildeo dos dados obtidos a exploraccedilatildeo do

material em que os dados satildeo classificados de forma a alcanccedilar o nuacutecleo de

compreensatildeo do texto por meio da formulaccedilatildeo de categorias e o tratamento dos

resultados obtidos e interpretaccedilatildeo em que se articulam os dados apreendidos ao

referencial teoacuterico visando responder as questotildees da pesquisa

15

APRESENTACcedilAtildeO E DISCUSSAtildeO DOS RESULTADOS

Para a categorizaccedilatildeo e anaacutelise dos doze artigos cientiacuteficos selecionados foi

elaborado um quadro analiacutetico (Anexo 1) composto pelas variaacuteveis titulo origem

subaacuterea de conhecimento tipo natureza ano de publicaccedilatildeo regiatildeo da pesquisa

O mapeamento das produccedilotildees apontou a subaacuterea multiprofissional como de

maior concentraccedilatildeo na produccedilatildeo de artigos cientiacuteficos sendo que a maioria foi de

produccedilotildees socioculturais e apenas um artigo de natureza clinica se mostrando

convergente agrave aacuterea de odontologia

Com relaccedilatildeo ao tipo de pesquisa a abordagem mais utilizada foi do tipo

qualitativa Quanto ao recorte temporal adotado a primeira produccedilatildeo selecionada foi

do ano de 2004 sendo que a maior concentraccedilatildeo se deu no ano de 2007 com cinco

(5) artigos

Quanto agraves regiotildees do paiacutes em que esses artigos foram produzidos observou-

se maior concentraccedilatildeo dessas publicaccedilotildees na regiatildeo Sudeste com seis (6) artigos

cinco (5) artigos na regiatildeo Sul e apenas um (1) artigo na regiatildeo nordeste Ainda

com relaccedilatildeo agrave regionalidade desses artigos destaca-se que trecircs dos artigos

produzidos na regiatildeo sudeste do paiacutes foram desenvolvidos na cidade de Ribeiratildeo

PretoSP dos quais dois abordavam a perspectiva dos profissionais de sauacutede em

relaccedilatildeo e violecircncia domestica e o outro o perfil das vitimas de violecircncia

Do processo de anaacutelise dos achados da pesquisa emergiram trecircs categorias

sendo que os doze artigos foram categorizados em Violecircncia domeacutestica e de

gecircnero praacuteticas discursivas Perfil das mulheres que sofreram violecircncia e A violecircncia

na oacutetica dos profissionais de sauacutede

VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E DE GEcircNERO PRAacuteTICAS DISCURSIVAS

Medina e Penna (2008) em estudo bibliograacutefico que analisou quatorze (14)

produccedilotildees entre os anos de 2000 e 2005 destacaram o contexto soacutecio-cultural da

violecircncia domeacutestica no periacuteodo gestacional como um fator importante no

desenvolvimento desta no acircmbito da famiacutelia Tambeacutem ressaltam que a violecircncia

vivenciada pela gestante ainda eacute uma situaccedilatildeo de difiacutecil abordagem nas relaccedilotildees

16

pessoais e profissionais O estudo indicou ainda que mulheres que vivenciam

situaccedilotildees de violecircncia na gestaccedilatildeo se sentem coibidas em denunciar agressotildees

sofridas pelos parceiros ou familiares Da mesma forma em que evidenciou

processos de naturalizaccedilatildeo e de invisibilidade da violecircncia na gestaccedilatildeo na medida

em que muitas situaccedilotildees dessa natureza nem sempre satildeo percebidas e

reconhecidas como atos violentos pelas mulheres que a vivenciam como tambeacutem

pelos profissionais de sauacutede que as assistem

Pesquisa realizada por Silva et al (2007) que analisou os tipos de violecircncia

domeacutestica indicou que a violecircncia psicoloacutegica eacute o ponto inicial que deflagra a

violecircncia Para os autores a prevenccedilatildeo de qualquer tipo de situaccedilatildeo de violecircncia

vivida no acircmbito domeacutestico deve passar pela compreensatildeo de que estrateacutegias que

visem coibir situaccedilotildees de violecircncia psicoloacutegica implicam diretamente na minimizaccedilatildeo

dos demais tipos de violecircncias Destacam ainda que outras accedilotildees importantes

como palestras e maior discussatildeo sobre a temaacutetica em escolas de ensino

fundamental e meacutedio da rede puacuteblica e universidades que abordem a temaacutetica da

violecircncia na perspectiva dos direitos humanos bem como sobre serviccedilos de apoio

existentes e possibilidades de enfrentamento desta demanda devem ser

incentivadas

Estudo publicado por Meneghel e Intildeiguez (2007) que analisou oficina de

contadores de histoacuterias realizada no Centro Ecumecircnico de Assessoria e

Capacitaccedilatildeo de Satildeo Leopoldo (CECA-SL) a qual teve como tema gerador das

discussotildees as questotildees de gecircnero Dessas discussotildees foram escolhidas histoacuterias

para comporem essas narrativas nas quais as mulheres contavam episoacutedios de

violecircncia ligados agraves suas trajetoacuterias pessoais e afirmavam que a violecircncia de gecircnero

acontece em qualquer classe social escolaridade ou raccedila Na medida em que se

posicionavam criticamente em relaccedilatildeo ao sexismomachismo essas mulheres

afirmavam que eram obrigadas a abdicar de si mesmas natildeo podiam construir

projetos de vida mais autocircnomos devendo sempre ceder agraves vontades do homem

(maridocompanheiro) permanecendo submissas a ele Essa subordinaccedilatildeo agrave

autoridade masculina poderia ser potencializada ou minimizada na medida em que

essas mulheres dispusessem ou natildeo de acesso a informaccedilotildees que favoreccedilam o

17

entendimento de sua posiccedilatildeo como sujeito de direitos dentre os quais o de uma

vida sem violecircncia

Com base nos estudos analisados percebeu-se que a violecircncia domeacutestica

contra as mulheres envolve questotildees culturais e de gecircnero Nesse sentido a

prevenccedilatildeo ou minimizaccedilatildeo de situaccedilotildees relativas agrave violecircncia domeacutestica requer accedilotildees

intersetoriais que mobilizem os diversos segmentos da sociedade para que

conjuntamente atuem de forma proacute-ativa no enfrentamento desta problemaacutetica

Uma estrateacutegia importante seria a inclusatildeo da temaacutetica como um tema

transversal nas escolas a ser abordado natildeo apenas com alunos e professores mas

tambeacutem com as famiacutelias que integram a comunidade escolar

Para aleacutem da organizaccedilatildeo de serviccedilos para o enfrentamento da violecircncia

contra as mulheres e apoio a essas viacutetimas evidencia-se tambeacutem a necessidade de

maior qualificaccedilatildeo sobre a temaacutetica de profissionais que atuam no campo da sauacutede

e do serviccedilo social para que possam atender esta demanda com eacutetica competecircncia

e de forma mais humanizada Atuaccedilatildeo esta pautada em valores societaacuterios em que

homens e mulheres tenham os mesmos direitos de cidadania buscando a

superaccedilatildeo de todas as formas de violecircncia preconceitos discriminaccedilotildees e

desigualdades

18

PERFIL DAS MULHERES QUE SOFRERAM VIOLEcircNCIA

A maioria das produccedilotildees traccedilou o perfil das mulheres vitimas de violecircncia

domeacutestica que procuram atendimento em serviccedilos de sauacutede tendo como variaacuteveis a

faixa etaacuteria profissatildeo estado civil escolaridade dentre outros

Galvatildeo e Andrade (2004) pesquisaram o perfil de mulheres em situaccedilatildeo de

violecircncia atendidas em um Centro de Atendimento agrave Mulher (CAM) em Londrina

Paranaacute a partir de informaccedilotildees extraiacutedas das fichas desses atendimentos A faixa

etaacuteria que predominou entre as mulheres atendidas no CAM foi agrave de 30 a 39 anos

seguida da faixa etaacuteria de 20 a 29 anos sendo que a meacutedia de idade foi de 34 anos

Com relaccedilatildeo ao estado civil 472 das mulheres declararam-se casadas 266

dos casos as mulheres que conviviam com um companheiro fixo numa relaccedilatildeo

consensual e 54 possuem um ou dois filhos Quanto agrave escolaridade 581 dessas

mulheres natildeo concluiacuteram o ensino fundamental 128 concluiacuteram o ensino meacutedio e

a taxa de analfabetismo foi de 21 sendo que 558 desenvolvia algum tipo de

trabalho remunerado Os principais agressores satildeo os atuais maridos ou

companheiros das mulheres (734) e quase a totalidade dos casos (974)

ocorreu no ambiente domeacutestico Quanto agrave caracterizaccedilatildeo dos casos de violecircncia

prevalece a violecircncia emocional com 564 dos casos seguida pela violecircncia fiacutesica

com 321 Quanto ao tempo em que vivenciam situaccedilotildees de violecircncia 33 das

mulheres vecircm sofrendo agressotildees por periacuteodos de ateacute um ano e 204 dos casos

refere-se a mulheres que sofrem agressotildees haacute mais de 10 anos

Estudo realizado por Monteiro et al (2006) sobre o perfil de mulheres que

sofreram violecircncia atendidas em uma unidade de urgecircncia em Teresina Piauiacute

indicou que 78 encontrava-se na faixa etaacuteria entre 18 e 40 anos e que 40 delas

natildeo trabalhavam fora de casa desempenhando exclusivamente as tarefas

domeacutesticas relativas ao cuidado coma casa e filhos As agressotildees nos membros

superiores ocorreram com maior frequumlecircncia (44) seguida das agressotildees na face

(33) Revelou ainda que a maioria dessas mulheres natildeo relatou os motivos pelos

quais foram agredidas ainda que o aacutelcool tenha sido apontado em 19 dos casos

como o principal motivo desencadeador das agressotildees seguido do ciuacutemes

Tambeacutem haacute um grande nuacutemero de subnotificaccedilatildeo em relaccedilatildeo ao agressor (80)

19

possivelmente em funccedilatildeo da dependecircncia econocircmica e por medo de vinganccedila do

companheiro Quanto agraves condutas adotadas pelos profissionais de sauacutede a grande

maioria (83) limita-se ao atendimento de queixas de menor complexidade como

aquelas que exigiram sutura simples ou consulta meacutedica Recomendam ainda que o

apoio as viacutetimas de violecircncia deve ter iniacutecio no serviccedilo de urgecircncia de forma

articulada com outros serviccedilos que tratam da mesma questatildeo como as Delegacias

Especiais de Atendimento agrave Mulher (DEAM) os Conselhos de Direitos da Mulher

Abrigos e outras instituiccedilotildees

Mota Vasconcelos e Assis (2007) analisaram as informaccedilotildees das fichas de

atendimento de um centro especializado no atendimento a mulheres viacutetimas de

violecircncia no municiacutepio do Rio de Janeiro totalizando 684 fichas de atendimento

dessas mulheres Dessa anaacutelise os autores traccedilaram o perfil dessas mulheres as

quais apresentaram idade meacutedia de 37 anos Para os autores o baixo status

econocircmico a baixa escolaridade e consequumlentemente o acesso agrave informaccedilatildeo

podem ter sido condiccedilotildees facilitadoras para a ocorrecircncia de situaccedilotildees de violecircncia

domeacutestica contra mulheres pelo cocircnjuge na populaccedilatildeo analisada Por outro lado as

agressotildees fiacutesicas mais graves que ocorreram com mulheres que possuiacuteam maior

niacutevel de escolaridade podem ter sido potencializadas pelo fato de as mesmas natildeo

terem aceitado essa violecircncia de modo passivo implicando em um conflito ainda

maior e em agressotildees fiacutesicas mais graves O estudo evidenciou ainda que a

violecircncia domeacutestica contra a mulher envolve questotildees culturais e de gecircnero com

implicaccedilotildees nas questotildees relativas agrave conjugalidade Assim a violecircncia domeacutestica

contra a mulher estaacute vinculada ao tradicional controle masculino baseado no papel

de provedor cuja desigualdade de gecircnero potencializa conflitos e colabora para a

ocorrecircncia de situaccedilotildees de violecircncia de ordem fiacutesica psicoloacutegica ou moral

Pesquisa retrospectiva e documental desenvolvida por Leonsio et al (2008)

analisou 446 boletins de ocorrecircncia em uma Delegacia de Defesa da Mulher em

Ribeiratildeo Preto Satildeo Paulo Em seus resultados os autores destacaram que 3408 das

mulheres estavam em faixa etaacuteria acima de 35 anos 7578 eram da raccedila branca e

4417 delas eram solteiras Quanto agrave ocupaccedilatildeo 5874 dessas mulheres

exerciam algum tipo de trabalho remunerado formal ou informal e 3722 possuiacuteam

o ensino fundamental completo Outro aspecto importante evidenciado pelo estudo foi

20

que 5471 das mulheres agredidas demoraram de 1 a 15 dias entre a agressatildeo e o tempo

da denuacutencia formal e 4215 registraram a ocorrecircncia no mesmo dia na delegacia Em

7691 dos casos o ambiente domeacutestico foi o local em que essas agressotildees ocorreram

Quanto ao agressor foi observado nos boletins de ocorrecircncia investigados que em 4910

dos casos os parceiros foram os principais denunciados seguidos de ex-parceiros com

1816 das ocorrecircncias Dentre os motivos desencadeantes da agressatildeo 4462

corresponderam agrave recusa da separaccedilatildeo conjugal 1435 ciuacutemes e 1996 por outros

motivos como bebidasdrogas

Estudo realizado por Resende et al (2007) analisou registros e laudos

encaminhados ao setor de Odontologia do IML de Belo Horizonte sobre as lesotildees

bucomaxilares sofridas por mulheres vitimas de violecircncia domeacutestica A faixa etaacuteria

predominante das mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia foi de 20 a 39 anos

representando 704 do total sendo a idade meacutedia correspondente a 303 anos

Quanto agrave ocupaccedilatildeo 241 das mulheres realizavam trabalhos domeacutesticos 213

se intitulavam ldquodonas-de-casardquo e 14 trabalhavam no comeacutercio A maioria das

mulheres que sofreu agressotildees declarou-se solteira perfazendo um total de 63

enquanto que o percentual de casadas foi menor correspondendo apenas 204

Foi constatado o elevado percentual de 611 dos casos em que o agressor natildeo foi

identificado (611) em 25 o sujeito agressor foi o companheiro em 37 foram

familiares e em 74 foram conhecidos perfazendo um total de 361 contra 28

de violecircncia realizada por estranhos

A complexidade da problemaacutetica da violecircncia domeacutestica contra as mulheres

tem implicaccedilotildees em questotildees culturais e de gecircnero vinculada a construccedilatildeo social

de papeacuteis desiguais entre homens e mulheres que potencializa conflitos e colabora

para a ocorrecircncia de situaccedilotildees de violecircncia de ordem fiacutesica psicoloacutegica ou moral

Ainda nesse sentido costuma ser difiacutecil para a maioria das mulheres tomarem a

atitude de denunciar seus companheiros agressores e romper com a situaccedilatildeo de

violecircncia principalmente em funccedilatildeo do medo de vinganccedila e da dependecircncia

econocircmica agrave renda do marido

21

A VIOLEcircNCIA CONTRA A MULHER NA OacuteTICA DAS VITIMAS E DOS

PROFISSIONAIS DE SAUacuteDE

Estudo desenvolvido por Vieira et al (2009) sobre o conhecimento e atitudes

dos profissionais de sauacutede em relaccedilatildeo agrave violecircncia de gecircnero destaca a importacircncia

do atendimento de mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia nos serviccedilos de sauacutede jaacute que

este eacute muitas vezes o uacutenico local procurado pelas viacutetimas A maioria dos

profissionais que participou do estudo demonstrou bom conhecimento sobre a

definiccedilatildeo de violecircncia contra a mulher aleacutem de reconhecer como seu papel

profissional perguntar sobre violecircncia para as pacientes Indicou ainda que esses

profissionais acreditam que para uma melhor atenccedilatildeo agrave violecircncia deveria ser

implantado em sua rotina de trabalho um protocolo de enfrentamento da violecircncia

Os autores tambeacutem evidenciaram a necessidade maiores investimentos na

capacitaccedilatildeo e qualificaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede que devem estar aptos para

reconhecer e manejar os casos de violecircncia

Pesquisa realizada por De Ferrant Santos e Vieira (2009) sobre a percepccedilatildeo

dos meacutedicos de uma unidade baacutesica de Ribeiratildeo Preto Satildeo Paulo em relaccedilatildeo agrave

violecircncia domeacutestica contra a mulher revelou que a maior parte deles acredita que a

violecircncia psicoloacutegica eacute a mais grave pois a proacutepria mulher apresenta dificuldade em

reconhececirc-la como algo prejudicial agrave sua sauacutede a ponto de frequentemente

permanecer exposta agrave situaccedilatildeo durante anos a fio Os resultados indicam que os

meacutedicos detecircm alguns conhecimentos acerca dos tipos de violecircncia de gecircnero e satildeo

capazes de identificar e muitas vezes acolher as mulheres que estatildeo expostas agrave

situaccedilatildeo Contudo destacam uma seacuterie de dificuldades para atuarem frente a uma

usuaacuteria que apresenta essa problemaacutetica e reconhecem a falta de capacitaccedilatildeo

profissional uma vez que muitos deles reforccedilam a necessidade de um treinamento

voltado especificamente para os casos de violecircncia de gecircnero Da mesma forma que

apontam outras barreiras pessoais e institucionais que limitam sua atuaccedilatildeo tanto

em niacutevel preventivo como interventivo que muitas vezes os impedem de agir

adequadamente frente a uma situaccedilatildeo de violecircncia Entre elas destacam-se os

meacutedicos sentem-se impotentes frente agraves atitudes que a mulher possa vir a tomar

mesmo depois de orientada afirmam que temem tomar qualquer atitude por medo

22

da reaccedilatildeo do agressor Os autores sugerem a necessidade de um trabalho integrado

e em rede que ofereccedila uma resposta efetiva para o problema da violecircncia de

gecircnero Aleacutem disso eacute preciso investir na qualificaccedilatildeo dos outros profissionais de

sauacutede aleacutem dos meacutedicos para que se viabilize um atendimento multidisciplinar

para que os serviccedilos de sauacutede se constituam em espaccedilos de acolhimento e apoio

integrando-se efetivamente agrave rede de atendimento

Wilhelm e Tonet (2007) em seu estudo sobre a percepccedilatildeo de mulheres que

sofreram violecircncia domeacutestica em um municiacutepio do interior de Santa Catarina indicou

a ocorrecircncia de depressatildeo ansiedade medo e sentimento de baixa auto-estima Na

oacutetica dessas mulheres parte das agressotildees acontece somente no momento em que

seus companheiros estatildeo alcoolizados Aleacutem da violecircncia fiacutesica (tais como socos

arranhotildees puxotildees de cabelo arremesso de objetos chutes tapas e beliscotildees)

ocorrem as humilhaccedilotildees e a desqualificaccedilatildeo sendo ridicularizadas perante os

amigos do agressor sua famiacutelia e desautorizada perante os filhos Quanto ao

comportamento violento do companheiro este eacute justificado por fatores externos

deste modo desresponsabilizando-o como por exemplo as dificuldades

financeiras desemprego e uso de drogas dentre outros Muitos satildeo os motivos

pelos quais a mulher natildeo denuncia seu marido agressor passando a viver muitos

anos neste contexto de violecircncia dentre os quais destaca-se dependecircncia

financeira filhos fator cultural e ameaccedilas Da mesma forma todas demonstraram a

esperanccedila de que o companheiro mudasse em relaccedilatildeo ao seu comportamento

violento Aleacutem de poliacuteticas puacuteblicas mais efetivas par ao enfrentamento da violecircncia

domeacutestica Eacute necessaacuterio promover poliacuteticas puacuteblicas mais efetivas em relaccedilatildeo ao

enfrentamento da violecircncia domeacutestica bem como maiores investimentos em redes

de apoio social efetiva para a mulher e seus filhos as quais muitas vezes estatildeo

subjugadas ao seu agressor devido agrave dependecircncia econocircmica Em relaccedilatildeo a este eacute

importante promover grupos de homens com a finalidade de propiciar a discussatildeo

sobre violecircncia relaccedilotildees e gecircnero e formas alternativas de resoluccedilatildeo de conflitos

Estudo de Scaranto Biazevic e Michel (2007) sobre a percepccedilatildeo dos Agentes

Comunitaacuterios de Sauacutede (ACS) sobre a Violecircncia Domeacutestica contra a Mulher em um

municiacutepio do interior do Rio Grande do Sul identificou relatos de situaccedilotildees de

violecircncia domeacutestica contra a mulher cometida por seu companheiro seja fiacutesica

23

sexual psicoloacutegica ou econocircmica A obediecircncia aos maridoscompanheiros vai

desde o cuidado pessoal ateacute o desempenho sexual A vergonha pela violecircncia

sofrida eacute infinitamente maior do que a coragem da mulher para denunciar

Constatou-se que o ACS pode ser o elo entre a vergonha e a coragem para a

mulher denunciar o problema da violecircncia o que significa que ele parece ser de

fundamental importacircncia no acolhimento das anguacutestias dessas mulheres no

encorajamento para o relato de sofrimento na detecccedilatildeo da questatildeo da violecircncia

que pode estar acompanhada pela depressatildeo ansiedade ou ateacute mascarada por

algum tipo de queixa vaga e em consequumlecircncia fazer o encaminhamento de

referecircncia correto e eficiente na denuacutencia Eacute preciso dar subsiacutedios teoacuterico-praacuteticos

aos profissionais para que em seu trabalho cotidiano possam detectar situaccedilotildees de

violecircncia encontrar a forma de abordar as famiacutelias e dar encaminhamento tanto aos

casos de violecircncia quanto de uso de aacutelcooldrogas A violecircncia contra a mulher deve

ser considerada como questatildeo de sauacutede puacuteblica a partir do conceito ampliado de

sauacutede motivo pelo qual necessita ser alvo de poliacuteticas puacuteblicas efetivas e

consistentes assim como mecanismos de proteccedilatildeo agrave mulher viacutetima de violecircncia

tambeacutem precisam ser criados

Com base nos artigos analisados constatou-se que muitos profissionais tecircm

dificuldades em reconhecer a violecircncia como um problema de sauacutede devido agrave falta

de subsiacutedios teoacuterico-praacuteticos para a detecccedilatildeo de situaccedilotildees de violecircncia abordagem

adequada agraves viacutetimas e os devidos encaminhamentos para o atendimento desta

demanda

24

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Este estudo teve se propocircs a conhecer o que a literatura especializada em

sauacutede dos uacuteltimos dez anos disponiacutevel on line traz a respeito da violecircncia

domestica contra a mulher no periacuteodo de 2000 a 2009

Com base nos artigos analisados percebe-se que o baixo status econocircmico

o niacutevel de instruccedilatildeo e consequumlentemente o acesso agrave informaccedilatildeo podem ser

considerados como condiccedilotildees facilitadoras para a ocorrecircncia de situaccedilotildees de

violecircncia domeacutestica

Em muitos casos a dependecircncia econocircmica da mulher agrave renda do marido

impotildee a necessidade desta em ter de permanecer com ele mesmo diante de

situaccedilotildees de violecircncia

De modo geral os estudos analisadas indicaram os maridos ou companheiros

atuais das mulheres ou ainda seus ex-companheiros como os principais

agressores sendo o ambiente domeacutestico o local predominate destas agressotildees

Outro aspecto evidenciado nos achados desta pesquisa se refere ao fato de

que a maioria dessas mulheres natildeo relatou os motivos pelos quais foram agredidas

ainda que o aacutelcool tenha sido apontado como o principal motivo desencadeador das

agressotildees seguido do sentimento de ciuacutemes Tambeacutem se verificou o grande

nuacutemero de sub-notificaccedilatildeo dos casos de violecircncia contra as mulheres Assim infere-

se que possivelmente isto ocorra em funccedilatildeo da dependecircncia econocircmica e por

medo de vinganccedila

A natureza soacutecio-cultural e a subaacuterea multiprofissional prevalente nas

produccedilotildees analisadas evidenciaram a multiplicidade de aspectos relevantes a

temaacutetica da violecircncia como um complexo problema de sauacutede puacuteblica sinalizando

para a urgecircncia de um movimento reflexivo seja no acircmbito da formaccedilatildeo de

profissionais de sauacutede seja na praacutetica profissional para o enfrentamento desta

questatildeo

Destaca-se a importacircncia de pesquisa bibliograacuteficas para a sistematizaccedilatildeo

das produccedilotildees cientiacuteficas nacionais na temaacutetica violecircncia domestica contra a mulher

para o (re)conhecimento do estado da arte sobre a temaacutetica em anaacutelise fato este

25

fundamental para subsidiar futuras intervenccedilotildees no acircmbito das praacuteticas e serviccedilos

de sauacutede e da accedilatildeo social

A complexidade que envolve as questotildees relativas agrave violecircncia contra a mulher

exige accedilotildees capazes de dar conta das inuacutemeras demandas apresentadas o que

implica na articulaccedilatildeo entre as diferentes aacutereas de conhecimento e de atuaccedilatildeo

multiprofissional

Nessa loacutegica faz-se necessaacuterio maior investimento na qualificaccedilatildeo de

profissionais de sauacutede do serviccedilo social do direito entre outros para o

reconhecimento e identificaccedilatildeo dos sinais que possam indicar situaccedilotildees de violecircncia

contra as mulheres visando o acolhimento das mesmas natildeo apenas nos serviccedilos de

sauacutede mas em outros setores da sociedade Da mesma forma a criaccedilatildeo e

organizaccedilatildeo de serviccedilos multiprofissionais de atendimento agraves mulheres em situaccedilatildeo

de violecircncia para seu devido enfrentamento de modo que os mesmos estejam

articulados na loacutegica da intersetorialidade com os campos da sauacutede do serviccedilo

social e do direito no desenvolvimento de accedilotildees preventivas e assistenciais na

perspectiva da atenccedilatildeo integral agraves mulheres

Para aleacutem da organizaccedilatildeo de serviccedilos para o enfrentamento da violecircncia

contra as mulheres e apoio a essas viacutetimas evidencia-se tambeacutem a urgecircncia de

maior qualificaccedilatildeo sobre a temaacutetica de profissionais que atuam nesses campos para

que possam atender demandas dessa natureza de modo mais solidaacuterio

respeitando-se as subjetividades e singularidades implicadas nessas situaccedilotildees

Os Assistentes Sociais tecircm atuado como mediadores proporcionando a

escolha para as mulheres do que melhor lhes conveacutem Tal direcionamento vai ao

encontro da proposta aqui formulada na qual considera o profissional como sendo

um facilitador que em nome de valores como liberdade individual independecircncia e

autonomia fornece suporte ao processo de fortalecimento destas usuaacuterias ou seja

eacute o profissional que vecirc aleacutem do aparente (TAVARES 2008)

Sabe-se que jaacute existem leis especiacuteficas para o enfrentamento da violecircncia

contra as mulheres poreacutem ainda eacute preciso que as mesmas sejam incorporadas pela

sociedade como cultura poliacutetica para que accedilotildees mais efetivas sejam de fato

implementadas

26

Como estrateacutegia para a ampliaccedilatildeo do escopo das praacuteticas dessa natureza no

acircmbito das poliacuteticas puacuteblicas destaca-se a criaccedilatildeo de accedilotildees intersetoriais com

movimentos organizados de mulheres organizaccedilotildees governamentais e natildeo

governamentais de defesa aos direitos das mulheres serviccedilos de sauacutede e da accedilatildeo

social delegacias de policia organizaccedilotildees de bairros escolas dentre outros

segmentos sociais

Outra importante accedilatildeo se refere agrave incorporaccedilatildeo das questotildees relativas agrave

violecircncia e mais especificamente contra as mulheres foco deste estudo como um

tema transversal nas escolas o qual deve ser abordado natildeo apenas com alunos e

professores mas tambeacutem com as famiacutelias que integram a comunidade escolar

Para tanto a interlocuccedilatildeo do Serviccedilo Social com essa questatildeo se faz

necessaacuteria uma vez que a violecircncia domestica eacute um fenocircmeno social e portanto

deve ser enfrentada mediante o conjunto de estrateacutegias poliacuteticas e de intervenccedilatildeo

social direta

Desde esta perspectiva os profissionais do Serviccedilo Social devem intervir

diretamente na realidade social dos sujeitos tendo como pressuposto de atuaccedilatildeo a

articulaccedilatildeo do trabalho em redes promovendo a co-participaccedilatildeo e co-

responsabilizaccedilatildeo dos atores envolvidos nessa problemaacutetica desde a tomada de

decisotildees ateacute os encaminhamentos que se fizerem necessaacuterios para o enfrentamento

positivo e superaccedilatildeo de situaccedilotildees de violecircncia contra as mulheres

A partir de accedilotildees mais efetivas e da conscientizaccedilatildeo dos atores sociais de

que a violecircncia eacute hoje um problema de relevacircncia mundial e de sauacutede puacuteblica no

cenaacuterio brasileiro almeja-se a detecccedilatildeo precoce de situaccedilotildees de violecircncia

abordagem adequada e qualificada agraves viacutetimas e os devidos encaminhamento para o

atendimento desta demanda com eacutetica competecircncia e de forma mais humanizada

Atuaccedilatildeo esta pautada em valores societaacuterios em que homens e mulheres tenham

os mesmos direitos de cidadania buscando a superaccedilatildeo de todas as formas de

violecircncia preconceitos discriminaccedilotildees e desigualdades

27

REFEREcircNCIAS

BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Violecircncia intrafamiliar orientaccedilotildees para a praacutetica em serviccedilos Cadernos de Atenccedilatildeo Baacutesica n 8 BrasiacuteliaDF 2002 CABRAL F B OLIVEIRA D LL C de CECCIM R B O puerpeacuterio e a sauacutede da mulher vulnerabilidade e atenccedilatildeo baacutesica agrave sauacutede In Ensino e atenccedilatildeo agrave sauacutede da mulher aprendizados da integraccedilatildeo da educaccedilatildeo superior com a rede assistencial edCaxias do Sul EDUCS Editora da Universidade de Caxias do Sul 2008 p 137-157 CAMARGO M AQUINO S de (2003) Redes de cidadania e parcerias- Enfrentando a rota criacutetica Secretaria Especial de Poliacuteticas para as Mulheres Programa de prevenccedilatildeo assistecircncia e combate agrave violecircncia contra a mulher- plano nacional Brasiacutelia 2003 DrsquoOLIVEIRA A F SCHRAIBER L B Violecircncia Contra a Mulher a pesquisa e a intervenccedilatildeo Revista Promoccedilatildeo da Sauacutede n 6 80- 8 2002 DE FERRANTE FG SANTOS MA VIEIRA EM Violecircncia contra a mulher percepccedilatildeo dos meacutedicos das unidades baacutesicas de sauacutede da cidade de Ribeiratildeo Preto Satildeo Paulo Satildeo Paulo Interface - Comunic Saude Educ 13(31)287-99 outdez 2009

DOLIVEIRA AFPL SCHREIBER LB HANADA H DURANDJ Atenccedilatildeo integral agrave sauacutede de mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia de gecircnero ndash uma alternativa para a atenccedilatildeo primaacuteria em sauacutede Rio de Janeiro Ciecircnc Sauacutede Coletiva 14(4) julhoago 2009

GALVAtildeOFEANDRADESM Violecircncia contra a mulher anaacutelise de casos atendidos em serviccedilo de atenccedilatildeo agrave mulher em municiacutepio do Sul do Brasil Sauacutede e Sociedade 13(2)p89-99 maio-ago 2004 GIL A C Como Elaborar Projetos de Pesquisa 4 ed Satildeo Paulo Atlas 2009

LEONCIO LK ET AL O perfil das mulheres vitimizadas e seus agressores Rev enferm UERJ Rio de Janeiro 16(3)307-12 julset 2008 MEDINA ABC PENNA LHG Violecircncia na gestaccedilatildeo um estudo da produccedilatildeo cientiacutefica de 2000 a 2005 Esc Anna Nery 12(4)793-98 dez 2008 MENEGHEL ST INtildeIGUEZ L Contadores de histoacuterias praacuteticas discursivas e violecircncia de gecircnero Cad Sauacutede Puacuteblica Rio de Janeiro 23(8)1815-1824 ago 2007 MEYER D E Teorias e poliacuteticas de gecircnero fragmentos histoacutericos e desafios atuais Revista Brasileira de Enfermagem Brasiacutelia v57 n1 p13-8 janfev 2004

28

MINAYO M C et al Pesquisa social teoria meacutetodo criatividade Petroacutepolis Vozes 2002 MONTEIROCFS Arauacutejo TME NunesBMV LustosaAR BezerraCMJ A Violecircncia contra a mulher atendida em uma unidade de urgecircncia uma contribuiccedilatildeo da enfermagem Esc Anna Nery 10(2)273-9 ago 2006 MOTA JCMVASCONCELOS AGG ASSIS SG Anaacutelise de correspondecircncia como estrateacutegia para descriccedilatildeo do perfil da mulher viacutetima do parceiro atendida em serviccedilo especializado Ciecircncia e Sauacutede coletiva 12 (3)799890 2007 REZENDE EJC ET AL Lesotildees buco-dentais em mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia um estudo piloto de casos periciados no IML de Belo Horizonte MG Rev Bras Epidemiol 10(2) 202-14 2007 SCARANTO CAA BIAZEVICMGH MICHEL-CROSATOE Percepccedilatildeo dos Agentes Comunitaacuterios de Sauacutede sobre a Violecircncia Domeacutestica contra a Mulher Psicol ciecircnc Prof 27(4)694-705 2007 SCHRAIBER L B DOLIVEIRA A F L P Violecircncia contra mulheres interfaces com a Sauacutede Comunicaccedilatildeo Sauacutede Educaccedilatildeo v3 n5 1999 SILVA LL ET AL Violecircncia silenciosa violecircncia psicoloacutegica como condiccedilatildeo da violecircncia fiacutesica domeacutestica Interface - Comunic Sauacutede Educ v11 n21 p93-103 janabr 2007 SILVA LL ET AL Violecircncia silenciosa violecircncia psicoloacutegica como condiccedilatildeo da violecircncia fiacutesica domeacutestica Interface - Comunic Sauacutede Educ v11 n21 p93-103 janabr 2007 TAVARES F A Daacutes Laacutegrimas agrave Esperanccedila o processo de fortalecimento das mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia domeacutestica 2008 Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Serviccedilo Social Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica do Rio Grande do Sul Porto Alegre 2008 VIEIRAMEET AL Conhecimento e atitudes dos profissionais de sauacutede em relaccedilatildeo agrave violecircncia de gecircnero Rev Bras Epidemiol 12(4) 566-77 2009 WILHEL FA TONET J Percepccedilatildeo sobre a violecircncia domeacutestica na perspectiva de mulheres vitimadas Psicol Argum Curitiba 25 (51)401-412 outdez 2007

29

ANEXO 1 - Quadro analiacutetico ndash Violecircncia domestica contra a mulher e sauacutede publica ndash 2000-2009

Titulo Revista

Origem Subaacuterea de

conhecimento

Tipo Natureza Ano de

publicaccedilatildeo

Regiatildeo da

pesquisa

Violecircncia contra a mulher anaacutelise de casos atendidos em serviccedilo de atenccedilatildeo agrave mulher em municiacutepio do sul do Brasil Rev Sauacutede e Sociedade v13 n2 p89-99 maio-ago 2004

GALVAtildeOFEANDRADESM

Artigo Sociologia Pesquisa

investigaccedilatildeo

Qualitativo

sociocultural 2004 Regiatildeo Sul

A violecircncia contra a mulher atendida em unidade de urgecircncia uma contribuiccedilatildeo da enfermagem Esc Anna Nery R Enferm 2006 ago 10 (2) 273-9

MONTEIROCFS Arauacutejo TME NunesBMV LustosaAR BezerraCMJ

Artigo Enfermagem Pesquisa

Investigaccedilatildeo

Quantitativo

sociocultural 2006 Regiatildeo

Norte

Percepccedilatildeo dos Agentes Comunitaacuterios de Sauacutede sobre a Violecircncia Domeacutestica contra a Mulher Psicol ciecircnc prof27(4)694-705 2007

SCARANTO CAA BIAZEVICMGH MICHEL-CROSATOE

Artigo Psicologia Pesquisa

Investigaccedilatildeo

Qualitativo

sociocultural 2007 Regiatildeo Sul

Violecircncia silenciosa violecircncia psicoloacutegica como condiccedilatildeo da violecircncia fiacutesica domeacutestica

Artigo Psicologia Revisatildeo sociocultural 2007 Regiatildeo Sul

30

Interface-Comunic Sauacutede Educ v11 n21 p93-103 janabr 2007

SILVA LL ET AL

Qualitativa

Anaacutelise de correspondecircncia como estrateacutegia para descriccedilatildeo do perfil da mulher viacutetima do parceiro atendida em serviccedilo especializado Ciecircncia e Sauacutede coletiva12 (3)799890 2007

MOTA JCMVASCONCELOS AGG ASSIS SG

Artigo multiprofissional Pesquisa Qualiquanti

epidemioloacutegi

co

2007 Centro

Contadores de histoacuterias praacuteticas discursivas e violecircncia de gecircnero Cad Sauacutede Puacuteblica Rio de Janeiro 23(8)1815-1824 ago 2007

MENEGHEL ST INtildeIGUEZ L

Artigo multiprofissional Pesquisa Qualitativa

Sociocultural 2007 Regiatildeo sul

Lesotildees buccedilo-dentais em mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia um estudo piloto de casos periciados no IML de Belo Horizonte MG Rev Bras Epidemiol 2007 10(2) 202-14

REZENDE EJC ET AL

Artigo Odontologia Pesquisa

Documental

Clinico 2007 Regiatildeo

sudeste

Percepccedilatildeo sobre a violecircncia domeacutestica na perspectiva de mulheres vitimadas Psicol Argum Curitiba v 25 n 51 p 401-412 outdez 2007

WILHEL FA TONET J

Artigo Psicologia Pesquisa

qualitativa

Sociocultural 2007 Regiatildeo Sul

O perfil de mulheres vitimizadas e de seus agressores Rev enferm UERJ Rio de Janeiro 2008 julset

Artigo Enfermagem Pesquisa Sociocultural 2008 Regiatildeo

31

16(3)307-12

LEONCIO LK ET AL documental

quantitativa

sudeste

Violecircncia na gestaccedilatildeo um estudo da produccedilatildeo cientiacutefica de 2000 a 2005 Esc Anna Nery Rev Enferm 2008 dez 12 (4) 793-98

MEDINA ABC PENNA LHG

Artigo Enfermagem Pesquisa

qualitativa

Sociocultural 2008 Regiatildeo

Sudeste

Conhecimento e atitudes dos profissionais de sauacutede em relaccedilatildeo agrave violecircncia de gecircnero Rev Bras Epidemiol 2009 12(4) 566-77

VIEIRAMEET AL

Artigo Multidisciplinar Pesquisa Qualitativa

Sociocultural 2009 Regiatildeo Sudeste

Violecircncia contra a mulher percepccedilatildeo dos meacutedicos das unidades baacutesicas de sauacutede da cidade de Ribeiratildeo Preto Satildeo Paulo Interface - Comunic Saude Educ v13 n31 p287-99 outdez 2009

DE FERRANTE FG SANTOS MA VIEIRA EM

Artigo Multidisciplinar Pesquisa Qualitativa

Sociocultural 2009 Regiatildeo Sudeste

32

33

11

Em relaccedilatildeo aos serviccedilos de sauacutede foi apenas no iniacutecio dos anos 90 que a

temaacutetica em estudo passou a fazer parte e a realizar novas accedilotildees e abordagens

para o problema da violecircncia domeacutestica contra as mulheres Camargo e Aquino

(2003) esclarecem que foi somente a partir deste momento que os serviccedilos de

sauacutede passaram a adotar poliacuteticas visando agrave identificaccedilatildeo e enfrentamento dessa

problemaacutetica mediante accedilotildees no campo da sauacutede direcionadas aos casos de

violecircncia sexual violecircncia contra as crianccedilas e outros agravos

Nesse sentido a violecircncia contra as mulheres passa a ser tema de estudo e

intervenccedilatildeo no campo da sauacutede ao mesmo tempo em que se firma

internacionalmente como questatildeo de direitos humanos

Decorridos alguns anos do relatoacuterio da OMS sobre violecircncia e sauacutede2 torna-

se conhecido para os profissionais de sauacutede o fato de que a violecircncia contra as

mulheres tem alta magnitude e relevacircncia no campo da sauacutede Tal situaccedilatildeo tem sido

evidenciada no acircmbito dos serviccedilos de sauacutede pois mulheres que

vivenciamvivenciaram situaccedilotildees de violecircncia domeacutestica e sexual utilizam esses

serviccedilos com maior frequumlecircncia por apresentam mais queixas de ordem fiacutesica

mental e ou emocional (DrsquoOliveira et al 2009)

Estudo no acircmbito da atenccedilatildeo primaacuteria constatou que a frequumlecircncia de

mulheres que relataram ter vivenciado situaccedilotildees de violecircncia domeacutestica a partir dos

18 anos foi de 214 enquanto que em serviccedilos de emergecircncia essas ocorrecircncias

variaram de 22 a 35 (DrsquoOLIVEIRA SCHRAIBER et al 2002) Tambeacutem por essa

razatildeo os serviccedilos de sauacutede satildeo importantes dispositivos para a identificaccedilatildeo e

enfrentamento dessa problemaacutetica pois sua ampla cobertura na atenccedilatildeo baacutesica

favorece a vinculaccedilatildeo dessas mulheres a uma equipe de sauacutede em um dado

territoacuterio o que favorece o acolhimento e a possibilidade de identificaccedilatildeo de

situaccedilotildees de violecircncia domeacutestica contra mulheres ainda que subjetivadas por outras

queixas de origem bioloacutegica ou ainda mediante o proacuteprio relato da vitima em um

atendimento de sauacutede (DrsquoOliveira et al 2009)

2 Desde 1996 a Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede reconhece a violecircncia como um problema de sauacutede puacuteblica

(WHO 2002)

12

Entende-se que a violecircncia domeacutestica contra as mulheres eacute um fenocircmeno

complexo que requer accedilotildees intersetoriais para aleacutem do campo juriacutedico na medida

em que eacute reconhecida como um problema de sauacutede puacuteblica Para tanto o

enfrentamento de situaccedilotildees dessa natureza requer accedilotildees no campo dos direitos

humanos e de cidadania na perspectiva da humanizaccedilatildeo e da integralidade em

sauacutede pautadas na eacutetica e no entendimento de que um viver saudaacutevel implica

tambeacutem no direito a uma vida sem violecircncia (DrsquoOliveira et al 2009)

Ante estas consideraccedilotildees este estudo teve a seguinte questatildeo norteadora ldquoo

que a literatura especializada em sauacutede dos uacuteltimos dez anos disponiacutevel on line

traz a respeito da violecircncia domestica contra a mulher no periacuteodo de 2000 a 2009rdquo

O objetivo da pesquisa foi ldquoconhecer o que a literatura especializada em sauacutede dos

uacuteltimos dez anos disponiacutevel on line traz a respeito da violecircncia domestica contra a

mulher no periacuteodo de 2000 a 2009rdquo

13

METODOLOGIA

Trata-se de uma pesquisa bibliograacutefica de natureza qualitativa que segundo

Gil (2009) eacute o estudo desenvolvido com base em material jaacute elaborado constituiacutedo

principalmente de livros e artigos Segundo Minayo (2002) ldquoa pesquisa qualitativa

trabalha com o universo de significados motivos aspiraccedilotildees crenccedilas valores e

atitudes o que corresponde a um espaccedilo mais profundo das relaccedilotildees dos

processos e dos fenocircmenos que natildeo podem ser reduzidos agrave operacionalizaccedilatildeo de

variaacuteveisrdquo

Os dados foram coletados mediante consulta na Biblioteca Virtual de Sauacutede ndash

BVSBireme nas bases de dados de dados da Literatura Latino-Americana e do

Caribe em Ciecircncias da Sauacutede (LILACS) e Scientific Eletronic Library On line

(SCIELO) Foram utilizados os termos violecircncia contra a mulher e sauacutede publica

como descritores para o levantamento de dados nos uacuteltimos dez anos Este

processo envolveu atividades de busca identificaccedilatildeo fichamento de estudos

mapeamento e anaacutelise O recorte temporal justifica-se pelo fato de que em dez

anos a prodccedilatildeo de conhecimento se renova substancialmente especialmente no

que tange ao conhecimento veiculado em miacutedias informatizadas

O levantamento bibliograacutefico foi realizado no periacuteodo de vinte e trecircs a vinte e

seis de maio de dois mil e onze cujos dados coletados atenderam aos seguintes

criteacuterios de inclusatildeo artigos cientiacuteficos disponiacuteveis na iacutentegra online e em idioma

da lingua portuguesa no periacuteodo de 2000 a 2009 com os descritores violecircncia

domeacutestica contra a mulher e sauacutede publica

Inicialmente foram encontradas noventa e trecircs (93) produccedilotildees cientiacuteficas com

o descritor violecircncia domeacutestica contra a mulher e sauacutede puacuteblica Dessas foram

selecionados vinte e oito (28) artigos cientiacuteficos que apresentavam o texto na

iacutentegra sendo que apenas quinze (15) atendiam o criteacuterio de inclusatildeo relativo ao

idioma que era a liacutengua portuguesa Dos quinze (15) artigos selecionados trecircs (3)

natildeo atenderam ao enquadre temporal pois uma datava do ano de 1999 e duas do

ano de 2010 motivo pelo qual as mesmas foram excluiacutedas totalizando doze (12)

artigos que passaram a compor o corpus dos dados a serem analisados

14

A anaacutelise dos dados se deu pela teacutecnica de anaacutelise temaacutetica de Minayo

(2002) definida como a descoberta dos nuacutecleos de sentidos que constituem uma

comunicaccedilatildeo acerca da frequumlecircncia ou da presenccedila de algum significado para o

objeto que seraacute analisado Este meacutetodo de anaacutelise eacute constituiacutedo por trecircs etapas a

preacute-anaacutelise em que ocorre a ordenaccedilatildeo dos dados obtidos a exploraccedilatildeo do

material em que os dados satildeo classificados de forma a alcanccedilar o nuacutecleo de

compreensatildeo do texto por meio da formulaccedilatildeo de categorias e o tratamento dos

resultados obtidos e interpretaccedilatildeo em que se articulam os dados apreendidos ao

referencial teoacuterico visando responder as questotildees da pesquisa

15

APRESENTACcedilAtildeO E DISCUSSAtildeO DOS RESULTADOS

Para a categorizaccedilatildeo e anaacutelise dos doze artigos cientiacuteficos selecionados foi

elaborado um quadro analiacutetico (Anexo 1) composto pelas variaacuteveis titulo origem

subaacuterea de conhecimento tipo natureza ano de publicaccedilatildeo regiatildeo da pesquisa

O mapeamento das produccedilotildees apontou a subaacuterea multiprofissional como de

maior concentraccedilatildeo na produccedilatildeo de artigos cientiacuteficos sendo que a maioria foi de

produccedilotildees socioculturais e apenas um artigo de natureza clinica se mostrando

convergente agrave aacuterea de odontologia

Com relaccedilatildeo ao tipo de pesquisa a abordagem mais utilizada foi do tipo

qualitativa Quanto ao recorte temporal adotado a primeira produccedilatildeo selecionada foi

do ano de 2004 sendo que a maior concentraccedilatildeo se deu no ano de 2007 com cinco

(5) artigos

Quanto agraves regiotildees do paiacutes em que esses artigos foram produzidos observou-

se maior concentraccedilatildeo dessas publicaccedilotildees na regiatildeo Sudeste com seis (6) artigos

cinco (5) artigos na regiatildeo Sul e apenas um (1) artigo na regiatildeo nordeste Ainda

com relaccedilatildeo agrave regionalidade desses artigos destaca-se que trecircs dos artigos

produzidos na regiatildeo sudeste do paiacutes foram desenvolvidos na cidade de Ribeiratildeo

PretoSP dos quais dois abordavam a perspectiva dos profissionais de sauacutede em

relaccedilatildeo e violecircncia domestica e o outro o perfil das vitimas de violecircncia

Do processo de anaacutelise dos achados da pesquisa emergiram trecircs categorias

sendo que os doze artigos foram categorizados em Violecircncia domeacutestica e de

gecircnero praacuteticas discursivas Perfil das mulheres que sofreram violecircncia e A violecircncia

na oacutetica dos profissionais de sauacutede

VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E DE GEcircNERO PRAacuteTICAS DISCURSIVAS

Medina e Penna (2008) em estudo bibliograacutefico que analisou quatorze (14)

produccedilotildees entre os anos de 2000 e 2005 destacaram o contexto soacutecio-cultural da

violecircncia domeacutestica no periacuteodo gestacional como um fator importante no

desenvolvimento desta no acircmbito da famiacutelia Tambeacutem ressaltam que a violecircncia

vivenciada pela gestante ainda eacute uma situaccedilatildeo de difiacutecil abordagem nas relaccedilotildees

16

pessoais e profissionais O estudo indicou ainda que mulheres que vivenciam

situaccedilotildees de violecircncia na gestaccedilatildeo se sentem coibidas em denunciar agressotildees

sofridas pelos parceiros ou familiares Da mesma forma em que evidenciou

processos de naturalizaccedilatildeo e de invisibilidade da violecircncia na gestaccedilatildeo na medida

em que muitas situaccedilotildees dessa natureza nem sempre satildeo percebidas e

reconhecidas como atos violentos pelas mulheres que a vivenciam como tambeacutem

pelos profissionais de sauacutede que as assistem

Pesquisa realizada por Silva et al (2007) que analisou os tipos de violecircncia

domeacutestica indicou que a violecircncia psicoloacutegica eacute o ponto inicial que deflagra a

violecircncia Para os autores a prevenccedilatildeo de qualquer tipo de situaccedilatildeo de violecircncia

vivida no acircmbito domeacutestico deve passar pela compreensatildeo de que estrateacutegias que

visem coibir situaccedilotildees de violecircncia psicoloacutegica implicam diretamente na minimizaccedilatildeo

dos demais tipos de violecircncias Destacam ainda que outras accedilotildees importantes

como palestras e maior discussatildeo sobre a temaacutetica em escolas de ensino

fundamental e meacutedio da rede puacuteblica e universidades que abordem a temaacutetica da

violecircncia na perspectiva dos direitos humanos bem como sobre serviccedilos de apoio

existentes e possibilidades de enfrentamento desta demanda devem ser

incentivadas

Estudo publicado por Meneghel e Intildeiguez (2007) que analisou oficina de

contadores de histoacuterias realizada no Centro Ecumecircnico de Assessoria e

Capacitaccedilatildeo de Satildeo Leopoldo (CECA-SL) a qual teve como tema gerador das

discussotildees as questotildees de gecircnero Dessas discussotildees foram escolhidas histoacuterias

para comporem essas narrativas nas quais as mulheres contavam episoacutedios de

violecircncia ligados agraves suas trajetoacuterias pessoais e afirmavam que a violecircncia de gecircnero

acontece em qualquer classe social escolaridade ou raccedila Na medida em que se

posicionavam criticamente em relaccedilatildeo ao sexismomachismo essas mulheres

afirmavam que eram obrigadas a abdicar de si mesmas natildeo podiam construir

projetos de vida mais autocircnomos devendo sempre ceder agraves vontades do homem

(maridocompanheiro) permanecendo submissas a ele Essa subordinaccedilatildeo agrave

autoridade masculina poderia ser potencializada ou minimizada na medida em que

essas mulheres dispusessem ou natildeo de acesso a informaccedilotildees que favoreccedilam o

17

entendimento de sua posiccedilatildeo como sujeito de direitos dentre os quais o de uma

vida sem violecircncia

Com base nos estudos analisados percebeu-se que a violecircncia domeacutestica

contra as mulheres envolve questotildees culturais e de gecircnero Nesse sentido a

prevenccedilatildeo ou minimizaccedilatildeo de situaccedilotildees relativas agrave violecircncia domeacutestica requer accedilotildees

intersetoriais que mobilizem os diversos segmentos da sociedade para que

conjuntamente atuem de forma proacute-ativa no enfrentamento desta problemaacutetica

Uma estrateacutegia importante seria a inclusatildeo da temaacutetica como um tema

transversal nas escolas a ser abordado natildeo apenas com alunos e professores mas

tambeacutem com as famiacutelias que integram a comunidade escolar

Para aleacutem da organizaccedilatildeo de serviccedilos para o enfrentamento da violecircncia

contra as mulheres e apoio a essas viacutetimas evidencia-se tambeacutem a necessidade de

maior qualificaccedilatildeo sobre a temaacutetica de profissionais que atuam no campo da sauacutede

e do serviccedilo social para que possam atender esta demanda com eacutetica competecircncia

e de forma mais humanizada Atuaccedilatildeo esta pautada em valores societaacuterios em que

homens e mulheres tenham os mesmos direitos de cidadania buscando a

superaccedilatildeo de todas as formas de violecircncia preconceitos discriminaccedilotildees e

desigualdades

18

PERFIL DAS MULHERES QUE SOFRERAM VIOLEcircNCIA

A maioria das produccedilotildees traccedilou o perfil das mulheres vitimas de violecircncia

domeacutestica que procuram atendimento em serviccedilos de sauacutede tendo como variaacuteveis a

faixa etaacuteria profissatildeo estado civil escolaridade dentre outros

Galvatildeo e Andrade (2004) pesquisaram o perfil de mulheres em situaccedilatildeo de

violecircncia atendidas em um Centro de Atendimento agrave Mulher (CAM) em Londrina

Paranaacute a partir de informaccedilotildees extraiacutedas das fichas desses atendimentos A faixa

etaacuteria que predominou entre as mulheres atendidas no CAM foi agrave de 30 a 39 anos

seguida da faixa etaacuteria de 20 a 29 anos sendo que a meacutedia de idade foi de 34 anos

Com relaccedilatildeo ao estado civil 472 das mulheres declararam-se casadas 266

dos casos as mulheres que conviviam com um companheiro fixo numa relaccedilatildeo

consensual e 54 possuem um ou dois filhos Quanto agrave escolaridade 581 dessas

mulheres natildeo concluiacuteram o ensino fundamental 128 concluiacuteram o ensino meacutedio e

a taxa de analfabetismo foi de 21 sendo que 558 desenvolvia algum tipo de

trabalho remunerado Os principais agressores satildeo os atuais maridos ou

companheiros das mulheres (734) e quase a totalidade dos casos (974)

ocorreu no ambiente domeacutestico Quanto agrave caracterizaccedilatildeo dos casos de violecircncia

prevalece a violecircncia emocional com 564 dos casos seguida pela violecircncia fiacutesica

com 321 Quanto ao tempo em que vivenciam situaccedilotildees de violecircncia 33 das

mulheres vecircm sofrendo agressotildees por periacuteodos de ateacute um ano e 204 dos casos

refere-se a mulheres que sofrem agressotildees haacute mais de 10 anos

Estudo realizado por Monteiro et al (2006) sobre o perfil de mulheres que

sofreram violecircncia atendidas em uma unidade de urgecircncia em Teresina Piauiacute

indicou que 78 encontrava-se na faixa etaacuteria entre 18 e 40 anos e que 40 delas

natildeo trabalhavam fora de casa desempenhando exclusivamente as tarefas

domeacutesticas relativas ao cuidado coma casa e filhos As agressotildees nos membros

superiores ocorreram com maior frequumlecircncia (44) seguida das agressotildees na face

(33) Revelou ainda que a maioria dessas mulheres natildeo relatou os motivos pelos

quais foram agredidas ainda que o aacutelcool tenha sido apontado em 19 dos casos

como o principal motivo desencadeador das agressotildees seguido do ciuacutemes

Tambeacutem haacute um grande nuacutemero de subnotificaccedilatildeo em relaccedilatildeo ao agressor (80)

19

possivelmente em funccedilatildeo da dependecircncia econocircmica e por medo de vinganccedila do

companheiro Quanto agraves condutas adotadas pelos profissionais de sauacutede a grande

maioria (83) limita-se ao atendimento de queixas de menor complexidade como

aquelas que exigiram sutura simples ou consulta meacutedica Recomendam ainda que o

apoio as viacutetimas de violecircncia deve ter iniacutecio no serviccedilo de urgecircncia de forma

articulada com outros serviccedilos que tratam da mesma questatildeo como as Delegacias

Especiais de Atendimento agrave Mulher (DEAM) os Conselhos de Direitos da Mulher

Abrigos e outras instituiccedilotildees

Mota Vasconcelos e Assis (2007) analisaram as informaccedilotildees das fichas de

atendimento de um centro especializado no atendimento a mulheres viacutetimas de

violecircncia no municiacutepio do Rio de Janeiro totalizando 684 fichas de atendimento

dessas mulheres Dessa anaacutelise os autores traccedilaram o perfil dessas mulheres as

quais apresentaram idade meacutedia de 37 anos Para os autores o baixo status

econocircmico a baixa escolaridade e consequumlentemente o acesso agrave informaccedilatildeo

podem ter sido condiccedilotildees facilitadoras para a ocorrecircncia de situaccedilotildees de violecircncia

domeacutestica contra mulheres pelo cocircnjuge na populaccedilatildeo analisada Por outro lado as

agressotildees fiacutesicas mais graves que ocorreram com mulheres que possuiacuteam maior

niacutevel de escolaridade podem ter sido potencializadas pelo fato de as mesmas natildeo

terem aceitado essa violecircncia de modo passivo implicando em um conflito ainda

maior e em agressotildees fiacutesicas mais graves O estudo evidenciou ainda que a

violecircncia domeacutestica contra a mulher envolve questotildees culturais e de gecircnero com

implicaccedilotildees nas questotildees relativas agrave conjugalidade Assim a violecircncia domeacutestica

contra a mulher estaacute vinculada ao tradicional controle masculino baseado no papel

de provedor cuja desigualdade de gecircnero potencializa conflitos e colabora para a

ocorrecircncia de situaccedilotildees de violecircncia de ordem fiacutesica psicoloacutegica ou moral

Pesquisa retrospectiva e documental desenvolvida por Leonsio et al (2008)

analisou 446 boletins de ocorrecircncia em uma Delegacia de Defesa da Mulher em

Ribeiratildeo Preto Satildeo Paulo Em seus resultados os autores destacaram que 3408 das

mulheres estavam em faixa etaacuteria acima de 35 anos 7578 eram da raccedila branca e

4417 delas eram solteiras Quanto agrave ocupaccedilatildeo 5874 dessas mulheres

exerciam algum tipo de trabalho remunerado formal ou informal e 3722 possuiacuteam

o ensino fundamental completo Outro aspecto importante evidenciado pelo estudo foi

20

que 5471 das mulheres agredidas demoraram de 1 a 15 dias entre a agressatildeo e o tempo

da denuacutencia formal e 4215 registraram a ocorrecircncia no mesmo dia na delegacia Em

7691 dos casos o ambiente domeacutestico foi o local em que essas agressotildees ocorreram

Quanto ao agressor foi observado nos boletins de ocorrecircncia investigados que em 4910

dos casos os parceiros foram os principais denunciados seguidos de ex-parceiros com

1816 das ocorrecircncias Dentre os motivos desencadeantes da agressatildeo 4462

corresponderam agrave recusa da separaccedilatildeo conjugal 1435 ciuacutemes e 1996 por outros

motivos como bebidasdrogas

Estudo realizado por Resende et al (2007) analisou registros e laudos

encaminhados ao setor de Odontologia do IML de Belo Horizonte sobre as lesotildees

bucomaxilares sofridas por mulheres vitimas de violecircncia domeacutestica A faixa etaacuteria

predominante das mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia foi de 20 a 39 anos

representando 704 do total sendo a idade meacutedia correspondente a 303 anos

Quanto agrave ocupaccedilatildeo 241 das mulheres realizavam trabalhos domeacutesticos 213

se intitulavam ldquodonas-de-casardquo e 14 trabalhavam no comeacutercio A maioria das

mulheres que sofreu agressotildees declarou-se solteira perfazendo um total de 63

enquanto que o percentual de casadas foi menor correspondendo apenas 204

Foi constatado o elevado percentual de 611 dos casos em que o agressor natildeo foi

identificado (611) em 25 o sujeito agressor foi o companheiro em 37 foram

familiares e em 74 foram conhecidos perfazendo um total de 361 contra 28

de violecircncia realizada por estranhos

A complexidade da problemaacutetica da violecircncia domeacutestica contra as mulheres

tem implicaccedilotildees em questotildees culturais e de gecircnero vinculada a construccedilatildeo social

de papeacuteis desiguais entre homens e mulheres que potencializa conflitos e colabora

para a ocorrecircncia de situaccedilotildees de violecircncia de ordem fiacutesica psicoloacutegica ou moral

Ainda nesse sentido costuma ser difiacutecil para a maioria das mulheres tomarem a

atitude de denunciar seus companheiros agressores e romper com a situaccedilatildeo de

violecircncia principalmente em funccedilatildeo do medo de vinganccedila e da dependecircncia

econocircmica agrave renda do marido

21

A VIOLEcircNCIA CONTRA A MULHER NA OacuteTICA DAS VITIMAS E DOS

PROFISSIONAIS DE SAUacuteDE

Estudo desenvolvido por Vieira et al (2009) sobre o conhecimento e atitudes

dos profissionais de sauacutede em relaccedilatildeo agrave violecircncia de gecircnero destaca a importacircncia

do atendimento de mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia nos serviccedilos de sauacutede jaacute que

este eacute muitas vezes o uacutenico local procurado pelas viacutetimas A maioria dos

profissionais que participou do estudo demonstrou bom conhecimento sobre a

definiccedilatildeo de violecircncia contra a mulher aleacutem de reconhecer como seu papel

profissional perguntar sobre violecircncia para as pacientes Indicou ainda que esses

profissionais acreditam que para uma melhor atenccedilatildeo agrave violecircncia deveria ser

implantado em sua rotina de trabalho um protocolo de enfrentamento da violecircncia

Os autores tambeacutem evidenciaram a necessidade maiores investimentos na

capacitaccedilatildeo e qualificaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede que devem estar aptos para

reconhecer e manejar os casos de violecircncia

Pesquisa realizada por De Ferrant Santos e Vieira (2009) sobre a percepccedilatildeo

dos meacutedicos de uma unidade baacutesica de Ribeiratildeo Preto Satildeo Paulo em relaccedilatildeo agrave

violecircncia domeacutestica contra a mulher revelou que a maior parte deles acredita que a

violecircncia psicoloacutegica eacute a mais grave pois a proacutepria mulher apresenta dificuldade em

reconhececirc-la como algo prejudicial agrave sua sauacutede a ponto de frequentemente

permanecer exposta agrave situaccedilatildeo durante anos a fio Os resultados indicam que os

meacutedicos detecircm alguns conhecimentos acerca dos tipos de violecircncia de gecircnero e satildeo

capazes de identificar e muitas vezes acolher as mulheres que estatildeo expostas agrave

situaccedilatildeo Contudo destacam uma seacuterie de dificuldades para atuarem frente a uma

usuaacuteria que apresenta essa problemaacutetica e reconhecem a falta de capacitaccedilatildeo

profissional uma vez que muitos deles reforccedilam a necessidade de um treinamento

voltado especificamente para os casos de violecircncia de gecircnero Da mesma forma que

apontam outras barreiras pessoais e institucionais que limitam sua atuaccedilatildeo tanto

em niacutevel preventivo como interventivo que muitas vezes os impedem de agir

adequadamente frente a uma situaccedilatildeo de violecircncia Entre elas destacam-se os

meacutedicos sentem-se impotentes frente agraves atitudes que a mulher possa vir a tomar

mesmo depois de orientada afirmam que temem tomar qualquer atitude por medo

22

da reaccedilatildeo do agressor Os autores sugerem a necessidade de um trabalho integrado

e em rede que ofereccedila uma resposta efetiva para o problema da violecircncia de

gecircnero Aleacutem disso eacute preciso investir na qualificaccedilatildeo dos outros profissionais de

sauacutede aleacutem dos meacutedicos para que se viabilize um atendimento multidisciplinar

para que os serviccedilos de sauacutede se constituam em espaccedilos de acolhimento e apoio

integrando-se efetivamente agrave rede de atendimento

Wilhelm e Tonet (2007) em seu estudo sobre a percepccedilatildeo de mulheres que

sofreram violecircncia domeacutestica em um municiacutepio do interior de Santa Catarina indicou

a ocorrecircncia de depressatildeo ansiedade medo e sentimento de baixa auto-estima Na

oacutetica dessas mulheres parte das agressotildees acontece somente no momento em que

seus companheiros estatildeo alcoolizados Aleacutem da violecircncia fiacutesica (tais como socos

arranhotildees puxotildees de cabelo arremesso de objetos chutes tapas e beliscotildees)

ocorrem as humilhaccedilotildees e a desqualificaccedilatildeo sendo ridicularizadas perante os

amigos do agressor sua famiacutelia e desautorizada perante os filhos Quanto ao

comportamento violento do companheiro este eacute justificado por fatores externos

deste modo desresponsabilizando-o como por exemplo as dificuldades

financeiras desemprego e uso de drogas dentre outros Muitos satildeo os motivos

pelos quais a mulher natildeo denuncia seu marido agressor passando a viver muitos

anos neste contexto de violecircncia dentre os quais destaca-se dependecircncia

financeira filhos fator cultural e ameaccedilas Da mesma forma todas demonstraram a

esperanccedila de que o companheiro mudasse em relaccedilatildeo ao seu comportamento

violento Aleacutem de poliacuteticas puacuteblicas mais efetivas par ao enfrentamento da violecircncia

domeacutestica Eacute necessaacuterio promover poliacuteticas puacuteblicas mais efetivas em relaccedilatildeo ao

enfrentamento da violecircncia domeacutestica bem como maiores investimentos em redes

de apoio social efetiva para a mulher e seus filhos as quais muitas vezes estatildeo

subjugadas ao seu agressor devido agrave dependecircncia econocircmica Em relaccedilatildeo a este eacute

importante promover grupos de homens com a finalidade de propiciar a discussatildeo

sobre violecircncia relaccedilotildees e gecircnero e formas alternativas de resoluccedilatildeo de conflitos

Estudo de Scaranto Biazevic e Michel (2007) sobre a percepccedilatildeo dos Agentes

Comunitaacuterios de Sauacutede (ACS) sobre a Violecircncia Domeacutestica contra a Mulher em um

municiacutepio do interior do Rio Grande do Sul identificou relatos de situaccedilotildees de

violecircncia domeacutestica contra a mulher cometida por seu companheiro seja fiacutesica

23

sexual psicoloacutegica ou econocircmica A obediecircncia aos maridoscompanheiros vai

desde o cuidado pessoal ateacute o desempenho sexual A vergonha pela violecircncia

sofrida eacute infinitamente maior do que a coragem da mulher para denunciar

Constatou-se que o ACS pode ser o elo entre a vergonha e a coragem para a

mulher denunciar o problema da violecircncia o que significa que ele parece ser de

fundamental importacircncia no acolhimento das anguacutestias dessas mulheres no

encorajamento para o relato de sofrimento na detecccedilatildeo da questatildeo da violecircncia

que pode estar acompanhada pela depressatildeo ansiedade ou ateacute mascarada por

algum tipo de queixa vaga e em consequumlecircncia fazer o encaminhamento de

referecircncia correto e eficiente na denuacutencia Eacute preciso dar subsiacutedios teoacuterico-praacuteticos

aos profissionais para que em seu trabalho cotidiano possam detectar situaccedilotildees de

violecircncia encontrar a forma de abordar as famiacutelias e dar encaminhamento tanto aos

casos de violecircncia quanto de uso de aacutelcooldrogas A violecircncia contra a mulher deve

ser considerada como questatildeo de sauacutede puacuteblica a partir do conceito ampliado de

sauacutede motivo pelo qual necessita ser alvo de poliacuteticas puacuteblicas efetivas e

consistentes assim como mecanismos de proteccedilatildeo agrave mulher viacutetima de violecircncia

tambeacutem precisam ser criados

Com base nos artigos analisados constatou-se que muitos profissionais tecircm

dificuldades em reconhecer a violecircncia como um problema de sauacutede devido agrave falta

de subsiacutedios teoacuterico-praacuteticos para a detecccedilatildeo de situaccedilotildees de violecircncia abordagem

adequada agraves viacutetimas e os devidos encaminhamentos para o atendimento desta

demanda

24

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Este estudo teve se propocircs a conhecer o que a literatura especializada em

sauacutede dos uacuteltimos dez anos disponiacutevel on line traz a respeito da violecircncia

domestica contra a mulher no periacuteodo de 2000 a 2009

Com base nos artigos analisados percebe-se que o baixo status econocircmico

o niacutevel de instruccedilatildeo e consequumlentemente o acesso agrave informaccedilatildeo podem ser

considerados como condiccedilotildees facilitadoras para a ocorrecircncia de situaccedilotildees de

violecircncia domeacutestica

Em muitos casos a dependecircncia econocircmica da mulher agrave renda do marido

impotildee a necessidade desta em ter de permanecer com ele mesmo diante de

situaccedilotildees de violecircncia

De modo geral os estudos analisadas indicaram os maridos ou companheiros

atuais das mulheres ou ainda seus ex-companheiros como os principais

agressores sendo o ambiente domeacutestico o local predominate destas agressotildees

Outro aspecto evidenciado nos achados desta pesquisa se refere ao fato de

que a maioria dessas mulheres natildeo relatou os motivos pelos quais foram agredidas

ainda que o aacutelcool tenha sido apontado como o principal motivo desencadeador das

agressotildees seguido do sentimento de ciuacutemes Tambeacutem se verificou o grande

nuacutemero de sub-notificaccedilatildeo dos casos de violecircncia contra as mulheres Assim infere-

se que possivelmente isto ocorra em funccedilatildeo da dependecircncia econocircmica e por

medo de vinganccedila

A natureza soacutecio-cultural e a subaacuterea multiprofissional prevalente nas

produccedilotildees analisadas evidenciaram a multiplicidade de aspectos relevantes a

temaacutetica da violecircncia como um complexo problema de sauacutede puacuteblica sinalizando

para a urgecircncia de um movimento reflexivo seja no acircmbito da formaccedilatildeo de

profissionais de sauacutede seja na praacutetica profissional para o enfrentamento desta

questatildeo

Destaca-se a importacircncia de pesquisa bibliograacuteficas para a sistematizaccedilatildeo

das produccedilotildees cientiacuteficas nacionais na temaacutetica violecircncia domestica contra a mulher

para o (re)conhecimento do estado da arte sobre a temaacutetica em anaacutelise fato este

25

fundamental para subsidiar futuras intervenccedilotildees no acircmbito das praacuteticas e serviccedilos

de sauacutede e da accedilatildeo social

A complexidade que envolve as questotildees relativas agrave violecircncia contra a mulher

exige accedilotildees capazes de dar conta das inuacutemeras demandas apresentadas o que

implica na articulaccedilatildeo entre as diferentes aacutereas de conhecimento e de atuaccedilatildeo

multiprofissional

Nessa loacutegica faz-se necessaacuterio maior investimento na qualificaccedilatildeo de

profissionais de sauacutede do serviccedilo social do direito entre outros para o

reconhecimento e identificaccedilatildeo dos sinais que possam indicar situaccedilotildees de violecircncia

contra as mulheres visando o acolhimento das mesmas natildeo apenas nos serviccedilos de

sauacutede mas em outros setores da sociedade Da mesma forma a criaccedilatildeo e

organizaccedilatildeo de serviccedilos multiprofissionais de atendimento agraves mulheres em situaccedilatildeo

de violecircncia para seu devido enfrentamento de modo que os mesmos estejam

articulados na loacutegica da intersetorialidade com os campos da sauacutede do serviccedilo

social e do direito no desenvolvimento de accedilotildees preventivas e assistenciais na

perspectiva da atenccedilatildeo integral agraves mulheres

Para aleacutem da organizaccedilatildeo de serviccedilos para o enfrentamento da violecircncia

contra as mulheres e apoio a essas viacutetimas evidencia-se tambeacutem a urgecircncia de

maior qualificaccedilatildeo sobre a temaacutetica de profissionais que atuam nesses campos para

que possam atender demandas dessa natureza de modo mais solidaacuterio

respeitando-se as subjetividades e singularidades implicadas nessas situaccedilotildees

Os Assistentes Sociais tecircm atuado como mediadores proporcionando a

escolha para as mulheres do que melhor lhes conveacutem Tal direcionamento vai ao

encontro da proposta aqui formulada na qual considera o profissional como sendo

um facilitador que em nome de valores como liberdade individual independecircncia e

autonomia fornece suporte ao processo de fortalecimento destas usuaacuterias ou seja

eacute o profissional que vecirc aleacutem do aparente (TAVARES 2008)

Sabe-se que jaacute existem leis especiacuteficas para o enfrentamento da violecircncia

contra as mulheres poreacutem ainda eacute preciso que as mesmas sejam incorporadas pela

sociedade como cultura poliacutetica para que accedilotildees mais efetivas sejam de fato

implementadas

26

Como estrateacutegia para a ampliaccedilatildeo do escopo das praacuteticas dessa natureza no

acircmbito das poliacuteticas puacuteblicas destaca-se a criaccedilatildeo de accedilotildees intersetoriais com

movimentos organizados de mulheres organizaccedilotildees governamentais e natildeo

governamentais de defesa aos direitos das mulheres serviccedilos de sauacutede e da accedilatildeo

social delegacias de policia organizaccedilotildees de bairros escolas dentre outros

segmentos sociais

Outra importante accedilatildeo se refere agrave incorporaccedilatildeo das questotildees relativas agrave

violecircncia e mais especificamente contra as mulheres foco deste estudo como um

tema transversal nas escolas o qual deve ser abordado natildeo apenas com alunos e

professores mas tambeacutem com as famiacutelias que integram a comunidade escolar

Para tanto a interlocuccedilatildeo do Serviccedilo Social com essa questatildeo se faz

necessaacuteria uma vez que a violecircncia domestica eacute um fenocircmeno social e portanto

deve ser enfrentada mediante o conjunto de estrateacutegias poliacuteticas e de intervenccedilatildeo

social direta

Desde esta perspectiva os profissionais do Serviccedilo Social devem intervir

diretamente na realidade social dos sujeitos tendo como pressuposto de atuaccedilatildeo a

articulaccedilatildeo do trabalho em redes promovendo a co-participaccedilatildeo e co-

responsabilizaccedilatildeo dos atores envolvidos nessa problemaacutetica desde a tomada de

decisotildees ateacute os encaminhamentos que se fizerem necessaacuterios para o enfrentamento

positivo e superaccedilatildeo de situaccedilotildees de violecircncia contra as mulheres

A partir de accedilotildees mais efetivas e da conscientizaccedilatildeo dos atores sociais de

que a violecircncia eacute hoje um problema de relevacircncia mundial e de sauacutede puacuteblica no

cenaacuterio brasileiro almeja-se a detecccedilatildeo precoce de situaccedilotildees de violecircncia

abordagem adequada e qualificada agraves viacutetimas e os devidos encaminhamento para o

atendimento desta demanda com eacutetica competecircncia e de forma mais humanizada

Atuaccedilatildeo esta pautada em valores societaacuterios em que homens e mulheres tenham

os mesmos direitos de cidadania buscando a superaccedilatildeo de todas as formas de

violecircncia preconceitos discriminaccedilotildees e desigualdades

27

REFEREcircNCIAS

BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Violecircncia intrafamiliar orientaccedilotildees para a praacutetica em serviccedilos Cadernos de Atenccedilatildeo Baacutesica n 8 BrasiacuteliaDF 2002 CABRAL F B OLIVEIRA D LL C de CECCIM R B O puerpeacuterio e a sauacutede da mulher vulnerabilidade e atenccedilatildeo baacutesica agrave sauacutede In Ensino e atenccedilatildeo agrave sauacutede da mulher aprendizados da integraccedilatildeo da educaccedilatildeo superior com a rede assistencial edCaxias do Sul EDUCS Editora da Universidade de Caxias do Sul 2008 p 137-157 CAMARGO M AQUINO S de (2003) Redes de cidadania e parcerias- Enfrentando a rota criacutetica Secretaria Especial de Poliacuteticas para as Mulheres Programa de prevenccedilatildeo assistecircncia e combate agrave violecircncia contra a mulher- plano nacional Brasiacutelia 2003 DrsquoOLIVEIRA A F SCHRAIBER L B Violecircncia Contra a Mulher a pesquisa e a intervenccedilatildeo Revista Promoccedilatildeo da Sauacutede n 6 80- 8 2002 DE FERRANTE FG SANTOS MA VIEIRA EM Violecircncia contra a mulher percepccedilatildeo dos meacutedicos das unidades baacutesicas de sauacutede da cidade de Ribeiratildeo Preto Satildeo Paulo Satildeo Paulo Interface - Comunic Saude Educ 13(31)287-99 outdez 2009

DOLIVEIRA AFPL SCHREIBER LB HANADA H DURANDJ Atenccedilatildeo integral agrave sauacutede de mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia de gecircnero ndash uma alternativa para a atenccedilatildeo primaacuteria em sauacutede Rio de Janeiro Ciecircnc Sauacutede Coletiva 14(4) julhoago 2009

GALVAtildeOFEANDRADESM Violecircncia contra a mulher anaacutelise de casos atendidos em serviccedilo de atenccedilatildeo agrave mulher em municiacutepio do Sul do Brasil Sauacutede e Sociedade 13(2)p89-99 maio-ago 2004 GIL A C Como Elaborar Projetos de Pesquisa 4 ed Satildeo Paulo Atlas 2009

LEONCIO LK ET AL O perfil das mulheres vitimizadas e seus agressores Rev enferm UERJ Rio de Janeiro 16(3)307-12 julset 2008 MEDINA ABC PENNA LHG Violecircncia na gestaccedilatildeo um estudo da produccedilatildeo cientiacutefica de 2000 a 2005 Esc Anna Nery 12(4)793-98 dez 2008 MENEGHEL ST INtildeIGUEZ L Contadores de histoacuterias praacuteticas discursivas e violecircncia de gecircnero Cad Sauacutede Puacuteblica Rio de Janeiro 23(8)1815-1824 ago 2007 MEYER D E Teorias e poliacuteticas de gecircnero fragmentos histoacutericos e desafios atuais Revista Brasileira de Enfermagem Brasiacutelia v57 n1 p13-8 janfev 2004

28

MINAYO M C et al Pesquisa social teoria meacutetodo criatividade Petroacutepolis Vozes 2002 MONTEIROCFS Arauacutejo TME NunesBMV LustosaAR BezerraCMJ A Violecircncia contra a mulher atendida em uma unidade de urgecircncia uma contribuiccedilatildeo da enfermagem Esc Anna Nery 10(2)273-9 ago 2006 MOTA JCMVASCONCELOS AGG ASSIS SG Anaacutelise de correspondecircncia como estrateacutegia para descriccedilatildeo do perfil da mulher viacutetima do parceiro atendida em serviccedilo especializado Ciecircncia e Sauacutede coletiva 12 (3)799890 2007 REZENDE EJC ET AL Lesotildees buco-dentais em mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia um estudo piloto de casos periciados no IML de Belo Horizonte MG Rev Bras Epidemiol 10(2) 202-14 2007 SCARANTO CAA BIAZEVICMGH MICHEL-CROSATOE Percepccedilatildeo dos Agentes Comunitaacuterios de Sauacutede sobre a Violecircncia Domeacutestica contra a Mulher Psicol ciecircnc Prof 27(4)694-705 2007 SCHRAIBER L B DOLIVEIRA A F L P Violecircncia contra mulheres interfaces com a Sauacutede Comunicaccedilatildeo Sauacutede Educaccedilatildeo v3 n5 1999 SILVA LL ET AL Violecircncia silenciosa violecircncia psicoloacutegica como condiccedilatildeo da violecircncia fiacutesica domeacutestica Interface - Comunic Sauacutede Educ v11 n21 p93-103 janabr 2007 SILVA LL ET AL Violecircncia silenciosa violecircncia psicoloacutegica como condiccedilatildeo da violecircncia fiacutesica domeacutestica Interface - Comunic Sauacutede Educ v11 n21 p93-103 janabr 2007 TAVARES F A Daacutes Laacutegrimas agrave Esperanccedila o processo de fortalecimento das mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia domeacutestica 2008 Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Serviccedilo Social Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica do Rio Grande do Sul Porto Alegre 2008 VIEIRAMEET AL Conhecimento e atitudes dos profissionais de sauacutede em relaccedilatildeo agrave violecircncia de gecircnero Rev Bras Epidemiol 12(4) 566-77 2009 WILHEL FA TONET J Percepccedilatildeo sobre a violecircncia domeacutestica na perspectiva de mulheres vitimadas Psicol Argum Curitiba 25 (51)401-412 outdez 2007

29

ANEXO 1 - Quadro analiacutetico ndash Violecircncia domestica contra a mulher e sauacutede publica ndash 2000-2009

Titulo Revista

Origem Subaacuterea de

conhecimento

Tipo Natureza Ano de

publicaccedilatildeo

Regiatildeo da

pesquisa

Violecircncia contra a mulher anaacutelise de casos atendidos em serviccedilo de atenccedilatildeo agrave mulher em municiacutepio do sul do Brasil Rev Sauacutede e Sociedade v13 n2 p89-99 maio-ago 2004

GALVAtildeOFEANDRADESM

Artigo Sociologia Pesquisa

investigaccedilatildeo

Qualitativo

sociocultural 2004 Regiatildeo Sul

A violecircncia contra a mulher atendida em unidade de urgecircncia uma contribuiccedilatildeo da enfermagem Esc Anna Nery R Enferm 2006 ago 10 (2) 273-9

MONTEIROCFS Arauacutejo TME NunesBMV LustosaAR BezerraCMJ

Artigo Enfermagem Pesquisa

Investigaccedilatildeo

Quantitativo

sociocultural 2006 Regiatildeo

Norte

Percepccedilatildeo dos Agentes Comunitaacuterios de Sauacutede sobre a Violecircncia Domeacutestica contra a Mulher Psicol ciecircnc prof27(4)694-705 2007

SCARANTO CAA BIAZEVICMGH MICHEL-CROSATOE

Artigo Psicologia Pesquisa

Investigaccedilatildeo

Qualitativo

sociocultural 2007 Regiatildeo Sul

Violecircncia silenciosa violecircncia psicoloacutegica como condiccedilatildeo da violecircncia fiacutesica domeacutestica

Artigo Psicologia Revisatildeo sociocultural 2007 Regiatildeo Sul

30

Interface-Comunic Sauacutede Educ v11 n21 p93-103 janabr 2007

SILVA LL ET AL

Qualitativa

Anaacutelise de correspondecircncia como estrateacutegia para descriccedilatildeo do perfil da mulher viacutetima do parceiro atendida em serviccedilo especializado Ciecircncia e Sauacutede coletiva12 (3)799890 2007

MOTA JCMVASCONCELOS AGG ASSIS SG

Artigo multiprofissional Pesquisa Qualiquanti

epidemioloacutegi

co

2007 Centro

Contadores de histoacuterias praacuteticas discursivas e violecircncia de gecircnero Cad Sauacutede Puacuteblica Rio de Janeiro 23(8)1815-1824 ago 2007

MENEGHEL ST INtildeIGUEZ L

Artigo multiprofissional Pesquisa Qualitativa

Sociocultural 2007 Regiatildeo sul

Lesotildees buccedilo-dentais em mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia um estudo piloto de casos periciados no IML de Belo Horizonte MG Rev Bras Epidemiol 2007 10(2) 202-14

REZENDE EJC ET AL

Artigo Odontologia Pesquisa

Documental

Clinico 2007 Regiatildeo

sudeste

Percepccedilatildeo sobre a violecircncia domeacutestica na perspectiva de mulheres vitimadas Psicol Argum Curitiba v 25 n 51 p 401-412 outdez 2007

WILHEL FA TONET J

Artigo Psicologia Pesquisa

qualitativa

Sociocultural 2007 Regiatildeo Sul

O perfil de mulheres vitimizadas e de seus agressores Rev enferm UERJ Rio de Janeiro 2008 julset

Artigo Enfermagem Pesquisa Sociocultural 2008 Regiatildeo

31

16(3)307-12

LEONCIO LK ET AL documental

quantitativa

sudeste

Violecircncia na gestaccedilatildeo um estudo da produccedilatildeo cientiacutefica de 2000 a 2005 Esc Anna Nery Rev Enferm 2008 dez 12 (4) 793-98

MEDINA ABC PENNA LHG

Artigo Enfermagem Pesquisa

qualitativa

Sociocultural 2008 Regiatildeo

Sudeste

Conhecimento e atitudes dos profissionais de sauacutede em relaccedilatildeo agrave violecircncia de gecircnero Rev Bras Epidemiol 2009 12(4) 566-77

VIEIRAMEET AL

Artigo Multidisciplinar Pesquisa Qualitativa

Sociocultural 2009 Regiatildeo Sudeste

Violecircncia contra a mulher percepccedilatildeo dos meacutedicos das unidades baacutesicas de sauacutede da cidade de Ribeiratildeo Preto Satildeo Paulo Interface - Comunic Saude Educ v13 n31 p287-99 outdez 2009

DE FERRANTE FG SANTOS MA VIEIRA EM

Artigo Multidisciplinar Pesquisa Qualitativa

Sociocultural 2009 Regiatildeo Sudeste

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Entende-se que a violecircncia domeacutestica contra as mulheres eacute um fenocircmeno

complexo que requer accedilotildees intersetoriais para aleacutem do campo juriacutedico na medida

em que eacute reconhecida como um problema de sauacutede puacuteblica Para tanto o

enfrentamento de situaccedilotildees dessa natureza requer accedilotildees no campo dos direitos

humanos e de cidadania na perspectiva da humanizaccedilatildeo e da integralidade em

sauacutede pautadas na eacutetica e no entendimento de que um viver saudaacutevel implica

tambeacutem no direito a uma vida sem violecircncia (DrsquoOliveira et al 2009)

Ante estas consideraccedilotildees este estudo teve a seguinte questatildeo norteadora ldquoo

que a literatura especializada em sauacutede dos uacuteltimos dez anos disponiacutevel on line

traz a respeito da violecircncia domestica contra a mulher no periacuteodo de 2000 a 2009rdquo

O objetivo da pesquisa foi ldquoconhecer o que a literatura especializada em sauacutede dos

uacuteltimos dez anos disponiacutevel on line traz a respeito da violecircncia domestica contra a

mulher no periacuteodo de 2000 a 2009rdquo

13

METODOLOGIA

Trata-se de uma pesquisa bibliograacutefica de natureza qualitativa que segundo

Gil (2009) eacute o estudo desenvolvido com base em material jaacute elaborado constituiacutedo

principalmente de livros e artigos Segundo Minayo (2002) ldquoa pesquisa qualitativa

trabalha com o universo de significados motivos aspiraccedilotildees crenccedilas valores e

atitudes o que corresponde a um espaccedilo mais profundo das relaccedilotildees dos

processos e dos fenocircmenos que natildeo podem ser reduzidos agrave operacionalizaccedilatildeo de

variaacuteveisrdquo

Os dados foram coletados mediante consulta na Biblioteca Virtual de Sauacutede ndash

BVSBireme nas bases de dados de dados da Literatura Latino-Americana e do

Caribe em Ciecircncias da Sauacutede (LILACS) e Scientific Eletronic Library On line

(SCIELO) Foram utilizados os termos violecircncia contra a mulher e sauacutede publica

como descritores para o levantamento de dados nos uacuteltimos dez anos Este

processo envolveu atividades de busca identificaccedilatildeo fichamento de estudos

mapeamento e anaacutelise O recorte temporal justifica-se pelo fato de que em dez

anos a prodccedilatildeo de conhecimento se renova substancialmente especialmente no

que tange ao conhecimento veiculado em miacutedias informatizadas

O levantamento bibliograacutefico foi realizado no periacuteodo de vinte e trecircs a vinte e

seis de maio de dois mil e onze cujos dados coletados atenderam aos seguintes

criteacuterios de inclusatildeo artigos cientiacuteficos disponiacuteveis na iacutentegra online e em idioma

da lingua portuguesa no periacuteodo de 2000 a 2009 com os descritores violecircncia

domeacutestica contra a mulher e sauacutede publica

Inicialmente foram encontradas noventa e trecircs (93) produccedilotildees cientiacuteficas com

o descritor violecircncia domeacutestica contra a mulher e sauacutede puacuteblica Dessas foram

selecionados vinte e oito (28) artigos cientiacuteficos que apresentavam o texto na

iacutentegra sendo que apenas quinze (15) atendiam o criteacuterio de inclusatildeo relativo ao

idioma que era a liacutengua portuguesa Dos quinze (15) artigos selecionados trecircs (3)

natildeo atenderam ao enquadre temporal pois uma datava do ano de 1999 e duas do

ano de 2010 motivo pelo qual as mesmas foram excluiacutedas totalizando doze (12)

artigos que passaram a compor o corpus dos dados a serem analisados

14

A anaacutelise dos dados se deu pela teacutecnica de anaacutelise temaacutetica de Minayo

(2002) definida como a descoberta dos nuacutecleos de sentidos que constituem uma

comunicaccedilatildeo acerca da frequumlecircncia ou da presenccedila de algum significado para o

objeto que seraacute analisado Este meacutetodo de anaacutelise eacute constituiacutedo por trecircs etapas a

preacute-anaacutelise em que ocorre a ordenaccedilatildeo dos dados obtidos a exploraccedilatildeo do

material em que os dados satildeo classificados de forma a alcanccedilar o nuacutecleo de

compreensatildeo do texto por meio da formulaccedilatildeo de categorias e o tratamento dos

resultados obtidos e interpretaccedilatildeo em que se articulam os dados apreendidos ao

referencial teoacuterico visando responder as questotildees da pesquisa

15

APRESENTACcedilAtildeO E DISCUSSAtildeO DOS RESULTADOS

Para a categorizaccedilatildeo e anaacutelise dos doze artigos cientiacuteficos selecionados foi

elaborado um quadro analiacutetico (Anexo 1) composto pelas variaacuteveis titulo origem

subaacuterea de conhecimento tipo natureza ano de publicaccedilatildeo regiatildeo da pesquisa

O mapeamento das produccedilotildees apontou a subaacuterea multiprofissional como de

maior concentraccedilatildeo na produccedilatildeo de artigos cientiacuteficos sendo que a maioria foi de

produccedilotildees socioculturais e apenas um artigo de natureza clinica se mostrando

convergente agrave aacuterea de odontologia

Com relaccedilatildeo ao tipo de pesquisa a abordagem mais utilizada foi do tipo

qualitativa Quanto ao recorte temporal adotado a primeira produccedilatildeo selecionada foi

do ano de 2004 sendo que a maior concentraccedilatildeo se deu no ano de 2007 com cinco

(5) artigos

Quanto agraves regiotildees do paiacutes em que esses artigos foram produzidos observou-

se maior concentraccedilatildeo dessas publicaccedilotildees na regiatildeo Sudeste com seis (6) artigos

cinco (5) artigos na regiatildeo Sul e apenas um (1) artigo na regiatildeo nordeste Ainda

com relaccedilatildeo agrave regionalidade desses artigos destaca-se que trecircs dos artigos

produzidos na regiatildeo sudeste do paiacutes foram desenvolvidos na cidade de Ribeiratildeo

PretoSP dos quais dois abordavam a perspectiva dos profissionais de sauacutede em

relaccedilatildeo e violecircncia domestica e o outro o perfil das vitimas de violecircncia

Do processo de anaacutelise dos achados da pesquisa emergiram trecircs categorias

sendo que os doze artigos foram categorizados em Violecircncia domeacutestica e de

gecircnero praacuteticas discursivas Perfil das mulheres que sofreram violecircncia e A violecircncia

na oacutetica dos profissionais de sauacutede

VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E DE GEcircNERO PRAacuteTICAS DISCURSIVAS

Medina e Penna (2008) em estudo bibliograacutefico que analisou quatorze (14)

produccedilotildees entre os anos de 2000 e 2005 destacaram o contexto soacutecio-cultural da

violecircncia domeacutestica no periacuteodo gestacional como um fator importante no

desenvolvimento desta no acircmbito da famiacutelia Tambeacutem ressaltam que a violecircncia

vivenciada pela gestante ainda eacute uma situaccedilatildeo de difiacutecil abordagem nas relaccedilotildees

16

pessoais e profissionais O estudo indicou ainda que mulheres que vivenciam

situaccedilotildees de violecircncia na gestaccedilatildeo se sentem coibidas em denunciar agressotildees

sofridas pelos parceiros ou familiares Da mesma forma em que evidenciou

processos de naturalizaccedilatildeo e de invisibilidade da violecircncia na gestaccedilatildeo na medida

em que muitas situaccedilotildees dessa natureza nem sempre satildeo percebidas e

reconhecidas como atos violentos pelas mulheres que a vivenciam como tambeacutem

pelos profissionais de sauacutede que as assistem

Pesquisa realizada por Silva et al (2007) que analisou os tipos de violecircncia

domeacutestica indicou que a violecircncia psicoloacutegica eacute o ponto inicial que deflagra a

violecircncia Para os autores a prevenccedilatildeo de qualquer tipo de situaccedilatildeo de violecircncia

vivida no acircmbito domeacutestico deve passar pela compreensatildeo de que estrateacutegias que

visem coibir situaccedilotildees de violecircncia psicoloacutegica implicam diretamente na minimizaccedilatildeo

dos demais tipos de violecircncias Destacam ainda que outras accedilotildees importantes

como palestras e maior discussatildeo sobre a temaacutetica em escolas de ensino

fundamental e meacutedio da rede puacuteblica e universidades que abordem a temaacutetica da

violecircncia na perspectiva dos direitos humanos bem como sobre serviccedilos de apoio

existentes e possibilidades de enfrentamento desta demanda devem ser

incentivadas

Estudo publicado por Meneghel e Intildeiguez (2007) que analisou oficina de

contadores de histoacuterias realizada no Centro Ecumecircnico de Assessoria e

Capacitaccedilatildeo de Satildeo Leopoldo (CECA-SL) a qual teve como tema gerador das

discussotildees as questotildees de gecircnero Dessas discussotildees foram escolhidas histoacuterias

para comporem essas narrativas nas quais as mulheres contavam episoacutedios de

violecircncia ligados agraves suas trajetoacuterias pessoais e afirmavam que a violecircncia de gecircnero

acontece em qualquer classe social escolaridade ou raccedila Na medida em que se

posicionavam criticamente em relaccedilatildeo ao sexismomachismo essas mulheres

afirmavam que eram obrigadas a abdicar de si mesmas natildeo podiam construir

projetos de vida mais autocircnomos devendo sempre ceder agraves vontades do homem

(maridocompanheiro) permanecendo submissas a ele Essa subordinaccedilatildeo agrave

autoridade masculina poderia ser potencializada ou minimizada na medida em que

essas mulheres dispusessem ou natildeo de acesso a informaccedilotildees que favoreccedilam o

17

entendimento de sua posiccedilatildeo como sujeito de direitos dentre os quais o de uma

vida sem violecircncia

Com base nos estudos analisados percebeu-se que a violecircncia domeacutestica

contra as mulheres envolve questotildees culturais e de gecircnero Nesse sentido a

prevenccedilatildeo ou minimizaccedilatildeo de situaccedilotildees relativas agrave violecircncia domeacutestica requer accedilotildees

intersetoriais que mobilizem os diversos segmentos da sociedade para que

conjuntamente atuem de forma proacute-ativa no enfrentamento desta problemaacutetica

Uma estrateacutegia importante seria a inclusatildeo da temaacutetica como um tema

transversal nas escolas a ser abordado natildeo apenas com alunos e professores mas

tambeacutem com as famiacutelias que integram a comunidade escolar

Para aleacutem da organizaccedilatildeo de serviccedilos para o enfrentamento da violecircncia

contra as mulheres e apoio a essas viacutetimas evidencia-se tambeacutem a necessidade de

maior qualificaccedilatildeo sobre a temaacutetica de profissionais que atuam no campo da sauacutede

e do serviccedilo social para que possam atender esta demanda com eacutetica competecircncia

e de forma mais humanizada Atuaccedilatildeo esta pautada em valores societaacuterios em que

homens e mulheres tenham os mesmos direitos de cidadania buscando a

superaccedilatildeo de todas as formas de violecircncia preconceitos discriminaccedilotildees e

desigualdades

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PERFIL DAS MULHERES QUE SOFRERAM VIOLEcircNCIA

A maioria das produccedilotildees traccedilou o perfil das mulheres vitimas de violecircncia

domeacutestica que procuram atendimento em serviccedilos de sauacutede tendo como variaacuteveis a

faixa etaacuteria profissatildeo estado civil escolaridade dentre outros

Galvatildeo e Andrade (2004) pesquisaram o perfil de mulheres em situaccedilatildeo de

violecircncia atendidas em um Centro de Atendimento agrave Mulher (CAM) em Londrina

Paranaacute a partir de informaccedilotildees extraiacutedas das fichas desses atendimentos A faixa

etaacuteria que predominou entre as mulheres atendidas no CAM foi agrave de 30 a 39 anos

seguida da faixa etaacuteria de 20 a 29 anos sendo que a meacutedia de idade foi de 34 anos

Com relaccedilatildeo ao estado civil 472 das mulheres declararam-se casadas 266

dos casos as mulheres que conviviam com um companheiro fixo numa relaccedilatildeo

consensual e 54 possuem um ou dois filhos Quanto agrave escolaridade 581 dessas

mulheres natildeo concluiacuteram o ensino fundamental 128 concluiacuteram o ensino meacutedio e

a taxa de analfabetismo foi de 21 sendo que 558 desenvolvia algum tipo de

trabalho remunerado Os principais agressores satildeo os atuais maridos ou

companheiros das mulheres (734) e quase a totalidade dos casos (974)

ocorreu no ambiente domeacutestico Quanto agrave caracterizaccedilatildeo dos casos de violecircncia

prevalece a violecircncia emocional com 564 dos casos seguida pela violecircncia fiacutesica

com 321 Quanto ao tempo em que vivenciam situaccedilotildees de violecircncia 33 das

mulheres vecircm sofrendo agressotildees por periacuteodos de ateacute um ano e 204 dos casos

refere-se a mulheres que sofrem agressotildees haacute mais de 10 anos

Estudo realizado por Monteiro et al (2006) sobre o perfil de mulheres que

sofreram violecircncia atendidas em uma unidade de urgecircncia em Teresina Piauiacute

indicou que 78 encontrava-se na faixa etaacuteria entre 18 e 40 anos e que 40 delas

natildeo trabalhavam fora de casa desempenhando exclusivamente as tarefas

domeacutesticas relativas ao cuidado coma casa e filhos As agressotildees nos membros

superiores ocorreram com maior frequumlecircncia (44) seguida das agressotildees na face

(33) Revelou ainda que a maioria dessas mulheres natildeo relatou os motivos pelos

quais foram agredidas ainda que o aacutelcool tenha sido apontado em 19 dos casos

como o principal motivo desencadeador das agressotildees seguido do ciuacutemes

Tambeacutem haacute um grande nuacutemero de subnotificaccedilatildeo em relaccedilatildeo ao agressor (80)

19

possivelmente em funccedilatildeo da dependecircncia econocircmica e por medo de vinganccedila do

companheiro Quanto agraves condutas adotadas pelos profissionais de sauacutede a grande

maioria (83) limita-se ao atendimento de queixas de menor complexidade como

aquelas que exigiram sutura simples ou consulta meacutedica Recomendam ainda que o

apoio as viacutetimas de violecircncia deve ter iniacutecio no serviccedilo de urgecircncia de forma

articulada com outros serviccedilos que tratam da mesma questatildeo como as Delegacias

Especiais de Atendimento agrave Mulher (DEAM) os Conselhos de Direitos da Mulher

Abrigos e outras instituiccedilotildees

Mota Vasconcelos e Assis (2007) analisaram as informaccedilotildees das fichas de

atendimento de um centro especializado no atendimento a mulheres viacutetimas de

violecircncia no municiacutepio do Rio de Janeiro totalizando 684 fichas de atendimento

dessas mulheres Dessa anaacutelise os autores traccedilaram o perfil dessas mulheres as

quais apresentaram idade meacutedia de 37 anos Para os autores o baixo status

econocircmico a baixa escolaridade e consequumlentemente o acesso agrave informaccedilatildeo

podem ter sido condiccedilotildees facilitadoras para a ocorrecircncia de situaccedilotildees de violecircncia

domeacutestica contra mulheres pelo cocircnjuge na populaccedilatildeo analisada Por outro lado as

agressotildees fiacutesicas mais graves que ocorreram com mulheres que possuiacuteam maior

niacutevel de escolaridade podem ter sido potencializadas pelo fato de as mesmas natildeo

terem aceitado essa violecircncia de modo passivo implicando em um conflito ainda

maior e em agressotildees fiacutesicas mais graves O estudo evidenciou ainda que a

violecircncia domeacutestica contra a mulher envolve questotildees culturais e de gecircnero com

implicaccedilotildees nas questotildees relativas agrave conjugalidade Assim a violecircncia domeacutestica

contra a mulher estaacute vinculada ao tradicional controle masculino baseado no papel

de provedor cuja desigualdade de gecircnero potencializa conflitos e colabora para a

ocorrecircncia de situaccedilotildees de violecircncia de ordem fiacutesica psicoloacutegica ou moral

Pesquisa retrospectiva e documental desenvolvida por Leonsio et al (2008)

analisou 446 boletins de ocorrecircncia em uma Delegacia de Defesa da Mulher em

Ribeiratildeo Preto Satildeo Paulo Em seus resultados os autores destacaram que 3408 das

mulheres estavam em faixa etaacuteria acima de 35 anos 7578 eram da raccedila branca e

4417 delas eram solteiras Quanto agrave ocupaccedilatildeo 5874 dessas mulheres

exerciam algum tipo de trabalho remunerado formal ou informal e 3722 possuiacuteam

o ensino fundamental completo Outro aspecto importante evidenciado pelo estudo foi

20

que 5471 das mulheres agredidas demoraram de 1 a 15 dias entre a agressatildeo e o tempo

da denuacutencia formal e 4215 registraram a ocorrecircncia no mesmo dia na delegacia Em

7691 dos casos o ambiente domeacutestico foi o local em que essas agressotildees ocorreram

Quanto ao agressor foi observado nos boletins de ocorrecircncia investigados que em 4910

dos casos os parceiros foram os principais denunciados seguidos de ex-parceiros com

1816 das ocorrecircncias Dentre os motivos desencadeantes da agressatildeo 4462

corresponderam agrave recusa da separaccedilatildeo conjugal 1435 ciuacutemes e 1996 por outros

motivos como bebidasdrogas

Estudo realizado por Resende et al (2007) analisou registros e laudos

encaminhados ao setor de Odontologia do IML de Belo Horizonte sobre as lesotildees

bucomaxilares sofridas por mulheres vitimas de violecircncia domeacutestica A faixa etaacuteria

predominante das mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia foi de 20 a 39 anos

representando 704 do total sendo a idade meacutedia correspondente a 303 anos

Quanto agrave ocupaccedilatildeo 241 das mulheres realizavam trabalhos domeacutesticos 213

se intitulavam ldquodonas-de-casardquo e 14 trabalhavam no comeacutercio A maioria das

mulheres que sofreu agressotildees declarou-se solteira perfazendo um total de 63

enquanto que o percentual de casadas foi menor correspondendo apenas 204

Foi constatado o elevado percentual de 611 dos casos em que o agressor natildeo foi

identificado (611) em 25 o sujeito agressor foi o companheiro em 37 foram

familiares e em 74 foram conhecidos perfazendo um total de 361 contra 28

de violecircncia realizada por estranhos

A complexidade da problemaacutetica da violecircncia domeacutestica contra as mulheres

tem implicaccedilotildees em questotildees culturais e de gecircnero vinculada a construccedilatildeo social

de papeacuteis desiguais entre homens e mulheres que potencializa conflitos e colabora

para a ocorrecircncia de situaccedilotildees de violecircncia de ordem fiacutesica psicoloacutegica ou moral

Ainda nesse sentido costuma ser difiacutecil para a maioria das mulheres tomarem a

atitude de denunciar seus companheiros agressores e romper com a situaccedilatildeo de

violecircncia principalmente em funccedilatildeo do medo de vinganccedila e da dependecircncia

econocircmica agrave renda do marido

21

A VIOLEcircNCIA CONTRA A MULHER NA OacuteTICA DAS VITIMAS E DOS

PROFISSIONAIS DE SAUacuteDE

Estudo desenvolvido por Vieira et al (2009) sobre o conhecimento e atitudes

dos profissionais de sauacutede em relaccedilatildeo agrave violecircncia de gecircnero destaca a importacircncia

do atendimento de mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia nos serviccedilos de sauacutede jaacute que

este eacute muitas vezes o uacutenico local procurado pelas viacutetimas A maioria dos

profissionais que participou do estudo demonstrou bom conhecimento sobre a

definiccedilatildeo de violecircncia contra a mulher aleacutem de reconhecer como seu papel

profissional perguntar sobre violecircncia para as pacientes Indicou ainda que esses

profissionais acreditam que para uma melhor atenccedilatildeo agrave violecircncia deveria ser

implantado em sua rotina de trabalho um protocolo de enfrentamento da violecircncia

Os autores tambeacutem evidenciaram a necessidade maiores investimentos na

capacitaccedilatildeo e qualificaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede que devem estar aptos para

reconhecer e manejar os casos de violecircncia

Pesquisa realizada por De Ferrant Santos e Vieira (2009) sobre a percepccedilatildeo

dos meacutedicos de uma unidade baacutesica de Ribeiratildeo Preto Satildeo Paulo em relaccedilatildeo agrave

violecircncia domeacutestica contra a mulher revelou que a maior parte deles acredita que a

violecircncia psicoloacutegica eacute a mais grave pois a proacutepria mulher apresenta dificuldade em

reconhececirc-la como algo prejudicial agrave sua sauacutede a ponto de frequentemente

permanecer exposta agrave situaccedilatildeo durante anos a fio Os resultados indicam que os

meacutedicos detecircm alguns conhecimentos acerca dos tipos de violecircncia de gecircnero e satildeo

capazes de identificar e muitas vezes acolher as mulheres que estatildeo expostas agrave

situaccedilatildeo Contudo destacam uma seacuterie de dificuldades para atuarem frente a uma

usuaacuteria que apresenta essa problemaacutetica e reconhecem a falta de capacitaccedilatildeo

profissional uma vez que muitos deles reforccedilam a necessidade de um treinamento

voltado especificamente para os casos de violecircncia de gecircnero Da mesma forma que

apontam outras barreiras pessoais e institucionais que limitam sua atuaccedilatildeo tanto

em niacutevel preventivo como interventivo que muitas vezes os impedem de agir

adequadamente frente a uma situaccedilatildeo de violecircncia Entre elas destacam-se os

meacutedicos sentem-se impotentes frente agraves atitudes que a mulher possa vir a tomar

mesmo depois de orientada afirmam que temem tomar qualquer atitude por medo

22

da reaccedilatildeo do agressor Os autores sugerem a necessidade de um trabalho integrado

e em rede que ofereccedila uma resposta efetiva para o problema da violecircncia de

gecircnero Aleacutem disso eacute preciso investir na qualificaccedilatildeo dos outros profissionais de

sauacutede aleacutem dos meacutedicos para que se viabilize um atendimento multidisciplinar

para que os serviccedilos de sauacutede se constituam em espaccedilos de acolhimento e apoio

integrando-se efetivamente agrave rede de atendimento

Wilhelm e Tonet (2007) em seu estudo sobre a percepccedilatildeo de mulheres que

sofreram violecircncia domeacutestica em um municiacutepio do interior de Santa Catarina indicou

a ocorrecircncia de depressatildeo ansiedade medo e sentimento de baixa auto-estima Na

oacutetica dessas mulheres parte das agressotildees acontece somente no momento em que

seus companheiros estatildeo alcoolizados Aleacutem da violecircncia fiacutesica (tais como socos

arranhotildees puxotildees de cabelo arremesso de objetos chutes tapas e beliscotildees)

ocorrem as humilhaccedilotildees e a desqualificaccedilatildeo sendo ridicularizadas perante os

amigos do agressor sua famiacutelia e desautorizada perante os filhos Quanto ao

comportamento violento do companheiro este eacute justificado por fatores externos

deste modo desresponsabilizando-o como por exemplo as dificuldades

financeiras desemprego e uso de drogas dentre outros Muitos satildeo os motivos

pelos quais a mulher natildeo denuncia seu marido agressor passando a viver muitos

anos neste contexto de violecircncia dentre os quais destaca-se dependecircncia

financeira filhos fator cultural e ameaccedilas Da mesma forma todas demonstraram a

esperanccedila de que o companheiro mudasse em relaccedilatildeo ao seu comportamento

violento Aleacutem de poliacuteticas puacuteblicas mais efetivas par ao enfrentamento da violecircncia

domeacutestica Eacute necessaacuterio promover poliacuteticas puacuteblicas mais efetivas em relaccedilatildeo ao

enfrentamento da violecircncia domeacutestica bem como maiores investimentos em redes

de apoio social efetiva para a mulher e seus filhos as quais muitas vezes estatildeo

subjugadas ao seu agressor devido agrave dependecircncia econocircmica Em relaccedilatildeo a este eacute

importante promover grupos de homens com a finalidade de propiciar a discussatildeo

sobre violecircncia relaccedilotildees e gecircnero e formas alternativas de resoluccedilatildeo de conflitos

Estudo de Scaranto Biazevic e Michel (2007) sobre a percepccedilatildeo dos Agentes

Comunitaacuterios de Sauacutede (ACS) sobre a Violecircncia Domeacutestica contra a Mulher em um

municiacutepio do interior do Rio Grande do Sul identificou relatos de situaccedilotildees de

violecircncia domeacutestica contra a mulher cometida por seu companheiro seja fiacutesica

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sexual psicoloacutegica ou econocircmica A obediecircncia aos maridoscompanheiros vai

desde o cuidado pessoal ateacute o desempenho sexual A vergonha pela violecircncia

sofrida eacute infinitamente maior do que a coragem da mulher para denunciar

Constatou-se que o ACS pode ser o elo entre a vergonha e a coragem para a

mulher denunciar o problema da violecircncia o que significa que ele parece ser de

fundamental importacircncia no acolhimento das anguacutestias dessas mulheres no

encorajamento para o relato de sofrimento na detecccedilatildeo da questatildeo da violecircncia

que pode estar acompanhada pela depressatildeo ansiedade ou ateacute mascarada por

algum tipo de queixa vaga e em consequumlecircncia fazer o encaminhamento de

referecircncia correto e eficiente na denuacutencia Eacute preciso dar subsiacutedios teoacuterico-praacuteticos

aos profissionais para que em seu trabalho cotidiano possam detectar situaccedilotildees de

violecircncia encontrar a forma de abordar as famiacutelias e dar encaminhamento tanto aos

casos de violecircncia quanto de uso de aacutelcooldrogas A violecircncia contra a mulher deve

ser considerada como questatildeo de sauacutede puacuteblica a partir do conceito ampliado de

sauacutede motivo pelo qual necessita ser alvo de poliacuteticas puacuteblicas efetivas e

consistentes assim como mecanismos de proteccedilatildeo agrave mulher viacutetima de violecircncia

tambeacutem precisam ser criados

Com base nos artigos analisados constatou-se que muitos profissionais tecircm

dificuldades em reconhecer a violecircncia como um problema de sauacutede devido agrave falta

de subsiacutedios teoacuterico-praacuteticos para a detecccedilatildeo de situaccedilotildees de violecircncia abordagem

adequada agraves viacutetimas e os devidos encaminhamentos para o atendimento desta

demanda

24

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Este estudo teve se propocircs a conhecer o que a literatura especializada em

sauacutede dos uacuteltimos dez anos disponiacutevel on line traz a respeito da violecircncia

domestica contra a mulher no periacuteodo de 2000 a 2009

Com base nos artigos analisados percebe-se que o baixo status econocircmico

o niacutevel de instruccedilatildeo e consequumlentemente o acesso agrave informaccedilatildeo podem ser

considerados como condiccedilotildees facilitadoras para a ocorrecircncia de situaccedilotildees de

violecircncia domeacutestica

Em muitos casos a dependecircncia econocircmica da mulher agrave renda do marido

impotildee a necessidade desta em ter de permanecer com ele mesmo diante de

situaccedilotildees de violecircncia

De modo geral os estudos analisadas indicaram os maridos ou companheiros

atuais das mulheres ou ainda seus ex-companheiros como os principais

agressores sendo o ambiente domeacutestico o local predominate destas agressotildees

Outro aspecto evidenciado nos achados desta pesquisa se refere ao fato de

que a maioria dessas mulheres natildeo relatou os motivos pelos quais foram agredidas

ainda que o aacutelcool tenha sido apontado como o principal motivo desencadeador das

agressotildees seguido do sentimento de ciuacutemes Tambeacutem se verificou o grande

nuacutemero de sub-notificaccedilatildeo dos casos de violecircncia contra as mulheres Assim infere-

se que possivelmente isto ocorra em funccedilatildeo da dependecircncia econocircmica e por

medo de vinganccedila

A natureza soacutecio-cultural e a subaacuterea multiprofissional prevalente nas

produccedilotildees analisadas evidenciaram a multiplicidade de aspectos relevantes a

temaacutetica da violecircncia como um complexo problema de sauacutede puacuteblica sinalizando

para a urgecircncia de um movimento reflexivo seja no acircmbito da formaccedilatildeo de

profissionais de sauacutede seja na praacutetica profissional para o enfrentamento desta

questatildeo

Destaca-se a importacircncia de pesquisa bibliograacuteficas para a sistematizaccedilatildeo

das produccedilotildees cientiacuteficas nacionais na temaacutetica violecircncia domestica contra a mulher

para o (re)conhecimento do estado da arte sobre a temaacutetica em anaacutelise fato este

25

fundamental para subsidiar futuras intervenccedilotildees no acircmbito das praacuteticas e serviccedilos

de sauacutede e da accedilatildeo social

A complexidade que envolve as questotildees relativas agrave violecircncia contra a mulher

exige accedilotildees capazes de dar conta das inuacutemeras demandas apresentadas o que

implica na articulaccedilatildeo entre as diferentes aacutereas de conhecimento e de atuaccedilatildeo

multiprofissional

Nessa loacutegica faz-se necessaacuterio maior investimento na qualificaccedilatildeo de

profissionais de sauacutede do serviccedilo social do direito entre outros para o

reconhecimento e identificaccedilatildeo dos sinais que possam indicar situaccedilotildees de violecircncia

contra as mulheres visando o acolhimento das mesmas natildeo apenas nos serviccedilos de

sauacutede mas em outros setores da sociedade Da mesma forma a criaccedilatildeo e

organizaccedilatildeo de serviccedilos multiprofissionais de atendimento agraves mulheres em situaccedilatildeo

de violecircncia para seu devido enfrentamento de modo que os mesmos estejam

articulados na loacutegica da intersetorialidade com os campos da sauacutede do serviccedilo

social e do direito no desenvolvimento de accedilotildees preventivas e assistenciais na

perspectiva da atenccedilatildeo integral agraves mulheres

Para aleacutem da organizaccedilatildeo de serviccedilos para o enfrentamento da violecircncia

contra as mulheres e apoio a essas viacutetimas evidencia-se tambeacutem a urgecircncia de

maior qualificaccedilatildeo sobre a temaacutetica de profissionais que atuam nesses campos para

que possam atender demandas dessa natureza de modo mais solidaacuterio

respeitando-se as subjetividades e singularidades implicadas nessas situaccedilotildees

Os Assistentes Sociais tecircm atuado como mediadores proporcionando a

escolha para as mulheres do que melhor lhes conveacutem Tal direcionamento vai ao

encontro da proposta aqui formulada na qual considera o profissional como sendo

um facilitador que em nome de valores como liberdade individual independecircncia e

autonomia fornece suporte ao processo de fortalecimento destas usuaacuterias ou seja

eacute o profissional que vecirc aleacutem do aparente (TAVARES 2008)

Sabe-se que jaacute existem leis especiacuteficas para o enfrentamento da violecircncia

contra as mulheres poreacutem ainda eacute preciso que as mesmas sejam incorporadas pela

sociedade como cultura poliacutetica para que accedilotildees mais efetivas sejam de fato

implementadas

26

Como estrateacutegia para a ampliaccedilatildeo do escopo das praacuteticas dessa natureza no

acircmbito das poliacuteticas puacuteblicas destaca-se a criaccedilatildeo de accedilotildees intersetoriais com

movimentos organizados de mulheres organizaccedilotildees governamentais e natildeo

governamentais de defesa aos direitos das mulheres serviccedilos de sauacutede e da accedilatildeo

social delegacias de policia organizaccedilotildees de bairros escolas dentre outros

segmentos sociais

Outra importante accedilatildeo se refere agrave incorporaccedilatildeo das questotildees relativas agrave

violecircncia e mais especificamente contra as mulheres foco deste estudo como um

tema transversal nas escolas o qual deve ser abordado natildeo apenas com alunos e

professores mas tambeacutem com as famiacutelias que integram a comunidade escolar

Para tanto a interlocuccedilatildeo do Serviccedilo Social com essa questatildeo se faz

necessaacuteria uma vez que a violecircncia domestica eacute um fenocircmeno social e portanto

deve ser enfrentada mediante o conjunto de estrateacutegias poliacuteticas e de intervenccedilatildeo

social direta

Desde esta perspectiva os profissionais do Serviccedilo Social devem intervir

diretamente na realidade social dos sujeitos tendo como pressuposto de atuaccedilatildeo a

articulaccedilatildeo do trabalho em redes promovendo a co-participaccedilatildeo e co-

responsabilizaccedilatildeo dos atores envolvidos nessa problemaacutetica desde a tomada de

decisotildees ateacute os encaminhamentos que se fizerem necessaacuterios para o enfrentamento

positivo e superaccedilatildeo de situaccedilotildees de violecircncia contra as mulheres

A partir de accedilotildees mais efetivas e da conscientizaccedilatildeo dos atores sociais de

que a violecircncia eacute hoje um problema de relevacircncia mundial e de sauacutede puacuteblica no

cenaacuterio brasileiro almeja-se a detecccedilatildeo precoce de situaccedilotildees de violecircncia

abordagem adequada e qualificada agraves viacutetimas e os devidos encaminhamento para o

atendimento desta demanda com eacutetica competecircncia e de forma mais humanizada

Atuaccedilatildeo esta pautada em valores societaacuterios em que homens e mulheres tenham

os mesmos direitos de cidadania buscando a superaccedilatildeo de todas as formas de

violecircncia preconceitos discriminaccedilotildees e desigualdades

27

REFEREcircNCIAS

BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Violecircncia intrafamiliar orientaccedilotildees para a praacutetica em serviccedilos Cadernos de Atenccedilatildeo Baacutesica n 8 BrasiacuteliaDF 2002 CABRAL F B OLIVEIRA D LL C de CECCIM R B O puerpeacuterio e a sauacutede da mulher vulnerabilidade e atenccedilatildeo baacutesica agrave sauacutede In Ensino e atenccedilatildeo agrave sauacutede da mulher aprendizados da integraccedilatildeo da educaccedilatildeo superior com a rede assistencial edCaxias do Sul EDUCS Editora da Universidade de Caxias do Sul 2008 p 137-157 CAMARGO M AQUINO S de (2003) Redes de cidadania e parcerias- Enfrentando a rota criacutetica Secretaria Especial de Poliacuteticas para as Mulheres Programa de prevenccedilatildeo assistecircncia e combate agrave violecircncia contra a mulher- plano nacional Brasiacutelia 2003 DrsquoOLIVEIRA A F SCHRAIBER L B Violecircncia Contra a Mulher a pesquisa e a intervenccedilatildeo Revista Promoccedilatildeo da Sauacutede n 6 80- 8 2002 DE FERRANTE FG SANTOS MA VIEIRA EM Violecircncia contra a mulher percepccedilatildeo dos meacutedicos das unidades baacutesicas de sauacutede da cidade de Ribeiratildeo Preto Satildeo Paulo Satildeo Paulo Interface - Comunic Saude Educ 13(31)287-99 outdez 2009

DOLIVEIRA AFPL SCHREIBER LB HANADA H DURANDJ Atenccedilatildeo integral agrave sauacutede de mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia de gecircnero ndash uma alternativa para a atenccedilatildeo primaacuteria em sauacutede Rio de Janeiro Ciecircnc Sauacutede Coletiva 14(4) julhoago 2009

GALVAtildeOFEANDRADESM Violecircncia contra a mulher anaacutelise de casos atendidos em serviccedilo de atenccedilatildeo agrave mulher em municiacutepio do Sul do Brasil Sauacutede e Sociedade 13(2)p89-99 maio-ago 2004 GIL A C Como Elaborar Projetos de Pesquisa 4 ed Satildeo Paulo Atlas 2009

LEONCIO LK ET AL O perfil das mulheres vitimizadas e seus agressores Rev enferm UERJ Rio de Janeiro 16(3)307-12 julset 2008 MEDINA ABC PENNA LHG Violecircncia na gestaccedilatildeo um estudo da produccedilatildeo cientiacutefica de 2000 a 2005 Esc Anna Nery 12(4)793-98 dez 2008 MENEGHEL ST INtildeIGUEZ L Contadores de histoacuterias praacuteticas discursivas e violecircncia de gecircnero Cad Sauacutede Puacuteblica Rio de Janeiro 23(8)1815-1824 ago 2007 MEYER D E Teorias e poliacuteticas de gecircnero fragmentos histoacutericos e desafios atuais Revista Brasileira de Enfermagem Brasiacutelia v57 n1 p13-8 janfev 2004

28

MINAYO M C et al Pesquisa social teoria meacutetodo criatividade Petroacutepolis Vozes 2002 MONTEIROCFS Arauacutejo TME NunesBMV LustosaAR BezerraCMJ A Violecircncia contra a mulher atendida em uma unidade de urgecircncia uma contribuiccedilatildeo da enfermagem Esc Anna Nery 10(2)273-9 ago 2006 MOTA JCMVASCONCELOS AGG ASSIS SG Anaacutelise de correspondecircncia como estrateacutegia para descriccedilatildeo do perfil da mulher viacutetima do parceiro atendida em serviccedilo especializado Ciecircncia e Sauacutede coletiva 12 (3)799890 2007 REZENDE EJC ET AL Lesotildees buco-dentais em mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia um estudo piloto de casos periciados no IML de Belo Horizonte MG Rev Bras Epidemiol 10(2) 202-14 2007 SCARANTO CAA BIAZEVICMGH MICHEL-CROSATOE Percepccedilatildeo dos Agentes Comunitaacuterios de Sauacutede sobre a Violecircncia Domeacutestica contra a Mulher Psicol ciecircnc Prof 27(4)694-705 2007 SCHRAIBER L B DOLIVEIRA A F L P Violecircncia contra mulheres interfaces com a Sauacutede Comunicaccedilatildeo Sauacutede Educaccedilatildeo v3 n5 1999 SILVA LL ET AL Violecircncia silenciosa violecircncia psicoloacutegica como condiccedilatildeo da violecircncia fiacutesica domeacutestica Interface - Comunic Sauacutede Educ v11 n21 p93-103 janabr 2007 SILVA LL ET AL Violecircncia silenciosa violecircncia psicoloacutegica como condiccedilatildeo da violecircncia fiacutesica domeacutestica Interface - Comunic Sauacutede Educ v11 n21 p93-103 janabr 2007 TAVARES F A Daacutes Laacutegrimas agrave Esperanccedila o processo de fortalecimento das mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia domeacutestica 2008 Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Serviccedilo Social Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica do Rio Grande do Sul Porto Alegre 2008 VIEIRAMEET AL Conhecimento e atitudes dos profissionais de sauacutede em relaccedilatildeo agrave violecircncia de gecircnero Rev Bras Epidemiol 12(4) 566-77 2009 WILHEL FA TONET J Percepccedilatildeo sobre a violecircncia domeacutestica na perspectiva de mulheres vitimadas Psicol Argum Curitiba 25 (51)401-412 outdez 2007

29

ANEXO 1 - Quadro analiacutetico ndash Violecircncia domestica contra a mulher e sauacutede publica ndash 2000-2009

Titulo Revista

Origem Subaacuterea de

conhecimento

Tipo Natureza Ano de

publicaccedilatildeo

Regiatildeo da

pesquisa

Violecircncia contra a mulher anaacutelise de casos atendidos em serviccedilo de atenccedilatildeo agrave mulher em municiacutepio do sul do Brasil Rev Sauacutede e Sociedade v13 n2 p89-99 maio-ago 2004

GALVAtildeOFEANDRADESM

Artigo Sociologia Pesquisa

investigaccedilatildeo

Qualitativo

sociocultural 2004 Regiatildeo Sul

A violecircncia contra a mulher atendida em unidade de urgecircncia uma contribuiccedilatildeo da enfermagem Esc Anna Nery R Enferm 2006 ago 10 (2) 273-9

MONTEIROCFS Arauacutejo TME NunesBMV LustosaAR BezerraCMJ

Artigo Enfermagem Pesquisa

Investigaccedilatildeo

Quantitativo

sociocultural 2006 Regiatildeo

Norte

Percepccedilatildeo dos Agentes Comunitaacuterios de Sauacutede sobre a Violecircncia Domeacutestica contra a Mulher Psicol ciecircnc prof27(4)694-705 2007

SCARANTO CAA BIAZEVICMGH MICHEL-CROSATOE

Artigo Psicologia Pesquisa

Investigaccedilatildeo

Qualitativo

sociocultural 2007 Regiatildeo Sul

Violecircncia silenciosa violecircncia psicoloacutegica como condiccedilatildeo da violecircncia fiacutesica domeacutestica

Artigo Psicologia Revisatildeo sociocultural 2007 Regiatildeo Sul

30

Interface-Comunic Sauacutede Educ v11 n21 p93-103 janabr 2007

SILVA LL ET AL

Qualitativa

Anaacutelise de correspondecircncia como estrateacutegia para descriccedilatildeo do perfil da mulher viacutetima do parceiro atendida em serviccedilo especializado Ciecircncia e Sauacutede coletiva12 (3)799890 2007

MOTA JCMVASCONCELOS AGG ASSIS SG

Artigo multiprofissional Pesquisa Qualiquanti

epidemioloacutegi

co

2007 Centro

Contadores de histoacuterias praacuteticas discursivas e violecircncia de gecircnero Cad Sauacutede Puacuteblica Rio de Janeiro 23(8)1815-1824 ago 2007

MENEGHEL ST INtildeIGUEZ L

Artigo multiprofissional Pesquisa Qualitativa

Sociocultural 2007 Regiatildeo sul

Lesotildees buccedilo-dentais em mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia um estudo piloto de casos periciados no IML de Belo Horizonte MG Rev Bras Epidemiol 2007 10(2) 202-14

REZENDE EJC ET AL

Artigo Odontologia Pesquisa

Documental

Clinico 2007 Regiatildeo

sudeste

Percepccedilatildeo sobre a violecircncia domeacutestica na perspectiva de mulheres vitimadas Psicol Argum Curitiba v 25 n 51 p 401-412 outdez 2007

WILHEL FA TONET J

Artigo Psicologia Pesquisa

qualitativa

Sociocultural 2007 Regiatildeo Sul

O perfil de mulheres vitimizadas e de seus agressores Rev enferm UERJ Rio de Janeiro 2008 julset

Artigo Enfermagem Pesquisa Sociocultural 2008 Regiatildeo

31

16(3)307-12

LEONCIO LK ET AL documental

quantitativa

sudeste

Violecircncia na gestaccedilatildeo um estudo da produccedilatildeo cientiacutefica de 2000 a 2005 Esc Anna Nery Rev Enferm 2008 dez 12 (4) 793-98

MEDINA ABC PENNA LHG

Artigo Enfermagem Pesquisa

qualitativa

Sociocultural 2008 Regiatildeo

Sudeste

Conhecimento e atitudes dos profissionais de sauacutede em relaccedilatildeo agrave violecircncia de gecircnero Rev Bras Epidemiol 2009 12(4) 566-77

VIEIRAMEET AL

Artigo Multidisciplinar Pesquisa Qualitativa

Sociocultural 2009 Regiatildeo Sudeste

Violecircncia contra a mulher percepccedilatildeo dos meacutedicos das unidades baacutesicas de sauacutede da cidade de Ribeiratildeo Preto Satildeo Paulo Interface - Comunic Saude Educ v13 n31 p287-99 outdez 2009

DE FERRANTE FG SANTOS MA VIEIRA EM

Artigo Multidisciplinar Pesquisa Qualitativa

Sociocultural 2009 Regiatildeo Sudeste

32

33

13

METODOLOGIA

Trata-se de uma pesquisa bibliograacutefica de natureza qualitativa que segundo

Gil (2009) eacute o estudo desenvolvido com base em material jaacute elaborado constituiacutedo

principalmente de livros e artigos Segundo Minayo (2002) ldquoa pesquisa qualitativa

trabalha com o universo de significados motivos aspiraccedilotildees crenccedilas valores e

atitudes o que corresponde a um espaccedilo mais profundo das relaccedilotildees dos

processos e dos fenocircmenos que natildeo podem ser reduzidos agrave operacionalizaccedilatildeo de

variaacuteveisrdquo

Os dados foram coletados mediante consulta na Biblioteca Virtual de Sauacutede ndash

BVSBireme nas bases de dados de dados da Literatura Latino-Americana e do

Caribe em Ciecircncias da Sauacutede (LILACS) e Scientific Eletronic Library On line

(SCIELO) Foram utilizados os termos violecircncia contra a mulher e sauacutede publica

como descritores para o levantamento de dados nos uacuteltimos dez anos Este

processo envolveu atividades de busca identificaccedilatildeo fichamento de estudos

mapeamento e anaacutelise O recorte temporal justifica-se pelo fato de que em dez

anos a prodccedilatildeo de conhecimento se renova substancialmente especialmente no

que tange ao conhecimento veiculado em miacutedias informatizadas

O levantamento bibliograacutefico foi realizado no periacuteodo de vinte e trecircs a vinte e

seis de maio de dois mil e onze cujos dados coletados atenderam aos seguintes

criteacuterios de inclusatildeo artigos cientiacuteficos disponiacuteveis na iacutentegra online e em idioma

da lingua portuguesa no periacuteodo de 2000 a 2009 com os descritores violecircncia

domeacutestica contra a mulher e sauacutede publica

Inicialmente foram encontradas noventa e trecircs (93) produccedilotildees cientiacuteficas com

o descritor violecircncia domeacutestica contra a mulher e sauacutede puacuteblica Dessas foram

selecionados vinte e oito (28) artigos cientiacuteficos que apresentavam o texto na

iacutentegra sendo que apenas quinze (15) atendiam o criteacuterio de inclusatildeo relativo ao

idioma que era a liacutengua portuguesa Dos quinze (15) artigos selecionados trecircs (3)

natildeo atenderam ao enquadre temporal pois uma datava do ano de 1999 e duas do

ano de 2010 motivo pelo qual as mesmas foram excluiacutedas totalizando doze (12)

artigos que passaram a compor o corpus dos dados a serem analisados

14

A anaacutelise dos dados se deu pela teacutecnica de anaacutelise temaacutetica de Minayo

(2002) definida como a descoberta dos nuacutecleos de sentidos que constituem uma

comunicaccedilatildeo acerca da frequumlecircncia ou da presenccedila de algum significado para o

objeto que seraacute analisado Este meacutetodo de anaacutelise eacute constituiacutedo por trecircs etapas a

preacute-anaacutelise em que ocorre a ordenaccedilatildeo dos dados obtidos a exploraccedilatildeo do

material em que os dados satildeo classificados de forma a alcanccedilar o nuacutecleo de

compreensatildeo do texto por meio da formulaccedilatildeo de categorias e o tratamento dos

resultados obtidos e interpretaccedilatildeo em que se articulam os dados apreendidos ao

referencial teoacuterico visando responder as questotildees da pesquisa

15

APRESENTACcedilAtildeO E DISCUSSAtildeO DOS RESULTADOS

Para a categorizaccedilatildeo e anaacutelise dos doze artigos cientiacuteficos selecionados foi

elaborado um quadro analiacutetico (Anexo 1) composto pelas variaacuteveis titulo origem

subaacuterea de conhecimento tipo natureza ano de publicaccedilatildeo regiatildeo da pesquisa

O mapeamento das produccedilotildees apontou a subaacuterea multiprofissional como de

maior concentraccedilatildeo na produccedilatildeo de artigos cientiacuteficos sendo que a maioria foi de

produccedilotildees socioculturais e apenas um artigo de natureza clinica se mostrando

convergente agrave aacuterea de odontologia

Com relaccedilatildeo ao tipo de pesquisa a abordagem mais utilizada foi do tipo

qualitativa Quanto ao recorte temporal adotado a primeira produccedilatildeo selecionada foi

do ano de 2004 sendo que a maior concentraccedilatildeo se deu no ano de 2007 com cinco

(5) artigos

Quanto agraves regiotildees do paiacutes em que esses artigos foram produzidos observou-

se maior concentraccedilatildeo dessas publicaccedilotildees na regiatildeo Sudeste com seis (6) artigos

cinco (5) artigos na regiatildeo Sul e apenas um (1) artigo na regiatildeo nordeste Ainda

com relaccedilatildeo agrave regionalidade desses artigos destaca-se que trecircs dos artigos

produzidos na regiatildeo sudeste do paiacutes foram desenvolvidos na cidade de Ribeiratildeo

PretoSP dos quais dois abordavam a perspectiva dos profissionais de sauacutede em

relaccedilatildeo e violecircncia domestica e o outro o perfil das vitimas de violecircncia

Do processo de anaacutelise dos achados da pesquisa emergiram trecircs categorias

sendo que os doze artigos foram categorizados em Violecircncia domeacutestica e de

gecircnero praacuteticas discursivas Perfil das mulheres que sofreram violecircncia e A violecircncia

na oacutetica dos profissionais de sauacutede

VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E DE GEcircNERO PRAacuteTICAS DISCURSIVAS

Medina e Penna (2008) em estudo bibliograacutefico que analisou quatorze (14)

produccedilotildees entre os anos de 2000 e 2005 destacaram o contexto soacutecio-cultural da

violecircncia domeacutestica no periacuteodo gestacional como um fator importante no

desenvolvimento desta no acircmbito da famiacutelia Tambeacutem ressaltam que a violecircncia

vivenciada pela gestante ainda eacute uma situaccedilatildeo de difiacutecil abordagem nas relaccedilotildees

16

pessoais e profissionais O estudo indicou ainda que mulheres que vivenciam

situaccedilotildees de violecircncia na gestaccedilatildeo se sentem coibidas em denunciar agressotildees

sofridas pelos parceiros ou familiares Da mesma forma em que evidenciou

processos de naturalizaccedilatildeo e de invisibilidade da violecircncia na gestaccedilatildeo na medida

em que muitas situaccedilotildees dessa natureza nem sempre satildeo percebidas e

reconhecidas como atos violentos pelas mulheres que a vivenciam como tambeacutem

pelos profissionais de sauacutede que as assistem

Pesquisa realizada por Silva et al (2007) que analisou os tipos de violecircncia

domeacutestica indicou que a violecircncia psicoloacutegica eacute o ponto inicial que deflagra a

violecircncia Para os autores a prevenccedilatildeo de qualquer tipo de situaccedilatildeo de violecircncia

vivida no acircmbito domeacutestico deve passar pela compreensatildeo de que estrateacutegias que

visem coibir situaccedilotildees de violecircncia psicoloacutegica implicam diretamente na minimizaccedilatildeo

dos demais tipos de violecircncias Destacam ainda que outras accedilotildees importantes

como palestras e maior discussatildeo sobre a temaacutetica em escolas de ensino

fundamental e meacutedio da rede puacuteblica e universidades que abordem a temaacutetica da

violecircncia na perspectiva dos direitos humanos bem como sobre serviccedilos de apoio

existentes e possibilidades de enfrentamento desta demanda devem ser

incentivadas

Estudo publicado por Meneghel e Intildeiguez (2007) que analisou oficina de

contadores de histoacuterias realizada no Centro Ecumecircnico de Assessoria e

Capacitaccedilatildeo de Satildeo Leopoldo (CECA-SL) a qual teve como tema gerador das

discussotildees as questotildees de gecircnero Dessas discussotildees foram escolhidas histoacuterias

para comporem essas narrativas nas quais as mulheres contavam episoacutedios de

violecircncia ligados agraves suas trajetoacuterias pessoais e afirmavam que a violecircncia de gecircnero

acontece em qualquer classe social escolaridade ou raccedila Na medida em que se

posicionavam criticamente em relaccedilatildeo ao sexismomachismo essas mulheres

afirmavam que eram obrigadas a abdicar de si mesmas natildeo podiam construir

projetos de vida mais autocircnomos devendo sempre ceder agraves vontades do homem

(maridocompanheiro) permanecendo submissas a ele Essa subordinaccedilatildeo agrave

autoridade masculina poderia ser potencializada ou minimizada na medida em que

essas mulheres dispusessem ou natildeo de acesso a informaccedilotildees que favoreccedilam o

17

entendimento de sua posiccedilatildeo como sujeito de direitos dentre os quais o de uma

vida sem violecircncia

Com base nos estudos analisados percebeu-se que a violecircncia domeacutestica

contra as mulheres envolve questotildees culturais e de gecircnero Nesse sentido a

prevenccedilatildeo ou minimizaccedilatildeo de situaccedilotildees relativas agrave violecircncia domeacutestica requer accedilotildees

intersetoriais que mobilizem os diversos segmentos da sociedade para que

conjuntamente atuem de forma proacute-ativa no enfrentamento desta problemaacutetica

Uma estrateacutegia importante seria a inclusatildeo da temaacutetica como um tema

transversal nas escolas a ser abordado natildeo apenas com alunos e professores mas

tambeacutem com as famiacutelias que integram a comunidade escolar

Para aleacutem da organizaccedilatildeo de serviccedilos para o enfrentamento da violecircncia

contra as mulheres e apoio a essas viacutetimas evidencia-se tambeacutem a necessidade de

maior qualificaccedilatildeo sobre a temaacutetica de profissionais que atuam no campo da sauacutede

e do serviccedilo social para que possam atender esta demanda com eacutetica competecircncia

e de forma mais humanizada Atuaccedilatildeo esta pautada em valores societaacuterios em que

homens e mulheres tenham os mesmos direitos de cidadania buscando a

superaccedilatildeo de todas as formas de violecircncia preconceitos discriminaccedilotildees e

desigualdades

18

PERFIL DAS MULHERES QUE SOFRERAM VIOLEcircNCIA

A maioria das produccedilotildees traccedilou o perfil das mulheres vitimas de violecircncia

domeacutestica que procuram atendimento em serviccedilos de sauacutede tendo como variaacuteveis a

faixa etaacuteria profissatildeo estado civil escolaridade dentre outros

Galvatildeo e Andrade (2004) pesquisaram o perfil de mulheres em situaccedilatildeo de

violecircncia atendidas em um Centro de Atendimento agrave Mulher (CAM) em Londrina

Paranaacute a partir de informaccedilotildees extraiacutedas das fichas desses atendimentos A faixa

etaacuteria que predominou entre as mulheres atendidas no CAM foi agrave de 30 a 39 anos

seguida da faixa etaacuteria de 20 a 29 anos sendo que a meacutedia de idade foi de 34 anos

Com relaccedilatildeo ao estado civil 472 das mulheres declararam-se casadas 266

dos casos as mulheres que conviviam com um companheiro fixo numa relaccedilatildeo

consensual e 54 possuem um ou dois filhos Quanto agrave escolaridade 581 dessas

mulheres natildeo concluiacuteram o ensino fundamental 128 concluiacuteram o ensino meacutedio e

a taxa de analfabetismo foi de 21 sendo que 558 desenvolvia algum tipo de

trabalho remunerado Os principais agressores satildeo os atuais maridos ou

companheiros das mulheres (734) e quase a totalidade dos casos (974)

ocorreu no ambiente domeacutestico Quanto agrave caracterizaccedilatildeo dos casos de violecircncia

prevalece a violecircncia emocional com 564 dos casos seguida pela violecircncia fiacutesica

com 321 Quanto ao tempo em que vivenciam situaccedilotildees de violecircncia 33 das

mulheres vecircm sofrendo agressotildees por periacuteodos de ateacute um ano e 204 dos casos

refere-se a mulheres que sofrem agressotildees haacute mais de 10 anos

Estudo realizado por Monteiro et al (2006) sobre o perfil de mulheres que

sofreram violecircncia atendidas em uma unidade de urgecircncia em Teresina Piauiacute

indicou que 78 encontrava-se na faixa etaacuteria entre 18 e 40 anos e que 40 delas

natildeo trabalhavam fora de casa desempenhando exclusivamente as tarefas

domeacutesticas relativas ao cuidado coma casa e filhos As agressotildees nos membros

superiores ocorreram com maior frequumlecircncia (44) seguida das agressotildees na face

(33) Revelou ainda que a maioria dessas mulheres natildeo relatou os motivos pelos

quais foram agredidas ainda que o aacutelcool tenha sido apontado em 19 dos casos

como o principal motivo desencadeador das agressotildees seguido do ciuacutemes

Tambeacutem haacute um grande nuacutemero de subnotificaccedilatildeo em relaccedilatildeo ao agressor (80)

19

possivelmente em funccedilatildeo da dependecircncia econocircmica e por medo de vinganccedila do

companheiro Quanto agraves condutas adotadas pelos profissionais de sauacutede a grande

maioria (83) limita-se ao atendimento de queixas de menor complexidade como

aquelas que exigiram sutura simples ou consulta meacutedica Recomendam ainda que o

apoio as viacutetimas de violecircncia deve ter iniacutecio no serviccedilo de urgecircncia de forma

articulada com outros serviccedilos que tratam da mesma questatildeo como as Delegacias

Especiais de Atendimento agrave Mulher (DEAM) os Conselhos de Direitos da Mulher

Abrigos e outras instituiccedilotildees

Mota Vasconcelos e Assis (2007) analisaram as informaccedilotildees das fichas de

atendimento de um centro especializado no atendimento a mulheres viacutetimas de

violecircncia no municiacutepio do Rio de Janeiro totalizando 684 fichas de atendimento

dessas mulheres Dessa anaacutelise os autores traccedilaram o perfil dessas mulheres as

quais apresentaram idade meacutedia de 37 anos Para os autores o baixo status

econocircmico a baixa escolaridade e consequumlentemente o acesso agrave informaccedilatildeo

podem ter sido condiccedilotildees facilitadoras para a ocorrecircncia de situaccedilotildees de violecircncia

domeacutestica contra mulheres pelo cocircnjuge na populaccedilatildeo analisada Por outro lado as

agressotildees fiacutesicas mais graves que ocorreram com mulheres que possuiacuteam maior

niacutevel de escolaridade podem ter sido potencializadas pelo fato de as mesmas natildeo

terem aceitado essa violecircncia de modo passivo implicando em um conflito ainda

maior e em agressotildees fiacutesicas mais graves O estudo evidenciou ainda que a

violecircncia domeacutestica contra a mulher envolve questotildees culturais e de gecircnero com

implicaccedilotildees nas questotildees relativas agrave conjugalidade Assim a violecircncia domeacutestica

contra a mulher estaacute vinculada ao tradicional controle masculino baseado no papel

de provedor cuja desigualdade de gecircnero potencializa conflitos e colabora para a

ocorrecircncia de situaccedilotildees de violecircncia de ordem fiacutesica psicoloacutegica ou moral

Pesquisa retrospectiva e documental desenvolvida por Leonsio et al (2008)

analisou 446 boletins de ocorrecircncia em uma Delegacia de Defesa da Mulher em

Ribeiratildeo Preto Satildeo Paulo Em seus resultados os autores destacaram que 3408 das

mulheres estavam em faixa etaacuteria acima de 35 anos 7578 eram da raccedila branca e

4417 delas eram solteiras Quanto agrave ocupaccedilatildeo 5874 dessas mulheres

exerciam algum tipo de trabalho remunerado formal ou informal e 3722 possuiacuteam

o ensino fundamental completo Outro aspecto importante evidenciado pelo estudo foi

20

que 5471 das mulheres agredidas demoraram de 1 a 15 dias entre a agressatildeo e o tempo

da denuacutencia formal e 4215 registraram a ocorrecircncia no mesmo dia na delegacia Em

7691 dos casos o ambiente domeacutestico foi o local em que essas agressotildees ocorreram

Quanto ao agressor foi observado nos boletins de ocorrecircncia investigados que em 4910

dos casos os parceiros foram os principais denunciados seguidos de ex-parceiros com

1816 das ocorrecircncias Dentre os motivos desencadeantes da agressatildeo 4462

corresponderam agrave recusa da separaccedilatildeo conjugal 1435 ciuacutemes e 1996 por outros

motivos como bebidasdrogas

Estudo realizado por Resende et al (2007) analisou registros e laudos

encaminhados ao setor de Odontologia do IML de Belo Horizonte sobre as lesotildees

bucomaxilares sofridas por mulheres vitimas de violecircncia domeacutestica A faixa etaacuteria

predominante das mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia foi de 20 a 39 anos

representando 704 do total sendo a idade meacutedia correspondente a 303 anos

Quanto agrave ocupaccedilatildeo 241 das mulheres realizavam trabalhos domeacutesticos 213

se intitulavam ldquodonas-de-casardquo e 14 trabalhavam no comeacutercio A maioria das

mulheres que sofreu agressotildees declarou-se solteira perfazendo um total de 63

enquanto que o percentual de casadas foi menor correspondendo apenas 204

Foi constatado o elevado percentual de 611 dos casos em que o agressor natildeo foi

identificado (611) em 25 o sujeito agressor foi o companheiro em 37 foram

familiares e em 74 foram conhecidos perfazendo um total de 361 contra 28

de violecircncia realizada por estranhos

A complexidade da problemaacutetica da violecircncia domeacutestica contra as mulheres

tem implicaccedilotildees em questotildees culturais e de gecircnero vinculada a construccedilatildeo social

de papeacuteis desiguais entre homens e mulheres que potencializa conflitos e colabora

para a ocorrecircncia de situaccedilotildees de violecircncia de ordem fiacutesica psicoloacutegica ou moral

Ainda nesse sentido costuma ser difiacutecil para a maioria das mulheres tomarem a

atitude de denunciar seus companheiros agressores e romper com a situaccedilatildeo de

violecircncia principalmente em funccedilatildeo do medo de vinganccedila e da dependecircncia

econocircmica agrave renda do marido

21

A VIOLEcircNCIA CONTRA A MULHER NA OacuteTICA DAS VITIMAS E DOS

PROFISSIONAIS DE SAUacuteDE

Estudo desenvolvido por Vieira et al (2009) sobre o conhecimento e atitudes

dos profissionais de sauacutede em relaccedilatildeo agrave violecircncia de gecircnero destaca a importacircncia

do atendimento de mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia nos serviccedilos de sauacutede jaacute que

este eacute muitas vezes o uacutenico local procurado pelas viacutetimas A maioria dos

profissionais que participou do estudo demonstrou bom conhecimento sobre a

definiccedilatildeo de violecircncia contra a mulher aleacutem de reconhecer como seu papel

profissional perguntar sobre violecircncia para as pacientes Indicou ainda que esses

profissionais acreditam que para uma melhor atenccedilatildeo agrave violecircncia deveria ser

implantado em sua rotina de trabalho um protocolo de enfrentamento da violecircncia

Os autores tambeacutem evidenciaram a necessidade maiores investimentos na

capacitaccedilatildeo e qualificaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede que devem estar aptos para

reconhecer e manejar os casos de violecircncia

Pesquisa realizada por De Ferrant Santos e Vieira (2009) sobre a percepccedilatildeo

dos meacutedicos de uma unidade baacutesica de Ribeiratildeo Preto Satildeo Paulo em relaccedilatildeo agrave

violecircncia domeacutestica contra a mulher revelou que a maior parte deles acredita que a

violecircncia psicoloacutegica eacute a mais grave pois a proacutepria mulher apresenta dificuldade em

reconhececirc-la como algo prejudicial agrave sua sauacutede a ponto de frequentemente

permanecer exposta agrave situaccedilatildeo durante anos a fio Os resultados indicam que os

meacutedicos detecircm alguns conhecimentos acerca dos tipos de violecircncia de gecircnero e satildeo

capazes de identificar e muitas vezes acolher as mulheres que estatildeo expostas agrave

situaccedilatildeo Contudo destacam uma seacuterie de dificuldades para atuarem frente a uma

usuaacuteria que apresenta essa problemaacutetica e reconhecem a falta de capacitaccedilatildeo

profissional uma vez que muitos deles reforccedilam a necessidade de um treinamento

voltado especificamente para os casos de violecircncia de gecircnero Da mesma forma que

apontam outras barreiras pessoais e institucionais que limitam sua atuaccedilatildeo tanto

em niacutevel preventivo como interventivo que muitas vezes os impedem de agir

adequadamente frente a uma situaccedilatildeo de violecircncia Entre elas destacam-se os

meacutedicos sentem-se impotentes frente agraves atitudes que a mulher possa vir a tomar

mesmo depois de orientada afirmam que temem tomar qualquer atitude por medo

22

da reaccedilatildeo do agressor Os autores sugerem a necessidade de um trabalho integrado

e em rede que ofereccedila uma resposta efetiva para o problema da violecircncia de

gecircnero Aleacutem disso eacute preciso investir na qualificaccedilatildeo dos outros profissionais de

sauacutede aleacutem dos meacutedicos para que se viabilize um atendimento multidisciplinar

para que os serviccedilos de sauacutede se constituam em espaccedilos de acolhimento e apoio

integrando-se efetivamente agrave rede de atendimento

Wilhelm e Tonet (2007) em seu estudo sobre a percepccedilatildeo de mulheres que

sofreram violecircncia domeacutestica em um municiacutepio do interior de Santa Catarina indicou

a ocorrecircncia de depressatildeo ansiedade medo e sentimento de baixa auto-estima Na

oacutetica dessas mulheres parte das agressotildees acontece somente no momento em que

seus companheiros estatildeo alcoolizados Aleacutem da violecircncia fiacutesica (tais como socos

arranhotildees puxotildees de cabelo arremesso de objetos chutes tapas e beliscotildees)

ocorrem as humilhaccedilotildees e a desqualificaccedilatildeo sendo ridicularizadas perante os

amigos do agressor sua famiacutelia e desautorizada perante os filhos Quanto ao

comportamento violento do companheiro este eacute justificado por fatores externos

deste modo desresponsabilizando-o como por exemplo as dificuldades

financeiras desemprego e uso de drogas dentre outros Muitos satildeo os motivos

pelos quais a mulher natildeo denuncia seu marido agressor passando a viver muitos

anos neste contexto de violecircncia dentre os quais destaca-se dependecircncia

financeira filhos fator cultural e ameaccedilas Da mesma forma todas demonstraram a

esperanccedila de que o companheiro mudasse em relaccedilatildeo ao seu comportamento

violento Aleacutem de poliacuteticas puacuteblicas mais efetivas par ao enfrentamento da violecircncia

domeacutestica Eacute necessaacuterio promover poliacuteticas puacuteblicas mais efetivas em relaccedilatildeo ao

enfrentamento da violecircncia domeacutestica bem como maiores investimentos em redes

de apoio social efetiva para a mulher e seus filhos as quais muitas vezes estatildeo

subjugadas ao seu agressor devido agrave dependecircncia econocircmica Em relaccedilatildeo a este eacute

importante promover grupos de homens com a finalidade de propiciar a discussatildeo

sobre violecircncia relaccedilotildees e gecircnero e formas alternativas de resoluccedilatildeo de conflitos

Estudo de Scaranto Biazevic e Michel (2007) sobre a percepccedilatildeo dos Agentes

Comunitaacuterios de Sauacutede (ACS) sobre a Violecircncia Domeacutestica contra a Mulher em um

municiacutepio do interior do Rio Grande do Sul identificou relatos de situaccedilotildees de

violecircncia domeacutestica contra a mulher cometida por seu companheiro seja fiacutesica

23

sexual psicoloacutegica ou econocircmica A obediecircncia aos maridoscompanheiros vai

desde o cuidado pessoal ateacute o desempenho sexual A vergonha pela violecircncia

sofrida eacute infinitamente maior do que a coragem da mulher para denunciar

Constatou-se que o ACS pode ser o elo entre a vergonha e a coragem para a

mulher denunciar o problema da violecircncia o que significa que ele parece ser de

fundamental importacircncia no acolhimento das anguacutestias dessas mulheres no

encorajamento para o relato de sofrimento na detecccedilatildeo da questatildeo da violecircncia

que pode estar acompanhada pela depressatildeo ansiedade ou ateacute mascarada por

algum tipo de queixa vaga e em consequumlecircncia fazer o encaminhamento de

referecircncia correto e eficiente na denuacutencia Eacute preciso dar subsiacutedios teoacuterico-praacuteticos

aos profissionais para que em seu trabalho cotidiano possam detectar situaccedilotildees de

violecircncia encontrar a forma de abordar as famiacutelias e dar encaminhamento tanto aos

casos de violecircncia quanto de uso de aacutelcooldrogas A violecircncia contra a mulher deve

ser considerada como questatildeo de sauacutede puacuteblica a partir do conceito ampliado de

sauacutede motivo pelo qual necessita ser alvo de poliacuteticas puacuteblicas efetivas e

consistentes assim como mecanismos de proteccedilatildeo agrave mulher viacutetima de violecircncia

tambeacutem precisam ser criados

Com base nos artigos analisados constatou-se que muitos profissionais tecircm

dificuldades em reconhecer a violecircncia como um problema de sauacutede devido agrave falta

de subsiacutedios teoacuterico-praacuteticos para a detecccedilatildeo de situaccedilotildees de violecircncia abordagem

adequada agraves viacutetimas e os devidos encaminhamentos para o atendimento desta

demanda

24

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Este estudo teve se propocircs a conhecer o que a literatura especializada em

sauacutede dos uacuteltimos dez anos disponiacutevel on line traz a respeito da violecircncia

domestica contra a mulher no periacuteodo de 2000 a 2009

Com base nos artigos analisados percebe-se que o baixo status econocircmico

o niacutevel de instruccedilatildeo e consequumlentemente o acesso agrave informaccedilatildeo podem ser

considerados como condiccedilotildees facilitadoras para a ocorrecircncia de situaccedilotildees de

violecircncia domeacutestica

Em muitos casos a dependecircncia econocircmica da mulher agrave renda do marido

impotildee a necessidade desta em ter de permanecer com ele mesmo diante de

situaccedilotildees de violecircncia

De modo geral os estudos analisadas indicaram os maridos ou companheiros

atuais das mulheres ou ainda seus ex-companheiros como os principais

agressores sendo o ambiente domeacutestico o local predominate destas agressotildees

Outro aspecto evidenciado nos achados desta pesquisa se refere ao fato de

que a maioria dessas mulheres natildeo relatou os motivos pelos quais foram agredidas

ainda que o aacutelcool tenha sido apontado como o principal motivo desencadeador das

agressotildees seguido do sentimento de ciuacutemes Tambeacutem se verificou o grande

nuacutemero de sub-notificaccedilatildeo dos casos de violecircncia contra as mulheres Assim infere-

se que possivelmente isto ocorra em funccedilatildeo da dependecircncia econocircmica e por

medo de vinganccedila

A natureza soacutecio-cultural e a subaacuterea multiprofissional prevalente nas

produccedilotildees analisadas evidenciaram a multiplicidade de aspectos relevantes a

temaacutetica da violecircncia como um complexo problema de sauacutede puacuteblica sinalizando

para a urgecircncia de um movimento reflexivo seja no acircmbito da formaccedilatildeo de

profissionais de sauacutede seja na praacutetica profissional para o enfrentamento desta

questatildeo

Destaca-se a importacircncia de pesquisa bibliograacuteficas para a sistematizaccedilatildeo

das produccedilotildees cientiacuteficas nacionais na temaacutetica violecircncia domestica contra a mulher

para o (re)conhecimento do estado da arte sobre a temaacutetica em anaacutelise fato este

25

fundamental para subsidiar futuras intervenccedilotildees no acircmbito das praacuteticas e serviccedilos

de sauacutede e da accedilatildeo social

A complexidade que envolve as questotildees relativas agrave violecircncia contra a mulher

exige accedilotildees capazes de dar conta das inuacutemeras demandas apresentadas o que

implica na articulaccedilatildeo entre as diferentes aacutereas de conhecimento e de atuaccedilatildeo

multiprofissional

Nessa loacutegica faz-se necessaacuterio maior investimento na qualificaccedilatildeo de

profissionais de sauacutede do serviccedilo social do direito entre outros para o

reconhecimento e identificaccedilatildeo dos sinais que possam indicar situaccedilotildees de violecircncia

contra as mulheres visando o acolhimento das mesmas natildeo apenas nos serviccedilos de

sauacutede mas em outros setores da sociedade Da mesma forma a criaccedilatildeo e

organizaccedilatildeo de serviccedilos multiprofissionais de atendimento agraves mulheres em situaccedilatildeo

de violecircncia para seu devido enfrentamento de modo que os mesmos estejam

articulados na loacutegica da intersetorialidade com os campos da sauacutede do serviccedilo

social e do direito no desenvolvimento de accedilotildees preventivas e assistenciais na

perspectiva da atenccedilatildeo integral agraves mulheres

Para aleacutem da organizaccedilatildeo de serviccedilos para o enfrentamento da violecircncia

contra as mulheres e apoio a essas viacutetimas evidencia-se tambeacutem a urgecircncia de

maior qualificaccedilatildeo sobre a temaacutetica de profissionais que atuam nesses campos para

que possam atender demandas dessa natureza de modo mais solidaacuterio

respeitando-se as subjetividades e singularidades implicadas nessas situaccedilotildees

Os Assistentes Sociais tecircm atuado como mediadores proporcionando a

escolha para as mulheres do que melhor lhes conveacutem Tal direcionamento vai ao

encontro da proposta aqui formulada na qual considera o profissional como sendo

um facilitador que em nome de valores como liberdade individual independecircncia e

autonomia fornece suporte ao processo de fortalecimento destas usuaacuterias ou seja

eacute o profissional que vecirc aleacutem do aparente (TAVARES 2008)

Sabe-se que jaacute existem leis especiacuteficas para o enfrentamento da violecircncia

contra as mulheres poreacutem ainda eacute preciso que as mesmas sejam incorporadas pela

sociedade como cultura poliacutetica para que accedilotildees mais efetivas sejam de fato

implementadas

26

Como estrateacutegia para a ampliaccedilatildeo do escopo das praacuteticas dessa natureza no

acircmbito das poliacuteticas puacuteblicas destaca-se a criaccedilatildeo de accedilotildees intersetoriais com

movimentos organizados de mulheres organizaccedilotildees governamentais e natildeo

governamentais de defesa aos direitos das mulheres serviccedilos de sauacutede e da accedilatildeo

social delegacias de policia organizaccedilotildees de bairros escolas dentre outros

segmentos sociais

Outra importante accedilatildeo se refere agrave incorporaccedilatildeo das questotildees relativas agrave

violecircncia e mais especificamente contra as mulheres foco deste estudo como um

tema transversal nas escolas o qual deve ser abordado natildeo apenas com alunos e

professores mas tambeacutem com as famiacutelias que integram a comunidade escolar

Para tanto a interlocuccedilatildeo do Serviccedilo Social com essa questatildeo se faz

necessaacuteria uma vez que a violecircncia domestica eacute um fenocircmeno social e portanto

deve ser enfrentada mediante o conjunto de estrateacutegias poliacuteticas e de intervenccedilatildeo

social direta

Desde esta perspectiva os profissionais do Serviccedilo Social devem intervir

diretamente na realidade social dos sujeitos tendo como pressuposto de atuaccedilatildeo a

articulaccedilatildeo do trabalho em redes promovendo a co-participaccedilatildeo e co-

responsabilizaccedilatildeo dos atores envolvidos nessa problemaacutetica desde a tomada de

decisotildees ateacute os encaminhamentos que se fizerem necessaacuterios para o enfrentamento

positivo e superaccedilatildeo de situaccedilotildees de violecircncia contra as mulheres

A partir de accedilotildees mais efetivas e da conscientizaccedilatildeo dos atores sociais de

que a violecircncia eacute hoje um problema de relevacircncia mundial e de sauacutede puacuteblica no

cenaacuterio brasileiro almeja-se a detecccedilatildeo precoce de situaccedilotildees de violecircncia

abordagem adequada e qualificada agraves viacutetimas e os devidos encaminhamento para o

atendimento desta demanda com eacutetica competecircncia e de forma mais humanizada

Atuaccedilatildeo esta pautada em valores societaacuterios em que homens e mulheres tenham

os mesmos direitos de cidadania buscando a superaccedilatildeo de todas as formas de

violecircncia preconceitos discriminaccedilotildees e desigualdades

27

REFEREcircNCIAS

BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Violecircncia intrafamiliar orientaccedilotildees para a praacutetica em serviccedilos Cadernos de Atenccedilatildeo Baacutesica n 8 BrasiacuteliaDF 2002 CABRAL F B OLIVEIRA D LL C de CECCIM R B O puerpeacuterio e a sauacutede da mulher vulnerabilidade e atenccedilatildeo baacutesica agrave sauacutede In Ensino e atenccedilatildeo agrave sauacutede da mulher aprendizados da integraccedilatildeo da educaccedilatildeo superior com a rede assistencial edCaxias do Sul EDUCS Editora da Universidade de Caxias do Sul 2008 p 137-157 CAMARGO M AQUINO S de (2003) Redes de cidadania e parcerias- Enfrentando a rota criacutetica Secretaria Especial de Poliacuteticas para as Mulheres Programa de prevenccedilatildeo assistecircncia e combate agrave violecircncia contra a mulher- plano nacional Brasiacutelia 2003 DrsquoOLIVEIRA A F SCHRAIBER L B Violecircncia Contra a Mulher a pesquisa e a intervenccedilatildeo Revista Promoccedilatildeo da Sauacutede n 6 80- 8 2002 DE FERRANTE FG SANTOS MA VIEIRA EM Violecircncia contra a mulher percepccedilatildeo dos meacutedicos das unidades baacutesicas de sauacutede da cidade de Ribeiratildeo Preto Satildeo Paulo Satildeo Paulo Interface - Comunic Saude Educ 13(31)287-99 outdez 2009

DOLIVEIRA AFPL SCHREIBER LB HANADA H DURANDJ Atenccedilatildeo integral agrave sauacutede de mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia de gecircnero ndash uma alternativa para a atenccedilatildeo primaacuteria em sauacutede Rio de Janeiro Ciecircnc Sauacutede Coletiva 14(4) julhoago 2009

GALVAtildeOFEANDRADESM Violecircncia contra a mulher anaacutelise de casos atendidos em serviccedilo de atenccedilatildeo agrave mulher em municiacutepio do Sul do Brasil Sauacutede e Sociedade 13(2)p89-99 maio-ago 2004 GIL A C Como Elaborar Projetos de Pesquisa 4 ed Satildeo Paulo Atlas 2009

LEONCIO LK ET AL O perfil das mulheres vitimizadas e seus agressores Rev enferm UERJ Rio de Janeiro 16(3)307-12 julset 2008 MEDINA ABC PENNA LHG Violecircncia na gestaccedilatildeo um estudo da produccedilatildeo cientiacutefica de 2000 a 2005 Esc Anna Nery 12(4)793-98 dez 2008 MENEGHEL ST INtildeIGUEZ L Contadores de histoacuterias praacuteticas discursivas e violecircncia de gecircnero Cad Sauacutede Puacuteblica Rio de Janeiro 23(8)1815-1824 ago 2007 MEYER D E Teorias e poliacuteticas de gecircnero fragmentos histoacutericos e desafios atuais Revista Brasileira de Enfermagem Brasiacutelia v57 n1 p13-8 janfev 2004

28

MINAYO M C et al Pesquisa social teoria meacutetodo criatividade Petroacutepolis Vozes 2002 MONTEIROCFS Arauacutejo TME NunesBMV LustosaAR BezerraCMJ A Violecircncia contra a mulher atendida em uma unidade de urgecircncia uma contribuiccedilatildeo da enfermagem Esc Anna Nery 10(2)273-9 ago 2006 MOTA JCMVASCONCELOS AGG ASSIS SG Anaacutelise de correspondecircncia como estrateacutegia para descriccedilatildeo do perfil da mulher viacutetima do parceiro atendida em serviccedilo especializado Ciecircncia e Sauacutede coletiva 12 (3)799890 2007 REZENDE EJC ET AL Lesotildees buco-dentais em mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia um estudo piloto de casos periciados no IML de Belo Horizonte MG Rev Bras Epidemiol 10(2) 202-14 2007 SCARANTO CAA BIAZEVICMGH MICHEL-CROSATOE Percepccedilatildeo dos Agentes Comunitaacuterios de Sauacutede sobre a Violecircncia Domeacutestica contra a Mulher Psicol ciecircnc Prof 27(4)694-705 2007 SCHRAIBER L B DOLIVEIRA A F L P Violecircncia contra mulheres interfaces com a Sauacutede Comunicaccedilatildeo Sauacutede Educaccedilatildeo v3 n5 1999 SILVA LL ET AL Violecircncia silenciosa violecircncia psicoloacutegica como condiccedilatildeo da violecircncia fiacutesica domeacutestica Interface - Comunic Sauacutede Educ v11 n21 p93-103 janabr 2007 SILVA LL ET AL Violecircncia silenciosa violecircncia psicoloacutegica como condiccedilatildeo da violecircncia fiacutesica domeacutestica Interface - Comunic Sauacutede Educ v11 n21 p93-103 janabr 2007 TAVARES F A Daacutes Laacutegrimas agrave Esperanccedila o processo de fortalecimento das mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia domeacutestica 2008 Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Serviccedilo Social Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica do Rio Grande do Sul Porto Alegre 2008 VIEIRAMEET AL Conhecimento e atitudes dos profissionais de sauacutede em relaccedilatildeo agrave violecircncia de gecircnero Rev Bras Epidemiol 12(4) 566-77 2009 WILHEL FA TONET J Percepccedilatildeo sobre a violecircncia domeacutestica na perspectiva de mulheres vitimadas Psicol Argum Curitiba 25 (51)401-412 outdez 2007

29

ANEXO 1 - Quadro analiacutetico ndash Violecircncia domestica contra a mulher e sauacutede publica ndash 2000-2009

Titulo Revista

Origem Subaacuterea de

conhecimento

Tipo Natureza Ano de

publicaccedilatildeo

Regiatildeo da

pesquisa

Violecircncia contra a mulher anaacutelise de casos atendidos em serviccedilo de atenccedilatildeo agrave mulher em municiacutepio do sul do Brasil Rev Sauacutede e Sociedade v13 n2 p89-99 maio-ago 2004

GALVAtildeOFEANDRADESM

Artigo Sociologia Pesquisa

investigaccedilatildeo

Qualitativo

sociocultural 2004 Regiatildeo Sul

A violecircncia contra a mulher atendida em unidade de urgecircncia uma contribuiccedilatildeo da enfermagem Esc Anna Nery R Enferm 2006 ago 10 (2) 273-9

MONTEIROCFS Arauacutejo TME NunesBMV LustosaAR BezerraCMJ

Artigo Enfermagem Pesquisa

Investigaccedilatildeo

Quantitativo

sociocultural 2006 Regiatildeo

Norte

Percepccedilatildeo dos Agentes Comunitaacuterios de Sauacutede sobre a Violecircncia Domeacutestica contra a Mulher Psicol ciecircnc prof27(4)694-705 2007

SCARANTO CAA BIAZEVICMGH MICHEL-CROSATOE

Artigo Psicologia Pesquisa

Investigaccedilatildeo

Qualitativo

sociocultural 2007 Regiatildeo Sul

Violecircncia silenciosa violecircncia psicoloacutegica como condiccedilatildeo da violecircncia fiacutesica domeacutestica

Artigo Psicologia Revisatildeo sociocultural 2007 Regiatildeo Sul

30

Interface-Comunic Sauacutede Educ v11 n21 p93-103 janabr 2007

SILVA LL ET AL

Qualitativa

Anaacutelise de correspondecircncia como estrateacutegia para descriccedilatildeo do perfil da mulher viacutetima do parceiro atendida em serviccedilo especializado Ciecircncia e Sauacutede coletiva12 (3)799890 2007

MOTA JCMVASCONCELOS AGG ASSIS SG

Artigo multiprofissional Pesquisa Qualiquanti

epidemioloacutegi

co

2007 Centro

Contadores de histoacuterias praacuteticas discursivas e violecircncia de gecircnero Cad Sauacutede Puacuteblica Rio de Janeiro 23(8)1815-1824 ago 2007

MENEGHEL ST INtildeIGUEZ L

Artigo multiprofissional Pesquisa Qualitativa

Sociocultural 2007 Regiatildeo sul

Lesotildees buccedilo-dentais em mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia um estudo piloto de casos periciados no IML de Belo Horizonte MG Rev Bras Epidemiol 2007 10(2) 202-14

REZENDE EJC ET AL

Artigo Odontologia Pesquisa

Documental

Clinico 2007 Regiatildeo

sudeste

Percepccedilatildeo sobre a violecircncia domeacutestica na perspectiva de mulheres vitimadas Psicol Argum Curitiba v 25 n 51 p 401-412 outdez 2007

WILHEL FA TONET J

Artigo Psicologia Pesquisa

qualitativa

Sociocultural 2007 Regiatildeo Sul

O perfil de mulheres vitimizadas e de seus agressores Rev enferm UERJ Rio de Janeiro 2008 julset

Artigo Enfermagem Pesquisa Sociocultural 2008 Regiatildeo

31

16(3)307-12

LEONCIO LK ET AL documental

quantitativa

sudeste

Violecircncia na gestaccedilatildeo um estudo da produccedilatildeo cientiacutefica de 2000 a 2005 Esc Anna Nery Rev Enferm 2008 dez 12 (4) 793-98

MEDINA ABC PENNA LHG

Artigo Enfermagem Pesquisa

qualitativa

Sociocultural 2008 Regiatildeo

Sudeste

Conhecimento e atitudes dos profissionais de sauacutede em relaccedilatildeo agrave violecircncia de gecircnero Rev Bras Epidemiol 2009 12(4) 566-77

VIEIRAMEET AL

Artigo Multidisciplinar Pesquisa Qualitativa

Sociocultural 2009 Regiatildeo Sudeste

Violecircncia contra a mulher percepccedilatildeo dos meacutedicos das unidades baacutesicas de sauacutede da cidade de Ribeiratildeo Preto Satildeo Paulo Interface - Comunic Saude Educ v13 n31 p287-99 outdez 2009

DE FERRANTE FG SANTOS MA VIEIRA EM

Artigo Multidisciplinar Pesquisa Qualitativa

Sociocultural 2009 Regiatildeo Sudeste

32

33

14

A anaacutelise dos dados se deu pela teacutecnica de anaacutelise temaacutetica de Minayo

(2002) definida como a descoberta dos nuacutecleos de sentidos que constituem uma

comunicaccedilatildeo acerca da frequumlecircncia ou da presenccedila de algum significado para o

objeto que seraacute analisado Este meacutetodo de anaacutelise eacute constituiacutedo por trecircs etapas a

preacute-anaacutelise em que ocorre a ordenaccedilatildeo dos dados obtidos a exploraccedilatildeo do

material em que os dados satildeo classificados de forma a alcanccedilar o nuacutecleo de

compreensatildeo do texto por meio da formulaccedilatildeo de categorias e o tratamento dos

resultados obtidos e interpretaccedilatildeo em que se articulam os dados apreendidos ao

referencial teoacuterico visando responder as questotildees da pesquisa

15

APRESENTACcedilAtildeO E DISCUSSAtildeO DOS RESULTADOS

Para a categorizaccedilatildeo e anaacutelise dos doze artigos cientiacuteficos selecionados foi

elaborado um quadro analiacutetico (Anexo 1) composto pelas variaacuteveis titulo origem

subaacuterea de conhecimento tipo natureza ano de publicaccedilatildeo regiatildeo da pesquisa

O mapeamento das produccedilotildees apontou a subaacuterea multiprofissional como de

maior concentraccedilatildeo na produccedilatildeo de artigos cientiacuteficos sendo que a maioria foi de

produccedilotildees socioculturais e apenas um artigo de natureza clinica se mostrando

convergente agrave aacuterea de odontologia

Com relaccedilatildeo ao tipo de pesquisa a abordagem mais utilizada foi do tipo

qualitativa Quanto ao recorte temporal adotado a primeira produccedilatildeo selecionada foi

do ano de 2004 sendo que a maior concentraccedilatildeo se deu no ano de 2007 com cinco

(5) artigos

Quanto agraves regiotildees do paiacutes em que esses artigos foram produzidos observou-

se maior concentraccedilatildeo dessas publicaccedilotildees na regiatildeo Sudeste com seis (6) artigos

cinco (5) artigos na regiatildeo Sul e apenas um (1) artigo na regiatildeo nordeste Ainda

com relaccedilatildeo agrave regionalidade desses artigos destaca-se que trecircs dos artigos

produzidos na regiatildeo sudeste do paiacutes foram desenvolvidos na cidade de Ribeiratildeo

PretoSP dos quais dois abordavam a perspectiva dos profissionais de sauacutede em

relaccedilatildeo e violecircncia domestica e o outro o perfil das vitimas de violecircncia

Do processo de anaacutelise dos achados da pesquisa emergiram trecircs categorias

sendo que os doze artigos foram categorizados em Violecircncia domeacutestica e de

gecircnero praacuteticas discursivas Perfil das mulheres que sofreram violecircncia e A violecircncia

na oacutetica dos profissionais de sauacutede

VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E DE GEcircNERO PRAacuteTICAS DISCURSIVAS

Medina e Penna (2008) em estudo bibliograacutefico que analisou quatorze (14)

produccedilotildees entre os anos de 2000 e 2005 destacaram o contexto soacutecio-cultural da

violecircncia domeacutestica no periacuteodo gestacional como um fator importante no

desenvolvimento desta no acircmbito da famiacutelia Tambeacutem ressaltam que a violecircncia

vivenciada pela gestante ainda eacute uma situaccedilatildeo de difiacutecil abordagem nas relaccedilotildees

16

pessoais e profissionais O estudo indicou ainda que mulheres que vivenciam

situaccedilotildees de violecircncia na gestaccedilatildeo se sentem coibidas em denunciar agressotildees

sofridas pelos parceiros ou familiares Da mesma forma em que evidenciou

processos de naturalizaccedilatildeo e de invisibilidade da violecircncia na gestaccedilatildeo na medida

em que muitas situaccedilotildees dessa natureza nem sempre satildeo percebidas e

reconhecidas como atos violentos pelas mulheres que a vivenciam como tambeacutem

pelos profissionais de sauacutede que as assistem

Pesquisa realizada por Silva et al (2007) que analisou os tipos de violecircncia

domeacutestica indicou que a violecircncia psicoloacutegica eacute o ponto inicial que deflagra a

violecircncia Para os autores a prevenccedilatildeo de qualquer tipo de situaccedilatildeo de violecircncia

vivida no acircmbito domeacutestico deve passar pela compreensatildeo de que estrateacutegias que

visem coibir situaccedilotildees de violecircncia psicoloacutegica implicam diretamente na minimizaccedilatildeo

dos demais tipos de violecircncias Destacam ainda que outras accedilotildees importantes

como palestras e maior discussatildeo sobre a temaacutetica em escolas de ensino

fundamental e meacutedio da rede puacuteblica e universidades que abordem a temaacutetica da

violecircncia na perspectiva dos direitos humanos bem como sobre serviccedilos de apoio

existentes e possibilidades de enfrentamento desta demanda devem ser

incentivadas

Estudo publicado por Meneghel e Intildeiguez (2007) que analisou oficina de

contadores de histoacuterias realizada no Centro Ecumecircnico de Assessoria e

Capacitaccedilatildeo de Satildeo Leopoldo (CECA-SL) a qual teve como tema gerador das

discussotildees as questotildees de gecircnero Dessas discussotildees foram escolhidas histoacuterias

para comporem essas narrativas nas quais as mulheres contavam episoacutedios de

violecircncia ligados agraves suas trajetoacuterias pessoais e afirmavam que a violecircncia de gecircnero

acontece em qualquer classe social escolaridade ou raccedila Na medida em que se

posicionavam criticamente em relaccedilatildeo ao sexismomachismo essas mulheres

afirmavam que eram obrigadas a abdicar de si mesmas natildeo podiam construir

projetos de vida mais autocircnomos devendo sempre ceder agraves vontades do homem

(maridocompanheiro) permanecendo submissas a ele Essa subordinaccedilatildeo agrave

autoridade masculina poderia ser potencializada ou minimizada na medida em que

essas mulheres dispusessem ou natildeo de acesso a informaccedilotildees que favoreccedilam o

17

entendimento de sua posiccedilatildeo como sujeito de direitos dentre os quais o de uma

vida sem violecircncia

Com base nos estudos analisados percebeu-se que a violecircncia domeacutestica

contra as mulheres envolve questotildees culturais e de gecircnero Nesse sentido a

prevenccedilatildeo ou minimizaccedilatildeo de situaccedilotildees relativas agrave violecircncia domeacutestica requer accedilotildees

intersetoriais que mobilizem os diversos segmentos da sociedade para que

conjuntamente atuem de forma proacute-ativa no enfrentamento desta problemaacutetica

Uma estrateacutegia importante seria a inclusatildeo da temaacutetica como um tema

transversal nas escolas a ser abordado natildeo apenas com alunos e professores mas

tambeacutem com as famiacutelias que integram a comunidade escolar

Para aleacutem da organizaccedilatildeo de serviccedilos para o enfrentamento da violecircncia

contra as mulheres e apoio a essas viacutetimas evidencia-se tambeacutem a necessidade de

maior qualificaccedilatildeo sobre a temaacutetica de profissionais que atuam no campo da sauacutede

e do serviccedilo social para que possam atender esta demanda com eacutetica competecircncia

e de forma mais humanizada Atuaccedilatildeo esta pautada em valores societaacuterios em que

homens e mulheres tenham os mesmos direitos de cidadania buscando a

superaccedilatildeo de todas as formas de violecircncia preconceitos discriminaccedilotildees e

desigualdades

18

PERFIL DAS MULHERES QUE SOFRERAM VIOLEcircNCIA

A maioria das produccedilotildees traccedilou o perfil das mulheres vitimas de violecircncia

domeacutestica que procuram atendimento em serviccedilos de sauacutede tendo como variaacuteveis a

faixa etaacuteria profissatildeo estado civil escolaridade dentre outros

Galvatildeo e Andrade (2004) pesquisaram o perfil de mulheres em situaccedilatildeo de

violecircncia atendidas em um Centro de Atendimento agrave Mulher (CAM) em Londrina

Paranaacute a partir de informaccedilotildees extraiacutedas das fichas desses atendimentos A faixa

etaacuteria que predominou entre as mulheres atendidas no CAM foi agrave de 30 a 39 anos

seguida da faixa etaacuteria de 20 a 29 anos sendo que a meacutedia de idade foi de 34 anos

Com relaccedilatildeo ao estado civil 472 das mulheres declararam-se casadas 266

dos casos as mulheres que conviviam com um companheiro fixo numa relaccedilatildeo

consensual e 54 possuem um ou dois filhos Quanto agrave escolaridade 581 dessas

mulheres natildeo concluiacuteram o ensino fundamental 128 concluiacuteram o ensino meacutedio e

a taxa de analfabetismo foi de 21 sendo que 558 desenvolvia algum tipo de

trabalho remunerado Os principais agressores satildeo os atuais maridos ou

companheiros das mulheres (734) e quase a totalidade dos casos (974)

ocorreu no ambiente domeacutestico Quanto agrave caracterizaccedilatildeo dos casos de violecircncia

prevalece a violecircncia emocional com 564 dos casos seguida pela violecircncia fiacutesica

com 321 Quanto ao tempo em que vivenciam situaccedilotildees de violecircncia 33 das

mulheres vecircm sofrendo agressotildees por periacuteodos de ateacute um ano e 204 dos casos

refere-se a mulheres que sofrem agressotildees haacute mais de 10 anos

Estudo realizado por Monteiro et al (2006) sobre o perfil de mulheres que

sofreram violecircncia atendidas em uma unidade de urgecircncia em Teresina Piauiacute

indicou que 78 encontrava-se na faixa etaacuteria entre 18 e 40 anos e que 40 delas

natildeo trabalhavam fora de casa desempenhando exclusivamente as tarefas

domeacutesticas relativas ao cuidado coma casa e filhos As agressotildees nos membros

superiores ocorreram com maior frequumlecircncia (44) seguida das agressotildees na face

(33) Revelou ainda que a maioria dessas mulheres natildeo relatou os motivos pelos

quais foram agredidas ainda que o aacutelcool tenha sido apontado em 19 dos casos

como o principal motivo desencadeador das agressotildees seguido do ciuacutemes

Tambeacutem haacute um grande nuacutemero de subnotificaccedilatildeo em relaccedilatildeo ao agressor (80)

19

possivelmente em funccedilatildeo da dependecircncia econocircmica e por medo de vinganccedila do

companheiro Quanto agraves condutas adotadas pelos profissionais de sauacutede a grande

maioria (83) limita-se ao atendimento de queixas de menor complexidade como

aquelas que exigiram sutura simples ou consulta meacutedica Recomendam ainda que o

apoio as viacutetimas de violecircncia deve ter iniacutecio no serviccedilo de urgecircncia de forma

articulada com outros serviccedilos que tratam da mesma questatildeo como as Delegacias

Especiais de Atendimento agrave Mulher (DEAM) os Conselhos de Direitos da Mulher

Abrigos e outras instituiccedilotildees

Mota Vasconcelos e Assis (2007) analisaram as informaccedilotildees das fichas de

atendimento de um centro especializado no atendimento a mulheres viacutetimas de

violecircncia no municiacutepio do Rio de Janeiro totalizando 684 fichas de atendimento

dessas mulheres Dessa anaacutelise os autores traccedilaram o perfil dessas mulheres as

quais apresentaram idade meacutedia de 37 anos Para os autores o baixo status

econocircmico a baixa escolaridade e consequumlentemente o acesso agrave informaccedilatildeo

podem ter sido condiccedilotildees facilitadoras para a ocorrecircncia de situaccedilotildees de violecircncia

domeacutestica contra mulheres pelo cocircnjuge na populaccedilatildeo analisada Por outro lado as

agressotildees fiacutesicas mais graves que ocorreram com mulheres que possuiacuteam maior

niacutevel de escolaridade podem ter sido potencializadas pelo fato de as mesmas natildeo

terem aceitado essa violecircncia de modo passivo implicando em um conflito ainda

maior e em agressotildees fiacutesicas mais graves O estudo evidenciou ainda que a

violecircncia domeacutestica contra a mulher envolve questotildees culturais e de gecircnero com

implicaccedilotildees nas questotildees relativas agrave conjugalidade Assim a violecircncia domeacutestica

contra a mulher estaacute vinculada ao tradicional controle masculino baseado no papel

de provedor cuja desigualdade de gecircnero potencializa conflitos e colabora para a

ocorrecircncia de situaccedilotildees de violecircncia de ordem fiacutesica psicoloacutegica ou moral

Pesquisa retrospectiva e documental desenvolvida por Leonsio et al (2008)

analisou 446 boletins de ocorrecircncia em uma Delegacia de Defesa da Mulher em

Ribeiratildeo Preto Satildeo Paulo Em seus resultados os autores destacaram que 3408 das

mulheres estavam em faixa etaacuteria acima de 35 anos 7578 eram da raccedila branca e

4417 delas eram solteiras Quanto agrave ocupaccedilatildeo 5874 dessas mulheres

exerciam algum tipo de trabalho remunerado formal ou informal e 3722 possuiacuteam

o ensino fundamental completo Outro aspecto importante evidenciado pelo estudo foi

20

que 5471 das mulheres agredidas demoraram de 1 a 15 dias entre a agressatildeo e o tempo

da denuacutencia formal e 4215 registraram a ocorrecircncia no mesmo dia na delegacia Em

7691 dos casos o ambiente domeacutestico foi o local em que essas agressotildees ocorreram

Quanto ao agressor foi observado nos boletins de ocorrecircncia investigados que em 4910

dos casos os parceiros foram os principais denunciados seguidos de ex-parceiros com

1816 das ocorrecircncias Dentre os motivos desencadeantes da agressatildeo 4462

corresponderam agrave recusa da separaccedilatildeo conjugal 1435 ciuacutemes e 1996 por outros

motivos como bebidasdrogas

Estudo realizado por Resende et al (2007) analisou registros e laudos

encaminhados ao setor de Odontologia do IML de Belo Horizonte sobre as lesotildees

bucomaxilares sofridas por mulheres vitimas de violecircncia domeacutestica A faixa etaacuteria

predominante das mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia foi de 20 a 39 anos

representando 704 do total sendo a idade meacutedia correspondente a 303 anos

Quanto agrave ocupaccedilatildeo 241 das mulheres realizavam trabalhos domeacutesticos 213

se intitulavam ldquodonas-de-casardquo e 14 trabalhavam no comeacutercio A maioria das

mulheres que sofreu agressotildees declarou-se solteira perfazendo um total de 63

enquanto que o percentual de casadas foi menor correspondendo apenas 204

Foi constatado o elevado percentual de 611 dos casos em que o agressor natildeo foi

identificado (611) em 25 o sujeito agressor foi o companheiro em 37 foram

familiares e em 74 foram conhecidos perfazendo um total de 361 contra 28

de violecircncia realizada por estranhos

A complexidade da problemaacutetica da violecircncia domeacutestica contra as mulheres

tem implicaccedilotildees em questotildees culturais e de gecircnero vinculada a construccedilatildeo social

de papeacuteis desiguais entre homens e mulheres que potencializa conflitos e colabora

para a ocorrecircncia de situaccedilotildees de violecircncia de ordem fiacutesica psicoloacutegica ou moral

Ainda nesse sentido costuma ser difiacutecil para a maioria das mulheres tomarem a

atitude de denunciar seus companheiros agressores e romper com a situaccedilatildeo de

violecircncia principalmente em funccedilatildeo do medo de vinganccedila e da dependecircncia

econocircmica agrave renda do marido

21

A VIOLEcircNCIA CONTRA A MULHER NA OacuteTICA DAS VITIMAS E DOS

PROFISSIONAIS DE SAUacuteDE

Estudo desenvolvido por Vieira et al (2009) sobre o conhecimento e atitudes

dos profissionais de sauacutede em relaccedilatildeo agrave violecircncia de gecircnero destaca a importacircncia

do atendimento de mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia nos serviccedilos de sauacutede jaacute que

este eacute muitas vezes o uacutenico local procurado pelas viacutetimas A maioria dos

profissionais que participou do estudo demonstrou bom conhecimento sobre a

definiccedilatildeo de violecircncia contra a mulher aleacutem de reconhecer como seu papel

profissional perguntar sobre violecircncia para as pacientes Indicou ainda que esses

profissionais acreditam que para uma melhor atenccedilatildeo agrave violecircncia deveria ser

implantado em sua rotina de trabalho um protocolo de enfrentamento da violecircncia

Os autores tambeacutem evidenciaram a necessidade maiores investimentos na

capacitaccedilatildeo e qualificaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede que devem estar aptos para

reconhecer e manejar os casos de violecircncia

Pesquisa realizada por De Ferrant Santos e Vieira (2009) sobre a percepccedilatildeo

dos meacutedicos de uma unidade baacutesica de Ribeiratildeo Preto Satildeo Paulo em relaccedilatildeo agrave

violecircncia domeacutestica contra a mulher revelou que a maior parte deles acredita que a

violecircncia psicoloacutegica eacute a mais grave pois a proacutepria mulher apresenta dificuldade em

reconhececirc-la como algo prejudicial agrave sua sauacutede a ponto de frequentemente

permanecer exposta agrave situaccedilatildeo durante anos a fio Os resultados indicam que os

meacutedicos detecircm alguns conhecimentos acerca dos tipos de violecircncia de gecircnero e satildeo

capazes de identificar e muitas vezes acolher as mulheres que estatildeo expostas agrave

situaccedilatildeo Contudo destacam uma seacuterie de dificuldades para atuarem frente a uma

usuaacuteria que apresenta essa problemaacutetica e reconhecem a falta de capacitaccedilatildeo

profissional uma vez que muitos deles reforccedilam a necessidade de um treinamento

voltado especificamente para os casos de violecircncia de gecircnero Da mesma forma que

apontam outras barreiras pessoais e institucionais que limitam sua atuaccedilatildeo tanto

em niacutevel preventivo como interventivo que muitas vezes os impedem de agir

adequadamente frente a uma situaccedilatildeo de violecircncia Entre elas destacam-se os

meacutedicos sentem-se impotentes frente agraves atitudes que a mulher possa vir a tomar

mesmo depois de orientada afirmam que temem tomar qualquer atitude por medo

22

da reaccedilatildeo do agressor Os autores sugerem a necessidade de um trabalho integrado

e em rede que ofereccedila uma resposta efetiva para o problema da violecircncia de

gecircnero Aleacutem disso eacute preciso investir na qualificaccedilatildeo dos outros profissionais de

sauacutede aleacutem dos meacutedicos para que se viabilize um atendimento multidisciplinar

para que os serviccedilos de sauacutede se constituam em espaccedilos de acolhimento e apoio

integrando-se efetivamente agrave rede de atendimento

Wilhelm e Tonet (2007) em seu estudo sobre a percepccedilatildeo de mulheres que

sofreram violecircncia domeacutestica em um municiacutepio do interior de Santa Catarina indicou

a ocorrecircncia de depressatildeo ansiedade medo e sentimento de baixa auto-estima Na

oacutetica dessas mulheres parte das agressotildees acontece somente no momento em que

seus companheiros estatildeo alcoolizados Aleacutem da violecircncia fiacutesica (tais como socos

arranhotildees puxotildees de cabelo arremesso de objetos chutes tapas e beliscotildees)

ocorrem as humilhaccedilotildees e a desqualificaccedilatildeo sendo ridicularizadas perante os

amigos do agressor sua famiacutelia e desautorizada perante os filhos Quanto ao

comportamento violento do companheiro este eacute justificado por fatores externos

deste modo desresponsabilizando-o como por exemplo as dificuldades

financeiras desemprego e uso de drogas dentre outros Muitos satildeo os motivos

pelos quais a mulher natildeo denuncia seu marido agressor passando a viver muitos

anos neste contexto de violecircncia dentre os quais destaca-se dependecircncia

financeira filhos fator cultural e ameaccedilas Da mesma forma todas demonstraram a

esperanccedila de que o companheiro mudasse em relaccedilatildeo ao seu comportamento

violento Aleacutem de poliacuteticas puacuteblicas mais efetivas par ao enfrentamento da violecircncia

domeacutestica Eacute necessaacuterio promover poliacuteticas puacuteblicas mais efetivas em relaccedilatildeo ao

enfrentamento da violecircncia domeacutestica bem como maiores investimentos em redes

de apoio social efetiva para a mulher e seus filhos as quais muitas vezes estatildeo

subjugadas ao seu agressor devido agrave dependecircncia econocircmica Em relaccedilatildeo a este eacute

importante promover grupos de homens com a finalidade de propiciar a discussatildeo

sobre violecircncia relaccedilotildees e gecircnero e formas alternativas de resoluccedilatildeo de conflitos

Estudo de Scaranto Biazevic e Michel (2007) sobre a percepccedilatildeo dos Agentes

Comunitaacuterios de Sauacutede (ACS) sobre a Violecircncia Domeacutestica contra a Mulher em um

municiacutepio do interior do Rio Grande do Sul identificou relatos de situaccedilotildees de

violecircncia domeacutestica contra a mulher cometida por seu companheiro seja fiacutesica

23

sexual psicoloacutegica ou econocircmica A obediecircncia aos maridoscompanheiros vai

desde o cuidado pessoal ateacute o desempenho sexual A vergonha pela violecircncia

sofrida eacute infinitamente maior do que a coragem da mulher para denunciar

Constatou-se que o ACS pode ser o elo entre a vergonha e a coragem para a

mulher denunciar o problema da violecircncia o que significa que ele parece ser de

fundamental importacircncia no acolhimento das anguacutestias dessas mulheres no

encorajamento para o relato de sofrimento na detecccedilatildeo da questatildeo da violecircncia

que pode estar acompanhada pela depressatildeo ansiedade ou ateacute mascarada por

algum tipo de queixa vaga e em consequumlecircncia fazer o encaminhamento de

referecircncia correto e eficiente na denuacutencia Eacute preciso dar subsiacutedios teoacuterico-praacuteticos

aos profissionais para que em seu trabalho cotidiano possam detectar situaccedilotildees de

violecircncia encontrar a forma de abordar as famiacutelias e dar encaminhamento tanto aos

casos de violecircncia quanto de uso de aacutelcooldrogas A violecircncia contra a mulher deve

ser considerada como questatildeo de sauacutede puacuteblica a partir do conceito ampliado de

sauacutede motivo pelo qual necessita ser alvo de poliacuteticas puacuteblicas efetivas e

consistentes assim como mecanismos de proteccedilatildeo agrave mulher viacutetima de violecircncia

tambeacutem precisam ser criados

Com base nos artigos analisados constatou-se que muitos profissionais tecircm

dificuldades em reconhecer a violecircncia como um problema de sauacutede devido agrave falta

de subsiacutedios teoacuterico-praacuteticos para a detecccedilatildeo de situaccedilotildees de violecircncia abordagem

adequada agraves viacutetimas e os devidos encaminhamentos para o atendimento desta

demanda

24

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Este estudo teve se propocircs a conhecer o que a literatura especializada em

sauacutede dos uacuteltimos dez anos disponiacutevel on line traz a respeito da violecircncia

domestica contra a mulher no periacuteodo de 2000 a 2009

Com base nos artigos analisados percebe-se que o baixo status econocircmico

o niacutevel de instruccedilatildeo e consequumlentemente o acesso agrave informaccedilatildeo podem ser

considerados como condiccedilotildees facilitadoras para a ocorrecircncia de situaccedilotildees de

violecircncia domeacutestica

Em muitos casos a dependecircncia econocircmica da mulher agrave renda do marido

impotildee a necessidade desta em ter de permanecer com ele mesmo diante de

situaccedilotildees de violecircncia

De modo geral os estudos analisadas indicaram os maridos ou companheiros

atuais das mulheres ou ainda seus ex-companheiros como os principais

agressores sendo o ambiente domeacutestico o local predominate destas agressotildees

Outro aspecto evidenciado nos achados desta pesquisa se refere ao fato de

que a maioria dessas mulheres natildeo relatou os motivos pelos quais foram agredidas

ainda que o aacutelcool tenha sido apontado como o principal motivo desencadeador das

agressotildees seguido do sentimento de ciuacutemes Tambeacutem se verificou o grande

nuacutemero de sub-notificaccedilatildeo dos casos de violecircncia contra as mulheres Assim infere-

se que possivelmente isto ocorra em funccedilatildeo da dependecircncia econocircmica e por

medo de vinganccedila

A natureza soacutecio-cultural e a subaacuterea multiprofissional prevalente nas

produccedilotildees analisadas evidenciaram a multiplicidade de aspectos relevantes a

temaacutetica da violecircncia como um complexo problema de sauacutede puacuteblica sinalizando

para a urgecircncia de um movimento reflexivo seja no acircmbito da formaccedilatildeo de

profissionais de sauacutede seja na praacutetica profissional para o enfrentamento desta

questatildeo

Destaca-se a importacircncia de pesquisa bibliograacuteficas para a sistematizaccedilatildeo

das produccedilotildees cientiacuteficas nacionais na temaacutetica violecircncia domestica contra a mulher

para o (re)conhecimento do estado da arte sobre a temaacutetica em anaacutelise fato este

25

fundamental para subsidiar futuras intervenccedilotildees no acircmbito das praacuteticas e serviccedilos

de sauacutede e da accedilatildeo social

A complexidade que envolve as questotildees relativas agrave violecircncia contra a mulher

exige accedilotildees capazes de dar conta das inuacutemeras demandas apresentadas o que

implica na articulaccedilatildeo entre as diferentes aacutereas de conhecimento e de atuaccedilatildeo

multiprofissional

Nessa loacutegica faz-se necessaacuterio maior investimento na qualificaccedilatildeo de

profissionais de sauacutede do serviccedilo social do direito entre outros para o

reconhecimento e identificaccedilatildeo dos sinais que possam indicar situaccedilotildees de violecircncia

contra as mulheres visando o acolhimento das mesmas natildeo apenas nos serviccedilos de

sauacutede mas em outros setores da sociedade Da mesma forma a criaccedilatildeo e

organizaccedilatildeo de serviccedilos multiprofissionais de atendimento agraves mulheres em situaccedilatildeo

de violecircncia para seu devido enfrentamento de modo que os mesmos estejam

articulados na loacutegica da intersetorialidade com os campos da sauacutede do serviccedilo

social e do direito no desenvolvimento de accedilotildees preventivas e assistenciais na

perspectiva da atenccedilatildeo integral agraves mulheres

Para aleacutem da organizaccedilatildeo de serviccedilos para o enfrentamento da violecircncia

contra as mulheres e apoio a essas viacutetimas evidencia-se tambeacutem a urgecircncia de

maior qualificaccedilatildeo sobre a temaacutetica de profissionais que atuam nesses campos para

que possam atender demandas dessa natureza de modo mais solidaacuterio

respeitando-se as subjetividades e singularidades implicadas nessas situaccedilotildees

Os Assistentes Sociais tecircm atuado como mediadores proporcionando a

escolha para as mulheres do que melhor lhes conveacutem Tal direcionamento vai ao

encontro da proposta aqui formulada na qual considera o profissional como sendo

um facilitador que em nome de valores como liberdade individual independecircncia e

autonomia fornece suporte ao processo de fortalecimento destas usuaacuterias ou seja

eacute o profissional que vecirc aleacutem do aparente (TAVARES 2008)

Sabe-se que jaacute existem leis especiacuteficas para o enfrentamento da violecircncia

contra as mulheres poreacutem ainda eacute preciso que as mesmas sejam incorporadas pela

sociedade como cultura poliacutetica para que accedilotildees mais efetivas sejam de fato

implementadas

26

Como estrateacutegia para a ampliaccedilatildeo do escopo das praacuteticas dessa natureza no

acircmbito das poliacuteticas puacuteblicas destaca-se a criaccedilatildeo de accedilotildees intersetoriais com

movimentos organizados de mulheres organizaccedilotildees governamentais e natildeo

governamentais de defesa aos direitos das mulheres serviccedilos de sauacutede e da accedilatildeo

social delegacias de policia organizaccedilotildees de bairros escolas dentre outros

segmentos sociais

Outra importante accedilatildeo se refere agrave incorporaccedilatildeo das questotildees relativas agrave

violecircncia e mais especificamente contra as mulheres foco deste estudo como um

tema transversal nas escolas o qual deve ser abordado natildeo apenas com alunos e

professores mas tambeacutem com as famiacutelias que integram a comunidade escolar

Para tanto a interlocuccedilatildeo do Serviccedilo Social com essa questatildeo se faz

necessaacuteria uma vez que a violecircncia domestica eacute um fenocircmeno social e portanto

deve ser enfrentada mediante o conjunto de estrateacutegias poliacuteticas e de intervenccedilatildeo

social direta

Desde esta perspectiva os profissionais do Serviccedilo Social devem intervir

diretamente na realidade social dos sujeitos tendo como pressuposto de atuaccedilatildeo a

articulaccedilatildeo do trabalho em redes promovendo a co-participaccedilatildeo e co-

responsabilizaccedilatildeo dos atores envolvidos nessa problemaacutetica desde a tomada de

decisotildees ateacute os encaminhamentos que se fizerem necessaacuterios para o enfrentamento

positivo e superaccedilatildeo de situaccedilotildees de violecircncia contra as mulheres

A partir de accedilotildees mais efetivas e da conscientizaccedilatildeo dos atores sociais de

que a violecircncia eacute hoje um problema de relevacircncia mundial e de sauacutede puacuteblica no

cenaacuterio brasileiro almeja-se a detecccedilatildeo precoce de situaccedilotildees de violecircncia

abordagem adequada e qualificada agraves viacutetimas e os devidos encaminhamento para o

atendimento desta demanda com eacutetica competecircncia e de forma mais humanizada

Atuaccedilatildeo esta pautada em valores societaacuterios em que homens e mulheres tenham

os mesmos direitos de cidadania buscando a superaccedilatildeo de todas as formas de

violecircncia preconceitos discriminaccedilotildees e desigualdades

27

REFEREcircNCIAS

BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Violecircncia intrafamiliar orientaccedilotildees para a praacutetica em serviccedilos Cadernos de Atenccedilatildeo Baacutesica n 8 BrasiacuteliaDF 2002 CABRAL F B OLIVEIRA D LL C de CECCIM R B O puerpeacuterio e a sauacutede da mulher vulnerabilidade e atenccedilatildeo baacutesica agrave sauacutede In Ensino e atenccedilatildeo agrave sauacutede da mulher aprendizados da integraccedilatildeo da educaccedilatildeo superior com a rede assistencial edCaxias do Sul EDUCS Editora da Universidade de Caxias do Sul 2008 p 137-157 CAMARGO M AQUINO S de (2003) Redes de cidadania e parcerias- Enfrentando a rota criacutetica Secretaria Especial de Poliacuteticas para as Mulheres Programa de prevenccedilatildeo assistecircncia e combate agrave violecircncia contra a mulher- plano nacional Brasiacutelia 2003 DrsquoOLIVEIRA A F SCHRAIBER L B Violecircncia Contra a Mulher a pesquisa e a intervenccedilatildeo Revista Promoccedilatildeo da Sauacutede n 6 80- 8 2002 DE FERRANTE FG SANTOS MA VIEIRA EM Violecircncia contra a mulher percepccedilatildeo dos meacutedicos das unidades baacutesicas de sauacutede da cidade de Ribeiratildeo Preto Satildeo Paulo Satildeo Paulo Interface - Comunic Saude Educ 13(31)287-99 outdez 2009

DOLIVEIRA AFPL SCHREIBER LB HANADA H DURANDJ Atenccedilatildeo integral agrave sauacutede de mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia de gecircnero ndash uma alternativa para a atenccedilatildeo primaacuteria em sauacutede Rio de Janeiro Ciecircnc Sauacutede Coletiva 14(4) julhoago 2009

GALVAtildeOFEANDRADESM Violecircncia contra a mulher anaacutelise de casos atendidos em serviccedilo de atenccedilatildeo agrave mulher em municiacutepio do Sul do Brasil Sauacutede e Sociedade 13(2)p89-99 maio-ago 2004 GIL A C Como Elaborar Projetos de Pesquisa 4 ed Satildeo Paulo Atlas 2009

LEONCIO LK ET AL O perfil das mulheres vitimizadas e seus agressores Rev enferm UERJ Rio de Janeiro 16(3)307-12 julset 2008 MEDINA ABC PENNA LHG Violecircncia na gestaccedilatildeo um estudo da produccedilatildeo cientiacutefica de 2000 a 2005 Esc Anna Nery 12(4)793-98 dez 2008 MENEGHEL ST INtildeIGUEZ L Contadores de histoacuterias praacuteticas discursivas e violecircncia de gecircnero Cad Sauacutede Puacuteblica Rio de Janeiro 23(8)1815-1824 ago 2007 MEYER D E Teorias e poliacuteticas de gecircnero fragmentos histoacutericos e desafios atuais Revista Brasileira de Enfermagem Brasiacutelia v57 n1 p13-8 janfev 2004

28

MINAYO M C et al Pesquisa social teoria meacutetodo criatividade Petroacutepolis Vozes 2002 MONTEIROCFS Arauacutejo TME NunesBMV LustosaAR BezerraCMJ A Violecircncia contra a mulher atendida em uma unidade de urgecircncia uma contribuiccedilatildeo da enfermagem Esc Anna Nery 10(2)273-9 ago 2006 MOTA JCMVASCONCELOS AGG ASSIS SG Anaacutelise de correspondecircncia como estrateacutegia para descriccedilatildeo do perfil da mulher viacutetima do parceiro atendida em serviccedilo especializado Ciecircncia e Sauacutede coletiva 12 (3)799890 2007 REZENDE EJC ET AL Lesotildees buco-dentais em mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia um estudo piloto de casos periciados no IML de Belo Horizonte MG Rev Bras Epidemiol 10(2) 202-14 2007 SCARANTO CAA BIAZEVICMGH MICHEL-CROSATOE Percepccedilatildeo dos Agentes Comunitaacuterios de Sauacutede sobre a Violecircncia Domeacutestica contra a Mulher Psicol ciecircnc Prof 27(4)694-705 2007 SCHRAIBER L B DOLIVEIRA A F L P Violecircncia contra mulheres interfaces com a Sauacutede Comunicaccedilatildeo Sauacutede Educaccedilatildeo v3 n5 1999 SILVA LL ET AL Violecircncia silenciosa violecircncia psicoloacutegica como condiccedilatildeo da violecircncia fiacutesica domeacutestica Interface - Comunic Sauacutede Educ v11 n21 p93-103 janabr 2007 SILVA LL ET AL Violecircncia silenciosa violecircncia psicoloacutegica como condiccedilatildeo da violecircncia fiacutesica domeacutestica Interface - Comunic Sauacutede Educ v11 n21 p93-103 janabr 2007 TAVARES F A Daacutes Laacutegrimas agrave Esperanccedila o processo de fortalecimento das mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia domeacutestica 2008 Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Serviccedilo Social Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica do Rio Grande do Sul Porto Alegre 2008 VIEIRAMEET AL Conhecimento e atitudes dos profissionais de sauacutede em relaccedilatildeo agrave violecircncia de gecircnero Rev Bras Epidemiol 12(4) 566-77 2009 WILHEL FA TONET J Percepccedilatildeo sobre a violecircncia domeacutestica na perspectiva de mulheres vitimadas Psicol Argum Curitiba 25 (51)401-412 outdez 2007

29

ANEXO 1 - Quadro analiacutetico ndash Violecircncia domestica contra a mulher e sauacutede publica ndash 2000-2009

Titulo Revista

Origem Subaacuterea de

conhecimento

Tipo Natureza Ano de

publicaccedilatildeo

Regiatildeo da

pesquisa

Violecircncia contra a mulher anaacutelise de casos atendidos em serviccedilo de atenccedilatildeo agrave mulher em municiacutepio do sul do Brasil Rev Sauacutede e Sociedade v13 n2 p89-99 maio-ago 2004

GALVAtildeOFEANDRADESM

Artigo Sociologia Pesquisa

investigaccedilatildeo

Qualitativo

sociocultural 2004 Regiatildeo Sul

A violecircncia contra a mulher atendida em unidade de urgecircncia uma contribuiccedilatildeo da enfermagem Esc Anna Nery R Enferm 2006 ago 10 (2) 273-9

MONTEIROCFS Arauacutejo TME NunesBMV LustosaAR BezerraCMJ

Artigo Enfermagem Pesquisa

Investigaccedilatildeo

Quantitativo

sociocultural 2006 Regiatildeo

Norte

Percepccedilatildeo dos Agentes Comunitaacuterios de Sauacutede sobre a Violecircncia Domeacutestica contra a Mulher Psicol ciecircnc prof27(4)694-705 2007

SCARANTO CAA BIAZEVICMGH MICHEL-CROSATOE

Artigo Psicologia Pesquisa

Investigaccedilatildeo

Qualitativo

sociocultural 2007 Regiatildeo Sul

Violecircncia silenciosa violecircncia psicoloacutegica como condiccedilatildeo da violecircncia fiacutesica domeacutestica

Artigo Psicologia Revisatildeo sociocultural 2007 Regiatildeo Sul

30

Interface-Comunic Sauacutede Educ v11 n21 p93-103 janabr 2007

SILVA LL ET AL

Qualitativa

Anaacutelise de correspondecircncia como estrateacutegia para descriccedilatildeo do perfil da mulher viacutetima do parceiro atendida em serviccedilo especializado Ciecircncia e Sauacutede coletiva12 (3)799890 2007

MOTA JCMVASCONCELOS AGG ASSIS SG

Artigo multiprofissional Pesquisa Qualiquanti

epidemioloacutegi

co

2007 Centro

Contadores de histoacuterias praacuteticas discursivas e violecircncia de gecircnero Cad Sauacutede Puacuteblica Rio de Janeiro 23(8)1815-1824 ago 2007

MENEGHEL ST INtildeIGUEZ L

Artigo multiprofissional Pesquisa Qualitativa

Sociocultural 2007 Regiatildeo sul

Lesotildees buccedilo-dentais em mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia um estudo piloto de casos periciados no IML de Belo Horizonte MG Rev Bras Epidemiol 2007 10(2) 202-14

REZENDE EJC ET AL

Artigo Odontologia Pesquisa

Documental

Clinico 2007 Regiatildeo

sudeste

Percepccedilatildeo sobre a violecircncia domeacutestica na perspectiva de mulheres vitimadas Psicol Argum Curitiba v 25 n 51 p 401-412 outdez 2007

WILHEL FA TONET J

Artigo Psicologia Pesquisa

qualitativa

Sociocultural 2007 Regiatildeo Sul

O perfil de mulheres vitimizadas e de seus agressores Rev enferm UERJ Rio de Janeiro 2008 julset

Artigo Enfermagem Pesquisa Sociocultural 2008 Regiatildeo

31

16(3)307-12

LEONCIO LK ET AL documental

quantitativa

sudeste

Violecircncia na gestaccedilatildeo um estudo da produccedilatildeo cientiacutefica de 2000 a 2005 Esc Anna Nery Rev Enferm 2008 dez 12 (4) 793-98

MEDINA ABC PENNA LHG

Artigo Enfermagem Pesquisa

qualitativa

Sociocultural 2008 Regiatildeo

Sudeste

Conhecimento e atitudes dos profissionais de sauacutede em relaccedilatildeo agrave violecircncia de gecircnero Rev Bras Epidemiol 2009 12(4) 566-77

VIEIRAMEET AL

Artigo Multidisciplinar Pesquisa Qualitativa

Sociocultural 2009 Regiatildeo Sudeste

Violecircncia contra a mulher percepccedilatildeo dos meacutedicos das unidades baacutesicas de sauacutede da cidade de Ribeiratildeo Preto Satildeo Paulo Interface - Comunic Saude Educ v13 n31 p287-99 outdez 2009

DE FERRANTE FG SANTOS MA VIEIRA EM

Artigo Multidisciplinar Pesquisa Qualitativa

Sociocultural 2009 Regiatildeo Sudeste

32

33

15

APRESENTACcedilAtildeO E DISCUSSAtildeO DOS RESULTADOS

Para a categorizaccedilatildeo e anaacutelise dos doze artigos cientiacuteficos selecionados foi

elaborado um quadro analiacutetico (Anexo 1) composto pelas variaacuteveis titulo origem

subaacuterea de conhecimento tipo natureza ano de publicaccedilatildeo regiatildeo da pesquisa

O mapeamento das produccedilotildees apontou a subaacuterea multiprofissional como de

maior concentraccedilatildeo na produccedilatildeo de artigos cientiacuteficos sendo que a maioria foi de

produccedilotildees socioculturais e apenas um artigo de natureza clinica se mostrando

convergente agrave aacuterea de odontologia

Com relaccedilatildeo ao tipo de pesquisa a abordagem mais utilizada foi do tipo

qualitativa Quanto ao recorte temporal adotado a primeira produccedilatildeo selecionada foi

do ano de 2004 sendo que a maior concentraccedilatildeo se deu no ano de 2007 com cinco

(5) artigos

Quanto agraves regiotildees do paiacutes em que esses artigos foram produzidos observou-

se maior concentraccedilatildeo dessas publicaccedilotildees na regiatildeo Sudeste com seis (6) artigos

cinco (5) artigos na regiatildeo Sul e apenas um (1) artigo na regiatildeo nordeste Ainda

com relaccedilatildeo agrave regionalidade desses artigos destaca-se que trecircs dos artigos

produzidos na regiatildeo sudeste do paiacutes foram desenvolvidos na cidade de Ribeiratildeo

PretoSP dos quais dois abordavam a perspectiva dos profissionais de sauacutede em

relaccedilatildeo e violecircncia domestica e o outro o perfil das vitimas de violecircncia

Do processo de anaacutelise dos achados da pesquisa emergiram trecircs categorias

sendo que os doze artigos foram categorizados em Violecircncia domeacutestica e de

gecircnero praacuteticas discursivas Perfil das mulheres que sofreram violecircncia e A violecircncia

na oacutetica dos profissionais de sauacutede

VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E DE GEcircNERO PRAacuteTICAS DISCURSIVAS

Medina e Penna (2008) em estudo bibliograacutefico que analisou quatorze (14)

produccedilotildees entre os anos de 2000 e 2005 destacaram o contexto soacutecio-cultural da

violecircncia domeacutestica no periacuteodo gestacional como um fator importante no

desenvolvimento desta no acircmbito da famiacutelia Tambeacutem ressaltam que a violecircncia

vivenciada pela gestante ainda eacute uma situaccedilatildeo de difiacutecil abordagem nas relaccedilotildees

16

pessoais e profissionais O estudo indicou ainda que mulheres que vivenciam

situaccedilotildees de violecircncia na gestaccedilatildeo se sentem coibidas em denunciar agressotildees

sofridas pelos parceiros ou familiares Da mesma forma em que evidenciou

processos de naturalizaccedilatildeo e de invisibilidade da violecircncia na gestaccedilatildeo na medida

em que muitas situaccedilotildees dessa natureza nem sempre satildeo percebidas e

reconhecidas como atos violentos pelas mulheres que a vivenciam como tambeacutem

pelos profissionais de sauacutede que as assistem

Pesquisa realizada por Silva et al (2007) que analisou os tipos de violecircncia

domeacutestica indicou que a violecircncia psicoloacutegica eacute o ponto inicial que deflagra a

violecircncia Para os autores a prevenccedilatildeo de qualquer tipo de situaccedilatildeo de violecircncia

vivida no acircmbito domeacutestico deve passar pela compreensatildeo de que estrateacutegias que

visem coibir situaccedilotildees de violecircncia psicoloacutegica implicam diretamente na minimizaccedilatildeo

dos demais tipos de violecircncias Destacam ainda que outras accedilotildees importantes

como palestras e maior discussatildeo sobre a temaacutetica em escolas de ensino

fundamental e meacutedio da rede puacuteblica e universidades que abordem a temaacutetica da

violecircncia na perspectiva dos direitos humanos bem como sobre serviccedilos de apoio

existentes e possibilidades de enfrentamento desta demanda devem ser

incentivadas

Estudo publicado por Meneghel e Intildeiguez (2007) que analisou oficina de

contadores de histoacuterias realizada no Centro Ecumecircnico de Assessoria e

Capacitaccedilatildeo de Satildeo Leopoldo (CECA-SL) a qual teve como tema gerador das

discussotildees as questotildees de gecircnero Dessas discussotildees foram escolhidas histoacuterias

para comporem essas narrativas nas quais as mulheres contavam episoacutedios de

violecircncia ligados agraves suas trajetoacuterias pessoais e afirmavam que a violecircncia de gecircnero

acontece em qualquer classe social escolaridade ou raccedila Na medida em que se

posicionavam criticamente em relaccedilatildeo ao sexismomachismo essas mulheres

afirmavam que eram obrigadas a abdicar de si mesmas natildeo podiam construir

projetos de vida mais autocircnomos devendo sempre ceder agraves vontades do homem

(maridocompanheiro) permanecendo submissas a ele Essa subordinaccedilatildeo agrave

autoridade masculina poderia ser potencializada ou minimizada na medida em que

essas mulheres dispusessem ou natildeo de acesso a informaccedilotildees que favoreccedilam o

17

entendimento de sua posiccedilatildeo como sujeito de direitos dentre os quais o de uma

vida sem violecircncia

Com base nos estudos analisados percebeu-se que a violecircncia domeacutestica

contra as mulheres envolve questotildees culturais e de gecircnero Nesse sentido a

prevenccedilatildeo ou minimizaccedilatildeo de situaccedilotildees relativas agrave violecircncia domeacutestica requer accedilotildees

intersetoriais que mobilizem os diversos segmentos da sociedade para que

conjuntamente atuem de forma proacute-ativa no enfrentamento desta problemaacutetica

Uma estrateacutegia importante seria a inclusatildeo da temaacutetica como um tema

transversal nas escolas a ser abordado natildeo apenas com alunos e professores mas

tambeacutem com as famiacutelias que integram a comunidade escolar

Para aleacutem da organizaccedilatildeo de serviccedilos para o enfrentamento da violecircncia

contra as mulheres e apoio a essas viacutetimas evidencia-se tambeacutem a necessidade de

maior qualificaccedilatildeo sobre a temaacutetica de profissionais que atuam no campo da sauacutede

e do serviccedilo social para que possam atender esta demanda com eacutetica competecircncia

e de forma mais humanizada Atuaccedilatildeo esta pautada em valores societaacuterios em que

homens e mulheres tenham os mesmos direitos de cidadania buscando a

superaccedilatildeo de todas as formas de violecircncia preconceitos discriminaccedilotildees e

desigualdades

18

PERFIL DAS MULHERES QUE SOFRERAM VIOLEcircNCIA

A maioria das produccedilotildees traccedilou o perfil das mulheres vitimas de violecircncia

domeacutestica que procuram atendimento em serviccedilos de sauacutede tendo como variaacuteveis a

faixa etaacuteria profissatildeo estado civil escolaridade dentre outros

Galvatildeo e Andrade (2004) pesquisaram o perfil de mulheres em situaccedilatildeo de

violecircncia atendidas em um Centro de Atendimento agrave Mulher (CAM) em Londrina

Paranaacute a partir de informaccedilotildees extraiacutedas das fichas desses atendimentos A faixa

etaacuteria que predominou entre as mulheres atendidas no CAM foi agrave de 30 a 39 anos

seguida da faixa etaacuteria de 20 a 29 anos sendo que a meacutedia de idade foi de 34 anos

Com relaccedilatildeo ao estado civil 472 das mulheres declararam-se casadas 266

dos casos as mulheres que conviviam com um companheiro fixo numa relaccedilatildeo

consensual e 54 possuem um ou dois filhos Quanto agrave escolaridade 581 dessas

mulheres natildeo concluiacuteram o ensino fundamental 128 concluiacuteram o ensino meacutedio e

a taxa de analfabetismo foi de 21 sendo que 558 desenvolvia algum tipo de

trabalho remunerado Os principais agressores satildeo os atuais maridos ou

companheiros das mulheres (734) e quase a totalidade dos casos (974)

ocorreu no ambiente domeacutestico Quanto agrave caracterizaccedilatildeo dos casos de violecircncia

prevalece a violecircncia emocional com 564 dos casos seguida pela violecircncia fiacutesica

com 321 Quanto ao tempo em que vivenciam situaccedilotildees de violecircncia 33 das

mulheres vecircm sofrendo agressotildees por periacuteodos de ateacute um ano e 204 dos casos

refere-se a mulheres que sofrem agressotildees haacute mais de 10 anos

Estudo realizado por Monteiro et al (2006) sobre o perfil de mulheres que

sofreram violecircncia atendidas em uma unidade de urgecircncia em Teresina Piauiacute

indicou que 78 encontrava-se na faixa etaacuteria entre 18 e 40 anos e que 40 delas

natildeo trabalhavam fora de casa desempenhando exclusivamente as tarefas

domeacutesticas relativas ao cuidado coma casa e filhos As agressotildees nos membros

superiores ocorreram com maior frequumlecircncia (44) seguida das agressotildees na face

(33) Revelou ainda que a maioria dessas mulheres natildeo relatou os motivos pelos

quais foram agredidas ainda que o aacutelcool tenha sido apontado em 19 dos casos

como o principal motivo desencadeador das agressotildees seguido do ciuacutemes

Tambeacutem haacute um grande nuacutemero de subnotificaccedilatildeo em relaccedilatildeo ao agressor (80)

19

possivelmente em funccedilatildeo da dependecircncia econocircmica e por medo de vinganccedila do

companheiro Quanto agraves condutas adotadas pelos profissionais de sauacutede a grande

maioria (83) limita-se ao atendimento de queixas de menor complexidade como

aquelas que exigiram sutura simples ou consulta meacutedica Recomendam ainda que o

apoio as viacutetimas de violecircncia deve ter iniacutecio no serviccedilo de urgecircncia de forma

articulada com outros serviccedilos que tratam da mesma questatildeo como as Delegacias

Especiais de Atendimento agrave Mulher (DEAM) os Conselhos de Direitos da Mulher

Abrigos e outras instituiccedilotildees

Mota Vasconcelos e Assis (2007) analisaram as informaccedilotildees das fichas de

atendimento de um centro especializado no atendimento a mulheres viacutetimas de

violecircncia no municiacutepio do Rio de Janeiro totalizando 684 fichas de atendimento

dessas mulheres Dessa anaacutelise os autores traccedilaram o perfil dessas mulheres as

quais apresentaram idade meacutedia de 37 anos Para os autores o baixo status

econocircmico a baixa escolaridade e consequumlentemente o acesso agrave informaccedilatildeo

podem ter sido condiccedilotildees facilitadoras para a ocorrecircncia de situaccedilotildees de violecircncia

domeacutestica contra mulheres pelo cocircnjuge na populaccedilatildeo analisada Por outro lado as

agressotildees fiacutesicas mais graves que ocorreram com mulheres que possuiacuteam maior

niacutevel de escolaridade podem ter sido potencializadas pelo fato de as mesmas natildeo

terem aceitado essa violecircncia de modo passivo implicando em um conflito ainda

maior e em agressotildees fiacutesicas mais graves O estudo evidenciou ainda que a

violecircncia domeacutestica contra a mulher envolve questotildees culturais e de gecircnero com

implicaccedilotildees nas questotildees relativas agrave conjugalidade Assim a violecircncia domeacutestica

contra a mulher estaacute vinculada ao tradicional controle masculino baseado no papel

de provedor cuja desigualdade de gecircnero potencializa conflitos e colabora para a

ocorrecircncia de situaccedilotildees de violecircncia de ordem fiacutesica psicoloacutegica ou moral

Pesquisa retrospectiva e documental desenvolvida por Leonsio et al (2008)

analisou 446 boletins de ocorrecircncia em uma Delegacia de Defesa da Mulher em

Ribeiratildeo Preto Satildeo Paulo Em seus resultados os autores destacaram que 3408 das

mulheres estavam em faixa etaacuteria acima de 35 anos 7578 eram da raccedila branca e

4417 delas eram solteiras Quanto agrave ocupaccedilatildeo 5874 dessas mulheres

exerciam algum tipo de trabalho remunerado formal ou informal e 3722 possuiacuteam

o ensino fundamental completo Outro aspecto importante evidenciado pelo estudo foi

20

que 5471 das mulheres agredidas demoraram de 1 a 15 dias entre a agressatildeo e o tempo

da denuacutencia formal e 4215 registraram a ocorrecircncia no mesmo dia na delegacia Em

7691 dos casos o ambiente domeacutestico foi o local em que essas agressotildees ocorreram

Quanto ao agressor foi observado nos boletins de ocorrecircncia investigados que em 4910

dos casos os parceiros foram os principais denunciados seguidos de ex-parceiros com

1816 das ocorrecircncias Dentre os motivos desencadeantes da agressatildeo 4462

corresponderam agrave recusa da separaccedilatildeo conjugal 1435 ciuacutemes e 1996 por outros

motivos como bebidasdrogas

Estudo realizado por Resende et al (2007) analisou registros e laudos

encaminhados ao setor de Odontologia do IML de Belo Horizonte sobre as lesotildees

bucomaxilares sofridas por mulheres vitimas de violecircncia domeacutestica A faixa etaacuteria

predominante das mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia foi de 20 a 39 anos

representando 704 do total sendo a idade meacutedia correspondente a 303 anos

Quanto agrave ocupaccedilatildeo 241 das mulheres realizavam trabalhos domeacutesticos 213

se intitulavam ldquodonas-de-casardquo e 14 trabalhavam no comeacutercio A maioria das

mulheres que sofreu agressotildees declarou-se solteira perfazendo um total de 63

enquanto que o percentual de casadas foi menor correspondendo apenas 204

Foi constatado o elevado percentual de 611 dos casos em que o agressor natildeo foi

identificado (611) em 25 o sujeito agressor foi o companheiro em 37 foram

familiares e em 74 foram conhecidos perfazendo um total de 361 contra 28

de violecircncia realizada por estranhos

A complexidade da problemaacutetica da violecircncia domeacutestica contra as mulheres

tem implicaccedilotildees em questotildees culturais e de gecircnero vinculada a construccedilatildeo social

de papeacuteis desiguais entre homens e mulheres que potencializa conflitos e colabora

para a ocorrecircncia de situaccedilotildees de violecircncia de ordem fiacutesica psicoloacutegica ou moral

Ainda nesse sentido costuma ser difiacutecil para a maioria das mulheres tomarem a

atitude de denunciar seus companheiros agressores e romper com a situaccedilatildeo de

violecircncia principalmente em funccedilatildeo do medo de vinganccedila e da dependecircncia

econocircmica agrave renda do marido

21

A VIOLEcircNCIA CONTRA A MULHER NA OacuteTICA DAS VITIMAS E DOS

PROFISSIONAIS DE SAUacuteDE

Estudo desenvolvido por Vieira et al (2009) sobre o conhecimento e atitudes

dos profissionais de sauacutede em relaccedilatildeo agrave violecircncia de gecircnero destaca a importacircncia

do atendimento de mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia nos serviccedilos de sauacutede jaacute que

este eacute muitas vezes o uacutenico local procurado pelas viacutetimas A maioria dos

profissionais que participou do estudo demonstrou bom conhecimento sobre a

definiccedilatildeo de violecircncia contra a mulher aleacutem de reconhecer como seu papel

profissional perguntar sobre violecircncia para as pacientes Indicou ainda que esses

profissionais acreditam que para uma melhor atenccedilatildeo agrave violecircncia deveria ser

implantado em sua rotina de trabalho um protocolo de enfrentamento da violecircncia

Os autores tambeacutem evidenciaram a necessidade maiores investimentos na

capacitaccedilatildeo e qualificaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede que devem estar aptos para

reconhecer e manejar os casos de violecircncia

Pesquisa realizada por De Ferrant Santos e Vieira (2009) sobre a percepccedilatildeo

dos meacutedicos de uma unidade baacutesica de Ribeiratildeo Preto Satildeo Paulo em relaccedilatildeo agrave

violecircncia domeacutestica contra a mulher revelou que a maior parte deles acredita que a

violecircncia psicoloacutegica eacute a mais grave pois a proacutepria mulher apresenta dificuldade em

reconhececirc-la como algo prejudicial agrave sua sauacutede a ponto de frequentemente

permanecer exposta agrave situaccedilatildeo durante anos a fio Os resultados indicam que os

meacutedicos detecircm alguns conhecimentos acerca dos tipos de violecircncia de gecircnero e satildeo

capazes de identificar e muitas vezes acolher as mulheres que estatildeo expostas agrave

situaccedilatildeo Contudo destacam uma seacuterie de dificuldades para atuarem frente a uma

usuaacuteria que apresenta essa problemaacutetica e reconhecem a falta de capacitaccedilatildeo

profissional uma vez que muitos deles reforccedilam a necessidade de um treinamento

voltado especificamente para os casos de violecircncia de gecircnero Da mesma forma que

apontam outras barreiras pessoais e institucionais que limitam sua atuaccedilatildeo tanto

em niacutevel preventivo como interventivo que muitas vezes os impedem de agir

adequadamente frente a uma situaccedilatildeo de violecircncia Entre elas destacam-se os

meacutedicos sentem-se impotentes frente agraves atitudes que a mulher possa vir a tomar

mesmo depois de orientada afirmam que temem tomar qualquer atitude por medo

22

da reaccedilatildeo do agressor Os autores sugerem a necessidade de um trabalho integrado

e em rede que ofereccedila uma resposta efetiva para o problema da violecircncia de

gecircnero Aleacutem disso eacute preciso investir na qualificaccedilatildeo dos outros profissionais de

sauacutede aleacutem dos meacutedicos para que se viabilize um atendimento multidisciplinar

para que os serviccedilos de sauacutede se constituam em espaccedilos de acolhimento e apoio

integrando-se efetivamente agrave rede de atendimento

Wilhelm e Tonet (2007) em seu estudo sobre a percepccedilatildeo de mulheres que

sofreram violecircncia domeacutestica em um municiacutepio do interior de Santa Catarina indicou

a ocorrecircncia de depressatildeo ansiedade medo e sentimento de baixa auto-estima Na

oacutetica dessas mulheres parte das agressotildees acontece somente no momento em que

seus companheiros estatildeo alcoolizados Aleacutem da violecircncia fiacutesica (tais como socos

arranhotildees puxotildees de cabelo arremesso de objetos chutes tapas e beliscotildees)

ocorrem as humilhaccedilotildees e a desqualificaccedilatildeo sendo ridicularizadas perante os

amigos do agressor sua famiacutelia e desautorizada perante os filhos Quanto ao

comportamento violento do companheiro este eacute justificado por fatores externos

deste modo desresponsabilizando-o como por exemplo as dificuldades

financeiras desemprego e uso de drogas dentre outros Muitos satildeo os motivos

pelos quais a mulher natildeo denuncia seu marido agressor passando a viver muitos

anos neste contexto de violecircncia dentre os quais destaca-se dependecircncia

financeira filhos fator cultural e ameaccedilas Da mesma forma todas demonstraram a

esperanccedila de que o companheiro mudasse em relaccedilatildeo ao seu comportamento

violento Aleacutem de poliacuteticas puacuteblicas mais efetivas par ao enfrentamento da violecircncia

domeacutestica Eacute necessaacuterio promover poliacuteticas puacuteblicas mais efetivas em relaccedilatildeo ao

enfrentamento da violecircncia domeacutestica bem como maiores investimentos em redes

de apoio social efetiva para a mulher e seus filhos as quais muitas vezes estatildeo

subjugadas ao seu agressor devido agrave dependecircncia econocircmica Em relaccedilatildeo a este eacute

importante promover grupos de homens com a finalidade de propiciar a discussatildeo

sobre violecircncia relaccedilotildees e gecircnero e formas alternativas de resoluccedilatildeo de conflitos

Estudo de Scaranto Biazevic e Michel (2007) sobre a percepccedilatildeo dos Agentes

Comunitaacuterios de Sauacutede (ACS) sobre a Violecircncia Domeacutestica contra a Mulher em um

municiacutepio do interior do Rio Grande do Sul identificou relatos de situaccedilotildees de

violecircncia domeacutestica contra a mulher cometida por seu companheiro seja fiacutesica

23

sexual psicoloacutegica ou econocircmica A obediecircncia aos maridoscompanheiros vai

desde o cuidado pessoal ateacute o desempenho sexual A vergonha pela violecircncia

sofrida eacute infinitamente maior do que a coragem da mulher para denunciar

Constatou-se que o ACS pode ser o elo entre a vergonha e a coragem para a

mulher denunciar o problema da violecircncia o que significa que ele parece ser de

fundamental importacircncia no acolhimento das anguacutestias dessas mulheres no

encorajamento para o relato de sofrimento na detecccedilatildeo da questatildeo da violecircncia

que pode estar acompanhada pela depressatildeo ansiedade ou ateacute mascarada por

algum tipo de queixa vaga e em consequumlecircncia fazer o encaminhamento de

referecircncia correto e eficiente na denuacutencia Eacute preciso dar subsiacutedios teoacuterico-praacuteticos

aos profissionais para que em seu trabalho cotidiano possam detectar situaccedilotildees de

violecircncia encontrar a forma de abordar as famiacutelias e dar encaminhamento tanto aos

casos de violecircncia quanto de uso de aacutelcooldrogas A violecircncia contra a mulher deve

ser considerada como questatildeo de sauacutede puacuteblica a partir do conceito ampliado de

sauacutede motivo pelo qual necessita ser alvo de poliacuteticas puacuteblicas efetivas e

consistentes assim como mecanismos de proteccedilatildeo agrave mulher viacutetima de violecircncia

tambeacutem precisam ser criados

Com base nos artigos analisados constatou-se que muitos profissionais tecircm

dificuldades em reconhecer a violecircncia como um problema de sauacutede devido agrave falta

de subsiacutedios teoacuterico-praacuteticos para a detecccedilatildeo de situaccedilotildees de violecircncia abordagem

adequada agraves viacutetimas e os devidos encaminhamentos para o atendimento desta

demanda

24

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Este estudo teve se propocircs a conhecer o que a literatura especializada em

sauacutede dos uacuteltimos dez anos disponiacutevel on line traz a respeito da violecircncia

domestica contra a mulher no periacuteodo de 2000 a 2009

Com base nos artigos analisados percebe-se que o baixo status econocircmico

o niacutevel de instruccedilatildeo e consequumlentemente o acesso agrave informaccedilatildeo podem ser

considerados como condiccedilotildees facilitadoras para a ocorrecircncia de situaccedilotildees de

violecircncia domeacutestica

Em muitos casos a dependecircncia econocircmica da mulher agrave renda do marido

impotildee a necessidade desta em ter de permanecer com ele mesmo diante de

situaccedilotildees de violecircncia

De modo geral os estudos analisadas indicaram os maridos ou companheiros

atuais das mulheres ou ainda seus ex-companheiros como os principais

agressores sendo o ambiente domeacutestico o local predominate destas agressotildees

Outro aspecto evidenciado nos achados desta pesquisa se refere ao fato de

que a maioria dessas mulheres natildeo relatou os motivos pelos quais foram agredidas

ainda que o aacutelcool tenha sido apontado como o principal motivo desencadeador das

agressotildees seguido do sentimento de ciuacutemes Tambeacutem se verificou o grande

nuacutemero de sub-notificaccedilatildeo dos casos de violecircncia contra as mulheres Assim infere-

se que possivelmente isto ocorra em funccedilatildeo da dependecircncia econocircmica e por

medo de vinganccedila

A natureza soacutecio-cultural e a subaacuterea multiprofissional prevalente nas

produccedilotildees analisadas evidenciaram a multiplicidade de aspectos relevantes a

temaacutetica da violecircncia como um complexo problema de sauacutede puacuteblica sinalizando

para a urgecircncia de um movimento reflexivo seja no acircmbito da formaccedilatildeo de

profissionais de sauacutede seja na praacutetica profissional para o enfrentamento desta

questatildeo

Destaca-se a importacircncia de pesquisa bibliograacuteficas para a sistematizaccedilatildeo

das produccedilotildees cientiacuteficas nacionais na temaacutetica violecircncia domestica contra a mulher

para o (re)conhecimento do estado da arte sobre a temaacutetica em anaacutelise fato este

25

fundamental para subsidiar futuras intervenccedilotildees no acircmbito das praacuteticas e serviccedilos

de sauacutede e da accedilatildeo social

A complexidade que envolve as questotildees relativas agrave violecircncia contra a mulher

exige accedilotildees capazes de dar conta das inuacutemeras demandas apresentadas o que

implica na articulaccedilatildeo entre as diferentes aacutereas de conhecimento e de atuaccedilatildeo

multiprofissional

Nessa loacutegica faz-se necessaacuterio maior investimento na qualificaccedilatildeo de

profissionais de sauacutede do serviccedilo social do direito entre outros para o

reconhecimento e identificaccedilatildeo dos sinais que possam indicar situaccedilotildees de violecircncia

contra as mulheres visando o acolhimento das mesmas natildeo apenas nos serviccedilos de

sauacutede mas em outros setores da sociedade Da mesma forma a criaccedilatildeo e

organizaccedilatildeo de serviccedilos multiprofissionais de atendimento agraves mulheres em situaccedilatildeo

de violecircncia para seu devido enfrentamento de modo que os mesmos estejam

articulados na loacutegica da intersetorialidade com os campos da sauacutede do serviccedilo

social e do direito no desenvolvimento de accedilotildees preventivas e assistenciais na

perspectiva da atenccedilatildeo integral agraves mulheres

Para aleacutem da organizaccedilatildeo de serviccedilos para o enfrentamento da violecircncia

contra as mulheres e apoio a essas viacutetimas evidencia-se tambeacutem a urgecircncia de

maior qualificaccedilatildeo sobre a temaacutetica de profissionais que atuam nesses campos para

que possam atender demandas dessa natureza de modo mais solidaacuterio

respeitando-se as subjetividades e singularidades implicadas nessas situaccedilotildees

Os Assistentes Sociais tecircm atuado como mediadores proporcionando a

escolha para as mulheres do que melhor lhes conveacutem Tal direcionamento vai ao

encontro da proposta aqui formulada na qual considera o profissional como sendo

um facilitador que em nome de valores como liberdade individual independecircncia e

autonomia fornece suporte ao processo de fortalecimento destas usuaacuterias ou seja

eacute o profissional que vecirc aleacutem do aparente (TAVARES 2008)

Sabe-se que jaacute existem leis especiacuteficas para o enfrentamento da violecircncia

contra as mulheres poreacutem ainda eacute preciso que as mesmas sejam incorporadas pela

sociedade como cultura poliacutetica para que accedilotildees mais efetivas sejam de fato

implementadas

26

Como estrateacutegia para a ampliaccedilatildeo do escopo das praacuteticas dessa natureza no

acircmbito das poliacuteticas puacuteblicas destaca-se a criaccedilatildeo de accedilotildees intersetoriais com

movimentos organizados de mulheres organizaccedilotildees governamentais e natildeo

governamentais de defesa aos direitos das mulheres serviccedilos de sauacutede e da accedilatildeo

social delegacias de policia organizaccedilotildees de bairros escolas dentre outros

segmentos sociais

Outra importante accedilatildeo se refere agrave incorporaccedilatildeo das questotildees relativas agrave

violecircncia e mais especificamente contra as mulheres foco deste estudo como um

tema transversal nas escolas o qual deve ser abordado natildeo apenas com alunos e

professores mas tambeacutem com as famiacutelias que integram a comunidade escolar

Para tanto a interlocuccedilatildeo do Serviccedilo Social com essa questatildeo se faz

necessaacuteria uma vez que a violecircncia domestica eacute um fenocircmeno social e portanto

deve ser enfrentada mediante o conjunto de estrateacutegias poliacuteticas e de intervenccedilatildeo

social direta

Desde esta perspectiva os profissionais do Serviccedilo Social devem intervir

diretamente na realidade social dos sujeitos tendo como pressuposto de atuaccedilatildeo a

articulaccedilatildeo do trabalho em redes promovendo a co-participaccedilatildeo e co-

responsabilizaccedilatildeo dos atores envolvidos nessa problemaacutetica desde a tomada de

decisotildees ateacute os encaminhamentos que se fizerem necessaacuterios para o enfrentamento

positivo e superaccedilatildeo de situaccedilotildees de violecircncia contra as mulheres

A partir de accedilotildees mais efetivas e da conscientizaccedilatildeo dos atores sociais de

que a violecircncia eacute hoje um problema de relevacircncia mundial e de sauacutede puacuteblica no

cenaacuterio brasileiro almeja-se a detecccedilatildeo precoce de situaccedilotildees de violecircncia

abordagem adequada e qualificada agraves viacutetimas e os devidos encaminhamento para o

atendimento desta demanda com eacutetica competecircncia e de forma mais humanizada

Atuaccedilatildeo esta pautada em valores societaacuterios em que homens e mulheres tenham

os mesmos direitos de cidadania buscando a superaccedilatildeo de todas as formas de

violecircncia preconceitos discriminaccedilotildees e desigualdades

27

REFEREcircNCIAS

BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Violecircncia intrafamiliar orientaccedilotildees para a praacutetica em serviccedilos Cadernos de Atenccedilatildeo Baacutesica n 8 BrasiacuteliaDF 2002 CABRAL F B OLIVEIRA D LL C de CECCIM R B O puerpeacuterio e a sauacutede da mulher vulnerabilidade e atenccedilatildeo baacutesica agrave sauacutede In Ensino e atenccedilatildeo agrave sauacutede da mulher aprendizados da integraccedilatildeo da educaccedilatildeo superior com a rede assistencial edCaxias do Sul EDUCS Editora da Universidade de Caxias do Sul 2008 p 137-157 CAMARGO M AQUINO S de (2003) Redes de cidadania e parcerias- Enfrentando a rota criacutetica Secretaria Especial de Poliacuteticas para as Mulheres Programa de prevenccedilatildeo assistecircncia e combate agrave violecircncia contra a mulher- plano nacional Brasiacutelia 2003 DrsquoOLIVEIRA A F SCHRAIBER L B Violecircncia Contra a Mulher a pesquisa e a intervenccedilatildeo Revista Promoccedilatildeo da Sauacutede n 6 80- 8 2002 DE FERRANTE FG SANTOS MA VIEIRA EM Violecircncia contra a mulher percepccedilatildeo dos meacutedicos das unidades baacutesicas de sauacutede da cidade de Ribeiratildeo Preto Satildeo Paulo Satildeo Paulo Interface - Comunic Saude Educ 13(31)287-99 outdez 2009

DOLIVEIRA AFPL SCHREIBER LB HANADA H DURANDJ Atenccedilatildeo integral agrave sauacutede de mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia de gecircnero ndash uma alternativa para a atenccedilatildeo primaacuteria em sauacutede Rio de Janeiro Ciecircnc Sauacutede Coletiva 14(4) julhoago 2009

GALVAtildeOFEANDRADESM Violecircncia contra a mulher anaacutelise de casos atendidos em serviccedilo de atenccedilatildeo agrave mulher em municiacutepio do Sul do Brasil Sauacutede e Sociedade 13(2)p89-99 maio-ago 2004 GIL A C Como Elaborar Projetos de Pesquisa 4 ed Satildeo Paulo Atlas 2009

LEONCIO LK ET AL O perfil das mulheres vitimizadas e seus agressores Rev enferm UERJ Rio de Janeiro 16(3)307-12 julset 2008 MEDINA ABC PENNA LHG Violecircncia na gestaccedilatildeo um estudo da produccedilatildeo cientiacutefica de 2000 a 2005 Esc Anna Nery 12(4)793-98 dez 2008 MENEGHEL ST INtildeIGUEZ L Contadores de histoacuterias praacuteticas discursivas e violecircncia de gecircnero Cad Sauacutede Puacuteblica Rio de Janeiro 23(8)1815-1824 ago 2007 MEYER D E Teorias e poliacuteticas de gecircnero fragmentos histoacutericos e desafios atuais Revista Brasileira de Enfermagem Brasiacutelia v57 n1 p13-8 janfev 2004

28

MINAYO M C et al Pesquisa social teoria meacutetodo criatividade Petroacutepolis Vozes 2002 MONTEIROCFS Arauacutejo TME NunesBMV LustosaAR BezerraCMJ A Violecircncia contra a mulher atendida em uma unidade de urgecircncia uma contribuiccedilatildeo da enfermagem Esc Anna Nery 10(2)273-9 ago 2006 MOTA JCMVASCONCELOS AGG ASSIS SG Anaacutelise de correspondecircncia como estrateacutegia para descriccedilatildeo do perfil da mulher viacutetima do parceiro atendida em serviccedilo especializado Ciecircncia e Sauacutede coletiva 12 (3)799890 2007 REZENDE EJC ET AL Lesotildees buco-dentais em mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia um estudo piloto de casos periciados no IML de Belo Horizonte MG Rev Bras Epidemiol 10(2) 202-14 2007 SCARANTO CAA BIAZEVICMGH MICHEL-CROSATOE Percepccedilatildeo dos Agentes Comunitaacuterios de Sauacutede sobre a Violecircncia Domeacutestica contra a Mulher Psicol ciecircnc Prof 27(4)694-705 2007 SCHRAIBER L B DOLIVEIRA A F L P Violecircncia contra mulheres interfaces com a Sauacutede Comunicaccedilatildeo Sauacutede Educaccedilatildeo v3 n5 1999 SILVA LL ET AL Violecircncia silenciosa violecircncia psicoloacutegica como condiccedilatildeo da violecircncia fiacutesica domeacutestica Interface - Comunic Sauacutede Educ v11 n21 p93-103 janabr 2007 SILVA LL ET AL Violecircncia silenciosa violecircncia psicoloacutegica como condiccedilatildeo da violecircncia fiacutesica domeacutestica Interface - Comunic Sauacutede Educ v11 n21 p93-103 janabr 2007 TAVARES F A Daacutes Laacutegrimas agrave Esperanccedila o processo de fortalecimento das mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia domeacutestica 2008 Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Serviccedilo Social Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica do Rio Grande do Sul Porto Alegre 2008 VIEIRAMEET AL Conhecimento e atitudes dos profissionais de sauacutede em relaccedilatildeo agrave violecircncia de gecircnero Rev Bras Epidemiol 12(4) 566-77 2009 WILHEL FA TONET J Percepccedilatildeo sobre a violecircncia domeacutestica na perspectiva de mulheres vitimadas Psicol Argum Curitiba 25 (51)401-412 outdez 2007

29

ANEXO 1 - Quadro analiacutetico ndash Violecircncia domestica contra a mulher e sauacutede publica ndash 2000-2009

Titulo Revista

Origem Subaacuterea de

conhecimento

Tipo Natureza Ano de

publicaccedilatildeo

Regiatildeo da

pesquisa

Violecircncia contra a mulher anaacutelise de casos atendidos em serviccedilo de atenccedilatildeo agrave mulher em municiacutepio do sul do Brasil Rev Sauacutede e Sociedade v13 n2 p89-99 maio-ago 2004

GALVAtildeOFEANDRADESM

Artigo Sociologia Pesquisa

investigaccedilatildeo

Qualitativo

sociocultural 2004 Regiatildeo Sul

A violecircncia contra a mulher atendida em unidade de urgecircncia uma contribuiccedilatildeo da enfermagem Esc Anna Nery R Enferm 2006 ago 10 (2) 273-9

MONTEIROCFS Arauacutejo TME NunesBMV LustosaAR BezerraCMJ

Artigo Enfermagem Pesquisa

Investigaccedilatildeo

Quantitativo

sociocultural 2006 Regiatildeo

Norte

Percepccedilatildeo dos Agentes Comunitaacuterios de Sauacutede sobre a Violecircncia Domeacutestica contra a Mulher Psicol ciecircnc prof27(4)694-705 2007

SCARANTO CAA BIAZEVICMGH MICHEL-CROSATOE

Artigo Psicologia Pesquisa

Investigaccedilatildeo

Qualitativo

sociocultural 2007 Regiatildeo Sul

Violecircncia silenciosa violecircncia psicoloacutegica como condiccedilatildeo da violecircncia fiacutesica domeacutestica

Artigo Psicologia Revisatildeo sociocultural 2007 Regiatildeo Sul

30

Interface-Comunic Sauacutede Educ v11 n21 p93-103 janabr 2007

SILVA LL ET AL

Qualitativa

Anaacutelise de correspondecircncia como estrateacutegia para descriccedilatildeo do perfil da mulher viacutetima do parceiro atendida em serviccedilo especializado Ciecircncia e Sauacutede coletiva12 (3)799890 2007

MOTA JCMVASCONCELOS AGG ASSIS SG

Artigo multiprofissional Pesquisa Qualiquanti

epidemioloacutegi

co

2007 Centro

Contadores de histoacuterias praacuteticas discursivas e violecircncia de gecircnero Cad Sauacutede Puacuteblica Rio de Janeiro 23(8)1815-1824 ago 2007

MENEGHEL ST INtildeIGUEZ L

Artigo multiprofissional Pesquisa Qualitativa

Sociocultural 2007 Regiatildeo sul

Lesotildees buccedilo-dentais em mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia um estudo piloto de casos periciados no IML de Belo Horizonte MG Rev Bras Epidemiol 2007 10(2) 202-14

REZENDE EJC ET AL

Artigo Odontologia Pesquisa

Documental

Clinico 2007 Regiatildeo

sudeste

Percepccedilatildeo sobre a violecircncia domeacutestica na perspectiva de mulheres vitimadas Psicol Argum Curitiba v 25 n 51 p 401-412 outdez 2007

WILHEL FA TONET J

Artigo Psicologia Pesquisa

qualitativa

Sociocultural 2007 Regiatildeo Sul

O perfil de mulheres vitimizadas e de seus agressores Rev enferm UERJ Rio de Janeiro 2008 julset

Artigo Enfermagem Pesquisa Sociocultural 2008 Regiatildeo

31

16(3)307-12

LEONCIO LK ET AL documental

quantitativa

sudeste

Violecircncia na gestaccedilatildeo um estudo da produccedilatildeo cientiacutefica de 2000 a 2005 Esc Anna Nery Rev Enferm 2008 dez 12 (4) 793-98

MEDINA ABC PENNA LHG

Artigo Enfermagem Pesquisa

qualitativa

Sociocultural 2008 Regiatildeo

Sudeste

Conhecimento e atitudes dos profissionais de sauacutede em relaccedilatildeo agrave violecircncia de gecircnero Rev Bras Epidemiol 2009 12(4) 566-77

VIEIRAMEET AL

Artigo Multidisciplinar Pesquisa Qualitativa

Sociocultural 2009 Regiatildeo Sudeste

Violecircncia contra a mulher percepccedilatildeo dos meacutedicos das unidades baacutesicas de sauacutede da cidade de Ribeiratildeo Preto Satildeo Paulo Interface - Comunic Saude Educ v13 n31 p287-99 outdez 2009

DE FERRANTE FG SANTOS MA VIEIRA EM

Artigo Multidisciplinar Pesquisa Qualitativa

Sociocultural 2009 Regiatildeo Sudeste

32

33

16

pessoais e profissionais O estudo indicou ainda que mulheres que vivenciam

situaccedilotildees de violecircncia na gestaccedilatildeo se sentem coibidas em denunciar agressotildees

sofridas pelos parceiros ou familiares Da mesma forma em que evidenciou

processos de naturalizaccedilatildeo e de invisibilidade da violecircncia na gestaccedilatildeo na medida

em que muitas situaccedilotildees dessa natureza nem sempre satildeo percebidas e

reconhecidas como atos violentos pelas mulheres que a vivenciam como tambeacutem

pelos profissionais de sauacutede que as assistem

Pesquisa realizada por Silva et al (2007) que analisou os tipos de violecircncia

domeacutestica indicou que a violecircncia psicoloacutegica eacute o ponto inicial que deflagra a

violecircncia Para os autores a prevenccedilatildeo de qualquer tipo de situaccedilatildeo de violecircncia

vivida no acircmbito domeacutestico deve passar pela compreensatildeo de que estrateacutegias que

visem coibir situaccedilotildees de violecircncia psicoloacutegica implicam diretamente na minimizaccedilatildeo

dos demais tipos de violecircncias Destacam ainda que outras accedilotildees importantes

como palestras e maior discussatildeo sobre a temaacutetica em escolas de ensino

fundamental e meacutedio da rede puacuteblica e universidades que abordem a temaacutetica da

violecircncia na perspectiva dos direitos humanos bem como sobre serviccedilos de apoio

existentes e possibilidades de enfrentamento desta demanda devem ser

incentivadas

Estudo publicado por Meneghel e Intildeiguez (2007) que analisou oficina de

contadores de histoacuterias realizada no Centro Ecumecircnico de Assessoria e

Capacitaccedilatildeo de Satildeo Leopoldo (CECA-SL) a qual teve como tema gerador das

discussotildees as questotildees de gecircnero Dessas discussotildees foram escolhidas histoacuterias

para comporem essas narrativas nas quais as mulheres contavam episoacutedios de

violecircncia ligados agraves suas trajetoacuterias pessoais e afirmavam que a violecircncia de gecircnero

acontece em qualquer classe social escolaridade ou raccedila Na medida em que se

posicionavam criticamente em relaccedilatildeo ao sexismomachismo essas mulheres

afirmavam que eram obrigadas a abdicar de si mesmas natildeo podiam construir

projetos de vida mais autocircnomos devendo sempre ceder agraves vontades do homem

(maridocompanheiro) permanecendo submissas a ele Essa subordinaccedilatildeo agrave

autoridade masculina poderia ser potencializada ou minimizada na medida em que

essas mulheres dispusessem ou natildeo de acesso a informaccedilotildees que favoreccedilam o

17

entendimento de sua posiccedilatildeo como sujeito de direitos dentre os quais o de uma

vida sem violecircncia

Com base nos estudos analisados percebeu-se que a violecircncia domeacutestica

contra as mulheres envolve questotildees culturais e de gecircnero Nesse sentido a

prevenccedilatildeo ou minimizaccedilatildeo de situaccedilotildees relativas agrave violecircncia domeacutestica requer accedilotildees

intersetoriais que mobilizem os diversos segmentos da sociedade para que

conjuntamente atuem de forma proacute-ativa no enfrentamento desta problemaacutetica

Uma estrateacutegia importante seria a inclusatildeo da temaacutetica como um tema

transversal nas escolas a ser abordado natildeo apenas com alunos e professores mas

tambeacutem com as famiacutelias que integram a comunidade escolar

Para aleacutem da organizaccedilatildeo de serviccedilos para o enfrentamento da violecircncia

contra as mulheres e apoio a essas viacutetimas evidencia-se tambeacutem a necessidade de

maior qualificaccedilatildeo sobre a temaacutetica de profissionais que atuam no campo da sauacutede

e do serviccedilo social para que possam atender esta demanda com eacutetica competecircncia

e de forma mais humanizada Atuaccedilatildeo esta pautada em valores societaacuterios em que

homens e mulheres tenham os mesmos direitos de cidadania buscando a

superaccedilatildeo de todas as formas de violecircncia preconceitos discriminaccedilotildees e

desigualdades

18

PERFIL DAS MULHERES QUE SOFRERAM VIOLEcircNCIA

A maioria das produccedilotildees traccedilou o perfil das mulheres vitimas de violecircncia

domeacutestica que procuram atendimento em serviccedilos de sauacutede tendo como variaacuteveis a

faixa etaacuteria profissatildeo estado civil escolaridade dentre outros

Galvatildeo e Andrade (2004) pesquisaram o perfil de mulheres em situaccedilatildeo de

violecircncia atendidas em um Centro de Atendimento agrave Mulher (CAM) em Londrina

Paranaacute a partir de informaccedilotildees extraiacutedas das fichas desses atendimentos A faixa

etaacuteria que predominou entre as mulheres atendidas no CAM foi agrave de 30 a 39 anos

seguida da faixa etaacuteria de 20 a 29 anos sendo que a meacutedia de idade foi de 34 anos

Com relaccedilatildeo ao estado civil 472 das mulheres declararam-se casadas 266

dos casos as mulheres que conviviam com um companheiro fixo numa relaccedilatildeo

consensual e 54 possuem um ou dois filhos Quanto agrave escolaridade 581 dessas

mulheres natildeo concluiacuteram o ensino fundamental 128 concluiacuteram o ensino meacutedio e

a taxa de analfabetismo foi de 21 sendo que 558 desenvolvia algum tipo de

trabalho remunerado Os principais agressores satildeo os atuais maridos ou

companheiros das mulheres (734) e quase a totalidade dos casos (974)

ocorreu no ambiente domeacutestico Quanto agrave caracterizaccedilatildeo dos casos de violecircncia

prevalece a violecircncia emocional com 564 dos casos seguida pela violecircncia fiacutesica

com 321 Quanto ao tempo em que vivenciam situaccedilotildees de violecircncia 33 das

mulheres vecircm sofrendo agressotildees por periacuteodos de ateacute um ano e 204 dos casos

refere-se a mulheres que sofrem agressotildees haacute mais de 10 anos

Estudo realizado por Monteiro et al (2006) sobre o perfil de mulheres que

sofreram violecircncia atendidas em uma unidade de urgecircncia em Teresina Piauiacute

indicou que 78 encontrava-se na faixa etaacuteria entre 18 e 40 anos e que 40 delas

natildeo trabalhavam fora de casa desempenhando exclusivamente as tarefas

domeacutesticas relativas ao cuidado coma casa e filhos As agressotildees nos membros

superiores ocorreram com maior frequumlecircncia (44) seguida das agressotildees na face

(33) Revelou ainda que a maioria dessas mulheres natildeo relatou os motivos pelos

quais foram agredidas ainda que o aacutelcool tenha sido apontado em 19 dos casos

como o principal motivo desencadeador das agressotildees seguido do ciuacutemes

Tambeacutem haacute um grande nuacutemero de subnotificaccedilatildeo em relaccedilatildeo ao agressor (80)

19

possivelmente em funccedilatildeo da dependecircncia econocircmica e por medo de vinganccedila do

companheiro Quanto agraves condutas adotadas pelos profissionais de sauacutede a grande

maioria (83) limita-se ao atendimento de queixas de menor complexidade como

aquelas que exigiram sutura simples ou consulta meacutedica Recomendam ainda que o

apoio as viacutetimas de violecircncia deve ter iniacutecio no serviccedilo de urgecircncia de forma

articulada com outros serviccedilos que tratam da mesma questatildeo como as Delegacias

Especiais de Atendimento agrave Mulher (DEAM) os Conselhos de Direitos da Mulher

Abrigos e outras instituiccedilotildees

Mota Vasconcelos e Assis (2007) analisaram as informaccedilotildees das fichas de

atendimento de um centro especializado no atendimento a mulheres viacutetimas de

violecircncia no municiacutepio do Rio de Janeiro totalizando 684 fichas de atendimento

dessas mulheres Dessa anaacutelise os autores traccedilaram o perfil dessas mulheres as

quais apresentaram idade meacutedia de 37 anos Para os autores o baixo status

econocircmico a baixa escolaridade e consequumlentemente o acesso agrave informaccedilatildeo

podem ter sido condiccedilotildees facilitadoras para a ocorrecircncia de situaccedilotildees de violecircncia

domeacutestica contra mulheres pelo cocircnjuge na populaccedilatildeo analisada Por outro lado as

agressotildees fiacutesicas mais graves que ocorreram com mulheres que possuiacuteam maior

niacutevel de escolaridade podem ter sido potencializadas pelo fato de as mesmas natildeo

terem aceitado essa violecircncia de modo passivo implicando em um conflito ainda

maior e em agressotildees fiacutesicas mais graves O estudo evidenciou ainda que a

violecircncia domeacutestica contra a mulher envolve questotildees culturais e de gecircnero com

implicaccedilotildees nas questotildees relativas agrave conjugalidade Assim a violecircncia domeacutestica

contra a mulher estaacute vinculada ao tradicional controle masculino baseado no papel

de provedor cuja desigualdade de gecircnero potencializa conflitos e colabora para a

ocorrecircncia de situaccedilotildees de violecircncia de ordem fiacutesica psicoloacutegica ou moral

Pesquisa retrospectiva e documental desenvolvida por Leonsio et al (2008)

analisou 446 boletins de ocorrecircncia em uma Delegacia de Defesa da Mulher em

Ribeiratildeo Preto Satildeo Paulo Em seus resultados os autores destacaram que 3408 das

mulheres estavam em faixa etaacuteria acima de 35 anos 7578 eram da raccedila branca e

4417 delas eram solteiras Quanto agrave ocupaccedilatildeo 5874 dessas mulheres

exerciam algum tipo de trabalho remunerado formal ou informal e 3722 possuiacuteam

o ensino fundamental completo Outro aspecto importante evidenciado pelo estudo foi

20

que 5471 das mulheres agredidas demoraram de 1 a 15 dias entre a agressatildeo e o tempo

da denuacutencia formal e 4215 registraram a ocorrecircncia no mesmo dia na delegacia Em

7691 dos casos o ambiente domeacutestico foi o local em que essas agressotildees ocorreram

Quanto ao agressor foi observado nos boletins de ocorrecircncia investigados que em 4910

dos casos os parceiros foram os principais denunciados seguidos de ex-parceiros com

1816 das ocorrecircncias Dentre os motivos desencadeantes da agressatildeo 4462

corresponderam agrave recusa da separaccedilatildeo conjugal 1435 ciuacutemes e 1996 por outros

motivos como bebidasdrogas

Estudo realizado por Resende et al (2007) analisou registros e laudos

encaminhados ao setor de Odontologia do IML de Belo Horizonte sobre as lesotildees

bucomaxilares sofridas por mulheres vitimas de violecircncia domeacutestica A faixa etaacuteria

predominante das mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia foi de 20 a 39 anos

representando 704 do total sendo a idade meacutedia correspondente a 303 anos

Quanto agrave ocupaccedilatildeo 241 das mulheres realizavam trabalhos domeacutesticos 213

se intitulavam ldquodonas-de-casardquo e 14 trabalhavam no comeacutercio A maioria das

mulheres que sofreu agressotildees declarou-se solteira perfazendo um total de 63

enquanto que o percentual de casadas foi menor correspondendo apenas 204

Foi constatado o elevado percentual de 611 dos casos em que o agressor natildeo foi

identificado (611) em 25 o sujeito agressor foi o companheiro em 37 foram

familiares e em 74 foram conhecidos perfazendo um total de 361 contra 28

de violecircncia realizada por estranhos

A complexidade da problemaacutetica da violecircncia domeacutestica contra as mulheres

tem implicaccedilotildees em questotildees culturais e de gecircnero vinculada a construccedilatildeo social

de papeacuteis desiguais entre homens e mulheres que potencializa conflitos e colabora

para a ocorrecircncia de situaccedilotildees de violecircncia de ordem fiacutesica psicoloacutegica ou moral

Ainda nesse sentido costuma ser difiacutecil para a maioria das mulheres tomarem a

atitude de denunciar seus companheiros agressores e romper com a situaccedilatildeo de

violecircncia principalmente em funccedilatildeo do medo de vinganccedila e da dependecircncia

econocircmica agrave renda do marido

21

A VIOLEcircNCIA CONTRA A MULHER NA OacuteTICA DAS VITIMAS E DOS

PROFISSIONAIS DE SAUacuteDE

Estudo desenvolvido por Vieira et al (2009) sobre o conhecimento e atitudes

dos profissionais de sauacutede em relaccedilatildeo agrave violecircncia de gecircnero destaca a importacircncia

do atendimento de mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia nos serviccedilos de sauacutede jaacute que

este eacute muitas vezes o uacutenico local procurado pelas viacutetimas A maioria dos

profissionais que participou do estudo demonstrou bom conhecimento sobre a

definiccedilatildeo de violecircncia contra a mulher aleacutem de reconhecer como seu papel

profissional perguntar sobre violecircncia para as pacientes Indicou ainda que esses

profissionais acreditam que para uma melhor atenccedilatildeo agrave violecircncia deveria ser

implantado em sua rotina de trabalho um protocolo de enfrentamento da violecircncia

Os autores tambeacutem evidenciaram a necessidade maiores investimentos na

capacitaccedilatildeo e qualificaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede que devem estar aptos para

reconhecer e manejar os casos de violecircncia

Pesquisa realizada por De Ferrant Santos e Vieira (2009) sobre a percepccedilatildeo

dos meacutedicos de uma unidade baacutesica de Ribeiratildeo Preto Satildeo Paulo em relaccedilatildeo agrave

violecircncia domeacutestica contra a mulher revelou que a maior parte deles acredita que a

violecircncia psicoloacutegica eacute a mais grave pois a proacutepria mulher apresenta dificuldade em

reconhececirc-la como algo prejudicial agrave sua sauacutede a ponto de frequentemente

permanecer exposta agrave situaccedilatildeo durante anos a fio Os resultados indicam que os

meacutedicos detecircm alguns conhecimentos acerca dos tipos de violecircncia de gecircnero e satildeo

capazes de identificar e muitas vezes acolher as mulheres que estatildeo expostas agrave

situaccedilatildeo Contudo destacam uma seacuterie de dificuldades para atuarem frente a uma

usuaacuteria que apresenta essa problemaacutetica e reconhecem a falta de capacitaccedilatildeo

profissional uma vez que muitos deles reforccedilam a necessidade de um treinamento

voltado especificamente para os casos de violecircncia de gecircnero Da mesma forma que

apontam outras barreiras pessoais e institucionais que limitam sua atuaccedilatildeo tanto

em niacutevel preventivo como interventivo que muitas vezes os impedem de agir

adequadamente frente a uma situaccedilatildeo de violecircncia Entre elas destacam-se os

meacutedicos sentem-se impotentes frente agraves atitudes que a mulher possa vir a tomar

mesmo depois de orientada afirmam que temem tomar qualquer atitude por medo

22

da reaccedilatildeo do agressor Os autores sugerem a necessidade de um trabalho integrado

e em rede que ofereccedila uma resposta efetiva para o problema da violecircncia de

gecircnero Aleacutem disso eacute preciso investir na qualificaccedilatildeo dos outros profissionais de

sauacutede aleacutem dos meacutedicos para que se viabilize um atendimento multidisciplinar

para que os serviccedilos de sauacutede se constituam em espaccedilos de acolhimento e apoio

integrando-se efetivamente agrave rede de atendimento

Wilhelm e Tonet (2007) em seu estudo sobre a percepccedilatildeo de mulheres que

sofreram violecircncia domeacutestica em um municiacutepio do interior de Santa Catarina indicou

a ocorrecircncia de depressatildeo ansiedade medo e sentimento de baixa auto-estima Na

oacutetica dessas mulheres parte das agressotildees acontece somente no momento em que

seus companheiros estatildeo alcoolizados Aleacutem da violecircncia fiacutesica (tais como socos

arranhotildees puxotildees de cabelo arremesso de objetos chutes tapas e beliscotildees)

ocorrem as humilhaccedilotildees e a desqualificaccedilatildeo sendo ridicularizadas perante os

amigos do agressor sua famiacutelia e desautorizada perante os filhos Quanto ao

comportamento violento do companheiro este eacute justificado por fatores externos

deste modo desresponsabilizando-o como por exemplo as dificuldades

financeiras desemprego e uso de drogas dentre outros Muitos satildeo os motivos

pelos quais a mulher natildeo denuncia seu marido agressor passando a viver muitos

anos neste contexto de violecircncia dentre os quais destaca-se dependecircncia

financeira filhos fator cultural e ameaccedilas Da mesma forma todas demonstraram a

esperanccedila de que o companheiro mudasse em relaccedilatildeo ao seu comportamento

violento Aleacutem de poliacuteticas puacuteblicas mais efetivas par ao enfrentamento da violecircncia

domeacutestica Eacute necessaacuterio promover poliacuteticas puacuteblicas mais efetivas em relaccedilatildeo ao

enfrentamento da violecircncia domeacutestica bem como maiores investimentos em redes

de apoio social efetiva para a mulher e seus filhos as quais muitas vezes estatildeo

subjugadas ao seu agressor devido agrave dependecircncia econocircmica Em relaccedilatildeo a este eacute

importante promover grupos de homens com a finalidade de propiciar a discussatildeo

sobre violecircncia relaccedilotildees e gecircnero e formas alternativas de resoluccedilatildeo de conflitos

Estudo de Scaranto Biazevic e Michel (2007) sobre a percepccedilatildeo dos Agentes

Comunitaacuterios de Sauacutede (ACS) sobre a Violecircncia Domeacutestica contra a Mulher em um

municiacutepio do interior do Rio Grande do Sul identificou relatos de situaccedilotildees de

violecircncia domeacutestica contra a mulher cometida por seu companheiro seja fiacutesica

23

sexual psicoloacutegica ou econocircmica A obediecircncia aos maridoscompanheiros vai

desde o cuidado pessoal ateacute o desempenho sexual A vergonha pela violecircncia

sofrida eacute infinitamente maior do que a coragem da mulher para denunciar

Constatou-se que o ACS pode ser o elo entre a vergonha e a coragem para a

mulher denunciar o problema da violecircncia o que significa que ele parece ser de

fundamental importacircncia no acolhimento das anguacutestias dessas mulheres no

encorajamento para o relato de sofrimento na detecccedilatildeo da questatildeo da violecircncia

que pode estar acompanhada pela depressatildeo ansiedade ou ateacute mascarada por

algum tipo de queixa vaga e em consequumlecircncia fazer o encaminhamento de

referecircncia correto e eficiente na denuacutencia Eacute preciso dar subsiacutedios teoacuterico-praacuteticos

aos profissionais para que em seu trabalho cotidiano possam detectar situaccedilotildees de

violecircncia encontrar a forma de abordar as famiacutelias e dar encaminhamento tanto aos

casos de violecircncia quanto de uso de aacutelcooldrogas A violecircncia contra a mulher deve

ser considerada como questatildeo de sauacutede puacuteblica a partir do conceito ampliado de

sauacutede motivo pelo qual necessita ser alvo de poliacuteticas puacuteblicas efetivas e

consistentes assim como mecanismos de proteccedilatildeo agrave mulher viacutetima de violecircncia

tambeacutem precisam ser criados

Com base nos artigos analisados constatou-se que muitos profissionais tecircm

dificuldades em reconhecer a violecircncia como um problema de sauacutede devido agrave falta

de subsiacutedios teoacuterico-praacuteticos para a detecccedilatildeo de situaccedilotildees de violecircncia abordagem

adequada agraves viacutetimas e os devidos encaminhamentos para o atendimento desta

demanda

24

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Este estudo teve se propocircs a conhecer o que a literatura especializada em

sauacutede dos uacuteltimos dez anos disponiacutevel on line traz a respeito da violecircncia

domestica contra a mulher no periacuteodo de 2000 a 2009

Com base nos artigos analisados percebe-se que o baixo status econocircmico

o niacutevel de instruccedilatildeo e consequumlentemente o acesso agrave informaccedilatildeo podem ser

considerados como condiccedilotildees facilitadoras para a ocorrecircncia de situaccedilotildees de

violecircncia domeacutestica

Em muitos casos a dependecircncia econocircmica da mulher agrave renda do marido

impotildee a necessidade desta em ter de permanecer com ele mesmo diante de

situaccedilotildees de violecircncia

De modo geral os estudos analisadas indicaram os maridos ou companheiros

atuais das mulheres ou ainda seus ex-companheiros como os principais

agressores sendo o ambiente domeacutestico o local predominate destas agressotildees

Outro aspecto evidenciado nos achados desta pesquisa se refere ao fato de

que a maioria dessas mulheres natildeo relatou os motivos pelos quais foram agredidas

ainda que o aacutelcool tenha sido apontado como o principal motivo desencadeador das

agressotildees seguido do sentimento de ciuacutemes Tambeacutem se verificou o grande

nuacutemero de sub-notificaccedilatildeo dos casos de violecircncia contra as mulheres Assim infere-

se que possivelmente isto ocorra em funccedilatildeo da dependecircncia econocircmica e por

medo de vinganccedila

A natureza soacutecio-cultural e a subaacuterea multiprofissional prevalente nas

produccedilotildees analisadas evidenciaram a multiplicidade de aspectos relevantes a

temaacutetica da violecircncia como um complexo problema de sauacutede puacuteblica sinalizando

para a urgecircncia de um movimento reflexivo seja no acircmbito da formaccedilatildeo de

profissionais de sauacutede seja na praacutetica profissional para o enfrentamento desta

questatildeo

Destaca-se a importacircncia de pesquisa bibliograacuteficas para a sistematizaccedilatildeo

das produccedilotildees cientiacuteficas nacionais na temaacutetica violecircncia domestica contra a mulher

para o (re)conhecimento do estado da arte sobre a temaacutetica em anaacutelise fato este

25

fundamental para subsidiar futuras intervenccedilotildees no acircmbito das praacuteticas e serviccedilos

de sauacutede e da accedilatildeo social

A complexidade que envolve as questotildees relativas agrave violecircncia contra a mulher

exige accedilotildees capazes de dar conta das inuacutemeras demandas apresentadas o que

implica na articulaccedilatildeo entre as diferentes aacutereas de conhecimento e de atuaccedilatildeo

multiprofissional

Nessa loacutegica faz-se necessaacuterio maior investimento na qualificaccedilatildeo de

profissionais de sauacutede do serviccedilo social do direito entre outros para o

reconhecimento e identificaccedilatildeo dos sinais que possam indicar situaccedilotildees de violecircncia

contra as mulheres visando o acolhimento das mesmas natildeo apenas nos serviccedilos de

sauacutede mas em outros setores da sociedade Da mesma forma a criaccedilatildeo e

organizaccedilatildeo de serviccedilos multiprofissionais de atendimento agraves mulheres em situaccedilatildeo

de violecircncia para seu devido enfrentamento de modo que os mesmos estejam

articulados na loacutegica da intersetorialidade com os campos da sauacutede do serviccedilo

social e do direito no desenvolvimento de accedilotildees preventivas e assistenciais na

perspectiva da atenccedilatildeo integral agraves mulheres

Para aleacutem da organizaccedilatildeo de serviccedilos para o enfrentamento da violecircncia

contra as mulheres e apoio a essas viacutetimas evidencia-se tambeacutem a urgecircncia de

maior qualificaccedilatildeo sobre a temaacutetica de profissionais que atuam nesses campos para

que possam atender demandas dessa natureza de modo mais solidaacuterio

respeitando-se as subjetividades e singularidades implicadas nessas situaccedilotildees

Os Assistentes Sociais tecircm atuado como mediadores proporcionando a

escolha para as mulheres do que melhor lhes conveacutem Tal direcionamento vai ao

encontro da proposta aqui formulada na qual considera o profissional como sendo

um facilitador que em nome de valores como liberdade individual independecircncia e

autonomia fornece suporte ao processo de fortalecimento destas usuaacuterias ou seja

eacute o profissional que vecirc aleacutem do aparente (TAVARES 2008)

Sabe-se que jaacute existem leis especiacuteficas para o enfrentamento da violecircncia

contra as mulheres poreacutem ainda eacute preciso que as mesmas sejam incorporadas pela

sociedade como cultura poliacutetica para que accedilotildees mais efetivas sejam de fato

implementadas

26

Como estrateacutegia para a ampliaccedilatildeo do escopo das praacuteticas dessa natureza no

acircmbito das poliacuteticas puacuteblicas destaca-se a criaccedilatildeo de accedilotildees intersetoriais com

movimentos organizados de mulheres organizaccedilotildees governamentais e natildeo

governamentais de defesa aos direitos das mulheres serviccedilos de sauacutede e da accedilatildeo

social delegacias de policia organizaccedilotildees de bairros escolas dentre outros

segmentos sociais

Outra importante accedilatildeo se refere agrave incorporaccedilatildeo das questotildees relativas agrave

violecircncia e mais especificamente contra as mulheres foco deste estudo como um

tema transversal nas escolas o qual deve ser abordado natildeo apenas com alunos e

professores mas tambeacutem com as famiacutelias que integram a comunidade escolar

Para tanto a interlocuccedilatildeo do Serviccedilo Social com essa questatildeo se faz

necessaacuteria uma vez que a violecircncia domestica eacute um fenocircmeno social e portanto

deve ser enfrentada mediante o conjunto de estrateacutegias poliacuteticas e de intervenccedilatildeo

social direta

Desde esta perspectiva os profissionais do Serviccedilo Social devem intervir

diretamente na realidade social dos sujeitos tendo como pressuposto de atuaccedilatildeo a

articulaccedilatildeo do trabalho em redes promovendo a co-participaccedilatildeo e co-

responsabilizaccedilatildeo dos atores envolvidos nessa problemaacutetica desde a tomada de

decisotildees ateacute os encaminhamentos que se fizerem necessaacuterios para o enfrentamento

positivo e superaccedilatildeo de situaccedilotildees de violecircncia contra as mulheres

A partir de accedilotildees mais efetivas e da conscientizaccedilatildeo dos atores sociais de

que a violecircncia eacute hoje um problema de relevacircncia mundial e de sauacutede puacuteblica no

cenaacuterio brasileiro almeja-se a detecccedilatildeo precoce de situaccedilotildees de violecircncia

abordagem adequada e qualificada agraves viacutetimas e os devidos encaminhamento para o

atendimento desta demanda com eacutetica competecircncia e de forma mais humanizada

Atuaccedilatildeo esta pautada em valores societaacuterios em que homens e mulheres tenham

os mesmos direitos de cidadania buscando a superaccedilatildeo de todas as formas de

violecircncia preconceitos discriminaccedilotildees e desigualdades

27

REFEREcircNCIAS

BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Violecircncia intrafamiliar orientaccedilotildees para a praacutetica em serviccedilos Cadernos de Atenccedilatildeo Baacutesica n 8 BrasiacuteliaDF 2002 CABRAL F B OLIVEIRA D LL C de CECCIM R B O puerpeacuterio e a sauacutede da mulher vulnerabilidade e atenccedilatildeo baacutesica agrave sauacutede In Ensino e atenccedilatildeo agrave sauacutede da mulher aprendizados da integraccedilatildeo da educaccedilatildeo superior com a rede assistencial edCaxias do Sul EDUCS Editora da Universidade de Caxias do Sul 2008 p 137-157 CAMARGO M AQUINO S de (2003) Redes de cidadania e parcerias- Enfrentando a rota criacutetica Secretaria Especial de Poliacuteticas para as Mulheres Programa de prevenccedilatildeo assistecircncia e combate agrave violecircncia contra a mulher- plano nacional Brasiacutelia 2003 DrsquoOLIVEIRA A F SCHRAIBER L B Violecircncia Contra a Mulher a pesquisa e a intervenccedilatildeo Revista Promoccedilatildeo da Sauacutede n 6 80- 8 2002 DE FERRANTE FG SANTOS MA VIEIRA EM Violecircncia contra a mulher percepccedilatildeo dos meacutedicos das unidades baacutesicas de sauacutede da cidade de Ribeiratildeo Preto Satildeo Paulo Satildeo Paulo Interface - Comunic Saude Educ 13(31)287-99 outdez 2009

DOLIVEIRA AFPL SCHREIBER LB HANADA H DURANDJ Atenccedilatildeo integral agrave sauacutede de mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia de gecircnero ndash uma alternativa para a atenccedilatildeo primaacuteria em sauacutede Rio de Janeiro Ciecircnc Sauacutede Coletiva 14(4) julhoago 2009

GALVAtildeOFEANDRADESM Violecircncia contra a mulher anaacutelise de casos atendidos em serviccedilo de atenccedilatildeo agrave mulher em municiacutepio do Sul do Brasil Sauacutede e Sociedade 13(2)p89-99 maio-ago 2004 GIL A C Como Elaborar Projetos de Pesquisa 4 ed Satildeo Paulo Atlas 2009

LEONCIO LK ET AL O perfil das mulheres vitimizadas e seus agressores Rev enferm UERJ Rio de Janeiro 16(3)307-12 julset 2008 MEDINA ABC PENNA LHG Violecircncia na gestaccedilatildeo um estudo da produccedilatildeo cientiacutefica de 2000 a 2005 Esc Anna Nery 12(4)793-98 dez 2008 MENEGHEL ST INtildeIGUEZ L Contadores de histoacuterias praacuteticas discursivas e violecircncia de gecircnero Cad Sauacutede Puacuteblica Rio de Janeiro 23(8)1815-1824 ago 2007 MEYER D E Teorias e poliacuteticas de gecircnero fragmentos histoacutericos e desafios atuais Revista Brasileira de Enfermagem Brasiacutelia v57 n1 p13-8 janfev 2004

28

MINAYO M C et al Pesquisa social teoria meacutetodo criatividade Petroacutepolis Vozes 2002 MONTEIROCFS Arauacutejo TME NunesBMV LustosaAR BezerraCMJ A Violecircncia contra a mulher atendida em uma unidade de urgecircncia uma contribuiccedilatildeo da enfermagem Esc Anna Nery 10(2)273-9 ago 2006 MOTA JCMVASCONCELOS AGG ASSIS SG Anaacutelise de correspondecircncia como estrateacutegia para descriccedilatildeo do perfil da mulher viacutetima do parceiro atendida em serviccedilo especializado Ciecircncia e Sauacutede coletiva 12 (3)799890 2007 REZENDE EJC ET AL Lesotildees buco-dentais em mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia um estudo piloto de casos periciados no IML de Belo Horizonte MG Rev Bras Epidemiol 10(2) 202-14 2007 SCARANTO CAA BIAZEVICMGH MICHEL-CROSATOE Percepccedilatildeo dos Agentes Comunitaacuterios de Sauacutede sobre a Violecircncia Domeacutestica contra a Mulher Psicol ciecircnc Prof 27(4)694-705 2007 SCHRAIBER L B DOLIVEIRA A F L P Violecircncia contra mulheres interfaces com a Sauacutede Comunicaccedilatildeo Sauacutede Educaccedilatildeo v3 n5 1999 SILVA LL ET AL Violecircncia silenciosa violecircncia psicoloacutegica como condiccedilatildeo da violecircncia fiacutesica domeacutestica Interface - Comunic Sauacutede Educ v11 n21 p93-103 janabr 2007 SILVA LL ET AL Violecircncia silenciosa violecircncia psicoloacutegica como condiccedilatildeo da violecircncia fiacutesica domeacutestica Interface - Comunic Sauacutede Educ v11 n21 p93-103 janabr 2007 TAVARES F A Daacutes Laacutegrimas agrave Esperanccedila o processo de fortalecimento das mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia domeacutestica 2008 Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Serviccedilo Social Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica do Rio Grande do Sul Porto Alegre 2008 VIEIRAMEET AL Conhecimento e atitudes dos profissionais de sauacutede em relaccedilatildeo agrave violecircncia de gecircnero Rev Bras Epidemiol 12(4) 566-77 2009 WILHEL FA TONET J Percepccedilatildeo sobre a violecircncia domeacutestica na perspectiva de mulheres vitimadas Psicol Argum Curitiba 25 (51)401-412 outdez 2007

29

ANEXO 1 - Quadro analiacutetico ndash Violecircncia domestica contra a mulher e sauacutede publica ndash 2000-2009

Titulo Revista

Origem Subaacuterea de

conhecimento

Tipo Natureza Ano de

publicaccedilatildeo

Regiatildeo da

pesquisa

Violecircncia contra a mulher anaacutelise de casos atendidos em serviccedilo de atenccedilatildeo agrave mulher em municiacutepio do sul do Brasil Rev Sauacutede e Sociedade v13 n2 p89-99 maio-ago 2004

GALVAtildeOFEANDRADESM

Artigo Sociologia Pesquisa

investigaccedilatildeo

Qualitativo

sociocultural 2004 Regiatildeo Sul

A violecircncia contra a mulher atendida em unidade de urgecircncia uma contribuiccedilatildeo da enfermagem Esc Anna Nery R Enferm 2006 ago 10 (2) 273-9

MONTEIROCFS Arauacutejo TME NunesBMV LustosaAR BezerraCMJ

Artigo Enfermagem Pesquisa

Investigaccedilatildeo

Quantitativo

sociocultural 2006 Regiatildeo

Norte

Percepccedilatildeo dos Agentes Comunitaacuterios de Sauacutede sobre a Violecircncia Domeacutestica contra a Mulher Psicol ciecircnc prof27(4)694-705 2007

SCARANTO CAA BIAZEVICMGH MICHEL-CROSATOE

Artigo Psicologia Pesquisa

Investigaccedilatildeo

Qualitativo

sociocultural 2007 Regiatildeo Sul

Violecircncia silenciosa violecircncia psicoloacutegica como condiccedilatildeo da violecircncia fiacutesica domeacutestica

Artigo Psicologia Revisatildeo sociocultural 2007 Regiatildeo Sul

30

Interface-Comunic Sauacutede Educ v11 n21 p93-103 janabr 2007

SILVA LL ET AL

Qualitativa

Anaacutelise de correspondecircncia como estrateacutegia para descriccedilatildeo do perfil da mulher viacutetima do parceiro atendida em serviccedilo especializado Ciecircncia e Sauacutede coletiva12 (3)799890 2007

MOTA JCMVASCONCELOS AGG ASSIS SG

Artigo multiprofissional Pesquisa Qualiquanti

epidemioloacutegi

co

2007 Centro

Contadores de histoacuterias praacuteticas discursivas e violecircncia de gecircnero Cad Sauacutede Puacuteblica Rio de Janeiro 23(8)1815-1824 ago 2007

MENEGHEL ST INtildeIGUEZ L

Artigo multiprofissional Pesquisa Qualitativa

Sociocultural 2007 Regiatildeo sul

Lesotildees buccedilo-dentais em mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia um estudo piloto de casos periciados no IML de Belo Horizonte MG Rev Bras Epidemiol 2007 10(2) 202-14

REZENDE EJC ET AL

Artigo Odontologia Pesquisa

Documental

Clinico 2007 Regiatildeo

sudeste

Percepccedilatildeo sobre a violecircncia domeacutestica na perspectiva de mulheres vitimadas Psicol Argum Curitiba v 25 n 51 p 401-412 outdez 2007

WILHEL FA TONET J

Artigo Psicologia Pesquisa

qualitativa

Sociocultural 2007 Regiatildeo Sul

O perfil de mulheres vitimizadas e de seus agressores Rev enferm UERJ Rio de Janeiro 2008 julset

Artigo Enfermagem Pesquisa Sociocultural 2008 Regiatildeo

31

16(3)307-12

LEONCIO LK ET AL documental

quantitativa

sudeste

Violecircncia na gestaccedilatildeo um estudo da produccedilatildeo cientiacutefica de 2000 a 2005 Esc Anna Nery Rev Enferm 2008 dez 12 (4) 793-98

MEDINA ABC PENNA LHG

Artigo Enfermagem Pesquisa

qualitativa

Sociocultural 2008 Regiatildeo

Sudeste

Conhecimento e atitudes dos profissionais de sauacutede em relaccedilatildeo agrave violecircncia de gecircnero Rev Bras Epidemiol 2009 12(4) 566-77

VIEIRAMEET AL

Artigo Multidisciplinar Pesquisa Qualitativa

Sociocultural 2009 Regiatildeo Sudeste

Violecircncia contra a mulher percepccedilatildeo dos meacutedicos das unidades baacutesicas de sauacutede da cidade de Ribeiratildeo Preto Satildeo Paulo Interface - Comunic Saude Educ v13 n31 p287-99 outdez 2009

DE FERRANTE FG SANTOS MA VIEIRA EM

Artigo Multidisciplinar Pesquisa Qualitativa

Sociocultural 2009 Regiatildeo Sudeste

32

33

17

entendimento de sua posiccedilatildeo como sujeito de direitos dentre os quais o de uma

vida sem violecircncia

Com base nos estudos analisados percebeu-se que a violecircncia domeacutestica

contra as mulheres envolve questotildees culturais e de gecircnero Nesse sentido a

prevenccedilatildeo ou minimizaccedilatildeo de situaccedilotildees relativas agrave violecircncia domeacutestica requer accedilotildees

intersetoriais que mobilizem os diversos segmentos da sociedade para que

conjuntamente atuem de forma proacute-ativa no enfrentamento desta problemaacutetica

Uma estrateacutegia importante seria a inclusatildeo da temaacutetica como um tema

transversal nas escolas a ser abordado natildeo apenas com alunos e professores mas

tambeacutem com as famiacutelias que integram a comunidade escolar

Para aleacutem da organizaccedilatildeo de serviccedilos para o enfrentamento da violecircncia

contra as mulheres e apoio a essas viacutetimas evidencia-se tambeacutem a necessidade de

maior qualificaccedilatildeo sobre a temaacutetica de profissionais que atuam no campo da sauacutede

e do serviccedilo social para que possam atender esta demanda com eacutetica competecircncia

e de forma mais humanizada Atuaccedilatildeo esta pautada em valores societaacuterios em que

homens e mulheres tenham os mesmos direitos de cidadania buscando a

superaccedilatildeo de todas as formas de violecircncia preconceitos discriminaccedilotildees e

desigualdades

18

PERFIL DAS MULHERES QUE SOFRERAM VIOLEcircNCIA

A maioria das produccedilotildees traccedilou o perfil das mulheres vitimas de violecircncia

domeacutestica que procuram atendimento em serviccedilos de sauacutede tendo como variaacuteveis a

faixa etaacuteria profissatildeo estado civil escolaridade dentre outros

Galvatildeo e Andrade (2004) pesquisaram o perfil de mulheres em situaccedilatildeo de

violecircncia atendidas em um Centro de Atendimento agrave Mulher (CAM) em Londrina

Paranaacute a partir de informaccedilotildees extraiacutedas das fichas desses atendimentos A faixa

etaacuteria que predominou entre as mulheres atendidas no CAM foi agrave de 30 a 39 anos

seguida da faixa etaacuteria de 20 a 29 anos sendo que a meacutedia de idade foi de 34 anos

Com relaccedilatildeo ao estado civil 472 das mulheres declararam-se casadas 266

dos casos as mulheres que conviviam com um companheiro fixo numa relaccedilatildeo

consensual e 54 possuem um ou dois filhos Quanto agrave escolaridade 581 dessas

mulheres natildeo concluiacuteram o ensino fundamental 128 concluiacuteram o ensino meacutedio e

a taxa de analfabetismo foi de 21 sendo que 558 desenvolvia algum tipo de

trabalho remunerado Os principais agressores satildeo os atuais maridos ou

companheiros das mulheres (734) e quase a totalidade dos casos (974)

ocorreu no ambiente domeacutestico Quanto agrave caracterizaccedilatildeo dos casos de violecircncia

prevalece a violecircncia emocional com 564 dos casos seguida pela violecircncia fiacutesica

com 321 Quanto ao tempo em que vivenciam situaccedilotildees de violecircncia 33 das

mulheres vecircm sofrendo agressotildees por periacuteodos de ateacute um ano e 204 dos casos

refere-se a mulheres que sofrem agressotildees haacute mais de 10 anos

Estudo realizado por Monteiro et al (2006) sobre o perfil de mulheres que

sofreram violecircncia atendidas em uma unidade de urgecircncia em Teresina Piauiacute

indicou que 78 encontrava-se na faixa etaacuteria entre 18 e 40 anos e que 40 delas

natildeo trabalhavam fora de casa desempenhando exclusivamente as tarefas

domeacutesticas relativas ao cuidado coma casa e filhos As agressotildees nos membros

superiores ocorreram com maior frequumlecircncia (44) seguida das agressotildees na face

(33) Revelou ainda que a maioria dessas mulheres natildeo relatou os motivos pelos

quais foram agredidas ainda que o aacutelcool tenha sido apontado em 19 dos casos

como o principal motivo desencadeador das agressotildees seguido do ciuacutemes

Tambeacutem haacute um grande nuacutemero de subnotificaccedilatildeo em relaccedilatildeo ao agressor (80)

19

possivelmente em funccedilatildeo da dependecircncia econocircmica e por medo de vinganccedila do

companheiro Quanto agraves condutas adotadas pelos profissionais de sauacutede a grande

maioria (83) limita-se ao atendimento de queixas de menor complexidade como

aquelas que exigiram sutura simples ou consulta meacutedica Recomendam ainda que o

apoio as viacutetimas de violecircncia deve ter iniacutecio no serviccedilo de urgecircncia de forma

articulada com outros serviccedilos que tratam da mesma questatildeo como as Delegacias

Especiais de Atendimento agrave Mulher (DEAM) os Conselhos de Direitos da Mulher

Abrigos e outras instituiccedilotildees

Mota Vasconcelos e Assis (2007) analisaram as informaccedilotildees das fichas de

atendimento de um centro especializado no atendimento a mulheres viacutetimas de

violecircncia no municiacutepio do Rio de Janeiro totalizando 684 fichas de atendimento

dessas mulheres Dessa anaacutelise os autores traccedilaram o perfil dessas mulheres as

quais apresentaram idade meacutedia de 37 anos Para os autores o baixo status

econocircmico a baixa escolaridade e consequumlentemente o acesso agrave informaccedilatildeo

podem ter sido condiccedilotildees facilitadoras para a ocorrecircncia de situaccedilotildees de violecircncia

domeacutestica contra mulheres pelo cocircnjuge na populaccedilatildeo analisada Por outro lado as

agressotildees fiacutesicas mais graves que ocorreram com mulheres que possuiacuteam maior

niacutevel de escolaridade podem ter sido potencializadas pelo fato de as mesmas natildeo

terem aceitado essa violecircncia de modo passivo implicando em um conflito ainda

maior e em agressotildees fiacutesicas mais graves O estudo evidenciou ainda que a

violecircncia domeacutestica contra a mulher envolve questotildees culturais e de gecircnero com

implicaccedilotildees nas questotildees relativas agrave conjugalidade Assim a violecircncia domeacutestica

contra a mulher estaacute vinculada ao tradicional controle masculino baseado no papel

de provedor cuja desigualdade de gecircnero potencializa conflitos e colabora para a

ocorrecircncia de situaccedilotildees de violecircncia de ordem fiacutesica psicoloacutegica ou moral

Pesquisa retrospectiva e documental desenvolvida por Leonsio et al (2008)

analisou 446 boletins de ocorrecircncia em uma Delegacia de Defesa da Mulher em

Ribeiratildeo Preto Satildeo Paulo Em seus resultados os autores destacaram que 3408 das

mulheres estavam em faixa etaacuteria acima de 35 anos 7578 eram da raccedila branca e

4417 delas eram solteiras Quanto agrave ocupaccedilatildeo 5874 dessas mulheres

exerciam algum tipo de trabalho remunerado formal ou informal e 3722 possuiacuteam

o ensino fundamental completo Outro aspecto importante evidenciado pelo estudo foi

20

que 5471 das mulheres agredidas demoraram de 1 a 15 dias entre a agressatildeo e o tempo

da denuacutencia formal e 4215 registraram a ocorrecircncia no mesmo dia na delegacia Em

7691 dos casos o ambiente domeacutestico foi o local em que essas agressotildees ocorreram

Quanto ao agressor foi observado nos boletins de ocorrecircncia investigados que em 4910

dos casos os parceiros foram os principais denunciados seguidos de ex-parceiros com

1816 das ocorrecircncias Dentre os motivos desencadeantes da agressatildeo 4462

corresponderam agrave recusa da separaccedilatildeo conjugal 1435 ciuacutemes e 1996 por outros

motivos como bebidasdrogas

Estudo realizado por Resende et al (2007) analisou registros e laudos

encaminhados ao setor de Odontologia do IML de Belo Horizonte sobre as lesotildees

bucomaxilares sofridas por mulheres vitimas de violecircncia domeacutestica A faixa etaacuteria

predominante das mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia foi de 20 a 39 anos

representando 704 do total sendo a idade meacutedia correspondente a 303 anos

Quanto agrave ocupaccedilatildeo 241 das mulheres realizavam trabalhos domeacutesticos 213

se intitulavam ldquodonas-de-casardquo e 14 trabalhavam no comeacutercio A maioria das

mulheres que sofreu agressotildees declarou-se solteira perfazendo um total de 63

enquanto que o percentual de casadas foi menor correspondendo apenas 204

Foi constatado o elevado percentual de 611 dos casos em que o agressor natildeo foi

identificado (611) em 25 o sujeito agressor foi o companheiro em 37 foram

familiares e em 74 foram conhecidos perfazendo um total de 361 contra 28

de violecircncia realizada por estranhos

A complexidade da problemaacutetica da violecircncia domeacutestica contra as mulheres

tem implicaccedilotildees em questotildees culturais e de gecircnero vinculada a construccedilatildeo social

de papeacuteis desiguais entre homens e mulheres que potencializa conflitos e colabora

para a ocorrecircncia de situaccedilotildees de violecircncia de ordem fiacutesica psicoloacutegica ou moral

Ainda nesse sentido costuma ser difiacutecil para a maioria das mulheres tomarem a

atitude de denunciar seus companheiros agressores e romper com a situaccedilatildeo de

violecircncia principalmente em funccedilatildeo do medo de vinganccedila e da dependecircncia

econocircmica agrave renda do marido

21

A VIOLEcircNCIA CONTRA A MULHER NA OacuteTICA DAS VITIMAS E DOS

PROFISSIONAIS DE SAUacuteDE

Estudo desenvolvido por Vieira et al (2009) sobre o conhecimento e atitudes

dos profissionais de sauacutede em relaccedilatildeo agrave violecircncia de gecircnero destaca a importacircncia

do atendimento de mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia nos serviccedilos de sauacutede jaacute que

este eacute muitas vezes o uacutenico local procurado pelas viacutetimas A maioria dos

profissionais que participou do estudo demonstrou bom conhecimento sobre a

definiccedilatildeo de violecircncia contra a mulher aleacutem de reconhecer como seu papel

profissional perguntar sobre violecircncia para as pacientes Indicou ainda que esses

profissionais acreditam que para uma melhor atenccedilatildeo agrave violecircncia deveria ser

implantado em sua rotina de trabalho um protocolo de enfrentamento da violecircncia

Os autores tambeacutem evidenciaram a necessidade maiores investimentos na

capacitaccedilatildeo e qualificaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede que devem estar aptos para

reconhecer e manejar os casos de violecircncia

Pesquisa realizada por De Ferrant Santos e Vieira (2009) sobre a percepccedilatildeo

dos meacutedicos de uma unidade baacutesica de Ribeiratildeo Preto Satildeo Paulo em relaccedilatildeo agrave

violecircncia domeacutestica contra a mulher revelou que a maior parte deles acredita que a

violecircncia psicoloacutegica eacute a mais grave pois a proacutepria mulher apresenta dificuldade em

reconhececirc-la como algo prejudicial agrave sua sauacutede a ponto de frequentemente

permanecer exposta agrave situaccedilatildeo durante anos a fio Os resultados indicam que os

meacutedicos detecircm alguns conhecimentos acerca dos tipos de violecircncia de gecircnero e satildeo

capazes de identificar e muitas vezes acolher as mulheres que estatildeo expostas agrave

situaccedilatildeo Contudo destacam uma seacuterie de dificuldades para atuarem frente a uma

usuaacuteria que apresenta essa problemaacutetica e reconhecem a falta de capacitaccedilatildeo

profissional uma vez que muitos deles reforccedilam a necessidade de um treinamento

voltado especificamente para os casos de violecircncia de gecircnero Da mesma forma que

apontam outras barreiras pessoais e institucionais que limitam sua atuaccedilatildeo tanto

em niacutevel preventivo como interventivo que muitas vezes os impedem de agir

adequadamente frente a uma situaccedilatildeo de violecircncia Entre elas destacam-se os

meacutedicos sentem-se impotentes frente agraves atitudes que a mulher possa vir a tomar

mesmo depois de orientada afirmam que temem tomar qualquer atitude por medo

22

da reaccedilatildeo do agressor Os autores sugerem a necessidade de um trabalho integrado

e em rede que ofereccedila uma resposta efetiva para o problema da violecircncia de

gecircnero Aleacutem disso eacute preciso investir na qualificaccedilatildeo dos outros profissionais de

sauacutede aleacutem dos meacutedicos para que se viabilize um atendimento multidisciplinar

para que os serviccedilos de sauacutede se constituam em espaccedilos de acolhimento e apoio

integrando-se efetivamente agrave rede de atendimento

Wilhelm e Tonet (2007) em seu estudo sobre a percepccedilatildeo de mulheres que

sofreram violecircncia domeacutestica em um municiacutepio do interior de Santa Catarina indicou

a ocorrecircncia de depressatildeo ansiedade medo e sentimento de baixa auto-estima Na

oacutetica dessas mulheres parte das agressotildees acontece somente no momento em que

seus companheiros estatildeo alcoolizados Aleacutem da violecircncia fiacutesica (tais como socos

arranhotildees puxotildees de cabelo arremesso de objetos chutes tapas e beliscotildees)

ocorrem as humilhaccedilotildees e a desqualificaccedilatildeo sendo ridicularizadas perante os

amigos do agressor sua famiacutelia e desautorizada perante os filhos Quanto ao

comportamento violento do companheiro este eacute justificado por fatores externos

deste modo desresponsabilizando-o como por exemplo as dificuldades

financeiras desemprego e uso de drogas dentre outros Muitos satildeo os motivos

pelos quais a mulher natildeo denuncia seu marido agressor passando a viver muitos

anos neste contexto de violecircncia dentre os quais destaca-se dependecircncia

financeira filhos fator cultural e ameaccedilas Da mesma forma todas demonstraram a

esperanccedila de que o companheiro mudasse em relaccedilatildeo ao seu comportamento

violento Aleacutem de poliacuteticas puacuteblicas mais efetivas par ao enfrentamento da violecircncia

domeacutestica Eacute necessaacuterio promover poliacuteticas puacuteblicas mais efetivas em relaccedilatildeo ao

enfrentamento da violecircncia domeacutestica bem como maiores investimentos em redes

de apoio social efetiva para a mulher e seus filhos as quais muitas vezes estatildeo

subjugadas ao seu agressor devido agrave dependecircncia econocircmica Em relaccedilatildeo a este eacute

importante promover grupos de homens com a finalidade de propiciar a discussatildeo

sobre violecircncia relaccedilotildees e gecircnero e formas alternativas de resoluccedilatildeo de conflitos

Estudo de Scaranto Biazevic e Michel (2007) sobre a percepccedilatildeo dos Agentes

Comunitaacuterios de Sauacutede (ACS) sobre a Violecircncia Domeacutestica contra a Mulher em um

municiacutepio do interior do Rio Grande do Sul identificou relatos de situaccedilotildees de

violecircncia domeacutestica contra a mulher cometida por seu companheiro seja fiacutesica

23

sexual psicoloacutegica ou econocircmica A obediecircncia aos maridoscompanheiros vai

desde o cuidado pessoal ateacute o desempenho sexual A vergonha pela violecircncia

sofrida eacute infinitamente maior do que a coragem da mulher para denunciar

Constatou-se que o ACS pode ser o elo entre a vergonha e a coragem para a

mulher denunciar o problema da violecircncia o que significa que ele parece ser de

fundamental importacircncia no acolhimento das anguacutestias dessas mulheres no

encorajamento para o relato de sofrimento na detecccedilatildeo da questatildeo da violecircncia

que pode estar acompanhada pela depressatildeo ansiedade ou ateacute mascarada por

algum tipo de queixa vaga e em consequumlecircncia fazer o encaminhamento de

referecircncia correto e eficiente na denuacutencia Eacute preciso dar subsiacutedios teoacuterico-praacuteticos

aos profissionais para que em seu trabalho cotidiano possam detectar situaccedilotildees de

violecircncia encontrar a forma de abordar as famiacutelias e dar encaminhamento tanto aos

casos de violecircncia quanto de uso de aacutelcooldrogas A violecircncia contra a mulher deve

ser considerada como questatildeo de sauacutede puacuteblica a partir do conceito ampliado de

sauacutede motivo pelo qual necessita ser alvo de poliacuteticas puacuteblicas efetivas e

consistentes assim como mecanismos de proteccedilatildeo agrave mulher viacutetima de violecircncia

tambeacutem precisam ser criados

Com base nos artigos analisados constatou-se que muitos profissionais tecircm

dificuldades em reconhecer a violecircncia como um problema de sauacutede devido agrave falta

de subsiacutedios teoacuterico-praacuteticos para a detecccedilatildeo de situaccedilotildees de violecircncia abordagem

adequada agraves viacutetimas e os devidos encaminhamentos para o atendimento desta

demanda

24

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Este estudo teve se propocircs a conhecer o que a literatura especializada em

sauacutede dos uacuteltimos dez anos disponiacutevel on line traz a respeito da violecircncia

domestica contra a mulher no periacuteodo de 2000 a 2009

Com base nos artigos analisados percebe-se que o baixo status econocircmico

o niacutevel de instruccedilatildeo e consequumlentemente o acesso agrave informaccedilatildeo podem ser

considerados como condiccedilotildees facilitadoras para a ocorrecircncia de situaccedilotildees de

violecircncia domeacutestica

Em muitos casos a dependecircncia econocircmica da mulher agrave renda do marido

impotildee a necessidade desta em ter de permanecer com ele mesmo diante de

situaccedilotildees de violecircncia

De modo geral os estudos analisadas indicaram os maridos ou companheiros

atuais das mulheres ou ainda seus ex-companheiros como os principais

agressores sendo o ambiente domeacutestico o local predominate destas agressotildees

Outro aspecto evidenciado nos achados desta pesquisa se refere ao fato de

que a maioria dessas mulheres natildeo relatou os motivos pelos quais foram agredidas

ainda que o aacutelcool tenha sido apontado como o principal motivo desencadeador das

agressotildees seguido do sentimento de ciuacutemes Tambeacutem se verificou o grande

nuacutemero de sub-notificaccedilatildeo dos casos de violecircncia contra as mulheres Assim infere-

se que possivelmente isto ocorra em funccedilatildeo da dependecircncia econocircmica e por

medo de vinganccedila

A natureza soacutecio-cultural e a subaacuterea multiprofissional prevalente nas

produccedilotildees analisadas evidenciaram a multiplicidade de aspectos relevantes a

temaacutetica da violecircncia como um complexo problema de sauacutede puacuteblica sinalizando

para a urgecircncia de um movimento reflexivo seja no acircmbito da formaccedilatildeo de

profissionais de sauacutede seja na praacutetica profissional para o enfrentamento desta

questatildeo

Destaca-se a importacircncia de pesquisa bibliograacuteficas para a sistematizaccedilatildeo

das produccedilotildees cientiacuteficas nacionais na temaacutetica violecircncia domestica contra a mulher

para o (re)conhecimento do estado da arte sobre a temaacutetica em anaacutelise fato este

25

fundamental para subsidiar futuras intervenccedilotildees no acircmbito das praacuteticas e serviccedilos

de sauacutede e da accedilatildeo social

A complexidade que envolve as questotildees relativas agrave violecircncia contra a mulher

exige accedilotildees capazes de dar conta das inuacutemeras demandas apresentadas o que

implica na articulaccedilatildeo entre as diferentes aacutereas de conhecimento e de atuaccedilatildeo

multiprofissional

Nessa loacutegica faz-se necessaacuterio maior investimento na qualificaccedilatildeo de

profissionais de sauacutede do serviccedilo social do direito entre outros para o

reconhecimento e identificaccedilatildeo dos sinais que possam indicar situaccedilotildees de violecircncia

contra as mulheres visando o acolhimento das mesmas natildeo apenas nos serviccedilos de

sauacutede mas em outros setores da sociedade Da mesma forma a criaccedilatildeo e

organizaccedilatildeo de serviccedilos multiprofissionais de atendimento agraves mulheres em situaccedilatildeo

de violecircncia para seu devido enfrentamento de modo que os mesmos estejam

articulados na loacutegica da intersetorialidade com os campos da sauacutede do serviccedilo

social e do direito no desenvolvimento de accedilotildees preventivas e assistenciais na

perspectiva da atenccedilatildeo integral agraves mulheres

Para aleacutem da organizaccedilatildeo de serviccedilos para o enfrentamento da violecircncia

contra as mulheres e apoio a essas viacutetimas evidencia-se tambeacutem a urgecircncia de

maior qualificaccedilatildeo sobre a temaacutetica de profissionais que atuam nesses campos para

que possam atender demandas dessa natureza de modo mais solidaacuterio

respeitando-se as subjetividades e singularidades implicadas nessas situaccedilotildees

Os Assistentes Sociais tecircm atuado como mediadores proporcionando a

escolha para as mulheres do que melhor lhes conveacutem Tal direcionamento vai ao

encontro da proposta aqui formulada na qual considera o profissional como sendo

um facilitador que em nome de valores como liberdade individual independecircncia e

autonomia fornece suporte ao processo de fortalecimento destas usuaacuterias ou seja

eacute o profissional que vecirc aleacutem do aparente (TAVARES 2008)

Sabe-se que jaacute existem leis especiacuteficas para o enfrentamento da violecircncia

contra as mulheres poreacutem ainda eacute preciso que as mesmas sejam incorporadas pela

sociedade como cultura poliacutetica para que accedilotildees mais efetivas sejam de fato

implementadas

26

Como estrateacutegia para a ampliaccedilatildeo do escopo das praacuteticas dessa natureza no

acircmbito das poliacuteticas puacuteblicas destaca-se a criaccedilatildeo de accedilotildees intersetoriais com

movimentos organizados de mulheres organizaccedilotildees governamentais e natildeo

governamentais de defesa aos direitos das mulheres serviccedilos de sauacutede e da accedilatildeo

social delegacias de policia organizaccedilotildees de bairros escolas dentre outros

segmentos sociais

Outra importante accedilatildeo se refere agrave incorporaccedilatildeo das questotildees relativas agrave

violecircncia e mais especificamente contra as mulheres foco deste estudo como um

tema transversal nas escolas o qual deve ser abordado natildeo apenas com alunos e

professores mas tambeacutem com as famiacutelias que integram a comunidade escolar

Para tanto a interlocuccedilatildeo do Serviccedilo Social com essa questatildeo se faz

necessaacuteria uma vez que a violecircncia domestica eacute um fenocircmeno social e portanto

deve ser enfrentada mediante o conjunto de estrateacutegias poliacuteticas e de intervenccedilatildeo

social direta

Desde esta perspectiva os profissionais do Serviccedilo Social devem intervir

diretamente na realidade social dos sujeitos tendo como pressuposto de atuaccedilatildeo a

articulaccedilatildeo do trabalho em redes promovendo a co-participaccedilatildeo e co-

responsabilizaccedilatildeo dos atores envolvidos nessa problemaacutetica desde a tomada de

decisotildees ateacute os encaminhamentos que se fizerem necessaacuterios para o enfrentamento

positivo e superaccedilatildeo de situaccedilotildees de violecircncia contra as mulheres

A partir de accedilotildees mais efetivas e da conscientizaccedilatildeo dos atores sociais de

que a violecircncia eacute hoje um problema de relevacircncia mundial e de sauacutede puacuteblica no

cenaacuterio brasileiro almeja-se a detecccedilatildeo precoce de situaccedilotildees de violecircncia

abordagem adequada e qualificada agraves viacutetimas e os devidos encaminhamento para o

atendimento desta demanda com eacutetica competecircncia e de forma mais humanizada

Atuaccedilatildeo esta pautada em valores societaacuterios em que homens e mulheres tenham

os mesmos direitos de cidadania buscando a superaccedilatildeo de todas as formas de

violecircncia preconceitos discriminaccedilotildees e desigualdades

27

REFEREcircNCIAS

BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Violecircncia intrafamiliar orientaccedilotildees para a praacutetica em serviccedilos Cadernos de Atenccedilatildeo Baacutesica n 8 BrasiacuteliaDF 2002 CABRAL F B OLIVEIRA D LL C de CECCIM R B O puerpeacuterio e a sauacutede da mulher vulnerabilidade e atenccedilatildeo baacutesica agrave sauacutede In Ensino e atenccedilatildeo agrave sauacutede da mulher aprendizados da integraccedilatildeo da educaccedilatildeo superior com a rede assistencial edCaxias do Sul EDUCS Editora da Universidade de Caxias do Sul 2008 p 137-157 CAMARGO M AQUINO S de (2003) Redes de cidadania e parcerias- Enfrentando a rota criacutetica Secretaria Especial de Poliacuteticas para as Mulheres Programa de prevenccedilatildeo assistecircncia e combate agrave violecircncia contra a mulher- plano nacional Brasiacutelia 2003 DrsquoOLIVEIRA A F SCHRAIBER L B Violecircncia Contra a Mulher a pesquisa e a intervenccedilatildeo Revista Promoccedilatildeo da Sauacutede n 6 80- 8 2002 DE FERRANTE FG SANTOS MA VIEIRA EM Violecircncia contra a mulher percepccedilatildeo dos meacutedicos das unidades baacutesicas de sauacutede da cidade de Ribeiratildeo Preto Satildeo Paulo Satildeo Paulo Interface - Comunic Saude Educ 13(31)287-99 outdez 2009

DOLIVEIRA AFPL SCHREIBER LB HANADA H DURANDJ Atenccedilatildeo integral agrave sauacutede de mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia de gecircnero ndash uma alternativa para a atenccedilatildeo primaacuteria em sauacutede Rio de Janeiro Ciecircnc Sauacutede Coletiva 14(4) julhoago 2009

GALVAtildeOFEANDRADESM Violecircncia contra a mulher anaacutelise de casos atendidos em serviccedilo de atenccedilatildeo agrave mulher em municiacutepio do Sul do Brasil Sauacutede e Sociedade 13(2)p89-99 maio-ago 2004 GIL A C Como Elaborar Projetos de Pesquisa 4 ed Satildeo Paulo Atlas 2009

LEONCIO LK ET AL O perfil das mulheres vitimizadas e seus agressores Rev enferm UERJ Rio de Janeiro 16(3)307-12 julset 2008 MEDINA ABC PENNA LHG Violecircncia na gestaccedilatildeo um estudo da produccedilatildeo cientiacutefica de 2000 a 2005 Esc Anna Nery 12(4)793-98 dez 2008 MENEGHEL ST INtildeIGUEZ L Contadores de histoacuterias praacuteticas discursivas e violecircncia de gecircnero Cad Sauacutede Puacuteblica Rio de Janeiro 23(8)1815-1824 ago 2007 MEYER D E Teorias e poliacuteticas de gecircnero fragmentos histoacutericos e desafios atuais Revista Brasileira de Enfermagem Brasiacutelia v57 n1 p13-8 janfev 2004

28

MINAYO M C et al Pesquisa social teoria meacutetodo criatividade Petroacutepolis Vozes 2002 MONTEIROCFS Arauacutejo TME NunesBMV LustosaAR BezerraCMJ A Violecircncia contra a mulher atendida em uma unidade de urgecircncia uma contribuiccedilatildeo da enfermagem Esc Anna Nery 10(2)273-9 ago 2006 MOTA JCMVASCONCELOS AGG ASSIS SG Anaacutelise de correspondecircncia como estrateacutegia para descriccedilatildeo do perfil da mulher viacutetima do parceiro atendida em serviccedilo especializado Ciecircncia e Sauacutede coletiva 12 (3)799890 2007 REZENDE EJC ET AL Lesotildees buco-dentais em mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia um estudo piloto de casos periciados no IML de Belo Horizonte MG Rev Bras Epidemiol 10(2) 202-14 2007 SCARANTO CAA BIAZEVICMGH MICHEL-CROSATOE Percepccedilatildeo dos Agentes Comunitaacuterios de Sauacutede sobre a Violecircncia Domeacutestica contra a Mulher Psicol ciecircnc Prof 27(4)694-705 2007 SCHRAIBER L B DOLIVEIRA A F L P Violecircncia contra mulheres interfaces com a Sauacutede Comunicaccedilatildeo Sauacutede Educaccedilatildeo v3 n5 1999 SILVA LL ET AL Violecircncia silenciosa violecircncia psicoloacutegica como condiccedilatildeo da violecircncia fiacutesica domeacutestica Interface - Comunic Sauacutede Educ v11 n21 p93-103 janabr 2007 SILVA LL ET AL Violecircncia silenciosa violecircncia psicoloacutegica como condiccedilatildeo da violecircncia fiacutesica domeacutestica Interface - Comunic Sauacutede Educ v11 n21 p93-103 janabr 2007 TAVARES F A Daacutes Laacutegrimas agrave Esperanccedila o processo de fortalecimento das mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia domeacutestica 2008 Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Serviccedilo Social Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica do Rio Grande do Sul Porto Alegre 2008 VIEIRAMEET AL Conhecimento e atitudes dos profissionais de sauacutede em relaccedilatildeo agrave violecircncia de gecircnero Rev Bras Epidemiol 12(4) 566-77 2009 WILHEL FA TONET J Percepccedilatildeo sobre a violecircncia domeacutestica na perspectiva de mulheres vitimadas Psicol Argum Curitiba 25 (51)401-412 outdez 2007

29

ANEXO 1 - Quadro analiacutetico ndash Violecircncia domestica contra a mulher e sauacutede publica ndash 2000-2009

Titulo Revista

Origem Subaacuterea de

conhecimento

Tipo Natureza Ano de

publicaccedilatildeo

Regiatildeo da

pesquisa

Violecircncia contra a mulher anaacutelise de casos atendidos em serviccedilo de atenccedilatildeo agrave mulher em municiacutepio do sul do Brasil Rev Sauacutede e Sociedade v13 n2 p89-99 maio-ago 2004

GALVAtildeOFEANDRADESM

Artigo Sociologia Pesquisa

investigaccedilatildeo

Qualitativo

sociocultural 2004 Regiatildeo Sul

A violecircncia contra a mulher atendida em unidade de urgecircncia uma contribuiccedilatildeo da enfermagem Esc Anna Nery R Enferm 2006 ago 10 (2) 273-9

MONTEIROCFS Arauacutejo TME NunesBMV LustosaAR BezerraCMJ

Artigo Enfermagem Pesquisa

Investigaccedilatildeo

Quantitativo

sociocultural 2006 Regiatildeo

Norte

Percepccedilatildeo dos Agentes Comunitaacuterios de Sauacutede sobre a Violecircncia Domeacutestica contra a Mulher Psicol ciecircnc prof27(4)694-705 2007

SCARANTO CAA BIAZEVICMGH MICHEL-CROSATOE

Artigo Psicologia Pesquisa

Investigaccedilatildeo

Qualitativo

sociocultural 2007 Regiatildeo Sul

Violecircncia silenciosa violecircncia psicoloacutegica como condiccedilatildeo da violecircncia fiacutesica domeacutestica

Artigo Psicologia Revisatildeo sociocultural 2007 Regiatildeo Sul

30

Interface-Comunic Sauacutede Educ v11 n21 p93-103 janabr 2007

SILVA LL ET AL

Qualitativa

Anaacutelise de correspondecircncia como estrateacutegia para descriccedilatildeo do perfil da mulher viacutetima do parceiro atendida em serviccedilo especializado Ciecircncia e Sauacutede coletiva12 (3)799890 2007

MOTA JCMVASCONCELOS AGG ASSIS SG

Artigo multiprofissional Pesquisa Qualiquanti

epidemioloacutegi

co

2007 Centro

Contadores de histoacuterias praacuteticas discursivas e violecircncia de gecircnero Cad Sauacutede Puacuteblica Rio de Janeiro 23(8)1815-1824 ago 2007

MENEGHEL ST INtildeIGUEZ L

Artigo multiprofissional Pesquisa Qualitativa

Sociocultural 2007 Regiatildeo sul

Lesotildees buccedilo-dentais em mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia um estudo piloto de casos periciados no IML de Belo Horizonte MG Rev Bras Epidemiol 2007 10(2) 202-14

REZENDE EJC ET AL

Artigo Odontologia Pesquisa

Documental

Clinico 2007 Regiatildeo

sudeste

Percepccedilatildeo sobre a violecircncia domeacutestica na perspectiva de mulheres vitimadas Psicol Argum Curitiba v 25 n 51 p 401-412 outdez 2007

WILHEL FA TONET J

Artigo Psicologia Pesquisa

qualitativa

Sociocultural 2007 Regiatildeo Sul

O perfil de mulheres vitimizadas e de seus agressores Rev enferm UERJ Rio de Janeiro 2008 julset

Artigo Enfermagem Pesquisa Sociocultural 2008 Regiatildeo

31

16(3)307-12

LEONCIO LK ET AL documental

quantitativa

sudeste

Violecircncia na gestaccedilatildeo um estudo da produccedilatildeo cientiacutefica de 2000 a 2005 Esc Anna Nery Rev Enferm 2008 dez 12 (4) 793-98

MEDINA ABC PENNA LHG

Artigo Enfermagem Pesquisa

qualitativa

Sociocultural 2008 Regiatildeo

Sudeste

Conhecimento e atitudes dos profissionais de sauacutede em relaccedilatildeo agrave violecircncia de gecircnero Rev Bras Epidemiol 2009 12(4) 566-77

VIEIRAMEET AL

Artigo Multidisciplinar Pesquisa Qualitativa

Sociocultural 2009 Regiatildeo Sudeste

Violecircncia contra a mulher percepccedilatildeo dos meacutedicos das unidades baacutesicas de sauacutede da cidade de Ribeiratildeo Preto Satildeo Paulo Interface - Comunic Saude Educ v13 n31 p287-99 outdez 2009

DE FERRANTE FG SANTOS MA VIEIRA EM

Artigo Multidisciplinar Pesquisa Qualitativa

Sociocultural 2009 Regiatildeo Sudeste

32

33

18

PERFIL DAS MULHERES QUE SOFRERAM VIOLEcircNCIA

A maioria das produccedilotildees traccedilou o perfil das mulheres vitimas de violecircncia

domeacutestica que procuram atendimento em serviccedilos de sauacutede tendo como variaacuteveis a

faixa etaacuteria profissatildeo estado civil escolaridade dentre outros

Galvatildeo e Andrade (2004) pesquisaram o perfil de mulheres em situaccedilatildeo de

violecircncia atendidas em um Centro de Atendimento agrave Mulher (CAM) em Londrina

Paranaacute a partir de informaccedilotildees extraiacutedas das fichas desses atendimentos A faixa

etaacuteria que predominou entre as mulheres atendidas no CAM foi agrave de 30 a 39 anos

seguida da faixa etaacuteria de 20 a 29 anos sendo que a meacutedia de idade foi de 34 anos

Com relaccedilatildeo ao estado civil 472 das mulheres declararam-se casadas 266

dos casos as mulheres que conviviam com um companheiro fixo numa relaccedilatildeo

consensual e 54 possuem um ou dois filhos Quanto agrave escolaridade 581 dessas

mulheres natildeo concluiacuteram o ensino fundamental 128 concluiacuteram o ensino meacutedio e

a taxa de analfabetismo foi de 21 sendo que 558 desenvolvia algum tipo de

trabalho remunerado Os principais agressores satildeo os atuais maridos ou

companheiros das mulheres (734) e quase a totalidade dos casos (974)

ocorreu no ambiente domeacutestico Quanto agrave caracterizaccedilatildeo dos casos de violecircncia

prevalece a violecircncia emocional com 564 dos casos seguida pela violecircncia fiacutesica

com 321 Quanto ao tempo em que vivenciam situaccedilotildees de violecircncia 33 das

mulheres vecircm sofrendo agressotildees por periacuteodos de ateacute um ano e 204 dos casos

refere-se a mulheres que sofrem agressotildees haacute mais de 10 anos

Estudo realizado por Monteiro et al (2006) sobre o perfil de mulheres que

sofreram violecircncia atendidas em uma unidade de urgecircncia em Teresina Piauiacute

indicou que 78 encontrava-se na faixa etaacuteria entre 18 e 40 anos e que 40 delas

natildeo trabalhavam fora de casa desempenhando exclusivamente as tarefas

domeacutesticas relativas ao cuidado coma casa e filhos As agressotildees nos membros

superiores ocorreram com maior frequumlecircncia (44) seguida das agressotildees na face

(33) Revelou ainda que a maioria dessas mulheres natildeo relatou os motivos pelos

quais foram agredidas ainda que o aacutelcool tenha sido apontado em 19 dos casos

como o principal motivo desencadeador das agressotildees seguido do ciuacutemes

Tambeacutem haacute um grande nuacutemero de subnotificaccedilatildeo em relaccedilatildeo ao agressor (80)

19

possivelmente em funccedilatildeo da dependecircncia econocircmica e por medo de vinganccedila do

companheiro Quanto agraves condutas adotadas pelos profissionais de sauacutede a grande

maioria (83) limita-se ao atendimento de queixas de menor complexidade como

aquelas que exigiram sutura simples ou consulta meacutedica Recomendam ainda que o

apoio as viacutetimas de violecircncia deve ter iniacutecio no serviccedilo de urgecircncia de forma

articulada com outros serviccedilos que tratam da mesma questatildeo como as Delegacias

Especiais de Atendimento agrave Mulher (DEAM) os Conselhos de Direitos da Mulher

Abrigos e outras instituiccedilotildees

Mota Vasconcelos e Assis (2007) analisaram as informaccedilotildees das fichas de

atendimento de um centro especializado no atendimento a mulheres viacutetimas de

violecircncia no municiacutepio do Rio de Janeiro totalizando 684 fichas de atendimento

dessas mulheres Dessa anaacutelise os autores traccedilaram o perfil dessas mulheres as

quais apresentaram idade meacutedia de 37 anos Para os autores o baixo status

econocircmico a baixa escolaridade e consequumlentemente o acesso agrave informaccedilatildeo

podem ter sido condiccedilotildees facilitadoras para a ocorrecircncia de situaccedilotildees de violecircncia

domeacutestica contra mulheres pelo cocircnjuge na populaccedilatildeo analisada Por outro lado as

agressotildees fiacutesicas mais graves que ocorreram com mulheres que possuiacuteam maior

niacutevel de escolaridade podem ter sido potencializadas pelo fato de as mesmas natildeo

terem aceitado essa violecircncia de modo passivo implicando em um conflito ainda

maior e em agressotildees fiacutesicas mais graves O estudo evidenciou ainda que a

violecircncia domeacutestica contra a mulher envolve questotildees culturais e de gecircnero com

implicaccedilotildees nas questotildees relativas agrave conjugalidade Assim a violecircncia domeacutestica

contra a mulher estaacute vinculada ao tradicional controle masculino baseado no papel

de provedor cuja desigualdade de gecircnero potencializa conflitos e colabora para a

ocorrecircncia de situaccedilotildees de violecircncia de ordem fiacutesica psicoloacutegica ou moral

Pesquisa retrospectiva e documental desenvolvida por Leonsio et al (2008)

analisou 446 boletins de ocorrecircncia em uma Delegacia de Defesa da Mulher em

Ribeiratildeo Preto Satildeo Paulo Em seus resultados os autores destacaram que 3408 das

mulheres estavam em faixa etaacuteria acima de 35 anos 7578 eram da raccedila branca e

4417 delas eram solteiras Quanto agrave ocupaccedilatildeo 5874 dessas mulheres

exerciam algum tipo de trabalho remunerado formal ou informal e 3722 possuiacuteam

o ensino fundamental completo Outro aspecto importante evidenciado pelo estudo foi

20

que 5471 das mulheres agredidas demoraram de 1 a 15 dias entre a agressatildeo e o tempo

da denuacutencia formal e 4215 registraram a ocorrecircncia no mesmo dia na delegacia Em

7691 dos casos o ambiente domeacutestico foi o local em que essas agressotildees ocorreram

Quanto ao agressor foi observado nos boletins de ocorrecircncia investigados que em 4910

dos casos os parceiros foram os principais denunciados seguidos de ex-parceiros com

1816 das ocorrecircncias Dentre os motivos desencadeantes da agressatildeo 4462

corresponderam agrave recusa da separaccedilatildeo conjugal 1435 ciuacutemes e 1996 por outros

motivos como bebidasdrogas

Estudo realizado por Resende et al (2007) analisou registros e laudos

encaminhados ao setor de Odontologia do IML de Belo Horizonte sobre as lesotildees

bucomaxilares sofridas por mulheres vitimas de violecircncia domeacutestica A faixa etaacuteria

predominante das mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia foi de 20 a 39 anos

representando 704 do total sendo a idade meacutedia correspondente a 303 anos

Quanto agrave ocupaccedilatildeo 241 das mulheres realizavam trabalhos domeacutesticos 213

se intitulavam ldquodonas-de-casardquo e 14 trabalhavam no comeacutercio A maioria das

mulheres que sofreu agressotildees declarou-se solteira perfazendo um total de 63

enquanto que o percentual de casadas foi menor correspondendo apenas 204

Foi constatado o elevado percentual de 611 dos casos em que o agressor natildeo foi

identificado (611) em 25 o sujeito agressor foi o companheiro em 37 foram

familiares e em 74 foram conhecidos perfazendo um total de 361 contra 28

de violecircncia realizada por estranhos

A complexidade da problemaacutetica da violecircncia domeacutestica contra as mulheres

tem implicaccedilotildees em questotildees culturais e de gecircnero vinculada a construccedilatildeo social

de papeacuteis desiguais entre homens e mulheres que potencializa conflitos e colabora

para a ocorrecircncia de situaccedilotildees de violecircncia de ordem fiacutesica psicoloacutegica ou moral

Ainda nesse sentido costuma ser difiacutecil para a maioria das mulheres tomarem a

atitude de denunciar seus companheiros agressores e romper com a situaccedilatildeo de

violecircncia principalmente em funccedilatildeo do medo de vinganccedila e da dependecircncia

econocircmica agrave renda do marido

21

A VIOLEcircNCIA CONTRA A MULHER NA OacuteTICA DAS VITIMAS E DOS

PROFISSIONAIS DE SAUacuteDE

Estudo desenvolvido por Vieira et al (2009) sobre o conhecimento e atitudes

dos profissionais de sauacutede em relaccedilatildeo agrave violecircncia de gecircnero destaca a importacircncia

do atendimento de mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia nos serviccedilos de sauacutede jaacute que

este eacute muitas vezes o uacutenico local procurado pelas viacutetimas A maioria dos

profissionais que participou do estudo demonstrou bom conhecimento sobre a

definiccedilatildeo de violecircncia contra a mulher aleacutem de reconhecer como seu papel

profissional perguntar sobre violecircncia para as pacientes Indicou ainda que esses

profissionais acreditam que para uma melhor atenccedilatildeo agrave violecircncia deveria ser

implantado em sua rotina de trabalho um protocolo de enfrentamento da violecircncia

Os autores tambeacutem evidenciaram a necessidade maiores investimentos na

capacitaccedilatildeo e qualificaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede que devem estar aptos para

reconhecer e manejar os casos de violecircncia

Pesquisa realizada por De Ferrant Santos e Vieira (2009) sobre a percepccedilatildeo

dos meacutedicos de uma unidade baacutesica de Ribeiratildeo Preto Satildeo Paulo em relaccedilatildeo agrave

violecircncia domeacutestica contra a mulher revelou que a maior parte deles acredita que a

violecircncia psicoloacutegica eacute a mais grave pois a proacutepria mulher apresenta dificuldade em

reconhececirc-la como algo prejudicial agrave sua sauacutede a ponto de frequentemente

permanecer exposta agrave situaccedilatildeo durante anos a fio Os resultados indicam que os

meacutedicos detecircm alguns conhecimentos acerca dos tipos de violecircncia de gecircnero e satildeo

capazes de identificar e muitas vezes acolher as mulheres que estatildeo expostas agrave

situaccedilatildeo Contudo destacam uma seacuterie de dificuldades para atuarem frente a uma

usuaacuteria que apresenta essa problemaacutetica e reconhecem a falta de capacitaccedilatildeo

profissional uma vez que muitos deles reforccedilam a necessidade de um treinamento

voltado especificamente para os casos de violecircncia de gecircnero Da mesma forma que

apontam outras barreiras pessoais e institucionais que limitam sua atuaccedilatildeo tanto

em niacutevel preventivo como interventivo que muitas vezes os impedem de agir

adequadamente frente a uma situaccedilatildeo de violecircncia Entre elas destacam-se os

meacutedicos sentem-se impotentes frente agraves atitudes que a mulher possa vir a tomar

mesmo depois de orientada afirmam que temem tomar qualquer atitude por medo

22

da reaccedilatildeo do agressor Os autores sugerem a necessidade de um trabalho integrado

e em rede que ofereccedila uma resposta efetiva para o problema da violecircncia de

gecircnero Aleacutem disso eacute preciso investir na qualificaccedilatildeo dos outros profissionais de

sauacutede aleacutem dos meacutedicos para que se viabilize um atendimento multidisciplinar

para que os serviccedilos de sauacutede se constituam em espaccedilos de acolhimento e apoio

integrando-se efetivamente agrave rede de atendimento

Wilhelm e Tonet (2007) em seu estudo sobre a percepccedilatildeo de mulheres que

sofreram violecircncia domeacutestica em um municiacutepio do interior de Santa Catarina indicou

a ocorrecircncia de depressatildeo ansiedade medo e sentimento de baixa auto-estima Na

oacutetica dessas mulheres parte das agressotildees acontece somente no momento em que

seus companheiros estatildeo alcoolizados Aleacutem da violecircncia fiacutesica (tais como socos

arranhotildees puxotildees de cabelo arremesso de objetos chutes tapas e beliscotildees)

ocorrem as humilhaccedilotildees e a desqualificaccedilatildeo sendo ridicularizadas perante os

amigos do agressor sua famiacutelia e desautorizada perante os filhos Quanto ao

comportamento violento do companheiro este eacute justificado por fatores externos

deste modo desresponsabilizando-o como por exemplo as dificuldades

financeiras desemprego e uso de drogas dentre outros Muitos satildeo os motivos

pelos quais a mulher natildeo denuncia seu marido agressor passando a viver muitos

anos neste contexto de violecircncia dentre os quais destaca-se dependecircncia

financeira filhos fator cultural e ameaccedilas Da mesma forma todas demonstraram a

esperanccedila de que o companheiro mudasse em relaccedilatildeo ao seu comportamento

violento Aleacutem de poliacuteticas puacuteblicas mais efetivas par ao enfrentamento da violecircncia

domeacutestica Eacute necessaacuterio promover poliacuteticas puacuteblicas mais efetivas em relaccedilatildeo ao

enfrentamento da violecircncia domeacutestica bem como maiores investimentos em redes

de apoio social efetiva para a mulher e seus filhos as quais muitas vezes estatildeo

subjugadas ao seu agressor devido agrave dependecircncia econocircmica Em relaccedilatildeo a este eacute

importante promover grupos de homens com a finalidade de propiciar a discussatildeo

sobre violecircncia relaccedilotildees e gecircnero e formas alternativas de resoluccedilatildeo de conflitos

Estudo de Scaranto Biazevic e Michel (2007) sobre a percepccedilatildeo dos Agentes

Comunitaacuterios de Sauacutede (ACS) sobre a Violecircncia Domeacutestica contra a Mulher em um

municiacutepio do interior do Rio Grande do Sul identificou relatos de situaccedilotildees de

violecircncia domeacutestica contra a mulher cometida por seu companheiro seja fiacutesica

23

sexual psicoloacutegica ou econocircmica A obediecircncia aos maridoscompanheiros vai

desde o cuidado pessoal ateacute o desempenho sexual A vergonha pela violecircncia

sofrida eacute infinitamente maior do que a coragem da mulher para denunciar

Constatou-se que o ACS pode ser o elo entre a vergonha e a coragem para a

mulher denunciar o problema da violecircncia o que significa que ele parece ser de

fundamental importacircncia no acolhimento das anguacutestias dessas mulheres no

encorajamento para o relato de sofrimento na detecccedilatildeo da questatildeo da violecircncia

que pode estar acompanhada pela depressatildeo ansiedade ou ateacute mascarada por

algum tipo de queixa vaga e em consequumlecircncia fazer o encaminhamento de

referecircncia correto e eficiente na denuacutencia Eacute preciso dar subsiacutedios teoacuterico-praacuteticos

aos profissionais para que em seu trabalho cotidiano possam detectar situaccedilotildees de

violecircncia encontrar a forma de abordar as famiacutelias e dar encaminhamento tanto aos

casos de violecircncia quanto de uso de aacutelcooldrogas A violecircncia contra a mulher deve

ser considerada como questatildeo de sauacutede puacuteblica a partir do conceito ampliado de

sauacutede motivo pelo qual necessita ser alvo de poliacuteticas puacuteblicas efetivas e

consistentes assim como mecanismos de proteccedilatildeo agrave mulher viacutetima de violecircncia

tambeacutem precisam ser criados

Com base nos artigos analisados constatou-se que muitos profissionais tecircm

dificuldades em reconhecer a violecircncia como um problema de sauacutede devido agrave falta

de subsiacutedios teoacuterico-praacuteticos para a detecccedilatildeo de situaccedilotildees de violecircncia abordagem

adequada agraves viacutetimas e os devidos encaminhamentos para o atendimento desta

demanda

24

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Este estudo teve se propocircs a conhecer o que a literatura especializada em

sauacutede dos uacuteltimos dez anos disponiacutevel on line traz a respeito da violecircncia

domestica contra a mulher no periacuteodo de 2000 a 2009

Com base nos artigos analisados percebe-se que o baixo status econocircmico

o niacutevel de instruccedilatildeo e consequumlentemente o acesso agrave informaccedilatildeo podem ser

considerados como condiccedilotildees facilitadoras para a ocorrecircncia de situaccedilotildees de

violecircncia domeacutestica

Em muitos casos a dependecircncia econocircmica da mulher agrave renda do marido

impotildee a necessidade desta em ter de permanecer com ele mesmo diante de

situaccedilotildees de violecircncia

De modo geral os estudos analisadas indicaram os maridos ou companheiros

atuais das mulheres ou ainda seus ex-companheiros como os principais

agressores sendo o ambiente domeacutestico o local predominate destas agressotildees

Outro aspecto evidenciado nos achados desta pesquisa se refere ao fato de

que a maioria dessas mulheres natildeo relatou os motivos pelos quais foram agredidas

ainda que o aacutelcool tenha sido apontado como o principal motivo desencadeador das

agressotildees seguido do sentimento de ciuacutemes Tambeacutem se verificou o grande

nuacutemero de sub-notificaccedilatildeo dos casos de violecircncia contra as mulheres Assim infere-

se que possivelmente isto ocorra em funccedilatildeo da dependecircncia econocircmica e por

medo de vinganccedila

A natureza soacutecio-cultural e a subaacuterea multiprofissional prevalente nas

produccedilotildees analisadas evidenciaram a multiplicidade de aspectos relevantes a

temaacutetica da violecircncia como um complexo problema de sauacutede puacuteblica sinalizando

para a urgecircncia de um movimento reflexivo seja no acircmbito da formaccedilatildeo de

profissionais de sauacutede seja na praacutetica profissional para o enfrentamento desta

questatildeo

Destaca-se a importacircncia de pesquisa bibliograacuteficas para a sistematizaccedilatildeo

das produccedilotildees cientiacuteficas nacionais na temaacutetica violecircncia domestica contra a mulher

para o (re)conhecimento do estado da arte sobre a temaacutetica em anaacutelise fato este

25

fundamental para subsidiar futuras intervenccedilotildees no acircmbito das praacuteticas e serviccedilos

de sauacutede e da accedilatildeo social

A complexidade que envolve as questotildees relativas agrave violecircncia contra a mulher

exige accedilotildees capazes de dar conta das inuacutemeras demandas apresentadas o que

implica na articulaccedilatildeo entre as diferentes aacutereas de conhecimento e de atuaccedilatildeo

multiprofissional

Nessa loacutegica faz-se necessaacuterio maior investimento na qualificaccedilatildeo de

profissionais de sauacutede do serviccedilo social do direito entre outros para o

reconhecimento e identificaccedilatildeo dos sinais que possam indicar situaccedilotildees de violecircncia

contra as mulheres visando o acolhimento das mesmas natildeo apenas nos serviccedilos de

sauacutede mas em outros setores da sociedade Da mesma forma a criaccedilatildeo e

organizaccedilatildeo de serviccedilos multiprofissionais de atendimento agraves mulheres em situaccedilatildeo

de violecircncia para seu devido enfrentamento de modo que os mesmos estejam

articulados na loacutegica da intersetorialidade com os campos da sauacutede do serviccedilo

social e do direito no desenvolvimento de accedilotildees preventivas e assistenciais na

perspectiva da atenccedilatildeo integral agraves mulheres

Para aleacutem da organizaccedilatildeo de serviccedilos para o enfrentamento da violecircncia

contra as mulheres e apoio a essas viacutetimas evidencia-se tambeacutem a urgecircncia de

maior qualificaccedilatildeo sobre a temaacutetica de profissionais que atuam nesses campos para

que possam atender demandas dessa natureza de modo mais solidaacuterio

respeitando-se as subjetividades e singularidades implicadas nessas situaccedilotildees

Os Assistentes Sociais tecircm atuado como mediadores proporcionando a

escolha para as mulheres do que melhor lhes conveacutem Tal direcionamento vai ao

encontro da proposta aqui formulada na qual considera o profissional como sendo

um facilitador que em nome de valores como liberdade individual independecircncia e

autonomia fornece suporte ao processo de fortalecimento destas usuaacuterias ou seja

eacute o profissional que vecirc aleacutem do aparente (TAVARES 2008)

Sabe-se que jaacute existem leis especiacuteficas para o enfrentamento da violecircncia

contra as mulheres poreacutem ainda eacute preciso que as mesmas sejam incorporadas pela

sociedade como cultura poliacutetica para que accedilotildees mais efetivas sejam de fato

implementadas

26

Como estrateacutegia para a ampliaccedilatildeo do escopo das praacuteticas dessa natureza no

acircmbito das poliacuteticas puacuteblicas destaca-se a criaccedilatildeo de accedilotildees intersetoriais com

movimentos organizados de mulheres organizaccedilotildees governamentais e natildeo

governamentais de defesa aos direitos das mulheres serviccedilos de sauacutede e da accedilatildeo

social delegacias de policia organizaccedilotildees de bairros escolas dentre outros

segmentos sociais

Outra importante accedilatildeo se refere agrave incorporaccedilatildeo das questotildees relativas agrave

violecircncia e mais especificamente contra as mulheres foco deste estudo como um

tema transversal nas escolas o qual deve ser abordado natildeo apenas com alunos e

professores mas tambeacutem com as famiacutelias que integram a comunidade escolar

Para tanto a interlocuccedilatildeo do Serviccedilo Social com essa questatildeo se faz

necessaacuteria uma vez que a violecircncia domestica eacute um fenocircmeno social e portanto

deve ser enfrentada mediante o conjunto de estrateacutegias poliacuteticas e de intervenccedilatildeo

social direta

Desde esta perspectiva os profissionais do Serviccedilo Social devem intervir

diretamente na realidade social dos sujeitos tendo como pressuposto de atuaccedilatildeo a

articulaccedilatildeo do trabalho em redes promovendo a co-participaccedilatildeo e co-

responsabilizaccedilatildeo dos atores envolvidos nessa problemaacutetica desde a tomada de

decisotildees ateacute os encaminhamentos que se fizerem necessaacuterios para o enfrentamento

positivo e superaccedilatildeo de situaccedilotildees de violecircncia contra as mulheres

A partir de accedilotildees mais efetivas e da conscientizaccedilatildeo dos atores sociais de

que a violecircncia eacute hoje um problema de relevacircncia mundial e de sauacutede puacuteblica no

cenaacuterio brasileiro almeja-se a detecccedilatildeo precoce de situaccedilotildees de violecircncia

abordagem adequada e qualificada agraves viacutetimas e os devidos encaminhamento para o

atendimento desta demanda com eacutetica competecircncia e de forma mais humanizada

Atuaccedilatildeo esta pautada em valores societaacuterios em que homens e mulheres tenham

os mesmos direitos de cidadania buscando a superaccedilatildeo de todas as formas de

violecircncia preconceitos discriminaccedilotildees e desigualdades

27

REFEREcircNCIAS

BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Violecircncia intrafamiliar orientaccedilotildees para a praacutetica em serviccedilos Cadernos de Atenccedilatildeo Baacutesica n 8 BrasiacuteliaDF 2002 CABRAL F B OLIVEIRA D LL C de CECCIM R B O puerpeacuterio e a sauacutede da mulher vulnerabilidade e atenccedilatildeo baacutesica agrave sauacutede In Ensino e atenccedilatildeo agrave sauacutede da mulher aprendizados da integraccedilatildeo da educaccedilatildeo superior com a rede assistencial edCaxias do Sul EDUCS Editora da Universidade de Caxias do Sul 2008 p 137-157 CAMARGO M AQUINO S de (2003) Redes de cidadania e parcerias- Enfrentando a rota criacutetica Secretaria Especial de Poliacuteticas para as Mulheres Programa de prevenccedilatildeo assistecircncia e combate agrave violecircncia contra a mulher- plano nacional Brasiacutelia 2003 DrsquoOLIVEIRA A F SCHRAIBER L B Violecircncia Contra a Mulher a pesquisa e a intervenccedilatildeo Revista Promoccedilatildeo da Sauacutede n 6 80- 8 2002 DE FERRANTE FG SANTOS MA VIEIRA EM Violecircncia contra a mulher percepccedilatildeo dos meacutedicos das unidades baacutesicas de sauacutede da cidade de Ribeiratildeo Preto Satildeo Paulo Satildeo Paulo Interface - Comunic Saude Educ 13(31)287-99 outdez 2009

DOLIVEIRA AFPL SCHREIBER LB HANADA H DURANDJ Atenccedilatildeo integral agrave sauacutede de mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia de gecircnero ndash uma alternativa para a atenccedilatildeo primaacuteria em sauacutede Rio de Janeiro Ciecircnc Sauacutede Coletiva 14(4) julhoago 2009

GALVAtildeOFEANDRADESM Violecircncia contra a mulher anaacutelise de casos atendidos em serviccedilo de atenccedilatildeo agrave mulher em municiacutepio do Sul do Brasil Sauacutede e Sociedade 13(2)p89-99 maio-ago 2004 GIL A C Como Elaborar Projetos de Pesquisa 4 ed Satildeo Paulo Atlas 2009

LEONCIO LK ET AL O perfil das mulheres vitimizadas e seus agressores Rev enferm UERJ Rio de Janeiro 16(3)307-12 julset 2008 MEDINA ABC PENNA LHG Violecircncia na gestaccedilatildeo um estudo da produccedilatildeo cientiacutefica de 2000 a 2005 Esc Anna Nery 12(4)793-98 dez 2008 MENEGHEL ST INtildeIGUEZ L Contadores de histoacuterias praacuteticas discursivas e violecircncia de gecircnero Cad Sauacutede Puacuteblica Rio de Janeiro 23(8)1815-1824 ago 2007 MEYER D E Teorias e poliacuteticas de gecircnero fragmentos histoacutericos e desafios atuais Revista Brasileira de Enfermagem Brasiacutelia v57 n1 p13-8 janfev 2004

28

MINAYO M C et al Pesquisa social teoria meacutetodo criatividade Petroacutepolis Vozes 2002 MONTEIROCFS Arauacutejo TME NunesBMV LustosaAR BezerraCMJ A Violecircncia contra a mulher atendida em uma unidade de urgecircncia uma contribuiccedilatildeo da enfermagem Esc Anna Nery 10(2)273-9 ago 2006 MOTA JCMVASCONCELOS AGG ASSIS SG Anaacutelise de correspondecircncia como estrateacutegia para descriccedilatildeo do perfil da mulher viacutetima do parceiro atendida em serviccedilo especializado Ciecircncia e Sauacutede coletiva 12 (3)799890 2007 REZENDE EJC ET AL Lesotildees buco-dentais em mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia um estudo piloto de casos periciados no IML de Belo Horizonte MG Rev Bras Epidemiol 10(2) 202-14 2007 SCARANTO CAA BIAZEVICMGH MICHEL-CROSATOE Percepccedilatildeo dos Agentes Comunitaacuterios de Sauacutede sobre a Violecircncia Domeacutestica contra a Mulher Psicol ciecircnc Prof 27(4)694-705 2007 SCHRAIBER L B DOLIVEIRA A F L P Violecircncia contra mulheres interfaces com a Sauacutede Comunicaccedilatildeo Sauacutede Educaccedilatildeo v3 n5 1999 SILVA LL ET AL Violecircncia silenciosa violecircncia psicoloacutegica como condiccedilatildeo da violecircncia fiacutesica domeacutestica Interface - Comunic Sauacutede Educ v11 n21 p93-103 janabr 2007 SILVA LL ET AL Violecircncia silenciosa violecircncia psicoloacutegica como condiccedilatildeo da violecircncia fiacutesica domeacutestica Interface - Comunic Sauacutede Educ v11 n21 p93-103 janabr 2007 TAVARES F A Daacutes Laacutegrimas agrave Esperanccedila o processo de fortalecimento das mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia domeacutestica 2008 Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Serviccedilo Social Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica do Rio Grande do Sul Porto Alegre 2008 VIEIRAMEET AL Conhecimento e atitudes dos profissionais de sauacutede em relaccedilatildeo agrave violecircncia de gecircnero Rev Bras Epidemiol 12(4) 566-77 2009 WILHEL FA TONET J Percepccedilatildeo sobre a violecircncia domeacutestica na perspectiva de mulheres vitimadas Psicol Argum Curitiba 25 (51)401-412 outdez 2007

29

ANEXO 1 - Quadro analiacutetico ndash Violecircncia domestica contra a mulher e sauacutede publica ndash 2000-2009

Titulo Revista

Origem Subaacuterea de

conhecimento

Tipo Natureza Ano de

publicaccedilatildeo

Regiatildeo da

pesquisa

Violecircncia contra a mulher anaacutelise de casos atendidos em serviccedilo de atenccedilatildeo agrave mulher em municiacutepio do sul do Brasil Rev Sauacutede e Sociedade v13 n2 p89-99 maio-ago 2004

GALVAtildeOFEANDRADESM

Artigo Sociologia Pesquisa

investigaccedilatildeo

Qualitativo

sociocultural 2004 Regiatildeo Sul

A violecircncia contra a mulher atendida em unidade de urgecircncia uma contribuiccedilatildeo da enfermagem Esc Anna Nery R Enferm 2006 ago 10 (2) 273-9

MONTEIROCFS Arauacutejo TME NunesBMV LustosaAR BezerraCMJ

Artigo Enfermagem Pesquisa

Investigaccedilatildeo

Quantitativo

sociocultural 2006 Regiatildeo

Norte

Percepccedilatildeo dos Agentes Comunitaacuterios de Sauacutede sobre a Violecircncia Domeacutestica contra a Mulher Psicol ciecircnc prof27(4)694-705 2007

SCARANTO CAA BIAZEVICMGH MICHEL-CROSATOE

Artigo Psicologia Pesquisa

Investigaccedilatildeo

Qualitativo

sociocultural 2007 Regiatildeo Sul

Violecircncia silenciosa violecircncia psicoloacutegica como condiccedilatildeo da violecircncia fiacutesica domeacutestica

Artigo Psicologia Revisatildeo sociocultural 2007 Regiatildeo Sul

30

Interface-Comunic Sauacutede Educ v11 n21 p93-103 janabr 2007

SILVA LL ET AL

Qualitativa

Anaacutelise de correspondecircncia como estrateacutegia para descriccedilatildeo do perfil da mulher viacutetima do parceiro atendida em serviccedilo especializado Ciecircncia e Sauacutede coletiva12 (3)799890 2007

MOTA JCMVASCONCELOS AGG ASSIS SG

Artigo multiprofissional Pesquisa Qualiquanti

epidemioloacutegi

co

2007 Centro

Contadores de histoacuterias praacuteticas discursivas e violecircncia de gecircnero Cad Sauacutede Puacuteblica Rio de Janeiro 23(8)1815-1824 ago 2007

MENEGHEL ST INtildeIGUEZ L

Artigo multiprofissional Pesquisa Qualitativa

Sociocultural 2007 Regiatildeo sul

Lesotildees buccedilo-dentais em mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia um estudo piloto de casos periciados no IML de Belo Horizonte MG Rev Bras Epidemiol 2007 10(2) 202-14

REZENDE EJC ET AL

Artigo Odontologia Pesquisa

Documental

Clinico 2007 Regiatildeo

sudeste

Percepccedilatildeo sobre a violecircncia domeacutestica na perspectiva de mulheres vitimadas Psicol Argum Curitiba v 25 n 51 p 401-412 outdez 2007

WILHEL FA TONET J

Artigo Psicologia Pesquisa

qualitativa

Sociocultural 2007 Regiatildeo Sul

O perfil de mulheres vitimizadas e de seus agressores Rev enferm UERJ Rio de Janeiro 2008 julset

Artigo Enfermagem Pesquisa Sociocultural 2008 Regiatildeo

31

16(3)307-12

LEONCIO LK ET AL documental

quantitativa

sudeste

Violecircncia na gestaccedilatildeo um estudo da produccedilatildeo cientiacutefica de 2000 a 2005 Esc Anna Nery Rev Enferm 2008 dez 12 (4) 793-98

MEDINA ABC PENNA LHG

Artigo Enfermagem Pesquisa

qualitativa

Sociocultural 2008 Regiatildeo

Sudeste

Conhecimento e atitudes dos profissionais de sauacutede em relaccedilatildeo agrave violecircncia de gecircnero Rev Bras Epidemiol 2009 12(4) 566-77

VIEIRAMEET AL

Artigo Multidisciplinar Pesquisa Qualitativa

Sociocultural 2009 Regiatildeo Sudeste

Violecircncia contra a mulher percepccedilatildeo dos meacutedicos das unidades baacutesicas de sauacutede da cidade de Ribeiratildeo Preto Satildeo Paulo Interface - Comunic Saude Educ v13 n31 p287-99 outdez 2009

DE FERRANTE FG SANTOS MA VIEIRA EM

Artigo Multidisciplinar Pesquisa Qualitativa

Sociocultural 2009 Regiatildeo Sudeste

32

33

19

possivelmente em funccedilatildeo da dependecircncia econocircmica e por medo de vinganccedila do

companheiro Quanto agraves condutas adotadas pelos profissionais de sauacutede a grande

maioria (83) limita-se ao atendimento de queixas de menor complexidade como

aquelas que exigiram sutura simples ou consulta meacutedica Recomendam ainda que o

apoio as viacutetimas de violecircncia deve ter iniacutecio no serviccedilo de urgecircncia de forma

articulada com outros serviccedilos que tratam da mesma questatildeo como as Delegacias

Especiais de Atendimento agrave Mulher (DEAM) os Conselhos de Direitos da Mulher

Abrigos e outras instituiccedilotildees

Mota Vasconcelos e Assis (2007) analisaram as informaccedilotildees das fichas de

atendimento de um centro especializado no atendimento a mulheres viacutetimas de

violecircncia no municiacutepio do Rio de Janeiro totalizando 684 fichas de atendimento

dessas mulheres Dessa anaacutelise os autores traccedilaram o perfil dessas mulheres as

quais apresentaram idade meacutedia de 37 anos Para os autores o baixo status

econocircmico a baixa escolaridade e consequumlentemente o acesso agrave informaccedilatildeo

podem ter sido condiccedilotildees facilitadoras para a ocorrecircncia de situaccedilotildees de violecircncia

domeacutestica contra mulheres pelo cocircnjuge na populaccedilatildeo analisada Por outro lado as

agressotildees fiacutesicas mais graves que ocorreram com mulheres que possuiacuteam maior

niacutevel de escolaridade podem ter sido potencializadas pelo fato de as mesmas natildeo

terem aceitado essa violecircncia de modo passivo implicando em um conflito ainda

maior e em agressotildees fiacutesicas mais graves O estudo evidenciou ainda que a

violecircncia domeacutestica contra a mulher envolve questotildees culturais e de gecircnero com

implicaccedilotildees nas questotildees relativas agrave conjugalidade Assim a violecircncia domeacutestica

contra a mulher estaacute vinculada ao tradicional controle masculino baseado no papel

de provedor cuja desigualdade de gecircnero potencializa conflitos e colabora para a

ocorrecircncia de situaccedilotildees de violecircncia de ordem fiacutesica psicoloacutegica ou moral

Pesquisa retrospectiva e documental desenvolvida por Leonsio et al (2008)

analisou 446 boletins de ocorrecircncia em uma Delegacia de Defesa da Mulher em

Ribeiratildeo Preto Satildeo Paulo Em seus resultados os autores destacaram que 3408 das

mulheres estavam em faixa etaacuteria acima de 35 anos 7578 eram da raccedila branca e

4417 delas eram solteiras Quanto agrave ocupaccedilatildeo 5874 dessas mulheres

exerciam algum tipo de trabalho remunerado formal ou informal e 3722 possuiacuteam

o ensino fundamental completo Outro aspecto importante evidenciado pelo estudo foi

20

que 5471 das mulheres agredidas demoraram de 1 a 15 dias entre a agressatildeo e o tempo

da denuacutencia formal e 4215 registraram a ocorrecircncia no mesmo dia na delegacia Em

7691 dos casos o ambiente domeacutestico foi o local em que essas agressotildees ocorreram

Quanto ao agressor foi observado nos boletins de ocorrecircncia investigados que em 4910

dos casos os parceiros foram os principais denunciados seguidos de ex-parceiros com

1816 das ocorrecircncias Dentre os motivos desencadeantes da agressatildeo 4462

corresponderam agrave recusa da separaccedilatildeo conjugal 1435 ciuacutemes e 1996 por outros

motivos como bebidasdrogas

Estudo realizado por Resende et al (2007) analisou registros e laudos

encaminhados ao setor de Odontologia do IML de Belo Horizonte sobre as lesotildees

bucomaxilares sofridas por mulheres vitimas de violecircncia domeacutestica A faixa etaacuteria

predominante das mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia foi de 20 a 39 anos

representando 704 do total sendo a idade meacutedia correspondente a 303 anos

Quanto agrave ocupaccedilatildeo 241 das mulheres realizavam trabalhos domeacutesticos 213

se intitulavam ldquodonas-de-casardquo e 14 trabalhavam no comeacutercio A maioria das

mulheres que sofreu agressotildees declarou-se solteira perfazendo um total de 63

enquanto que o percentual de casadas foi menor correspondendo apenas 204

Foi constatado o elevado percentual de 611 dos casos em que o agressor natildeo foi

identificado (611) em 25 o sujeito agressor foi o companheiro em 37 foram

familiares e em 74 foram conhecidos perfazendo um total de 361 contra 28

de violecircncia realizada por estranhos

A complexidade da problemaacutetica da violecircncia domeacutestica contra as mulheres

tem implicaccedilotildees em questotildees culturais e de gecircnero vinculada a construccedilatildeo social

de papeacuteis desiguais entre homens e mulheres que potencializa conflitos e colabora

para a ocorrecircncia de situaccedilotildees de violecircncia de ordem fiacutesica psicoloacutegica ou moral

Ainda nesse sentido costuma ser difiacutecil para a maioria das mulheres tomarem a

atitude de denunciar seus companheiros agressores e romper com a situaccedilatildeo de

violecircncia principalmente em funccedilatildeo do medo de vinganccedila e da dependecircncia

econocircmica agrave renda do marido

21

A VIOLEcircNCIA CONTRA A MULHER NA OacuteTICA DAS VITIMAS E DOS

PROFISSIONAIS DE SAUacuteDE

Estudo desenvolvido por Vieira et al (2009) sobre o conhecimento e atitudes

dos profissionais de sauacutede em relaccedilatildeo agrave violecircncia de gecircnero destaca a importacircncia

do atendimento de mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia nos serviccedilos de sauacutede jaacute que

este eacute muitas vezes o uacutenico local procurado pelas viacutetimas A maioria dos

profissionais que participou do estudo demonstrou bom conhecimento sobre a

definiccedilatildeo de violecircncia contra a mulher aleacutem de reconhecer como seu papel

profissional perguntar sobre violecircncia para as pacientes Indicou ainda que esses

profissionais acreditam que para uma melhor atenccedilatildeo agrave violecircncia deveria ser

implantado em sua rotina de trabalho um protocolo de enfrentamento da violecircncia

Os autores tambeacutem evidenciaram a necessidade maiores investimentos na

capacitaccedilatildeo e qualificaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede que devem estar aptos para

reconhecer e manejar os casos de violecircncia

Pesquisa realizada por De Ferrant Santos e Vieira (2009) sobre a percepccedilatildeo

dos meacutedicos de uma unidade baacutesica de Ribeiratildeo Preto Satildeo Paulo em relaccedilatildeo agrave

violecircncia domeacutestica contra a mulher revelou que a maior parte deles acredita que a

violecircncia psicoloacutegica eacute a mais grave pois a proacutepria mulher apresenta dificuldade em

reconhececirc-la como algo prejudicial agrave sua sauacutede a ponto de frequentemente

permanecer exposta agrave situaccedilatildeo durante anos a fio Os resultados indicam que os

meacutedicos detecircm alguns conhecimentos acerca dos tipos de violecircncia de gecircnero e satildeo

capazes de identificar e muitas vezes acolher as mulheres que estatildeo expostas agrave

situaccedilatildeo Contudo destacam uma seacuterie de dificuldades para atuarem frente a uma

usuaacuteria que apresenta essa problemaacutetica e reconhecem a falta de capacitaccedilatildeo

profissional uma vez que muitos deles reforccedilam a necessidade de um treinamento

voltado especificamente para os casos de violecircncia de gecircnero Da mesma forma que

apontam outras barreiras pessoais e institucionais que limitam sua atuaccedilatildeo tanto

em niacutevel preventivo como interventivo que muitas vezes os impedem de agir

adequadamente frente a uma situaccedilatildeo de violecircncia Entre elas destacam-se os

meacutedicos sentem-se impotentes frente agraves atitudes que a mulher possa vir a tomar

mesmo depois de orientada afirmam que temem tomar qualquer atitude por medo

22

da reaccedilatildeo do agressor Os autores sugerem a necessidade de um trabalho integrado

e em rede que ofereccedila uma resposta efetiva para o problema da violecircncia de

gecircnero Aleacutem disso eacute preciso investir na qualificaccedilatildeo dos outros profissionais de

sauacutede aleacutem dos meacutedicos para que se viabilize um atendimento multidisciplinar

para que os serviccedilos de sauacutede se constituam em espaccedilos de acolhimento e apoio

integrando-se efetivamente agrave rede de atendimento

Wilhelm e Tonet (2007) em seu estudo sobre a percepccedilatildeo de mulheres que

sofreram violecircncia domeacutestica em um municiacutepio do interior de Santa Catarina indicou

a ocorrecircncia de depressatildeo ansiedade medo e sentimento de baixa auto-estima Na

oacutetica dessas mulheres parte das agressotildees acontece somente no momento em que

seus companheiros estatildeo alcoolizados Aleacutem da violecircncia fiacutesica (tais como socos

arranhotildees puxotildees de cabelo arremesso de objetos chutes tapas e beliscotildees)

ocorrem as humilhaccedilotildees e a desqualificaccedilatildeo sendo ridicularizadas perante os

amigos do agressor sua famiacutelia e desautorizada perante os filhos Quanto ao

comportamento violento do companheiro este eacute justificado por fatores externos

deste modo desresponsabilizando-o como por exemplo as dificuldades

financeiras desemprego e uso de drogas dentre outros Muitos satildeo os motivos

pelos quais a mulher natildeo denuncia seu marido agressor passando a viver muitos

anos neste contexto de violecircncia dentre os quais destaca-se dependecircncia

financeira filhos fator cultural e ameaccedilas Da mesma forma todas demonstraram a

esperanccedila de que o companheiro mudasse em relaccedilatildeo ao seu comportamento

violento Aleacutem de poliacuteticas puacuteblicas mais efetivas par ao enfrentamento da violecircncia

domeacutestica Eacute necessaacuterio promover poliacuteticas puacuteblicas mais efetivas em relaccedilatildeo ao

enfrentamento da violecircncia domeacutestica bem como maiores investimentos em redes

de apoio social efetiva para a mulher e seus filhos as quais muitas vezes estatildeo

subjugadas ao seu agressor devido agrave dependecircncia econocircmica Em relaccedilatildeo a este eacute

importante promover grupos de homens com a finalidade de propiciar a discussatildeo

sobre violecircncia relaccedilotildees e gecircnero e formas alternativas de resoluccedilatildeo de conflitos

Estudo de Scaranto Biazevic e Michel (2007) sobre a percepccedilatildeo dos Agentes

Comunitaacuterios de Sauacutede (ACS) sobre a Violecircncia Domeacutestica contra a Mulher em um

municiacutepio do interior do Rio Grande do Sul identificou relatos de situaccedilotildees de

violecircncia domeacutestica contra a mulher cometida por seu companheiro seja fiacutesica

23

sexual psicoloacutegica ou econocircmica A obediecircncia aos maridoscompanheiros vai

desde o cuidado pessoal ateacute o desempenho sexual A vergonha pela violecircncia

sofrida eacute infinitamente maior do que a coragem da mulher para denunciar

Constatou-se que o ACS pode ser o elo entre a vergonha e a coragem para a

mulher denunciar o problema da violecircncia o que significa que ele parece ser de

fundamental importacircncia no acolhimento das anguacutestias dessas mulheres no

encorajamento para o relato de sofrimento na detecccedilatildeo da questatildeo da violecircncia

que pode estar acompanhada pela depressatildeo ansiedade ou ateacute mascarada por

algum tipo de queixa vaga e em consequumlecircncia fazer o encaminhamento de

referecircncia correto e eficiente na denuacutencia Eacute preciso dar subsiacutedios teoacuterico-praacuteticos

aos profissionais para que em seu trabalho cotidiano possam detectar situaccedilotildees de

violecircncia encontrar a forma de abordar as famiacutelias e dar encaminhamento tanto aos

casos de violecircncia quanto de uso de aacutelcooldrogas A violecircncia contra a mulher deve

ser considerada como questatildeo de sauacutede puacuteblica a partir do conceito ampliado de

sauacutede motivo pelo qual necessita ser alvo de poliacuteticas puacuteblicas efetivas e

consistentes assim como mecanismos de proteccedilatildeo agrave mulher viacutetima de violecircncia

tambeacutem precisam ser criados

Com base nos artigos analisados constatou-se que muitos profissionais tecircm

dificuldades em reconhecer a violecircncia como um problema de sauacutede devido agrave falta

de subsiacutedios teoacuterico-praacuteticos para a detecccedilatildeo de situaccedilotildees de violecircncia abordagem

adequada agraves viacutetimas e os devidos encaminhamentos para o atendimento desta

demanda

24

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Este estudo teve se propocircs a conhecer o que a literatura especializada em

sauacutede dos uacuteltimos dez anos disponiacutevel on line traz a respeito da violecircncia

domestica contra a mulher no periacuteodo de 2000 a 2009

Com base nos artigos analisados percebe-se que o baixo status econocircmico

o niacutevel de instruccedilatildeo e consequumlentemente o acesso agrave informaccedilatildeo podem ser

considerados como condiccedilotildees facilitadoras para a ocorrecircncia de situaccedilotildees de

violecircncia domeacutestica

Em muitos casos a dependecircncia econocircmica da mulher agrave renda do marido

impotildee a necessidade desta em ter de permanecer com ele mesmo diante de

situaccedilotildees de violecircncia

De modo geral os estudos analisadas indicaram os maridos ou companheiros

atuais das mulheres ou ainda seus ex-companheiros como os principais

agressores sendo o ambiente domeacutestico o local predominate destas agressotildees

Outro aspecto evidenciado nos achados desta pesquisa se refere ao fato de

que a maioria dessas mulheres natildeo relatou os motivos pelos quais foram agredidas

ainda que o aacutelcool tenha sido apontado como o principal motivo desencadeador das

agressotildees seguido do sentimento de ciuacutemes Tambeacutem se verificou o grande

nuacutemero de sub-notificaccedilatildeo dos casos de violecircncia contra as mulheres Assim infere-

se que possivelmente isto ocorra em funccedilatildeo da dependecircncia econocircmica e por

medo de vinganccedila

A natureza soacutecio-cultural e a subaacuterea multiprofissional prevalente nas

produccedilotildees analisadas evidenciaram a multiplicidade de aspectos relevantes a

temaacutetica da violecircncia como um complexo problema de sauacutede puacuteblica sinalizando

para a urgecircncia de um movimento reflexivo seja no acircmbito da formaccedilatildeo de

profissionais de sauacutede seja na praacutetica profissional para o enfrentamento desta

questatildeo

Destaca-se a importacircncia de pesquisa bibliograacuteficas para a sistematizaccedilatildeo

das produccedilotildees cientiacuteficas nacionais na temaacutetica violecircncia domestica contra a mulher

para o (re)conhecimento do estado da arte sobre a temaacutetica em anaacutelise fato este

25

fundamental para subsidiar futuras intervenccedilotildees no acircmbito das praacuteticas e serviccedilos

de sauacutede e da accedilatildeo social

A complexidade que envolve as questotildees relativas agrave violecircncia contra a mulher

exige accedilotildees capazes de dar conta das inuacutemeras demandas apresentadas o que

implica na articulaccedilatildeo entre as diferentes aacutereas de conhecimento e de atuaccedilatildeo

multiprofissional

Nessa loacutegica faz-se necessaacuterio maior investimento na qualificaccedilatildeo de

profissionais de sauacutede do serviccedilo social do direito entre outros para o

reconhecimento e identificaccedilatildeo dos sinais que possam indicar situaccedilotildees de violecircncia

contra as mulheres visando o acolhimento das mesmas natildeo apenas nos serviccedilos de

sauacutede mas em outros setores da sociedade Da mesma forma a criaccedilatildeo e

organizaccedilatildeo de serviccedilos multiprofissionais de atendimento agraves mulheres em situaccedilatildeo

de violecircncia para seu devido enfrentamento de modo que os mesmos estejam

articulados na loacutegica da intersetorialidade com os campos da sauacutede do serviccedilo

social e do direito no desenvolvimento de accedilotildees preventivas e assistenciais na

perspectiva da atenccedilatildeo integral agraves mulheres

Para aleacutem da organizaccedilatildeo de serviccedilos para o enfrentamento da violecircncia

contra as mulheres e apoio a essas viacutetimas evidencia-se tambeacutem a urgecircncia de

maior qualificaccedilatildeo sobre a temaacutetica de profissionais que atuam nesses campos para

que possam atender demandas dessa natureza de modo mais solidaacuterio

respeitando-se as subjetividades e singularidades implicadas nessas situaccedilotildees

Os Assistentes Sociais tecircm atuado como mediadores proporcionando a

escolha para as mulheres do que melhor lhes conveacutem Tal direcionamento vai ao

encontro da proposta aqui formulada na qual considera o profissional como sendo

um facilitador que em nome de valores como liberdade individual independecircncia e

autonomia fornece suporte ao processo de fortalecimento destas usuaacuterias ou seja

eacute o profissional que vecirc aleacutem do aparente (TAVARES 2008)

Sabe-se que jaacute existem leis especiacuteficas para o enfrentamento da violecircncia

contra as mulheres poreacutem ainda eacute preciso que as mesmas sejam incorporadas pela

sociedade como cultura poliacutetica para que accedilotildees mais efetivas sejam de fato

implementadas

26

Como estrateacutegia para a ampliaccedilatildeo do escopo das praacuteticas dessa natureza no

acircmbito das poliacuteticas puacuteblicas destaca-se a criaccedilatildeo de accedilotildees intersetoriais com

movimentos organizados de mulheres organizaccedilotildees governamentais e natildeo

governamentais de defesa aos direitos das mulheres serviccedilos de sauacutede e da accedilatildeo

social delegacias de policia organizaccedilotildees de bairros escolas dentre outros

segmentos sociais

Outra importante accedilatildeo se refere agrave incorporaccedilatildeo das questotildees relativas agrave

violecircncia e mais especificamente contra as mulheres foco deste estudo como um

tema transversal nas escolas o qual deve ser abordado natildeo apenas com alunos e

professores mas tambeacutem com as famiacutelias que integram a comunidade escolar

Para tanto a interlocuccedilatildeo do Serviccedilo Social com essa questatildeo se faz

necessaacuteria uma vez que a violecircncia domestica eacute um fenocircmeno social e portanto

deve ser enfrentada mediante o conjunto de estrateacutegias poliacuteticas e de intervenccedilatildeo

social direta

Desde esta perspectiva os profissionais do Serviccedilo Social devem intervir

diretamente na realidade social dos sujeitos tendo como pressuposto de atuaccedilatildeo a

articulaccedilatildeo do trabalho em redes promovendo a co-participaccedilatildeo e co-

responsabilizaccedilatildeo dos atores envolvidos nessa problemaacutetica desde a tomada de

decisotildees ateacute os encaminhamentos que se fizerem necessaacuterios para o enfrentamento

positivo e superaccedilatildeo de situaccedilotildees de violecircncia contra as mulheres

A partir de accedilotildees mais efetivas e da conscientizaccedilatildeo dos atores sociais de

que a violecircncia eacute hoje um problema de relevacircncia mundial e de sauacutede puacuteblica no

cenaacuterio brasileiro almeja-se a detecccedilatildeo precoce de situaccedilotildees de violecircncia

abordagem adequada e qualificada agraves viacutetimas e os devidos encaminhamento para o

atendimento desta demanda com eacutetica competecircncia e de forma mais humanizada

Atuaccedilatildeo esta pautada em valores societaacuterios em que homens e mulheres tenham

os mesmos direitos de cidadania buscando a superaccedilatildeo de todas as formas de

violecircncia preconceitos discriminaccedilotildees e desigualdades

27

REFEREcircNCIAS

BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Violecircncia intrafamiliar orientaccedilotildees para a praacutetica em serviccedilos Cadernos de Atenccedilatildeo Baacutesica n 8 BrasiacuteliaDF 2002 CABRAL F B OLIVEIRA D LL C de CECCIM R B O puerpeacuterio e a sauacutede da mulher vulnerabilidade e atenccedilatildeo baacutesica agrave sauacutede In Ensino e atenccedilatildeo agrave sauacutede da mulher aprendizados da integraccedilatildeo da educaccedilatildeo superior com a rede assistencial edCaxias do Sul EDUCS Editora da Universidade de Caxias do Sul 2008 p 137-157 CAMARGO M AQUINO S de (2003) Redes de cidadania e parcerias- Enfrentando a rota criacutetica Secretaria Especial de Poliacuteticas para as Mulheres Programa de prevenccedilatildeo assistecircncia e combate agrave violecircncia contra a mulher- plano nacional Brasiacutelia 2003 DrsquoOLIVEIRA A F SCHRAIBER L B Violecircncia Contra a Mulher a pesquisa e a intervenccedilatildeo Revista Promoccedilatildeo da Sauacutede n 6 80- 8 2002 DE FERRANTE FG SANTOS MA VIEIRA EM Violecircncia contra a mulher percepccedilatildeo dos meacutedicos das unidades baacutesicas de sauacutede da cidade de Ribeiratildeo Preto Satildeo Paulo Satildeo Paulo Interface - Comunic Saude Educ 13(31)287-99 outdez 2009

DOLIVEIRA AFPL SCHREIBER LB HANADA H DURANDJ Atenccedilatildeo integral agrave sauacutede de mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia de gecircnero ndash uma alternativa para a atenccedilatildeo primaacuteria em sauacutede Rio de Janeiro Ciecircnc Sauacutede Coletiva 14(4) julhoago 2009

GALVAtildeOFEANDRADESM Violecircncia contra a mulher anaacutelise de casos atendidos em serviccedilo de atenccedilatildeo agrave mulher em municiacutepio do Sul do Brasil Sauacutede e Sociedade 13(2)p89-99 maio-ago 2004 GIL A C Como Elaborar Projetos de Pesquisa 4 ed Satildeo Paulo Atlas 2009

LEONCIO LK ET AL O perfil das mulheres vitimizadas e seus agressores Rev enferm UERJ Rio de Janeiro 16(3)307-12 julset 2008 MEDINA ABC PENNA LHG Violecircncia na gestaccedilatildeo um estudo da produccedilatildeo cientiacutefica de 2000 a 2005 Esc Anna Nery 12(4)793-98 dez 2008 MENEGHEL ST INtildeIGUEZ L Contadores de histoacuterias praacuteticas discursivas e violecircncia de gecircnero Cad Sauacutede Puacuteblica Rio de Janeiro 23(8)1815-1824 ago 2007 MEYER D E Teorias e poliacuteticas de gecircnero fragmentos histoacutericos e desafios atuais Revista Brasileira de Enfermagem Brasiacutelia v57 n1 p13-8 janfev 2004

28

MINAYO M C et al Pesquisa social teoria meacutetodo criatividade Petroacutepolis Vozes 2002 MONTEIROCFS Arauacutejo TME NunesBMV LustosaAR BezerraCMJ A Violecircncia contra a mulher atendida em uma unidade de urgecircncia uma contribuiccedilatildeo da enfermagem Esc Anna Nery 10(2)273-9 ago 2006 MOTA JCMVASCONCELOS AGG ASSIS SG Anaacutelise de correspondecircncia como estrateacutegia para descriccedilatildeo do perfil da mulher viacutetima do parceiro atendida em serviccedilo especializado Ciecircncia e Sauacutede coletiva 12 (3)799890 2007 REZENDE EJC ET AL Lesotildees buco-dentais em mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia um estudo piloto de casos periciados no IML de Belo Horizonte MG Rev Bras Epidemiol 10(2) 202-14 2007 SCARANTO CAA BIAZEVICMGH MICHEL-CROSATOE Percepccedilatildeo dos Agentes Comunitaacuterios de Sauacutede sobre a Violecircncia Domeacutestica contra a Mulher Psicol ciecircnc Prof 27(4)694-705 2007 SCHRAIBER L B DOLIVEIRA A F L P Violecircncia contra mulheres interfaces com a Sauacutede Comunicaccedilatildeo Sauacutede Educaccedilatildeo v3 n5 1999 SILVA LL ET AL Violecircncia silenciosa violecircncia psicoloacutegica como condiccedilatildeo da violecircncia fiacutesica domeacutestica Interface - Comunic Sauacutede Educ v11 n21 p93-103 janabr 2007 SILVA LL ET AL Violecircncia silenciosa violecircncia psicoloacutegica como condiccedilatildeo da violecircncia fiacutesica domeacutestica Interface - Comunic Sauacutede Educ v11 n21 p93-103 janabr 2007 TAVARES F A Daacutes Laacutegrimas agrave Esperanccedila o processo de fortalecimento das mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia domeacutestica 2008 Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Serviccedilo Social Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica do Rio Grande do Sul Porto Alegre 2008 VIEIRAMEET AL Conhecimento e atitudes dos profissionais de sauacutede em relaccedilatildeo agrave violecircncia de gecircnero Rev Bras Epidemiol 12(4) 566-77 2009 WILHEL FA TONET J Percepccedilatildeo sobre a violecircncia domeacutestica na perspectiva de mulheres vitimadas Psicol Argum Curitiba 25 (51)401-412 outdez 2007

29

ANEXO 1 - Quadro analiacutetico ndash Violecircncia domestica contra a mulher e sauacutede publica ndash 2000-2009

Titulo Revista

Origem Subaacuterea de

conhecimento

Tipo Natureza Ano de

publicaccedilatildeo

Regiatildeo da

pesquisa

Violecircncia contra a mulher anaacutelise de casos atendidos em serviccedilo de atenccedilatildeo agrave mulher em municiacutepio do sul do Brasil Rev Sauacutede e Sociedade v13 n2 p89-99 maio-ago 2004

GALVAtildeOFEANDRADESM

Artigo Sociologia Pesquisa

investigaccedilatildeo

Qualitativo

sociocultural 2004 Regiatildeo Sul

A violecircncia contra a mulher atendida em unidade de urgecircncia uma contribuiccedilatildeo da enfermagem Esc Anna Nery R Enferm 2006 ago 10 (2) 273-9

MONTEIROCFS Arauacutejo TME NunesBMV LustosaAR BezerraCMJ

Artigo Enfermagem Pesquisa

Investigaccedilatildeo

Quantitativo

sociocultural 2006 Regiatildeo

Norte

Percepccedilatildeo dos Agentes Comunitaacuterios de Sauacutede sobre a Violecircncia Domeacutestica contra a Mulher Psicol ciecircnc prof27(4)694-705 2007

SCARANTO CAA BIAZEVICMGH MICHEL-CROSATOE

Artigo Psicologia Pesquisa

Investigaccedilatildeo

Qualitativo

sociocultural 2007 Regiatildeo Sul

Violecircncia silenciosa violecircncia psicoloacutegica como condiccedilatildeo da violecircncia fiacutesica domeacutestica

Artigo Psicologia Revisatildeo sociocultural 2007 Regiatildeo Sul

30

Interface-Comunic Sauacutede Educ v11 n21 p93-103 janabr 2007

SILVA LL ET AL

Qualitativa

Anaacutelise de correspondecircncia como estrateacutegia para descriccedilatildeo do perfil da mulher viacutetima do parceiro atendida em serviccedilo especializado Ciecircncia e Sauacutede coletiva12 (3)799890 2007

MOTA JCMVASCONCELOS AGG ASSIS SG

Artigo multiprofissional Pesquisa Qualiquanti

epidemioloacutegi

co

2007 Centro

Contadores de histoacuterias praacuteticas discursivas e violecircncia de gecircnero Cad Sauacutede Puacuteblica Rio de Janeiro 23(8)1815-1824 ago 2007

MENEGHEL ST INtildeIGUEZ L

Artigo multiprofissional Pesquisa Qualitativa

Sociocultural 2007 Regiatildeo sul

Lesotildees buccedilo-dentais em mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia um estudo piloto de casos periciados no IML de Belo Horizonte MG Rev Bras Epidemiol 2007 10(2) 202-14

REZENDE EJC ET AL

Artigo Odontologia Pesquisa

Documental

Clinico 2007 Regiatildeo

sudeste

Percepccedilatildeo sobre a violecircncia domeacutestica na perspectiva de mulheres vitimadas Psicol Argum Curitiba v 25 n 51 p 401-412 outdez 2007

WILHEL FA TONET J

Artigo Psicologia Pesquisa

qualitativa

Sociocultural 2007 Regiatildeo Sul

O perfil de mulheres vitimizadas e de seus agressores Rev enferm UERJ Rio de Janeiro 2008 julset

Artigo Enfermagem Pesquisa Sociocultural 2008 Regiatildeo

31

16(3)307-12

LEONCIO LK ET AL documental

quantitativa

sudeste

Violecircncia na gestaccedilatildeo um estudo da produccedilatildeo cientiacutefica de 2000 a 2005 Esc Anna Nery Rev Enferm 2008 dez 12 (4) 793-98

MEDINA ABC PENNA LHG

Artigo Enfermagem Pesquisa

qualitativa

Sociocultural 2008 Regiatildeo

Sudeste

Conhecimento e atitudes dos profissionais de sauacutede em relaccedilatildeo agrave violecircncia de gecircnero Rev Bras Epidemiol 2009 12(4) 566-77

VIEIRAMEET AL

Artigo Multidisciplinar Pesquisa Qualitativa

Sociocultural 2009 Regiatildeo Sudeste

Violecircncia contra a mulher percepccedilatildeo dos meacutedicos das unidades baacutesicas de sauacutede da cidade de Ribeiratildeo Preto Satildeo Paulo Interface - Comunic Saude Educ v13 n31 p287-99 outdez 2009

DE FERRANTE FG SANTOS MA VIEIRA EM

Artigo Multidisciplinar Pesquisa Qualitativa

Sociocultural 2009 Regiatildeo Sudeste

32

33

20

que 5471 das mulheres agredidas demoraram de 1 a 15 dias entre a agressatildeo e o tempo

da denuacutencia formal e 4215 registraram a ocorrecircncia no mesmo dia na delegacia Em

7691 dos casos o ambiente domeacutestico foi o local em que essas agressotildees ocorreram

Quanto ao agressor foi observado nos boletins de ocorrecircncia investigados que em 4910

dos casos os parceiros foram os principais denunciados seguidos de ex-parceiros com

1816 das ocorrecircncias Dentre os motivos desencadeantes da agressatildeo 4462

corresponderam agrave recusa da separaccedilatildeo conjugal 1435 ciuacutemes e 1996 por outros

motivos como bebidasdrogas

Estudo realizado por Resende et al (2007) analisou registros e laudos

encaminhados ao setor de Odontologia do IML de Belo Horizonte sobre as lesotildees

bucomaxilares sofridas por mulheres vitimas de violecircncia domeacutestica A faixa etaacuteria

predominante das mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia foi de 20 a 39 anos

representando 704 do total sendo a idade meacutedia correspondente a 303 anos

Quanto agrave ocupaccedilatildeo 241 das mulheres realizavam trabalhos domeacutesticos 213

se intitulavam ldquodonas-de-casardquo e 14 trabalhavam no comeacutercio A maioria das

mulheres que sofreu agressotildees declarou-se solteira perfazendo um total de 63

enquanto que o percentual de casadas foi menor correspondendo apenas 204

Foi constatado o elevado percentual de 611 dos casos em que o agressor natildeo foi

identificado (611) em 25 o sujeito agressor foi o companheiro em 37 foram

familiares e em 74 foram conhecidos perfazendo um total de 361 contra 28

de violecircncia realizada por estranhos

A complexidade da problemaacutetica da violecircncia domeacutestica contra as mulheres

tem implicaccedilotildees em questotildees culturais e de gecircnero vinculada a construccedilatildeo social

de papeacuteis desiguais entre homens e mulheres que potencializa conflitos e colabora

para a ocorrecircncia de situaccedilotildees de violecircncia de ordem fiacutesica psicoloacutegica ou moral

Ainda nesse sentido costuma ser difiacutecil para a maioria das mulheres tomarem a

atitude de denunciar seus companheiros agressores e romper com a situaccedilatildeo de

violecircncia principalmente em funccedilatildeo do medo de vinganccedila e da dependecircncia

econocircmica agrave renda do marido

21

A VIOLEcircNCIA CONTRA A MULHER NA OacuteTICA DAS VITIMAS E DOS

PROFISSIONAIS DE SAUacuteDE

Estudo desenvolvido por Vieira et al (2009) sobre o conhecimento e atitudes

dos profissionais de sauacutede em relaccedilatildeo agrave violecircncia de gecircnero destaca a importacircncia

do atendimento de mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia nos serviccedilos de sauacutede jaacute que

este eacute muitas vezes o uacutenico local procurado pelas viacutetimas A maioria dos

profissionais que participou do estudo demonstrou bom conhecimento sobre a

definiccedilatildeo de violecircncia contra a mulher aleacutem de reconhecer como seu papel

profissional perguntar sobre violecircncia para as pacientes Indicou ainda que esses

profissionais acreditam que para uma melhor atenccedilatildeo agrave violecircncia deveria ser

implantado em sua rotina de trabalho um protocolo de enfrentamento da violecircncia

Os autores tambeacutem evidenciaram a necessidade maiores investimentos na

capacitaccedilatildeo e qualificaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede que devem estar aptos para

reconhecer e manejar os casos de violecircncia

Pesquisa realizada por De Ferrant Santos e Vieira (2009) sobre a percepccedilatildeo

dos meacutedicos de uma unidade baacutesica de Ribeiratildeo Preto Satildeo Paulo em relaccedilatildeo agrave

violecircncia domeacutestica contra a mulher revelou que a maior parte deles acredita que a

violecircncia psicoloacutegica eacute a mais grave pois a proacutepria mulher apresenta dificuldade em

reconhececirc-la como algo prejudicial agrave sua sauacutede a ponto de frequentemente

permanecer exposta agrave situaccedilatildeo durante anos a fio Os resultados indicam que os

meacutedicos detecircm alguns conhecimentos acerca dos tipos de violecircncia de gecircnero e satildeo

capazes de identificar e muitas vezes acolher as mulheres que estatildeo expostas agrave

situaccedilatildeo Contudo destacam uma seacuterie de dificuldades para atuarem frente a uma

usuaacuteria que apresenta essa problemaacutetica e reconhecem a falta de capacitaccedilatildeo

profissional uma vez que muitos deles reforccedilam a necessidade de um treinamento

voltado especificamente para os casos de violecircncia de gecircnero Da mesma forma que

apontam outras barreiras pessoais e institucionais que limitam sua atuaccedilatildeo tanto

em niacutevel preventivo como interventivo que muitas vezes os impedem de agir

adequadamente frente a uma situaccedilatildeo de violecircncia Entre elas destacam-se os

meacutedicos sentem-se impotentes frente agraves atitudes que a mulher possa vir a tomar

mesmo depois de orientada afirmam que temem tomar qualquer atitude por medo

22

da reaccedilatildeo do agressor Os autores sugerem a necessidade de um trabalho integrado

e em rede que ofereccedila uma resposta efetiva para o problema da violecircncia de

gecircnero Aleacutem disso eacute preciso investir na qualificaccedilatildeo dos outros profissionais de

sauacutede aleacutem dos meacutedicos para que se viabilize um atendimento multidisciplinar

para que os serviccedilos de sauacutede se constituam em espaccedilos de acolhimento e apoio

integrando-se efetivamente agrave rede de atendimento

Wilhelm e Tonet (2007) em seu estudo sobre a percepccedilatildeo de mulheres que

sofreram violecircncia domeacutestica em um municiacutepio do interior de Santa Catarina indicou

a ocorrecircncia de depressatildeo ansiedade medo e sentimento de baixa auto-estima Na

oacutetica dessas mulheres parte das agressotildees acontece somente no momento em que

seus companheiros estatildeo alcoolizados Aleacutem da violecircncia fiacutesica (tais como socos

arranhotildees puxotildees de cabelo arremesso de objetos chutes tapas e beliscotildees)

ocorrem as humilhaccedilotildees e a desqualificaccedilatildeo sendo ridicularizadas perante os

amigos do agressor sua famiacutelia e desautorizada perante os filhos Quanto ao

comportamento violento do companheiro este eacute justificado por fatores externos

deste modo desresponsabilizando-o como por exemplo as dificuldades

financeiras desemprego e uso de drogas dentre outros Muitos satildeo os motivos

pelos quais a mulher natildeo denuncia seu marido agressor passando a viver muitos

anos neste contexto de violecircncia dentre os quais destaca-se dependecircncia

financeira filhos fator cultural e ameaccedilas Da mesma forma todas demonstraram a

esperanccedila de que o companheiro mudasse em relaccedilatildeo ao seu comportamento

violento Aleacutem de poliacuteticas puacuteblicas mais efetivas par ao enfrentamento da violecircncia

domeacutestica Eacute necessaacuterio promover poliacuteticas puacuteblicas mais efetivas em relaccedilatildeo ao

enfrentamento da violecircncia domeacutestica bem como maiores investimentos em redes

de apoio social efetiva para a mulher e seus filhos as quais muitas vezes estatildeo

subjugadas ao seu agressor devido agrave dependecircncia econocircmica Em relaccedilatildeo a este eacute

importante promover grupos de homens com a finalidade de propiciar a discussatildeo

sobre violecircncia relaccedilotildees e gecircnero e formas alternativas de resoluccedilatildeo de conflitos

Estudo de Scaranto Biazevic e Michel (2007) sobre a percepccedilatildeo dos Agentes

Comunitaacuterios de Sauacutede (ACS) sobre a Violecircncia Domeacutestica contra a Mulher em um

municiacutepio do interior do Rio Grande do Sul identificou relatos de situaccedilotildees de

violecircncia domeacutestica contra a mulher cometida por seu companheiro seja fiacutesica

23

sexual psicoloacutegica ou econocircmica A obediecircncia aos maridoscompanheiros vai

desde o cuidado pessoal ateacute o desempenho sexual A vergonha pela violecircncia

sofrida eacute infinitamente maior do que a coragem da mulher para denunciar

Constatou-se que o ACS pode ser o elo entre a vergonha e a coragem para a

mulher denunciar o problema da violecircncia o que significa que ele parece ser de

fundamental importacircncia no acolhimento das anguacutestias dessas mulheres no

encorajamento para o relato de sofrimento na detecccedilatildeo da questatildeo da violecircncia

que pode estar acompanhada pela depressatildeo ansiedade ou ateacute mascarada por

algum tipo de queixa vaga e em consequumlecircncia fazer o encaminhamento de

referecircncia correto e eficiente na denuacutencia Eacute preciso dar subsiacutedios teoacuterico-praacuteticos

aos profissionais para que em seu trabalho cotidiano possam detectar situaccedilotildees de

violecircncia encontrar a forma de abordar as famiacutelias e dar encaminhamento tanto aos

casos de violecircncia quanto de uso de aacutelcooldrogas A violecircncia contra a mulher deve

ser considerada como questatildeo de sauacutede puacuteblica a partir do conceito ampliado de

sauacutede motivo pelo qual necessita ser alvo de poliacuteticas puacuteblicas efetivas e

consistentes assim como mecanismos de proteccedilatildeo agrave mulher viacutetima de violecircncia

tambeacutem precisam ser criados

Com base nos artigos analisados constatou-se que muitos profissionais tecircm

dificuldades em reconhecer a violecircncia como um problema de sauacutede devido agrave falta

de subsiacutedios teoacuterico-praacuteticos para a detecccedilatildeo de situaccedilotildees de violecircncia abordagem

adequada agraves viacutetimas e os devidos encaminhamentos para o atendimento desta

demanda

24

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Este estudo teve se propocircs a conhecer o que a literatura especializada em

sauacutede dos uacuteltimos dez anos disponiacutevel on line traz a respeito da violecircncia

domestica contra a mulher no periacuteodo de 2000 a 2009

Com base nos artigos analisados percebe-se que o baixo status econocircmico

o niacutevel de instruccedilatildeo e consequumlentemente o acesso agrave informaccedilatildeo podem ser

considerados como condiccedilotildees facilitadoras para a ocorrecircncia de situaccedilotildees de

violecircncia domeacutestica

Em muitos casos a dependecircncia econocircmica da mulher agrave renda do marido

impotildee a necessidade desta em ter de permanecer com ele mesmo diante de

situaccedilotildees de violecircncia

De modo geral os estudos analisadas indicaram os maridos ou companheiros

atuais das mulheres ou ainda seus ex-companheiros como os principais

agressores sendo o ambiente domeacutestico o local predominate destas agressotildees

Outro aspecto evidenciado nos achados desta pesquisa se refere ao fato de

que a maioria dessas mulheres natildeo relatou os motivos pelos quais foram agredidas

ainda que o aacutelcool tenha sido apontado como o principal motivo desencadeador das

agressotildees seguido do sentimento de ciuacutemes Tambeacutem se verificou o grande

nuacutemero de sub-notificaccedilatildeo dos casos de violecircncia contra as mulheres Assim infere-

se que possivelmente isto ocorra em funccedilatildeo da dependecircncia econocircmica e por

medo de vinganccedila

A natureza soacutecio-cultural e a subaacuterea multiprofissional prevalente nas

produccedilotildees analisadas evidenciaram a multiplicidade de aspectos relevantes a

temaacutetica da violecircncia como um complexo problema de sauacutede puacuteblica sinalizando

para a urgecircncia de um movimento reflexivo seja no acircmbito da formaccedilatildeo de

profissionais de sauacutede seja na praacutetica profissional para o enfrentamento desta

questatildeo

Destaca-se a importacircncia de pesquisa bibliograacuteficas para a sistematizaccedilatildeo

das produccedilotildees cientiacuteficas nacionais na temaacutetica violecircncia domestica contra a mulher

para o (re)conhecimento do estado da arte sobre a temaacutetica em anaacutelise fato este

25

fundamental para subsidiar futuras intervenccedilotildees no acircmbito das praacuteticas e serviccedilos

de sauacutede e da accedilatildeo social

A complexidade que envolve as questotildees relativas agrave violecircncia contra a mulher

exige accedilotildees capazes de dar conta das inuacutemeras demandas apresentadas o que

implica na articulaccedilatildeo entre as diferentes aacutereas de conhecimento e de atuaccedilatildeo

multiprofissional

Nessa loacutegica faz-se necessaacuterio maior investimento na qualificaccedilatildeo de

profissionais de sauacutede do serviccedilo social do direito entre outros para o

reconhecimento e identificaccedilatildeo dos sinais que possam indicar situaccedilotildees de violecircncia

contra as mulheres visando o acolhimento das mesmas natildeo apenas nos serviccedilos de

sauacutede mas em outros setores da sociedade Da mesma forma a criaccedilatildeo e

organizaccedilatildeo de serviccedilos multiprofissionais de atendimento agraves mulheres em situaccedilatildeo

de violecircncia para seu devido enfrentamento de modo que os mesmos estejam

articulados na loacutegica da intersetorialidade com os campos da sauacutede do serviccedilo

social e do direito no desenvolvimento de accedilotildees preventivas e assistenciais na

perspectiva da atenccedilatildeo integral agraves mulheres

Para aleacutem da organizaccedilatildeo de serviccedilos para o enfrentamento da violecircncia

contra as mulheres e apoio a essas viacutetimas evidencia-se tambeacutem a urgecircncia de

maior qualificaccedilatildeo sobre a temaacutetica de profissionais que atuam nesses campos para

que possam atender demandas dessa natureza de modo mais solidaacuterio

respeitando-se as subjetividades e singularidades implicadas nessas situaccedilotildees

Os Assistentes Sociais tecircm atuado como mediadores proporcionando a

escolha para as mulheres do que melhor lhes conveacutem Tal direcionamento vai ao

encontro da proposta aqui formulada na qual considera o profissional como sendo

um facilitador que em nome de valores como liberdade individual independecircncia e

autonomia fornece suporte ao processo de fortalecimento destas usuaacuterias ou seja

eacute o profissional que vecirc aleacutem do aparente (TAVARES 2008)

Sabe-se que jaacute existem leis especiacuteficas para o enfrentamento da violecircncia

contra as mulheres poreacutem ainda eacute preciso que as mesmas sejam incorporadas pela

sociedade como cultura poliacutetica para que accedilotildees mais efetivas sejam de fato

implementadas

26

Como estrateacutegia para a ampliaccedilatildeo do escopo das praacuteticas dessa natureza no

acircmbito das poliacuteticas puacuteblicas destaca-se a criaccedilatildeo de accedilotildees intersetoriais com

movimentos organizados de mulheres organizaccedilotildees governamentais e natildeo

governamentais de defesa aos direitos das mulheres serviccedilos de sauacutede e da accedilatildeo

social delegacias de policia organizaccedilotildees de bairros escolas dentre outros

segmentos sociais

Outra importante accedilatildeo se refere agrave incorporaccedilatildeo das questotildees relativas agrave

violecircncia e mais especificamente contra as mulheres foco deste estudo como um

tema transversal nas escolas o qual deve ser abordado natildeo apenas com alunos e

professores mas tambeacutem com as famiacutelias que integram a comunidade escolar

Para tanto a interlocuccedilatildeo do Serviccedilo Social com essa questatildeo se faz

necessaacuteria uma vez que a violecircncia domestica eacute um fenocircmeno social e portanto

deve ser enfrentada mediante o conjunto de estrateacutegias poliacuteticas e de intervenccedilatildeo

social direta

Desde esta perspectiva os profissionais do Serviccedilo Social devem intervir

diretamente na realidade social dos sujeitos tendo como pressuposto de atuaccedilatildeo a

articulaccedilatildeo do trabalho em redes promovendo a co-participaccedilatildeo e co-

responsabilizaccedilatildeo dos atores envolvidos nessa problemaacutetica desde a tomada de

decisotildees ateacute os encaminhamentos que se fizerem necessaacuterios para o enfrentamento

positivo e superaccedilatildeo de situaccedilotildees de violecircncia contra as mulheres

A partir de accedilotildees mais efetivas e da conscientizaccedilatildeo dos atores sociais de

que a violecircncia eacute hoje um problema de relevacircncia mundial e de sauacutede puacuteblica no

cenaacuterio brasileiro almeja-se a detecccedilatildeo precoce de situaccedilotildees de violecircncia

abordagem adequada e qualificada agraves viacutetimas e os devidos encaminhamento para o

atendimento desta demanda com eacutetica competecircncia e de forma mais humanizada

Atuaccedilatildeo esta pautada em valores societaacuterios em que homens e mulheres tenham

os mesmos direitos de cidadania buscando a superaccedilatildeo de todas as formas de

violecircncia preconceitos discriminaccedilotildees e desigualdades

27

REFEREcircNCIAS

BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Violecircncia intrafamiliar orientaccedilotildees para a praacutetica em serviccedilos Cadernos de Atenccedilatildeo Baacutesica n 8 BrasiacuteliaDF 2002 CABRAL F B OLIVEIRA D LL C de CECCIM R B O puerpeacuterio e a sauacutede da mulher vulnerabilidade e atenccedilatildeo baacutesica agrave sauacutede In Ensino e atenccedilatildeo agrave sauacutede da mulher aprendizados da integraccedilatildeo da educaccedilatildeo superior com a rede assistencial edCaxias do Sul EDUCS Editora da Universidade de Caxias do Sul 2008 p 137-157 CAMARGO M AQUINO S de (2003) Redes de cidadania e parcerias- Enfrentando a rota criacutetica Secretaria Especial de Poliacuteticas para as Mulheres Programa de prevenccedilatildeo assistecircncia e combate agrave violecircncia contra a mulher- plano nacional Brasiacutelia 2003 DrsquoOLIVEIRA A F SCHRAIBER L B Violecircncia Contra a Mulher a pesquisa e a intervenccedilatildeo Revista Promoccedilatildeo da Sauacutede n 6 80- 8 2002 DE FERRANTE FG SANTOS MA VIEIRA EM Violecircncia contra a mulher percepccedilatildeo dos meacutedicos das unidades baacutesicas de sauacutede da cidade de Ribeiratildeo Preto Satildeo Paulo Satildeo Paulo Interface - Comunic Saude Educ 13(31)287-99 outdez 2009

DOLIVEIRA AFPL SCHREIBER LB HANADA H DURANDJ Atenccedilatildeo integral agrave sauacutede de mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia de gecircnero ndash uma alternativa para a atenccedilatildeo primaacuteria em sauacutede Rio de Janeiro Ciecircnc Sauacutede Coletiva 14(4) julhoago 2009

GALVAtildeOFEANDRADESM Violecircncia contra a mulher anaacutelise de casos atendidos em serviccedilo de atenccedilatildeo agrave mulher em municiacutepio do Sul do Brasil Sauacutede e Sociedade 13(2)p89-99 maio-ago 2004 GIL A C Como Elaborar Projetos de Pesquisa 4 ed Satildeo Paulo Atlas 2009

LEONCIO LK ET AL O perfil das mulheres vitimizadas e seus agressores Rev enferm UERJ Rio de Janeiro 16(3)307-12 julset 2008 MEDINA ABC PENNA LHG Violecircncia na gestaccedilatildeo um estudo da produccedilatildeo cientiacutefica de 2000 a 2005 Esc Anna Nery 12(4)793-98 dez 2008 MENEGHEL ST INtildeIGUEZ L Contadores de histoacuterias praacuteticas discursivas e violecircncia de gecircnero Cad Sauacutede Puacuteblica Rio de Janeiro 23(8)1815-1824 ago 2007 MEYER D E Teorias e poliacuteticas de gecircnero fragmentos histoacutericos e desafios atuais Revista Brasileira de Enfermagem Brasiacutelia v57 n1 p13-8 janfev 2004

28

MINAYO M C et al Pesquisa social teoria meacutetodo criatividade Petroacutepolis Vozes 2002 MONTEIROCFS Arauacutejo TME NunesBMV LustosaAR BezerraCMJ A Violecircncia contra a mulher atendida em uma unidade de urgecircncia uma contribuiccedilatildeo da enfermagem Esc Anna Nery 10(2)273-9 ago 2006 MOTA JCMVASCONCELOS AGG ASSIS SG Anaacutelise de correspondecircncia como estrateacutegia para descriccedilatildeo do perfil da mulher viacutetima do parceiro atendida em serviccedilo especializado Ciecircncia e Sauacutede coletiva 12 (3)799890 2007 REZENDE EJC ET AL Lesotildees buco-dentais em mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia um estudo piloto de casos periciados no IML de Belo Horizonte MG Rev Bras Epidemiol 10(2) 202-14 2007 SCARANTO CAA BIAZEVICMGH MICHEL-CROSATOE Percepccedilatildeo dos Agentes Comunitaacuterios de Sauacutede sobre a Violecircncia Domeacutestica contra a Mulher Psicol ciecircnc Prof 27(4)694-705 2007 SCHRAIBER L B DOLIVEIRA A F L P Violecircncia contra mulheres interfaces com a Sauacutede Comunicaccedilatildeo Sauacutede Educaccedilatildeo v3 n5 1999 SILVA LL ET AL Violecircncia silenciosa violecircncia psicoloacutegica como condiccedilatildeo da violecircncia fiacutesica domeacutestica Interface - Comunic Sauacutede Educ v11 n21 p93-103 janabr 2007 SILVA LL ET AL Violecircncia silenciosa violecircncia psicoloacutegica como condiccedilatildeo da violecircncia fiacutesica domeacutestica Interface - Comunic Sauacutede Educ v11 n21 p93-103 janabr 2007 TAVARES F A Daacutes Laacutegrimas agrave Esperanccedila o processo de fortalecimento das mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia domeacutestica 2008 Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Serviccedilo Social Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica do Rio Grande do Sul Porto Alegre 2008 VIEIRAMEET AL Conhecimento e atitudes dos profissionais de sauacutede em relaccedilatildeo agrave violecircncia de gecircnero Rev Bras Epidemiol 12(4) 566-77 2009 WILHEL FA TONET J Percepccedilatildeo sobre a violecircncia domeacutestica na perspectiva de mulheres vitimadas Psicol Argum Curitiba 25 (51)401-412 outdez 2007

29

ANEXO 1 - Quadro analiacutetico ndash Violecircncia domestica contra a mulher e sauacutede publica ndash 2000-2009

Titulo Revista

Origem Subaacuterea de

conhecimento

Tipo Natureza Ano de

publicaccedilatildeo

Regiatildeo da

pesquisa

Violecircncia contra a mulher anaacutelise de casos atendidos em serviccedilo de atenccedilatildeo agrave mulher em municiacutepio do sul do Brasil Rev Sauacutede e Sociedade v13 n2 p89-99 maio-ago 2004

GALVAtildeOFEANDRADESM

Artigo Sociologia Pesquisa

investigaccedilatildeo

Qualitativo

sociocultural 2004 Regiatildeo Sul

A violecircncia contra a mulher atendida em unidade de urgecircncia uma contribuiccedilatildeo da enfermagem Esc Anna Nery R Enferm 2006 ago 10 (2) 273-9

MONTEIROCFS Arauacutejo TME NunesBMV LustosaAR BezerraCMJ

Artigo Enfermagem Pesquisa

Investigaccedilatildeo

Quantitativo

sociocultural 2006 Regiatildeo

Norte

Percepccedilatildeo dos Agentes Comunitaacuterios de Sauacutede sobre a Violecircncia Domeacutestica contra a Mulher Psicol ciecircnc prof27(4)694-705 2007

SCARANTO CAA BIAZEVICMGH MICHEL-CROSATOE

Artigo Psicologia Pesquisa

Investigaccedilatildeo

Qualitativo

sociocultural 2007 Regiatildeo Sul

Violecircncia silenciosa violecircncia psicoloacutegica como condiccedilatildeo da violecircncia fiacutesica domeacutestica

Artigo Psicologia Revisatildeo sociocultural 2007 Regiatildeo Sul

30

Interface-Comunic Sauacutede Educ v11 n21 p93-103 janabr 2007

SILVA LL ET AL

Qualitativa

Anaacutelise de correspondecircncia como estrateacutegia para descriccedilatildeo do perfil da mulher viacutetima do parceiro atendida em serviccedilo especializado Ciecircncia e Sauacutede coletiva12 (3)799890 2007

MOTA JCMVASCONCELOS AGG ASSIS SG

Artigo multiprofissional Pesquisa Qualiquanti

epidemioloacutegi

co

2007 Centro

Contadores de histoacuterias praacuteticas discursivas e violecircncia de gecircnero Cad Sauacutede Puacuteblica Rio de Janeiro 23(8)1815-1824 ago 2007

MENEGHEL ST INtildeIGUEZ L

Artigo multiprofissional Pesquisa Qualitativa

Sociocultural 2007 Regiatildeo sul

Lesotildees buccedilo-dentais em mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia um estudo piloto de casos periciados no IML de Belo Horizonte MG Rev Bras Epidemiol 2007 10(2) 202-14

REZENDE EJC ET AL

Artigo Odontologia Pesquisa

Documental

Clinico 2007 Regiatildeo

sudeste

Percepccedilatildeo sobre a violecircncia domeacutestica na perspectiva de mulheres vitimadas Psicol Argum Curitiba v 25 n 51 p 401-412 outdez 2007

WILHEL FA TONET J

Artigo Psicologia Pesquisa

qualitativa

Sociocultural 2007 Regiatildeo Sul

O perfil de mulheres vitimizadas e de seus agressores Rev enferm UERJ Rio de Janeiro 2008 julset

Artigo Enfermagem Pesquisa Sociocultural 2008 Regiatildeo

31

16(3)307-12

LEONCIO LK ET AL documental

quantitativa

sudeste

Violecircncia na gestaccedilatildeo um estudo da produccedilatildeo cientiacutefica de 2000 a 2005 Esc Anna Nery Rev Enferm 2008 dez 12 (4) 793-98

MEDINA ABC PENNA LHG

Artigo Enfermagem Pesquisa

qualitativa

Sociocultural 2008 Regiatildeo

Sudeste

Conhecimento e atitudes dos profissionais de sauacutede em relaccedilatildeo agrave violecircncia de gecircnero Rev Bras Epidemiol 2009 12(4) 566-77

VIEIRAMEET AL

Artigo Multidisciplinar Pesquisa Qualitativa

Sociocultural 2009 Regiatildeo Sudeste

Violecircncia contra a mulher percepccedilatildeo dos meacutedicos das unidades baacutesicas de sauacutede da cidade de Ribeiratildeo Preto Satildeo Paulo Interface - Comunic Saude Educ v13 n31 p287-99 outdez 2009

DE FERRANTE FG SANTOS MA VIEIRA EM

Artigo Multidisciplinar Pesquisa Qualitativa

Sociocultural 2009 Regiatildeo Sudeste

32

33

21

A VIOLEcircNCIA CONTRA A MULHER NA OacuteTICA DAS VITIMAS E DOS

PROFISSIONAIS DE SAUacuteDE

Estudo desenvolvido por Vieira et al (2009) sobre o conhecimento e atitudes

dos profissionais de sauacutede em relaccedilatildeo agrave violecircncia de gecircnero destaca a importacircncia

do atendimento de mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia nos serviccedilos de sauacutede jaacute que

este eacute muitas vezes o uacutenico local procurado pelas viacutetimas A maioria dos

profissionais que participou do estudo demonstrou bom conhecimento sobre a

definiccedilatildeo de violecircncia contra a mulher aleacutem de reconhecer como seu papel

profissional perguntar sobre violecircncia para as pacientes Indicou ainda que esses

profissionais acreditam que para uma melhor atenccedilatildeo agrave violecircncia deveria ser

implantado em sua rotina de trabalho um protocolo de enfrentamento da violecircncia

Os autores tambeacutem evidenciaram a necessidade maiores investimentos na

capacitaccedilatildeo e qualificaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede que devem estar aptos para

reconhecer e manejar os casos de violecircncia

Pesquisa realizada por De Ferrant Santos e Vieira (2009) sobre a percepccedilatildeo

dos meacutedicos de uma unidade baacutesica de Ribeiratildeo Preto Satildeo Paulo em relaccedilatildeo agrave

violecircncia domeacutestica contra a mulher revelou que a maior parte deles acredita que a

violecircncia psicoloacutegica eacute a mais grave pois a proacutepria mulher apresenta dificuldade em

reconhececirc-la como algo prejudicial agrave sua sauacutede a ponto de frequentemente

permanecer exposta agrave situaccedilatildeo durante anos a fio Os resultados indicam que os

meacutedicos detecircm alguns conhecimentos acerca dos tipos de violecircncia de gecircnero e satildeo

capazes de identificar e muitas vezes acolher as mulheres que estatildeo expostas agrave

situaccedilatildeo Contudo destacam uma seacuterie de dificuldades para atuarem frente a uma

usuaacuteria que apresenta essa problemaacutetica e reconhecem a falta de capacitaccedilatildeo

profissional uma vez que muitos deles reforccedilam a necessidade de um treinamento

voltado especificamente para os casos de violecircncia de gecircnero Da mesma forma que

apontam outras barreiras pessoais e institucionais que limitam sua atuaccedilatildeo tanto

em niacutevel preventivo como interventivo que muitas vezes os impedem de agir

adequadamente frente a uma situaccedilatildeo de violecircncia Entre elas destacam-se os

meacutedicos sentem-se impotentes frente agraves atitudes que a mulher possa vir a tomar

mesmo depois de orientada afirmam que temem tomar qualquer atitude por medo

22

da reaccedilatildeo do agressor Os autores sugerem a necessidade de um trabalho integrado

e em rede que ofereccedila uma resposta efetiva para o problema da violecircncia de

gecircnero Aleacutem disso eacute preciso investir na qualificaccedilatildeo dos outros profissionais de

sauacutede aleacutem dos meacutedicos para que se viabilize um atendimento multidisciplinar

para que os serviccedilos de sauacutede se constituam em espaccedilos de acolhimento e apoio

integrando-se efetivamente agrave rede de atendimento

Wilhelm e Tonet (2007) em seu estudo sobre a percepccedilatildeo de mulheres que

sofreram violecircncia domeacutestica em um municiacutepio do interior de Santa Catarina indicou

a ocorrecircncia de depressatildeo ansiedade medo e sentimento de baixa auto-estima Na

oacutetica dessas mulheres parte das agressotildees acontece somente no momento em que

seus companheiros estatildeo alcoolizados Aleacutem da violecircncia fiacutesica (tais como socos

arranhotildees puxotildees de cabelo arremesso de objetos chutes tapas e beliscotildees)

ocorrem as humilhaccedilotildees e a desqualificaccedilatildeo sendo ridicularizadas perante os

amigos do agressor sua famiacutelia e desautorizada perante os filhos Quanto ao

comportamento violento do companheiro este eacute justificado por fatores externos

deste modo desresponsabilizando-o como por exemplo as dificuldades

financeiras desemprego e uso de drogas dentre outros Muitos satildeo os motivos

pelos quais a mulher natildeo denuncia seu marido agressor passando a viver muitos

anos neste contexto de violecircncia dentre os quais destaca-se dependecircncia

financeira filhos fator cultural e ameaccedilas Da mesma forma todas demonstraram a

esperanccedila de que o companheiro mudasse em relaccedilatildeo ao seu comportamento

violento Aleacutem de poliacuteticas puacuteblicas mais efetivas par ao enfrentamento da violecircncia

domeacutestica Eacute necessaacuterio promover poliacuteticas puacuteblicas mais efetivas em relaccedilatildeo ao

enfrentamento da violecircncia domeacutestica bem como maiores investimentos em redes

de apoio social efetiva para a mulher e seus filhos as quais muitas vezes estatildeo

subjugadas ao seu agressor devido agrave dependecircncia econocircmica Em relaccedilatildeo a este eacute

importante promover grupos de homens com a finalidade de propiciar a discussatildeo

sobre violecircncia relaccedilotildees e gecircnero e formas alternativas de resoluccedilatildeo de conflitos

Estudo de Scaranto Biazevic e Michel (2007) sobre a percepccedilatildeo dos Agentes

Comunitaacuterios de Sauacutede (ACS) sobre a Violecircncia Domeacutestica contra a Mulher em um

municiacutepio do interior do Rio Grande do Sul identificou relatos de situaccedilotildees de

violecircncia domeacutestica contra a mulher cometida por seu companheiro seja fiacutesica

23

sexual psicoloacutegica ou econocircmica A obediecircncia aos maridoscompanheiros vai

desde o cuidado pessoal ateacute o desempenho sexual A vergonha pela violecircncia

sofrida eacute infinitamente maior do que a coragem da mulher para denunciar

Constatou-se que o ACS pode ser o elo entre a vergonha e a coragem para a

mulher denunciar o problema da violecircncia o que significa que ele parece ser de

fundamental importacircncia no acolhimento das anguacutestias dessas mulheres no

encorajamento para o relato de sofrimento na detecccedilatildeo da questatildeo da violecircncia

que pode estar acompanhada pela depressatildeo ansiedade ou ateacute mascarada por

algum tipo de queixa vaga e em consequumlecircncia fazer o encaminhamento de

referecircncia correto e eficiente na denuacutencia Eacute preciso dar subsiacutedios teoacuterico-praacuteticos

aos profissionais para que em seu trabalho cotidiano possam detectar situaccedilotildees de

violecircncia encontrar a forma de abordar as famiacutelias e dar encaminhamento tanto aos

casos de violecircncia quanto de uso de aacutelcooldrogas A violecircncia contra a mulher deve

ser considerada como questatildeo de sauacutede puacuteblica a partir do conceito ampliado de

sauacutede motivo pelo qual necessita ser alvo de poliacuteticas puacuteblicas efetivas e

consistentes assim como mecanismos de proteccedilatildeo agrave mulher viacutetima de violecircncia

tambeacutem precisam ser criados

Com base nos artigos analisados constatou-se que muitos profissionais tecircm

dificuldades em reconhecer a violecircncia como um problema de sauacutede devido agrave falta

de subsiacutedios teoacuterico-praacuteticos para a detecccedilatildeo de situaccedilotildees de violecircncia abordagem

adequada agraves viacutetimas e os devidos encaminhamentos para o atendimento desta

demanda

24

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Este estudo teve se propocircs a conhecer o que a literatura especializada em

sauacutede dos uacuteltimos dez anos disponiacutevel on line traz a respeito da violecircncia

domestica contra a mulher no periacuteodo de 2000 a 2009

Com base nos artigos analisados percebe-se que o baixo status econocircmico

o niacutevel de instruccedilatildeo e consequumlentemente o acesso agrave informaccedilatildeo podem ser

considerados como condiccedilotildees facilitadoras para a ocorrecircncia de situaccedilotildees de

violecircncia domeacutestica

Em muitos casos a dependecircncia econocircmica da mulher agrave renda do marido

impotildee a necessidade desta em ter de permanecer com ele mesmo diante de

situaccedilotildees de violecircncia

De modo geral os estudos analisadas indicaram os maridos ou companheiros

atuais das mulheres ou ainda seus ex-companheiros como os principais

agressores sendo o ambiente domeacutestico o local predominate destas agressotildees

Outro aspecto evidenciado nos achados desta pesquisa se refere ao fato de

que a maioria dessas mulheres natildeo relatou os motivos pelos quais foram agredidas

ainda que o aacutelcool tenha sido apontado como o principal motivo desencadeador das

agressotildees seguido do sentimento de ciuacutemes Tambeacutem se verificou o grande

nuacutemero de sub-notificaccedilatildeo dos casos de violecircncia contra as mulheres Assim infere-

se que possivelmente isto ocorra em funccedilatildeo da dependecircncia econocircmica e por

medo de vinganccedila

A natureza soacutecio-cultural e a subaacuterea multiprofissional prevalente nas

produccedilotildees analisadas evidenciaram a multiplicidade de aspectos relevantes a

temaacutetica da violecircncia como um complexo problema de sauacutede puacuteblica sinalizando

para a urgecircncia de um movimento reflexivo seja no acircmbito da formaccedilatildeo de

profissionais de sauacutede seja na praacutetica profissional para o enfrentamento desta

questatildeo

Destaca-se a importacircncia de pesquisa bibliograacuteficas para a sistematizaccedilatildeo

das produccedilotildees cientiacuteficas nacionais na temaacutetica violecircncia domestica contra a mulher

para o (re)conhecimento do estado da arte sobre a temaacutetica em anaacutelise fato este

25

fundamental para subsidiar futuras intervenccedilotildees no acircmbito das praacuteticas e serviccedilos

de sauacutede e da accedilatildeo social

A complexidade que envolve as questotildees relativas agrave violecircncia contra a mulher

exige accedilotildees capazes de dar conta das inuacutemeras demandas apresentadas o que

implica na articulaccedilatildeo entre as diferentes aacutereas de conhecimento e de atuaccedilatildeo

multiprofissional

Nessa loacutegica faz-se necessaacuterio maior investimento na qualificaccedilatildeo de

profissionais de sauacutede do serviccedilo social do direito entre outros para o

reconhecimento e identificaccedilatildeo dos sinais que possam indicar situaccedilotildees de violecircncia

contra as mulheres visando o acolhimento das mesmas natildeo apenas nos serviccedilos de

sauacutede mas em outros setores da sociedade Da mesma forma a criaccedilatildeo e

organizaccedilatildeo de serviccedilos multiprofissionais de atendimento agraves mulheres em situaccedilatildeo

de violecircncia para seu devido enfrentamento de modo que os mesmos estejam

articulados na loacutegica da intersetorialidade com os campos da sauacutede do serviccedilo

social e do direito no desenvolvimento de accedilotildees preventivas e assistenciais na

perspectiva da atenccedilatildeo integral agraves mulheres

Para aleacutem da organizaccedilatildeo de serviccedilos para o enfrentamento da violecircncia

contra as mulheres e apoio a essas viacutetimas evidencia-se tambeacutem a urgecircncia de

maior qualificaccedilatildeo sobre a temaacutetica de profissionais que atuam nesses campos para

que possam atender demandas dessa natureza de modo mais solidaacuterio

respeitando-se as subjetividades e singularidades implicadas nessas situaccedilotildees

Os Assistentes Sociais tecircm atuado como mediadores proporcionando a

escolha para as mulheres do que melhor lhes conveacutem Tal direcionamento vai ao

encontro da proposta aqui formulada na qual considera o profissional como sendo

um facilitador que em nome de valores como liberdade individual independecircncia e

autonomia fornece suporte ao processo de fortalecimento destas usuaacuterias ou seja

eacute o profissional que vecirc aleacutem do aparente (TAVARES 2008)

Sabe-se que jaacute existem leis especiacuteficas para o enfrentamento da violecircncia

contra as mulheres poreacutem ainda eacute preciso que as mesmas sejam incorporadas pela

sociedade como cultura poliacutetica para que accedilotildees mais efetivas sejam de fato

implementadas

26

Como estrateacutegia para a ampliaccedilatildeo do escopo das praacuteticas dessa natureza no

acircmbito das poliacuteticas puacuteblicas destaca-se a criaccedilatildeo de accedilotildees intersetoriais com

movimentos organizados de mulheres organizaccedilotildees governamentais e natildeo

governamentais de defesa aos direitos das mulheres serviccedilos de sauacutede e da accedilatildeo

social delegacias de policia organizaccedilotildees de bairros escolas dentre outros

segmentos sociais

Outra importante accedilatildeo se refere agrave incorporaccedilatildeo das questotildees relativas agrave

violecircncia e mais especificamente contra as mulheres foco deste estudo como um

tema transversal nas escolas o qual deve ser abordado natildeo apenas com alunos e

professores mas tambeacutem com as famiacutelias que integram a comunidade escolar

Para tanto a interlocuccedilatildeo do Serviccedilo Social com essa questatildeo se faz

necessaacuteria uma vez que a violecircncia domestica eacute um fenocircmeno social e portanto

deve ser enfrentada mediante o conjunto de estrateacutegias poliacuteticas e de intervenccedilatildeo

social direta

Desde esta perspectiva os profissionais do Serviccedilo Social devem intervir

diretamente na realidade social dos sujeitos tendo como pressuposto de atuaccedilatildeo a

articulaccedilatildeo do trabalho em redes promovendo a co-participaccedilatildeo e co-

responsabilizaccedilatildeo dos atores envolvidos nessa problemaacutetica desde a tomada de

decisotildees ateacute os encaminhamentos que se fizerem necessaacuterios para o enfrentamento

positivo e superaccedilatildeo de situaccedilotildees de violecircncia contra as mulheres

A partir de accedilotildees mais efetivas e da conscientizaccedilatildeo dos atores sociais de

que a violecircncia eacute hoje um problema de relevacircncia mundial e de sauacutede puacuteblica no

cenaacuterio brasileiro almeja-se a detecccedilatildeo precoce de situaccedilotildees de violecircncia

abordagem adequada e qualificada agraves viacutetimas e os devidos encaminhamento para o

atendimento desta demanda com eacutetica competecircncia e de forma mais humanizada

Atuaccedilatildeo esta pautada em valores societaacuterios em que homens e mulheres tenham

os mesmos direitos de cidadania buscando a superaccedilatildeo de todas as formas de

violecircncia preconceitos discriminaccedilotildees e desigualdades

27

REFEREcircNCIAS

BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Violecircncia intrafamiliar orientaccedilotildees para a praacutetica em serviccedilos Cadernos de Atenccedilatildeo Baacutesica n 8 BrasiacuteliaDF 2002 CABRAL F B OLIVEIRA D LL C de CECCIM R B O puerpeacuterio e a sauacutede da mulher vulnerabilidade e atenccedilatildeo baacutesica agrave sauacutede In Ensino e atenccedilatildeo agrave sauacutede da mulher aprendizados da integraccedilatildeo da educaccedilatildeo superior com a rede assistencial edCaxias do Sul EDUCS Editora da Universidade de Caxias do Sul 2008 p 137-157 CAMARGO M AQUINO S de (2003) Redes de cidadania e parcerias- Enfrentando a rota criacutetica Secretaria Especial de Poliacuteticas para as Mulheres Programa de prevenccedilatildeo assistecircncia e combate agrave violecircncia contra a mulher- plano nacional Brasiacutelia 2003 DrsquoOLIVEIRA A F SCHRAIBER L B Violecircncia Contra a Mulher a pesquisa e a intervenccedilatildeo Revista Promoccedilatildeo da Sauacutede n 6 80- 8 2002 DE FERRANTE FG SANTOS MA VIEIRA EM Violecircncia contra a mulher percepccedilatildeo dos meacutedicos das unidades baacutesicas de sauacutede da cidade de Ribeiratildeo Preto Satildeo Paulo Satildeo Paulo Interface - Comunic Saude Educ 13(31)287-99 outdez 2009

DOLIVEIRA AFPL SCHREIBER LB HANADA H DURANDJ Atenccedilatildeo integral agrave sauacutede de mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia de gecircnero ndash uma alternativa para a atenccedilatildeo primaacuteria em sauacutede Rio de Janeiro Ciecircnc Sauacutede Coletiva 14(4) julhoago 2009

GALVAtildeOFEANDRADESM Violecircncia contra a mulher anaacutelise de casos atendidos em serviccedilo de atenccedilatildeo agrave mulher em municiacutepio do Sul do Brasil Sauacutede e Sociedade 13(2)p89-99 maio-ago 2004 GIL A C Como Elaborar Projetos de Pesquisa 4 ed Satildeo Paulo Atlas 2009

LEONCIO LK ET AL O perfil das mulheres vitimizadas e seus agressores Rev enferm UERJ Rio de Janeiro 16(3)307-12 julset 2008 MEDINA ABC PENNA LHG Violecircncia na gestaccedilatildeo um estudo da produccedilatildeo cientiacutefica de 2000 a 2005 Esc Anna Nery 12(4)793-98 dez 2008 MENEGHEL ST INtildeIGUEZ L Contadores de histoacuterias praacuteticas discursivas e violecircncia de gecircnero Cad Sauacutede Puacuteblica Rio de Janeiro 23(8)1815-1824 ago 2007 MEYER D E Teorias e poliacuteticas de gecircnero fragmentos histoacutericos e desafios atuais Revista Brasileira de Enfermagem Brasiacutelia v57 n1 p13-8 janfev 2004

28

MINAYO M C et al Pesquisa social teoria meacutetodo criatividade Petroacutepolis Vozes 2002 MONTEIROCFS Arauacutejo TME NunesBMV LustosaAR BezerraCMJ A Violecircncia contra a mulher atendida em uma unidade de urgecircncia uma contribuiccedilatildeo da enfermagem Esc Anna Nery 10(2)273-9 ago 2006 MOTA JCMVASCONCELOS AGG ASSIS SG Anaacutelise de correspondecircncia como estrateacutegia para descriccedilatildeo do perfil da mulher viacutetima do parceiro atendida em serviccedilo especializado Ciecircncia e Sauacutede coletiva 12 (3)799890 2007 REZENDE EJC ET AL Lesotildees buco-dentais em mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia um estudo piloto de casos periciados no IML de Belo Horizonte MG Rev Bras Epidemiol 10(2) 202-14 2007 SCARANTO CAA BIAZEVICMGH MICHEL-CROSATOE Percepccedilatildeo dos Agentes Comunitaacuterios de Sauacutede sobre a Violecircncia Domeacutestica contra a Mulher Psicol ciecircnc Prof 27(4)694-705 2007 SCHRAIBER L B DOLIVEIRA A F L P Violecircncia contra mulheres interfaces com a Sauacutede Comunicaccedilatildeo Sauacutede Educaccedilatildeo v3 n5 1999 SILVA LL ET AL Violecircncia silenciosa violecircncia psicoloacutegica como condiccedilatildeo da violecircncia fiacutesica domeacutestica Interface - Comunic Sauacutede Educ v11 n21 p93-103 janabr 2007 SILVA LL ET AL Violecircncia silenciosa violecircncia psicoloacutegica como condiccedilatildeo da violecircncia fiacutesica domeacutestica Interface - Comunic Sauacutede Educ v11 n21 p93-103 janabr 2007 TAVARES F A Daacutes Laacutegrimas agrave Esperanccedila o processo de fortalecimento das mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia domeacutestica 2008 Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Serviccedilo Social Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica do Rio Grande do Sul Porto Alegre 2008 VIEIRAMEET AL Conhecimento e atitudes dos profissionais de sauacutede em relaccedilatildeo agrave violecircncia de gecircnero Rev Bras Epidemiol 12(4) 566-77 2009 WILHEL FA TONET J Percepccedilatildeo sobre a violecircncia domeacutestica na perspectiva de mulheres vitimadas Psicol Argum Curitiba 25 (51)401-412 outdez 2007

29

ANEXO 1 - Quadro analiacutetico ndash Violecircncia domestica contra a mulher e sauacutede publica ndash 2000-2009

Titulo Revista

Origem Subaacuterea de

conhecimento

Tipo Natureza Ano de

publicaccedilatildeo

Regiatildeo da

pesquisa

Violecircncia contra a mulher anaacutelise de casos atendidos em serviccedilo de atenccedilatildeo agrave mulher em municiacutepio do sul do Brasil Rev Sauacutede e Sociedade v13 n2 p89-99 maio-ago 2004

GALVAtildeOFEANDRADESM

Artigo Sociologia Pesquisa

investigaccedilatildeo

Qualitativo

sociocultural 2004 Regiatildeo Sul

A violecircncia contra a mulher atendida em unidade de urgecircncia uma contribuiccedilatildeo da enfermagem Esc Anna Nery R Enferm 2006 ago 10 (2) 273-9

MONTEIROCFS Arauacutejo TME NunesBMV LustosaAR BezerraCMJ

Artigo Enfermagem Pesquisa

Investigaccedilatildeo

Quantitativo

sociocultural 2006 Regiatildeo

Norte

Percepccedilatildeo dos Agentes Comunitaacuterios de Sauacutede sobre a Violecircncia Domeacutestica contra a Mulher Psicol ciecircnc prof27(4)694-705 2007

SCARANTO CAA BIAZEVICMGH MICHEL-CROSATOE

Artigo Psicologia Pesquisa

Investigaccedilatildeo

Qualitativo

sociocultural 2007 Regiatildeo Sul

Violecircncia silenciosa violecircncia psicoloacutegica como condiccedilatildeo da violecircncia fiacutesica domeacutestica

Artigo Psicologia Revisatildeo sociocultural 2007 Regiatildeo Sul

30

Interface-Comunic Sauacutede Educ v11 n21 p93-103 janabr 2007

SILVA LL ET AL

Qualitativa

Anaacutelise de correspondecircncia como estrateacutegia para descriccedilatildeo do perfil da mulher viacutetima do parceiro atendida em serviccedilo especializado Ciecircncia e Sauacutede coletiva12 (3)799890 2007

MOTA JCMVASCONCELOS AGG ASSIS SG

Artigo multiprofissional Pesquisa Qualiquanti

epidemioloacutegi

co

2007 Centro

Contadores de histoacuterias praacuteticas discursivas e violecircncia de gecircnero Cad Sauacutede Puacuteblica Rio de Janeiro 23(8)1815-1824 ago 2007

MENEGHEL ST INtildeIGUEZ L

Artigo multiprofissional Pesquisa Qualitativa

Sociocultural 2007 Regiatildeo sul

Lesotildees buccedilo-dentais em mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia um estudo piloto de casos periciados no IML de Belo Horizonte MG Rev Bras Epidemiol 2007 10(2) 202-14

REZENDE EJC ET AL

Artigo Odontologia Pesquisa

Documental

Clinico 2007 Regiatildeo

sudeste

Percepccedilatildeo sobre a violecircncia domeacutestica na perspectiva de mulheres vitimadas Psicol Argum Curitiba v 25 n 51 p 401-412 outdez 2007

WILHEL FA TONET J

Artigo Psicologia Pesquisa

qualitativa

Sociocultural 2007 Regiatildeo Sul

O perfil de mulheres vitimizadas e de seus agressores Rev enferm UERJ Rio de Janeiro 2008 julset

Artigo Enfermagem Pesquisa Sociocultural 2008 Regiatildeo

31

16(3)307-12

LEONCIO LK ET AL documental

quantitativa

sudeste

Violecircncia na gestaccedilatildeo um estudo da produccedilatildeo cientiacutefica de 2000 a 2005 Esc Anna Nery Rev Enferm 2008 dez 12 (4) 793-98

MEDINA ABC PENNA LHG

Artigo Enfermagem Pesquisa

qualitativa

Sociocultural 2008 Regiatildeo

Sudeste

Conhecimento e atitudes dos profissionais de sauacutede em relaccedilatildeo agrave violecircncia de gecircnero Rev Bras Epidemiol 2009 12(4) 566-77

VIEIRAMEET AL

Artigo Multidisciplinar Pesquisa Qualitativa

Sociocultural 2009 Regiatildeo Sudeste

Violecircncia contra a mulher percepccedilatildeo dos meacutedicos das unidades baacutesicas de sauacutede da cidade de Ribeiratildeo Preto Satildeo Paulo Interface - Comunic Saude Educ v13 n31 p287-99 outdez 2009

DE FERRANTE FG SANTOS MA VIEIRA EM

Artigo Multidisciplinar Pesquisa Qualitativa

Sociocultural 2009 Regiatildeo Sudeste

32

33

22

da reaccedilatildeo do agressor Os autores sugerem a necessidade de um trabalho integrado

e em rede que ofereccedila uma resposta efetiva para o problema da violecircncia de

gecircnero Aleacutem disso eacute preciso investir na qualificaccedilatildeo dos outros profissionais de

sauacutede aleacutem dos meacutedicos para que se viabilize um atendimento multidisciplinar

para que os serviccedilos de sauacutede se constituam em espaccedilos de acolhimento e apoio

integrando-se efetivamente agrave rede de atendimento

Wilhelm e Tonet (2007) em seu estudo sobre a percepccedilatildeo de mulheres que

sofreram violecircncia domeacutestica em um municiacutepio do interior de Santa Catarina indicou

a ocorrecircncia de depressatildeo ansiedade medo e sentimento de baixa auto-estima Na

oacutetica dessas mulheres parte das agressotildees acontece somente no momento em que

seus companheiros estatildeo alcoolizados Aleacutem da violecircncia fiacutesica (tais como socos

arranhotildees puxotildees de cabelo arremesso de objetos chutes tapas e beliscotildees)

ocorrem as humilhaccedilotildees e a desqualificaccedilatildeo sendo ridicularizadas perante os

amigos do agressor sua famiacutelia e desautorizada perante os filhos Quanto ao

comportamento violento do companheiro este eacute justificado por fatores externos

deste modo desresponsabilizando-o como por exemplo as dificuldades

financeiras desemprego e uso de drogas dentre outros Muitos satildeo os motivos

pelos quais a mulher natildeo denuncia seu marido agressor passando a viver muitos

anos neste contexto de violecircncia dentre os quais destaca-se dependecircncia

financeira filhos fator cultural e ameaccedilas Da mesma forma todas demonstraram a

esperanccedila de que o companheiro mudasse em relaccedilatildeo ao seu comportamento

violento Aleacutem de poliacuteticas puacuteblicas mais efetivas par ao enfrentamento da violecircncia

domeacutestica Eacute necessaacuterio promover poliacuteticas puacuteblicas mais efetivas em relaccedilatildeo ao

enfrentamento da violecircncia domeacutestica bem como maiores investimentos em redes

de apoio social efetiva para a mulher e seus filhos as quais muitas vezes estatildeo

subjugadas ao seu agressor devido agrave dependecircncia econocircmica Em relaccedilatildeo a este eacute

importante promover grupos de homens com a finalidade de propiciar a discussatildeo

sobre violecircncia relaccedilotildees e gecircnero e formas alternativas de resoluccedilatildeo de conflitos

Estudo de Scaranto Biazevic e Michel (2007) sobre a percepccedilatildeo dos Agentes

Comunitaacuterios de Sauacutede (ACS) sobre a Violecircncia Domeacutestica contra a Mulher em um

municiacutepio do interior do Rio Grande do Sul identificou relatos de situaccedilotildees de

violecircncia domeacutestica contra a mulher cometida por seu companheiro seja fiacutesica

23

sexual psicoloacutegica ou econocircmica A obediecircncia aos maridoscompanheiros vai

desde o cuidado pessoal ateacute o desempenho sexual A vergonha pela violecircncia

sofrida eacute infinitamente maior do que a coragem da mulher para denunciar

Constatou-se que o ACS pode ser o elo entre a vergonha e a coragem para a

mulher denunciar o problema da violecircncia o que significa que ele parece ser de

fundamental importacircncia no acolhimento das anguacutestias dessas mulheres no

encorajamento para o relato de sofrimento na detecccedilatildeo da questatildeo da violecircncia

que pode estar acompanhada pela depressatildeo ansiedade ou ateacute mascarada por

algum tipo de queixa vaga e em consequumlecircncia fazer o encaminhamento de

referecircncia correto e eficiente na denuacutencia Eacute preciso dar subsiacutedios teoacuterico-praacuteticos

aos profissionais para que em seu trabalho cotidiano possam detectar situaccedilotildees de

violecircncia encontrar a forma de abordar as famiacutelias e dar encaminhamento tanto aos

casos de violecircncia quanto de uso de aacutelcooldrogas A violecircncia contra a mulher deve

ser considerada como questatildeo de sauacutede puacuteblica a partir do conceito ampliado de

sauacutede motivo pelo qual necessita ser alvo de poliacuteticas puacuteblicas efetivas e

consistentes assim como mecanismos de proteccedilatildeo agrave mulher viacutetima de violecircncia

tambeacutem precisam ser criados

Com base nos artigos analisados constatou-se que muitos profissionais tecircm

dificuldades em reconhecer a violecircncia como um problema de sauacutede devido agrave falta

de subsiacutedios teoacuterico-praacuteticos para a detecccedilatildeo de situaccedilotildees de violecircncia abordagem

adequada agraves viacutetimas e os devidos encaminhamentos para o atendimento desta

demanda

24

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Este estudo teve se propocircs a conhecer o que a literatura especializada em

sauacutede dos uacuteltimos dez anos disponiacutevel on line traz a respeito da violecircncia

domestica contra a mulher no periacuteodo de 2000 a 2009

Com base nos artigos analisados percebe-se que o baixo status econocircmico

o niacutevel de instruccedilatildeo e consequumlentemente o acesso agrave informaccedilatildeo podem ser

considerados como condiccedilotildees facilitadoras para a ocorrecircncia de situaccedilotildees de

violecircncia domeacutestica

Em muitos casos a dependecircncia econocircmica da mulher agrave renda do marido

impotildee a necessidade desta em ter de permanecer com ele mesmo diante de

situaccedilotildees de violecircncia

De modo geral os estudos analisadas indicaram os maridos ou companheiros

atuais das mulheres ou ainda seus ex-companheiros como os principais

agressores sendo o ambiente domeacutestico o local predominate destas agressotildees

Outro aspecto evidenciado nos achados desta pesquisa se refere ao fato de

que a maioria dessas mulheres natildeo relatou os motivos pelos quais foram agredidas

ainda que o aacutelcool tenha sido apontado como o principal motivo desencadeador das

agressotildees seguido do sentimento de ciuacutemes Tambeacutem se verificou o grande

nuacutemero de sub-notificaccedilatildeo dos casos de violecircncia contra as mulheres Assim infere-

se que possivelmente isto ocorra em funccedilatildeo da dependecircncia econocircmica e por

medo de vinganccedila

A natureza soacutecio-cultural e a subaacuterea multiprofissional prevalente nas

produccedilotildees analisadas evidenciaram a multiplicidade de aspectos relevantes a

temaacutetica da violecircncia como um complexo problema de sauacutede puacuteblica sinalizando

para a urgecircncia de um movimento reflexivo seja no acircmbito da formaccedilatildeo de

profissionais de sauacutede seja na praacutetica profissional para o enfrentamento desta

questatildeo

Destaca-se a importacircncia de pesquisa bibliograacuteficas para a sistematizaccedilatildeo

das produccedilotildees cientiacuteficas nacionais na temaacutetica violecircncia domestica contra a mulher

para o (re)conhecimento do estado da arte sobre a temaacutetica em anaacutelise fato este

25

fundamental para subsidiar futuras intervenccedilotildees no acircmbito das praacuteticas e serviccedilos

de sauacutede e da accedilatildeo social

A complexidade que envolve as questotildees relativas agrave violecircncia contra a mulher

exige accedilotildees capazes de dar conta das inuacutemeras demandas apresentadas o que

implica na articulaccedilatildeo entre as diferentes aacutereas de conhecimento e de atuaccedilatildeo

multiprofissional

Nessa loacutegica faz-se necessaacuterio maior investimento na qualificaccedilatildeo de

profissionais de sauacutede do serviccedilo social do direito entre outros para o

reconhecimento e identificaccedilatildeo dos sinais que possam indicar situaccedilotildees de violecircncia

contra as mulheres visando o acolhimento das mesmas natildeo apenas nos serviccedilos de

sauacutede mas em outros setores da sociedade Da mesma forma a criaccedilatildeo e

organizaccedilatildeo de serviccedilos multiprofissionais de atendimento agraves mulheres em situaccedilatildeo

de violecircncia para seu devido enfrentamento de modo que os mesmos estejam

articulados na loacutegica da intersetorialidade com os campos da sauacutede do serviccedilo

social e do direito no desenvolvimento de accedilotildees preventivas e assistenciais na

perspectiva da atenccedilatildeo integral agraves mulheres

Para aleacutem da organizaccedilatildeo de serviccedilos para o enfrentamento da violecircncia

contra as mulheres e apoio a essas viacutetimas evidencia-se tambeacutem a urgecircncia de

maior qualificaccedilatildeo sobre a temaacutetica de profissionais que atuam nesses campos para

que possam atender demandas dessa natureza de modo mais solidaacuterio

respeitando-se as subjetividades e singularidades implicadas nessas situaccedilotildees

Os Assistentes Sociais tecircm atuado como mediadores proporcionando a

escolha para as mulheres do que melhor lhes conveacutem Tal direcionamento vai ao

encontro da proposta aqui formulada na qual considera o profissional como sendo

um facilitador que em nome de valores como liberdade individual independecircncia e

autonomia fornece suporte ao processo de fortalecimento destas usuaacuterias ou seja

eacute o profissional que vecirc aleacutem do aparente (TAVARES 2008)

Sabe-se que jaacute existem leis especiacuteficas para o enfrentamento da violecircncia

contra as mulheres poreacutem ainda eacute preciso que as mesmas sejam incorporadas pela

sociedade como cultura poliacutetica para que accedilotildees mais efetivas sejam de fato

implementadas

26

Como estrateacutegia para a ampliaccedilatildeo do escopo das praacuteticas dessa natureza no

acircmbito das poliacuteticas puacuteblicas destaca-se a criaccedilatildeo de accedilotildees intersetoriais com

movimentos organizados de mulheres organizaccedilotildees governamentais e natildeo

governamentais de defesa aos direitos das mulheres serviccedilos de sauacutede e da accedilatildeo

social delegacias de policia organizaccedilotildees de bairros escolas dentre outros

segmentos sociais

Outra importante accedilatildeo se refere agrave incorporaccedilatildeo das questotildees relativas agrave

violecircncia e mais especificamente contra as mulheres foco deste estudo como um

tema transversal nas escolas o qual deve ser abordado natildeo apenas com alunos e

professores mas tambeacutem com as famiacutelias que integram a comunidade escolar

Para tanto a interlocuccedilatildeo do Serviccedilo Social com essa questatildeo se faz

necessaacuteria uma vez que a violecircncia domestica eacute um fenocircmeno social e portanto

deve ser enfrentada mediante o conjunto de estrateacutegias poliacuteticas e de intervenccedilatildeo

social direta

Desde esta perspectiva os profissionais do Serviccedilo Social devem intervir

diretamente na realidade social dos sujeitos tendo como pressuposto de atuaccedilatildeo a

articulaccedilatildeo do trabalho em redes promovendo a co-participaccedilatildeo e co-

responsabilizaccedilatildeo dos atores envolvidos nessa problemaacutetica desde a tomada de

decisotildees ateacute os encaminhamentos que se fizerem necessaacuterios para o enfrentamento

positivo e superaccedilatildeo de situaccedilotildees de violecircncia contra as mulheres

A partir de accedilotildees mais efetivas e da conscientizaccedilatildeo dos atores sociais de

que a violecircncia eacute hoje um problema de relevacircncia mundial e de sauacutede puacuteblica no

cenaacuterio brasileiro almeja-se a detecccedilatildeo precoce de situaccedilotildees de violecircncia

abordagem adequada e qualificada agraves viacutetimas e os devidos encaminhamento para o

atendimento desta demanda com eacutetica competecircncia e de forma mais humanizada

Atuaccedilatildeo esta pautada em valores societaacuterios em que homens e mulheres tenham

os mesmos direitos de cidadania buscando a superaccedilatildeo de todas as formas de

violecircncia preconceitos discriminaccedilotildees e desigualdades

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REFEREcircNCIAS

BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Violecircncia intrafamiliar orientaccedilotildees para a praacutetica em serviccedilos Cadernos de Atenccedilatildeo Baacutesica n 8 BrasiacuteliaDF 2002 CABRAL F B OLIVEIRA D LL C de CECCIM R B O puerpeacuterio e a sauacutede da mulher vulnerabilidade e atenccedilatildeo baacutesica agrave sauacutede In Ensino e atenccedilatildeo agrave sauacutede da mulher aprendizados da integraccedilatildeo da educaccedilatildeo superior com a rede assistencial edCaxias do Sul EDUCS Editora da Universidade de Caxias do Sul 2008 p 137-157 CAMARGO M AQUINO S de (2003) Redes de cidadania e parcerias- Enfrentando a rota criacutetica Secretaria Especial de Poliacuteticas para as Mulheres Programa de prevenccedilatildeo assistecircncia e combate agrave violecircncia contra a mulher- plano nacional Brasiacutelia 2003 DrsquoOLIVEIRA A F SCHRAIBER L B Violecircncia Contra a Mulher a pesquisa e a intervenccedilatildeo Revista Promoccedilatildeo da Sauacutede n 6 80- 8 2002 DE FERRANTE FG SANTOS MA VIEIRA EM Violecircncia contra a mulher percepccedilatildeo dos meacutedicos das unidades baacutesicas de sauacutede da cidade de Ribeiratildeo Preto Satildeo Paulo Satildeo Paulo Interface - Comunic Saude Educ 13(31)287-99 outdez 2009

DOLIVEIRA AFPL SCHREIBER LB HANADA H DURANDJ Atenccedilatildeo integral agrave sauacutede de mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia de gecircnero ndash uma alternativa para a atenccedilatildeo primaacuteria em sauacutede Rio de Janeiro Ciecircnc Sauacutede Coletiva 14(4) julhoago 2009

GALVAtildeOFEANDRADESM Violecircncia contra a mulher anaacutelise de casos atendidos em serviccedilo de atenccedilatildeo agrave mulher em municiacutepio do Sul do Brasil Sauacutede e Sociedade 13(2)p89-99 maio-ago 2004 GIL A C Como Elaborar Projetos de Pesquisa 4 ed Satildeo Paulo Atlas 2009

LEONCIO LK ET AL O perfil das mulheres vitimizadas e seus agressores Rev enferm UERJ Rio de Janeiro 16(3)307-12 julset 2008 MEDINA ABC PENNA LHG Violecircncia na gestaccedilatildeo um estudo da produccedilatildeo cientiacutefica de 2000 a 2005 Esc Anna Nery 12(4)793-98 dez 2008 MENEGHEL ST INtildeIGUEZ L Contadores de histoacuterias praacuteticas discursivas e violecircncia de gecircnero Cad Sauacutede Puacuteblica Rio de Janeiro 23(8)1815-1824 ago 2007 MEYER D E Teorias e poliacuteticas de gecircnero fragmentos histoacutericos e desafios atuais Revista Brasileira de Enfermagem Brasiacutelia v57 n1 p13-8 janfev 2004

28

MINAYO M C et al Pesquisa social teoria meacutetodo criatividade Petroacutepolis Vozes 2002 MONTEIROCFS Arauacutejo TME NunesBMV LustosaAR BezerraCMJ A Violecircncia contra a mulher atendida em uma unidade de urgecircncia uma contribuiccedilatildeo da enfermagem Esc Anna Nery 10(2)273-9 ago 2006 MOTA JCMVASCONCELOS AGG ASSIS SG Anaacutelise de correspondecircncia como estrateacutegia para descriccedilatildeo do perfil da mulher viacutetima do parceiro atendida em serviccedilo especializado Ciecircncia e Sauacutede coletiva 12 (3)799890 2007 REZENDE EJC ET AL Lesotildees buco-dentais em mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia um estudo piloto de casos periciados no IML de Belo Horizonte MG Rev Bras Epidemiol 10(2) 202-14 2007 SCARANTO CAA BIAZEVICMGH MICHEL-CROSATOE Percepccedilatildeo dos Agentes Comunitaacuterios de Sauacutede sobre a Violecircncia Domeacutestica contra a Mulher Psicol ciecircnc Prof 27(4)694-705 2007 SCHRAIBER L B DOLIVEIRA A F L P Violecircncia contra mulheres interfaces com a Sauacutede Comunicaccedilatildeo Sauacutede Educaccedilatildeo v3 n5 1999 SILVA LL ET AL Violecircncia silenciosa violecircncia psicoloacutegica como condiccedilatildeo da violecircncia fiacutesica domeacutestica Interface - Comunic Sauacutede Educ v11 n21 p93-103 janabr 2007 SILVA LL ET AL Violecircncia silenciosa violecircncia psicoloacutegica como condiccedilatildeo da violecircncia fiacutesica domeacutestica Interface - Comunic Sauacutede Educ v11 n21 p93-103 janabr 2007 TAVARES F A Daacutes Laacutegrimas agrave Esperanccedila o processo de fortalecimento das mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia domeacutestica 2008 Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Serviccedilo Social Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica do Rio Grande do Sul Porto Alegre 2008 VIEIRAMEET AL Conhecimento e atitudes dos profissionais de sauacutede em relaccedilatildeo agrave violecircncia de gecircnero Rev Bras Epidemiol 12(4) 566-77 2009 WILHEL FA TONET J Percepccedilatildeo sobre a violecircncia domeacutestica na perspectiva de mulheres vitimadas Psicol Argum Curitiba 25 (51)401-412 outdez 2007

29

ANEXO 1 - Quadro analiacutetico ndash Violecircncia domestica contra a mulher e sauacutede publica ndash 2000-2009

Titulo Revista

Origem Subaacuterea de

conhecimento

Tipo Natureza Ano de

publicaccedilatildeo

Regiatildeo da

pesquisa

Violecircncia contra a mulher anaacutelise de casos atendidos em serviccedilo de atenccedilatildeo agrave mulher em municiacutepio do sul do Brasil Rev Sauacutede e Sociedade v13 n2 p89-99 maio-ago 2004

GALVAtildeOFEANDRADESM

Artigo Sociologia Pesquisa

investigaccedilatildeo

Qualitativo

sociocultural 2004 Regiatildeo Sul

A violecircncia contra a mulher atendida em unidade de urgecircncia uma contribuiccedilatildeo da enfermagem Esc Anna Nery R Enferm 2006 ago 10 (2) 273-9

MONTEIROCFS Arauacutejo TME NunesBMV LustosaAR BezerraCMJ

Artigo Enfermagem Pesquisa

Investigaccedilatildeo

Quantitativo

sociocultural 2006 Regiatildeo

Norte

Percepccedilatildeo dos Agentes Comunitaacuterios de Sauacutede sobre a Violecircncia Domeacutestica contra a Mulher Psicol ciecircnc prof27(4)694-705 2007

SCARANTO CAA BIAZEVICMGH MICHEL-CROSATOE

Artigo Psicologia Pesquisa

Investigaccedilatildeo

Qualitativo

sociocultural 2007 Regiatildeo Sul

Violecircncia silenciosa violecircncia psicoloacutegica como condiccedilatildeo da violecircncia fiacutesica domeacutestica

Artigo Psicologia Revisatildeo sociocultural 2007 Regiatildeo Sul

30

Interface-Comunic Sauacutede Educ v11 n21 p93-103 janabr 2007

SILVA LL ET AL

Qualitativa

Anaacutelise de correspondecircncia como estrateacutegia para descriccedilatildeo do perfil da mulher viacutetima do parceiro atendida em serviccedilo especializado Ciecircncia e Sauacutede coletiva12 (3)799890 2007

MOTA JCMVASCONCELOS AGG ASSIS SG

Artigo multiprofissional Pesquisa Qualiquanti

epidemioloacutegi

co

2007 Centro

Contadores de histoacuterias praacuteticas discursivas e violecircncia de gecircnero Cad Sauacutede Puacuteblica Rio de Janeiro 23(8)1815-1824 ago 2007

MENEGHEL ST INtildeIGUEZ L

Artigo multiprofissional Pesquisa Qualitativa

Sociocultural 2007 Regiatildeo sul

Lesotildees buccedilo-dentais em mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia um estudo piloto de casos periciados no IML de Belo Horizonte MG Rev Bras Epidemiol 2007 10(2) 202-14

REZENDE EJC ET AL

Artigo Odontologia Pesquisa

Documental

Clinico 2007 Regiatildeo

sudeste

Percepccedilatildeo sobre a violecircncia domeacutestica na perspectiva de mulheres vitimadas Psicol Argum Curitiba v 25 n 51 p 401-412 outdez 2007

WILHEL FA TONET J

Artigo Psicologia Pesquisa

qualitativa

Sociocultural 2007 Regiatildeo Sul

O perfil de mulheres vitimizadas e de seus agressores Rev enferm UERJ Rio de Janeiro 2008 julset

Artigo Enfermagem Pesquisa Sociocultural 2008 Regiatildeo

31

16(3)307-12

LEONCIO LK ET AL documental

quantitativa

sudeste

Violecircncia na gestaccedilatildeo um estudo da produccedilatildeo cientiacutefica de 2000 a 2005 Esc Anna Nery Rev Enferm 2008 dez 12 (4) 793-98

MEDINA ABC PENNA LHG

Artigo Enfermagem Pesquisa

qualitativa

Sociocultural 2008 Regiatildeo

Sudeste

Conhecimento e atitudes dos profissionais de sauacutede em relaccedilatildeo agrave violecircncia de gecircnero Rev Bras Epidemiol 2009 12(4) 566-77

VIEIRAMEET AL

Artigo Multidisciplinar Pesquisa Qualitativa

Sociocultural 2009 Regiatildeo Sudeste

Violecircncia contra a mulher percepccedilatildeo dos meacutedicos das unidades baacutesicas de sauacutede da cidade de Ribeiratildeo Preto Satildeo Paulo Interface - Comunic Saude Educ v13 n31 p287-99 outdez 2009

DE FERRANTE FG SANTOS MA VIEIRA EM

Artigo Multidisciplinar Pesquisa Qualitativa

Sociocultural 2009 Regiatildeo Sudeste

32

33

23

sexual psicoloacutegica ou econocircmica A obediecircncia aos maridoscompanheiros vai

desde o cuidado pessoal ateacute o desempenho sexual A vergonha pela violecircncia

sofrida eacute infinitamente maior do que a coragem da mulher para denunciar

Constatou-se que o ACS pode ser o elo entre a vergonha e a coragem para a

mulher denunciar o problema da violecircncia o que significa que ele parece ser de

fundamental importacircncia no acolhimento das anguacutestias dessas mulheres no

encorajamento para o relato de sofrimento na detecccedilatildeo da questatildeo da violecircncia

que pode estar acompanhada pela depressatildeo ansiedade ou ateacute mascarada por

algum tipo de queixa vaga e em consequumlecircncia fazer o encaminhamento de

referecircncia correto e eficiente na denuacutencia Eacute preciso dar subsiacutedios teoacuterico-praacuteticos

aos profissionais para que em seu trabalho cotidiano possam detectar situaccedilotildees de

violecircncia encontrar a forma de abordar as famiacutelias e dar encaminhamento tanto aos

casos de violecircncia quanto de uso de aacutelcooldrogas A violecircncia contra a mulher deve

ser considerada como questatildeo de sauacutede puacuteblica a partir do conceito ampliado de

sauacutede motivo pelo qual necessita ser alvo de poliacuteticas puacuteblicas efetivas e

consistentes assim como mecanismos de proteccedilatildeo agrave mulher viacutetima de violecircncia

tambeacutem precisam ser criados

Com base nos artigos analisados constatou-se que muitos profissionais tecircm

dificuldades em reconhecer a violecircncia como um problema de sauacutede devido agrave falta

de subsiacutedios teoacuterico-praacuteticos para a detecccedilatildeo de situaccedilotildees de violecircncia abordagem

adequada agraves viacutetimas e os devidos encaminhamentos para o atendimento desta

demanda

24

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Este estudo teve se propocircs a conhecer o que a literatura especializada em

sauacutede dos uacuteltimos dez anos disponiacutevel on line traz a respeito da violecircncia

domestica contra a mulher no periacuteodo de 2000 a 2009

Com base nos artigos analisados percebe-se que o baixo status econocircmico

o niacutevel de instruccedilatildeo e consequumlentemente o acesso agrave informaccedilatildeo podem ser

considerados como condiccedilotildees facilitadoras para a ocorrecircncia de situaccedilotildees de

violecircncia domeacutestica

Em muitos casos a dependecircncia econocircmica da mulher agrave renda do marido

impotildee a necessidade desta em ter de permanecer com ele mesmo diante de

situaccedilotildees de violecircncia

De modo geral os estudos analisadas indicaram os maridos ou companheiros

atuais das mulheres ou ainda seus ex-companheiros como os principais

agressores sendo o ambiente domeacutestico o local predominate destas agressotildees

Outro aspecto evidenciado nos achados desta pesquisa se refere ao fato de

que a maioria dessas mulheres natildeo relatou os motivos pelos quais foram agredidas

ainda que o aacutelcool tenha sido apontado como o principal motivo desencadeador das

agressotildees seguido do sentimento de ciuacutemes Tambeacutem se verificou o grande

nuacutemero de sub-notificaccedilatildeo dos casos de violecircncia contra as mulheres Assim infere-

se que possivelmente isto ocorra em funccedilatildeo da dependecircncia econocircmica e por

medo de vinganccedila

A natureza soacutecio-cultural e a subaacuterea multiprofissional prevalente nas

produccedilotildees analisadas evidenciaram a multiplicidade de aspectos relevantes a

temaacutetica da violecircncia como um complexo problema de sauacutede puacuteblica sinalizando

para a urgecircncia de um movimento reflexivo seja no acircmbito da formaccedilatildeo de

profissionais de sauacutede seja na praacutetica profissional para o enfrentamento desta

questatildeo

Destaca-se a importacircncia de pesquisa bibliograacuteficas para a sistematizaccedilatildeo

das produccedilotildees cientiacuteficas nacionais na temaacutetica violecircncia domestica contra a mulher

para o (re)conhecimento do estado da arte sobre a temaacutetica em anaacutelise fato este

25

fundamental para subsidiar futuras intervenccedilotildees no acircmbito das praacuteticas e serviccedilos

de sauacutede e da accedilatildeo social

A complexidade que envolve as questotildees relativas agrave violecircncia contra a mulher

exige accedilotildees capazes de dar conta das inuacutemeras demandas apresentadas o que

implica na articulaccedilatildeo entre as diferentes aacutereas de conhecimento e de atuaccedilatildeo

multiprofissional

Nessa loacutegica faz-se necessaacuterio maior investimento na qualificaccedilatildeo de

profissionais de sauacutede do serviccedilo social do direito entre outros para o

reconhecimento e identificaccedilatildeo dos sinais que possam indicar situaccedilotildees de violecircncia

contra as mulheres visando o acolhimento das mesmas natildeo apenas nos serviccedilos de

sauacutede mas em outros setores da sociedade Da mesma forma a criaccedilatildeo e

organizaccedilatildeo de serviccedilos multiprofissionais de atendimento agraves mulheres em situaccedilatildeo

de violecircncia para seu devido enfrentamento de modo que os mesmos estejam

articulados na loacutegica da intersetorialidade com os campos da sauacutede do serviccedilo

social e do direito no desenvolvimento de accedilotildees preventivas e assistenciais na

perspectiva da atenccedilatildeo integral agraves mulheres

Para aleacutem da organizaccedilatildeo de serviccedilos para o enfrentamento da violecircncia

contra as mulheres e apoio a essas viacutetimas evidencia-se tambeacutem a urgecircncia de

maior qualificaccedilatildeo sobre a temaacutetica de profissionais que atuam nesses campos para

que possam atender demandas dessa natureza de modo mais solidaacuterio

respeitando-se as subjetividades e singularidades implicadas nessas situaccedilotildees

Os Assistentes Sociais tecircm atuado como mediadores proporcionando a

escolha para as mulheres do que melhor lhes conveacutem Tal direcionamento vai ao

encontro da proposta aqui formulada na qual considera o profissional como sendo

um facilitador que em nome de valores como liberdade individual independecircncia e

autonomia fornece suporte ao processo de fortalecimento destas usuaacuterias ou seja

eacute o profissional que vecirc aleacutem do aparente (TAVARES 2008)

Sabe-se que jaacute existem leis especiacuteficas para o enfrentamento da violecircncia

contra as mulheres poreacutem ainda eacute preciso que as mesmas sejam incorporadas pela

sociedade como cultura poliacutetica para que accedilotildees mais efetivas sejam de fato

implementadas

26

Como estrateacutegia para a ampliaccedilatildeo do escopo das praacuteticas dessa natureza no

acircmbito das poliacuteticas puacuteblicas destaca-se a criaccedilatildeo de accedilotildees intersetoriais com

movimentos organizados de mulheres organizaccedilotildees governamentais e natildeo

governamentais de defesa aos direitos das mulheres serviccedilos de sauacutede e da accedilatildeo

social delegacias de policia organizaccedilotildees de bairros escolas dentre outros

segmentos sociais

Outra importante accedilatildeo se refere agrave incorporaccedilatildeo das questotildees relativas agrave

violecircncia e mais especificamente contra as mulheres foco deste estudo como um

tema transversal nas escolas o qual deve ser abordado natildeo apenas com alunos e

professores mas tambeacutem com as famiacutelias que integram a comunidade escolar

Para tanto a interlocuccedilatildeo do Serviccedilo Social com essa questatildeo se faz

necessaacuteria uma vez que a violecircncia domestica eacute um fenocircmeno social e portanto

deve ser enfrentada mediante o conjunto de estrateacutegias poliacuteticas e de intervenccedilatildeo

social direta

Desde esta perspectiva os profissionais do Serviccedilo Social devem intervir

diretamente na realidade social dos sujeitos tendo como pressuposto de atuaccedilatildeo a

articulaccedilatildeo do trabalho em redes promovendo a co-participaccedilatildeo e co-

responsabilizaccedilatildeo dos atores envolvidos nessa problemaacutetica desde a tomada de

decisotildees ateacute os encaminhamentos que se fizerem necessaacuterios para o enfrentamento

positivo e superaccedilatildeo de situaccedilotildees de violecircncia contra as mulheres

A partir de accedilotildees mais efetivas e da conscientizaccedilatildeo dos atores sociais de

que a violecircncia eacute hoje um problema de relevacircncia mundial e de sauacutede puacuteblica no

cenaacuterio brasileiro almeja-se a detecccedilatildeo precoce de situaccedilotildees de violecircncia

abordagem adequada e qualificada agraves viacutetimas e os devidos encaminhamento para o

atendimento desta demanda com eacutetica competecircncia e de forma mais humanizada

Atuaccedilatildeo esta pautada em valores societaacuterios em que homens e mulheres tenham

os mesmos direitos de cidadania buscando a superaccedilatildeo de todas as formas de

violecircncia preconceitos discriminaccedilotildees e desigualdades

27

REFEREcircNCIAS

BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Violecircncia intrafamiliar orientaccedilotildees para a praacutetica em serviccedilos Cadernos de Atenccedilatildeo Baacutesica n 8 BrasiacuteliaDF 2002 CABRAL F B OLIVEIRA D LL C de CECCIM R B O puerpeacuterio e a sauacutede da mulher vulnerabilidade e atenccedilatildeo baacutesica agrave sauacutede In Ensino e atenccedilatildeo agrave sauacutede da mulher aprendizados da integraccedilatildeo da educaccedilatildeo superior com a rede assistencial edCaxias do Sul EDUCS Editora da Universidade de Caxias do Sul 2008 p 137-157 CAMARGO M AQUINO S de (2003) Redes de cidadania e parcerias- Enfrentando a rota criacutetica Secretaria Especial de Poliacuteticas para as Mulheres Programa de prevenccedilatildeo assistecircncia e combate agrave violecircncia contra a mulher- plano nacional Brasiacutelia 2003 DrsquoOLIVEIRA A F SCHRAIBER L B Violecircncia Contra a Mulher a pesquisa e a intervenccedilatildeo Revista Promoccedilatildeo da Sauacutede n 6 80- 8 2002 DE FERRANTE FG SANTOS MA VIEIRA EM Violecircncia contra a mulher percepccedilatildeo dos meacutedicos das unidades baacutesicas de sauacutede da cidade de Ribeiratildeo Preto Satildeo Paulo Satildeo Paulo Interface - Comunic Saude Educ 13(31)287-99 outdez 2009

DOLIVEIRA AFPL SCHREIBER LB HANADA H DURANDJ Atenccedilatildeo integral agrave sauacutede de mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia de gecircnero ndash uma alternativa para a atenccedilatildeo primaacuteria em sauacutede Rio de Janeiro Ciecircnc Sauacutede Coletiva 14(4) julhoago 2009

GALVAtildeOFEANDRADESM Violecircncia contra a mulher anaacutelise de casos atendidos em serviccedilo de atenccedilatildeo agrave mulher em municiacutepio do Sul do Brasil Sauacutede e Sociedade 13(2)p89-99 maio-ago 2004 GIL A C Como Elaborar Projetos de Pesquisa 4 ed Satildeo Paulo Atlas 2009

LEONCIO LK ET AL O perfil das mulheres vitimizadas e seus agressores Rev enferm UERJ Rio de Janeiro 16(3)307-12 julset 2008 MEDINA ABC PENNA LHG Violecircncia na gestaccedilatildeo um estudo da produccedilatildeo cientiacutefica de 2000 a 2005 Esc Anna Nery 12(4)793-98 dez 2008 MENEGHEL ST INtildeIGUEZ L Contadores de histoacuterias praacuteticas discursivas e violecircncia de gecircnero Cad Sauacutede Puacuteblica Rio de Janeiro 23(8)1815-1824 ago 2007 MEYER D E Teorias e poliacuteticas de gecircnero fragmentos histoacutericos e desafios atuais Revista Brasileira de Enfermagem Brasiacutelia v57 n1 p13-8 janfev 2004

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MINAYO M C et al Pesquisa social teoria meacutetodo criatividade Petroacutepolis Vozes 2002 MONTEIROCFS Arauacutejo TME NunesBMV LustosaAR BezerraCMJ A Violecircncia contra a mulher atendida em uma unidade de urgecircncia uma contribuiccedilatildeo da enfermagem Esc Anna Nery 10(2)273-9 ago 2006 MOTA JCMVASCONCELOS AGG ASSIS SG Anaacutelise de correspondecircncia como estrateacutegia para descriccedilatildeo do perfil da mulher viacutetima do parceiro atendida em serviccedilo especializado Ciecircncia e Sauacutede coletiva 12 (3)799890 2007 REZENDE EJC ET AL Lesotildees buco-dentais em mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia um estudo piloto de casos periciados no IML de Belo Horizonte MG Rev Bras Epidemiol 10(2) 202-14 2007 SCARANTO CAA BIAZEVICMGH MICHEL-CROSATOE Percepccedilatildeo dos Agentes Comunitaacuterios de Sauacutede sobre a Violecircncia Domeacutestica contra a Mulher Psicol ciecircnc Prof 27(4)694-705 2007 SCHRAIBER L B DOLIVEIRA A F L P Violecircncia contra mulheres interfaces com a Sauacutede Comunicaccedilatildeo Sauacutede Educaccedilatildeo v3 n5 1999 SILVA LL ET AL Violecircncia silenciosa violecircncia psicoloacutegica como condiccedilatildeo da violecircncia fiacutesica domeacutestica Interface - Comunic Sauacutede Educ v11 n21 p93-103 janabr 2007 SILVA LL ET AL Violecircncia silenciosa violecircncia psicoloacutegica como condiccedilatildeo da violecircncia fiacutesica domeacutestica Interface - Comunic Sauacutede Educ v11 n21 p93-103 janabr 2007 TAVARES F A Daacutes Laacutegrimas agrave Esperanccedila o processo de fortalecimento das mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia domeacutestica 2008 Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Serviccedilo Social Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica do Rio Grande do Sul Porto Alegre 2008 VIEIRAMEET AL Conhecimento e atitudes dos profissionais de sauacutede em relaccedilatildeo agrave violecircncia de gecircnero Rev Bras Epidemiol 12(4) 566-77 2009 WILHEL FA TONET J Percepccedilatildeo sobre a violecircncia domeacutestica na perspectiva de mulheres vitimadas Psicol Argum Curitiba 25 (51)401-412 outdez 2007

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ANEXO 1 - Quadro analiacutetico ndash Violecircncia domestica contra a mulher e sauacutede publica ndash 2000-2009

Titulo Revista

Origem Subaacuterea de

conhecimento

Tipo Natureza Ano de

publicaccedilatildeo

Regiatildeo da

pesquisa

Violecircncia contra a mulher anaacutelise de casos atendidos em serviccedilo de atenccedilatildeo agrave mulher em municiacutepio do sul do Brasil Rev Sauacutede e Sociedade v13 n2 p89-99 maio-ago 2004

GALVAtildeOFEANDRADESM

Artigo Sociologia Pesquisa

investigaccedilatildeo

Qualitativo

sociocultural 2004 Regiatildeo Sul

A violecircncia contra a mulher atendida em unidade de urgecircncia uma contribuiccedilatildeo da enfermagem Esc Anna Nery R Enferm 2006 ago 10 (2) 273-9

MONTEIROCFS Arauacutejo TME NunesBMV LustosaAR BezerraCMJ

Artigo Enfermagem Pesquisa

Investigaccedilatildeo

Quantitativo

sociocultural 2006 Regiatildeo

Norte

Percepccedilatildeo dos Agentes Comunitaacuterios de Sauacutede sobre a Violecircncia Domeacutestica contra a Mulher Psicol ciecircnc prof27(4)694-705 2007

SCARANTO CAA BIAZEVICMGH MICHEL-CROSATOE

Artigo Psicologia Pesquisa

Investigaccedilatildeo

Qualitativo

sociocultural 2007 Regiatildeo Sul

Violecircncia silenciosa violecircncia psicoloacutegica como condiccedilatildeo da violecircncia fiacutesica domeacutestica

Artigo Psicologia Revisatildeo sociocultural 2007 Regiatildeo Sul

30

Interface-Comunic Sauacutede Educ v11 n21 p93-103 janabr 2007

SILVA LL ET AL

Qualitativa

Anaacutelise de correspondecircncia como estrateacutegia para descriccedilatildeo do perfil da mulher viacutetima do parceiro atendida em serviccedilo especializado Ciecircncia e Sauacutede coletiva12 (3)799890 2007

MOTA JCMVASCONCELOS AGG ASSIS SG

Artigo multiprofissional Pesquisa Qualiquanti

epidemioloacutegi

co

2007 Centro

Contadores de histoacuterias praacuteticas discursivas e violecircncia de gecircnero Cad Sauacutede Puacuteblica Rio de Janeiro 23(8)1815-1824 ago 2007

MENEGHEL ST INtildeIGUEZ L

Artigo multiprofissional Pesquisa Qualitativa

Sociocultural 2007 Regiatildeo sul

Lesotildees buccedilo-dentais em mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia um estudo piloto de casos periciados no IML de Belo Horizonte MG Rev Bras Epidemiol 2007 10(2) 202-14

REZENDE EJC ET AL

Artigo Odontologia Pesquisa

Documental

Clinico 2007 Regiatildeo

sudeste

Percepccedilatildeo sobre a violecircncia domeacutestica na perspectiva de mulheres vitimadas Psicol Argum Curitiba v 25 n 51 p 401-412 outdez 2007

WILHEL FA TONET J

Artigo Psicologia Pesquisa

qualitativa

Sociocultural 2007 Regiatildeo Sul

O perfil de mulheres vitimizadas e de seus agressores Rev enferm UERJ Rio de Janeiro 2008 julset

Artigo Enfermagem Pesquisa Sociocultural 2008 Regiatildeo

31

16(3)307-12

LEONCIO LK ET AL documental

quantitativa

sudeste

Violecircncia na gestaccedilatildeo um estudo da produccedilatildeo cientiacutefica de 2000 a 2005 Esc Anna Nery Rev Enferm 2008 dez 12 (4) 793-98

MEDINA ABC PENNA LHG

Artigo Enfermagem Pesquisa

qualitativa

Sociocultural 2008 Regiatildeo

Sudeste

Conhecimento e atitudes dos profissionais de sauacutede em relaccedilatildeo agrave violecircncia de gecircnero Rev Bras Epidemiol 2009 12(4) 566-77

VIEIRAMEET AL

Artigo Multidisciplinar Pesquisa Qualitativa

Sociocultural 2009 Regiatildeo Sudeste

Violecircncia contra a mulher percepccedilatildeo dos meacutedicos das unidades baacutesicas de sauacutede da cidade de Ribeiratildeo Preto Satildeo Paulo Interface - Comunic Saude Educ v13 n31 p287-99 outdez 2009

DE FERRANTE FG SANTOS MA VIEIRA EM

Artigo Multidisciplinar Pesquisa Qualitativa

Sociocultural 2009 Regiatildeo Sudeste

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CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Este estudo teve se propocircs a conhecer o que a literatura especializada em

sauacutede dos uacuteltimos dez anos disponiacutevel on line traz a respeito da violecircncia

domestica contra a mulher no periacuteodo de 2000 a 2009

Com base nos artigos analisados percebe-se que o baixo status econocircmico

o niacutevel de instruccedilatildeo e consequumlentemente o acesso agrave informaccedilatildeo podem ser

considerados como condiccedilotildees facilitadoras para a ocorrecircncia de situaccedilotildees de

violecircncia domeacutestica

Em muitos casos a dependecircncia econocircmica da mulher agrave renda do marido

impotildee a necessidade desta em ter de permanecer com ele mesmo diante de

situaccedilotildees de violecircncia

De modo geral os estudos analisadas indicaram os maridos ou companheiros

atuais das mulheres ou ainda seus ex-companheiros como os principais

agressores sendo o ambiente domeacutestico o local predominate destas agressotildees

Outro aspecto evidenciado nos achados desta pesquisa se refere ao fato de

que a maioria dessas mulheres natildeo relatou os motivos pelos quais foram agredidas

ainda que o aacutelcool tenha sido apontado como o principal motivo desencadeador das

agressotildees seguido do sentimento de ciuacutemes Tambeacutem se verificou o grande

nuacutemero de sub-notificaccedilatildeo dos casos de violecircncia contra as mulheres Assim infere-

se que possivelmente isto ocorra em funccedilatildeo da dependecircncia econocircmica e por

medo de vinganccedila

A natureza soacutecio-cultural e a subaacuterea multiprofissional prevalente nas

produccedilotildees analisadas evidenciaram a multiplicidade de aspectos relevantes a

temaacutetica da violecircncia como um complexo problema de sauacutede puacuteblica sinalizando

para a urgecircncia de um movimento reflexivo seja no acircmbito da formaccedilatildeo de

profissionais de sauacutede seja na praacutetica profissional para o enfrentamento desta

questatildeo

Destaca-se a importacircncia de pesquisa bibliograacuteficas para a sistematizaccedilatildeo

das produccedilotildees cientiacuteficas nacionais na temaacutetica violecircncia domestica contra a mulher

para o (re)conhecimento do estado da arte sobre a temaacutetica em anaacutelise fato este

25

fundamental para subsidiar futuras intervenccedilotildees no acircmbito das praacuteticas e serviccedilos

de sauacutede e da accedilatildeo social

A complexidade que envolve as questotildees relativas agrave violecircncia contra a mulher

exige accedilotildees capazes de dar conta das inuacutemeras demandas apresentadas o que

implica na articulaccedilatildeo entre as diferentes aacutereas de conhecimento e de atuaccedilatildeo

multiprofissional

Nessa loacutegica faz-se necessaacuterio maior investimento na qualificaccedilatildeo de

profissionais de sauacutede do serviccedilo social do direito entre outros para o

reconhecimento e identificaccedilatildeo dos sinais que possam indicar situaccedilotildees de violecircncia

contra as mulheres visando o acolhimento das mesmas natildeo apenas nos serviccedilos de

sauacutede mas em outros setores da sociedade Da mesma forma a criaccedilatildeo e

organizaccedilatildeo de serviccedilos multiprofissionais de atendimento agraves mulheres em situaccedilatildeo

de violecircncia para seu devido enfrentamento de modo que os mesmos estejam

articulados na loacutegica da intersetorialidade com os campos da sauacutede do serviccedilo

social e do direito no desenvolvimento de accedilotildees preventivas e assistenciais na

perspectiva da atenccedilatildeo integral agraves mulheres

Para aleacutem da organizaccedilatildeo de serviccedilos para o enfrentamento da violecircncia

contra as mulheres e apoio a essas viacutetimas evidencia-se tambeacutem a urgecircncia de

maior qualificaccedilatildeo sobre a temaacutetica de profissionais que atuam nesses campos para

que possam atender demandas dessa natureza de modo mais solidaacuterio

respeitando-se as subjetividades e singularidades implicadas nessas situaccedilotildees

Os Assistentes Sociais tecircm atuado como mediadores proporcionando a

escolha para as mulheres do que melhor lhes conveacutem Tal direcionamento vai ao

encontro da proposta aqui formulada na qual considera o profissional como sendo

um facilitador que em nome de valores como liberdade individual independecircncia e

autonomia fornece suporte ao processo de fortalecimento destas usuaacuterias ou seja

eacute o profissional que vecirc aleacutem do aparente (TAVARES 2008)

Sabe-se que jaacute existem leis especiacuteficas para o enfrentamento da violecircncia

contra as mulheres poreacutem ainda eacute preciso que as mesmas sejam incorporadas pela

sociedade como cultura poliacutetica para que accedilotildees mais efetivas sejam de fato

implementadas

26

Como estrateacutegia para a ampliaccedilatildeo do escopo das praacuteticas dessa natureza no

acircmbito das poliacuteticas puacuteblicas destaca-se a criaccedilatildeo de accedilotildees intersetoriais com

movimentos organizados de mulheres organizaccedilotildees governamentais e natildeo

governamentais de defesa aos direitos das mulheres serviccedilos de sauacutede e da accedilatildeo

social delegacias de policia organizaccedilotildees de bairros escolas dentre outros

segmentos sociais

Outra importante accedilatildeo se refere agrave incorporaccedilatildeo das questotildees relativas agrave

violecircncia e mais especificamente contra as mulheres foco deste estudo como um

tema transversal nas escolas o qual deve ser abordado natildeo apenas com alunos e

professores mas tambeacutem com as famiacutelias que integram a comunidade escolar

Para tanto a interlocuccedilatildeo do Serviccedilo Social com essa questatildeo se faz

necessaacuteria uma vez que a violecircncia domestica eacute um fenocircmeno social e portanto

deve ser enfrentada mediante o conjunto de estrateacutegias poliacuteticas e de intervenccedilatildeo

social direta

Desde esta perspectiva os profissionais do Serviccedilo Social devem intervir

diretamente na realidade social dos sujeitos tendo como pressuposto de atuaccedilatildeo a

articulaccedilatildeo do trabalho em redes promovendo a co-participaccedilatildeo e co-

responsabilizaccedilatildeo dos atores envolvidos nessa problemaacutetica desde a tomada de

decisotildees ateacute os encaminhamentos que se fizerem necessaacuterios para o enfrentamento

positivo e superaccedilatildeo de situaccedilotildees de violecircncia contra as mulheres

A partir de accedilotildees mais efetivas e da conscientizaccedilatildeo dos atores sociais de

que a violecircncia eacute hoje um problema de relevacircncia mundial e de sauacutede puacuteblica no

cenaacuterio brasileiro almeja-se a detecccedilatildeo precoce de situaccedilotildees de violecircncia

abordagem adequada e qualificada agraves viacutetimas e os devidos encaminhamento para o

atendimento desta demanda com eacutetica competecircncia e de forma mais humanizada

Atuaccedilatildeo esta pautada em valores societaacuterios em que homens e mulheres tenham

os mesmos direitos de cidadania buscando a superaccedilatildeo de todas as formas de

violecircncia preconceitos discriminaccedilotildees e desigualdades

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REFEREcircNCIAS

BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Violecircncia intrafamiliar orientaccedilotildees para a praacutetica em serviccedilos Cadernos de Atenccedilatildeo Baacutesica n 8 BrasiacuteliaDF 2002 CABRAL F B OLIVEIRA D LL C de CECCIM R B O puerpeacuterio e a sauacutede da mulher vulnerabilidade e atenccedilatildeo baacutesica agrave sauacutede In Ensino e atenccedilatildeo agrave sauacutede da mulher aprendizados da integraccedilatildeo da educaccedilatildeo superior com a rede assistencial edCaxias do Sul EDUCS Editora da Universidade de Caxias do Sul 2008 p 137-157 CAMARGO M AQUINO S de (2003) Redes de cidadania e parcerias- Enfrentando a rota criacutetica Secretaria Especial de Poliacuteticas para as Mulheres Programa de prevenccedilatildeo assistecircncia e combate agrave violecircncia contra a mulher- plano nacional Brasiacutelia 2003 DrsquoOLIVEIRA A F SCHRAIBER L B Violecircncia Contra a Mulher a pesquisa e a intervenccedilatildeo Revista Promoccedilatildeo da Sauacutede n 6 80- 8 2002 DE FERRANTE FG SANTOS MA VIEIRA EM Violecircncia contra a mulher percepccedilatildeo dos meacutedicos das unidades baacutesicas de sauacutede da cidade de Ribeiratildeo Preto Satildeo Paulo Satildeo Paulo Interface - Comunic Saude Educ 13(31)287-99 outdez 2009

DOLIVEIRA AFPL SCHREIBER LB HANADA H DURANDJ Atenccedilatildeo integral agrave sauacutede de mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia de gecircnero ndash uma alternativa para a atenccedilatildeo primaacuteria em sauacutede Rio de Janeiro Ciecircnc Sauacutede Coletiva 14(4) julhoago 2009

GALVAtildeOFEANDRADESM Violecircncia contra a mulher anaacutelise de casos atendidos em serviccedilo de atenccedilatildeo agrave mulher em municiacutepio do Sul do Brasil Sauacutede e Sociedade 13(2)p89-99 maio-ago 2004 GIL A C Como Elaborar Projetos de Pesquisa 4 ed Satildeo Paulo Atlas 2009

LEONCIO LK ET AL O perfil das mulheres vitimizadas e seus agressores Rev enferm UERJ Rio de Janeiro 16(3)307-12 julset 2008 MEDINA ABC PENNA LHG Violecircncia na gestaccedilatildeo um estudo da produccedilatildeo cientiacutefica de 2000 a 2005 Esc Anna Nery 12(4)793-98 dez 2008 MENEGHEL ST INtildeIGUEZ L Contadores de histoacuterias praacuteticas discursivas e violecircncia de gecircnero Cad Sauacutede Puacuteblica Rio de Janeiro 23(8)1815-1824 ago 2007 MEYER D E Teorias e poliacuteticas de gecircnero fragmentos histoacutericos e desafios atuais Revista Brasileira de Enfermagem Brasiacutelia v57 n1 p13-8 janfev 2004

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MINAYO M C et al Pesquisa social teoria meacutetodo criatividade Petroacutepolis Vozes 2002 MONTEIROCFS Arauacutejo TME NunesBMV LustosaAR BezerraCMJ A Violecircncia contra a mulher atendida em uma unidade de urgecircncia uma contribuiccedilatildeo da enfermagem Esc Anna Nery 10(2)273-9 ago 2006 MOTA JCMVASCONCELOS AGG ASSIS SG Anaacutelise de correspondecircncia como estrateacutegia para descriccedilatildeo do perfil da mulher viacutetima do parceiro atendida em serviccedilo especializado Ciecircncia e Sauacutede coletiva 12 (3)799890 2007 REZENDE EJC ET AL Lesotildees buco-dentais em mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia um estudo piloto de casos periciados no IML de Belo Horizonte MG Rev Bras Epidemiol 10(2) 202-14 2007 SCARANTO CAA BIAZEVICMGH MICHEL-CROSATOE Percepccedilatildeo dos Agentes Comunitaacuterios de Sauacutede sobre a Violecircncia Domeacutestica contra a Mulher Psicol ciecircnc Prof 27(4)694-705 2007 SCHRAIBER L B DOLIVEIRA A F L P Violecircncia contra mulheres interfaces com a Sauacutede Comunicaccedilatildeo Sauacutede Educaccedilatildeo v3 n5 1999 SILVA LL ET AL Violecircncia silenciosa violecircncia psicoloacutegica como condiccedilatildeo da violecircncia fiacutesica domeacutestica Interface - Comunic Sauacutede Educ v11 n21 p93-103 janabr 2007 SILVA LL ET AL Violecircncia silenciosa violecircncia psicoloacutegica como condiccedilatildeo da violecircncia fiacutesica domeacutestica Interface - Comunic Sauacutede Educ v11 n21 p93-103 janabr 2007 TAVARES F A Daacutes Laacutegrimas agrave Esperanccedila o processo de fortalecimento das mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia domeacutestica 2008 Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Serviccedilo Social Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica do Rio Grande do Sul Porto Alegre 2008 VIEIRAMEET AL Conhecimento e atitudes dos profissionais de sauacutede em relaccedilatildeo agrave violecircncia de gecircnero Rev Bras Epidemiol 12(4) 566-77 2009 WILHEL FA TONET J Percepccedilatildeo sobre a violecircncia domeacutestica na perspectiva de mulheres vitimadas Psicol Argum Curitiba 25 (51)401-412 outdez 2007

29

ANEXO 1 - Quadro analiacutetico ndash Violecircncia domestica contra a mulher e sauacutede publica ndash 2000-2009

Titulo Revista

Origem Subaacuterea de

conhecimento

Tipo Natureza Ano de

publicaccedilatildeo

Regiatildeo da

pesquisa

Violecircncia contra a mulher anaacutelise de casos atendidos em serviccedilo de atenccedilatildeo agrave mulher em municiacutepio do sul do Brasil Rev Sauacutede e Sociedade v13 n2 p89-99 maio-ago 2004

GALVAtildeOFEANDRADESM

Artigo Sociologia Pesquisa

investigaccedilatildeo

Qualitativo

sociocultural 2004 Regiatildeo Sul

A violecircncia contra a mulher atendida em unidade de urgecircncia uma contribuiccedilatildeo da enfermagem Esc Anna Nery R Enferm 2006 ago 10 (2) 273-9

MONTEIROCFS Arauacutejo TME NunesBMV LustosaAR BezerraCMJ

Artigo Enfermagem Pesquisa

Investigaccedilatildeo

Quantitativo

sociocultural 2006 Regiatildeo

Norte

Percepccedilatildeo dos Agentes Comunitaacuterios de Sauacutede sobre a Violecircncia Domeacutestica contra a Mulher Psicol ciecircnc prof27(4)694-705 2007

SCARANTO CAA BIAZEVICMGH MICHEL-CROSATOE

Artigo Psicologia Pesquisa

Investigaccedilatildeo

Qualitativo

sociocultural 2007 Regiatildeo Sul

Violecircncia silenciosa violecircncia psicoloacutegica como condiccedilatildeo da violecircncia fiacutesica domeacutestica

Artigo Psicologia Revisatildeo sociocultural 2007 Regiatildeo Sul

30

Interface-Comunic Sauacutede Educ v11 n21 p93-103 janabr 2007

SILVA LL ET AL

Qualitativa

Anaacutelise de correspondecircncia como estrateacutegia para descriccedilatildeo do perfil da mulher viacutetima do parceiro atendida em serviccedilo especializado Ciecircncia e Sauacutede coletiva12 (3)799890 2007

MOTA JCMVASCONCELOS AGG ASSIS SG

Artigo multiprofissional Pesquisa Qualiquanti

epidemioloacutegi

co

2007 Centro

Contadores de histoacuterias praacuteticas discursivas e violecircncia de gecircnero Cad Sauacutede Puacuteblica Rio de Janeiro 23(8)1815-1824 ago 2007

MENEGHEL ST INtildeIGUEZ L

Artigo multiprofissional Pesquisa Qualitativa

Sociocultural 2007 Regiatildeo sul

Lesotildees buccedilo-dentais em mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia um estudo piloto de casos periciados no IML de Belo Horizonte MG Rev Bras Epidemiol 2007 10(2) 202-14

REZENDE EJC ET AL

Artigo Odontologia Pesquisa

Documental

Clinico 2007 Regiatildeo

sudeste

Percepccedilatildeo sobre a violecircncia domeacutestica na perspectiva de mulheres vitimadas Psicol Argum Curitiba v 25 n 51 p 401-412 outdez 2007

WILHEL FA TONET J

Artigo Psicologia Pesquisa

qualitativa

Sociocultural 2007 Regiatildeo Sul

O perfil de mulheres vitimizadas e de seus agressores Rev enferm UERJ Rio de Janeiro 2008 julset

Artigo Enfermagem Pesquisa Sociocultural 2008 Regiatildeo

31

16(3)307-12

LEONCIO LK ET AL documental

quantitativa

sudeste

Violecircncia na gestaccedilatildeo um estudo da produccedilatildeo cientiacutefica de 2000 a 2005 Esc Anna Nery Rev Enferm 2008 dez 12 (4) 793-98

MEDINA ABC PENNA LHG

Artigo Enfermagem Pesquisa

qualitativa

Sociocultural 2008 Regiatildeo

Sudeste

Conhecimento e atitudes dos profissionais de sauacutede em relaccedilatildeo agrave violecircncia de gecircnero Rev Bras Epidemiol 2009 12(4) 566-77

VIEIRAMEET AL

Artigo Multidisciplinar Pesquisa Qualitativa

Sociocultural 2009 Regiatildeo Sudeste

Violecircncia contra a mulher percepccedilatildeo dos meacutedicos das unidades baacutesicas de sauacutede da cidade de Ribeiratildeo Preto Satildeo Paulo Interface - Comunic Saude Educ v13 n31 p287-99 outdez 2009

DE FERRANTE FG SANTOS MA VIEIRA EM

Artigo Multidisciplinar Pesquisa Qualitativa

Sociocultural 2009 Regiatildeo Sudeste

32

33

25

fundamental para subsidiar futuras intervenccedilotildees no acircmbito das praacuteticas e serviccedilos

de sauacutede e da accedilatildeo social

A complexidade que envolve as questotildees relativas agrave violecircncia contra a mulher

exige accedilotildees capazes de dar conta das inuacutemeras demandas apresentadas o que

implica na articulaccedilatildeo entre as diferentes aacutereas de conhecimento e de atuaccedilatildeo

multiprofissional

Nessa loacutegica faz-se necessaacuterio maior investimento na qualificaccedilatildeo de

profissionais de sauacutede do serviccedilo social do direito entre outros para o

reconhecimento e identificaccedilatildeo dos sinais que possam indicar situaccedilotildees de violecircncia

contra as mulheres visando o acolhimento das mesmas natildeo apenas nos serviccedilos de

sauacutede mas em outros setores da sociedade Da mesma forma a criaccedilatildeo e

organizaccedilatildeo de serviccedilos multiprofissionais de atendimento agraves mulheres em situaccedilatildeo

de violecircncia para seu devido enfrentamento de modo que os mesmos estejam

articulados na loacutegica da intersetorialidade com os campos da sauacutede do serviccedilo

social e do direito no desenvolvimento de accedilotildees preventivas e assistenciais na

perspectiva da atenccedilatildeo integral agraves mulheres

Para aleacutem da organizaccedilatildeo de serviccedilos para o enfrentamento da violecircncia

contra as mulheres e apoio a essas viacutetimas evidencia-se tambeacutem a urgecircncia de

maior qualificaccedilatildeo sobre a temaacutetica de profissionais que atuam nesses campos para

que possam atender demandas dessa natureza de modo mais solidaacuterio

respeitando-se as subjetividades e singularidades implicadas nessas situaccedilotildees

Os Assistentes Sociais tecircm atuado como mediadores proporcionando a

escolha para as mulheres do que melhor lhes conveacutem Tal direcionamento vai ao

encontro da proposta aqui formulada na qual considera o profissional como sendo

um facilitador que em nome de valores como liberdade individual independecircncia e

autonomia fornece suporte ao processo de fortalecimento destas usuaacuterias ou seja

eacute o profissional que vecirc aleacutem do aparente (TAVARES 2008)

Sabe-se que jaacute existem leis especiacuteficas para o enfrentamento da violecircncia

contra as mulheres poreacutem ainda eacute preciso que as mesmas sejam incorporadas pela

sociedade como cultura poliacutetica para que accedilotildees mais efetivas sejam de fato

implementadas

26

Como estrateacutegia para a ampliaccedilatildeo do escopo das praacuteticas dessa natureza no

acircmbito das poliacuteticas puacuteblicas destaca-se a criaccedilatildeo de accedilotildees intersetoriais com

movimentos organizados de mulheres organizaccedilotildees governamentais e natildeo

governamentais de defesa aos direitos das mulheres serviccedilos de sauacutede e da accedilatildeo

social delegacias de policia organizaccedilotildees de bairros escolas dentre outros

segmentos sociais

Outra importante accedilatildeo se refere agrave incorporaccedilatildeo das questotildees relativas agrave

violecircncia e mais especificamente contra as mulheres foco deste estudo como um

tema transversal nas escolas o qual deve ser abordado natildeo apenas com alunos e

professores mas tambeacutem com as famiacutelias que integram a comunidade escolar

Para tanto a interlocuccedilatildeo do Serviccedilo Social com essa questatildeo se faz

necessaacuteria uma vez que a violecircncia domestica eacute um fenocircmeno social e portanto

deve ser enfrentada mediante o conjunto de estrateacutegias poliacuteticas e de intervenccedilatildeo

social direta

Desde esta perspectiva os profissionais do Serviccedilo Social devem intervir

diretamente na realidade social dos sujeitos tendo como pressuposto de atuaccedilatildeo a

articulaccedilatildeo do trabalho em redes promovendo a co-participaccedilatildeo e co-

responsabilizaccedilatildeo dos atores envolvidos nessa problemaacutetica desde a tomada de

decisotildees ateacute os encaminhamentos que se fizerem necessaacuterios para o enfrentamento

positivo e superaccedilatildeo de situaccedilotildees de violecircncia contra as mulheres

A partir de accedilotildees mais efetivas e da conscientizaccedilatildeo dos atores sociais de

que a violecircncia eacute hoje um problema de relevacircncia mundial e de sauacutede puacuteblica no

cenaacuterio brasileiro almeja-se a detecccedilatildeo precoce de situaccedilotildees de violecircncia

abordagem adequada e qualificada agraves viacutetimas e os devidos encaminhamento para o

atendimento desta demanda com eacutetica competecircncia e de forma mais humanizada

Atuaccedilatildeo esta pautada em valores societaacuterios em que homens e mulheres tenham

os mesmos direitos de cidadania buscando a superaccedilatildeo de todas as formas de

violecircncia preconceitos discriminaccedilotildees e desigualdades

27

REFEREcircNCIAS

BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Violecircncia intrafamiliar orientaccedilotildees para a praacutetica em serviccedilos Cadernos de Atenccedilatildeo Baacutesica n 8 BrasiacuteliaDF 2002 CABRAL F B OLIVEIRA D LL C de CECCIM R B O puerpeacuterio e a sauacutede da mulher vulnerabilidade e atenccedilatildeo baacutesica agrave sauacutede In Ensino e atenccedilatildeo agrave sauacutede da mulher aprendizados da integraccedilatildeo da educaccedilatildeo superior com a rede assistencial edCaxias do Sul EDUCS Editora da Universidade de Caxias do Sul 2008 p 137-157 CAMARGO M AQUINO S de (2003) Redes de cidadania e parcerias- Enfrentando a rota criacutetica Secretaria Especial de Poliacuteticas para as Mulheres Programa de prevenccedilatildeo assistecircncia e combate agrave violecircncia contra a mulher- plano nacional Brasiacutelia 2003 DrsquoOLIVEIRA A F SCHRAIBER L B Violecircncia Contra a Mulher a pesquisa e a intervenccedilatildeo Revista Promoccedilatildeo da Sauacutede n 6 80- 8 2002 DE FERRANTE FG SANTOS MA VIEIRA EM Violecircncia contra a mulher percepccedilatildeo dos meacutedicos das unidades baacutesicas de sauacutede da cidade de Ribeiratildeo Preto Satildeo Paulo Satildeo Paulo Interface - Comunic Saude Educ 13(31)287-99 outdez 2009

DOLIVEIRA AFPL SCHREIBER LB HANADA H DURANDJ Atenccedilatildeo integral agrave sauacutede de mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia de gecircnero ndash uma alternativa para a atenccedilatildeo primaacuteria em sauacutede Rio de Janeiro Ciecircnc Sauacutede Coletiva 14(4) julhoago 2009

GALVAtildeOFEANDRADESM Violecircncia contra a mulher anaacutelise de casos atendidos em serviccedilo de atenccedilatildeo agrave mulher em municiacutepio do Sul do Brasil Sauacutede e Sociedade 13(2)p89-99 maio-ago 2004 GIL A C Como Elaborar Projetos de Pesquisa 4 ed Satildeo Paulo Atlas 2009

LEONCIO LK ET AL O perfil das mulheres vitimizadas e seus agressores Rev enferm UERJ Rio de Janeiro 16(3)307-12 julset 2008 MEDINA ABC PENNA LHG Violecircncia na gestaccedilatildeo um estudo da produccedilatildeo cientiacutefica de 2000 a 2005 Esc Anna Nery 12(4)793-98 dez 2008 MENEGHEL ST INtildeIGUEZ L Contadores de histoacuterias praacuteticas discursivas e violecircncia de gecircnero Cad Sauacutede Puacuteblica Rio de Janeiro 23(8)1815-1824 ago 2007 MEYER D E Teorias e poliacuteticas de gecircnero fragmentos histoacutericos e desafios atuais Revista Brasileira de Enfermagem Brasiacutelia v57 n1 p13-8 janfev 2004

28

MINAYO M C et al Pesquisa social teoria meacutetodo criatividade Petroacutepolis Vozes 2002 MONTEIROCFS Arauacutejo TME NunesBMV LustosaAR BezerraCMJ A Violecircncia contra a mulher atendida em uma unidade de urgecircncia uma contribuiccedilatildeo da enfermagem Esc Anna Nery 10(2)273-9 ago 2006 MOTA JCMVASCONCELOS AGG ASSIS SG Anaacutelise de correspondecircncia como estrateacutegia para descriccedilatildeo do perfil da mulher viacutetima do parceiro atendida em serviccedilo especializado Ciecircncia e Sauacutede coletiva 12 (3)799890 2007 REZENDE EJC ET AL Lesotildees buco-dentais em mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia um estudo piloto de casos periciados no IML de Belo Horizonte MG Rev Bras Epidemiol 10(2) 202-14 2007 SCARANTO CAA BIAZEVICMGH MICHEL-CROSATOE Percepccedilatildeo dos Agentes Comunitaacuterios de Sauacutede sobre a Violecircncia Domeacutestica contra a Mulher Psicol ciecircnc Prof 27(4)694-705 2007 SCHRAIBER L B DOLIVEIRA A F L P Violecircncia contra mulheres interfaces com a Sauacutede Comunicaccedilatildeo Sauacutede Educaccedilatildeo v3 n5 1999 SILVA LL ET AL Violecircncia silenciosa violecircncia psicoloacutegica como condiccedilatildeo da violecircncia fiacutesica domeacutestica Interface - Comunic Sauacutede Educ v11 n21 p93-103 janabr 2007 SILVA LL ET AL Violecircncia silenciosa violecircncia psicoloacutegica como condiccedilatildeo da violecircncia fiacutesica domeacutestica Interface - Comunic Sauacutede Educ v11 n21 p93-103 janabr 2007 TAVARES F A Daacutes Laacutegrimas agrave Esperanccedila o processo de fortalecimento das mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia domeacutestica 2008 Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Serviccedilo Social Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica do Rio Grande do Sul Porto Alegre 2008 VIEIRAMEET AL Conhecimento e atitudes dos profissionais de sauacutede em relaccedilatildeo agrave violecircncia de gecircnero Rev Bras Epidemiol 12(4) 566-77 2009 WILHEL FA TONET J Percepccedilatildeo sobre a violecircncia domeacutestica na perspectiva de mulheres vitimadas Psicol Argum Curitiba 25 (51)401-412 outdez 2007

29

ANEXO 1 - Quadro analiacutetico ndash Violecircncia domestica contra a mulher e sauacutede publica ndash 2000-2009

Titulo Revista

Origem Subaacuterea de

conhecimento

Tipo Natureza Ano de

publicaccedilatildeo

Regiatildeo da

pesquisa

Violecircncia contra a mulher anaacutelise de casos atendidos em serviccedilo de atenccedilatildeo agrave mulher em municiacutepio do sul do Brasil Rev Sauacutede e Sociedade v13 n2 p89-99 maio-ago 2004

GALVAtildeOFEANDRADESM

Artigo Sociologia Pesquisa

investigaccedilatildeo

Qualitativo

sociocultural 2004 Regiatildeo Sul

A violecircncia contra a mulher atendida em unidade de urgecircncia uma contribuiccedilatildeo da enfermagem Esc Anna Nery R Enferm 2006 ago 10 (2) 273-9

MONTEIROCFS Arauacutejo TME NunesBMV LustosaAR BezerraCMJ

Artigo Enfermagem Pesquisa

Investigaccedilatildeo

Quantitativo

sociocultural 2006 Regiatildeo

Norte

Percepccedilatildeo dos Agentes Comunitaacuterios de Sauacutede sobre a Violecircncia Domeacutestica contra a Mulher Psicol ciecircnc prof27(4)694-705 2007

SCARANTO CAA BIAZEVICMGH MICHEL-CROSATOE

Artigo Psicologia Pesquisa

Investigaccedilatildeo

Qualitativo

sociocultural 2007 Regiatildeo Sul

Violecircncia silenciosa violecircncia psicoloacutegica como condiccedilatildeo da violecircncia fiacutesica domeacutestica

Artigo Psicologia Revisatildeo sociocultural 2007 Regiatildeo Sul

30

Interface-Comunic Sauacutede Educ v11 n21 p93-103 janabr 2007

SILVA LL ET AL

Qualitativa

Anaacutelise de correspondecircncia como estrateacutegia para descriccedilatildeo do perfil da mulher viacutetima do parceiro atendida em serviccedilo especializado Ciecircncia e Sauacutede coletiva12 (3)799890 2007

MOTA JCMVASCONCELOS AGG ASSIS SG

Artigo multiprofissional Pesquisa Qualiquanti

epidemioloacutegi

co

2007 Centro

Contadores de histoacuterias praacuteticas discursivas e violecircncia de gecircnero Cad Sauacutede Puacuteblica Rio de Janeiro 23(8)1815-1824 ago 2007

MENEGHEL ST INtildeIGUEZ L

Artigo multiprofissional Pesquisa Qualitativa

Sociocultural 2007 Regiatildeo sul

Lesotildees buccedilo-dentais em mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia um estudo piloto de casos periciados no IML de Belo Horizonte MG Rev Bras Epidemiol 2007 10(2) 202-14

REZENDE EJC ET AL

Artigo Odontologia Pesquisa

Documental

Clinico 2007 Regiatildeo

sudeste

Percepccedilatildeo sobre a violecircncia domeacutestica na perspectiva de mulheres vitimadas Psicol Argum Curitiba v 25 n 51 p 401-412 outdez 2007

WILHEL FA TONET J

Artigo Psicologia Pesquisa

qualitativa

Sociocultural 2007 Regiatildeo Sul

O perfil de mulheres vitimizadas e de seus agressores Rev enferm UERJ Rio de Janeiro 2008 julset

Artigo Enfermagem Pesquisa Sociocultural 2008 Regiatildeo

31

16(3)307-12

LEONCIO LK ET AL documental

quantitativa

sudeste

Violecircncia na gestaccedilatildeo um estudo da produccedilatildeo cientiacutefica de 2000 a 2005 Esc Anna Nery Rev Enferm 2008 dez 12 (4) 793-98

MEDINA ABC PENNA LHG

Artigo Enfermagem Pesquisa

qualitativa

Sociocultural 2008 Regiatildeo

Sudeste

Conhecimento e atitudes dos profissionais de sauacutede em relaccedilatildeo agrave violecircncia de gecircnero Rev Bras Epidemiol 2009 12(4) 566-77

VIEIRAMEET AL

Artigo Multidisciplinar Pesquisa Qualitativa

Sociocultural 2009 Regiatildeo Sudeste

Violecircncia contra a mulher percepccedilatildeo dos meacutedicos das unidades baacutesicas de sauacutede da cidade de Ribeiratildeo Preto Satildeo Paulo Interface - Comunic Saude Educ v13 n31 p287-99 outdez 2009

DE FERRANTE FG SANTOS MA VIEIRA EM

Artigo Multidisciplinar Pesquisa Qualitativa

Sociocultural 2009 Regiatildeo Sudeste

32

33

26

Como estrateacutegia para a ampliaccedilatildeo do escopo das praacuteticas dessa natureza no

acircmbito das poliacuteticas puacuteblicas destaca-se a criaccedilatildeo de accedilotildees intersetoriais com

movimentos organizados de mulheres organizaccedilotildees governamentais e natildeo

governamentais de defesa aos direitos das mulheres serviccedilos de sauacutede e da accedilatildeo

social delegacias de policia organizaccedilotildees de bairros escolas dentre outros

segmentos sociais

Outra importante accedilatildeo se refere agrave incorporaccedilatildeo das questotildees relativas agrave

violecircncia e mais especificamente contra as mulheres foco deste estudo como um

tema transversal nas escolas o qual deve ser abordado natildeo apenas com alunos e

professores mas tambeacutem com as famiacutelias que integram a comunidade escolar

Para tanto a interlocuccedilatildeo do Serviccedilo Social com essa questatildeo se faz

necessaacuteria uma vez que a violecircncia domestica eacute um fenocircmeno social e portanto

deve ser enfrentada mediante o conjunto de estrateacutegias poliacuteticas e de intervenccedilatildeo

social direta

Desde esta perspectiva os profissionais do Serviccedilo Social devem intervir

diretamente na realidade social dos sujeitos tendo como pressuposto de atuaccedilatildeo a

articulaccedilatildeo do trabalho em redes promovendo a co-participaccedilatildeo e co-

responsabilizaccedilatildeo dos atores envolvidos nessa problemaacutetica desde a tomada de

decisotildees ateacute os encaminhamentos que se fizerem necessaacuterios para o enfrentamento

positivo e superaccedilatildeo de situaccedilotildees de violecircncia contra as mulheres

A partir de accedilotildees mais efetivas e da conscientizaccedilatildeo dos atores sociais de

que a violecircncia eacute hoje um problema de relevacircncia mundial e de sauacutede puacuteblica no

cenaacuterio brasileiro almeja-se a detecccedilatildeo precoce de situaccedilotildees de violecircncia

abordagem adequada e qualificada agraves viacutetimas e os devidos encaminhamento para o

atendimento desta demanda com eacutetica competecircncia e de forma mais humanizada

Atuaccedilatildeo esta pautada em valores societaacuterios em que homens e mulheres tenham

os mesmos direitos de cidadania buscando a superaccedilatildeo de todas as formas de

violecircncia preconceitos discriminaccedilotildees e desigualdades

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REFEREcircNCIAS

BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Violecircncia intrafamiliar orientaccedilotildees para a praacutetica em serviccedilos Cadernos de Atenccedilatildeo Baacutesica n 8 BrasiacuteliaDF 2002 CABRAL F B OLIVEIRA D LL C de CECCIM R B O puerpeacuterio e a sauacutede da mulher vulnerabilidade e atenccedilatildeo baacutesica agrave sauacutede In Ensino e atenccedilatildeo agrave sauacutede da mulher aprendizados da integraccedilatildeo da educaccedilatildeo superior com a rede assistencial edCaxias do Sul EDUCS Editora da Universidade de Caxias do Sul 2008 p 137-157 CAMARGO M AQUINO S de (2003) Redes de cidadania e parcerias- Enfrentando a rota criacutetica Secretaria Especial de Poliacuteticas para as Mulheres Programa de prevenccedilatildeo assistecircncia e combate agrave violecircncia contra a mulher- plano nacional Brasiacutelia 2003 DrsquoOLIVEIRA A F SCHRAIBER L B Violecircncia Contra a Mulher a pesquisa e a intervenccedilatildeo Revista Promoccedilatildeo da Sauacutede n 6 80- 8 2002 DE FERRANTE FG SANTOS MA VIEIRA EM Violecircncia contra a mulher percepccedilatildeo dos meacutedicos das unidades baacutesicas de sauacutede da cidade de Ribeiratildeo Preto Satildeo Paulo Satildeo Paulo Interface - Comunic Saude Educ 13(31)287-99 outdez 2009

DOLIVEIRA AFPL SCHREIBER LB HANADA H DURANDJ Atenccedilatildeo integral agrave sauacutede de mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia de gecircnero ndash uma alternativa para a atenccedilatildeo primaacuteria em sauacutede Rio de Janeiro Ciecircnc Sauacutede Coletiva 14(4) julhoago 2009

GALVAtildeOFEANDRADESM Violecircncia contra a mulher anaacutelise de casos atendidos em serviccedilo de atenccedilatildeo agrave mulher em municiacutepio do Sul do Brasil Sauacutede e Sociedade 13(2)p89-99 maio-ago 2004 GIL A C Como Elaborar Projetos de Pesquisa 4 ed Satildeo Paulo Atlas 2009

LEONCIO LK ET AL O perfil das mulheres vitimizadas e seus agressores Rev enferm UERJ Rio de Janeiro 16(3)307-12 julset 2008 MEDINA ABC PENNA LHG Violecircncia na gestaccedilatildeo um estudo da produccedilatildeo cientiacutefica de 2000 a 2005 Esc Anna Nery 12(4)793-98 dez 2008 MENEGHEL ST INtildeIGUEZ L Contadores de histoacuterias praacuteticas discursivas e violecircncia de gecircnero Cad Sauacutede Puacuteblica Rio de Janeiro 23(8)1815-1824 ago 2007 MEYER D E Teorias e poliacuteticas de gecircnero fragmentos histoacutericos e desafios atuais Revista Brasileira de Enfermagem Brasiacutelia v57 n1 p13-8 janfev 2004

28

MINAYO M C et al Pesquisa social teoria meacutetodo criatividade Petroacutepolis Vozes 2002 MONTEIROCFS Arauacutejo TME NunesBMV LustosaAR BezerraCMJ A Violecircncia contra a mulher atendida em uma unidade de urgecircncia uma contribuiccedilatildeo da enfermagem Esc Anna Nery 10(2)273-9 ago 2006 MOTA JCMVASCONCELOS AGG ASSIS SG Anaacutelise de correspondecircncia como estrateacutegia para descriccedilatildeo do perfil da mulher viacutetima do parceiro atendida em serviccedilo especializado Ciecircncia e Sauacutede coletiva 12 (3)799890 2007 REZENDE EJC ET AL Lesotildees buco-dentais em mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia um estudo piloto de casos periciados no IML de Belo Horizonte MG Rev Bras Epidemiol 10(2) 202-14 2007 SCARANTO CAA BIAZEVICMGH MICHEL-CROSATOE Percepccedilatildeo dos Agentes Comunitaacuterios de Sauacutede sobre a Violecircncia Domeacutestica contra a Mulher Psicol ciecircnc Prof 27(4)694-705 2007 SCHRAIBER L B DOLIVEIRA A F L P Violecircncia contra mulheres interfaces com a Sauacutede Comunicaccedilatildeo Sauacutede Educaccedilatildeo v3 n5 1999 SILVA LL ET AL Violecircncia silenciosa violecircncia psicoloacutegica como condiccedilatildeo da violecircncia fiacutesica domeacutestica Interface - Comunic Sauacutede Educ v11 n21 p93-103 janabr 2007 SILVA LL ET AL Violecircncia silenciosa violecircncia psicoloacutegica como condiccedilatildeo da violecircncia fiacutesica domeacutestica Interface - Comunic Sauacutede Educ v11 n21 p93-103 janabr 2007 TAVARES F A Daacutes Laacutegrimas agrave Esperanccedila o processo de fortalecimento das mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia domeacutestica 2008 Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Serviccedilo Social Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica do Rio Grande do Sul Porto Alegre 2008 VIEIRAMEET AL Conhecimento e atitudes dos profissionais de sauacutede em relaccedilatildeo agrave violecircncia de gecircnero Rev Bras Epidemiol 12(4) 566-77 2009 WILHEL FA TONET J Percepccedilatildeo sobre a violecircncia domeacutestica na perspectiva de mulheres vitimadas Psicol Argum Curitiba 25 (51)401-412 outdez 2007

29

ANEXO 1 - Quadro analiacutetico ndash Violecircncia domestica contra a mulher e sauacutede publica ndash 2000-2009

Titulo Revista

Origem Subaacuterea de

conhecimento

Tipo Natureza Ano de

publicaccedilatildeo

Regiatildeo da

pesquisa

Violecircncia contra a mulher anaacutelise de casos atendidos em serviccedilo de atenccedilatildeo agrave mulher em municiacutepio do sul do Brasil Rev Sauacutede e Sociedade v13 n2 p89-99 maio-ago 2004

GALVAtildeOFEANDRADESM

Artigo Sociologia Pesquisa

investigaccedilatildeo

Qualitativo

sociocultural 2004 Regiatildeo Sul

A violecircncia contra a mulher atendida em unidade de urgecircncia uma contribuiccedilatildeo da enfermagem Esc Anna Nery R Enferm 2006 ago 10 (2) 273-9

MONTEIROCFS Arauacutejo TME NunesBMV LustosaAR BezerraCMJ

Artigo Enfermagem Pesquisa

Investigaccedilatildeo

Quantitativo

sociocultural 2006 Regiatildeo

Norte

Percepccedilatildeo dos Agentes Comunitaacuterios de Sauacutede sobre a Violecircncia Domeacutestica contra a Mulher Psicol ciecircnc prof27(4)694-705 2007

SCARANTO CAA BIAZEVICMGH MICHEL-CROSATOE

Artigo Psicologia Pesquisa

Investigaccedilatildeo

Qualitativo

sociocultural 2007 Regiatildeo Sul

Violecircncia silenciosa violecircncia psicoloacutegica como condiccedilatildeo da violecircncia fiacutesica domeacutestica

Artigo Psicologia Revisatildeo sociocultural 2007 Regiatildeo Sul

30

Interface-Comunic Sauacutede Educ v11 n21 p93-103 janabr 2007

SILVA LL ET AL

Qualitativa

Anaacutelise de correspondecircncia como estrateacutegia para descriccedilatildeo do perfil da mulher viacutetima do parceiro atendida em serviccedilo especializado Ciecircncia e Sauacutede coletiva12 (3)799890 2007

MOTA JCMVASCONCELOS AGG ASSIS SG

Artigo multiprofissional Pesquisa Qualiquanti

epidemioloacutegi

co

2007 Centro

Contadores de histoacuterias praacuteticas discursivas e violecircncia de gecircnero Cad Sauacutede Puacuteblica Rio de Janeiro 23(8)1815-1824 ago 2007

MENEGHEL ST INtildeIGUEZ L

Artigo multiprofissional Pesquisa Qualitativa

Sociocultural 2007 Regiatildeo sul

Lesotildees buccedilo-dentais em mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia um estudo piloto de casos periciados no IML de Belo Horizonte MG Rev Bras Epidemiol 2007 10(2) 202-14

REZENDE EJC ET AL

Artigo Odontologia Pesquisa

Documental

Clinico 2007 Regiatildeo

sudeste

Percepccedilatildeo sobre a violecircncia domeacutestica na perspectiva de mulheres vitimadas Psicol Argum Curitiba v 25 n 51 p 401-412 outdez 2007

WILHEL FA TONET J

Artigo Psicologia Pesquisa

qualitativa

Sociocultural 2007 Regiatildeo Sul

O perfil de mulheres vitimizadas e de seus agressores Rev enferm UERJ Rio de Janeiro 2008 julset

Artigo Enfermagem Pesquisa Sociocultural 2008 Regiatildeo

31

16(3)307-12

LEONCIO LK ET AL documental

quantitativa

sudeste

Violecircncia na gestaccedilatildeo um estudo da produccedilatildeo cientiacutefica de 2000 a 2005 Esc Anna Nery Rev Enferm 2008 dez 12 (4) 793-98

MEDINA ABC PENNA LHG

Artigo Enfermagem Pesquisa

qualitativa

Sociocultural 2008 Regiatildeo

Sudeste

Conhecimento e atitudes dos profissionais de sauacutede em relaccedilatildeo agrave violecircncia de gecircnero Rev Bras Epidemiol 2009 12(4) 566-77

VIEIRAMEET AL

Artigo Multidisciplinar Pesquisa Qualitativa

Sociocultural 2009 Regiatildeo Sudeste

Violecircncia contra a mulher percepccedilatildeo dos meacutedicos das unidades baacutesicas de sauacutede da cidade de Ribeiratildeo Preto Satildeo Paulo Interface - Comunic Saude Educ v13 n31 p287-99 outdez 2009

DE FERRANTE FG SANTOS MA VIEIRA EM

Artigo Multidisciplinar Pesquisa Qualitativa

Sociocultural 2009 Regiatildeo Sudeste

32

33

27

REFEREcircNCIAS

BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Violecircncia intrafamiliar orientaccedilotildees para a praacutetica em serviccedilos Cadernos de Atenccedilatildeo Baacutesica n 8 BrasiacuteliaDF 2002 CABRAL F B OLIVEIRA D LL C de CECCIM R B O puerpeacuterio e a sauacutede da mulher vulnerabilidade e atenccedilatildeo baacutesica agrave sauacutede In Ensino e atenccedilatildeo agrave sauacutede da mulher aprendizados da integraccedilatildeo da educaccedilatildeo superior com a rede assistencial edCaxias do Sul EDUCS Editora da Universidade de Caxias do Sul 2008 p 137-157 CAMARGO M AQUINO S de (2003) Redes de cidadania e parcerias- Enfrentando a rota criacutetica Secretaria Especial de Poliacuteticas para as Mulheres Programa de prevenccedilatildeo assistecircncia e combate agrave violecircncia contra a mulher- plano nacional Brasiacutelia 2003 DrsquoOLIVEIRA A F SCHRAIBER L B Violecircncia Contra a Mulher a pesquisa e a intervenccedilatildeo Revista Promoccedilatildeo da Sauacutede n 6 80- 8 2002 DE FERRANTE FG SANTOS MA VIEIRA EM Violecircncia contra a mulher percepccedilatildeo dos meacutedicos das unidades baacutesicas de sauacutede da cidade de Ribeiratildeo Preto Satildeo Paulo Satildeo Paulo Interface - Comunic Saude Educ 13(31)287-99 outdez 2009

DOLIVEIRA AFPL SCHREIBER LB HANADA H DURANDJ Atenccedilatildeo integral agrave sauacutede de mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia de gecircnero ndash uma alternativa para a atenccedilatildeo primaacuteria em sauacutede Rio de Janeiro Ciecircnc Sauacutede Coletiva 14(4) julhoago 2009

GALVAtildeOFEANDRADESM Violecircncia contra a mulher anaacutelise de casos atendidos em serviccedilo de atenccedilatildeo agrave mulher em municiacutepio do Sul do Brasil Sauacutede e Sociedade 13(2)p89-99 maio-ago 2004 GIL A C Como Elaborar Projetos de Pesquisa 4 ed Satildeo Paulo Atlas 2009

LEONCIO LK ET AL O perfil das mulheres vitimizadas e seus agressores Rev enferm UERJ Rio de Janeiro 16(3)307-12 julset 2008 MEDINA ABC PENNA LHG Violecircncia na gestaccedilatildeo um estudo da produccedilatildeo cientiacutefica de 2000 a 2005 Esc Anna Nery 12(4)793-98 dez 2008 MENEGHEL ST INtildeIGUEZ L Contadores de histoacuterias praacuteticas discursivas e violecircncia de gecircnero Cad Sauacutede Puacuteblica Rio de Janeiro 23(8)1815-1824 ago 2007 MEYER D E Teorias e poliacuteticas de gecircnero fragmentos histoacutericos e desafios atuais Revista Brasileira de Enfermagem Brasiacutelia v57 n1 p13-8 janfev 2004

28

MINAYO M C et al Pesquisa social teoria meacutetodo criatividade Petroacutepolis Vozes 2002 MONTEIROCFS Arauacutejo TME NunesBMV LustosaAR BezerraCMJ A Violecircncia contra a mulher atendida em uma unidade de urgecircncia uma contribuiccedilatildeo da enfermagem Esc Anna Nery 10(2)273-9 ago 2006 MOTA JCMVASCONCELOS AGG ASSIS SG Anaacutelise de correspondecircncia como estrateacutegia para descriccedilatildeo do perfil da mulher viacutetima do parceiro atendida em serviccedilo especializado Ciecircncia e Sauacutede coletiva 12 (3)799890 2007 REZENDE EJC ET AL Lesotildees buco-dentais em mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia um estudo piloto de casos periciados no IML de Belo Horizonte MG Rev Bras Epidemiol 10(2) 202-14 2007 SCARANTO CAA BIAZEVICMGH MICHEL-CROSATOE Percepccedilatildeo dos Agentes Comunitaacuterios de Sauacutede sobre a Violecircncia Domeacutestica contra a Mulher Psicol ciecircnc Prof 27(4)694-705 2007 SCHRAIBER L B DOLIVEIRA A F L P Violecircncia contra mulheres interfaces com a Sauacutede Comunicaccedilatildeo Sauacutede Educaccedilatildeo v3 n5 1999 SILVA LL ET AL Violecircncia silenciosa violecircncia psicoloacutegica como condiccedilatildeo da violecircncia fiacutesica domeacutestica Interface - Comunic Sauacutede Educ v11 n21 p93-103 janabr 2007 SILVA LL ET AL Violecircncia silenciosa violecircncia psicoloacutegica como condiccedilatildeo da violecircncia fiacutesica domeacutestica Interface - Comunic Sauacutede Educ v11 n21 p93-103 janabr 2007 TAVARES F A Daacutes Laacutegrimas agrave Esperanccedila o processo de fortalecimento das mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia domeacutestica 2008 Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Serviccedilo Social Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica do Rio Grande do Sul Porto Alegre 2008 VIEIRAMEET AL Conhecimento e atitudes dos profissionais de sauacutede em relaccedilatildeo agrave violecircncia de gecircnero Rev Bras Epidemiol 12(4) 566-77 2009 WILHEL FA TONET J Percepccedilatildeo sobre a violecircncia domeacutestica na perspectiva de mulheres vitimadas Psicol Argum Curitiba 25 (51)401-412 outdez 2007

29

ANEXO 1 - Quadro analiacutetico ndash Violecircncia domestica contra a mulher e sauacutede publica ndash 2000-2009

Titulo Revista

Origem Subaacuterea de

conhecimento

Tipo Natureza Ano de

publicaccedilatildeo

Regiatildeo da

pesquisa

Violecircncia contra a mulher anaacutelise de casos atendidos em serviccedilo de atenccedilatildeo agrave mulher em municiacutepio do sul do Brasil Rev Sauacutede e Sociedade v13 n2 p89-99 maio-ago 2004

GALVAtildeOFEANDRADESM

Artigo Sociologia Pesquisa

investigaccedilatildeo

Qualitativo

sociocultural 2004 Regiatildeo Sul

A violecircncia contra a mulher atendida em unidade de urgecircncia uma contribuiccedilatildeo da enfermagem Esc Anna Nery R Enferm 2006 ago 10 (2) 273-9

MONTEIROCFS Arauacutejo TME NunesBMV LustosaAR BezerraCMJ

Artigo Enfermagem Pesquisa

Investigaccedilatildeo

Quantitativo

sociocultural 2006 Regiatildeo

Norte

Percepccedilatildeo dos Agentes Comunitaacuterios de Sauacutede sobre a Violecircncia Domeacutestica contra a Mulher Psicol ciecircnc prof27(4)694-705 2007

SCARANTO CAA BIAZEVICMGH MICHEL-CROSATOE

Artigo Psicologia Pesquisa

Investigaccedilatildeo

Qualitativo

sociocultural 2007 Regiatildeo Sul

Violecircncia silenciosa violecircncia psicoloacutegica como condiccedilatildeo da violecircncia fiacutesica domeacutestica

Artigo Psicologia Revisatildeo sociocultural 2007 Regiatildeo Sul

30

Interface-Comunic Sauacutede Educ v11 n21 p93-103 janabr 2007

SILVA LL ET AL

Qualitativa

Anaacutelise de correspondecircncia como estrateacutegia para descriccedilatildeo do perfil da mulher viacutetima do parceiro atendida em serviccedilo especializado Ciecircncia e Sauacutede coletiva12 (3)799890 2007

MOTA JCMVASCONCELOS AGG ASSIS SG

Artigo multiprofissional Pesquisa Qualiquanti

epidemioloacutegi

co

2007 Centro

Contadores de histoacuterias praacuteticas discursivas e violecircncia de gecircnero Cad Sauacutede Puacuteblica Rio de Janeiro 23(8)1815-1824 ago 2007

MENEGHEL ST INtildeIGUEZ L

Artigo multiprofissional Pesquisa Qualitativa

Sociocultural 2007 Regiatildeo sul

Lesotildees buccedilo-dentais em mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia um estudo piloto de casos periciados no IML de Belo Horizonte MG Rev Bras Epidemiol 2007 10(2) 202-14

REZENDE EJC ET AL

Artigo Odontologia Pesquisa

Documental

Clinico 2007 Regiatildeo

sudeste

Percepccedilatildeo sobre a violecircncia domeacutestica na perspectiva de mulheres vitimadas Psicol Argum Curitiba v 25 n 51 p 401-412 outdez 2007

WILHEL FA TONET J

Artigo Psicologia Pesquisa

qualitativa

Sociocultural 2007 Regiatildeo Sul

O perfil de mulheres vitimizadas e de seus agressores Rev enferm UERJ Rio de Janeiro 2008 julset

Artigo Enfermagem Pesquisa Sociocultural 2008 Regiatildeo

31

16(3)307-12

LEONCIO LK ET AL documental

quantitativa

sudeste

Violecircncia na gestaccedilatildeo um estudo da produccedilatildeo cientiacutefica de 2000 a 2005 Esc Anna Nery Rev Enferm 2008 dez 12 (4) 793-98

MEDINA ABC PENNA LHG

Artigo Enfermagem Pesquisa

qualitativa

Sociocultural 2008 Regiatildeo

Sudeste

Conhecimento e atitudes dos profissionais de sauacutede em relaccedilatildeo agrave violecircncia de gecircnero Rev Bras Epidemiol 2009 12(4) 566-77

VIEIRAMEET AL

Artigo Multidisciplinar Pesquisa Qualitativa

Sociocultural 2009 Regiatildeo Sudeste

Violecircncia contra a mulher percepccedilatildeo dos meacutedicos das unidades baacutesicas de sauacutede da cidade de Ribeiratildeo Preto Satildeo Paulo Interface - Comunic Saude Educ v13 n31 p287-99 outdez 2009

DE FERRANTE FG SANTOS MA VIEIRA EM

Artigo Multidisciplinar Pesquisa Qualitativa

Sociocultural 2009 Regiatildeo Sudeste

32

33

28

MINAYO M C et al Pesquisa social teoria meacutetodo criatividade Petroacutepolis Vozes 2002 MONTEIROCFS Arauacutejo TME NunesBMV LustosaAR BezerraCMJ A Violecircncia contra a mulher atendida em uma unidade de urgecircncia uma contribuiccedilatildeo da enfermagem Esc Anna Nery 10(2)273-9 ago 2006 MOTA JCMVASCONCELOS AGG ASSIS SG Anaacutelise de correspondecircncia como estrateacutegia para descriccedilatildeo do perfil da mulher viacutetima do parceiro atendida em serviccedilo especializado Ciecircncia e Sauacutede coletiva 12 (3)799890 2007 REZENDE EJC ET AL Lesotildees buco-dentais em mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia um estudo piloto de casos periciados no IML de Belo Horizonte MG Rev Bras Epidemiol 10(2) 202-14 2007 SCARANTO CAA BIAZEVICMGH MICHEL-CROSATOE Percepccedilatildeo dos Agentes Comunitaacuterios de Sauacutede sobre a Violecircncia Domeacutestica contra a Mulher Psicol ciecircnc Prof 27(4)694-705 2007 SCHRAIBER L B DOLIVEIRA A F L P Violecircncia contra mulheres interfaces com a Sauacutede Comunicaccedilatildeo Sauacutede Educaccedilatildeo v3 n5 1999 SILVA LL ET AL Violecircncia silenciosa violecircncia psicoloacutegica como condiccedilatildeo da violecircncia fiacutesica domeacutestica Interface - Comunic Sauacutede Educ v11 n21 p93-103 janabr 2007 SILVA LL ET AL Violecircncia silenciosa violecircncia psicoloacutegica como condiccedilatildeo da violecircncia fiacutesica domeacutestica Interface - Comunic Sauacutede Educ v11 n21 p93-103 janabr 2007 TAVARES F A Daacutes Laacutegrimas agrave Esperanccedila o processo de fortalecimento das mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia domeacutestica 2008 Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Serviccedilo Social Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica do Rio Grande do Sul Porto Alegre 2008 VIEIRAMEET AL Conhecimento e atitudes dos profissionais de sauacutede em relaccedilatildeo agrave violecircncia de gecircnero Rev Bras Epidemiol 12(4) 566-77 2009 WILHEL FA TONET J Percepccedilatildeo sobre a violecircncia domeacutestica na perspectiva de mulheres vitimadas Psicol Argum Curitiba 25 (51)401-412 outdez 2007

29

ANEXO 1 - Quadro analiacutetico ndash Violecircncia domestica contra a mulher e sauacutede publica ndash 2000-2009

Titulo Revista

Origem Subaacuterea de

conhecimento

Tipo Natureza Ano de

publicaccedilatildeo

Regiatildeo da

pesquisa

Violecircncia contra a mulher anaacutelise de casos atendidos em serviccedilo de atenccedilatildeo agrave mulher em municiacutepio do sul do Brasil Rev Sauacutede e Sociedade v13 n2 p89-99 maio-ago 2004

GALVAtildeOFEANDRADESM

Artigo Sociologia Pesquisa

investigaccedilatildeo

Qualitativo

sociocultural 2004 Regiatildeo Sul

A violecircncia contra a mulher atendida em unidade de urgecircncia uma contribuiccedilatildeo da enfermagem Esc Anna Nery R Enferm 2006 ago 10 (2) 273-9

MONTEIROCFS Arauacutejo TME NunesBMV LustosaAR BezerraCMJ

Artigo Enfermagem Pesquisa

Investigaccedilatildeo

Quantitativo

sociocultural 2006 Regiatildeo

Norte

Percepccedilatildeo dos Agentes Comunitaacuterios de Sauacutede sobre a Violecircncia Domeacutestica contra a Mulher Psicol ciecircnc prof27(4)694-705 2007

SCARANTO CAA BIAZEVICMGH MICHEL-CROSATOE

Artigo Psicologia Pesquisa

Investigaccedilatildeo

Qualitativo

sociocultural 2007 Regiatildeo Sul

Violecircncia silenciosa violecircncia psicoloacutegica como condiccedilatildeo da violecircncia fiacutesica domeacutestica

Artigo Psicologia Revisatildeo sociocultural 2007 Regiatildeo Sul

30

Interface-Comunic Sauacutede Educ v11 n21 p93-103 janabr 2007

SILVA LL ET AL

Qualitativa

Anaacutelise de correspondecircncia como estrateacutegia para descriccedilatildeo do perfil da mulher viacutetima do parceiro atendida em serviccedilo especializado Ciecircncia e Sauacutede coletiva12 (3)799890 2007

MOTA JCMVASCONCELOS AGG ASSIS SG

Artigo multiprofissional Pesquisa Qualiquanti

epidemioloacutegi

co

2007 Centro

Contadores de histoacuterias praacuteticas discursivas e violecircncia de gecircnero Cad Sauacutede Puacuteblica Rio de Janeiro 23(8)1815-1824 ago 2007

MENEGHEL ST INtildeIGUEZ L

Artigo multiprofissional Pesquisa Qualitativa

Sociocultural 2007 Regiatildeo sul

Lesotildees buccedilo-dentais em mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia um estudo piloto de casos periciados no IML de Belo Horizonte MG Rev Bras Epidemiol 2007 10(2) 202-14

REZENDE EJC ET AL

Artigo Odontologia Pesquisa

Documental

Clinico 2007 Regiatildeo

sudeste

Percepccedilatildeo sobre a violecircncia domeacutestica na perspectiva de mulheres vitimadas Psicol Argum Curitiba v 25 n 51 p 401-412 outdez 2007

WILHEL FA TONET J

Artigo Psicologia Pesquisa

qualitativa

Sociocultural 2007 Regiatildeo Sul

O perfil de mulheres vitimizadas e de seus agressores Rev enferm UERJ Rio de Janeiro 2008 julset

Artigo Enfermagem Pesquisa Sociocultural 2008 Regiatildeo

31

16(3)307-12

LEONCIO LK ET AL documental

quantitativa

sudeste

Violecircncia na gestaccedilatildeo um estudo da produccedilatildeo cientiacutefica de 2000 a 2005 Esc Anna Nery Rev Enferm 2008 dez 12 (4) 793-98

MEDINA ABC PENNA LHG

Artigo Enfermagem Pesquisa

qualitativa

Sociocultural 2008 Regiatildeo

Sudeste

Conhecimento e atitudes dos profissionais de sauacutede em relaccedilatildeo agrave violecircncia de gecircnero Rev Bras Epidemiol 2009 12(4) 566-77

VIEIRAMEET AL

Artigo Multidisciplinar Pesquisa Qualitativa

Sociocultural 2009 Regiatildeo Sudeste

Violecircncia contra a mulher percepccedilatildeo dos meacutedicos das unidades baacutesicas de sauacutede da cidade de Ribeiratildeo Preto Satildeo Paulo Interface - Comunic Saude Educ v13 n31 p287-99 outdez 2009

DE FERRANTE FG SANTOS MA VIEIRA EM

Artigo Multidisciplinar Pesquisa Qualitativa

Sociocultural 2009 Regiatildeo Sudeste

32

33

29

ANEXO 1 - Quadro analiacutetico ndash Violecircncia domestica contra a mulher e sauacutede publica ndash 2000-2009

Titulo Revista

Origem Subaacuterea de

conhecimento

Tipo Natureza Ano de

publicaccedilatildeo

Regiatildeo da

pesquisa

Violecircncia contra a mulher anaacutelise de casos atendidos em serviccedilo de atenccedilatildeo agrave mulher em municiacutepio do sul do Brasil Rev Sauacutede e Sociedade v13 n2 p89-99 maio-ago 2004

GALVAtildeOFEANDRADESM

Artigo Sociologia Pesquisa

investigaccedilatildeo

Qualitativo

sociocultural 2004 Regiatildeo Sul

A violecircncia contra a mulher atendida em unidade de urgecircncia uma contribuiccedilatildeo da enfermagem Esc Anna Nery R Enferm 2006 ago 10 (2) 273-9

MONTEIROCFS Arauacutejo TME NunesBMV LustosaAR BezerraCMJ

Artigo Enfermagem Pesquisa

Investigaccedilatildeo

Quantitativo

sociocultural 2006 Regiatildeo

Norte

Percepccedilatildeo dos Agentes Comunitaacuterios de Sauacutede sobre a Violecircncia Domeacutestica contra a Mulher Psicol ciecircnc prof27(4)694-705 2007

SCARANTO CAA BIAZEVICMGH MICHEL-CROSATOE

Artigo Psicologia Pesquisa

Investigaccedilatildeo

Qualitativo

sociocultural 2007 Regiatildeo Sul

Violecircncia silenciosa violecircncia psicoloacutegica como condiccedilatildeo da violecircncia fiacutesica domeacutestica

Artigo Psicologia Revisatildeo sociocultural 2007 Regiatildeo Sul

30

Interface-Comunic Sauacutede Educ v11 n21 p93-103 janabr 2007

SILVA LL ET AL

Qualitativa

Anaacutelise de correspondecircncia como estrateacutegia para descriccedilatildeo do perfil da mulher viacutetima do parceiro atendida em serviccedilo especializado Ciecircncia e Sauacutede coletiva12 (3)799890 2007

MOTA JCMVASCONCELOS AGG ASSIS SG

Artigo multiprofissional Pesquisa Qualiquanti

epidemioloacutegi

co

2007 Centro

Contadores de histoacuterias praacuteticas discursivas e violecircncia de gecircnero Cad Sauacutede Puacuteblica Rio de Janeiro 23(8)1815-1824 ago 2007

MENEGHEL ST INtildeIGUEZ L

Artigo multiprofissional Pesquisa Qualitativa

Sociocultural 2007 Regiatildeo sul

Lesotildees buccedilo-dentais em mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia um estudo piloto de casos periciados no IML de Belo Horizonte MG Rev Bras Epidemiol 2007 10(2) 202-14

REZENDE EJC ET AL

Artigo Odontologia Pesquisa

Documental

Clinico 2007 Regiatildeo

sudeste

Percepccedilatildeo sobre a violecircncia domeacutestica na perspectiva de mulheres vitimadas Psicol Argum Curitiba v 25 n 51 p 401-412 outdez 2007

WILHEL FA TONET J

Artigo Psicologia Pesquisa

qualitativa

Sociocultural 2007 Regiatildeo Sul

O perfil de mulheres vitimizadas e de seus agressores Rev enferm UERJ Rio de Janeiro 2008 julset

Artigo Enfermagem Pesquisa Sociocultural 2008 Regiatildeo

31

16(3)307-12

LEONCIO LK ET AL documental

quantitativa

sudeste

Violecircncia na gestaccedilatildeo um estudo da produccedilatildeo cientiacutefica de 2000 a 2005 Esc Anna Nery Rev Enferm 2008 dez 12 (4) 793-98

MEDINA ABC PENNA LHG

Artigo Enfermagem Pesquisa

qualitativa

Sociocultural 2008 Regiatildeo

Sudeste

Conhecimento e atitudes dos profissionais de sauacutede em relaccedilatildeo agrave violecircncia de gecircnero Rev Bras Epidemiol 2009 12(4) 566-77

VIEIRAMEET AL

Artigo Multidisciplinar Pesquisa Qualitativa

Sociocultural 2009 Regiatildeo Sudeste

Violecircncia contra a mulher percepccedilatildeo dos meacutedicos das unidades baacutesicas de sauacutede da cidade de Ribeiratildeo Preto Satildeo Paulo Interface - Comunic Saude Educ v13 n31 p287-99 outdez 2009

DE FERRANTE FG SANTOS MA VIEIRA EM

Artigo Multidisciplinar Pesquisa Qualitativa

Sociocultural 2009 Regiatildeo Sudeste

32

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30

Interface-Comunic Sauacutede Educ v11 n21 p93-103 janabr 2007

SILVA LL ET AL

Qualitativa

Anaacutelise de correspondecircncia como estrateacutegia para descriccedilatildeo do perfil da mulher viacutetima do parceiro atendida em serviccedilo especializado Ciecircncia e Sauacutede coletiva12 (3)799890 2007

MOTA JCMVASCONCELOS AGG ASSIS SG

Artigo multiprofissional Pesquisa Qualiquanti

epidemioloacutegi

co

2007 Centro

Contadores de histoacuterias praacuteticas discursivas e violecircncia de gecircnero Cad Sauacutede Puacuteblica Rio de Janeiro 23(8)1815-1824 ago 2007

MENEGHEL ST INtildeIGUEZ L

Artigo multiprofissional Pesquisa Qualitativa

Sociocultural 2007 Regiatildeo sul

Lesotildees buccedilo-dentais em mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia um estudo piloto de casos periciados no IML de Belo Horizonte MG Rev Bras Epidemiol 2007 10(2) 202-14

REZENDE EJC ET AL

Artigo Odontologia Pesquisa

Documental

Clinico 2007 Regiatildeo

sudeste

Percepccedilatildeo sobre a violecircncia domeacutestica na perspectiva de mulheres vitimadas Psicol Argum Curitiba v 25 n 51 p 401-412 outdez 2007

WILHEL FA TONET J

Artigo Psicologia Pesquisa

qualitativa

Sociocultural 2007 Regiatildeo Sul

O perfil de mulheres vitimizadas e de seus agressores Rev enferm UERJ Rio de Janeiro 2008 julset

Artigo Enfermagem Pesquisa Sociocultural 2008 Regiatildeo

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LEONCIO LK ET AL documental

quantitativa

sudeste

Violecircncia na gestaccedilatildeo um estudo da produccedilatildeo cientiacutefica de 2000 a 2005 Esc Anna Nery Rev Enferm 2008 dez 12 (4) 793-98

MEDINA ABC PENNA LHG

Artigo Enfermagem Pesquisa

qualitativa

Sociocultural 2008 Regiatildeo

Sudeste

Conhecimento e atitudes dos profissionais de sauacutede em relaccedilatildeo agrave violecircncia de gecircnero Rev Bras Epidemiol 2009 12(4) 566-77

VIEIRAMEET AL

Artigo Multidisciplinar Pesquisa Qualitativa

Sociocultural 2009 Regiatildeo Sudeste

Violecircncia contra a mulher percepccedilatildeo dos meacutedicos das unidades baacutesicas de sauacutede da cidade de Ribeiratildeo Preto Satildeo Paulo Interface - Comunic Saude Educ v13 n31 p287-99 outdez 2009

DE FERRANTE FG SANTOS MA VIEIRA EM

Artigo Multidisciplinar Pesquisa Qualitativa

Sociocultural 2009 Regiatildeo Sudeste

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16(3)307-12

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qualitativa

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Sudeste

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VIEIRAMEET AL

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DE FERRANTE FG SANTOS MA VIEIRA EM

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