universidade federal de santa catarina centro de … · de la propiedad industrial, en lo que...

275
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO PROGRAMA DE DOUTORADO EM DIREITO ASTRID COROMOTO UZCÁTEGUI ANGULO AS MARCAS DE CERTIFICAÇÃO FLORIANÓPOLIS Março - 2006

Upload: hatuong

Post on 08-Nov-2018

216 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA

    CENTRO DE CINCIAS JURDICAS

    CURSO DE PS-GRADUAO EM DIREITO

    PROGRAMA DE DOUTORADO EM DIREITO

    ASTRID COROMOTO UZCTEGUI ANGULO

    AS MARCAS DE CERTIFICAO

    FLORIANPOLIS

    Maro - 2006

  • ii

    ASTRID COROMOTO UZCTEGUI NGULO

    A Tese: AS MARCAS DE CERTIFICAO

    Apresentada como requisito parcial para a

    obteno do ttulo de: DOUTORA EM

    DIREITO, REA DE RELAES

    INTERNACIONAIS pela Universidade Federal

    de Santa Catarina.

    Orientador: Prof. Doutor. Luiz Otvio Pimentel

    Co-orientadora: Profa. Doutora Rita Largo Gil

    FLORIANPOLIS

    Maro - 2006

  • iii

    Ata de aprovao

  • iv

    memria de meus pais:

    Carmem e Julho.

  • v

    AGRADECIMENTOS

    Institucionais:

    ` Universidade de Zaragoza, Faculdade de Direito (Unizar), Espanha.

    Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico, Brasil.

    Ao Instituto Nacional da Propriedade lndustrial, Brasil.

    Universidade dos Andes (ULA), Venezuela.

    Pessoais:

    Ao Doutor Luiz Otvio Pimentel. Por seu apoio e confiana.

    Doutora Rita Largo Gil. Por fornecer as ferramentas que me permitiram realizar a pesquisa que hoje defendo

    como tese, por abrir as portas da Universidade de Zaragoza. Por sua orientao e crticas oportunas.

    Ao Doutor Nuno Pires de Carvalho. Por sua inestimvel contribuio.

    Ao Dr. Mariano Uzctegui Urdaneta. Por sua valiosa orientao na rea da propriedade intelectual.

  • vi

    RESUMO

    Trata-se de trabalho interdisciplinar da rea das cincias sociais, cujo contedo abarca

    a histria, a economia, o direito, as relaes internacionais e a integrao econmica,

    buscando interpretar, compreender e explicar a figura jurdica reconhecida como Marca de

    Certificao pelo Direito de Marcas brasileiro. Assim, a presente tese compreende, em

    primeiro lugar, um material pouco divulgado e no sistematizado no Brasil, na Amrica

    Latina e no mbito internacional em geral, sobre um sinal distintivo cuja funo certificadora

    tem como finalidade informar os diferentes agentes econmicos e consumidores sobre a

    presena ou ausncia de determinadas caractersticas comuns nos produtos ou servios. A

    peculiaridade deste sinal distintivo permitir que o titular da Marca de Certificao imponha

    as condies de acordo com as quais os produtos ou servios sero certificados, sendo que tal

    imposio responde ao interesse geral do mercado e dos consumidores, independentemente do

    prprio interesse privado do titular deste tipo de marca. Observados os comportamentos

    vinculados Marca de Certificao no Direito Comparado, verifica-se que nos pases

    interessados na certificao voluntria e independente do produto ou servio, mediante um

    sinal distintivo - como o caso da Inglaterra, Estados Unidos, Frana, Itlia e Espanha tm-

    se produzido alguma doutrina e jurisprudncia que nos permite conhecer e melhor analisar da

    figura como ferramenta para a construo institucional da Marca de Certificao, bem

    intelectual tutelado pelo Direito de Marcas. Centrando-se na realidade do regime jurdico

    brasileiro, verifica-se que a proteo que se consagra Marca de Certificao insuficiente,

    no podendo institucionalizar-se formalmente por meio do reconhecimento parcial que o

    instituto legal da Propriedade Industrial outorga s marcas ou sinais distintivos em geral.

    Estas, por sua vez, fogem da caracterizao essencial da Marca de Certificao como instituto

    jurdico, por no compartilhar dos princpios e pressupostos gerais do Direito Marcrio. A

    tese demonstra que no Brasil existe uma mera situao de fato que, por no institucionalizar a

    Marca de Certificao, permanece margem da coercibilidade obrigatria do Direito.

    PALAVRAS CHAVES: MARCAS DE CERTIFICAO; MARCAS DE GARANTIA;

    PROPRIEDADE INTELECTUAL; PROPRIEDADE INDUSTRIAL; DIREITO DE

    MARCAS, LEI 9.279 DA PROPRIEDADE INDUSTRIAL; DIREITO COMPARADO;

    FERRAMENTA DE COMPETITIVIDADE; INTERESSE GERAL.

  • vii

    RESUMEN

    Se trata de un trabajo interdisciplinario en el rea de las ciencias sociales, en el cual se

    abarca la historia, economa, derecho, relaciones internacionales, integracin econmica,

    buscando una aproximacin de interpretacin, entendimiento y explicacin de la figura

    jurdica reconocida en el Derecho de Marcas brasilero, como Marca de Certificacin. As, la

    presente tesis recoge, en primer lugar, un material poco divulgado y no sistematizado tanto en

    Brasil, Amrica Latina como en el mbito internacional, sobre un signo distintivo cuya

    funcin certificadora tiene por finalidad informar a los diferentes agentes econmicos y

    consumidores sobre la presencia o ausencia de determinadas caractersticas comunes en los

    productos o servicios. La peculiaridad de este signo distintivo es que el titular impone las

    condiciones bajo las cuales sern certificados los productos o servicios, siendo que tal

    imposicin responde al inters general del mercado y de los consumidores,

    independientemente del propio inters privado del titular de de marca. Observados los

    comportamientos vinculados con la Marca de Certificacin en el Derecho Comparado,

    verificamos que en pases interesados en la certificacin voluntaria e independiente de

    productos y servicios, mediante un signo distintivo, como es el caso de Inglaterra, Estados

    Unidos, Francia, Italia y Espaa, han desarrollado alguna doctrina y jurisprudencia que

    permite conocer y realizar un mejor anlisis de esta figura como herramienta para la

    construccin institucional de la Marca de Certificacin, bien intelectual tutelado por el

    Derecho de Marcas. Centrandonos en la realidad del rgimen jurdico de Brasil, se aprecia la

    insuficiencia de los trminos en que se reconoce y protege a la Marca de Certificacin, no

    pudiendo entenderse que tal marca este formalmente institucionalizada por la institucin legal

    de la Propiedad Industrial, en lo que respecta a las marcas o signos distintivos en general, una

    vez que stas escapan a la caracterizacin esencial de la Marca de Certificacin, al no

    compartir los principios y presupuestos generales del Derecho Marcario. Demostrando la tesis

    que en Brasil existe una mera situacin de hecho y que al no estar institucionalizada la Marca

    de Certificacin, sta permanece al margen de la coercibilidad obligatoria del Derecho.

    PALABRAS CLAVES: MARCAS DE CERTIFICACIN; MARCAS DE GARANTA;

    PROPIEDAD INTELECTUAL; PROPIEDAD INDUSTRIAL; DERECHO DE MARCAS,

    LEY 9.279 DE PROPIEDAD INDUSTRIAL, BRASIL; DERECHO COMPARADO;

    HERREMIENTA DE COMPETITIVIDAD; INTERS GENERAL.

  • viii

    ABSTRACT

    This thesis is the result of a research that takes place in various fields of knowledge:

    social sciences, history, economics, law, international relations and economic integration. Its

    main objective is to interpret, understand and explain the Certification Marks, acknowledged

    by the Brazilian law. Thus, the thesis presents data on a distinctive sign for products and

    services that is not very well known, neither systematized in Brazil, Latin America nor in

    regional blocks. The certification function aims at guiding economic agents and consumers

    regarding the presence or lack of new characteristics in certain products or services. The fact

    that the holder of the Certification Mark is the one to determine the conditions under which

    products or services are to be certified is quite peculiar. Some believe that such imposition

    works for public interest, in spite of private interest. After analysing behaviours regarding

    Certification Marks in Comparative Law, one can infer that not every country is interested in

    certifying through a distinctive sign. However, those that are interested, such as England,

    USA, France, Italy and Spain, have produced some doctrine and jurisprudence that allows us

    to understand and better analyse this situation as an important tool in the process of building

    the institutionalization of Certification Marks as an intellectual good protected by Law. The

    thesis focus on the reality of the Brazilian legal regimen, which does not formally

    institutionalize certification marks. On the contrary, it partially appears in the legal institute of

    Industrial Property, related to marks or distinctive signs in general, which does not essentially

    characterize Certification Mark as a legal institute, because it does not share the principles

    and requisites of Trademark Law. We conclude by saying that in Brazil there is a factual

    situation that cannot be reached by the compulsory constraints of the Law, mostly because of

    its failure to institutionalize Certification Marks.

    KEY-WORDS: CERTIFICATION MARKS; GUARANTEE MARKS; INTELLECTUAL

    PROPERTY; INDUSTRIAL PROPERTY; TRADEMARKS LAW; COMPARATIVE LAW

    ON INDUSTRIAL PROPERTY; COMPETITION TOOL; GENERAL INTEREST.

  • ix

    LISTA DE GRFICOS

    p.Grfico 1

    Pedidos de Marcas de Certificao de Produtos ou Servios apresentados perante INPI 1996-2002.

    129

    Grfico 2

    Pedidos de Marcas de Certificao de Produtos ou Servios Nacionais e Estrangeiros apresentados perante INPI 1996-2002.

    129

    Grfico 3

    Produtos ou Servios para os quais foram solicitados Registro de Marcas de Certificao Nacionais perante INPI 1996-2002.

    130

    Grfico 4

    Produtos ou Servios para os quais foram solicitados Registro de Marcas de Certificao Estrangeiras perante INPI 1996-2002.

    130

    Grfico 5

    Marcas de Garantia Registradas na OEPM 1988-2001.

    131

  • x

    LISTA DE TABELAS

    p.

    Tabela 1 Congresso de Buenos Aires, 1980: Distino entre a Marca Coletiva e a Marca de Certificao.

    49

    Tabela 2 Congresso de Buenos Aires, 1980: Marcas de certificao e a determinao da pessoa do titular e exerccio do controle de utilizao da marca.

    50

    Tabela 3 Congresso de Buenos Aires, 1980: Proteo das Marcas Coletivas e da Marca de Certificao.

    51

    Tabela 4 Comit Executivo de Moscou, 1982. 53

    Tabela 5 Estados membros da OMPI que outorgam proteo s Marcas Coletivas, s Marcas de Certificao ou de Garantia para o ano 2004.

    58

    Tabela 6 Anlise de Direito Comparado: Semelhanas na Caracterizao Geral. 68

    Tabela 7 Anlise de Direito Comparado: Semelhanas quanto aos Elementos Essenciais.

    69

    Tabela 8 Analise de Direito Comparado: Semelhanas quanto a outros Elementos.

    70

    Tabela 9 Anlise de Regulamentos de Utilizao de Marcas de Certificao do Reino Unido e os Estados Unidos da Amrica

    111

    Tabela 10 Anlise de Regulamentos de Utilizao de Marcas Coletivas e de Certificao na Itlia e na Frana.

    112

    Tabela 11 Anlise de Regulamentos de Utilizao de Marcas de Garantia da Espanha

    113

    Tabela 12 Anlise de Regulamentos de Utilizao de Marcas de Garantia da Espanha.

    114

    Tabela 13 Anlise de Regulamentos de Utilizao de Marcas de Certificao do Brasil e da Venezuela.

    115

    Tabela 14 Diferenas entre a Marca de Certificao e as demais Marcas Protegidas pelo Direito de Marcas

    200

    Tabela 15 Diferenas entre a Marca de Certificao as Denominaes de Origem, Indicaes Geogrficas e Indicaes de Procedncia, protegidas como sinais distintivos de trfico econmico pelo Direito de Marcas.

    208

  • xi

    LISTA DE SIGLAS

    ABNT Associao Brasileira de Normas Tcnicas ADPIC Acordo sobre os Aspectos do Direito de Propriedade Intelectual

    Relacionados ao Comrcio, 15 de abril de 1994 (TRIPS) ADI Atas de Direito Industrial e Atas de Direito de Autor AIPPI Associao Internacional para a Proteo da Propriedade Industrial;

    Association Internationale pour la Protection de la Proprit IndustrielleAPDI Associao Portuguesa de Direito Intelectual. BIRPI Oficinas Internacionais Reunidas para a Proteo da Propriedade

    Intelectual CcF Code de la Consommation Lei n 94-2/1994; e a Lei n 98-565/1998 CE Comunidade Europia CEE Comunidade Econmica Europia CIPO Oficina da Propriedade Intelectual canadense CPIIT 273/2005 Codice della Propriet Industriale, a norma dell'articolo 15 della legge

    12 dezembro 2002, n 273. Decreto Legislativo n.30, del 10 de fevereiro de 2005

    CPIF Code de la Proprit Intellectuelle francs (consolidado) na Lei n. 92-597/1992 com modificao n 92-597/1996

    CUP Conveno da Unio de Paris para a proteo da Propriedade Industrial, 20 de maro de 1883, modificado pela Ata de Estocolmo de 14 de junho de 1967

    DO Denominaes de Origem D-486 Deciso 486 sobre o Regime Comum da Propriedade Industrial, vigente

    a partir de 14 de dezembro de 2000 ENAC Entidade Nacional de Acreditao da Espanha E.I.P.R. European Intellectual Property Review FJ Fundamento Jurdico IG Indicaes Geogrficas INPI Instituto Nacional da Propriedade Industrial IP Indicaes de Procedncia LME 17/2001 Lei de Marcas n 17/2001 de Espanha LPIB 9.279/96 Lei 9.279/96 que Regula Direitos e Obrigaes relativos Propriedade

    Industrial, de 14 de maio de 1996 TMEP Trademark Manual of Examination Procedures OMPI Organizao Mundial da Propriedade Intelectual OMC Organizao Mundial do Comrcio OGM Organismo Geneticamente Modificado PME Pequenas e Mdias Empresas RMC Regulamento sobre a Marca Comunitria da Comunidade Europia

    num. 40/94 do Conselho, de 20 de dezembro de 1993

  • xii

    RDM Revista de Derecho Mercantil RPJ Revista Eletrnica da Propriedade Industrial do Instituto Nacional de

    Propriedade Industrial, Brasil US Estados Unidos USPTO o P. T. O. Oficina de Patentes e Marcas dos Estados Unidos RA Repertrio de Jurisprudncia Aranzadi UE Unio Europia RLME17/2001 Regulamento da Lei de Marcas, Real Decreto 687/2002 RIPIA Revue Internationale de la Proprit Industrielle et Artistique RDM Revista de Derecho Mercantil SAPI Servio Autnomo da Propriedade Intelectual SCT Secretaria do Comit Permanente do Tratado sobre Marcas, Desenhos

    Industriais e Indicaes Geogrficas T. T. A. B. Tribunal de Apelao da Oficina de Marcas dos Estados Unidos TCE Tratado da Comunidade Europia TJCE Tribunal de Justia das Comunidades Europias WIPO World Intellectual Property Organization Art. Artigo Coord. Coordenador Dir. Diretor ed. Edio Ibidem. Na mesma obra p. Folha op. cit. Opus citatum, na mesma obra t. Tomo v. Volumem cf. Confira Vid. V-se

  • xiii

    SUMRIO

    p.

    CAPA

    FOLHA DE ROSTO ii

    FOLHA DE APROVAO iii

    DEDICATRIA iv

    AGRADECIMENTOS v

    RESUMO vi

    RESUMEN vii

    ABSTRACT viii

    LISTA DE GRFICOS ix

    LISTA DE TABELAS x

    LISTA DE ABREVIATURAS xi

    SUMRIO xiii

    INTRODUO 21

    1.1 OBJETIVOS DA PESQUISA 21

    1.1.1 Tema 21

    1.1.2 Terminologia utilizada 21

    1.1.3 Justificativa 22

    1.2 ESSNCIA DA TESE 25

    1.2.1 Objetivo Geral 25

    1.3 ASPECTO METODOLGICO 25

    1.3.1 Anlise da formulao metodolgica 25

    1.3.2 Observao atenta da realidade 26

  • xiv

    1.3.3 Perspectiva interdisciplinar 27

    1.3.4 O Direito Comparado como ferramenta de pesquisa 29

    1.3.5 Tcnica de pesquisa 32

    1.4 ESTRUTURA DO TRABALHO 33

    CAPITULO 1

    ORIGEM, EVOLUO E ATUALIDADE DA MARCA DE CERTIFICAO: SITUAO NO DIREITO COMPARADO

    PRIMEIRA SEO

    ORIGEM E EVOLUO DA MARCA DE CERTIFICAO

    34

    1.1 ORIGEM E FORMAO: DESDE AS CORPORAES MEDIEVAIS AT AS PRIMEIRAS APARIES DE SIGNOS DE QUALIDADE NAS PRIMEIRAS DCADAS DO SCULO XX.

    34

    1.2 FORMALISMO (1935-1960): PROTEO DA MARCA DE CERTIFICAO PELAS PRIMEIRAS LEGISLAES NACIONAIS.

    40

    1.3 REALISMO JURDICO (19601993): MOVIMENTOS PELA IMPLANTAO DE UMA REGULAMENTAO GERAL SOBRE AS MARCAS COLETIVAS E A MARCA DE CERTIFICAO.

    44

    1.4 ATUALIDADE (1994-2005): PROTEO DA MARCA DE CERTIFICAO NO ADPIC E NOS ORDENAMENTOS NACIONAIS.

    57

    1.5 UTILIDADE E IMPORTNCIA DA PROTEO NACIONAL E INTERNACIONAL DA MARCA DE CERTIFICAO.

    61

    1.5.1 Vantagens da proteo nacional da Marca de Certificao. 63

    1.5.2 Importncia e necessidade de uma proteo internacional. 64

    SEO SEGUNDA

    ANLISE DE DIREITO COMPARADO SOBRE A MARCA DE CERTIFICAO

    66

    2.1 CARACTERSTICAS DAS LEGISLAES OBJETO DE ANLISE. 66

    2.2 SISTEMA DE PROTEO E INTERESSE PROTEGIDO. 71

    2.3 DEFINIO LEGAL. 73

    2.4 NASCIMENTO DO DIREITO. 74

    2.5 CONTEDO DO DIREITO. 75

  • xv

    2.6 REQUISITOS ESSENCIAIS. 75

    2.6.1 Titularidade 76

    2.6.2 Regulamento de utilizao. 76

    2.7 TRANSMISSO DO DIREITO. 78

    2.8 EXTINO DO DIREITO. 78

    CAPTULO 2

    O INTERESSE GERAL MARCO DO REGIME LEGAL DA MARCA DE CERTIFICAO

    PRIMEIRA SEO

    A MARCA DE CERTIFICAO COMO INSTRUMENTO DE MERCADO E OS DIFERENTES INTERESSES POR ELA PROTEGIDOS 81

    1.1 APLICABILIDADE DA DOUTRINA DO INTERESSE GERAL MARCA DE CERTIFICAO.

    81

    1.2 DEFINIO DOS TERMOS. 83

    1.3 A MARCA DE CERTIFICAO COMO INSTRUMENTO DE MERCADO.

    89

    1.3.1 O Estado como harmonizador de interesses no mercado frente Marca de Certificao.

    94

    1.4 INTERESSES PROTEGIDOS PELA MARCA DE CERTIFICAO 96

    1.4.1 Interesses do titular da Marca de Certificao. 96

    1.4.2 Interesses dos usurios da Marca de Certificao. 97

    1.4.3 Interesses dos consumidores que optam por produtos ou servios que trazem a Marca de Certificao.

    99

    SEGUNDA SEO

    CONCRETIZAO DO CONTEDO DO INTERESSE GERAL NA MARCA DE CERTIFICAO

    100

    2.1 PRESSUPOSTOS NORMATIVOS QUE INTRODUZEM O CONCEITO JURDICO DO INTERESSE GERAL DENTRO DO REGIME LEGAL DA MARCA DE CERTIFICAO

    100

    2.1.1 Proibies ao titular da marca que denotam o interesse geral protegido.

    101

    2.1.2 Princpios que regem a funo certificadora da marca. 103

  • xvi

    2.1.3 Registro de nomes geogrficos como Marcas de Certificao. 106

    2.1.4 Legitimao para o exerccio de aes contra a Marca de Certificao.

    108

    2.2 O REGULAMENTO DE UTILIZAO DA MARCA DE CERTIFICAO: INSTRUMENTO QUE FUNDAMENTA OS PRESSSUPOSTOS NORMATIVOS E OS SUPOSTOS DE FATO QUE DO CONTEDO AO INTERESSE GERAL 109

    2.3 DIFERENTES INTERESSES DE ORDEM GERAL PROTEGIDOS MEDIANTE A MARCA DE CERTIFICAO 116

    2.3.1 Interesses gerais na ordem econmico-regional. 116

    2.3.2 Interesses gerais na ordem social. 117

    2.3.3 Interesses gerais na ordem ambiental. 118

    2.3.4 Interesses gerais na ordem industrial. 120

    2.3.5 Interesses gerais na ordem scio-cultural e religiosa. 120

    TERCEIRA SEO

    DETERMINAO EXPLCITA DA FUNO E TRANSCENDNCIA DO CONCEITO DO INTERESSE GERAL NO REGIME LEGAL DA MARCA DE CERTIFICAO 121

    3.1 NECESSIDADE DE DETERMINAO EXPLCITA DO INTERESSE GERAL NA MARCA DE CERTIFICAO

    121

    3.2 FUNO DO INTERESSE GERAL NA MARCA DE CERTIFICAO. 122

    3.3 CONTEDO DO INTERESSE GERAL NA MARCA DE CERTIFICAO.

    123

    3.4 LIMITES IMPOSTOS PELO CONTEDO DO INTERESSE GERAL AO DIREITO DE EXCLUSIVIDADE OUTORGADO SOBRE A MARCA DE CERTIFICAO 125

    3.5 TRANSCENDNCIA DA DOUTRINA DO INTERESSE GERAL SOBRE O MARCO REGULADOR DA MARCA DE CERTIFICAO. 126

    CAPITULO 3

    ANLISE DO REGIME JURDICO DA MARCA DE CERTIFICAO

    PRIMEIRA SEO

    GENERALIDADES, DEFINIO LEGAL E CARACTERIZAO DA MARCA DE CERTIFICAO 127

  • xvii

    1.1 Generalidades. 127

    1.2 DEFINIO LEGAL E CARACTERIZAO. 131

    1.2.1 Composio do sinal. 133

    1.2.2 Aspectos caracterizadores na definio legal. 136

    1.2.3 Funo legalmente protegida. 136

    1.2.4 Produtos e servios aos que a marca se aplica: Princpio de Especialidade. 139

    1.2.5 Propriedades que podem ser certificadas pela marca. 141

    1.2.6 Princpios caracterizadores na definio legal da marca. 146

    1.2.6.1 Uso coletivo da marca. 147

    1.2.6.2 Separao das figuras do titular/usurio da marca. 148

    1.2.6.3 Controle sobre o uso da marca. 148

    1.2.6.4 Autorizao de uso da marca. 149

    SEGUNDA SEO

    NASCIMENTO, CONTEDO DO DIREITO E RESPONSABILIDADE DO TITULAR DA MARCA DE CERTIFICAO 1502.1 NASCIMENTO DO DIREITO SOBRE A MARCA. 150

    2.2 PESSOAS QUE PODEM SOLICITAR O REGISTRO DA MARCA. 153

    2.2.1 Legitimidade. 153

    2.2.2 Capacidade para certificar. 155

    2.3 DIREITO DE EXCLUSIVIDADE SOBRE A MARCA. 157

    2.3.1 A dimenso positiva do direito de exclusiva sobre a marca. 157

    2.3.2 A dimenso negativa do direito de exclusiva sobre a marca. 158

    2.4 RESPONSABILIDADE DO TITULAR DA MARCA. 161

    TERCEIRA SEO

    REGULAMENTO DE UTILIZAO DA MARCA DE CERTIFICAO 164

    3.1 REGULAMENTO DE UTILIZAO DA MARCA. 164

    3.1.1 Oportunidade para sua apresentao. 165

  • xviii

    3.1.2 Contedo mnimo do regulamento de utilizao. 166

    3.1.2.1 Pessoas autorizadas para usar a marca. 168

    3.1.2.2 Caractersticas a ser certificadas. 169

    3.1.2.3 Sistemas de controle e vigilncia de uso da marca. 170

    3.1.2.4 Responsabilidade e sanes por uso inadequado da marca. 171

    3.1.2.5 Pagamento por uso da marca. 172

    3.1.2.6 Outros requisitos mnimos do regulamento de utilizao no Direito Comparado.

    173

    3.1.3 Aprovao do regulamento de utilizao da marca. 174

    3.1.4 Publicidade do regulamento de utilizao da marca. 177

    3.1.5 Modificaes ao regulamento de utilizao da marca. 179

    QUARTA SEO

    AUTORIZAO DE USO E TRANSMISSO DE DIREITOS SOBRE A MARCA DE CERTIFICAO 1814.1 AUTORIZAO DE USO DA MARCA COMO LICENA DE USO. 181

    4.2 TRANSMISSO DO DIREITO SOBRE A MARCA. 184

    QUINTA SEO

    EXTINO DO DIREITO E PROIBIO TEMPORRIA DE REGISTRO SOBRE A MARCA DE CERTIFICAO 1865.1 EXTINO DO DIREITO. 186

    5.1.1 Cancelamento da Marca de Certificao 187

    5.1.2 Causas particulares de nulidade da Marca de Certificao. 189

    5.1.3 Causas particulares de caducidade da Marca de Certificao. 190

    5.2 PROIBIO TEMPORAL DE REGISTRO. 192

    CAPITULO 4

    CARACTERIZAO DA MARCA DE CERTIFICAO

    PRIMEIRA SEO

    NATUREZA DA MARCA DA CERTIFICAO 194

    1.1 A MARCA DE CERTIFICAO COMO INSTITUIO DE DIREITO PRIVADO E SUA DELIMITAO COM RELAO A SINAIS AFINS

  • xix

    DE DIREITO PBLICO. 195

    1.2 CARACTERIZAO DA MARCA DE CERTIFICAO NO REGIME GERAL DO DIREITO DA MARCA ORDINRIA. 200

    1.2.1 Diferenas entre a Marca de Certificao e os demais sinais distintivos protegidos pelo regime do Direito de Marcas. 200

    1.2.2 Princpios do regime da Marca Ordinria no aplicveis Marca de Certificao. 201

    1.2.3 Princpios do regime da Marca Coletiva no aplicveis Marca de Certificao. 204

    1.2.4 Diferenas entre a Marca de Certificao e os demais sinais distintivos de trfico econmico protegidos pelo regime do Direito de Marcas. 207

    1.3 NATUREZA JURDICA DA MARCA DE CERTIFICAO. 212

    1.3.1 A Marca de Certificao como marca de empresa. 212

    1.3.2 A Marca de Certificao como Marca de Garantia. 213

    1.3.2.1 Garantia como sistema de autodisciplina de base associativa. 213

    1.3.2.2 Garantia contratual derivada do regulamento de utilizao. 214

    1.3.3 A Marca de Certificao como marca acompanhante. 216

    SEO SEGUNDA

    FUNES DA MARCA DE CERTIFICAO 218

    2.1 FUNO INDICADORA DA QUALIDADE. 219

    2.2 FUNO INDICADORA DA ORIGEM EMPRESARIAL. 220

    2.3 FUNO PUBLICITRIA. 221

    CONCLUSES 223

    REFERNCIAS 227

    REFERNCIAS DA LEGISLAO. 239

    REFERNCIAS EM MEIO ELETRNICO. 242

    NDICE DE FONTE LEGAL. 245

    NDICE DE JURISPRUDNCIA. 249

  • xx

    ANEXO A - PRODUCTS WITH CERTIFICATION MARKS AT THE U S PATENT AND TRADEMARK OFFICE CERTIFICATION MARKS WITH GEOGRAPHICAL INDICATIONS 253

    ANEXO B LEI n 9.279, DE 14 DE MAIO DE 1996. REGULA DIREITOS E OBRIGAES RELATIVOS PROPRIEDADE INDUSTRIAL. 260

    ANEXO C - LEY 17/2001, DE 7 De DICIEMBRE, DE MARCAS (Espaa) 269

    ANEXO D - REAL DECRETO 687/2002, DE 12 DE JULIO. REGLAMENTO PARA LA EJECUCIN DE LA LEY 17/2001, DE 7 DE DICIEMBRE, de MARCAS (Espaa) 274

    http://legislacao.planalto.gov.br/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/lei 9.279-1996?OpenDocument

  • INTRODUO

    1.1 OBJETIVOS DA PESQUISA

    1.1.1 Tema

    O tema objeto de exame da presente pesquisa a instituio jurdica das marcas de

    certificao, bem jurdico imaterial protegido como sinal distintivo pelo Direito de Marcas na

    Lei n 9.279, de 14 de maio de 1996, que regula os Direitos e Obrigaes Relativos

    Propriedade Industrial no Brasil.

    1.1.2 Terminologia utilizada

    A figura jurdica objeto de estudo distinguida pelos termos: Marca de Certificao,

    Marca de Garantia e Marca de Garantia de Qualidade, Marca Coletiva, Marca Coletiva de

    Certificao, utilizados indiferentemente no tratamento legal e doutrinrio da mesma. Mesmo

    quando o termo Marca de Garantia considerado equivalente ao termo Marca de

    Certificao,1 para o desenvolvimento da presente pesquisa utilizamos o termo Marca de

    Certificao para fazer aluso instituio jurdica examinada, por entender que o termo

    que melhor se ajusta definio funcional da referida instituio.2

    Nestes termos cabe assinalar que a partir da j mencionada Lei de Marcas 9.279/96,

    concebe-se a Marca de Certificao como sinal distintivo visualmente perceptvel, utilizado

    para atestar a conformidade de um produto ou servio com determinadas normas ou

    1 En la doctrina espaola, la marca de garanta es entendida como una figura equivalente a la Marca de

    Certificacin. Vid. FERNNDEZ-NVOA, Carlos. Tratado sobre Derecho de Marcas. 2. ed. Madrid: Marcial Pons, 2004. p. 677.

    2 La expresin de marcas de garanta o certificacin, resulta preferible desde el punto de vista del idioma castellano que la expresin de marcas de garanta. Pero la funcin de certificar la exactitud de determinadas cualidades en el producto que es la que ese tipo de marcas cumplen- resulta subrayada ms grficamente de ese otro modo. Vid. BAYLOS CORROZA, H. Marcas colectivas, de garanta e internacionales y la competencia desleal. In: Jornadas de estudio sobre la nueva regulacin legal del Derecho de Marcas. Barcelona: Grupo de la AIPPI, 1990. p. 159.

  • 22

    especificaes tcnicas, especialmente em relao qualidade, natureza, material utilizado ou

    procedimento empregado em sua fabricao ou comercializao.

    Expressa a noo legal da figura aqui analisada em vocbulos bastante abstratos, o

    importante ressaltar o uso que o legislador destina a esta categoria de sinal distintivo: que o

    titular da marca ateste, assegure e informe sobre a presena de determinados atributos nos

    produtos ou servios de acordo com normas ou especificaes tcnicas voluntrias que

    tenham esta finalidade. Entende-se por atributos ou propriedades quaisquer caractersticas

    objetivas nos produtos ou servios que reapresentem um valor diferenciado ou agregado aos

    mesmos, sendo que tais propriedades sempre estaro acima de qualquer exigncia mnima

    obrigatria para a comercializao de produtos ou servios.

    1.1.3 Justificativa

    A proteo legal da Marca de Certificao pelo legislador de 1996 representa uma

    novidade no sistema de Direito de Marcas no Brasil. Reconhecimento e incorporao que,

    como pode deduzir-se dos prprios termos a que se reduz o tratamento legal com o qual se

    cria e protege esta figura jurdica, no corresponde resposta do legislador frente

    necessidade jurdica sentida na realidade brasileira da poca.

    O legislador oferece uma nova instituio, com uma evidente incerteza quanto sua

    eficcia, uma vez que so desconhecidas as verdadeiras vantagens que oferece a Marca de

    Certificao; tambm so desconhecidas a essncia e a funo que a marca chamada a

    cumprir. Este desconhecimento manifesta-se a partir do momento em que o prprio legislador

    decide pela incorporao da nova instituio no Direito de Marcas, quando deveria ter feito

    um esforo para concretiz-la por meio de termos que assegurassem sua eficcia de forma

    separada, distinta e autnoma do regime geral de marcas, o qual no tem relao com uma

    declarao de certificao.

    Ainda assim, a incorporao da Marca de Certificao nos termos descritos pela

    legislao vigente no referido instrumento jurdico, incorpora-se a uma realidade pouco

    comum em pases que tradicionalmente protegem esta marca.

  • 23

    Entre 1996 e 2002 verifica-se um auge significativo de pedidos de registro de marcas

    de certificao apresentadas ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI),3 tanto de

    nacionais como de estrangeiros, para um grande nmero de produtos e servios. Estes pedidos

    encontram-se, em sua grande maioria, aguardando o trmite para concesso do registro, o que

    tem gerado certo tumulto no mbito do ente administrativo responsvel pela concesso, dado

    o escasso conhecimento sobre a referida situao e a falta de uma regulamentao que lhe

    permita conceder o devido tratamento legal aos inmeros pedidos, uma vez que se trata de

    outorgar um direito de exclusividade sobre um sinal distintivo que a legislao protege ao

    cumprir uma finalidade como ferramenta que gera concorrncia e transparncia no mercado.

    A situao anterior se agrava pelo fato de que muitos dos sinais distintivos cujos

    registros so solicitados como Marca de Certificao, e cuja concesso ainda se encontra em

    trmite, esto sendo usados em produtos ou servios no mercado nacional, sem que as

    mesmas cumpram com as exigncias mnimas legais.

    Esta circunstncia coloca a Marca de Certificao em uma situao bastante

    lamentvel, ao ser identificada como uma marca pouco segura na qual o consumidor final no

    pode depositar sua confiana, quando na realidade, o que acontece exatamente o contrrio, e

    a Marca de Certificao uma ferramenta de mercado cuja utilidade e importncia

    associada satisfao e proteo de interesses das mais deferentes ordens.

    Para que o sistema que reconhece a Marca de Certificao consiga atingir seus

    objetivos, necessrio que haja proteo suficiente ao titular da marca e aos potenciais

    usurios, e, sobretudo, funo legalmente protegida pela Marca de Certificao. Em outras

    palavras, a definio funcional da marca deve ser adequada e amplamente protegida,

    permitindo que a marca cumpra de forma efetiva a finalidade de informar o mercado sobre os

    produtos ou servios que apresentam caractersticas comuns, diferenciando-os dos produtos

    ou servios que no trazem a marca e tornando-os elegveis por parte do consumidor final.

    A suficincia do regime legal que protege a Marca de Certificao um problema

    bsico de segurana jurdica. Do contrrio, ningum estar interessado em registrar nem em

    usar uma Marca de Certificao na qual competidores e consumidores no reconhecem o plus

    diferencial que agrega valor ao produto ou servio que se oferta no mercado e que assegura o

    equilbrio adequado entre os diferentes interesses e a transcendncia necessria em relao

    atividade da certificao voluntria de produtos e servios, levada a cabo de forma

    independente pelo titular da Marca de Certificao.

    3 O INPI uma entidade federal autnoma no Brasil, responsvel pelo registro e depsito dos pedidos no campo

    da propriedade industrial.

  • 24

    Embora o reconhecimento de tal instituio esteja prestes a alcanar uma dcada de

    vigncia no Brasil, no existe ainda jurisprudncia sobre a matria, alm de serem escassos os

    pronunciamentos da doutrina sobre o tema.

    Para a construo jurdica da instituio jurdica da Marca de Certificao na

    legislao brasileira, til basear-se na Lei de Marcas espanhola, n. 17/2001, de 7 de

    dezembro, que regula o regime legal da Marca de Garantia, j que na Espanha que se

    desenvolve a pesquisa e redao desta tese. Isto oferece a possibilidade, a partir da observao

    da realidade, de realizar uma anlise crtica comparativa do direito prprio com o regime legal

    de uma instituio jurdica equivalente dentro do sistema de base continental, que foi

    reformado e aperfeioado pela necessidade de desenvolvimento de tal instituio na prtica e

    na doutrina jurisprudencial sobre o tema em nvel nacional. Alm disto, a Espanha um pas

    que se encontra em conformidade com a Unio Europia, o que adicionalmente nos permite

    observar a realidade no desenvolvimento, uso, tratamento legal e jurisprudencial da Marca de

    Certificao a partir da perspectiva comunitria, uma vez que o Direito de Marcas espanhol se

    encontra harmonizado com a Primeira Diretiva (89/104/CEE), de 21 de dezembro de 1988,

    relativa aproximao das legislaes dos Estados membros em matria de marcas, e do

    Regulamento (CE) N 40/94 do Conselho de 20 de dezembro de 1993 sobre a Marca

    Comunitria4, alm da jurisprudncia e da doutrina deste e de outros pases nos quais tambm

    se reconhece e outorga proteo Marca de Certificao.

    4 Art. 249 del Tratado Constitutivo de la Comunidad Europea: Para el cumplimiento de su misin, el

    Parlamento Europeo y el Consejo conjuntamente, el Consejo y la Comisin adoptarn reglamentos y directivas, tomarn decisiones y formularn recomendaciones o emitirn dictmenes, en las condiciones previstas en el presente Tratado. El reglamento tendr un alcance general. Ser obligatorio en todos sus elementos y directamente aplicable en cada Estado miembro. La directiva obligar al Estado miembro destinatario en cuanto al resultado que deba conseguirse, dejando, sin embargo, a las autoridades nacionales la eleccin de la forma y de los medios []. las negritas son nuestras- Vid. Tratado constitutivo de la Comunidad Europea. Diario Oficial n C325 de 24 diciembre 2002. In: Website EURLEX. Disponible en: http://europa.eu.int/eur-lex/lex/es/treaties/index.htm Acceso en: 05 de enero de 2005; EL CONSEJO DE LA UNIN EUROPEA. Primera Directiva del Consejo de 21 de diciembre de 1988 relativa a la aproximacin de las legislaciones de los Estados miembros en materia de marcas (89/104/CEE) Disponible en: http://www.europa.eu.int Acceso en: 05 de enero de 2006; EL CONSEJO DE LA UNIN EUROPEA. Reglamento (CE) N 40/94 DEL CONSEJO de 20 de diciembre de 1993 sobre la marca comunitaria. Disponible en: http://www.europa.eu.int Acceso en: 10 de marzo de 2004.

  • 25

    1.2 ESSNCIA DA TESE

    1.2.1 Objetivo Geral

    O objetivo do presente estudo centra-se na anlise, observao e crtica ao regime

    legal da Marca de Certificao contido no Direito de Marcas no Brasil, tendo em vista a

    construo da referida instituio jurdica sobre as bases de sua autntica caracterizao e em

    ateno aos interesses gerais que ela satisfaz, sendo que a mesma objeto de proteo pelo

    Direito de Marcas como ferramenta que gera concorrncia e transparncia no mercado. Com

    isto, trata-se de contribuir com a cincia jurdica no entendimento da instituio e

    conseqentemente no cumprimento da normativa que rege a tal marca, por parte dos

    potenciais titulares e mltiplos usurios. Supe-se uma ajuda para os que a aplicam e

    interpretam: rgos administrativos correspondentes, tribunais e advogados em geral.

    Do mesmo modo estabelecemos alguns parmetros mnimos necessrios para que a

    proteo que se outorga Marca de Certificao dentro do Direito de Marcas possa ser

    considerada suficiente em uma futura modificao coerente e global da referida instituio na

    legislao brasileira, dado utilidade, importncia e inquietude presentes na realidade

    brasileira em relao Marca de Certificao.

    1.3 ASPECTO METODOLGICO

    1.3.1 Anlise da formulao metodolgica

    Frente s consideraes enunciadas, preciso que se assuma uma atitude

    metodolgica interdisciplinar e plural, que se unifica por meio do Direito. No nos cingimos a

    um monismo ou dualismo metodolgico, mas mantemos uma atitude aberta e crtica frente o

    conjunto de mtodos disponveis para, segundo as particularidades de nossa pesquisa, ir

    adotando o mtodo que nos proporcione uma unificao das distintas disciplinas envolvidas

    para a melhor compreenso da norma e de suas relaes com a realidade normatizada.

  • 26

    A finalidade de nosso estudo o conhecimento do Direito positivo vigente no Brasil

    em matria de Marca de Certificao, em conexo inevitvel com o mercado. Por esta razo,

    nosso esforo no pode limitar-se a uma mera descrio das normas que regem esta matria,

    mas tambm deve atingir o conhecimento das regras de conduta que o Direito impe ao titular

    e ao usurio da Marca de Certificao, ao reconhecer o direito de exclusividade sobre a

    referida marca. O conhecimento dessas regras de conduta e dos pressupostos de sua aplicao

    objeto de nossa tese.

    As normas legais e reguladoras da Marca de Certificao constituem os materiais com

    os quais trabalhamos para conhecer as regras de conduta que devem ser respeitados por

    aqueles que se envolvem no mercado com uma Marca de Certificao. Trata-se de realizar um

    estudo que seja o mais prtico possvel, facilitando o conhecimento exato das regras que

    devem reger os comportamentos daqueles que participam do mercado e esto em contato com

    uma Marca de Certificao.

    1.3.2 Observao atenta da realidade

    A seguir, so feitas algumas consideraes quanto aos mtodos cientficos aplicados.

    Tambm esclarecemos desde j que, no que tange o aparato crtico e documental, durante o

    desenvolvimento da pesquisa respeitamos as regras da Associao Brasileira de Normas

    Tcnicas (doravante ABNT).5

    O carter social do Direito impe, como ponto de partida obrigatrio em qualquer

    pesquisa, o paradigma da observao sobre os comportamentos vinculados com a instituio

    examinada.6 Por isso, nossa pesquisa comear com uma observao atenta da realidade que

    nos permita um conhecimento real da efetiva funo certificadora da Marca de Certificao

    como ferramenta de mercado, e dos diferentes interesses que resultam protegidos por ela. Esse

    5 Vid. ABNT. Trabalhos acadmicos: apresentao. NBR 14724. Rio de Janeiro, 2002a; ABNT. Citaes em

    documentos: apresentao. NBR 10520. Rio de Janeiro, 2002b; ABNT. Referncias: elaborao. NBR 6023. Rio de Janeiro, 2002c; ABNT. Resumo: apresentao. NBR 6028. Rio de Janeiro, 2003; ABNT. Trabalhos acadmicos: apresentao. NBR 14724. Rio de Janeiro, 2005; BARRAL, Welber. Metodologa da pesquisa jurdica. Florianpolis: Boiteux, 2003.

    6 La observacin constante de la realidad, como instrumento le resulta siempre til al jurista, ya que le permite la fijacin de nuevas normas en continuidad con las preexistentes, a travs de la reconstruccin de la institucin en estudio, adaptndola en funcin de la realidad histrica variable, que le aporta no solo el conocer una realidad, como el conocer la forma como se han desarrollado, de hecho, las diferentes normas, desde la funcin efectivamente cumplida por las diferentes instituciones. Vid. ASCARELLI, Tullio. Studi de diritto comparado e in tema de interpretazione. Milano. 1952. p. 55.

  • 27

    conhecimento foi obtido a partir de quatro fontes: a mostra que foi levantada sobre os pedidos

    de registro de marcas de certificao apresentadas ao INPI entre 1996 e 2002, analisada em

    maro de 2003; o nmero atual de pases que reconhecem e outorgam proteo Marca de

    Certificao; o estudo das prprias regulamentaes de uso de algumas das inmeras marcas

    registradas nesta categoria, em vigor e de reconhecimento internacional; e as decises do

    Tribunal de Justia das Comunidades Europias (doravante TJCE), e dos diferentes Tribunais

    americanos, franceses e espanhis, que, apesar de escassos, nos fornecem exemplos e

    solues para algumas das problemticas das quais nos ocupamos.

    Juntamente com este material, de especial interesse a anlise da documentao

    produzida pelo Escritrio de Patentes e Marcas dos Estados Unidos (doravante USPTO); pelo

    escritrio de registro de marcas da Gr-Bretanha; pela Secretaria do Comit Permanente do

    Tratado sobre Marcas, Desenhos Industriais e Indicaes Geogrficas (doravante SCT), da

    Organizao Mundial da Propriedade Intelectual (doravante OMPI). Do mesmo modo, no se

    pode negar o interesse das informaes que fornecem os titulares das Marcas de Certificao

    em seus Websites.

    1.3.3 Perspectiva interdisciplinar

    As normas que regem as marcas de certificao devem ser abordadas a partir de uma

    perspectiva interdisciplinar, respeitando o carter heterogneo das normas que conformam o

    Direito de Marcas. Esta uma categoria na qual se fundem elementos do Direito Internacional

    de Propriedade Intelectual, do Direito Privado e do Direito Comercial, com figuras e

    instituies de Direito Administrativo. Seu cumprimento garante o equilbrio dos interesses

    gerais dos diferentes agentes econmicos e consumidores que interagem no mercado7, a raiz

    da concesso de uma Marca de Certificao.8

    7 Al referirnos al mercado lo hacemos en un sentido general, abstracto, esto es, como trmino equivalente a

    trfico econmico. Vid. BERCOVITZ RODRGUEZCANO, Alberto. Apuntes de Derecho Mercantil. 5. ed. Navarra: Thomson Aranzadi, 2004. p. 119.

    8 La tendencia sostenida de las ltimas dcadas por la intervencin estatal en la actividad econmica ha sido la penetracin de instituciones jurdicas de carcter pblico en el campo del Derecho Mercantil. Hoy en da las normas del Derecho Pblico estn presentes en casi todas las reas de nuestra disciplina, afectando especialmente sectores como el Derecho de la Competencia o el Derecho de la Propiedad Intelectual, donde existen instituciones pblicas encargadas de velar por las defensas de los intereses generales en estos mbitos. Vid. GIRON TENA, J. Tendencias generales en el Derecho Mercantil actual. Madrid: Civitas. 1985. p. 118.

  • 28

    O interesse geral, conceito que limita o direito concedido ao titular do registro de uma

    Marca de Certificao, est normatizado por disposies do Direito Administrativo que no

    podem ser analisadas com os critrios de interpretao ius civilista. Devemos estudar quais

    so os interesses protegidos pela norma de Direito Pblico para compreender seu alcance e

    repercusses. Assim, a interpretao do Direito positivo deve ser feita a partir dos parmetros

    do Direito Pblico e do Direito Privado, cujos limites e restries se acentuam quando

    estudamos as exigncias para o nascimento do direito da Marca de Certificao e para a

    vigncia da mesma. No possvel a aplicao da norma a pressupostos que no estejam

    estritamente contidos na lei.

    Ainda que, o nascimento e vigncia da Marca de Certificao dependam de normas de

    Direito Administrativo, o direito de exclusividade que possui o titular deste sinal distintivo, o

    uso da marca, a funo certificadora da mesma e sua incidncia sobre os produtos e servios

    que se ofertam no mercado e que com esta marca so certificados, so matrias que se

    vinculam ao Direito Privado. Estas condutas devem ser analisadas a partir da perspectiva das

    possveis responsabilidades do titular da marca frente a consumidores insatisfeitos.

    Por outro lado, a interdisciplinaridade do tema alcana o Direito da concorrncia, que

    mantm estreita vinculao com o Direito de Marcas como sistema jurdico que reconhece

    proteo aos diversos sinais distintivos, dentre os quais se encontra a Marca de Certificao,

    que cumpre uma finalidade de ferramenta de concorrncia no mercado.9

    En la actualidad el Derecho Pblico y Derecho Privado pasan a ser piezas, de un mismo sistema jurdico, que se complementan. Lo importante es lograr un satisfactorio nivel de garantas jurdicas facilitando al mismo tiempo la efectividad econmica del mercado. El Derecho Pblico se aplicar donde la adaptacin del Derecho Privado manifieste algn dficit jurdico o viceversa. El uso de uno u otro ordenamiento obedece cada vez menos a criterios apriorsticos o a dogmas jurdicos y cada vez ms a criterios de rentabilidad, debindose aplicar el Derecho Pblico o privado en funcin de su mayor idoneidad para satisfacer el inters que convenga en cada caso. Vid. GONZLEZ-VARAS IBEZ, Santiago. Del servicio pblico a los mercados de inters general? In: Cuadernos de Derecho Pblico. Madrid, n 12 enero-abril, 2001. p. 72-74.

    9 La marca en tanto bien inmaterial, ha estado vinculada con el Derecho de la competencia desde la historia misma de la referida institucin, la marca es vista como la historia de la libertad de iniciativa econmica y de las necesidades de funcionamiento del mercado. Vid. MASSAGUER FUENTES, Jos. Aproximacin sistemtica general al Derecho de la Competencia y de los bienes inmateriales. In: Revista General de Derecho. Ano XLVI, n 544-545, enerofeb. 1990. p. 260. Entre las normas que protegen de forma mediata o inmediata la competencia, en los ordenamientos internos de cada pas, adems de aquellas que tutelan el Derecho de la competencia, encontramos las que consagran los derechos de los consumidores, y los derechos exclusivos sobre los signos distintivos. La proteccin de los signos distintivos se considera integrada plenamente en el Derecho de la competencia, visto que su funcin es precisamente facilitar, con fines de la concurrencia, el vnculo de la empresa y su clientela. Vid. ASCARELLI, Tullio. Teora de la concurrencia y de los bienes inmateriales. Traducido por: Luis Surez-Llanos. Barcelona: Bosch, 1970. p. 45. En este mismo sentido, Vid. BERCOVITZ, Alberto. La formacin del Derecho de la competencia. In: Actas de Derecho Industrial, ao 1975. Madrid: Montecorvo, 1976. p. 74-80; Vid. PORFIRIO CARPIO, Leopoldo Jos. La discriminacin de consumidores como acto de competencia desleal. Madrid: Marcial Pons, 2002. p. 33-34.

  • 29

    Teremos que considerar igualmente, outras cincias, como a Economia, que nos

    explicam a evoluo dos mercados e as causas que progressivamente fizeram com que a

    marca fosse reconhecida como instrumento concorrncial e de transparncia do mercado.

    Doutrina econmica que no caso das Marcas de Certificao impem a obrigao de procurar

    um principio unitrio com o Direito, j que uma matria comum ambas disciplinas, entre

    outras. Esta funo, que corresponde ao legislador quando dita a correspondente lei formal

    sobre certificao, de outro modo, conduzir-nos-ia a uma interpretao abstrata e pouco

    ajustada realidade.10 Por isso devem ser consideradas como um referencial de conexo com

    os aportes da Cincia jurdica, uma vez que os conhecimentos econmicos so relevantes para

    o trabalho jurdico11 e se convertem em fatos jurdicos.

    Concluindo, a partir do plano jurdico do Direito de Marcas como rea do Direito

    Comercial, com os segmentos que nos vinculam ao Direito Administrativo, ao Direito da

    Concorrncia e cincia econmica, passamos a explicar o significado e o alcance da

    instituio jurdica da Marca de Certificao, bem como a construir sua proteo no mbito da

    legislao brasileira, partindo da escassez e abstrao que aportam os conceitos

    indeterminados nos quais tem sido reconhecida e protegida a referida marca.

    1.3.4 O Direito Comparado como ferramenta de pesquisa

    Para interpretar e compreender as premissas prprias implcitas, os conceitos e a

    caracterizao da Marca de Certificao e do regime legal que a reconhece e outorga

    proteo, o Direito Comparado torna-se um instrumento de observao comparativa da

    experincia jurdica em um mbito mais amplo que o ordenamento nacional, oferecendo-nos a

    possibilidade de compreender o desenvolvimento da instituio jurdica a partir das diversas

    valoraes de figuras e interesses similares.12

    10 Vid. SHERWOOD. Robert M. Propiedad Intelectual y desarrollo econmico. Traduccin Horacio Spector.

    Buenos Aires: Heliasta, 1995; PIMENTEL, Luiz Otvio. Directo Industrial aspectos introductorias. So Paulo: Unoesc, 1994.

    11 El jurista que slo sabe Derecho, no conoce el Derecho. No Direito de Marcas, o conhecimento do contedo dos conceitos econmicos pr-requisito para a interpretao do contedo dos conceitos jurdicos. Quando possvel, se utiliza os mesmos e quando no pelo menos se estabelecer uma relao entre eles. Vid. VICENT CHULIA, Francisco. Introduccin al Derecho Mercantil. 17. ed., Tirant lo Blanch, Valencia, 2004. p. 71.

    12 Vid. ASCARELLI, Tullio. Funcin del Derecho Comparado en la interpretacin del Derecho y metodologa del Derecho Comparado. In: Revista del Instituto de Derecho Comparado. v. I, 1953. p. 26.

  • 30

    Neste sentido, utilizamos o Direito Comparado como instrumento que nos permitir

    interpretar o regime legal da Marca de Certificao no Direito de Marcas brasileiro, que para

    os fins do presente trabalho chamamos de Direito prprio, e enriquec-lo com valoraes da

    realidade social que nos facilite uma melhor compreenso e construo desta instituio. Isso

    a partir da observao do alcance real das normas, as contradies dos distintos sistemas, a

    razo das diferentes solues, de premissas pouco explcitas que freqentemente concorrem

    na determinao do alcance da instituio e de seu desenvolvimento interpretativo, e nos

    ordenamentos que alcanaram um amplo desenvolvimento que tem repercutido na criao e

    no desenvolvimento de tal figura jurdica.13

    Para que a experincia estrangeira nos seja til, as respostas que outros ordenamentos

    aportam para o conhecimento e construo da Marca de Certificao devem ser valoradas em

    seu prprio contexto jurdico. Do contrrio, corre-se o risco de transmitir uma viso irreal ao

    compar-la com a instituio prpria.14

    Outro fator importante para que a comparao seja proveitosa centra-se na seleo dos

    ordenamentos que vamos utilizar na comparao com o Direito prprio. Hoje um grande

    nmero de pases reconhece e outorga proteo Marca de Certificao dentro de seu Direito

    de Marcas nacional. Pases com caractersticas prprias e dspares, partindo de uma

    perspectiva econmica, social e jurdica, como Estados Unidos, Japo, China, Austrlia,

    pases membros da Unio Europia, pases membros da Comunidade Andina de Naes,

    Paraguai, Uruguai, Jamaica, Sria, Costa Rica, entre muitos outros, regulam a instituio.15

    Esta situao real exige logicamente uma seleo, utilizando para isso um critrio de

    preferncia pelos ordenamentos com tradio e experincia no reconhecimento de proteo

    Marca de Certificao. Do mesmo modo procede-se com os ordenamentos que apresentam

    nuanas particulares em seus sistemas legais ao proteger a Marca de Certificao ou de

    Garantia. E tambm os ordenamentos que, sem tradio nem experincia no tratamento legal

    da instituio, adotam sua proteo por ocasio da obrigao de atualizao e harmonizao

    13 En la actualidad, el mtodo comparatista ya no tienen como objetivo central la bsqueda de sustratos comunes

    o puntos de controversia de principios jurdicos universales, sino que centra su atencin en comparar las normas de comportamiento establecidas en los distintos sistemas jurdicos, para descubrir en que coinciden en qu divergen, para extraer las conclusiones que nos permitan conocer mejor el Derecho propio para formular apropiadas propuestas de reforma, y tal sentido huir de una simple exposicin de Derecho extranjero. Vid. ASCARELLI, Tullio. op. cit., 1953, p. 29-30, 33; SIERRA, Susana de la. Una metodologa para el Derecho Comparado europeo. Derecho Pblico comparado y Derecho Administrativo europeo. Madrid: Tohomson Civitas, 2004. p. 35-39; PILATI, Jos Isaac. Teoria e prtica do Direito comparado. Florianpolis: OAB/SC, 2002..

    14 Vid. ASCARELI, Tullio. op. cit., 1953, p.34. 15 No ano de 2004, dos Estados membros da OMPI, aproximadamente sessenta por cento reconheciam e

    outorgavam proteo marca de certificao. Vid. Tabela 5, p. 58.

  • 31

    do Direito de Marcas nacional com os padres mnimos de proteo derivados da

    implementao do Acordo sobre os Direitos de Propriedade Intelectual Relacionados ao

    Comrcio (doravante ADPIC).

    Sem dvida, qualquer estudo sobre a Marca de Certificao tem como referncia

    obrigatria o Direito ingls, pioneiro e guia para a proteo da figura por outros pases.

    Tambm uma referncia obrigatria o ordenamento norte-americano, cuja regulao legal

    sobre a Marca de Certificao e os critrios jurisprudenciais tem servido de elementos

    pontuais para a proteo desta instituio em outros pases.

    Por outro lado, por serem ordenamentos anglo-saxes, suas regulamentaes mais

    detalhadas e casusticas nos trazem elementos de interpretao e de soluo de problemas

    concretos para a construo da instituio jurdica da Marca de Certificao no ordenamento

    brasileiro, que por corresponder ao sistema continental, apresenta-se cheio de conceitos gerais

    de grande indeterminao.

    Outros ordenamentos de referncia obrigatria so o Direito francs, o Direito italiano

    e o Direito espanhol. Suas regulamentaes legais e a experincia da Marca de Certificao

    em relao aos ordenamentos anglo-saxes apresentam nuances importantes construo

    jurdica do reconhecimento e proteo da instituio. Isso mesmo que se mantenha a essncia

    da figura, a funo certificadora como pressuposto fundamental proteo da mesma e os

    princpios que asseguram a eficcia da referida funo.

    Estes nuances na construo jurdica do sistema de proteo de cada pas so razes

    suficientes que explicam a ateno dispensada aos referidos ordenamentos jurdicos, mesmo

    quando tais diferenas, como vamos ter a oportunidade de observar, so causa da atual falta

    de proteo da Marca de Certificao no mbito da Comunidade Europia (doravante CE), e

    no mbito internacional.

    O foco de nosso trabalho faz referncia aos ordenamentos do Brasil e da Venezuela,16

    pases que sem possuir tradio na proteo da Marca de Certificao no Direito de Marcas

    nacional, ao harmonizar suas respectivas legislaes frente s obrigaes internacionais

    derivadas do Acordo ADPIC, incorporaram a proteo de tal figura em suas legislaes a

    partir de uma total falta de experincia em relao Marca de Certificao e da ausncia de

    padres mnimos internacionais para a proteo da mesma. Isto constitui um dispositivo de

    contraste que nos permite analisar o modo de proteo baseado em conceitos gerais de grande

    indeterminao.

    16 No caso da Venezuela, o ordenamento legal corresponde normativa sobre o Regime comum da Propriedade

    Industrial, que com carter supranacional deriva-se do marco da Comunidade Andina de Naes.

  • 32

    1.3.5 Tcnica de pesquisa

    A tcnica de pesquisa do presente trabalho baseia-se na documentao direta contida

    nas normas que consagram o regime de proteo da Marca de Certificao no Direito de

    Marcas brasileiro, e nas normas leis e regulamentos de cada um dos pases eleitos para a

    anlise de Direito Comparado.

    Do mesmo modo, com carter de documentao direta, so examinados regulamentos

    de uso das diferentes marcas de certificao selecionadas na pesquisa e na mostra levantada

    sobre pedidos de registro de marcas de certificao apresentadas ao INPI em maro de 2003.

    Como documentao indireta ao longo do desenvolvimento da pesquisa, utilizamos

    bibliografia internacional especializada no tema, publicada de forma tradicional ou em

    Websites. Tambm utilizamos sentenas de Cortes ou Tribunais de maior hierarquia nos

    respectivos pases, consideradas precedentes em cada tema em concreto, bem como algumas

    decises de carter administrativo da Oficina de Patentes e Marcas dos Estados Unidos

    (doravante USPTO) e do Tribunal de Apelaes da Oficina de Marcas dos Estados Unidos

    (doravante T. T. A. B.).

    Tanto a documentao direta qual nos referimos quanto aos materiais enunciados

    como documentao indireta tero sua traduo realizada livremente pela autora deste

    trabalho. E todos os elementos que abundam na anlise comparativa sero tratados com o

    mesmo rigor metodolgico.

    importante salientar que esta tese foi originalmente redigida em espanhol. Nesta

    verso em lngua portuguesa, as citaes indiretas foram traduzidas para o portugus

    somente quando aparecem no corpo do texto. Buscando preservar a interpretao

    original que a autora faz dos diversos autores estrangeiros que a tese apresenta, nas notas de

    rodap optou-se por manter as citaes indiretas na lngua original de redao da tese, o

    espanhol.

    Uma vez apresentado brevemente o tema deste trabalho, bem como os instrumentos

    normativos de que se dispe e as fontes e mtodo de estudo, chegado o momento de expor a

    estrutura do trabalho.

  • 33

    1.4 ESTRUTURA DO TRABALHO

    No presente trabalho o Capitulo 1 faz referncia origem, evoluo e atualidade da

    Marca de Certificao, bem como utilidade e importncia da mesma, centrando finalmente a

    ateno em uma introduo sobre a estrutura e caracterizao que mostra o reconhecimento e

    proteo atual no Direito Comparado.

    O Captulo 2 consiste no estudo do interesse geral presente na Marca de Certificao,

    como elemento e noo necessrios para a correta aplicao do Direito de Marcas no mbito

    de proteo - contedo, requisitos, princpios, funes, estrutura, etc. - desta categoria de

    marca. Tambm se analisam os concretos pressupostos de contedo geral que de direito e de

    fato se protegem em relao aos diferentes interesses relacionados Marca de Certificao,

    apontando a necessidade, a funo, o contedo e a transcendncia que a noo de interesse

    geral possui no mbito de proteo da Marca de Certificao.

    No Captulo 3 se procede interpretao do regime jurdico da Marca de Certificao

    na legislao brasileira, construindo a referida figura com o apoio crtico comparativo da

    normativa que regula a Marca de Garantia no Direito de marca espanhol e dos aportes mais

    relevantes do Direito Comparado.

    Por ltimo, no Captulo 4 estudam-se a caracterizao da Marca de Certificao como

    instituio jurdica do Direito de marca, e sua delimitao frente a algumas outras figuras com

    funes afins. Tambm se fixam as funes que a Marca de Certificao cumpre frente aos

    diferentes interesses que com tal figura jurdica resultam protegidos.

  • 34

    CAPTULO 1

    ORIGEM, EVOLUO E ATUALIDADE DA MARCA DE CERTIFICAO:

    SITUAO NO DIREITO COMPARADO

    PRIMEIRA SEO

    ORIGEM E EVOLUO DA MARCA DE CERTIFICAO

    difcil determinar a origem e formao da Marca de Certificao em um momento

    cronolgico exato. O nascimento e proteo desta categoria de marca, tal como se apresenta

    hoje no Direito de Marcas na Propriedade Intelectual, foi marcado pela existncia de signos e

    sinais que, sem chegar a ser na maioria dos casos verdadeiras marcas, cumpriram funes em

    relao qualidade do produto em algum sentido similar, fazendo com que o cenrio da

    Marca de Certificao se apresente cercado por uma grande confuso.

    Acreditamos ser oportuno dividir em quatro etapas cronolgicas a anlise da origem e

    evoluo da Marca de Certificao, a fim de apresentar de forma mais ilustrativa os fatos e

    elementos que configuraram, ao longo do tempo, a instituio em estudo. Isto nos permitir

    uma anlise mais profunda sobre o fundamento dos pressupostos reais que se criaram com as

    primeiras visualizaes da Marca de Certificao nas diferentes legislaes que admitem e

    incorporam sua proteo jurdica.

    1.1 ORIGEM E FORMAO: DAS CORPORAES MEDIEVAIS S PRIMEIRAS

    APARIES DE SINAIS DE QUALIDADE NAS PRIMEIRAS DCADAS DO

    SCULO XX

    O antecedente direto da marca17 atual a marca corporativa18 da poca do

    renascimento. No entanto, encontramos o precedente da Marca de Certificao em tempos

    mais recentes.19

    17 El trmino marca se utiliza en el presente estudio entendiendo que comprende tanto a las marcas de

    productos como a las de servicio, dado que la funcin de una y otras como sus requisitos son por principio los mismos. Vid. OMPI. El papel de la propiedad industrial en la proteccin de los consumidores. Ginebra, 1983. p. 13.

  • 35

    A marca medieval corresponde a uma Marca Coletiva obrigatria, com a funo de

    garantir a qualidade da corporao da qual o produto provinha20 e que acompanhava a marca

    individual do arteso, em interesse da corporao como um todo.21

    Mesmo quando as marcas corporativas guardavam uma relao entre o que ento se

    entendia por marca e a garantia de qualidade dos produtos, no se tratavam de verdadeiras

    marcas de garantia. Eram uma espcie de marca de responsabilidade que permitiam relacionar

    o produto a seu fabricante para aplicar as correspondentes sanes, casos os produtos no

    estivessem em conformidade com as regras estabelecidas para sua elaborao.22

    Obviamente, tal conotao mostra a distncia que existe entre o sentido dado aos

    conceitos de Marca de Garantia de Qualidade usada pelas corporaes e o sentido que possui

    a Marca de Certificao em sua concepo atual.23

    Entre o perodo de extino das corporaes medievais e conseqentemente das

    marcas corporativas ao final do sc. XVIII, e as primeiras aparies de sinais distintivos

    protegidos pelo Direito de Marcas no incio do sc. XX, nos encontramos em 1883, com a

    assinatura da Conveno da Unio de Paris para a proteo da Propriedade Industrial

    (doravante CUP), na qual no se reconheceu expressamente a obrigao de proteger as

    Marcas Coletivas nem as Marcas de Certificao pelos Estados membros. Ainda assim, a

    18 Las marcas corporativas fueron signos utilizados de forma colectiva y obligatoria por parte de los artesanos

    pertenecientes a una corporacin bajo pena de exclusin, las cuales de una parte, garantizaban que el producto haba sido confeccionado segn las reglas del arte de la corporacin, que haban sufrido un cierto control o que procedan de determinadas villas o regin, y de otra parte, ayudaban al consumidor al hacer su eleccin entre los productos. Vid. DUSOLIER, Raymond. Les marques collectives et les marques de qualit dans Iancien droit et dans le droit moderne. In: II Droit de la proprit industrielle. Mlanges en Ihonneur de Daniel Bastian. Paris: Librairies Techniques, 1974. p. 30. Las marcas corporativas eran aplicadas sobre los productos por los propios artesanos. Se ha expresado que la funcin esencial de stas era tutelar el buen nombre del artesano, la buena calidad del producto generado en un taller por las manos de los artesanos miembros de tal corporacin, o el buen nombre de la ciudad o localidad del cual proceda dicho arte, y esto, en inters exclusivo del artesano con responsabilidades como fabricante y de la propia corporacin. Vid. LARGO GIL, Rita. Las marcas de garanta. Madrid: Civitas, 1993. p. 44.

    19 Vid. DUSOLIER, Raymond. op. cit., p. 29. 20 La Marca Colectiva obligatoria otorgaba una garanta directa y absoluta de la calidad del producto, asegurando

    su correspondencia con la regla tcnica de la corporacin, considerada como la nica vlida en razn de su identidad con el modelo ideal de calidad. En este sentido, el producto marcado era de calidad por antonomasia, de ah que solo se reconoca como producto original aquel que portaba una marca de calidad. Vid. CONTI, Ferdinando. La funzione del marchio. Milano: Giuffr, 1988. p. 23-24.

    21 Al comportarse la marca de las corporaciones como un instrumento de proteccin exclusiva de ciertos grupos de empresarios, este hecho determina una de las diferencias fundamentales respecto de la Marca Colectiva protegida en Italia en el artculo 2.570 del Cdigo Civil y el artculo 2 de la Ley de marcas de 1942, como instrumento de tutela del consumidor. Vid. ASCARELLI, Tullio. op. cit., 1970. p. 483.

    22 Vid. FRANCESCHELLI, M. R. Les marques collectives. In: RIPIA. Anne 73, n 62, 1965. Paris. p. 290. 23 En la concepcin moderna la marca de garanta es vista: como el signo que garantiza a los consumidores

    la presencia de ciertas caractersticas comunes de los productos o servicios, as como de un determinado nivel de calidad, mediante un control previo y continuado acerca del uso de la marca. Vid. LARGO GIL, Rita. op. cit., 1993. p. 45.

  • 36

    CUP estabelece em seu art. 6ter, pargrafos 1 e 2, a obrigao de proteo de sinais e timbres

    oficiais de fiscalizao e de garantia utilizados pelos Estados.24

    Em 1905, a Gr-Bretanha, na seo 62 de sua Lei de marcas, passa a ser o primeiro

    pas a admitir a possibilidade de registrar marcas especiais sob a forma de marcas de

    padronizao, quando uma associao ou pessoa se encarregasse de controlar os produtos de

    outros, em respeito sua origem, material, modo de fabricao, qualidade, entre outras

    caractersticas, o que certificava com a aplicao da marca sobre os produtos, uma vez

    realizado o controle sobre os mesmos. Caracterstica desta marca era seu condicionamento ao

    Escritrio de Registro de Marcas, que deveria decidir se a mesma atendia a uma vantagem

    pblica, e sua transmisso tambm devia ser autorizada pelo Escritrio de Marcas.25

    Mesmo quando a CUP no reconhece proteo a marcas coletivas, a assimilao pelos

    Estados membros do princpio unionista de tratamento nacional, faz com que marcas coletivas

    registradas em pases que protegiam este tipo de marca fossem privadas de qualquer proteo

    em pases que no reconheciam o direito de registro a seus prprios nacionais.

    Dada tal problemtica, a Associao Internacional para a Proteo da Propriedade

    Industrial (doravante AIPPI) iniciou um movimento a favor da proteo das marcas coletivas,

    por ocasio da Conferncia realizada em Madrid para a Reviso da CUP, onde apresentada

    uma proposta (Protocolo) relacionada e este tema pela Delegao Belga.

    Esta primeira tentativa foi em vo porque ao no ser ratificado, o Protocolo no

    chegou a entrar em vigor. Ainda assim, a AIPPI continua at que no ano de 1898, no marco

    do Congresso de Viena para a preparao do Congresso de Bruxelas sobre a reviso do

    Convnio da Unio de Paris de 1900, h algum progresso e chega-se a uma recomendao

    para discutir a proteo das Marcas Coletivas no marco da Conferncia de Reviso de

    Washington, de 1911.26

    24 Art. 6ter 1 a) CUP: Os pases da Unio acordam em recusar ou invalidar o registro e em impedir, atravs de

    medidas adequadas, o uso, sem autorizao das autoridades competentes, quer como marcas de fabrica ou de comrcio, quer como elemento dessas marcas, de armas, bandeiras e outros emblemas de Estados dos pases da Unio, sinais e timbres oficiais de fiscalizao e de garantia por eles adotados, bem como qualquer imitao do ponto de vista herldico []. Art. 6ter 2) A proibio dos sinais e timbres oficiais de fiscalizao e de garantia s se aplica aos casos em que as marcas que os incluem se destinam a ser usadas em mercadorias do mesmo gnero ou de gnero similar. Vid. BRASIL. Decreto Legislativo n 75.572 de 8 de abril de 1975, a Conveno de Paris para Proteo da Propriedade Industrial, revista em Estocolmo a 14 de julho de 1967. In: Website do INPI. Disponvel em: http://www.inpi.gov.br/index.htm Acesso em: 09/03/2006; BODENHAUSEN, G.H.C. Gua para la aplicacin del Convenio de Paris para la proteccin de la propiedad Industrial. Revisado en Estocolmo en 1967, BIRPI, Ginebra, 1967, p. 102-113; DUSOLIER, Raymond. op. cit., p. 30.

    25 Vid. DAWSON, Norma. Certification Trade Marks: Law and Practice. London: Intellectual Property Publishing, 1988. p. 15-16; FRANCESCHELLI, M. R. op. cit., p. 292.

    26 Vid. AIPPI. Question 72. In: Annuaire 1982/I Comit Excutif Moscou. Rapports des Groupes. p. 96.

  • 37

    Como resultado da referida Conferncia, o art. 7bis 27 adotado e com ele, no mbito

    da Unio, se reconhece proteo s Marcas Coletivas de acordo com a proposta do escritrio

    de Berna.28

    A Comisso tcnica encarregada de redigir este artigo seguiu a frmula apoiada pela

    delegao francesa, inspirada no texto da Lei dos sindicatos profissionais, de 21 de maro de

    1884, que permitia o registro da Marca Coletiva de origem usada por fabricantes ou

    comerciantes de uma regio, j que, alm de defender os interesses econmicos, industriais e

    comerciais, ela constitua uma forma de satisfazer o interesse pblico local.29

    O artigo 7bis da CUP foi um mnimo denominador comum, e nele fica garantido o

    princpio da legitimidade da Marca Coletiva, obrigando os pases da unio a:

    1. Admitir o depsito;

    2. Conceder proteo Marca sob a denominao de Coletiva;

    3. Pertencer a coletividades, mesmo que no possuam um estabelecimento industrial

    ou comercial.30

    Neste sentido o referido artigo 7bis considerado um simples esboo da instituio

    jurdica, que deixa s legislaes nacionais a tarefa da regulamentao.31

    O texto do referido artigo foi objeto de crticas pelos numerosos problemas de

    interpretao que gerou.32 Os indcios de maior dificuldade se concretizaram nos trs aspectos

    seguintes:

    La temprana sugerencia en relacin con la proteccin de las marcas colectivas cuya importancia ya se perfilaba en el orden de los mercados extranjeros, infelizmente no fue escuchada en el referida Conferencia de Bruselas. Vid. LADAS, Stephen P. Patents, Trademarks, and related rights. National and international protection. v. II. United States of America: Harvard University Press, 1975. p 1294.

    27 O artigo 7bis da Conferncia de Reviso de Washington estabelece que: Les pays contractants s'engagent admettre au dpt et protger les marques appartenant des collectivits dont l'existence n'est pas contraire la loi d'origine, mme si ces collectivits ne possdent pas un tablissement industriel ou commercial. Cependant, chaque pays sera juge des conditions particulires sous lesquelles une collectivit pourra tre admise faire protger ses marques. Vid. UNION INTERNATIONALE POUR LA PROTECTION DE LA PROPRIETE INDUSTRIELLE. Actes de la Confrence Runie a Washington du 15 mai au 2 juin 1911. Berne: Bureau International de lUnion 1911. p. 333.

    28 Vid. BRAUN, Antonio. Prcis des marques. 3. ed. Bruxelles: Maison Larcrier, 1995. p. 471-472. 29Vid. PLAISANT, Marcel. Trait de Droit conventionnel international concernant la proprit industrielle.

    Paris: Sirey, 1949. p. 222-223. 30 Vid. FRANCESCHELLI, M. R. op. cit., p. 301. 31 O numeral 2 do artigo 7bis da CUP expressa que: cada pas ser juiz das condies particulares em que a

    marca coletiva ser protegida. Esta obligacin fue considerada con un alcance fuera del marco de la Convencin que adems de conllevar una restriccin, generara abusos al ser interpretada por algunos de los Estados miembros. Vid. BRAUN, Antonio. op. cit., p. 645-647.

    32 La proteccin otorgada por el artculo 7bis del CUP a la Marca Colectiva no fue plasmada sobre la base de una expresin tcnica contentiva de los principios bsicos necesaros, de ah la dificultad en cualquier tentativa de unificacin en el plano internacional. Vid. FRANCESCHELLI, M. R. op. cit., p. 301-306. En este mismo sentido, se ha sealado que no obstante, las propuestas presentadas, al redactar el referido artculo 7bis, ste es despojado de toda la trascendencia internacional que las referidas marcas perfilaban. Vid. LADAS. Stephen P. op. cit., p. 1294.

  • 38

    1. No se define o que coletividade, ou se a coletividade deve ser entendida em

    relao ao titular ou aos usurios da marca;

    2. No se define o que uma Marca Coletiva, o que dificulta a determinao de quem

    pode ser titular; se este pode utilizar a marca sobre seus prprios produtos ou se

    somente podero utiliz-la os afiliados deste; se o interesse protegido pela marca

    o interesse do titular da marca ou o interesse coletivo; se a proteo a que se refere

    o artigo ocorre mediante depsito e registro ou pelo simples uso da marca; e

    3. A impossibilidade de determinar categorias de Marcas Coletivas.

    Ainda assim, o artigo 7bis serve como um marco de referncia para que muitos pases

    da Unio incorporem a proteo da Marca Coletiva em suas leis nacionais. Neste sentido, a

    Alemanha Federal, em sua Lei de 31 de maro de 1919, prev o registro de marcas de

    associaes, as quais deveriam trazer junto ao pedido de registro um regulamento de

    utilizao da mesma. Posteriormente, a Sua passa a proteger as marcas coletivas em sua Lei

    de Marcas de 1928, modificada em 1939. E em 1930 a ustria outorga proteo s Marcas

    Coletivas segundo o modelo alemo.33

    No ano de 1919, a Gr Bretanha realiza uma reforma em sua Trade Marks Act 1905,

    quando introduz de forma preliminar e com carter facultativo alguns dos princpios e traos

    caractersticos da Marca de Certificao, que a partir da modificao de 1938 deixam de ser

    simples enunciados e passam a ser princpios de carter obrigatrio:

    1. A deteno da titularidade por parte de um ente coletivo que no se dedicar ao

    comrcio dos bens para os quais a marca havia sido solicitada;

    2. O uso da marca para certificar a origem, material, modo de fabricao, qualidade,

    exatido ou outras caractersticas; e,

    3. O controle, por parte do titular da marca, sobre o uso da marca em prol do interesse

    geral.34

    Mesmo quando a Frana, neste primeiro perodo, no concede proteo s marcas

    coletivas em sua legislao de marcas, interessante ressaltar que a Lei de 12 de maro de

    1920 autoriza os sindicatos profissionais a registrar suas marcas de qualidade mais conhecidas

    33 Vid. FRANCESCHELLI, M. R. op. cit., p. 292-293. 34 Vid. DAWSON N. op. cit., p. 15-17.

  • 39

    como Label,35 destinadas a certificar a origem e as condies de fabricao de seus

    produtos.

    Neste mesmo sentido, observamos que na Itlia so criadas marcas de fbrica

    particulares mediante leis especiais: para frutas e produtos agrcolas (23 de junho de 1927);

    para vinhos (10 de julho de 1930); e para seda (18 de junho de 1931). Interessa ressaltar que

    as disposies gerais sobre marcas de fbrica eram aplicadas a essas marcas; que as mesmas

    eram utilizadas pelos membros dos organismos titulares da marca; que buscavam garantir a

    origem, a natureza, a qualidade dos produtos; e precisavam de aprovao por parte da

    Administrao.36

    Neste contexto, busca-se esclarecer os termos e o alcance da obrigao imposta aos

    Estados membros pela segunda parte do artigo 7bis da CUP, aprovado na Conferncia de

    Reviso de Washington. Em 1934, na Conferncia de Reviso de Londres aprovada a

    modificao do referido artigo.37 Nesta modificao fica estabelecido que cada pas decidir

    as condies particulares de proteo de uma Marca Coletiva, podendo recusar a proteo

    caso a marca seja contrria ao interesse pblico. Com esta redao, fica claro que as

    condies de registro da Marca Coletiva recaem sobre a marca, e no sobre a coletividade

    solicitante.

    Alm disso, na Conferncia de Reviso de Londres agregado ao referido artigo 7bis

    uma terceira parte, na qual se refora de forma expressa os limites da faculdade que os

    Estados membros possuem quanto s causas para negar o registro de uma Marca Coletiva.

    Neste sentido, fica claro que no poder ser negada proteo Marca Coletiva por no

    contar a coletividade solicitante com um estabelecimento comercial no pas do pedido ou por

    35 Label, entendido como, emblema de garanta que no constituyen marcas en el sentido preciso de la palabra.

    Es un documento o seal objeto de un control tcnico, que tiende a atestiguar a fines comerciales, que un producto o un servicio tiene una procedencia determinada, garantizndole al consumidor una cierta calidad mnima. En este sentido, puede considerarse como sinnimos del trmino marca de calidad especialmente respecto a los certificados de calidad objeto de una autorizacin ministerial, y a las marcas de calidad agrcolas. Esta disposicin de proteccin de los labels se encuentra hoy en el artculo 19 del captulo III del Libro Tercero del Cdigo del Trabajo. Vid. DUSOLIER, Raymond. op. cit., p. 33-34; SCHMIDT-SZALEWSKI, Joanna; PIERRE, Jean-Luc. Droit de la proprit industrielle. 2. ed. Paris: Litec, 2001. p. 244.

    36 Vid. DUSOLIER, Raymond. op. cit., p. 33. 37 O artigo 7bis da Conferncia de Reviso de Londres estabelece: 1 Les pays de lUnion s'engagent admettre

    au dpt et protger les marques collectives appartenant des collectivits dont l'existence n'est pas contraire la loi du pays d'origine, mme si ces collectivits ne possdent pas un tablissement' industriel ou commercial. 2 Chaque pays sera juge des conditions particulires sous lesquelles une marque collective sera protge et il pourra refuser la protection si cette marque est contraire l'intrt public. 3 Cependant, la protection de ces marques ne pourra dire refuse aucune collectivit dont l'existence n'est pas contraire la loi du pays d'origine, pour le motif qu'elle n'est pas tablie dans le pays o la protection est requise ou qu'elle n'est pas constitue conformment la lgislation de ce pays. Vid. UNION INTERNATIONALE POUR LA PROTECTION DE LA PROPRIETE INDUSTRIELLE. Actes de la Confrence Runie a Londres du 1er mai au 2 juin 1934. Berne: Bureau International de lUnion 1934. p. 467.

  • 40

    no haver conformidade dos estatutos desta com a legislao do pas. Somente poder ser

    exigido que sua existncia no pas de origem no seja contrria lei ou ao interesse pblico.38

    Dada a obscuridade da redao do artigo 7bis da CUP, resta saber se a Marca de

    Certificao est compreendida na Marca Coletiva, o que no se pode afirmar sem suscitar

    dvidas.39 Verifica-se a ausncia de uma definio na CUP sobre a Marca Coletiva, bem

    como as diversas e contrastantes interpretaes que recebeu o termo marcas coletivas por

    parte das diferentes delegaes nas discusses que levaram adoo do referido artigo, sem

    um pronunciamento concreto a este respeito. Ante tal confuso e indefinio, alguns

    sustentam que o artigo 7bis compreende tanto as Marcas Coletivas em sentido estrito como as

    Marcas de Certificao.40

    No entanto, frente opinio contrria de que o artigo 7bis deve ser entendido em

    sentido estrito, negando qualquer possibilidade de que as Marcas de Certificao possam ser

    consideradas no mbito de tal artigo41, nasceu a proposta de modificao do artigo 7bis para

    estabelecer a obrigao expressa para os Estados membros da CUP de admitir o registro e

    proteo das Marcas de Certificao.42

    1.2 FORMALISMO (1935-1960): PROTEO DA MARCA DE CERTIFICAO PELAS

    PRIMEIRAS LEGISLAES NACIONAIS

    Durante o primeiro perodo observamos que nenhuma legislao nacional ou

    internacional admite de maneira inequvoca a proteo da Marca de Certificao em seus

    sistemas de Direito de Marcas, embora seja perceptvel a necessidade de leis especiais que

    38 Vid. BRAUN, Antonio. op. cit., p. 646. 39 Las marcas colectivas no son definidas del mismo modo en las diversas legislaciones nacionales, pero cabe

    decir groso modo que son signos que sirven, no para distinguir los productos y servicios de una empresa de los de otras empresas, sino para distinguir el origem geogrfico u otras caractersticas comunes de productos o servicios de diferentes empresas que utilizan la Marca Colectiva bajo el control de su titular. Esas marcas implican generalmente una cierta garanta de calidad. Vid. BODENHAUSEN, G.H.C. op. cit., p. 142. la negrita es nuestra-

    40 Vid. Relatrio de la Delegacin Alemana In: AIPPI. op. cit., Annuaire 1982/I. p. 103; [] (A los efectos del Convenio de Pars, se interpreta generalmente que la expresin Marca Colectiva comprende tambin las Marca de Certificacin.) Vid. OMPI. op. cit., 1983. p. 46; El hecho que el artculo 7bis del CUP slo haga expresa referencia a las marcas colectivas, no es razn suficiente para asegurar que ste no admita la proteccin de la Marca de Certificacin. Vid. BESSA MONTEIRO, Csar. Marca de base y Marca Colectiva. In: Revista de Direito Industrial. v. I, Faculdade de Direito de Lisboa. Coimbra: APDI, 2001. p. 342.

    41 Vid. PIRES de CARVALHO, Nuno. The TRIPS Regime of Trademarks and Designs. London: Kluwer Law International, 2006. p. 216 -218, 221.

    42 Vid. Relatrio de la Delegacin Alemana In: AIPPI. op. cit., Annuaire 1982/I. p. 103-104.

  • 41

    outorguem proteo a certos sinais distintivos que garantem a qualidade e outras

    caractersticas dos produtos, em prol dos consumidores ou do interesse pblico local.

    neste cenrio e neste perodo que vamos encontrar as primeiras reais manifestaes

    da Marca de Certificao como instituio jurdica admitida e protegida por algumas

    legislaes nacionais do Direito de marcas.

    na Gr Bretanha onde o termo Certification Trade Marks introduzido pela

    primeira vez, na seo 37. 6 e no Anexo 1 da Trademark Act de 1938, criando um sistema

    normativo orientado pela imparcialidade, pela clareza processual e pelo refinamento

    conceitual quando se define de forma tcnica que a Marca de Certificao ser aquela

    utilizada para distinguir produtos certificados de produtos no certificados por uma pessoa -

    independente do proprietrio de tais produtos- no que tange origem, matria prima utilizada,

    modo de fabricao, qualidade, exatido ou outra caracterstica.43

    Por um lado, o objetivo desta definio foi caracterizar a nova categoria de marca

    frente certificao de produtos como uma funo juridicamente protegida. Por outro lado,

    tambm se objetivou o estabelecimento, em forma de princpio, da absoluta independncia

    entre o titular da marca e o proprietrio dos produtos para os quais se solicita a marca.

    Neste sentido, o Anexo 1 da Lei de marcas inclui, de forma melhorada, algumas das

    caractersticas e princpios que comeam a perfilar a instituio com a modificao da Lei de

    marcas em 1919, implantando os elementos essenciais que configuram a Marca de

    Certificao: 1. Um titular/certificador independente e com capacidade para certificar

    reconhecida pelo Board of Trade; e 2. Um regulamento de utilizao da marca igualmente

    aprovada como sendo satisfatria pelo Board of Trade. Alm disso, o regime legal condiciona

    o registro da Marca de Certificao a duas circunstncias: 1. apresentao conjunta do

    regulamento de utilizao com o pedido de registro da marca perante o Escritrio de Patentes;

    e 2. Que o Board of Trade acredite que o registro da marca trar benefcios para o pblico.44

    Em 10 de junho de 1938 os Estados Unidos modificam sua Lei de marcas,

    introduzindo a possibilidade de registrar marcas coletivas cujo titular exerceria controle

    legtimo sobre o uso da mesma. No entanto, com o Act Lanham de 1946 que o legislador

    tenta superar a confuso gerada pela falta de definio sobre o que deveria ser entendido

    como Marca Coletiva na Lei de 1938, e distingue, em sentido amplo, que as Marcas Coletivas

    enquadram-se em duas classes: coletivas e de certificao.

    43 Vid. DAWSON N. op. cit., p. 25. 44 Vid. DAWSON N. op. cit., p. 24, 30; FRANCESCHELLI, M. R. op. cit., p. 292.

  • 42

    A seo 45 da referida Lei Lanham de 1946 define a Marca de Certificao como

    qualquer palavra, nome, smbolo, dispositivo ou qualquer combinao destes, utilizada em

    produtos ou servios de pessoas alheias ao titular da marca que certifica a origem, o material,

    o modo de fabricao, a qualidade, a exatido ou outra caracterstica de tal produto ou

    servio, ou que o trabalho ou sua elaborao tenha sido realizada por membros de uma unio

    ou outra organizao.45 E a Marca Coletiva como aquelas utilizadas pelos membros de uma

    cooperativa, associao ou outros grupos de organizao.46

    Com esta noo legal, a Marca de Certificao apresenta-se conformada por alguns

    dos elementos inerentes a sua prpria natureza, como:

    1. A certificao como funo juridicamente protegida;

    2. A no utilizao da marca pelo titular da mesma;

    3. O uso da marca por pessoas autorizadas;

    4. O estabelecimento das condies de uso da marca por parte do titular;

    5. A obrigao do titular de controlar o uso da marca; e

    6. O carter diferencial dos produtos ou servios que possuem caractersticas

    particulares em relao sua origem, matria prima, modo de fabricao,

    qualidade, exatido ou qualquer outra caracterstica que os diferenciem de produtos

    ou servios que no ostentem tal certificao.

    De acordo com a Lei Lanham de 1946, 47 a Marca de Certificao se inscreve e possui

    os mesmos efeitos de uma marca, e sua eficcia e validade so delimitadas pelo cumprimento

    por parte do titular, dos elementos estabelecidos pelo legislador como naturais a esta categoria

    de marca.

    Em 1942, o legislador italiano no Cdigo Civil e na Lei de marcas n 929, de 21 de

    junho, e nos artigos 2.570 e 2, respectivamente, reconhece e protege como Marca Coletiva

    aquela registrada por entes ou associaes legalmente constitudas que desenvolvam a funo

    45 Section 45 Lanham Act, defines a "certification mark" as "any word, name, symbol, or device, or any

    combination thereof' that one or more persons other than the mark's owner uses, to certify regional or other origin, material, mode of manufacture, quality, accuracy or other characteristics of such person's goods or services or that the work or labor on the goods or services was performed by members of a union or other organization." Vid. CHISUM, Donald S; JACOBS, Michel A. World Intellectual Property Guidebook. United States. 1992. p. 5-17; BREITENFELD, Frederick. Certification marks a survey. In: The Trademark Reporter, v. 49. New York: The United States Trademark association, 1960. p. 269-283.

    46 Section 45 defines a collective mark as that members of a cooperative, an association or other collective group or organization use and "includes marks used to indicate membership" in an organization. Vid. CHISUM, Donald S; JACOBS, Michel A. op. cit., p. 5-15 a 5-16.

    47 Sob a vigncia da Lei Lanham, entre 1947 e janeiro de 1959 foram concedidos registros para 301 Marca de Certificao. Vid. BREITENFELD, Frederick. op. cit., p. 288.

  • 43

    de garantir a origem, a natureza ou a qualidade de determinados produtos ou servios, que

    tero a faculdade de conceder o uso da mesma a produtores e comerciantes afiliad