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Universidade Federal de Santa Catarina Centro de Ciências Agrárias Curso de Agronomia TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO ESTABELECIMENTO DO MEIO DE CULTURA PARA O DESENVOLVIMENTO IN VITRO DE ÁPICES CAULINARES DA VARIEDADE CÍTRICA ‘BAÍA-CATARINA’ VISANDO A LIMPEZA DE VÍRUS Eduardo Lemos da Costa Aranha Florianópolis / SC 2010/2

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Universidade Federal de Santa Catarina

Centro de Ciências Agrárias

Curso de Agronomia

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

ESTABELECIMENTO DO MEIO DE CULTURA PARA O

DESENVOLVIMENTO IN VITRO DE ÁPICES CAULINARES DA VARIEDADE

CÍTRICA ‘BAÍA-CATARINA’ VISANDO A LIMPEZA DE VÍRUS

Eduardo Lemos da Costa Aranha

Florianópolis / SC

2010/2

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Universidade Federal de Santa Catarina

Centro de Ciências Agrárias

Curso de Agronomia

ESTABELECIMENTO DO MEIO DE CULTURA PARA O

DESENVOLVIMENTO IN VITRO DE ÁPICES CAULINARES DA VARIEDADE

CÍTRICA ‘BAÍA-CATARINA’ VISANDO A LIMPEZA DE VÍRUS

Trabalho de Conclusão do Curso de Agronomia

Eduardo Lemos da Costa Aranha

Orientadora: Profª/Drª Rosete Pescador

Supervisor de Estágio: Prof./Dr. Gilmar Roberto Zaffari

EMPRESA: EPAGRI – Itajaí/SC

Florianópolis / SC

2010/2

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a todos que fizeram este trabalho possível:

A mim, pela persistência, dedicação e perseverança;

Aos meus pais (Antonio Carlos Vieira da Costa Aranha e Zuleika Lemos

da Costa Aranha), por sempre terem valorizado a educação de seus filhos;

A todos os mestres que contribuíram para minha formação como

engenheiro agrônomo, em especial ao Prof./Dr. Renato Irgang;

A toda a equipe do laboratório de biotecnologia da EPAGRI (Eliseu

Emanoel dos Santos, Larissa Stadler Arruda Cantarotti, Bárbara Penno Braga e

Dilnei Souza Medeiros), em especial ao supervisor de estágio Dr. Gilmar

Roberto Zaffari, pela paciência e esforço em me ensinar as técnicas por eles

conhecidas;

A minha orientadora, Profª/Drª Rosete Pescador, pelo carisma e

disponibilidade em prontamente esclarecer minhas dúvidas;

A minha grande companheira Narah, por sempre estar presente, com

palavras de apoio;

E a Deus, por ter me concedido saúde e força para a realização deste

trabalho.

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LISTA DE FIGURAS

FIGURA 01 – Frutos contaminados com o vírus da xiloporose ....................... 14

FIGURA 02 – Fruto contaminado com o vírus da tristeza ............................... 15

FIGURA 03 – Variedade cítrica Baía ............................................................... 19

FIGURA 04 – Variedade Baía-Catarina ........................................................... 19

FIGURA 05 – Principais métodos de micropropagação e as rotas de

crescimento vegetal dos explantes .................................................................. 23

FIGURA 06 - Secção longitudinal do meristema apical do caule de

Coleus sp ......................................................................................................... 27

FIGURA 07 – Ápices caulinares – microscopia e figura ilustrativa .................. 28

FIGURA 08 - Portão principal da EEI .............................................................. 48

FIGURA 09 – Lab. de Biotecnologia da EEI..................................................... 48

FIGURA 10 - Técnicos do laboratório realizando assepsia do material vegetal

sob a CFL ........................................................................................................ 51

FIGURA 11 - Avaliação aos 14 dias dos ápices caulinares cítricos inoculados

pela equipe do laboratório de biotecnologia .................................................... 52

FIGURA 12 - Coleção de plantas cítricas da EEI ............................................ 54

FIGURA 13 - Cerca viva da variedade Flying Dragon (coleção da

EEI)................................................................................................................... 54

FIGURA 14 - Estagiário regulando o pH do meio de cultura ........................... 56

FIGURA 15 – Regulagem do pH do meio de cultura 40 .................................. 56

FIGURA 16 - Material utilizado no preparo dos meios de cultura .................... 56

FIGURA 17 - Soluções utilizadas no meio MS ................................................ 57

FIGURA 18 – Reguladores de crescimento utilizados ..................................... 57

FIGURA 19 - Laranjeiras da variedade Baía-Catarina .................................... 57

FIGURA 20 - Ápices caulinares em brotações novas ...................................... 57

FIGURA 21 - Ápices caulinares da variedade cítrica Baía-Catarina ............... 57

FIGURA 22 – Sala de crescimento (organogênese direta) ............................. 58

FIGURA 23 - Sala de crescimento (organogênese indireta) ........................... 58

FIGURA 24 - Ápice caulinar ............................................................................. 59

FIGURA 25 - Ápice caulinar com 2 mm isolado à lupa .................................... 59

FIGURA 26 - Acadêmico isolando ápices caulinares à lupa ........................... 59

FIGURA 27 - Inoculação dos ápices caulinares sob a CFL ............................. 59

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FIGURA 28 - Ápices caulinares mantidos em peneira esterilizada sob

a CFL ............................................................................................................... 59

FIGURA 29 - Frascos apresentando meios de cultura contaminados por

fungos............................................................................................................... 60

FIGURA 30 - Contaminação por fungos .......................................................... 60

FIGURA 31 - Avaliação do material aos 15 dias ............................................. 60

FIGURA 32 - Ápice caulinar em desenvolvimento ........................................... 60

FIGURA 33 – Ápice caulinar em desenvolvimento no meio de cultura n°14 ... 63

FIGURA 34 – Ápice caulinar em desenvolvimento no meio de

cultura n°15 ...................................................................................................... 63

FIGURA 35 – Ápice caulinar oxidado no meio de cultura n°12 ....................... 64

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LISTA DE TABELAS

Tabela 01 – Meios de cultura preparados e seus respectivos

constituintes ..................................................................................................... 55

Tabela 02 – Material avaliado aos 15 dias após a inoculação ........................ 61

Tabela 03 – Material avaliado aos 20-30 dias após a inoculação (organogênese

direta) ............................................................................................................... 62

Tabela 04 – Avaliação aos 15 dias para organogênese indireta ..................... 62

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LISTA DE ABREVIATURAS

°C – graus célsius

2,4-D – 2,4-diclorofenoxiacético

ABA – Ácido abscísico

ACARESC – Associação de Crédito e Assistência Rural de Santa Catarina

ACARPESC - Associação de Crédito e Assistência Pesqueira de Santa

Catarina

AIA – ácido 3-indolacético

AIB – Ácido indol-3-butírico

ANA – Ácido naftalenoacético

APEX – Associação Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos

atm - atmosfera

BAP - Benzilaminopurina

CEPC - Campo Experimental de Piscicultura

CETREI – Centro de Treinamento da EPAGRI – Itajaí

CFL – Câmara de Fluxo Laminar

cm - centímetro

EDTA - Ethylenediamine tetra-acetic acid

EEI – Estação Experimental de Itajaí

ELISA – Enzyme Linked Immuno Sorbent Assay

EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária

EMPASC – Empresa Catarinense de Pesquisa Agropecuária

EPAGRI - Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa

Catarina

FAPESC – Fundação de Apoio à Pesquisa Científica e Tecnológica do Estado

de Santa Catarina

Fe - Ferro

g – grama

GA₃ - Ácido giberélico

HCl – Ácido clorídrico

IASC – Instituto de Apicultura de Santa Catarina

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

KIN - Cinetina

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l - litro

M - molar

MAPA – Ministério da Agropecuária

mg - miligrama

mm - milímetro

MS – Meio de Cultura Murashige & Skoog (1962)

NaOH – Hidróxido de sódio

nm – nanômetro

PADFIN – Programa de Apoio ao Desenvolvimento da Fruticultura Irrigada do

Nordeste

pH – potencial hidrogeniônico

RENASEM – Registro Nacional de Sementes e Mudas

UFSC – Universidade Federal de Santa Catarina

USDA – United States Department of Agriculture

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RESUMO

O Estágio de Conclusão do Curso de Agronomia corresponde à última fase do

curso, no qual se espera que o acadêmico, até então inserido em um ambiente

distinto daquele encontrado na vida profissional, tenha contato direto com as

atividades desenvolvidas pelo profissional da Agronomia e se prepare para o

mercado de trabalho que encontrará logo após sua graduação. As doenças de

natureza vegetal são causadas por fungos, bactérias e vírus (ou ainda por

nematóides). Medidas efetivas de controle químico são aplicadas para a maior

parte das doenças, exceto para aquelas causadas por vírus. Em geral, esses

patógenos não são transmitidos pela semente, mas tendem a se acumular nas

plantas propagadas vegetativamente. Diante da falta de um produto químico

capaz de erradicar vírus de plantas infectadas, a cultura de ápices caulinares

vem sendo utilizada a fim de obter material de multiplicação com alta qualidade

fitossanitária. Durante o período de estágio foram acompanhadas as atividades

realizadas pelos técnicos do Laboratório de Biotecnologia da EPAGRI de Itajaí-

SC com vistas à ambientação e conhecimento sobre os procedimentos e

protocolos padrões. Logo em seguida, sucedeu-se a implantação de um

experimento com ápices caulinares visando à definição do meio de cultura que

favoreceria o desenvolvimento dos ápices caulinares para posterior limpeza

viral. Houve a coleta, isolamento à lupa, assepsia e inoculação dos ápices

caulinares da variedade copa cítrica ‘Baía-Catarina’, seguida de avaliação aos

15 e aos 20-30 dias após a inoculação. Deduziu-se que os meios de cultura

contendo os três reguladores de crescimento (BAP, ANA e GA₃) favorecem o

desenvolvimento dos ápices caulinares, mantendo-os com coloração verde e

grande potencial de desenvolvimento.

Palavras-chave: Ápices caulinares, micropropagação, organogênese, limpeza

de vírus, Citrus.

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ÍNDICE

1 INTRODUÇÃO .............................................................................................. 12

2 OBJETIVOS .................................................................................................. 13

2.1 OBJETIVO GERAL .................................................................................... 13

2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ...................................................................... 13

3 JUSTIFICATIVA ............................................................................................ 13

4 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ......................................................................... 17

4.1 A Citricultura no Brasil ..................................................................... 17

4.2 A Variedade Cítrica ‘Baía-Catarina’ ................................................ 18

4.3 Histórico da Cultura de Tecidos ...................................................... 19

4.4 Cultura de Tecidos .......................................................................... 21

4.5 Totipotência ..................................................................................... 24

4.6 Competência e Determinação Celular ............................................ 25

4.7 Cultura de Meristemas e de Ápices Caulinares .............................. 26

4.8 Estabilidade dos Meristemas Apicais .............................................. 29

4.9 Meios Nutritivos ............................................................................... 30

4.10 Componentes de Meios Nutritivos ................................................ 31

4.10.1 Água ........................................................................................... 31

4.10.2 Macronutrientes .......................................................................... 31

4.10.3 Micronutrientes ........................................................................... 33

4.10.4 Carboidratos ............................................................................... 33

4.10.5 Vitaminas .................................................................................... 33

4.10.6 Mio-Inositol ................................................................................. 33

4.10.7 Ágar-ágar ................................................................................... 34

4.10.8 O pH e Outras Características dos Meios .................................. 34

4.11 Fitormônios e Reguladores de Crescimento ................................. 34

4.11.1 Auxinas ....................................................................................... 36

4.11.2 Citocininas .................................................................................. 38

4.11.3 Giberelinas ................................................................................. 39

4.11.4 Ácido Abscísico .......................................................................... 40

4.12 Recuperação de Plantas Livres de Vírus ...................................... 40

4.13 Microenxertia ................................................................................. 44

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5 FORMULAÇÃO DO PROBLEMA ................................................................. 46

6 HIPÓTESE .................................................................................................... 46

7 DESCRIÇÃO DA EMPRESA ....................................................................... 47

8. ATIVIDADES DESENVOLVIDAS ................................................................ 50

8.1 ATIVIDADES INICIAIS .................................................................... 50

8.2 INOCULAÇÃO SOB A CÂMARA DE FLUXO LAMINAR ................ 53

8.3 PLANEJAMENTO DO EXPERIMENTO .......................................... 53

8.4 PREPARO DOS MEIOS DE CULTURA ......................................... 55

8.5 COLETA, ISOLAMENTO, ASSEPSIA E INOCULAÇÃO DOS

ÁPICES CAULINARES ......................................................................... 57

8.6 AVALIAÇÃO DO MATERIAL INOCULADO .................................... 59

9. RESULTADOS ............................................................................................. 60

10. DISCUSSÃO .............................................................................................. 63

11. CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................... 64

12. BIBLIOGRAFIA .......................................................................................... 66

13. ANÁLISE CRÍTICA DO ESTÁGIO – CONCLUSÃO .................................. 68

ANEXOS .......................................................................................................... 69

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1. INTRODUÇÃO

O Estágio de Conclusão do Curso de Agronomia corresponde à última

fase do curso, no qual se espera que o acadêmico, até então inserido em um

ambiente distinto daquele encontrado na vida profissional, tenha contato direto

com as atividades desenvolvidas pelo profissional da Agronomia e se prepare

para o mercado de trabalho que encontrará logo após sua graduação.

O presente trabalho é referente ao estágio realizado no período de 01 de

setembro de 2010 a 17 de dezembro de 2010 em período integral na Estação

Experimental de Itajaí (situada na Rodovia Antonio Heil Km 6, s/n, Caixa Postal

277, Cep.: 88301-970 - Itajaí - Santa Catarina – Brasil) da Empresa de

Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina, com duração total

de 360 horas. O trabalho contou com a orientação da Profª/Drª Rosete

Pescador do Departamento de Fitotecnia do Centro de Ciências Agrárias da

UFSC e foi supervisionado pelo Eng. Agr./Dr. Gilmar Roberto Zaffari, com

experiência particular em Biotecnologia.

O presente estava inserido em trabalhos realizados pela equipe do

Laboratório de Biotecnologia da EEI, onde foi possível aprender técnicas da

Cultura de Tecidos e Propagação de Plantas In vitro, bem como realizar parte

de um experimento sendo executado também pela equipe do laboratório, como

Trabalho de Conclusão de Curso.

O estágio foi de vital importância, pois permitiu ampliar as perspectivas

quanto à profissão de Engenheiro Agrônomo, descobrindo uma nova área pela

qual já possuía afinidade e sequer estava ciente desse fato. Também permitiu

que se relacionasse o conteúdo interdisciplinar visto no decorrer de quatro

anos e meio do Curso de Agronomia com o que de fato ocorre na prática, tanto

nas atividades de pesquisa quanto na rotina a campo de um Engenheiro

Agrônomo.

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2 OBJETIVOS

2.1 Objetivo Geral

Avaliar qual(is) o(s) meio(s) de cultura favorece(m) o desenvolvimento

dos ápices caulinares da variedade copa cítrica ‘Baía Catarina’ visando o

desenvolvimento de protocolo para a limpeza de vírus através da

micropropagação.

2.2 Objetivos Específicos

§ Definir as composições e as concentrações dos reguladores de

crescimento que serão utilizados em cada meio de cultura;

§ Preparar e esterilizar os meios de cultura;

§ Coletar, isolar, realizar a assepsia e inocular os ápices caulinares da

variedade cítrica ‘Baía Catarina’ nos meios de cultura preparados;

§ Armazenar (em sala de crescimento) o material inoculado, sendo os

meios de cultura destinados à organogênese direta armazenados no

claro e os meios destinados à organogênese indireta armazenados no

escuro.

§ Avaliar aos quinze e aos vinte-trinta dias o desenvolvimento do material

e registrar os dados;

§ Observar o resultado e gerar dados para o futuro desenvolvimento de

protocolo para limpeza viral em Citrus sp.

3 JUSTIFICATIVA

Segundo levantamento coordenado por KOLLER (2001), as frutas

cítricas ultrapassam o volume de consumo anual per capita, comparativamente

à banana, situando-se bem mais distante, em terceiro lugar, a maçã.

Das 39 milhões de toneladas de frutas produzidas, aproximadamente

45% são de laranja (18,3 milhões de toneladas). Em segundo lugar, tem-se a

banana, que alcança a marca de 6,5 milhões de toneladas. A produção de

laranja e banana atinge, 24 milhões de toneladas, correspondente a

praticamente 60% da produção brasileira de frutas (IBGE, 2006).

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A baixa qualidade das mudas cítricas, juntamente com o pouco

conhecimento técnico de viveiristas, agricultores e agentes de difusão

tecnológica, representam os principais fatores responsáveis pelos insucessos

ocorridos na citricultura, resultando no fato de que 70% dos frutos consumidos

in natura continuem sendo importados (IBGE, 2006).

Figura 01 – Frutos contaminados com o vírus da xiloporose.

Fonte: http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/tangerina/imagens/tangerina-20.jpg

Mudas cítricas produzidas de acordo com as normas do RENASEM -

Registro Nacional de Sementes e Mudas - para produção de mudas

certificadas são isentas de: viroses como sorose, exocorte, estirpes fortes de

tristeza (figura 02) e xiloporose (figura 01), que ainda estão presentes em

alguns clones cítricos cultivados; doenças causadas por bactérias, como

clorose variegada dos citros, cancro cítrico e greening; doenças causadas por

fungos, como a gomose causada por Phytophthora, um dos mais sérios

problemas nos pomares na atualidade; plantas invasoras como tiririca e grama

seda; um grande número de pragas e outras doenças de menor importância.

Os prejuízos originados por doenças causadas por vírus na citricultura são

muito significativos, necessitando-se de soluções práticas e viáveis para a

eliminação dessas doenças dos pomares comerciais, como o manejo integrado

de pragas e as técnicas aplicadas através da biotecnologia e do melhoramento

genético vegetal (IBGE, 2006). O uso de material de multiplicação livre de

doenças representa a forma mais econômica de controle dessas doenças na

citricultura (ROISTACHER, 1994).

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Figura 02 – Fruto contaminado com o vírus da tristeza. Fonte: http://www.agnet.org/images/library/bc52009f5.jpg

As leis de números 10.711 (05/08/2003) e 5.153 (23/07/2004) e

respectivas atualizações, instituem e regulamentam o RENASEM, submetem e

atribuem aos produtores de sementes, mudas e materiais de multiplicação

(sementes, enxertos, estacas etc) a uma série de exigências e

responsabilidades, não apenas quanto ao registro em si, mas, principalmente

quanto à responsabilidade sobre a qualidade genética e sanitária (MAPA,

2009). Assim, a EPAGRI tem, por força das leis específicas, a obrigação de

aperfeiçoar e melhorar cada vez mais a qualidade dos materiais de

multiplicação vegetal fornecidos aos agricultores (ZAFFARI, 2009).

As variedades cítricas são propagadas tanto sexuada quanto

assexuadamente. Em geral, os porta-enxertos (rootstocks) são obtidos a partir

de sementes, enquanto que a maioria das cultivares copa de interesse

comercial é propagada por vários métodos assexuados. Com o emprego da

multiplicação vegetativa a ocorrência de doenças causadas por vírus tem se

agravado. No caso dos Citrus sabe-se há anos da existência de ao menos

quinze espécies de vírus afetando as plantas (USDA, 1968), número este que

vem aumentando com o passar dos anos (ZAFFARI, 2009).

A micropropagação é um importante método de propagação assexuada

que pode ser utilizada para a produção de plantas livres de vírus. O uso dessa

técnica na produção de mudas livres de vírus constitui-se em estratégia

importante para a multiplicação vegetativa de plantas matrizes. Durante os

últimos anos, a limpeza clonal pela micropropagação tem sido utilizada para

diversas espécies de plantas. A microenxertia em Citrus, técnica descrita por

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NAVARRO et al. (1975), tem sido a alternativa utilizada há décadas pelos

laboratórios de cultura de tecidos de plantas, como método para a limpeza de

vírus. Embora a técnica tenha sofrido constantes aperfeiçoamentos ao longo do

tempo, o processo é meticuloso e de baixo rendimento, devido a problemas de

pegamento do microenxerto (ZAFFARI, 2009).

Uma alternativa para aumentar o rendimento da produção de mudas

livres de vírus em laboratório (objetivo final do presente trabalho, que apresenta

a etapa inicial do projeto) é a técnica de regeneração de plantas pela

organogênese direta ou indireta. Essa técnica consiste em utilizar o meristema

apical caulinar para produzir plantas sem o processo de microenxertia. Os

meristemas apicais têm a capacidade genética e fisiológica de manter a divisão

e diferenciação celular gerando novos tecidos, órgãos e formar um indivíduo

completo com as mesmas características. Quando a obtenção de plantas se dá

pela organogênese direta, cada meristema produz apenas uma planta. Porém,

quando esse meristema produz calo, pode-se gerar muitas plantas a partir de

um único meristema (GEORGE et al., 2008). Dessa forma, a micropropagação

de plantas cítricas livres de vírus através da organogênese indireta pode

contribuir de forma significativa na produção de mudas cítricas de elevada

qualidade genética e fitossanitária, estimulando novamente o desenvolvimento

da cadeia produtiva (ZAFFARI, 2009).

Além de produzir e fornecer material de multiplicação livre de vírus e

outras doenças há necessidade de ampliar as informações disponíveis sobre o

comportamento de diferentes variedades e clones nas condições

edafoclimáticas locais, procurando-se também variedades mais precoces e

mais tardias quanto à época de maturação dos frutos, para que se possa

atender ao mercado por um maior número de meses durante o ano. Esse

conhecimento permitirá priorizar a produção de mudas de cultivares que melhor

atendam a essas necessidades, podendo, portanto, essas serem consideradas

de melhor qualidade (ZAFFARI, 2009).

Os agricultores e os agentes de extensão, quando conhecedores do que

é e da importância de uma boa muda, qualidade genética, qualidade sanitária

etc, passarão a exigir dos viveiristas essa melhor qualidade. Essa exigência por

parte dos consumidores será o maior impulsionador para que os viveiristas

venham a melhorar a qualidade das mudas que produzem (ZAFFARI, 2009).

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4 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

4.1 A Citricultura no Brasil

A história da citricultura brasileira está intimamente ligada à própria

história do país. Poucos anos após a descoberta do Brasil, entre 1530 e 1540,

os portugueses introduziram as primeiras sementes de laranja doce nos

estados da Bahia e São Paulo. Dadas às condições edafoclimáticas favoráveis,

as plantas produziram satisfatoriamente, a ponto de os frutos da laranja ‘Baía’

serem reconhecidos ainda no Brasil colonial como maiores, mais sucosos e de

excelente qualidade do que os produzidos em Portugal. Mas, somente a partir

dos anos 30 do século passado, a citricultura começou a ser implantada

comercialmente nos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Bahia, tendo

apresentado maiores índices de crescimento nos estados do Sudeste e Sul

(EMBRAPA, 2003).

A citricultura brasileira apresenta números expressivos que traduzem a

grande importância econômica e social que a atividade tem para a economia

do país. Alguns desses números são mostrados concisamente: a área plantada

está ao redor de um milhão de hectares e a produção de frutas supera

dezenove milhões de toneladas, a maior no mundo há alguns anos. O país é o

maior exportador de suco concentrado congelado de laranja cujo valor das

exportações, juntamente com as de outros derivados, tem gerado cerca de 1,5

bilhão de dólares anuais. O setor citrícola brasileiro somente no Estado de São

Paulo gera mais de 500 mil empregos diretos e indiretos (EMBRAPA, 2003).

A Região Nordeste responde por 9% da produção nacional, constituindo-

se na segunda maior região produtora do país, com mais de 110.000 hectares

cultivados e mais de 1,5 milhão de tonelada produzida. Dentre os estados

produtores, o destaque fica com os estados Bahia e Sergipe, respectivamente

segundo e terceiro produtores nacionais, que representam juntos 90% de toda

área plantada no nordeste. A citricultura nordestina tem grande potencial para

implementar seu crescimento sobretudo em função da ausência de doenças e

pragas de grande importância que se encontram distribuídas no Sudeste, maior

centro produtor. No que diz respeito ao incremento e geração de empregos,

percebe-se que devido à instalação de muitas casas de embalagens (packing-

houses) e aumento da exportação do limão tahiti para o Mercado Europeu,

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muitos empregos diretos e indiretos têm sido oferecidos, na ordem de 100 mil

(EMBRAPA, 2003).

A grande meta do setor brasileiro é consolidar-se no mercado

internacional não apenas como produtor de frutas tropicais, mas também de

outras frutas de destaque econômico. Para isso é preciso capacitar o setor e

expandir, significativamente, suas fronteiras agrícolas em valores absolutos e

comparativamente aos grandes supridores internacionais, sem deixar de lado a

imagem de confiabilidade, continuidade e diversidade de frutas para todo o

mundo (PADFIN, 2006).

As ações promocionais têm como alvo tanto os clientes/compradores em

potencial como o consumidor final, estreitando o relacionamento com os

agentes de mercado internacional e levando ao consumidor as informações

corretas da fruticultura brasileira e seus produtos (PADFIN, 2006).

O número de expositores brasileiros em eventos internacionais tem

crescido a cada ano, assim como o volume de negócios realizados. Procura-se

participar de eventos que possam gerar resultados. As feiras são importantes

para rever clientes, consolidar contatos, conquistar novos mercados e conhecer

as tendências mercadológicas atuais para tornar as marcas brasileiras mais

competitivas (PADFIN, 2006).

4.2 A Variedade Cítrica Baía-Catarina

Trata-se de uma variedade peculiar obtida pela EPAGRI com

cruzamentos envolvendo a variedade comercial ‘Baía’. É também conhecida

como laranja-de-umbigo por ter uma saliência na face inferior do fruto. Possui

sabor adocicado, polpa muito suculenta e casca amarelo-gema. Fornece

bastante suco, podendo ser consumida ao natural, em refrescos ou como

ingrediente de pratos especiais. Por ser pouco ácida, seu suco pode ser

misturado ao de outras variedades (como laranja-pêra e laranja-barão) com

bons resultados. É o tipo de laranja que contém a maior quantidade de vitamina

C (SIMÃO, 1971).

Em geral a variedade ‘Baía’ (figura 03) apresenta excelentes qualidades,

boa consistência, maturação média, não apresentam sementes (mas pode

haver polinização cruzada), resistência ao frio, porém sensíveis à seca

(SIMÃO, 1971).

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Figura 03 – Variedade cítrica Baía. Figura 04 – Variedade Baía-Catarina. Fonte: http://frutaslurdes.com.sapo.pt/DSC03108.JPG

A flor desse grupo caracteriza-se por possuir um segundo verticilo

carpelar além do principal, que ao se desenvolver, origina um segundo fruto,

incluso na região estilar do principal, à semelhança de umbigo. Além dessa

característica, os grãos de pólen se desintegram, ocorrendo a degradação do

saco embrionário e, conseqüentemente, os frutos que se formam são

partenocárpicos (SIMÃO, 1971).

4.3 Histórico da Cultura de Tecidos

A propagação de plantas in vitro tem atraído a atenção dos

pesquisadores desde o início do século XIX, mas evoluiu gradativamente a

partir do século XX (TORRES et al., 1998).

O botânico alemão VOCHTING, em 1878, ao pesquisar os fatores que

tornam parte na formação de órgãos e na diferenciação em plantas, notou que

em cada fragmento de planta permanecem os elementos a partir dos quais

após seu isolamento e em condições apropriadas, pôde-se reconstruir todo o

organismo. Em 1902 HABERLANDT confirmou tal premissa e previu que seria

ainda possível o cultivo de embriões artificiais a partir de células vegetativas.

Ele foi o primeiro a cultivar células de tecidos somáticos de várias espécies de

plantas em soluções nutritivas. Naquele mesmo período, avanços também

ocorriam na cultura de tecidos animais. Em 1922, KOTTE foi capaz de cultivar

fragmentos de pontas de raiz de ervilha e milho utilizando um meio de cultura

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baseado em matéria-prima de origem animal (extrato de carne de LIEBIG).

Pouco mais tarde, demonstrou-se que o crescimento de fragmentos de raiz de

milho podia ser mantido até por vinte semanas, em meio contendo extrato de

levedura (MANTELL et al., 1994).

Em 1904, HANNING foi o primeiro a cultivar in vitro embriões imaturos

de crucíferas. Ele observou a necessidade de suplementação do meio mineral

de diferentes fontes de nitrogênio sobre a sua morfologia. Posteriormente,

KNUDSON (1922) cultivou embriões de orquídeas na ausência de micorrizas e

observou que a sacarose era importante para o crescimento e desenvolvimento

de embriões in vitro (TORRES et al., 1998).

O marco histórico para o estabelecimento da cultura de tecidos de

plantas aconteceu quando WHITE (1934) conseguiu cultivar indefinidamente

raízes de tomate em um meio de cultura por ele definido. Simultaneamente

HAUTHERET (1934) foi capaz de estabelecer cultura de calos a partir de

regiões do câmbio (meristema) de três espécies de árvores (MANTELL et al.,

1994).

Entre 1935 e 1940, NOBECOURT passou a utilizar a auxina AIA nos

meios de cultura e em 1939 GAUTHERET diagnosticou a importância da

vitamina B₁ no desenvolvimento dos explantes. Em 1948, SKOOG descobriu

que a adenina derivada dos ácidos nucléicos aumenta a proliferação celular e a

formação de gemas nas culturas de calos. Já no ano de 1955, MILLER et al.

descobriram que a citocinina promove a divisão celular (descoberta essencial

no desenvolvimento vegetal in vitro). Como complemento de suas pesquisas,

SKOOG & MILLER, em 1957, estabeleceram as funções da auxina e da

citocinina na indução de brotos e raízes em culturas de calos de tabaco. Em

1958 REINERT desvendou a embriogênese somática para culturas de calos

(MANTELL et al., 1994).

De acordo com TORRES et al., 1998:

A regeneração de plantas de Lupinus e Tropaeolum a partir de

ápices caulinares começou com os trabalhos de BALL (1946).

Posteriormente, SKOOG & TSUI (1948) observaram que a

formação de parte aérea e raiz em calo de fumo era um

processo regulado por fatores múltiplos: a adição de auxina ao

meio inibia a formação de brotações, enquanto a inclusão de

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adenina e alto nível de fosfato promovia a diferenciação de

parte aérea mesmo em presença de ácido indolacético (AIA).

A aplicação prática de cultura de tecidos iniciou-se quando MOREL &

MARTIN (1952) recuperaram plantas de Dahlia sp. livres de vírus através da

cultura de ápices caulinares. Posteriormente, MOREL (1960) utilizou essa

metodologia para obtenção de plantas de orquídea livres de vírus. TORRES et

al., 1998 ressaltam que MOREL empregou erroneamente a palavra ‘meristema’

para se referir ao ápice caulinar e que mesmo atualmente pesquisadores

confundem o uso desse termo (TORRES et al., 1998).

MURASHIGE & SKOOG (1962) observaram que, ao adicionar extrato de

folhas de fumo ao meio de cultura de calo, o crescimento desse tecido tornava-

se bastante avantajado ao ser comparado com o calo mantido em meio de

WHITE. Eles comprovaram que a fração ativa do extrato era a inorgânica. Esse

foi o ponto de partida para a elaboração do consagrado meio de cultura MS,

atualmente o mais utilizado em trabalhos de cultura de tecidos (TORRES et al.,

1998).

Na década de noventa iniciou-se a comercialização de plantas obtidas

através da engenharia genética. Naquela década, cerca de quinze produtos

foram colocados no mercado para comercialização em larga escala (dentre

eles Lycopersicon esculentum, espécies de Brassica, Solanum tuberosum,

Glycine max e Gossypium hirsutum). Atualmente, as técnicas de biologia

celular são amplamente estudadas e difundidas na engenharia genética de

plantas (TORRES et al., 1998).

4.4 Cultura de Tecidos

Não restam dúvidas de que atualmente (e futuramente), o

desenvolvimento de técnicas de cultura de tecidos será uma das maiores

contribuições científico-sociais dos cientistas contemporâneos. Através de

pequenos fragmentos de tecido vivo (ditos explantes), isolados de um

organismo e cultivados assepticamente por períodos indefinidos em um meio

nutritivo semi-definido, pôde-se atingir objetivos dos mais diversos. O conceito

de explantes envolve uma grande diversidade de material vegetal, tão

pequenos quanto células isoladas e protoplastos ou tão maiores como

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plântulas e órgãos (como ocorre nas culturas de óvulo ou de embrião). Os

avanços nessa área têm aumentado as perspectivas de operações possíveis

de serem utilizadas, em diversos campos da biotecnologia de plantas

(MANTELL et al., 1994).

Para MANTELL et al., (1994), “o desenvolvimento de células individuais

em complexos órgãos e tecidos multicelulares é um processo comum a todas

as formas superiores de vida”. Ou seja, o processo de diferenciação se

constitui em uma série de processos coordenados e determinados

geneticamente através dos quais os explantes, derivados de células individuais

se desenvolvem em plantas inteiras. O genótipo da planta determina as vias de

diferenciação envolvidas em sua maturação e a expressão dos genes é

modulada por interações celulares e ambientais (MANTELL et al., 1994).

Ainda de acordo com MANTELL et al., (1994), “os padrões de

desenvolvimento da planta são razoavelmente consistentes dentro de limites

definíveis de genótipo, ou seja, grupos taxonômicos, de maneira que os

constituintes genéticos da célula germinativa original, teoricamente, contém

todos os elementos determinantes dos padrões de diferenciação”. A partir

dessa premissa, surgiu o conceito de totipotência, pois os tecidos somáticos de

uma planta são os produtos de divisões mitóticas, onde cada célula do

organismo é capaz de regenerar réplicas desse mesmo organismo, desde que

condições apropriadas sejam fornecidas (MANTELL et al., 1994).

Para WAREING (1982) apud MANTELL et al., (1994): “Nas plantas, a

maioria das divisões celulares coordenadas ocorrem em áreas concentradas

conhecidas como meristemas e, esses estão distribuídos em vários pontos do

organismo, durante o seu desenvolvimento. O funcionamento dos meristemas

pode ser ativado ou suprimido, de acordo com os padrões de diferenciação

ditados por mecanismos de controle genéticos e/ou ambientais”.

As células ditas “indeterminadas” (como as células meristemáticas) são

aquelas capazes de mudar para diferentes vias metabólicas do

desenvolvimento, dependendo das condições ambientais impostas a elas.

Essas mesmas células também são capazes de se desdiferenciar rapidamente

e se proliferar massivamente em um curto intervalo de tempo, produzindo

massas celulares conhecidas como calos (MANTELL et al., 1994).

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Figura 05 – Principais métodos de micropropagação e as rotas de crescimento vegetal dos

explantes. (Adaptado de MANTELL et al., 1994).

Os métodos disponíveis para propagação de plantas in vitro são, na

verdade, uma extensão daqueles desenvolvidos para a propagação

convencional. Entretanto, a propagação in vitro apresenta diversas vantagens

em relação à convencional, tais como (GEORGE et al., 2008):

§ As culturas são iniciadas com segmentos bastante diminutos de plantas

(ditos explantes). Com isso, o espaço físico necessário para a

manutenção das plantas é diminuído e seu aproveitamento maximizado.

§ A assepsia do material diminui perdas e, uma vez iniciada a cultura in

vitro, as perdas ocasionadas por doenças são mínimas.

§ Os métodos disponíveis são capazes de limpar plantas de vírus

específicos que, após os testes de indexação, podem gerar mudas

certificadas (livres dos vírus para os quais foram testadas).

§ Maior número de variáveis que influenciam a regeneração vegetativa

pode ser controlado, tais como: nutrientes e reguladores de crescimento,

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luz e temperatura. A taxa de propagação é muito maior do que na

macropropagação e um número muito maior de plantas pode ser

produzido em um período. Isso viabiliza a seleção de novas variedades

em um tempo reduzido.

§ Clones de certas espécies vegetais, que de outra maneira seria um

processo lento e difícil ou até mesmo impossível, podem ser produzidos.

§ A produção pode ser contínua ao longo do ano, sendo assim mais

independente das variações sazonais.

§ O material vegetal, quando armazenado nas sub-culturas, demandam

pouca mão-de-obra.

Como desvantagens, os mesmos autores citam: mão-de-obra

especializada, custo na aquisição dos reguladores de crescimento e outros

componentes dos meios de cultura e a delicada aclimatação das plantas in vitro

para ex vitro (sobretudo quanto à elevada perda de água e à insuficiência

fotossintética, necessitando assim que o processo seja gradativo).

4.5 Totipotência

Toda célula vegetal viva e nucleada tem o potencial de regenerar

plantas, desde que submetidas a tratamentos adequados (reguladores de

crescimento). Isso significa que as células são autônomas e totipotentes.

Contudo, ainda há muitas espécies cuja capacidade regenerativa não foi ainda

evidenciada na prática, permitindo concluir que o dogma da totipotencialidade

não pode ser generalizado. “As substâncias reguladoras de crescimento podem

induzir uma considerável gama de respostas nos diferentes tecidos de uma

planta, mas é preciso considerar as diferenças na ocorrência de diferenças na

competência das células-alvo” (WAREING, 1982 apud TORRES et al. 1999).

Mesmo considerando-se que toda célula vegetal viva e nucleada é por si

só totipotente, sabe-se que certos tecidos são mais favoráveis a regeneração

de gemas, raízes e embriões somáticos do que outros. “As diferenças celulares

seriam estabelecidas e mantidas pelas influências mútuas das células e dos

tecidos entre si” (WAREING, 1982 apud TORRES et al. 1999).

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4.6 Competência e Determinação Celular

Nas últimas décadas, grandes avanços nas áreas de Fisiologia,

Bioquímica e Genética foram possíveis devido à capacidade dos tecidos

vegetais cultivados in vitro para formar gemas, raízes ou, até mesmo, embriões

somáticos. No processo de diferenciação celular, há de se considerar: o fator

genético estabelecido na fertilização, que incorpora as potencialidades que

podem ser expressas durante o desenvolvimento e as características cuja

expressão depende apenas do ambiente (TORRES et al., 1999).

Durante o desenvolvimento de um organismo, o processo de

diferenciação celular reflete o efeito de três grupos de fatores: o fator genético,

as características originadas durante a ontogênese e as características cuja

expressão depende apenas do ambiente. Por meio de técnicas imunológicas

em Citrus, a presença de maiores concentrações de dada proteína foi

detectada nos tecidos maduros (TORRES et al., 1999).

A desdiferenciação inicial dos explantes resultava na formação de calos

com células competentes (com capacidade de responder aos efeitos

estimulatórios do meio de cultura para a formação de gemas). A transferência

dessas células agora competentes para meios indutores de gemas tornava-as

determinadas (comprometidas com uma nova rota específica de

desenvolvimento). As células, a partir daí, diferenciavam-se em primórdios de

gemas, mesmo se transferidas para meios não indutores. Além disso, nesse

modelo experimental, a diferenciação das células determinadas levaria à

formação de primórdios de gemas ou raízes, cuja estabilidade estrutural e

funcional pode ser mantida durante a vida da planta (TORRES et al., 1999).

Embora não se conheça ainda por que certos eventos regenerativos in

vitro são mais facilmente induzidos em alguns tecidos do que em outros,

admite-se que essas diferentes expressões morfogenéticas se reflitam na

natureza e no grau de diferenciação desses tecidos. Assim, entende-se por

diferenciação o processo através do qual as células tornam-se

progressivamente especializadas tanto do ponto de vista estrutural quanto

funcional, Além destes dois importantes aspectos do desenvolvimento, nessa

definição, fica implícito que ocorre a maturação, a qual envolve também

diferenças na estrutura e função celulares (TORRES et al., 1999).

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Em relação ao indivíduo as caracterísitcas mais persistentes, mas não

necessariamente permanentes, são mais rapidamente discerníveis e também

mais fáceis de serem investigadas em plantas do que em animais. Um exemplo

dessa situação é a mudança do estado juvenil vegetativo de uma planta

arbórea para o estado maduro (mudança de fase) (BRINK, 1962 apud

TORRES et al., 1999).

Comparativamente aos animais, a maior facilidade de estudos oferecida

pelas plantas decorre do fato de essas apresentarem um sistema de

desenvolvimento aberto, ou seja, os órgãos são formados continuamente

durante toda a vida, devido à atividade dos meristemas apicais. O termo

determinação tem sido empregado para designar essa canalização

progressiva, observada durante toda a organogênese em direção às vias

particulares de desenvolvimento (TORRES et al., 1999).

Apesar de as plantas apresentarem o padrão aberto de

desenvolvimento, certos órgãos apresentam padrão fechado (como folhas,

flores e frutos) sendo mais próximas às analogias com o desenvolvimento

animal (TORRES et al., 1999).

4.7 Cultura de Meristemas e de Ápices Caulinares

Há certa divergência quanto aos termos “meristema” e “ápice caulinar”.

A título de esclarecimento, de acordo com TORRES et al., 1998:

Considera-se meristema apical caulinar o tecido que se

encontra distal ao mais novo primórdio foliar, tendo o aspecto

de uma cúpula proeminente ou plataforma achatada, estando,

algumas vezes embutido numa depressão (CUTTER, 1971).

Seu tamanho não deve exceder a 0,1 mm.

As células desse tecido têm a propriedade única de permanecerem na

condição embrionária e, por meio de atividades morfogenéticas complexas,

darão origem ao eixo vascular, folhas, gemas, órgãos reprodutivos e outras

estruturas laterais. A capacidade de formação de órgão do meristema caulinar

ocorre mediante dois processos fundamentais: a manutenção de um grupo de

células indiferenciadas sem as quais a formação de novos órgãos não seria

possível e o direcionamento apropriado das células não diferenciadas para a

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formação de órgãos e eventual diferenciação (CLARK, 1997 apud TORRES et

al., 1998). Desse modo, o meristema apical é uma estrutura dinâmica,

constantemente em crescimento, com divisões celulares e formação de órgãos

(TORRES et al., 1998).

Figura 06 - Secção longitudinal do meristema apical do caule de Coleus sp. Seta grossa =

gema axilar; seta fina = protoderme; cabeça de seta = procâmbio; MF = meristema fundamental; PM = promeristema. Barra = 500 mm. (APEZZATO, 2003).

Por outro lado, o ápice caulinar consiste do meristema apical com dois

primórdios foliares subjacentes. Seu tamanho pode varia de 0,2 a 20 mm,

dependendo da espécie (TORRES et al., 1998).

Nota-se que a cultura de ápices caulinares, erroneamente chamada

cultura de meristemas, é utilizada para propagação de plantas in vitro,

recuperação de plantas livres de vírus e conservação de germoplasma. Uma

notável vantagem desse sistema é, na maioria dos casos, a manutenção do

genótipo regenerado, em virtude de as células meristemáticas manterem de

modo uniforme a sua estabilidade genética. O ápice caulinar é uma estrutura

organizada, que pode desenvolver-se diretamente em parte aérea, em meio de

cultura adequado, havendo a opção de não passar pela fase de calo (TORRES

et al., 1998).

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Analisando experimentos anteriores, realizados por diversos cientistas,

TORRES et al. (1998) constataram:

Esta técnica foi utilizada pela primeira vez por BALL (1946),

para regenerar plantas de T. majus e L. albus a partir da cultura

de ápice com 2 ou 3 primórdios foliares. As exigências de meio

de cultura para ápices caulinares são mais simples que

aquelas para meristemas isolados. BALL (1960) mostrou que

meristemas de L. albus, em cultura, apenas desenvolviam

algumas folhas e o caule apresentava pequeno alongamento.

Entretanto, meristemas de T. majus e Lycopersicon esculentum

não se desenvolviam in vitro, sugerindo que esses explantes

tinham perdido a habilidade de sintetizar compostos

necessários ao seu crescimento.

Hoje se sabe que os primórdios foliares em desenvolvimento são fontes

de substâncias orgânicas essenciais que favorecem o crescimento dos ápices

caulinares em cultura (TORRES et al., 1998).

Figura 07 – Ápices caulinares – microscopia e figura ilustrativa.

Fonte: http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/caule/imagens/caule82.jpg

Para TERMIGNONI, R. R. (2005): “Os meristemas e os ápices

caulinares são escolhidos por terem características superiores e/ou quando há

dificuldade na propagação vegetativa pelos métodos convencionais (como

estaquia e enxertia)”. Contrariando as definições de TORRES et al. (1998),

para HU & WANG (1983) apud TERMIGNONI, R. R. (2005), “meristemas são

as estruturas apicais, incluindo o domo apical e os dois primórdios foliares que

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se situam neste extremo ápice da planta”, ao passo que “ápices são os dois

últimos centímetros do eixo caulinar e segmentos caulinares, incluindo o ápice

caulinar com as gemas axilares que se situam junto às folhas”.

Uma importante característica acerca dos meristemas é que “nesse

tecido ainda não estão formados os feixes vasculares, portanto são utilizados

na obtenção de indivíduos livres de viroses” (TERMIGNONI, R. R., 2005).

O uso de ápices caulinares tem sido bastante difundido entre os

micropropagadores pela facilidade de obtenção, pelo número inicial de

explantes isolados da planta-mãe, pela viabilidade in vitro e pelo rápido

crescimento (TERMIGNONI, R. R., 2005).

4.8 Estabilidade dos Meristemas Apicais

A divisão das plantas superiores em caule e raiz representa um dos

aspectos mais notáveis da diferenciação celular, a qual é mantida com grande

estabilidade durante toda a vida. Essa separação começa no embrião, com

estabelecimento da polaridade e a iniciação dos meristemas apicais da raiz e

do caule (TERMIGNONI, R. R., 2005).

A estabilidade de ambos os ápices pode ser considerada sob duas

hipóteses alternativas. Segundo uma delas, os ápices meristemáticos -

caulinares e radiculares - seriam constituídos por células não comprometidas

com rotas específicas de desenvolvimento, sendo o controle realizado por

células maduras, parcial ou completamente diferenciadas. Contrariamente a

essa hipótese, a outra interpretação é de que as células meristemáticas seriam

hereditariamente programadas como células de caules ou raízes, em

conseqüência de serem consideradas células comprometidas. De acordo com

esse ponto de vista, os ápices meristemáticos seriam constituídos por células

verdadeiramente especializadas. Não há até o momento evidências

consistentes que permitam comprovar essas duas hipóteses (TERMIGNONI, R.

R., 2005).

Aparentemente, a maneira mais direta de se verificar se células dos

meristemas serão intrinsecamente determinadas ou não, seria mediante o

emprego da cultura in vitro de promeristemas de ápices caulinares e

radiculares. Em certas orquídeas, segmentos de ápices radiculares, medindo

entre 0,2 e 2,0 cm de comprimento quando cultivados em meios relativamente

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simples, originaram diretamente embriões somáticos. Esse parece ser um dos

poucos exemplos de conversão verdadeira de ápices radiculares

(TERMIGNONI, R. R., 2005).

4.9 Meios Nutritivos

Para que se obtenha êxito na cultura de células, tecidos e órgãos de

plantas, os meios nutritivos utilizados são de vital importância, fornecendo as

substâncias essenciais para o crescimento dos tecidos e controlando o padrão

de desenvolvimento in vitro (TORRES et al., 1998).

Para TORRES et al., (1998):

As mesmas vias bioquímicas e metabólicas básicas que

funcionam nas plantas são conservadas nas células cultivadas,

embora alguns processos, como fotossíntese, possam ser

inativados pelas condições de cultivo e pelo estado de

diferenciação das células. Por isso, os meios nutritivos se

baseiam nas exigências das plantas quanto aos nutrientes

minerais, com algumas modificações para atender às

necessidades específicas in vitro. Complementando as

substâncias biossintetizadas pelas células, vários compostos

orgânicos são adicionados ao meio para suprirem as

necessidades metabólicas, energéticas e estruturais das

células.

Com o passar dos anos, passos importantes foram dados, no

desenvolvimento de formulações nutritivas e nos estudos de nutrição mineral

de plantas que, há tempos, culminaram na solução nutritiva de KNOP. Nessa

solução, GAUTHERET (1934) se baseou para formular os macronutrientes de

seu meio nutritivo. WHITE, na década de 1930 desenvolveu diversas soluções

nutritivas, baseado no trabalho de pesquisadores anteriores. Os primeiros

meios apresentavam em sua composição metais exóticos (como níquel, titânio

e berílio). Os minerais incluídos na maior parte dos meios atualmente utilizados

foram definidos por WHITE, na década de 1940. Seu meio continha ainda

vitaminas e sacarose como suplementos orgânicos. Dos reguladores de

crescimento, apenas o ácido 3-indolacético (uma auxina) era conhecido. A

ênfase desses primeiros trabalhos era a identificação dos compostos

essenciais para o crescimento de células ou órgãos isolados das demais partes

da planta (TORRES et al., 1998).

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O meio de WHITE foi utilizado como meio básico em diversas espécies e

a mudança de padrão de meio ocorreu na tentativa de otimizar o crescimento

de calo in vitro. Tais modificações envolveram o aumento das concentrações

dos sais em geral, uma diminuição na concentração de sódio e o acréscimo de

nitrogênio na forma de amônio para complementar o nitrato (MURASHIGE &

SKOOG, 1962 apud TORRES et al., 1998).

Atualmente, o meio MS (as letras iniciais de MURASHIGE & SKOOG) é

utilizado na cultura de tecidos da grande maioria das espécies. Algumas

alterações na composição desse meio são executadas, em casos específicos.

4.10 Componentes de Meios Nutritivos

4.10.1 Água

Trata-se do componente mais abundante nos meios de cultura. Portanto,

é uma potencial fonte de impurezas que podem afetar o desenvolvimento

vegetal in vitro. Em geral, a água destilada (e às vezes também deionizada) é

utilizada. Caso a água seja obtida de poços, alguns contaminantes e minerais

podem permanecer em sua composição mesmo após a destilação. Para

contornar esse problema, recomenda-se a purificação desse componente com

um sistema de filtração por filtros de carvão ativado, colunas de troca iônica e

filtros de acetato de celulose (TORRES et al., 1998).

4.10.2 Macronutrientes

De acordo com TORRES et al., (1998): “Os elementos minerais exigidos

em maiores quantidades para o crescimento de plantas inteiras são incluídos

nos meios nutritivos na forma de sais inorgânicos, podendo o nitrogênio e o

enxofre ser adicionados também como componentes de suplementos

orgânicos”.

Diferentemente dos demais macronutrientes, o nitrogênio se apresenta

na forma de cátion (amônio) e ânion (nitrito e nitrato). Essa diferença química é

marcante no crescimento de culturas de tecidos. O nitrato sustenta uma boa

taxa de crescimento em diversas espécies. Por outro lado, há espécies que

não crescem bem com nitrato no meio. A enzima redutase do nitrato (que o

reduz a nitrito e em seguida à amônia através da redutase do nitrito) determina

sua utilização pelas células. A concentração de sacarose no meio de cultura

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pode ser um fator limitante para a atividade da redutase de nitrato (TORRES et

al., 1998).

O macronutriente fósforo é absorvido pelas plantas na forma do íon

H₂PO₄, sendo desse modo acrescentado aos meios de cultura. O meio MS, por

exemplo, utiliza o fosfato de potássio monobásico (KH₂PO₄) como fonte de

fósforo, na concentração de 1,25 µM. Para algumas espécies essa

concentração é considerada baixa, exigindo ajustes na composição do meio de

cultura (TORRES et al., 1998).

O potássio é absorvido como íon acompanhante do nitrato (KNO₃ no

meio MS), fosfato ou cloreto. “O íon exerce suas funções metabólicas e

bioquímicas na planta, e nas células in vitro como íon livre, sem incorporação

em compostos orgânicos, tornando seu metabolismo muito simples” (TORRES

et al., 1998).

Quanto ao cálcio, para que ocorra sua translocação pela planta, é

preciso que a planta transpire para que ocorra seu transporte no xilema. As

condições de alta umidade do ar (como no cultivo in vitro) podem induzir

deficiência de cálcio em partes aéreas em micropropagação. Contudo, esse

não é o caso na cultura de ápices caulinares, tecidos bastante diminutos

(TORRES et al., 1998).

O magnésio é um componente importante de vias metabólicas que

utilizam ATP. De acordo com HELLER (1965) apud TORRES et al. (1998),

“ocorrem interações entre alguns componentes dos meios, especificamente um

antagonismo entre o magnésio e o cálcio”. Geralmente o magnésio é

adicionado na forma de sulfato de magnésio (MgSO₄), como ocorre no meio

MS, fornecendo também o enxofre.

Para TORRES et al. (1998):

O ferro pertence a uma faixa intermediária entre os

macronutrientes e os micronutrientes, pois normalmente é

exigido em concentrações menores que as dos

macronutrientes, mas superiores as dos micronutrientes. Sofre

uma distinção também: é o único elemento mineral essencial

que não é absorvido como íon livre do meio.

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4.10.3 Micronutrientes

Todos os elementos minerais aceitos atualmente como essenciais para

as plantas fazem parte da composição do meio MS (1962), tais como:

manganês, zinco, boro, cobre, cloro e molibdênio, cobalto e iodo (TORRES et

al., 1998).

Outros elementos, como o sódio, podem fazer parte da composição de

meios nutritivos, em concentrações das mais diversas, dependendo da espécie

e do explante em estudo (TORRES et al., 1998).

4.10.4 Carboidratos

Um aspecto fundamental a ressaltar é o fato de as células cultivadas in

vitro não encontrarem condições adequadas de iluminação e concentração de

CO₂, não apresentando teores de clorofila suficientes para realizar fotossíntese

que sustente o crescimento. Dessa forma, os meios de cultura necessitam de

uma fonte de carbono em sua composição para suprir as necessidades

vegetais (TORRES et al., 1998).

A sacarose é o carboidrato mais utilizado nos meios, sendo que esse

açúcar suporta as mais altas taxas de crescimento na maior parte das

espécies, sendo adicionada ao meio MS na concentração de 30 mg/l (TORRES

et al., 1998).

4.10.5 Vitaminas

Os primeiros estudos realizados com cultura de raízes (BONNER, 1937)

definiram a mistura básica de vitaminas utilizadas atualmente. Tal mistura

consiste de tiamina (vitamina B₁), ácido nicotínico (niacina) e piridoxina

(vitamina B₆), à qual normalmente se adiciona o aminoácido glicina. As

concentrações de vitaminas no meio MS são muitas vezes alteradas,

dependendo da espécie em estudo (TORRES et al., 1998).

4.10.6 Mio-Inositol

Esta substância, um hexitol ou composto cíclico com grupos –OH em

todos os seus seis carbonos, é outro componente testado desde o início dos

estudos com a cultura de tecidos de plantas. Possui um efeito estimulador no

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crescimento de calo em fumo e outras espécies e está presente tanto no meio

MS quanto na maioria dos meios de cultura (TORRES et al., 1998).

De acordo com TORRES et al. (1998): “Sabe-se hoje, que o inositol é

incorporado às moléculas de fosfolipídios que compõem a estrutura da

membrana plasmática de outras membranas celulares”.

4.10.7 Ágar-ágar

Utilizado nos meios nutritivos sólidos, o ágar-ágar (ou simplesmente

ágar) é um polissacarídeo extraído de algas marinhas. O ágar é dissolvido em

água fervente e gelificado na presença de cátions quando esfriado. Caso seja

esterilizado num pH abaixo de 4,5, ocorre a hidrólise do ágar que o impede de

polimerizar-se ao esfriar. A concentração de ágar utilizada definirá a

consistência do meio. Altas concentrações de ágar (resultando em meios muito

consistentes) podem limitar a difusão de nutrientes até o explante

(ROMBERGER & TABOR, 1971 apud TORRES et al., 1998).

4.10.8 O pH e Outras Características dos Meios

O ácido clorídrico (HCl) e o hidróxido de sódio (NaOH) são comumente

utilizados na correção do pH dos meios de cultura. Em geral, o pH é ajustado

para valores entre 5 e 6. Os efeitos do pH podem ser diretos ou indiretos. Ele

influi na utilização do amônio como fonte de nitrogênio nas células vegetais,

onde valores de pH mais baixos (ácidos) dificultam a utilização do amônio ao

passo que valores mais altos de pH diminuem a utilização do nitrato. Durante o

crescimento das células, o pH do meio se altera à medida que diferentes íons

são absorvidos pelas células e os produtos metabólicos são excretados para o

meio. O processo de esterilização em autoclave em si altera o pH dos meios

nutritivos, fazendo-o baixar ligeiramente (TORRES et al., 1998).

4.11 Fitormônios e Reguladores de Crescimento

Os fitormônios são sintetizados em partes específicas da planta e então

translocados para outras partes, onde, em pequenas concentrações causam

resposta fisiológica que pode ser tanto de promoção quanto de inibição dos

processos de crescimento e diferenciação. Por outro lado, os reguladores de

crescimento são substâncias sintéticas que ao serem aplicados nas plantas,

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produzem efeitos semelhantes aos dos hormônios. Desse modo, os

reguladores de crescimento podem ou não serem análogos químicos dos

fitormônios (TOMBOLATO, A. F. C. & COSTA, A. M. M., 1998).

De acordo com TERMIGNONI, R. R., 2005:

Como fitormônios caracterizam-se todos os compostos

sintetizados em pequenas quantidades (nanogramas) em um

determinado tecido da planta, que atuarão nas células-alvo,

onde será exercida sua atividade biológica, causando resposta

fisiológica que alterará os padrões de desenvolvimento da

planta.

Os hormônios são uma classe de compostos químicos endógenos

facilmente transportados pelas células responsivas, onde estão diretamente

envolvidos com o controle da atividade gênica na transcrição e na tradução em

um grande número de processos. Supõe-se que as células responsivas

possuam receptores (a maior parte de origem protéica) que ao ligarem-se aos

hormônios iniciam a resposta na célula resultando em eventos bioquímicos e

fisiológicos (TORRES et al., 1999).

De acordo com TOMBOLATO, A. F. C. & COSTA, A. M. M., 1998, o

efeito de cada hormônio no processo de crescimento e desenvolvimento da

planta depende da espécie de planta utilizada, da parte da planta em que é

aplicado, do estágio de desenvolvimento da planta, do estágio de

desenvolvimento do tecido, da concentração hormonal utilizada, da interação

entre os hormônios e de diversos fatores ambientais.

A sensibilidade diferencial do tecido e a concentração hormonal utilizada

interferem diretamente no mecanismo de ação do hormônio. Para que ocorra,

de fato, alguma resposta fisiológica, o hormônio deve estar presente na célula

correta, além de reconhecer e se ligar ao grupo de células que respondem ao

mesmo (receptores protéicos) e ainda tal ligação (hormônio-receptor protéico)

deve desencadear mudanças metabólicas que amplifiquem o sinal do

hormônio. Desse modo, diferentes partes das plantas podem responder

diferentemente a um determinado hormônio (TOMBOLATO, A. F. C. & COSTA,

A. M. M., 1998).

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Nos meios de cultura utilizados nos cultivos in vitro, os componentes

fundamentais, na maioria dos casos, são os reguladores de crescimento. O

tecido utilizado como explante e a espécie em estudo definirão a concentração

e o(s) tipo(s) de regulador(es) de crescimento a ser(em) utilizado(s). É preciso

ressaltar que em cada etapa do cultivo in vitro (explante, calo, broto ou raiz), é

necessário um meio de cultura com concentração hormonal diferenciada

(TOMBOLATO, A. F. C. & COSTA, A. M. M., 1998).

Para TOMBOLATO, A. F. C. & COSTA, A. M. M., 1998:

A atividade do fitormônio vai depender da sua concentração e

estabilidade no meio de cultura durante a preparação e

esterilização do meio e, também, da translocação e

metabolismo dos fitormônios nos tecidos durante o período de

cultivo. In vitro, o balanço hormonal do meio de cultura é

determinante para o sucesso no processo de regeneração de

plantas.

Os reguladores de crescimento, portanto, são análogos sintéticos dos

fitormônios (ou seja, possuem a mesma função), entretanto, são sintetizados

em laboratório e não pela planta (TERMIGNONI, R. R., 2005).

“A composição e concentração de hormônios no meio são fatores

determinantes no crescimento e no padrão de desenvolvimento na maioria dos

sistemas de cultura de tecidos” (TORRES et al., 1999).

YEOMAN (1970) apud TORRES et al. (1999) considerou que o

crescimento de calo em diferentes espécies pode ser independente de auxina e

citocinina, dependente de auxina ou de citocinina ou ainda dependente de

ambas. Desse modo, certos tecidos mostram uma dependência total da

presença de reguladores exógenos no meio, enquanto outros sintetizam as

quantidades que necessitam.

4.11.1 Auxinas

As auxinas promovem, geralmente em combinação com as citocininas, o

crescimento de calos, suspensões celulares e órgãos além de regular a

morfogênese. A palavra ‘auxina’ tem origem grega e significa alargamento ou

crescimento. A nível celular, as auxinas controlam processos básicos como a

divisão e o alongamento celulares. Como são capazes de iniciar a divisão e o

alongamento celulares, estão envolvidas na formação do tecido meristemático.

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Também estão envolvidas, em tecidos organizados, no estabelecimento e na

manutenção da polaridade e na maioria das espécies na manutenção da

dominância apical. A escolha da concentração de auxina a ser utilizada

depende: do tipo de crescimento e/ou desenvolvimento desejado, do transporte

da auxina utilizada até o tecido alvo, da taxa de inativação da auxina no meio

de cultura e no explante, do nível natural de auxina presente no explante, da

sensibilidade do explante à auxina e da interação entre as auxinas e os demais

hormônios vegetais presentes no meio de cultura (GEORGE et al., 2008).

Trata-se de um grupo hormonal sintetizado nas plantas em regiões de

crescimento ativo (como o meristema apical, as gemas axilares e as folhas

jovens), sendo, posteriormente, translocado para diferentes órgãos, onde

atuam no mecanismo interno que controla o crescimento. As auxinas

promovem crescimento do caule, folhas e raízes, além de serem responsáveis

pela dominância apical, importante condição a ser considerada nos cultivos in

vitro. Esse grupo hormonal também promove o desenvolvimento de raízes

adventícias no caule. Por isso são utilizadas na prática de reprodução

assexuada de muitas espécies, pois desse modo as características genéticas

de interesse comercial são mantidas. Para estimular a multiplicação em meio

de cultura, a auxina mais utilizada é o ácido alfa-naftaleno acético (ANA),

seguido do AIB (ácido indol-3-butírico) e do AIA (ácido 3-indol acético). As

concentrações utilizadas de ANA e AIB são geralmente abaixo de 0,5 mg/l (em

relação ao volume do meio de cultura) ao passo que as concentrações de AIA,

por ser menos estável em cultura tendem a ser superiores. Concentrações

altas de auxina podem estimular o enraizamento e a formação de calos em

detrimento da multiplicação (TOMBOLATO, A. F. C. & COSTA, A. M. M., 1998).

O 2,4-D (2,4-diclorofenoxiacético) é uma auxina comumente utilizada

para a indução de calos. Em muitas espécies, a expressão da totipotência das

células competentes inicia-se ao se cultivar o explante em meios de cultura

com concentrações relativamente elevadas de 2,4-D (TORRES et al., 1999).

As várias auxinas utilizadas nos cultivos in vitro (tais como AIA, AIB, 2,4-

D, dentre outras) resultam em respostas diferentes. O AIA, por exemplo, é

considerado uma auxina instável, que se degrada facilmente pela luz ou pela

atividade microbiana, que o transforma em triptofano. Essa instabilidade o torna

uma auxina relativamente fraca quando comparada ao 2,4-D (TORRES et al.,

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1999). REINERT & WHITE (1956) apud TORRES et al. (1999) observaram

maior crescimento de calo normal e tumoroso em meio suplementado com 2,4-

D (na concentração de 0,05 mg/l) do que com ANA (na mesma concentração).

4.11.2 Citocininas

Este grupo hormonal é formado por substâncias reguladoras de

crescimento que causam divisão celular nas plantas. As citocininas promovem

divisão, alongamento e diferenciação celular, retardam a senescência das

plantas, promovem a quebra da dominância apical (enquanto as auxinas

induzem à dominância apical) e causam a proliferação de gemas axilares. As

citocininas são fundamentais para a multiplicação da parte aérea e para a

indução de gemas adventícias. A concentração e o tipo de citocinina são os

fatores que mais influenciam a multiplicação in vitro. A benzilaminopurina,

conhecida como BAP, é a citocinina mais utilizada, seguida da cinetina (KIN).

Essas citocininas têm sido empregadas na maioria dos experimentos, mas para

determinadas espécies de plantas, outras citocininas podem ser mais

eficientes. Para multiplicação em meio de cultura, as concentrações utilizadas

variam, geralmente, de 0,1 a 5,0 mg/l (TOMBOLATO, A. F. C. & COSTA, A. M.

M., 1998).

Um fator de vital importância quando se trata do cultivo in vitro é o

balanço hormonal entre citocinina e auxina no controle da morfogênese e

formação de órgãos. Na ausência de raízes adventícias, por exemplo, deve-se

aumentar a concentração de auxina e diminuir a de citocinina. Por outro lado,

se o objetivo for aumentar a formação de parte aérea, deve-se aumentar a

concentração de citocinina e diminuir a de auxina. Entretanto, se o objetivo for

a formação de parte aérea e de raízes, deve-se investigar o melhor balanço

entre esses dois hormônios. Tal balanço varia de acordo com a espécie e para

seu conhecimento, experimentos são necessários para o desenvolvimento do

protocolo correto. Contudo, deve-se estar atento às concentrações utilizadas,

pois o excesso de citocinina pode causar vitrificação nas plantas cultivadas in

vitro. Concentrações iguais promovem, em geral, a produção de calos

(TOMBOLATO, A. F. C. & COSTA, A. M. M., 1998).

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4.11.3 Giberelinas

Tratam-se de substâncias promotoras de crescimento, cujos efeitos

podem ou não ser semelhantes aos da auxina. Contudo, uma das principais

diferenças entre esses dois grupos de hormônios é que as giberelinas possuem

maior efeito quando aplicadas em plantas intactas ao passo que as auxinas

têm efeito maior quando aplicadas em segmentos de plantas. Além dos fatores

citados, as giberelinas promovem a germinação e a quebra de dormência de

diversas espécies. O GA₃ (ácido giberélico) tem sido utilizado in vitro para

estimular o alongamento da parte aérea da planta, contudo sua eficiência tem

sido baixa. A concentração hormonal utilizada, nesse caso, é em torno de 0,1

mg/l. Dezenas de tipos de giberelinas são conhecidas atualmente, havendo

uma grande especificidade entre o hormônio utilizado e a espécie vegetal em

estudo. Dessa forma, é necessário conhecer a efetividade de cada tipo de

giberelina para cada espécie de planta (TOMBOLATO, A. F. C. & COSTA, A.

M. M., 1998).

São conhecidos mais de cem tipos de giberelinas e aparentemente

nenhuma planta possui todos esses tipos. As giberelinas estão envolvidas em

diversas respostas de crescimento, dentre elas: promoção do alongamento

celular e da atividade meristemática. Em algumas plantas, os hormônios desse

grupo controlam o processo germinativo, a determinação sexual, o

desenvolvimento dos frutos e o controle juvenil. O ácido giberélico (em baixas

concentrações) pode se tornar um ingrediente indispensável nos meios de

cultura, dependendo da espécie vegetal em estudo. Quando adicionado a um

meio de cultura, freqüentemente produz efeitos similares aos das auxinas.

Embora o GA₃ iniba a formação de raízes adventícias e de meristemas a partir

de calos, pode favorecer o crescimento e desenvolvimento de tecidos

meristemáticos previamente formados. Uma baixa concentração de GA₃ é

geralmente adicionada aos meios de cultura destinados ao desenvolvimento

meristemático. Pode nem sempre ser benéfico e há resultados contraditórios

(GEORGE et al., 2008).

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4.11.4 Ácido Abscísico

O Ácido Abscísico (ABA) é o fitormônio que freqüentemente promove

respostas fisiológicas que ajudam a proteger as plantas de condições de

estresse (seja ele hídrico, salino ou devido a baixas temperaturas). Também

inibe o crescimento, estando associado à dormência de gemas e órgãos

subterrâneos. Induz o fechamento estomático, conferindo proteção contra o

déficit hídrico. Possui ainda efeito indireto na abscisão de folhas, flores e frutos

(TOMBOLATO, A. F. C. & COSTA, A. M. M., 1998).

4.12 Recuperação de Plantas Livres de Vírus

As doenças de natureza vegetal são causadas por fungos, bactérias e

vírus (ou ainda por nematóides). Medidas efetivas de controle químico são

aplicadas para a maior parte das doenças, exceto para aquelas causadas por

vírus. Em geral, esses patógenos não são transmitidos pela semente, mas

tendem a se acumular nas plantas propagadas vegetativamente. Diante da

falta de um produto químico (defensivo) capas de erradicar vírus de plantas

infectadas, a cultura de ápices caulinares vem sendo utilizada desde 1952 a fim

de obter material de multiplicação com alta qualidade fitossanitária (MOREL &

MARTIN, 1952 apud TORRES et al., 1998).

De acordo com KARTHA (1984) apud TORRES et al. (1998): “O sucesso

na eliminação de vírus por meio da cultura de ápices caulinares depende do

tipo de vírus, da relação vírus-hospedeira e, principalmente, do tamanho do

ápice excisado”. Em trabalho realizado por KARTHA & GAMBORG (1975) apud

TORRES et al. (1998), foi verificado que 60% dos explantes de mandioca

(Manihot esculenta) menores que 0,4 mm produziram plantas sadias, mas

nenhuma planta sadia foi obtida quando os explantes tinham tamanho superior

a 0,4 mm.

Há ainda a possibilidade de, paralelamente à cultura de meristemas,

realizar a termoterapia (tratamento por calor), aumentando a possibilidade de

eliminação de vírus (TORRES et al., 1998).

Alguns autores, como QUAK (1961) apud TORRES et al. (1998)

sugerem que as citocininas (como o BAP) e outros reguladores de crescimento

podem suprimir vírus de tecidos cultivados in vitro. Por outro lado, MILO &

SRIVASTAVA (1969) apud TORRES et al. (1998) notaram estímulo a

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multiplicação viral na presença das citocininas, de modo que diversos estudos

envolvendo espécies vegetais de interesse comercial são necessários para a

obtenção de conclusões precisas.

Conforme afirmação de TERMIGNONI, R. R. (2005), nos meristemas os

feixes vasculares ainda não estão formados e por conta disso, os vírus não

conseguem chegar a esses tecidos.

Sabe-se que para ocorrer uma infecção viral sistêmica, os vírus têm que

ter acesso livre ao sistema vascular da planta. Há várias evidências a favor da

hipótese de que o floema funciona como o veículo de transporte do vírus

através da planta, ao passo que o transporte intercelular ocorre via microcanais

com cerca de 3 nm de diâmetro, conhecidos como plasmodesmatas (NONO-

WOMDIM et al., 1993 apud TORRES et al., 1998). Desse modo, o ácido

nucléico do vírus é demasiadamente grande para passar por esses

microcanais, consistindo uma barreira física para a infestação. Contudo, hoje

se sabe que muitos vírus de plantas desenvolveram mecanismos para

contornar essa situação visando atingir o sistema vascular da planta. Tais vírus

codificam proteínas de movimento com a capacidade de aumentar o tamanho

molecular dos plasmodesmatas (GILBERTSON & LUCAS, 1996 apud TORRES

et al., 1998).

Para QUAK (1997) apud TORRES et al. (1998): “Provavelmente todas

as espécies propagadas vegetativamente estão infectadas com um ou mais

vírus, principalmente os latentes que são difíceis de serem detectados pela

sintomatologia visual. O controle químico desses agentes de infecção é

praticamente impossível”.

Assim, a cultura de ápices caulinares é uma estratégia para o

estabelecimento de estoques de plantas matrizes livres de vírus, considerando-

se que a concentração desse patógeno distribui-se de modo desuniforme na

planta infectada e é mínima ou nula nos meristemas e ápices caulinares

(TORRES et al., 1998). A estratégia consiste em reproduzir, in vitro, plantas a

partir de tecidos supostamente livres de vírus (MURASHIGE, 1974 apud

TORRES et al., 1998).

De acordo com STONE (1978) apud TORRES et al. (1998):

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Basicamente, a metodologia consiste na excisão da cúpula

meristemática apical com um ou dois primórdios foliares (onde

ainda não se observa conexão vascular com os tecidos da

planta), podendo ser cultivada em meio nutritivo adequado para

diferenciação e desenvolvimento dos sistemas caulinar e

radicular. Várias hipóteses foram utilizadas para explicar a

eliminação de vírus via cultura de ápices caulinares.

Provavelmente, há um ou mais mecanismos de inativação

operando nas células meristemáticas em cultura, os quais

eliminam vírus dos tecidos infectados.

Também tem sido sugerido que eliminação do vírus é decorrente da

modificação metabólica que ocorre diante da injúria causada aos tecidos no

processo de excisão do explante (MELLOR & STACE-SMITH, 1977 apud

TORRES et al., 1998).

Dentre os fatores importantes na recuperação de plantas livres de vírus,

destacam-se: as condições de desenvolvimento da planta-matriz, o tipo e o

tamanho do explante, o estiolamento (ocorre quando a planta desenvolvida no

escuro não forma clorofila, permanecendo as folhas pequenas e rudimentares,

com grande alongamento do ápice, de modo que a replicação ou

movimentação viral não acompanha tal alongamento), a quebra da dominância

apical (a dominância apical inibe o crescimento de gemas laterais e sua

remoção favorece o desenvolvimento de tais gemas que, ao serem utilizadas

como explantes, conferem maior probabilidade de se obter propágulos livres de

vírus), a influência sazonal, a execução ou não de tratamentos físicos ou

químicos (tais como a termoterapia ou a quimioterapia), o meio de cultura e as

condições de cultura (TORRES et al., 1998).

Na tentativa de obter plantas livres de patógenos (sobretudo os vírus), a

micropropagação especializou-se e adaptou os procedimentos gerais de

cultura com assepsia e técnicas de cultura de meristema apical e broto apical.

Não há dúvidas de que plantas cultivadas infectadas por patógenos diversos

apresentam menor produção, qualidade e vigor quando comparadas a plantas

sadias. Os vírus são patógenos peculiares porque sua grande maioria infecta

as plantas de maneira sistêmica. Desse modo, métodos mais especializados

para se conseguir a eliminação das infecções virais são necessários. Tais

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métodos constituem-se na regeneração de plantas a partir de culturas de

pequenos brotos apicais em desenvolvimento, como os meristemas apicais,

menores ou iguais a 0,2 mm contendo de um a três primórdios foliares

(MANTELL et al., 1994).

Depois de realizadas as etapas iniciais, o teste de patogenicidade é um

componente essencial para a produção de plantas livres de vírus. Como esses

patógenos são observáveis apenas à microscopia eletrônica, o

aperfeiçoamento de técnicas, como o teste ELISA, tornaram possível a

detecção precoce e sensível de infecções causadas por vírus. Plantas

indexadoras (que respondem fisiologicamente quando infectadas com vírus de

plantas de interesse comercial) também vêm sendo utilizadas, mas o alto grau

de especificidade exigido reduz o uso dessa técnica (MANTELL et al., 1994).

De acordo com WALKEY (1978) apud MANTELL et al., (1994): “A

cultura de meristema apical, com ou sem tratamento pelo calor, foi usada para

a eliminação de vírus para cerca de trinta espécies e os benefícios da mesma

são bem reconhecidos”.

Para PINTO & LAMEIRA (2001): “Os meristemas formam a única parte

da planta não infectada por vírus. Assim sendo a cultura do meristema

propriamente dito, acompanhado de dois primórdios foliares, permite a

regeneração de plantas isentas de viroses”. Por conta desse aspecto, a cultura

de meristemas é a principal aplicação da cultura de tecidos em plantas, no

caso daquelas que se propagam vegetativamente e, que a cada geração de

propagação vegetativa há um agravamento das viroses, culminando em

acentuada redução na produtividade. O morango e a batata são os exemplos

mais notáveis do uso da cultura de meristemas, onde o morango apresentou

uma produtividade de quatro a sete vezes maior, apenas com o uso dessa

técnica, que também viabilizou tubérculos de batata isentos de viroses. No

caso específico de Citrus, algumas viroses têm sido eliminadas procedendo-se

à microenxertia (PINTO & LAMEIRA, 2001).

De acordo com QUAK (1961) apud TORRES et al., 1998: “Desde que os

hormônios vegetais começaram a fazer parte dos meios nutritivos, tem sido

sugerido que citocininas e outros reguladores de crescimento podem suprimir

vírus de tecidos cultivados in vitro”. Por outro lado, outros estudos verificaram

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estímulo à multiplicação virótica na presença dos reguladores de crescimento

utilizados no cultivo in vitro (TORRES et al., 1998).

Na citricultura, especificamente, a microenxertia tem sido utilizada para

eliminação de alguns vírus. Essa técnica combina o método padrão de enxertia

com a cultura de meristemas e tem eliminado diversos vírus como exocorte,

tristeza, sorose e xiliporose de plantas cítricas contaminadas (NAVARRO et al.,

1975 apud TORRES et al., 1998).

O sucesso da cultura de meristema apical depende de vários fatores.

Um dos mais importantes é a distribuição relativa dos vírus no ápice em

desenvolvimento das plantas doadoras. O fato de alguns vírus serem mais

resistentes do que outros remete às suas taxas relativas de duplicação em

tecidos com atividades de crescimento e nos quais ocorre uma alta atividade

meristemática. Alguns vírus encontram-se presentes na extremidade de um

broto em crescimento, dificultando ou impedindo seu isolamento. Portanto, o

tipo de infecção viral determinará o tamanho do meristema que deve ser usado,

antes que uma erradicação completa do vírus seja possível (MANTELL et al.,

1994).

4.13 Microenxertia

A técnica da microenxertia consiste em microenxertar (em condições

assépticas) um ápice caulinar, contendo de dois a três primórdios foliares,

excisado de uma planta matriz, sobre um porta-enxerto estabelecido in vitro (a

partir da semente da planta-mãe). Em seguida, decapta-se o porta-enxerto e

faz-se uma excisão em ‘T’ invertido em seu topo, onde é introduzido o

microenxerto (TORRES et al., 1998).

Trata-se de uma técnica descrita pela primeira vez por MURASHIGE et

al. (1972), recuperando plantas cítricas livres de exocorte e mantendo as suas

características adultas, fator essencial do ponto de vista comercial. Através de

inúmeros experimentos, essa técnica foi aperfeiçoada e tornou-se eficiente na

obtenção de plantas cítricas livres de vírus (NAVARRO et al., 1975 apud

TORRES et al., 1998). Todavia, diversos profissionais da área consideram

essa técnica inviável na produção em ampla escala de mudas cítricas, pois

consideram o índice de “pega” da enxertia demasiadamente baixo.

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A microenxertia envolve quatro etapas principais, sendo essas: a

obtenção do porta-enxerto, a preparação e a obtenção do enxerto, a

microenxertia propriamente dita e o transplante da plântula microenxertada

(TORRES et al., 1998).

Os pesquisadores têm obtido grande sucesso na utilização da técnica da

microenxertia em diversas espécies herbáceas. Contudo, no caso das frutíferas

essa metodologia possui limitações, pois geralmente essas espécies

apresentam dificuldade de regeneração a partir de ápices caulinares. (HUANG

et al., 1990 apud TORRES et al., 1998).

De acordo com TORRES et al., 1998:

O sucesso na utilização da microenxertia para obtenção de

material propagativo livre de doenças depende de uma série de

fatores, dentre os quais os mais importantes são: Condições de

incubação do microporta-enxerto – A incubação no escuro é

indispensável para obtenção do tecido tenro e estiolado, de

modo que facilite as etapas subseqüentes; Idade do

microporta-enxerto – Com quinze dias de idade os microporta-

enxertos propiciam uma taxa de pegamento de 50%.

Outro fator essencial no sucesso da microenxertia (bem como na cultura

de meristemas) é o tamanho do explante. Para TORRES et al., 1998:

O sucesso da microenxertia é altamente dependente do

tamanho do explante. O ápice caulinar excisado com o

tamanho de 0,05 mm apresenta uma taxa de sucesso

relativamente baixa, cerca de 2%, ao passo que o ápice

caulinar, com seis primórdios foliares, apresenta uma taxa de

sucesso mais elevada, em torno de 50%. Contudo, quanto

maior o tamanho do explante, menor será a taxa de obtenção

de plântulas livres de vírus. Dessa forma, o ápice caulinar

acompanhado de dois primórdios foliares, medindo

aproximadamente 0,15 mm, é o ideal para a obtenção de

plantas microenxertadas livres de vírus.

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Ressalta-se ainda que a habilidade manual do profissional que realiza

tanto a excisão em ‘T’ invertido quanto o corte do ápice caulinar (em geral sob

lupa ou microscópio) deve ser precisa e ágil, para facilitar a aderência e evitar o

ressecamento dos tecidos (TORRES et al., 1998).

Depois de realizada a microenxertia e obtida a planta dela resultante, é

necessário que seja implementado um sistema de indexação que permita

identificar os vírus presentes na planta matriz através do uso de plantas

indicadoras (TORRES et al., 1998).

5 FORMULAÇÃO DO PROBLEMA

O presente trabalho é parte de um projeto maior que envolve desde a

coleta, isolamento, assepsia e inoculação dos ápices caulinares em diversos

meios de cultura para que enfim se obtenha a limpeza de vírus em plantas

cítricas e que investiga e questiona se:

A taxa de sobrevivência e o desenvolvimento dos ápices caulinares são

os mesmos para os diferentes meios de cultura (com reguladores de

crescimento distintos e em concentrações diversas)?

Considerando-se a etapa que envolve a organogênese indireta, o

desenvolvimento de calo é igual dentre os diferentes meios de cultura?

6 HIPÓTESE

Acredita-se, com base na revisão bibliográfica realizada que os ápices

caulinares responderão de maneira distinta, de acordo com os reguladores de

crescimento utilizados. A interação entre os fito-reguladores e a concentração

dos mesmos nos meios de cultura pode prejudicar, favorecer ou até mesmo

não interferir no desenvolvimento e na sobrevivência dos explantes (ápices

caulinares).

Da mesma maneira, acredita-se que o desenvolvimento de calos deverá

apresentar diferentes respostas morfogenéticas, conforme a composição do

meio de cultura.

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7. DESCRIÇÃO DA EMPRESA

A EPAGRI - Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de

Santa Catarina S/A – foi criada em 1991, no bojo de uma profunda reforma

administrativa promovida pelo governo estadual no Serviço Público Agrícola,

que fundiu e incorporou numa só instituição os serviços de pesquisa

agropecuária até então desenvolvidos pela EMPASC – Empresa Catarinense

de Pesquisa Agropecuária S.A., de extensão rural pela ACARESC –

Associação de Crédito e Assistência Rural de Santa Catarina, de extensão

pesqueira pela ACARPESC - Associação de Crédito e Assistência Pesqueira

de Santa Catarina, além do serviço de fomento apícola, à cargo do IASC –

Instituto de Apicultura de Santa Catarina. Em 22 de junho de 2005, a EPAGRI

incorporou o Instituto de Planejamento e Economia Agrícola de Santa Catarina

- Instituto Cepa/SC. Na mesma data, a Assembléia de Acionistas aprovou a

transformação da EPAGRI em empresa pública.

A empresa tem como missão “difundir o conhecimento, a tecnologia e a

extensão para o desenvolvimento sustentável do meio rural, em benefício da

sociedade”. Procura ainda “promover a preservação, recuperação,

conservação e utilização sustentável dos recursos naturais, buscar a

competitividade da agricultura catarinense frente a mercados globalizados,

adequando os produtos às exigências dos consumidores e promover a

melhoria da qualidade de vida do meio rural e pesqueiro”.

Quanto à Estação Experimental de Itajaí – EEI (figuras 08 e 09), local

onde foi realizado o estágio de conclusão de curso, suas bases foram lançadas

em 1975, antes mesmo de ser oficialmente criada a EMPASC. Em 16 de maio

de 1975, o Eng. Agr. José Oscar Kurtz, representando a EMBRAPA, nomeou a

comissão que se encarregaria de estudar e propor possíveis áreas (na Região

do Vale do Itajaí) para a “instalação de uma Unidade Executiva de Pesquisa de

Âmbito Estadual, destinada ao estudo das culturas de arroz, cana-de-açúcar,

mandioca, forrageiras e fruticultura de clima tropical“.

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Fig. 08 – Portão principal da EEI. Fig. 09 – Lab. de Biotecnologia da EEI.

Após a aquisição de uma área de 121,57 ha, as margens da Rodovia

Antônio Heil km 6 (Latitude 26° 57‘ 57s Sul, Longitude 48° 48‘ 01s, altitude 2m),

foi nomeado como primeiro chefe da Estação o Eng. Agr. Sylvio Ferraz de

Araujo (Portaria EMPASC n° 5A de 1/4/1976).

Em 1976, a chefia e administração da EEI localizavam-se numa casa na

Rua Lauro Müller 1067, em Itajaí (SC), enquanto as atividades de pesquisa

eram desenvolvidas já na área da EEI.

Em 16/11/1979 deu-se início as atividades de construção da atual sede

da EEI, que seria concluída em Fevereiro de 1981, comportando

administração, escritórios dos pesquisadores, biblioteca, laboratórios e

auditório. Em 1991, após a incorporação da ACARESC, EMPASC, ACARPESC

e IASC pela EMPASC, a EEI manteve suas funções de pesquisa e geração de

tecnologia na nova instituição (EPAGRI), porém suas dependências passaram

também doravante a abrigar técnicos e pessoal administrativo ligado à

extensão rural.

Atualmente a EEI conta com um corpo técnico composto por 35

pesquisadores (17 doutores, 17 mestres e 01 graduado), 46 funcionários de

apoio operacional e 12 funcionários de apoio técnico. As atividades de

pesquisa da EEI têm gerado centenas de publicações técnicas e científicas,

sendo reconhecida nacional e internacionalmente a excelência desta unidade

da EPAGRI.

Desenvolvem-se na EEI atividades de pesquisa, difusão de tecnologia, e

formação de recursos humanos. Atualmente a estação executa um terço das

atividades de pesquisa científica da EPAGRI.

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As atividades da estação não se limitam às circunvizinhanças do Vale do

Itajaí, mas estendem-se principalmente desde o sul do Estado, até o litoral

Norte e Alto Vale do Itajaí. Vinculado à EEI existe também o CEPC (Campo

Experimental de Piscicultura – Camboriú - SC), que desenvolve trabalhos de

pesquisa com piscicultura.

Ressalta-se que além do aspecto inerente à Pesquisa Agropecuária, o

corpo técnico da EEI tem se empenhado na difusão de tecnologia, ministrando

cursos profissionalizantes e palestras a agricultores e estudantes. Importante

papel também é desempenhado pelos técnicos da estação no ensino

(formação de estudantes do ensino fundamental, médio e superior), seja pela

visita de mais de mil alunos anualmente, seja por propiciar ambiente altamente

favorável ao desenvolvimento de estágios e trabalhos de pesquisa para

acadêmicos de diversos cursos superiores.

A EEI mantém estreito vínculo de trabalho com diversas instituições,

empresas e universidades do setor público e privado com as quais desenvolve

projetos e trabalhos conjuntos.

A Estação Experimental de Itajaí possui uma série de laboratórios que

servem de apoio à pesquisa e também atual na prestação de serviços:

• Laboratório de biologia molecular

• Laboratório de Beauveria

• Laboratório de plantas bioativas

• Laboratório de biotecnologia

• Laboratório de análise de água

• Laboratório de cultura de tecidos vegetais (LCTV)

• Laboratório de entomologia

• Laboratório de fitopatologia

• Laboratório de sementes florestais

• Laboratório de piscicultura

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8. ATIVIDADES DESENVOLVIDAS

As atividades desenvolvidas sob a supervisão do Dr. Gilmar Roberto

Zaffari foram:

§ Apresentação da EEI ao estagiário;

§ Palestra sobre cultura de tecidos vegetais com o supervisor do estágio;

§ Preparo de meio de cultura;

§ Coleta - preparo e assepsia dos explantes de espécies de interesse

econômico;

§ Técnicas de cultivo in vitro de meristemas, ápices caulinares, gemas,

segmentos nodais, raízes e folhas;

§ Repicagem de material in vitro;

§ Instalação de experimento e avaliação – Melhoria genética e sanitária

das mudas cítricas produzidas em Santa Catarina - limpeza de vírus em

cultivar cítrica de interesse comercial (Baía-Catarina);

§ Conservação de germoplasma in vitro;

§ Limpeza clonal de material vegetal (viroses);

§ Aclimatização - transferência de plântulas in vitro para ex vitro (solo);

§ Preparo de substrato e cuidados com as mudas em telado;

§ Discussão geral sobre cultura de tecidos vegetais e sobre o estágio;

§ Revisão de literatura.

8.1 ATIVIDADES INICIAIS

Durante o período de estágio foram acompanhadas as atividades

realizadas pelos técnicos do Laboratório de Biotecnologia com vistas à

ambientação e conhecimento sobre os procedimentos e protocolos padrões.

No dia 01/09/2010 pôde-se acompanhar a obtenção de explantes de

Anthurium sp., bem como a assepsia do material, lavado com água e

detergente (Tween®), seguido de assepsia com etanol e hipoclorito de sódio

0,5%. O objetivo desse experimento era o de estabelecer o protocolo ideal para

assepsia do material. Para isso, diferentes concentrações de hipoclorito de

sódio foram utilizadas e o tempo no qual o material foi mantido nessas

soluções de hipoclorito também foi uma das variáveis avaliadas.

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Sob câmara de fluxo laminar (CFL) o material foi inoculado em meio de

cultura MS, respeitando-se a polaridade na qual o explante foliar encontrava-se

originalmente. Um procedimento notável adotado pelo laboratório é a utilização,

como base para preparo do material a ser inoculado, de papéis reaproveitados

e esterilizados na autoclave dentro de placas metálicas, ao passo que a maior

parte dos laboratórios utiliza placas de petri esterilizadas ou esteriliza uma

superfície de vidro com o auxílio de etanol e fogo. Esse procedimento mostrou-

se bastante prático e eficiente.

Fig. 10 – Técnicos do laboratório de biotecnologia da EPAGRI realizando assepsia do

material vegetal sob a câmara de fluxo laminar.

Nesse mesmo dia foi observada a reciclagem do álcool 90% para álcool

70% e o correto descarte do material, sendo o álcool e o mercúrio

armazenados em recipientes distintos e em seguida levados a uma

universidade local para correto descarte. Foi observada a maneira com que os

técnicos repicaram Manihot esculenta, espécie com grande capacidade de

multiplicação, cultivadas via organogênese direta. Também houve repicagem

de capim-limão e de Dyckia encholirioides. Pôde-se ainda acompanhar os

técnicos do laboratório realizando a avaliação das espécies mantidas na sala

de crescimento. Os frascos contendo o material vegetal são fotografados e os

resultados observados anotados em uma planilha.

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No dia 03/09/2010 houve continuação na repicagem de Anthurium e

foram acompanhados procedimentos rotineiros do laboratório de biotecnologia,

tais como: lavagem da vidraria e esterilização do material a ser utilizado sob a

CFL. Um procedimento importante acompanhado nesse dia foi o preparo

inicial de Raphis (gênero de palmeira ornamental), onde o material vegetal foi

coletado a campo e foram realizados diversos tratamentos, pois o objetivo era

definir a assepsia mais eficiente a ser aplicada nos propágulos coletados

(figura 10). Foram no total cinco tratamentos, com variação no tempo de

exposição aos seguintes agentes químicos: etanol, hipoclorito de sódio e

cloreto de mercúrio. Em seguida o material foi inoculado em meio de cultura

MS. Também foi preparado nesse dia o meio de cultura Knudson com carvão

ativado. Meios de cultura com carvão ativado favorecem o enraizamento de

certas espécies devido à coloração escura.

Fig. 11 – Avaliação aos 14 dias dos ápices caulinares cítricos inoculados

pela equipe do laboratório de biotecnologia.

No dia 08/09/2010, após o feriado prolongado de 07/09/2010 foi

assistida uma palestra ministrada pelo supervisor de estágio, Professor/Doutor

Gilmar Roberto Zaffari, na qual abordou assuntos pertinentes à Cultura de

Tecidos, Cultivo in vitro e fisiologia vegetal. No dia seguinte, ocorreu a

avaliação dos ápices caulinares de Citrus (figura 11), inoculados pela equipe do

laboratório na semana anterior. Além disso, foi acompanhado o preparo do

meio de cultura Pierik 3 e manipulado material vegetal sob a CFL pela primeira

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vez naquele laboratório, efetuando-se a repicagem de uma espécie de

samambaia (mantida em meio de cultura sólido) e de Aechmea ornata (mantida

em meio de cultura líquido). No dia 10/09/2010 a equipe do laboratório

mobilizou-se a preparar meio de cultura MS 50% em grande quantidade,

destinado a um projeto do setor de fruticultura da EPAGRI e em seguida

dedicou-se à leitura de diversos artigos científicos fornecidos pelo supervisor

de estágio.

8.2 INOCULAÇÃO SOB A CÂMARA DE FLUXO LAMINAR

Na semana seguinte, do dia 13/09/2010 ao dia 17/09/2010 foi

acompanhada a forma com que os técnicos efetuam a repicagem de Musa sp.

(cultivar Grand Naine) sob a CFL e em seguida passou-se a efetuar a

repicagem diariamente, orientado pelos técnicos e pelo supervisor de estágio.

Todo o material repicado foi inoculado no meio de cultura MS 50% preparado

na semana anterior. Já nos dias 20 e 21/09/2010 houve continuidade na

repicagem de Musa sp., porém da cultivar IAC 2001. No dia seguinte houve o

preparo do meio de cultura Knudson para inoculação da planta ornamental

Alstroemeria spp. Na ausência dos rizomas da planta, utilizados como

explantes, o laboratório visa induzir calos nas flores e folhas da planta para

então induzir à formação dos rizomas.

8.3 PLANEJAMENTO DO EXPERIMENTO

No dia 24/09/2010, a campo, na coleção de plantas cítricas da EEI

(figura 12), buscou-se indivíduos que estivessem emitindo brotações foliares

para isolamento dos ápices caulinares a fim de aprimorar suas técnicas para

futuro isolamento do material a ser utilizado no experimento do Trabalho de

Conclusão de Curso. Como nenhuma variedade comercial estava, naquele

momento, emitindo brotações foliares, o estagiário coletou ápices caulinares da

cerca viva do banco de germoplasma da EEI, a cultivar cítrica “Flying Dragon”

(figura 13).

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Fig. 12 – Coleção de plantas cítricas da EEI.

Fig. 13 – Cerca viva da variedade Flying Dragon (coleção da EEI).

Diversos ápices caulinares foram isolados à lupa com o auxílio de um

bisturi com lâmina fina e de uma pinça.

Na semana seguinte, precisamente no dia 27/09/2010, houve uma

reunião com o Dr. Zaffari para planejar detalhadamente o experimento a ser

realizado. Decidiu-se que o primeiro passo seria a definição dos meios de

cultura a serem preparados e em seguida o preparo em si desses meios de

cultura, pelo acadêmico. O supervisor de estágio definiu as seguintes

concentrações (em mg/l) hormonais para os meios destinados à organogênese

direta: BAP [0,0], [0,5], [1,0]; ANA [0,0], [0,5], [1,0] e GA₃ [0,0], [0,25], [0,5].

Para a organogênese indireta foram definidos os seguintes hormônios e

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concentrações: 2,4-D [0,0], [0,5], [1,0], [2,0]; ANA [0,0], [1,0], [2,0] e BAP [1,0],

[2,0]. Após uma análise combinatória, foram definidos 27 tipos de meio de

cultura destinados à organogênese direta e 24 tipos de meio de cultura

destinados à organogênese indireta (tabela 01). A base de todos os meios de

cultura foi o meio MS.

Tabela 01 – Meios de cultura preparados e seus respectivos constituintes.

Código Código1 28 MS + [1,00] BAP2 29 MS + [2,00] BAP3 30 MS + [1,00] ANA + [1,00] BAP4 31 MS + [1,00] ANA + [2,00] BAP5 32 MS + [2,00] ANA + [1,00] BAP6 33 MS + [2,00] ANA + [2,00] BAP7 34 MS + [0,5] 2,4-D + [1,00] BAP8 35 MS + [0,5] 2,4-D + [2,00] BAP9 36 MS + [0,5] 2,4-D + [1,00] ANA + [1,00] BAP

10 37 MS + [0,5] 2,4-D + [1,00] ANA + [2,00] BAP11 38 MS + [0,5] 2,4-D + [2,00] ANA + [1,00] BAP12 39 MS + [0,5] 2,4-D + [2,00] ANA + [2,00] BAP13 40 MS + [1,00] 2,4-D + [1,00] BAP14 41 MS + [1,00] 2,4-D + [2,00] BAP15 42 MS + [1,00] 2,4-D + [1,00] ANA + [1,00] BAP16 43 MS + [1,00] 2,4-D + [1,00] ANA + [2,00] BAP17 44 MS + [1,00] 2,4-D + [2,00] ANA + [1,00] BAP18 45 MS + [1,00] 2,4-D + [2,00] ANA + [2,00] BAP19 46 MS + [2,00] 2,4-D + [1,00] BAP20 47 MS + [2,00] 2,4-D + [2,00] BAP21 48 MS + [2,00] 2,4-D + [1,00] ANA + [1,00] BAP22 49 MS + [2,00] 2,4-D + [1,00] ANA + [2,00] BAP23 50 MS + [2,00] 2,4-D + [2,00] ANA + [1,00] BAP24 51 MS + [2,00] 2,4-D + [2,00] ANA + [2,00] BAP252627

COMPOSIÇÃO DO MEIO (mg/l)ORGANOGÊNESE INDIRETA

MS + [0,50] BAP + [0,50] ANA

MS + [1,00] BAPMS + [1,00] BAP + [0,25] GA3

MS + [0,50] ANAMS + [0,50] ANA + [0,25] GA3MS + [0,50] ANA + [0,50] GA3MS + [1,00] ANA

MS + [1,00] BAP + [1,00] ANA

MS + [0,50] BAP + [1,00] ANA

MS + [0,50] BAP + [0,50] ANA + [0,25] GA3

MS + [1,00] ANA + [0,25] GA3

MS + [1,00] BAP + [1,00] ANA + [0,50] GA3

MS + [1,00] BAP + [0,50] ANA + [0,25] GA3MS + [1,00] BAP + [0,50] ANA + [0,50] GA3

MS + [1,00] BAP + [1,00] ANA + [0,25] GA3

MS + [0,50] BAP + [0,50] ANA + [0,50] GA3

MS + [0,50] BAP + [1,00] ANA + [0,25] GA3

MS + [1,00] BAP + [0,50] GA3MS + [1,00] BAP + [0,50] ANA

MS + [0,50] BAP + [1,00] ANA + [0,50] GA3

ORGANOGÊNESE DIRETACOMPOSIÇÃO DO MEIO (mg/l)

MSMS + [0,25] GA3MS + [0,50] GA3

MS + [1,00] ANA + [0,50] GA3MS + [0,50] BAPMS + [0,50] BAP + [0,25] GA3MS + [0,50] BAP + [0,50] GA3

8.4 PREPARO DOS MEIOS DE CULTURA

No dia 28/09/2010 iniciou-se o preparo dos meios de cultura (figuras 14

a 18) para o experimento realizado, procedimento realizado até o dia

04/10/2010. No dia 06/10/2010 houve o planejamento da segunda etapa do

experimento juntamente ao Dr. Zaffari e ao Engº Quím. do laboratório, Dilnei

Souza Medeiros. Entretanto, apenas no dia 08/10/2010, a campo com o Dr.

Zaffari, o Engº Quím. Dilnei Souza Medeiros e o Dr. Osvino Leonardo Koller

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(responsável pela citricultura da EEI) verificou-se que as plantas encontravam-

se no estádio fenológico de floração/frutificação, não emitindo brotações

foliares, portanto. Diante disso, três procedimentos foram adotados na tentativa

de forçar as plantas de interesse comercial a emitirem brotações foliares:

adubação nitrogenada (com 600 g de uréia por planta), poda de ramos, raleio

químico com a pulverização de uma solução contendo ANA (ácido

naftalenoacético) na concentração de 0,5 mg/l, dissolvido em água com o

auxílio de NaOH (1 M).

Fig. 14 – Estagiário regulando o pH do meio de cultura.

Fig. 15 – Regulagem do pH do Fig. 16 – Material utilizado no meio de cultura 40. preparo dos meios de cultura.

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Fig. 17 – Soluções utilizadas no meio MS. Fig. 18 – Reguladores de crescimento utilizados.

8.5 COLETA, ISOLAMENTO, ASSEPSIA E INOCULAÇÃO DOS ÁPICES

CAULINARES

Fig. 19 – Laranjeiras da variedade Fig. 20 – Ápices caulinares

Baía-Catarina. em brotações novas.

Fig. 21 – Ápices caulinares da variedade cítrica Baía-Catarina.

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Após os procedimentos acima mencionados, somente no dia 18/10/2010

as três plantas cítricas da variedade ‘Baía-Catarina’ responderam à poda

emitindo diversas brotações foliares, sendo que o raleio químico não

apresentou resultados e a adubação nitrogenada provavelmente foi pouco

significativa, pois a maior parte do nitrogênio contido na uréia tende a evaporar,

devido à sua volatilidade. Desse modo, nesse mesmo dia ocorreu a coleta, o

isolamento à lupa, a assepsia sob a CFL e a inoculação (também sob a CFL)

dos ápices caulinares (com tamanho médio de 0,2 mm) daquela variedade nos

meios de cultura 01, 02 e 03. Até o dia 03/11/2010 houve continuidade na

coleta, isolamento, assepsia e inoculação dos ápices caulinares da variedade

‘Baía-Catarina’ em todos os tipos de meio de cultura preparados (tanto para a

organogênese direta quanto para a indireta).

Os ápices caulinares inoculados nos meios de cultura destinados à

organogênese direta foram mantidos em sala de crescimento à temperatura de

28°C, umidade relativa do ar de 60% e expostos à luz branca de intensidade de

50 µmol.m²/s. Por sua vez, os ápices caulinares destinados à organogênese

indireta foram mantidos na mesma sala de crescimento, porém sob ausência

de luz (figuras 22 e 23).

Fig. 22 – Sala de crescimento Fig. 23 – Sala de crescimento. (organogênese direta) (organogênese indireta)

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Fig. 24 – Ápice caulinar. Fig. 25 – Ápice caulinar com 2 mm isolado à lupa.

Fig. 26 – Acadêmico isolando ápices caulinares à lupa.

Fig. 27 – Inoculação dos ápices Fig. 28 – Ápices caulinares mantidos em caulinares sob a CFL. peneira esterilizada sob a CFL.

8.6 AVALIAÇÃO DO MATERIAL INOCULADO

Depois de concluída a montagem do experimento em si, passou-se a

avaliar o material inoculado - com 15 dias e com 20-30 dias após a inoculação

– (figuras 29 a 32). Nos três primeiros meios de cultura onde houve a

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inoculação dos ápices caulinares houve alta taxa de contaminação por fungos

dentro dos frascos (figuras 29 e 30), o que não ocorreu nas inoculações

seguintes.

Fig. 29 – Frascos apresentando meios de Fig. 30 – Contaminação por fungos. cultura contaminados por fungos.

Fig. 31 – Frascos contendo cultura Fig. 32 – Ápice caulinar em aos 15 dias. desenvolvimento.

Posteriormente houve o acompanhamento e a auxílio aos laboratoristas

nos projetos em andamento no laboratório de biotecnologia. Dentre esses

projetos, o próprio Projeto Citrus, aprovado pela FAPESC, o qual o presente

realizou apenas uma das etapas iniciais, com uma variedade cítrica ao passo

que o projeto em sua forma integral envolve seis variedades cítricas de

interesse comercial, um número maior de repetições e um grande volume de

meio de cultura a ser preparado.

9. RESULTADOS

Houve a avaliação completa (aos 15 e aos 20-30 dias após a

inoculação) dos ápices caulinares inoculados nos meios de cultura destinados

à organogênese direta (tabelas 02 e 03) e a avaliação aos 15 dias dos ápices

caulinares inoculados nos meios de cultura destinados à organogênese

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indireta. A avaliação foi qualitativa, observando-se os ápices caulinares que se

mantiveram verdes, com potencial de desenvolvimento (tabelas 02, 03 e 04).

Tabela 02 – Material avaliado aos 15 dias após a inoculação (organogênese direta). Data de

Inoculação Id. do Meio de

Cultura Ápices viáveis Ápices vivos Aspecto

18/10/2010 1 3 3 Oxidados 18/10/2010 2 4 4 Oxidados 18/10/2010 3 3 3 Oxidados 20/10/2010 4 4 4 Oxidados 20/10/2010 5 6 6 Oxidados 20/10/2010 6 5 5 Oxidados 20/10/2010 7 5 5 Oxidados 20/10/2010 8 5 5 Oxidados 22/10/2010 9 6 6 Oxidados 22/10/2010 10 5 5 Oxidados 22/10/2010 11 6 6 Oxidados 22/10/2010 12 5 5 Oxidados 22/10/2010 13 5 5 Oxidados 22/10/2010 14 6 6 Verdes* 22/10/2010 15 6 6 Verdes* 22/10/2010 16 5 5 Oxidados 27/10/2010 17 6 6 Oxidados 27/10/2010 18 6 6 Oxidados 27/10/2010 19 6 6 Oxidados 27/10/2010 20 6 6 Oxidados 27/10/2010 21 6 6 Oxidados 27/10/2010 22 6 6 Oxidados 27/10/2010 23 6 6 Oxidados 27/10/2010 24 6 6 Oxidados 27/10/2010 25 6 6 Oxidados 27/10/2010 26 6 6 Oxidados 27/10/2010 27 6 6 Oxidados

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Tabela 03 – Material avaliado aos 20-30 dias após a inoculação (organogênese direta). Data de

Inoculação Id. do Meio de

Cultura Ápices viáveis Ápices vivos Aspecto

18/10/2010 1 3 3 Oxidados 18/10/2010 2 4 4 Oxidados 18/10/2010 3 3 3 Oxidados 20/10/2010 4 4 4 Oxidados 20/10/2010 5 6 6 Oxidados 20/10/2010 6 5 5 Oxidados 20/10/2010 7 5 5 Oxidados 20/10/2010 8 5 5 Oxidados 22/10/2010 9 6 6 Oxidados 22/10/2010 10 5 5 Oxidados 22/10/2010 11 6 6 Oxidados 22/10/2010 12 5 5 Oxidados 22/10/2010 13 5 5 Oxidados 22/10/2010 14 6 6 Verdes* 22/10/2010 15 6 6 Verdes* 22/10/2010 16 5 5 Oxidados 27/10/2010 17 6 6 Oxidados 27/10/2010 18 6 6 Oxidados 27/10/2010 19 6 6 Oxidados 27/10/2010 20 6 6 Oxidados 27/10/2010 21 6 6 Oxidados 27/10/2010 22 6 6 Oxidados 27/10/2010 23 6 6 Oxidados 27/10/2010 24 6 6 Oxidados 27/10/2010 25 6 6 Oxidados 27/10/2010 26 6 6 Oxidados 27/10/2010 27 6 6 Oxidados

Tabela 04 – Avaliação aos 15 dias para organogênese indireta. Inoculação Meio Nº explantes 1ª avaliação (15 dias) 1ª avaliação (vivos): 1ª avaliação (aspecto):

27/10/2010 28 6 11/11/2010 5 vivos, oxidados (sem calo)28/10/2010 29 6 12/11/2010 6 vivos, oxidados (1)/vivos, verdes (5)28/10/2010 30 6 12/11/2010 6 vivos, oxidados (1)/vivos, verdes (5)28/10/2010 31 6 12/11/2010 6 vivos, oxidados (2)/vivos, verdes (4)28/10/2010 32 6 12/11/2010 6 vivos, verdes28/10/2010 33 6 12/11/2010 6 vivos, verdes28/10/2010 34 6 12/11/2010 5 vivos, verdes, sem calo28/10/2010 35 4 12/11/2010 4 vivos, verdes, sem calo03/11/2010 36 6 18/11/2010 6 vivos, verdes, sem calo03/11/2010 37 6 18/11/2010 6 vivos, verdes, sem calo03/11/2010 38 6 18/11/2010 6 vivos, verdes, sem calo03/11/2010 39 6 18/11/2010 6 vivos, verdes, sem calo03/11/2010 40 6 18/11/2010 6 vivos, verdes, sem calo03/11/2010 41 6 18/11/2010 6 vivos, verdes, sem calo03/11/2010 42 6 18/11/2010 6 vivos, verdes, sem calo03/11/2010 43 6 18/11/2010 5 vivos, verdes, sem calo04/11/2010 44 6 19/11/2010 6 vivos, verdes, sem calo04/11/2010 45 6 19/11/2010 6 vivos, verdes, sem calo04/11/2010 46 6 19/11/2010 6 vivos, oxidados (1)/vivos, verdes (5)04/11/2010 47 6 19/11/2010 5 vivos, oxidados04/11/2010 48 6 19/11/2010 6 vivos, oxidados (1)/vivos, verdes (5)04/11/2010 49 6 19/11/2010 6 vivos, oxidados (1)/vivos, verdes (5)04/11/2010 50 6 19/11/2010 6 vivos, oxidados (1)/vivos, verdes (5)04/11/2010 51 6 19/11/2010 vivos, oxidados (4)/vivos, verdes (2)

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10. DISCUSSÃO

Observando-se as tabelas 01, 02 e 03, pode-se notar, com base na

revisão bibliográfica, que – para a organogênese direta - os meios de cultura

contendo os três reguladores de crescimento (BAP, ANA e GA₃) em baixas

concentrações favorecem a sobrevivência e o desenvolvimento dos ápices

caulinares. Isso pode ser inferido porque nos meios 14 e 15, onde os três

reguladores estão presentes, todos os ápices inoculados sobreviveram e

mantiveram-se verdes, com elevado potencial de desenvolvimento (figuras 33 e

34), ao passo que o material inoculado nos outros meios ou oxidaram-se por

completo ou apenas metade manteve-se verde e ainda havendo casos em que

a maior parte do material oxidou-se (ver anexos 01 e 02).

Fig.33 – Ápice caulinar em desenvolvimento no meio de cultura n°14.

Fig. 34 – Ápice caulinar em desenvolvimento no meio de cultura n°15.

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Fig. 35 – Ápice caulinar oxidado no meio de cultura n°12.

Já para a organogênese indireta, não se pode concluir qual(is) meio(s)

favorece(m) o desenvolvimento dos ápices caulinares, pois os resultados

observados foram semelhantes e não houve a formação de calos, nem mesmo

nos meios contendo o regulador de crescimento 2,4-D, que induz o

desenvolvimento dessas estruturas. A análise aos trinta dias será necessária,

pois poderá ocorrer o desenvolvimento de calos nos ápices caulinares

inoculados. Nota-se firmemente que o material vegetal mantido no escuro

(característica da organogênse indireta) tem sua oxidação retardada, pela

ausência de luz.

11. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com base na revisão bibliográfica e no conteúdo aprendido na prática

durante o estágio de conclusão de curso no laboratório de biotecnologia da

EPAGRI-Itajaí, pode-se concluir que a cultura de ápices caulinares, sobretudo

via organogênese indireta, onde várias plantas podem ser obtidas através de

um único ápice, corresponde a um conjunto de técnicas promissoras na

obtenção de plantas matrizes livres de viroses. Trata-se ainda de uma maneira

mais eficaz de se obter tais plantas matrizes do que a microenxertia, onde o

pegamento dos microenxertos é baixo. Entretanto, a cultura de ápices

caulinares envolve técnicas que precisam ser aprimoradas, exigindo mão-de-

obra altamente qualificada e recursos por parte dos fundos de pesquisa.

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A alta especificidade exigida pelas diversas espécies vegetais (e ainda

pelas variedades das mesmas espécies) exige o desenvolvimento de

protocolos também específicos. Para isso, experimentos como o presente são

necessários: para o desenvolvimento de protocolos, contribuindo com o

progresso científico.

Com base na revisão bibliográfica e no experimento conduzido, conclui-

se que:

§ Para a organogênese direta, os meios de cultura contendo os três

reguladores de crescimento (BAP, ANA e GA₃), em baixas

concentrações, favorecem a sobrevivência e o desenvolvimento dos

ápices caulinares.

§ O meio de cultura recomendado para o desenvolvimento de ápices

caulinares da variedade cítrica ‘Baía-Catarina’ destinados à

organogênese direta possui a seguinte composição: MS + [0,50] BAP +

[0,50] ANA + [0,25] GA₃.

§ Para a organogênese indireta, é necessária a análise aos trinta dias

após a inoculação, permitindo o desenvolvimento de calos.

§ Para a organogênese indireta, aos quinze dias após a inoculação, nem

mesmo altas concentrações de 2,4-D favorecem o desenvolvimento de

calos.

§ Os ápices caulinares mantidos sob ausência de luz têm sua oxidação

diminuída.

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12. BIBLIOGRAFIA A Indústria Brasileira das Frutas Disponível em: <www.redetec.org.br/.../A%20Indústria%20Brasileira%20de%20Frutas%20%202006.doc>. Acesso em 01 novembro 2010. EPAGRI Disponível em: <http://www.epagri.sc.gov.br>. Acesso em 02 novembro 2010. GEORGE, E. F.; HALL, M. A.; DE KLERK, GEERT-JAN. Plant Propagation by Tissue Culture, 3rd edition, V.01, The Netherlands, 501 p. 2008. Informação Nutricional Disponível em: <http://www.informacaonutricional.net/nutricao/laranja-da-baia/>. Acesso em 06 novembro 2010. KOLLER, O. L. Citricultura Catarinense – Seus números e suas necessidades. Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.14, n.1, p. 54-61, 2001. MANTELL, S. H.; MATTHEWS, J. A.; McKEE, R. A. Princípios de biotecnologia em plantas: uma introdução à engenharia genética em plantas. Ribeirão Preto. Sociedade Brasileira de Genética, 1994, 344 p. PINTO, José Eduardo Brasil Pereira; LAMEIRA, Osmar Alves. Micropropagação e Metabólitos Secundários In Vitro de Plantas Medicinais. Lavras. UFLA/FAEPE, 2001, 102 p. ROISTACHER, C. N. Razões para a criação de um programa obrigatório de certificação de citros. Laranja, Cordeirópolis, v.15, n.2, p.179-211, 1994. SIMÃO, S. Manual de Fruticultura. Agronômica Ceres. São Paulo, 1971, 530 p. TERMIGNONI, Regina Ramos. Cultura de Tecidos Vegetais. Porto Alegre, Editora da UFRGS, 2005, 182 p. TOMBOLATO, Antonio Fernando Caetano; COSTA, Ana Maria Molini. Micropropagação de plantas ornamentais. Campinas, Instituto Agronômico, 1998, Boletim Técnico n°174, 72 p. TORRES, Carlos Antonio; CALDAS, Linda Styler; BUSO, José Amauri. Cultura de Tecidos e Transformação Genética de Plantas. Editado por Antonio Carlos Torres, Linda Styler Caldas e José Amauri Buso. Brasília, Embrapa-CNPH, v. 1, 1998, 509 p.

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TORRES, Carlos Antonio; CALDAS, Linda Styler; BUSO, José Amauri. Cultura de Tecidos e Transformação Genética de Plantas. Editado por Antonio Carlos Torres, Linda Styler Caldas e José Amauri Buso. Brasília, Embrapa-CNPH, v. 2, 1999, 347 p. ZAFFARI. G. R. Melhoria genética e sanitária das mudas cítricas produzidas em Santa Catarina - limpeza de vírus em seis cultivares cítricas de interesse comercial para Santa Catarina. Epagri, 2009 – Projeto não publicado.

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13. ANÁLISE CRÍTICA DO ESTÁGIO – CONCLUSÃO

Considera-se o estágio de conclusão de curso uma atividade

fundamental na formação do futuro profissional da Agronomia. A duração do

estágio, que deve ocorrer dentro de um semestre letivo é ideal, pois permite

que tanto o acadêmico quanto a empresa que o recebe possam se programar e

realizar atividades das mais diversas, podendo iniciá-las e concluí-las

(fundamental na formação profissional).

O estágio realizado na EEI da EPAGRI foi bastante satisfatório e fonte

de grande aprendizado. Também permitiu que o mesmo descobrisse vocações

que sequer sabia possuir, dentro das áreas da fisiologia vegetal e da

biotecnologia.

Durante o estágio de conclusão de curso, pôde-se notar firmemente a

importância de todas as disciplinas teóricas e teórico-práticas do curso de

Agronomia, desde as disciplinas do nível básico do curso (como biologia

celular, fisiologia vegetal e bioquímica) até as disciplinas de nível

profissionalizante do curso (como fruticultura, olericultura e plantas de lavoura).

Fez-se uso do conhecimento adquirido em praticamente todas as disciplinas do

curso durante o estágio e pôde-se notar que o conteúdo aprendido de fato

corresponde ao que se pratica na rotina do Engenheiro Agrônomo.

Apesar de ter realizado o estágio de conclusão de curso em um

laboratório, envolvendo atividades de pesquisa, houve o privilégio de ter sido

supervisionado por um engenheiro agrônomo, o que permitiu que supervisor e

estagiário se comunicassem fluentemente. Além disso, o futuro profissional

pôde acompanhar outras atividades realizadas na EEI, nas áreas de

fruticultura, olericultura, mecanização agrícola e plantas de lavoura, o que de

fato foi de grande utilidade.

Por fim, o estagiário agradece a todos os profissionais que fizeram com

que o estágio de finalização do curso de Agronomia fosse não apenas possível,

mas também um grande sucesso, ao menos do ponto de vista do acadêmico.

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Anexo 01 – Primeira avaliação para organogênese direta. Inoculação Meio Nº explantes Frascos Contaminados Frascos Restantes 1ª avaliação (15 dias) 1ª avaliação (vivos): 1ª avaliação (aspecto):

18/10/2010 1 12 9 3 03/11/2010 3 vivos, oxidados18/10/2010 2 12 8 4 03/11/2010 4 vivos, oxidados18/10/2010 3 6 3 3 03/11/2010 3 vivos, oxidados20/10/2010 4 6 2 4 05/11/2010 4 vivos, oxidados (3)/vivo, verde (1)20/10/2010 5 6 0 6 05/11/2010 6 vivos, oxidados (3)/vivos, verdes (3)20/10/2010 6 6 1 5 05/11/2010 5 vivos, oxidados (5)20/10/2010 7 6 1 5 05/11/2010 5 vivos, oxidados (1)/vivos, verdes (4)20/10/2010 8 6 1 5 05/11/2010 5 vivos, oxidados (2)/vivos, verdes (3)22/10/2010 9 6 0 6 08/11/2010 6 vivos, oxidados (5)/vivos, verdes (1)22/10/2010 10 6 1 5 08/11/2010 5 vivos, oxidados (4)/vivos, verdes (1)22/10/2010 11 6 0 6 08/11/2010 6 vivos, oxidados (5)/vivos, verdes (1)22/10/2010 12 6 1 5 08/11/2010 5 vivos, oxidados22/10/2010 13 6 1 5 08/11/2010 5 vivos, oxidados (2)/vivos, verdes (3)22/10/2010 14 6 0 6 08/11/2010 6 vivos, verdes (6)*22/10/2010 15 6 0 6 08/11/2010 6 vivos, verdes (6)*22/10/2010 16 5 0 5 08/11/2010 5 vivos, oxidados (2)/vivos, verdes (3)27/10/2010 17 6 0 6 11/11/2010 6 vivos, oxidados (1)/vivos, verdes (5)27/10/2010 18 6 0 6 11/11/2010 6 vivos, oxidados (2)/vivos, verdes (4)27/10/2010 19 6 0 6 11/11/2010 6 vivos, oxidados (4)/vivos, verdes (2)27/10/2010 20 6 0 6 11/11/2010 6 vivos, oxidados (2)/vivos, verdes (4)27/10/2010 21 6 0 6 11/11/2010 6 vivos, oxidados (4)/vivos, verdes (2)27/10/2010 22 6 0 6 11/11/2010 6 vivos, oxidados (3)/vivos, verdes (3)27/10/2010 23 6 0 6 11/11/2010 6 vivos, oxidados (1)/vivos, verdes (5)27/10/2010 24 6 0 6 11/11/2010 6 vivos, oxidados (4)/vivos, verdes (2)27/10/2010 25 6 0 6 11/11/2010 6 vivos, oxidados (5)/vivos, verdes (1)27/10/2010 26 6 0 6 11/11/2010 6 vivos, oxidados (4)/vivos, verdes (2)27/10/2010 27 6 0 6 11/11/2010 6 vivos, oxidados

Anexo 02 – Segunda avaliação para organogênese direta. 2ª avaliação (20-30 dias) 2ª avaliação (vivos): 2ª avaliação (aspecto):

17/11/2010 3 vivos, oxidados17/11/2010 3 vivos, oxidados17/11/2010 3 vivos, oxidados19/11/2010 4 vivos, oxidados19/11/2010 6 vivos, oxidados (4)/vivos, verdes (2)19/11/2010 5 vivos, oxidados19/11/2010 5 vivos, oxidados19/11/2010 5 vivos, oxidados (3)/vivos, verdes (2)22/11/2010 6 vivos, oxidados (5)/vivos, verdes (1)22/11/2010 5 vivos, oxidados22/11/2010 6 vivos, oxidados22/11/2010 5 vivos, oxidados22/11/2010 5 vivos, oxidados (3)/vivos, verdes (2)22/11/2010 6 vivos, verdes (6)*22/11/2010 6 vivos, verdes (6)*22/11/2010 5 vivos, oxidados (3)/vivos, verdes (2)26/11/2010 6 vivos, oxidados (4)/vivos, verdes (2)26/11/2010 6 vivos, oxidados (3)/vivos, verdes (3)26/11/2010 6 vivos, oxidados (4)/vivos, verdes (2)26/11/2010 6 vivos, oxidados (4)/vivos, verdes (2)26/11/2010 6 vivos, oxidados (5)/vivos, verdes (1)26/11/2010 6 vivos, oxidados (4)/vivos, verdes (2)26/11/2010 6 vivos, oxidados (4)/vivos, verdes (2)26/11/2010 6 vivos, oxidados (4)/vivos, verdes (2)26/11/2010 6 vivos, oxidados (5)/vivos, verdes (1)26/11/2010 6 vivos, oxidados (5)/vivos, verdes (1)26/11/2010 6 vivos, oxidados

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Anexo 03 - Meio Murashige & Skoog (1962). Reagentes/Soluções Quantidade Solução Estoque de Macronutrientes

50 ml

Solução Estoque de Micronutrientes

5 ml

Solução Estoque de Vitaminas 5 ml Solução de Fe/EDTA 10 ml Solução de Inositol 12,5 ml Sacarose 30 g Ágar 6,5 g

Método de Preparo:

§ Preparar a bancada de trabalho com todos os reagentes e soluções estoques da formulação e as vidrarias necessárias para seu preparo.

§ Pesar a sacarose e o ágar em recipientes separados, utilizando balança semi-analítica com precisão mínima de duas casas decimais.

§ Em um becker de 1000 ml adicionar 500 ml de água destilada e dissolver a sacarose.

§ Em um balão volumétrico de 1000 ml, contendo 200 ml de água destilada, adicionar as soluções estoque de micronutrientes, macronutrientes, vitaminas, inositol e Fe/EDTA, promovendo uma prévia agitação.

§ Transferir a solução de sacarose preparada previamente para o balão volumétrico de forma quantitativa, em seguida completar o volume com água destilada e homogeneizar.

§ Transferir o meio para um becker de 1000 ml e regular o pH do meio para 5,8 +/- 0,01 com o auxílio de HCL 0,1 M ou NaOH 0,1 M.

§ Adicionar lentamente e sob agitação o ágar. § Aquecer a solução até fervura. § Distribuir 15 ml do meio de cultura para frascos de 100 ml, fechá-los e

autoclavar a 121°C e 1,2 atm por 20 minutos. § Identificar informando: nome do meio de cultura e data do preparo. § Estocar o material por até seis meses em armário de estocagem ou sala

de armazenamento de meios de cultura

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Anexo 04 – pH final de cada meio de cultura preparado. Meio de Cultura

pH Meio de Cultura

pH

1 5,71 28 5,77 2 5,74 29 5,80 3 5,74 30 5,78 4 5,74 31 5,79 5 5,76 32 5,78 6 5,77 33 5,80 7 5,76 34 5,76 8 5,74 35 5,75 9 5,77 36 5,77 10 5,77 37 5,77 11 5,78 38 5,76 12 5,78 39 5,72 13 5,79 40 5,80 14 5,77 41 5,75 15 5,79 42 5,76 16 5,76 43 5,80 17 5,78 44 5,73 18 5,77 45 5,80 19 5,78 46 5,80 20 5,80 47 5,79 21 5,80 48 5,80 22 5,80 49 5,72 23 5,77 50 5,74 24 5,79 51 5,75 25 5,80 26 5,80 27 5,75

Page 72: Universidade Federal de Santa Catarina Centro de Ciências ...tcc.bu.ufsc.br/CCATCCs/agronomia/ragr79.pdf · natureza vegetal são causadas por fungos, bactérias e vírus (ou ainda

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Anexo 05 – Composição do meio Murashige & Skoog (1962). Componentes Concentração dos

Componentes (mg/l) Macronutrientes

NH₄NO₃ 1,650 KNO₃ 1,900

CaCl₂.2H₂O 440 MgSO₄.7H₂O 370 KH₂PO₄ 170

Micronutrientes MnSO₄.4H₂O 22,3 ZnSO₄.7H₂O 8,6 H₃BO₃ 6,2 KI 0,83

Na₂MoO₄.2H₂O 0,25 CuSO₄.5H₂O 0,025 CoCl₂.6H₂O 0,025

FeEDTA Na₂EDTA. 2H₂O

37,3

FeSO₄.7H₂O 27,8 Vitaminas e aminoácidos

Ácido nicotínico 0,5 Piridoxina.HCl 0,5 Tiamina.HCl 0,1 Glicina 2,0

Mio-inositol 100 Sacarose 30,000

Fonte: TORRES et al., 1998.