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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE TECNOLOGIA E GEOCIÊNCIAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA CIVIL ÁREA DE CONCENTRAÇÃO EM TECNOLOGIA AMBIENTAL E RECURSOS HÍDRICOS ANTONIO RENÊ BENEVIDES DE MELO PÓS-TRATAMENTO DE EFLUENTE DE REATOR UASB POR FILTRAÇÃO EM AREIA E CARVÃO ATIVADO RECIFE 2014

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

CENTRO DE TECNOLOGIA E GEOCIÊNCIAS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA CIVIL

ÁREA DE CONCENTRAÇÃO EM TECNOLOGIA AMBIENTAL E

RECURSOS HÍDRICOS

ANTONIO RENÊ BENEVIDES DE MELO

PÓS-TRATAMENTO DE EFLUENTE DE REATOR UASB

POR FILTRAÇÃO EM AREIA E CARVÃO ATIVADO

RECIFE

2014

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ANTONIO RENÊ BENEVIDES DE MELO

PÓS-TRATAMENTO DE EFLUENTE DE REATOR UASB POR FILTRAÇÃO EM AREIA E CARVÃO ATIVADO

Dissertação apresentada à Universidade Federal de Pernambuco – UFPE, como requisito para obtenção do título de mestre em Engenharia Civil (Tecnologia Ambiental e Recursos Hídricos).

Orientador: Prof. Dr. Mário Takayuki Kato.

Recife

2014

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Catalogação na fonte Bibliotecária Maria Luiza de Moura Ferreira, CRB-4 / 1469

M528p Melo, Antonio Renê Benevides.

Pós-tratamento de efluente de reator Uasb por filtração em areia e carvão ativado / Antonio Renê Benevides de Melo. - Recife: O Autor, 2014.

69 folhas, il., tabs. Orientador: Prof. Dr. Mário Takayuki Kato. Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal de Pernambuco. CTG. Programa de Pós- graduação em Engenharia Civil, 2014.

Inclui Referências.

1. Engenharia Civil. 2. Esgoto. 3. Filtro de areia. 4. Carvão ativado granular. I. Kato, Mário Takayuki (Orientador). II. Título.

624 CDD (22. ed.) UFPE/BCTG/2015-05

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA CIVIL

A comissão examinadora da Defesa de Dissertação de Mestrado

PÓS-TRATAMENTO DE EFLUENTE DE REATOR UASB POR

FILTRAÇÃO EM AREIA E CARVÃO ATIVADO

defendida por

Antônio Renê Benevides de Melo

Considera o candidato APROVADO

Recife, 29 de agosto de 2014

___________________________________________

Prof. Dr. Mario Takayuki Kato – UFPE

(orientador)

___________________________________________

Prof. Dr. Miguel Mansur Aisse – UFPR

(examinador externo)

___________________________________________

Prof.ª Dr.ª Sávia Gavazza dos Santos Pessôa – UFPE

(examinadora interna)

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Aos meus familiares e amigos, que, de alguma forma, me apoiaram e incentivaram-me a alcançar meus objetivos.

DEDICO

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RESUMO

Os esgotos, principalmente domésticos, quando são lançados no meio

ambiente, sem nenhum tipo de tratamento podem causar grandes problemas

ambientais, pois possuem constituintes como matéria orgânica, sólidos,

nutrientes, microrganismos patogênicos e micropoluentes. Nesse contexto, o

lançamento indiscriminado dos esgotos domésticos sem tratamento, ou

parcialmente tratados, é um dos principais motivos de poluição da água e pode

gerar efeitos degradantes diversos, o que interfere diretamente na sua

qualidade e nos seus usos benéficos. Esta pesquisa, que foi realizada na

instalação piloto da UFPE localizada na ETE Mangueira em Recife/PE, teve

como objetivo avaliar o pós-tratamento de efluente de reator UASB pelo

sistema de filtração em areia e carvão ativado granular de casca de coco.

Foram instalados um filtro de pedregulho FAP, e em paralelo, dois conjuntos de

filtração descendente em areia seguida de carvão ativado, que operaram com

taxa de 120 m³/m².d e 160 m³/m².d. O sistema proposto obteve eficiência global

de remoção média de 89% de matéria orgânica (DQO), sólidos suspensos 95%

e turbidez 95%. O pH variou entre 6,7 a 7,6 não se afastando da neutralidade,

o que é fundamental para o tratamento de esgoto. Em relação aos parâmetros

microbiológicos, o sistema apresentou-se satisfatório, uma vez que atingiu

remoções médias de 95% para coliformes fecais e 100% para ovos de

helmintos.

Palavras chaves: esgoto, filtro de areia, carvão ativado granular, pós

tratamento.

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ABSTRACT

The wastewater, mainly domestic, when released into the environment

without any treatment can occasion major environmental problems, because

they have constituents such as organic matter, solids, nutrients, pathogens and

micropollutants. In this context, the indiscriminate release of wastewater

untreated, or partially treated, is a major cause of water pollution and can

provoke various degrading effects, impacting directly on his quality and on his

beneficial uses. This research, conducted in the UFPE pilot plant, located in

WWTP of Mangueira in Recife – PE, aimed to evaluate the post-treatment of

effluent UASB of reactor by filtration system in sand and granular activated

carbon. A boulder FAP filter were installed, and in parallel, two sets of

descending sand filtration followed by activated carbon, that operated rate of

120 m³/m².d and 160 m³/m².d. The proposed system achieved overall average

removal efficiency of 89% of organic matter (COD), 95% of suspended solids

and 95% of turbidity. The pH ranged from 6.7 up to 7.6 not moving away from

neutrality, which is crucial for the treatment of sewage. Regarding the

microbiological parameters, the system presented satisfactory, since it reached

medium removal of 95% for fecal coliforms and 100% for helminth eggs.

Keywords: wastewater, sand filter, granular actived carbon, post-

treatment.

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente, gostaria de agradecer à minha família; em especial, à

minha mãe, Maria Deograça da Silva, e ao meu pai, Washington Benevides (in

memorian); aos meus irmãos, em especial a José Radamés, João Rock,

Robson, Jânio e a Lanna, pela amizade, carinho, apoio em minhas decisões e

por entenderem minha ausência durante todo esse tempo.

Ao Professor e meu orientador, Mario Takayuki Kato, pela confiança,

apoio, paciência, dedicação e contribuição científica.

Aos professores do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil

da UFPE, em especial à professora Lourdinha Florêncio, pelo apoio e

dedicação.

À minha amiga Ana Linda, por toda amizade, companheirismo e apoio,

desde sempre, e a Edmilson, pelo companheirismo na ETE Mangueira.

Ao Laboratório de Saneamento Ambiental e a todos os seus integrantes,

pela convivência, conhecimentos adquiridos, crescimento profissional e

pessoal. Aos amigos que fiz nesses dois anos, em especial a Edécio Souza,

Maxilimiano Diogo, Robson Silva, Bruna Alencar, Poliana Maria, Larissa

Ribeiro, Juliana Morais Elizabeth Pastich, Danilo Mamede, Thorsten Kochling e

Luiz Galdino.

Não posso esquecer Ronaldo Fonseca, responsável técnico do LSA, e

Danúbia Freitas, por todo apoio e suporte fornecido.

Aos outros mestrandos e doutorandos que estiveram comigo neste

mesmo período da pesquisa.

A Toni, Mateus e Cleber, que me acolheram em Recife.

Por fim, agradeço ao CNPq a bolsa de mestrado e auxílio à pesquisa.

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Sumário

1.0. INTRODUÇÃO.................................................................................. 1

2.0. OBJETIVO GERAL .......................................................................... 2

2.1. Objetivo Específico ..................................................................... 2

3.0. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ............................................................ 3

3.1. Poluentes Encontrados em Esgotos Domésticos .................... 3

3.2. Tratamento Convencional de Água Residuária ........................ 5

3.3. Tratamento Terciário de Água Residuária ................................ 7

3.4. Tratamento Terciário por Filtração ............................................ 8

3.5. Descrição das Operações de Filtração ................................... 12

3.5.1. Tipos de meios filtrantes ....................................................... 13

3.5.2. Tipo de funcionamento ......................................................... 16

3.5.3. Sentido do fluxo durante a fase de filtração .......................... 17

3.5.4. Perda de carga ..................................................................... 19

3.5.5. Lavagem dos filtros ............................................................... 20

3.6. Aspectos Construtivos ................................................................. 22

3.6.1. Diâmetro Efetivo (D10) ........................................................... 22

3.6.2. Coeficiente de Uniformidade (CU) ........................................ 22

3.6.3. Profundidade da Camada de Areia ....................................... 23

3.7. Filtro de Carvão Ativado Granular ........................................... 24

4. Materiais e Métodos ......................................................................... 26

4.1. Local do Estudo ........................................................................ 26

4.2. Descrição da Instalação Experimental .................................... 26

4.2.1. Instalação do sistema piloto de filtração ............................... 26

4.3. Leito Filtrante............................................................................. 29

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4.3.1. Leito Filtrante do Filtro Ascendente em Pedregulho ............. 29

4.3.2. Leito Filtrante dos Filtros Descendentes ............................... 29

4.4. Procedimento Experimental ..................................................... 31

4.4.1. Procedimento de Lavagem dos Filtros ................................. 33

5.0 RESULTADOS E DISCUSSÃO ...................................................... 35

5.1. Monitoramento de pH e Alcalinidade ...................................... 35

5.2. Remoção de Matéria Orgânica ................................................. 37

5.4. Remoção de Sólidos Suspensos e Turbidez .......................... 39

5.5. Avaliação da Perda de Carga nos Filtros Descendentes ....... 42

5.6. Remoção de Coliformes Fecais e Ovos de Helmintos ........... 43

6.0. CONCLUSÕES............................................................................... 45

7.0. RECOMENDAÇÕES ...................................................................... 46

8.0. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................. 47

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Mecanismos de transporte, aderência e desprendimento durante a

filtração (Di Bernardo, 2005). ............................................................................. 9

Figura 2 - Tipos e configurações de meios filtrantes. ....................................... 14

Figura 3 – Curva de distribuição granulométrica de materiais filtrantes

(adaptado de Di Bernardo 2003). ..................................................................... 15

Figura 4 – Evolução da perda de carga em função do tempo. ......................... 20

Figura 5 - Estação de tratamento de efluentes da Mangueira, Recife -

Pernambuco. .................................................................................................... 26

Figura 6 – Ilustração da instalação do sistema usado durante a pesquisa. As

setas estão indicando o fluxo de escoamento do esgoto. ................................ 27

Figura 7 – Caixa de distribuição do esgoto para o filtro em pedregulho. .......... 28

Figura 8 - Caixa de distribuição do esgoto para os filtros de areia. .................. 28

Figura 9 - Curva granulométrica da areia dos filtros descendentes ................. 30

Figura 10 – Detalhe do sistema de filtração ..................................................... 31

Figura 11 – Quadro piezométrico ..................................................................... 32

Figura 12 - Distribuição da alcalinidade ao longo da pesquisa......................... 36

Figura 13 - Distribuição da DQO ao longo da pesquisa. .................................. 38

Figura 14 – Gráfico estatístico dos valores de DQO para as taxas de 120

m³/m².d e 160 m³/m².d. ..................................................................................... 38

Figura 15 – Gráfico estatístico dos valores de sólidos suspensos totais para as

taxas de 120 m³/m².d e 160 m³/m².d. ............................................................... 40

Figura 16 – Gráfico estatístico dos valores de turbidez .................................... 42

Figura 17 - Avaliação da perda de carga em 20 de dezembro 2013 ................ 43

Figura 18 – Avaliação da perda de carga em 20 de abril 2014 ........................ 43

Figura 19 – Avaliação da remoção de ovos totais de helmintos (Nº/L) ............ 45

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Classificação dos filtros segundo distintos critérios (Arboleda, 2000).

......................................................................................................................... 13

Tabela 2 – Classificação dos filtros de meio granular (Adaptado de Metcalf e

Eddy, 2003). ..................................................................................................... 19

Tabela 3 – Granulometria do meio filtrante do FAP ......................................... 29

Tabela 4 – Granulometria do meio filtrante de areia (FDA1 e FDA2). .............. 30

Tabela 5 – Características do carvão ativado granular fabricado com casca de

coco. ................................................................................................................. 30

Tabela 6 – Parâmetros analisados durante a pesquisa ................................... 32

Tabela 7 - Valores médios de pH para o período de avaliação. ....................... 35

Tabela 8 - Valores médios de alcalinidade para os dois sistemas de filtração. 36

Tabela 9 – Valores médios de SST (mg/L) para os sistemas de filtração. ....... 39

Tabela 10 - Valores médios de turbidez para os sistemas de filtração. ........... 41

Tabela 11 – Valores médios de turbidez e eficiência de remoção média em

relação ao tratamento antecedente. ................................................................. 41

Tabela 12 - Valores médios de densidade de coliformes fecais nos efluentes

dos filtros de carvão ativado granular (NMP/100 mL) ...................................... 44

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LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E SÍMBOLOS

CV Coeficiente de variação

ETE Estação de tratamento de esgoto

FAP Filtro ascendente de pedregulho

FCA Filtro de carvão ativado

FDA Filtro descendente de areia

Max Máximo

Med Média

Min Mínimo

NMP Número mais provável

NTU Unidade nefelométrica de turbidez

OMS Organização Mundial de Saúde

PVC Cloreto de polivinila

UASB Upflow anaerobic sludge blanket (reator anaeróbio de manta de lodo e fluxo ascendente)

DQO Demanda química de oxigênio

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1.0. INTRODUÇÃO

A água foi, por muito tempo, considerada pela humanidade como um

recurso inesgotável e, talvez por isso, tenha sido um bem mal gerido (Florêncio

et. al., 2006). Uma variedade de fatores, incluindo o crescimento populacional,

o aumento da atividade industrial, o uso da terra, dentre outros, vem causando

problemas ambientais que têm se tornado cada vez mais críticos e frequentes,

o que tem provocado alterações na qualidade do solo, do ar e da água. Esses

fatores e o progresso econômico aliados às mudanças climáticas tornam

incerta a disponibilidade dos recursos hídricos para o futuro (GHISELLI &

JARDIM, 2007; DAVIESA & SIMONOVICB, 2011).

Os esgotos, principalmente os domésticos, quando são lançados no

meio ambiente sem nenhum tipo de tratamento, podem acarretar grandes

problemas ambientais, pois possuem diversos tipos de constituintes.

Segundo o Boletim da OMS (2008), a presença de microrganismos

patogênicos em águas naturais provoca a morte de mais de 1,5 milhões de

pessoas, anualmente, em todo o mundo – na maioria, crianças com idade

abaixo de 5 anos. O aumento da poluição das águas superficiais e

subterrâneas por micropoluentes; espécies químicas que, mesmo estando

presentes em pequenas concentrações, são capazes de desencadear, efeitos

na vida aquática e na saúde humana, também podem provocar problemas

similares ou até mesmo de maior severidade (REIS FILHO et al., 2006;

KLAVARIOTI et al., 2009; FERNANDES et al., 2011).

Como resultado, os requisitos para tratamento de esgoto estão se

tornando cada vez mais rigorosos em termos de concentrações-limite de

muitas dessas substâncias no efluente, estabelecendo assim, novos níveis de

toxicidade. Com isso, após o tratamento convencional de água residuária, cujo

objetivo é reduzir ou remover principalmente matéria orgânica, o efluente pode

ser submetido ao tratamento terciário melhorando a sua qualidade.

A filtração em meio granular, principalmente em areia e carvão ativado,

está sendo amplamente utilizada como tratamento terciário de águas

residuárias, principalmente para remover sólidos suspensos antes de

desinfecção, matéria orgânica remanescente do processo biológico, nutrientes

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(N e P), microrganismos (coliformes fecais e ovos de helmintos) e

micropoluentes, adequando o efluente aos padrões legais de lançamento em

curso d’água e/ou reúso.

Diante do exposto, as tecnologias de tratamento de esgoto se tornaram

uma importante ferramenta para a proteção e manutenção de um meio

ambiente saudável, principalmente no que concerne aos recursos hídricos e

consequentemente dos seres vivos que dependem desse recurso.

2.0. OBJETIVO GERAL

O objetivo geral deste trabalho foi avaliar o desempenho de um sistema

de filtração em areia seguida por filtração em carvão ativado granular como

unidade de pós-tratamento de efluente de reator UASB, tratando esgoto

doméstico.

2.1. Objetivo Específico

i. Verificar o desempenho e a eficiência dos filtros através de análises

físico-químicas;

ii. Avaliar o desempenho de perda de carga progressiva no sistema de

filtração descendente.

iii. Verificar o desempenho dos filtros em remover organismos indicadores

de patogenicidade;

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3.0. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

3.1. Poluentes Encontrados em Esgotos Domésticos

A água foi, por muito tempo, considerada pela humanidade como um

recurso inesgotável e, talvez por isso, tenha sido um bem mal gerido (Florêncio

et al., 2006). Uma variedade de fatores, incluindo o crescimento populacional, o

aumento da atividade industrial, o uso da terra, dentre outros, vem causando

problemas ambientais que têm se tornado cada vez mais críticos e frequentes,

o que tem provocado alterações na qualidade do solo, do ar e da água. Esses

fatores e o progresso econômico aliados às mudanças climáticas, tornam

incerta a disponibilidade dos recursos hídricos para o futuro (GHISELLI &

JARDIM, 2007; DAVIESA & SIMONOVICB, 2011).

Na ausência de reformas e investimentos, o uso da água está, cada vez

mais, gerando conflitos em várias partes do mundo. O Brasil tem uma das

maiores reservas de água do planeta, mas nem todos os brasileiros têm

acesso à quantidade e qualidade de água necessária para satisfazer suas

necessidades. O uso irracional e a má gestão provocaram a exaustão de

muitas fontes e têm colocado a saúde e a economia das comunidades em risco

(BARROS et al., 2012).

Os esgotos, principalmente os domésticos, quando são lançados no

meio ambiente sem nenhum tipo de tratamento, podem acarretar grandes

problemas ambientais, pois possuem diversos tipos de constituintes; entre os

mais usuais estão: a matéria orgânica biodegradável (proteínas, carboidratos e

lipídeos), sólidos dissolvidos e suspensos, nutrientes (principalmente o

nitrogênio e o fósforo), compostos inorgânicos (cálcio e sódio). Em pequenas

quantidades, encontram-se metais pesados, que devem ser removidos caso se

almeje o reúso da água; micropoluentes, como os que possuem potencial

carcinogênico e teratogênico; e substâncias orgânicas refratárias, aquelas que

não são removidas por tratamento convencional (pesticidas e surfactantes)

(METCALF & EDDY, 2003).

Dentre os principais impactos observados do lançamento de esgotos

sem tratamento, podem ser citados:

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O decaimento do oxigênio dissolvido nos cursos d’água, devido à

estabilização da matéria orgânica realizada pelas bactérias decompositoras,

as quais utilizam o oxigênio no meio líquido para a sua respiração;

Incorporação no curso d’água de uma ampla gama de microrganismos

transmissores de doenças. Esse fato pode não gerar impacto à biota do

corpo d’água em si, mas afeta alguns dos usos preponderantes a ele

destinados, tais como abastecimento de água potável, irrigação e

balneabilidade;

Eutrofização das águas superficiais devido às descargas, em altas

concentrações, de nutrientes, principalmente nitrogênio e fósforo,

provocando o enriquecimento do meio, tornando-o mais fértil e possibilitando

o crescimento intensivo de comunidades fitoplanctônicas (AGUJARO e

ISAAC, 2002). Um dos impactos mais preocupantes da aceleração do

processo de eutrofização é o aumento da probabilidade de ocorrência de

florações de algas, principalmente as cianobactérias, potencialmente tóxicas,

as quais podem alterar a qualidade das águas, sobretudo no que tange ao

abastecimento público;

Segundo o Boletim da OMS (2008), a presença de microrganismos

patogênicos em águas naturais provoca a morte de mais de 1,5 milhões de

pessoas, anualmente, em todo o mundo – na maioria, crianças com idade

abaixo de 5 anos. O aumento da poluição das águas superficiais e

subterrâneas por produtos químicos, com efeitos na vida aquática e na saúde

humana, também pode provocar problemas similares ou até mesmo de maior

severidade (FERNANDES et al., 2011).

Dentre os muitos tipos de poluentes veiculados pelo esgoto, especial

atenção tem sido dada, recentemente, à classe dos micropoluentes; espécies

químicas que, mesmo estando presentes em pequenas concentrações, são

capazes de desencadear efeitos sobre os sistemas em que são introduzidos

(REIS FILHO et al., 2006; KLAVARIOTI et al., 2009). Mackay, em 1982,

classificou como micropoluentes os compostos químicos usualmente

detectados em concentrações abaixo de 1 mg/L. Nesse contexto, o estudo de

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5

micropoluentes em ambientes aquáticos tem ganhado grande atenção nas

últimas décadas. Dentro do grande número de substâncias classificadas como

micropoluentes, destaque pode ser dado aos disruptores endócrinos.

Disruptores endócrinos, em razão da massificação de seu uso, da baixa

eficiência de remoção apresentada pelos sistemas convencionais de

tratamento (BOLONG et al., 2009; KRAUZE et al., 2009; YING et al., 2009;

ZORITA et al., 2009) e do contínuo aporte no ambiente aquático, contaminam

águas superficiais e subterrâneas, provocando efeitos deletérios ainda em

discussão (BILA e DEZOTTI, 2007; GHISELLI e JARDIM, 2007; SCHERR et

al., 2009).

A origem da hipótese da ação dos disruptores endócrinos deve-se a

acontecimentos importantes, tais como: 1) o aparecimento de câncer no

sistema reprodutivo de filhas de mulheres que usaram DES (dietilestilbestrol)

na gravidez, entre os anos de 1940 a 1972; 2) anomalias no sistema

reprodutivo observadas em jacarés que habitavam um lago na Flórida

contaminado com o pesticida DDT e seu metabólito DDE3; e 3) um estudo na

Dinamarca que relata o declínio da qualidade do sêmen de homens durante

aproximadamente 50 anos, entre os anos de 1938 e 1994.

Nesse contexto, o lançamento indiscriminado dos esgotos domésticos

sem tratamento, ou parcialmente tratados, é um dos principais motivos de

poluição da água e pode causar vários efeitos degradantes, interferindo

diretamente na qualidade dos recursos hídricos e nos seus usos benéficos.

3.2. Tratamento Convencional de Água Residuária

O tratamento de águas residuárias é realizado através de operações e

processos unitários, cujo objetivo é reduzir ou remover os agentes poluidores,

são selecionados baseando-se nas características qualitativas e quantitativas

do esgoto, objetivos do tratamento, disponibilidade de área, requisitos legais,

tecnologia, etc. As operações unitárias são, geralmente, utilizadas em

sequência, formando diferentes níveis de tratamento, classificados como

preliminar, primário, secundário e terciário ou avançado.

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O tratamento preliminar visa à remoção de material grosseiro e areia,

enquanto o primário remove sólidos sedimentáveis. Como muitos

microrganismos ficam aderidos às partículas sólidas do esgoto, a remoção de

sólidos suspensos também contribui para a diminuição do número de

microrganismos entéricos (TANJI et al., 2002; JIMENEZ, et al, 2010).

O tratamento secundário é realizado através de processos biológicos.

Esse tratamento possui os seguintes objetivos: (1) estabilizar a matéria

orgânica transformando-a em compostos simples (estabilizados), (2) incorporar

sólidos suspensos sedimentáveis e não coloidais em um floco biológico ou

biofilme, (3) transformar ou remover nutrientes, como nitrogênio e fósforo, e (4),

em alguns casos, remover os constituintes orgânicos e compostos químicos

específicos. (METCALF e EDDY, 2003).

Os sistemas biológicos podem ser anaeróbios e aeróbios. Os reatores

aeróbios apresentam uma elevada eficiência no tratamento, mas possuem

desvantagens, como elevados custos de implantação e manutenção. Os

reatores anaeróbios apresentam algumas vantagens em relação aos sistemas

aeróbios, como: baixo consumo de energia, simplicidade de construção, baixa

produção de lodo, operação e manutenção simplificada. Contudo, não são

eficientes para remoção de nutrientes, patógenos e apresentam certa limitação

na remoção da matéria orgânica, muitas vezes não atendendo aos parâmetros

estabelecidos pela resolução CONAMA 430/2011 para lançamento de esgoto

em corpos d’água receptores.

Segundo Asadi et al. (2012), o uso combinado de reatores anaeróbios e

aeróbios apresenta-se com grande potencial para o tratamento de esgotos,

incluindo a remoção complementar da matéria orgânica remanescente do

processo anaeróbio, a remoção de nutrientes, principalmente nitrogênio,

através do processo de nitrificação-desnitrificação, e, eventualmente, outros

poluentes, como os micropoluentes e microrganismos.

Esses sistemas combinados são alternativas interessantes do ponto de

vista técnico e econômico, pois possuem elevada eficiência global de redução

das concentrações dos poluentes no esgoto – aliada à economia de energia

elétrica, menor geração de lodo de excesso, menor requisito de área – quando

comparados a sistemas aerados convencionais (PROSAB, 2006).

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7

3.3. Tratamento Terciário de Água Residuária

Após o tratamento convencional, a qualidade do efluente pode ainda ser

melhorada pelo tratamento terciário. Processos terciários de tratamento são

comumente utilizados para remover matéria orgânica, sólidos suspensos,

compostos orgânicos sintéticos, microrganismos e íons inorgânicos, bem como

sulfato e fosfato, do efluente do tratamento secundário.

A necessidade do tratamento terciário é baseada considerando um ou

mais dos seguintes fatores:

Necessidade de remoção de matéria orgânica e sólidos suspensos totais,

que não foram removidos no processo convencional de tratamento para

atender aos requisitos mais restritivos de lançamento ou reúso;

A necessidade de remoção do residual dos sólidos suspensos totais para

condicionar o efluente ao tratamento mais efetivo de desinfecção;

A necessidade de remover nutrientes remanescentes do tratamento

secundário para evitar o efeito da eutrofização dos corpos d’água;

A remoção de constituintes específicos inorgânicos (metais pesados) e

orgânicos para atender às exigências mais rigorosas de reúso e

lançamento em águas superficiais;

Nos últimos anos, os efeitos de muitas dessas substâncias sobre o

ambiente tornaram-se mais evidentes. Com isso, as pesquisas nesse campo

possuem a finalidade de determinar: (1) os efeitos ambientais das substâncias

potencialmente tóxicas e biologicamente ativas encontrados em águas

residuárias e (2) as possibilidades de remoção dessas substâncias por

processos de tratamento convencionais e/ou avançados.

Como resultado, os requisitos para tratamento de esgoto estão se

tornando cada vez mais rigorosos em termos de concentrações-limite de

muitas dessas substâncias no efluente, estabelecendo assim, novos níveis de

toxicidade.

Existe um grande número de processos de tratamento terciário, incluindo

pós-precipitação, filtração rápida em areia, filtração lenta em areia, flotação por

ar dissolvido (DAF), filtração com membranas (MF, UF, NF, OR), troca iônica,

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oxidação química e adsorção em carvão ativado. Esses processos têm sido

aplicados para o tratamento terciário de águas residuárias com diferentes

finalidades (PINTO FILHO e BRANDÃO, 2001; HAMODA et al., 2002;

METCALF e EDDY, 2003; RAJALA et al. 2003; YOON et al. 2006; BROSEUS

et al., 2009; XUE et al., 2010; HO et al. 2011). A aplicação e a escolha do

processo de tratamento são determinadas por vários fatores, por exemplo, o

objetivo do tratamento, a qualidade e quantidade do esgoto a ser tratado, a

facilidade de operação do processo, o requerimento de área e das condições

ambientais e a viabilidade econômica do sistema.

3.4. Tratamento Terciário por Filtração

Filtração em meio granular é amplamente utilizado como operação

unitária em diferentes sistemas de tratamentos de água e esgoto. Embora a

filtração em areia tenha sido utilizada por muito tempo para tratamento de

água, atualmente, a filtração em areia está sendo amplamente utilizada como

tratamento terciário de águas residuárias, principalmente para remover sólidos

suspensos e matéria orgânica antes do tratamento de desinfecção ou para

remover fósforo e matéria orgânica do efluente antes do lançamento em curso

d’água.

Os mecanismos responsáveis pela remoção de partículas durante a

filtração com ação de profundidade são complexos e influenciados,

principalmente, pelas características físicas e químicas das partículas, da água

e do meio filtrante, da taxa de filtração e do método de operação dos filtros.

Considera-se a filtração o resultado da ação de três mecanismos distintos:

transporte, aderência e desprendimento (JIMENEZ et. al., 2010).

Os mecanismos de transporte são responsáveis por conduzir as

partículas suspensas para as proximidades das superfícies dos coletores

(material granular que compõe o leito filtrante), podendo permanecer aderidas

a estes por meio de forças superficiais, que resistem às forças de cisalhamento

resultantes das características do escoamento ao longo do meio filtrante. As

partículas tanto podem aderir diretamente às superfícies dos grãos como às

partículas previamente retidas.

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O fato de as partículas suspensas através dos mecanismos de

transporte serem carreadas para a superfície dos grãos de areia não significa

que estas permanecerão aderidas a essas superfícies. Se não houver uma

afinidade físico-química entre as superfícies dos grãos de areia e das partículas

e se determinadas condições não forem satisfeitas, as partículas poderão

retornar às linhas de corrente e serem carreadas leito abaixo, onde terão

novamente a possibilidade de serem retidas ou atravessarão a camada

filtrante, saindo com o efluente do filtro. Os principais mecanismos de

aderência que permitem essa permanência da partícula junto aos grãos de

areia são: atração eletrostática, forças de van der Waals, reações de

hidratação, adsorção mútua e “mecanismos” de soltura.

As partículas aderidas aos grãos de areia em um leito filtrante, através

dos mecanismos descritos anteriormente, constituem-se em uma estrutura

bastante sólida. Atualmente, os diversos autores divergem sobre a

possibilidade de romper essa estrutura e transferir novamente as partículas

aderidas para as linhas de corrente, quando o filtro é operado à taxa de

filtração constante. Entretanto, alguns deles notaram a ocorrência de soltura

das partículas aderidas com a consequente deterioração da qualidade da água

filtrada, quando ocorrem variações bruscas na taxa de filtração. Esse efeito é

bastante significativo nos filtros lentos de areia, o que leva a considerações

importantes no projeto e operação dessas unidades de tratamento, visando à

manutenção de taxas de filtração constantes. A Figura 1 apresenta uma

ilustração dos mecanismos de transporte, aderência e desprendimento.

Figura 1 – Mecanismos de transporte, aderência e desprendimento durante a filtração (Di Bernardo, 2005).

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Algumas características do afluente que podem afetar o processo de

filtração incluem a concentração, tamanho das partículas, distribuição de

tamanhos, carga e força das partículas sólidas ou flocos (STEVIK et al., 2004).

A distribuição de tamanho e características de superfície, tais como carga

superficial e do material particulado, influencia nos mecanismos de remoção no

leito filtrante. Material coloidal e particulado em águas residuárias normalmente

possui carga negativa, repelindo-se e tornando-se estabilizado. Com isso,

geralmente, utilizam-se coagulantes químicos inorgânicos e polímeros

orgânicos na filtração para melhorar a eficiência do tratamento

(DIAMADOPOULOS e VLACHOS, 1996; CIKUREL et al, 1996, 1999.;

HEINONEN-TANSKI et al, 2002.; RAJALA et al., 2003).

A adição de produto químico pode causar desestabilização e coagulação

de partículas e matéria coloidal, seguidas de agregação das partículas e

separação do material particulado no leito filtrante (ADIN, 1999). A adição de

um coagulante químico inorgânico também pode precipitar substâncias

solúveis, como fósforo inorgânico. Os floculantes poliméricos orgânicos podem

funcionar através de ponte de materiais em suspensão em agregados maiores

e aumentar a força de agregados de partículas e flocos químicos. A eficiência

do processo de coagulação-floculação é afetada pela dose de coagulante e do

pH da água, cada tipo de coagulante tem suas próprias condições ótimas de

processo. A superdosagem de coagulante pode causar problemas

operacionais, como o entupimento do filtro ou avanço de turbidez através do

meio filtrante (JOLIS et al, 1996; KUO et al, 1997; CIKUREL et al, 1999).

Em relação à eficiência de tratamento, alguns estudos têm demonstrado

que esse método possui certo potencial para ser utilizado como pós-

tratamento, conferindo melhor qualidade aos efluentes tratados a nível

secundário. Em três diferentes estudos, em escala piloto, usando o processo

de filtração como tratamento terciário de efluentes de tratamento secundário,

Kuo et al. (1997) reportaram 78-80% em média a redução de turbidez (residual

1,2-1,4 NTU), 81-87% redução de sólidos suspensos (residual 1,6-2,0 mg/L) e

17% de redução de DQO (residual 53-54 mg/L). Jolis et al. (1996), reportaram

resultados similares em filtração em escala piloto de efluentes de tratamento

biológico municipal, usando dois diferentes filtros. Eles também reportaram

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uma redução média de 1.1 log de bactérias coliformes no processo de

tratamento terciário por filtração. Nieuwstad et al. (1988), alcançaram cerca de

30-50% na redução de matéria orgânica (DBO e DQO), redução de 70-75% de

fósforo total Ptot e sólidos suspensos, bem como uma redução de 20-70% de

micróbios entéricos (E. coli, estreptococcos fecais, e esporos de sulfato

reduzidos clostridia) no processo terciário de filtração. Filtração terciária

(filtração direta) utilizada com o auxílio de coagulante químico férrico melhorou

o desempenho do processo de filtração, alcançando cerca de 40-60% de

redução de matéria orgânica (DBO, DQO), 90% redução de fósforo total Ptot e

redução de 80-99,4% de micróbios entéricos.

Rajala et al. (2003), reportaram que o tratamento terciário através de

filtração rápida (RSF) reduziu o número de microrganismos entéricos em 90-

99%, sólidos suspensos de 56-93% (residual 1-4 mg/L), turbidez de 65-87%

(residual 18-39 mg/L), e alcançou valores de transmitância >70% UV em escala

piloto. O tratamento terciário por filtração quando usado com uma filtração

mecânica foi reportado como menos eficiente.

Suwa e Suzuki (2003), alcançaram cerca de 0,5 log na redução de

Cryptosporidium oocists no processo terciário de filtração, enquanto que, num

processo de filtração direta com coagulante de policloreto de alumínio,

alcançaram uma redução de 2,6 log de Cryptosporidium oocists.

Aisse et al. (2007), concluíram que a filtração em areia utilizada como

pós-tratamento de reator UASB seguido de flotação, permitiu a melhoria da

qualidade físico-química do efluente da ETE Cambuí. Foram obtidas eficiências

de 57,9%, 83,2% e 84,3%, respectivamente, para a DQO, Turbidez e SST,

quando aplicada a taxa de 100 m³/m².dia na filtração descendente.

Tonetti et al. (2012), utilizando filtração como polimento de filtro

anaeróbio obtiveram remoção média de 91%, para turbidez; 83%, para sólidos

suspensos; 85%, para remoção de matéria orgânica DBO. Em relação aos

microrganismos, os filtros proporcionaram densidades menores, sendo que

seus efluentes variaram nas proximidades de 105 NMP/100 mL para coliformes

totais e entre 104 NMP/100 mL e 105 NMP 100/mL para E. coli. Esses valores

representam cerca de 96% de eficiência em relação a remoção dos

contaminantes.

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3.5. Descrição das Operações de Filtração

A filtração consiste na remoção de partículas em suspensão e coloidais

e de microrganismos presentes na água que escoa através de um meio poroso.

Após certo tempo de funcionamento, há necessidade da lavagem do filtro;

geralmente, realizada pela introdução de água no sentido ascensional com

velocidade relativamente alta para promover a fluidificação parcial do meio

granular com liberação das impurezas (DI BERNARDO, 2005 e SALCEDO et

al., 2011).

A filtração pode efetuar-se de muitas formas: com baixa taxa superficial

(filtros lentos) ou com alta taxa superficial (filtros rápidos), em meios porosos

(camadas argilosas, filtro de papel) ou em meios granulares (areia, antracito,

cascalho e combinados), com fluxo ascendente, descendente e misto (parte

ascendente e parte descendente). Por outro lado, o filtro pode trabalhar à

pressão e por gravidade, dependendo da magnitude da carga hidráulica que

exista sobre o leito filtrante. A Tabela 1 apresenta uma ilustração dos filtros

baseada nesses critérios.

Nos filtros de ação lenta, a água passa através da areia a baixa

velocidade devido à força da gravidade. A separação dos sólidos se efetua com

a passagem da água pelos poros da camada filtrante, onde as partículas se

aderem aos grãos de areia. Depois de um longo período de funcionamento,

ocorrerá a obstrução dos poros da camada filtrante, o que se faz necessário

para a realização de uma limpeza no meio filtrante.

Nos filtros de areia de ação rápida com superfície livre, a água desce por

gravidade a alta velocidade. Esses são utilizados para efluentes de águas

residuárias provenientes de um tratamento secundário e, geralmente, é usado

um coagulante químico para promover a floculação das partículas, eliminando

a maior parte dos materiais em suspensão (KUO et al., 1997; RAJALA et al.,

2003; AISSE et al., 2007). A filtração rápida também tem sido empregada com

sucesso sem dosagens de coagulante (HAMODA et al., 2002).

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Tabela 1 – Classificação dos filtros segundo distintos critérios (Arboleda, 2000).

Velocidade de

Filtração Meio Filtrante Usado Carga Sobre o Leito

Rápidos:

120 – 360 m³/m².dia

1. Areia Por gravidade

2. Antracito Por gravidade

3. Mistos Por pressão

Antracito

Areia

4. Mistos: Por pressão

Areia, antracito e

Granada

Lentos:

7 – 14 m³/m².dia

Areia

Por gravidade

Os filtros à pressão são utilizados, preferencialmente, para águas

residuárias. Sua velocidade de filtração varia de 5 a 10 m³/m².h, e a limpeza é

realizada com uma corrente de água no sentido inverso.

3.5.1. Tipos de meios filtrantes

A areia de sílica foi o primeiro dos materiais utilizados na filtração e

continua sendo o material base na maior parte dos filtros atuais. Os filtros de

leito granular geralmente usam como material filtrante o carvão antracito,

carvão ativado, garnet e ilmenita, que podem ser usados sozinhos ou em

combinações de dupla ou mais camadas.

A Figura 2 ilustra o arranjo das camadas de filtração bem como o sentido

do fluxo.

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Figura 2 - Tipos e configurações de meios filtrantes.

(a) filtro convencional, única camada, fluxo descendente; (b) filtro convencional, dupla camada, fluxo descendente;

(c) filtro convencional, única camada, leito profundo, fluxo descendente; (d) filtro de leito profundo e fluxo ascendente.

60-9

0 c

m

Sistema de drenagem

Água a filtrar

Água filtrada

Água filtrada Sistema de drenagem

Água a filtrar

Sistema de drenagem

Água a filtrar

Água filtrada

Nível variável de água

Vertedouro

Água a filtrar

Água

filtrada

30-6

0 c

m

30-6

0 c

m

60-9

0 c

m

60-9

0 c

m

a) b)

c) d)

Areia

Antracito

Areia

Antracito

Areia

Sistema de drenagem

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15

As propriedades do material filtrante são importantes, pois afetam a

eficiência de filtração. Essas propriedades incluem: tamanho, formato,

densidade e dureza. A porosidade do leito granular formado pelos grãos

também merece atenção. Deve-se ressaltar também que, para qualquer

material filtrante, a solubilidade em ácido clorídrico deve ser a menor possível,

no caso do antracito, menor ou igual a 1%.

O tamanho e a distribuição do tamanho dos grãos são determinados a

partir da curva de distribuição granulométrica (Figura 3) obtida através de

ensaios de distribuição granulométrica do material granular, utilizando-se

peneiras padronizadas, de acordo com a NBR 7181/1984. Através dos

resultados desses ensaios, pode-se também determinar o coeficiente de

uniformidade (CU), que é muito importante na filtração. Mesmo que os demais

parâmetros sejam iguais, a penetração de impurezas ao longo do material

filtrante está intimamente relacionada a este coeficiente. Quanto menor o valor

de CU, mais uniforme será o material, mais profunda será a retenção de

impureza e maior será a carreira de filtração.

Figura 3 – Curva de distribuição granulométrica de materiais filtrantes (adaptado de Di

Bernardo 2003).

UC = D60

D10

Qua

ntid

ad

e q

ue p

assa (

%)

Tamanho da abertura (mm)

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A escolha da granulometria de um meio filtrante depende de diversas

variáveis, qualidade desejável do efluente, sistema de lavagem e espessura da

camada filtrante. Assim, estudos em instalação piloto contribuiriam para a

definição da granulometria. Como esses se tornam inviáveis por serem muito

onerosos e consumirem muito tempo, na prática, a escolha é baseada em

estudos anteriores e experiências prévias em outras estações.

A camada suporte dos filtros é formada por pedregulho que, de acordo

com a NBR 6502 sobre Rochas e solos – Terminologia de 1995, é definido

como: solos formados por minerais ou partículas de rocha, com diâmetro

compreendido entre 2,0 mm até 60 mm quando arredondados ou

semiarredondados.

Os seixos utilizados como camada suporte devem apresentar massa

específica igual ou superior a 2500 kg/m³, e a solubilidade em ácido clorídrico

concentrado não deve exceder a 5% e a 10% para seixos de tamanho menor

que 9,6 mm e para seixos com tamanho maior que 9,6 mm, respectivamente.

O meio filtrante de areia pode ser substituído por antracito ou mármore, quando

se quer evitar traços de sílica em tratamentos industriais ou se é mais fácil seu

fornecimento.

Numerosas experiências mostram que, nas mesmas condições de

operação, todos os materiais porosos por si mesmos e que não reagem

quimicamente com a água a ser filtrada ou com as matérias dissolvidas na

água, se comportam da mesma maneira se têm o mesmo diâmetro efetivo e

igual forma; o rendimento de filtração é o mesmo, e a qualidade da água

filtrada é idêntica.

3.5.2. Tipo de funcionamento

Com respeito ao tipo de funcionamento, os filtros podem ser

classificados em contínuos e semicontínuos. Os filtros semicontínuos se

mantêm em funcionamento até que ocorra uma deterioração na qualidade do

efluente ou que se proceda a uma perda de carga excessiva no filtro. Quando

se alcança este ponto, para-se o filtro e procede-se a sua lavagem para

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eliminar os sólidos acumulados. Nos filtros contínuos, os processos de filtração

e lavagem ocorrem da mesma maneira simultânea (METCALF e EDDY, 2003).

Operações de filtração semicontínuas. Nessas operações, a filtração e a

lavagem são fases que se dão, em continuidade, uma após a outra. A

fase da filtração é realizada fazendo circular a água através do leito

granular, com ou sem a adição de reagentes químicos. O final do ciclo

de filtração é atingido quando começa a aumentar o conteúdo de sólidos

no efluente até alcançar um nível máximo aceitável, ou quando a perda

de carga atinge um padrão na circulação através do leito. Idealmente,

ambas as circunstâncias se produzem simultaneamente. Uma vez

alcançada qualquer uma dessas condições, termina a fase de filtração, e

deve ser realizada a lavagem do filtro à contracorrente para eliminar a

matéria que ficou acumulada dentro do leito granular. Para isso, aplica-

se uma vazão suficiente para fluidizar o meio filtrante e arrastar o

material acumulado no leito. Para favorecer a operação de lavagem,

pode ser utilizada uma combinação de água e ar. Esta água, empregada

no processo de lavagem, normalmente, retorna às instalações iniciais do

sistema de tratamento.

Operações de filtração contínua. No funcionamento contínuo, as fases

de filtração e lavagem ocorrem simultaneamente. Quando utilizamos

esses filtros, não existem os conceitos de turbidez limite do efluente nem

a perda de carga máxima admissível na circulação através do leito.

3.5.3. Sentido do fluxo durante a fase de filtração

Com respeito ao sentido do fluxo, os principais tipos de filtros

empregados se classificam em filtros de fluxo ascendente e filtros de fluxo

descendente, sendo o mais comum o de fluxo descendente.

Na filtração rápida descendente, com ação de profundidade, as

impurezas são retidas ao longo do meio filtrante (em contraposição à filtração

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de ação superficial, em que a retenção é significativa apenas no topo de meio

filtrante).

Nos filtros de fluxo descendente convencional, os grãos de cada camada

se distribuem, após a lavagem em contracorrente, do menor para o maior. Nos

filtros com mais de uma camada, os grãos das diferentes camadas se

distribuem dependendo da densidade e da diferença de tamanhos do material

que compõem cada uma das muitas camadas.

A filtração ascendente tem sido comumente considerada como

funcionamento de ação de profundidade, embora, dependendo das

características do meio granular e da taxa de filtração, a retenção de impurezas

seja significativa na camada de pedregulho e subcamadas iniciais da areia.

A pré-filtração pode ser realizada em pré-filtros de pedregulho de

escoamento vertical ascendente ou descendente (TANGERINO et al., 2006). O

pré-filtro ascendente, em camadas ou em série, apresenta menor custo de

operação, comparativamente aos pré-filtros horizontal e descendente, uma vez

que demandam menos água e menos horas de trabalho para os procedimentos

de limpeza (DI BERNARDO et al. 1999). Além disso, tem a vantagem de

favorecer a acumulação de sólidos no fundo do filtro, onde se localiza o

sistema de drenagem, o que facilita a limpeza hidráulica ou de fundo das

unidades, realizadas através de descargas de fundo. A direção vertical do

escoamento reduz as interferências geradas por diferenças de temperatura ou

de densidade do fluido e, em decorrência disso, melhora o comportamento

hidráulico da unidade, evita zonas mortas e produz tempos de retenção mais

homogêneos. A água, após passar por um pré-filtro, é então encaminhada ao

filtro lento (TANGERINO et al., 2006).

Os principais tipos de filtros de meio granular se classificam atendendo à

Tabela 2.

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Tabela 2 – Classificação dos filtros de meio granular (Adaptado de Metcalf e Eddy, 2003).

TIPO DE FILTRO

DETALHES DO LEITO FILTRANTE DIREÇÃO DO

FLUXO TIPO DE LEITO

MEIO GRANULAR

PROFUNDIDADE (cm)

Convencional Único Areia 75 Descendente

Convencional Dupla Areia e antracito

90 Descendente

Convencional Múltipla Areia, antracito e granada

90 Descendente

Leito profundo Único Areia 120-180 Descendente

Leito profundo Único Areia 120-180 Ascendente

Leito profundo Único Areia 27,5 Descendente

Leito profundo Único Areia 120-180 Ascendente

Ponte móvel Único Areia 27,5 Descendente

Ponte móvel Duplo Areia 40 Descendente

3.5.4. Perda de carga

A eficiência da filtração está relacionada às características da suspensão

(tipo, tamanho e massa específica das partículas, resistência das partículas

retidas pelas forças de cisalhamento, temperatura da água, concentração de

partículas, potencial zeta, pH da água, etc.), do meio filtrante (tipo de material

granular, tamanho efetivo, tamanho do maior e menor grão, coeficiente de

desuniformidade, massa específica do material granular e espessura da

camada filtrante) e hidráulicas (taxa de filtração, carga hidráulica disponível, e

método de controle da taxa e do nível de água nos filtros). A perda de carga e

velocidade estão relacionadas, de modo que, para o mesmo tamanho de grão

mais rápida perda para o limite de carga do filtro for atingido antes.

A Figura 4 abaixo representa a evolução da perda de carga e da turbidez

em função do tempo; para poder aproveitar toda a carga hidráulica de acordo

com a perda de carga ocasionada pela colmatação, deve ser fixada uma perda

de carga máxima. Esse valor da perda de carga representa o limite máximo

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que se produzira o transpasse, deteriorando a qualidade do efluente. Quanto

mais fina for a areia, mais elevado será esse valor (METCALF E EDDY, 2003).

Em geral, pode-se dizer que, quanto mais fina é a areia, menor poderá

ser o tamanho da camada filtrante, mas maiores serão as perdas de carga

média e máxima.

Figura 4 – Evolução da perda de carga em função do tempo.

3.5.5. Lavagem dos filtros

Tendo como objetivo a retirada de toda matéria orgânica em suspensão

que ficou retida durante o funcionamento, a limpeza dos filtros é uma

importante ferramenta de controle no processo de filtração.

De acordo com Arboleda (2000), a maioria dos problemas dos filtros tem

origem em deficiências na lavagem como: i) pouca eficiência no

desprendimento das partículas de sujeira aderidas aos grãos e daquelas

alojadas nos espaços intergranulares do meio filtrante e ii) dificuldade de

transportá-las desde o leito filtrante até as calhas coletoras de água de

lavagem.

Uma lavagem eficiente pode ser conseguida quando a expansão do leito

atinge cerca de 40%, ocorrendo a remoção das partículas e a separação da

camada gelatinosa que se acumulou nos grãos. Nesses casos, dependendo da

granulometria, a lavagem pode ser feita com velocidades ascensionais entre

1,0 e 1,2 m/min correspondendo a taxas de 1.440 a 1.730 m3/m2.d,

respectivamente.

Perda de carga final admissível

Perda de carga na filtração

Qualidade limite do efluente

Tempo de filtração

Qu

alid

ad

e

do

eflu

en

te

e p

erd

a d

e c

arg

a

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21

A duração do processo de lavagem varia para as distintas condições da

espessura da camada filtrante, da natureza do material de filtração e

velocidade da lavagem, e deve ser regulada de acordo com os resultados

obtidos. Em condições favoráveis, uma lavagem bastante completa pode ser

realizada em três ou cinco minutos, mas no geral o tempo de lavagem varia de

7 a 10 min., e o consumo de água varia de 3% a 5%, podendo atingir 10% em

alguns casos.

Na filtração ascendente, recomenda-se a realização das descargas de

fundo intermediárias (DFIs), que removem parte das impurezas retidas no meio

filtrante, e tem o objetivo de prolongar a carreira de filtração, o que promove um

decréscimo da perda de carga do filtro. Com essa técnica, é possível obter

carreiras mais longas de filtração, com aumento na duração de até 150%. Essa

forma de limpeza consiste em interromper por curto intervalo de tempo (cerca

de um minuto) a carreira de filtração e realizar uma descarga de fundo. A

operação é realizada pela manobra de um conjunto de válvulas e pode ocorrer

de diferentes maneiras. Com esse procedimento, faz-se uma limpeza parcial do

filtro, removendo o material retido basicamente na camada suporte e nos

primeiros centímetros da camada de areia (DI BERNARDO; SABOGAL PAZ,

2008). Ainda segundo esses autores, em um sistema de dupla filtração, a

lavagem do filtro ascendente em pedregulho pode ser realizada por meio de

sucessivas descargas de fundo, com posterior recarga de água limpa,

repetidas vezes, até que seja observado que a água descarregada esteja

visivelmente limpa.

Os filtros de areia rápidos se lavam para restabelecer sua capacidade

quando a qualidade do efluente é inaceitável, ou quando a perda de carga

através do filtro alcança valores predeterminados. Os filtros descendentes

normalmente são lavados aplicando-se um escoamento ascendente, com

velocidade capaz de assegurar a expansão adequada do meio filtrante. Pode

ser lavado somente com água ou com ar e água.

Depois da lavagem, é aconselhável descartar a água filtrada dos

primeiros minutos, embora a qualidade do efluente do filtro imediatamente após

a lavagem se caracterize dentro dos padrões, o que pode tornar essa ação

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22

desnecessária. A medida da turbidez do filtrado é o indicativo de um bom

processo de lavagem.

3.6. Aspectos Construtivos

3.6.1. Diâmetro Efetivo (D10)

De acordo com a NBR 6502 (1995) diâmetro efetivo é a abertura da

peneira que permite a passagem acumulada de 10% da amostra considerada,

ou seja, é o tamanho dos grãos abaixo do qual ficam 10% da massa total da

amostra. No Brasil a NBR 13969 (1997) recomenda que o diâmetro efetivo da

areia do leito varie entre 0,25 e 1,20 mm e nos Estados Unidos a USEPA

(1999) aconselha a faixa de 0,25 a 0,75 mm. Metcalf e Eddy (2003),

aconselham que não mais do que 1 % da areia seja mais fina do que 0,13 mm.

Segundo Ausland et al. (2002), o diâmetro efetivo afeta a taxa de

infiltração do afluente no leito e a profundidade de penetração da matéria sólida

insolúvel. A adoção de um meio com partículas muito grossas proporciona um

baixo tempo de retenção do líquido, insuficiente para a completa decomposição

biológica, tendo como uma das razões deste comportamento a formação de

fluxos preferenciais através do leito (LOGAN et al., 2001). Tal fato propicia um

baixo rendimento com valores oscilantes de remoção de matéria orgânica,

porém podem-se adotar altas taxas de aplicação com menores possibilidades

de entupimento (USEPA, 2002).

3.6.2. Coeficiente de Uniformidade (CU)

Através dos resultados da distribuição granulométrica (Figura 3) pode-se

determinar o coeficiente de uniformidade (CU), que afeta substancialmente a

penetração das impurezas ao longo do material filtrante. O coeficiente de

uniformidade é definido como CU = D60/D10, onde D60 e D10 são os maiores

tamanhos possíveis de 60% e 10% das frações respectivamente, que passam

pelas peneiras padronizadas.

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23

O tamanho das partículas de areia está relacionado com o valor do

coeficiente de uniformidade, quanto maior o valor de CU, maior será o tamanho

dos grãos de areia. Esta situação afeta o desempenho do filtro, pois aumenta o

tempo de detenção hidráulica, ou seja, a granulação maior da areia permite

que pequenas partículas entrem nos interstícios entre as partículas maiores e

reduz a passagem do afluente causando um possível entupimento no meio

filtrante (HEALY et al., 2007).

A norma Brasileira (NBR 13969, 1997) e a agência americana

(USEPA,1999) recomendam que o CU da areia de um filtro seja inferior a

quatro. Van Buuren et al. (1999), asseguram que remoções maiores de

coliformes fecais são alcançadas com areias com diâmetro efetivo de 0,2 mm e

coeficiente de desuniformidade entre 1,5 e 3,0. Entretanto, consideram que tais

características conduzem a uma oxigenação deficiente e à colmatação,

recomendando o uso de D10 de 0,5 a 1,0 mm.

3.6.3. Profundidade da Camada de Areia

No Brasil, a NBR 13969 (1997) especifica unicamente 0,70 m como a

única profundidade do leito de areia a ser utilizada, informação que é

questionável visto que o país tem grande extensão territorial e diversidade

climática. Porém, para a USEPA (1999), a espessura dos leitos de areia deve

variar entre 0,45 e 0,91 m, ainda que, segundo esta mesma norma, a

purificação do afluente ocorra, principalmente, até 0,30 m abaixo da superfície.

Para esta agência ambiental as camadas rasas de areia mantêm o custo

baixo enquanto que valores maiores garantem um efluente com qualidade mais

constante, além de não ser afetado severamente pela chuva. Portanto, há de

se pensar na relação custo/benefício do projeto USEPA (1999).

Rodgers et al. (2005), estudaram dois filtros de areia de 0,3 m de

diâmetro e profundidades de 0,425 e 0,9 m do leito. Foi constatada uma

remoção de DBO e de sólidos em suspensão superior a 92 % em ambos os

filtros. Isso significa que não há diferença significativa na remoção da matéria

orgânica, relacionado com a profundidade do leito. Entretanto, observou-se

que, na coluna de 0,9 m, o fósforo afluente foi adsorvido em todo o período de

estudo, o que não ocorreu com o leito de altura 0,425 m.

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Tonetti et al. (2005), estudando filtros de areia com profundidades de

leito de 0,75 m e 1,00 m, descobriram que mesmo quando se aplicavam 300 L

m-2 distribuídos em três disposições de 100 L m-2 ao longo do dia, havia a

geração de um efluente com valores de DBO sempre inferiores a 50 mg/L.

3.7. Filtro de Carvão Ativado Granular

O carvão ativado granular, devido a sua porosidade, área superficial e

rugosidade, tem a capacidade de servir como suporte para uma densidade alta

de microrganismos, quando comparado com os materiais filtrantes, como areia

e antracito (DUSSERT E TRAMPOSCH, 1996).

Segundo Mancuso e Santos (2003), o carvão ativado é utilizado no

tratamento avançado de esgotos para remoção de materiais orgânicos solúveis

que não são eliminados nos tratamentos anteriores. É utilizado onde se requer

um alto grau de tratamento, sendo indicado para sistemas de qualquer porte,

tratando toda ou parte da vazão.

As propriedades superficiais e as características de regeneração do

carvão ativado dependem tanto do material usado para produzir o carvão

quanto do procedimento exato de produção. Em relação à porosidade, o carvão

ativado pode ser classificado como macroporos (>25 nm), mesoporos (>1nm e

<25nm) e microporos (<1nm) (SING et al., 2011). O carvão ativado, devido a

sua porosidade, área superficial e rugosidade, é um material adsorvente, tendo

a capacidade de concentrar uma alta densidade de microrganismos, íons e

moléculas originalmente presentes na fase líquida ou gasosa (DUSSERT E

TRAMPOSCH, 1996).

Entre as matérias brutas utilizadas na produção do carvão estão o

carvão vegetal, a turfa, o lignito, a madeira e a casca de coco. O carvão ativado

pode ser utilizado na forma em pó (CAP) ou granular (CAG) (MELO, 2006).

Tem sido aceitável que a atividade biológica no leito de carvão ativado

granular proporcione aumento na adsorção de matéria orgânica, pela

reabertura de novos sítios de adsorção liberados pela degradação biológica de

matéria orgânica, reduzindo a frequência de regeneração e consequente

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25

diminuição do custo operacional (ECKENFELDER et al., 1972; SAKODA et al.,

1996).

A percolação de água pelo filtro de carvão ativado granular é

normalmente realizada de cima para baixo, favorecendo o contato e a adsorção

dos contaminantes à sua superfície e entre os poros dos grânulos, e é

dependente da temperatura e da natureza das substâncias (EPA, 2001).

Segundo Sobecka et al. (2006), o uso de filtros de carvão

biologicamente ativado (biofiltração) representa uma técnica promissora para

remoção de compostos orgânicos na água. Em complemento a esses

compostos potencialmente removidos, Choi et al. (2008), assinalam que os

filtros CAG foram mais eficientes para a remoção de uma classe de antibióticos

(remoção superior a 90%) se comparados com o método convencional de

coagulação.

Li et al. (2012), utilizando adsorção em carvão ativado granular,

observaram a completa remoção de E2 17b-estradiol e a remoção completa de

E1 estradiol só foi alcançada quando foi alterada a concentração de nutrientes

dentro do sistema. Snyder et al. (2007), relatam a remoção de 85% de

diclofenaco por filtro de carvão granular ativado. Tambosi (2008) relatou

eficiência de remoção maior do que 90% para os compostos acetaminofeno,

cetoprofeno, naproxeno, sulfametoxazol e trimetoprima e uma remoção entre

80-100% para roxitromicina em experimento com carvão ativado granular.

Mestre et al. (2007) estudaram a adsorção do AINE ibuprofeno, em dois

diferentes carvões ativados, preparados a partir de resíduos de cortiça em 25,

30 e 40ºC, havendo remoção deste.

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26

4. Materiais e Métodos

4.1. Local do Estudo

Para a investigação da pesquisa foi utilizada parte da Instalação Piloto

da UFPE, localizada na ETE Mangueira, que recebe os esgotos domésticos

provenientes dos bairros da Mangueira, San Martin e Mustardinha em Recife –

PE. As Figuras 5 e 6 ilustram a localização da unidade piloto e a instalação

respectivamente.

Figura 5 - Estação de tratamento de efluentes da Mangueira, Recife - Pernambuco.

4.2. Descrição da Instalação Experimental

4.2.1. Instalação do sistema piloto de filtração

Após passagem pelo tratamento primário na ETE Mangueira, o esgoto

era desviado para uma caixa de acumulação com capacidade para três mil

litros. Além dessa caixa o sistema experimental era composto de: (a) reator

UASB, (b) caixa de distribuição para o filtro ascendente de pedregulho, (c) filtro

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ascendente de pedra, (d) caixa de distribuição para os filtros de areia, (e) e (f)

filtro de areia descendente, (g) e (h) filtro de carvão ativado. A Figura 6 ilustra a

instalação do sistema usado durante a pesquisa.

Figura 6 – Ilustração da instalação do sistema usado durante a pesquisa. As setas estão indicando o fluxo de escoamento do esgoto.

O filtro ascendente em pedregulho (FAP) foi fabricado em PVC com 300

mm de diâmetro e 2,5 metros de comprimento. O lado externo do filtro foi

pintado com tinta a óleo para conservar o material. O filtro ficou sobre um

suporte metálico, com o intuito de o sistema funcionar por gravidade,

dispensando o uso de bomba. Para controle da vazão foi utilizada uma caixa

de distribuição com orifício instalado na parte inferior, conforme Figura 7.

a

b

c

d

e

g

f

h

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28

Figura 7 – Caixa de distribuição do esgoto para o filtro em pedregulho.

Fonte: Autor

Os filtros descendentes de areia (FDA1 e FDA2) foram fabricados em

PVC com 150 mm de diâmetro e 3,5 metros de comprimento. O lado externo

dos filtros foi pintado com tinta a óleo para conservar o material. Para controlar

a vazão foi utilizada uma caixa de distribuição (Figura 8) compartimentada com

orifícios instados na parte inferior da caixa, com isso, a vazão permaneceu

constante durante todo o tempo. O Filtro Descendente de Areia 1, operou com

taxa de aplicação superficial de 120 m³/m².d e o Filtro Descendente de Areia 2

com taxa de aplicação superficial de 160 m³/m².d

Figura 8 - Caixa de distribuição do esgoto para os filtros de areia.

Fonte: Autor

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Os filtros de carvão ativado granular (FCA 1 e FCA 2) também foram

fabricados em PVC com diâmetro de 150 mm e possuíam 1,20 metros de

altura. Realizou-se a pintura para proteger a área externa dos filtros.

4.3. Leito Filtrante

4.3.1. Leito Filtrante do Filtro Ascendente em Pedregulho

O leito filtrante do FAP possuía granulometria de acordo a Tabela 3, com

altura útil de 1,5 metros, sendo cada camada com 30 centímetros de

espessura. A camada suporte era composta de pedregulho e sua granulometria

variou de 60 mm a 19 mm.

Tabela 3 – Granulometria do meio filtrante do FAP

Camada Espessura (cm) Tamanho (mm)

Quarta 30 4 a 2

Terceira 30 6 a 4

Segunda 30 12 a 6

Primeira 30 19 a 12

Suporte 30 60 a 19

O FAP possuía forma cilíndrica, com diâmetro de 0,30 m, área de 0,071

m² e altura de 2,5 m sendo alimentado com taxa superficial de aplicação de 82

m³/m².d.

4.3.2. Leito Filtrante dos Filtros Descendentes

O leito filtrante do conjunto FDA possuía granulometria de acordo a

Tabela 4, com altura de 0,70 metros, sendo a camada suporte com 30

centímetros de espessura e sua granulometria variando de 50 mm a 19 mm. A

caracterização granulométrica, apresentada na Figura 9, foi determinada com

base nas diretrizes da norma NBR 7181 (1984).

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Tabela 4 – Granulometria do meio filtrante de areia (FDA1 e FDA2).

Camada Filtros Descendentes

Espessura da camada (m) 0,70

Tamanho efetivo, D10 (mm) 0,45

Tamanho do maior grão (mm) 2,00

Tamanho do menor grão (mm) 0,42

Coeficiente de uniformidade 1,60

Figura 9 - Curva granulométrica da areia dos filtros descendentes

O FCA foi construído usando-se tubo de PVC de 15 cm de diâmetro e

1,2 m de altura, sendo o leito de carvão ativado granular (casca de coco),

constituídos por uma camada de carvão de 60 cm. A Tabela 5, apresenta as

principais características do carvão ativado granular.

Tabela 5 – Características do carvão ativado granular fabricado com casca de coco.

Especificações

Matéria-prima Casca de coco

Número de iodo (mg I2/g C.A.) 850/950 (mg I2/g C.A.)

Cinzas (%) Máx. 5

Umidade (%) Máx. 5

Dureza (%) Mín. 90

pH 5 a 7

Densidade (g/cm3) 0,45 – 0,55

Granulometria (mm) 2,38 – 1,19

As taxas superficiais de aplicação nessas colunas foram

respectivamente iguais aos filtros de areia correspondentes.

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A Figura 10 mostra o esquema dos filtros que compõem o sistema de

tratamento de esgoto.

Figura 10 – Detalhe do sistema de filtração

4.4. Procedimento Experimental

O filtro ascendente (FAP) recebia o efluente do UASB por gravidade e

distribuía o esgoto para os dois filtros descendentes em areia através da caixa

de distribuição compartimentada.

Os dois filtros descendentes estavam instalados em paralelo, sendo

avaliados ao mesmo tempo. O FDA1 trabalhou com taxa de aplicação

superficial de 120 m³/m².dia e o FDA2 trabalhou com taxa de aplicação

superficial de 160 m³/m².dia. O final de cada carreira de filtração para os filtros

descendentes foi delimitada quando a perda de carga atingia 1,5 m.

Efluente anaeróbio

Caixa de distribuição

1 – FAP: Filtro Ascendente de Pedregulho 2 – FDA: Filtro Descendente de Areia

3 – FCA: Filtro de Carvão Ativado

Segue para o sistema 2

Água de lavagem

Coleta de amostra

Expansão da areia durante a retrolavagem

Efluente filtrado

Entrada de água para lavagem

Entrada de água para lavagem

Descarga de fundo

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Os parâmetros analisados durante a pesquisa foram: pH, turbidez,

alcalinidade, demanda química de oxigênio (DQO), sólidos suspensos totais,

perda de carga, coliformes fecais e ovos de helmintos. Estes foram analisados

de acordo a frequência informada na Tabela 6 abaixo.

Tabela 6 – Parâmetros analisados durante a pesquisa

PARÂMETRO FREQUÊNCIA

pH 2 vezes por semana

Turbidez 2 vezes por semana

Alcalinidade 2 vezes por semana

DQO 2 vezes por semana

SST Quinzenal

Perda de carga Trimestral

Coliformes termotolerantes Quinzenal

Ovos de helmintos Quinzenal

Os parâmetros turbidez e a perda de carga foram analisados in loco,

para a turbidez foi utilizado o turbidímetro da marca Hach modelo 2100P; a

perda de carga foi avaliada através de piezômetros fixados sobre um quadro

com escala milimétrica (Figura 11).

Figura 11 – Quadro piezométrico

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Os demais parâmetros foram analisados no Laboratório de Saneamento

Ambiental da Universidade Federal de Pernambuco (LSA/CTG/UFPE). Todas

as análises seguiram os procedimentos estabelecidos pelo Standard Methods

for the Examination of Water and Wastewater (APHA, 2005).

A determinação dos ovos de helmintos foi baseada na metodologia

descrita por Zerbini e Chernicharo (2001).

As amostras foram analisadas em nível quantitativo, cuja análise

consiste na determinação numérica de ovos de helmintos em determinada

alíquota da amostra.

Para cada amostra de filtrado, foram coletados 5 litros e 1 litro

respectivamente para o afluente e efluente do UASB. As amostras foram

colocadas para decantação durante 24 horas, decorrido esse intervalo de

tempo, 90% do sobrenadante foi descartado com o auxílio de um sifão. O

volume restante, foi colocado em tubos de centrífuga e centrifugados a 2.500

rpm por 15 minutos. Depois da centrifugação, o sobrenadante foi descartado,

na parte sólida foi adicionado uma quantidade da solução de aceto-acética (pH

= 4,5) igual ao do sedimento para ressuspendê-lo. Em seguida complementou

o preenchimento do tubo com a adição de um volume de acetato de etila

correspondente a duas vezes o volume do sedimento e homogeneizou-se as

amostras com o agitador.

Após esse processo foi adicionado um volume de solução de sulfato de

zinco igual a cinco vezes o volume do sedimento. Na solução final, foi realizada

a contagem do número de ovos de Helmintos presentes por meio de um

microscópio com aumento de 100 vezes.

4.4.1. Procedimento de Lavagem dos Filtros

A limpeza do filtro ascendente era realizada através da descarga de

fundo até que o esgoto fosse drenado completamente. Nessa primeira etapa de

descarga, uma parte dos flocos que estavam retidos nas primeiras camadas do

filtro era expulsa do fundo, este fato era visivelmente observado pela aparência

do líquido escuro drenado.

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Em seguida, a água era aplicada na interface do filtro com o mesmo

sentido da filtração até a extremidade superior, e procedia-se novamente a

descarga de fundo. Esse procedimento foi realizado até que a água de

lavagem tivesse aspecto de límpida. Não foi considerada a perda de carga

como base para executar a limpeza do filtro, pois, observou-se que esta era

desprezível, com isso, a limpeza foi realizada a cada 48 horas de

funcionamento do sistema.

Os filtros descendentes foram limpos com água em fluxo contrário a

filtração. A água era aplicada a uma vazão tal que o leito fluidizava favorecendo

o desprendimento das partículas sólidas acumuladas no meio filtrante durante

oito minutos, segundo recomendações de Di Bernardo (2005). Além do tempo

estabelecido de limpeza, ocorria o acompanhamento da transparência da água

de lavagem através de uma amostragem simples e análise visual.

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35

5.0 RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.1. Monitoramento de pH e Alcalinidade

Em relação ao pH, observa-se que, após a passagem pelo reator UASB,

o parâmetro possuiu valores próximos da neutralidade, com média para o

período de avaliação de 7,1 + 0,2. A Tabela 7 apresenta os valores médios de

pH para a estação piloto, demonstrando que não houve grande flutuação entre

os filtros avaliados. Resultados próximos da neutralidade também foram

obtidos por Hamoda et al. (2004), que obtiveram valores de 7,1, 6,8 e 7,0 ao

avaliarem o processo de filtração como tratamento terciário em três diferentes

plantas de tratamento.

De acordo a resolução CONAMA 430 de 2011, para lançamento de

efluente, o pH deve estar compreendido entre 5,0 e 9,0. Dessa forma, foi

observado que, para esse parâmetro, o efluente produzido pelos filtros, que

variou de 6,8 a 7,7, esteve dentro do padrão estabelecido.

Tabela 7 - Valores médios de pH para o período de avaliação.

Afluente UASB FAP FDA1 FCA1 FDA2 FCA2

Min. 6,8 6,8 6,8 7,0 6,8 6,9 7,0

Max 7,5 7,5 7,5 7,5 7,5 7,7 7,7

Med 7,0 7,1 7,1 7,2 7,2 7,3 7,4

Desvio Padrão

0,1 0,17 0,17 0,13 0,15 0,18 0,21

CV 0,02 0,02 0,02 0,02 0,02 0,02 0,03

A alcalinidade total para os dois sistemas de filtração (Figura 12)

permaneceu entre a faixa de 180 a 330 mg CaCO3/L, não havendo consumo

durante o processo de filtração. Essa faixa de concentração pode estar

relacionada ao fato de não ter ocorrido o processo de nitrificação dos

compostos nitrogenados, conforme foi observado por Tonetti et al. (2004).

Outro fato que contribuiu foi a elevada concentração de alcalinidade no

efluente.

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A Tabela 8 apresenta os dados estatísticos para o monitoramento da

alcalinidade durante o período de avaliação.

Tabela 8 - Valores médios de alcalinidade para os dois sistemas de filtração.

Afluente UASB FAP FDA1 FCA1 FDA2 FCA2

Min 185,70 192,80 181,00 173,70 187,20 219,99 223,40

Max 321,20 297,00 280,40 283,80 286,10 287,00 321,20

Med 224,69 234,25 226,65 228,88 226,00 238,76 241,92

Desvio

Padrão 31,33 30,14 29,40 28,10 25,12 16,60 21,84

CV 0,14 0,13 0,13 0,12 0,11 0,07 0,09

Figura 12 - Distribuição da alcalinidade ao longo da pesquisa.

0

50

100

150

200

250

300

350

Alc

alin

idad

e (

mg

/L

CaC

O3)

AFLUENTE UASB

0

50

100

150

200

250

300

350

Alc

alin

idad

e (

mg

/L

CaC

O3)

FAP FDA1 FCA1

0

50

100

150

200

250

300

350

0 50 100 150 200 250 300

Alc

alin

idad

e (

mg

/L

CaC

O3)

Dias de Experimento

FAP FDA2 FCA2

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5.2. Remoção de Matéria Orgânica

A média para a demanda química de oxigênio do esgoto bruto foi de 312

mg/L, o que, segundo Metcalf e Eddy (2003), está dentro das características

típicas do esgoto doméstico.

Após passar pelo UASB, a concentração de DQO atingiu valor médio de

66,83 + 17,7 mg/L, o que caracteriza uma eficiência de remoção de 79%. O

reator UASB estava em operação antes da pesquisa, por isso, não houve

necessidade de adaptação da biomassa, apenas ajuste operacional, o que

garantiu a elevada remoção da matéria orgânica durante toda a pesquisa.

Quanto à DQO removida pelos filtros de areia e carvão ativado granular,

de acordo a Figura 13, pode ser observado, para todas as análises, que os

valores estiveram abaixo do limite estabelecido pela legislação do Estado de

Minas Gerais (COPAM/CERH Nº 01, 2008), que estabelece o limite de 180

mg/L para o lançamento de DQO.

Avaliando as duas taxas de filtração, pode-se observar através da Figura

14 que não houve diferença para remoção de DQO para as taxas de 120 e 160

m³/m².d; isso indica que, neste intervalo, a taxa de filtração não influenciou a

eficiência do tratamento, em termos de remoção de DQO.

Hamoda et. al. 2004, avaliando a filtração rápida como pós-tratamento

de efluente de lodo ativado, obtiveram 34% remoção de DQO com residual de

49,4 mg/L, os autores associaram a eficiência ao fato da carga hidráulica está

excedendo a capacidade do sistema. Tiagi et al. 2009, conseguiram remover

cerca de 80% de DQO utilizando a filtração lenta como pós-tratamento de

reator UASB, apresentando concentração de 23,44 mg/L. Nesta pesquisa, foi

obtido em média uma remoção de 54% de DQO no sistema terciário de

tratamento, com residual de 35,22 mg/L, influenciada principalmente pela

remoção de sólidos suspensos.

Os resultados comprovam que o tratamento terciário por filtração pode

ser considerado como um sistema que produz um efluente com boas

qualidades.

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38

Figura 13 - Distribuição da DQO ao longo da pesquisa.

Figura 14 – Gráfico estatístico dos valores de DQO para as taxas de 120 m³/m².d e 160 m³/m².d.

0

100

200

300

400

500

600

0 50 100 150 200 250

DQ

O (

mg

/L)

AFLUENTE

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

0 50 100 150 200 250

DQ

O (

mg

/L)

FAP FDA1 FCA1

0

20

40

60

80

100

0 50 100 150 200 250

DQ

O (

mg

/L)

Dias de experimento

FAP FDA2 FCA2

0

20

40

60

80

100

120

UASB FAP FDA1 FCA1 FDA2 FCA2

mg/L

DQO

25% 50% 90% 10% Mín Máx 75% Méd

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39

5.4. Remoção de Sólidos Suspensos e Turbidez

Na Tabela 9, estão apresentados os valores médios, mínimos e

máximos de sólidos suspensos totais (SST) que foram encontrados durante a

pesquisa. De acordo com von Sperling (1996), a concentração típica de sólidos

suspensos totais no esgoto doméstico varia entre 200 mg/L e 450 mg/L. Desse

modo, analisando os dados da Tabela 9, verifica-se que o esgoto bruto

apresentou valores médios ligeiramente inferiores a esse intervalo. Uma

explicação para tal comportamento seria a eficiência de remoção da caixa de

areia da ETE Mangueira que antecedia o sistema piloto de tratamento aliada à

sedimentação das partículas sólidas na caixa de recalque do sistema. Outra

suposição seria a de que o esgoto realmente possuía tal característica,

principalmente em épocas chuvosas, o que indica ligações entre a rede de

esgoto e a drenagem pluvial da bacia de contribuição da ETE Mangueira.

Observa-se ainda que houve diferença no comportamento dos dois filtros de

carvão avaliados, no FCA1 obteve-se estabilidade nos valores encontrados

enquanto que no FCA2 houve uma variação nos resultados. Tal

comportamento pode estar relacionado ao fato de o FCA2 receber maior

vazão, consequentemente maior quantidade de sólidos. Outra hipótese seria

uma deficiência no sistema de limpeza do referido filtro.

Tabela 9 – Valores médios de SST (mg/L) para os sistemas de filtração.

AFL UASB FAP FDA1 FCA1 FDA2 FCA2

Min 108,00 11,00 4,50 3,00 4,50 2,00 2,00

Max 346,00 42,00 22,00 15,50 11,00 15,50 10,00

Med 170,17 24,67 13,17 8,17 6,67 6,92 5,92

Desvio Padrão

90,31 11,38 6,56 4,56 2,99 4,75 3,17

CV 0,53 0,46 0,50 0,56 0,45 0,69 0,54

A Figura 15, abaixo, apresenta o gráfico estatístico dos valores de sólidos para as duas taxas de filtração avaliadas na pesquisa, 120 e 160 m³/m².d.

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40

Figura 15 – Gráfico estatístico dos valores de sólidos suspensos totais para as taxas de 120 m³/m².d e 160 m³/m².d.

Avaliando os dados de turbidez alcançados para o esgoto bruto,

percebe-se, por meio da Tabela 10, uma grande variação dos resultados,

apontando para uma média de 205,28 ± 127,02 NTU. Logo, no efluente do

reator UASB, ocorreu um amortecimento dessa variação, encontrando-se uma

média de 32,60 ± 16,05 NTU, o que possibilita uma remoção de 84,12%. Os

resultados desta pesquisa são concomitantes com os encontrados por Tiagi et.

al. (2009), que obtiveram eficiência média de remoção de 91,60% e residual

com variação entre 1,6 a 6,2 NTU na utilização de um meio filtrante com 54 cm

de espessura e tamanho efetivo de 0,43 mm. Esses autores assinalam que

resultados semelhantes foram alcançados por Al Adham (1989) e Clesby et. al.

(1984). Riahi et al. (2009), utilizando palmeira como meio filtrante, alcançaram

eficiência máxima de 54,9 + 1,70%; esses autores concluíram que o diâmetro

do material foi o fator determinante para alcançar essa porcentagem de

remoção.

As Tabelas 10 e 11 apresentam, respectivamente, os dados estatísticos

e a eficiência de remoção média para o monitoramento da turbidez durante o

período de avaliação.

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41

Tabela 10 - Valores médios de turbidez para os sistemas de filtração.

AFLUENTE UASB FAP FDA 1 FCA 1 FDA2 FCA2

Min 53,50 11,80 5,69 3,94 0,96 5,57 4,75

Max 633,00 77,20 83,80 31,70 20,50 40,20 17,80

Med 205,28 32,60 18,07 12,49 6,67 10,58 8,86

Desvio Padrão

127,02 16,05 14,42 6,94 3,97 5,72 2,43

CV 0,62 0,49 0,80 0,56 0,59 0,54 0,27

Tabela 11 – Valores médios de turbidez e eficiência de remoção média em relação ao

tratamento antecedente.

Sistema 1 (Taxa de 120

m³/m².d)

Turbidez média (NTU)

Remoção (%)

Sistema 2 (Taxa de 160

m³/m².d)

Turbidez média (NTU)

Remoção (%)

Afluente 205,28 - Afluente 205,28 -

UASB 32,60 84,12 UASB 32,60 84,12

FAP 18,07 44,57 FAP 18,07 44,57

FDA1 12,49 30,88 FDA2 10,58 41,45

FCA1 6,67 46,60 FCA2 8,86 16,25

Eficiência global (%) 96,75 Eficiência global (%) 95,68

A resolução CONAMA 357/2005 limita em 40 NTU o valor máximo para

turbidez de corpos d’água classe 1. Assim sendo, tanto para a taxa de 120

m³/m².d quanto para a taxa de 160 m³/m².d se alcançou valores inferiores a

esse limite, o que tornou aceitável o emprego desse efluente para lançamento

em curso d’água ou reúso.

A Figura 16, abaixo, apresenta o gráfico estatístico dos valores de

turbidez para as duas taxas de filtração avaliadas na pesquisa, 120 e 160

m³/m².d.

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42

Figura 16 – Gráfico estatístico dos valores de turbidez

5.5. Avaliação da Perda de Carga nos Filtros Descendentes

A perda de carga foi avaliada através de piezômetros instalados nos

filtros de fluxo descendente e sobrepostos num quadro com papel milimetrado.

Foram realizadas leituras horárias iniciadas sempre no período da manhã;

quando a perda de carga atingia o valor máximo, encerrava-se a carreira de

filtração. Nas figuras 17 e 18 abaixo, estão apresentados os resultados da

perda de carga nas primeiras 12 horas de filtração e no período que coincidiu

com a perda de carga máxima do sistema.

Avaliando os resultados apresentados nas figuras, a carreira de filtração

teve como duração máxima cerca de 30 horas; o que pode ter contribuído para

tal fato foi a existência da unidade de filtração em pedregulho anteceder os

filtros descendentes de areia. Aisse et al. (2007), ao avaliarem a perda de

carga na filtração rápida, obtiveram carreira de filtração com 12 horas de

funcionamento. Os autores asseguram que as características do esgoto

afluente contribuíram para a colmatação do leito filtrante num curto intervalo de

tempo. Tiagi et al. (2009), estudando um sistema de filtração lenta como pós

tratamento de reator UASB, conseguiram carreiras de filtração com duração de

84 horas, apesar de o efluente possuir concentração média de sólidos

suspensos de 168 mg/L.

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43

Muito provavelmente a perda de carga é influenciada não só pela

qualidade do afluente ao sistema de filtração, mas também por aspectos

operacionais, projeto das unidades de filtração e características do meio

filtrante.

Figura 17 - Avaliação da perda de carga em 20 de dezembro 2013

Figura 18 – Avaliação da perda de carga em 20 de abril 2014

5.6. Remoção de Coliformes Fecais e Ovos de Helmintos

Os valores encontrados para coliformes fecais do efluente filtrado

oscilaram entre 105 e 104 NMP/100 mL, apresentando eficiência de remoção de

93% para FCA1 e 95% para o FCA2 em relação ao efluente do reator UASB.

Nota-se que, mesmo com a elevada eficiência de remoção de coliformes, esse

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44

parâmetro não atingiu o estabelecido pela Resolução CONAMA 357/2005, que

dispõe sobre qualidade de curso d’água, nem para reúso de acordo as

orientações da Organização Mundial da Saúde – OMS, que limitam em 10³

NMP/100 mL o valor máximo para o parâmetro avaliado. A Tabela 12, abaixo,

apresenta os valores obtidos para essa pesquisa.

Tabela 12 - Valores médios de densidade de coliformes fecais nos efluentes dos filtros de carvão ativado granular (NMP/100 mL)

AFLUENTE UASB FCA1 FCA2

Média 3,10E+07 1,09E+07 1,98E+05 2,01E+05

Mínimo 1,30E+07 6,80E+05 5,30E+04 4,50E+04

Máximo 9,20E+07 3,70E+07 2,80E+05 6,10E+05

Desvio Padrão

2,54E+07 1,42E+07 8,87E+04 1,67E+05

CV 0,28 0,38 0,32 0,27

Entretanto, para a remoção de ovos de helmintos, foram obtidos

resultados bastante significativos. Na Figura 20, observa-se que essa pode ser

considerada uma das grandes vantagens da utilização de filtração como

tratamento terciário, pois não foi observada nenhuma ocorrência de ovos de

helmintos após essa etapa do tratamento. Resultados parecidos aos desta

pesquisa foram encontrados por Jimenez et al. (2000), Quinzaños et al. (2006)

e Gobbi e Hespanhol (2010).

Segundo Hespanhol (2002), com relação à remoção de ovos de

helmintos, os processos de tratamento convencionais, como lodos ativados,

UASB, filtros biológicos ou desinfecção, não são eficientes para atender à

diretriz da OMS para reúso agrícola. Essa afirmação torna o processo de

filtração em leito granular uma alternativa viável para o tratamento de esgoto. A

Figura 19 abaixo ilustra a concentração dos ovos de helmintos.

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45

Figura 19 – Avaliação da remoção de ovos totais de helmintos (Nº/L)

* Não foi detectado nenhum Ovo de Helminto em FCA1 e FCA2 ao longo do monitoramento.

6.0. CONCLUSÕES

Com base nos objetivos propostos e nos resultados obtidos, pode-se

concluir que:

Quanto à remoção de matéria orgânica (DQO), o efluente produzido

apresentou boa qualidade, estando dentro dos limites exigidos pela

legislação federal – Resolução CONAMA 430/2011. Também foi

possível observar o enquadramento dentro dos limites exigidos para

reúso, de acordo a Organização Mundial de Saúde – OMS.

Foram obtidos resultados semelhantes de DQO para os filtros de areia

com fluxo descendente, indicando que a diferença entre as taxas

utilizadas não influenciou o resultado deste parâmetro. Os filtros de

carvão tiveram pouca influência em relação à remoção da DQO, o que

pode indicar que a ativação do carvão pode estar comprometida.

Para Sólidos Suspensos Totais (SST) e Turbidez (UNT), os resultados

destacaram que o efluente produzido atende aos padrões para o reúso

urbano não potável e para o reúso agrícola, necessitando apenas de

desinfecção final.

0

20

40

60

80

100

120

140

160

180

200

de O

vo

s d

e H

elm

into

s

Data

AFLUENTE

UASB

FCA1*

FCA2*

19/ja

n

02/f

ev

26/f

ev

08/m

ar

23/m

ar

10/a

br

26/a

br

16/m

ai

o

11/ju

n

01/ju

l

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46

Avaliando a perda de carga nos filtros descendentes, verificou-se que o

filtro que operou com taxa de 160 m³/m².d. apresentou maior perda de

carga, quando comparados até 30 horas de filtração. Porém, não foi

observada diferença na remoção dos contaminantes avaliados,

requerendo menor área para implantação do sistema de filtração.

Quanto às densidades de coliformes fecais, os efluentes dos filtros de

carvão ativado possuíam valores acima do limite para corpos hídricos

(CONAMA 357, 2005), no entanto, a aplicação de um método de

desinfecção poderia adequar o efluente ao padrão estipulado nessa

legislação.

Em relação à remoção de ovos de helmintos, independente da taxa de

filtração, os dois sistemas alcançaram 100% de eficiência. Esse fato

demonstra a potencialidade de aplicação da filtração em meio granular

como tratamento terciário de esgotos tratados por processos biológicos,

atendendo aos padrões de reúso agrícola e/ou urbano não potável.

7.0. RECOMENDAÇÕES

Após análises e conclusões da presente pesquisa, recomenda-se:

Ativar o carvão granular, e realizar testes de adsorção, pois este não

apresentou a eficiência esperada para a pesquisa;

Realizar experimentos de carreira de filtração com diferentes taxas de

aplicação superficial, monitorando o volume de efluente filtrado, bem

como o volume de água necessário para limpeza dos filtros;

Aplicar coagulante químico antes da filtração ascendente, com o intuito

de avaliar o comportamento dos filtros, quanto à remoção dos

parâmetros físico-químicos, microbiológicos e comportamento

hidrodinâmico;

Aumentar a altura da câmara de carga do filtro de carvão ativado

granular para melhorar o processo de limpeza.

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