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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS DEPARTAMENTO DE ZOOLOGIA CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM BIOLOGIA ANIMAL DIVERSIDADE GENÉTICA DE POPULAÇÕES NATURAIS DE Anthonomus grandis Boheman (COLEOPTERA: CURCULIONIDAE) WALTER FABRÍCIO SILVA MARTINS RECIFE, 2006

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

DEPARTAMENTO DE ZOOLOGIA CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM BIOLOGIA ANIMAL

DIVERSIDADE GENÉTICA DE POPULAÇÕES NATURAIS DE Anthonomus grandis Boheman (COLEOPTERA: CURCULIONIDAE)

WALTER FABRÍCIO SILVA MARTINS

RECIFE, 2006

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WALTER FABRÍCIO SILVA MARTINS

DIVERSIDADE GENÉTICA DE POPULAÇÕES NATURAIS DE Anthonomus grandis Boheman (COLEOPTERA: CURCULIONIDAE)

CONSTÂNCIA FLÁVIA JUNQUEIRA AYRES ORIENTADORA

RECIFE, 2006

Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado em Biologia Animal da Universidade Federal de Pernambuco, como parte dos requisitos para obtenção do grau de Mestre em Ciências Biológicas na área de Biologia Animal.

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Martins, Walter Fabrício Silva

Diversidade genética de populações naturais de Anthonomus grandis Boheman (Coleoptera : Curculionidae) / Walter Fabrício Silva Martins. –Recife : O Autor, 2006.

xi, 74 folhas : il., fig., tab. Dissertação (mestrado) – Universidade Federal

de Pernambuco. CCB. Biologia Animal, 2006. Inclui bibliografia e apêndices. 1. Biologia animal – Genética de insetos. 2.

Populações naturais – Anthonomus grandis Boheman (Coleoptera : Curculionidae) – Diversidade e estrutura genética. 3. Marcadores moleculares – RAPD (Random Amplified Polymorphism DNA) – Isoenzimas e Microssatélite. I . Título.

595.76 CDU (2.ed.) UFPE 595.768 CDD (22.ed.) BC2006-199

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Agradecimentos

A Constância Flávia Junqueira Ayres e a Wagner Alexandre Lucena, pela orientação, paciência e sobretudo pela dedicação. Aos meus pais, irmãos e cunhada, pelo carinho, apoio e estímulo. A Prof. Dra. Ângela Farias pelo apoio e sobretudo pela imensa confiança. A Cibele Sousa pelo auxílio na revelação e interpretação dos géis de microssatélite. À amiga Márcia Vidal pelo imenso apoio científico e pelo gostoso convívio. A todos que fazem parte do Laboratório de Biologia Molecular de Insetos da Embrapa Algodão, em especial a Dra. Sona Jain, José Djair Junior, Karla Angélica, Michele e Poliana, pelo apoio e estímulo. As minhas grandes amigas Lorena Fabíola e Mitshuia Bandim pelo apoio e estímulo. Aos meus amigos (as) Maria José e Spinelli por sempre me acolherem em Recife. À amiga Taciana Coutinho pelo auxílio e gostoso convívio durante a realização dos experimentos. A todos os meus amigos do Departamento de Entomologia do CPqAM, pelo apoio e divertido convívio A todos que fazem parte do laboratório de biotecnologia da Embrapa Algodão, em especial aos pesquisadores e funcionários. Às instituições Embrapa Algodão e CAPES pelo suporte e fomento para a realização deste trabalho. Aos meus amigos da Embrapa Algodão que de alguma forma contribuíram direta ou indiretamente para a realização deste trabalho.

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Lista de Figuras

Introdução Geral

Figura 1. Exemplar adulto de Anthonomus grandis.

4

Figura 2. Mapa da América do Norte e Central com possível local de origem e rotas de migração de Anthonomus grandis.

5

Figura 3. Ciclo biológico do bicudo do algodoeiro.

9

Artigo 1

Figura 1. Mapa do Brasil mostrando os pontos de coleta de Anthonomus grandis.

44

Figura 2. Dendrograma construído pelo método neighbor-joining obtido por RAPD e isoenzimas.

45

Artigo 2

Figura 1. Mapa do Brasil mostrando os pontos de coleta de Anthonomus grandis.

61

Figura 2. Dendrograma construído pelo método neighbor-joining baseado na distância genética de Nei (1978), mostrando o relacionamento entre as populações de A. grandis do Brasil.

62

Apêndices

Figura 1. Loci de microssatélites de A. grandis. a) poços 1 a 16: primer AG-D9. b) poços 1 a 14: “multiplex” primers AG-D1 e AG-D2.

71

Figura 2. Gel de agarose 0,8% corado com brometo de etídio, mostrando o padrão dos primers: OPA 8, OPA 18 e OPC 19.

72

Figura 3. Géis de agarose 0,8% mostrando o padrão de RAPD de A. grandis. a) poços 1 a 24 primer OPA-8. b) poços 1 a 20 primer OPA-18.

73

Figura 4. Géis de penetrose 30 mostrando padrão isoenzimático de a) Esterase e b) Peroxidase.

74

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Lista de Tabelas

Introdução Geral

Tabela 1. Principais registros da ocorrência do bicudo do algodoeiro no mundo.

6

Artigo 1

Tabela 1. Análise da diversidade genética de populações de Anthonomus grandis, por localidade, número de indivíduos analisados (N) e medidas de variabilidade genética: heterozigosidade observada (H0) e porcentagem de loci polimórficos (P) obtidas por isoenzimas e RAPD.

46

Tabela 2. Distância genética de Nei (1972) obtida por RAPD e distância geográfica em km.

46

Tabela 3. Distância genética Nei (1972) revelada por isoenzimas e distância geográfica em km.

46

Artigo 2

Tabela 1. Populações de Anthonomus grandis estudadas por microssatélite, data de coleta e tamanho amostral (N) por localidade.

63

Tabela 2. Seqüência dos primers de microssatélite, número de alelos detectados e heterozigosidade observada (HO).

64

Tabela 3. Populações de A. grandis estudadas, número médio de alelos detectados (na) e medidas de variabilidade genética: heterozigosidade observada (HO) e esperada (HE) e Polimorfismo (P).

65

Tabela 4. FST de Weir e Cockerham (1984) entre as populações e número de migrantes (Nm).

66

Tabela 5. Análise de variância molecular (AMOVA).

67

Tabela 6. Distância genética de Nei (1978) e distância geográfica (km). 67

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Lista de Abreviações

ADH – Álcool desidrogenase

AFLP – Polimorfismo do comprimento do fragmento de restrição

AM – Amilase

CAT – Catalase

DNAmt – DNA mitocondrial

EST – Esterase

FUM – Fumarase

GLUDH – Glucose desidrogenase

GDH – Glutamato desidrogenase

HK – Hexoquinase

IAM – Infinite alleles model

ITS – Espaçador intergênico

IDH – Isocitrato desidrogenase

LAP – Leucina aminopeptidase

MADH – Manitol desidrogenase

MDH – Malato desidrogenase

NADH – Nicotinamida adenina dinucleotídeo desidrogenase

NCBI – Nacional center for biotechnology information

PCR – Reação em cadeia da DNA polimerase

PO – Peroxidase

RAPD – Polimorfismo do DNA amplificado randomicamente

RFLP – Polimorfismo de comprimento de fragmentos de restrição

Rfs – Fragmento de restrição

rRNA – RNA ribosssomal

SMM – Step-wise mutation model

SOD – Superóxido dismutase

SSR – Seqüência simples repetida

SDS – Dodecil sulfato de sódio

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RESUMO

O bicudo do algodoeiro, Anthonomus grandis Boheman, é considerado a maior praga da

cotonicultura mundial, ocasionando danos que repercutem principalmente na

produtividade, qualidade do algodão colhido e gasto com medidas de controle. Neste

estudo foi realizada pela primeira vez, uma análise da diversidade e estrutura genética das

populações naturais de A. grandis do Brasil. Doze populações coletadas em seis estados

brasileiros (Paraíba, Ceará, Bahia, Pará, Mato Grosso e Goiás) em áreas onde são

praticadas a agricultura em escala empresarial e agricultura familiar, foram avaliadas pelas

técnicas de Polimorfismo do DNA Amplificado Randomicamente (RAPD), Isoenzimas e

Microssatélite. Os resultados obtidos em seis populações pela técnica de RAPD baseados

em 25 loci, revelaram uma heterozigosidade média de 0,262, com polimorfismo (P)

variando de 52 a 84%. A diferenciação genética entre as populações foi extremamente

elevada e significativa (GST = 0,258; p < 0,05), refletindo a existência de baixo fluxo

gênico entre as mesmas (Nm = 0,72). A análise de cinco populações com 6 loci alozímicos

mostrou uma heterozigosidade média de 0,212 e polimorfismo (P) variando entre 25 e

100%. O índice de diferenciação genética FST obtido por este marcador entre as populações

correspondeu a 0,544 (p < 0,05), sugerindo a ocorrência de baixo fluxo gênico (Nm =

0,210) entre as populações. A heterozigosidade e o polimorfismo (P) observados em onze

populações pela análise de 8 loci de microssatélites variaram entre 0,038 e 0,224 e de 37,5

a 75%, respectivamente. O FST entre as populações correspondeu a 0,220, produzindo um

Nm de 0,8. Os três marcadores moleculares utilizados revelaram que as populações de A.

grandis dos estados brasileiros avaliados apresentam baixa diversidade genética, em

comparação às populações dos Estados Unidos, México e demais países da América do

Sul, sugerindo que a colonização deste inseto ocorreu em uma ou poucas áreas. Os

resultados obtidos relativos à diversidade genética também permitiram distinguir

populações oriundas de regiões onde é praticada a agricultura em escala empresarial das

áreas de agricultura familiar, assim como mostrou que as populações do nordeste podem

estar servindo de fonte para colonização de novas áreas e de áreas já tratadas.

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ABSTRACT

The boll weevil, Anthonomus grandis Boheman, is considered the major pest of

cotonculture in the world, leading to damages related, mainly, to productivity, quality of

the harvested cotton and expenses with control measures. In this study was done for the

first time, an analysis of diversity and genetic structure of natural populations of A. grandis

from Brazil. Twelve populations collected in six Brazilian states (Paraíba, Ceará, Bahia,

Pará, Mato Grosso and Goiás) were analyzed by Random Amplified Polymorphic DNA

(RAPD), Isozymes and microsatellites. The results obtained in six populations by the

RAPD technique, based in 25 loci, revealed a mean heterozygosis of 0.262, with a

polymorphism (P) varying from 52 to 84%. The genetic differentiation among the

populations was extremely high and significative (GST = 0.258; p < 0.05), reflecting the

existence of a low gene flow among them (Nm = 0.72). The analysis of five populations

with 6 aloenzymatic loci showed a mean heterozygosis of 0.212 and polymorphism

varying from 25 to 100%. The genetic differentiation rate FST obtained using this marker

among the populations corresponded to 0.544 (p < 0.05), suggesting the presence of low

gene flow (Nm = 0.210) among these populations. The heterozygosis and the

polymorphism (P) observed in eleven populations by the analysis of 8 microsatellites loci

ranged from 0.038 to 0.224 and from 37.5 to 75%, respectively. The FST among the

populations was 0.220, producing an Nm of 0.8. The three molecular markers used

revealed that the A. grandis populations from the Brazilian states under study showed a

low genetic diversity, in comparison to those from United States, Mexico and South

America, suggesting that the colonization of this insect occurred in one or few areas. The

results obtained also allowed to distinguish populations from regions where the agriculture

is practiced in empresarial areas and from areas with family agriculture.

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x

SUMÁRIO

Agradecimentos.................................................................................................................... I

Lista de figuras ................................................................................................................... V

Lista de tabelas..................................................................................................................VI

Lista de abreviações.........................................................................................................VII

Resumo............................................................................................................................ VIII

Abstract .............................................................................................................................. IX

I. Introdução geral ............................................................................................................... 1

1.1. Importância sócio-econômica do agronegócio do algodão ............................................1

1.2. Entomofauna associada ao algodão................................................................................ 2

1.3. O bicudo do algodoeiro .................................................................................................. 3

1.3.1. Origem e dispersão ...................................................................................................... 5

1.3.2. Histórico ...................................................................................................................... 6

1.3.3. Ecologia do bicudo do algodoeiro ............................................................................... 7

1.3.4. Ciclo biológico do bicudo............................................................................................ 8

1. 4. Técnicas empregadas para análise genética de populações........................................... 9

1.4.1. Marcadores moleculares .............................................................................................. 9

1.4.1.1. Isoenzimas .............................................................................................................. 10

1.4.1.2. Microssatélite ......................................................................................................... 11

1.4.1.3. Polimorfismo do DNA amplificado randomicamente (RAPD) ............................. 12

1.4.1.4. DNA mitocondrial (DNAmt) ................................................................................. 13

1.4.1.5. Polimorfismo no comprimento de fragmentos de restrição (RFLP) ...................... 14

1.5. Estrutura genética de populações ................................................................................. 15

1.6. Variabilidade e diferenciação genética entre populações............................................. 16

1.7. Fluxo gênico ................................................................................................................. 18

1.8. Variabilidade genética de Anthonomus grandis Boheman...........................................20

II. Objetivos ........................................................................................................................ 24

2.1 Objetivo geral ................................................................................................................ 24

2.2 Objetivos específicos..................................................................................................... 24

III. Referências bibliográficas.......................................................................................... 25

IV. Artigo 1: Diversidade genética de populações naturais brasileiras de Anthonomus grandis Boheman (Coleoptera: Curculionidae)................................................................... 32

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V. Artigo 2: Estrutura genética de populações brasileiras de Anthonomus grandis Boheman (Coleoptera: Curculionidae) revelada por microssatélite.................................... 47

VI. Conclusões.................................................................................................................... 68

VII. Apêndices.................................................................................................................... 70

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Diversidade genética de Anthonomus grandis Martins, WFS

1

I. Introdução Geral 1.1. Importância sócio-econômica do agronegócio do algodão

O algodoeiro é uma das espécies vegetais cultivadas mais antigas do mundo. Os

primeiros registros do cultivo do algodão são datados de alguns séculos antes de Cristo. No

Brasil, antes mesmo do descobrimento, os indígenas já cultivavam o algodão e o

transformavam em fios e tecidos (RICHETTI e MELLO FILHO, 1998).

O algodoeiro pertence ao gênero Gossypium, família Malvaceae. Atualmente, são

conhecidas mais de 52 espécies, entretanto apenas as espécies diplóides (2n = 26) do velho

mundo Gossypium herbaceum e Gossypium arboreum e as espécies tetraplóides (2n = 52)

do novo mundo Gossypium hirsutum e Gossypium barbadense são cultivadas e exploradas

economicamente (MUNRO, 1994).

A exploração econômica do algodoeiro é muito versátil, pois além da semente e da

fibra, vários outros componentes da planta podem ser empregados. No entanto, a fibra é

considerada o principal produto do algodão, podendo ser utilizada em mais de quatrocentas

aplicações industriais, dentre as quais se destacam a confecção de fios para tecelagem,

feltro, cobertores, estofamentos e a obtenção de celulose (CORRÊA, 1989).

Da semente do algodão podem ser utilizados o línter (fibras curtas abaixo de 4 mm)

para a fabricação de algodão hidrófilo, o óleo (depois de refinado), na alimentação humana

e na fabricação de margarina e sabão, e o bagaço, subproduto da extração do óleo,

empregado como ração animal, devido ao alto nível protéico (CARVALHO, 1996).

Atualmente, a cotonicultura assume lugar de destaque em todo o mundo com mais

de 70 países produtores e mais de 150 países consumidores, consolidando o agronegócio

do algodão como um dos mais importantes do ponto de vista sócio-econômico,

movimentando bilhões de dólares por ano (BELTRÃO e CARDOSO, 2003).

A produção mundial de algodão em 2005 alcançou o patamar de 24,8 milhões de

toneladas, o maior desde 1993, a qual correspondeu a 17 milhões de toneladas (ESTUR,

2004). Segundo este mesmo autor, a plantação mundial de algodão da safra 2004/05

ocupou uma área de 33 milhões de hectares, ocupando lugar de destaque como maiores

produtores, em ordem decrescente: China, Estados Unidos, Índia, Paquistão e Brasil.

No Brasil, a cultura do algodoeiro entre 2004 e 2005 ocupou aproximadamente

1.254808 hectares, com 83,7% da área plantada localizada nas regiões Nordeste e Centro-

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Diversidade genética de Anthonomus grandis Martins, WFS

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Oeste. A produção nacional de algodão em 2005 foi a maior dos últimos quinze anos, com

cerca de 3.798480 toneladas de algodão herbáceo em caroço (IBGE, 2005).

Atualmente, os três maiores produtores de algodão do Brasil são os estados da

Bahia, Mato Grosso e Goiás. Na região nordeste tem-se cultivado basicamente dois tipos

de algodão, o herbáceo (anual ou “upland”) que produz fibra média e o perene, derivado do

algodão mocó, G. hirsutum L. r marie galante Hutch. Nas demais regiões do país, o

algodão herbáceo tem sido o mais cultivado (BELTRÃO, 2002).

1.2. Entomofauna associada ao algodão

Uma grande variedade de Artrópodas está associada ao agroecossistema algodoeiro.

No entanto, a fauna entomológica tem papel de destaque devido à ocorrência de insetos

praga e benéficos de diversas ordens.

Considerando a planta hospedeira original do inseto, as pragas do algodão são

classificadas em três grupos: as que são restritas ao gênero Gossypium e Cienfugosia, as

que ocorrem em outros membros da ordem Malvales, e as que preferencialmente se

alimentam em plantas de outras ordens (MATTHEWS, 1994).

As pragas do algodão também podem ser classificadas como iniciais, intermediárias

ou finais, em função da sua ocorrência no ciclo do algodoeiro. São tidas como pragas

iniciais: lagarta rosca (Agrotis ipsilon), broca-da-raiz (Eutinobothrus brasiliensis), broca-

da-haste (Conotrachelus denieri), tripes (Frankliniella schulzei e Coliothrips brasiliensis)

e pulgões (Aphis gossypii). Estes insetos danificam principalmente as plântulas e plantas

jovens (GONDIN et al., 1993).

Os insetos que danificam o algodoeiro, principalmente no meio do ciclo são

chamados de pragas intermediárias e neste grupo são encontrados: a) insetos

desfolhadores: curuquerê (Alabama argillacea) e lagarta militar (Spodoptera frugiperda),

b) insetos picadores sugadores: mosca branca (Bemisia tabaci), percevejo lygus (Lygus

lineolaris), percevejo rajado (Horcias nobilellus), ácaro branco (Polyphagotarsonemus

latus) e ácaros rajado e vermelho (Tetranychus urticae e T. ludeni) e c) insetos da fase

reprodutiva: lagarta das maçãs (Heliothis virescens) e o bicudo do algodoeiro (Anthonomus

grandis). Na fase final do ciclo do algodoeiro são encontrados principalmente a lagarta

rosada (Pectinophora gossypiella) e o percevejo manchador (Dysdercus spp.) (GONDIN et

al., 1993).

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3

As pragas do algodão, além de causar perdas na produtividade, podem afetar

drasticamente a qualidade da fibra do algodão em função de danos diretos e indiretos. Os

insetos desfolhadores podem afetar a área foliar da planta ou a eficiência fotossintética. Em

função disso, podem ocorrer problemas no micronaire (combinação de espessura e

maturidade) e formação de fibras imaturas e pouco aglomeradas (DEGRANDE, 2002). Os

insetos que atacam as estruturas reprodutivas da planta raramente afetam os componentes

da fibra, no entanto, aumentam o número de impurezas no algodão colhido, pois

promovem a abertura imperfeita dos capulhos, sintoma conhecido popularmente como

“carimã” (DEGRANDE, 2002).

Atualmente, espécies das ordens Lepidoptera (Heliothis virescens, Alabama

argillacea e Pectinophora gossypiella) e Coleoptera (Anthonomus grandis) constituem os

grupos mais danosos da cotonicultura brasileira. Entretanto, o bicudo do algodoeiro, A.

grandis, tem assumido papel de destaque, sendo considerada a principal praga da

cotonicultura mundial. Os prejuízos causados por este inseto repercutem principalmente na

produtividade e gastos com medidas de controle. Atualmente, o bicudo do algodoeiro está

disseminado por todas as áreas de cultivo de algodão no Brasil, ocasionando prejuízos que

variam de 3 a 75% da produtividade esperada e perdas da ordem de US$ 140 a 350 por

hectare, incluindo danos e custos de controle (DEGRANDE, 2004/2005).

Segundo Santos e Meneguim (1996), o status de principal praga da cotonicultura

atribuído ao bicudo do algodoeiro deve-se às suas características favoráveis (habilidade de

movimentação, alta capacidade reprodutiva, elevado potencial de postura e reduzido ciclo

biológico) que proporcionam uma maior manutenção da espécie no agroecossistema

algodoeiro.

1.3. O Bicudo do algodoeiro

O bicudo do algodoeiro Anthonomus grandis Boheman (Figura 1), foi descrito em

1843, por Carl Boheman com base em espécimes provenientes de Vera Cruz, México

(SMITH e HARRIS, 1994). Atualmente, A. grandis Boheman juntamente com:

Anthonomus hunteri Burke e Cate, Anthonomus mallyi Jones e Burke, Anthonomus palmeri

Jones e Burke e Anthonomus townsendi Jones e Burke constituem o grupo de espécies

Anthonomus grandis (BURKE, 1986). Entre os representantes deste grupo, apenas A.

grandis pode se desenvolver em plantas não pertencentes ao gênero Hampea (Malvales:

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4

Malvaceae) (JONES, 2001). Segundo Burke (1986), o termo bicudo do algodoeiro tem

sido comumente aplicado aos insetos do gênero que atacam algodão cultivado.

O bicudo do algodoeiro é besouro da ordem Coleoptera, família Curculionidae,

subfamília Curculioninae (LOZADA et al., 1987). Como em todos os membros desta

família, a principal característica deste inseto é a presença de um bico ou rostro bem

alongado, em cuja ponta situam-se as peças bucais (GRAVENA, 2001).

O bicudo adulto mede de 5 a 9 mm de comprimento, apresentando coloração que

varia do pardo-acinzentado ao negro e cerdas douradas esparsas sobre os élitros, nos quais

são observadas estrias ou sulcos longitudinais (BUSOLI e MICHELOTTO, 2005). A

coloração é condicionada pela idade, alimentação e condições climáticas. Um aspecto

morfológico importante é a presença de duas aristas (espinhos) nas patas dianteiras, sendo

a externa maior que a interna, possibilitando a diferenciação deste inseto dos demais da

família Curculionidae (SANTOS, 2002).

Estudos taxonômicos realizados por Warner (1966) apud Burke (1986) revelaram a

existência de três formas distintas de A. grandis conhecidas como: a) bicudo da Turbéria,

termo aplicado aos insetos do Arizona, Novo México, Sonora e México, b) bicudo

mexicano, encontrado no Arizona, Califórnia, México e América Central e c) bicudo do

Sudeste, observado no Texas, Sudeste dos Estados Unidos, Haiti, República Dominicana,

Venezuela, Colômbia e Brasil.

Figura 1: Exemplar adulto de Anthonomus grandis. Fonte: Jackman (2001).

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5

1.3.1. Origem e dispersão

O bicudo do algodoeiro tornou-se assunto de interesse quando a primeira espécie de

Anthonomus passou a ser conhecida como praga nos Estados Unidos, antes de 1890.

Devido à relevância econômica dos danos causados por este inseto às plantações de

algodão, muitas especulações foram postuladas por mais de 90 anos, sobre sua origem e

dispersão (BURKE et al., 1986).

Dentre as muitas teorias propostas, a atualmente mais aceita retrata uma origem

tropical ou subtropical, provavelmente nas regiões de baixa altitude do sul do México e/ou

da América Central (BURKE et al., 1986). A hipótese de uma origem tropical para A.

grandis é sustentada por aspectos como lentidão para adaptação às condições não

tipicamente tropicais ou subtropicais e preferência alimentar por botões florais, órgão da

planta preferido para alimentação e reprodução das espécies do gênero Anthonomus

(BURKE, 1986).

As possíveis rotas de migração em direção ao Norte podem ter ocorrido ao longo

das costas leste e oeste do México (Figura 2), considerando como ponto inicial de evolução

da espécie as regiões tropicais de baixa altitude, próximo ao sul do México. A expansão do

bicudo nesta região acompanhou a presença das espécies de Gossypium e/ou outras da

família Malvaceae que formavam um corredor desde o sul do México até o Arizona

(BURKE, 1986).

Evidências morfológicas revelam que o bicudo existente no Brasil é semelhante ao

do sudeste dos Estados Unidos, podendo ter se originado de populações deste local, ou

provavelmente de outros países como: México, Haiti, República Dominicana, Venezuela

ou Colômbia, através de introdução acidental (DEGRANDE, 1991).

Figura 2: Mapa da América do Norte e Central com possível local de origem e rotas de migração de Anthonomus grandis. Fonte: Burke et al. (1986).

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1.3.2. Histórico

O bicudo do algodoeiro foi coletado pela primeira vez entre 1831 e 1835, em áreas

costeiras do estado de Vera Cruz, México. Neste mesmo país, em 1880, foram relatadas

pela primeira vez, plantas de algodão atacadas perto de Monclava, estado de Cohahuila

(DEGRANDE, 1991).

Nos Estados Unidos, o primeiro relato de A. grandis ocorreu no Texas, ao norte do

Rio Grande, antes de 1892. Posteriormente, com o estabelecimento de áreas de algodão

cultivado, este inseto se dispersou pelos estados do Texas, Louisiana e Arkansas, chegando

ao Mississipi em 1907 (ROEHRDANZ, 2001).

Os primeiros relatos de A. grandis na América do Sul ocorreram na Venezuela e

Colômbia em 1949 e 1950, respectivamente. O Brasil foi o último país do continente

americano a relatar a presença deste inseto, em fevereiro de 1983, no município de Santa

Bárbara do Oeste, Campinas, estado de São Paulo. Neste mesmo ano, também foi

notificada sua presença nos estados da Paraíba e Pernambuco (SOBRINHO et al.,

[1983?]). A Tabela 1 apresenta um histórico das principais notificações sobre a ocorrência

do bicudo do algodoeiro.

Tabela 1: Principais registros da ocorrência do bicudo do algodoeiro no mundo

Fonte: Modificada de Burke et al. (1986)

Relato Ano

Primeiro relato em Cuba 1870

Primeiro relato de danos causados em

algodão cultivado em Monclava - México

1880

Primeiro relato no Texas - EUA 1892

Primeiro relato na Louisiana - EUA 1903

Descoberta de ataque em algodão cultivado

no Arizona - EUA

1920

Primeiro relato no Haiti 1932

Primeiro relato na Venezuela 1949

Primeiro relato na Colômbia 1951

Primeiro relato no Brasil 1983

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1.3.3. Ecologia do bicudo do algodoeiro

O bicudo do algodoeiro tem preferência por ambientes tropicais ou semi-tropicais,

bem como alimentação e reprodução em botões florais (CROSS, 1983). Na escassez de

estruturas florais para alimentação e oviposição, este inseto se torna generalista, passando a

utilizar como fonte alimentar maçãs bem desenvolvidas, folhas cotiledonares, pecíolo de

folhas e ponteiras de hastes (GRAVENA, 2001).

Diversos gêneros de plantas são utilizados como hospedeiros pelo bicudo do

algodoeiro. No entanto, as espécies dos gêneros Gossypium, Cienfuegosia, Thepesia e

Hampea pertencentes à tribo Gossypieae, família Malvaceae, têm constituído os principais

hospedeiros desta espécie (LUKEFAHR et al., 1986).

Segundo Sobrinho et al. ([1983?]), um dos fatores mais relevantes para a

sobrevivência e dispersão do bicudo do algodoeiro é a ocorrência da diapausa. Este estado

fisiológico é caracterizado por prévia intensificação da alimentação, paralisação do sistema

reprodutor, acúmulo de gordura no corpo, redução da respiração e da quantidade de água

corporal.

A diapausa no bicudo do algodoeiro pode ser induzida por fatores como: a)

fotoperíodo menor que 11 horas de luz para larvas e pupas, b) temperatura menor que 10º

C para o estágio adulto e c) escassez de alimento para larvas e adultos (LOZADA et al.,

1987). No Brasil, devido às condições tropicais e subtropicais, ocorre a quiescência em vez

de diapausa, pois o inseto não paralisa totalmente suas atividades no inverno, estando sua

reprodução condicionada à existência de estruturas frutíferas do algodoeiro para oviposição

(GRAVENA, 2001).

Lloyd (1986) relata que a diapausa permite a sobrevivência da forma adulta do

bicudo do algodoeiro de uma safra para outra em ambientes bem protegidos,

preferencialmente, sob a vegetação morta que circunda os campos de algodão. Os insetos

sobreviventes do período de entressafra são responsáveis pelo início da infestação da safra

seguinte. Para cada 50 adultos que entram em diapausa, pode se esperar uma população de

500.000 adultos ao final da safra seguinte (BARBOSA et al., 1983).

A migração do bicudo dos locais de hibernação para as lavouras em

desenvolvimento provavelmente é uma resposta positiva ao surgimento dos botões florais.

Após a alimentação nestes botões florais, os bicudos machos liberam um feromônio de

agregação que assegura adequada colonização e posterior reprodução dos insetos

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(RUMMEL e CURRY, 1986). Segundo Santos (2002), os insetos remanescentes da

entressafra colonizam inicialmente as bordaduras e/ou reboleiras, onde permanecem

durante a primeira geração. Após o período de 70 a 80 dias, quando ocorre o pico de

produção de botões, ocorrem os movimentos mais intensos de migração e dispersão para

dentro da área de cultivo, bem como para áreas vizinhas.

1.3.4. Ciclo biológico do bicudo

O ciclo biológico do bicudo do algodoeiro é constituído por quatro estágios

distintos (Figura 3). Devido ao hábito endófilico deste inseto, os estágios de ovo, larva e

pupa ocorrem no interior dos botões florais ou maçãs de algodão. O bicudo

predominantemente se reproduz de forma sexuada. No entanto, Walker e Bariola (1964)

observaram a ocorrência de partenogênese em insetos que estavam em estado de diapausa.

A fêmea tem expectativa de vida de aproximadamente 30 dias, e durante este

período pode ovipositar até 200 ovos, sendo em média 6 ovos por dia (BUSOLI e

MICHELOTTO, 2005).

O período de incubação dos ovos nos botões florais e maçãs é geralmente de três

dias, seguindo-se da eclosão das larvas as quais apresentam três ínstares, com duração

média de 2,2 e 4 dias, respectivamente. O período pupal dura de 4 a 6 dias, surgindo entre

3 e 5 dias os insetos adultos (LLOYD, 1986). Segundo Santos (2002), o ciclo de ovo a

adulto se completa em aproximadamente 20 dias, podendo ocorrer de 4 a 6 gerações por

safra.

Os ovos apresentam coloração branca e brilhante, medindo em média 0.8 mm de

comprimento por 0.5 mm de largura, o formato do ovo é influenciado principalmente pelo

tamanho do orifício de oviposição e pela pressão de deposição realizada pela fêmea

(SOBRINHO et al., [1983?]). As larvas apresentam corpo segmentado, desprovido de

pernas movimentando-se pela contração do próprio corpo. As pupas são de coloração

branca, podendo se observar os vestígios dos olhos e rostro.

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1. 4. Técnicas empregadas para análise genética de populações. 1.4.1. Marcadores moleculares

Marcador molecular é todo e qualquer fenótipo molecular oriundo de um gene

expresso ou de um segmento específico de DNA, correspondente a uma região codificante

ou não do genoma (FERREIRA e GRATTAPAGLIA, 1998).

Nos primeiros estudos de diversidade genética foram utilizados marcadores

morfológicos e isoenzimáticos. Entretanto, a descoberta do DNA mitocondrial (DNA mt)

como marcador molecular em 1970, e mais recentemente o desenvolvimento da reação em

cadeia da DNA polimerase (PCR), causaram grande impacto nos estudos de biologia

molecular e de genética de populações, especialmente no campo da biologia evolutiva

animal (ZHANG e HEWITT, 1996). Entre as vantagens apresentadas pelos marcadores

amplificados por PCR se destacam a necessidade de pequena quantidade de material

biológico, facilidade de realização e automação em grande escala (MITCHELL-OLDS,

1995).

Os marcadores moleculares podem ser uniloco ou multiloco, amplificando

respectivamente uma ou várias regiões do genoma. Os marcadores que possibilitam a

identificação de indivíduos homozigotos e heterozigotos são chamados co-dominantes,

enquanto aqueles que geralmente não permitem a identificação de genótipos homozigotos

Figura 3: Ciclo biológico do bicudo do algodoeiro. Fonte: Clemson University-USDA (2005).

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e heterozigotos em um indivíduo são denominados marcadores dominantes (MUELLER e

WOLFENBARGER, 1999).

Os avanços nas técnicas de biologia molecular possibilitaram o surgimento de

novos marcadores moleculares ao longo dos anos; a notoriedade destes marcadores está

relacionada à contínua melhoria das diferentes formas de acesso à variabilidade genética

(SCHLOTTERER, 2004). Em suma, os marcadores moleculares constituem uma

ferramenta eficiente nos estudos de biologia de populações, podendo utilizar insetos de

qualquer estágio do desenvolvimento, bem como espécimes preservados em álcool ou com

estruturas morfológicas danificadas.

Atualmente, existem várias técnicas disponíveis que empregam uma estratégia

particular para detectar polimorfismo no DNA; entre estas podemos citar: DNA

mitocondrial (DNA mt), Polimorfismo do DNA Amplificado Randomicamente (RAPD),

Isoenzimas, Polimorfismo do Comprimento de Fragmentos de Restrição (RFLP), genes de

RNA ribossomal (rRNA), Polimorfismo do Comprimento do Fragmento Amplificado

(AFLP), Sequenciamento e Microssatélite.

1.4.1.1. Isoenzimas

Os marcadores isoenzimáticos baseiam-se no princípio de que as variações

protéicas das enzimas podem ser distinguidas empregando eletroforese de proteínas em sua

forma nativa, devido às diferenças de tamanho e carga elétrica causadas por substituições

de aminoácidos (SCHOLOTTERE, 2004). As isoenzimas são diferentes formas

moleculares de uma enzima que catalisam uma mesma reação na célula. Quando a reação é

mediada por proteínas que são codificadas por alelos de um único loco enzimático, as

variantes alélicas são chamadas de alozimas (ROBINSON, 1998).

A técnica de isoenzimas consiste basicamente em submeter o material biológico

fresco a um gradiente elétrico, utilizando como suporte amido, poliacrilamida, entre outros,

corados posteriormente para as enzimas específicas. A visualização das enzimas no suporte

(gel) ocorre após aplicação de soluções de coloração que contêm substratos e cofatores que

catalisam reações bioquímicas específicas cujo produto se deposita na região do gel onde a

enzima ficou localizada, formando bandas visíveis (STAUB et al., 1996).

A interpretação das bandas observadas requer entendimento prévio do princípio

genético da variação alélica de cada enzima. Indivíduos homozigotos geralmente

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apresentam uma banda, enquanto que heterozigotos podem apresentar 2, 3 ou 5 bandas,

dependendo da estrutura quaternária da enzima (PARKER et al., 1998).

Dentre os marcadores moleculares, as isoenzimas apresentam o menor custo,

possibilitando a análise de grande número de indivíduos de cada população. Outro aspecto

vantajoso deste marcador é a utilização de protocolos universais em diversas espécies de

plantas e animais. Um fator limitante para utilização das isoenzimas em algumas análises é

a necessidade de 10 a 20 loci polimórficos com 2 ou mais alelos com segregação

independente, pois na maioria das espécies grande parte dos locos alozímicos são

monomórficos (PARKER et al., 1998).

1.4.1.2. Microssatélite

O genoma da maioria dos eucariontes em grande parte é constituído por seqüências

repetitivas de DNA conhecido como DNA satélite (CHARLESWORTH et al., 1994).

Os microssatélites, também conhecidos como seqüências simples repetidas (SSR),

são trechos de DNA compostos por repeats em tandem de mono, di, tri, tetra ou penta

nucleotídeos, distribuídos no genoma de diversas espécies (POWELL et al., 1996). Cada

locus de microssatélite pode ser constituído por até 50 cópias de seqüências repetitivas de

DNA com comprimento máximo de 10 pb, este aspecto possibilita o estudo da variação

destes locus diretamente em géis de eletroforese (NEIGEL, 1997).

A análise dos loci de microssatélites é realizada por meio de PCR utilizando

primers (oligonucleotídeo iniciador) de 18 a 25 pb complementares à região flanqueadora

do DNA repetitivo (HOSBINO et al., 2002). Os loci de microssatélites mais utilizados são

constituídos por dinucleotídeos com geralmente menos de 30 repetições. Nos animais, a

maioria dos repeats é do tipo CA, enquanto que nas plantas prevalecem às seqüências

compostas por TA ou GA (JARNE e LAGODA, 1996).

Um fator limitante para utilização de microssatélite é a necessidade de

conhecimento prévio das regiões flanqueadoras do DNA repetitivo. No entanto, diversos

loci de microssatélite já foram isolados e caracterizados com sucesso em vários estudos. Os

primers desenhados para as diferentes famílias de animais e plantas podem ser utilizados

em espécies relacionadas (amplificação cruzada) como primers heterólogos (FERREIRA e

GRATTAPAGLIA, 1998).

O microssatélite é um marcador co-dominante, bastante utilizado em estudos de

populações devido à quantidade de alelos que podem ser analisados. Em algumas situações

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são observados de 30 a 50 alelos por locus (PARKER et al., 1998). Segundo Valdes et al.

(1993), dois mecanismos têm sido propostos para formação de novos alelos em loci de

microssatélites, trocas desiguais durante meiose e ocorrência de “Strand Slippage” durante

a replicação do DNA.

Atualmente, uma grande quantidade de estudos tem utilizado este marcador em

investigações de estrutura genética de populações (AGIS e SCHOLOTTERER, 2001;

BROUAT et al., 2003), com especial interesse em questões evolutivas e conservação

biológica (BALLOUX e LUGON-MORLIN, 2002). No melhoramento de plantas, os

microssatélites têm sido empregados para identificação de cultivares, determinação de

híbridos intraespecíficos e como marcador diagnóstico para características de importância

econômica utilizadas em programas de melhoramento genético (POWELL et al., 1996).

Uma limitação dos marcadores de microssatélite é a ocorrência de alelos nulos,

ocasionados por mutações pontuais, inserções ou deleções no sítio de anelamento do

primer, que podem ocasionar estimativas errôneas do número de genótipos homozigotos

presentes na população (HOSBINO et al., 2002).

1.4.1.3. Polimorfismo do DNA Amplificado Randomicamente (RAPD)

O RAPD faz parte do grupo de marcadores que utilizam primers não específicos,

dispensando o conhecimento prévio da seqüência de DNA da espécie estudada. Os

marcadores de RAPD são amplificados por PCR, utilizando um único primer arbitrário de

aproximadamente 10 pb, que amplifica vários produtos de PCR (amplicons). Cada produto

de PCR é derivado de uma região do genoma que contém dois segmentos curtos

complementares ao primer, com orientação invertida em fitas opostas e suficientemente

próximos para realização da amplificação (JONES et al., 1997). Os fragmentos

amplificados podem ser observados em géis de agarose ou poliacrilamida, corados com

brometo de etídio ou nitrato de prata, respectivamente.

A maioria dos fragmentos obtidos por RAPD é resultante da amplificação de um

locus, podendo ocorrer três tipos de polimorfismo: presença ou ausência da banda,

diferença de intensidade da banda e diferença no tamanho dos fragmentos, sendo os dois

primeiros tipos herdados como marcador dominante (RABOUAM et al., 1999). Segundo

Lopes et al. (2002), o polimorfismo detectado por RAPD é gerado por mutações (inserções

ou deleções) entre os dois sítios, ou no próprio sítio de hibridização do primer.

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O RAPD tem sido bastante utilizado principalmente para construção de mapas

genéticos (BRUMMER et al., 1993; KESSELI et al., 1994) e estudos de estrutura genética

de populações (BROWN et al., 1997; AYRES et al., 2003). Entretanto, os fragmentos

obtidos por RAPD têm se mostrado sensíveis às pequenas mudanças nas condições de

reação, principalmente no que diz respeito ao tipo de DNA polimerase utilizada,

concentração do DNA molde, do cloreto de magnésio e do perfil de temperatura do

termociclador utilizado (WILLIANS et al., 1990).

1.4.1.4. DNA mitocondrial (DNAmt)

O DNAmt é um pequeno genoma extracromossomal de aproximadamente 15 a 20

Kb, composto por 37 genes, dos quais 13 codificam para subunidades de proteínas, 2

codificam para RNAs ribossomais e 22 RNAs transportadores (BOORE, 1999). O genoma

mitocondrial também inclui uma pequena região não codificadora, rica em adenina e

timina, responsável pelo início da transcrição e replicação do DNAmt, conhecida como

região controle (PARKER et al., 1998).

A herança do DNA mitocondrial é predominantemente materna, sem ocorrência de

recombinação, sendo transmitido como um único locus haplóide. Desta forma, as variações

observadas na seqüência de DNA são denominadas de haplótipos (NEIGEL, 1997).

Os genes mitocondriais têm sido extensivamente utilizados em estudos de evolução

devido à herança uniparental, alta taxa de evolução e simplicidade de amplificação

enzimática pelo uso de primers universais. Este marcador também tem sido empregado

para estudos de populações, por se acreditar que a freqüência gênica seja controlada

principalmente por migração e deriva genética, e que grande parte da variação intra-

específica seja seletivamente neutra (BALLARD e KREITMAN, 1995).

O genoma mitocondrial é conhecido por apresentar alta taxa de evolução. No

entanto, a disposição dos genes muitas vezes permanece constante por longos períodos de

tempo evolutivo, permitindo a comparação desta disposição entre diferentes táxons,

proporcionando filogenias convenientes nos casos onde outras análises mostraram-se

ineficientes para resolver as questões abordadas, ajudando a esclarecer a evolução de

organismos e genomas (BOORE, 1999).

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1.4.1.5. Polimorfismo no Comprimento de Fragmentos de Restrição (RFLP)

Na abordagem por RFLP, o DNA genômico é submetido à fragmentação por

enzimas de restrição, as quais rompem o DNA em posições específicas gerando

fragmentos curtos chamados fragmentos de restrição (RFs). Posteriormente, estes

fragmentos são hibridizados com sondas, segmentos curtos de DNA de filamento único

marcados, usadas para detectar seqüências complementares de DNA (DUARTE et al.,

1999).

A hibridização com sondas é realizada principalmente nos estudos com genomas

eucariontes, devido ao elevado número de fragmentos obtidos. Cada locus de RFLP é

definido pela combinação enzima de restrição/sonda. Os marcadores obtidos por este

método são co-dominantes uma vez que os cromossomos homólogos podem revelar

fragmentos de um mesmo tamanho (genótipo homozigótico) ou não (genótipo

heterozigótico) devido às variações nos sítios de restrição (LOPES et al., 2002).

Os fragmentos gerados por RFLP de moléculas pequenas como a do DNA

mitocondrial ou de produtos de PCR podem ser visualizados (sem sondas) diretamente por

eletroforese em géis de agarose corados com brometo de etídio. No entanto, os fragmentos

observados são interpretados como marcador dominante (presença ou ausência dos sítios

de restrição).

O polimorfismo observado na técnica de RFLP resulta principalmente de mutações

nos sítios de restrição ou inserções, deleções ou rearranjos (translocações ou inversões)

entre os sítios de restrição (FERREIRA e GRATTAPAGLIA, 1998).

A genética de populações tem utilizado de forma extensiva este marcador em

análises de DNA mitocondrial (RFLP-DNAmt), com o intuito de caracterizar a diversidade

haplotípica e estrutura genética de populações (PARKER et al., 1998). No entanto, a

técnica de RFLP apresenta uma série de limitações como: desenvolvimento laborioso de

sondas, necessidade de pessoal técnico habilitado para manipulação de DNA recombinante

e necessidade de instalações adequadas para o uso de radioisótopos, caso sejam utilizadas

sondas com marcação radioativa (FERREIRA e GRATTAPAGLIA, 1998). Uma outra

abordagem para o uso de RFLP é a amplificação por PCR de uma região ou gene

específico e posterior digestão com enzimas de restrição. Neste caso, não há a utilização

posterior de sondas. Porém, o polimorfismo é limitado por tratar-se de um único locus.

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1.5. Estrutura genética de populações

A estruturação genética observada nas populações resulta da interação de forças

evolutivas (mutação, seleção natural, migração e deriva genética) e da estrutura de

reprodução. Os principais métodos de análise da distribuição genética nas populações

naturais, levam em consideração quatro modelos básicos de estrutura populacional:

1) No modelo “ilha”, cada subpopulação se comporta como uma ilha que permuta

genes aleatoriamente com freqüências iguais.

2) No modelo “continente ilha”, ocorre o movimento unidirecional de indivíduos de

uma grande população “continente” para uma população menor “ilha”.

3) No modelo “stepping stone”, o movimento de indivíduos ocorre

preferencialmente entre subpopulações vizinhas. Entretanto, a dispersão de indivíduos

entre populações não vizinhas pode ocorrer desde que uma subpopulação funcione como

intermediária.

4) O modelo de “isolamento por distância” assume que os indivíduos apresentam

movimento restrito. Desta forma, populações vizinhas apresentam interação maior que

populações distantes.

Neigel (1997) relata que as populações podem ser constituídas por diferentes níveis

hierárquicos denominados de: deme, subpopulação, população, população total e

metapopulação. A genética de populações considera a subpopulação, também chamada de

deme, o menor nível da estrutura populacional (BALLOUX e LUGON-MOULIN, 2002).

A ecologia do comportamento acrescenta um nível ao modelo clássico da genética

de populações, pois tem uma visão de “estrutura social” onde as subpopulações são

compostas por grupos de cruzamentos cujos comportamentos determinam o acasalamento

preferencial (SUGG et al., 1996).

Segundo Slatkin (1985), podem ser observadas duas grandes classes de estrutura

populacional: 1) populações compostas por subpopulações discretas e 2) populações

formadas por subpopulações de distribuição contínua.

Remington (1968) classificou a estrutura das populações naturais em quatro

categorias distintas: 1) numerosas e contínuas ocupando uma grande área geográfica; 2)

geograficamente difundida e contínua, porém rara; 3) subdividida em subunidades

geográficas separadas por área não habitadas, nas quais ocorre pouco movimento e 4)

subdividida em colônias, onde o fluxo gênico é raro.

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1.6. Variabilidade e diferenciação genética entre populações

A diversidade genética pode ser inferida através de várias medidas que possibilitam

avaliar esta diversidade dentro e entre as populações. Tradicionalmente, a variabilidade

genética intra-populacional é quantificada através da proporção de locos polimórficos - P e

heterozigosidade média - H (ALFENAS et al.,1991).

A heterozigosidade média (H) é o critério mais comumente utilizado. O valor de H

é a média da heterozigosidade h definida como h = 1-∑xi, em que xi é a freqüência do

alelo i (BARTLETT, 1981).

A proporção de loci polimórficos (P) é a razão entre o número de locus

polimórficos e o número total de locus analisados. Dois critérios são freqüentemente

utilizados para definir a ocorrência de locus polimórficos: a) a freqüência do alelo mais

comum não ultrapassa 0.95 e b) o alelo mais comum não apresenta freqüência maior que

0.99 (BARTLET, 1981).

As populações naturais, na maioria dos casos, apresentam subdivisões,

comportando-se como sistemas estruturados com diferentes níveis de variabilidade

genética. Nas populações estruturadas podem ser observados pelo menos três níveis de

complexidade: o organismo individual (I), subpopulações (S) e a população total (T). A

genética de populações expressa estes três níveis de variação através da estatística F

introduzida por Wright (1951) utilizando índices denominados de FIS, FST e FIT.

A utilização destes índices requer conhecimento prévio da variação individual (HI),

variação da subpopulação (HS) e variação total (HT). Estes três níveis de variação se

relacionam da seguinte forma:

FIS =S

IS

H

H -H

FST

T

ST

H

H - H=

FIT T

IT

H

H - H=

Os índices de fixação da estatística F de Wright, também chamados de coeficiente

de endocruzamento, são utilizados para quantificar os efeitos da endogamia em termos de

redução da heterozigosidade, nas populações em situação de equilíbrio (TORGGLER et

al., 1995).

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O FIS mede a redução da heterozigosidade individual devido à ocorrência de

acasalamento não aleatório na população. Se Hobs > Hesp, o valor do FIS será menor que 0

devido ao excesso de heterozigotos. Por outro lado, quando Hobs< Hesp o valor do FIS é

maior que 0 ocasionado por deficiência de heterozigotos. Valores de FIS < 0 podem

ocorrer, por exemplo, quando os heterozigotos para um alelo apresentam um “fitness”

maior que homozigotos para aquele alelo, por outro lado, FIS > 0 ocorre se os heterozigotos

têm um “fitness” menor que os homozigotos para este alelo (Black IV et al., 2001).

O FST quantifica a divergência entre as populações em relação à diversidade total

(CHARLESWORTH, 1998). Este índice é o mais utilizado para quantificar a diferenciação

genética entre as populações. O valor do FST pode variar de 0 (quando as freqüências

alélicas são idênticas em duas populações) a 1 (quando duas populações são totalmente

homogêneas e fixadas para diferentes alelos) (BALLOUX e LUGON-MOLIN, 2002). Os

valores obtidos entre este intervalo podem ser interpretados como variações no grau de

estruturação genética populacional.

Narang et al. (1992) descreve uma interpretação dos valores de FST baseados em

dados isoenzimáticos, onde os valores de 0.05 a 0.15 indicam variação genética moderada.

Entre 0.15 e 0.25 indicam grande diferenciação genética e valores maiores que 0.25

indicam variação genética muito grande. No entanto, valores < 0.05 não significam que a

variação genética seja desprezível.

Considerando o fato do FST de Wright, ter sido desenvolvido para loci com dois

alelos, Nei (1973) elaborou uma medida análoga ao FST para locus multialélicos chamada

de GST Weir e Cockerham (1984) e Slatkim (1995) também desenvolveram índices

análogos ao FST conhecidos como θ e RST respectivamente (RODERICK, 1996).

Para cada marcador molecular, o índice de diferenciação utilizado depende do

modelo de mutação assumido durante a interpretação dos dados. Os geneticistas de

populações têm desenvolvido dois modelos extremos de mutação: 1) “infinite alleles

model” (IAM), assume-se que cada mutação origina um novo alelo com taxa constante,

onde cada alelo igual é idêntico por descendência e 2) “step-wise mutation model” (SMM),

no qual os alelos diferentes são criados por inserções ou deleções que ocorrem com a

mesma probabilidade. Desta forma, os alelos observados são idênticos em estado (mesma

mobilidade eletroforética), sem necessariamente serem idênticos por descendência

(ESTOUP et al., 2002).

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Segundo Nybom (2004), os índices de diferenciação genética θ e GST são

geralmente utilizados em estudos que assumem IAM, enquanto que o RST é utilizado em

análises que seguem o modelo SMM.

Slatkin (1995) relata que o RST é relativamente insensível à taxa de mutação,

constituindo-se como o índice de diferenciação genética mais apropriado para dados de

microssatélite, devido à elevada taxa de mutação apresentada por este marcador. Um fator

limitante para utilização do RST é a necessidade de conhecimento do número preciso de

“repeats” de cada locus. Nybom (2004), utilizando dados de microssatélite compilados,

observou que os índices de diferenciação genética FST e RST, apresentavam valores

similares com diferenças de apenas 0.02.

Os valores de RST e FST podem ser interpretados com auxilio de testes não

paramétricos, nos quais o grau de significância da diferença do valor do RST e FST em

relação a 0 é estimado (situação de panmixia, onde os acasalamentos são aleatórios entre os

indivíduos das subpopulações) (BALLOUX e LUGON-MOLIN, 2002).

1.7. Fluxo gênico

O fluxo gênico atua como uma força homogeneizadora da diversidade genética

causada pela seleção natural, mutação e deriva genética (MOPPER, 1996).

Slatkin (1985) definiu em termos gerais o fluxo gênico como todos os mecanismos

que resultam no movimento de genes entre populações. Este mesmo autor relata que o

fluxo gênico pode ocasionar movimento de gametas, extinção e recolonização de

populações ou movimento de DNA extranuclear através de mitocôndrias, plasmídios e

vírus.

Considerando os modelos da genética de populações, o fluxo gênico pode ser

denominado de migração (fluxo gênico entre subpopulações discretas) ou dispersão (fluxo

gênico dentro de populações contínuas) (NEIGEL, 1997).

Atualmente, são utilizados dois métodos distintos para estimativas de fluxo gênico

entre populações. O método direto observa o movimento de indivíduos em campo. Este

método possibilita o conhecimento do fluxo gênico atual entre as populações, no entanto,

apresenta a desvantagem das limitações dos trabalhos de campo. Outro aspecto

desfavorável é o fato de medidas diretas não necessariamente representarem movimento de

genes, pois o indivíduo migrante pode não chegar a se reproduzir na nova população

(WHITLOCK e MCCAULEY, 1999).

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O método indireto se baseia na análise de freqüências alélicas, distribuição de

segmentos cromossômicos ou características fenótipicas (SLATKIN, 1985). Os dados de

freqüência alélica são atualmente os mais utilizados nas análises de fluxo gênico, devido à

facilidade de obtenção dos mesmos dentro e entre populações através das técnicas de

biologia molecular (WHITLOCK e MCCAULEY, 1999).

A genética de populações utiliza os índices de diferenciação genética (FST, GST, θ e

RST) que retratam as variações de freqüência alélica entre as populações como parâmetros

para análise de fluxo gênico, medido através do número efetivo de migrantes (Nm)

(BOSSART e PROWELL, 1998).

A relação entre FST e Nm foi sugerida por Wright no modelo “ilha” de estrutura

populacional, assumindo que a taxa de mutação é menor que a taxa de migração (NEIGEL,

1997). No modelo “ilha”, o N corresponde ao número de indivíduos de cada subpopulação,

enquanto que o m representa o número de migrantes de cada subpopulação em cada

geração. Considerando a herança materna do DNA mitocondrial, o N é o número de

fêmeas de cada subpopulação (HUDSON et al., 1992).

O fluxo gênico (Nm) a partir de valores de FST pode ser estimado através da

expressão Nm

= 11

4

1

STF, o valor do FST é uma estimativa geral de todas as populações

estudadas, o número de migrantes (Nm) também pode ser estimado com valores de FST

obtidos entre pares de subpopulações, no entanto deve ser utilizada a expressão

Nm

= 11

8

1

STF (WILKINSON-HERBOTS e ETTRIDGE, 2004).

Segundo Rousset (1997) estimativas de fluxo gênico baseadas em valores de FST

obtidos entre pares de subpopulações são mais realistas, pois assumem o modelo de

estrutura populacional de “isolamento por distância”, comumente observado nas

populações naturais.

A análise de fluxo gênico baseada em valores de FST de organismos haplóides ou de

DNA mitocondrial deve ser realizada com a expressão Nm

−= 11

2

1

STF(HUDSON et al.,

1992).

Segundo Neigel (1997), estimativas de fluxo gênico obtidas de DNA mitocondrial

são relativamente menores que as observadas a partir do genoma nuclear, pois o genoma

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extranuclear sofre influência maior da deriva genética, devido à transmissão uniparental

que reduz o tamanho efetivo da população.

Slatkin (1981) estabeleceu três categorias para o nível de fluxo gênico encontrado

entre as espécies: 1) espécies com alto fluxo gênico (Nm >1), 2) fluxo gênico intermediário

(Nm = 1) e 3) espécies com baixo fluxo gênico (Nm < 1).

Segundo Sites Jr e Marshall (2003), a análise de fluxo gênico pode ser utilizada

para detectar a presença de espécies simpátricas, devido à ausência de fluxo gênico Nm = 0

entre as espécies, por outro lado, entre subpopulações de uma mesma espécie Nm >1

representa ocorrência de panmixia ou acasalamento aleatório.

1.8. Variabilidade genética de Anthonomus grandis Boheman

As populações naturais apresentam diferentes níveis de variabilidade genética. A

caracterização desta variabilidade em populações de insetos praga é um fator essencial para

elaboração de programas de controle mais efetivos. Populações de insetos invasores

geralmente apresentam baixa variabilidade gênica, principalmente se as invasões

ocorrerem a partir de um número pequeno de organismos fundadores. Estudos

populacionais com marcadores moleculares de espécies invasoras podem auxiliar tanto na

identificação da espécie invasora e origem geográfica, como no acompanhamento da

evolução do processo invasivo (SÓLE-CAVA, 2001).

Embora o bicudo do algodoeiro seja considerado a maior praga da cotonicultura

mundial, estudos de diversidade e estrutura genética nesta espécie são escassos e restritos

às populações da América do Norte e Central.

Os primeiros estudos de variabilidade genética de A. grandis foram realizados por

Biggers e Bancroft (1977), em que os autores analisaram fenótipos de esterase de colônias

de laboratório e duas populações de campo coletadas no Tennessee e Arkansas, a partir das

quais foram observadas quatro regiões polimórficas de atividade (EST-I, EST-II, EST-III e

EST-IV). A análise da região EST-II demonstrou desvio do equilíbrio de Hardy-Weinberg

na população do Tennessee, ocasionado provavelmente por: endocruzamento, deriva

genética ou efeito Wahlund. A região EST-II mostrou que os insetos de laboratório são

geralmente homozigotos para os alelos com mobilidade lenta, enquanto que os insetos de

campo são geralmente homozigotos para os alelos rápidos. Segundo os autores, a diferença

de fenótipo das populações de campo e colônias de laboratório ocorre devido à pressão de

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seleção de inseticidas contra o alelo rápido das populações de campo (BIGGERS e

BANCROFT, 1977).

Bancroft e Jones (1977) utilizaram excremento de A. grandis para analisar a região

EST-II de colônias de laboratório do Mississippi-EUA. O padrão enzimático obtido foi

semelhante ao encontrado quando foram utilizados insetos adultos inteiros.

Bartlett (1981), analisando 12 loci enzimáticos de populações de A. grandis

thurberiae Pierce, A. grandis Boheman e bicudo capturado em armadilhas com feromônio,

encontrou mais de uma região polimórfica quando utilizou os sistemas enzimáticos:

esterase (EST), hexoquinase (HK) e leucina aminopeptidase (LAP). A heterozigosidade e

distância genética nas populações variaram de 0,399 a 0,428 e de 0,068 a 0,206,

respectivamente. O autor concluiu que as três populações constituíam três “pools” gênicos

distintos com fluxo gênico restrito entre eles.

Bartlett et al. (1983), analisando populações de Arizona-EUA e do México,

obtiveram valores de heterozigosidade entre 0,30 e 0,41 e distância genética média de 0,11.

A correlação entre a distância genética e a distância geográfica demonstrou que 40% da

variação na distância genética foi ocasionada pela distância geográfica.

Terranova e North (1985) realizaram testes de pedigree em cinco colônias de

laboratório mantidas em dieta artificial por períodos entre 10 e 500 gerações. A

comparação dos zimogramas dos parentais com o da geração (F1) revelou que os alelos

dos sistemas enzimáticos: amilase (AM), fumarase (FUM), leucina aminopeptidase (LAP),

malato desidrogenase (MDH) e superóxido dismutase (SOD) apresentam padrão de

herança autossômica co-dominante. Os autores também observaram a presença de apenas

uma região de atividade nos sistemas enzimáticos enzima málica (ME) e superóxido

dismutase (SOD), enquanto que amilase (AM) e leucina aminopeptidase (LAP) e malato

desidrogenase (MDH) apresentaram duas e três regiões de atividade, respectivamente.

Terranova et al. (1991) utilizaram 18 loci isoenzimáticos para estimar a variação

genética de quatro colônias de laboratório e 15 populações naturais do sudeste dos Estados

Unidos. Entre as populações de campo não foi observada diferença significativa na

proporção de loci polimórficos e heterozigosidade observada. Entretanto, nas colônias de

laboratório a proporção de locus polimórficos variou de 38,9 a 66,7%, e a heterozigosidade

observada nas colônias (HO = 0,188) foi maior que a heterozigosidade observada nas

populações de campo (HO = 0,152). Segundo os autores, os resultados anômalos obtidos

ocorreram devido ao aporte constante de indivíduos em estado feral, oriundos de liberações

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massivas de colônias de laboratório, para estudos de migração, ocorridos no início dos

anos 80. Estas interferências humanas afetaram a estrutura genética das populações

naturais dos campos de algodão do sudeste dos Estados Unidos.

Roehrdanz e North (1992) compararam o padrão de corte de 16 enzimas de

restrição de quatro colônias de laboratório constituídas por insetos do México, El Salvador,

Arizona e sudeste dos Estados Unidos. O padrão dos fragmentos obtidos revelou que as

colônias do México e El Salvador são similares e que as duas colônias dos Estados Unidos

são igualmente divergentes das outras anteriores e similares entre si. Os autores concluíram

que padrões de RFLP-DNAmt podem ser utilizados em estudos de sistemática e

reprodução entre A. grandis e espécies relacionadas.

Roehrdanz (2001) analisou por RFLP um fragmento de 9.2 kb de DNAmt

amplificado por PCR. O padrão de RFLP-DNAmt de 7 populações de A. grandis do

sudeste do Texas-EUA e do México e de 3 populações do Arizona-EUA revelou que os 6

haplótipos das populações do sudeste e os 12 haplótipos das populações do Arizona-EUA

não são compartilhados entre populações das duas regiões. O autor concluiu que os

haplótipos são diagnósticos, podendo ser utilizados para identificar a origem dos insetos

que venham a ser encontrados em áreas erradicadas.

Scataglini et al. (2000) analisaram 41 loci de RAPD de nove populações coletadas

no Paraguai, Argentina, México, Estados Unidos e Brasil. A maior proporção de loci

polimórficos (P = 60,98%) foi encontrada nas populações de Porto Iguaçu (Argentina) e

Tecomán (México). A reconstrução filogenética baseada na distância genética de Nei

(1972) revelou que todas as populações da América do sul são geneticamente distintas

umas das outras. No entanto, populações do mesmo país apresentam grande similaridade

genética, com exceção da população de Porto Iguaçu (Argentina) mais semelhante à

população de Tecomán (México). Os autores sugerem uma ancestralidade entre estas duas

populações, sustentando a hipótese de ocorrência natural de A. grandis na América do Sul

antes do cultivo extensivo de algodão no continente americano, contrariando a idéia quase

consensual sobre a introdução acidental posterior.

Recentemente, um extensivo trabalho com populações dos Estados Unidos e

México foi realizado por Kim e Sappington. Os autores analisaram a estrutura e

diversidade genética de 20 populações através de RFLP-DNAmt (KIM e SAPPINGTON,

2004 a) e RAPD (KIM e SAPPINGTON, 2004 b). A análise dos padrões de RFLP-DNAmt

de 10 enzimas de restrição revelou 28 haplótipos distintos, dos quais 11 foram observados

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em mais de duas populações e 17 foram haplótipos diagnóstico. O número de haplótipos e

a diversidade haplotípica nas populações variaram de 1 a 11 e de 0 a 0,81, respectivamente.

Kim e Sappington (2004b), analisando 67 marcadores de RAPD, observaram altos

níveis de variação genética entre as populações. O polimorfismo dos loci e a

heterozigosidade esperada variaram de 36,4 a 64,3% e de 0,170 a 0,252, respectivamente.

Os resultados obtidos por estes autores da análise de RAPD e RFLP-DNAmt mostraram

pequena variação genética entre as populações da mesma região e ocorrência de fluxo

gênico constante entre populações separadas por < 300 km.

Kim e Sappington (2004c) também utilizaram 90 insetos adultos, coletados no

Texas-EUA e México para isolar e caracterizar 14 loci de microssatélite. O número de

alelos por locus e a heterozigosidade esperada variaram de 3 a 10 e de 0,459 a 0,737,

respectivamente. Dos 14 loci obtidos, 6 apresentaram desequilíbrio de Hardy-Weinberg,

mesmo após a utilização de fatores de correção. No entanto, 12 dos 14 loci após análise de

pedigree mostraram padrão de herança mendeliana podendo ser utilizado em estudos de

genética de populações.

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II. Objetivos 2.1 Objetivo Geral

Caracterizar a variabilidade genética de 12 populações brasileiras de Anthonomus

grandis Boheman, através da utilização de marcadores moleculares (RAPD, Isoenzimas e

Microssatélite).

2.2 Objetivos Específicos

● Estimar o grau de diferenciação genética entre as populações e caracterizar a

estrutura genética das mesmas em diferentes níveis hierárquicos, através da estatística F;

● Quantificar a variabilidade genética nas populações de A. grandis, através dos

índices de heterozigosidade e polimorfismo;

● Verificar o padrão de estrutura genética das populações das regiões norte,

nordeste e centro-oeste;

● Verificar o nível de fluxo gênico e a existência de isolamento por distância entre

as populações;

● Estimar as distâncias genéticas existentes entre as diferentes populações;

● Verificar os efeitos da agricultura familiar e empresarial, sobre a diversidade e

estrutura genética das populações.

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32

IV. Artigo

1

IV. Artigo 1: Diversidade Genética de Populações Naturais Brasileiras de Anthonomus grandis Boheman (Coleoptera: Curculionidae) Diversidade Genética de Populações Naturais Brasileiras de Anthonomus

grandis Boheman (Coleoptera: Curculionidae)

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33

Diversidade Genética de Populações Naturais Brasileiras de Anthonomus grandis

Boheman (Coleoptera: Curculionidae)

Martins, W. F. S1.; Ayres, C. F. J2.; Lucena, W. A3

1Departamento de Zoologia-UFPE, Recife, PE, Brasil. 2Departamento de Entomologia,

Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães-FIOCRUZ; Recife, PE, Brasil. 3Laboratório de

Biologia Molecular de Insetos, Embrapa Algodão. Rua Osvaldo Cruz, Centenário, n.

1143, Campina Grande, PB, Brasil. CEP: 58107-720. E-mail: [email protected]

Resumo

Vinte e cinco loci de RAPD e seis loci de isoenzimas foram analisados para caracterizar a

variabilidade genética de sete populações naturais de Anthonomus grandis, provenientes de

dois agroecosistemas do Brasil. Os dados de RAPD revelaram um polimorfismo que

variou de 52 a 84% e uma heterozigosidade de 0,189 a 0,347. O índice de diferenciação

geral entre as seis populações analisadas foi elevado e significativo (GST = 0,258; p <

0,05). A análise de cinco populações através de isoenzimas mostrou um polimorfismo e

uma heterozigosidade variando entre 25 e 100% e 0,174 e 0,277, respectivamente. A

diferenciação geral entre as populações correspondeu a um FST de 0,544 (p < 0,05). Os

marcadores analisados permitiram distinguir populações oriundas de regiões onde é

praticada a agricultura em grande escala, das áreas de pequena escala.

Palavras-chave: Bicudo do algodoeiro, RAPD, Isoenzimas, Variabilidade genética

* Manuscrito submetido à Genetics and Molecular Research

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34

Introdução

O bicudo do algodoeiro Anthonomus grandis Boheman, é a principal praga da

cotonicultura mundial. Os primeiros relatos de danos causados por este inseto no algodão

cultivado ocorreram em 1880 em Monclava, estado de Cohahuila, México e em 1920 no

Arizona, Estados Unidos (BURKE et al., 1986). Na América do Sul, o bicudo do

algodoeiro foi inicialmente observado na Venezuela em 1949, entre os países do continente

americano, o Brasil foi o último a relatar a presença de A. grandis, em fevereiro de 1983,

em plantações de algodão de Santa Bárbara do Oeste, estado de São Paulo (LOZADA et

al., 1987).

Atualmente, o bicudo do algodoeiro está presente em quase todas as áreas de

cultivo de algodão do Brasil. Os programas de controle mantidos nas três maiores áreas de

produção, localizadas nos estados do Mato Grosso e Goiás (região centro-oeste) e Bahia

(nordeste), embora não tenham conseguido a erradicação, têm mantido as populações de A.

grandis em baixa densidade populacional. No entanto, nas demais regiões onde prevalece a

agricultura familiar, as populações de bicudo do algodoeiro apresentam nível superior ao

de dano econômico, principalmente devido à ausência de programas de controle eficientes.

A caracterização da variabilidade genética das populações de insetos praga, bem

como os fatores que mantém esta variabilidade, são aspectos de fundamental importância

para a elaboração de programas de controle mais efetivos. Nos últimos vinte anos, os

marcadores moleculares têm se mostrado uma grande ferramenta para estudos de genética

de populações, biologia evolutiva, taxonomia e biologia da conservação, permitindo a

análise da diversidade e diferenciação genética das populações naturais (OOSTERHOUT

et al., 2004).

Estudos de diversidade genética em A. grandis são escassos e restritos às

populações da América do Norte e Central. Nos primeiros trabalhos de genética de

populações de A. grandis foram utilizados marcadores isoenzimáticos (BANCROFT e

JONES, 1977; BIGGERS e BANCROFT, 1977; BARTLETT, 1981; TERRANOVA e

NORTH, 1985; BARTLETT et al., 1983; TERRANOVA et al., 1991). Bartlett (1981),

analisando 12 loci enzimáticos, concluiu que A. grandis thurberiae Pierce, A. grandis

Boheman e o bicudo do Arizona constituíam três grupos gênicos distintos com fluxo

gênico restrito entre eles.

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As análises de variabilidade genética de A. grandis com marcadores de DNA têm

sido realizadas basicamente com RFLP-DNAmt (Polimorfismo de Tamanho de Fragmento

de Restrição do DNA mitocondrial) e RAPD (Polimorfismo do DNA Amplificado

Randomicamente), em abordagens de sistemática molecular (ROEHRDANZ e NORTH,

1992; ROEHRDANZ, 2001) e estrutura genética e dispersão (KIM e SAPPINGTON, 2004

a; 2004 b; SCATAGLINI et al., 2000). Scataglini et al. (2000), utilizando RAPD,

analisaram o fluxo gênico e a estrutura genética de nove populações de A. grandis da

América do Sul e do Norte. Os dados obtidos revelaram grande semelhança entre as

populações de Porto Iguaçu (Argentina) e Tecomán (México), sugerindo uma ligação

ancestral entre as duas populações e conseqüentemente, ocorrência natural de A. grandis na

América do Sul antes do cultivo extensivo de algodão no continente americano.

Kim e Sappington (2004b) utilizaram RAPD para analisar a estrutura genética de

populações de bicudo do algodoeiro provenientes dos Estados Unidos e México. Os

resultados revelaram a ocorrência de fluxo gênico limitado entre as populações das regiões

central, ocidental e oriental do Sul dos Estados Unidos; no entanto, o fluxo gênico entre as

populações da mesma região separadas por distâncias menores que 300 km foi

relativamente constante.

O principal objetivo deste trabalho foi caracterizar a diversidade genética de

populações de A. grandis oriundas de cinco estados brasileiros: Paraíba, Ceará, Mato

Grosso, Bahia e Goiás através da análise de isoenzimas e RAPD.

Material e Métodos Amostragem

Maçãs e botões florais de algodão com presença de orifício de oviposição foram

coletados entre 2002 e 2005 em sete cidades de cinco estados do Brasil (Figura 1,

Tabela1): 1) Campina Grande (35º 56’ W, 7º 11’ S) e Patos (38º 11’ W, 7º 18’ S) na

Paraíba-PB; 2) Barbalha (39º 18’ W, 7º 18’ S) e Missão Velha (39º 11’ W, 7º 11’ S) no

Ceará-CE; 3) Barreiras (44º 56’ W, 12º 11’ S) na Bahia-BA; 4) Primavera do Leste (54º

22’ W, 15º 37’ S) no Mato Grosso-MT e 5) Ipameri (48º 11’ W, 17º 41’ S) em Goiás-GO.

O material coletado foi mantido em gaiolas apropriadas no insetário da Embrapa Algodão

até a eclosão das larvas e emergência dos adultos de A. grandis Boheman. As larvas e

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adultos obtidos foram armazenados em freezer a -20º C até a análise de isoenzimas e

extração de DNA.

Extração de DNA e RAPD-PCR

A cabeça de cada inseto adulto foi homogeneizada individualmente em 500 µl de

tampão de lise (NaCl 0,4M, EDTA 2mM, Tris-HCl 10mM pH 8,0), proteinase K (150

mg/ml) e Dodecil Sulfato de Sódio (SDS) 1,5%. O homogenato foi incubado “overnight” a

65º C. Posteriormente, foram adicionados 420 µl de NaCl 5M, e a amostra foi misturada

em um agitador tipo “vórtex” por aproximadamente 1 min. Em seguida, foi centrifugada a

14.000 rpm por 20 min a 4º C. Ao sobrenadante foi adicionado igual volume de

isopropanol, e a mistura foi mantida a -20º C por 1 h, para precipitação do DNA.

Posteriormente, a amostra foi centrifugada a 14.000 rpm por 20 min a 4º C. O

sobrenadante foi descartado e o precipitado lavado com etanol 70%, seco a vácuo e

resuspendido em 300 µl de Tris-EDTA (Tris 10 mM, EDTA 1 mM).

Sessenta primers (Operon®) das séries OPA1-20, OPC1-20 e OPM1-20 foram

testados. Destes, três: OPA8: 5’-GTGACGTAGG-3’; OPA18: 5’-AGGTGACCGT-3’ e

OPC19: 5’-GTTGCCAGCC-3’ foram selecionados por apresentarem a melhor eficiência

de amplificação e reprodutibilidade. A reprodutibilidade dos fragmentos obtidos foi testada

utilizando o mesmo DNA em três diferentes reações de PCR. Cada reação de amplificação

teve um volume final de 25 µl, usando os seguintes componentes: Tris-HCl 10 mM pH 9,0,

KCl 50 mM, MgCl2 1,5 mM, 400 pmol de cada oligonucleotídeo, 2U de Taq DNA

polimerase (Amersham), 0,2 mM de cada dNTP e 15 ng de DNA molde. A mistura foi

amplificada em um termociclador Tecne® programado para 40 ciclos a 94º C por 1 min,

35º C por 1 min, 72º C por 2 min e um ciclo final de 72º C por 10 min. O produto final da

PCR foi analisado por eletroforese em gel de agarose 0,8% no tampão Tris-Borato-

EDTA/TBE (Tris 0,089 M; Ácido bórico 0,0089 M; EDTA 0,002 M, pH 8,3) corado com

brometo de etídio, e visualizado em um transiluminador de ultravioleta.

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Diversidade Genética de Anthonomus grandis Martins et al.

37

Eletroforese de Isoenzimas

Larvas individuais foram homogeneizadas em 500 µl de água destilada.

Posteriormente, papéis de filtro (0,5 X 2,5 cm) foram embebidos nos homogenatos

protéicos e submetidos à eletroforese nativa em géis horizontais de penetrose 30 (13% de

penetrose e 5% de sacarose) em tampão Ácido Cítrico (Ácido Cítrico 0,04 M, Morfolina

pH 7,1), seguindo a metodologia descrita por Alfenas et al. (1991). Foram utilizados os

sistemas enzimáticos: Isocitrato desidrogenase (IDH, EC 1.1.1.42), Peroxidase (PO, EC

1.11.1.7), Esterase (EST, EC 3.1.1.1), Enzima málica (ME, EC 1.1.1.40) e Malato

desidrogenase (MDH, EC 1.1.1.37). Os loci isoenzimáticos foram numerados de acordo

com Tabachnick (1979).

Análise Estatística

Para análise dos dados de RAPD, quatro premissas foram assumidas: 1) os alelos

apresentam herança mendeliana; 2) as populações estão em equilíbrio de Hardy-Weinberg;

3) bandas com mesma mobilidade eletroforética são homólogas, e 4) alelos não

amplificados são tidos como recessivos. Os loci foram analisados como presente (1) ou

ausente (0), não levando em consideração a intensidade das bandas. A partir da matriz

binária construída foram calculados: freqüências alélicas, proporção de loci polimórficos e

heterozigosidade, utilizando o programa TFPGA versão 1.3 (MILLER, 1997). Os cálculos

da distância genética de Nei (1972) e o índice de diferenciação genética (GST) de acordo

com McDermott e McDonald (1993) foram realizados utilizando o programa POPGENE

versão1. 32 (YEH e BOYLE, 1997).

A análise dos zimogramas obtidos por isoenzimas foi realizada seguindo a

nomenclatura descrita por Tabachnick (1979), onde loci e alelos são designados por

números. Os índices de diversidade genética (Heterozigosidade observada-HO e proporção

de loci polimórficos-P) e a distância genética de Nei (1972) foram calculados utilizando o

programa GENETIX 4,01 (BELKHIR et al., 2001). A diferenciação genética entre as

populações foi estimada através do valor de θ (FST) de Weir e Cockerham (1984),

utilizando o programa FSTAT versão 2.9.3 (GOUDET, 2001).

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38

As estimativas de fluxo gênico foram calculadas a partir da fórmula

Nm

= 1

1

4

1

STF. A distância genética entre as populações, obtidas por RAPD e

isoenzimas, foram utilizadas na construção do dendrograma utilizando o método

neighbour-joining no programa MEGA 3 versão 3.0 (KUMAR et al., 2004). A

significância dos valores de FST e GST foi estimada de forma não paramétrica através de

500 permutações com todos os indivíduos.

Resultados RAPD

Os primers selecionados OPA8, OPA18 e OPC19 geraram 8, 8 e 9 bandas

respectivamente, possibilitando a identificação de fragmentos entre 320 e 1.700 pares de

bases (pb). Dois fragmentos de 1.600 e 1.700 pb gerados pelo iniciador OPA18 foram

observados exclusivamente nas populações do nordeste. Os fragmentos de 1.100, 1.300 e

1.400 pb amplificados pelo iniciador OPA8 foram observados apenas nas populações do

Ceará e da Paraíba.

A proporção de loci polimórficos e a heterozigosidade observada variaram de 52 a

84% e de 0,189 a 0,347 respectivamente, sendo a heterozigosidade média de 0,262,

revelando uma considerável variação genética nas populações (Tabela 1). A diferenciação

geral entre as seis populações correspondeu a um GST de 0,258 (p < 0,05) e Nm = 0,72. As

populações do estado da Paraíba (PB) e do Ceará (CE) apresentaram diferenciação

genética alta (GST = 0,242; Nm = 0,78) e moderada (GST = 0,150; Nm = 1,42),

respectivamente. Com o objetivo de investigar a diferenciação entre os estados, as

subpopulações da Paraíba (PB) e do Ceará (CE) foram agrupadas como uma só população,

obedecendo às categorias hierárquicas. A diferenciação genética entre os dois estados

correspondeu a um GST de 0,013 (p < 0,05).

A distância genética entre as populações variou de 0,180 a 0,716 (Tabela 2). O

dendrograma obtido pelo método neighbor-joining (Figura 2A) baseado na distância

genética de Nei (1972), demonstrou dois grupos distintos, um formado pelas populações do

Ceará (CE) e outro formado por dois subgrupos, o primeiro constituído pelas populações

da Bahia e Goiás e o segundo pelas populações da Paraíba (PB).

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39

Isoenzimas

Os cinco sistemas enzimáticos selecionados para análise (ME, EST, MDH, PO e

IDH) levaram à identificação de 11 possíveis loci. Est-1, Est-3, Est-4 e Po-2 apresentaram

alelos diagnósticos para a população de Primavera do Leste, e o locus Mdh-2 esteve

ausente apenas na população de Campina Grande, os loci considerados diagnóstico não

foram utilizados nas análises de diversidade e estrutura genética. Os seis loci utilizados:

Est-2, Po-1, Mdh-1, Idh-1, Idh-2 e Me-1 foram polimórficos em pelo menos uma

população (considerando o critério de 95%, onde a freqüência do alelo mais comum não

excede 95%). O equilíbrio de Hardy-Weinberg foi rejeitado (p < 0,05) em três loci, Po-1 na

população de Campina Grande, Idh-1 na população de Missão Velha e Mdh-1 na

população de Barbalha. Desvios significantes na distribuição dos genótipos nestes loci

também foram observados, após a correção de Bonferroni (ajuste de significância de 5%

para 0,00167).

A heterozigosidade média correspondeu a 0,212, enquanto que a heterozigosidade

observada nas populações variou de 0,174 em Patos (PB) a 0,277 em Primavera do Leste

(MT) e o polimorfismo variou de 25 a 100% (Tabela 1). A diferenciação geral (FST) entre

as cinco populações foi de 0,544 (p < 0,05) e Nm = 0,210. O locus Po-1 (FST = 0,878) teve

a maior influência no FST, e o locus Est-2 a menor (FST = 0,064). Entre as populações o FST

variou de 0,025 (Nm = 9,69) entre Patos e Campina Grande a 0,841 (Nm = 0,05) entre

Barbalha e Primavera do Leste.

A distância genética de Nei (1972) entre as populações variou de 0,239 a 1,000

(Tabela 3), o dendrograma obtido pelo método neighbor-joining (Figura 2B), revelou a

presença de dois grupos distintos, um formado pelas populações do Ceará e outro pelas

populações da Paraíba e Primavera do Leste.

Discussão

Este trabalho representa a primeira avaliação da diversidade genética das

populações brasileiras de Anthonomus grandis, a principal praga do algodão nacional. Os

padrões isoenzimáticos dos seis loci utilizados foram iguais aos padrões observados por

Terranova e North (1985) em colônias de A. grandis dos Estados Unidos. Os quatro loci de

esterase observados por Biggers e Bancroft (1977) em A. grandis coletados em campos de

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algodão no Tennessee-EUA, e por Bancroft e Jones (1977) utilizando excrementos de A.

grandis coletados em laboratório, foram observados exclusivamente na população do Mato

Grosso, sendo Est-1, Est-2 e Est-3 diagnósticos para esta população. Segundo Bartlett

(1981), a diferença de atividade de loci isoenzimáticos entre populações pode indicar

diferentes condições fisiológicas. Entretanto, a perda de atividade enzimática por efeitos de

estocagem também pode contribuir para ocorrência destes eventos.

Os valores de H e P observados por isoenzimas no presente trabalho foram menores

que os observados em outras populações de A. grandis analisadas com o mesmo marcador,

com exceção das populações naturais da Carolina do Sul-EUA, que apresentaram valores

de heterozigosidade e proporção de loci polimórficos inferiores, onde Ho e P foram iguais a

0,152 e 44,3%, respectivamente (TERRANOVA et al., 1991). Em relação às demais

populações dos Estados Unidos e México, a heterozigosidade observada nas populações do

Brasil foi cerca de duas vezes menor. Por exemplo, HO variou de 0,300 a 0,410 nas

populações de algodão cultivado do Arizona-EUA, Califórnia-EUA e México

(BARTLETT et al., 1983) e de 0,322 a 0,428 em populações do Arizona-EUA

(BARTLETT, 1981).

Os baixos valores de heterozigosidade (Tabela 1) são esperados em populações de

insetos invasores recém-introduzidos, como o bicudo do algodoeiro, que provavelmente foi

introduzido acidentalmente no Brasil. A diversidade genética das populações desta espécie,

também é influenciada anualmente pelo efeito “gargalo de garrafa” ocasionado

principalmente pela falta de plantas hospedeiras durante a entressafra ou à aplicação em

massa de inseticida como medida de controle na cotonicultura. Os altos níveis de

diversidade genética obtidos por RAPD e a presença de alelos diagnósticos entre as

populações do nordeste sugerem uma grande e independente introdução no nordeste e

provavelmente às populações de BARR, IPA e PL são originadas destas populações.

As populações de Barreiras e Ipameri apresentaram os menores valores de

diversidade genética (Tabela 1). Estas áreas estão localizadas no cerrado brasileiro e

representam à cotonicultura praticada em grande escala, onde ocorre a aplicação de

grandes quantidades de inseticida químico em fazendas de monocultura geminadas,

formando um extenso ambiente homogêneo propício para a proliferação do inseto apenas

durante o ciclo da cultura. Porém, na entressafra a reprodução fica restrita aos poucos

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refúgios presentes nas bordas (restos de cultura ou algodões em estado feral). Estes fatores

são preponderantes para a manutenção desta baixa diversidade genética.

Por outro lado, as populações restantes foram coletadas em áreas onde é praticada a

agricultura em pequena escala familiar. Nestas áreas de ecossistemas bastante semelhantes,

há uma descontinuidade entre as regiões plantadoras, formando ilhas de cotonicultura no

nordeste brasileiro. Também não existe um programa integrado visando o manejo desta

praga, nem a utilização intensa de pesticidas químicos, quando comparadas ao cerrado

brasileiro. A ausência de programas de controle nas áreas de agricultura familiar, associada

à presença dos refúgios de bordadura, os quais alojam os indivíduos de um ano para outro,

servindo como reservatório para a variabilidade genética ancestral, favorecem a

manutenção de um intenso fluxo gênico entre estas populações durante todo o ano e limita

a diferenciação genética entre elas.

A diferenciação genética evidenciada por RAPD (GST = 0,258; Nm = 0,72) e

isoenzimas (FST = 0,544; Nm = 0,210) revelou que as populações de A. grandis do Brasil

apresentam elevada estruturação genética. O índice de diferenciação genética duas vezes

maior, observado por isoenzimas, pode ter sido influenciado pelo polimorfismo enzimático

ocasionado em resposta às condições ambientais (FERREIRA e GRATTAPAGLIA, 1998).

Os valores de diferenciação genética obtidos por RAPD revelaram que a

diferenciação genética é maior entre as subpopulações (GST = 0,258) do que entre as

populações dos estados da Paraíba (PB) e Ceará (CE) onde a diferenciação genética foi

moderada (GST = 0,014). Estes resultados sugerem que, como a colonização desta espécie

ocorreu relativamente em um período recente, o processo de diferenciação local pode ser

bem evidenciado, entretanto, ainda não houve tempo para que os fatores evolutivos

pudessem agir modificando a composição genética das populações.

Estudos com marcadores mais polimórficos (microssatélites e DNAmt) estão sendo

realizados em nosso laboratório. Estes dados poderão fornecer informações mais

detalhadas sobre a origem destas populações e suas rotas de dispersão do A. grandis no

Brasil, com o intuito de desenvolver medidas de controle mais efetivas desta praga.

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Diversidade Genética de Anthonomus grandis Martins et al.

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Figura 1: Mapa do Brasil mostrando os pontos de coleta de Anthonomus grandis. As localidades estão listadas na Tabela 1 (CG = Campina Grande; PT = Patos; BARB = Barbalha; MV = Missão Velha; BARR = Barreiras; PL = Primavera do Leste e IPA = Ipameri).

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Figura 2: Dendrogramas construídos pelo método neighbor-joining. A: obtido por RAPD; B: obtido por isoenzimas. As populações estão listadas na Tabela 1.

Campina Grande

Patos

Primavera do Leste

Barbalha

Missão Velha

0.0 0.2 0.4

Barreiras

Ipameri

Campina Grande

Patos

Barbalha

Missão Velha

0.00 0.05 0.10 0.15 0.20

A B

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RAPD Isoenzimas Região Localidade/Sigla N HO P (%) N HO P(%) Campina Grande (CG) 30 0,261 68 50 0,224 100 Nordeste Patos (PT) 24 0,275 68 46 0,174 50 Barbalha (BARB) 28 0,301 72 46 0,205 25 Missão Velha (MV) 30 0,347 84 46 0,184 66,6 Barreiras (BARR) 15 0,203 60 - - - Centro- Oeste Primavera do Leste (PL) - - - 46 0,277 100 Ipameri (IPA) 15 0,189 52 - - - Média 23.6 0.262 67.3 46.8 0.212 68.3

1 2 3 4 5 6 1. Campina Grande **** 0.238 0.553 0.302 0.367 0.297 2. Patos 157.5 **** 0.411 0.243 0.198 0.264 3. Barbalha 0375 230 **** 0.180 0.479 0.716 4. Missão velha 0205 2125 0020 **** 0.454 0.477 5. Barreiras 1015 1020 0830 0850 **** 0.209 6. Ipameri 1785 1730 1515 1535 0720 ****

1 2 3 4 5 1. Campina grande **** 0.239 1.000 1.000 0.756 2. Patos 1575 **** 1.000 0.632 1.000 3. Barbalha 0375 0230 **** 0.646 1.00 4. Missão Velha 0205 2125 0020 **** 0.590 5. Primavera do Leste 2085 2100 1885 1905 ****

Tabela 1: Análise da diversidade genética de populações de Anthonomus grandis, por localidade, número de indivíduos analisados (N) e medidas de variabilidade genética: heterozigosidade observada (H0) e porcentagem de loci polimórficos (P) obtidas por isoenzimas e RAPD.

Tabela 2: Distância genética de Nei (1972) obtida por RAPD (diagonal superior) e distância geográfica (km) entre as populações (diagonal inferior) de Anthonomus grandis coletadas no Brasil.

Tabela 3: Distância genética de Nei (1972) revelada por isoenzimas (diagonal superior) e distância geográfica (km) entre as populações (diagonal inferior) de Anthonomus grandis coletadas no Brasil.

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V. Artigo

2

V. ARTIGO 2: Estrutura Genética de Populações Brasileiras de Anthonomus grandis Boheman (Coleoptera: Curculionidae) Revelada por Microssatélite

Estrutura Genética de Populações Brasileiras de Anthonomus grandis Boheman (Coleoptera: Curculionidae) Revelada por Microssatélite

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Estrutura Genética de Anthomus grandis Martins et al.

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Estrutura Genética de Populações Brasileiras de Anthonomus grandis Boheman (Coleoptera: Curculionidae) Revelada por Microssatélite.

Martins, W. F. S1.; Ayres, C. F. J2.; Lucena, W. A3

1Departamento de Zoologia-UFPE, Recife, PE, Brasil. 2Departamento de Entomologia,

Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães-FIOCRUZ; Recife, PE, Brasil. 3Laboratório de

Biologia Molecular de Insetos, Embrapa Algodão. Rua Osvaldo Cruz, Centenário, n.

1143, Campina Grande, PB, Brasil. CEP. 58107-720. E-mail:

[email protected]

Resumo

O padrão de dispersão e estrutura genética do bicudo do algodoeiro Anthonomus grandis, foi avaliado em onze populações naturais provenientes das regiões norte, nordeste e centro-oeste do Brasil através da análise de 8 loci de microssatélites. A maior diversidade genética foi encontrada na população de Itaporanga (P = 75% e HO = 0,224) e a menor em Indiara (P = 37,5% e HO = 0,038). A diferenciação genética entre as populações variou de 0,009 (entre Campina Grande e Missão Velha) a 0,523 (entre Barreiras e Gouvêlandia). Considerando as regiões geográficas o valor de FST observado na região centro-oeste (0,281) foi maior que o da região nordeste (FST = 0,08). O padrão de isolamento por distância foi observado apenas na região nordeste, nas demais áreas não houve correlação entre a distância genética e geográfica. O padrão de diversidade genética observado entre as populações mostrou diferenças marcantes, sugerindo que os diferentes tipos de agricultura praticados influenciam na estruturação genética do Anthonomus grandis. Palavras chave: Bicudo do algodoeiro, Diversidade genética, Fluxo gênico * O manuscrito será submetido à Molecular Ecology

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Estrutura Genética de Anthomus grandis Martins et al.

49

Introdução

O bicudo do algodoeiro Anthonomus grandis Boheman, é a principal praga da

cotonicultura mundial, ocasionando danos que repercutem principalmente na

produtividade, perda na qualidade do algodão colhido, além de gastos com medidas de

controle. Este inseto é nativo do México ou da América Central, e despertou interesse

quando passou a ser conhecido como praga nos Estados Unidos antes do inicio da

década de 90 (BURKE et al., 1986). No Brasil, a presença do bicudo do algodoeiro foi

notificada pela primeira vez em fevereiro de 1983, em plantações de algodão de Santa

Bárbara do Oeste, São Paulo, dispersando-se posteriormente, para os estado da Paraíba,

Pernambuco, Rio Grande do Norte e Ceará (LOZADA et al., 1987).

A introdução do bicudo do algodoeiro no Brasil causou redução na produção e

crise na cotonicultura nacional durante a segunda metade da década de 80. A expansão

da cotonicultura para o cerrado Brasileiro, a partir de 1996, e novas políticas de controle

do bicudo, fez com que o Brasil voltasse a ser um dos cinco maiores produtores de

algodão no mundo (DEGRANDE et al., 2005).

As três maiores áreas de produção de algodão do Brasil estão situadas nos

estados do Mato Grosso e Goiás (região centro-oeste) e Bahia (nordeste). Entretanto, a

cotonicultura também faz parte do agro-ecossistema de vários outros estados do norte e

nordeste do país. Atualmente, quase todas as áreas de cultivo de algodão no Brasil estão

infestadas por esta praga. As regiões produtoras têm mantido diferentes programas de

controle, no entanto, nenhuma conseguiu erradicar completamente o bicudo, embora,

cada região tenha conseguido alcançar diferentes níveis de controle.

O conhecimento do padrão de dispersão e diversidade genética de insetos praga

como o bicudo são aspectos fundamentais para a elaboração de programas de controle

eficientes. A dispersão de indivíduos entre as populações podem ser medidas de forma

indireta através do fluxo gênico, a partir de medidas de estruturação genética

(BOSSART e PROWELL, 1998).

Os primeiros estudos realizados com marcadores moleculares em populações de

A. grandis ocorreram no final da década de 70 empregando isoenzimas (BANCROFT e

JONES, 1977; BIGGERS e BANCROFT, 1977; BARTLETT, 1981; BARTLETT et al.,

1983; TERRANOVA e NORTH, 1985 e TERRANOVA et al., 1991). O padrão de

dispersão em populações de A. grandis tem sido investigado principalmente em áreas de

cultivo de algodão dos Estados Unidos e México através da análise do polimorfismo do

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Estrutura Genética de Anthomus grandis Martins et al.

50

DNA detectado por RAPD (KIM e SAPPINGTON, 2004a) e pelo Polimorfismo do

Comprimento de Fragmentos de Restrição do DNA mitocondrial (RFLP-DNA mt) por

Kim e Sappington (2004b). A técnica RFLP-DNA mt também foi utilizada em

abordagens de sistemática molecular de populações de bicudo provenientes dos Estados

Unidos e México (ROEHRDANZ e NORTH, 1992; ROEHRDANZ, 2001). Roehrdanz

(2001), analisando o padrão de RFLP-DNAmt revelado por quatro enzimas de restrição,

conseguiu distinguir populações de A. grandis do Texas e México de populações do

Arizona, mostrando a potencialidade deste marcador para inferências sobre a origem das

populações colonizadoras.

Embora o Brasil seja um grande produtor de algodão, com grandes áreas de

cultivo, poucos trabalhos até o momento foram realizados utilizando marcadores

moleculares para análise da diversidade genética e fluxo gênico das populações naturais

de A. grandis. O nosso objetivo foi caracterizar o padrão de dispersão e a estrutura

genética das populações naturais de A. grandis coletadas nas regiões norte, nordeste e

centro-oeste do Brasil.

Materiais e Métodos

Descrição da área e amostragem

As coletas foram realizadas nas Regiões norte, nordeste, e centro-oeste em

ecossistemas de caatinga e cerrado do Brasil. A caatinga é o principal ecossistema da

região nordeste, ocupando 6,83% do território nacional, estando presente em 10 estados.

Esta região é caracterizada pelo clima semi-árido com ocorrências de secas estacionais e

periódicas, a vegetação é predominantemente seca e espinhosa, com presença de

estratos compostos por gramíneas e árvores de 3 a 7 metros de altura. Por outro lado, o

cerrado constitui o segundo maior ecossistema do Brasil e da América do Sul,

apresentando grande heterogeneidade espacial, estendendo-se por mais de 20 graus de

latitude, com presença de áreas de transição entre a floresta Amazônia, mata atlântica e

caatinga. O clima da região é constituído por estação seca e úmida, a vegetação

encontrada nesta região é denominada de cerrado típico, e é composta por árvores

esparsas de até 20 metros, arbustos e subarbustos (Reserva Ecológica do IBGE-

RECOR, 2002). As populações de A. grandis de Goiás (GO), Mato Grosso (MT) e

Bahia (BA) foram coletadas em áreas de cerrado, onde é praticado um sistema de

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Estrutura Genética de Anthomus grandis Martins et al.

51

plantio empresarial. Enquanto que as populações da Paraíba (PB) e Ceará (CE) estão

inseridas em um ecossistema de caatinga, onde predominantemente ocorre a agricultura

familiar. A população do Pará (PA) foi coletada em região de transição do cerrado com

floresta Amazônica.

Maçãs e botões florais encontrados sobre o solo, com presença de orifícios de

oviposição, foram coletados entre 2002 e 2005 em campos de algodão cultivados de

onze municípios (Figura 1, Tabela 1). Posteriormente, o material coletado foi mantido

em gaiolas apropriadas no insetário da Embrapa Algodão até emergência dos insetos

adultos. Os adultos obtidos foram armazenados em freezer a -20 0C até a realização da

extração de DNA.

Extração de DNA e amplificação de microssatélites

A cabeça de cada inseto foi homogeneizada individualmente em 500 µl de

tampão de lise (NaCl 0,4M, EDTA 2mM, Tris-HCl 10mM, pH 8,0), proteinase K (150

mg/ml) e Dodecil Sulfato de Sódio (SDS) 1,5%. O homogenato foi incubado

“overnight” a 65º C. Posteriormente, foram adicionados 420 µl de NaCl 5M, e a

amostra foi misturada em um agitador tipo “vortex” por aproximadamente 1 min. Em

seguida, foi centrifugada a 14.000 rpm por 20 min a 4º C. Ao sobrenadante foi

adicionado igual volume de isopropanol; a mistura foi mantida a -20º C por 1 h, para

precipitação do DNA. Posteriormente, a amostra foi centrifugada a 14.000 rpm por 20

min a 4º C. O sobrenadante foi descartado e o precipitado lavado com etanol 70%, seco

a vácuo e resuspendido em 200 µl de Tris-EDTA (Tris 10 mM, EDTA 1 mM).

Para amplificação dos oito loci de microssatélites nós utilizamos primers

específicos para A. grandis (Tabela 2) descritos por KIM e SAPPINGTON (2004 c). As

reações de amplificação foram realizadas em um volume final de 25 µL usando de 15-

40 ng do DNA genômico, MgCl2 1,5 mM, 200 µM de cada dNTP, 0,16 µM de cada

primer e 0,2 U de Taq DNA polimerase (Amersham). As amplificações foram

realizadas em um termocilador gradiente Eppendorf programado para 3 min a 94º C,

seguido por 30 ciclos de 1 min a 94º C, 1 min a 57º C e 1 min a 72º C, com extensão

final de 72º C por 10 min. Uma alíquota de 8 µL de cada produto de PCR após

desnaturação a 94º C por 5 min, foi submetida à eletroforese desnaturante (acrilamida

6% e Uréia 7 M) em cuba de sequenciamento, com tampão (Ácido Bórico 0.089 M;

EDTA 0.002 M) por 4 horas, posteriormente corado com nitrato de prata, de acordo

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com o protocolo descrito por Creste et al. (2001). O tamanho do produto de PCR foi

determinado utilizando um marcador “ladder” de 50 pb e 100 pb em cada gel.

Análise estatística

A diversidade genética foi estimada a partir da heterozigosidade esperada (HE) e

observada (Ho) de acordo com Nei (1987), e a proporção de loci polimórficos,

considerando o critério de 95%, utilizando-se o programa GENETIX 4,05 (BELKHIR

et al., 2001).

O equilíbrio de Hardy-Weinberg (HW) e o desequilíbrio de ligação em todos os

loci e populações foram testados através de 1.000 permutações, com posterior correção

de Bonferroni, utilizando o programa FSTAT versão 2.9.3 Goudet (2001). As análises

de diferenciação genética (FST) entre as populações foram realizadas de acordo com

Weir e Cockerham (1984) e a significância dos valores de FST estimada através de 1.000

permutações, foi realizada no programa FSTST versão 2.9.3.

A análise da estrutura genética das populações também foi realizada através da

Análise de Variância Molecular (AMOVA) (EXCOFFIER et al., 1992) no programa

ARLEQUIN versão 2.000 (SCHNEIDER et al., 2000). As estimativas de fluxo gênico

foram calculadas a partir da fórmula Nm = (1/FST - 1)/4. A distância genética de Nei

(1972) foi utilizada para a construção do dendrograma utilizando o método neighbour-

joining no programa MEGA 3 versão 3.0 (KUMAR et al., 2004). A Correlação entre a

distância genética de Rousset (1997) FST/(1-FST) e a distância geográfica em

quilômetros, foi testada através do teste de Mantel com 1.000 permutações, utilizando o

programa IBD (Isolation by Distance) (BOHONAK, 2002).

RESULTADOS

Diversidade Genética

Dois dos oito loci de microssatélite analisados foram monomórficos em todas as

populações, os outros seis foram polimórficos em pelo menos cinco populações.

Desvios significantes na distribuição dos genótipos, após a correção de Bonferroni

(ajuste de significância de 5% para 0.00057), foram observados apenas nos loci AG-D2

na população BARB, AG-D4 nas populações IND, IPA, ITU e PL, e AG-D9 nas

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populações BARR e IPA. Nestes loci foi observada uma deficiência de heterozigotos.

Nenhum locus apresentou desequilíbrio de ligação.

O número de alelos por locus variou de 1 a 5 (Tabela 2), com médias de 1,5 a

2,12 alelos por população (Tabela 3). A maior diversidade genética foi encontrada na

população ITA na Paraíba (P = 75% e HO = 0,224) e a menor em IND em Goiás (P =

37,5% e HO = 0,038) (Tabela 3), com heterozigosidade total correspondendo a 0,268.

Considerando os ecossistemas de cerrado e caatinga, a heterozigosidade total foi maior

na região da caatinga (0,184), enquanto que no cerrado este valor caiu para 0,078, sendo

significativa esta diferença observada entre as duas regiões.

Diferenciação Genética

A diferenciação genética (FST), considerando todas as populações, correspondeu

a 0,220. A diferenciação entre as populações par a par, variou de 0,009 (CG e MV) a

0,523 (BARR e GOU) (Tabela 4). Considerando a diferenciação entre as populações

dentro de cada região o FST foi maior na região centro-oeste (0,281) e menor na região

nordeste (0,08), sendo significativa à diferença de estruturação genética observada nas

duas regiões. No ecossistema da caatinga, o FST correspondeu a 0,061, enquanto que no

ecossistema de cerrado o FST foi de 0,305. A análise de variância molecular (AMOVA)

revelou que em todos os níveis hierárquicos 80% ou mais da variação genética foi

atribuída à variação intra-populacional (Tabela 5).

Quando a divergência genética foi analisada considerando a distância geográfica,

a relação entre FST/(1 - FST) e distância geográfica em quilômetros foi significativa

apenas analisando-se a região nordeste (p = 0,034) e não significativa quando: 1)

consideramos todas as populações (p = 0,414), 2) consideramos as populações do

centro-oeste (p = 0,519), 3) consideramos o ecossistema da caatinga (p = 0,513) e 4) o

ecossistema do cerrado (p = 0,137), demonstrando que a distância geográfica não é um

fator relevante para estruturação genética das populações.

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Fluxo Gênico

O fluxo gênico entre todas as populações foi baixo (Nm = 0,8). Entretanto, na

região nordeste o número de migrantes correspondeu a 2,87, enquanto que no centro-

oeste o Nm foi de 0,64. Em relação aos dois ecossistemas o Nm foi de 3,84 na caatinga

e de 0,57 no cerrado.

Distância Genética

A distância genética de Nei (1978) calculada ente as populações variou de 0,04

entre MV e CG a 0,204 entre BARR e GOU (Tabela 6). O dendrograma construído

utilizando o método neighbour-joining (Figura 2) a partir dos valores de distância

genética revelou a presença de dois grupos, o primeiro formado pelas populações do

nordeste mais IPA e IND (Centro-Oeste) e o segundo constituído pela população RE

(norte) e demais populações do centro-oeste.

Discussão

Os nossos resultados, revelados por 8 loci de microssatélite, mostraram que a

heterozigosidade obtida (H = 0,268), foi similar aos valores de heterozigosidade obtidos

por RAPD (H = 0,262) e isoenzimas (H = 0,212) para as mesmas populações

(MARTINS et al., submetido), o que não era esperado uma vez que os microssatélites

normalmente revelam um maior polimorfismo entre as populações. Esta baixa variação

pode ter ocorrido devido à presença de alelos nulos que não foram detectados nesta

análise. Kim e Sappington (2004 c), estudando os mesmos loci, verificaram um maior

número de alelos por locus, que variaram de 3 a 10. Entretanto, naquele trabalho os

autores empregaram amostras de bicudo provenientes de diferentes regiões do Texas-

EUA e México.

A heterozigosidade observada HO por locus (Tabela 2) foi menor que a obtida em

populações de A. grandis coletadas no Texas-EUA e México, onde foram analisados

quatorze loci de microssatélites, dos quais, 8 são os mesmos utilizados no presente

trabalho. Naqueles insetos, HO variou de 0,089 a 0,689 (KIM e SAPPINGTON, 2004 c).

Scataglini et al. (2000), utilizando RAPD, observaram que as heterozigosidades médias

(H) nas populações de A. grandis provenientes dos Estados Unidos (0,229) e México

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(0,238) são superiores aos valores encontrados nas populações da Argentina, Paraguai e

Brasil, onde o maior valor de H ocorreu na população de Porto Iguaçu, Argentina (H =

0,173) e o menor na população de Londrina, Brasil (H = 0,117).

Os baixos índices de diversidade genética encontrados nas populações de bicudo

do Brasil, em comparação com os observados em populações dos Estados Unidos e

México, são esperados em populações de insetos invasores recém-introduzidos, como o

bicudo do algodoeiro. Os indivíduos fundadores das primeiras populações introduzidos

acidentalmente no Brasil representam apenas uma pequena fração da variabilidade

genética ancestral.

Os índices de diversidade genética obtidos no presente trabalho, embora tenham

sido baixos, mostraram diferentes níveis de variação genética nas populações, o que

permitiu a distinção das populações oriundas das regiões norte e nordeste daquelas

coletadas no centro-oeste a partir da heterozigosidade observada (Tabela 3). Barreiras e

Ipameri apresentaram HO semelhantes aos encontrados no centro-oeste e nordeste,

respectivamente. A semelhança entre o grau de diversidade genética da população de

Barreiras e o das populações do centro-oeste era esperada pelo fato desta população

estar inserida em uma área de produção que apresenta características de cultivo e

aspectos ecológicos semelhantes aos encontrados nas regiões produtoras de algodão do

centro-oeste brasileiro.

Os nossos resultados também revelaram que as populações do centro-oeste e

Barreiras (nordeste), coletadas no cerrado brasileiro, onde é praticada a agricultura

empresarial, apresentam uma variabilidade genética menor que a observada para as

populações do nordeste (Tabela 5), onde é praticada a agricultura em pequena escala.

Os dois agro-ecossistemas estudados apresentaram diferentes padrões de

diversidade genética. Estas diferenças decorrem do fato de no Brasil serem praticados

dois sistemas de produção bastante discrepantes entre si.

No cerrado, a cotonicultura praticada em escala empresarial tem como

características básicas aplicações de grandes quantidades de inseticidas químicos,

extensos ambientes homogêneos que propiciam a proliferação de inseto durante o ciclo

de cultura e ausência de refúgios nas bordas (restos de cultura ou algodão em estado

feral) durante a entressafra. Estes fatores são fundamentais para a ocorrência dos baixos

níveis de variabilidade genética encontrados nesta região.

Por outro lado, no nordeste brasileiro, os efeitos da extinção e recolonização

populacionais são menos acentuados, devido à ausência de programas de controle e

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ocorrência de fragmentação nas regiões plantadas, favorecendo o surgimento de áreas

de refúgios e hospedeiros alternativos, permitindo maiores níveis de variabilidade

genética local.

O índice geral de diferenciação genética encontrado (FST = 0,220) indica que as

populações amostradas apresentam grande estruturação genética. Considerando os

ecossistemas, o FST observado no cerrado (0,281) foi cinco vezes maior que o observado

na caatinga (FST = 0,080), revelando a ocorrência de um baixo fluxo gênico no cerrado

(Nm = 0,57) e elevado na caatinga (Nm = 3,84).

Os valores de FST e Nm observados nas populações do cerrado brasileiro

indicaram a eficiência dos programas de controle mantidos nesta região, através da

restrição do fluxo gênico entre as populações, mesmo estando localizadas em ambiente

de cultivo homogêneo propício à proliferação do bicudo do algodoeiro. No entanto, a

eliminação completa deste inseto-praga nas regiões produtoras do cerrado pode ser

prejudicada principalmente pela ausência de programas de controle na região nordeste,

onde nós observamos os maiores índices de diversidade genética e fluxo gênico entre as

populações.

As áreas produtoras de algodão do nordeste (com exceção de Barreiras) e centro-

oeste estão separadas por barreiras geográficas e distâncias superiores a 1.500 km

(Tabela 6), as quais interrompem o continuum que facilitaria a movimentação natural de

A. grandis entre estas duas regiões. Todavia, o nordeste brasileiro ainda assim é um

fator chave para o sucesso do programa de erradicação do centre-oeste, pois aquele pode

funcionar como fonte para a reintrodução de insetos nas áreas erradicadas, através da

dispersão natural ou passiva (ocasionada pela ação humana).

A correlação da distância genética com a distância geográfica entre todas as

populações analisadas foi positiva, mas não significativa, indicando ausência de

isolamento por distância entre as populações. O mesmo foi observado por Scataglini et

al. (2000) estudando populações de bicudo da Argentina, Paraguai e Brasil. Por outro

lado, Kim e Sappington (2004 b) observaram que as populações dos Estados Unidos e

do norte do Texas, apresentam fluxo gênico mais alto entre populações mais próximas

do que entre populações mais distantes, demonstrando um padrão de isolamento por

distância significativo. Os nossos resultados também demonstraram que a diferenciação

genética entre algumas populações do centro-oeste e nordeste embora tenha sido

elevada, não foi significativa, sugerindo a ocorrência de fluxo gênico entre as

populações destas regiões (Tabela 4).

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Nós acreditamos que os altos valores de fluxo gênico observados entre algumas

populações do centro-oeste e nordeste possivelmente são resultantes de um baixo FST

estimado em decorrência de uma introdução recente do bicudo do algodoeiro na região

centro-oeste, e não de uma real diferenciação local entre as populações. O deslocamento

do cerne da cotonicultura nacional para esta região há pouco mais de dez anos é o fator

mais influente do que a própria dispersão natural do inseto ou a mediada pela ação

humana. O dendrograma construído a partir da distância genética entre as populações

(Figura 2) mostra claramente a ocorrência de uma ancestralidade entre as populações do

nordeste com a população de Ipameri e Indiara (centro-oeste). Os dois agrupamentos

formados também sugerem que a introdução de A. grandis na região centro-oeste

ocorreu a partir de populações de grupos genéticos distintos.

Os nossos resultados sugerem que a implantação de programas de controle na

região nordeste do país é um aspecto fundamental para o sucesso das estratégias que

visam a erradicação do bicudo, pois esta região está funcionando como reservatório de

populações de A. grandis, o que a torna uma possível fonte para a reintrodução do

bicudo do algodoeiro em áreas que estão em processo de erradicação do mesmo.

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Figura 1: Mapa do Brasil mostrando os pontos de coleta de Anthonomus grandis. As localidades estão listadas na Tabela 1 (IPA = Ipameri; ITU = Itumbiara; IND = Indiara; GOU = Gouvêlandia; PL = Primavera do Leste; CG = Campina Grande; ITA = Itaporanga; BARB = Barbalha; MV = Missão Velha; BARR = Barreiras e RE = Redenção).

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Figure 2: Dendrograma construído pelo método neighbour-joining, baseado na distância genética de Nei (1978), mostrando o relacionamento entre as populações de A. grandis do Brasil. As populações estão listadas na Tabela 1.

Ipameri

Itaporanga

Barreiras

Campina Grande

Missão Velha

Indiara

Barbalha

Gouvêlandia

Primavera do Leste

Itumbiara

Redenção

0.00 0.01 0.02 0.03 0.04 0.05

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Tabela 1: População de Anthonomus grandis estudadas por microssatélite, data de coleta e tamanho amostral (N) por localidade.

Região

População/ Estado Abreviatura

N

Data de Coleta

Centro-Oeste Ipameri, Goiás (GO) IPA 20 Janeiro 2005 Itumbiara, Goiás (GO) ITU 17 Dezembro 2004 Indiara, Goiás (GO) IND 14 Janeiro 2005 Gouvêlandia, Goiás (GO) GOU 17 Janeiro 2005 Primavera do Leste, Mato Grosso (MT) PL 19 Janeiro 2005 Nordeste Campina Grande, Paraíba (PB) CG 20 Janeiro 2002 Itaporanga, Paraíba (PB) ITA 20 Maio 2005 Barbalha, Ceará (CE) BARB 20 Março 2002 Missão Velha, Ceará (CE) MV 20 Março 2002 Barreiras, Bahia (BA) BARR 14 Abril 2004 Norte Redenção, Pará (PA) RE 19 Junho 2004

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Tabela 2. Seqüência dos primers de microssatélite, número de alelos detectados e heterozigosidade observada (HO).

Loco Seqüência dos primers (5’-3’)

Repeat Número de alelos

Ho

AG-D1

F: TGGTGAGGGGTGTGATATGAT R:GGAAGAACTAAAAACAAATGACGAA

(GT)9(GA)2

4 0.306

AG-D2 F: GCCATCCGACAAATTCAATA R: GCCATCCGACAAATTCAATA

(CG)2(TG)8 2 0.036

AG-D3 F: CAAACGACGCTATTAGCTTGAA

R:CGATAACACCCCGAAAATTG (CA)11(GA)2(CA)2 3 0.283

AG-D4 F:AGTTGCATATCGCGTCTCCT

R: TCACTCTCCCAGTACATTTACCC (GT)10 3 0.174

AG-D5 F: AAGTTCATCGGTCGAGCAGT

R: GCTGCGAAGGAATGAGAAAA (GT)10 1 0

AG-D6 F: GCGAGCGCTTCGTAGTTAAT

R: GATCAAGTTCACATCACAAACA (GT)4TT(GT)8 5 0.129

AG-D8

F: ATCATAAACGGGAACCACCA R: ATATCCCTCCGGAAGTGCTC

(AG)6

1

0

AG-D9 F: TGTAATTTAATTATGATGGCAATTT

R: ATCGATACTCCCCCTTAGGC (GT)9(AT)2 3 0.006

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Tabela 3: Populações de A.grandis estudadas, número médio de alelos detectados (na) e medidas de variabilidade genética: heterozigosidade observada (HO) e esperada (HE) e Polimorfismo (P).

Estado População na HO HE P IPA 1.87 0.198 0.274 0.500 ITU 1.62 0.039 0.163 0.625 GO IND 1.50 0.038 0.167 0.375 GOU 1.62 0.060 0.124 0.500 MT PL 1.50 0.063 0.170 0.375 PB CG 2.00 0.202 0.224 0.625 ITA 2.12 0.224 0.340 0.750 CE BARB 1.87 0.140 0.225 0.625 MV 1.87 0.166 0.216 0.625 BA BARR 1.62 0.044 0.136 0.500 PA RE 2.12 0.109 0.171 0.625

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Tabela 4: FST de Weir e Cockerham (1984) entre as populações (diagonal superior) e número de migrantes (Nm) (diagonal inferior).

NS, não significativo; *** p < 0.001; ** p < 0.01; * p < 0.05.

IPA ITU IND GOU PL CG ITA BARB MV BARR RE

IPA _ 0.313NS 0.227NS 0.336NS 0.356NS 0.108NS 0.045NS 0.212NS 0.158NS 0.217NS 0.252NS

ITU 0.55 _ 0.265* 0.286NS 0.251** 0.269NS 0.183* 0.143 0.154NS 0.369NS 0.050NS

IND 0.85 0.69 _ 0.353** 0.344*** 0.120** 0.139** 0.075NS 0.090NS 0.366NS 0.258NS

GOU 0.49 0.62 0.46 _ 0.134NS 0.366* 0.288** 0.321*** 0.316*** 0.523* 0.373NS

PL 0.45 0.75 0.48 1.61 _ 0.346** 0.217*** 0.241*** 0.292*** 0.410* 0.345NS

CG 2.06 0.68 1.83 0.44 0.47 _ 0.070NS 0.049NS 0.009NS 0.152NS 0.228NS

ITA 5.30 1.12 1.55 0.62 0.90 3.34 _ 0.090*** 0.071* 0.102* 0.164NS

BARB 0.93 1.50 3.09 0.53 0.79 4.81 2.51 _ 0.022* 0.222* 0.132NS

MV 3.26 1.37 2.52 0.54 0.61 27.00 3.26 10.87 _ 0.141* 0.149NS

BARR 0.90 0.43 0.43 0.23 0.36 1.39 2.20 0.88 1.52 _ 0.349NS

RE 0.74 4.73 0.72 0.42 0.48 0.85 1.27 1.64 1.43 0.47 _

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Tabela 5: Análise de variância molecular (AMOVA).

Tabela 6. Distância genética de Nei (1978) (diagonal superior) e distância geográfica em quilômetros (diagonal inferior) entre as populações de Anthonomus grandis coletadas no Brasil.

AMOVA População Componentes da Variação

(% de variação) Entre as populações

Dentro das populações

FST Ho Nm

Estado Ceará -1.18 101.18 0.022 0.159 11.11 Paraíba 6.41 93.59 0.070 0.214 3.32 Goiás 19.80 80.20 0.283 0.085 0.633 Região Centro-Oeste 19.31 80.69 0.281 0.079 0.64 Nordeste 2.63 97.37 0.080 0.166 2.87 Ecossistema Cerrado 20.74 79.26 0.305 0.078 0.57 Caatinga 2.53 97.47 0.061 0.184 3.84

IPA ITU IND GOU PL CG ITA BARB MV BARR RE

IPA - 0.147 0.098 0.142 0.178 0.048 0.028 0.102 0.065 0.088 0.104

ITU 140 - 0.095 0.082 0.081 0.099 0.089 0.050 0.054 0.143 0.017

IND 200 150 - 0.110 0.128 0.042 0.064 0.028 0.029 0.136 0.084

GOU 230 95 150 - 0.032 0.138 0.140 0.116 0.108 0.204 0.121

PL 725 645 480 545 - 0.139 0.106 0.090 0.110 0.163 0.122

CG 1785 1810 1785 2000 2085 - 0.034 0.017 0.004 0.052 0.082

ITA 1600 1725 1680 1810 1995 255 - 0.044 0.031 0.044 0.074

BARB 1515 1615 1620 1730 1885 375 125 - 0.009 0.083 0.044

MV 1535 1655 1655 1745 1905 205 85 20 - 0.047 0.049

BARR 720 840 790 930 1085 1015 930 830 850 - 0.118

RE 1095 1130 1020 1160 960 1420 1320 1195 1215 725 -

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VI. Conclusões

No presente trabalho apresentamos os dados sobre a diversidade e estrutura

genéticas das populações naturais de Anthonomus grandis provenientes de seis estados

brasileiros (Paraíba, Ceará, Bahia, Pará, Mato Grosso e Goiás). Os resultados obtidos nos

permitem tirar as seguintes conclusões:

1) A análise alozímica revelou que os padrões isoenzimáticos dos loci Est-2,

Po-1, Mdh-1, Idh-1, Idh-2 e Me-1, observados nas populações brasileiras são iguais

aos padrões observados nas populações de A. grandis dos Estados Unidos e

México.

2) Os valores de heterozigosidade obtidos por RAPD (H = 0,262) e isoenzimas

(H = 0,212), no presente trabalho, foi cerca de duas vezes menor que os valores

descritos em populações de A. grandis dos Estados Unidos e México.

3) A análise de oito loci de microssatélite mostrou que a heterozigosidade

obtida (H = 0,268), foi similar aos valores de heterozigosidade revelados por RAPD

e isoenzimas, o que não era esperado, uma vez que os loci de microssatélite

normalmente revelam um maior polimorfismo entre as populações.

4) Os valores de heterozigosidade (H) e polimorfismo (P) obtidos com

microssatélite, mostram diferentes níveis de variação genética nas populações, o

que permitiu a distinção das populações oriundas das regiões norte e nordeste das

populações coletadas na região centro-oeste.

5) Os índices de diversidade genética: heterozigosidade observada (Ho) e

polimorfismo (P) revelaram que as populações coletadas nas áreas onde é pratica a

agricultura empresarial apresentam variabilidade genética menor que a observada

nas populações coletadas nas áreas onde é realizada a agricultura em pequena

escala.

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6) A diferenciação genética evidenciada por RAPD (GST = 0,258), isoenzimas

(FST = 0,544) e microssatélite (FST = 0,220), revelou que as populações de A.

grandis dos estados brasileiros analisados apresentam elevada estruturação

genética.

7) O índice de diferenciação genética FST observado entre as populações do

cerrado (FST = 0,281) foi cinco vezes maior que o observado na caatinga (FST =

0,080), revelando a ocorrência de diferentes níveis de estruturação genética nas

populações brasileiras.

8) O padrão de estruturação genética observada por microssatélite indicou que

não há correlação entre as distâncias genéticas e as distâncias geográficas,

revelando a ausência de padrão de isolamento por distância entre as populações.

9) As estimativas de fluxo gênico entre todas as populações reveladas por

RAPD (Nm = 0,72), isoenzimas (Nm = 0,21) e microssatélite (Nm = 0,80) foram

baixas. Entretanto, na região nordeste o número de migrantes foi elevado (Nm =

2,87), enquanto que na região centro-oeste o Nm foi baixo correspondendo a 0,64.

10) O dendrograma construído a partir da distância genética revelada por

microssatélite, sugere que a introdução das populações de A. grandis na região

centro-oeste ocorreu a partir de populações de grupos genéticos distintos.

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VII. Apêndices

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Apêndice 1

Anexo 2

a)

b)

Figura 1: Eletroforese em gel desnaturante de acrilamida. a) Locus AG-D9. Poços 1, 2, 3, 4, 6, 8, 9, 11, 12, 13, 14 e 15: indivíduos homozigotos para o alelo 2. Poços 5, 10 e 16: indivíduos heterozigotos para os alelos 2/3. Poço 7: indivíduo heterozigoto para os alelos 2/4. b) poços 1 a 14: “multiplex” loci AG-D1 e AG-D2. Poço 15: marcador de peso molecular “ladder” 50pb e poço 16: marcador de peso molecular “ladder” 100pb.

b)

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Apêndice 2

M 1 2 3 4 5 6 7 8 M

OPA 8 OPA 18 OPC 19

←←←←

Figura 2: Gel de agarose 0,8% corado com brometo de etídio mostrando o padrão dos primers: OPA 8, OPA 18 e OPC 19. Poços 1 a 3: primer OPA 8, poços 3 e 4: primer OPA 18 e poços 6 a 8: primer OPA 19. Poços M marcador de peso molecular “Ladder” 100 pb.

800 pb

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Apêndice 3

Figura 3: Gel de agarose 0,8% corado com brometo de etídio mostrando o padrão de RAPD de A. grandis. a) poços 1 a 24: primer OPA-8. b) poços 1 a 20: primer OPA-18.

b)

a)

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Apêndice 4

Figura 4: a) Eletroforese nativa em géis de penetrose 30 mostrando padrão isoenzimático de: a) poços 1 a 21: Esterase e b) poços 1 a 10: Peroxidase.

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21

←←←← Est-1

←←←← Est-2 ←←←← Est-1

a)

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

←←←← Alelo-1

←←←← Alelo-2

←←←← Alelo-3

b)