universidade federal de mato grosso instituto de saúde ... · resumo a constituição ... oab –...

61
1 Universidade Federal de Mato Grosso Instituto de Saúde Coletiva Graduação em Saúde Coletiva Marenilza Silvia Vieira Pinheiro da Silva Gomes Estrutura e funcionamento da unidade de saúde do Centro Socioeducativo de Cuiabá/MT em 2014 Cuiabá/MT 2015

Upload: lemien

Post on 11-Feb-2019

214 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Universidade Federal de Mato Grosso Instituto de Saúde ... · RESUMO A Constituição ... OAB – Ordem dos Advogados do Brasil OMS – Organização Mundial de Saúde ONG ... como

1

Universidade Federal de Mato Grosso Instituto de Saúde Coletiva

Graduação em Saúde Coletiva

Marenilza Silvia Vieira Pinheiro da Silva Gomes

Estrutura e funcionamento da unidade de saúde do Centro Socioeducativo de Cuiabá/MT em 2014

Cuiabá/MT 2015

Page 2: Universidade Federal de Mato Grosso Instituto de Saúde ... · RESUMO A Constituição ... OAB – Ordem dos Advogados do Brasil OMS – Organização Mundial de Saúde ONG ... como

2

Marenilza Silvia Vieira Pinheiro da Silva Gomes

Estrutura e funcionamento da unidade de saúde do Centro Socioeducativo de Cuiabá/MT em 2014

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal de Mato Grosso, para obtenção do título em Bacharel em Saúde Coletiva. Orientadora: Prof. Dra. Reni A. Barsaglini.

Cuiabá/MT 2015

Page 3: Universidade Federal de Mato Grosso Instituto de Saúde ... · RESUMO A Constituição ... OAB – Ordem dos Advogados do Brasil OMS – Organização Mundial de Saúde ONG ... como

3

Catalogação

Page 4: Universidade Federal de Mato Grosso Instituto de Saúde ... · RESUMO A Constituição ... OAB – Ordem dos Advogados do Brasil OMS – Organização Mundial de Saúde ONG ... como

4

Dedico este trabalho a minha família:

Marlene, Cecília, Claudiny, Henrique e

Wilson.

E aos adolescentes sem nome que

inspiraram essa pesquisa.

Page 5: Universidade Federal de Mato Grosso Instituto de Saúde ... · RESUMO A Constituição ... OAB – Ordem dos Advogados do Brasil OMS – Organização Mundial de Saúde ONG ... como

5

Agradecimentos

Meu primeiro agradecimento é a Deus, porque d’Ele por Ele e para Ele

são todas as coisas! A Ele toda Glória!

Agradeço ao meu esposo, Wilson, que sempre está ao meu lado, me

apoiando, auxiliando e incentivando. Assim como minha mãe, minhas irmãs e

meu sobrinho.

Agradeço aos meus amigos e companheiros de caminhada acadêmica:

Camila, Erica, Klisman, Luiz Fernando, Marcelo e Regiane, que fizeram muito

por mim nesses quatro anos.

À professora Reni Barsaglini, minha orientadora, por me auxiliar na

construção deste trabalho; bem como aos demais professores do Instituto de

Saúde Coletiva que participaram de minha formação.

E a todos que de alguma forma ajudaram, contribuíram e torceram por

mim.

Muito Obrigada!

Page 6: Universidade Federal de Mato Grosso Instituto de Saúde ... · RESUMO A Constituição ... OAB – Ordem dos Advogados do Brasil OMS – Organização Mundial de Saúde ONG ... como

6

SILVA, Marenilza S. V. P. da. Estrutura e funcionamento da unidade de saúde do Centro Socioeducativo de Cuiabá/MT em 2014 62 p. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Saúde Coletiva) - Instituto de Saúde Coletiva, Universidade Federal de Mato Grosso, Cuiabá, 2015.

RESUMO A Constituição Federal e o Estatuto da Criança e do Adolescente garantem para crianças e adolescentes o direito a vida e à saúde, mesmo quando esse menor encontra-se em conflito com a lei. Os adolescentes em cumprimento de medida socioeducativa de privação de liberdade de Cuiabá e região são encaminhados ao Centro Socioeducativo de Cuiabá. Nesta instituição de abrigamento, o adolescente deve cumprir a medida estabelecida pelas autoridades judiciais, sem que os seus direitos legais sejam comprometidos. Nesta perspectiva, buscou-se caracterizar os serviços de saúde oferecidos a esses adolescentes durante o período de internação no Centro Socioeducativo de Cuiabá, verificando o cumprimento das legislações vigentes, que garantem a esse menor, toda a assistência de que ele necessite para se desenvolver. Palavras chaves: Adolescentes, Medida Socioeducativa, Serviços de Saúde.

Page 7: Universidade Federal de Mato Grosso Instituto de Saúde ... · RESUMO A Constituição ... OAB – Ordem dos Advogados do Brasil OMS – Organização Mundial de Saúde ONG ... como

7

SILVA, Marenilza S. V. P. da. Estrutura e funcionamento da unidade de saúde do Centro Socioeducativo de Cuiabá/MT em 2014 . 62 p. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Saúde Coletiva) - Instituto de Saúde Coletiva, Universidade Federal de Mato Grosso, Cuiabá, 2015.

ABSTRACT The Brazilian Federal Constitution (BFC) and the Child and Adolescent Statuteensure the rights to life and health to children and teenagers, despite this under age is in confrontation with the law. The teenagers under social educative measure of deprivation of freedom in Cuiabá and region are forwarded to Social Educative Center. In this shelter institution, the teenager must carry out the measure established by judicial authority, with no injury of their legal rights. In this view, the aim is character the health services offered to the teenagers in the time of reclusion in the Social Educative Center in Cuiabá, verifying the fulfillment of the law, that assure to the under age, all the assistance needed to their development.

Key-words: adolescents, social educative measure, Health Services.

Page 8: Universidade Federal de Mato Grosso Instituto de Saúde ... · RESUMO A Constituição ... OAB – Ordem dos Advogados do Brasil OMS – Organização Mundial de Saúde ONG ... como

8

SUMÁRIO

Lista de Quadros e Tabelas .................................................................................................. 9

Lista de Siglas ....................................................................................................................... 10

1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 12

2. OBJETIVOS ........................................................................................................................... 16

2.1. Objetivo Geral: .......................................................................................................... 16

2.2. Objetivos Específicos:.............................................................................................. 16

3. REVISÃO DE LITERATURA .................................................................................................... 17

3.1. Marcos da assistência ao adolescente em conflito com a lei ............................ 17

3.2. Assistência à saúde aos adolescentes em cumprimento de medida socioeducativa ...................................................................................................................... 21

3.3. “Pomeri” – Instituição Total ..................................................................................... 24

4. METODOLOGIA .................................................................................................................... 28

5. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS DADOS ........................................................................ 30

5.1. A Unidade de Saúde ................................................................................................ 30

5.2. A estrutura física ....................................................................................................... 32

5.3. Recursos Humanos e atendimentos na unidade de saúde ............................... 35

5.4. Organização dos atendimentos e funcionamento da unidade de saúde ......... 40

6. CONSIDERAÇÕES ................................................................................................................. 49

7. REFERÊNCIAS ....................................................................................................................... 52

ANEXOS ....................................................................................................................................... 58

Anexo 1 – Autorização do CEP HUJM .............................................................................. 58

APÊNDICE .................................................................................................................................... 60

Apêndice 1 – Entrevista Semiestruturada com profissional atuante no Ambulatório de Saúde do Centro Socioeducativo de Cuiabá. ............................................................ 60

Page 9: Universidade Federal de Mato Grosso Instituto de Saúde ... · RESUMO A Constituição ... OAB – Ordem dos Advogados do Brasil OMS – Organização Mundial de Saúde ONG ... como

9

Lista de Quadros e Tabelas

Tabela 1: Distribuição dos funcionários do Ambulatório de Saúde do Centro Socioeducativo de Cuiabá por categoria profissional........................................35

Quadro 1: Escala de atendimento dos médicos no Centro Socioeducativo de Cuiabá, MT........................................................................................................37

Tabela 2: Consultas Médicas Especializadas na Rede Pública de Saúde no período de janeiro a agosto de 2014.................................................................43

Tabela 3: Principais procedimentos odontológicos realizados no Ambulatório de Saúde do Pomeri nos meses de janeiro a agosto de 2014...............................45

Page 10: Universidade Federal de Mato Grosso Instituto de Saúde ... · RESUMO A Constituição ... OAB – Ordem dos Advogados do Brasil OMS – Organização Mundial de Saúde ONG ... como

10

Lista de Siglas

C.A. – Centro Acautelatório

CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior

CCJ – Comissão de Constituição e Justiça

CEP – Comitê de Ética em Pesquisa

CISC – Centro Integrado de Segurança e Cidadania

CF – Constituição Federal

CNES – Cadastro Nacional dos Estabelecimentos de Saúde

CPF – Cadastro de Pessoas Físicas

DEA – Delegacia Especializada do Adolescente

DEDICA – Delegacia Especializada dos Direitos da Criança e do Adolescente

DST – Doenças Sexualmente Transmissíveis

ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente

FEBEMAT – Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor de Mato Grosso

FUNABEM – Fundação Nacional de Bem-Estar do Menor

HUJM – Hospital Universitário Julio Muller

ISC – Instituto de Saúde Coletiva

OAB – Ordem dos Advogados do Brasil

OMS – Organização Mundial de Saúde

ONG – Organização Não-Governamental

ONU – Organização das Nações Unidas

PEC – Proposta de Emenda Constitucional

PIA – Plano Individual de Atendimento

Pnaisari – Política Nacional de Atenção Integral à Saúde de Adolescentes em Conflito com a Lei, em Regime de Internação e Internação Provisória

PNS – Profissional de Nível Superior

Page 11: Universidade Federal de Mato Grosso Instituto de Saúde ... · RESUMO A Constituição ... OAB – Ordem dos Advogados do Brasil OMS – Organização Mundial de Saúde ONG ... como

11

POE – Plano Operacional Estadual

POLITEC – Perícia Oficial de Identificação Técnica

Propeq – Pró Reitoria de Pesquisa

PSF – Programa Saúde da Família

RG – Registro Geral

SAM – Serviço de Assistência ao Menor

SEDUC – Secretaria Estadual de Educação

SEJUDH – Secretaria de Justiça e Direitos Humanos

SEJUSP – Secretaria de Justiça e Segurança Pública

SINAJUVE – Sistema Nacional de Juventudade

SINASE – Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo

SIPIA – Sstema de Informações para Crianças e Adolescentes

SUS – Sistema Único de Saúde

THD – Técnico em Higiene Dental

UFMT – Universidade Federal de Mato Grosso

UPA – Unidade de Pronto Atendimento

Page 12: Universidade Federal de Mato Grosso Instituto de Saúde ... · RESUMO A Constituição ... OAB – Ordem dos Advogados do Brasil OMS – Organização Mundial de Saúde ONG ... como

12

1. INTRODUÇÃO

Há várias definições para os limites cronológicos da adolescência. Um

exemplo disso é que a Organização Mundial de Saúde (OMS) define a

adolescência como o período compreendido dos 10 aos 19 anos de idade, e a

Organização das Nações Unidas (ONU) considerada como adolescentes, os

indivíduos entre 15 e 24 anos. No Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA

Lei 8.069/90 (BRASIL, 1990), adolescente é a pessoa entre 12 e 18 anos de

idade (EISENSTEIN, 2005).

Nessa pesquisa, será focada a definição do ECA, por ser este o

documento que rege como deve ser feito o atendimento aos adolescentes

autores de ato infracional.

A adolescência é uma fase de várias mudanças, sejam elas biológicas,

cognitivas, emocionais e sociais. É nessa fase em que o adolescente

experimenta novas práticas e busca maior autonomia. Sendo desafio a

sociedade organizada formular/implementar políticas públicas para a juventude

com respostas efetivas e eficazes sobre o problema da violência e

criminalidade crescentes nesta fase da vida (ESTEVAM, COUTINHO e

ARAUJO, 2009).

Para o adolescente autor de ato infracional, há um tratamento diferente

do que é destinado aos adultos, pois nesse período ele ainda encontra-se em

processo de desenvolvimento. O ECA o considera penalmente inimputável

(BRASIL, 1990, artigo104), mas prevê a aplicação de medidas socioeducativas,

após a verificação da prática do ato infracional.

As medidas socioeducativas são: I – advertência; II – obrigação de

reparar o dano; III - prestação de serviços à comunidade; IV – liberdade

assistida; V – inserção em regimento de semiliberdade; VI – internação em

estabelecimento educacional. Nota-se que a internação em estabelecimento

educacional, ou medida socioeducativa de privação de liberdade, é a última

medida a ser tomada. E para a aplicação de qualquer uma dessas medidas,

Page 13: Universidade Federal de Mato Grosso Instituto de Saúde ... · RESUMO A Constituição ... OAB – Ordem dos Advogados do Brasil OMS – Organização Mundial de Saúde ONG ... como

13

deve-se levar em conta a capacidade do adolescente em cumpri-la, bem como

as circunstâncias e a gravidade da infração (BRASIL, 1990, artigo 112).

O ECA garantiu direitos às crianças e adolescentes, e através do

Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (SINASE) foram criados

parâmetros de atendimento aos menores em situação de conflito com a lei,

diferentes das ações punitivas aos quais eram submetidos antes da aprovação

do ECA. O SINASE exige a comprovação da existência de estabelecimento

educacional com instalações e estruturas adequadas (BRASIL, 2002).

Antes da aprovação do ECA, o adolescente era alvo de medidas

punitivas e repressoras estabelecidas através do Código de Menores. Esse

código, sancionado em 1927, foi o primeiro voltado ao tratamento de crianças e

adolescentes e, situação irregular.

Hoje, o adolescente é visto como sujeito de direitos e reconhecido como

pessoa em desenvolvimento, o que faz com que seja tratado de forma

diferenciada a fim de garantir as condições para o seu desenvolvimento

(VOLPI, 1997, apud, ESTEVAM, COUTINHO e ARAUJO, 2009).

Durante o período de cumprimento de medida socioeducativa de

internação, deve-se assegurar ao adolescente os seus direitos sociais, tais

como o direito a proteção à vida e à saúde. Dessa forma, os adolescentes em

medida socioeducativa de privação de liberdade recebem entre outras coisas,

atendimento de saúde dentro e fora da unidade de internação em que se

encontram (BRASIL, 1990, artigos 121 e 126).

Em Cuiabá, MT, os adolescentes submetidos à medida privativa da

liberdade são encaminhados para o Complexo Pomeri, localizado no bairro

Planalto, onde há o Centro Socioeducativo de Cuiabá (popularmente conhecido

por “Pomeri”) que oferece a assistência assegurada pelo ECA. O Complexo

Pomeri é um local onde estão vários órgãos ligados à infância e adolescência,

um desses órgãos é o Centro Socioeducativo, local onde se abrigam

provisoriamente ou não, adolescentes que tenham cometido algum ato

infracional.

Page 14: Universidade Federal de Mato Grosso Instituto de Saúde ... · RESUMO A Constituição ... OAB – Ordem dos Advogados do Brasil OMS – Organização Mundial de Saúde ONG ... como

14

Atualmente há menos de cem adolescentes abrigados na instituição.

Segundo o relatório da instituição, no dia 11/12/2014 haviam 75 adolescentes

internados, sendo 45 na internação masculina, 24 na internação masculina

provisória e 6 na internação feminina (internação e internação provisória).

Como garantia do direito à saúde desses adolescentes, foi construído

em 2007, dentro da unidade de internação masculina, um ambulatório de

saúde, e contratados vários profissionais, como médicos, enfermeiros, cirurgião

dentista e farmacêutico, para atendimento desses adolescentes.

Durante um ano, tive a oportunidade de atuar como docente na escola

estadual que fica dentro do Centro Socioeducativo, e atende os menores que lá

se encontram. Após o contato direto com os adolescentes, vivenciando um

pouco do cotidiano da instituição, e a apropriação dos conteúdos debatidos em

sala de aula, questionei-me sobre os serviços e ações em saúde oferecidos

aos adolescentes em privação de liberdade.

A pergunta que norteou a presente pesquisa foi: como é o serviço de

saúde existente no Centro Socioeducativo de Cuiabá/Pomeri quanto à sua

estrutura e funcionamento e quais procedimentos se destacam no atendimento

aos adolescentes?

Diante disto, o objetivo da pesquisa foi descrever a estrutura e o

funcionamento do serviço de saúde oferecido aos adolescentes em

cumprimento de medida socioeducativa de privação de liberdade no Centro

Socioeducativo de Cuiabá, MT

Este estudo se insere no subprojeto “Saúde penitenciária: experiência de

profissionais atuantes na atenção em unidades prisionais de Cuiabá/MT e na

gestão das ações no nível central1" o qual, por sua vez, integra projeto mais

amplo intitulado “Fortalecimento da linha de pesquisa: Diversidade

sociocultural, ambiente e trabalho”, do Mestrado em Saúde Coletiva/ISC/UFMT,

financiado pelo edital Programa Nacional de Pós-doutorado da CAPES –

1 O centro socioeducativo não se caracteriza formalmente como unidade prisional, porém a ela

se assemelha no que tange à privação de liberdade.

Page 15: Universidade Federal de Mato Grosso Instituto de Saúde ... · RESUMO A Constituição ... OAB – Ordem dos Advogados do Brasil OMS – Organização Mundial de Saúde ONG ... como

15

PNPD/2011 Processo nº 23038.007708/2011 Concessão Institucional, vigência

2012-2014 e prorrogado para mais 24 meses, com Cadastro Propeq/UFMT –

nº 173/CAP/2012; desenvolvido junto a este Instituto, sob a coordenação da

Prof.ª Dr.ª Reni Aparecida Barsaglini.

Page 16: Universidade Federal de Mato Grosso Instituto de Saúde ... · RESUMO A Constituição ... OAB – Ordem dos Advogados do Brasil OMS – Organização Mundial de Saúde ONG ... como

16

2. OBJETIVOS

2.1. Objetivo Geral:

Descrever a estrutura e o funcionamento do serviço de saúde oferecido

aos adolescentes em cumprimento de medida socioeducativa de privação de

liberdade no Centro Socioeducativo de Cuiabá, MT (Complexo Pomeri).

2.2. Objetivos Específicos:

- Conhecer o serviço de saúde e os procedimentos realizados na

unidade;

- Identificar quais os procedimentos realizados e sua freqüência;

- Verificar a conformidade do atendimento à saúde do adolescente com

as diretrizes estipuladas pelo SINASE e pelas portarias 1.082/2014, e

647/2008.

Page 17: Universidade Federal de Mato Grosso Instituto de Saúde ... · RESUMO A Constituição ... OAB – Ordem dos Advogados do Brasil OMS – Organização Mundial de Saúde ONG ... como

17

3. REVISÃO DE LITERATURA

3.1. Marcos da assistência ao adolescente em conflito com a lei

Não se tem dados de uma política pública voltada para crianças e

adolescentes no Brasil antes do início do século XX. Eles eram vistos como

pequenos adultos e tratados sem nenhum diferencial, o que lhes causava

muitos sofrimentos como, por exemplo, a excessiva jornada de trabalho,

conforme assinalam Lopes & Ferreira (2010).

Havia casas destinadas ao cuidado de crianças e adolescentes em

situação de abandono físico e moral, como o Juizado Privativo de Menores da

Capital Federal, inaugurada em 1923, e a Casa Maternal Mello Mattos (Rio de

Janeiro), que abrigava mais de 200 crianças de 2 a 14 anos de idade

(AZEVEDO, 2007).

O Código de Menores de 1927 (Decreto 17.943-A) é o primeiro

documento legal para a população menor de 18 anos, mas que se destinava

apenas aos que estavam em situação irregular (abandonado ou delinquente). É

a partir desse código que o Estado começa a intervir na situação das crianças

e adolescentes (AZEVEDO, 2007).

Tal código ficou conhecido como Código Mello Matos, em referência ao

primeiro Juiz de Menores da América latina, José Candido de Albuquerque

Mello Mattos (LORENZI, s/d). De acordo com o artigo 56 do referido código, o

menor fugitivo ou perdido, que não fosse reclamado no prazo de 30 dias seria

considerado abandonado e destinado à internação (SILVA, 1997)

Em 1942, o Decreto-lei 3.799 criou o Serviço de Assistência ao Menor

(SAM), vinculado ao Ministério da Justiça. Esse serviço era equivalente ao

sistema penitenciário para a população menor de idade. Posteriormente o SAM

ficou conhecido como “universidade do crime” e rechaçado pela opinião pública

mais politizada (LOPES e FERREIRA, 2010), tendo em vista que neste serviço

não havia separação dos adolescentes por idade e/ou por ato infracional

Page 18: Universidade Federal de Mato Grosso Instituto de Saúde ... · RESUMO A Constituição ... OAB – Ordem dos Advogados do Brasil OMS – Organização Mundial de Saúde ONG ... como

18

cometido, além de vários problemas como estrutura física e atuação dos

profissionais (MONTE e SAMPAIO, Et AL, 2011).

Em 1964, foi criada a Fundação Nacional do Bem-Estar do Menor

(FUNABEM), através da Lei 4.413 de 1/12/1964. A FUNABEM herdou o

prédio, os funcionários e toda a cultura organizacional do SAM. O objetivo da

FUNABEM era prestar assistência à infância, tendo como foco a internação

para os casos de carência, abandono ou infração.

Mesmo com a criação de uma nova instituição (FUNABEM), não houve

transformação na forma de lidar com o adolescente. Agrupar situações distintas

(carência, abandono e infração) e destinar a elas a internação, como medida

resolutiva, é negar o atendimento especializado de que o adolescente

necessita para o seu pleno desenvolvimento, ou seja, o adolescente não

dispunha de condições de saúde física e psicológica, acesso a educação,

esporte e lazer, entre outros fatores que contribuem para um desenvolvimento

saudável.

Outro marco das políticas públicas para adolescentes foi a reformulação

do Código de Menores, em 1979 (Lei 6.697 de 10 de outubro de 1979).

Segundo o artigo 2º desta Lei, ela destinava-se apenas a crianças e

adolescentes em situação irregular, ou seja, privados de condições essências à

subsistência, vítimas de maus tratos, em perigo moral, privados de assistência

legal, com desvio de conduta, ou autores de ato infracional, ou seja, constitui-

se apenas de uma revisão ao primeiro Código de Menores, mantendo a linha

de repressão (BRASIL, 1979).

Esse código não estipulava período máximo de internação, previa

revisão da pena a cada dois anos e permitia que adolescentes fossem

internados em penitenciárias, caso não houvesse vaga nas instituições

destinadas a menores (BRASIL, 1979, artigo 41).

A década de 1980 deixou um grande legado para as conquistas dos

movimentos sociais pela infância brasileira. Essas conquistas se concretizaram

em 1988, com a promulgação da Constituição Federal (CF), conhecida como a

Constituição Cidadã. O artigo 227 da CF assegura à criança e ao adolescente:

Page 19: Universidade Federal de Mato Grosso Instituto de Saúde ... · RESUMO A Constituição ... OAB – Ordem dos Advogados do Brasil OMS – Organização Mundial de Saúde ONG ... como

19

“o direito à vida, à saúde, à alimentação à educação, ao lazer,

à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à

liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de

colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação,

exploração, violência, crueldade e opressão”. (BRASIL, 1988,

Artigo 227).

A partir da aprovação da Lei 8.069 (ECA) em 13 de julho de 1990, a

criança e o adolescente passaram a ser concebidos como pessoa em

desenvolvimento, sujeitos de direitos e destinatários de proteção integral, o que

significou avanços na forma com que se lida com essa população (BRASIL,

1990).

O ECA garantiu o direito a educação através da aplicação de medidas

socioeducativas, ao invés das punições previstas pelo Código de Menores. Um

exemplo disso é o fato do foco do Código de Menores ser a internação,

enquanto que o ECA propõe a internação como último recurso, sendo aplicada

apenas nos casos em que o menor é apreendido em flagrante delito de

infração ou por ordem expressa do juiz (BRASIL, 1990, art. 106). A internação

pode ter também caráter protetivo, a fim de resguardar algum adolescente em

caso de violação de seus direitos.

Estevam, Coutinho e Araújo (2009) apontam que o ECA é uma das

legislações mais modernas do mundo quanto aos objetivos da ressocialização

e educação dos adolescentes em conflito com a lei.

Em 2012, a Lei 12.594 institui o Sistema Nacional de Atendimento

Socioeducativo (SINASE), constituindo-se dos princípios, regras e critérios que

envolvem a execução de medidas socioeducativas. Esse documento prevê

ações articuladas nas áreas de educação, saúde, assistência social, cultura,

capacitação para o trabalho e esporte, para os adolescentes atendidos

(BRASIL, 2012).

Existem portarias sancionadas a fim de oferecer diretrizes e normativas

para o atendimento aos adolescentes em cumprimento de medida

Page 20: Universidade Federal de Mato Grosso Instituto de Saúde ... · RESUMO A Constituição ... OAB – Ordem dos Advogados do Brasil OMS – Organização Mundial de Saúde ONG ... como

20

socioeducativa de privação de liberdade, entre elas estão a portaria

1.426/2004, a portaria 647/2008 e a portaria 1.082/2014.

A portaria Interministerial 1.426, de 14 de julho de 2004, Aprova as

diretrizes para a implantação e implementação da atenção à saúde dos

adolescentes em conflito com a lei, em regime de internação e internação

provisória, com finalidade de promover a saúde a esses adolescentes. Essa

portaria institui a formulação do Plano Operativo Estadual (POE), que deve ser

realizado em conjunto pelas secretarias envolvidas no atendimento a esses

menores (BRASIL, 2004).

A portaria 647, de 11 de novembro de 2008, as normas para a

Implantação e Implementação da Política de Atenção Integral à Saúde dos

Adolescentes em Conflito com a Lei, em Regime de Internação e Internação

Provisória - PNAISARI, em unidades masculinas e femininas. Garantindo, entre

outras coisas, atendimento realizado por equipe multidisciplinar em saúde, e

acesso a todos os níveis de atenção em saúde aos adolescentes privados de

liberdade (BRASIL, 2008).

A portaria 1.082, de 23 de maio de 2014, redefine as diretrizes da

Política Nacional de Atenção Integral à Saúde de Adolescentes em Conflito

com a Lei, em Regime de Internação e Internação Provisória (PNAISARI),

incluindo-se o cumprimento de medida socioeducativa em meio aberto e

fechado. Essa política tem como objetivo geral garantir e ampliar o acesso aos

cuidados em saúde dos adolescentes em conflito com a lei em cumprimento de

medidas socioeducativas em meio aberto, fechado e semiliberdade (BRASIL,

2014).

Há também o Estatuto da Juventude, sancionado através da Lei

12.852/2013 que dispõe sobre os direitos dos jovens, os princípios e diretrizes

das políticas públicas de juventude e o Sistema Nacional de Juventude -

SINAJUVE. Para fins deste estatuto, considera-se jovem a pessoa com idade

entre 15 e 29 anos de idade. Sendo que aos adolescentes de 15 a 18 anos,

cabe a aplicação deste estatuto quando não conflitar com as normas

estabelecidas pelo ECA.

Page 21: Universidade Federal de Mato Grosso Instituto de Saúde ... · RESUMO A Constituição ... OAB – Ordem dos Advogados do Brasil OMS – Organização Mundial de Saúde ONG ... como

21

O adolescente é inimputável (CF/88 art. 228), mas não fica impune,

sendo submetido à responsabilização do seu ato, segundo as normativas da

legislação especifica – ECA, que podem ser prestação de serviços à

comunidade, reparação de danos, liberdade assistida e em último caso, a

privação da liberdade, por meio da internação.

O ECA só é lembrado nos casos de infração, mas esquecido nos casos

em que crianças e adolescentes são vítimas de violência e quando faltam

vagas nas creches. Alves (2013) afirma que se o ECA fosse cumprido não

teríamos adolescentes infratores.

Hage e Araújo (2013) apontam que ao invés da sociedade brasileira se

esforçar para a garantia dos direitos humanos e sociais, insiste em tratar a

violência social focalizando casos individuais e culpabilizando os adolescentes

pelas precariedades existenciais que são impostas à grande maioria da

população brasileira.

De acordo com os autores acima citados, para que haja um atendimento

efetivo ao adolescente, alguns marcos legais necessitam ser consolidados

como a Constituição Federal, o ECA e o SINASE. Essas leis fundamentam aos

adolescentes o direito à vida, coloca-os à salvo de qualquer violência,

reconhece-os como sujeitos de direito e garantem as condições para seu

desenvolvimento, estabelecendo os princípios das medidas socioeducativas

aplicadas aos autores de ato infracional.

3.2. Assistência à saúde aos adolescentes em cumprimento de

medida socioeducativa

A Declaração dos Direitos da Criança de 1959 traz em seu princípio 4º

que “a criança terá direito a crescer e a criar-se com saúde”. Esse direito foi

garantido no Brasil, com a promulgação da Constituição Federal de 1988, com

a seguinte redação:

Page 22: Universidade Federal de Mato Grosso Instituto de Saúde ... · RESUMO A Constituição ... OAB – Ordem dos Advogados do Brasil OMS – Organização Mundial de Saúde ONG ... como

22

A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido

mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução

do risco de doenças e agravos e ao acesso universal e

igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e

recuperação (BRASIL, 1988, art. 196).

Esse direito só foi efetivado em 1990, com a criação da Lei 8.080 que

cria o Sistema Único de Saúde (SUS) que garante universalidade de acesso

aos serviços de saúde em todos os níveis de assistência. O SUS deve

assegurar atendimento integral à saúde da criança e do adolescente (BRASIL,

1990, art. 11).

Em relação ao adolescente em cumprimento de medida socioeducativa

também há legislações que regulamentam e garantem o direito à saúde. Em 14

de julho de 2004, foi instituída a Portaria Interministerial nº. 1.426/GM (BRASIL,

2004), que aprova as diretrizes para a implantação e implementação da

atenção à saúde dos adolescentes em conflito com a lei, em regime de

internação e internação provisória, tendo por finalidade a promoção à saúde

desses adolescentes oferecendo uma abordagem educativa, integral,

humanizada e de qualidade.

Para alcançar a finalidade pretendida, foram estabelecidas as seguintes

prioridades: a implantação de estratégias de promoção da saúde, de ações de

prevenção e cuidados específicos, e medidas de proteção específica; a

garantia de acesso dos adolescentes em todos os níveis de atenção à saúde,

por meio de referência e contrarreferência; a educação permanente dos

profissionais de saúde; garantia da inclusão dos dados desses adolescentes

nos Sistemas de Informações de Saúde do SUS; e a reforma e aquisição de

equipamentos para essas unidades de saúde (Brasil, 2004).

O capítulo V da Lei 12.594/2012 (SINASE) também trata sobre a

atenção integral à saúde do adolescente em cumprimento de medida

socioeducativa incluindo, entre outras coisas, ações e serviços para a

promoção, proteção, prevenção de agravos e doenças e recuperação da

saúde.

Page 23: Universidade Federal de Mato Grosso Instituto de Saúde ... · RESUMO A Constituição ... OAB – Ordem dos Advogados do Brasil OMS – Organização Mundial de Saúde ONG ... como

23

Essa lei define que a equipe técnica destinada ao atendimento do

adolescente deve compreender, no mínimo, profissionais das áreas de saúde,

educação e assistência social, podendo ser acrescidos outros profissionais de

acordo com as necessidades do programa (Brasil, 2012).

A saúde aos adolescentes nas unidades de internação é fornecida

através do Sistema Único de Saúde, por recursos próprios da unidade, e por

parcerias com ONG’s, com a rede privada ou com universidades (SILVA e

GUERESI, 2003).

Os referidos autores apontam que as principais dificuldades para

oferecimento de serviços de saúde aos adolescentes são: Insuficiência de

material, insuficiência de pessoal para atendimento e controle de medicamento,

inadequação do espaço físico, falta de equipamentos, insuficiência de

capacitação dos profissionais, ausência de tratamento para dependentes

químicos, insuficiência de vagas para internação na rede pública, preconceito

dos profissionais da rede pública, demora na marcação de consultas,

dificuldade em realizar parcerias, e dificuldades para a realização de

atendimento/exames especializados na rede pública.

Aos agentes envolvidos na operacionalização das medidas

socioeducativas é dada a missão de proteger o adolescente, no sentido de

garantir-lhe os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana (VOLPI, 2001

apud ESTEVAM, COUTINHO, ARAUJO, 2009), tais como direito à vida e à

saúde; à liberdade, ao respeito e à dignidade; direito ao convívio familiar e com

a comunidade; direito á educação, à cultura, ao esporte e ao lazer; e do direito

à profissionalização e à proteção no trabalho, dispostos no título II da referida

Lei 8.069 (BRASIL, 1990).

A esta equipe multidisciplinar cabe o diagnóstico social, pedagógico,

psicológico, médico, cognitivo, judicial da medida socioeducativa imposta ao

adolescente e as medidas de intervenção, caso a caso, considerando cada

indivíduo como único, cada história como única e, portanto, cada intervenção

individualizada.

Page 24: Universidade Federal de Mato Grosso Instituto de Saúde ... · RESUMO A Constituição ... OAB – Ordem dos Advogados do Brasil OMS – Organização Mundial de Saúde ONG ... como

24

Dada a importância do local em que o adolescente deve cumprir a

medida socioeducativa, e a garantia dos direitos assegurados pela Constituição

Federal de 1988 e reafirmados pela Lei 8.069/90, buscou-se caracterizar o

serviço e os procedimentos de saúde oferecidos aos adolescentes internos da

Unidade Socioeducativa de Cuiabá, e verificar se o atendimento realizado tem

sido de acordo com o previsto em Lei.

3.3. “Pomeri” – Instituição Total

Erving Goffman define instituição total como:

“local de residência e trabalho onde um grande número de

indivíduos com situações semelhante, separados da sociedade

mais ampla por considerável período de tempo, levam uma

vida fechada e totalmente administrada”. (GOFFMAN, 1961, p.

6)

Dessa forma, podemos considerar o Centro Socioeducativo de Cuiabá -

Pomeri, como uma instituição total, pois abriga adolescentes em situação de

infração, separando-os da sociedade durante o tempo decidido pelo Juiz, e

realizando quase a totalidade de suas atividades no mesmo local, com um

grupo de pessoas com a mesma roupa, e com horários estabelecidos.

A identidade é deixada de lado, pois os internos são despidos de suas

roupas e objetos pessoais, têm seus cabelos cortados, e passam a viver sob

comando em uma cultura organizacional diferente da qual estavam habituados.

A negação do sujeito e a perda da autonomia reforçam o caráter de instituição

total, conceituado por Goffman (1961).

A situação discutida por Goffman “levam uma vida fechada”, é

caracterizada pelos portões fechados, muros altos, arame farpado, grades e

cadeados, que criam uma barreira entre o adolescente e o mundo externo. O

autor divide as instituições em cinco agrupamentos, e o Pomeri pode ser

Page 25: Universidade Federal de Mato Grosso Instituto de Saúde ... · RESUMO A Constituição ... OAB – Ordem dos Advogados do Brasil OMS – Organização Mundial de Saúde ONG ... como

25

alocado no terceiro grupo, no qual a instituição é organizada para proteger a

sociedade contra perigos intencionais. O que reforça o preconceito da

sociedade e dos próprios adolescentes em relação à forma como se veem e

como são vistos.

Nas instituições destinadas ao cumprimento de medida socioeducativa,

não há uma linha pedagógica única para lidar com os adolescentes. Os

profissionais podem ter entendimentos distintos sobre quais atividades são

adequadas para integrá‑los na sociedade, desde que estas estejam dentro dos

princípios do ECA e do SINASE (MENICUCCI e CARNEIRO, 2011).

Em Mato Grosso, o histórico de unidades de internação próprias para

adolescentes inicia em 1971, com a criação da Fundação Estadual do Bem-

Estar do Menor de Mato Grosso (FEBEMAT), através da lei 3.137. Esta

fundação estava vinculada à extinta Secretaria do Interior e Justiça e tinha por

competência não apenas o atendimento aos adolescentes em conflito com a

Lei, mas era o órgão responsável por toda a política de assistência social

destinada a crianças e adolescentes em situação de risco no Estado (XAVIER,

2007).

Em 1989, foi criado o Lar do Adolescente, mais conhecido como

“Fazendinha”, no mesmo local onde hoje estão abrigados os adolescente em

privação de liberdade. O Lar do adolescente era um órgão vinculado à

Secretaria de Estado e Segurança, e atendia apenas adolescentes do sexo

masculino, as meninas eram encaminhadas ao Lar Menina Moça. (PORRUA,

2005; XAVIER, 2007).

Após algumas mudanças na estrutura e na nomenclatura, a FEBEMAT é

extinta e inaugura-se em 2004 o complexo Pomeri, sob a responsabilidade da

antiga Secretaria de Estado e Justiça e Segurança Pública (SEJUSP), hoje

Secretária de Justiça e direitos Humanos (SEJUDH); com a finalidade de

atender aos princípios dispostos pelo ECA (MATO GROSSO, 2011)

A palavra Pomeri é de origem indígena e se refere a um ritual de

algumas etnias de Mato Grosso, como a Ikpeng (Kabibe). Nessa cerimônia, os

Page 26: Universidade Federal de Mato Grosso Instituto de Saúde ... · RESUMO A Constituição ... OAB – Ordem dos Advogados do Brasil OMS – Organização Mundial de Saúde ONG ... como

26

jovens passam por um processo de reclusão, em torno de 18 meses, onde são

preparados para o exercício da cidadania junto às suas respectivas

comunidades (TOMAZ DA SILVA, 2012).

Complexo Pomeri é o Centro de Integração dos Órgãos e Poderes do

Atendimento à Criança e ao Adolescente, principalmente os em situação de

conflito com a lei da capital e do Estado, desde o encaminhamento inicial na

Delegacia Especializada do Adolescente (DEA), à execução das Medidas,

atendimento a Egressos da Internação à Municipalização das Medidas em

Meio Aberto.

O Centro Socioeducativo de Cuiabá está localizado no Complexo

Pomeri, na Avenida Dante Martins de Oliveira (antiga Avenida dos

Trabalhadores), s/nº, no bairro Planalto. O Complexo é formado por diferentes

órgãos, de responsabilidade de diferentes setores. Os órgãos jurídicos são:

Juizado da Infância e da Juventude; Ministério Público; Defensoria Pública,

cada uma destas três instituições conta com duas varas.

A Secretaria Estadual de Educação de Mato Grosso (SEDUC/MT) é

responsável pelo funcionamento da Escola Estadual “Meninos do Futuro”, com

sede no Complexo e salas de aula em funcionamento dentro das Unidades de

Internação masculina e feminina. A escola atende os alunos dividindo-os em

três estágios: Básico, Intermediário e Avançado, correspondendo

respectivamente ao Ensino Fundamental I (Alfabetização ao 5º ano), Ensino

Fundamental II (do 6º ao 9º ano) e Ensino Médio.

A SEJUDH está presente através da Superintendência do Sistema

Socioeducativo; Centro Socioeducativo (Unidades de Internação, Egressos e

Municipalização); Delegacia Especializada do Adolescente (DEA); e da

Delegacia Especializada de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente

(DEDICA). Sendo de responsabilidade desta secretaria, gerenciar as

atividades das unidades de internação localizadas nas cidades de Cuiabá,

Rondonópolis, Cáceres e Barra do Garças.

Page 27: Universidade Federal de Mato Grosso Instituto de Saúde ... · RESUMO A Constituição ... OAB – Ordem dos Advogados do Brasil OMS – Organização Mundial de Saúde ONG ... como

27

Também há parceria com a Polícia Militar através do

Projeto Rede de Cidadã, Batalhão da Guarda e do Centro Integrado de

Segurança e Cidadania – CISC.

O Pomeri abriga, em prédios distintos, meninos e meninas em conflito

com a Lei. Após a apreensão, os adolescentes são encaminhados para a

Delegacia Especializada do Adolescente (DEA), e posteriormente

encaminhados ao Centro Acautelatório (C.A.), chamada também de Internação

Provisória.

Segundo o Artigo 183 do ECA, os adolescentes podem permanecer no

C.A. por no máximo 45 dias, enquanto aguardam decisão judicial. Nos casos

em que o adolescente é encaminhado para a Internação, a pena deve ser

revista, no máximo, a cada seis meses, não podendo exceder o período de três

anos (BRASIL, 1990, artigo 121).

Segundo dados encontrados no sitio da SEJUDH, o Centro

Socioeducativo de Cuiabá tem capacidade de atender cento e trinta e quatro

adolescentes (134), entre meninos e meninas. Mas esses dados encontram-se

desatualizados, pois no início de 2014 foi realizada a demolição de um antigo

bloco da unidade, por ordem da Juíza da 1ª Vara Especializada da Infância e

Juventude, Drª Gleide dos Santos Bispo. A ordem se deu por conta das

condições insalubres do local, e a mão-de-obra utilizada foi a dos próprios

adolescentes internos (JusBrasil, 2014).

Page 28: Universidade Federal de Mato Grosso Instituto de Saúde ... · RESUMO A Constituição ... OAB – Ordem dos Advogados do Brasil OMS – Organização Mundial de Saúde ONG ... como

28

4. METODOLOGIA

Essa pesquisa é um estudo descritivo e exploratório. As pesquisas

descritivas têm por objetivo a descrição das características de uma população,

fenômeno ou de uma experiência. E a pesquisa exploratória objetiva-se pela

familiarização com um assunto ainda pouco estudado (Gil, 2002).

O Centro Socioeducativo está localizado na região leste da cidade de

Cuiabá, cidade que conta com uma população de 551.098 habitantes, de

acordo com Censo IBGE 2010. Desta população, 66.710 tem entre 12 e 18

anos, segundo dados do DataSus, ou seja, 12,1% da população residente no

município.

Mas o Centro Socioeducativo de Cuiabá atende não apenas o município

de Cuiabá, mas vários outros municípios do Estado, pois em Mato Grosso só

há quatro unidades de internação localizadas em Cuiabá, Rondonópolis,

Cáceres e Barra do Garças.

O Centro de Socioeducativo está passando por reformas em sua

estrutura física, a fim de dar melhores condições de ressocialização para esses

adolescentes.

Para a realização desta pesquisa realizou-se levantamento de dados a

partir de consulta aos documentos internos da unidade que contenham

informações sobre a estrutura e o funcionamento do ambulatório de saúde,

bem como sobre os procedimentos realizados pela equipe de saúde. A

gerência da unidade disponibilizou relatório de produção dos meses de janeiro

a agosto de 2014, os quais foram utilizados para identificar os procedimentos

realizados e a freqüência deles, esses dados foram analisados e alguns

serviram de base para a construção de tabelas. Tivemos acesso também ao

modelo de prontuário utilizado na unidade, e a lista produzida pela instituição

com o nome dos internos. Tais dados foram complementados através de visitas

à unidade, conversas com a equipe de saúde e questionário realizado com o

gerente de saúde da unidade.

Page 29: Universidade Federal de Mato Grosso Instituto de Saúde ... · RESUMO A Constituição ... OAB – Ordem dos Advogados do Brasil OMS – Organização Mundial de Saúde ONG ... como

29

Nos documentos foram coletados dados sobre:

- a estrutura física instalada e os recursos humanos atuantes;

- informações sobre o fluxo de atendimento;

- classificação a frequência dos procedimentos realizados no primeiro

semestre deste ano (relatório de produção).

A coleta dos dados foi complementada por questionário (Apêndice 1)

com o responsável pela unidade. Os dados foram registrados em planilhas

específicas elaboradas pela pesquisadora.

A realização desta pesquisa foi autorizada pela Superintendência do

Centro Socioeducativo de Cuiabá, MT, e o respectivo projeto foi submetido ao

Comitê de Ética em Pesquisas do Hospital Universitário Júlio Müller (CEP

HUJM), e aprovado conforme protocolo nº 829.740 de 08/10/2014. (Anexo 1)

A coleta de dados iniciou-se após autorização pelo CEP HUJM. Após a

conclusão da pesquisa, os resultados serão divulgados junto à gerência de

saúde, à Superintendência do Centro Socioeducativo e à comunidade

acadêmica.

Page 30: Universidade Federal de Mato Grosso Instituto de Saúde ... · RESUMO A Constituição ... OAB – Ordem dos Advogados do Brasil OMS – Organização Mundial de Saúde ONG ... como

30

5. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS DADOS

Os dados da pesquisa foram organizados e serão apresentados em

tópicos: caracterização da unidade de saúde; estrutura física; recursos

humanos e atendimentos na unidade de saúde; organização dos atendimentos

e funcionamento da unidade de saúde.

A fim de evitar confusões, esclarecemos que será empregado

“instituição” para se referir ao Centro Socioeducativo de Cuiabá e “unidade” no

caso do ambulatório de saúde.

No relatório do dia 11/12/2014, havia 45 adolescentes na internação

masculina, 24 na internação provisória, e 6 meninas no Lar Menina Moça, entre

internação e internação provisória, totalizando 75 adolescentes em

cumprimento de medida socioeducativa de privação de liberdade no Centro

Socioeducativo de Cuiabá.

5.1. A Unidade de Saúde

O ambulatório de saúde do Pomeri foi inaugurado em dezembro de 2007

e, desde então, presta assistência à saúde dos adolescentes daquela

instituição, que são meninos e meninas entre 12 e 18 anos em regime de

internação ou internação provisória2.

A placa de inauguração da unidade, a caracteriza como ambulatório de

saúde, mas ao questionarmos alguns funcionários sobre o serviço oferecido, a

resposta obtida foi que a unidade funciona como um Programa de Saúde da

Família (PSF). Dessa forma, buscamos algumas definições dos serviços de

saúde.

2 Assim que o adolescente é encaminhado ao Centro Socioeducativo, cumpre internação provisória no Centro Acautelatório. Neste local, o adolescente deve permanecer por no máximo 45 dias (Art.108, Lei8.069/1990) até que as autoridades judiciais decidam se ele deve continuar em privação de liberdade, ou deve cumprir outra medida socioeducativa.

Page 31: Universidade Federal de Mato Grosso Instituto de Saúde ... · RESUMO A Constituição ... OAB – Ordem dos Advogados do Brasil OMS – Organização Mundial de Saúde ONG ... como

31

Segundo o Ministério da Saúde, entende-se como ambulatório:

“... toda unidade de saúde destinada a prestar assistência a

pacientes em regime de não internação ou com internação por

período de até 24 horas. Uma unidade ambulatorial pode

atender aos três níveis de atenção à saúde: o primário, o

secundário e o terciário. No nível primário encontra-se os

Postos e Centros de Saúde, onde se desenvolvem atividades

de prevenção, saneamento e diagnóstico simplificado, com

ações de promoção, proteção e recuperação da atenção

básica”. (BRASIL, 2011).

Nas legislações citadas neste trabalho, é utilizada a denominação de

“estabelecimento de saúde”. No caso, a unidade de saúde do Pomeri se

caracteriza como de nível primário, ou seja, como um Centro de Saúde. No

sitio eletrônico do Datasus, um Centro de Saúde ou Unidade Básica de Saúde

é o local para:

“... realização de atendimentos de atenção básica e integral a

uma população, de forma programada ou não, nas

especialidades básicas, podendo oferecer assistência

odontológica e de outros profissionais de nível superior. A

assistência deve ser permanente e prestada por médico

generalista ou especialista nestas áreas. Podendo ou não

oferecer: Serviço de Apoio Diagnóstico e Terapêutico (SADT) e

Pronto atendimento 24 Horas”. (DATASUS, 2006).

A unidade de saúde localiza-se dentro do Centro Socioeducativo de

Cuiabá. Assim, como é praxe neste tipo de instituição (fechada) após entrar

pelo portão de ferro, deve ser feita a identificação junto à guarita policial. Logo

na entrada do Centro, já é possível visualizar o prédio da unidade de saúde.

Page 32: Universidade Federal de Mato Grosso Instituto de Saúde ... · RESUMO A Constituição ... OAB – Ordem dos Advogados do Brasil OMS – Organização Mundial de Saúde ONG ... como

32

5.2. A estrutura física

Baseado em observações e informações junto aos funcionários, pode-se

caracterizar a unidade de saúde quanto à estrutura física pelas suas salas

distribuídas da seguinte forma:

- um consultório médico: ocupado para atendimento de clínica geral e

psiquiatria. Nos dias em que há mais de um médico na unidade, outras salas

são utilizadas para consultas (sala de enfermagem, sala de curativos);

- um consultório odontológico: utilizado para realização dos procedimentos

odontológicos. Conta com apenas uma cadeira odontológica, cadeira do

dentista e armário para armazenar os utensílios utilizados;

- uma sala da enfermagem: local onde os profissionais de enfermagem

realizam vários tipos de atendimentos aos adolescentes (consulta de

enfermagem, pré e pós consulta, preenchimento do Plano Individual de

Acolhimento – PIA3);

- uma sala da psicóloga/assistente social: sala com mesa e cadeira, para a

utilização dos profissionais deste setor. Uma das profissionais trabalha no

período matutino e a outra no período vespertino, o que permite que as duas

consigam ocupar apenas um espaço no atendimento do adolescente e de seus

familiares;

- uma sala de escovação odontológica: contém um balcão com três pias e

espelho grande. Local onde são realizadas orientações sobre escovação aos

adolescentes;

- uma sala de acolhimento: serve para realização dos primeiros contatos com

os adolescentes recém chegados, podendo também ser usada para ações de

educação em saúde e reuniões de equipe;

3 PIA – Plano Individual de Acolhimento. Documento utilizado para crianças e adolescentes

institucionalizados, em que constam diversas informações sobre a situação do menor (situação familiar, saúde, educação). Constituindo-se de uma ferramenta no acompanhamento e evolução pessoal e social do adolescente.

Page 33: Universidade Federal de Mato Grosso Instituto de Saúde ... · RESUMO A Constituição ... OAB – Ordem dos Advogados do Brasil OMS – Organização Mundial de Saúde ONG ... como

33

- uma sala de curativos: sala com balança, pia e maca, onde são realizados

pequenos curativos;

-uma sala de esterilização; destina-se a esterilização dos materiais

odontológicos utilizados na unidade, tendo em vista que os materiais utilizados

nos pequenos curativos são todos descartáveis;

- uma sala de observação: conta com banheiro e é destinada a alojar internos

que necessitem de um acompanhamento mais próximo da equipe de saúde.

No período de um ano em que trabalhei na instituição, a sala foi utilizada

apenas por adolescentes após alta hospitalar;

- uma sala de medicação: local com mesa, cadeiras, pia, e armários com os

materiais utilizados na preparação das medicações que serão administradas

aos adolescentes em seus alojamentos;

- uma farmácia: local com armários para armazenamento das medicações, e

mesa e cadeira utilizada pelos profissionais farmacêuticos da unidade;

- uma sala de utilidades: local destinado a armazenar documentos e

prontuários antigos;

- uma sala da gerência: segundo informações locais, este espaço será

transformado em consultório odontológico. A sala do gestor foi realocada na

superintendência do socioeducativo;

- uma sala da administração: sala com armários, computador, máquina

fotocopiadora, mesas, cadeiras e telefone, onde trabalham os cinco

funcionários do setor administrativo;

- uma copa, onde os funcionários preparam e realizam suas refeições (café,

lanches e almoço). Há pia, fogão, geladeira, mesa e filtro d’agua;

- dois banheiros: sendo um na entrada e outro no interior da unidade, mas sem

placas para distingui-los como feminino/masculino.

- dois vestiários, um feminino e outro masculino.

Page 34: Universidade Federal de Mato Grosso Instituto de Saúde ... · RESUMO A Constituição ... OAB – Ordem dos Advogados do Brasil OMS – Organização Mundial de Saúde ONG ... como

34

Quanto a vestimentas, é válido destacar que os funcionários da unidade

de saúde trabalham de uniforme (Camiseta branca com símbolo da SEJUDH).

O jaleco é utilizado preferencialmente nas visitas da equipe de saúde aos

alojamentos dos adolescentes.

O uniforme dos agentes orientadores é calça e camiseta preta, por isso,

recomenda-se que outras pessoas que circulem na instituição não utilizem

roupas dessa cor.

Os professores junto com a equipe de gestão escolar têm autonomia

para escolher o uniforme utilizado (desde que não seja preto). Já se utilizaram

de cores como azul, vermelho e lilás. Evita-se o amarelo, por ser a cor utilizada

pelos “amarelinhos” (detentos que fazem serviços de manutenção nas

unidades penitenciárias e socioeducativas).

Já os adolescentes têm como uniforme short bege e camiseta azul clara,

roupa utilizada por eles dentro e fora da instituição (audiências e consultas

médicas externas, por exemplo).

A estrutura física mínima recomendada para o serviço de saúde da

unidade socioeducativa disposta no anexo II da Portaria SAS/MS nº 647, de 11

de novembro de 2008, é: Consultório médico, consultório de odontologia, posto

de enfermagem, dispensário de medicamentos, sala de utilidades, sala de

esterilização, rouparia, depósito de material de limpeza, sanitários para equipe

de Saúde (BRASIL, 2008).

A unidade de saúde do Pomeri não conta com rouparia e depósito de

material de limpeza. Os materiais de limpeza são armazenados fora da unidade

de saúde, pois a empresa terceirizada responsável pela limpeza da unidade de

saúde é a mesma que realizada a limpeza da instituição em geral.

Diante disto, pode-se afirmar que, ao menos quantitativamente, a

unidade de saúde atende quase totalmente ao que é preconizado.

Page 35: Universidade Federal de Mato Grosso Instituto de Saúde ... · RESUMO A Constituição ... OAB – Ordem dos Advogados do Brasil OMS – Organização Mundial de Saúde ONG ... como

35

5.3. Recursos Humanos e atendimentos na unidade de saúde

A unidade conta com cinqüenta e dois funcionários, sendo que deste

total, sete são contratados (dois técnicos de higiene bucal, três enfermeiros, e

dois médicos psiquiatras).

Segundo informações locais, parte do efetivo atual da unidade de saúde

foi nomeada para atender ao Centro Socioeducativo de Várzea Grande, mas

enquanto este não é inaugurado, os profissionais cumprem sua jornada de

trabalho na unidade de Cuiabá, havendo ajustes internos no cumprimento de

carga horária.

Como parte do efetivo será alocada em outra unidade, após a

inauguração, temos um excedente no número de profissionais na unidade, mas

não encontramos nas portarias referenciadas, uma padronização no número

dos profissionais que compõem a equipe multiprofissional.

A distribuição destes funcionários, por categoria profissional é

apresentada na Tabela 1, a seguir:

Tabela 1: Distribuição dos funcionários do Ambulatório de Saúde do Centro Socioeducativo de Cuiabá por categoria profissional.

Categoria Profissional Quantidade Médico 04

Enfermeiro 03 Psicólogo 02

Farmac êutico 03 Cirurgião Dentista 06 Assistente Social 01

Técnico de Enfermagem

13

Auxiliar de Enfermagem

03

Técnico de higiene dental

04

Agente Orientador 08 Assistente

Administrativo 05

Total 52 Fonte: Construção da pesquisadora

Page 36: Universidade Federal de Mato Grosso Instituto de Saúde ... · RESUMO A Constituição ... OAB – Ordem dos Advogados do Brasil OMS – Organização Mundial de Saúde ONG ... como

36

Dos 52 funcionários da unidade, 28 são de nível médio, sendo os 05

assistentes administrativos, as 08 agentes orientadoras, os 04 técnicos de

higiene dental (THD), os 13 técnicos e os 03 auxiliares de enfermagem.

Os outros 24 funcionários são profissionais de nível superior (PNS),

havendo os seguintes perfis: 04 médicos, 03 enfermeiros, 06 cirurgiões

dentista, 02 psicólogos, 01 assistente social e 03 farmacêuticos.

O setor administrativo da unidade informou que há 52 funcionários na

unidade, mas em busca no Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde

(CNES), o “Centro Socioeducativo Pomeri” conta com 14 profissionais

registrados, sendo um gerente em serviços de saúde, dois médicos clínicos,

dois cirurgiões dentista, um psicólogo, uma assistente social, uma enfermeira,

cinco técnicos de enfermagem e um auxiliar de enfermagem.

Pela quantidade de profissionais e pelos nomes que estão cadastrados

no sitio do CNES, percebemos que essa é uma informação que está

desatualizada.

A portaria Interministerial 1.426 de 2004 e a Portaria 647 de 2008

formalizam a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde de Adolescentes

em Conflito com a Lei, em Regime de Internação e Internação Provisória

(Pnaisari). Estabelecendo que a atenção à saúde do adolescente em regime de

internação deve ser realizada por equipe multidisciplinar e oferecida,

prioritariamente pela rede local de saúde (BRASIL,2008)

A equipe encarregada de atender esse adolescente deve ser composta

minimamente de médico, dentista, enfermeiro, psicólogo e assistente social;

podendo ser a equipe do Programa de Saúde da Família (PSF) da área

adstrita, ou equipe própria. Como vimos na Tabela 1, a equipe de saúde do

Socioeducativo é composta por médicos, dentista enfermeiros, assistente

social, psicólogo, farmacêutico, técnicos e auxiliares de enfermagem; ou seja,

atende ao disposto na Pnaisari, quanto aos profissionais do estabelecimento de

saúde.

Page 37: Universidade Federal de Mato Grosso Instituto de Saúde ... · RESUMO A Constituição ... OAB – Ordem dos Advogados do Brasil OMS – Organização Mundial de Saúde ONG ... como

37

Na unidade há quatro médicos, sendo dois da especialidade de clínica

médica, e dois de psiquiatra. De segunda à sexta-feira há atendimento médico

na unidade, havendo maior concentração destes profissionais nas quintas-

feiras pela manhã, talvez pelo fato deste ser o dia destinado ao atendimento

aos adolescentes da Internação Provisória.

A internação provisória, ou Centro Acautelatório (C.A.) é o local onde há

maior rotatividade. É o local de entrada dos adolescentes na unidade, o que

demanda maiores cuidados, pois além de realizar acolhimento e

preenchimento de PIA, a equipe de saúde deve estar atenta a qualquer

problema de saúde que esses adolescentes possam apresentar.

Esses quatro profissionais atendem os adolescentes seguindo a escala

apresentada abaixo no Quadro 1:

Quadro 1: Escala de atendimento dos médicos no Centro Socioeducativo de Cuiabá,

MT, segundo dia da semana, ala atendida e especialidade.

Dia da Semana Ala atendida Médico escalado Médico e scalado

Período Matutino Período

Vespertino

segunda-feira Ala 6 Cl. Geral1 Cl. Geral 2

terça-feira Ala 3 M. Psiquiatra1 M Psiquiatra 2

Cl. Geral 2

quarta-feira Bloco I

Internação

Feminina (Cl

Geral 2

M.Psiquiatra2

Cl. Geral 2

M.Psiquiatra2

Cl Geral 1

Cl. Geral 2

(feminino)

quinta-feira Internação

Provisória A/B

M.Psiquiatra 2

Cl Geral 1

Cl. Geral 2

M.Psiquiatra2

Page 38: Universidade Federal de Mato Grosso Instituto de Saúde ... · RESUMO A Constituição ... OAB – Ordem dos Advogados do Brasil OMS – Organização Mundial de Saúde ONG ... como

38

sexta-feira Demanda

Espontânea/

Reunião de

Equipe

Cl Geral 1 -----------

sábado

Domingo

Fonte: Construção da pesquisadora

Cada dia da semana é destinado ao atendimento de uma ala/bloco,

como são identificados os locais onde os adolescentes estão alojados.

Atualmente existem a Ala 3 e 6, o Bloco I (ou apenas bloco), o C.A. (internação

provisória), e o alojamento feminino4.

O local onde eram as alas 1, 2 e 5 foi interditado e posteriormente

demolido por ordem judicial, devido as condições insalubres do local. A ala 4 foi

apenas renomeada como Ala 6. O Bloco recebeu nomeação diferente, pois é

uma construção mais nova, e que se distingue visualmente das alas.

Os atendimentos médicos são realizados dentro do ambulatório de

saúde, com exceção daqueles feitos pelo médico Clínico Geral 1 às quartas-

feiras em que ele atende na unidade feminina da instituição.

Na unidade há três profissionais de enfermagem de nível superior,

sendo dois do sexo masculino. As adolescentes do sexo feminino são

preferencialmente atendidas pela enfermeira mulher, por questões de afinidade

e para evitar situações constrangedoras.

De forma resumida, as atividades do farmacêutico da unidade são:

realização de pedidos mensais e semanais de medicamentos, recebimento e

controle de estoque, descartar medicamentos vencidos e fornecer orientações

para a equipe de enfermagem sobre administração e manuseio de medicações,

e para os adolescentes sobre o correto destes.

4 No local onde as meninas estão internadas não há separação física entre internação e internação

provisória.

Page 39: Universidade Federal de Mato Grosso Instituto de Saúde ... · RESUMO A Constituição ... OAB – Ordem dos Advogados do Brasil OMS – Organização Mundial de Saúde ONG ... como

39

A administração da medicação é de responsabilidade dos técnicos de

enfermagem, que as realizam conforme prescrição médica e orientação do

farmacêutico. Os técnicos de enfermagem juntamente com os agentes

orientadores da saúde dirigem-se até as Alas, onde os menores estão alojados,

e através das grades entregam a medicação a ser tomada naquela hora.

Atualmente há oito agentes orientadores na equipe de saúde. Essas

agentes (são todas mulheres) são profissionais de nível médio que

trabalhavam na instituição, cuidando dos adolescentes em suas alas. Após

solicitação da Gerência de Saúde, elas passaram a integrar a equipe do

ambulatório de saúde.

O gestor da unidade justificou essa solicitação devido à ocorrência de

situações em que os agentes orientadores responsáveis pelas alas não tiravam

os adolescentes de seus alojamentos para os atendimentos em saúde, mesmo

sendo passado um cronograma diário para a equipe de plantão.

A função das agentes orientadoras na equipe de saúde é buscar os

adolescentes em suas alas, acompanhá-los a unidade de saúde, bem como

acompanhar as técnicas de enfermagem na distribuição da medicação. Elas

permanecem todo o plantão junto à unidade de saúde, e acompanham os

adolescentes quando há necessidade de saídas para consultas e exames

externos.

A unidade funciona de segunda à sexta-feira das 07h às 19h, com toda a

equipe; aos sábados há uma escala diferenciada de trabalho. Há três equipes

na unidade, uma atende no período matutino, outra no período vespertino, e a

terceira atende no período vespertino e sábados.

Após as 19h apenas as agentes orientadoras de plantão permanecem

no ambulatório de saúde para acompanhar os adolescentes, caso haja alguma

emergência e eles necessitem ser encaminhados a algum serviço de saúde; e

supervisionar o adolescente que estiver na sala de observação.

Page 40: Universidade Federal de Mato Grosso Instituto de Saúde ... · RESUMO A Constituição ... OAB – Ordem dos Advogados do Brasil OMS – Organização Mundial de Saúde ONG ... como

40

5.4. Organização dos atendimentos e funcionamento da unidade de

saúde

De acordo com um dos funcionários da unidade, até o primeiro semestre

de 2014, o atendimento médico era feito por demanda espontânea, o que

gerava muitas consultas desnecessárias, pois os adolescentes reclamavam de

alguma dor, e eram levados ao ambulatório de saúde muitas vezes sem real

necessidade de atendimento.

Atualmente as consultas são realizadas por Alas (como foi mostrado no

quadro 1), mas antes de colocar essa proposta em prática, foi necessário

atender todos os adolescentes, para garantir que nenhuma queixa ficasse

despercebida.

Cada dia da semana é destinado ao atendimento de uma das alas da

instituição, o que gera organização e segurança para o serviço, tendo em vista

que alguns adolescentes de alas diferentes não podem se encontrar devido a

rixas ocorridas fora da unidade.

Os medicamentos e insumos disponíveis na unidade são os que

integram o Componente Básico para a Assistência Farmacêutica, o

Componente Estratégico da Assistência Farmacêutica e o Componente de

Medicamentos de Dispensação Excepcional. Dessa forma, o tratamento de

doenças prevalente é feito com medicações padronizadas definidas pelo

Ministério da Saúde.

As medicações são administradas às 07h, às 14h e às 18h e anotadas

em um caderno destinado a essa finalidade. Em consulta ao relatório de

produção do período de janeiro a agosto de 2014, há o registro de 16.007

administrações de medicamentos de rotina e conforme prescrição médica.

Os medicamentos psicoativos são distribuídos às 18h, haja vista que a

maioria deles causarem sonolência. Há uma atenção especial na administração

desses medicamentos, pois alguns adolescentes os usavam de forma indevida.

Ou seja, há desvio na função desses medicamentos, que podem atuar como

drogas terapêuticas, mas também como droga, pois são consumidos

Page 41: Universidade Federal de Mato Grosso Instituto de Saúde ... · RESUMO A Constituição ... OAB – Ordem dos Advogados do Brasil OMS – Organização Mundial de Saúde ONG ... como

41

esperando as possíveis reações adversas que esse medicamento pode trazer.

(LOPES, 2014 apud APPADURAI, 2008).

Os funcionários relatam situações em que os adolescentes juntavam

dois ou mais comprimidos e tomavam de uma vez só; esfarelam os

comprimidos e os consumiam como se fossem entorpecentes, e até

vendiam/trocavam os comprimidos com outros internos.

A entrega das medicações é diária, e o medicamento deve ser tomado

na hora em que é entregue pelas técnicas de enfermagem, mas a equipe de

saúde não pode obrigar o adolescente a tomar a medicação. Após o

recebimento da medicação o adolescente pode simplesmente se recusar a

tomar, ou fingir que tomou a dose recebida. Para diminuir essa problemática,

as técnicas estão dissolvendo os comprimidos das medicações psicotrópicas e

dando preferência para medicações líquidas quando possível.

No momento em que os técnicos de enfermagem realizam a distribuição

da medicação, os adolescentes aproveitam para fazer relatos sobre sua

situação de saúde, solicitar atendimento, relatar sintomas, reclamar de dores,

etc. Algumas vezes, a equipe sai com papel e caneta, para anotar o nome e as

queixas dos adolescentes e encaminhar aos demais membros da equipe de

saúde.

O adolescente internado no Centro Socioeducativo de Cuiabá, é

acolhido pela equipe técnica e pela equipe de saúde, os quais são

responsáveis pela construção do PIA. Nesse documento deve estar o registro

das condições clínicas e de saúde dos adolescentes, que devem ser avaliados

periodicamente pela equipe multidisciplinar. O PIA servirá de base para os

relatórios enviados ao juiz e subsidiarão as decisões judiciais.

Quando o adolescente chega à unidade, agenda-se o acolhido pela

equipe de saúde. Os profissionais: médico Clínico, Médico psiquiatra, Cirurgião

Dentista, enfermeiro, farmacêutico, psicólogo e assistente social devem

atender os adolescentes e preencher, além do PIA, o prontuário de saúde do

adolescente. Não há um protocolo a ser seguido nesse acolhimento, mas no

prontuário há espaço para anotações das avaliações dos vários profissionais

Page 42: Universidade Federal de Mato Grosso Instituto de Saúde ... · RESUMO A Constituição ... OAB – Ordem dos Advogados do Brasil OMS – Organização Mundial de Saúde ONG ... como

42

da equipe, abordando vida pessoal, vida familiar, doenças anteriores, alergias,

saúde bucal, vida sexual, etc.

De acordo com o anexo I da Portaria SAS/MS nº 647 de 2008, o

acolhimento deve contemplar imunização, desenvolvimento físico e

psicossocial, DST/HIV/Aids, doenças bucais e utilização de preservativos

(BRASIL, 2008).

O setor administrativo solicita documentação do adolescente para a

instituição e/ou para os responsáveis pelo menor, e confecciona cartão SUS

para os que ainda não possuem. Vale citar, que a unidade socioeducativa

encaminha os menores para a POLITEC, onde é realizada emissão de RG.

Na consulta inicial, o médico solicita os exames de acordo com a

necessidade do adolescente avaliado. A realização de teste rápido de HIV,

sífilis, hepatite A e B é feito com os adolescentes que desejarem fazê-lo.

Conforme conta no relatório de produção do ambulatório, foram realizados seis

testes rápidos nos meses de janeiro a agosto de 2014.

Quando há necessidade de exames laboratoriais e consultas em

especialidades médicas, o adolescente é encaminhado para unidades de

saúde fora do Complexo Pomeri. No período estudado houve 106 consultas

externas na Rede Pública de Saúde.

Para essas saídas, a equipe de saúde solicita o carro da unidade

socioeducativa e a escolta da Polícia Militar. O adolescente sob

responsabilidade da instituição socioeducativa não pode ser transportado em

viaturas policiais, e nem pode ser sair da instituição sem a escolta da PM, por

questões de segurança, a fim de evitar possíveis tentativas de resgate, além de

trocas de tiros entre rivais. Situação semelhante a que ocorre nas unidades

penitenciárias, conforme traz Lopes (2014).

Além do adolescente, se deslocam um profissional da equipe de saúde,

agentes orientadores e policiais militares. Esse deslocamento é uma das

dificuldades apontadas pelo gestor local, tendo em vista que se houver

audiências ou outras saídas, não haverá condições de deslocar o adolescente

para o atendimento externo de que ele necessita. Evidenciando que a saúde

não é prioridade dentro da instituição.

Page 43: Universidade Federal de Mato Grosso Instituto de Saúde ... · RESUMO A Constituição ... OAB – Ordem dos Advogados do Brasil OMS – Organização Mundial de Saúde ONG ... como

43

A Tabela 2 apresenta o quantitativo de consultas médicas

especializadas ocorridas nos primeiros oito meses de 2014.

Tabela 2: Consultas Médicas Especializadas na Rede Pública de Saúde no período de

janeiro a agosto de 2014.

Especialidades Total

Ortopedia 24

Clínica Cirúrgica 11

Infectologista 7

Dermatologia 9

Clínica Médica 6

Oftalmologia 6

Cardiologia 6

Odontologia 2

Otorrinolaringologia 2

Urologia 1

Gastroenterologia 1

Bucomaxilo Traumatologia 1

Neurologia 1

Fonte: Relatório Ambulatório de Saúde do CSE, 2014

O maior número de encaminhamentos é para a ortopedia, tendo em

vista que muitos adolescentes chegam à instituição com fraturas. O

atendimento de ortopedia, muitas vezes demanda sessões de fisioterapia;

sendo assim, há 21 encaminhamentos para fisioterapia durante o período de

janeiro a agosto de 2014.

Page 44: Universidade Federal de Mato Grosso Instituto de Saúde ... · RESUMO A Constituição ... OAB – Ordem dos Advogados do Brasil OMS – Organização Mundial de Saúde ONG ... como

44

Outra situação recorrente na unidade é a necessidade de cirurgias para

retirada de balas, e/ou correções de lesões decorrentes dessas perfurações

com arma de fogo. Desta forma, o relatório da unidade apresenta 11

encaminhamentos para clínica cirúrgica.

Pela tabela percebe-se que não foram realizados encaminhamentos

para médicos ginecologistas, mesmo havendo uma média de dez meninas

internadas na unidade. O mês de março foi o que mais houve

encaminhamentos, totalizando 25 consultas externas.

A maior parte dos atendimentos externos é feito na Policlínica do

Planalto, até mesmo pela questão da proximidade. Como a Policlínica só

funciona no período diurno, no caso de alguma emergência no período noturno

os adolescentes são encaminhados para a Unidade de Pronto Atendimento da

Morada do Ouro (UPA). Mas dependendo da especialidade e da urgência da

consulta, os adolescentes podem ser encaminhados a outros serviços de

saúde.

A Portaria 647 de 11 de novembro de 2008 define que o adolescente

sob o regime de internação terá garantia de acesso à assistência de média e

alta complexidade na rede SUS (BRASIL, 2008). Esse acesso é regulado

através da Central de Regulação do Município, mas em casos de urgência, a

vaga é garantida via deliberações do Juizado da Infância, segundo nos

informou o gerente da unidade.

Essa portaria afirma que as ações destinadas aos adolescentes em

privação de liberdade devem priorizar a promoção e a proteção da saúde;

práticas educativas e a prevenção de agravos; e ações de assistência à saúde,

tendo como prioridades: a) Acompanhamento do desenvolvimento físico e

psicossocial; b) Saúde sexual e saúde reprodutiva; c) Imunização; d) Saúde

bucal; e) Saúde mental; f) Controle de agravos; e g) Assistência à vítima de

violência (BRASIL, 2011).

Nas ações de promoção e proteção da saúde estão inseridas o

acolhimento, a construção do Plano Individual de Acolhimento (PIA), ações

Page 45: Universidade Federal de Mato Grosso Instituto de Saúde ... · RESUMO A Constituição ... OAB – Ordem dos Advogados do Brasil OMS – Organização Mundial de Saúde ONG ... como

45

intersetoriais que proporcionem o bem estar físico, mental e social do

adolescente, ações em educação em saúde, entre outras.

Percebe-se que as ações clínicas têm sido realizadas de forma eficaz,

mas há falhas em questões como a saúde reprodutiva, tendo em vista que não

há distribuição de anticoncepcionais e/ou preservativos, mesmo essa ação

sendo estabelecida pela portaria 647 de 2008, e sendo uma das questões

abordadas no acolhimento através do prontuário destinada para tal.

O acesso a imunização é garantido a esses menores, de acordo com o

calendário de vacinação anual, estabelecido pela Portaria MS/GM nº1.602, de

17 de julho de 2006, ou de acordo com a necessidade (BRASIL, 2006). De

janeiro a agosto de 2014, 119 adolescentes e 30 servidores foram imunizados

na unidade de saúde do Pomeri. Foram distribuídas as primeiras e as

segundas doses de vacinas contra febre amarela, hepatite B, e tétano.

Há casos de adolescentes que chegam à unidade sem nunca terem

passado por uma consulta odontológica. Pode-se inferir que isso ocorre pelo

fato da maior parte desses adolescentes fazerem parte das classes mais

baixas da população; conforme perfil traçado por Silva e Gueresi (2003).

Dessa forma, a tabela 3 mostra que no período estudado, foram

realizados 2.001 atendimentos odontológicos, com realização de

procedimentos como restauração, exodontia, profilaxia, técnicas de escovação,

entre outros, além de 2 encaminhamentos externos trazidos na Tabela 2.

Tabela 3: Principais procedimentos odontológicos realizados no Ambulatório de Saúde

do Pomeri nos meses de janeiro a agosto de 2014.

Atividades Odontológicas Número de Atendimentos

Restauração 239

Exames Clínicos 196

Orientações 129

Técnica de Escovação 116

Page 46: Universidade Federal de Mato Grosso Instituto de Saúde ... · RESUMO A Constituição ... OAB – Ordem dos Advogados do Brasil OMS – Organização Mundial de Saúde ONG ... como

46

Profilaxia 103

Aplicação de Flúor 100

Bochechos de Higiene 95

Abertura Coronária 82

Medicação 74

Curativos 70

Raspagem Periodontal 48

Exodontia 44

Sutura 44

Remoção de Sutura 35

Radiografia 33

Pulpotomia 2

Fonte: Relatório Mensal ambulatório de Saúde – Centro Socioeducativo de

Cuiabá, 2014.

Ao observarmos essa tabela, percebemos que a saúde bucal oferecida

aos adolescentes internos está de acordo com o instituído na Portaria SAS/MS

nº 647, de 11 de novembro de 2008 (BRASIL, 2008).

Outra perspectiva relevante é a saúde mental destes adolescentes.

Carrara (1998) aponta que segundo o ângulo da psiquiatria, o crime é visto

como sintoma de uma doença mental, “comportamento referido a uma

situação excepcional por que passariam certos indivíduos durante certos

períodos de suas vidas” (p. 68 grifo do autor).

Nesse mesmo trabalho, Carrara fala também sobre os condenados

alienados, que seriam os presos que enlouqueciam dentro das prisões. Dessa

forma, não há estranhamento para o fato de Goffman (1961) colocar

instituições como prisões, conventos e manicômios, dentro de uma mesma

classificação.

Page 47: Universidade Federal de Mato Grosso Instituto de Saúde ... · RESUMO A Constituição ... OAB – Ordem dos Advogados do Brasil OMS – Organização Mundial de Saúde ONG ... como

47

Nas portarias sobre a saúde dos adolescentes em cumprimento de

medida socioeducativa, há uma atenção dispensada à saúde mental. A equipe

de saúde deve promover ações de prevenção e redução dos agravos

psicossociais decorrentes da privação de liberdade; atenção psicossocial aos

adolescentes que necessitem de cuidados em Saúde Mental, incluindo os

relacionados ao uso de álcool e outras drogas, preferencialmente na rede

extra-hospitalar do SUS (BRASIL, 2008).

Os dois médicos psiquiatras da unidade começaram os atendimentos

em março de 2014, e nesses seis meses realizaram 348 consultas. Antes da

contratação destes médicos, os adolescentes eram atendidos externamente

por médicos psiquiatras do SUS.

Através dos dados do relatório não é possível saber quantos

adolescentes fazem uso de medicação, e nem quantos foram atendidos após a

inserção dos médicos psiquiatras na equipe de saúde da unidade, mas sabe-se

que em oito meses, foram administrados 5.326 medicamentos psicotrópicos,

entre eles carbamazepina, diazepan, carbonato de lítio e clonazepan. O que

daria cerca de 21 comprimidos distribuídos ao dia.

Um dos funcionários da equipe de saúde disse não considerar

necessário o atendimento em psiquiatria dentro da unidade. Segundo ele, está

havendo uma banalização do uso de medicamentos psicoativos, pois se o

adolescente reclama de insônia, já recebe uma medicação para que possa

dormir; não levando em conta os fatores que causam a insônia (estresse,

culpa, reclusão), que poderiam ser tratados de outras formas.

Em relação à Educação em Saúde, no mês de outubro deste ano foi

realizada uma ação sobre a temática do Outubro Rosa para as adolescentes

internas e para as servidoras do Socioeducativo. Além da decoração do painel

da unidade, foram realizadas palestras sobre câncer de mama, sorteio de

brindes e marcação de exames para as servidoras em parceria com a

Secretária Municipal de Saúde de Cuiabá (SMS).

Page 48: Universidade Federal de Mato Grosso Instituto de Saúde ... · RESUMO A Constituição ... OAB – Ordem dos Advogados do Brasil OMS – Organização Mundial de Saúde ONG ... como

48

Para o mês de novembro estavam sendo programadas atividades sobre

o Novembro Azul; e também haverá uma programação em parceria com a

UFMT sobre o uso de drogas.

Os profissionais da unidade realizam ações de orientações aos menores

institucionalizados, sobre saúde, uso de medicação, higiene bucal, entre

outros. No relatório constam seis ações de educação em saúde desenvolvidas

pela enfermagem, cinco desenvolvidas pela farmácia e cento e vinte e nove

feitas pela odontologia. No período em que realizamos as visitas na unidade de

saúde, não acompanhamos nenhuma ação de educação em saúde, para poder

melhor explicitá-las.

A Portaria 647 de 2008 estabelece a criação do Plano Operativo

Estadual (POE) para as unidades socioeducativas. Sendo este de

responsabilidade das secretárias estaduais envolvidas no atendimento a esses

adolescentes.

Em busca realizada no sítio da SEJUDH, encontramos o Plano

Operativo Estadual (POE) das unidades penitenciárias do Estado, mas não

encontramos o POE para as unidades socioeducativas. Segundo o gerente de

saúde da unidade, o Plano Operativo para o socioeducativo está em processo

de construção.

Page 49: Universidade Federal de Mato Grosso Instituto de Saúde ... · RESUMO A Constituição ... OAB – Ordem dos Advogados do Brasil OMS – Organização Mundial de Saúde ONG ... como

49

6. CONSIDERAÇÕES

Uma das primeiras coisas que aprendi no curso de graduação de saúde

coletiva, é que o SUS é um sistema universal e igualitário (BRASIL, 1990). Mas

em meu pequeno universo, não havia pensado em como se garante a saúde às

populações excluídas e marginalizadas, assim como os privados de liberdade.

Em março de 2013, quando fui chamada para lecionar na escola que fica

dentro do Centro Socioeducativo de Cuiabá, tive a oportunidade de ampliar um

pouco mais, esse meu pequeno universo. Nessa nova realidade vivida, muita

coisa me chamou atenção, entre elas o atendimento de saúde realizado aos

adolescentes internados na instituição.

Muitas vezes estive presente na administração dos medicamentos (às

vezes realizada em sala de aula), autorizei a retirada dos meus alunos da sala

de aula para atendimentos em saúde, vi adolescentes sendo encaminhados

para procedimentos cirúrgicos, enfim, situações como essas foram aguçando

minha curiosidade em pesquisar o tema; curiosidade essa que resultou no

presente trabalho de conclusão de curso.

A estrutura e o funcionamento do ambulatório de saúde do Centro

Socioeducativo de Cuiabá se assemelham às unidades de saúde existentes

fora do Complexo Pomeri. Mas o contexto em que essa unidade se insere, faz

com que o trabalho dos funcionários e a forma de atendimento sejam

diferentes.

Esse fator faz com que existam portarias específicas para o atendimento

a esses adolescentes, levando em consideração um dos princípios do SUS, a

equidade. Não basta apenas oferecer o serviço, é necessário dar reais

condições para que o cidadão consiga chegar a esse serviço, e que quando ele

chegar, possa ter suas reais necessidades atendidas.

O fato de a unidade possuir estrutura física e equipe de saúde composta

de acordo com o estabelecido pela política nacional de atenção integral à

Page 50: Universidade Federal de Mato Grosso Instituto de Saúde ... · RESUMO A Constituição ... OAB – Ordem dos Advogados do Brasil OMS – Organização Mundial de Saúde ONG ... como

50

saúde dos adolescentes em conflito com a lei, não garante a integralidade do

atendimento a esse adolescente, tendo em vista que eles enfrentam as

mesmas dificuldades que grande parte da população enfrenta ao utilizar a

saúde pública.

Em levantamento feito nas unidades socioeducativas brasileiras, Silva e

Gueresi (2003) apontaram as principais dificuldades para o oferecimento de

serviço de saúde aos adolescentes, já citadas neste trabalho. Das quais

destaco para a unidade estudada: ausência de tratamento para dependentes

químicos, demora na marcação de consultas, dificuldade em realizar parcerias,

insuficiência de vagas para internação na rede pública, dificuldades para a

realização de atendimento/exames especializados na rede pública, e

preconceito dos profissionais da rede pública.

Considero o preconceito um fator bastante relevante, e ser uma

dificuldade que diferencia os adolescentes em conflito com a lei dos demais

usuários da saúde pública. Esse preconceito pode partir da sociedade, da

mídia, dos profissionais de outras unidades de saúde, dos agentes

orientadores, dos policiais, e dos próprios adolescentes, que após tantas

exclusões, não vêem nenhuma perspectiva para si, e nem motivos para cuidar

da saúde.

Vivenciei essa falta de perspectiva de vida através da fala de um dos

adolescentes da instituição. A unidade de saúde imunizou os adolescentes e os

servidores, e uma das vacinas oferecidas era a antitetânica. Comentei com ele

que daqui a 10 anos, ele teria que repetir a vacina, e obtive a seguinte

resposta: “Isso se eu tiver vivo até lá”.

Mesmo com as dificuldades, sejam elas iguais as de qualquer serviço de

saúde, ou peculiares ao sistema socioeducativo, vejo que há um esforço por

parte dos profissionais da equipe em proporcionar atendimento de saúde digno

a esses menores. Um dos funcionários com que conversei disse que

constantemente recorre à literatura para nortear suas ações na unidade, tendo

em vista que após sua contratação não houve nenhum curso de capacitação

específico para o trabalho nas unidades socioeducativas.

Page 51: Universidade Federal de Mato Grosso Instituto de Saúde ... · RESUMO A Constituição ... OAB – Ordem dos Advogados do Brasil OMS – Organização Mundial de Saúde ONG ... como

51

Os adolescentes com os quais pude conversar informalmente sobre o

atendimento em saúde dentro da unidade não apresentaram críticas. Um

desses adolescentes teve parte do corpo queimado após queimar um colchão,

em tentativa de rebelião. Ficou internado, recebeu alta hospitalar, voltou à

instituição, e pouco tempo depois recebeu alvará de soltura.

Este menor ainda necessitava de cuidados, como uso de medicação e

aplicação de pomadas nas queimaduras, mas que poderiam ser feitos em casa

e acompanhados pela equipe de saúde da região em que ele reside. Cerca de

dois meses depois, esse adolescente estava de volta à instituição pela prática

de outro ato infracional, e me relatou que dentro do Pomeri ele recebia melhor

atendimento de saúde do que “na rua”.

As ações a serem desenvolvidas para melhorar o atendimento de saúde

aos adolescentes devem ser planejadas por todos os setores envolvidos na

aplicação das medidas socioeducativas, afinal, a saúde é a parte de um todo, e

vai muito além de médicos e remédios. É preciso garantir ao adolescente,

dentro e fora de instituições de abrigamento, alimentação, moradia, renda,

educação, lazer, entre outros fatores, que como sabemos, são determinantes e

condicionantes para a saúde.

A população de adolescentes privados de liberdade é pouco estudada

pela saúde coletiva. Nas buscas realizadas, encontraram-se vários trabalhos

na área de psicologia, mas poucos estudos em saúde. Assim, não há como

concluir o objetivo desta pesquisa, mas deseja-se chamar a atenção para essa

população que necessita de atendimento especializado, como já discutido aqui.

Page 52: Universidade Federal de Mato Grosso Instituto de Saúde ... · RESUMO A Constituição ... OAB – Ordem dos Advogados do Brasil OMS – Organização Mundial de Saúde ONG ... como

52

7. REFERÊNCIAS

AZEVEDO, M. M. O código Mello Mattos e seus reflexos na legislação

posterior. Monografia, 2007. Disponível em:<http://www.tjrj.jus.br/c/document_-

library/get_file?uuid=b2498574-2cae-4be7-a8ac-9f3b00881837&groupld=101-

36>. Acesso em 4 de mar. De 2014.

BRASIL. Lei 5.513/ 1964. Autoriza o Poder Executivo a criar a Fundação

Nacional do Bem-Estar do Menor, a ela incorporando o patrimônio e as

atribuições do Serviço de Assistência a Menores, e dá outras providências.

Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/1950-

1969/L4513.htm>. Acesso em 22 de fev. de 2014.

BRASIL, Lei 6.697/1979. Institui o Código de Menores. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/1970-1979/L6697.htm>. Acesso em

22 de fev. de 2014.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível

em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/_C

onstituiçaoCompilado.htm>. Acesso em: 15 fev. 2014.

BRASIL. Lei 8069/1990: Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente

e dá outras providências. Disponível em:<http://www.pla-

nalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8069Compilado.htm>. Acesso em: 15 fev. 2014.

BRASIL, Lei 8.080/1990. Dispõe sobre as condições para a promoção,

proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos

serviços correspondentes e dá outras providências. Disponível

em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8080.htm>.Acesso em 04 de mar.

De 2014.

Page 53: Universidade Federal de Mato Grosso Instituto de Saúde ... · RESUMO A Constituição ... OAB – Ordem dos Advogados do Brasil OMS – Organização Mundial de Saúde ONG ... como

53

BRASIL. Portaria Interministerial nº. 1.426/GM, de2004. Aprova as diretrizes

para a implantação e implementação da atenção à saúde dos adolescentes em

conflito com a lei, em regime de internação e internação provisória, e dá outras

providências.

BRASIL. Ministério da Saúde. Programação Arquitetônica de Unidades

Funcionais de Saúde / Ministério da Saúde, Secretaria-Executiva,

Departamento de Economia da Saúde e Desenvolvimento. – Brasília: Ministério

da Saúde, 2011.

BRASIL. Ministério da Saúde. Política nacional de atenção integral à saúde de

adolescentes em conflito com a lei: normas e reflexões / Ministério da Saúde.

Brasília : Ministério da Saúde, 2012.

BRASIL. Lei 12.594/ 2012. Institui o Sistema Nacional de Atendimento

Socioeducativo (SINASE) e dá outras providências. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2012/lei/l12594.htm>.

Acesso em 4 de mar. De 2014.

BRASIL. Portaria 1.082/2014. Redefine as diretrizes da Política Nacional de

Atenção Integral à Saúde de Adolescentes em Conflito com a Lei, em Regime

de Internação e Internação Provisória (PNAISARI), e dá outras providências.

Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/

2014/prt1082_23_05_2014.html. Acesso em 11 de ago. de 2014.

BRASIL. Ministério da Justiça. Projeto Juventude e Prevenção da Violência –

Índice de vulnerabilidade juvenil à violência. 2010. Disponível em:

<http://www.soudapaz.org/upload/pdf/ndice_de_vulnerabilidade_juvenil_viol_nc

ia.pdf>. Acesso em 11 de ago. de 2014.

CAMPOS, F. R. S., PANÚNCIO-PINTO, M. P. Compreendendo o significado da

privação de liberdade para adolescentes institucionalizados. Universidade de

Uberaba – UNIUBE,2005.

Page 54: Universidade Federal de Mato Grosso Instituto de Saúde ... · RESUMO A Constituição ... OAB – Ordem dos Advogados do Brasil OMS – Organização Mundial de Saúde ONG ... como

54

CARRARA, Sérgio. Crime e loucura: o aparecimento do manicômio judiciário

na passagem do século. Editora EdUERJ. Rio de Janeiro, 1998.

CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. Conheça as 10 razões da Psicologia

contra a redução da maioridade penal. In: Redução da Idade Penal:

Socioeducação não se faz com prisão. CFP, 1ª edição. Brasília, 2013.

CNES. Cadastro nacional de estabelecimentos de saúde. Secretaria de

atenção à saúde/ DATASUS. Disponível em: http://cnes.datasus.gov.br/

Acesso em 13 de novembro de 2014.

DAVOGLIO, T. R., GAUER, G. J.C. Adolescentes em conflito com a lei:

aspectos sociodemográficos de uma amostra em medida socioeducativa com

privação de liberdade. Contextos Clínicos, 4(1):42-52, janeiro-junho 2011.

ESTEVAM, I. D., COUTINHO, M. P. L., ARAUJO, L. F. Os desafios da prática

socioeducativa de privação de liberdade em adolescentes em conflito com a lei:

Ressocialização ou exclusão social? Psico, v. 40, n. 1, p. 64-72, jan./mar. 2009.

EISENSTEIN E. Adolescência: definições, conceitos e critérios. Adolescência e

Saúde. 2005;2(2):6-7. Abr/jun. 2005.

GIL, A.C. Como elaborar projetos de pesquisa. Editora Atlas, 4ª edição. São

Paulo, 2002.

GOFFMAN, E. Manicômios, prisões e conventos. Editora Perspectiva, São

Paulo, 1961.

HAGE, S.M.; ARAUJO, M. N. Pela Consolidação dos marcos legais que

asseguram direitos às crianças, adolescentes e jovens brasileiros! In:

CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. Redução da Idade Penal:

Socioeducação não se faz com prisão. CFP, 1ª edição. Brasília, 2013.

JUSBRASIL. Demolição em Centro Socioeducativo de MT é feita por menores

infratores. Retirado de: <http://expressomt.jusbrasil.com.br/politica/112220500

/demolicao-em-centro-socioeducativo-de-mt-e-feita-por-menores-infratores>.

Acesso em 21 de maio de 2014.

Page 55: Universidade Federal de Mato Grosso Instituto de Saúde ... · RESUMO A Constituição ... OAB – Ordem dos Advogados do Brasil OMS – Organização Mundial de Saúde ONG ... como

55

LOPES, V. A. Experiência de profissionais de saúde em unidades prisionais

localizadas em Cuiabá/MT. Dissertação de Mestrado. UFMT/ISC, 2014.

LOPES, J. P.; FERREIRA, L. M. Breve histórico dos direitos dascrianças e dos

adolescentes e asinovações do Estatuto da Criançae do Adolescente – lei

12.010/09. Revista do Curso de Direito da Faculdade de Humanidades e

Direito, v. 7, n. 7, 2010.

LORENZI, G. W. Uma breve História dos Direitos Humanos da Criança e do

Adolescente no Brasil. Disponível em: <http://www.promenino.org.br/-

noticias/uma-breve-historia-dos-direitos-da-crianca-e-do-adolescente-no-

brasil>. Acesso em 12 de fev. de 2014.

MATO GROSSO. Diagnóstico Setorial e Avaliação dos Programas da SEJUDH

– Insumos para o Plano Plurianual: 2012-2015. Disponível em:

<http://www.sejudh.mt.gov.br/UserFiles/File/SEJUDH/DIAGNOSTICO%20SOCI

AL%20-%20SEJUDH%20OFICIAL.pdf>. Acesso em: 10 de abr. de 2014.

MATO GROSSO, Secretaria de Estado de Justiça e Direitos Humanos.

Disponível em: <http://www.sejudh.mt.gov.br/socio_educativo.php?IDCategori-

a=444>. Acesso em: 03 de mar. De 2014.

MENICUCCI, C. G., CARNEIRO, C.B.L. Entre monstros e vítimas:a coerção e a

socialização no sistemasocioeducativo de Minas Gerais. Serv. Soc. Soc., São

Paulo, n. 107, p. 535-556, jul./set. 2011.

MEZZOMO, M. C. Aspectos da aplicação das medidas protetivas e sócio-

educativas do Estatuto da Criança e do Adolescente. 2004. Disponível em:

<http://jus.com.br/artigos/5993/aspectos-da-aplicacao-das-medidas-protetivas-

e-socio-educativas-do-estatuto-da-crianca-e-do-adolescente/3>. Acesso em 07

de mar. de 2014.

MONTE, Franciela Félix de Carvalho; SAMPAIO, Leonardo Rodrigues; ROSA

FILHO, Josemar Soares and BARBOSA, Laila Santana. Adolescentes autores

Page 56: Universidade Federal de Mato Grosso Instituto de Saúde ... · RESUMO A Constituição ... OAB – Ordem dos Advogados do Brasil OMS – Organização Mundial de Saúde ONG ... como

56

de atos infracionais: psicologia moral e legislação. Psicol. Soc. [online]. 2011,

vol.23, n.1, pp. 125-134. ISSN 0102-7182. http://dx.doi.org/10.1590/S0102-

71822011000100014.

PORRUA, M. A Formação do Leitor Adolescente da “Fazendinha” em Cuiabá,

MT. Dissertação de Mestrado: UFMT/IE, 2005.

Proposta de Emenda à Constituição, nº 33 de 2012. Disponível em:

<http://www.senado.gov.br/atividade/materia/detalhes.asp?p_cod_mate=10633

0>. Acesso em 19 de maio de 2014.

SENA, C. A. COLARES, V. Comportamentos de risco para a saúde entre

adolescentes em conflito com a lei. Cadernos de Saúde Pública, Rio de

Janeiro, 24(10):2314-2322, out, 2008.

SILVA, E.R.A.; GUERESI, S. Adolescentes em conflito com a lei: Situação do

Atendimento Institucional no Brasil. Brasília, IPEA, 2003.

SILVA, R. C. O. O Sujeito na Infância: Quando a visibilidade produz exclusão.

s/d. Disponível em: <http://www.antropologia.com.br/tribo/

br/tribo/infância/SUJEIT~1.p-df>. Acesso em 04 de mar. de 2014.

TABNET. Tipos de estabelecimento. Datasus. Disponível em:

http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/cnes/tipo_estabelecimento.htm. Acesso em 14

de dezembro de 2014.

TOMAZ DA SILVA, J. O Sentido da Educação para adolescentes em conflito

com a Lei. Dissertação de Mestrado, UFMT/IE, 2012.

XAVIER, P. O. Pomeri: espaço de reclusão – máquina de guerra: o cotidiano,

de uma instituição de fechamento: mato grosso nos auspícios do século XXI.

Dissertação de Mestrado: UFMT, 2007.

ZEITOUNE, C. M. Ética, Lei e responsabilidade – Considerações ao

atendimento clínico aos adolescentes em conflito com a lei. Revista Eletrônica

do Núcleo Sephora, Rio de Janeiro, v. 4, n.8, maio 2009. Disponível em:

Page 57: Universidade Federal de Mato Grosso Instituto de Saúde ... · RESUMO A Constituição ... OAB – Ordem dos Advogados do Brasil OMS – Organização Mundial de Saúde ONG ... como

57

<http://www.nucleosephora.com/asephallus/numero_08/artigo_03_port.html>

Acesso em 20 de fev. de 2014.

Page 58: Universidade Federal de Mato Grosso Instituto de Saúde ... · RESUMO A Constituição ... OAB – Ordem dos Advogados do Brasil OMS – Organização Mundial de Saúde ONG ... como

58

ANEXOS

Anexo 1 – Autorização do CEP HUJM

Page 59: Universidade Federal de Mato Grosso Instituto de Saúde ... · RESUMO A Constituição ... OAB – Ordem dos Advogados do Brasil OMS – Organização Mundial de Saúde ONG ... como

59

Page 60: Universidade Federal de Mato Grosso Instituto de Saúde ... · RESUMO A Constituição ... OAB – Ordem dos Advogados do Brasil OMS – Organização Mundial de Saúde ONG ... como

60

APÊNDICE

Apêndice 1 – Entrevista Semiestruturada com profissional atuante no Ambulatório de Saúde do Centro Socioeducativo de Cuiabá.

• Nome:

• Formação:

• Especialização:

• Função no Ambulatório:

• Cargo:

• Tempo de serviço na instituição:

• Tipo de vínculo:

• Atividades desenvolvidas:

• Como é a escala de trabalho dos profissionais da unidade?

• Quais os cuidados em saúde realizados em um adolescente recém-chegado na unidade?

• Como é feita a marcação das consultas? Como é conhecida a necessidade dos adolescentes pelo atendimento?

• Como são realizadas as imunizações?

• Em que situações é necessário encaminhar o adolescente às unidades de saúde fora do complexo?

• Como é realizado este deslocamento? Há dificuldade de transporte?

• Existe um acordo de encaminhamento com alguma unidade? (Referência)

• Você percebe preconceito nos atendimentos externos realizados ao adolescente?

• Quem prove os materiais e insumos da unidade? Há falta?

• Quem busca os exames dos adolescentes?

• Qual a maior dificuldade que você enfrenta no desenvolvimento de suas atividades?

• Que ações são realizadas a fim de orientar os adolescentes quanto à saúde?

Page 61: Universidade Federal de Mato Grosso Instituto de Saúde ... · RESUMO A Constituição ... OAB – Ordem dos Advogados do Brasil OMS – Organização Mundial de Saúde ONG ... como

61

• Há distribuição de preservativos/anticoncepcionais aos adolescentes internos?

• Há Plano Operativo Estadual para as unidades socioeducativas?

• O SIPIA II está implantado em Mato Grosso? Quem é responsável por se preenchimento?

• Qual a maior necessidade do setor saúde dentro do sistema socioeducativo?

• O Estado oferece algum tipo de capacitação para os funcionários desta unidade?