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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE EDUCAÇÃO MESTRADO EM EDUCAÇÃO MARILENE FONSECA DIAS MOREIRA OS CONSELHOS DELIBERATIVOS DAS ESCOLAS PÚBLICAS: DEMOCRACIA OU SIMULACRO? Cuiabá - MT 2017

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

INSTITUTO DE EDUCAÇÃO

MESTRADO EM EDUCAÇÃO

MARILENE FONSECA DIAS MOREIRA

OS CONSELHOS DELIBERATIVOS DAS ESCOLAS PÚBLICAS:

DEMOCRACIA OU SIMULACRO?

Cuiabá - MT

2017

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MARILENE FONSECA DIAS MOREIRA

OS CONSELHOS DELIBERATIVOS DAS ESCOLAS PÚBLICAS:

DEMOCRACIA OU SIMULACRO?

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

Graduação do Instituto de Educação, da

Universidade Federal de Mato Grosso, como

exigência obrigatória para obtenção do título

de Mestrado em Educação, Linha de Pesquisa

Movimentos Sociais Políticas e Educação

Popular.

Orientadora: Profª Drª Rose Cléia Ramos da Silva

Cuiabá - MT

2017

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Dados Internacionais de Catalogação na Fonte.

Ficha catalográfica elaborada automaticamente de acordo com os dados fornecidos pelo(a) autor(a).

Permitida a reprodução parcial ou total, desde que citada a fonte.

F676c Fonseca Dias Moreira, Marilene.OS CONSELHOS DELIBERATIVOS DAS ESCOLAS PÚBLICAS:

DEMOCRACIA OU SIMULACRO? / Marilene Fonseca Dias Moreira. -- 2017106 f. ; 30 cm.

Orientadora: Profª Drª Rose Cléia Ramos da Silva.Dissertação (mestrado) - Universidade Federal de Mato Grosso, Instituto de

Educação, Programa de Pós-Graduação em Educação, Cuiabá, 2017.Inclui bibliografia.

1. Gestão democrática.. 2. Conselho escolar.. 3. Participação social.. I. Título.

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho, primeiramente, a Deus, que é minha força e meu guia.

À minha mãe, exemplo de luta e alegria, quem me deu forças para concluí-lo, e agora

está ao lado do meu pai e meu irmão, meus anjos do céu.

Ao meu esposo e aos meus filhos que contribuíram com sua dedicação, paciência e

amor para que eu conseguisse concluí-lo.

À minha orientadora Rose Cléia que é mais um dos anjos que Deus colocou em meu

caminho.

Sou eternamente grata a todos.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus, pela saúde e coragem de enfrentar todas as dificuldades, me

mostrando os caminhos a seguir quando por ele eu me perdia.

À minha orientadora Profª Drª Rose Cléia Ramos da Silva, por não desistir de mim,

pelo carinho, apoio e paciência para a conclusão deste trabalho; um ser iluminado, um anjo

que Deus colocou em meu caminho, que me fortaleceu nos momentos difíceis.

À minha mãe pela dedicação amor incondicional e apoio para que eu continuasse

meus estudos e realizasse mais esse sonho, que hoje se tornou mais um anjinho no céu.

À banca avaliadora pelas riquíssimas contribuições na construção da Dissertação.

À Universidade Federal de Mato Grosso, Coordenação, em especial à Profª Drª Márcia

dos Santos Ferreira, coordenadora que, apesar das minhas dificuldades, me instigou a

continuar e também a atual coordenadora Proª Drª Rute Cristina e a toda a equipe da

coordenação, direção e administração do PPGE/UFMT.

A todos os professores que me proporcionaram o conhecimento, no processo de

formação profissional.

Ao meu esposo, pelo total apoio em minhas decisões e paciência nos momentos em

que me fiz ausente.

Ao meu saudoso pai e irmão que, mesmo distantes, continuam a me abençoar todos os

dias.

Ao meu filho que me incentiva a cada dia, contribuindo com sua paciência e opiniões,

que faz meu coração desejar continuar batendo a cada dia.

Às minhas afilhadas e afilhados que estão sempre ao meu lado, em especial Myllena

que contribuiu muito com os cuidados de minha mãe quando eu precisava me ausentar.

Aos meus familiares e amigos que sempre estiveram ao meu lado com palavras

positivas e construtivas a me passar.

A todos que, direta ou indiretamente, contribuíram para que minha formação fosse

concluída.

Deixo aqui minha eterna gratidão.

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A tendência democrática da escola não

pode consistir apenas em que um operário

manual se torne qualificado, mas em que cada

cidadão possa se tornar governante.

Antônio Gramsci

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RESUMO

O objetivo deste estudo é investigar o funcionamento e o desempenho do Conselho

Deliberativo da Comunidade Escolar (CDCE) da rede estadual de Cuiabá - MT; para a

pesquisa empírica foram selecionadas três escolas públicas Estaduais. Partiu-se do

entendimento de que os conselhos escolares se constituem como importantes espaços para

deliberações coletivas entre a comunidade e a escola e, desse modo, tais colegiados podem

contribuir com o processo educativo numa perspectiva mais democrática. O estudo foi

pautado nas formulações teóricas do materialismo histórico dialético. Autores, como Libâneo

et al. (2003), Gramsci (2000), Kosik (1976), Silva e Torres (2008), entre outros, nos permitem

compreender as relações políticas, econômicas, sociais e culturais, descortinando as

contradições, compreendendo como as aparências escondem as essências no que tange à

implementação da política educacional vigente e à gestão em que a lógica empresarial é

hegemônica, até mesmo nas instituições públicas. O estudo circunstancia a gestão

democrática e foca os conselhos escolares como um dos principais pilares desse modelo de

gestão educacional descentralizada. Os instrumentos empíricos foram formulados com base

nas seguintes técnicas: 1. Aplicação de questionários; 2. Entrevistas semiestruturadas para os

membros do conselho escolar e diretores das escolas; e 3. Observação. Para os resultados

desta pesquisa foram efetuadas análises teórico-empíricas sobre os dados coletados com as

três técnicas utilizadas. A partir dos dados obtidos foi possível constatar, nas três escolas

pesquisadas, que os conselhos deliberativos são instâncias manipuladas pelos segmentos

hegemônicos das escolas, e isso dificulta a efetivação da democracia no ambiente escolar,

podendo-se até mesmo considerar que são inoperantes, sobretudo por ter sido constatado que,

nos três conselhos pesquisados, o segmento que detém, de fato, poder decisório é o da direção

das escolas. Constatou-se que os segmentos de alunos e de pais e mães de alunos são muito

ausentes nas reuniões, o que denota uma relação não democrática dos colegiados; os

conselhos se mantêm muito mais por mera formalidade da exigência da legislação

educacional vigente. Constatou-se, ainda, que uma gestão democrática em que todos os

envolvidos na atuação dos CDCEs deliberam, expõem opiniões, conhecem de perto os

problemas da escola, pensam juntos as possíveis soluções, não acontece na prática cotidiana

dessas escolas pesquisadas. A observação mostrou que muitas questões que são postas nas

reuniões já estão previamente definidas pela equipe gestora das escolas, impossibilitando,

desse modo, a participação de forma autônoma dos conselheiros, o que imprime aos

colegiados em estudo uma conduta autoritária em que um segmento se sobrepõe em relação a

outros, negando o essencial da democracia.

Palavras chave: Gestão democrática; Conselho escolar; Participação social.

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ABSTRACT

The objective of this study is to determine the functioning and the performance of Conselho

Deliberativo da Comunidade Escolar (CDCE) of the state system of Cuiabá- MT. Three State

Public Schools were selected for this empirical research. It started from the understanding that

the school councils are constituted as important spaces to the collective deliberations between

the community and the school and, in that way, such councils can contribute with the

educational process in a more democratic perspective. This investigation was based in the

theoretical formulations of the Dialectical Historical Materialism. Authors such as Libâneo et

al. (2003), Gramsci (2000), Kosik (1976), Silva and Torres (2008) and some others, can allow

us to comprehend the political, economical, social and cultural relations; uncovering the

contradictions, understanding how the appearances hide the essences in relation to the

implementation of the current educational legislation and the management in which business

logic is hegemonic, even in public institutions. This study situates the democratic

management and focuses on the schools councils as one of the main pillars of this model of

decentralized educational management. The empirical instruments were made based on the

following techniques: 1. Application of questionnaires; 2. Semi-structured interviews for the

members of the school council and the principals of the schools; and 3. Observation. To get

the results were made some theoretical- empirical analyzes about the collected data with the

three techniques that were used. From the data obtained was possible to verify, in the three

schools investigated, that the deliberative councils are instances manipulated by hegemonic

segments of the schools, and it makes difficult the effectiveness of democracy in the school

environment, it may even be considered that they are inoperative, especially because it was

appreciated that in the three councils researched, the segment that stops, in fact, the power of

decision-making is of that direction of schools. It was found that the segments of students and

parents are very absents in the meetings, which denotes a non democratic relation of the

collegiate; the councils are maintained much more by mere formality of the requirement of

the current educational legislation. It was found also that a democratic management in which

all are involved in the performance of CDCEs deliberate, express opinions, know the

problems of the school nearly, think together about possible solutions, do not happen in the

daily practice of the school investigated. The observation showed that many questions that are

presented at the meetings are already define by the management team of the schools, making

impossible, in that way, the autonomous participation of the counselors, which gives the

collegiate researched, an authoritarian behavior in which a segment is overlapped with others,

denying the essential of democracy.

Keywords: Democratic Management; School Council; Social Participation.

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 - Como você foi escolhido para ser representante do Conselho? ................... 75

Gráfico 2 - Nas reuniões que você participou fez alguma intervenção ou

proposições? ...............................................................................................

77

Gráfico 3 - Você conhece a lei ou Regimento de criação do Conselho do qual faz

parte? ..........................................................................................................

79

Gráfico 4 - Quem propõe a pauta das reuniões do Conselho? ....................................... 82

Gráfico 5 - Você participou da formulação do Projeto Político Pedagógico da escola? 85

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LISTA DE TABELAS E QUADROS

Tabela 1 - Descrição das escolas selecionadas para pesquisa (Mato Grosso, SEDUC).. 23

Tabela 2 - Fonte e proporções da composição dos Impostos do FUNDEB .................. 63

Quadro 1 - Composição dos recursos do FUNDEF e do FUNDEB segundo suas

respectivas Leis regulamentadoras ...............................................................

64

Tabela 3 - Representantes dos CDCEs que responderam ao questionário ................... 71

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ADIN

AMP

CACS

CAAE

Ação Direta de Inconstitucionalidade

Associação Matogrossense de Professores

Conselhos de Acompanhamento e Controle Social

Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos

CDCE Conselhos Deliberativos da Comunidade Escolar

CF Constituição Federal

CNE Conselho Nacional de Educação

DRU Desvinculação das Receitas da União

EC Emenda Constitucional

ENEM

FHC

FIES

Exame Nacional de Ensino Médio

Fernando Henrique Cardoso

Fundo de Financiamento Estudantil

FNDEP Fórum Nacional em Defesa da Escola Pública

FPE Fundo de Participação dos Estados

FPM Fundo de Participação dos Municípios

FUNDEB Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de

Valorização dos Profissionais da Educação

FUNDEF Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de

Valorização do Magistério

GF Governo Federal

ICMS Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços

IPIexp. Imposto sobre Produtos Industrializados, proporcional às exportações

IDEB Índice de Desenvolvimento da Educação Básica

INEP Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio

Teixeira

LDBEN Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional

MARE Ministério da Administração Federal e Reforma do Estado

MDE Manutenção e Desenvolvimento do Ensino

OCDE

PAR

PDDE

Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico

Plano de Ações Articuladas

Programa Dinheiro Direto na Escola

PMDB Partido Movimento Democrático Brasileiro

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PNE Plano Nacional de Educação

PPP

PRN

PSDB

PT

PDE

PRONATEC

PROUNI

Projeto Político Pedagógico

Partido da Reconstrução Nacional

Partido da Social Democracia Brasileira

Partido dos Trabalhadores

Plano de Desenvolvimento da Educação

Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego

Programa Universidade para Todos

REUNI

SEDUC/MT

UFMT

Reestruturação e Expansão das Universidades Federais

Secretaria de Estado de Educação de Mato Grosso

Universidade Federal de Mato Grosso

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 15

1 CAMINHO METODOLÓGICO ...........................................................................

1.1 PROBLEMA DA PESQUISA ...............................................................................

1.2 OBJETIVO GERAL E OBJETIVOS ESPECÍFICOS ...........................................

1.3 HIPÓTESE .............................................................................................................

1.4 CAMPO DE OBSERVAÇÃO E SUJEITOS DA PESQUISA ...............

1.5 TÉCNICAS E INSTRUMENTOS – COLETA DE DADOS ................................

1.6 PROCEDIMENTOS DE ANÁLISE DOS DADOS ..............................................

1.7 QUESTÕES ÉTICAS ............................................................................................

2 DEMOCRACIA E OS PRINCÍPIOS DA GESTÃO DEMOCRÁTICA NO

BRASIL ....................................................................................................................

21

21

21

22

22

24

25

26

28

2.1 DEMOCRACIA: BREVE HISTÓRICO E CONCEITO ....................................... 28

2.2 O BRASIL E O DILEMA DA DEMOCRACIA ................................................... 29

2.3 A GESTÃO DEMOCRÁTICA DA ESCOLA PÚBLICA: BRASIL .................... 38

2.4 GESTÃO DEMOCRÁTICA DA ESCOLA PÚBLICA EM MATO GROSSO .... 43

3 IMPORTÂNCIA DOS CONSELHOS ESCOLARES E A PERSPECTIVA

DOS CONSELHEIROS .........................................................................................

3.1 A INSTITUCIONALIZAÇÃO DOS CONSELHOS GESTORES ESCOLARES

NO BRASIL ...........................................................................................................

48

48

3.2 O CDCE E O PROCESSO DE PARTICIPAÇÃO SÓCIO-POLÍTICA NO

COTIDIANO DAS ESCOLAS PÚBLICAS .........................................................

50

3.3 IMPORTÂNCIA DA PARTICIPAÇÃO NA VIDA PÚBLICA E NAS

ESCOLAS ..............................................................................................................

3.4 CONTROLE SOCIAL NA POLÍTICA DE FINANCIAMENTO DA

EDUCAÇÃO BÁSICA ..........................................................................................

56

60

4 CDCES DAS ESCOLAS PESQUISADAS ........................................................... 67

4.1 ESCOLAS SELECIONADAS PARA PESQUISA ............................................... 68

4.2 PARTICIPAÇÃO E AUTONOMIA DOS CONSELHEIROS NAS

DELIBERAÇÕES NOS CDCES ...........................................................................

73

CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................... 87

REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 92

APÊNDICES ............................................................................................................... 99

APÊNDICE A - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) .................... 99

APÊNDICE B - Roteiro das Entrevistas para os Membros Titulares dos CDCEs ...... 101

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APÊNDICE C - Questionário aplicado aos Membros Titulares dos CDCEs .............. 102

ANEXOS ..................................................................................................................... 104

ANEXO A - Solicitação e autorização para pesquisa de campo ................................. 104

ANEXO B - Autorização da Plataforma Brasil para fins da pesquisa com os

Conselheiros ............................................................................................

105

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INTRODUÇÃO

A Constituição Federal de 1988 e a força dos movimentos sociais e políticos da época

possibilitaram a reconstrução da democracia no país, permitindo aos cidadãos a oportunidade

de participação e deliberação nas políticas públicas. Na CF/1988 a participação popular

aparece como um elemento novo e importante; nesse processo podem ser também

identificados os conselhos que têm como objetivo a participação na formulação das políticas

públicas, na sua execução e fiscalização, ou seja, a possibilidade do controle social exercido

pelo cidadão.

A Constituição Federal de 1988 assegura a gestão democrática na forma da lei, em seu

Artigo 206, inciso VI. O significado do preceito legal na CF/1988 e, depois, na Lei de

Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei nº 9.394/96, em seu Artigo 3º, inciso VIII,

expressa as lutas presentes no processo de transição democrática no país, período em que a

sociedade civil brasileira sai marcada da opressão do regime militar e se organiza com

intensas pautas de lutas por democracia. Nesse prisma, a escola é entendida como um

importantíssimo espaço no qual a democracia possa ser experimentada, apreendida e afirmada

para toda a sociedade de forma mais ampla. Porém, quando a LDB/1996 é aprovada, o projeto

societário vigente não corresponde mais aos mesmos ideais das mobilizações de seu

movimento originário dos anos de 1980.

Quando a Gestão Democrática, inicialmente, passa a ser implantada nas redes públicas

educacionais, os conselhos escolares são instituídos para dar sustentação ao tripé: eleição para

diretores, constituição dos conselhos escolares e a autonomia financeira das instituições

escolares; todavia, em alguns estados brasileiros, os diretores assumiam os cargos por meio de

concurso, mesmo havendo lei regimentando a gestão democrática. Em outras palavras,

algumas resistências ao processo eletivo para o cargo de diretores aconteceram, como por

exemplo, o estado de São Paulo implantou a Gestão Democrática sem considerar a eleição

para diretores como requisito fundamental.

Como foco deste estudo os conselhos de escola representam a possibilidade de

afirmação da democracia por meio da participação ativa dos sujeitos envolvidos com o

processo educacional. Ao serem institucionalizados passam a constituir uma nova prática no

sistema público de ensino, que é a relação entre a escola e a sua comunidade, de forma que os

vários segmentos que compõem o colegiado partilham importantes decisões das instituições

educativas. No Brasil, o modelo da gestão democrática teve diferentes processos de

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implementação; alguns elementos que marcam o seu descaminho, ou melhor dizendo, seu

desvirtuamento, têm relação com grupos políticos reacionários resistentes ao modelo, que

sempre dificultaram a partilha do poder, visando perpetuar seus benefícios.

Em Mato Grosso, a gestão democrática foi implantada nas escolas públicas, desde

1987; segundo Abich (2008, p. 27):

Mato Grosso se destaca com certo pioneirismo no cenário nacional, com

uma proposta de gestão democrática para a rede estadual de ensino,

originada nas reivindicações do segmento de professores da educação básica,

retirada como proposta no Congresso da Associação Mato-grossense de

Professores (AMP), em 1986, e apresentada aos candidatos a governador,

nas eleições daquele ano. A implantação da gestão democrática na capital do

Estado, entre 1986/1988, na gestão de Dante Martins de Oliveira, também

faz parte das lutas sindicais e das iniciativas governamentais para construção

de um novo modelo de gestão. A essência democrática da proposta se

encontrava no processo de eleição para diretores e na criação de órgãos

colegiados. Sua implantação no ano seguinte cumpriu com o compromisso

de campanha assumido pelo governador eleito, Carlos Bezerra, do PMDB,

que trazia uma proposta mais ou menos coerente com a recente abertura

política no Brasil. O caráter pioneiro da gestão democrática em Mato Grosso

pode ser detectado no fato de que sua implantação antecedeu até mesmo a

orientação apresentada nesse mesmo sentido pela Constituição de 1988.

Esse modelo de gestão implantado no Estado, no entanto, foi interrompido no governo

seguinte, de Jaime Campos, ficando suspenso no período de 1990 a 1994. A gestão

democrática foi retomada no Estado de Mato Grosso somente no ano de 1995, com a eleição

de Dante Martins de Oliveira para Governador do Estado, porém, essa retomada da gestão

democrática ressurgiu em um Estado de perfil gerencialista orientado pelo modelo neoliberal,

atuando minimamente para o setor público, desconfigurando assim a luta dos professores e

dos movimentos sociais.

O discurso que vislumbrava uma prática de gestão democrática, na ótica dos

movimentos de emancipação política dos anos oitentas, e que ainda hoje não

deixa de compor o quadro idealizado para uma educação de qualidade,

indubitavelmente, não coincide com as políticas educacionais

neoconservadoras empreendidas na década de 90. (ABICH, 2008, p. 29).

Nesse sentido é importante analisar como vem ocorrendo a gestão democrática nas

escolas selecionadas para a pesquisa e como se dá a participação nos Conselhos Deliberativos

da Comunidade Escolar, instituídos no contexto de um Estado neoliberal que é posto a serviço

do mercado.

Conforme Peroni (2008, p. 114):

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Hoje, quando a sociedade civil é chamada a participar é no sentido de

executar as políticas, lutar por direitos, pela transparência, de participação

por meio dos conselhos, de ajudar a definir as políticas públicas, de ter

controle sobre o gasto público, enfim, todos aqueles movimentos de

democratização do Estado, neste momento histórico. Há, assim, uma

reconfiguração dessa relação Estado/sociedade civil e um esvaziamento do

conteúdo da democracia, já que a separação entre o econômico e o político é

evidente, e perdem-se do horizonte as políticas sociais como a

materialização de direitos sociais.

Concordo com Silva e Torres (2008, p. 47) de que: “No espaço micro, que é o da

escola, o CDCE se apresenta como uma possibilidade inegável de construção de um projeto

democrático de gestão escolar com dimensão sociopolítica”.

Vale considerar que, por se tratar de uma função não remunerada, os pais, por

exemplo, se sentem incomodados em participar das reuniões quando estas coincidem com as

suas funções profissionais. Dentre esses problemas, também há outros que se somam à difícil

realidade do processo de democratização educacional, e que, na cultura brasileira, muito ainda

tem que ser feito para ser transformada a prática de participação passiva dos brasileiros.

Pode-se dizer que o projeto neoliberal, que se avolumou nos anos de 1990, aprofundou

no país um processo mais nítido de democracia mínima, o que prejudicou ainda mais a

transformação de uma cultura passiva de participação sociopolítica para processos efetivos,

pois a realidade apresenta muitas contradições.

A importância do movimento de participar, tomar parte ou partido de alguma coisa nos

revela ou pode nos revelar a realidade que está por trás das aparências, mas, para que isso

ocorra, é necessário participar.

No Brasil, depois da Ditadura Militar (1964-1985), dos 21 anos de autoritarismo

político e direcionamento do tecnicismo1 para a educação, o movimento pela democratização

na educação tem um valor expressivo pela liberdade de expressão e pela possibilidade de

autonomização da sociedade civil em relação ao Estado. O movimento instituído pela nova

Constituição Federal de 1988 trouxe a presença dos movimentos sociais e de suas bandeiras.

Quando então a Gestão Democrática se torna um princípio na Carta Magna, a

conquista é percebida como resultado de uma importante luta. No ano seguinte à aprovação da

CF/1988, as Constituições Estaduais, em sua maioria, reproduziram o princípio da gestão

1 O tecnicismo é termo utilizado por pesquisadores da educação para nomear o modelo instaurado pelos

militares, durante o regime militar, o qual organizou por meio da Lei nº 5.691/1971 a obrigatoriedade do ensino

profissionalizante no país, visando precipuamente a formação de mão obra barata (KUENZER; MACHADO,

1982).

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democrática. Mato Grosso, como pioneiro, já tinha uma Lei estadual aprovada por Carlos

Bezerra, como já mencionado anteriormente.

Vale destacar que as experiências de democratização educacional, no Brasil e em

Mato Grosso, sofreram vários embates entre profissionais da educação que se contrapunham

pelas suas perspectivas progressistas ou conservadoras, o que produziu um cenário de

dificuldades no plano da implementação do modelo de gestão democrática escolar, nas redes

públicas. Não bastando tal embate, nos anos de 1990, a perspectiva da gestão democrática de

bandeira progressista acaba sendo ofuscada pelas reformas do Estado Brasileiro, sob a égide

do Governo de Fernando Henrique Cardoso - PSDB (1995-2002), totalmente compactuado

com a ordem econômica mundial, na proposta neoliberal de governança. Nesse prisma, foi

criado o Ministério de Administração e Reforma do Estado – MARE (1995), sob o comando

do Ministro Luiz Carlos Bresser Pereira. O Estado se torna operacionalizador de um

Ordenamento Jurídico para modernizar a gestão dos serviços púbicos, com a lógica

gerencialista.

O modelo gerencial estabelece um padrão de organização orientado pelo

mercado, ou seja, os serviços prestados são direcionados pela caracterização

da eficiência e eficácia. Processos são secundários, centrando-se nos

resultados, desviando-se da função tradicional do Estado prestador de

serviços sociais com a qualidade social. (LIMA, 2011, p. 45).

As reformas realizadas no governo de Fernando Henrique Cardoso geraram um

processo de afastamento do Estado em relação às políticas públicas e isso resultou na

desqualificação dos serviços públicos e valorização do setor privado, até mesmo pela

sociedade, de modo geral. As privatizações de empresas estatais foram sendo consensuadas

sob argumentos da crise fiscal e responsabilização do governo ao modelo burocrático do

Estado, nas fases anteriores. Dessa forma, o novo desenho do Estado gerencial estaria

enfocando um modelo totalmente racional e eficaz para todas as empresas públicas. A

reforma na educação compreende essa mesma lógica. O que nos permite questionar: na

perspectiva do Estado neoliberal é possível que a gestão democrática tenha a mesma

perspectiva do seu projeto originário?

O postulado neoliberal pressupõe uma prática de desobrigação do Estado com as

instituições públicas e isso inviabiliza um processo democrático. Conforme nos afirmam

Viriato e Lima (2002):

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É a partir da segunda metade da década de noventa que se evidenciam a

existência e a disputa de dois projetos distintos para a sociedade brasileira,

com diferentes concepções de educação. Por um lado, temos a defesa da

manutenção e financiamento do ensino público pelo Estado e, por outro,

condizente com a modernização do Brasil, com a privatização das empresas

estatais, temos a inserção do ensino público na perspectiva mercadológica,

desobrigando, assim, o Estado desta responsabilidade. (VIRIATO; LIMA,

2002, p. 6).

Nesse sentido, a gestão democrática, no Brasil, face às novas demandas do modelo

político e econômico acolhido pelo Estado, a partir dos anos de 1990, até os dias atuais tem

sido contraditória. Há escolas púbicas com trabalhos interessantes, mas que são engolidos

pela lógica gerencialista e, por mais que os sujeitos envolvidos tenham boa vontade de

efetivar a democracia no ambiente escolar, acabam se chocando com a escassez de recursos

financeiros para o desenvolvimento de atividades básicas.

Devemos considerar o que nos é posto e de que forma está posto, analisando o que há

por trás das aparências; nesse sentido, desvendá-las se torna necessário para se entender o real

movimento desses espaços escolares.

Cabe ressaltar que nosso interesse por pesquisar os conselhos escolares surgiu a partir

de estudos sobre a gestão democrática e da observação de algumas escolas que, na prática, se

apresentaram muito distantes de um modelo de gestão democrática. Nesse sentido, tomar os

conselhos escolares como objeto de estudo pressupõe, a priori, uma análise crítico-

compreensiva da política educacional numa perspectiva teórico-prática, dos processos da

gestão educacional e dos movimentos de democratização da sociedade. Quando a gestão

democrática foi implantada nas redes educacionais públicas, no Brasil e no estado de Mato

Grosso, a bandeira que se tinha em mente para os processos de democratização do Estado e da

sociedade civil estava atrelada à luta dos trabalhadores da educação e dos movimentos sociais

que visavam mais recursos e mais autonomia para as escolas públicas. Tal luta se constituía

de um processo de enfrentamento dos movimentos com as alas conservadoras que, em todo o

país, vinham tradicionalmente ocupando os espaços institucionais com práticas de

apadrinhamento e clientelismo. Nesse sentido, as conquistas da gestão democrática teriam

sido a ascensão da perspectiva progressista no movimento político brasileiro.

A estrutura da dissertação segue da seguinte forma: o primeiro capítulo destaca a

metodologia utilizada para elaboração da pesquisa, instrumentos empíricos, os locais e

sujeitos da pesquisa.

O segundo capítulo expõe concepções de democracia e os princípios da gestão

democrática, cidadania, e o processo de redemocratização no Brasil a partir dos anos 1980,

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tomando como referência autores, como Lima (2011), Gohn (2001; 2005; 2006; 2007) e

Wood (2011).

O terceiro capítulo aborda a gestão democrática, a importância e histórico dos

conselhos escolares, e sua importância para o processo de redemocratização a partir da

participação social; o diálogo teórico referencia os seguintes autores: Silva e Torres (2008),

Guimarães (2008) e Marques (2009); sobre os conselhos, os autores que aparecem mais no

diálogo teórico são: Silva e Torres (2008), Freire (1996), Libâneo (2013), Oliveira (2010) e

Peroni (2003).

O quarto capítulo traz as reflexões sobre as escolas pesquisadas, os resultados dos

questionários e entrevistas, e, dessa forma, a realidade encontrada nos CDCEs, articulando os

estudos teóricos com os dados coletados com a pesquisa empírica.

Nas considerações finais apresentamos uma síntese do que o estudo nos permitiu

constatar acerca da realidade dessas escolas, com foco em seus conselhos escolares e de como

apresentam o processo democrático em curso.

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1. CAMINHO METODOLÓGICO

Este capítulo tem por objetivo demonstrar o percurso metodológico, a característica do

campo empírico, o local e sujeitos da pesquisa, as técnicas e instrumentos de coletas de dados,

as questões éticas para realização da pesquisa com os conselheiros e os procedimentos de

análise dos dados. Para tanto utilizamos, como referência, autores como Minayo (2006),

Minayo e Deslandes (2013), Cury (1989) e Libâneo (2013); e informações constadas no site

da SEDUC/MT.

1.1 PROBLEMA DA PESQUISA

Na década de 1980, os movimentos por redemocratização, no Brasil, acenaram boas

possibilidades de participação na coisa pública. Com a promulgação da Constituição Federal

de 1988, o Art. 206 e inciso VI, a gestão democrática é assegurada, na forma da lei, para ser

implantada nos sistemas públicos de ensino no país. Porém, não chegou nem a ser efetivada,

visto que a ascensão de Fernando Henrique Cardoso – PSDB (1995-2002) à Presidência da

República garantiu a hegemonia das políticas neoliberais, por meio de uma orquestrada

Reforma dos serviços públicos. As políticas educacionais implantadas a partir dos

pressupostos da Reforma do Estado (1995), nesse período, marcaram uma nova conceituação

da gestão democrática que, na realidade, hoje se encontra desvirtuada da perspectiva

progressista do movimento originário dos educadores progressistas. “A democracia é tida,

apenas, como método, ou melhor, como meio de garantir a liberdade econômica. Trata-se,

portanto, de democracia restrita e sem finalidades coletivas e sociais de construção de uma

sociedade mais justa, humana e solidária” (LIBÂNEO, 2013, p. 114).

Nesse sentido, o presente estudo tem a seguinte questão principal:

Como os conselhos escolares têm conduzido o processo de participação dos segmentos

que o compõem, se de fato é democrático ou se há um simulacro, nas articulações das equipes

gestoras em relação ao funcionamento desses colegiados?

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1.2 OBJETIVO GERAL E OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Objetivo Geral:

- Investigar a participação dos conselheiros do Conselho Deliberativo da Comunidade Escolar

(CDCE) de três escolas da rede estadual de Cuiabá – MT.

Objetivos Específicos:

- Analisar a participação dos conselheiros nas reuniões desses colegiados, em relação aos

segmentos que representam e como dialogam entre si;

- Conhecer a atuação dos conselheiros em relação aos desafios apresentados no cotidiano da

escola.

1.3 HIPÓTESE

No Brasil, em que, historicamente, há uma fragilidade de processos democráticos, por

razões culturais que expressam fortes vícios do patrimonialismo e clientelismo2 nas relações

do Estado com a sociedade civil; os conselhos de políticas públicas e os conselhos escolares,

ainda que sejam instâncias deliberativas, acabam reproduzindo os vícios de participação

instrumental, a qual se dá, muitas vezes, de forma passiva por parte de representantes não

estatais, o que acaba dificultando seriamente a efetivação da democracia no espaço escolar.

Assim, o foco do estudo circunstancia a gestão democrática escolar e foca os

conselhos escolares como um dos principais pilares desse modelo de gestão educacional.

1.4 CAMPO DE OBSERVAÇÃO E SUJEITOS DA PESQUISA

Para fins desta pesquisa foram selecionados um total de três escolas estaduais no

município de Cuiabá, escolhidas estrategicamente pela localidade, tamanho e data da

fundação, apresentadas da seguinte maneira: escola (A3) de grande porte

4, com total de 10

2 Faoro (2004) define patrimonialismo como uma forma de poder e domínio que está nas mãos dos políticos e da

elite; sendo assim, eles comandam o governo tomando decisões de coisas públicas com critérios próprios sem se

preocuparem com toda a sociedade, tendo como garantia as instituições públicas. O clientelismo é mais uma

forma que os políticos têm para favorecerem a eles próprios usando a cooptação como ferramenta para obterem

benefícios, assim continuam a comandar centralizando as decisões nas mãos de poucos. 3 A opção por não revelar o nome das escolas se deve ao fato de respeitar a vontade de alguns conselheiros que

disseram, ao fornecerem informações nas entrevistas, que prefeririam ter as suas identidades preservadas. De

forma que estaremos tratando nominalmente por Escola A, a de grande porte, B, a de médio porte, e C, a de

pequeno porte. 4 O critério dos tamanhos se refere ao número de turmas, alunos e tamanho estrutural das instituições; as escolas

de grande, médio e pequeno porte são identificadas como tal no próprio site da SEDUC/MT.

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conselheiros; escola (B) de médio porte, com total de 10 conselheiros; escola (C) de pequeno

porte, com total de 08 conselheiros. Ao todo, 28 conselheiros compõem o universo da

pesquisa para a aplicação das técnicas de entrevista e aplicação de questionários.

A partir da observação in loco, foi possível analisar e refletir o processo democrático e

participativo instituído nesses diferentes espaços. Na tabela 1, a seguir, seguem informações

sobre as escolas pesquisadas.

Tabela 1 - Descrição das escolas selecionadas para pesquisa (Mato Grosso, SEDUC)

ESCOLA TAMANHO DATA DE

FUNDAÇÃO

NÚMERO

DE

ALUNOS

NÚMERO

DE

SALAS

LOCALIZAÇÃO

A GRANDE 1993 1.780 23 REGIÃO

CENTRAL-SUL

B MÉDIA 1879 1.451 14 REGIÃO SUL

C PEQUENA 1955 445 9 REGIÃO OESTE

Elab.: Autora (2016).

A escolha se deu com objetivo de analisar, nas diferentes escolas inseridas em

contextos sociais diversificados, qual o modelo de CDCE existente na práxis em suas

especificidades. A primeira escola selecionada é de grande porte: trata-se da Escola A, que

está localizada em um bairro da periferia de Cuiabá, considerado um bairro mais distante do

centro da capital. A escola tem, em média, 1.780 alunos matriculados nos turnos matutino,

vespertino e noturno, atendendo desde o Ensino Fundamental dois até o nível médio, com 23

salas de aula. Nas observações das reuniões dessa escola foi constatada a ausência do

segmento dos alunos no CDCE, em todas as reuniões presenciadas por mim, por esse motivo

não foi possível a coleta de dados nos questionários e entrevistas do segmento dos alunos e

dos pais nessa escola. O segmento dos pais também mostrou-se muito ausentes nas reuniões,

participaram respondendo somente ao questionário, porém não responderam as entrevistas. Os

professores que formam outro segmento do colegiado também se ausentaram, em muitas

reuniões, por conta do horário em que essas eram realizadas.

A segunda escola, considerada a de médio porte, é a Escola B, que está localizada na

região central da capital; tem um total de 1.451 alunos matriculados somente no Ensino

Médio, nos períodos matutino, vespertino e noturno, com 14 salas de aula. Nesta escola, o

segmento dos pais foi muito ausente nas reuniões, o que impossibilitou a coleta das

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entrevistas dos mesmos. Os professores também não participavam da maioria das reuniões,

alegavam estar em sala de aula nos momentos das reuniões. A terceira escola é de pequeno

porte, trata-se da Escola C, localizada em um bairro entre o centro e outros bairros periféricos;

é mantida pela Rede Oficial de Ensino do Estado de Mato Grosso, através da Secretaria de

Estado de Educação; atende o Ensino Fundamental do 1º ao 9º ano, com total de 445 alunos

matriculados nos períodos matutino e vespertino (Mato Grosso, SEDUC). Nesta escola, o

segmento dos pais e alunos também não participaram de todas as reuniões, eram os segmentos

mais ausentes.

Os sujeitos da pesquisa serão os membros titulares do conselho escolar, ou seja, o

diretor da escola, os pais, os alunos, os professores, os funcionários que formam o CDCE e

participam dos conselhos das escolas selecionadas, que totalizam 28 conselheiros. Desse total

somente 14 conselheiros se disponibilizaram para a entrevista e 20 conselheiros responderam

ao questionário.

A pesquisa de campo ocorreu durante o ano de 2016, se estendendo ao início do ano

de 2017 por conta da greve na rede estadual de ensino, ocorrida no Estado de Mato Grosso

nos meses de maio e junho, retornando as aulas somente em agosto de 2016.

Nas reuniões dos CDCEs, que foram realizadas uma vez por mês, me oportunizaram

as aplicações dos questionários e observação da relação dos pares que formam o colegiado,

quanto à participação nas deliberações tomadas nessas instâncias. Para a aplicação das

entrevistas foram marcados horários diversificados em locais em que os conselheiros se

sentiram mais à vontade para responder às questões.

1.5 TÉCNICAS E INSTRUMENTOS – COLETA DE DADOS

As pretensões deste estudo estão pautadas em instrumentos predominantemente de

abordagem qualitativa. Os quais nos permitirão melhor qualidade para a compreensão dos

dados da realidade sobre os conselhos selecionados para a pesquisa.

O processo do trabalho científico em pesquisa qualitativa passa por três etapas,

conforme Minayo e Deslandes (2013); este trabalho segue algumas fases, por exemplo: a

primeira, que é exploratória, em que se delimita o objeto a ser pesquisado, o cronograma da

pesquisa e se aprofunda a pesquisa teórica; a segunda fase consiste em ir a campo, ou seja, a

parte empírica da pesquisa, em que se utiliza dos instrumentos de coleta de dados

selecionados para se obter os resultados, como questionários, entrevistas, observação do

espaço pesquisado; por fim, a terceira fase da pesquisa consiste na análise dos dados obtidos,

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em que se dará a luz dos referenciais teóricos escolhidos de acordo com os objetivo. As

principais características de abordagem qualitativa, para Minayo e Deslandes, são as

seguintes:

A pesquisa qualitativa responde a questões muito particulares. Ela se ocupa,

nas Ciências Sociais, com um nível de realidade que não pode ou não

deveria ser quantificado. Ou seja, ela trabalha com o universo dos

significados, dos motivos, das aspirações, das crenças, dos valores e das

atitudes. Esse conjunto de fenômenos humanos é entendido aqui como parte

da realidade social, pois o ser humano se distingue não só por agir, mas por

pensar sobre o que faz e por interpretar suas ações dentro e a partir da

realidade vivida e partilhada com seus semelhantes. (MINAYO;

DESLANDES, 2013, p. 21).

A escolha pela abordagem qualitativa se apoia no método exploratório das questões

colocadas com os reais movimentos dos sujeitos que compõem esses colegiados, buscando

identificar, na práxis, a realidade participativa que ocorre nos colegiados dessas escolas

públicas; para tanto, nos apoiamos nesse modelo de pesquisa, tendo como referência Minayo,

seguindo os seguintes passos: “[...] dividimos o processo de trabalho científico em pesquisa

qualitativa em três etapas: (1) fase exploratória; (2) trabalho de campo; (3) análise e

tratamento do material empírico e documental” (MINAYO; DESLANDES, 2013, p. 26).

Na fase exploratória, a partir do estudo dos teóricos, buscamos compreender o

movimento de democratização da gestão educacional, dialogando com autores que apontam a

historicidade da Gestão Democrática no Brasil, a criação dos conselhos escolares e os limites

e possibilidades desse modelo de gestão, face às incongruências das políticas neoliberais. A

partir da segunda fase, que foi a do trabalho de campo, os instrumentos empíricos utilizados,

foram pautados em três técnicas, quais sejam: observação das reuniões dos conselhos

escolares; aplicação de questionários nos conselheiros titulares presentes nas reuniões e

entrevistas semiestruturadas com os conselheiros. Para Minayo e Deslandes (2013), a

entrevista é um diálogo entre o pesquisador e os sujeitos que fazem parte da pesquisa, que tem

por finalidade o levantamento de informações sobre o objeto de pesquisa. A entrevista

semiestruturada, gravada por nós, aconteceu por meio de perguntas fechadas e abertas na

coleta de informações; este é considerado um método em que os sujeitos da pesquisa não

precisam se prender a um modo único de indagação; para compor a entrevista utilizamos de

doze questões que foram fundamentais para o desenvolvimento da pesquisa. Com os dados

obtidos a partir desses instrumentos de pesquisa e o diálogo com os referenciais teóricos em

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que nos pautamos, pôde-se seguir para a terceira fase, que se trata de uma análise do discurso

contido nas entrevistas e questionários e a observação, para interpretação dos dados coletados.

1.6 PROCEDIMENTOS DE ANÁLISE DOS DADOS

As análises dos dados empíricos foram realizadas de forma dialética a partir do

resultado dos questionários, das entrevistas e das observações, e seu diálogo com as teorias

que fundamentam a pesquisa. Tais dados, analisados à luz de teorias do materialismo

histórico-dialético5, foram revelados pelo suporte teórico-metodológico de categorias, como:

contradição, movimento, totalidade, aparência e essência, as quais podem desvelar a realidade

tal como é, por meio de criteriosa observação e investigação.

Cury (1989) define a categoria contradição da seguinte maneira:

A categoria contradição (poder-se-ia denominá-la de lei, dado seu alcance

globalizante) é a base de uma metodologia dialética. Ela é o momento

conceitual explicativo mais amplo, uma vez que reflete o movimento mais

originário do real. A contradição é o próprio motor interno do

desenvolvimento. Conceber uma tal metodologia sem a contradição é

praticamente incidir num modo metafísico de compreender a própria

realidade. A racionalidade do real se acha no movimento contraditório dos

fenômenos pelo qual esses são provisórios e superáveis. A contradição é

sinal de que a teoria que a assume leva em conta que ela é o elemento-chave

das sociedades. [...] A categoria da totalidade justifica-se enquanto o homem

não busca apenas uma compreensão particular do real, mas pretende uma

visão que seja capaz de conectar dialeticamente um processo particular com

outros processos e, enfim, coordená-lo como uma síntese explicativa cada

vez mais ampla. (CURY, 1989, p. 27).

Para Minayo (2006), devemos ser capazes de ir além das falas e dos fatos, e caminhar

na direção do que está explicito para o que é implícito, e do revelado para o velado.

O estudo se pauta nas formulações teóricas do materialismo histórico dialético por

Gramsci (2000), Kosik (1976), Peroni (2008; 2012), Paro (2010, 2016), Wood (2011),

Libaneo et al. (2012) e Semeraro (2001); tais autores norteiam o presente estudo com suas

obras que tratam desde as contradições do sistema capitalista, até as necessárias

transformações culturais que a escola brasileira precisa passar para se tornar efetivamente

democrática.

5 Conforme Pires (1997), o método materialismo histórico dialético foi desenvolvido por Marx; é o método que auxilia na

interpretação da realidade construída historicamente pela sociedade, e o diálogo entre as ideias da sociedade, ou seja, o

movimento do pensamento do que se materializou historicamente da vida dos homens em sociedade.

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1.7 QUESTÕES ÉTICAS

A solicitação da presente pesquisa foi submetida à Plataforma Brasil no dia 11 de

dezembro de 2015 e aprovada no dia 01 de fevereiro de 2016, como seguem, em anexo,

comprovantes de solicitação e autorização para pesquisa de campo, tendo seu parecer

favorável do Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos (CAAE), conforme o número

CAAE 51951115.1.0000.5690.

Para fim desta pesquisa foi preservada a identificação dos sujeitos entrevistados, e seu

direito em participar ou não das entrevistas. Para Minayo e Deslandes (2013, p. 55-56),

“Além da elaboração do texto em si, o projeto da pesquisa que virá a ser realizada também

deve ter a preocupação de não causar malefícios aos sujeitos envolvidos no estudo,

preservando sua autonomia em participar ou não do estudo e garantido seu anonimato”.

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2. DEMOCRACIA E OS PRINCÍPIOS DA GESTÃO DEMOCRÁTICA

Neste capítulo, o objetivo é apresentar breves conceituações sobre democracia e como

ocorre o processo de redemocratização no Brasil a partir dos anos 1980, considerando os

fluxos e refluxos das conquistas sociais, no que tange à democratização do Estado e da

sociedade civil. No Brasil, o regime jurídico atual é o Estado Democrático de Direito; a

Constituição Federal de 1988 traz importantes conquistas a todos os cidadãos brasileiros,

entre elas o direito do exercício da participação social na gestão pública com a instituição dos

Conselhos Gestores. Quanto aos direitos sociais nas questões educacionais, a Constituição

Federação de 1988, no campo da Educação, traz o Art. 206, inciso VI, que garante como um

princípio “a gestão democrática no sistema público de ensino na forma da lei”; o objetivo

seria a partilha de poder nas escolas públicas antes centralizadas somente nas mãos do Estado;

o cidadão, portanto, passou a ter vez e voz na gestão da escola pública, podendo assim

contribuir com a melhoria na qualidade da educação, ao tomar decisões em conjunto nos

colegiados ali instituídos.

O capítulo traz também uma síntese da Gestão Democrática da Escola Pública no

Brasil, sinalizando como se deu o processo de democratização das escolas em um Estado

neoliberal, que desvirtuou as lutas dos movimentos sociais por uma escola que propicie uma

educação de qualidade para todos. A partir do contexto nacional fazemos um panorama da

Gestão Democrática da Escola Pública em Mato Grosso, em que apresentamos os vários

embates da implantação da gestão democrática no Estado.

2.1 DEMOCRACIA: BREVE HISTÓRICO E CONCEITO

A democracia se desenvolveu como experiência política inicialmente na Grécia e

significa o poder do povo ou poder pelo povo, demo = povo e cracia = poder. A partir de

então, o cidadão ateniense passou a tomar decisões políticas com direito ao voto, escolhendo

seu representante, expressando assim suas vontades e legitimando a participação na vida

política, econômica e cultural do país. Porém, a democracia materializada na Grécia antiga

não nos serve como a melhor referência de democracia, considerando os seus limites, pois os

considerados cidadãos, na Atenas democrática, eram somente os proprietários de terras, sendo

essa minoria de proprietários elitizados que decidiam por toda a polis; desta forma, mulheres,

crianças, estrangeiros e trabalhadores sem propriedade não tinham direito ao voto; assim

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ocorreu o início do sistema democrático nas sociedades pré-capitalistas, restringindo o poder

de decisão a poucos. Segundo Wood:

Cidadania ativa seria reservada para os homens proprietários e deveria

excluir não apenas as mulheres, mas também os homens que, conforme

expressou Harrington, não tivessem “com que viver por si só” – ou seja,

aqueles cuja sobrevivência dependesse do trabalho prestado a outros. Essa

concepção de cidadania tinha em seu núcleo uma divisão entre uma elite

proprietária e uma multidão trabalhadora. (WOOD, 2011, p. 179, grifo da

autora).

A autora está mostrando que o termo cidadania foi criado para expressar o ativismo

dos sujeitos de posse, logo, o termo ganha expansão a partir de lutas sociais que visam

conquistar direitos trabalhistas, nas relações capitalistas. Nesse sentido, ao mesmo tempo em

que o Estado permitiu a ampliação da cidadania, dando certa “liberdade” aos camponeses, a

limitou e passou a explorá-los apropriando-se de seus trabalhos, ampliando seus poderes

econômicos e prejudicando a autonomia camponesa. Assim se inicia a democracia ateniense,

como nos revela Wood:

É nessa característica que a democracia ateniense representa uma exceção

única, somente nela se quebrou a barreira entre Estado e aldeia, pois a aldeia

se tornou efetivamente unidade constitutiva do Estado, e os camponeses se

tornaram cidadãos. O cidadão ateniense adquiriu sua condição cívica em

virtude de sua participação no demo, uma unidade geográfica geralmente

baseada nas aldeias existentes. O estabelecimento do demo por Clístenes

como unidade constituinte da pólis representou essencialmente a fundação

da democracia. (WOOD, 2011, p. 181).

Contudo, a democracia tem muitos sentidos; há diferentes concepções acerca do que

se perspectiva para determinada sociedade, no plano do movimento pela democracia, que,

etimologicamente, quer dizer o poder nas mãos do povo. Só como exemplo, podemos dizer

que há duas perspectivas muito distintas, a liberal e a social. Para a liberal a democracia é

apenas formal, preserva-se a propriedade privada; valores, como acumulação, lucro,

individualismo estão presentes nos ideais de sociedade, a socialização acontece apenas em

relação aos meios de produção. Por outro lado, para a perspectiva social, de um projeto

socialista, a democracia tem um pressuposto substancial, não apenas formal; nesse sentido, os

seus fins são de alcançar uma sociedade que sustenta a partilha do poder, de modo a garantir a

igualdade de distribuição dos bens materiais, culturais e econômicos da sociedade.

Para Coutinho:

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[...] a democratização só se realiza plenamente na medida em que a plena

realização da democracia implica a superação da ordem social capitalista, da

apropriação privada não só dos meios de produção, mas também do poder do

Estado, com a consequente construção de uma nova ordem social, de uma

ordem social socialista. De uma ordem onde não haja apenas a socialização

dos meios de produção, mas também a socialização do poder. (COUTINHO,

2002, p. 17).

No Brasil, a democracia representativa, em estágio embrionário, tem sofrido muitos

golpes; dentro de um sistema capitalista, está eivada de problemas, nos quais, além dos de

origem cultural de participação passiva nos assuntos da coisa pública, tem-se um lastimável

histórico de corrupção por parte daqueles que se posicionam como donos absolutos do poder.

É preciso analisar, dentro do que temos, um sistema de produção que mantém a divisão das

classes sociais intactas, como se fosse algo natural, e que a acumulação e a exploração nas

relações do trabalho são sempre identificadas no processo produtivo, nas mais diversas

formas, e algumas até muito perversas.

2.2 O BRASIL E O DILEMA DA DEMOCRACIA

O Brasil passou por grandes percalços para chegar ao Estado Democrático de Direito,

resguardado como ordenamento jurídico para a nação em nossa Constituição de 1988.

Todavia, em nossa história, um dos períodos mais truculentos foi a repressão da Ditadura

Militar, que teve início em 1964, e o auge dessa repressão se deu no Governo do General

Médici, entre 1968 a 1974, quando os movimentos sociais, sindicatos, movimentos estudantis

e a imprensa, ou seja, a população, antes organizada, foi totalmente desmantelada e proibida

de manifestar suas insatisfações, cerceando, desse modo, os direitos de toda a sociedade

brasileira de participar ativamente e de forma autônoma das questões políticas e sociais.

Somente com o esgotamento do Regime Militar, iniciado em 1974, a população

passou a se organizar, possibilitando, mesmo que timidamente, a retomada das manifestações,

reivindicações e lutas da sociedade civil organizada, fortalecendo novamente os movimentos

sociais, o que colaborou para que o processo de redemocratização tomasse força naquele

período, processo que se efetivou, de fato, tão somente em 1985.

O processo de transição foi efetuado pelos militares que ainda estavam no poder.

Como nos mostra Guimarães (2008), a transição da Ditadura Militar para o sistema

democrático no Brasil deveria se dar de forma lenta e gradual, conforme os Militares queriam,

portanto não houve punições às barbáries cometidas pelos militares durante o período em que

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comandaram o país, mas sim, um acordo entre as elites governantes que mantiveram muitos

privilégios a eles na transição do sistema político.

Pode-se dizer que o processo de democratização brasileira acabou

produzindo um acordo intra-elites, favorecendo uma transição sem grandes

rupturas. Em tal processo de transição, considerando-se a democracia do

ponto de vista minimalista (Shumpeter, 1983), no que se refere ao plano

institucional, foi assim reestabelecida. Entretanto, pode-se dizer que para

esse primeiro passo enfrentou-se grandes dificuldades. (GUIMARÃES,

2008, p. 26).

Contudo, a atuação dos movimentos sociais e da população civil organizada contra o

regime autoritário dos militares favoreceu a formação de novos partidos políticos na busca da

redemocratização nacional. O que se sucedeu, conforme Peroni (2003) foi uma transição do

regime militar para o democrático, que manteve no poder administrativo as mesmas pessoas

do regime militar, firmando o pacto clientelista entre a camada dominante.

Esse processo de redemocratização se deu em um momento em que a globalização e o

neoliberalismo atuavam fortemente nos países periféricos como o Brasil, que não possui ainda

um desenvolvimento econômico e político suficientes para ser considerado um país

desenvolvido, tendo como princípio um estado que seja mínimo para políticas sociais e

máximo para o mercado. Segundo Libâneo (2013), esse modelo mantém a lógica do mercado

autorregulador, uma economia em que a sociedade é regida pelas leis reguladas pelo mercado,

que mantém a liberdade comercial sem intervenção do estado, fortalecendo o sistema

capitalista.

Em pleno contexto da globalização mundial, que se concretizou de fato o processo de

redemocratização no Brasil; em meio a tantas contradições no plano econômico e social, a

sociedade brasileira, ávida de liberdade e para se ver livre da opressão que sofrera com o

regime militar, apresenta unidade para a redemocratização. Os movimentos organizados e a

força exercida pela população na luta pelas Diretas Já possibilitaram a primeira eleição

presidencial após a ditadura militar, em 1985, quando foi eleito ainda pelo voto indireto, o

presidente Tancredo Neves, que faleceu antes da posse, dando lugar ao vice-presidente José

Sarnei. Somente em 1989 foi eleito o primeiro presidente pelo voto direto, Fernando Collor de

Mello, na época filiado ao Partido da Reconstrução Nacional (PRN).

A Nova República, que teve início em 1985, ao findar do Regime Militar, acenou

como um novo tempo, em que a redemocratização da sociedade brasileira estaria trazendo

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novos rumos, porém, não durou muito o período em que a sociedade teve conquistas sociais

importantes, uma delas, a gestão democrática no sistema público de ensino.

Nesse sentido, vale sinalizar que as mudanças que ocorreram a partir dos anos de

1990, pouco a pouco, desvirtuaram o modelo de gestão educacional democrática. O tripé da

gestão democrática se pautou em eleições para diretores, constituição de conselhos escolares e

autonomização financeira das escolas, porém, a materialização desses mecanismos foi

diferente nos estados brasileiros. O estado de São Paulo, por exemplo, adotou o princípio da

gestão democrática, mas não implementou as eleições para diretores de escola.

É muito importante sinalizar que, para responder a tais questões, faz-se necessário,

antes, entender que a adesão ao modelo neoliberal de Estado no Brasil, sobretudo em 1995,

quando o presidente Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) assume o poder, e compreender

as contradições da gestão democrática quando de seu movimento originário, dos idos de 1980,

e seu desvirtuamento nos anos de 1990; mais precisamente, com o início do mandato de FHC,

constitui-se num conjunto de mudanças diretamente colocadas no ordenamento jurídico que

estruturou esse Estado nessa época.

Já no final de seu mandato, FHC aprovou o novo PNE, desconfigurando grandes

conquistas sociais no plano da educação. Conforme Oliveira (2011),

A aprovação do PNE (2001-2010) ocorreu em processo turbulento de

tramitação e com idas e vindas e muitos embates entre governo e setores

organizados em defesa da educação. Ao final, o texto aprovado resultou em

atrasos em relação a conquistas importantes já inscritas na educação

brasileira e foi bastante criticado como limitado pelos setores organizados da

sociedade em defesa da educação pública, tendo recebido muitos vetos pelo

então presidente FHC, que acabaram por comprometer suas metas e

objetivos. (OLIVEIRA, 2011, p. 330).

Por assim dizer, há que se pensar que a lógica da gestão democrática, dentro desse

novo escopo das políticas públicas, teria perdido seu matiz ideológico progressista, momento

em que a democracia possível e se possível seria apenas a democracia formal e, ainda assim,

por muitas vezes a ser engolida pela lógica privatista desse modelo neoliberal. Peroni afirma

que:

[...] na correlação de forças internacionais, os países periféricos, de alguma

forma, pagam a conta da crise do capital, assim como, no interior desses

países, quem paga a conta são as classes subalternas, pois as políticas de

ajuste retiram da classe trabalhadora as mínimas conquistas sociais através

do argumento de que “estamos em crise”. (PERONI, 2003, p. 51, grifo do

autor).

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Ou seja, o contraditório das sociedades capitalistas, no caso do Brasil, por exemplo,

reside no fato de que, mesmo tendo direitos sociais, como saúde, educação e segurança,

amparados na Constituição Federal, percebe-se que são negados tais direitos quando as

instituições estatais são omissas e descompromissadas quanto à natureza desses serviços

ofertados à população, sobretudo às classes sociais economicamente carentes.

Paro (2010) afirma que, com o poder nas mãos da elite, como se efetiva em uma

sociedade dividida em classes sociais, a administração pública não favorecerá a classe

trabalhadora, mantendo o poder e os privilégios para poucos.

Portanto, um Estado realmente democrático e justo, em que a participação popular nas

decisões fundamentais da política se volta para o atendimento das demandas da população, e

que implementa políticas efetivas que possam melhorar as condições objetivas de vida da

população, historicamente não se comprova isso no Brasil. Oliveira (2009) afirma que:

[...] as reformas realizadas no Brasil durante o governo de FHC, que teve no

decorrer de seus dois mandatos um só ministro da Educação, Paulo Renato

de Souza, determinaram novas formas de financiamento, gestão e avaliação

da educação básica, conformando uma nova regulação assentada na

descentralização e maior flexibilidade e autonomia local, acompanhando

tendência verificada em âmbito internacional. Essas mudanças foram

determinantes de novas relações entre as diferentes esferas administrativas

na matéria educacional, especialmente nas relações entre União e

municípios. Muitos elementos trazidos por essas reformas foram duramente

criticados pelos movimentos sociais que estiveram na base eleitoral do

presidente Lula. Entretanto, o mais importante a destacar é que essas

reformas alteraram a orientação da gestão das políticas públicas sociais no

Brasil, e não só no plano da educação. (OLIVEIRA, 2009, p. 202).

Nesse sentido, as reformas feitas por FHC passaram a responsabilizar os Estados e

municípios pelo financiamento da educação básica, restando à União apenas uma

complementação, caso os municípios não alcançarem o valor necessário por aluno. O

Governo FHC estabeleceu uma nova política de financiamento da educação básica. A Emenda

Constitucional nº 14/1996 criou o Fundo de Manutenção de Desenvolvimento do Ensino

Fundamental e Valorização do Magistério (FUNDEF), Lei 9.424/1996, e com ele a exigência

de complementação da União aos municípios com insuficiência de arrecadação para os gastos

elementares com os serviços educacionais públicos. A escola brasileira, de princípio e

concepção burgueses, se revela em meio a um simulacro que reproduz as relações capitalistas

e delas as desigualdades criadas por blocos no poder que, ideologicamente, têm tido forte

influência até mesmo nas concepções de pessoas escolarizadas e que têm mais informações,

mas acabam se deixando levar pelas mazelas do sistema capitalista, porque se trata de um

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sistema extremamente sedutor, no plano das aquisições, da acumulação e da cultura do

individualismo exacerbado. Estamos atuando conforme o sistema globalizado que o capital

impõe, atendendo ao mercado e não às necessidades de toda uma população; conforme Lima:

Uma nova configuração é estabelecida para os serviços públicos, a partir da

qual o Brasil e países da América Latina passam a seguir as orientações dos

organismos internacionais multilaterais, adequando-se a uma política

fundamentada nas reformas estruturais, necessárias para um, então, novo

modelo de Estado. (LIMA, 2011, p. 24-25).

O modelo de democracia, que ora se implementa no Brasil, mantém a ideologia

capitalista, a qual apresenta os elementos da pseudoconcreticidade formulados por Kosik

(1976); segundo o autor, o mundo contemporâneo é o lugar onde acontece um claro-escuro de

verdade engano; com isso, Kosik quer nos dizer que a essência se manifesta e ao mesmo

tempo se esconde (KOSIK, 1976). Nesse sentido, há um simulacro no qual a mídia

contemporânea participa de forma intensa para formar, nas consciências das massas, uma

crença nos valores da acumulação e do consumo, como sendo concepções e práticas capazes

de trazer a felicidade às pessoas. Os valores da democracia como forma de vida respeitosa aos

direitos sociais e à solidariedade humana, numa perspectiva efetivamente igualitária, no

capitalismo ficam escondidos, pois aparecem apenas no discurso. Ficam também escondidas

projeções de lucro sobre as relações de trabalho, o que mascara as intenções das práticas da

democracia formal, que configuram um jogo constante de verdade e engano sobre o acesso

aos bens produzidos, que se manifesta de forma injusta e desigual, em relação às classes

sociais, excluindo do usufruto real desses bens aquele que, de fato, participa mais

intensamente da produção, o trabalhador6.

No Governo de Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010), do Partido dos Trabalhadores

(PT), houve alguns avanços nas políticas educacionais inclusivas que beneficiaram aos

segmentos mais pobres da população brasileira. Conforme Cury (2005):

As políticas inclusivas, assim, podem ser entendidas como estratégias

voltadas para a universalização de direitos civis, políticos e sociais. Elas

buscam, pela presença interventora do Estado, aproximar os valores formais

proclamados no ordenamento jurídico dos valores reais existentes em

situações de desigualdade. Elas se voltam para individuo e para todos,

6 Bem como nos ensina a música “Cidadão”, de Lúcio Barbosa (1979): Ta vendo aquele colégio, moço? Eu

também trabalhei lá, Lá eu quase me arrebento, Fiz a massa, pus cimento, Ajudei a rebocar. Minha filha

inocente, Vem pra mim toda contente, “Pai, vou me matricular”. Mas me diz um cidadão, “Criança de pé no

chão, Aqui não pode estudar”. Essa música expressa claramente o movimento das classes sociais, o trabalhador e

a exploração de sua mão de obra, sem que esse possa usufruir das benfeitorias que produz no mundo capitalista.

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sustentadas pelo Estado, pelo principio da igualdade de oportunidades e pela

igualdade de todos ante a lei. Assim, essas políticas públicas não são

destinadas a grupos específicos enquanto tais por causa de suas raízes

culturais, étnicas ou religiosas. Isso não impede a iniciativa de medidas

gerais que, na prática, acabam por atingir numericamente mais indivíduos

provindos das classes populares. E elas têm como meta combater todas e

quaisquer formas de discriminação que impeçam o acesso a maior igualdade

de oportunidades e de condições. Desse modo, as políticas públicas

includentes corrigem as fragilidades de uma universalidade focalizada em

todo e cada indivíduo e que, em uma sociedade de classes, apresenta graus

consideráveis de desigualdade. Nesse sentido, as políticas inclusivas

trabalham com os conceitos de igualdade e de universalização, tendo em

vista a redução da desigualdade social. (CURY, 2005, p. 15).

Para as classes populares, muitos programas educacionais efetivados no governo Lula

(PT), entre eles, as cotas das Universidades públicas, o PROUNI, a bolsa família,

contribuíram para o acesso, permanência e conclusão de grande parcela da população carente

na educação, porém, esses programas não foram e não são suficientes para superar os

problemas de exclusão social que existem no Brasil, muito ainda há o que ser feito para se

superar as desigualdades.

Oliveira (2009) avalia ainda que, no governo do Partido dos Trabalhadores (PT) do

presidente Lula, com dois mandatos seguidos, muitos avanços nas políticas educacionais

podem ser destacados; pode-se observar, nesse período, a implantação do Plano de Metas

Compromisso Todos pela Educação, implantado pelo Decreto nº 6.094, de 24 de abril de

2007, com o Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE), projeto que apresenta muitos

programas e visa melhorar a qualidade da educação pública no país. A partir do decreto que

ficou chamado por “Compromisso Todos pela Educação” na Educação Básica e Superior,

muitas ações foram estruturadas. Nesse decreto foram instituídas ações que deveriam

acontecer com a colaboração entre a União, estados e municípios. O PDE criou metas de

desenvolvimento e propôs programas de avaliação para acompanhar as políticas

implementadas. Abreu destaca que:

Para a verificação do cumprimento das metas fixadas, foi criado o Índice de

Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), indicador objetivo

combinando o desempenho escolar dos alunos com o fluxo das aprovações.

Essa combinação levava em consideração os mecanismos de avaliação já

existentes, o censo educacional e os exames nacionais Prova Brasil e Exame

Nacional do Ensino Médio (Enem). Os sistemas de ensino , portanto,

deveriam preocupar-se com a qualidade do aprendizado dos alunos e com

seu progresso nas séries do ensino regular. A criação de um indicador

nacional era necessária para que se construísse um sistema de não somente

da política federal de educação, mas de todos os entes federativos, tornando

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possível a todos os cidadãos acompanhar o desempenho da educação de sua

cidade e até mesmo da escola em que seus filhos estão estudando. (ABREU,

2010, p. 137).

No Governo Lula, há que ser considerado o aspecto de fortalecimento do setor

público, sobretudo em relação ao financiamento de projetos nas áreas sociais. Porém, muitas

contradições podem ser destacadas no campo da educação. Oliveira (2011) destaca o objetivo

do Governo Lula em relação ao IDEB e ao Plano de Ações Articuladas - PAR.

O MEC buscou instaurar um regime de colaboração que propiciasse a

repartição de competências e responsabilidades e fizesse subir os indicadores

educacionais, sobretudo no que se refere a educação básica. Essa iniciativa

pode ser percebida como a busca de uma orientação comum que propiciasse

a integração da educação nacional, apesar dos aberrantes desequilíbrios

regionais que conhecemos. E, ao mesmo tempo, uma busca de resgatar o

protagonismo exercido pelo governo federal em épocas passadas, apesar das

contradições que revelam possibilidades e limites entre o nacional e o

federal. Por meio do Programa de Ações Articuladas (PAR), o governo

federal buscou, por meio do Ministério da Educação, a adesão dos

municípios a uma política orientada pela elevação dos índices de

desempenho dos alunos da educação básica no Brasil, cuja referencia

utilizada foi o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB).

Criado em 2007, o IDEB passou a ser a principal referencia do governo para

aferir a qualidade na educação. O IDEB mede o desempenho do sistema,

estabelecendo uma escala que vai de zero a dez. O índice, inspirado no

PISA, foi elaborado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas

Educacionais Anísio Teixeira (INEP/MEC). A fixação da média seis a ser

alcançada em 2022 considerou o resultado obtido pelos países da

Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE),

quando aplicada a metodologia do IDEB em seus resultados educacionais.

Seis foi a nota obtida pelos países desenvolvidos que ficaram entre os 20

melhores colocados do mundo. (OLIVEIRA, 2011, p. 328).

Essa iniciativa do Governo Federal descentralizou os recursos para educação,

obrigando municípios a financiarem a Educação Infantil e Educação Básica e os Estados a

financiarem o Ensino Médio, restando à União somente uma complementação financeira

quando necessário. Ao mesmo tempo em que o MEC protagoniza e define a educação básica,

ele se desobriga do financiamento à educação e ainda exige metas de desempenho e qualidade

na educação, medidas pelo Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB).

Abreu (2010) destaca que as ações do Governo Lula para a Educação Superior foram

impactantes para o setor público e privado. Segundo a autora, o Programa de Apoio a Planos

de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (REUNI) ampliou

consideravelmente a oferta de vagas para esse nível da educação, implementou medidas

democratizantes em suas instituições. Novas Universidades foram criadas e, no setor privado,

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o Governo desenvolveu políticas que muito beneficiaram as redes particulares de educação

superior, como o Programa Universidade (PROUNI)7 e o FIES.

O primeiro mandato de Dilma Rousseff (2011-2014), também do Partido dos

Trabalhadores (PT), deu continuidade aos programas iniciados no governo Lula, dando ênfase

à erradicação do analfabetismo e à qualidade da educação para todos.

Já em seu segundo mandato, que fora interrompido por um impeachment no dia 02 de

dezembro de 2015, Dilma Rousseff (2014-2018) aprovou, em 25 de junho de 2014, o novo

PNE, Lei nº 13.005, para o período de 2014-2024. O Plano estabelece 20 metas que devem

ser cumpridas em conjunto com municípios, Estados e União, que devem assegurar a

manutenção e o desenvolvimento do ensino nesses dez anos, visando universalizar o acesso à

educação com qualidade em todos os níveis, para erradicar o analfabetismo, enfrentando as

desigualdades sociais.

O Art. 2º do PNE estabelece as seguintes diretrizes:

I – erradicação do analfabetismo;

II – universalização do atendimento escolar;

III – superação das desigualdades educacionais, com ênfase na promoção da

cidadania e na erradicação de todas as formas de discriminação;

VI – melhoria da qualidade da educação;

V – formação para o trabalho e para a cidadania, com ênfase nos valores

morais e éticos em que se fundamenta a sociedade;

VI – promoção do principio da gestão democrática da educação pública;

VII – promoção humanística, cientifica, cultural e tecnológica do país;

VIII – estabelecimento de meta de aplicação de recursos públicos em

educação como proporção do Produto Interno Bruto (PIB), que assegure

atendimento às necessidades de expansão, com padrão de qualidade e

equidade;

IX – valorização dos(as) profissionais da educação;

X – promoção dos princípios do respeito aos direitos humanos, à diversidade

e à sustentabilidade socioambiental. (BRASIL, 2014).

No entanto, a elaboração desse PNE favorece o avanço de setores privatistas que

foram muito beneficiados com as mudanças na elaboração do projeto final que desconstruiu

os ideais progressistas para a educação pública.

Com seu governo e partido enfraquecidos por diversos escândalos políticos e um forte

movimento considerado como golpista pelos intelectuais de esquerda, e também sem apoio na

Câmara dos Deputados e dos Senadores, Dilma Roussef (PT), sofreu impeachment em 31 de

7 O principal programa destinado ao acesso da população carente é o Programa Universidade para Todos

(PROUNI), criado em 2004, pela Lei nº 11.096/2005, tendo por finalidade a concessão de bolsas de estudos

integrais e parciais a estudantes de cursos de graduação e cursos sequenciais, em instituições privadas da

educação superior, cuja adesão implica na isenção de tributos. Disponível em: <prouniportal.mec.gov.br>.

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agosto de 2016 e, desse modo, não foi capaz de cumprir com as promessas de campanha. É

possível, no entanto, averiguar que os programas elaborados pelo PT não conseguiram

transformar a realidade econômica, social e educacional brasileira, pois temos ainda a

precarização do ensino público, a falta de vagas e oportunidades para grande parcela da

população.

A gestão democrática da escola pública é um assunto que está nas pautas da mídia

brasileira; estudantes de todo o país se mobilizaram contra a privatização da gestão escolar;

em Mato Grosso muitas escolas aderiram ao movimento, na tentativa de barrar o projeto do

governo federal; há uma forte pressão política a favor da terceirização da gestão das escolas

públicas em andamento no congresso nacional.

Temos um Estado gerencialista a serviço da classe mais favorecida no plano

econômico, que pode ser assim chamado de Estado neoliberal que faz uma articulação

jurídico-formal, declaradamente a favor das elites econômicas; em outras palavras, tem sido

um Estado mínimo para as políticas sociais e máximo para o capital. Para Lima:

Há de se considerar que as políticas em pauta voltam-se para o desmonte do

setor público e o desmantelamento do papel que, historicamente, o Estado

constituiu: se não contemplar a constituição de uma sociedade mais justa e

igualitária, ao menos responder com algumas obrigações de cunho social.

(LIMA, 2011, p. 26).

Com essa característica do Estado, moldando uma gestão pública de perfil

gerencialista, com forças populares e organizadas, antes quase fortalecidas, se pensarmos os

avanços da década de 1980, com a redemocratização dos anos de 1990, os movimentos

sociais e populares enfraqueceram e ficaram submetidos à hegemonia do sistema capitalista,

aos moldes neoliberais, sucumbindo ao poder dominador do capital. O Estado, atuando como

gestor, em seus múltiplos ajustes vem sempre a favorecer o mercado. Conforme Gohn:

O Estado deixa de ter o papel de formulador de políticas e projetos e passa a

ser o implementador de acordos, internacionais ou de grupo de interesses.

Segue-se a lógica da globalização de desconstruir esferas públicas e misturar

ações do Estado com ações privadas onde o Estado atua claramente ao lado

do capital, do mercado, sem compromisso com o território – local da

memória, da língua, da cultura, da religião etc. Os direitos dos cidadãos só

são lembrados nos discursos; na ação concreta, a política de interesses de

grupos particulares prevalece não há política de direitos porque essa teria de

visar a universalidade. (GOHN, 2005, p. 12).

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Os avanços “democráticos” se tornaram um desafio imposto aos cidadãos brasileiros,

já que há diversos interesses inseridos nesse modelo participativo estimulado pelo Estado que,

historicamente, centralizou as decisões, e não seria por mágica que haveria de flexibilizá-las

tão prontamente, para que a sociedade civil de fato tome decisões nas questões públicas.

Portanto, há um processo participativo com o modelo instrumental inserido por um Estado de

perspectiva neoliberal (que assume de forma declarada, em suas políticas, um Estado máximo

para o Mercado e mínimo para o Social), que chega configurando mecanismos que fortalecem

o setor privado. Na perspectiva gerencialista, o movimento da participação tem outra rotina;

segundo Peroni:

Hoje, quando a sociedade civil é chamada a participar é no sentido de

executar as políticas, lutar por direitos, pela transparência, de participação

por meio dos conselhos, de ajudar a definir as políticas públicas, de ter

controle sobre o gasto público, enfim, todos aqueles movimentos de

democratização do Estado, neste momento histórico. Há, assim, uma

reconfiguração dessa relação Estado/sociedade civil e um esvaziamento do

conteúdo da democracia, já que a separação entre o econômico e o político é

evidente, e perdem-se do horizonte as políticas sociais como a

materialização de direitos sociais. (PERONI, 2008, p. 114).

Portanto, o desafio presente se constituiu na necessidade de transformação cultural,

considerando que é preciso valorizar os avanços conquistados na CF/1988 e, a partir deles,

tomar parte e fazer parte da jovem democracia brasileira, que objetiva a igualdade de direitos

e deveres; somente através da participação efetiva, reivindicando as mudanças necessárias

para se atingir as transformações tão necessárias aos cidadãos brasileiros, iremos superar esse

modelo autoritário, contraditório e centralizador do Estado.

2.3 A GESTÃO DEMOCRÁTICA DA ESCOLA PÚBLICA: BRASIL

A Constituição Federal de 1988, em seu Artigo 206, inciso VI, garante a todos os

cidadãos a “gestão democrática do ensino público, na forma da lei”. Esse princípio também é

exaltado e garantido pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, a LDBEN (Lei nº

9.394/1996), em seu artigo 3º, inciso VII, assegurando a “gestão democrática do ensino

público, na forma desta Lei e da legislação dos sistemas de ensino”. São três os pilares da

Gestão Democrática, garantidos em Lei, sendo eles: a eleição para diretores, a autonomia

financeira e a constituição dos Conselhos Deliberativos da Comunidade Escolar (CDCEs).

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Segundo Libâneo (2013), o objetivo fim da gestão escolar é promover a formação

humana, já que é um local que reúne pessoas que, interagindo entre si, buscam alcançar

objetivos sociais, ou seja, uma educação de qualidade para todos; portanto, a gestão escolar

deve mobilizar os meios para se atingir tal fim. A gestão escolar deve ser participativa e

socializada entre todos os agentes formadores que atuam na escola, pois a participação na

gestão escolar é um direito de todos os cidadãos que estão ali representando o interesse dos

segmentos que representam, e todos com único ideal, uma educação de qualidade. Para

Libâneo:

Na concepção sociocrítica, a organização escolar é concebida como um

sistema que agrega pessoas, considerando o caráter intencional de suas ações

e as interações sociais que estabelecem entre si e com o contexto

sociopolítico, nas formas democráticas de tomada de decisões. A

organização escolar não é algo objetivo, elemento neutro a ser observado,

mas construção social levada a efeito por professores, alunos, pais e até por

integrantes da comunidade próxima. O processo de tomada de decisões dá-se

coletivamente, possibilitando aos membros do grupo discutir e deliberar, em

uma relação de colaboração. (LIBÂNEO, 2013, p. 445).

Santos Filho (1992) evidencia que as lutas dos movimentos sociais organizados, a

partir dos anos 70, por uma escola pública de qualidade e por acesso à educação, juntamente

com o processo de redemocratização no país, deram início à implementação da gestão

democrática educacional em alguns estados do Brasil; o modelo implementado em Santa

Catarina, por exemplo, possibilitou a eleição para diretores e a implantação dos Conselhos

Escolares Deliberativos, proporcionando a abertura ao modelo de gestão democrática das

escolas públicas que temos hoje. Além disso, segundo o autor:

Ao lado do movimento pela democratização do acesso à educação pública,

surgiu o movimento pela democratização institucional, ou seja, a

democratização da gestão das instituições da sociedade. É nesse contexto

que a área de educação assiste a introdução de experiências democráticas de

planejamento da educação e de gestão da escola pública, em diversos lugares

do País. (SANTOS FILHO, 1992, p. 5).

Porém, democratização da gestão educacional em situações contraditórias tem sido um

exemplo de que há uma cultura de participação, em nossa sociedade, que apresenta limites

para que o sistema público de ensino alcance qualidade referenciada. Dessa forma, os

mecanismos que deveriam de fato democratizar, não o fazem, em função de processos

participativos que ocorrem em nível superficial.

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Paro salienta que

[...] se a participação depende de alguém que dá abertura ou que permite sua

manifestação, então a prática em que tem lugar essa participação não pode

ser considerada democrática, pois democracia não se concede, se realiza: não

pode existir “ditador democrático”. Se a democratização das relações na

escola pública ficar na dependência deste ou daquele diretor magnânimo,

que “concede” democracia, poucas esperanças podemos ter de contar, um

dia, com um sistema de ensino democrático [...]. (PARO, 2000, p. 19, grifos

do autor).

Reforçando esse processo de democratização escolar dificultoso, a partir dos anos de

1990, em meados da década, quando o presidente Fernando Henrique Cardoso – PSDB

(1995-2003) assumiu o comando do governo federal, o modelo neoliberal de Estado foi

materializado, sobretudo, com profundas mudanças no ordenamento jurídico brasileiro; nesse

contexto, as conquistas da década de 1980, inclusive dos processos de democratização do

Estado e da sociedade civil, foram dificultados por uma lógica declarada de fortalecimento do

setor privado em detrimento do público.

O sistema neoliberal impôs outra realidade para a escola pública, há um

descompromisso do Estado com as despesas das instituições educacionais, e tal fator

desvaloriza os serviços nelas ofertados. Segundo Lima (2011, p. 26),

Há de se considerar que as políticas em pauta voltam-se para o desmonte do

setor público e o desmantelamento do papel que, historicamente, o estado

constitui: se não contemplar a constituição de uma sociedade mais justa e

igualitária, ao menos responder com algumas obrigações de cunho social.

Nesse sentido, aqueles setores pelos quais o Estado deveria responsabilizar-

se, garantindo o acesso da população a determinados bens e serviços, passam

a ser direcionados para a privatização e para o terceiro setor.

A escola é um espaço cheio de possibilidades de mudança efetiva, de transformação,

de emancipação social, que devem ser postas para a sociedade; são direitos garantidos na

Constituição Federal, porém, sabemos que existem enfrentamentos a serem superados para se

romper com as ideologias do mercado impostas pela classe dominante e conquistar a

emancipação social tão necessária para a classe trabalhadora e para o desenvolvimento

educacional no país. Conforme Paro (2000, p. 17),

[...] A escola estatal só será verdadeiramente pública no momento em que a

população escolarizável tiver acesso geral e indiferenciado a uma boa

educação escolar. E isso só se garante pelo controle democrático da escola,

já que, por todas as evidencias, conclui-se que o Estado não se tem

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interessado pela universalização de um ensino de boa qualidade. Há, pois, a

necessidade permanente de se exercer pressão sobre o Estado, para que ele

se disponha a cumprir esse dever. É neste contexto que ganha maior

importância a participação da comunidade na escola, no sentido,

anteriormente mencionado, de partilha do poder por parte daqueles que se

supõe serem os mais diretamente interessados na qualidade do ensino.

Na CF/1988 temos ainda o artigo 205 que garante: “A educação, direito de todos e

dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade,

visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua

qualificação para o trabalho”. Esse artigo garante ao cidadão o direito do exercício da

cidadania a partir da participação social nos âmbitos escolares, porém, o quadro que se

instaurou foi de políticas educacionais que enfraquecem esse movimento democrático,

desqualificando esse processo participativo, ao evidenciar pouco investimento público para o

setor, o que resulta num processo contínuo de desqualificação desses serviços. Libâneo

evidencia que:

[...] O controle do Estado pela sociedade civil organizada torna-se

fundamental para o estabelecimento de um projeto nacional de

desenvolvimento econômico e social autônomo e solidário. É preciso definir

claramente o papel do Estado e recuperar seu poder de ação em áreas que

interessem a toda a sociedade, de modo que não permaneçam à mercê dos

organismos financeiros internacionais e das entidades supranacionais.

(LIBÂNEO, 2013, p. 130).

As reformas feitas pelo Estado neoliberal na área educacional, a partir de 1995, no

governo de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), através da criação do MARE

(Ministério de Administração Federal e Reforma do Estado), limitaram suas

responsabilidades, desconcentrando as políticas públicas e o financiamento, transferindo essas

responsabilidades para os Estados e municípios; ao mesmo tempo, a União manteve a

centralização do controle e avaliação. A intenção dessa reforma, na verdade, foi desmantelar a

educação pública, além de desconstruir a participação social; desse modo, o Estado, num

modelo gerencial, mantém a centralização de tomadas de decisões e o controle, contradizendo

assim as leis garantidas na CF/1988.

A Lei de Diretrizes e Base da Educação - LDBEN (Lei nº 9.394/1996), aprovada no

governo de FHC, passou por várias emendas, decretos que a modificaram e que, por fim,

vieram a favorecer e reforçar o financiamento ao setor privado, mantendo e assegurando o que

o governo de FHC já vinha fazendo; na verdade, o que ocorreu foi uma reforma neoliberal

que atende as demandas desse setor da economia. O FNDEP (Fórum Nacional em Defesa da

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Escola Pública)8 avaliou a então nova LDBEN, Lei nº 9.394/96, como a “vitória de uma

determinada concepção de Estado e de sociedade que pode ser denominada de neoliberal”.

Julgando antidemocrático o projeto aprovado pelo governo federal, que atendia a classe

privatista.

Desse modo, a Gestão Democrática da escola pública sofre duras influências

internacionais, determinações feitas pelo Banco Mundial para a descentralização da política

educacional no Brasil; com o eixo autonomia na escola, na realidade, mascara a estratégia

para reduzir a ação do Estado com a descentralização do processo de tomada de decisões e da

gestão, tornando a comunidade escolar responsável por administrar as poucas verbas que

chegam do Estado e do município através do PDDE (Programa Dinheiro Direto na Escola),

que são insuficientes, e com isso é preciso complementá-las com ajuda da comunidade e do

setor privado; posteriormente, há a prestação de contas de todos os recursos que chegaram e

foram arrecadados na sociedade e onde foram investidos, assumindo-se a lógica do modelo

neoliberal.

Segundo Lima (2011, p. 29), “[...] a democratização aparece como um meio de

instrumentalizar o acesso ao poder, às informações, à socialização das tomadas de decisões”.

Na realidade, um Estado orientado pelo neoliberalismo, como o nosso, que está para atender

minimamente as políticas sociais, desconstrói o público em favor do setor privado.As

reformas, feitas a partir do regime democrático de 1985, não mudaram totalmente a

configuração política que tínhamos antes, mantendo as diferenças sociais, ou seja, um Estado

a serviço de poucos, resultando em reais desigualdades econômicas e sociais. Conforme

Gramsci:

O fato da hegemonia pressupõe indubitavelmente que sejam levados em

conta os interesses e as tendências dos grupos sobre os quais a hegemonia

será exercida, que se forme um certo equilíbrio de compromisso, isto é, que

o grupo dirigente faça sacrifícios de ordem econômico-corporativa, mas

também é indubitável que tais sacrifícios e tal compromisso não podem

envolver o essencial, dado que a hegemonia é ético-política, não pode deixar

de ser também econômica, não pode deixar de ter seu fundamento na função

decisiva que o grupo dirigente exerce no núcleo decisivo da atividade

econômica. (GRAMSCI, 2000, p. 48).

8 FNDEP - Fórum criado em 1986 para contribuir com a Constituinte, propondo debates sobre a educação no

país. Um de seus objetivos foi de resgatar a tradição dos pioneiros da educação da década de 30 na luta em

defesa da Escola Pública e Gratuita, reivindicando um projeto para toda educação pública e lutando pelos

interesses da sociedade civil conjuntamente (GOHN, 2010).

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Portanto, o processo de mudança que temos é lento, burocrático e centralizado em um

Estado a serviço do capitalismo, porém, a oportunidade de participação, tão arduamente

conquistada, passa a ser realidade através da instituição da Gestão Democrática,

possibilitando aos cidadãos tomar decisões. É através da efetiva participação popular nesses

espaços que se iniciam as mudanças tão necessárias para uma escola de qualidade, universal e

democrática, que ofereça um progresso igualitário e justo para todos os cidadãos brasileiros,

por essa razão devemos superar os limites que nos são impostos e tomar parte, pois o poder é

do povo.

Apesar de tantas legislações que favorecem a participação da sociedade brasileira na

Gestão Democrática Escolar, temos e vivemos ainda, no Brasil, um limite institucionalizado

que causa um descaso na sociedade civil em relação à participação efetiva nesses espaços.

Somente por meio do desenvolvimento de uma consciência histórica da realidade e de uma

ação política voltada a elevar a condição “intelectual e moral” das massas poderíamos chegar

a uma sociedade realmente “civil”, capaz de “humanizar-se plenamente e autogovernar-se”

(SEMERARO, 1999, p. 3).

Esse modelo instrumental do Estado centralizador se mantém até os dias atuais,

dificultando o real processo democrático nas escolas públicas do país. Conforme Santos Filho

(1992), se o princípio da gestão democrática não se efetivar o processo de descentralização na

educação não se concretizará, mantendo assim o autoritarismo centralizador nas direções das

escolas públicas.

2.4 GESTÃO DEMOCRÁTICA DA ESCOLA PÚBLICA EM MATO GROSSO

Em Mato Grosso a Gestão Democrática foi articulada politicamente por meio de um

movimento do sindicato dos professores da rede pública, antes mesmo de ser promulgada a

Constituição Federal de 1988. No Governo Carlos Bezerra - PMDB (1987 - 1990), a gestão

democrática foi instituída legalmente. Todavia, movimentos contrários derrubaram a

conquista. O processo foi muito tenso e marcou um protagonismo muito interessante, porém

as disputas entre alas progressistas e conservadoras tiveram desdobramentos que

interromperam o modelo democrático de gestão. Segundo Silva e Torres:

Vencida em sua árdua luta, a ala progressista de profissionais da educação

assistiu atônita a derrubada da gestão democrática, quando a expedição de

uma liminar, em 6 de dezembro de 1991, fez a Lei 5.604/1990 perder seu

fundamento, em processo desencadeado pelo Governo do PMDB. Isso

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aconteceu no período em que o Vice-governador do Estado assumiu a

Gestão, após o afastamento do Governador Carlos Bezerra. Através da

Petição 518-0, fora requerida a suspensão da Gestão Democrática, acionada

pela Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADIN) nº 282-1-MT, ficando as

instituições de ensino impedidas de realizar eleição direta para diretores

durante quatro anos. (SILVA; TORRES, 2008, p. 35).

A normatização do CDCE (Conselho Deliberativo da Comunidade Escolar) contribui

para que todos os segmentos da comunidade escolar auxiliem na administração da escola,

tendo a comunidade escolar como parceira, exercendo as funções deliberativas e consultivas,

descentralizando os recursos e decisões, antes tomadas somente pelo dirigente. Tal prática de

gestão visa a autonomia da escola e a melhoria na qualidade da educação pública. O CDCE

hoje se configura como uma importante conquista de setores progressistas da sociedade civil,

como o Fórum Nacional em Defesa da Escola Pública (FNDEP), que defendem que a escola

pública tem que ter qualidade socialmente referenciada.

Em Mato Grosso houve um protagonismo forte pela Gestão Democrática. Conforme

Abich,

Mato Grosso se destaca com certo pioneirismo no cenário nacional, com

uma proposta de gestão democrática para a rede estadual de ensino,

originada nas reivindicações do segmento de professores da educação básica,

retirada como proposta no Congresso da Associação Mato-grossense de

Professores (AMP), em 1986, e apresentada aos candidatos a governador,

nas eleições daquele ano. A implantação da gestão democrática na capital

do Estado, entre 1986/1988, na gestão de Dante Martins de Oliveira, também

faz parte das lutas sindicais e das iniciativas governamentais para construção

de um novo modelo de gestão. A essência democrática da proposta se

encontrava no processo de eleição para diretores e na criação de órgãos

colegiados. (ABICH, 2008, p. 26-27).

Importa compreender sobre o movimento de implantação e implementação da Gestão

Democrática, seja em nível nacional, seja no estado de Mato Grosso não avançou como

pretendiam os seus protagonistas, dos idos de 1980, assim que novos movimentos políticos

foram se confirmando e o Estado aderiu políticas neoliberais, o modelo de democracia que

havia sido arduamente conquistado foi também sofrendo intervenções na prática.

O modelo neoliberal do Estado que, a partir dos anos de 1990, no Brasil, vai se

afirmando e apresentando a Reforma do Estado, imprime políticas que desqualificam os

serviços públicos. Para além disso, o neoliberalismo mantém um Estado a serviço do setor

privado, desfavorecendo o público e com isso deixando desamparada grande parte da classe

trabalhadora da população, no que concerne aos direitos já duramente conquistados. Em

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outras palavras, a Reforma mencionada faz uma opção clara de favorecimento aos processos

de privatização, desenhando com um novo ordenamento jurídico e muitas brechas legais para

fortalecer o setor privado.

Ao mesmo tempo em que o Governo Federal descentraliza as decisões, dando o direito

de a comunidade participar nas decisões nos âmbitos escolares, força os governos estaduais a

aderirem às políticas neoliberais, desamparando o serviço público com um aviltante processo

de demissão de servidores, o que acaba por impactar o funcionamento das instituições

públicas. Segundo Abich,

A esperança de dias melhores para a democracia em Mato Grosso, apenas

pairou levemente. O histórico autoritarismo presente na organização política

mudou somente de feição. O Governo Dante alinhou-se perfeitamente às

iniciativas de FHC, adequando o estado de Mato Grosso aos ditames do

ajuste neoliberal e à redução das responsabilidades, do Estado em relação à

garantia do direito à educação pública com qualidade social. A marcante

demissão de mais de quatro mil servidores públicos e um desumano

congelamento dos salários dos funcionários que permaneceram foram umas

de suas primeiras ações no campo educacional, sob a égide do ajuste fiscal e

em nome da “arrumação da casa” e do equilíbrio das contas públicas

estaduais. (ABICH, 2008, p. 37, grifo da autora).

Como aponta Abich (2008), no governo de Dante de Oliveira (1995), os planos e

metas da educação em Mato Grosso foram conservadores, de políticas neoliberais; dessa

forma, a descentralização atendia aos interesses nacionais e internacionais que visam um

investimento mínimo para as políticas sociais. Conforme a autora, “[...] a descentralização das

operações não significava a democratização do poder, mas sim a transferência de

responsabilidades” (ABICH, 2008, p. 39).

Portanto o movimento organizado pelos professores, pais, alunos e funcionários da

educação, em união com os sindicatos de outras categorias, que buscavam a gestão

democrática, e com ela a qualidade da educação pública, o aumento das verbas para escola

pública, foi desvirtuado pelo Estado neoliberal que, ao mesmo tempo em que descentralizava

a gestão escolar, se desobrigava do financiamento das escolas, transferindo essa

responsabilidade para os Estados e municípios, desconstruindo o movimento originário com a

redefinição da distribuição de recursos financeiros para as escolas públicas.

Nesse sentido, a instituição do Conselho Deliberativo da Comunidade Escolar (CDCE)

em Mato Grosso foi regulamentada pelo Edital nº 012/95/SEDUC-MT, no governo de Dante

de Oliveira, dando reinício à prática da gestão democrática escolar, interrompida em governos

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anteriores. A Portaria nº 136/97/SEDUC/MT expõe as instruções para organização, formação

e atribuição do CDCE, nas escolas Estaduais de Mato Grosso com objetivo de:

- promover a integração da escola com a comunidade;

- criar condições que favoreçam a autonomia pedagógica, administrativa e

financeira das Unidades Estaduais de Ensino;

- estabelecer parâmetros para as atividades do Conselho Deliberativo da

Comunidade Escolar em relação às Escolas Públicas Estaduais; [...].

(MATO GROSSO, SEDUC, 1997, p. 27).

Na perspectiva do materialismo histórico-dialético, a escola, ao mesmo tempo em que

é um espaço de emancipação social e um agente transformador, é também um local de

contradições, pois ali estão presentes os interesses de diversos atores sociais, entre eles os da

classe dominante capitalista, que pretendem preservar uma educação mínima e sem qualidade

para a classe trabalhadora. É, por outro lado, um espaço que tem obrigação de dar as

condições de desenvolvimento da prática democrática participativa a partir da criação dos

CDCEs, possibilitando assim que seus usuários se tornem os protagonistas da transformação

social.

Portanto, é necessário refletir como tem ocorrido a gestão democrática nas três escolas

estaduais de Cuiabá, no contexto atual. As informações, que foram coletadas nesta pesquisa,

nos possibilitam fazer uma análise dos modelos democráticos que temos a partir da Lei nº

7.040/1998, que regulamenta as particularidades e especificidades da Gestão Democrática no

Estado, segundo a Secretaria de Educação de Mato Grosso.

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3. A IMPORTÂNCIA DOS CONSELHOS ESCOLARES

Neste capítulo faremos uma discussão sobre os Conselhos Escolares; o objetivo, aqui,

é referenciar brevemente a importância da criação desses órgãos colegiados, que

proporcionam à sociedade civil, nos âmbitos que lhes competem, possibilidades da prática

social democrática e transformadora, que visa a melhoria e o desenvolvimento das escolas

públicas do país. Torna-se importante fazer uma análise conjuntural dos avanços e limites que

esses espaços apresentam, a partir dos anos de 1990, com as reformas feitas em pleno auge do

Estado neoliberal, no Brasil. Pensar os conselhos escolares e o processo de democratização da

gestão educacional, nos moldes do neoliberalismo, pressupõe analisar criticamente as

contradições da participação e do próprio modelo de democracia, que se tornam legítimos

diante dos avanços das políticas que valorizam o setor privado em detrimento do setor

público.

Este capítulo faz, ainda, uma análise de como foi a instituição dos conselhos escolares

no Brasil e como os conselheiros participam no controle social desses colegiados que estão

garantidos na CF/1988, visto que as políticas neoliberais, implantadas a partir dos anos de

1990, desconfiguraram o modelo de participação social.

3.1 A INSTITUCIONALIZAÇÃO DOS CONSELHOS GESTORES ESCOLARES NO

BRASIL

Na CF/1988 a participação popular aparece como um elemento novo e importante;

nesse processo podem ser também identificados os conselhos que têm como objetivo a

participação na formulação das políticas públicas, na sua execução e fiscalização, ou seja, a

possibilidade do controle social exercido pelo cidadão na deliberação, fiscalização,

mobilização e participação em vários espaços públicos, como na educação, que antes eram

centralizados somente nas mãos do Estado.

As mudanças ocorridas no Brasil, nesse período, proporcionaram grandes conquistas

sociais, que foram garantidas na Constituição Federal de 1988. Essas Leis garantem a

participação dos cidadãos nas escolas públicas e, na atuação nos CDCEs, os pais (mães),

alunos, funcionários e professores que foram eleitos conselheiros, passam a agir juntamente

com o diretor da escola nas tomadas de decisões administrativas, pedagógicas e financeiras,

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fiscalizando e colaborando com a construção de um modelo escolar democrático e

participativo. Conforme Silva e Torres:

O Conselho Escolar é constituído para garantir a descentralização do poder

na gestão da unidade de ensino, isto é, para assegurar-lhe autonomia quanto

ao processo decisório. Dessa forma, o seu funcionamento depende das

concepções de educação e de democracia que tenham seus membros

componentes. Na organização e implemento da Gestão Democrática, é

importante que os segmentos da comunidade escolar sejam esclarecidos

quanto às funções e contribuições do Conselho. Ele oferece aos conselheiros

a condição de aprendizado da participação, ao lidarem com as contradições,

buscando superar os problemas, identificados e debatidos coletivamente

sobre assuntos de interesse comum. (SILVA; TORRES, 2008, p. 37).

A criação do CDCE, portanto, foi um avanço na democratização das escolas públicas,

que tem por objetivo a melhoria na qualidade da educação oferecida a todos. A escola é um

espaço de prática democrática pública de todos, e feito para que todos se apropriem de

conhecimentos que proporcionem a tão desejada libertação, em seus amplos sentidos: a

libertação econômica, a libertação cultural, a libertação social, mas, para tanto, deve ser um

espaço que possibilite o exercício da cidadania, de forma autônoma, em busca da tão almejada

melhoria da educação pública e da igualdade entre todos de fato.

Para se concretizar esses ideais democráticos tão necessários, é preciso

comprometimento da comunidade escolar e dos membros que formam os CDCEs, pois

somente a prática experimentada e vivenciada por todos poderá romper com o autoritarismo

que se impõe em nossa sociedade historicamente. Tomar a democracia no universo escolar,

em seu cotidiano, significa pautar a democracia como conhecimento fundamental para

avançarmos as práticas democráticas para além dos muros da escola.

Conforme Paro (2000), a democracia tem um valor universal que pressupõe

colaboração recíproca entre as pessoas, e nessas relações é preciso levar em conta que há um

processo a ser construído por todos, em que todos buscam alcançar com êxito as metas e fins

que promovam a qualidade de vida de todos, ou seja, um benefício à coletividade, não

individual ou a grupos restritos.

A democratização das políticas públicas educacionais só será possível se houver

participação efetiva dos cidadãos nas tomadas de decisões e no controle social, ou seja,

quando o cidadão exerce seus direitos e deveres civis, superando a centralização e o

autoritarismo do Estado. A criação dos Conselhos Gestores, garantidos na Constituição

Cidadã de 1988, foi uma conquista que possibilita a participação popular, com uma abertura

para que os cidadãos brasileiros pudessem participar, de fato, da implementação, fiscalização

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e deliberação nas políticas públicas em nosso país. Como canais de participação sociopolítica,

os Conselhos gestores propõem a articulação entre os segmentos que os compõem e que estão

presentes para representar cada um deles, com espaços onde se negociam os conflitos, em que

a sociedade pode e deve estar presente, participando efetivamente das decisões que ocorrem

ali.

Desse modo, os Conselhos se tornaram uma ferramenta a serviço da população, uma

forma de controle social das políticas públicas que possibilita a participação da sociedade

civil. Conforme Gohn,

Leis orgânicas específicas, pós-1988, passaram a regulamentar o direito

constitucional à participação por meio de conselhos deliberativos, de

composição paritária, entre representantes do poder executivo e de

instituições da sociedade civil. Desde então, um número crescente de

estruturas colegiadas passou a ser exigência constitucional em diversos

níveis das administrações (federal, estadual e municipal). As reformas

operadas no Estado brasileiro, na última década, articulou a existência de

conselhos ao repasse de recursos financeiros do nível federal ao estadual e

ao municipal. (GOHN, 2001, p. 84).

Os Conselhos gestores passam a ser, portanto, uma condição de intervenção da

sociedade civil no processo decisório da coisa pública, em diversas áreas, como da cultura,

saúde, meio ambiente, educacional entre outras. Ainda conforme Gohn,

[...] Os conselhos gestores são novos instrumentos de expressão,

representação e participação; em tese, eles são dotados de potencial de

transformação política. Se efetivamente representativos, poderão imprimir

um novo formato às políticas sociais, pois se relacionam ao processo de

formação das políticas e tomada de decisões. Com os conselhos, gera-se uma

nova institucionalidade pública. Eles criam uma nova esfera social-pública

ou pública não-estatal. Trata-se de um novo padrão de relações entre Estado

e sociedade, porque eles viabilizam a participação de segmentos sociais na

formulação de políticas sociais e possibilitam à população o acesso aos

espaços nos quais se tomam as decisões políticas. Se o Estado e as políticas

neoliberais “desconstroem” o sentido do público, retirando sua

universalidade e remetendo para o campo do assistencialismo e da lógica do

consumidor usuário de serviços, os conselhos têm a possibilidade de

reaglutinarem esses direitos fragmentados, reconstituindo os caminhos de

construção da cidadania que está sendo esfacelada. (GOHN, 2001, p. 85-88).

A CF/1988 traz muitos artigos que possibilitam a participação popular, nesses avanços

os conselhos estão presentes. Porém, segundo Guimarães (2008), a instituição desses

conselhos não garantia, por si só, a efetiva participação social; a grande maioria da população

não tinha o hábito de participar das questões de administração públicas, o que acaba

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prejudicando as decisões tomadas ali, que muitas vezes deixam de ter a representatividade da

comunidade.

Paro evidencia que:

A prática de nossas escolas está muito longe de atender ao requisito

implícito nesta premissa. Dificilmente teremos um professor relacionando-se

de forma consequente num processo de participação democrático da

comunidade na escola se sua relação com os alunos em sala de aula continua

autoritária. Se a escola, em seu dia a dia, está permeada pelo autoritarismo

nas relações que envolvem direção, professores, demais funcionários e

alunos, como podemos esperar que ela permita, sem maiores problemas,

entrar aí a comunidade para, pelo menos, exercitar relações democráticas?

(PARO, 2000, p. 25).

Diante da dificuldade apontada por Paro (2000), é certo afirmar que a gestão

democrática se desvirtuou de seu movimento originário. Tal processo se revela cada vez mais

evidente em meio a questões advindas de uma cultura autoritária, na qual o Estado tem

servido à classe dominante, às elites, traçando políticas que favoreceram e favorecem

oligarquias, grupos de pessoas que detêm poder econômico, e os próprios legisladores, em

todos os níveis, federal, estadual e municipal. Com a mesma questão de Paro, é preciso buscar

melhores caminhos para dar rumos diferentes à gestão educacional democrática, ou

correremos o risco de inviabilizar todas as lutas dos movimentos sociais que tanto defenderam

um projeto de escola pública, socialmente referenciado nos idos de 1980.

3.2 O CDCE E O PROCESSO DE PARTICIPAÇÃO SÓCIO-POLÍTICA NO

COTIDIANO DAS ESCOLAS PÚBLICAS

Convém destacar que os Conselhos escolares, dentro dos mecanismos da gestão

democrática, se constituem como canais que se abrem para a participação da comunidade

local nas deliberações da gestão escolar e podem, com isso, dentro da perspectiva da

emancipação social, contribuir para o fortalecimento da sociedade civil na construção de uma

cultura efetivamente democrática, no âmbito das relações do Estado com a sua população.

Na educação, a gestão democrática permite a participação da comunidade escolar; ela

traz a conquista de movimentos sociais que defenderam arduamente que as instituições

escolares pudessem ter uma nova cultura com a possibilidade real do exercício da democracia.

Como nos mostra Gohn:

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A soberania popular é o principio regulador da forma democrática: a

participação é concebida como um fenômeno que se desenvolve tanto na

sociedade civil – em especial entre os movimentos sociais e as organizações

autônomas da sociedade; quanto no plano institucional – nas instituições

formais políticas. (GOHN, 2001, p. 17).

As novas formas de participação que aparecem pelo princípio da soberania popular, na

Constituição Federal, abrem muitos espaços para que a sociedade civil se organize e se torne

mais ativa nas reivindicações dos direitos civis. O que precisa ser entendido, nos anos que

seguem ao avanço das questões democráticas no país, considerando a adesão ao modelo

neoliberal e da ordem econômica mundial da globalização, é que as reformas realizadas, nesse

particular momento das políticas neoliberais, não fortalecem as instituições púbicas. Nesse

cenário, os conselhos não se apresentam democraticamente efetivos, mas se impõem,

incontestavelmente, como possibilidade de disputa dos interesses ali representados, em

relação aos campos próprios de suas políticas setoriais.

Gohn defende que:

Os conselhos gestores são muito importantes porque são frutos de lutas e

demandas populares e de pressões da sociedade civil pela redemocratização

do país. Por terem sido promulgados no contexto de uma avalanche de

reformas do Estado, de caráter neoliberal, vários analistas e militantes de

movimentos sociais desacreditaram os conselhos enquanto possibilidades de

participação real, ativa, esquecendo-se de que eles foram reivindicados e

propostos pelos movimentos em passado recente. As novas estruturas

inserem-se na esfera pública e, por força de lei, integram-se com os órgãos

públicos vinculados ao Poder Executivo voltado para políticas públicas

específicas, responsáveis pela assessoria e suporte ao funcionamento das

áreas onde atuam. Eles são compostos, portanto, por representantes do poder

público e da sociedade civil organizada. (GOHN, 2007, p. 84-85).

Diante de limites e avanços do modelo da democracia vigente no país, foi possível

constatar que a concepção de democratização dos anos de 1980 estava longe de se

concretizar; não se pode dizer que a gestão democrática chegou a se efetivar, os movimentos

de materialização que constituem esse modelo, como por exemplo: a eleição para diretores, a

constituição dos conselhos escolares e a chamada autonomização financeira das instituições

escolares foram, a conta gotas, evidenciando muitos fenômenos que caracterizam as

perspectivas fundamentais do Estado gerencialista. Segundo Castro:

Esse novo paradigma gerencial vem substituindo gradativamente os modelos

burocráticos de gestão, trazendo modificações em todos os setores sociais.

No campo da educação, desde os sistemas centrais até a escola, passam a ser

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adotadas diretrizes gerenciais na condução dos serviços educacionais. As

influências fazem-se presentes na gestão escolar, entre outros, por meio da

descentralização; na instituição dos colegiados; e na participação da

comunidade escolar, nos processos de decisão da escola. Enfim, percebe-se

uma mudança na organização e na gestão da escola, na qual estão evidentes

as estratégias do novo modelo gerencial do serviço público para tornar a

escola mais ágil, mais eficiente e mais produtiva. (CASTRO, 2007, p. 131).

A participação não é uma prática natural, na qual o sujeito já nasce predisposto a

realizar, não se trata de um movimento de perspectivas igualitárias, há proposições e sentidos

diferentes para a prática participativa. Bordenave (1992) formula um importante conceito

sobre a participação, que muito nos ensina sobre o sentimento que as pessoas têm no

momento em que participam de algo importante em suas vidas. Para o autor, a participação

tem duas bases complementares, uma é a base afetiva, na qual participamos por sentir prazer

em realizar certas atividades com outras pessoas; e a outra é a base instrumental que nos leva

a participarmos porque certas atividades requerem estarmos presentes por necessidade de

realizarmos algo de forma mais eficiente e eficaz com outras pessoas, nas instituições ou

mesmo nas empresas, sobretudo quando realizamos algo de cunho profissional ou político.

A contribuição de Bordenave (1992) sobre as bases complementares da participação é

muito pertinente para entendermos o quanto o movimento da participação pode ser tomado de

modo a efetivar ou não um processo democrático, se, por exemplo, quando realizamos a

participação instrumental, numa perspectiva gerencialista, a eficácia das decisões tomadas

levam a uma prática participativa que atende diretamente aos interesses dos dirigentes

institucionais ou empresariais, dificultando assim a efetivação de uma participação

democrática, pois os interesses atendidos não são coletivos, são unilaterais. É por isso que

dentre as duas bases citadas por Bodenave (1992), a afetiva e a instrumental, é possível, para

o foco deste estudo, que são os conselhos escolares, darmos atenção ao movimento da

participação, quando, nas instituições escolares, os segmentos dirigentes decidem, manipulam

e tomam medidas autoritárias, ainda que levando em conta a participação dos sujeitos que

compõem os segmentos representativos na defesa de suas proposições.

Tanto Bordenave (1992), conceituando a participação, quanto Kosik (1976),

conceituando o movimento da pseudoconcreticidade, quanto Nogueira (2011), destacando o

deslocamento da participação como conteúdo ético-político, em benefício de um vínculo com

interesses particulares, constituem referenciais muito ricos para a compreensão dos rumos que

a prática participativa no universo da coisa pública tem tomado em nossa sociedade e como os

conselhos escolares refletem, na realidade, as dificuldades para maior autonomia e efetiva

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democratização em razão de uma cultura de participação limitada no que se refere à promoção

e emancipação do público.

[...] a luta pela participação social envolve ela mesma processos

participatórios, isto é, atividades organizadas dos grupos com o objetivo de

expressar necessidades ou demandas, defender interesses comuns, alcançar

determinados objetivos econômicos, sociais ou políticos, ou influir de

maneira direta nos poderes públicos. (BORDENAVE, 1992, p. 26).

Lima e Santiago (2011) apresentam uma discussão muito interessante acerca da

participação que vem sendo desenhada no atual contexto do Estado de modelo gerencialista.

No panorama dessa movimentação político-educacional a discussão da

descentralização e democratização da educação reaparece com grande força.

O foco principal dos professores e de seus organismos de classe era lutar por

eleições diretas para diretores e vice-diretores das escolas públicas. Ocupava

também o centro dos debates nos eventos educacionais, a descentralização

conjugada com a discussão da municipalização do ensino, temas esses que

refletiriam, inevitavelmente, no processo constituinte. Tal perspectiva de

democratização com base no controle social e na participação ativa foi

rompida, nos anos de 1990. Do conceito de “democratização política”

passamos a uma “democratização mercadológica” vinculada ao conceito de

“cidadania controlada”, participação instrumental e competividade

individual. (LIMA; SANTIAGO, 2011, p. 87, grifos dos autores).

Chamar a atenção para a influência desse novo paradigma de gestão sob a lógica

gerencial é de fundamental importância, considerando que as decisões que são tomadas na

gestão escolar e, mais precisamente, pelos colegiados, todas elas são parte de um movimento

que, à luz de Kosik (1976), revela existência de um movimento pseudoconcreto, uma vez que

há um jogo de verdade e engano, no plano das políticas educacionais implementadas, que não

fortalecem o sistema público de ensino no Brasil, ao contrário, aprofundam a lógica dual e

mantêm cada vez mais evidente a lógica de privatização do conhecimento, das ciências e do

próprio serviço público.

Assim podemos compreender a participação em perspectivas e modalidades distintas;

Nogueira (2005) formula algumas características que nos permitem categorizar a participação,

para identificar as práticas de democratização da gestão escolar nos dias atuais. Para Nogueira

(2005) existem quatro modelos distintos, quais sejam: 1) Participação assistencialista - a que

possui um perfil de filantropia ou de solidariedade - uma modalidade que teve mais

sustentação nas fases que precederam a afirmação dos direitos de cidadania e aparece mais em

circunstâncias nas quais os grupos sociais apresentam menor grau de consciência política

coletiva; 2) Participação corporativa - está relacionada a interesses específicos de

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determinados grupos sociais ou de categoria de profissionais - trata-se da modalidade de

participação que teve sua maior expressão na origem do sindicalismo moderno. É de grande

importância, tanto quanto a participação assistencialista que é uma modalidade universal de

participação. Ambas se articulam porque estão relacionadas a problemas práticos, imediatos e

quase sempre de fundo econômico; 3) Participação eleitoral – modalidade que visa

especificamente à defesa de interesses particulares – mas com interferência na coletividade.

Isso faz dessa modalidade uma ação da qual o indivíduo tem a consciência sobre o poder

político que envolve sua participação e sobre as possibilidades de direcioná-lo. Mas essa

modalidade apresenta limites no plano dos atos e escolhas individuais. Além disso, através do

voto não é possível expressar as convicções cívicas e com elas estabelecer influências, dadas

as circunstâncias que envolvem um processo eleitoral e os riscos que pode trazer de

despolitização, na medida em que os indivíduos não veem atendidas as suas expectativas e,

consequentemente, em muitos casos, se decepcionam com as escolhas feitas; e 4) Participação

política – modalidade que se realiza por via da organização da vida social em seu conjunto –

com a observância do Estado. Para Nogueira (2005), esta é uma modalidade de prática

política que se relaciona tanto com a questão do poder, quanto com a questão do consenso e

da hegemonia, o que mostra a força e o consentimento, tanto no plano das práticas do

governo, quanto no plano da convivência e da cultura.

Pode-se mesmo dizer que as novas objetivações do capitalismo e da

sociedade moderna induzem a que a participação se desloque da política e

perca conteúdo ético-político, em benefício de um vínculo mais estreito com

os interesses particulares, com a resolução de problemas e com o

atendimento a demandas específicas. Há uma tendência objetiva que força a

que a participação deixe de ser pensada como recurso vital para a recriação

do social, a fundação de novos Estados ou a instituição de formas mais

democráticas e civilizadas de convivência, e passe a ser pensada como um

meio para inversão de prioridades governamentais e a transferência de custos

gerenciais. A participação tende a se converter em um instrumento para

solidarizar governantes e governados, para aliviar e agilizar a ação

governamental, para compartilhar custos e decisões, para reduzir atritos entre

governo e sociedade. (NOGUEIRA, 2005, p. 140-141).

Na formulação de Nogueira, a participação política é muito reivindicada em modelos

democráticos. Pensando no Estado Democrático de Direito no Brasil, com a Constituição de

1988, e nos atuais discursos governamentais de democracia numa perspectiva de participação

gerencial, compreender modalidades concretas da participação é fundamental.

Nesse sentido, Sayago (2000) formula tipos e modalidades de participação que nos

permitem categorizar essa prática, de modo a melhor identificar os processos existentes nos

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conselhos escolares em estudo. Segundo a autora, as participações são classificadas em seis

modalidades, diferenciadas entre si com base no caráter ideológico que as permeia, que são: a.

participação Individual: quando o indivíduo toma sua decisão de forma individual e de livre

escolha; b. participação Coletiva: quando as decisões são tomadas de forma coletiva; c.

participação Passiva: quando o indivíduo se comporta de modo desejado, sem interferir no

processo; d. participação Ativa: quando os sujeitos assumem o compromisso da luta e da

conquista para alcançar os seus objetivos, de forma coletiva e solidária; e. participação

Voluntária: quando, de forma espontânea, um grupo se junta para resolver problemas

imediatos; e f. participação Instrumental: quando as mobilizações são feitas com o propósito

de conquistar posição ou poder. As mobilizações são dirigidas por organizações externas em

que são traçados os objetivos anteriormente. A população é incluída, mas as suas opiniões e

decisões são excluídas.

Com base nas classificações de Sayago (2000), para fins deste estudo, vamos

considerar dois tipos de participação que se opõem, a ativa e a instrumental, colocando em

evidência a forma como os conselheiros participam. Entendemos que os vários tipos de

participação, e os seus diferentes sentidos, podem ser analisados conforme a realidade se

apresenta, numa perspectiva em que tomamos como referência a democracia social e não a

liberal. Nesse sentido, a participação dentro da perspectiva da democracia social, tende a

trazer o tipo da participação ativa para a defesa dos interesses das classes populares; o

conteúdo ético-político, destacado por Nogueira (2005), é o conteúdo a ser tomado pelos

sujeitos na mobilização pela defesa dos interesses coletivos.

No Brasil, as políticas públicas têm sido bastante implicadas pela cultura que

apresenta dificuldade no plano do controle social dos gastos públicos. Lima e Santiago (2011)

destacam que o controle social dos gastos públicos nas políticas educacionais atuais, dado o

novo ordenamento jurídico, pós-Reforma de Estado (1995), induz e impõe formas de

participação nas escolas que mais se apresentam como participação instrumental do que como

participação ativa.

A transformação da cultura de participação instrumental, na perspectiva gerencialista,

para uma participação ativa e autônoma, de forma que possamos qualificar as práticas de

participação e efetivar a democracia no Brasil, depende de um esforço coletivo, de

potencializarmos as bases, que se constituem de pessoas que trabalham e sobrevivem de seu

próprio trabalho, para que possam reivindicar os seus direitos e estarem presentes no processo

decisório da coisa pública. Porém, os canais institucionais para potencializar a participação a

favor do público, os conselhos de políticas públicas, os conselhos institucionais, como

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instâncias férteis para tais fins, precisam conquistar a autonomia de suas funções. Gohn define

autonomia da seguinte maneira:

Entendemos que a autonomia se obtém quando se adquire a capacidade de

ser um sujeito histórico que sabe ler e re-interpretar o mundo; quando se

adquire uma linguagem que possibilita ao sujeito participar de fato,

compreender e se expressar por conta própria. Os sujeitos autônomos veem e

aceitam as diferenças e as singularidades das pessoas e das regiões do

mundo; acatam e assumem a diversidade cultural dessas pessoas, olham para

suas crenças e valores como algo constitutivo do ser humano; apreendem a

dialogar com o diferente e as diferenças sem ter como meta aniquilá-los ou

vencê-los a qualquer custo; buscam o diálogo para uma aprendizagem que

leve ao entendimento, à construção de consensos, e não para apropriar-

se/apoderar-se do saber do outro, aniquilando-o. Os indivíduos adquirem

autonomia quando constroem um campo ético e político de respeito ao outro,

seja amigo ou adversário, jamais vendo este outro como membro de sua teia

pessoal de relações, subordinado à sua dominação, ou um esteio para seus

interesses particulares e particularistas de poder e, muito menos, como um

inimigo. A autonomia emancipatória dos indivíduos é construída com base

na clareza, visibilidade e transparência das ações, que prioriza a dimensão

comunicativa de reunir informações e disponibiliza-las, como parte do

campo ético. (GOHN, 2005, p. 33-34).

Nesse sentido a população é chamada á participar limitadamente, somente ao que

interessa para o Estado gerencialista, o que desconfigura o real significado e sentido de

autonomia.

3.3 IMPORTÂNCIA DA PARTICIPAÇÃO NA VIDA PÚBLICA E NAS ESCOLAS

Como nos mostra Lima (2011, p. 31), “é na práxis que o homem deve demonstrar a

verdade, isto é, a realidade e o poder, o caráter terreno de seu pensamento”. A prática do

controle social é fundamental para que a qualidade na educação pública se torne real e seu

acesso universal, garantindo também a permanência e a conclusão do ensino; a transformação

do que temos só ocorrerá a partir da participação popular e a partir do momento em que o

Estado se preocupar de fato com a educação pública. Para Lima, a participação é:

Palavra originária do latim, vinda do substantivo participar, quer dizer

participante, aquele que tem uma parte de, aquele que partilha ou tem

quinhão. Participar é essencial e essência do sujeito; não há aquele que não

participe, não há, portanto, ausência de participação, visto que todos têm, ao

final de uma decisão, o dever de acatá-la. (LIMA, 2011, p. 88).

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Há várias formas de participação, que podem ter vários significados, podendo nos dar

autonomia nas decisões, simular essa autonomia controlando as decisões que devem ser

tomadas, e também existe a participação impositiva.

Lima (2011) expõe a respeito dessas formas e sentidos diferentes da participação:

A participação de fato refere-se àquela presente desde o começo da

humanidade quer no seio da família nuclear quer nas tarefas de subsistência

(caça, pesca, agricultura), no culto religioso, na recreação e na defesa contra

os inimigos. O segundo modelo é o de participação espontânea, no qual os

homens formam grupos de vizinhos, amigos, “panelinhas” e “gangs”, isto é,

grupos fluídos, sem organização estável ou propósitos claros e definidos, a

não ser os de satisfazer necessidades psicológicas de pertencer, expressar-se,

receber e dar afeto; reconhecimento e prestígio. A participação do tipo

imposta é aquela em que o individuo é obrigado a fazer parte de grupos e

realizar certas atividades consideradas indispensáveis. Os cultos religiosos,

os rituais e o voto obrigatório nas eleições são casos de participação imposta.

Já na participação voluntaria (sindicatos livres, associações profissionais,

cooperativas, partidos políticos), geralmente os próprios participantes

definem sua organização e estabelecem seus objetivos e métodos de

trabalho. Contudo, essa modalidade pode, às vezes, ser provocada por

agentes externos que ajudam outros a realizarem seus objetivos ou os

manipulam a fim de atingir seus próprios objetivos. Finalmente existe uma

participação concedida, em que a parte de poder ou de influencia exercida

pelos subordinados é considerada legítima por eles mesmos e seus

superiores, tal como a participação nos lucros, outorgada por certas

empresas. (LIMA, 2011, p. 91, grifos do autor).

Cabe aqui ressaltar a importância e a necessidade de cursos de capacitação aos

conselheiros, que contribuam para uma formação crítico-participativa nesses órgãos

colegiados, uma formação que promova encontros e debates, seminários que possibilitem o

encontro dos vários segmentos que contribuam com a formação de um conselho atuante que

participe da gestão escolar de forma democrática e não somente formalista.

Guimarães (2008, p. 65) contribui ao dizer que “São muitos os aspectos a serem

analisados para uma real compreensão da qualidade da deliberação e da participação

produzida nessas instituições, contribuindo ou não para a construção da democracia no país”.

O processo democrático se constrói com a participação social e aí está exatamente o desafio a

se superar constantemente, a questão participativa da comunidade nesses espaços de decisões

compartilhadas entre o Estado e a sociedade civil. Como bem avalia Guimarães,

[...] há falta de vontade política para promover um compartilhamento de

decisões com a sociedade civil, o que, sem dúvida alguma, representa um

grande empecilho para a concretização desses espaços como promotores de

uma democracia participativa, capazes de estabelecer o debate e o diálogo

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necessários para a formação de consenso na deliberação das políticas

públicas municipais. (GUIMARÃES, 2008, p. 67-68).

Nesse sentido, importa sabermos que o modelo gerencialista do Estado se viu

obrigado a instituir os conselhos com a CF de 1988, o que não garantiu, porém, um

desenvolvimento social participativo para a sociedade, ou uma prática democrática

emancipadora e autônoma. Existem estratégias de gestão descentralizadas, no atual modelo

gerencialista induzido à gestão educacional também no Brasil, que precisam ser esclarecidas,

pois são processos que evidenciam fenômenos das políticas púbicas voltadas para as

perspectivas de mercado, as quais favorecem ainda mais o setor privado em detrimento do

público. A respeito disso, Castro orienta muito bem, explicitando que:

As agências internacionais de financiamento tiveram papel importante na

difusão do consenso sobre o novo modelo de gestão. O documento elaborado

Jontiem, em 1990, na Tailândia que originou os planos decenais de educação

em vários países, contemplava entre outras medidas, a modernização da

gestão como fator fundamental para consecução dos objetivos da escola. O

novo modelo gerencial busca estabelecer uma cultura organizacional firmada

nos princípios de gestão estratégica e do controle de qualidade orientada para

a racionalização, a eficiência e a eficácia. A partir da Conferência de

Jontiem, as diretrizes para a gestão educacional foram sedimentando-se de

acordo com as diretrizes cepalinas para a região que reconheciam – todas as

suas avaliações sobre o sistema educacional – que era necessário produzir

uma transformação profunda na gestão educativa tradicional que permitisse

articular, efetivamente, a educação com as demandas econômicas, sociais,

políticas e culturais, rompendo com o isolamento das ações educativas.

Partia-se do pressuposto de que o modelo de administração dos sistemas

educativos não assegurava a participação plena dos atores sociais no

processo pedagógico; não se responsabilizava pelo baixo desempenho dos

sistemas; não focalizava as ações nos setores prioritários da população e não

promovia a inovação e a criatividade dos docentes. (CASTRO, 2007, p.

132).

A citação de Castro, ainda que longa, se faz muito pertinente, sobretudo para mostrar

que os acordos internacionais sobre as diretrizes para os sistemas educacionais se constituem

num conjunto hegemônico no mundo, o qual tem colocado em questão a seleção de

conhecimentos e a condução dos currículos escolares, nos sistemas públicos de ensino. Tais

sistemas estão subalternizados às escolhas por demandas capitalistas, por parte dos

governantes, sendo, por esta razão, tão necessárias as opções por estratégias de

descentralização e municipalização das políticas públicas com foco nos resultados, pela via da

mercantilização do conhecimento, da ciência e da própria vida.

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Tendo em vista a amplitude e diversidade de cultura existente em nosso país, isso, de

certo modo, acaba influenciando no modelo participativo nos processos deliberativos das

políticas públicas e, bem por esse motivo, a participação que se apresenta hoje no modelo de

gestão educacional é a participação meramente instrumental, como nos orienta Lima (2011).

Os conselhos gestores são formados com esse ideal participativo, descentralizador e formador

de sujeitos que passam a atuar junto ao Estado. Mas a participação, que deveria ser ativa e

transformadora por parte dos atores sociais, acaba imprimindo uma materialidade não efetiva

de transformação da realidade.

A participação nos conselhos gestores leva em conta a paridade em sua formação, a

forma como são escolhidos esses conselheiros, o comprometimento dos conselheiros além das

tomadas de decisões feitas por eles; essas questões acima citadas podem interferir na

constituição de um conselho democrático de fato, interferindo na transparência, na

participação ativa e na autonomia das decisões. Segundo Guimarães (2008, p. 77), “A

realidade encontrada na maioria dos conselhos mostra que, apesar de existir uma paridade

quantitativa, com relação aos usuários, não existe uma paridade qualitativa, no sentido da

representatividade da participação”.

Nesse sentido, muitas vezes ocorre a indicação ou manipulação dos sujeitos que

formam os conselhos e isso interfere ou pode interferir nas deliberações exercidas nesse

espaço, prejudicando a legitimidade e autonomia nas decisões dos segmentos envolvidos,

mantendo o falseamento do funcionamento do conselho.

Para Guimarães (2008), as políticas públicas antidemocráticas, mantidas pela classe

dominante, se negam a compartilhar as decisões nesses espaços que deveriam ser

democráticos, o que acaba mantendo as decisões nas mãos de poucos, negando o

compartilhamento das decisões sobre as políticas públicas; limitam até mesmo a importância

desses representantes que foram escolhidos ou deveriam ser escolhidos democraticamente

pela sociedade, fazendo valer a representação de poucos. Como nos mostra Guimarães:

Embora exista, na lei, a garantia da paridade, na prática, predomina ainda no

imaginário social da sociedade brasileira, a concepção da superioridade do

saber técnico, decorrente das relações desiguais de poder, o que dificulta a

participação de forma igualitária por parte dos grupos representados nestes

espaços. (GUIMARÃES, 2008, p. 81).

Novamente entra em questão a importância da capacitação desses conselheiros, pois o

espaço participativo dos conselhos foi criado e, como há obrigatoriedade da constituição

desses órgãos colegiados, é necessário que haja também uma formação dos vários segmentos

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que os compõem, fazendo valer, dessa forma, a concretização de um órgão democrático com

decisões autônomas e que representem, de fato, a comunidade de cada segmento ali presente.

Estudos, como os de Abreu (2015), Silva (2011), Guimarães (2008) e Paro (2000),

trazem uma reflexão sobre a participação e atuação nos conselhos escolares, evidenciando a

contradição de um Estado centralizador e autoritário em relação à partilha de poderes ou

decisões que possam ser tomadas nesses órgãos colegiados. Deixando também claro que as

gestões democráticas nas escolas públicas são conquistas sociais que, ao serem legitimadas,

têm o poder transformador de todo contexto educacional das escolas públicas, fazendo valer,

desse modo, o significado da palavra democracia, ou seja, o poder nas mãos do povo, ou

poder do povo.

3.4 CONTROLE SOCIAL NA POLÍTICA DE FINANCIAMENTO DA EDUCAÇÃO

BÁSICA

A implementação do Fundef/Fundeb limita, de certa forma, a autonomia dos Estados e

Municípios, já que os recursos para as escolas públicas não conseguem garantir uma

qualidade na educação.

O FUNDEF9, Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de

Valorização do Magistério, chega como uma política de financiamento que mudou

completamente a forma de distribuir os recursos e aplicá-los; essa legislação obriga a criação

de um conselho de acompanhamento de controle social dos recursos do Fundo, que é

composto por segmentos que representam diretor, professores, funcionários, pais e mães, e

alunos. O FUNDEF, já extinto em 2006, era formado por recursos dos próprios Estados e

Municípios, originários de fontes já existentes, acrescidos de uma parcela de recursos novos,

originários da União. As receitas do Fundo são constituídas de 15% do:

- Fundo de Participação dos Estados – FPE;

- Fundo de Participação dos Municípios – FPM;

- Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços – ICMS; e

- Imposto sobre Produtos Industrializados, proporcional às exportações –

IPIexp.

Conforme pontua Davies (1999), acerca do extinto FUNDEF, o governo federal

investiu poucos recursos no financiamento do Ensino Fundamental, colaborando com uma

9 Fundo instituído pela Emenda Constitucional nº 14, de setembro de 1996, e sua regulamentação está na Lei nº

9.424, de 24 de dezembro do mesmo ano, e no Decreto nº 2.264, de junho de 1997. Foi implementado

nacionalmente em 1º de janeiro de 1998 e foi extinto em 2006.

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quantia ínfima para o Fundef; a falsificação de matrículas nas escolas públicas teve, a partir

da implementação desse projeto, um crescimento, já que o valor depositado pelo fundo às

escolas é contabilizado por aluno, e a falsificação de matrículas se torna uma forma de

aumentar os recursos das escolas.

Dentre os muitos problemas do Fundef, um é o de que, embora apresentado

como um fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental,

ele não trás dinheiro novo para o sistema educacional como um todo, uma

vez que é apenas um mecanismo de redistribuição de recursos já vinculados

á educação antes mesmo da criação do Fundo. (DAVIES, 1999, p. 13).

Nos anos de 2000 em diante, a política de financiamento para a educação básica passa

a ter um novo embate no Congresso Nacional, com o Projeto de Lei do Fundo de Manutenção

e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação

(FUNDEB), uma nova lógica de financiamento que visa dar mais equidade à distribuição dos

recursos do Fundo; o novo projeto questionou a focalização do Fundef ao Ensino

Fundamental e, de certa forma, de fato, houve uma série de problemas nas redes públicas de

ensino no país, relacionadas à desigualdade de aplicação dos recursos do fundo, entre os

subníveis da educação básica.

O FUNDEB passa a ser, então, uma proposta que pretende o alcance dos recursos de

forma mais equânime para a Educação Básica como um todo. Em junho de 2007 foi aprovada

a Lei nº 11.494 que aprova o FUNDEB, que passou a vigorar no lugar do FUNDEF.

O FUNDEB, fundo de natureza contábil, foi instituído pela Emenda Constitucional nº

53, em 19 de dezembro de 2006, regulamentada provisoriamente pela Medida Provisória nº

339, em 28 de dezembro de 2006, e posteriormente convertida na Lei nº 11.494, em 20 de

junho de 2007, acrescida pelos Decretos nº 6.253 e 6.278, ambos em novembro de 2007.

A Emenda Constitucional (EC) nº 53 instituiu duas importantes mudanças no

financiamento da educação: determinou a criação do FUNDEB e a extensão do salário-

educação para toda a educação básica pública. Posteriormente, a EC 59, em 2010, também

determinou ações importantes, como o fim da Desvinculação das Receitas da União (DRU), a

educação obrigatória e gratuita dos 4 aos 17 anos de idade, a ser implantada até 2016, e o

atendimento ao educando, em todas as etapas da educação obrigatória, que compreende desde

a Pré-Escola ao Ensino Médio, por meio de programas suplementares de material didático-

escolar, transporte, alimentação e assistência à saúde. Essas mudanças podem ser entendidas

como avanços significativos para a sociedade civil. No que tange à composição do Fundo, a

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tabela 2, abaixo, indica que, com relação ao FUNDEB, há impostos novos que serão aplicados

na seguinte proporção:

Tabela 2 - Fonte e proporções da composição dos Impostos do FUNDEB

Composição do FUNDEB: Impostos

2007 2008 2009 2010-2020

ICMS, FPM, FPE, IPI-Exp.,

LC 87/96 16,66% 18,33% 20% 20%

Impostos novos: IPVA, ITR,

ITCM 6,66% 13,33% 20% 20%

Complementação da União No mínimo de:

2 bilhões

No mínimo de:

3 bilhões

No mínimo de:

4,5 bilhões 10%

Fonte: Elaborado pela autora com base na Lei nº 11.494/2007.

A complementação federal mínima seria de R$ 2,0 bilhões em 2007, R$ 3,0 bilhões

em 2008, R$ 4,5 bilhões em 2009 e, a partir de 2010, a 10% do valor total do Fundo. Com

relação ao FUNDEB, é sensato afirmar que não houve mudança significativa na política de

financiamento, mas houve ampliação do percentual que corresponde à subvinculação dos

impostos relativos à Manutenção e Desenvolvimento do Ensino - MDE (de 15% para 20%),

além de a redistribuição desta atual política incluir todos os níveis e modalidades da educação

básica.

A implantação do Fundo foi pensada para acontecer gradativamente em três anos, até

2009, quando os percentuais dos impostos (20%) passariam a ser definitivos. O art. 7º da Lei

nº 11.494/2007 diz que até 10% da complementação federal poderão ser usados em

programas de melhoria da qualidade do ensino.

Pinto (2007, p. 879) avalia o prazo da vigência do FUNDEB como uma “bomba com

efeito retardado com data certa para explodir: 31 de dezembro de 2020”. O autor alerta para o

fato de que, se nenhuma medida de caráter permanente for pensada para quando expirar o

tempo do FUNDEB, o sistema público de educação básica sofrerá uma grave crise.

O Quadro 1, abaixo, apresenta a comparação das fontes de recursos dos dois Fundos,

segundo as Leis nº 9.424/96 e nº 11.494/2007.

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Quadro 1 - Composição dos recursos do FUNDEF e do FUNDEB segundo suas respectivas

Leis regulamentadoras

Fontes que compunham o FUNDEF

15% do:

Fontes que compõem o FUNDEB

20% do:

Fundo de Participação dos Estados (FPE) Fundo de Participação dos Estados (FPE)

Fundo de Participação dos Municípios (FPM) Fundo de Participação dos Municípios (FPM)

Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e

Serviços (ICMS)

Imposto sobre a Circulação de Mercadorias

Produtos e Serviços (ICMS)

Imposto sobre Produtos Industrializados,

proporcional às exportações – IPIexp.

Imposto sobre Produtos Industrializados,

proporcional às exportações – IPIexp.

Compensação financeira pela desoneração de

exportações (LC 87/96)

Compensação Financeira pela

Desoneração de exportações (LC 87/96)

Complementação da União, de acordo com o

valor mínimo por aluno/ano no ensino

fundamental regular

Imposto sobre Transmissão Causa Mortis (ITCM)

Imposto sobre propriedade de veículos automotores

(IPVA)

Quota parte dos 50% do Imposto Territorial Rural

devida aos Municípios – ITR.

Complementação da União, de acordo com o valor

fixado para anos de 2007, 2008, 2009 e a partir de

2010.

Fonte: Elaborado pela autora a partir das leis do FUNDEF e do FUNDEB.

Os conhecimentos acerca dos impostos que se destinam ao FUNDEB não são

acessíveis para todos os cidadãos que têm direito às informações sobre os gastos dos recursos

púbicos, de onde são obtidos e em que percentuais. Nesse sentido, as principais atribuições

dos CACS (Conselhos de Acompanhamento e Controle Social), como as legislações, são

determinadas pelo FUNDEB; tais atribuições residem na lógica da representação sobre o que

é pautado e deliberado acerca do acompanhamento e controle social dos gastos com os

serviços educacionais da rede pública básica. Não se pode contestar a importância do

requisito público a tais informações. Porém, há muitas dificuldades no funcionamento desses

colegiados e, não diferentemente, nos colegiados das escolas públicas, por razões de

manipulação dos representantes estatais que, de praxe, são membros dos conselhos, em

muitos casos presidem, em outros manipulam quem preside e, dentre outras estratégias, detêm

hegemonia sobre o processo deliberativo.

Em relação aos conselhos setoriais, vale destacar a fala de Guimarães:

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No caso específico dos CACS, tem relevância especial o segmento

representativo dos pais dos alunos, supostamente os principais interessados

na melhoria da qualidade da educação. Assim, é condição indispensável a

participação dos reais interessados, sem a qual a responsabilidade do Estado

não se efetivará a contento. Esse envolvimento tem como finalidade a

realização da cidadania, que encontra receptividade no interior das lutas dos

movimentos sociais, rompendo com a concepção de cidadania como outorga

do Estado, para concebê-la como processo histórico de luta por direitos e

pelo direito de usufruí-los. Na sociedade brasileira, as relações entre

governantes e entidades da sociedade civil estão assentadas no clientelismo e

no fisiologismo, podendo, assim, plasmar uma mera fachada social para os

conselhos que, sob essa fachada representam e legitimam os interesses dos

governantes. (GUIMARÃES, 2009, p. 111).

Outra percepção, que se faz pertinente, se refere ao cenário da institucionalização dos

conselhos gestores, setoriais e mesmo dos conselhos deliberativos das escolas públicas. A

questão a ser feita é: Em que medida os conselhos podem funcionar, efetivamente, diante das

contradições das relações capitalistas que imprimem às políticas de Estado uma lógica

privatista?

É muito importante perceber que a política de financiamento induzida pela legislação,

tanto do FUNDEF como do FUNDEB, torna uma prerrogativa legal o controle social sobre os

investimentos aplicados no setor público; na perspectiva gerencialista, isso significa que a

institucionalização desses canais de controle social pode estar induzida dentro de uma lógica

que lhes confere limites de atuação, que engessam o funcionamento dos conselhos de modo a

lhes conferir efetividade concreta.

Conforme Silva (2011, p. 145), “O Estado mínimo é a proposta da nova ordem

econômica do modelo neoliberal, o qual se apresenta como o mais „viável‟ ao capitalismo”.

Portanto, as pessoas são formadas para atuar no mercado de trabalho sem a perspectiva crítica

e participativa na sociedade num todo, mantendo assim o sistema dual de ensino que continua

a dividir a sociedade brasileira em classes.

A perspectiva da transformação social defende a autonomia da escola, com

base em uma organização do trabalho escolar definida coletivamente, de

modo que projeto educativo e currículo possam sintetizar as necessidades e

os interesses comuns da comunidade escolar. (SILVA; TORRES, 2008, p.

29).

As estratégias de democratização da gestão educacional, dos anos de 1990 em diante,

ainda que de forma desvirtuada, atendem ao princípio constitucional e, por isso, a existência

dos conselhos deliberativos nas escolas públicas também se mantém.

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A normatização do CDCE como um importante organismo auxiliar na administração

da escola tem a comunidade escolar como parceira, exercendo as funções deliberativas e

consultivas, descentralizando os recursos e decisões antes tomadas somente pelo Estado, isso

visa à autonomia da escola e à melhoria na qualidade da educação pública. O CDCE se

configura como uma vitória das lutas da sociedade civil e dos educadores comprometidos com

a educação pública, que vislumbravam a participação social, emancipadora e transformadora

da escola e seus interlocutores. Se na prática não está funcionando com efetividade, é preciso

ler e compreender criticamente quais são as contradições existentes no cotidiano desses

colegiados.

A gestão democrática do ensino público, como nos revela Mendonça (2000), apesar de

se revelar no cotidiano escolar, no interior das escolas, não se refere somente a esse interior

das escolas, mas também ao sistema que o compõe, assim como os mecanismos de

democratização em suas estruturas. Este sistema é dialético, não há como separar a escola do

sistema de ensino como um todo, e essa democratização deve atingir o todo e não uma parte

só.

Considero a importância dessa estratégia, mas destaco que, até mesmo para

que os processos democráticos na gestão da escola sejam alcançados, é

importante que as estruturas de poder dos sistemas de ensino sejam, também,

atingidas por mecanismos que se baseiam na participação e nos processos

colegiados de deliberação. Não se trata, portanto, de compreender a escola

ou o sistema de ensino como espaços distintos, independentes e isoladosmas,

ao contrário, toma-los como partes de uma mesma realidade dialética.

(MENDONÇA, 2000, p. 13).

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4 CONSELHOS DELIBERATIVOS DA COMUNIDADE ESCOLAR DAS ESCOLAS

PESQUISADAS

O objetivo deste capítulo é analisar os dados coletados nas três escolas pesquisadas em

relação ao funcionamento e o desempenho do Conselho Deliberativo da Comunidade Escolar

(CDCE) de três escolas da rede estadual de Cuiabá - MT.

A princípio, o acolhimento das escolas para a pesquisa não foi tão fácil, a abertura

para participação nas reuniões do CDCE foi questionada em duas escolas. Constatamos, nas

falas de alguns entrevistados, que nem sempre era desejo dos dirigentes das escolas a presença

de alguém que não “faz parte” do conselho. Na escola A, por exemplo, a diretora questionou a

presidente do Conselho sobre a minha presença, deixando claro que não queria a minha

participação na reunião; mesmo assim participei de umas cinco reuniões nessa escola. Na

escola “B” o ofício de solicitação teve que ser refeito, pois, com a mudança da direção

escolar, a nova direção não acatou a assinatura do diretor anterior que havia dado autorização

para participação nas reuniões do CDCE.

Compreendendo os CDCEs como instâncias que potencializam a democratização, no

âmbito da gestão escolar, as atitudes mencionadas acima, em relação ao estranhamento da

presença de uma pesquisadora nesses espaços, é algo que contradiz as diretrizes do Programa

Nacional de Fortalecimento dos Conselhos Escolares que diz o seguinte:

Trata-se de enfrentar o desafio de constituir uma gestão democrática que

contribua efetivamente para o processo de construção de uma cidadania

emancipadora, o que requer autonomia, participação, criação coletiva dos

níveis de decisão e posicionamentos críticos que combatam a ideia

burocrática de hierarquia. Para tanto, é fundamental que a escola tenha a sua

“filosofia político-pedagógica norteadora”, resultante, como já mencionado,

de uma análise crítica da realidade nacional e local e expressa em um projeto

político-pedagógico que a caracterize em sua singularidade, permitindo um

acompanhamento e avaliação contínuos por parte de todos os participantes

das comunidades escolar (estudantes, pais, professores, funcionários e

direção) e local (entidades e organizações da sociedade civil identificadas

com o projeto da Escola). (PORTAL/MEC, 2004, p. 24-26).

No entanto, com base nesses princípios, foi possível participar de algumas reuniões

desses colegiados durante o ano letivo de 2016, pois, ao ser questionada a minha presença nas

reuniões, me posicionei como cidadã de direitos que poderia estar presente nas reuniões como

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ouvinte. E a presença nas reuniões foi importante para entendermos o movimento

participativo dos segmentos que o formam.

4.1 ESCOLAS SELECIONADAS PARA PESQUISA

As escolas selecionadas para participar da pesquisa foram escolhidas para averiguação

do potencial participativo e democrático dos CDCEs dessas unidades, inseridas em contextos

sociais diversificados; nesse sentido, escolhemos a primeira escola, considerada de grande

porte por ser uma escola jovem, fundada ainda no início dos anos de 1990; pelo número de

alunos matriculados e número de salas de aula da escola, como escola “A”. Trata-se de uma

escola de grande porte, com 25 anos de funcionamento localizada em um bairro periférico da

capital.

A segunda escola foi escolhida por ser uma escola centenária, localizada no centro da

capital, considerada de médio porte pelo número de alunos matriculados e número de salas de

aula; para a análise nomeamos de escola “B”.

A terceira escola selecionada é uma escola de bairro, considerada de pequeno porte;

para análise dos dados a nomeamos de escola “C”. A decisão por escolher essas escolas foi

colocada para averiguação do potencial democrático nesses diferentes contextos em que estão

sediadas. Para obtenção dos dados foram usados, além da observação, os questionários e

entrevistas dos conselheiros titulares presentes nas reuniões.

A gestão democrática da escola pública é garantida na Constituição Federal de 1988,

artigo 206, inciso VI, e na Lei de Diretrizes e Base da Educação Nacional (LDBN) nº

9.394/1996, artigo 14, incisos I e II, em que dispõe o seguinte:

Os sistemas de ensino definirão as normas de gestão democrática do ensino

público na educação básica, de acordo com as suas peculiaridades e

conforme os seguintes princípios:

I – participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto

pedagógico da escola; II – participação das comunidades escolar e local em

conselhos escolares ou equivalentes. (BRASIL, 1996).

A gestão das escolas pesquisadas, de modo geral, se mostrou centralizadora e

autoritária; as decisões, no que se refere a questões pedagógicas, financeiras e administrativas,

são tomadas pela direção escolar que nas reuniões do CDCE apresentam suas propostas já

definidas; os diretores chegam até a escutar algumas opiniões, porém, suas decisões são as

que prevalecem; essas questões ficam mais evidentes quando, ao participar das reuniões, o

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diretor de uma das escolas diz o seguinte: “[...] aqui temos pautas que é só para ler mesmo

[...]”.

A dificuldade em participar nesses espaços acontece à medida que o segmento da

direção escolar, em suas práticas autoritárias, muitas vezes, anula a autonomia de outros

segmentos, como os de pais e alunos que formam esses colegiados. Muitos pais chegam

nessas reuniões, entram calados e saem calados.

O movimento atual que rege a sociedade capitalista em termos econômico,

social e político vem orientando a configuração da democracia no

movimento educacional brasileiro, demonstrando que a participação,

categoria imprescindível nessa configuração, nem sempre se sustenta em um

princípio que inspire um compromisso social e político que venha a

assegurar uma concepção de educação que conceba o homem como sujeito

da história e não sujeitado a ela. (LIMA, 2011, p. 6).

Conforme Lima (2011), o modelo participativo, configurado a partir dos anos de 1990,

não materializou os ideais populares das décadas anteriores, que reivindicavam uma educação

de qualidade, igualitária e una; temos um modelo de Estado neoliberal que atende ao capital

desmantelando as escolas públicas, a partir das reformas neoliberais feitas por FHC que foram

continuadas nos governos de Lula e Dilma. As pessoas são até chamadas a participar, porém,

limitadas ao que interessa para o Estado.

Na escola A não há representantes de alunos no CDCE, os pais que participam não

intervêm nas reuniões; na fala de uma entrevistada dessa escola, a presidente do CDCE revela

que a relação existente nesse conselho é muito conflituosa. Na escola C os pais chegam e

assistem a fala da diretora da escola, sem manifestar seus interesses. Não há, portanto, nessas

reuniões, a representatividade desses segmentos. Paro (2016) salienta que a dominação

existente nesses espaços, a partir de uma prática política autoritária, anula ou diminui a prática

democrática, estabelecendo ali o poder de uns sobre outros.

O exercício da democracia não se completa se todos os segmentos não participam

efetivamente nas deliberações dos Conselhos. Conforme Fortunati (2007):

A história da convivência democrática tem demonstrado que, em todo o

processo que envolva cidadãos e os vários interesses existentes numa

comunidade escolar, a convivência do Conselho Escolar com a equipe

diretiva da escola nem sempre é a mais pacífica possível, o que é natural

num processo que tem a complexidade da participação de toda a comunidade

escolar, pois, muitas vezes, os interesses dos alunos se confrontam com os

dos professores, os dos pais, com os da direção da escola, e assim por diante.

Em muitas escolas, a relação destas com as famílias tem sido uma fonte de

desgastes para ambas as partes. Tal relação pode ser marcada pela

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desconfiança, pela superficialidade, pelo medo, pelo autoritarismo, pela

transferência de responsabilidades, pela imposição de culpas, pelo “natural”

desinteresse da família em relação à vida escolar de seu filho, pela

incapacidade de diálogo, pela competição. (FORTUNATI, 2007, p. 61, grifo

do autor).

Ainda que a nossa hipótese, ao início deste estudo, tenha sido a de que esses

colegiados tenham funcionamento limitado no que tange aos processos democráticos, melhor

dizendo, sejam inoperantes, com formas de participação meramente instrumentais, passivas,

queremos afirmar que reconhecemos a sua importância enquanto se constituírem como

espaços legítimos para o aprendizado das relações democráticas; há sim um potencial de

atuação pedagógica para democracia nos conselhos, na realidade são as dificuldades relativas

ao modelo de gestão educacional de perfil gerencialista induzido que precisam ser superadas,

de forma muito inteligente, para a sua efetivação.

Conforme a Secretaria de Educação do Estado de Mato Grosso, o Conselho

Deliberativo da Comunidade Escolar deve seguir as seguintes regras:

A criação do CDCE é orientada pelo Edital 012/95/Seduc/MT.

Os passos são:

1. Convocação, pelo Diretor da Escola, de uma Assembleia Geral com

todos os segmentos da comunidade escolar;

2. Eleger paritariamente os representantes de cada segmento;

3. Após eleitos, os membros do Conselho (no mínimo oito e no máximo

12) elegem o Presidente (que necessariamente não é o Diretor da Escola), o

Tesoureiro e o Secretário;

4. Em seguida, deve ser lavrada a ata de posse da diretoria, com

respectivos membros;

5. O Conselho eleito elabora o estatuto da entidade, que deverá ser a

provado em assembleia geral. (SEDUC/MT, 1997, p. 14).

A formação dos conselhos é paritária e a presença dos conselheiros, principalmente os

que representam a comunidade, os alunos, os pais, é fundamental para que a democracia se

efetive nesses espaços; a escola pode fazer muita coisa para favorecer a presença dos

membros que formam esses colegiados, flexibilizando horários, por exemplo, para que

possibilite a participação de todos, inclusive do segmento que representa os professores, que

também se ausentam nas reuniões, pois muitas vezes estão em sala de aula.

A tabela 3, a seguir, evidencia a soma da representatividade dos conselheiros de todas

as escolas e a ausência de muitos conselheiros nas reuniões desses colegiados; entre eles o

segmento dos pais, também o segmento dos alunos, se apresentam como os que menos

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participam das reuniões, quando não ausentes, pouco se manifestam nas reuniões. Todavia, os

professores também estavam ausentes na maioria das reuniões observadas.

Tabela 3 - Representantes dos CDCEs que responderam ao questionário

Segmento que representa Total de conselheiros presentes nas reuniões

Diretor 03

Pais/Mães 04

Funcionários 07

Professores 03

Alunos 03

Total 20

Fonte: Registro da pesquisadora - pesquisa empírica: obervação das reuniões, respostas ao

questionário.

A gestão democrática visa o compartilhamento das decisões nesses colegiados, e a

ausência dos membros que formam os segmentos dos CDCEs deixa de promover uma gestão

realmente democrática; desse modo, as decisões são já pré-estabelecidas pela equipe gestora

das escolas, ou seja, os diretores e presidentes dos CDCEs. Esse modelo de gestão escolar

autoritário não permite a autonomia participativa nos conselhos escolares e, por outra via,

acaba por desvirtuar um papel do diretor escolar como coordenador de decisões coletivas que

visem a melhoria do trabalho educacional em sua totalidade. Torres (2012) nos permite

compreender que:

Na educação em outros setores da sociedade lideram-se movimentos

centrados na democratização dos direitos sociais e no controle da aplicação

dos recursos públicos. Nesses movimentos, o ser humano constitui o centro

das reivindicações, renegando-se às políticas públicas determinadas e

determinadoras do mercado, este entendido pelos governantes como questão

fundamental do desenvolvimento econômico, político e social. Em seus

pontos de vista, concepções e práticas sociais, os educadores, em geral,

populares ou de carreira, revelam diferenças sobre o que consideram

democrático nas políticas educacionais implementadas pela União, estados e

municípios, por organizações de base, por movimentos sociais. Para eles, as

considerações acerca do caráter polissêmico da democracia e das múltiplas

visões de mundo e sociedade, em disputa por hegemonia, são de enorme

interesse, pois esclarecem as controvérsias e diferenças que estão postas nos

espaços institucionais, governamentais e nos movimentos sociais. Além

disso, também interessa compreender e traduzir aquilo que os estudiosos

estão denominando “invenção da democracia”, “reinvenção do público” e as

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repercussões que possam ter na teoria da educação. (TORRES, 2012, p. 61,

grifos da autora).

Torres nos permite entender que, nos espaços deliberativos dos conselhos, os sujeitos

ali implicados pela realidade posta não podem ir além de suas próprias limitações acerca das

relações interpessoais e dos processos democráticos, pela forma como são encaminhados e

assimilados pelo público partícipe, nos espaços institucionais, nesse caso, as escolas.

Mato Grosso foi um dos pioneiros na implantação da gestão democrática das escolas

públicas, como já afirmamos anteriormente, porém, na práxis, a gestão democrática é ainda

um desafio; nesses conselhos o que realmente se efetiva, como nos relata Paro (2000), é uma

democracia concedida, em que os conselheiros, na verdade, são nomeados apenas para

garantir a institucionalidade dos conselhos, pois, sem esses CDCEs estarem legalizados e

registrados em cartório, os recursos e as verbas Estaduais e do Governo Federal não chegam

às escolas; entre outros obstáculos verifica-se a falta de tempo dos membros de alguns

segmentos em estarem presentes nessas reuniões. Segundo Paro (2016, p. 204-205):

Com relação à representação nos mecanismos coletivos de participação, em

especial o conselho de escola, há uma série de questões que podem ser

lembradas. Entre elas está a que diz respeito ao oferecimento de tempo e

espaço para que os representantes possam se reunir com seus representados

e, assim, possam levar para as reuniões os reais interesses e pleitos destes

últimos. Quanto ao tempo, as medidas extrapolam a própria unidade escolar,

visto que se referem, em grande proporção, às condições de trabalho e

emprego dos pais ou responsáveis, aos quais se pode pensar em conceder

licença para se ausentar do trabalho para participar de reuniões na escola.

Os CDCEs pesquisados atendem a legislação quanto a sua legalização formal, porém,

deixam a desejar quando o assunto é o compartilhamento das decisões administrativas,

pedagógicas e financeiras; nas reuniões desses colegiados foi observada, constantemente, a

ausência de conselheiros que deixam de representar seus segmentos, e certa acomodação da

direção escolar em relação a essas ausências, portanto, a participação social e o pleno

exercício da cidadania de todos os segmentos que compõem o colegiado, de fato, está ainda

distante de um processo de democratização efetiva entre a escola e a comunidade.

O discurso é pautado na participação popular, mas na prática se percebe uma

inibição da percepção dos sujeitos históricos quanto ao autoritarismo

crônico, atrelada à própria correlação de forças na busca do poder dentro das

instituições, pontos que não deixam entrever limites impostos. (LIMA;

ARANDA; LIMA, 2012, p. 7).

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A não ação de vários agentes que estão nesses colegiados colabora para manter a

hegemonia das decisões e o controle nas mãos dos dirigentes das escolas, e a participação da

comunidade da escola pública se mantém uma utopia que não rompe os limites impostos à

sociedade.

4.2 PARTICIPAÇÃO E AUTONOMIA DOS CONSELHEIROS NAS DELIBERAÇÕES

NOS CDCES

Foi possível constatar, a partir da observação empírica e aplicação dos questionários e

entrevistas, que há contradições entre o que os conselheiros desses colegiados responderam

nos questionários, entrevistas e suas efetivas ações nas reuniões. Como os questionários foram

aplicados nas próprias reuniões e algumas entrevistas foram feitas fora do espaço escolar, os

conselheiros deram voz ao que realmente ocorre nas reuniões dos CDCEs, e como os

consideram. Paro (2016) revela que:

[...] pode-se dizer que existem duas maneiras de produzir essa convivência:

pela dominação e pelo diálogo. A dominação é uma prática política

autoritária que reduz o outro à condição de objeto, à medida que anula ou

diminui sua subjetividade e estabelece o poder de uns sobre outros. Já o

diálogo é a alternativa democrática de convivência política. Repare-se que já

não se trata de conceber a democracia apenas em seu sentido mais restrito de

“governo do povo” ou de vontade da maioria, mas de vê-la em seu sentido

mais rigoroso e geral, ou seja, como convivência pacífica e livre entre

indivíduos e grupos que se afirmam como sujeitos históricos. (PARO, 2016,

p. 31, grifo do autor).

As considerações de Paro (2016) revelam o modelo de gestão autoritária que temos

implantado nos CDCEs nas escolas pesquisadas, em que muitos dos conselheiros se sentem

inibidos em expor sua opinião referente aos temas debatidos e, nesse sentido, deixam de

participar ou até mesmo de solicitar alguma pauta nas reuniões. Na escola A, por exemplo, o

segmento dos alunos não existe no conselho, e na fala de uma conselheira entrevistada, a

convivência entre os conselheiros da escola é bem conflituosa, não havendo diálogo entre os

membros do colegiado. Trata-se de uma instância de caráter meramente normativo.

Os conselheiros deixam claro que sabem da importância da gestão democrática,

entendendo que seu objetivo é participar das decisões dessas instâncias colegiadas, por outro

lado, sentem a necessidade de maior autonomia.

Durante as entrevistas, ao serem questionados sobre o relacionamento dos

conselheiros com a gestão da escola, foram feitos os seguintes relatos:

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Eu não acho funcional, acho assim é importante o conselho, cria uma

transparência, mas veja bem, no final do ano vem uma pilha de papel desse

tamanho chamada prestação de conta, prestação de conta da escola, o diretor

põe em cima de uma mesa que é a função dele e fala: olha, aqui está a

prestação de conta do ano de “2015”, todos vocês do conselho podem

apreciar e qualquer dúvida pergunta pra nós, pra ver quem ta de acordo, que

tiver alguma dúvida me fala. Quem é o ser humano que às 16 ou 17 horas da

tarde que vai apreciar milhares de documentos e vai estar questionando o

diretor de um assunto do meio do ano passado? Então não funciona. A ideia

é boa, é bonita, linda para o governo, mas pra questões de corrupção,

dinheiro mal aplicado, é projeto que não funciona, nunca vai funcionar. É o

que o diretor quer que acontece. (Conselheiro representante do segmento de

pais e mães da escola B).

Tem muitas coisas que precisam ser melhoradas, sugiro um trabalho

em equipe que não tem no CDCE. (Conselheiro representante do

segmento de pais e mães da escola C).

[...] ali existe um grupo de pessoas que manda, comanda, sabe, e nós

não temos voz e não temos autonomia pra nada. E se caso você

levanta a voz você é coagido, ameaçado de dar o destrato, como

comigo já aconteceu, não pode fazer reclamação entendeu.

(Conselheiro representante do segmento dos funcionários da escola

A).

As falas apresentadas mostram que as decisões são tomadas pela direção das escolas,

porém, todos os segmentos que formam o CDCE se responsabilizam em conjunto, já que

todos se comprometeram em participar desses colegiados. O modelo de participação nessas

instâncias colegiadas é instrumental, em que, conforme Bordenave (1992) e Sayago (2000),

apesar de ser chamada de gestão democrática, a participação está limitada a uma mera

representatividade; como vimos nas falas, alguns conselheiros não reconhecem o espaço dos

conselhos como um local que lhes permite a sua participação de forma autônoma, o que se

contrapõe à participação ativa, como vimos com Sayago (2000).

O Gráfico 1 expõe a seguinte pergunta do questionário: como você foi escolhido para

participar do conselho? Esse questionamento foi aplicado nas três escolas, em que, ao

comparar com as entrevistas e analisarmos as falas de alguns conselheiros, inclusive de uma

ex-diretora de uma das escolas estudadas, obtivemos respostas que contradizem ao relatado

nos questionários.

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Gráfico 1 - Como você foi escolhido para ser representante do Conselho?

Fonte: Respostas dadas ao questionário aplicado aos conselheiros, formulado pela autora a partir dos

dados da pesquisa empírica.

O gráfico apresenta a resposta ao questionário e demonstra que os CDCEs são

democráticos, já que a maioria dos conselheiros respondeu que foram eleitos membros do

conselho. Dos 28 conselheiros titulares das três escolas selecionadas 19 conselheiros

responderam ao questionário dizendo que foram eleitos, um conselheiro respondeu que foi por

indicação e 08 conselheiros estavam ausentes e não responderam á essa questão. Dentre esses

conselheiros, os segmentos dos pais e alunos são os mais ausentes.

Porém, na observação, os membros do segmento de alunos da escola C perguntaram

para a diretora como haviam sido escolhidos para a função de conselheiros, deixando clara a

indicação para representar o segmento dos alunos na escola. E, ao comparar o questionário

com as entrevistas realizadas, as respostas são contraditórias, como se pode ver nas falas dos

sujeitos a seguir.

A eleição não é democrática, isso ai é uma coisa direcionada, os

concorrentes nem se levantam pra concorrer porque sabem que não vão

ganhar, o diretor alicia os alunos, alicia todo mundo, a eleição é tendenciosa

uma coisa que vem lá de cima. (Conselheiro da escola B, representante de

pais e mães de alunos).

Eu acredito que a maioria é manipulada, até acontece a eleição, mas tudo

esquematizado. (Ex-diretora, escola A).

0

2

4

6

8

10

12

14

16

18

20

ESCOLA A ESCOLA B ESCOLA C TOTAL

1 0 0

1

9

6

4

19

4 4

8

Por indicação Por eleição Não responderam

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É melhor não falar, prefiro não falar. (Conselheira da escola C, representante

do segmento de pais e mães).

Os conselhos, como órgãos colegiados que possuem em sua amplitude o poder

deliberativo, consultivo, mobilizador e fiscalizador nas escolas públicas, em Mato Grosso,

conforme a SEDUC/MT, devem seguir as seguintes regras para formação dos CDCEs:

A criação do CDCE é orientada pelo Edital 012/95/Seduc/MT.

Os passos são:

1. Convocação, pelo Diretor da Escola, de uma Assembleia Geral com

todos os segmentos da comunidade escolar;

2. Eleger paritariamente os representantes de cada segmento;

3. Após eleitos, os membros do Conselho (no mínimo oito e no máximo

12) elegem o Presidente (que necessariamente não é o Diretor da Escola), o

Tesoureiro e o Secretário;

4. Em seguida, deve ser lavrada a ata de posse da diretoria, com

respectivos membros;

5. O Conselho eleito elabora o estatuto da entidade, que deverá ser

aprovado em assembleia geral.

(SEDUC/MT, 1997, p. 14).

É evidente que a garantia constitucional da gestão democrática não garante a

democratização no interior das escolas públicas, por conta do autoritarismo de alguns

gestores, que preferem manter a centralidade das decisões desses colegiados a fim de atingir

seus próprios objetivos; a manipulação da gestão da escola ocorre desde a eleição para

constituição desses colegiados com o aliciamento dos dirigentes escolares.

A gestão democrática para ser legítima deve fazer valer a participação e

democracia sem mascaramentos, isto é, considerados serão o ideário da

consciência coletiva e suas solicitações quanto à leitura de mundo. É

exatamente nesse sentido que é necessário analisá-la criticamente,

problematizá-la, desmistificá-la, o que corresponde a transitar entre suas

possibilidades e seus limites. É esse caráter de superação de uma

potencialidade imutável da gestão democrática que poderá possibilitar uma

forma consequente a um conteúdo de construção de processos

democratizadores, que, de fato, correspondam à superação das condições

autoritárias e autocráticas presentes, no início do século XXI, na gestão

escolar [...]. (LIMA; ARANDA; LIMA, 2012, p. 8).

As observações empíricas nesses espaços dos conselhos pesquisados deixam

transparecer o autoritarismo ainda presente que, como bem formula Kosik (1976), esconde a

real essência através da aparência. Ao dizerem de suas frustrações em relação ao processo de

participação na vida institucional, os conselheiros, um a um, revelam que há muitas

contradições no que podemos afirmar como democrático.

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Essas questões são visíveis também no Gráfico 2, apresentado abaixo, demonstrando a

hegemonia da direção escolar nas decisões deliberativas do conselho.

Gráfico 2 - Nas reuniões que você participou fez alguma intervenção ou proposições?

Fonte: Formulado pela autora a partir dos dados da pesquisa empírica.

Conforme o gráfico, ao responder os questionários, os conselheiros dizem já ter feito

intervenção ou proposições nos CDCEs. Ocorre que, nas observações realizadas nessas

reuniões, poucas vezes vimos essas intervenções ou propostas da maioria dos segmentos que

o compõem; as vozes, em sua maioria, são dos diretores e presidente dos conselhos e, ao fazer

a mesma pergunta nas entrevistas, podemos ver que as falas são diferentes das respostas nos

questionários. O que podemos observar é, ainda, conforme Paro (2000), uma cultura pouco

participativa da comunidade na gestão escolar; há um constrangimento dos representantes da

camada popular que não se acham preparados ou escolarizados o suficiente para debater

temas relacionados à gestão democrática, às questões pedagógicas, ou fiscalizadoras, além das

operações financeiras realizadas pela equipe gestora.

Na fala de alguns desses sujeitos, que preferem o anonimato e solicitaram que a

entrevista fosse feita em outro local que não fosse o ambiente escolar, eles puderam expressar

de forma clara o que pensam e como realmente ocorrem as decisões nos CDCEs. Para Lima:

Quanto ao controle, ele ocorrerá por meio de Agências Reguladoras e

Conselhos Gestores. Quanto à sociedade, ela assiste, aprecia e fiscaliza,

conforme o interesse e determinação estatal. É a participação artificial e

0

2

4

6

8

10

12

14

Escola A Escola B Escola C Total

6

4 4

14

1 2

0

3 3 4 4

11

Sim

Não

Não responderam

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instrumental da “populacha” desorganizada e inativa. (LIMA, 2011, p. 43,

grifo do autor).

Foi possível ver as reações e o sentimento de impotência, assim como a falta de

autonomia desses sujeitos ao ouvi-los; as informações são totalmente contraditórias com as

respostas do Gráfico 2, apresentado acima; foram registradas as seguintes informações em

relação a esses colegiados, como pode ser observado abaixo referente à mesma questão, se o

conselheiro faz intervenções ou proposições nas reuniões dos conselhos, e as respostas são as

seguintes:

É o grupo da direção que manda, de forma autoritária, eu cheguei a pensar,

eu faço parte do conselho, mas eu não tenho autonomia, ninguém me

respeita, eu não tenho autonomia para nada. (Conselheira da escola A,

representante do segmento dos funcionários).

Não tem autonomia nas decisões, suas opiniões não são acatadas. As

dificuldades para o funcionamento são os conflitos de ideias que não batem,

também a falta dos conselheiros de alguns segmentos nas reuniões.

(Conselheiro da escola C, representante do segmento de pais e mães de

alunos).

A partir do momento que entrei no CDCE, passei a convocar todos os

segmentos, porém a gestão não concorda com uma reunião de fato

democrática no CDCE, que acaba gerando conflitos com a gestão.

(Conselheira da escola C, presidente do CDCE).

Como nos referenciamos outras vezes, não há um interesse intrínseco de alguns

segmentos, que compõem esses colegiados, em participar, já que eles não têm autonomia

decisória nos colegiados. Percebe-se, em suas falas, que não há de fato, nesses espaços, um

controle social referenciado, seja pelo comodismo, seja pela opressão que sofrem ou falta de

estímulo participativo da própria escola que, como órgão público, deveria visar a

democratização de seu espaço para todos e uma formação crítica social dos sujeitos, formar

cidadãos que participem da coisa pública. Conforme Cardoso:

O trabalho do gestor tende a dar certo quando bem entendido que a gestão

escolar, via de regra, vai se constituindo num projeto coletivo, onde o que

“eu penso” cede paulatinamente espaço para o que “nós pensamos”. Isto

significa que as relações estabelecidas no âmbito profissional sejam

construídas na horizontalidade e não na verticalidade. Ora, o grande desafio

para a efetividade da gestão democrática nas escolas públicas é compartilhar

o poder. Isto é, compartilhar as dificuldades, os conflitos, as necessidades e

também os avanços e as conquistas. (CARDOSO, 2013, p. 9, grifos do

autor).

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79

O modelo vigente de gestão educacional tem sido eivado por práticas configuradas

pelas tendências mercadológicas atuais, nas quais as escolas são concebidas como empresas e

gestores se colocam como empreendedores destas. Com esse perfil empreendedor, os gestores

engessam as práticas administrativas a meras reproduções de gerência mercadológica,

tratando o público como cliente e o conhecimento escolar se torna, nessa via, mera

mercadoria. Quando a verdadeira lógica está inversa, o público se constitui de sujeitos que

têm o direito à educação, e o conhecimento é um bem público a ser compartilhado, isso

quando a nossa referência é a democracia social/popular.

O Gráfico 3 apresenta a questão sobre o conhecimento dos conselheiros sobre o

regimento ou as normas que regem as atribuições do CDCE.

Gráfico 3 - Você conhece a lei ou Regimento de criação do Conselho do qual faz parte?

Fonte: Formulado pela autora a partir dos dados da pesquisa empírica.

Este gráfico apresenta a contradição em relação aos questionários aplicados e às

entrevistas feitas com alguns dos conselheiros, pois muitos responderam nos questionários

que sim, conheciam o regimento do CDCE das escolas, porém, nas entrevistas, relataram não

conhecer, portanto não fizeram parte de sua construção. Referente à pergunta acima as

respostas foram as seguintes. Dos 28 conselheiros das escolas, 15 responderam ao

questionário dizendo que conhecem o regimento interno dos conselhos que fazem parte, 04

conselheiros dizem não conhecer esse regimento e 09 conselheiros se ausentaram nas reuniões

ou não quiseram responder ao questionário. Porém é evidente nas entrevistas que poucos

conhecem de fato os regimentos dos respectivos conselhos deliberativos das escolas

pesquisadas.

0

2

4

6

8

10

12

14

16

Escola A Escola B Escola C Total

9

5

1

15

1 1 2

4 4 5

9

Sim Não Não responderam

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Eu pedi uma cópia do regimento do conselho, o secretário não deixou ela

“diretora”, me dar, eu pedi pro segmento professor que é o coordenador, pedi

pra ela, porque quero saber e ela não me deu. (Conselheira da escola A,

representante do segmento de funcionários).

Não conheço. (Conselheira da escola C, representante do segmento de pais e

mães de alunos).

Na Portaria nº 136/97/SEDUC/MT constam as instruções para organização dos CDCE.

O Art. 2º dessa portaria diz o seguinte sobre as atribuições dos CDCEs:

I – colaborar com o acompanhamento dos trabalhos escolares, apoiando a

aprendizagem dos alunos, detectando dificuldades e propondo formas

alternativas de superação das mesmas;

II – contribuir para o funcionamento eficiente e criativo da escola;

III – colaborar na execução de uma política educacional voltada para a

Gestão Democrática e de qualidade;

IV – gerenciar recursos referentes à alimentação escolar, execução de obras,

aquisição de bens e contratação de serviços, vedada a contratação de

professores e servidores para a escola. (SEDUC/MT, 1997, p. 27-28).

As leis ampliam o poder e o direito ao exercício da democracia, da cidadania, dando

aos conselheiros oportunidade de contribuírem com a fiscalização, de contribuírem com a

melhoria na educação pública, formando sujeitos que saibam interpretar o mundo, além de

controlar os recursos que chegam para escola. Porém, conforme Cardoso (2013), uma escola

de fato democrática, e que entenda a educação como emancipadora das pessoas, se torna um

desafio para todos os envolvidos, as leis por si só não garantem a democratização das escolas

públicas. Portanto, não depende somente de uma postura mais firme e atuante nas atitudes

desses membros, é preciso comprometimento de todos os envolvidos com a gestão

democrática da escola pública, ou seja, do governo, dos diretores das escolas, dos segmentos

que formam o conselho; não é com um processo autoritário dos diretores ou dos presidentes

dos CDCEs, que chegam com suas propostas já prontas e definidas, que iremos superar a falta

de qualidade na educação pública.

Segundo Silva e Torres (2008):

A participação política na deliberação dos assuntos públicos é um desafio

que se impõe a todos nós brasileiros. Qualificar o funcionamento dessas

instâncias, na defesa dos interesses coletivos, depende do grau de maturidade

ideológica dos sujeitos partícipes. Cabe à educação papel fundamental na

construção de uma cultura alicerçada na democracia popular com vistas a

desenvolver mecanismos eficazes de controle social. Para os segmentos que

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representam as classes populares é preciso pensar, sistematicamente,

algumas estratégias de mobilização nas quais os representantes desses

setores apreendam formas de participação que os prepare politicamente para

a criação da contra-hegemonia. (SILVA; TORRES, 2008, p. 212).

Na fala de um conselheiro podemos verificar a vontade em participar, em conhecer o

regimento e o PPP da escola A, porém a própria diretora lhe nega essas documentações, e

assim, a autonomia como sujeito e como representante nesses colegiados.

Na escola C, perguntei para a diretora da escola se os conselheiros conheciam o PPP

da escola, e a resposta foi a seguinte: conforme a fala da diretora da escola “C”, o PPP da

escola não estava atualizado. Já na entrevista da escola “A” as respostas foram as seguintes:

Não, esse projeto político pedagógico, ele é feito nas caladas sabe, por

pessoas, por um grupinho de pessoas e não conheço o PPP da escola.

(Conselheiro da escola A, representante do segmento de funcionários).

Não, não conheço o PPP da escola. (Conselheiro da escola B, representante

do segmento de pais e mães de alunos).

A configuração de modelo de Estado gerencialista vem afirmando a participação numa

perspectiva meramente instrumental; nesse sentido, a perspectiva de participação, apresentada

como princípio pela gestão democrática do ensino público na forma da lei, no Art. 206 da

CF/1988, perdeu sua dimensão a partir das reformas feitas pelo Estado, nos idos de 1990. Tais

reformas provocaram o desmonte do Estado como responsável pelo provimento das demandas

das políticas públicas, e esse novo desenho também dificultou a participação ativa, na

perspectiva da democracia social.

Referente a isso, pode-se ver, no Gráfico 4, a seguir, outra contradição existente em

relação a esses órgãos colegiados; ele demonstra que qualquer conselheiro pode fazer, ou faz

propostas de reunião ao CDCE. Já nas entrevistas, averiguamos que as propostas ou pautas

das reuniões, na maioria das vezes, são feitas pelos Diretores das escolas pesquisadas;

raramente um membro do conselho propõe alguma reunião e, mesmo quando um desses

conselheiros o fez, não foi atendido pela diretora da escola A.

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Gráfico 4 - Quem propõe a pauta das reuniões do Conselho?

Fonte: Formulado pela autora a partir dos dados da pesquisa empírica.

O resultado do Gráfico 4, acima, aponta que em sua maioria as reuniões são propostas

pelos diretores das escolas pesquisadas, porém segundo a legislação, qualquer conselheiro

pode solicitar uma reunião nesses colegiados. No entanto, ao solicitar uma reunião aos

gestores das escolas, alguns conselheiros sentem que suas solicitações não são acatadas. Do

total de 28 conselheiros, 10 responderam que as reuniões são propostas somente pelo diretor

da escola, 08 conselheiros responderam que qualquer membro titular do conselho podem

propor reunião á esses colegiados e 10 conselheiros se ausentaram ou não responderam á

questão.

A reunião é entre a diretora a presidente do conselho e o secretário, ah tal dia

vai ter reunião, prega o papel lá na parede. não tem uma data definida, e eles

não avisam, eu fico sabendo por que eu leio no mural da escola.

(Conselheiro da escola A, representante do segmento de pais e mães de

alunos).

A presidente do conselho tem que nos ouvir, porque ela acata a decisão da

gestão, os alunos não são chamados pra reunião. Os alunos e os pais têm

uma força tão grande que eles nem imaginam. Essas são as dificuldades, é

um conselho de faz de conta, como se fossemos marionetes. Já solicitei

reunião e não teve. (Conselheira da escola A, representante do segmento de

funcionários).

Um maior protagonismo da comunidade para que assuma responsabilidades nas

escolas públicas, é um dos objetivos do estado gerencialista. Isso significa dizer, também, que

está por trás um objetivo de desobrigar o Estado de seus deveres. E, por outro lado, se

concretiza na práxis um modelo instrumental a serviço das legislações que obrigam a criação

0

2

4

6

8

10

Escola A Escola B Escola C Total

6

4

10

2 2

4

8

2

4 4

10

O presidente do Conselho Qualquer Conselheiro Não responderam

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desses colegiados, e os conselheiros não têm autonomia decisória nesses espaços públicos.

Como esse movimento gerencialista descrito pode afetar a gestão da educação nas redes

públicas de ensino e como pode impactar os conselhos escolares?

Considerando que o modelo político e econômico vigente visa atender as demandas do

capitalismo, valorizando a iniciativa privada, e os recursos que chegam para as escolas

públicas são insuficientes para manutenção de um serviço de qualidade referenciada, o

Governo Federal se desobrigou de grande parte do financiamento da educação pública ao

descentralizar essas obrigações para os Estados e Municípios, porém centraliza ainda as

decisões de onde devem ser investidos esses recursos.

A cultura patrimonialista, vivenciada em nosso país, parece persistir ainda nesses

colegiados que se apresentam inoperantes quanto ao processo decisório das questões mais

relevantes de interesse do público. A transformação dessa cultura participativa “instrumental”,

que temos ainda nos conselhos escolares, é importante para se efetivar a democracia nos

espaços institucionais. Conforme Lima e Nunes (2011):

É importante salientar que o Conselho é um canal legítimo de participação e,

como tal, tem suas limitações. Entretanto, deve ser ocupado por pessoas que

concebam a si mesmas como sujeitos históricos, capazes de mudar e

construir um Conselho que garanta a participação, a democracia e a

autonomia em um sentido mais crítico, mais político, para que, daí,

construam sua legitimidade social confrontando com as atitudes impositivas,

autoritárias e conservadoras. E, assim, poderem subverter essa ordem do

controle pela participação instrumental, fazendo de sua participação um

veículo a favor de uma concepção progressista. Ou seja, inverter o controle

do Estado sobre o cidadão, para um controle social, no qual o cidadão

controle o Estado e não tema o governo, no qual o sujeito insubordine o

capitalismo democrático, constituindo uma sociedade em que o homem

esteja em primeiro lugar. (LIMA; NUNES, 2011, p. 119).

No Brasil a democracia vivencia conflitos permanentes; atualmente está ainda mais

difícil falar em democracia quando assistimos aos movimentos políticos em que o governo

atual não tem legitimidade popular para estar ocupando a Presidência da República, como

vimos ocorrer com o afastamento da Presidente Dilma Roussef (31/08/2016), no qual assumiu

o poder o vice-presidente, Michel Temer. Esse fato parece nos trazer à consciência questões

sobre o que podemos fazer para dar legitimidade aos nossos conselheiros, diante da

fragilidade da democracia presente? Questionamos ainda, os representantes do “povo”, por ser

hoje uma casta política, que não presta contas à sociedade e está subordinada ao poder

econômico com a cumplicidade da mídia, estariam preocupados com os avanços do modelo

de democracia vigente? Como a participação pode ser ativa, numa perspectiva de democracia

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social, se a casta política no poder tem, insistentemente, promovido a derrota da jovem

democracia brasileira?

Estamos vivenciando atualmente no Brasil uma forte instabilidade no modelo de

democracia vigente, no qual todos nós estamos vulneráveis ao movimento da política

nacional; por tal razão é importante refletirmos criticamente sobre o sentido da democracia

para cada um de nós. Qual é a referência de democracia que temos? Os conselhos, para serem

efetivos, tanto os conselhos de políticas públicas com funções mais amplas, quanto os

conselhos escolares, do sistema micro, se constituem como instâncias com potencial

pedagógico para as práticas democráticas, mas é preciso que sejam, de fato, colegiados que

reconheçam e lutem pela autonomia de suas funções e papel na sociedade.

Nas escolas, as falas que foram registradas pelos conselhos mostram a frustração que

sentem por se sentirem engessados e, às vezes, até manipulados.

Pra que melhore nós temos que fazer valer o que a gente é, e acima de

qualquer coisa a presidente do conselho tem que nos ouvir, porque ela acata

a decisão da gestão, os alunos não são chamados pra reunião. Os alunos e os

pais têm uma força tão grande que eles nem imaginam. Essas são as

dificuldades, é um conselho de faz de conta, como se fossemos marionetes.

Já solicitei reunião e não teve. (Conselheira do segmento dos funcionários da

escola A).

O sistema não muda. (Conselheiro do segmento de pais e mães de

alunos da escola B).

As decisões vêm de cima e temos que acatar. (Conselheira do

segmento de funcionários da escola B).

Os conselhos parecem estar inoperantes, funcionando apenas por mera formalidade de

assinaturas em atas para constar prestações de contas da gestão em relação aos recursos

aplicados. Na perspectiva do modelo gerencialista do Estado, não parecem ter outro fim senão

o da prestação de contas, tanto dos conselhos gestores das políticas públicas, quanto dos

conselhos escolares, o que é muito negativo para o processo de democratização das relações

do Estado com a sociedade civil.

O Gráfico 5, a seguir, representa a participação na formulação do PPP das escolas, e

acabou por revelar a falta de conhecimento do documento por muitos dos membros do

conselho.

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Gráfico 5 - Você participou da formulação do Projeto Político Pedagógico da escola?

Fonte: Formulado pela autora a partir dos dados da pesquisa empírica.

Em relação a essa pergunta, sobre o PPP (Projeto Político Pedagógico) das escolas

pesquisadas, foi possível constatar que muitos dos membros que compõem esses colegiados

não o conhecem, poucos tiveram acesso ao PPP das escolas. Para uma das conselheiras,

mesmo havendo solicitado cópias para leitura, a escola “A” não disponibilizou as cópias

solicitadas. Por outro lado, nenhuma das escolas selecionadas nos autorizou a análise das atas

do ano de 2015, apenas a escola B disponibilizou o PPP da escola. Perguntados sobre o PPP,

se eles têm acesso:

Já solicitei o PPP da escola para conhecê-lo, porém me foi negado, nessa

escola não temos acesso a nenhum documento no CDCE. (Conselheira

representante dos funcionários da escola A).

Não conheço o PPP da escola. (Conselheira representante dos pais e mães da

escola C).

Não participei da construção do PPP. (Conselheiro representante dos

funcionários da escola B).

Os dados das entrevistas e dos questionários sobre os PPPs das escolas mostram que

são pouco acessados pelos sujeitos que deveriam de fato conhecê-los. O controle social fica

mais difícil se os sujeitos que formam esses colegiados estão desprovidos dos conhecimentos

0

2

4

6

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12

14

ESCOLA A ESCOLA B ESCOLA C TOTAL

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5 4 4

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4 4

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Sim Não Não responderam

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do principal projeto da instituição e não se sentem autônomos para o exercício de suas

funções.

A gestão escolar das escolas pesquisadas precisa, portanto, ser mais consciente em

relação ao processo democrático que implementam nesses colegiados, para que se efetive de

fato uma democratização das decisões que são tomadas nas escolas, com maior autonomia dos

sujeitos que formam os conselhos.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com o objetivo principal de investigar o funcionamento e o desempenho do Conselho

Deliberativo da Comunidade Escolar (CDCE) da rede estadual de Cuiabá - MT a presente

pesquisa foi pensada a partir da seguinte problematização: Como os conselhos escolares têm

conduzido o processo de participação dos segmentos que o compõem, se de fato é

democrático ou se há um simulacro nas articulações das equipes gestoras em relação ao

funcionamento desses colegiados?

No primeiro capítulo fizemos o percurso metodológico, apresentando os locais e os

sujeitos da pesquisa, bem como as técnicas utilizadas para a coleta de dados e o referencial

teórico-metodológico que subsidiou o estudo.

No segundo capítulo discutimos a democracia e os princípios da gestão democrática

no Brasil, visando nos pautar em referências teóricas que possam sustentar práticas

democráticas efetivas para as formas como a sociedade civil se relaciona com o Estado. Nesse

capítulo, discutimos também a gestão democrática da escola pública no Brasil, para melhor

compreendermos os eixos desse modelo de gestão e a configuração dos conselhos escolares.

O estudo destacou desde os movimentos originários da gestão democrática em nível nacional

até o percurso em nível de implementação desse modelo em Mato Grosso, com as suas

repercussões políticas e legais.

No terceiro capítulo colocamos em foco a importância dos CDCEs e as perspectivas

dos conselheiros acerca da participação e dos fins do colegiado. Discutimos sobre a

institucionalização dos conselhos gestores escolares no Brasil, os modelos de participação,

elegendo, inclusive, duas importantes categorias de análise para referenciar os dados

empíricos sobre a participação, quais sejam: a participação ativa e a participação instrumental,

com um diálogo teórico mais pertinente com Bordenave (1992), Lima e Santiago (2011),

Sayago (2000) e Nogueira (2005). Esses autores trazem formulações muito contundentes

acerca dos sentidos, modelos e perspectivas do processo de participação, os quais nos

permitem compreender melhor as dificuldades que existem nos movimentos decisórios dos

conselhos escolares, dado que a cultura tem um forte peso sobre as relações interpessoais e

institucionais, como as que ocorrem na trajetória desses colegiados.

No quarto e último capítulo apresentamos as análises dos dados empíricos que se

referem às entrevistas, questionários aplicados aos conselheiros e observações das reuniões,

conforme informação no capítulo da metodologia. As análises contemplam os relatos dos

conselheiros, as suas frustrações pela falta de autonomia que sentem quando tentam participar

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mais efetivamente e não conseguem, e mostram o quanto ainda persiste, nessas escolas

pesquisadas, um simulacro da democracia.

Os sujeitos da pesquisa foram de 28 conselheiros titulares das três escolas pesquisadas,

desse total, apenas 20 responderam aos questionários e 14 se disponibilizaram a conceder a

entrevista, sendo o segmento dos pais e alunos os mais ausentes nas reuniões presenciadas e

por conta da ausência desses membros não foi possível coletar as entrevistas dos mesmos.

O que pôde ser constatado na pesquisa empírica é uma cultura popular pouco

participativa dos membros dos segmentos dos pais, funcionários e dos alunos que compõem

os CDCEs; raramente quando presentes, esses conselheiros intervêm nas pautas das reuniões,

fazendo-se valer, portanto, como nos revela Paro (2010), “uma democracia concedida”, ou

seja, legitimada apenas na lei, limitada e pouco representativa dos segmentos que os

compõem; em geral as decisões ainda estão sob o comando da direção escolar, há uma forte

indução do que deve ser decidido e como deve ser decidido nesses espaços.

As decisões são tomadas claramente pelos diretores das escolas, portanto, os outros

segmentos que formam os CDCEs estão ali meramente para formalizar a lei que obriga a

instituição desses Conselhos. Não percebemos projetos ou propostas ativas e inovadoras que

possam validar práticas democráticas que visem a transformação social e a qualidade

educacional tão necessária para romper as barreiras do autoritarismo da classe dominante que

mantém a hegemonia, lembrando aqui a pertinente formulação de Gramsci (2000).

A presente perspectiva de gestão democrática escolar se constitui de referenciais da

ideologia gerencialista, a qual sustenta o perfil do Estado brasileiro há mais de duas décadas e

vem sendo alimentada pelos governos, ora de forma mais declarada, ora de forma mais

ocultada, porém, desde que implantada a gestão democrática no Brasil, salvo o seu processo

originário que mostrou ter um cunho progressista, logo depois, as diretrizes desse modelo se

desvirtuaram ressignificando conceitos importantes, como: participação, autonomia e

descentralização. Essas transformações impactaram os movimentos dos conselhos escolares

de tal forma que a existência de muitos deles se torna até mesmo invisível aos olhos da

comunidade escolar. Algumas falas dos conselheiros deixaram isso bem claro.

Constatamos que a participação dos conselheiros é instrumental e não ativa, numa

perspectiva democrática popular; isso significa que os conselheiros, quando deliberam algo

nessas instâncias, o fazem muito mais porque são chamados pelas direções e guiados por elas

para funções instrumentais do que, como deveria ser, uma participação ciente dos problemas,

das questões e das possibilidades pressupostas na vida institucional, na qual e para qual os

sujeitos deveriam empenhar, se visando obter uma escola pública de qualidade.

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Foi possível perceber diferença entre as respostas dos questionários e das entrevistas,

pois, em relação às intervenções e conhecimento sobre o regimento do conselho, nos

questionários obtivemos um resultado de percentual afirmativo bem maior que o negativo,

mas, nas análises das respostas às entrevistas e nas observações, constatamos pelas falas que a

maioria dos conselheiros faz intervenções raríssimas vezes nas reuniões e não poucos

afirmaram conhecer o regimento dos CDCEs. O que mostra contradição entre o que eles

percebem e de suas reais dificuldades, com aquilo que está visível no plano da aparência, por

vezes escondendo a essência, como nos ensina a descortinar Kosik (1976).

Os assuntos das pautas das reuniões são propostos sempre pela direção escolar, que

vêm carregados de afirmações e recomendações previamente pensadas e carregadas com um

tom sutil expressado pelos gestores, e muitos conselheiros, por não se sentirem autônomos,

acabam acatando de forma passiva o que é dito pelos diretores ou presidente do conselho. As

observações colocaram em evidência que as questões de aplicação das verbas que vinham

para as escolas eram discutidas, na prática, com mera informação de decisões previamente

tomadas pelas equipes gestoras; os conselheiros ouviam e acatavam sem manifestação

contrária. Em algumas reuniões foram colocadas algumas necessidades estruturais, o que

sempre acabava refutado com o argumento de falta de verba.

Como os relatos de três conselheiros, na página 78, sobre a autonomia de fazer

intervenções, as respostas mostram claramente que as três falas revelam frustrações pela falta

de autonomia e manipulação das equipes gestores ao processo democrático que o conselho

deveria proporcionar. Há um peso das questões financeiras da escola sobre o processo

decisório dos conselhos, o que lhe confere um perfil de atividades mais cartoriais do que

deliberativas de fato. Essa mesma característica parece fazer parte também dos conselhos

gestores e de políticas públicas, como mostram os resultados dos estudos de Maciel (2016),

“Conselho Municipal de Saúde de Cuiabá: Um estudo da participação dos representantes dos

usuários na gestão 2014-2016”; Freire (2016), “A Câmara do FUNDEB do Conselho Municipal

de Educação de Alta Floresta - MT: lemas e dilemas na atuação”; e Gonçalves (2015) sobre

“O financiamento da educação e o potencial de controle social dos conselhos do FUNDEB: o

caso de Sinop - MT”, estudos do Grupo de Estudos em Gestão e Financiamento da Educação,

coordenado pela Profª Drª Rose Cléia Ramos da Silva. Esses estudos trazem importantes

contribuições sobre o controle social e como os conselhos de políticas públicas da educação e

da saúde, no caso do estudo de Maciel, têm desenvolvido suas atribuições diante das questões

culturais que tanto dificultam os avanços da democracia em nosso país.

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É preciso, por meio de um projeto coletivo, pensarmos a democracia no ambiente

escolar como um forte instrumento de luta a favor das classes trabalhadoras, considerando,

sobretudo, que dessa classe vem o público mais legítimo que ocupa o espaço pedagógico das

escolas públicas; vale, então, pensarmos que é para esse público que precisamos defender a

melhoria de oferta dos serviços educacionais, melhores condições de trabalho para os

profissionais da educação e a partilha de poder no âmbito da gestão para a comunidade

escolar, garantindo, assim, um processo substancialmente democrático.

Os cursos de capacitação para esses conselheiros se torna fundamental no sentido de

garantir aos sujeitos, que se habilitam ao papel de conselheiros, o conhecimento necessário,

seja de ordem técnica ou política, como pressupõem suas funções, para um exercício

qualificado às decisões que se destinam a melhoria da vida institucional em todos os seus

aspectos: administrativo, pedagógico e financeiro. Ao analisar o fato de estar ocorrendo essa

ausência tão frequente, principalmente dos segmentos dos pais e alunos, tal dado nos revela

algo que as aparências escondem, que um modelo de gestão autoritário não favorece a

participação social nesses colegiados, fortalecendo, desse modo, o desinteresse desses

segmentos em participar, pois os mesmos se sentem frustrados ou incapazes de não

conseguirem atuar como deveriam, principalmente aqueles que têm maior entendimento do

objetivo desses colegiados. Além disso, demostra que a gestão escolar deixa de favorecer as

práticas democráticas, nas escolas públicas, anulando o potencial pedagógico dessas

instâncias colegiadas ao exercício da democracia.

Conforme foi possível entender com Cardoso (2013), o autoritarismo da gestão escolar

desconstrói o real significado dos CDCEs que, como instâncias colegiadas, reúnem

representantes de pais, alunos, professores, funcionários e da direção escolar, que têm imenso

valor para a construção de uma nova cultura democrática no país. As escolas se tornam, nesse

sentido, espaços de luta, de partilha, de aprendizado da democracia. Local em que todos

podem e devem estar presentes, já que temos garantidos esses direitos na CF/1988.

O estudo proporcionou importantes conhecimentos acerca das fragilidades do processo

democrático das instâncias deliberativas das escolas pesquisadas; os resultados das análises

mostram que é preciso um esforço coletivo para transformar a participação instrumental em

participação ativa, numa perspectiva democrática popular. O alcance de uma sociedade

efetivamente democrática só será possível com a evolução e maturidade moral e intelectual

das massas, ensina-nos António Gramsci (2000).

Pensamos em algumas estratégias e encaminhamentos para melhorar a vida

institucional dos conselhos escolares:

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1. Obrigatoriedade de capacitação técnica e política, a cada novo mandato, a todos os

membros do conselho empossados, com a articulação de estudos com as universidades,

numa perspectiva crítica, para os avanços da democracia;

2. Articulação com os conselhos de políticas públicas para fins de qualificação dos debates e

da autonomização dos colegiados;

3. Articulação com os parlamentares, em nível nacional, estaduais e municipais para

exposição de problemas e busca coletiva de soluções às demandas públicas;

4. Melhoria da representatividade dos segmentos com reuniões em assembleias gerais nas

escolas, apresentando as funções e requisito básico das atribuições para os conselheiros,

para fins de conhecimento do público do que se delibera e o que se pretende no processo

decisório dos colegiados;

5. A existência de fóruns interconselhos para a troca de experiências;

6. Tomar como conteúdo pedagógico essencial nas escolas o controle social dos gastos

públicos e a participação democrática em todos os níveis da educação, da básica à superior,

de modo a garantir processos pedagógicos permanentes para a compreensão dos limites e

avanços da democracia no Brasil;

7. Parceria entre os conselhos escolares e o Tribunal de Contas do Estado e Ministério

Público, no sentido de fortalecer a participação social nesses colegiados.

Finalmente é preciso muita força, muita garra, em momentos tão difíceis em nosso

país, para sustentarmos um modelo de democracia substancial. Mas não podemos perder os

sonhos, a esperança de conseguirmos um país melhor. Aos educadores que sonham, estamos

nos somando, porque acreditamos nos sonhos de ter um Brasil mais justo; os conselhos, sejam

no sistema macro, sejam no sistema micro político e educacional são instâncias que

potencializam a partilha do poder, mas, para chegarmos a isso, é preciso aprendermos

partilhar substancialmente o poder, o acesso à cultura, aos bens públicos e à vida de qualidade

como projeto coletivo e não individual. Há uma ética a ser transformada, se nos dirigirmos

intelectualmente às massas teremos mais condições de partilhar os nossos estudos e resultados

de pesquisa para honestamente garantir a elas a legitimidade dos espaços públicos.

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Municípios, Distrito Federal e Estados, e a participação das famílias e da comunidade,

mediante programas e ações de assistência técnica e financeira, visando a mobilização social

pela melhoria da qualidade da educação básica. Brasília: DOU, 25.4.2007.

______. Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos. Decreto nº

6.278, de 29 de novembro de 2007. Altera o Decreto nº 6.253, de 13 de novembro de 2007,

que dispõe sobre o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de

Valorização dos Profissionais da Educação – FUNDEB e regulamenta a Lei nº 11.494, de 20

de junho de 2007. Brasília: DOU, 30.11.1007.

______. Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos. Emenda

Constitucional nº 53, de 19 de dezembro de 2006. Dá nova redação aos arts. 7º, 23, 30, 206,

208, 211 e 212 da Constituição Federal e ao art. 60 do Ato das Disposições Constitucionais

Transitórias. Brasília: DOU, 20.12.2006.

______. Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos. Emenda

Constitucional nº 59, de 11 de novembro de 2009. Acrescenta § 3º ao art. 76 do Ato das

Disposições Constitucionais Transitórias para reduzir, anualmente, a partir do exercício de

2009, o percentual da Desvinculação das Receitas da União incidente sobre os recursos

destinados à manutenção e desenvolvimento do ensino de que trata o art. 212 da Constituição

Federal, dá nova redação aos incisos I e VII do art. 208, de forma a prever a obrigatoriedade

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do ensino de quatro a dezessete anos e ampliar a abrangência dos programas suplementares

para todas as etapas da educação básica, e dá nova redação ao § 4º do art. 211 e ao § 3º do art.

212 e ao caput do art. 214, com a inserção neste dispositivo de inciso VI. Brasília: DOU,

12.11.1009.

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do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério, na forma prevista no art. 60, § 7º, do

Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, e dá outras providências. Brasília: DOU,

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Lei no10.891, de 9 de julho de 2004, e dá outras providências. Brasília: DOU, 14.1.2005.

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Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação - FUNDEB, de que trata o

art. 60 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias; altera a Lei no 10.195, de 14 de

fevereiro de 2001; revoga dispositivos das Leis nos

9.424, de 24 de dezembro de 1996, 10.880,

de 9 de junho de 2004, e 10.845, de 5 de março de 2004; e dá outras providências. Brasília:

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APÊNDICES

APÊNDICE A - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE)

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO - TCLE

Título do estudo: OS CONSELHOS DELIBERATIVOS DAS ESCOLAS

PÚBLICAS: DEMOCRACIA OU SIMULACRO?

Pesquisador(es) responsável(is): Marilene Fonseca Dias, Rose Cléia Ramos da Silva

(orientadora).

Instituição/Departamento: Universidade Federal de Mato Grosso / Instituto de Educação /

Programa de Pós-Graduação em Educação - PPGE.

Telefone para contato: (065) 9242-8409 – (065) 9941-8017.

Local da coleta de dados: CDCE – Conselho Deliberativo da Comunidade Escolar,

localizadas em Cuiabá-MT.

Prezado(a) Senhor(a): Você está sendo convidado(a) a responder às perguntas desta

entrevista/questionário de forma totalmente voluntária. Antes de concordar em participar

desta pesquisa e responder às perguntas, é muito importante que você compreenda as

informações e instruções contidas neste documento.

Os pesquisadores deverão responder todas as suas dúvidas antes de você se decidir a

participar. Você tem o direito de desistir de participar da pesquisa a qualquer momento, sem

nenhuma penalidade.

Objetivo do estudo: Conhecer e analisar os conselhos escolares quanto à participação dos

segmentos que o compõem no processo deliberativo acerca dos aspectos administrativos,

pedagógicos e financeiros das escolas, bem como os impactos desses conselhos na qualidade

da educação ofertada pela instituição.

Procedimentos: Sua participação nesta pesquisa consistirá apenas em responder às perguntas

formuladas que abordam sua atuação no CDCE – Conselho Deliberativo da Comunidade

Escolar.

Benefícios: Esta pesquisa trará maior conhecimento sobre o tema abordado, sem benefício

direto para você.

Riscos: A participação respondendo as perguntas formuladas pelo pesquisador não

representará qualquer risco de ordem física ou psicológica para você.

Sigilo: As informações fornecidas por você terão sua privacidade garantida pelos

pesquisadores responsáveis. Os sujeitos da pesquisa não serão identificados em nenhum

momento, mesmo quando os resultados desta pesquisa forem divulgados em qualquer forma.

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Eu estou ciente e de acordo com o que foi anteriormente exposto, e concordo em

participar desta pesquisa, assinando este consentimento em duas vias, ficando com a

posse de uma delas.

Cuiabá, 12/11/2015.

_________________________________________________

Assinatura do Participante

Nome:

Segmento que representa no Conselho:

_________________________________________________________

Pesquisador responsável: Marilene Fonseca Dias

Telefone Contato: 065-99418017

Se você tiver alguma consideração ou dúvida sobre a ética da pesquisa, entre em contato:

Comitê de Ética de Humanidades da Universidade Federal de Mato Grosso

Coordenadora Dra. Rosangela Kátia Sanches Mazzorana Ribeiro

Instituto de Educação / IE – Sala 31 tel. (65)3615-8539

Email – [email protected]

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APÊNDICE B - Roteiro das Entrevistas para os Membros Titulares dos CDCEs

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

INSTITUTO DE EDUCAÇÃO Tel.: (65) 3615-8431

Projeto de Pesquisa:

QUAL O IMPACTO DO CONSELHO ESCOLAR PARA A GESTÃO E PARA A

COMUNIDADE DA ESCOLA PÚBLICA: democracia ou simulacro?

Prezado Conselheiro:

Esta entrevista tem como objetivo coletar informações sobre o perfil, atuação e desempenho

dos (CDCE) Conselhos Deliberativos da Comunidade Escolar de três escolas estaduais do

município de Cuiabá. A sua participação e as respostas às questões abaixo serão fundamentais

para o desenvolvimento dos estudos propostos.

ENTREVISTA

1 – Você faz alguma intervenção ou proposições nas reuniões do conselho, quais são elas?

2 – Você sente que tem autonomia em suas decisões? Elas são acatadas?

3 – Quais as principais dificuldades você destaca para o exercício de conselheiro em sua

escola?

4 – Você tem conhecimento de onde são aplicados os recursos que vem para escola?

5 – Em relação as reuniões:

5.1 – como são organizadas?

5.2 – Você é frequentemente convocado, comente?

5.3 – Existe um controle de presença?

6 - As datas e as pautas das reuniões do Conselho escolar são avisadas com antecedência?

7 – Você já observou alguma irregularidade em seu conselho ou na sua escola?

7.1 – Você já fez alguma denuncia de irregularidade de seu conselho ou da sua escola

á secretaria de educação?

8 – O que você sugere para melhorar a dinâmica do conselho em que atua?

9 – Como é o relacionamento do conselho ou conselheiros com a gestão da escola? Você o

considera democrático?

10 – Quais dificuldades de ação tem o CDCE?

11 – Você participou da elaboração do Projeto Político Pedagógico da Escola?

12 – Como você entende a gestão democrática na educação?

Agradeço a sua disponibilidade e atenção com este instrumento de pesquisa.

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APÊNDICE C - Questionário aplicado aos Membros Titulares dos CDCEs

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

INSTITUTO DE EDUCAÇÃO Tel.: (65) 3615-8431

Projeto de Pesquisa:

QUAL O IMPACTO DO CONSELHO ESCOLAR PARA A GESTÃO E PARA A

COMUNIDADE DA ESCOLA PÚBLICA

Prezado Conselheiro:

Este questionário tem como objetivo coletar informações sobre o perfil, atuação e

desempenho dos (CDCE) Conselhos Deliberativos da Comunidade Escolar de três escolas

estaduais do município de Cuiabá. A sua participação e as respostas às questões abaixo serão

fundamentais para o desenvolvimento dos estudos propostos.

1 – Identificação. Conselheiro, caso opte por não se identificar desconsidere essa questão.

Conselheiro (a): Sexo:

Nome do CDCE que pertence:

Endereço residencial: Bairro:

e-mail: Telefone:

2 – Como você foi escolhido para ser representante do Conselho?

POR INDICAÇÃO ( ) POR ELEIÇÃO ( )

3 – Você conhece a lei ou o Regimento de criação do Conselho do qual faz parte?

SIM ( ) NÃO ( ) PARCIALMENTE ( )

4 – Qual a periodicidade e frequência das reuniões do Conselho?

SEMANAIS ( ) QUINZENAIS ( ) MENSAIS ( )

5 – Quem propõe a pauta das reuniões do Conselho?

O PRESIDENTE DO CONSELHO ( ) QUALQUER CONSELHEIRO ( )

6 – A pauta das reuniões é divulgada previamente?

SIM ( ) NÃO ( )

7 – Você já fez proposições nas reuniões do Conselho?

SIM ( ) NÃO ( )

8 – Nas reuniões que você participou qual segmento fez mais intervenções e proposições?

OS REPRESENTANTES DA COMUNIDADE ESCOLAR ( )

OS REPRESENTANTES DA ESCOLA ( )

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9 - Com relação à sua função de conselheiro(a) como você auto avalia o seu desempenho em

fazer intervenções nas reuniões, acompanhar e controlar a implementação das políticas

públicas em sua escola?

SATISFATÓRIO ( ) RAZOÁVEL ( ) INSATISFATÓRIO

( )

10 – Você considera as atividades do Conselho como um instrumento de gestão pública dos

recursos orçamentários da escola?

SIM ( ) NÃO ( ) NÃO SEI ( )

11 – O Conselho desenvolve um trabalho integrado com a direção escolar?

SIM ( ) NÃO ( ) AS VEZES ( )

12 – Você participou da formulação do Projeto Político Pedagógico da escola?

SIM ( ) NÃO ( )

Agradeço a sua disponibilidade e atenção com este instrumento de pesquisa.

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ANEXOS

ANEXO A

Solicitação e autorização para pesquisa de campo

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ANEXO B

Autorização da Plataforma Brasil para fins da pesquisa com os Conselheiros