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3 UNIVERSIDADE FEDERAL DE LAVRAS DEPARTAMENTO DE MEDICINA VETERINÁRIA CONSTITUINTES QUÍMICOS DO PESCADO Luisa Maria Ferreira de Sousa Oliveira Seminário apresentado como parte das exigências da disciplina PMV 501 Tópicos Especiais III Nutrição x Qualidade do pescado. Lavras, 2010

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE LAVRAS

DEPARTAMENTO DE MEDICINA VETERINÁRIA

CONSTITUINTES QUÍMICOS DO PESCADO

Luisa Maria Ferreira de

Sousa Oliveira

Seminário apresentado

como parte das exigências

da disciplina PMV 501 –

Tópicos Especiais III –

Nutrição x Qualidade do

pescado.

Lavras, 2010

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1 – INTRODUÇÃO

Pescado é a denominação dada aos animais que se originam da água, seja

doce ou salgada, e que são utilizados na alimentação humana. Dentre estes

podemos incluir várias espécies de peixes, crustáceos, moluscos, anfíbios,

quelônios e mamíferos.

O pescado e seus produtos são reconhecidamente importantes

alternativas alimentares para a população humana, pois representam uma fonte

de nutrientes muito diversificada e rica. Possui proteínas de alta qualidade e

boa digestibilidade, lipídios de qualidade e baixo teor de colesterol,

constituindo-se como boas fontes de ácidos graxos poliinsaturados,

especificamente os da série ômega, que são importantes para a promoção e

manutenção da saúde, além de ser excelente fonte de minerais e vitaminas

lipossolúveis. As fibras musculares, no pescado, são mais curtas e apresentam

menor quantidade de tecido conectivo, características que lhes conferem uma

maior digestibilidade.Todos estes fatores têm estimulado o consumo de peixes

tanto de água doce como salgada e consequentemente um maior número de

pesquisas a respeito (BRUSCHI, 2001; VILA NOVA, GODOY &

ALDRIGUE, 2005 ; GUINAZI, et al., 2006).

A composição química da carne do pescado é semelhante àquela dos

animais terrestres, apresentando níveis constitucionais variáveis, sendo os de

umidade variando entre 60 e 85%, proteínas entre 15 a 24%, lipídeos entre 0,1

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a 36%, cinzas ou minerais de 0,8 a 2% e carboidratos de 0,3 a 1%. Esses níveis

apresentam variações conforme a espécie em questão, além de outros fatores

como sexo, idade, época do ano, habitat, alimentação. Também ocorrem

variações em um mesmo indivíduo, quando analisamos a musculatura

proveniente de partes diferentes do corpo. A carne da região abdominal, por

exemplo, apresenta normalmente um teor maior de lipídeos em relação à carne

da região dorsal. Além desses fatores, ocorrem variações devido a uma

característica do pescado de possuir em seu corpo uma chamada carne escura,

ou sanguínea que possui menor conteúdo de umidade e proteína do que a

chamada carne branca ou ordinária. Por outro lado, nesta carne escura o teor de

lipídeos mostra-se mais elevado, sendo que este tipo de carne também é rico

em pigmentos e tecido conectivo. (OGAWA & MAIA, 1999; PRATA &

FUKUDA, 2001; MENEZES, 2006).

2 – CONSTITUINTES QUÍMICOS DO PESCADO

O conhecimento da composição química do pescado é de fundamental

importância para a padronização dos produtos alimentares na base de critérios

nutricionais, pois fornece subsídios para decisões de caráter nutricional,

acompanhamento de processos industriais e seleção de equipamentos para

otimização econômico-tecnológica. O valor nutritivo e os preços dos peixes

dependem da textura da carne, da composição química, do rendimento e de

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fatores relacionados aos métodos de captura e beneficiamento (SIMÕES, et.

al., 2007).

A variação na composição química determina alterações que

influenciam nos índices de rendimento dos tecidos utilizados para consumo,

tanto in natura quanto como matéria prima na indústria, altera também as

características sensoriais do pescado, interfere nos processos industriais de

transformação, uma vez que as formulações são determinadas a partir da

composição da matéria prima. Assim, estas variações devem ser conhecidas, a

fim de evitar problemas no processamento (BRUSCHI, 2001).

A carne do pescado é constituída basicamente de umidade, proteínas e

lipídeos, ocorrendo variações entre espécies e individuais, principalmente pelo

estado biológico do peixe. Seus principais componentes (proteína e gordura)

apresentam um alto valor biológico. (BRUSCHI, 2001).

A composição química dos alimentos é muito importante para o

esclarecimento dos seus valores nutritivos, bem como para subsidiar a

determinação de dietas adequadas a certos grupos populacionais. As estruturas

químicas dos compostos que integram os alimentos são, em geral, as

responsáveis pelo seu desempenho metabólico, respondendo pelos aspectos

nutricionais verificados após o seu uso. Em inúmeros casos, as características

físicas e físico-químicas têm significado sobre as respostas metabólicas obtidas

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pelos organismos que os consomem, daí sua importância no estudo de

alimentos (BRUSCHI, 2001).

Além dos fatores já citados, a importância do conhecimento a respeito da

constituição do alimento em geral, gera subsídios para as indústrias de

alimentos, no intuito de buscar o melhoramento de seus produtos, visando

assim uma mudança no que se refere ao consumo de pescado no Brasil,

assumindo que é possível se fornecer os nutrientes essenciais ao organismo

humano através de diferentes fontes alimentares (BRUSCHI, 2001).

A tabela 1 demonstra a composição química de algumas espécies de

peixes, ressaltando-se para a diferença na quantidade de cada constituinte entre

as espécies.

Tabela 1 – Valores médios de composição química em diferentes

espécies de pescado.

Espécies Composição química (em %)

Nome

Vulgar

Nome científico Proteínas Lipídeos Umidade Cinzas

Pescada

branca

Cynoscion

jamaiscensis

14,1 O, 9 79,7 1,2

Tambaqui Colossoma 19,0 6,9 72,7 1,4

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macropomun

Atum Katsuwonus

pelamis

24,2 6,8 70,0 1,2

Sardinha Sardinella

brasiliensis

17,9 7,7 72,5 1,6

Matrinchã Brycon spp. 20,4 11,8 66,8 1,0

Tilápia* Oreochromis

niloticus

12,3-

19,5

2,1-3,6 75,8-

80,1

1,1-

3,5

Truta Cristivomer

namaycush

18,0 9,4 73,0 1,0

Tucunaré Cichle ocellaris

spp.

20,4 2,3 76,0 1,3

Carpa* Cyprinus carpio 16,7-

22,4

1,8-7,1 72,4-

79,0

0,9-

1,2

Pacu Piaracatus

mesopotamicus

13,0 16,8 71,5 1,3

* Valores médios apresentando variações ao longo do ano

Fonte: Adaptado de: BRESSAN & PEREZ, 2000

2.1. Proteínas

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Carnes são boas fontes de proteínas de alta qualidade. Os pescados, de

um modo geral, apresentam proporcionalmente o mesmo teor de proteínas que

a carne bovina, suína e de frango. Em média, o pescado apresenta teores que

variam entre 15 e 20% de proteínas em sua composição. Algumas espécies de

peixes e os moluscos em geral apresentam proporções mais baixas de proteínas,

atingindo uma média de 10% (PRATA & FUKUDA, 2001).

Em quase todos os fenômenos que ocorrem nas células há a participação

de uma ou mais proteínas. São elas que atuam como elementos estruturais,

catalisadoras de reações químicas, expressam informações genéticas, dentre

outras funções orgânicas de importância. Estas moléculas são constituídas por

unidades fundamentais denominadas aminoácidos. Existem aproximadamente

300 aminoácidos conhecidos na natureza, dos quais apenas vinte são

comumente encontrados nos sistemas biológicos como constituintes de

proteínas de mamíferos. Aqueles não sintetizados pelo organismo, são

denominados de essenciais e somente são obtidos através da ingestão em

alimentos. Estes aminoácidos essenciais podem ser encontrados no pescado de

uma maneira geral, fazendo com que este tipo de alimento sirva como uma

fonte importante destes nutrientes (BRUSCHI, 2001).

As proteínas podem ser classificadas de acordo com sua solubilidade,

sendo que existem basicamente três tipos de proteínas no músculo do pescado:

proteínas sarcoplasmáticas, que são encontradas no plasma de células

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musculares; proteínas miofibrilares, contidas nas células musculares

formadoras do tecido esquelético e responsáveis pela contração muscular e

ainda as proteínas estromáticas, que constituem as membranas interna e externa

da fibra muscular, sendo que o colágeno e a elastina são os principais

constituintes deste tipo de proteína. Dentre as proteínas sarcoplasmáticas

podemos citar: enzimas da glicólise, creatina quinase, parvalbumina e

mioglobina. Dentre as miofibrilares estão a actina, miosina e actomiosina

(OGAWA & MAIA, 1999).

Essas frações protéicas são encontradas em diferentes proporções,

variando em função da espécie, tamanho, sexo, época do ano, dentre outros

fatores já citados. A carne branca dos peixes apresenta um percentual maior de

proteínas miofibrilares em relação às demais, já a carne escura, apresenta

proporcionalmente mais proteínas do tipo sarcoplasmáticas do que a carne

branca. Os peixes cartilaginosos apresentam uma proporção maior de proteínas

estromáticas do que outras espécies (OGAWA & MAIA, 1999).

Em relação a mamíferos, o pescado apresenta menor quantidade de

proteínas estromáticas. Em média, pescados possuem 3% de tecido conectivo

no seu músculo, mas os peixes cartilaginosos chegam a apresentar 10%. O

menor teor de tecido conectivo na carne de pescados também contribui para a

sua característica de apresentar uma carne mais tenra do que a carne de outras

espécies e possibilita uma melhor digestibilidade. Este tecido é constituído de

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proteínas de qualidade inferior, sendo assim, o pescado por contê-lo em menor

proporção, apresenta uma carne com um maior valor nutritivo, no que se refere

às proteínas. Além de apresentarem as mesmas proporções de proteínas que

outras carnes, é conhecido que as proteínas do pescado são de qualidade

superior (PRATA & FUKUDA, 2001).

2.2. Lipídeos

A taxa de lipídeos presentes no músculo dos peixes em geral apresenta

uma grande variação, dependendo do tipo de musculatura avaliada, sexo, idade,

época do ano, habitat e dieta, além de variações entre as espécies (PRATA &

FUKUDA, 2001).

De acordo com OGAWA & MAIA (1999), O pescado é dividido em

duas classes no que se refere ao teor de gordura na carne: os gordos e os

magros.

Gordos: geralmente apresentam teores de gordura bastante variáveis

com a estação do ano e o período do ciclo reprodutivo. Dependendo da espécie,

os pescados gordurosos podem apresentar de 5 a 20% ou mais de gordura na

carne. Um exemplo típico de pescado gorduroso é a sardinha.

Magros: apresentam teores de gordura na carne geralmente abaixo de

2%. Este baixo teor de gordura se mantém aproximadamente constante nas

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diferentes épocas do ano, ao contrário do que se verifica com os pescados

gordurosos. Exemplos típicos de pescados magros: merluza e várias espécies

de cação.

De acordo com suas funções no organismo os lipídeos podem ser

divididos em lipídeos de depósito e lipídeos tissulares. Os de depósito são

constituídos pelos triacilglicerídeos, presentes em maior quantidade nos peixes

de carne vermelha, como sardinha e cavalinha, que precisam migrar para

realizar a desova e esses lipídeos tornam-se uma importante reserva energética.

Já os lipídeos tissulares, são compostos de fosfolipídios, gliceróis e

glicolipídios. Seus teores são maiores em peixes de carne branca, como o

bacalhau e merluza, sendo que seu teor quase não apresenta variações durante o

ano (OGAWA & MAIA, 1999).

Com relação à gordura dos alimentos, o consumidor de hoje tem

buscado alimentos com menores teores de ácidos graxos, pela preocupação

com a saúde. A associação entre uma dieta com altos níveis de gordura

saturada e a ocorrência de doenças cardíacas, circulatórias e outros problemas

relacionados vem levando a essa busca pelos alimentos magros. Considerando

este aspecto, a gordura da carne de pescados em geral é superior em qualidade

à gordura de outros alimentos, inclusive óleos vegetais, uma vez que o perfil de

ácidos graxos do pescado em geral é rico nos chamados ácidos-graxos

poliinsaturados, com destaque para os dá série ômega, como o ácido

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araquidônico e o ácido eicosapentaenóico. Mas os lipídeos de pescado mais

especificamente são ácidos graxos insaturados de cadeia longa da família

ômega 3, sendo que o pescado de origem marinha normalmente contem teores

mais elevados. Esses ácidos graxos interferem na relação do organismo entre o

“bom colesterol” (HDL – Lipoproteínas de alta densidade) e o “mau colesterol”

(VLDL ou LDL – Lipoproteínas de densidade baixa ou muito baixa), fazendo

com que os níveis de HDL sejam maiores em relação ao LDL, apresentando o

potencial de prevenir arteriosclerose e trombose (BRESSAN & PEREZ,

2000).

Os tipos de lipídeos encontrados em pescado são: Ácidos graxos,

podendo ser saturados ou insaturados, como citado anteriormente;

Acilgliceróis, lipídeos neutros formados em sua maioria por

triacilgliceróis, distribuídos como substancias de deposito no tecido

adiposo e fígado principalmente; Hidrocarbonetos, em baixas

concentrações, em geral abaixo de 3%, exceto em cações de águas

profundas; Ceras, que são ésteres de ácidos graxos de cadeia longa com

um álcool superior ao invés de glicerol; Gliceriléter, com radical OH na

posição 1 do glicerol ligado na forma de álcool lipídico; Esterol, livres

ou como ésteres de ácidos graxos e Lipídeos polares, que são os

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fosfolipídios, existindo como lipídeos tissulares nas membranas

(OGAWA & MAIA, 1999).

2.3. Água

O componente que aparece em maior proporção na carne de pescados é a

água. Esta proporção fica, geralmente, em torno de 75%-80% da carne. As

variações que ocorrem se devem principalmente aos hábitos da espécie, em

função do acúmulo de gordura como reserva energética para as épocas de

escassez e reprodução. Peixes gordurosos apresentam grande variação no teor

de água com a época do ano. A variação no teor de água é inversamente

proporcional ao teor de gordura do pescado. O teor de água na carne de

pescados gordurosos situa-se, de um modo geral, na faixa de 60 a 75%,

dependendo da espécie de pescado. Já em peixes magros, o teor de água

praticamente não varia, mantendo-se em torno de 80% o ano todo. (PRATA &

FUKUDA, 2001).

A água no pescado apresenta-se de duas formas: água de constituição e

água livre. A água livre encontra-se imobilizada entre os tecidos, na estrutura

do músculo e do tecido conectivo, atuando como meio de dissolução,

transportadora de componentes nutritivos e compostos metabolizados, participa

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no equilíbrio eletrolítico e controle da pressão osmótica. A água livre congela

de -1ºC a -2ºC. Já a água de constituição não tem caráter solvente, por isso

dificilmente congela. A avaliação de seu conteúdo é dificultada pelas diferentes

forças de ligação existentes entre esta água e os radicais protéicos e

carboidratos. Em geral, apresenta teores variando de 15% a 25% do teor total

de água do músculo (OGAWA & MAIA, 1999).

A água da carne do pescado serve como meio onde atuam os agentes

deterioradores. É por esta razão que em muitos dos métodos de preservação do

pescado o objetivo é reduzir a participação da água (PRATA & FUKUDA,

2001).

2.4. Carboidratos

Os pescados, em geral, apresentam um teor muito baixo de

carboidratos em sua carne. Este teor é geralmente inferior a 1% sendo que

deste, grande parte é constituída de glicogênio. Apresenta-se também na forma

de mucopolissacarídeos, açúcares livres e fosfossacarídeos, em menores

proporções. Os mucopolissacarídeos apresentam-se na forma de mucoproteínas

no tecido conectivo, como a quitina, ácido hialurônico, condroitina e sulfato de

condroitina, dentre outros (OGAWA & MAIA, 1999; MENEZES, 2006)

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A carne de pescados em geral possui menos glicogênio que a carne

bovina, suína e de aves. Exceção é feita aos moluscos em geral, como

mexilhões, vieiras e ostras, que estocam parte de sua reserva energética na

forma de glicogênio, chegando a apresentar até 5% de glicogênio na carne

(OGAWA & MAIA, 1999; PRATA & FUKUDA, 2001; MENEZES, 2006)

2.5. Vitaminas

A carne de pescado é uma boa fonte de várias vitaminas, sendo excelente

fonte de vitaminas A e D, e também contêm as vitaminas B1 e B2, Tiamina e

Riboflavina respectivamente. O tipo e o teor de vitaminas contidas na carne de

pescados é muito variável de espécie para espécie. O pescado é deficiente em

vitamina C (OGAWA & MAIA, 1999).

Na prática, os processos de conservação causam perdas nos teores

destes compostos, pela ação do calor, luz, oxigênio, enzimas, dentre outras

causas de redução destes compostos em alimentos (PRATA & FUKUDA,

2001).

2.6. Mineirais

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A carne de pescado é considerada uma boa fonte de vários sais minerais

necessários a uma boa alimentação. O teor varia geralmente entre 1 a 2% da

sua composição química total. O pescado fornece apresenta em sua

constituição diversos elementos minerais, como Na, K, Ca, Mg, P, Cl, S e Fe,

em quantidades maiores proporcionalmente, e em menores quantidades I, Cu,

Mn, Zn, Co, Mo, Se, Cr, Sn, V, F, Si, Ni e As, sendo os últimos denominados

elementos-traço (Higiene, (OGAWA & MAIA, 1999).

Alguns elementos se apresentam na forma inorgânica livre, como Na,

K, Ca e Cl, os demais se apresentam no estado orgânico, ligados a proteínas,

açúcares, ou outros compostos, como exemplo cita-se os elementos P, S, I, Fé,

Cu, Co, dentre outros. Dependendo da água ambiental os peixes podem

acumular metais específicos, como Cd, Ni, As e Hg. Por esta característica,

convém levar em consideração os riscos de intoxicação que a ingestão de

pescado com esses metais pode acarretar (OGAWA & MAIA, 1999).

Os pescados que apresentam maior teor de carne escura, ou sanguínea,

apresentam um teor elevado de Fe em sua constituição, por ser mais rico em

hemoproteínas, uma vez que o Fe é componente de pigmentos protéicos como

a hemoglobina, mioglobina e hemocianina (OGAWA & MAIA, 1999).

Em comparação à carne de gado, o pescado apresenta maiores teores de

Ca e Na em sua composição. A absorção de minerais provenientes da carne de

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pescado é completa, pela sua forma iônica e por outras substâncias que podem

interferir. O Fe, por exemplo, está na forma reduzida no pescado e oxidada em

vegetais, por este fator, é mais facilmente absorvido a partir do pescado

(OGAWA & MAIA, 1999).

2.7. Compostos extrativos

Retiradas as proteínas, lipídeos, pigmentos e polissacarídeos, o que

resta de fração orgânica é chamado de extrativos. Os extrativos podem incluir

compostos inorgânicos de baixo peso molecular, mas usualmente é constituída

somente dos compostos orgânicos. Estas substâncias estão presentes em um

teor geralmente muito pequeno na carne do pescado e não são importantes do

ponto de vista nutritivo. Este teor fica, geralmente, ao redor de 0,5% nos

pescados frescos. Seus componentes podem ser nitrogenados ou não

nitrogenados, e desempenham um papel de importância no desenvolvimento de

sabor, odor e na alteração da qualidade dos alimentos. São substancias que

também são facilmente degradadas durante a deterioração, levando ao rápido

aparecimento de odores desagradáveis característicos do pescado deteriorado

(OGAWA & MAIA, 1999; PRATA & FUKUDA, 2001).

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2.7.1. Compostos extrativos nitrogenados:

Músculos de elasmobrânquios, teleósteos e invertebrados, de uma

forma geral, são ricos em extrativos nitrogenados.

a. Aminoácidos livres

A composição de aminoácidos essenciais, como histidina, leucina,

isoleucina, fenilalanina, treonina, metronima, triptofano e valina, nos peixes é

completa e se mantém semelhante entre as espécies de água doce e salgada

(MENEZES, 2006). A maioria dos aminoácidos está presente de forma

praticamente constante na musculatura de cada espécie de pescado, mas na

forma livre ocorrem variações significativas conforme o clima e entre espécies.

Dos aminoácidos que não compõe as proteínas, destaca-se a taurina,

amplamente distribuídas especialmente em moluscos e crustáceos; glicina, que

apresenta níveis elevados em camarões, krill e vieira; níveis elevados de

arginina também são observados em invertebrados; já a β-alanina e sarcosina

encontram-se presentes em peixes cartilaginosos (OGAWA & MAIA, 1999).

b. Peptídeos

A constituição de alguns peptideos já é conhecida, como a carnosina,

anserina balenina e ofidina, que são todos dipeptideos compostos de alanina e

histidina ou de seus derivados metilicos. Alguns tripeptideos como a glutationa

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também são conhecidos (OGAWA & MAIA, 1999; PRATA & FUKUDA,

2001).

Em músculo de pescado em geral, ocorrem com maior freqüência a

carnosina, anserina e balenina. Sendo que a carnosina e a balenina aparecem

em maior quantidade nas baleias, também a carnosina em enguias e a anserina

de forma variável em diversas espécies, sendo que nos cações ocorre uma

relação inversa entre os níveis deste dipeptideo e os teores de uréia e OTMA.

Esses três peptídeos ocorrem em maior quantidade na carne branca em relação

à sanguínea. Podem aparecer em pequenas quantidades em moluscos e

crustáceos (OGAWA & MAIA, 1999).

c. Nucleotídeos e seus derivados

No músculo de peixes, os principais nucleotídeos encontrados são a

adeninanucleotideo, constituída de ATP, sendo que após a morte do animal,

esse ATP rapidamente é degradado em AMP (ácido adenílico), que por sua vez

é convertido em IMP (ácido inosínico) e HxR (OGAWA & MAIA, 1999).

Em peixes, ocorre maior formação de IMP, que ocorre rapidamente no

músculo, sendo que a carne fresca acumula mais IMP. A perda da qualidade

leva à aceleração da desfosforilação do IMP, que é convertido em inosina e

hipoxantina. Já nos invertebrados aquáticos, não ocorre o acúmulo de IMP, mas

sim do AdR (adenosina), com a degradação do ATP em ADP, AMP e

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posteriormente AdR e HxR. Alguns caranguejos e camarões podem apresentar

IMP na sua composição (OGAWA & MAIA, 1999).

d. Compostos amoniacais básicos quaternários

Incluem OTMA e betaínas, como a glicilbetaína, beta-alanilbetaína,

gama-butilbetaína, carnitina, homarina, atrinina, halocinina, etc. O OTMA está

presente em animais marinhos principalmente, com teores maiores em

elasmobrânquios. Ele se associa a uréia para o controle da pressão osmótica.

Quando em peixes de água doce, esse composto está presente em pequenas

quantidades. O OTMA reduz-se a TMA após a morte, o TMA é resposável

pelo odor característico de peixes marinhos in natura. Além disso, dá origem á

dimetilamina e formaldeido quando o peixe é aquecido a altas temperatura,

através de uma reação de redução. As betaínas em geral, também estão

presentes significativamente em animais marinhos, como moluscos, crustáceos,

camarões, além de elasmobrânquios. A carnitina distribui-se largamente entre o

pescado, sendo importante para o metabolismo de ácidos graxos (OGAWA &

MAIA, 1999).

e. Compostos guanidínicos

Compreendem a creatina, arginina, creatinina, octopina, dentre outros.

No músculo, esses compostos estão na forma fosfatada, com a função de

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armazenamento de energia. A creatina está presente em maior quantidade na

carne branca do que na do tipo sanguínea. A arginina encontra-se em maior

quantidade em invertebrados. A octopina foi isolada de músculo e outras partes

de polvos, participando da formação de compostos de armazenamento de

energia. Compostos conhecidos como opinas encontram-se nos mariscos, de

forma semelhante à octopina (OGAWA & MAIA, 1999).

f. Uréia

A uréia está presente em quantidades significativas em peixes

elasmobrânquios e é um composto nitrogenado de importância. Essa substância

atua no controle da pressão osmótica juntamente com outros compostos.

Alguns peixes, como os cações, apresentam um forte odor de amônia quando

degradados devido à hidrólise da uréia pela urease bacteriana (OGAWA &

MAIA, 1999).

2.7.2. Compostos extrativos não nitrogenados

a. Ácidos orgânicos

Foram encontrados no pescado alguns ácidos orgânicos, como o acético,

pirúvico, lático, oxálico, propiônico, fumárico, dentre outros, sendo que os

ácidos de maior importância no pescado são o lático e o succínico. O ácido

lático é um derivado do glicogênio, e está presente em maior quantidade nos

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peixes migratórios. O ácido succínico é presente em maior quantidade nos

mariscos, sendo que o seu teor se eleva com o tempo de estocagem (OGAWA

& MAIA, 1999).

b. Açúcares

Na forma de açúcares livres, em pescado podemos destacar a glicose,

ribose, arabinose, galactose, frutose, inositol, dentre outros. Destes, o que mais

se destaca é a glicose, apresentando níveis variáveis conforme a espécie

estudada, os demais encontram-se em quantidades muito reduzidas. Outros

tipos de açúcares presentes no pescado são os açúcares fosfóricos, como a

glicose-1-fosfato, glicose-6-fosfato, frutose-1,6-difosfato, dentre outros que

participam da glicólise. (OGAWA & MAIA, 1999).

3 – METODOLOGIAS DE ANÁLISES QUÍMICAS NO PESCADO

Para se avaliar os teores de cada constituinte existem diversos métodos

descritos, conforme o tipo de constituinte avaliado, o estado de conservação do

pescado, se o mesmo encontra-se fresco ou congelado.

A primeira parte de qualquer análise é a colheita de amostra, que deve

ser efetuada corretamente para possibilitar uma análise adequada.

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A colheita de amostras constitui a primeira fase da análise do produto,

devendo ser feita da maneira adequada a cada tipo de produto, análise, com

observação das condições técnicas prescritas por cada procedimento. A colheita

adequada da amostra, cercada de todas as precauções, viabilizará as condições

corretas para o processo de análise. A amostra deve ser colhida em quantidade

suficiente para a realização da análise, acondicionada de forma a resguardá-la

de qualquer alteração e ser adequadamente identificada, com o

acompanhamento de um relatório com informações necessárias para a

realização da análise. As amostras deterioráveis deverão ser conservadas em

refrigerador ou congelador quando for o caso. O seu processamento deve ser o

mais rápido possível. A amostra deverá ser representativa do lote, estoque ou

partida, em proporção adequada à quantidade do produto existente no local da

colheita (IAL, 1996). Normalmente, as análises são feitas seguindo o

cronograma abaixo:

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Fonte: BRUSCHI, 2001

3.1. Proteínas

A determinação de compostos protéicos é baseada na determinação de

nitrogênio, normalmente feita pelo processo de digestão Kjeldahl. Este método

foi criado 1883, e vem sofrido modificações e adaptações ao longo de tempo.

Neste método, ocorre a decomposição da matéria orgânica e a transformação

do nitrogênio presente em amônia. Generalizando o conteúdo de nitrogênio das

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diferentes proteínas para aproximadamente 16%, introduz-se o fator empírico

de correção 6,25 para transformar o número de g de nitrogênio encontrado em

número de g de compostos protéicos. Amostras contendo nitratos podem perdê-

los durante a digestão (AOAC, 2000; IAL, 1996).

As fases deste método são:

Digestão – A matéria orgânica existente na amostra é decomposta com

ácido sulfúrico e um catalisador, onde o nitrogênio é transformado em sal

amoniacal.

Destilação – A amônia é liberada do sal amoniacal pela reação com

hidróxido e recebida numa solução ácida de volume e concentração

conhecidos.

Titulação – Determina-se a quantidade de nitrogênio presente na amostra

titulando-se o excesso do ácido utilizado na destilação com hidróxido.

3.1.1. Método de Kjeldahl clássico (IAL, 1996)

Material

Balança analítica, frascos de Kjeldahl de 500 a 800 mL, chapa elétrica ou

manta aquecedora, balão de destilação, frasco Erlenmeyer de 500 mL, bureta

de 25 mL, espátula, papel de seda, dedal e pipeta graduada de 25 mL ou

pipetador automático.

Reagentes

Page 25: Universidade Federal de Lavrasrtf

27

Ácido sulfúrico

Ácido sulfúrico 0,05 M

Sulfato de cobre

Sulfato de potássio

Dióxido de titânio

Solução fenolftaleína

Vermelho de metila a 1% m/v

Zinco em pó

Hidróxido de sódio a 30% m/v

Hidróxido de sódio 0,1 M

Mistura catalítica – Dióxido de titânio anidro, sulfato de cobre anidro e

sulfato de potássio anidro, na proporção 0,3:0,3:6.

Procedimento – Pese 1 g da amostra em papel de seda. Transfira para o

balão de Kjeldahl (papel+amostra). Adicione 25 mL de ácido sulfúrico e cerca

de 6 g da mistura catalítica. Leve ao aquecimento em chapa elétrica, na capela,

até a solução se tornar azul-esverdeada e livre de material não digerido (pontos

pretos). Aqueça por mais uma hora. Deixe esfriar. Caso o laboratório não

disponha de sistema automático de destilação, transfira quantitativamente o

material do balão para o frasco de destilação. Adicione 10 gotas do indicador

fenolftaleína e 1 g de zinco em pó (para ajudar a clivagem das moléculas

grandes de protídios). Ligue imediatamente o balão ao conjunto de destilação.

Page 26: Universidade Federal de Lavrasrtf

28

Mergulhe a extremidade afilada do refrigerante em 25 mL de ácido sulfúrico

0,05 M, contido em frasco Erlenmeyer de 500 mL com 3 gotas do indicador

vermelho de metila. Adicione ao frasco que contém a amostra digerida, por

meio de um funil com torneira, solução de hidróxido de sódio a 30% até

garantir um ligeiro excesso de base. Aqueça à ebulição e destile até obter cerca

de (250-300) mL do destilado. Titule o excesso de ácido sulfúrico 0,05 M com

solução de hidróxido de sódio 0,1 M, usando vermelho de metila.

Cálculo

V = diferença entre o nº de mL de ácido sulfúrico 0,05 M e o nº de mL de

hidróxido de sódio 0,1 M gastos na titulação

P = nº de g da amostra

f = fator de conversão (6,25 para pescado e outros alimentos)

3.1.2. Método de Kjeldahl modificado (AOAC, 1995)

Material

Balança analítica, frasco de Kjeldahl de 500 a 800 mL, chapa elétrica ou

manta aquecedora, balão de destilação, frasco Erlenmeyer de 500 mL, buretas

de 25 mL, espátula, papel de seda, pipeta graduada de 25 mL ou pipetador

automático.

Page 27: Universidade Federal de Lavrasrtf

29

Reagentes

Ácido sulfúrico

Ácido sulfúrico 0,05 M

Ácido bórico 0,033 M

Sulfato de cobre

Sulfato de potássio

Dióxido de titânio

Solução de fenolftaleína

Vermelho de metila a 1% m/v

Hidróxido de sódio a 30% m/v

Procedimento – Para a digestão da amostra, proceda conforme descrito

no método de Kjhedal clássico. Na destilação, proceda também como no

método clássico substituindo o ácido sulfúrico 0,05 M no frasco Erlenmeyer

onde será recolhida a amônia formada, por ácido bórico 0,033 M, que não

reage diretamente, servindo apenas como suporte para adsorção da amônia.

Titule diretamente a solução de hidróxido de amônio com a solução de ácido

sulfúrico 0,05 M, utilizando o mesmo indicador do método clássico.

Observação: alternativamente, poderá ser utilizada uma solução de ácido

clorídrico 0,1 M em substituição ao ácido sulfúrico 0,05 M.

Cálculo

Page 28: Universidade Federal de Lavrasrtf

30

V = volume de ácido sulfúrico 0,05 M gasto na titulação

P = nº de g da amostra

f = fator de conversão (valores tabelados)

3.2. Lipídeos

Segundo metodologia descrita no Instituto Adolfo Lutz, a fração

gordurosa do pescado é composta por mistura complexa de lipídios neutros

(triglicerídios), lipídios polares (fosfolipídios) e componentes menores

(esteróis, ácidos graxos livres, etc.), sendo assim, os métodos normalmente

empregados para extração de gordura em alimentos não são adequados para o

pescado. Conforme esta característica, outros métodos foram testados e vem

sido utilizados para pescado, como os de Bligh-Dyer e de Folch, que empregam

reagentes recomendados para a determinação de lipídios totais em alimentos

com alto teor de água, como os peixes.

3.2.1. Determinação de lipídios totais pelo método de Bligh-Dyer

modificado (IAL, 1996)

Material

Page 29: Universidade Federal de Lavrasrtf

31

Capela química, balança analítica, béquer de 500 mL, agitador mecânico,

estufa, rotavapor, dessecador, funil de vidro, funil de separação de 500 mL,

balão de fundo chato com boca esmerilhada de 300 mL e papel de filtro.

Reagentes

Clorofórmio

Metanol

Sulfato de sódio anidro

Procedimento – Pese 50 g da amostra homogeneizada e transfira para

um béquer de 500 mL. Adicione 50 mL de clorofórmio e 100 mL de metanol.

Adicione novamente

50 mL de clorofórmio e 50 mL de água. Agite, com o auxílio de um agitador

mecânico, por 15 minutos, em capela química. Filtre o material

homogeneizado, utilizando funil de vidro com papel de filtro contendo sulfato

de sódio anidro, para um funil de separação de 500 mL. Após completa

separação e clarificação, recolha a camada de clorofórmio (inferior) em balão

de fundo chato com boca esmerilhada de 300 mL, previamente tarado. Evapore

num rotavapor até a completa remoção do solvente. Transfira o balão para uma

estufa a 105°C por 1 hora. Esfrie em dessecador e pese. Repita as operações de

aquecimento e resfriamento até peso constante.

Cálculo

Page 30: Universidade Federal de Lavrasrtf

32

P = massa da amostra em g

N = (massa do balão + massa óleo) - massa do balão

Observações: Teste o funil de separação com clorofórmio, antes de usar,

para assegurar que não haja vazamento. Para a análise dos ácidos graxos na

gordura extraída, não utilize a estufa para a secagem. Após a remoção do

solvente no rotavapor, complete a secagem com nitrogênio seco.

3.2.2. Determinação de lipídios totais pelo método de Folch (1985)

em (IAL, 1996)

Material

Balança analítica, blender, chapa de aquecimento, estufa, funil de

separação de 500 mL, balão volumétrico de 250 mL, funil de vidro, provetas de

100 e 200 mL, béquer de 50 mL, pipeta volumétrica de 10 mL, dessecador com

sílica seca e papel de filtro comum.

Reagentes

Solução de clorofórmio-metanol 2:1 v/v

Solução de cloreto de potássio a 0,74% m/v

Sulfato de sódio anidro

Clorofórmio

Page 31: Universidade Federal de Lavrasrtf

33

Procedimento – Pese (10,0 ± 0,5) g de amostra homogeneizada no copo

do blender. Adicione 200 mL de clorofórmio-metanol (2:1) e bata por 3

minutos no blender. Filtre, cuidadosamente, para o funil de separação, usando

papel de filtro comum. Re-extraia com 100 mL de clorofórmio-metanol (2:1).

Filtre novamente. Lave o copo e a tampa com clorofórmio (± 30 mL) e transfira

diretamente para o funil. Adicione, ao funil de separação, 66 mL de KCl a

0,74%. Agite por 1 minuto e deixe separar as fases. Filtre a fase de clorofórmio

(fase inferior) para um balão volumétrico de 250 mL, usando sulfato de sódio

anidro no papel de filtro. Lave o funil de separação e o papel de filtro com

clorofórmio. Complete o volume com clorofórmio e transfira uma alíquota de

10 mL para um béquer de 50 mL tarado. Seque em chapa de aquecimento a

60oC. Seque em estufa a 100oC por 30 minutos, esfrie em dessecador e pese.

Repita as operações de aquecimento e resfriamento até peso constante.

Observação: teste o funil de separação com clorofórmio, antes de usar,

para assegurar que não haja vazamento.

Cálculo

P = nº de g da amostra na alíquota

p1 = massa do béquer

p2 = massa do béquer mais óleo

Page 32: Universidade Federal de Lavrasrtf

34

3.2.3. Determinação da composição de ácidos graxos saturados e

insaturados por cromatografia em fase gasosa (IAL, 1996)

Este método permite uma separação quantitativa de misturas de ésteres

metílicos de ácidos graxos saturados e insaturados, inclusive os ácidos graxos

trans, dependendo das condições e padrões empregados. A quantificação é feita

baseada nas relações de área de cada ácido graxo com a área do padrão interno,

utilizando os fatores de correção de resposta do detector de ionização de chama

(DIC) e de conversão de ésteres metílicos de ácidos graxos para ácido graxo. O

cálculo da concentração dos ácidos graxos saturados e insaturados, pode ser

feito por normalização de área, calculando os fatores de correção de resposta

para cada ácido graxo no detector de ionização de chama. As porcentagens

obtidas para cada tipo de éster metílico de ácido graxo são multiplicadas pelo

teor de lipídios da amostra e por fatores de conversão de gordura para ácidos

graxos, que variam conforme o tipo de alimento. O procedimento de cálculo se

aplica a alimentos que possuem um perfil lipídico semelhante a outro alimento

cujos fatores de conversão já foram estabelecidos.

Material

Cromatógrafo a gás com detector de ionização de chama, integrador ou

computador, coluna cromatográfica capilar de sílica fundida com fases

estacionárias de ciano propil siloxano, exemplo:

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35

SP2340 de 60 m, SP2560 de 100 m, CP-Sil 88, 50 ou 100 m de

comprimento, diâmetro interno de 0,25 mm e espessura do filme 0,25 μm,

sistema de injeção com divisão de amostra; balança analítica; agitador do tipo

vortex; seringa de capacidade máxima 10 μL, graduada em 0,1 μL; balão

volumétrico de 25 e 100 mL; flaconete (vial) de 1,5 mL; pipeta volumétrica de

5 mL e pipeta graduada de 1 mL.

Reagentes

Mistura de padrões de ésteres metílicos de ácidos graxos variando de C4

a C24.

Padrão interno C13 (metiltridecanoato)

n- Hexano grau CLAE

Gás de arraste para DIC: hidrogênio

Gases auxiliares para DIC: nitrogênio/ar super seco (livre de

hidrocarbonetos).

Solução-padrão de mistura de ésteres metílicos de ácidos graxos – Dilua

com n-hexano o conteúdo da ampola (contendo 100 mg da mistura de padrões

de FAMEs) em balão volumétrico de 25 mL. Distribua em vials de 1,5 mL e

armazene em freezer. Esta solução será utilizada para identificar os ésteres

metílicos de ácidos graxos e determinar os fatores de correção de cada

componente.

Page 34: Universidade Federal de Lavrasrtf

36

Solução-padrão interno (C13:0) – Pese, com precisão, cerca de 250 mg

de metiltridecanoato em balão volumétrico de 100 mL, dissolva e complete o

volume com n-hexano. Transfira para um frasco âmbar e armazene em

geladeira (validade 1 semana) ou em freezer (validade 1 ano).

Procedimento – Extração de lipídios da amostra pelo método mais

apropriado. Prepare os ésteres metílicos de ácidos graxos. Condições de

operação do cromatógrafo gasoso com detector de ionização de chama e

condições otimizadas para colunas com fases estacionárias de ciano propil

siloxano (exemplo: SP2560, 100 m); programação da temperatura da coluna:

45°C por 4 min, primeira rampa de 13°C/min até 175°C (27 min), segunda

rampa de 4°C/min até 215°C (35 min), temperatura do injetor 220°C,

temperatura do detector 220°C, razão de divisão da amostra 1:50.

Cálculo dos fatores de correção de reposta no DIC:

Cálculo experimental: Injete, em triplicata, 1 μL da solução-padrão de

ésteres metílicos de ácidos graxos. Identifique cada pico e determine os fatores

de correção (K’) individuais com relação ao éster metílico do ácido

tridecanóico (C13:0), utilizando a equação abaixo:

MAGi = porcentagem do ácido graxo na mistura de padrões de ésteres

metílicos de ácidos graxos

Page 35: Universidade Federal de Lavrasrtf

37

AC13:0 = média das áreas do pico do éster metílico do C13:0

MC13:0 = porcentagem do éster metílico do C13:0 na mistura de padrões

AAGi = média das áreas do ácido graxo na mistura de padrões

Cálculo teórico:

KAgi = fator de resposta para o ácido graxo “i”

MAgi = massa molecular do éster metílico de ácido graxo “i”

n Agi = número de átomos de carbono do éster metílico do ácido graxo

“i”

Ac = massa atômica do carbono (12,01)

Pesos atômicos utilizados no cálculo:

Carbono =12,01; Hidrogênio = 1,0079; Oxigênio =15,994.

Fator relativo de resposta do DIC para cada componente com relação ao

C13:0:

K’AGi = fator relativo de correção, para o ácido graxo “i”

K C13 = fator de resposta do DIC para o C13:0

K AGi = fator de resposta do DIC para o ácido graxo “i”

Page 36: Universidade Federal de Lavrasrtf

38

Observação: recomenda-se, nos cálculos, a utilização dos fatores teóricos

de resposta do DIC.

Determinação da concentração de ácidos graxos na amostra – Injete 1 μL

da amostra no cromatógrafo a gás,

utilizando microsseringa de 10 μL. Identifique os picos por comparação com os

tempos de retenção dos padrões de ésteres metílicos com os componentes

separados da amostra. Determine a concentração de cada ácido graxo,

utilizando a equação abaixo.

Cálculo com padrão interno

MPI = massa do padrão interno (C13:0) adicionada na amostra

AAGi = área do ácido graxo no cromatograma da amostra

K’AGi = fator de correção de cada ácido graxo com relação ao C13:0

(teórico ou experimental)

FCAG = fator de conversão de éster metílico de ácido graxo (segundo

tabela encontrada em IAL, 1996)

L = teor de lipídios em gramas por 100 g de amostra

M = massa da amostra

API = área do padrão interno (C13:0) no cromatograma da amostra

Page 37: Universidade Federal de Lavrasrtf

39

Cálculo com fatores de conversão:

ConcAGi= concentração do ácido graxo em gramas por 100 g da amostra

%AAGi = porcentagem de área do ácido graxo no cromatograma da

amostra

K’ AGi = fator de correção de resposta de cada ácido graxo com relação

ao C13:0 (teórico ou experimental)

FCv = fator de conversão de gordura para os ácidos graxos

L = teor de lipídios na amostra em gramas por 100 g da amostra

FCv = 0,900 – carne gorda de peixe

FCv = 0,700 – carne magra de peixe

Cálculo

Expresse a concentração dos ácidos graxos saturados, monoinsaturados e

polinsaturados, em gramas por 100 g de amostra, utilizando o cálculo abaixo:

Observação: Caso os ácidos graxos trans estejam presentes, expressar

como:

Page 38: Universidade Federal de Lavrasrtf

40

3.3. Água

A umidade é considerada a perda em peso sofrida pela amostra quando

aquecida em condições nas quais a água é removida. Outras substâncias

também se volatilizam nessas condições. O resíduo obtido no processo é

chamado de resíduo seco. O aquecimento direto da amostra a 105°C é o

processo mais usual. Amostras de alimentos que se decompõem ou

transformam a esta temperatura, devem ser aquecidas em estufas a vácuo, onde

se reduz a pressão e se mantém a temperatura de 70°C. Nos casos em que

outras substâncias voláteis estão presentes, a determinação de umidade real

deve ser feita por processo de destilação com líquidos imiscíveis. Outros

processos usados se baseiam em reações que ocorrem em presença de água.

Dentre estes, o método de Karl Fischer é baseado na redução de iodo pelo

dióxido de enxofre, na presença de água. Em alimentos de composição

padronizada, certas medidas físicas, como índice de refração ou densidade,

fornecem uma avaliação da umidade de modo rápido, mediante o uso de

tabelas ou gráficos já estabelecidos (IAL, 1996).

3.3.1. Perda por dessecação (umidade) – Secagem direta em estufa a

105ºC (IAL, 1996)

Material

Page 39: Universidade Federal de Lavrasrtf

41

Estufa, balança analítica, dessecador com sílica gel, cápsula de porcelana

ou de metal de 8,5 cm de diâmetro, pinça e espátula de metal.

Procedimento – Pese de 2 a 10 g da amostra em cápsula de porcelana ou

de metal, previamente tarada. Aqueça durante 3 horas. Resfrie em dessecador

até a temperatura ambiente. Pese. Repita a operação de aquecimento e

resfriamento até peso constante.

Cálculo

N = n° de gramas de umidade (perda de massa em g)

P = n° de gramas da amostra

3.3.2. Perda por dessecação (umidade) – Secagem em estufa a vácuo

(AOAC, 2000)

Material

Estufa a vácuo, bomba de vácuo, balança analítica, espátula de metal,

pinça de metal, dessecador com sílica gel e cápsula de porcelana ou de platina

de 8,5 cm de diâmetro.

Procedimento – Pese de 2 a 10 g da amostra em cápsula, previamente

tarada, e aqueça durante 6 horas em estufa a vácuo a 70°C, sob pressão

reduzida ≤ 100 mm de mercúrio (13,3 kPa) . Resfrie em dessecador até a

Page 40: Universidade Federal de Lavrasrtf

42

temperatura ambiente. Pese. Repita a operação de aquecimento e resfriamento

até peso constante.

Observação: podem ser utilizadas cápsulas de outros metais resistentes

ao calor desde que as cinzas obtidas não sejam empregadas para posterior

análise de metais.

Cálculo

N = nº de gramas de umidade (perda de massa em g)

P = nº de gramas da amostra

3.3.2. Perda por dessecação (umidade) – Determinação pelo método

de Karl Fischer (IAL, 1985; CODEX, 1996)

A determinação de umidade por Karl Fischer é baseada na reação

quantitativa da água com uma solução anidra de dióxido de enxofre e iodo, na

presença de uma base orgânica (imidazol) em metanol, que adiciona os íons

hidrogênio formados. Com este reagente podem ser determinadas pequenas

quantidades de água. Embora o método não seja universalmente aplicável, as

limitações de dosagens diretas podem ser contornadas pelo tratamento

preliminar adequado da amostra. Na presença de água, o dióxido de enxofre é

oxidado pelo iodo e o ponto final da reação é determinado por bi-amperometria

Page 41: Universidade Federal de Lavrasrtf

43

(dead stop). Quando não houver mais água na amostra, um excesso de iodo

livre agirá como despolarizador, causando aumento na corrente.

O método limita-se aos casos em que a amostra a ser analisada não reaja

com os componentes do reagente de Karl Fischer ou com o iodeto de

hidrogênio formado durante a reação com a água. Os seguintes compostos

interferem na titulação: oxidantes

como cromatos/dicromatos, sais de cobre e de ferro, óxidos superiores e

peróxidos; redutores como: tiossulfatos, sais de estanho e sulfitos; compostos

capazes de formar água com os componentes do reagente de Karl Fischer,

como por exemplo, óxidos básicos e sais de oxiácidos fracos; aldeídos, porque

formam bissulfito; cetonas, porque reagem com o metanol para produzir cetal.

Material

Titulador de Karl Fischer, agitador magnético, eletrodo duplo de platina e

microsseringa de 25 μL.

Reagentes

Reagente de Karl Fischer, isento de piridina

Metanol com no máximo 0,005% de água

Tartarato de sódio dihidratado (padrão volumétrico para padronização do

reagente de Karl Fischer, contendo 15,66 ± 0,05% H2O)

Page 42: Universidade Federal de Lavrasrtf

44

Procedimento – O reagente de Karl Fischer deve ser padronizado no

início de uma série de ensaios, de duas formas, utilizando água ou tartarato de

sódio dihidratado como padrões, conforme descrito abaixo.

Padronização do reagente de Karl Fischer com água – Coloque uma

quantidade de metanol na cela de titulação suficiente para cobrir os eletrodos.

Para eliminar a água contida no solvente, pré-titule o metanol com o reagente

de Karl Fischer, sob agitação, até o ponto final, seguindo as instruções do

manual do aparelho. Em seguida, com o auxílio de uma microsseringa, pese

exatamente, por diferença, cerca de 20 mg (20 μL) de água; introduza a água na

cela e realize a titulação.

Padronização do Reagente de Karl Fischer com tartarato de sódio

dihidratado – Coloque uma quantidade de metanol na cela de titulação

suficiente para cobrir os eletrodos. Para eliminar a água contida no solvente,

pré-titule o metanol com o reagente de Karl Fischer, sob agitação, até o ponto

final, seguindo as instruções do manual do aparelho. Em seguida, pese

exatamente, por diferença, cerca de 200 mg de tartarato de sódio dihidratado;

introduza na cela e realize a titulação.

Determinação de umidade na amostra – Caso a cela de titulação esteja

cheia, esvazie o recipiente. Os procedimentos de descarte dos resíduos deverão

ser efetuados de acordo com os procedimentos de biossegurança. Coloque uma

quantidade de metanol na cela de titulação suficiente para cobrir os eletrodos.

Page 43: Universidade Federal de Lavrasrtf

45

Para eliminar a água contida no solvente, pré-titule o metanol com o reagente

de Karl Fischer, sob agitação, até o ponto final. Em seguida, pese com precisão,

por diferença uma quantidade de amostra que contenha aproximadamente 10 a

80 mg de água; introduza a amostra na cela e realize a titulação. No caso de

amostras não solúveis em metanol, escolha um solvente (ou uma mistura de

solventes) adequado, que deverá ser previamente titulado com o reagente de

Karl Fischer para eliminar a água.

Cálculos

m = massa do tartarato de sódio dihidratado

V = volume do reagente de Karl Fischer gasto na titulação

m = massa de água

V = volume do reagente de Karl Fischer gasto na titulação (em mL)

Cálculo do teor de umidade na amostra

F = fator do reagente de Karl Fischer (em mg H2O/mL do reagente de

Karl Fischer)

V = volume do reagente de Karl Fischer gasto na titulação (mL)

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46

m = massa da amostra (mg)

3.4. Carboidratos (IAL, 1996)

O conteúdo de carboidratos pode ser determinado por diferença,

calculando-se a média dos outros componentes analisados, como água,

proteínas, lipídeos e cinzas e o restante é considerado como carboidrato.

Neste grupo de compostos, têm-se os mais variados tipos de substâncias,

desde os monossacarídios, representados pela glicose, os dissacarídios, dos

quais os mais freqüentes em alimentos são a sacarose e a lactose, até os

polissacarídios, como amido e celulose. Qualquer que seja o produto a ser

analisado, é inicialmente necessária a obtenção de uma solução dos glicídios

presentes, livres de substâncias que possam interferir no processo escolhido

para a sua determinação. Para isso, usam-se soluções de “clarificadores”

(creme alumina, solução neutra de acetato de chumbo, solução básica de

acetato de chumbo, ácido fosfotúngstico) as quais precipitam as substâncias

interferentes.

Os métodos de determinação de carboidratos estão baseados nas

propriedades físicas das suas soluções ou no poder redutor dos glicídios mais

simples (aos quais se pode chegar por hidrólise, no caso dos mais complexos).

Os métodos de redução resumem-se em pesar ou titular a quantidade de óxido

de Cu I precipitado de uma solução de íons de Cu II por um volume conhecido

Page 45: Universidade Federal de Lavrasrtf

47

da solução de glicídios ou medir o volume da solução de glicídios necessário

para reduzir completamente um volume conhecido da solução de cobre II. Os

resultados são calculados mediante fatores e, geralmente, as determinações de

glicídios redutores são calculadas em glicose e as dos não-redutores em

sacarose. A hidrólise dos não-redutores é feita, previamente, por meio de ácido

ou enzimas.

3.5. Minerais

3.5.1. Resíduo por incineração – Cinzas (IAL, 1996)

Resíduo por incineração ou cinzas é o nome dado ao resíduo obtido por

aquecimento de um produto em temperatura próxima a (550-570)°C. Nem

sempre este resíduo representa toda a substância inorgânica presente na

amostra, pois alguns sais podem sofrer redução ou volatilização nesse

aquecimento. Geralmente, as cinzas são obtidas por ignição de quantidade

conhecida da amostra. Algumas amostras contendo sais de metais alcalinos que

retêm proporções variáveis de dióxido de carbono nas condições da incineração

são tratadas, inicialmente, com solução diluída de ácido sulfúrico e, após

secagem do excesso do reagente, aquecidas e pesadas. O resíduo é, então,

denominado “cinzas sulfatizadas”. Muitas vezes, é vantajoso combinar a

determinação direta de umidade e a determinação de cinzas, incinerando o

resíduo obtido na determinação de umidade.

Page 46: Universidade Federal de Lavrasrtf

48

A determinação de cinzas insolúveis em ácido, geralmente ácido

clorídrico a 10% v/v, dá uma avaliação da sílica (areia) existente na amostra.

Alcalinidade das cinzas é outra determinação auxiliar no conhecimento da

composição das cinzas. Uma análise global da composição das cinzas nos

diferentes alimentos, além de trabalhosa, não é de interesse igual ao da

determinação de certos componentes, conforme a natureza do produto. Outros

dados interessantes para a avaliação do produto podem ser obtidos no

tratamento das cinzas com água ou ácidos e verificação de relações de solúveis

e insolúveis. Um baixo conteúdo de cinzas solúveis em água é indício que o

material sofreu extração prévia.

Material

Cápsula de porcelana ou platina de 50 mL, mufla, banho-maria,

dessecador com cloreto de cálcio anidro ou sílica gel, chapa elétrica, balança

analítica, espátula e pinça de metal.

Procedimento – Pese 5 a 10 g da amostra em uma cápsula, previamente

aquecida em mufla a 550°C, resfriada em dessecador até a temperatura

ambiente e pesada. Caso a amostra seja líquida, evapore em banho-maria.

Seque em chapa elétrica, carbonize em temperatura baixa e incinere em mufla a

550ºC, até eliminação completa do carvão. Em caso de borbulhamento,

adicione inicialmente algumas gotas de óleo vegetal para auxiliar o processo de

carbonização.

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49

As cinzas devem ficar brancas ou ligeiramente acinzentadas. Em caso

contrário, esfrie, adicione 0,5 mL de água, seque e incinere novamente. Resfrie

em dessecador até a temperatura ambiente e pese. Repita as operações de

aquecimento e resfriamento até peso constante.

Observação: podem ser utilizadas cápsulas de outros metais resistentes

ao calor desde que as cinzas obtidas não sejam empregadas para posterior

análise de metais.

Cálculo:

100xN = g de resíduo mineral em m/m (%cinzas)

P

N = nº de g de cinzas

P = nº de g da amostra

3.5.2. Fosfatos por titulação (IAL, 1996)

A determinação de fósforo é, geralmente, feita na forma de íon fosfato,

pela precipitação de fosfomolibdato de amônio que é dissolvido em solução

alcalina de concentração conhecida, cujo excesso é titulado. Os processos

colorimétricos são empregados quando a quantidade de fósforo é pequena. O

que distingue os métodos é o uso de diferentes agentes redutores.

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Material

Cápsula de porcelana de 100 mL, proveta de 100 mL, bastão de vidro,

mufla, béquer de 400 mL, 2 buretas de 50 mL e bico de Bünsen.

Reagentes

Ácido clorídrico (1+2)

Hidróxido de amônio (1+1)

Nitrato de amônio

Ácido nítrico (1+1)

Solução de hidróxido de sódio 0,2 M

Indicador fenolftaleína

Ácido clorídrico 0,2 M

Solução de acetato de magnésio (A) – Pese 2 g de acetato de magnésio

Mg(C2H3O2).4H2O, adicione 25 mL de água e coloque álcool até completar

500 mL.

Solução de ácido molíbdico (B) – Pese 100 g de ácido molíbdico

H2MoO4.H2O, adicione 144 mL de hidróxido de amônio e complete com 1148

mL de água.

Solução de molibdato de amônio – Misture lentamente as soluções A e B

e deixe em repouso por 48 horas. Filtre antes de usar.

Procedimento – Pese 5 g da amostra em uma cápsula de porcelana de

100 mL. Adicione 10mL da solução de acetato de magnésio. Evapore até a

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secagem em banho-maria. Carbonize em bico de Bünsen. Incinere em mufla a

550°C. Esfrie. Dissolva as cinzas com ácido clorídrico (1+2). Transfira para um

béquer de 400 mL, com auxílio de 80 mL de água. Alcalinize com hidróxido de

amônio (1+1). Adicione 10 g de nitrato de amônio. Acidule com ácido nítrico

(1+1). Adicione solução de molibdato de amônio até completa precipitação.

Aqueça por uma hora em banho de água a (40-45)°C, agitando freqüentemente

com um bastão de vidro. Esfrie, filtre e lave o béquer, o bastão de vidro e o

filtro com água até que o filtrado não tenha reação ácida. Transfira o papel de

filtro com o precipitado para o mesmo béquer em que foi feita a precipitação.

Dissolva o precipitado em solução de hidróxido de sódio 0,2 M, medido em

uma bureta. Adicione duas gotas do indicador fenolftaleína. Titule o excesso de

hidróxido de sódio com ácido clorídrico 0,2 M.

Cálculo

V = diferença entre o nº de mL de solução de hidróxido 0,2 M adicionado

e o nº

de mL de ácido clorídrico 0,2 M gasto na titulação.

P = nº de g da amostra

3.5.3. Fosfatos por espectrofotometria (IAL, 1996)

Material

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Balões volumétricos de 100, 250, 500 e 1000 mL, pipetas de 25 e 50 mL,

proveta e espectrofotômetro ou fotocolorímetro.

Reagentes

Solução de vanado-molibdato de amônio – Dissolva 20 g molibdato de

amônio -

(NH4)6Mo7O24.4H2O e 1 g de vanadato de amônio - NH4VO3,

separadamente, em cerca de 300 mL de água quente e filtre, se necessário.

Misture as duas soluções, adicione 140 mL de ácido nítrico e dilua para um

litro. Este reativo é estável por três meses.

Solução-estoque de fosfato – Pese 0,9587 g de fosfato ácido de potássio,

seco a 105°C e complete o volume a 500 mL com água.

Solução-padrão de fosfato – Pipete 50 mL da solução-estoque de fosfato

e complete o volume a 250 mL com água. Um mL desta solução corresponde a

0,2 mg de P2O5.

Procedimento – Dissolva as cinzas obtidas de 5 g da amostra em ácido

clorídrico (1+2), transfira para um balão volumétrico de 100 mL e complete o

volume com água. Pipete uma alíquota (que deve ser proporcional à quantidade

de fosfato presente na amostra) em um balão volumétrico de 100 mL. Adicione

25 mL do reagente vanado-molibdato de amônio e complete o volume com

água até 100 mL. Homogeneíze e espere 10 minutos para fazer a leitura a 420

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nm. Determine a quantidade de fosfato correspondente, usando a curva padrão

previamente estabelecida ou o valor da absortividade.

Curva-padrão – Em uma série de balões volumétricos de 100 mL, meça

volumes de solução padrão contendo valores de 5 a 6,2 mg de P2O5. Quando

for usado um espectrofotômetro, utilize volumes de solução-padrão de fosfato

contendo de 0,2 a 2,0 mg de P2O5. Adicione 25 mL do reagente vanado-

molibdato de amônio a cada balão. Complete o volume com água. A

temperatura da água mais o reagente deve ser 20°C. Homogeneíze e espere 10

minutos. Faça leitura a 420 nm, usando como branco 25 mL de vanado-

molibdato de amônio, completando com água até 100 mL.

3.6. Outras análises importantes

3.6.1. Determinação de bases voláteis totais (AOAC, 2000)

A deterioração do pescado estocado sob refrigeração é devida à ação

enzimática e bacteriana e resulta na produção de vários compostos, sendo os

mais freqüentes: trimetilamina, dimetilamina, amônia e ácidos voláteis. A

porcentagem de bases voláteis

pode ser uma indicação do grau de conservação do pescado, dependendo da

espécie. Normalmente, para espécies como cações, raias, siris, o valor de BVT

é elevado sem que, necessariamente, estejam deterioradas. Neste método, a

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amônia e as aminas voláteis são destiladas por arraste de vapor, em meio

levemente alcalino e quantificadas por volumetria de neutralização.

Material

Vidro de relógio, balão de Kjeldahl de 800 mL, proveta de 300 mL,

condensador de Liebig, frasco Erlenmeyer de 500 mL e bureta de 15 mL.

Reagentes

Ácido sulfúrico 0,05 M

Hidróxido de sódio 0,1 M

Óxido de magnésio

Silicone antiespumante

Solução alcoólica de vermelho de metila a 0,2% m/v

Procedimento – Prepare a amostra do peixe, tirando as espinhas e

vísceras. Moa a carne e homogeneíze. Pese de 5 a 10 g da amostra (para

camarões, siris e cação, pese 5g e, para outras espécies de pescados pese 10 g),

transfira para um balão de destilação de Kjeldahl, junte 300 mL de água, 1 a 2

g de óxido de magnésio e umas gotas de silicon antiespumante. Ligue o balão

ao conjunto de destilação. Mergulhe a extremidade afunilado do condensador

em 15 mL de ácido sulfúrico 0,05 M contido no frasco Erlenmeyer de 500 mL.

Adicione três gotas do indicador vermelho de metila, aqueça até ebulição e

destile por 25 minutos. Titule o excesso de ácido sulfúrico 0,05 M com solução

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de hidróxido de sódio 0,1 M, até viragem do indicador da cor vermelha para

amarela.

Cálculo

V = diferença entre o nº de mL de ácido sulfúrico 0,05 M adicionado e o

nº de mL de solução de hidróxido de sódio 0,1 M gasto na titulação.

P = nº de g da amostra.

Observações: o resultado deverá ser expresso em mg por cento.

3.6.2. Reação de Éber para gás sulfídrico (IAL, 1996)

A decomposição bacteriana dos aminoácidos sulfurados da carne de

pescado libera enxofre, o qual em meio ácido transforma-se em gás sulfídrico

(H2S). A reação de Éber é indicada para avaliar o estado de conservação do

pescado fresco e de produtos relacionados em geral, como o pescado curado.

Fundamenta-se na combinação do gás sulfídrico com solução de acetato de

chumbo, produzindo enegrecimento do papel de filtro previamente tratado com

a referida solução-reagente. Esta prova não se aplica no caso de produtos

condimentados e em conservas de pescado que foram processadas em alta

temperatura e baixa pressão.

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3.6.3. Determinação do pH (IAL, 1996)

A determinação de acidez pode fornecer um dado valioso na apreciação

do estado de conservação de pescados e derivados. Um processo de

decomposição, seja por hidrólise, oxidação ou fermentação, altera quase

sempre o pH. A medida do pH em pescado e derivados é um dado indicativo do

estado de conservação, entretanto para a avaliação mais segura torna-se

também necessária a realização das análises microbiológica, química e

sensorial.

3.6.4. Determinação de histamina por espectrofluorimetria (IAL,

1996)

Entre as aminas biológicas encontradas nos alimentos, a histamina

destaca-se por poder causar intoxicações alimentares, especialmente veiculadas

em peixes da família Scombridae, como o atum. O principal meio de sua

formação é por atividade bacteriana. A enzima histidina descarboxilase de

determinadas bactérias age sobre o aminoácido histidina encontrado em

espécies de peixes de carne escura, formando a histamina. O nível de histamina

nos alimentos é proporcional à quantidade formada nos tecidos do pescado, a

qual está relacionada a concentração de bactérias descarboxiladoras da

histidina. O método fluorimétrico baseia-se na reação da histamina com o o-

ftalaldeído (OPT), formando um composto fluorescente. A homogeneização e

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extração da substância no produto são feitas com metanol, à purificação por

resina de troca iônica e o acoplamento com OPT é efetuado em meio alcalino,

adicionando-se ácido fosfórico. A determinação fluorimétrica é feita com

excitação a 350 nm e emissão a 444 nm.

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