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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS ESCOLA DE VETERINÁRIA E ZOOTECNIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA ANIMAL Disciplina SEMINÁRIOS APLICADOS DIAGNÓSTICO DE CLAUDICAÇÃO DOS MEMBROS TORÁCICOS EM EQUINOS: QUARTELA E CASCO Gustavo Henrique Coutinho Ribeiro Orientador: Prof. Dr. Luiz Antônio Franco da Silva GOIÂNIA 2013

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS

ESCOLA DE VETERINÁRIA E ZOOTECNIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA ANIMAL

Disciplina SEMINÁRIOS APLICADOS

DIAGNÓSTICO DE CLAUDICAÇÃO DOS MEMBROS TORÁCICOS EM EQUINOS:

QUARTELA E CASCO

Gustavo Henrique Coutinho Ribeiro

Orientador: Prof. Dr. Luiz Antônio Franco da Silva

GOIÂNIA

2013

ii

GUSTAVO HENRIQUE COUTINHO RIBEIRO

DIAGNÓSTICO DE CLAUDICAÇÃO DOS MEMBROS TORÁCICOS EM EQUINOS:

QUARTELA E CASCO

Seminário apresentado junto à disciplina

Seminários Aplicados do Programa de

Pós Graduação em Ciência Animal da

Escola de Veterinária e Zootecnia da

Universidade Federal de Goiás.

Área de Concentração: Patologia, Clínica e Cirurgia Animal

Linha de pesquisa: Alterações clínicas, metabólicas e toxêmicas dos animais e

meios auxiliares de diagnóstico

Orientador: Prof. Dr. Luiz Antônio Franco da Silva- EVZ/UFG

Comitê de orientação: Prof.ª Dr.ª Luciana Ramos Gaston Brandstetter- EVZ/UFG

Prof. Dr. Rafael Resende Faleiros- EV/UFMG

GOIÂNIA

2013

iii

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 1

2 HISTÓRICO E ANAMNESE .................................................................................... 4

3 EXAME CLÍNICO .................................................................................................... 6

4 BLOQUEIOS PERINEURAIS E ARTICULARES .................................................... 9

4.1 BLOQUEIOS PERINEURAIS ...................................................................................... 10

4.2 BLOQUEIOS INTRA-SINOVIAIS .................................................................................. 11

5 DIAGNÓSTICO POR IMAGEM ............................................................................. 12

5.1 RADIOGRAFIA ........................................................................................................ 12

5.2 ULTRASSONOGRAFIA ............................................................................................. 17

5.3 RESSONÂNCIA MAGNÉTICA ..................................................................................... 23

5.4 TOMOGRAFIA ........................................................................................................ 25

5.5 CINTILOGRAFIA ...................................................................................................... 26

5.6 TERMOGRAFIA ....................................................................................................... 27

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 29

iv

LISTA DE ABREVIATURAS

Articulação interfalangena proximal AIP

Articulação interfalangena distal AID

Tendão flexor digital profundo TFDP

Tendão flexor digital superficial TFDS

Tomografia computadorizada TC

Dorso lateral-palmaro medial DLPM

Dorso medial-palmaro lateral DMPL

v

LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Nomenclatura para posicionamentos radiográficos do casco do

cavalo. ...................................................................................................................... 13

Figura 2: Seleção do transdutor para a imagem ultrassonográfica da

extremidade distal. A região sombreada representa a área examinada. (A) transdutor

de alta frequência (7-14 MHz) linear com um stand off e (B) remoção do stand off do

transdutor com posicionamento distal do mesmo para avaliar a extensão proximal da

segunda falange. (C) Um transdutor de micro convexo é necessário avaliar

plenamente as estruturas palmares da segunda falange. (D) ultrassom transcuneal

que pode ser realizado com transdutor linear ou micro convexoErro! Indicador não

definido.

vi

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 Método de classificação de claudicação em equinos da American

Association of Equine Practitioners (AAEP). .............................................................. 8

1 INTRODUÇÃO

O cavalo evoluiu a partir de um ancestral, o Hyracotherium, que, no período

Paleoceno-Eoceno chegou a ter o tamanho de um gato doméstico. Devido a

mudanças na atmosfera e na temperatura do planeta, esse animal, ao longo de 56

milhões de anos de evolução se tornou a espécie que conhecemos hoje como

Eqqus caballus (4). Já se passaram 450 gerações desde que houve o início da

domesticação do cavalo, e tal fato ocorreu em torno de 6.000 anos atrás. Os

primeiros registros dessa interação entre homens e equinos, em busca de leite e

carne primeiramente, foram encontrados em diversas partes da Eurásia (5).

Esse animal se tornou capaz de percorrer curtas distâncias em alta

velocidade, ou longas distâncias em baixa velocidade, sempre com baixo custo

energético. Isso se tornou uma vantagem evolutiva, pois, em consequência disso,

ele foi capaz de fugir dos predadores e migrar em busca de forragem, quando essa

se tornava escassa. Para alcançar essas exigências de locomoção, o equino

desenvolveu particularidades anatômicas que promovem uma maior eficiência

energética, como a redução da extremidade do membro a um só dígito (6).

Durante muito tempo, o cavalo assumiu um papel importante no transporte;

fosse como montaria, tração em trabalhos agrícolas ou em carruagens reais. Até

meados do século XX, exércitos usavam cavalos de forma intensa em guerras (7).

As diversas atividades impostas aos equinos pelo homem submeteram seu aparelho

músculo esquelético a esforços não condizentes com sua evolução. O

melhoramento genético fez com que esses animais se tornassem maiores, o que

trouxe problemas para a espécie (6). A partir do momento em que o cavalo foi

considerado útil para transporte e trabalho, o conhecimento sobre as suas patologias

tornou-se necessário (7).

O casco é uma estrutura biomecânica altamente otimizada e funciona como

estrutura de suporte de peso, tração, proteção contra danos do meio ambiente,

propriocepção, assistência circulatória e termo regulatório (8). Problemas localizados

nessa região são causas frequentes de claudicação e redução de performance.

Xenofonte, em seu tratado sobre equitação, na Grécia antiga, por volta de 400 a.C.

já afirmava:

2

“Se um cavalo não tem cascos bons, nunca terá futuro como cavalo de

batalha.”

O desempenho dos equinos, tanto aqueles envolvidos em atividades de

campo, quanto em competições, lazer e tração é sempre beneficiado pela

integridade do aparelho locomotor. As altas exigências impostas às suas estruturas,

devido à atividade física intensa, representam a maior causa de descarte de animais

e perdas econômicas (9). Embora as injúrias músculo esqueléticas fatais tenham

baixa prevalência, muitas condições que levam a claudicação têm alta prevalência

(10). As causas das enfermidades locomotoras são multifatoriais. Aproximadamente

95% das claudicações no membro torácico estão relacionadas à região distal ao

carpo. Uma avaliação pormenorizada da extremidade distal deve ser executada em

qualquer cavalo com claudicação, antes de se considerar um problema em regiões

proximais do membro (manqueira alta), a não ser que a condição seja óbvia (2).

O membro locomotor do equino é como um sistema de alavancas com uma

configuração geométrica que afeta diretamente a carga nos ossos e tecidos moles.

Como a conformação do casco e o uso de ferraduras afetam a biomecânica do

membro, eles têm o potencial de alterar a probabilidade de lesão em outros sítios.

As ferraduras são a interface entre o membro e a superfície de corrida e afetam a

concussão, aceleração/desaceleração e a tração. Esses fatores também são de

particular interesse, pois eles têm o potencial, quando bem gerenciados, na

prevenção de lesões (10).

A claudicação é uma indicação de uma perturbação estrutural ou funcional

de um ou mais membros, ou do esqueleto axial, que pode ser observada quando o

cavalo está parado ou em movimento. Normalmente, a claudicação é visualmente

mais evidente ao trote ou galope. Algumas claudicações importantes muitas vezes

são vistas no cavalo ao passo, enquanto que manqueiras mais sutis podem não ser

aparentes até que o cavalo seja exercitado ao trote (1).

Existem várias causas de dor no casco do equino. Essas causas podem ser

divididas de acordo com a localização do problema: condições envolvendo a parede

do casco ou tecido córneo, terceira falange, e região podotroclear. Problemas na

parede do casco incluem defeitos da parede, como rachaduras que envolvem o

3

tecido sensível, laminite, contusões do casco, neoplasia e pododermatite (trush ou

cancro)(11).

Problemas na terceira falange incluem fraturas do osso (tipos I a VII),

entesopatia na inserção do tendão flexor digital profundo (TFDP), osteíte podal

(inflamação generalizada ou localizada do osso), ruptura nas inserções dos

ligamentos colaterais do sesamóide, lesões císticas e doenças degenerativas que

causam remodelação (12). As condições que afetam a região podotroclear são

sinovite e capsulite da articulação interfalangeana distal, tendinite no TFDP, desmite

do ligamento ímpar ou dos ligamentos colaterais sesamoideos, osteíte navicular,

degeneração e fraturas do osso navicular (13). O fator comum de todas essas

condições é a presença de dor palmar no casco (11).

Com o desenvolvimento de técnicas de diagnóstico por imagem avançadas,

tais como a ressonância magnética e tomografia computadorizada, o conhecimento

sobre as patologias relacionadas à extremidade distal do membro do cavalo tem

melhorado significativamente (14). Embora a realização de muitos desses

procedimentos não seja viável no campo, a disponibilidade de recursos em escolas

veterinárias e hospitais particulares é uma realidade. Outras técnicas que fornecem

informações sobre os ossos e tecidos moles da região são: radiologia,

ultrassonografia, cintilografia nuclear e a termografia. Alguns desses recursos vêm

se tornando cada vez mais portáteis e ampliando o seu acesso. O desenvolvimento

de softwares e de tecnologias adaptadas para o uso em animais também é um fator

importante nessa evolução (11). Neste seminário, objetivou-se revisar as técnicas de

diagnóstico aplicadas ao membro distal do equino, quartela e casco.

4

2 HISTÓRICO E ANAMNESE

O casco é uma estrutura dinâmica e responde rapidamente às forças

internas e externas. A cápsula do casco pode mudar sua forma e composição

rapidamente e, portanto, o examinador deve tentar descobrir os fatores que afetam

cada paciente em particular. Qualquer exame clínico deve começar com as

informações da anamnese e histórico do indivíduo. (6, 11). O tempo decorrido do

início dos sinais, bem como as características observadas pelo responsável do

animal são importantes. Pode-se questionar o responsável pelo animal sobre o que

ele acredita estar errado. Em casos intermitentes de claudicação é importante

observar em quais situações a manqueira se torna evidente (2).

A raça, aptidão e a atividade exercida pelo animal podem fornecer

informações relativas à incidência de alguns problemas no casco. A exemplo disso,

as raças Puro Sangue Inglês e Quarto de Milha de corrida têm uma incidência

relativamente alta de contusões, osteíte podal, fraturas de falange distal, danos aos

bulbos do talão, rachaduras dos quartos e problemas de parede do casco. Já

cavalos de corrida Standardbred têm problemas nos cascos semelhantes, porém

apresentam uma incidência muito maior de fissuras dos quartos (11, 12).

É útil saber quando o cavalo foi ferrageado ou casqueado pela última vez.

Um casco saudável normal cresce sob a ferradura, quando é esperado que se

troque a mesma. O casco também não necessariamente cresce de maneira

uniforme; assim, as condições do casco no momento do ferrageamento podem não

ser as mesmas encontradas pelo examinador no momento da avaliação. Problemas

nos cascos que surgem após alguns dias do ferrageamento podem indicar pressão

sobre a sola, cravos mal colocados ou muito apertados, ou que o casco foi aparado

excessivamente. Informações sobre possíveis problemas encontrados pelo

ferrageador, tais como distúrbios comportamentais, parede do casco fina e

contusões na sola, também são importantes (11).

As condições do ambiente em que o cavalo vive, treina e participa de

competições, pode influenciar na qualidade do casco e provocar muitos problemas,

como infecções de ranilha provocadas por excesso de umidade e contaminação do

ambiente. Outro exemplo se dá em casos de animais submetidos a treinamento em

5

pisos rígidos que apresentam desgaste rápido das ferraduras, ao contrário daqueles

treinados em pisos de areia (11).

6

3 EXAME CLÍNICO

A avaliação completa do casco equino constitui parte essencial do exame de

claudicação e requer vasto conhecimento da sua anatomia (11). O primeiro passo é

a observação do animal parado, em posição quadrupedal. O posicionamento do

membro pode demonstrar que o animal sente dor naquele membro. Deve-se

observar se o animal evita colocar o peso sobre algum dos membros, ou põe o

membro lateralmente ou posiciona este membro em posição avançada cranialmente.

Estas mudanças podem indicar problemas nos cascos e apontar muitas vezes a

presença de dor nos talões (15).

Os cascos devem ser observados a uma distância que se possam comparar

os quatro membros. É importante observar o tamanho, forma, o comprimento dos

cascos e talões, o eixo da quartela e o casco, a posição de cada casco em relação

ao membro e de um membro para o outro. Este é o melhor momento para avaliar o

equilíbrio do cavalo; ou seja, quais são as diferenças em cada uma das pernas do

cavalo, e como o cavalo se apoia no casco (11). Esta análise deve ser feita em três

direções: vista dorsal, vista lateral e vista palmar (16). Pela vista dorsal, o casco

deve ser avaliado por simetria e alinhamento. Outro fator a ser observado é o

alinhamento do casco. Isto é visualizado a partir dos aspectos dorsal e lateral. Em

média, 60% dos cavalos têm o ângulo do casco entre 50º e 55º. O ideal é que

quando o cavalo está em posição quadrupedal, a falange média, quartela e casco

devem estar alinhados quando vistos dorsalmente. Lateralmente, a quartela e o

casco devem ser retos com o ângulo criado pela parede dorsal do casco, sendo o

mesmo ângulo que a quartela e os ângulos dos talões o mesmo da pinça (11).

O próximo critério a ser avaliado é o formato do casco. Geralmente, visto

dorsalmente, o casco deve ter uma forma circular ou redonda, enquanto que a parte

palmar deve ser mais triangular. A observação final é a do suporte dos talões. Isso

pode ser feito avaliando a posição da superfície de suporte do peso dos talões,

relativo ao restante do casco, à quartela, ao boleto e ao osso da canela (12).

Após a avaliação do animal parado, é importante avaliar o cavalo ao passo.

Observar o casco em movimento mostra ao avaliador a maneira como o cavalo

pousa, ou faz o ponto de quebra, ou ainda, como se comporta na fase de

7

suspensão. Se a pinça é a primeira parte a atingir o solo, ou os talões são

excessivamente exigidos, isso pode indicar uma compensação por dor ou

desbalanço dorsopalmar do casco. Similarmente, desvios no sentido medial ou

lateral podem ocorrer devido à desbalanços nesse sentido. (11).

Após essa observação, deve-se palpar o animal em busca de aumentos de

volume, mudanças de temperatura, pontos de dor, soluções de continuidade na pele

ou qualquer outra alteração. A sensação de calor ou aumento do pulso digital podem

ser sinais de inflamação no membro distal. Os pulsos podem ser aferidos na parte

abaxial da região palmar do boleto e da quartela, e ainda pode ser feita uma

comparação com o membro contralateral. O pulso digital normal é quase

imperceptível para a maioria das pessoas; porém, quando associado à inflamação,

pode aparecer claramente.

Alguns equipamentos específicos são necessários para examinar

cuidadosamente o casco. Porém, esses equipamentos requerem conhecimento ou

treinamento para evitar o uso indevido. (11). Um dos equipamentos mais

importantes é a pinça de casco. A aplicação desse equipamento deve ser feita com

critério. Essa ferramenta é projetada para aplicar pressão em áreas selecionadas na

face palmar do casco. Isso pode ajudar a diagnosticar um hematoma de sola ou

abscesso, laminite, trush (frieira), dor palmar do casco, entre outros. Se o problema

apresenta-se imediatamente com a pressão feita na sola, pode não haver a

necessidade de continuar o exame completo de claudicação. O casco deve ser

testado por completo. Deve-se pressionar a ranilha, talões, sola, sempre com

pressão moderada e buscando a reação do animal. O principal cuidado a ser

tomado em relação a esse instrumento é não atingir a banda coronária, pois poderá

provocar a reação do cavalo, e o teste apresentará um resultado falso negativo (2,

11).

O grau de claudicação deve ser documentado como parte de um registro

médico completo. Embora o uso de parâmetros como leve, moderado e grave

possam ser suficientes, recomenda-se uma abordagem mais objetiva através de um

sistema de classificação. Um sistema de classificação da claudicação não só é

benéfico, pois define o grau de claudicação, mas também faz da manutenção de

registros uma tarefa mais fácil e fornece ao examinador uma referência objetiva para

8

Fonte: Baxter and Stashak (2)

avaliar a evolução na reavaliação. Portanto, visto que a determinação da

claudicação é um tanto subjetiva,, é recomendado classificar ou graduar a

claudicação. (2). O método de classificação mais utilizado é o da American

Association of Equine Practitioners (AAEP) (Quadro 1).

Quadro 1 Método de classificação de claudicação em equinos da American Association of Equine Practitioners (AAEP).

Grau Descrição da claudicação

0 A claudicação não é perceptível em nenhuma circunstância;

1 É difícil observar a claudicação; Não é consistente aparentemente, independente

das circunstâncias;

2 A claudicação é difícil de se observar em uma caminhada ou trote em linha reta;

aparente sobre certas circunstâncias (carregando peso, em círculos, declives,

superfícies duras)

3 Claudicação é consistente e observável em circunstâncias ao trote;

4 Claudicação óbvia: balança a cabeça, tira o membro subitamente do apoio, passo

encurtado;

5 Suporte de peso mínimo no membro afetado, em movimento ou em repouso;

incapacidade de se mover.

9

4 BLOQUEIOS PERINEURAIS E ARTICULARES

A anestesia local é comumente utilizada durante um exame de claudicação

para confirmar ou identificar o local ou os locais de dor, quando alguma patologia

óbvia não existir. A anestesia local pode ser conseguida por infiltração perineural ou

bloqueio do nervo local; bloqueio em anel, ou infiltração direta de uma região

dolorosa; e também pela injeção intra-sinovial, que consiste em depositar anestésico

dentro de articulações, bainhas de tendões e bursa (17).

O bloqueio perineural para diagnóstico de claudicação é um procedimento

em que um anestésico local é aplicado adjacente a nervos para anestesiar

seletivamente certas partes do membro. Uma vez que a área está bloqueada e o

cavalo para de mancar, a partir disso é possível conhecer a região que está

envolvida como causa da claudicação. Os bloqueios articulares são realizados de

forma semelhante. O procedimento é mais específico, uma vez que o anestésico é

colocado diretamente dentro da articulação. Podem ocorrer inconsistências devido

às diferenças anatômicas individuais do suprimento nervoso e difusão de

substâncias bloqueadoras, dessa forma, tentativas na obtenção de um diagnóstico

claro podem ser dificultadas. Independente desses problemas, esses procedimentos

ainda auxiliam em diagnósticos mais específicos (18).

Bloqueios perineurais e em anel são utilizados para localizar a origem da dor

para uma região específica e, portanto, devem ser realizados de um modo

sistemático, partindo da extremidade distal e progredindo proximalmente. Infiltração

direta e anestesia intra-sinovial são utilizadas para identificar o envolvimento de uma

estrutura específica e não necessita ser realizada de maneira sistemática. Não é

incomum executar vários tipos de anestesia local no mesmo paciente. Isso vai

depender dos sinais clínicos específicos. O objetivo, após determinar o local

específico da causa da claudicação, é poder solicitar um exame de imagem que será

utilizado para confirmar a localização e determinar a causa do problema (1).

As aplicações de anestésico intra-articular são mais precisas e não

interferem com a anestesia regional. Essa última dessensibiliza os nervos locais que

inervam áreas específicas do membro. Esse meio de diagnóstico fornece provas

incontestáveis da localização da claudicação, e o fator mais importante é ter uma

10

ideia de quais as áreas se tornaram insensíveis. O teste para determinar o sucesso

do bloqueio anestésico dessas regiões é realizado com uma picada de agulha,

algum tempo após o procedimento para verificar se o animal tem sensibilidade. Para

bloqueios de estruturas sinoviais a preparação cirúrgica da área é obrigatória. A

lidocaína é o anestésico de escolha tanto para o bloqueio perineural quanto para o

sinovial (2, 11).

4.1 Bloqueios perineurais

O bloqueio do nervo digital palmar é frequentemente realizado a meio

caminho entre o boleto e a banda coronária; porém o ponto de mais fácil acesso é

próximo às cartilagens colaterais do casco, onde as estruturas neurovasculares

podem ser palpadas entre a segunda falange e os tendões flexores. Um volume

entre 1,5 e 2 ml de anestésico deve ser injetado sobre o nervo. Esse procedimento

dessensibiliza um terço ou até a metade palmar da pele na região da banda

coronária, os talões e quartos da parede do casco, bem como toda a sola. Os efeitos

da anestesia regional são normalmente avaliados 15 minutos após a injeção (11, 19,

20).

O bloqueio em anel da quartela é uma simples extensão do bloqueio do

nervo digital palmar. Basta injetar anestésico ao redor da superfície dorsal da

quartela no sentido do nervo. Esta técnica anestesia todo o casco e quartela, na

porção distal do membro. O bloqueio abaxial do sesamóide é executado no aspecto

palmar da superfície abaxial dos sesamóides proximais. As estruturas

neurovasculares são facilmente palpáveis, e 1,5 a 2 ml de anestésico devem ser

injetados ao longo do nervo. Esse procedimento deve formar uma pequena bolha

que é facilmente visualizada. O bloqueio abaxial dessensibiliza a cápsula do casco e

a parte palmar da quartela. No entanto, esse bloqueio nem sempre será efetivo na

porção dorsal da quartela. Caso isso ocorra deve-se lançar mão do bloqueio baixo

do nervo palmar (2, 11, 17, 19, 20).

O bloqueio baixo do nervo palmar é feito no nível da extremidade distal dos

ossos II e IV metacarpos ou metatarso. Os nervos estão localizados entre o

ligamento suspensório e os tendões flexores. Dois métodos podem ser utilizados. No

11

primeiro, as injeções de anestésico local podem ser feitas ao longo de cada nervo,

ou uma única injeção pode ser feita, em que 2 a 3 mL são injetados em cada nervo.

Já no segundo método, injeta-se 5 a 7 mL, preenchendo o espaço entre os

ligamentos e tendões. Esta técnica dessensibiliza a quartela e a região palmar do

boleto (2, 11, 17, 19)

4.2 Bloqueios intra-sinoviais

Bloqueios articulares fornecem evidências de envolvimento específico da

articulação anestesiada. Normalmente, a tricotomia não é necessária, quando o

cavalo tem os pelos curtos. A preparação cirúrgica da área é indispensável e todo o

material envolvido no procedimento deve ser estéril. Lidocaína e mepivacaína são os

fármacos mais utilizados e o frasco contendo o anestésico deve ser novo. Para a

AID, existem duas técnicas, e independente de qual será adotada, as estruturas que

são dessensibilizadas são a AID, o osso navicular, e as porções inervadas da bursa

navicular. A AIP pode ser infiltrada com anestésicos locais, através do recesso

dorsal ou palmar. A infiltração da AIP somente insensibiliza a AIP (11, 12, 20).

A analgesia da bursa podotroclear pode ser realizada a partir do aspecto

palmar ou da face lateral. Independente disso, algum tipo de controle radiográfico é

necessário para garantir que a bolsa tenha sido injetada. A claudicação é avaliada 5

a 10 minutos após a injeção. Acredita-se que esse procedimento dessensibiliza o

osso navicular e os seus ligamentos, além da face palmar da terceira falange,

incluindo a área de inserção do TFDP (2, 11).

Após a definição da região possivelmente lesionada, os exames de imagem

podem ser realizados e, muitas vezes podem revelar a patologia que leva àquela

claudicação e até mesmo a magnitude desta (17).

12

5 DIAGNÓSTICO POR IMAGEM

De todas as especialidades na área de saúde, as que sofreram o maior

impacto com o advento da era digital foram os métodos de diagnóstico por imagem.

O diagnóstico por imagem na medicina veterinária depende de pesquisa e

desenvolvimento de tecnologia voltada à saúde humana e posterior adequação. A

radiologia e a ultrassonografia em cavalos passaram a ser rotina quando a

tecnologia as tornaram mais portáteis e resistentes. O uso clínico da tomografia

computadorizada na prática equina, assim como a ressonância magnética, é

possível hoje devido à criatividade na adaptação de tecnologias centradas no uso

em humanos, aos avanços em hardware e software, e também a grupos crescentes

de desenvolvimento de conhecimento específico para o uso em animais (21).

5.1 Radiografia

O exame radiográfico do casco é um procedimento comum (1). Os raios X

utilizados são produzidos por dispositivos denominados tubos de raios X, que

consistem, basicamente, em um filamento que produz elétrons por emissão

termoiônica (catodo), que são acelerados fortemente por uma diferença de potencial

elétrico (kilovoltagem) até um alvo metálico (anodo), onde colidem. A maioria dos

elétrons acelerados é absorvida ou espalhada, produzindo aquecimento no alvo. A

radiografia consiste em uma técnica de exame de imagem que utiliza essas

emissões eletromagnéticas de natureza semelhante à luz visível, com comprimento

de onda variando entre 0,05 ångström (5 pm) até dezenas de ångström (1 nm), os

raios x. Um feixe heterogêneo de raios X é produzido por um gerador e projetado

sobre um objeto. A densidade e a composição de cada área determina a quantidade

de raios X absorvida. Esses raios que atravessam são capturados atrás do objeto

por um detector, seja filme fotográfico ou detector digital. Produz-se, então, uma

representação em duas dimensões de todas as estruturas superpostas (22).

O feixe de raios X, transmitido através do paciente, impressiona o filme

radiográfico, o qual, uma vez revelado, proporciona uma imagem que permite

distinguir estruturas e tecidos com propriedades diferenciadas. Já no equipamento

13

de raios-X digital, um detector converte os raios-X em luz e o transforma em sinal

elétrico, que é amplificado, digitalizado, processado e enviado a um monitor de alta

resolução. A imagem ainda pode ser aprimorada por técnicas de pós-

processamento, em um software específico. O sistema digital apresenta vantagens

em relação ao convencional pelos benefícios que trazem ao paciente, que pode ter o

seu diagnóstico e tratamento com maior rapidez e eficiência. Além disso, a imagem

digital pode ser transmitida eletronicamente de um local para outro, o que facilita a

consulta remota por outro especialista (22).

Durante o exame radiográfico, os raios X interagem com os tecidos através

do efeito fotoelétrico e Compton. Como cada parte que compõe o tecido vivo possui

uma composição e densidade diferentes, obtêm-se imagens radiográficas que,

mostram tonalidades de cinza bem diferenciadas; conforme a densidade (22).

Existem diversas formas de posicionar o aparelho em relação ao membro do

animal, com o objetivo de evidenciar uma ou outra estrutura. Essas projeções devem

ser as mais específicas possíveis (1). As projeções radiográficas do casco são

(Figura 1): dorsoproximal-palmarodistal 60º, para projeção do osso navicular;

dorsoproximal- palmarodistal 45º, para projeção da terceira falange; latero-medial;

dorso palmar horizontal e palmaroproximal- palmarodistal para projeção do osso

Figura 1: Nomenclatura para posicionamentos radiográficos do casco do cavalo. Fonte: Baxter (1)

14

navicular (11). Existem variações das projeções dorso palmar reta e latero medial

que podem ser usadas para evidenciar partes do membro. Essas variações

consistem em utilizar pontos intermediários em torno do membro para evidenciar

partes que ficariam sobrepostas nas outras projeções. Essas projeções são a dorso

lateral-palmaro medial (DLPM) e dorso medial-palmaro lateral (DMPL).

Antes do exame radiológico, o casco deve estar completamente limpo de

toda a sujeira, com especial atenção aos sulcos da ranilha e aos quartos. Se

necessário, a coroa do casco e deve ser lavada com água e sabão para remover

quaisquer detritos remanescentes (23).

A ferradura pode ser retirada ou não; isso dependerá da projeção necessária

e do estado da ferradura. É uma prática comum preencher os sulcos da ranilha com

massa de modelar, sabão de barra, entre outros materiais. Deve-se verificar se o

material escolhido não é radiopaco. A meta é eliminar sombras formadas pelo gás

acumulado nos sulcos da ranilha; porém, quando a sola está preenchida por esses

materiais o detalhe radiográfico das estruturas subjacentes diminui. Aparar

cuidadosamente a ranilha pode ser uma opção que não afeta os detalhes

radiográficos (23).

O cavalo deve ser colocado sobre um bloco de madeira para que o

posicionamento do chassi seja feito corretamente. Para evitar erros de interpretação,

é necessário que o cavalo distribua o peso igualmente em ambos os cascos, sobre

blocos separados. Ao colocar o animal sobre os blocos, deve-se levar em conta a

conformação do cavalo, ajustando o bloco para acomodá-lo de forma natural. O

membro deve ficar posicionado, alinhado no bloco, sem torção. Quanto mais

confortável o cavalo estiver sobre os blocos de madeira, menor é a probabilidade de

o animal ficar incomodado e sair da posição (18, 23).

Na projeção latero-medial, a superfície da parede dorsal do casco deve ser

marcada com um material radiopaco. Mesmo com a configuração de exposição mais

baixa, é impossível ver a superfície exterior da parede do casco na radiografia. Para

uma medição precisa da distância entre a superfície dorsal da terceira falange e a

superfície exterior da parede do casco, a parede do casco externa deve ser

delineada com esse marcador. O material radiopaco deve se estender da banda

coronária até pelo menos o nível da margem distal da terceira falange. Com o

15

marcador colocado no ponto mais proximal da parede do casco, o mesmo pode ser

usado para avaliar a relação entre o sulco coronário e o processo extensor da

terceira falange. Geralmente se utiliza uma tira metálica ou um pedaço de arame e

até mesmo um clipe de papel (1, 23).

Para projeções dorso-palmares, o cassete deve ser colocado na face palmar

do membro, tão perto dos talões quanto possível, e fazer com que o chassi

permaneça perpendicular ao feixe de raios x. Esta abordagem produz uma imagem

sem distorções e relativamente pouco ampliada e permite a avaliação da terceira

falange em relação à cápsula do casco, a cápsula do casco em relação ao solo, e

assim, o equilíbrio lateral do casco. É possível avaliar nessa projeção se os

eventuais afundamentos da terceira falanges são uniformes ou não. Essa vista

também é uma excelente projeção para avaliar o osso navicular. Se houver suspeita

de um problema que envolva a AID, pode-se avançar a projeção proximalmente (23,

24).

As projeções dorso palmar 45º e a latero medial flexionada, ambos tomadas

com o feixe centrado sobre o osso navicular, complementam a visão dorso palmar

de rotina, no fornecimento de informações úteis sobre o osso navicular. Em ambos

os casos o animal pode permanecer com a ferradura, sem preocupação com a

dispersão da radiação ou sobreposição pela mesma (23-25).

A projeção dorso palmar 65º é a mais utilizada para avaliar a margem distal

da terceira falange, a AIP e o osso navicular. Muitos veterinários realizam essa

projeção com o chassi dentro de uma caixa de proteção e com o cavalo pisado

sobre o mesmo. Essa prática resulta em uma distorção significativa da imagem,

porque o feixe não atinge o filme perpendicularmente. É preferível apoiar o pé sobre

um suporte de posicionamento, que permita que o cassete seja colocado

perpendicularmente ao solo. Embora certa quantidade de ampliação seja inevitável,

este método assegura que o cassete esteja perpendicular ao feixe, assim, a

distorção da imagem é mínima. É possível obter uma imagem detalhada nas

projeções dorso palmares 65º sem remover a ferradura, apesar da dispersão da

radiação a partir da ferradura. Rotineiramente, porém, os ramos da ferradura podem

obscurecer parcialmente o osso navicular e as asas da terceira falange. Em tais

casos, é melhor remover a ferradura e repetir a radiografia (23, 24).

16

A venografia é uma ferramenta de diagnóstico útil que permite a visualização

radiográfica das veias no casco equino após a injeção de contraste radiopaco pela

veia digital palmar. A técnica é útil como um procedimento de diagnóstico para

avaliar clinicamente a gravidade das alterações vasculares na laminite, ou outras

patologias do casco. O procedimento pode ser realizado facilmente e com

segurança com o cavalo em estação, sedado, com um bloqueio do nervo

sesamoideo abaxial e um torniquete aplicado; apenas o equipamento radiográfico

rotineiro é necessário e as complicações são mínimas (26).

Essa técnica radiográfica desenvolvida em 1992 (27), fornece ao clínico um

meio de avaliar a várias condições patológicas que alteram a circulação digital. Essa

técnica de contraste pode ser um complemento valioso para fins de diagnóstico,

terapêuticos e prognósticos além de ajudar a monitorar a resposta à terapia. A

injeção de contraste é segura e facilmente realizada no cavalo em pé; utiliza-se

equipamento radiográfico de rotina e outros materiais de fácil obtenção.

Imediatamente após a injeção de contraste na veia digital, devem ser tomadas as

radiografias laterais e dorso palmares de rotina. Nesse exame, o preenchimento da

vasculatura digital pode ser avaliado, além de notar áreas de diminuição da

perfusão, ou a perda de contraste. As áreas de interesse primário são o arco

terminal, os vasos circunflexos, a zona lamelar e o plexo coronário (23, 28).

A radiografia digital passou a estar presente na maioria dos hospitais

universitários, em detrimento do sistema com filmes, durante a última década. Esta

tecnologia também se tornou mais popular no setor privado, em hospitais de

referência para a prática ambulatorial. No entanto, a conversão da radiografia

convencional para o digital, atualmente, está em transição e o uso de radiografia

baseada no filme continua a ser amplamente aceitável em todo o mundo (18).

Porém, outros meios de diagnóstico devem ser associados à radiografia,

pois as lesões encontradas podem não representar todo o processo patológico que

leva esse animal a claudicar. Existem muitas estruturas de tecido mole que não

podem ser visualizadas nesse exame, como tendões, ligamentos, cápsulas

articulares e bursas. Portanto, a ausência de alterações radiográficas dessa região

não exclui a possibilidade da claudicação ter a sua causa em outras estruturas do

casco (29).

17

5.2 Ultrassonografia

O som é uma onda mecânica e sua propagação se dá pela vibração das

partículas do meio no qual se alastra. Ultrassom é um termo que se aplica à onda

sonora cuja frequência seja superior àquela percebida pelo ouvido humano, ou seja,

acima de 20 KHz. O comprimento de onda, representada pela letra grega λ

(lambda), corresponde à distância em que o fenômeno se repete; pode representar

também a distância entre duas áreas de compressão e rarefação ou dois pontos

similares em uma dada onda. Quanto menor o comprimento de onda, melhor a

resolução da imagem ultrassonográfica (30).

As ondas acústicas ou som propriamente dito são classificados de acordo

com suas frequências e medidos em ciclos por segundo, ou seja, o número de

ondas que passam por segundo pelos ouvidos. A unidade “ciclos por segundos” é

normalmente conhecida por Hertz (Hz). Frequências de milhões de ciclos por

segundo possuem comprimentos de ondas curtos, os quais são essenciais para uma

imagem de alta resolução. O comprimento de onda e a frequência são inversamente

relacionados; se a velocidade do som no meio for mantida constante. Uma vez que a

velocidade do som é independente da frequência e praticamente constante nos

tecidos moles do corpo, selecionar um transdutor de frequência mais alta causa

diminuição do comprimento da onda sonora emitida, o que propicia melhor

resolução, com menor penetração (30).

Existem várias maneiras de uma onda sonora se propagar; cada uma com

características particulares e vibrações diferentes. Define-se velocidade de

propagação como a distância percorrida pela onda sônica, por unidade de tempo. É

importante lembrar que a velocidade de propagação é uma característica do meio,

sendo uma constante, independente da frequência. O equipamento de ultrassom

pressupõe uma velocidade de som constante em tecidos moles, embora existam

suaves diferenças. No entanto, quando um feixe encontra gás ou osso, ocorrem

diferenças marcantes de velocidade nesses meios que resultam em forte reflexão e

interpretação imprópria dos ecos. Essa forte reflexão é decorrente da combinação

de uma mudança abrupta na velocidade do som e da densidade do meio, que é o

18

mesmo que impedância acústica, em uma interface osso-tecido mole ou ar-tecido

mole. A maioria dos aparelhos de ultrassonografia é calibrada para a velocidade

média 1.540 m/s. À medida que percorrem os tecidos do corpo do paciente, as

ondas sonoras produzidas pelo aparelho de ultrassom interagem com os tecidos de

diversas maneiras e ocasiona atenuação do feixe sonoro (30).

Atenuação é um termo utilizado para indicar o que acontece com a

intensidade do ultrassom depois que ele penetra os tecidos. Quando o feixe sonoro

se propaga, há uma redução da sua amplitude em função da distância percorrida.

Ou seja, quanto maior a distância percorrida maior será a atenuação. É importante

destacar que a atenuação também depende da frequência. Dentro deste contexto

existem dois fatores que são responsáveis por esta ação: a absorção e a reflexão. A

absorção ocorre pela transformação da energia acústica em calor. No entanto, no

ultrassom diagnóstico, a intensidade da onda é tão baixa que a quantidade

absorvida na forma de calor é ínfima. Já a reflexão, refere-se a pequenas porções

da onda sonora que batem em superfícies refletoras e retornam ao transdutor. A

reflexão depende da diferença de impedância acústica entre dois meios, sendo

assim, quanto maior a diferença, mais intensa a reflexão das ondas sonoras. Esse

fator é responsável pela base da formação da imagem ultrassonográfica. A princípio

espera-se que apenas parte do feixe sonoro sofra reflexão na interface de duas

estruturas, para que seja possível visualizar nitidamente o limite entre elas, e que a

maior parte do som seja transmitida para possibilitar o estudo das estruturas mais

profundas (30).

Existem ainda outras formas de interação do som com os tecidos do animal,

que inclui o espalhamento e a refração. O primeiro fenômeno acontece quando o

comprimento da onda do feixe sonoro é maior que as partículas que compõe o meio,

e produz em consequência, uma série de pequenas reflexões, a partir de cada

partícula e em várias direções. Já a refração é o fenômeno que ocorre quando o

feixe sonoro não incide perpendicularmente à interface das estruturas e há diferença

da velocidade do som entre elas (30).

O termo “ecogenicidade” refere-se à capacidade de diferentes estruturas em

refletir as ondas de ultrassom e gerar ecos. O parênquima dos órgãos e os tecidos

são visualizados em vários graus de tons de cinza, que são relativamente

19

constantes de animal para animal. Doenças difusas podem alterar a ecogenicidade

normal de um órgão. O termo “anecóico” é utilizado quando ocorre ausência de

ecos, ou seja, uma estrutura anecóica é totalmente atravessada pelas ondas de

ultrassom sem gerar eco. Isso é o padrão de ecogenicidade para estruturas líquidas

que aparecem como imagens negras no monitor. Quando ocorre uma reflexão

parcial ou intermediária das ondas de ultrassom, utiliza-se o termo “hipoecóico”, e

neste caso a imagem aparece no monitor em vários tons de cinza, como se

apresenta a maioria dos tecidos moles. O termo “hiperecóico” refere-se à alta

reflexão das ondas de ultrassom e aparece como uma imagem branca e brilhante na

tela, o que é típico de gases e ossos. Estruturas diferentes que apresentam a

mesma ecogenicidade, quando comparadas entre si, são denominadas “isoecóicas”

(30).

O ultrassom é usado frequentemente no campo como auxiliar na

visualização de várias estruturas anatômicas. De acordo com a região anatômica

examinada, a ultrassonografia tem limitações devido à proximidade dos ossos à

superfície da pele, que afeta os ecos das ondas sonoras (3).

Na região proximal da quartela deve-se obter vistas transversais e

longitudinais de todas as estruturas localizadas na região; utiliza-se um transdutor

linear de alta frequência e um ajuste de profundidade da cm 3-5 cm. Para melhorar o

contato entre a pele e o transdutor deve-se usar uma almofada de silicone em volta

do transdutor (stand-off) na maioria dos casos, no entanto , às vezes é útil para

remove-lo em cavalos com edema ou espessamento crônico subcutâneo. O TFDP e

o ligamento reto distal do sesamóide são avaliados na face palmar, a partir da linha

média ao nível do boleto e termina nos bulbos dos talões. O TFDP tem uma forma

oval e achatada. Em sentido distal, na altura do boleto o TFDP começa a apresentar

um aspecto bilobado. A ecogenicidade desse tendão deve ser homogênea e o

padrão de fibras deve ser linear, em cavalos normais (3).

O ligamento reto do sesamóide distal normalmente é oval e de formato

trapezoidal na porção proximal e média da segunda falange e torna-se um pouco

mais quadrado na porção mais distal da quartela, próximo de sua inserção, na

segunda falange. Em cavalos normais, pequenas áreas hipoecóicas podem ser

encontradas na origem desse ligamento, e as áreas hipoecóicas centrais maiores

20

podem, muitas vezes serem vistas perto de sua inserção. A região axial do

ligamento normalmente mostra uma ecogenicidade e o padrão de fibras normais, no

entanto, um artefato criado pelo lobulação do TFDP, na linha mediana, não deve ser

confundido com lesão. A comparação com o membro contralateral é frequentemente

necessária para descartar lesões (3).

Os ramos medial e lateral do tendão flexor digital superficial (TFDS) estão

localizados ao lado das bordas lateral e medial do TFDP, respectivamente. O TFDS

começa a formar seus ramos quando passa proximal ao boleto, e essa ramificação

se torna completa na porção distal da quartela. Cada ramo é avaliado

individualmente, e para isso desliza-se o transdutor ligeiramente medial ao ramo

medial (lateralmente para o ramo lateral) de uma imagem palmar na linha média do

TFDP e depois se segue cada ramo distal à sua inserção distal. A porção média de

cada ramo tem uma forma de gota grande com uma ecogenicidade homogênea e

padrão linear de fibra. A porção distal (inserção) de cada ramo tem uma forma

triangular com uma ecogenicidade ligeiramente diminuída e não deve ser confundida

com lesão (3, 31).

Na região distal da quartela, as estruturas que podem ser avaliadas são: o

TFDP, o recesso proximal da bursa navicular e recesso palmar proximal da

articulação interfalangeana distal (AID). O ligamento colateral sesamoideo também

pode ser avaliado, mas as lesões clinicamente significativas são pouco comuns.

Será necessário um transdutor micro convexo, com frequência entre 10-12 MGhz

para a avaliação completa desta região (3).

Pode ser feita também a avaliação dos ligamentos colaterais da AID, que é

realizada com o posicionamento do transdutor em sentido dorsolateral para o

ligamento colateral lateral e dorsomedial para o ligamento colateral medial,

imediatamente proximal à banda coronária (32). Para a obtenção de imagens

longitudinais, o transdutor deve ser posicionado quase perpendicular ao solo.

Apenas a origem e a porção proximal de cada ligamento são visíveis, porque a

porção distal dessa estrutura está localizada dentro da cápsula do casco. Em

imagens transversais, cada ligamento colateral é visto como uma estrutura oval

adjacente à superfície óssea da segunda falange, que tem um aspecto côncavo

neste local (Figura 2). A ecogenicidade deve ser homogênea em imagens

21

transversais e apresentar um padrão de fibras lineares na imagem longitudinal. A

qualidade de imagem é altamente variável entre cada animal, e pode não se obter

as imagens esperadas, mesmo em cavalos normais. O ligamento colateral medial

parece estar localizado mais distalmente, na cápsula do casco, em comparação com

o lateral, no mesmo membro. As lesões aparecem como aumento de volume do

ligamento, com áreas hipoecóicas focais, ou uma ecogenicidade turva, com um

padrão de fibras longitudinais irregulares (33, 34). Deve-se tomar cuidado para não

incluir o tecido subcutâneo que recobre os ligamentos para medir a área transversal.

A comparação do mesmo ligamento, no membro contralateral, é necessária em

muitos casos duvidosos (3).

A ultrassonografia transcuneal é uma técnica que obtém imagens de

estruturas internas do casco, através da ranilha. Essa abordagem pode fornecer

alguma informação relativa às estruturas da sola do casco (32, 35, 36). Para isso, o

casco do cavalo deve ser imerso em água por 15-30 minutos. Em climas muito

secos talvez isso não seja suficiente e deve-se improvisar uma forma de manter o

cavalo pela noite toda com o casco, a ser examinado, em imersão. A ranilha deve

ser aparada com uma rineta, com o objetivo de criar uma superfície plana para

melhorar o contato entre o transdutor e a superfície palmar do casco. Remover

Figura 2: Seleção do transdutor para a imagem ultrassonográfica da extremidade distal. A região sombreada representa a área examinada. (A) transdutor de alta frequência (7-14 MHz) linear com um stand off e (B) remoção do stand off do transdutor com posicionamento distal do mesmo para avaliar a extensão proximal da segunda falange. (C) Um transdutor de micro convexo é necessário avaliar plenamente as estruturas palmares da segunda falange. (D) ultrassom transcuneal que pode ser realizado com transdutor linear ou micro convexo Fonte:Whitcomb (3)

22

excessivamente o tecido sobre a ranilha pode resultar em agravamento da

claudicação. Apesar de o transdutor linear poder ser usado para a técnica

transcuneal, o micro convexo é a alternativa mais adequada, porque ele tem uma

área de contato menor, um feixe divergente com um campo de visão mais amplo e

usa faixas de frequência mais baixas, para uma melhor penetração. A escolha da

melhor frequência pode variar e depende da preparação do casco, bem como da

variação individual (3).

No entanto, a informação obtida é limitada, porque a janela acústica através

da ranilha é estreita, comparada à largura do TFDP, e do ligamento ímpar do

sesamóide. Isso pode ser ainda mais complicado em cavalos com ranilhas

contraídas. Mesmo com a preparação adequada, a qualidade de imagem raramente

é igual ao esperado quando se examinam outras regiões com estruturas músculo

esqueléticas no cavalo. O ultrassom transcuneal é uma alternativa quando a

ressonância magnética ou tomografia computadorizada não estão disponíveis, mas

os proprietários devem estar cientes de suas limitações (3).

Imagens ultrassonográficas do TFDP, ligamento distal anular digital e bursa

podotroclear ou bursa do navicular são produzidas com um transdutor de 7,5 MHz,

micro convexo. O aspecto palmar do metacarpo distal e a área dos bulbos dos

talões devem ser tricotomizadas, umedecidas com água morna e cobertas com gel

de contato para ultrassom. O membro deve ser flexionado e o exame deve ser

realizado com dígito apoiado no joelho do operador, para induzir uma flexão da AID.

As imagens são feitas em secções transversais e longitudinais. Seções transversais

são realizadas a partir do tubérculo palmar até a borda proximal do osso sesamóide

distal. Inclinar o transdutor em sentido lateral e medial permite uma avaliação

completa e separada dos lobos do TFDP. O diagnóstico ultrassonográfico das

lesões do tendão e do ligamento baseia-se na avaliação de vários critérios; deve-se

observar a dimensão, forma, ecogenicidade e arquitetura. Cada estrutura anatômica

do aparato podotroclear deve ser examinada com cuidado, pois lesões simultâneas

de vários componentes do APT são comuns (37). Esse exame possui uma

particularidade: como o transdutor não fica paralelo às fibras do TFDP e nem dos

outros ligamentos avaliados, as estruturas se apresentarão hipoecogênicas. A

avaliação do contorno dessas estruturas, portanto, será ainda mais importante. As

23

imagens do TFDP e de outras estruturas, nessa abordagem, geralmente se

apresentarão hipoecóicas, pois, devido ao tecido córneo do casco é impossível

posicionar o transdutor perpendicular a essas estruturas (13).

Em todas as abordagens descritas acima é importante lançar mão de uma

propriedade das ondas ultrassonográficas chamada de anisotropia. Quando o feixe

de ultrassom não é paralelo às fibras, a imagem formada se apresentará hipoecóica.

Deve-se movimentar a probe em diversas direções e buscar pontos de reforço

acústico na imagem. Isso pode revelar partes onde o paralelismo de fibras não

existe, mas que não estava evidente com o transdutor em outra posição (38).

5.3 Ressonância magnética

O uso da ressonância magnética tem aumentado nas últimas duas décadas

e tem sido motivado pela abundância de informações que podem ser adquiridas em

apenas um exame. Como uma modalidade de imagem transversal, que utiliza as

propriedades magnéticas inerentes do tecido, a ressonância magnética fornece um

contraste de tecidos excepcional e permite dividir a imagem em várias fatias feitas

na região anatômica de interesse. Esta informação pode revelar dados clínicos

importantes sobre lesões e seus mecanismos fisiopatológicos subjacentes,

especialmente nas estruturas de tecidos moles, que são de difícil acesso na

extremidade distal de equinos (39). Esse método permite o diagnóstico de uma

variedade de lesões que envolvem diferentes estruturas dentro do casco, que não

podem ser diagnosticadas por outros meios (40).

A imagem obtida por ressonância magnética é hoje, um método de

diagnóstico por imagem estabelecida na prática clínica. Dada sua alta capacidade

de diferenciar tecidos, o espectro de aplicações se estende a todas as partes do

organismo e explora aspectos anatômicos e funcionais. A física da ressonância

magnética nuclear, aplicada à formação de imagens, é complexa e abrangente,

uma vez que tópicos como eletromagnetismo, supercondutividade e processamento

de sinais devem ser abordados em conjunto para o entendimento desse método

(41).

24

A imagem formada é o resultado da interação do forte campo magnético

produzido pelo equipamento com os prótons de hidrogênio do tecido, que forma um

pulso de radiofrequência e coleta a radiofrequência modificada, através de uma

bobina ou antena receptora. Este sinal coletado é processado e convertido numa

imagem ou informação (41).

As propriedades da ressonância magnética têm origem na interação entre

um átomo com o campo magnético externo; de forma mais precisa, é um fenômeno

em que partículas que contêm momento angular e outro magnético, que exibem um

movimento de precessão quando estão sob ação de um campo magnético. Os

principais átomos que compõem o tecido humano são: hidrogênio, oxigênio,

carbono, fósforo, cálcio, flúor, sódio, potássio e nitrogênio. Estes átomos, exceto o

hidrogênio, possuem no núcleo atômico prótons e nêutrons. Apesar de outros

núcleos possuírem propriedades que permitam a utilização em ressonância

magnética, o hidrogênio é o escolhido por três motivos básicos (41):

•é o mais abundante no corpo humano: cerca de 10% do peso corporal se

deve ao hidrogênio3;

•as características da ressonância magnética se diferem bastante entre o

hidrogênio presente no tecido normal e no tecido patológico;

•o próton do hidrogênio possui o maior momento magnético e, portanto, a

maior sensibilidade a ressonância magnética.

O uso da ressonância magnética está restrito a algumas instituições. É mais

útil nas extremidades e fornece informações detalhadas sobre as superfícies

articulares, ligamentos, cápsulas articulares, tendões e outras estruturas de tecidos

moles (41). A capacidade de adquirir tanta informação é de grande utilidade no

diagnóstico de lesões musculoesqueléticas no paciente equino. No entanto, existem

muitas considerações relacionadas à disponibilidade, custo e comunicação que

podem afetar a utilidade dessa ferramenta. A qualidade da imagem pode ser

influenciada por vários fatores, que incluem a força do campo magnético, a força de

gradiente, o campo de visão, software de aquisição de imagem, preparo do paciente

e posicionamento, e a experiência do operador. Outras variáveis que afetam a

utilidade do exame na extremidade distal equinos são as opções da área

escaneada, sequências e planos de imagem. A localização da claudicação muitas

25

vezes é um desafio e é de extrema importância, pois define a área a ser trabalhada.

O diagnóstico por imagem é um componente chave do exame claudicação, e a

radiografia, bem como a ultrassonografia são comumente realizados para realizar a

localização da claudicação, pois através desses meios, a obtenção de imagens

adicionais de diferentes áreas é rápida e conveniente. Em comparação, exames de

ressonância são mais caros, necessitam de mais tempo e podem requerer anestesia

geral. Devido a esses requisitos, o número de regiões que podem ser visualizadas

em um estudo é necessariamente limitado, o que traz maior importância sobre a

localização da claudicação, anterior ao exame, para definir a sequência de imagens.

A escolha de sequências e planos da imagem é feita para proporcionar um contraste

de imagem e resolução espacial entre tecidos normais e anormais e minimiza a

duração do exame (39).

5.4 Tomografia

A Tomografia Computadorizada (TC) é uma imagem que deriva do

tratamento informático dos dados obtidos numa série de projeções angulares de

raios X. Ou seja, traduz uma secção transversal do animal. O exame indica a

quantidade de radiação absorvida por cada porção da secção analisada, e traduz

essas variações numa escala de cinzas, que produz a imagem. Como a capacidade

de absorção de raios X de um tecido está intimamente relacionada com a sua

densidade, zonas com diferentes densidades terão diferentes cores, o que nos

permite distingui-las. Enquanto a gordura ou o ar, por exemplo, são facilmente

atravessados, os ossos e o metal não o são. Assim, cada pixel da imagem

corresponde à média da absorção dos tecidos nessa zona. Portanto as imagens se

tratam de reconstruções matemáticas assistidas por computador (22).

A principal vantagem dessa técnica é essa permite o estudo de secções

transversais, ou seja, permite ampliar o que existia no exame radiológico comum.

Outra vantagem é a maior distinção entre dois tecidos. Em TC podem-se distinguir

até 0,5% de diferenças de densidade de tecidos, ao contrário da Radiografia

Convencional em que essa média sobe para 5% (22).

26

Os pontos fortes da tomografia computadorizada são rapidez, alta resolução

espacial e transversal das imagens, que são detalhadas e relativamente fáceis de

interpretar. Um ponto desfavorável das imagens produzidas por esse recurso é a

limitação tecnológica que faz com que tecidos de densidade semelhante, tal como o

fluido sinovial e cartilagem, sejam difíceis de diferenciar. Esta desvantagem é

parcialmente evitada com o uso de meios de contraste, em uma variedade de

aplicações (21).

Tomografia computadorizada e o uso de contraste intra-arterial têm sido

utilizados como alternativa em relação à ressonância magnética, para a avaliação de

claudicações complexas do casco em cavalos (42, 43). A aplicação de contrastes

permite a identificação e caracterização de lesões dos tendões, particularmente

quando as lesões têm evidência de cicatrização por neovascularização (43). Essa

técnica foi descrita como superior à radiografia para a identificação de alterações

degenerativas, invaginações sinoviais do osso navicular e fragmentação da margem

distal do mesmo (44). A tomografia também foi considerada superior à ressonância

magnética para a identificação de anormalidades ósseas em cavalos com

claudicações decorrentes do casco (25, 45).

5.5 Cintilografia

A cintilografia nuclear é um método de diagnóstico que fornece informações

sobre a integridade vascular, tecidos moles e osso. É um método sensível, mas não

específico, na sua capacidade de detectar áreas que podem ter um significado

clínico. Traz informação vital em casos onde a causa da claudicação é difícil de

localizar, nos casos em que há um fraco desempenho em cavalos que não

apresentam dor, mas sim alterações nas andaduras ou em determinados

movimentos em situações de stress competitivo. É mais frequentemente utilizada

para a detecção de fraturas não deslocadas e incompletas e lesões ósseas, sendo

também indicada no diagnóstico de locais de dor e identificação de lesões

osteoarticulares no dorso e pélvis, e, fornece informação útil em equinos com

patologia articular e sobre a fisiologia do metabolismo ósseo e a sua renovação (46).

27

Existem duas fases de obtenção de imagens por cintilografia. A fase óssea

baseia-se na detecção de moléculas de polifosfonato, marcadas com tecnécio em

zonas com elevada remodelação óssea. Essa substância é administrada pela via

endovenosa e após algum tempo o animal passa a emitir radiação. O rádio-isótopo

liga-se aos cristais de hidroxiapatita do osso recém-formado e a detecção da

atividade radioativa no osso é feita por meio de uma câmara de raios gama, através

da qual se pode identificar a lesão pela fixação excessiva de material radioativo nos

locais com maior remodelação óssea (17, 46).

As imagens da fase de tecido mole podem ser obtidas 5- 15 minutos após a

injeção de 99mTc- difosfonato e pode-se utilizar essas imagens como um estudo

preliminar, complementar antes da obtenção das imagens de fase óssea. Além de

varreduras na fase óssea, é possível usar esse meio de diagnóstico como uma

forma de detecção de lesões como as desmites do ligamento suspensório, ligamento

plantar longo e as primeiras fases da síndrome navicular. Teoricamente, as

comparações de imagens das fases de tecido moles e ósseas podem ajudar a

diferenciar entre lesões primárias de tecidos moles ou ósseos, particularmente nos

membros distais (47).

5.6 Termografia

A termografia é a representação pictórica da temperatura da superfície de

qualquer objeto. É uma técnica não invasiva, que mede o calor emitido. Um

termograma médico representa as temperaturas da superfície da pele, o que torna a

termografia útil para a detecção de áreas de inflamação. Esta capacidade de avaliar

de forma não invasiva as alterações inflamatórias, faz dessa técnica uma ferramenta

de imagem ideal para ajudar no diagnóstico de certas condições de claudicação do

cavalo (17).

A técnica mede as emissões de calor para localizar áreas de inflamação

tecidual. Utiliza-se uma câmera, desenvolvida para detectar diferentes graduações

de temperatura; então é possível localizar áreas em que o tecido se encontra

inflamado. Outra vantagem desse procedimento é avaliar o equilíbrio do casco. Se o

28

casco está desbalanceado e atinge o chão de forma desuniforme, um calor desigual

será gerado com o atrito do casco com o solo. Tal como acontece com qualquer

claudicação, equilibrar o casco é essencial para reduzir a tensão sobre as cápsulas

sinoviais, casco, ossos, tendões, ligamentos e articulações (48).

Ao longo dos últimos 20 anos, a termografia passou a ser usada na prática

em medicina equina. Esta é uma modalidade de imagem fisiológica que requer uma

curva de aprendizado para a interpretação, mas oferece ao operador uma nova

visão sobre seus pacientes (17).

29

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A claudicação representa um problema para os equinos em geral, tanto

aqueles usados para esporte, lazer e até terapia. Para que se estabeleçam

tratamentos mais adequados e prognósticos melhores é preciso produzir

diagnósticos mais precisos. Definir o local exato onde existe a patologia que leva

aquele animal a claudicar traz economia de tempo e dinheiro, pois reduz o número

de exames complementares necessários. Além disso, tratamentos mais específicos

serão benéficos tanto para o animal, quanto para o responsável pelo mesmo.

O exame do casco e quartela dos equinos deve ser baseado em

observações cuidadosas, além da determinação das áreas de dor. Isso deve ser

seguido por uma avaliação das forças biomecânicas na região. Finalmente, os meios

auxiliares de diagnóstico por imagem dão uma visão sobre a natureza da lesão e

permitem que o examinador estabeleça um prognóstico.

O diagnóstico por imagem, hoje, promove inúmeras vantagens ao veterinário

de equinos, quando se trata de casos de claudicação. Além de trazer maior

confiabilidade ao diagnóstico estabelecido, maior facilidade de detecção de

problemas sutis, serve também como fonte documental do diagnóstico do

profissional, e traz respaldo, em caso de problemas futuros. Esses recursos estão

cada dia mais acessíveis e cabe ao profissional se manter atualizado.

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