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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA UFPB CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES CCHLA COORDENAÇÃO DO CURSO DE GRADUAÇÃO EM COMUNICAÇÃO SOCIAL - JORNALISMO DAYANE BARBARA RIBEIRO DE SOUZA RESPONSABILIDADE CIVIL DO JORNALISTA VEICULADO À TELEVISÃO JOÃO PESSOA - PB 2012

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA – UFPB CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES – CCHLA

COORDENAÇÃO DO CURSO DE GRADUAÇÃO EM COMUNICAÇÃO SOCIAL - JORNALISMO

DAYANE BARBARA RIBEIRO DE SOUZA

RESPONSABILIDADE CIVIL DO JORNALISTA VEICULADO À TELEVISÃO

JOÃO PESSOA - PB 2012

1

DAYANE BARBARA RIBEIRO DE SOUZA

RESPONSABILIDADE CIVIL DO JORNALISTA VEICULADO À TELEVISÃO

Trabalho de Conclusão de Curso – TCC apresentado a Universidade Federal da Paraíba – como requisito parcial para a obtenção do título do curso de Comunicação Social - Jornalismo. Orientador: Prof. Ms. Hildeberto Barbosa Filho

JOÃO PESSOA - PB 2012

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DAYANE BARBARA RIBEIRO DE SOUZA

RESPONSABILIDADE CIVIL DO JORNALISTA VEICULADO À TELEVISÃO

Nota:_____________

BANCA EXAMINADORA

_________________________________ Prof. Ms. Hildeberto Barbosa Filho

Orientador

_________________________________ Wilfredo Maldonado

1º Examinador

_________________________________ Josinaldo Malaquias

2º Examinador

JOÃO PESSOA - PB 2012

3

Dedico este trabalho a Deus, aos meus pais e a todos que sempre confiaram em mim.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus, por ser meu guia em todos os momentos, ser o meu conforto e o meu refúgio, a Nossa Senhora, por ser minha sempre intercessora e a Jesus Cristo meu eterno salvador. A minha mãe, pela sua dedicação, pelo seu amor, pela sua amizade, por que sei que posso recorrer em qualquer situação, que ela estará lá, assim como Maria, firme e forte para me ajudar e levantar, caso preciso. Ao meu pai por ser o meu maior exemplo de honestidade, de perseverança, de responsabilidade e de bom caráter. Meu objetivo é tê-lo com espelho na minha vida profissional e pessoal. Aos meus avós que sempre acreditaram em mim, e por serem exemplos, vovó Cy exemplo de tranquilidade, Donga (In memoriam) de alegria, vovô Zil meu exemplo de guerreiro e a minha amada e sempre preocupada vovó Bibi por ser meu exemplo de amor. Ao meu namorado, Bruno, por me incentivar a dar sempre o meu melhor, e pelo amor dedicado a mim em todos os momentos. As minhas eternas e verdadeiras amigas por serem fontes de inspiração, apesar de se fazerem, às vezes, ausentes fisicamente; no coração são sempre presentes. Ao Coração de Maria, pela forma mais singela de demonstrar o amor de Deus e pelo privilégio de ser chamada de mãe. Ao meu orientador, Prof. Hildeberto Barbosa Filho, pelos esclarecimentos necessários à realização deste trabalho monográfico. E a todos aqueles (familiares, amigos, professores), que de alguma forma, vieram contribuir para a concretização desse sonho, agradeço imensamente.

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RESUMO

Este trabalho monográfico tem como objetivo lançar uma análise sobre o serviço de comunicação no Brasil, notadamente com relação ao serviço de radiofusão de sons e imagens elencando a sua previsão na Constituição de 1988, bem como trazer a questão à função da agência reguladora que trata da matéria (ANATEL). No centro das atenções está o papel exercido pelos jornalistas, a respeito da ética profissional e na ética do jornalismo. Ademais o trabalho acadêmico fez uma breve análise a respeito da lei de imprensa e o seu assunto correlato, a censura, tratada na ótica de censura prévia e a sua defesa para garantir o livre exercício da veiculação da informação dos profissionais da comunicação. Nessa perspectiva busca-se conciliar o exercício regular de direito exercido pelo profissional da informação e outros valores que tal profissão lida, a exemplo dos direitos personalíssimos, como a honra, imagem, intimidade e a vida privada. Por fim, busca-se fazer uma análise de um caso concreto para que possamos experimentar os conceitos trazidos e brevemente explanados neste trabalho de conclusão de curso.

Palavras-chave: liberdade de imprensa. Direitos personalíssimos. Abuso de direito.

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ABSTRACT

This monographic work aims to launch a review about the communication service in Brazil, especially with respect to the radio station sounds and images listing your prediction the Constitution of 1988, as well as bringing the issue the role of the regulatory agency that deals with the matter (ANATEL). In the center of attention is the role played by journalists about the professional ethics and the ethics of journalism. Besides academic work will make a brief analysis about the press law and its related subject, censorship, treated in the view of prior censorship and its advocacy to secure the free exercise of broadcasting the information to media professionals. From this perspective seeks to reconcile the regular exercise of the right exercised by the professional information and other values that profession deals, like the personal rights, such as honor, image, intimacy and privacy. Finally, we seek to make an analysis of a case that we might test the concepts brought and shortly explained in this work course conclusion. Key-words: Freedom of the press. Rights personal. The abuse of rights.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...................................................................................................... 09

1 O SURGIMENTO DA COMUNICAÇÃO NO BRASIL........................................ 12

1.1 NOÇÕES GERAIS........................................................................................... 12

1.2 O SERVIÇO PÚBLICO DE RADIODIFUSÃO DE SONS E IMAGENS

NO BRASIL............................................................................................................ 13

1.3 PREVISÃO CONSTITUCIONAL...................................................................... 15

1.4 CÓDIGO BRASILEIRO DE TELECOMUNICAÇÃO........................................ 17

1.5 ATUAÇÃO DA ANATEL.................................................................................. 18

2 A FUNÇÃO DO JORNALISTA........................................................................... 21

2.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS.......................................................................... 21

2.2 A ÉTICA........................................................................................................... 22

2.2.1 A ética profissional..................................................................................... 23

2.2.2 A ética jornalística...................................................................................... 25

2.3 A INFORMAÇÃO............................................................................................. 28

2.4 DA CENSURA................................................................................................. 29

2.4.1 Censura prévia e Tutela civil preventiva.................................................. 30

3 DIREITOS DA PERSONALIDADE E A LIBERDADE DE IMPRENSA.............. 33

3.1 A LIBERDADE DE EXPRESSÃO SOB A ÓPTICA DA CONSTITUIÇÃO

DE 1988................................................................................................................. 33

3.2 OS DIREITOS DA PERSONALIDADE............................................................ 34

3.2.1 Direito à honra............................................................................................. 38

3.2.2 Direito à imagem......................................................................................... 40

3.2.3 Direito à privacidade................................................................................... 42

3.3 PONDERAÇÃO ENTRE A LIBERDADE DE IMPRENSA, O DIREITO À

INFORMAÇÃO E OS DIREITOS DA PERSONALIDADE..................................... 44

4 ABUSO DO DIREITO À LIBERDADE DE IMPRENSA

E RESPONSABILIDADE CIVIL DO JORNALISTA.............................................. 47

4.1 ABUSO DE DIREITO....................................................................................... 47

4.1.1 Requisitos e previsão legal........................................................................ 48

8

4.2 ABUSO DE DIREITO À LIBERDADE DE IMPRENSA.................................... 49

4.3 CONCEITO DE RESPONSABILIDADE CIVIL................................................. 49

4.4 RESPONSABILIDADE OBJETIVA E RESPONSABILIDADE SUBJETIVA.... 50

4.5 PRESSUPOSTOS PARA A CARACTERIZAÇÃO

DA RESPONSABILIDADE..................................................................................... 51

4.5.1 A ação ou omissão..................................................................................... 51

4.5.2 Dano............................................................................................................. 52

4.5.3 Nexo causal................................................................................................. 53

4.6 EXCLUDENTES DA RESPONSABILIDADE CIVIL......................................... 53

4.7 DIREITO DE RESPOSTA................................................................................ 54

4.8 RESPONSABILIDADE CIVIL DO JORNALISTA E DA EMPRESA

VEICULADORA DA PUBLICAÇÃO DANOSA DOS DIREITOS

PERSONALÍSSIMOS............................................................................................ 55

4.9 REPERCUSSÃO ADMINISTRATIVA E CÍVEL............................................... 57

4.10 ANÁLISE DE CASOS CONCRETOS............................................................ 59

4.10.1 Caso 1........................................................................................................ 59

4.10.2 Caso 2........................................................................................................ 62

CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................. 65

REFERÊNCIAS..................................................................................................... 67

9

INTRODUÇÃO

Um dos elementos fundamentais de uma sociedade democrática é a

liberdade de imprensa. O Brasil restabeleceu o regime democrático, com a

promulgação da Constituição Federal de 1988, dessa forma passou adotar a plena

liberdade, mesmo com algumas situações discordantes. A nossa Lei Maior tutela de

maneira expressa os direitos e garantias fundamentais, dentre eles, os direitos da

personalidade e o direito à informação.

Antes de abordar a liberdade de imprensa é importante frisar que a imprensa

passou por vários processos de desenvolvimento, devido ao avanço tecnológico e,

com a globalização, ela adquiriu sonorização e imagens, pois antes disso ela não

saia do papel. Hodiernamente, os telespectadores têm acesso aos acontecimentos

de forma real graças ao sistema de radiodifusão.

Com a concessão desses serviços de sons e imagens, a imprensa ganhou

mais espaço, podendo, assim, entrar nas casas das pessoas e noticiar tudo o que

ocorre no mundo. Essa facilidade é excelente, porém o jornalista no uso da sua

liberdade de imprensa pode extrapolar os limites e atingir os direitos da

personalidade de outrem, como a intimidade, a honra, ou a imagem.

Ao atingir esses direitos ocorre um conflito e é esse conflito que é o foco do

nosso estudo, pois ao causar dano a outrem, o jornalista terá que repará-lo e não só

ele, mas também a empresa que ele representa também será punida. Até porque, as

empresas midiáticas, muitas vezes, em prol de audiência não verificam a informação

e o jornalista transmite a notícia inverídica.

Portanto, as informações trazidas pelo jornalista não podem atingir o direito

individual, por isso a liberdade de imprensa que ele possui não é total, ela é limitada,

restrita, pois não pode ferir a privacidade de outrem. O jornalista deve fazer uso da

liberdade de imprensa em consonância com os direitos da personalidade.

Qual a limitação da liberdade de imprensa quando conflitada com os direitos

da personalidade? Qual a responsabilidade do jornalista e da empresa veiculadora

da notícia danosa? Essas são algumas questões que vamos debater e analisar e ver

também até onde pode ir essa liberdade de imprensa, como deve ser a ponderação

dos princípios e garantias constitucionais e qual a responsabilidade do jornalista.

Trata-se de um trabalho de conclusão de curso, monográfico, o qual busca

esclarecer qual a real função do jornalista, que é o responsável por noticiar assuntos

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de interesse social por isso, é fundamental que as notícias sejam verdadeiras, visto

que o jornalista possuidor da liberdade de imprensa deve usá-la em conformidade

com os direitos da personalidade, para evitar conflitos.

Para a realização de tal trabalho, o embasamento principal foi de fontes

bibliográficas da pesquisa indireta, sendo os doutrinadores Claudio Luiz Bueno

Godoy (2008) e Pedro Frederico Caldas (1997) essências para a consecução dessa

monografia. Outros livros, artigos eletrônicos e jurisprudência também serviram de

contribuição para tal trabalho, que é um assunto de interesse social.

Este trabalho de conclusão do Curso de Comunicação Social com habilitação

em Jornalismo da UFPB, tem como objetivo demonstrar a importância da liberdade

de imprensa não atingir os direitos da personalidade com informações e notícias

falsas, e se esses direitos forem atingidos saber qual a responsabilidade civil do

jornalista e da empresa veiculadora de tais notícias. Podemos considerar a vertente

desse trabalho como metodológica, pois irá analisar os pontos positivos e negativos

das veiculações de notícias.

Já o método jurídico abordado é o sistemático. E em relação à abordagem

utilizamos o método dialético, visto que é um trabalho que apresenta no seu decorrer

o conflito dos direitos da personalidade com a liberdade de imprensa, que são

garantidos pela Constituição Federal.

Por isso, este trabalho foi dividido em quatro capítulos:

O primeiro capítulo irá tratar do surgimento da imprensa e do

desenvolvimento do sistema de radiodifusão de sons e imagens. Como surgiu este

sistema, como é feita a sua regulamentação no Brasil e como é previsto

constitucionalmente. Ainda no primeiro momento trataremos do Código de

Telecomunicações Brasileiro, da sua importância para o desenvolvimento da

radiodifusão no Brasil e também as funções da ANATEL.

No segundo capítulo abordaremos a função do jornalista perante a sociedade,

como o jornalista deve agir e como as suas reportagens devem ser embasadas pela

verdade, para que não firam a dignidade de outrem. E para essa atividade

jornalística ser desempenhada de maneira correta deve ter como pilar a ética

jornalística. Neste mesmo capítulo tratamos da função primordial do jornalista que é

a de informar, pois o direito à informação é garantido a toda sociedade. Ainda no

segundo capítulo relatamos o surgimento e o fim da Lei de Imprensa. As formas de

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censura e também a vedação a censura prévia e os casos que cabem uma tutela

civil preventiva, para evitar um possível dano causado pela imprensa.

No terceiro capítulo vamos aprofundarmos o estudo na previsão constitucional

em relação à liberdade de expressão e fazer um estudo maior sobre os direitos da

personalidade. Analisaremos os direitos à imagem, à honra e à privacidade, os

quais, geralmente, entram em conflito com a liberdade de imprensa quando

extrapolada.

Por fim, no quarto e último capítulo, chegamos a nossa problemática, o abuso

de direito e a responsabilidade civil em si, como o jornalista será responsabilizado

por atingir os direitos da personalidade de outrem. Também veremos um tema

importante como o direito de resposta. E, para a conclusão do nosso trabalho

monográfico, faremos uma análise de um caso concreto, no qual o caso escolhido

foi um agravo de instrumento que, no âmbito do Supremo Tribunal Federal em sede

de liberdade de informação o qual assegura ao profissional da informação o seu livre

exercício, embora por vezes sejam utilizadas críticas às pessoas públicas.

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1 O SURGIMENTO DA COMUNICAÇÃO NO BRASIL

1.1 NOÇÕES GERAIS

Com a chegada da família real em 1808 surgiu a imprensa no Brasil, pois

antes disso era proibido qualquer tipo de divulgação, independente da sua espécie,

ou seja, livros, jornais e panfletos inexistiam de forma legal nessa época, pois a

censura era tamanha que as publicações que teciam informações sobre o

iluminismo e afrontavam o Cristianismo, antes de 1808, eram consideradas crime e

chegavam ao país de forma clandestina.

Em 1824, com a Constituição Imperial Outorgada, a imprensa obteve um

grande avanço, visto que a censura prévia foi abolida. Assim, todos poderiam

expressar seus pensamentos, independente de censura, respondendo apenas pelos

abusos praticados (art. 179, IV, CF de 1824). Com isso surgiram vários jornais que

eram passageiros, mas publicavam o que quisessem sem sofrer qualquer tipo de

represália (MOTA; BRAICK, 1997).

Mesmo com todas as conturbações que envolveram a história nacional da

imprensa, há de se reconhecer que essa também exerce uma função social,

devendo-se assim, gozar de garantias constitucionais que permitam seu livre

funcionamento.

A partir do reconhecimento da relevância da função desenvolvida pela

imprensa, passou-se a investir-se mais em tal seguimento, de modo que ao longo da

história, presenciamos inúmeros avanços tecnológicos.

Assim, a tecnologia passou a fazer parte da comunicação humana, sendo

indispensável para as atividades desempenhadas pelas pessoas. Desse modo,

como forma de atender às rigorosas exigências do mercado, a comunicação sempre

está em constante modificação e aprimoramento, isto leva a uma corrida em prol dos

melhores equipamentos, da melhor transmissão, da elaboração dos melhores

programas, etc.

Com a globalização, a imprensa obteve um grande avanço tecnológico,

saindo do papel e adquirindo sonorização e imagens. As notícias chegam às casas

dos telespectadores de forma real e muitas vezes imediata, tudo isso devido ao

sistema de radiodifusão de sons e imagens.

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Dessa forma, nota-se que a impressa representa um importante papel no

cotidiano da sociedade, sendo, na maioria das vezes, a responsável pela divulgação

das notícias entretanto, o reconhecimento da essencialidade da impressa não pode

justificar os abusos cometidos pela mesma.

1.2 O SERVIÇO PÚBLICO DE RADIODIFUSÃO DE SONS E IMAGENS NO BRASIL

A radiodifusão é o meio pelo qual se tem a propagação de sinais de televisão,

rádio e outros meios de comunicação, ou seja, os aparelhos de TV e os rádios

recebem os sinais por meio das ondas radioelétricas e os transformam em vídeo e

áudio. É um meio de comunicação pelo qual a população tem acesso como ouvinte

ou telespectador e é responsável pelo entretenimento, informação e educação da

sociedade.

Esse sistema de radiodifusão teve a sua origem no final do século XIX, onde

Aleksander Stepanovitch Popov, Henry Bradwardine Jackson e Oliver Joseph Lodge

conseguiram o feito de transmitir, mesmo em pequena distância, alguns sinais de

rádio. A partir desta experiência surgiram os meios de comunicação de sons e

imagens em todo o mundo.

As primeiras emissoras de rádio foram criadas após a primeira Guerra

Mundial, pois no período dos combates as transmissões de radiodifusão eram

influenciadas pelas grandes potências mundiais. Em 1919 foi criada a primeira

emissora de rádio nos Estados Unidos, que foi o grande ápice do sistema de

radiodifusão.

Com a radiodifusão espalhada por todo o mundo, surge a ideia de uma mídia

pública, ou seja, transmissão de sinais de forma gratuita aos meios de comunicação.

Na Europa na década de 1920, o serviço de radiodifusão passou a ser

exclusivamente público. Nas Américas, foram criadas também rádios públicas com

fins educativos e outros países também adotaram esse sistema público.

De acordo com a pesquisa de Sivaldo Pereira (2002, p.23):

Em países como o Canadá e Austrália, organizações de radiodifusão públicas foram projetadas justamente para garantir pluralidade de vozes e fomentar a produção de conteúdo nacional. No caso canadense, a emergência de estações radiofônicas vinculadas a grupos religiosos ortodoxos e a invasão da produção da TV comercial estadunidense foram elementos propulsores e um equilíbrio necessário ao sistema de

14

comunicação que crescia de modo pouco diversificado. Na experiência australiana, o serviço de radiodifusão pública foi responsável por levar informação e conteúdo para as áreas mais remotas do país, onde a mídia comercial não estava propensa a investir recursos inicialmente.

Já no Brasil o sistema de radiodifusão pública teve o seu início na década de

1930 através do surgimento de duas rádios. Uma foi a Rádio MEC que era ligada ao

Ministério da Educação, que tinha o objetivo de propagar a educação. E a outra foi a

Rádio Nacional do Rio de Janeiro, que em 1940 foi incorporada pelo governo de

Getúlio Vargas (PEREIRA, 2002).

A partir dessas duas rádios o governo brasileiro começou a investir em mídias

públicas, com a criação de TVs educativas, mas, no Brasil, foi difícil implantar esse

meio público de radiodifusão, pois gerava muitos conflitos com as empresas

privadas de comunicação. No resto do mundo se buscava um equilíbrio entre o

sistema privado de transmissão de sons e imagens e o sistema público, porém no

território brasileiro isso não foi possível.

Então, o sistema de rádio e TV pública não conseguiu atuar de forma

integrada, gerando um desconforto, pois não possuíam audiência. Além disso,

tinham uma carência enorme de equipamentos e quase nenhum investimento.

Neste sentido, Sivaldo Pereira (2002, p.32) afirma que:

O resultado foi um subdesenvolvimento da radiodifusão pública-estatal, que foi ao mesmo tempo engessada e fragmentada, apresentando sérios problemas estruturais e financeiros e pouca independência para cumprir sua missão. Por outro lado, gerou-se no Brasil uma anomalia caracterizada pela sobreposição da radiodifusão comercial que desenvolveu um mercado concentrado e robusto de emissoras a ponto de se tornar o modelo hegemônico no país até os dias atuais.

Tendo em vista todas as polêmicas de transmissão, os serviços de

radiodifusão possuem legislação própria, que permite aos receptores que são os

ouvintes e telespectadores terem acesso gratuito às transmissões, bastando apenas

que comprem os aparelhos receptores. E no Brasil a finalidade da radiodifusão é

basicamente cultural, educacional e que seja de interesse da sociedade.

Os serviços de radiodifusão, portanto, tem por fim o estímulo à educação e à

cultura, sobretudo a cultura nacional e regional e, ainda, à produção independente.

As classes artísticas e jornalísticas devem se utilizar desse serviço respeitando,

contudo, os valores éticos do indivíduo e da família, sendo inclusive permitida a

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exploração comercial desses serviços de radiodifusão, observando os princípios

fundamentais da Constituição Federal.

1.3 PREVISÃO CONSTITUCIONAL

Tanto o serviço de radiodifusão como o de telecomunicação possuem

legislação própria, se subordinando – logicamente – à Constituição Federal, a qual

define esses serviços como públicos. Com a promulgação da Carta Magna de 1988

esses serviços passaram a ser tratados de maneira igualitária, porém anos mais

tarde, em 1995, a Emenda Constitucional número oito, permitiu a privatização da

telefonia.

Dessa forma, os serviços de telecomunicação e os de radiodifusão se

tornaram distintos, pois aqueles passaram a ser regidos pela Lei Geral de

Telecomunicações – LGT (Lei n. 9.472/97), que criou o órgão regulador, chamado

de Agência Nacional de Telecomunicações - ANATEL. Com isso, os serviços de

telecomunicação passaram a ser regulados por essa agência, exceto o de

radiodifusão.

O serviço de radiodifusão foi diferenciado do de telecomunicação devido às

privatizações e continuou sendo administrado pelo Poder Executivo, cuja

representação é feita pelo Ministério da Justiça e segue a cargo do Código Brasileiro

de Telecomunicações – CTB (Lei n. 4.117/62).

Nossa Carta Magna, através de seu art. 223, assim dispõe: “Compete ao

Poder Executivo outorgar e renovar concessão, permissão e autorização para o

serviço de radiodifusão sonora e de sons e imagens, observado o princípio da

complementaridade dos sistemas privado, público e estatal.”

Da transcrição do artigo supra, percebe-se que, reconhecendo a importância

dos serviços de radiodifusão, o legislador constituinte de 1988, buscou integrar os

sistemas, de forma que um complementasse o outro, para assim, manter-se o

equilíbrio.

O professor Ericson Meister Scorsim (2005 apud PEREIRA, 2002, p 21) da

USP acredita que,

(...) o constituinte brasileiro foi sábio ao adotar o princípio da complementaridade entre os sistemas de radiodifusão privado, público e estatal. Trata-se de uma fórmula de compromisso entre as diversas

16

ideologias presentes no cenário nacional à época da discussão do capítulo constitucional dedicado à Comunicação Social.

Mas existe uma grande polêmica em relação a essa tripartição e

complementaridade, visto que esses três sistemas de radiodifusão nunca foram

especificados em lei, nem houve essa complementaridade. Tanto os poderes

Executivos como o Legislativo são omissos em relação a esses conceitos, o que

ocasiona um vácuo legislativo na regulamentação da radiodifusão pátria.

E essa separação do que é público e o que é estatal também gera opiniões

divergentes, pois é muito difícil a população entender qual a diferença entre esses

serviços. O certo seria uma bipartição entre privado e público, pois quando temos

uma radiodifusão estatal, ela é obrigatoriamente pública. Então não era para existir

essa divisão, e sim, o Estado ser gestor do serviço público de comunicação.

Então, essa separação entre os serviços público, estatal e privado pode ser

resumida apenas em uma lógica, que concederia, assim não existiria três serviços,

mas apenas um que regularia e concederia aos demais.

O Professor Murilo Ramos (2005, p.43), afirma exatamente a teoria dessa

concessão:

(...) não existe sistema privado de radiodifusão; o que existe é, por concessão, o Estado autorizar o privado a explorar comercialmente o serviço público de TV e rádio, utilizando, para isso, o instituto da concessão, permissão e autorização. Esta suposta complementaridade acabou sendo uma armadilha, porque aparenta ter um sistema privado. Quando se trata de outorga de concessão e permissão, não existe. Já na autorização, pode-se admiti-lo, uma vez que ela difere dos demais institutos em relação ao equilíbrio entre direitos e deveres. Advogando a existência do sistema privado, os radiodifusores comerciais querem a máxima segurança jurídica com máxima liberdade de mercado.

Diante dessa problemática do princípio da complementaridade, é notório que

a radiodifusão necessita ser esmiuçada em uma nova regulamentação.

É preciso, ainda mais, regular a comunicação de outra forma e descobrir outro

meio de aplicar o que a Constituição Federal normatizou. Esse princípio da

complementaridade deve ser observado por três elementos; o Estado, a sociedade e

o mercado, e se adequar a eles. Ou seja, adaptar uma nova regulamentação da

comunicação, dos meios tecnológicos, econômicos e sociais para poder cumprir os

direitos fundamentais da Constituição Federal na radiodifusão, partindo de tais

elementos.

17

O artigo 221 da Constituição Federal traz os princípios que as emissoras de

rádio e televisão deverão seguir na produção e propagação de sons e imagens;

porém, os mecanismos para que tais princípios sejam cumpridos é o que falta. É

necessário a iniciativa para a criação dessa regulamentação, sem que haja medo da

volta da censura ou da ditadura.

Portanto, como os serviços de radiodifusão de sons e imagens são

concessões públicas, e devem atender ao interesse público, visando à educação,

cultura e informação, devem respeitar, contudo, a pessoa humana eles necessitam

de uma regulamentação a sua altura.

1.4 CÓDIGO BRASILEIRO DE TELECOMUNICAÇÃO

Em 1962 foi sancionado o Código Brasileiro de Telecomunicações, este foi de

tamanha importância para o desenvolvimento da radiodifusão e telefonia no Brasil.

Após quatro décadas os artigos relacionados à telefonia foram revogados, restando

apenas os referentes à radiodifusão.

Este Código estabeleceu que os serviços de telecomunicações, no Brasil,

sejam em águas territoriais ou no espaço aéreo, obedeceriam aos preceitos da lei e

aos regulamentos baixados para a sua execução. A sanção do Código Brasileiro de

Telecomunicação foi relevante para que houvesse um atendimento maior às

necessidades do povo e da economia brasileira, pois foi visto pela primeira vez uma

evolução progressiva de uma rede de telecomunicação e da propagação da

radiodifusão de maneira eficiente.

O processo de elaboração do Código Brasileiro de Telecomunicações gerou

muita discussão no cenário político do país, visto que o sistema de radiodifusão era

influenciado pelos grandes nomes da política no Brasil, e de certa forma ajudou a

regulamentar a comunicação.

A comunicação sempre despertou o interesse político e na época da

promulgação do Código não era diferente, pois deter em mãos uma emissora de

rádio ou de televisão para os políticos era ótimo, já que seria um meio de fazer

campanha eleitoral. Além do mais, a radiodifusão era um serviço que gerava

bastante lucro e isso ocasionou um interesse maciço.

O Código Brasileiro de Telecomunicação teve a missão de regular os avanços

tecnológicos, principalmente a televisão, pois a telecomunicação era antes regulada

18

por decretos, mas de forma dispersa. Então, foi necessária a criação de uma lei para

atender um meio que estava em um grande crescimento.

Segundo Anita Smis (2006, p.75), da UNEP de São Paulo,

O Código Brasileiro de Telecomunicações (lei 4.117/62), sua regulamentação (decreto 52.026/63 e decreto 52.795/63) e as alterações introduzidas durante o regime militar, sobretudo as contidas no decreto-lei 236/67, são ainda atualmente os mais importantes instrumentos que regem a radiodifusão e quando pela primeira vez diretriz foram traçadas para o setor, com responsabilidades e obrigações distribuídas entre as partes, embora na segunda metade dos anos 90, a reforma realizada durante o governo FHC tenha introduzido novos instrumentos à legislação, particularmente no que se refere à participação estrangeira no setor.

O Código Brasileiro de Telecomunicações traz que as concessões e

permissões para o serviço de radiodifusão é de dez anos para o rádio e de quinze

anos para a televisão, estas podem ser renovadas por igual período, porém

necessita da avaliação do Ministério das Comunicações ou de uma decisão

presidencial. Ou seja, no caso de concessão, é necessária a autorização do

presidente, mas se for o caso de permissão pode ser apenas do Ministério.

Conclui-se que o Código Brasileiro de Telecomunicações é ainda hoje o que

rege a radiodifusão no Brasil, através do presidente da República e do Ministério das

Comunicações que controlam as concessões e permissões do serviço, e ainda na

aplicação de penas e multas.

1.5 ATUAÇÃO DA ANATEL

Como já mencionado, com a Emenda Constitucional n. 08/95, foram

revogados os artigos referentes à telefonia do Código Brasileiro de

Telecomunicação, o que ocasionou o surgimento da Lei n. 9.472/97, mais conhecida

como Lei Geral de Telecomunicações. Esta criou a primeira agência reguladora a

ser instalada no país, a Agência Nacional de Telecomunicação.

A criação da ANATEL estimulou a concorrência, visto que a partir da Emenda

número 8, os serviços deixaram de ser exclusivamente públicos e passaram a ser

privatizados, isto gerou uma grande competição entre os empresários, já que a

telecomunicação atualmente traduz-se como um excelente investimento. Deixando o

Governo de fornecer o serviço para apenas regulamentá-lo.

19

A ANATEL fundamenta-se em três pilares, essenciais para o desenvolvimento

da telecomunicação, que são: fiscalizar, regulamentar e outorgar os serviços, para

eles serem dispostos de maneira adequada em todo o país. Contudo, foge da

competência da ANATEL, a outorga de serviços de radiodifusão de sons e imagens,

visto que essa competência, como outrora informado, pertence ao Ministério das

Comunicações. Ela, entretanto, é responsável em relação à radiodifusão em

elaborar, manter e deixar sempre atualizados os planos de canais a serem usados

pelos radiodifusores.

Também é responsável por serviços ligados à atividade das receptoras de

televisão. E fazem parte das funções da ANATEL, entre outras ligadas

exclusivamente à telefonia, as seguintes atribuições: a expedição de regulamentos

técnicos, os quais devem ser seguidos pelos radiodifusores; a administração do

plano básico de radiodifusão, ou seja, analisar as características técnicas das

prestadoras de serviço, para que o serviço de radiodifusão seja transmitido com

qualidade e sem interferências; e a expedição da liberação para a utilização das

radiofrequências para os prestadores do serviço de radiodifusão.

No Brasil, a partir de 1997, a administração e coordenação da radiodifusão

são realizadas pela Agência Nacional de Telecomunicações - ANATEL, devido à

criação da Lei Geral de Telecomunicações (LGT), ou seja, ela tem a função de criar,

coordenar e manter a distribuição de canais, as radiofrequência, através de planos

básicos.

Portanto, a função da ANATEL em relação à radiodifusão de sons e imagens

é de elaborar, manter e atualizar os planos de canais a serem usados pelos

radiodifusores, bem como dos serviços ancilares e correlatos a esta atividade. Além

também de fiscalizar e aplicar sanções relativas às infrações a regulamentação

setorial e reprimir infrações dos direitos dos usuários.

Compete também à ANATEL a outorga, regulamentação e fiscalização sobre

os serviços de telecomunicações, porém não cabe a ela a outorga dos serviços de

radiodifusão. A competência para a outorga de tal serviço está no Decreto nº 7.670,

16 de janeiro de 2012:

Art. 1o O Regulamento dos Serviços de Radiodifusão, aprovado pelo

Decreto no 52.795, de 31 de outubro de 1963, passa a vigorar com as

seguintes alterações: Art. 6

o ..............................................................................................................

.....................

20

§ 1º Compete ao Presidente da República outorgar, por meio de concessão, a exploração dos serviços de radiodifusão de sons e imagens. § 2º Compete ao Ministro de Estado das Comunicações outorgar, por meio de concessão, permissão ou autorização, a exploração dos serviços de radiodifusão sonora.

Portanto, é o Presidente da República que outorga a concessão e a

exploração dos serviços de radiodifusão de sons e imagens.

21

2 A FUNÇÃO DO JORNALISTA

2.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS

O jornalista exerce uma função social de grande relevância, visto que é o

grande responsável pela divulgação das notícias. É responsável também pela

veracidade das informações, pois caso não seja verdadeira a notícia, ele pode sofrer

alguma penalidade.

O jornalista que trabalha na televisão é um referencial para a população. As

pessoas que o acompanham seguem, em regra, as suas ideias e ele possui uma

persuasão impressionante, pois influencia a grande maioria dos telespectadores.

Diante disto, a comunicação deveria estar sempre buscando a verdade dos fatos e

colocando no ar os casos a que a população não tem acesso (GODOY, 2008).

Porém, o jornalista nem sempre busca a veracidade das informações, e gera

em certos casos um desconforto com o Judiciário brasileiro, pois com as suas

notícias causa dano a outrem. No momento que o dano é causado, ele vai ter que

de alguma forma repará-lo, como será demonstrado no momento oportuno.

De acordo com Rogério Christofoletti (2008, p.18):

O jornalismo é uma atividade social, que revela dados da realidade e interliga fatos desconexos para uma maior compreensão humana. É uma prática que orienta, instrui e denuncia desmandos e desvios. É uma profissão que lida com pessoas, interesses, honras e reputações. É um campo que dissemina afirmações, reforça preconceitos, forma opiniões e organiza (ou tenta organizar) o cotidiano das pessoas. Por isso, a responsabilidade cresce no exercício dessa profissão, já que há muita coisa em jogo.

Esta é uma profissão que é muito ampla, pois pode falar de violência, esporte,

moda e política em menos de cinco minutos. É muito atraente, mas também tem seu

perigo, pois o jornalista necessita de muita responsabilidade, visto que as

informações são lançadas por vários meios de comunicação ao mesmo tempo e

deve ser feito um filtro de informações.

O jornalista é munido de diversas fontes, estas podem ser verídicas ou não e

ele dispõe de pouco tempo para conferir a veracidade das informações e colocá-las

no ar, o que pode ocasionar um equívoco, e serem transmitidas informações

errôneas. Vale ressaltar, que quando uma informação falsa é anunciada na

22

televisão, esta se propaga de uma maneira mais rápida, causando um dano quase

sempre irreparável para o lesado.

Por isso, a função do jornalista é colher as informações das suas diversas

fontes, pesquisar se estas são verdadeiras, transformá-las em uma linguagem

acessível à população e ao veículo de comunicação, o qual tem acesso, divulgá-las

para a população.

Contudo, quando o jornalista foge da sua função e, por exemplo, acaba

denegrindo a imagem de outra pessoa caracterizando violação de direito alheio,

precisa responder pelo seu erro, daí, surge a importância do estudo da

responsabilidade do jornalista. Então, o profissional de imprensa tem que estar

cercado pela ética, dessa forma ele vai apurar as informações sem negligência.

2.2 A ÉTICA

A ética deriva do grego ethos, que significa caráter, modo de ser de uma

pessoa, ética é uma junção de valores morais e princípios que dirige as maneiras

das pessoas dentro da sociedade. A ética é utilizada para garantir um equilíbrio e

uma boa convivência social, permitindo que as pessoas se comportem respeitando

certos valores, para que ninguém saia prejudicado. Contudo, a ética não pode ser

confundida com as leis, pois ela está ligada ao sentimento de uma sociedade justa e

a lei é a forma de se normatizar as condutas. E uma atitude ética é preenchida com

valores morais, mas não podemos confundir moral e ética (BITTAR, 2008).

Na moral, o seu conteúdo é revestido de ética, visto que se trata de um

conjunto de costumes e exigências de uma sociedade. Já a ética se constrói a partir

de uma especulação da moral; dessa forma, ela parte da moral para poder elaborar

e construir as suas críticas e possíveis atitudes (BITTAR, 2008).

Segundo Rogério Christofoletti (2008, p.16):

A moral é um conjunto de valores que orientam a conduta, as ações e os julgamentos humanos. Valores como bondade, justiça, igualdade, respeito à vida, entre tantos outros. É com base em valores morais que fazemos escolhas sobre nossas condutas e atuamos diante de situações cotidianas.

Portanto, a moral está ligada aos costumes das pessoas, e a ética tenta

capturar essa moral para as atitudes da sociedade, em prol de uma justiça social.

23

Sendo que, nem sempre uma atitude que é ética para uma determinada sociedade

vai ser para outra, justamente devido aos costumes. E então para cada grupo de

pessoas vai existir uma ética específica.

Vale salientar que as leis muitas vezes se baseiam em princípios éticos,

porém jamais pode ser confundida a lei e a ética, até porque a lei é normatizada pelo

Estado e é obrigatório o seu cumprimento, caso contrário o indivíduo pode sofre

alguma penalidade. Já a ética é um ritual de boas maneiras que o cidadão é

acostumado a seguir em favor da boa convivência, porém caso não siga, não será

punido com penalidades. Tem casos em que a lei pode ir de encontro com a ética e

a moral de uma sociedade, mas todos devem segui-la, devido ao ser caráter de

obrigatoriedade.

Diante disto, Eduardo Bittar (2008, p. 35), discorre que:

O direito pode caminhar em consonância com os ditames morais de uma sociedade, assim como andar em dissonância com eles. Na primeira hipótese, está-se diante de um direito moral, e, na segunda, está-se diante de um direito imoral.

(...) O curioso é dizer que o direito imoral, apesar de contrariar sentidos latentes axiologicamente na sociedade, ainda assim é um direito exigível, que obriga, que deve ser cumprido, que submete a sanções pelo não cumprimento de seus mandamentos, ou seja, que pode ser realizado.

Observamos, então, que a lei segue princípios éticos, porém quando não

seguir e afrontar a moral, a ética deve ser cumprida, devido ser obrigatória. Portanto,

a ética pode deixar de ser cumprida, mesmo afetando a boa conduta, mas a lei

nunca deve ser descumprida, pois é obrigatória.

2.2.1 A ética profissional

O profissional é aquele que para exercer uma atividade necessita de algumas

habilidades especiais, objetivando uma remuneração. “É aquele que pratica com

habitualidade uma determinada função, na qual extrai os meios para sua

subsistência, qualificação e se beneficiar de atributos moral, técnico e intelectual, e

esta prática reiterada também é lucrativa” (BITTAR, 2008, p.28).

Já a ética profissional é um compromisso social, no qual os profissionais

devem exercer suas atividades visando um benefício social. Ou seja, não adianta

24

executar determinada atividade técnica com tamanha maestria, se ela não for feita

dentro da moral, com algo a acrescentar na vida das pessoas.

Com a globalização, o lucro passou a ser o grande objetivo do mercado

capitalista em geral, mas as empresas já estão mudando o pensamento e a ética no

ambiente de trabalho já vem tomando um lugar fundamental.

Por isso, é muito importante a elaboração de códigos de ética profissionais,

visto que as boas condutas dentro do mercado de trabalho estão ganhando espaço

e se tornando critério para a contratação ou não de um profissional, não bastando

este ter apenas conhecimentos técnicos.

Dessa forma, com o código de ética, os profissionais devem seguir os

princípios éticos e morais, não apenas por conta própria, pois com a regulamentação

deixou de ser espontâneo e passou a ser um conjunto de regras legais. “Até porque,

seria difícil toda profissão ficar livre para de acordo com suas condutas e regras

pessoais agirem, o que acarretaria um prejuízo da ética” (BITTAR, 2008, p.29).

Com isso, a liberdade do profissional tem um limite que é o bem de todos que

serão atingidos com o resultado daquela profissão, portanto, não convém que o

trabalho de alguém, prejudique a integridade moral de outrem.

Para a elaboração de código de éticas profissionais é necessária a junção de

dois estudos. Um é a ciência que é voltada para o aprendizado, o outro é a

consciência, esta está ligada à mente de cada um e ao dever social (HOLANDA,

2010).

Dessa forma, José Renato Nalini (1998, p.174):

Ciência, a significar o conhecimento técnico adequado, exigível a todo profissional. O primeiro dever ético do profissional é dominar as regras para um desempenho eficiente na atividade que exerce. Para isso, precisará ter sido um aprendiz aplicado, seja no processo educacional formal, seja mediante inserção direta no mercado de trabalho, onde a experiência é forma de aprendizado.

(...) Mas além da ciência, ele deverá atuar com consciência. Existe uma função social a ser desenvolvida em sua profissão. E ele não pode estar dela descomprometido, mas reclama-se empenho em sua concretização.

Portanto, o profissional deve aplicar a ciência e a consciência na sua

atividade habitual, usar os seus conhecimentos científicos adquiridos na vida

acadêmica em prol da função social. A profissão deve ter como objetivo o dever

social, ou seja, aplicar toda a teoria para o bem-estar da sociedade. E a ética

25

profissional é fundamental para a execução do trabalho de forma consciente e para

que este não extrapole os seus limites morais.

2.2.2 A ética jornalística

Na atividade jornalística, a ética é mais um rótulo do que acessório. No dia-a-

dia na cobertura de fatos que interessam à população, a atitude ética se entrelaça

com a própria qualidade técnica das notícias. Repórteres, redatores e editores

necessitam repassar as informações, mas não podem desviar de seus valores e

compromissos sociais. Eles podem tentar camuflar as suas opiniões, contudo, se

esquecerem de suas funções e seu dever com o público, podem colocar tudo a

perder (CHRISTOFOLETTI, 2008).

De acordo com Rogério Christofoletti (2008, p.11):

Nas redações, há quem diga que o jornalismo se define por uma ética. Se é exagero ou não, o que temos é que o jornalismo é uma atividade humana, que se planta e se espalha na relação entre os humanos. A ética é algo que só existe nesse entremeio, na distância entre as pessoas.

(...) Para um jornalista, abandonar o compromisso com a verdade não é um

deslize, é uma falta de ética e grave.

Podemos, então, afirmar que o bom jornalista é aquele que transmite as

notícias com veracidade, que se baseia em fatos reais, sem se influenciar com a

audiência, ou seja, que o seu objetivo seja a verdade e não atrair IBOPE para a

emissora a que está veiculado (HOLANDA, 2008).

Os meios de comunicação são compostos de entretenimento, informação e

diversão. Os componentes éticos do apresentador de um programa de auditório são

diferentes dos atributos do jornalista que apresenta um telejornal. Em decorrência

disto é que a conduta do jornalista assume um papel mais importante no imaginário

social, pois a sua atitude pode gerar proporções mais preocupantes, já que as suas

notícias carregam um peso maior do que os programas das tardes de domingo. É

importante salientar que os apresentadores de auditório também precisam ter

responsabilidade, porém com o jornalismo não se pode brincar (CHRISTOFOLETTI,

2008).

A teórica ética jornalística é aprendida desde a universidade, com a leitura de

grandes manuais e a produção de diversos artigos. Porém, não podemos nos deter

26

apenas à vida acadêmica para compreender as condutas do jornalista. Até porque

os saberes sobre a ética se constroem na prática cotidiana, na busca de soluções na

criação de novas ideias. Com isso, o mercado do jornalismo não está imune à

discussão da ética (CHRISTOFOLETTI, 2008).

As empresas de comunicação estão cada vez mais competitivas,

necessitando oferecer o melhor serviço e produto para o mercado. E para o mercado

jornalístico, a ética é significado de qualidade, ou seja, jornais bem escritos,

telejornais bem editados com uma reportagem comovente, notícias rápidas; tudo

isso chega à população como evidências de que as empresas são sérias e se

preocupam com a qualidade do seu produto (CHRISTOFOLETTI, 2008). Contudo,

para chegar a essa informação de boa qualidade tem que se levar em conta os

valores morais.

Um dos pontos importantes para analisar a ética em determinado meio de

comunicação é saber se ele é independente, pois para exercer a verdade com

imparcialidade a imprensa não pode ser dependente, visto que se manobrada por

interesses obscuros, ela não deve ser confiável (BAHIA, 1990).

E um meio confiável pode adquirir investimentos, sem precisar apelar para os

seus únicos patrocinadores. É isto que destaca Rogério Christofoletti (2008, p.29):

Se os meios são confiáveis, dispõem de audiência ou grande circulação; se contam com públicos fiéis ou constantes, esses meios de comunicação são atraentes vitrines para anunciantes; se têm asseguradas as condições para se manter, esses mesmos veículos seguem suas trajetórias. É um círculo virtuoso, uma roda vida constante.

A comunicação de massa é um fenômeno que só tende a crescer, porém a

observação sobre as condutas éticas no jornalismo deve acompanhar esse

crescimento, pois através da mass media aumenta a capacidade de espalhar

informações e ideais, influenciando assim diversas culturas. Por isso, a aplicação da

ética jornalística é de suma importância, pois sem ela os meios de comunicação

passam a difundir questões que em nada acrescentam ao crescimento intelectual da

população.

É notório que, quando a mídia deixa de transmitir apenas a notícia, é sinal

que pressões externas estão influenciando a sua atitude, e uma das maiores

pressões é em telejornais sensacionalistas que por determinado valor econômico,

27

passam a explorar a miséria humana, utilizam a imagem do menor infrator, ou seja,

expõem publicamente as pessoas ao vexame.

Por isso que tanto os profissionais de impressa como a empresa jornalística

devem ficar atentos para a confiança do público e para que esta não se rompa, pois

assim colocariam em risco os negócios. Não é uma tarefa fácil, até porque o

jornalismo é uma atividade que lidar com diversos conflitos e interesses da

sociedade, mas a ética deve ser mantida para que a confiança permaneça

(CHRISTOFOLETTI, 2008).

Contudo, para as grandes emissoras de televisão, investir apenas em

informativos não traz tanto lucro como em reportagens apelativas. Em prol disto, a

imprensa está na busca de melhores resultados financeiros, e para a obtenção

destes resultados, estão apelando para a vida das pessoas, desrespeitando, desta

forma, direitos tutelados na Constituição Federal (GUERRA, 2004).

A partir desse contexto se faz necessária a intervenção do direito na

regulamentação da liberdade de imprensa, devendo-se através de códigos éticos e

disciplinares unificar uma legislação para que aqueles que venham a ferir valores

assegurados à pessoa humana, sejam punidos na forma da lei. Vale salientar que

não se deve voltar a censura, mas apenas deve haver uma regulamentação ética na

comunicação, em benefício das causas sociais, ou seja, a execução do código de

ética dos jornalistas.

De acordo com Eduardo Bittar (2008, p.121):

O que há de se garantir é que a publicidade, o marketing, a comunicação, a propaganda, o jornalismo, a arte e a expressão se exerçam com base num código ético, e não por códigos de auto-regulamentação setorial, que são, por natureza, servis às necessidades dos interesses regionais que movimentam essas áreas.

E o jornalismo é por um código de ética, até porque diferentemente da

publicidade que promove marcas e serviços, o jornalismo nem sempre é amistoso ou

positivo, pois ele além de informar, investiga, denuncia e fiscaliza o que está errado.

Ao fazer isto, ele contraria interesses e gera alguns atritos ao seu redor

(CHRISTOFOLETTI, 2008).

Na Constituição Federal de 1988, no capítulo 5, que traz “Da Comunicação

Social”, encontramos um rol de normas que deveriam ser regulamentadas por

nossos legisladores, como a proibição de monopólios dos meios de comunicação, os

28

princípios para a produção e a programação no rádio e na televisão, os valores

éticos e sociais da pessoa e da família, entre outros (HOLANDA, 2010).

Contudo, o que observamos é o descaso dos nossos constituintes e uma falta

de respeito com essas normas. Até porque as oligarquias possuem as grandes

emissoras e ao invés de beneficiar toda a sociedade, agem em causa própria,

chegam a publicar notícias inverídicas, mas que lhe tragam benefícios. Essa é a

realidade do país, onde os interesses de um pequeno grupo prevalecem.

O Estado, ao invés de regulamentar as matérias ligadas à comunicação

baseada na ética jornalística, fica subserviente ao grupo que detém o poder, e a

informação fica completamente prejudicada devido a esse monopólio, pois as

emissoras só noticiam o que lhes é conveniente ou conveniente ao Estado.

Podemos concluir que os jornalistas que firmaram um dever com a ética não

podem deixar o poder da informação monopolizado, pois esse monopólio não tem

um compromisso social, ele contribui muitas vezes para o descontrole social. Dessa

forma, a execução do código de ética deve ser realizada tanto para os jornalistas

como para as empresas de comunicação.

2.3 A INFORMAÇÃO

A informação no jornalismo é geralmente sobre alguma coisa que aconteceu

ou sobre alguém. E é com essa informação que as notícias serão transmitidas para

os ouvintes e telespectadores. A informação jornalística tem caráter objetivo, pois

não pode influenciar subjetivamente as reportagens, dessa forma ela tem que

atender a alguns pontos quando for elaborada: “porque”, “onde”, “quando” e “como”.

Para definir informação é importante distinguir de comunicação, até porque os

dois termos são quase sinônimos, porém o conceito de informação está

compreendido no de comunicação, podemos utilizar os termos ‘comunicação’ e

‘informação’ para definir a comunicação humana simbólica, contudo, comunicação é

o termo melhor empregado para esse fenômeno, sendo aconselhável reservar o

termo ‘informação’ para designar conteúdo possível do elemento do processo

comunicacional. Ou seja, a informação está dentro da mensagem comunicacional,

conquanto sem informação não haverá conteúdo nem, consequentemente,

comunicação (BITELLI, 2003).

29

Dessa forma, Marcos Alberto Sant’Anna Bitelli (2003, p.26) afirma que:

A ampliação da aceitação do emprego do termo “informação” permitirá que não seja limitado, por exemplo, ao enfoque do conceito de informação jornalística, relacionado apenas à liberdade de imprensa, ou, ainda, ao direito de informação no plano institucional (direito de acesso às fontes em geral – art. 5º, XIV), informações de interesse geral e particular (art. 5º, XXXIII), direito de conhecimento das informações personalíssimas e sua retificação (art. 5º, LXXII, letras a e b), mas sim às várias conotações que este léxico permite quando entendidas como um conteúdo qualquer do fenômeno constitucional.

Assim, a informação que chega ao receptor, seja ouvinte, telespectador, ou

numa simples conversa pessoal, ela pode ter várias características ligadas

diretamente à liberdade de expressão intelectual individual ou coletiva, artística,

científica e de comunicação, como enuncia na Constituição Federal. A informação

ela pode se propagar de diversas formas e por diferentes meios de comunicação, e

o acesso a essa informação é garantido pela norma constitucional (BITELLI, 2003).

O direito à informação é o direito que toda a sociedade tem de obter

conhecimentos em prol do engrandecimento do saber, é o direito de compreender as

faculdades de buscar ou procurar e receber informações, ou seja, a pessoa tem o

direito de estar informada tanto por ter pesquisado, como por ter recebido a

informação (BITELLI, 2003).

Portanto, a informação jornalística é direito de todos e deve ser transmitida

sem prejuízo dos princípios constitucionais e em benefício da sociedade, que só tem

a ganhar com uma informação verdadeira. Assim, podemos observar que a

informação contribui para o conhecimento de todos, por isso é tão importante a

veracidade e clareza dos fatos narrados.

2.4 DA CENSURA

Quando falamos de censura no Brasil lembramos exatamente do período

ditatorial, onde a repressão à liberdade de impressão e expressão predominava. Foi

uma época em que a regulamentação da comunicação era muito massacrada pelo

governo, os jornais não tinham autonomia para se expressar, o autoritarismo

dominava. E a Lei de Imprensa foi uma das grandes responsáveis por essa censura.

Contudo, com a promulgação da nossa Constituição Federal de 1988 e com a

revogação da Lei de Imprensa, em 2009, pode-se dizer que a censura foi extinta e

30

os jornalistas passaram a exercer o seu trabalho de forma mais livre, sem a

repressão do governo e com liberdade para expressar a sua opinião.

Nos Tribunais o entendimento já é unânime de que é proibida a censura

prévia, principalmente em relação à administração pública, que não pode ter a sua

integridade questionada (HOLANDA, 2010). Vejamos a seguinte decisão:

EMENTA: Constitucional. Censura artística. Inexistência no novo Texto Constitucional. Letra de música contendo velada crítica à Administração Federal. I- Abolida do novo Texto Constitucional a censura prévia ou licença para a expressão de atividade intelectual, artística, científica ou de comunicação, e inexistindo na letra da canção ofensa à dignidade pessoal de autoridade pública, confirma-se a concessão da ordem, presente ainda o interesse de radiodifundir a música. II- Remessa improvida (TRF, 5º Região, Inq. 500093/PE, rel. Juiz Hugo Machado, Tribunal Pleno, decisão: 5-10-1994, DJ 2, DE 3-2-1995, p.3721).

Destaca-se, contudo, que a censura foi abolida, porém não dá o direito a uma

liberdade de impressa absoluta, até porque a informação jornalística tem que estar

amparada de outras garantias constitucionais como o direito à imagem, à vida

privada, à honra e à intimidade. Portanto, não se pode achar que com o fim da

censura foi aberta liberdade para o jornalista fazer uma publicação que denigra a

imagem de alguém, pois caso isso ocorra ele será punido, não mais pela Lei de

Imprensa, mas por outra legislação.

2.4.1 Censura prévia e Tutela civil preventiva

A Constituição Federal, em seu art. 220, § 2º, aduz que: “É vedada toda e

qualquer censura de natureza política, ideológica e artística”.

O dispositivo mencionado nos faz refletir sobre os atuais meios de

comunicação, pois com o avanço da tecnologia e grande investimento de capital nas

empresas midiáticas, podemos observar que elas não são imparciais e não

transmitem as notícias de forma neutra; pelo contrário, buscam mecanismos para

gerar mais audiência e ganhar mais investimentos. Devido a essa concorrência no

mercado midiático é que se faz necessária a regulamentação da atividade

jornalística, para evitar possíveis danos à honra, imagem e à vida privada de uma

pessoa.

31

Em prol de evitar um possível dano ao direito da personalidade em face da

liberdade de imprensa, é preciso recorrer ao Judiciário, e buscar uma tutela

preventiva de direito lesionado, para evitar que publicações que ataquem a imagem

de alguém sejam veiculadas. No caso, não será aplicada a censura prévia, pois esta

já se encontra abolida, mas sim tutela civil preventiva que garanta os direitos da

personalidade, para que estes não sejam lesados (HOLANDA, 2010).

De acordo com Cláudio Godoy (2008, p. 100):

Isto não deve ser confundido com censura. Não se trata de, previamente, e de forma injustificada, obstar o exercício da liberdade de imprensa. Cuida-se, antes, de garantir a própria função institucional que lhe é inerente. Não faria sentido algum, por exemplo, permitir publicação ou programa que, frise-se, de antemão, já se saiba falso ou sensacionalista, em nome da prevenção de um direito que não é absoluto e que, se indevidamente exercido, causará danos irreparáveis.

Diante dessa situação, analisamos que a liberdade de imprensa não é

absoluta e deve ser exercida em consonância com as demais garantias

constitucionais. Ou seja, a liberdade de expressão do pensamento, a liberdade de

opinião ou a liberdade de imprensa não são direitos absolutos, que não encontrem

limites, por exemplo, ditados por sua ponderação diante de outros direitos de igual

dignidade (GODOY, 2008).

Portanto, o que se pretende com a tutela civil preventiva é que os limites da

liberdade de imprensa não sejam extrapolados, e que não atinjam os direitos da

personalidade. Vale salientar que não é uma forma de inibir a atuação do jornalista,

mas apenas prevenir algumas situações que possam causar algum dano, pois

mesmo sendo possível uma futura reparação, não evita o dano.

Segundo Cláudio Godoy (2008, p.99):

A tutela preventiva basicamente se efetiva por meio de recurso às ações cautelares, em que avulta a busca e apreensão de todo o material que, de alguma forma, possa representar indevida vulneração a direitos da personalidade.

A tutela preventiva vem para evitar o futuro dano, que quando efetuado, pode

até ser reparado pecuniariamente, porém o desgaste emocional é impossível de

reparação. Por isso, as condenações pecuniárias são pouco eficazes, a melhor

solução é a prevenção com medidas que impeçam as publicações de jornais, livros

etc. que tragam algo que ataque a imagem de alguém.

32

Podemos concluir que a censura prévia está banida do nosso ordenamento

jurídico, e que o outro meio para evitar que o direito à imagem não seja violado é a

tutela civil preventiva. Portanto, essa tutela civil preventiva, que se faz através das

ações cautelares, de obrigação de fazer e não fazer tem caráter de proteção aos

direitos personalíssimos constitucionalmente garantidos; logo não pode ser

confundida com a censura prévia, até porque esta restringe sem motivos.

33

3 DIREITOS DA PERSONALIDADE E A LIBERDADE DE IMPRENSA

3.1 A LIBERDADE DE EXPRESSÃO SOB A OPTICA DA CONSTITUIÇÃO DE 1988

Neste capítulo, iremos tratar dos conflitos entre a Liberdade de Imprensa e os

Direitos da Personalidade. É bom ressaltar, desde já, que o conflito entre direitos

fundamentais é apenas aparente, até porque não existe antinomia entre esses

princípios, ou seja, um não é mais importante que o outro. E a melhor forma para

resolver os possíveis conflitos, como veremos, é através da proporcionalidade e

razoabilidade.

Na Constituição Federal foram concedidas várias inovações relacionadas à

liberdade de expressão, estabelecendo, assim, uma maior abrangência dos direitos

e das garantias individuais. A liberdade de expressão está garantida no capítulo

referente aos Direitos e Deveres Individuais e Coletivos, o artigo 5º, inciso IV, traz

que: “é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato”.

Por conseguinte, o dispositivo supracitado aduz no seu inciso IX que: “é livre

a expressão de atividade intelectual, artística, científica e de comunicação,

independente de censura ou licença”. Portanto, verifica-se que todos podem exercer

a sua liberdade de expressão, porém é inadmissível, em regra, o anonimato. E fica

claro também que é vedada a censura prévia na área da comunicação como já

abordado outrora.

É importante observar que a liberdade de pensamento deve estar em

consonância com o ordenamento jurídico, para não extrapolar outros princípios e

garantias presentes na própria Constituição Federal.

Como afirma o doutrinador Alexandre de Moraes (2006, p.27):

Os direitos humanos fundamentais, dentre eles os direitos e garantias individuais e coletivos consagrados no art. 5º da CF, não podem ser utilizados como um verdadeiro escudo protetivo da prática de atividades ilícitas, tampouco como argumento para afastamento ou diminuição da responsabilidade civil ou penal por atos criminosos, sob pena de total consagração ao desrespeito a um verdadeiro Estado de Direito.

Nessa toada, resta-se claro que a liberdade de imprensa consagrada em

nossa Carta Magna, deve ser analisada junto com uma ponderação necessária de

outros valores, tais como a publicidade da fonte, vez que o anonimato é vedado (art.

34

5ª, IV, da CF), bem como, a garantia ao direito de resposta e a indenização por

danos causados à imagem (art. 5º, V e X).

Portanto, o legislador constitucional garantiu a liberdade de pensamento, de

expressão, de criação e de informação e estabeleceu que a atividade da

comunicação social não pode sofrer qualquer tipo de restrição ou censura, desde

que obedeça aos direitos e garantias constitucionais, até porque, como já salientado,

a liberdade de expressão não é um direito constitucional absoluto, pois se submete à

observância de outros direitos.

3.2 OS DIREITOS DA PERSONALIDADE

Para se chegar a um conceito de direitos da personalidade é importante não

confundir com a personalidade intrínseca de cada pessoa. Até porque, em diversos

termos, é preciso saber que a personalidade não é, em si, um direito. Existe uma

diferença entre personalidade e direito da personalidade (GODOY, 2008).

Maria Helena Diniz faz bem essa definição de personalidade:

(...) a personalidade consiste no conjunto de caracteres da própria pessoa. A personalidade não é um direito, de modo que seria errôneo afirmar que o ser humano tem direito à personalidade. A personalidade é que apoia os direitos e deveres que dela irradiam, é objeto de direito, é o primeiro bem da pessoa, que lhe pertence como primeira utilidade, para que ela possa ser o que é, para sobreviver e se adaptar às condições do ambiente em que se encontra, servindo-lhe de critério para aferir, adquirir e ordenar outros bens (DINIZ, 1983, p.81).

Portanto, esses direitos que surgem e se apoiam na personalidade, como a

honra, a liberdade, a vida, a imagem, a privacidade da pessoa, entre outros, são os

que dão nome aos direitos da personalidade, visto que a dignidade da pessoa

humana deve ser protegida contra atentados de outrem (GODOY, 2008).

O direito à personalidade, para alguns doutrinadores, é intrínseco à pessoa

humana, pois todos nascem com ela, ou seja, é um direito subjetivo, próprio do ser

humano, inclusive independe da existência de ordenamento jurídico. “São chamados

de direitos essenciais, direitos fundamentais ou individuais da pessoa, direitos

personalíssimos e direitos sobre a própria pessoa” (GODOY, 2008, p.36).

Para o pensamento jusnaturalista de Carlos Alberto Bittar (1989 apud

GODOY, 2008, p.37), os direitos da personalidade não existem por força de lei; pelo

contrário, são direitos correspondentes às faculdades exercidas pela pessoa

35

humana, relacionados a atributos inerentes ao homem, podendo ser considerados

direitos inatos, ou seja, direito natural:

(...) cabe ao Estado apenas reconhecê-los e sancioná-los em um ou outro plano do direito positivo – a nível constitucional ou a nível de legislação ordinária – dotando-os de proteção própria, conforme o tipo de relacionamento a que se volte, a saber: contra o arbítrio do poder público ou às incursões de particulares.

Já a corrente positivista de Orlando Gomes (1966 apud GODOY, 2008, p. 18),

defende que os direitos da personalidade são:

(...) essenciais ao desenvolvimento da pessoa humana, que a doutrina moderna preconiza e disciplina, no corpo do Código Civil, como direitos absolutos. Destinam-se a resguardar a eminente dignidade da pessoa humana, preservando-a dos atentados que pode sofrer por parte de outros indivíduos.

Para os seguidores da doutrina positivista dos direitos da personalidade, não

existiria lógica se a pessoa fosse detentora de personalidade, e esta não pudesse

ser tutelada, pois consideram o direito em questão como uma concessão estatal e

afirmam que, em não sendo normatizado tal direito, “a personalidade restaria uma

susceptibilidade completamente irrealizada, privada de todo o valor concreto”

(GODOY, 2008, p.40).

Referente a esse assunto, Claudio Godoy destaca que existe decisão no

Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, ao decidir que:

(...) é possível reconhecer, sem apelo ao Direito Natural, mas com fulcro nos sistemas jurídicos, os denominados direitos da personalidade. (Apelação Cível nº 39.193, 3ª Câm. j. 17-12-1985, Rel. Des. Wellington Moreira Pimentel, publicada na RT 619/175) (GODOY, 2008, p.17).

Portanto, os direitos da personalidade são aqueles direitos que a pessoa tem

para defender o que lhe pertence, como: a vida, a integridade, a liberdade, a honra,

a privacidade, a imagem, a autoria, entre outros. Podendo a pessoa ser reparada de

dano causado a esses direitos que lhe são inerentes.

Segundo o doutrinador Sílvio Venosa (2005, p. 205):

Os danos que decorrem da violação desses direitos possuem caráter moral. Os danos patrimoniais que eventualmente podem decorrer são de nível secundário. Fundamentalmente, é no campo dos danos morais que se situa

36

a transgressão dos direitos da personalidade. De fato, em linhas gerais, não há danos morais fora dos direitos da personalidade.

Os direitos da personalidade são absolutos, intransmissíveis, indisponíveis,

inalienáveis, imprescritíveis e inexpropriáveis. Absolutos, pois podem ser

opostos erga omnes, ou seja, aplicam-se a todos os homens. São intransmissíveis e

irrenunciáveis, o indivíduo não pode transferir a outra pessoa, nem mesmo não

querer mais fazer uso deles. São também inalienáveis porque estão fora do

comércio e não possuem valor econômico imediato, não podem ser utilizados para o

pagamento de obrigações. São direitos inexpropriáveis, pois são inatos,

assegurados desde a concepção, eles são vitalícios, protegidos inclusive após o

falecimento. E imprescritíveis, visto que não possuem prazo de validade, podem a

qualquer momento ser defendidos em juízo ou fora dele (DINIZ, 2010).

Portanto, não se extinguem pelo seu não uso e nem seria possível impor

prazos para sua aquisição ou defesa, pois todos os direitos da personalidade são

tutelados em cláusula pétrea constitucional (DINIZ, 2010).

Segundo Carlos Alberto Bittar (1989 apud GODOY, 2008, p. 26):

Individualiza direitos da personalidade que chama de físico (direito à vida, à integridade física, ao corpo, a partes do corpo, ao cadáver, à parte do cadáver, à imagem e à voz), psíquicos (direito à liberdade, à intimidade, à integridade psíquica e ao segredo) e morais (direito à identidade, à honra, ao respeito e às crianças intelectuais), diferenciados de acordo com a natureza dos bens da personalidade a que concernem.

Uma grande polêmica que cerca os direitos da personalidade é que, como o

nome já diz, eles são inerentes à pessoa humana, o que gera um conflito com os

direitos personalíssimos da pessoa jurídica.

O doutrinador Wilson Melo da Silva (1983, p. 650), se posiciona da seguinte

forma em relação à personalidade da pessoa jurídica:

(...) as pessoas jurídicas, em si, jamais teriam direito à reparação dos danos morais. E a razão é óbvia. Que as pessoas jurídicas sejam, passivamente, responsáveis por danos morais, compreende-se. Que, porém, ativamente, possam reclamar indenizações consequentes deles é absurdo.

Essa corrente acredita que a pessoa jurídica não é detentora de vida privada,

sendo assim ilegítima para figurar em polo ativo em reclamações por danos morais e

materiais à personalidade. Contudo, ela não é majoritária, pois a Constituição

37

Federal não garante explicitamente a proteção à personalidade das pessoas

jurídicas, porém também não veda, o que dá margem para não ser interpretada com

restrição (HOLANDA, 2010).

Com o Novo Código Civil, toda essa polêmica em relação à proteção aos

direitos da personalidade da pessoa jurídica deixou de existir, visto que foi garantida

essa proteção, em seu texto no art. 52: Aplica-se às pessoas jurídicas, no que

couber, a proteção dos direitos da personalidade.

Portanto, a pessoa jurídica recebe proteção em relação aos direitos da

personalidade, podendo assim figurar no polo ativo em ações referentes a esses

direitos.

No que tange aos direitos da personalidade, em particular a honra, a

privacidade e a imagem, ganham destaque quando estão diante da imposição da

convivência social, estes direitos são o foco do nosso estudo, pois são os mais

atingidos pela imprensa, quando o jornalista, no uso da informação, atinge os

direitos personalíssimos do indivíduo.

Até porque é na convivência em sociedade que fatos que envolvem o

indivíduo ocorrem e motivam a informação e podem gerar dano aos direitos da

personalidade, pois é no exercício da atividade de imprensa que o jornalista tem o

direito de informar e não de atingir a honra, a privacidade e a imagem de outrem

(GODOY, 2008).

Geralmente, o que ocorre, como já aludido, é que o exercício da liberdade de

imprensa suscita uma colisão com o direito à honra, à imagem e à privacidade.

Dessa forma, chega a existir uma tendência material de que liberdade de informação

e os direitos da personalidade citados, quando colocados em confronto no meio

social se destruam reciprocamente (GODOY, 2008).

E Manuel da Costa Andrade (1996 apud GODOY, 2008, p. 27), afirma o

seguinte:

(...) honra, imagem e privacidade são bens jurídicos pessoais que carregam consigo, quando exposto o homem ao relacionamento social, intrínseca vocação conflitual com a liberdade de informação, fazendo-se mesmo “portadores duma imanente colisão de valores”.

Na verdade o que deveria ocorrer era uma conciliação entre liberdade de

informação e honra, imagem e privacidade, para que na convivência social não

exista um aniquilamento recíproco, até porque o direito à informação constitui

38

mesmo uma das formas de garantir a efetividade de direitos de igual dignidade

(GODOY, 2008).

É o que Manuel da Costa Andrade (1996, p.28-29) defende:

(...) os conflitos entre direitos fundamentais não deverão superar-se por via do sacrifício total de um deles. Em vez disso, há de procurar assegurar-se a ambos a mais extensa e consistente proteção em concreto praticável. O que implica, nomeadamente e por um lado, o mandamento da salvaguarda do núcleo essencial do direito fundamental a sacrificar e, por outro lado, a proibição de um sacrifício desmesurado ou desproporcionado. Um paradigma a que hão de, em qualquer caso, conformar-se as instâncias formais no recorte da disciplina legislativa dos conflitos de direitos fundamentais.

O grande problema é que, muitos jornalistas ainda não agem de acordo com

a ética, e ainda, não exercem sua liberdade de expressão respeitando os direitos

assegurados na Constituição Federal, pois se agissem com observância a esses

preceitos e com responsabilidade seriam poucos os casos de conflitos com os

direitos da personalidade.

3.2.1 Direito à honra

A honra, para José Afonso da Silva (2008, p. 209), é “o conjunto de

qualidades que caracterizam a dignidade da pessoa, o respeito dos concidadãos, o

bom nome, a reputação. É o direito fundamental da pessoa resguardar essas

qualidades”.

Neste sentido, a honra pode ser observada por duas faces, uma interna que é

a honra subjetiva, na qual se faz presente a autoestima, o amor próprio, o

sentimento da própria dignidade, a consciência moral e a outra externa, que é honra

objetiva, esta é o indivíduo diante da sociedade, a famosa reputação (GODOY,

2008).

Para Claudio Luiz Bueno de Godoy (2008, p. 29), a honra trata:

(...) de um direito inato, natural e universal da pessoa humana, cujo conteúdo está não só no sentimento e consciência de ser digno, mas também na estima e na consideração moral dos outros.

Sua tutela está presente tanto na Constituição Federal, no artigo 5º, inciso X,

“são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas,

39

assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua

violação”; como na legislação infraconstitucional, na esfera civil no artigo 1.547 “a

indenização por injúria ou calúnia consistirá na reparação do dano que delas resulte

ao ofendido” e também na esfera penal nos artigos 138 a 140, os quais tratam de

calúnia, injúria e difamação. A honra tutelada por tais ordenamentos é tanto

subjetiva como a honra objetiva.

Não podemos confundir uma lesão à honra com a lesão à intimidade, pois

temos que:

(...) enquanto o ataque à honra ofende o conceito social, que o sujeito passivo pretende gozar, na agressão à intimidade não existe a finalidade danosa dirigida contra o conceito, mas sim contra o ambiente de privacidade que envolve a vítima (ARAUJO, 2001, p. 72).

Como são inúmeros problemas que envolvem direito à honra, para saber qual

a forma de reparação do dano é necessário identificar qual o tipo de honra foi

atingida. Quando há uma lesão à honra, deve haver uma rápida reparação, é

impossível voltar para o estado anterior, mas pode amenizar o sentimento de

vergonha e humilhação perante o público.

Como observa Sidney Guerra (2004, p.50):

Ocorrendo então a lesão da honra, de imediato a pessoa cujo direito foi violado se sente diminuída, desprestigiada, humilhada, constrangida, tendo perdas enormes tanto no aspecto financeiro, como no aspecto moral, pois a lesão se reflete de imediato na opinião pública, que logo adota uma postura negativa contra a pessoa, implicando nestas perdas mencionadas.

É isto que ocorre quando um jornalista falta com a verdade na sua profissão e

atinge a honra do indivíduo, lesionando, assim, a dignidade do cidadão e mesmo

quando são notícias falsas, fica difícil reparar a situação, visto que é quase

impossível mudar a opinião pública, e a honra do indivíduo fica debilitada.

Por isso, é importante a efetiva proteção à honra, principalmente quando

confrontada com a liberdade de expressão, evitando a lesão a esse direito da

personalidade, pois, como afirma Carlos Alberto Bittar (2000, p.51):

(...) a opinião pública é muito sensível a notícias negativas, ou desagradáveis, sobre as pessoas, cuidando o sistema jurídico de preservar o valor em tela, de um lado, para satisfação pessoal do interessado, mas especialmente, para possibilitar-lhe a progressão natural e integral, em todos os setores da vida na sociedade (social, econômico, profissional, político).

40

Ou seja, quando uma notícia atinge a honra de alguém é muito difícil de haver

reparação, pois uma vez espalhada a notícia, mesmo que haja uma retratação,

aquela pessoa ainda terá a sua honra questionada perante a sociedade. Portanto,

cabe ao nosso sistema jurídico tutelar tal direito, para evitar danos à honra do

indivíduo.

Uma questão importante é a legitimidade para figurar no polo passivo em

ação de reparação por danos contra honra cometidos no exercício de imprensa.

Após a edição da Súmula 221 do Superior Tribunal de Justiça, que estabeleceu

serem civilmente responsáveis pelo ressarcimento de dano, decorrente de

publicação pela imprensa, tanto o autor do escrito quanto o proprietário do veículo

de divulgação, dúvidas não mais existem quanto à possibilidade do autor da ofensa

ser diretamente acionado, não mais se restringindo à empresa jornalística ou de

radiodifusão a legitimidade para figurar no polo passivo.

3.2.2 Direito à imagem

A imagem em si é conceituada por Walter Moraes (1977 apud GODOY, 2008,

p.34) como “toda a sorte de representação de uma pessoa” Já o direito à imagem

Segundo Notaroberto Barbosa (1989 apud GODOY, 2008, p.35), é a prerrogativa

que tem a pessoa “de autorizar, negar autorização, e de impedir que elementos

personificadores de sua imagem física e moral sejam utilizados com fim de obter

lucro direto ou indireto”.

A regra é que os direitos da personalidade sejam absolutos, extrapatrimoniais,

gerais, imprescritíveis, indisponíveis, impenhoráveis e vitalícios. Contudo, em

relação ao direito à imagem, existe uma exceção, pois esta não é indisponível, visto

que pode ser atribuído valor à imagem e fica a critério do indivíduo se vai dispor ou

não deste direito (HOLANDA, 2010).

É o que entende Regina Azevedo (2001, p.3):

O direito à própria imagem é inalienável e intransmissível, uma vez que não há como dissociá-lo de seu titular. Entretanto, não é indisponível e é esta a grande característica do direito à imagem: a possibilidade de dispor ou não da própria imagem para que outros a utilizem para diversos fins. Pode assim, a pessoa explorar a sua própria imagem.

41

Portanto, o direito à imagem se mostra autônomo em relação à

disponibilidade, até porque se sabe que a pessoa pode ceder a sua imagem, para

propagandas com fins econômicos. No entanto, o indivíduo ao realizar um contrato

que autoriza a exibição da sua imagem não está dispondo dela totalmente, ou seja,

não está renunciando à imagem, está apenas cedendo os efeitos delas decorrentes

(GODOY, 2008).

Em relação a essa autonomia, Claudio Godoy (2008, p.37) discorre que:

Coerente com toda essa argumentação acerca da autonomia do direito à imagem, e mesmo com o que, em nível jurisprudencial, já se havia assentado inclusive na Suprema Corte, a Constituição Federal de 1988, afinal, cuidou de aludi-lo, separadamente, inclusive da honra, nos incisos V e X do art. 5º, em que consagrados os direitos e garantias fundamentais do indivíduo. Não em diferente sentido, cabe ainda anotar, está no art. 20 Código Civil, que tutela, autonomamente, o direito à imagem da pessoa, condicionando sua utilização ao assentamento do titular, ressalvada a necessidade da administração da justiça e da manutenção da ordem pública.

Portanto, o direito à imagem é autônomo e independente, que quanto mais se

desenvolve e cresce as formas de comunicação social, mais se torna objeto de

ofensas, mesmo com as limitações impostas, é um direito que sempre será muito

atingido (GODOY, 2008).

Como a pessoa pode ceder o uso da sua imagem, às vezes, pode ser que

esta imagem seja usada para outro fim e cause tanto dano à imagem, como a honra,

como no exemplo de Pedro Frederico Caldas (1997, p. 35):

Prefigure-se o fato de uma pessoa famosa (grande artista, excepcional desportista ou notável intelectual) conceder que uma agência encarregada utilize sua imagem em uma campanha de grande interesse público. Suponha-se que a imagem foi utilizada corretamente segundo os fins propostos: nada de mais; suponha-se que a agência aproveitou a imagem captada e a utilizou em publicidade comercial a cargo de sua agência: violação do direito à imagem; suponha-se, ainda, que o reclame comercial prestigiasse a determinada bebida alcoólica e que a celebridade pertencesse notoriamente a uma seita ferrenhamente contrária ao uso do álcool: violação da imagem e da honra.

A utilização indevida da imagem gera a indenização por perdas e danos.

Assim estabeleceu o legislador constitucional no artigo 5º da Constituição Federal e

também neste sentido o art. 20 do Código Civil, traz que a reprodução de imagens

para fins comerciais, sem autorização do lesado, enseja o direito à indenização,

ainda que não lhe tenha atingido a honra ou a respeitabilidade. O artigo 20, em suas

42

disposições, traz o seguinte texto: Salvo se autorizadas, ou se necessárias à

administração da justiça ou à manutenção da ordem pública, a divulgação de

escritos, a transmissão da palavra, ou a publicação, a exposição ou a utilização da

imagem de uma pessoa poderão ser proibidas, a seu requerimento e sem prejuízo

da indenização que couber, se lhe atingirem a honra, a boa fama ou a

respeitabilidade, ou se destinarem a fins comerciais.

Quando a exibição da imagem ocorrer sem o consentimento do sujeito em

questão, os Tribunais de Justiça já pacificaram as decisões e são impostas

indenizações por dano moral e material aos meios de comunicação. Seguem alguns

julgados neste contexto:

Direito à própria imagem - Violação – Indenização devida. O retrato de uma pessoa não pode ser exposto ou reproduzido, sem o consentimento dela, em decorrência do direito à própria imagem, atributo da pessoa física e desdobramento do direito da personalidade (RSTJ, 68:358) (GONÇALVES, 2006, p. 110 - 111). (...) Dano moral – Direito à própria imagem – Direito da personalidade – Uso comercial de fotografia, sem autorização do fotografado, que não é modelo profissional – Assentimento tácito não comprovado – Violação caracterizada – Verba devida. A exploração comercial de fotografia, sem autorização do fotografado, constitui violação do direito à própria imagem, que é direito da personalidade, e, como tal, configura dano moral indenizável. Não se presume nunca a autorização tácita, de caráter gratuito, para uso comercial de fotografia, quando o fotografado não seja modelo profissional (TJSP, AgI 97.702-4-Pompéia, 2ª Câmera de Direito Privado. Rel. Dês. Cézar Peluso, j. 21-11-2000) (GONÇALVES, 2006, p. 110).

Pode-se afirmar, então, que para a utilização da imagem de outrem é

necessário o seu consentimento; caso contrário será, imposta indenização por dano

moral e material. E a utilização da imagem deve ser acordada em contrato, pois se

ultrapassar os limites estabelecidos, o meio de comunicação será responsabilizado e

terá que reparar o dano neste caso.

3.2.3 Direito a privacidade

A Constituição Federal separou a privacidade em seu texto como intimidade e

a vida privada, e assim como da honra e da imagem das pessoas, ela em seu artigo

5º declarou esses direitos como invioláveis. Dessa forma, tutelou de forma expressa

mais esse direito da personalidade (GODOY, 2008).

43

José Afonso na Silva (2008, p.183) esclarece essa divisão:

(...) procurando superar a dúvida suscitada pelo dispositivo constitucional, adota a expressão direito à privacidade, em sentido amplo, abrangendo todas as manifestações da vida privada e íntima das pessoas. Para o autor, a privacidade seria entendida como o “conjunto de informação acerca do indivíduo que ele pode decidir manter sob seu exclusivo controle, ou comunicar, decidindo a quem, quando, onde e em que condições, sem isso poder ser legalmente sujeito”.

E separadamente a intimidade seria as relações íntimas, pessoas com

amigos e familiares, já a vida privada aumenta essas relações, pois é o

relacionamento com outras pessoas, inclusive em ambientes comercias, de trabalho

e de estudo, ou seja, a vida privada abrange a coletividade (MORAES, 2006).

Os doutrinadores quando procuram diferenciar vida privada e intimidade,

fazem uma relação entre as duas, como demonstra Tércio Sampaio Ferraz Junior

(1992, p.79):

(...) a intimidade é o âmbito do exclusivo que alguém reserva para si, sem nenhuma repercussão social, nem mesmo ao alcance de sua vida privada que, por mais isolada que seja, é sempre um viver entre os outros (na família, no trabalho, no lazer em comum), já a vida privada envolve a proteção de formas exclusivas de convivência. Trata-se de situações em que a comunicação é inevitável (em termos de relação de alguém com alguém que, entre si, trocam mensagens), das quais, em princípio, são excluídos terceiros.

O conceito de privacidade, que envolve uma tutela de não invasão na vida do

indivíduo, mesmo quando exposto no meio profissional e social é bastante

abrangente, visto que são diversos aspectos da vida pessoal e laboral que não deve

ser devassados, exige-se muito respeito e discrição quanto a memórias, vida

amorosa, atividade de negócios, dados pessoais, anotações confidenciais e diversas

outras formas que envolvem o íntimo daquela pessoa. (GODOY, 2008)

É importante, pois, tutelar essa inviolabilidade da privacidade do indivíduo,

desde o direito deste ficar reservado, até as suas exposições intelectuais, ou obras

sem valor comercial, e também os acontecimentos que ocorrem em sua residência

ou fora dela, e mesmo os eventos que ocorram fora da vida familiar devem ser

preservados na forma da lei, pois é garantido ao ser humano o direito à privacidade.

44

Por isso, como diz o já mencionado Claudio Godoy (2008, p.42):

Tem-se aí garantia de dignidade constitucional, na Carta Maior, como visto, disposto no art. 5º, inciso X, que assegura, enfim, a inviolabilidade da intimidade e da vida privada, particularmente relevante em tempos de globalização, de massificação das informações, em que os meios de comunicação representam, sempre, um fator de potencial ingresso na vida das pessoas.

E além da previsão constitucional, o Código Civil em ser artigo 21 também

dispôs sobre esse tema da seguinte forma: “a vida privada da pessoa natural é

inviolável, e o juiz, a requerimento do interessado, adotará as providências

necessárias para impedir ou fazer cessar ato contrário a esta norma”.

Essa normatização é justamente para proteger ainda mais o direito à

privacidade, para evitar que sejam violados, principalmente com a evolução dos

meios de comunicação, nos quais se tem acesso a fatos pessoais com mais

frequência. Essa tutela inibe os jornalistas que usam da sua liberdade de imprensa

para atingir a vida privada e à intimidade do indivíduo.

E esse direito à privacidade garantido na Constituição Federal é assegurado

para a toda coletividade, mesmo a pessoa sendo pública tem direito de ter a sua

vida pessoal resguardada.

Como discorre Pablo Stolze e Pamplona Filho (2005, p.189):

(...) é bom que se diga que as pessoas públicas têm todo direito de ter sua intimidade preservada. Não é pelo fato de adquirirem relevância social que tais pessoas não mereçam gozar da proteção legal para excluir terceiros, do seu âmbito de intimidade.

3.3 PONDERAÇÃO ENTRE A LIBERDADE DE IMPRENSA, O DIREITO À

INFORMAÇÃO E OS DIREITOS DA PERSONALIDADE

O direito à informação é o que dá vida à liberdade de imprensa, pois o

jornalista tem direito de informar, de comunicar e de exteriorizar a sua opinião, ou

seja, de exercer a sua liberdade de expressão assegurada constitucionalmente.

Esse direito à informação deixou de ser analisado apenas como direito individual e

passou a ser visto como um direito coletivo à informação.

45

Como aponta José Afonso da Silva (2008, p. 49):

(...) o direito de informar, como aspecto da liberdade de manifestação do pensamento, revela-se um direito individual, mas já contaminado de sentido coletivo, em virtude das transformações dos meios de comunicação, de sorte que a caracterização mais moderna do direito da comunicação, que especialmente se concretiza pelos meios de comunicação social e de massa, envolve a transmutação do antigo direito de imprensa e de manifestação do pensamento, por esses direitos, em direitos de feição coletiva.

O direito de informar e o de ser informado estão contidos na liberdade de

informação, que é base da liberdade de imprensa, e é através desta que são

asseguradas as veiculações das informações pelos órgãos de imprensas. A

liberdade de imprensa é o direito da livre manifestação do pensamento pela mídia

(GODOY, 2008).

Como assegura Claudio Luiz Bueno de Godoy (2008, p.52), hoje temos a

liberdade de imprensa e a liberdade de informação por qualquer meio jornalístico,

compreendida a comunicação e o acesso ao que se informa. Ou seja, a perspectiva

individual de um lado, que é o direito à informação, o qual dá à liberdade de

imprensa uma dimensão de direito de manifestação do pensamento assegurado ao

indivíduo. Porém, por outro lado, garante-se um direito coletivo, que é o acesso à

informação (GODOY, 2008).

A liberdade de imprensa no Brasil se firmou com a democracia em 1988, com

a nossa Constituição Federal, com ela foi plenamente restaurada a atual liberdade, a

qual gozamos. “No artigo 220, caput, embarga qualquer restrição à liberdade de

manifestação do pensamento, da expressão e da informação, sob qualquer forma,

processo ou veículo, interditando § 1º a possibilidade de qualquer dispositivo de lei

embaraçar a plena liberdade de informação jornalística em qualquer veículo de

comunicação social, só admitindo a essa liberdade às restrições que ele mesmo

impõe, inadmitida qualquer censura de natureza política, ideológica e artística,

devendo-se atentar para o fato de que produção e a programação das emissoras de

televisão atenderão ao princípio do respeito aos valores éticos e sociais da pessoa e

da família” (CALDAS, 1997).

A liberdade de imprensa deve ser entendida amplamente, pois não implica

salvo-conduto para o proprietário do veículo de informação, muito menos para o

jornalista que agrida direitos atribuídos à pessoa. A informação que for veiculada

46

tem como requisito a verdade, pois, como adverte José Afonso da Silva (1989 apud

CALDAS, 1997), é reconhecido o direito de informar ao público os acontecimentos e

as notícias, mas essas informações devem ser verdadeiras e não podem ter o

sentido desviado; caso contrário, não terá a informação, mas a deformação.

Assim, o direito à informação, como a liberdade de imprensa não são

absolutos, até porque nenhum direito é completamente absoluto. Há sempre a

relatividade em qualquer direito. O sistema jurídico estabelece para esses direitos

um sistema de equilíbrio, o mais harmonioso possível, visto que os direitos que

entrassem em conflitos em determinada esfera se anulariam, desestabilizando o

sistema. Portanto, a liberdade de imprensa e o direito à informação devem estar em

harmonia com os direitos da personalidade (CALDAS, 1997).

Os jornalistas, com o pretexto de exercer a liberdade de imprensa acabam,

não raramente, violando os direitos individuais das pessoas ao publicarem fatos

inerentes à privacidade daquelas, agindo dessa forma causam danos aos indivíduos,

geralmente os de mais destaques, como políticos, celebridades, ou até mesmo os

suspeitos de prática delituosas.

A liberdade de imprensa garante ao jornalista emitir as informações, fatos e

opiniões, porém a proteção constitucional de livre difusão é relativa, como já

mencionado, as informações devem ser verídicas, até porque publicação

desvirtuada de matérias referentes à vida privada, à intimidade, à imagem e à honra

das pessoas não encontra proteção no ordenamento constitucional. (NÓBREGA,

2008)

Portanto, como a nossa Constituição Federal consagra os direitos da

personalidade ligados à proteção, a privacidade não apenas como limites externos à

liberdade de imprensa, mas os tutelam como direitos fundamentais, quando existe

conflito com essa liberdade de expressão do jornalista, se está diante de colisão

entre direitos fundamentais, com dois polos em questão: de um lado o direito à

liberdade de imprensa e do outro lado o direito à privacidade, e para solucionar este

caso deve-se levar em consideração a ponderação dos bens jurídicos envolvidos.

47

4 ABUSO DO DIREITO À LIBERDADE DE IMPRENSA E RESPONSABILIDADE

CIVIL DO JORNALISTA

4.1 ABUSO DE DIREITO

Uma questão de grande divergência doutrinária é saber o ponto em que o uso

do direito passa a ser caracterizado com um abuso de direito – espécie de ato ilícito.

Trata-se de uma questão complexa, visto que muitas vezes a lei que concede o

direito não delimita o exercício desse direito, ou seja, até que ponto o titular desse

direito pode exercer sem o transgredir.

A questão do abuso situa-se no tema do exercício de um direito preexistente,

sendo aí que ele se diferencia do ato ilícito em geral.

Pois bem, no ato ilícito nós temos uma violação direta da norma concessiva

do direito, ou seja, viola-se um preceito humano. Na questão do abuso, o indivíduo

extrapola o exercício regular desse direito, o limite exercício desse direito.

A grande questão é quanto a transgressão do limite do exercício desse

direito, pois muitas vezes estaremos diante de um critério subjetivo que deverá ser

usado pelo operador do direito.

De uma forma geral, a doutrina elenca como um exercício de um direito passa

a violar exercício ou direito de outrem. Dessa forma estaremos diante da famosa

frase “o exercício de um direito termina onde começa o do outro”.

A título de exemplo, para que possamos vislumbrar o abuso de direito, a

doutrina costuma citar o famoso caso de um proprietário de um terreno na França, o

qual instalou em sua propriedade, grandes hastes pontiagudas para que assim fosse

impedido ou dificultado o deslocamento dos dirigíveis da localidade daquela cidade.

Configurando, portanto, flagrante abuso de direito, no caso, o da propriedade.

Diante dessas premissas, podemos trazer à baila os ensinamentos de Venosa

(2008, p. 527) onde ensaia a conceituação fundamentando como “aquele que

transborda os limites aceitáveis de um direito, ocasionando prejuízo, deve indenizar”

e complementa: “contudo, como no campo da responsabilidade civil há quase

sempre a noção de culpa, no abuso de direito, essa noção, se bem que possa

integrar a natureza do ato, deve ser afastada” e finalmente concluindo, quase na

letra da lei, vejamos:

48

O titular de prerrogativa jurídica, de direito subjetivo, que atua de modo tal que sua conduta contraria a boa-fé, a moral, os bons costumes, os fins econômicos e sociais da norma, incorre no ato abusivo. Nessa situação, o ato é contrário ao direito e ocasiona responsabilidade do agente pelos danos causados (VENOSA, 2008, p. 258).

Nesse conceito exposto pelo ilustre Venosa, vemos flagrantes requisitos para

que se configure o abuso de direito, os quais passamos a expor.

4.1.1 Requisitos e previsão legal

Constata-se que o legislador consagrou a teoria do abuso de direito em nosso

Código Civil de 2002, trazendo em seu art. 187 a seguinte redação: “Também

comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os

limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons

costumes”.

Assim, nas lições de Stolze (2010, p. 492):

Conclui-se não ser imprescindível, pois, para o reconhecimento da teoria do abuso de direito, que o agente tenha a intenção de prejudicar terceiro, bastando, segundo a dicção legal, que exceda manifestamente os limites impostos pela finalidade econômica ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes.

Nesse mesmo sentido é o que aponta o enunciado 37 da I Jornada de Direito

Civil da Justiça Federal: “Art. 187: a responsabilidade civil decorrente do abuso do

direito independe de culpa e fundamenta-se somente no critério objetivo-finalístico.”

(In: JURISWAY, 2006).

Diante do exposto, constata-se que para a ocorrência do abuso de poder

basta que o lesado comprove em sede de ação indenizatória elementos objetivos

(conduta, dano e nexo de causalidade), pois não precisa na ação comprovar se o

agente agiu com intenção (dolo/culpa) de prejudicar a outrem, desde que transgrida

a órbita destes três elementos: fim econômico ou social, boa-fé ou os bons

costumes.

49

4.2 ABUSO DE DIREITO À LIBERDADE DE IMPRENSA

Como fora exposto, a liberdade de profissão e de informação são

assegurados em nossa Lei Maior, entretanto não se trata de valores absolutos,

devendo tais direitos serem exercidos na medida a não confrontar com outros

valores de igual importância, tais como a dignidade da pessoa humana, honra,

imagem (direitos personalíssimos de um modo geral) os valores sociais e os bons

costumes, dentre inúmeros outros.

Portanto, está claro que o exercício de direito à liberdade de imprensa pode

ser considerado abusivo, gerando consequências na ordem jurídica vigente.

Assim, no caso concreto ao aplicar os direitos constitucionais em tela, nas

palavras de Pedro Lenza (2011, p. 870):

Diante dessa ‘colisão’, indispensável será a ‘ponderação de interesses’ à luz da razoabilidade e da concordância prática ou harmonização. Não sendo possível a harmonização, o judiciário terá de avaliar qual dos interesses deverá prevalecer.

Busca-se, dessa maneira, verificar qual valor de envergadura constitucional

deve prevalecer. Balancear se possível, não obstante a aplicação de um em

detrimento do outro.

Nesse diapasão, convém registrar que o excesso ao direito

constitucionalmente velado – liberdade de imprensa – não é motivo justificador para

a transcender/agredir direitos de outrem, configurando hipótese de ressarcimento

em sede de ação indenizatória aos danos suportados pela vítima, podendo ser

aplicado no caso concreto o art. 187 do Código Civil de 2002, visto que o exercício

natural do direito deve se comportar, amoldar e respeitar tais valores: fim econômico

ou social, boa-fé ou os bons costumes.

Além da indenização pelos danos morais e matérias que poderão ocorrer à

vítima, poderá concomitantemente gerar o direito de resposta, de hipertrofia

constitucional, pelo que analisaremos a seguir.

4.3 CONCEITO DE RESPONSABILIDADE CIVIL

Para conceituar responsabilidade é preciso entender que o fato ilícito gera

50

obrigações, e estar obrigações podem está ligadas entre si pelo ato jurídico de dar,

fazer ou não fazer. O conceito de responsabilidade é algo muito complexo de se

elaborar. A atividade que gera um dano ou prejuízo transmite ao agente uma

responsabilidade ou o dever de reparar o dano ou prejuízo causado.

Segundo o pensamento de Sílvio de Salvo Venosa (2007, p.1):

O termo responsabilidade é utilizado em qualquer situação na qual alguma pessoa, natural ou jurídica, deva arcar com as consequências de um ato, fato, ou negócio danoso. Sob essa noção, toda atividade humana, portanto, pode acarretar o dever de indenizar.

Na mesma corrente de pensamento Maria Helena Diniz (2010, p.35):

A responsabilidade civil é a aplicação de medidas que obriguem uma pessoa a reparar dano moral ou patrimonial causado a terceiros, em razão de ato por ela mesma praticado, por pessoa por quem ela responde, por alguma coisa a ela pertencente ou de simples imposição legal.

A responsabilidade civil poderia ser definida como o resultado da ação pela

qual uma pessoa, seja ela física ou jurídica, expressa o seu comportamento, seus

atos em geral, em face de princípios dos deveres e obrigações.

Fica expresso, segundo os doutrinadores citados, que o importante é

identificar a conduta que gera a obrigação de indenizar. Se a resposta for afirmativa,

deve-se ter conhecimento do prejuízo em relação à condição e à maneira a ser

reparado.

4.4 RESPONSABILIDADE OBJETIVA E RESPONSABILIDADE SUBJETIVA

A distinção entre responsabilidade objetiva e subjetiva é prevista no Código

Civil brasileiro, observando-se o que traz os artigos 186 e 927 do Código Civil. É

possível ver a teoria da responsabilidade objetiva no parágrafo único do artigo 927

do Código Civil, onde preleciona que há obrigação de reparar o dano, sem a

necessidade de provar a culpa, nos casos em que a lei prevê, ou quando a atividade

que o autor normalmente exerce for uma atividade que por si só implica em risco

para os direitos de outra pessoa. A responsabilidade objetiva se sustenta na teoria

do risco, onde todo aquele que exerce atividade cujo risco a terceiros é inevitável,

deve reparar o dano, mesmo que o agente não tenha agido com culpa.

51

Na responsabilidade objetiva a atitude culposa ou dolosa do agente causador

do dano é de menor relevância, pois, desde que exista relação de causalidade entre

o dano experimentado pela vítima e o ato do agente, surge o dever de indenizar,

quer tenha este último agido ou não culposamente (SILVIO RODRIGUES, 2007,

p.11).

Ensina o ilustríssimo jurista Venosa (2007, p.14), a teoria do risco aparece na

história do Direito, portanto, com base no exercício de uma atividade, dentro da ideia

de que quem exerce determinada atividade e tira proveito direto ou indireto dela

responde pelos danos que ela causar, independentemente de culpa sua ou de

prepostos. O principio da responsabilidade sem culpa ancora-se em um princípio de

eqüidade: quem aufere os cômodos de uma situação deve também suportar os

incômodos. O exercício de uma atividade que possa representar um risco obriga por

si só a indenizar os danos causados por ela.

A responsabilidade subjetiva pode ser definida como aquela que tem como

base a culpa do agente, sendo somente caracterizada a responsabilidade do

causador do dano se ele agiu com culpa ou com dolo. Sendo assim, não há como se

falar em responsabilidade se o agente não agir com culpa.

4.5 PRESSUPOSTOS PARA A CARACTERIZAÇÃO DA RESPONSABILIDADE

Mister se faz ressaltar que a responsabilidade civil pelo abuso da imprensa

está configurada nas hipóteses de responsabilidade objetiva, deixando a parte do

trabalho acadêmico as hipóteses de responsabilidade subjetiva. Destarte, a

responsabilidade objetiva para ser configurada tem a vítima que comprovar, em

sede de reparação cível, três elementos básicos, a saber: a ação, o dano e o nexo

de causalidade entre a ação e o dano, eximindo-se da responsabilização nos casos

de excludentes, dentre os quais abordaremos em tópicos oportunos.

4.5.1 A ação ou omissão

A ação ou omissão pode decorrer de ato próprio do agente, de ato de terceiro

que esteja sob guarda do agente ou ainda por animais ou coisas que estejam sob

sua guarda, cabendo neste ultimo caso a regra objetiva, independente de culpa do

agente.

52

Para Silvio Rodrigues (2007, p.19), a ação ou omissão do agente pode ser

vista como:

A indenização pode derivar de uma ação ou omissão individual do agente, sempre que, agindo ou se omitindo, infringe um dever contratual, legal ou social. A responsabilidade resulta de fato próprio, comissivo, ou de uma abstenção do agente, que deixa de tomar uma atitude que devia tomas. O motorista que atropela um pedestre imprudente poderá ser exonerado do dever de reparar o dano se conseguir demonstrar que a culpa foi exclusiva do atropelado. Mas, se vier a ser provado que a morte da vítima resultou da falta de socorro que o motorista deveria prestar mas não prestou, a sua responsabilidade defluirá não de seu ato comissivo, mas de seu comportamento omissivo.

Tanto a omissão como a ação pode caracterizar uma infração do agente, pois

se este deixar de agir para evitar um prejuízo alheio ficará incidido a modalidade de

omissão. Se este mesmo agente cometer algum ato que derive em prejuízo alheio,

ficará caracterizado com ação.

4.5.2 Dano

Pode ser definido simplesmente como um prejuízo. Não se pode

responsabilizar um agente se não houver dano, pois o ato ilícito só reflete na orbita

do direito civil se houver ocasionado um prejuízo ou um dano a alguém.

Divide-se em dano material e dano moral. O primeiro está ligado a prejuízo

causado a patrimônio de um indivíduo por outrem, neste caso o prejuízo é de ordem

pecuniária e o agente deve repor à vitima as coisas em seu estado anterior ou outro

bem ou valor que substitua o prejuízo sofrido. O dano moral é aquele que causa

prejuízo à personalidade do indivíduo, seja sua honra, espiritual, bem-estar. O dano

moral é visto como um prejuízo irreversível, pois é impossível de ser retornado ao

estado inicial. O dano moral não atinge o patrimônio da vítima; sendo assim, não

atinge um valor predeterminado em moeda, ou seja, não é um dano econômico.

Conforme o que ensina Venosa (2007, p. 32) “O prejudicado deve provar que

sofreu um dano, sem necessariamente indicar o valor, pois este poderá depender de

aspectos a serem provados em liquidação”.

É possível que haja a reparação pelo lucro cessante, que é o período ou o

valor que a vitima deixou de lucrar em detrimento do dano sofrido. Baseia-se em

suposição contábil, que calcula o valor deixado de ser lucrado.

53

4.5.3 Nexo causal

O nexo de causalidade é um dos pressupostos essenciais da

responsabilidade civil e do dever de indenizar. Para que seja necessário a obrigação

do agente de reparar, é importante que tenha-se provado da existência de uma

relação de causalidade entre a ação ou omissão culposa do agente com o dano

sofrido pela vítima. Com outras palavras, o nexo de causalidade é o fato gerador da

responsabilidade.

Silvio de Salvo Venosa (2007, p. 45), ao definir nexo de causalidade, ensina

que:

O conceito de nexo causal, nexo etiológico ou relação de causalidade deriva das leis naturais. É o liame que une a conduta do agente ao dano. É por meio do exame da relação causal que concluímos quem foi o causador do dano. Trata-se de elemento indispensável. A responsabilidade objetiva dispensa a culpa, mas nunca dispensará o nexo causal. Se a vítima, que experimentou um dano, não identificar o nexo causal que leva o ato danoso ao responsável, não há como ser ressarcida. Nem sempre é fácil, no caso concreto, estabelecer a relação de causa e efeito.

É possível que em alguns casos não exista o nexo de causalidade, eximindo

desta forma o agente da obrigação de reparar o dano. Nestes casos serão

encobertos pelas excludentes de nexo causal (por culpa exclusiva da vítima, por

culpa concorrente, por culpa comum, por força maior ou por caso fortuito).

4.6 EXCLUDENTES DA RESPONSABILIDADE CIVIL

As excludentes da responsabilidade civil como próprio nome já faz definição,

são as causas que excluem a responsabilidade, ou seja, afastam o dano do nexo de

causalidade.

No caso em questão, as emissoras, apesar de ostentar a personalidade

jurídica de direito privado, são concessionárias de serviço público, ensejando a

responsabilidade civil objetiva, regulada pelo art. 37, §6 da Constituição Federal.

Dessarte, as excludentes da responsabilidade civil reguladas pelo dispositivo

são frutos de sólida construção doutrinária e jurisprudencial, não estando desse

modo na letra da lei. São elas: culpa exclusiva da vítima, caso fortuito e força maior

e culpa de terceiro.

54

Ocorrerá a culpa exclusiva da vítima quando o dano é ocasionado pela

intenção deliberada do próprio prejudicado. Exemplo disto no âmbito da mídia

jornalística é quando a vítima se utiliza de determinado espaço no programa

televiso, ou similar, para difamar a si própria.

No caso fortuito e a força maior há um convergência doutrinária a respeito.

Parte da doutrina trata como sinônimos, sem distinção. Para outra parte, que vê

como distintos, trata força maior como imprevisível, involuntário e incontrolável,

rompendo, portanto, o nexo de causalidade entre a conduta e o dano. Caso fortuito

seria toda ação humana que gera um dano. Para a doutrina que os diferencia,

somente a força maior é causa de excludente, estando o caso fortuito fora das

excludentes da responsabilidade civil.

A culpa de terceiro, por sua vez, na esteira dos ensinamentos dos

administrativistas, é quando o dano é causado por pessoa estranha aos quadros da

Administração Pública. Que, em nosso estudo, como exemplo, poderia ser o caso de

uma pessoa adentrar na emissora e propagar em rede nacional fato ensejador a

dano de determinado bem jurídico de pessoa ou instituição. Respondendo a

emissora, neste caso, se comprovada a culpa.

4.7 DIREITO DE RESPOSTA

Inicialmente, cumpre ressaltar que o direito de reposta foi inicialmente

regulado pela lei de imprensa, que teve sua vigência na ditadura militar, como forma

de dar maior controle por parte dos governantes-generais sobre a imprensa na

época.

Finda a ditadura, a referida lei não foi recepcionada pela Constituição Federal

de 1988, sendo posteriormente declarada inconstitucional perante o STF no ano de

2009, no qual o direito de resposta, cerne das discussões polêmicas na referida lei,

passou a ser tratada diretamente pela Carta Magna, precisamente no art. 5°, V.

Senão vejamos: “é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além

da indenização por dano material, moral ou à imagem”.

Do contrário não seria, pois o direito de resposta também é assegurado pelo

Pacto de São José da Costa Rica, precisamente no art. 14:

55

Artigo 14 – Direito de retificação ou resposta 1. Toda pessoa, atingida por informações inexatas ou ofensivas emitidas em seu prejuízo, por meios de difusão legalmente regulamentados e que se dirijam ao público em geral, tem direito a fazer, pelo mesmo órgão de difusão, sua retificação ou resposta, nas condições que estabeleça a lei. 2. Em nenhum caso a retificação ou a resposta eximirão das outras responsabilidades legais em que se houver incorrido. 3. Para a efetiva proteção da honra e da reputação, toda publicação ou empresa jornalística, cinematográfica, de rádio ou televisão, deve ter uma pessoa responsável, que não seja protegida por imunidades, nem goze de foro especial.

Na esteira dos ensinamentos de Pedro Lenza (2011, p. 881), vale a

transcrição literal:

A constituição assegurou a liberdade de manifestação do pensamento, vedando o anonimato. Caso durante a manifestação do pensamento se cause dano material, moral ou à imagem, assegura-se o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização.

Nesse diapasão, não cabe maiores digressões, pois o dispositivo

constitucional é incisivo na questão, que ao ofendido de qualquer agressão que

cause determinado prejuízo é assegurado o direito de resposta proporcional. Assim

se a ofensa foi de 5 minutos, por rádio ou televisão, será assegurado tempo

proporcional ao da ofensa. Se publicado em revista, jornais ou qualquer infográfico

terá as mesmas dimensões e número de páginas, não se excluindo o responsável

pela propagação do fato danoso das responsabilidades cíveis, administrativas e

penais, de acordo com o caso.

4.8 RESPONSABILIDADE CIVIL DO JORNALISTA E DA EMPRESA

VEICULADORA DA PUBLICAÇÃO DANOSA DOS DIREITOS PERSONALÍSSIMOS

Importante situarmos acerca dos aspectos jurídicos das emissoras e

empresas veiculadoras de informação para que possamos dar um tratamento

diferenciando no que tange à responsabilidade civil dos jornalistas e das pessoas

jurídicas nos quais estão vinculados.

Na definição do tema, as emissoras de televisão e de rádio são

concessionárias de serviço público de delegação obrigatória, pois não pode ser

prestado somente pelo estado, deve - o estado - necessariamente delegar aos

56

particulares a sua prestação. O chamado serviço público de delegação obrigatória

são serviços ligados à informação.

Desse modo, é importante relembrar que tais pessoas assumem a

responsabilidade civil objetiva, visto que estão enquadradas na Teoria do Risco, que

consiste basicamente em indenizar fato danoso independentemente da culpa ou

dolo do agente da pessoa jurídica a qual está vinculado, cabendo direito de ação de

regresso ao agente causador do dano.

Nesse contexto, vale a transcrição literal do art. 37 § 6° da Carta Magna, que

nos aponta um direcionamento a respeito da responsabilidade das pessoas em

comento:

Art. 37 omissis (...) §6 As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa.

Da leitura do dispositivo constitucional transcrito, vale algumas considerações

importantes. É bom salientar que o ordenamento jurídico pátrio adota, em detrimento

da Teoria do Risco Integral, a Teoria do Risco administrativo, consistindo na

responsabilidade objetiva da Administração Pública pelos danos causados pelo seu

agente a terceiros, respondendo o Estado por tais atos independente de culpa do

agente, cabendo àquele direito de regresso contra este.

As empresas veiculadoras de informação se enquadram no segundo

elemento da norma transcrita: “de direito privado prestadoras de serviço público”.

Assim, por se tratarem de concessionárias de serviço público toda a demanda

judicial de responsabilidade civil é fundada neste dispositivo constitucional, cabendo

à vítima comprovar apenas três elementos básicos, conduta, dano e nexo

causalidade entre eles.

Com base na teoria da imputação adotada pelos administrativistos para

caracterizar a teoria do órgão, donde esta última teoria acarreta em várias

consequências, dentre elas um direcionamento a respeito da responsabilização dos

órgãos pela conduta de seus agentes, vemos que as pessoas jurídicas as quais os

jornalistas estão vinculados são primariamente responsabilizadas pela conduta

destes na eventual publicação danosa dos direitos personalíssimos.

57

Desse modo, se algum jornalista venha a ofender, por exemplo, a imagem,

honra, ou qualquer outro direito que assiste a eventual vítima, caberá à empresa

veiculadora a responsabilização pela conduta do jornalista, assistindo a tal empresa

o direito de regresso ao jornalista, respondendo este por dolo ou culpa.

A pergunta que se faz é: caberia à vítima acionar diretamente o jornalista pelo

evento danoso causado?

Segundo o entendimento do STF, não. Pois trata-se da chamada dupla

garantia; a da vítima em discutir em sede de ação indenizatória apenas os três

elementos, conduta, dano e nexo, não discutindo-se dolo ou culpa; e do agente

causador do dano, em só ser acionado mediante ação regressiva.1 Entretanto, é

constatado outro questionamento: é cabível a denunciação à lide da pessoa jurídica

ao agente causador do dano?

Para responder a esse questionamento devemos recorrer ao CPC no seu art.

70, III: “a denunciação da lide é obrigatória àquele que estiver obrigado, pela lei ou

pelo contrato, a indenizar, em ação regressiva, o prejuízo do que perder a

demanda.”.

Pelo que se extrai do referido dispositivo, é que é sim cabível a denunciação à

lide ao agente. Entretanto, a doutrina majoritária repele tal posicionamento, pois é

totalmente prejudicial à vítima na medida em que irá ampliar a discussão na ação

indenizatória trazendo a esta os elementos do dolo ou culpa do agente.

4.9 REPERCUSSÃO ADMINISTRATIVA E CÍVEL

Inicialmente, cumpre esclarecer que a regra é que as instâncias são

independentes entre si, ou seja, a decisão de uma não interfere na outra. Entretanto,

tal regra comporta algumas exceções.

As demandas julgadas procedentes nas esferas cíveis e administrativas não

fazem coisa julgada no juízo criminal, pois aqui a defesa é mais ampla.

Se num processo penal o réu é absolvido por prova que negue a existência

do fato ou da autoria, tal decisão repercute nas outras esferas. Mas deve-se

ressaltar que é importante a negação destes elementos, não fazendo coisa julgada

nas outras esferas quando o réu for absolvido por ausência de provas.

1 É a posição do STF no julgado do Recurso Extraordinário 327.904/SP de 2006

58

É o que se extrai da leitura do art. 935 do Código Civil:

A responsabilidade civil é independente da criminal, não se podendo questionar mais sobre a existência do fato, ou sobre quem seja o seu autor, quando estas questões se acharem decididas no juízo criminal.

No que tange à responsabilização administrativa, por se tratar de

concessionária de serviço público, caberia falar que o assunto seria tratado pela Lei

n° 8.987/95, que trata das concessões e permissões de serviços públicos. Podendo

o estado lançar mão dos poderes-deveres que tem sobre as concessionárias nas

diversas formas de intervenção, a exemplo de intervir para “assegurar a adequação

na prestação do serviço, bem como o fiel cumprimento das normas contratuais” (art.

32, Lei 8.987/95), além das formas de extinção de concessão previstas no rol do art.

35 da mesma lei.

Entretanto, tais concessionárias estão regradas pela Constituição,

principalmente nos arts. 220 à 224, que tratam do assunto das comunicações

sociais.

Às emissoras é incumbido o dever de prestar os seus serviços de acordo com

os princípios previstos no art. 221 da Constituição. Vale a transcrição literal:

Art. 221. A produção e a programação das emissoras de rádio e televisão atenderão aos seguintes princípios: I - preferência a finalidades educativas, artísticas, culturais e informativas; II - promoção da cultura nacional e regional e estímulo à produção independente que objetive sua divulgação; III - regionalização da produção cultural, artística e jornalística, conforme percentuais estabelecidos em lei; IV - respeito aos valores éticos e sociais da pessoa e da família.

Por se tratarem de princípios, tais incisos servem como instrumentos

norteadores na atuação das emissoras de modo paralelo ao estado, mas com

finalidade pública, garantindo o fomento de crescimento nacional, através de

atividades educativas, artísticas, culturais e informativas, respeitando, contudo, os

valores éticos, sociais da pessoa e da família.

Em que pese os incisos citados apenas traçarem um indicativo às emissoras,

poderão estas ter o seu contrato de concessão cancelado mediante decisão judicial,

por força do art. 223, §4° da Constituição.

59

Como é cediço, a liberdade de expressão é garantida constitucionalmente,

mas esse direito não é absoluto, não pode portanto confrontar as normas de igual

importância, devendo uma ponderação entre os princípios constitucionais.

Portanto, a liberdade de expressão não pode ser usada para ofender outros

princípios, inclusive os personalíssimos, como a honra, imagem, privacidade, dentre

outros.

A responsabilidade civil é tratada com base na Teoria do dano, consistindo na

lesão a um bem jurídico protegido, sendo ele na modalidade moral ou patrimonial.

Ocorre um dano patrimonial quando um determinado sujeito é ofendido em

seus aspectos econômico-financeiros.

A ideia de perda patrimonial está atrelada a um jargão bastante comum entre

nós: perdas e danos. Destarte, convém destacar que o chamado dano patrimonial é

um gênero, o qual comporta duas espécies, dano emergente e lucro cessante.

Dano emergente seria um dano efetivamente sofrido por uma determinada

vítima provenientes da lesão. É um prejuízo pecuniário efetivo, concreto e provável

nos planos de fato, causado a alguém.

Em outra via, temos o lucro cessante, sendo aquele que a vítima

razoavelmente deixou de perceber em função da lesão. São todos os ganhos que

pararam de fluir após o evento danoso.

Convém ressaltar que ambos não se confundem, sendo independentes entre

si para fins de reparação. Podemos assim ter danos emergentes e não lucros

cessantes, e vice-versa.

Por fim, é bom relembrar que a responsabilidade civil é diretamente proposta

às pessoas jurídicas, à qual o jornalista está vinculado, por força do art. 37, §6° da

Constituição, respondendo este em ação regressiva.

4.10 ANÁLISE DE CASOS CONCRETOS

4.10.1 Caso 1

Diante de todo o trabalho desenvolvido, convém fazer uma análise de um

caso concreto para que possamos visualizar todas as acepções das normas trazidas

no trabalho, confrontá-las e opiná-las. Eis um exemplo:

60

LIBERDADE DE INFORMAÇÃO - DIREITO DE CRÍTICA - PRERROGATIVA POLÍTICO-JURÍDICA DE ÍNDOLE CONSTITUCIONAL - MATÉRIA JORNALÍSTICA QUE EXPÕE FATOS E VEICULA OPINIÃO EM TOM DE CRÍTICA - CIRCUNSTÂNCIA QUE EXCLUI O INTUITO DE OFENDER - AS EXCLUDENTES ANÍMICAS COMO FATOR DE DESCARACTERIZAÇÃO DO "ANIMUS INJURIANDI VEL DIFFAMANDI" - AUSÊNCIA DE ILICITUDE NO COMPORTAMENTO DO PROFISSIONAL DE IMPRENSA - INOCORRÊNCIA DE ABUSO DA LIBERDADE DE MANIFESTAÇÃO DO PENSAMENTO - CARACTERIZAÇÃO, NA ESPÉCIE, DO REGULAR EXERCÍCIO DO DIREITO DE INFORMAÇÃO - O DIREITO DE CRÍTICA, QUANDO MOTIVADO POR RAZÕES DE INTERESSE COLETIVO, NÃO SE REDUZ, EM SUA EXPRESSÃO CONCRETA, À DIMENSÃO DO ABUSO DA LIBERDADE DE IMPRENSA - A QUESTÃO DA LIBERDADE DE INFORMAÇÃO (E DO DIREITO DE CRÍTICA NELA FUNDADO) EM FACE DAS FIGURAS PÚBLICAS OU NOTÓRIAS - JURISPRUDÊNCIA -DOUTRINA - JORNALISTA QUE FOI CONDENADO AO PAGAMENTO DE INDENIZAÇÃO CIVIL POR DANOS MORAIS - INSUBSISTÊNCIA, NO CASO, DESSA CONDENAÇÃO CIVIL - IMPROCEDÊNCIA DA "AÇÃO INDENIZATÓRIA" -VERBA HONORÁRIA FIXADA EM 10% (DEZ POR CENTO) SOBRE O VALOR ATUALIZADO DA CAUSA - RECURSO DE AGRAVO PROVIDO, EM PARTE, UNICAMENTE NO QUE SE REFERE AOS ÔNUS DA SUCUMBÊNCIA . - A liberdade de imprensa, enquanto projeção das liberdades de comunicação e de manifestação do pensamento, reveste-se de conteúdo abrangente, por compreender, dentre outras prerrogativas relevantes que lhe são inerentes, (a) o direito de informar, (b) o direito de buscar a informação, (c) o direito de opinar e (d) o direito de criticar . - A crítica jornalística, desse modo, traduz direito impregnado de qualificação constitucional, plenamente oponível aos que exercem qualquer atividade de interesse da coletividade em geral, pois o interesse social, que legitima o direito de criticar, sobrepõe-se a eventuais suscetibilidades que possam revelar as pessoas públicas ou as figuras notórias, exercentes, ou não, de cargos oficiais . - A crítica que os meios de comunicação social dirigem às pessoas públicas, por mais dura e veemente que possa ser, deixa de sofrer, quanto ao seu concreto exercício, as limitações externas que ordinariamente resultam dos direitos de personalidade . - Não induz responsabilidade civil a publicação de matéria jornalística cujo conteúdo divulgue observações em caráter mordaz ou irônico ou, então, veicule opiniões em tom de crítica severa, dura ou, até, impiedosa, ainda mais se a pessoa a quem tais observações forem dirigidas ostentar a condição de figura pública, investida, ou não, de autoridade governamental, pois, em tal contexto, a liberdade de crítica qualifica-se como verdadeira excludente anímica, apta a afastar o intuito doloso de ofender. Jurisprudência. Doutrina . - O Supremo Tribunal Federal tem destacado, de modo singular, em seu magistério jurisprudencial, a necessidade de preservar-se a prática da liberdade de informação, resguardando-se, inclusive, o exercício do direito de crítica que dela emana, por tratar-se de prerrogativa essencial que se qualifica como um dos suportes axiológicos que conferem legitimação material à própria concepção do regime democrático. - Mostra-se incompatível com o pluralismo de idéias, que legitima a divergência de opiniões, a visão daqueles que pretendem negar, aos meios de comunicação social (e aos seus profissionais), o direito de buscar e de interpretar as informações, bem assim a prerrogativa de expender as críticas pertinentes. Arbitrária, desse modo, e inconciliável com a proteção constitucional da informação, a repressão à crítica jornalística, pois o Estado -inclusive seus Juízes e Tribunais -não dispõe de poder algum sobre a palavra, sobre as idéias e sobre as convicções manifestadas pelos profissionais da Imprensa. Precedentes do Supremo Tribunal Federal.

61

Jurisprudência comparada (Corte Européia de Direitos Humanos e Tribunal Constitucional Espanhol). (In: STF, AI 705630 SC, Min. CELSO DE MELLO, J. 22/03/2011).

Inicialmente, pela ementa trazer no terreno das discussões as acepções de

liberdade de imprensa e livre a manifestação de pensamento consagrados pela

Constituição Federal de 1988, elenca alguns desdobramento como direito de

informar e buscar informação, de opinar e criticar, sendo todos corolários da

vedação à censura que fora expurgada da tenebrosa época ditatorial na qual passou

o Brasil décadas antes da promulgação da atual Constituição

Desse modo, busca-se garantir o livre exercício do profissional da informação,

podendo este, para que possa obter informações de interesse público, ser imune a

restrições desnecessariamente impostas em alguns locais, tendo em vista que o que

está em xeque são informações que interessam a toda coletividade.

Além de buscar informações e informar, o livre exercício da profissão do

jornalista assegura prosseguir e ampliar as possibilidades de sua atividade, quais

sejam: opinar e criticar.

Conforme exposto na ementa, a crítica jornalística está “impregnada” dentre

os valores constitucionalmente estabelecidos, pois “o interesse social que legitima o

direito de criticar, sobrepõe-se a eventuais suscetibilidades que possam revelar as

pessoas púbicas”.

Desse modo, as pessoas que ostentam o caráter público estão sujeitas as

críticas exercidas pelos jornalistas no âmbito de seu exercício profissional.

Pelo fato de que as pessoas de caráter público se investem em “funções

públicas”, cujo conceito que se aplica como sendo a de atuar em nome próprio

defendendo direito alheio, tais pessoas estão sujeitas as criticas, visto que,

repetindo, o interesse público é o norteador e abalizador do exercício do jornalismo,

mesmo que tal exercício seja visto como “mordaz, irônico ou de crítica severa”.

Revela a ementa que é o posicionamento que prevalece no Supremo Tribunal

Federal é de que o Estado, tratado aqui nas suas três funções originariamente

incumbidas, legislar, julgar e administrar, não pode mitigar o pelo exercício das

atividades jornalísticas, pois a livre manifestação de pensamento e o livre exercício

compreendem “suportes axiológicos que conferem legitimação material a própria

concepção do regime democrático.”

62

Nesse sentido, não cabe ao juiz adentrar no mérito livre exercício do

profissional da informação; ao contrário, deve assegurá-lo, pois a informação

conveniente e oportuna é de valor imensurável que irradia e assegura a manutenção

de outros direitos que assistem à sociedade de um modo geral.

Sem a informação, mesmo que seja áspera, dura e ferrenha destinado às

pessoas públicas, é garantia precípua ao cidadão que é responsável pela condução

da nação, pois a norma da Constituição Federal é cristalina: “todo o poder emana do

povo” e, sem informação, não há como o cidadão desempenhar o seu mister.

4.10.2 Caso 2

Um caso recente, notório e de grande repercussão foi o caso da exibição de

cenas reais de estupro a uma menor, ocorrido em Bayeux no ano de 2011.

As cenas foram filmadas com a utilização de um aparelho celular pelo coautor

da violência e foram exibidas no programa precisamente em 30 de setembro

daquele mesmo ano.

Ao saber do fato, o Ministério Público Federal ajuizou uma ação civil pública

com pedido de liminar com litisconsórcio passivo formado pela União Federal, a TV

Correio e o apresentador Samuka Duarte.

Na ação, o MPF fundamenta o seu pedido em diversos pontos, como o

desrespeito com os valores da sociedade e da família, bem como a dignidade e os

direitos da personalidade da adolescente violentada. A ação cita que na ocasião

foram utilizadas várias chamadas do crime acontecido durante o programa para

angariar a audiência desejada, trazendo a cena completa, disfarçadas com recurso

de tênue desfoque, ao final do programa.

Com relação à dignidade da pessoa humana, o MPF na ação aduz que:

Uma concessão pública foi utilizada como instrumento da violação de direitos fundamentais da pessoa humana, e exatamente do segmento mais fragilizado da sociedade – as crianças e adolescentes. Nenhuma justificativa de informação pública pode socorrer os autores de tamanha afronta, absolutamente desnecessária, que ofendeu a dignidade da pobre vítima, ampliando seus ultrajes e vergonha, e a dignidade dos telespectadores, transformados, em pleno horário do meio dia, em espectadores de um 'snuff movie' que seria proibido até mesmo no horário da madrugada ou no mais recôndito dos cinemas pornôs.

63

O MPF também fundamenta a ação na violação ao direito à imagem, que é

um direito personalíssimo, e que por se tratar de uma adolescente a mera

autorização dos responsáveis não encontraria guarida em nosso ordenamento,

assim arremata na ação: “A infelicidade de um crime não torna o corpo da vítima

objeto do domínio público para que os réus dele possam servir-se com fins

lucrativos”.

Como se vê, por violar o direito à imagem da adolescente, trazendo cenas de

sexo em horário de pico de audiência, é cabível uma reparação por danos morais

não à vítima do estupro, mas sim um dano moral coletivo, percebido pela sociedade,

em que o Ministério Público pede o valor de exatos R$ 5.000.000,00 (cinco milhões)

de reais

Como responsabilização administrativa, outro pedido é de suspensão por 15

dias do programa Correio Verdade, bem como do cancelamento da concessão do

serviço público prestado pela emissora TV Correio.

Em nosso entendimento, esta ação está totalmente apoiada na norma

constitucional anteriormente citada, pois não está cumprindo o teor do art. 221, IV:

“respeito aos valores éticos e sociais da pessoa e da família”, está usando de

maneira extrapolada a liberdade de imprensa, pois está passando por cima de

outros direitos fundamentais previstos na nossa Constituição, como o exemplo dos

direitos personalíssimos da imagem, honra, nome etc.

Outro ponto importante é a composição do litisconsórcio formado na ação.

Como foi mencionado, com fundamento no art. 37, §6°, as pessoas jurídicas

prestadoras de serviços públicos responderam objetivamente pelos danos que seus

agentes causarem, respondendo estes em ação de regresso.

Como visto, a ação proposta pelo MPF teve como litisconsorciado o

apresentador do programa Samuka Duarte, abrindo mão o Ministério Público da

dupla garantia e contrariando o entendimento do STF.

A questão nos parece confusa, pois é latente na norma constitucional que o

agente causador só responderá em ação de regresso, não cabendo ao MPF ajuizar

a ação também em face do apresentador do programa.

Pode-se argumentar que para garantir uma economia processual e uma maior

celeridade na prestação jurisdicional, o MPF ajuizou a ação também em face do dito

apresentador, visto que, embora não houvesse a necessidade de compor o

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litisconsórcio em face deste, ele iria compor o polo passivo da demanda, pois o CPC

permite a denunciação à lide do agente causador do dano.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Verificamos, então, que a televisão está presente em todas as classes, logo

todos têm acesso às informações trazidas por ela, por isso um dano causado por

meio desta é propagado de uma maneira mais rápida e violenta, dependendo do

caso concreto chega a ser irreparável. Por isso, os jornalistas, que são respeitados

pela sociedade ao noticiarem algo falso possuem credibilidade e todos acreditam no

que foi dito. E por meio de uma notícia a imagem de um cidadão pode ser destruída.

Por isso, o foco do nosso trabalho foi estabelecer que a liberdade de

imprensa que o jornalista possui é limitada, não pode extrapolar e atingir os direitos

da personalidade de outrem. Até porque, se isto ocorrer, ele será punido e terá que

reparar o dano causado.

E é importante salientar que não é só responsabilidade do jornalista reparar o

dano, mas também da empresa em que ele trabalha, pois esta, muitas vezes,

visando um maior IBOPE, não procura saber a veracidade das informações, ou até

visando uma maior audiência denigre a imagem de uma pessoa, almejando um

benefício próprio.

Devido aos diversos meios de comunicação, o jornalista que é vinculado à

televisão é munido de diversas fontes de informações, porém estas podem ser

verídicas ou não e ele detém pouco tempo para conferir a veracidade destas e

colocá-las no ar, o que pode ocasionar um equívoco e serem transmitidas

informações errôneas. Às vezes, ele divulga tal notícia sem saber a autenticidade

das informações, mas a apuração da verdade é intrínseca a sua função.

O jornalista deve se policiar muito, pois a sua função cumpre mais que uma

finalidade informativa. A sua função pode formar a consciência de uma sociedade,

pode criar valores culturais e sociais, pode ao mesmo tempo engrandecer e rebaixar

um indivíduo.

A Lei Maior de 1988 assegurou, em seu artigo 5º, inciso IX, a liberdade de

expressão e informação, independente de censura e no mesmo artigo no inciso X,

assegurou respeito à honra, vida privada, intimidade e imagem. Ou seja, a liberdade

de imprensa não pode querer se sobressair aos direitos da personalidade, visto que

ambos os direitos estão no mesmo nível constitucional, o que deve ocorrer é bom

senso e ponderação para que ocorra a preservação desses direitos, assim não

ocorra conflito.

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Portanto, antes de divulgar alguma notícia, o jornalista deve averiguar a

veracidade da mesma, e também avaliar se esta notícia verídica não irá denegrir a

imagem, a honra ou a privacidade da pessoa em tela. Caso a notícia viole esses

direitos, é preciso fazer uma avaliação de grau de importância da informação e do

interesse público.

Na verdade, o conflito de direitos fundamentais é apenas aparente, por isso

quando a liberdade de imprensa e os direitos da personalidade estiverem em

combate, a solução é fazer uma análise e observar a proporcionalidade e a

razoabilidade em questão.

O jornalista deve ter cuidado para que a sua divulgação não caracterize

abuso de direito, pois como já dito, a lei estabelece o direito, mas não o limita, o que

fica difícil no exercício da profissão distinguir o que é ou não abuso de direito. E

caracterizado um abuso de direito por parte do jornalista, este terá que indenizar o

sujeito atingido.

Diante do exposto, o jornalista deve exercer a sua liberdade de imprensa na

forma de notícia e opiniões de maneira responsável, sempre em observância de

direitos alheios, pois caso sejam veiculados fatos inverídicos ou que denigram a

imagem de outrem, se faz necessário a reparação dos direitos extrapatrimoniais do

individuo, seja feita pelo jornalista ou pela empresa em que ele presta serviço. Essa

reparação poderá ser feita através do direito de resposta, que é assegurado ao

lesado o mesmo meio e o mesmo tempo para se defender, ou ainda, a reparação

pode ser feita através de indenização.

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