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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA – UFPB CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES – CCHLA
COORDENAÇÃO DO CURSO DE GRADUAÇÃO EM COMUNICAÇÃO SOCIAL - JORNALISMO
DAYANE BARBARA RIBEIRO DE SOUZA
RESPONSABILIDADE CIVIL DO JORNALISTA VEICULADO À TELEVISÃO
JOÃO PESSOA - PB 2012
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DAYANE BARBARA RIBEIRO DE SOUZA
RESPONSABILIDADE CIVIL DO JORNALISTA VEICULADO À TELEVISÃO
Trabalho de Conclusão de Curso – TCC apresentado a Universidade Federal da Paraíba – como requisito parcial para a obtenção do título do curso de Comunicação Social - Jornalismo. Orientador: Prof. Ms. Hildeberto Barbosa Filho
JOÃO PESSOA - PB 2012
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DAYANE BARBARA RIBEIRO DE SOUZA
RESPONSABILIDADE CIVIL DO JORNALISTA VEICULADO À TELEVISÃO
Nota:_____________
BANCA EXAMINADORA
_________________________________ Prof. Ms. Hildeberto Barbosa Filho
Orientador
_________________________________ Wilfredo Maldonado
1º Examinador
_________________________________ Josinaldo Malaquias
2º Examinador
JOÃO PESSOA - PB 2012
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AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus, por ser meu guia em todos os momentos, ser o meu conforto e o meu refúgio, a Nossa Senhora, por ser minha sempre intercessora e a Jesus Cristo meu eterno salvador. A minha mãe, pela sua dedicação, pelo seu amor, pela sua amizade, por que sei que posso recorrer em qualquer situação, que ela estará lá, assim como Maria, firme e forte para me ajudar e levantar, caso preciso. Ao meu pai por ser o meu maior exemplo de honestidade, de perseverança, de responsabilidade e de bom caráter. Meu objetivo é tê-lo com espelho na minha vida profissional e pessoal. Aos meus avós que sempre acreditaram em mim, e por serem exemplos, vovó Cy exemplo de tranquilidade, Donga (In memoriam) de alegria, vovô Zil meu exemplo de guerreiro e a minha amada e sempre preocupada vovó Bibi por ser meu exemplo de amor. Ao meu namorado, Bruno, por me incentivar a dar sempre o meu melhor, e pelo amor dedicado a mim em todos os momentos. As minhas eternas e verdadeiras amigas por serem fontes de inspiração, apesar de se fazerem, às vezes, ausentes fisicamente; no coração são sempre presentes. Ao Coração de Maria, pela forma mais singela de demonstrar o amor de Deus e pelo privilégio de ser chamada de mãe. Ao meu orientador, Prof. Hildeberto Barbosa Filho, pelos esclarecimentos necessários à realização deste trabalho monográfico. E a todos aqueles (familiares, amigos, professores), que de alguma forma, vieram contribuir para a concretização desse sonho, agradeço imensamente.
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RESUMO
Este trabalho monográfico tem como objetivo lançar uma análise sobre o serviço de comunicação no Brasil, notadamente com relação ao serviço de radiofusão de sons e imagens elencando a sua previsão na Constituição de 1988, bem como trazer a questão à função da agência reguladora que trata da matéria (ANATEL). No centro das atenções está o papel exercido pelos jornalistas, a respeito da ética profissional e na ética do jornalismo. Ademais o trabalho acadêmico fez uma breve análise a respeito da lei de imprensa e o seu assunto correlato, a censura, tratada na ótica de censura prévia e a sua defesa para garantir o livre exercício da veiculação da informação dos profissionais da comunicação. Nessa perspectiva busca-se conciliar o exercício regular de direito exercido pelo profissional da informação e outros valores que tal profissão lida, a exemplo dos direitos personalíssimos, como a honra, imagem, intimidade e a vida privada. Por fim, busca-se fazer uma análise de um caso concreto para que possamos experimentar os conceitos trazidos e brevemente explanados neste trabalho de conclusão de curso.
Palavras-chave: liberdade de imprensa. Direitos personalíssimos. Abuso de direito.
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ABSTRACT
This monographic work aims to launch a review about the communication service in Brazil, especially with respect to the radio station sounds and images listing your prediction the Constitution of 1988, as well as bringing the issue the role of the regulatory agency that deals with the matter (ANATEL). In the center of attention is the role played by journalists about the professional ethics and the ethics of journalism. Besides academic work will make a brief analysis about the press law and its related subject, censorship, treated in the view of prior censorship and its advocacy to secure the free exercise of broadcasting the information to media professionals. From this perspective seeks to reconcile the regular exercise of the right exercised by the professional information and other values that profession deals, like the personal rights, such as honor, image, intimacy and privacy. Finally, we seek to make an analysis of a case that we might test the concepts brought and shortly explained in this work course conclusion. Key-words: Freedom of the press. Rights personal. The abuse of rights.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO...................................................................................................... 09
1 O SURGIMENTO DA COMUNICAÇÃO NO BRASIL........................................ 12
1.1 NOÇÕES GERAIS........................................................................................... 12
1.2 O SERVIÇO PÚBLICO DE RADIODIFUSÃO DE SONS E IMAGENS
NO BRASIL............................................................................................................ 13
1.3 PREVISÃO CONSTITUCIONAL...................................................................... 15
1.4 CÓDIGO BRASILEIRO DE TELECOMUNICAÇÃO........................................ 17
1.5 ATUAÇÃO DA ANATEL.................................................................................. 18
2 A FUNÇÃO DO JORNALISTA........................................................................... 21
2.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS.......................................................................... 21
2.2 A ÉTICA........................................................................................................... 22
2.2.1 A ética profissional..................................................................................... 23
2.2.2 A ética jornalística...................................................................................... 25
2.3 A INFORMAÇÃO............................................................................................. 28
2.4 DA CENSURA................................................................................................. 29
2.4.1 Censura prévia e Tutela civil preventiva.................................................. 30
3 DIREITOS DA PERSONALIDADE E A LIBERDADE DE IMPRENSA.............. 33
3.1 A LIBERDADE DE EXPRESSÃO SOB A ÓPTICA DA CONSTITUIÇÃO
DE 1988................................................................................................................. 33
3.2 OS DIREITOS DA PERSONALIDADE............................................................ 34
3.2.1 Direito à honra............................................................................................. 38
3.2.2 Direito à imagem......................................................................................... 40
3.2.3 Direito à privacidade................................................................................... 42
3.3 PONDERAÇÃO ENTRE A LIBERDADE DE IMPRENSA, O DIREITO À
INFORMAÇÃO E OS DIREITOS DA PERSONALIDADE..................................... 44
4 ABUSO DO DIREITO À LIBERDADE DE IMPRENSA
E RESPONSABILIDADE CIVIL DO JORNALISTA.............................................. 47
4.1 ABUSO DE DIREITO....................................................................................... 47
4.1.1 Requisitos e previsão legal........................................................................ 48
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4.2 ABUSO DE DIREITO À LIBERDADE DE IMPRENSA.................................... 49
4.3 CONCEITO DE RESPONSABILIDADE CIVIL................................................. 49
4.4 RESPONSABILIDADE OBJETIVA E RESPONSABILIDADE SUBJETIVA.... 50
4.5 PRESSUPOSTOS PARA A CARACTERIZAÇÃO
DA RESPONSABILIDADE..................................................................................... 51
4.5.1 A ação ou omissão..................................................................................... 51
4.5.2 Dano............................................................................................................. 52
4.5.3 Nexo causal................................................................................................. 53
4.6 EXCLUDENTES DA RESPONSABILIDADE CIVIL......................................... 53
4.7 DIREITO DE RESPOSTA................................................................................ 54
4.8 RESPONSABILIDADE CIVIL DO JORNALISTA E DA EMPRESA
VEICULADORA DA PUBLICAÇÃO DANOSA DOS DIREITOS
PERSONALÍSSIMOS............................................................................................ 55
4.9 REPERCUSSÃO ADMINISTRATIVA E CÍVEL............................................... 57
4.10 ANÁLISE DE CASOS CONCRETOS............................................................ 59
4.10.1 Caso 1........................................................................................................ 59
4.10.2 Caso 2........................................................................................................ 62
CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................. 65
REFERÊNCIAS..................................................................................................... 67
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INTRODUÇÃO
Um dos elementos fundamentais de uma sociedade democrática é a
liberdade de imprensa. O Brasil restabeleceu o regime democrático, com a
promulgação da Constituição Federal de 1988, dessa forma passou adotar a plena
liberdade, mesmo com algumas situações discordantes. A nossa Lei Maior tutela de
maneira expressa os direitos e garantias fundamentais, dentre eles, os direitos da
personalidade e o direito à informação.
Antes de abordar a liberdade de imprensa é importante frisar que a imprensa
passou por vários processos de desenvolvimento, devido ao avanço tecnológico e,
com a globalização, ela adquiriu sonorização e imagens, pois antes disso ela não
saia do papel. Hodiernamente, os telespectadores têm acesso aos acontecimentos
de forma real graças ao sistema de radiodifusão.
Com a concessão desses serviços de sons e imagens, a imprensa ganhou
mais espaço, podendo, assim, entrar nas casas das pessoas e noticiar tudo o que
ocorre no mundo. Essa facilidade é excelente, porém o jornalista no uso da sua
liberdade de imprensa pode extrapolar os limites e atingir os direitos da
personalidade de outrem, como a intimidade, a honra, ou a imagem.
Ao atingir esses direitos ocorre um conflito e é esse conflito que é o foco do
nosso estudo, pois ao causar dano a outrem, o jornalista terá que repará-lo e não só
ele, mas também a empresa que ele representa também será punida. Até porque, as
empresas midiáticas, muitas vezes, em prol de audiência não verificam a informação
e o jornalista transmite a notícia inverídica.
Portanto, as informações trazidas pelo jornalista não podem atingir o direito
individual, por isso a liberdade de imprensa que ele possui não é total, ela é limitada,
restrita, pois não pode ferir a privacidade de outrem. O jornalista deve fazer uso da
liberdade de imprensa em consonância com os direitos da personalidade.
Qual a limitação da liberdade de imprensa quando conflitada com os direitos
da personalidade? Qual a responsabilidade do jornalista e da empresa veiculadora
da notícia danosa? Essas são algumas questões que vamos debater e analisar e ver
também até onde pode ir essa liberdade de imprensa, como deve ser a ponderação
dos princípios e garantias constitucionais e qual a responsabilidade do jornalista.
Trata-se de um trabalho de conclusão de curso, monográfico, o qual busca
esclarecer qual a real função do jornalista, que é o responsável por noticiar assuntos
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de interesse social por isso, é fundamental que as notícias sejam verdadeiras, visto
que o jornalista possuidor da liberdade de imprensa deve usá-la em conformidade
com os direitos da personalidade, para evitar conflitos.
Para a realização de tal trabalho, o embasamento principal foi de fontes
bibliográficas da pesquisa indireta, sendo os doutrinadores Claudio Luiz Bueno
Godoy (2008) e Pedro Frederico Caldas (1997) essências para a consecução dessa
monografia. Outros livros, artigos eletrônicos e jurisprudência também serviram de
contribuição para tal trabalho, que é um assunto de interesse social.
Este trabalho de conclusão do Curso de Comunicação Social com habilitação
em Jornalismo da UFPB, tem como objetivo demonstrar a importância da liberdade
de imprensa não atingir os direitos da personalidade com informações e notícias
falsas, e se esses direitos forem atingidos saber qual a responsabilidade civil do
jornalista e da empresa veiculadora de tais notícias. Podemos considerar a vertente
desse trabalho como metodológica, pois irá analisar os pontos positivos e negativos
das veiculações de notícias.
Já o método jurídico abordado é o sistemático. E em relação à abordagem
utilizamos o método dialético, visto que é um trabalho que apresenta no seu decorrer
o conflito dos direitos da personalidade com a liberdade de imprensa, que são
garantidos pela Constituição Federal.
Por isso, este trabalho foi dividido em quatro capítulos:
O primeiro capítulo irá tratar do surgimento da imprensa e do
desenvolvimento do sistema de radiodifusão de sons e imagens. Como surgiu este
sistema, como é feita a sua regulamentação no Brasil e como é previsto
constitucionalmente. Ainda no primeiro momento trataremos do Código de
Telecomunicações Brasileiro, da sua importância para o desenvolvimento da
radiodifusão no Brasil e também as funções da ANATEL.
No segundo capítulo abordaremos a função do jornalista perante a sociedade,
como o jornalista deve agir e como as suas reportagens devem ser embasadas pela
verdade, para que não firam a dignidade de outrem. E para essa atividade
jornalística ser desempenhada de maneira correta deve ter como pilar a ética
jornalística. Neste mesmo capítulo tratamos da função primordial do jornalista que é
a de informar, pois o direito à informação é garantido a toda sociedade. Ainda no
segundo capítulo relatamos o surgimento e o fim da Lei de Imprensa. As formas de
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censura e também a vedação a censura prévia e os casos que cabem uma tutela
civil preventiva, para evitar um possível dano causado pela imprensa.
No terceiro capítulo vamos aprofundarmos o estudo na previsão constitucional
em relação à liberdade de expressão e fazer um estudo maior sobre os direitos da
personalidade. Analisaremos os direitos à imagem, à honra e à privacidade, os
quais, geralmente, entram em conflito com a liberdade de imprensa quando
extrapolada.
Por fim, no quarto e último capítulo, chegamos a nossa problemática, o abuso
de direito e a responsabilidade civil em si, como o jornalista será responsabilizado
por atingir os direitos da personalidade de outrem. Também veremos um tema
importante como o direito de resposta. E, para a conclusão do nosso trabalho
monográfico, faremos uma análise de um caso concreto, no qual o caso escolhido
foi um agravo de instrumento que, no âmbito do Supremo Tribunal Federal em sede
de liberdade de informação o qual assegura ao profissional da informação o seu livre
exercício, embora por vezes sejam utilizadas críticas às pessoas públicas.
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1 O SURGIMENTO DA COMUNICAÇÃO NO BRASIL
1.1 NOÇÕES GERAIS
Com a chegada da família real em 1808 surgiu a imprensa no Brasil, pois
antes disso era proibido qualquer tipo de divulgação, independente da sua espécie,
ou seja, livros, jornais e panfletos inexistiam de forma legal nessa época, pois a
censura era tamanha que as publicações que teciam informações sobre o
iluminismo e afrontavam o Cristianismo, antes de 1808, eram consideradas crime e
chegavam ao país de forma clandestina.
Em 1824, com a Constituição Imperial Outorgada, a imprensa obteve um
grande avanço, visto que a censura prévia foi abolida. Assim, todos poderiam
expressar seus pensamentos, independente de censura, respondendo apenas pelos
abusos praticados (art. 179, IV, CF de 1824). Com isso surgiram vários jornais que
eram passageiros, mas publicavam o que quisessem sem sofrer qualquer tipo de
represália (MOTA; BRAICK, 1997).
Mesmo com todas as conturbações que envolveram a história nacional da
imprensa, há de se reconhecer que essa também exerce uma função social,
devendo-se assim, gozar de garantias constitucionais que permitam seu livre
funcionamento.
A partir do reconhecimento da relevância da função desenvolvida pela
imprensa, passou-se a investir-se mais em tal seguimento, de modo que ao longo da
história, presenciamos inúmeros avanços tecnológicos.
Assim, a tecnologia passou a fazer parte da comunicação humana, sendo
indispensável para as atividades desempenhadas pelas pessoas. Desse modo,
como forma de atender às rigorosas exigências do mercado, a comunicação sempre
está em constante modificação e aprimoramento, isto leva a uma corrida em prol dos
melhores equipamentos, da melhor transmissão, da elaboração dos melhores
programas, etc.
Com a globalização, a imprensa obteve um grande avanço tecnológico,
saindo do papel e adquirindo sonorização e imagens. As notícias chegam às casas
dos telespectadores de forma real e muitas vezes imediata, tudo isso devido ao
sistema de radiodifusão de sons e imagens.
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Dessa forma, nota-se que a impressa representa um importante papel no
cotidiano da sociedade, sendo, na maioria das vezes, a responsável pela divulgação
das notícias entretanto, o reconhecimento da essencialidade da impressa não pode
justificar os abusos cometidos pela mesma.
1.2 O SERVIÇO PÚBLICO DE RADIODIFUSÃO DE SONS E IMAGENS NO BRASIL
A radiodifusão é o meio pelo qual se tem a propagação de sinais de televisão,
rádio e outros meios de comunicação, ou seja, os aparelhos de TV e os rádios
recebem os sinais por meio das ondas radioelétricas e os transformam em vídeo e
áudio. É um meio de comunicação pelo qual a população tem acesso como ouvinte
ou telespectador e é responsável pelo entretenimento, informação e educação da
sociedade.
Esse sistema de radiodifusão teve a sua origem no final do século XIX, onde
Aleksander Stepanovitch Popov, Henry Bradwardine Jackson e Oliver Joseph Lodge
conseguiram o feito de transmitir, mesmo em pequena distância, alguns sinais de
rádio. A partir desta experiência surgiram os meios de comunicação de sons e
imagens em todo o mundo.
As primeiras emissoras de rádio foram criadas após a primeira Guerra
Mundial, pois no período dos combates as transmissões de radiodifusão eram
influenciadas pelas grandes potências mundiais. Em 1919 foi criada a primeira
emissora de rádio nos Estados Unidos, que foi o grande ápice do sistema de
radiodifusão.
Com a radiodifusão espalhada por todo o mundo, surge a ideia de uma mídia
pública, ou seja, transmissão de sinais de forma gratuita aos meios de comunicação.
Na Europa na década de 1920, o serviço de radiodifusão passou a ser
exclusivamente público. Nas Américas, foram criadas também rádios públicas com
fins educativos e outros países também adotaram esse sistema público.
De acordo com a pesquisa de Sivaldo Pereira (2002, p.23):
Em países como o Canadá e Austrália, organizações de radiodifusão públicas foram projetadas justamente para garantir pluralidade de vozes e fomentar a produção de conteúdo nacional. No caso canadense, a emergência de estações radiofônicas vinculadas a grupos religiosos ortodoxos e a invasão da produção da TV comercial estadunidense foram elementos propulsores e um equilíbrio necessário ao sistema de
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comunicação que crescia de modo pouco diversificado. Na experiência australiana, o serviço de radiodifusão pública foi responsável por levar informação e conteúdo para as áreas mais remotas do país, onde a mídia comercial não estava propensa a investir recursos inicialmente.
Já no Brasil o sistema de radiodifusão pública teve o seu início na década de
1930 através do surgimento de duas rádios. Uma foi a Rádio MEC que era ligada ao
Ministério da Educação, que tinha o objetivo de propagar a educação. E a outra foi a
Rádio Nacional do Rio de Janeiro, que em 1940 foi incorporada pelo governo de
Getúlio Vargas (PEREIRA, 2002).
A partir dessas duas rádios o governo brasileiro começou a investir em mídias
públicas, com a criação de TVs educativas, mas, no Brasil, foi difícil implantar esse
meio público de radiodifusão, pois gerava muitos conflitos com as empresas
privadas de comunicação. No resto do mundo se buscava um equilíbrio entre o
sistema privado de transmissão de sons e imagens e o sistema público, porém no
território brasileiro isso não foi possível.
Então, o sistema de rádio e TV pública não conseguiu atuar de forma
integrada, gerando um desconforto, pois não possuíam audiência. Além disso,
tinham uma carência enorme de equipamentos e quase nenhum investimento.
Neste sentido, Sivaldo Pereira (2002, p.32) afirma que:
O resultado foi um subdesenvolvimento da radiodifusão pública-estatal, que foi ao mesmo tempo engessada e fragmentada, apresentando sérios problemas estruturais e financeiros e pouca independência para cumprir sua missão. Por outro lado, gerou-se no Brasil uma anomalia caracterizada pela sobreposição da radiodifusão comercial que desenvolveu um mercado concentrado e robusto de emissoras a ponto de se tornar o modelo hegemônico no país até os dias atuais.
Tendo em vista todas as polêmicas de transmissão, os serviços de
radiodifusão possuem legislação própria, que permite aos receptores que são os
ouvintes e telespectadores terem acesso gratuito às transmissões, bastando apenas
que comprem os aparelhos receptores. E no Brasil a finalidade da radiodifusão é
basicamente cultural, educacional e que seja de interesse da sociedade.
Os serviços de radiodifusão, portanto, tem por fim o estímulo à educação e à
cultura, sobretudo a cultura nacional e regional e, ainda, à produção independente.
As classes artísticas e jornalísticas devem se utilizar desse serviço respeitando,
contudo, os valores éticos do indivíduo e da família, sendo inclusive permitida a
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exploração comercial desses serviços de radiodifusão, observando os princípios
fundamentais da Constituição Federal.
1.3 PREVISÃO CONSTITUCIONAL
Tanto o serviço de radiodifusão como o de telecomunicação possuem
legislação própria, se subordinando – logicamente – à Constituição Federal, a qual
define esses serviços como públicos. Com a promulgação da Carta Magna de 1988
esses serviços passaram a ser tratados de maneira igualitária, porém anos mais
tarde, em 1995, a Emenda Constitucional número oito, permitiu a privatização da
telefonia.
Dessa forma, os serviços de telecomunicação e os de radiodifusão se
tornaram distintos, pois aqueles passaram a ser regidos pela Lei Geral de
Telecomunicações – LGT (Lei n. 9.472/97), que criou o órgão regulador, chamado
de Agência Nacional de Telecomunicações - ANATEL. Com isso, os serviços de
telecomunicação passaram a ser regulados por essa agência, exceto o de
radiodifusão.
O serviço de radiodifusão foi diferenciado do de telecomunicação devido às
privatizações e continuou sendo administrado pelo Poder Executivo, cuja
representação é feita pelo Ministério da Justiça e segue a cargo do Código Brasileiro
de Telecomunicações – CTB (Lei n. 4.117/62).
Nossa Carta Magna, através de seu art. 223, assim dispõe: “Compete ao
Poder Executivo outorgar e renovar concessão, permissão e autorização para o
serviço de radiodifusão sonora e de sons e imagens, observado o princípio da
complementaridade dos sistemas privado, público e estatal.”
Da transcrição do artigo supra, percebe-se que, reconhecendo a importância
dos serviços de radiodifusão, o legislador constituinte de 1988, buscou integrar os
sistemas, de forma que um complementasse o outro, para assim, manter-se o
equilíbrio.
O professor Ericson Meister Scorsim (2005 apud PEREIRA, 2002, p 21) da
USP acredita que,
(...) o constituinte brasileiro foi sábio ao adotar o princípio da complementaridade entre os sistemas de radiodifusão privado, público e estatal. Trata-se de uma fórmula de compromisso entre as diversas
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ideologias presentes no cenário nacional à época da discussão do capítulo constitucional dedicado à Comunicação Social.
Mas existe uma grande polêmica em relação a essa tripartição e
complementaridade, visto que esses três sistemas de radiodifusão nunca foram
especificados em lei, nem houve essa complementaridade. Tanto os poderes
Executivos como o Legislativo são omissos em relação a esses conceitos, o que
ocasiona um vácuo legislativo na regulamentação da radiodifusão pátria.
E essa separação do que é público e o que é estatal também gera opiniões
divergentes, pois é muito difícil a população entender qual a diferença entre esses
serviços. O certo seria uma bipartição entre privado e público, pois quando temos
uma radiodifusão estatal, ela é obrigatoriamente pública. Então não era para existir
essa divisão, e sim, o Estado ser gestor do serviço público de comunicação.
Então, essa separação entre os serviços público, estatal e privado pode ser
resumida apenas em uma lógica, que concederia, assim não existiria três serviços,
mas apenas um que regularia e concederia aos demais.
O Professor Murilo Ramos (2005, p.43), afirma exatamente a teoria dessa
concessão:
(...) não existe sistema privado de radiodifusão; o que existe é, por concessão, o Estado autorizar o privado a explorar comercialmente o serviço público de TV e rádio, utilizando, para isso, o instituto da concessão, permissão e autorização. Esta suposta complementaridade acabou sendo uma armadilha, porque aparenta ter um sistema privado. Quando se trata de outorga de concessão e permissão, não existe. Já na autorização, pode-se admiti-lo, uma vez que ela difere dos demais institutos em relação ao equilíbrio entre direitos e deveres. Advogando a existência do sistema privado, os radiodifusores comerciais querem a máxima segurança jurídica com máxima liberdade de mercado.
Diante dessa problemática do princípio da complementaridade, é notório que
a radiodifusão necessita ser esmiuçada em uma nova regulamentação.
É preciso, ainda mais, regular a comunicação de outra forma e descobrir outro
meio de aplicar o que a Constituição Federal normatizou. Esse princípio da
complementaridade deve ser observado por três elementos; o Estado, a sociedade e
o mercado, e se adequar a eles. Ou seja, adaptar uma nova regulamentação da
comunicação, dos meios tecnológicos, econômicos e sociais para poder cumprir os
direitos fundamentais da Constituição Federal na radiodifusão, partindo de tais
elementos.
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O artigo 221 da Constituição Federal traz os princípios que as emissoras de
rádio e televisão deverão seguir na produção e propagação de sons e imagens;
porém, os mecanismos para que tais princípios sejam cumpridos é o que falta. É
necessário a iniciativa para a criação dessa regulamentação, sem que haja medo da
volta da censura ou da ditadura.
Portanto, como os serviços de radiodifusão de sons e imagens são
concessões públicas, e devem atender ao interesse público, visando à educação,
cultura e informação, devem respeitar, contudo, a pessoa humana eles necessitam
de uma regulamentação a sua altura.
1.4 CÓDIGO BRASILEIRO DE TELECOMUNICAÇÃO
Em 1962 foi sancionado o Código Brasileiro de Telecomunicações, este foi de
tamanha importância para o desenvolvimento da radiodifusão e telefonia no Brasil.
Após quatro décadas os artigos relacionados à telefonia foram revogados, restando
apenas os referentes à radiodifusão.
Este Código estabeleceu que os serviços de telecomunicações, no Brasil,
sejam em águas territoriais ou no espaço aéreo, obedeceriam aos preceitos da lei e
aos regulamentos baixados para a sua execução. A sanção do Código Brasileiro de
Telecomunicação foi relevante para que houvesse um atendimento maior às
necessidades do povo e da economia brasileira, pois foi visto pela primeira vez uma
evolução progressiva de uma rede de telecomunicação e da propagação da
radiodifusão de maneira eficiente.
O processo de elaboração do Código Brasileiro de Telecomunicações gerou
muita discussão no cenário político do país, visto que o sistema de radiodifusão era
influenciado pelos grandes nomes da política no Brasil, e de certa forma ajudou a
regulamentar a comunicação.
A comunicação sempre despertou o interesse político e na época da
promulgação do Código não era diferente, pois deter em mãos uma emissora de
rádio ou de televisão para os políticos era ótimo, já que seria um meio de fazer
campanha eleitoral. Além do mais, a radiodifusão era um serviço que gerava
bastante lucro e isso ocasionou um interesse maciço.
O Código Brasileiro de Telecomunicação teve a missão de regular os avanços
tecnológicos, principalmente a televisão, pois a telecomunicação era antes regulada
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por decretos, mas de forma dispersa. Então, foi necessária a criação de uma lei para
atender um meio que estava em um grande crescimento.
Segundo Anita Smis (2006, p.75), da UNEP de São Paulo,
O Código Brasileiro de Telecomunicações (lei 4.117/62), sua regulamentação (decreto 52.026/63 e decreto 52.795/63) e as alterações introduzidas durante o regime militar, sobretudo as contidas no decreto-lei 236/67, são ainda atualmente os mais importantes instrumentos que regem a radiodifusão e quando pela primeira vez diretriz foram traçadas para o setor, com responsabilidades e obrigações distribuídas entre as partes, embora na segunda metade dos anos 90, a reforma realizada durante o governo FHC tenha introduzido novos instrumentos à legislação, particularmente no que se refere à participação estrangeira no setor.
O Código Brasileiro de Telecomunicações traz que as concessões e
permissões para o serviço de radiodifusão é de dez anos para o rádio e de quinze
anos para a televisão, estas podem ser renovadas por igual período, porém
necessita da avaliação do Ministério das Comunicações ou de uma decisão
presidencial. Ou seja, no caso de concessão, é necessária a autorização do
presidente, mas se for o caso de permissão pode ser apenas do Ministério.
Conclui-se que o Código Brasileiro de Telecomunicações é ainda hoje o que
rege a radiodifusão no Brasil, através do presidente da República e do Ministério das
Comunicações que controlam as concessões e permissões do serviço, e ainda na
aplicação de penas e multas.
1.5 ATUAÇÃO DA ANATEL
Como já mencionado, com a Emenda Constitucional n. 08/95, foram
revogados os artigos referentes à telefonia do Código Brasileiro de
Telecomunicação, o que ocasionou o surgimento da Lei n. 9.472/97, mais conhecida
como Lei Geral de Telecomunicações. Esta criou a primeira agência reguladora a
ser instalada no país, a Agência Nacional de Telecomunicação.
A criação da ANATEL estimulou a concorrência, visto que a partir da Emenda
número 8, os serviços deixaram de ser exclusivamente públicos e passaram a ser
privatizados, isto gerou uma grande competição entre os empresários, já que a
telecomunicação atualmente traduz-se como um excelente investimento. Deixando o
Governo de fornecer o serviço para apenas regulamentá-lo.
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A ANATEL fundamenta-se em três pilares, essenciais para o desenvolvimento
da telecomunicação, que são: fiscalizar, regulamentar e outorgar os serviços, para
eles serem dispostos de maneira adequada em todo o país. Contudo, foge da
competência da ANATEL, a outorga de serviços de radiodifusão de sons e imagens,
visto que essa competência, como outrora informado, pertence ao Ministério das
Comunicações. Ela, entretanto, é responsável em relação à radiodifusão em
elaborar, manter e deixar sempre atualizados os planos de canais a serem usados
pelos radiodifusores.
Também é responsável por serviços ligados à atividade das receptoras de
televisão. E fazem parte das funções da ANATEL, entre outras ligadas
exclusivamente à telefonia, as seguintes atribuições: a expedição de regulamentos
técnicos, os quais devem ser seguidos pelos radiodifusores; a administração do
plano básico de radiodifusão, ou seja, analisar as características técnicas das
prestadoras de serviço, para que o serviço de radiodifusão seja transmitido com
qualidade e sem interferências; e a expedição da liberação para a utilização das
radiofrequências para os prestadores do serviço de radiodifusão.
No Brasil, a partir de 1997, a administração e coordenação da radiodifusão
são realizadas pela Agência Nacional de Telecomunicações - ANATEL, devido à
criação da Lei Geral de Telecomunicações (LGT), ou seja, ela tem a função de criar,
coordenar e manter a distribuição de canais, as radiofrequência, através de planos
básicos.
Portanto, a função da ANATEL em relação à radiodifusão de sons e imagens
é de elaborar, manter e atualizar os planos de canais a serem usados pelos
radiodifusores, bem como dos serviços ancilares e correlatos a esta atividade. Além
também de fiscalizar e aplicar sanções relativas às infrações a regulamentação
setorial e reprimir infrações dos direitos dos usuários.
Compete também à ANATEL a outorga, regulamentação e fiscalização sobre
os serviços de telecomunicações, porém não cabe a ela a outorga dos serviços de
radiodifusão. A competência para a outorga de tal serviço está no Decreto nº 7.670,
16 de janeiro de 2012:
Art. 1o O Regulamento dos Serviços de Radiodifusão, aprovado pelo
Decreto no 52.795, de 31 de outubro de 1963, passa a vigorar com as
seguintes alterações: Art. 6
o ..............................................................................................................
.....................
20
§ 1º Compete ao Presidente da República outorgar, por meio de concessão, a exploração dos serviços de radiodifusão de sons e imagens. § 2º Compete ao Ministro de Estado das Comunicações outorgar, por meio de concessão, permissão ou autorização, a exploração dos serviços de radiodifusão sonora.
Portanto, é o Presidente da República que outorga a concessão e a
exploração dos serviços de radiodifusão de sons e imagens.
21
2 A FUNÇÃO DO JORNALISTA
2.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS
O jornalista exerce uma função social de grande relevância, visto que é o
grande responsável pela divulgação das notícias. É responsável também pela
veracidade das informações, pois caso não seja verdadeira a notícia, ele pode sofrer
alguma penalidade.
O jornalista que trabalha na televisão é um referencial para a população. As
pessoas que o acompanham seguem, em regra, as suas ideias e ele possui uma
persuasão impressionante, pois influencia a grande maioria dos telespectadores.
Diante disto, a comunicação deveria estar sempre buscando a verdade dos fatos e
colocando no ar os casos a que a população não tem acesso (GODOY, 2008).
Porém, o jornalista nem sempre busca a veracidade das informações, e gera
em certos casos um desconforto com o Judiciário brasileiro, pois com as suas
notícias causa dano a outrem. No momento que o dano é causado, ele vai ter que
de alguma forma repará-lo, como será demonstrado no momento oportuno.
De acordo com Rogério Christofoletti (2008, p.18):
O jornalismo é uma atividade social, que revela dados da realidade e interliga fatos desconexos para uma maior compreensão humana. É uma prática que orienta, instrui e denuncia desmandos e desvios. É uma profissão que lida com pessoas, interesses, honras e reputações. É um campo que dissemina afirmações, reforça preconceitos, forma opiniões e organiza (ou tenta organizar) o cotidiano das pessoas. Por isso, a responsabilidade cresce no exercício dessa profissão, já que há muita coisa em jogo.
Esta é uma profissão que é muito ampla, pois pode falar de violência, esporte,
moda e política em menos de cinco minutos. É muito atraente, mas também tem seu
perigo, pois o jornalista necessita de muita responsabilidade, visto que as
informações são lançadas por vários meios de comunicação ao mesmo tempo e
deve ser feito um filtro de informações.
O jornalista é munido de diversas fontes, estas podem ser verídicas ou não e
ele dispõe de pouco tempo para conferir a veracidade das informações e colocá-las
no ar, o que pode ocasionar um equívoco, e serem transmitidas informações
errôneas. Vale ressaltar, que quando uma informação falsa é anunciada na
22
televisão, esta se propaga de uma maneira mais rápida, causando um dano quase
sempre irreparável para o lesado.
Por isso, a função do jornalista é colher as informações das suas diversas
fontes, pesquisar se estas são verdadeiras, transformá-las em uma linguagem
acessível à população e ao veículo de comunicação, o qual tem acesso, divulgá-las
para a população.
Contudo, quando o jornalista foge da sua função e, por exemplo, acaba
denegrindo a imagem de outra pessoa caracterizando violação de direito alheio,
precisa responder pelo seu erro, daí, surge a importância do estudo da
responsabilidade do jornalista. Então, o profissional de imprensa tem que estar
cercado pela ética, dessa forma ele vai apurar as informações sem negligência.
2.2 A ÉTICA
A ética deriva do grego ethos, que significa caráter, modo de ser de uma
pessoa, ética é uma junção de valores morais e princípios que dirige as maneiras
das pessoas dentro da sociedade. A ética é utilizada para garantir um equilíbrio e
uma boa convivência social, permitindo que as pessoas se comportem respeitando
certos valores, para que ninguém saia prejudicado. Contudo, a ética não pode ser
confundida com as leis, pois ela está ligada ao sentimento de uma sociedade justa e
a lei é a forma de se normatizar as condutas. E uma atitude ética é preenchida com
valores morais, mas não podemos confundir moral e ética (BITTAR, 2008).
Na moral, o seu conteúdo é revestido de ética, visto que se trata de um
conjunto de costumes e exigências de uma sociedade. Já a ética se constrói a partir
de uma especulação da moral; dessa forma, ela parte da moral para poder elaborar
e construir as suas críticas e possíveis atitudes (BITTAR, 2008).
Segundo Rogério Christofoletti (2008, p.16):
A moral é um conjunto de valores que orientam a conduta, as ações e os julgamentos humanos. Valores como bondade, justiça, igualdade, respeito à vida, entre tantos outros. É com base em valores morais que fazemos escolhas sobre nossas condutas e atuamos diante de situações cotidianas.
Portanto, a moral está ligada aos costumes das pessoas, e a ética tenta
capturar essa moral para as atitudes da sociedade, em prol de uma justiça social.
23
Sendo que, nem sempre uma atitude que é ética para uma determinada sociedade
vai ser para outra, justamente devido aos costumes. E então para cada grupo de
pessoas vai existir uma ética específica.
Vale salientar que as leis muitas vezes se baseiam em princípios éticos,
porém jamais pode ser confundida a lei e a ética, até porque a lei é normatizada pelo
Estado e é obrigatório o seu cumprimento, caso contrário o indivíduo pode sofre
alguma penalidade. Já a ética é um ritual de boas maneiras que o cidadão é
acostumado a seguir em favor da boa convivência, porém caso não siga, não será
punido com penalidades. Tem casos em que a lei pode ir de encontro com a ética e
a moral de uma sociedade, mas todos devem segui-la, devido ao ser caráter de
obrigatoriedade.
Diante disto, Eduardo Bittar (2008, p. 35), discorre que:
O direito pode caminhar em consonância com os ditames morais de uma sociedade, assim como andar em dissonância com eles. Na primeira hipótese, está-se diante de um direito moral, e, na segunda, está-se diante de um direito imoral.
(...) O curioso é dizer que o direito imoral, apesar de contrariar sentidos latentes axiologicamente na sociedade, ainda assim é um direito exigível, que obriga, que deve ser cumprido, que submete a sanções pelo não cumprimento de seus mandamentos, ou seja, que pode ser realizado.
Observamos, então, que a lei segue princípios éticos, porém quando não
seguir e afrontar a moral, a ética deve ser cumprida, devido ser obrigatória. Portanto,
a ética pode deixar de ser cumprida, mesmo afetando a boa conduta, mas a lei
nunca deve ser descumprida, pois é obrigatória.
2.2.1 A ética profissional
O profissional é aquele que para exercer uma atividade necessita de algumas
habilidades especiais, objetivando uma remuneração. “É aquele que pratica com
habitualidade uma determinada função, na qual extrai os meios para sua
subsistência, qualificação e se beneficiar de atributos moral, técnico e intelectual, e
esta prática reiterada também é lucrativa” (BITTAR, 2008, p.28).
Já a ética profissional é um compromisso social, no qual os profissionais
devem exercer suas atividades visando um benefício social. Ou seja, não adianta
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executar determinada atividade técnica com tamanha maestria, se ela não for feita
dentro da moral, com algo a acrescentar na vida das pessoas.
Com a globalização, o lucro passou a ser o grande objetivo do mercado
capitalista em geral, mas as empresas já estão mudando o pensamento e a ética no
ambiente de trabalho já vem tomando um lugar fundamental.
Por isso, é muito importante a elaboração de códigos de ética profissionais,
visto que as boas condutas dentro do mercado de trabalho estão ganhando espaço
e se tornando critério para a contratação ou não de um profissional, não bastando
este ter apenas conhecimentos técnicos.
Dessa forma, com o código de ética, os profissionais devem seguir os
princípios éticos e morais, não apenas por conta própria, pois com a regulamentação
deixou de ser espontâneo e passou a ser um conjunto de regras legais. “Até porque,
seria difícil toda profissão ficar livre para de acordo com suas condutas e regras
pessoais agirem, o que acarretaria um prejuízo da ética” (BITTAR, 2008, p.29).
Com isso, a liberdade do profissional tem um limite que é o bem de todos que
serão atingidos com o resultado daquela profissão, portanto, não convém que o
trabalho de alguém, prejudique a integridade moral de outrem.
Para a elaboração de código de éticas profissionais é necessária a junção de
dois estudos. Um é a ciência que é voltada para o aprendizado, o outro é a
consciência, esta está ligada à mente de cada um e ao dever social (HOLANDA,
2010).
Dessa forma, José Renato Nalini (1998, p.174):
Ciência, a significar o conhecimento técnico adequado, exigível a todo profissional. O primeiro dever ético do profissional é dominar as regras para um desempenho eficiente na atividade que exerce. Para isso, precisará ter sido um aprendiz aplicado, seja no processo educacional formal, seja mediante inserção direta no mercado de trabalho, onde a experiência é forma de aprendizado.
(...) Mas além da ciência, ele deverá atuar com consciência. Existe uma função social a ser desenvolvida em sua profissão. E ele não pode estar dela descomprometido, mas reclama-se empenho em sua concretização.
Portanto, o profissional deve aplicar a ciência e a consciência na sua
atividade habitual, usar os seus conhecimentos científicos adquiridos na vida
acadêmica em prol da função social. A profissão deve ter como objetivo o dever
social, ou seja, aplicar toda a teoria para o bem-estar da sociedade. E a ética
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profissional é fundamental para a execução do trabalho de forma consciente e para
que este não extrapole os seus limites morais.
2.2.2 A ética jornalística
Na atividade jornalística, a ética é mais um rótulo do que acessório. No dia-a-
dia na cobertura de fatos que interessam à população, a atitude ética se entrelaça
com a própria qualidade técnica das notícias. Repórteres, redatores e editores
necessitam repassar as informações, mas não podem desviar de seus valores e
compromissos sociais. Eles podem tentar camuflar as suas opiniões, contudo, se
esquecerem de suas funções e seu dever com o público, podem colocar tudo a
perder (CHRISTOFOLETTI, 2008).
De acordo com Rogério Christofoletti (2008, p.11):
Nas redações, há quem diga que o jornalismo se define por uma ética. Se é exagero ou não, o que temos é que o jornalismo é uma atividade humana, que se planta e se espalha na relação entre os humanos. A ética é algo que só existe nesse entremeio, na distância entre as pessoas.
(...) Para um jornalista, abandonar o compromisso com a verdade não é um
deslize, é uma falta de ética e grave.
Podemos, então, afirmar que o bom jornalista é aquele que transmite as
notícias com veracidade, que se baseia em fatos reais, sem se influenciar com a
audiência, ou seja, que o seu objetivo seja a verdade e não atrair IBOPE para a
emissora a que está veiculado (HOLANDA, 2008).
Os meios de comunicação são compostos de entretenimento, informação e
diversão. Os componentes éticos do apresentador de um programa de auditório são
diferentes dos atributos do jornalista que apresenta um telejornal. Em decorrência
disto é que a conduta do jornalista assume um papel mais importante no imaginário
social, pois a sua atitude pode gerar proporções mais preocupantes, já que as suas
notícias carregam um peso maior do que os programas das tardes de domingo. É
importante salientar que os apresentadores de auditório também precisam ter
responsabilidade, porém com o jornalismo não se pode brincar (CHRISTOFOLETTI,
2008).
A teórica ética jornalística é aprendida desde a universidade, com a leitura de
grandes manuais e a produção de diversos artigos. Porém, não podemos nos deter
26
apenas à vida acadêmica para compreender as condutas do jornalista. Até porque
os saberes sobre a ética se constroem na prática cotidiana, na busca de soluções na
criação de novas ideias. Com isso, o mercado do jornalismo não está imune à
discussão da ética (CHRISTOFOLETTI, 2008).
As empresas de comunicação estão cada vez mais competitivas,
necessitando oferecer o melhor serviço e produto para o mercado. E para o mercado
jornalístico, a ética é significado de qualidade, ou seja, jornais bem escritos,
telejornais bem editados com uma reportagem comovente, notícias rápidas; tudo
isso chega à população como evidências de que as empresas são sérias e se
preocupam com a qualidade do seu produto (CHRISTOFOLETTI, 2008). Contudo,
para chegar a essa informação de boa qualidade tem que se levar em conta os
valores morais.
Um dos pontos importantes para analisar a ética em determinado meio de
comunicação é saber se ele é independente, pois para exercer a verdade com
imparcialidade a imprensa não pode ser dependente, visto que se manobrada por
interesses obscuros, ela não deve ser confiável (BAHIA, 1990).
E um meio confiável pode adquirir investimentos, sem precisar apelar para os
seus únicos patrocinadores. É isto que destaca Rogério Christofoletti (2008, p.29):
Se os meios são confiáveis, dispõem de audiência ou grande circulação; se contam com públicos fiéis ou constantes, esses meios de comunicação são atraentes vitrines para anunciantes; se têm asseguradas as condições para se manter, esses mesmos veículos seguem suas trajetórias. É um círculo virtuoso, uma roda vida constante.
A comunicação de massa é um fenômeno que só tende a crescer, porém a
observação sobre as condutas éticas no jornalismo deve acompanhar esse
crescimento, pois através da mass media aumenta a capacidade de espalhar
informações e ideais, influenciando assim diversas culturas. Por isso, a aplicação da
ética jornalística é de suma importância, pois sem ela os meios de comunicação
passam a difundir questões que em nada acrescentam ao crescimento intelectual da
população.
É notório que, quando a mídia deixa de transmitir apenas a notícia, é sinal
que pressões externas estão influenciando a sua atitude, e uma das maiores
pressões é em telejornais sensacionalistas que por determinado valor econômico,
27
passam a explorar a miséria humana, utilizam a imagem do menor infrator, ou seja,
expõem publicamente as pessoas ao vexame.
Por isso que tanto os profissionais de impressa como a empresa jornalística
devem ficar atentos para a confiança do público e para que esta não se rompa, pois
assim colocariam em risco os negócios. Não é uma tarefa fácil, até porque o
jornalismo é uma atividade que lidar com diversos conflitos e interesses da
sociedade, mas a ética deve ser mantida para que a confiança permaneça
(CHRISTOFOLETTI, 2008).
Contudo, para as grandes emissoras de televisão, investir apenas em
informativos não traz tanto lucro como em reportagens apelativas. Em prol disto, a
imprensa está na busca de melhores resultados financeiros, e para a obtenção
destes resultados, estão apelando para a vida das pessoas, desrespeitando, desta
forma, direitos tutelados na Constituição Federal (GUERRA, 2004).
A partir desse contexto se faz necessária a intervenção do direito na
regulamentação da liberdade de imprensa, devendo-se através de códigos éticos e
disciplinares unificar uma legislação para que aqueles que venham a ferir valores
assegurados à pessoa humana, sejam punidos na forma da lei. Vale salientar que
não se deve voltar a censura, mas apenas deve haver uma regulamentação ética na
comunicação, em benefício das causas sociais, ou seja, a execução do código de
ética dos jornalistas.
De acordo com Eduardo Bittar (2008, p.121):
O que há de se garantir é que a publicidade, o marketing, a comunicação, a propaganda, o jornalismo, a arte e a expressão se exerçam com base num código ético, e não por códigos de auto-regulamentação setorial, que são, por natureza, servis às necessidades dos interesses regionais que movimentam essas áreas.
E o jornalismo é por um código de ética, até porque diferentemente da
publicidade que promove marcas e serviços, o jornalismo nem sempre é amistoso ou
positivo, pois ele além de informar, investiga, denuncia e fiscaliza o que está errado.
Ao fazer isto, ele contraria interesses e gera alguns atritos ao seu redor
(CHRISTOFOLETTI, 2008).
Na Constituição Federal de 1988, no capítulo 5, que traz “Da Comunicação
Social”, encontramos um rol de normas que deveriam ser regulamentadas por
nossos legisladores, como a proibição de monopólios dos meios de comunicação, os
28
princípios para a produção e a programação no rádio e na televisão, os valores
éticos e sociais da pessoa e da família, entre outros (HOLANDA, 2010).
Contudo, o que observamos é o descaso dos nossos constituintes e uma falta
de respeito com essas normas. Até porque as oligarquias possuem as grandes
emissoras e ao invés de beneficiar toda a sociedade, agem em causa própria,
chegam a publicar notícias inverídicas, mas que lhe tragam benefícios. Essa é a
realidade do país, onde os interesses de um pequeno grupo prevalecem.
O Estado, ao invés de regulamentar as matérias ligadas à comunicação
baseada na ética jornalística, fica subserviente ao grupo que detém o poder, e a
informação fica completamente prejudicada devido a esse monopólio, pois as
emissoras só noticiam o que lhes é conveniente ou conveniente ao Estado.
Podemos concluir que os jornalistas que firmaram um dever com a ética não
podem deixar o poder da informação monopolizado, pois esse monopólio não tem
um compromisso social, ele contribui muitas vezes para o descontrole social. Dessa
forma, a execução do código de ética deve ser realizada tanto para os jornalistas
como para as empresas de comunicação.
2.3 A INFORMAÇÃO
A informação no jornalismo é geralmente sobre alguma coisa que aconteceu
ou sobre alguém. E é com essa informação que as notícias serão transmitidas para
os ouvintes e telespectadores. A informação jornalística tem caráter objetivo, pois
não pode influenciar subjetivamente as reportagens, dessa forma ela tem que
atender a alguns pontos quando for elaborada: “porque”, “onde”, “quando” e “como”.
Para definir informação é importante distinguir de comunicação, até porque os
dois termos são quase sinônimos, porém o conceito de informação está
compreendido no de comunicação, podemos utilizar os termos ‘comunicação’ e
‘informação’ para definir a comunicação humana simbólica, contudo, comunicação é
o termo melhor empregado para esse fenômeno, sendo aconselhável reservar o
termo ‘informação’ para designar conteúdo possível do elemento do processo
comunicacional. Ou seja, a informação está dentro da mensagem comunicacional,
conquanto sem informação não haverá conteúdo nem, consequentemente,
comunicação (BITELLI, 2003).
29
Dessa forma, Marcos Alberto Sant’Anna Bitelli (2003, p.26) afirma que:
A ampliação da aceitação do emprego do termo “informação” permitirá que não seja limitado, por exemplo, ao enfoque do conceito de informação jornalística, relacionado apenas à liberdade de imprensa, ou, ainda, ao direito de informação no plano institucional (direito de acesso às fontes em geral – art. 5º, XIV), informações de interesse geral e particular (art. 5º, XXXIII), direito de conhecimento das informações personalíssimas e sua retificação (art. 5º, LXXII, letras a e b), mas sim às várias conotações que este léxico permite quando entendidas como um conteúdo qualquer do fenômeno constitucional.
Assim, a informação que chega ao receptor, seja ouvinte, telespectador, ou
numa simples conversa pessoal, ela pode ter várias características ligadas
diretamente à liberdade de expressão intelectual individual ou coletiva, artística,
científica e de comunicação, como enuncia na Constituição Federal. A informação
ela pode se propagar de diversas formas e por diferentes meios de comunicação, e
o acesso a essa informação é garantido pela norma constitucional (BITELLI, 2003).
O direito à informação é o direito que toda a sociedade tem de obter
conhecimentos em prol do engrandecimento do saber, é o direito de compreender as
faculdades de buscar ou procurar e receber informações, ou seja, a pessoa tem o
direito de estar informada tanto por ter pesquisado, como por ter recebido a
informação (BITELLI, 2003).
Portanto, a informação jornalística é direito de todos e deve ser transmitida
sem prejuízo dos princípios constitucionais e em benefício da sociedade, que só tem
a ganhar com uma informação verdadeira. Assim, podemos observar que a
informação contribui para o conhecimento de todos, por isso é tão importante a
veracidade e clareza dos fatos narrados.
2.4 DA CENSURA
Quando falamos de censura no Brasil lembramos exatamente do período
ditatorial, onde a repressão à liberdade de impressão e expressão predominava. Foi
uma época em que a regulamentação da comunicação era muito massacrada pelo
governo, os jornais não tinham autonomia para se expressar, o autoritarismo
dominava. E a Lei de Imprensa foi uma das grandes responsáveis por essa censura.
Contudo, com a promulgação da nossa Constituição Federal de 1988 e com a
revogação da Lei de Imprensa, em 2009, pode-se dizer que a censura foi extinta e
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os jornalistas passaram a exercer o seu trabalho de forma mais livre, sem a
repressão do governo e com liberdade para expressar a sua opinião.
Nos Tribunais o entendimento já é unânime de que é proibida a censura
prévia, principalmente em relação à administração pública, que não pode ter a sua
integridade questionada (HOLANDA, 2010). Vejamos a seguinte decisão:
EMENTA: Constitucional. Censura artística. Inexistência no novo Texto Constitucional. Letra de música contendo velada crítica à Administração Federal. I- Abolida do novo Texto Constitucional a censura prévia ou licença para a expressão de atividade intelectual, artística, científica ou de comunicação, e inexistindo na letra da canção ofensa à dignidade pessoal de autoridade pública, confirma-se a concessão da ordem, presente ainda o interesse de radiodifundir a música. II- Remessa improvida (TRF, 5º Região, Inq. 500093/PE, rel. Juiz Hugo Machado, Tribunal Pleno, decisão: 5-10-1994, DJ 2, DE 3-2-1995, p.3721).
Destaca-se, contudo, que a censura foi abolida, porém não dá o direito a uma
liberdade de impressa absoluta, até porque a informação jornalística tem que estar
amparada de outras garantias constitucionais como o direito à imagem, à vida
privada, à honra e à intimidade. Portanto, não se pode achar que com o fim da
censura foi aberta liberdade para o jornalista fazer uma publicação que denigra a
imagem de alguém, pois caso isso ocorra ele será punido, não mais pela Lei de
Imprensa, mas por outra legislação.
2.4.1 Censura prévia e Tutela civil preventiva
A Constituição Federal, em seu art. 220, § 2º, aduz que: “É vedada toda e
qualquer censura de natureza política, ideológica e artística”.
O dispositivo mencionado nos faz refletir sobre os atuais meios de
comunicação, pois com o avanço da tecnologia e grande investimento de capital nas
empresas midiáticas, podemos observar que elas não são imparciais e não
transmitem as notícias de forma neutra; pelo contrário, buscam mecanismos para
gerar mais audiência e ganhar mais investimentos. Devido a essa concorrência no
mercado midiático é que se faz necessária a regulamentação da atividade
jornalística, para evitar possíveis danos à honra, imagem e à vida privada de uma
pessoa.
31
Em prol de evitar um possível dano ao direito da personalidade em face da
liberdade de imprensa, é preciso recorrer ao Judiciário, e buscar uma tutela
preventiva de direito lesionado, para evitar que publicações que ataquem a imagem
de alguém sejam veiculadas. No caso, não será aplicada a censura prévia, pois esta
já se encontra abolida, mas sim tutela civil preventiva que garanta os direitos da
personalidade, para que estes não sejam lesados (HOLANDA, 2010).
De acordo com Cláudio Godoy (2008, p. 100):
Isto não deve ser confundido com censura. Não se trata de, previamente, e de forma injustificada, obstar o exercício da liberdade de imprensa. Cuida-se, antes, de garantir a própria função institucional que lhe é inerente. Não faria sentido algum, por exemplo, permitir publicação ou programa que, frise-se, de antemão, já se saiba falso ou sensacionalista, em nome da prevenção de um direito que não é absoluto e que, se indevidamente exercido, causará danos irreparáveis.
Diante dessa situação, analisamos que a liberdade de imprensa não é
absoluta e deve ser exercida em consonância com as demais garantias
constitucionais. Ou seja, a liberdade de expressão do pensamento, a liberdade de
opinião ou a liberdade de imprensa não são direitos absolutos, que não encontrem
limites, por exemplo, ditados por sua ponderação diante de outros direitos de igual
dignidade (GODOY, 2008).
Portanto, o que se pretende com a tutela civil preventiva é que os limites da
liberdade de imprensa não sejam extrapolados, e que não atinjam os direitos da
personalidade. Vale salientar que não é uma forma de inibir a atuação do jornalista,
mas apenas prevenir algumas situações que possam causar algum dano, pois
mesmo sendo possível uma futura reparação, não evita o dano.
Segundo Cláudio Godoy (2008, p.99):
A tutela preventiva basicamente se efetiva por meio de recurso às ações cautelares, em que avulta a busca e apreensão de todo o material que, de alguma forma, possa representar indevida vulneração a direitos da personalidade.
A tutela preventiva vem para evitar o futuro dano, que quando efetuado, pode
até ser reparado pecuniariamente, porém o desgaste emocional é impossível de
reparação. Por isso, as condenações pecuniárias são pouco eficazes, a melhor
solução é a prevenção com medidas que impeçam as publicações de jornais, livros
etc. que tragam algo que ataque a imagem de alguém.
32
Podemos concluir que a censura prévia está banida do nosso ordenamento
jurídico, e que o outro meio para evitar que o direito à imagem não seja violado é a
tutela civil preventiva. Portanto, essa tutela civil preventiva, que se faz através das
ações cautelares, de obrigação de fazer e não fazer tem caráter de proteção aos
direitos personalíssimos constitucionalmente garantidos; logo não pode ser
confundida com a censura prévia, até porque esta restringe sem motivos.
33
3 DIREITOS DA PERSONALIDADE E A LIBERDADE DE IMPRENSA
3.1 A LIBERDADE DE EXPRESSÃO SOB A OPTICA DA CONSTITUIÇÃO DE 1988
Neste capítulo, iremos tratar dos conflitos entre a Liberdade de Imprensa e os
Direitos da Personalidade. É bom ressaltar, desde já, que o conflito entre direitos
fundamentais é apenas aparente, até porque não existe antinomia entre esses
princípios, ou seja, um não é mais importante que o outro. E a melhor forma para
resolver os possíveis conflitos, como veremos, é através da proporcionalidade e
razoabilidade.
Na Constituição Federal foram concedidas várias inovações relacionadas à
liberdade de expressão, estabelecendo, assim, uma maior abrangência dos direitos
e das garantias individuais. A liberdade de expressão está garantida no capítulo
referente aos Direitos e Deveres Individuais e Coletivos, o artigo 5º, inciso IV, traz
que: “é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato”.
Por conseguinte, o dispositivo supracitado aduz no seu inciso IX que: “é livre
a expressão de atividade intelectual, artística, científica e de comunicação,
independente de censura ou licença”. Portanto, verifica-se que todos podem exercer
a sua liberdade de expressão, porém é inadmissível, em regra, o anonimato. E fica
claro também que é vedada a censura prévia na área da comunicação como já
abordado outrora.
É importante observar que a liberdade de pensamento deve estar em
consonância com o ordenamento jurídico, para não extrapolar outros princípios e
garantias presentes na própria Constituição Federal.
Como afirma o doutrinador Alexandre de Moraes (2006, p.27):
Os direitos humanos fundamentais, dentre eles os direitos e garantias individuais e coletivos consagrados no art. 5º da CF, não podem ser utilizados como um verdadeiro escudo protetivo da prática de atividades ilícitas, tampouco como argumento para afastamento ou diminuição da responsabilidade civil ou penal por atos criminosos, sob pena de total consagração ao desrespeito a um verdadeiro Estado de Direito.
Nessa toada, resta-se claro que a liberdade de imprensa consagrada em
nossa Carta Magna, deve ser analisada junto com uma ponderação necessária de
outros valores, tais como a publicidade da fonte, vez que o anonimato é vedado (art.
34
5ª, IV, da CF), bem como, a garantia ao direito de resposta e a indenização por
danos causados à imagem (art. 5º, V e X).
Portanto, o legislador constitucional garantiu a liberdade de pensamento, de
expressão, de criação e de informação e estabeleceu que a atividade da
comunicação social não pode sofrer qualquer tipo de restrição ou censura, desde
que obedeça aos direitos e garantias constitucionais, até porque, como já salientado,
a liberdade de expressão não é um direito constitucional absoluto, pois se submete à
observância de outros direitos.
3.2 OS DIREITOS DA PERSONALIDADE
Para se chegar a um conceito de direitos da personalidade é importante não
confundir com a personalidade intrínseca de cada pessoa. Até porque, em diversos
termos, é preciso saber que a personalidade não é, em si, um direito. Existe uma
diferença entre personalidade e direito da personalidade (GODOY, 2008).
Maria Helena Diniz faz bem essa definição de personalidade:
(...) a personalidade consiste no conjunto de caracteres da própria pessoa. A personalidade não é um direito, de modo que seria errôneo afirmar que o ser humano tem direito à personalidade. A personalidade é que apoia os direitos e deveres que dela irradiam, é objeto de direito, é o primeiro bem da pessoa, que lhe pertence como primeira utilidade, para que ela possa ser o que é, para sobreviver e se adaptar às condições do ambiente em que se encontra, servindo-lhe de critério para aferir, adquirir e ordenar outros bens (DINIZ, 1983, p.81).
Portanto, esses direitos que surgem e se apoiam na personalidade, como a
honra, a liberdade, a vida, a imagem, a privacidade da pessoa, entre outros, são os
que dão nome aos direitos da personalidade, visto que a dignidade da pessoa
humana deve ser protegida contra atentados de outrem (GODOY, 2008).
O direito à personalidade, para alguns doutrinadores, é intrínseco à pessoa
humana, pois todos nascem com ela, ou seja, é um direito subjetivo, próprio do ser
humano, inclusive independe da existência de ordenamento jurídico. “São chamados
de direitos essenciais, direitos fundamentais ou individuais da pessoa, direitos
personalíssimos e direitos sobre a própria pessoa” (GODOY, 2008, p.36).
Para o pensamento jusnaturalista de Carlos Alberto Bittar (1989 apud
GODOY, 2008, p.37), os direitos da personalidade não existem por força de lei; pelo
contrário, são direitos correspondentes às faculdades exercidas pela pessoa
35
humana, relacionados a atributos inerentes ao homem, podendo ser considerados
direitos inatos, ou seja, direito natural:
(...) cabe ao Estado apenas reconhecê-los e sancioná-los em um ou outro plano do direito positivo – a nível constitucional ou a nível de legislação ordinária – dotando-os de proteção própria, conforme o tipo de relacionamento a que se volte, a saber: contra o arbítrio do poder público ou às incursões de particulares.
Já a corrente positivista de Orlando Gomes (1966 apud GODOY, 2008, p. 18),
defende que os direitos da personalidade são:
(...) essenciais ao desenvolvimento da pessoa humana, que a doutrina moderna preconiza e disciplina, no corpo do Código Civil, como direitos absolutos. Destinam-se a resguardar a eminente dignidade da pessoa humana, preservando-a dos atentados que pode sofrer por parte de outros indivíduos.
Para os seguidores da doutrina positivista dos direitos da personalidade, não
existiria lógica se a pessoa fosse detentora de personalidade, e esta não pudesse
ser tutelada, pois consideram o direito em questão como uma concessão estatal e
afirmam que, em não sendo normatizado tal direito, “a personalidade restaria uma
susceptibilidade completamente irrealizada, privada de todo o valor concreto”
(GODOY, 2008, p.40).
Referente a esse assunto, Claudio Godoy destaca que existe decisão no
Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, ao decidir que:
(...) é possível reconhecer, sem apelo ao Direito Natural, mas com fulcro nos sistemas jurídicos, os denominados direitos da personalidade. (Apelação Cível nº 39.193, 3ª Câm. j. 17-12-1985, Rel. Des. Wellington Moreira Pimentel, publicada na RT 619/175) (GODOY, 2008, p.17).
Portanto, os direitos da personalidade são aqueles direitos que a pessoa tem
para defender o que lhe pertence, como: a vida, a integridade, a liberdade, a honra,
a privacidade, a imagem, a autoria, entre outros. Podendo a pessoa ser reparada de
dano causado a esses direitos que lhe são inerentes.
Segundo o doutrinador Sílvio Venosa (2005, p. 205):
Os danos que decorrem da violação desses direitos possuem caráter moral. Os danos patrimoniais que eventualmente podem decorrer são de nível secundário. Fundamentalmente, é no campo dos danos morais que se situa
36
a transgressão dos direitos da personalidade. De fato, em linhas gerais, não há danos morais fora dos direitos da personalidade.
Os direitos da personalidade são absolutos, intransmissíveis, indisponíveis,
inalienáveis, imprescritíveis e inexpropriáveis. Absolutos, pois podem ser
opostos erga omnes, ou seja, aplicam-se a todos os homens. São intransmissíveis e
irrenunciáveis, o indivíduo não pode transferir a outra pessoa, nem mesmo não
querer mais fazer uso deles. São também inalienáveis porque estão fora do
comércio e não possuem valor econômico imediato, não podem ser utilizados para o
pagamento de obrigações. São direitos inexpropriáveis, pois são inatos,
assegurados desde a concepção, eles são vitalícios, protegidos inclusive após o
falecimento. E imprescritíveis, visto que não possuem prazo de validade, podem a
qualquer momento ser defendidos em juízo ou fora dele (DINIZ, 2010).
Portanto, não se extinguem pelo seu não uso e nem seria possível impor
prazos para sua aquisição ou defesa, pois todos os direitos da personalidade são
tutelados em cláusula pétrea constitucional (DINIZ, 2010).
Segundo Carlos Alberto Bittar (1989 apud GODOY, 2008, p. 26):
Individualiza direitos da personalidade que chama de físico (direito à vida, à integridade física, ao corpo, a partes do corpo, ao cadáver, à parte do cadáver, à imagem e à voz), psíquicos (direito à liberdade, à intimidade, à integridade psíquica e ao segredo) e morais (direito à identidade, à honra, ao respeito e às crianças intelectuais), diferenciados de acordo com a natureza dos bens da personalidade a que concernem.
Uma grande polêmica que cerca os direitos da personalidade é que, como o
nome já diz, eles são inerentes à pessoa humana, o que gera um conflito com os
direitos personalíssimos da pessoa jurídica.
O doutrinador Wilson Melo da Silva (1983, p. 650), se posiciona da seguinte
forma em relação à personalidade da pessoa jurídica:
(...) as pessoas jurídicas, em si, jamais teriam direito à reparação dos danos morais. E a razão é óbvia. Que as pessoas jurídicas sejam, passivamente, responsáveis por danos morais, compreende-se. Que, porém, ativamente, possam reclamar indenizações consequentes deles é absurdo.
Essa corrente acredita que a pessoa jurídica não é detentora de vida privada,
sendo assim ilegítima para figurar em polo ativo em reclamações por danos morais e
materiais à personalidade. Contudo, ela não é majoritária, pois a Constituição
37
Federal não garante explicitamente a proteção à personalidade das pessoas
jurídicas, porém também não veda, o que dá margem para não ser interpretada com
restrição (HOLANDA, 2010).
Com o Novo Código Civil, toda essa polêmica em relação à proteção aos
direitos da personalidade da pessoa jurídica deixou de existir, visto que foi garantida
essa proteção, em seu texto no art. 52: Aplica-se às pessoas jurídicas, no que
couber, a proteção dos direitos da personalidade.
Portanto, a pessoa jurídica recebe proteção em relação aos direitos da
personalidade, podendo assim figurar no polo ativo em ações referentes a esses
direitos.
No que tange aos direitos da personalidade, em particular a honra, a
privacidade e a imagem, ganham destaque quando estão diante da imposição da
convivência social, estes direitos são o foco do nosso estudo, pois são os mais
atingidos pela imprensa, quando o jornalista, no uso da informação, atinge os
direitos personalíssimos do indivíduo.
Até porque é na convivência em sociedade que fatos que envolvem o
indivíduo ocorrem e motivam a informação e podem gerar dano aos direitos da
personalidade, pois é no exercício da atividade de imprensa que o jornalista tem o
direito de informar e não de atingir a honra, a privacidade e a imagem de outrem
(GODOY, 2008).
Geralmente, o que ocorre, como já aludido, é que o exercício da liberdade de
imprensa suscita uma colisão com o direito à honra, à imagem e à privacidade.
Dessa forma, chega a existir uma tendência material de que liberdade de informação
e os direitos da personalidade citados, quando colocados em confronto no meio
social se destruam reciprocamente (GODOY, 2008).
E Manuel da Costa Andrade (1996 apud GODOY, 2008, p. 27), afirma o
seguinte:
(...) honra, imagem e privacidade são bens jurídicos pessoais que carregam consigo, quando exposto o homem ao relacionamento social, intrínseca vocação conflitual com a liberdade de informação, fazendo-se mesmo “portadores duma imanente colisão de valores”.
Na verdade o que deveria ocorrer era uma conciliação entre liberdade de
informação e honra, imagem e privacidade, para que na convivência social não
exista um aniquilamento recíproco, até porque o direito à informação constitui
38
mesmo uma das formas de garantir a efetividade de direitos de igual dignidade
(GODOY, 2008).
É o que Manuel da Costa Andrade (1996, p.28-29) defende:
(...) os conflitos entre direitos fundamentais não deverão superar-se por via do sacrifício total de um deles. Em vez disso, há de procurar assegurar-se a ambos a mais extensa e consistente proteção em concreto praticável. O que implica, nomeadamente e por um lado, o mandamento da salvaguarda do núcleo essencial do direito fundamental a sacrificar e, por outro lado, a proibição de um sacrifício desmesurado ou desproporcionado. Um paradigma a que hão de, em qualquer caso, conformar-se as instâncias formais no recorte da disciplina legislativa dos conflitos de direitos fundamentais.
O grande problema é que, muitos jornalistas ainda não agem de acordo com
a ética, e ainda, não exercem sua liberdade de expressão respeitando os direitos
assegurados na Constituição Federal, pois se agissem com observância a esses
preceitos e com responsabilidade seriam poucos os casos de conflitos com os
direitos da personalidade.
3.2.1 Direito à honra
A honra, para José Afonso da Silva (2008, p. 209), é “o conjunto de
qualidades que caracterizam a dignidade da pessoa, o respeito dos concidadãos, o
bom nome, a reputação. É o direito fundamental da pessoa resguardar essas
qualidades”.
Neste sentido, a honra pode ser observada por duas faces, uma interna que é
a honra subjetiva, na qual se faz presente a autoestima, o amor próprio, o
sentimento da própria dignidade, a consciência moral e a outra externa, que é honra
objetiva, esta é o indivíduo diante da sociedade, a famosa reputação (GODOY,
2008).
Para Claudio Luiz Bueno de Godoy (2008, p. 29), a honra trata:
(...) de um direito inato, natural e universal da pessoa humana, cujo conteúdo está não só no sentimento e consciência de ser digno, mas também na estima e na consideração moral dos outros.
Sua tutela está presente tanto na Constituição Federal, no artigo 5º, inciso X,
“são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas,
39
assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua
violação”; como na legislação infraconstitucional, na esfera civil no artigo 1.547 “a
indenização por injúria ou calúnia consistirá na reparação do dano que delas resulte
ao ofendido” e também na esfera penal nos artigos 138 a 140, os quais tratam de
calúnia, injúria e difamação. A honra tutelada por tais ordenamentos é tanto
subjetiva como a honra objetiva.
Não podemos confundir uma lesão à honra com a lesão à intimidade, pois
temos que:
(...) enquanto o ataque à honra ofende o conceito social, que o sujeito passivo pretende gozar, na agressão à intimidade não existe a finalidade danosa dirigida contra o conceito, mas sim contra o ambiente de privacidade que envolve a vítima (ARAUJO, 2001, p. 72).
Como são inúmeros problemas que envolvem direito à honra, para saber qual
a forma de reparação do dano é necessário identificar qual o tipo de honra foi
atingida. Quando há uma lesão à honra, deve haver uma rápida reparação, é
impossível voltar para o estado anterior, mas pode amenizar o sentimento de
vergonha e humilhação perante o público.
Como observa Sidney Guerra (2004, p.50):
Ocorrendo então a lesão da honra, de imediato a pessoa cujo direito foi violado se sente diminuída, desprestigiada, humilhada, constrangida, tendo perdas enormes tanto no aspecto financeiro, como no aspecto moral, pois a lesão se reflete de imediato na opinião pública, que logo adota uma postura negativa contra a pessoa, implicando nestas perdas mencionadas.
É isto que ocorre quando um jornalista falta com a verdade na sua profissão e
atinge a honra do indivíduo, lesionando, assim, a dignidade do cidadão e mesmo
quando são notícias falsas, fica difícil reparar a situação, visto que é quase
impossível mudar a opinião pública, e a honra do indivíduo fica debilitada.
Por isso, é importante a efetiva proteção à honra, principalmente quando
confrontada com a liberdade de expressão, evitando a lesão a esse direito da
personalidade, pois, como afirma Carlos Alberto Bittar (2000, p.51):
(...) a opinião pública é muito sensível a notícias negativas, ou desagradáveis, sobre as pessoas, cuidando o sistema jurídico de preservar o valor em tela, de um lado, para satisfação pessoal do interessado, mas especialmente, para possibilitar-lhe a progressão natural e integral, em todos os setores da vida na sociedade (social, econômico, profissional, político).
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Ou seja, quando uma notícia atinge a honra de alguém é muito difícil de haver
reparação, pois uma vez espalhada a notícia, mesmo que haja uma retratação,
aquela pessoa ainda terá a sua honra questionada perante a sociedade. Portanto,
cabe ao nosso sistema jurídico tutelar tal direito, para evitar danos à honra do
indivíduo.
Uma questão importante é a legitimidade para figurar no polo passivo em
ação de reparação por danos contra honra cometidos no exercício de imprensa.
Após a edição da Súmula 221 do Superior Tribunal de Justiça, que estabeleceu
serem civilmente responsáveis pelo ressarcimento de dano, decorrente de
publicação pela imprensa, tanto o autor do escrito quanto o proprietário do veículo
de divulgação, dúvidas não mais existem quanto à possibilidade do autor da ofensa
ser diretamente acionado, não mais se restringindo à empresa jornalística ou de
radiodifusão a legitimidade para figurar no polo passivo.
3.2.2 Direito à imagem
A imagem em si é conceituada por Walter Moraes (1977 apud GODOY, 2008,
p.34) como “toda a sorte de representação de uma pessoa” Já o direito à imagem
Segundo Notaroberto Barbosa (1989 apud GODOY, 2008, p.35), é a prerrogativa
que tem a pessoa “de autorizar, negar autorização, e de impedir que elementos
personificadores de sua imagem física e moral sejam utilizados com fim de obter
lucro direto ou indireto”.
A regra é que os direitos da personalidade sejam absolutos, extrapatrimoniais,
gerais, imprescritíveis, indisponíveis, impenhoráveis e vitalícios. Contudo, em
relação ao direito à imagem, existe uma exceção, pois esta não é indisponível, visto
que pode ser atribuído valor à imagem e fica a critério do indivíduo se vai dispor ou
não deste direito (HOLANDA, 2010).
É o que entende Regina Azevedo (2001, p.3):
O direito à própria imagem é inalienável e intransmissível, uma vez que não há como dissociá-lo de seu titular. Entretanto, não é indisponível e é esta a grande característica do direito à imagem: a possibilidade de dispor ou não da própria imagem para que outros a utilizem para diversos fins. Pode assim, a pessoa explorar a sua própria imagem.
41
Portanto, o direito à imagem se mostra autônomo em relação à
disponibilidade, até porque se sabe que a pessoa pode ceder a sua imagem, para
propagandas com fins econômicos. No entanto, o indivíduo ao realizar um contrato
que autoriza a exibição da sua imagem não está dispondo dela totalmente, ou seja,
não está renunciando à imagem, está apenas cedendo os efeitos delas decorrentes
(GODOY, 2008).
Em relação a essa autonomia, Claudio Godoy (2008, p.37) discorre que:
Coerente com toda essa argumentação acerca da autonomia do direito à imagem, e mesmo com o que, em nível jurisprudencial, já se havia assentado inclusive na Suprema Corte, a Constituição Federal de 1988, afinal, cuidou de aludi-lo, separadamente, inclusive da honra, nos incisos V e X do art. 5º, em que consagrados os direitos e garantias fundamentais do indivíduo. Não em diferente sentido, cabe ainda anotar, está no art. 20 Código Civil, que tutela, autonomamente, o direito à imagem da pessoa, condicionando sua utilização ao assentamento do titular, ressalvada a necessidade da administração da justiça e da manutenção da ordem pública.
Portanto, o direito à imagem é autônomo e independente, que quanto mais se
desenvolve e cresce as formas de comunicação social, mais se torna objeto de
ofensas, mesmo com as limitações impostas, é um direito que sempre será muito
atingido (GODOY, 2008).
Como a pessoa pode ceder o uso da sua imagem, às vezes, pode ser que
esta imagem seja usada para outro fim e cause tanto dano à imagem, como a honra,
como no exemplo de Pedro Frederico Caldas (1997, p. 35):
Prefigure-se o fato de uma pessoa famosa (grande artista, excepcional desportista ou notável intelectual) conceder que uma agência encarregada utilize sua imagem em uma campanha de grande interesse público. Suponha-se que a imagem foi utilizada corretamente segundo os fins propostos: nada de mais; suponha-se que a agência aproveitou a imagem captada e a utilizou em publicidade comercial a cargo de sua agência: violação do direito à imagem; suponha-se, ainda, que o reclame comercial prestigiasse a determinada bebida alcoólica e que a celebridade pertencesse notoriamente a uma seita ferrenhamente contrária ao uso do álcool: violação da imagem e da honra.
A utilização indevida da imagem gera a indenização por perdas e danos.
Assim estabeleceu o legislador constitucional no artigo 5º da Constituição Federal e
também neste sentido o art. 20 do Código Civil, traz que a reprodução de imagens
para fins comerciais, sem autorização do lesado, enseja o direito à indenização,
ainda que não lhe tenha atingido a honra ou a respeitabilidade. O artigo 20, em suas
42
disposições, traz o seguinte texto: Salvo se autorizadas, ou se necessárias à
administração da justiça ou à manutenção da ordem pública, a divulgação de
escritos, a transmissão da palavra, ou a publicação, a exposição ou a utilização da
imagem de uma pessoa poderão ser proibidas, a seu requerimento e sem prejuízo
da indenização que couber, se lhe atingirem a honra, a boa fama ou a
respeitabilidade, ou se destinarem a fins comerciais.
Quando a exibição da imagem ocorrer sem o consentimento do sujeito em
questão, os Tribunais de Justiça já pacificaram as decisões e são impostas
indenizações por dano moral e material aos meios de comunicação. Seguem alguns
julgados neste contexto:
Direito à própria imagem - Violação – Indenização devida. O retrato de uma pessoa não pode ser exposto ou reproduzido, sem o consentimento dela, em decorrência do direito à própria imagem, atributo da pessoa física e desdobramento do direito da personalidade (RSTJ, 68:358) (GONÇALVES, 2006, p. 110 - 111). (...) Dano moral – Direito à própria imagem – Direito da personalidade – Uso comercial de fotografia, sem autorização do fotografado, que não é modelo profissional – Assentimento tácito não comprovado – Violação caracterizada – Verba devida. A exploração comercial de fotografia, sem autorização do fotografado, constitui violação do direito à própria imagem, que é direito da personalidade, e, como tal, configura dano moral indenizável. Não se presume nunca a autorização tácita, de caráter gratuito, para uso comercial de fotografia, quando o fotografado não seja modelo profissional (TJSP, AgI 97.702-4-Pompéia, 2ª Câmera de Direito Privado. Rel. Dês. Cézar Peluso, j. 21-11-2000) (GONÇALVES, 2006, p. 110).
Pode-se afirmar, então, que para a utilização da imagem de outrem é
necessário o seu consentimento; caso contrário será, imposta indenização por dano
moral e material. E a utilização da imagem deve ser acordada em contrato, pois se
ultrapassar os limites estabelecidos, o meio de comunicação será responsabilizado e
terá que reparar o dano neste caso.
3.2.3 Direito a privacidade
A Constituição Federal separou a privacidade em seu texto como intimidade e
a vida privada, e assim como da honra e da imagem das pessoas, ela em seu artigo
5º declarou esses direitos como invioláveis. Dessa forma, tutelou de forma expressa
mais esse direito da personalidade (GODOY, 2008).
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José Afonso na Silva (2008, p.183) esclarece essa divisão:
(...) procurando superar a dúvida suscitada pelo dispositivo constitucional, adota a expressão direito à privacidade, em sentido amplo, abrangendo todas as manifestações da vida privada e íntima das pessoas. Para o autor, a privacidade seria entendida como o “conjunto de informação acerca do indivíduo que ele pode decidir manter sob seu exclusivo controle, ou comunicar, decidindo a quem, quando, onde e em que condições, sem isso poder ser legalmente sujeito”.
E separadamente a intimidade seria as relações íntimas, pessoas com
amigos e familiares, já a vida privada aumenta essas relações, pois é o
relacionamento com outras pessoas, inclusive em ambientes comercias, de trabalho
e de estudo, ou seja, a vida privada abrange a coletividade (MORAES, 2006).
Os doutrinadores quando procuram diferenciar vida privada e intimidade,
fazem uma relação entre as duas, como demonstra Tércio Sampaio Ferraz Junior
(1992, p.79):
(...) a intimidade é o âmbito do exclusivo que alguém reserva para si, sem nenhuma repercussão social, nem mesmo ao alcance de sua vida privada que, por mais isolada que seja, é sempre um viver entre os outros (na família, no trabalho, no lazer em comum), já a vida privada envolve a proteção de formas exclusivas de convivência. Trata-se de situações em que a comunicação é inevitável (em termos de relação de alguém com alguém que, entre si, trocam mensagens), das quais, em princípio, são excluídos terceiros.
O conceito de privacidade, que envolve uma tutela de não invasão na vida do
indivíduo, mesmo quando exposto no meio profissional e social é bastante
abrangente, visto que são diversos aspectos da vida pessoal e laboral que não deve
ser devassados, exige-se muito respeito e discrição quanto a memórias, vida
amorosa, atividade de negócios, dados pessoais, anotações confidenciais e diversas
outras formas que envolvem o íntimo daquela pessoa. (GODOY, 2008)
É importante, pois, tutelar essa inviolabilidade da privacidade do indivíduo,
desde o direito deste ficar reservado, até as suas exposições intelectuais, ou obras
sem valor comercial, e também os acontecimentos que ocorrem em sua residência
ou fora dela, e mesmo os eventos que ocorram fora da vida familiar devem ser
preservados na forma da lei, pois é garantido ao ser humano o direito à privacidade.
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Por isso, como diz o já mencionado Claudio Godoy (2008, p.42):
Tem-se aí garantia de dignidade constitucional, na Carta Maior, como visto, disposto no art. 5º, inciso X, que assegura, enfim, a inviolabilidade da intimidade e da vida privada, particularmente relevante em tempos de globalização, de massificação das informações, em que os meios de comunicação representam, sempre, um fator de potencial ingresso na vida das pessoas.
E além da previsão constitucional, o Código Civil em ser artigo 21 também
dispôs sobre esse tema da seguinte forma: “a vida privada da pessoa natural é
inviolável, e o juiz, a requerimento do interessado, adotará as providências
necessárias para impedir ou fazer cessar ato contrário a esta norma”.
Essa normatização é justamente para proteger ainda mais o direito à
privacidade, para evitar que sejam violados, principalmente com a evolução dos
meios de comunicação, nos quais se tem acesso a fatos pessoais com mais
frequência. Essa tutela inibe os jornalistas que usam da sua liberdade de imprensa
para atingir a vida privada e à intimidade do indivíduo.
E esse direito à privacidade garantido na Constituição Federal é assegurado
para a toda coletividade, mesmo a pessoa sendo pública tem direito de ter a sua
vida pessoal resguardada.
Como discorre Pablo Stolze e Pamplona Filho (2005, p.189):
(...) é bom que se diga que as pessoas públicas têm todo direito de ter sua intimidade preservada. Não é pelo fato de adquirirem relevância social que tais pessoas não mereçam gozar da proteção legal para excluir terceiros, do seu âmbito de intimidade.
3.3 PONDERAÇÃO ENTRE A LIBERDADE DE IMPRENSA, O DIREITO À
INFORMAÇÃO E OS DIREITOS DA PERSONALIDADE
O direito à informação é o que dá vida à liberdade de imprensa, pois o
jornalista tem direito de informar, de comunicar e de exteriorizar a sua opinião, ou
seja, de exercer a sua liberdade de expressão assegurada constitucionalmente.
Esse direito à informação deixou de ser analisado apenas como direito individual e
passou a ser visto como um direito coletivo à informação.
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Como aponta José Afonso da Silva (2008, p. 49):
(...) o direito de informar, como aspecto da liberdade de manifestação do pensamento, revela-se um direito individual, mas já contaminado de sentido coletivo, em virtude das transformações dos meios de comunicação, de sorte que a caracterização mais moderna do direito da comunicação, que especialmente se concretiza pelos meios de comunicação social e de massa, envolve a transmutação do antigo direito de imprensa e de manifestação do pensamento, por esses direitos, em direitos de feição coletiva.
O direito de informar e o de ser informado estão contidos na liberdade de
informação, que é base da liberdade de imprensa, e é através desta que são
asseguradas as veiculações das informações pelos órgãos de imprensas. A
liberdade de imprensa é o direito da livre manifestação do pensamento pela mídia
(GODOY, 2008).
Como assegura Claudio Luiz Bueno de Godoy (2008, p.52), hoje temos a
liberdade de imprensa e a liberdade de informação por qualquer meio jornalístico,
compreendida a comunicação e o acesso ao que se informa. Ou seja, a perspectiva
individual de um lado, que é o direito à informação, o qual dá à liberdade de
imprensa uma dimensão de direito de manifestação do pensamento assegurado ao
indivíduo. Porém, por outro lado, garante-se um direito coletivo, que é o acesso à
informação (GODOY, 2008).
A liberdade de imprensa no Brasil se firmou com a democracia em 1988, com
a nossa Constituição Federal, com ela foi plenamente restaurada a atual liberdade, a
qual gozamos. “No artigo 220, caput, embarga qualquer restrição à liberdade de
manifestação do pensamento, da expressão e da informação, sob qualquer forma,
processo ou veículo, interditando § 1º a possibilidade de qualquer dispositivo de lei
embaraçar a plena liberdade de informação jornalística em qualquer veículo de
comunicação social, só admitindo a essa liberdade às restrições que ele mesmo
impõe, inadmitida qualquer censura de natureza política, ideológica e artística,
devendo-se atentar para o fato de que produção e a programação das emissoras de
televisão atenderão ao princípio do respeito aos valores éticos e sociais da pessoa e
da família” (CALDAS, 1997).
A liberdade de imprensa deve ser entendida amplamente, pois não implica
salvo-conduto para o proprietário do veículo de informação, muito menos para o
jornalista que agrida direitos atribuídos à pessoa. A informação que for veiculada
46
tem como requisito a verdade, pois, como adverte José Afonso da Silva (1989 apud
CALDAS, 1997), é reconhecido o direito de informar ao público os acontecimentos e
as notícias, mas essas informações devem ser verdadeiras e não podem ter o
sentido desviado; caso contrário, não terá a informação, mas a deformação.
Assim, o direito à informação, como a liberdade de imprensa não são
absolutos, até porque nenhum direito é completamente absoluto. Há sempre a
relatividade em qualquer direito. O sistema jurídico estabelece para esses direitos
um sistema de equilíbrio, o mais harmonioso possível, visto que os direitos que
entrassem em conflitos em determinada esfera se anulariam, desestabilizando o
sistema. Portanto, a liberdade de imprensa e o direito à informação devem estar em
harmonia com os direitos da personalidade (CALDAS, 1997).
Os jornalistas, com o pretexto de exercer a liberdade de imprensa acabam,
não raramente, violando os direitos individuais das pessoas ao publicarem fatos
inerentes à privacidade daquelas, agindo dessa forma causam danos aos indivíduos,
geralmente os de mais destaques, como políticos, celebridades, ou até mesmo os
suspeitos de prática delituosas.
A liberdade de imprensa garante ao jornalista emitir as informações, fatos e
opiniões, porém a proteção constitucional de livre difusão é relativa, como já
mencionado, as informações devem ser verídicas, até porque publicação
desvirtuada de matérias referentes à vida privada, à intimidade, à imagem e à honra
das pessoas não encontra proteção no ordenamento constitucional. (NÓBREGA,
2008)
Portanto, como a nossa Constituição Federal consagra os direitos da
personalidade ligados à proteção, a privacidade não apenas como limites externos à
liberdade de imprensa, mas os tutelam como direitos fundamentais, quando existe
conflito com essa liberdade de expressão do jornalista, se está diante de colisão
entre direitos fundamentais, com dois polos em questão: de um lado o direito à
liberdade de imprensa e do outro lado o direito à privacidade, e para solucionar este
caso deve-se levar em consideração a ponderação dos bens jurídicos envolvidos.
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4 ABUSO DO DIREITO À LIBERDADE DE IMPRENSA E RESPONSABILIDADE
CIVIL DO JORNALISTA
4.1 ABUSO DE DIREITO
Uma questão de grande divergência doutrinária é saber o ponto em que o uso
do direito passa a ser caracterizado com um abuso de direito – espécie de ato ilícito.
Trata-se de uma questão complexa, visto que muitas vezes a lei que concede o
direito não delimita o exercício desse direito, ou seja, até que ponto o titular desse
direito pode exercer sem o transgredir.
A questão do abuso situa-se no tema do exercício de um direito preexistente,
sendo aí que ele se diferencia do ato ilícito em geral.
Pois bem, no ato ilícito nós temos uma violação direta da norma concessiva
do direito, ou seja, viola-se um preceito humano. Na questão do abuso, o indivíduo
extrapola o exercício regular desse direito, o limite exercício desse direito.
A grande questão é quanto a transgressão do limite do exercício desse
direito, pois muitas vezes estaremos diante de um critério subjetivo que deverá ser
usado pelo operador do direito.
De uma forma geral, a doutrina elenca como um exercício de um direito passa
a violar exercício ou direito de outrem. Dessa forma estaremos diante da famosa
frase “o exercício de um direito termina onde começa o do outro”.
A título de exemplo, para que possamos vislumbrar o abuso de direito, a
doutrina costuma citar o famoso caso de um proprietário de um terreno na França, o
qual instalou em sua propriedade, grandes hastes pontiagudas para que assim fosse
impedido ou dificultado o deslocamento dos dirigíveis da localidade daquela cidade.
Configurando, portanto, flagrante abuso de direito, no caso, o da propriedade.
Diante dessas premissas, podemos trazer à baila os ensinamentos de Venosa
(2008, p. 527) onde ensaia a conceituação fundamentando como “aquele que
transborda os limites aceitáveis de um direito, ocasionando prejuízo, deve indenizar”
e complementa: “contudo, como no campo da responsabilidade civil há quase
sempre a noção de culpa, no abuso de direito, essa noção, se bem que possa
integrar a natureza do ato, deve ser afastada” e finalmente concluindo, quase na
letra da lei, vejamos:
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O titular de prerrogativa jurídica, de direito subjetivo, que atua de modo tal que sua conduta contraria a boa-fé, a moral, os bons costumes, os fins econômicos e sociais da norma, incorre no ato abusivo. Nessa situação, o ato é contrário ao direito e ocasiona responsabilidade do agente pelos danos causados (VENOSA, 2008, p. 258).
Nesse conceito exposto pelo ilustre Venosa, vemos flagrantes requisitos para
que se configure o abuso de direito, os quais passamos a expor.
4.1.1 Requisitos e previsão legal
Constata-se que o legislador consagrou a teoria do abuso de direito em nosso
Código Civil de 2002, trazendo em seu art. 187 a seguinte redação: “Também
comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os
limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons
costumes”.
Assim, nas lições de Stolze (2010, p. 492):
Conclui-se não ser imprescindível, pois, para o reconhecimento da teoria do abuso de direito, que o agente tenha a intenção de prejudicar terceiro, bastando, segundo a dicção legal, que exceda manifestamente os limites impostos pela finalidade econômica ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes.
Nesse mesmo sentido é o que aponta o enunciado 37 da I Jornada de Direito
Civil da Justiça Federal: “Art. 187: a responsabilidade civil decorrente do abuso do
direito independe de culpa e fundamenta-se somente no critério objetivo-finalístico.”
(In: JURISWAY, 2006).
Diante do exposto, constata-se que para a ocorrência do abuso de poder
basta que o lesado comprove em sede de ação indenizatória elementos objetivos
(conduta, dano e nexo de causalidade), pois não precisa na ação comprovar se o
agente agiu com intenção (dolo/culpa) de prejudicar a outrem, desde que transgrida
a órbita destes três elementos: fim econômico ou social, boa-fé ou os bons
costumes.
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4.2 ABUSO DE DIREITO À LIBERDADE DE IMPRENSA
Como fora exposto, a liberdade de profissão e de informação são
assegurados em nossa Lei Maior, entretanto não se trata de valores absolutos,
devendo tais direitos serem exercidos na medida a não confrontar com outros
valores de igual importância, tais como a dignidade da pessoa humana, honra,
imagem (direitos personalíssimos de um modo geral) os valores sociais e os bons
costumes, dentre inúmeros outros.
Portanto, está claro que o exercício de direito à liberdade de imprensa pode
ser considerado abusivo, gerando consequências na ordem jurídica vigente.
Assim, no caso concreto ao aplicar os direitos constitucionais em tela, nas
palavras de Pedro Lenza (2011, p. 870):
Diante dessa ‘colisão’, indispensável será a ‘ponderação de interesses’ à luz da razoabilidade e da concordância prática ou harmonização. Não sendo possível a harmonização, o judiciário terá de avaliar qual dos interesses deverá prevalecer.
Busca-se, dessa maneira, verificar qual valor de envergadura constitucional
deve prevalecer. Balancear se possível, não obstante a aplicação de um em
detrimento do outro.
Nesse diapasão, convém registrar que o excesso ao direito
constitucionalmente velado – liberdade de imprensa – não é motivo justificador para
a transcender/agredir direitos de outrem, configurando hipótese de ressarcimento
em sede de ação indenizatória aos danos suportados pela vítima, podendo ser
aplicado no caso concreto o art. 187 do Código Civil de 2002, visto que o exercício
natural do direito deve se comportar, amoldar e respeitar tais valores: fim econômico
ou social, boa-fé ou os bons costumes.
Além da indenização pelos danos morais e matérias que poderão ocorrer à
vítima, poderá concomitantemente gerar o direito de resposta, de hipertrofia
constitucional, pelo que analisaremos a seguir.
4.3 CONCEITO DE RESPONSABILIDADE CIVIL
Para conceituar responsabilidade é preciso entender que o fato ilícito gera
50
obrigações, e estar obrigações podem está ligadas entre si pelo ato jurídico de dar,
fazer ou não fazer. O conceito de responsabilidade é algo muito complexo de se
elaborar. A atividade que gera um dano ou prejuízo transmite ao agente uma
responsabilidade ou o dever de reparar o dano ou prejuízo causado.
Segundo o pensamento de Sílvio de Salvo Venosa (2007, p.1):
O termo responsabilidade é utilizado em qualquer situação na qual alguma pessoa, natural ou jurídica, deva arcar com as consequências de um ato, fato, ou negócio danoso. Sob essa noção, toda atividade humana, portanto, pode acarretar o dever de indenizar.
Na mesma corrente de pensamento Maria Helena Diniz (2010, p.35):
A responsabilidade civil é a aplicação de medidas que obriguem uma pessoa a reparar dano moral ou patrimonial causado a terceiros, em razão de ato por ela mesma praticado, por pessoa por quem ela responde, por alguma coisa a ela pertencente ou de simples imposição legal.
A responsabilidade civil poderia ser definida como o resultado da ação pela
qual uma pessoa, seja ela física ou jurídica, expressa o seu comportamento, seus
atos em geral, em face de princípios dos deveres e obrigações.
Fica expresso, segundo os doutrinadores citados, que o importante é
identificar a conduta que gera a obrigação de indenizar. Se a resposta for afirmativa,
deve-se ter conhecimento do prejuízo em relação à condição e à maneira a ser
reparado.
4.4 RESPONSABILIDADE OBJETIVA E RESPONSABILIDADE SUBJETIVA
A distinção entre responsabilidade objetiva e subjetiva é prevista no Código
Civil brasileiro, observando-se o que traz os artigos 186 e 927 do Código Civil. É
possível ver a teoria da responsabilidade objetiva no parágrafo único do artigo 927
do Código Civil, onde preleciona que há obrigação de reparar o dano, sem a
necessidade de provar a culpa, nos casos em que a lei prevê, ou quando a atividade
que o autor normalmente exerce for uma atividade que por si só implica em risco
para os direitos de outra pessoa. A responsabilidade objetiva se sustenta na teoria
do risco, onde todo aquele que exerce atividade cujo risco a terceiros é inevitável,
deve reparar o dano, mesmo que o agente não tenha agido com culpa.
51
Na responsabilidade objetiva a atitude culposa ou dolosa do agente causador
do dano é de menor relevância, pois, desde que exista relação de causalidade entre
o dano experimentado pela vítima e o ato do agente, surge o dever de indenizar,
quer tenha este último agido ou não culposamente (SILVIO RODRIGUES, 2007,
p.11).
Ensina o ilustríssimo jurista Venosa (2007, p.14), a teoria do risco aparece na
história do Direito, portanto, com base no exercício de uma atividade, dentro da ideia
de que quem exerce determinada atividade e tira proveito direto ou indireto dela
responde pelos danos que ela causar, independentemente de culpa sua ou de
prepostos. O principio da responsabilidade sem culpa ancora-se em um princípio de
eqüidade: quem aufere os cômodos de uma situação deve também suportar os
incômodos. O exercício de uma atividade que possa representar um risco obriga por
si só a indenizar os danos causados por ela.
A responsabilidade subjetiva pode ser definida como aquela que tem como
base a culpa do agente, sendo somente caracterizada a responsabilidade do
causador do dano se ele agiu com culpa ou com dolo. Sendo assim, não há como se
falar em responsabilidade se o agente não agir com culpa.
4.5 PRESSUPOSTOS PARA A CARACTERIZAÇÃO DA RESPONSABILIDADE
Mister se faz ressaltar que a responsabilidade civil pelo abuso da imprensa
está configurada nas hipóteses de responsabilidade objetiva, deixando a parte do
trabalho acadêmico as hipóteses de responsabilidade subjetiva. Destarte, a
responsabilidade objetiva para ser configurada tem a vítima que comprovar, em
sede de reparação cível, três elementos básicos, a saber: a ação, o dano e o nexo
de causalidade entre a ação e o dano, eximindo-se da responsabilização nos casos
de excludentes, dentre os quais abordaremos em tópicos oportunos.
4.5.1 A ação ou omissão
A ação ou omissão pode decorrer de ato próprio do agente, de ato de terceiro
que esteja sob guarda do agente ou ainda por animais ou coisas que estejam sob
sua guarda, cabendo neste ultimo caso a regra objetiva, independente de culpa do
agente.
52
Para Silvio Rodrigues (2007, p.19), a ação ou omissão do agente pode ser
vista como:
A indenização pode derivar de uma ação ou omissão individual do agente, sempre que, agindo ou se omitindo, infringe um dever contratual, legal ou social. A responsabilidade resulta de fato próprio, comissivo, ou de uma abstenção do agente, que deixa de tomar uma atitude que devia tomas. O motorista que atropela um pedestre imprudente poderá ser exonerado do dever de reparar o dano se conseguir demonstrar que a culpa foi exclusiva do atropelado. Mas, se vier a ser provado que a morte da vítima resultou da falta de socorro que o motorista deveria prestar mas não prestou, a sua responsabilidade defluirá não de seu ato comissivo, mas de seu comportamento omissivo.
Tanto a omissão como a ação pode caracterizar uma infração do agente, pois
se este deixar de agir para evitar um prejuízo alheio ficará incidido a modalidade de
omissão. Se este mesmo agente cometer algum ato que derive em prejuízo alheio,
ficará caracterizado com ação.
4.5.2 Dano
Pode ser definido simplesmente como um prejuízo. Não se pode
responsabilizar um agente se não houver dano, pois o ato ilícito só reflete na orbita
do direito civil se houver ocasionado um prejuízo ou um dano a alguém.
Divide-se em dano material e dano moral. O primeiro está ligado a prejuízo
causado a patrimônio de um indivíduo por outrem, neste caso o prejuízo é de ordem
pecuniária e o agente deve repor à vitima as coisas em seu estado anterior ou outro
bem ou valor que substitua o prejuízo sofrido. O dano moral é aquele que causa
prejuízo à personalidade do indivíduo, seja sua honra, espiritual, bem-estar. O dano
moral é visto como um prejuízo irreversível, pois é impossível de ser retornado ao
estado inicial. O dano moral não atinge o patrimônio da vítima; sendo assim, não
atinge um valor predeterminado em moeda, ou seja, não é um dano econômico.
Conforme o que ensina Venosa (2007, p. 32) “O prejudicado deve provar que
sofreu um dano, sem necessariamente indicar o valor, pois este poderá depender de
aspectos a serem provados em liquidação”.
É possível que haja a reparação pelo lucro cessante, que é o período ou o
valor que a vitima deixou de lucrar em detrimento do dano sofrido. Baseia-se em
suposição contábil, que calcula o valor deixado de ser lucrado.
53
4.5.3 Nexo causal
O nexo de causalidade é um dos pressupostos essenciais da
responsabilidade civil e do dever de indenizar. Para que seja necessário a obrigação
do agente de reparar, é importante que tenha-se provado da existência de uma
relação de causalidade entre a ação ou omissão culposa do agente com o dano
sofrido pela vítima. Com outras palavras, o nexo de causalidade é o fato gerador da
responsabilidade.
Silvio de Salvo Venosa (2007, p. 45), ao definir nexo de causalidade, ensina
que:
O conceito de nexo causal, nexo etiológico ou relação de causalidade deriva das leis naturais. É o liame que une a conduta do agente ao dano. É por meio do exame da relação causal que concluímos quem foi o causador do dano. Trata-se de elemento indispensável. A responsabilidade objetiva dispensa a culpa, mas nunca dispensará o nexo causal. Se a vítima, que experimentou um dano, não identificar o nexo causal que leva o ato danoso ao responsável, não há como ser ressarcida. Nem sempre é fácil, no caso concreto, estabelecer a relação de causa e efeito.
É possível que em alguns casos não exista o nexo de causalidade, eximindo
desta forma o agente da obrigação de reparar o dano. Nestes casos serão
encobertos pelas excludentes de nexo causal (por culpa exclusiva da vítima, por
culpa concorrente, por culpa comum, por força maior ou por caso fortuito).
4.6 EXCLUDENTES DA RESPONSABILIDADE CIVIL
As excludentes da responsabilidade civil como próprio nome já faz definição,
são as causas que excluem a responsabilidade, ou seja, afastam o dano do nexo de
causalidade.
No caso em questão, as emissoras, apesar de ostentar a personalidade
jurídica de direito privado, são concessionárias de serviço público, ensejando a
responsabilidade civil objetiva, regulada pelo art. 37, §6 da Constituição Federal.
Dessarte, as excludentes da responsabilidade civil reguladas pelo dispositivo
são frutos de sólida construção doutrinária e jurisprudencial, não estando desse
modo na letra da lei. São elas: culpa exclusiva da vítima, caso fortuito e força maior
e culpa de terceiro.
54
Ocorrerá a culpa exclusiva da vítima quando o dano é ocasionado pela
intenção deliberada do próprio prejudicado. Exemplo disto no âmbito da mídia
jornalística é quando a vítima se utiliza de determinado espaço no programa
televiso, ou similar, para difamar a si própria.
No caso fortuito e a força maior há um convergência doutrinária a respeito.
Parte da doutrina trata como sinônimos, sem distinção. Para outra parte, que vê
como distintos, trata força maior como imprevisível, involuntário e incontrolável,
rompendo, portanto, o nexo de causalidade entre a conduta e o dano. Caso fortuito
seria toda ação humana que gera um dano. Para a doutrina que os diferencia,
somente a força maior é causa de excludente, estando o caso fortuito fora das
excludentes da responsabilidade civil.
A culpa de terceiro, por sua vez, na esteira dos ensinamentos dos
administrativistas, é quando o dano é causado por pessoa estranha aos quadros da
Administração Pública. Que, em nosso estudo, como exemplo, poderia ser o caso de
uma pessoa adentrar na emissora e propagar em rede nacional fato ensejador a
dano de determinado bem jurídico de pessoa ou instituição. Respondendo a
emissora, neste caso, se comprovada a culpa.
4.7 DIREITO DE RESPOSTA
Inicialmente, cumpre ressaltar que o direito de reposta foi inicialmente
regulado pela lei de imprensa, que teve sua vigência na ditadura militar, como forma
de dar maior controle por parte dos governantes-generais sobre a imprensa na
época.
Finda a ditadura, a referida lei não foi recepcionada pela Constituição Federal
de 1988, sendo posteriormente declarada inconstitucional perante o STF no ano de
2009, no qual o direito de resposta, cerne das discussões polêmicas na referida lei,
passou a ser tratada diretamente pela Carta Magna, precisamente no art. 5°, V.
Senão vejamos: “é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além
da indenização por dano material, moral ou à imagem”.
Do contrário não seria, pois o direito de resposta também é assegurado pelo
Pacto de São José da Costa Rica, precisamente no art. 14:
55
Artigo 14 – Direito de retificação ou resposta 1. Toda pessoa, atingida por informações inexatas ou ofensivas emitidas em seu prejuízo, por meios de difusão legalmente regulamentados e que se dirijam ao público em geral, tem direito a fazer, pelo mesmo órgão de difusão, sua retificação ou resposta, nas condições que estabeleça a lei. 2. Em nenhum caso a retificação ou a resposta eximirão das outras responsabilidades legais em que se houver incorrido. 3. Para a efetiva proteção da honra e da reputação, toda publicação ou empresa jornalística, cinematográfica, de rádio ou televisão, deve ter uma pessoa responsável, que não seja protegida por imunidades, nem goze de foro especial.
Na esteira dos ensinamentos de Pedro Lenza (2011, p. 881), vale a
transcrição literal:
A constituição assegurou a liberdade de manifestação do pensamento, vedando o anonimato. Caso durante a manifestação do pensamento se cause dano material, moral ou à imagem, assegura-se o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização.
Nesse diapasão, não cabe maiores digressões, pois o dispositivo
constitucional é incisivo na questão, que ao ofendido de qualquer agressão que
cause determinado prejuízo é assegurado o direito de resposta proporcional. Assim
se a ofensa foi de 5 minutos, por rádio ou televisão, será assegurado tempo
proporcional ao da ofensa. Se publicado em revista, jornais ou qualquer infográfico
terá as mesmas dimensões e número de páginas, não se excluindo o responsável
pela propagação do fato danoso das responsabilidades cíveis, administrativas e
penais, de acordo com o caso.
4.8 RESPONSABILIDADE CIVIL DO JORNALISTA E DA EMPRESA
VEICULADORA DA PUBLICAÇÃO DANOSA DOS DIREITOS PERSONALÍSSIMOS
Importante situarmos acerca dos aspectos jurídicos das emissoras e
empresas veiculadoras de informação para que possamos dar um tratamento
diferenciando no que tange à responsabilidade civil dos jornalistas e das pessoas
jurídicas nos quais estão vinculados.
Na definição do tema, as emissoras de televisão e de rádio são
concessionárias de serviço público de delegação obrigatória, pois não pode ser
prestado somente pelo estado, deve - o estado - necessariamente delegar aos
56
particulares a sua prestação. O chamado serviço público de delegação obrigatória
são serviços ligados à informação.
Desse modo, é importante relembrar que tais pessoas assumem a
responsabilidade civil objetiva, visto que estão enquadradas na Teoria do Risco, que
consiste basicamente em indenizar fato danoso independentemente da culpa ou
dolo do agente da pessoa jurídica a qual está vinculado, cabendo direito de ação de
regresso ao agente causador do dano.
Nesse contexto, vale a transcrição literal do art. 37 § 6° da Carta Magna, que
nos aponta um direcionamento a respeito da responsabilidade das pessoas em
comento:
Art. 37 omissis (...) §6 As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa.
Da leitura do dispositivo constitucional transcrito, vale algumas considerações
importantes. É bom salientar que o ordenamento jurídico pátrio adota, em detrimento
da Teoria do Risco Integral, a Teoria do Risco administrativo, consistindo na
responsabilidade objetiva da Administração Pública pelos danos causados pelo seu
agente a terceiros, respondendo o Estado por tais atos independente de culpa do
agente, cabendo àquele direito de regresso contra este.
As empresas veiculadoras de informação se enquadram no segundo
elemento da norma transcrita: “de direito privado prestadoras de serviço público”.
Assim, por se tratarem de concessionárias de serviço público toda a demanda
judicial de responsabilidade civil é fundada neste dispositivo constitucional, cabendo
à vítima comprovar apenas três elementos básicos, conduta, dano e nexo
causalidade entre eles.
Com base na teoria da imputação adotada pelos administrativistos para
caracterizar a teoria do órgão, donde esta última teoria acarreta em várias
consequências, dentre elas um direcionamento a respeito da responsabilização dos
órgãos pela conduta de seus agentes, vemos que as pessoas jurídicas as quais os
jornalistas estão vinculados são primariamente responsabilizadas pela conduta
destes na eventual publicação danosa dos direitos personalíssimos.
57
Desse modo, se algum jornalista venha a ofender, por exemplo, a imagem,
honra, ou qualquer outro direito que assiste a eventual vítima, caberá à empresa
veiculadora a responsabilização pela conduta do jornalista, assistindo a tal empresa
o direito de regresso ao jornalista, respondendo este por dolo ou culpa.
A pergunta que se faz é: caberia à vítima acionar diretamente o jornalista pelo
evento danoso causado?
Segundo o entendimento do STF, não. Pois trata-se da chamada dupla
garantia; a da vítima em discutir em sede de ação indenizatória apenas os três
elementos, conduta, dano e nexo, não discutindo-se dolo ou culpa; e do agente
causador do dano, em só ser acionado mediante ação regressiva.1 Entretanto, é
constatado outro questionamento: é cabível a denunciação à lide da pessoa jurídica
ao agente causador do dano?
Para responder a esse questionamento devemos recorrer ao CPC no seu art.
70, III: “a denunciação da lide é obrigatória àquele que estiver obrigado, pela lei ou
pelo contrato, a indenizar, em ação regressiva, o prejuízo do que perder a
demanda.”.
Pelo que se extrai do referido dispositivo, é que é sim cabível a denunciação à
lide ao agente. Entretanto, a doutrina majoritária repele tal posicionamento, pois é
totalmente prejudicial à vítima na medida em que irá ampliar a discussão na ação
indenizatória trazendo a esta os elementos do dolo ou culpa do agente.
4.9 REPERCUSSÃO ADMINISTRATIVA E CÍVEL
Inicialmente, cumpre esclarecer que a regra é que as instâncias são
independentes entre si, ou seja, a decisão de uma não interfere na outra. Entretanto,
tal regra comporta algumas exceções.
As demandas julgadas procedentes nas esferas cíveis e administrativas não
fazem coisa julgada no juízo criminal, pois aqui a defesa é mais ampla.
Se num processo penal o réu é absolvido por prova que negue a existência
do fato ou da autoria, tal decisão repercute nas outras esferas. Mas deve-se
ressaltar que é importante a negação destes elementos, não fazendo coisa julgada
nas outras esferas quando o réu for absolvido por ausência de provas.
1 É a posição do STF no julgado do Recurso Extraordinário 327.904/SP de 2006
58
É o que se extrai da leitura do art. 935 do Código Civil:
A responsabilidade civil é independente da criminal, não se podendo questionar mais sobre a existência do fato, ou sobre quem seja o seu autor, quando estas questões se acharem decididas no juízo criminal.
No que tange à responsabilização administrativa, por se tratar de
concessionária de serviço público, caberia falar que o assunto seria tratado pela Lei
n° 8.987/95, que trata das concessões e permissões de serviços públicos. Podendo
o estado lançar mão dos poderes-deveres que tem sobre as concessionárias nas
diversas formas de intervenção, a exemplo de intervir para “assegurar a adequação
na prestação do serviço, bem como o fiel cumprimento das normas contratuais” (art.
32, Lei 8.987/95), além das formas de extinção de concessão previstas no rol do art.
35 da mesma lei.
Entretanto, tais concessionárias estão regradas pela Constituição,
principalmente nos arts. 220 à 224, que tratam do assunto das comunicações
sociais.
Às emissoras é incumbido o dever de prestar os seus serviços de acordo com
os princípios previstos no art. 221 da Constituição. Vale a transcrição literal:
Art. 221. A produção e a programação das emissoras de rádio e televisão atenderão aos seguintes princípios: I - preferência a finalidades educativas, artísticas, culturais e informativas; II - promoção da cultura nacional e regional e estímulo à produção independente que objetive sua divulgação; III - regionalização da produção cultural, artística e jornalística, conforme percentuais estabelecidos em lei; IV - respeito aos valores éticos e sociais da pessoa e da família.
Por se tratarem de princípios, tais incisos servem como instrumentos
norteadores na atuação das emissoras de modo paralelo ao estado, mas com
finalidade pública, garantindo o fomento de crescimento nacional, através de
atividades educativas, artísticas, culturais e informativas, respeitando, contudo, os
valores éticos, sociais da pessoa e da família.
Em que pese os incisos citados apenas traçarem um indicativo às emissoras,
poderão estas ter o seu contrato de concessão cancelado mediante decisão judicial,
por força do art. 223, §4° da Constituição.
59
Como é cediço, a liberdade de expressão é garantida constitucionalmente,
mas esse direito não é absoluto, não pode portanto confrontar as normas de igual
importância, devendo uma ponderação entre os princípios constitucionais.
Portanto, a liberdade de expressão não pode ser usada para ofender outros
princípios, inclusive os personalíssimos, como a honra, imagem, privacidade, dentre
outros.
A responsabilidade civil é tratada com base na Teoria do dano, consistindo na
lesão a um bem jurídico protegido, sendo ele na modalidade moral ou patrimonial.
Ocorre um dano patrimonial quando um determinado sujeito é ofendido em
seus aspectos econômico-financeiros.
A ideia de perda patrimonial está atrelada a um jargão bastante comum entre
nós: perdas e danos. Destarte, convém destacar que o chamado dano patrimonial é
um gênero, o qual comporta duas espécies, dano emergente e lucro cessante.
Dano emergente seria um dano efetivamente sofrido por uma determinada
vítima provenientes da lesão. É um prejuízo pecuniário efetivo, concreto e provável
nos planos de fato, causado a alguém.
Em outra via, temos o lucro cessante, sendo aquele que a vítima
razoavelmente deixou de perceber em função da lesão. São todos os ganhos que
pararam de fluir após o evento danoso.
Convém ressaltar que ambos não se confundem, sendo independentes entre
si para fins de reparação. Podemos assim ter danos emergentes e não lucros
cessantes, e vice-versa.
Por fim, é bom relembrar que a responsabilidade civil é diretamente proposta
às pessoas jurídicas, à qual o jornalista está vinculado, por força do art. 37, §6° da
Constituição, respondendo este em ação regressiva.
4.10 ANÁLISE DE CASOS CONCRETOS
4.10.1 Caso 1
Diante de todo o trabalho desenvolvido, convém fazer uma análise de um
caso concreto para que possamos visualizar todas as acepções das normas trazidas
no trabalho, confrontá-las e opiná-las. Eis um exemplo:
60
LIBERDADE DE INFORMAÇÃO - DIREITO DE CRÍTICA - PRERROGATIVA POLÍTICO-JURÍDICA DE ÍNDOLE CONSTITUCIONAL - MATÉRIA JORNALÍSTICA QUE EXPÕE FATOS E VEICULA OPINIÃO EM TOM DE CRÍTICA - CIRCUNSTÂNCIA QUE EXCLUI O INTUITO DE OFENDER - AS EXCLUDENTES ANÍMICAS COMO FATOR DE DESCARACTERIZAÇÃO DO "ANIMUS INJURIANDI VEL DIFFAMANDI" - AUSÊNCIA DE ILICITUDE NO COMPORTAMENTO DO PROFISSIONAL DE IMPRENSA - INOCORRÊNCIA DE ABUSO DA LIBERDADE DE MANIFESTAÇÃO DO PENSAMENTO - CARACTERIZAÇÃO, NA ESPÉCIE, DO REGULAR EXERCÍCIO DO DIREITO DE INFORMAÇÃO - O DIREITO DE CRÍTICA, QUANDO MOTIVADO POR RAZÕES DE INTERESSE COLETIVO, NÃO SE REDUZ, EM SUA EXPRESSÃO CONCRETA, À DIMENSÃO DO ABUSO DA LIBERDADE DE IMPRENSA - A QUESTÃO DA LIBERDADE DE INFORMAÇÃO (E DO DIREITO DE CRÍTICA NELA FUNDADO) EM FACE DAS FIGURAS PÚBLICAS OU NOTÓRIAS - JURISPRUDÊNCIA -DOUTRINA - JORNALISTA QUE FOI CONDENADO AO PAGAMENTO DE INDENIZAÇÃO CIVIL POR DANOS MORAIS - INSUBSISTÊNCIA, NO CASO, DESSA CONDENAÇÃO CIVIL - IMPROCEDÊNCIA DA "AÇÃO INDENIZATÓRIA" -VERBA HONORÁRIA FIXADA EM 10% (DEZ POR CENTO) SOBRE O VALOR ATUALIZADO DA CAUSA - RECURSO DE AGRAVO PROVIDO, EM PARTE, UNICAMENTE NO QUE SE REFERE AOS ÔNUS DA SUCUMBÊNCIA . - A liberdade de imprensa, enquanto projeção das liberdades de comunicação e de manifestação do pensamento, reveste-se de conteúdo abrangente, por compreender, dentre outras prerrogativas relevantes que lhe são inerentes, (a) o direito de informar, (b) o direito de buscar a informação, (c) o direito de opinar e (d) o direito de criticar . - A crítica jornalística, desse modo, traduz direito impregnado de qualificação constitucional, plenamente oponível aos que exercem qualquer atividade de interesse da coletividade em geral, pois o interesse social, que legitima o direito de criticar, sobrepõe-se a eventuais suscetibilidades que possam revelar as pessoas públicas ou as figuras notórias, exercentes, ou não, de cargos oficiais . - A crítica que os meios de comunicação social dirigem às pessoas públicas, por mais dura e veemente que possa ser, deixa de sofrer, quanto ao seu concreto exercício, as limitações externas que ordinariamente resultam dos direitos de personalidade . - Não induz responsabilidade civil a publicação de matéria jornalística cujo conteúdo divulgue observações em caráter mordaz ou irônico ou, então, veicule opiniões em tom de crítica severa, dura ou, até, impiedosa, ainda mais se a pessoa a quem tais observações forem dirigidas ostentar a condição de figura pública, investida, ou não, de autoridade governamental, pois, em tal contexto, a liberdade de crítica qualifica-se como verdadeira excludente anímica, apta a afastar o intuito doloso de ofender. Jurisprudência. Doutrina . - O Supremo Tribunal Federal tem destacado, de modo singular, em seu magistério jurisprudencial, a necessidade de preservar-se a prática da liberdade de informação, resguardando-se, inclusive, o exercício do direito de crítica que dela emana, por tratar-se de prerrogativa essencial que se qualifica como um dos suportes axiológicos que conferem legitimação material à própria concepção do regime democrático. - Mostra-se incompatível com o pluralismo de idéias, que legitima a divergência de opiniões, a visão daqueles que pretendem negar, aos meios de comunicação social (e aos seus profissionais), o direito de buscar e de interpretar as informações, bem assim a prerrogativa de expender as críticas pertinentes. Arbitrária, desse modo, e inconciliável com a proteção constitucional da informação, a repressão à crítica jornalística, pois o Estado -inclusive seus Juízes e Tribunais -não dispõe de poder algum sobre a palavra, sobre as idéias e sobre as convicções manifestadas pelos profissionais da Imprensa. Precedentes do Supremo Tribunal Federal.
61
Jurisprudência comparada (Corte Européia de Direitos Humanos e Tribunal Constitucional Espanhol). (In: STF, AI 705630 SC, Min. CELSO DE MELLO, J. 22/03/2011).
Inicialmente, pela ementa trazer no terreno das discussões as acepções de
liberdade de imprensa e livre a manifestação de pensamento consagrados pela
Constituição Federal de 1988, elenca alguns desdobramento como direito de
informar e buscar informação, de opinar e criticar, sendo todos corolários da
vedação à censura que fora expurgada da tenebrosa época ditatorial na qual passou
o Brasil décadas antes da promulgação da atual Constituição
Desse modo, busca-se garantir o livre exercício do profissional da informação,
podendo este, para que possa obter informações de interesse público, ser imune a
restrições desnecessariamente impostas em alguns locais, tendo em vista que o que
está em xeque são informações que interessam a toda coletividade.
Além de buscar informações e informar, o livre exercício da profissão do
jornalista assegura prosseguir e ampliar as possibilidades de sua atividade, quais
sejam: opinar e criticar.
Conforme exposto na ementa, a crítica jornalística está “impregnada” dentre
os valores constitucionalmente estabelecidos, pois “o interesse social que legitima o
direito de criticar, sobrepõe-se a eventuais suscetibilidades que possam revelar as
pessoas púbicas”.
Desse modo, as pessoas que ostentam o caráter público estão sujeitas as
críticas exercidas pelos jornalistas no âmbito de seu exercício profissional.
Pelo fato de que as pessoas de caráter público se investem em “funções
públicas”, cujo conceito que se aplica como sendo a de atuar em nome próprio
defendendo direito alheio, tais pessoas estão sujeitas as criticas, visto que,
repetindo, o interesse público é o norteador e abalizador do exercício do jornalismo,
mesmo que tal exercício seja visto como “mordaz, irônico ou de crítica severa”.
Revela a ementa que é o posicionamento que prevalece no Supremo Tribunal
Federal é de que o Estado, tratado aqui nas suas três funções originariamente
incumbidas, legislar, julgar e administrar, não pode mitigar o pelo exercício das
atividades jornalísticas, pois a livre manifestação de pensamento e o livre exercício
compreendem “suportes axiológicos que conferem legitimação material a própria
concepção do regime democrático.”
62
Nesse sentido, não cabe ao juiz adentrar no mérito livre exercício do
profissional da informação; ao contrário, deve assegurá-lo, pois a informação
conveniente e oportuna é de valor imensurável que irradia e assegura a manutenção
de outros direitos que assistem à sociedade de um modo geral.
Sem a informação, mesmo que seja áspera, dura e ferrenha destinado às
pessoas públicas, é garantia precípua ao cidadão que é responsável pela condução
da nação, pois a norma da Constituição Federal é cristalina: “todo o poder emana do
povo” e, sem informação, não há como o cidadão desempenhar o seu mister.
4.10.2 Caso 2
Um caso recente, notório e de grande repercussão foi o caso da exibição de
cenas reais de estupro a uma menor, ocorrido em Bayeux no ano de 2011.
As cenas foram filmadas com a utilização de um aparelho celular pelo coautor
da violência e foram exibidas no programa precisamente em 30 de setembro
daquele mesmo ano.
Ao saber do fato, o Ministério Público Federal ajuizou uma ação civil pública
com pedido de liminar com litisconsórcio passivo formado pela União Federal, a TV
Correio e o apresentador Samuka Duarte.
Na ação, o MPF fundamenta o seu pedido em diversos pontos, como o
desrespeito com os valores da sociedade e da família, bem como a dignidade e os
direitos da personalidade da adolescente violentada. A ação cita que na ocasião
foram utilizadas várias chamadas do crime acontecido durante o programa para
angariar a audiência desejada, trazendo a cena completa, disfarçadas com recurso
de tênue desfoque, ao final do programa.
Com relação à dignidade da pessoa humana, o MPF na ação aduz que:
Uma concessão pública foi utilizada como instrumento da violação de direitos fundamentais da pessoa humana, e exatamente do segmento mais fragilizado da sociedade – as crianças e adolescentes. Nenhuma justificativa de informação pública pode socorrer os autores de tamanha afronta, absolutamente desnecessária, que ofendeu a dignidade da pobre vítima, ampliando seus ultrajes e vergonha, e a dignidade dos telespectadores, transformados, em pleno horário do meio dia, em espectadores de um 'snuff movie' que seria proibido até mesmo no horário da madrugada ou no mais recôndito dos cinemas pornôs.
63
O MPF também fundamenta a ação na violação ao direito à imagem, que é
um direito personalíssimo, e que por se tratar de uma adolescente a mera
autorização dos responsáveis não encontraria guarida em nosso ordenamento,
assim arremata na ação: “A infelicidade de um crime não torna o corpo da vítima
objeto do domínio público para que os réus dele possam servir-se com fins
lucrativos”.
Como se vê, por violar o direito à imagem da adolescente, trazendo cenas de
sexo em horário de pico de audiência, é cabível uma reparação por danos morais
não à vítima do estupro, mas sim um dano moral coletivo, percebido pela sociedade,
em que o Ministério Público pede o valor de exatos R$ 5.000.000,00 (cinco milhões)
de reais
Como responsabilização administrativa, outro pedido é de suspensão por 15
dias do programa Correio Verdade, bem como do cancelamento da concessão do
serviço público prestado pela emissora TV Correio.
Em nosso entendimento, esta ação está totalmente apoiada na norma
constitucional anteriormente citada, pois não está cumprindo o teor do art. 221, IV:
“respeito aos valores éticos e sociais da pessoa e da família”, está usando de
maneira extrapolada a liberdade de imprensa, pois está passando por cima de
outros direitos fundamentais previstos na nossa Constituição, como o exemplo dos
direitos personalíssimos da imagem, honra, nome etc.
Outro ponto importante é a composição do litisconsórcio formado na ação.
Como foi mencionado, com fundamento no art. 37, §6°, as pessoas jurídicas
prestadoras de serviços públicos responderam objetivamente pelos danos que seus
agentes causarem, respondendo estes em ação de regresso.
Como visto, a ação proposta pelo MPF teve como litisconsorciado o
apresentador do programa Samuka Duarte, abrindo mão o Ministério Público da
dupla garantia e contrariando o entendimento do STF.
A questão nos parece confusa, pois é latente na norma constitucional que o
agente causador só responderá em ação de regresso, não cabendo ao MPF ajuizar
a ação também em face do apresentador do programa.
Pode-se argumentar que para garantir uma economia processual e uma maior
celeridade na prestação jurisdicional, o MPF ajuizou a ação também em face do dito
apresentador, visto que, embora não houvesse a necessidade de compor o
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litisconsórcio em face deste, ele iria compor o polo passivo da demanda, pois o CPC
permite a denunciação à lide do agente causador do dano.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Verificamos, então, que a televisão está presente em todas as classes, logo
todos têm acesso às informações trazidas por ela, por isso um dano causado por
meio desta é propagado de uma maneira mais rápida e violenta, dependendo do
caso concreto chega a ser irreparável. Por isso, os jornalistas, que são respeitados
pela sociedade ao noticiarem algo falso possuem credibilidade e todos acreditam no
que foi dito. E por meio de uma notícia a imagem de um cidadão pode ser destruída.
Por isso, o foco do nosso trabalho foi estabelecer que a liberdade de
imprensa que o jornalista possui é limitada, não pode extrapolar e atingir os direitos
da personalidade de outrem. Até porque, se isto ocorrer, ele será punido e terá que
reparar o dano causado.
E é importante salientar que não é só responsabilidade do jornalista reparar o
dano, mas também da empresa em que ele trabalha, pois esta, muitas vezes,
visando um maior IBOPE, não procura saber a veracidade das informações, ou até
visando uma maior audiência denigre a imagem de uma pessoa, almejando um
benefício próprio.
Devido aos diversos meios de comunicação, o jornalista que é vinculado à
televisão é munido de diversas fontes de informações, porém estas podem ser
verídicas ou não e ele detém pouco tempo para conferir a veracidade destas e
colocá-las no ar, o que pode ocasionar um equívoco e serem transmitidas
informações errôneas. Às vezes, ele divulga tal notícia sem saber a autenticidade
das informações, mas a apuração da verdade é intrínseca a sua função.
O jornalista deve se policiar muito, pois a sua função cumpre mais que uma
finalidade informativa. A sua função pode formar a consciência de uma sociedade,
pode criar valores culturais e sociais, pode ao mesmo tempo engrandecer e rebaixar
um indivíduo.
A Lei Maior de 1988 assegurou, em seu artigo 5º, inciso IX, a liberdade de
expressão e informação, independente de censura e no mesmo artigo no inciso X,
assegurou respeito à honra, vida privada, intimidade e imagem. Ou seja, a liberdade
de imprensa não pode querer se sobressair aos direitos da personalidade, visto que
ambos os direitos estão no mesmo nível constitucional, o que deve ocorrer é bom
senso e ponderação para que ocorra a preservação desses direitos, assim não
ocorra conflito.
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Portanto, antes de divulgar alguma notícia, o jornalista deve averiguar a
veracidade da mesma, e também avaliar se esta notícia verídica não irá denegrir a
imagem, a honra ou a privacidade da pessoa em tela. Caso a notícia viole esses
direitos, é preciso fazer uma avaliação de grau de importância da informação e do
interesse público.
Na verdade, o conflito de direitos fundamentais é apenas aparente, por isso
quando a liberdade de imprensa e os direitos da personalidade estiverem em
combate, a solução é fazer uma análise e observar a proporcionalidade e a
razoabilidade em questão.
O jornalista deve ter cuidado para que a sua divulgação não caracterize
abuso de direito, pois como já dito, a lei estabelece o direito, mas não o limita, o que
fica difícil no exercício da profissão distinguir o que é ou não abuso de direito. E
caracterizado um abuso de direito por parte do jornalista, este terá que indenizar o
sujeito atingido.
Diante do exposto, o jornalista deve exercer a sua liberdade de imprensa na
forma de notícia e opiniões de maneira responsável, sempre em observância de
direitos alheios, pois caso sejam veiculados fatos inverídicos ou que denigram a
imagem de outrem, se faz necessário a reparação dos direitos extrapatrimoniais do
individuo, seja feita pelo jornalista ou pela empresa em que ele presta serviço. Essa
reparação poderá ser feita através do direito de resposta, que é assegurado ao
lesado o mesmo meio e o mesmo tempo para se defender, ou ainda, a reparação
pode ser feita através de indenização.
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