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1 UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES PROGRAMA PEC/MSC/MDA/INCRA/PRONERA/UFPB DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA GLAUCIÊ PEREIRA DOS SANTOS O POVO NEGRO E O VÔO PARA A LIBERDADE: COMUNIDADE QUILOMBOLA DE MITUAÇU (PB- BRASIL) SÉCULOS XVII- XXI JOÃO PESSOA-PB 2011

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES

PROGRAMA PEC/MSC/MDA/INCRA/PRONERA/UFPB

DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA

GLAUCIÊ PEREIRA DOS SANTOS

O POVO NEGRO E O VÔO PARA A LIBERDADE: COMUNIDADE

QUILOMBOLA DE MITUAÇU (PB- BRASIL) SÉCULOS XVII- XXI

JOÃO PESSOA-PB 2011

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GLAUCIÊ PEREIRA DOS SANTOS

O POVO NEGRO E O VÔO PARA A LIBERDADE: COMUNIDADE

QUILOMBOLA DE MITUAÇU (PB- BRASIL) SÉCULOS XVII- XXI

MONOGRAFIA apresentada ao Departamento de História (DH), através do convênio PEC/MSC/MDA/INCRA/PRONERA/UFPB, realizado no Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes da Universidade Federal da Paraíba, como requisito parcial para obtenção do título de Graduada em História, sob orientação do Prof. Dr. Elio Chaves Flores.

JOÃO PESSOA-PB 2011

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GLAUCIÊ PEREIRA DOS SANTOS

O POVO NEGRO E O VÔO PARA A LIBERDADE: COMUNIDADE

QUILOMBOLA DE MITUAÇU (PB-BRASIL) XVII-XXI

APROVADO EM: ___/___/___ NOTA_______

BANCA EXAMINADORA

_____________________________ Prof. Dr. Elio Chaves Flores (UFPB/DH)

Orientador

_____________________________

Prof. Dr. Waldeci Ferreira Chagas (UEPB/DH) Examinador

JOÃO PESSOA-PB 2011

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AGRADECIMENTOS

Sem sombras de dúvidas o meu agradecimento em primeiro lugar vai para o

pai querido e amado, salvador e libertador da vida, se não fosse ele não conseguiria ter

chegado até aqui, muito obrigada meu DEUS;

Meus pais por todo o apoio, especialmente a minha mãe Gilvanete que tem

me sustentado durante estes anos e que não vê a hora de eu começar a trabalhar;

A minha querida irmã Glaucia pelo apoio, ao meu irmão Edrizio, e minha

querida avó Djanira, assim como a toda família;

Aos professores (as) que contribuíram com minha formação, todos (as)

foram de fundamental importância;

Meu agradecimento aos (as) companheiros (as) que demonstraram serem

amigos e colaboradores (as) a exemplo de Lucilene e o pessoal do quarto treze;

Meu agradecimento de forma especial ao Prof. Dr. Waldeci Ferreira Chagas, da UEPB

– Campus de Guarabira, pelas leituras e indicações dadas, o que tornou este trabalho

melhor e possível de conclusão. Agradeço por sua paciência, dedicação e incentivo.

Agradeço orientador Elio Chaves Flores, a Regina Célia pela atenção, Paulo Giovani e

Jonas Duarte pela dedicação ao curso, agradeço a todos da secretaria do PEC/MSC.

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A todas as pessoas negras que resistiram ao período da escravidão, lutando contra o sistema escravocrata e que continuam lutando por sua liberdade

em busca de novos vôos cada vez mais altos. Dedico.

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A história vista de baixo ajuda a convencer aqueles de nós nascidos sem colheres de prata em nossas bocas, de que temos

um passado, de que viemos de algum lugar. Mais também, com o passar dos anos, vai desempenhar um importante papel, ajudando a corrigir e a ampliar aquela história politica da

corrente principal... (Jim Sharpe)

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RESUMO

A história da cidade de Conde está inserida no processo de colonização do Brasil como

também da Capitania da Paraíba e se destaca no período colonial e imperial, sobretudo o período das conquistas portuguesa, francesa e holandesa, e a exploração de mão de obra

escravizada indígena e africana. A transição da condição de aldeia Jacoca a cidade de Conde se insere nesse contexto histórico, nele os indígenas foram expulsos de suas terras e exterminados como a nação Tupi, que se dividia em tabajara e potiguara e

ambos habitavam o litoral da Capitania da Paraíba. A transição da mão de obra escravizada indígena para a mão de obra escravizada africana estabeleceu ao mercado

açucareiro maior produção, o escravizado também trabalhou em várias outras atividades como na pesca, no algodão, funções domésticas e na criação de gado. Os negros não aceitaram a subordinação, mesmo escravizados buscaram ao longo do sistema

escravocrata sua liberdade e a encontraram nos quilombos, a exemplo de Mituaçu.

Palavras chave: colonização, escravidão e resistência.

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LISTA DE IMAGENS

Certificado de auto reconhecimento...................................................................39

Escola publica municipal.....................................................................................40

Sede da associação dos moradores de Mituaçu....................................................41

Templo da igreja católica....................................................................................42

Templo da igreja evangélica..................................................................................43

Ponte do arco.........................................................................................................44

Entrada de acesso a comunidade de Mituaçu...........................................................45

Dona Elisabete........................................................................................................51

Fotos da antiga lapinha.........................................................................................52-55

Fotos da atual lapinha............................................................................................55-58

Fotos da quadrilha.................................................................................................58-59

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SUMÀRIO

CAPÍTULO I

DA ALDEIA DA JACOCA, A CIDADE DE CONDE: A PERDA DO TERRITÓRIO INDIGENA

1.1 Os índios da Jacoca e a perda do seu território: a conquista da Paraíba..............10-16 1.2 Os africanos são inseridos nas terras da Paraíba..................................................16-20

1.3 A resistência dos africanos escravizados.............................................................20-21 1.4 De Vila, a Cidade de Conde.................................................................................22-22

CAPÍTULO II

MITUAÇU: A TERRA DE KAKA, II E MARIA FELIPE

2.1 As terras de Mituaçu............................................................................................25-38 2.2 O reconhecimento de Mituaçu como comunidade remanescente quilombola.....38-46

CAPÍTULO III

O LUGAR DE VOAR NAS ASAS DA ALEGRIA..................................................47-60 CONSIDERAÇÕES FINAIS..........................................................................................61

REFERÊNCIAS..............................................................................................................62

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CAPÍTULO I

DA ALDEIA DA JACOCA, A CIDADE DO CONDE: A PERDA DO

TERRITÓRIO INDIGENA

Neste capítulo discutimos sobre a história da Cidade do Conde no intuito de

mostrar a inserção das pessoas negras nesse espaço. Para tanto, fazemos uma pequena

incursão pela história da conquista da Paraíba, uma vez que a história da cidade do

Conde está inserida no contexto da conquista do território paraibano e domínio dos

portugueses, depois espanhóis e holandeses. Isso significou a perda do território pelos

indígenas que desde antes do século XVI a habitava, em seguida um novo sujeito foi

inserido.

Traficados da África para as Américas os africanos foram obrigados a

cruzar o atlântico e inseridos no Brasil, na Paraíba se constituíram na razão de ser da

economia açucareira. Submetidos a condição de escravizados, os africanos resistiram do

modo que puderam, e assim os mecanismos de resistência utilizados colaboraram com a

quebra do sistema escravista.

Escrita com o sangue e o suor de índios e negros, a história da cidade do

conde é marcada pela perda, mais também pela conquista, visto que nesse território,

outrora uns homens negros e mulheres negras foram inseridos na condição de

escravizados e após longo período de resistência tornaram essa terra sua casa, e assim

reinventaram a África.

1.1 Os índios da Jacoca e a perda do seu território: a conquista da Paraíba

A aldeia da Jacoca era habitada pelos índios potiguara; desde antes da

chegada dos portugueses ao Brasil e as terras da Paraíba. Desta feita, a história dessa

aldeia se confunde com o período colonial e imperial da história do Brasil; e foi

marcada pela conquista portuguesa, francesa e holandesa. Assim os elementos

indígenas, europeus bem como com os elementos da cultura africana fazem parte da sua

história. Assim, índios, negros, e colonizadores passaram a explorar os rios em prol da

economia açucareira; e se constituíram personagens, ou seja, agentes da história da

aldeia da Jacoca, cidade do Conde.

Antes da chegada dos portugueses, a Paraíba a Jacoca era um território

habitado por vários índios, principalmente da nação tupi, que se dividia em tabajara e

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potiguara; eles ocupavam o litoral, viviam da pesca, caça e da coleta de frutos, eram

tribos nômades. Como viviam em busca de novas terras, entravam em conflitos uns com

os outros. Além desses índios, existiam outras tribos, como os cariris, (kariris): chocós e

paratiós; carnóios (curináios); bodopitas ou fagundes; bultrins e icós.

Mas a Paraíba era habitada por outros índios, a exemplo dos coremas que

dominavam o brejo e o sertão, e ao lado dos tarairius, anduís, ariús, pegas, panatis,

sucurus, paiacus, canindés, genipapos, cavalcantis, e vidais lutaram entre se por

territórios e contra a escravidão imposta pelos colonizadores europeus.

Os europeus chegaram à Paraíba no final do século XVI inicialmente

fizeram aliança com os indígenas. As alianças entre os índios e a coroa portuguesa

demonstraram que cada um tinha seu interesse. Todavia, a colonização da Paraíba

significou vassalagem ao rei, uma vez que os índios aliados dos portugueses tornaram-

se seus súditos e tinham que apoiar e lutar contra os inimigos dos colonizadores, e

aceitar a religião católica e a civilização européia.

Desta feita, a história da Jacoca está inserida no contexto de conquista das

terras da Paraíba pelos portugueses e a perda dos territórios pelos índios, visto que a

área onde está localizada fora área de produção do açúcar e na época era habitada por

uma tribo indígena denominada tabajara.

Na Paraíba o cenário de dominação dos índios se assemelhou ao que os

portugueses utilizaram na África, ou seja, se utilizaram da estratégia de guerra e

colocaram grupos rivais contra outros. Ao se enfrentarem um dos grupos se uniam aos

colonizadores contra os seus próprios assemelhados. Mas nem sempre essa estratégia

funcionou, pois os índios faziam alianças, mas nem sempre as cumpriam

Para os indígenas as alianças era uma possibilidade de ataque e destruição

dos seus inimigos. Os potiguaras e tabajaras foram os povos indígenas que mais

estiveram no cenário de guerra, pois eram inimigos e além dos conflitos que

desencadearam entre si, lutaram contra os colonizadores portugueses e franceses.

A partir do século XVI se estreitaram ainda mais a inimizade entre tabajaras

e potiguaras, com a ajuda dos portugueses, uma nação acabou dominando a outra. Nesse

processo e à medida que a colonização foi avançando as populações indígenas foram

sendo aculturadas, escravizadas, e mortas, “deixaram de existir enquanto nação indígena

e” e passaram a ser povos.

O modelo de colonização a que a Paraíba foi submetida influenciou

diretamente a vida dos povos indígenas da região. Acerca dessa questão Herckmans

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(1982) destaca que a Paraíba situada ao Norte de Pernambuco foi uma das primeiras

províncias do Brasil, populosa e fértil habitada por indígenas, depois de sua descoberta

foi explorada pelos franceses que extraíram suas riquezas como pau-brasil e algodão.

Em função disso, a Paraíba fora disputada pelos franceses e portugueses,

para expulsar os franceses, os portugueses fizeram aliança com os índios tabajaras, e

desencadearam várias batalhas contra os potiguaras; que eram aliados dos franceses.

Depois de os portugueses com a ajuda dos tabajara vencerem os potiguara e expulsarem

os franceses elevaram à capitânia da Paraíba a condição de cidade, dando-lhe em 1585 o

nome de Nossa Senhora das Neves, assim acreditava-se que o território estava

controlado.

Devido ao domínio espanhol sobre os territórios portugueses o nome da

cidade foi mudado para Filipéia de Nossa Senhora das Neves, em homenagem ao rei da

Espanha Filipe. A cidade contava com seis igrejas e conventos que foram fortificados

para servir de exilio ou refúgio, como é o caso do convento de São Francisco, o

convento dos Carmelitas, o convento de São Bento, e as igrejas da Matriz, a igreja da

misericórdia e uma igreja ou capela em cujo extremo cresceu a cidade até o convento de

São Francisco. Na época a cidade ainda dispunha do tribunal da justiça, também tinha

um ouvidor para apelar das sentenças, claro que as leis só eram em sua supremacia para

os que tinham condição.

Por volta de 1621 a Companhia das Índias Ocidentais (organização

comercial e militar com apoio do governo holandês) expandiu suas ações no Brasil,

como parte desse processo em 1624 os holandeses invadiram a Bahia, em 1630

invadiram Pernambuco, com isso todo o nordeste.

De 1631 a 1633 os holandeses fizeram várias tentativas de invasão na

Paraíba sendo frustradas pelo capitão mor que usou como arma de defesa a Fortaleza de

Santa Catarina em Cabedelo. Tal fortaleza era comandada por João de Matos Cardoso,

enquanto o Forte do Santo Antônio estivera sob comandado do Capitão Luís de

Magalhães, o Forte da Restinga estava sob comando do Capitão Pedro Ferreira de

Barros, e o Forte do Varadouro era comandado pelo Capitão Manoel Peres Correia.

Em 1634 o ataque dos holandeses a Paraíba atingiu dois fortes, entre eles o

forte de Cabedelo que foi bombardeado, o capitão mor se rendeu e os holandeses

conquistaram a Paraíba. Em função disso a cidade de Filipéia de Nossa Senhora das

Neves, passou a se chamar Frederica em homenagem ao monarca holandês.

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Em virtude da invasão holandesa, os portugueses destruíram a província

para que os holandeses não tivessem lucro, mas os holandeses edificaram uma nova

povoação com casas e reconstruíram engenhos com a intenção de que os mesmos

produzissem, visto que se intensificou a plantação de cana de açúcar, fumo, algodão,

arroz, etc.

Com a notoriedade da colonização holandesa na Paraíba instalou-se o

pânico na capital, pois se disseminou a ideia de que os colonizadores holandeses eram

perigosos e isso gerou o esvaziamento da cidade; muitos dos moradores se refugiaram

no campo. Para reverter essa situação os holandeses formularam leis com o intuito de

garantir uma sucessão de direitos à população caso essa se submetesse aos seus

domínios. Para que todos regressassem a cidade fora garantido: proteção, direito a

propriedade, liberdade religiosa, paz, e passaporte para Portugal. Essa foi à forma que

os holandeses utilizaram para manter a dominação e o controle das pessoas.

Como parte de sua ação administrativa, em 1635 os holandeses fizeram

relatórios de 18 engenhos da Paraíba, cujos proprietários se recusaram submeter-se aos

domínios holandês, alguns dos engenhos foram confiscados e outros vendidos. Além de

explorar a cana de açúcar os holandeses extraíram as riquezas naturais da Paraíba como

pau-brasil, ouro, e produtos de produção.

Em 1637 o príncipe Mauricio de Nassau chegou à Paraíba e a partir dessa

data reinou a paz na colônia, uma estratégia para gerar mais recursos e enviá-los a coroa

holandesa, foi restaurar as atividades agrícolas. No entanto, a colônia passava por uma

grande crise econômica devido à falta de produção e juros altos. Por isso, Mauricio de

Nassau suspendeu as confiscações, prorrogou o prazo para pagamento das dividas,

reduziu impostos para reerguer a colônia, ele também tentou criar novas riquezas para a

província com a produção de vários produtos, e ainda implantou a cultura do fumo, do

algodão, do arroz e etc.

O já então Conde Mauricio de Nassau explorou o interior do Brasil no

intuito de descobrir minas de ouro e prata. O Conde esteve na Paraíba por duas vezes,

em 1637, ano da sua chegada ao Brasil e 1644 quando retornou a Holanda. Esse conde

manteve o domínio da Paraíba sob o comando de quatro governadores cada um a sua

época.

A ocupação holandesa na Paraíba durou menos de onze anos, dez anos e

onze meses, e os índios tapuias foram seus aliados.

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Em 1636, o então presidente da província da Paraíba ordenou aos habitantes

da Jacoca para que fossem alojar-se na capital, permanecendo por algum tempo. A

história ainda revela que posteriormente, os habitantes deixassem as suas antigas

moradias e construíssem um novo povoado, que passou a ser chamado de Mauricéia em

homenagem ao Conde Maurício de Nassau. Assim a Jacoca sempre esteve no cenário da

colonização da Paraíba, conforme o trecho abaixo:

Após alcançar o objetivo, os conquistadores passaram a solicitar a coroa Portuguesa à recompensa pelos esforços e recursos despendidos, através de terras destinadas, seja à fixação de residência, seja a instalação de engenhos e currais. É o que relevam as cartas de sesmarias emitidas entre 1586 e 1626 (FERNANDES, pp.1574-1799, 1991).

Na carta de sesmarias identificada no quadro abaixo se encontram os índios

da Jacoca requerendo sua recompensa por participação na conquista de territórios.

QUADRO 1 – CARTA AOS INDIOS DA JACOCA

Nº ANO REQUERENTE JUSTIFICATIVA LOCAL OBJETIVO

07 1614 Índios de Jacoca Conquistas/ evitar problemas e

garantir o aldeamento.

Barra de

Gramame

Lavoura de

mantimento.

Fonte: TAVARES, João de Lyra. Apontamentos para a História territorial da Parahyba. Edição Fac

similar. Coleção Mossoroense, vol. CCXLV, 1982, pp.29/40.

Esse mesmo procedimento aconteceu quando a Paraíba ainda estava ligada a

capitania de Pernambuco e em 1746 esteve sujeita ao bispado, a região da Paraíba e a

aldeia da Jacoca estavam submetidas ao missionário de São Benedito, considerada uma

região de povos caboclos e de língua geral. No processo de conquista da Paraíba

Almeida (1978) destaca que a Jacoca era área de trajetos que ligava as capitanias, na

verdade eram trilhas indígenas, “terras cortadas pelo Rio Gramame e Mamuaba e que

fazem parte do Conde são pertencente a esse caminho”, esta trilha ligava a Paraíba a

Pernambuco e se passava por Jacoca. A origem do nome Jacoca é desvendada por

Herckmans:

Neste distrito do Gramame, ao sul do rio e cerca de duas léguas da costa, existiam também duas belas aldeias chamadas Jacoca e Pindaúna. Jacoca é uma palavra brasílica que significa: abraça-me,

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pois nesse lugar os índios surpreenderam uma mulher brasiliense potiguar que se achava a sombra com uma tapuia, e lhe dizia – “t´cheakoka” abraça-me {...} (HERCKMANS, 1982:23).

Outros autores dizem que o significado do nome Jacoca é de caráter

lendário e trazem outras versões para o seu sentido seria “a colheita dos juás” em

homenagem aos juazeiros na época existente na área ou significava “a morada do jacu”

(jacu= ave; oca= casa) lugar onde moram as aves (CAVALCANTE, 1996).

Era possível encontrar colonizadores próximos às aldeias de Jacoca e

Pindaúna, sobretudo, nas áreas dos rios Gramame e Jacoca. Acerca dessa questão

Herckmans relata que o Rio Gramame percorre um trajeto de duas a três léguas e

desagua ao sul do mar do Cabo Branco. No percurso do rio moram vários ribeirinhos.

Os holandeses em 1636 fizeram com que, os índios das aldeias de Jacoca e

Pindaúna fossem para a cidade de Frederica onde passaram a prestar serviços variados

para a Companhia de Comércio Holandesa. Anos mais tarde eles regressaram e com

isso uma nova formação do povoado foi iniciada, pois as aldeias antigas encontravam-se

arruinadas.

Com o passar do tempo, os antigos habitantes de Jacoca e Pindaúna, se fundiram numa só tribo e acabaram por pedir permissão a autoridades holandesa para retornarem as suas terras de origem, no que foram prontamente atendidos. No entanto ao regressarem, encontraram suas antigas aldeias arruinadas e acabaram fundando um novo povoado que ficou sob o controle do capitão inglês John Harrison, que estava a serviço da Holanda. Esta nova aldeia, construída entre Jacoca e Pindaúna recebeu o nome de Mauricéia, em homenagem ao conde Maurício de Nassal, governador geral do Estado Holandês no Brasil (CAVALCANTE, 1996,32).

Para doutriná-los foram designados para a aldeia padres beneditinos, nos

primórdios do século XVII, designando a população à conversão ao cristianismo através

da catequese. Para marcar território foi construída varias igrejas. A nova povoação

passou por transformações e veio a chamar-se Frederica do Conde em 1768 numa

homenagem a Nossa Senhora da Conceição, logo em seguida com o seu

desenvolvimento torna-se Vila do Conde.

O Conde foi uma das vilas paraibanas onde a população, no final do

século XVII, era composta, em sua maior parte, por índios e mestiços,

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sob o controle dos padres da ordem de São Bento (CAVALCANTE,

1996, 41).

Acerca dessa questão, Medeiros (1991) destaca os modos de trabalho

existente nos anos compreendido entre 1585-1850 e destaca o trabalho indígena. Esse

processo se deu por via da produção de açúcar, e os índios foram obrigados a trabalhar

nos engenhos na condição de escravizados, como também na pecuária.

Era um índio livre e ao mesmo tempo escravizado, esses eram doutrinados

para ser submisso. Acerca dessa questão Medeiros (1991) destaca que a aldeia de

Jacoca se destacou por fornecer mão de obra para os engenhos do litoral. Mas com o

declínio da população indígena houve a necessidade de mais mão de obra para ampliar

os lucros da produção de açúcar. Em função de tal necessidade, a colonização foi

aprimorada, uma vez que o objetivo era a obtenção do lucro.

Mesmo com a presença dos holandeses, e portugueses na disputa do

território, a Paraíba manteve-se habitada por tribos indígenas, denominados tapuias, que

estavam divididos pela província. No século XVII ainda era habitada, principalmente

por índio tabajara e potiguara.

1.2 Os africanos são inseridos nas terras da Paraíba

Em 1635 intensificou-se o tráfico de escravos, em 1638 constatou-se que

sem escravos não seria possível fazer nada no Brasil, assim como os portugueses, os

holandeses também necessitariam da mão de obra escravizada, sobretudo, os negros.

Todavia, foi durante o período de dominação dos holandeses no Brasil, que os

quilombos passaram a se configurar como um sério risco ao sistema escravocrata.

Em 1638 havia referência a existência de vários quilombos no Brasil, o de

Palmares já era temido por sua grandeza, com aproximadamente 1.000 famílias, no

entanto, outros quilombos surgiram no período de dominação holandesa.

No entanto, sem os escravizados não haveria produção açucareira por que

essa província sempre dependeu de mão de obra escravizada tanto quando esteve sob

domínio dos portugueses como também quando foi dominada pelos espanhóis e

holandeses.

Na compreensão de Medeiros (1991) “foi à fabricação do açúcar que com o

fim lucrativo, deu inicio e sentido a colonização do Brasil.” Para galgar patamares

maiores na economia açucareira era preciso mais plantação, consequentemente havia a

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necessidade de mais mão de obra para o trabalho, desde o plantio da cana ao fabrico do

açúcar nos engenhos. Esse processo representou mais lucro para os senhores de

engenhos e a inserção de negros escravizados no trabalho. Por isso, se tornou mais

rentável a compra de escravizados do que o estimulo a reprodução dos mesmos nos

engenhos.

Por isso, foi importante manter os laços fortalecidos com quem podia

fornecer a mão de obra escravizada, ou seja, a África, assim os portugueses passaram a

arrancar os africanos do seu habitat natural. Desta feita, a África foi importante para

manter os africanos escravizados na América.

Manter sob controle essas fontes de abastecimento era tão importante que os holandeses, no século XVII, procuraram não só ocupar as regiões produtoras de açúcar no Brasil, mas também conquistar os pontos fornecedores de escravos: Angola, na África e Maranhão na periferia da região açucareira por eles ocupada. “Sem Angola não se pode sustentar o Brasil...” afirmava uma Consultora do Conselho de Guerra em 1643 (GORENDE, 1978, p. 521).

Para capturar os africanos, os portugueses recorreram a algumas estratégias

e se utilizaram das condições encontradas em África. Não foi necessário invadir tal

continente, os portugueses promoveram disputas entre os africanos, uma vez que era

comum entre os grupos étnicos os conflitos motivados por diversas questões, entre elas

a disputa territorial. Nesse sentido, as guerras entre as etnias rivais tinham o intuito de

que o grupo derrotado fosse escravizado traficado para o Brasil e depois de negociados

eram distribuídos nos engenhos.

Mas “durante o domínio holandês, negros haviam fugidos dos engenhos e se

refugiaram junto aos índios Janduís, no Rio Grande do Norte. As autoridades

portuguesas mandaram tropas ao chefe dos indígenas que foi forçado a entregar 60

negros que tinha na sua tribo.” Portanto, havia carência de mão de obra negra

escravizada, logo, os colonos não hesitavam em reaver os negros fugidos.

Como a Paraíba esteve um bom tempo ligada a Pernambuco, ou seja, sob

seus comandos a produção açucareira da Paraíba era levada ao comercio de Pernambuco

e isso contribui para que a comercialização de escravizados fosse desprovida. Portanto,

era necessário obter mão de obra escrava em Pernambuco, pois os navios não

aportavam nos mares da Paraíba.

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No século XVIII a Paraíba fez concessões referentes às novas levas de

escravizados seqüestrados na África. Mesmo com a pressão da Inglaterra no século XIX

para por fim a escravidão, com o interesse movido pela revolução industrial, o tráfico

interno de africanos continuou de forma clandestina.

Na Paraíba em 1836, aconteceu um desembarque de negros contrabandeados na barra do rio Abiaí, com a cumplicidade do Juiz de Paz. Não devem ter sido os únicos chegados nessa condição à Província (MEDEIROS, 1991, p.53).

Em meio à proibição do tráfico imposta pela Inglaterra em 1747 o furto de

escravizados e as fugas na Paraíba eram crescentes. Em função disso há evidencias de

formação de quilombos na Paraíba durante o século XIX, uma vez que a população

escravizada na Paraíba era crescente.

QUADRO 2 - POPULAÇÃO ESCRAVIZADA DA PARAÍBA: (1798 A 1851)

ANOS POPULAÇÃO LIVRE POPULAÇÃO ESCRAVA TOTAL

1798 30.989 = 77,70% 8.897 = 22,3% 39.894

1802 40.168 = 79,00% 10.667 = 21,00% 50.835

1805 39.279 = 79, 58% 10.077 = 20,42% 49. 358

1811 104.774 = 85,60% 17. 633 = 14,40% 122.407

1820 79.725 = 82,66% 16.723 = 17,34% 96.448

1823 102.407 = 83,66% 20.000 = 16, 33% 122.407

1850 178.479 = 86, 25% 28.473 = 13,75% 206.952

1851 183.920 = 86,25% 28.546 = 13,43% 212.466

1870 200.777 = 91,63% 18.327 = 8, 36% 219.104

Fonte: (Medeiros, 1991 p, 55)

A redução do número de escravizados na Paraíba aconteceu por causa das

varias epidemias que surgiram durante a colonização como a febre amarela, as bexigas,

a cólera, isso entre 1641 e 1854. Outro fato que contribuiu para a redução deste índice

foram as secas continuas, em função das secas muitos escravizados foram abandonados

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por seus senhores que não tinham condições de sustentá-los e muitos acabaram

morrendo.

A anexação da Paraíba a Pernambuco também contribuiu para a baixa de

escravizados, em 1805 a Paraíba contava com uma população de 12.999 brancos, pretos

livres 4.272 e cativos 7.550, mulatos livres 18.618 e cativos 2. 528. A crescente

população mulata agregou “os homens livres de cor que preenchiam funções de

escravizados.” Como estes adquiriam a liberdade? Muitos através de alforrias doadas ou

compradas. Outra forma de se obter a alforria era através dos testamentos de seus

senhores, o batismo era usado para conceder a alforria a crianças com o “forro de pia”,

também se concedia alforrias aos sexagenários; muitos eram alforriados pelos senhores

porque estavam velhos e doentes e eram obrigados a viver em condições ainda pior nas

ruas.

Os escravizados eram obrigados a trabalhar nas diversas áreas

primordialmente nas que valorizasse a produção açucareira. Desta feita, o ponto mais

alto da escravidão coincidiu com a expansão da produção de açúcar. Na Paraíba os

escravizados trabalharam na produção de tijolos e telhas, assim como no corte do pau-

brasil, uma vez que fora usado para a construção e reforma de fortalezas.

Em 1631, na Paraíba, eles estão trabalhando em obras do forte de

Santo Antônio (defronte ao de Cabedelo) e em 1666, o Conde de

Óbidos ordena ao Capitão-mor da Paraíba que os moradores da

capitania concorram com seus negros para obras de Cabedelo.

(MEDEIROS. 1991p. 61).

Havia os escravos usados para os serviços domésticos, outros eram usados

na tecelagem do algodão, na pesca no litoral e nos rios. No final do século XVIII a

cultura algodoeira dependia do trabalho escravizado, pois os negros eram usados desde

a preparação do solo ao ensacamento do algodão.

Já na criação de gado, ao longo do século XVIII ocorreu divisão no

trabalho, o gado foi introduzido nos engenhos, paralelo a produção do açúcar havia a

produção de couros, carnes para as cidades e exportação, os negros foram introduzidos

nos serviços dos currais. Esse fato foi identificado por alguns autores que analisam o

escravizado no sertão. Porém tal afirmativa se contrapõe a Moura (19981), uma vez que

esse pesquisador,

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Não encaixa o braço escravo na economia sertaneja. Segundo ele, o

negro aparece ali como fugitivo, como quilombola, portanto sem

qualquer função útil no esquema produtivo da colônia (MOURA,

1981, p.234).

Embora o autor se refira especialmente ao negro dos sertões da Bahia,

Alagoas e Sergipe, é possível se admitir essa hipótese também para o caso da Paraíba,

nas primeiras décadas do século XVIII (...) “os escravos de origem africana,

introduzidos no sertão da Paraíba, seriam somente os prisioneiros palmarinos, trazidos

pelas forças de Domingos Jorge Velho para o Piancó” (JOFFILY, 1977, p. 97). E há

noticias de quilombos, formados na Paraíba logo após a destruição de Palmares

(JOFFILY, 1977, p.358-360).

A criação de gado no sertão teve seu declínio com a seca de 1791 a 1793 a

grande seca desarticulou a pecuária do sertão. Contudo o algodão levou escravizado

para o sertão. “Em 1805, Pombal tinha um contingente de 1.099 escravizados e Souza

1.105”. Ambas possuíam juntas 2.204 escravizados, ou seja, 21,86% da população

escravizada da Paraíba cujo total era de 10.079 indivíduos.

1.3 A resistência dos africanos escravizados

A resistência de homens e mulheres escravizados é analisada por autores

que discutia a reação do mesmo mediante ao o que era imposto. Clóvis Moura analisa

que a rebeldia dos escravizados nada mais era que uma forma de resistência. A mais

eficaz dele foi a formação de quilombos existente onde operou o regime escravocrata.

Para Moura (1988), o quilombola,

Aparece como o elemento que desempenhou um papel importante no desgaste econômico e social do regime escravista, gerando desajustes a tal ponto de se considerar o escravo um indesejável, como maquina de trabalho, pois era necessário se criar um sistema de controle social sobre os cativos, que influía na margem de lucros individuais da classe senhorial. Assim, o quilombola é rebelde ativo, aquele que resiste ao sistema. Mais que isso, é o elemento dinâmico que impulsiona a sociedade brasileira em direção a outra forma de regime de trabalho,

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que não seja tão degradante como o regime escravista: o trabalho livre. (LIMA, 2010 p.68)

O escravizado é visto também como um “sujeito histórico” que sabia lutar por

seus interesses, que negociava sua liberdade e quando não obtinha a resistência a este

sistema a saída acontecia de varias formas. A fuga era uma alternativa de resistência

seja ela individual ou coletiva, no entanto, uma das formas mais eficaz de resistência foi

à formação de quilombos, acompanhada de homicídios, agressões, e suicídios.

Nos sertões e alto sertões da Paraíba entre 1850 e 1888 é provável que houve

cerca de 139 fugas de escravizados, esse número pode ser maior pois muitos senhores

não divulgavam as fugas dos seus escravizados. Muitos escravizados se refugiavam em

quilombos, mais houve alguns que procuraram a liberdade nos centros urbanos e

passaram a viver como livres, quando não eram encontrados.

O suicídio também era caracterizado como uma das formas de resistência

existente no sistema escravista. Ou seja, foi mais uma forma de resistência “que tinha

por finalidade destruir a si mesmo.”

Na Paraíba foram constatados 18 suicídio sendo 5 casos no sertão, este ato é

um dos mais antigos, usados pelos escravizados desde a travessia da África ao novo

mundo “suicidavam-se, jogando-se ao mar.” Estudos mostram que os casos de suicídio

no Brasil entre escravizados ocorriam por eles terem lembranças da terra natal. Mais um

caso na Paraíba ocorreu porque uma escravizada não quis servir ao seu senhor.

No geral os escravizados lutaram contra o sistema escravista que o oprimia e

mostraram de diversas formas as suas armas em busca da liberdade e assim

conseguiram quebrar os grilhões que os prendiam.

Para conter as fugas na cidade existia o acoitador que disponibilizava sua casa

para acolher o escravizado. “O aceitador podia ser qualquer pessoa, um negro forro, um

homem livre pobre ou senhor de posses.” Os senhores de escravizados recorriam as

autoridades policias como também ao capitão do mato para recuperar os escravizados

fugitivos, aqueles que fossem capturados eram submetidos a castigos terríveis de

chibatadas a mutilação, além de serem obrigados a usar um colar de ferro que o

identificava como um fugitivo,

O tronco era mais uma das formas de castigos usadas pelos senhores seja de

forma vertical ou horizontal, os escravizados fugitivos eram presos pelas pernas e

braços. Os escravizados respondiam no mesmo patamar a violência sofrida e

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desencadeada por seus opressores, na Paraíba entre 1850 e 1888 aconteceu cerca de 140

crimes, entre eles o caso de três escravos que envenenaram a sua senhora e foram presos

e condenado a forca.

1.4 De Vila, a Cidade de Conde

Com 47 anos de emancipação politica comemorados no dia 18 de novembro

de 2010, a cidade de Conde tem ao longo do tempo, passado por grandes

transformações na sua paisagem. Situada no litoral sul da Paraíba fica a 13 km de João

Pessoa, faz parte da chamada “grande João Pessoa” e é cortada pela BR-101. Possui um

sistema fabril em crescimento e grande investimento no turismo natural; uma vez que

desfruta de belas praias, o que proporciona visão esplendorosa da natureza representada

pela praia da barra de Gramame, visto que nela ocorre o encontro do rio com o mar.

Dentre suas belezas naturais, se destaca a Praia de Coqueirinho; ponto

turístico importante, uma vez que proporciona aos visitantes uma bela visão da natureza

ilustrada pelos coqueiros que tornam o cenário natural ainda mais atrativo. Na praia do

Amor as pedras e suas formas dão a região um clima de tranquilidade e paz. Assim

como as praias de Tabatinga e jacumã. Todavia foi a Praia de Tambaba que se afirmou

como ponto turístico devido ser espaço da prática do naturismo, com destaque para o

nudismo. Logo, foi essa atividade que proporcionou a ascensão nacional e internacional

da cidade de Conde como ponto turístico.

Com uma cultura de subsistência centrada na agricultura, dos roçados

familiares de onde se retiram o alimento diário e o excedente produzido é

comercializado; sobretudo, as frutas tropicais, como coco, caju, mamão, manga acerola,

além das raízes como inhame, mandioca, batata e outros produtos. A pesca também é

uma atividade recorrente, uma vez que muitas pessoas ainda vivem dessa atividade.

A emancipação política da Vila do Conde só ocorreu em 1963, através da lei

3.107, de 18 de novembro, e oficializada no dia 28 de dezembro do mesmo ano. Na

época a então Vila do Conde era constituída por um único distrito, cujo nome fora

simplificado para Conde.

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CAPÍTULO II

MITUAÇU: A TERRA DE KAKA, II E MARIA FELIPE

Durante a escravidão homens e mulheres escravizadas encontraram refúgio

nos quilombos, conforme observou Moura (1981) “o quilombo foi, incontestavelmente

a unidade básica de resistência do escravo”. Onde houve escravidão ali havia

resistência, o quilombo fora o lugar onde o povo negro teve liberdade, mais que isso

pode viver de acordo com seus costumes e práticas, pois se organizou e viveu livre dos

açoites do seu senhor.

O quilombo aparecia onde quer que a escravidão surgisse. Não era simples manifestação tópica. Muitas vezes surpreendeu pela capacidade de organização, pela resistência que ofereceu; destruído dezenas de vezes parcialmente e novamente aparecendo, em outros locais, plantando sua roça, constituindo suas casas, reorganizando a sua vida social e estabelecendo novos sistemas de defesa. (...) Era reação organizada de combate a uma forma de trabalho contra a qual se voltava o próprio sujeito que a sustentava (MOURA, 1981, p. 87).

Sempre destemido e lutando por seus direitos (a liberdade) que era sempre

negado, os africanos escravizados que aqui chegaram, usavam como arma seus

conhecimentos adquiridos trazidos da África sua terra natal. Assim o quilombo se

constituiu espaço de resistência e foi habitado por guerrilheiros que se engajaram nas

lutas contra a exploração, o que fez diversificar as formas de resistências e as armas,

sobretudo, porque agregaram conhecimentos da agricultura a valores construídos no

Brasil.

A guerrilha era extremamente móvel. Por isto mesmo pouco numerosa. Atacava as estradas, roubando mantimentos e objetos que os quilombos não produziam. Eram seus componentes também sentinelas avançadas dos quilombos, refregando com as tropas legais, os capitães-do-mato e os moradores das vizinhanças (...) as formas de luta dos escravos (...) a) a revolta organizada, pela tomada do poder, que encontrou sua expressão nos levantes dos negros males (mulçumanos), na Bahia, entre 1807 e 1835; b) a insurreição armada, especialmente no caso de Manuel Balaio ( 1839) no Maranhão; c) a fuga para o mato, de que resultaram os quilombos, tão bem exemplificados no de Palmares (MOURA. 1981, p. 88).

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O sistema escravocrata à medida que investia em ataques aos quilombos

estimulavam-nos a reinventarem suas formas de lutas e assim ressurgia, a exemplo disso

foi a Balaiada no Maranhão e “Papa-Méis” que permaneceram na luta após serem

atacados, isso demonstra a resistência, ou seja, o processo de luta histórica que os

escravizados (as) desencadearam contra a escravidão. Acerca dessa questão Moura

(1981) afirma que;

Os escravos paraibanos lançaram-se muito cedo à luta por sua libertação. Foi, inicialmente, o quilombo, a forma adotada. Fugiam para as matas, tornando-se um perigo constante ao sossego dos senhores de terras e de engenhos daquela área, fato que não passará despercebido ao governo de Portugal, que enviará, logo depois de ser cientificado, instituição para que fossem impiedosamente destruídos (MOURA. 1981 ,p. 90).

Nos quilombos também havia a presença de índios e brancos em busca de

abrigo eram frequentes, assim como as investidas de capitães do mato e da policia a fim

de exterminar os quilombos, os escravos que fossem pego da fuga era submetido a

punições como “ferro em brasa”, ferrado com um “F” na testa como cortada um das

orelhas. Os escravizados da Paraíba continuaram a avançar na luta contra a escravidão,

em 1865 as cadeias estavam lotadas de escravizados, que lutavam por sua tão sonhada

liberdade. Em todo o Brasil havia escravidão, consequentemente teve resistência e

formação de quilombos, o mais significativo deles foi o de Palmares.

Dos movimentos dos cativos contra a escravidão, Palmares é, por

circunstâncias especiais, o mais conhecido e estudado. Foi o que mais

tempo durou; o que ocupou - e ocupou de fato – maior área territorial

e o que maior trabalho deu ás autoridades para ser exterminado. De

1630 a 1695 os escravos palmarinos farão convergir sobre seu reduto

as atividades, os esforços e as diligências dos governantes da colônia.

Da história do que foi sua existência – 65 anos em constantes e

sangrentas lutas – até o folclore nos dá notícias. E dos fatos passou a

lenda (MOURA, 1981, p. 185).

Palmares foi refugio para escravos de várias capitanias do Brasil entre eles

os de Pernambuco, onde encontrava na natureza seu abrigo e da terra seu alimento,

geralmente as localizações dos quilombos eram em áreas de “fertilidade das terras,

abundância de madeira, caça, facilidade de água e meios de defesa da região”, o

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quilombo de Palmares crescia a cada dia, com organização interna, era um mocambo

que se dividia em vários outros.

Estabelecidos nas terras mais férteis da capitania, começaram a

desenvolver-se e aumentar de número. Suas roças floresciam, dando abundante colheita. Ali plantavam milho (que era a base da alimentação) banana, mandioca, batata-doce, feijão;

aproveitavam-se do coco abundante na região, criavam animais domésticos, aves etc. Assim instalada começou a desenvolver-se

a Republica palmarina. Em 1643 eram cerca de seis mil em franca atividade no reduto (MOURA, 1981, p. 186).

No quilombo de Palmares inicialmente foi escolhido Ganga Zumba para

administrar. Devido a ele ser homem de guerra, foi deposto em 1678, por tomar

decisões sem consultar os palmarinos. Seu sucessor foi é Zumbi um líder que entrou

para a história do povo negro um “líder incontestável e herói de Palmares”.

Os palmarinos sobreviviam da “agricultura, cerâmica: panelas e vasos de

barro, cuias de coco, faziam cestos, trabalhavam com cabaças, fabricava esteira, abanos

etc.” Seu sistema defensivo não foi suficiente para enfrentar a marcha comandada por

Domingos Jorge Velho. Por ordem do governador este bandeirante deveria acabar com

Palmares, depois de várias tentativas, em 1694 mais de 200 escravos foram mortos entre

eles Zumbi. Este resistiu até a morte pela libertação do povo negro.

2.1 As terras de Mituaçu

Quero navegar, vou navegar; Neste rio pra poder encontrar;

Muitas frutas nós vamos achar; Muitos peixes nós vamos pescar;

Quero viajar eu vou viajar; Neste mundo neste lugar;

Viajando no litoral sul; Aonde se encontra Mituaçu.

(Adriano Lima)

O povoado de Mituaçu, hoje comunidade quilombola de Mituaçu está

localizada entre o Rio Gramame e o Rio Jacoca, com estradas de terra situada na zona

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rural do Conde, seu principal acesso é pela ponte do Rio Gramame, também tem acesso

pela estrada de Caxitú e pela estrada do Conde.

Mituaçu limita-se ao norte com João Pessoa, ao sul com Paripe no Conde, a

leste com Guaxinduba e oeste com Caxitú. No seu inicio foi habitada por indígenas,

pois o município de Conde foi habitado por tribos indígenas como foi explicito no

capítulo anterior, uma vez que o nome da comunidade é de origem indígena, e significa

“ave grande”.

O povoado de Mituaçu é rico em matas fruteiras, as casas são distantes uma

das outras, a maioria das casas era de palhas só podia morar em casas cobertas de telhas

quem tivesse muita condição. Quando da sua formação só existia caminho não tinha

estrada e a iluminação era o candeeiro, se cozinhava em panelas de barro, o café era

pisado em pilões e torrado nas casas das pessoas.

Acerca das condições e estrutura das casas é pertinente o depoimento de

uma antiga moradora:

A casa era de barro com madeira, e de palha, aquela que era a melhor, pois tinha casa de telha, e mais de palha, tudo cozinhava na lenha, se alumiava com luz de gás conheci assim... Aqui tinha pouca gente o povo tudo pobre, hoje em dia está tudo rico né, muitas casas agora do governo... Era tudo negro, agora está tudo misturado, o povo era tudo daqui mesmo tudo negro, sou nascida e criada aqui. Meu pai não era quem era nascida e criada era minha mãe, minhas tias, minha vó, meu pai era de Marés, minha mãe e o povo dela que era da aqui. (Conforme entrevista concedida por Dona Berenice Pereira da Paixão, em outubro de 2011).

Sobre a infraestrutura da comunidade, outra moradora disse, que,

Mituaçu era só o trio do caminho, suas casinhas de palha, hoje em dia Mituaçu é outro foi chegando gente ajeitando as coisas. Josefa da Silva Silvério (conforme entrevista concedida por Dona Zefa, em outubro de 2011).

As fontes de sobrevivência dos moradores de Mituaçu eram e ainda são as

frutas, e os gêneros produzidos na agricultura de subsistência. No Rio Gramame e no

Rio Jacoca as pessoas pescavam e ainda pescam com covos, pintimboia (instrumento de

pegar camarões), ainda pescam caranguejos o sal e o goiamum, além de amoré, siri,

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muçu, peixes pequenos como camurim, cara peba, bagre. Assim a pesca e agricultura

são as principais fontes de renda dos moradores.

Toda vida se usou o rio, era um rio limpo o Gramame e o Jacoca era

outro rio limpo depois que fizeram a fabrica de Caxitú acabaram-se os

camarões, caranguejos, peixe no Jacoca e Gramame. (conforme

entrevista concedida por Dona Berenice em outubro de 2011)

O Rio Gramame e Jacoca sempre foi fundamental para a sobrevivência da

comunidade, as águas eram limpas, hoje com as águas contaminadas em decorrência da

poluição do sistema fabril o rio está sendo degradado, pois faz tempo que as pessoas

estão perdendo o rio como fonte de sobrevivência. Antes se pescava para comer e para

vender; todos os pescadores contam que “todo dia se fosse pescar pegava muito” coisa

que hoje não é mais assim.

A coisa melhor que tinha nesse lugar era as águas pra gente pescar, a

água era limpa pegava peixe todo dia camarão era fartura que tinha

nesse lugar... Eu pesquei muito de balaio se tirava cipó nos matos pra

fazer balaios, se fazia covos pra pescar meus filhos mesmo faziam

samburá pra pescar e traziam cheios de camarão do rio (Conforme

entrevista concedida por Dona Djanira Francisca em outubro de 2011).

A relação que o povo de Mituaçu tem com os rios e com a terra é retratada

historicamente através de suas lutas por liberdade pelo direito de ter lugar de refugio e

na luta pelo fim da escravidão. Trabalhando na terra eles plantavam feijão, milho,

inhame, batata, mandioca para fazer farinha, de tudo plantavam.

Trabalhava-se na terra para vender e comer, todos tinham seu roçado eles

produziam farinha, pois existiam quatro casas de farinha e toda semana se fazia farinha

tanto para venda como para o consumo interno, se vendia a farinha na venda ao Senhor

Severino Venâncio e também em João Pessoa.

As terras de Mituaçu eram e são férteis tudo que se planta se dava muito.

Na terra plantava inhame, macaxeira, mandioca, que nesse tempo fazia

muita farinha, tinha muita casa de farinha, tinha bem umas três, tinha

uma em Totó, uma em bi hino, e outra lá no sitio (Conforme entrevista

concedida por Dona Berenice em outubro de 2011).

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Plantava tudo na terra, existia muita casa de farinha, hoje a que tem é a

motor mais é melhor por que eu me esforcei muito em casa de farinha

pra criar meus filhos botava mandioca na casa de farinha raspava e

fazia, tinha muita mandioca toda semana agente arrancava mandioca

para fazer farinha para ter uma saca de farinha no canto da casa,

chegava a casa chamava uma galinha da terra no terreiro e matava pra

comer com farinha quente que agente trazia da casa de farinha era

muito bom (conforme entrevista concedida por dona Djanira Francisca

em outubro de 2011).

O sitio acabou-se que nestes dias não tem mais mangas, os que estão

nascendo hoje não vai ver o que era manga, era do que agente se vestia,

era da fruta da manga, veio veneno do abacaxi e acabou com as

mangueiras todinhas, não existem quase mangueiras mais em Mituaçu

(Conforme entrevista concedida por Dona Berenice Pereira da Paixão

em outubro de 2011).

O transporte que se usava na comunidade de Mituaçu era cavalo com uma

canga (de colocar carga, produtos para vender nas feiras) se vendia em João Pessoa,

Conde e muitos vendiam em Goiana. Em um caçoar se levava o que colhia dos roçados

e das fruteiras para vender, o cavalo era usado só pelos homens, as mulheres

acompanhavam os homens para a cidade a pé até o Oitizeiro onde muitos faziam

compras nas vendas que ali existiam.

Isso demonstra que a população de Mituaçu sempre manteve relação

comercial com as cidades do seu entorno não se limitaram ao lugar. Os moradores

“faziam caçoar pra botar em cavalos, os matutos faziam de cipó que tiravam nos matos e nos

caçoar levavam as mercadorias para a cidade”. Essa mesma moradora nos contou acerca da

relação dos moradores de Mituaçu com o comércio.

Quando meu marido era vivo fazia as compras na cidade comprava

bacalhau barato, bacalhau a principio era comida de pobre, hoje o

pobre não pode mais comer bacalhau, rabada de boi, comprava isso o

caçoar no cavalo vinha gemendo de carne comprava na matança, Joe

comprou muito carne na matança. Se comprava também em dona

Deda em Oitizeiro a principio tinha um mercadinho de dona Deda

onde todo matuto comprava pra trazer pra casa. Pois teve um dia que

meu marido foi pra cidade e no caminho atiraram nele e eu fiquei com

sete filhos pra criar menores. Ele levava caranguejo pra vender,

camarão, as frutas era manga e coco, quando era na safra da manga

todo dia ele levava manga pra vender todos matutos, batata, inhame,

macaxeira, essas coisas. (Conforme entrevista concedida por Dona

Djanira Francisca em outubro de 2011).

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A alimentação das pessoas de Mituaçu era baseada na agricultura com os

produtos que eles plantavam como macaxeira, mandioca para fazer farinha, batata,

inhame... Como também na pesca, pois se pescava nos rios Jacoca e Gramame, os

peixes e crustáceos eram usados para se alimentar principalmente, mais também se

vendia em João Pessoa. Outra fonte de alimentação e renda eram as frutas de variedades

diferentes e existentes na comunidade, a manga, coco verde e ceco, banana, goiaba,

caju, acerola... Quando se vendiam as frutas adquiriam-se dinheiro e com ele se

comprava muito bacalhau; um peixe de costume, muitos falaram que a comida em

Mituaçu era mais caranguejo e camarão, arroz era mais em tempo de festa era quando se

comia arroz, antigamente se comia muito bacalhau, se escondia para o povo não ver que

se comia bacalhau porque era considerada uma comida “fraca”. Os moradores quando

iam às compras disseram que se comprava bacalhau e se quebrava a calda dele para o

povo não ver que a pessoa trazia bacalhau.

Agente comprava de barril de bacalhau, era comida de pobre agente

comia de bolão, as coisas era outras chega tinha aquela felpa de

bacalhau meu avô comprava de muito barril de bacalhau pra gente

comer, batata ele comprava de muito trazia dois, três sacos e botava

no canto da parede. (Conforme entrevista concedida por Dona Josefa

Silvério em outubro de 2011)

Se comia muito bacalhau daqueles grandes felpudo, agora ninguém

nem sabe o que é bacalhau um peixe seco que só tem sal eu mesmo

não gosto, o de antigamente era bom eu mesma comi muito. Aqui o

lugar era muito rico de fartura só não existia dinheiro, tudo quanto

vendia era muito pouquinho dinheiro. (Conforme entrevista concedida

por Dona Berenice Pereira da Paixão em outubro de 2011)

Era um povo muito unido um ajudava o outro se fazia tapagem da casa, a

turma ia tirar palhas para cobrir as casas, se fazia todos se ajudavam mais que hoje. Gás

aqui era uma raridade se fazia fogo a noite para poder fazer a comida. As pessoas que

vieram morar em Mituaçu buscavam a liberdade que foi negada por seus mandatários, e

vieram buscar neste lugar longe do centro urbano a sua liberdade e encontraram o

refugio que procurava com rios e arvores fruteiras abundantes e uma terra próspera.

Eu via falar que já teve esse negocio pra traz, mais eu não conheci, só lembro-me de mim pra frente, mais eu ouvia muito falar que aqui teve escravo, eu não alcancei mais agora ouvir falar, ouvir, de onde vieram

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eu não sei. Aqueles pessoais mais velhos as roupas era tudo arrastando no chão, aquela roupona comprida aquele babado lambendo os pés, alguns eu conheci. Maria Felipe mais Croata era desse jeito, falava que era escravo, tudo isso eu alcancei, eu não cheguei a alcançar mais soube que tinha da mão cortada do tempo da escravidão, tinha um homem que morreu de bexiga que veio desse tempo. O povo era escuro mesmo, as roupa não era curta não, era arrastando no chão aqueles cabelos bem encricriado, bem ruim. (Conforme entrevista concedida por Dona Josefa Silvério em outubro de 2011).

As primeiras gerações de Mituaçu são confundidas entre índios e negros,

pois é comum as pessoas terem nomes indígenas. Sabe-se que a comunidade foi

habitada por índios, a descendência da população negra foi aumentando ao longo da

colonização, famílias como de Maria Leite e seu filho Joaquim Leite, Manuel Caboco, a

família de Patrício são consideradas as mais antigas da comunidade.

Na época antiga as mulheres usavam vestidas arrastando no chão, Kaká, II

e Maria Felipe ou Maria Croata eram três as irmãs, os moradores idosos a descreve

como ex-escravizadas eles dizem que elas eram umas “velhinhas de cabelo bem

enrolado” provavelmente vindas da Bahia, vieram morar em Mituaçu onde já havia

moradores “As roupas delas eram aqueles vastidão de babado, babado pelo pescoço saias de

babado um pano amarado na cabeça andava assim elas”. Os relatos ainda informam que elas

tinham muito boi, muitas joias, elas eram donas de engenho que ficava em Mituaçu,

tratava-se do engenho Pipiri.

Tinha Kaká, II e Maria Felipe eram três irmãs eram as ricas que moravam em Mituaçu tinha muito ouro muita coisa boa e veio um pessoal e roubou ela em Mituaçu, os ladrões colocaram as colchas no meio da casa para levar os ouros que elas tinham e elas ficaram amaradas penduradas no outro dia que acharam foram os vizinhos isso já foi no meu tempo eu tinha uns quinzes anos... Eu ainda fui pra um velório de Kaká era uma negra do olho de fogo agente tinha medo dela, elas moravam ali onde mora Dando no outro dia todo mundo em Mituaçu falava nessa história roubaram Kaká, II e Maria Felipe um carro de homens que vieram não sei quem eram esses homens (Conforme entrevista concedida por Dona Djanira Francisca em outubro de 2011).

Alguns moradores ao nos conceder entrevistas afirmaram que as três irmãs

foram roubadas por pessoas que moravam na cidade e conhecia a vida delas, a história é

de que o povo de Mituaçu tinha jóias, adquiridas através de herança.

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Kaká, II e Maria Felipe eu conheci todas três, era três negras mais

ricas de Mituaçu, tinha engenho, elas tinham, os ladrões acabaram

com o engenho delas, vieram roubar elas, a mais velha não estava em

casa, que estava na festa das neves só tinha duas em casa e a

empregada. Os ladrões levaram uma rede dessas bem grandes cheia de

dinheiro e cales de ouro, garfos de ouro eles levaram, assim contou

minha mãe, que não era do meu tempo, minha mãe ainda achou um

saco de dinheiro e deu a ela era rica de mais, era dona do sitio que

pega Nobre aquele mundo todinho era dela, o engenho era na terra

dela em Mituaçu, eles (os ladrões) se melaram todinho de tinta do

engenho e vieram roubar elas, aqui não tinha ladrão quando vinha era

da cidade, quem roubou elas era da cidade, era conhecido delas tal de

Pedro Liso. Um dia ela foi para a festa das neves e levou um anel, que

esse povo tinha ouro demais, minha mãe conheceu com muito ouro,

cada dedo um anel de ouro desse antigo, vendeu tudinho quando meu

pai morreu, ela ganhou dos antigos mesmo daqui, minha tia Zola tinha

um cordão de ouro que dava duas voltas no pescoço, era ouro demais

que tinha aqui dos antigos (Conforme entrevista concedida por Dona

Berenice concedida em outubro de 2011).

Contam os moradores antigos que os ladrões as deixaram amaradas de

cabeça pra baixo. Depois de roubadas elas praticamente mudaram-se para os mangues e

passaram a viver da pesca.

A história de Mituaçu é povoada de fatos que iluminam o imaginário dos

moradores. Contam os mais idosos que durante a colonização Mituaçu foi sempre

refúgio para os escravizados, pois consta que negros chegaram a comunidade no

período em que os holandeses colonizaram a capitania da Paraíba. Não encontramos

documentos referentes a tal fato, mas no imaginário de uma das nossas interlocutoras

encontramos referência a presença dos holandeses em Mituaçu.

Essa história não é do meu tempo já quem contava essa história era

minha mãe. Minha mãe Maria do Carmo depois que nós os filhos dela

entenderam de gente, ela contava que estudava em Gramame na

meninice dela travessava em uma canoa o rio foi no tempo que

estavam fazendo aquela ponte, quem estava fazendo a ponte? Os

holandeses. Quem eram esses holandeses? Eu não posso dizer quem

era por que eu não conheço, nem perguntei para a minha mãe por que

foi na meninice da gente que a minha mãe contava a gente (Conforme

entrevista concedida por Dona Djanira Francisca em outubro de 2011)

Nesta época se construía a ponte do arco aqui na comunidade essa

ponte tem mais de 200 anos que foram construídos por holandeses e

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escravos que eram trazidos para a construção dessa ponte que tem até

hoje na comunidade um fato muito vivo da nossa história. (Conforme

entrevista por Dona Geilsa Roberto da Paixão em outubro de 2011).

No tempo em que a colonização holandesa esteve na província da Paraíba

várias construções forma erguidas, entre elas a ponte do Rio Gramame a “ponte do

arco”. A construção dessa ponte talvez tenha possibilitado o acesso de vários escravos e

eles tenham se refugiado em Mituaçu, visto que conheciam a área, pois costumavam

tirar madeira para seus senhores.

Todo dono de sitio desse lugar era cada um negro que agente olhava e

tinha medo eles passavam e pediam mais a benção agente, cadê a

benção? Agente corria e se escondia tudo dentro de casa era negro do

olho de fogo mais tudo era do lugar, só Kaká, II e Maria Felipe que

não eram daqui, elas vinheram marar aqui elas eram donas de

engenho. Zé de Joana outro negro era gente de mais agora é que estar

clareando em Mituaçu. Mituaçu a principio era à noite, agente estava

assim brincando no terreiro, mamãe sem estar em casa, pouco mais lá

vinha àquelas veias com o fação na mão Severina Pinganga que só

andava com o facão na mão quando passava brigando e falando

sozinha e agente corria pra dentro de casa para se esconderem de

medo, negros do olho de fogo mais tudo era daqui do lugar.

(Conforme entrevista concedida por Dona Djanira Francisca em

outubro de 2011).

Não há como datar o inicio da história de Mituaçu, pois já se passaram

várias gerações, ou seja, cerca de duzentos a trezentos anos desde que os primeiros

negros chegaram a este sítio. Ao ser entrevistada Dona Berenice relatou que o povo

dessa localidade vivia muito, e lembra que Miner morreu com cento e quinze anos de

idade. Lembrou também de Dona Delicia falecida em 2007 com cento e vinte seis anos

de idade e que já tinham nascido em Mituaçu.

Provavelmente a população de Mituaçu foi iniciada pelo povo negro

anterior a “1881, sete anos antes da abolição da escravatura”. Pois, em 1850 quando

teve inicio o processo de registro de terras já tinha passado quase uma geração existente

em Mituaçu. Os (as) moradores (as) antigos relatam que “faz uns cinquenta anos que o

INCRA veio registrando as terras”, em Mituaçu. A terra tem uso de valor e uma importância

significativa para os moradores (as) da comunidade, pois é onde trabalham e tira o

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alimento, muitos trabalhavam alugados nas terras dos outros ou era meeiro, ou seja,

dividia a produção, mas todos tinham roçado para trabalhar e plantar macaxeira, milho

batata. Aqueles que tinham o roçado maior arrumavam meeiros ou contratavam pessoas

para trabalhar nas suas terras por um ou dois dias de serviço. A terra tinha muita

importância e hoje ainda é forte a ligação e a relação dos moradores com esse bem. No

entanto, o acesso a terra se fez através da posse, conforme nos enunciou um dos

moradores, quando disse: “as terras aqui é posse, vai morrendo e deixando pra aqueles que

estavam vivos, fica como herança, aqui onde moro mesmo, ninguém sabe o começo, trabalhava

na terra e ficava com ela” (Conforme entrevista concedida por Dona Berenice Pereira em

outubro de 2011). Essa afirmativa está referendada na fala de outra moradora, quando disse:

As terras eram heranças dos pais vai morrendo um e ficando para os filhos, muitos foram comprados, tinha muita terra desocupada e os povos começaram a plantar, plantar e tomaram posse e ficaram com ela e muitas foram compradas (conforme entrevista concedida por Dona Djanira Francisca em outubro de 2011).

Antigamente na comunidade existia a Igreja católica, acerca dessa questão,

a entrevistada Dona Djanira relatou que a religião católica foi a primeira a chegar na

comunidade, as rezas aconteciam nas casas, na época havia a entrega de mastro, e o

terço era cantado por todo canto. Acerca dessa questão dona Berenice nos contou que

“só era a católica, não tinha terreiro, mais muita gente aqui era sabido, caboclo, tudo

negro né sabia de alguma coisa, toda vida existiu essas coisas”.

Vinha um padre pra celebrar as missas, o transporte que ele usava para vim

realizar as missas era o cabriolé, assim citou alguns moradores, em uma das falas elas

nos contaram que um morador de Mituaçu chamado André em discordância com o

padre “o colocou pra correr”, ele era considerado muito bravo, um homem valente, não

se sabe o motivo da discordância entre ambos. Mesmo tendo havido discordância a

igreja católica estava presente, conforme afirmou outra moradora, quando disse:

Mais na minha meninice minha mãe contava que tinha uma igreja perto de Clarice (falecida) ali ainda tem o chão tinha uma igreja antiga e o padre estava rezando missa e um homem daqui André entrou na igreja e deu no padre isso não foi do meu tempo, isso já foi do tempo de minha mãe ela contava agente e o padre foi em bora na carreira no cabriolé e

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jurou ele dizendo que ainda vinha, e quando foi com um tempo, a mãe dele dizia André tu vai embora que a policia ainda vai dar fim a tu, ela se chamava Sinhaninha era uma das negonas antigas de Mituaçu e quando foi um dia ele (André) estava botando a cela no cavalo e o mataram, quando viu lá vem uma tropa de policia a mãe disse, eu não te disse André? Ele foi entrou na casa pegou uma arma, uma dose que ele tinha e detonou atirou no braço de um da policia, a policia detonou três ele saiu correndo e morreu ali onde era a mangueira maçã todo picado de bala, o homem que deu no padre vinheram e o mataram, era do povo de Zé de Joana daqui do lugar (Conforme entrevista concedida por Dona Djanira Francisca em outubro de 2011).

O conflito entre o Senhor André e o padre resultou numa relação nada

amistosa desse senhor com a polícia. Depois que a policia veio e matou André dentro

da comunidade, acabou a igreja e muitos anos se passaram sem Igreja católica em

Mituaçu, até recentemente se encontrava ainda no terreno o sino da primeira Igreja

católica existente em Mituaçu.

Quase todas as idosas de Mituaçu eram rezadeira elas tinham uma função

social importante na comunidade, as mesmas podia-se dizer tinha a função de médicas,

pois para resolver todos os problemas de saúde elas eram requisitadas. Assim como as

parteiras, as rezadeiras foram de fundamental importância para a comunidade. Dona

Carma uma dessas mulheres importantes para a comunidade era rezadeira e parteira,

outra mulher importante era Maria Mangueira também parteira e juntamente com

Babau, Alexandrina, e Maria Vitar rezavam com castanhola. Entre as mulheres Vitalina,

Maria Chaves, Maria Leite e Avelina também se destacavam porque tinham as duas

funções, a de rezadeira e parteira. Elas rezavam com folhas e ramos de ervas, entre elas

se destacavam a mangirioba, a erva era colocada em um prato e se rezava em forma de

cruz, retirando a erva do prato passava-se no corpo do enfermo. Mas o poder da reza

não estava só com as mulheres, havia homens, entre eles Antônio Moco também era um

rezador conhecido na comunidade.

As rezadeiras da comunidade tinham uma função importante e gozavam de

credibilidade entre os moradores, pois quando uma pessoa ficava doente levava pra

rezar e muitas melhoravam só com a reza. Rezava-se de tudo, doenças como espinhela

caída, vento caído, e olhado. Alguns doentes precisavam de alguma receita caseira e daí

se receitava óleo de riso para as crianças. Se fosse para os adultos dava-se o chá que

curasse o problema com que o enfermo chegou a casa da rezadeira. Assim eram

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recomendados chás das seguintes ervas: barbatimão, mangirioba, erva cidreira, capim-

santo, mastruz e etc... Na comunidade, várias rezadeiras se destacavam, mas umas

ganhavam notoriedade entre os moradores, conforme nos afirmou uma das moradoras.

Entre as rezadeiras tinha Babau era rezadeira e parteira, tinha Maria Mangueira era rezadeira, tinha Maria Xavier era rezadeira conheci a rezadeira Maria de Lô que rezava muito meus filhos os filhos de muitas mães de família por aqui, quando os filhos da gente caia doente agente não procurava médico a fé que agente tinha abaixo de Deus era elas, agente levava os filhos da gente e ela curava e os meninos ficavam bom dava qualquer remedinho de mato e os meninos ficava bom. Minha mãe Maria do Carmo pegou muito menino por aqui era tudo em casa mesmo, mais quando a mãe estava em perigo elas dizia levem para a maternidade que eu não dou conta, a não ser assim elas pegava em casa os meninos, pegaram muito, muito os meus mesmo que eu tive oito filhos foi todos em casa que as parteiras pagavam, agente tendo fé em Deus primeiramente e nas parteiras dava tudo certo os meus quem realizou foi Babau, Maria Mangueira e minha mãe ela pegou o último o meu caçula que foi João, Babau pegou seis e Maria Mangueira pegou um que foi Lucia, foram oito filhos. Hoje o povo fica doidinho em ouvir dizer que teve um filho em casa, eu tive oito filhos em casa e nunca tive problema nenhum, meus partos eram tudo ligeiramente. Rezavam bem e agente tinha fé e ficava tudo bem se levava as crianças ou adultos duais vezes parar rezar de manhã e pela tarde. Hoje por aqui não tem mais rezador mais já houve muito seja doente de qualquer coisa até aquele ramo brabo de cair no chão ataque epilético elas rezam e ficavam bom, as parteiras foram muito importantes pra comunidade rezavam as crianças, foram importantes demais. (Conforme entrevista concedida por Dona Djanira Francisca em outubro de 2011).

Dona Berenice destaca que as mulheres da comunidade não tinham crianças

na cidade em maternidade, as parteiras era quem faziam o parto, tudo era feito em casa e

ela afirma que:

nem morria de parto, nem fazia pré-natal nem nada e os meninos que nascia não tinha uma injeção, eu tinha uma tia que ela mesmo que

fazia remédio pra pessoa que tinha verme, pra tudo”. “Eu mesma vim tomar injeção depois que tive Rosilda e quando tirei os dentes que tinha que tomar injeção, aqui não existia isso não (Conforme entrevista concedida por Dona Berenice em outubro de 2011).

Segundo Dona Josefa, Dona Maria Leite foi uma das mais velhas parteiras e

uma das moradoras mais antigas de Mituaçu e Dona Maria do Carmo, foi uma das

parteiras mais nova, ela era “medonha”, juntamente com Babau também.

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Os produtos artesanais produzidos na comunidade eram gere ré, cestos,

samburá, covo, balaio e canoa. Ainda se fazia carvão pra vender, as pessoas ajudavam

umas as aos outras. Os produtos artesanais eram produzidos tanto para o uso como para

a venda. O uso estava associado, sobretudo, a pesca, conforme o depoimento abaixo.

Eu pesquei de gere ré eu pesquei de covo, eu pesquei de sexto, comprava foice e enxada chegava a casa tirava um paul no mato botava nas enxada e vamos trabalhar. Cesto, samburá e covo ficava para o consumo dentro de casa e para vender também, meu marido fazia covo pra pegar camarão, o covo era feito de palheta de dendê e o samburá e sexto era feito de cipó do mato um cipó que chamava japecanga e o outro se chamava cipó de sexto os vizinhos que dizia faz covo pra mim, faz sexto pra mim isso por besteira de dinheiro não só ele, muitos e muitos trabalhavam com essas coisas. (Conforme entrevista concedida por Dona Djanira Francisca em outubro de 2011).

Um fato político que aconteceu e marcou a história de Mituaçu foi a

chegada de Severino Venâncio, ele dividiu a comunidade no antes e depois, pois ele

ascendeu a comunidade politicamente, ele não só chegou, mas trouxe sua família e se

fixou em Mituaçu. Os entrevistados contam que eles foram à primeira família branca

que chegou a comunidade para residir. Para os moradores do lugar ele foi quem

“melhorou Mituaçu”, sua chegada a comunidade é data de 1955.

Severino Venâncio quando chegou pra Mituaçu nem uma capelinha pra se rezar aqui não tinha quem deu o nome ao lugar Deus primeiramente e depois seu Severino Venâncio a refém de politica e arrumando muito conhecimento fez uma capelinha que hoje é igreja mais antes era uma capelinha que o padre vinha dizer missa no lugar. (Djanira Francisca outubro de 2011).

O filho de Severino Venâncio conta que seu pai veio de Timbaúba dos

Mocós em Pernambuco sua terra natal e viajou para João Pessoa. Como era amigo de

Anísio Chaves que tinham terra em Mituaçu veio parar nessa comunidade, “o qual

Anísio Chaves casou-se com a minha irmã, filha do meu pai, foi quando meu pai veio

pra cá tomar conta dos gados dele, cuidar da área, da fazenda de seu Anísio e acabou

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conhecendo Mituaçu, e conhecendo houve um desejo de meu pai de morar aqui”

(Conforme entrevista concedida por Edberto em outubro de 2011).

A relação do Senhor Severino Venâncio com a comunidade se deu de forma

pacífica, sem descriminação com o povo, pois ele foi um homem muito bom, visto que

ajudou e se ajudou com os benefícios que trouxe para a comunidade. Em 1963 o

Senhor Severino Venâncio junto com o Senhor Almir Correia de Jacumã (município de

Conde) trabalharam para que a Vila do Conde passasse a ser cidade, para tanto, eles

tiveram que fazer um abaixo assinado com nomes de duas mil pessoas e enviar parar o

Rio de Janeiro, na época a Capital Federal. O Senhor Edberto Alves disse que naquele

tempo era uma dificuldade conseguir assinaturas de duas mil pessoas na Vila do Conde

para que essa vila se tornasse cidade, enquanto hoje a cidade tem mais de vinte três mil

pessoas. No entanto, no mesmo ano em 1963, a vila se tornou cidade.

No mesmo ano seu Almir colocou seu João Gomes Ribeiro para ser o 1º prefeito da cidade de Conde, sendo meu pai o primeiro Vereador da Cidade do Conde, logo em seguida o seu Almir Correia foi o segundo prefeito da Cidade de Conde. A pedido de meu pai foi construído aqui um cemitério para que pudesse enterrar seus entes queridos, antes quando morria alguém tinha que se deslocar daqui para o Conde seis, a oito quilômetros nunca medir mais acho que dar isso, pedido meu pai a seu Almir e ele atendeu ao pedido de meu pai, para que podécimos ter mais facilidade... Como meu pai sempre foi um homem politico, tinha amizade com demais políticos, como o comendador Cícero Leite, o Argemiro de Figueiredo, Rui Carneiro, Janduí Carneiro e o Apolônio Sales de Miranda. Ele conseguiu a abertura das estradas, igreja católica, conseguiu a 1º escola a qual tinha o nome de Grupo escolar Miranda freire (Conforme entrevista concedida pelo Sr. Edberto Alves em outubro de 2011).

No seu relato uma moradora de Mituaçu conta que Severino Venâncio

através da politica possibilitou que outros políticos conhecessem o lugar, ou seja,

Mituaçu, ele usou de estratégia política para conquistar a confiança do povo do lugar.

Ele comprava umas peças de roupa, panos de chita que não valia nada e todo mundo votava com o corte desse pano que ele dava e ele ganhava a eleição, eu votei que ele aumentou até a minha idade, eu tinha quinzes anos e ele aumentou mais um ano da minha idade pra votar nele, todo mundo aqui votava nele, ele fazia festa pra todo o povo na casa dele o povo ai marchando era gente de mais que comia

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na casa dele e votava na casa dele e tudo nele. Foi como os políticos ficaram conhecendo Mituaçu até agora (Conforme entrevista concedida por Dona Berenice em outubro de 2011).

Na época das eleições, a urna ficava na casa de Severino Venâncio como

relata o morador “as eleições eram na casa dele em Mituaçu era só chegar à urna e

assinar, no dia do voto tinha muita comida que ele dava para o povo era uma festa,

quase todo Mituaçu ia pra lá”. O mesmo tinha uma venda onde todos da comunidade

vendiam seus produtos principalmente farinha e compravam na venda dele, pois era

quem tinha mais condições.

2.2 O reconhecimento de Mituaçu como comunidade remanescente quilombola

O processo de auto-identificação da comunidade como remanescente

quilombola foi iniciado em 2004. Os (as) moradores foram informados que a Fundação

Palmares fazia reconhecimento das comunidades negras, daí eles solicitaram tal

processo e em seguida receberam dessa fundação as fichas cadastrais com um

questionário a ser respondido. O cadastramento dos (as) moradores (as) foi feito pela

presidenta da associação juntamente com os moradores mais idosos de Mituaçu “onde

agente relatou como a comunidade era antes, e seus habitantes através desse pequeno

histórico e do questionário respondido enviemos a Fundação Palmares que depois

chegou nosso certificado, certificando como quilombola”.

Consta no certificado que cinco pessoas foram às testemunhas, são elas:

Severina Silvério de Jesus, Valdinete Francisca, João Batista da Silva, João de Melo

Pereira e Antônio da Silva Silvério. Essas pessoas são as declarantes das informações e

tudo que foi enviado a Brasília. As informações declaradas eram realmente a realidade

da comunidade. Junto aos depoimentos e informações dos declarantes seguiu um

pequeno histórico da comunidade.

Quando foi em 2005 um ano depois da reivindicação recebemos o outro reconhecimento de comunidade Quilombola no dia 28 de julho de 2005. Para a Fundação Palmares o que foi levado em conta não foi o questionário em se, mais sim que as pessoas se aceitem se identifiquem como quilombola por que se não existir essa aceitação essa identificação das pessoas é impossível de ser dado uma certidão de auto reconhecimento, primeiro você tem que se aceitar. (Conforme

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depoimento de Dona Geilsa Roberto da Paixão presidenta da Associação quilombola de moradores de Mituaçu, em outubro de 2011).

Após o envio de toda documentação necessária a Fundação Palmares

concedeu a comunidade a certidão de auto-reconhecimento como comunidade

remanescente quilombola, conforme exposto no documento abaixo.

Foto 1 - Certificado de Auto-reconhecimento da Comunidade Remanescente Quilombola de Mituaçu - 2011

A comunidade remanescente quilombola de Mituaçu hoje é composta por

254 famílias perfazendo um total geral de 877 pessoas. A área é dividida em dois

micros áreas onde trabalha as duas agentes de Saúde, são elas Marinalda e Mônica. A

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comunidade conta com uma Unidade básica de saúde (PSF), uma escola, igrejas,

católica e evangélica, cemitério, campo de futebol, casa de farinha e dois rios.

Foto 2 - Sede da Unidade básica de saúde (PSF) - 2011

Foto 3- Escola Pública Municipal - 2011

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A escola pública municipal existente na comunidade remanescente

quilombola de Mituaçu chama-se Ovídio Tavares de Morais. Nela funciona o ensino

fundamental I e II, se encontra matriculado e freqüentando um total de 78 alunos com

faixa etária ente 5 a 13 anos. Inclui a educação infantil a partir de quatro anos porque

não há creche na comunidade.

Foto 4- Sede da Associação dos moradores de Mituaçu, fundada em 1988. 2011

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Foto 5 - Templo da Igreja católica - 2011

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Foto 6- Templo da Igreja evangélica - 2011

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Foto 7- Ponte do arco onde o Rio Gramame passa (essa foto foi tirada na enchente de outubro

de 2011)

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Foto 8 - Estrada de acesso a Comunidade de Mituaçu na enchente de outubro de 2011

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CAPÍTULO III

O LUGAR DE VOAR NAS ASAS DA ALEGRIA

A dança do coco de roda, a lapinha, a alvorada, todas estas manifestações

culturais faziam e fazem parte da comunidade de Mituaçu, mas em outras épocas era o

lazer dos moradores e eram vivenciadas com efervescência, hoje estão adormecidas nas

lembranças dos idosos.

A dança de coco da comunidade de Mituaçu era diferente do que as demais

comunidades dançavam. Os cânticos que animavam as rodas da dança de coco em

Mituaçu retratavam a vida das pessoas da comunidade, ou os fatos relacionados a

comunidade e ao dia a dia das pessoas. Os cânticos são improvisados na hora que a roda

de coco começava os cantadores (as) improvisavam os versos e ao mesmo tempo

dançavam em roda dando umbigada no centro da roda. Segundo uma das nossas

interlocutoras,

A brincadeira que tinha aqui era o coco de roda, todo sábado se brincava coco nas casas do povo, tinha lapinha começava no mês de setembro e queimava no mês fevereiro e coco de roda era o

que existia a dança era dando umbigada um no outro e tirando o coco (Conforme entrevista concedida por Dona Djanira Francisca

em outubro de 2011).

O pesquisador Câmara Cascudo descreve a umbigada como uma expressão

de ritmo em uma dança vinda da Angola que é dançada e conhecida em Luanda como

semba. Esse ritmo, a umbigada pode ser utilizada em várias danças “escolhendo o

substituto ou simples passo no bailado” essas danças são originárias do continente

africano, assim do semba se desenvolveu o samba.

Um dança africana onde a umbigada faz parte é a xingombela dançada em

Moçambique, na África Oriental. Outra dança é o fogope ela “obriga a batida com o

ventre.” Acerca desse ritmo Cascudo descreve que o batuque é igual à umbigada

descrita em 1880 no Congo. No Brasil o ritmo surgiu no século XIX, à umbigada foi

vista em Minas Gerais em 1818 nas danças encenadas pelos negros escravizados.

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Todavia, é comum no Brasil a umbigada na dança de coco, seu significado é um ritmo

de fecundação. A umbigada “inclui-se no Made in África, 2001”.

Na dança do coco em Mituaçu são citados os nomes de Amália, Nega,

Aldacir e Lena, contam os idosos que elas pegavam no ganzá para tirar o coco de roda

que acontecia nos terreiros das casas dos moradores e depois era dançado no salão de

Doutor. Um dos cânticos, ou coco de roda cantado era o de Dona Natalia (Dona Nega),

que ela compôs para seu marido o Senhor Cuca. Durante as entrevistas várias das nossas

interlocutoras cantaram o coco de Dona Nega, cuja letra diz o seguinte:

Ô nega cadê Cuca, Cuca foi pra rebeira,

Eu não tapei mais camboa, Por que roubaram a esteira...

A história narrada nesse verso é a de Dona Natalia e seu marido (Cuca),

conta e canta que eles chegaram da pesca e ao aportar no rio, vieram trazer os peixes em

casa, e quando voltaram para continuar a pesca tinham roubado a esteira de pescar. Esse

acontecimento, apesar de prejudicial ao casal foi transformado em coco de roda e

passou a ser cantado e dançado pelos vizinhos.

O coco de roda era o lazer e a diversão que mais prazer proporcionava aos

moradores da comunidade de Mituaçu. Ao lado da lapinha concorria com a diversão,

pois ao ouvir o rajar do bombo os moradores corriam e tudo começava. Tudo era tema

para se improvisar e a roda de coco começar. Aconteceu de fazerem um verso, ou seja,

tirarem um coco para Dona Zefa pelo fato de ela está com uma ferida na perna,

conforme enuncia a letra. “Ô Zefa cuidado na vida essa tua ferida engole um motor, vai

comer sete quilo de carne que veio da praia que seu Tota mandou”

O coco de roda era muito dançado pelo povo de Lena; uma das mulheres

que compunha os versos, no entanto, só vinha para o coco no tempo de São João ou

quando ocorria uma alvorada; momentos em que reunia muita gente cantando,

dançando e soltando fogos. Um das nossas entrevistadas lembrou a letra de um dos

cocos de roda mais cantados em Mituaçu.

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Pra onde tu vai Severina com mais de uma pessoa; Vou pra Barreira Grande buscar minha canoa; Pra onde tu vai Zé Pequeno vou hoje volto amanhã; Vou pra Barreira Grande buscar minha irmã; Ou de casa ou de fora Joquinha vai ver quem é; Foi papai quem chegou cuide logo do café;

A letra desse coco trata de uma família que passou por uma situação difícil,

é ressaltado que Zé Pequeno do Ipiranga foi buscar uma pessoa em Barreira Grande, ou

seja, tratava-se da irmã dele. Contam os idosos,

Que a irmã dele era rica acabou com a riqueza todinha, vendeu o terreno e foi morar na cidade, da cidade acabaram com tudo ficou pobre e se mudaram para Boca de Mata que disse que lá

era o lugar pra trabalhar quando chegou lá o marido ficou deitado em uma rede e ela trabalhando alugado para dar de

comer aos filhos. Foi quando a família aqui toda soube, e disse Severina estar passando fome estar de esmola em Barreira Grande, ai Zé pequeno me disse vou buscar minha irmã, o povo

perguntava pra onde tu vai Zé pequeno? Ele mentia dizia vou comprar um pau pra fazer minha canoa, e dai fizeram um coco,

eu me lembro de tudinho minha mãe foi quem costurou um vestido pra ela a olho, pra ele poder trazer ela. Quem tirou esse coco foi Luiz de aninha que morava em Gurigi, ele foi e trouxe

ela onde a filha dela mora aqui até hoje (Conforme entrevista concedida por Dona Djanira Francisca em outubro de 2011).

Assim vários cocos foram compostos, Dona Djanira nos contou de um coco

que composto, no caso foi tirado para Hermes, o rapaz que morreu vitima de uma

picada de cobra, ele era o filho de São Francisco e gostava muito de um coco que diz

assim:

Estrela, estrela d’alva que alumia meu país; Eu comparo aquela estrela com o amor que eu tenho aqui; Estrela do mar foi o fungo confronte a casa calhada; Pisei na ponta da pedra eu vi a pedra faiada; Estrela, estrela d’alva que alumia no país; Eu comparo aquela estrela ao amor que eu tenho a ti;

Contou-nos Dona Djanira, que todos dançavam o coco com o zabumba

tocando,

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{...} dois zabumba uma caixa, “isso agente dançava a noite todinha amanhecia o sol saía e agente dançando coco, quando chegava em casa com os pés tudo sujo, uma cinza de tanto dançar coco de passar a noite todinha pulando. Era mais que isso que estou dizendo, era bom demais era a festa. Hoje eu duvido que essas moças de hoje dance coco, dançava coco a noite todinha vai ter um coco hoje na casa de Inácio de Bi hino, estava tudo convidado vinha gente de Gurigi de Paripe de todo canto se juntava um bocado de gente pra dançar coco a noite todinha. Começava de sete horas era até o outro dia de seis sete horas do dia. Tinha coco na casa de Bi hino, de Inácio de Dodó teve um coco que amanheceu o dia até dez horas do dia agente estava dançando, na casa de seu Lino marido de Cleonice quando veio de Gurigi pra cá todo sábado tinha festa na casa dele na casa de seu Lino, era gostoso de mais aquele tempo fazia um pavilhão grande só pra dançar coco. Também tinha as festas de São João as alvoradas, os terços nas casas, quando terminava a alvorada se bebia nas casas até o dia amanhecer era bom de mais. (Conforme entrevista concedida por

Dona Djanira Francisca em outubro de 2011).

Outra festa muito prestigiada pelos moradores de Mituaçu como uma

tradição cultural é a lapinha. Essa tradição na comunidade está a mais de 300 anos, faz

muito tempo que é praticada, ou seja, dançada. Dona Berenice nos disse que no

“começo a festa daqui foi a lapinha, meu avô não é do meu tempo, trazia caminhão de

gente pra dançar lapinha aqui, ainda hoje está a lapinha aqui, essa lapinha tá com uns

200 a 300 anos aqui no Mituaçu” (Conforme entrevista concedida por Dona Berenice

em outubro de 2011).

Acerca da lapinha em Mituaçu, outra interlocutora disse que,

A lapinha vem da raiz mesmo é uma tradição daqui da terra a mais de 200 anos que tem lapinha essas antepassadas que morreram que faz muito tempo que era amigos de meu pai, conterrânea, vizinha elas tudo nasceram e se criaram dentro de Mituaçu e já faz muito tempo que elas foram embora (conforme entrevista concedida por Dona Elisabete Silva em outubro de 2011).

Dona Elizabete, mais conhecida como Dona Betinha ainda nos falou que a

lapinha surgiu com o povo de Patrícia, Verônica, Regina os povos antigo de Mituaçu

eles foram os primeiros a fazer lapinha, depois Doutor tomou a frente, ele fez lapinha

por muito tempo e deixou de fazer lapinha só quando morreu. Assim nos disse,

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Eu dancei pouca lapinha mais eu já sabia e cantei lapinha e canto lapinha até hoje não canto mais por que não tem um lugar certo pra tomar conta da festa por que lapinha é uma coisa de muita responsabilidade de muito respeito. (Conforme entrevista concedida por Dona Elizabete Silva em outubro de 2011).

Para muitas pessoas da comunidade de Mituaçu, o sentido da lapinha é

educar, ou seja, agregar valores, visto que é uma dança cujos cantos fazem referencia a

Jesus Cristo, filho de Maria. Trata-se de uma dança de cunho religioso e disciplinar. É

uma dança que diz respeito ao catolicismo, conforme afirmou a nossa interlocutora,

Então a lapinha é uma festa do nascimento do menino Jesus do natal que vai até o queima em fevereiro, ela começa em agosto pra dar um treinamento no terceiro ou quarto sábado de setembro ela começa pra valer se setembro, outubro, novembro e dança dezembro, Janeiro e fevereiro ela queima. Tem que ser pura jovem moça de verdade depois de dez onze anos até o tempo que elas quiserem, por que hoje em dia ninguém quer um compromisso para não poder namorar, namorar até pode, noiva pode só não pode fazer outras coisas. Eu ensinava cantei muito tempo aqui em Mituaçu pra mais de trinta anos que eu canto lapinha, eu cantei lapinha no Conde, eu cantei lapinha no Gurigi e no Ipiranga tem muito tempo. Nessas comunidades ao redor de Conde cantei lapinha em muito canto. (Conforme entrevista concedida por Dona Elizabete Silva em outubro de 2011)

O cântico da lapinha descrito por Dona Elizabete Silva fala do valor que a

natureza e a vida possuem: “que estrela tão radiante que no céu resplandece; que espera em

seu tamanho que no mondo em terra aparece”. O cântico ainda expressa “o que, que vem

dizer esta palavra no mundo em terra aparece é a estrela que anuncia o nascimento do menino

Jesus e que se chama estrela guia. Isso é bonito, emocionante e respeitoso”.

Na lapinha as pastoras principais são a mestra e a contra mestra, segundo

Dona Elisabete nos contou são elas conduzem a lapinha, pois cantam os versos, as

companheiras, os gestos de dançar, o gesto de fazer, o gesto de tirar na frente. Tudo é

feito pela mestra e a contra mestra. O anjo e o guia, mestra e contra mestra, Adriana e a

borboleta, a cigana, a camponesa e a libertina, e as pastorinhas formam o elenco da

lapinha. A lapinha da comunidade de Mituaçu tem história, pois vem da raiz dessa

comunidade, conforme nos contou uma das nossas interlocutoras.

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O canto da lapinha é as pastoras que canta e desafia os representantes que chegam que vem ver que gosta cada um tem o seu partido ele é quem disputa é ele quem dar valor é quem dar o dinheiro é quem dar o presente aqueles que têm o seu partido o do vermelho e do azul a disputa de partidos e da um chega dar uma bebida, um dar um presente é desafio da lapinha. Ganha a pastora que dança mais que são simpáticas por isso ganham presentes as que emocionam (Conforme entrevista concedida por Dona Elisabete Silva em outubro de 2011).

Foto 9- Dona Elisabete (Dona Betinha) com o anjo e a camponesa, Lapinha de Mituaçu.

Para Dona Geilsa, a lapinha tem valor educativo, uma vez que essa dança

fala da importância da virgindade, sobretudo, “por que hoje a virgindade estar

banalizada, mais se você for partir pro lado da lapinha você tem que orientar a sua filha

você só pode dançar se for virgem” Acerca da lapinha essa moradora ainda disse que “é

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uma dança muito familiar eu comecei a dançar tinha cinco anos e dancei até os dezoito

anos mais ou menos” Essa moradora ainda disse,

Então o que prevalece hoje na cultura da lapinha é o caráter educativo, se você cria um filho você fala da importância da

virgindade. Por que ser virgem? Ai vai recapitulando, revendo e mostrando, é por isso que eu digo que a lapinha é uma cultura

educativa, pois leva você a entender a importância da virgindade que pra muito hoje não existe. A lapinha é uma dança tradicional é uma dança de raiz, pois a gente já faz essa dança a

mais de 200 anos.

Hoje pode se trabalhar a lapinha, pois ela reinventa a cultura da comunidade

que tem mais de 200 anos de existência. As manifestações culturais da comunidade de

Mituaçu vêm dos tempos dos avôs e bisavós dos moradores.

Foto 10 - Antiga encenação da lapinha na Comunidade de Mituaçu

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Foto 11 - Antiga encenação da lapinha na Comunidade de Mituaçu

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Foto 12 – Antiga encenação da lapinha na Comunidade de Mituaçu

Foto 13 – Antiga encenação da lapinha na Comunidade de Mituaçu

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Foto 14- Antiga encenação da lapinha na Comunidade de Mituaçu

Foto 15 - Encenação atual da lapinha na Comunidade de Mituaçu

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Foto 16 - Encenação atual da lapinha na Comunidade de Mituaçu

Foto 17 - Encenação atual da lapinha na Comunidade de Mituaçu

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Foto 18 - Encenação atual da lapinha na Comunidade de Mituaçu

Foto 19- Encenação atual da lapinha na Comunidade de Mituaçu

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Foto 20 - Encenação atual da lapinha na Comunidade de Mituaçu

Do acervo cultural da Comunidade de Mituaçu também faz parte a quadrilha

denominada de Fazenda Linda Flor e recentemente foi criado o grupo de capoeira, a

perspectiva desse grupo é reinventar os valores culturais africanos.

Foto 21- Quadrilha Fazenda Linda Flor – Comuniade de Mituaçu

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Foto 22- Quadrilha Fazenda Linda Flor – Comuniade de Mituaçu

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

O objetivo do trabalho foi discutir os aspectos históricos e culturais que

contribuíram para o surgimento da comunidade remanescente de quilombo a exemplo

da comunidade quilombola de Mituaçu, que é produto de um processo de resistência ao

sistema escravista que predominou por muito tempo. Diversos fatores que antecederam

a esse processo também são apresentados nesse trabalho, como o processo de

colonização europeia que exterminou os indígenas e subjugaram os povos africanos.

A discursão sobre a transição do trabalho escravo indígena para o trabalho

escravo africano compreende vários elementos como a produção cientifica que parte de

um viés elitista o qual descarta o conjunto das relações sociais. A necessidade de

discutir essas relações sociais que concernem a politica, economia e cultura. Foi nesse

sentido que este trabalho buscou analisar e discutir as formas que levaram a formação

da comunidade desde a colonização europeia no Brasil, a colonização da capitania

Paraíba, como a aldeia de Jacoca foi inserida nesse processo e a chegada dos primeiros

africanos em Mituaçu.

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Relação dos Entrevistados

Berenice Pereira da Paixão

Elizabete da Silva Nascimento

Josefa da Silva Silvério

Edberto Alves da Silva

Djanira Francisca do Nascimento

Geilsa Roberto da Paixão.