universidade federal da paraÍba - cchla.ufpb.br§ão... · a avaliação dos resultados...

87
UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LINGUÍSTICA E ENSINO (PGLE) Marta Leonora Batista dos Santos O GÊNERO TEXTUAL RELATO DE EXPERIÊNCIA: ASPECTOS DA COMPETÊNCIA LINGUÍSTICO-DISCURSIVA DO ALUNO DA EJA EM PRODUÇÃO DE TEXTOS ESCRITOS JOÃO PESSOA 2014

Upload: lymien

Post on 13-Dec-2018

217 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA - cchla.ufpb.br§ão... · A avaliação dos resultados diagnósticos do “Relato de Experiência”, elencados a partir da produção escrita dos

UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LINGUÍSTICA E ENSINO

(PGLE)

Marta Leonora Batista dos Santos

O GÊNERO TEXTUAL RELATO DE EXPERIÊNCIA: ASPECTOS DA

COMPETÊNCIA LINGUÍSTICO-DISCURSIVA DO ALUNO DA EJA EM

PRODUÇÃO DE TEXTOS ESCRITOS

JOÃO PESSOA

2014

Page 2: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA - cchla.ufpb.br§ão... · A avaliação dos resultados diagnósticos do “Relato de Experiência”, elencados a partir da produção escrita dos

1

MARTA LEONORA BATISTA DOS SANTOS

O GÊNERO TEXTUAL RELATO DE EXPERIÊNCIA: ASPECTOS DA

COMPETÊNCIA LINGUÍSTICO-DISCURSIVA DO ALUNO DA EJA EM

PRODUÇÃO DE TEXTOS ESCRITOS

JOÃO PESSOA

2014

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Linguística e Ensino (PGLE), da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), para obtenção do título de mestre em Linguística e Ensino.

Orientadora: Profa. Dra. Eliane Ferraz Alves

Área de concentração: Linguística e ensino Linha de Pesquisa: Estrutura e dinâmica da língua em atividades de aprendizagem

Page 3: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA - cchla.ufpb.br§ão... · A avaliação dos resultados diagnósticos do “Relato de Experiência”, elencados a partir da produção escrita dos

2

S237g Santos, Marta Leonora Batista dos. O gênero textual relato de experiência: aspectos da

competência linguístico-discursiva do aluno da EJA em produção de textos escritos / Marta Leonora Batista dos Santos. -- João Pessoa, 2014.

87f.

Orientadora: Eliane Ferraz Alves Dissertação (Mestrado) – UFPB/CCHL

1. Linguística. 2. Linguística e ensino. 3. Educação de jovens e adultos - relato de experiência. 4. Sequência didática. 5. Texto escrito - produção. 6. Pesquisa qualitativa.

UFPB/BC CDU: 801(043)

Page 4: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA - cchla.ufpb.br§ão... · A avaliação dos resultados diagnósticos do “Relato de Experiência”, elencados a partir da produção escrita dos

3

Page 5: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA - cchla.ufpb.br§ão... · A avaliação dos resultados diagnósticos do “Relato de Experiência”, elencados a partir da produção escrita dos

4

Ao meu filho Gabriel Braz,

Dedico.

Page 6: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA - cchla.ufpb.br§ão... · A avaliação dos resultados diagnósticos do “Relato de Experiência”, elencados a partir da produção escrita dos

5

AGRADECIMENTOS

A Deus,

Por ter me dado a oportunidade para participar do Mestrado em Linguística

e Ensino e realizar um grande sonho.

À Professora Doutora, Eliane Ferraz, orientadora da dissertação.

Obrigada pela partilha do saber e pelas orientações para a efetivação do texto

dissertativo.

A todos que direta ou indiretamente contribuíram para a construção deste trabalho.

Page 7: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA - cchla.ufpb.br§ão... · A avaliação dos resultados diagnósticos do “Relato de Experiência”, elencados a partir da produção escrita dos

6

A vida não é a que a gente viveu, e sim a que a gente

recorda, e como recorda para contá-la.

Gabriel García Márques

Page 8: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA - cchla.ufpb.br§ão... · A avaliação dos resultados diagnósticos do “Relato de Experiência”, elencados a partir da produção escrita dos

7

RESUMO

O projeto desta pesquisa foi desenvolvido no âmbito da Escola Municipal de Ensino Fundamental Ubirajara Targino Botto, vinculada à Secretaria Municipal de Educação e Cultura de João Pessoa. Teve como objetivo principal desenvolver práticas de textos escritos, a partir do gênero textual “Relato de Experiência”, com alunos da Educação de Jovens e Adultos, a fim de ampliar a competência linguístico-discursiva da escrita dos alunos participantes do projeto. Para tanto, fiz uso de atividades inseridas em uma sequência didática, procurando, previamente, diagnosticar as dificuldades na produção escrita dos participantes, quanto aos conhecimentos relativos aos caracteres linguísticos que sustentam o gênero textual “Relato de Experiência”, considerando, para efeito de análise, dados da pesquisa qualitativa. Após esse estudo, comecei a trabalhar o desenvolvimento de determinadas atividades, tais como: leitura, discussão, produção escrita e estudo linguístico-discursivo do referido gênero, sob a ótica dos seguintes teóricos: Koch (2006), Bortoni-Ricardo (2005), Kleiman (2005), Geraldi (2002), Marcuschi (2002) e Soares (2001). Terminada essa fase da sequência foi iniciada a produção final com a reescrita do relato, produzido anteriormente por cada aluno. A aplicabilidade da sequência didática da pesquisa permitiu constatar que a escrita não é um código inatingível para os alunos da Educação de Jovens e Adultos, visto estarem inseridos em um contexto, onde existem histórias individuais e coletivas traduzidas em conhecimentos inerentes ao seu modo de vida social; observou-se, também, que há problemas de aprendizagem nos textos escritos. Para superação das dificuldades apresentadas pelos alunos, trabalhou-se prática de produção escrita, a partir da sequência didática em práticas linguísticas, oportunizando aos alunos o acesso com propriedade a materiais didáticos e, assim, à melhoria da competência textual escrita. Contudo, na fase conclusiva da pesquisa, o aluno jovem e adulto desenvolveu sua escrita com maior fluidez, clareza e experiência. Inclusive, cada aluno inserido no projeto assumiu o seu papel de protagonista da sua história, da sua vida, em sala de aula, no seu contexto social, no mundo.

Palavras-chave: Educação de Jovens e Adultos. Relato de Experiência. Sequência Didática. Produção de texto escrito. Pesquisa Qualitativa.

Page 9: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA - cchla.ufpb.br§ão... · A avaliação dos resultados diagnósticos do “Relato de Experiência”, elencados a partir da produção escrita dos

8

ABSTRACT

This research project was developed in the ambiance of the Ubirajara Targino Botto Fundamental Teaching School, linked to the Municipal Secretariat of Education and Culture of Joao Pessoa. Its main target is to develop practices of written texts as from the textual gender “Experience Report”, with students of the Young and Adult Education program, so as to widen the linguistic-discursive competence in the writing of students participating in the project. To do so, I made use of activities inserted in a didactic sequence, previously searching to diagnosis the difficulties in the participants’ written production as regards the knowledge of the related linguistic characters which, for the analysis effectiveness, takes the qualitative research data into account. After this study, I began to work out the development of activities such as: reading, discussion, written production and linguistic-discursive study of the referred gender under the optics of the following theoreticians: Koch (2006), Bortoni-Ricardo (2005), Geraldi (2002), Marcuschi (2002) and Soares (2001). Once the sequence stage was accomplished, the final production was started in re-writing the report previously achieved by each student. The applicability of the didactic sequence of the research allowed to observe that writing is not an unattainable code for students of the Young and Adult Education program, as they are inserted in a context wherein there exist individual and collective histories which result from insights inherent to their social life modus. I also observed that there are learning problems in the written texts. To overcome such difficulties shown by the students, I worked out the practice of written production as from the didactic sequence in linguistic practices, so creating opportunity for them to properly access the didactic materials and, therefore, the improvement in the written textual competence. However, in the conclusive stage of the research, the young and adult student developed their writing with higher fluency, clearness and expertise. Inclusively, each student inserted in the project took up the protagonist role of his history, his life, in the classroom, his social environment and the world.

Keywords : Education of Young and Adult students. Experience Report. Didactic Sequence. Production of written text. Qualitative Research.

Page 10: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA - cchla.ufpb.br§ão... · A avaliação dos resultados diagnósticos do “Relato de Experiência”, elencados a partir da produção escrita dos

9

LISTA DE QUADROS

QUADRO 1 – Etapas do projeto de pesquisa ...........................................................45

QUADRO 2 – Organização interna do gênero Relato de Experiência, conforme

Bräkling (2009) ..........................................................................................................54

QUADRO 3 – Tipos de erros conforme tipificação de Bortoni-Ricardo (2005)..........54

QUADRO 4 – Tipos de erros conforme tipificação de Cagliari (2006) ......................54

QUADRO 5 – Recortes discursivos e dificuldades apresentadas pelos alunos........55

QUADRO 6 – Análise das dificuldades apresentadas, conforme os critérios

propostos por Bräkling (2009) ...................................................................................58

QUADRO 7 – Dificuldades apresentadas no campo fonológico e no campo sintático,

conforme os tipos de erros vistos na tipificação de Bortoni-Ricardo (2005) e de

Cagliari (2006)...........................................................................................................59

QUADRO 8 – Sequência Didática do projeto de pesquisa .......................................61

QUADRO 9 – Recortes discursivos reescritos ..........................................................64

QUADRO 10 – Elementos linguístico-discursivos.....................................................68

QUADRO 11 – Uso das normas gramaticais ............................................................69

Page 11: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA - cchla.ufpb.br§ão... · A avaliação dos resultados diagnósticos do “Relato de Experiência”, elencados a partir da produção escrita dos

10

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ..........................................................................................................12

CAPÍTULO I ......................................... .....................................................................15

1 A Educação de Jovens e Adultos no cenário do ensino brasileiro .........................15

CAPÍTULO II ........................................ .....................................................................20

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA............................ .................................................20

2.1 O sentido da linguagem no ensino de Língua Portuguesa na EJA .....................20

2.2 O texto como construção de sentidos .................................................................23

2.3 Gênero textual como procedimento metodológico em Língua Portuguesa .........27

2.4 O texto “Relato de Experiência” ..........................................................................30

2.5 O valor da memória para a produção do Relato de Experiência .........................33

2.6 Conhecimentos linguístico-discursivos do texto Relato de Experiência ..............34

2.7 A produção de texto escrito para a aprendizagem do aluno da Educação de

Jovens e Adultos .......................................................................................................36

2.8 A pesquisa qualitativa como eixo norteador do estudo científico em prática de

textos escritos ...........................................................................................................43

CAPÍTULO III ....................................... .....................................................................45

3 METODOLOGIA ...................................... ..............................................................45

3.1 Caracterização da instituição escolar..................................................................46

3.2 Caracterização dos sujeitos da Educação de Jovens e Adultos da instituição

escolar.......................................................................................................................47

3.3 Estratégias e instrumentos utilizados no projeto de pesquisa.............................48

3.4 Planejamento das atividades para aplicação em uma sequência didática..........49

3.5 Avaliação da aprendizagem do aluno jovem e adulto na fase de aplicabilidade da

sequência didática.....................................................................................................50

3.6 Objetivos do projeto de pesquisa ........................................................................50

3.6.1 Objetivo geral ...................................................................................................50

3.6.2 Objetivos específicos........................................................................................50

CAPÍTULO IV........................................ ....................................................................52

4 SEQUÊNCIA DIDÁTICA............................... .........................................................52

Page 12: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA - cchla.ufpb.br§ão... · A avaliação dos resultados diagnósticos do “Relato de Experiência”, elencados a partir da produção escrita dos

11

4.1 Relato da sequência didática nas aulas de Língua Portuguesa..........................52

4.1.1 O processo de avaliação diagnóstica...............................................................52

4.1.1.1 Relato dos procedimentos de avaliação para intervenção nas produções

escritas pelos alunos.................................................................................................52

4.1.1.2 Diagnóstico dos textos escritos pelos alunos ................................................55

4.1.1.3 Análise dos dados linguístico-discursivos dos relatos de experiências escritos

pelos alunos ..............................................................................................................57

4.1.2 Relato das atividades linguísticas em uma sequência didática ........................60

4.1.3 Reescrita dos textos produzidos na fase diagnóstica da sequência didática ...64

CAPÍTULO V......................................... ....................................................................68

5 RESULTADOS DA PESQUISA........................... ..................................................68

5.1 Resultados alcançados .......................................................................................68

5.2 Discussão dos resultados alcançados ................................................................70

CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................... .......................................................72

REFERÊNCIAS.........................................................................................................74

APÊNDICE................................................................................................................77

ANEXO .....................................................................................................................83

Page 13: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA - cchla.ufpb.br§ão... · A avaliação dos resultados diagnósticos do “Relato de Experiência”, elencados a partir da produção escrita dos

12

INTRODUÇÃO

A pesquisa situa-se na área de Língua Portuguesa e considera a linguagem

como forma de interação. Para seu desenvolvimento, tomou-se o gênero textual

“Relato de Experiência” como suporte para a prática da escrita e análise linguístico-

discursiva dos textos escritos pelos alunos e para a identificação da pluralidade que

permeia a realidade escolar dos alunos da EJA. Esse estudo visou ao

desenvolvimento de uma prática de ensino, com base nos conceitos de gêneros

textuais (MARCUSCHI, 2002) e de texto (KOCH, 2006). Os estudos sobre produção

de textos escritos se postularam em (GERALDI, 2002), EJA (KLEIMAN, 2005),

análise linguístico-discursiva (BRÄKLING, 2009, BORTONI-RICARDO, 2005 e

CAGLIARI, 2006) e os PCNs embasaram as atividades propostas e possibilitaram

aos alunos um efetivo contato com o uso social do gênero textual “Relato de

Experiência”.

O projeto foi desenvolvido com a participação de 20 alunos dos ciclos finais,

da Educação de Jovens e Adultos. Teve como objetivo desenvolver práticas de

textos escritos do gênero textual “Relato de Experiência”, a partir de atividades em

uma sequência didática, para uma verificação e análise dos organizadores

linguísticos que compõem os textos escritos. Esse momento possibilitou a

observação da capacidade de produzir de cada aluno e as possíveis dificuldades em

produção de textos escritos, nas aulas de Língua Portuguesa.

O projeto de pesquisa caracterizou-se sob o viés teórico-prático. Elegeu o

estudo da linguagem como parâmetro interativo de aprendizagem para o

desenvolvimento da escrita; tomou o gênero textual “Relato de Experiência” como

objeto de estudo; considerou os aspectos singulares da Educação de Jovens e

Adultos, como importantes para trabalhar a intervenção nas dificuldades

apresentadas em produção de textos escritos.

A avaliação dos resultados diagnósticos do “Relato de Experiência”,

elencados a partir da produção escrita dos pesquisados, subsidiou o planejamento e

a aplicabilidade das atividades linguísticas em uma sequência didática, viabilizando

àquelas mais adequadas com o perfil do aluno, como também deu suporte para

definir novos passos do trabalho; forneceu informações que permitiram a adoção de

Page 14: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA - cchla.ufpb.br§ão... · A avaliação dos resultados diagnósticos do “Relato de Experiência”, elencados a partir da produção escrita dos

13

um projeto voltado à melhoria na produção do texto escrito, com vistas a garantir a

escolarização do aluno e, consequentemente, sua inclusão intelectual no mundo

letrado.

Dessa forma, as atividades em uma sequência didática trabalharam o gênero

textual “Relato de Experiência”, com vistas a viabilizar o acesso dos alunos à

produção de textos escritos, com propriedade, consciência e disposição. Essa

construção do conhecimento em sala de aula possibilitou uma aplicação de

atividades para diminuir as dificuldades apresentadas nas produções escritas. Isso

porque, desde o princípio do projeto, entendi que as aulas de Língua Portuguesa

destinadas à Educação de Jovens e Adultos devem possibilitar o desenvolvimento

das competências linguísticas necessárias para a aprendizagem dos conteúdos

curriculares específicos dessa modalidade de ensino.

O perfil dos alunos jovens e adultos da EJA delimitou o gênero textual “Relato

de Experiência”, por melhor responder às necessidades históricas e sociais desses

sujeitos. Além desse alcance, a seleção do gênero ocorreu também em virtude de

pertencer ao domínio social da memorização e documentação das experiências

humanas. Na maioria das vezes, os temas abordados não só sensibilizam e

mobilizam os sujeitos jovens e adultos da EJA, como também se configuram como

atividades capazes de envolver o aluno no universo da escrita, conquistando-o, para

que aprenda os mais diversos sentidos inerentes ao referido gênero. A prática de

ensino em Língua Portuguesa, considerando esse gênero textual, contempla, assim,

as possíveis situações de uso social da linguagem nas atividades de leitura e de

produção de textos escritos.

Na sequência didática da pesquisa foram trabalhados modelos de relatos de

experiências, com realizações de estudos quanto às formas de expressão utilizadas

nesse modelo de gênero e quanto às suas intenções linguístico-discursivas. No

entanto, a produção do relato considerou, notavelmente, nas aulas, o uso da língua

de forma variada, não validando apenas a norma culta, mas considerando também

as variedades linguísticas usadas pelos alunos em seu contexto social. Nesse

sentido, a língua foi percebida não como um modelo absoluto, imutável, mas como

um objeto dialógico e em constante processo de mudança. Faz-se necessário

observar que, nas aulas de Língua Portuguesa, o professor deve utilizar a linguagem

Page 15: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA - cchla.ufpb.br§ão... · A avaliação dos resultados diagnósticos do “Relato de Experiência”, elencados a partir da produção escrita dos

14

mais condizente com a norma culta, para fazer uso nas diversas interações

comunicativas, de caráter mais formal. Cabe, portanto, à escola, viabilizar o acesso

ao mundo letrado, por ser o caminho propício para a ascensão social, econômica e

intelectual do aluno.

Em todas as fases de execução desse projeto foi dada ao aluno a

oportunidade de escrever seu próprio “Relato de Experiência” de forma mais

sistemática, a partir da vertente escrita da linguagem, com vistas a mobilizar os

conhecimentos linguístico-discursivos no momento da produção textual escrita, a

partir da minha orientação e acompanhamento das etapas do projeto, possibilitando

àqueles envolvidos melhor escolarização para os anos estudantis posteriores.

Dessa forma, o projeto de pesquisa oportunizou aos alunos participarem dos

domínios sociais que a vida possa oferecer. Caminhos que trilhados

conscientemente colocam esses alunos como atores sociais da sua própria história,

participando ativamente do exercício da cidadania.

Page 16: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA - cchla.ufpb.br§ão... · A avaliação dos resultados diagnósticos do “Relato de Experiência”, elencados a partir da produção escrita dos

15

CAPÍTULO I

1 A Educação de Jovens e Adultos no cenário do ensi no brasileiro

Fatos históricos, como a falta de acesso à terra para garantir por meio da

cultura de subsistência a sobrevivência e o advento da industrialização que gera

uma população proletária cada vez mais participando das desigualdades sociais,

são suficientes para consolidar a exclusão, o desemprego, o subemprego, os

salários-baixos, o alto índice de violência dos mais diversos aspectos e a alta

concentração de renda.

Para superar as desigualdades sociais, foram lançadas políticas públicas com

o objetivo de enfrentar os desafios e, entre as soluções, a educação é apontada

como o caminho mais estável para diminuir com a exclusão social e inserir o sujeito

na sociedade. Essa inserção requer políticas consistentes em virtude dos aspectos

de uma sociedade complexa. Essas políticas públicas emergem para resgatar uma

dívida social acumulada durante séculos com a população brasileira.

O enfrentamento dos diversos problemas advindos desse processo histórico

coloca a educação frente a dois desafios básicos: primeiro, dispor de metodologias

curriculares relevantes e viáveis da aprendizagem para os sujeitos que, por motivos

diversos, desistem de continuar seus estudos no período regular e abandonam a

escola; segundo, investir efetivamente na construção de escolas de qualidade. É

dado, então, um valor universal de acesso à educação, sendo pauta de discussões

dos gestores políticos que buscam criar políticas públicas comprometidas com o

futuro da nação.

Nesse contexto encontra-se o aluno da Educação de Jovens e Adultos, que

teve seus direitos garantidos a partir da Constituição de 1988, quando essa

modalidade de ensino passou a ser vista como um direito, garantido, também, na Lei

de Diretrizes e Bases da Educação – LDB, nº 9.3494/96, que estabelece a Educação

de Jovens e Adultos, enquanto modalidade de Educação Básica, com sua

especificidade própria e gratuita, destinada àqueles que não tiverem acesso e

continuidade dos estudos na idade pertinente. Este direito que contempla a EJA

também está expresso no Parecer nº 011/2000, na Resolução 01/2000 e recebe

Page 17: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA - cchla.ufpb.br§ão... · A avaliação dos resultados diagnósticos do “Relato de Experiência”, elencados a partir da produção escrita dos

16

reforço na Lei do FUNDEB, reforçando os direitos dos sujeitos da EJA. É lei a

obrigatoriedade da oferta pública para a educação permanente que proporciona o

universalismo, a solidariedade, a igualdade e a diversidade (Parecer nº 11/2000).

Seguindo essa regra, a LDBEN/96, na seção V do Capítulo II, registra, em

seu Art. 37: “A educação de jovens e adultos será destinada àqueles que não

tiveram acesso ou continuidade de estudos no ensino fundamental e médio na idade

própria”. Ressalta no parágrafo 1:

Os sistemas de ensino assegurarão gratuitamente aos jovens e aos adultos, que não puderam efetuar os estudos na idade regular, oportunidades educacionais apropriadas, consideradas as características do alunado, seus interesses, condições de vida e de trabalho, mediante cursos e exames.

As características específicas da modalidade Educação de Jovens e Adultos

requer uma revisão das propostas curriculares adotadas pelos Sistemas de Ensino

responsáveis pelas diretrizes curriculares da EJA. Isso porque as mudanças sociais,

a globalização vivenciada na última década e a mudança nos processos de trabalho

são fatores que têm mobilizado o poder público no sentido de estabelecer melhores

políticas para essa modalidade de ensino.

Em virtude dessa historicização complexa, a Educação de Jovens e Adultos

insere no seu âmbito uma gama de alunos com baixo nível de escolaridade.

Essa realidade que permeia a EJA está relacionada ao perfil do alunado, que tem

seu conhecimento e experiência de vida própria. Há, portanto, a necessidade de

conhecer substancialmente cada aluno para que participe efetivamente do processo

ensino-aprendizagem e, assim, haja a devida viabilização do trabalho pedagógico

em sala de aula. Segundo a LDB (artigo 37), o ensino para a EJA deverá ofertar

oportunidades educacionais próprias, sendo necessário considerar as características

do aluno, seus interesses, condições de vida e de trabalho.

Nesse sentido, a democratização da escola vai além do acesso do aluno à

instituição escolar, visto que não só a permanência na instituição é necessária, mas

também a formação desse aluno ao longo da vida. Para tanto, a escola deverá estar

articulada com os interesses e as perspectivas dos alunos, já que ao professor da

Page 18: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA - cchla.ufpb.br§ão... · A avaliação dos resultados diagnósticos do “Relato de Experiência”, elencados a partir da produção escrita dos

17

EJA coloca-se um grande desafio: conhecer a história de vida de cada aluno, para

promover uma prática de ensino em consonância com a vida dessas pessoas.

Conforme a Declaração de Hamburgo (1997), a educação de adultos tem

caráter amplo, não é só direito adquirido:

[...] é a chave para o século XXI; é tanto consequência do exercício da cidadania como condição para uma plena participação na sociedade. Além do mais, é um poderoso argumento em favor do desenvolvimento ecológico sustentável, da democracia, da justiça, da igualdade entre os sexos, do desenvolvimento socioeconômico e científico, além de um requesito fundamental para a construção de um mundo onde a violência cede lugar ao diálogo e à cultura de paz baseada na justiça (DECLARAÇÃO DE HAMBURGO, 1997).

Dados históricos revelam que muitos jovens e adultos ficaram excluídos dos

programas de leitura e escrita por não terem tido acesso à escola e aqueles que

tiveram demonstraram dificuldades de aprendizagem, inserindo-se, apenas, numa

iniciação intelectual, comprometendo a sua inserção em práticas de leitura e escrita

mais amplas e, assim, apresentando um baixo grau de escolarização.

De um modo geral, os jovens e adultos, em detrimento desses fatores, foram

excluídos do ensino regular, necessitando refletir sobre as peculiaridades desses

sujeitos, no contexto da prática de ensino. Na verdade, idealizou-se uma escola para

atender os sujeitos, conforme as regularidades das faixas etárias, acreditando que

cada aluno correspondesse às expectativas do sistema escolar e cumprisse com

todas as etapas de escolaridade até concluir os estudos e então ter uma vida

intelectual regular, de sucesso.

Diante disso, os currículos, os programas e os métodos de ensino foram

formulados tendo como perfil essa escola ideal, a qual desconsiderou os possíveis

insucessos, desistências e repetências dos alunos no decorrer da sua vida estudantil

inicial, considerando apenas o perfil das crianças e adolescentes em idade

pertinente ao nível escolar.

As várias concepções que dão suporte ao trabalho escolar regular, por não

contemplarem parâmetros curriculares pertinentes ao perfil do aluno da EJA, na

maioria das vezes, dificultam o processo de desenvolvimento da aprendizagem. Isto

Page 19: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA - cchla.ufpb.br§ão... · A avaliação dos resultados diagnósticos do “Relato de Experiência”, elencados a partir da produção escrita dos

18

porque o currículo da modalidade de ensino da criança e do adolescente é

inadequado para a real situação de aprendizagem do aluno jovem e adulto. Esses

procedimentos didáticos inadequados para a efetivação real da aprendizagem e os

fatores de ordem socioeconômica corroboram para que os alunos não deem

continuidade aos estudos, afastando-se diversas vezes do programa da EJA.

Sabe-se que os alunos jovens e adultos apresentam traços de vida bem

diversificados, que possuem saberes próprios do seu estilo de vida e que detêm

visões de mundo conforme suas influências culturais. A prática de ensino pertinente

à EJA deve associar os diversos saberes culturalmente formados com aqueles

desenvolvidos em sala de aula de Língua Portuguesa, tornando a escola um

ambiente rico de conhecimento para a prática de ensino. São pessoas que não

tiveram a oportunidade de frequentar a escola dentro da sua faixa etária, em

decorrência das diversas condições que a vida lhes impôs, mas que estão prontas

para trilhar o caminho do conhecimento.

A sala de aula da educação de Jovens e adultos deverá ser concebida como

espaço propício para a existência de interações entre professor/aluno e, entre os

alunos, criando as possibilidades para emergir a produção do conhecimento. Pode-

se afirmar, com respaldo em Freire, que “ensinar não é transferir conhecimento, mas

criar as possibilidades para a sua produção ou a sua construção” (FREIRE, 2003, p.

47). Tais interações professor-aluno devem ter um papel relevante na construção do

conhecimento dos alunos.

Estudos de pesquisa mostram uma quantidade numerosa de jovens que não

concluíram o ensino fundamental, devido a diversas repetências ocasionadas, na

maioria das vezes, pelas incompatibilidades com as atividades escolares. Por essa

razão, as tarefas escolares direcionadas ao aluno jovem e adulto devem ser

peculiares à realidade desse público. Por isso, as características do aluno da EJA

exigem uma política educacional que viabilize a “qualificação de vida para todos, de

todas as idades, na qual adolescentes, jovens, adultos e idosos possam atualizar

seus conhecimentos, mostrar habilidades, trocar experiências e ter acesso a novas

culturas” (CARVALHO, 2011, p. 8). Deve ser atribuído significado à aprendizagem,

para que o aluno não seja mais uma vez excluído da escola e, consequentemente,

da sociedade, da vida.

Page 20: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA - cchla.ufpb.br§ão... · A avaliação dos resultados diagnósticos do “Relato de Experiência”, elencados a partir da produção escrita dos

19

Em todos os contextos escolares e, especificamente, no da sala de aula da

EJA, faz-se necessário o professor perceber o nível ou mesmo a capacidade de

aprendizagem de cada aluno, para poder intervir e ajudá-lo na realização dos

exercícios escolares e, assim, poder superar suas dificuldades em aprendizagem,

evitando a evasão do aluno e criando possibilidades para que permaneça na escola

e escolarize-se. Para atingir esses objetivos, Garcez (1998) faz referência ao

processo interativo, momento em que “o professor explica, esclarece, instrui, define

regras que asseguram a competência mínima esperada, modela, monitora, estimula

e elogia o progresso, sempre com um papel crítico e positivo” (GARCEZ, 1998, p.

42). Nessa perspectiva, o professor cria um vínculo interativo e faz uso de

sequências didáticas para envolver o aluno nos exercícios escolares e garantir a sua

permanência na escola.

As atividades do projeto de pesquisa envolveram alunos que já sabem ler e

escrever, mas que apresentam inúmeras dificuldades linguísticas para enfrentar o

mundo moderno. Por isso, almeja-se a busca pela prática de escrita, para que eles

se tornem cada vez mais “independentes e autossuficientes para se expressarem

por meio de língua escrita” (KLEIMAN, 2005, p. 15), exigência notável de uma

sociedade regida pela escrita.

Essa perspectiva de ensino está associada à concepção de linguagem como

um lugar de interação social humana. Esse contexto exige que o professor considere

as particularidades de cada aluno na interação com os textos. Para tanto, o

processo de ensino-aprendizagem deverá ter como base a concepção interacionista

(dialógica) da língua, que considera o texto lugar de interação e os interlocutores

sujeitos ativos e conscientes.

Page 21: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA - cchla.ufpb.br§ão... · A avaliação dos resultados diagnósticos do “Relato de Experiência”, elencados a partir da produção escrita dos

20

CAPÍTULO II

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 O sentido da linguagem no ensino de Língua Port uguesa na EJA

As atividades de aprendizagem desenvolvidas no projeto de pesquisa foram

teoricamente sustentadas na abordagem interacionista da linguagem, por entender

que as línguas não se resumem a normas estáveis, mas podem ser reformuladas

com uma produção social de novos significados propiciados da interação. Em outras

palavras, “é possível, na interação, construir realidades sociais, papéis e identidade,

não apenas reproduzir o já dado” (KLEIMAN, 2012, p. 27). Pretende-se, portanto,

demonstrar, na prática de sala de aula, a articulação dialógica entre a atividade

desenvolvida na disciplina de Língua Portuguesa e a concepção interacionista de

linguagem.

Koch (2006) apresenta três concepções de língua que definem

automaticamente a concepção de sujeito. No que se refere à concepção de língua

como “representação de pensamento”, corresponde a de “sujeito psicológico,

individual, com vontade e ações próprias” (KOCH, 2006, p. 13). É um ego que

constrói uma representação mental para ser captada pelo interlocutor conforme foi

mentalizada. No entanto, esse ego é um sujeito histórico e social, pois se constrói

em sociedade, adquirindo, dessa forma, a habilidade de interagir. Por isso, pode ser

conceituado como um sujeito social, com atos interativos, mas que domina suas

ações. A concepção de língua como “estrutura” corresponde à de um sujeito

determinado, “assujeitado” pelo sistema, caracterizado por uma espécie de uma

“não consciência”. A explicação de qualquer fenômeno e de todo e qualquer

comportamento individual está relacionada ao sistema, linguístico ou social. Uma

terceira concepção de língua é vista como “lugar de interação” e corresponde à

noção de sujeito como entidade psicossocial.

O projeto de pesquisa se situa na concepção de linguagem como “lugar de

interação”, justamente por compreender a “linguagem como lugar de constituição de

relações sociais, onde os falantes se tornam sujeito” (GERALDI, 2002, p. 41). Nessa

perspectiva, o estudo da língua, com base na concepção de linguagem como forma

Page 22: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA - cchla.ufpb.br§ão... · A avaliação dos resultados diagnósticos do “Relato de Experiência”, elencados a partir da produção escrita dos

21

de interação, busca “detectar os compromissos que se criam por meio da fala e as

condições que devem ser preenchidas por um falante para falar de certa forma em

determinada situação concreta de interação” (GERALDI, 2002, p. 42). Vista dessa

forma, a linguagem é, antes de tudo, produção de sentido, permeada de

significação, originando a produção comunicativa.

É por meio da linguagem que o homem interage socialmente. É no seio das

práticas sociais quando o sujeito conquista seu lugar de cidadão. Como escreve

Geraldi: “a linguagem é uma forma de interação” (GERALDI, 2002, p. 41). Busca-se,

portanto, disponibilizar uma diversidade de conhecimentos linguísticos ao aluno,

dinamizando um trabalho com diferentes textos que circulam na sociedade.

O projeto de pesquisa está respaldado na linguagem como forma de

interação, por entender que saber uma língua é muito mais do que saber analisar

uma língua; é “dominar as habilidades de uso da língua em situações concretas de

interação, entendendo e produzindo enunciados adequados aos diversos contextos,

percebendo as dificuldades entre uma forma de expressão e outra” (GERALDI,

2002, p. 89). Nesse contexto, o professor considera as especificidades dos alunos,

justamente porque a prática de ensino tem como base a concepção interacionista da

língua.

No ensino da língua, o processo de interação linguística resulta das relações

constitutivas entre os sujeitos no momento da produção oral e escrita. Essa visão

contrapõe-se ao ensino convencional, que estabelece critérios conforme manuais

didáticos ou gramaticais escolares para “simplesmente estabelecer classificações e

denominar os tipos de sentenças” (GERALDI, 2002, p. 42). Uma prática de escrita

respaldada nessa abordagem de língua objetivará a prática de “redações” com

temas pré-determinados e regras fixadas. Enfim, o trabalho com textos se define

com fichamentos, classificação de personagens e preenchimento de rótulos de

obras, com objetivo exclusivo de dominar qualquer regra gramatical.

Alterar o sentido do ensino de Língua Portuguesa significa muito mais do que

reformular as técnicas e métodos empregados na sala de aula; deve-se conceber

uma nova concepção de linguagem, cuja adoção possa colocar em prática uma

nova metodologia e um conteúdo curricular mais viável para o ensino.

Page 23: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA - cchla.ufpb.br§ão... · A avaliação dos resultados diagnósticos do “Relato de Experiência”, elencados a partir da produção escrita dos

22

Bazerman (2006) faz referência ao critério interacionista da língua de dar

ênfase à voz do aluno, ao escrever:

Ao estabelecermos a importância da voz do escritor e a autoridade da percepção pessoal aprendemos, a dar peso ao que o aluno quer dizer, a ser paciente com o processo complexo da escrita, a oferecer simpáticos conselhos sobre como fazer invés de o que não fazer, e ajudar o aluno a descobrir as motivações pessoais para aprender a escrever (BAZERMAN, 2006, p. 36, grifos do autor).

Para Leite (2002), o sentido do texto vai além da significação do signo

linguístico: a linguagem é muito mais que pensamento, existe uma intenção

intrínseca com a linguagem e essa intenção define o seu uso, pois a linguagem não

pode ser compreendida como um conjunto de regras pré-determinadas e/ou fixas. A

artificialidade no uso da linguagem na prática escolar traz consequências

comprometedoras para o ensino e acentua o nível de dificuldade na “aprendizagem

de uma língua ou da variedade de uma língua” (GERALDI, 2002, p. 89). Essa

dificuldade ocorre quando não se produzem textos orais e escritos, sob a ótica

interacionista da linguagem. Também é visível na escola a prática de exercícios de

interpretação de textos, por meio de fichamentos prontos, negando a construção de

sentido e, consequentemente, a rica experiência de interação que a leitura

proporciona ao aluno.

Os PCNs (2001) apresentam uma visão interacionista (dialógica) da língua,

que é vista como uma atividade que constitui e é constituída pelos sujeitos e está

sendo objeto de estudo e prática de muitos professores, pois é de grande valia para

a prática de leitura e de escrita nas aulas de Língua Portuguesa. O objetivo

primordial da língua, segundo essa concepção, é a interação entre autor-texto-leitor,

“[...] trata-se de uma atividade que implica necessariamente compreensão, na qual

os sentidos começam a ser constituídos antes da leitura propriamente dita” (PCNs,

2001, p. 53). Conforme esse paradigma, a língua é lugar de interação, de diálogo; é

lugar de dar voz ao sujeito que passa da condição de agente passivo para ativo e,

como tal, pode dizer a sua palavra, sua experiência, seu saber.

Com base na concepção de linguagem como interação, entendemos que o

aluno da EJA tem uma linguagem própria originária do seu viver, que não pode ser

lida somente a partir de palavras desconexas, sem sentido, porque existe um poder

Page 24: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA - cchla.ufpb.br§ão... · A avaliação dos resultados diagnósticos do “Relato de Experiência”, elencados a partir da produção escrita dos

23

de expressão intrínseca ao seu viver, podendo fazer uso das dimensões de sua

experiência, essenciais para a construção do texto escrito permeado de sentido, de

vida, de ação.

2.2 O texto como construção de sentidos

Vários pesquisadores trazem uma concepção contemporânea de texto,

investigando-o como unidade de ensino, dentre os quais podemos citar Bronckart

(1999), Koch (2000), Marcuschi (2008), Costa Val (1993) e muitos outros. Nos seus

estudos são discutidas a constituição e a produção de sentido do texto. As diversas

leituras inerentes a cada pesquisador na área de linguística fazem emergir inúmeras

considerações para o termo texto.

Bronckart (1999) traz a definição de texto, conforme o processo interacional

presente no ato da linguagem, entendendo-o como um elemento que se constitui no

entrelaçamento dialógico entre a ação individual situada empiricamente

(psicossocial) e os "construtos históricos", definidos como gêneros de textos.

Koch (2006) traz o conceito de texto dependente da concepção formulada de

língua e sujeito. Na concepção de língua como expressão do pensamento, o texto é

concebido como um produto lógico do pensamento do autor, sendo, portanto, esse

pensamento a representação mental. Este será bem articulado e organizado se cada

leitor organizar de maneira lógica o seu pensamento.

Na concepção que referenda a língua como uma estrutura, um código,

instrumentalizado para efetivar o processo de comunicação entre emissor e

receptor, há, apenas, uma possibilidade de entender a mensagem: aquela

disponibilizada pelo autor (emissor). Ao leitor (receptor) cabe a tarefa de entender e

assimilar a mensagem. O sujeito situa-se no contexto (pré) determinado pelo

sistema e o texto assume o papel de mero produto da codificação/decodificação.

Nesse sentido, os elementos textuais se encontram em estrutura linear, onde um

elemento linguístico se comporta em função de outro, dando ênfase à linearidade

frasal, descontextualizada do texto.

No universo interativo (dialógico) da língua, que é vista como uma atividade

que constitui e é constituída pelos sujeitos, Koch (2006) afirma que “o sentido de um

Page 25: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA - cchla.ufpb.br§ão... · A avaliação dos resultados diagnósticos do “Relato de Experiência”, elencados a partir da produção escrita dos

24

texto é, portanto, construído na interação texto-sujeitos (ou texto-co-enunciadores) e

não algo que preexista a essa interação” (KOCH, 2006, p. 17). Dessa forma, o

objetivo da língua é a interação entre autor-texto-leitor, visto que a língua é lugar de

interação, de diálogo. Nessa perspectiva, o conhecimento do leitor extrapola o

conhecimento do código linguístico. O texto deixa de ser campo exclusivo de

codificação e decodificação, pois o seu sentido é construído/produzido na interação

texto-sujeitos.

Entender de forma clara as mais diversas leituras de nossa vivência cotidiana

requer uma ação colaborativa envolvendo autor-texto-leitor. Trilhando esse

pensamento, Koch afirma:

[...] o ouvinte/leitor de um texto mobilizará todos os componentes do conhecimento e estratégias cognitivas que tem ao seu alcance para ser capaz de interpretar o texto como dotado de sentido. Isto é, espera-se sempre um texto para o qual se possa produzir sentidos e procura-se, a partir da forma como ele se encontra linguisticamente organizado, construir uma representação coerente, ativando, para tanto, os conhecimentos prévios e/ou tirando as possíveis conclusões para as quais o texto aponta (KOCH, 2006, p. 18-19).

Assim, a compreensão está em todos os momentos da nossa convivência

sociocultural. Nesse processo, compreender é realizar inferências para produzir

sentido; o leitor tem participação dinâmica, agindo e colaborando para que o texto

tenha sentido. A compreensão da língua assume um perfil construtivo, pois esta é

vista como uma atividade interativa, onde o conhecimento é partilhado, numa

relação autônoma e coletiva.

Costa Val (1993) traz sua contribuição teórica para o estudo do texto,

definindo-o “como ocorrência linguística falada ou escrita, de qualquer extensão,

dotada de unidade sociocomunicativa, semântica e formal” (COSTA VAL, 1993, p.

3). Valoriza-se nesse conceito qualquer enunciado linguístico, mas dentro de uma

lógica textual.

Antunes (2005) faz referência ao texto como objeto de estudo das aulas de

língua. Para a autora, todas as atividades da sala de aula devem ser realizadas por

meio de textos. E acrescenta mais: “o texto deve permear toda e qualquer atividade

de nossa atuação social. Constitui o ponto de divergência de qualquer prática,

Page 26: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA - cchla.ufpb.br§ão... · A avaliação dos resultados diagnósticos do “Relato de Experiência”, elencados a partir da produção escrita dos

25

qualquer exercício, de qualquer plano” (ANTUNES, 2005, p. 40). Sendo assim, o

texto faz parte de todas as atividades sociais, tendo no âmbito escolar e,

especificamente, na sala de aula, valor imprescindível como um recurso de ensino,

mas faz-se necessário que seja também objeto de aprendizagem, devendo fazer

sentido para o aluno.

Koch (2009) também define texto como elemento essencial nas nossas vidas,

que dá condições de nos situar no mundo e fornecer elementos necessários para

construirmos nossa história interativa de vida, de mundo:

O texto, considerado como um texto organizado de sentido, é a unidade básica com que devemos trabalhar no processo de ensino da língua portuguesa, porque é no texto que o usuário da língua exercita a sua capacidade de organizar e transmitir ideias, informações e opiniões em situações de interação comunicativa (KOCH, 2009, p. 8).

Ainda de acordo com Koch, “[...] o sentido de um texto não existe a priori, mas

é constituído na interação sujeitos-texto” (KOCH, 2008, p. 57). Nessa abordagem

que sustenta o texto como unidade de sentido, a práxis pedagógica da disciplina de

Língua Portuguesa exige um trabalho de leitura e escrita que proporcione atitudes

de descoberta, pesquisa, experimentação, inferências, suposições e crítica. Só

assim as aulas de língua terão valor significativo e produtivo.

Tomando por base a concepção interacionista de língua, os PCNs elaboraram

os seus princípios metodológicos, que passaram a ser um referencial para

professores e estudiosos em produção de texto. Segundo os PCNs (2001) de Língua

Portuguesa,

[...] se o objetivo é que o aluno aprenda a produzir e a interpretar textos, não é possível tomar como unidade básica de ensino nem a letra, nem a sílaba, nem a palavra, nem a frase que, descontextualizadas, pouco têm a ver com a competência discursiva, que é a questão central. Dentro desse marco, a unidade básica de ensino só pode ser o texto, mas isso não significa que não se enfoquem palavras ou frases nas situações didáticas específicas que o exigem (PCNs, 2001, p. 35-36).

Pensamento que coloca o texto no lugar privilegiado da prática de ensino: “o

texto como unidade de ensino” (PCNs, 2001, p. 35). Nesse contexto, do texto

Page 27: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA - cchla.ufpb.br§ão... · A avaliação dos resultados diagnósticos do “Relato de Experiência”, elencados a partir da produção escrita dos

26

referendado pelos PCNs, o leitor assume o papel de construtor de sentido, utilizando

uma série de estratégias de leitura como seleção, antecipação, inferências e

verificação, as quais possibilitam uma leitura de qualidade, uma leitura permeada de

sentido, de valor.

Essa concepção de texto é linguisticamente inovadora, pois o conhecimento

do leitor extrapola o conhecimento do código verbal. Ao valorizar um campo além

daquele proposto pela codificação e decodificação, o texto tem como objetivo

essencial a produção de sentidos. É nessa perspectiva que Koch (2006) faz

referência ao texto como:

[...] atividade interativa altamente complexa de produção de sentidos, que se realiza, evidentemente, com base nos elementos linguísticos presentes na superfície textual, aliados a todos os elementos do contexto sociocognitivo mobilizados na interlocução [...] (KOCH, 2006, p. 17).

Esse conceito de texto é abordado por Marcuschi (2008) que afirma: “o texto

é um evento comunicativo em que convergem ações linguísticas, sociais e

cognitivas” (MARCUSCHI, 2008, p. 72). Nesse sentido, o texto tem caráter dinâmico,

é a vida do interlocutor em processo de comunicação, de interação.

Assim, para Marcuschi (2008, p. 233), o texto é uma ação linguística,

cognitiva, mas também social, histórica, cultural; é nosso agir no mundo, nossa

interação com o outro, com a sociedade. Entender de forma clara as mais diversas

leituras de nossa vivência cotidiana requer uma ação colaborativa envolvendo autor-

texto-leitor.

Os estudos de Vygotsky (apud REGO, 1995) trazem uma contribuição

essencial ao processo educacional que sustenta o texto como uma ação cognitiva,

mas também social, pois utiliza o método histórico-crítico, compreendendo o estudo

do desenvolvimento intelectual do aluno em consonância com o contexto social, pois

não anula a aprendizagem através da estrutura mental, mas une o fator biológico ao

fator social. Nessa perspectiva, são trabalhadas as capacidades intelectuais do

aluno, com vistas a formar leitores e escritores competentes, como também o aluno

é visto como um ser social, que tem conceitos adquiridos pela experiência de

Page 28: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA - cchla.ufpb.br§ão... · A avaliação dos resultados diagnósticos do “Relato de Experiência”, elencados a partir da produção escrita dos

27

mundo; é um ser subjetivo, capaz de interagir com o meio de várias formas,

ampliando e enriquecendo o seu universo intelectual.

Esse conceito de texto, como uma ação linguística, cognitiva, mas também

social, histórica, cultural, remete à prática de Língua Portuguesa para a questão dos

gêneros textuais, os quais trabalhados em sala de aula contemplam as possíveis

situações de uso social do texto nas atividades de leitura e de produção de textos.

2.3 Gênero textual como procedimento metodológico e m Língua Portuguesa

Um procedimento didático, capaz de oportunizar uma prática de ensino em

sala de aula, de forma interativa, é a prática de produção textual com gêneros,

proposta no modelo de trabalho com sequências didáticas de Joaquim Dolz, Michele

Noverraz e Bernard Schneuuwly (2004). Estes autores apresentam quatro etapas

necessárias para a produção textual de um gênero: apresentação da situação

(definição da modalidade oral ou escrita, qual o gênero a ser produzido e conteúdo a

ser desenvolvido); primeira produção (atividade de produção em que o texto vai ser

avaliado e revisto); módulo (avaliação do aprendizado; são trabalhados os

problemas, observação e análise dos textos e o aluno adquire linguagem técnica);

produção final (atividade de produção em que o texto vai ser avaliado e revisto).

Embora no ensino de Língua Portuguesa ainda seja limitado o trabalho com

gêneros textuais de forma sistemática e produtiva, novas perspectivas e novas

abordagens do ensino-aprendizagem incluem propostas de trabalho com gêneros

textuais, para que os alunos aprendam a produzir diversos gêneros escritos de uso

diário e os gêneros orais mais formais.

O interesse em desenvolver um trabalho de leitura e produção de textos

escritos, com ênfase nos gêneros textuais, surge como forma de intervenção

pedagógica, para que o aluno supere suas dificuldades em exercícios orais e

escritos. Assim, o professor deve acreditar que o aluno, ao ler e escrever textos de

gêneros diversos, dentro de uma abordagem interativa de linguagem, poderá criar o

hábito diário de realizar essas atividades e superar, em vários aspectos, suas

diversas dificuldades linguísticas. Além dessa visão interacionista, ao incluir nos

conteúdos curriculares uma proposta de produção de gêneros textuais de forma

Page 29: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA - cchla.ufpb.br§ão... · A avaliação dos resultados diagnósticos do “Relato de Experiência”, elencados a partir da produção escrita dos

28

contínua, sistemática e interativa, o aluno ampliaria seu conhecimento de vida, de

mundo e seria sujeito do seu processo social.

Dessa forma, os gêneros textuais devem marcar um lugar de destaque no

ensino de língua, os quais devem ser trabalhados sistematicamente por meio de

leitura e produção de textos orais e/ou escritos em uma sequência didática. Quanto

à intervenção curricular, deverá almejar mudanças na forma de pensar e agir de

cada aluno, através da sistematização linguística do que pensa sobre os vários

textos que circulam no seu meio social e, assim, desenvolver sua competência

discursiva.

Desenvolver um trabalho de leitura e produção de textos, a partir dos gêneros

textuais, é de relevante importância para o sucesso intelectual, linguístico e social do

aluno. O ensino de leitura, compreensão e produção de texto pela perspectiva dos

gêneros, reporta, hoje, para um nível mais progressista do ensino de Língua

Portuguesa. Nesse sentido, o professor não mais é visto como um especialista em

textos literários ou científicos, em desarmonia com a realidade e prática textual do

aluno, mas como um especialista nas diferentes modalidades textuais, orais e

escritas, de uso social.

No que diz respeito à utilização dos gêneros textuais nas práticas de

produção, há o seguinte registro nos PCNs (2001):

[...] os textos que circulam socialmente cumprem um papel modelizador, servindo como fonte de referência, repertório textual, suporte da atividade intertextual. A diversidade textual que existe fora da escola pode e deve estar a serviço da expansão do conhecimento letrado do aluno (PCNs, 2001, p. 34).

Para que as atividades de ensino e de aprendizagem assumam um caráter

sistemático e teoricamente elaborado, planejado, faz-se necessário uma prática de

produção de textos, com ênfase nos gêneros textuais, propondo uma aula diferente,

dinâmica e prazerosa, na qual o aluno se sinta constantemente motivado a

desenvolver suas potencialidades, como também uma aula que lhe proporcione

oportunidades de dar opinião, sugestão, ponto de vista diferenciado, enfim, que faça

o aluno aprender a pensar. As aulas de língua, com base nos gêneros textuais,

visam ao aperfeiçoamento da produção escrita para além da escola, para práticas

Page 30: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA - cchla.ufpb.br§ão... · A avaliação dos resultados diagnósticos do “Relato de Experiência”, elencados a partir da produção escrita dos

29

de cunho social, apresentando resultados positivos, pois mobiliza ações que

refletem no contexto da vida cotidiana.

Segundo Marcuschi, “o trabalho com gêneros textuais é uma extraordinária

oportunidade de se lidar com a língua em seus mais diversos usos autênticos, no dia

a dia” (MARCUSCHI, 2003, p. 35). Assim, os gêneros textuais apresentados aos

alunos da Educação de Jovens e Adultos devem contemplar as possíveis situações

de uso social da linguagem nas atividades de leitura e de produção de textos.

Para esse linguista (2003), não existem gêneros textuais ideais para o ensino

de língua, e, ainda, é possível a identificação de gêneros com características bem

diversificadas, gêneros que podem ir do nível menos formal ao mais formal, do mais

privado ao mais público e, assim, por diante. Além dessas assertivas, afirma que os

gêneros textuais são fenômenos históricos profundamente vinculados à vida cultural

e social; são resultados de trabalho coletivo e contribuem para ordenar e estabilizar

as atividades do dia a dia; são entidades sociodiscursivas e formas de ação social

incontáveis em qualquer situação comunicativa.

A produção de discursos se organiza dentro de um determinado gênero. Sob

esta perspectiva, os PCNs (1998) apresentam os vários gêneros existentes que, por

sua vez, constituem “formas relativamente estáveis de enunciados” (BAKHTIN,

1992, p. 279), disponíveis na cultura de uma sociedade, caracterizados por três

elementos: conteúdo temático, estilo e construção composicional. Pode-se, ainda,

afirmar, com base nesse linguista, que a noção de gêneros refere-se a famílias de

textos que compartilham algumas características comuns, embora heterogêneas,

como tipo de suporte comunicativo, extensão, grau de literariedade, por exemplo,

existindo em número quase ilimitado.

Os professores de Língua Portuguesa precisam levar os alunos a

compreenderem os diferentes gêneros textuais, bem como procurar explicar como

se manifestam. Para Marcuschi (2003) a identidade, os relacionamentos e o

conhecimento dos seres humanos são determinados pelos gêneros textuais que

produzem e consumem nos eventos da vida.

Em relação à produção textual escrita, deve-se considerar a seleção viável do

gênero mais adequado ao contexto escolar e social do alunado, para que as

Page 31: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA - cchla.ufpb.br§ão... · A avaliação dos resultados diagnósticos do “Relato de Experiência”, elencados a partir da produção escrita dos

30

atividades sejam compreendidas e produzidas no ensino de Língua Portuguesa.

Para Kleiman (2005), “devem ser inseridos temas relevantes para a transformação

da prática escolar visando ao letramento dos alunos e a sua inserção plena nas

práticas sociais letradas” (KLEIMAN, 2005, p. 57). Em outras palavras, as práticas

de escrita no currículo escolar vão favorecer a ampliação do universo cultural e a

inserção do aluno no mundo letrado, cultural, social.

Dentre os muitos gêneros textuais que circulam na sociedade, o “Relato de

Experiência” poderá se apresentar mais viável do ponto de vista linguístico,

interativo, social e cultural para a prática de escrita na Educação de Jovens e

Adultos, exprimindo o pensamento de uma linguagem própria, originária do viver

jovem e adulto, expressando uma existência significativa, repleta de experiência.

2.4 O texto “Relato de Experiência”

O gênero “Relato de Experiência” se insere na tipologia de relatar, “que se

liga ao domínio social da comunicação voltado à documentação e à memorização de

ações humanas, exigindo uma representação pelo discurso de experiências vividas

e situadas no tempo” (DOLZ e colaboradores, 2004, p. 60-61). Esse gênero textual

resgata as histórias dos alunos, histórias que muitas vezes são esquecidas por falta

de oportunidades de serem relatadas. Nesse sentido, o gênero se situa socialmente

no relato das experiências humanas vividas, cuja capacidade linguística ocorre

através da representação pelo discurso de experiências, situadas em um

determinado tempo.

A produção de texto escrito “Relato de Experiência” vai trilhar este caminho:

os alunos pesquisados se reconstituindo como sujeitos, reconstituem sua história e

cultura e apreendem a linguagem linguística que compõe o texto. Nesse sentido, a

produção do relato poderá ser uma excelente oportunidade do aluno registrar o seu

pensamento, a sua história, o seu viver. Pode-se afirmar com base nos escritos de

Geraldi (2002) que:

Ser sujeito do discurso seria conferir a cada enunciado produzido a relevância identificadora que lhe dá tanto um papel substantivo no contexto em que é produzido quanto confere uma identidade específica ao seu enunciador. Em outros termos, o discurso assim

Page 32: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA - cchla.ufpb.br§ão... · A avaliação dos resultados diagnósticos do “Relato de Experiência”, elencados a partir da produção escrita dos

31

produzido seria original e único na sua relação com o contexto e com o interlocutor (GERALDI, 2002, p. 26).

Trabalhar o gênero textual “Relato de Experiência” em sala de aula de Língua

Portuguesa é contemplar as possíveis situações de uso social da linguagem nas

atividades de leitura e escrita. No tocante à produção textual, a seleção desse

gênero pode ser mais adequada ao contexto escolar e social do aluno da EJA, por

apresentar elementos linguísticos viáveis para compreensão e produção,

favorecendo a ampliação do universo cultural do aluno e sua inserção no mundo

letrado. Para Bazerman (2006):

[...] a seleção de gênero escrito que os alunos irão produzir não deve ocorrer sem critérios, como também a seleção deve ser informada, compartilhada com o aluno, uma vez que as produções escritas apresentam posições, comprometimentos e metas diferentes, próprias de cada produtor. Deve o professor estar atento à percepção do aluno sobre o direcionamento e sentimento em relação à atividade de aula (BAZERMAN, 2006, p. 24).

O desenvolvimento de escritores competentes, objetivo das aulas de Língua

Portuguesa, não ocorre de forma assistemática, é necessário o professor planejar

juntamente com o aluno, orientando-o para que possa elaborar um texto sobre

experiências vividas, através de sequências didáticas pertinentes ao referido gênero.

Tanto porque a escola e, especificamente, a sala de aula da disciplina de Língua

Portuguesa é, por excelência, lugar de desenvolvimento da produção textual, não

aquela produção alienada, sem conectividade social, cultural, linguística, mas uma

criação própria do aluno, que expressa seu saber de forma original, especial.

Alguns estudos linguísticos verificam que a produção escrita de alunos e,

especificamente, aquela destinada aos alunos da EJA, apresenta muitas

dificuldades de elaboração, ocasionada por problemas de formatação textual,

dificuldades em estabelecer a relação lógico-semântica (temporalidade, causalidade,

contraposição, comparação) na produção dos textos; correlacionar em um texto,

termos, expressões ou ideias que tenham o mesmo referente, dificuldades de

narração escrita; problemas de coesão e coerência textuais, informatividade textual;

adequação do nível de linguagem; falta de hábito em escrever textos; pouco

Page 33: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA - cchla.ufpb.br§ão... · A avaliação dos resultados diagnósticos do “Relato de Experiência”, elencados a partir da produção escrita dos

32

conhecimento dos parâmetros linguístico-discursivos que sustentam o texto “Relato

de Experiência”, dentre outros.

Nos textos de Bazerman (2006), pode-se encontrar referência à complexa

arte da escrita:

[...] aprender a escrever é um trabalho duro, que requer o domínio de problemas de escrita cada vez mais difíceis, de modo que, se quisermos que nossos alunos aprendam a escrever, nós precisamos identificar os tipos de produção escrita com os quais eles vão querer trabalhar com afinco e os tipos de problemas de escrita que eles vão querer solucionar (BAZERMAN, 2006, p. 33).

Dessa forma, a produção de relato é uma oportunidade que o aluno terá de

contar a sua história, focalizando os principais aspectos (os mais marcantes),

referentes a algum evento que marcou significantemente a sua memória, podendo

relatar suas histórias, dando ênfase às decisões tomadas e aos obstáculos

enfrentados, além de outros aspectos relevantes da vida cotidiana. Ao relatar sua

história, os alunos rememoram as situações vividas, descreve o ambiente da

experiência e assume seu papel de produtor de texto. No entanto, os alunos fazem

recortes de fatos que foram mais significantes nas suas vidas e expõem suas

ideias/pontos de vistas. É o texto que confere vida e voz às histórias relatadas, que

legitimará a representação que o aluno tem de si mesmo, do seu “eu”.

Nos relatos de experiências escritos pelos alunos, o registro sistemático das

vivências cotidianas em determinados contextos, que ficaram guardadas na

memória, pode constar de acontecimentos, sentimentos, lembranças e reflexões.

Tudo o processo de inserção no passado pode ser instigada pelo professor,

envolvendo o aluno para relatar um acontecimento relevante da sua vida.

A proposta de dar voz e autoria ao aluno ao produzir o seu texto contrapõe-se

à concepção do “[...] ensino de língua como simples sistema de normas, conjunto de

regras gramaticais, visando à produção correta do enunciado comunicativo culto”

(LEITE, 2002, p. 24). Deve-se, portanto, criar possibilidades de ensino para que o

aluno torne-se senhor do seu saber, da sua competência linguística.

Os “Relatos de Experiências” apresentam características peculiares desse

tipo de gênero, como situações práticas, expressando histórias do dia a dia, quando,

Page 34: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA - cchla.ufpb.br§ão... · A avaliação dos resultados diagnósticos do “Relato de Experiência”, elencados a partir da produção escrita dos

33

muitas vezes, são traduzidas em emoção, ideias e sentimentos, ativando a memória

do aluno e despertando-lhe a vontade de adentrar no passado, para conhecer mais

significantemente a sua história, a sua vida, o seu mundo.

2.5 O valor da memória para a produção do Relato de Experiência

Pensar em histórias de vida automaticamente pressupõe ativar a memória do

sujeito em busca do passado, com vistas a desenvolver o senso crítico do presente,

da sua vida, do seu contexto, inclusive pode dar suporte para operacionalizar o

futuro.

Ao narrar a sua história, a comunicação implica significados direcionados ao

ouvinte que não desempenha, nesse processo, um papel passivo. Na enunciação, o

interlocutor não é neutro, ele é agente participativo: atribui significado à enunciação.

As marcas de tempo do relato de experiência estabelecem uma relação direta com o

passado, visualizado através da própria memória, mas também localizam no

presente, dão voz e vida ao discurso relatado.

É resgatando o passado que o aluno compreenderá a sua história. Momento

significativo em que “[...] podemos, então, repensar o passado para dar um novo

significado à história e, simultaneamente, abrir novas possibilidades para o futuro:

podemos questionar o presente” (BAKHTIN, 1992, p. 278). Interagindo com esse

pensamento, concorda-se que o passado é importante para conferir ao presente

nova significação, novo status.

A prática de leitura e escrita com jovens e adultos deve oportunizar ao aluno

recuperar experiências com memórias individuais/coletivas, no sentido de valorizar a

história individual (pessoal) e social dos alunos da EJA, estabelecendo relações

entre acontecimentos, pessoas, tempos e lugares. Sobre essa relação, Loch explica:

[...] a recuperação dos eventos retidos na memória, coletiva e/ou individual, não se faz por um passe de mágica e nem serão apagados na íntegra. Trata-se de entender que a memória é um “espaço” de disputa entre lembrança e esquecimento, voluntário ou construído (LOCH, 2009, p. 45).

As aulas de língua na EJA, com o objetivo de desenvolver práticas de textos

escritos do gênero “Relato de Experiência”, devem contribuir para que os alunos

Page 35: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA - cchla.ufpb.br§ão... · A avaliação dos resultados diagnósticos do “Relato de Experiência”, elencados a partir da produção escrita dos

34

tenham o interesse de buscar as suas memórias individuais e então reconheçam

sua identidade social, cultural, linguística. Saberes que podem ser socializados nos

contextos em que participam, tanto porque desempenham práticas reais. Ao

entender a funcionalidade do gênero, o aluno, como sujeito, vai construindo

conhecimentos sobre a língua; vai aprendendo sobre o funcionamento dos textos,

sejam orais ou escritos. A partir dessa apropriação dos conhecimentos linguísticos, o

aluno internaliza orientações que o conduzem para a participação nos diversificados

eventos de interação.

2.6 Conhecimentos linguístico-discursivos do texto Relato de Experiência

As aulas de Língua Portuguesa destinadas à Educação de Jovens e Adultos

devem possibilitar o desenvolvimento das competências linguísticas necessárias

para a aprendizagem dos conteúdos curriculares, além de ampliar a sua

consciência, em relação ao seu papel no mundo e a sua capacidade de participação

social. Para tanto, devem-se criar diversas “oportunidades para o aluno

aprender a observar, perceber, comparar, construir generalizações, abstrair, falar

sobre um assunto, utilizando os textos que circulam na área específica de relato de

experiência” (KLEIMAN, 1999, p. 101). As experiências de vida, nas salas de aula

da EJA, necessitam ser consideradas, uma vez que o aluno é dono de uma

experiência de vida, própria do seu contexto social, que não pode deixar de ser

valorizada.

Almeja-se, portanto, que o aluno, ao interagir com os textos, seja capaz de

aplicar/vivenciar os conhecimentos que acumulou cada dia e adquirir novas

informações para ampliar seu conhecimento. No âmbito escolar, procura-se

vivenciar/experimentar todo o discurso para que ele se concretize, tanto porque se

consideram conhecimentos prévios e temas pertinentes à idade, vivência e realidade

social dos alunos.

No discurso linguístico do relato de experiência, o nível da linguagem pode

caracterizar como formal e/ou informal, dependendo, sobretudo, do nível de

convivência entre os interlocutores. Considera-se, também, que o discurso

apresenta narrador, personagens, tempo e espaço. Cabe salientar que o relato

pessoal faz parte do domínio social da comunicação, abrangendo, dessa forma, a

Page 36: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA - cchla.ufpb.br§ão... · A avaliação dos resultados diagnósticos do “Relato de Experiência”, elencados a partir da produção escrita dos

35

modalidade oral e escrita da linguagem, com a presença indiscutível de um emissor

e de um interlocutor .

Enquanto modalidade textual, o relato de experiência apresenta, na sua

organização interna, características linguísticas peculiares desse tipo de gênero,

conforme Bräkling (2009) escreve: a) contextualização inicial do relato, identificando

tema/espaço/período; identificação do relator, como sujeito das ações relatadas e

experiências vivenciadas; referência à(s) ação(ões)/situação(ões) que será(ão)

relatada(s); b) apresentação das ações sequenciando-as temporalmente,

estabelecendo relação com o tema/espaço/período focalizado no texto, explicitando

sensações, sentimentos, emoções provocados pelas experiências. Ainda, segundo

Bräkling (2009), nesse processo, poderá ou não ser estabelecida relação de

causalidade entre as ações/fatos relatados, pois são ações acontecidas em eventos

reais e, dessa maneira, o que define a relação de causalidade são os fatos em si, ou

a perspectiva/compreensão do relator; encerramento, pautando os sentimentos,

efeitos, repercussões das ações relatadas na vida do relator e dos envolvidos; a

experiência vivenciada por uma pessoa pode envolver terceiros, proporcionando a

presença das vozes desse terceiro no relato elaborado.

Os enunciados linguísticos condizentes com o perfil do gênero relato de

experiência dizem respeito, basicamente, às experiências vividas no tempo passado.

Tanto que os verbos empregados no pretérito definem de forma original o tempo das

ações relatadas. Estas desempenham papel essencial no gênero, podendo o relator

inclusive expressar sentimentos e sensações, mas o objetivo principal é trazer para

o foco do texto as ações vivenciadas em algum momento da vida. Dessa forma,

pode-se inferir com respaldo em Koch (2005) que

[...] é a partir dos acontecimentos que temos que vamos construir um modelo do mundo representado em cada texto ─ é o universo (ou modelo) textual. Tal mundo, é claro, nunca vai ser uma cópia fiel do mundo real, já que o produtor do texto recria o mundo sob uma dada ótica ou ponto de vista, dependendo de seus objetivos, crenças, convicções e propósitos (KOCH, 2009, p. 76, grifo do autor).

É inerente aos seres humanos o desejo de compartilhar histórias, fatos de vida

com o “outro”, principalmente com quem estabelece uma relação de convivência. No

Page 37: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA - cchla.ufpb.br§ão... · A avaliação dos resultados diagnósticos do “Relato de Experiência”, elencados a partir da produção escrita dos

36

entanto, o relato pode transitar do nível mais íntimo de convivência para um mais

coletivo, abrangendo várias esferas sociais. Na verdade, o mundo é feito de

histórias, pois a todo o momento estamos vivendo alguma história; a todo o

momento estamos relatando sobre algum acontecimento diferencial da sua vida,

principalmente por meio da linguagem oral, fazendo do relatar um procedimento

cotidiano.

A documentação do relato de experiência, principalmente, por meio da

escrita, pode caracterizá-lo como um documento de relevante importância no espaço

social que irá circular. E a instituição escolar, lugar imprescindível de produção de

conhecimento, pode priorizar na prática de ensino de Língua Portuguesa, a prática

de produção de texto escrito, através dos gêneros textuais que circulam na

sociedade, como forma de inserir o aluno linguisticamente no mundo letrado,

oportunizando sua inserção no mundo social.

2.7 A produção de texto escrito para a aprendizagem do aluno da Educação de

Jovens e Adultos

A escrita ocupa na sociedade contemporânea uma notável importância no

desenvolvimento das práticas sociais. E a escola, instituição educacional, social,

cultural, é o primeiro ambiente onde o indivíduo efetivamente pratica a escrita.

Contudo, muitas pesquisas educativas comprovam que a atividade de escrita se

depara com variadas resistências no âmbito escolar, em virtude, muitas vezes, de

métodos didáticos que inviabilizam a realização dessa atividade de forma

competente, capaz de oportunizar a aprendizagem.

Estudos tradicionais definem a língua escrita como mero código que

materializa a fala. Conforme essa crença, a leitura ocorre diante de um processo de

decodificação e a escrita, a reprodução do código. Limitar o entendimento da leitura

e da escrita conforme algumas funções que exercem no contexto social é limitar a

participação dos indivíduos nesse contexto. É limitar a escrita ao ambiente escolar,

negando seu papel na prática social dos grupos humanos, dos grupos sociais.

Dessa forma, os resultados de aprendizagem têm mostrado dados

insatisfatórios, comprovando o insucesso dos alunos frente ao ato de escrever em

práticas sociais. Isto provavelmente tem ocorrido em virtude da escola ter

Page 38: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA - cchla.ufpb.br§ão... · A avaliação dos resultados diagnósticos do “Relato de Experiência”, elencados a partir da produção escrita dos

37

sustentado, durante muito tempo, um mito, dentre vários outros, de que escrever é

um “dom” (GARCEZ, 2002), causando ao aluno desconforto e despreparo na hora

da produção escrita. Ao saber do aluno somam-se apenas regras gramaticais e

algumas “dicas” de como escrever, esperando resultados satisfatórios e produtivos

dos textos escritos.

O ensino de produção de textos escritos é feito, muitas vezes, como um

procedimento único e global, como se aprendizagens diferenciadas não tivessem

valor. Como também, muitas vezes o professor espera apenas o resultado final da

produção. Nesse sentido, pode-se afirmar com respaldo em Cagliari (1998), “que no

âmbito escolar os textos devem ser trabalhados de modo amplo, que satisfaça as

necessidades dos alunos e a partir deste, trabalhar com as questões ortográficas,

gramaticais e organização textual” (CAGLIARI, 1998, p. 203). Isto porque as práticas

de ensino no contexto escolar envolvem tanto o código da língua, como decodificar e

analisar e reconhecer palavras para então ampliar a competência linguística.

Várias pesquisas são desenvolvidas, no sentido de melhorar a relação do

sujeito com a escrita, por estudiosos na área de linguagem, como por exemplo,

Geraldi (2002) e Garcez (1998), autores que questionam o processo de ensino e de

aprendizagem da escrita, conforme vem sido desenvolvido nas instituições

escolares, visto que estas limitam linguisticamente o aluno e não inserem a prática

da produção escrita, de forma processual, na sua vida estudantil. Os parâmetros que

sustentam a prática de ensino em aulas de leitura e escrita devem ser revistos. Para

os autores, anteriormente referidos, o compromisso de despertar no aluno o

interesse pela escrita deve ser reforçado. A vontade de escrever deve ser almejada

pelo aluno, deve ser instigada pelo professor. Para tanto, cabe ao professor buscar

práticas de ensino que possibilitem uma convivência natural, tranquila, porém

dinâmica e processual entre aluno e escrita.

Com críticas sobre a prática da escrita na escola, os estudos linguísticos

apostam em uma reformulação da metodologia de ensino, propondo uma com

ênfase na escrita como prática linguística, permanente. Garcez (2002) faz referência

à escrita como uma atividade bastante complexa, realizada pelas pessoas na vida,

justamente pela clara exigência do envolvimento pessoal e descrição dos caracteres

Page 39: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA - cchla.ufpb.br§ão... · A avaliação dos resultados diagnósticos do “Relato de Experiência”, elencados a partir da produção escrita dos

38

do sujeito. No entanto, para que as aulas de Língua Portuguesa alcance

significância para o aluno, cabe à escola naturalizar a visão do ensino de leitura e

escrita, negando aquele ensino de escrita que se resume no repasse de regras

gramaticais e memorização de conteúdos como condições para que escreva bem,

com competência.

A escola, ambiente naturalizado da escrita, deve pensar em sequências

didáticas que viabilizem práticas de escrita com a participação efetiva do aluno. Tal

determinação requer do professor a disposição de buscar o novo, o diferente,

conseguindo conquistar alunos em situações permanentes de aprendizagem e

conscientes da sua participação em práticas letradas. Requer, além desse desafio,

disposição de pesquisar e estudar para ter conhecimento das atuais concepções de

escrita, além do entendimento em relação aos complexos processos necessários ao

ato da escrita.

Estudos contemporâneos foram comprovando que a língua apresenta uma

gama de funções e que as habilidades de leitura e escrita eram imprescindíveis para

o cumprimento de funções sociais presentes em qualquer sociedade grafocêntrica.

Pressupõe-se que cada indivíduo tem consciência da importância da escrita nas

sociedades atuais, tanto porque deve ter consciência do seu estar no mundo

regulado pela escrita. Para Garcez (2002), essa prática é de suma importância no

cenário social. Nessa perspectiva, a escola “é um autêntico lugar de comunicação e

as situações escolares são ocasiões de produção e recepção de textos”

(SCHNEUWLY E DOLZ, 2004, p. 78). Sendo assim, cada professor deve ter

consciência de que a escola é um ambiente naturalizado de produção do

conhecimento, lugar de práticas de letramento.

Conceituar teoricamente a escrita como processo é a visão mais coerente que

os professores podem ter na construção de atividades do ensino e de

aprendizagem. Linguisticamente falando, “a escrita é uma atividade que envolve

várias tarefas, às vezes sequenciais, às vezes simultâneas. Há, também, idas e

vindas: após a conclusão de uma tarefa, é preciso voltar a uma etapa anterior ou

avançar para um aspecto que seria posterior” (GARCEZ, 2002, p. 14). Portanto, o

texto escrito não deve estar pronto já na primeira produção, deve ser revisado,

repensado até ser considerado satisfatório. Além dessa assertiva, a produção textual

Page 40: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA - cchla.ufpb.br§ão... · A avaliação dos resultados diagnósticos do “Relato de Experiência”, elencados a partir da produção escrita dos

39

escrita deve permear todos os anos estudantis, só assim o aluno terá a oportunidade

de adentrar nas mais variadas formas linguísticas, sociais, culturais de elaboração

textual escrito.

Em relação ao trabalho pedagógico do professor, no que diz respeito à

modalidade escrita da língua, Bortoni (apud GORSKI, 2006) faz referência,

colocando o seu ponto de vista:

É nossa tarefa na escola ajudar os alunos a refletir sobre sua língua materna. Essa reflexão torna mais fácil para eles desenvolver sua competência e ampliar o número e a natureza das tarefas comunicativas que já são capazes de realizar, primeiramente na língua oral e, depois, também, por meio da língua escrita. A reflexão sobre a língua que usam torna-se especialmente crucial quando nossos alunos começam a conviver com a modalidade escrita da língua (BORTONI, apud GORSKI, 2006, p. 267).

O texto escrito pelo aluno deve ter um objetivo, deve ser direcionado a um

interlocutor; deve ter uma referência do outro. Agregar esse conceito de texto ao

ensino de língua requer um olhar interativo para a prática de escrita. Em relação a

essa assertiva, Koch traz seu posicionamento:

[...] a escrita textual é uma atividade intencional que o falante de conformidade com as condições sob as quais o texto é produzido, empreende, tentando dar a entender seu propósito ao destinatário através da manifestação verbal (KOCH, 2003, p. 26).

Deve-se considerar a aprendizagem como “um processo social construído

através da participação, do diálogo, da troca de experiências, de significados e da

colaboração entre indivíduos” (SOARES, 2001, p. 91). Nesse sentido, o projeto de

pesquisa define o ambiente de aprendizagem como um lugar onde sujeitos podem

trabalhar juntos, em projetos e atividades significativas para suas vidas, trocando

experiências e aprendizagens entre si. Segundo Garcez, é preciso

[...] que os alunos se sintam profundamente envolvidos com as tarefas, que compartilhem seus textos com outros e percebam a si mesmo como autores que selecionam, equilibram e configuram as ideias. Nessa interação, não apenas o aluno aprende, mas também o professor. E a postura do professor nas conferências com o aluno propicia a aprendizagem quando favorece a fala do novo autor e a organização de seu próprio acervo de informações e estratégias. O ambiente deve ser de segurança, estímulo e liberdade (GARCEZ, 1998, p. 39).

Page 41: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA - cchla.ufpb.br§ão... · A avaliação dos resultados diagnósticos do “Relato de Experiência”, elencados a partir da produção escrita dos

40

Na sociedade atual cada vez mais a palavra escrita ganha poder, tanto

porque o “domínio da escrita – das habilidades relacionadas com a leitura e

produção de textos para finalidades sociais em todas as esferas da sociedade

urbana – é um grande divisor comum” (KLEIMAN, 1999, p. 55). E a escola tem a

função de formar sujeitos letrados, no sentido amplo da palavra; um aluno que

desenvolva “a facilidade para compreender e produzir o texto escrito como a que ele

tem para compreender e produzir o texto oral” (KLEIMAN, 1999, p. 91). Segundo

essa visão, saber ler e escrever tem grande relevância na sociedade moderna; o

ensino da palavra escrita deve ser prioridade no âmbito escolar, com vistas a

proporcionar o desenvolvimento do discurso linguístico e, consequentemente, de

diversas atividades sociais. Segundo Kleiman (2005),

“as práticas de escrita podem ser caracterizadas como um conjunto de atividades que visam ao desenvolvimento de estratégias ativas de compreensão da escrita, à ampliação do vocabulário e das informações para aumentar o conhecimento do aluno e a fluência na sua leitura” (KLEIMAN, 2005, p.10).

Dessa forma, faz-se necessário aplicar uma sequência didática nas aulas com

respaldo em práticas de escrita, com vistas a possibilitar aos alunos a superação

das dificuldades apresentadas no estudo do texto, no que diz respeito aos

organizadores linguístico-discursivos.

As práticas sociais de uso da escrita na Educação de Jovens e Adultos

devem ser respaldadas no ensino voltado para as especificidades desse grupo, que

tem um perfil sociocultural próprio: “são práticas determinadas pela situação, pela

instituição e pelo contexto social mais amplo” (KLEIMAN, 1999, p. 93). Por isso, o

professor, que almeja trabalhar na perspectiva do letramento, deve usar com

propriedade a escrita e garantir a aplicabilidade com sucesso de seus métodos;

deve “conhecer as regras e normas das instituições que legitimam essas práticas”

(KLEIMAN, 1999, p. 96). Deve o professor ter um olhar interativo para o perfil

sociocultural do aluno, além de ter um olhar investigativo para o caráter ideológico

das instituições escolares, entendendo o seu papel de produtora de conhecimento,

de formadora de escritores linguisticamente competentes, visto que as aulas de

Língua Portuguesa definem o ambiente de aprendizagem como um lugar onde

sujeitos trabalham juntos, em projetos e atividades significativas de produção escrita,

Page 42: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA - cchla.ufpb.br§ão... · A avaliação dos resultados diagnósticos do “Relato de Experiência”, elencados a partir da produção escrita dos

41

trocando experiências e aprendizagens entre si, para sua vida social, cultural,

intelectual.

A prática de textos escritos sustentada na abordagem interativa da língua

requer, sem dúvida, um planejamento e uma avaliação também de cunho interativo,

considerando as relações linguísticas entre texto-autor-interlocutor.

As práticas de ensino em língua devem contribuir para a formação de um

professor reflexivo e crítico que analisa cotidianamente seus atos, compreendendo

mais dialogicamente o ensino-aprendizagem. Tais práticas não ocorrem a partir do

espontaneísmo, são planejadas e sistematizadas, para dar condições do professor

questionar e criticar suas ações, adquirindo respaldo para intervir com práticas de

ensino que suscitem um aluno capaz de valorizar a aprendizagem. Sendo assim, a

cada mudança, a cada ação, a cada postura profissional diferenciada faz-se

necessário o planejamento que será o eixo norteador das atividades de Língua

Portuguesa.

A interação entre professor e aluno deverá ser permeada de momentos de

diálogo, ação e reflexão, criando condições de “transformarem o cenário da

aprendizagem (currículo, método de ensino e clima da escola) em um que capacite

os estudantes a descobrirem e desenvolverem por si mesmos seu poder e suas

capacidades” (GÓMEZ, 1998, p. 376). Para tanto, o trabalho com textos escritos

deve ser uma atividade planejada e desenvolvida no contexto da sala de aula, um

exercício constante e interdisciplinar no processo ensino-aprendizagem.

O ensino de Língua Portuguesa deve romper, metodologicamente, com a

prática ultrapassada que limita a capacidade intelectual do aluno e buscar

sequências didáticas que ampliam as ações e permitem que o aluno supere o seu

estado passivo frente ao conhecimento escolar e comece a ler e produzir textos com

proficiência. O professor deve buscar uma adequação do planejamento e da

avaliação para a educação de jovens e adultos. Nesse caso, planejamento e

avaliação de atividades devem estar correlacionados à realidade linguística, cultural

e social dos alunos da Educação de Jovens e Adultos, para que o trabalho obtenha

resultados satisfatórios. Para Brandão (2002)

Page 43: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA - cchla.ufpb.br§ão... · A avaliação dos resultados diagnósticos do “Relato de Experiência”, elencados a partir da produção escrita dos

42

[...] quando estamos lidando com o saber e o aprender, o que se vive é um cuidadoso e lento trabalho de lidar com momentos inesperados da experiência de vida de cada pessoa educanda. De olhar nos olhos uma gente que não raro precisou esperar mais da metade da vida para ser aceita em um banco de escola (BRANDÃO, 2002, p. 43).

Em relação ao processo avaliativo, deve-se lançar um olhar crítico, voltado

para a construção de uma avaliação participativa e reflexiva, conforme defende

Martins:

Para facilitar a avaliação não podemos perder de vista o seu entrelaçamento com todo o processo educacional. É só no âmago das relações internas que se pode estudá-la; só no aprofundamento de cada contexto que poderíamos perceber todos os seus matizes (MARTINS, 1997, p. 42).

Nesse sentido, a avaliação é um processo a serviço da aprendizagem, por

isso deve ser acompanhada passo a passo. Para tanto, faz-se necessário assumir

um caráter contínuo, que considere as múltiplas atividades e experiências vividas

por cada aluno, refletindo, assim, cada realidade, cada contexto escolar.

No contexto de sala de aula é necessário fazer uso do processo avaliativo,

partindo do princípio pautado nos PCNs:

[...] os critérios de avaliação devem ser compreendidos: por um lado, como aprendizagens indispensáveis ao final de um período; por outro lado, como referências que permitem – se comparados aos objetivos do ensino e ao conhecimento prévio com que o aluno iniciou a aprendizagem – a análise dos seus avanços ao longo do processo, considerando que as manifestações desses avanços não são lineares, nem idênticas (PCNs, 2001, p. 97).

Esse entendimento define o planejamento e a avaliação na EJA como um

processo dinâmico. Devem ser constantemente repensados e reconstruídos a partir

da produção dos alunos. Conforme Loch, deve-se proporcionar um

[...] planejamento participativo e que acolhem as diferentes concepções de linguagem, realidade, formas de subjetivação e propõem um currículo interdisciplinar, pluri ou transdisciplinar em que as diferenças e a heterogeneidade têm caráter de positividade (LOCH, 2009, p. 20).

Page 44: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA - cchla.ufpb.br§ão... · A avaliação dos resultados diagnósticos do “Relato de Experiência”, elencados a partir da produção escrita dos

43

O planejamento e organização do ensino na Educação de Jovens e Adultos

podem ser definidos como uma

[...] atividade complexa, em virtude da heterogeneidade que compõe o grupo de alunos, da especificidade etária dos educandos e de diversas características culturais. A escola que tem como um dos propósitos a educação da EJA, se vê diante de um confronto de culturas, mas também um local de encontros de singularidades (LOCH, 2009, p. 22).

A diversidade própria dos alunos da Educação de Jovens e Adultos, em

virtude das diferenças de idade, origens étnico-raciais, condições econômicas, forma

um riquíssimo material para a organização do planejamento e da avaliação. Essa

heterogeneidade de público inerente à EJA requer, portanto, um planejamento e

uma avaliação apoiados nas diferenças/diversidades como aspecto positivo e

favorável para o sucesso das práticas de ensino. Em relação à heterogeneidade

marcada por singularidades, poderá produzir um aprendizado significativo do aluno,

contribuindo para o seu crescimento intelectual.

2.8 A pesquisa qualitativa como eixo norteador do e studo científico em prática

de textos escritos

Um caminho bastante promissor no processo educativo é a prática de

produção de textos orais e escritos, considerando, para efeito de análise, dados

qualitativos. Diante dessa assertiva, podemos constatar que a pesquisa qualitativa é

um recurso significativo para o professor pesquisador desenvolver em sala de aula

sua prática de ensino, de forma sistemática e produtiva, pois apresenta como tarefa

“aperfeiçoar teorias sobre a organização social e cognitiva da vida em sala de aula”

(BORTONI-RICARDO, 2008, p.42). Os conceitos de interação envolvendo professor

e aluno e a qualidade do processo de aprendizagem motivam os professores a

desenvolverem ações investigativas do seu próprio trabalho pedagógico, com o

objetivo de delimitar melhor a forma de apresentar um assunto em sala de aula e de

acompanhar mais dialogicamente o processo de produção escrita de textos dos

alunos.

Para Bortoni-Ricardo (2008), ao decidir dar um perfil investigativo à sua

prática de sala de aula através da pesquisa qualitativa, o professor pesquisador

estará concomitantemente investigando suas próprias turmas, melhorando sua

Page 45: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA - cchla.ufpb.br§ão... · A avaliação dos resultados diagnósticos do “Relato de Experiência”, elencados a partir da produção escrita dos

44

experiência pedagógica, desenvolvendo a pesquisa científica e escrevendo

monografia e estudo de caso. A grande contribuição do trabalho de um professor

pesquisador é compreender melhor o processo de ensino-aprendizagem, pois

requer leituras diversificadas para delimitar e desenvolver melhor o seu objeto de

estudo. Assumindo-se como professor pesquisador, torna-se crítico de sua própria

prática; busca desenvolver ações positivas com o intuito de superar suas próprias

deficiências, inserindo novas ideias e estratégias de ensino em linguagem.

Ainda conforme Bortoni-Ricardo (2008), se o professor pesquisador sentir

dificuldades de conciliar suas atividades pedagógicas com as de pesquisa poderá

fazer uso de um “diário de pesquisa”, que trará grandes vantagens para o

desenvolvimento do trabalho de sala de aula, podendo ser de grande valia para o

professor, que vai utilizar as sequências descritivas nos diários para narrar as

atividades, descrever eventos, reproduzir diálogos, informar gestos, entoação e

expressões faciais; e as sequências interpretativas para interpretar, avaliar,

especular – elementos viáveis para o professor desenvolver uma teoria sobre suas

ações. De posse do diário de pesquisa, um professor pesquisador poderá incluir sua

teoria, bem como elementos metodológicos já consolidados ou para atender a uma

atividade posterior.

O trabalho do professor pesquisado, sustentado por Bortoni-Ricardo (2008),

reflete no processo de ação-reflexão-ação. Isto porque a pesquisa em sala de aula

contribui na construção de um educador reflexivo e crítico, pois analisa

cotidianamente seus atos, compreendendo mais didaticamente o ensino-

aprendizagem em linguagem.

A metodologia para a Educação de Jovens e Adultos, com um perfil político-

pedagógico inovador, deverá ser planejada na perspectiva de letramento, isso

envolve a participação de práticas sociais em que se utiliza a escrita. Deve dar

ênfase ao uso de gêneros textuais, com diversos usos e funções, além da realização

de atividades de produção escrita por alunos no processo de consolidação das

habilidades básicas de leitura e escrita, haja vista a produção textual ser uma

atividade essencial em todos os eventos da vida do ser humano.

Page 46: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA - cchla.ufpb.br§ão... · A avaliação dos resultados diagnósticos do “Relato de Experiência”, elencados a partir da produção escrita dos

45

CAPÍTULO III

3 METODOLOGIA

A realização de atividades de produção de texto escrita na Escola de Ensino

Fundamental Ubirajara Targino Botto foi efetivada, considerando a pesquisa de base

qualitativa, conforme propõe Bortoni-Ricardo (2008). No decorrer do projeto, apliquei

uma sequência didática, por meio da qual os alunos conheceram, estudaram,

produziram e reescreveram textos sobre o gênero “Relato de Experiência”.

O projeto de pesquisa foi dividido em quatro etapas, conforme Quadro nº 01,

abaixo:

Quadro Nº 01

A primeira etapa foi relevante para os passos do trabalho, desde a seleção do

tema gerador da pesquisa até a apresentação e explicação ao grupo participante da

proposta da pesquisa.

A produção de um texto escrito pelos alunos, segunda etapa do projeto, foi

imprescindível para coleta de dados, quanto às dificuldades em escrita.

A terceira etapa envolveu o estudo diagnóstico das possíveis dificuldades

linguísticas apresentadas pelos alunos nas produções escritas, com posterior

orientação teórico-metodológica, quanto ao relato de experiência. Esse momento foi

relevante para a ampliação do conhecimento do aluno, pois envolveu discussões

quanto à estrutura textual do relato, adequação do tema e informações pertinentes

1ª Etapa

• Escolha do tema gerador da pesquisa.

• Levantamento bibliográfico.

• Elaboração do projeto de pesquisa.

• Apresentação do projeto ao grupo pesquisado (definição da modalidade escrita

para produção de textos e seleção do gênero relato de experiência).

2ª Etapa • Produção de um texto escrito com foco no gênero textual relato de experiência

para coleta de dados.

3ª Etapa

• Estudo diagnóstico das possíveis dificuldades do aluno em inserir ao texto os

elementos linguístico-discursivos, próprios da modalidade relatar.

• Relato das atividades linguísticas em uma sequência didática.

4ª Etapa • Reescrita dos textos produzidos na fase diagnóstica da pesquisa.

Page 47: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA - cchla.ufpb.br§ão... · A avaliação dos resultados diagnósticos do “Relato de Experiência”, elencados a partir da produção escrita dos

46

ao gênero. Para tanto, realizaram-se atividades linguísticas em uma sequência

didática, dando relevância à intertextualidade, que continuou durante todo o

processo da pesquisa, dialogando-se com textos referentes a relatos de

experiências, para que o aluno interagisse e ampliasse o seu ponto de vista sobre a

estrutura linguístico-discursiva do gênero. Serviram, também, de reforço escolar para

auxiliar o aluno no processo de aprendizagem, dando ênfase a autores condizentes

com as temáticas.

A fase de reescrita dos textos, quarta etapa do projeto, foi fundamental para a

realização dessa atividade, pois o aluno pôde rever a organização das ideias, as

referências aos caracteres linguístico-discursivos do gênero em estudo, os

procedimentos de coesão e coerência utilizados, a ortografia e a pontuação, com

objetivo de melhorar a qualidade do texto e de possibilitar a maturidade do

vocabulário linguístico.

A avaliação, nessa fase, permitiu observar se o aluno fez uso ou não dos

elementos linguístico-discursivos do gênero “Relato de Experiência”. Inclusive,

observei que, em determinados momentos de revisão, o aluno foi capaz de não só

reescrever o texto, mas também de ter maior cuidado em revisá-lo, até considerá-lo

satisfatório.

E para haver maior interação, foram compartilhadas com o aluno todas as

tarefas realizadas. Cada passo da pesquisa − mesmo aquele que parecia

insignificante − foi integralmente informado a cada um para que houvesse pleno

engajamento. Assim, como pesquisadora, fui planejando, coordenando e otimizando

as atividades do projeto de pesquisa.

3.1 Caracterização da instituição escolar

O conhecimento criterioso da comunidade escolar e, especificamente, da

instituição educacional, na qual a pesquisa foi realizada, foi imprescindível para a

discussão e definição da sequência didática, considerada elemento imprescindível

do projeto.

A unidade escolar Ubirajara Targino Botto atende a três modalidades de

ensino − Educação Infantil, Ensino Fundamental I e II, Educação de Jovens e

Page 48: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA - cchla.ufpb.br§ão... · A avaliação dos resultados diagnósticos do “Relato de Experiência”, elencados a partir da produção escrita dos

47

Adultos − EJA, funcionando nos três turnos: manhã, tarde e noite. Trata-se de uma

escola pequena, situada em um bairro de baixa renda, que atende uma comunidade

com baixo poder aquisitivo, advinda do Conjunto Bela Vista, Comunidade Novo

Horizonte, Bairro de Cruz das Armas e Samaritano.

Em relação ao nível de escolaridade, verificou-se que a maioria dos pais não

foi, ainda, alfabetizada ou apresenta baixos níveis de alfabetismo e que uma

pequena minoria ainda frequenta a escola, na modalidade EJA. Quanto aos alunos,

a maioria das três modalidades de ensino, anteriormente discriminadas, apresenta

diversas dificuldades em atividades orais e escritas, ressaltando-se que os alunos

pertencentes à EJA apresentam dificuldades mais significativas do ponto de vista

linguístico em exercícios de linguagem, conforme vêm comprovando as avaliações

de desempenho escolar realizadas no âmbito escolar.

3.2 Caracterização dos sujeitos da Educação de Jove ns e Adultos da

instituição escolar

A caracterização dos sujeitos da Educação de Jovens e Adultos da escola foi

relevante para o desenvolvimento do projeto de pesquisa, pois teve como objetivo

lançar um olhar investigativo para conhecer o perfil do aluno, sendo, portanto,

necessário um estudo do contexto social e cultural que participa, para se ter maior e

melhor conhecimento e compreensão referente à realidade, aos interesses e às

expectativas dos alunos jovens e adultos. Para tanto, foram desenvolvidas

atividades voltadas para a aplicação de uma sequência didática, direcionada às

especificidades e particularidades dessa modalidade de ensino e, assim, garantir

uma prática de ensino comprometida com a qualificação dos sujeitos da EJA.

Os alunos da Educação de Jovens e Adultos que participaram da pesquisa

são oriundos de áreas circunvizinhas, onde a escola está localizada. É um público

economicamente carente, vinda de famílias numerosas: alguns jovens ainda vivem

com os pais e os adultos, em sua maioria, são casados e vivem com os filhos,

recebendo renda familiar abaixo de um salário mínimo e outras sem renda salarial

fixa.

Foi consciente de que, por algum motivo, esses alunos desistiram de cursar o

ensino regular diurno ou se afastaram da instituição escolar durante muito tempo,

Page 49: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA - cchla.ufpb.br§ão... · A avaliação dos resultados diagnósticos do “Relato de Experiência”, elencados a partir da produção escrita dos

48

retornando à escola na fase jovem ou adulta, que creditei na aplicação do projeto de

pesquisa, como forma de conquistar o aluno, para que este interagisse com as

atividades de leitura e escrita e, consequentemente, não se evadisse da escola.

Tanto porque o ensino de Língua Portuguesa deve ser direcionado para a prática de

escrita que possibilita ao aluno perceber-se como sujeito diante das práticas de

leitura e escrita. Associar os conteúdos curriculares à realidade dos alunos,

valorizando sua história de vida, seu saber, suas conquistas e entender os motivos

dos seus fracassos, pode contribuir para uma prática de ensino que conquiste o

aluno e o faça permanecer na escola até a conclusão dos seus estudos.

Conforme estudo diagnóstico realizado na fase inicial do projeto de pesquisa,

todos os integrantes do grupo pesquisado sabem ler e escrever, mas apresentam

inúmeras e diversificadas dificuldades em produção escrita. Problema que ocorre

principalmente em virtude da pouca prática em leitura e escrita. No entanto, supõe-

se que as dificuldades nessas atividades podem ser sanadas com um ensino

direcionado para a prática de textos escritos, conforme o proposto nesse projeto de

pesquisa.

Fora as dificuldades em linguagem, outros problemas são inerentes à

realidade estudantil do aluno da Educação de Jovens e Adultos, como a falta de

estímulo para estudar, frequência irregular às aulas, falta de hábito de ler e de

produzir textos escritos, pouco estímulo para interpretar, analisar, discutir, comparar

e reformular atividades orais e escritas; pouca realização de atividades de pesquisa;

pouca participação em debates; dificuldades de expor com clareza e lógica as ideias

textuais, dentre outros.

3.3 Estratégias e instrumentos utilizados no projet o de pesquisa

A pesquisa realizada é de cunho teórico-metodológico e foi desenvolvida a

partir da implementação de estratégia de investigação, como levantamento e análise

de material bibliográfico e atividades em sequência didática, com produção de texto,

para diagnosticar as reais dificuldades em escrita, apresentadas pelo grupo

pesquisado, com posterior reescrita de texto escrito.

Para motivar os alunos, despertando-lhes o interesse na realização dos

exercícios, foi preciso o uso de diversos procedimentos didáticos, inclusive a

Page 50: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA - cchla.ufpb.br§ão... · A avaliação dos resultados diagnósticos do “Relato de Experiência”, elencados a partir da produção escrita dos

49

utilização de recursos disponíveis na instituição educacional, para que as

informações adquiridas pelo aluno jovem e adulto tivessem relevância e assim

resultassem em valiosa aprendizagem do conhecimento, com produção textual

escrita, leitura de textos com ênfase em relato de experiência, estudo dos elementos

linguístico-discursivos pertinentes ao gênero em estudo, pesquisa em material

disponível na biblioteca, visita ao laboratório de informática para pesquisa na

internet, exposição de vídeo com apresentação do gênero textual, apresentação oral

de uma representante da comunidade para relatar uma história de vida, debate

sobre temas de experiências, trabalho individual e/ou grupal, aula expositiva sobre o

tema da pesquisa, produção e reescrita de texto escrito e confecção de um livro

artesanal com os textos relatados pelos alunos.

O projeto de pesquisa foi realizado em um semestre e a organização das

atividades inseridas na sequência didática, previamente planejada, ocorreu

conforme a interação do aluno nas atividades, respeitando, todavia, o nível de

aprendizagem da turma e, assim, sua capacidade de leitura, compreensão, análise e

produção de textos escritos.

A fundamentação teórica e a sequência didática, além da interação aluno-

professor e texto-aluno constituíram elementos imprescindíveis para a elaboração

dos pressupostos que orientaram a construção do projeto de pesquisa.

3.4 Planejamento das atividades para aplicação em u ma sequência didática

Todas as etapas do projeto desenvolvido foram planejadas para que, na fase

conclusiva, fossem obtidos resultados positivos. Coube-me, como

professora/pesquisadora, viabilizar momentos de estudos, pesquisa, seleção de

textos e do gênero textual, elaboração de aulas e escolha dos ambientes escolares,

como sala de aula, laboratório de informática, biblioteca e sala de vídeo.

O planejamento das atividades não aconteceu em um momento isolado,

acabado, ocorreu periodicamente, para que as estratégias pudessem ser revistas,

avaliadas, no sentido de detectar o que deu certo ou não, podendo dispor de novos

conceitos e objetivos para a continuidade do projeto de pesquisa.

Page 51: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA - cchla.ufpb.br§ão... · A avaliação dos resultados diagnósticos do “Relato de Experiência”, elencados a partir da produção escrita dos

50

3.5 Avaliação da aprendizagem do aluno jovem e adul to na fase de

aplicabilidade da sequência didática

A avaliação das atividades desenvolvidas em uma sequência didática

consistiu em observar a boa e/ou insuficiente participação dos alunos no decorrer da

aplicação do projeto.

A avaliação ocorreu de forma contínua, com observação da trajetória de todas

as etapas do projeto, considerando a realização das atividades em uma sequência

didática, com apresentação dos exercícios solicitados, como pesquisas, debates,

frequência às aulas, produção de texto escrito, interesse pelo assunto, exercícios

orais e escritos, trabalho individual e/ou em grupo, integração intergrupal,

participação em debates e/ou atividades.

3.6 Objetivos do projeto de pesquisa

Enquanto professora/pesquisadora, analisei criticamente os passos do

trabalho, buscando compreender, desde o princípio, que a prática de produção de

textos escritos é um processo cujas fases de descoberta e construção do

conhecimento devem ser sistematicamente elaboradas para que, por intermédio das

atividades, os objetivos fossem alcançados pelos alunos.

3.6.1 Objetivo geral

• Desenvolver práticas de escrita do gênero textual relato de experiência.

3.6.2 Objetivos específicos

• Conhecer o gênero textual relato de experiência em diversos suportes.

• Identificar e aprender a usar marcas linguísticas próprias dos textos

caracterizados como relato de experiência.

• Correlacionar, em um texto, termos, expressões ou ideias que tenham o

mesmo referente.

• Produzir o texto individual do gênero relato de experiência.

• Aprimorar o texto produzido através da reescrita.

• Desenvolver a habilidade de adequar o texto escrito às situações

comunicativas.

Page 52: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA - cchla.ufpb.br§ão... · A avaliação dos resultados diagnósticos do “Relato de Experiência”, elencados a partir da produção escrita dos

51

• Expor o resultado das produções escritas dos alunos.

Page 53: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA - cchla.ufpb.br§ão... · A avaliação dos resultados diagnósticos do “Relato de Experiência”, elencados a partir da produção escrita dos

52

CAPÍTULO IV

4 SEQUÊNCIA DIDÁTICA

4.1 Relato da sequência didática nas aulas de Língu a Portuguesa

4.1.1 O processo de avaliação diagnóstica

4.1.1.1 Relato dos procedimentos de avaliação para intervenção nas

produções escritas pelos alunos

Para a efetivação da prática de produção textual com o gênero relato de

experiência, considerou-se a proposta no modelo de trabalho com sequências

didáticas de Joaquim Dolz, Michele Noverraz e Bernard Schneuuwly (2004).

Conforme já mencionado nesse estudo, os autores citados apresentam quatro

etapas necessárias para a produção textual de um gênero: apresentação da

situação; primeira produção; módulo e produção final.

Dessa forma, na primeira atividade da sequência didática definiu-se a

modalidade escrita para a produção de texto e o gênero relato de experiência; em

seguida, iniciei o trabalho do conteúdo para a realização da primeira produção de

texto escrito, visando um estudo diagnóstico. Para tanto, se iniciou um debate com o

grupo de alunos pesquisados, perguntando-lhes quais experiências vividas que eles

se lembravam. Solicitei que levantassem hipóteses para explicar por que esses

acontecimentos considerados importantes ficaram guardados na memória e outros

não. Em seguida, verifiquei através de questionamentos orais, acerca do

conhecimento prévio dos alunos sobre o gênero textual.

Em meio aos questionamentos, percebi que a maioria do grupo pesquisado

não tinha produzido nenhum relato de experiência, além de não ter conhecimento

sobre os elementos linguísticos que compõem o gênero. Só cheguei a essa

conclusão com a produção escrita realizada posteriormente pelo aluno e em seguida

analisada por mim.

Sendo assim, com objetivo de realizar um estudo diagnóstico, solicitei aos

alunos a produção de um texto escrito relatando alguma experiência vivida, em

algum dia em especial na vida deles. Conversei com os alunos sobre as lembranças

Page 54: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA - cchla.ufpb.br§ão... · A avaliação dos resultados diagnósticos do “Relato de Experiência”, elencados a partir da produção escrita dos

53

de fatos importantes que aconteceram em suas vidas. Destaquei que esses fatos,

sempre que possível, devem ser relatados a outras pessoas para que a troca de

experiência seja parâmetro de aprendizado e enriquecimento cultural e social.

Lembrei-lhes de que, além de escrever o evento, poderiam narrar as impressões a

respeito dos fatos, abordando temas variados.

Para melhor desempenho na produção escrita, orientei o aluno para que

planejasse o seu relato, considerando os seguintes aspectos: referência ao lugar e

ao tempo em que aconteceram os fatos; caracterização de pessoas, lugares e

objetos; escrita em primeira pessoa e no tempo passado; descrição de sentimentos

no momento da vivência; uso da variedade linguística adequada à situação relatada

e aos leitores; ênfase a um episódio que diz respeito a uma situação marcante na

vida. Vale salientar que os questionamentos feitos pelos alunos, em relação,

principalmente, aos elementos linguísticos do relato, foram discutidos para melhor

interação com a produção do texto. Após as devidas orientações, os alunos

produziram seus relatos de experiência na forma escrita.

Antes de iniciar o estudo diagnóstico, propriamente dito, como

professora/pesquisadora, busquei respaldo científico para a análise, nos estudos de

Bräkling (2009), verificando a estrutura composicional do gênero. Quanto aos “erros”

mais recorrentes nos textos escritos dos alunos, conforme as referências dos

trabalhos de Bortoni-Ricardo (2005) e Cagliari (2006). A sociolinguística Bortoni

Ricardo (2005, p. 53) afirma que: “Essa técnica da diagnose permite a identificação

dos erros, bem como a elaboração de materiais didáticos destinados a atender as

áreas cruciais de incidência”. Cagliari (2006, p. 146) também faz referência aos

erros, afirmando ser indispensável que o professor faça um levantamento dos erros

e das dificuldades de seus alunos. Conforme esse linguista, é importante que o

professor realize essa diagnose das dificuldades de seus alunos para poder

viabilizar um trabalho mais específico em sala de aula.

Sendo assim, para a especificação das competências linguísticas e dos tipos

de “erros” presentes nos textos escritos, utilizei como base para análise os critérios

estabelecidos por Bräkling (2009), Bortoni Ricardo (2005) e Cagliari (2006), assim

definidos, conforme Quadros nº 02, 03 e 04, abaixo:

Page 55: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA - cchla.ufpb.br§ão... · A avaliação dos resultados diagnósticos do “Relato de Experiência”, elencados a partir da produção escrita dos

54

Quadro Nº 02

Nº Organização composicional

01 Contextualização inicial do relato, identificando tema/espaço/período.

02 Identificação do relator como sujeito das ações relatadas e experiências vivenciadas.

03 Referência à(s) ação (ões)/situação(ões) que será(ão) relatada(s).

04

Apresentação das ações sequenciando-as temporalmente, estabelecendo relação com o

tema/espaço/período focalizado no texto, explicitando sensações, sentimentos, emoções

provocados pelas experiências. Nesse processo poderá ou não ser estabelecida relação de

causalidade entre as ações/fatos relatados, pois se trata de ações acontecidas no domínio

do real e, dessa maneira, o que define a relação de causalidade são os fatos, em si, ou a

perspectiva/compreensão do relator.

05 Encerramento, pontuando os sentimentos, efeitos, repercussões das ações relatadas na vida

do relator e dos envolvidos.

06 A experiência vivenciada por uma pessoa pode envolver terceiros, o que pode derivar na

introdução das vozes desse terceiro no relato elaborado.

Quadro 02: Organização interna do gênero Relato de Experiência, conforme Bräkling (2009).

Quadro Nº 03

Tipificação Característica

Fonológicos Transposição da fala para a escrita

Morfológicos Separação, junção e omissão dos morfemas.

Sintáticos Concordância verbal e nominal

Quadro 03: Tipos de erros conforme tipificação de Bortoni-Ricardo (2005).

Quadro Nº 04

Tipificação Característica

Fonológicos Transposição da fala para a escrita, troca de fonemas, apagamento de

vogal, apagamento de sílaba.

Morfológicos Violação da estrutura mórfica como junção ou concatenação, omissão e

separação de morfemas e forma mórfica diferente.

Sintáticos Ausência de coesão, coerência e ordem na frase.

Quadro 04: Tipos de erros conforme tipificação de Cagliari (2006).

De posse dos textos produzidos pelos alunos e com embasamento teórico

nos estudos científicos desses teóricos, fiz um recorte de cada produção escrita

pelos alunos e comecei a análise investigativa, selecionando e identificando a priori

a presença e/ou ausência dos caracteres linguísticos da modalidade relatar e em

sequência os “erros” mais recorrentes nas produções escritas dos alunos. Iniciei, a

partir deste ponto, o diagnóstico das dificuldades linguístico-discursivas e os

Page 56: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA - cchla.ufpb.br§ão... · A avaliação dos resultados diagnósticos do “Relato de Experiência”, elencados a partir da produção escrita dos

55

enunciados inadequados empregados pelos alunos, segundo demonstração no

Quadro nº 05.

4.1.1.2 Diagnóstico dos textos escritos pelos alunos

Quadro Nº 05

Recortes discursivos Dificuldades detectadas

Texto 1

• Ausência no início do texto da 1ª

pessoa, não revelada no verbo “recebe”;

• Pouca sequência de atos da narrativa;

• Problemas de coerência e ordem nas frases;

• Ausência de trechos descritivos de personagem e lugar;

• Dificuldades de pontuação e acentuação nas palavras.

Texto 2

• Falta de indicação do lugar e

tempo em que aconteceram os fatos;

• Falta de descrição de personagem mencionado no relato;

• Problemas de coesão e de sequenciação frasal;

• Progressão textual limitada, sem inserção de informações relatadas;

• Troca de fonemas; • Apagamento de consoante; • Problemas de ortografia,

acentuação e pontuação no discurso.

Texto 3

• Falta de indicação do tempo em que aconteceram os fatos;

• Falta de descrição da personagem mencionada no relato;

• Problemas de coesão e de sequenciação frasal;

• Progressão textual limitada, sem inserção de informações relatadas;

• Troca de fonemas; • Junção e troca de consoantes; • Problema de concordância

nominal e verbal.

Page 57: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA - cchla.ufpb.br§ão... · A avaliação dos resultados diagnósticos do “Relato de Experiência”, elencados a partir da produção escrita dos

56

Texto 4

• Falta de indicação do lugar e tempo em que aconteceram os fatos;

• Falta de descrição de personagem mencionado no relato;

• Problemas de coesão e de sequenciação frasal;

• Progressão textual limitada, sem inserção de informações relatadas;

• Problema de concordância nominal;

• Ausência de coesão e ordem nas frases;

• Problemas de pontuação e acentuação.

Texto 5

• Pouca descrição do personagem mencionado no relato;

• Problemas de coesão e de sequenciação frasal;

• Progressão textual limitada, sem inserção de informações relatadas;

• Problemas de pontuação; • Dificuldades na sequência de

ideias comprometendo a coerência do discurso;

• Problema de ortografia.

Texto 6

• Falta de indicação do lugar e

tempo em que aconteceram os fatos;

• Falta de descrição dos dois personagens mencionados no relato;

• Problemas de coesão e de sequenciação frasal;

• Progressão textual limitada, sem inserção de informações relatadas;

• Troca de fonemas; • Apagamento de consoante; • Problemas de ortografia,

acentuação e de pontuação no discurso.

Texto 7

• Falta de indicação do lugar e

tempo em que aconteceram os fatos;

• Falta de descrição do personagem mencionado no relato;

• Problemas de coesão e de sequenciação frasal;

• Progressão textual limitada, sem inserção de informações relatadas;

• Troca de fonemas; • Apagamento de consoante; • Problemas de ortografia,

acentuação e pontuação no discurso.

Page 58: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA - cchla.ufpb.br§ão... · A avaliação dos resultados diagnósticos do “Relato de Experiência”, elencados a partir da produção escrita dos

57

Texto 8

• Falta de indicação de tempo em

que aconteceram os fatos; • Falta de descrição do

personagem mencionado no relato;

• Problemas de coesão e de sequenciação frasal;

• Progressão textual limitada, sem inserção de informações relatadas;

• Problemas de ortografia, acentuação e pontuação no discurso.

Texto 9

• Falta de indicação do lugar em

que aconteceram os fatos; • Falta de descrição da

personagem mencionada no relato;

• Problemas de coesão; • Progressão textual limitada, sem

inserção de informações relatadas;

• Troca de fonemas; • Apagamento de consoante; • Problemas de ortografia,

acentuação e pontuação no discurso.

Texto 10

• Falta de descrição do personagem mencionado no relato;

• Problemas de coesão e de sequenciação frasal;

• Troca de fonemas; • Apagamento de consoante; • Problemas de ortografia,

acentuação e pontuação no discurso;

• Ausência de parágrafo para iniciar o período textual.

4.1.1.3 Análise dos dados linguístico-discursivos d os relatos de experiências

escritos pelos alunos

Foram analisados os textos escritos, conforme Quadro nº 06, pelos alunos, no

que se refere aos dados linguístico-discursivos, com o objetivo de avaliar o discurso

escrito de cada um e as possíveis habilidades em relatar textos, principalmente, as

marcas linguísticas peculiares do relato de experiência, como autoria, diálogo,

espaço e tempo.

De uma forma geral, verifiquei que, por não terem o hábito de ler,

estabelecendo uma resistência em atividades cotidianas de leitura, o aluno não

Page 59: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA - cchla.ufpb.br§ão... · A avaliação dos resultados diagnósticos do “Relato de Experiência”, elencados a partir da produção escrita dos

58

consegue desenvolver com desenvoltura e propriedade o seu texto escrito,

apresentando problemas de ortografia, acentuação das palavras, dentre outros.

No entanto, a pesquisa priorizou a verificação das dificuldades nos textos

escritos pelo aluno dos componentes da modalidade relatar, considerando os

critérios propostos por Bräkling (2009) quanto à organização interna do gênero

Relato de Experiência:

Quadro Nº 06

Organização composicional Dificuldades apresentadas

Pouca contextualização inicial do relato,

identificando tema/espaço/período.

“Amelho coisa qui mim a conteseu na minha vida foi o dia

que eu conheci meu marido porque ele sepre mim apoi o

na minha vida e nas minhas decisões porque ele foi na

verdade um verdadeiro pai (...)”.

Falta de referência à(s) ação

(ões)/situação(ões) que será(ão) relatada(s).

“Acoisa mais importante fui quando eu fui campeão

Brasileiro de karate Escolar e quando foi na minha volta

de Amapa para paraiba quando eu mais esperava

aconteceu uma coisa muito inportante que marcou min ha

vida que quando eu cheguei em casa e teve uma festa

suprezas para eu e meus colegas do karate isso mim

deixou muito feliz”.

Dificuldades de apresentação das ações

sequenciando-as temporalmente,

estabelecendo relação com o

tema/espaço/período focalizado no texto,

explicitando sensações, sentimentos,

emoções provocados pelas experiências.

“Na verdade tenho muitas coisas boas ae ruins para

escrever, a principal delas foi quando entrei na in greja e

passei a congregas na Assembléia de Deus.

Foi uma experiência incrivelmente ótima, e nessa ig reja

onde congrego conheci Alissom, ele foi muito import ante

na minha vida e continua sendo (...)”.

Encerramento do relato limitado, sem pontuar

os sentimentos, efeitos, repercussões das

ações relatadas na vida do relator e dos

envolvidos.

“(...) como sempre ela me fala, que gostaria de mor a

comigo, por que se sente muito avontade, na minha c asa,

quando eu levo ela pra minha casa, não quer que lev e de

volta (...)”.

Além das dificuldades detectadas (Quadro nº 06), quanto à estrutura

composicional do gênero (BRÄKLING, 2009), considerei também a especificação

dos tipos de “erros” sustentados nos critérios estabelecidos por Bortoni-Ricardo

(2005) e Cagliari (2006), verificando que as dificuldades abrangem:

Page 60: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA - cchla.ufpb.br§ão... · A avaliação dos resultados diagnósticos do “Relato de Experiência”, elencados a partir da produção escrita dos

59

Quadro Nº 07

O campo fonológico O campo sintático

Apagamento de vogal: “pra”, “par”.

Problemas de coerência: “ tudo pra mim

naqueles momentos marcam porque passei

todos momentos amavél”.

Apagamento de consoante: “Amelho”, “sepre”

Ausência de coesão e ordem nas frases:

“ quando eu levo ela pra minha casa, não

oquer aqui leve de volta ”.

Troca de fonemas: /e/ pelo /i/: “ qui”, “pidindo” ;

Troca de consoantes: “surpreza”,

“inportante”, “aconteseu”.

Problema de concordância nominal e verbal:

“um surpreza”, “ uma festa suprezas”, “ um

família”, “todos momentos amável” .

Sendo assim, pude verificar que, quanto à organização das marcas

linguísticas, alguns textos apresentaram falta de indicação do lugar e tempo em que

aconteceram os fatos; falta de descrição de personagem mencionado no relato;

problemas de coesão e de sequenciação frasal; troca de fonemas; apagamento de

consoante; problemas de ortografia, acentuação e pontuação no discurso; falta de

coerência, não contemplando uma sequenciação lógica das ideias. Os aspectos da

progressão também estão limitados em vários textos, comprometendo, inclusive, o

aspecto de caráter narrativo presente no enunciado do gênero relatar.

Foi notório que os alunos na fase diagnóstica da pesquisa apenas sinalizaram

alguns elementos linguísticos do gênero “Relato de Experiência”, inclusive de forma

bastante tímida, comprometendo a compreensão do texto, enquanto gênero textual

da modalidade relatar. Vale salientar que priorizei os dados investigativos das

dificuldades apresentadas, quanto aos aspectos linguísticos do gênero textual, sem

desconsiderar, no entanto, as dificuldades conforme as características formais da

escrita.

De posse do estudo diagnóstico dos relatos escritos pelos alunos e

consciente das dificuldades em relatar fatos importantes, como também dos diversos

problemas recorrentes da oralidade e que transversalizam o estudo da linguagem

nas turmas da Educação de Jovens e Adultos, organizei as atividades da terceira

etapa da sequência didática para a intervenção pedagógica da pesquisa.

Page 61: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA - cchla.ufpb.br§ão... · A avaliação dos resultados diagnósticos do “Relato de Experiência”, elencados a partir da produção escrita dos

60

4.1.2 Relato das atividades linguísticas em uma seq uência didática

Após a produção de texto, ocorrida no estado empírico e que teve objetivo

estritamente diagnóstico, para coletas de dados investigativos, iniciei as atividades

seguintes da sequência didática, que foi desenvolvida até a reescrita do relato

elaborado anteriormente por cada aluno.

Depois de conversas sobre a importância da leitura nas vidas das pessoas e

com o uso diário do texto, como elemento essencial nas aulas de Língua

Portuguesa, os alunos começaram a se envolver mais nas leituras, no caso

específico da pesquisa, nos textos referentes a relatos de experiência. Selecionei

textos diversificados sobre o gênero textual, objeto de estudo da pesquisa, e que

foram trabalhados nas aulas para maior e melhor competência textual dos alunos.

Essas ações fazem parte do caminho que trilharam para a produção escrita do relato

em vários momentos e sua reescrita na fase conclusiva do projeto de pesquisa.

Procurei orientá-los para rever a organização das ideias do relato, a partir dos

aspectos linguísticos, coesão e coerência utilizadas, a ortografia e pontuação.

Muitos teóricos têm abordado a questão da ineficiência e pouca disposição da

leitura como prática integrante da aula de Português e, quando ocorre, é de forma

limitada. Contrapondo-se a essa teoria, o projeto de pesquisa fez da leitura uma

prática relevante em sala de aula, conduzindo o aluno a melhorar em muito sua

produção escrita. Segundo Cagliari (2006), “a recorrência dos erros não são ao

acaso, e a falta da leitura é uma das responsáveis por isso, aliás, a escola é a

responsável por isso” (CAGLIARI, 2006, p. 148). Depreende-se, assim, que a grande

maioria dos problemas apresentados pelos alunos em produção escrita é originada

desde os primeiros anos de escolaridade e se perpetua ao longo da sua vida

estudantil.

Consciente de que o aluno jovem e adulto da EJA apresenta limitações na

competência leitora, comprometendo sua produção de textos escritos, procurei

aplicar as atividades em sequência didática coerentes com a situação linguística do

aluno pesquisado, motivando-o para participar dos eventos de leitura no decorrer do

projeto. Inclusive orientei o aluno para que procurasse realizar outras leituras nos

demais momentos oportunos da vida.

Page 62: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA - cchla.ufpb.br§ão... · A avaliação dos resultados diagnósticos do “Relato de Experiência”, elencados a partir da produção escrita dos

61

A sequência didática do projeto, após o processo de avaliação diagnóstica, foi

organizada, conforme Quadro nº 08, abaixo:

Quadro Nº 08

Sequência Objetivo Atividade realizada

1ª Explorar o relato de

experiência de um

alfabetizando.

Exibição do vídeo: “História de um Brasil

Alfabetizado”

1) Explicação previamente do assunto abordado;

2) Questionamentos sobre o conteúdo exibido;

3) Explicação de que o relato pessoal também pode

ser oralizado, conforme mostrado no vídeo;

4) Discussão sobre o assunto abordado;

5) Identificação do sujeito da experiência e da ação

relatada.

2ª Reescrever o texto escrito

na primeira fase da

sequência.

Reescrita do texto reescrito

1) Comparação entre o texto produzido na primeira

fase da sequência e o relato de experiência de

um alfabetizando;

2) Reescrita do texto.

3ª Pesquisar na internet um

vídeo sobre relato de

experiência.

Pesquisa na internet de vídeos sobre relato de

experiência

1) Seleção pela pesquisadora de alguns sites sobre

o tema;

2) Acesso aos sites indicados pela professora;

3) Seleção do site mais interessante;

4) Leitura e análise do relato pesquisado;

5) Respostas das questões formuladas pelo

professor;

6) Apresentação e respostas do relato pesquisado.

4ª Pesquisar um relato de

experiência em material

disponível na biblioteca.

Pesquisa na biblioteca da escola

1) Pesquisa de um relato de experiência em jornais,

revistas ou livros;

2) Leitura do relato pesquisado;

3) Estudo dos organizadores linguísticos do relato.

5ª Ler e discutir relatos de

experiência.

Leitura e discussão de relato de experiência na

modalidade escrita

1) Leitura silenciosa e compartilhada de relatos

pessoais;

2) Discussão do assunto abordado no texto;

Page 63: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA - cchla.ufpb.br§ão... · A avaliação dos resultados diagnósticos do “Relato de Experiência”, elencados a partir da produção escrita dos

62

3) Estudo da organização composicional do relato:

identificação do tempo/espaço/período,

identificação do relator como sujeito da ação e

referências às ações relatadas;

4) Discussão sobre o assunto abordado no relato;

5) Identificação das ações presentes no relato;

6) Perguntas e respostas sobre o relato.

7ª Reescrever o texto

produzido na primeira fase

da pesquisa.

Reescrita da produção inicial

1) Comparação entre o texto produzido e o assunto

abordado na aula;

2) Inserção das características do relato de

experiência abordadas na aula expositiva;

3) Reescrita da produção inicial.

8ª Mostrar que o suporte

textual vídeo pode conter

vários gêneros textuais,

inclusive o relato de

experiência.

Exibição do vídeo: Biografia de Paulo Freire

1) Exibição do vídeo sobre a biografia de Paulo

Freire;

2) Discussão sobre o suporte textual vídeo e que

este pode conter vários gêneros textuais: Relato

de Experiência, Biografia, Canção, dentre outros.

9ª Discutir a presença do

gênero relato de

experiência no suporte

textual canção.

Exibição do vídeo com a canção: “Vento no

Litoral, de Legião Urbana”.

1) Exibição do vídeo “Vento no Litoral”;

2) Distribuição do texto escrito “Vento no Litoral”;

3) Estudo em grupo do assunto abordado no texto.

4) Respostas das questões elencadas pela

pesquisadora: identificação do quê, quando e

onde ocorreu a experiência, identificação da

sequência temporal das ações e discussão se a

experiência acrescenta alguma sensação e

emoção no aluno;

5) Produção escrita de um parágrafo explicando por

que se pode considerar a letra da canção uma

espécie de relato pessoal;

6) Leitura da resposta pelo grupo cada grupo leu

sua resposta;

7) Intervenções da professora/pesquisadora quando

julgou necessário para formular, juntamente com

os alunos, uma resposta para a atividade.

Page 64: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA - cchla.ufpb.br§ão... · A avaliação dos resultados diagnósticos do “Relato de Experiência”, elencados a partir da produção escrita dos

63

10ª Relatar uma experiência de

vida.

Relato de experiência de uma ex-aluna da EJA

1) Relato de Experiência de uma ex-aluna da EJA,

que voltou a estudar depois de idosa e hoje cursa

o Ensino Médio, e apresenta muitas habilidades

em leitura e escrita;

2) Debate entre relator e interlocutores;

3) Sessão de perguntas feitas pelos interlocutores.

11ª Explicar os elementos

linguístico-discursivos do

relato de experiência.

Aula expositiva sobre o gênero textual relato de

experiência

1) Explicação sobre o gênero textual relato de

experiência, que pode ser abordado em vários

suportes textuais (livros, revistas, vídeo, canção,

jornal escrito e falado, folder, literatura de cordel,

dentre outros);

2) Apresentação da definição do relato de

experiência vivida (Conceito, Conteúdo Temático,

Organização Composicional, Apresentação das

Ações, Marcas Linguísticas).

12ª Reescrever o texto

produzido na primeira fase

da pesquisa.

Reescrita da produção inicial

1) Comparação entre o texto anteriormente escrito e

o assunto abordado na aula;

2) Inserção das características do relato de

experiência abordadas na aula expositiva;

3) Reescrita da produção inicial.

13ª Discutir sobre

acontecimentos relevantes

nas vidas dos alunos.

Discussão sobre lembranças de fatos importantes

nas vidas dos pesquisados

1) Discussão sobre eventos marcantes na vida dos

alunos.

14ª Produção final do relato de

experiência.

Reescrita do relato de experiência.

Depois de vistos e trabalhados todos os passos da terceira etapa da

sequência didática, os alunos reescreveram o relato elaborado na fase diagnóstica

da pesquisa. Vale salientar que os alunos participantes, nessa fase da pesquisa,

estavam mais dispostos em participar das atividades, além de interessados em

realizar com maior cuidado a produção final do relato. Na verdade, cada aluno

almejou reescrever seu relato de forma mais competente, fazendo uso dos recursos

linguísticos que estudaram no decorrer do projeto.

Page 65: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA - cchla.ufpb.br§ão... · A avaliação dos resultados diagnósticos do “Relato de Experiência”, elencados a partir da produção escrita dos

64

4.1.3 Reescrita dos textos produzidos na fase diagn óstica da sequência

didática

Quadro Nº 09

Recortes discursivos reescritos

Texto 01

Texto 02

Page 66: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA - cchla.ufpb.br§ão... · A avaliação dos resultados diagnósticos do “Relato de Experiência”, elencados a partir da produção escrita dos

65

Texto 03

Texto 04

Texto 05

Page 67: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA - cchla.ufpb.br§ão... · A avaliação dos resultados diagnósticos do “Relato de Experiência”, elencados a partir da produção escrita dos

66

Texto 06

Texto 07

Texto 08

Page 68: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA - cchla.ufpb.br§ão... · A avaliação dos resultados diagnósticos do “Relato de Experiência”, elencados a partir da produção escrita dos

67

Texto 09

Texto 10

Page 69: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA - cchla.ufpb.br§ão... · A avaliação dos resultados diagnósticos do “Relato de Experiência”, elencados a partir da produção escrita dos

68

CAPÍTULO V

5 RESULTADOS DA PESQUISA

5.1 Resultados alcançados

Após a reescrita dos textos pelos alunos, enquanto professora/pesquisadora,

verifiquei que houve uma progressão considerável entre os textos produzidos na

fase diagnóstica e aqueles reescritos no decorrer da aplicabilidade das atividades

até a produção final, cuja análise considerou, portanto, a progressão linguístico-

discursiva do texto da maioria dos pesquisados.

As características linguístico-discursivas abordadas pelos alunos na reescrita

dos relatos podem ser visualizadas, no Quadro nº 10, abaixo:

Quadro Nº 10

Elementos linguístico-discursivos

Contextualização inicial do relato,

identificando tema/espaço/período.

“Em novembro de 2013 pela manhã eu recebi uma ligaç ão de

uma amiga falando que no mesmo local onde ela traba lhava

estava precisando de uma monitora e me chamou parar ocupar

o cargo de monitora em uma Escola Particular. Eu

imediatamente fui até à escola (...)”.

“Em 2012, eu estudava no turno da noite e os profes sores

convidaram os alunos da EJA para participarem do de sfile do

dia 7 de setembro e eu aceitei desfilar pela escola (...)”.

Identificação do relator como sujeito das

ações relatadas e experiências

vivenciadas.

“Eu morava na praia de Pitimbu e tinha um sonho (.. .)”.

“A melhor coisa que me aconteceu na minha vida foi o dia que

eu conheci meu marido porque ele sempre me apoiou n as

decisões que tomo na minha vida (...)”.

Referência à(s) ação (ões)/situação(ões)

que será(ão) relatada(s).

“O dia mais importante da minha vida foi quando eu viajei para

o Amapá. Eu fiquei tão ansioso porque eu nunca tinh a viajado

para tão longe (...)”.

“Eu tinha um sonho de vir morar em João Pessoa para poder

trabalhar e ganhar o meu dinheiro (...)”.

Apresentação das ações sequenciando-

as temporalmente, estabelecendo relação

com o tema/espaço/período focalizado no

“Era uma paixão de adolescente e um dia a família d ele foi

embora morar em outra cidade, bem longe da minha. E u chorei

muito, pois amava ele demais (...)”.

“(...) Meu filho era uma criança linda, muito esper ta e só queria

saber de jogar bola e quando ficou adolescente come çou a

Page 70: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA - cchla.ufpb.br§ão... · A avaliação dos resultados diagnósticos do “Relato de Experiência”, elencados a partir da produção escrita dos

69

texto, explicitando sensações,

sentimentos, emoções provocados pelas

experiências.

jogar mais futebol e a fazer parte de jogos profiss ionais e a

viajar para jogar em várias cidades do Brasil (...) ”.

Encerramento, pontuando os

sentimentos, efeitos, repercussões das

ações relatadas na vida do relator e dos

envolvidos.

“(...) pretendo dessa vez terminar o ensino médio e entrar na

faculdade e me formar, pois tenho um grande sonho q ue é ser

uma grande cozinheira e trabalhar num restaurante ( ...)”.

“O nascimento do meu filho mudou minha história de vida, me

fez uma mulher feliz (...)”.

Envolvimento de terceiros no relato de

experiência.

“(...) porque ele sempre me apoiou nas decisões que tomo na

minha vida. Na verdade ele foi um verdadeiro pai pa ra mim, me

deu uma família de verdade, duas filhas lindas e um lar para

morar (...)”.

“(...) eu conheci um menino que lutava muito karatê e ficamos

colegas, ele era bem bacana e gostava de conversar e contava

muitas histórias (...)”.

Além desses aspectos, verificados no Quadro nº 10, os alunos também

mostraram maior atenção na elaboração dos textos escritos, com mais cuidado no

emprego das normas gramaticais, conforme demonstração, no Quadro nº 11,

abaixo:

Quadro Nº 11

Uso das normas gramaticais

Sinalização de parágrafos “Em novembro de 2013 pela manhã eu recebi uma ligaçã o de

uma amiga falando que no mesmo local onde ela traba lhava

estava precisando de uma monitora e me (...)”.

“Eu imediatamente fui até à escola, chegando lá fui muito

bem recebida pela dona da escola, que me mostrou to da a escola

e me pediu para ficar uma semana de (...)”.

Uso correto de consoantes e de vogais “(...) Quando ele era criança já começava a gostar de jogar bola e

quando ficou adolescente começou a jogar mais futeb ol e a fazer

parte de jogos profissionais e a viajar para jogar em várias

cidades do Brasil (...)”.

Pontuação correta do texto “O dia mais importante da minha vida foi quando eu viajei para o

Amapá. Eu fiquei tão ansioso porque eu nunca tinha viajado para

tão longe (...)”.

“Um dia minha família resolveu vir morar em João P essoa e eu

fiquei muito feliz, pois eu ia realizar meu grande sonho, ia ter uma

vida nova, ia poder trabalhar e estudar (...)”.

Acentuação nas palavras “(...) Eu brincava com as minhas colegas na rua ond e morava,

brincávamos de pega-pega, baleado e esconde-esconde (...).

Page 71: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA - cchla.ufpb.br§ão... · A avaliação dos resultados diagnósticos do “Relato de Experiência”, elencados a partir da produção escrita dos

70

“(...) Um momento muito difícil da minha vida é que eu e meus

irmãos sofremos bastando quando o meu pai deixou mi nha mãe

e eu só tinha apenas dez anos de idade e meu irmão mais novo

tinha dois anos (...)”.

5.2 Discussão dos resultados alcançados

Observei que todos os pesquisados interagiram e apresentaram uma

progressão linguístico-discursiva, após a realização de atividades em sequência

didática, ao demonstrarem uma melhoria no nível de aprendizagem, visto que

melhoraram o vocabulário, tiveram maior cuidado na escolha de palavras, melhor

progressão na produção escrita dos relatos, maior envolvimento e participação nas

atividades da sequência didática.

Com a aplicabilidade da sequência didática, especificamente na reescrita dos

relatos, os alunos puderam interagir de forma consciente nos referidos caracteres

que sustentam o gênero em estudo, dando maior e melhor sustentabilidade aos

relatos, ao fazer uso dos elementos citados no item 5.1 (Resultados alcançados).

Na produção final do relato, o aluno pesquisado pôde ser assim

caracterizado: narrador/protagonista da sua história; fez uso de uma linguagem

compatível com os interlocutores; narrou situações vivenciadas na sua vida,

marcando um período específico; assumiu a posição de sujeito das ações relatadas

e experiências vivenciadas; explicitou sensações, sentimentos e emoções

provocadas pelas experiências.

Em relação à elaboração do texto escrito, observei um

aluno/pesquisado/participante mais interessado nas atividades, mais consciente,

mais subjetivo, mais aprendiz das suas ações, que foram sendo reveladas a partir

da progressão linguística no ato de escrever. Ao comparar os relatos elaborados

pelos alunos na primeira fase da sequência didática e aqueles reescritos na fase

conclusiva da sequência, foi notória uma melhor aprendizagem do ponto de vista

linguístico, resultado de um trabalho coerente, planejado e eficaz para o público

jovem e adulto da EJA.

Page 72: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA - cchla.ufpb.br§ão... · A avaliação dos resultados diagnósticos do “Relato de Experiência”, elencados a partir da produção escrita dos

71

No entanto, alguns aspectos linguístico-discursivos dos textos escritos que

não foram contemplados, mesmo na produção final da sequência didática da

pesquisa, poderão ser vistos pelo aluno em atividades posteriores de práticas de

ensino, no decorrer de toda a sua vida estudantil. Pois entendo que a ampliação do

conhecimento não ocorre necessariamente em um módulo fechado, concluído, mas

em várias etapas de escolaridade e isto pode acontecer em cada evento de ensino

em que o aluno tem a oportunidade de ampliar a sua competência em textos escritos

e, consequentemente, ampliar a sua experiência como protagonista do seu saber,

da sua história.

Page 73: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA - cchla.ufpb.br§ão... · A avaliação dos resultados diagnósticos do “Relato de Experiência”, elencados a partir da produção escrita dos

72

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Na fase conclusiva do projeto de pesquisa, vivenciado em uma turma de EJA,

pude observar resultados positivos, em relação às dificuldades em aprendizagem e,

especificamente, em produção de textos escritos, apresentadas pelos alunos na

primeira fase da sequência didática. Visto que, tais dificuldades foram superadas em

vários aspectos linguísticos do gênero textual “Relato de Experiência”.

Diante do resultado alcançado, constatou-se que, os pesquisados interagiram

e passaram por transformações ao demonstrarem uma melhoria no nível de

aprendizagem no vocabulário, em um maior cuidado na escolha de palavras, melhor

coesão e coerência das ideias, e, principalmente, puderam ampliar a competência

linguística na produção escrita. Para tanto, foi necessário fazer uso da linguagem

como forma de interação e o texto como construção de sentidos.

Assim, a prática de produção escrita de textos despertou e cultivou o desejo

do aluno escrever por prazer, atestando que as atividades de produção de textos

escritos são fundamentais para comprovar que os alunos jovens e adultos da EJA

são capazes de ampliar a competência linguístico-discursiva.

Considerando esse processo, faz-se necessário observar que tornar o aluno

capaz de produzir textos escritos, exigiu um contexto tanto viável às condições

didáticas quanto coerente com a realidade da EJA. Esse contexto e a vontade de

agir, de intervir, evidentemente possibilitaram desenvolver uma prática persistente e

progressiva de produção da linguagem escrita, como também exigiu uma sequência

didática cuja execução possibilitou ao aluno um contato intenso com textos do

gênero “Relato de Experiência”.

Concluindo, observei, ainda, que a continuidade do trabalho com leitura e

produção de textos escritos em práticas posteriores é de fundamental importância

para a continuidade do desenvolvimento da competência leitora e de produção de

textos escritos, pois a ampliação do conhecimento em exercícios orais e escritos

depende, necessariamente, da extensão da prática em linguagem com esse

objetivo. Para tanto, a abordagem adotada deve, sobretudo, acreditar na

competência linguístico-discursiva de cada autor. Além desse alcance, acreditei em

cada proposta da pesquisa, convencendo, conquistando, dialogando. Só assim, os

Page 74: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA - cchla.ufpb.br§ão... · A avaliação dos resultados diagnósticos do “Relato de Experiência”, elencados a partir da produção escrita dos

73

pesquisados se envolveram em cada etapa vivenciada e chegaram à fase

conclusiva do projeto.

Page 75: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA - cchla.ufpb.br§ão... · A avaliação dos resultados diagnósticos do “Relato de Experiência”, elencados a partir da produção escrita dos

74

REFERÊNCIAS

ANTUNES, Irandê. A leitura: de olho nas suas funções. In: Língua, texto e ensino: outra escola possível. São Paulo: Parábola Editorial, 2009. ______. Lutar com as palavras: coesão e coerência. São Paulo: Parábola Editorial, 2005. BAKHTIN, Michel. Marxismo e filosofia da linguagem. São Paulo: Hucitec, 1988. ______. Os gêneros do discurso. In: Estética da Criação Verbal. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1992. BAZERMAN, Charles. Gênero, Agência e Escrita. São Paulo: Cortez, 2006. BORTONI-RICARDO, Stella Maris. O estatuto do erro na língua oral e na língua escrita. In: GORSKI, Edair e COELHO, Izete (orgs.). Sociolinguística e ensino. Florianópolis: Editora da UFSC. ______. O professor pesquisador: introdução à pesquisa qualitativa. São Paulo: Editorial, 2008. BRÄKLING, K. L. O Gênero Relato no Vestibular e a Narração Escolar: Considerações sobre a Estrutura Composicional. IV CONALI - Congresso Nacional de Linguagens em Interação: Múltiplos Olhares, 2013. BRANDÃO, C. Rodrigues. A educação popular na escola cidadã. Petrópolis: Vozes, 2002. BRASIL. Alfabetizando sem o ba; bé; bi; bó; bu. São Paulo: Scipione, 1998. ______. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, 1996. ______. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Fundamental. Proposta Curricular para a educação de jovens e adultos: segundo segmento do ensino fundamental: 5ª a 8ª série: introdução / Secretaria Fundamental. ______. Parâmetros Curriculares Nacionais. (2001). Língua Portuguesa. 3. ed. Brasília. CAGLIARI, Luiz Carlos. Alfabetização e linguística. 10. ed. São Paulo: Scipione, 2004. CARVALHO, M. V. C. de (org.). Identidade: questões contextuais e teórico- metodológicas. Curitiba: Editora CRV, 2011. COSTA VAL, Maria Graças. Redação e textualidade. São Paulo: Martins Fontes, 1993.

Page 76: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA - cchla.ufpb.br§ão... · A avaliação dos resultados diagnósticos do “Relato de Experiência”, elencados a partir da produção escrita dos

75

DECLARAÇÃO DE HAMBUGO (1997). Disponível em: WWW.unesco.org.br/publicacoes/livros/dechamburgo. DOLZ, Joaquim; NOVERRAZ, N. e SCHNEUWLY, B. Sequências didáticas para o oral e a escrita: apresentação de um procedimento. In: DOLZ, J. e SCHNEUWLY, B. Gêneros orais e escritos na escola. Campinas: Mercado de Letras. FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. 43. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2003. GARCEZ, Lucília H. do Carmo. A escrita e o outro: os modos de participação na construção do texto. Brasília: Editora Universidade de Brasília. ______. O fio da meada – as pesquisas sobre a escrita. In: A escrita e o outro: os modos de participação na construção do texto. Brasília: Editora Universidade de Brasília. ______. Técnicas de redação. São Paulo: Martins Fontes. GERALDI, João Wanderley (Org.). O Texto na Sala de Aula. 3. ed. São Paulo: Ática, 2002 (Coleção na Sala de Aula). ______. Escrita, Uso da Escrita e Avaliação. In: O texto na Sala de Aula. 3. ed. São Paulo: Ática, 2002. GÓMEZ, Angel Pérez. A função e a formação do professor/a no ensino para a compreensão: diferentes perspectivas. In: SACRISTÁN, J. Gimeno; GOMÉZ, Angel Perez. (Orgs). Compreender e transformar o ensino. 4. ed. Porto Alegre: Artemed. KLEIMAN, Ângela B (org.). Os significados do letramento: uma nova perspectiva sobre a prática social da escrita. Campinas; SP: Mercado das Letras, 1995 (Coleção Letramento, Educação e Sociedade). ______. & MORAES, Silvia E. Leitura e Interdisciplinaridade. São Paulo: Mercado de Letras, 1999 (Coleção Ideias Sobre Linguagem). ______. EJA e o Ensino da Língua Materna: Relevância dos Projetos de Letramento. EJA EM DEBATE; Florianópolis; vol. 1; n. 1; nov. 2012. http://incabadora.periodicos.ifscedu.br/index. php/EJA. ______. Preciso "ensinar" o letramento? Não basta ler e escrever? Campinas: CEFIEL – UNICAMP, MEC. KOCH, Ingedore G. Villaça & TRAVAGLIA, Luiz Carlos. Texto e Coerência. 9. ed. São Paulo: Cortez. ______. & ELIAS, Vanda Maria. Ler e compreender: os sentidos do texto. São Paulo: Contexto.

Page 77: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA - cchla.ufpb.br§ão... · A avaliação dos resultados diagnósticos do “Relato de Experiência”, elencados a partir da produção escrita dos

76

______. A Coerência Textual. 17. ed. São Paulo: Contexto, 1990. ______. Desvendando os segredos do texto. 5. ed. São Paulo: Cortez, 2006. KRAMER, Sonia (orgs); FREITAS, Maria Teresa; SOUZA, Slange Jobin e. Ciências Humanas e Pesquisa: Leituras de Mikhail Bakhtin. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2007. (Coleção questões da nossa época, v. 107). LEITE, Lígia Chiappini de Moraes. Gramática e Literatura: Desencontros e Esperanças. In: GERALDI, João Wanderley (org.). O texto na Sala de Aula. 3. ed. 5. impressão. São Paulo: Ática. LOCH, Jussara Margareth de Paula e outros. EJA: planejamento; metodologias e avaliação. Porto Alegre: Mediação. MARCUSCHI, Luiz Antônio. Gêneros textuais: definição e funcionalidade. In: DIONÍSIO; Â. et al. (orgs). Gêneros textuais e ensino. Rio de Janeiro: Lucerna. ______. Produção textual, análise de gêneros e compreensão. São Paulo: Parábola Editorial. MARTINS, Mirian Celeste. Avaliação: do persecutório olhar autoritário à avaliação para a construção da práxis pedagógica. In: Avaliação e Planejamento: a prática educativa em questão. São Paulo, 1997 (Série Seminários/Espaço Pedagógico). REGO, Tereza Cristina. VYGOTSKY: uma perspectiva histórico-cultural da educação. 5. ed. Petrópolis: Vozes, 1995. SCHENEUWLY, B. J. Gêneros orais e escritos na escola. Trad. e org. ROJO, Roxane e CORDEIRO, Gláis Sales. Campinas, 2004 (Coleção As Faces da Linguística Aplicada). SOARES, Magda. Alfabetização e letramento. 6. ed. São Paulo: Contexto.

Page 78: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA - cchla.ufpb.br§ão... · A avaliação dos resultados diagnósticos do “Relato de Experiência”, elencados a partir da produção escrita dos

77

APÊNDICE

1 ORGANOGRAMA DO PROJETO DE PESQUISA

Page 79: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA - cchla.ufpb.br§ão... · A avaliação dos resultados diagnósticos do “Relato de Experiência”, elencados a partir da produção escrita dos

78

Page 80: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA - cchla.ufpb.br§ão... · A avaliação dos resultados diagnósticos do “Relato de Experiência”, elencados a partir da produção escrita dos

79

Page 81: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA - cchla.ufpb.br§ão... · A avaliação dos resultados diagnósticos do “Relato de Experiência”, elencados a partir da produção escrita dos

80

Page 82: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA - cchla.ufpb.br§ão... · A avaliação dos resultados diagnósticos do “Relato de Experiência”, elencados a partir da produção escrita dos

81

Page 83: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA - cchla.ufpb.br§ão... · A avaliação dos resultados diagnósticos do “Relato de Experiência”, elencados a partir da produção escrita dos

82

Page 84: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA - cchla.ufpb.br§ão... · A avaliação dos resultados diagnósticos do “Relato de Experiência”, elencados a partir da produção escrita dos

83

ANEXO

1 LIVRO COM OS TEXTOS PRODUZIDOS PELOS ALUNOS

Page 85: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA - cchla.ufpb.br§ão... · A avaliação dos resultados diagnósticos do “Relato de Experiência”, elencados a partir da produção escrita dos

84

Page 86: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA - cchla.ufpb.br§ão... · A avaliação dos resultados diagnósticos do “Relato de Experiência”, elencados a partir da produção escrita dos

85

Page 87: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA - cchla.ufpb.br§ão... · A avaliação dos resultados diagnósticos do “Relato de Experiência”, elencados a partir da produção escrita dos

86