universidade federal da paraíba

4
1 Universidade Federal da Paraíba Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas Disciplina: Língua Latina III Prof.: Lucas Consolin Dezotti Aluno: Jaynnoã Fernando Silva Lopes Matrícula: 11313617 Trabalho para avaliação de Língua Latina III O seguinte trabalho contém a tradução da Epistula XCVI, escrita ao imperador Traja- no, do Livro X dos Libri Epistularum de Plínio, o Jovem, e também a descrição mor- fossintática das palavras de um trecho, a qual foi pedida para o complemento da nota da avaliação da disciplina. Primeiro, se há de apresentar a tradução, que considera, além da análise própria, as discussões ocorridas na sala de aula com os demais discentes e com o professor. Depois, serão expostas as considerações referentes à morfossintaxe do trecho para isso designa- do. Tradução da Carta XCVI do Livro X dos Libri Epistularum de Plínio, o Jovem É para mim habitual, senhor, referir a ti todas as coisas das quais tenho dúvidas. Afi- nal, quem pode melhor ou guiar minha hesitação ou instruir minha ignorância?! Nunca estive envolvido em processos sobre cristãos. Por isso, desconheço o que e até que pon- to seja costume ou se punir ou se inquirir. E hesitei não moderadamente: existe alguma discriminação de idades ou tanto faz, os tenros em nada diferem dos mais robustos? É dado o perdão ao arrependimento ou, àquele que foi totalmente cristão, não adianta ter desistido? É punida a própria designa- ção, ainda que não haja acusações, ou são punidas as acusações que estão ligadas ao nome? Durante este tempo, com relação àqueles que me foram delatados como cristãos, segui este procedimento: interroguei os próprios se eram cristãos. Os que confessaram interroguei de novo e pela terceira vez, ameaçando com o suplício. Os que perseveraram ordenei que fossem levados. E eu, de fato, não tinha dúvidas de que, o que quer que fosse que confessassem, deviam ser punidas convictamente a pertinácia e a inflexível obstinação. Existiram outros de semelhante demência, os quais, já que eram cidadãos romanos, anotei que devessem ser enviados à Urbe. Em pouco tempo, a partir desta forma de tratar, muito mais espécies apareceram, à medida que se difundia o crime, como costuma ocorrer. Foi apresentado um livrinho, sem autor, que continha os nomes de muitos. Os que negavam ser ou ter sido cristãos, uma vez que, indo eu à frente, apelassem aos deuses e, com vinho e incenso, dirigissem súplicas à tua imagem, que por causa disso eu tinha ordenado que fosse trazida junto com os simulacros dos deuses, e além disso maldissessem de Cristo, considerei de- verem ser dispensados, já que os que são cristãos de maneira verdadeira se dizem não poder ser coagidos a nada dessas coisas. Outros nomeados pela lista disseram ser cristãos e, em seguida, negaram. Na verda- de, disseram ter sido, mas ter deixado de ser, uns há três anos, outros há muitos anos, alguém ainda há vinte e cinco anos. Todos estes tanto veneraram tua imagem e os simu- lacros dos deuses como maldisseram de Cristo. Afirmavam, por outro lado, ter sido esta a soma ou de sua culpa ou de seu erro: que tinham se habituado a se reunir num dia fixo, antes da luz do dia, e alternadamente

Upload: jaynnoa-fernando

Post on 16-Nov-2015

213 views

Category:

Documents


0 download

DESCRIPTION

A forma de se encontrar os casos latinos e observar a própria estrutura da língua latina permite a compreensão melhor da língua, e mais especificamente da Língua Portuguesa que dela deriva.

TRANSCRIPT

  • 1

    Universidade Federal da Paraba

    Centro de Cincias Humanas, Letras e Artes

    Departamento de Letras Clssicas e Vernculas

    Disciplina: Lngua Latina III

    Prof.: Lucas Consolin Dezotti

    Aluno: Jaynno Fernando Silva Lopes Matrcula: 11313617

    Trabalho para avaliao de Lngua Latina III

    O seguinte trabalho contm a traduo da Epistula XCVI, escrita ao imperador Traja-

    no, do Livro X dos Libri Epistularum de Plnio, o Jovem, e tambm a descrio mor-

    fossinttica das palavras de um trecho, a qual foi pedida para o complemento da nota da

    avaliao da disciplina.

    Primeiro, se h de apresentar a traduo, que considera, alm da anlise prpria, as

    discusses ocorridas na sala de aula com os demais discentes e com o professor. Depois,

    sero expostas as consideraes referentes morfossintaxe do trecho para isso designa-

    do.

    Traduo da Carta XCVI do Livro X dos Libri Epistularum de Plnio, o Jovem

    para mim habitual, senhor, referir a ti todas as coisas das quais tenho dvidas. Afi-

    nal, quem pode melhor ou guiar minha hesitao ou instruir minha ignorncia?! Nunca

    estive envolvido em processos sobre cristos. Por isso, desconheo o que e at que pon-

    to seja costume ou se punir ou se inquirir.

    E hesitei no moderadamente: existe alguma discriminao de idades ou tanto faz, os

    tenros em nada diferem dos mais robustos? dado o perdo ao arrependimento ou,

    quele que foi totalmente cristo, no adianta ter desistido? punida a prpria designa-

    o, ainda que no haja acusaes, ou so punidas as acusaes que esto ligadas ao

    nome?

    Durante este tempo, com relao queles que me foram delatados como cristos,

    segui este procedimento: interroguei os prprios se eram cristos. Os que confessaram

    interroguei de novo e pela terceira vez, ameaando com o suplcio. Os que perseveraram

    ordenei que fossem levados. E eu, de fato, no tinha dvidas de que, o que quer que

    fosse que confessassem, deviam ser punidas convictamente a pertincia e a inflexvel

    obstinao. Existiram outros de semelhante demncia, os quais, j que eram cidados

    romanos, anotei que devessem ser enviados Urbe.

    Em pouco tempo, a partir desta forma de tratar, muito mais espcies apareceram,

    medida que se difundia o crime, como costuma ocorrer. Foi apresentado um livrinho,

    sem autor, que continha os nomes de muitos. Os que negavam ser ou ter sido cristos,

    uma vez que, indo eu frente, apelassem aos deuses e, com vinho e incenso, dirigissem

    splicas tua imagem, que por causa disso eu tinha ordenado que fosse trazida junto

    com os simulacros dos deuses, e alm disso maldissessem de Cristo, considerei de-

    verem ser dispensados, j que os que so cristos de maneira verdadeira se dizem no

    poder ser coagidos a nada dessas coisas.

    Outros nomeados pela lista disseram ser cristos e, em seguida, negaram. Na verda-

    de, disseram ter sido, mas ter deixado de ser, uns h trs anos, outros h muitos anos,

    algum ainda h vinte e cinco anos. Todos estes tanto veneraram tua imagem e os simu-

    lacros dos deuses como maldisseram de Cristo.

    Afirmavam, por outro lado, ter sido esta a soma ou de sua culpa ou de seu erro: que

    tinham se habituado a se reunir num dia fixo, antes da luz do dia, e alternadamente

  • 2

    entre si entoar um cntico a Cristo, como a um deus, e, por juramento, se comprome-

    terem no contra qualquer crime, mas para que no cometessem nem furtos nem latroc-

    nios nem adultrios, nem faltassem com a palavra dada, nem negassem o depsito,

    quando fossem solicitados. Afirmavam que, feitas estas coisas, tiveram o hbito de se

    separar e de novamente se reunir para tomar uma refeio comum, no entanto, e inofen-

    siva, e que tinham deixado de fazer at isso depois do meu dito, no qual, de acordo

    com tuas ordens, eu tinha proibido que existissem sociedades.

    Julguei mais necessrio que isso buscar de duas escravas, que se diziam ministras, o

    que houvesse de verdadeiro, atravs tambm de torturas. Porm, no encontrei nenhuma

    outra coisa seno superstio depravada, exagerada.

    Por isso, depois de adiado o processo, me apressei para te consultar. Porque me pa-

    rece uma matria extremamente digna de consulta, por causa do nmero dos que esto

    em perigo. Com efeito, muitos de toda idade, de toda classe, de ambos os sexos, tanto

    esto sendo quanto sero chamados doena. E, de fato, o contgio desta superstio,

    que parece poder ser contido e corrigido, percorreu no s cidades, mas tambm aldeias

    e campos.

    bastante conhecido, ao menos, que os templos, que estavam at agora abandona-

    dos, comeam a ser visitados e que os sagrados costumes, deixados de lado por muito

    tempo, comeam a ser repetidos e, aqui e ali, comeam a ser vendidas vtimas, das

    quais, at ento, um comprador se encontrava muito raro. Disso fcil deduzir que

    aquela laia de homens possa se emendar, caso haja ocasio de arrependimento.

    Alii ab indice nominati esse se Christianos dixerunt et mox negaverunt; fuisse quidem

    sed desiisse quidam ante triennium quidam ante plures annos non nemo ante viginti

    quinque. Omnes et imaginem tuam deorumque simulacra venerati sunt et Christo male-

    dixerunt.

    Descrio Morfossinttica

    1. Alii ab indice nominati esse se Christianos dixerunt et mox negaverunt.

    Alii = nominativo plural masculino do adjetivo alius, -a, -um, sujeito dos verbos

    dixerunt e negaverunt.

    Ab indice nominati = orao subordinada reduzida de particpio que adjetiva o sujeito

    alii, formada pelo particpio passado nominati do verbo nomino, o qual com o sujeito

    concorda em gnero, nmero e caso. Nominati tem por agente da passiva o ablativo sin-

    gular indice (do substantivo masculino index, indecis), regido pela preposio ab.

    Dixerunt et negaverunt = duas oraes do primeiro perodo do texto, ambas construdas

    com verbos flexionados em 3 pess. plur. do Presente Perfectum do Indicativo e coorde-

  • 3

    nadas entre si pela conjuno et. A primeira das duas tem por verbo dico (dixi, no Per-

    fectum) e a segunda tem nego.

    Esse se Christianos = orao substantiva objetiva direta, subordinada aos verbos dixe-

    runt e negaverunt, reduzida de infinitivo, construda com o infinitivo esse (de sum),

    cujo sujeito se (acusativo do pronome pessoal de terceira pessoa) que traz orao o

    sujeito alii das oraes principais e que liga tal sujeito ao seu predicativo Christianos

    (acusativo plural masculino).

    Mox = advrbio de tempo que d circunstncia ao verbo negaverunt.

    2. Fuisse quidem sed desiisse quidam ante triennium quidam ante plures annos non

    nemo ante viginti quinque [dixerunt].

    Quidem = advrbio, utilizado como conjuno para estabelecer relao entre este e o

    perodo anterior.

    Fuisse sed desiisse = duas oraes subordinadas ao verbo dixerunt, que est suposto no

    perodo, as quais funcionam como objeto direto dele, coordenadas pela conjuno ad-

    versativa sed. Os termos ligados (sujeito e predicativo) pelo infinitivo Perfectum do

    verbo sum fuisse so os mesmos ligados pelo infinitivo esse do perodo anterior, a

    saber: o pronome se e o adjetivo Christianos. J o complemento do infinitivo Perfectum

    de desino desiisse est tambm implcito: a orao infinitiva da orao anterior se

    esse Christianos.

    Quidam = nominativo plural masculino do pronome indefinido quidam, quaedam,

    quoddam/quiddam que funciona como sujeito do verbo dixerunt.

    Ante triennium = adjunto adverbial de tempo, formado pelo substantivo neutro regido

    pela preposio ante. Esta circunstncia de tempo dada ao infinitivo desiisse.

    Quidam ante plures annos = segunda orao do perodo. Ela supe todos os termos da

    orao anterior, com exceo do adjunto adverbial. Visto serem os mesmos verbos e

    complementos da orao anterior, o escritor deixa implcitos tais termos, ressaltando

    apenas o diferente adjunto adverbial (formado pelo substantivo masculino annos, no

    plural, acompanhado do qualificativo plures e regido pela preposio de acusativo ante)

    e o sujeito (o pronome indefinido quidam).

    Non nemo ante viginti quinque = terceira orao do perodo, que tambm supe os

    mesmos termos implcitos na orao anterior, da qual difere quanto ao sujeito (o subs-

    tantivo nemo, neminis modificado pelo advrbio de negao non) e ao adjunto adver-

    bial (o numeral viginti quinque regido pela preposio de acusativo ante).

    3. Omnes et imaginem tuam deorumque simulacra venerati sunt et Christo maledixe-

    runt.

    Omnes = nominativo plural, sujeito dos verbos do perodo, venerati sunt e maledixerunt.

    Este pronome se refere a todos os trs sujeitos mencionados no perodo anterior: qui-

    dam, quidam e non nemo.

  • 4

    Et venerati sunt et maledixerunt = as duas oraes do perodo, coordenadas pela corre-

    lao entre as conjunes et e et. Ambos os verbos esto conjugados na 3 pess. plural

    do Presente Perfectum do Indicativo. Venerati sunt o verbo depoente veneror e, por-

    tanto, tem sentido ativo.

    Imaginem tuam deorumque simulacra = complementos do verbo venerati sunt, coorde-

    nados pela conjuno encltica que. O substantivo feminino imaginem a forma de

    acusativo singular de imago, imaginis, e est caracterizado pelo pronome possessivo

    tuam. J simulacra um substantivo neutro que est declinado em acusativo plural e

    recebe um adjunto adnominal restritivo, o genitivo plural masculino deorum.

    Christo = substantivo prprio, declinado em dativo singular, que funciona como com-

    plemento do verbo maledixerunt.