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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA MONOGRAFIA SUBMETIDA Á AVALIAÇÃO COMO REQUISITO PARA OBTENÇÃO DO GRAU DE BACHAREL EM GEOGRAFIA UMA ABORDAGEM GEOGRÁFICA DA DISTRIBUIÇÃO DA DENGUE NO ESPAÇO SOTEROPOLITANO JOSÉ EDUARDO BARRETO CRUZ EMANUEL FERNANDO REIS DE JESUS (ORIENTADOR) SALVADOR – 2006.1

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS

DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA

MONOGRAFIA SUBMETIDA Á AVALIAÇÃO COMO REQUISITO PARA OBTENÇÃO DO GRAU DE BACHAREL EM GEOGRAFIA

UMA ABORDAGEM GEOGRÁFICA DA DISTRIBUIÇÃO DA DENGUE NO ESPAÇO SOTEROPOLITANO

JOSÉ EDUARDO BARRETO CRUZ

EMANUEL FERNANDO REIS DE JESUS (ORIENTADOR)

SALVADOR – 2006.1

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS

DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA

JOSÉ EDUARDO BARRETO CRUZ

UMA ABORDAGEM GEOGRÁFICA DA DISTRIBUIÇÃO DA DENGUE NO ESPAÇO SOTEROPOLITANO

MONOGRAFIA SUBMETIDA Á AVALIAÇÃO COMO REQUISITO PARA OBTENÇÃO DO GRAU DE BACHAREL EM GEOGRAFIA

ORIENTADOR: EMANUEL FERNANDO REIS DE JESUS

SALVADOR – 2006.1

AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar quero agradecer a minha mãe, que esteve sempre presente, me

ajudando como podia, com seu jeito tranqüilo.

Agradecer também aos funcionários da biblioteca, Gil, Dona Zefa, Zeca e Dona Aladia

por me atenderem sempre com muito carinho, e em especial, a Joceane Cristina,

Coordenadora da Biblioteca, por entender meus atrasos nas entregas dos livros.

Fica um grande agradecimento ao Professor Emanuel Reis, que com muitas risadas e

conselhos me orientou e me conduziu a este momento de satisfação.

Á todos os professores de Geografia, em especial a Professora Maria Elvira agradeço o

carinho e a preocupação com o desenvolvimento deste trabalho, esteve sempre atenta

pra que eu pudesse terminar no prazo correto.

E não poderia deixar de agradecer a Profª Maria da Glória Teixeira, do Instituto de

Saúde Coletiva – ISC, UFBA, que me permitiu assistir as aulas da disciplina de

Epidemiologia, como aluno ouvinte, que muito enriqueceu este trabalho.

Araori Coelho, obrigado pelos mapas, Isaías obrigado pela ajuda.

E por final aos amigos e namorada por entender os momentos que os abandonei.

OBRIGADO A TODOS !

FRASE

O QUE É GEOGRAFO DEPENDERÁ DA POSTURA POLÍTICA, DO

ENGAJAMENTO SOCIAL, DE QUEM FAZ GEOGRAFIA.

ASSIM EXISTIRÃO TANTOS GEOGRAFOS, QUANTO FOREM OS

POSICIONAMENTOS SOCIAIS EXISTENTES.

EXPLICAR O QUE É GEOGRAFIA, PASSA A SER A EXPLICITAÇÃO DO

CONTEÚDO DE CLASSE SUBJACENTE A CADA PROPOSTA.

Antonio Carlos Robert Moraes

RESUMO

Segundo a Organização Mundial da Saúde – OMS, a saúde é o pleno estar

físico, mental e social do ser humano, sendo assim, a geografia como uma ciência de

investigação sócio-ambiental é privilegiada para analisar as condições ambientais e de

saúde, pois sua abordagem espacial facilita a compreensão dos fatores físicos e

humanos.

A partir dessa perspectiva anterior, esta pesquisa monográfica procura mostrar o

quanto a ciência geográfica pode ser importante na investigação da relação

saúde/doença, através do conceito do espaço geográfico.

Neste trabalho a análise da ocorrência dos casos de dengue no espaço urbano de

Salvador durante o período de 2000 a 2003, é feita através da pluviosidade, um dos

elementos mais importante para determinar o clima da região tropical.

A geografia da saúde é resgatada através do entendimento de sua importância no

processo saúde/doença, visto que a doença não pode ser entendida exclusivamente a

partir da doença e daí compreender como esta se prolifera, mas investigando a partir do

espaço geográfico, entender como este é responsável pela produção das condições de

proliferação da doença, ou seja a espacialização da doença.

Palavras chaves: Geografia da saúde, espaço geográfico, análise espacial,

Pluviosidade, dengue, saúde e doença.

LISTA DE FIGURAS, TABELAS E MAPAS

FIGURAS

Figura 1 – Imagem de satélite de Salvador ......................................................................... 18

Figura 2 – Casos de dengue por estação do ano – 2000 ...................................................... 35

Figura 3 – Pluviosidade por estação do ano – 2000 ............................................................ 35

Figura 4 – Dengue X Pluviosidade por estação do ano – 2000 ........................................... 36

Figura 5 – Casos de dengue por estação do ano – 2001 ...................................................... 41

Figura 6 – Pluviosidade por estação do ano – 2001 ............................................................ 42

Figura 7 – Dengue X Pluviosidade por estação do ano – 2001 ........................................... 43

Figura 8 – Casos de dengue por estação do ano – 2002 ...................................................... 47

Figura 9 – Pluviosidade por estação do ano – 2002 ............................................................ 49

Figura 10 – Dengue X Pluviosidade por estação do ano – 2002 ......................................... 50

Figura 11 – Casos de dengue por estação do ano – 2003 .................................................... 52

Figura 12 – Pluviosidade por estação do ano – 2001 .......................................................... 54

Figura 13 – Dengue X Pluviosidade por estação do ano – 2002 ......................................... 54

Figura 14 – Dengue X Pluviosidade por estação do ano – 2000-2003 ............................... 57

MAPAS

Mapa 1 – Salvador – 2006 ................................................................................................... 7

Mapa 2 – Salvador – Setores geoecológicos – 2006 ........................................................... 20

Mapa 3 –Distribuição espacial da dengue – Salvador – 2000 ............................................. 32

Mapa 4 – Distribuição espacial da dengue – Salvador – 2001 ............................................ 39

Mapa 5 – Distribuição espacial da dengue – Salvador – 2003 ............................................ 53

Mapa 6 – Distribuição espacial da dengue- Salvador – 2002 ............................................. 46

TABELAS

Tabela 1 – Salvador – Número de casos de dengue – 2000 ................................................ 30

Tabela 2 – Salvador – Pluviosidade – 2000 ........................................................................ 31

Tabela 3 – Salvado – Distribuição espacial da renda dos chefes de família por faixas de rendimento – 1991 ............................................................................................................... 33

Tabela 4 – Salvador – Número de casos de dengue – 2001 ................................................ 37

Tabela 5 – Salvador – Pluviosidade – 2001 ........................................................................ 38

Tabela 6 – Salvador – Número de casos de dengue – 2002 ................................................ 44

Tabela 7 – Salvador – Pluviosidade – 2002 ........................................................................ 45

Tabela 8 – Salvador – Número de casos de dengue – 2003 ................................................ 51

Tabela 9 – Salvador – Pluviosidade – 2003 ........................................................................ 51

SUMÁRIO

1 – Introdução ...................................................................................................................... 1

2 – Objetivos........................................................................................................................ 8

2.1 – Geral .................................................................................................................... 8

2.2 – Especifico ............................................................................................................ 8

3 – Justificativas .................................................................................................................. 9

4 – Referencial teórico ......................................................................................................... 10

4.1 – Evolução dos estudos da geografia da saúde ....................................................... 10

5 – Universo de análise........................................................................................................ 17

5.1 – Compartimentação geoecológica da cidade de salvador ..................................... 19

5.2 – Aspectos climáticos ............................................................................................. 21

6 – Metodologia ................................................................................................................... 24

7 – A dengue e sua evolução no espaço brasileiro .............................................................. 25

8 – Análise dos dados .......................................................................................................... 30

9 – Considerações finais ...................................................................................................... 56

Referências bibliográficos ................................................................................................... 60

APRESENTAÇÃO

O presente trabalho cujo tema é “Uma abordagem geográfica da distribuição da

dengue no espaço soteropolitano”, foi desenvolvida com uma proposta de estimular a

discussão da saúde por um viés geográfico, a geografia como uma ciência de

investigação sócio-ambiental é privilegiada por discutir os aspectos físicos e humanos

de forma indissociável, contribuindo para uma nova abordagem nos estudos referentes

à saúde/doença.

“A ciência clássica se orientava pelo paradigma da redução e

da simplificação. Antes de mais nada, arrancava-se o

fenômeno de seu ecossistema para analisá-lo em si mesmo.

Excluí-se tudo que fosse meramente conjuntural, temporal e

ligado a contingências passageiras” (BOFF,2000).

A possibilidade que a geografia insere nesse novo contexto de estudo é poder

através do conceito de espaço geográfico entender as enfermidades e a saúde partindo

do espaço e compreender com este produz condições para o desenvolvimento das

doenças e da saúde.

É importante destacar que este estudo não está concluído, pois muito se tem a

trabalhar, sobre este tema, é um tema em que os dados são muitas das vezes

subnotificados, de difícil acesso e saúde não é efetivamente interessante por parte

1. INTRODUÇÃO

O Mundo contemporâneo vem assistindo uma série de sucessivas e gradativas

tragédias naturais e conseqüentemente de difusão de novas enfermidades e de outras que

por longo tempo era tida como abolidas de nosso convívio, e que agora ressurgem de

maneira até mais rápida e intensa em sua proliferação, incidência e contágio.

Nesta era globalizada, as doenças e patogenos ignoram fronteiras e

podem se disseminar literalmente a jato, representando uma ameaça real, a

saúde publica mundial. Neste contexto, é importante ressaltar o quanto o

Espaço Geográfico, o objeto de estudo da Geografia, passa a ser alvo de

estudos nas diversas áreas do conhecimento, sobretudo aquelas preocupadas

com a questão da saúde e do planejamento urbano, pela sua significativa

importância diante da relação sociedade e natureza e sua correlação na

profusão da saúde e das doenças.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a Saúde é o pleno bem

estar físico, mental e social do homem.

Diante desse conceito, é interessante salientar o quanto á análise do espaço

geográfico, dentro do contexto dos estudos em epidemiologia é particularmente

proveitoso no momento atual, em que existe uma maior percepção da importância do

meio ambiente sobre a existência da humanidade, quer no plano físico, psíquico e

social.

A modificação do espaço gerado em conseqüências de ações

antrópicas determinando alterações ecológicas significativas na relação do

homem com seu meio, e conseqüentemente os efeitos colaterais causados

por esses processos de transformações contribuem para maior circulação dos

agentes infecciosos, através das mudanças de seu habitat natural.

O estudo da Geografia vinculado aos conhecimentos da saúde tem registro desde

Hipocrates, ha 480 AC, ou seja, nasce com o próprio nascimento da medicina, em sua

celebre obra publicada e intitulada “Ares, Águas e Lugares”, do interesse existente

pela relação entre as condições atmosférica e as doenças, sendo este o primeiro embrião

do estudo terapêutico da influência do clima sobre o homem.

Por ter sido considerada por um longo tempo uma ciência de síntese entre as

disciplinas da natureza e das sociedades, a geografia teve grandes dificuldades de

afirmação no campo cientifico. A imprecisão e o conseqüente retardamento na definição

do seu objeto de estudo, tornou problemática a sua aceitação no meio acadêmico.

No século XVI, a aproximação do saber médico e a geografia foram

impulsionadas com os grandes descobrimentos continentais, que colocaram a

necessidade de se conhecer as enfermidades nas terras conquistadas, visando à proteção

de seus colonizadores e ao desenvolvimento de suas atividades comerciais.

Mas, somente no século XIX, na Alemanha, com a sistematização do saber

geográfico, através de Alexander Von Humboldt, é que a geografia, passa a ter uma

maior importância e seu estudo torna-se valorizado no campo das ciências e passa a ser

efetivamente uma disciplina acadêmica diante de um contexto político-territorial vivido

pela Europa ainda no final do século XIX, na Alemanha de Ratzel.

Portanto, não é coincidência nem pecado original que o status acadêmico da geografia tenha institucionalizado um conhecimento útil para revelar, controlar e dominar territórios, para fazer guerra, bem como para desvendar riquezas ocultas nas terras distantes que alimentavam aventuras comerciais coloniais e imperialistas dos séculos XIX e XX. (CASTRO, 2006)

Neste mesmo período, Max Von Pettenkofer, higienista alemão

considera a influência de elementos da geografia física como o solo e a água

na ocorrência e distribuição da cólera em Londres.

Ainda nessa linha de abordagem, os estudos enfatizando o impacto

do ambiente, especialmente o clima, sobre as condições de saúde do homem

continuou a ser produzidos e valorizados no inicio do século XX,

principalmente através das teorias de Max Sorre, com a teoria do complexo

patogênico e Pavlovsky, com a teoria do foco natural, favorecendo a

concepção da doença como resultado do desequilíbrio natural. Para Sorre, o

clima tinha um papel especial entre os elementos da natureza.

O espaço como uma totalidade é uma instância da sociedade, ao mesmo tempo em que as instâncias econômicas e cultural-ideológicas. Os seus elementos homens, instituições, meio-ecológico e as infra-estruturas estão submetidas às variações qualitativas e quantitativas, embora como realidade sejam uno e total (SANTOS, 1992).

Neste momento então há um novo contexto histórico das sociedades e das

ciências, a geografia tem no espaço geográfico seu objeto de estudo.

Dentro deste mais recente contexto e passando a trabalhar na interface do

conhecimento físico e social, a Geografia desponta neste momento como uma ciência

privilegiada para analisar as condições ambientais e de saúde, pois em seu objeto de

estudo, o espaço geográfico, facilita a compreensão dos aspectos físicos e humanos de

uma forma indissociável.

É no campo dos estudos das enfermidades vinculadas a

epidemiologia, porém que a Geografia oferece uma nova perspectiva de

análise, visto que, ao invés de partir da doença e analisar como esta se insere

no contexto, parte-se da totalidade, o Espaço Geográfico, analisando como

este criou condições de ocorrência da doença (Silva, 1997). É através desta

análise que mais recentemente o estudo das doenças e da saúde pela

Geografia tem se intensificado, pois a qualidade de vida do homem se

configura em um bom indicador ambiental.

A influência do meio ambiente na saúde do homem é inegável. O individuo não pode ser visto isoladamente, e existe uma permanente interação entre o ser humano e o que o cerca (CARVALHO, 1997).

No momento em que ocorre um aumento da concentração de pessoas nas

cidades, principalmente nas grandes Metrópoles, sem as devidas infra-estruturas de

saneamento básico, reflexo de um processo de urbanização caótica, fruto das ocupações

desordenadas dos espaços, sem um planejamento eficiente, a partir dos anos de 1970, no

Brasil, conjugado a um baixo nível de escolaridade e de renda da população, além das

precárias condições de moradias e de um maior movimento migratório, a cidade torna-

se um lugar de grande preocupação e medo, por expor ao homem uma maior

vulnerabilidade as doenças e proporcionar uma maior circulação dos vetores

transmissores das doenças urbanas.

No plano ambiental urbano, o que mais influencia a saúde humana é o clima,

pois direta ou indiretamente seus elementos são os responsáveis pelas condições

positivas e negativas em que vive o ser humano. As chuvas, a temperatura e a umidade

relativa do ar são elementos extremamente importantes no desenvolvimento e

disseminação de inúmeras doenças.

A complexidade das interações entre as atividades humanas e o ambiente cresce, portanto, na medida em que atualmente o

processo de urbanização avança cada vez mais no mundo de hoje. As transformações ocorridas na natureza e a atuação dos mecanismos que lhe são peculiares são capazes de, em circuitos contínuos de feedback positivos e negativos, gerar novas situações e processos cada vez mais complexos, forçando a novas adaptações ou ajustamentos da sociedade, e com elas, posteriores repercussões ambientais (DETWYLER e MARCUS, 1972; TITARELLI, 1972 e SCHMID, 1974).

Para poder comprovar estas palavras anteriores, estudos apresentados pelo

Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) em seu último anuário

mundial do Meio Ambiente 2004-2005 afirmam o que não é mais novidade no meio

cientifico internacional, a associação do surgimento de novas doenças infecciosas e o

ressurgimento de outras erradicadas às mudanças climáticas que atinge o planeta.

Ainda segundo esses estudos, as variações climáticas podem agravar

as ameaças de doenças infecciosas de três maneiras: aumentando a

temperatura das áreas sobre as quais diversas doenças e seus portadores se

desenvolvem, alterando os habitats naturais; acelerando o ciclo reprodutivo

e através dos seus refugiados ambientais, que poderá favorecer a

disseminação de doenças de uma parte a outra, onde a população pode ser

mais vulnerável.

A problemática ambiental e o (re)surgimento de doenças infecciosas,

devido principalmente às alterações climáticas, compõem hoje uma questão

complexa que preocupa não só as comunidades cientificas, médicas,

sanitárias e autoridades de todo o mundo como também se torna

preocupação da população como um todo, em função da rapidez e

intensidade da sua proliferação e contágio, apesar de todos instrumentos

técnicos disponíveis que existem hoje para se detectar a doença.

Sendo assim, as questões relacionadas ao clima, tanto em escala macro,

aquecimento global, quanto em escala micro, o aquecimento urbano, com as variações

climáticas e seus impactos produzidos pelo homem têm um papel de fundamental

relevância na condição de saúde/doença humana, na ecologia dos insetos e na

distribuição espacial das doenças transmissíveis e infecciosas, dentre elas a malária, a

febre amarela, a cólera e a dengue, esta última, objeto deste estudo.

A Dengue, uma arbovirose transmitida pelo vetor Aedes Aegypti, é uma

enfermidade predominantemente urbana, pois é neste ambiente, segundo Costa e Natal

(1998):

que se encontra os requisitos imunológicos e epidemiológicos principais para desenvolver a doença; o Homem, o vírus, o vetor, e principalmente as condições político econômicas e culturais que formam a estrutura, que permite o estabelecimento da cadeia de transmissão.

A Dengue é uma doença socialmente complexa, a sua susceptibilidade é

universal, pois atinge os seres humanos independentemente da classe social,

constituindo-se uma das mais importantes enfermidades transmissíveis no momento, e

ela pode se apresentar clinicamente de duas formas, a Clássica, não letal e a

Hemorrágica, esta letal.

Para o estudo da dengue, é imprescindível considerar os aspectos climáticos,

pois o mosquito, o vetor da doença, o Aedes Aegypti é diretamente influenciado pelas

condições do clima, sendo que estas devem apresentar-se propicias ao desenvolvimento

do mesmo.

No Brasil o primeiro caso suspeito foi em 1916, na cidade de São Paulo, mas em

função das dificuldades técnicas laboratoriais da época e dos sintomas da doença serem

parecidos com outras enfermidades, o que dificultava os resultados das análises clinicas,

o país só foi ter verdadeiramente conhecimento dos casos confirmados clínica e

laboratorialmente, no ano de 1981, na cidade de Boa Vista de Roraima, no Estado de

Roraima, na Região Norte do país, com um total de 12.000 casos notificados pela

Secretária de Saúde do Estado.

Após uma breve pausa epidemiológica no país, a Dengue reaparece em 1986, no

Município de Nova Iguaçu, no estado do Rio de Janeiro, Região Sudeste, disseminando

por quase todo o Estado.

Em 1990, a situação vivenciada pela população carioca já era um caso de

epidemia, gerando uma preocupação em todo estado.

Em1996, apenas dez anos depois do reaparecimento da enfermidade, o problema

ultrapassava os limites territoriais cariocas e já se estendia para 18 Estados do Brasil,

em aproximadamente 638 municípios o que gerou uma maior preocupação por parte das

autoridades competentes de saúde pública, reflexo da atuação da mídia na divulgação do

aumento alarmante de pessoas de todas as classes sendo infectadas pelo vírus da

dengue.

A partir de então a dengue passa a ser uma realidade no país e sua disseminação

por quase todo país é transformado em caso de saúde pública.

No estado da Bahia, em especial, o primeiro caso de epidemia foi registrado no

verão de 1987, na Cidade de Ipupiara, pequeno município do sudoeste do Estado,

próximo a cidade de Vitória da Conquista, o sorotipo apresentado foi o DEN-1, com o

registro de 623 casos notificados pela Secretária de Saúde do Estado.

Na cidade de Salvador, o universo de analise deste estudo monográfico, o

primeiro caso de epidemia surgiu em 1995, no verão, com grande numero de pessoas

acometidas pela doença em sua área urbana da cidade, alcançando no mês de abril, deste

mesmo ano, a soma de 5.735 casos notificados, correspondendo a uma incidência de

691,37 casos por 100.000 habitantes e no ano foram cerca de 15.458 casos notificados.

No ano de 1996 ocorre uma nova onda de infestação da Dengue na Cidade com

um total de 10.988 casos notificados no ano epidemiológico. Estes dois anos foram sem

dúvida os mais preocupantes, pelo alto grau de incidência de casos da Dengue, afetando

em muito a população soteropolitana, acarretando um grande custo não só para o Estado

como para as empresas privadas pelo elevado numero de absenteísmo na esfera do

trabalho e na freqüência às escolas, pois a grande parte dos indivíduos acometidos pela

doença, ficam impedidos de desempenharem as suas atividades habituais, acamados,

sua convalescença é demorada, trata-se de uma doença incapacitante pelo menos por 5 a

10 dias, em função dos sintomas manifestados.

A partir desses dois anos de maior impacto nos casos notificados da doença, os

trabalhos informativos e educacionais realizados pelo Ministério da Saúde e pelas

Secretárias de Saúde do Estado e do Município de Salvador, fizeram a diferença nos

números de notificações, pois houve uma queda considerável, alcançando em 1999, a

menor taxa de notificação, com cerca de 608 casos notificados e uma taxa de incidência

de 16,8 casos por 100.000 habitantes. (TEIXEIRA, 2001)

A partir do ano de 2000, ano base deste trabalho, ocorreram 792 novos casos

notificados pela Secretaria de Saúde do Município de Salvador (tabela 1), ocorrendo um

leve aumento em relação ao ano anterior, no ano de 2001 ocorreu uma elevação para

1.957 casos notificados, no ano de 2002 foram 26.971 casos notificados, um alarmante e

preocupante aumento e no último ano para efeito de analise deste trabalho, no ano de

2003, foram notificados 1.025 novos casos na cidade de Salvador.

É com base nesses dados de notificação da dengue e pelos dados de

pluviosidade fornecidos pelos órgãos oficiais que são apresentados neste trabalho, que

iremos tentar entender como a intensidade das chuvas, na cidade de Salvador, um dos

elementos do clima que mais determina as condições de vida da população

soteropolitana, já que a cidade estar localizada em uma faixa da região tropical, no qual

a mudança do tempo está muito mais ligada às condições pluviométricas do que a

mudança de temperaturas pode ser responsável pela incidência da Dengue na cidade de

Salvador e a partir destes resultados encontrados, poder contribuir para melhor planejar

o seu controle e para gerar uma efetiva discussão das condições de saúde da população

por um viés geográfico, tão escasso em Salvador.

Mapa 1 – Salvador – 2006

Base cartográfica: CONDER. Município de Salvador – Uso do solo. Escala 1:25.000. Salvador, 1983. Elaboração: Eduardo Barreto; Araori Coelho.

2. OBJETIVOS

2.1. OBJETIVO GERAL

A reintrodução da Dengue no território nacional e sua rápida expansão por todas

as regiões do país constituem-se em um inquestionável problema de saúde pública,

ocasionando um impacto negativo nas condições de vida da população, no sistema

produtivo e no próprio sistema de saúde, pelos seus custos elevados com ações de

controle.

Diante desses pressupostos, proponho nesta Monografia de Bacharelado em

Geografia pela Universidade Federal da Bahia-UFBA, contribuir para preencher uma

lacuna deixada por pesquisadores da área da Geografia, quanto ao estudo desta natureza

no plano urbano, desenvolvendo uma abordagem geográfica da distribuição da Dengue

no espaço urbano Soteropolitano, utilizando os dados de pluviosidade mensal como

parâmetro de investigação da (co) relação, existente entre a Dengue e a chuva no

período do ano de 2000 até o ano de 2003, por esta infecção ter sido desde 1995 até o

momento a de maior repercussão e mobilização em todo país, principalmente em

Salvador, com um alto índice de infestação.E por entender que a geografia possui

grandes instrumentos metodológicos e conceituais para analisar as condições ambientais

e de saúde.

2.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Os objetivos específicos deste trabalho encontram-se diretamente envolvido nas

necessidades de buscar encontrar através dos dados obtidos, respostas para o objetivo

geral, sem ordem de relevância, já que todos fazem parte do mesmo trabalho, tais como:

- A distribuição geográfica da Dengue no Espaço Soteropolitano

- Localizar as áreas de maior ocorrência da doença.

- Produção de mapas temáticos da distribuição da Dengue em Salvador.

- Investigar se há correlação ou relação entre a chuva e a Dengue.

- Determinar os períodos de maior ocorrência de Dengue em Salvador.

3. JUSTIFICATIVAS

O que justifica a realização deste trabalho monográfico é ter a possibilidade de

preencher um vazio existente nos trabalhos realizados pelos pesquisadores na área da

Geografia Médica em Salvador.

A Geografia da Saúde, desde a sua origem, tem sido calcada na resolução de

problemas, permitindo a identificação de lugares e situações de risco ou de abandono

público, o planejamento territorial de ações de saúde e o desenvolvimento das

atividades de prevenção e promoção de saúde.

Neste contexto torna-se relevante tentar reafirmar o reconhecimento histórico da

utilidade da Geografia para compreensão do processo saúde-doença e potencializar um

diálogo escasso, muito mais por parte dos Geógrafos, entre a Geografia e os

Profissionais da área de saúde, pois a Geografia como uma ciência do espaço social,

torna-se uma ciência privilegiada para analisar as condições de saúde.

4. REFERENCIAL TEÓRICO

4.1 EVOLUÇÃO DOS ESTUDOS DA GEOGRAFIA DA SAÚDE

O estudo das relações Homem e Saúde, Homem e Doenças por muito tempo

foram responsabilidade dos médicos e higienista, sobretudo através de um enfoque

analítico ambiental, quando não divino.Aqueles que tinham uma rara percepção do

espaço restavam dois caminhos bem diferentes.

O primeiro caminho levava a um conhecimento apoiado pela filosofia, uma

relação mais Humanística e natural da relação, descrevendo o espaço para suas análises

sanitárias, principalmente o efeito do clima na saúde da população.

O segundo caminho percorre labirintos utilitaristas, ideológicos, em pró das

idéias colonialista/imperialistas o espaço vai ser usado para produção de conhecimento

que priorize a saúde para o acumulo de capital, através do saber territorial.

Os Geógrafos, importantes cientistas sociais, que procuram investigar o uso do

espaço como caminho para entender as possibilidades que o Homem tem de ser feliz em

seu espaço de vida, encontra na saúde esta possibilidade, afinal a ONU estabelece que a

Saúde é muito mais que a falta de doença, mas o estado de bem estar físico, social e

mental.

Atribui-se a Hipocrates, há 480 AC, o primeiro registro sobre a relação entre a

doença e o ambiente onde ela ocorre. Em seu celebre livro “Ares, Águas e Lugares”

além de enfatizar a importância do modo de vida dos indivíduos, analisa também a

influência dos ventos, da água, do solo e da localização das cidades em relação ao sol,

na ocorrência das doenças.

Por um longo tempo a Geografia passou a se preocupar com a distribuição dos

fenômenos e processo da natureza, apesar de alguns esforços individuais e inconstantes,

não incorporou cedo na sua leitura de síntese, de maneira efetiva e cientifica, e como

preocupação central de seus estudos, o estado biopsicosocial do Homem. E por isso a

Ciência Geográfica ficou afastado de um estudo Interdisciplinar, um estudo em que a

saúde das pessoas fosse um produto de suas análises.

Aproximação do saber Geográfico e a Saúde Médica só vão tornar-se realidade

para o mundo a partir do Séc. XVI com as grandes descobertas marítimas e

conseqüentemente as grandes invasões de territórios, nos continentes, americanos,

africanos e asiáticos.

A partir deste momento então, a doença, passa a ser vista não só como uma

dimensão biológica e divina, mas, sobretudo geopolítica e econômica, através do uso do

território pelas grandes corporações médicas. E o uso do território é uma análise que

privilegia a Geografia.

Neste instante a Geografia tem uma grande importância no planejamento das

políticas colonialistas, pela necessidade que se fazia na época de conhecer o estado de

salubridade ou insalubridade das terras longínquas conquistadas, visando

exclusivamente à proteção de seus colonizadores e ao desenvolvimento das atividades

econômicas, pré-capitalistas, de acumulação de capital.

É importante enfatizar que esses conhecimentos geográficos foram

utilizados através de profissionais da medicina, quase todos eles militares,

subordinados as principais potencias coloniais.

No final do Séc. XIX período de uma nova etapa do imperialismo colonial, uma

colonização mais efetiva, conquistadora e usurpadora de território e de riquezas

naturais, para suprir novas necessidades de um processo de Industrialização na Europa

em franco desenvolvimento, Ratzel, 1882, com seu celebre livro “Antropogeografia”,

que dentre outras idéias, preconizava a relação Homem-Natureza, de modo que as

características geográficas, principalmente o clima exerciam sobre o Homem uma

grande influência no seu modo de vida, primeiro na Fisiologia (somatismo), na

Psicologia (caráter) e por fim na Sociedade.

É através desta concepção que se confere a certas doenças infecciosas e

parasitárias específica de uma faixa latitudinal do globo terrestre, o estigma de “doenças

tropicais”.

É neste contexto político territorial, determinista e utilitarista, que ocorre a

consolidação da forma moderna do Estado, às conquistas territoriais européias do Séc.

XIX, que se produz também idéias preconceituosas da “indolência do Homem Tropical”

ou o subdesenvolvimento como fonte da tropicalidade, que até hoje ainda se faz

presente no imaginário, no Brasil, quando se refere aos povos nordestinos.

Ainda neste período, observa-se uma intensa discussão entre aqueles que

acreditavam que as doenças resultavam de miasma (exalação, sopro), Teoria

miasmática, e os que acreditavam que estas eram causadas por organismo contagioso

propagado pelo contato ou objetos contaminados, Teoria do contágio.

Na linha da Teoria do Contagio, destaca-se o trabalho do Médico Inglês Snow,

1850, considerado um marco na Epidemiologia, que através da distribuição espacial da

Cólera em Londres, determinou a sua via de transmissão.

No final do Séc. XIX surge em conseqüência do desenvolvimento da

Microbiologia, a concepção da Etiologia infecciosa das doenças, privilegiando o Agente

e considerando como secundário o papel de outros fatores, inclusive a natureza.

Contrapondo-se à hegemonia desta Teoria, destaca-se o trabalho de Pettenkofer,

que sem negar a influência do Agente Biológico, este Higienista alemão, considerava a

importante influência dos elementos da Geografia Física como o solo, a água na

ocorrência e distribuição do Cólera em Londres.

Os estudos enfatizando o Impacto do Ambiente em especial o Clima sobre as

condições da Saúde do Homem voltam a ser valorizado e produzido mais intensamente

no início do Séc. XX, com a constatação de que somente a presença do Agente não era

suficiente para a produção de enfermidades e no aparecimento de determinadas

nosologias nas quais não são possíveis identificações de um Agente Etiológicas.

O resultados destes estudos são reforçados através das Teorias do Foco Natural,

em 1939, pelo Soviético Pavlovsky, parasitologistas, que durante três décadas orientaria

diretamente ou indiretamente as investigações e os planejamentos públicos em Saúde no

mundo e principalmente no Brasil.

Em 1943, na França, Maximilien Sorre, Geógrafo, publicou sua obra prima,

“Lês Fondamentos de Geographie Humaine”, dividido em três tomos, “El Clima y el

Hombre”, “Ambiente Vivo y Alimentacion Humana”, e o “El Ambiente Humano em

Lucha contra el Ambiente Vivo”.

Neste trabalho Sorre tem uma grande e importante preocupação teórica: fornecer

uma base conceitual á geografia médica que permitisse a investigação de natureza

interdisciplinar.

É dentro desta linha de trabalho que Sorre desenvolve a Teoria dos “Complejos

Patogenos”. Neste momento surge de forma metodológica, científica e conceitual a

relação entre a Geografia e a Saúde, por ser considerada a primeira análise das questões

ambientais e sua influência Humana.

A importância da Geografia Médica se concretiza ao constituir-se em Lisboa, a

Comissão de Geografia Médica da UGI em 1949 e em seu informe apresentado em

1952, porém 40 anos depois no Congresso da UGI em Washington, se modifica o nome

da Comissão para Ambiente, Saúde e Desenvolvimento.

O termo Geografia Médica é ainda muito questionado, de que seu sentido

seja inadequado. Picheral defende a expressão Geografia da Saúde, Jusatz,

defende o termo Geomedicina, encontra-se ainda referências á

Epidemiologia Espacial, Medicina Ambiental, e outros estudos produzidos

em áreas afins.

No Brasil a contribuição do Prof° Afrânio Peixoto, médico, em meados do Séc.

XIX foi de grande relevância, a partir da criação de paradigmas da Salubridade,

Adaptação, Higiene e Saúde Pública.

Ardoroso defensor do Mundo Tropical contra os preconceitos detratores deste

ambiente, que apregoavam a “natural inferioridade dos povos da faixa Tropical.

(SANT’ANNA, 2004). Em 1907 Peixoto, publicou seu primeiro estudo sobre a relação

Clima e a doença no Brasil, para ele era fundamental derrubar e desmascarar as teses

deterministas e se construísse uma nova analise da terra e do Homem dos Trópicos, a

partir dos Trópicos, sobretudo por que naquela época, civilizar era europeizar.

Em 1938, em seu trabalho “Clima e Saúde”, realizou uma excelente análise das

condições climáticas associadas às enfermidades e a Saúde Pública, demonstrando que

mais que a influência do Clima, são as condições de higiene e salubridade, portanto, os

aspectos sócio-econômicos que passam a definir as novas áreas endêmicas.

Peixoto também criou novos conceitos, como, por exemplo, a Meteoropatologia,

relacionando os tipos de Clima com os casos de morbidez, epidemias e endemias.

Adalberto Serra, meteorologista do IBGE, publicou em 1929, Ainda como

professor da Universidade Politécnica do Rio de Janeiro, um de seus primeiros trabalhos

de natureza Bioclimatica na interface entre o clima e a Psicologia – o suicídio no Rio de

Janeiro. Publica também na revista Brasileira de Medicina, em 1963, um estudo de

interpretação dos dados climatológico do Brasil relacionando com enfermidades,

desenvolvendo um grande estudo das influências dos fatores climáticos sobre o

metabolismo humano, responsável por inúmeras doenças, aferição de índices de

civilização e fenômenos migratórios.

Outra grande contribuição para o entendimento da saúde da população brasileira

é manifestada através do livro Geografia da Fome, produzido em 1964 por Josué de

Castro, Médico Geógrafo, que elaborou cientificamente uma singular análise geográfica

da saúde alimentar, com utilização da cartografia, o que seria hoje conhecida como

Cartografia Temática, Castro fez um mapeamento de todo o espaço geográfico

brasileiro se preocupando mais com uso político e econômico do território do que com

sua simples descrição paisagística, produzindo assim as principais respostas para

desvendar as verdadeiras causas da fome e da subnutrição que passava o povo brasileiro

de norte a sul.

Diante a desorganização mundial da vida humana e a proliferação de processos

tantos antigos quantos atuais de destruição da saúde, surge então uma nova perspectiva

de estudos, uma perspectiva menos descritiva e mais relacional e investigativa, visto

que, as estratégias do uso seletivo e hegemônico do território passam a ser importante

para determinação dos focos de doenças e da produção de saúde, podemos encontrar um

novo ciclo de estudos relacionado à Geografia da Saúde a partir do século XX,

principalmente a partir de 1972, quando da realização do encontro de.

Estocolmo, na Suécia, de cientistas e representantes de Estados, para discutir o

problema ambiental no mundo, principalmente o relacionado ao Clima.

No Brasil, o rápido processo de urbanização com pouca proteção e

responsabilidade sócio-ambiental e planejamento alcançado a partir dos anos de 1970,

gerou conseqüências ambientais negativas e profundas nas cidades, tornando o estudo

do meio ambiente urbano um desafio constante para os cientistas de todas as áreas do

conhecimento, principalmente pelo reflexo no dia a dia da saúde dos seus habitantes.

Neste novo período, período de ressurgimento da Geografia da Saúde destaca-se

Carlos Lacaz, médico, em1972, através do livro “A Introdução à Geografia Médica”,

teve uma grande contribuição para o desenvolvimento da Geografia Médica no Brasil,

através de um estudo utilizando as fronteiras do conhecimento biológico-geográfico,

tornando-se assim uma referência para quem pretende desenvolver pesquisa nesta área

do conhecimento.

Francisco Mendonça, geógrafo, que tem contribuído muito para um maior

desenvolvimento e reconhecimento dos geógrafos brasileiros na produção de trabalhos

científicos na linha da Geografia da Saúde.

Em destaque três trabalhos de Mendonça, o primeiro, ‘Aspectos da interação

clima ambiente-saúde Humana: da relação Sociedade-Natureza à (in) sustentabilidade

ambiental. Neste trabalho é abordado com muita relevância o impacto do clima sobre a

sociedade repercutindo na condição de saúde humana e chamando ao debate os

geógrafos para a importância deste campo de estudo e pesquisa, visto que ha uma

grande lacuna existente dentro da Geografia.( MENDONÇA, 2000)

“Aquecimento global e saúde: uma perspectiva geográfica” é um trabalho que

tem o problema das mudanças climáticas globais, ainda que discutível a maior

preocupação de Mendonça, principalmente na proliferação e reintrodução de doenças

infecciosas e transmissíveis pelo mundo.( MENDONÇA, 2003)

E o mais recente trabalho apresentado no VI Simpósio Brasileiro de

Climatologia Geográfica – SBCG, em que aborda a evolução da Dengue na Região Sul

do Brasil numa perspectiva de mudança climática global.

No VI SBCG, ocorrido em Aracaju, 2004, uma série de trabalhos foi

apresentada, dando ênfase aos estudos da Geografia da Saúde, contribuindo para

reafirmar que existe interesse do Geógrafo nesta linha de estudo, principalmente a

influência climática sobre a proliferação da Dengue no Brasil, doença de maior

repercussão nos últimos anos no cenário urbano do país.

O trabalho elaborado Sparandio e Pitton, Unesp, foi baseado na utilização dos

índices de pluviosidade e a incidência da Dengue, representando uma contribuição

importante para o melhor uso das políticas públicas de Saúde e do planejamento

ambiental urbano. Segundo Sperandio, a Geografia como uma ciência social é

privilegiada para analisar as condições ambientais e de saúde, pois sua abordagem

espacial facilita a compreensão dos fatores físicos e humanos (SPERANDIO, 2004).

O trabalho elaborado por Araújo, UFMA, fez uma relação entre o clima urbano e

a saúde da população da Cidade de São Luis no Maranhão, dando ênfase na

espacialização da área de atuação do mosquito da Dengue, o Aedes Aegypti (ARAUJO,

2004).

Damasceno, utilizando-se do termo Climatologia Médica, preocupou-se com a

proliferação da Dengue usando os elementos climáticos, Temperatura, Pluviosidade e

Umidade como instrumento de análise, na cidade de Presidente Prudente em São

Paulo.(DAMASCENO, 2004).

Com relação à Cidade do Salvador, a maioria dos trabalhos temáticos, foram

desenvolvidos no nível de dissertação e artigos científicos publicados em

periódicos tanto no ambiente da geografia como da ciência da saúde, além

de trabalhos desenvolvidos no nível de Pós-Graduação oriundos de outras

instituições de Ensino Superior, no âmbito da Universidade Federal da

Bahia, UFBA e órgãos de pesquisa de cunho federal, a exemplo da

Fundação Osvaldo Cruz - FIOCRUZ, de cunho Estadual, Divisão de

Epidemiologia do Estado - DIVEP e de cunho Municipal o Centro de

Controlo de Zoonoses, CCZ.

No Instituto de Saúde Coletiva – UFBA/ISC, tem sido elaborados uma série

de trabalhos utilizando o Espaço Geográfico como campo de estudo, o

Espaço Geográfico tem sido apresentado para Epidemiologia como uma

perspectiva singular para melhor apreender os processos interativos que

permeiam a ocorrência da saúde e da doença nas coletividades (TEIXEIRA,

1999).

De acordo com SILVA (1997), pelo fato de a geografia marxista e de a

epidemiologia terem como objeto o centro de uma rede de relações ampla e

complexa que não se coaduna a uma visão metodológica estreita, tornou-se

bastante interessante para esta última o modo como aquela corrente da

Geografia trabalhou a categoria do Espaço, valendo-se da analise do

processo de sua organização como esteio das referidas relações, dando

coerência a um aparente caos.

O Espaço Geográfico tem sido apresentado para a Epidemiologia como uma

perspectiva singular para melhor apreender os processos interativos que

permeiam a ocorrência da saúde e da doença nas coletividades (TEIXEIRA,

1999). A doença passa a ser vista não pelo seu aspecto etiológico ou

humano, mas pelo seu aspecto nosológico também.

Outro trabalho a ser lembrado e de grande importância para o estudo da

geografia da saúde é de Silva Melo, 2003, tese de mestrado no ISC/UFBA que aborda a

progressão espaço-temporal da Dengue no Estado da Bahia entre 1994-2000, utilizando

a malha viária do Estado como fonte para sua análise.

Em Meio Ambiente Urbano e Saúde no Município de Salvador, 1996, Alves de

Carvalho descreve a situação da Cidade de Salvador através de um viés ecológico

aliados aos problemas estruturais de planejamento urbano como parte importante para

discussão dos problemas de saúde e doenças na Cidade.

Vale salientar uma preocupação de Teixeira, quanto ao uso dos conceitos da Geografia

por parte da Epidemiologia, segundo a pesquisadora:

A epidemiologia, assim como a clínica, utilizava os conceitos da geografia sem, contudo estabelecer-se um diálogo entre estes campos do conhecimento, existindo apenas esforços isolados não hegemônicos neste sentido (TEIXEIRA, 1999).

5. O UNIVERSO DE ANÁLISE

O Espaço de Análise proposto para este trabalho é a cidade de Salvador, que

possui uma posição geográfica privilegiada no contexto regional baiano, caracterizada

pelas excelentes condições de tropicalidade que se conjuga a uma marcante presença do

mar e da Baia de Todos os Santos em seu entorno, criando uma paisagem singular de

bem estar profunda não só pela beleza cênica, mas pela agradável brisa oceânica que

passeia pela cidade amenizando o calor tropical.

Salvador, primeira cidade e capital do Brasil colonial, núcleo urbano fundamental do comercio português ao longo de três séculos de colonização, se constituindo no principal porto de todo o Atlântico Sul, chega ao século XXI como uma das mais populosas cidades do Brasil, sede de uma das nove mais antigas regiões metropolitanas do país, com sua área municipal praticamente tomada pelo espaço urbano e exercendo o papel de metrópole regional com hinterlândia (espaço de influência) que supera o limite estadual (ANDRADE, 2006).

Salvador, capital do Estado da Bahia, localizada na Região Nordeste do Brasil,

entre as coordenadas geográficas, latitude 12°47’42”e 13°00’45”S e longitude

38°21’11” e 38°30’36”O, com uma população estimada de 2.631.831 milhões de

habitantes, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatístico - IBGE,

2004, com uma área de aproximadamente 324,5 km e com uma densidade demográfica

em torno de 7.521,08 hab/km, tornando-se a terceira maior cidade do país em

população, constituindo-se em uma Metrópole Regional, com cerca de 3.335.221

habitantes, distribuída por nove cidades que a compõem, Camaçari, Lauro de Freitas,

Dias D’Ávila, Simões Filho, Candeias, Madre de Deus, São Francisco do Conde,

Itaparica e Vera Cruz.

O Sítio da Cidade do Salvador foi inicialmente instalado sobre um reverso de um

resto de planalto altamente dissecado, falha de Salvador, a uma altitude média de

aproximadamente 70 metros, também conhecida como “Horst”, onde hoje está

assentada o Centro Histórico, formado por rochas antigas, integrantes do cristalino

brasileiro, resultante de um movimento tectônico ocorrido no período

Mesozóico/Cenozóico, e estrategicamente localizado no interior da Baía de Todos os

Santos, em sua porção oriental, para ser a capital da colônia portuguesa no Brasil, com

um acesso limitado aos barcos estranhos que navegasse pelo oceano Atlântico a Leste

da Cidade. Percebe-se então, que o sítio da cidade foi muito mais uma escolha de

segurança, uma Fortaleza do que propriamente uma Cidade ( Figura 1 ).

Figura 1 – Imagem de satélite de Salvador – 2006

Fonte: Google Earth, 2006.

Posteriormente a cidade foi se organizando para sua parte do “graben”, cidade

baixa, localizada na planície da costa oriental da Baía de Todos os Santos, onde hoje

estão os Distritos Sanitários do Subúrbio Ferroviário e Itapagipe, formados por uma

estrutura residencial preferencialmente horizontal, com construções de casas em sua

maioria moradias precárias, e sem uma boa infra-estrutura urbana-sanitária e um do pior

nível de renda da cidade.

Posteriormente a cidade continuou a crescer, desta vez no sentido do litoral

oriental da cidade, margeando o mar, formado pelo oceano atlântico, constituindo os

Distritos Sanitários da Barra, Pituba e Itapuã e Boca do Rio sendo o Distrito da

Barra/Rio Vermelho/Pituba com um predomínio de uma estrutura habitacional vertical,

com prédios de classes média e média alta e boa infra-estruturas urbanas e um alto nível

de renda distribuída pelos habitantes.

A região de Itapuã e Boca do Rio ocorre um predomínio de casas, estruturas

horizontais e uma situação socioeconômica menos privilegiada, mas de rara beleza

natural, belas praias e dunas remanescente.

No centro geográfico da cidade, também conhecido como “Miolo” da cidade,

formado pelos Distritos Sanitários do Cabula e Cajazeiras, Cabula, Pau da Lima, área de

ocupação mais recente com uma estrutura mais heterogênea, com predomínio de

moradias modestas e conjuntos habitacionais de classes média baixa e baixa.

Segundo Ab’Saber,

Salvador é um porto profundo e acessível, um sítio elevado e resguardado, varrido por suaves brisas, a cavaleiro de uma das mais extensas muradas rochosas que o litoral brasileiro apresenta, valeram como uma combinação de elementos ideais para que os que decidiram fundar ali a primeira cidade do Brasil, e para os que hoje decidem visitá-las. (GONÇALVES, 1992 apud AB’SÁBER, 1960).

5.1. A COMPARTIMENTAÇÃO GEOECOLÓGICA DA CIDADE DE

SALVADOR

Para efeito de análise do trabalho a Cidade de Salvador foi dividida

através de um zoneamento espacial, em quatros setores espaciais, levando

em consideração sua estrutura geoecológica estabelecida em função de seus

aspectos geológicos, geomorfológico, e de ocupação do solo (Mapa 2, pg.

20).

O Setor I, Orla Atlântica, localizada no setor leste da cidade, formada pela

planície aluvial de influência Fluvio-Marinho holocênica, com reminiscência de antigas

falésias e dunas, encontra-se o setor, em que a seletividade dos instrumentos urbanos e

as condições sócio-econômicas são mais iluminadas, formados pelos “bairros” que

inicia na Barra, passando pela Amaralina, Pituba, Itapuã até Praia do Flamengo.

O Setor II, da Baía de Todos os Santos, BTS, lado Oeste da Cidade, que

abrange os ‘bairros’ da Calçada passando pela Península Itapagipana até o

Subúrbio Ferroviário, ocupando uma faixa estreita da planície e resto de

colinas costeiras margeando a parte oriental da Baía de Todos os Santos, na

zona do Graben da Cidade, mais conhecida popularmente como a Cidade

Baixa e Subúrbio Ferroviário. Setor em que as situações sócio-econômicas e

as condições de moradias e infraestruturas urbanas são a mais escassa ou

“opacas”.

O Setor III, o Miolo da Cidade, assim conhecida desde os estudos do primeiro

Plano de Desenvolvimento Urbano, PLANDURB, da década de 1970, possuindo cerca

de 115 km, uma área formada por um baixo planalto dissecado, colinoso com topos

arredondados e encostas convexas, vales largos e meândricos neste caso com encostas

suaves, encravado no interior da cidade através de uma feição triangular antropizada,

separado pela BR 324, sentido Salvador-Feira de Santana e a Avenida Luiz Viana Filho,

mais conhecida por Paralela, em direção ao litoral norte da cidade.Abrange os “bairros”

Cabula e Pernambués no setor sul até Sussuarana e Pau da Lima no setor norte, setor de

ocupação mais recente da Cidade.

Mapa 2 – Salvador – Setores geoecológicos – 2006

Base cartográfica: CONDER. Município de Salvador – Uso do solo. Escala 1:25.000. Salvador, 1983. Elaboração: Eduardo Barreto; Araori Coelho.

O Setor IV, do Centro Histórico, ocupando uma situação mais elevada, próxima

dos 70 m de altitude, um remanescente planalto bastante dissecado e de espigões,

chamados de “Horst”, e vales abertos com fundos chatos ou amplamente colmatados.

Setor de ocupação Histórica e original do núcleo urbano da cidade, que abrange os

“bairros” do Pelourinho, Brotas, Liberdade, este último localizado no que chamamos de

Plano de Falha, para diferenciar das condições de ocupação.

5.2. ASPECTOS CLIMÁTICOS

Em uma situação privilegiada em relação ao território brasileiro, a Região

Nordeste, situada entre 4° e 16° de latitude sul e 33° e 46° de longitude

oeste, entre a Amazônia e o oceano atlântico, a oeste e leste

respectivamente, e a Região Sudeste ao sul do Brasil, com altitudes médias

em torno de 800m, assume uma relevante importância em relação ao

mecanismo de circulação atmosférica regional, responsável por uma

singularidade em seus aspectos climáticos.

Como característica de uma região tropical, possui pouca variação térmica anual,

oscilando em torno de 26°C a 28°C, á exceção do litoral oriental cujas variações

alcançam 24°C a 26°C e das áreas situadas acima de 200m de altitude que apresentam

médias inferiores a 26°C, alcançando até mesmos valores abaixo 20°C, em certas áreas

da Chapada Diamantina, em sua porção centro ocidental.

Quanto a sua média pluviométrica, a região oscila entre 400 e 700mm ao ano na

maior parte de seu território, área formada pelo clima tropical semi-árido, característica

de uma vegetação da caatinga. Entretanto no litoral sua média anual oscila entre 1600 a

2000mm, caracterizado por uma vegetação remanescente da mata atlântica e

manguezais.E oscilando entre 1000 e 15000mm na Região da Chapada Diamantina.

Estes diferentes quadros de temperatura e precipitação da região nordestina estão

associados à atuação de mecanismos atmosférico também distintos nas suas

características e direções, como a Zona de Convergência Intertropical, ZCIT, Sistemas

Frontais e outros mecanismos de escalas menores, meso-escalas, como as correntes

perturbadoras e as brisas.

A ZCIT, que faz parte da circulação geral da atmosfera, é definida por uma faixa

de baixa pressão e convergência do escoamento nos baixos níveis da atmosfera de

ventos alísios e contra-alisios, próximos a superfície, propiciando condições favoráveis

para o movimento de ar ascendente gerando, em conseqüência as precipitações

regulares, na região intertropical, esse mecanismo atua no território nordestino mais

intensamente no período de Março/Abril, provocando chuvas na parte norte e central da

região, através de um deslocamento sazonal para o norte e para o sul. Em período de

seca, a ZCIT, não cruza, normalmente, a linha do Equador, não atingindo a microrregião

do semi-árido.A ZCIT tem uma estreita relação com o aquecimento das águas do

oceano atlântico tropical, quanto mais aquecida estiver a água no atlântico sul tropical e

mais fria no atlântico norte tropical, haverá mais chuvas no nordeste.

Outro importante mecanismo de produção de chuvas no nordeste é os sistemas

frontais, particularmente, na faixa litorânea oriental da região. Originadas das altas e

médias latitudes, áreas de altas e médias pressões do Hemisfério Sul, formada pelo

contato do anticiclone migratório polar e subtropical. Este mecanismo atua no litoral

durante todo ano, até a latitude 13°S, quando muito alcançando o litoral do Estado de

Sergipe, mais fortemente no período de Outono/Inverno, associado a chuvas contínuas,

intensas e uma leve queda de temperatura.

Além destes mecanismos de grande escala, É também importante para a

complexa estrutura de pequena escala da precipitação no nordeste, a

circulação de meso-escala e escala localizada, induzidas pela topografia e

por convecção úmida resultante do aquecimento da superfície pela radiação

solar e disponibilidade de umidade próxima à superfície, mas capazes de

interferir nas mudanças ou oscilações do comportamento atmosférico da

região.

Associado aos padrões de circulação anteriores descritas, as Correntes

Perturbadoras de Leste, “ondas de leste”, que são vórtices ciclônicos dos altos níveis

que se formam no atlântico sul, com maior freqüência nos meses de verão, quando o

escoamento da alta troposfera sobre a América do Sul é anticiclônico.

O Estado da Bahia, que situado ao sul da região nordeste, caracteriza-se como uma grande área periférica e de transição pra a região sudeste do país. Esta posição geográfica confere-lhe a particularidade de ser uma área da passagem dos referidos sistemas meteorológicos diferenciados e de direções opostas que à semelhança do desempenho na região, contribuem para a complexidade climática do seu território (GONÇALVES, 1992).

A Cidade de Salvador situada na zona litorânea do Estado da Bahia, a altura

do paralelo de 13°S entre a baia de Todos os Santos a oeste e o Oceano

Atlântico à leste, o que lhe confere uma singularidade de paisagem. Com

um relevo com altitudes modestas em torno de 50 metros, uma relativa área

de verticalização na orla da cidade, que não impede a livre circulação das

brisas e dos ventos de leste, faz parte deste contexto dos mecanismos de

circulação atmosférica que atuam no litoral da região nordestina do Brasil

acima citado.

Na faixa litorânea, ha regularidade das precipitações o ano todo, com

máxima de chuvas no Outono/Inverno, ligado à maior intensidade de

atuação das correntes de sul e leste.

Essa intensidade de chuvas é assegurada pela atuação de dois sistemas de

circulação meteorológicos. A propagação da Frente Polar Atlântica sul e

pelas Correntes Perturbadoras de leste.

A Frente Polar Atlântica gera no período de maior intensidade de sua ação,

durante o outono/inverno, uma maior concentração de chuvas frontais,

oriundas do encontro da massa tropical atlântica com a massa polar, com

precipitações intensas e continuas, com leve queda da temperatura durante

alguns dias, e é também responsável pelos principais impactos negativos

pluviais e de desorganização do espaço urbano de Salvador, acarretando

prejuízos não só materiais, mas, sobretudo, humanos, com mortes causadas

diretamente por deslizamentos e indiretamente através das enchentes, e

acúmulos de águas, que produzem focos de proliferação de doenças infecto-

contagiosas, como a leptospirose, dengue, leshimaniose, gripes e outras.

As correntes perturbadoras de leste produzem instabilidade e mau tempo

especialmente no verão com as chuvas intensas e rápidas, os aguaceiros, que

caem durante o dia intermitentemente.

Em função da atuação destes dois sistemas de circulação, praticamente, durante

o ano todo, os índices de pluviosidade em Salvador são altos, oscilando entre 1800 e

2000 mm. ao ano, com uma média mensal em torno de 150 a 170 mm., aumentando

essa média mensal nos messes de outono/inverno, quando da passagem da Frente Polar,

para cerca de 200 a 300 mm., sem nenhum período de estiagem, sendo os meses de

menor pluviosidade, setembro a março, em torno de 90 a 100 mm.

A influência de todos esses fatores meteorológicos e atmosféricos, relacionados

aos sistemas de alta e baixa escala, é que determina a ocorrência de intensa

nebulosidade, o ano todo, favorecendo percentuais médios bastante elevados de

umidade relativa e contribuindo para a redução dos índices de evaporação, os quais são

sempre inferiores àquelas da precipitação.

É importante frisar a relevância do mecanismo de brisa marítima e terrestre na

produção de chuvas na cidade, acredita-se que esse mecanismo seja responsável por

uma grande quantidade de precipitação no litoral, além do frescor natural que transmite

a cidade um bem estar para seus habitantes e turistas.

Salvador, segundo Koppen, apresenta um clima tropical super úmido, Af, sem

estação seca, com temperaturas médias entre 25°C a 26°C, alcançando no período do

inverno, Julho/Agosto a temperatura de 22°C. A Amplitude térmica da cidade é baixa,

cerca de 3 a 5°C, favorecida pelo efeito de maritimidade, não havendo grandes

oscilações de temperatura durante o ano.

6. METODOLOGIA

Este trabalho de cunho monográfico, para conclusão do Bacharelado em

Geografia pela Universidade Federal da Bahia, UFBA, trata-se de uma avaliação da

ocorrência da Dengue baseado em um estudo de caso realizado na cidade de Salvador,

Bahia, através dos dados de registros oficiais pluviométricos, diários e mensais, dos

anos de 2000 a 2003, fornecidos pela Defesa Civil de Salvador, CODESAL, órgão

vinculado a Secretária de Habitação de Salvador, SEHAB.

Também foi utilizado para efeito de estudo e avaliação da ocorrência da dengue

em Salvador, os dados fornecidos pela Secretaria Municipal de Saúde de Salvador,

dados da freqüência de casos notificados da doença por Distritos Sanitários, DS’s, do

período de 2000 a 2003.

Quanto à espacialização destes dados em forma de mapa, foi realizada uma

divisão proposta pelo próprio autor desta obra, uma divisão por setores geoecológicos,

divididos em quatro setores: setor Centro Histórico, Setor Orla Atlântica, Setor Orla

Oriental da Bahia de Todos os Santos e o setor Miolo da Cidade, ou coração geográfico

da Cidade. Sua base cartográfica foi o mapa de uso de solo do município de Salvador,

na escala 1:25.000, elaborado pela CONDER – Companhia de Desenvolvimento da

Região Metropolitana de Salvador, em 1983.

Com os dados obtidos foram realizadas umas séries de gráfico, quadros e

figuras, para poder tentar avaliar qual o período de maior e menor incidência

das doenças notificadas e em quais Distritos Sanitários a ocorrência de

notificação da dengue foi mais ou menos intensa, também foram produzidos

gráficos dos índices de pluviosidade e ocorrência de dengue por mês, que

foram de suma importância para o trabalho, pois foi dados a oportunidade

de (co) relacionar a dengue com os índices de pluviosidade em Salvador por

estações do ano e tentar perceber o quanto é preocupante a infestação da

doença no espaço soteropolitano.

Com estes mesmos dados foram realizadas umas séries de tabelas que mostram a

relação entre a dengue e a sua incidência por meses e casos de dengue e os índices de

pluviosidade diárias e mensais.

E foram também confeccionados os mapas que tenta identificar o movimento da

Dengue pelo espaço soteropolitano durante os anos de 2000 á 2003.

Foi feito um levantamento bibliográfico intenso, uma busca sistemática, partindo

de teses e monografias e artigos publicados por geógrafos e pesquisadores de outras

linhas de estudos.

7. A DENGUE E SUA EVOLUÇÃO NO ESPAÇO BRASILEIRO

A Dengue é uma arbovirose transmitida pelo vetor aedes aegypti, uma

enfermidade predominantemente urbana.Existem dois tipos de doença, a Dengue

Clássica, não letal e a Dengue Hemorrágica. A dengue é uma virose febril aguda, de

inicio súbita com gravidades variável. As infecções variam de forma assintomática até

uma doença grave, que evolui para dengue hemorrágica: A Febre Hemorrágica da

Dengue –FHD e a Síndrome do Choque da Dengue – SCD, que pode levar ao óbito.

O Vírus da Dengue é um Arbovirus, vírus transmitido por artrópodes, um

mosquito do gênero Flavirus pertencente à família Flaviriridae.São conhecidos quatro

sorotipos, DEN 1, DEN 2, DEN 3 e DEN 4

A transmissão da doença feita pelo mosquito Aedes Aegypti, mosquito escuro, rajado

de branco, de vida diurna, através da picada da fêmea do mosquito infectado, no ciclo

Homem- Aedes Aegypti- Homem.

Não há transmissão da doença por contato direto de um doente ou de suas

secreções com uma outra pessoa sadia, nem mesmo através de fonte de água ou de

alimentos.

Os principais sintomas da doença surgem de 3 a 15 dias após a picada do

mosquito.Como foi explicada anteriormente, a dengue pode variar de uma

forma leve a uma forma hemorrágica, em sua forma leve, conhecida como

dengue clássica seus sintomas principais são: febre alta, fraqueza, dores

musculares e nas articulações, falta de apetite, dores de cabeça e nos olhos,

diarréias, náuseas e vômitos. Em algumas pessoas podem até apresentar

manchas vermelhas no corpo, descamação e coceiras intensas.

Na forma de dengue hemorrágica, os sintomas iniciais são os mesmos da dengue

clássica, porém mais intensas e graves, a pressão arterial cai, e as manifestações

hemorrágicas são mais precoces, podendo levar ao óbito.

A multiplicação dos mosquitos ocorre quando a fêmea deposita seus ovos em

recipientes sombreados e que contenha água, de preferência limpa. Os ovos podem

sobreviver até um ano, em ambientes secos, havendo contato com água nesse período

evoluem prontamente.

A prevenção deve ser feita principalmente através da eliminação e ou proteção

dos criadouros potenciais (recipientes e depósitos de água). Dentro desta linha de

prevenção é importante não esquecer que a educação e conscientização e a informação.

Os principais cuidados que o poder público e a população deve ter são:

· Limpeza de córregos, terrenos baldios, lixões e outros lugares depositário de

águas.

· Intensificar o recolhimento diário de lixos em toda cidade, principalmente

em áreas periféricas da cidade.

· Nos domicílios é importante haver uma atenção quanto aos vasilhames,

vasos, garrafas que devem ser furados ou guardados em locais que não

permitam acumular água.

· Os pneus, principalmente nas borracharias, devem ser furados ou guardados

em locais cobertos.

· Vasos de plantas deve ter atenção ao acumulo de água.

· Bebedouros de animais devem ser limpos pelo menos uma vez por semana.

· As calhas e piscinas devem ser limpas e cloradas

Em nosso país, as condições socioambientais favoráveis à expansão do Aedes

aegypti possibilitaram a dispersão do vetor desde sua reintrodução em 1976 e o avanço

da doença. Essa reintrodução não conseguiu ser controlada com os métodos

tradicionalmente empregados no combate às doenças transmitidas por vetores em nosso

país e no continente. Programas essencialmente centrados no combate químico, com

baixíssima ou mesmo nenhuma participação da comunidade, sem integração

intersetorial e com pequena utilização do instrumental epidemiológico mostraram-se

incapazes de conter um vetor com altíssima capacidade de adaptação ao novo ambiente

criado pela urbanização acelerada e pelos novos maus hábitos de consumo e dispersão

no meio ambiente dos materiais descartáveis, que são os principais focos da doença.

Enfim, a responsabilidade pela prevenção e diminuição da doença deve ser de

todos, tanto do poder público, já que a dengue é um problema de saúde pública, pelos

seus altos números de ocorrência e pela sociedade como um todo.

Se o Poder Público desencadeia ações emergenciais no sentido de conter a

escalada do mosquito, de forma convincente ou não, a população também tem que agir,

para não sofrer mais com essa doença.

O tratamento de uma doença como a dengue, por ser de etiologia viral, é através

do uso de analgésico, antipirético, ingestão de água o suficiente para evitar desidratação

e muito repouso, visto que não há um tratamento específico. A atenção, porém deve ser

feito quanto ao uso de Aspirina, esse medicamento não deve ser usado, pois tende a

produzir irritação do estomago e também interferir com a função das plaquetas e

potencialmente agravar o problema hemorrágico.

Considera-se que as primeiras epidemias da Dengue, registradas na literatura

médica, tenham ocorrido na Ilha de Java, Jakarta e no Egito ambas em 1779 e em

Filadélfia, EUA, no ano seguinte. Ao longo dos três últimos séculos, tem-se registrado a

ocorrência de Dengue em várias partes do planeta, pandemias e epidemias isoladas,

atingindo as Américas, África, Ásia, Europa e a Austrália, restando apenas o continente

da Antártida incólume.

Por um longo tempo acreditava-se que esta doença era benigma, não letal, mas a

partir da 2ª Grande Guerra Mundial ocorreram surtos de uma febre hemorrágica severa,

que posteriormente foi identificada como Dengue. O primeiro deste evento foi descrito

nas Filipinas, em 1953.

Um dos maiores problemas enfrentados para identificar a doença é o fato de

produzir sinais e sintomas típicos de outras doenças, os quais incluem a febre, cefaléias

(dores de cabeça), mialgias e exantemias

Nas Américas, mais especificamente, o vírus da Dengue circula desde o século

XIX e início do século XX. Em seguida houve um silêncio epidemiológico, e considera-

se que a sua reintrodução teria ocorrido nos anos de 1960 associando-se à ocorrência de

epidemias de Dengue Clássica. Em 1963, registraram-se os primeiros casos na Jamaica,

os quais proliferaram para Martinica, em Curaçau, na Antigua, em Saint Kitts, em Porto

Rico; logo após a doença atingiu o Norte da América do Sul, Venezuela e Colômbia e

casos importados nos EUA. N a década de 1980, se destaca pelo aumento da circulação

do vírus causadores da doença, no continente americano. Os paises que mais

notificaram casos foram: Brasil, Colômbia, Guatemala, Honduras, México, Nicarágua,

Paraguai Porto Rico e Venezuela.

Dentre os acontecimentos epidemiológicos mais importantes na historia da

Dengue nas Américas foi á epidemia de Dengue Hemorrágica ocorrida em Cuba, em

1981. Foram notificados 344.203 casos, com 116.143 hospitalizações, 158 óbitos, dos

quais 101 eram crianças.

Nos anos de 1990, o quadro epidemiológico das Américas se agravou. Os

quatros sorotipos (den-1, den-2, den-3, den-4) do vírus passaram a circular amplamente,

e epidemias de Dengue Clássica têm sido freqüentemente observadas em vários centros

urbanos, muitas delas associando a ocorrência de Dengue Hemorrágica.

No Brasil o primeiro caso suspeito foi em 1916, na cidade de São Paulo e em

1923 em Niterói, no Estado do Rio de Janeiro.Mas verdadeiramente confirmado

clinicamente e laboratorialmente, o Brasil conviveu como primeiro caso de epidemia em

1981, em Boa Vista em Roraima estima-se a ocorrência de 12 mil casos

A partir de então ocorre um breve silêncio epidemiológico no Brasil,

reaparecendo cinco anos depois, na cidade de Nova Iguaçu, no Estado do Rio de

Janeiro, disseminando por todo o Estado, foram notificados cerca de 9.390 casos entre

Abril de 1986 e Julho de 1987, em 1990 já era endêmica.

Nos anos 90 do século XX, um período de uma nova fase técnica, das novas

tecnologias da informação e transportes, a Globalização, para Santos (2000)

o ápice do processo de internacionalização do mundo capitalista. Mas neste

momento surge uma outra globalização, a da doença, a mobilidade

migratória cada vez mais intensa também faz disseminar com a mesma

velocidade da informação as doenças.

“De fato para a maior parte da humanidade a globalização está se impondo como uma fábrica de perversidade. Novas enfermidades como a SIDA se instalam e velhas doenças, supostamente extirpadas, fazem seu retorno triunfal” (SANTOS , 2000).

Em 1996, a doença já se estendia para 18 Estados do Brasil, em

aproximadamente 638 municípios. A partir de então a dengue passa a ser uma realidade

no país e sua disseminação por quase todo país é transformado em caso de saúde

pública.

No Estado da Bahia o primeiro caso de Epidemia de Dengue foi registrada na

Cidade de Ipupiara, localizado no Sudoeste do Estado, com 623 casos notificados pela

Secretária da Saúde do Estado.

Na cidade do Salvador apresentou os primeiros casos de Dengue no verão de

1995, em um processo epidêmico explosivo, com grande número de pessoas acometidas

em toda a área urbana da Cidade. Os primeiros casos foram registrados em Janeiro,

alcançando em Abril, a soma de 5.735 casos notificados, no boletim final do ano de

1995 foram notificados cerca de 15.458 casos, correspondendo a uma incidência de

691,37 casos por 100.000 habitantes. Cabe neste momento ressaltar que estes dados são

exclusivamente casos das pessoas que procuraram os postos médicos públicos,

representando então apenas uma parte da população residente na cidade, visto que as

pessoas acometidas pelas doenças que foram atendidas pelo serviço de saúde privada,

estes dados geralmente, não são notificados, mesmo sendo a dengue um caso de doença

de notificação compulsória, previsto pelo Ministério da Saúde, além das pessoas que se

curam em casa, muitas vezes sem saber que tiveram dengue, pelo fato de haver sintomas

parecidos com outras doenças comuns, e imaginarem que tiveram apenas uma “virose”.

Neste primeiro período de infestação da doença, pode-se observar pelos

trabalhos realizados por Teixeira, que foram os Distritos Residenciais da Liberdade,

com uma população de 178.424 habitantes, com uma incidência de 1.657.8 casos por

100.000 habitantes e o Distrito Residencial do Cabula/Beiru com 882,8 casos por

100.000 habitantes os de maiores infestação.

Em 1996, ocorre uma nova onda epidêmica na Cidade do Salvador, que em

janeiro atinge 1.158 casos, e já nos quatros primeiros meses do ano totalizava 7.095

casos notificados, terminando o ano epidemiológico com um registro de 10.988, com

uma incidência por 100.000 de 393,50 (TEIXEIRA, 2001).

Nos anos seguintes foi considerada redução nas taxas de incidência da doença

em Salvador, reduziu drasticamente quando comparado com os anos de 1995 e 1996,

até então o período de maior infestação. Percebe-se que em 1997 houve uma ocorrência

de 1.256 casos com uma incidência por 100.000 habitantes de 44.59. Em 1998 com uma

taxa de incidência de 64,99 por 100.000 habitantes, com um número total de notificação

de 1.478, que ocorre uma elevação em relação ao ano anterior.

No ano de 1999, com um total de notificação em torno de 608 casos e uma taxa

de incidência de 16,20 casos por 100.000 habitantes, a mais baixa desde o inicio do

reaparecimento da Dengue na cidade, em 1995 (TEIXEIRA, 2001).

8. ANÁLISE DOS DADOS

A análise de grande importância deste trabalho monográfico foi feita através dos

dados oficialmente fornecidos pelos órgãos público da Secretária de Saúde do

Município de Salvador - SMS e pela Coordenação de Defesa Civil de Salvador –

CODESAL, respectivamente os dados dos números de casos de Dengue Notificados por

Distritos Sanitários de Salvador, e os dados de índices de pluviosidade diários da cidade

de Salvador, no período de 2000 a 2003.

É importante destacar que a partir do ano de 2003, através da Portaria n°

2.325/GM, de 08 de Dezembro de 2003, publicadas no Diário Oficial da União-DOU n°

240, de 10 de Dezembro de 2003 os casos de Dengue no Brasil passou a ser

classificados como doença de notificação compulsória, ou seja, de registro obrigatório

pelas Secretárias Municipais, Estaduais e ao Ministério de Saúde, juntamente com uma

serie de doenças, tais como: cólera, febre amarela, hanseníase, malária, difteria e outras

tantas.

A Dengue, objeto de estudo deste trabalho é um Arbovirose, doença causada por

um vírus e transmitida pela picada de um mosquito, o Aedes Aegypti, que vem se

tornando um grande problema de saúde pública urbana no Brasil, nos últimos anos.

A dengue é uma doença reemergente, de transmissão essencialmente

urbana, ambiente no qual se encontram os fatores fundamentais para sua

proliferação: Homem, Vírus, Vetor e principalmente as condições

Ambientais, políticas, econômicas e culturais, que juntos formam as

estruturas que permitem o estabelecimento da cadeia de transmissão.

Inicialmente, através das tabelas produzidas neste trabalho, pode-se notar que no

ano de 2000, ano base para a pesquisa, houve um total de 792 casos de dengue

notificados em todo município de Salvador, e um índice pluviométrico registrado em

torno de 1.894,6 mm/aa (Tabela 1).

Tabela 1 – Salvador – Número de casos de dengue – 2000

Distritos Sanitários JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ Total

Centro Histórico 0 1 0 0 0 0 1 1 0 1 1 0 5 Itapagipe 1 1 5 2 0 0 2 0 0 0 0 0 11 São Caetano/Valeria 5 4 4 6 2 0 3 0 0 0 0 0 24 Liberdade 49 52 47 1 1 38 4 7 64 88 34 14 399 Brotas 3 6 6 17 27 5 7 2 4 8 6 14 105 Barra/Rio Vermelho/Pituba 5 3 15 2 7 6 6 6 4 4 1 2 61 Boca do Rio 1 2 1 1 3 0 0 0 2 1 0 1 12 Itapuã 6 8 0 3 6 2 2 0 0 1 3 2 33 Cabula/Beiru 0 0 2 2 40 3 2 1 2 2 2 2 58 Pau da Lima 0 0 1 7 4 2 1 0 0 2 3 0 20 Subúrbio Ferroviário 8 5 11 11 15 3 2 2 1 2 0 2 62

Cajazeiras 0 1 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 2

Total 78 83 93 52 105 59 30 19 77 109 50 37 792

Fonte: SMS, 2001 Elaboração: Eduardo Barreto. Tabela 2 – Salvador – Pluviosidade – 2000

DIA/ MÊS JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ

1 0,0 0,0 1,0 2,1 39,8 0,0 0,0 0,0 0,0 10,8 0,0 0,0

2 0,0 0,0 2,9 75,7 15,2 0,0 0,0 6,8 1,6 0,4 0,0 0,0

3 0,0 0,0 4,8 7,4 1,7 4,6 3,1 0,0 17,3 0,0 3,2 0,0

4 0,4 0,0 8,5 33,1 4,7 10,2 0,5 0,0 0,0 0,0 0,5 0,4

5 0,0 0,0 0,5 17,8 0,0 18,0 8,7 13,4 0,6 0,0 0,1 0,0

6 0,0 0,0 18,5 33,4 0,5 3,6 1,8 0,2 6,0 0,0 0,0 0,0

7 3,9 0,0 23,2 9,5 2,8 2,0 9,0 32,0 0,2 0,0 2,0 0,0

8 1,8 0,0 0,2 6,4 4,6 10,2 20,0 19,9 0,1 0,0 58,0 0,0

9 1,3 0,5 4,2 9,4 1,8 6,0 10,3 1,2 0,1 0,0 0,2 0,0

10 1,6 0,4 41,6 0,2 0,0 9,8 4,2 0,0 0,2 0,0 2,0 0,0

11 2,8 0,9 14,0 0,1 5,6 18,0 2,3 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0

12 6,4 0,0 0,0 0,0 19,1 38,0 0,0 0,1 7,7 0,1 0,0 0,7

13 2,1 6,8 0,0 23,0 0,2 0,9 11,0 4,4 55,2 0,0 0,0 5,4

14 0,0 5,3 0,0 0,0 10,5 1,3 1,3 6,2 9,3 0,0 0,0 17,3

15 0,0 0,1 0,0 3,1 1,8 0,0 5,7 0,4 6,6 0,0 0,0 45,4

16 0,0 1,5 0,0 0,1 1,4 0,1 0,2 5,3 23,8 0,0 0,0 8,8

17 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,6 0,0 6,0 0,0 0,8 0,0 1,1

18 0,0 13,8 0,0 9,8 0,0 16,1 43,4 1,3 0,0 0,0 0,0 0,1

19 0,0 0,0 0,0 5,4 0,0 75,8 31,4 0,0 0,8 0,0 0,0 0,7

20 0,0 0,0 3,6 0,0 0,0 56,8 29,3 2,0 3,3 0,0 1,1 2,3

21 5,8 5,4 8,6 24,7 10,0 3,0 0,4 0,0 0,5 0,0 0,6 0,0

22 0,0 16,1 23,3 0,0 9,4 0,0 0,0 4,0 0,2 0,0 0,0 0,0

23 0,8 5,5 3,4 10,0 20,7 5,2 8,6 10,5 2,8 0,0 0,0 0,0

24 0,0 0,0 3,2 4,9 27,3 13,8 0,0 0,0 0,2 0,1 4,3 2,1

25 0,0 0,8 0,0 0,1 10,0 0,5 0,0 15,0 0,0 0,2 0,0 0,0

26 2,6 1,8 4,4 3,9 30,7 0,2 0,0 0,2 0,0 0,0 0,0 0,0

27 0,0 0,0 9,0 28,8 23,3 0,0 0,4 0,0 1,1 0,0 0,0 3,5

28 0,0 23,6 0,0 29,1 0,2 2,7 6,3 0,0 1,0 0,0 1,5 0,2

29 0,0 3,2 1,4 14,8 0,0 0,2 2,4 0,0 9,6 3,0 0,8 0,0

30 0,0 4,4 12,6 0,0 12,8 0,7 0,5 6,4 0,0 0,0 0,0

31 0,0 11,2 0,0 0,1 7,2 0,4 0,0

Total 29,5 85,7 191,9 365,4 241,3 310,4 201,1 136,6 154,6 15,8 74,3 88,0

Total anual 1.894,6

Fonte: CODESAL, 2006. Elaboração: Eduardo Barreto.

Observando o mapa, pode-se perceber como estava distribuído a dengue no

espaço soteropolitano no ano de 2000 Distrito Sanitário (DS) da Liberdade e Brotas

com respectivamente 399 e 105 casos foram os DS de maior números de casos

notificados, os demais Distritos tiveram um número de casos relativamente menor

(Mapa3).

O DS da Liberdade localizada no setor IV-B, Plano de Falha, na zona do

“HORST”, na linha de continuidade do setor Centro Histórico, possui uma população

estimada de 180.173 habitantes, com uma área de 674,57 ha, com uma condição de

moradia predominante horizontal deficiente, um padrão sócio econômico bastante

deficitário, com o terceiro pior rendimento médio por chefe de família do Município,

com 11,22% da população recebendo até 0,5 salário mínimo(SM), 9,24% entre 0,5 e 1,0

salários mínimos(SM), acima de 20 salários mínimos, apenas 1,37% da população, no

geral, a renda da população do DS Liberdade recebem 5,26% da renda média do

Soteropolitano (tabela 3).

Mapa 3 –Distribuição espacial da dengue – Salvador – 2000

Fonte: SMS, 2005. Elaboração: Eduardo Barreto; Araori Coelho; Tairony Sousa.

O DS de Brotas, localizado no setor Centro Histórico da Cidade, com uma

população estimada de 182.084 habitantes, com uma área de 1.028,60 ha, com um

padrão de moradia bem diversificado, apesar do predomínio de moradias horizontais,

casas, tem um elevado padrão de moradias verticais, prédios acima de cinco andares,

com as condições sócio-econômicas também diversificadas, tendo em média uma

população que recebe menos de 0,5 salário mínimo (SM), cerca de 7,10%, entre 0,5 e

1,0 SM, 7,72% e mais de 20 SM 11,34%, o DS de Brotas possui uma melhor

infraestrutura urbano-sanitário e econômica que o DS Liberdade (Tabela 3).

Tabela 3 – Salvado – Distribuição espacial da renda dos chefes de família por faixas de rendimento – 1991

Região administrativa

Renda do chefe de família (em salários mínimos)

Até 0,5 0,5 a 1 1 a 2 2 a 3 3 a 5 5 a 10 10 a 15 15 a 20 A partir de 20

Renda média

da região

Centro 2,94 3,40 3,80 4,89 6,57 9,31 8,78 8,29 6,53 7,10

Itapagipe 9,45 7,26 7,21 6,85 7,25 6,50 4,80 3,51 2,17 4,85

São Caetano 11,60 9,20 12,91 11,56 9,63 5,25 2,03 1,29 0,52 4,53

Liberdade 11,22 9,24 9,42 10,10 9,77 7,38 3,89 2,43 1,37 5,26

Brotas 7,10 7,72 6,27 7,74 9,48 13,33 14,53 13,86 11,06 11,34

Barra 0,61 0,95 0,83 1,60 2,99 7,33 14,96 18,70 27,52 14,10

Rio Vermelho 7,59 10,69 7,52 6,64 6,73 7,86 8,94 8,53 7,62 7,85

Pituba 0,26 0,56 0,47 0,81 1,70 5,48 13,51 19,64 25,64 12,84

Boca do Rio 3,92 2,97 2,34 2,68 3,64 6,42 9,40 10,35 8,66 6,91

Itapuã 5,90 7,77 7,14 6,08 5,23 5,14 4,97 4,93 5,15 5,40

Cabula 3,14 4,23 5,58 5,91 6,06 6,85 5,39 3,45 1,68 4,41

Tancredo Neves

9,95 10,01 8,06 7,49 6,21 4,36 2,07 1,19 0,54 3,45

Pau da Lima 7,46 8,49 7,61 7,55 7,79 6,30 3,37 1,96 0,82 4,23

Cajazeiras 3,05 4,47 6,15 6,94 6,26 2,81 0,96 0,55 0,20 2,48

Valéria 1,85 2,86 2,65 2,48 1,66 0,74 0,35 0,11 0,06 0,84

Subúrbios Ferroviários

13,93 10,20 12,75 10,70 9,03 4,94 2,06 1,19 0,46 4,41

FONTES; Censo Demográfico de 1991; Tabulações Especiais da COELBA; SEPLAM/PMS.

Durante o trabalho de tabulação dos dados de notificação feito pela Secretária de

Saúde do Município, os DS de menor numero de notificação de casos de Dengue foram

Centro Histórico e Cajazeiras, com 5 e 2 casos respectivamente.

O Distrito Sanitário do Centro Histórico, localizado no setor Centro Histórico ,

formada por uma população de cerca de 88.729 habitantes, com uma área de 687,62 ha,

uma zona turística, com uma população circulante, móvel, muito intensa, em que o

comercio é mais dominante, com moradias que predomina o padrão horizontal, casa e

casarões coloniais com média de quatro andares. O padrão socioeconômico da

população pode ser observado pelos dados da distribuição de renda dos chefes de

família, por faixa de rendimento, que 2,94% ganham menos de um SM, enquanto 3,40%

entre 0,5 e 1,0 SM, uma taxa bem inferior se comparada com os DS Liberdade e Brotas

(tabela 3).

O Centro Histórico possui cerca de 6,23% da população total do município e a

quarta maior taxa de população que tem um rendimento mensal acima de 20 Salários

mínimos e 7,10% da população em todas as faixas de rendimentos no Município (tabela

3).

Quanto o DS Cajazeira, localizada no setor Miolo de Salvador, Com uma

população aproximada de 184.815 habitantes distribuída em uma área de 2.248,47 ha.

As condições de moradias da população seguem um padrão horizontal, casas simples,

com áreas externas, áreas verdes, foi um DS que de certa forma foi planejada quando de

sua construção, apesar dos cuidados públicos não serem tão eficientes, mas possui uma

razoável condição de infra-estrutura urbano-sanitária. O perfil de rendimento da

população é razoável também, em comparação com os demais vistos até agora, até 0,5

SM, tem cerca de 3,05% da população, de 0,5 até 1,0SM, cerca de 4,47% e os chefes de

família que recebem o rendimento acima de 20 SM, cerca de 0,20%.Esta taxa é a

segunda pior taxa, só perdendo para o DS Valéria.

No geral das faixas de rendimentos, também o DS de Cajazeira tem a segunda

pior taxa de rendimento total, cerca de 2,48% da população participa dos rendimentos

do município (tabela 3).

Outra importante análise que se faz destes dados de notificação dos casos de

dengue do ano de 2000 no Município de Salvador é referente ao período de incidência

da doença.

Inicialmente no período de Verão e Inverno do ano de 2000 foram notificados

198 e 108 casos respectivamente, demonstrando uma relativa redução nos números de

casos em relação aos períodos de Outono e Primavera, que estabeleceram um valor de

250 e 236 casos respectivamente.(Fig. 2)

Na observação dos dados do período do verão, os casos de dengue foram

computados pelo mês de dezembro com 37 casos notificados pela Secretária de Saúde

do Município, janeiro com 78 e fevereiro com 83 casos notificados, totalizando 198

casos.

Neste mesmo período do verão, houve um índice pluviométrico de cerca de 203

mm de chuvas, o menor índice registrado no ano de 2000, pela CODESAL.(Fig.3).

Figura 2

Fonte: SMS. Elaboração: Eduardo Barreto.

Figura 3

Fonte: CODESAL. Elaboração: Eduardo Barreto.

O período de Outono do ano de 2000 se destaca como o período de maior

números de casos de dengue, com 250 casos notificados pela Secretária de Saúde do

Município, sendo distribuído pelo mês de março com 93 casos, abril com 52 e maio

com 105 casos, período este, também, o de maior índice pluviométrico, cerca de

798,6mm de chuvas, distribuído pelo mês de Março com 91,9mm, Abril o mês mais

chuvoso, com 365,4mm e o mês de Maio com 241,3mm.Pode-se observar que diante

destes dados que o mês de maior números de casos de dengue não foi o de maior

pluviosidade, mas sim, o mês posterior ao de maior índice de chuvas.

Mas já fica evidente por estes dados preliminares que o período de maior

numero de casos de dengue é também o de maior índice de pluviosidade ( Fig. 4)

Figura 4

Fontes: SMS e CODESAL. Elaboração: Eduardo Barreto.

Durante o período de inverno pode-se observar que houve o menor números de

casos de dengue notificados, com cerca de 108 casos, mas diferentemente, com relação

ao índice de pluviosidade, foi a segunda maior taxa do ano, com aproximadamente

647,8mm de chuvas, só sendo superado pelo período de outono, com 798,6mm de

chuvas, distribuídas pelo mês de junho com 310,4mm, julho com 201,1mm e agosto

com 136,3mm de chuvas.Neste período percebe-se que houve uma relação na trajetória

dos números de casos de dengue e o índice de pluviosidade, a redução dos números de

casos de dengue no trimestre de junho, julho e agosto seguem a linha de decréscimo dos

índices de pluviosidade.

Na primavera com 236 casos, foi o segundo período do ano de 2000 de maior

incidência da doença, e por outro lado, o segundo período de menor índice

pluviométrico, com aproximadamente, 244,7mm de chuvas.Os casos de dengue

notificados na primavera foram distribuídos pelo mês de setembro com 77, outubro com

109 casos e o menor número de dengue do período ocorreu no mês de novembro com

50 casos de dengue notificados.

Neste período o mês de agosto com 136,3mm, Setembro com 154,6 mm de

chuvas foram o de maior índice, enquanto o mês de outubro, que foi o de maior

números de casos de dengue, foi extremamente seco, com apenas 15,8 mm de chuvas.

No ano de 2001, de acordo com tabela 4, observa-se que houve uma grande e

preocupante elevação nos números de casos de dengue notificados no Município de

Salvador, um acréscimo de cerca de 150% em relação ao ano anterior, dos 792 casos

notificados em 2000 passou a ter 1957 casos notificados em 2001, motivo de muita

preocupação por parte do poder Público Municipal e Estadual, pois precisava ser revisto

o planejamento feito para que uma outra epidemia como a de 1996 não ocorresse mais

uma vez.

Tabela 4 – Salvador – Número de casos de dengue – 2001

DISTRITO SANITÁRIO JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ TOTAL

Centro Histórico 1 1 8 15 12 4 2 3 1 0 2 1 50

Itapagipe 6 51 45 30 15 12 12 7 2 4 10 8 202

São Caetano/Valeria 13 26 33 22 35 29 4 2 3 4 9 3 183

Liberdade 22 32 61 48 23 4 7 5 0 1 2 0 205

Brotas 9 10 25 35 20 13 14 5 8 2 0 5 146

Barra/R.Vermelho/Pituba 6 16 42 45 39 19 23 4 5 5 5 5 214

Boca do Rio 3 9 25 10 4 6 4 2 3 0 3 0 69

Itapuã 7 98 65 31 24 16 3 3 0 0 0 0 247

Cabula/Beiru 7 109 28 17 17 5 12 13 5 5 1 7 226

Pau da Lima 3 15 5 7 6 7 3 4 1 0 0 1 52

Subúrbio Ferroviário 24 31 87 25 46 38 5 6 26 22 20 10 340

Cajazeiras 2 7 7 3 1 2 0 0 1 0 0 0 23

TOTAL 103 405 431 288 242 155 89 54 55 43 52 40 1.957

Fonte: SMS, 2005. Elaboração: Eduardo Barreto.

Neste mesmo ano de 2001, em que se constata um aumento absurdo dos

números de casos de dengue notificados pela SMS, o índice de pluviosidade teve um

pequeno decréscimo em relação ao ano de 2000, enquanto em 2000 choveu cerca de

1894,6 mm, em 2001 choveu pouco mais que de 1.873,3 mm, demonstrando um

equilíbrio nos índices.( Tabela 5).

A distribuição espacial destes casos de dengue em 2001 no município de

Salvador registrou uma importante alteração em relação ao ano de 2000, o Distrito

Sanitário de maior numero de notificação da doença passou a ser o DS Subúrbio

Ferroviário, com 340 casos notificados, que até o ano de 2000 era o DS Liberdade, em

seguida o Distrito de Itapuã com 247 e o Distrito do Cabula/Beiru com 226 casos, além

dos Distritos Barra/Rio Vermelho/Pituba com 214 e o Distrito Sanitário de Itapagipe

com 202 casos notificados pela Secretária de Saúde do Município.

Tabela 5 – Salvador – Pluviosidade – 2001

DIA/ MÊS JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ

1 0,0 0,0 0,4 2,2 0,9 3,0 9,3 8,6 18,2 0,0 0,0 15,9

2 0,0 0,0 21,3 7,2 8,6 5,2 0,0 0,3 20,1 0,0 0,0 8,4

3 0,0 0,0 4,2 0,7 38,8 2,6 0,0 2,0 6,0 0,0 0,0 0,0

4 29,5 0,0 0,0 0,3 10,9 23,8 2,4 1,8 1,8 0,0 0,0 7,0

5 0,2 10,2 0,0 0,0 0,0 5,8 17,2 3,3 0,0 0,0 0,0 9,4

6 1,7 0,0 14,4 3,8 0,1 8,4 0,4 3,2 2,6 0,0 0,0 0,0

7 2,3 0,0 0,0 0,1 0,0 1,7 34,6 0,0 9,3 0,0 0,4 1,0

8 1,3 0,0 0,0 0,4 0,0 1,3 8,8 10,4 6,1 0,0 0,2 0,3

9 10,7 0,6 0,0 0,0 1,6 1,6 6,3 1,6 1,6 5,2 0,0 9,6

10 8,7 0,0 0,0 0,0 0,0 27,2 0,4 1,0 0,0 2,2 0,0 3,4

11 2,1 3,0 0,0 0,1 0,0 2,9 2,6 5,6 0,0 1,7 0,0 0,0

12 7,8 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 23,6 5,9 0,0 1,7 0,0 0,0

13 2,2 0,0 34,5 0,0 0,0 5,6 0,0 4,6 0,0 7,0 0,0 0,1

14 8,5 0,0 45,1 19,7 0,0 5,6 0,6 0,7 6,0 18,3 0,0 7,2

15 0,1 0,0 41,4 15,3 3,0 0,6 1,7 1,4 0,0 73,9 0,0 0,0

16 0,0 0,0 8,8 4,5 8,2 11,0 4,5 0,3 0,0 28,6 0,0 0,0

17 0,0 1,8 28,7 2,3 2,2 33,3 22,6 2,4 0,0 10,6 0,0 0,6

18 3,6 0,0 31,2 0,0 0,0 0,6 66,2 1,4 8,8 8,4 0,5 0,0

19 1,5 0,3 0,0 11,4 0,0 0,0 0,3 13,2 21,8 3,1 0,0 0,0

20 6,4 0,0 0,1 1,6 0,0 13,9 0,0 28,5 18,6 0,0 0,0 0,0

21 0,2 0,0 29,0 10,9 0,5 0,2 0,0 1,4 23,0 5,0 0,0 0,0

22 0,0 0,0 0,4 0,0 32,6 0,4 0,0 17,6 27,9 0,0 0,2 0,0

23 7,2 0,0 2,3 0,1 3,2 8,6 0,0 2,2 19,0 0,0 0,0 0,0

24 0,0 0,8 0,0 14,1 0,0 0,9 0,0 10,0 0,0 0,0 0,0 0,0

25 0,0 3,1 0,0 1,3 7,2 1,6 7,8 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0

26 0,3 3,2 0,0 1,3 117,2 2,2 0,0 0,0 0,0 33,7 0,4 0,0

27 0,0 5,6 0,0 0,6 24,8 3,6 6,2 0,0 0,0 2,3 13,0 0,0

28 0,0 0,0 0,0 3,0 0,6 0,8 2,8 13,2 0,0 0,0 0,0 0,1

29 0,0 0,6 0,0 17,6 0,0 0,0 5,3 0,0 0,0 0,0 4,0

30 0,0 0,0 2,6 5,4 5,4 0,0 0,0 0,0 0,4 15,6 1,4

31 0,0 1,6 17,4 2,0 4,0 0,2 43,7

Total 94,3 28,6 264,0 103,5 299,2 177,8 220,3 149,9 190,8 202,3 30,3 112,1

Total anual 1873,2

Fonte: CODESAL, 2006. Elaboração: Eduardo Barreto.

Diante destes dados atentamente analisados, observa-se que houve uma

importante mudança geográfica na distribuição dos casos da doença no espaço urbano

do município de Salvador, enquanto no ano de 2000, os Distritos Sanitários da

Liberdade e de Brotas lideraram em números negativos de incidência da dengue, em

2001 houve uma redução, o DS Liberdade teve cerca de 205 casos, cerca de 194 casos a

menos, enquanto o DS Brotas teve um aumento de cerca de 41 casos, enquanto o DS

Subúrbio Ferroviário que havia tido em 2000 cerca de 62 ocorrências, em 2001 salta

para 340 casos, seguido do DS Cabula/Beiru que em 2000, teve a ocorrência de 58

casos em 2001, salta para 226 casos e o DS de Barra/RioVermelho/Pituba em 2000 com

61 casos salta para 214 casos(mapa 4).

Mapa 5 – Distribuição espacial da dengue – Salvador -2001

Fonte: SMS, 2005. Elaboração: Eduardo Barreto; Araori Coelho; Tairony Sousa.

Neste mesmo ano de 2001, o Distrito Sanitário Subúrbio Ferroviário com 340

casos, superando o Distrito de Liberdade, um aumento bastante preocupante em relação

ao ano de 2000, passou de apenas 62 casos notificados para os 340 casos, passando a

uma liderança nada positiva, em números de casos de dengue notificados no município

de Salvador.

O Distrito Sanitário do Subúrbio, localizado no setor II, Com uma população de

cerca de 257.747 habitantes (2000) e uma área territorial de 4.246,67 ha, com um

padrão de moradia horizontal com profunda carência de infraestruturas medico

sanitário, refletindo uma situação socioeconômica baixa, como pode ser observado no

quadro de distribuição espacial da renda dos chefes de família por faixa de rendimentos

que até 0,5SM 13,93% da população está nessa faixa, de 0,5 a 1 SM, são 10,20%, ou

seja, cerca de 30% dos chefes de família recebem até um salário mínimo em vigor.

Enquanto que acima de 20 salários mínimos apenas 0,46 % dos chefes de família.(

Tabela 3)

A ocorrência que chama atenção nessa nova espacialização dos números de

casos da dengue no ano de 2001 em Salvador é quanto à evolução dos números de casos

notificados no Distrito Sanitário da Barra/Rio Vermelho/Pituba, que no ano anterior

teve cerca de 61 ocorrência registrada de dengue e em 2001 esses dados elevaram-se

para 247 casos, tornando-se uma preocupação a mais para o poder Público municipal, já

que anteriormente, os Distritos com maiores ocorrências de notificação tinham um

padrão sócio-econômico e de moradia baixo, com elevadas carências médico-sanitárias.

O Distrito Sanitário Barra/Rio Vermelho/Pituba, localizado no setor Orla

Atlântica, Com uma população média de 313.534 habitantes, com uma área de

aproximadamente 1.522,65 ha, formada em sua maioria por população com maiores

condições de infraestruturas urbanas sanitárias, com um maior poder aquisitivo, o que

se pode observar pelo quadro de distribuição de renda, em que a população com apenas

0,5 SM são barra, 0,61%, Rio Vermelho 7,59% e Pituba apenas 0,26%, com 0,5SM e1,

0SM, Barra 0,93%, Rio Vermelho 10,69% e Pituba 0,56%,enquanto acima de 20SM

Barra 27,52%, Rio Vermelho 7,62% e Pituba com 25,64%, um Distrito Sanitário em

que as condições socioeconômicas são as melhores da cidade, apesar de haver no Rio

Vermelho alguns sérios problemas. (Tabela 3)

Analisando as ocorrências da doença por estação do ano, o verão, diferentemente

do ano de 2000, em 2001 teve o segundo maior numero de casos de dengue, com 548

notificações, um problema maior para gestão de Saúde Pública Municipal e Estadual,

pois este é o período de férias, em que a cidade recebe um grande numero de turista,

aumenta o numero da população circulante, a proliferação do vírus tende a ser maior.

(Figura 5).

Com 548 casos notificados, sendo distribuído pelo mês de Janeiro com 103

casos, Fevereiro com 405 e Dezembro com 40 casos. Destaque para o mês de Fevereiro,

época da maior festa popular do mundo, carnaval, milhões de pessoas na cidade. Neste

mesmo período observa-se que houve um índice pluviométrico muito baixo em relação

ao mesmo período do ano anterior, com uma taxa de 235,5 mm de chuva, sendo o mês

de Fevereiro o de menor taxa, com apenas 28,6 mm, com aproximadamente 19 dias

completamente seco, com taxas diárias zero, uma taxa muito baixa para uma cidade que

chove em média cerca de 149,2 mm de chuva ao mês. (Tabela 4 e 5).

Figura 5

Fonte : SMS. Elaboração: Eduardo Barreto.

A Estação de maior números de casos notificados foi à estação do Outono, como

já havia acontecido no ano anterior, demonstrando uma tendência, com 961 casos da

doença, um aumento de aproximadamente 250% em relação ao ano de 2000, com 250

casos.Neste período foram notificados no mês de Março, 431 casos, Abril 288 e no mês

de Maio 242 casos.

Ainda neste trimestre através de analise dos dados, observa-se que o índice de

pluviosidade obteve uma redução de cerca de 131,9 mm em relação ao ano de 2000,

chovendo cerca de 666,7 mm.

Importante ressaltar que o mês de maior número de casos notificados de dengue

no ano de 2000, foi o mês de Maio com 105 casos, e no ano de 2001 foi o mês de

Março, com 431 casos notificados, enquanto o índice pluviométrico demonstrou que no

ano de 2001, diferentemente do ano de 2000 o mês mais chuvoso foi o mês de Março

com 264,0mm e em 2000 foi o mês de Abril com 365,4 mm.

Figura 6

Fonte: CODESAL. Elaboração: Eduardo Barreto.

No Inverno de 2001, houve uma ocorrência de 298 casos de dengue, quase três

vezes maior numero que o mesmo período de 2000, com 108 casos. O mês de Junho,

período de festas juninas, principalmente no interior do Estado da Bahia, época em que

a Capital, Salvador, tem uma redução muito grande de população, ocorreu um registro

de notificação de 155 casos, no mês de Julho 89 e no mês de Agosto 54 casos. Neste

mesmo trimestre, em Junho choveu cerca de 195,8 mm, cerca de 144,6mm a menos que

o mês de Junho de 2000, e foram registrados 96 casos a menos que em Junho de 2000.

O período de Inverno de 2001 choveu cerca de 565,8mm.

O período das flores de Primavera de 2001 houve uma redução substancial em

relação ao ano anterior no quantitativo dos casos de dengue, variando de 236 casos em

2000 para 150 casos em 2001, em oposição, no mesmo período, foi registrado um

aumento significativo do volume de chuvas, de 244,7mm em 2000 para 423,4mm em

2001, fato este, excepcional no quadro pluviométrico da cidade, uma situação atípica no

regime de chuvas de Salvador. O mês mais seco foi Outubro, com apenas 30mm de

chuvas, tendo cerca de 15 dias completamente seco, sem chuvas.

Figura 7

Fontes: SMS e CODESAL. Elaboração: Eduardo Barreto.

Por esta figura 7, fica mais uma vez evidente a relação que existe em relação aos

números de casos de dengue e aos índices de pluviosidade, senão absoluta, pelo menos

relativa. O período de outono é o período de maior índice de chuva e de dengue.

Ano de 2001, se a situação já demonstrava uma evolução negativa, com o

crescimento do numero de casos de dengue de 2000 pra 2001, de 792 casos para 1957

casos respectivamente, sinalizando um estado de preocupação dos órgãos de

responsabilidade com a saúde e a economia do Município, pois o custo de uma

epidemia é alto para a sociedade e para o Poder Público, visto que a susceptibilidade da

dengue é universal, ou seja, atinge a todas as camadas da sociedade, e a doença deixa as

pessoas acamadas e sua convalescença é demorada, trata-se de uma doença

incapacitante, pelo menos por 5 a 10 dias as pessoas acometidas da doença permanecem

sem poder desempenhar suas funções normais do dia a dia, pelos sintomas da doença,

sem poder atuar profissionalmente, acarretando um custo elevadíssimo ao Estado e as

empresas particulares que ficam sem seus funcionários por um período longo, sem

contar com o gasto com remédios e atendimentos clínicos.

Em 2002 o problema se agravou ainda mais, uma evolução confirmada através

de uma tendência crescente nos números de casos notificados da doença a partir de

2000, tornando-se alarmante a proliferação dos casos de dengue no Município de

Salvador, superando ao ano de 1995, quando houve um caso de epidemia comprovada,

com aproximadamente 15.458 casos, o maior número de notificações até então

registrado na Capital baiana (TEIXEIRA,2001).

Surpreendentemente, apesar de todos os estudos feitos e proposta de erradicação

e/ou controle da dengue no Brasil, Salvador teve neste ano de 2002, cerca de 26.971

casos de dengue notificados pela Secretária de Saúde do Município de Salvador.

Essa situação demonstrou a total falta de responsabilidade por parte poder

publico Municipal/Estadual para com o controle de uma doença que os dados já

previam uma evolução dos números de casos notificados, demonstrando o nível de

preocupação que se tem com a saúde pública da cidade de Salvador.

São 26.971 casos notificados pela Secretaria de Saúde do Município,

aproximadamente 1.360% de aumento em relação aos números de 2001, com 1940, que

já havia sido maior que o ano de 2000, com 792 casos, um aumento de apenas 245% se

comparado com os de 2002 (Tabela 6)

Tabela 6 – Salvador – Número de casos de dengue – 2002

DISTRITO SANITÁRIO JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ TOTAL

Centro Histórico 11 136 397 154 24 13 11 10 3 2 0 0 761

Itapagipe 116 1.126 817 366 68 8 17 11 7 5 16 7 2564

São Caetano/Valeria 32 452 1.337 692 159 34 19 21 23 28 13 3 2.813

Liberdade 33 506 1.736 574 102 81 71 88 111 89 4 2 3.397

Brotas 78 441 838 305 59 28 21 24 16 19 2 0 1.831

Barra/R.Vermelho/Pituba 141 786 1.498 647 89 21 20 13 12 1 0 0 3.228

Boca do Rio 21 236 588 235 35 4 0 3 3 7 1 2 1.135

Itapuã 42 453 915 345 60 5 4 3 1 2 1 2 1.833

Cabula/Beiru 75 486 898 598 57 27 14 26 39 22 4 4 2.250

Pau da Lima 9 1.370 1.342 488 31 9 1 6 3 3 0 1 3.263

Subúrbio Ferroviário 90 913 1.029 993 137 70 8 18 28 6 6 41 3.339

Cajazeiras 13 91 278 134 24 6 4 1 1 2 2 1 557

TOTAL 661 6.996 11.673 5.531 845 306 190 224 247 186 49 63 26.971

Fonte: SMS, 2005. Elaboração: Eduardo Barreto.

Neste mesmo ano epidemiológico, se observa que diferentemente ao aumento

dos números de casos de dengue, o índice de pluviosidade se manteve quase estável,

2000, 1894,1mm, 2001, 1791,2 mm e em 2002, 1.818,9 mm de chuvas (Tabela 7).

Em 2002 a distribuição espacial dos casos da dengue na Cidade de Salvador teve

um novo mapa, desta vez alarmante e preocupante, a cidade foi coberta literalmente

pela doença.A situação vivida, jamais foi igual, nem mesmo em relação aos anos de

1995 e 1996, quando teve uma grande ocorrência de dengue por toda cidade. O que

podemos perceber é que não houve por parte do poder público a devida

responsabilidade no controle, e mais uma vez, os Distritos com as piores condições de

infra-estruturas urbanas e sanitárias foram as mais prejudicadas.

Tabela 7 – Salvador – Pluviosidade – 2002

DIA/ MÊS

JAN FEV MAR

ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ

1 16,4 0,0 0,0 0,3 0,0 7,9 3,2 0,6 0,0 8,4 0,6 0,0

2 9,0 0,0 0,0 14,8 0,0 0,0 1,0 0,0 0,4 0,0 0,0 0,0

3 7,1 0,0 7,8 0,0 1,4 10,2 4,0 0,0 0,2 0,0 0,0 0,0

4 0,4 0,1 4,8 0,0 0,0 9,4 3,2 0,0 1,0 0,0 0,0 0,0

5 58,5 15,5 5,0 0,0 0,0 0,2 0,1 0,0 0,2 0,0 0,0 0,7

6 15,0 0,0 10,2 1,3 46,4 0,2 1,4 0,0 0,0 0,6 0,0 0,0

7 21,0 39,0 6,2 7,1 52,0 5,3 9,4 0,0 0,2 0,0 0,2 0,0

8 0,1 0,0 2,1 2,1 0,3 6,7 0,0 1,2 0,6 0,0 5,6 0,0

9 2,8 0,0 2,0 0,0 0,0 4,8 0,0 3,4 0,0 0,7 2,8 0,7

10 15,8 40,2 0,9 0,2 0,0 1,8 9,0 9,5 7,4 0,3 5,3 3,5

11 45,6 0,0 2,3 0,0 22,4 54,0 11,3 2,8 0,3 0,0 0,0 0,0

12 6,3 0,1 0,0 0,4 21,1 36,8 0,7 8,8 3,6 0,0 2,0 0,0

13 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 1,9 0,0 2,7 27,0 0,0 4,5 0,0

14 2,0 0,0 5,0 0,0 2,8 10,5 0,0 50,4 0,0 0,0 0,0 0,0

15 2,0 0,0 0,0 5,6 4,8 0,8 0,3 5,2 0,0 0,0 0,0 0,0

16 24,1 0,0 2,0 0,9 1,0 0,5 5,4 23,8 0,0 0,0 0,0 0,0

17 14,2 0,0 0,0 0,9 0,0 12,2 5,6 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0

18 9,6 0,0 2,2 7,6 0,0 0,2 108,6 5,3 0,0 0,0 0,0 0,0

19 0,0 0,0 0,0 0,8 0,0 0,1 0,4 7,6 3,8 0,0 0,0 0,0

20 0,4 0,2 0,4 2,6 0,0 0,5 15,8 7,0 43,8 0,4 0,0 0,0

21 1,0 0,0 0,0 9,7 0,5 4,7 7,0 2,6 0,1 0,0 0,0 0,0

22 0,0 0,0 0,0 3,2 0,3 0,2 8,8 5,2 0,0 0,0 0,0 0,0

23 0,5 0,0 0,0 1,5 44,0 0,7 1,0 4,4 0,0 0,0 0,0 0,0

24 0,0 0,0 5,2 5,4 19,2 3,0 0,0 1,1 2,7 0,0 2,2 0,0

25 0,5 0,0 0,0 1,6 87,2 2,8 1,4 6,4 0,2 0,8 0,6 0,0

26 0,1 0,0 0,0 2,0 37,7 5,5 8,8 0,0 43,6 0,0 0,0 0,0

27 0,0 0,0 11,8 1,2 3,0 4,5 9,3 10,6 29,8 0,0 0,0 2,0

28 0,0 0,0 11,0 0,0 0,0 6,7 0,0 1,5 90,7 0,0 1,4 13,9

29 0,0 15,4 0,0 0,0 15,4 0,0 0,4 3,0 0,0 0,0 3,3

30 0,0 6,2 0,0 0,8 1,0 0,1 0,0 0,2 0,8 0,0 0,0

31 0,0 1,6 6,2 37,9 2,3 3,4 0,0

Total 252,4 95,1 102,1 69,2 351,1 208,5 253,7 162,8 258,8 15,4 25,2 24,1

Total anual - 1818,9

Fonte: CODESAL, 2005: Elaboração: Eduardo Barreto

Os Distritos Sanitários com maiores números de notificação foram Liberdade

com 3.397 casos, Subúrbio Ferroviário com 3.339 casos, Pau da Lima com 3.263 casos

e Barra/Rio Vermelho/Pituba com 3.228, além de São Caetano/Valeria com 2.813

casos, Itapagipe com 2.564 casos, Cabula/Beiru com 2.250 casos, Itapoã com 1833

casos, Brotas com 1.831 casos e Boca do Rio com 11.135 casos, nos demais Distritos

Sanitários houve uma ocorrência inferior a 1000 casos, foram os casos dos Distritos

Sanitários do Centro Histórico com 761 casos e Cajazeira com 557 casos, o que não

diminui a preocupação, já que os valores foram superiores a todos os anos anteriores

analisados (mapa 5).

Mapa 6 – Distribuição espacial da dengue- Salvador - 2002

Fonte: SMS, 2005. Elaboração: Eduardo Barreto; Araori Coelho; Tairony Sousa.

Diante deste novo quadro configurado da distribuição espacial da doença,

observa-se que no ano de 2002, o mapa da dengue se estende por toda cidade, cobrindo

toda extensão territorial continental quase que por igual em condições de incidência da

doença.

Em nenhum Distrito Sanitário nos anos de 2000 e 2001 obtiveram números de

casos superiores ao do Distrito Sanitário de Cajazeira em 2002, cerca de 557 casos

notificados pela SMS, que tinha sido nos anos anteriores o de menor números de casos

notificados da doença, ano de 2000, apenas 2 casos e no ano de 2001, 23 casos

notificados.

A Cidade de Salvador viveu uma verdadeira epidemia de dengue, pior que a de

1995, que já tinha sido a mais preocupante até então.

Se a distribuição espacial da Dengue pelo espaço urbano de Salvador se alterou

em 2002, sendo disseminada a doença completamente pelo tecido urbano da cidade, a

tabela da distribuição da Dengue durante as estações do ano se manteve estável, não

havendo alterações, mantendo a tendência dos anos anteriores, o trimestre março, abril e

maio com o maior número de notificações, seguido do trimestre dezembro, janeiro e

fevereiro (Figura 8).

Figura 8

Fonte: SMS. Elaboração: Eduardo Barreto.

Durante a estação do Verão com um número de 7.720 casos notificados de

dengue ocorreu um crescimento extremamente elevado em relação ao mesmo período

dos anos anteriores 2000 e 2001. Em fevereiro de 2002 é o mês de maior incidência da

doença, com 6.996 casos notificados, em um período que a cidade se encontra com a

mais elevada concentração de pessoas, período de festas populares e carnavalescas com

muitos turistas, e uma mobilidade espacial intensa.

Neste mesmo período de grande elevação nos números de dengue na cidade foi

também o período de menor taxa de pluviosidade, com 95,1 mm de chuvas, com 24 dias

no mês de completamente seco, muito baixo para a média anual, que oscila em torno de

151,5mm ao mês. Porém essa taxa se mantém em certo equilíbrio em relação aos anos

anteriores, com 28,6mm em 2001 e 85,5 mm em 2000.

O mês de Janeiro, com 661 casos registrados, apesar de baixo se comparado com

ao numero de Fevereiro é a mais elevada evolução de casos em relação a todos os outros

meses de Janeiro dos anos anteriores. É importante frisar que este ano de 2002, o mês

de Janeiro teve também o maior índice de pluviosidade em relação aos anos anteriores,

com 252,4mm de chuvas, muito mais que os 29,5mm de 2000 e 94,6 mm de chuvas de

2001.Nestes mesmos anos houve uma evolução do numero de dengue no mês de

janeiro, que passou de 78 casos em 2000, 103 em 2001 para 6.61 em 2002.

O mês de Dezembro foi também um mês extremamente seco, com apenas

24,1mm. de chuvas, com 25 dias completamente secos e teve uma ocorrência de casos

de dengue notificados bem baixa, cerca de 63 casos, o menor número do trimestre.

O outono foi trimestre de maior número de notificação de casos de dengue,

demonstrando através das análises dos anos anteriores, ser o período de maior

incidência da doença.Desta vez, porém com 18.049 casos notificados, uma preocupante

taxa de 1,878% de aumento em relação a 2001, com 961 casos notificados pela SMS.

O mês de Março com 11.673 casos, superando os 431 casos de 2001, e 250 de

2000 foi o mês de maior número de casos registrados, confirmando diante das analises

dos anos anteriores a tendência de ser o mês de maior notificação da dengue em

Salvador. Em Abril houve uma ocorrência de 5.531 casos e em Maio 845 casos de

dengue notificados (Quadro 5).

E importante frisar que neste mesmo ano houve uma taxa de pluviosidade de

1.808mm de chuvas, estado pluviométrico estável em relação ao mesmo período dos

anos anteriores. No período de Outono que vem demonstrando ser o mais chuvoso,

através da análise dos dados pluviométricos fornecidos pela CODESAL, em 2002

choveu cerca de 522,9 mm, um pouco menos que o ano de 2001 e quase 102mm

inferior ao período de inverno, com 625mm, que este ano foi o período de maior índice

de chuva (Fig. 9 e 10).

Março foi o mês de maior numero de casos notificados de dengue, com 11.673, e

o segundo mês no período com maior taxa de pluviosidade, com 102,1mm. de chuvas,

cerca de 161,9mm a menos que o ano anterior. Em Abril foram notificados 5.531 casos,

foi o mês de menor taxa de pluviosidade, apenas 69,5mm, muito abaixo da media do

mês, com 10 dias completamente secos. O mês de Maio diferentemente dos meses de

Março e Abril em que ocorreu uma elevada queda do numero de casos, 845 casos

notificados, foi o mês de maior índice de chuvas, com 351,6mm, o que vem confirmar

uma tendência de ser maio o mês de maior índice pluviométrico.

Figura 9

Fonte: CODESAL. Elaboração: Eduardo Barreto.

No período de Inverno de 2002 foram notificados 720 casos de dengue na

cidade, um valor muito baixo em relação ao período de Verão e Outono, mas se

compararmos com o mesmo período dos anos anteriores, 108 casos no ano de 2000 e

298 casos no ano de 2001, houve um aumento muito grande.

Quanto ao índice de pluviosidade registrado na cidade neste trimestre, não

ocorre essa evolução, pelo contrário, apesar de haver tido um aumento de 60mm em

relação ao mesmo trimestre de 2001, em relação ao período de 2000 ocorreu uma queda

de 22,8mm de chuvas, existindo quase um equilíbrio dos índices pluviométrico no

período de estudo.

Mais uma vez se constata que o mês de Junho, um mês de grande migração da

população soteropolitana para o interior, em função das festas juninas e dos feriados,

ocorre o maior numero de casos de dengue em Salvador, 306 casos notificados, cerca de

42,5% dos casos registrados no Inverno, seguidos pelo mês de Agosto com 224 casos e

Julho com 190 casos.

Quanto a pluviosidade, o mês de Julho foi o mais chuvoso, com 253,7mm de

chuvas e o de menor numero de casos de dengue, com 190 casos notificados. O mês de

Junho com 208,5 mm e o mês de Agosto o de menor índice, com 162,8mm de chuvas.

Quanto aos meses de Setembro, Outubro e Novembro, estação da Primavera,

ocorreu 482 casos de dengue, apesar de ter tido o menor numero de casos notificados no

período de 2002, mas se comparado aos anos anteriores, houve um aumento expressivo,

236 em 2000 e principalmente em relação ao ano de 2001, com 150 casos. Neste mesmo

período, as chuvas que caíram em Salvador foram em torno de 299,4 mm, constatando

que a primavera é o período mais seco da Cidade. Setembro, mês mais chuvoso, com

86,4% de toda chuva do período da Primavera teve também o maior numero de casos de

dengue, com 247 casos notificados, 51,2% dos casos no período. No mês de Setembro,

com 15,4mm e Outubro com 25,2 mm de chuvas, meses extremamente secos, com mais

de15 dias completamente sem chuvas. Neste período ocorreram 186 casos de dengue

em Setembro e 49 casos em Outubro.

Figura 10

Fontes: SMS e CODESAL. Elaboração: Eduardo Barreto; Araori Coelho.

Ano de 2003, fim do período de análise deste trabalho, observa-se com certa

desconfiança, através dos dados, um registro de 1.025 novos casos de dengue, de forma

surpreendente, percebe-se uma intensa redução em relação ao ano de 2002, porém não

sendo observado intensas ações públicas que confirme essa s surpreendente redução nos

números de casos de dengue notificados na cidade (Tabela 8).

Ainda em 2003, o índice pluviométrico teve um leve aumento em relação aos

anos anteriores, com 2.035,4 mm de chuvas, uma elevação em relação ao ano de 2002

de cerca de 216,0 mm. (Tabela 9 )

Tabela 8 – Salvador – Número de casos de dengue – 2003

DISTRITO SANITÁRIO JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ TOTAL

Centro Histórico 3 1 11 1 3 1 2 0 0 0 0 0 22 Itapagipe 13 16 24 4 7 9 5 8 4 1 6 3 100 São Caetano/Valeria 9 10 20 4 2 3 1 4 1 1 0 3 58 Liberdade 8 8 25 4 5 4 7 0 0 0 1 0 62 Brotas 7 8 17 3 4 2 3 13 2 1 0 3 63 Barra/R.Vermelho/Pituba 14 18 50 18 12 5 8 3 1 3 2 9 143 Boca do Rio 3 3 16 4 9 9 8 2 3 1 2 3 51 Itapuã 1 2 16 4 9 9 8 2 3 1 2 3 60 Cabula/Beiru 5 8 9 10 4 6 8 1 1 1 1 0 54 Pau da Lima 0 5 9 5 9 7 6 2 1 2 0 0 46 Subúrbio Ferroviário 35 35 250 19 6 3 4 1 1 0 1 1 356 Cajazeiras 0 0 8 2 0 0 0 0 0 0 0 0 10 TOTAL 98 114 455 79 68 55 55 34 14 13 13 27 1.025

Fonte: SMS, 2005. Elaboração: Eduardo Barreto.

Tabela 9 – Salvador – Pluviosidade – 2003

DIA/ MÊS JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ

1 0,0 8,4 0,0 0,5 0,0 10,9 0,0 0,4 24,8 0,0 0,0 0,0

2 0,0 5,0 0,3 0,0 0,0 14,8 16,2 11,7 2,4 3,5 0,0 0,0

3 0,0 0,0 16,2 0,0 0,0 1,2 0,0 4,3 0,0 0,0 0,0 0,0

4 0,0 2,2 0,0 0,0 107,6 4,6 0,0 13,1 11,2 0,0 49,6 0,0

5 0,0 0,0 0,0 0,0 112,2 16,0 0,0 8,0 32,9 10,2 5,8 0,0

6 0,0 0,0 0,6 0,0 3,2 14,1 0,0 0,6 4,2 10,6 18,6 0,0

7 0,0 5,4 1,0 0,0 0,0 2,0 0,1 0,0 4,8 0,7 18,0 0,0

8 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 10,6 0,0 0,0 2,8 0,0 0,2 0,0

9 0,0 2,2 0,8 17,9 0,2 51,6 0,0 1,2 9,6 0,0 22,0 0,0

10 0,0 2,4 4,8 0,0 11,0 4,2 0,0 0,0 34,6 0,0 4,4 0,0

11 0,0 0,0 0,0 0,0 66,0 4,6 4,0 2,6 2,1 0,0 0,0 0,4

12 0,0 6,8 20,1 0,0 36,0 6,3 2,0 4,2 0,0 0,0 1,3 4,6

13 0,0 16,5 0,0 0,8 14,6 0,0 7,6 4,0 0,0 0,0 0,0 0,0

14 0,0 0,0 0,0 0,0 35,4 1,0 3,8 2,6 0,0 1,4 0,4 3,0

15 0,0 0,0 0,0 6,0 4,2 0,0 7,5 1,8 0,0 31,0 0,0 2,0

16 0,0 0,0 2,0 1,0 2,8 0,0 54,4 0,0 7,0 0,0 0,8 0,0

17 0,1 0,0 29,8 2,6 0,0 2,2 16,5 0,0 4,5 0,0 5,9 0,0

18 0,0 0,0 4,8 73,8 16,0 19,8 2,0 0,0 2,4 0,0 0,8 0,0

19 0,0 0,0 23,4 29,5 12,6 30,9 23,0 6,0 0,0 0,0 0,7 1,8

20 0,0 0,0 14,3 6,6 5,8 7,8 1,0 0,6 17,3 0,0 0,0 0,0

21 0,0 0,0 6,2 12,3 1,6 0,0 0,3 16,0 2,2 0,0 0,0 0,0

22 0,0 5,0 0,2 10,8 0,8 0,0 2,1 18,3 0,0 0,9 2,2 0,0

23 4,2 5,4 2,4 3,0 0,2 0,0 1,6 32,3 0,8 0,0 0,3 0,0

24 1,4 0,0 8,4 7,9 0,0 2,2 6,2 2,2 5,1 3,0 0,6 0,0

25 4,4 34,4 3,6 8,2 0,0 12,5 18,0 6,4 0,0 0,1 0,0 0,0

26 0,0 0,0 10,0 5,4 0,0 9,6 6,1 0,2 0,0 0,0 0,0 2,3

27 0,4 0,0 15,8 0,4 30,4 4,8 0,0 0,2 0,0 0,0 0,0 0,0

28 3,6 22,0 29,0 0,0 6,6 0,0 5,1 0,0 0,0 1,4 1,2 0,0

29 0,0 10,9 0,2 37,2 2,8 6,3 0,0 0,0 8,4 0,0 0,8

30 8,4 1,9 0,2 1,0 3,0 2,2 0,0 0,0 1,0 0,0 0,0

31 4,2 0,0 45,0 0,2 0,0 0,0 0,0

Total 26,7 115,7 206,5 187,1 550,4 237,5 186,2 136,7 168,7 72,2 132,8 14,9 Total anual 2.035,4

Fonte: CODESAL, 2006. Elaboração: Eduardo Barreto. Neste período, o Distrito Sanitário com o maior número de notificação de casos

de dengue foi mais uma vez o DS Subúrbio Ferroviário, que desde 2001 permanece

sempre entre os primeiros DS nos números de casos registrados. Com 356 casos

notificados, bem inferiores ao ano anterior, mas cerca de 35% de todos casos

notificados no Município Soteropolitano no período.

O Distrito Sanitário Barra/Rio Vermelho/Pituba foi o segundo em números de

casos de dengue com 143 casos notificados, confirmando uma tendência negativa nos

números de casos da doença desde 2001.Os dois juntos totalizam cerca de 49% de todos

os casos no ano. (Mapa 6).

Um pouco menos, mas tão preocupante, foi o DS Itapagipe com 100 casos

notificados Confirmando uma tendência desde o inicio das pesquisas, os DS de menor

ocorrência da doença continua sendo no ano de 2003 o DS Cajazeiras, com 10 casos de

dengue notificados e em segunda colocação o DS Centro Histórico com 22 casos

notificados da doença.

O mapa se altera em relação ao valor quantitativo dos números de casos de

dengue, mas em relação aos espaços de maior ou menor numero de infestação, há uma

tendência efetiva (Mapa 6).

No Verão, a ocorrência de dengue foi de 239 casos, distribuídos pelos meses de

Fevereiro, 111 casos, mais uma vez sendo o mês de maior incidência do período,

Janeiro com 98 casos e dezembro o mês mais seco de todo período do estudo com

apenas 14,9 mm de chuvas, com cerca de 25 dias complemente secos, confirmando o

primado do Verão como a estação mais seca do ano, com 138,9 mm de chuvas,

aproximadamente 6,8% de toda chuva do ano. No período foram 65 dias secos (Figura

11).

Figura 11

Fonte: SMS, 2005. Elaboração: Eduardo Barreto.

Mapa 6 – Distribuição espacial da dengue – Salvador - 2003

Fonte: SMS, 2005. Elaboração: Eduardo Barreto; Araori Coelho; Tairony Sousa.

Ainda no ano de 2003, o que se percebe é que a distribuição das chuvas não se

alterou, o período do Outono com 943,9 mm, repartido pelos meses de marco com

206,3 mm, Abril com 187,1 mm e Maio com 550,5 mm de chuvas, confirma a primazia

de ser a estação mais chuvosa em Salvador.

Figura 12

Outra constatação diz respeito ao mês mais chuvoso na cidade, o mês de maio,

apesar de ter sido o mês de maior índice de chuva, foi o período de menor número de

casos de dengue, com 68 casos notificados o período, com o mês de Abril com 79 casos

e o mês de Março com 455 casos, o maior número de casos do outono, a pesar de ter

tido menos da metade do índice pluviométrico do mês de Maio.

A estação do Outono com 608 casos, com cerca de 59,3 % de todos os casos do

ano e um índice pluviométrico de 943,9mm de chuvas confirma mais uma vez como o

período da dengue e da chuva ( fig. 13), evidenciando uma estreita relação.

Figura 13

O Inverno, com 144 casos de dengue notificados, repartidos pelos meses de

Junho e Julho com 55 casos cada e o mês de Agosto com 34 casos, mas quanto aos

índices pluviométricos, foi o segundo maior do ano, com 560mm de chuvas,

distribuídas pelos meses Junho com 237,5mm, Julho com 186,5 mm e Agosto com

136,7 mm de chuvas.

A estação da Primavera, estação das flores, com 40 casos de dengue notificados,

distribuídos pelos meses de Setembro com 14 casos, os meses de Outubro e Novembro

com 13 casos, os menores números de casos de todo período de estudo, tornando-se a

estação do ano de menor ocorrência de dengue e com um índice pluviométrico em torno

de 373 mm de chuvas, distribuídas pelos meses de Setembro com 168,7mm, Outubro

com71, 5mm, o mês mais seco e o mês de Novembro com 132,8mm de chuvas (tabela

9).

9. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O Mundo atual está aberto a todo tipo de possibilidades de investigações e de

explicações. Nunca a dimensão médica dos fenômenos teve tanta visibilidade e nunca se

precisou tanto do olhar geográfico para desvendar a complexidade de fatos entrelaçados,

aparentemente paradoxais, porém identificáveis a partir das escalas espaciais

diferenciadas, encaixadas, que o geógrafo é treinado para compreender. Ao mesmo

tempo, é oferecidos á geografia contemporânea um terreno fértil para compor sua

agenda temática, suas especulações conceituais, suas pesquisas empíricas e suas

inquietações.

As questões colocadas para a geografia médica no inicio deste terceiro milênio

são bem mais amplas do que aquelas que inspiraram seus fundadores. De uma

perspectiva estritamente descritiva e determinista, em que o clima era muitas vezes o

referencial para as explicações das doenças e da superioridade econômica, social racial

dos povos, que serviam para controle de territórios, em que o Estado nacional servia de

eixo teórico conceitual, em torno do qual a agenda da disciplina era definida, pois dele o

mundo se organizava.Alcança na atualidade uma disciplina que necessita compor sua

agenda em um mundo muito diferente, numa perspectiva em que a o Espaço

Geográfico, o espaço das relações entre o Homem e a natureza deve ser visto na sua

totalidade.

O espaço da saúde vista como uma totalidade é uma instância da sociedade, ao

mesmo tempo em que as instâncias econômicas e cultural-ideológicas.

Este trabalho monográfico vem exatamente nestas últimas linhas confirmar a

importância que o estudo da saúde pela geografia se faz presente neste momento, visto

que o espaço é uma variável a se considerar quando se discute a proliferação das

doenças, não se pode mais tentar tratar as doenças apenas pela doença, tentando assim

entender como ela se distribui pelo espaço, mas sim entender como o espaço pode ser

responsável pela proliferação das doenças.

Sendo assim, essa consideração final é fruto de observações feitas ao longo de

pesquisa com a utilização dos dados dos números de casos de dengue e pelos dados da

distribuição das chuvas no espaço soteropolitano, fornecidos pela Secretaria de Saúde

de Salvador – SMS, e pela Defesa Civil de Salvador – CODESAL, respectivamente, dos

períodos de 2000 a 2003.

A cidade de Salvador, neste período de estudo e investigação, registrou um

quantitativo de 30.745 casos de dengue notificados, por toda a cidade, distribuídos por

12 Distritos Sanitários, como é geograficamente dividida a cidade de acordo com a

SMS. Observa-se neste estudo que não há um Distrito Sanitário que tenha ficado ileso

das ocorrências de casos de dengue, apesar das diferenças sócio-econômicas existentes,

confirmando assim o fato da dengue ser considerada uma doença universal e complexa,

ou seja, uma enfermidade que atinge a todas as classes sociais independentemente.

Quanto aos índices de pluviosidade neste período, Salvador registrou 7.519 mm

de chuvas, uma média de 1.877mm, dentro da média para a Cidade.

As conclusões que pode ser feita através deste trabalho dentro do que foi

proposto nos objetivos geral e especifico, tem que ser antecipadamente explicado que

não poderá ser entendido como uma conclusão definitiva, visto que o trabalho foi feito

em cima de apenas uma variável, a pluviosidade, importante, mas que não é suficiente

para uma conclusão definitiva, se faria necessárias outras tantas variáveis como, a

temperatura, a umidade, a pressão, dados socioeconômicos e sanitários, o que não foge

da proposta inicial nem desmerece o trabalho feito, mas sim propõe uma continuidade

de investigação.

Enfim, as análises feitas através dos dados de pluviosidade e dos números de

dengue tornou possível evidenciar que sem dúvida alguma existe uma relação muito

estreita entre o período de chuvas em Salvador e os números de notificação da dengue.

Figura 14

Observando a Figura 14, fica clara esta relação, o período de maior índice de

pluviosidade, outono, foi também o de maior incidência da doença.Esta constatação

cientifica é importante para se desmistificar e se propor uma outra forma estratégica de

controle a doença na cidade, visto que, parece ser de consenso do poder público e da

mídia que o período de verão é o que tem maior ocorrência da doença, período em que

as grandes operações emergenciais ocorrem, a partir de então se percebe que há uma

moderação nas operações de controle do mosquito.

Inexplicavelmente estas Campanhas emergenciais tem sido feitas sempre no

período de verão, talvez por ter um contingente maior de pessoas na cidade, época de

festas populares, muitos turistas, o que esquenta a economia da cidade e o que talvez

explique a atuação do poder público em suas ações pontuais. Já no período de outono

em que se percebe um aumento dos números de ocorrências da doença, estas ações são

mais precárias, quase inexistentes.

Outra conclusão que pode ser tirada deste estudo é quanto à localização espacial

da cidade com maior índice de notificações da doença.Pelo mapa de evolução espacial

da doença no período de estudo, constata-se que a dengue realmente é uma doença

universal e complexa, no sentido de não escolher as camadas sociais, ela atinge a todos,

talvez por isso há uma efetiva preocupação por parte do poder público, visto que outras

doenças como a leptospirose e raiva que são doenças mais letais e que atinge

basicamente a classes mais baixa da sociedade e menos protegida, não gera tanta

preocupação por parte da mídia nem do poder publico quanto a dengue.Isto por que, não

há um só Distrito Sanitário sem ocorrência da doença durante todo período de estudo, a

cidade de Salvador foi infestada pela dengue.

Mas, o fato da cidade estar infestada pela doença, torna-se generalizante,

escondendo a realidade de que os Distritos Sanitários em que as condições

socioeconômicas e médico-sanitárias são mais precárias e muitas vezes quase

inexistentes, é visivelmente o de maior incidência da doença.

Através do mapa de evolução da doença no período de estudo é fácil entender,

que os dois Distritos Sanitários no ano de 2000 de maior ocorrência da doença foram

Liberdade e Brotas, com 399 casos e com 105 casos notificados respectivamente ( mapa

3).

No período 2001, ocorre uma mudança espacial das doenças, o Distrito

Sanitário Subúrbio Ferroviário assume a liderança nos números de ocorrências da

dengue, com 340 casos notificados, depois aparece o Distrito de Itapuã com 247 casos,

Cabula/Beiru com 226 casos, o Distrito da Barra/Rio Vermelho/Pituba que se insere

neste contexto com 214 casos, e o Distrito de Itapagipe com 202 casos ( Mapa 4).

No ano de 2002, período de grande expansão da doença na cidade, cerca de

26.971 casos notificados, superando até mesmo o período de 1995/6, em que tinha sido

registrada a maior epidemia até então, com aproximadamente 15.458 e 10.988 casos

registrados respectivamente. O Distrito da Liberdade volta a linha de frente nos

números de ocorrências com 3.397 casos notificados, depois acompanha o Distrito do

Subúrbio Ferroviário com 3.339 e o Distrito da Barra/Rio Vermelho/Pituba com 3.228

casos notificados ( Mapa 5).

No ano de 2003, não altera a espacialização, mais uma vez o Distrito Subúrbio

Ferroviário , como já tinha sido o primeiro em 2001, volta a liderar com 356 casos

notificados da doença seguidos do Distrito Barra/Rio Vermelho/Pituba com 143 casos e

o Distrito de Itapagipe com 100 casos ( Mapa 6).

De uma forma geral, os cinco Distritos com maior ocorrência da doença, são: DS

Subúrbio Ferroviário com 4.097 casos, cerca de 13,3% do total de 30.745 casos durante

os quatros anos estudados, o DS Liberdade com 4.063, com cerca de 13% do total,

seguida do DS Barra/Rio Vermelho/Pituba com 3.646, com 11,3% do total, DS Pau da

Lima com 4.097 e DS São Caetano com 3.078 casos notificados.Daí se conclui que as

áreas que comumente são consideradas como “áreas de risco” melhor denominado de

“áreas e abandono público” estão entre as de maior números de ocorrências.

O DS Barra/RioVermelho/Pituba inserido neste contexto de áreas com grande índice de

notificação da doença geram uma desconfiança, quanto aos números apresentados, visto

que, apesar de ser uma doença universal, o nível sócio-econômico deste DS é o maior, e

os números de postos médicos públicos também e como foi anteriormente citado, estes

dados são em sua maioria resultado de notificações desses postos médicos públicos e

não de clinicas particulares, o que se faria necessário um levantamento das notificações,

para que se possa avaliar se realmente as pessoas notificadas neste Distrito Sanitário são

residentes desta área, visto que área é um local de maior absorção de mão de obra das

outras áreas da cidade.

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